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Lazer e Leitura nas Imagens de Debret - Profª Carla Mary S. Oliveira

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OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUESE STUDIES REVIEW 18 (1) (2011) 151-177 167<br />

tor jovem no Brasil que correm mesmo o risco <strong>de</strong> serem naturalizadas e encaradas<br />

como uma “verda<strong>de</strong> histórica”.<br />

Da primeira <strong>de</strong>las, “Sábio trabalhando no seu gabinete”, na verda<strong>de</strong> pouco<br />

se sabe, como assinalam Júlio Ban<strong>de</strong>ira e Pedro Corrêa do Lago 26 , além<br />

das informações que o próprio <strong>Debret</strong> <strong>de</strong>ixou entrever, como o local e a data<br />

<strong>de</strong> conclusão da aquarela—Rio <strong>de</strong> Janeiro, 1827. Trata-se <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong><br />

quarto ou gabinete <strong>de</strong> estudos no qual um homem sentado numa re<strong>de</strong>—hábito<br />

bem brasileiro—escreve trajando roupas muito pouco formais e <strong>de</strong>spretensiosas<br />

chinelas. O momento <strong>de</strong> estudo e reflexão, flagrado pelo olhar do<br />

experiente pintor francês, nos <strong>de</strong>ixa ver um senhor já não tão jovem, cujo<br />

adianto nos anos é <strong>de</strong>nunciado pelas significativas entradas na cabeleira <strong>de</strong>sarrumada.<br />

Este senhor <strong>de</strong> meia ida<strong>de</strong> e já um pouco careca escreve amparado<br />

pela leitura <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> livro aberto, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m perceber alguns<br />

esboços <strong>de</strong> partes do corpo humano. O livro, <strong>de</strong>vido a seu tamanho volumoso,<br />

está colocado sobre uma ca<strong>de</strong>ira ao lado da re<strong>de</strong> on<strong>de</strong> se passa a cena<br />

principal.<br />

No entorno da personagem há alguns outros livros abertos e várias folhas<br />

“escritas” espalhadas pelo assoalho <strong>de</strong> tábuas corridas, um banquinho com o<br />

indispensável tinteiro e duas pe<strong>nas</strong>, ferramentas essenciais ao ato da escrita.<br />

Ao fundo, se veem muitos livros, dispostos em duas prateleiras ao canto do<br />

quarto e num armário <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira ricamente trabalhado, fechado e com portas<br />

<strong>de</strong> vidro, talvez numa tentativa <strong>de</strong> proteger da umida<strong>de</strong> e da poeira arti -<br />

gos tão valiosos e ainda <strong>de</strong> acesso difícil no começo dos oitocentos em terras<br />

brasileiras 27 . Serve <strong>de</strong> suporte para a tarefa <strong>de</strong> nossa personagem acomodada<br />

na re<strong>de</strong> uma tábua que sustenta sua escrita.<br />

Temos ainda outras referências que po<strong>de</strong>m nos levar a pensar em alguém<br />

<strong>de</strong>dicado aos estudos da natureza, tão em moda no oitocentos: por <strong>de</strong>trás da<br />

26 Os autores informam que a aquarela não entrou para o álbum Voyage Pittoresque et Historique<br />

au Brésil por razões <strong>de</strong>sconhecidas e que, por isso, fomos privados dos comentários <strong>de</strong><br />

<strong>Debret</strong> sobre a imagem, que só tornou-se conhecida por ter sido adquirida por Castro Maya,<br />

em Paris, no ano <strong>de</strong> 1939. Com a publicação do Catalogue Raisonné da obra <strong>de</strong> <strong>Debret</strong>, em<br />

2007, o acesso a ela ficou mais fácil aos pesquisadores brasileiros. Ban<strong>de</strong>ira & Lago, <strong>Debret</strong> e o<br />

Brasil, 180.<br />

27 O campo dos estudos históricos sobre as práticas <strong>de</strong> leitura no Brasil, na América espanhola<br />

e na Península Ibérica tem se expandido consi<strong>de</strong>ravelmente nos últimos anos. Para<br />

aprofundar-se no tema, ver: Leila Mezan Algranti & Ana Paula Megiani, eds., O Império por<br />

escrito: formas <strong>de</strong> transmissão da cultura letrada no mundo ibérico—séculos XVI-XIX (São Paulo:<br />

Alameda, 2009).

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