170 OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUESE STUDIES REVIEW 18 (1) (2011) 151-177 Fig. 5 Jean-Baptiste <strong>Debret</strong>, Uma tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> verão 30 [MEA 0201], 1826; datado e assinado; aquarela sobre papel; 15 x 21,3 cm; Acervo dos Museus Castro Maya, Rio <strong>de</strong> Janeiro. 30 Título original, anotado pelo próprio <strong>Debret</strong> logo abaixo do <strong>de</strong>senho, a grafite Un après dîner d’eté. No segundo volume do Voyage Pittoresque, publicado em 1835, aparece a gravura <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong>sta aquarela, mas com o título Les délassements d’un après-diner d’hommes riches. <strong>Debret</strong>, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, vol. 2, 42-43.
OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUESE STUDIES REVIEW 18 (1) (2011) 151-177 171 <strong>de</strong> cano longo, parecendo ser <strong>de</strong> montaria, <strong>de</strong>scansam sob o mesmo catre em que se refestela o músico. Como o próprio <strong>Debret</strong> nos informa, o espaço no qual estão inseridos o conjunto <strong>de</strong> quatro jovens, a varanda, é uma solução arquitetônica bastante comum tanto <strong>nas</strong> casas <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> algumas posses como <strong>nas</strong> mais simples, permitindo que se usufrua do ar fresco até que a noite caia e, finalmente, se possa sair novamente à rua, livre da “temperatura que se eleva aos 45 graus <strong>de</strong> calor, sob um sol insuportável durante seis a oito meses do ano” 31 . Essas duas imagens tratam do universo doméstico íntimo e privado dos homens brancos e <strong>de</strong> elite, cuja forma <strong>de</strong> aproveitar ou gastar o tempo livre está vinculado ao hábito <strong>de</strong> ler, estudar ou mesmo tocar um instrumento musical. Na opinião <strong>de</strong> <strong>Debret</strong>—cujos parâmetros <strong>de</strong> comparação são os hábitos dos jovens franceses—o clima quente, os temperos fortes utilizados na culinária das Américas e a alta temperatura do café fazem com que boa par - te do dia <strong>de</strong>sses jovens se <strong>de</strong>stine a evitar as agruras da temperatura e <strong>de</strong> seus maus hábitos alimentares, que só prejudicam o <strong>de</strong>senvolvimento dos laços baseados no “interesse e afeição” que os jovens franceses acalantam 32 . No próprio comentário à gravura <strong>de</strong>rivada da aquarela que traz os jovens mancebos brasileiros se <strong>de</strong>leitando com a leitura e a música, <strong>Debret</strong> <strong>de</strong>staca que se tratam <strong>de</strong> rapazes ricos, “filhos mimados da natureza”, que <strong>de</strong>senvolvem seus talentos agradáveis que são completados pelo “charme <strong>de</strong> sua música” 33 exibida nos salões locais. Fruição não só da leitura, mas também da música —ou seja, tanto da cultura letrada como também da popular, já que sabidamente a música, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos coloniais, era um campo profícuo <strong>de</strong> tro - cas, interferências e circularida<strong>de</strong> cultural entre as camadas mais subalter<strong>nas</strong>, como escravizados e homens livres pobres, e as elites locais—aparecem nestas imagens como um privilégio <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong> posses, evi<strong>de</strong>ntemente 31 O texto original: “… température qui s’élève jusqu’à 45 <strong>de</strong>grés <strong>de</strong> chaleur, sous un soleil insupportable pendant six à huit mois <strong>de</strong> l’année”. <strong>Debret</strong>, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, vol. 2, 42. 32 <strong>Debret</strong>, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, vol. 2, 42. 33 O trecho completo escrito por <strong>Debret</strong>, arrematando a explicação da cena: “Jouissant ainsi pendant une gran<strong>de</strong> partie <strong>de</strong> la journée, <strong>de</strong> tous les avantages <strong>de</strong> liberté prescrits par la chaleur du climat, le Brésilien jeune et riche, enfant gâté <strong>de</strong> la nature, développe <strong>de</strong>s talents agréables appréciés dans les réunions du soir, où brille le luxe européen, et dont il complète l’ornement par le charme <strong>de</strong> la musique”. <strong>Debret</strong>, Voyage Pittoresque et Historique au Brésil, vol. 2, 42.
- Page 1 and 2: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 3 and 4: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 5 and 6: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 7 and 8: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 9 and 10: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 11 and 12: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 13 and 14: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 15 and 16: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 17 and 18: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 19: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 23 and 24: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 25 and 26: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES
- Page 27: OLIVEIRA AND ENGLER CURY, PORTUGUES