Inovação e vISão De MeRCaDo - Acib
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Divulgação<br />
ArTIGo<br />
Em qualquer cidadezinha americana,<br />
um turista eventual encontrará uma pletora<br />
de atrações turísticas a sua disposição.<br />
Ele chega e depara com cartazes os<br />
mais ridículos possíveis, como: “Aqui George<br />
Washington dormiu por uma noite”,<br />
“Abraham Lincoln cuspiu neste chão”,<br />
“Foi aqui que Judas perdeu as botas” e assim<br />
por diante. Mas, por mais ridícula que<br />
seja, cada cidadezinha tem umas sete ou<br />
oito atrações turísticas bem documentadas<br />
em um panfleto disponível em toda<br />
pousada e todo hotel.<br />
Já visitei museus de caixa de fósforos<br />
e selos comemorativos. Já vi como se fazem<br />
queijos franceses, relógios suíços e<br />
como se plantam tulipas holandesas. A<br />
variedade das coisas que pessoas comuns<br />
colecionam ou pro-<br />
32<br />
TurISTIFICANdo o<br />
BrasIL<br />
duzem é infinita e talvez mais interessante<br />
do que as pirotecnias da Universal Studios.<br />
Com recursos naturais, sol 320 dias<br />
por ano, um povo super-hospitaleiro,<br />
praias maravilhosas, restaurantes de primeira,<br />
o Brasil deveria ter de 10% a 15%<br />
do seu PIB comandado pelo turismo. O<br />
primeiro passo, portanto, para que possamos<br />
aumentar a indústria do turismo,<br />
é “turistificar” nossas cidades. Das 5 mil<br />
cidades brasileiras, somente 1,3 mil se<br />
cadastraram na Embratur como cidades<br />
potenciais para o turismo. Talvez tenham<br />
esquecido que toda cidade tem sua história,<br />
sua capacidade de criar um museu ou<br />
uma atração turística - nem precisa ser<br />
uma beleza natural. Quem não caminharia<br />
léguas por causa do melhor chope do<br />
Brasil?<br />
Se sua cidade não tem uma linda cachoeira<br />
do tipo Véu da Noiva ou uma vista<br />
espetacular, não significa que ela esteja<br />
excluída do roteiro turístico. Nova York<br />
é a prova concreta dessa afirmação.<br />
Nosso erro tem sido colocar sempre<br />
a carroça na frente dos bois. Por vários<br />
anos, o governo financiou caríssimos hotéis,<br />
a juros subsidiados, que depois de<br />
prontos ficaram vazios porque as cidades<br />
não se “turistificaram”, não atraindo os<br />
turistas.<br />
Esquecemos de criar museus, de colocar<br />
placas de sinalização em espanhol<br />
e inglês - muitos de<br />
nossos museus não têm<br />
sequer cartazes de explicação<br />
em português,<br />
muito menos no idioma<br />
de nossos turistas<br />
- e de criar panfletos<br />
turísticos de qualidade<br />
internacional.<br />
Se você é prefeito<br />
de uma cidade, digite<br />
o nome da sua cidade.com<br />
na internet<br />
e veja o que aparece<br />
em termos de<br />
atrações turísticas.<br />
A net divulga tudo<br />
para todo o mundo. São raras as cidades<br />
que possuem, pelo menos, o próprio<br />
site.<br />
Não vamos atrair turistas se continuarmos<br />
agindo assim. Nem turistas brasileiros,<br />
quanto mais do resto do mundo.<br />
“Turistificar” uma cidade não é complicado,<br />
contanto que isso seja feito por pessoas<br />
especializadas, que consigam escapar<br />
das pressões políticas da cidade e se concentrem<br />
nos desejos de um turista.<br />
Nossos economistas ficaram quatro<br />
anos pedindo mais câmbio. Agora estão<br />
explicando por que as exportações não<br />
cresceram tanto quanto prometeram que<br />
cresceriam. Na realidade, esqueceram o<br />
que nossos administradores vêm dizendo<br />
há muito tempo. Exportar não é só uma<br />
questão de câmbio. Exportar depende<br />
de canais de distribuição próprios, que<br />
não temos, qualidade e constância de<br />
fornecimento, entregas just in time a 10<br />
mil quilômetros de distância. Sem falar de<br />
marca mundial, construída por anos de<br />
propaganda, como o famoso personagem<br />
Juan Valdez, que faz a propaganda do café<br />
colombiano.<br />
Foi-se o tempo em que uma nação<br />
poderia crescer por sua agricultura e<br />
indústria. Cinquenta por cento do PIB<br />
brasileiro já é dominado pelo setor de<br />
serviços. Como se exporta turismo? Por<br />
meio do turismo receptivo, que faz parte<br />
hoje em dia de toda nação bem-sucedida<br />
do mundo.<br />
Parece que nos concentramos no<br />
turismo expulsivo, com o objetivo de<br />
levar todo brasileiro para a Disney, para<br />
desespero de Armínio Fraga, que tem de<br />
fechar as contas. Nossa balança comercial<br />
poderá ficar positiva como queriam<br />
os economistas, mas a conta de serviços<br />
vai continuar por muito tempo negativa.<br />
Podemos colocar o câmbio a R$ 2, R$ 3<br />
ou R$ 4 que não atrairemos turistas se<br />
primeiro não “turistificarmos” o Brasil.<br />
Stephen Kanitz<br />
Mestre em Administração de empresas,<br />
consultor e conferencista