AAI - Avaliação Ambiental Integrada da Bacia do Rio Xingu
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Avaliação <strong>Ambiental</strong> <strong>Integra<strong>da</strong></strong> (<strong>AAI</strong>) <strong>da</strong> bacia <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong><br />
3. Diagnóstico Socioambiental <strong>da</strong><br />
<strong>Bacia</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>Xingu</strong><br />
A presente análise <strong>da</strong> bacia hidrográfica <strong>do</strong> <strong>Xingu</strong> é foca<strong>da</strong> no uso<br />
<strong>do</strong> potencial hidrelétrico <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong>, sob a perspectiva de sua<br />
utilização ambientalmente sustentável, reunin<strong>do</strong> aqueles aspectos<br />
considera<strong>do</strong>s estruturantes, apresenta<strong>do</strong>s em detalhe no Produto<br />
Caracterização <strong>da</strong> <strong>Bacia</strong> <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>Xingu</strong>.<br />
Nessas circunstâncias, importa compreender as características<br />
socioambientais, quais sejam, os ecossistemas que constituem e<br />
organizam a paisagem e provêem recursos naturais e serviços<br />
ambientais, bem como a dinâmica socioeconômica que determina<br />
as várias formas de apropriação desses recursos e serviços.<br />
A partir desse quadro, pode-se inferir sobre quais processos<br />
poderão se estabelecer nesse espaço territorial com a<br />
implantação <strong>do</strong>s aproveitamentos pretendi<strong>do</strong>s pelo setor elétrico<br />
e, em que medi<strong>da</strong> as dinâmicas socioeconômicas prevalecentes<br />
na bacia poderão ser altera<strong>da</strong>s, se serão intensifica<strong>do</strong>s processos<br />
no campo produtivo e de antropização já em curso e/ou surgirão<br />
novas reali<strong>da</strong>des; o mesmo em relação aos conflitos e<br />
contradições atualmente observa<strong>do</strong>s ou, ain<strong>da</strong>, emergirão novos<br />
conflitos, nota<strong>da</strong>mente relaciona<strong>do</strong>s aos usos <strong>da</strong>s águas.<br />
A bacia hidrográfica <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong> tem área total aproxima<strong>da</strong> de<br />
509.000 km 2 e se desenvolve no senti<strong>do</strong> sul-norte, desde a<br />
Região Centro-Oeste, aproxima<strong>da</strong>mente no paralelo 15º S, até o<br />
paralelo 3º S, na Região Norte. Está limita<strong>da</strong> pela bacia<br />
hidrográfica <strong>do</strong> rio Tapajós, a oeste e, a leste, pela bacia <strong>do</strong>s rios<br />
Araguaia – Tocantins.<br />
As cabeceiras <strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong> e seus principais<br />
afluentes encontram-se no setor norte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Mato Grosso,<br />
nos terrenos mais eleva<strong>do</strong>s situa<strong>do</strong>s ao sul <strong>do</strong>s divisores <strong>da</strong><br />
Chapa<strong>da</strong> <strong>do</strong>s Parecis. O clima, fortemente estacional, condiciona<br />
a vegetação savânica, característica <strong>do</strong> bioma Cerra<strong>do</strong> onde se<br />
insere esse trecho superior <strong>da</strong> bacia hidrográfica.<br />
Nesse trecho inicial <strong>da</strong> bacia hidrográfica pre<strong>do</strong>minam formações<br />
de transição entre as savanas, que caracterizam as áreas <strong>da</strong>s<br />
nascentes, e as extensas florestas ombrófilas presentes no médio<br />
e no baixo curso. Essa situação ecotonal traduz-se pela presença<br />
de extensas formações de contato Floresta Ombrófila/Floresta<br />
Estacional, esta última característica <strong>do</strong> limite entre os biomas<br />
Amazônia e Cerra<strong>do</strong>.<br />
É nesse setor <strong>da</strong> bacia hidrográfica que a agropecuária,<br />
principalmente as culturas cíclicas tecnifica<strong>da</strong>s, têm maior<br />
expressão, nota<strong>da</strong>mente no sul/su<strong>do</strong>este <strong>da</strong> bacia, próximo à BR-<br />
163, polariza<strong>da</strong> por Sinop e por Cuiabá, quan<strong>do</strong> considera<strong>do</strong> um<br />
raio maior.<br />
Os vetores de ocupação se expandem às áreas de nascentes e<br />
aos altos cursos <strong>do</strong>s forma<strong>do</strong>res <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong>. Avançam sobre as<br />
formações de contato Floresta Ombrófila/Floresta Estacional, em<br />
direção as Terras Indígenas aí presentes, em um processo de<br />
crescente utilização <strong>da</strong> base de recursos naturais e <strong>do</strong>s serviços<br />
ambientais decorrentes principalmente <strong>da</strong> exploração <strong>da</strong> madeira,<br />
<strong>do</strong> consumo de nutrientes e de água para produção de grãos e<br />
para a pecuária.<br />
De ocupação relativamente recente, esse trecho <strong>da</strong> bacia<br />
hidrográfica apresenta um processo de alteração <strong>da</strong> paisagem em<br />
curso, onde se evidencia o confronto de mo<strong>do</strong>s de vi<strong>da</strong> e formas<br />
opostas de ocupação: uso <strong>do</strong>s produtos <strong>da</strong> floresta, pesca e<br />
cultivo de pequenas roças, presente nota<strong>da</strong>mente nas Terras<br />
Indígenas, e a agricultura tecnifica<strong>da</strong>.<br />
Desenvolven<strong>do</strong>-se em direção norte, o rio <strong>Xingu</strong> apresenta, em<br />
seu trecho médio, canal com ilhas e pedrais que formam rápi<strong>do</strong>s e<br />
cachoeiras. As planícies fluviais são estreitas e descontinuas com<br />
canais aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s, lagoas e alagadiços. Esse padrão ocorre na<br />
maior parte <strong>do</strong> canal principal <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> <strong>Xingu</strong>, entre a Cachoeira de<br />
Von Martius e Belo Monte, incluin<strong>do</strong> a região <strong>da</strong> Volta Grande,<br />
grande parte <strong>do</strong> <strong>Rio</strong> Iriri e de seu afluente <strong>Rio</strong> Curuá.<br />
To<strong>do</strong> esse trecho <strong>da</strong> bacia, correspondente ao médio curso, situase<br />
na Depressão <strong>da</strong> Amazônia Meridional, recoberta por florestas<br />
ombrófilas, onde encraves de savanas ou contatos<br />
savana/floresta ombrófila se destacam em correspondência aos<br />
planaltos residuais aí existentes.<br />
Caracteriza<strong>do</strong> pelo contínuo florestal e ocupa<strong>do</strong> em grande parte<br />
por terras Indígenas e Uni<strong>da</strong>des de Conservação, este amplo<br />
espaço geográfico encontra-se fragmenta<strong>do</strong> na altura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de<br />
de São Félix <strong>do</strong> <strong>Xingu</strong> devi<strong>do</strong> à ocupação antrópica, onde se<br />
destaca a pecuária extensiva. A BR–158, que se desenvolve<br />
longitudinalmente a leste <strong>da</strong> bacia hidrográfica, corresponde ao<br />
principal vetor <strong>da</strong> ocupação, polariza<strong>da</strong> por Marabá no que se<br />
refere ao escoamento bovino de maior escala.<br />
A pressão antrópica e os conflitos de uso se traduzem por<br />
extensos desflorestamentos em meio à floresta ombrófila e em<br />
derruba<strong>da</strong>s menores, porém gra<strong>da</strong>tivas, em Terras Indígenas e<br />
nas Uni<strong>da</strong>des de Conservação, algumas recentemente cria<strong>da</strong>s.<br />
Evidenciam-se nessa área, denomina<strong>da</strong> “Terra <strong>do</strong> Meio”, conflitos<br />
fundiários e um processo de exploração não sustentável <strong>do</strong>s<br />
produtos <strong>da</strong> floresta e <strong>do</strong>s recursos hídricos, que se reflete em<br />
desflorestamentos irregulares e na ausência de boas práticas<br />
ambientais.<br />
No curso médio inferior, o rio <strong>Xingu</strong> recebe seu principal afluente,<br />
o rio Iriri e, nas imediações <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Altamira, sofre uma<br />
acentua<strong>da</strong> deflexão forman<strong>do</strong> a chama<strong>da</strong> Volta Grande, de<br />
grandes corredeiras, com um desnível de 85 m em 160 km. No fim<br />
desse trecho, à altura <strong>da</strong> locali<strong>da</strong>de de Belo Monte, o rio se alarga<br />
consideravelmente, apresentan<strong>do</strong> baixa declivi<strong>da</strong>de até a sua foz<br />
e sofren<strong>do</strong>, inclusive, efeitos de remanso provoca<strong>do</strong>s pelo rio<br />
Amazonas (CNEC, 1988).<br />
Nesse trecho, as extensas formações florestais sofrem solução de<br />
continui<strong>da</strong>de, em decorrência <strong>da</strong> presença a ro<strong>do</strong>via<br />
Transamazônica, implanta<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 1970. Transversal à<br />
bacia, esta via de acesso trouxe como resulta<strong>do</strong> uma ocupação<br />
em núcleos de colonização associa<strong>do</strong>s à ro<strong>do</strong>via e às estra<strong>da</strong>s<br />
vicinais, onde o desflorestamento se intensificou, determinan<strong>do</strong><br />
um padrão de fragmentação <strong>da</strong> floresta correspondente à<br />
geometria dessa rede viária.<br />
Ao norte desse trecho intensamente ocupa<strong>do</strong> e altera<strong>do</strong><br />
desenvolvem-se novamente extensas florestas, em grande parte<br />
abarca<strong>da</strong>s por uni<strong>da</strong>de de conservação de uso sustentável, que<br />
se estendem até as várzeas <strong>do</strong> rio Amazonas.<br />
Assim, à parte as áreas legalmente protegi<strong>da</strong>s, vetores de<br />
ocupação se evidenciam em locali<strong>da</strong>des bem defini<strong>da</strong>s <strong>da</strong> bacia:<br />
(i) ao sul, no alto curso <strong>do</strong> rio <strong>Xingu</strong>, na região <strong>da</strong>s savanas e no<br />
contato destas com as formações florestais amazônicas (ii) a<br />
leste, nota<strong>da</strong>mente na região de São Félix <strong>do</strong> <strong>Xingu</strong> e a<br />
sul/sudeste desta e; (iii) ao norte, em correspondência à Ro<strong>do</strong>via<br />
Transamazônica.<br />
ARCADIS Tetraplan 5