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Volume 15 - Unifesp

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REVISTA NEUROCIÊNCIAS<br />

Editor Chefe / Editor in chief<br />

Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editora Executiva / Executive Editor<br />

Luciane Bizari Coin de Carvalho, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editor Administrativo / Managing Editor<br />

Marco Antonio Cardoso Machado, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Co-editor / Co-editor<br />

José Osmar Cardeal, MD, PhD<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editores Associados / Associated Editors<br />

Alberto Alain Gabbai, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Esper Abrão Cavalheiro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Sergio Cavalheiro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Indexações / Indexations<br />

1. Latindex – Sistema Regional de Información en Línea para Revistas Científicas de<br />

américa Latina, el Caribe, España y Portugal, www.latindex.org, desde 2006.<br />

2. Psicodoc, desde 2007.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3<br />

176


Data de efetiva circulação deste número / Actual date of circulation of the present number<br />

Setembro de 2007<br />

Publicações da Revista Neurociências<br />

1993, 1: 1 e 2<br />

1994, 2: 1, 2 e 3<br />

1995, 3: 1, 2 e 3<br />

1996, 4: 1, 2 e 3<br />

1997, 5: 1, 2 e 3<br />

1998, 6: 1, 2 e 3<br />

1999, 7: 1, 2 e 3<br />

2000, 8: 1, 2 e 3<br />

2001, 9: 1, 2 e 3<br />

2002, 10: 1, 2 e 3<br />

2003, 11: 1<br />

2004, 12: 1, 2 , 3 e 4<br />

2005, 13: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)<br />

2006, 14: 1, 2, 3, 4 e suplemento (versão eletrônica exclusiva)<br />

2007, <strong>15</strong>: 1, 2, 3 -<br />

Revista Neurociências — vol <strong>15</strong>, n.3 (2007) — São Paulo: Grámmata Publicações e Edições<br />

Ltda, 2004–<br />

Quadrimestral até 2003. Trimestral a partir de 2004.<br />

ISSN 0104–3579<br />

1. Neurociências;<br />

177 Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3


Editores Fundadores / Founder Editors<br />

José Geraldo de Carmargo Lima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP.<br />

Editores Científicos / Scientific Editors<br />

1993-1995: José Geraldo de Camargo Lima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP.<br />

1996-1997: Luiz Augusto Franco de Andrade, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

e Dr. Eliova Zukerman, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

1998-2003: José Osmar Cardeal, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

2004- : Gilmar Fernandes do Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Assinaturas / Subscription<br />

Revista trimestral, assinatura anual. Preços e informações disponíveis em http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Fone/fax: (11) 3487-9532<br />

Versão online dos artigos completos / Version of the complete articles<br />

http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Correspondências / Letters<br />

Todas as correspondências devem ser encaminhadas ao Editor Chefe da Revista Neurociências A/C Gilmar Fernandes do<br />

Prado – Rua Claudio Rossi 394, Jd. da Glória, São Paulo-SP, CEP 0<strong>15</strong>47-000. Fone/fax: (11) 3487-9532<br />

E-mail: revistaneurociencias@yahoo.com<br />

http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Tiragem / Circulation<br />

3.000 exemplares<br />

Editoração, Publicação / Editorial, Publication<br />

Grámmata Publicações e Edições Ltda.<br />

grammata@grammata.com.br<br />

http://www.grammata.com.br<br />

Jornalista Responsável / Journalist in Charge<br />

Fausto Piedade, Mtb 12.375<br />

Entidade Mantenedora / Financial Support<br />

Associação Neuro-Sono<br />

Revisão técnica / Technical review<br />

Revista Neurociências – Corpo Editorial<br />

Apoio / Sponsorship<br />

Associação Neuro-Sono, UNIFESP<br />

A Revista Neurociências (ISSN 0104-3579) é um periódico com volumes anuais e números trimestrais, publicados em<br />

março, junho, setembro e dezembro. É o Jornal Oficial do Departamento de Neurologia e Neurocirurgia da UNIFESP e<br />

foi fundada em 1993 pelo Prof. Dr. José Geraldo de Camargo Lima; tem como Editor Chefe o Prof. Dr. Gilmar Fernandes<br />

do Prado, desde 2004, e é administrada pela Associação Neuro-Sono. Publica artigos de interesse científico e tecnológico,<br />

voltada à Neurologia e às ciências afins, realizados por profissionais dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com<br />

ênfase em temas de cunho prático, específicos ou interdisciplinares. Todos os artigos são revisados por pares (peer review) e<br />

pelo Corpo Editorial. Os artigos aprovados são publicados na versão impressa em papel e na versão eletrônica. A linha<br />

editorial da revista publica preferencialmente artigos de pesquisas originais (inclusive Revisões Sistemáticas), mas também<br />

são aceitos para publicação artigos de Revisão de Literatura, Atualização, Relato de Caso, Resenha, Ensaio, Texto de<br />

Opinião e Carta ao Editor, desde que aprovado pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados em Congressos ou Reuniões<br />

Científicas de áreas afins poderão constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da Revista Neurociências.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3<br />

178


Editor Chefe / Editor in Chief<br />

Gilmar F Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editora Executiva / Executive Editor<br />

Luciane BC Carvalho, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editor Administrativo / Manager Editor<br />

Marco AC Machado, SSD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Co-Editor / Co-Editor<br />

José O Cardeal, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Editores Associados / Associate Editors<br />

Alberto A Gabbai, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Esper A Cavalheiro, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Sergio Cavalheiro, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Corpo Editorial / Editorial Board<br />

Desordens do Movimento / Movement<br />

Disorders<br />

Henrique B Ferraz, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Francisco Cardoso, MD, PhD,<br />

UFMG, MG<br />

Sônia MCA Silva, MD, PhD, HSPE, SP<br />

Egberto R Barbosa, MD, PhD,<br />

FMUSP, SP<br />

Maria SG Rocha, MD, PhD, CSSM, SP<br />

Vanderci Borges, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Roberto CP Prado, MD, PhD,<br />

UFC-CE/ UFS-SE<br />

Epilepsia / Epilepsy<br />

Elza MT Yacubian, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Américo C Sakamoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carlos JR Campos, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Luiz OSF Caboclo, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Alexandre V Silva, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Margareth R Priel, MD, PhD, CUSC, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Henrique Carrete Jr, MD, PhD,<br />

IAMSP, SP<br />

Neurofisilogia/Neurophysiology<br />

João AM Nóbrega, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Nádia IO Braga, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

José F Leopoldino, MD, UFS, SE<br />

José MG Yacozzill, MD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Francisco JC Luccas, MD, HSC, SP<br />

Gilberto M Manzano, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carmelinda C Campos, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Reabilitação / Rehabilitation<br />

Sissy V Fontes, PhD, UMESP, SP<br />

Jefferson R Cardoso, PhD, UFPR, PR<br />

Márcia CB Cunha, PhD, UNIB, SP<br />

Ana LML Chiappetta, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carla G Matas, PhD, USP, SP<br />

Fátima A Shelton, MD, PhD, UOCH, USA<br />

Luci F Teixeira-Salmela, PhD, UFMG, MG<br />

Fátima VRP Goulart, PhD, UFMG, MG<br />

Patricia Driusso, PhD, UFSCar, SP<br />

Distúrbios do Sono / Sleep Disorders<br />

Lucila BF Prado, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria Ligia Juliano, SSD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Flávio Aloe, MD, USP, SP<br />

Stela Tavares, MD, HIAE, SP<br />

Dalva Poyares MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ademir B Silva, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Alice H Masuko, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria Carmen Viana, MD, PhD, EMESCAM, ES<br />

Virna G Teixeira, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Geraldo Rizzo, MD, HMV, RS<br />

Rosana C Alves, MD, PhD, USP, SP<br />

Robert Skomro, MD, FRPC, Canadá<br />

Sílvio Francisco, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Doenças Cerebrovasculares/<br />

Cerebrovascular Disease<br />

Ayrton Massaro, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Aroldo Bacelar, MD, PhD, UFBA, BA<br />

Alexandre Longo, MD, PhD,<br />

UNIVILLE, SC<br />

Carla HC Moro, MD, PhD, UNIVILLE, SC<br />

Cesar Raffin, MD, PhD, UNESP, SP<br />

Charles Andre, MD, PhD, UFRJ, RJ<br />

Gabriel Freitas, MD, PhD, UFRJ, RJ<br />

Jamary Oliveira Filho, MD, PhD,<br />

UFBA, BA<br />

Jefferson G Fernandes, MD, PhD, RS<br />

Jorge AK Noujain, MD, PhD, RJ<br />

Márcia M Fukujima, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Mauricio Friedrish, MD, PhD, RS<br />

Rubens J Gagliardi, MD, PhD, SP<br />

Soraia RC Fabio, MD, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Viviane HF Zétola, MD, PhD, UFPR, PR<br />

Oncologia / Oncology<br />

Suzana MF Mallheiros, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Carlos Carlotti Jr, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Fernando AP Ferraz, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Guilherme C Ribas, MD, PhD, Unicamp, SP<br />

João N Stavale, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Doenças Neuromusculares /<br />

Neuromuscular disease<br />

Acary SB Oliveira, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Edimar Zanoteli, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Helga CA Silva, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Leandro C Calia, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Luciana S Moura, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Laboratório e Neurociência Básica /<br />

Laboratory and Basic Neuroscience<br />

Maria GN Mazzacoratti, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Beatriz H Kyomoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Célia H Tengan, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Maria JS Fernandes, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Mariz Vainzof, PhD, USP, SP<br />

Iscia L Cendes, PhD, Unicamp, SP<br />

Débora A Scerni, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

João P Leite, MD, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Luiz EAM Mello, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Líquidos Cerebroespinhal /<br />

Cerebrospinal Fluid<br />

João B Reis Filho, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Leopoldo A Pires, MD, PhD, UFJF, MG<br />

Sandro LA Matas, MD, PhD, UNIBAN, SP<br />

José EP Silva, PhD, UF Santa Maria, RS<br />

Ana Maria Souza, PhD,<br />

USP Ribeirão Preto, SP<br />

Neurologia do Comportamento /<br />

Behavioral Neurology<br />

Paulo HF Bertolucci, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ivan Okamoto, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Thais Minetti, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Rodrigo Schultz, MD, PhD, UNISA, SP<br />

Sônia D Brucki, MD, PhD, FMUSP, SP<br />

Neurocirurgia / Neurosurgery<br />

Mirto N Prandini, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Antonio PF Bonatelli, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Oswaldo I Tella Júnior, MD, PhD,<br />

<strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Orestes P Lanzoni, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Ítalo C Suriano, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Samuel T Zymberg, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Neuroimunologia / Neuroimmunology<br />

Enedina M Lobato, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Nilton A Souza, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Dor, Cefaléia e Funções Autonômicas /<br />

Pain, Headache, and Autonomic Function<br />

Deusvenir S Carvalho, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Angelo AV Paola, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Fátima D Cintra, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Paulo H Monzillo, MD, HSCM, SP<br />

José C Marino, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Marcelo K Hisatugo, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Interdisciplinaridade e história da<br />

Neurociência / Interdisciplinarity and<br />

History of Neuroscience<br />

Afonso C Neves, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

João EC Carvalho, PhD, UNIP, SP<br />

Flávio RB Marques, MD, INCOR, SP<br />

Vinícius F Blum, MD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Rubens Baptista Jr, MD, UNICAMP, SP<br />

Márcia RB Silva, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Eleida P Camargo, FOC, SP<br />

Dante MC Gallian, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Neuropediatria / Neuropediatrics<br />

Luiz CP Vilanova, MD, PhD, <strong>Unifesp</strong>, SP<br />

Marcelo Gomes, SP<br />

Os pontos de vista, as visões e as opiniões políticas aqui emitidas, tanto pelos autores quanto pelos anunciantes, são de responsabilidade única e exclusiva de seus proponentes.<br />

179 Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3


Revista Neurociências 2007<br />

volume <strong>15</strong>, número 3<br />

índice<br />

editoriais<br />

Fadiga na Esclerose Múltipla 181<br />

Maria Fernanda Mendes<br />

Trombólise no AVCI agudo em um Hospital da Rede Pública: a experiência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre 182<br />

Rubens José Gagliardi<br />

originais<br />

Os efeitos da acupuntura no tratamento da insônia: revisão sistemática 183<br />

The effects of acupuncture on insomnia treatment: systematic review<br />

Reginaldo Carvalho da Silva Filho, Gilmar Fernandes do Prado<br />

Avaliação de diferentes pacientes neurológicos por meio do Teste de Functional Reach 190<br />

Neurological patients evaluated with the Functional Reach Test<br />

Camila Torriani, Eliane Pires de Oliveira Mota, Claudia Regina Sieburth, Danielle Arcanjo Barcelos, Maurycio La Scala,<br />

Paloma Pereira Gregoraci, Théo A. Costa, Thatiana C. Baldini Luiz, Juliana L. Hayashi<br />

Reabilitação por meio da dança: uma proposta fisioterapêutica em pacientes com seqüela de AVC 195<br />

Rehabilitation through dance: a physical therapeutic proposal to patients with stroke sequel<br />

Suleima Ramos Calil, Talimãn Aparecida Bertelli Pinheiro dos Santos, Douglas Martins Braga, Rita Helena Duarte Dias Labronici<br />

Atividade física em grupo melhora o sono de idosas sedentárias 203<br />

Physical activity in group improves sleep in sedentary elder women<br />

Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães, Mitchelly Dehone Lima, Juliana Aparecida de Souza<br />

Possível associação entre a fadiga física e o grau de força dos músculos respiratórios na Esclerose Múltipla 207<br />

Possible association between physical fatigue and strength of respiratory muscles in Multiple Sclerosis<br />

Fabrício Rapello Araújo, Fabíola Rebouças, Yára Dadalti Fragoso<br />

Análise do esquema e imagem corporal em pacientes com esclerose lateral amiotrófica 211<br />

Analysis of body image and scheme in patients with amyotrophic lateral sclerosis<br />

Cíntia Citelli de França, Vanessa Rodrigues de Queiroz, Letícia Moraes de Aquino, Sonia Maria Pereira<br />

Trombólise no AVCI agudo em um Hospital da Rede Pública: a experiência do Hospital de Clínicas de Porto Alegre 219<br />

Thrombolysis for acute ischemic stroke in a Public Hospital: the experience of Porto Alegre Clinical Hospital<br />

Sheila Cristina Ouriques Martins, Rosane Brondani, Alan Christmann Frohlich, Raphael Machado Castilhos, Cleber Camilo Dallalba,<br />

Jéssica Brugnera Mesquita, Márcia Lorena Fagundes Chaves, Luiz Antonio Nasi<br />

revisões<br />

Lesões nervosas periféricas: uma revisão 226<br />

Peripheral nerve injury: a review<br />

Rinaldo Siqueira<br />

Escalas clínicas e funcionais no gerenciamento de indivíduos com Lesões Traumáticas da Medula Espinhal 234<br />

Functional and clinical scales in management of individuals with Traumatic Injuries of Spinal Cord<br />

Marco Antonio Orsini Neves, Mariana Pimentel de Mello, Reny de Souza Antonioli, Marcos R.G de Freitas<br />

Metástases na coluna vertebral 240<br />

Spinal metastases<br />

Andrei Fernandes Joaquim, Francisco Alexandre de Paula Maturana, Diogo Valli Anderle, Hélder José Lessa Zambelli, Marcos Vinícius Calfat Maldaun<br />

relatos de caso<br />

Uso de Rosuvastatina em Esclerose Múltipla 246<br />

Use of Rosuvastatin in Multiple Sclerosis<br />

Marcela Ramos de Oliveira, Diogo Fernandes dos Santos, Sheila Bernardino Fenelon, Nilson Penha-Silva<br />

Doença de Hirayama: relato de caso e atualização 251<br />

Hirayama disease: case report and update<br />

Marco Antonio Orsini Neves, Reny de Souza Antonioli, Marcos RG de Freitas<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3<br />

180


editorial<br />

Fadiga na Esclerose Múltipla<br />

A fadiga é um sintoma inespecífico, encontrado com freqüência na população. Acompanha diversas doenças, podendo ocorrer também nos<br />

indivíduos sadios. É bem conhecida sua associação com fenômenos neoplásicos, auto-imunes, inflamatórios e infecciosos, assim como a influência causada<br />

por outros sintomas, como dor, distúrbios do sono, alterações do humor e distúrbios cognitivos. Nos pacientes com doenças neurológicas, a fadiga<br />

é diferente daquela relatada por outros doentes, levando a um maior impacto na vida diária.<br />

Na Esclerose Múltipla (EM), a fadiga é um sintoma freqüente, que acomete aproximadamente 75% dos pacientes. Está entre as duas maiores<br />

causas de desemprego entre os portadores de EM, porém é ainda muito pouco compreendida. Vários estudos vêm sendo realizados visando elucidar<br />

melhor os diversos aspectos desse sintoma, sendo difícil compará-los em função das diversas metodologias e definições utilizadas. Nos portadores de EM,<br />

a fadiga não é um sintoma homogêneo, sendo freqüentemente confundida com depressão ou fraqueza muscular.<br />

Uma das maiores dificuldades é estabelecer o que significa fadiga para os pacientes, cuidadores, médicos e pesquisadores. É um conceito complexo<br />

e multidimensional, com repercussão física, emocional, cognitiva e social. O termo fadiga é utilizado para descrever qualquer fenômeno de declínio<br />

de função, medido por diversas variáveis fisiológicas, como duração, freqüência, intensidade, excitabilidade, entre outras. Podemos, desta forma, nos<br />

referir à fadiga muscular, visual, auditiva, de receptor, não sendo possível comparar as informações obtidas. Ela pode ser entendida como um fenômeno<br />

subjetivo ou um sintoma referido pelos pacientes ou como um sintoma objetivo, com sinais mensuráveis. Outros a compreendem dentro de um contexto<br />

psicológico, associada ao estresse, depressão ou ansiedade, sendo secundária a uma menor motivação. Em qualquer situação pode ser considerado um<br />

fenômeno fisiológico, porém, quando ocorre desproporção entre o esforço realizado e a sensação referida ou medida, será considerada anormal.<br />

Nos pacientes com EM, a fadiga é definida como “uma sensação subjetiva de perda de energia física e/ou mental, que é percebida pelo paciente ou por seus familiares,<br />

e interfere com a vontade e com as atividades diárias”, sendo denominada fadiga primária da esclerose múltipla. É um sintoma freqüente, de grande intensidade,<br />

associado a um grau de incapacidade persistente, podendo inclusive agravar os demais sintomas da doença. Ela pode ocorrer isoladamente, assim como<br />

os surtos da doença, ou estar associada a eles, podendo estar presente mesmo com graus mínimos de incapacidade<br />

No Brasil, estudo realizado em 95 pacientes com a forma remitente-recorrente da EM, a fadiga foi observada em 67,4% dos pacientes, embora<br />

ela tenha sido observada em até 87% dos pacientes quando avaliadas também as formas progressivas da doença. A idade, o sexo e o tempo de doença<br />

são fatores que não influenciam no aparecimento desse sintoma, embora possam estar relacionados à sua intensidade 1 .<br />

Nos nossos estudos 1-3 , a incapacidade funcional não se mostrou um determinante para o aparecimento da fadiga, porém os pacientes com fadiga mais<br />

intensa apresentavam maior incapacidade funcional e maior acometimento do sistema piramidal, cerebelar e vesical que naqueles sem fadiga. Esse dado nos<br />

fez sugerir que, nos pacientes com maior incapacidade física, a fadiga muscular assume papel importante na patogênese deste sintoma. No relato de Araújo,<br />

Rebouças e Fragoso, a maior intensidade da fadiga física correlacionou-se com menor idade e incapacidade, sendo postulada uma maior demanda energética<br />

por parte desses pacientes. Esse aparente desacordo nos achados apenas nos remete à questão central relacionada à sua avaliação: a dificuldade para mensurá-la.<br />

Enquanto alguns instrumentos avaliam a sua intensidade, outros avaliam as causas que determinaram o seu aparecimento, ou o efeito na vida diária, cabendo<br />

lembrar que as escalas utilizadas, embora necessárias em estudos científicos, nem sempre são o melhor método de avaliação na prática clínica.<br />

A complexidade de fatores relacionada à avaliação e tratamento da fadiga é ilustrada pelo número de decisões que devem ser tomadas em protocolos<br />

de estudo. Na abordagem global da fadiga, devemos considerar, além dos aspectos fisiológicos e psicossociais, os aspectos culturais e comportamentais,<br />

únicos para cada indivíduo, e com interferência direta nas suas conseqüências e, desta forma, na sua qualidade de vida. Ela deverá incluir a mensuração da<br />

fadiga, o desconforto e o impacto na vida diária, e principalmente os fatores associados a este sintoma, como espasticidade, dor, distúrbios do sono ou depressão.<br />

Existem ainda diversos parâmetros biológicos que podem estar envolvidos no seu aparecimento ou exacerbação. Os distúrbios da tireóide, as infecções,<br />

anemia, entre outros, são contemplados dentro desses protocolos, porém fatores relacionados à própria doença geralmente não são considerados.<br />

Existem poucos estudos brasileiros que avaliam estes fatores. Pavan et al. 4 observaram que a fatigabilidade e o tempo de recuperação ao exercício<br />

isométrico são semelhantes nos pacientes com EM e nos indivíduos normais. Lebre et al. 5 observaram que, na presença de fadiga, há uma maior incapacidade<br />

em elevar a pressão arterial durante o exercício físico, não sendo possível concluir se essas alterações foram secundárias a alterações no metabolismo<br />

celular ou a uma alteração das vias autonômicas simpáticas.<br />

Os autores, ao avaliar a força respiratória dos pacientes com EM e fadiga, observaram valores abaixo da normalidade na pressão inspiratória e<br />

expiratória máximas, correlacionando a fadiga física a alterações de força nos músculos respiratórios. Eles sugerem que, em algumas situações, a fadiga<br />

referida seja causada pela fadiga física. O estudo de Araújo, Rebouças e Fragoso, sugerindo redução da força dos músculos respiratórios, abre uma importante<br />

possibilidade de intervenção clínica, a qual deverá ser futuramente testada em ensaios clínicos randomizados.<br />

O conjunto desses achados nos remete a uma outra abordagem deste sintoma, que não a medicamentosa. Eles sugerem que, em algumas situações,<br />

a melhora do condicionamento físico possivelmente será acompanhada pela melhora da fadiga referida pelos pacientes com EM. As escalas utilizadas,<br />

embora necessárias em estudos científicos, nem sempre são o melhor método de avaliação na prática clínica. Antes de instituir a terapêutica para a fadiga, é<br />

necessário identificar corretamente a forma de fadiga apresentada pelo paciente, a sua principal manifestação e os fatores desencadeantes ou agravantes.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Mendes MF. Avaliação Neuropsicológica na Esclerose Múltipla: Interferência<br />

na Fadiga e principais correlações. Tese de Doutoramento.<br />

UNIFESP, 2001.<br />

2. Mendes MF, Tilbery CP, Balsimelli S, Felipe E, Moreira MA, Cruz<br />

AMB. Fadiga na forma remitente recorrente da esclerose múltipla. Arq<br />

Neuropsiquiatr 2000;58(2b):471-5.<br />

3. Mendes MF, Tilbery CP, Felipe E. Fadiga e esclerose múltipla: Estudo<br />

preliminar de <strong>15</strong> casos através de escalas de auto avaliação. Arq<br />

Neuropsiquiatr 2000;58(2b):467-70.<br />

4. Pavan K, Schimidt K, Ariça TA, Mendes MF, Tilbery CP, Lianza S.<br />

Avaliação da Fatigabilidade em pacientes com esclerose múltipla através<br />

do dinamômetro manual. Arq Neuropsiquiatr 2006;64(2-A):283-6.<br />

5. Lebre AT, Mendes MF, Tilbery CP, Almeida AL, Scatolini-Neto A.<br />

Relação entre fadiga e distúrbios autonômicos na Esclerose Múltipla.<br />

Arq Neuropsiquiatr 2007;65:663-8.<br />

Maria Fernanda Mendes<br />

Professora Doutora Assistente da Disciplina de Neurologia<br />

da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo<br />

181<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:181


Trombólise no AVCI agudo em um<br />

Hospital da Rede Pública: a experiência<br />

do Hospital de Clínicas de Porto Alegre<br />

editorial<br />

O tratamento do acidente vascular cerebral (AVC), após a aprovação do emprego do rt-PA pelo FDA (Food and Drug Administation)<br />

em 1996, ganhou novo enfoque, e maiores cuidados específicos têm sido administrados. A possibilidade de redução da morbimortalidade<br />

dessa temível doença é entusiasmente e tem sido a tônica mundial nos últimos anos. O tratamento da fase aguda do AVC<br />

é imperativo e muda o curso da doença, com conseqüente redução das suas sérias complicações. O AVC deve ser visto como uma<br />

urgência neurológica, e nesta fase várias medidas e procedimentos são de fundamental importância 1,2 . Entre essas possibilidades está o<br />

uso do trombolítico, bem enfocado neste estudo.<br />

O presente trabalho, de Martins e colaboradores, é bastante interessante e útil, tanto por mais uma vez chamar a atenção para<br />

o problema do tratamento da fase aguda do AVC, como por mostrar resultados otimistas e principalmente por apresentar um modelo<br />

de aplicabilidade do tratamento. Sabidamente esse tratamento é de risco, requer equipe especializada bem treinada e estrutura hospitalar<br />

adequada. Caso seja mal aplicado, complicações graves (hemorragia cerebral, morte) podem advir, superpondo-se aos possíveis<br />

benefícios. Este estudo mostra um caminho que possibilita atingir essas metas e que poderá ser adotado por outros serviços. A taxa de<br />

elegibilidade que os autores conseguiram (<strong>15</strong>%) é muito boa, acima das médias internacionais. Isso seguramente se deve à boa organização<br />

do serviço, à capacidade de trabalho dos seus membros, estrutura hospitalar e facilidade de acesso ao pronto socorro. Contribuem<br />

para esses resultados as campanhas que têm sido feitas, como as organizadas pela Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares<br />

(SBDCV) e a Academia Brasileira de Neurologia (ANB), por exemplo o “Dia do AVC”, que auxiliam nestas metas. Orientam a população<br />

leiga para aprender como detectar precocemente um AVC e como agir para melhor eficácia do tratamento, além de como prevenir<br />

essa doença. É importante ressaltar estes trabalhos da SBDCV e da ABN.<br />

Os autores retratam bem a realidade nacional em uma população com limitado ou moderado recurso econômico e cultural,<br />

onde os cuidados preventivos não são adequados. É sempre oportuno ressaltar a importância da prevenção na abordagem do AVC, com<br />

o que se consegue reduzir drasticamente as taxas de sua incidência e prevalência.<br />

Os autores fazem muito bem em enfatizar a importância de protocolos específicos padronizados e equipes bem treinadas. Esta é<br />

uma tendência geral e todos os serviços devem ter os seus. São chaves fundamentais para o bom atendimento, pois agilizam o tratamento<br />

e aprimoram os cuidados, além de permitirem a formação de um banco de dados de grande significado para a constante revisão dos<br />

resultados. É feita menção, neste trabalho, que o protocolo para trombólise segue as recomendações da Americam Stroke Association,<br />

sem dúvida uma das mais abalizadas entidades internacionais que se definem a esse respeito. Deve, entretanto, ser mencionado que,<br />

em nosso meio, por iniciativa e esforço da SBDCV/ABN, foram até o momento realizados dois Consensos nacionais e uma reunião de<br />

“Opinião Nacional”, que analisaram esse assunto, definiram regras, estabeleceram conceitos e foram divulgados através de publicações<br />

específicas 1-3 . Trazem grande contribuição para a orientação de protocolos, formação de equipes, estruturação hospitalar e para o tratamento<br />

específico.<br />

A possibilidade de prescrição dos trombolíticos tem sido constantemente revista, com finalidade de se melhorar os resultados e<br />

reduzir as complicações. Provavelmente venha, em futuro próximo, a ser melhor definida quanto às situações clínicas específicas com<br />

indicações específicas que poderão envolver diferentes tempos limites para a aplicação, doses e vias de acesso, ampliando o leque de<br />

aplicabilidade com segurança 4 .<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

1. Galiardi RJ, Raffin CN, Fabio SRC e demais participantes do Consenso<br />

da SBDCV. Primeiro Consenso Brasileiro do Tratamento da Fase Aguda<br />

do Acidente Vascular Cerebral. Arq Neuropsiquiatr 2001;59:972-80.<br />

2. Raffin CN, Gagliardi RJ, Massaro AR, Fernandes JG, Bacellar A,<br />

Fábio SRCF e demais participantes do Consenso da SBDCV. I0 Consenso<br />

Brasileiro de Trombólise no Acidente Vascular Cerebral. Arq Neuropsiquiatr<br />

2002;60:675-80.<br />

3. Raffin CN, Fernandes FG, Evaristo EF, Siqueira-Neto JI, Friedrich<br />

M, Puglia P, et al. Revascularização clínica e intervencionista no acidente<br />

vascular cerebral isquêmico agudo: Opinião Nacional. Arq Neuropsiquiatr<br />

2006;64:342-8.<br />

4. Keyzer JD, Gdovinová Z, Uyttenboogaart M, Vroomen PC, Luijckx<br />

GJ. Intravenous alteplase for stroke. Beyond the guidelines and in particular<br />

clinical situations. Stroke 2007;38:2612-8.<br />

Rubens José Gagliardi<br />

Professor Titular de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da<br />

Santa Casa de São Paulo<br />

Presidente da Associação Paulista de Neurologia<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:182 182


original<br />

Os efeitos da acupuntura no tratamento<br />

da insônia: revisão sistemática<br />

The effects of acupuncture on insomnia treatment: systematic review<br />

Reginaldo Carvalho da Silva Filho 1 , Gilmar Fernandes do Prado 2<br />

RESUMO<br />

Introdução. A insônia é uma queixa muito comum e a acupuntura<br />

tem sido empregada em seu tratamento por milhares de anos,<br />

porém até o momento não dispomos de estudos científicos com<br />

evidências que comprovem sua eficácia. Objetivo. Identificar estudos<br />

clínicos de valor científico sobre os efeitos da acupuntura no<br />

tratamento da insônia. Método. Revisão sistemática com busca de<br />

artigos nas bases de dados: MEDLINE, Cochrane Library, Bio-<br />

Med Central, BMC Complementary and Alternative Medicine,<br />

SciELO, LILACS, ACUBRIEFS e Library of Shandong Unviersity<br />

of Traditional Chinese Medicine. Foram utilizadas as palavras<br />

chaves “ACUPUNTURA”, “AURICULAR” e “INSÔNIA”,<br />

em inglês, espanhol e francês. Foram incluídos ensaios clínicos,<br />

estudos ou séries de casos; com objetivo principal a avaliação do<br />

uso da acupuntura no tratamento da insônia; com desfecho a melhora,<br />

piora ou manutenção da insônia. Foram excluídos artigos<br />

sobre queixa diferente da insônia mesmo que relatasse alteração<br />

nesta queixa. Resultados. Foram encontrados 180 artigos, 31 preencheram<br />

os critérios de inclusão. Um total de 3574 pacientes foram<br />

analisados, 1359 participaram de dos 11 estudos controlados.<br />

Os resultados nos grupos de acupuntura e controle, apareceram<br />

respectivamente em 412 (57,46%) e 141 (21,96%) para cura,<br />

264 (36,82%) e 232 (36,14%) para melhora e 41 (5,72%) e 269<br />

(41,90%) para falha. Conclusão. Os resultados encontrados sugerem<br />

que a acupuntura pode ser uma intervenção eficaz para insones,<br />

no entanto trabalhos com melhores e mais rigorosos métodos,<br />

como ensaios clínicos randomizados, controlados, simples-cego,<br />

e com amostras maiores devem ser realizados para determinar<br />

melhor a eficácia da acupuntura no tratamento da insônia.<br />

Unitermos: Acupuntura. Terapia por acupuntura. Insônia.<br />

Transtornos do sono.<br />

Citação: Silva-Filho RC. Os efeitos da acupuntura no tratamento da<br />

insônia: revisão sistemática.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. Insomnia is very common complaint and acupuncture<br />

has been used for its treatment for thousands of<br />

years, however until now there are no scientific studies following<br />

the principles of the Evidence Based Medicine, that<br />

prove its efficacy. Objective. Identify clinical studies about<br />

the effects of acupuncture on the treatment of insomnia. Method.<br />

Systematic review with search in data base: MEDLINE,<br />

Cochrane Library, BioMed Central, BMC Complementary<br />

and Alternative Medicine, SciELO, LILACS, ACUBRIEFS,<br />

and Library of Shandong University of Traditional Chinese<br />

Medicine. The key words used were “Acupuncture”, “Auricular”,<br />

and “Insomnia”, in English, Spanish, and French.<br />

Clinical Trials and Case studies were included. The papers<br />

main objective were acupunture for treatment of insomnia<br />

with outcome of better, worse, or maintenance of insomnia.<br />

Results. 180 papers have been found, but only 31 have fulfilled<br />

the inclusion criteria. A total of 3,574 patients were included,<br />

but only 1,359 have taken part of controlled studies,<br />

in a total of 11 studies. The results in the acupuncture and<br />

controlled groups appear respectively as 412 (57.46%) e 141<br />

(21.96%) for cure, 264 (36.82%) e 232 (36.14%) for improvement<br />

e 41 (5.72%) e 269 (41.90%) for failure. Conclusion.<br />

The results suggest that acupuncture can be an efficient intervention<br />

for insomniac patients, however researches with<br />

better and more rigorous methods, such as randomized clinical<br />

trials, controlled, single-blinded and with a larger sample<br />

should be conducted in order to better determine the efficacy<br />

of acupuncture for the treatment of insomnia.<br />

Keywords: Acupuncture. Acupuncture therapy. Insomnia.<br />

Sleep disorders.<br />

Citation: Silva-Filho RC. The effects of acupuncture on insomnia treatment:<br />

systematic review.<br />

Trabalho realizado no Setor de Neuro-Sono das Disciplinas<br />

de Neurologia e Medicina de Urgências e Baseadas em Evidências<br />

da UNIFESP<br />

1. Fisioterapeuta, Doutorando, Setor de Neuro-Sono das Disciplinas<br />

de Neurologia e Medicina de Urgências e Baseada em Evidências da<br />

UNIFESP, Coordenador Geral do CIEFATO e do CAPCO.<br />

2. Neurologista, Professor Adjunto e Chefe do Setor de Neuro-Sono<br />

das Disciplinas de Neurologia e Medicina de Urgências e Baseada em<br />

Evidências da UNIFESP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Reginaldo Carvalho da Silva Filho<br />

Rua Tié, 94<br />

CEP 03181-033, São Paulo, SP<br />

E-mail: regis@ciefato.com.br<br />

Recebido em: 25/08/2006<br />

Revisão: 26/08/2006 a 24/01/2007<br />

Aceito em: 26/01/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

183<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189


INTRODUÇÃO<br />

Insônia é uma queixa de sono muito comum,<br />

sendo descrita pela Sociedade Brasileira de Sono 1 ,<br />

como dificuldade em iniciar e/ou manter o sono,<br />

presença de sono não reparador, ou seja, insuficiente<br />

para manter uma boa qualidade de alerta e bem-estar<br />

físico e mental durante o dia, com o comprometimento<br />

conseqüente do desempenho nas atividades<br />

diurnas. A insônia apresenta uma prevalência de<br />

cerca de 30–35% da população 1 .<br />

A insônia pode estar relacionada com uma<br />

causa específica: ansiedade, depressão, estresse, dor<br />

muscular e/ou articular (artrite, por exemplo), uso<br />

de medicamentos, ambiente inadequado (muito barulho,<br />

local quente demais, colchão ruim, claridade<br />

excessiva) etc. Nos casos em que não se relaciona com<br />

um fator causal mais evidente, é tida como insônia<br />

primária, aquela sem causa bem definida. Pode ser<br />

um quadro passageiro, relacionado com algum fato<br />

recente, que geralmente melhora espontaneamente.<br />

No ano de 2003, foi publicado o I Consenso<br />

Brasileiro de Insônia 1 , o qual relacionou a freqüência<br />

das conseqüências e co-morbidades da insônia<br />

com o seu tempo de duração. Na insônia crônica, de<br />

longa duração, observam-se mais sintomas cognitivos<br />

e alteração do humor, irritabilidade, redução do<br />

desempenho acadêmico e profissional, redução da<br />

concentração e da memória. Além do que, a insônia<br />

e a fadiga aumentam significativamente o risco de<br />

acidentes de trabalho, domésticos e de trânsito.<br />

Em 2004, Edinger et al 2 , propuseram novos<br />

critérios para o diagnóstico da insônia, apresentando<br />

a diferenciação da Insônia Primária, Insônia devido<br />

a Distúrbio Mental, Insônia Paradoxal e Insônia Psicofisiológica.<br />

Segundo o I Consenso Brasileiro de Insônia 1 ,<br />

a abordagem terapêutica desta queixa deve focar em<br />

cuidados para o tratamento dos sintomas diurnos,<br />

noturnos e a doença de base em si, destacando o tratamento<br />

farmacológico, o tratamento não farmacológico<br />

e a combinação de ambos.<br />

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) possui<br />

uma visão bastante peculiar do corpo humano, de<br />

todas as suas relações com o meio externo e consigo<br />

mesmo 3 . As doenças são interpretadas como sendo<br />

causadas, principalmente, por fatores externos e fatores<br />

internos, fatores estes que impedem o funcionamento<br />

adequado dos Órgãos e Vísceras (Zang Fu) e a<br />

circulação de Qi e de Sangue (Xue) pelo corpo, principalmente<br />

através dos Canais e Colaterais (Jing Luo),<br />

onde estão localizados os pontos de acupuntura 3 .<br />

original<br />

Os Órgãos e Vísceras (Zang Fu) descritos pela<br />

MTC possuem nomes idênticos àqueles da Medicina<br />

Moderna Ocidental, no entanto o conceito clássico<br />

chinês extrapola a visão anatômica e fisiológica do<br />

ocidente, oferecendo a esses Órgãos e Vísceras (Zang<br />

Fu), funções, relações e associações importantes do<br />

ponto de vista prático para o praticante de MTC e<br />

que podem parecer errados e absurdos para praticantes<br />

ocidentais 4 .<br />

Desta forma, ao analisar as informações a seguir,<br />

os conceitos da MTC estarão identificados sempre<br />

em letra maiúscula e seguidos da transliteração,<br />

romanização, do ideograma chinês correspondente<br />

pelo sistema Pin Yin.<br />

Segundo Xu et al 5 e Liu 6 , a insônia, para a<br />

MTC, dentre outros fatores causais, está relacionada<br />

com excesso de ansiedade e de trabalho prejudicando<br />

as funções do Coração (Xin) e do Baço (Pi);<br />

interrupção nas funções fisiológicas de coordenação<br />

entre o Coração (Xin) e o Rim (Shen); hiperatividade<br />

do Yang do Fígado (Gan) devido a uma deficiência do<br />

Yin; deficiência do Qi do Coração (Xin) e da Vesícula<br />

Biliar (Dan); desordem do Qi do Estômago (Wei), etc.<br />

Xie 7 e Liu 6 citam uma obra clássica Chinesa<br />

escrita em 1624, o Jing Yue Quan Shu (Trabalhos<br />

Completos de Jing Yue), importante apresentação<br />

sistemática sobre as teorias, diagnóstico, métodos de<br />

tratamento e discussões clínicas sobre várias doenças.<br />

No capítulo dessa obra clássica sobre a insônia,<br />

é possível encontrar a seguinte passagem: “... o sono<br />

se origina do Yin e é governado pela Mente (Shen). O<br />

sono vem de uma Mente (Shen) tranqüila e a insônia<br />

vem de uma intranqüilidade da Mente (Shen)...”.<br />

Os conceitos clássicos, da MTC, de Yin e Yang<br />

representam opostos complementares, de modo que<br />

o Yin está associado com frio, quietude, escuridão,<br />

repouso, noite, sono, enquanto que o Yang está associado<br />

com calor, movimento, claridade, atividade,<br />

dia, vigília 8 . Assim, é possível perceber a relação da<br />

insônia, segundo a MTC, com uma falta relativa de<br />

Yin, ou seja, uma falta de repouso, noite, sono.<br />

Segundo as teorias da MTC, o Coração (Xin)<br />

é o responsável, governante, da Mente (Shen), sendo<br />

assim é o Órgão (Zang) mais envolvido nos casos de<br />

pacientes portadores de insônia e aquele que deve<br />

ser tratado direta ou indiretamente. Além disto, pontos<br />

que estimulam a Mente (Shen) devem ser sempre<br />

considerados nesses pacientes 6 .<br />

A acupuntura e suas variantes, como acupuntura<br />

auricular e acupuntura craniana, têm sido empregadas<br />

com grande freqüência para o tratamen-<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189 184


original<br />

to de insônia, por parte dos praticantes de MTC,<br />

sendo que diversos estudos recentes sugerem que<br />

a acupuntura pode controlar o sistema nervoso autônomo<br />

9-14 , além de estudos que demonstram que<br />

pontos específicos de acupuntura, principalmente<br />

aqueles que atuam diretamente no Coração (Xin),<br />

têm a capacidade de reduzir as atividades simpáticas<br />

<strong>15</strong>-17 .<br />

Para o devido tratamento da insônia com acupuntura,<br />

diversos autores 5,6,9,17 sugerem que a correta<br />

Diferenciação de Síndromes é fundamental para<br />

boa prática e obtenção dos resultados desejados. Há<br />

algumas pequenas divergências na apresentação das<br />

Síndromes, no entanto quatro delas são amplamente<br />

mencionadas enquanto outras são mencionadas com<br />

menor freqüência. Na seqüência abaixo são apresentadas<br />

as Síndromes, desde as mais citadas até as menos<br />

citadas:<br />

• Deficiência do Coração e do Baço (Xin Pi<br />

Liang Xu) 5,6,18,19 ;<br />

• Hiperatividade do Fogo devido à Deficiência<br />

do Yin (Yin Xu Huo Wang) 5,6,18,19 ;<br />

• Ascensão do Fogo Excessivo do Fígado (Gan<br />

Huo Shang Rao) 5,6,18,19 ;<br />

• Desordem do Qi do Estômago (Wei Qi Bu<br />

He) 5,6,18 ;<br />

• Deficiência do Coração e da Vesícula Biliar<br />

(Xin Dan Liang Xu) 18,19 ;<br />

• Desarmonia entre o Coração e o Rim (Xin<br />

Shen Bu Jiao) 17 ;<br />

• Calor Mucosidade agredindo o Coração<br />

(Tan Re Xin Rao) 19 ;<br />

• Fogo Exuberante do Coração (Xin Huo<br />

Sheng) 19 ;<br />

O objetivo principal deste trabalho é a verificação<br />

dos efeitos da prática da acupuntura como<br />

recurso terapêutico para o tratamento de pacientes<br />

portadores de insônia. Como objetivo secundário,<br />

este trabalho visa comparar, quando possível, a acupuntura<br />

com outros recursos terapêuticos empregados<br />

nos estudos analisados.<br />

MÉTODO<br />

Para realização deste estudo, foi empregado<br />

o método de revisão sistemática da literatura, com<br />

objetivo principal de identificar os efeitos da acupuntura<br />

no tratamento da insônia, tendo sido realizado<br />

nas dependências do CIEFATO — Centro Internacional<br />

de Estudos de Fisioterapia, Acupuntura e<br />

Terapias Orientais/EBRAMEC — Escola Brasileira<br />

de Medicina Chinesa.<br />

Para a realização das buscas dos artigos científicos,<br />

conduzida entre Abril e Outubro de 2005, foram<br />

utilizadas diversas bases de dados, com destaque<br />

para o sistema MEDLINE; a Cochrane Library, Bio-<br />

Med Central; BMC Complementary and Alternative<br />

Medicine; SciELO (Scientific Electronic Library<br />

Online); LILACS (Literatura Latino-Americana e<br />

do Caribe em Ciências da Saúde); ACUBRIEFS;<br />

além de artigos enviados diretamente da China através<br />

de busca realizada na Shandong University of<br />

Traditional Chinese Medicine.<br />

Neste trabalho foram realizadas buscas de artigos<br />

científicos com a utilização das seguintes palavras-chaves:<br />

“ACUPUNTURA”, “AURICULAR” e<br />

“INSÔNIA”, com suas variantes em inglês, espanhol<br />

e francês.<br />

Para a inclusão dos artigos científicos neste<br />

estudo, os mesmos deveriam possuir um caráter experimental,<br />

seja ensaio clínico, seja estudo ou série<br />

de casos; ter como objetivo principal a avaliação do<br />

uso da acupuntura no tratamento da insônia; terem<br />

sido publicados entre 1975 e 2005, tendo como principal<br />

desfecho a melhora, piora ou manutenção da<br />

insônia. O principal critério de exclusão era o fato<br />

de o artigo apresentar o tratamento de uma queixa<br />

diferente da insônia e, mesmo assim, relatar alguma<br />

possível alteração nessa queixa.<br />

Para cada um dos artigos científicos analisados,<br />

alguns dados relevantes foram analisados e verificados<br />

pelo investigador principal. Dentre os dados<br />

analisados, destacam-se o nome da revista científica<br />

onde o artigo foi publicado; o ano da publicação;<br />

o tamanho total da amostra; número de homens e<br />

mulheres nas amostras estudadas; presença ou não<br />

de grupo controle ou comparação; método de tratamento;<br />

resultados terapêuticos.<br />

Vale dizer que nem todos os artigos científicos<br />

incluídos neste estudo ofereceram a descrição de todos<br />

os dados de interesse a serem analisados.<br />

RESULTADOS<br />

Cento e oitenta artigos científicos foram encontrados<br />

mediante as buscas realizadas, no entanto<br />

apenas trinta e um preencheram os três critérios de<br />

inclusão, já descritos, sendo que a maioria dos artigos<br />

foi excluída por não apresentar a acupuntura<br />

no tratamento de insônia como objetivo principal do<br />

artigo, por não ser estudo experimental e por apresentar-se<br />

em repetição.<br />

Com relação à revista científica onde os artigos<br />

científicos foram publicados, ficou evidenciado<br />

185<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189


que estes se concentravam em duas revistas, Journal<br />

of Traditional Chinese Medicine (08/31 = 25,8%) e<br />

Shanghai Journal of Acupuncture and Moxibustion<br />

(09/31 = 29%), sendo ambas revistas publicadas na<br />

China, em idiomas inglês e chinês.<br />

Com relação ao ano de publicação, os artigos<br />

científicos foram publicados, em sua grande maioria<br />

(58%), após o ano 2000, variando desde o ano de<br />

1977 até 2005.<br />

Quanto aos tamanhos de amostras dos artigos<br />

científicos, houve uma grande variação, tendo sido<br />

encontrados artigos científicos que apresentavam<br />

desde uma amostra de apenas 28 pacientes, em contraste<br />

com um artigo que apresentou uma amostra<br />

de 291 pacientes.<br />

O total de participantes, somando todas as<br />

amostras dos artigos científicos pesquisados, foi de<br />

3.574 pacientes, o que ofereceu uma média de 1<strong>15</strong><br />

pacientes por estudo realizado. E, mesmo que diversos<br />

artigos tenham falhado em informar adequadamente<br />

a quantidade de homens e mulheres, houve<br />

uma quantidade maior de mulheres, nos estudos que<br />

ofereceram esse tipo de informação, sendo um total<br />

de 1.014 mulheres em relação a apenas 635 homens.<br />

No que diz respeito aos métodos e técnicas<br />

de tratamento empregadas nos artigos científicos<br />

pesquisados, houve grandes variações, desde artigos<br />

que empregavam simplesmente a acupuntura tradicional,<br />

artigos que empregavam acupuntura auricular,<br />

artigos que empregavam técnicas de injeção nos<br />

pontos de acupuntura, dentre outras combinações.<br />

Quanto aos resultados terapêuticos obtidos<br />

pelos pesquisadores, autores dos artigos científicos,<br />

revisados neste trabalho, temos que a grande maioria<br />

deles adotou um critério bastante simplificado de<br />

três categorias: Cura, Melhora e Ineficácia. A cura<br />

foi descrita como uma melhora maior que 75% na<br />

eficiência do sono sem a utilização de medicamentos.<br />

Melhora foi descrita como um aumento de 20% na<br />

eficiência do sono sem a utilização de medicamentos.<br />

Ineficácia foi descrita como nenhuma melhora<br />

evidente.<br />

DISCUSSÃO<br />

Este trabalho é pioneiro em língua portuguesa<br />

em analisar os efeitos da prática da acupuntura<br />

e suas variantes no tratamento de pacientes portadores<br />

de insônia através de uma revisão sistemática<br />

da literatura, somando-se a dois outros trabalhos de<br />

revisão publicados em inglês 51,52 e um publicado em<br />

original<br />

chinês 53 . Além disso, este é o trabalho que apresenta<br />

uma maior quantidade de artigos científicos revisados,<br />

trinta e um. Comparando esses artigos de<br />

revisão é possível perceber que houve conclusões similares<br />

no fato de indicar a acupuntura como um<br />

recurso promissor no tratamento da insônia e com<br />

a necessidade da realização de estudos com método<br />

mais adequado.<br />

Além dos artigos revisados na elaboração deste<br />

trabalho, outros artigos foram analisados, com<br />

destaque para um que demonstrou que análises das<br />

urinas de 18 pacientes apresentaram aumento da<br />

produção de melatonina durante a noite, diminuição<br />

de sua produção durante a manhã e à tarde, refletindo<br />

uma normalização da secreção de melatonina 54 .<br />

Os autores desse mesmo trabalho concluíram que a<br />

acupuntura pode ser de grande valia para o tratamento<br />

da insônia, principalmente em pacientes ansiosos.<br />

Mediante esta análise, é possível iniciar uma<br />

inferência sobre os mecanismos de ação pelos quais<br />

a acupuntura auxilia os portadores de insônia, regulando<br />

e melhorando a secreção de melatonina.<br />

Um outro interessante trabalho, publicado por<br />

Lin em 1995 55 , sugere que os mecanismos de ação<br />

da acupuntura no tratamento de insones são similares<br />

àqueles pelos quais a acupuntura obtém efeitos<br />

analgésicos e que já foram amplamente estudados,<br />

principalmente pelo sistema endógeno de opióides,<br />

reduzindo o estresse e a ansiedade, culminando com<br />

uma melhora no sono do paciente. Este estudo não<br />

aplicou acupuntura em pacientes, mas apresentou<br />

uma sugestão teórica para os mecanismos pelos quais<br />

a acupuntura poderia atuar na insônia.<br />

Do ponto de vista da MTC, foi possível perceber<br />

que os trabalhos empregaram, em sua grande<br />

maioria, o critério de Diferenciação de Síndromes,<br />

de modo a enfatizar a regularização da Mente (Shen)<br />

através do tratamento direto ou indireto do Coração<br />

(Xin), que de acordo com a terminologia da MTC é<br />

o responsável pelas atividades mentais e emocionais.<br />

Destacou a utilização de pontos de acupuntura<br />

como o C7 (Shenmen), o PC6 (Neiguan), os pontos<br />

extras Anmian, cuja tradução significa “sono tranqüilo”,<br />

além de pontos auriculares, como Shenmen, Coração,<br />

Occipital e Subcórtex. Todos pontos clássicos<br />

da acupuntura para o tratamento da insônia, regularizando,<br />

acalmando Coração (Xin) e conseqüentemente<br />

a Mente (Shen).<br />

Do ponto de vista ocidental, temos que o agulhamento<br />

do C7 (Shenmen) e do PC6 (Neiguan) parecem<br />

enviar sinais nervosos aferentes específicos para<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189 186


original<br />

Tabela 1. Resultados terapêuticos.<br />

Publicação Grupo Cura Melhora Ineficácia Total<br />

N° % N° % N° % Nº<br />

Ban et al 20 injeção em pontos de acupuntura 96 80 <strong>15</strong> 16 5 4 116<br />

Chen et al 21 Acupuntura tradicional 59 47,4 62 50 3 2,6 124<br />

Controle: oryzanol e diazepam 29 23,3 50 50 21 16,7 100<br />

Chen et al 22 acupuntura + estazolam 30 75 9 22,5 1 2,5 40<br />

Controle: estazolam <strong>15</strong> 37,5 20 50 5 12,5 40<br />

Cui et al 23 acupuntura tradicional 24 40 34 46,6 2 3,4 60<br />

Controle: estazolan 1-2mg 14 23,3 38 63,3 8 13,4 60<br />

Da Silva et al 24 Tratamento: acupuntura tradicional 5 29,4 9 52,9 3 17,7 17<br />

Controle: não descrito 3 23 3 23 7 54 13<br />

Feng et al 25 acupuntura auricular 37 55,2 28 41,8 2 3 67<br />

Gao et al 26 acupuntura tradicional 262 90,97 22 7,64 4 1,39 288<br />

Kim et al 27 acupuntura intradérmica Melhora significantemente maior no grupo tratamento que no grupo <strong>15</strong><br />

Controle: acupuntura SHAM<br />

controle<br />

<strong>15</strong><br />

Lee et al 28 injeção em pontos auriculares <strong>15</strong> 93,75 1 6,25 0 0 16<br />

Li et al 29 acupuntura tradicional e auricular 126 84 20 13,33 4 2,67 <strong>15</strong>0<br />

Controle: diazepan e chloral hydrate <strong>15</strong> 10 30 20 105 70 <strong>15</strong>0<br />

Lian et al 30 acupuntura auricular 30 37,5 35 43,75 <strong>15</strong> 18,75 80<br />

Controle: diazepan 10mg 0 0 11 13,75 69 86,25 80<br />

Lin et al 31 acupuntura tradicional 35 81,25 6 13,95 2 4,8 43<br />

Controle: observação simples 16 33,33 10 20,83 22 45,84 48<br />

Liu et al 32 acupuntura e transfixação 35 34,65 54 53,47 12 11,88 101<br />

Tratamento: acupuntura tradicional 20 19,8 56 55,44 25 24,76 101<br />

Lorna et al 33 acupuntura auricular 10 17 39 65 11 18 60<br />

Piao et al 34 acupuntura tradicional e auricular 14 63,64 8 36,36 0 0 22<br />

Ren et al 35 acupuntura tradicional e transfixação 54 62,8 32 37,2 0 0 86<br />

Shao et al 36 acupuntura tradicional e auricular 64 71,11 22 24,25 4 4,44 90<br />

acupuntura tradicional 36 40,44 39 43,83 14 <strong>15</strong>,73 89<br />

acupuntura auricular 27 31,03 40 45,98 20 22,99 87<br />

Shen et al 37 acupuntura auricular e tradicional <strong>15</strong>0 75 44 22 6 3 200<br />

Shi et al 38 acupuntura tradicional 17 60,7 11 39,3 0 0 28<br />

Sui et al 39 injeção em pontos de acupuntura 61 46 63 47 9 7 133<br />

Wang et al 40 injeção em pontos, eletroacupuntura 22 55 17 42,5 1 2,5 40<br />

Controle: medicamento 11 27,5 20 50 9 22,5 40<br />

Wang et al 41 acupuntura tradicional 25 73,5 8 23,5 1 3 34<br />

Controle: diazepam 12 40 13 43,3 5 16,7 30<br />

Wu et al 42 Insônia: acupuntura auricular 23 57,5 11 27,5 6 <strong>15</strong> 40<br />

Sonolência: acupuntura auricular 16 80 4 20 0 0 20<br />

Wu et al 43 eletroacupuntura e ervas 95 63,34 41 27,28 14 9,38 <strong>15</strong>0<br />

Controle: eletroacupuntura 74 52,86 39 27,79 27 19,35 140<br />

Xie et al 44 acupuntura tradicional 73 59 36 29 <strong>15</strong> 12 124<br />

Yao et al 45 laserpuntura auricular 32 69,5 13 28,3 1 2,2 46<br />

Zhang et al 46 acupuntura tradicional 27 71,1 6 17,7 2 5,8 35<br />

Zhang et al 47 acupuntura auricular 9 21,43 29 69,05 4 9,52 42<br />

Controle: clonazepam 4 11,11 22 61,11 10 27,78 36<br />

Zhang et al 48 acupuntura tradicional 47 54 35 40,2 5 5,8 87<br />

Controle: clonopin 22 48,9 <strong>15</strong> 33,3 8 17,8 45<br />

Zhang et al 49 acupuntura auricular 19 31,<strong>15</strong> 34 55,74 8 13,11 61<br />

Zhao et al 50 acupuntura tradicional 216 74,23 50 17,18 25 8,59 291<br />

187<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189


o sistema nervoso central, resultando em uma diminuição<br />

da atividade simpática 14,56 , assim como foi demonstrado<br />

em outros estudos <strong>15</strong>-17 .<br />

Segundo Chan e Briscomb 57 , o ponto de acupuntura<br />

C7 (Shenmen) foi eficaz na redução do estresse<br />

em cerca de 44%, empregando o Edinburgh Postnatal<br />

Depression Scale (EPDS), sendo este um possível mecanismo<br />

pelo qual os paciente com insônia beneficiamse<br />

dos tratamentos por acupuntura.<br />

Com relação à prática da acupuntura auricular,<br />

técnica amplamente utilizada para o tratamento<br />

ansiedade, estresse e insônia, há trabalhos que demonstram<br />

a sua eficácia, principalmente no que diz<br />

respeito à diminuição da ansiedade 58-60 .<br />

CONCLUSÃO<br />

A acupuntura, assim como outras modalidades<br />

terapêuticas da MTC, pode ser de grande valia<br />

para a população de modo geral, sendo amplamente<br />

indicada para uma grande variedade de doenças<br />

pela Organização Mundial de Saúde 61 e pelo National<br />

Institute of Health 62 , incluindo a insônia dentre<br />

essas doenças.<br />

Os profissionais da área da saúde, incluindo<br />

os médicos das mais diversas especialidades, deveriam<br />

ter mais informações sobre os possíveis efeitos<br />

da acupuntura, assim como as suas principais indicações.<br />

Os resultados observados nesta revisão de literatura<br />

sugerem que a acupuntura e suas variantes<br />

(principalmente acupuntura auricular) têm a capacidade<br />

de oferecer excelentes resultados no tratamento<br />

de pacientes portadores de insônia. No entanto, estudos<br />

com melhores e mais rigorosos métodos, como<br />

ensaios clínicos randomizados, controlados, simplescego,<br />

e com amostras maiores devem ser realizados<br />

para determinar melhor a eficácia da acupuntura no<br />

tratamento da insônia.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Gostaria de agradecer especialmente o Dr. Han<br />

Zhao Cheng, da Shandong University of Traditional<br />

Chinese Medicine, pelo envio de importantes artigos<br />

científicos e pela tradução de outros, do chinês para o<br />

inglês, que foram de extrema valia para a realização<br />

deste trabalho. Gostaria de agradecer também a equipe<br />

de profissionais da Escola Brasileira de Medicina<br />

Chinesa/CIEFATO, que auxiliaram de maneira direta<br />

ou indireta na realização deste trabalho, e a todos os<br />

membros do Centro Avançado de Pesquisas Orientais.<br />

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62. NIH. Acupuncture. NIH Consens Statement 1997;<strong>15</strong>(5): 1-34.<br />

ABRASPI<br />

Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas<br />

A Associação Brasileira da Síndrome das Pernas Inquietas – ABRASPI, é uma<br />

associação sem fins lucrativos criada para dar suporte a pacientes e promover<br />

pesquisa e treinamento sobre a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI). Criada<br />

desde 2005, a ABRASPI tem recebido correspondências de pacientes, familiares<br />

e médicos do Brasil todo e de Portugal, que procuram tirar dúvidas sobre a<br />

doença, tratamento e indicações de médicos.<br />

Fone: (11) 5081–6629<br />

E-mail: sindromedaspernasinquietas@gmail.com<br />

http://www.sindromedaspernasinquietas.com.br<br />

189<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:183–189


Avaliação de diferentes pacientes<br />

neurológicos por meio do Teste de<br />

Functional Reach<br />

Neurological patients evaluated with the Functional Reach Test<br />

original<br />

Camila Torriani 1 , Eliane Pires de Oliveira Mota 1 , Claudia Regina Sieburth 2 ,<br />

Danielle Arcanjo Barcelos 2 , Maurycio La Scala 2 , Paloma Pereira Gregoraci 2 ,<br />

Théo A. Costa 2 , Thatiana C. Baldini Luiz 2 , Juliana L. Hayashi 2<br />

RESUMO<br />

Introdução. O Functional Reach (FR) é um teste clínico muito conhecido<br />

não só para mensurar o equilíbrio, mas também o controle<br />

postural. Este mensura a distância entre o comprimento do braço e<br />

o alcance máximo anterior, na posição ortostática, enquanto mantém<br />

uma base de suporte fixa. Objetivo. O objetivo do trabalho foi<br />

avaliar o limite de estabilidade anterior de diferentes pacientes neurológicos<br />

comparando-os com valores de normalidade. Método. Os<br />

25 pacientes, 14 mulheres, idade média de 48 anos, foram incluídos<br />

segundo os critérios: apresentar ortostatismo independente; sem alterações<br />

cognitivas graves; apresentar habilidade de realizar e manter<br />

a flexão de ombro a 90° com extensão de cotovelo. A distância<br />

percorrida foi medida e comparada com as normas associadas à<br />

idade, levando em consideração o tipo de doença. Resultados. Não<br />

houve diferença estatisticamente significante no desempenho do<br />

FR nos diferentes tipos de doenças. Porém, ao comparar os pacientes<br />

com os valores normais, os pacientes apresentam déficit na realização<br />

do FR, denotando então, alteração no equilíbrio. Conclusão.<br />

Pacientes com acometimentos neurológicos, independentemente<br />

da topografia lesional, apresentam o limite de estabilidade anterior<br />

deficitário, quando comparados aos sujeitos saudáveis.<br />

Unitermos: Equilíbrio Musculosquelético, Estudos de Avaliação,<br />

Fisioterapia, Reabilitação.<br />

Citação: Torriani C, Mota EPO, Sieburth CR, Barcelos DA, Scala ML,<br />

Gregoraci PP, Costa TA, Luiz TCB, Hayashi JL. Avaliação de diferentes<br />

pacientes neurológicos por meio do Teste de Functional Reach.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. The Functional Reach is a well-known clinical<br />

test that not only measures the balance but also the postural<br />

control. This test measures the distance between the arm length<br />

and the anterior maximum reach, in the standing position,<br />

while it keeps a fixed base of support. Objective. The purpose<br />

of this study was to assess the balance of different neurological<br />

patients comparing them with healthful individuals. Method.<br />

The 25 patients,14 female, mean age of 48 years, had been<br />

included following the criteria: to present independent standing<br />

position; without severe cognitive dysfunction; to present<br />

ability to keep and maintain the flexion of shoulder 90° with<br />

extension of elbow. The distance was measured and compared<br />

with the normal patterns associated with the age and kind<br />

of disease. Results. There was no significant difference of the<br />

FR performance among different diseases. However, when<br />

comparing the patients with the normal patterns, the patients<br />

presented deficit in the FR accomplishment, which confirms<br />

the balance alteration. Conclusion. Static balance is impaired<br />

in all evaluated neurological patients when compared to the<br />

normal pattern.<br />

Keywords: Musculoskeletal Equilibrium, Evaluation Studies,<br />

Physical Therapy, Rehabilitation.<br />

Citation: Torriani C, Mota EPO, Sieburth CR, Barcelos DA, Scala ML,<br />

Gregoraci PP, Costa TA, Luiz TCB, Hayashi JL. Neurological patients<br />

evaluated with the Functional Reach Test.<br />

Trabalho realizado na Clínica de Fisioterapia do UniFMU.<br />

1. Fisioterapeuta, Docente e supervisora de estágio do setor Neurologia<br />

Adulto – Uni FMU.<br />

2. Acadêmicos do 4º ano de fisioterapia do Uni FMU.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Camila Torriani<br />

Av. Santo Amaro, 1329<br />

CEP 04511-001, São Paulo-SP<br />

Email: camilatorriani@uol.com.br<br />

Recebido em: 02/10/2006<br />

Revisão: 03/10/2006 a 27/03/2007<br />

Aceito em: 28/03/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:190–194 190


original<br />

INTRODUÇÃO<br />

Balance é um termo genérico utilizado para descrever<br />

a postura dinâmica do corpo a fim de prevenir<br />

quedas e está relacionada com o equilíbrio, a reação de<br />

endireitamento e proteção. O balance normal requer o<br />

controle de forças gravitacionais para manter o controle<br />

postural e o controle das forças de aceleração para<br />

manter o equilíbrio 1 . O controle postural é definido<br />

como a ação de manter a posição do corpo no espaço<br />

com objetivo de estabilidade e orientação, podendo<br />

envolver a base de suporte fixa ou com alteração da<br />

mesma como resposta 2 .<br />

O equilíbrio em pé refere-se à habilidade para<br />

manter o centro de gravidade sobre a base de sustentação<br />

constituída pelos pés. É um fenômeno dinâmico<br />

que envolve estabilidade e mobilidade, sendo imprescindível<br />

para manter uma posição no espaço ou moverse<br />

de modo controlado e coordenado 3 . O equilíbrio é<br />

constituído por uma sucessão ascendente de equilíbrios<br />

instáveis, controlados por músculos tônicos conhecidos<br />

como tônus postural. Eles estão presentes para controlar<br />

estes desequilíbrios, manter o corpo sobre sua base<br />

e, quando necessário, através de reações automáticas<br />

para tentar recolocar o centro de gravidade sobre sua<br />

base de suporte 4 .<br />

Durante a postura vertical estática, o limite de<br />

estabilidade é composto pela área envolvida pelas bordas<br />

externas dos pés, sem alterar a base de apoio, e leva<br />

em consideração a possibilidade de deslocamento do<br />

centro de gravidade (para qualquer direção) sem que<br />

haja mudança da base de suporte. O balance pode ser<br />

controlado voluntariamente, havendo possibilidade de<br />

ser treinado para um melhor desempenho. Para isso, é<br />

fundamental a integridade do cerebelo e suas vias, o sistema<br />

vestibular, a visão e o sistema sômatosensorial 5-8 .<br />

O centro de gravidade do corpo muda continuamente,<br />

mesmo quando o indivíduo está em posição<br />

ortostática. O equilíbrio postural é o movimento corporal<br />

corrigido, resultado do controle da posição corporal<br />

vertical projetado no plano horizontal 9 .<br />

O equilíbrio requer interações que incluem os<br />

sistemas vestibulares, visuais, sômato-sensoriais (exteroceptivo<br />

e proprioceptivo), músculo esquelético e sistema<br />

cognitivo 10 . Os distúrbios do balance podem estar<br />

relacionados a vários fatores, dentre eles a lesão em<br />

qualquer uma das estruturas ou vias que compõem esse<br />

sistema, fatores intrínsecos e extrínsecos 11 .<br />

Tanto o equilíbrio estático quanto o dinâmico<br />

são controlados pela detecção de desequilíbrios do centro<br />

de gravidade e a iniciação de respostas apropriadas<br />

para retornar o corpo para uma posição estável 1,2 .<br />

O balance é muito importante na vida dos indivíduos,<br />

apresentando-se essencial para a manutenção<br />

da postura, tônus muscular e na coordenação dos<br />

movimentos. Além disso, a manutenção e o controle<br />

da postura e do balance, quando em circunstâncias<br />

estáticas ou dinâmicas, são exigências essenciais para<br />

as atividades de vida diária (AVDs) 12 .<br />

O FR é um teste clínico muito conhecido para<br />

mensurar o limite de estabilidade anterior, a partir<br />

do qual é possível inferir sobre o equilíbrio e o<br />

controle postural 10 e foi desenvolvido por Duncan 3,4 .<br />

Esse teste mensura a distância entre o comprimento<br />

do braço e o alcance máximo anterior, na posição<br />

ortostática, enquanto mantém uma base de suporte<br />

fixa 13-<strong>15</strong> .<br />

Foi desenvolvido como medida tanto estática<br />

quanto dinâmica de equilíbrio, e é usado em pacientes<br />

com diagnósticos diferentes, como Parkinson,<br />

Hipofunção Vestibular, Esclerose Múltipla e fraturas<br />

de quadril. É um teste sugerido para mensurar os<br />

limites de estabilidade envolvendo o deslocamento<br />

do centro de pressão anterior pela rotação em torno<br />

da articulação do tornozelo, mantendo o quadril em<br />

extensão 10,16 .<br />

No momento em que o braço avança, o equilíbrio<br />

estático diminui, e a pessoa deve aumentar tanto<br />

o torque quanto o equilíbrio para se manter em<br />

pé. Entretanto, define-se equilíbrio como habilidade<br />

de reagir rapidamente para frente a forças desestabilizadoras<br />

de forma eficiente para retomar a estabilidade<br />

16 .<br />

Além disso, o FR é sensível à idade, indicando<br />

um aumento no risco de quedas em idosos, ao tentar<br />

buscar objetos com os braços estendidos 1,<strong>15</strong> .<br />

A realização do FR pode ser dificultada em<br />

pacientes com alteração cognitiva, deformidades espinais,<br />

alterações na mobilidade de membros superiores<br />

e indivíduos que não conseguem se manter na<br />

posição ortostática 14 .<br />

Nota-se, na prática clínica, que o equilíbrio é<br />

uma das queixas mais referenciadas pelos pacientes,<br />

sendo encontradas alterações nas mais diversas topografias<br />

lesionais, já que vários são os sistemas que<br />

o influenciam. Desta forma, faz-se necessário confirmar<br />

tais alterações, comparando-as com valores<br />

de normalidade, bem como avaliá-lo em diferentes<br />

condições neurológicas, a fim de verificar o impacto<br />

de cada doença nas alterações de equilíbrio.<br />

O objetivo do trabalho foi avaliar o limite de<br />

estabilidade anterior de diferentes pacientes neurológicos<br />

comparando-os com valores de normalidade.<br />

191<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:190–194


MÉTODO<br />

A amostra analisada foi composta de 14 indivíduos<br />

do sexo feminino (56%) e 11 indivíduos do<br />

sexo masculino (44%), segundo critérios de inclusão:<br />

apresentar ortostatismo independente, sem alterações<br />

cognitivas graves, apresentar habilidade de realizar<br />

e manter flexão de ombro a 90º com extensão<br />

de cotovelo, não apresentar deformidades ou alterações<br />

estruturais na coluna vertebral ou articulação<br />

do membro superior.<br />

O estudo foi realizado na Clínica de Fisioterapia<br />

do UniFMU e foi aprovado por Comitê Ético interno<br />

da Instituição, sendo que foram respeitados os<br />

aspectos éticos concernentes a Resolução de nº 196<br />

de 10 de outubro de 1996. A coleta de dados iniciouse<br />

após assinatura de termo de Consentimento Livre<br />

e esclarecido.<br />

Foi aplicado FR, que consiste em uma avaliação<br />

em postura ortostática, utilizando-se do controle<br />

postural 14 . Este é um teste em que o indivíduo fica<br />

em pé com os pés separados e alinhados, com o ombro<br />

e o braço elevado a 90º de flexão. O sujeito devia<br />

alongar o corpo para frente o máximo possível, sem<br />

movimentar os pés e sem perder o equilíbrio, conforme<br />

ilustra a figura 1, a e b 16 . A distância percorrida<br />

foi medida e comparada com as normas associadas à<br />

idade 14-16 e com o tipo de doença.<br />

Foi utilizado o Teste de Kruskal-Wallis para<br />

comparar as distâncias alcançadas pelo paciente no<br />

RF. Foi definido um nível de significância de 5% e<br />

intervalos de confiança à 95%.<br />

original<br />

RESULTADOS<br />

Os dados demográficos da amostra referentes<br />

à idade e tempo de doença estão na tabela 1. Dessa<br />

forma, a média de idade da amostra é de 48,16<br />

anos e a média do tempo de lesão é 67,36. Na tabela<br />

2, demonstra-se a distribuição da população quanto<br />

ao tipo de doença, sendo a doença com distribuição<br />

mais freqüente o AVE/TCE, seguido das ataxias e<br />

mielopatias.<br />

Os valores de FR (cm) não foram diferentes<br />

entre os pacientes, levando-se em consideração o<br />

tipo de doença (tabela 3), mas comparando-se com<br />

os valores normais para cada faixa etária (tabela 4)<br />

houve diferença.<br />

Tabela 1. Caracterização da amostra quanto à idade (anos) e tempo<br />

de doença (meses).<br />

Descritiva Idade Tempo de doença<br />

Média 48,16 67,36<br />

Mediana 52 48<br />

Desvio Padrão <strong>15</strong>,36 73,08<br />

Tamanho 25 25<br />

Tabela 2. Caracterização da amostra quanto à doença neurológica<br />

apresentada.<br />

Tipo de Doença n %<br />

Ataxias 5 20,0%<br />

AVE / TCE 8 32,0%<br />

Distrofia 3 12,0%<br />

Esclerose Múltipla 2 8,0%<br />

Mielopatias 5 20,0%<br />

Parkinson 2 8,0%<br />

AVE= Acidente Vascular Encefálico; TCE= Traumatismo Crânio Encefálico.<br />

Figura 1. a) O indivíduo em pé com os pés separados, ombros alinhados e braço<br />

elevado a 90 graus de flexão. b) O indivíduo deve alongar o corpo para frente o máximo<br />

possível, sem perder o equilíbrio.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:190–194 192


original<br />

Tabela 3. Comparação do desempenho no FR (cm) para cada doença estudada.<br />

FR (cm)<br />

Tipo de Doença<br />

Ataxias AVE / TCE Distrofia Esclerose Múltipla Mielopatias Parkinson<br />

Média 22,90 23,63 16,83 26,75 18,40 25,75<br />

Mediana 23 28,5 12 26,75 23 25,75<br />

Desvio Padrão 1,98 8,91 10,61 3,89 8,29 4,60<br />

Quartil 1 21,5 16,63 10,75 25,38 10 24,13<br />

Quartil 3 24 30,25 20,5 28,13 23 27,38<br />

Tamanho 5 8 3 2 5 2<br />

Intervalo de Confiança 1,74 6,17 12,01 5,39 7,27 6,37<br />

p-valor 0,462<br />

AVE=Acidente Vascular Encefálico; TCE=Traumatismo Crânio Encefálico.<br />

DISCUSSÃO<br />

Este trabalho sugere que não há diferença<br />

na mensuração da distância alcançada no FR<br />

entre os indivíduos com doenças neurológicas diversas.<br />

Porém, os pacientes (independentemente<br />

da doença neurológica) apresentam menor amplitude<br />

do deslocamento do FR quando comparados<br />

aos valores de normalidade, sugerindo que<br />

o deslocamento anterior encontra-se afetado nesta<br />

população.<br />

O equilíbrio é uma habilidade complexa<br />

que envolve a interação de vários sistemas e<br />

é influenciado por alguns fatores como controle<br />

postural, flexibilidade, força muscular e medo de<br />

cair. Devido à alteração biomecânica ocasionada<br />

pela fraqueza muscular, as reações de equilíbrio,<br />

proteção e retificação estarão alteradas. Por esta<br />

razão é que muitas vezes têm-se como queixa<br />

principal dos pacientes a ocorrência de quedas<br />

freqüentes, podendo estar relacionadas à lentificação<br />

de tais reações 8,17,18 .<br />

A proposta deste estudo foi de apresentar<br />

o impacto de diferentes doenças neurológicas no<br />

desempenho do equilíbrio dos sujeitos acometidos,<br />

evidenciando que os fatores e sistemas descritos<br />

acima impactam negativamente na habilidade<br />

de organizar os limites de estabilidade em<br />

posição ortostática. Cabe, a partir deste estudo,<br />

determinar qual destes fatores e sistemas ocasiona<br />

maior impacto no equilíbrio de tais pacientes,<br />

visando fornecer diretrizes para a reabilitação<br />

destas desordens.<br />

Desta forma, fica complicado avaliar o<br />

equilíbrio por meio de um único teste, sendo que<br />

FR permite que sejam feitas inferências sobre o<br />

equilíbrio. O FR não é um teste propriamente<br />

de equilíbrio, mas um teste que avalia uma das<br />

muitas dimensões do equilíbrio 17 .<br />

Tabela 4. Valores de normalidade para o desempenho do FR, com<br />

relação a idade.<br />

Homem<br />

Mulher<br />

20–40 anos 16,7 ± 1,9 14,6 ± 2,2<br />

41–69 anos 14,9 ± 2,2 13,8 ± 2,2<br />

70–87 anos 13,2 ± 1,6 10,5 ± 3,5<br />

Existem três sistemas sensoriais que promovem<br />

informações relativas ao balance. Esses sistemas<br />

são: o sistema vestibular, o sômato-sensorial e<br />

o visual, sendo que o sistema vestibular é uma das<br />

ferramentas mais importantes do sistema nervoso<br />

no controle postural 8,19 . Os pacientes com alterações<br />

cerebelares e com seqüelas de AVE desenvolvem<br />

alterações nos mecanismos de balance, porém<br />

não existem muitos estudos clínicos que caracterizem<br />

tais alterações ou que topografem se as alterações<br />

encontram-se no sistema somato sensorial,<br />

vestibular ou proprioceptivo 8,19 .<br />

São descritos na literatura vários fatores<br />

que influenciam no FR, tais como: amplitude de<br />

movimento de tornozelo, tronco/coluna, quadril<br />

e ombro 17,18 . Portanto, ressaltamos a importância<br />

da avaliação cinemática das estratégias motoras<br />

escolhidas durante a realização do teste, a<br />

fim de complementar os achados quantitativos<br />

do deslocamento.<br />

As estratégias compensatórias utilizadas para<br />

o alcance durante o FR devem ser avaliadas, pois<br />

quando o sujeito apresenta possibilidade de pequeno<br />

deslocamento do centro de gravidade na base<br />

de suporte, as estratégias escolhidas tendem a ser<br />

estáticas, caracterizando pequena amplitude dos limites<br />

de estabilidade 10,16,18 .<br />

Em nosso estudo, não foram avaliadas as estratégias<br />

compensatórias adotadas por cada paciente,<br />

o que impede discussão destes achados.<br />

Sugere-se que todas as doenças estudadas<br />

acarretam um déficit no limite de estabilidade an-<br />

193<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:190–194


terior, porém nem sempre os fatores causadores<br />

são os mesmos, o que pode variar desde rigidez do<br />

tronco, fraqueza muscular, alteração sensorial ou<br />

perceptual associada ao medo de cair. Assim, para<br />

um próximo estudo, sugerimos o uso de outros instrumentos<br />

de avaliação funcional para associar ao<br />

FR, bem como aumentar o número de pacientes<br />

por doença, aumentando assim a amostra homogeneamente,<br />

visando correlacionar a topografia lesional<br />

com os fatores que afetam negativamente no<br />

equilíbrio.<br />

CONCLUSÃO<br />

Conclui-se que, nesta amostra, independentemente<br />

da doença neurológica, o limite<br />

de estabilidade anterior encontra-se deficitário<br />

quando comparado a sujeitos saudáveis.<br />

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Neurocienc 2006;14(3):135-9.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:190–194 194


original<br />

Reabilitação por meio da dança: uma<br />

proposta fisioterapêutica em pacientes<br />

com seqüela de AVC<br />

Rehabilitation through dance: a physical therapeutic proposal to patients with stroke sequel<br />

Suleima Ramos Calil 1 , Talimãn Aparecida Bertelli Pinheiro dos Santos 1 , Douglas<br />

Martins Braga 2 , Rita Helena Duarte Dias Labronici 3<br />

RESUMO<br />

Introdução. O Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode limitar<br />

de modo significativo o desempenho funcional de um indivíduo,<br />

trazendo conseqüências negativas e afetando aspectos motores,<br />

relações pessoais, familiares, sociais e, sobretudo, a qualidade de<br />

vida. Objetivo. O objetivo deste estudo foi avaliar a contribuição<br />

da dança na reabilitação dos pacientes com seqüelas de AVC. Método.<br />

Este estudo foi realizado na Policlínica Unasp, onde foram<br />

randomizados 20 pacientes com diagnóstico de AVC, divididos em<br />

2 grupos: 10 pacientes utilizando a dança e 10 pacientes utilizando<br />

cinesioterapia, durante 10 meses. Ambos os grupos foram avaliados<br />

pelas Escalas de Ashworth (espasticidade), Rivermead (mobilidade<br />

funcional), Barthel (atividade de vida diária-AVDs), Beck (depressão)<br />

e SF36 (qualidade de vida), antes e após o estudo. Resultado.<br />

Os grupos apresentaram diferença significante com relação ao<br />

tônus. Observou-se que, após o tratamento, os grupos de dança e<br />

cinesioterapia apresentaram-se homogêneos quanto à mobilidade<br />

funcional. Os grupos apresentaram depressão, mas não apresentaram<br />

diferenças em relação às AVDs. O grupo de dança apresentou<br />

diferença significante nos domínios do questionário SF-36: estado<br />

geral de saúde e aspectos emocionais. O grupo de cinesioterapia<br />

apresentou escores estatisticamente significantes nos seguintes domínios:<br />

capacidade funcional, vitalidade, aspectos sociais e aspecto<br />

emocional Conclusão. A dança demonstrou ser mais um recurso<br />

eficiente no tratamento para as seqüelas de AVC. Além da contribuição<br />

física e psicológica, a dança proporciona melhora na qualidade<br />

de vida do paciente portador de seqüelas de AVC.<br />

Unitermos: AVC, Reabilitação, Fisioterapia, Dança.<br />

Citação: Calil SR, Santos TABP, Braga DM, Labronici RHDD. Reabilitação<br />

por meio da dança: uma proposta fisioterapêutica em pacientes<br />

com seqüela de AVC.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. Stroke can significantly limit the functional performance<br />

of individuals leading to impairment of motor features,<br />

personal, family or social relationships, and quality of life. Objective.<br />

The aim of this study was to evaluate dance as a contribution<br />

to rehabilitation of patients with stroke sequels. Methods.<br />

A controlled and randomized study was conducted at multidisciplinary<br />

Unasp Clinic, where 20 stroke patients were divided<br />

in two groups: 10 patients in the dance group and 10 patients<br />

in the kinesiotherapy group. These activities lasted 10 months.<br />

Both groups were evaluated through Ashworth Scale (spasticity),<br />

Rivermead Scale (functional mobility), Barthel Scale (daily<br />

basis activity), Beck Scale (depression), and SF36 Scale (quality<br />

of life), before and after the intervention. Results. The groups<br />

presented significant difference regarding tonus. We observed<br />

that the dance and kinesiotherapy groups showed homogeneity<br />

regarding functional mobility after treatment. Both groups<br />

presented depression but there was no difference between daily<br />

basis activities. Dance group presented significant differences in<br />

the following domains of the SF-36: general state of health and<br />

emotional aspects. Kinesiotherapy group presented significant<br />

differences in the following domains: functional capacity, vitality,<br />

social aspects, and emotional aspect. Conclusion. The dance<br />

demonstrated to be an efficient tool on the treatment of patients<br />

with stroke sequels. In addition to the physical and psychological<br />

contribution, dance can provided an improvement in these<br />

patients quality of life.<br />

Keywords: Cerebrovascular accident, Stroke, Rehabilitation,<br />

Physical therapy, Dancing.<br />

Citation: Calil SR, Santos TABP, Braga DM, Labronici RHDD. Rehabilitation<br />

through dance: a physical therapeutic proposal to patients with<br />

stroke sequel.<br />

Trabalho realizado no Centro Universitário Adventista de<br />

São Paulo – UNASP-SP.<br />

1. Discente do Curso de Graduação em Fisioterapia UNASP/SP.<br />

2. Fisioterapeuta, Especialista em hidroterapia na reabilitação de<br />

doenças neuromusculares UNIFESP, responsável pelo setor artístico do<br />

Clube dos Paraplégicos de São Paulo e do ambulatório de Neuroimunologia<br />

da UNIFESP.<br />

3. Mestre em neurociências UNIFESP, docente responsável pela Disciplina<br />

de Neurologia da UNASP/SP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Estrada de Itapecerica, 2720<br />

CEP 05835-004, São Paulo, SP<br />

Recebido em: 08/08/06<br />

Revisão: 09/08/06 a 27/03/07<br />

Aceito em: 28/03/07<br />

Conflito de interesses: não<br />

195<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202


INTRODUÇÃO<br />

AVC (Acidente Vascular Cerebral) é clinicamente<br />

definido como sendo uma disfunção neurológica<br />

aguda, de origem vascular, seguida da ocorrência<br />

súbita (em segundos) ou rápida (horas) de<br />

sintomas e sinais relacionados ao comprometimento<br />

de áreas focais no cérebro 1 , sendo a terceira causa de<br />

morte em diversos países do mundo, como nos EUA<br />

e na maioria das nações desenvolvidas ou de menor<br />

poder econômico como Brasil, Portugal e países asiáticos.<br />

Ocorre em 4,0 homens e 2,0 mulheres por<br />

1.000 indivíduos/ano nos EUA 2 . Só no município de<br />

São Paulo, é a terceira causa de morte, antecedido<br />

apenas pelas doenças coronarianas e homicídio 3 . No<br />

grupo das doenças cerebrovasculares, considerando<br />

a faixa de idade entre 20 e 49 anos, o AVC correspondeu<br />

a pouco mais de 80% das internações pelo<br />

SUS em 2004 4 .<br />

A reabilitação visa à reintegração dentro de<br />

um trabalho global, mantendo a tendência de primeiro<br />

tentar reduzir as limitações funcionais e,<br />

posteriormente, aumentar a reintegração social ou<br />

adaptação no ambiente 5 . Os métodos utilizados na<br />

fisioterapia neurofuncional para tratamento de pacientes<br />

com AVC foram desenvolvidos de maneira<br />

independente por vários pioneiros após a década de<br />

50, devido estarem insastifeitos com os resultados<br />

da fisioterapia anterior a essa década. Estes métodos<br />

foram elaborados sob observação e experiências<br />

clínicas, primariamente embasadas com os conceitos<br />

de controle motor correntes da época, ao invés de<br />

teorias científicas 6 . Dentre as diversas técnicas utilizadas<br />

na fisioterapia neurofuncional, encontram-se:<br />

cinesioterapia, hidroterapia, eqüoterapia, bobath,<br />

kabat, eletroterapia, entre outros.<br />

A cinesioterapia é o uso do movimento ou<br />

exercício como forma de tratamento, a fim de reabilitar<br />

ou reequilibrar as forças mecânicas atuantes no<br />

organismo como um todo, proporcionando melhora<br />

na qualidade do movimento e melhora na qualidade<br />

de vida. Para isso, a cinesioterapia é de fundamental<br />

importância para a fisioterapia, visto que o<br />

movimento só se cura com o movimento 7 . A cinesioterapia<br />

é o recurso mais utilizado no paciente com<br />

hemiplegia, porém a dança surge como um recurso<br />

auxiliar na reabilitação, pois possibilita explorar o<br />

próprio corpo, criando possibilidades para estimular<br />

aspectos neuro-psico-motores e sociais, promovendo<br />

melhora na qualidade de vida.<br />

Desde os primórdios, a dança tinha função de<br />

revelar modelos de rituais e determinadas atividades<br />

original<br />

humanas significativas, tais como alimentação, casamento,<br />

trabalho, arte e sabedoria. A dança sempre<br />

esteve presente na história da humanidade, com variações<br />

em todas as épocas. É uma linguagem por<br />

meio da qual o indivíduo pode sentir-se, perceber-se,<br />

conhecer-se e manifestar-se. É um aprendizado em<br />

si mesmo: o que o indivíduo sente, o que quer dizer<br />

e como quer dizer 8 .<br />

A dançaterapia é um método que fornece<br />

estímulos, despertando áreas adormecidas, possibilitando<br />

autoconhecimento físico, fazendo com que<br />

os alunos criem consciência de ultrapassar seus próprios<br />

limites 9 .<br />

Com relação ao aspecto cognitivo, a dançaterapia<br />

permite desenvolver as capacidades cognitivas,<br />

como a motivação e a memória. O nível físico<br />

possibilita bem-estar e coordenação muscular. A<br />

prática desta terapia traz grandes benefícios, que<br />

variam de movimentos adaptados, que diminuem a<br />

rigidez muscular e a ansiedade, ajudando as pessoas<br />

a aprenderem a reconhecer e a confiar nos seus<br />

próprios impulsos, além de desenvolver a auto-expressão,<br />

promover a interação do indivíduo consigo<br />

mesmo e com os outros, propiciar a inclusão social e<br />

melhorar a qualidade de vida 9 .<br />

A dança proporciona o autoconhecimento<br />

pelo toque, porque além de aumentar a percepção<br />

corporal, relaxa a musculatura, favorecendo o desenvolvimento<br />

físico, motor, neurológico e intelectual.<br />

Melhora também a auto-imagem, através do estímulo<br />

das percepções, sensações cinestésicas e visuais,<br />

que orientam o tempo e o espaço 10 .<br />

Pacientes portadores de seqüelas de AVC possuem<br />

disfunções motoras e cognitivas importantes,<br />

necessitando de reabilitação por períodos prolongados,<br />

muitas vezes tornando-se cansativo e desmotivante.<br />

A dança representa atividade lúdica e intrinsecamente<br />

motivante, que surge em meio a diversos<br />

recursos fisioterapêuticos, permitindo desenvolver os<br />

aspectos motores, psicológicos e sociais.<br />

Este trabalho tem como objetivo avaliar os<br />

efeitos da dança na reabilitação dos pacientes com<br />

seqüelas de AVC, tentando identificar a relação da<br />

dança com a diminuição da espasticidade, conhecer<br />

o impacto da dança sobre a mobilidade funcional<br />

do paciente, examinar a repercussão da dança nas<br />

AVDs (atividades de vida diária), analisar a correlação<br />

entre dança e aspecto psicológico (depressão), e<br />

avaliar a eficiência da dança na qualidade de vida do<br />

indivíduo portador de deficiência física.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202 196


original<br />

MÉTODO<br />

Este estudo de caráter prospectivo foi realizado<br />

na Policlínica do Centro Universitário Adventista de<br />

São Paulo (UNASP). Participaram do estudo pacientes<br />

com diagnóstico médico de seqüelas de AVC, oriundos<br />

das Unidades Básicas de Saúde (UBS) e dos hospitais<br />

da região (Campo Limpo, Regional Sul, Pedreira),<br />

encaminhados à Policlínica para realização de fisioterapia.<br />

As questões éticas da pesquisa foram aprovadas<br />

conforme os parâmetros da resolução 196/96.<br />

Dos 198 prontuários, foram identificados aqueles<br />

que preencheram os critérios de inclusão do protocolo<br />

proposto. Os critérios de inclusão foram: pacientes<br />

com hemiparesia, com idade máxima de 70 anos,<br />

crônicos (1 ano pós-lesão), deambulantes com ou sem<br />

auxílio de órtese, que possuíam prescrição médica<br />

para fisioterapia e que concordaram e assinaram o<br />

termo de consentimento livre e esclarecido aprovado<br />

pelo Comitê de Ética da pesquisa.<br />

Foram excluídos, durante o processo de triagem,<br />

os pacientes que apresentaram hipertensão<br />

arterial descontrolada, cardiopatia grave associada,<br />

doenças trombogênicas, doenças renais, doenças hemolíticas,<br />

doenças oncológicas, síndrome ombro-mão,<br />

deformidades de membros superiores ou inferiores<br />

que incapacitavam a realização de movimentos ou<br />

de permanência na posição ortostática, e presença de<br />

afecções clínicas que impediam ou contra-indicavam<br />

a realização de fisioterapia. Não foram incluídos pacientes<br />

acima de 70 anos de idade, pacientes cadeirantes,<br />

pacientes acamados, ou com nível cognitivo muito<br />

baixo, verificado previamente em seus prontuários.<br />

Todos os pacientes foram submetidos a anamnese,<br />

exame físico geral, neurológico e cinesiológico<br />

funcional (fisioterapêutico) e avaliados com os seguintes<br />

instrumentos validados e reprodutíveis: Escala modificada<br />

de Ashworth (avaliação de espasticidade) 11 ,<br />

Índice de mobilidade de Rivermead (avaliação da<br />

mobilidade) 12 , Índice de Barthel (avaliação para atividades<br />

de vida diária) 13,14 , Inventário de depressão de<br />

Beck (avaliação de depressão) <strong>15</strong> e SF-36 (avaliação de<br />

qualidade de vida) 16 . Os instrumentos foram aplicados<br />

por discentes do curso de fisioterapia, treinados por<br />

um profissional fisioterapeuta especializado em neurologia<br />

alheio à intervenção. Todos os pacientes foram<br />

avaliados antes e após o tratamento do estudo.<br />

O tratamento teve duração de sete meses, com<br />

início em Fevereiro de 2006 e término em Setembro<br />

de 2006, com duas sessões por semana de duração de<br />

60 minutos cada. O grupo de dança (GD) consistiu<br />

de 10 pacientes, sendo 50% do sexo feminino, com<br />

média de 48,8 ± 9,7 anos de idade, e 50% do sexo<br />

masculino, com média de 54 ± 10,2 anos de idade. O<br />

tempo médio pós-AVC foi de 2,8 ± 1,5 anos.<br />

Esses pacientes receberam sessões de dançaterapia<br />

ministradas pelos profissionais qualificados. Inicialmente<br />

foram verificados sinais vitais (freqüência<br />

cardíaca e pressão arterial) e medicação em uso. As<br />

sessões de dança foram realizadas utilizando-se CDs<br />

com variados ritmos musicais [bolero, valsa, clássico,<br />

MPB (música popular brasileira), forró, marchinhas,<br />

rock anos 50 e 60]. O protocolo de dança foi dividido<br />

em: alongamento global (10 min) em região cervical,<br />

MMSS (membros superiores), tronco e MMII (membros<br />

inferiores) com 2 a 3 repetições. Na dança (40<br />

min), utilizou-se movimentos nos quais os pacientes<br />

exploravam todo o meio ambiente e seu corpo, e era<br />

proposto que cada um expressasse suas emoções livremente.<br />

Inicialmente, utilizavam-se ritmos acelerados<br />

como marchinhas para aquecimento, e em seguida, o<br />

aprendizado dos passos da coreografia sem música e<br />

com a música escolhida. Posteriormente, danças como<br />

bolero e valsa eram realizadas em duplas de pacientes,<br />

buscando trabalhar lateralidade e equilíbrio. Para<br />

o relaxamento (10 min), os pacientes ficaram em decúbito<br />

dorsal ou na posição sentada em colchonetes,<br />

com música suave, sendo aplicada auto-massagem,<br />

visando o relaxamento de toda a musculatura.<br />

O grupo de cinesioterapia (GC) consistiu de 10<br />

pacientes, sendo 70% do sexo feminino, com média de<br />

47,9 ± 9,4 anos de idade, e 30% do sexo masculino,<br />

com média de 55,3 ± 13,2 anos de idade. O tempo<br />

médio pós-AVC foi de 7,3 ± 5,6 anos. Esses pacientes<br />

receberam sessões de cinesioterapia ministradas por<br />

profissionais qualificados, que inicialmente verificaram<br />

os sinais vitais (freqüência cardíaca e pressão arterial)<br />

e medicação em uso. As sessões de cinesioterapia foram<br />

realizadas utilizando-se CDs com músicas (instrumentais,<br />

gospel, new age) e colchonetes. O protocolo foi<br />

dividido em: alongamento global (10 min) em região<br />

cervical, MMSS, tronco e MMII (2 a 3 repetições). Na<br />

cinesioterapia (40 min), foram realizados exercícios respiratórios<br />

e de percepção corporal global, com mobilização<br />

de pequenas e grandes articulações. Foram aplicados<br />

exercícios ativos assistidos, ativos livres específicos<br />

e globais, através de contrações isométricas, isotônicas<br />

concêntricas e excêntricas, na posição de decúbito dorsal<br />

e posição sentada em colchonetes, além de exercícios<br />

de dissociação de cinturas escapular e pélvica, e<br />

exercícios que estimulam o controle postural. Para o<br />

relaxamento (10 min), os pacientes ficaram em decúbito<br />

dorsal, em colchonetes, com música suave, sendo<br />

197<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202


aplicado pompagem cervical e lombar, visando o relaxamento<br />

de toda a musculatura.<br />

Os resultados são apresentados como médias<br />

± desvio-padrão. Os dados obtidos por meio das<br />

Escalas de Ashworth, Rivermead e Barthel foram<br />

analisados por meio do teste de Wilcoxon. Os resultados<br />

do SF-36 foram analisados por meio do teste<br />

de Mann-Whitney. As proporções de indivíduos com<br />

diferentes níveis de atividades de vida diária (Escala<br />

de Barthel) e com graus diferentes de depressão (Escala<br />

de Beck) foram analisadas por meio do teste do<br />

Qui-quadrado. O nível de significância estabelecido<br />

foi p< 0,05. Todas as análises foram feitas por meio<br />

do programa estatístico “Sigma Stat for Windows<br />

version 2.03” (Systat Software Inc.).<br />

RESULTADOS<br />

O grupo de dança apresentou (figura 1A) antes do<br />

tratamento, uma média 1,89 ± 1,27 de tônus e, após o tratamento,<br />

uma média de 0,78 ± 0,83 de tônus (p = 0,008).<br />

O grupo de cinesioterapia apresentou, antes do tratamento,<br />

uma média de 1,63 ± 1,19 de tônus e, após o tratamento,<br />

uma média de 0,88 ± 0,84 de tônus (p = 0,031).<br />

O grupo de dança apresentou (figura 1B) antes do<br />

tratamento, uma média de 14,00 ± 1,23 de mobilidade<br />

funcional e, após o tratamento, uma média de 14,00 ±<br />

1,12 de mobilidade funcional, não sendo estatisticamente<br />

diferente. O grupo de cinesioterapia apresentou, antes<br />

do tratamento, uma média de 11,50 ± 2,83 de mobilidade<br />

funcional e, após o tratamento, uma média de 13,25<br />

± 1,67 de mobilidade funcional, não sendo estatisticamente<br />

diferente. Quando comparados os resultados referentes<br />

ao Índice de Mobilidade de Rivermead entre os<br />

grupos de dança e cinesioterapia antes do tratamento,<br />

observa-se uma heterogeneidade significativa (p = 0,03).<br />

original<br />

Após o tratamento proposto, os grupos de dança e cinesioterapia<br />

apresentaram-se homogêneos.<br />

O grupo da dança apresentou inicialmente (figura<br />

2) quatro pacientes independentes, dois pacientes<br />

com dependência escassa e três pacientes com dependência<br />

moderada para as AVDs e, ao término do<br />

tratamento, apresentou seis pacientes independentes,<br />

dois pacientes com dependência escassa e um paciente<br />

com dependência moderada para as AVDs, não sendo<br />

diferente estatisticamente. O grupo de cinesioterapia<br />

apresentou inicialmente dois pacientes independentes<br />

e seis com dependência moderada para AVDs e, ao término<br />

do tratamento, quatro pacientes independentes,<br />

um paciente com dependência escassa e três pacientes<br />

com dependência moderada para as AVDs, não sendo<br />

diferente estatisticamente.<br />

O grupo de dança apresentou, antes do tratamento<br />

(figura 3), quatro pacientes depressivos e cinco<br />

pacientes não depressivos e, após o tratamento, dois<br />

pacientes depressivos e sete pacientes não depressivos,<br />

não sendo estatisticamente diferente. O grupo de cinesioterapia<br />

apresentou, antes do tratamento, sete pacientes<br />

depressivos e um paciente não depressivo e, após o<br />

tratamento, dois pacientes depressivos e seis pacientes<br />

não depressivos (p = 0,025).<br />

A tabela 1 demonstra os valores da média ± desvio-padrão<br />

e significância dos resultados obtidos com o<br />

questionário SF-36, antes e depois do tratamento dos<br />

grupos de dança e cinesioterapia. O grupo de dança<br />

apresentou escores significantes nos seguintes domínios<br />

do questionário de qualidade de vida SF-36: estado<br />

geral de saúde (p = 0,032) e aspectos emocionais (p =<br />

0,016). Os demais domínios não apresentaram significância<br />

estatística. O grupo de cinesioterapia apresentou<br />

escores estatisticamente significantes nos seguintes<br />

(A)<br />

(B)<br />

Figura 1. Escores das escalas de Ashworth e de Rivermead, de pacientes<br />

com seqüelas de AVC submetidos à dança ou à cinesioterapia, antes<br />

(barras fechadas) e após (barras abertas) tratamento.<br />

* Diferenças estatisticamente significativas após tratamento dentro de cada grupo (p < 0,05).<br />

# Diferenças significantes entre os grupos no mesmo período de tratamento (p < 0,05).<br />

Figura 2. Escores da Escala de Barthel, de pacientes com seqüelas de<br />

AVC, submetidos à dança ou à cinesioterapia, antes (símbolos fechados)<br />

e após tratamento (símbolos abertos). Adicionada à figura está a classificação<br />

de dependência de Barthel. Não foram identificadas diferenças<br />

estatisticamente significativas decorrentes dos tratamentos, nem entre os<br />

grupos.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202 198


original<br />

Figura 3. Escores da Escala de Beck, de pacientes com seqüelas de AVC,<br />

submetidos à dança ou à cinesioterapia, antes do tratamento (símbolos<br />

fechados) e após tratamento (símbolos abertos). Adicionada à figura está<br />

a classificação de depressão de Beck. As diferenças estatisticamente significativas<br />

estão indicadas na figura. NS: diferenças não significativas.<br />

domínios do questionário de qualidade de vida SF-<br />

36: capacidade funcional (p = 0,002), vitalidade (p =<br />

0,033), aspectos sociais (p = 0,031) e aspecto emocional<br />

(p = 0,014). Os demais domínios não apresentaram significância<br />

estatística.<br />

DISCUSSÃO<br />

Nos últimos anos, têm sido muitas as discussões<br />

e preocupações, no meio fisioterapêutico, a respeito<br />

da inserção e participação da pessoa portadora<br />

de deficiência nos programas de atividade física e<br />

esportes, quer seja como apoio ou auxílio à reabilitação,<br />

participação em competições adaptadas ou<br />

mesmo como atividade recreativa, manutenção da<br />

saúde e desenvolvimento da potencialidade.<br />

Dos pacientes incluídos e tratados no estudo,<br />

poucos não concluíram o tratamento. Ocorreram<br />

três perdas, sendo um paciente no grupo de dança<br />

(óbito), e dois pacientes no grupo de cinesioterapia<br />

(dificuldade financeira e infecção devido a processo<br />

alérgico). Dividimos a discussão em três aspectos<br />

principais: motores, psicológicos e sociais, para clareza<br />

e entendimento do leitor.<br />

Aspectos Motores<br />

A espasticidade é uma alteração caracterizada<br />

por uma perda do equilíbrio entre a contração<br />

e o relaxamento dos grupos musculares agonistas e<br />

antagonistas 17 . Qualquer que seja sua etiologia, procura-se<br />

potencializar as funções preservadas, a fim<br />

de manter uma boa qualidade de vida e incorporar<br />

ao ser humano suas atividades diárias da maneira o<br />

mais independente possível.<br />

Ao compararmos os dados iniciais da Escala de<br />

Ashworth, observa-se que os grupos de dança e cinesioterapia<br />

não eram semelhantes, ou seja, os pacientes<br />

do grupo da dança eram mais espásticos do que os<br />

pacientes do grupo de cinesioterapia, e, após o tratamento,<br />

continuavam sem semelhança entre si.<br />

Observando os dados encontrados, averiguouse<br />

que os grupos de dança e cinesioterapia apresentaram<br />

melhora clínica estatisticamente significativa,<br />

sendo o tônus avaliado pela Escala de Ashworth.<br />

Podemos também observar que o grupo da dança<br />

obteve melhora significativa em relação ao grupo de<br />

cinesioterapia. Acreditamos que a melhora do tônus<br />

seja devido à dança ser uma atividade que exija maior<br />

mobilidade motora, além de despertar sensações que<br />

causam emoção, favorecendo relaxamento dos músculos<br />

e tornando o movimento mais efetivo. Esses<br />

dados são compatíveis com Bertoldi 5 , que, em seu estudo,<br />

descreve que 75% dos participantes acreditam<br />

que a dança desenvolva alguns grupos musculares não<br />

trabalhados anteriormente em outras atividades.<br />

Em nosso estudo, ambos os grupos apresentaram<br />

melhora clínica na mobilidade funcional (transferências,<br />

locomoção em diferentes solos e escadas). No grupo da<br />

dança, observa-se a manutenção da mobilidade funcional<br />

e, no grupo de cinesioterapia, a melhora da mobilidade<br />

funcional, porém sem significância estatística.<br />

Acreditamos que os resultados encontrados neste estudo<br />

Tabela 1. Valores de média ± desvio-padrão dos escores obtidos com o questionário SF-36 (qualidade de<br />

vida) antes e depois do tratamento.<br />

Dança<br />

Cinesioterapia<br />

Antes Depois Antes Depois<br />

Capacidade Funcional 51,1 ± 29,9 60,6 ± 25,6 41,3 ± 21,2 68,8 ± 25,0*<br />

Aspectos Físicos 69,4 ± 37,0 52,8 ± 38,4 53,1 ± 41,1 81,3 ± 34,7<br />

Dor 66,3 ± 31,4 71,8 ± 34,2 71,9 ± 31,9 90,5 ± 17,6<br />

Estado Geral 59,4 ± 25,0 76,2 ± 28,9* 58,5 ± 16,1 82,3 ± 33,9<br />

Vitalidade 60,6 ± 31,8 72,8 ± 29,4 53,1 ± 19,3 78,8 ± 26,6*<br />

Aspectos Sociais 71,1 ± 26,5 75,1 ±33,7 55,0 ±16,4 78,4 ± 20,7*<br />

Aspecto Emocional 89,0 ± 16,5 48,1 ± 44,5* 41,5 ± 38,9# 91,6 ± 23,7*#<br />

Saúde Mental 60,9 ± 28,1 72,0 ± 26,8 69,0 ± 25,2 78,5 ± 29,9<br />

* Diferenças estatisticamente significativas dentro de cada grupo após sua respectiva intervenção (p < 0,05).<br />

# Diferenças estatisticamente significativas nas comparações entre os grupos no mesmo período de intervenção (p < 0,05).<br />

199<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/2:195–202


devem-se ao fato de se tratar de pacientes crônicos, já<br />

adaptados ao ambiente, o que se comprova averiguando<br />

os dados iniciais. Os pacientes do grupo da dança já se<br />

encontravam, inicialmente, com maior funcionalidade<br />

em relação aos pacientes do grupo de cinesioterapia.<br />

Esses dados são compatíveis com resultados<br />

encontrados por Labronici 18 , que utilizou Rivermead<br />

para avaliar 30 pacientes que praticavam esporte<br />

adaptado, observando somente a manutenção da<br />

mobilidade funcional. Não houve mudança na função<br />

motora, o que já se esperava, pois todos eram portadores<br />

de doenças crônicas, com o quadro estabilizado.<br />

As atividades de vida diária estão, na maioria<br />

dos casos, prejudicados nos pacientes com AVC, e o<br />

grau de dependência para sua realização interfere na<br />

qualidade de vida dos pacientes 6 . Em nosso estudo,<br />

quando comparados os resultados referentes ao Índice<br />

de Barthel, que avalia AVDs (dependência ou independência<br />

para alimentação, banho, toalete, vestimenta,<br />

controle vesical, transferências, locomoção e ato de<br />

subir e descer escadas) entre os grupos de dança e de<br />

cinesioterapia, observou-se maior independência, porém<br />

sem significância estatística. Em ambos os grupos,<br />

os pacientes encontravam-se adaptados para realizar as<br />

AVDs, porém, inicialmente, os pacientes do grupo de<br />

dança apresentavam maior adaptação para realizar as<br />

AVDs do que o grupo de cinesioterapia. Após o tratamento,<br />

ambos os grupos apresentaram melhora clínica,<br />

sendo, neste momento, semelhantes entre si.<br />

Os dados encontrados neste estudo confirmam<br />

os resultados encontrados por Labronici 18 , no qual<br />

relata que a análise das atividades funcionais feitas<br />

através da Escala de Barthel não mostrou qualquer<br />

melhora nos pacientes, pois se tratava de indivíduos<br />

com vários anos de lesão, já totalmente adaptados e<br />

independentes. Braga 19 relata que foi possível verificar<br />

e analisar resultados positivos, principalmente<br />

como melhora da função motora. De acordo com o<br />

Índice de Barthel, os pacientes apresentaram melhora<br />

nos itens vestuário, locomoção e ato de subir escadas,<br />

mantendo-se inalteradas nas demais atividades.<br />

É possível que a melhora observada nas AVDs<br />

nos dois grupos se deva ao fato de ambos os tratamentos<br />

promoverem a facilitação do gesto, aprimorando<br />

a função motora e permitindo a realização das AVDs<br />

com maior eficiência. À medida que aumenta a função<br />

voluntária, a dependência dos movimentos sinergistas<br />

diminui, juntamente com a espasticidade 20 . Com a diminuição<br />

da espasticidade, pode ocorrer a melhora ou<br />

a manutenção da capacidade funcional, fazendo com<br />

que as AVDs se tornem mais independentes. Com o<br />

original<br />

desenvolvimento da dança, há facilitação na realização<br />

de diversas atividades de vida diária 5 . Segundo esses<br />

participantes, a motivação para a conquista de novas<br />

alternativas de movimento e a capacidade de ousar na<br />

busca dessas alternativas, unidas ao aprimoramento<br />

músculo-esquelético obtidos com a dança, foram os fatores<br />

responsáveis por essa facilitação na realização das<br />

diversas atividades de vida diária.<br />

A adequação do tônus muscular é de extrema<br />

importância para que o paciente se mova facilmente<br />

em um padrão funcional, permitindo a aquisição de<br />

movimentos seletivos que posteriormente poderão ser<br />

usados em suas atividades motoras, desde as mais simples<br />

até as mais complexas, permitindo a realização<br />

das habilidades às atividades motoras específicas 21 .<br />

A influência do tônus muscular sobre a independência<br />

funcional em pacientes com AVC mostrou<br />

uma baixa correlação entre o tônus muscular e<br />

as medidas de incapacidade, ressaltando que incapacidades<br />

graves foram vistas tanto em pacientes espásticos<br />

como em pacientes não-espásticos, e que o foco<br />

sobre a espasticidade na reabilitação está em desacordo<br />

com sua importância clínica 22 . Dessa forma,<br />

não parece que as características do tônus muscular<br />

desses pacientes tenham sido determinantes nos resultados<br />

encontrados. No presente estudo, observouse<br />

que houve uma melhora significativa de tônus,<br />

porém, os aspectos mobilidade funcional e AVDs<br />

não se alteraram nos pacientes do grupo da dança,<br />

que eram adaptados e independentes em sua maioria.<br />

Calasans e Alouche não relatam se os pacientes<br />

espásticos possuíam o quadro clínico estabilizado e<br />

se os mesmos estavam adaptados funcionalmente<br />

para as AVDs. Portanto, acredita-se que, a partir do<br />

presente estudo, a eficácia de exercícios apropriados,<br />

assim como a dança e a cinesioterapia, promovem a<br />

melhora dos aspectos motores.<br />

A alteração do estado mental se correlaciona<br />

com o desempenho das atividades de vida diária em<br />

pacientes que sofreram AVC 22 . Isso significa que a<br />

deficiência cognitiva pode influenciar o prognóstico<br />

para sua independência.<br />

Aspecto Psicológico<br />

Das escalas de auto-avaliação, a mais utilizada<br />

é o Inventário de Depressão de Beck <strong>15</strong> . Porém,<br />

sua utilização pressupõe pacientes com certo grau de<br />

educação, cooperantes e sem nenhuma psicopatologia<br />

grave. Pelo fundamento teórico que o embasa,<br />

valoriza muito mais a categoria dos sintomas cognitivos<br />

do que os sintomas psicológicos.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202 200


original<br />

O prejuízo cognitivo também tem sido associado<br />

à depressão 3 . Nas duas primeiras semanas após o<br />

AVC, encontra-se uma relação entre o prejuízo cognitivo<br />

e a depressão e, ao longo de seis meses, há um aumento<br />

desta relação. O prejuízo cognitivo, entretanto,<br />

pode, na realidade, ser um sintoma depressivo.<br />

A depressão pós-AVC traz significativo comprometimento<br />

da evolução do paciente. Embora, em<br />

uma unidade de reabilitação, os pacientes com depressão<br />

pós-AVC possam apresentar recuperação semelhante<br />

àqueles não deprimidos. Neste estudo, ambos<br />

os grupos apresentaram melhora clínica quando<br />

comparados os resultados referentes ao questionário<br />

de Beck, porém, somente o grupo de cinesioterapia<br />

apresentou melhora estatisticamente significativa.<br />

Segundo a classificação do Inventário de Depressão<br />

de Beck, inicialmente o grupo da dança apresentava<br />

um paciente com depressão leve, um paciente com depressão<br />

moderada e dois paciente com depressão grave,<br />

e o grupo de cinesioterapia apresentava dois pacientes<br />

com depressão leve, quatro pacientes com depressão<br />

moderada e um paciente com depressão grave.<br />

Após o tratamento, o grupo de dança apresentava<br />

um paciente com depressão leve e um paciente<br />

com depressão grave, e o grupo de cinesioterapia<br />

apresentava dois pacientes com depressão<br />

leve. O uso de terapias voltadas para a resolução de<br />

problemas se mostra eficaz na redução dos sintomas<br />

depressivos e na melhora do desempenho nas atividades<br />

de vida diária, podendo ser uma alternativa<br />

terapêutica importante para a população que permanece<br />

sintomática 23 .<br />

Acreditamos que o grupo da dança não apresentou<br />

melhora significativa devido a, inicialmente,<br />

obter um maior número de pacientes não depressivos,<br />

porém, dos pacientes que continuaram depressivos<br />

após o tratamento, observamos que o paciente<br />

com depressão grave pertencia ao grupo da dança,<br />

podendo ter contaminado este grupo. A depressão<br />

foi o fator mais fortemente associado à baixa qualidade<br />

de vida dos pacientes num período de um a três<br />

anos pós-AVC3. A depressão também foi associada<br />

a um efeito negativo no domínio do bem-estar e a<br />

maior incapacitação, mesmo após controle, para o<br />

grau de limitação funcional e declínio cognitivo.<br />

Aspecto social<br />

Os instrumentos de avaliação genérica de qualidade<br />

de vida e saúde, que estão disponíveis até o<br />

momento, não têm a capacidade de direcionar, com<br />

exatidão, nossos procedimentos 16 . No entanto, podemnos<br />

mostrar a capacidade dos indivíduos em executar<br />

determinadas atividades que normalmente realizam e<br />

como esses indivíduos se sentem ao realizá-las.<br />

O dogma de que os pacientes com AVC precisam,<br />

obrigatoriamente, ser atendidos individualmente<br />

para que possam atingir o grau de recuperação<br />

máxima deve ser revisado 6 . Em seu estudo, conclui<br />

que a fisioterapia em grupo pode trazer grandes benefícios<br />

na qualidade de vida desses pacientes. Fontes<br />

acredita que a interação social, propiciada pela<br />

fisioterapia em grupo, desperta a competição entre<br />

os componentes do grupo e, conseqüentemente, motiva<br />

os participantes a vencerem suas limitações, facilitando<br />

a melhora tanto nos aspectos relacionados à<br />

qualidade de vida como na realização das AVDs.<br />

No presente estudo, quando comparados os<br />

resultados referentes ao questionário SF-36 de qualidade<br />

de vida referente aos grupos de dança e de cinesioterapia,<br />

observa-se melhora clínica geral, exceto<br />

nos aspectos físicos e emocionais. Inicialmente, ambos<br />

os grupos não apresentavam semelhança entre si em<br />

todos os domínios da SF-36, porém, no aspecto emocional,<br />

essa diferença foi estatisticamente significante.<br />

Após o tratamento, continuaram sem semelhança.<br />

No grupo da dança, ocorreu melhora clínica<br />

nos domínios capacidade funcional, dor, estado geral<br />

de saúde, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental.<br />

Houve uma diminuição estatisticamente significativa<br />

no aspecto emocional, supondo este resultado a<br />

presença de um paciente com depressão grave contaminando<br />

o grupo. Houve melhora estatisticamente<br />

significativa no aspecto estado geral de saúde.<br />

Acreditamos que essa melhora se deva ao fato de a<br />

dança ser uma atividade aeróbia. A atividade física<br />

regular não só tem influência direta sobre a saúde<br />

geral, como também influencia no aspecto de se sentir<br />

saudável, sendo que as atividades físicas aeróbias<br />

regulares podem interferir beneficamente no tempo<br />

de reação, no controle da taxa de colesterol, na hipertensão<br />

arterial e em outros fatores 24 . Quase todos<br />

os domínios do SF-36 sugerem uma redução da qualidade<br />

de vida em pacientes com AVC. Com relação<br />

aos componentes emocionais e mentais, observaram<br />

um maior impacto da incapacidade sobre pacientes<br />

com seqüelas de AVC 25 .<br />

No grupo de cinesioterapia, houve melhora estatisticamente<br />

significante nos domínios do SF36: capacidade<br />

funcional, vitalidade, aspectos sociais e aspectos<br />

emocionais. A dança inclusiva possibilita ao deficiente<br />

físico incorporar movimentos por um caminho não convencional,<br />

realizando o rolar, o engatinhar, o ajoelhar<br />

201<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202


com melhor desempenho das articulações nas atitudes<br />

de postura mais comum, ou ainda, com maior facilidade<br />

para a passagem de um movimento para outro 26 . A<br />

dança permite que esses movimentos, compreendidos<br />

em aula, possam ser utilizados em outras ocasiões, principalmente<br />

nas atividades de vida diária.<br />

Em análise dos resultados do presente estudo,<br />

observamos que o grupo de cinesioterapia apresentou<br />

bons resultados, e que o tratamento em grupo se<br />

mostrou eficaz.<br />

No grupo da dança, observamos que houve diminuição<br />

nos componentes emocionais e físicos. Acreditamos<br />

que se deva ao fato de a dança apresentar movimentos<br />

com maior complexidade do que a cinesioterapia.<br />

Os pacientes demonstravam ansiedade e frustração para<br />

cada movimento mal sucedido, interpretando como<br />

fracasso, gerando sobrecarga psíquica e mental. Ainda<br />

assim, houve manutenção da mobilidade funcional (Rivermead),<br />

das AVDs (Barthel), da depressão (Beck) e da<br />

qualidade de vida (SF36), nos domínios: capacidade funcional,<br />

dor, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental.<br />

Houve melhora do tônus (Ashworth) e do estado geral de<br />

saúde do questionário de qualidade de vida SF-36.<br />

Analisando os aspectos psicológicos da dança verificou-se,<br />

através de depoimentos dados por participantes<br />

de estudos, que no início do desenvolvimento da dança<br />

havia um medo muito grande de não conseguir executar<br />

alguns movimentos com o corpo e que tentar executá-los<br />

causava muita ansiedade, pois cada tentativa mal<br />

sucedida era interpretada como um fracasso, gerando,<br />

conseqüentemente, frustração 5 . Porém, de acordo com<br />

os participantes, após dois anos de trabalho, já é possível<br />

identificar as tentativas de realizar novos movimentos<br />

com o corpo e procurar alternativas para que o corpo<br />

traduza a idéia a ser transmitida.<br />

CONCLUSÃO<br />

Este estudo conclui que a dança proporcionou<br />

melhora em aspectos motores (diminuição da<br />

espasticidade, manutenção da mobilidade funcional,<br />

melhora das atividades de vida diária), aspecto psicológico<br />

(diminuição da depressão) e aspecto social<br />

(melhora da qualidade de vida).<br />

Indivíduos portadores de seqüelas de AVC freqüentemente<br />

necessitam de reabilitação a longo prazo.<br />

Nesse aspecto, a dança surge como mais um recurso a<br />

ser utilizado na reabilitação, podendo ser considerada<br />

estratégia motivante nos serviços de fisioterapia com<br />

grande demanda e em programas fisioterapêuticos<br />

que pretendam abordar aspectos relacionados à qualidade<br />

de vida de pacientes com AVC.<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:195–202 202


original<br />

Atividade física em grupo melhora o sono<br />

de idosas sedentárias<br />

Physical activity in group improves sleep in sedentary elder women<br />

Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães 1 , Mitchelly Dehone Lima 2 , Juliana<br />

Aparecida de Souza 2<br />

RESUMO<br />

Introdução. A medida que o indivíduo envelhece, o sono se constitui<br />

cada vez mais em motivo de queixas. Existem porém, fortes<br />

evidências experimentais de que um programa de atividade física,<br />

pode prevenir doenças, diminuir as quedas, melhorar o humor e<br />

o sono em idosos. Objetivo. avaliar o tempo total de sono (TTS) e<br />

a qualidade do sono em idosas sedentárias submetidas a um programa<br />

de atividade física em grupo. Método. Doze voluntárias<br />

com idade mínima de 60 anos, foram convidadas a participar da<br />

pesquisa, permanecendo no estudo somente 6 voluntárias. Estas<br />

foram instruídas a preencher o Diário do Sono e a Escala Visual<br />

Analógica (EVA) de qualidade do sono, durante 30 dias consecutivos.<br />

Após os 30 dias de preenchimento, as voluntárias participaram<br />

de um programa de atividade física em grupo, durante 4<br />

meses consecutivos, 2 vezes por semana. Resultados. A média do<br />

TTS antes do programa de atividade física foi de 7 hora e 48 minutos<br />

e 9 horas após o programa (p=0,01). A média dos escores da<br />

EVA foi de 7,1 antes do programa de atividade física e de 8,6 após<br />

o programa (p=0,003). Conclusão. Atividade física em grupo melhora<br />

o TTS e qualidade do sono de idosas sedentárias.<br />

Unitermos: Idoso. Atividade física. Sono.<br />

Citação: Guimarães LHCT, Lima MD, Souza JA. Atividade física em<br />

grupo melhora o sono de idosas sedentárias.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. The older the individual grows the more he complains<br />

about his sleep. Empirical evidences exist, however, that<br />

shows that a physical activity program can bring benefits to aged<br />

women such as preventing diseases, decreasing falls, and improving<br />

both mood and sleeping. Objective. To assess the Total<br />

Sleep Time (TST) and the sleep quality in sedentary aged who<br />

have participated in a group physical activity program. Method.<br />

Twelve female volunteers aging at least 60 were invited to participate<br />

in this research work. Six remained. They were supposed<br />

to fill in The Sleep Diary and the sleep quality Analogical Visual<br />

Scale (AVS) for 30 days straight. After that the participants were<br />

joined in a twice-a-week four-month group physical activity. Results.<br />

The TST means was 7 hours and 48 minutes before, and<br />

9 hours after the program (p=0.01). AVS scores means was 7.1<br />

before and 8.6 after the program (p=0.01). Conclusion. Group<br />

physical activity was found to improve sedentary aged female’s<br />

Total Sleep Time as well as sleep quality.<br />

Keywords: Elderly. Physical activity. Sleep.<br />

Citation: Guimarães LHCT, Lima MD, Souza JA. Physical activity in<br />

group improves sleep in sedentary elder women.<br />

Trabalho realizado no Centro Universitário de Lavras<br />

– UNILAVRAS<br />

1. Fisioterapeuta, Especialista, Professora do Curso de Fisioterapia<br />

– UNILAVRAS.<br />

2. Fisioterapeuta.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Laiz Helena de Castro Toledo Guimarães<br />

Rua Álvaro Botelho, 451/302<br />

CEP 37200-000, Lavras-MG<br />

laizunilavras@hotmail.com<br />

Recebido em: 05/02/2007<br />

Revisão: 06/02/2007 a 23/07/2007<br />

Aceito em: 24/07/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

203<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:203–206


INTRODUÇÃO<br />

A idade é um fator essencial na modificação<br />

da arquitetura do sono, pois a idade avançada está<br />

diretamente relacionada com a prevalência de distúrbios<br />

do sono, além do impacto negativo na qualidade<br />

de vida do idoso 1-6 .<br />

Não existem evidências definitivas de que a<br />

quantidade necessária de sono diminua com o envelhecimento,<br />

mas os idosos parecem ter, em geral, um<br />

sono de menor duração, aumento dos despertares<br />

noturnos e conseqüentemente mais cochilos diurnos<br />

3,5,7 . A eficiência do sono, ou seja, a proporção<br />

entre o tempo que a pessoa consegue realmente dormir<br />

e o tempo despendido no leito com o objetivo de<br />

dormir parece estar reduzida nas pessoas de terceira<br />

idade. A dificuldade de manutenção do sono noturno<br />

contribui para a diminuição deste parâmetro, que<br />

em geral reflete a qualidade do sono 8,9 .<br />

Existem fortes evidências experimentais de que<br />

um programa de exercício físico regular pode melhorar<br />

a quantidade 1,10-12 e qualidade do sono 6,9,11,13-<strong>15</strong><br />

em indivíduos idosos.<br />

Embora haja um consenso de que a atividade<br />

física melhora o sono dos idosos, realizamos o<br />

presente estudo para verificar os efeitos da atividade<br />

física sobre o tempo total do sono e a qualidade<br />

do sono, pois sabemos que com o envelhecimento<br />

ocorrem muitas alterações, dentre elas o sono, que se<br />

torna um fator determinante, no que diz respeito à<br />

qualidade de vida do idoso.<br />

MÉTODO<br />

Amostra<br />

Foram incluídas no estudo voluntárias com<br />

idade mínima de 60 anos, do gênero feminino, consideradas<br />

sedentárias segundo o IPAQ, ou seja, não<br />

realizavam nenhuma atividade física por pelo menos<br />

10 minutos contínuos, por pelo menos 1 ano; voluntárias<br />

que não apresentavam suspeita de depressão<br />

(pontuação abaixo de 5 na Escala Geriátrica de Depressão)<br />

e voluntárias com o IMC menor que 35<br />

Kg/m 2 . Foram excluídas voluntárias com queixas<br />

de dor ou que utilizavam medicamentos que sabidamente<br />

afetam o sono.<br />

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética e<br />

Pesquisa do Unilavras, e as participantes assinaram<br />

o termo de consentimento.<br />

As idosas foram selecionadas da Sociedade<br />

Vila São Vicente de Paulo de Lavras, MG.<br />

original<br />

Procedimento<br />

Na fase inicial do estudo, 12 idosas foram avaliadas<br />

através da Escala Geriátrica de Depressão,<br />

questionadas se apresentavam dor, se tomavam medicamentos<br />

que afetavam o sono e foram também<br />

pesadas e medidas para cálculo do IMC. Sendo que<br />

3 foram excluídas (1 apresentava dor e 2, suspeita<br />

de depressão), 3 idosas se recusaram participar do<br />

estudo, permanecendo no estudo 6 idosas.<br />

Posteriormente, as 6 voluntárias foram instruídas<br />

a preencher os questionários (Diário do Sono<br />

e Escala Visual Analógica de qualidade do sono<br />

— EVA) durante 30 dias. Após 30 dias de preenchimento,<br />

as idosas participaram de um programa de<br />

atividade física em grupo durante 4 meses, realizado<br />

no salão da Vila São Vicente de Paulo da cidade de<br />

Lavras, MG.<br />

O estudo foi realizado no período de junho a<br />

dezembro de 2004.<br />

A atividade física foi realizada 2 vezes na semana,<br />

no período da tarde, em local coberto e supervisionada<br />

pelas autoras do estudo. As sessões apresentavam<br />

duração de 60 minutos e constavam das<br />

seguintes modalidades: aquecimento (5 minutos),<br />

caminhada em pista plana e segura (50 minutos) e<br />

relaxamento (5 minutos).<br />

Ao final dos 4 meses de atividade física, as idosas<br />

foram orientadas a preencher novamente o Diário<br />

do Sono e a EVA durante 30 dias.<br />

Instrumentos<br />

Escala Geriátrica de Depressão (EGD). É um instrumento<br />

utilizado para o rastreamento de sintomas<br />

depressivos na população geriátrica 14 . Essa escala<br />

consta de <strong>15</strong> questões dicotômicas (sim x não) referentes<br />

à satisfação com a vida, sensação de inutilidade,<br />

desinteresse, aborrecimento, felicidade, entre<br />

outros. Esse instrumento não tem aplicabilidade<br />

quando a capacidade de compreensão do idoso estiver<br />

comprometida 16 .<br />

Diário do sono. Avalia a quantidade de sono<br />

registrando-se pela manhã, diariamente, quanto<br />

tempo dormiu, e quantas vezes e por quanto tempo<br />

despertou durante a noite, registrando-se também<br />

os cochilos feitos durante o dia 17 . O diário do sono<br />

utilizado neste estudo foi uma adaptação do mesmo,<br />

para facilitar o preenchimento por parte das idosas.<br />

Dividimos o preenchimento do diário do sono em<br />

duas etapas: ao acordar e ao deitar, para evitar perda<br />

de informações que poderiam não ser lembradas se<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:203–206 204


original<br />

o diário de sono fosse preenchido em um único momento<br />

durante o dia.<br />

Ao acordar, as idosas deveriam responder a<br />

hora que dormiram à noite, se acordaram durante<br />

a noite, por quantas vezes e quanto tempo ficaram<br />

acordadas. Ao se deitar, deveriam responder se dormiram<br />

durante o dia, quantas vezes e quanto tempo<br />

ficaram dormindo somando todos os episódios de<br />

cochilo. As idosas foram instruídas detalhadamente<br />

e individualmente quanto ao preenchimento do diário<br />

de sono.<br />

EVA de Qualidade do Sono. É uma escala de 10<br />

centímetros, precedida pela pergunta “Como você<br />

dormiu?”. A escala é iniciada em “muito mal” (zero)<br />

e finalizada em “muito bem” (dez). Para cada episódio<br />

de sono, os indivíduos assinalaram com um traço<br />

vertical, registrando suas percepções quanto à qualidade<br />

do sono noturno 13,18 .<br />

Análise dos dados<br />

Tempo Total de Sono (TTS). No cálculo do TTS<br />

consideramos apenas o sono principal, ou seja, o período<br />

de sono noturno, definido pelo idoso como o<br />

momento destinado apenas para dormir. O TTS diário<br />

de cada participante foi somado e calculamos a<br />

média e desvio-padrão do TTS noturno antes e após<br />

o programa de atividade física.<br />

EVA de qualidade do sono. No cálculo da EVA<br />

de qualidade do sono consideramos a marcação feita<br />

pela idosa, contamos em centímetros, partindo do<br />

zero até o local marcado pela idosa. A EVA de qualidade<br />

do sono para cada participante foi somada em<br />

30 dias e calculamos média e desvio-padrão antes e<br />

após o programa de atividade física. Consideramos<br />

sono de qualidade quando a pontuação na EVA fosse<br />

superior a 8 e classificamos o sono das voluntárias,<br />

segundo esse critério, em sono reparador (good sleep) e<br />

sono “pobre” (poor sleep).<br />

Análise estatística<br />

As variáveis mensuráveis, Tempo Total de<br />

Sono e EVA de Qualidade do Sono apresentaram<br />

distribuição normal e utilizamos o teste t de Student<br />

para compararmos as médias nos grupos. Consideramos<br />

significantes valores de p < 0,05.<br />

RESULTADOS<br />

Tempo Total de Sono (TTS). Foi encontrada uma<br />

média de TTS de 7,8 ± 0,4 horas das idosas antes do<br />

programa de atividade física e 9 ± 0,8 horas após o<br />

programa de atividade física. Portanto, as voluntárias<br />

dormiram em média 1 hora e 12 minutos a mais<br />

após o programa de atividade física (p = 0,01).<br />

EVA de Qualidade do Sono. Foi encontrada uma<br />

média de EVA de qualidade do sono de 7,1 ± 0,6 antes<br />

do programa de atividade física e 8,6 ± 0,4 após o<br />

programa (p = 0,003). Portanto, segundo nosso critério<br />

de classificação, 16,6% das idosas foram consideradas<br />

good sleep antes do programa de atividade física<br />

e após o programa, 83,3% das idosas.<br />

DISCUSSÃO<br />

De uma maneira geral, a pesquisa evidenciou<br />

que o sono das idosas melhorou após o programa de<br />

atividade física em grupo. A melhora no TTS e qualidade<br />

do sono pode estar relacionada a dois fatores:<br />

a atividade física em si e o convívio social promovido<br />

pela atividade em grupo.<br />

Sabemos que esses dois fatores são importantes<br />

marcadores do ritmo circadiano e que a atividade<br />

física, ainda que não tenha sido o único fator<br />

responsável pela gênese dos nossos resultados, foi a<br />

motivação para que o grupo de idosas se encontrasse<br />

promovendo o convívio social.<br />

A manutenção de uma vida social ativa está<br />

relacionada a um melhor sono nos idosos 19,20 . Portanto,<br />

a manutenção de uma regularidade no estilo<br />

de vida atua diretamente no sistema circadiano e<br />

ajuda a manter uma boa saúde e bem estar.<br />

Vários estudos demonstram que o exercício<br />

físico regular é um componente da boa higiene do<br />

sono, ou seja, práticas ou comportamentos que promovem<br />

o sono 11,12,14,<strong>15</strong> .<br />

O aspecto relevante de nosso estudo é que a<br />

atividade física proposta foi muito simples e segura,<br />

entretanto observamos que foi capaz de modificar<br />

consideravelmente o comportamento do sono das<br />

idosas.<br />

O tipo de exercício realizado também pode<br />

ter influenciado nossos resultados, pois estudos relatam<br />

que ocorre melhora no sono com os exercícios<br />

físicos, particularmente exercícios aeróbicos 1,13 , concordando<br />

com o tipo de exercício realizado, caminhada.<br />

Acreditamos que a baixa adesão ao estudo<br />

por parte das idosas foi conseqüência do estilo de<br />

vida monótono, ou seja, pessoas desinteressadas em<br />

hábitos de vida saudáveis e regulares, visto que as<br />

idosas que aceitaram participar do estudo moravam<br />

próximo ao local de realização do programa. Devemos<br />

destacar que, uma vez envolvida no estudo, não<br />

houve nenhuma desistência, fato que nos surpreen-<br />

205<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:203–206


deu, pois,diante das desistências iniciais, não acreditávamos<br />

que isso aconteceria.<br />

Outros trabalhos com amostras mais significativas<br />

são necessários para confirmar os achados deste<br />

estudo.<br />

CONCLUSÃO<br />

Diante da análise dos resultados apresentados,<br />

conclui-se que o TTS aumentou e a qualidade do<br />

sono melhorou após o programa de atividade física<br />

realizada em grupo com idosas sedentárias.<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:203–206 206


original<br />

Possível associação entre a fadiga<br />

física e o grau de força dos músculos<br />

respiratórios na Esclerose Múltipla<br />

Possible association between physical fatigue and strength of respiratory muscles in<br />

Multiple Sclerosis<br />

Fabrício Rapello Araújo 1 , Fabíola Rebouças 2 , Yára Dadalti Fragoso 3<br />

RESUMO<br />

Objetivo. Avaliação da possível associação entre a fadiga física e<br />

a alteração da força dos músculos respiratórios de pacientes portadores<br />

de esclerose múltipla (EM). Método. 20 pacientes com<br />

fadiga referida foram submetidos à avaliação fisioterapêutica,<br />

sendo utilizadas a Escala de Fadiga Física de Chalder para a<br />

determinação da presença de fadiga física e a manovacuometria<br />

para a mensuração da Pressão Inspiratória Máxima (Pimáx) e<br />

Pressão Expiratória Máxima (Pemáx). Resultados. A fadiga física<br />

foi confirmada em todos os pacientes submetidos a avaliação fisioterapeutica<br />

respiratória. Dez pacientes apresentaram somente<br />

fadiga física (grupo 1, G1) e 10 referiram fadiga física e dispnéia<br />

(grupo 2, G2), não relacionadas entre si. A Pimáx encontravase<br />

no limite inferior da normalidade e a Pemáx era abaixo da<br />

normalidade em G1. Em G2, a Pimáx e a Pemáx foram significativamente<br />

mais baixas do que o normal comparado aos casos<br />

do G1. Estes achados foram independentes da forma clínica da<br />

EM, do tempo de evolução, do uso de imunomoduladores, do<br />

sexo, da idade, da etnia e do EDSS. Conclusão. Pacientes portadores<br />

de EM com relato de fadiga física podem necessitar de<br />

uma investigação do grau de força dos músculos respiratórios<br />

para a identificação de possíveis alterações como fraqueza ou<br />

fadiga destes grupos musculares.<br />

Unitermos: Fadiga. Fadiga Muscular. Esclerose Múltipla.<br />

Citação: Araújo FR, Rebouças F, Fragoso YD. Possível associação entre<br />

a fadiga física e o grau de força dos músculos respiratórios na Esclerose<br />

Múltipla.<br />

SUMMARY<br />

Objective. To evaluate a possible association between physical<br />

fatigue and alterations in the strength of respiratory muscles in<br />

patients with multiple sclerosis (MS). Method. 20 patients complaining<br />

of fatigue underwent evaluation by physical therapists<br />

who used the Chalder Scale for Physical Fatigue, in order to<br />

determine the presence of physical fatigue and manovacuometry<br />

to assess the Maximum Inspiratory Pressure (Pimax)<br />

and Maximum Expiratory Pressure (Pemax). Results. Physical<br />

fatigue was confirmed in all patients who underwent respiratory<br />

physical therapy evaluation. Ten patients presented only<br />

physical fatigue (group 1, G1), while 10 patients had physical<br />

fatigue and dyspnea that were unrelated to each other (group<br />

2, G2). Pimax was at the lower normal limit in G1 and Pemax<br />

was below normal in G1. For G2, both Pimax and Pemax presented<br />

significantly lower values than those obtained in G1.<br />

These findings were unrelated to the clinical presentation of<br />

MS, duration of disease, use of immunomodulators, gender,<br />

age, ethnic group and EDSS. Conclusion. Multiple Sclerosis<br />

patients reporting physical fatigue may needed to undergo an<br />

investigation of the degree of respiratory muscle strength in order<br />

to identify possible alterations such as weakness or fatigue<br />

of these muscles.<br />

Keywords: Fatigue. Muscle fatigue. Multiple Sclerosis.<br />

Citation: Araújo FR, Rebouças F, Fragoso YD. Possible association between<br />

physical fatigue and strength of respiratory muscles in Multiple<br />

Sclerosis.<br />

Trabalho realizado no Departamento de Neurologia da<br />

Faculdade de Medicina da Universidade Metropolitana de<br />

Santos e Centro de Referência em Esclerose Múltipla do<br />

Litoral Paulista, DRS IV da Secretaria da Saúde do Estado<br />

de São Paulo<br />

1. Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neuro-Músculo-Esquelética<br />

2. Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Respiratória<br />

3. Neurologista, Professora Titular<br />

Endereço para correspondência:<br />

Yára Dadalti Fragoso<br />

Rua da Constituição 374,<br />

CEP 110<strong>15</strong>-470, Santos - SP<br />

Fone/fax: +55 13 32263400<br />

e-mail: yara@bsnet.com.br<br />

Recebido em: 08/03/2007<br />

Revisão: 09/03/2007 a 23/07/2007<br />

Aceito em: 24/07/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

207<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:207–210


INTRODUÇÃO<br />

A fadiga referida é considerada um dos sintomas<br />

mais incapacitantes e menos compreendidos na<br />

Esclerose Múltipla (EM) 1 . São descritos na literatura<br />

quatro tipos de fadiga referida. A astenia (perda de<br />

energia) e a lassitude (diminuição de energia) ocorrem<br />

ao repouso e não demonstram relação com a execução<br />

de atividades diárias ou exercício físico. Já a fadiga<br />

mental caracteriza-se pela redução da capacidade de<br />

execução das atividades cognitivas. A fadiga física ou<br />

fatigabilidade, por sua vez, é definida como a sensação<br />

de exaustão presente durante ou após a realização de<br />

atividades de vida diária ou exercício físico, com diminuição<br />

ou desaparecimento da mesma ao repouso 2 .<br />

Não existe na atualidade um tratamento específico<br />

para a fadiga referida em pacientes com EM.<br />

A abordagem farmacológica da fadiga com amantadina<br />

3 , L-carnitina 4 ou modafinil 5 vem trazendo<br />

resultados frustrantes. Embora certos autores confirmem<br />

a relação entre a fadiga referida e parâmetros<br />

como depressão e grau de incapacidade 6 , outros não<br />

confirmam esses dados 7 . Estudos mais recentes sugerem,<br />

ainda, a presença de componentes inflamatórios<br />

responsáveis pelo desenvolvimento da fadiga<br />

referida 8 e da existência de uma correlação entre a<br />

fadiga referida e a fadiga física, sendo esta associada<br />

diretamente a disfunções de grupos musculares<br />

específicos 9 . Treinamento de músculos respiratórios<br />

já vem sendo sugerido como uma possibilidade terapêutica<br />

para fadiga na EM 10,11 . O uso de escalas de<br />

avaliação de fadiga tem se mostrado controverso e<br />

nem sempre a avaliação através de questionários e<br />

tarefas realizadas indicam uma correlação entre si 12 .<br />

O objetivo do presente trabalho foi a avaliação de<br />

uma possível associação entre a fadiga física e o grau de<br />

força dos músculos respiratórios em pacientes com EM.<br />

original<br />

MÉTODO<br />

Vinte pacientes portadores de EM (17 mulheres<br />

e 3 homens, com idade média de 42 anos) com<br />

relato de fadiga, sem antecedentes pessoais prévios<br />

de doenças pulmonares, cirurgias torácicas, disfunções<br />

tiroidianas ou alterações do humor não tratadas<br />

e sem surtos da doença nos últimos três meses foram<br />

encaminhados e avaliados nos Setores de Fisioterapia<br />

do Departamento de Neurologia e do Centro de<br />

Referência para Esclerose Múltipla da Secretaria do<br />

Estado de São Paulo, DIR XIX 13 . A consulta específica<br />

de avaliação de força respiratória foi autorizada<br />

pelo Comitê de Ética da Universidade Metropolitana<br />

de Santos, não sendo um trabalho de caráter experimental,<br />

mas sim assistencial de apoio aos pacientes<br />

que freqüentam o ambulatório de referência em<br />

EM. Incapacidade física foi avaliada pelo uso da Escala<br />

de Kurtzke (expanded disability scale — EDSS) 14 .<br />

A avaliação fisioterapêutica consistiu de duas<br />

etapas: primeiramente foi aplicada a Escala de Fadiga<br />

Física de Chalder <strong>15</strong> , composta de oito afirmações especificas<br />

sobre fadiga física, com três opções distintas de<br />

resposta (”nunca”, ”um pouco” e ”com freqüência”),<br />

sendo atribuídas as notas 0, 1 e 2 pontos, respectivamente,<br />

a cada uma delas. Essa escala apenas confirma<br />

a presença ou não da fadiga física através da soma<br />

dos resultados obtidos das respostas, sendo necessária<br />

uma nota final igual ou superior a oito pontos.<br />

Na segunda fase foi realizada a graduação da<br />

força dos músculos respiratórios através da mensuração<br />

da Pressão Inspiratória Máxima (PImáx) e Pressão<br />

Expiratória Máxima (PEmáx) pela manovacuometria.<br />

Os valores negativos se referem à pressão inspiratória<br />

e os positivos, à pressão expiratória. Para músculos<br />

inspiratórios, os valores normais encontram-se<br />

entre -75 e -120 cm H 2<br />

O e índices menores caracterizam<br />

graus de fraqueza (-70 a -45 cm H 2<br />

O), fadiga<br />

(-40 a -25 cm de H 2<br />

O) e falência (menores ou iguais a<br />

-20 cm H 2<br />

O) musculares. Para músculos expiratórios,<br />

os valores normais estão entre +100 e +120 cm H 2<br />

O,<br />

sendo caracterizada fraqueza abaixo de +95 cm H 2<br />

O.<br />

A análise estatística foi realizada através do<br />

Teste t de Student para comparação de médias e análise<br />

de regressão para correlação de parâmetros.<br />

RESULTADOS<br />

Dezesseis pacientes apresentavam EM na forma<br />

remitente-recorrente (EMRR), enquanto quatro apresentavam<br />

a forma secundariamente progressiva (EMSP).<br />

O grau de incapacidade física pelo EDSS 14 , variou entre<br />

zero e 6,5. Os pacientes com forma secundariamente<br />

progressiva tinham limitações graves na deambulação e<br />

estavam classificados como tendo EDSS entre 6,0 e 6,5.<br />

Todos os pacientes com forma EMRR apresentavam<br />

EDSS ≤ 5,0. Também nas formas EMSP que ainda<br />

apresentavam surtos não houve registro de surto nos três<br />

meses precedendo a avaliação.<br />

A fadiga física foi confirmada em todos os pacientes<br />

submetidos à avaliação fisioterapêutica respiratória. Destes,<br />

10 pacientes referiram, ainda, a presença de dispnéia,<br />

não a relacionando diretamente com a fadiga física.<br />

Os pacientes foram divididos em dois grupos:<br />

10 pacientes com fadiga física e sem dispnéia (G1) e<br />

10 pacientes com fadiga física e dispnéia (G2). Um resumo<br />

dos resultados é apresentado nas tabelas 1 e 2.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:207–210 208


original<br />

Os dados a seguir são expressos em cm de<br />

H 2<br />

O, média e desvio-padrão. No grupo 1, a PImáx<br />

encontrava-se no limite inferior da normalidade<br />

(-79,5 ± 3,69), enquanto a PEmáx estava abaixo da<br />

normalidade (75,5 ± 3,69).<br />

No grupo 2, os valores de PImáx e PEmáx foram<br />

significativamente menores e ambos encontravam-se<br />

abaixo da normalidade (respectivamente -31<br />

± 6,14 e 31 ± 12,89; p < 0,001) quando comparados<br />

aos valores obtidos no grupo 1. Estes achados foram<br />

independentes da forma clínica da EM, do tempo de<br />

evolução, do uso de imunomoduladores, do sexo, da<br />

idade, da etnia e do EDSS.<br />

O grau de fadiga física pela Escala de Chalder<br />

<strong>15</strong> foi significativamente maior (p < 0,05) no grupo<br />

2 (11,9 ± 1,37) quando comparados ao grupo 1<br />

(9,3 ± 0,82). Os valores maiores refletem sintomas<br />

mais exacerbados de fadiga física. Utilizando-se correlação<br />

de Pearson, observou-se que a intensidade<br />

da fadiga estava diretamente correlacionada com<br />

idade mais jovem e EDSS mais baixo.<br />

Não houve correlação entre a medicação em<br />

uso e a presença de fadiga física, porém o grupo de<br />

pacientes foi bastante misto, com diferentes tratamentos,<br />

não permitindo comparação e correlação.<br />

DISCUSSÃO<br />

Poucos estudos têm sido realizados correlacionando<br />

a fadiga física a alterações de força dos músculos<br />

respiratórios. Os artigos que tentam relacionar a<br />

fadiga física a outros parâmetros clínicos têm resultados<br />

por vezes contraditórios 3,4 e a própria mensuração<br />

da fadiga física é um desafio à prática clínica 10 .<br />

Nossos resultados sugerem que existam subgrupos<br />

de pacientes cuja fadiga referida seja causada<br />

pela presença de fadiga física. Tal achado justificaria<br />

os resultados inadequados do tratamento farmacológico<br />

proposto de forma geral a todos os pacientes<br />

com relato de fadiga. Enquanto alguns pacientes se<br />

beneficiam com esses medicamentos 16,17 ou com atividade<br />

física programada 12,18 , outros são resistentes a<br />

tais abordagens terapêuticas.<br />

A observação da correlação entre o grau de<br />

fadiga e a idade mais jovem com menor EDSS foi<br />

particularmente inesperada. Talvez este achado<br />

possa sugerir que pacientes menos comprometidos<br />

procurem manter atividades próximas do normal,<br />

relatando mais fadiga.<br />

CONCLUSÃO<br />

É necessário considerar que possam existir<br />

subgrupos de pacientes portadores de EM com relato<br />

de fadiga física, com pelo menos um componente<br />

causal de alteração do grau de força dos músculos<br />

respiratórios. Para os pacientes com grau de força<br />

muscular respiratória próxima da normalidade e<br />

sem queixa de dispnéia, outros programas de tratamento<br />

podem ser sugeridos 18 .<br />

Tabela 1. Resultados para fadiga e manovacuometria de pacientes sem queixa de dispnéia.<br />

Número do Paciente 1 3 7 8 9 <strong>15</strong> 16 17 18 19 Média SD<br />

Sexo F F M F F F F M F F<br />

Idade 39 47 21 55 57 39 32 47 53 38 43 11,2<br />

Etnia C C C C C C C A C C<br />

Forma clínica RR RR RR RR RR RR RR SP RR SP<br />

EDSS 2,0 2,0 4,5 1,5 1,0 2,0 4,0 6,5 1,5 6,0 3,1 2,13<br />

Pimáx -80 -80 -75 -80 -80 -75 -75 -75 -80 -85 -79,5 3,69<br />

Pemax 80 75 70 80 75 70 75 75 75 80 75,5 3,69<br />

Fadiga (Chalder) 10 9 10 8 9 10 10 10 9 8 9,3 0,82<br />

F= feminino, M= masculino, C= caucasiano, A= afro-americano, RR= remitente-recorrente, SP= secundariamente progressiva<br />

Tabela 2. Resultados para fadiga e manovacuometria de pacientes com queixa de dispnéia.<br />

Número do Paciente 2 4 5 6 10 11 12 13 14 20 Média SD<br />

Sexo F F F M F F F F M F<br />

Idade 19 53 43 46 59 38 39 51 16 44 41 14,65<br />

Etnia C C C A C C C C C C<br />

Forma clínica RR RR SP RR RR RR SP SP RR SP<br />

EDSS 3,0 1,0 6,0 1,5 1,5 1,0 5,5 6,5 1,0 6,5 3,4 2,29<br />

Pimáx -40 -40 -30 -35 -25 -25 -30 -25 -35 -25 -31,1 6,<strong>15</strong><br />

Pemax 50 25 20 40 20 30 45 20 45 <strong>15</strong> 31 12,86<br />

Fadiga (Chalder) 10 11 12 11 14 12 11 13 11 14 11,9 1,37<br />

F= feminino, M= masculino, C= caucasiano, A= afro-americano, RR= remitente-recorrente, SP= secundariamente progressiva<br />

209<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:207–210


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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:207–210 210


original<br />

Análise do esquema e imagem corporal<br />

em pacientes com esclerose lateral<br />

amiotrófica<br />

Analysis of body image and scheme in patients with amyotrophic lateral sclerosis<br />

Cíntia Citelli de França 1 , Vanessa Rodrigues de Queiroz 1 , Letícia Moraes de<br />

Aquino 2 , Sonia Maria Pereira 3<br />

RESUMO<br />

Introdução. A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença<br />

neuromuscular fatal marcada pelo comprometimento dos motoneurônios<br />

da medula espinhal, tronco cerebral e córtex motor, provocando<br />

atrofia muscular progressiva. Na maioria desses pacientes<br />

o grau de consciência permanece intacto, fazendo com que o individuo<br />

se veja conectado ao meio ambiente e prisioneiro do seu<br />

corpo. As conseqüências da doença levam à alterações no esquema<br />

e imagem corporal. Objetivo. O objetivo do presente trabalho foi<br />

avaliar de forma quantitativa e qualitativa o esquema e imagem<br />

corporal de indivíduos com ELA através da análise de desenhos<br />

da figura humana. Métodos. Foram analisados 10 indivíduos com<br />

diagnóstico de ELA, 80% do sexo masculino, com idade média de<br />

56 4,19 anos, através do Teste da Figura Humana, que foi avaliado<br />

de forma qualitativa e quantitativa, individual e em grupo. Resultados.<br />

As principais alterações observadas nos desenhos foram<br />

ausência de partes do corpo e de movimento, além de alterações<br />

relacionadas com as características particulares apresentadas pelos<br />

indivíduos e com o quadro geral da doença. A análise da imagem<br />

corporal aponta para prejuízos relacionados à insatisfação, depreciação,<br />

distorção e preocupação com a auto imagem. Conclusão.<br />

Essa constatação leva a crer que o conhecimento do esquema e<br />

imagem corporal é útil como mais uma forma de avaliação e proposta<br />

de tratamento em programas de reabilitação.<br />

Unitermos: Imagem corporal. Esclerose amiotrófica lateral.<br />

Desenho.<br />

Citação: França CC, Queiroz VR, Aquino LM, Pereira SM. Análise<br />

do esquema e imagem corporal em pacientes com esclerose lateral<br />

amiotrófica.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. The Amyotrophic Lateral Sclerosis (ALS) is fatal<br />

a neuromuscular disease marked by the committal of the<br />

motoneurons of the spinal cord, brain stem and motor cortex<br />

causing progressive muscle atrophy. In these patients the degree<br />

of conscience remains intact, making the individual see<br />

himself connected to the environment and a prisoner in his<br />

own body. The consequences of the disease lead to alterations<br />

in the plan and body image. Objective. The aim of this study<br />

is to evaluate in quantitative and qualitative ways the plan and<br />

the body image of individuals with ALS through the analysis<br />

of drawings of the human figure. Methods. We analysed 10 patients<br />

with ALS diagnosed, 80% male, 56 4.19 years old, with<br />

Human Figure Test. The data was analyzed individually and<br />

in group, qualitatively and quantitatively. Results. The main<br />

alterations observed in the drawings were the absence of parts<br />

of the body and movement, apart from alterations related to<br />

particular characteristics showed by the individuals and with a<br />

general view of the disease. The body image analyze showed<br />

impairments as no satisfaction, distortions, concern about selfimage.<br />

Conclusion. The verification of these alterations makes<br />

us believe that knowledge of the scheme and body image are<br />

useful as one more way of evaluation and criteria of inclusion<br />

in rehabilitation programs.<br />

Keywords: Body image, Amyotrophic lateral sclerosis, Design.<br />

Citation: França CC, Queiroz VR, Aquino LM, Pereira SM. Analysis of<br />

body image and scheme in patients with amyotrophic lateral sclerosis.<br />

Trabalho realizado no Departamento de Neurologia/<br />

Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo<br />

1. Fisioterapeuta, especializanda em doenças neuromusculares<br />

– UNIFESP.<br />

2. Fisioterapeuta, mestranda – UNIFESP.<br />

3. Psicopedagoga e psicomotricista, professora adjunta do curso de<br />

Fisioterapia da Universidade São Camilo.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Cíntia Citelli de França<br />

Av. Vivaldi, 1252<br />

CEP 09617000 - São Bernardo do Campo-SP<br />

Email: ci_citelli@hotmail.com<br />

Recebido em: 14/04/2007<br />

Revisão: <strong>15</strong>/04/2007<br />

Aceito em: 19/09/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

211<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218


INTRODUÇÃO<br />

A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma<br />

doença fatal marcada pela depleção dos motoneurônios<br />

do córtex cerebral, tronco encefálico e medula<br />

espinhal 1-3 . Esta pode ser classificada como ELA suspeita,<br />

possível, provável ou definida, de acordo com os<br />

sinais de lesão de neurônios motores superior e inferior<br />

apresentados, através dos critérios do El Scorial 4 .<br />

O tempo médio de evolução da doença até<br />

a morte ou dependência de ventilação mecânica<br />

é de aproximadamente dois a quatro anos 2,5 . Sua<br />

patogenia continua obscura, porém 6 inúmeros mecanismos,<br />

como morte celular por agressão autoimune<br />

dos canais de cálcio e incremento do cálcio<br />

intracelular, infecção viral, estresse oxidativo, dano<br />

por radicais livres, neurotoxicidade por glutamato e<br />

disfunção das mitocôndrias ou dos mecanismos de<br />

transporte axonal por possível deficiência no fator de<br />

crescimento do nervo, são sugeridos nos últimos anos<br />

como fatores contribuintes 7-9 . A degeneração das células<br />

nervosas não afeta a sensibilidade, os sentidos<br />

e nem diminui a capacidade intelectual, exceto nos<br />

casos de Esclerose Lateral Amiotrófica com Atrofia<br />

Fronto-Temporal seguida de demência, que são raramente<br />

encontrados. Observa-se dispnéia progressiva<br />

nos pacientes acometidos, com necessidade de<br />

assistência ventilatória, sendo essa a principal causa<br />

de morte 10-13 .<br />

Não existe nenhuma terapia que possa estacionar<br />

ou levar à cura da doença, porém há um grande<br />

número de estratégias para o controle da sintomatologia<br />

e gerenciamento das capacidades existentes<br />

12,14 . O tratamento interdisciplinar visa prevenir as<br />

complicações provenientes da imobilização na maior<br />

parte do tempo e melhorar, em algum aspecto, a saúde<br />

e a auto-estima. Para isso, torna-se benéfico que<br />

o indivíduo tenha uma imagem corporal valorizada<br />

<strong>15</strong>,16 . Entende-se por esquema e imagem corporal a<br />

representação formada mentalmente do nosso corpo<br />

a partir de experiências vividas desde o nascimento,<br />

seguida de reestruturações constantes geradas pelas<br />

relações estabelecidas com o meio físico e social através<br />

da percepção que o indivíduo tem do seu corpo<br />

e o conceito que faz de si mesmo 17-20 .<br />

A doença orgânica altera a imagem do corpo,<br />

assim como os sinais e sintomas da doença alteram<br />

as ações motoras 21,22 . Havendo uma integração incoerente<br />

da gnosia corporal, podem ocorrer dificuldades<br />

de relação com objetos, insuficiência do investimento<br />

afetivo e lúdico, impedindo assim o acesso de uma<br />

motricidade orientada e ajustada às percepções 23 .<br />

original<br />

O desenho da figura humana é um instrumento<br />

aferidor da consciência da unidade corporal, sendo<br />

um dos mais ricos instrumentos para a investigação da<br />

personalidade e do esquema e imagem corporal, uma<br />

vez que se refere às imagens internalizadas que tem de<br />

si próprio e dos outros 23-25 . As vivências psicomotoras<br />

têm como objetivo estimular os indivíduos a conhecerem<br />

e utilizarem seu corpo, percebendo o quanto ele<br />

está integrado e associado ao seu pensamento e emoções<br />

20 , podendo ser explorada em pacientes de ELA,<br />

uma vez que grande parte desses indivíduos permanece<br />

conectada ao meio ambiente, vivendo literalmente<br />

o drama de sua prisão pessoal 6 .<br />

Os objetivos deste estudo foram de analisar o<br />

esquema e imagem corporal de indivíduos com ELA<br />

por meio do teste do desenho da figura humana,<br />

para observar se existem ou não alterações ou distorções<br />

e caracterizar o grupo avaliado.<br />

MÉTODO<br />

Realizou-se um estudo qualitativo e quantitativo<br />

(descritivo e transversal), com amostra por<br />

conveniência. A pesquisa foi realizada na Associação<br />

Brasileira de Esclerose Lateral Amiotrófica (ABRE-<br />

LA), localizada no setor de Investigação em Doenças<br />

Neuromusculares UNIFESP/EPM, uma vez por semana,<br />

no período de agosto a setembro de 2006, até<br />

totalizar o número de 10 indivíduos.<br />

Como critérios de inclusão, determinou-se<br />

diagnóstico de ELA confirmado pelo prontuário<br />

médico, idade entre 20 e 80 anos, possibilidade motora<br />

de escrita, e estar cadastrado na ABRELA, e<br />

de exclusão, pacientes que apresentassem alterações<br />

cognitivas, dor ou fadiga durante a realização do desenho<br />

e incapacidade motora de realizá-lo sozinho.<br />

A caracterização dos participantes foi feita<br />

através da coleta de dados retrospectiva por meio<br />

do prontuário médico e da avaliação fisioterapêutica<br />

do setor que continham o perfil sócio ocupacional<br />

(nome, idade, sexo, profissão, atividade física), exame<br />

físico (movimentação ativa de membros superiores<br />

proximal e distal e movimento de pinça, fadiga, dor<br />

e câimbras), tempo dos sintomas e o tempo de diagnóstico<br />

de ELA, doenças associadas e antecedentes<br />

pessoais. Para o presente estudo, a movimentação<br />

ativa dos membros superiores e o movimento de pinça<br />

foram classificados, independentemente do grau<br />

de força muscular, como preservado (capacidade<br />

em realizar ativamente todo o arco do movimento),<br />

comprometido (incapacidade em realizar ativamente<br />

todo o arco do movimento) e ausente (incapacidade<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218 212


original<br />

em realizar o movimento); aplicação de uma ficha<br />

elaborada pelas aplicadoras para completar os dados<br />

coletados e a escala de funcionalidade ALS Functional<br />

Rating Scale 26 .<br />

O teste do desenho da figura humana foi aplicado<br />

uma única vez em cada indivíduo. Durante a<br />

aplicação, com os dados recolhidos com os indivíduos<br />

(nome, idade, sexo) eram acessados os prontuários,<br />

após ciência e autorização dos responsáveis pelo<br />

setor, e com o consentimento informado dos indivíduos,<br />

previamente aprovado pelo Comitê de Ética<br />

da UNIFESP. Como recursos para sua aplicação foram<br />

utilizadas folha cor branca, prancheta e caneta<br />

hidrográfica cor preta.<br />

Para a realização do desenho, uma folha foi<br />

colocada verticalmente diante do sujeito, fixada em<br />

uma prancheta com a caneta hidrográfica. Os sujeitos<br />

deveriam estar sentados em cadeira com apoio<br />

ou na própria cadeira de rodas com apoio da prancheta<br />

sobre uma mesa fixa.<br />

O teste foi baseado na análise do desenho da<br />

figura humana, sendo avaliado de modo quantitativo<br />

(tabela 1), por uma pontuação entre 0 e 1027, e<br />

qualitativo pela análise individual e em grupo, com<br />

a colaboração de uma investigadora cega à amostra<br />

capacitada para tal avaliação (psicopedagoga e psicomotricista).<br />

A análise foi realizada de forma individual<br />

e grupal, quantitativa e qualitativa 28 .<br />

Tabela 1. Tabela proposta por Oliveira 27 para avaliação quantitativa<br />

do desenho da figura humana.<br />

Pontuação<br />

Desempenho<br />

10 Obedece a proporção, número e posição das partes,<br />

denotando possuir representação mental correta;<br />

figura rica em detalhes; semelhança com o real; orientação<br />

espacial; diferenciação dos sexos, vestimentas<br />

elaboradas; presença de mãos, antebraços, pernas, pés;<br />

figuras em movimento.<br />

8 Desenho pobre, com poucos detalhes, obedecendo ao<br />

número e posição das partes do corpo, com orientação<br />

espacial no papel; boas proporções, com três detalhes<br />

de roupa; presença de ombros, cintura e pescoço.<br />

6 Desenho pobre, sem detalhes; faltando uma ou duas<br />

partes essenciais do corpo; poucas distorções, pernas<br />

muito longas ou muito curtas; figura muito pequena<br />

ou muito grande; falta de orientação espacial, fazendo<br />

a figura muito no canto ou no alto da folha.<br />

4 Desenho muito pobre, faltando mais de três detalhes<br />

essenciais do corpo; sem respeitar a proporção,<br />

número e posição das partes da figura humana, com<br />

algumas distorções; tronco muito longo, falta de delineamento<br />

onde começam as pernas e os braços.<br />

2 Desenho em “palito”, apenas delineando uma figura<br />

humana.<br />

0 Traços irregulares; desenho incompleto, fragmentado,<br />

irreconhecível, com distorções.<br />

RESULTADOS<br />

Dados demográficos<br />

Foram analisados 10 indivíduos, sendo 80%<br />

do sexo masculino, com idade média de 56 ± 4,19<br />

anos, sendo que a maioria apresentava ELA do tipo<br />

apendicular (80%). Na pesquisa de queixas e sintomas,<br />

apenas 30% referiram cãibras e 40% tinham<br />

dor. Quanto à movimentação ativa proximal dos<br />

membros superiores, 60% dos indivíduos a possuíam<br />

preservada e 40% comprometida; em relação à<br />

movimentação ativa distal dos membros superiores,<br />

50% possuíam preservada, 40% comprometida e<br />

10% ausente; em relação ao movimento de pinça,<br />

40% deles o mantinham preservado, 50% apresentavam<br />

comprometimento e 10% ausência. A evolução<br />

da doença teve uma média de 46,3 ± 38,69 meses.<br />

Destes indivíduos, apenas 20% ainda realizavam<br />

atividade profissional, sendo que, do total, somente<br />

10% não possuíam vida profissional ativa anteriormente<br />

à doença. 40% dos indivíduos relatam apenas<br />

atividades de lazer, 20% atividade de lazer associada<br />

à atividade profissional, 20% cuidados básicos e auto<br />

cuidados e 20% relataram não realizar atividade alguma.<br />

Em relação aos tratamentos, 70% realizam<br />

alguma terapia além do tratamento médico ambulatorial,<br />

sendo que destes, 40% fisioterapia, l0%<br />

fisioterapia e fonoaudiologia, 10% fisioterapia, fonoaudiologia<br />

e acompanhamento nutricional, 10%<br />

fisioterapia, hidroterapia e terapias alternativas e<br />

10% somente terapias alternativas. O valor médio<br />

da ALSFRS foi de 26,1 ± 4,99.<br />

Análise individual dos desenhos<br />

a) J.M.D.: quantitativa: 4 pontos de acordo<br />

com a classificação utilizada; qualitativa: figura<br />

grande, centralizada à esquerda e inferior, com tracejado<br />

não contínuo, sem expressão de movimento,<br />

com ausência de partes do corpo (braços e rosto) e<br />

rasura nas pernas. Realizado em 2 minutos.<br />

b) N.F.: quantitativa: 10 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura média,<br />

centralizada à direita, com traçado contínuo, com<br />

expressão de movimento, sem ausência de partes do<br />

corpo. Realizado em 2 minutos e <strong>15</strong> segundos.<br />

c) C.A.H.: quantitativa: 8 pontos de acordo<br />

com a classificação utilizada; qualitativa: figura grande,<br />

centralizada, com traçado contínuo, com expressão<br />

de movimento, com ausência de partes do corpo<br />

(cabelos e orelhas) e diferença entre os hemicorpos.<br />

Realizado em 3 minutos.<br />

213<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218


d) L.N.: quantitativa: 4 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura pequena,<br />

centralizada à esquerda, com traçado contínuo, sem<br />

expressão de movimento, difícil diferenciação entre<br />

as partes do corpo, desenhou a aplicadora ao lado.<br />

Realizado em 2 minutos.<br />

e) E.F.S.: quantitativa: 6 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura grande,<br />

inferior à direita, com traçado contínuo e rebuscado,<br />

sem expressão de movimento, com ausência de<br />

partes do corpo (membros inferiores e mão direita),<br />

apresentando desorganização espacial. Realizado<br />

em 4 minutos e 45 segundos.<br />

f) J.F.F.: quantitativa: 8 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura média,<br />

superior à esquerda, com traçado contínuo, sem expressão<br />

de movimento, com ausência de partes do<br />

corpo (boca e detalhes). Realizado em 1 minuto e 30<br />

segundos.<br />

g) B.C.G.: quantitativa: 6 pontos de acordo<br />

com a classificação utilizada; qualitativa: figura pequena,<br />

superior à direita, com traçado contínuo, sem<br />

expressão de movimento, com ausência de partes do<br />

corpo, ênfase na presença das orelhas. Realizado em<br />

3 minutos.<br />

h) A.M.R.O.: quantitativa: 8 pontos de acordo<br />

com a classificação utilizada; qualitativa: figura<br />

grande, centralizada, com traçado contínuo, sem expressão<br />

de movimento, com ausência de partes do<br />

corpo (rosto e detalhes devido à incapacidade motora<br />

de realizá-los). Realizado em 2 minutos.<br />

i) R.F.L.: quantitativa: 8 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura grande,<br />

centralizada, com traçado contínuo e rebuscado,<br />

sem expressão de movimento, com ausência de partes<br />

do corpo (cabelo e orelhas), e com presença do<br />

chão. Realizado em 3 minutos e 30 segundos.<br />

j) E.S.: quantitativa: 2 pontos de acordo com<br />

a classificação utilizada; qualitativa: figura média,<br />

centralizada inferior, com traçado contínuo, sem expressão<br />

de movimento, com ausência de partes do<br />

corpo, com ênfase no desenho do rosto. Realizado<br />

em 3 minutos e 10 segundos.<br />

Análise em grupo dos desenhos<br />

Pode-se observar que 40% dos desenhos feitos<br />

classificaram-se com pontuação 8 dentro da escala<br />

utilizada (anexo), 20% com pontuação 6, 20% com<br />

pontuação 2, 10% com pontuação 10 e 10% com<br />

pontuação 4; 30% das figuras estão centralizadas,<br />

10% centralizadas e inferiores, 10% centralizadas<br />

original<br />

e inferiores à esquerda, 10% centralizadas à direita,<br />

10% centralizadas à esquerda, 10% superiores à<br />

direita, 10% superiores à esquerda e 10% inferiores<br />

à direita; quanto ao tamanho das figuras, 50% delas<br />

são grandes, 30% médias e 20% pequenas; apresentando<br />

70% dos traçados contínuos, 20% contínuos<br />

e rebuscados e 10% tracejados; entre elas apenas<br />

20% têm expressão sugestiva de movimento e 80%<br />

não; 90% das figuras apresentam ausência de partes<br />

do corpo enquanto 10% não apresentam. 90%<br />

dos indivíduos iniciaram pela cabeça; 60% usavam<br />

cadeira de rodas, apenas 40% demonstraram alguma<br />

dificuldade durante a realização, 50% do grupo<br />

mostrou-se muito comunicativo, 30% não estavam<br />

acompanhados na ocasião da aplicação do desenho.<br />

O tamanho dos membros não foi avaliado devido à<br />

dificuldade motora apresentada pela doença.<br />

Anexo. ALS Functional Rating Scale.<br />

a.Fala<br />

4.Normal 3.Disartria leve 2.Disartria moderada, fala inteligível 1.Disartria<br />

grave, necessita comunicação não verbal 0.Anartria<br />

b.Salivação<br />

4.Normal 3.Excesso leve, pode haver sialorréia à noite ou no decúbito<br />

2.Excesso moderado, sialorréia mínima 1.Excesso grave, sialorréia<br />

evidente 0.Sialorréia intensa, necessita aspiração constante<br />

c.Deglutição<br />

4.Normal 3.Disfagia leve, ocasionalmente engasga 2.Disfagia moderada,<br />

necessita mudança na quantidade ou consistência 1.Disfagia grave,<br />

necessita sonde 0.Dieta parenteral ou gastrostomia<br />

d.Escrita<br />

4.Normal 3.Lentificada, todas as palavras são legíveis 2.Algumas palavras<br />

são ilegíveis 1.Capaz de manipular caneta mas incapaz de escrever<br />

0.Incapaz de manipular<br />

e.Manipulação de alimentos e utensílios (pacientes sem gastrostomia)<br />

4.Normal 3.Lento mas não necessita de ajuda 2.Lento e necessita de<br />

ajuda 1.Necessita de ajuda de terceiros para os utensílios, mas pode<br />

alimentar-se sozinho 0.Necessita ser alimentado<br />

e1.Manipulação de alimentos e utensílios (pacientes com gastrostomia)<br />

4.Normal 3.Lento mas capaz de todas as manipulações sem auxílio<br />

2.Necessita algum auxílio 1.Praticamente toda a manipulação da dieta<br />

necessita de auxílio 0.Incapaz/necessita de auxílio total<br />

f.Vestuário e higiene<br />

4.Normal 3.Independente para todas as atividades, mas com dificuldade<br />

e eficiência diminuída 2.Necessita assistência intermitente ou para<br />

tarefas específicas 1.Necessita assistência total 0.Totalmente dependente<br />

g.Atitude no leito e manipulação da cama de roupa<br />

4.Normal 3.Lento, mas não necessita de ajuda 2.Pode mexer-se e<br />

ajustar roupa sem auxílio, mas com grande dificuldade 1.Pode iniciar<br />

tais atividades, mas necessita de auxílio para terminá-las 0.Dependente<br />

de auxilio total<br />

h.Marcha<br />

4.Normal 3.Alterações precoces 2.Necessita de auxílio 1.Restrito a<br />

cadeira de rodas ou leito 0.Paraplégico<br />

i.Subir escadas<br />

4.Normal 3.Lento 2.Perde equilíbrio ou fadiga 1.Necessita assistência<br />

0.Incapaz<br />

j<br />

.Respiração<br />

4.Normal 3.Dispnéia com esforço leve (andar/falar) 2.Dispnéia ao<br />

repouso 1.Assistência ventilatória intermitente (noturna) 0.Dependente<br />

ventilador<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218 214


original<br />

J.M.D. N.F. C.A.H. L.N. E.F.S.<br />

J.F.F.<br />

B.C.G.<br />

A.M.R.O.<br />

R.F.L.<br />

E.S.<br />

Figura 1. Desenhos realizados pelos indivíduos participantes da pesquisa.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os dados mostram que, apesar de pequena,<br />

esta casuística pode representar a maioria das características<br />

encontradas na literatura referentes à ELA.<br />

A idade média de 56 ± 4,19 anos, a maior incidência<br />

em homens e a forma bulbar em 20% dos casos condizem<br />

com os dados descritos na literatura 2,10 quando<br />

relatam a maior incidência da ELA na 6 a e 7 a décadas,<br />

com proporção maior de homens e sintomas<br />

bulbares em 17 a 25% dos casos.<br />

A presença de cãibras em 20% dos indivíduos<br />

e de dor em 40% relaciona-se com os dados descritos<br />

na literatura 2,9 de pacientes que relatam espasmos<br />

musculares, em geral aliviados com movimentos<br />

de alongamentos ou medicações, e referem uma<br />

dor não específica em fases avançadas da doença. A<br />

câimbra e a dor, quando presentes com freqüência,<br />

podem alterar as ações motoras e, com isso, o esquema<br />

e imagem corporal 22 .<br />

O tempo de evolução da doença teve média de<br />

46,3 ± 38,69 meses, próximo dos dados encontrados em<br />

literaturas atuais que descrevem como tempo de evolução<br />

do início da doença ao óbito entre 24 e 60 meses 11,14 .<br />

Quanto às atividades sociais, de lazer e de<br />

auto-cuidados, encontra-se descrito na literatura 16<br />

que a formação do esquema e imagem corporal sofrem<br />

influência do estado emocional, conflitos psíquicos<br />

e do contato com o mundo proporcionado<br />

pelas diferentes atividades realizadas, sendo o elemento<br />

social e a auto-estima aspectos fundamentais.<br />

Desses indivíduos, apenas 30% não realizam<br />

nenhum tratamento; entre os 70% restantes são realizadas<br />

terapias nutricionais, fisioterapia e fonoaudiologia,<br />

o que se vê descrito como uma busca de tratamento<br />

multiprofissional. Há, também, freqüente procura<br />

por técnicas alternativas na tentativa de melhorar a<br />

qualidade de vida e aliviar o sofrimento 13,27 .<br />

A ALSFRS é a escala preferida para a avaliação<br />

de nível e de mudanças funcionais em pacientes<br />

com ELA, podendo ser usada como dado comparativo<br />

periodicamente através da pontuação obtida<br />

com a sua aplicação <strong>15</strong>,27 . A pontuação na ALSFRS<br />

teve média de 26,1 ± 4,99 na época de avaliação.<br />

Quanto à perda de força muscular, os dados condizem<br />

com a literatura, pois segundo esta 9 em 90% dos<br />

casos a queixa principal dos indivíduos é a fraqueza de<br />

um músculo ou de grupos musculares. Por se tratar de<br />

uma doença de início insidioso, a maioria deles não está<br />

ciente das alterações na força ou se ajustam a elas até<br />

que tenham dificuldade em uma atividade funcional 28 .<br />

Todos os dados descritos podem influenciar<br />

o esquema e imagem corporal. Isso porque há uma<br />

interação entre os aspectos fisiológicos, neurais,<br />

emocionais e sociais para sua formação e constantes<br />

reestruturações 22 . A motricidade é importante na<br />

produção da imagem mental, sendo que ela também<br />

2<strong>15</strong><br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218


se dá através das sensações que nos são percebidas.<br />

Temos as impressões táteis, térmicas e dolorosas, as<br />

sensações viscerais e proprioceptivas, que nos dão a<br />

percepção de um esquema corporal 17, 29 .<br />

A análise do esquema e imagem corporal pode<br />

identificar alterações que vão influenciar na motricidade<br />

voluntária e na qualidade de vida. Essa análise<br />

pode ser realizada a partir do desenho da figura humana,<br />

demonstrando através dele a maturidade conceitual<br />

do indivíduo em relação ao corpo humano e o<br />

próprio corpo 30 . A análise da imagem corporal aponta<br />

para prejuízos relacionados à insatisfação, depreciação,<br />

distorção e preocupação com a auto-imagem,<br />

todos eles influenciados por fatores sócio-culturais 31 .<br />

Durante a realização de qualquer desenho, é<br />

fundamental se observar o processo de produção: a<br />

postura corporal, a motricidade fina, o ritmo e a forma<br />

de elaborar as figuras e a cena. São relevadas as incapacidades<br />

apresentadas durante a criação do desenho,<br />

sendo aceitas quaisquer expressões como profundamente<br />

significativas 23,32 . Um traço gráfico isolado nada<br />

significa, cada traço deve ser considerado em conexão<br />

com os demais e no contexto geral do desenho 30,33 .<br />

A falta de conhecimento do fisioterapeuta<br />

quanto à imagem e esquema corporal dos pacientes<br />

talvez possa aumentar ainda mais a distância entre<br />

o que o terapeuta deseja e o que o paciente imagina<br />

oferecer. A utilização do teste do desenho da figura<br />

humana favorece uma avaliação rápida e é um recurso<br />

que permite comparação de amostras futuras<br />

para mensurar a evolução do tratamento 34 .<br />

A análise individual e em grupo dos desenhos<br />

pode ilustrar o impacto das seqüelas e alterações que<br />

a doença ELA pode trazer ao esquema e imagem<br />

corporal desses indivíduos.<br />

Durante a análise dos desenhos, foi possível<br />

observar que os indivíduos com significativa perda<br />

da força muscular realizaram desenhos grandes e<br />

com ausência de partes do corpo, e quanto maior<br />

a perda da força muscular, menor foi o tempo de<br />

realização. O desenho de A.M.R.O. (figura 1), que<br />

apresenta ausência da movimentação ativa distal de<br />

membros superiores e do movimento de pinça, foi<br />

realizado em 2 minutos, o que pode ser justificado<br />

pela grande dificuldade motora de membros superiores,<br />

não apresentando detalhes e sendo realizado<br />

de maneira contínua. Já o desenho de E.F.S. (figura<br />

2), com movimentação ativa proximal e distal e<br />

movimento de pinça preservados, foi realizado em 4<br />

minutos e 45 segundos, uma vez que ele possui melhor<br />

habilidade motora e realizou o desenho lenta-<br />

original<br />

mente para conseguir fazer os detalhes, devido à sua<br />

fraqueza muscular. No seu desenho, pôde-se notar a<br />

ausência dos membros inferiores, o que representa<br />

uma alteração no seu esquema e imagem corporal 35 ,<br />

podendo sugerir uma não aceitação do uso da cadeira<br />

de rodas.<br />

As figuras dos indivíduos que relatam dor e<br />

cãibras, como as de J.F.F. e B.C.G. (figuras 3 e 4,<br />

respectivamente), foram realizadas na parte superior<br />

da folha, de tamanho de pequeno a médio e com<br />

ausência de movimento. A localização na folha pode<br />

indicar a sensação de possuir objetivos inatingíveis, o<br />

tamanho, sensação de inferioridade e a ausência de<br />

movimento pode estar associada a posturas antálgicas<br />

e à necessidade de permanecer imóvel devido à<br />

presença de câimbras 36 .<br />

A alteração no traçado apresentada por J.M.D.<br />

e R.F.L (figuras 5 e 6, respectivamente), que desenharam<br />

os pés com um traçado rebuscado e não contínuo,<br />

é descrita na literatura 36 como uma busca por<br />

estabilidade e possível perda da própria identidade.<br />

O desenho feito pelos pacientes com ELA do<br />

tipo bulbar apresentaram como única semelhança a<br />

localização na parte central da folha. C.A.H. (figura<br />

7) apresenta em seu desenho calvície, que associa<br />

a apresentada por ele mesmo, e desvio da cabeça à<br />

direita, com hemicorpo direito menor do que o esquerdo,<br />

indicando instabilidade e/ou equilíbrio precário<br />

33 , e o desenho de L.N. (figura 8) foi realizado em<br />

tamanho pequeno e em bloco, além de apresentar ao<br />

seu lado o desenho de outra figura humana, demonstrando<br />

timidez e sentimento de inferioridade 35 .<br />

O desenho de E.S. (figura 9) mostrou-se pobre<br />

e próximo do “palito”, onde é difícil nomear cada<br />

parte do corpo e é dada ênfase ao rosto, sugerindo<br />

falta de percepção corporal e sensação de estar preso<br />

em si mesmo, mantendo íntegras as funções cognitivas.<br />

O maior destaque dado à cabeça é sugestivo de<br />

sensação de inferioridade ou vergonha relacionada<br />

às funções e partes do seu corpo 32 .<br />

O único desenho onde não se encontra alteração<br />

do esquema e imagem corporal foi o realizado<br />

por N.F. (figura 10), por ser rico em detalhes, sem<br />

ausência de partes do corpo, com movimento, tamanho<br />

e proporções adequados, apresentando pequena<br />

diferença entre os membros inferiores, onde há um<br />

destaque para o membro inferior esquerdo, no qual<br />

relata cãibras freqüentes. A presença de movimento<br />

indica adaptação e capacidade mental 35 . O indivíduo<br />

apresenta pouco tempo de evolução da doença,<br />

o que pode justificar que, apesar do seu comprome-<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218 216


original<br />

timento motor, ainda preserva uma boa noção do<br />

seu esquema e imagem corporal.<br />

A presença da doença modifica não somente<br />

a percepção do modelo postural do corpo, mas<br />

também sua estrutura como um todo 21 . Com isso,<br />

a vivência emocional leva o indivíduo a alterações<br />

na percepção de sua identidade e o conceito de si<br />

mesmo, que são expressas na realização do desenho<br />

da figura humana. Em geral, os pacientes de ELA<br />

falecem mantendo íntegras as funções cognitivas, gerando<br />

uma situação chocante para o indivíduo, que<br />

se vê perfeitamente conectado ao seu meio ambiente<br />

e prisioneiro em seu próprio corpo 12,13 .<br />

A fisioterapia pode-se valer dessa noção de esquema<br />

e imagem corporal para enriquecer sua terapia<br />

com os pacientes com ELA.<br />

São muitas as explicações e hipóteses para justificar<br />

as possíveis distorções de esquema e imagem<br />

corporal encontradas em pacientes com ELA. Sabese<br />

que indivíduos com limitações físicas projetam<br />

em seus desenhos qualquer distúrbio apresentado 37 .<br />

Torna-se importante o estudo da noção de imagem e<br />

esquema corporal nesses indivíduos que, devido aos<br />

déficits motores, têm que aprender a lidar com uma<br />

doença progressiva e rapidamente incapacitante.<br />

CONCLUSÃO<br />

Os resultados da análise dos desenhos demonstram<br />

haver, na maioria deles, uma distorção no esquema<br />

e imagem corporal. Os indivíduos estudados, apesar<br />

de em pequeno número, apresentam as principais<br />

características da doença encontradas na literatura.<br />

As alterações observadas no desenho foram, principalmente,<br />

ausência de partes do corpo e de movimento,<br />

além de alterações específicas para os diferentes<br />

casos analisados. Essas alterações se relacionam com<br />

as características individuais coletadas durante as avaliações<br />

e com o quadro da doença em si, uma vez que<br />

a mesma leva a alterações musculares que vão interferir<br />

na organização do esquema e imagem corporal,<br />

levando os indivíduos a ilustrarem suas dificuldades e<br />

comprometimentos físicos em seus desenhos.<br />

A constatação dessas distorções destaca a necessidade<br />

de conhecimento do esquema e imagem corporal<br />

também pelos fisioterapeutas, como mais um recurso<br />

de avaliação e método comparativo periodicamente<br />

em programas de reabilitação. O uso do esquema e<br />

imagem corporal através de sua avaliação e como proposta<br />

de tratamento de integração, pode ser uma ferramenta<br />

adicional à fisioterapia para oferecer melhor<br />

qualidade de vida a esses pacientes.<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:211–218 218


original<br />

Trombólise no AVCI agudo em um<br />

Hospital da Rede Pública: a experiência<br />

do Hospital de Clínicas de Porto Alegre<br />

Thrombolysis for acute ischemic stroke in a Public Hospital: the experience of Porto Alegre<br />

Clinical Hospital<br />

Sheila Cristina Ouriques Martins 1 , Rosane Brondani 1 , Alan Christmann Frohlich 2 ,<br />

Raphael Machado Castilhos 2 , Cleber Camilo Dallalba 2 , Jéssica Brugnera<br />

Mesquita 2 , Márcia Lorena Fagundes Chaves 3 , Luiz Antonio Nasi 4<br />

RESUMO<br />

Introdução. Poucos hospitais públicos no Brasil estão estruturados<br />

para utilizar rtPA no acidente vascular cerebral (AVC) isquêmico<br />

agudo. Relatamos a experiência de 1 ano de trombólise no AVC<br />

isquêmico na Unidade Vascular do Hospital de Clínicas de Porto<br />

Alegre, um hospital público, Universitário. Método. Foi criada uma<br />

Unidade Vascular na Emergência, formada uma equipe de AVC,<br />

realizados treinamentos, implementados protocolos e padronizado<br />

o rtPA. Resultados. Foram trombolisados 36 pacientes com rtPA<br />

endovenoso no período de 1 ano. A taxa de elegibilidade para o<br />

tratamento foi de <strong>15</strong>%. A média do escore do NIHSS na chegada<br />

foi de 12; 61% dos pacientes apresentaram-se com escore NIH 0–1<br />

e 67% com independência funcional em 3 meses. Sangramento cerebral<br />

sintomático ocorreu em 4 pacientes (1 fatal). A mortalidade<br />

total foi de 8%. Tempo porta tomografia foi de 28 minutos e portaagulha<br />

de 74 minutos. Conclusão. A trombólise com rtPA foi efetivamente<br />

realizada em um hospital escola público, onde existe um<br />

grande volume de pacientes, geralmente com mais comorbidades e<br />

que chegam mais tardiamente para o atendimento. A organização<br />

dos hospitais e a aprovação do rtPA no sistema público de saúde<br />

pode diminuir o impacto do AVC no Brasil.<br />

Unitermos: Acidente cerebrovascular. Terapia trombolítica.<br />

Saúde pública.<br />

Citação: Martins SCO, Brondani R, Frohlich AC, Castilhos RM, Dallalba<br />

CC, Mesquita JB, Chaves MLF, Nasi LA. Trombólise no AVCI agudo<br />

em um Hospital da Rede Pública: a experiência do Hospital de Clínicas<br />

de Porto Alegre.<br />

SUMMARY<br />

Introduction. Few public hospitals in Brazil have the structure<br />

necessary for the use of rtPA in acute ischemic stroke patients.<br />

We present the 1-year experience in thrombolytic therapy in<br />

ischemic stroke in the Vascular Unit of Hospital de Clínicas<br />

de Porto Alegre, a university public hospital. Method. The<br />

Vascular Unit was established, stroke team was structured, the<br />

emergency room staff and the neurology residents were trained<br />

and the rtPA was standardized at the Hospital. Results.<br />

36 patients were thrombolysed with endovenous rtPA. The<br />

eligibility rate was <strong>15</strong>%. The median baseline NIHSS score<br />

was 12. In 3 months, 61% of the patients had NIH 0–1 and<br />

67% had functional independence. Symptomatic intracranial<br />

hemorrhage occurred in 4 patients (1 fatal). The total mortality<br />

rate was 8%. The door to Computed tomography time<br />

was 28 minutes and the door to needle time was 74 minutes.<br />

Conclusion. The thrombolysis was effective in a public schoolhospital,<br />

which assist a great number of patients, usually with<br />

more comorbidities and more delayed arrival to the hospital.<br />

The hospital organization and the rtPA approval to the public<br />

system of health may decrease the impact of stroke in Brazil.<br />

Keywords: Stroke. Thrombolytic therapy. Public health.<br />

Citation: Martins SCO, Brondani R, Frohlich AC, Castilhos RM,<br />

Dallalba CC, Mesquita JB, Chaves MLF, Nasi LA. Thrombolysis for<br />

acute ischemic stroke in a Public Hospital: the experience of Porto Alegre<br />

Clinical Hospital.<br />

Trabalho realizado no Hospital de Clínicas de Porto Alegre.<br />

1. Neurologista vascular da Unidade Vascular do Hospital de Clínicas<br />

de Porto Alegre e do Instituto de Medicina Vascular do Hospital Mãe<br />

de Deus (HMD).<br />

2. Residente do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.<br />

3. Chefe do Serviço de Neurologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.<br />

4. Chefe do Serviço de Emergência e da Unidade Vascular do Hospital<br />

de Clínicas de Porto Alegre.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Sheila Cristina Ouriques Martins.<br />

Rua Engenheiro Olavo Nunes, 99/703<br />

CEP 90440-170, Porto Alegre, RS<br />

Recebido em: 24/04/2007<br />

Revisão: 25/04/2007 a 18/09/2007<br />

Aceito em: 19/09/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

219<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225


INTRODUÇÃO<br />

Frente ao impacto sócio-econômico mundial<br />

que a doença vascular representa como causa crescente<br />

de morte e incapacidade permanente, uma<br />

atenção especial tem sido dada ao seu atendimento. O<br />

Acidente Vascular Cerebral (AVC) é a primeira causa<br />

de morte no Brasil, correspondendo a 30% dos óbitos.<br />

As doenças vasculares são a terceira causa de hospitalização<br />

na rede pública (10% das hospitalizações) 1 .<br />

Com as evidências de que o atendimento rápido<br />

e especializado diminui a morbimortalidade das<br />

doenças vasculares agudas, julgamos necessário organizar<br />

o seu atendimento no Serviço de Emergência<br />

do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, um hospital<br />

público universitário. Foi criada uma Unidade<br />

Vascular (UV) em dezembro de 2005, com cinco leitos<br />

ocupando um espaço físico específico, destinada<br />

ao atendimento de pacientes com suspeita de AVC,<br />

síndrome coronariana aguda, síndromes aórticas<br />

agudas e tromboembolismo pulmonar.<br />

Relatamos aqui a experiência de um ano do<br />

atendimento agudo do AVC isquêmico nesta unidade,<br />

além de sua estruturação e organização dentro<br />

de um Hospital Escola com atendimento a pacientes<br />

do Sistema Único de Saúde (SUS).<br />

MÉTODO<br />

Organização pré atendimento<br />

Antes de iniciarmos o tratamento dos pacientes<br />

com AVC isquêmico com trombólise, medidas<br />

importantes foram tomadas para tornar possível este<br />

tipo de terapia no Hospital de Clínicas.<br />

Equipe de AVC (Stroke Team)<br />

A equipe de AVC foi formada no início de<br />

2005, antes da criação da UV, com o seguinte intuito:<br />

1. Estabelecer os protocolos de tratamento e o<br />

fluxograma de atendimento (figura 1) aos pacientes<br />

com AVC isquêmico agudo.<br />

2. Treinar as equipes de médicos emergencistas<br />

e de enfermagem do Serviço de Emergência, os<br />

residentes da clínica médica e da neurologia quanto<br />

ao reconhecimento de pacientes com AVC; a utilização<br />

das escalas de AVC do NIH (National Institute<br />

of Health Stroke Scale) e de Rankin modificada; a<br />

detecção de sinais precoces de isquemia na tomografia<br />

computadorizada (TC) de crânio e a utilização do<br />

protocolo de AVC.<br />

3. Estabelecer indicadores de qualidade no<br />

atendimento agudo do AVC.<br />

original<br />

4. Criar banco de dados para armazenamento<br />

prospectivo dos casos.<br />

A equipe de AVC do Hospital de Clínicas é<br />

formada por 2 neurologistas com mais de 4 anos de<br />

experiência no tratamento trombolítico do AVC isquêmico<br />

e encontra-se disponível 24 horas por dia,<br />

7 dias por semana. A partir de agosto de 2006, a<br />

equipe de AVC passou a contar também com os residentes<br />

do serviço de neurologia, que começaram<br />

o treinamento no início de 2006 para atendimento<br />

do AVC isquêmico agudo e já encontram-se capacitados<br />

para selecionar os pacientes candidatos a<br />

tratamento, avaliar sinais precoces na tomografia e<br />

administrar rtPA endovenoso com segurança. Todos<br />

os pacientes são acompanhados pela equipe de AVC<br />

desde o atendimento agudo até a alta hospitalar, sendo<br />

seguidos depois ambulatorialmente.<br />

Padronização do rtPA<br />

A padronização do Ativador do plasminogênio<br />

tecidual recombinante (rtPA) no Hospital de Clínicas<br />

foi realizada em janeiro de 2006. Como o SUS<br />

ainda não paga essa medicação para o tratamento<br />

do AVC, o Hospital se responsabilizou pelos custos<br />

do mesmo, para que fosse possível o cumprimento<br />

do protocolo hospitalar.<br />

Hospital de Clínicas de Porto Alegre<br />

É um hospital geral e universitário, com 749<br />

leitos, com um Serviço de Emergência que atende<br />

aproximadamente 6.000 pacientes do SUS por<br />

mês. Para possibilitar o tratamento do AVC agudo,<br />

em 2005 a emergência passou por uma reestruturação<br />

física, com a criação de uma Unidade Vascular<br />

(figura 2), e por uma reestruturação logística,<br />

com a criação de um novo método de triagem baseado<br />

em critérios de risco visando diminuir dentro<br />

da emergência os pacientes que poderiam ser<br />

atendidos nos postos de saúde. Esse novo sistema<br />

de triagem entrou em funcionamento em agosto<br />

de 2005 e foi premiado em Brasília em 28 de março<br />

de 2007 no 11 o Concurso Inovação na gestão<br />

Pública Federal da Escola Nacional de Administração<br />

Pública (ENAP). Dos 56 trabalhos inscritos,<br />

o trabalho “Como um protocolo de classificação<br />

de risco pode qualificar o encaminhamento dos<br />

pacientes na emergência do Hospital de Clínicas<br />

de Porto Alegre” foi premiado com o quinto lugar.<br />

A Unidade Vascular passou a funcionar em de 28<br />

de dezembro de 2005, com 5 leitos exclusivos para<br />

o atendimento do paciente com doença vascular<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225 220


original<br />

Figura 1.<br />

aguda: AVC, síndrome coronariana aguda, síndromes<br />

aórticas agudas e tromboembolismo pulmonar.<br />

Os pacientes são triados pelo enfermeiro<br />

e, se houver suspeita de doença vascular, são classificados<br />

como de alto risco (identificados pela cor<br />

vermelha), recebendo atendimento priorizado,<br />

sendo imediatamente encaminhados para a Unidade<br />

Vascular.<br />

Triagem dos pacientes com suspeita de AVC<br />

A equipe de enfermagem foi treinada para reconhecer<br />

os principais sinais de alerta do AVC: fraqueza<br />

ou dormência súbita na hemiface, na perna ou no<br />

braço; súbita dificuldade para falar ou compreender a<br />

fala; súbita alteração visual: visão dupla, perda de visão<br />

em um ou ambos os olhos; dor de cabeça intensa, diferente<br />

da usual; perda súbita do equilíbrio ou tontura.<br />

221<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225


Após o reconhecimento, é determinado o tempo<br />

de início dos sintomas e encaminhado para Unidade Vascular.<br />

Todo paciente com AVC isquêmico agudo é considerado<br />

um potencial candidato à terapia trombolítica<br />

(idealmente dentro de 3 horas do início dos sintomas).<br />

Unidade Vascular<br />

Imediatamente, o médico residente ou o emergencista<br />

de plantão avalia o paciente, confirma o tempo de<br />

início dos sintomas e se desencadeia o protocolo de AVC:<br />

1. Aciona o neurologista vascular,<br />

2. Solicita laboratório (TP, KTTP, plaquetas,<br />

hemograma e bioquímica),<br />

3. Solicita TC de crânio sem contraste.<br />

Após a coleta de sangue, o paciente é levado<br />

à radiologia, acompanhado pelo residente. O neurologista<br />

vascular, após avaliação do paciente, da TC<br />

e dos exames de sangue, inicia a trombólise EV na<br />

UV. O paciente estável pós-trombólise permanece<br />

de 36 a 72 horas monitorizado na UV, sendo depois<br />

transferido para um leito de enfermaria. Apenas os<br />

pacientes mais graves, que não recanalizam ou apresentam<br />

complicações, são transferidos para a Unidade<br />

de Tratamento Intensivo (UTI).<br />

Foram elaborados termos de compromisso para<br />

a realização prioritária dos exames na radiologia e no<br />

laboratório. Esses serviços respondem prontamente<br />

assim que são acionados pelo protocolo de AVC.<br />

Protocolo de Tratamento<br />

O protocolo de tratamento com rtPA EV para<br />

o AVCI dentro de 3 horas do início dos sintomas segue<br />

as recomendações da American Stroke Association<br />

2 . É administrada a dose de 0,9 mg/kg de rtPA,<br />

com 10% em bolus em 1 minuto e o restante em<br />

infusão de 1 hora (no máximo 90 mg).<br />

original<br />

A partir de 2004, com a publicação da análise<br />

combinada dos ensaios clínicos ATLANTIS, ECASS,<br />

e NINDS 3 , que mostrou benefício do tratamento além<br />

da janela de 3 horas, começamos a utilizar tratamento<br />

EV também para alguns pacientes selecionados com<br />

início dos sintomas entre 3 e 5 horas.<br />

O protocolo de tratamento foi aprovado pela<br />

comissão de protocolos do Hospital de Clínicas e o<br />

projeto de seguimento dos pacientes com AVC isquêmico<br />

numa coorte foi aprovado pelo comitê de<br />

ética do hospital.<br />

RESULTADOS<br />

De janeiro a dezembro de 2006 foram atendidos<br />

236 pacientes com AVC isquêmico agudo na Unidade<br />

Vascular do Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Desses,<br />

36 receberam tratamento trombolítico, conferindo<br />

uma elegibilidade para o tratamento de <strong>15</strong>%, com uma<br />

média de 3 pacientes tratados por mês.<br />

A média de idade foi 66 anos (24–89 anos),<br />

53% eram mulheres e 89% brancos. Dos fatores de<br />

risco, 86% eram hipertensos, 39% diabéticos, 31%<br />

fibrilados, 35% cardiopatas, 36% tinham AVC isquêmico<br />

prévio e 70% tinham doença aterosclerótica<br />

grave. O subtipo de AVC mais comum foi aterotrombótico<br />

de grandes vasos (50%), seguido pelo<br />

cardioembólico (38%). Nenhum paciente tinha AVC<br />

lacunar. O tempo médio do início dos sintomas até a<br />

chegada na emergência foi de 96 minutos.<br />

O tempo do início dos sintomas até o tratamento<br />

com rtPA foi de 169 ± 43 minutos. O tempo<br />

entre a chamada e a chegada do neurologista vascular<br />

foi de 16 ± 11 minutos, o tempo porta-tomografia<br />

28 minutos e o tempo porta-agulha 74 minutos (45%<br />

dos pacientes foram tratados dentro de 60 minutos<br />

da chegada ao hospital).<br />

Figura 2. A. Sala de Observação antes da reestruturação da Emergência. B. Unidade Vascular (criada pós reestruturação).<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225 222


original<br />

Figura 3. Independência funcional (escore de Rankin modificado 0–2) em 3 meses de acordo com o NIH da chegada.<br />

O escore médio do NIHSS na chegada foi<br />

de 12 ± 5 (4–22), na alta de 2,8 ± 5 e em 3 meses<br />

2,6 ± 5. Em 3 meses, 61% dos pacientes apresentaram-se<br />

com mínimo ou nenhum déficit neurológico<br />

(NIHSS 0–1) e 67% tinham independência funcional<br />

(Rankin modificado 0–2). Dos pacientes que chegaram<br />

ao hospital com escore NIHSS baixo (entre<br />

0 e 5), 100% ficou sem déficit neurológico enquanto,<br />

daqueles que chegaram com NIHSS alto (acima<br />

de 20), nenhum ficou sem déficit (figura 3). A figura<br />

4 demonstra a porcentagem de pacientes em cada<br />

categoria do NIH na chegada ao hospital e após 3<br />

meses. Na chegada, 24% dos pacientes tinha NIH<br />

elevado (> <strong>15</strong>) enquanto em 3 meses apenas 11%<br />

tinha o desfecho combinado de NIH > <strong>15</strong> ou óbito.<br />

Hemorragia intracraniana sintomática ocorreu<br />

em 4 pacientes. A mortalidade foi de 8%, com apenas 1<br />

óbito relacionado a sangramento pelo rtPA. Os outros 2<br />

óbitos foram relacionados a infarto extenso secundário<br />

à oclusão do T carotídeo sem recanalização e a sepse.<br />

Todos os pacientes que tiveram sangramento<br />

cerebral sintomático eram mulheres, o escore do NIH<br />

inicial era quase 2 vezes maior que o escore do grupo<br />

sem sangramento (17,2 x 9,7; p = 0,006), tinham<br />

uma média de idade 13 anos maior (78 x 65 anos, p =<br />

0,049) e as pressões arteriais sistólicas pré-trombólise<br />

eram maiores (PAS <strong>15</strong>8 ± 20 x 145 ± 25). O grupo<br />

que teve sangramento foi tratado mais precocemente<br />

(tempo sintomas até rtPA 135 x 172 minutos).<br />

O tempo de internação foi de 8,5 dias (mediana),<br />

variando de 1 a 119 dias. Apenas 7 pacientes (19%)<br />

necessitaram transferência para o CTI. Os demais foram<br />

tratados na Unidade vascular durante a fase aguda<br />

e depois receberam alta para o domicílio (<strong>15</strong> pacientes)<br />

ou foram transferidos para unidade de internação.<br />

Cinco pacientes tinham 80 anos ou mais. Esse<br />

grupo também apresentou evolução favorável com o<br />

rtPA, apesar de menos expressiva que o grupo mais jovem<br />

(40% obtiveram escore NIH 0–1 e 60% independência<br />

funcional em 3 meses). Apenas 1 paciente teve sangramento<br />

cerebral sintomático (não fatal) e 1 paciente foi a<br />

óbito nesse grupo (devido a infarto extenso secundário à<br />

oclusão do T carotídeo). Essas diferenças não atingiram<br />

significância estatística, certamente devido ao pequeno<br />

número de pacientes no grupo mais idoso.<br />

DISCUSSÃO<br />

A trombólise no AVC isquêmico é comprovadamente<br />

efetiva quando realizada dentro dos protocolos,<br />

mesmo em hospitais públicos universitários,<br />

onde existe um número maior de pacientes e médicos<br />

ainda em formação.<br />

A taxa de elegibilidade na maioria dos hospitais<br />

norte-americanos geralmente é menor que 5% 4 . Nossa<br />

taxa de elegibilidade de <strong>15</strong>% demonstra que um<br />

serviço público organizado pode tratar um número de<br />

pacientes semelhante aos melhores centros de AVC.<br />

Com a modificação dos critérios de triagem dos pa-<br />

223<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225


cientes com AVC, identificamos uma demanda reprimida<br />

de pacientes que chegavam na janela terapêutica<br />

mas eram perdidos dentro da rotina de espera do<br />

SUS. No primeiro mês de funcionamento da Unidade<br />

Vascular foram tratados 5 pacientes com rtPA.<br />

Os pacientes atendidos no Hospital de Clínicas<br />

têm mais co-morbidades que os pacientes de<br />

outras séries 4-6 , com maior freqüência de diabete, fibrilação<br />

atrial, cardiopatia, AVC prévio e doença aterotrombótica<br />

grave. Nenhum paciente tratado teve<br />

AVC lacunar. Isso confirma estudos internacionais<br />

que verificaram que pacientes sem seguro saúde têm<br />

menos acesso aos cuidados ambulatoriais preventivos<br />

de doenças crônicas (por exemplo, hipertensão e<br />

dislipidemia) 7,8 e aderem menos aos medicamentos e<br />

modificação de hábitos quando prescritos 9,10 .<br />

Apesar de os pacientes terem mais doenças de<br />

base, uma proporção significativa ficou funcionalmente<br />

independente em 3 meses (67% dos casos) com excelente<br />

resposta ao tratamento. A taxa de sangramento<br />

sintomático foi maior que a do estudo NINDS (sem<br />

diferença estatística), mas semelhante ao subgrupo de<br />

pacientes mais graves demonstrados nos ensaios clínicos<br />

11 . Os pacientes que tiveram sangramento eram<br />

mais idosos (3 pacientes tinham mais que 75 anos) e<br />

tinham NIH mais elevado na chegada. Apesar disso,<br />

a mortalidade foi ainda menor que as dos ensaios clínicos<br />

(8% versus 17%). Em um estudo americano publicado<br />

recentemente, pacientes com AVC isquêmico<br />

sem seguro saúde têm uma chance maior de sair<br />

com seqüelas da hospitalização e 56% mais chance de<br />

morrer que o grupo com seguro saúde 12 .<br />

original<br />

O tratamento nos idosos demonstrou benefício<br />

menor que nos pacientes mais jovens, mas 60%<br />

dos idosos apresentaram-se com independência funcional<br />

em 3 meses, confirmando que esse grupo não<br />

deve ser negligenciado.<br />

A média de tempo do início dos sintomas até o<br />

tratamento (169 ± 45 minutos) foi maior que a maioria<br />

das séries de trombólise, com um tempo porta-agulha<br />

semelhante aos demais centros (74 minutos) 4-6 , o que<br />

sugere que os pacientes que chegam aos hospitais públicos<br />

demoram mais para procurar atendimento.<br />

A criação da Unidade Vascular possibilitou<br />

um local seguro para o tratamento e monitorização<br />

dos pacientes trombolisados, com necessidade de<br />

transferência para o CTI em apenas 19% dos casos,<br />

o que possibilita a diminuição do custo da internação.<br />

Muitos pacientes ficaram somente na Unidade<br />

Vascular com alta precoce (em 3 a 5 dias) desse local<br />

para o domicílio (42%), demonstrando que a melhora<br />

mais rápida dos pacientes com AVC diminui a necessidade<br />

de hospitalização prolongada.<br />

CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

A utilização de protocolos de AVC agudo em<br />

hospitais universitários permite a formação de novos<br />

médicos, principalmente neurologistas, capacitados<br />

para tratar esses pacientes sem medo e com a mesma<br />

convicção de quem trabalha hoje para divulgar a<br />

trombólise no Brasil.<br />

Seguimos na luta para que mais hospitais possam<br />

ser preparados para oferecer tratamento trombolítico<br />

aos pacientes, vencendo o preconceito com<br />

Figura 4. Evolução do déficit neurológico em pacientes tratados com trombólise endovenosa (categorias de escore do NIH inicial e em 3 meses).<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225 224


original<br />

a doença, que ainda é considerada uma fatalidade<br />

sem tratamento por muitos médicos, e vencendo as<br />

barreiras de falta de rtPA nesses hospitais, que ainda<br />

aguardam a padronização pelo SUS.<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

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225<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:219–225


evisão<br />

Lesões nervosas periféricas: uma revisão<br />

Peripheral Nerve Injury: A Review<br />

Rinaldo Siqueira 1<br />

RESUMO<br />

Lesões de nervos periféricos são comuns, mas o sucesso no tratamento<br />

irá depender de alguns fatores como: idade, a ferida propriamente<br />

dita, reparo do nervo, nível da lesão, e período transcorrido<br />

entre lesão e reparo. As lesões são classificadas em três tipos descritas<br />

por Seddon: neuropraxia, axonotmesis e neurotmesis. Após a transecção<br />

completa o corpo do neurônio sofre mudanças estruturais e<br />

funcionais e o axônio passa por um processo de degeneração, seguido<br />

por uma tentativa de regeneração. Um cone de crescimento é<br />

formado para que os axônios cresçam em direção aos alvos, sendo<br />

guiados pelos fatores de crescimento neurotróficos. Vários estudos<br />

têm sido realizados para desvendar os segredos das células gliais na<br />

regeneração axonal periférica. Diferentes técnicas cirúrgicas têm<br />

sido utilizadas na tentativa de direcionar os axônios em busca de<br />

seus alvos, que vão desde suturas simples até enxertos. A busca por<br />

melhores técnicas de reparo cirúrgico tem sido um desafio para a<br />

área clínica com o objetivo de se atingir a máxima perfeição no<br />

direcionamento dos axônios. Quando se tem uma l esão periférica<br />

além da perda funcional o mapa cortical referente à área lesada<br />

sofre alterações. Estudos na área da reabilitação têm sido realizados<br />

para buscar uma melhor efetividade no processo de recuperação<br />

funcional e sensorial, e velocidade na regeneração axonal.<br />

Unitermos: Nervos periféricos. Regeneração nervosa. Degeneração<br />

Walleriana. Fisioterapia. Estimulação elétrica.<br />

Recuperação de função fisiológica.<br />

Citação: Siqueira R. Lesões nervosas periféricas: uma revisão.<br />

SUMMARY<br />

Peripheral nerve injuries are common, but the treatment success<br />

will only depend on some factors such as: age, the wound<br />

itself, nerve repair, level of the injury, and period between<br />

injury and repair. They are classified in three types described<br />

by Seddon as: neuropraxia, axonotmesis, and neurotmesis.<br />

After complete axonal transection, the body neuron undergoes<br />

structural and function changes, and axon passes for a<br />

degenerative process, followed by attempts at regeneration.<br />

A growth cone is formed so that the axon grows towards leading<br />

targets by neurotrophics growth factors. Several studies<br />

have been done to better understanding the Glial cells at the<br />

peripheral axonal regeneration. Different surgery techniques<br />

have been applied attempting to lead the axons towards its<br />

targets that undergo from simple sutures to grafting. The search<br />

for better techniques of surgical repair has been a challenging<br />

to clinical area aiming the optimal performance at<br />

axon direction. When one has a peripheral injury, besides the<br />

functional, loss the cortical map referred to the injured area<br />

undergoes changes.<br />

Keywords: Peripheral nerves. Nerve regeneration. Wallerian<br />

degeneration. Physical therapy. Electric stimulation. Recovery<br />

of function.<br />

Citation: Siqueira R. Peripheral Nerve Injury: A Review.<br />

Trabalho realizado na UNIMEP.<br />

1. Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Neurológica - Adulto,<br />

UNIMEP.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Rinaldo Siqueira<br />

R. Ayrton Armbruster, 200<br />

CEP 13482-214, Limeira/ SP<br />

E-mail: rinaldo_siqueira@yahoo.com.br<br />

Recebido em: 11/05/2006<br />

Revisão: 12/05/2006 a 23/01/2007<br />

Aceito em: 24/01/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233 226


evisão<br />

INTRODUÇÃO<br />

As teorias das lesões nervosas periféricas, assim<br />

como técnicas de reparo, possuem uma longa<br />

história. O primeiro a distinguir nervos e tendões foi<br />

Galeno (130–200 d.C.). O avanço nos estudos sobre<br />

lesões nervosas periféricas se deu nas guerras civis e<br />

na Segunda Guerra Mundial, em que Mitchell resumiu<br />

suas observações clínicas a respeito das lesões<br />

nervosas periféricas e incluiu suas descrições de causalgia,<br />

ou dor em queimadura. Sir Herbert Seddon e<br />

Barnes Woodhall estudaram as cirurgias realizando<br />

enxertos de ponte em lesões nervosas periféricas e,<br />

após a Segunda Guerra Mundial, Sir Sidney Sunderland<br />

resumiu a anatomia interna detalhada dos<br />

nervos 1 . As classificações das lesões comumente utilizadas<br />

na prática clínica seguem as estabelecidas por<br />

Seddon em 1975, que são as neuropraxias, axonotmeses<br />

e as neurotmeses 2,3 .<br />

Após uma lesão por esmagamento ou transecção,<br />

as fibras distais à lesão sofrem degeneração por<br />

meio de um processo conhecido como degeneração<br />

Walleriana 4 . Quando a lesão for do tipo neurotmese<br />

com espaços entre cotos maiores do que 5 cm, fazse<br />

necessária a utilização de reparos cirúrgicos. O<br />

método clássico utilizado é a sutura, sendo a sutura<br />

epineural a mais tradicional. Outras técnicas como<br />

enxerto de nervo e enxerto de músculo também podem<br />

ser utilizadas para o reparo cirúrgico 1,5,6 . A lesão<br />

axonal não somente induz a fraqueza do músculo, a<br />

perda de sensação e dores neuropáticas, como também<br />

alterações no mapa cortical somatossensorial 7,8 .<br />

Logo após o reparo cirúrgico, torna-se necessário<br />

iniciar uma cuidadosa mobilização para uma melhor<br />

recuperação funcional, e o quanto antes se iniciar a<br />

reeducação sensorial, melhores serão os resultados e<br />

menor será a desorganização do mapa cortical 9,10 .<br />

Dada a importância do tempo na recuperação<br />

funcional após uma lesão nervosa periférica, diferentes<br />

estudos têm sido conduzidos para melhor obter<br />

ou acelerar a recuperação do nervo periférico lesado,<br />

além de se evitar desajustes no córtex cerebral.<br />

Portanto, foi realizado um levantamento bibliográfico<br />

referente ao tema, com o objetivo de dar um<br />

subsídio maior aos profissionais.<br />

MÉTODO<br />

Foram selecionados livros e artigos publicados<br />

em revistas internacionais e nacionais sobre o assunto,<br />

priorizando os estudos realizados nos últimos 20<br />

anos e indexados nas seguintes bases de dados: Medline,<br />

PubMed, Scielo, Lilacs e Bireme.<br />

REVISÃO DA LITERATURA<br />

Anatomia do Nervo Periférico<br />

Os nervos periféricos são cordões esbranquiçados<br />

subdivididos em 3 componentes importantes:<br />

axônios, células de Schwann e tecido conjuntivo 2 . Os<br />

axônios dos nervos periféricos são agrupados em feixes<br />

paralelos, conhecidos como fascículos, revestidos<br />

por bainhas de tecido conjuntivo frouxo, que fornece<br />

suporte à regeneração axonal. O tecido que reveste<br />

cada axônio individualmente é o endoneuro, possui<br />

matriz de colágeno frouxo, onde as fibras de colágeno<br />

irão formar as paredes de proteção dos tubos<br />

endoneurais. Os feixes de axônios são revestidos pelo<br />

perineuro, separando as fibras nervosas em fascículos,<br />

e contendo fibroblastos, macrófagos, mastócitos,<br />

linfócitos e adipócitos. Dentro dos feixes, as fibras são<br />

envolvidas pelo neurilema (bainha de Schwann). Ao<br />

redor do neurilema há tubos endoneurais constituídos<br />

por redes delicadas de fibrilas, associadas com uma<br />

substância intercelular amorfa. O tecido que reveste<br />

todo o tronco nervoso e que tem como função proteger<br />

os fascículos de tramas externas é denominado<br />

epineuro, constituído de tecido conjuntivo frouxo<br />

que se estende ao longo de todo o nervo 2,11 .<br />

Os axônios são isolados eletricamente pelo<br />

próprio endoneuro e por um complexo lipoprotéico<br />

denominado bainha de mielina. Esta é formada por<br />

células provindas da crista neural, que são conhecidas<br />

como células de Schwann. Essas células possuem<br />

a função crítica de suporte axonal regenerativo, servindo<br />

de via de crescimento para as fibras nervosas 2 ,<br />

além de servirem de isolantes elétricos para uma<br />

melhor condução dos impulsos nervosos. Na falta<br />

deste, o impulso é mais lento 12 . Os nervos periféricos<br />

são alimentados por artérias que entram no tronco<br />

nervoso procedentes de vasos sangüíneos vizinhos.<br />

A rede arterial é rica em vasos colaterais, tanto em<br />

torno como no interior dos próprios nervos. Resulta<br />

daí um sistema que apresenta resistência notável à<br />

isquemia que afeta os grandes vasos 11,12 .<br />

Tipos de Lesão<br />

De acordo com Seddon 13 , as lesões nervosas<br />

periféricas são classificadas em: a) Neuropraxia<br />

— lesão leve com perda motora e sensitiva, sem alteração<br />

estrutural; b) Axonotmese — é comumente<br />

vista em lesões por esmagamento, estiramento ou<br />

por percussão. Há perda de continuidade axonal e<br />

subseqüente degeneração Walleriana do segmento<br />

distal. Nesse tipo de lesão não ocorre perda de célula<br />

227<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233


de Schwann, e a recuperação irá depender do grau<br />

de desorganização do nervo e também da distância<br />

do órgão terminal; c) Neurotmese — separação<br />

completa do nervo, com desorganização do axônio<br />

causada por uma fibrose tecidual com conseqüente<br />

interrupção do crescimento axonal. A recuperação<br />

espontânea é pobre sem intervenção cirúrgica 2,3 .<br />

Além da classificação de Seddon 13 , há uma outra<br />

conhecida pouco utilizada na prática, a classificação<br />

de Sunderland 14 . Este refinou a classificação de<br />

Seddon dividindo-a em cinco tipos ou graus. A neuropraxia<br />

foi classificada como tipo I; já a axonotmese<br />

foi dividida em três tipos, que variam de acordo com<br />

o grau da lesão, enquanto que a neurotmese foi classificada<br />

como tipo 5. É raramente possível, através da<br />

classificação de Sunderland, classificar com exatidão<br />

uma lesão axonotmética com base em dados clínicos e<br />

eletromiográficos. O subtipo é geralmente discriminável<br />

pelo exame histológico da lesão do nervo 2,4 .<br />

Degeneração e Regeneração Nervosa Periférica<br />

Um dano severo no axônio leva à interrupção<br />

de sua integridade. Os axônios do coto proximal<br />

degeneram de maneira retrógrada até chegar ao<br />

próximo nódulo de Ranvier do local da lesão, criando<br />

uma pequena área de degeneração 4,<strong>15</strong> . As fibras<br />

distais à lesão sofrem degeneração em 48–96 horas<br />

após a transecção do nervo, por meio de um processo<br />

conhecido como degeneração Walleriana 4 . A degeneração<br />

Walleriana conduz à remoção e reciclagem<br />

axonal e do material mielínico-derivado e prepara o<br />

ambiente através do qual os axônios em regeneração<br />

irão crescer 7,16 . Lesões próximas ao corpo do neurônio<br />

podem levar à morte do corpo celular. Nas 2 a e<br />

3 a semanas após a lesão, com a instalação da degeneração<br />

Walleriana, iniciam-se mecanismos de mudanças<br />

no corpo celular, que podem ser estruturais e<br />

funcionais. Primeiro, ocorre aumento do volume do<br />

corpo celular, em seguida há um deslocamento do<br />

núcleo para a periferia, há uma dispersão dos corpúsculos<br />

de Nissl — Cromatólise 7,11 .<br />

No 2 o ou no mais tardar do 4 o ao 7 o dia, os<br />

macrófagos se acumulam no coto distal para realizar<br />

a remoção dos restos mielínicos em degeneração<br />

e, mais tarde, células de Schwann se proliferam<br />

para também desempenhar o papel de fagocitose <strong>15</strong> .<br />

A proliferação de células de Schwann no coto distal<br />

ocorre em 3 dias após a agressão axonal. Essa proliferação<br />

está associada com a produção de algumas<br />

substâncias difusas que podem atrair os axônios em<br />

crescimento. Mecanismos de orientação e regulação<br />

revisão<br />

do crescimento axonal são conhecidos como Neurotropismo<br />

ou Quimiotaxia 11 . Com a extrusão inicial<br />

da bainha de mielina, as células de Schwann são estimuladas<br />

a proliferarem e a dividirem-se no máximo<br />

em 3 dias, alinhando-se dentro do tubo de lâmina<br />

basal para formar as bandas de Büngner, que mais<br />

tarde irão fornecer um caminho para as fibras do<br />

nervo em regeneração 7 .<br />

Mudanças estruturais e funcionais ocorrem no<br />

coto proximal nos primeiros dias ou semanas após a<br />

transecção do tronco do nervo. Seus axônios passam<br />

a produzir um grande número de brotos colaterais e<br />

terminais, que irão competir entre si em busca de substâncias<br />

tróficas fornecidas pelos órgãos-alvo, que estão<br />

no coto distal e, por fim, realizar suas conexões. Ao nível<br />

distal de cada broto axonal, encontram-se filopódios<br />

ricos em actina, de onde surge uma protuberância chamada<br />

cone de crescimento. Devido ao excesso de brotos<br />

que invadem as colunas de Büngner, o número total<br />

de axônios no coto distal pode exceder ao número de<br />

axônios em crescimento. Com o tempo, esse número<br />

decai a partir do instante em que os brotos fazem suas<br />

conexões com os órgãos-alvo, devido a um fenômeno<br />

conhecido como repressão sináptica 11,17 . Em experimentos<br />

com animais, tem-se demonstrado que há um<br />

crescimento axonal de 2,0 a 3,5 mm/dia em lesões do<br />

tipo neurotmese e de 3,0 a 4,5 mm/dia nas do tipo axonotmese.<br />

Em humanos, a taxa de crescimento axonal<br />

não é linear, estima-se que a taxa de crescimento seja<br />

de aproximadamente 1 a 2 mm/dia 11 .<br />

Para que ocorra o crescimento do cone, fazse<br />

necessária a presença de substâncias que auxiliem<br />

na sobrevivência, extensão e maturação do axônio.<br />

Essas substâncias são os fatores de crescimento, que<br />

agem por meio de receptores específicos. Embora o<br />

fator de crescimento tenha um papel importante na<br />

regeneração axonal, a interação entre membrana da<br />

célula de Schwann e o cone de crescimento se dá<br />

pelas Moléculas de Adesão Celular (CAMS) 18 . O primeiro<br />

fator de crescimento identificado foi o Fator de<br />

Crescimento Nervoso (Nerve Growth Factor — NGF),<br />

que possui em sua família, denominada de neurotrofinas,<br />

outros fatores como: BDNF, NT-3, NT-4/5,<br />

NT-6, NT-7. Vale ressaltar a existência dos fatores de<br />

crescimento CNTF, MNGF e GDNF 4,19,20 .<br />

Num segundo estágio, como conseqüência<br />

da degeneração Walleriana, os músculos começam<br />

a diminuir de volume já na primeira semana, apresentando<br />

uma atrofia progressiva das fibras e uma<br />

substituição por tecido conjuntivo. Histologicamente,<br />

há um decréscimo no volume da fibra muscular<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233 228


evisão<br />

de 80 a 90%. Ao contrário dos músculos, para os<br />

órgãos sensoriais não existe um tempo definido para<br />

a reparação sensorial. Os nervos sensoriais buscam<br />

seus órgãos-alvo (corpúsculos de Meissner, corpúsculos<br />

de Ruffini e células de Merkel) para realizarem<br />

suas reinervações 4 .<br />

Em animais, a remielinização inicia-se após<br />

8 dias com o axônio já regenerado e sendo inicialmente<br />

envolvido pelas células de Schwann e seus<br />

tubos endoneurais, os quais se enrolam e formam a<br />

mielina. A informação que determina se os axônios<br />

serão mielínicos ou não é dada pelo próprio axônio<br />

e, para que ocorra uma boa recuperação da função<br />

após a regeneração do nervo, os axônios precisam<br />

ser conectados com seus alvos originais 16 . Logo que<br />

retornam aos seus alvos, os axônios regenerados podem<br />

formar novas terminações nervosas funcionais.<br />

Finalmente, aqueles axônios que foram desmielinizados<br />

tornam-se remielinizados e o corpo cromatólico<br />

recupera sua aparência original 21 .<br />

Conseqüências da Lesão<br />

Lesão no tronco do nervo pode ter conseqüências<br />

funcionais e mudanças de vida para o indivíduo<br />

devido à perda sensorial e motora, dor e desconforto.<br />

As lesões podem também causar uma remodelação<br />

no mapa cortical somatossensorial 8,9 .<br />

Formações de fibroses em torno do nervo provocam<br />

perda de sua extensibilidade. Se um nervo desenvolver<br />

adesões, o movimento e o alongamento não<br />

serão possíveis 10 . Lesões no SNC e SNP, no qual rompe<br />

a comunicação entre os músculos esqueléticos e<br />

neurônios, levam a uma atrofia muscular progressiva,<br />

além de mudanças na composição das fibras musculares<br />

16,22 . A atrofia muscular é a mudança mais evidente<br />

após a lesão nervosa. Para Lundborg 11 , com a denervação<br />

do músculo rapidamente se tem atrofia. Após<br />

2 anos, as fibras podem fragmentar e desintegrar. No<br />

primeiro mês há uma perda no peso muscular de 30%<br />

a 60% no segundo mês e, com a atrofia muscular, essa<br />

perda chega de 60% a 80% em 4 meses 4 .<br />

Uma cicatriz extensa reduz a velocidade de<br />

regeneração e a probabilidade de encontrar os órgãos<br />

terminais, podendo até inervar órgãos errados.<br />

Se acontecer de ocorrer um neuroma, necessita-se<br />

de intervenção cirúrgica 3 .<br />

Reparo Cirúrgico<br />

Segundo Robinson 3 , a reconstrução cirúrgica<br />

é dividida em três fases: Imediata (1 mês); Demorada<br />

(3 a 6 meses) e Tardia (1 a 2 anos ou mais).<br />

No geral, não há necessidade de realizar enxerto<br />

em lesões com espaço entre os cotos menor que<br />

1,5 cm. Em humanos, os enxertos são sempre indicados<br />

em espaços entre cotos maiores que 5 cm 5 .<br />

O método clássico de reparo do nervo é a sutura,<br />

que pode ser reparo epineural, reparo de grupos<br />

fasciculares, reparo fascicular ou uma mistura<br />

desses métodos 1 . O método de sutura epineural é<br />

o mais tradicional, sendo de fácil realização e sem<br />

trauma, mas não assegura uma correta junção das<br />

estruturas internas fasciculares devido ao mau alinhamento<br />

destas 11 . Os enxertos de nervo também<br />

são utilizados para o reparo cirúrgico. Esse método<br />

foi proposto como escolha, quando a sutura do nervo<br />

não for possível sem uma tensão indevida 11 . Estes podem<br />

ser obtidos da mesma pessoa (autoenxerto), de<br />

outro ser humano (aloenxerto) ou de outra espécie<br />

(xenoenxerto). O nervo mais utilizado para enxerto é<br />

o nervo sural. Os enxertos são ligados aos fascículos<br />

correspondentes e suturados com monofilamento de<br />

nylon com suturas epineurais. Cola de fibrina pode<br />

ser usada para ligar os enxertos, principalmente enxertos<br />

de cabo, pois diminui o número de suturas e<br />

minimiza traumas adicionais ao enxerto 4 .<br />

Há vários tipos de enxerto de nervo: cabos,<br />

tronco e enxerto de nervo vascularizado, enxerto<br />

nervoso livre, enxerto de nervo interfascicular 4,10 .<br />

Quando o enxerto de nervo não é possível,<br />

um outro material a ser usado é o enxerto de músculo<br />

23 . A desvantagem da técnica é o local fornecedor<br />

de tecido, mas essa técnica pode ser adicionada ao<br />

arsenal dos cirurgiões no reparo do nervo periférico,<br />

especialmente para se construir uma ponte sobre lesões<br />

curtas ou quando os autoenxertos de nervos não<br />

puderem ser empregados 6 .<br />

Intercorrências após Reparo Cirúrgico<br />

As intercorrências mais comuns após reparo<br />

cirúrgico incluem: 1) neuroma doloroso no local doador<br />

de enxerto nervoso 4 ; 2) tensão na linha de sutura<br />

levando a um aumento na formação de tecido cicatricial<br />

e dificultando a regeneração axonal; 3) hematoma<br />

no local do enxerto, podendo destruir o enxerto, sendo<br />

necessária, nesse caso, uma revisão do reparo para<br />

evacuação do hematoma e inspeção do enxerto para<br />

eventualmente repetir o procedimento cirúrgico 10 .<br />

Atuação da Fisioterapia<br />

Apesar da capacidade de regeneração do sistema<br />

nervoso periférico e dos avanços da microcirurgia,<br />

a recuperação funcional é pobre devido aos<br />

229<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233


evisão<br />

caminhos inapropriados de reinervação axonal de<br />

nervos mistos. Não há consenso sobre o tempo exato<br />

para se iniciar o tratamento fisioterapêutico, entretanto<br />

alguns estudos mostram que uma intervenção<br />

precoce deve ser realizada para uma boa recuperação<br />

funcional e para se evitar atrofia muscular, neuromas,<br />

alterações no mapa cortical etc 24 .<br />

Millesi preconiza que após 8 dias do reparo cirúrgico<br />

deve-se iniciar uma cuidadosa mobilização e<br />

progredir ao longo das semanas seguintes 10 . Para alguns<br />

autores, o início do tratamento se faz necessário<br />

logo após o reparo cirúrgico. Al-Majed et al. 24 , em um<br />

estudo com estimulação elétrica de músculo denervado<br />

de rato, iniciaram o tratamento imediatamente após o<br />

reparo cirúrgico do nervo. Van Meeteren et al. 25 realizaram<br />

um treinamento com exercícios em músculos<br />

denervados de ratos por esmagamento no primeiro dia<br />

pós-operatório. Pachter e Eberstein 26 , em estudo com<br />

exercício passivo em músculo de rato denervado por esmagamento,<br />

iniciaram tratamento aproximadamente<br />

24 horas após a denervação ter sido realizada. Apesar<br />

de os estudos terem sido realizados com animais e não<br />

com humanos, sugere-se que a intervenção seja a mais<br />

precoce possível, sempre respeitando a equipe muldisciplinar<br />

envolvida no caso.<br />

Lee e Wolfe 4 relatam que, em uma extremidade<br />

denervada, os objetivos pré-operatórios são proteger<br />

e manter a amplitude de movimento, a fim de ser<br />

funcional quando reinervada. As talas são úteis para<br />

prevenir contraturas e deformidades. As mobilizações<br />

são necessárias enquanto se espera a regeneração axonal<br />

e ajudam a manter o fluxo sangüíneo e linfático e<br />

prevenir aderência do tendão. A extremidade deve ser<br />

mantida aquecida, pois a exposição ao frio danifica o<br />

músculo e leva a uma fibrose. Uma cuidadosa bandagem<br />

protege e limita a congestão venosa e o edema.<br />

A estimulação galvânica reduz a atrofia muscular e<br />

pode ser um benefício psicológico ao paciente durante<br />

a fase de recuperação prolongada, mas não está claro<br />

se obtém ou acelera a recuperação do nervo. Durante<br />

a recuperação motora inicial pode ser utilizada a<br />

piscina terapêutica para mobilizações articulares. O<br />

Biofeedback pode promover um input sensorial para<br />

facilitar a reeducação motora.<br />

Van Meeteren et al. 25 realizaram um estudo<br />

com treinamento através de exercícios, com o objetivo<br />

de promover a recuperação funcional e a velocidade<br />

de condução do nervo após lesão por esmagamento<br />

do nervo ciático do rato. O exercício teve início no 1 o<br />

dia pós-operatório (1 a fase após o esmagamento) e seguiu<br />

por 24 dias, sendo os animais induzidos ao treinamento<br />

por 24 horas. Os animais foram divididos<br />

em 2 grupos, sendo um grupo treinado e um grupo<br />

controle. Nas gaiolas dos animais a serem treinados<br />

foram colocadas garrafas de água suspensas induzindo<br />

os animais a se exercitarem levantando ao máximo<br />

ambas as patas dianteiras, ficando assim eretos<br />

sobre as patas traseiras para beberem água por 4<br />

horas ao dia. A recuperação motora foi monitorada<br />

através de uma análise de um padrão de marcha e a<br />

recuperação sensorial através de um teste de retirada<br />

da pata, aplicando corrente elétrica na planta da<br />

pata. Os autores concluíram que 4 horas de exercício<br />

diário suave aumenta a recuperação funcional na<br />

primeira fase após o esmagamento do nervo, e que<br />

o treinamento com exercícios acelera as respostas de<br />

brotamento do neurônio motor e diminui o tempo<br />

de latência (intervalo entre a lesão axonal e a resposta<br />

de brotamento), e que foi possível adquirir retorno<br />

da função sensório-motora. Seus efeitos persistiram<br />

numa fase tardia, mas ressalta-se a necessidade de se<br />

ter um cuidado com a carga de exercício imposta.<br />

Diferentes estudos têm sido conduzidos para<br />

melhor obter ou acelerar a recuperação do nervo<br />

periférico lesado.<br />

A fim de fornecer um retorno funcional, pesquisas<br />

apontam para o uso da estimulação elétrica no processo<br />

de acelerar a reinervação. Brushart et al. 27 realizaram<br />

um estudo no nervo femoral do rato com aplicação<br />

de estimulação elétrica a 20 Hz por 1 hora, onde foram<br />

explorados dois mecanismos: a sincronização da reinervação<br />

do coto distal e a velocidade de regeneração. Tal<br />

estudo concluiu que a estimulação elétrica promove o<br />

início da regeneração do axônio motor sem aumentar<br />

a sua velocidade. Para um bom resultado no reparo do<br />

nervo, inicia-se com a estimulação elétrica que recruta<br />

todos os motoneurônios através do reparo e segue-se<br />

com outros tratamentos para prolongar o crescimento<br />

axonal. Períodos prolongados desde a denervação até a<br />

reinervação diminuem a habilidade dos músculos em<br />

recuperar massa e força, mas a estimulação elétrica durante<br />

o período de denervação pode permitir a recuperação<br />

da função motora de acordo com a reinervação.<br />

Complicações secundárias à lesão, como a atrofia por<br />

desuso, podem ser prevenidas com a estimulação elétrica.<br />

Dow et al. 28 realizaram um estudo para avaliar o número<br />

necessário de contrações através de estimulação<br />

elétrica para manter massa e força do músculo denervado<br />

do rato. Os autores concluíram que protocolos de<br />

estimulação com contrações diárias de 200 a 800 mantiveram<br />

força, massa e tamanho de fibra iguais aos do<br />

músculo controle e foram designados como protocolos<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233 230


evisão<br />

essenciais para o músculo extensor longo dos dedos do<br />

rato. Al-Majed et al. 24 estimularam eletricamente nervos<br />

femurais de ratos, com o objetivo de validar o uso da estimulação<br />

elétrica como método clínico na recuperação<br />

funcional após transecção do nervo. Os animais foram<br />

estimulados por 2 semanas com eletrodos implantados,<br />

1 hora por dia com pulsos de 100 µs; 3 v a 20 Hz. O<br />

estudo mostrou que a estimulação elétrica acelerou o<br />

processo de regeneração e os axônios cresceram 25 mm<br />

dentro de 3 semanas, fazendo oposição aos axônios que<br />

não foram estimulados e que requeriam de 8 a 10 semanas<br />

para alcançar o mesmo comprimento.<br />

O tratamento do músculo denervado com estimulação<br />

elétrica ainda é controverso, muitas questões<br />

ainda precisam ser respondidas. Eberstein 29 realizou<br />

uma revisão de 25 anos sobre estimulação elétrica<br />

com achados de estudos em animais e humanos e<br />

relatou que ainda existe uma falta de consenso, devido<br />

ao fato de o músculo denervado ser complexo,<br />

variedade de características de estimulação, regime de<br />

treinamento e espécies usadas nos estudos, tornando<br />

as comparações difíceis. A atrofia muscular é a mudança<br />

mais drástica encontrada após a lesão e varia<br />

consideravelmente entre indivíduos da mesma espécie<br />

e entre músculos do mesmo indivíduo. A maioria das<br />

pesquisas com estimulação elétrica ocorre no músculo<br />

sóleo do rato e, para estes, diversas freqüências e tempo<br />

de estimulação foram usadas nos estudos. Nem todos<br />

os padrões de estimulação são igualmente efetivos<br />

na restauração de propriedades normais do músculo<br />

denervado. A eficácia da estimulação depende dos parâmetros<br />

e padrões de estimulação, onde os padrões<br />

incluem: amplitude do estímulo, duração do estímulo,<br />

freqüência do pulso, duração dos trens de pulso e<br />

o intervalo entre os trens, enquanto que o padrão de<br />

estimulação é o estímulo a uma dada freqüência e a<br />

duração do trem de pulso sobre um período de tempo<br />

fixado. O tempo necessário para se iniciar a estimulação<br />

elétrica em músculos denervados é logo após o<br />

início da denervação, com estimulação direta iniciada<br />

cerca de 1 dia aproximadamente depois da denervação<br />

para previnir atrofia muscular. Apesar das divergências<br />

quanto ao uso da estimulação, ainda se pode<br />

considerar como um procedimento útil para preservar<br />

ou restaurar as propriedades normais do músculo<br />

denervado. Mas o autor salienta a necessidade de se<br />

realizar pesquisas em humanos para definir os padrões<br />

apropriados de estimulação, assim como o tipo<br />

da corrente de estimulação e o local dos eletrodos.<br />

O laser de baixa freqüência é um dos métodos<br />

estudados para tentar acelerar o processo de<br />

recuperação das lesões dos nervos periféricos. Essa<br />

nova modalidade de tratamento tem recebido uma<br />

atenção crescente nas últimas décadas, por ter vários<br />

efeitos na função do nervo, crescimento e regeneração<br />

do tecido neural in vitro e in vivo. Anders et<br />

al. 30 estudaram os efeitos da irradiação do laser de<br />

baixa freqüência no nervo facial do rato em dois<br />

modelos de estudo: esmagamento e transecção. Os<br />

autores concluíram que o laser de baixa freqüência<br />

de HeNe aplicado ao primeiro modelo causou um<br />

retorno prévio da imunorreatividade da acetilcolina,<br />

gerando uma síntese de acetilcolina mais cedo,<br />

e também aumentou a taxa de regeneração por 2<br />

dias. No segundo modelo de estudo, o laser de baixa<br />

freqüência de HeNe demonstrou causar um aumento<br />

significante de α-CGRP (ácido peptídico), que é<br />

encontrado nos nervos motores e sensitivos, servindo<br />

como indicador para a regeneração após 11 dias. Os<br />

efeitos do laser foram relatados em outros estudos e<br />

locais de lesão, como no nervo ciático do rato e na<br />

regeneração do nervo periférico após reparo cirúrgico,<br />

nos quais observa-se uma resposta positiva ao<br />

laser de baixa freqüência.<br />

Após os reparos cirúrgicos dos principais troncos<br />

de nervo, há uma reorganização funcional rápida<br />

do cérebro caracterizada por uma mudança no mapeamento<br />

cortical, devido a uma incorreta reinervação.<br />

Na pós-lesão nervosa periférica, a sensibilidade<br />

do dedo pode estar perdida por até 6 meses até que<br />

ocorra a reinervação. Durante esse tempo, a representação<br />

cortical da mão é reorganizada em resposta<br />

aos eventos centrais durante o processo de aferenciação<br />

e reaferenciação. A reeducação sensorial é usualmente<br />

introduzida na fase de reabilitação após reparo<br />

do nervo, quando alguma percepção do toque<br />

possa ser vista na parte distal da mão. O treinamento<br />

utiliza-se de um toque guiado pela visão em várias<br />

sessões diárias e por longo período. Também inclui<br />

localização do toque, reconhecimento dos tamanhos<br />

e texturas dos objetos 8,9,31 .<br />

O ambiente enriquecido é fundamental para<br />

facilitar a reaprendizagem sensorial. Os fatores positivos<br />

à reaprendizagem são: atenção, coragem e<br />

diversão — a música também pode ter um papel importante<br />

no processo 9 . Recentemente foi apresentado<br />

um modelo para sensibilidade artificial, baseado<br />

na substituição do sentido, usando escutas como um<br />

substituto para a sensibilidade. Microfones-miniatura<br />

foram montados nos dedos de luvas. O som gerado<br />

pela ação do toque de várias estruturas (som de<br />

fricção) pode ser apanhado, amplificado e transposto<br />

231<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233


para estímulo acústico estereofônico. Com isso, torna-se<br />

possível treinar localização de diferentes dedos,<br />

identificação de diferentes texturas e usar o feedback<br />

alternado em AVD’s. Esse princípio é usado para<br />

fornecer inputs ao córtex sensorial no momento em<br />

que fibras de nervos em regeneração ainda não alcançaram<br />

seus alvos periféricos 31 .<br />

Rosén e Lundborg 32 propuseram um tratamento<br />

com espelhos na reeducação sensorial após reparo<br />

do nervo, antes de a mão se tornar reinervada. Em<br />

tal método, a observação do estímulo tátil aplicado na<br />

mão lesada pode, hipoteticamente, ativar os neurônios<br />

do córtex somatossensorial. O objetivo é preservar a<br />

representação cortical da mão lesada e reduzir ou inibir<br />

a profunda reorganização do córtex somatossensorial,<br />

já que, de outra forma, não ocorreria.<br />

Avaliação da recuperação motora/sensorial<br />

O sistema comumente utilizado para avaliar a<br />

recuperação motora e sensitiva do nervo é o desenvolvido<br />

pelo Medical Research Council (MRC), que<br />

gradua a recuperação motora em M0 a M5 e a recuperação<br />

sensorial em S0 a S4, com base no exame<br />

físico 4 . Para Rosén e Lundborg 8 , os princípios atuais<br />

de avaliação da recuperação após reparo do nervo,<br />

baseado no MRC, apresenta limitações. Sendo assim,<br />

um novo modelo de avaliação da sensibilidade<br />

tátil foi apresentado e um protocolo foi desenvolvido<br />

para permitir marcar numericamente o desenvolvimento<br />

da recuperação funcional. O teste é executado<br />

usando somente a polpa digital de um dedo para<br />

identificar formas e texturas, e este é aplicado em<br />

lesões de nervos ulnar e mediano.<br />

As medidas objetivas da recuperação sensorial<br />

incluem teste de densidade através do uso da discriminação<br />

de 2 pontos estático e móvel, e testes limiares<br />

através do uso dos filamentos de Frey ou Semmes-<br />

Weinstein. Para a função motora, é usado o dinamômetro<br />

de Jamar, onde se avalia a força de aperto 4 .<br />

Estudos eletrodiagnósticos podem ser úteis em<br />

detectar os primeiros sinais da reinervação do músculo,<br />

vários meses antes da contração muscular evidente<br />

clinicamente 2 .<br />

CONCLUSÃO<br />

As lesões nervosas periféricas levam a perdas<br />

sensoriais, dor e desconforto, e as perdas motoras causam<br />

paralisia e, por conseqüência, atrofia muscular,<br />

sendo esta a causa mais drástica em lesões nervosas<br />

periféricas, além de alterações no mapa somatossensorial.<br />

Para tanto, uma intervenção precoce, tanto<br />

revisão<br />

cirúrgica, quando necessário, quanto fisioterapêutica<br />

irá minimizar as conseqüências impostas pela lesão.<br />

Resultados funcionais melhores na reabilitação<br />

do nervo periférico podem ser obtidos através da<br />

ampliação dos conhecimentos das melhores atividades<br />

com exercício, dos padrões e parâmetros de eletroestimulação<br />

e dos meios de reabilitação sensorial<br />

pelos profissionais, facilitando, dessa forma, a seleção<br />

da técnica mais eficaz para cada caso.<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:226–233


evisão<br />

Escalas clínicas e funcionais no<br />

gerenciamento de indivíduos com Lesões<br />

Traumáticas da Medula Espinhal<br />

Functional and clinical scales in management of individuals with Traumatic Injuries of<br />

Spinal Cord<br />

Marco Antonio Orsini Neves 1 , Mariana Pimentel de Mello 2 , Reny de Souza<br />

Antonioli 2 , Marcos R.G de Freitas 3<br />

RESUMO<br />

A utilização de perfis, medidas e indicadores de avaliação padronizados<br />

na avaliação e acompanhamento de indivíduos com<br />

deficiências e incapacidades decorrentes de lesões traumáticas da<br />

medula espinhal é consenso nas sociedades médicas e entidades especializadas<br />

de áreas afins. A dificuldade, entretanto, é selecionar<br />

uma classificação que permita uma avaliação específica do déficit<br />

neurológico e a mensuração do nível de independência funcional<br />

dos pacientes. Com tal objetivo o presente estudo utilizou a escala<br />

estabelecida pela Associação Americana de Lesões Medulares<br />

(ASIA) e associou-a a Medida de Independência Funcional (MIF),<br />

em um paciente com lesão traumática da medula espinhal por<br />

arma de fogo, dando enfoque a avaliação e o impacto da lesão<br />

medular nas atividades básicas e instrumentais de vida diária.<br />

Unitermos: Traumatismos da medula espinhal. Escalas.<br />

Avaliação.<br />

Citação: Neves MAO, Mello MP, Antonioli RS, Freitas MRG. Escalas<br />

clínicas e funcionais no gerenciamento de indivíduos com Lesões Traumáticas<br />

da Medula Espinhal.<br />

SUMMARY<br />

The use of profiles, measures and standardized pointers of evaluation<br />

in the evaluation and accompaniment of individuals<br />

with deficiencies and incapacities of traumatic injuries of the<br />

spinal marrow is consensus in the medical societies and specialized<br />

entities. The difficulty, however, is selecting a classification<br />

that allows an objective evaluation of neurological deficit<br />

and the establishment of the level of functional independence<br />

of patients. With such objective, it was used a scale established<br />

by the American Association of Marrow Injuries and Functional<br />

Independence Measure, in a patient victim of spinal cord<br />

injury by gunshot, focusing the evaluation and the impact of<br />

the marrow injury in basic and instrumental activities of daily<br />

life.<br />

Keywords: Spinal cord injuries. Scales. Evaluation.<br />

Citation: Neves MAO, Mello MP, Antonioli RS, Freitas MRG. Functional<br />

and clinical scales in management of individuals with Traumatic<br />

Injuries of Spinal Cord.<br />

Trabalho realizado na Universidade Federal Fluminense<br />

1. Fisioterapeuta, Professor Adjunto de Neurologia Clínica da Fundação<br />

Educacional Serra dos Órgãos – FESO, Teresópolis e Assistente<br />

Voluntário do Serviço de Neurologia (Setor de Doenças Neuromusculares),<br />

Universidade Federal Fluminense<br />

2. Graduandos em Fisioterapia e Estagiários do Serviço de Neurologia<br />

da Fundação Educacional Serra dos Órgãos, FESO, Teresópolis<br />

3. Professor Titular de Neurologia Clínica e Chefe do Serviço de<br />

Neurologia da UFF<br />

Endereço para correspondência:<br />

Marco Antonio Orsini Neves<br />

R. Prof. Miguel Couto, 322/1001<br />

CEP 24230240, Niterói-RJ<br />

tel 021 81257634<br />

E-mail: orsini@predialnet.com.br<br />

Recebido em: 05/06/2006<br />

Revisão: 06/06/2006 a 20/09/2006<br />

Aceito em: 21/09/2009<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239 234


evisão<br />

INTRODUÇÃO<br />

No Brasil, a incidência de lesões traumáticas<br />

da medula espinal vem aumentando consideravelmente<br />

nos últimos anos devido aos acidentes automobilísticos<br />

e episódios de violência, principalmente<br />

nos grandes centros urbanos 1,2 . A medula espinhal<br />

conduz impulsos para o encéfalo e que dele se originam.<br />

As várias vias aferentes e eferentes proporcionam<br />

um elo vital no controle do sistema nervoso<br />

central, portanto a lesão dessa estrutura irá resultar<br />

na perda parcial ou total da capacidade motora,<br />

sensibilidade, controle vaso-motor, esfincteriano,<br />

e função sexual 3 . O traumatismo raqui-medular<br />

(TRM) de etiologia penetrante, seja ele provocado<br />

por projétil de arma de fogo (PAF) ou objetos perfurantes,<br />

acarreta lesões geralmente associadas a um<br />

grave prognóstico neurológico. No momento em que<br />

o projétil atinge a coluna vertebral, provoca lesões<br />

primárias devido a traumas (mecânico e térmico) sobre<br />

as estruturas neurais e vasculares. Posteriormente,<br />

podem ser desencadeados eventos geradores de<br />

lesões secundárias, tanto por alterações isquêmicas<br />

como hiperêmicas sobre o tecido lesado 4-6 , levando<br />

a lesões muitas vezes irreversíveis sobre os elementos<br />

nervosos 4 .<br />

Os avanços ocorridos nas últimas décadas na<br />

medicina e o conseqüente aumento da sobrevida de<br />

indivíduos vítimas de TRM foram acompanhados<br />

de uma evolução no tratamento, que passou a objetivar<br />

a minimização das incapacidades e complicações<br />

e o retorno gradual dos indivíduos à sociedade 7,8 . A<br />

importância de normas uniformes para avaliação e<br />

classificação das lesões da medula espinhal (LME)<br />

com o propósito de uma melhor interação entre os<br />

profissionais e pesquisadores envolvidos com o paciente,<br />

têm sido reconhecida há pelo menos duas<br />

décadas 9,10 .<br />

A American Spinal Injury Association (ASIA)<br />

em parceria com a International Medical Society of<br />

Paraplegia (IMSOP) publicaram e validaram os “Padrões<br />

Internacionais para Classificação Neurológica<br />

e Funcional das Lesões Medulares”. Atualmente tal<br />

modelo é considerado de excelência na avaliação<br />

destes pacientes, possibilitando a comparação de<br />

achados clínicos entre serviços e pesquisadores de diferentes<br />

países e localidades. A ASIA/IMSOP aperfeiçoou<br />

também a escala de Frankel, desenvolvendo<br />

posteriormente um indicador de comprometimento<br />

referente ao tipo e gravidade das lesões 11 .<br />

A Medida de Independência Funcional é um<br />

instrumento que têm como objetivo a mensuração<br />

do nível de independência funcional dos indivíduos.<br />

A MIF serve para avaliar o impacto do TRM sobre<br />

as atividades de vida diária e vem ganhando espaço<br />

na preferência das equipes de reabilitação, pois demonstra<br />

através de uma pontuação específica a magnitude<br />

e o potencial incapacitante das lesões 12,13 .<br />

Escala de Classificação Neurológica da Lesão<br />

Medular (ASIA)<br />

Tal escala permite aos profissionais da área de<br />

saúde classificar a lesão medular dentro de uma extensa<br />

variedade de tipos, auxiliando-os a determinar<br />

o prognóstico e o estado atual dos pacientes. Apresenta<br />

dois componentes (sensitivo e motor), além de<br />

elementos obrigatórios e medidas opcionais. Os elementos<br />

obrigatórios são usados para determinar o<br />

nível neurológico, gerando uma contagem específica<br />

de pontos que servem para caracterizar o funcionamento<br />

(sensitivo-motor) e o tipo de lesão (completa<br />

ou incompleta). As medidas opcionais, ainda que<br />

não sejam utilizadas na contagem, podem adicionar<br />

dados à descrição clínica do paciente 11,12 .<br />

O termo lesão medular completa é utilizado<br />

quando existe ausência da função motora e sensitiva<br />

a partir do segmento lesado 11,12 . As lesões medulares<br />

incompletas ocorrem quando houver alguma função<br />

sensitiva e/ou motora abaixo do nível neurológico<br />

11,12 . A zona de preservação parcial (ZPP) referese<br />

aos dermátomos e miótomos localizados abaixo<br />

do nível neurológico que se mantêm parcialmente<br />

inervados 11,12 . O nível neurológico estabelecido pela<br />

ASIA refere-se ao segmento mais inferior da medula<br />

com sensibilidade e função motora normais em ambos<br />

os lados do corpo. Torna-se importante ressaltar<br />

que os segmentos com função normal podem ser freqüentemente<br />

diferentes em termos de sensibilidade<br />

e motricidade quando comparados bilateralmente.<br />

Quatro ou mais segmentos distintos podem ser identificados<br />

na determinação do nível neurológico. Nesses<br />

casos, geralmente cada um dos segmentos é separadamente<br />

marcado e não é utilizado apenas um<br />

“nível” para determinação do nível neurológico 11,12 .<br />

A porção requerida do exame sensitivo (sensibilidade<br />

ao toque leve e a agulhada) é preenchida<br />

através da avaliação de 28 dermátomos (lado direito<br />

e esquerdo do corpo). O teste para a sensibilidade<br />

dolorosa é realizado com uma agulha descartável,<br />

enquanto o toque leve é testado com algodão. O esfíncter<br />

anal externo também é testado para auxiliar<br />

na determinação do tipo de lesão (completa ou incompleta).<br />

O exame motor é completado através do<br />

235<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239


teste muscular manual de 10 miótomos específicos<br />

(lado direito e esquerdo do corpo) 11,12 .<br />

A escala de restrições da ASIA utiliza os<br />

achados do exame neurológico para classificar os tipos<br />

de lesão dentro de cinco categorias: A = Lesão<br />

Completa. Não existe função motora e sensitiva nos<br />

segmentos medulares abaixo da lesão, incluindo os<br />

segmentos sacrais; B = Lesão Incompleta. Sensibilidade<br />

(total ou parcialmente) preservada com extensão<br />

através dos segmentos sacrais S4-S5, sem função<br />

motora abaixo do nível neurológico; C = Lesão Incompleta.<br />

Função motora preservada abaixo do nível<br />

da lesão com a maior parte dos músculos-chave<br />

abaixo do nível neurológico apresentando um grau<br />

de força muscular menor que 3; D = Lesão Incompleta.<br />

Função motora preservada abaixo do nível da<br />

lesão com a maior parte dos músculos-chave abaixo<br />

do nível neurológico apresentando um grau de força<br />

muscular maior ou igual a 3; E = Função Normal.<br />

Função motora e sensitiva normais 6,9,11,14-16 . A escala<br />

ainda enumera algumas síndromes clínicas decorrentes<br />

de traumas medulares: Síndrome do Cordão<br />

Central, Síndrome da Cauda Eqüina; Síndrome da<br />

Artéria Espinhal Anterior; Síndrome de Brown-Sequard<br />

e Síndrome do Cone Medular 11,17-19 .<br />

Medida de Independência Funcional (MIF)<br />

A Medida de Independência Funcional é considerada<br />

a escala mais ampla em uso na reabilitação.<br />

O instrumento avalia 18 categorias pontuadas de um<br />

a sete e classificadas quanto ao nível de dependência<br />

para a realização de tarefas específicas. As categorias<br />

são agrupadas em seis dimensões: autocuidados,<br />

controle de esfíncteres, transferências, locomoção,<br />

comunicação e cognição social 20 . Cada dimensão é<br />

analisada pela soma de suas categorias referentes;<br />

quanto menor a pontuação, maior é o grau de dependência.<br />

Somando-se os pontos das dimensões<br />

da MIF obtém-se um escore total mínimo de 18 e o<br />

máximo de 126 pontos, que caracterizam os níveis<br />

de dependência pelos subescores 7,20 . Segundo alguns<br />

autores, a escala também oferece subsídios para uma<br />

ótima correlação entre a quantidade dos dados obtidos<br />

e a diversidade de profissionais envolvidos na<br />

mensuração dos mesmos, sendo considerado um instrumento<br />

confiável e sensível às mudanças relacionadas<br />

às habilidades de auto-cuidado, locomoção,<br />

intervenções cirúrgicas e pesquisas 17,21-24 .<br />

A MIF faz parte do Sistema Uniforme de Dados<br />

para Reabilitação Médica (SUDRM) e é amplamente<br />

utilizada e aceita como medida de avaliação<br />

revisão<br />

funcional internacionalmente 25 . No Brasil, teve sua<br />

tradução e reprodutibilidade da versão em 2001 por<br />

Riberto et al 26 . Sua natureza é multidimensional, podendo<br />

ser utilizada para trazer resultados quanto ao<br />

tratamento e como forma de planejamento terapêutico.<br />

O objetivo do presente estudo foi o de associar<br />

dois instrumentos de avaliação, a Medida de Independência<br />

Funcional e a Escala de Classificação Padrão<br />

de Lesões Medulares, e avaliar a aplicabilidade<br />

destes no gerenciamento e acompanhamento de um<br />

paciente vítima de traumatismo raqui-medular por<br />

arma de fogo.<br />

MÉTODOS<br />

O paciente foi submetido primeiramente a<br />

uma avaliação pela Escala de Classificação Padrão<br />

de Lesões Medulares, com duração aproximada de<br />

45 minutos. Testou-se o toque leve com algodão e<br />

a sensibilidade dolorosa com agulha descartável. Os<br />

resultados e a pontuação foram discutidos entre os<br />

integrantes do grupo. Após cerca de 30 minutos de<br />

pausa, a Medida de Independência Funcional foi<br />

aplicada e os resultados, preenchidos. Foram simuladas<br />

situações referentes aos itens específicos da escala<br />

para uma melhor certificação da pontuação final.<br />

Não houve necessidade de nenhum recurso especial<br />

além da aplicação dos instrumentos em questão. Todos<br />

os colaboradores envolvidos são profissionais/<br />

estagiários da área da saúde e foram treinados previamente<br />

para a aplicação das escalas. As demais informações<br />

necessárias para a pesquisa foram obtidas<br />

por meio de consulta ao prontuário. Um termo de<br />

consentimento livre e esclarecido foi assinado pelo<br />

paciente.<br />

CASO<br />

R.D.L, sexo masculino, 30 anos, segurança de<br />

casa noturna, relata que em julho de 2002, após envolver-se<br />

em uma discussão, foi atingido por 3 projéteis<br />

de arma de fogo, sendo que um atingiu a região<br />

torácica. No momento do ocorrido, referiu sensação<br />

de queimação seguida de paralisia dos membros inferiores.<br />

Foi encaminhado para a emergência de um<br />

Hospital Estadual localizado na Zona Norte do Município<br />

do Rio de Janeiro, onde se constatou uma<br />

lesão traumática da medula espinhal a nível torácico.<br />

Na admissão, o quadro apresentado pelo paciente<br />

era de paralisia dos membros inferiores com função<br />

parcial de tronco.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239 236


evisão<br />

No primeiro semestre de 2006, deu entrada<br />

no Serviço de Reabilitação Física Aplicada a Pacientes<br />

Neurológicos anexado ao Curso de Fisioterapia<br />

da Fundação Educacional Serra dos Órgãos.<br />

Após avaliação neurológica baseada nos critérios<br />

estabelecidos pela Classificação Neurológica Padrão<br />

das Lesões Medulares, concluiu-se que o nível<br />

de lesão localizava-se no sexto segmento torácico<br />

da medula espinhal comprometendo parcialmente<br />

o tronco e completamente os membros inferiores.<br />

Abaixo do segmento afetado, o quadro clínico era<br />

marcado pela presença de anestesia (tátil e dolorosa)<br />

associada a uma paralisia dos miótomos correspondentes<br />

à escala.<br />

RESULTADOS<br />

O escore total apresentado relativo à sensibilidade<br />

superficial (tátil e dolorosa) foi 104/224, enquanto<br />

que a pontuação motora foi 50/100. O nível<br />

localizou-se em T6 (sensitivo) e T1 (motor). A lesão<br />

apresentada foi completa - ASIA: A (quadro 1).<br />

Na Medida de Independência Funcional, a<br />

pontuação apresentada foi de 85/126, justificando a<br />

necessidade de assistência ao paciente na realização<br />

de algumas atividades básicas e instrumentais de vida<br />

diária. Itens relativos a cuidados pessoais, controle<br />

esfincteriano, transferências, locomoção e cognição<br />

social (interação social) apontaram dependência modificada<br />

(quadro 2).<br />

DISCUSSÃO<br />

As deficiências e incapacidades advindas do<br />

Traumatismo Raquimedular (TRM) levam a tratamentos<br />

de alto custo e provocam alterações no estilo<br />

de vida dos pacientes devido às limitações funcionais<br />

24 . O aumento da expectativa de vida desses<br />

indivíduos fez com que o processo de reabilitação<br />

fosse para além da prevenção dos danos causados<br />

pela lesão medular, e objetivasse também a melhora<br />

da qualidade de vida e a independência funcional.<br />

R.D.L. passou a necessitar de auxílio para a realização<br />

de determinadas atividades básicas e instrumentais<br />

da vida diária. Atualmente, depende financeiramente<br />

dos pais, parentes e amigos próximos. Muitas<br />

atividades sociais que antes realizava de forma independente,<br />

após o trauma tornaram-se dificultadas ou<br />

mesmo impossíveis.<br />

A lesão da medula espinhal é uma das mais<br />

graves complicações que causam incapacidade no<br />

ser humano, pois provoca falência de uma série<br />

de funções vitais como: locomoção, sensibilidade,<br />

sexualidade, sistema urinário e intestinal e do sistema<br />

nervoso autônomo. Considerando ainda que<br />

as principais causas de lesão medular são as traumáticas<br />

e que a maioria da população atingida é<br />

constituída por jovens com idade inferior a 40 anos,<br />

podemos observar uma grave incapacidade que os<br />

acomete de forma abrupta, com repercussões físicas<br />

e psicológicas 27 .<br />

Quadro 1. Avaliação padronizada nos traumatismos raquimedulares 9 .<br />

237<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239


Quadro 2. Medida de Independência Funcional 20 .<br />

Um dos principais fatores envolvidos no prognóstico<br />

dos pacientes com lesão medular é a apresentação<br />

clínica na admissão, com as lesões completas<br />

apresentando baixo potencial de recuperação, enquanto<br />

que as lesões incompletas e, principalmente,<br />

lesões da cauda eqüina, um potencial de recuperação<br />

mais elevado 4,5,28 . Os traumas na região torácica são<br />

aqueles com o menor índice de recuperação, uma<br />

vez que neste nível o canal medular é mais estreito,<br />

possui menor suprimento sanguíneo e as lesões geralmente<br />

se apresentam como uma secção completa 4 .<br />

Embora a versão brasileira validada da Medida<br />

de Independência Funcional (MIF) tenha sido<br />

desenvolvida em 2000, estudos ainda são necessários<br />

como forma de corroborar seu uso na avaliação de<br />

brasileiros incapacitados, uma vez que peculiaridades<br />

socioculturais nacionais podem determinar um<br />

comportamento diverso dos dados fornecidos pelo<br />

instrumento 26 . A MIF forneceu resultados expressivos<br />

que corroboram com a realidade e magnitude<br />

da lesão. A pontuação motora de 85 pontos obtida<br />

pelo paciente nos forneceu uma idéia clara das deficiências<br />

e incapacidades apresentadas e do potencial<br />

incapacitante da lesão.<br />

A escassez de estudos entre medidas de observação<br />

do profissional e a percepção que não seja a<br />

do próprio paciente e a proximidade que deve existir<br />

revisão<br />

entre o profissional e o cuidador, geraram a necessidade<br />

de verificar se ambos compartilham da mesma<br />

realidade quanto às condições funcionais do paciente<br />

ou se existem padrões estereotipados de cuidados<br />

que promovam a dependência.<br />

Wijlhuizen & Ooijendijk 29 apontaram, por<br />

exemplo, que os pacientes relataram maior dependência<br />

em atividades funcionais do que a apresentada<br />

nos prontuários médicos, e que a tendência<br />

é que as análises de observação direta apresentem<br />

níveis mais baixos de incapacidade do que as análises<br />

subjetivas fornecidas pelos pacientes. Seel et al 30<br />

estudaram a concordância entre o comportamento<br />

neurológico após traumatismo cerebral observado<br />

pelo familiares e pelo próprio paciente, mostrando<br />

que ambos concordaram nas seis categorias do instrumento<br />

por eles utilizados, no caso a MIF. Houve<br />

diferença apenas na categoria comunicação, em que<br />

o paciente revelou ter maior dificuldade do que a<br />

percepção do familiar.<br />

Os resultados do presente estudo mostraram<br />

concordância excelente entre as medidas do profissional<br />

e do paciente em questão, com relação aos<br />

escores da MIF. Também sugerem que, quando<br />

utilizados instrumentos de validade e confiabilidade<br />

como a MIF e a Classificação Padrão de Lesões<br />

Medulares, a reprodutibilidade das medidas encontradas<br />

é grande, mesmo para diferentes formas de<br />

observação, tornando a utilização das informações<br />

mais seguras, seja por fonte direta ou mesmo indireta.<br />

Os critérios descritos pelos instrumentos e seu<br />

emprego possibilitam o uso dos dados em futuras<br />

pesquisas, tanto para comparar a evolução dos pacientes<br />

quanto para confrontar os resultados com os<br />

de outros autores.<br />

O paciente relatou que, a partir dos resultados<br />

fornecidos pelas escalas, passou a interpretar, conhecer<br />

e gerenciar com mais especificidade algumas<br />

complicações secundárias e incapacidades provocadas<br />

pela lesão. Além disso, considera-se mais participativo<br />

nas discussões da equipe multidisciplinar<br />

voltadas às suas expectativas funcionais e atividades<br />

de reabilitação.<br />

CONCLUSÃO<br />

Conhecer a apresentação dos pacientes com<br />

lesão medular em termos de independência funcional<br />

e padronizar a nomenclatura utilizada para<br />

descrever as lesões, permite aos serviços de reabilitação<br />

estruturar-se para atender às demandas dessa<br />

população de forma mais eficiente. Neste estudo, a<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239 238


evisão<br />

associação da Medida de Independência Funcional<br />

e da Classificação Padrão de Lesões Medulares se<br />

mostrou eficaz para esses objetivos, pois facilita e<br />

norteia a equipe multidisciplinar no estabelecimento<br />

de metas realistas de intervenção. O atendimento de<br />

reabilitação ao paciente com lesão medular deve ser<br />

o mais precoce possível, a fim de propiciar a aquisição<br />

de melhor desempenho em menor tempo e de<br />

forma mais apropriada.<br />

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239<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:234–239


Metástases na coluna vertebral<br />

revisão<br />

Spinal metastases<br />

Andrei Fernandes Joaquim 1 , Francisco Alexandre de Paula Maturana 1 ,<br />

Diogo Valli Anderle 1 , Hélder José Lessa Zambelli 2 , Marcos Vinícius Calfat<br />

Maldaun 3<br />

RESUMO<br />

As metástases para a coluna vertebral são comuns e constituem-se<br />

em uma emergência médica quando causam compressão<br />

da medula. A incidência das mesmas está aumentando,<br />

tendo em vista o aumento da sobrevida dos pacientes<br />

com câncer. Após revisão da literatura, destacamos pontos<br />

importantes quanto ao quadro clínico, exames subsidiários,<br />

indicações cirúrgicas e o papel das terapias adjuvantes no manejo<br />

destas lesões.<br />

Unitermos: Metástase neoplásica. Coluna vertebral.<br />

Citação: Joaquim AF, Maturana FAP, Anderle DV, Zambelli HJL,<br />

Maldaun MVC. Metástases na coluna vertebral.<br />

SUMMARY<br />

Metastases to the spine are a common manifestation of cancer.<br />

Metastatical spine involvement consists in a medical emergency<br />

when causing cord compression. The incidence of spinal metastases<br />

continues to increase, probably as result of increasing<br />

survival of patients with cancer. Based on literature review, we<br />

emphasized the most important aspects on clinical presentation,<br />

investigation, indications for surgical therapy and the role<br />

of adjuvant therapies on spinal column metastases.<br />

Keywords: Metastasis. Spine column.<br />

Citation: Joaquim AF, Maturana FAP, Anderle DV, Zambelli HJL, Maldaun<br />

MVC. Spinal Metastases.<br />

Trabalho realizado no Hospital das Clínicas da Faculdade de<br />

Ciências Médicas da Universidade de Campinas – UNICAMP.<br />

1. Médico Residente de Neurocirurgia, Hospital das Clínicas da Faculdade<br />

de Ciências Médicas da Universidade de Campinas – UNICAMP.<br />

2. Médico Neurocirurgião, Coordenador do Serviço de Neurocirurgia<br />

do Hospital Estadual de Sumaré, UNICAMP.<br />

3. Médico Neurocirurgião, Hospital Estadual de Sumaré, UNICAMP<br />

e Posdoctoral Fellow em Neurocirurgia Oncológica – MD, Anderson<br />

Câncer Center, Universidade do Texas, Houston.<br />

4. Professor Titular e Chefe do Serviço de Neurologia, UFF.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Andrei Fernandes Joaquim<br />

Rua Pedro Vieira da Silva 144/11 Bloco F<br />

CEP 13080-570, Campinas, SP<br />

E-mail: andjoaquim@yahoo.com<br />

Recebido em: 29/01/2007<br />

Revisão: 30/01/2007 a 27/03/2007<br />

Aceito em: 28/03/2007<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245 240


evisão<br />

INTRODUÇÃO<br />

A coluna vertebral é o local mais comum de<br />

metástases ósseas 1 . Essas metástases constituem-se<br />

em emergência médica quando causam compressão<br />

da medula ou da cauda eqüina, requerendo pronto<br />

reconhecimento e tratamento específico.<br />

Falhas na suspeita do diagnóstico, em referenciar<br />

rapidamente o paciente ou na demora na instituição<br />

do tratamento são as principais causas de deterioração<br />

neurológica nos pacientes com metástases<br />

na coluna 2 . O presente artigo, baseado em revisão da<br />

literatura, tem como objetivo proporcionar maiores<br />

subsídios para o reconhecimento rápido dos sinais e<br />

sintomas de metástases na coluna, discorrendo sobre<br />

as principais formas de diagnóstico e de tratamento,<br />

suas indicações e contra-indicações.<br />

Epidemiologia<br />

Mais de 95% das metástases na coluna são<br />

extradurais, sendo que cerca de 5% das lesões são<br />

intradurais e menos de 0,5% intramedulares 3,4 .<br />

A compressão medular (CM) ocorre em 10 a<br />

<strong>15</strong>% dos pacientes com diagnóstico de metástases na<br />

coluna. Pode ser causada tanto pela compressão tumoral<br />

direta quanto pelo colapso de um corpo vertebral<br />

por invasão tumoral 5 . É uma emergência médica<br />

que requer pronto reconhecimento e tratamento,<br />

uma vez que pode resultar em déficit neurológico<br />

permanente 2 .<br />

Estima-se que mais de 10% dos pacientes com<br />

câncer desenvolverão algum grau de CM durante o<br />

curso da doença 6,7 . Entre as causas de CM, as metástases<br />

são mais freqüentes do que os tumores primários.<br />

As neoplasias primárias adquirem maior expressão<br />

epidemiológica em adultos jovens e crianças,<br />

sendo que o mieloma múltiplo é a causa de CM por<br />

neoplasia primária mais comum em adultos 8 .<br />

As neoplasias de coluna mais comuns são as<br />

metástases do adenocarcinoma de mama, de neoplasias<br />

pulmonares, de próstata, dos rins e dos tumores<br />

hematopoiéticos, destacando-se os linfomas e o<br />

mieloma múltiplo 9-13 . A maior freqüência dessas neoplasias<br />

pode ser explicada por possuírem maior prevalência<br />

na população geral e também pela maior<br />

predileção intrínseca das mesmas para a disseminação<br />

óssea. O diagnóstico geralmente ocorre no período<br />

em que a doença primária já é conhecida, mas<br />

cerca de 10% dos pacientes podem ter sinais de CM<br />

como primeira manifestação da neoplasia 14 .<br />

Estudos em autópsias demonstram que a distribuição<br />

das metástases extradurais se relaciona com<br />

o tamanho das vértebras, sendo mais prevalentes<br />

nas lombares, seguidas pelas torácicas e cervicais <strong>15</strong> .<br />

Porém, a compressão sintomática ocorre mais freqüentemente<br />

na coluna torácica (50–70%), seguida<br />

pela coluna cervical (10–30%) e, por fim, pela coluna<br />

lombo-sacra (20–30%) 5,14 , provavelmente pelo<br />

relativo pequeno diâmetro do canal torácico e maior<br />

número de vértebras. Neoplasias pulmonares e de<br />

mama geralmente cursam com lesões cervicais ou<br />

torácicas, enquanto que de próstata, cólon e tumores<br />

pélvicos têm maior predileção pela coluna lombosacra<br />

16 . Em 17–30% dos casos há múltiplas metástases<br />

vertebrais demonstradas pela RNM, em vários<br />

níveis, sintomáticas ou não 17 .<br />

QUADRO CLÍNICO<br />

As informações mais relevantes na avaliação<br />

do paciente com possibilidade de CM por neoplasia<br />

(CMN) estão na história e no exame físico do paciente,<br />

atráves da identificação de alguns sinais de<br />

alerta, ou seja, elementos da anamnese que aumentem<br />

as chances de patologia grave subjacente. Na<br />

história clínica, destacam-se os extremos de idade,<br />

perda de peso inexplicada, imunossupressão, alterações<br />

neurológicas e, principalmente, a história prévia<br />

de câncer 8 . Pacientes com câncer e queixa de dor<br />

nas costas ou no pescoço devem ser avaliados rigorosamente<br />

quanto à suspeita de metástase na coluna 5 ,<br />

o que pode prevenir, minimizar ou reverter graves<br />

complicações neurológicas 14,16 .<br />

Cerca de 90% dos pacientes mantêm a capacidade<br />

de deambulação quando diagnosticados<br />

e tratados precocemente, enquanto que menos de<br />

10% dos pacientes recuperam a função neurológica<br />

após a instalação do déficit 18 . Sabe-se, ainda, que<br />

um dos fatores prognósticos mais importantes nos<br />

pacientes com metástases na coluna é a capacidade<br />

de deambulação na época do diagnóstico 19 . Caso<br />

haja suspeita clínica de CM, os pacientes sem déficits<br />

neurológicos devem ser avaliados e tratados em nível<br />

ambulatorial, enquanto que aqueles com alterações<br />

neurológicas devem ser internados e investigados<br />

imediatamente, com rápida introdução de corticoesteróides<br />

e de tratamento específico 5 .<br />

A CMN pode estar presente em qualquer momento<br />

durante a história natural do câncer. Os sinais<br />

e sintomas geralmente ocorrem progressivamente,<br />

conforme o local das metástases vertebrais e o grau<br />

de invasão tumoral 14 . Mais ainda, há grande variação<br />

da sintomatologia, desde pequenas alterações sensitivas,<br />

motoras ou autonômicas até dor incapacitante<br />

241<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245


ou plegia 5 . Caracterizamos abaixo alguns pontos da<br />

apresentação clínica dos pacientes com CMN:<br />

Dor<br />

É o primeiro sintoma em 96% dos pacientes<br />

com CMN 16 . É comum a queixa de dor ao longo de<br />

semanas ou meses antes do início de outros sintomas<br />

neurológicos 5,14 . Geralmente, a dor é atribuída<br />

erroneamente a outras causas, como artrite, problemas<br />

musculares, hérnia de disco, entre outras 16,20 .<br />

Devemos lembrar do axioma: “dor nas costas ou no<br />

pescoço no paciente com neoplasia é secundária à<br />

metástase na coluna até que se prove o contrário”.<br />

Três tipos de dores podem estar presentes: localizada,<br />

referida ou radicular.<br />

1. Dor Localizada: geralmente localizada na<br />

linha média, acompanhada ou não de dor referida<br />

ou radicular 14 . A dor localizada costuma ser constante,<br />

aumenta quando o paciente está deitado em<br />

repouso, podendo acordá-lo à noite 5 .<br />

2. Dor Radicular: com o crescimento tumoral,<br />

a dor adquire uma distribuição radicular conforme<br />

o segmento do dermátomo correspondente à compressão<br />

nervosa 14 . A dor radicular pode piorar com<br />

manobra de Valsalva, com a tosse e durante a pesquisa<br />

dos sinais de Lasègue, Kernig e Brudzinski 5,16 .<br />

3. Dor Referida: pode ser vista em compressão<br />

medular epidural lombar, com metástases em<br />

L1, causando dor na articulação sacro-íliaca, o que<br />

se constitui em um falso sinal de localização 16 .<br />

Alterações Motoras<br />

Fraqueza é o segundo sintoma mais comum,<br />

depois da dor, precedendo as alterações objetivas<br />

da sensibilidade. A perda de força em geral ocorre<br />

nas pernas, proximalmente, progredindo para dificuldade<br />

em deambular, queixa de pernas pesadas,<br />

dificuldade em subir escadas, perda de coordenação<br />

e, posteriormente, plegia, em intervalo de tempo variado<br />

16 . Pacientes com queixa de dificuldade para<br />

deambular devem ser mantidos em repouso na cama<br />

até serem devidamente investigados 5 .<br />

Alterações Sensitivas<br />

Perdas sensitivas incluem hipoestesias e parestesias nos<br />

dedos, que podem ascender até o nível da compressão, também<br />

em intervalo de tempo variado 5 . As queixas sensitivas<br />

são menos freqüentes do que a de fraqueza, mas também são<br />

comuns. Na compressão mediana da cauda eqüina há perda<br />

da sensibilidade sacra, bilateral, envolvendo a área perineal e<br />

a região posterior das coxas (anestesia em sela) 16 .<br />

revisão<br />

Alterações Autonômicas<br />

Geralmente tardias e associadas a outras alterações.<br />

Incluem o comprometimento da função<br />

sexual e disfunção esfincteriana, com constipação e<br />

retenção urinária. Associadas a um pior prognóstico<br />

14 . Síndrome de Horner desenvolve-se em metástases<br />

paraespinhais cervicais ou em compressão torácica<br />

alta significante. Anidrose pode ocorrer abaixo<br />

do nível da compressão e geralmente está associada<br />

com paraparesia/plegia 16 .<br />

DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS<br />

Os principais diagnósticos diferenciais a serem<br />

considerados são:<br />

Doenças degenerativas (hérnia discal, estenose<br />

espinhal, espondilolistese);<br />

Meningite carcinomatosa;<br />

Doenças infecciosas (osteomielite, discite, abscesso<br />

epidural);<br />

Mielopatia tardia induzida por radiação;<br />

Hematoma epidural secundário à coagulopatia;<br />

Mielite transversa;<br />

Síndrome paraneoplásica;<br />

Malformações vasculares;<br />

Fraturas por osteoporose.<br />

EXAMES COMPLEMENTARES<br />

A investigação geral do paciente com suspeita<br />

de CMN deve incluir: dosagem de uréia e creatinina,<br />

função renal, dosagem de cálcio, eletrólitos e hemograma.<br />

Em casos específicos, são necessárias eletroforese<br />

sérica e urinária para dosagem de proteína de<br />

Bence Jones, frente à suspeita de mieloma, e dosagem<br />

do PSA, frente à hipótese de câncer de próstata.<br />

Radiografia de tórax, ultrassonografia de abdome,<br />

tomografias de tórax, abdome e pelve podem ser<br />

exames úteis na investigação da neoplasia primária,<br />

norteados pela suspeita clínica de cada caso.<br />

Para a investigação da existência de metástases<br />

podemos recorrer aos seguintes métodos:<br />

A) Radiografias simples<br />

De baixo custo e não invasivas, com alta disponibilidade<br />

na maioria dos serviços, as radiografias em incidência<br />

antero-posterior e perfil podem demonstrar lesões<br />

vertebrais líticas ou blásticas nas vértebras, como erosões<br />

pediculares, fraturas, além de aumento de tecidos moles<br />

adjascentes. Como investigação inicial para dor nas costas,<br />

podem identificar até 85% de lesões vertebrais, porém<br />

têm baixa sensibilidade (pelo menos 50% do osso devem<br />

ser destruídos para serem detectadas na radiografia) 14 .<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245 242


evisão<br />

B) Mielografia<br />

Outrora considerada um exame padrão-ouro,<br />

atualmente foi substituída pela ressonância magnética<br />

(RNM). Ainda assim, seu papel persiste em pacientes<br />

com severa escoliose, implantes ferromagnéticos, pacientes<br />

grandes, com clips de aneurismas ou marcapassos<br />

cardíacos 14 . Pacientes claustrofóbicos também<br />

podem se beneficiar deste exame, embora a sedação<br />

possa ser feita durante a realização da RNM.<br />

C) Tomografia Computadorizada<br />

Sua principal utilidade está na avaliação da<br />

arquitetura óssea, graduando a destruição neoplásica.<br />

Sendo assim, constitui-se em importante complemento<br />

da RNM, principalmente frente a possível<br />

planejamento cirúrgico.<br />

D) Cintilografia óssea<br />

Mais sensível do que as radiografias na detecção<br />

precoce de anormalidades vertebrais 14 , sua utilidade<br />

está na detecção de metástases ósseas difusas,<br />

não tendo grandes implicações no planejamento de<br />

eventual conduta cirúrgica ou de radioterapia. Útil<br />

no estadiamento das neoplasias.<br />

E) Ressonância Magnética (RNM)<br />

Consiste no melhor exame para diagnóstico<br />

de CMN 21 . Não invasiva, fornece informações das<br />

vértebras e estruturas adjacentes, permitindo visualizar<br />

múltiplas secções ao longo de toda a coluna, demonstrando<br />

compressão medular ou nervosa, bem<br />

como informações quanto à estabilidade da coluna e<br />

orientações quanto ao tipo de tratamento a ser instituído<br />

21 . RNM de toda coluna é o exame de escolha<br />

na investigação de pacientes com lesões suspeitas ou<br />

já conhecidas 19,21-24 , com grande superioridade em<br />

relação à tomografia na detecção de doença epidural,<br />

intradural, extramedular, intramedular ou mesmo<br />

na avaliação das meninges 14 .<br />

Exames radiográficos com alterações compatíveis<br />

com o exame neurológico podem predizer a presença<br />

e o nível da CMN, porém a RNM fornece dados<br />

capazes de alterar o planejamento do tratamento. Assim,<br />

não havendo contra-indicações, a RM é imprescindível<br />

para a instituição do tratamento adequado 2 .<br />

TRATAMENTO<br />

O tratamento é individualizado, baseado em<br />

vários fatores, destacando-se localização, tipo de tumor,<br />

agressividade, sensibilidade à radioterapia, status<br />

funcional do paciente e o exame neurológico 14 .<br />

Os objetivos terapêuticos são: 1) aliviar a dor, 2) estabilizar<br />

a coluna e 3) manter ou melhorar a função<br />

neurológica. Destaca-se, ainda, que o tratamento é<br />

paliativo, tendo em vista a curta expectativa de vida<br />

desses pacientes, que varia de 4 a <strong>15</strong> meses 13,25-27 .<br />

O tratamento de níveis assintomáticos é controverso.<br />

Cerca de 16% dos pacientes com CMN têm<br />

um segundo episódio 28 , porém apenas 8% dos casos<br />

de metástases assintomáticas não irradiadas evoluirão<br />

com sintomatologia, incidência similar aos dos pacientes<br />

com CMN em um único nível na apresentação inicial<br />

29 . Contudo, determinar se um nível acometido é<br />

sintomático ou não nem sempre é possível, sendo recomendado<br />

o tratamento dos demais níveis de compressão<br />

desde que os pacientes tenham razoável expectativa<br />

de vida e não se agregue morbidade excessiva.<br />

Abaixo, discorremos sobre as principais linhas<br />

de tratamento 16 : 1) terapia com esteróides, 2) alívio da<br />

dor, 3) radioterapia, 4) ressecção cirúrgica/descompressão,<br />

5) quimioterapia adjuvante ou terapia hormonal:<br />

tumores específicos, conforme o tratamento sistêmico.<br />

1) Terapia com esteróides<br />

Usados para reduzir o edema e a inflamação,<br />

diminuindo os déficits neurológicos e controlando<br />

a dor, principalmente nos pacientes com quadro de<br />

mielopatia 16,30 . Baseado apenas em dados clínicos,<br />

esteróides podem ser administrados previamente à<br />

realização dos exames diagnósticos. Em pacientes<br />

recebendo dexametasona, esteróide mais usado, a<br />

dose pode ser reduzida gradualmente a cada 3–4<br />

dias após o início da radioterapia 14 . Não devem ser<br />

usados rotineiramente em pacientes com boa função<br />

motora no início do quadro 30 .<br />

2) Medidas para alívio da dor<br />

A dor dos pacientes deve ser qualificada e<br />

quantificada previamente ao início do tratamento.<br />

Desta forma, seleciona-se a melhor forma de analgesia<br />

a ser utilizada, bem como o perfil mais adequado<br />

dos efeitos colaterais. Destaca-se que a radioterapia<br />

também tem importante papel no combate à dor.<br />

Os pacientes com dor axial não candidatos<br />

ao tratamento cirúrgico e com doença em múltiplos<br />

níveis podem se beneficiar com a vertebroplastia<br />

percutânea, procedimento pouco invasivo e com<br />

bons efeitos analgésicos. As contra-indicações à vertebroplastia<br />

são: compressão epidural secundária à<br />

presença da metástase e fragmentos ósseos do muro<br />

posterior do corpo da vértebra no interior do canal<br />

vertebral; impossibilidade da localização da vértebra<br />

243<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245


esponsável pelos sintomas da dor; intolerância ao<br />

decúbito para realizar o procedimento; coagulopatia;<br />

infecção no local da injeção percutânea 31,32 .<br />

3) Radioterapia<br />

É o tratamento de escolha na maior parte das<br />

CMN 17 . Deve ser iniciada rapidamente após confirmação<br />

radiológica. Geralmente, irradiam-se regiões<br />

sintomáticas ou regiões assintomáticas, mas com<br />

metástases epidurais significativas, com margem de<br />

um ou dois corpos vertebrais acima e abaixo do nível<br />

acometido 14,16 , objetivando o alívio da dor e melhora<br />

da função neurológica, sendo o status funcional prétratamento<br />

o mais importante indicador prognóstico.<br />

A dose padrão para metástases na coluna consiste<br />

de 20 a 30 Gy, administradas de 5 a 10 sessões.<br />

Sessões específicas são estudadas caso a caso. Efeitos<br />

colaterais podem ocorrer, destacando-se esofagites<br />

transitórias (por 1 a 2 semanas, secundárias à radiação<br />

após tratamento de lesões torácicas altas), náuseas<br />

e vômitos (devido à irradiação epigástrica em<br />

lesões torácicas baixas e lombares altas), controlados<br />

com anti-eméticos e mielopatia tardia induzida por<br />

radiação, complicação rara, porém grave 27,33 .<br />

Indicações para Radioterapia Primária:<br />

1. Expectativa de vida menor do que 3 meses;<br />

2. Múltiplos níveis de metástases simultâneas;<br />

3. Pacientes com paraplegia de mais de 24 horas<br />

de duração;<br />

4. Co-morbidades que contra-indiquem intervenção<br />

cirúrgica;<br />

5. Pacientes sem indicação para cirurgia e com<br />

tumores sabidamente radiossensíveis: linfoma, mieloma<br />

múltiplo, carcinoma de pequenas células pulmonares,<br />

seminoma, neuroblastoma ou sarcoma de Ewing 34 .<br />

Há boa resposta à radioterapia em 30% dos casos<br />

de CMN, mesmo frente a tumores mais radioresistentes<br />

como o carcinoma de mama e o melanoma 35 .<br />

revisão<br />

4) Cirurgia<br />

Não há evidências de que o tratamento aumente<br />

a expectativa de vida. A laminectomia descompressiva<br />

consistia no procedimento cirúrgico padrão na CMN,<br />

porém alguns estudos demonstraram que apenas uma<br />

minoria dos pacientes (cerca de 40%) melhorava após<br />

o procedimento 36,37 . Acrescenta-se, ainda, que, em estudos<br />

comparativos da eficácia da radioterapia versus a<br />

combinação da mesma com laminectomia, não havia<br />

diferenças no prognóstico funcional dos pacientes 17,38 .<br />

A explicação para esses resultados é baseada principalmente<br />

na variedade de posições das metástases em<br />

relação ao saco dural, uma vez que lesões puramente<br />

posteriores são incomuns. Mais ainda, a laminectomia<br />

pode piorar a instabilidade da coluna. Neste contexto,<br />

ressalta-se a importância do tratamento cirúrgico<br />

individualizado, com novas abordagens (como a via<br />

anterior e a póstero-lateral) baseadas no reestabelecimento<br />

anatômico e biodinâmico e no desenvolvimento<br />

tecnológico de novos mecanismos de estabilização<br />

da coluna, que melhoraram muito a eficácia da intervenção<br />

cirúrgica no tratamento das metástases 7,39,40 .<br />

A definição do tratamento cirúrgico específico a ser<br />

empregado é norteada pela experiência do cirurgião e<br />

por Sistemas de Escores existentes na literatura, como<br />

os propostos por Tokuhashi 41 , Tomita 42 e Bunger 43 .<br />

Indicações de intervenção cirúrgica individualizada<br />

na CMN 34 :<br />

1. Compressão medular em um paciente sem<br />

história prévia de câncer ou mesmo com história de<br />

câncer, mas com suspeita de compressão medular de<br />

etiologia não neoplásica;<br />

2. O nível da compressão está em uma área<br />

previamente irradiada;<br />

3. Deterioração neurológica durante radioterapia<br />

ou em falha terapêutica, principalmente em<br />

tumores sabidamente radioresistentes;<br />

4. Pacientes com instabilidade na coluna;<br />

5. Progressão rápida dos sintomas para paraplegia;<br />

6. Dor intratável por terapias não cirúrgicas.<br />

Contra-Indicações Relativas para cirurgia de<br />

descompressão medular 16,34 :<br />

1. Plegia há mais de 24 horas;<br />

2. Tumores radiosensíveis (linfoma, mieloma etc.);<br />

3. Múltiplos níveis de envolvimento;<br />

4. Expectativa de vida curta (menor do que 3 meses);<br />

5. Co-morbidades médicas graves.<br />

Paciente com mais de 24 horas de plegia não<br />

deve ser submetido a procedimento cirúrgico, pois<br />

não há benefício estabelecido, exceto se não há o<br />

diagnóstico histológico da lesão. Pacientes com baixa<br />

expectativa de vida, gravemente debilitados ou<br />

sem condições cirúrgicas devem ser submetidos à radioterapia<br />

como terapia de primeira linha. Pacientes<br />

com CMN na junção crânio-cervical ou lombo-sacral<br />

podem não ser candidatos à intervenção cirúrgica<br />

devido à alta morbidade associada a esses procedimentos.<br />

As órteses podem ser úteis para o controle<br />

da dor e dar maior segurança ao paciente.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245 244


evisão<br />

O prognóstico dos pacientes com CMN é<br />

extremamente heterogêneo, tendo em vista as inúmeras<br />

variáveis existentes em cada caso. O alívio da<br />

dor e a estabilização da função neurológica podem<br />

ser alcançados em até 90% dos casos, com melhora<br />

importante da qualidade de vida 13,44-46 . A individualização<br />

do tratamento é fundamental para se alcançar<br />

bons resultados.<br />

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245<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:240–245


Uso de Rosuvastatina em Esclerose<br />

Múltipla<br />

relato de caso<br />

Use of Rosuvastatin in Multiple Sclerosis<br />

Marcela Ramos de Oliveira 1 , Diogo Fernandes dos Santos 1 , Sheila Bernardino<br />

Fenelon 2 , Nilson Penha-Silva 3<br />

RESUMO<br />

A terapêutica convencional da esclerose múltipla (EM) compreende<br />

o uso de imunossupressores e imunomoduladores. Como as<br />

estatinas têm ações antiinflamatórias e imunomoduladoras, elas<br />

poderiam constituir uma terapia alternativa para essa doença.<br />

Descrevemos neste trabalho o resultado do uso de rosuvastatina<br />

por uma paciente de 34 anos, portadora de EM remitente-recorrente.<br />

A paciente iniciou tratamento com interferon-beta 1A,<br />

porém, após queixas de efeitos adversos, recusou-se a continuar<br />

o tratamento. Em 2005, ela iniciou uso de rosuvastatina. Seu<br />

EDSS (Expanded Disability Status Scale) era igual a 6,0. Após 6 meses<br />

de tratamento, ela apresentava boa evolução no quadro neurológico,<br />

passando a deambular distâncias maiores e a praticar<br />

exercícios físicos. Seu EDSS baixou para 4,5. O tratamento com<br />

estatina é racionalmente promissor na melhoria da qualidade de<br />

vida e, provavelmente, no controle da doença.<br />

Unitermos: Inibidores de hidroximetilglutaril-CoA redutases.<br />

Esclerose Múltipla. Terapias em estudo.<br />

Citação: Oliveira MR, Santos DF, Fenelon SB, Penha-Silva N. Uso de<br />

Rosuvastatina em Esclerose Múltipla.<br />

SUMMARY<br />

The conventional therapeutics of multiple sclerosis (MS) comprises<br />

the use of immunosuppressant and immunomodulator<br />

agents. Since statins presents antiinflammatory and immunomodulator<br />

actions, they may constitute an alternative therapy<br />

to this disease. In this case report we describe the result of the<br />

use of rosuvastatin by a 34 years old woman with relapsing-remitting<br />

MS. The patient initiated treatment with interferon-beta<br />

1A, but after reclaims of adverse effects she refused to follow this<br />

treatment. In 2005, she initiated use of rosuvastatin. Its EDSS<br />

(Expanded Disability Status Scale) was 6.0. After 6 months of<br />

treatment, she presented good evolution of her neurological<br />

state, being able to deambulate larger distances and to practice<br />

physical exercises. Her EDSS decreased to 4.5. The treatment<br />

with statins is rationally promising in the improvement of the life<br />

quality and probably in the control of the disease.<br />

Keywords: Hydroxymethylglutaryl-CoA reductase inhibitors.<br />

Multiple Sclerosis. Investigational therapies.<br />

Citation: Oliveira MR, Santos DF, Fenelon SB, Penha-Silva N. Use of<br />

Rosuvastatin in Multiple Sclerosis.<br />

Trabalho realizado na Universidade Federal de Uberlândia.<br />

1. Estudantes de graduação em Medicina da Universidade Federal de<br />

Uberlândia (UFU).<br />

2. Doutora em Medicina, Professora Adjunta de Neurologia da Faculdade<br />

de Medicina (FAMED) da Universidade Federal de Uberlândia<br />

(UFU), Coordenadora do Centro de Estudos Triangulino de Esclerose<br />

Múltipla (CETEM).<br />

3. Professor titular do Instituto de Genética e Bioquímica (INGEB) da<br />

Universidade Federal de Uberlândia (UFU).<br />

Endereço para correspondência:<br />

Nilson Penha-Silva<br />

Universidade Federal de Uberlândia<br />

Instituto de Genética e Bioquímica<br />

Av. Pará 1720<br />

CEP 38400-902, Uberlândia, MG<br />

E-mail: nspenha@ufu.br<br />

Recebido em: 05/04/2006<br />

Revisão: 05/12/2006<br />

Aceito em: 06/04/2006 a 04/12/2006<br />

Conflito de interesses: não<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:246–250 246


elato de caso<br />

INTRODUÇÃO<br />

A esclerose múltipla (EM) é uma doença inflamatória<br />

desmielinizante que afeta o sistema nervoso<br />

central 1 . A base anatômica comum das doenças desmielinizantes<br />

do SNC é representada por alterações<br />

primárias da bainha de mielina. A lesão primária da<br />

bainha de mielina leva à liberação de seus componentes<br />

e causa danos e morte de oligodendrócitos 2 . A etiologia<br />

dessa doença ainda não é bem conhecida. Evidências<br />

indiretas apóiam uma etiologia auto-imune para a<br />

EM 3 , provavelmente desencadeada por fatores epigenéticos<br />

num hospedeiro geneticamente susceptível.<br />

A EM pode evoluir de diferentes maneiras.<br />

A forma recorrente-remitente (EMRR) caracterizase<br />

por surtos bem individualizados que deixam ou<br />

não seqüelas, não havendo progressão das deficiências<br />

entre os surtos. A forma secundariamente progressiva<br />

(EMSP) apresenta uma fase precedente de<br />

recorrências e remissões seguida de progressão das<br />

deficiências, sem surtos ou com surtos subjacentes.<br />

Outra forma de evolução da EM é a primariamente<br />

progressiva (EMPP), que se caracteriza desde o início<br />

por doença progressiva, evoluindo com discretos<br />

períodos de melhora. Por fim, há a forma progressiva<br />

recorrente (EMPR), que também se caracteriza<br />

desde o início por doença progressiva, porém intercalada<br />

por surtos, com ou sem recuperação total,<br />

mas com progressão contínua entre os surtos 4 .<br />

As manifestações clínicas dessa doença desmielinizante<br />

são inicialmente muito variáveis. Às vezes<br />

elas são muito drásticas, mas outras vezes elas são tão<br />

brandas que o paciente nem procura assistência médica.<br />

Os sintomas iniciais mais comuns consistem em<br />

fraqueza em um ou mais membros, visão turva devido<br />

à neurite óptica, distúrbios sensoriais, diplopia e<br />

ataxia. Os sintomas sensoriais incluem parestesia (sensação<br />

espontânea de dor, adormecimento e/ou queimação)<br />

ou hiperestesia (aumento da intensidade e/ou<br />

da duração da sensação produzida por um estímulo).<br />

O comprometimento cerebelar resulta em ataxia da<br />

marcha e dos membros. Outros sintomas relatados por<br />

portadores de EM são neuralgias do trigêmeo, vertigem<br />

associada a vômitos, urgência vesical, hesitação,<br />

esvaziamento incompleto ou incontinência, constipação<br />

e urgência fecal. A disfunção cognitiva comum na<br />

fase avançada da doença também pode aparecer em<br />

seu estágio inicial. As alterações cognitivas observadas<br />

com maior freqüência incluem perda da memória,<br />

comprometimento da atenção, dificuldade na resolução<br />

de problemas e processamento lento das informações.<br />

A depressão é também comum na EM 3 .<br />

O diagnóstico de EM é baseado nos critérios<br />

estabelecidos pelo Painel Internacional para o Diagnóstico<br />

da Esclerose Múltipla, por McDonalds et al.,<br />

em 2001 5 . Ele define a distribuição temporal e espacial<br />

da doença, utilizando, quando necessário, resultados<br />

obtidos com a Ressonância Magnética do encéfalo e<br />

da medula espinhal 6 . Recentemente, em 2005, houve<br />

uma revisão desses critérios a fim de tornar mais sensível<br />

e específico o diagnóstico da doença 7 .<br />

Os tratamentos da EM podem estar associados<br />

à detenção do processo patológico e/ou à atenuação<br />

dos sintomas 3 . A terapêutica convencional da EM<br />

compreende imunossupressores e imunomoduladores,<br />

como IFNb1B, IFNb1A e acetato de glutiramer 6 .<br />

Entretanto, nos últimos anos, vários estudos<br />

têm demonstrado que as estatinas, além de diminuir<br />

o nível de colesterol sanguíneo, apresentam também<br />

propriedades imunomoduladoras e antiinflamatórias<br />

8 , devido à ação inibitória sobre a óxido nítrico<br />

sintase (NOS ase ) e citocinas pró-inflamatórias 9 , justificando<br />

seu uso como terapia alternativa em doenças<br />

inflamatórias crônicas como a EM 10-12 . A região do<br />

genoma responsável pela produção da enzima NO-<br />

S ase está localizada no cromossomo 12, onde também<br />

está presente um loci gênico relacionado à EM. Assim,<br />

existe possibilidade de que a ação da NOS ase implique<br />

em uma maior susceptibilidade à EM, uma vez que o<br />

óxido nítrico tem-se mostrado tóxico para oligodendrócitos<br />

e responsável por induzir degeneração do<br />

axônio. O gene responsável pela síntese dessa enzima<br />

tem sido mostrado como sendo indutor da resposta<br />

inflamatória, no caso da EM 13 . A utilização de lovastatina<br />

14 e sinvastatina <strong>15</strong> em pacientes com EM, em<br />

pequenos ensaios clínicos 14,<strong>15</strong> , mostrou uma aparente<br />

diminuição das lesões vistas na ressonância magnética<br />

nuclear e ausência de efeitos adversos graves.<br />

Essas alternativas de prevenção, atenuação e<br />

mesmo tratamento da doença, à base de estatinas,<br />

carece, entretanto, de suporte experimental. Este relato<br />

procura explorar a questão relatando o caso de<br />

uma paciente com EM que fez uso de rosuvastatina<br />

durante seis meses. Em nossa revisão da literatura,<br />

não encontramos nenhum outro estudo que tenha<br />

usado a rosuvastatina com esse propósito. O estudo<br />

foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da<br />

Universidade Federal de Uberlândia e documentalmente<br />

consentido pela paciente.<br />

CASO<br />

Em 1999, a paciente, leucoderma, então com<br />

34 anos, procurou o Hospital de Clínicas da Univer-<br />

247<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:246–250


elato de caso<br />

sidade Federal de Uberlândia, apresentando edema<br />

no tronco e membros inferiores (MMII), parestesia<br />

em região lombar e MMII, oligúria, obstipação intestinal<br />

e perda de sensibilidade em área cutânea<br />

abdominal, com progressão do quadro neurológico<br />

durante internação com perda de sensibilidade dolorosa<br />

e tátil desde 4 cm abaixo da fúrcula esternal até<br />

os pés. No exame neurológico, a paciente apresentava<br />

paraplegia, arreflexia em membros inferiores,<br />

perda de sensibilidade e motricidade de T4 a S5, flacidez<br />

e hipotonia muscular de membros superiores<br />

e Sinal de Babinski à esquerda. Ainda durante esse<br />

surto, a paciente teve piora do quadro, apresentando<br />

diplopia e nistagmo.<br />

O exame do líquido cefalorraquidiano revelou<br />

líquor incolor e de aspecto límpido, com nível<br />

de glicose dentro dos limites da normalidade (61<br />

mg%), mas aumento na concentração de proteínas<br />

totais (46 mg%). Ainda durante a internação, a paciente<br />

iniciou corticoterapia (prednisona a 1 mg/kg).<br />

O exame oftalmológico revelou ausência de neurite<br />

óptica. Após alta hospitalar, houve melhora parcial<br />

da motricidade e tônus muscular dos membros superiores<br />

e discreta melhora da movimentação em<br />

membros inferiores, além de referir retorno da sensibilidade<br />

dolorosa. Quatro meses depois, houve reagudização<br />

do quadro neurológico e, além disso, a<br />

paciente apresentou infecções urinárias recorrentes.<br />

Nessa ocasião, foi realizada Ressonância Magnética<br />

Nuclear (RMN), quando foi confirmado o diagnóstico<br />

de EM do tipo recorrente-remitente (EMRR). A<br />

RMN (figura 1) mostrou lesões múltiplas na substância<br />

branca cortical do parênquima cerebral e cerebelo,<br />

infratentoriais, supratentoriais, justacorticais e<br />

periventriculares.<br />

Em 2003, a paciente iniciou acompanhamento<br />

ambulatorial no Centro de Estudos Triangulino de<br />

Esclerose Múltipla (CETEM) da Universidade Federal<br />

de Uberlândia (centro de pesquisa filiado ao Comitê<br />

Brasileiro de Tratamento e Pesquisa da Esclerose<br />

Múltipla). Realizado exame neurológico, o escore obtido<br />

na Escala Expandida do Estado de Incapacidade<br />

(EDSS) foi 6,0. Ela, então, iniciou tratamento com<br />

interferon-beta 1A (6.000.000 UI, uma vez por semana),<br />

durante um mês, porém relatou efeitos adversos<br />

e recusou-se a continuar o tratamento com qualquer<br />

medicação injetável para a doença.<br />

Em 2005, devido à recusa da paciente em se<br />

submeter ao tratamento convencional, foi-lhe proposta<br />

uma nova terapia baseada no uso de rosuvastatina.<br />

Antes de iniciar a nova terapêutica, sua avaliação<br />

neurológica mostrou que ela mantinha o mesmo<br />

escore no EDSS (6,0) que havia apresentado antes<br />

do início do tratamento.<br />

Ela iniciou, então, o uso de rosuvastatina, a<br />

10 mg/dia nos primeiros 10 dias, passando para 20<br />

mg/dia, durante 6 meses, já que não foi evidenciado<br />

nenhum efeito adverso ao uso desse medicamento.<br />

Durante o uso da rosuvastatina, foi acompanhada<br />

ambulatorialmente e através de testes hematológicos<br />

e bioquímicos, incluindo perfil lipídico e dosagem de<br />

creatina-quinase (CK).<br />

Durante todo esse período, a paciente não fez<br />

uso de outra medicação — como anti-inflamatórios,<br />

imunomoduladores ou imunossupressores — que<br />

pudesse ter modificado favoravelmente a evolução<br />

da doença. Além da rosuvastatina, fez uso apenas de<br />

antibióticos para o tratamento das infecções recorrentes<br />

do trato urinário e de antidepressivos tricíclicos<br />

e benzodiazepínicos, drogas que ela já utilizava<br />

desde 2003. Ela também não se submeteu a outros<br />

tratamentos concomitantes, como fisioterapia, psicoterapia,<br />

técnicas de relaxamento e ergoterapia.<br />

Figura 1. Ressonância Magnética Nuclear, com lesões múltiplas no parênquima<br />

cerebral e cerebelo. A e B: lesões infratentorial e justacortical.<br />

C e D: lesões justacorticais. E e F: lesões periventriculares.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:246–250 248


elato de caso<br />

Dois meses após o uso de rosuvastatina, a paciente<br />

apresentou uma boa evolução do quadro neurológico,<br />

passando a deambular distâncias maiores,<br />

a praticar exercícios físicos e não necessitar continuamente<br />

de sonda vesical. Não ocorreram surtos durante<br />

o tratamento. Após seis meses de tratamento,<br />

seu EDSS caiu para 4,5, com melhora considerável<br />

principalmente das funções piramidais e vesicais.<br />

Houve, também, uma diminuição no nível sérico de<br />

colesterol total (tabela 1) e a CK manteve-se dentro<br />

dos limites da normalidade (< 130 U/l). Atualmente,<br />

continua em acompanhamento ambulatorial e com<br />

o uso de rosuvastatina.<br />

DISCUSSÃO<br />

A paciente, desde o início do quadro, apresentou<br />

sintomas típicos de doença desmielinizante. Seu<br />

diagnóstico de EM foi confirmado de acordo com os<br />

critérios de McDonalds 5 , já que ela apresentou dois<br />

ou mais surtos, evidência clínica objetiva de uma<br />

lesão, além de disseminação espacial (pelo menos 1<br />

lesão infratentorial, 1 lesão justacortical e 3 lesões<br />

periventriculares) compatível com os critérios de Barkhof<br />

16 . Os surtos tiveram duração maior que 24 horas<br />

e foram intercalados por um intervalo de tempo,<br />

desde o início dos sintomas, de mais de um mês.<br />

O uso de imunomodulador foi inicialmente<br />

proposto para a paciente pelo fato de apresentar diagnóstico<br />

definido de EMRR, além de evidências clínicas<br />

da atividade da doença através da presença de um<br />

surto recente. Além disso, a paciente não apresentava<br />

nenhuma contra-indicação ao uso desse medicamento,<br />

como gravidez, depressão, doença hepática e/ou<br />

doença cardíaca grave. A paciente foi devidamente<br />

informada quanto aos possíveis benefícios, eventuais<br />

riscos e efeitos colaterais, tendo concordado em iniciar<br />

o tratamento sob observação regular. Porém, ela apresentou<br />

efeitos adversos e não foi possível assegurar a<br />

adesão ao tratamento devido à recusa da paciente.<br />

Assim, foi proposta uma terapia alternativa com uso<br />

de rosuvastatina, com base em resultados de ensaios<br />

clínicos realizados com outras estatinas 14,<strong>15</strong> .<br />

Os resultados desse tipo de terapia alternativa<br />

sugerem que o tratamento com rosuvastatina possa<br />

apresentar efeitos clínicos favoráveis em pacientes<br />

com EM. Provavelmente, esses benefícios são decorrentes<br />

da capacidade das estatinas de diminuírem a<br />

migração de leucócitos para o Sistema Nervoso Central,<br />

inibirem o complexo principal de histocompatibilidade<br />

classe II e os sinais dos co-estimuladores<br />

requeridos para a ativação de células T, além de in-<br />

Tabela 1. Efeito do tratamento com rosuvastatina sobre o EDSS (Kurtzke<br />

Expanded Disability Status Scale) e os níveis de colesterol total plasmático.<br />

Tempo EDSS Colesterol total<br />

(meses)<br />

(mg/dl)<br />

0 6,0 322,0<br />

3 5,0 186,8<br />

6 4,5 177,6<br />

duzirem o fenótipo Th2 e diminuir a produção de<br />

mediadores no SNC, como óxido nítrico e fator de<br />

necrose tumoral alfa 11,17,18 .<br />

No caso aqui relatado, os efeitos benéficos da rosuvastatina<br />

fizeram-se presentes principalmente na melhora<br />

da qualidade de vida e na queda do EDSS, que é<br />

o parâmetro utilizado para acompanhar a evolução da<br />

doença. No início do tratamento, a paciente já se encontrava<br />

estável, com o mesmo escore há dois anos, e necessitava<br />

de assistência com auxílio unilateral constante.<br />

Após seis meses de utilização de rosuvastatina, passou<br />

a deambular plenamente até 300 metros sem ajuda ou<br />

descanso, necessitando de mínima assistência.<br />

As estatinas podem causar efeitos adversos,<br />

como rabdomiólise 19 , quando usadas em doses elevadas.<br />

Embora a rosuvastatina apresente os mais<br />

baixos riscos quando comparada às outras estatinas<br />

20 e nós tenhamos usado uma baixa dosagem do<br />

medicamento, a paciente não apresentou nenhuma<br />

evidência clínica de rabdomiólise e, durante todo o<br />

tratamento, os níveis de CK mantiverem-se absolutamente<br />

dentro da normalidade (abaixo de 168 U/l).<br />

A função renal também foi acompanhada laboratorialmente,<br />

não tendo apresentado alterações.<br />

O tratamento aqui sugerido é racionalmente<br />

promissor na promoção de melhorias na qualidade<br />

de vida de pacientes com EM e, provavelmente, no<br />

controle da doença, mas é preciso ter cautela, pois<br />

efeitos pró-inflamatórios foram descritos para a sinvastatina,<br />

que induz um aumento dose-dependente<br />

de citocinas pró-inflamatórias, como o interferon<br />

gama e a interleucina 12 21,22 .<br />

Apesar do sucesso terapêutico obtido neste<br />

caso, faz-se necessária a realização de ensaios clínicos<br />

adequadamente controlados, com amostragem<br />

ampla e um maior tempo de acompanhamento, visando<br />

a exclusão de um possível efeito placebo.<br />

249<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:246–250


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in multiple sclerosis. J. Neurol 2003;250:754-5.<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:246–250 250


elato de caso<br />

Doença de Hirayama: relato de caso<br />

e atualização<br />

Hirayama disease: case report and update<br />

Marco Antonio Orsini Neves 1 , Reny de Souza Antonioli 2 , Marcos RG de Freitas 3<br />

RESUMO<br />

A Atrofia Muscular Juvenil Distal de Membro Superior ou Doença<br />

de Hirayama (DH) atinge as células da ponta anterior<br />

da medula nos segmentos de C7-T1 sendo caracterizada por<br />

atrofia com fraqueza progressiva da mão e antebraço unilateral<br />

na maioria dos indivíduos. Relatamos o caso de um paciente,<br />

que há 4 anos iniciou um quadro de fraqueza na mão esquerda<br />

associada à dificuldade para realizar a preensão de determinados<br />

instrumentos utilizados no trabalho. Após a realização da<br />

ressonância magnética funcional verificou-se um comprometimento<br />

da medula cervical nos últimos segmentos cervicais e<br />

primeiro torácico, caracterizando a doença. Diante de suas características<br />

gerais, podemos diferenciá-la de outras Amiotrofias<br />

Monomélicas Benignas (AMB). É importante que se realize<br />

novas pesquisas visando tornar o diagnóstico mais preciso.<br />

Unitermos: Medula espinhal. Células do corno anterior.<br />

Doenças neuromusculares.<br />

Citação: Neves MAO, Antonioli RS, Freitas MRG. Doença de Hirayama:<br />

relato de caso e atualização.<br />

SUMMARY<br />

The Juvenile Muscular Atrophy of the Distal Upper Extremity<br />

or Hirayama Disease (HD) affects the spinal cord’s<br />

anterior region at segments C7–T1 and is characterized by<br />

atrophy with gradual weakness of the unilateral hand and<br />

forearm in majority of patients. We reported a case of a<br />

patient, 20 years old that have approximately 4 years ago<br />

started with weakness in his left hand and difficulty to hold<br />

work instruments. After the accomplishment of an examination<br />

of Functional Magnetic Resonance it was verified a injury<br />

of the cervical spinal cord in the last cervical segments.<br />

Aware of its general characteristics, we can differentiate it<br />

of other Benign Monomelic Amyotrophy (BMA). It is important<br />

new research that can become the diagnosis more<br />

certain.<br />

Keywords: Spinal cord. Anterior horn cells. Neuromuscular<br />

diseases.<br />

Citation: Neves MAO, Antonioli RS, Freitas MRG Hirayama disease:<br />

case report and update.<br />

Trabalho realizado no Serviço de Neurologia da<br />

Universidade Federal Fluminense – UFF.<br />

1. Fisioterapeuta. Professor Adjunto de Neurologia Clínica, Fundação<br />

Educacional Serra dos Órgãos – FESO e Assistente Voluntário do<br />

Serviço de Doenças Neuromusculares, UFF.<br />

2. Graduanda em Fisioterapia e Estagiária do Serviço de Reabilitação<br />

Neurológica, FESO.<br />

3. Professor Titular de Neurologia e Chefe do Serviço de<br />

Neurologia,UFF.<br />

Endereço para correspondência:<br />

Marco Antonio Orsini Neves<br />

R. Prof. Miguel Couto, 322/1001<br />

CEP 24230240, Niterói-RJ<br />

E-mail: orsini@predialnet.com.br<br />

Recebido em: 03/08/2006<br />

Revisão: 04/08/2006 a 19/09/2006<br />

Aceito em: 20/09/2006<br />

Conflito de interesses: não<br />

251<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:251–253


INTRODUÇÃO<br />

A Doença de Hirayama (DH) é marcada pelo<br />

comprometimento das células da ponta anterior da<br />

medula nos últimos segmentos cervicais e primeiro<br />

torácico, atingindo particularmente jovens do sexo<br />

masculino e cursando com fraqueza progressiva da<br />

mão e antebraço, unilateral na maioria dos pacientes<br />

1-3 . Foi relatada primeiramente em 1959 e, desde<br />

então, indivíduos com características similares têm<br />

sido descritos em países asiáticos, europeus e norteamericanos<br />

4-5 .<br />

Inúmeros fatores etiológicos estão relacionados<br />

à DH: infecções virais, insuficiência vascular da medula<br />

espinhal, atividade física de alto impacto e atrofia<br />

focal da medula durante a flexão da coluna cervical.<br />

Estudos originados da Índia Oriental sugerem que<br />

fatores ambientais, étnicos, culturais e hábitos comportamentais<br />

possam influenciar na susceptibilidade<br />

à doença. Sabe-se, entretanto, que achados eletrofisiológicos<br />

e histopatológicos revelam uma desordem<br />

neurogênica nas células da ponta anterior e nos axônios<br />

motores, resultando em sinais característicos de<br />

comprometimento do neurônio motor inferior 3,6 .<br />

CASO<br />

Paciente de 20 anos, sexo masculino, negro,<br />

auxiliar de controladoria, relata que há 4 anos deuse<br />

início quadro de fraqueza na mão esquerda e dificuldade<br />

para realizar a preensão de instrumentos<br />

utilizados no trabalho. Posteriormente, tornou-se<br />

evidente a atrofia dos músculos do antebraço e da<br />

mão, quando comparados ao lado oposto. No primeiro<br />

semestre de 2003, procurou auxílio no Serviço<br />

de Neurologia (Setor de Doenças Neuromusculares)<br />

da Universidade Federal Fluminense, recebendo<br />

relato de caso<br />

o diagnóstico de DH. Ao exame físico, apresentava<br />

atrofia, paresia e fasciculações no terço distal do<br />

membro superior esquerdo. Os reflexos profundos<br />

encontravam-se normais, com exceção do flexor dos<br />

dedos (arreflexia à esquerda). O exame de Ressonância<br />

Magnética Funcional apontou um achatamento<br />

(atrofia) da medula cervical nos últimos segmentos<br />

cervicais (figura 1). A eletroneuromiografia mostrou<br />

desnervação e recrutamento neurogênico seguido de<br />

reinervação nos músculos do terço distal do membro<br />

superior esquerdo. Na figura 2, mostramos o paciente<br />

com acentuada atrofia dos músculos do antebraço<br />

e da mão à esquerda.<br />

DISCUSSÃO<br />

Os exames complementares são imprescindíveis<br />

para auxiliar o diagnóstico da doença. O exame<br />

de Tomografia Computadorizada (TC), por exemplo,<br />

pode demonstrar um deslocamento anterior do saco<br />

dural posterior durante a flexão da região cervical,<br />

provocando um achatamento da medula espinhal que<br />

adquire a forma de “berinjela” 1 . Já a mielografia é difícil<br />

de ser realizada pela dificuldade de retenção do<br />

contraste no espaço subaracnóide cervical durante o<br />

movimento de flexão 7 . Entre os métodos, o processamento<br />

de Imagem de Ressonância Magnética (IRM)<br />

mostra o deslocamento anterior do saco dural posterior<br />

e um secundário congestionamento do plexo<br />

venoso epidural posterior, característica esta diferenciada<br />

de malformações vasculares e tumores pelo seu<br />

desaparecimento quando o pescoço retorna à posição<br />

neutra 4,8 . Essas alterações estavam ausentes no paciente<br />

em questão. O congestionamento venoso é desencadeado<br />

basicamente por três mecanismos: pressão<br />

negativa no canal espinhal posterior resultante do<br />

Figura 1. Atrofia da medula cervical nos últimos segmentos.<br />

Figura 2. Atrofia no membro superior esquerdo.<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:251–253 252


elato de caso<br />

desvio anterior, compressão do plexo venoso anterior<br />

causado pelo deslocamento anterior do canal dural e<br />

postura de flexão de pescoço, diminuindo a drenagem<br />

venosa das veias jugulares 4 . Vários autores relatam<br />

que estudos de velocidade de condução nervosa nos<br />

nervo mediano e ulnar são normais (sem bloqueio de<br />

condução), o que sugere um comprometimento das<br />

células da ponta anterior da medula cervical 7,9 . Em<br />

contrapartida, alterações neurogênicas crônicas foram<br />

encontradas durante estudos envolvendo eletroneuromiografia<br />

(ENM), caracterizados por potenciais<br />

de amplitude aumentados e polifásicos, compatíveis<br />

ao processo patofisiológico de desnervação aguda e<br />

reinervação crônica 10 .<br />

A DH ou Amiotrofia Muscular Juvenil de<br />

Membros Superior é comumente encontrada no<br />

Oriente, porém há relatos, como no presente estudo,<br />

de casos em países ocidentais 7,11 . Essa afecção é<br />

caracterizada por ser uma forma rara de doença do<br />

neurônio motor inferior, afetando um único membro<br />

superior de forma focal 12 . O termo atrofia muscular<br />

espinhal distal também foi sugerido pelas evidências<br />

de progressão da doença para segmentos adjacentes<br />

e de anormalidades eletromiográficas nos membros<br />

inferiores de alguns pacientes, o que indicaria um envolvimento<br />

mais generalizado da medula espinhal 13 .<br />

A etiologia da DH ainda é muito discutida. Porém,<br />

o mecanismo mais aceito é considerado o movimento<br />

brusco e repetido de flexão do pescoço, que<br />

ocasiona um achatamento da medula espinhal cervical<br />

14-16 . Entretanto, há relatos de pacientes com manifestações<br />

clínicas típicas da DH, mas que não apresentam<br />

qualquer anormalidade da coluna cervical<br />

ou estruturas adjacentes, nem compressão dinâmica<br />

da medula espinhal 17 . Diante de suas características<br />

clínicas, imaginológicas e eletrofisiológicas, podemos<br />

diferenciá-la de outras AMB. Esse epônimo poderia<br />

ser utilizado apenas como a forma distal do membro<br />

superior (variante de Hirayama) da AMB. Os profissionais<br />

de saúde devem realizar uma avaliação detalhada,<br />

levando em consideração a clínica e o resultados<br />

de exames complementares. Não existem estudos<br />

que relacionam a DH à terapia física 18 . Acreditamos<br />

que um programa cauteloso de exercícios/atividades<br />

voltados à prevenção ou minimização de contraturas<br />

e treino de habilidades funcionais possa oferecer<br />

benefícios aos pacientes. Os fisioterapeutas precisam<br />

ser cautelosos ao iniciarem as medidas reabilitativas,<br />

principalmente para não provocarem uma demanda<br />

metabólica intensa sobre os neurônios motores remanescentes,<br />

contribuindo assim para um possível agra-<br />

vamento do quadro 18 . O paciente do presente relato<br />

foi submetido a técnicas de alongamento e movimentos<br />

ativos livres para o membro superior, e recebeu<br />

orientações quanto à redução de atividades exaustivas<br />

e pausas no período de trabalho para repouso<br />

e realização de alongamentos, a fim de evitar danos<br />

por uso excessivo e contraturas por posturas viciosas.<br />

Faz-se necessária a realização de novas pesquisas, não<br />

somente por tornarem o diagnóstico mais preciso,<br />

devido à semelhança da DH com outras amiotrofias,<br />

mas principalmente pela busca do agente etiológico<br />

envolvido com a doença 9 .<br />

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253<br />

Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3:251–253


NORMAS DE PUBLICAÇÃO<br />

A Revista Neurociências é voltada à Neurologia e às ciências<br />

afins. Publica artigos de interesse científico e tecnológico, voltada<br />

à Neurologia e às ciências afins, realizados por profissionais<br />

dessas áreas, resultantes de estudos clínicos ou com ênfase em<br />

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aceitos artigos em inglês, português ou espanhol. Seus volumes<br />

são anuais e os números trimestrais, publicados em março, junho,<br />

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preferencialmente Artigos de pesquisa Originais (inclusive Revisões<br />

sistemáticas), mas também são aceitos para publicação artigos<br />

de: Revisão de Literatura, de Atualização, Relato de Caso,<br />

Resenha, Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor, desde<br />

que aprovado pelo Corpo Editorial. Trabalhos apresentados<br />

em Congressos ou Reuniões Científicas de áreas afins poderão<br />

constituir-se de anais em números ou suplementos especiais da<br />

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Os artigos devem ser inéditos, isto é, não publicados em outros<br />

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Corpo Editorial analisa os pareceres e encaminha as sugestões<br />

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das solicitações. O Corpo Editorial verifica as modificações<br />

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Corpo Editorial aceita o artigo para publicação ou pode recusálo<br />

se for inadequado. Para publicação, será observada a ordem<br />

cronológica de aceitação dos artigos e distribuição regional. Os<br />

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do texto e estilo da Revista Neurociências sem prejuízo ao seu<br />

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Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3<br />

Categoria de artigos: Editorial, Originais, Revisão Sistemática,<br />

Revisão de Literatura, de Atualização, Relato de Caso, Resenha,<br />

Ensaio, Texto de Opinião e Carta ao Editor. O número de<br />

palavras inclui texto e referências bibliográficas (não devem ser<br />

considerados folha de rosto com título, autores, endereço de correspondência,<br />

resumo e summary e tabelas, figuras e gráficos).<br />

Adotar as recomendações abaixo.<br />

Editorial: a convite do Editor, sob ema específico, deve conter<br />

no máximo 2000 palavras.<br />

Artigos Originais, Revisões Sistemáticas, e Relato de<br />

Caso: resultado de pesquisa de natureza empírica, experimental<br />

ou conceitual (6000 palavras).<br />

Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos<br />

informativos.<br />

Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir<br />

a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo.<br />

Referir formação acadêmica, títulação máxima e vínculo<br />

profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente,<br />

Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando<br />

na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São<br />

Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor<br />

e endereço para correspondência.<br />

Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica<br />

do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estruturado<br />

em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder<br />

200 palavras.<br />

Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o<br />

Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte<br />

descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).<br />

Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:<br />

introdução e objetivo; método (sujeitos ou relato de caso,<br />

Comitê de Ética, Consentimento Informado, procedimento ou<br />

intervenção e análise estatística) com detalhes suficientes para a<br />

pesquisa poder ser duplicada, resultados (apresentados de forma<br />

clara e concisa), discussão (interpretação dos resultados comparados<br />

à literatura), conclusões, agradecimentos, referências<br />

bibliográficas. As abreviações devem vir acompanhadas do seu<br />

significados na primeira vez que aparecerem no texto. Nomes<br />

comerciais e marcas registradas devem ser utilizadas com parcimônia,<br />

devendo-se dar preferência aos nomes genéricos.<br />

Quadros, Gráficos e Tabelas: até 5, apresentadas em páginas<br />

separadas e no final do texto. Em cada uma, devem constar<br />

seu número de ordem, título e legenda.<br />

Figuras: até 2 ilustrações com tamanho não superior a 6 cm<br />

x 9 cm cada uma, com alta resolução. As fotos devem ser em<br />

preto e branco contrastadas com eventuais detalhes como setas,<br />

números ou letras. Identificar cada ilustração com seu número<br />

de ordem e legenda, devem ser encaminhadas em outro arquivo<br />

com nome do autor e do artigo. Ilustrações reproduzidas de<br />

textos já publicados devem ser acompanhadas de autorização de<br />

reprodução, tanto do autor como da publicadora.<br />

Ilustrações em cores podem ser publicadas; dado seu custo elevado,<br />

será de responsabilidade dos autores, assim como o custo por<br />

número de tabelas e ilustrações acima dos mencionados e desde<br />

que sua publicação seja autorizada pela editora. O material recebido<br />

não será devolvido aos autores. Manter os negativos destas.<br />

Referências: Até cerca de 30 (as Revisões Sistemáticas deverão<br />

solicitar o aumento do número de referências ao Editor, conforme<br />

a necessidade), restritas á bibliografia essencial ao conteúdo<br />

254


do artigo. Todos os autores e trabalhos citados no texto devem<br />

constar na listagem de referências bibliográficas. No texto, as<br />

citações devem seguir o sistema numérico, isto é, são numerados<br />

por ordem de sua citação no texto, utilizando-se números arábicos<br />

sobrescritos segundo o estilo Vancouver (www.icmje.org). Por<br />

exemplo: “....o horário de ir para a cama e a duração do sono na<br />

infância e adolescência 6-12,14,<strong>15</strong> .”<br />

As referências devem ser ordenadas consecutivamente na ordem<br />

na qual os autores são mencionados no texto. Mais de 6 autores,<br />

listar os 6 primeiros seguidos de “et al.”.<br />

a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do periódico<br />

(abreviados de acordo com o Index Medicus) ano; volume: página<br />

inicial – final.<br />

Ex.: Wagner ML, Walters AS, Fisher BC. Symptoms of attention-deficit/hyperactivity<br />

disorder in adults with restless legs<br />

syndrome. Sleep 2004;27:1499-504.<br />

b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não<br />

for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:<br />

editora, ano, total de páginas.<br />

Ex.: Ferber R, Kriger M. Principles and practice of sleep<br />

medicine in the child. Philadelphia: W.B. Saunders Company,<br />

1995, 253p.<br />

c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo.<br />

In: Editor(es) do livro. Título do livro. Edição, se não for a<br />

primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação: editora,<br />

ano, página inicial e página final.<br />

Ex.: Stepanski EJ. Behavioral Therapy for Insomnia. In: Kryger<br />

MH; Roth T, Dement WC (eds). Principles and practice of<br />

sleep medicine. 3rd ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company,<br />

2000, p.647-56.<br />

d) Resumos: Autor(es). Título. Periódico ano; volume (suplemento<br />

e seu número, se for o caso): página(s). Quando não publicado<br />

em periódico: Título da publicação. Cidade em que foi<br />

publicada: editora, ano, página(s).<br />

Ex.: Carvalho LBC, Silva L, Almeida MM, et al. Cognitive<br />

dysfunction in sleep breathing disorders children. Sleep 2003;<br />

26(Suppl):A135.<br />

e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no texto<br />

entre parênteses.<br />

f) Tese: Autor. Título da obra, seguido por (tese) ou (dissertação).<br />

Cidade: instituição, ano, número de páginas.<br />

Ex.: Fontes SV. Impacto da fisioterapia em grupo na qualidade<br />

de vida de pacientes por AVCi (Tese). São Paulo: UNIFESP,<br />

2004, 75p.<br />

g) Documento eletrônico: Título do documento (Endereço<br />

na Internet). Local: responsável (atualização mês/ano; citado<br />

em mês/ano). Disponível em: site.<br />

Ex.: The pre-history of cognitive science (endereço na<br />

Internet). Inglaterra: World Federation Neurology. (última<br />

atualização 12/2005; citado em 01/2006). Disponível em:<br />

http://www.wfneurology.org/index.htm.<br />

Artigos de Revisão de Literatura e Atualização: revisão crítica<br />

de literatura ou atualização relativo à neurociências, com<br />

ênfase em causa, diagnóstico, prognóstico, terapia ou prevenção<br />

(8000 palavras).<br />

Título: em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos<br />

informativos.<br />

Autor(es): referir nome(es) e sobrenome(s) por extenso. Referir<br />

a instituição em que foi feita a pesquisa que deu origem ao artigo.<br />

Referir formação acadêmica, títulação máxima e vínculo<br />

profissional de cada autor, ex.: 1- Neurologista, Livre Docente,<br />

Professor Adjunto da UNIFESP, 2- Neurologista, Pós-graduando<br />

na UNICAMP, 3- Neurologista, Residente no Hospital São<br />

Paulo - UNIFESP. Referir suporte financeiro. Identificar o autor<br />

e endereço para correspondência.<br />

Resumo e Summary: devem permitir uma visão panorâmica<br />

do trabalho. Para os Artigos Originais o resumo deve ser estruturado<br />

em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Não exceder<br />

200 palavras.<br />

Unitermos e Keywords: Máximo de 6 (seis), referir após o<br />

Resumo e o Summary, respectivamente. Como guia, consulte<br />

descritores em ciências da saúde (http://decs.bireme.br).<br />

Corpo do Artigo: apresentar a matéria do artigo seqüencialmente:<br />

introdução, conclusão e referências bibliográficas.<br />

Referências: até 100 referências, seguindo o sistema numérico<br />

por ordem de sua citação no texto segundo o estilo Vancouver.<br />

Quadros e Tabelas: até 2, apresentadas em páginas separadas<br />

e no final do texto. Em cada uma, devem constar seu número de<br />

ordem, título e legenda.<br />

Artigos de Resenha: análise crítica de livros publicados, teses e<br />

dissertações dos últimos dois anos (3000 palavras).<br />

As Resenhas de livros, teses ou dissertações devem seguir os itens:<br />

título em inglês e em português ou espanhol, sintético e restrito<br />

ao conteúdo, mas contendo informação suficiente para catalogação,<br />

não excedendo 90 caracteres. A Revista prefere títulos<br />

informativos; nome do(s) revisor(es), com formação, titulação<br />

acadêmica e vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi<br />

realizado, endereço para correspondência; referência completa<br />

da obra seguindo estilo Vancouver; corpo do texto contendo:<br />

tema, hipótese ou idéia central; argumentos; evidências científicas;<br />

avaliação pessoal quanto à organização da obra, pontos<br />

fortes e fracos, bibliografia utilizada, benefícios, trabalhos semelhantes;<br />

conclusão, críticas e comentários.<br />

Ensaios: pesquisas, análises e avaliações de tendência teórico-metodológicas<br />

e conceituais da área das neurociências<br />

(3000 palavras). Deverão conter: título em inglês e em português<br />

ou espanhol, sintético e restrito ao conteúdo, mas<br />

contendo informação suficiente para catalogação, não excedendo<br />

90 caracteres. A Revista prefere títulos informativos;<br />

nome do(s) autor(es), com formação, titulação acadêmica e<br />

vínculo profissional, instituição onde o trabalho foi realizado,<br />

endereço para correspondência; e no máximo 10 referências<br />

bibliográficas.<br />

Texto de Opinião e Carta ao Editor: devem conter opinião<br />

qualificada sobre um tema na área de neurociências, nota curta,<br />

crítica sobre artigo já publicado na Revista Neurociências ou<br />

relato de resultados parciais ou preliminares de pesquisa (1000<br />

palavras).<br />

Deverão conter: título em inglês e em português ou espanhol,<br />

sintético e restrito ao conteúdo, mas contendo informação suficiente<br />

para catalogação, não excedendo 90 caracteres. A Revista<br />

prefere títulos informativos; nome do(s) autor(es), com formação,<br />

titulação acadêmica e vínculo profissional, instituição onde<br />

o trabalho foi realizado, endereço para correspondência; e no<br />

máximo 10 referências bibliográficas.<br />

Modelo de Carta de Autorização e Declaração de Conflito de<br />

Interesse: http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

Instructions for authors: http://www.revistaneurociencias.com.br<br />

255 Rev Neurocienc 2007;<strong>15</strong>/3

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