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os agricultores associam seus quintais, primeiramente, aos aspectos que contribuem para a reprodução material da unidade familiar, em que há uma alusão ao espaço físico em volta da casa, onde se cultivam as árvores e plantas frutíferas, e se criam galinhas e suínos. Nas palavras de um agricultor, “O que nós considera como quintal é justamente o que a gente planta beirando a casa. Cerca uma área maiorzinha e planta. Faz plantação de laranja, mexerica, [...] fruta, né? Tem a galinha [...]”. (Entrevista 03, 2008). Em outra entrevista realizada nesse mesmo período (Entrevista 05, 2008), a depoente afirma que: Aqui o quintal produz as frutas pra família. Tem que ter o quintal pra ter as frutas fresquinhas. As fruteiras para o nosso consumo é importante, o alimento. Tem mexerica, tamarindo, banana, graviola, abacate, tem o pé de uva aqui na porta que eu gosto demais, tá carregadinho de uva, né? Agora tem um pé de graviola que tá dando umas graviola grandona. A gente tira polpa delas, faz suco [...]. É muito importante. Apesar de muitos desses agricultores comercializarem o excedente do que é produzido no quintal, este local é considerado, de forma geral, como uma área exclusiva para a subsistência da família. Segundo um agricultor, “o quintal é uma área de produzir pra gente” (Entrevista 06, 2008). Outro entrevistado afirma que “ah, o quintal é um lugar de tirar um pouco de alimento pra despesa da casa” (Entrevista 09, 2008). Dessa forma, é interessante mencionar o posicionamento de Oklay (2004) ao afirmar que os quintais funcionam como verdadeiras despensas naturais, onde as mulheres podem recorrer durante o preparo das refeições diárias. 4. AS FUNÇÕES DO AUTOCONSUMO A PARTIR DA EXISTÊNCIA DOS QUINTAIS Nesse artigo, entende-se que a produção para o autoconsumo a partir dos quintais é a parcela da produção animal e vegetal, cultivadas ou extraídas desse ambiente, destinadas ao consumo da unidade familiar. Diante das dificuldades que a agricultura familiar vem enfrentando nas últimas décadas, a produção para o autoconsumo permite a autonomia dessas famílias, otimizando a utilização dos recursos internos à propriedade. Além do mais, ao combinar esse tipo de atividade com outras agrícolas e não-agrícolas, pode-se
minimizar os efeitos da sazonalidade de rendas e das instabilidades climáticas (GRISA, 2007). A produção para o autoconsumo também é considerada uma fonte de segurança alimentar, que permite o acesso direto da família a uma variedade de alimentos, conforme os gostos e tradições locais. No caso dos quintais, essa produção serve como complemento da dieta alimentar dos agricultores (OKLAY, 2004). A produção do quintal para o autoconsumo, além de possibilitar uma economia ou até mesmo uma renda extra para as famílias, também é fundamental enquanto atividade que fortalece a ligação do homem com a terra. Como o quintal é antes de tudo um local de trabalho e dedicação, existe um valor sentimental ou de afeto decorrente do esforço empreendido e correspondido pela terra. Nas palavras de Brandão (1999, p. 81): O espelho do trabalho agrícola fica deixado sobre a terra, colocado em algo vivo, crescendo ali em cada momento, o que não acontece com os domínios do ambiente não socializado, que apenas parecem reproduzir ciclos e regenerar perdas sazonais. Há um rústico desejo narcisista de entrever-se e darse ao outro como uma indiscutível manifestação de poder de fertilidade. De saber e fazer com que a vida se regenere do que é em si mesma viva, mas apenas possível de recriação através da persistente dobra da natureza não só ao trabalho, mas ao arbítrio da vontade do homem. A partir daí, percebe-se a dimensão do valor dado aos alimentos colhidos na propriedade, da mesma forma que se explica o vínculo e o apego à terra, de onde provém a maior parte do sustento da agricultura familiar. A criação de pequenos animais nesses espaços também colabora para a composição da identidade cultural dessas famílias. Criar animais no quintal é uma tarefa que exige cuidados, atenção, o que gera muitas vezes um vínculo de carinho e respeito, até mesmo para com aqueles que se destinam à alimentação das pessoas. As galinhas e os porcos servem de alimento para o grupo familiar ao mesmo tempo em que são alimentados por essas pessoas. Os outros animais, como cachorro, gato, passarinho, não geram fonte de renda, no entanto, desempenham funções diversas e não menos relevantes. O cachorro, por exemplo, segundo Garcia Jr. (1983), tem o papel de defensor da casa, sendo o companheiro do pai de família em suas atividades de caça ou mesmo na roça. O gato defende o interior da casa de roedores possam atingir as reservas de alimentos, além de servirem também como companhia para as pessoas que habitam a propriedade.
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