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DIVERSAS TÉCNICAS DE RESPIRAÇÃO PARA O CANTO - CEFAC

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MAYRA CARVALHO OLIVEIRA<br />

<strong>DIVERSAS</strong> <strong>TÉCNICAS</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>RESPIRAÇÃO</strong> <strong>PARA</strong> O <strong>CANTO</strong><br />

Salvador, 2000.<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 6<br />

MONOGRAFIA APRESENTADA<br />

AO <strong>CEFAC</strong> - CENTRO <strong>DE</strong><br />

ESPECIALIZAÇÃO EM<br />

FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

<strong>PARA</strong> A FINALIZAÇÃO DO<br />

CURSO <strong>DE</strong> ESPECIALIZAÇÃO<br />

EM VOZ.


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA<br />

<strong>DIVERSAS</strong> <strong>TÉCNICAS</strong> <strong>DE</strong><br />

<strong>RESPIRAÇÃO</strong> <strong>PARA</strong> O <strong>CANTO</strong><br />

Salvador, 2000.<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 7<br />

MONOGRAFIA APRESENTADA<br />

AO <strong>CEFAC</strong> - CENTRO <strong>DE</strong><br />

ESPECIALIZAÇÃO EM<br />

FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA<br />

<strong>PARA</strong> A FINALIZAÇÃO DO<br />

CURSO <strong>DE</strong> ESPECIALIZAÇÃO<br />

EM VOZ.


FICHA CATALOGRÁFICA<br />

OLIVEIRA, M.C. - Diversas Técnicas de Respiração para o<br />

Canto. Salvador. 2000. 29p. 30cm. ( Monografia - Curso de<br />

Especialização em Fonoaudiologia Clínica - <strong>CEFAC</strong> )<br />

1. Voz. 2. Respiração. 3. Canto.<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 8


Curso de Pós-Graduação.<br />

Área de concentração - Voz.<br />

Coordenador: Profa. Dra. Sílvia Maria Rebelo Pinho<br />

Fonoaudióloga. Especialista na Área de Voz.<br />

Doutora em Ciências pela Universidade Federal<br />

de São Paulo- Escola Paulista de Medicina.<br />

Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação<br />

Em Voz do <strong>CEFAC</strong>- Centro de Especialização<br />

Em Fonoaudiologia Clínica.<br />

Orientador: Profa. Dra. Sílvia Maria Rebelo Pinho<br />

Fonoaudióloga. Especialista na Área de Voz.<br />

Doutora em Ciências pela Universidade Federal<br />

de São Paulo- Escola Paulista de Medicina.<br />

Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação<br />

em Voz do <strong>CEFAC</strong>- Centro de Especialização<br />

em Fonoaudiologia Clínica.<br />

Co-orientador: Maria Helena U. Caetano.<br />

Fonoaudióloga.<br />

Especialista na Área de Audiologia.<br />

Mestre em Audiologia pela<br />

Universidade de São Paulo -<br />

Escola Paulista de Medicina.<br />

Professora dos Cursos de Pós-<br />

Graduação em Voz do <strong>CEFAC</strong>-<br />

Centro de Especialização em<br />

Fonoaudiologia Clínica.<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 9


SUMÁRIO<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 10<br />

Introdução 06<br />

Revisão Literária 07<br />

Respiração Clavicular ou Superior 08<br />

Respiração Média, Mista ou Torácica 08<br />

Respiração Inferior ou Abdominal 08<br />

Respiração Diafragmático-Abdominal ou Costo Diafragmático-Abdominal 09<br />

Um Jovem Profissional da Voz 23<br />

Conclusão 25<br />

Resumo 26<br />

Summary 27<br />

Referências Bibliográficas 28


INTRODUÇÃO<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 11<br />

Existe grande divergência entre pesquisadores, professores de<br />

canto e fonoaudiólogos acerca da técnica de apoio respiratório que trouxesse<br />

o melhor resultado para os cantores de maneira geral.<br />

A respiração é o alicerce da boa voz tanto para situações de fala<br />

quanto de canto, sendo responsável pelo equilíbrio vocal, a segurança e o<br />

controle da situação.<br />

A boa voz começa com a boa respiração. Mudando a maneira de<br />

respirar, modifica-se também suas representações interiores. É preciso ter<br />

equilíbrio no ato de inspirar e expirar (Castelliano, 1998).<br />

As diferentes formas de canto requerem diferentes demandas<br />

vocais e também diferentes padrões de apoio respiratório com controle<br />

específico de fluxo aéreo. Por exemplo, diante de fortíssimos e agudíssimos<br />

há maior necessidade de pressão sub-glótica, controlada por aumento do<br />

fluxo aéreo e da adução glótica; por outro lado, graves e pianíssimos têm<br />

necessidades opostas (Pinho, 1999 - no prelo).<br />

O objetivo deste trabalho é identificar, na literatura, as diversas<br />

técnicas de respiração para o canto, por meio de levantamento bibliográfico<br />

nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.


REVISÃO LITERÁRIA<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 12<br />

De acordo com Behlau e Ziemer, 1988, etimologicamente, respirar<br />

significa insuflar de vida. Embora a função primária da respiração seja<br />

efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo, imprescindíveis<br />

à continuidade da vida, os antigos já sabiam que a respiração não representa<br />

apenas um mecanismo fisiológico para a captação de oxigênio e eliminação<br />

de gás carbônico.<br />

Há milênios sabe-se que o ciclo da respiração, o inspirar e o<br />

expirar, está ligado a todos os ciclos da natureza e que é por este processo<br />

que o corpo e a mente do homem são alimentados de uma energia sutil. Esta<br />

energia recebe vários nomes: prana para os hindus, ki para os japoneses,<br />

Chi para os chineses ou força vital para os ocidentais. Vários métodos<br />

respiratórios foram desenvolvidos no sentido de prover o organismo humano<br />

dessa energia, pois acredita-se que sua falta resulta num desequilíbrio do<br />

estado psicossomático.<br />

Sob o ponto de vista de Behlau e Pontes, 1995, o ciclo respiratório<br />

apresenta duas fases, separadas entre si por um pequeno intervalo: a<br />

inspiração e a expiração. Na respiração em repouso, o tempo da fase<br />

inspiratória é, em média, três vezes maior que o da fase expiratória.<br />

Durante a fonação necessitamos de uma expiração muito mais<br />

lenta para a "construção das frases", e tanto mais lenta e controlada quanto<br />

for a emissão.<br />

A inspiração é a fase eminentemente ativa do ciclo respiratório: o<br />

diafrágma, nesse processo, passa de sua posição natural em cúpula a uma<br />

retificação; concomitantemente, com auxílio da ação dos músculos<br />

intercostais internos, aumenta o volume da caixa torácica.<br />

Durante a fonação a inspiração deve ser de modo buco-nasal<br />

alternado, rápida, silenciosa e efetiva, ou seja, deve haver condições<br />

suficientes para que o aporte de ar necessário entre nos pulmões.<br />

Tanto a inspiração exclusivamente bucal como exclusivamente<br />

nasal são inadequadas.<br />

A expiração, essencial para a fonação por vias laríngias, é um<br />

processo passivo, resultante do relaxamento do diafragma e da elasticidade<br />

das paredes musculares da caixa torácica, o que provoca a expulsão do ar<br />

armazenado. Durante a fonação há também a solicitação da contração dos<br />

músculos intercostais externos e de toda a árvore traqueobronquial.<br />

De acordo com o tipo de emissão - o canto, por exemplo, pode<br />

ocorrer uma série de contrações ativas, neste caso para sustentar uma<br />

determinada nota musical.<br />

Para uma fonação normal, é essencial que as forças aerodinâmicas<br />

estejam equilibradas com as forças mioelásticas da laringe, de modo que o


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 13<br />

resultado não seja uma fonação demasiadamente soprosa ou<br />

excessivamente tensa.<br />

Quanto ao tipo de respiração, encontramos na literatura referências<br />

a quatro tipos básicos:<br />

1. Clavicular ou superior;<br />

2. Média, mista ou torácica;<br />

3. Inferior ou abdominal;<br />

4. Completa, diafragmático-abdominal ou costo-diafragmáticoabdominal.<br />

Respiração Clavicular ou Superior<br />

A respiração clavicular ou superior caracteriza-se pela expansão<br />

somente da parte superior da caixa torácica, o que ocasiona uma elevação<br />

visual dos ombros, podendo ou não ser acompanhada da anteriorização do<br />

pescoço.<br />

Como a elevação da caixa torácica requer a participação da<br />

musculatura do pescoço, observa-se a contração do músculo<br />

esternocleidomastóideo (que participa como auxiliar da inspiração apenas<br />

quando se quer fazer uma emissão em forte intensidade) e tensão laríngea,<br />

com redução do espaço da membrana tíreo-hióidea.<br />

A produção vocal é alterada pelo aporte insuficiente de ar e o som<br />

resultante tende a ser agudo, pela elevação e tensão da laringe.<br />

O músculo esternocleidomastóideo encontra-se frequentemente<br />

tenso nos pacientes disfônicos, pois eles tendem a manter a caixa torácica<br />

constantemente elevada.<br />

Respiração Média, Mista ou Torácica<br />

A respiração média, mista ou torácica - a mais comumente<br />

observada na população - apresenta pouca movimentação superior ou<br />

inferior durante a inspiração e um deslocamento anterior da região torácica<br />

média.<br />

É a respiração que utilizamos na maior parte do dia, quando em<br />

atividade de repouso ou em conversas coloquiais, mas inadequada e<br />

insuficiente para o uso profissional da voz, principalmente para o canto.<br />

Respiração Inferior ou Abdominal


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 14<br />

A respiração inferior ou abdominal caracteriza-se por ausência de<br />

movimentos da região superior (que geralmente apresenta-se<br />

hipodesenvolvida e com rotação anterior de ombros) e expansão da região<br />

inferior. Aparece em indivíduos com pouca energia, nos quais a sensação de<br />

colabamento do tórax é bastante evidente, mas também pode ter sido<br />

desenvolvida como sendo a "respiração correta", em consequência de uma<br />

orientação equivocada.<br />

Respiração Diafragmático-Abdominal<br />

ou Costo-Diafragmático-Abdominal<br />

A respiração diafragmático-abdominal ou costo-diafragmáticoabdominal,<br />

completa ou total caracteriza-se por uma expansão harmônica de<br />

toda a caixa torácica, sem excessos na região superior ou inferior.<br />

Há o aproveitamento de toda a área pulmonar, e é a respiração<br />

mecanicamente mais eficaz para o desenvolvimento de uma voz profissional.<br />

A respiração total será tão mais profunda quanto maior for a exigência da<br />

produção vocal.<br />

Desta forma, concluímos que uma respiração média ou torácica é<br />

suficiente para o uso habitual da voz e, em verdade, representa o<br />

mecanismo respiratório mais econômico sob o ponto de vista de gasto<br />

energético. Se fizermos uma respiração completa, ou seja, costodiafragmático-abdominal,<br />

a pressão da coluna aérea infraglótica é tão grande<br />

que, a menos que tenhamos um treinamento especial para o controle glótico<br />

(semelhante ao ministrado aos cantores líricos), iremos instalar um regime<br />

glótico hipertônico na tentativa de impedir uma grande saída de ar, exigindo<br />

um trabalho potente da musculatura respiratória para manter a caixa torácica<br />

alargada e elevada, o que também pode se observar pela contração do<br />

músculo esternocleidomastóideo nesses indivíduos. Isto significa que com o<br />

pulmão cheio de ar a fonação mais facilmente produzida terá ataque brusco<br />

e qualidade vocal tensa e comprimida, além de convidar o estabelecimento<br />

de uma fadiga vocal a curto prazo.<br />

Por outro lado, se inspirarmos muito pouco, a laringe também<br />

apresentará um gesto motor hipertônico, procurando aqui reduzir o gasto de<br />

ar durante a fala. Assim, a respiração média é a de menor gasto energético e<br />

muscular, propiciando a melhor qualidade vocal para a fala encadeada, pois<br />

não se realiza nem grande esforço inspiratório e nem expiratório, e a coluna<br />

de ar infraglótica é facilmente contrabalanceada pela firmeza glótica.<br />

Demandas vocais especiais requerem treinamento específico e seleção de<br />

outros ajustes motores.<br />

Esta é, de forma resumida, a visão do processo respiratório com a<br />

qual estamos acostumados a lidar. Existe, porém, um segundo nível de


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 15<br />

análise, onde a respiração é considerada um dos mais importantes<br />

elementos do reflexo da dinâmica emocional de um indivíduo, a pulsação<br />

básica da vida: nascemos para o mundo pela primeira respiração e dele nos<br />

retiramos através do "último suspiro".<br />

Do ponto de vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida<br />

e é o processo mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em<br />

resposta a qualquer estímulo interno ou externo. Assim, a respiração<br />

influencia e é influenciada pelo estado emocional em que nos encontramos;<br />

podemos modificar conscientemente nosso estado físico e mental pela<br />

maneira como respiramos.<br />

Apesar de seu caráter sutil, a respiração pode ser observada como<br />

experiência visível de nossa conexão com a terra.<br />

Quando respiramos superficialmente, experienciamos uma falta de<br />

ligação com o solo, com a qualidade sólida de nosso existência: "vivemos no<br />

ar".<br />

Quando a respiração é calma, profunda, regular e harmônica, nossa<br />

energia aumenta e todo o organismo se equilibra, a mente torna-se lúcida, o<br />

corpo alerta e sensitivo, a audição se mostra mais acurada, as cores mais<br />

vibrantes e a experiência vivencial aprofunda-se (Tulku, 1984 - apud Behlau<br />

e Pontes, 1995).<br />

Somente quando respiramos profundamente é que podemos entrar<br />

em contato com nossos sentimentos e sensações, transformando-os em<br />

palavras. Assim, por exemplo, quando choramos, após várias inspirações e<br />

ampliações forçadas da caixa torácica, acalmando-nos, entendemos por que<br />

brigamos com alguém e somos mais capazes de traduzir em palavras o que<br />

aconteceu.<br />

Várias observações podem ser feitas considerando-se a respiração<br />

quanto à profundidade e ao volume respiratório, à frequência dos ciclos, à<br />

relação entre as duas fases e à relação entre o volume de ar e a qualidade<br />

vocal utilizada. O equilíbrio da dinâmica respiratória expressa integridade da<br />

personalidade, enquanto alterações patológicas desse processo refletem<br />

níveis diversos de fragmentação emocional.<br />

Quando estamos agitados e excitados, nossa respiração torna-se<br />

irregular: um ciclo respiratório curto e rapidamente repetido é a única<br />

possibilidade respiratória nesse momento. Assim, no estado ansioso, não<br />

conseguimos uma sustentação adequada entre a quantidade de ar e a altura<br />

vocal é então muito difícil de ser conseguida.<br />

Pessoas ativas e energéticas apresentam em geral uma respiração<br />

mais profunda, ao passo que pessoas com pouca motivação apresentam um<br />

ciclo respiratório superficial, onde quase não se observam movimentos na<br />

região torácica; indivíduos pacientes e persistentes tendem a um equilíbrio<br />

quase perfeito entre as duas fases do processo, ao passo que pessoas<br />

deprimidas apresentam um decréscimo na frequência respiratória.


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 16<br />

Sabemos que é através de uma respiração completa que tomamos<br />

contato com nossos níveis psicoemocionais mais bloqueados; é fácil<br />

observarmos em nós mesmos, nas situação em que queremos evitar tais<br />

contatos, como reprimimos a movimentação do diafragma, superiorizando e<br />

restringindo o fluxo respiratório.<br />

A inibição da respiração é uma das mais imediatas, primárias e<br />

eficazes reações de defesa. Se entendemos que a respiração é o elemento<br />

de ligação entre o corpo e a mente, somos levados a concluir que ela pode<br />

se tornar um excelente veículo para compreendermos como eles funcionam.<br />

Resumindo, do ponto de vista fisiológico, a função da respiração é<br />

efetuar trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo; do ponto de<br />

vista psicológico, a respiração indica os ritmos da vida, sendo o processo<br />

mais flexível do nosso organismo, o primeiro a se alterar em resposta a<br />

qualquer estímulo externo eu interno.<br />

Daí vale ressaltar o seguinte:<br />

¡<br />

¡<br />

¡<br />

Respiração calma, regular e harmônica - Organismo<br />

equilibrado e mente calma;<br />

Fase inspiratória balanceada com fase expiratória -<br />

Indivíduos pacientes e persistentes;<br />

Respiração profunda e ritmada - Pessoas ativas e energéticas;<br />

Respiração superficial - Falta de ligação com a realidade.<br />

Para Boone, 1996, o milagre de respirar é que fazemos isso<br />

automaticamente, desde o momento em que nascemos. Quando precisamos<br />

de ar para qualquer espécie de esforço, automaticamente inspiramos mais<br />

profundamente. Quando dormimos, não precisamos instruir ou monitorar<br />

nosso mecanismo respiratório; ele continua trabalhando, constante e<br />

lentamente.<br />

Toda a fala - assim como o canto - é produzida pelo fluxo de ar que<br />

sai, fazendo com que as pregas vocais vibrem. A respiração para a fala é<br />

conseguida por uma rápida inspiração (tão rápida que não temos consciência<br />

disso), seguida por uma expiração prolongada. A voz é ativada pela duração<br />

da expiração.<br />

Geralmente, tomamos mais ar do que necessitamos usar para a<br />

fala. A maioria das pessoas, portanto, tem um amplo estoque de ar para<br />

falar, e experiência pouca ou nenhuma tensão respiratória enquanto fala.<br />

Tudo o que precisam fazer é pensar no que desejam dizer e começar a falar.<br />

Muitas pessoas com mecanismos respiratórios normais e livres de<br />

doenças, contudo, sentem-se sem ar quando falam. Em alguns casos, o<br />

problema pode ser causado por simples ansiedade, que pode tornar a<br />

respiração mais rápida e superficial.


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 17<br />

Para muitas outras pessoas, o problema é que não usam seus<br />

mecanismos respiratórios normais corretamente, ao falarem. Elas<br />

geralmente ajustam-se a uma das três categorias seguintes:<br />

¢<br />

Os Atletas - Ao invés de permitirem que a respiração renove-se<br />

automaticamente, os atletas podem tentar fazê-la funcionar. Eles<br />

podem levantar seus ombros e puxar o ar audivelmente<br />

mantendo seu diafragma contraído. Eles podem assemelhar-se a<br />

um peixe fora da água, mas são apenas seres humanos, cujo ar<br />

¢<br />

¢<br />

está prestes a acabar;<br />

0s Jogadores - O jogador não toma ar suficiente em uma<br />

respiração. Ele tem tanta pressa para dizer algo (talvez por medo<br />

de perder a atenção de seus ouvintes) que apenas toma uma<br />

rápida e superficial inspiração e segue a toda velocidade falando,<br />

apostando que terá ar o bastante para terminar o que está<br />

dizendo;<br />

O Esbanjador - Essas pessoas podem tomar muito ar em cada<br />

respiração, mas então comportam-se como se este pudesse<br />

durar para sempre, não importando o quanto falem.<br />

O que todos esses tipos familiares têm em comum é que não<br />

permitem que seus mecanismos respiratórios funcionem naturalmente a seu<br />

favor. Na verdade, na maior parte do tempo eles comportam-se como se<br />

respirar fosse um obstáculo à fala, ao invés de aquilo que a torna possível. O<br />

jogador e o esbanjador parecem incomodados por terem de fazer uma pausa<br />

para tomarem ar, enquanto o atleta parece ver a respiração como uma série<br />

de manobras que precisa realizar para dizer o que pretende. E todos eles<br />

estão provando que fazem um trabalho muito pior tentando fazer a<br />

respiração enquanto falam, ao invés de apenas deixarem que ela ocorra<br />

naturalmente.<br />

O corpo possui muitos processos vitais completamente<br />

automáticos, desde o piscar de olhos até os batimentos cardíacos, e a<br />

respiração é um deles. Nós não precisamos dirigir conscientemente o piscar<br />

para mantermos unida a superfície dos nossos olhos, ou nossos batimentos<br />

cardíacos para fazermos com que o sangue seja bombeado para todo o<br />

corpo. Com a respiração para a fala, tudo o que precisamos fazer é aprender<br />

como respirar (ou reaprender, já que nascemos sabendo) tão natural e<br />

facilmente quando falamos quanto fazemos em outras atividades de nossas<br />

vidas. A grande diferença para a fala é que esta requer uma rápida<br />

inspiração seguida por uma expiração prolongada, enquanto para a maioria<br />

das outras atividades diárias a inspiração e a expiração são quase iguais.<br />

Para Boone e McFarlane, 1994, os humanos aprenderam a usar a<br />

respiração para a fala, sustentando suas exalações para a vocalização.<br />

Tanto falar como cantar requer um fluxo de ar expiratório capaz de ativar a


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 18<br />

vibração das pregas vocais. Quando estão "treinando" sua voz, os locutores<br />

ou cantores, frequentemente, focalizam no desenvolvimento do controle<br />

consciente do mecanismo de respiração. Este controle consciente, no<br />

entanto, deve sempre ser consistente com as exigências fisiológicas de ar do<br />

indivíduo. Quando um problema ocorre com a respiração, é, muitas vezes, o<br />

conflito entre as necessidades fisiológicas e as exigências da fala/canto pelo<br />

ar que causa o uso incorreto do mecanismo vocal. Nossa dependência da<br />

renovação constante do suprimento de oxigênio impõe certas limitações<br />

sobre quantas palavras podemos dizer, quantas frases podemos cantar ou<br />

quanta ênfase podemos usar em uma expiração.<br />

Ainda segundo Boone e McFarlane, 1994; Pinho, 1998; Ferreira e<br />

Pontes, 1995; Quinteiro, 1989; Baxter, 1990; Crary e Col., 1996; Casanova,<br />

1992; Sataloff, 1997, o ar inspirado entra pelas narinas e passa pelas<br />

cavidades nasais para a nasofaringe através do pórtico velofaringiano aberto<br />

para a orofaringe. Para quem respira pela boca, o ar entra através da<br />

abertura bucal e passa pela cavidade oral, pela superfície da língua até a<br />

orofaringe. O ar, então, flui pela hipofaringe. Da hipofaringe, a inspiração flui<br />

para a laringe (figura 1), passa entre as pregas vocais ventriculares ou falsas<br />

pregas vocais e passa entre as verdadeiras pregas vocais para baixo, para a<br />

traquéia. Na extremidade inferior da traquéia, a via aérea se divide nos dois<br />

tubos bronquiais e bifurcação traqueal. Os tubos bronquiais ramificam-se<br />

adicionalmente em divisões conhecidas como bronquíolos e eles , por fim,<br />

terminam nos pulmões em pequenos sacos de ar conhecidos como sacos<br />

alveolares.<br />

Figura 1- O Trato Respiratório<br />

Observe o nível de repouso do<br />

diafragma delineado no contorno do<br />

diafragma.<br />

As costelas conectadas às doze vértebras torácicas e seus<br />

músculos associados desempenham um importante papel na respiração. O<br />

tórax pode movimentar-se de vários modos. Por exemplo, a parede da caixa<br />

torácica se expande para a inspiração do ar e cai para a expiração. Às<br />

vezes, os músculos acessórios no pescoço auxiliam na inspiração profunda,<br />

quando contraem, pois elevam os ombros e aumentam a dimensão vertical<br />

do tórax. Na base do tórax encontra-se o importante diafragma, um<br />

composto de músculos, tendão e membrana que separa a cavidade torácica


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 19<br />

da cavidade abdominal. Quando o diafragma contrai, ele desce e aumenta a<br />

dimensão vertical do tórax. Quando o diafragma relaxa ele ascende de volta<br />

à sua posição mais elevada. O diafragma tem contato direto com os pulmões<br />

e apenas o espaço pleural surge entre os pulmões e o diafragma. O<br />

diafragma relaxado fica elevado no tórax dentro da caixa torácica e o<br />

estômago e o fígado situam-se diretamente abaixo dele. Quando o diafragma<br />

contrai e desce empurra a partir de cima sobre os conteúdos do abdômen,<br />

muitas vezes deslocando a parede abdominal e empurrando-a para fora na<br />

inspiração. A parede abdominal é composta fundamentalmente pelos<br />

músculos abdominais que, às vezes desempenham um papel ativo na<br />

expiração. Isso é especialmente verdadeiro no canto, na fala em voz alta, no<br />

riso (daí o termo "riso de barriga"), ou ao produzir-se uma frase muito longa.<br />

O trato respiratório funciona de modo bastante semelhante a um<br />

fole. Quando movimentamos as alças do fole separando-as, o mesmo tornase<br />

maior; o ar dentro dele torna-se menos denso do que o ar fora dele. O ar<br />

de fora entra rapidamente devido à pressão mais baixa do ar menos denso<br />

no fole e à maior pressão do ar mais denso do lado de fora. A inspiração de<br />

ar para dentro do fole é obtida por um aumento ativo do corpo do fole. De<br />

modo semelhante, na respiração humana a inspiração do ar é efetuada pelo<br />

movimento ativo dos músculos que aumentam a cavidade torácica. Quando<br />

o tórax aumenta, os pulmões dentro do tórax aumentam. O ar dentro dos<br />

pulmões torna-se menos denso do que o ar atmosférico e a inspiração do ar<br />

inicia. O ar é expirado do fole pela aproximação das alças, diminuindo o<br />

tamanho da cavidade do fole, desse modo comprimindo o ar e forçando-o a<br />

sair rapidamente. Na respiração humana, no entanto, grande parte da<br />

expiração é efetuada através do colapso passivo do tamanho torácico e não<br />

através de contração muscular ativa. Grande parte da expiração é passiva. A<br />

respiração humana apresenta dois tipos de força que estão sempre<br />

presentes: força passiva (como os pulmões elásticos) e força volitiva, ativa<br />

(como a contração dos músculos da inspiração). A membrana pleural que<br />

cobre os pulmões pende, quase adesivamente, sobre a parede interna do<br />

tórax. Quando o tórax se expande por contração muscular, os pulmões<br />

dentro dele se expandem. A força elástica inerente dos pulmões está sempre<br />

lá. Seu recuo elástico será tão rápido quanto o colapso torácico permitir. De<br />

fato, na expiração em repouso (por exemplo, a expiração durante a<br />

respiração tranquila do sono), a fase expiratória da respiração é totalmente<br />

efetuada pela elasticidade das forças inerentes ou passivas.<br />

Grande parte da pressão de ar ou "força" necessária para a fala<br />

normal pode ser fornecida pelos fatores passivos da respiração (expiração<br />

passiva). Isso é desejável porque nenhuma ação muscular é necessária para<br />

fornecer este poder de respiração e, assim, não há qualquer tendência a<br />

"exagerar" o esforço (hiperatividade). Quando uma frase longa ou outra<br />

técnica de fala (como aumentar a intensidade ou cantar) requer mais esforço


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 20<br />

ou "força de respiração", nós compensamos a diferença entre a força suprida<br />

por fatores passivos e a quantidade necessária de força respiratória,<br />

utilizando a musculatura abdominal.<br />

Quando precisamos de maior força para falar mais intensamente,<br />

para enfatizar palavras ou para ampliar uma frase ao falar ou cantar,<br />

devemos usar os músculos maiores do abdômen e "abrir a torneira",<br />

controlando a fonte de ar. Desse modo, a pressão na válvula (a laringe) não<br />

é excessiva e a qualidade é melhor, não estando o delicado tecido laríngeo<br />

sujeito ao estresse e à tensão que produzem edema laríngeo e laringite.<br />

Agora, precisamos considerar os músculos da respiração que<br />

contribuem com força volitiva ativa na inspiração. O músculo fundamental da<br />

inspiração é o diafragma, conforme já observamos. Talvez os intercostais<br />

externos desempenhem o papel seguinte mais importante na inspiração;<br />

devido a sua angulação oblíqua, quando eles contraem, levantam as<br />

costelas inferiores, aumentando a caixa torácica em um plano algo<br />

horizontal. Uma leve elevação do tórax superior é obtida com a contração do<br />

peitoral maior e menor, dos elevadores costais, do serrátil posterior e dos<br />

músculos acessórios do pescoço (principalmente o esternocleidomastóideo).<br />

A elasticidade inerente primária e o recuo das estruturas torácicas entram em<br />

jogo, quando os músculos ativos da inspiração cessam de contrair e relaxam,<br />

porém, alguns músculos da expiração podem auxiliar na expiração. Estes<br />

músculos da expiração podem contrair em algumas condições de fala, canto<br />

e expiração forçada como as que usamos para tocar instrumentos de sopro.<br />

Os músculos principais da expiração são os quatro músculos abdominais: o<br />

oblíquo interno, o oblíquo externo, o transversal e o reto do abdômen.<br />

Alguma diminuição torácica pode também ser obtida através da contração<br />

ativa dos intercostais internos (eles inclinam para cima na direção oposta dos<br />

intercostais externos) e o serrátil posterior inferior.<br />

Na respiração passiva, o tipo de respiração que fazemos quando<br />

dormimos, a contração ativa dos músculos inspiratórios produz a inspiração<br />

e a fase de expiração do ciclo respiratório é totalmente relacionada a<br />

propriedades passivas (não-musculares) de colapso do tórax. Estes fatores<br />

passivos podem incluir elasticidade pulmonar, não-torção da costela, recuo<br />

visceral e a gravidade empurrando as costelas para baixo, para uma posição<br />

de repouso. Quando acrescentamos a função dos músculos expiratórios à<br />

expiração passiva, alteramos a duração e a força da expiração.<br />

Para Pinho, 1996, " o adequado controle respiratório é essencial<br />

para o bom rendimento vocal". Sabemos que a fala humana é uma função<br />

adaptativa, sendo necessário que as estruturas envolvidas na fonação<br />

estejam trabalhando em perfeita sincronia e de maneira equilibrada.<br />

Nós nascemos com a habilidade de respirar de maneira saudável.<br />

Se prestarmos atenção à respiração silenciosa de um bebê, notaremos que<br />

seu abdômen se expande enquanto ele inala. Por outro lado, quando ele


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 21<br />

chora esta musculatura se contrai em sincronia com seus gritos. Situação<br />

semelhante ocorre quando estamos dando gargalhadas.<br />

Infelizmente, na idade adulta, com o estresse do cotidiano, perde-se<br />

o hábito natural de respirar sem esforço, ocorrendo uma inversão dos<br />

movimentos com contração da musculatura abdominal durante a inspiração<br />

e a elevação dos ombros com grande tensão cervical. Este procedimento<br />

dificulta a soltura progressiva do ar. A utilização do padrão costal-superior<br />

durante a fonação tende a gerar uma excessiva adução glótica na tentativa<br />

de manter o ar dentro dos pulmões o máximo de tempo possível, a fim de<br />

cumprir com as necessidades fonatórias.<br />

Direcionando o pensamento para o canto, Pela, Rehder e Behlau,<br />

1998, relatam que cantar, individualmente ou em grupo, é uma das mais<br />

belas formas que o ser humano tem para expressar sentimentos, desejos,<br />

manifestações da alma e do espírito. Fisiologicamente, cantar é produzir uma<br />

emissão de uma série modulada de sons, com os órgãos da voz. Porém, a<br />

dimensão desse gesto vocal supera qualquer explicação de natureza<br />

fisiológica.<br />

A prática do canto existe desde os primórdios da civilização, sua<br />

evolução acompanha e retrata a história política, social e cultural do mundo.<br />

Os homens primitivos já cantavam em grupo, cantavam para cultuar, saudar,<br />

agradecer, exprimir seu pesar, avisar os outros do perigo e para acalmar os<br />

poderes superiores. Para isso, recorriam a todas as possibilidades de<br />

tessitura, quer seja em variação de frequência ou intensidade, quer seja na<br />

manipulação de diferentes qualidades vocais, imitando vozes de animais e<br />

sons da natureza. A música desta época era transmitida oralmente e, desse<br />

modo, o canto era mantido vivo por gerações.<br />

Segundo Quinteiro, 1989, no Brasil, as técnicas respiratórias mais<br />

usadas estimulam o uso da barriga, ou melhor, treina-se o aluno para que<br />

projete o ventre para a frente, como melhor técnica de respiração e apoio.<br />

A procedência de tal prática é muito antiga no Brasil. Vamos<br />

encontrar uma das ligações com essa prática na história do canto e da<br />

grande influência que o bel canto exerceu em nosso país. As práticas da<br />

escola italiana de canto foram muito apreciadas entre nós, encontrando<br />

múltiplos seguidores, que se mantêm ativos até os dias atuais. Depois do bel<br />

canto, outras escolas ocorreram, mas sem grandes representantes.<br />

Percebemos hoje, dentro do canto, a busca das práticas alemãs,<br />

em que o ventre é usado como apoio, para dentro (barriguinha de praia) mas<br />

não como fole. Percebemos com alegria que o intercâmbio entre alemães e<br />

brasileiros, na atividade do canto, cresce a cada dia. Através desse<br />

intercâmbio, o uso do ventre como auxiliar respiratório assume função um<br />

pouco diferente. O ventre fica empurrado para dentro, auxiliado por leve<br />

contração da massa glútea, criando-se um aumento da pressão interna entre


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 22<br />

o diafragma torácico e o diafragma pélvico, o que funciona muito bem como<br />

apoio para o canto e para a fala cênica.<br />

Por outro lado, para Behlau e Rehder, 1997, existe muita discussão<br />

sobre qual seria a melhor respiração para o canto, sendo este um tema de<br />

acirradas controvérsias entre regentes, professores de técnica vocal e<br />

pesquisadores na área. Antes, dava-se muito mais importância a este<br />

aspecto, sendo que hoje até mesmo existem escolas de canto que<br />

praticamente negligenciam a prática respiratória.<br />

De modo bastante simplificado, existem duas opções respiratórias<br />

para o canto e uma série numerosa de posições intermediárias. A primeira<br />

opção é a de se manter o abdome expandido durante a emissão - o que é<br />

chamado popularmente de "cantar com a barriga para fora", e a segunda<br />

preconiza que se mantenha o abdome encolhido durante a emissão - o que<br />

é chamado de "cantar com a barriga para dentro". Ambas as escolas geram<br />

bons e maus cantores, mas as pessoas tendem a se sentir mais confortáveis<br />

cantando com o tórax e o abdome expandidos, embora isto não seja uma<br />

regra definitiva.<br />

Um outro detalhe é que muitas vezes o aluno de canto é instruído a<br />

não mover os ombros enquanto respira. O ato de erguer os ombros durante<br />

a inspiração serve para liberar parcialmente os pulmões do rígido limite da<br />

caixa torácica, auxiliando uma rápida entrada de ar. Isso pode ser observado<br />

quando precisamos gritar. No canto, esta manobra pode tornar-se<br />

necessária, sem que isso indique um problema de técnica vocal, em<br />

situações de exigência de grande fluxo de ar, como por exemplo nas frases<br />

musicais em fortíssimo.<br />

Para Hamam e Col., 1996, o profissional do canto exige mais do<br />

seu parelho fonador do que um não-cantor, na medida em que necessita de<br />

um controle maior da altura, intensidade, extensão vocal, qualidade da voz,<br />

respiração e articulação, entre outros.<br />

Das diversas formas de canto, distingue-se basicamente o canto<br />

lírico e o canto popular. O canto lírico é baseado no estudo vocal<br />

obedecendo regras definidas de sonoridade, em geral, para ser utilizado em<br />

óperas ou para interpretar músicas clássicas. Há uma preocupação em se<br />

trabalhar o aparelho fonador para que a emissão se produza segundo<br />

padrões definidos. O canto popular é o canto expontâneo, sem regras<br />

precisas de sonoridade, que expressa a cultura de um povo.<br />

No canto lírico utiliza-se a laringe como instrumento musical, onde a<br />

articulação da palavra tem pouca importância. Geralmente não se utiliza<br />

amplificação sonora eletrônica e os cantores possuem técnicas especiais<br />

para a produção e projeção da voz. Este fato reforça a necessidade de<br />

formação musical específica.<br />

No canto popular, as palavras e a articulação assumem maior<br />

importância e a voz é, em geral, amplificada por equipamentos eletrônicos,


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 23<br />

os quais podem proporcionar recursos adicionais como eco, controle de<br />

graves e agudos, entre outros.<br />

Os cantores populares, utilizando-se destes recursos, não<br />

necessitam desenvolver técnicas específicas de produção e projeção de voz.<br />

No canto lírico, os cantores precisam ser classificados de acordo<br />

com o tipo, "naipe" de vozes que possuem.<br />

Para Campiotto, 1997, a classificação vocal mais comum divide as<br />

vozes masculinas e femininas em três grupos cada, sendo as vozes graves<br />

os baixos e contraltos, as médias os barítonos e mezzosopranos e as vozes<br />

agudas os tenores e sopranos, respectivamente.<br />

Várias são as maneiras de se classificar uma voz e,<br />

paradoxalmente, as que são consideradas mais prudentes não levam em<br />

conta apenas a extensão/tessitura vocal - que é o modo mais comum de<br />

realizá-las. Ouras maneiras consideram também a extensão, a qualidade e a<br />

potência, além do volume dos ressoadores, notas de passagens<br />

(acomodação dos ressoadores, corte entre dois registros), tamanho das<br />

pregas vocais, estatura, constituição física, altura da voz falada,<br />

características temperamentais, endócrinas e sexuais. Podemos concluir,<br />

portanto, que a tarefa de classificar uma voz não deve ser apressada,<br />

devendo ocorrer após pelos menos alguns meses (muitos profissionais<br />

mencionam o tempo mínimo de um ano) de acompanhamento por um<br />

regente ou técnico vocal. Sem dúvida, a extensão (que vai da nota mais<br />

grave à mais aguda que uma pessoa é capaz de produzir,<br />

independentemente da qualidade da emissão) e a tessitura (faixa de notas<br />

emitidas com qualidade, cor e volume uniformes) são o parâmetro básico<br />

durante a classificação de uma voz e é importante que saibamos que elas<br />

variam com o crescimento (aumentam) e durante a velhice (diminuem), além<br />

do que devem ser consideradas variações individuais como treino, modo de<br />

fonação e estrutura anatômica.<br />

Contudo, independentemente do estilo preferido de canto, lírico ou<br />

popular, ou da classificação vocal, segundo Boone e McFarlane,1994, o tipo<br />

de respiração que o paciente usa pode ser, muitas vezes, acuradamente<br />

determinado por cuidadosa observação visual clínica. O tipo mais ineficaz de<br />

respiração, o clavicular, parece ser o mais fácil de identificar. O paciente<br />

eleva os ombros na inspiração, utilizando os músculos acessórios do<br />

pescoço como os principais músculos da inspiração. Esta respiração torácica<br />

superior, caracterizada pela elevação perceptível das clavículas, é<br />

insatisfatória para uma boa voz por duas razões: primeiramente, as<br />

extremidades apicais, superiores dos pulmões, quando expandidas, não<br />

provêem sozinhas uma respiração adequada; e em segundo, o esforço para<br />

usar os músculos acessórios do pescoço para a respiração é, muitas vezes,<br />

visualmente aparente, com músculos "sobressaindo-se" individualmente ( em<br />

particular os esternocleidomastóideos, quando se contraem para elevar o


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 24<br />

tórax superior). Embora pouca evidência de pesquisa identifique claramente<br />

os efeitos negativos da respiração clavicular sobre a fala, nenhum cantor<br />

sério perderia tempo desenvolvendo este raso reservatório de ar na parte<br />

superior dos pulmões. A tensão muscular excessiva criada exerce um efeito<br />

sobre a qualidade de voz. A respiração do tipo clavicular requer demasiado<br />

esforço para pouca respiração e contribui para uma tensão muscular<br />

excessiva.<br />

A respiração diafragmática-abdominal pode, certamente, ser o<br />

método preferido de respiração, especialmente se o paciente tem exigências<br />

vocais intensas como no canto, na representação dramática ou na fala sem<br />

amplificação eletrônica, como em um palco de ópera. Este uso da respiração<br />

torácica baixa comumente pode ser identificado pela presença de expansão<br />

abdominal e torácica baixa, na inspiração e uma gradual diminuição na<br />

proeminência abdominal/torácica baixa, na expiração. Quando solicitado a<br />

tomar uma respiração profunda, tal paciente demonstrará, ao inspirar,<br />

expansão relativamente ativa do baixo tórax e pouco movimento perceptível<br />

do tórax superior.<br />

A respiração é tão importante que pode até mesmo afetar a<br />

estabilidade e a postura da coluna vertebral, se não realizada corretamente.<br />

É sabido que a maioria dos músculos do sistema respiratório está ligada às<br />

vértebras cervicais e lombares. Por isso é que a postura do corpo está ligada<br />

à respiração. A posição da coluna é que vai determinar a velocidade e a<br />

qualidade da respiração (Beuttenmuller e Laport, 1989).<br />

Boone e McFarlane, 1994, continuam esclarecendo que ao<br />

trabalhar com um cantor, ator ou palestrante que precise de algum<br />

treinamento formal da respiração, você poderia tomar as seguintes medidas:<br />

£<br />

£<br />

Discuta a importância de uma boa postura, porque a postura<br />

normal é um dos melhores facilitadores da respiração normal.<br />

Qualquer afastamento real de uma boa postura, como inclinar-se<br />

para frente com a cabeça (cifose), pode contribuir para a<br />

respiração deficiente;<br />

Demonstre respiração abdominal-diafragmática. Primeiramente,<br />

faça o sujeito deitar supino com suas mãos sobre o abdômen,<br />

diretamente sob a caixa torácica. Nesta posição, a distensão do<br />

abdômen na inspiração será observável. A excursão para baixo<br />

do diafragma que aumenta a dimensão vertical do tórax, não<br />

pode ser vista diretamente (porque os ligamentos do diafragma<br />

estão atrás e dentro das costelas); seu efeito pode ser visto,<br />

apenas, pelo deslocamento para fora do abdômen. Na expiração,<br />

enquanto o diafragma ascende, a distensão abdominal diminui.<br />

Nesta forma de respiração, então, o paciente deve<br />

deliberadamente tentar relaxar os músculos abdominais durante<br />

a inspiração e contraí-los durante a expiração. Se isso puder ser


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 25<br />

feito com sucesso na posição supina, o paciente deve tentar<br />

duplicar o procedimento enquanto permanece com as costas<br />

encostadas contra uma parede. Continuar a enganchar suas<br />

mãos sobre o abdômen ajudará o paciente a desenvolver alguma<br />

percepção inicial da diferença entre relaxamento abdominaldistensão<br />

e contração-achatamento. Tão logo o sujeito aprenda<br />

a respirar por este relaxamento-contração dos músculos<br />

abdominais, introduza algumas atividades de vocalização para<br />

serem feitas na expiração. O paciente vocal que esteve falando<br />

"no nível da sua garganta", sem apoio respiratório adequado,<br />

muitas vezes, "sentirá" a diferença que uma respiração maior faz<br />

apenas quando a vocalização é acrescentada.<br />

Para Pinho, 1998, vale, mais uma vez, ressaltar que a respiração<br />

bucal causa ressecamento de todo o trato vocal, prejudicando a vibração das<br />

pregas vocais. Na presença de rinite alérgica não intensa, a terapia<br />

respiratória pode auxiliar. O desuso do nariz como via de acesso do ar<br />

respiratório pode ser a causa da atrofia da mucosa nasal.<br />

Podemos acrescentar neste estudo sobre cantores o grande<br />

conhecimento de Quinteiro, 1989, pesquisadora de atores de teatro e fazer<br />

uma analogia aos cantores, onde ela ressalta que uma das preocupações<br />

mais frequentes no trabalho vocal do ator é o fato de a voz ir para a<br />

garganta, que é uma região de vibração. Mais especificamente, falamos das<br />

pregas vocais, que vibram para produzir o som e que não devem, portanto,<br />

receber qualquer tensão. No entanto, faz-se necessário um ponto de apoio<br />

para que se possa lançar o som vocal à distância que se deseja. Via de<br />

regra, os atores fazem da garganta esse ponto de apoio. Essa incoerência<br />

faz com que os atores passem a exibir gargantas estufadas e de veias<br />

saltadas.<br />

Nossa proposta de apoio é a pressão que pode ser deflagrada<br />

entre os dois diafragmas: o diafragma torácico e o diafragma pélvico.<br />

O ator deve promover uma leve pressão abdominal (baixo<br />

ventre), mais ou menos a uns quatro dedos abaixo do umbigo, seguindo-se<br />

de uma leve contração glútea. A situação pode ser comparada ao que nós<br />

chamamos de barriguinha de praia: um leve recolhimento da barriga, sem<br />

envolver a região estomacal, seguido de sutil contração glútea (figura 2).<br />

Este exercício deve ser incorporado ao dia-a-dia do ator, tornando-se um<br />

hábito natural e constante na sua vida.<br />

É para esta região pélvica que o ator deve encaminhar sua<br />

atenção quando desejar uma projeção mais resistente. O cinturão pélvico,<br />

como costumamos chamar a esta disposição corporal, é indispensável para<br />

a fala cênica. Quando o ator dirigir a sua fala para o grito ou para o sussurro,<br />

recomenda-se um cingimento máximo do cinturão pélvico. Nessa situação,


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 26<br />

por pressão negativa, existe grande quantidade de ar retirada pelos pulmões.<br />

É muito comum que os atores levantem os ombros antes do grito e esta<br />

atitude fatalmente soltará o cinturão pélvico, deixando obviamente o grito<br />

sem o apoio pélvico e caindo na garganta; logo, recomenda-se muito<br />

cuidado, observação e muito treino.<br />

Se o apoio está a cargo do cinturão pélvico, as costelas são<br />

responsáveis pela pressão de sucção e de expulsão da coluna aérea. O<br />

vento, ao passar pelas pregas vocais faz com estas vibrem, produzindo o<br />

tom fundamental ou som inicial, que será amplificado e modelado na<br />

sequência de percurso de expulsão. Na amplificação sonora, os seios<br />

paranasais e o osso esterno têm grande participação. A modelagem ocorre<br />

por conta dos lábios, da língua, do véu palatino e demais componentes buconasais.<br />

1. Barriga para dentro (quatro dedos abaixo<br />

do umbigo ou, se preferir, logo acima do<br />

osso púbico).<br />

2. Movimento da massa glútea fechando as<br />

nádegas.<br />

3. Os joelhos devem permanecer “bobos”.<br />

4. Ao andar, contrair as nádegas<br />

alternadamente.<br />

Pinho, 1996, concorda que o melhor padrão respiratório para voz<br />

falada e voz cantada é mesmo o costo-diafragmático-abdominal e explica<br />

que para que haja o aumento da intensidade vocal com menor esforço<br />

glótico é necessário que haja um aumento da pressão subglótica. Em<br />

situação de fala usual em forte intensidade, os músculos inspiratórios<br />

(intercostais externos e diafragma) relaxam, ao mesmo tempo que os<br />

músculos intercostais internos e a musculatura da cinta abdominal entram<br />

em atividade. Sendo assim haverá um aumento do fluxo de ar expiratório,<br />

gerando um aumento da pressão subglótica, aliada à adução glótica.


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 27<br />

Dependendo da demanda fonatória será solicitada maior ou menor atividade<br />

da musculatura envolvida.<br />

Durante as situações de canto lírico (fortíssimos e agudíssimos) e<br />

locução teatral em fortes intensidades, existe um mecanismo distinto. Deve<br />

haver uma sustentação da abertura das costelas, por manutenção da<br />

contração dos intercostais externos e uma contração sincrônica da<br />

musculatura da cinta abdominal. Este procedimento permite melhores<br />

condições de apoio vocal, já que vários pulsos de ar poderão ser eliminados<br />

com pressão elevada dentro de um mesmo período expiratório. Ainda nesta<br />

modalidade, a emissão vocal em pianíssimos será altamente beneficiada<br />

com o controle da saída do ar com manutenção da sustentação intercostal,<br />

favorecendo exalação mais prolongada.<br />

O estudo do funcionamento do sistema respiratório nas diversas<br />

situações de fala e canto torna bastante claro que a melhora da função vocal<br />

pode ser obtida ou pelo menos auxiliada pela mudança dos hábitos<br />

respiratórios.<br />

O primeiro passo para a introdução do padrão costo-diafragmáticoabdominal<br />

é a respiração invertendo-se a ordem dos fatos, isto é, deve-se<br />

solicitar ao paciente que realize primeiro a expiração forçando a contração da<br />

musculatura abdominal, empurrando o conteúdo visceral para dentro. O<br />

terapeuta deve induzir os movimentos mencionados apertando com as mãos<br />

a região da cintura do paciente, incluindo as costelas, auxiliando na expulsão<br />

do ar, que deve ser expelido até o final do ar de reserva. Ao mesmo tempo,<br />

deve-se pedir ao paciente (caso ele esteja em pé) que incline levemente seu<br />

corpo para frente, de tal maneira que quando inalar novamente, bloqueie a<br />

elevação dos ombros. Imediatamente, solicita-se a inalação tentando manter<br />

postura corporal levemente inclinada e forçando a abertura lateral das<br />

costelas e a expansão abdominal. Após a realização deste procedimento,<br />

repetidamente, tentar inspirar normalmente mantendo o padrão ensinado.<br />

Outro procedimento que pode também auxiliar na introdução deste<br />

padrão respiratório, seria, em posição sentada, com os cotovelos apoiados<br />

sobre as costas e o queixo sobre as mãos, pedir ao paciente que inspire<br />

profundamente várias vezes, sentindo a abertura posterior das costelas e a<br />

expansão abdominal. Esta postura além de permitir a percepção da abertura<br />

das costelas e a expansão abdominal, ainda impede a elevação dos ombros,<br />

tão inadequada às situações de fonação.<br />

Outra forma, ainda, é utilizar o Método da Acentuação descrito por<br />

Kotby, 1995, o qual mescla o apoio da cinta abdominal a contrações rítmicas.<br />

Para tanto, é ensinado ao paciente a utilizar o padrão respiratório costodiafragmático-abdominal,<br />

com o controle sobre o diafragma, músculos<br />

intercostais e a cinta abdominal.


O JOVEM PROFISSIONAL DA VOZ<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 28<br />

Segundo Wilson, 1993, o jovem profissional da voz deve atingir<br />

certos padrões em parâmetros vocais antes de ingressar profissionalmente<br />

na carreira:<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

¤<br />

A frequência fundamental da fala segundo a idade que varia de<br />

1-2 anos a 18 anos se desenvolve de 445Hz a 125Hz para<br />

homens e de 445Hz a 205Hz para mulheres;<br />

A vibração das pregas vocais verdadeiras deve ser regularmente<br />

periódica e eficiente na utilização do ar, sem ruído ou fricção<br />

aperiódicas audíveis. As falsas pregas vocais ou bandas<br />

ventriculares não devem vibrar;<br />

A quantidade de frequência jitter e amplitude shimmer devem ter<br />

uma variação limitada, e não devem apresentar desvios<br />

perceptíveis;<br />

O comprimento do trato vocal deve estar adequado e não deve<br />

estar comprimido ou estirado por lábios projetados demais ou<br />

pela mudança da laringe para uma posição muito alta ou muito<br />

baixa;<br />

O diâmetro transversal do trato vocal deve estar íntegro e deve<br />

permanecer livre de locais de constrições realizadas por lábios,<br />

língua, mandíbula, pilares das fauces ou faringe;<br />

Para uma ressonância oral aceitável as frequências dos<br />

formantes que compõem as vogais e consoantes ressonantes<br />

devem ter uma distribuição e uma concentração apropriadas de<br />

energia acústica;<br />

A tensão muscular em todas as partes do aparelho vocal não<br />

deve ser excessivamente alta ou excessivamente baixa,<br />

assegurando o equilíbrio apropriado do tono muscular;<br />

As articulações orais frontais devem ser bem projetadas para a<br />

frente;<br />

A competência velofaríngea deve estar intacta, permitindo a<br />

ressonância nasal audível somente quando linguisticamente<br />

necessária.<br />

Os especialistas não estão completamente de acordo sobre a idade<br />

em que o treinamento da voz deveria ser iniciado. O empenho vocal sério<br />

pode começar na infância e continuar por toda a vida de uma pessoa. O<br />

momento ideal para começar o treinamento da voz é controverso, e por<br />

muitos anos achou-se que o treinamento da voz e o canto tomados<br />

seriamente não deveriam ser iniciados até próximo à puberdade para a<br />

mulher e após a puberdade e estabilização da voz no homem. Contudo, em<br />

uma criança com aspirações vocais e potencial verdadeiro, o treinamento


MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 29<br />

especializado pode começar precocemente na infância. Os objetivos<br />

principais de tal instrução precoce são ensinar a criança a usar a voz sem<br />

esforço e impedir todas as formas de abuso vocal.<br />

O exame da voz cantada foi descrito por Sataloff (1983 apud<br />

Wilson). Em primeiro lugar, checa-se a postura de canto da pessoa. Ela<br />

deveria estar equilibrada com o peso ligeiramente para a frente. Os joelhos<br />

estariam ligeiramente dobrados e os ombros, tronco e pescoço estariam<br />

relaxados. No movimento respiratório silencioso a pessoa deveria inspirar<br />

pelo nariz, permitindo a filtragem, aquecimento e umidificação do ar<br />

inspirado.<br />

Além disso, o peito estaria expandido, porém não substancialmente<br />

erguido e a musculatura supraclavicular não estaria, obviamente, envolvida<br />

na inspiração. Sataloff estabeleceu que o movimento respiratório mais ativo é<br />

o abdominal e, por conseguinte, antes do início de uma emissão, o suporte<br />

abdominal deveria estar firme ou flexionado, o que poderia ser checado<br />

visualmente ou por apalpação. Os músculos do pescoço e da face devem<br />

estar relaxados e não haveria qualquer energia, movimento ou tensão<br />

muscular supérfluas. Sataloff ainda ressalta que os erros técnicos mais<br />

comuns cometidos pelos cantores envolve a tensão muscular excessiva na<br />

língua, pescoço, laringe e apoio abdominal inadequado.


CONCLUSÃO<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 30<br />

O objetivo deste trabalho foi identificar, na literatura, as diversas<br />

técnicas de respiração para o canto, por meio de levantamento bibliográfico<br />

nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.<br />

Dentre os autores pesquisados pudemos verificar a existência de<br />

dois padrões básicos de respiração: o clavicular ou superior e o costodiafragmático-abdominal<br />

ou inferior.<br />

Todos os autores, sem exceção, recomendaram como padrão<br />

adequando o costo-diafragmático-abdominal. Ferreira e Pontes, 1995,<br />

completam que este padrão é ideal não só porque determina um ato de<br />

fonação mais adequado, mas também por proporcionar uma melhor<br />

ventilação pulmonar.<br />

Pinho, 1996, reforça que a respiração costal superior gera tensão<br />

em toda a região cervical, inadequada para bom desempenho vocal.


RESUMO<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 31<br />

Devido à grande divergência entre pesquisadores, professores de<br />

canto e fonoaudiólogos acerca da técnica de apoio respiratório que propiciem<br />

um melhor resultado para os cantores, faz-se necessário investigar na<br />

literatura existente nas áreas de Fonoaudiologia, Canto e Música.<br />

Sabemos que a respiração é o alicerce da boa voz tanto para<br />

situações de fala quanto de canto e também que as diferentes formas de<br />

canto requerem diferentes demandas vocais e diferentes padrões de apoio<br />

respiratório com controle específico de fluxo aéreo.<br />

Diversos autores foram consultados e pesquisados, chegando à<br />

conclusão que o melhor e mais eficiente padrão de apoio respiratório para<br />

situações de fala e canto é o padrão costo-diafragmático-abdominal, por<br />

propiciar um aumento da pressão sub-glótica ocasionado pela contração da<br />

cinta abdominal, músculos intercostais externos e diafragma, sem<br />

sobrecarregar a laringe, o que seria um apoio insatisfatório podendo causar<br />

grandes distúrbios vocais tanto em falantes quanto em cantores.


SUMMARY<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 32<br />

Because of a big divergency between searchers, singing teachers<br />

and speech-language pathologist about technical support of breath that can<br />

give better results to singers, it is necessary to investigate on Speechlanguage<br />

Pathologist, Singing and Musician literature.<br />

We know that breath is the basis to a good voice on speak situation<br />

as well as singing. We also know that differents ways of singing needs<br />

differents vocal contest and differents standard support of breath with a<br />

specific aerial flux control.<br />

Many authors was consulted and searched, concluding that the best<br />

and more efficient standart support of breath to a speak and singing situation<br />

is the abdominal-diaphragmatic breathing standart because it can proportion<br />

a high of sub-glotic pressure caused by abdominal muscles contraction,<br />

intercostal muscles and diaphragm, what would be an insatisfaction suport,<br />

that could cause big vocal disturbs on normal speakers as well as on singers.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

MAYRA CARVALHO OLIVEIRA 33<br />

1. BAXTER, M. - The rock-n-roll singer's suvival manual. Wisconsin,<br />

Hal Leonard Publishing Corporation, 1990.<br />

2. BEHLAU, M. S. & PONTES, P. A. L. - A avaliação da voz. In:<br />

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