O ESTETISMO NA MÚSICA CONTEMPORÂNEA - Revistas.uea.edu.br
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A tentativa de se abstrair dos fatos sonoros, considerados em sua natureza material e histórica,<<strong>br</strong> />
teve a sua contraparte subjetiva no esforço de minar a memória e os gostos pessoais do<<strong>br</strong> />
processo de composição. Para isso, compositores adotaram processos aleatórios que são<<strong>br</strong> />
efetuados por meio de notações geométricas ou propostas de ação indeterminadas que são<<strong>br</strong> />
sugeridas através de rabiscos, gráficos, textos etc.<<strong>br</strong> />
Nas partituras do compositor americano Early Brown, por exemplo, escritas nos anos<<strong>br</strong> />
50, o conceito exprime uma determinada poética baseada no construtivismo europeu<<strong>br</strong> />
(BRINDLE, 1987, p. 89). Já em Composition 1960 # 7, de La Monte Young, e em Accidents<<strong>br</strong> />
(1967), de Larry Austin, o conceito sintetiza de maneira absoluta o teor de significação da<<strong>br</strong> />
tarefa proposta. A ação indicada em Composition # 7 determina que as notas Si e Fa# devam<<strong>br</strong> />
ser sustentadas por um longo tempo (COPE, 1993, p.173); Accidents contém instruções para<<strong>br</strong> />
o pianista tocar enquanto evita sons concretos (p.174).<<strong>br</strong> />
Em suma, a relação cartesiana sujeito X objeto que fundamenta a postura do artista<<strong>br</strong> />
diante de sua criação, isola a o<strong>br</strong>a de seu contexto histórico, formado por valores abstratos e<<strong>br</strong> />
determinações sociais. Portanto, o rechaço ou esquecimento desse contexto pelo compositor/a<<strong>br</strong> />
r<strong>edu</strong>nda em uma política de conservação de conteúdos e de modelos tradicionais que<<strong>br</strong> />
direcionam a reflexão e o fazer artístico.<<strong>br</strong> />
Nesse sentido, é pertinente indagar so<strong>br</strong>e o valor de autenticidade na o<strong>br</strong>a de arte.<<strong>br</strong> />
Assim como nas demais profissões a ritualização dos costumes elimina a necessidade de<<strong>br</strong> />
justificativas, na arte a mitificação de técnicas e procedimentos de trabalho gera ausência de<<strong>br</strong> />
expectativas, de inquietude. Concluímos então que, na arte, a consciência e o sentido do valor<<strong>br</strong> />
que ela guarda imanente dependerá, em parte, da subjetividade que abarca e norteia a<<strong>br</strong> />
experiência estética. A inquietude, o espanto, incita a curiosidade, a imaginação, e estas<<strong>br</strong> />
ajudam eventualmente a deflagrar processos reflexivos em torno do fazer e da apreciação<<strong>br</strong> />
artística. Daí se infere que o valor de autenticidade de uma o<strong>br</strong>a seja ela compreendida do<<strong>br</strong> />
ponto de vista tradicional, seja a partir de uma idéia de arte depende concretamente da<<strong>br</strong> />
sensibilidade estética, da memória afetiva e de uma consciência histórica capaz de inscrever o<<strong>br</strong> />
sujeito em seu tempo.<<strong>br</strong> />
Na área da <strong>edu</strong>cação musical, a filosofia positivista contribuiu para gerar uma hiperespecialização<<strong>br</strong> />
de disciplinas básicas em detrimento de abordagens globais. Sendo assim, a<<strong>br</strong> />
ênfase na utilização de processos analíticos, por exemplo, em estudos semióticos, no ensino<<strong>br</strong> />
da percepção e na compreensão da história da música exclui contextos de significação<<strong>br</strong> />
valorativos que a<strong>br</strong>angem a estética, a moral e o conhecimento dos modos de conhecimento<<strong>br</strong> />
científico (GARDNER, 1999).<<strong>br</strong> />
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