enTRevISTa CoM o DouToR eM aDMInISTRação FerNANdo CÉSAr LeNZI FerNANdo CÉSAr LenzI 6 Fernando César Lenzi é doutor em Administração pela Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA/USP), mestre em Administração (Gestão Moderna de Negócios) pela Universidade Regional de Blumenau (Furb), pós-graduado em Gerenciamento de Marketing pelo Instituto Nacional de Pós Graduação (INPG/Furb) e Administrador formado pela Furb. Secretário municipal de Administração de Blumenau desde 2005, ele também é professor das disciplinas Empreendedorismo, Marketing e Planejamento em cursos de graduação e de pósgraduação. Tem larga experiência profissional nas áreas pública e privada, exercendo cargos executivos e desenvolvendo trabalhos de consultoria e capacitação profissional no Brasil e no Exterior. Autor de livros e artigos na área de gestão de negócios, empreendedorismo e desenvolvimento profissional, Lenzi acaba de lançar o livro O Empreendedor de Visão, organizado em parceria com o professor Márcio Daniel Kiesel. Kakau Santos
“MuITo Do Que é ÓbvIo PaRa nÓS, é ReConheCIDo PoR ouTRoS CoMo DIfeRenCIal” Revista empresário: o senhor tem uma larga experiência em administração, seja na iniciativa pública ou privada. Quais são as principais diferenças encontradas nestes dois campos? fernando César lenzi: Nesses últimos quatro anos em que eu tenho atuado na administração pública, o que mais tem me chamado a atenção é que na iniciativa privada você faz tudo que pode dentro de uma realidade de mercado. Na pública você tem que fazer tudo o que pode dentro do que a lei rege do ponto de vista administrativo. Nem tudo o que se quer fazer pode ser feito, da forma que se gostaria, justamente porque existe uma lei que regulamenta isso. Na iniciativa privada também existem essas leis, mas o mercado é livre. Na administração pública, o mercado passa a ser a comunidade. o que mais me surpreendeu quando vim para a administração pública foi a organização interna dos procedimentos. Na iniciativa privada existe toda uma estrutura voltada para resultados, desempenho, valorização do profissional, que na área pública, muitas vezes, era esquecida. Temos conseguido ao longo desse período implantar uma gestão um pouco mais voltada para resultados, atendendo aos anseios da população e, por outro lado, reconhecendo cada uma dessas ações dos servidores também. A diversidade do trabalho na prefeitura, em especial, a administração pública da prefeitura tem algumas nuances diferentes da iniciativa privada, porque, se na iniciativa privada você cria foco para um determinado mercado, na pública você tem vários focos para atingir ao mesmo tempo. do ponto de vista da saúde, educação, assistência social, obras, regulamentações, enfim, existem várias frentes. então, o desafio é maior, pois exige uma concentração de esforços para cada uma dessas áreas, sempre dentro de uma gestão de pessoas, que aí eu aponto como igual à iniciativa privada. Coisa que hoje a administração pública não tem como regra geral, nós temos conseguido inserir em Blumenau, com essa gestão de recursos humanos mais voltada para o resultado e valorização do profissional, que de certa forma tem refletido no melhor atendimento à população. Re: a burocracia ainda é um grande problema? lenzi: Burocracia existe nas duas áreas. o que não pode acontecer é ir para o extremo, que aí se torna negativa. A burocracia nada mais é que a organização dos procedimentos. Na iniciativa privada também existe essa organização, que deve ser respeitada até por força de autoridades, regramentos e normatizações internas. Na área pública, isso já existe por si só. e, às vezes, na tentativa de controlar mais o processo, o excesso de burocracia acaba atrapalhando. o que nós temos feito é achar a equação ideal para a administração pública, buscando não exagerar, mas também não deixar totalmente livre, porque existe o cumprimento de uma legislação. Agora, dentro do que a legislação permite, a criatividade tem que aflorar em cada um dos servidores e pessoas que trabalham no meio. É preciso uma redução do excesso de burocracia para que tenhamos mais agilidade dentro do que a lei nos permite fazer. em um procedimento de compras, por exemplo, a iniciativa privada tem toda a concepção voltada para a economia e qualidade, porém, o procedimento é rápido porque o dinheiro é privado; automaticamente, quem está comprando tem essa valorização do recurso. Na administração pública existe uma lei que regra todos os procedimentos de compra, até para que isso evite o desperdício do recurso público. Às vezes isso é um pouco exagerado, em função da forma de atuação, justamente com a preocupação do dinheiro público, mas que, de certa forma, tem que ser respeitada porque está na legislação, para que haja economia e qualidade. A agilidade desse processo é diretamente proporcional ao que a lei nos permite fazer. Re: o que da iniciativa privada deve ser levado para a administração pública? lenzi: dentro do ponto de vista administrativo, o principal foco é a organização dos processos de forma menos burocrática e mais ágil, mas, principalmente, a gestão de pessoas. Sou um defensor dessa área de gestão de pessoas e penso que as que têm reconhecimento geram resultado melhor no trabalho. Isso sempre se demonstrou eficaz na iniciativa privada e temos trazido isso para a área pública e também tem se mostrado eficiente. em 2007, começamos um trabalho na prefeitura de desenvolvimento de empreendedores internos e estamos com alguns trabalhos voltados para essa área que já se utiliza na iniciativa privada também. As empresas já estão reconhecendo nos seus quadros profissionais que atuam como empreendedores corporativos. e esses profissionais internos acabam desenvolvendo projetos diferenciados, trazendo resultados para a empresa, mas todos têm condição de ter esses espaços, desde que a empresa permita essa atuação. Na área pública, muitas vezes isso era achatado pelas estruturas. As pessoas tinham medo de arriscar, fazer algo diferente, porque não tinham espaço para isso. Nós precisamos desfazer o estereótipo de que na iniciativa privada tudo é bom, enquanto na pública tudo é ruim. Nem sempre. A iniciativa privada também tem muitas práticas que não são adequadas. Basta ver o índice de mortalidade das empresas: 60% fecham até o terceiro ano. É uma pesquisa de instituições que fazem esse levantamento periodicamente. Se este índice existe lá, significa que algumas práticas não são adequadas. 7