UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS - uea - pós graduação
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<strong>UNIVERSIDADE</strong> <strong>DO</strong> ESTA<strong>DO</strong> <strong>DO</strong> <strong>AMAZONAS</strong><br />
FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL <strong>DO</strong> <strong>AMAZONAS</strong><br />
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL<br />
MESTRA<strong>DO</strong> EM <strong>DO</strong>ENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS<br />
PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO TOXOPLASMA GONDII NA POPULAÇÃO<br />
DA CALHA <strong>DO</strong> RIO PURUS NO MUNICÍPIO DE LÁBREA, <strong>AMAZONAS</strong><br />
FABIANE GIOVANELLA BORGES<br />
MANAUS<br />
2006
ii<br />
FABIANE GIOVANELLA BORGES<br />
PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO TOXOPLASMA GONDII NA POPULAÇÃO<br />
DA CALHA <strong>DO</strong> RIO PURUS NO MUNICÍPIO DE LÁBREA, <strong>AMAZONAS</strong><br />
Dissertação apresentada ao Programa de<br />
Pós-Graduação em Medicina Tropical da<br />
Universidade do Estado do Amazonas em<br />
convênio com a Fundação de Medicina<br />
Tropical do Amazonas, para obtenção do<br />
grau de Mestre em Doenças Tropicais e<br />
Infecciosas.<br />
Orientador: Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga<br />
Co-orientadores: Prof. Dr. Ricardo Augusto Chaves de Carvalho<br />
Prof a . M.Sc. Marilaine Martins<br />
MANAUS<br />
2006
iii<br />
FICHA CATALOGRÁFICA<br />
Borges, Fabiane Giovanella<br />
Prevalência da infecção pelo Toxoplasma gondii na população da calha do rio Purus no<br />
município de Lábrea, Amazonas. Fabiane Giovanella Borges. – Amazonas, 2006.<br />
xiv. 55f.<br />
Dissertação (Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas) - Universidade do Estado do<br />
Amazonas. Fundação de Medicina Tropical do Amazonas. Programa de Pós-<strong>graduação</strong> em<br />
Medicina Tropical.<br />
Título em inglês: Prevalence of Toxoplasma gondii infection in the population of Purus river<br />
basin in Labrea municipality, Amazonas.<br />
1.Toxoplasma gondii. 2. Toxoplasmose. 3. Lábrea. 4. Amazonas.
iv<br />
FOLHA DE JULGAMENTO<br />
PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO PELO TOXOPLASMA GONDII NA<br />
POPULAÇÃO DA CALHA <strong>DO</strong> RIO PURUS NO MUNICÍPIO DE<br />
LÁBREA, <strong>AMAZONAS</strong><br />
FABIANE GIOVANELLA BORGES<br />
“Esta Dissertação foi julgada adequada para obtenção do Título de Mestre em Doenças<br />
Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em<br />
Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de<br />
Medicina Tropical do Amazonas”.<br />
Banca Julgadora:<br />
______________________________________<br />
Prof. Wornei Silva Miranda Braga, Dr.<br />
Presidente<br />
______________________________________<br />
Prof a . Flor Ernestina Martinez Espinosa, Dr a .<br />
______________________________________<br />
Prof. Jacob Moysés Cohen, Dr.
v<br />
Dedicatória:<br />
Aos meus pais, Paulo e Eliane.<br />
Aos meus irmãos Alex Sandro, Júnior e Thiago.<br />
Dedico-lhes esta conquista.
vi<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Ao meu orientador Prof. Dr. Wornei Silva Miranda Braga pelo estímulo<br />
constante, pelos ensinamentos, por este presente e pela realização deste sonho.<br />
Ao meu co-orientador Prof. Dr. Ricardo Augusto Chaves de Carvalho pela<br />
orientação e contribuição necessária ao desenvolvimento desta dissertação.<br />
À minha co-orientadora Prof a M. Sc. Marilaine Martins pela amizade, apoio e<br />
colaboração neste trabalho.<br />
A Universidade do Estado do Amazonas e a Fundação de Medicina Tropical<br />
do Amazonas pela oportunidade de realização deste curso.<br />
A Superintendência da Zona Franca de Manaus pelo apoio ao Curso de<br />
Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas.<br />
A Fundação Muraqui pela aquisição dos kits sorológicos e a Fundação de<br />
Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas pelo financiamento e apoio logístico da<br />
viagem.<br />
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior pela bolsa<br />
de estudo durante a realização do curso.<br />
A Prof a Dra. Maria das Graças do Vale Barbosa, coordenadora do Mestrado<br />
em Doenças Tropicais e Infecciosas que não mediu esforços para a execução deste<br />
trabalho.<br />
Aos funcionários Maria Dolores Gomes Rosa, Manoel Bezerra de Queiroz e<br />
toda a equipe de trabalho de campo, companhia dos momentos difíceis.<br />
Aos amigos Prof. Dr. Pedro Paulo Ribeiro Vieira e Gustavo Henrique Nolasco<br />
Grimmer Davis pelas imagens maravilhosas.<br />
Aos moradores da calha do rio Purus por aceitarem participar deste estudo,<br />
de fundamental importância para a realização deste trabalho.<br />
Aos funcionários da Gerência de Virologia no auxílio dispensado, em especial<br />
à amiga Márcia da Costa Castilho pelo carinho e ao amigo João Bosco de Lima<br />
Gimaque pela execução dos testes sorológicos.<br />
Aos colegas do Mestrado, Maria das Graças Gomes Saraiva, Kleber Pinheiro<br />
de Oliveira, Marcelo dos Santos Neves, Débora Laís dos Santos Justo, Suiane da<br />
Costa Negreiros do Valle, Laura Patrícia Viana Maia, Jander Tôrres da Silva, Flávio<br />
Silveira de Barros e Rosilene Viana de Andrade, pela convivência e<br />
companheirismo.<br />
Aos professores do Mestrado em Doenças Tropicais e Infecciosas pelos<br />
ensinamentos.
vii<br />
Aos Professores Doutores Antônio de Matos Tavares e Adriana Maria Neves<br />
Melo por participarem da banca de qualificação contribuindo para o desenvolvimento<br />
desta dissertação.<br />
Ao José Maurício Gonçalves Castro Jr. pelo estímulo e companhia<br />
fundamental nesta jornada.<br />
As funcionárias do Mestrado Maria da Conceição dos Santos Tufic, Samantha<br />
Teixeira Vasconcelos e Lucilene Guerra Pinheiro pelo carinho e colaboração.<br />
Ao Setor de Informática da FMT-AM, especialmente ao Sr. Marco Antônio<br />
Sabóia Moura pela elaboração dos mapas e assistência no campo da informática.<br />
A amiga Andréia Queiroz de Camargo pela colaboração na execução da<br />
apresentação.<br />
A Acessoria técnica da FMT-AM, em especial, aos funcionários Roosevelt<br />
Soares de Oliveira, Elvis Canizo e Orleans Furtado pelo apoio técnico.<br />
A amiga Maria Soledade Garcia Benedetti pela fase inicial do trabalho.<br />
Ao Dr. Jorge Augusto de Oliveira Guerra pela literatura cedida.<br />
A todos aqueles, que de forma direta ou indireta, me incentivaram a concluir<br />
este trabalho.<br />
Agradeço em especial, a minha família, sem a qual não teria conquistado esta<br />
vitória.
viii<br />
Durante a vida inteira sonhei com coisas distantes...<br />
No caminho fui crescendo e perguntando: Por que não?...<br />
Isso me fez aprender a caminhar...<br />
Paulo Diógenes Quevedo Borges
ix<br />
RESUMO<br />
O presente trabalho estimou a prevalência da infecção pelo Toxoplasma<br />
gondii na população da calha do rio Purus no município de Lábrea, Estado do<br />
Amazonas, Brasil. O estudo incluiu 714 indivíduos de um total de 141 famílias, na<br />
grande maioria agricultores, inclusive mulheres e crianças que trabalhavam com<br />
agricultura de subsistência. Foi encontrada elevada taxa de analfabetismo e em<br />
geral, as famílias revelavam hábitos de higiene ambiental e pessoal precários.<br />
Destes indivíduos, 360 (50,4%) eram do gênero masculino e 354 (49,6%) do gênero<br />
feminino, com uma média de idade de 20 anos (1 a 87 anos). A taxa de prevalência<br />
geral de infecção pelo Toxoplasma gondii encontrada foi 49,6% (IC95% 45,9 – 53,3)<br />
para anticorpos da classe IgG (ELISA). Em relação aos fatores de risco clássicos de<br />
infecção pelo Toxoplasma gondii, não foram encontradas diferenças estatisticamente<br />
significativas com gênero, etnia, destino dos dejetos, com o hábito de comer carne<br />
crua ou mal cozida, com a presença de animais domésticos, com a presença de gato<br />
no domicílio, com o uso de calçado e com o contato com o solo. Entretanto, foi<br />
encontrada associação estatisticamente significativa com idade (p
x<br />
ABSTRACT<br />
The present study has estimated the prevalence of Toxoplasma gondii<br />
infection within the rural population of Labrea county, in the Purus river, Amazonas<br />
State, Brazil. The study included 714 subjects from a total of 141 families. Farmers<br />
including, women and children working with survival agriculture. A high rate of<br />
illiterates was found, and in general the families revealed precarious habits of<br />
environmental and personal hygiene. Out of these, 360 (50.4%) were male and 354<br />
(49.6%) were female, with a mean age of 20 years (1 to 87 years). The overall<br />
prevalence rate of Toxoplasma gondii infection was 49.6% (IC95% 45,9 – 53,3)<br />
measured by IgG antibodies (ELISA). Toxoplasma gondii infection was not<br />
statistically associated with gender, ethnic group, human waste destination, habit of<br />
eating raw meat or rare cooked, with the presence of domestic animals especially<br />
with the presence of cats in the household, the use of shoes and with the contact<br />
with soil. However, there was a significant difference with age and the presence of<br />
sand in the backyard of the house. Probably, the role of the presence of sand in the<br />
backyards and the influence of age are related to the sanitation, the infrastructure of<br />
the houses, to the habits of hygiene and to the significant presence of cats in the<br />
villages. Though, some question still must be answered mostly related to the ocular<br />
infection, the presence of the infection in domestic and wild animals and the high<br />
mean age of the positive individuals.<br />
Key-words: Toxoplasma gondii. Toxoplasmosis. Labrea. Amazonas.
xi<br />
LISTA DE FIGURAS<br />
Figura 1 - Ciclo Biológico do Toxoplasma gondii 04<br />
Figura 2 - Mapa do Brasil em destaque a localização do município de<br />
Lábrea 21<br />
Figura 3 - Distribuição dos participantes segundo gênero 28<br />
Figura 4 - Distribuição da população estudada por idade 28<br />
Figura 5 - Distribuição dos participantes segundo etnia 29<br />
Figura 6 - Comunidades estudadas na calha do rio Purus (Imagem de satélite)<br />
29<br />
Figura 7 - Distribuição da população em relação à ocupação 30<br />
Figura 8 -<br />
31<br />
Distribuição dos participantes segundo a presença ou não de areia<br />
no quintal da moradia<br />
Figura 9 - Distribuição dos participantes segundo hábito ou não de ingestão de<br />
carne crua ou mal cozida<br />
32<br />
Figura 10 - Distribuição dos participantes segundo a presença ou ausência de<br />
anticorpos da classe IgG anti-Toxoplasma gondii<br />
33<br />
Figura 11 - Média da idade da população estudada pela presença de IgG anti-<br />
Toxoplasma gondii 36
xii<br />
LISTA DE TABELAS<br />
Tabela 1 -<br />
Tabela 2 -<br />
Prevalência de positividade para Toxoplasma gondii por<br />
comunidade estudada. Área rural, Município de Lábrea,<br />
Estado do Amazonas, Brasil, 2005 33<br />
Prevalência de positividade para Toxoplasma gondii por<br />
fatores de risco estudados. Área rural, Município de<br />
Lábrea, Estado do Amazonas, Brasil, 2005 35
xiii<br />
LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS<br />
Aids Síndrome da Imunodeficiência Adquirida<br />
ANOVA Análise de variância<br />
Anti-p30 Anticorpos contra a proteína de superfície p -30<br />
CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior<br />
CD4+ Células de defesa T-4<br />
CD8+ Células de defesa T-8<br />
CEP Comitê de Ética em Pesquisa<br />
DNA Ácido desoxirribonucléico<br />
EDTA Ácido etilenodiamino tetra-acético<br />
ELISA Enzyme linked immunosorbent assay<br />
FAPEAM Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas<br />
FC<br />
Fixação do complemento<br />
FMT-AM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas<br />
GPS Global Position Sistem Garmim<br />
HI<br />
Hemaglutinação indireta<br />
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística<br />
IC<br />
Intervalo de confiança<br />
IFI<br />
Imunofluorescência indireta<br />
IFN-γ Interferon gama<br />
IgA<br />
Imunoglobulina sérica da classe IgA<br />
IgG<br />
Imunoglobulina sérica da classe IgG<br />
IgM<br />
Imunoglobulina sérica da classe IgM<br />
IL-12 Interleucina 12<br />
Km<br />
Kilômetro<br />
Km 2 Kilômetro quadrado<br />
mg<br />
Miligrama<br />
NK<br />
Células natural killer<br />
NO<br />
Óxido nítrico<br />
p<br />
Nível de significância estatística<br />
PAS Ácido Periódico de Schiff<br />
PCR Reação em cadeia da polimerase<br />
p30<br />
Proteína de superfície do Toxoplasma gondii<br />
RP<br />
Razões de prevalência<br />
RR MH Risco Relativo de Mantel-Haenszel<br />
RSF Técnica de Sabin-Feldman ou Teste do corante<br />
S<br />
Latitude sul<br />
SUFRAMA Superintendência da Zona Franca de Manaus<br />
T. gondii Toxoplasma gondii<br />
TNF Fator de necrose tumoral<br />
UEA Universidade do Estado do Amazonas<br />
W<br />
Latitude oeste<br />
μm<br />
Micrômetro<br />
% Percentagem<br />
X 2<br />
Qui-quadrado<br />
X 2 MH Qui-quadrado de Mantel-Haenszel<br />
< Menor<br />
> Maior
xiv<br />
SUMÁRIO<br />
1 INTRODUÇÃO 01<br />
1.1 A Doença 01<br />
1.2 Etiologia, Morfologia e Variabilidade Genética do Toxoplasma gondii 01<br />
1.3 Histórico 03<br />
1.4 Ciclo Biológico 04<br />
1.4.1 Ciclo Biológico do Toxoplasma gondii nos Hospedeiros Definitivos 05<br />
1.4.2 Ciclo Biológico do Toxoplasma gondii nos Hospedeiros<br />
Intermediários 06<br />
1.5 Transmissão 07<br />
1.6 Mecanismos Imunológicos da Toxoplasmose 08<br />
1.6.1 Resposta Imune Humoral à Toxoplasmose 08<br />
1.6.2 Resposta Imune Celular à Toxoplasmose 09<br />
1.7 Patogenia 09<br />
1.7.1 Toxoplasmose Adquirida em Paciente Imunocompetente 10<br />
1.7.2 Toxoplasmose Adquirida ou Reativação em Paciente<br />
10<br />
Imunodeficiente<br />
1.7.3 Toxoplasmose Ocular 11<br />
1.7.4 Toxoplasmose Gestacional e Congênita 11<br />
1.8 Diagnóstico da Toxoplasmose 12<br />
1.9 Diagnóstico Diferencial da Toxoplasmose 14<br />
1.10 Profilaxia 14<br />
1.11 Manejo e Tratamento da Toxoplasmose 14<br />
1.12 Aspectos Epidemiológicos da Toxoplasmose 15<br />
2 OBJETIVOS 20<br />
2.1 Geral 20<br />
2.2 Específicos 20<br />
3 MATERIAL E MÉTO<strong>DO</strong>S 21<br />
3.1 Modelo de Estudo 21<br />
3.2 Local do Estudo 21<br />
3.3 População do Estudo 22<br />
3.4 Tamanho da amostra 22<br />
3.5 Seleção dos Indivíduos Incluídos no Estudo 23<br />
3.6 Questões Éticas e Coleta de Dados 23<br />
3.7 Coleta e Análise das Amostras 24<br />
3.8 Realização dos Exames Oftalmológicos 24<br />
3.9 Instituições Envolvidas 25<br />
3.10 Análise Estatística<br />
3.11 Análise dos Dados<br />
4 RESULTA<strong>DO</strong>S 28<br />
5 DISCUSSÃO 38<br />
6 CONCLUSÃO 43<br />
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 44<br />
26<br />
26
8 APÊNDICES 52<br />
8.1Termo de Consentimento Livre e Informado 52<br />
8.2 Ficha Individual de Investigação 53<br />
9 ANEXOS 54<br />
9.1 Escala de Snellen adaptada para a região 54<br />
9.2 Documento de aprovação do Projeto no CEP da FMT-AM 55<br />
xv
1<br />
1 INTRODUÇÃO<br />
1.1 A Doença<br />
A toxoplasmose é uma doença infecciosa e parasitária e constitui uma das<br />
protozooses mais disseminadas do globo terrestre. Pesquisas soroepidemiológicas<br />
demonstram altos índices de prevalência da infecção toxoplasmótica assintomática<br />
(Focaccia et al., 1982).<br />
A variabilidade da freqüência da infecção está ligada a diversos fatores, tais<br />
como: os padrões sociais, culturais, econômicos, os hábitos alimentares, a faixa<br />
etária e a procedência urbana ou rural da população (Contreras et al., 1996).<br />
A toxoplasmose era pouco compreendida antes da epidemia da Aids<br />
(Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), estudos com a avaliação de inúmeros<br />
fatores indicaram a importância dos hábitos alimentares e da cultura na transmissão<br />
desta infecção. O desconhecimento dos aspectos sócio-epidemiológicos da<br />
toxoplasmose contribuiu para a distribuição desta doença e nos países em<br />
desenvolvimento, as medidas preventivas e culturais em várias comunidades foram<br />
consideradas ações importantes para o seu controle (Sukthana, 2006).<br />
1.2 Etiologia, Morfologia e Variabilidade Genética do Toxoplasma gondii<br />
A doença é causada pelo Toxoplasma gondii (T. gondii) podendo parasitar os<br />
humanos ou outras espécies de vertebrados. É estimado que entre 20 a 90% da<br />
população adulta no mundo, dependendo da região, já teve contato com este<br />
parasita (Spalding et al., 2005).<br />
O Toxoplasma gondii é um protozoário intracelular com distribuição universal<br />
(Cristo et al., 2005). É um patógeno de alta infectividade e baixa patogenicidade.<br />
Pode infectar todas as células dos mamíferos, exceto os glóbulos vermelhos.<br />
Resiste à ação de pepsinas e a temperaturas baixas e é corado pelas técnicas de<br />
Wrigth e Giemsa (Spinelli e Gonçalves, 1991).
2<br />
O T. gondii pertence ao Reino Protista, Filo Apicomplexa, Classe Sporozoea,<br />
Ordem Eucoccidiida, Família Sarcocystidae, Gênero Toxoplasma e Espécie<br />
Toxoplasma gondii (Rey, 2002).<br />
Apresenta uma morfologia múltipla dependendo do hábitat e do estágio<br />
evolutivo (Pessoa e Martins, 1974). Pode apresentar-se em três formas infectantes<br />
durante o ciclo biológico: taquizoítos, bradizoítos e esporozoítos. Essas formas<br />
apresentam organelas citoplasmáticas características do filo Apicomplexa que<br />
constituem o complexo apical: conóide, anel polar (em número de dois),<br />
microtúbulos subpeliculares, roptrias, micronemas e grânulos densos que são<br />
visíveis apenas com microscopia eletrônica (Frenkel, 1990b).<br />
Uma organela denominada apicoplasto foi descrita recentemente, possui<br />
quatro membranas e localiza-se próxima ao núcleo no citoplasma. É essencial a<br />
sobrevivência intracelular do parasito devido à função de síntese de ácidos graxos e<br />
de aminoácidos (Neves, 2005).<br />
Os taquizoítos são os organismos de rápida multiplicação, são causadores da<br />
infecção aguda. Também são conhecidos como trofozoítos, possuem 6 micrômetros<br />
(μm) de comprimento por 2 μm de largura e possuem uma grande quantidade de<br />
proteínas. Os bradizoítos são de multiplicação lenta, são encontrados dentro dos<br />
cistos do T. gondii. Medem cerca de 200 μm e possuem uma cápsula glicoprotéica<br />
que os isolam da ação imunológica do hospedeiro. Os esporozoítos desenvolvem-se<br />
nos esporocistos, dentro dos oocistos que são eliminados nas fezes dos felídeos<br />
(Frenkel, 1990a).<br />
A invasão realizada pelo taquizoíto na célula hospedeira decorre de um<br />
processo ativo que requer motilidade e a liberação de lipídeos e proteínas pelas<br />
organelas do complexo apical do parasito. As roptrias, micronemas e grânulos<br />
densos são responsáveis por esta função secretora. Uma vez acoplado à célula, sua<br />
penetração é completada em segundos. Visualiza-se uma constrição em sua volta<br />
que representa a junção das membranas plasmáticas do parasito com a da célula<br />
hospedeira e esta é selada formando o vacúolo parasitóforo com membrana<br />
permeável a moléculas pequenas (Rondanelli et al., 1986a).
3<br />
Na análise da variabilidade genética, o Toxoplasma gondii possui três<br />
genótipos identificados como tipos I, II e III. Foram isolados de animais e de<br />
humanos com diferenças biológicas relevantes. Os genótipos I e II tem sido<br />
associados com toxoplasmose congênita e o genótipo III é encontrado em animais<br />
(Mandell et al., 2005). Estudos demonstraram que o genótipo II é mais comum em<br />
humanos e associado com a reativação de infecção crônica tendo sido encontrado<br />
em 65% de pacientes com Aids (Howe et al., 1997).<br />
1.3 Histórico<br />
O Toxoplasma gondii foi descoberto em 1908 em dois países, no Brasil, por<br />
Splendore, na cidade de São Paulo através do encontro de formas evolutivas em<br />
coelhos doentes em laboratório e na Tunísia, no Instituto Pasteur, por Nicolle e<br />
Manceaux, em células mononucleares do fígado e do baço no “gondii”, um roedor<br />
norte-africano. Nesta ocasião, o parasita recebeu a denominação de Leishmania<br />
gondii e só posteriormente foi denominado de T. gondii. O termo “toxo” deriva do<br />
grego e significa arco e “gondii” vem do nome do hospedeiro, conhecido como<br />
“telout”, cujo nome científico é Ctenodactylus gondii (Silveira, 2002).<br />
No ano de 1923 em Praga, Janku descreveu o primeiro caso de infecção<br />
congênita humana. No Brasil em 1927, Torres correlacionou o parasito com a<br />
etiologia da meningoencefalite congênita, miocardite e miosite isolando o parasita<br />
em uma criança. Em 1937, em Nova York, Wolf e Cowen isolaram o T. gondii por<br />
inoculação em animais, tendo relatado casos de transmissão transplacentária (Kean,<br />
1972).<br />
Em 1941, Pinkerton e Henderson descreveram a primeira infecção em um<br />
adulto com doença exantemática e febre. Hutchison, em 1967, foi o primeiro a<br />
demonstrar que o gato teria papel no ciclo evolutivo do T. gondii, através da sua<br />
eliminação nas fezes, o que foi posteriormente confirmado (Spinelli e Gonçalves,<br />
1991).<br />
Em 1972, o T. gondii foi isolado pela primeira vez de amostras de terra e areia<br />
do jardim de uma residência (Fleck et al., 1972). No Brasil, foi isolado de algumas
amostras de solo. Este fato enfatizou principalmente que condições sanitárias<br />
adequadas auxiliam no controle da toxoplasmose (Coutinho et al., 1982).<br />
4<br />
1.4 Ciclo Biológico<br />
O ciclo biológico foi descrito em 1970 e foi caracterizado por um ciclo bem<br />
evidente de duplo hospedeiro. Os gatos constituintes da família Felidae são os<br />
hospedeiros completos ou definitivos, pois apresentam o ciclo sexuado ou<br />
Coccidiano dentro do vacúolo parasitóforo do citoplasma nas células epiteliais do<br />
intestino e o ciclo assexuado ocorrendo em outros tecidos (Smith, 1981). O homem e<br />
outros mamíferos são considerados os hospedeiros incompletos ou intermediários<br />
possuindo apenas o ciclo assexuado (Neves, 2005) (Figura 1).<br />
Figura 1 - Ciclo Biológico do Toxoplasma gondii<br />
Fonte: Neves, 2005.
5<br />
1.4.1 Ciclo Biológico do Toxoplasma gondii nos Hospedeiros Definitivos<br />
Os felinos podem se contaminar ao ingerir tecidos com cistos musculares ou<br />
de animais com cistos do protozoário no cérebro. Os parasitas invadem as células<br />
epiteliais do intestino delgado, sobretudo no íleo e dentro destas, estes parasitos<br />
agora trofozoítos crescem e se transformam em merozoítos que irão penetrar outras<br />
células epiteliais. Esta fase é a assexuada, e este processo de multiplicação é<br />
denominada como merogonia. O conjunto de merozoítos é denominado meronte ou<br />
esquizonte (Dubey e Frenkel, 1976).<br />
Nas células epiteliais do intestino delgado de gatos e outros felinos, os<br />
microorganismos estabelecem ainda o ciclo sexuado que é conhecido como Ciclo<br />
Coccidiano. Esta fase é também denominada como gamogonia e em decorrência<br />
disso, esses animais são considerados hospedeiros definitivos (Dubey, 1986). Os<br />
gatos a<strong>pós</strong> a primo-infecção desenvolvem imunidade e em uma nova contaminação<br />
não eliminam mais oocistos. Um gato jovem e não-imune, ao infectar-se oralmente<br />
desenvolverá o ciclo sexuado (Frenkel, 1978).<br />
Cerca de cinco dias a<strong>pós</strong> a infecção alguns merozoítos dão origem aos<br />
macrogametócitos e microgametócitos. A fecundação do macrogameta ocorre na<br />
própria célula epitelial de sua maturação. Os microgametas sairão de sua célula e<br />
irão fecundar o macrogameta formando o ovo ou zigoto. Este permanece por algum<br />
tempo e evoluirá dentro do epitélio, formando uma parede externa dupla dando<br />
origem ao oocisto. A célula epitelial sofrerá rompimento em alguns dias liberando o<br />
oocisto ainda imaturo (Dubey, 1986).<br />
Os oocistos são expulsos pelo gato para o meio exterior com as fezes a<strong>pós</strong><br />
alguns dias de sua contaminação, dependendo da forma infectante ingerida e<br />
persistem nas fezes durante uma a duas semanas. Este período entre a<br />
contaminação e o aparecimento dos oocistos nas fezes é denominado de prépatente<br />
(Teutsch et al., 1979).<br />
O período pré-patente será de três dias quando a infecção ocorrer por cistos,<br />
dezenove dias ou mais por taquizoítos e vinte ou mais dias por oocistos. A<strong>pós</strong> a
6<br />
eliminação dos oocistos nas fezes, estes sofrerão um processo de maturação<br />
denominado de esporogonia no meio exterior, e em cerca de quatro dias<br />
apresentarão dois esporocistos contendo quatro esporozoítos cada. Há ainda a<br />
formação de uma camada externa espessa que permite a resistência dos oocistos<br />
no meio externo (Freyre et al., 1989).<br />
Um gato jovem é capaz de eliminar oocistos durante 30 dias<br />
aproximadamente. O oocisto em condições de umidade, temperatura e local<br />
favorável é capaz de se manter infectante por cerca de 12 meses e o seu encontro<br />
no solo depende da manutenção destes fatores (Azevedo et al., 1983).<br />
1.4.2 Ciclo biológico do Toxoplasma gondii nos Hospedeiros Intermediários<br />
Os homens, mamíferos não-felinos e os pássaros são hospedeiros<br />
intermediários ou incompletos, nos quais ocorre apenas o ciclo tecidual. Os seres<br />
humanos e outros mamíferos são infectados pelo Toxoplasma ao ingerirem carne<br />
mal cozida contendo cistos tissulares com bradizoítos, ao ingerir oocistos infectantes<br />
excretados nas fezes de gatos infectados, através da ingestão de oocistos maduros<br />
contendo esporozoítos encontrados em alimentos e água contaminada ou por<br />
taquizoítos na forma transplacentária (Dubey, 1990).<br />
Segundo alguns estudos, as crianças são expostas ao T. gondii na sua<br />
grande maioria antes dos 12 anos de idade em particular em áreas rurais devido à<br />
agricultura, as condições inadequadas de higiene e também em virtude do contato<br />
com animais (Mohan et al., 2002).<br />
A<strong>pós</strong> a penetração no hospedeiro humano através da via oral, cada<br />
esporozoíto, bradizoíto ou taquizoíto realiza uma rápida passagem pelo epitélio<br />
intestinal onde ocorre uma intensa multiplicação intracelular. Posteriormente, os<br />
taquizoítos disseminam-se por via sanguínea para outras partes do organismo. No<br />
interior das células, causam uma mudança da morfologia celular, tornando-as mais<br />
esféricas e formam um vacúolo chamado de parasitóforo onde sofrerão duplicação<br />
de suas estruturas internas e sucessivas divisões celulares por um processo<br />
denominado endodiogenia com a formação de novos taquizoítos (Frenkel, 1985).
7<br />
Há o rompimento das células parasitadas com liberação de novos taquizoítos<br />
que irão invadir células novas. Essa disseminação do parasito pode provocar um<br />
quadro sintomático dependendo da suscetibilidade do hospedeiro, da cepa do<br />
parasito e da quantidade de formas infectantes adquiridas. Essa fase caracteriza a<br />
fase aguda da doença (Rondanelli et al., 1986b).<br />
Em indivíduos imunodeficientes ou em fetos a evolução desta fase pode ir até<br />
a morte do hospedeiro (Birgisdóttir et al., 2006). Com o estabelecimento da<br />
imunidade, a forma infectante ativa (taquizoíto) do parasito é eliminada, desaparece<br />
do sangue, da linfa e dos órgãos viscerais ocorrendo uma diminuição do parasitismo.<br />
A multiplicação intracelular torna-se lenta e o hospedeiro se cura permanecendo<br />
com a presença de cistos tissulares em estado de dormência principalmente no<br />
sistema nervoso central (Frenkel, 1988).<br />
Os cistos são formas de maior tamanho, medem cerca de 200 μm e podem<br />
conter até 3000 parasitos. São corados com Ácido Periódico de Schiff (PAS) e sua<br />
parede só é rompida pela ação de enzimas digestivas e temperaturas extremamente<br />
baixas ou altas. Essa fase cística com a diminuição dos sintomas caracteriza a fase<br />
crônica (Pessôa e Martins, 1974).<br />
O T. gondii tem predileção por tecidos embrionários ou fetais. O sistema<br />
nervoso é sensível a esta infecção. Essa fase pode permanecer por longos períodos<br />
por mecanismos ainda desconhecidos causando lesões locais nestes tecidos<br />
(necrose focal). Em geral, os focos necróticos são microscópicos e são vistos mais<br />
comumente no cérebro, músculos esqueléticos, miocárdio, fígado e mais raramente<br />
nos nódulos linfáticos, medula óssea e no baço (Dantas e Zangalli, 1999).<br />
1.5 Transmissão<br />
A grande dispersão do parasito pode ser determinada pela possibilidade<br />
deste apresentar vários mecanismos de transmissão: ingestão de cistos presentes<br />
em carnes cruas ou mal cozidas, especialmente de porco e de carneiro, ingestão de<br />
oocistos presentes em fezes de felinos que contaminam alimentos, água, jardins,<br />
caixas de areia, latas de lixo, manipulação de terra contaminada com oocistos e
8<br />
congênita ou transplacentária, quando a gestante adquire a primoinfecção durante a<br />
gravidez apresentando a fase aguda e podendo transmitir T. gondii ao feto (Jamra,<br />
1964).<br />
Pode ocorrer ainda, ingestão de taquizoítos em leite contaminado, acidente<br />
de laboratório, transmissão por transplante de órgãos infectados e disseminação<br />
mecânica por moscas, baratas e minhocas (Dubey, 1986).<br />
A via de transmissão mais comum parece ser a ingestão de carne cozida de<br />
forma inadequada que contenha cistos parasitando os tecidos (Schaechter et al.,<br />
2002) e em determinados países, a toxoplasmose tem papel importante em virtude<br />
das crianças serem ensinadas a comer carne crua como hábito saudável para o seu<br />
desenvolvimento (Remington et al., 1995).<br />
1.6 Mecanismos Imunológicos da Toxoplasmose<br />
A resposta imunológica do hospedeiro à toxoplasmose envolve mecanismos<br />
humorais e celulares. A<strong>pós</strong> a infecção do hospedeiro e multiplicação no organismo<br />
há a formação de anticorpos específicos e o desenvolvimento de mecanismos<br />
imunes celulares responsáveis pela destruição dos taquizoítos extracelulares. O<br />
indivíduo imunocompetente desenvolve imunidade durante toda a sua vida e é<br />
resistente a reinfecções (Denkers et al., 1994).<br />
1.6.1 Resposta Imune Humoral à Toxoplasmose<br />
Em relação à imunidade humoral, na fase aguda da toxoplasmose a produção<br />
de imunoglobulinas da classe IgM (IgM) aparece inicialmente seguida da classe de<br />
imunoglobulina sérica IgG (IgG). A IgG pode ser detectada por reações sorológicas<br />
dentro de oito a doze dias a<strong>pós</strong> a infecção pelo T. gondii. A produção de IgM é de<br />
curta duração e é utilizada para o diagnóstico de toxoplasmose congênita, pois não<br />
atravessa a placenta e quando presente no soro do feto indica sua própria produção<br />
(El- Nawawy et al., 1996).
9<br />
A infecção produz ainda a imunoglobulina da classe IgA (IgA) quando a<br />
transmissão for por via oral. Os anticorpos IgM podem ser dosados uma a duas<br />
semanas depois do início da infecção, alcançando um pico em seis a oito semanas e<br />
posteriormente declinam. Podem persistir em títulos baixos por mais de 12 meses. O<br />
anticorpo IgG persiste por toda a vida na maioria dos pacientes (Cantos et al., 2000).<br />
Acredita-se que durante o período da fase crônica da toxoplasmose, há a<br />
persistência dos bradizoítos e que estes são os responsáveis pela manutenção de<br />
títulos sorológicos que podem durar toda a vida do hospedeiro (Frenkel, 1988).<br />
1.6.2 Resposta Imune Celular à Toxoplasmose<br />
Os taquizoítos penetram e se multiplicam no interior das células. Esta<br />
multiplicação é inibida nos macrófagos pela fusão entre fagossomos e lisossomos. A<br />
produção de interleucina 12 (IL-12) pelos macrófagos é estimulada e há a ativação<br />
das células natural killer (NK) e das células T para a produção de interferon γ (IFNγ),<br />
essencial na resistência à infecção pelo T. gondii. O IFN-γ e o fator de necrose<br />
tumoral (TNF) atuam sinergicamente na morte dos taquizoítos. A combinação<br />
dessas duas citocinas resulta na produção de óxido nítrico (NO) importante no<br />
controle do crescimento dos parasitas (Frenkel, 1990a).<br />
As células T-4, também chamadas CD4+ responsáveis pela defesa e pela<br />
liderança no ataque contra as infecções e as células T-8 (CD8+) que são células<br />
supressoras que terminam a resposta imune têm um papel importante na indução de<br />
imunidade protetora contra o T. gondii (Gazzinelli et al., 1994).<br />
1.7 Patogenia<br />
A patogenia no homem parece estar ligada a fatores como a cepa do<br />
parasito, resistência da pessoa e o modo pela qual ela se infecta. Do ponto de vista<br />
prático, é importante fazer uma distinção entre as manifestações da doença e desta<br />
forma, a toxoplasmose pode ser agrupada em cinco categorias: toxoplasmose<br />
adquirida em paciente imunocompetente, toxoplasmose adquirida ou por reativação<br />
em paciente imunodeficiente, toxoplasmose ocular, toxoplasmose na gestante, e<br />
toxoplasmose congênita (Mandell et al., 2005).
10<br />
1.7.1 Toxoplasmose Adquirida em Paciente Imunocompetente<br />
A toxoplasmose adquirida em paciente imunocompetente é assintomática em<br />
80-90% dos casos. A manifestação mais freqüente é a linfadenopatia onde as<br />
cadeias mais acometidas são as cervicais anteriores e posteriores. Os gânglios<br />
apresentam-se discretamente aumentados, não dolorosos e não supurativos. Pode<br />
ser acompanhada de febre alta ou baixa, esplenomegalia, hepatomegalia, mal estar,<br />
cefaléia, sudorese noturna, mialgias, artralgias, faringite, exantema de apresentação<br />
variada e dor abdominal (Remington, 1974).<br />
A evolução geralmente tem curso benigno e autolimitado. Os sintomas<br />
desaparecem em semanas e a linfadenopatia pode persistir por meses ou anos. Em<br />
alguns casos a evolução clínica pode ser debilitante e até fatal com miocardite,<br />
pneumonite, pericardite, glomerulonefrite e encefalite (Kean, 1972).<br />
1.7.2 Toxoplasmose Adquirida ou por Reativação em Paciente Imunodeficiente<br />
Na toxoplasmose adquirida ou por reativação em paciente imunodeficiente<br />
ocorre uma reativação de formas císticas encontradas em indivíduos com infecção<br />
latente. Os principais grupos afetados são pacientes com doenças hematológicas<br />
malignas, pacientes com Aids e os transplantados (Neves, 2005).<br />
Na Aids, a encefalite toxoplásmica é considerada uma das maiores causas de<br />
infecção do sistema nervoso central (Wanke et al., 1987). O Toxoplasma gondii<br />
causa lesões focais múltiplas, pequenas, com edema circunjacente na área<br />
frontoparietal, gânglios basais e cerebelo. Pode causar febre, cefaléia, sinais focais<br />
(hemiparesias, déficits de pares cranianos e perda do campo visual), letargia,<br />
confusão mental, convulsões e coma. O líquor pode ser normal ou apresentar<br />
pleocitose mononuclear, glicorraquia normal e discreto aumento de proteínas<br />
(Passos et al., 2000).
11<br />
A imunofluorescência no líquor geralmente é positiva e as lesões<br />
características podem ser vizualizadas pela tomografia computadorizada e<br />
ressonância magnética de crânio (Nascimento et al., 1989).<br />
1.7.3 Toxoplasmose Ocular<br />
A toxoplasmose ocular é caracterizada pela presença de uma coriorretinite.<br />
No exame histopatológico do globo ocular, a presença de taquizoítos é uma<br />
conseqüência de infecção aguda e na presença de cistos contendo bradizoítos na<br />
retina, é conseqüência de uma infecção crônica (Abrahams e Gregerson, 1982).<br />
A coriorretinite possui aspecto necrotizante, apresentando na fundoscopia a<br />
presença de placas esbranquiçadas ou amareladas, elevadas, únicas ou múltiplas,<br />
com margens mal definidas e geralmente no pólo posterior. Evolutivamente, as<br />
lesões vão se tornando atróficas, pálidas, acinzentadas com bordas mais definidas e<br />
pigmentos negros. Podem ocorrer panuveíte, papilite, atrofia óptica e hemorragias<br />
(Abreu et al., 1987).<br />
Ao contrário da bilateralidade da forma congênita, a coriorretinite na forma<br />
adquirida é geralmente unilateral. Clinicamente os sintomas são borramento visual,<br />
escotomas, dor ocular, fotofobia. Na criança, o estrabismo pode ser a forma inicial<br />
de apresentação. As lesões podem evoluir para cegueira parcial ou total com a<br />
ausência da terapêutica adequada, progressão da infecção, com degeneração da<br />
retina e afecção da mácula ou podem se curar por cicatrização (Dantas e Zangalli,<br />
1999).<br />
1.7.4 Toxoplasmose Gestacional e Congênita<br />
A toxoplasmose na gestante é na sua grande maioria assintomática. A<br />
manifestação clínica mais comum é a linfadenopatia. O risco de infecção para o feto<br />
independe se a gestante for sintomática ou assintomática. A transmissão para o feto<br />
ocorre quando a mulher adquirir a infecção durante a gestação (Mandell et al.,<br />
2005).
12<br />
Na toxoplasmose congênita, as conseqüências para o feto dependerão do<br />
grau de exposição do feto ao T. gondii, da virulência da cepa, da capacidade dos<br />
anticorpos maternos protegerem o feto e do período de gestação (Coutinho et al.,<br />
1983). O Toxoplasma gondii atinge o concepto por via transplacentária causando<br />
danos variáveis podendo resultar em graves manifestações clínicas e até a morte<br />
fetal. A infecção fetal pode ser atenuada ou prevenida com tratamento materno a<strong>pós</strong><br />
o diagnóstico precoce (Spalding et al., 2003).<br />
Pode ocorrer abortamento fetal, parto prematuro e malformações fetais.<br />
Quanto mais avançada a gestação, maior é a possibilidade da infecção do concepto,<br />
mas menor será a gravidade da doença (Meirelles Filho, 1985). Entretanto, as<br />
conseqüências para o feto são mais severas quando a transmissão ocorre nos<br />
primeiros meses da gravidez (Rorman et al., 2006).<br />
As principais alterações congênitas são: hepatoesplenomegalia,<br />
linfadenopatia, hidrocefalia, coriorretinite, calcificações cerebrais, microcefalia e<br />
miocardite. A criança pode apresentar retardo mental e psicomotor, estrabismo,<br />
epilepsia, anorexia, anemia, icterícia, exantema, petéquias, encefalite, diarréia e<br />
hipotermia que podem ser observadas logo a<strong>pós</strong> o nascimento, mas, são mais<br />
evidentes com o desenvolvimento da criança (Roberts e Frenkel, 1990).<br />
1.8 Diagnóstico da Toxoplasmose<br />
O diagnóstico da toxoplasmose pode ser clínico ou laboratorial. O diagnóstico<br />
clínico é difícil, pois na grande maioria os indivíduos que são acometidos se<br />
apresentam de forma assintomática ou apresentam-se semelhantes a outras<br />
doenças como a mononucleose infecciosa. Desta forma, a suspeita clínica deve<br />
sempre ser confirmada com o diagnóstico laboratorial (Ferreira e Ávila, 1996).<br />
A demonstração do T. gondii é de difícil execução, ocorrendo na fase aguda<br />
da doença, através do encontro de taquizoítos pelo método de Giemsa. Pode ser<br />
isolado a<strong>pós</strong> inoculação de material contaminado em cobaias e através da pesquisa<br />
de seu Ácido Desoxirribonucléico (DNA) pela PCR. Há a necessidade de
laboratórios e técnicos especializados, seu isolamento é demorado e em alguns<br />
casos é baseada na biologia molecular de custo elevado (Uchôa et al., 1999).<br />
13<br />
Por ser um parasito intracelular obrigatório, a cultura in vitro é complicada de<br />
ser mantida, tem custo elevado e necessita de longo tempo para fornecer resultado,<br />
muitas vezes só sendo efetiva em menos de 50% dos casos (Cristo et al., 2005).<br />
A sorologia tem sido o método de escolha para o diagnóstico da<br />
toxoplasmose (Porstmann e Kiessig, 1992). Diversas técnicas sorológicas têm sido<br />
empregadas como a técnica de Sabin-Feldman (RSF) ou Teste do corante, a<br />
Imunofluorescência indireta (IFI), a Hemaglutinação indireta (HI), a fixação de<br />
complemento (FC) e ELISA (Enzyme linked immunosorbent assay). Esta é eficiente<br />
para a triagem sorológica de pacientes no diagnóstico da toxoplasmose e<br />
apresentou em alguns estudos, sensibilidade de 96,7% e especificidade de 75%,<br />
com valor de predição de positividade de 83,3% (Uchôa et al., 1999).<br />
Afora as inúmeras limitações, os exames sorológicos são ainda os mais<br />
utilizados nos laboratórios de análises clínicas. Na melhoria do diagnóstico da<br />
toxoplasmose congênita e em pacientes com Aids, a PCR tem sido empregada<br />
como alternativa (Cantos et al., 2000).<br />
Em situações especiais, a pesquisa de IgA por ELISA concomitante com a<br />
pesquisa de anticorpos IgM permitiria um diagnóstico mais preciso da toxoplasmose<br />
aguda adquirida (Takahashi e Rossi, 1997). A presença freqüente de anticorpos IgG<br />
maternos, de transferência passiva, no recém nascido, dificulta o diagnóstico<br />
sorológico da toxoplasmose congênita enquanto que a pesquisa de anticorpos IgM<br />
no soro da criança indica infecção fetal (Camargo et al., 1978).<br />
Nos taquizoítos de vários hospedeiros humanos e animais pode ser detectada<br />
a proteína de superfície p30 sendo então, a dosagem de anti-p30 considerado uma<br />
provável candidata para o desenvolvimento de métodos sorológicos (Huskinson et<br />
al., 1990). Estudos de genotipagem do T.gondii através de PCR demonstraram que<br />
o genótipo isolado no Brasil foi altamente divergente dos genótipos americanos e<br />
europeus na sua identificação associada a doença ocular (Khan et al., 2006).
14<br />
1.9 Diagnóstico Diferencial da Toxoplasmose<br />
Deve ser realizado o diagnóstico diferencial da toxoplasmose na infecção<br />
aguda com outras doenças como citomegalovirose, patologias por herpes vírus,<br />
linfomas, tuberculose e leucemias. No paciente imunodeprimido, devem-se<br />
diferenciar das infecções fúngicas, linfomas, abscesso cerebral, tuberculose,<br />
hemorragia cerebral, carcinomas, leucoencefalopatia multifocal progressiva e<br />
vasculite por lúpus (Remington, 1974).<br />
1.10 Profilaxia<br />
Alguns estudos referem o possível desenvolvimento de vacinas para o<br />
combate da toxoplasmose sem resultados conclusivos até o momento (Leighty,<br />
1990). A profilaxia é difícil, mas, alguns procedimentos são de grande valia como<br />
evitar alimentação com carne crua ou mal cozida de qualquer animal. Realizar o<br />
controle da população de gatos, efetuar alimentação desses gatos com rações e<br />
carne cozida e a incineração das suas fezes. Realizar exame para toxoplasmose em<br />
todas as gestantes, principalmente nas com história prévia de aborto e realizar o<br />
tratamento de mulheres grávidas com toxoplasmose aguda (Frenkel, 1990b).<br />
1.11 Manejo e Tratamento da Toxoplasmose<br />
Em relação ao tratamento, as drogas em uso são eficientes contra os<br />
taquizoítos e não contra os cistos, e desta forma, ainda não existem medicamentos<br />
eficazes contra a toxoplasmose na fase crônica da doença (Wanke et al., 1987). A<br />
terapia se dá através do uso da associação da sulfadiazina (75 a 100 mg por kilo de<br />
peso ao dia) com a pirimetamina (25 a 100 mg ao dia). Para evitar os efeitos tóxicos<br />
desta associação, deve-se usar o ácido folínico por via oral na dose diária de 10 mg.<br />
O tempo de tratamento é de seis a oito semanas, na dependência da melhora clínica<br />
(Tavares, 2006).<br />
Em situações especiais como em caso de hipersensibilidade as sulfonamidas,<br />
deve haver a substituição pela clindamicina. A espiramicina é a droga de escolha em<br />
mulheres infectadas durante a gravidez (Couvreur et al., 1988) e o uso de
15<br />
Sulfametoxazol e Trimetoprin é profilático na prevenção da reativação de infecções<br />
latentes (Bartlett e Gallant, 2003). Na toxoplasmose ocular a terapêutica é feita com<br />
o mesmo esquema com associação de um corticóide para reduzir as reações de<br />
hipersensibilidade que são responsáveis pelas manifestações inflamatórias locais<br />
(Rey, 2002).<br />
1.12 Aspectos Epidemiológicos da Toxoplasmose<br />
A epidemiologia da toxoplasmose tem sido alvo de grandes estudos, sabe-se<br />
que, os felinos são importantes na cadeia epidemiológica desta doença, uma vez<br />
que, tanto os gatos domésticos como os selvagens são os únicos animais que<br />
podem realizar o ciclo sexuado eliminando milhões de oocistos imaturos nas fezes<br />
a<strong>pós</strong> a primoinfecção (Ferraroni e Lacaz, 1982).<br />
A toxoplasmose, de acordo com a população estudada tem prevalências<br />
variáveis. Inúmeros fatores são responsáveis pelas altas prevalências de anticorpos<br />
para Toxoplasma gondii em grupos humanos com hábitos e costumes diferentes,<br />
sendo dependentes do grau e da freqüência de exposição aos referidos fatores<br />
(Frenkel e Dubey, 1972). Têm sido descritas soroprevalências que variam de 15 a<br />
85% na população humana sendo que mais de 80% das infecções primárias são<br />
assintomáticas (Cristo et al., 2005).<br />
Nos países desenvolvidos, as prevalências variam. No Reino Unido, a<br />
prevalência para toxoplasmose encontrada em mulheres foi 9,1% e foi demonstrado<br />
um aumento da soroprevalência com o aumento da idade (Nash et al., 2005). Na<br />
Suécia, foi encontrada uma soroprevalência para IgG de 46,1% (Jacquier et al.,<br />
1995), na Finlândia 20,3% (Lappalainem et al., 1995) e nos Estados Unidos 40%<br />
(Server et al., 1988).<br />
Na Polônia oriental, na província de Lublin, foi estudada a frequência da<br />
ocorrência de T.gondii em 87 fazendas. Foi realizada uma análise da água destas<br />
fazendas para avaliar o seu papel na transmissão da toxoplasmose no ambiente<br />
rural. A presença do Toxoplasma gondii foi detectada através da Reação em cadeia<br />
da polimerase (PCR) nas amostras da água coletadas e foi realizada também a
sorologia nos habitantes destes locais demonstrando uma soroprevalência de 64,6%<br />
para anticorpos IgG (Sroka et al., 2006).<br />
16<br />
Na Grécia, foi realizado um estudo que analisou a soroprevalência durante os<br />
últimos 20 anos com valores decrescentes de positividade em mulheres em idade<br />
reprodutiva demonstrando a melhora da situação sócio-econômica com a melhoria<br />
de medidas profiláticas e educacionais (Diza et al., 2005) e no norte da Tunísia foi<br />
encontrada uma soroprevalência de 58,4% em dois grupos do estudo, sendo o<br />
primeiro da zona urbana e o segundo da zona rural, com positividades de 67% e<br />
52,8% respectivamente (Bouratbine et al., 2001).<br />
Na área rural da República Centro-Africana, foram encontrados 40% dos<br />
adultos estudados com anticorpos contra T. gondii (Dumas et al., 1990). Estudo<br />
recente em área rural na região leste da Arábia Saudita demonstrou<br />
soroprevalências para IgG de 26,36% e 25,0% em duas comunidades estudadas (Al<br />
Qurashi, 2004).<br />
Em Taiwan, Hongkong e Macau, um estudo realizado em 27 províncias para<br />
investigar infecções com características de transmissão pelo solo encontrou uma<br />
soroprevalência de 7,88% para toxoplasmose na população pesquisada (Sheng et<br />
al., 2005). Em Okcheon-gun na Coréia foi realizado um estudo, em habitantes da<br />
área rural onde 6,0% dos homens e 7,2% das mulheres tiveram resultados positivos<br />
ao ELISA nos 1.109 indivíduos estudados (Lee et al., 2000). No Haiti a prevalência<br />
de toxoplasmose variou de 0-15% em comunidades rurais do Sul do país (Raccurt et<br />
al., 1986).<br />
Estudos em países em desenvolvimento como o realizado na Costa Rica em<br />
883 pessoas distribuídas em sete populações, encontrou uma prevalência de<br />
anticorpos para T. gondii de 61,4%. Foram avaliados também fatores como o contato<br />
com gatos, forma de contato com solo e realizado correlações entre esses e a<br />
soroprevalência encontrada (Frenkel e Ruiz, 1980). Na Guatemala foram realizados<br />
dois estudos em crianças nos anos 1999 e 2003 e encontradas soroprevalências de<br />
12,4% e 43% respectivamente demonstrando um aumento da positividade com a<br />
idade (Jones et al., 2005).
17<br />
Os inquéritos soro-epidemiológicos para toxoplasmose são escassos no<br />
Brasil, e em virtude disso, não se pode estabelecer a distribuição da doença no país<br />
(Araujo, 1970). No Brasil, a prevalência de anticorpos varia de 54% no Centro-Oeste<br />
a 75% no Norte (Jewell et al., 1973).<br />
No norte do Brasil, foram encontradas em cinco populações humanas<br />
distintas da Amazônia Brasileira, variações nos índices de infecção e verificou-se<br />
que a toxoplasmose apresentou taxa superior a 50%. Foram estudadas populações<br />
de Manaus, de Barcelos, da tribo Mayongong, da tribo Munducuru e da tribo<br />
Sanomã. A menor prevalência foi encontrada através da hemaglutinação indireta<br />
(HI) nas amostras da tribo Sanomã, tribo com caráter mais isolado, localizada ao sul<br />
da Venezuela na divisa com o estado de Roraima, com 56,2% e a maior prevalência<br />
na população de Manaus com 73,9% (Ferraroni e Lacaz, 1982).<br />
No estado de Rondônia, no oeste da Amazônia, um estudo realizado em 266<br />
indivíduos de 71 comunidades, demonstrou uma prevalência de toxoplasmose de<br />
73,3%. Foi aplicado um questionário em cada comunidade para avaliar fatores de<br />
risco e posteriormente na análise estatística foi encontrada associação significativa<br />
com o consumo de vegetais (p=0,002) e com a água utilizada (p=0,02) proveniente<br />
de poços e de rio (Cavalcante et al., 2006).<br />
No nordeste, no estado da Bahia, no município de Santo Inácio, foi realizado<br />
um estudo comparativo que evidenciou anticorpos contra Toxoplasma gondii em<br />
27,43% da população estudada e 20 anos a<strong>pós</strong> o primeiro estudo, de 25,8% na<br />
mesma localidade (Cerqueira et al., 1998). Em Fortaleza, Ceará foi realizado um<br />
inquérito sorológico com 58,4% de prevalência para anticorpos IgG anti-Toxoplasma<br />
em estudantes (média 11,4 anos) e em 22,8% em pré-escolares, demonstrando um<br />
rápido aumento durante os dez primeiros anos de vida, associado com contato<br />
familiar com gatos e famílias mais numerosas (Rey e Ramalho, 1999).<br />
No sudeste brasileiro, num estudo com 6.079 indivíduos do Rio de Janeiro, a<br />
prevalência da infecção foi de 78,7% (Coutinho et al., 1981). Em 109 habitantes<br />
autóctones das ilhas do litoral sul do Estado de São Paulo de comunidade em semi-
isolamento geográfico e cultural foi encontrada uma prevalência de 31,2% de<br />
toxoplamose a Imunofluorescência indireta (IFI) (Focaccia et al., 1982).<br />
18<br />
Na região sul, em um estudo em Londrina no Paraná foram detectados<br />
anticorpos anti T. gondii da classe IgG em 67% das gestantes avaliadas (Reiche et<br />
al., 2000). Em Erechim, no Rio Grande do Sul, 131 indivíduos com toxoplasmose<br />
aguda foram analisados quanto aos seus hábitos alimentares como ingestão de<br />
carne crua, carne de carneiro e contato com solo através do trabalho com<br />
jardinagem em comparação a um grupo controle (Jones et al., 2006).<br />
Entre os indígenas, as prevalências de toxoplasmose encontradas foram<br />
variáveis. Na Venezuela, no Estado de Zulia, na Serra do Perijá, em índios da etnia<br />
Barí foi de 49,7% (Chacin-Bonilla, 2001). No Brasil, no estado do Amazonas, foi<br />
encontrada uma prevalência de 39% em índios Ticunas (Lovelace et al., 1978) e no<br />
Parque Nacional do Xingu, no Mato Grosso, uma prevalência de 51,6% em 254<br />
índios estudados (Baruzzi, 1970). Entretanto, em 148 indígenas da Etnia Enawenê-<br />
Nawê, no Mato Grosso, foi encontrada uma alta soropositividade de 80,4%,<br />
associada à água e aos felinos silvestres (Amendoeira et al., 2003).<br />
Em um estudo posterior, foi avaliada a prevalência da Etnia Enawenê-Nawê,<br />
tribo isolada no Mato Grosso, comparada a outras duas tribos indígenas, a Etnia<br />
Waiapi, tribo em contato intermitente com não-índios no Amapá e a Etnia Tiriyo com<br />
constante contato com não-índios no Pará. Foram demonstradas soroprevalências<br />
de 80,4%, 59,6% e 55,6% respectivamente. O contato com indivíduos não<br />
pertencentes às tribos não apresentou influência na prevalência da toxoplasmose e<br />
o contato com o solo e a presença de felinos foram sugeridos como responsáveis<br />
pelas prevalências encontradas nas diferentes tribos (Sobral et al., 2005).<br />
Embora raros, os surtos de toxoplasmose são descritos em certas ocasiões<br />
como o ocorrido na cidade de Coimbatore, na Índia, através da contaminação do<br />
serviço de abastecimento de água associada à toxoplasmose ocular (Palanisamy et<br />
al., 2006) e no Brasil, na cidade de Santa Isabel do Ivaí, no Paraná, onde mais de<br />
600 moradores locais apresentaram sintomas de toxoplasmose. Estudos concluíram<br />
que a água foi a fonte de infecção, pela contaminação do reservatório que abastece
a cidade, por oocistos de T. gondii eliminados por uma gata que vivia nas<br />
proximidades e que teve filhotes neste local (Silveira, 2002).<br />
19<br />
Ainda há relatos de estudos realizados em felinos, em uma área de Manaus,<br />
no estado do Amazonas, 81% dos 32 gatos examinados apresentaram anticorpos<br />
em títulos iguais ou superiores a 1:128 no teste de hemaglutinação direta (Ferraroni<br />
e Marzochi, 1980).<br />
Em virtude da elevada distribuição mundial da Toxoplasmose, devido ao fato<br />
de ser considerada uma doença de grande impacto epidemiológico pela importância<br />
clínica principalmente em gestantes, idosos, e do comprometimento visual que<br />
acarreta, devido à existência de poucos estudos realizados no Estado do Amazonas<br />
e do pouco conhecimento desta infecção em áreas rurais e em comunidades<br />
ribeirinhas com hábitos peculiares da Amazônia, é de fundamental importância à<br />
realização deste estudo.<br />
É um estudo de base populacional, em populações semi-isoladas, habitantes<br />
da zona rural onde foi realizada a avaliação dos hábitos e costumes dos indivíduos<br />
estudados bem como os fatores de risco ambientais.<br />
Além de um melhor conhecimento da distribuição desta infecção em nosso<br />
meio, de suma importância ao nível de saúde pública, este estudo espera contribuir<br />
nas medidas de promoção à saúde da população acometida.
20<br />
2 OBJETIVOS<br />
2.1 Geral<br />
O pro<strong>pós</strong>ito deste estudo é determinar a ocorrência de infecção por<br />
Toxoplasma gondii através da realização de exames sorológicos da classe IgG na<br />
população ribeirinha da calha do rio Purus do Município de Lábrea, Amazonas,<br />
2.2 Específicos<br />
• Descrever a distribuição de anticorpos da classe IgG para T.gondii na<br />
população alvo por atributos pessoais: gênero, idade e etnia;<br />
• Avaliar a distribuição do marcador sorológico pesquisado por padrão<br />
sócio-cultural e hábitos alimentares da população;<br />
• Determinar outros possíveis fatores determinantes de transmissão do<br />
Toxoplasma gondii na população estudada;<br />
• Realizar exames de acuidade visual e o teste de cobertura visual<br />
alternada em participantes previamente selecionados;<br />
• Realizar oftalmoscopia direta nos pacientes que apresentarem<br />
qualquer nível de déficit visual detectados previamente ao exame de acuidade visual<br />
e/ou de alteração do teste de cobertura visual alternada.
21<br />
3 MATERIAL E MÉTO<strong>DO</strong>S<br />
3.1 Modelo de Estudo<br />
Estudo de prevalência, com base populacional, onde se determinou a<br />
ocorrência de marcador da classe IgG de infecção pelo Toxoplasma gondii.<br />
3.2 Local do Estudo<br />
Este trabalho foi realizado na área rural do município de Lábrea, no Estado do<br />
Amazonas. O município de Lábrea está localizado na bacia do rio Purus, afluente da<br />
margem direita do rio Solimões. Está situado a 1.100 Km em linha reta de Manaus e<br />
é o município com localização mais ao sul do Estado do Amazonas<br />
(aproximadamente 7 o 15’35,99’’ S, 64 o 48’36,28’’ W). Numa altitude de 75 metros<br />
acima do nível do mar e uma área de 68.229,01 Km 2 (Brasil, 2000) (Figura 2).<br />
Figura 2 - Mapa do Brasil em destaque a localização do município de Lábrea.
22<br />
A região é de clima tropical úmido, com elevado índice pluviométrico anual,<br />
mais pronunciado no período entre os meses de dezembro a julho. Segundo dados<br />
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Lábrea possui uma<br />
população de 28.956 habitantes, sendo 19.276 na zona urbana e 9.680 na zona<br />
rural (Brasil, 2000).<br />
A economia local está centrada na produção de látex, fibras vegetais (juta),<br />
madeira, pesca e agricultura de subsistência. Recentemente a área tem despertado<br />
interesses de novos empreendimentos econômicos, principalmente na exploração de<br />
madeiras nobres, o que vem ocasionando movimento migratório para a região.<br />
As condições de saúde são precárias, as doenças infecto-contagiosas são as<br />
principais causas de óbitos. A taxa de mortalidade infantil está em torno de 85 óbitos<br />
para cada mil nascidos vivos (Brasil, 2000).<br />
3.3 População do Estudo<br />
A população alvo deste estudo foi composta pelos habitantes da zona rural da<br />
calha do rio Purus do município de Lábrea no Amazonas.<br />
3.4 Tamanho da Amostra<br />
Para o cálculo do tamanho da amostra foi tomada como base inicialmente à<br />
população rural do município de Lábrea, composta por 9.680 habitantes (Brasil,<br />
2000), e uma prevalência de infecção por Toxoplasma gondii de 75% na população<br />
geral (Veronesi, 2002) e nível de confiança de 95%. O programa EPI-INFO 6.04 foi<br />
utilizado para o cálculo amostral indicando uma amostra mínima de 280 indivíduos<br />
necessários a serem investigados. Entretanto, a população estudada foi maior,<br />
composta por 714 indivíduos pertencentes a 19 comunidades da calha do rio Purus<br />
do município de Lábrea.
23<br />
3.5 Seleção dos Indivíduos Incluídos no Estudo<br />
Os sujeitos dessa investigação fizeram parte da população da primeira etapa<br />
do estudo “Hepatites Virais no município de Lábrea: O impacto na saúde pública“<br />
que investigou a prevalência de Hepatites A, B, C e D em toda a zona rural do<br />
município. Em virtude da participação no corpo clínico deste projeto foi desenvolvida<br />
tal proposta.<br />
A execução do trabalho de campo foi realizada durante a estação seca no<br />
mês de maio do ano de 2005 a<strong>pós</strong> o deslocamento da equipe de trabalho de<br />
Manaus para o município de Lábrea e posteriormente para a área rural.<br />
Primeiramente, houve uma divulgação do projeto junto as Instituições locais como<br />
Prefeitura, unidades de saúde, escolas, entidades religiosas, associações<br />
comunitárias entre outras.<br />
A viagem foi realizada de barco durante 20 dias e a equipe foi composta por<br />
dois médicos, dois microbiologistas, um auxiliar de laboratório, uma auxiliar de<br />
patologia e seis indivíduos responsáveis pelo apoio logístico. Foram visitadas 19<br />
comunidades rurais: Limeira, Vila Dedé, Praia da Conceição, Meteripuá, Santa Fé,<br />
Hermida, Tamacurú, Bela Rosa, Realeza, Vargem Grande, Gaivota, Luzitânia, São<br />
João, Cachoeira, Igualdade, Novo Brasil, Amparo, Madeirinho e Praia de Lábrea. As<br />
comunidades foram georeferenciadas com GPS (Global Position Sistem Garmin®) e<br />
as famílias incluídas por amostragem aleatória simples.<br />
3.6 Questões Éticas e Coleta de Dados<br />
Em cada família sorteada foi pedido o consentimento formal (Apêndice 1),<br />
para participar da pesquisa. A<strong>pós</strong> o consentimento, foi preenchido um questionário<br />
individual (Apêndice 2) e colhido uma amostra sanguínea das pessoas presentes, no<br />
momento da entrevista. No caso de desistência ou de domicílio desocupado, foi<br />
entrevistada a família mais próxima da casa sorteada.<br />
Esta proposta foi encaminhada previamente à Coordenação do Programa de<br />
Pós-<strong>graduação</strong> em Doenças Tropicais e Infecciosas para ciência e foi aprovado pelo
Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Fundação de Medicina Tropical do<br />
Amazonas (FMT - AM) no Processo 2001/2004 (Anexo 2).<br />
24<br />
3.7 Coleta e Análise das Amostras<br />
A coleta das amostras foi realizada durante a execução do trabalho de<br />
campo, coletada pelo técnico de laboratório participante do estudo. De cada<br />
indivíduo selecionado foram retirados dez mililitros de sangue, por punção venosa<br />
com sistema vacutainer em dois tubos distintos, sendo um (cinco mililitros) sem<br />
conservante e outro com ácido etilenodiamino tetra-acético (EDTA).<br />
O processamento das amostras seguiu as seguintes etapas: 1- Foram<br />
centrifugadas as amostras para obtenção do soro e identificação com um código<br />
para cada participante; 2- As amostras foram estocadas em temperaturas de -20ºC<br />
em freezeres locais; 3 - As amostras foram enviadas a FMT - AM em Manaus onde a<br />
análise sorológica das amostras foi realizada pelo método imunoenzimático (ELISA),<br />
que detectou anticorpos contra T.gondii da classe IgG utilizando kits comerciais<br />
Biokit® - bioelisa Toxo IgG, com sensibilidade de 100% (77/77) e especificidade de<br />
98,6% (73/74) quando caracterizadas com outro método comercial.<br />
As amostras foram transportadas para Manaus, nas embalagens de contenção,<br />
em caixas térmicas, embaladas e identificadas, inclusive com a natureza biológica do<br />
material. As medidas gerais de biossegurança, visando à proteção dos indivíduos e<br />
técnicos incluídos neste estudo, por barreiras como o uso de luvas, máscaras, óculos<br />
de proteção, descarte seguro de agulhas e seringas, foram adotadas durante a<br />
obtenção, o manuseio e o processamento das amostras.<br />
3.8 Realização dos Exames Oftalmológicos<br />
Durante a realização do estudo, foram sorteadas previamente em cada<br />
comunidade, uma a duas casas conforme o tamanho da mesma, para que seus<br />
moradores fossem submetidos a um exame oftalmológico, foram excluídas as<br />
crianças com idade inferior a cinco anos.
25<br />
Este exame foi composto por acuidade visual com escala de Snellen<br />
adaptada para a região (Anexo 1) considerando-se anormal aquele participante com<br />
acuidade visual inferior a 20/20 e por teste de cobertura visual alternada para<br />
verificação de alterações da motilidade ocular, e naqueles pacientes submetidos a<br />
esses exames com déficit visual foi realizada uma oftalmoscopia direta com<br />
dilatação pupilar com uma a duas gotas de Ciclomidrin® (Tropicamida 1%) em cada<br />
olho, a fim de buscar lesões fundoscópicas compatíveis com as de toxoplasmose.<br />
Para a oftalmoscopia direta foi utilizado o oftalmoscópio da Welch Allyn®.<br />
No exame oftalmológico, as lesões observadas foram classificadas segundo<br />
Silveira (2002), conforme seu aspecto e caracterização em graus de I a V. Grau I:<br />
lesões típicas, maculares, com hiperpigmentação periférica, iguais ou superiores a<br />
meio diâmetro papilar; Grau II: lesões prováveis, não maculares com<br />
hiperpigmentação periférica, iguais ou superiores a meio diâmetro papilar; Grau III:<br />
lesões não maculares, com diâmetro inferior a meio diâmetro papilar e<br />
hiperpigmentação periférica; Grau IV: lesões difusas com pouca ou nenhuma<br />
pigmentação; Grau V: outras lesões retinianas.<br />
3.9 Instituições Envolvidas<br />
Fundação de Medicina Tropical do Amazonas (FMT - AM): responsável pela<br />
implantação e o desenvolvimento do estudo, treinamento de pessoal, processamento<br />
dos testes sorológicos, supervisão das atividades e processamento e análise dos<br />
resultados.<br />
Universidade do Estado do Amazonas (UEA): Instituição de Ensino Superior<br />
responsável pelo curso.<br />
Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA): suporte<br />
financeiro para a aquisição do material para a realização dos exames laboratoriais.<br />
Prefeitura Municipal de Lábrea: apoio no transporte, estadia e alimentação<br />
durante a permanência da equipe na área urbana de Lábrea.
Fundação de Apoio Institucional Muraki: responsável pela execução de<br />
compra dos kits comerciais para o projeto.<br />
26<br />
Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM):<br />
responsável pelo financiamento da viagem e apoio logístico.<br />
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES):<br />
responsável pela bolsa de estudo durante a realização do curso.<br />
3.10 Análise Estatística<br />
A<strong>pós</strong> a coleta das informações contidas na ficha clínica, estas foram registradas<br />
em um banco de dados criado especificamente para este estudo no Microsoft Excel<br />
2003 (versão 7.0).<br />
3.11 Análise dos dados<br />
As análises estatísticas foram conduzidas utilizando-se pacotes de software<br />
(Epi-Info, 1998). Métodos padrões de análise para estudos descritivos foram<br />
conduzidos da seguinte maneira:<br />
• Análise descritiva<br />
A análise dos dados foi iniciada com descrição estatística simples, como a<br />
prevalência de infecção por Toxoplasma gondii por grupo de idade, gênero e outras<br />
variáveis. Intervalo de confiança (IC) 95% e testes de significância foram empregados<br />
para validar essas proporções encontradas. Um valor de p < 0,05 foi considerado<br />
significativo. Foram calculadas médias, IC 95% e testes de significância para variáveis<br />
numéricas, como idade. Com este procedimento exploratório, os padrões foram<br />
identificados e análises mais sofisticadas foram então conduzidas.
27<br />
• Relação entre variáveis<br />
Outros métodos estatísticos, como teste do Qui-quadrado (X 2 ) foram utilizados<br />
na comparação entre proporções, testes exatos para amostras pequenas e teste do<br />
Qui-quadrado de Mantel-Haenszel (X 2 MH) na comparação de proporções em diversos<br />
subgrupos.<br />
Em relação às variáveis numéricas, diferenças entre médias foram avaliadas por<br />
testes normais para amostras grandes e desvios padrões conhecidos, teste t para<br />
amostras pequenas, IC 95% para diferenças entre médias e análise de variância<br />
(ANOVA) quando comparadas médias em diversos grupos.<br />
A presença de exposição a fatores de risco foi dicotomizada em presente e<br />
ausente, para determinar se houve associação entre a exposição ao fator e a<br />
ocorrência do marcador sorológico avaliado, medindo-se a associação através do<br />
calculo das razões de prevalência (RP).<br />
Durante a análise dos resultados, possíveis variáveis de confusão como gênero<br />
e grupo de idade foram analisados por estratificação, avaliando a associação para<br />
cada categoria ou estrato da variável de confusão, bem como estimativas gerais a<strong>pós</strong><br />
ter sido considerado o efeito do fator de confundimento, testes de hipóteses, teste do<br />
Qui-quadrado de Mantel-Haenszel e IC 95% para a estimativa.<br />
Possíveis modificadores de efeito puderam ser identificados e reportados<br />
durante análises estratificadas e avaliadas por testes de Qui-quadrado de<br />
homogeneidade, para testar se o grau de variação detectada nas estimativas dos<br />
estratos específicos foi consistente com variação ao acaso, considerando que esta<br />
pode sofrer enorme influência do tamanho da amostra.
28<br />
4 RESULTA<strong>DO</strong>S<br />
O estudo incluiu 714 indivíduos de um total de 141 famílias, representando<br />
7,37% da população rural do município. Dos indivíduos incluídos na amostra, 360<br />
(50,4%) eram do gênero masculino e 354 (49,6%) eram do gênero feminino (Figura<br />
3), com uma média de idade de 20 anos (1 a 87 anos), mediana de 14 anos e desvio<br />
padrão de 17,9 anos.<br />
Feminino<br />
49,6%<br />
Masculino<br />
50,4%<br />
Figura 3 - Distribuição dos participantes segundo gênero.<br />
Na distribuição por grupos etários, 162 indivíduos (22,7%) tinham até cinco<br />
anos de idade, 219 (30,7%) tinham entre 6 a 15 anos, 158 (22,1%) tinham entre 16 e<br />
30 anos, 115 (16,1%) tinham entre 31 e 49 anos, e 60 pessoas (8,4%) tinham mais<br />
de 50 anos de idade. A distribuição da idade da população estudada é observada na<br />
Figura 4.<br />
100<br />
80<br />
Frequência<br />
60<br />
40<br />
20<br />
Média: 20 anos<br />
Mediana: 14 anos<br />
Desvio padrão: 17,9 anos<br />
0<br />
0 20 40 60 80<br />
IDADE<br />
Figura 4 - Distribuição da população estudada por idade.
Quanto à etnia, 622 pessoas investigadas eram pardas, 81 pessoas eram<br />
brancas e 11 pessoas eram negras demonstradas na Figura 5.<br />
29<br />
Branca<br />
11,3%<br />
Negra<br />
1,5%<br />
Parda<br />
87,2%<br />
Figura 5 - Distribuição dos participantes segundo etnia.<br />
Foram visitadas 19 comunidades rurais do município de Lábrea durante a<br />
realização do trabalho. Estas comunidades podem ser visualizadas na imagem<br />
demonstrada na Figura 6.<br />
Figura 6 - Comunidades estudadas na calha do rio Purus (Imagem de<br />
satélite).
30<br />
Na avaliação do grau de instrução da população, foram encontradas uma taxa<br />
de analfabetismo de 43,7% e uma taxa de alfabetismo de 56,3%. Entre os<br />
alfabetizados, 64 pessoas referiram serem semi-analfabetas, ou seja, somente<br />
escreviam seu próprio nome (9,0%), 329 pessoas (46,1%) haviam cursado o ensino<br />
fundamental, quatro pessoas haviam cursado o ensino médio (0,6%) e cinco<br />
pessoas (0,7%) haviam cursado o ensino superior.<br />
Em relação à ocupação, 360 indivíduos eram crianças (50,4%). Dos<br />
indivíduos adultos, 309 pessoas (43,3%) referiram trabalhar na agricultura, 34<br />
pessoas eram domésticas (4,8%), e 11 pessoas (1,5%) referiram outras profissões<br />
como professores, agentes de saúde e pastores evangélicos (Figura 7).<br />
%<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
Crianças<br />
Agricultura<br />
20<br />
10<br />
0<br />
Domésticas<br />
Outras<br />
Figura 7 - Distribuição da população em relação à ocupação.<br />
Entre os participantes, 712 (99,7%) moravam na margem do rio e uma família<br />
com duas pessoas habitavam em um flutuante (0,3%), Desses, 700 indivíduos<br />
(98,0%) referiram morar em casas de madeira e 14 indivíduos referiram morar em<br />
casas mistas (2,0%) com a presença conjunta de áreas de madeira e de áreas de<br />
alvenaria. A maioria das casas estudadas tinha a característica de possuir assoalho<br />
de madeira e muitas casas não possuíam paredes.<br />
Foi investigada a presença de areia no quintal das moradias, sendo<br />
questionado aos participantes e posteriormente confirmado pelos investigadores. Um<br />
total de 617 indivíduos (86,4%) referiu morar em casas sem areia no quintal e, 97<br />
indivíduos (13,6%) relataram a presença da mesma ao redor de suas casas (Figura<br />
8).
31<br />
Com areia<br />
13,6%<br />
Sem areia<br />
86,4%<br />
Figura 8 - Distribuição dos participantes segundo a presença ou não de areia<br />
no quintal da moradia.<br />
Na avaliação do destino dos dejetos, 655 pessoas (91,7%) referiram ser a<br />
mata a localização mais comum, 55 pessoas (7,7%) referiram ter fossa negra e 4<br />
pessoas (0,6%) referiram colocar os materiais fecais no rio. Em relação ao destino<br />
dado ao lixo, 362 pessoas (50,7%) referiram jogar o lixo na mata, 228 indivíduos<br />
(32%) referiram queimar o lixo produzido por suas famílias, 119 (16,7%) referiram<br />
jogá-lo no rio e cinco pessoas (0,7%) referiram ter o hábito de enterrar o lixo.<br />
Foram pesquisadas as características da água utilizada pela população. A<br />
procedência da água do rio foi referida por 651 indivíduos (91,2%), 62 pessoas<br />
(8,7%) referiram que a água era proveniente de outros locais como, por exemplo, a<br />
água coletada de fontes naturais e das chuvas e somente um indivíduo (0,1%) que<br />
morava sozinho em uma residência, referiu ter poço.<br />
Em relação ao tratamento da água para ingestão e preparo de alimentos, 350<br />
moradores das comunidades referiram não tratá-la (49,0%), 330 referiram utilizar<br />
cloro no tratamento (46,2%), 34 pessoas referiram outras formas de tratamento<br />
como o uso de filtro (4,8%). Do total da população estudada, 712 pessoas referiram<br />
não ferver a água (99,7%).<br />
Dos indivíduos, 699 pessoas (97,9%) referiram não ter o hábito de ingerir<br />
carne crua ou mal cozida e somente 15 pessoas (2,1%) referiram ter este hábito<br />
demonstrado na Figura 9.
32<br />
Sim<br />
2,1%<br />
Não<br />
97,9%<br />
Figura 9 - Distribuição dos participantes segundo hábito ou não de ingestão<br />
de carne crua ou mal cozida.<br />
Durante a investigação, 669 indivíduos (93,7%) referiram ter animais<br />
domésticos e destes, 340 indivíduos (47,6%) referiram ter gato em casa, 332<br />
indivíduos (46,5%) referiram ter cachorro, 504 pessoas (70,6%) tinham galinha e 171<br />
pessoas (23,9%) tinham pato.<br />
Na observação do uso de calçados, 471 indivíduos referiam ter o hábito de<br />
andar descalço (66%), 231 pessoas referiram usar calçados abertos (32,3%) e 12<br />
referiram o uso de calçados fechados (1,7%). Em relação ao solo, 704 pessoas<br />
(98,6%) referiram ter um contato freqüente e 10 (1,4%) referiram um contato raro<br />
com o mesmo.<br />
No estudo oftalmológico, foram avaliadas 96 pessoas, 192 olhos ao total e<br />
nestes, foram encontrados apenas dois indivíduos com estrabismo convergente<br />
(0,3%). No teste de cobertura alternada, apenas um indivíduo apresentou nistagmo<br />
bilateral e em relação ao teste de acuidade visual com escala de Snellen adaptada<br />
para a região, 70 participantes (72,9%) apresentaram exames normais bilaterais, 11<br />
pessoas apresentaram déficit visual no olho esquerdo (11,5%), 10 apresentaram<br />
déficit visual bilateral (10,4%) e 5 pessoas apresentaram déficit visual no olho direito<br />
(5,2%).<br />
Foram realizadas 20 oftalmoscopias diretas nas pessoas que apresentaram<br />
alterações nos exames oftalmológicos prévios, não foi possível a realização de seis<br />
oftalmoscopias, em dois indivíduos que evadiram antes do término do exame<br />
oftalmológico e em quatro crianças no qual o exame foi prejudicado por não<br />
colaboração dos mesmos. Dos indivíduos examinados, 17 pessoas (85%)
33<br />
apresentaram oftalmoscopia normal, um indivíduo (5%) apresentou uma lesão de<br />
coriorretinite com características de grau I na área macular e 2 indivíduos (10%)<br />
apresentaram uma lesão grau II.<br />
A prevalência geral de infecção pelo Toxoplasma gondii encontrada na<br />
população estudada foi 49,6% (IC95% 45,9 - 53,3) para anticorpos IgG (Figura 10).<br />
A prevalência de toxoplasmose variou entre as comunidades estudadas (p
34<br />
Entre os fatores de risco estudados, não foram encontradas diferenças<br />
estatisticamente significativas da prevalência de infecção pelo Toxoplasma gondii ao<br />
gênero, 52,5% nos homens e 46,6% nas mulheres RP=1,12 (IC95% 0,97 - 1,30,<br />
X 2 =2,24, p=0,13), etnia (X 2 =3,77, p=0,15), ao destino dos dejetos (X 2 =6,17, p=0,10),<br />
ao hábito de comer carne crua ou mal cozida RP=1,21 (IC95% 0,79 - 1,85, X 2 =0,30,<br />
p=0,57), na presença de animais domésticos RP=0,81 (IC95% 0,63 - 1,04, X 2 =1,66,<br />
p=0,19), na presença de gato no domicílio RP=1,02 (IC95% 0,88 - 1,19, X 2 =0,84,<br />
p=0,77), ao hábito do uso de calçados (X 2 =1,35, p=0,71) e ao contato com o solo<br />
RP=0,99 (IC95% 0,53 - 1,85, X 2 =0,08, p=0,77). Tabela 2.<br />
Também foram analisados outros fatores de risco de infecção, todavia, não<br />
foram encontradas diferenças estatisticamente significativas com grau de instrução<br />
(X 2 =8,11, p=0,08), com o tipo de moradia, RP= 1,75 (IC95% 0,76 - 4,02, X 2 =1,73,<br />
p=0,09), com o destino do lixo (X 2 =7,26, p=0,12), com o tratamento da água<br />
(X 2 =5,73, p=0,12) e com o uso de água fervida RP=1,00 (IC95% 0,25 - 4,04,<br />
X 2 =0,48, p=0,49).<br />
Na análise oftalmológica, dos 96 indivíduos, três apresentaram coriorretinite à<br />
oftalmoscopia direta, entretanto, não foram observadas diferenças estatisticamente<br />
significativas na presença de coriorretinite e prevalência para toxoplasmose RP=<br />
1,42 (IC95% 0,13 - 1,52, X 2 =0,09 ,p=0,77) bem como, com o Teste de cobertura<br />
alternada (X 2 =4,60, p=0,20).<br />
Em relação à presença de areia no quintal das moradias foi evidenciada uma<br />
associação estatisticamente significativa com a soropositividade, casas com quintais<br />
com areia demonstraram uma soropositividade de 59,8% em relação às casas com<br />
ausência de areia (48%), RP=1,24 (IC95% 1,03 - 1,49, X 2 =4,22, p=0,04).
35<br />
Tabela 2<br />
Prevalência de positividade para Toxoplasma gondii por fatores de risco estudados.<br />
Área rural, Município de Lábrea, Estado do Amazonas, Brasil, 2005.<br />
Variável n IgG+ Prevalência(%) RP IC 95% p<br />
Gênero<br />
Masculino 360 189 52,5 1,12 0,97 - 1,30 0,13<br />
Feminino 354 165 46,6<br />
Etnia<br />
Branca 81 32 39,5 ---- ---- 0,15<br />
Negra 11 6 54,5<br />
Parda 622 316 50,8<br />
Destino Dejetos<br />
Fossa negra 55 22 40,0 ---- ---- 0,10<br />
Mata 655 328 50,1<br />
Rio 4 4 100,0<br />
Ingestão de Carne Crua<br />
Sim 15 9 2,5 1,21 0,79 - 1,85 0,57<br />
Não 699 345 97,5<br />
Presença de Animais<br />
Sim 669 327 48,9 0,81 0,63 - 1,04 0,19<br />
Não 45 27 60,0<br />
Presença de Gato<br />
Sim 340 171 50,3 1,02 0,88 - 1,19 0,77<br />
Não 374 183 48,9<br />
Uso de Calçados<br />
Descalço 471 233 49,5 ---- ---- 0,71<br />
Calçado aberto 231 116 50,4<br />
Calçado fechado 12 5 41,7<br />
Contato com solo<br />
Frequente 704 349 49,6 0,99 0,53 - 1,85 0,77<br />
Raro 10 5 50,0<br />
Areia no Quintal<br />
Sim 97 58 59,8 1,25* 1,06 - 1,51 0,02**<br />
Não 617 296 48,0<br />
Grupo de Idade<br />
< 15 anos 381 136 35,7 0,54 0,46 - 0,63 15 anos 333 218 65,5<br />
n, tamanho da amostra em cada grupo; IgG+, número de casos com IgG positivo para Toxoplasma<br />
gondii ; Prevalência(%), Prevalência de Toxoplasmose em cada grupo; RP, Razão de Prevalência; IC<br />
95%, Intervalo de Confiança de 95%; p, nível de significância estatística; Destino Dejetos, Destino<br />
dos dejetos referidos pela população do estudo; Ingestão de Carne Crua, Indivíduos com o hábito<br />
ou não de ingestão de carne crua; Presença de Animais, Indivíduos que referiram a presença de<br />
animais domésticos; Presença de Gato, Indivíduos que referiram possuir ou não gato como animal<br />
doméstico; Uso de Calçados, Análise do uso de calçados pela população investigada; Contato com<br />
solo, Freqüência de contato com solo nos indivíduos pesquisados; Areia no quintal, Presença ou<br />
ausência de areia no quintal nas residências; Grupo de idade < 15 anos, indivíduos com idade até<br />
os 15 anos; Grupo de idade > 15 anos, indivíduos com idade superior a 15 anos, * = RP ajustada<br />
por grupo de idade; **, diferença estatisticamente significativa.
36<br />
Em relação à idade, observou-se uma associação positiva da prevalência de<br />
anticorpos da classe IgG para toxoplasmose. Em média, os indivíduos reativos<br />
tinham 24,9 anos e os não reativos 15,6 anos (ANOVA X 2 =50,86, p
37<br />
Entre os indivíduos menores de 15 anos observou-se uma prevalência de<br />
toxoplasmose de 50,0% nos que moravam em casas com areia no quintal e entre os<br />
moradores de casas sem areia 33,3%, RP=1,50 (IC95% 1,10 - 2,04, X 2 =4,90,<br />
p=0,02).<br />
Nos indivíduos acima de 15 anos que moravam em casas com quintal com<br />
areia a prevalência de toxoplasmose foi 72,1% e naqueles que moravam em casas<br />
sem areia foi 64,5%, RP=1,11 (IC95% 0,91 - 1,37, X 2 =0,65, p=0,41).<br />
O risco de infecção pela toxoplasmose associado à presença de areia,<br />
ajustado por idade não revelou mudança significativa no valor sem o ajuste, RP =<br />
1,25 (IC95% 1,06 - 1,51, X 2 MH= 5,29, p=0,02).
38<br />
5 DISCUSSÃO<br />
Este estudo foi capaz de estimar a prevalência de infecção por Toxoplasma<br />
gondii na população da zona rural do município de Lábrea, Amazonas. O estudo<br />
também definiu os principais prováveis fatores correlatos, bem como avaliou a<br />
repercussão ocular da infecção através de um rastreamento oftalmológico de<br />
pequena amostra dos indivíduos incluídos no estudo.<br />
Foi realizado na calha do rio Purus, sendo visitadas 19 vilas, numa extensão<br />
de cerca de 400 Km desde os limites com o município de Pauini até a cidade de<br />
Lábrea, (S 07º43'13.4", W 066º42'33.7" a S 07º15'17.2", W 064º49'53.3"), região<br />
isolada e de difícil acesso. Os 714 indivíduos incluídos representaram uma<br />
população típica com hábitos característicos e peculiares de habitantes de áreas<br />
ribeirinhas do interior do Estado do Amazonas (Brasil, 2000).<br />
A população estudada era extremamente jovem, 50% eram menores de 14<br />
anos de idade com poucos indivíduos idosos. Procedentes da própria região do<br />
Purus, a maioria havia nascido nas comunidades visitadas e eram descendentes de<br />
seringalistas.<br />
Agricultores, inclusive mulheres e crianças trabalhavam com o cultivo de<br />
agricultura de subsistência. Foi encontrada elevada taxa de analfabetismo e em<br />
geral as famílias revelavam hábitos de higiene ambiental e pessoal precários.<br />
Retiravam água do rio Purus que servia também de destino de dejetos e lixo. Não<br />
relatavam hábitos de ingestão de carnes cruas ou mal cozidas nem de alimentar-se<br />
de verduras ou legumes crus, fatores de risco clássicos de infecção pelo<br />
Toxoplasma gondii (Jamra,1964; Sroka et al., 2006).<br />
A presença de anticorpos IgG contra o Toxoplasma gondii revela aspectos<br />
relacionados ao cenário de sua transmissão, bem como identifica os prováveis<br />
portadores crônicos do protozoário na comunidade.<br />
A prevalência encontrada na região avaliada revelou que no mínimo cerca de<br />
50% da população seja portador do protozoário. Esta taxa está na verdade entre
extremos como 15% e 85%, padrões relatados em estudos com populações<br />
humanas (Cristo et al., 2005).<br />
39<br />
Taxas semelhantes foram descritas em diversos países subdesenvolvidos<br />
como Venezuela (Chacin-Bonilla, 2001), República Centro-Africana (Dumas et<br />
all.,1990) e Tunísia (Bouratbine et al., 2001), bem como em outras regiões<br />
brasileiras, no Ceará (Rey e Ramalho, 1999), Mato Grosso, Parque Nacional do<br />
Xingu (Baruzzi, 1970).<br />
Entretanto, padrões semelhantes também foram descritos em países ricos<br />
como na Suécia (Jacquier et al., 1995) e Estados Unidos da América (Server et al.,<br />
1988). A toxoplasmose é uma zoonose altamente disseminada e apesar destes<br />
países possuírem melhores condições sanitárias a prevalência desta infecção pode<br />
estar associada aos hábitos alimentares e outras formas de transmissão (Cantos et<br />
al., 2000).<br />
As taxas de prevalência variaram significativamente entre as comunidades<br />
investigadas demonstrando um padrão heterogêneo de distribuição. As taxas entre<br />
60% e mais de 80%, encontrada na Praia de Lábrea e Madeirinho estariam<br />
associadas às precárias condições de higiene ambiental e grande quantidade de<br />
animais domésticos, nestas localidades.<br />
Perfis de elevada prevalência também foram descritos em Rondônia<br />
(Cavalcante et al., 2006), entre tribos indígenas Brasileiras (Sobral et al., 2005) e no<br />
Mato Grosso (Amendoeira et al., 2003), que associaram essas taxas aos hábitos de<br />
ingestão de legumes plantados pelos próprios indivíduos, coleções de água, contato<br />
com solo e com os felinos silvestres nas imediações das vilas e aldeias visitadas.<br />
Também foram encontradas localidades com taxas muito baixas com menos<br />
de 20% de portadores do Toxoplasma gondii, como nas comunidades de Realeza e<br />
Vargem Grande, ambas distantes da sede do município. As famílias investigadas<br />
possuíam quintais limpos, casas bem cuidadas, muitas com teto e paredes e as<br />
pessoas pareciam ter mais cuidado com a higiene pessoal. Na comunidade de
Vargem Grande morava um agente de saúde que relatou desenvolver atividades<br />
educativas ligadas à prevenção de doenças.<br />
40<br />
Alguns estudos descreveram taxas inferiores a 10% como no Reino Unido<br />
(Nasch et al., 2005), Taiwan, Hongkong e Macau (Sheng et al., 2005), Sul do Haiti<br />
(Raccurt et al., 1986) e associaram essas baixas prevalências aos hábitos<br />
alimentares adequados e aos cuidados durante o trabalho no solo como uso de<br />
luvas rotineiramente. Demonstrando que o grau de desenvolvimento econômico<br />
deve ter uma influência menos importante que medidas de saneamento básico,<br />
fatores culturais e cuidados pessoais na prevalência de infecção pelo Toxoplasma<br />
gondii.<br />
O estudo demonstrou gradiente crescente de infecção em relação à idade,<br />
sugerindo que a toxoplasmose congênita seja rara nesta população. Embora a<br />
associação positiva com a idade seja descrita em diversos estudos em diferentes<br />
regiões do planeta como Suécia (Birgisdóttir et al., 2006), Reino Unido (Nasch et al.,<br />
2005) e no Brasil (Cavalcante et al., 2006), a média de idade dos indivíduos reativos,<br />
neste estudo específico, foi relativamente maior que as relatadas em regiões com<br />
características sócio-econômicas semelhantes as da Amazônia Brasileira como na<br />
Guatemala (Jones et al., 2005) e na Tunísia (Bouratbine et al., 2001).<br />
O estudo não mostrou associação estatisticamente significativa da<br />
prevalência com fatores clássicos de infecção pelo Toxoplasma gondii descritos<br />
comumente na literatura científica como ingestão de carnes cruas, contato freqüente<br />
com o solo e a criação de animais domésticos principalmente gatos (Frenkel e Ruiz,<br />
1980; Focaccia et al., 1982; Contreras et al., 1996; Cerqueira et al., 1998; Chacin-<br />
Bonilla et al., 2001).<br />
Acredita-se que como a dieta básica do ribeirinho da Amazônia consiste em<br />
peixe, que é sempre bem cozido, frito ou assado, farinha de mandioca, poucas<br />
frutas, verduras e legumes, que também são consumidos bem cozidos, e o leite<br />
usado é em pó industrializado, não tenha influência nas taxas encontradas, como<br />
em determinados países em que as crianças são ensinadas a comer carne crua,
como hábito saudável de grande importância para o desenvolvimento das crianças<br />
(Remington et al., 1995).<br />
41<br />
Apesar da população estudada possuir com freqüência animais domésticos,<br />
inclusive com número significativo de gatos, os quintais não possuem muros e as<br />
casas geralmente não tem portas ou paredes. E como os animais são criados como<br />
“da casa” e não respeitam limites, na verdade são animais comunitários,<br />
diferentemente de países da Europa onde os animais são criados somente pelos<br />
seus donos.<br />
O freqüente contato com o solo na atividade de agricultura de subsistência<br />
não se mostrou importante neste estudo, diferente do estudo em três países da<br />
Europa (Birgisdóttir et al, 2006). Na região, ainda é pouco comum a criação de gado<br />
ou suínos, a agricultura é desenvolvida com adubos industrializados distribuídos por<br />
órgãos governamentais, com matéria orgânica da floresta ou mais comumente com<br />
queimadas, dificultando o possível contato com os oocistos no manuseio de animais<br />
ou seus excrementos.<br />
A presença de areia nos quintais das residências mostrou importante<br />
associação com a prevalência de Toxoplasma gondii na população estudada,<br />
mesmo depois de ajustada por idade, indicando um risco até duas vezes maior entre<br />
os menores de quinze anos de idade, semelhante ao estudo descrito por Frenkel e<br />
Ruiz (1980), onde a prevalência de Toxoplasmose foi correlacionada com<br />
características dos quintais das residências e com contato com solo na Costa Rica.<br />
Importante destacar mais uma vez o fato das casas geralmente serem muito<br />
próximas umas das outras, sem portas e muitas vezes sem paredes. Como os<br />
quintais não possuem muros, os animais não respeitam limites de propriedade<br />
podendo passear por todos os lugares. Em virtude de ter sido muito comum a<br />
presença de gatos nas comunidades visitadas e destes terem o hábito de depositar<br />
seus dejetos em locais com areia, estes animais podem ser considerados na<br />
verdade como comunitários e provavelmente os principais disseminadores dos<br />
oocistos na coletividade.
42<br />
Dos 96 indivíduos incluídos na avaliação oftalmológica, foram encontrados<br />
dois com estrabismo convergente, um com nistagmo bilateral e 26 com déficit visual.<br />
Dos indivíduos submetidos à oftalmoscopia direta, três apresentaram coriorretinite.<br />
No indivíduo com nistagmo, foi encontrada uma lesão de coriorretinite Grau I típica e<br />
com acometimento da mácula, confirmando a hipótese de Dantas e Zangalli (1999),<br />
de que o estrabismo pode ser encontrado como forma inicial de toxoplasmose<br />
ocular, demonstrando o papel importante da infecção nas lesões oculares.<br />
A prevalência de infecção pelo Toxoplasma gondii na Amazônia havia sido<br />
descrita há mais de vinte anos (Ferraroni e Lacaz, 1982), em estudos com amostras<br />
de conveniência, com populações muito heterogêneas e sem muitos rigores<br />
metodológicos. Este estudo avalia uma amostra de base populacional buscando<br />
definir fatores de risco potenciais de infecção.<br />
Fica evidente o papel da presença de areia nos quintais e da influência da<br />
idade provavelmente indiretamente relacionados à infra-estrutura de saneamento, à<br />
peculiar arquitetura das casas dos ribeirinhos, à higiene e à presença significativa de<br />
gatos nas vilas. No entanto, algumas questões ainda devem ser respondidas<br />
principalmente em relação à repercussão da infecção ocular, presença da infecção<br />
em animais domésticos e silvestres e à elevada idade média dos indivíduos reativos.<br />
O estudo da infecção pelo Toxoplasma gondii não deve ser importante<br />
apenas pelo seu impacto em populações humanas, estima-se que mais de dois<br />
bilhões de pessoas estejam cronicamente infectadas (Silveira, 2002), mas pelo fato<br />
de ser uma doença antiga com provavelmente milhões de anos de convivência do<br />
parasito com o homem, em um cenário onde começam a aparecer novos desafios<br />
principalmente frente doenças e tratamentos que levam à importante depressão do<br />
sistema imunológico quebrando o delicado equilíbrio entre parasito e hospedeiro.
43<br />
6 CONCLUSÃO<br />
1. A prevalência geral de infecção pelo Toxoplasma gondii, medida pela<br />
presença de anticorpos da classe IgG encontrada na população estudada foi 49,6%.<br />
2. O estudo mostra um gradiente crescente de infecção em relação à idade,<br />
sendo a média dos indivíduos infectados de 25 anos de idade.<br />
3. A presença de areia nos quintais das residências se mostrou importante<br />
fator de risco de infecção principalmente entre menores de 15 anos onde o risco<br />
pode alcançar o dobro do dos indivíduos que residem em casas sem areia no<br />
quintal.<br />
4. A presença de animais domésticos talvez não tenha se mostrado<br />
importante pelo fato de não serem definidos limites entre as propriedades.<br />
5. Fatores de risco clássicos como ingestão de carnes cruas ou mal cozidas e<br />
contato direto com o solo não parecem importantes nesta população específica.<br />
6. Na avaliação oftalmológica foram encontrados dois indivíduos com<br />
estrabismo convergente, um indivíduo com nistagmo bilateral e 26 indivíduos com<br />
déficit visual.<br />
7. Dos indivíduos submetidos à oftalmoscopia direta, três apresentaram<br />
coriorretinite.
44<br />
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51
52<br />
Apêndice 1 - Termo de Consentimento Livre e Informado<br />
Instituições: Universidade do Estado do Amazonas / Fundação de Medicina Tropical do Amazonas.<br />
Orientadores Responsáveis/ Coordenadores: Prof. Dr. Wornei S. M. Braga<br />
Prof. Dr. Ricardo A. C. de Carvalho<br />
Prof a . M.Sc. Marilaine Martins<br />
Investigadora responsável: Fabiane Giovanella Borges<br />
Compromisso Assumido<br />
O (A) Sr (a)_________________________________________________, aqui denominado(a),<br />
paciente da Universidade do Estado do Amazonas e da Fundação de Medicina Tropical do<br />
Amazonas, assume, livremente, o compromisso de participar como voluntário(a) em um estudo<br />
conduzido por esta instituição, que tem como objetivo geral estimar a prevalência de infecção por<br />
Toxoplasma gondii na população ribeirinha da calha do rio Purus do município de Lábrea,<br />
Amazonas. Podendo afastar-se do estudo a qualquer momento, sem que este fato lhe venha causar<br />
qualquer constrangimento ou penalidades. Os exames e procedimentos para o estudo serão<br />
gratuitos. O Sr (a) receberá todos os cuidados necessários durante a avaliação clínica e na coleta do<br />
material biológico (sangue).<br />
O problema de saúde<br />
Toxoplasmose é uma doença causada por um parasita que é adquirida ao ingerir carne crua<br />
ou mal cozida, ou outros alimentos que estejam contaminados pelas fezes dos animais como os<br />
gatos domésticos ou selvagens. A maioria das pessoas com toxoplasmose não apresentam sintomas<br />
e a doença ocorre em pacientes com as suas defesas baixas. O número de portadores de<br />
toxoplasmose é pouco conhecido no Amazonas. Sabendo-se do grande número de pessoas que<br />
possui esta doença em todo mundo há necessidade de estudos locais para conhecer a situação atual<br />
em nossa população.<br />
Antes de assinar este TERMO, o Sr(a), deve informar-se adequadamente podendo realizar<br />
quaisquer perguntas para seu esclarecimento.<br />
Objetivo da Investigação<br />
Estimar a soroprevalência de Toxoplasma gondii na população ribeirinha de Lábrea – AM<br />
Benefícios<br />
Fornecer informações profiláticas aos pacientes e a toda comunidade, realizar a sorologia para<br />
toxoplasmose desses, assim como, atendimento médico adequado conforme necessidade.<br />
Riscos Potenciais<br />
O projeto não prevê nenhum risco potencial, exceto desconforto pela coleta de material biológico<br />
(sangue) de cada paciente.<br />
Sigilo dos Dados confidenciais<br />
Declaro estar ciente do teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMA<strong>DO</strong>, decidindome<br />
a participar da investigação proposta, depois de ter formulado perguntas e de ter recebido<br />
respostas satisfatórias sobre elas. Declaro dar meu consentimento que permanecerá arquivado de<br />
uma forma confidencial, para proteger minha identidade.<br />
Ressarcimento/Indenização: Participando desse projeto, serei assistido, pelas Instituições<br />
patrocinadoras somente se ocorrer algo referente a qualquer procedimento sobre o projeto que estou<br />
participando.<br />
_________________________________<br />
Assinatura do Voluntário ou responsável<br />
______________________<br />
Assinatura da Testemunha<br />
_____________________________________<br />
Data: ____/____/____<br />
Assinatura do Investigador
53<br />
Apêndice 2 - Ficha Individual de Investigação<br />
Projeto: Prevalência da infecção pelo Toxoplasma gondii na população da calha do rio Purus<br />
no município de Lábrea, Amazonas.<br />
1. Ficha: ____________ 2. Comunidade:______________________________ 3. Família ______<br />
4. Nome: _________________________________________________________________________<br />
5. Gênero: a.( ) Fem b. ( ) Masc 6. Idade: _________<br />
7. Etnia: a.( ) branca b.( ) negra c.( ) parda d.( ) amarela<br />
8. Grau de instrução:<br />
a.( )Semi-analfabeto b.( ) Analfabeto c.( ) Fundamental d.( ) Médio e. ( )Superior<br />
9. Ocupação:___________________ 10.Localização da moradia:__________________________<br />
11. Moradia: a.( ) alvenaria b.( ) madeira c.( )mista<br />
12. Quintal: a.( ) com areia b. ( ) sem areia<br />
13. Destino dos dejetos: a.( ) sanitário b.( ) fossa negra c.( ) mata d.( ) rio<br />
14. Lixo: a.( ) mata b.( ) queimado c.( ) joga no rio d.( ) enterrado<br />
15. Procedência da água: a.( ) poço b.( ) rio c.( ) outros<br />
16. Tratamento da água: a.( ) não trata b.( ) uso de cloro c.( )outras formas de tratamento<br />
17. Água fervida: a.( )sim b.( )não<br />
18. Alimenta-se de carne crua ou mal cozida: a.( ) sim b.( ) não<br />
19. Possui animais domésticos: a.( ) sim b.( ) não. Se sim, qual?_____________________<br />
20. Tipo de calçado: a.( ) descalço b.( ) aberto c.( ) fechado<br />
21. Você tem ou teve contato com o solo? a.( ) freqüentemente c.( ) dificilmente<br />
22. Teste com cobertura visual alternada: a.( ) normal bilateral b.( )déficit visual esquerdo<br />
23. Acuidade Visual:<br />
c.( )déficit visual direito d.( )déficit visual bilateral<br />
OD a.( )20/200 b.( )20/100 c.( )20/70 d.( )20/50 e.( )20/40 f.( )20/30 g.( )20/20<br />
OE a.( )20/200 b.( )20/100 c.( )20/70 d.( )20/50 e.( )20/40 f.( )20/30 g. ( )20/20<br />
24. Oftalmoscopia: Direita a. ( ) lesão ativa b. ( )lesão cicatrizada c. ( )lesão satélite<br />
d.( )lesões múltiplas e.( )acometimento da mácula f.( )sem lesão<br />
Graus (I a V):_____________<br />
Esquerda a. ( ) lesão ativa b. ( )lesão cicatrizada c. ( )lesão satélite<br />
d.( )lesões múltiplas e.( )acometimento da mácula f.( )sem lesão<br />
Graus (I a V):_____________<br />
25. Observações: __________________________________________________________________<br />
DATA: _____/_____/_____<br />
______________________________<br />
Investigador ,
Anexo 1 - Escala de Snellen adaptada para a região<br />
54
Anexo 2 - Documento de aprovação do Projeto no CEP da FMT-AM<br />
55