Projeto Genoma do Câncer - Biotecnologia
Projeto Genoma do Câncer - Biotecnologia
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R$ 5,00<br />
ano II • número 12 • janeiro/fevereiro de 2000<br />
ESPECIAL<br />
<strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer<br />
Análise Diagnóstica de um Produto Transgênico<br />
Terapia Gênica<br />
<strong>Projeto</strong> Transcriptoma<br />
Biomonitoramento de Mutagênese Ambiental<br />
Proteínas Recombinantes<br />
Construin<strong>do</strong> Flores<br />
O controle molecular da arquitetura floral<br />
www.biotecnologia.com.br
BIOTECNOLOGIA/KL3<br />
REPETE FOTOLITO<br />
2 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
BIOTECNOLOGIA/KL3<br />
REPETE FOTOLITO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 3
ENTREVISTA<br />
Diagnóstico<br />
Genético<br />
Entrevista concedida a<br />
Ana Lúcia Azeve<strong>do</strong><br />
José Bines<br />
Mulheres <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro contam agora com<br />
um serviço que poderá ajudar a prevenir cânceres de<br />
mama e ovário com ajuda de novas descobertas da<br />
genética. O serviço pioneiro de aconselhamento genético<br />
é fruto da iniciativa de profissionais <strong>do</strong> Instituto Nacional<br />
<strong>do</strong> Câncer (INCa), no Centro <strong>do</strong> Rio, e atende a mulheres<br />
com casos de câncer de mama ou ovário na família.<br />
Coordena<strong>do</strong> pelo oncologista Dr. José Bines, o grupo dá<br />
assistência a parentes de pacientes <strong>do</strong> próprio INCa. A<br />
meta <strong>do</strong> grupo de aconselhamento genético é identificar<br />
mulheres com alto risco de câncer de mama e ovário e ajudá-las a evitar a<br />
<strong>do</strong>ença com a combinação de méto<strong>do</strong>s tão varia<strong>do</strong>s quanto o diagnóstico de<br />
genes associa<strong>do</strong>s ao câncer e atendimento psicológico. Numa segunda etapa<br />
<strong>do</strong> trabalho, a equipe também espera obter informações para produzir um<br />
perfil <strong>do</strong>s cânceres de mama e ovário adequa<strong>do</strong> às características da mulher<br />
brasileira. Em entrevista à Revista <strong>Biotecnologia</strong>, Dr. José Bines conta que o<br />
trabalho ainda está no início, mas tem um caminho promissor pela frente com<br />
o avanço das técnicas de biologia molecular.<br />
Dr. José Bines é médico, oncologista, responsável pelo Grupo de<br />
Aconselhamento Genético <strong>do</strong> INCa. Ele é forma<strong>do</strong> pela UFRJ e tem<br />
Fellowship em Hematologia e Oncologia pela Northwestern University<br />
(Chicago). Obteve certifica<strong>do</strong> em Clínica Médica e Oncologia pelo American<br />
Board of Internal Medicine.<br />
4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
BC&D - O que é aconselhamento genético?<br />
José Bines - R: O objetivo <strong>do</strong> aconselhamento<br />
genético é analisar e explicar, em<br />
termos compreensíveis para os pacientes,<br />
o risco de desenvolver determinadas<br />
<strong>do</strong>enças. No nosso caso, de desenvolver<br />
câncer. Sempre que possível, a meta é<br />
oferecer propostas de prevenção e detecção<br />
precoce.<br />
BC&D - Como surgiu a idéia de oferecer<br />
um serviço de aconselhamento<br />
genético no INCa para cânceres de<br />
mama e de ovário?<br />
José Bines - Uma das linhas de pesquisa<br />
que mais tem se desenvolvi<strong>do</strong> no campo<br />
<strong>do</strong> aconselhamento genético é justamente<br />
o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cânceres de mama e<br />
ovário. O INCa atende a um grande<br />
número de pacientes com essas <strong>do</strong>enças.<br />
Por isso, é importante que consigamos<br />
avançar no que diz respeito ao diagnóstico<br />
precoce e a prevenção.<br />
BC&D - Quan<strong>do</strong> o serviço de aconselhamento<br />
genético <strong>do</strong> INCa começou<br />
a funcionar?<br />
José Bines - Começamos a formar o<br />
grupo em maio de 1999. Desde então,<br />
temos manti<strong>do</strong> reuniões semanais e em<br />
agosto passa<strong>do</strong> iniciamos a parte de<br />
assistência propriamente dita.<br />
BC&D - Quantos profissionais fazem<br />
parte <strong>do</strong> grupo?<br />
José Bines - Além de mim, que sou<br />
oncologista, participam <strong>do</strong>is mastologistas,<br />
um ginecologista, duas psicólogas,<br />
uma enfermeira, uma assistente social e<br />
quatro geneticistas.<br />
BC&D - Quantas pessoas já foram atendidas?<br />
José Bines - Vinte mulheres já foram<br />
entrevistadas pelo grupo. Seis delas não<br />
se encaixavam nos critérios de risco para<br />
que precisassem ser testadas para identificação<br />
de mutações nos genes BRCA1 e<br />
BRCA2, os <strong>do</strong>is maiores envolvi<strong>do</strong>s em<br />
cânceres de mama e ovário de caráter<br />
hereditário. Com isso, 14 realizaram o<br />
teste de DNA para detecção <strong>do</strong> BRCA1 e<br />
<strong>do</strong> BRCA2. Nos baseamos na história<br />
familiar da mulher e na idade de aparecimento<br />
<strong>do</strong>s tumores na família.<br />
BC&D - Como é feita a seleção de<br />
pacientes?<br />
José Bines - Por enquanto, estamos atenden<strong>do</strong><br />
somente pacientes <strong>do</strong> INCa. Elas<br />
são encaminhadas por outros médicos da<br />
instituição, que indicam nosso serviço<br />
para pacientes com história familiar e<br />
idade precoce (menos de 50 anos) de<br />
aparecimento de câncer de mama ou<br />
ovário. A avaliação sempre começa com<br />
"A avaliação sempre<br />
começa com a pessoa que<br />
tem a <strong>do</strong>ença, caso o teste<br />
seja positivo para mutação<br />
<strong>do</strong> BRCA1/BRCA2,<br />
passamos a avaliar os<br />
familiares"<br />
a pessoa que tem a <strong>do</strong>ença, caso o teste<br />
seja positivo para mutação <strong>do</strong> BRCA1/<br />
BRCA2 , passamos a avaliar os familiares.<br />
BC&D - Existem projetos de ampliar o<br />
serviço para outros tipos de câncer? Quais?<br />
"...há possibilidade de<br />
prevenção e detecção<br />
precoce, os principais<br />
benefícios. O maior risco<br />
é o estresse psicológico ao<br />
qual a pessoa que tem<br />
mutações identificadas e<br />
não tem a <strong>do</strong>ença estará<br />
exposta durante o<br />
restante da vida"<br />
José Bines - Esse é apenas o início <strong>do</strong><br />
serviço. Ainda neste ano pretendemos<br />
ampliar o serviço e atender a pacientes<br />
com câncer de intestino (colo-retal) e<br />
melanoma (câncer de pele). Há informações<br />
relativas à transmissão hereditária<br />
nesses tumores e estratégias que podem<br />
ser utilizadas na sua prevenção e detecção<br />
precoce.<br />
BC&D - Qual é o papel da hereditariedade<br />
no câncer da mama? Qual é o<br />
percentual de casos associa<strong>do</strong>s à hereditariedade?<br />
José Bines - To<strong>do</strong> câncer é genético, isto<br />
é, decorrente de mutações. Porém, a<br />
maioria ocorre em células somáticas e<br />
não germinativas. A maioria <strong>do</strong>s tumores<br />
de mama são esporádicos, isto é, não são<br />
hereditários. Somente entre 5 e 10% <strong>do</strong>s<br />
tumores de mama são hereditários.<br />
BC&D - Quan<strong>do</strong> uma paciente é considerada<br />
em risco?<br />
José Bines - Os critérios variam um<br />
pouco de acor<strong>do</strong> com cada serviço. Todavia,<br />
de mo<strong>do</strong> geral, é considerada em<br />
risco a mulher que tiver história de mais<br />
de um caso na familia com idade de<br />
aparecimento da <strong>do</strong>ença antes <strong>do</strong>s 50<br />
anos, câncer bilateral (presença de câncer<br />
de mama e ovário). Consideramos a<br />
combinação de to<strong>do</strong>s esses fatores para<br />
calcular o risco de uma mulher. Quan<strong>do</strong><br />
o risco (calcula<strong>do</strong> com o uso de tabelas)<br />
é maior <strong>do</strong> que 10%, há indicação para<br />
exames de detecção de mutações nos<br />
genes BRCA1 e BRCA2.<br />
BC&D - Quantas mutações nos genes<br />
BRCA1 e BRCA2 já foram associadas<br />
ao câncer de mama e de ovário?<br />
José Bines - Há várias mutações nos <strong>do</strong>is<br />
genes: algumas de significa<strong>do</strong> incerto,<br />
outras sem relação com o aumento <strong>do</strong><br />
risco de câncer e outras diretamente<br />
relacionadas a um risco aumenta<strong>do</strong>. Há<br />
três mutações principais associadas a um<br />
risco aumenta<strong>do</strong> de câncer de mama e<br />
ovário, duas delas no BRCA1 e uma no<br />
BRCA2.<br />
BC&D - Quais são as mais importantes?<br />
José Bines -No BRCA1, a 185 delAG e<br />
5382 insC. No BRCA2, a 6174 delT. (185<br />
é a posição no gene, del indica deleção,<br />
ins é igual à inserção, AGCT são as bases<br />
nitrogenadas <strong>do</strong> DNA).<br />
BC&D - Como é feito o aconselhamento<br />
genético?<br />
José Bines - A paciente passa por uma<br />
série de avaliações. Inicialmente ela conversa<br />
com a assistente social. Depois é<br />
entrevistada por uma psicóloga. Só depois<br />
disso, passa para o exame médico.<br />
Fazemos um here<strong>do</strong>grama e um exame<br />
físico. Depois, estimamos o risco de uma<br />
paciente apresentar mutações. A pacien-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 5
te sai da consulta com um consentimento<br />
informa<strong>do</strong>, que é um <strong>do</strong>cumento no qual<br />
expomos os riscos e benefícios para testagem.<br />
A paciente deve retornar após três<br />
semanas para nos trazer questões que<br />
possam ter surgi<strong>do</strong> nesse perío<strong>do</strong> e o<br />
consentimento assina<strong>do</strong> (caso queira se<br />
submeter à testagem). Nessa segunda<br />
etapa, coletamos sangue para exame.<br />
Fazemos uma outra consulta que começa<br />
com uma avaliação psicológica e, finalmente,<br />
damos os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exame<br />
genético. Caso a paciente tenha mutação<br />
característica, o próximo passo é a avaliação<br />
de familiares de primeiro grau (mãe,<br />
irmãs e filhas com mais de 21 anos).<br />
BC&D - Como tem si<strong>do</strong> a resposta das<br />
pacientes ao serviço?<br />
José Bines - A aceitação tem si<strong>do</strong> muito<br />
boa. As pessoas têm se mostra<strong>do</strong> interessadas<br />
e compreendem exatamente a função<br />
da testagem. Há pouca alteração na<br />
conduta no que diz respeito a mulheres<br />
que já têm câncer. O principal objetivo é<br />
o aconselhamento <strong>do</strong>s familiares.<br />
BC&D - Os méto<strong>do</strong>s de diagnóstico<br />
genético existentes oferecem que margem<br />
de acurácia?<br />
"A maioria <strong>do</strong>s tumores<br />
de mama são<br />
esporádicos, isto é, não<br />
são hereditários. Somente<br />
entre 5 e 10% <strong>do</strong>s<br />
tumores de mama são<br />
hereditários"<br />
José Bines - Fazemos o sequenciamento<br />
de to<strong>do</strong> o DNA <strong>do</strong>s genes BRCA1 e<br />
BRCA2, considera<strong>do</strong> o teste padrão (“goldstandard”).<br />
Até o momento, encontramos<br />
mutações clássicas. É importante ressaltar<br />
que algumas mutações são de significa<strong>do</strong><br />
incerto, isto é, não se sabe se estão<br />
associadas a um risco aumenta<strong>do</strong> de<br />
câncer de mama ou ovário. Ainda pode<br />
se tratar de um câncer hereditário, porém,<br />
com uma mutação num gene ainda<br />
não identifica<strong>do</strong>.<br />
BC&D - Os resulta<strong>do</strong>s ficam prontos<br />
em quanto tempo?<br />
José Bines - Entre <strong>do</strong>is e três meses.<br />
BC&D - Nos últimos anos têm havi<strong>do</strong><br />
um grande desenvolvimento na<br />
área de testes genéticos. Que tipo de<br />
benefício, e também de risco, essa<br />
nova forma de diagnóstico traz para<br />
pacientes com câncer e suas famílias?<br />
José Bines - Não há evidência de<br />
aumento de sobrevida, porém há possibilidade<br />
de prevenção e detecção<br />
precoce, os principais benefícios. O<br />
maior risco é o estresse psicológico ao<br />
qual a pessoa que tem mutações identificadas<br />
e não tem a <strong>do</strong>ença estará<br />
exposta durante o restante da vida.<br />
BC&D - Que tipo de aplicação médica<br />
mais imediata o <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong><br />
Humano pode ter?<br />
José Bines - O conhecimento <strong>do</strong> código<br />
genético humano permitirá avaliar<br />
as alterações existentes, sua associação<br />
com <strong>do</strong>enças e a a busca de caminhos<br />
para a prevenção e tratamento.<br />
Etapas <strong>do</strong> aconselhamento genético para mulheres com mutações associadas aos genes BRCA1 e BRCA2 identificadas:<br />
CÂNCER DE MAMA :<br />
Detecção: Auto-exame da mama uma vez por mês<br />
a partir <strong>do</strong>s 25 anos; realização de exame médico a<br />
cada seis meses para mulheres com mais de 25<br />
anos; mamografia uma vez por ano entre os 25 e<br />
os 35 anos.<br />
Quimioprevenção: Os médicos <strong>do</strong> INCa ainda<br />
não recomendam remédios para prevenção porque<br />
não existem estu<strong>do</strong>s suficientes que indiquem sua<br />
eficiência e segurança. No Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, estu<strong>do</strong>s<br />
com a droga tamoxifeno revelaram que ela pode<br />
diminuir em 50% o número de casos de câncer de<br />
mama não relaciona<strong>do</strong>s à hereditariedade em mulheres<br />
com mais de 60 anos. Porém, os médicos<br />
não sabem se ela teria o mesmo êxito contra tumores<br />
associa<strong>do</strong>s a genes específicos. Há pesquisas<br />
com resulta<strong>do</strong>s semelhantes com o medicamento<br />
raloxifeno.<br />
Cirurgia: Segun<strong>do</strong> Dr. José Bines, a remoção <strong>do</strong>s<br />
ovários pode diminuir em até 50% o risco de uma<br />
mulher contrair tumor maligno na mama. Os médicos,<br />
todavia, só recomendam a cirurgia de<br />
ooforectomia para mulheres que já têm filhos e podem<br />
suportar os problemas causa<strong>do</strong>s por uma menopausa<br />
precoce. A outra opção é bem mais radical. A<br />
mastectomia (extirpação da mama) pode diminuir o risco<br />
da <strong>do</strong>ença em 90% em mulheres sem mutações nos<br />
genes. Todavia, não há resulta<strong>do</strong>s para mulheres com<br />
risco associa<strong>do</strong> ao câncer hereditário. Dr. José Bines diz<br />
que por ser uma decisão drástica, precisa ser muito bem<br />
avaliada por médico e paciente.<br />
CÂNCER DE OVÁRIO :<br />
Detecção: Os médicos recomendam um exame de sangue<br />
para detectar uma substância chamada CA-125<br />
(cujos níveis são altera<strong>do</strong>s pelo câncer) a cada seis meses.<br />
Eles também sugerem a realização de uma exame<br />
de ultra-som transvaginal a cada seis meses.<br />
Quimioprevenção: As pílulas anticoncepcionais comuns<br />
são a melhor opção. Elas podem diminuir em 50%<br />
o risco de câncer de ovário.<br />
Cirurgia: Para algumas pacientes, os médicos recomendam<br />
a ooforectomia.<br />
6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
MONSANTO NOVO<br />
FOTOLITO EM<br />
ANEXO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 7
Carta ao Leitor<br />
BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento<br />
KL3 Comunicação<br />
Funda<strong>do</strong>r<br />
Henrique da Silva Castro<br />
Diretora de Pesquisa e Edição<br />
Ana Lúcia de Almeida<br />
Diretor Executivo<br />
Márcio Brasil<br />
Diretor de Arte<br />
Henrique S. Castro Fº<br />
Departamento Comercial,<br />
Redação e Edição:<br />
SRTV/Sul - Quadra 701<br />
Ed. Palácio <strong>do</strong> Rádio II<br />
Sala 215 - CEP 70340-902<br />
Brasília - DF<br />
Tel.: (061) 225-1512 (061) 225-0976<br />
Fax: (061) 224-2830<br />
E-mail<br />
kl3@biotecnologia.com.br<br />
Home-Page<br />
www.biotecnologia.com.br<br />
Com a conclusão <strong>do</strong> <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> Xylella, podemos<br />
dizer que o Brasil deu uma grande arrancada no progresso<br />
científico <strong>do</strong> país. Não apenas pelo fato de ter<br />
si<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong> em tempo record, um projeto de suma<br />
importância para a erradicação <strong>do</strong> grande problema na<br />
citricultura brasileira, mas principalmente por ter proporciona<strong>do</strong><br />
to<strong>do</strong> um desenvolvimento tecnológico em<br />
torno <strong>do</strong> próprio projeto.<br />
Afinal, foram muitos laboratórios de sequenciamento,<br />
espalha<strong>do</strong>s pelo Brasil inteiro, envolven<strong>do</strong> vários especialistas,<br />
num projeto completamente novo. Parabéns<br />
aos cientistas envolvi<strong>do</strong>s, aos técnicos, aos especialistas<br />
das áreas de bioinformática, à Fapesp, e aos demais<br />
envolvi<strong>do</strong>s. Parabéns também, àqueles que dão<br />
sequencia e aprimoramento às pesquisas. Com o desenvolvimento<br />
da biologia molecular, to<strong>do</strong>s os setores se<br />
beneficiam. Da agricultura à saúde, novos projetos,<br />
novas pesquisas e novas descobertas. Poderíamos até<br />
dizer que, se o mun<strong>do</strong> não está melhor, ao menos<br />
aponta para um futuro promissor. No encarte especial,<br />
publicamos o artigo <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer Humano,<br />
projeto da maior importância para a saúde mundial,<br />
escrito por Emmanuel Dias Neto, <strong>do</strong> Instituto Ludwig,<br />
de cujo grupo desenvolveu uma nova tecnologia, a<br />
chamada Estratégia Orestes.<br />
Dr. Henrique da Silva Castro<br />
<strong>Projeto</strong> Gráfico<br />
Agência de Comunicação IRIS<br />
www.agenciairis.com.br<br />
iris@agenciairis.com.br<br />
Assinaturas<br />
O pedi<strong>do</strong> de assinatura é realiza<strong>do</strong> através<br />
da carta resposta-comercial encartada em<br />
cada revista, por telefonema ou fax<br />
diretamente à KL3 ou pela Internet<br />
através <strong>do</strong>s nossos endereços eletrônicos.<br />
A revista não tem vende<strong>do</strong>res autoriza<strong>do</strong>s.<br />
ISSN 1414-4522<br />
8 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
Conselho Científico<br />
Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal<br />
Dr. Henrique da Silva Castro - Saúde;<br />
Dra. Johanna Döbereiner - Microbiologia de Solos;<br />
Dr. Maçao Tadano - Agricultura;<br />
Dr. Naftale Katz - Saúde;<br />
Dr. Pedro Juberg - Ciências;<br />
Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas;<br />
Dr. Vasco Ariston de Carvalho Azeve<strong>do</strong> - Genética de Microorganismos;<br />
Dr. William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental.<br />
Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi<br />
Dr. Ivan Rud de Moraes - Toxicologia;<br />
Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia<br />
Conselho Federal de Biologia<br />
Dr. João de Deus Medeiros<br />
Fundação Dalmo Catauli Giacometti<br />
Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética;<br />
Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico;<br />
Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos<br />
Colaboraram nesta edição:<br />
CARLOS FREDERICO MARTINS MENK,<br />
CATHERINE NGUYEN E BERTRAND JORDAN,<br />
CELIO LOPES SILVA,<br />
EMMANUEL DIAS NETO,<br />
FERNANDO ARARIPE GONÇALVES TORRES,<br />
GERALDO A. S. PASSOS,<br />
JOSE MACIEL RODRIGUES JÚNIOR,<br />
KARLA DE MELO LIMA,<br />
LIDIA MARIA PEPE DE MORAES,<br />
MARCELO CARNIER DORNELAS,<br />
MARCIO CASTRO SILVA-FILHO,<br />
MARIA CRISTINA FALCO,<br />
PEDRO CANISIO BINSFELD,<br />
RENATA MARIA AUGUSTO DA COSTA,<br />
SERGIO U. DANI.<br />
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN<br />
Dr. José Roberto Rogero<br />
Especial<br />
O <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer Humano - Ludwig/Fapesp<br />
- Encarte Especial<br />
Novas Tecnologias<br />
Microesferas Biodegradáveis - pág 10<br />
Saúde<br />
Terapia Gênica - pág 28<br />
Entrevista<br />
Diagnóstico Genético - José Bines - pág 04<br />
Pesquisa<br />
Análise Diagnóstica de um Produto Transgênico - pág 16<br />
Proteínas Recombinantes Produzidas em Leveduras - pág 20<br />
Biomonitoramento de Mutagênese Ambiental - pág 24<br />
<strong>Projeto</strong> Transcriptoma - pág 34<br />
Interação Planta-Inseto - pág 38<br />
Construin<strong>do</strong> Flores - pág 44<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 9
Novas Tecnologias<br />
Microesferas<br />
Biodegradáveis<br />
Uma nova alternativa para administração de vacinas de DNA<br />
Karla de Melo Lima<br />
Doutoranda <strong>do</strong> curso de Imunologia<br />
Básica e Aplicada<br />
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto<br />
Universidade de São Paulo<br />
klima@rpm.fmrp.usp.br<br />
Célio Lopes Silva<br />
Professor Titular de Imunologia da<br />
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto<br />
Universidade de São Paulo<br />
clsilva@fmrp.usp.br<br />
José Maciel Rodrigues Júnior<br />
Professor Adjunto da Faculdade de<br />
Farmácia da Universidade<br />
Federal de Minas Gerais<br />
rodrigue@dedalus.lcc.ufmg.br<br />
Fotos cedidas pelos autores<br />
a última década, os avanços<br />
no desenvolvimento<br />
de vacinas permitiram a<br />
introdução de novas estratégias<br />
para a obtenção<br />
e produção de antígenos,<br />
assim como foram desenvolvidas vias alternativas<br />
de administração e apresentação<br />
desses antígenos para as células <strong>do</strong><br />
sistema imune. Estas estratégias abriram<br />
caminho para inovações, particularmente<br />
no contexto <strong>do</strong> desenvolvimento de vacinas<br />
mais seguras, eficazes e polivalentes.<br />
Dentro deste contexto, as vacinas de DNA<br />
surgiram como uma alternativa<br />
interessante para o desencadeamento<br />
de proteção, especialmente<br />
quan<strong>do</strong> a resposta<br />
imune celular é requerida.<br />
A vacina gênica ou vacina<br />
de DNA, pode tornar-se<br />
um poderoso instrumento de<br />
combate a <strong>do</strong>enças infecciosas<br />
para as quais até hoje não<br />
existe prevenção segura,<br />
como herpes, AIDS, malária,<br />
tuberculose, hepatite, esquistossomose<br />
e dengue, dentre<br />
outras. O processo de vacinação<br />
envolve a inoculação intramuscular<br />
<strong>do</strong> DNA que leva<br />
a mensagem para a síntese <strong>do</strong><br />
antígeno apropria<strong>do</strong> no interior<br />
das células <strong>do</strong> indivíduo<br />
10 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
vacina<strong>do</strong>. Este tipo de vacinação<br />
apresenta uma grande<br />
vantagem, pois fornece ao<br />
organismo hospedeiro a informação<br />
genética necessária<br />
para que ele produza o<br />
antígeno com todas as características<br />
importantes para a<br />
geração de uma resposta imune.<br />
Isto, sem os efeitos colaterais<br />
que podem ser gera<strong>do</strong>s<br />
pela introdução de patógenos<br />
no organismo, ou problemas<br />
proporciona<strong>do</strong>s pela introdução das<br />
vacinas de subunidades associadas a adjuvantes<br />
que são frequentemente tóxicos. As<br />
vacinas de DNA representam uma meto<strong>do</strong>logia<br />
que se aproxima da infecção natural,<br />
alcançan<strong>do</strong> altos níveis da proteção<br />
desejada. Para a sua produção, uma porção<br />
<strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> agente causa<strong>do</strong>r da <strong>do</strong>ença,<br />
que pode ser um vírus, bactéria, fungo<br />
ou um parasita, é retirada. Essa porção <strong>do</strong><br />
DNA, que normalmente representa um<br />
gene que codifica um antígeno imuno<strong>do</strong>minante<br />
ou um fator de virulência, apresenta<br />
a potencialidade de induzir o sistema<br />
Figura 1 – Obtenção das vacinas de DNA. Uma porção <strong>do</strong><br />
DNA de um patógeno, correspondente a um gene que<br />
codifica uma proteína antigênica apropriada, é retirada<br />
(A) e clonada em um plasmídeos conten<strong>do</strong> um gene de<br />
resistência a antibiótico (B). Os plasmídeos obti<strong>do</strong>s (C)<br />
são introduzi<strong>do</strong>s em células bacterianas (D). As bactérias<br />
são semeadas em um meio conten<strong>do</strong> antibiótico (E) onde<br />
apenas as células transformantes, isto é, que contêm o<br />
plasmídeo, serão capazes de crescer (F). Estes clones são<br />
então expandi<strong>do</strong>s em meio líqui<strong>do</strong> com antibiótico (G)<br />
possibilitan<strong>do</strong> a obtenção <strong>do</strong> plasmídeo em grande quantidade<br />
após a lise das células (H). Uma vez purifica<strong>do</strong>s os<br />
plasmídeos são utiliza<strong>do</strong>s como vacina de DNA<br />
imunológico para a produção de anticorpos<br />
ou estimular a imunidade mediada por<br />
células, principalmente linfócitos T auxiliares<br />
ou citotóxicos. O DNA é então clona<strong>do</strong><br />
em um plasmídeo e a transformação de<br />
células bacterianas é utilizada para a sua<br />
obtenção em grande quantidade. A figura<br />
1 ilustra o processo de obtenção das vacinas<br />
de DNA.<br />
A vacinação com DNA pode ser feita<br />
em várias espécies animais e no homem,<br />
por diversas vias e esquemas. Embora a<br />
injeção intramuscular seja um processo<br />
simples e de baixo custo, sua utilização na<br />
maioria das vezes requer uma<br />
quantidade elevada de plasmídeo<br />
para estimular uma resposta<br />
imune adequada. O uso de solução<br />
de glicose hipertônica para<br />
edemaciar o teci<strong>do</strong> muscular, ou<br />
de anestésicos locais como a<br />
bupivacaína, que são capazes de<br />
lesar o teci<strong>do</strong> e causar uma reação<br />
inflamatória, têm si<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s,<br />
em modelos animais,<br />
como alternativas para aumentar<br />
a transfecção de células apresenta<strong>do</strong>ras<br />
de antígenos, como<br />
macrófagos e células dendríticas,<br />
após a injeção intramuscular<br />
(Davis et al., 1993). Entretanto,<br />
tais procedimentos não são aceitáveis<br />
para utilização em clínica<br />
humana devi<strong>do</strong> aos seus efeitos<br />
colaterais. Vários pesquisa<strong>do</strong>res<br />
mostraram que a injeção intramuscular<br />
requer uma quantidade<br />
de plasmídeo 100 vezes superior<br />
para gerar uma expressão<br />
equivalente àquela produzida<br />
pelo bombardeamento de partículas<br />
sob alta pressão com “gene<br />
gun” (Barry & Johnston, 1997).<br />
Esta diferença na eficácia de<br />
transfecção pode ser atribuída<br />
ao fato da injeção intramuscular<br />
colocar o plasmídeo em um<br />
ambiente extracelular onde quan-
Figura 2 – Avaliação in situ da<br />
expressão da enzima β-galactosidade<br />
em células J777 transfectadas in<br />
vitro com o plasmídeo pSV-βgal<br />
(Invitrogen®) utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong><br />
de bombardeamento com partículas<br />
de ouro. As setas indicam as<br />
partículas de ouro no citoplasma<br />
da célula<br />
tidades significativas <strong>do</strong> DNA são rapidamente<br />
degradadas por nucleases. Em contraste,<br />
com o bombardeamento de partículas<br />
ocorre liberação <strong>do</strong> DNA dentro das<br />
células, evitan<strong>do</strong> a degradação <strong>do</strong>s plasmídeos<br />
funcionais (Figura 2). Embora promova<br />
uma transfecção eficiente, a imunização<br />
pelo bombardeamento de partículas<br />
apresenta inconvenientes como a necessidade<br />
de aparelhos especiais para a sua<br />
execução e a necessidade de <strong>do</strong>ses de<br />
reforço. Além disso, como muitos patógenos<br />
penetram no organismo através de<br />
superfícies mucosas como aquelas <strong>do</strong> trato<br />
respiratório, gastrointestinal ou urogenital<br />
entre outras, seria vantajoso que as vacinas<br />
de DNA também estimulassem a imunidade<br />
nestes teci<strong>do</strong>s. Embora demonstra<strong>do</strong><br />
que vacinas de DNA são capazes de estimular<br />
uma resposta humoral em superfícies<br />
mucosas sua administração por estas<br />
vias requer o desenvolvimento de estratégias<br />
que assegurem a sua estabilidade<br />
principalmente no que concerne à administração<br />
por via oral.<br />
A busca por alternativas para administração<br />
de vacinas, levou Preis e Langer<br />
(1979) a aplicarem a tecnologia da liberação<br />
controlada de fármacos no campo da<br />
imunização. Eles demonstraram que a produção<br />
de anticorpos em camun<strong>do</strong>ngos<br />
imuniza<strong>do</strong>s com uma única <strong>do</strong>se de um<br />
antígeno conti<strong>do</strong> numa matriz polimérica<br />
não degradável, mantinha-se por mais de<br />
6 meses em níveis comparáveis aos <strong>do</strong>s<br />
camun<strong>do</strong>ngos imuniza<strong>do</strong>s por duas vezes<br />
com o mesmo antígeno incorpora<strong>do</strong> em<br />
adjuvante completo de Freund. Entretanto,<br />
a aplicação desta estratégia suscitou a<br />
preocupação sobre os possíveis efeitos<br />
adversos que a presença deste material no<br />
organismo poderia ocasionar crian<strong>do</strong>-se,<br />
desta forma, a necessidade de remoção<br />
cirúrgica <strong>do</strong> implante após a liberação <strong>do</strong><br />
antígeno. Neste senti<strong>do</strong>, a síntese de polímeros<br />
biodegradáveis contribuiu para a<br />
melhoria <strong>do</strong> sistema visto que eles não<br />
requerem remoção cirúrgica e efeitos colaterais<br />
a longo prazo podem ser minimiza<strong>do</strong>s<br />
uma vez que tais polímeros se<br />
degradam em função <strong>do</strong> tempo. Dentre os<br />
polímeros biodegradáveis comercialmente<br />
disponíveis, os poliésteres deriva<strong>do</strong>s<br />
<strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s lático e glicólico (PLGA) merecem<br />
destaque por serem aprova<strong>do</strong>s pelo<br />
Figura 3 – Microscopia eletrônica de varredura mostran<strong>do</strong> microesferas de PLGA<br />
após o preparo (A) e após a liberação <strong>do</strong> antígeno encapsula<strong>do</strong> (B) (Barra = 5<br />
µm)<br />
FDA para utilização na clínica humana e<br />
terem uma longa história de segurança.<br />
Além disso, quimicamente, estes polímeros<br />
podem apresentar diferenças no tamanho<br />
das cadeias e no número de monômeros<br />
de áci<strong>do</strong> lático e glicólico presentes nas<br />
mesmas. Tais diferenças estão diretamente<br />
relacionadas com a degradação permitin<strong>do</strong><br />
assim, a obtenção de diferentes polímeros<br />
cujo tempo de degradação pode variar<br />
entre alguns dias e vários meses. No organismo,<br />
estes polímeros são hidrolisa<strong>do</strong>s e<br />
uma vez degrada<strong>do</strong>s, são gera<strong>do</strong>s o áci<strong>do</strong><br />
lático e o glicólico que são compostos<br />
inócuos ao organismo. O desenvolvimento<br />
de sistemas de liberação controlada de<br />
fármacos e antígenos visan<strong>do</strong> a otimização<br />
da resposta terapêutica e imunológica é<br />
uma das principais linhas de pesquisa <strong>do</strong><br />
Laboratório de Tecnologia Farmacêutica<br />
da Faculdade de Farmácia da UFMG.<br />
As microesferas poliméricas surgiram<br />
como alternativa de sistema de liberação<br />
controlada que pudesse ser administra<strong>do</strong><br />
de maneira simples, sem a necessidade de<br />
técnicas cirúrgicas, contan<strong>do</strong> apenas com<br />
o auxílio de seringa. Elas são partículas<br />
poliméricas esféricas cujo diâmetro varia<br />
entre 1 e 250 µm (figura 3) e constituem um<br />
sistema matricial ou reservatório no qual o<br />
antígeno está dissolvi<strong>do</strong>, disperso ou encapsula<strong>do</strong>.<br />
Microesferas constituídas de<br />
poliésteres <strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s lático e glicólico<br />
(PLGA) possuem a vantagem de serem<br />
biodegradáveis sem manifestações ulcerativas<br />
no sítio de administração se utilizadas<br />
por via parenteral. Além disso, sua potencialidade<br />
de utilização como adjuvante<br />
reside também no fato delas formarem,<br />
após administração subcutânea ou intramuscular,<br />
um depósito onde o antígeno é<br />
libera<strong>do</strong> lentamente, de maneira controlada,<br />
de acor<strong>do</strong> com o polímero utiliza<strong>do</strong> na<br />
sua fabricação. A velocidade de hidrólise<br />
de tais polímeros depende: de sua composição<br />
química; da proporção <strong>do</strong>s monômeros;<br />
<strong>do</strong> tamanho da cadeia e <strong>do</strong> tamanho<br />
das partículas, poden<strong>do</strong>-se obter tempos<br />
de degradação que variam entre algumas<br />
semanas e vários meses. A combinação da<br />
difusão através de poros e da erosão da<br />
matriz polimérica permite controlar a taxa<br />
de liberação <strong>do</strong> antígeno encapsula<strong>do</strong> nas<br />
microesferas. Esta propriedade permitiu a<br />
criação <strong>do</strong> conceito de vacina de <strong>do</strong>se<br />
única onde uma formulação composta por<br />
microesferas de tamanho, porosidade e<br />
composição polimérica diferentes, liberaria<br />
o antígeno encapsula<strong>do</strong> em intervalos<br />
de tempo substituin<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ses de reforço<br />
de uma vacina convencional (Figura 4).<br />
Outra vantagem destes sistemas reside no<br />
fato de poderem ser administra<strong>do</strong>s por<br />
diferentes vias. As potencialidades de microesferas<br />
como adjuvantes de vacinas<br />
foram recentemente revisadas por Lima &<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 11
Figura 4 – Modelo<br />
esquemático da vacina<br />
de <strong>do</strong>se única (“singleshot<br />
vaccine”) baseada<br />
no encapsulamento de<br />
antígenos em<br />
microesferas de PLGA<br />
Rodrigues Júnior (1999).<br />
Vários méto<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> descritos para<br />
a obtenção de microesferas. Dentre eles, o<br />
mais utiliza<strong>do</strong> para o encapsulamento de<br />
compostos hidrofílicos e também o méto<strong>do</strong><br />
de escolha para encapsulamento<br />
de antígenos<br />
protéicos e DNA,<br />
é o méto<strong>do</strong> de emulsão<br />
múltipla e evaporação<br />
<strong>do</strong> solvente. Trata-se de<br />
um méto<strong>do</strong> simples, de<br />
fácil transposição para<br />
escala industrial e cuja<br />
realização em condições<br />
assépticas garante<br />
a esterilidade final <strong>do</strong><br />
produto. O esquema na<br />
figura 5 ilustra o encapsulamento<br />
de DNA em<br />
microesferas de PLGA.<br />
O processo consiste,<br />
inicialmente, na formação<br />
da emulsão primária<br />
<strong>do</strong> tipo água/óleo.<br />
O DNA é dissolvi<strong>do</strong> na<br />
fase aquosa e o polímero<br />
na fase orgânica<br />
cujo solvente consiste<br />
normalmente de cloreto<br />
de metileno ou acetato<br />
de etila. A emulsão<br />
primária é então vertida,<br />
sob agitação, sobre uma segunda fase<br />
aquosa conten<strong>do</strong> um agente tensoativo<br />
(álcool poli vinílico) para formar uma<br />
emulsão estável <strong>do</strong> tipo água/óleo/água.<br />
Esta emulsão é mantida sob constante<br />
agitação até que o solvente orgânico, volátil,<br />
seja completamente elimina<strong>do</strong> da<br />
formulação. A remoção <strong>do</strong> solvente orgânico<br />
faz com que o polímero, insolúvel em<br />
água, precipite em torno das gotículas de<br />
água da fase aquosa interna resultan<strong>do</strong> na<br />
suspensão de microesferas. As partículas<br />
são coletadas por centrifugação, lavadas<br />
para remover o excesso de tensoativo e<br />
liofilizadas. As microesferas poliméricas<br />
oferecem ainda vantagens no que concerne<br />
à sua estabilidade visto que elas são<br />
armazenadas na forma de pó liofiliza<strong>do</strong> a<br />
ser reconstituí<strong>do</strong> imediatamente antes da<br />
sua utilização.<br />
Outra característica fundamental para<br />
a adjuvanticidade das microesferas reside<br />
no fato de que, após administração parenteral,<br />
as partículas menores que 10 µm são<br />
fagocitadas pelas células fagocíticas <strong>do</strong><br />
sistema fagocitário mononuclear, apresenta<strong>do</strong>ras<br />
de antígenos. Já as partículas com<br />
diâmetro superior a 10 µm seriam responsáveis<br />
pela formação <strong>do</strong> depósito e liberação<br />
<strong>do</strong> antígeno por um perío<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong>.<br />
Uma vez que o antígeno encontra-se<br />
encapsula<strong>do</strong> no interior das partículas e<br />
por isso protegi<strong>do</strong> da ação de enzimas, as<br />
microesferas têm si<strong>do</strong> utilizadas para a<br />
estimulação da resposta imune em nível de<br />
mucosas. Após administração por via oral,<br />
as partículas menores que 5µm são captadas<br />
nas placas de Peyer por células M e<br />
Figura 5 – Obtenção de microesferas<br />
poliméricas conten<strong>do</strong> DNA<br />
pelo méto<strong>do</strong> de emulsão múltipla<br />
e evaporação <strong>do</strong> solvente<br />
transportadas para o teci<strong>do</strong> linfóide onde<br />
elas encontram células apresenta<strong>do</strong>ras de<br />
antígenos. Esta possibilidade de imunização<br />
tem como grande vantagem a produção<br />
de IgA secretória que funcionaria como<br />
uma barreira inicial contra patógenos que<br />
invadem o organismo por superfícies mucosas.<br />
Recentemente, Jones e colabora<strong>do</strong>res<br />
(1997) demonstraram que o plasmídeo<br />
conten<strong>do</strong> o gene que codifica a enzima<br />
luciferase, encapsula<strong>do</strong> em microesferas<br />
de PLGA foi capaz de estimular a resposta<br />
imune humoral efetiva após administração<br />
oral em camun<strong>do</strong>ngos. Pelo exposto, as<br />
microesferas poliméricas têm surgi<strong>do</strong> como<br />
uma estratégia interessante a ser empregada<br />
no processo de vacinação com DNA. A<br />
figura 6 ilustra o esquema de ação das<br />
vacinas de DNA encapsuladas em microesferas.<br />
Desde 1991, o Laboratório de Vacinas<br />
Gênicas da Faculdade de Medicina de<br />
Ribeirão Preto - USP, vem desenvolven<strong>do</strong><br />
projeto de pesquisa, visan<strong>do</strong> a descoberta<br />
de uma nova vacina contra a tuberculose.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que a vacina<br />
gênica desenvolvida pelo grupo não só<br />
tem atividade preventiva contra o estabelecimento<br />
da tuberculose experimental<br />
como também alta atividade terapêutica<br />
contra a <strong>do</strong>ença já estabelecida (Lowrie et<br />
al., 1999 ). Em resumo, a vacina de DNA,<br />
que codifica o antígeno<br />
imunoestimulante hsp65<br />
de Mycobacterium leprae,<br />
tem a habilidade de: (I)<br />
prevenir o estabelecimento<br />
da infecção e da <strong>do</strong>ença;<br />
(II) eliminar a infecção<br />
causada pelo bacilo da tuberculose<br />
e curar casos<br />
crônicos da <strong>do</strong>ença disseminada;<br />
(III) resolver casos<br />
de tuberculose causada<br />
por bactérias altamente<br />
resistentes aos medicamentos<br />
usa<strong>do</strong>s no combate<br />
à <strong>do</strong>ença; e (IV) impedir<br />
a reativação da <strong>do</strong>ença<br />
quan<strong>do</strong> os animais são<br />
submeti<strong>do</strong>s a uma imunodepressão<br />
pelo tratamento<br />
com drogas imunossupressoras.<br />
Além disso,<br />
durante o desenvolvimento<br />
<strong>do</strong> projeto, foram determina<strong>do</strong>s<br />
os mecanismos<br />
imune efetores responsáveis<br />
pelo controle da infecção<br />
e da <strong>do</strong>ença assim<br />
como inicia<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s para saber qual a<br />
melhor maneira de se administrar as preparações<br />
vacinais para conferir maior proteção<br />
nos camun<strong>do</strong>ngos. Entretanto, para<br />
se alcançar tais resulta<strong>do</strong>s, foram necessárias<br />
3 injeções, por via intramuscular, de<br />
12 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
técnica de imunocitoquímica (Figura 7). Os da<strong>do</strong>s<br />
demonstram que o encapsulamento <strong>do</strong> DNA em<br />
microesferas é capaz de promover a transfecção de<br />
células fagocíticas in vitro. Então para avaliar o<br />
funcionamento deste sistema in vivo, estão sen<strong>do</strong><br />
estuda<strong>do</strong>s parâmetros imunológicos, em camun<strong>do</strong>ngos<br />
BALB/c, após a administração da vacina<br />
encapsulada em microesferas, por vias e esquemas<br />
diversos. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s permitirão o estabelecimento<br />
de comparação da administração da vacina<br />
empregan<strong>do</strong>-se outras técnicas como injeção intramuscular<br />
e bombardeamento de partículas.<br />
Agradecimentos: FAPEMIG, FAPESP, CNPq,<br />
PRPq/UFMG. Ao Centro de Microscopia Eletrônica<br />
<strong>do</strong> Instituto de Ciências Biológicas da Universidade<br />
Federal de Minas Gerais pela análise de microscopia<br />
eletrônica.<br />
Figura 6– Modelo esquemático da ativação da resposta imune pela<br />
vacina de DNA encapsulada em microesferas. A) Após administração,<br />
as microesferas sâo fagocitadas por células apresenta<strong>do</strong>ras de antígenos.<br />
A erosão da matriz e difusão através de poros permite a liberação<br />
<strong>do</strong> DNA encapsula<strong>do</strong> nas microesferas. B) O plasmídeo libera<strong>do</strong><br />
penetra então no núcleo da célula hospedeira e inicia a transcrição <strong>do</strong><br />
RNAm que originará a proteína antigênica. O antígeno presente no<br />
citoplasma é então degrada<strong>do</strong> em peptídeos que se ligam a moléculas<br />
de MHC de classe I. Após a ligação, o complexo é transporta<strong>do</strong> via<br />
Golgi para a superfície celular onde podem ser reconheci<strong>do</strong>s por<br />
linfócitos T citotóxicos. C) O antígeno pode também ser processa<strong>do</strong><br />
por via exógena onde ele é fagocita<strong>do</strong> e degrada<strong>do</strong> no fagolisossoma.<br />
Os peptídeos gera<strong>do</strong>s são então conjuga<strong>do</strong>s a moléculas de MHC de<br />
Classe II e apresenta<strong>do</strong>s na superfície celular poden<strong>do</strong> ativar linfócitos<br />
T auxiliares. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo de linfócito T auxiliar estimula<strong>do</strong>,<br />
células B podem ser ativadas e a produção de anticorpos específicos<br />
induzida. Entretanto as células B podem também sofrer ativação<br />
direta <strong>do</strong> antígeno secreta<strong>do</strong> ou libera<strong>do</strong> no meio<br />
grande quantidade de DNA (50 a 100µg<br />
por amimal). Com o objetivo de otimizar<br />
a utilização da vacina, possibilitan<strong>do</strong><br />
a redução da quantidade e <strong>do</strong><br />
número de administrações <strong>do</strong> DNA,<br />
microesferas de PLGA estão sen<strong>do</strong><br />
empregadas como carrea<strong>do</strong>res <strong>do</strong> plasmídeo.<br />
Para tal, o plasmídeo dissolvi<strong>do</strong><br />
em salina tamponada foi encapsula<strong>do</strong><br />
em microesferas de PLGA 50:50<br />
utilizan<strong>do</strong>-se o méto<strong>do</strong> de emulsão<br />
múltipla e evaporação <strong>do</strong> solvente. Os<br />
resulta<strong>do</strong>s preliminares mostraram que<br />
o plasmídeo mantém-se funcional após<br />
o seu encapsulamento em microesferas<br />
e que as partículas obtidas apresentam<br />
distribuição de diâmetro varian<strong>do</strong><br />
entre 1 e 10µm, essencial para a<br />
captura por células fagocíticas. Quan<strong>do</strong><br />
adicionadas a cultura de macrófagos<br />
as microesferas são fagocitadas e<br />
a expressão da hsp65 por estas células<br />
pode ser detectada, 10 e 20 dias após<br />
o início <strong>do</strong> tratamento, utilizan<strong>do</strong>-se a<br />
Figura 7– Avaliação da expressão de hsp65<br />
por células J774 transfectadas com o DNA<br />
encapsula<strong>do</strong> em microesferas. As setas indicam<br />
as microesferas no interior das células<br />
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Preis I, Langer RS (1979) A single-step immunization<br />
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<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 13
WWW.BIOTECNOLOGIA.COM.BR<br />
REPETE FOTOLITO<br />
14 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
CARGILL<br />
REPETE FOTOLITO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 15
Análise Diagnóstica de um<br />
PESQUISA<br />
Produto Transgênico<br />
Pedro C. Binsfeld<br />
Institute of Agricultural Botany<br />
Rheinische Friedrich-Wilhelms-University of Bonn<br />
Physiology and Biotechnology of Plants<br />
Ulp50b@uni-bonn.de<br />
Foto cedida pelo autor<br />
O CASO DO TOMATE FLAVR SAVR<br />
biotecnologia rejuvenesceu<br />
com a revolução<br />
da engenharia genética.<br />
Durante a última<br />
década <strong>do</strong> século XX,<br />
inúmeros produtos biotecnológicos<br />
deixaram de ser uma promessa<br />
para se tornar uma realidade <strong>do</strong><br />
Figura 1. Representação<br />
esquemática<br />
<strong>do</strong> vasto pool<br />
gênico e méto<strong>do</strong>s<br />
de melhoramento<br />
aplica<strong>do</strong>s na transferência<br />
de genes<br />
entre espécies em<br />
programas de melhoramento<br />
de<br />
plantas<br />
nosso cotidiano. Entre esses, incluemse<br />
inúmeros produtos usa<strong>do</strong>s na medicina,<br />
no processamento industrial, na<br />
produção de alimentos e na agricultura<br />
(Tabela 1). Entre os produtos da engenharia<br />
genética consolida<strong>do</strong>s encontramse<br />
quase que exclusivamente os controla<strong>do</strong>s<br />
por genes únicos, isto é, por monogenes.<br />
Porém, o grande desafio da nova<br />
era da engenharia genética para o início<br />
<strong>do</strong> próximo milênio será o controle de<br />
processos ou rotas metabólicas que envolvam<br />
genes múltiplos,<br />
abrin<strong>do</strong>-se, assim, uma<br />
nova página na evolução<br />
dessa tecnologia, bem<br />
como a possibilidade de<br />
gerar produtos inova<strong>do</strong>res.<br />
O melhoramento de<br />
plantas agrícolas é obti<strong>do</strong><br />
por meio <strong>do</strong> acúmulo de<br />
genes que conferem maior<br />
produtividade e qualidade<br />
aos produtos agrícolas,<br />
assim como conferem<br />
maior tolerância a fatores<br />
de estresses bióticos e abióticos.<br />
Para alcançar esse<br />
objetivo, os melhoristas<br />
lançam mão de complexos<br />
sistemas de cruzamentos<br />
e retrocruzamentos<br />
quan<strong>do</strong> os genes de interesse<br />
localizam-se na mesma<br />
espécie. Porém, quan<strong>do</strong><br />
os genes de interesse<br />
encontram-se fora <strong>do</strong> pool<br />
gênico primário da espécie,<br />
a engenharia genética<br />
oferece as ferramentas básicas<br />
para identificar, selecionar,<br />
isolar e transferir<br />
genes específicos escolhi<strong>do</strong>s<br />
dentro de um vasto<br />
pool gênico engloban<strong>do</strong> um amplo espectro<br />
de seres vivos como fonte de<br />
genes (Figura 1).<br />
Plantas transgênicas caracterizam-se<br />
16 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
por possuir um ou mais genes provenientes<br />
de um pool gênico mais distante. Pelo<br />
uso dessa tecnologia espera-se produzir<br />
novos produtos ecologicamente sustentáveis,<br />
mais produtivos, com superior<br />
qualidade e que sejam capazes de colaborar<br />
na solução da falta nutricional <strong>do</strong>s<br />
mais de 1,5 bilhão de pessoas no mun<strong>do</strong>,<br />
que sofrem de subnutrição (Malik, 1999),<br />
bem como, reduzir substancialmente a<br />
agressão ao meio ambiente (Sachse, 1998).<br />
Porém, antes que produtos de plantas<br />
transgênicas cheguem ao merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />
a legislação prevê que esses<br />
sejam analisa<strong>do</strong>s sob diversos aspectos,<br />
garantin<strong>do</strong> seguridade para o homem,<br />
animais e meio ambiente. Tais análises<br />
envolvem inúmeros testes bioquímicos,<br />
fisiológicos, alimentares, testes de impacto<br />
ambiental e, finalmente, testes de campo.<br />
Desde 1986, após os primeiros testes<br />
de campo com plantas transgênicas, já<br />
foram realiza<strong>do</strong>s testes de campo com<br />
mais de 40 espécies de culturas agrícolas<br />
transformadas, em 31 países (Bilang. &<br />
Potrikus, 1997). Desde que se iniciou o<br />
uso comercial de plantas transgênicas<br />
nos EUA, em mea<strong>do</strong>s da década de 90,<br />
tem-se ti<strong>do</strong> um crescimento médio de<br />
20% ao ano na oferta de novos produtos<br />
provenientes da engenharia genética<br />
(Kleinmann, 1998).<br />
Por meio da engenharia genética de<br />
plantas, pode-se alterar importantes rotas<br />
metabólicas e, com isso, promover a<br />
alteração no tipo e composição de ami<strong>do</strong>,<br />
óleos, proteínas, vitaminas, etc. Com<br />
essas modificações objetiva-se: 1) elevar<br />
o valor nutricional <strong>do</strong>s alimentos, 2)<br />
melhorar o processamento industrial e a<br />
comercialização <strong>do</strong>s produtos, 3) desenvolver<br />
plantas transgênicas que funcionem<br />
como bioreatores, onde seja possível<br />
produzir polipeptídios de valor farmacêutico,<br />
como, por exemplo, vacinas<br />
na forma de antígenos de vírus ou anticorpos,<br />
e 4) produzir inúmeras enzimas<br />
(proteínas) para fins industriais. A lista de<br />
áreas de aplicação dessa tecnologia poderia<br />
ser significativamente estendida.<br />
Porém, para efeitos concretos, analisaremos<br />
a seguir um produto de engenharia<br />
genética (Tomate-FLAVR SAVR) sob o<br />
aspecto da segurança alimentar.<br />
O caso <strong>do</strong> tomate FLAVR SAVR<br />
O tomate denomina<strong>do</strong> de FLAVR<br />
SAVR, modifica<strong>do</strong> pela engenharia genética,<br />
produzida pela empresa Calgene,<br />
EUA, foi libera<strong>do</strong> pela USDA para ser<br />
comercializa<strong>do</strong> desde 1994 (Schlüter &<br />
Potrikus, 1997). O objetivo da empresa<br />
foi produzir um tomate que durante a<br />
maturação amolecesse vagarosamente.<br />
Assim, em vez de colher os frutos verdes,<br />
Figura 2. Frutos de tomate convencional<br />
em avança<strong>do</strong> processo de<br />
maturação (esquerda), frutos <strong>do</strong><br />
tomate FLAVR SAVR, com desacelera<strong>do</strong><br />
processo de amolecimento<br />
(direita)<br />
esses poderiam permanecer na planta<br />
para maturar até ficarem vermelhos. Isso<br />
melhoraria a qualidade <strong>do</strong>s frutos sem<br />
que implicasse perdas na colheita, no<br />
transporte e no armazenamento, uma vez<br />
que os frutos vermelhos e firmes, em sua<br />
consistência, assemelham-se aos que são<br />
colhi<strong>do</strong>s verdes.<br />
Variedades de tomate que produzam<br />
frutos firmes podem ser obtidas também<br />
pelos méto<strong>do</strong>s tradicionais de melhoramento.<br />
Porém, até o momento, não foi<br />
possível transferir o gene de plantas silvestres<br />
para a cultura sem que houvesse<br />
também a transferência de inúmeros caracteres<br />
indesejáveis. A engenharia genética<br />
tem si<strong>do</strong> usada como ferramenta<br />
auxiliar no melhoramento de espécies<br />
vegetais, por oferecer elevada precisão<br />
na transferência de um ou mais genes,<br />
oriun<strong>do</strong>s da própria ou de outra espécie,<br />
sem que haja perda das características<br />
desejáveis da espécie transformada, obten<strong>do</strong>-se<br />
assim o somatório de caracteres<br />
desejáveis.<br />
O amolecimento <strong>do</strong> fruto <strong>do</strong> tomate<br />
na maturação é causa<strong>do</strong> pela presença e<br />
ação de uma enzima denominada poligalacturonase<br />
(PG). Essa enzima degrada a<br />
pectina, que é um importante componente<br />
da parede celular de frutos imaturos.<br />
Durante a maturação, o amolecimento<br />
<strong>do</strong>s frutos é diretamente proporcional<br />
à presença e ação dessa enzima, assim o<br />
processo <strong>do</strong> amadurecimento pode ser<br />
retarda<strong>do</strong> se essa enzima for freada (Figura<br />
2). Para essa finalidade, isolou-se uma<br />
cópia da seqüência gênica <strong>do</strong> tomate que<br />
codifica para a PG e esta foi transferida<br />
novamente para a planta no senti<strong>do</strong> inverti<strong>do</strong><br />
(Antisenso). O gene antisenso da<br />
PG foi liga<strong>do</strong> a um promotor constitutivo,<br />
isto é, um promotor que está ativo continuamente.<br />
Por esse processo, supõe-se<br />
que a mRNA antisenso <strong>do</strong> gene da PG seja<br />
anela<strong>do</strong> ao mRNA <strong>do</strong> gene da PG normal<br />
<strong>do</strong> tomate e, assim, freie a síntese da<br />
enzima PG (isto é, o produto gênico). O<br />
mecanismo preciso desse processo não<br />
está completamente elucida<strong>do</strong>, porém,<br />
tem-se indicativos de que o mRNA seja<br />
afeta<strong>do</strong> em diferentes níveis, como na<br />
estabilidade, na transcrição, no transporte<br />
e na tradução.<br />
Além <strong>do</strong> gene antisenso da PG, transferiu-se<br />
também um gene marca<strong>do</strong>r, que<br />
facilita a identificação e a seleção das<br />
plantas transgênicas. Como gene marca<strong>do</strong>r<br />
usou-se o gene nptII associa<strong>do</strong> a um<br />
promotor constitutivo. O gene nptII codifica<br />
para a enzima fosforiltransferase<br />
[APH(3’)II], também conhecida como<br />
neomicina fosfotransferase II (NPT II),<br />
que, pela fosforilação, inativa os antibióticos<br />
<strong>do</strong> grupo aminoglicosídios (Neomicina,<br />
Canamicina e Gentamicina) (Schlüter<br />
& Potrikus, 1997). A construção gênica<br />
compreendida pelo gene antisenso da<br />
PG e o gene marca<strong>do</strong>r foi transferida<br />
mediante o vetor Agrobacterium tumefaciens.<br />
A caracterização das plantas transgênicas<br />
foi realizada por de análises moleculares<br />
e testes de segregação gênica. Os<br />
resulta<strong>do</strong>s mostraram que o número de<br />
cópias <strong>do</strong> gene antisenso da PG e nptII<br />
variava entre 2 a 6 cópias por planta<br />
transformada. Os genes distribuiam-se<br />
em diferentes regiões <strong>do</strong> genoma. Foi<br />
observa<strong>do</strong> também que os genes eram<br />
transferi<strong>do</strong>s para a progenie e segregavam<br />
de acor<strong>do</strong> com as leis de Mendel<br />
(Bilang & Potrikus, 1997; Schlüter & Potrikus,<br />
1997).<br />
A segurança <strong>do</strong> tomate transgênico,<br />
bem como sua eqüivalência com as variedades<br />
produzidas por méto<strong>do</strong>s de melhoramento<br />
convencional, tem si<strong>do</strong> questionada.<br />
Na prática, no tomate transgênico<br />
tem-se somente o gene nptII e o seu<br />
produto gênico, a enzima NPT II, como<br />
novo componente, pois o gene PG foi<br />
isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> próprio tomate e, depois,<br />
inseri<strong>do</strong> novamente em senti<strong>do</strong> contrário.<br />
Mesmo assim, a transformação e a<br />
introdução de genes no genoma receptor<br />
podem provocar alterações genotípicas e<br />
fenotípicas inesperadas, pois podem ocorrer<br />
mutações pela integração de novos<br />
genes, já que a integração de genes pode<br />
ocorrer em regiões codifica<strong>do</strong>ras, poden<strong>do</strong>-se<br />
esperar que genes da planta receptora<br />
sejam desativa<strong>do</strong>s (silencia<strong>do</strong>s) ou<br />
outros ativa<strong>do</strong>s pela inativação de genes<br />
supressores. Mutações e efeitos pleiotrópicos,<br />
causa<strong>do</strong>s pela integração gênica,<br />
podem ser espera<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se usa o<br />
vetor Agrobacterium. Mutações e efeitos<br />
pleiotrópicos, no entanto, não são exclusivamente<br />
causa<strong>do</strong>s pelo evento da transformação,<br />
mas também são verifica<strong>do</strong>s<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 17
em plantas criadas pelos méto<strong>do</strong>s convencionais<br />
de melhoramento (Kleinmann,<br />
1998).<br />
Um critério de avaliação de plantas<br />
transgênicas é a identificação de caracteísticas<br />
atípicas (mutações). Essas, podem<br />
originar-se da técnica de cultura de teci<strong>do</strong>s<br />
ou serem resultantes da transformação<br />
genética. Plantas com anomalias são eliminadas,<br />
manten<strong>do</strong>-se somente plantas que<br />
não exibem alterações fenotípicas, com<br />
exceção da característica para a qual foi<br />
feita a transformação da planta.<br />
Avaliação<br />
Em geral, tomates frescos são analisa<strong>do</strong>s<br />
e testa<strong>do</strong>s para sabor, aroma, textura e<br />
cor, enquanto que produtos <strong>do</strong> tomate<br />
(sucos, molho, polpa concentrada, etc.)<br />
são avalia<strong>do</strong>s para quantidade de carotenóides<br />
(Pró-vitamina A e Licopeno), vitamina<br />
C, composição total de sóli<strong>do</strong>s solúveis,<br />
teor de açúcar, teor de áci<strong>do</strong>s (citrato<br />
e malato), assim como a viscosidade e a<br />
consistência. A viscosidade é, em grande<br />
parte, função da concentração de moléculas<br />
de pectina, enquanto que a consistência<br />
depende da quantidade e estruturação<br />
<strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s solúveis. No tomate transgênico,<br />
adicionalmente foram analisa<strong>do</strong>s os<br />
seguintes componentes: gordura, proteínas,<br />
tiamina, riboflavina, vitamina B6, áci<strong>do</strong><br />
nicotínico, cálcio, magnésio e fósforo,<br />
como também a presença de potenciais<br />
toxinas, como os glicoalcalóides tomatina<br />
e solanina. De acor<strong>do</strong> com a análise <strong>do</strong>s<br />
componentes <strong>do</strong> FLAVR SAVR, não ocorreram<br />
alterações na composição nutricional<br />
(Tabela 2), exceto as já esperadas na<br />
degradação da pectina. Devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong><br />
gene antisenso PG no tomate transgênico,<br />
tanto o mRNA quanto a atividade enzimática<br />
da PG foram frea<strong>do</strong>s em 90-95%. Com<br />
essa redução da atividade da PG, obtevese<br />
um processo desacelera<strong>do</strong> da degradação<br />
da pectina no fruto. Isso implicou<br />
numa maior conservabilidade (Figura 2),<br />
aumento <strong>do</strong> rendimento, melhorou o processamento<br />
industrial e aumentou a tolerância<br />
a patógenos (Schlüter & Potrikus,<br />
1997).<br />
Comparan<strong>do</strong> o sabor <strong>do</strong> tomate transgênico<br />
com o <strong>do</strong> tomate convencional,<br />
não foi constatada nunhuma alteração<br />
quan<strong>do</strong> estes foram colhi<strong>do</strong>s no mesmo<br />
estádio de maturação. Para os glicoalcalóides<br />
(tomatina e solanina) não se constatou<br />
diferenças em relação ao tomate convencional.<br />
A variação constatada entre diferentes<br />
frutos de uma mesma planta foi devi<strong>do</strong><br />
a diferença no grau de maturação <strong>do</strong>s<br />
frutos. Em frutos verdes, o teor desses<br />
glicoalcalóides chega a miligramas, enquanto<br />
que em frutos maduros, devi<strong>do</strong> a<br />
presença da enzima tomatinase, o teor<br />
encontra<strong>do</strong> foi da ordem de microgramas<br />
(Redenbaugh et al. 1994).<br />
A toxicidade da enzima NPT II foi<br />
testada para verificar se esta não poderia<br />
representar um risco à saúde, mesmo que<br />
ela não tenha parentesco com proteínas<br />
tóxicas. No cotidiano, estima-se que cada<br />
pessoa ingira juntamente com saladas e<br />
verduras cruas, até 1,2x10 6 bactérias resistentes<br />
à canamicina que possuem essa<br />
enzima. A NPT II é liberada pela morte e<br />
lise bacteriana no trato digestivo humano,<br />
assim como acontece pela ingestão<br />
de um tomate transgênico. Porém, para<br />
verificar o que acontece com a enzima<br />
NPT II, simulou-se uma digestão ácida<br />
(estômago) e alcalina (intestino). Tomou-se<br />
a enzima NPT II purificada e<br />
submeteu-a ao suco estomacal. Neste, a<br />
NPT II foi destruída após 2 minutos de<br />
incubação, enquanto que, no suco intestinal,<br />
a ação proteolítica foi um pouco<br />
mais lenta e a proteólise da NPT II deuse<br />
em 5 minutos (Schlüter & Potrikus,<br />
1997).<br />
Na seqüência, testou-se a enzima ativa<br />
e purificada na alimentação de camun<strong>do</strong>ngos,<br />
onde ministrou-se uma <strong>do</strong>se<br />
única de 150 mg da enzima NPT II. Essa<br />
<strong>do</strong>se representa o conteú<strong>do</strong> enzimático<br />
de mais de 1 milhão de tomates transgênicos.<br />
Nos 7 dias subseqüentes ao tratamento,<br />
não ocorreram mortes ou alterações<br />
de comportamento <strong>do</strong>s camun<strong>do</strong>ngos.<br />
Igualmente, não puderam ser verificadas<br />
alterações de peso ou indícios<br />
patológicos nos órgãos <strong>do</strong>s animais. Paralelamente<br />
ao experimento anterior,<br />
conduziu-se outro experimento, onde<br />
tratou-se ratos com tomate transgênico<br />
durante 28 dias. A <strong>do</strong>sagem de tomates<br />
ingerida pelos ratos representaria para o<br />
homem o consumo de, aproximadamente,<br />
100 tomates por dia. Também nesse<br />
caso, não foram constata<strong>do</strong>s efeitos negativos<br />
da enzima NPT II sobre os animais.<br />
Essa enzima não possui homologia<br />
com alergênicos conheci<strong>do</strong>s, além disso,<br />
faltam à NPT II as típicas características<br />
<strong>do</strong>s alergênicos, tais como, estabilidade<br />
ao calor e estabilidade contra atividade<br />
proteolítica das enzimas digestivas.<br />
Freqüentemente, questiona-se se a<br />
atividade antibiótica seria reduzida ou<br />
inativada com o consumo de produtos<br />
transgênicos que contenham NPT II, no<br />
caso de um tratamento com canamicina e<br />
neomicina. Mesmo que o consumo <strong>do</strong><br />
tomate fosse eleva<strong>do</strong>, pela rápida atividade<br />
proteolítica no trato digestivo, a presença<br />
dessa enzima seria muito baixa, de<br />
mo<strong>do</strong> que o risco nesse caso, pode ser<br />
descarta<strong>do</strong>. Um eventual risco, porém<br />
reduzi<strong>do</strong>, poderia ocorrer se o antibiótico<br />
fosse consumi<strong>do</strong> juntamente com o<br />
tomate transgênico. Porém, para isso seriam<br />
necessárias condições ideais como: 1)<br />
toda a enzima NPT II deveria estar livre no<br />
suco gástrico, 2) deveria ter disponibilidade<br />
suficiente de ATP no meio e 3) o suco<br />
gástrico deveria estar tampona<strong>do</strong> em pH<br />
7,0, o que na prática é irreal (Schlüter &<br />
Potrikus, 1997).<br />
Via de regra, administra-se, por via<br />
oral, os antibióticos <strong>do</strong> grupo aminoglicosídios<br />
a pacientes nos casos de encefalopatia<br />
sistêmica e de cirurgia de intestino.<br />
Neste último caso, é improvável que o<br />
paciente ingira alimentos sóli<strong>do</strong>s antes da<br />
intervenção cirúrgica, portanto, não haveria<br />
risco de inativação da canamicina. No<br />
caso da encefalopatia sistêmica, a inativação<br />
da neomicina, segun<strong>do</strong> cálculos, poderia<br />
ser, no máximo, de 1,5% se o paciente<br />
ingerisse tomate transgênico juntamente<br />
com o antibiótico (Redenbaugh et al. 1994).<br />
Outra preocupação freqüentemente<br />
mencionada é se poderia haver a transferência<br />
<strong>do</strong> gene nptII da planta transformada<br />
para bactérias <strong>do</strong> trato digestivo ou<br />
bactérias patogênicas. Cálculos de probabilidade<br />
mostraram que tal evento, por<br />
várias razões, é muito raro. Isso porque o<br />
local da provável transformação seria na<br />
parte posterior <strong>do</strong> intestino delga<strong>do</strong> (íleo)<br />
e <strong>do</strong> intestino grosso (cólon), onde se<br />
encontra uma quantidade enorme de bactérias.<br />
Nesse ponto, os alimentos chegam<br />
digeri<strong>do</strong>s e o DNA fragmenta<strong>do</strong>. Porém, a<br />
concentração de DNA que estaria disponível<br />
nesse local é mínima, uma vez que, 10<br />
minutos no suco estomacal e mais 10<br />
minutos no suco intestinal as extensas<br />
moléculas de DNA são degradadas em<br />
pequenos fragmentos, onde mais de 99,99%<br />
destes são menores que 1 kb, tamanho<br />
correspondente ao tamanho <strong>do</strong> gene nptII.<br />
Fragmentos menores poderiam ser integra<strong>do</strong>s<br />
ao genoma, mas não resultariam em<br />
uma seqüência capaz de produzir uma<br />
enzima ativa. Isso mostra que a quase<br />
totalidade <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> tomate transgênico é<br />
destruí<strong>do</strong> no trato digestivo, não haven<strong>do</strong>,<br />
portanto, risco de transferência por essas<br />
vias.<br />
Especula-se também que o gene nptII<br />
possa ser integra<strong>do</strong> ao genoma de células<br />
humanas, como, por exemplo, em células<br />
epiteliais <strong>do</strong> intestino. Para esse aspecto,<br />
não há pesquisas acabadas. Porém, a probabilidade<br />
de que isso ocorra é infinitamente<br />
reduzida. Primeiro, porque, habitualmente,<br />
células eucarióticas não tendem a<br />
integrar genes estranhos e essas possuem<br />
nucleases próprias que destroem DNA estranho<br />
que venha a penetrá-las. Segun<strong>do</strong>,<br />
a maior parte da alimentação que ingerimos<br />
é composta por genes e não se tem<br />
conhecimento de que, por isso, tenham-se<br />
introgredi<strong>do</strong> novos genes nas células epiteliais<br />
<strong>do</strong> intestino. Terceiro, a vida média<br />
18 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
de células epiteliais <strong>do</strong> intestino é relativamente<br />
curta. Se ocorresse o caso de uma<br />
eventual transferência, a probabilidade de<br />
que esse gene se estabilizasse seria pouco<br />
provável, porque a célula já estaria em<br />
processo de morte. Porém, supon<strong>do</strong> que<br />
houvesse transferência e expressão <strong>do</strong><br />
gene nptII na célula humana, isso não<br />
levaria a uma nova característica, já que as<br />
células humanas, naturalmente, já possuem<br />
elevada resistência à canamicina e à<br />
neomicina. Caso contrário, não poderíamos<br />
tomar esses antibióticos (Redenbaugh<br />
et al. 1994, Schlüter & Potrikus, 1997).<br />
Conclusão<br />
Conforme fica transparente para o produto<br />
transgênico aqui analisa<strong>do</strong>, o risco<br />
pelo consumo humano ou animal não é<br />
significante. Porém, essa não é uma afirmativa<br />
que vale para to<strong>do</strong>s os produtos da<br />
engenharia genética. Assim, como se analisou<br />
o tomate ’’FLAVR SAVR’’, é necessário<br />
que to<strong>do</strong>s os produtos transgênicos<br />
sejam examina<strong>do</strong>s, avalia<strong>do</strong>s e julga<strong>do</strong>s,<br />
caso a caso, ten<strong>do</strong> em vista a sua finalidade<br />
benéfica e que, em concordância com a<br />
legislação e basea<strong>do</strong>s nos preceitos éticos,<br />
morais, sócio-econômicos e de segurança<br />
ambiental, venham garantir vantagens ao<br />
consumi<strong>do</strong>r e ao processo produtivo, sem<br />
que, no entanto, se ponha em risco a vida<br />
e sua evolução como processo dinâmico e<br />
multivariável.<br />
Bibliografia<br />
Bilang, R. & Potrikus, I. Pflanzenzüchtung.<br />
In: Gassen, H.G. & Hammes,<br />
W.P. Handbuch Gentechnologie Lebensmittell.<br />
1ºAuflage. Hamburg - Behr Verlag,<br />
1997.<br />
Kleinmann, K. Gentechnik im Lebensmittelbereich.<br />
In: Matissek & Reinhould<br />
(ed.) Lebensmitttelchemische Gesellschaft.<br />
1º Auflage - Hamburg - Behr Verlag, 1998.<br />
Malik, V.D. Biotechnology: Multibilion<br />
Dollar Industry. In: Chopra, V.L., Malik,<br />
V.D. & Bhat S.R. Applied plant biotechnology.<br />
Science Publishers, Inc. USA, 1-69,<br />
1999.<br />
Redenbaugh, K., Hiatt, W., Martineau,<br />
B., Lindemann, J. & Emlay, D. Aminoglycoside<br />
3’-prosphotransferase II<br />
(APH(3’)II): review of ist safety and use in<br />
the production of genetically engenered<br />
plants. Food Biotechnology 8, 137-165,<br />
1994.<br />
Sachse, L. Gentechnik im Lebensmittelbereich.<br />
In: Matissek & Reinhould (ed.)<br />
Lebensmitttelchemische Gesellschaft. 1º<br />
Auflage - Hamburg - Behr Verlag, 1998.<br />
Schlüter K. & Potrikus I. Anwendungsbeispiele<br />
für die Gentechnik bei Lebensmitteln,<br />
transgene Nutzpflanzen. In: Gassen,<br />
H.G. & Hammes, W.P. Handbuch<br />
Gentechnologie Lebensmittell. 1º Auflage,<br />
Hamburg - Behr Verlag, 1997.<br />
Tabela 1. Alguns exemplos de produtos obti<strong>do</strong>s através da engenharia genética<br />
que já são amplamente utiliza<strong>do</strong>s no cotidiano (Kleinmann, 1998; Sachse, 1998,<br />
Malik, 1999)<br />
Tipo de produto<br />
Insulina humana<br />
Vacina anti-Hepatite B<br />
Alteplase<br />
Interferon- α−2b<br />
Fator anti-hemofílico<br />
Hormônio <strong>do</strong> crescimento humano<br />
Interferon-β<br />
Culturas agrícolas<br />
Tomate<br />
Canola<br />
Milho<br />
Batata<br />
Soja<br />
Algodão<br />
Aplicação industrial<br />
Detergentes e sabão em pó<br />
Produção de papel<br />
Produção de sucos e vinhos<br />
Produção de queijos<br />
Produção de álcool<br />
Indicação de uso<br />
Diabetes<br />
Prevenção da hepatite B<br />
Prevenção de infarto <strong>do</strong> miocárdio<br />
Tratamento da leucemia<br />
Hemofilia A<br />
Deficiência de crescimento<br />
Tratamento de esclerose múltipla<br />
Fenótipo verifica<strong>do</strong><br />
Maturação retardada<br />
Alteração da composição <strong>do</strong> óleo<br />
Resistência a insetos<br />
Resistência a viroses<br />
Tolerância a herbicidas<br />
Tolerância a herbicidas<br />
Tipo de enzimas<br />
Com protease, lipase, celulase, amilase<br />
Lipases<br />
Pectinase<br />
Chimosina<br />
Amilase e amiloglicosidase<br />
Tabela 2. Comparação <strong>do</strong> tomate transgênico FLAVR SAVR e o tomate não<br />
transgênico (Schlüter & Potrykus 1997)<br />
Componentes Características Alteradas<br />
Sabor<br />
Coloração <strong>do</strong> fruto<br />
Características de processamento<br />
Viscosidade <strong>do</strong> suco<br />
•<br />
Características de produção<br />
Resistência a <strong>do</strong>enças fúngicas<br />
•<br />
Amolecimento <strong>do</strong> fruto<br />
•<br />
Teor de toxina<br />
Teor de proteínas<br />
Teor de Vitamina A<br />
Teor de Vitamina B 1<br />
(Tiamina)<br />
Teor de Vitamina B 2<br />
(Riboflavina)<br />
Teor de Vitamina C<br />
Teor de áci<strong>do</strong> nicotínico<br />
Teor de cálcio<br />
Teor de magnésio<br />
Teor de fosfato<br />
Teor de sódio<br />
Teor de ferro<br />
Características Não Alteradas<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
•<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 19
PROTEÍNAS RECOMBINANTES<br />
PRODUZIDAS EM LEVEDURAS<br />
PESQUISA<br />
Fernan<strong>do</strong> Araripe Gonçalves Torres<br />
PhD, Professor Adjunto <strong>do</strong> Departamento de Biologia<br />
Celular da Universidade de Brasília.<br />
ftorres@unb.br<br />
Lídia Maria Pepe de Moraes<br />
PhD, Professora Adjunto <strong>do</strong><br />
Departamento de Biologia Celular da<br />
Universidade de Brasília<br />
lmoraes@unb.br<br />
Considerações sobre o uso de leveduras para a expressão de proteínas de interesse econômico<br />
Fotos cedidas pelos autores<br />
A levedura<br />
Saccharomyces cerevisiae<br />
As leveduras são fungos que têm si<strong>do</strong><br />
utiliza<strong>do</strong>s pelo homem há milhares de<br />
anos e cuja manipulação causou um grande<br />
impacto na produção de alimentos e,<br />
por conseguinte, influencian<strong>do</strong> o próprio<br />
processo de desenvolvimento sócio-econômico<br />
da humanidade. O pão, a cerveja<br />
e o vinho representam os produtos mais<br />
expressivos <strong>do</strong> processo de manipulação<br />
desses microrganismos ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />
Em to<strong>do</strong>s esses processos, a levedura<br />
Saccharomyces cerevisiae teve um papel<br />
de destaque. Além de ser considerada um<br />
<strong>do</strong>s microrganismos mais úteis ao homem,<br />
essa levedura é um <strong>do</strong>s sistemas eucarióticos<br />
mais bem conheci<strong>do</strong>s. Sua genética é<br />
bem <strong>do</strong>minada e seu genoma foi totalmente<br />
seqüencia<strong>do</strong>, fato este que representou<br />
uma das maiores conquistas da Biologia<br />
no século XX. Após o advento da tecnologia<br />
<strong>do</strong> DNA recombinante, a levedura S.<br />
cerevisiae pôde ser empregada em estu<strong>do</strong>s<br />
de genética molecular a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s<br />
anos 70, quan<strong>do</strong> ela foi geneticamente<br />
transformada pela primeira vez. Desde<br />
então, vários tipos de vetores moleculares<br />
foram desenvolvi<strong>do</strong>s, inclusive cromossomos<br />
artificiais, mais conheci<strong>do</strong>s como YAC<br />
(“Yeast Artificial Chromosomes”). Com a<br />
obtenção de cepas de leveduras mutantes<br />
foi possível o isolamento de genes de<br />
outros organismos eucarióticos por complementação.<br />
Nos últimos anos, foi desenvolvida<br />
em S. cerevisiae uma das mais<br />
sofisticadas abordagens para a identificação<br />
de genes interativos. Trata-se de uma<br />
técnica conhecida como sistema duplohíbri<strong>do</strong><br />
ou “two hybrid”, que propicionou<br />
a identificação de vários genes envolvi<strong>do</strong>s<br />
em vias de transdução de sinal e no ciclo<br />
celular.<br />
No campo da pesquisa aplicada, a<br />
levedura S. cerevisiae logo se destacou<br />
como um interessante candidato para a<br />
expressão de genes heterólogos de interesse<br />
biotecnológico. Embora a bactéria<br />
Escherichia coli represente uns <strong>do</strong>s mais<br />
Figura 1: Mapa <strong>do</strong> plasmídio<br />
pPIC9. Apenas os sítios de restrição<br />
mais relevantes estão indica<strong>do</strong>s.<br />
5’AOX: região promotora <strong>do</strong><br />
gene AOX1; PS: peptídeo sinal <strong>do</strong><br />
fator α; T: região termina<strong>do</strong>ra da<br />
transcrição; HIS4: marca de seleção<br />
para Pichia; 3’AOX: fragmento 3’<br />
<strong>do</strong> gene AOX1; ColE1: origem de<br />
replicação bacteriana; Amp: marca<br />
de seleção para E. coli<br />
poderosos sistemas de expressão heteróloga,<br />
várias proteínas eucarióticas de interesse<br />
comercial não puderam ser expressas<br />
eficientemente nesse microrganismo.<br />
Entre as razões para esses insucessos poderíamos<br />
citar: conformação incorreta,<br />
ausência de modificações pós-traducionais<br />
e baixos níveis de expressão. Alguns<br />
desses problemas puderam ser resolvi<strong>do</strong>s<br />
quan<strong>do</strong> as mesmas proteínas foram expressas<br />
em S. cerevisiae. O ambiente intracelular<br />
da levedura é adequa<strong>do</strong> para a<br />
ocorrência de várias reações que normalmente<br />
ocorrem em células de mamíferos.<br />
Além <strong>do</strong> mais, S. cerevisiae goza <strong>do</strong> status<br />
de microrganismo “GRAS” (Generally Recognized<br />
As Safe”) o que é de suma<br />
importância no que se refere à produção<br />
de biofármacos por engenharia genética.<br />
No entanto, várias proteínas humanas sofrem<br />
hiperglicosilação quan<strong>do</strong> secretadas<br />
por S. cerevisiae o que será discuti<strong>do</strong> mais<br />
adiante.<br />
A levedura metilotrófica<br />
Pichia pastoris<br />
Ao longo das últimas duas décadas,<br />
outras leveduras têm si<strong>do</strong> apresentadas<br />
como sistemas alternativos de expressão<br />
por apresentarem vantagens sobre S. cerevisiae.<br />
Entre esses novos sistemas, destacase<br />
Pichia pastoris, uma levedura metilotrófica,<br />
ou seja, que é capaz de crescer em<br />
meio de cultura conten<strong>do</strong> metanol como<br />
única fonte de carbono. O fato de crescer<br />
até alta densidade celular em um meio<br />
barato levou a empresa Phillips Petroleum<br />
Company a propor o uso dessa levedura<br />
como fonte de alimento (“single cell protein”<br />
- SCP). Após constatar que o processo<br />
de produção de SCP era inviável economicamente,<br />
a empresa decidiu transformar P.<br />
pastoris em um sistema de produção de<br />
proteínas recombinantes.<br />
A levedura P. pastoris apresenta duas<br />
características que a tornam uma atraente<br />
hospedeira para a produção de proteínas<br />
heterólogas. A primeira, é o forte promotor<br />
usa<strong>do</strong> para transcrever genes heterólogos,<br />
o qual é deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong> gene da álcool<br />
oxidase (AOX1) de P. pastoris. Esse promotor<br />
é regula<strong>do</strong> transcricionalmente por<br />
metanol, um indutor relativamente barato.<br />
Em células expostas a metanol como única<br />
fonte de carbono, o início da transcrição<br />
no promotor AOX1 é altamente eficiente e<br />
comparável aos promotores deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />
genes altamente expressos da via glicolítica.<br />
No entanto, ao contrário <strong>do</strong>s promoto-<br />
20 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
es glicolíticos, o promotor AOX1 é firmemente<br />
regula<strong>do</strong> e reprimi<strong>do</strong> sob condições<br />
de crescimento sem metanol. Uma<br />
vez que a maioria das proteínas heterólogas<br />
são de alguma forma deletérias para a<br />
célula, quan<strong>do</strong> expressas em altos níveis,<br />
a habilidade de manter a cultura em um<br />
esta<strong>do</strong> reprimi<strong>do</strong> ou desliga<strong>do</strong> é altamente<br />
desejável. Trata-se de uma importante precaução<br />
para minimizar a seleção de mutantes<br />
que não expressam o produto heterólogo<br />
durante o crescimento da cultura.<br />
Para ser ativa<strong>do</strong>, o promotor AOX1 requer<br />
a presença de metanol e, na ausência<br />
desse indutor, ele se torna reprimi<strong>do</strong>. Além<br />
de metanol, o sistema AOX1 necessita da<br />
ausência de glicose para ser plenamente<br />
ativa<strong>do</strong>. Uma vez que o promotor AOX1 é<br />
controla<strong>do</strong> pela manipulação da fonte de<br />
carbono adiciona<strong>do</strong> ao meio de cultura, o<br />
crescimento e a indução de cepas de P.<br />
pastoris, que expressam proteínas heterólogas,<br />
são facilmente obti<strong>do</strong>s em todas as<br />
escalas, desde frascos até grandes fermenta<strong>do</strong>res.<br />
A segunda característica importante de<br />
P. pastoris é que esta levedura não é<br />
considerada uma forte fermenta<strong>do</strong>ra, como<br />
S. cerevisiae. A fermentação realizada por<br />
leveduras gera etanol, o qual, em culturas<br />
de alta densidade, pode rapidamente atingir<br />
níveis tóxicos (“efeito Crabtree”). Para<br />
uma produção economicamente viável de<br />
proteínas recombinantes a concentração<br />
de proteínas no meio deve ser proporcional<br />
à quantidade de células. É necessário,<br />
pois, atingir níveis de alta densidade celular<br />
os quais não são facilmente obti<strong>do</strong>s<br />
com S. cerevisiae. Em contraste, as cepas<br />
produtoras de P. pastoris são facilmente<br />
cultivadas a densidades celulares de aproximadamente<br />
100 g/L de peso seco, ou até<br />
maiores.<br />
Vários genes de diferentes procedências<br />
(bactérias, fungos, invertebra<strong>do</strong>s<br />
, plantas e humanos) já foram expressos<br />
em P. pastoris sob o controle <strong>do</strong><br />
promotor AOX1. A maioria <strong>do</strong>s genes<br />
expressos tiveram seus produtos secreta<strong>do</strong>s<br />
para o meio extracelular e alguns,<br />
como o fator de necrose tumoral humano,<br />
foi produzi<strong>do</strong> no ambiente intracelular. Os<br />
vetores de expressão em P. pastoris são<br />
geralmente <strong>do</strong> tipo integrativo. Esses vetores<br />
possuem um cassete de expressão<br />
forma<strong>do</strong> pelo promotor e pela região termina<strong>do</strong>ra<br />
de transcrição <strong>do</strong> gene AOX1<br />
além de uma marca de seleção, sen<strong>do</strong> a<br />
mais utilizada o gene histidinol desidrogenase<br />
(HIS4) de P. pastoris. Essa marca<br />
permite a seleção de transformantes prototróficos<br />
His + a partir de uma linhagem<br />
hospedeira his4. Um <strong>do</strong>s vetores mais<br />
utiliza<strong>do</strong>s é o plasmídio pPIC9 (Figura 1)<br />
desenvolvi<strong>do</strong> e patentea<strong>do</strong> pela empresa<br />
Invitrogen. O gene de interesse é clona<strong>do</strong><br />
Figura 2: Análise da expressão de<br />
clones de P. pastoris (protease positiva)<br />
transformada com o cassete de<br />
expressão conten<strong>do</strong> a fusão α amilase-glucoamilase.<br />
Os clones foram inocula<strong>do</strong>s<br />
em meio conten<strong>do</strong> ami<strong>do</strong><br />
que foi, então, cora<strong>do</strong> com vapor de<br />
io<strong>do</strong> após crescimento das colônias.<br />
Notar os diversos tamanhos <strong>do</strong>s halos<br />
de hidrólise que correspondem a clones<br />
com diferentes números de cópias<br />
<strong>do</strong> cassete de expressão<br />
na região <strong>do</strong> cassete de expressão em um<br />
<strong>do</strong>s sítios de clonagem que se localizam<br />
logo após o sinal de secreção, nesse caso,<br />
o peptídeo sinal <strong>do</strong> fator α de S. cerevisiae.<br />
O cassete de expressão é libera<strong>do</strong> pela<br />
digestão <strong>do</strong> plasmídio com a enzima de<br />
restrição BglII, e uma cepa his4 de P.<br />
pastoris é transformada por eletroporação.<br />
Como em S. cerevisiae, o DNA lineariza<strong>do</strong><br />
pode gerar transformantes estáveis quan<strong>do</strong><br />
se integra no genoma por recombinação<br />
homóloga. Esses transformantes podem<br />
se originar pela integração <strong>do</strong> cassete<br />
de expressão tanto no locus AOX1 quanto<br />
no his4. No primeiro caso, pode haver uma<br />
substituição completa <strong>do</strong> gene AOX1 pelo<br />
cassete de expressão, o que resulta em um<br />
fenótico denomina<strong>do</strong> Mut s , caracteriza<strong>do</strong><br />
por um crescimento lento na presença de<br />
metanol. Ocasionalmente, o cassete de<br />
expressão pode se integrar várias vezes no<br />
locus AOX1, o que pode ser confirma<strong>do</strong><br />
por análise de “Southern blotting”. Outros<br />
vetores, semelhantes ao pPIC9, não possuem<br />
sinais de secreção e, portanto, são<br />
emprega<strong>do</strong>s para a expressão intracelular.<br />
Existem variantes <strong>do</strong> pPIC9 que não possuem<br />
o sinal de secreção no cassete de<br />
expressão sen<strong>do</strong>, portanto, ideais para<br />
expressão intracelular.<br />
Embora muito utiliza<strong>do</strong>s, os vetores<br />
descritos anteriormente têm como desvantagens<br />
o grande tamanho (cerca de 8 Kb)<br />
e a presença de poucos sítios de restrição<br />
para a clonagem <strong>do</strong> gene heterólogo. Há<br />
uma família de vetores de P. pastoris que<br />
contém o gene Sh ble, que confere resistência<br />
à droga zeocina tanto em E. coli<br />
quanto em P. pastoris. Embora esses vetores<br />
sejam bem menores que o pPIC9, o<br />
preço proibitivo da droga de seleção inibe<br />
o uso desse sistema em escala industrial.<br />
Recentemente, novos plasmídios com promotores<br />
alternativos se tornaram disponíveis.<br />
Esses vetores contêm o promotor<br />
GAP, um forte promotor constitutivo deriva<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> gene gliceraldeí<strong>do</strong>-3-fosfato desidrogenase<br />
(GAP). Em culturas crescidas<br />
em glicose, os níveis de expressão obti<strong>do</strong>s<br />
pelo promotor GAP são similares àqueles<br />
obti<strong>do</strong>s com o promotor AOX1 em culturas<br />
crescidas com metanol em frascos. Uma<br />
das vantagens <strong>do</strong> promotor GAP com relação<br />
ao promotor AOX1 é que, por ser<br />
constitutivo, não é necessário mudar a<br />
cultura de um meio para outro para induzir<br />
expressão. No entanto, o uso <strong>do</strong> promotor<br />
GAP é apropria<strong>do</strong> somente para genes<br />
cujo produto não seja deletério para a<br />
célula. Além <strong>do</strong> mais, os níveis de expressão<br />
a partir <strong>do</strong> promotor AOX1 são geralmente<br />
aumenta<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> o metanol é<br />
adiciona<strong>do</strong> à culturas com taxas de crescimento<br />
limitantes em fermenta<strong>do</strong>res. O<br />
mesmo fenômeno não é observa<strong>do</strong> com o<br />
promotor GAP.<br />
Expressão heteróloga em<br />
P. pastoris<br />
Sen<strong>do</strong> P. pastoris um organismo eucariótico,<br />
a produção de proteínas heterólogas<br />
neste sistema é um processo mais<br />
complexo <strong>do</strong> que em E. coli. Mesmo as<br />
proteínas que são produzidas em P. pastoris<br />
em concentrações acima de 1 g/L podem<br />
apresentar, em frascos, níveis desaponta<strong>do</strong>res<br />
de produção inicial (menos de<br />
1 mg/L). A geração de uma linhagem<br />
produtiva requer um grande esforço de<br />
investigação para se controlar os fatores<br />
que possam limitar a produção da proteína<br />
heteróloga, assim como desenvolver estratégias<br />
para otimização da produção. Para a<br />
detecção de baixos níveis de expressão,<br />
um fator chave para a obtenção de um<br />
linhagem de P. pastoris produtiva é a<br />
disponibilidade de anticorpos específicos<br />
para a proteína heteróloga de interesse. É<br />
aconselhável que a seleção de clones<br />
prototróficos que expressam a proteína de<br />
interesse deva ser iniciada pela detecção<br />
imunológica <strong>do</strong> mesmo. Essa etapa permite<br />
selecionar clones expressan<strong>do</strong> a proteína<br />
heteróloga em diversos níveis, o que<br />
poderia implicar a existência de clones<br />
com diversos números de cópias integradas<br />
<strong>do</strong> gene de interesse.<br />
A maioria das proteínas secretadas<br />
por P. pastoris são glicosiladas, o que<br />
pode ou não afetar a atividade biológica da<br />
proteína recombinante. A glicosilação é<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 21
uma modificação pós-traducional que ocorre,<br />
primeiramente, no retículo en<strong>do</strong>plasmático<br />
e, posteriormente, no aparelho de<br />
Golgi. Observou-se que o tamanho da<br />
cadeia de carboidratos adiciona<strong>do</strong>s por P.<br />
pastoris é bem menor que aquele adiciona<strong>do</strong><br />
por S. cerevisiae. A estrutura destes<br />
oligossacarídeos é muito similar à adicionada<br />
em mamíferos e, por não ser capaz de<br />
adicionar manoses terminais com ligações<br />
α-1,3, como S. cerevisiae, as proteínas<br />
produzidas em P. pastoris são menos imunogênicas.<br />
Todavia, se a glicosilação não é<br />
desejada, as proteínas de interesse devem<br />
ser produzidas intracelularmente. Algumas<br />
proteínas expressas em P. pastoris<br />
apresentaram um núcleo de glicosilação<br />
pequeno, como no caso da invertase de S.<br />
cerevisiae. Outras, como a proteína gp120<br />
<strong>do</strong> HIV, apresentaram um padrão de glicosilação<br />
semelhante ao obti<strong>do</strong> em S. cerevisiae.<br />
Ainda não está claro porque a algumas<br />
proteínas são adicionadas cadeias<br />
externas longas de carboidratos e a outras<br />
apenas o núcleo central.<br />
A levedura P. pastoris ganhou grande<br />
aceitação com organismo hospedeiro para<br />
a produção de proteínas heterólogas de<br />
interesse farmacológico. Entre essas proteínas,<br />
destacam-se: a albumina sérica humana<br />
- que já esta em testes clínicos para<br />
seu uso como produto de substituição de<br />
plasma -, e o antígeno de superfície da<br />
hepatite B - que foi aprova<strong>do</strong> para se fazer<br />
uma vacina contra esse vírus. Em nosso<br />
laboratório, temos emprega<strong>do</strong> o sistema<br />
de expressão em P. pastoris para a expressão<br />
de várias proteínas de interesse biotecnológico.<br />
Algumas proteínas recombinantes<br />
serão utilizadas para fins farmacêuticos<br />
e outras para processos de conversão de<br />
biomassa. Dentre as proteínas já expressas<br />
por nosso grupo, destacam-se: 1) α-amilase<br />
de Bacillus subtilis (sozinha ou fusionada<br />
a uma glicoamilase de Aspergillus awamori);<br />
2) um fragmento de anticorpo (scFv)<br />
anti-Z-DNA; 3) celobiohidrolase I.2 de<br />
Humicola grisea var thermoidea.. No caso<br />
da proteína de fusão formada pelo gene da<br />
α-amilase de Bacillus subtilis e o cDNA da<br />
glicoamilase de Aspergillus awamori, a<br />
expressão foi realizada em duas linhagens<br />
de P. pastoris: uma protease negativa e a<br />
outra protease positiva. Os resulta<strong>do</strong>s preliminares<br />
mostraram que a melhor condição<br />
de expressão foi obtida quan<strong>do</strong> a<br />
linhagem protease positiva foi usada e<br />
quan<strong>do</strong> 3 cópias em sequência haviam<br />
si<strong>do</strong> integradas (Figuras 2 e 3). Aparentemente,<br />
o uso da linhagem protease negativa<br />
não é o ideal quan<strong>do</strong> a expressão<br />
ocorre em altos níveis devi<strong>do</strong> à necessidade<br />
de processamento pós-traducional da<br />
proteína de fusão. Por outro la<strong>do</strong>, no caso<br />
da expressão <strong>do</strong> fragmento de anticorpo<br />
scFv, o melhor resulta<strong>do</strong> foi obti<strong>do</strong> com<br />
uma linhagem protease negativa já que a<br />
proteína recombinante mostrou ser suscetível<br />
à ação das proteases produzidas<br />
por P. pastoris. Como no caso da proteína<br />
de fusão, a expressão da clobiohidrolase<br />
I.1 de Humicola grisea var. thermoidea, o<br />
melhor resulta<strong>do</strong> foi obti<strong>do</strong> com uma linhagem<br />
protease positiva. Experimentos<br />
preliminares demonstraram baixos níveis<br />
de expressão em frasco (cerca de 10 mg/<br />
L para a fusão e 1 mg/L para o fragmento<br />
scFv). No entanto, o rendimento poderá<br />
ser sensivelmente maior quan<strong>do</strong> as condições<br />
de expressão em fermenta<strong>do</strong>r forem<br />
ajustadas.<br />
Figura 3: Expressão da fusão α amilase-glucoamilase<br />
em cepas de P. pastoris<br />
protease negativa (SMD) e protease<br />
positiva (GS115) em meio conten<strong>do</strong><br />
ami<strong>do</strong>. Após crescimento das células, a<br />
placa foi corada com vapor de io<strong>do</strong>.<br />
GS115-C: cepa GS115 transformada com<br />
cassete de expressão sem a fusão;<br />
Fαg41 e Fαg38: cepa GS115 com 3<br />
cópias da fusão; Fαg14: cepa GS115<br />
com 1 cópia da fusão; SDM-C: cepa<br />
SMD transformada com cassete de expressão<br />
sem a fusão; SMD-Mut + e SMD-<br />
Mut s : cepa SMD com 3 cópias da fusão<br />
Perspectivas futuras<br />
Com a finalidade de reduzir os custos<br />
das etapas “<strong>do</strong>wnstream” de produção de<br />
proteínas recombinantes a partir de P.<br />
pastoris, estamos construin<strong>do</strong> novos vetores<br />
que possibilitem a rápida purificação<br />
da proteína de interesse. Estamos também<br />
desenvolven<strong>do</strong> novas estratégias que permitam<br />
a co-expressão de duas subunidades<br />
protéicas que formariam, então, uma<br />
proteína heterodimérica funcional. Essa<br />
estratégia seria útil para a expressão de<br />
alguns hormônios proteicos. A longo prazo,<br />
pretendemos isolar, a partir da biodiversidade<br />
<strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>, novas espécies de<br />
levedura que possam ser empregadas como<br />
hospedeiras alternativas para expressão<br />
heteróloga. Esses novos sistemas poderão,<br />
eventualmente, reduzir os custos de produção<br />
com o pagamento de royalties ao<br />
exterior quan<strong>do</strong> são utiliza<strong>do</strong>s sistemas de<br />
expressão já patentea<strong>do</strong>s.<br />
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22 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
NOVARTIS<br />
REPETE FOTOLITO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 23
BIOMONITORAMENTO DE<br />
MUTAGÊNESE AMBIENTAL<br />
PESQUISA<br />
Renata Maria Augusto da Costa<br />
Aluna <strong>do</strong> programa de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
Depto. de Biologia/Genética<br />
Instituto de Biociências/USP<br />
recosta@usp.br<br />
Carlos Frederico Martins Menk<br />
Professor titular <strong>do</strong><br />
Depto. de Microbiologia<br />
Instituto de Ciências BiomédicasII/USP<br />
cfmmenck@usp.br<br />
Emprego de plantas transgênicas em mutagênese ambiental<br />
Fotos cedidas pelos autores<br />
s organismos vivos estão<br />
freqüentemente<br />
expostos a agentes<br />
ambientais que podem<br />
induzir modificações<br />
químicas no<br />
DNA, a molécula responsável pela informação<br />
genética das células. As lesões<br />
no DNA podem ser induzidas por<br />
agentes químicos, provenientes <strong>do</strong> meio<br />
ambiente ou resultantes de reações<br />
químicas que ocorrem nas próprias<br />
células; ou ainda por radiações, tais<br />
como a luz ultravioleta (UV) e raios-X.<br />
Estas modificações na estrutura <strong>do</strong> DNA<br />
são prejudiciais às células, uma vez<br />
que podem prejudicar processos vitais,<br />
tais como a duplicação <strong>do</strong> DNA e a<br />
transcrição gênica. Elas também podem<br />
causar mutações e aberrações<br />
cromossômicas, fenômenos estes que<br />
podem levar ao desenvolvimento de<br />
processos cancerosos e morte celular.<br />
Pelo fato de causarem lesões no material<br />
genético e potencialmente gerarem<br />
tumores em seres humanos, esses agentes<br />
são normalmente conheci<strong>do</strong>s como<br />
genotóxicos ou carcinogênicos. A presença<br />
de produtos químicos carcinógenos<br />
no meio ambiente vem sofren<strong>do</strong><br />
um crescente aumento, devi<strong>do</strong> à atividade<br />
humana, tanto rural e industrial,<br />
quanto urbana . A detecção destes<br />
produtos e seus prováveis efeitos nos<br />
organismos é importante no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
impacto que eles podem trazer às<br />
populações animal, vegetal e humana.<br />
Uma boa alternativa no emprego de<br />
bioindica<strong>do</strong>res é a utilização de organismos<br />
fenotipicamente mais sensíveis<br />
às lesões no DNA. O objetivo <strong>do</strong> nosso<br />
trabalho tem si<strong>do</strong> a obtenção de um<br />
indica<strong>do</strong>r vegetal sensível à uma grande<br />
variedade de produtos lesivos ao<br />
DNA.<br />
Figura 1-<br />
Arabi<strong>do</strong>psis thaliana<br />
adulta<br />
O organismo estuda<strong>do</strong> foi Arabi<strong>do</strong>psis<br />
thaliana (figura 1), que apesar de não<br />
ser nativa da flora brasileira e não apresentar<br />
interesse econômico, é ideal para<br />
estu<strong>do</strong>s em laboratório. O pequeno porte,<br />
a alta produção de sementes (cerca<br />
de 10.000 por indivíduo) e o rápi<strong>do</strong> ciclo<br />
de vida de cinco semanas facilitam a<br />
análise genética e a identificação de<br />
mutantes.<br />
Para a obtenção de uma planta mais<br />
sensível, optamos pelo emprego de<br />
uma variedade que apresentasse alteração<br />
em alguma via de reparo das<br />
lesões no DNA. To<strong>do</strong>s os organismos<br />
vivos apresentam mecanismos que reparam,<br />
revertem, ou simplesmente toleram<br />
a persistência da lesão. O reparo<br />
por excisão de nucleotídeos (NER- nucleotide<br />
excision repair) é uma via de<br />
reparo geral, que reconhece e remove<br />
lesões que distorcem a dupla hélice em<br />
um processo multi-enzimático (para<br />
revisão, Petit and Sancar, 1999). Após o<br />
reconhecimento, o segmento de DNA<br />
ao re<strong>do</strong>r da lesão é removi<strong>do</strong> (~30<br />
nucleotídeos), forman<strong>do</strong> uma lacuna<br />
que é preenchida por meio da polimerização<br />
de uma nova fita, usan<strong>do</strong> como<br />
molde a fita não danificada e sua posterior<br />
ligação (veja figura 2). Devi<strong>do</strong> à<br />
esta atuação bastante abrangente, optamos<br />
pela obtenção de uma planta<br />
deficiente no reparo por excisão de<br />
nucleotídeos.<br />
A obtenção dessa planta não é uma<br />
tarefa fácil, uma vez que o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />
reparo de DNA em plantas está apenas<br />
começan<strong>do</strong> a despertar interesse científico<br />
recentemente Vornarx et al., 1998;<br />
Britt, 1999). Desta forma, iniciamos a<br />
clonagem de genes envolvi<strong>do</strong>s nesta<br />
via em Arabi<strong>do</strong>psis thaliana. Para isso,<br />
escolhemos uma proteína de função<br />
essencial na remoção de lesões no<br />
DNA e bastante conservada entre diferentes<br />
organismos. Essa proteína é uma<br />
helicase, componente <strong>do</strong> fator de transcrição<br />
da RNA polimerase II, denominada<br />
XPB (veja figura 2). A proteína<br />
vegetal deduzida a partir da seqüência<br />
de DNA clona<strong>do</strong> por nós (atXPB1)<br />
apresentou cerca de 50% de homologia<br />
com as proteínas humana e de levedura<br />
(Ribeiro et al., 1998). Entretanto,<br />
24 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
diferin<strong>do</strong> de outros organismos,<br />
a proteína vegetal<br />
está representada em duas<br />
cópias gênicas, expressas<br />
em to<strong>do</strong>s os teci<strong>do</strong>s e todas<br />
as fases <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />
A ação da proteína vegetal<br />
atXPB1 na remoção de<br />
lesões no DNA foi inicialmente<br />
verificada por meio<br />
de ensaios de complementação<br />
em leveduras mutantes<br />
para o gene rad 25,<br />
homólogo à XPB. Após exposição<br />
à <strong>do</strong>ses crescentes<br />
de luz UV, as leveduras que<br />
expressavam a proteína<br />
vegetal apresentaram significativo<br />
aumento no nível<br />
de sobrevivência. Este resulta<strong>do</strong><br />
sugere que atXPB1<br />
atua na remoção das lesões<br />
induzidas por UV.<br />
Após a primeira indicação<br />
de que a proteína clonada<br />
estaria, de fato, envolvida<br />
no reparo por excisão<br />
de nucleotídeos, prosseguiu-se<br />
o estu<strong>do</strong> através da<br />
obtenção de uma planta<br />
mutante transgênica para<br />
esse gene, e portanto, mais<br />
sensível aos compostos genotóxicos.<br />
Para a obtenção de mutantes,<br />
a meto<strong>do</strong>logia mais<br />
utilizada em organismos animais<br />
e em leveduras é a<br />
inserção de um fragmento<br />
de DNA conheci<strong>do</strong> no gene<br />
de interesse. Entretanto, essa<br />
mutagênese dirigida ainda<br />
não é possível em plantas, uma vez que<br />
requer recombinação somática, a qual é<br />
quase inexistente em células vegetais<br />
(Leehan e Feldmann, 1997). Dessa forma,<br />
a integração de um DNA de transferência<br />
(T-DNA) é um sistema alternativo<br />
para mutagênese em A.thaliana. O T-<br />
DNA é o segmento de um plasmídeo<br />
indutor de tumorogênese de Agrobacterium<br />
tumefaciens, delimita<strong>do</strong> por seqüências<br />
de repetições imperfeitas. Como<br />
mostra<strong>do</strong> na figura 3, o T-DNA, incluin<strong>do</strong><br />
qualquer seqüência inserida entre as<br />
bordas, pode ser transferi<strong>do</strong> por meio de<br />
Agrobacterium às células vegetais e ser<br />
inseri<strong>do</strong> aleatoriamente no genoma. Vale<br />
lembrar que nesta meto<strong>do</strong>logia a seqüência<br />
de T-DNA foi modificada geneticamente<br />
através da eliminação <strong>do</strong> promotor<br />
de tumorogênese. No lugar desta<br />
seqüência indutora de tumores, está<br />
presente um marca<strong>do</strong>r de resistência ao<br />
Figura 2- Modelo para o reparo<br />
por excisão de nucleotídeos (NER)<br />
em eucariontes. Em amarelo são<br />
representa<strong>do</strong>s os componentes<br />
desta via de reparo já identifica<strong>do</strong>s<br />
em plantas<br />
antibiótico que permite a seleção de<br />
plantas transformadas.<br />
Nós empregamos uma biblioteca de<br />
Arabi<strong>do</strong>psis thaliana com cerca de 30.000<br />
plantas conten<strong>do</strong>, em média, 1,5 insertos<br />
independentes por genoma (gentilmente<br />
cedida por D. Bouchez). A identificação<br />
da planta conten<strong>do</strong> o gene atXPB1<br />
interrompi<strong>do</strong> foi feita por meio de triagem<br />
via PCR (polymerase chain reaction,<br />
ou reação em cadeia por polimerase,<br />
técnica que permite amplificação de<br />
seqüências específicas de DNA). A escolha<br />
<strong>do</strong>s inicia<strong>do</strong>res utiliza<strong>do</strong>s foi muito<br />
importante para o sucesso da<br />
seleção e está esquematiza<strong>do</strong><br />
na figura 4. Foram desenha<strong>do</strong>s<br />
oligos para o gene atX-<br />
PB1 distantes entre si cerca de<br />
1 Kpb, o que permitiu uma<br />
total cobertura <strong>do</strong> DNA genômico<br />
durante a triagem. Nas<br />
reações de PCR foram emprega<strong>do</strong>s<br />
pares de inicia<strong>do</strong>res<br />
correspondentes ao gene em<br />
questão e às bordas <strong>do</strong> T-<br />
DNA inseri<strong>do</strong>. A identificação<br />
da planta conten<strong>do</strong> o gene<br />
interrompi<strong>do</strong> foi realizada gradativamente,<br />
partin<strong>do</strong> de “hiper<br />
pools” com cerca de 750<br />
plantas, reduzin<strong>do</strong> o número<br />
de plantas na amostra testada<br />
até a obtenção da planta positiva.<br />
A confirmação da disrupção<br />
<strong>do</strong> gene atXPB1 foi<br />
obtida após o sequenciamento<br />
de bases <strong>do</strong> fragmento gera<strong>do</strong><br />
na reação de PCR. Como<br />
pode ser visualiza<strong>do</strong> na figura<br />
5, este está localiza<strong>do</strong> na extremidade<br />
<strong>do</strong> último <strong>do</strong>mínio<br />
de helicase da proteína, o que<br />
provavelmente resulta em perda<br />
da atividade enzimática.<br />
Após a obtenção da planta<br />
mutante para o gene de<br />
reparo atXPB1 foram inicia<strong>do</strong>s<br />
os primeiros testes de<br />
sensibilidade a agentes genotóxicos.<br />
A sensibilidade da<br />
planta mutada foi testada para<br />
o agente químico metilante,<br />
metil metano sulfonato (MMS),<br />
que lesa o DNA por inserção<br />
de um grupo metila nas bases<br />
nitrogenadas dessa molécula. O tratamento<br />
foi realiza<strong>do</strong> em plântulas de<br />
cinco dias e, após alguns dias, as plântulas<br />
mutantes apresentaram sensível redução<br />
no crescimento em <strong>do</strong>ses baixas<br />
<strong>do</strong> agente químico. Em <strong>do</strong>ses superiores<br />
de MMS, as plântulas mutantes apresentaram<br />
porcentagem de sobrevivência<br />
muito inferior às plântulas selvagens<br />
(figura 6). Esse resulta<strong>do</strong> sugere que a<br />
planta mutante para atXPB1 apresenta<br />
deficiência na remoção das lesões no<br />
DNA, resultan<strong>do</strong> em uma maior sensibilidade<br />
aos agentes genotóxicos.<br />
Os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s indicam que<br />
dispomos de uma planta que pode servir<br />
de modelo como bioindica<strong>do</strong>ra na detecção<br />
de mutagênese ambiental. O fato<br />
desta planta estar adaptada a climas<br />
tempera<strong>do</strong>s, limita o seu emprego no<br />
Brasil a estu<strong>do</strong>s no laboratório, isto é, na<br />
detecção de agentes genotóxicos. Por<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 25
Figura 3- Esquema representativo da obtenção de plantas transgênicas mutadas através da inserção de seqüência de T-DNA.<br />
Plantas adultas com flores são co-cultivadas com Agrobacterium conten<strong>do</strong> a construção <strong>do</strong> DNA de transferência (LB e RBseqüências<br />
repetitivas nas bordas esquerda e direita, respectivamente, da inserção) mais o gene para resistência à antibiótico<br />
(KAN). As sementes destas plantas são coletadas e crescidas em meio conten<strong>do</strong> o antibiótico. As plântulas resistentes,<br />
portanto,portan<strong>do</strong> a seqüência de interesse, são crescidas até o estágio maduro para obtenção de sementes. A progênie é<br />
crescida a fim de que se possa extrair o DNA para reação de PCR e identificação da planta conten<strong>do</strong> o inserto de T-DNA no<br />
gene de interesse<br />
Figura 4- Esquema<br />
representativo da<br />
escolha e uso <strong>do</strong>s<br />
inicia<strong>do</strong>res emprega<strong>do</strong>s<br />
no PCR<br />
Figura 5- Localização da inserção de T-DNA na<br />
proteína vegetal at XPB1<br />
exemplo, em amostras de solo potencialmente<br />
contamina<strong>do</strong>, ou resíduos de<br />
filtra<strong>do</strong>s a partir de poluição atmosférica<br />
urbana. Entretanto, como Arabi<strong>do</strong>psis<br />
é uma planta bastante conhecida<br />
geneticamente, sistemas que revelam<br />
mutações já existem e podem ser incorpora<strong>do</strong>s<br />
à este modelo por simples<br />
cruzamentos com a planta at XPB1.<br />
Como resulta<strong>do</strong>, teremos uma linhagem<br />
de plantas altamente sensível a<br />
agentes genotóxicos, possibilitan<strong>do</strong> a<br />
detecção de níveis menores de produtos<br />
mutagênicos. Dessa forma, esperamos<br />
que em breve esta e outras plantas<br />
que serão obtidas possibilitem o desenvolvimento<br />
de sistemas vegetais úteis<br />
no monitoramento ambiental para a<br />
presença de produtos que sejam tóxicos<br />
e nocivos à saúde humana.<br />
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26 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
EMBRAPA<br />
REPETE FOTOLITO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 27
SAÚDE<br />
TERAPIA<br />
GÊNICA<br />
Sergio U. Dani<br />
Médico pela Universidade<br />
Federal de Minas Gerais;<br />
Doutor em Medicina pela<br />
Universidade de Hannover, Alemanha;<br />
Livre-Docente em Genética pela Faculdade<br />
de Medicina de Ribeirão Preto – USP;<br />
Bolsista <strong>do</strong> Programa Jovem Pesquisa<strong>do</strong>r<br />
em Centro Emergente, da FAPESP;<br />
Diretor de Pesquisa & Desenvolvimento<br />
da Genon ltda.<br />
sudani@rgm.fmrp.usp.br<br />
Vetores para terapia gênica<br />
Fotos cedidas pelo autor<br />
erapia gênica é o tratamento<br />
de <strong>do</strong>enças basea<strong>do</strong> na transferência<br />
de material genético.<br />
Em sua forma mais simples,<br />
a terapia gênica consiste<br />
na inserção de genes funcionais<br />
em células com genes defeituosos,<br />
para substituir ou complementar esses<br />
genes causa<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças. A maioria<br />
das tentativas clínicas de terapia gênica<br />
atualmente em curso são para o tratamento<br />
de <strong>do</strong>enças adquiridas, como AIDS, neoplasias<br />
malignas e <strong>do</strong>enças cardiovasculares,<br />
mais <strong>do</strong> que para <strong>do</strong>enças<br />
hereditárias. Em alguns protocolos,<br />
a tecnologia da transferência<br />
gênica vem sen<strong>do</strong> usada<br />
para alterar fenotipicamente uma<br />
célula de tal mo<strong>do</strong> a torná-la<br />
antigênica e assim desencadear<br />
uma resposta imunitária. De<br />
maneira análoga, um gen estranho<br />
pode ser inseri<strong>do</strong> em uma<br />
célula para servir como um<br />
marca<strong>do</strong>r genotípico ou fenotípico,<br />
que pode ser usa<strong>do</strong> tanto<br />
em protocolos de marcação gênica<br />
quanto na própria terapia<br />
gênica. O panorama atual indica<br />
que a terapia gênica não se<br />
limita às possibilidades de substituir<br />
ou corrigir genes defeituosos,<br />
ou eliminar seletivamente<br />
células marcadas. Um espectro<br />
terapêutico muito mais amplo<br />
se apresenta à medida em que<br />
novos sistemas são desenvolvi<strong>do</strong>s<br />
para permitir a liberação de<br />
proteínas terapêuticas, tais como<br />
hormônios, citocinas, anticorpos,<br />
antígenos ou novas proteínas<br />
recombinantes. A terapia gênica<br />
é a esperança de tratamento<br />
para um grande número de <strong>do</strong>enças<br />
até hoje consideradas incuráveis<br />
por méto<strong>do</strong>s convencionais,<br />
das hereditárias e degenerativas<br />
às diversas formas de<br />
câncer e <strong>do</strong>enças infecciosas.<br />
28 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
A tecnologia básica envolvida em qualquer<br />
aplicação da terapia gênica é a transferência<br />
gênica. Vários méto<strong>do</strong>s atuais de<br />
transferência gênica e suas vantagens e<br />
desvantagens estão lista<strong>do</strong>s nas Tabelas 1<br />
a 3. A maneira mais simples de transferir<br />
genes para células e teci<strong>do</strong>s é por meio da<br />
inoculação de DNA puro, com técnicas de<br />
microinjeção; eletroporação e o méto<strong>do</strong><br />
biobalístico. Méto<strong>do</strong>s mais elabora<strong>do</strong>s e<br />
mais eficientes incluem a administração de<br />
DNA encapsula<strong>do</strong> (e.g., liposomos); ou<br />
através de vetores virais, que podem ser<br />
Tabela 1<br />
Méto<strong>do</strong>s Químicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />
fragmentos de DNA de vírus conten<strong>do</strong> o<br />
DNA a ser transferi<strong>do</strong>; ou mesmo a partícula<br />
viral formada por proteínas virais<br />
empacotan<strong>do</strong> um DNA viral modifica<strong>do</strong><br />
de maneira a tornar o vetor menos tóxico,<br />
menos patogênico ou não-patogênico.<br />
A palavra vetor, que deriva <strong>do</strong> Latim<br />
vector (“aquele que carrega, entrega”) define<br />
o agente que constitui ou contém os<br />
genes a serem transferi<strong>do</strong>s e expressos em<br />
uma célula receptora. Os diversos tipos de<br />
vetores são utiliza<strong>do</strong>s com o objetivo de<br />
levar o DNA terapêutico ao núcleo das<br />
Méto<strong>do</strong> Vantagens Desvantagens<br />
DNA-fosfato de cálcio Morte celular durante Só ex vivo; transfecção é<br />
o procedimento é mínima; baixa; baixo nível de<br />
importante na produção de expressão <strong>do</strong> transgen;<br />
vetores virais recombinantes;<br />
simples e barato; expressão<br />
pode ser transitória ou estável;<br />
DNA-DEAE dextran Mais reprodutível que o méto- Só ex vivo; transfecção é<br />
<strong>do</strong> anterior;<br />
baixa e transitória; só<br />
funciona em alguns<br />
tipos celulares<br />
DNA-lípide (liposomos) Não se integram ao genoma Baixa eficiência de transfechospedeiro;<br />
uso in vitro e in ção em relação aos sistemas<br />
vivo; carregam grandes peda- virais; expressão transitória<br />
ços de DNA (tão grandes como <strong>do</strong> transgen; leve toxicidade<br />
cromossomos inteiros); direcio- celular; podem ser inibi<strong>do</strong>s<br />
náveis; não-imunogênicos; por componentes séricos<br />
preparações livres de contaminantes<br />
(cf. vetores virais); alto<br />
grau de pureza; padronização<br />
DNA-proteína Maior direcionamento -<br />
DNA-lípide-proteína<br />
HACs (cromossomos Não se integram no genoma; Em desenvolvimento<br />
artificiais)<br />
inserções maiores são possíveis;<br />
melhor controle transcricional
células-alvo. Outra forma de transferência<br />
da mensagem genética envolve a entrega<br />
de RNA diretamente ao citoplasma das<br />
células, mas o RNA é mais instável que o<br />
DNA, o que limita a aplicação dessa modalidade<br />
de transferência gênica. O uso de<br />
mitocôndrias ou DNA mitocondrial (mtD-<br />
NA) como vetores gênicos citoplasmáticos<br />
tem aplicação potencial na reposição <strong>do</strong><br />
mtDNA a células com deficiência no metabolismo<br />
energético da fosforilação oxidativa<br />
causada por mutações no mtDNA.<br />
Afora o núcleo, a mitocôndria é a única<br />
organela que possui seu próprio DNA.<br />
Uma questão-chave da terapia gênica<br />
é a escolha <strong>do</strong> vetor adequa<strong>do</strong> a cada<br />
situação. Um vetor ideal seria aquele que<br />
pudesse acomodar um tamanho ilimita<strong>do</strong><br />
de DNA inseri<strong>do</strong>, fosse disponível em uma<br />
forma concentrada, pudesse ser facilmente<br />
produzi<strong>do</strong>, pudesse ser direciona<strong>do</strong><br />
para tipos específicos de células, não permitisse<br />
replicação autônoma <strong>do</strong> DNA, pudesse<br />
garantir uma expressão gênica a<br />
longo prazo e fosse não-tóxico e nãoimunogênico.<br />
Tal vetor ainda não existe e<br />
nenhum <strong>do</strong>s sistemas de entrega de DNA<br />
atualmente disponíveis para transferência<br />
gênica in vivo é perfeito com respeito a<br />
qualquer um desses pontos. Até a presente<br />
data, quatro sistemas de transferência gênica<br />
(DNA plasmidial complexa<strong>do</strong>, vetores<br />
retrovirais, vetores adenovirais e vetores<br />
basea<strong>do</strong>s no virus adeno-associa<strong>do</strong>)<br />
foram os mais usa<strong>do</strong>s em tentativas de<br />
terapia gênica em humanos, totalizan<strong>do</strong><br />
uma experiência clínica de cerca de três<br />
mil pacientes em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />
DNA Plasmidial Complexa<strong>do</strong><br />
Um vetor plasmidial é uma molécula<br />
de DNA circular purificada, construída por<br />
meio de técnicas <strong>do</strong> DNA recombinante<br />
para conter, além <strong>do</strong> gen terapêutico de<br />
interesse, sequências regulatórias tipo promotores<br />
e intensifica<strong>do</strong>res, para facilitar e<br />
controlar a expressão <strong>do</strong> gen. Vetores de<br />
DNA plasmidial podem ser introduzi<strong>do</strong>s<br />
nas células por uma variedade de méto<strong>do</strong>s.<br />
O mais óbvio deles, conceitualmente,<br />
é a injeção direta, que exige técnicas<br />
sofisticadas para injeção em escala microscópica.<br />
Essa técnica, entretanto, é limitada<br />
pelo fato de que somente um número<br />
relativamente pequeno de células pode<br />
ser injeta<strong>do</strong> em um determina<strong>do</strong> momento.<br />
Apesar das tentativas de automatizar as<br />
técnicas de microinjeção, o pequeno número<br />
de células que podem ser injetadas<br />
por vez continua sen<strong>do</strong> uma grande limitação.<br />
Esse méto<strong>do</strong> de transferência gênica<br />
poderá ter interesse e de utilidade clínica<br />
se um pequeno número de células purificadas<br />
da medula óssea forem injetadas e<br />
condições de cultivo celular forem encontradas<br />
para expandi-las substancialmente.<br />
Entretanto, ainda existirá o problema da<br />
expressão transitória, pois a maioria das<br />
células injetadas com o vetor não será<br />
capaz de manter a expressão por longo<br />
prazo. Isso exige outras melhorias na sequência<br />
<strong>do</strong> vetor, de mo<strong>do</strong> a aumentar, por<br />
exemplo, a eficiência de sua integração.<br />
Aumento da eficiência de transfecção<br />
<strong>do</strong> DNA plasmidial purifica<strong>do</strong> pode ser<br />
obti<strong>do</strong> com a formação de algum tipo de<br />
complexo: lipídico, protéico, ou misto.<br />
Após a aplicação desse complexo nas<br />
células em cultura ou in vivo, uma porção<br />
substancial das células en<strong>do</strong>cita o DNA e é<br />
capaz de transportar pelo menos parte<br />
dele para o núcleo, onde o DNA é expresso<br />
transitoriamente por alguns dias (Figura<br />
1). A não ser que o DNA plasmidial<br />
tenha a capacidade de integração dirigida,<br />
apenas uma fração muito pequena (geralmente<br />
muito menos de 1 por cento) das<br />
células retêm o DNA permanentemente,<br />
incorporan<strong>do</strong>-o em seus cromossomos e<br />
continuam a expressar os genes introduzi<strong>do</strong>s.<br />
Vetores Virais<br />
Vírus são vetores gênicos por excelência<br />
e vêm evoluin<strong>do</strong> há milhões de anos na<br />
natureza em associação com virtualmente<br />
to<strong>do</strong>s os organismos, de bactérias até plantas<br />
e animais. Os sistemas biomoleculares<br />
específicos de transferência, recombinação<br />
e expressão gênica a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos<br />
virus constituem instrumentos poderosos<br />
para a construção de vetores mais eficientes<br />
e seguros, com indicações precisas de<br />
uso. Bacteriófagos, baculovirus, retrovirus,<br />
adenovirus e virus adeno-associa<strong>do</strong>s<br />
são exemplos de virus que foram modifica<strong>do</strong>s<br />
com sucesso pelas técnicas <strong>do</strong> DNA<br />
recombinante e já possuem aplicações na<br />
pesquisa, na agricultura e na medicina.<br />
Conceitualmente, não é surpreendente que<br />
virus de animais estejam sen<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s<br />
como vetores para a transferência de genes<br />
para células de mamíferos. Conforme<br />
lista<strong>do</strong> na Tabela 3, vários virus vêm<br />
sen<strong>do</strong> explora<strong>do</strong>s desta maneira.<br />
Vetores Retrovirais<br />
Um retrovirus murino, o virus da leucemia<br />
murina de Moloney (MoMuLV), foi<br />
o primeiro sistema vetorial desenvolvi<strong>do</strong><br />
para aplicações clínicas da terapia gênica.<br />
Os conceitos gerais da produção e uso<br />
desse tipo de vetor estão ilustra<strong>do</strong>s na<br />
Figura 2: Por meio de técnicas de DNA<br />
recombinante, os genes no genoma viral<br />
necessários para a reprodução <strong>do</strong> Mo-<br />
MuLV, genes gag, pol e env, são removi<strong>do</strong>s<br />
e substituí<strong>do</strong>s por um gen de interesse. O<br />
que sobra <strong>do</strong> retrovirus são seus elementos<br />
regulatórios: as repetições terminais<br />
longas (LTR), que funcionam como sinais<br />
de integração <strong>do</strong> provirus e promotores da<br />
transcrição e um sinal de empacotamento,<br />
para permitir que o RNA transcrito seja<br />
acomoda<strong>do</strong> em uma partícula viral. Para a<br />
produção <strong>do</strong>s vetores retrovirais conten<strong>do</strong><br />
o gen de interesse, é utilizada uma linhagem<br />
celular de empacotamento conten<strong>do</strong><br />
os genes gag, pol e env incorpora<strong>do</strong>s ao<br />
genoma destas células. Os vetores são<br />
produzi<strong>do</strong>s em altos títulos nas células de<br />
empacotamento e a seguir purifica<strong>do</strong>s e<br />
injeta<strong>do</strong>s no paciente (terapia gênica in<br />
vivo) ou postos em contato com células<br />
colhidas <strong>do</strong> paciente e mantidas em codições<br />
de cultivo celular (terapia gênica ex<br />
vivo). Os vetores têm a habilidade de<br />
entrar nas células-alvo, transcrever seu<br />
RNA na forma de DNA (graças à atividade<br />
da enzima transcritase reversa), e se integrar<br />
estavelmente em um cromosomo da<br />
célula como resulta<strong>do</strong> da presença das<br />
sequências regulatórias retrovirais remanescentes.<br />
Uma vez integra<strong>do</strong>, o gen inseri<strong>do</strong><br />
pode ser expresso para produzir a<br />
proteína terapêutica desejada. O vetor retroviral,<br />
desprovi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s genes para a replicação<br />
viral, não é competente para a<br />
replicação (diz-se que o vetor é “defectivo”),<br />
e por isso não é capaz de produzir<br />
mais virus competentes dentro da célulaalvo.<br />
Portanto, o vetor age como um agente<br />
final de transferência gênica, deixan<strong>do</strong><br />
uma cópia de sua sequência no genoma da<br />
célula-alvo.<br />
Vetores Adenovirais<br />
Os adenovírus humanos são DNAvírus,<br />
não envelopa<strong>do</strong>s, com um genoma<br />
dupla-fita linear de, aproximadamente, 36<br />
kb, encapsula<strong>do</strong> em um capsídeo icosaédrico<br />
medin<strong>do</strong> 70-100 nm de diâmetro. O<br />
capsídeo contém em seus vértices espículas<br />
por onde se dá a interação com receptores<br />
celulares. Na natureza, os adenovirus<br />
são capazes de infectar células <strong>do</strong> trato<br />
respiratório e gastrointestinal, causan<strong>do</strong><br />
gripes, gastroenterites em crianças ou conjuntivites<br />
epidêmicas. As glândulas adenóides<br />
são um de seus alvos e de onde se<br />
originou o nome adenovírus. Infecções<br />
envolven<strong>do</strong> o trato urinário, vias hepáticas<br />
e o sistema nervoso central podem ocorrer<br />
esporádicamente. A maioria, senão a totalidade<br />
<strong>do</strong>s adultos já foi exposta ao adenovirus<br />
e já possui anticorpos anti-adenovirus.<br />
Ao contrário <strong>do</strong>s retrovirus, os adenovirus<br />
se replicam independentemente da<br />
divisão da célula hospedeira, e seu cromosomo<br />
raramente se integra ao genoma da<br />
célula, permanecen<strong>do</strong> episomal na maioria<br />
das vezes. A integração parece ocorrer<br />
somente na presença de altos níveis de<br />
infecção em células em divisão, mas esse<br />
evento não contribui significativamente<br />
para a utilidade destes virus como vetores.<br />
Os vetores adenovirais possuem um largo<br />
espectro de infectividade celular que inclui<br />
virtualmente todas as células pósmitóticas<br />
e mitóticas (Figura 3), e também<br />
podem ser produzi<strong>do</strong>s em eleva<strong>do</strong>s títulos.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 29
Tabela 2<br />
Méto<strong>do</strong>s Físicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />
Méto<strong>do</strong> Vantagens Desvantagens<br />
Microinjeção direta Alta taxa de transfecção; Só ex vivo; potencial para<br />
evita a degradação cito- uso em terapia gênica da<br />
plasmática e lisossomal linhagem germinativa<br />
<strong>do</strong> material injeta<strong>do</strong>; apresenta problemas<br />
técnica muito trabalhosa; técnicos e éticos<br />
requer células muito<br />
bem isoladas<br />
Eletroporação Alta taxa de transfecção Só ex vivo; muita morte<br />
celular torna o procedimento<br />
pouco eficiente<br />
Injeção de plasmídeo<br />
Simplicidade; 2-19 kb po- Baixa porcentagem de fibras<br />
dem ser facilmente trans- expressam o transgen após a<br />
feri<strong>do</strong>s para músculo; uso injeção; uso restrito a pele,<br />
em vacinação gênica timo e músculo estria<strong>do</strong><br />
Injeção balística de DNA Alta taxa de transfecção; Expressão transitória;<br />
entrega de <strong>do</strong>ses precisas; lesão celular considerável<br />
uso em vacinação gênica no centro da região atingida<br />
pelo disparo<br />
A estrutura genômica <strong>do</strong>s adenovirus é<br />
mais complexa que a <strong>do</strong>s retrovirus. O<br />
genoma adenoviral codifica aproximadamente<br />
15 proteínas. A expressão gênica<br />
viral ocorre de uma maneira ordenada e é<br />
dirigida, em grande parte, pelos genes E1A<br />
e E1B, localiza<strong>do</strong>s na porção 5' <strong>do</strong> genoma<br />
adenoviral. Esses genes possuem funções<br />
de transativação para a transcrição de<br />
vários genes virais e da célula hospedeira.<br />
Como estes genes da região E1 estão<br />
envolvi<strong>do</strong>s na replicação <strong>do</strong> adenovirus,<br />
sua remoção torna o virus incompetente<br />
para replicação ou “defectivo”. A remoção<br />
também cria espaço para a inserção de um<br />
gen de interesse terapêutico. A região E3,<br />
cujo produto está envolvi<strong>do</strong> na habilidade<br />
<strong>do</strong> virus de escapar <strong>do</strong> sistema imunológico<br />
<strong>do</strong> organismo hospedeiro, também pode<br />
ser substituída por um DNA exógeno.<br />
Para a produção de vetores adenovirais,<br />
é necessário utilizar, a exemplo <strong>do</strong><br />
que ocorre com vetores retrovirais defectivos,<br />
uma linhagem de células empacota<strong>do</strong>ras<br />
conten<strong>do</strong> genes virais que transcomplementam<br />
o vetor defectivo a ser produzi<strong>do</strong>.<br />
As etapas principais de produção e<br />
uso de um vetor adenoviral estão ilustradas<br />
na Figura 4. Uma das modalidades<br />
começa pela produção de um plasmídeo<br />
ou cosmídeo conten<strong>do</strong> o genoma <strong>do</strong> adenovirus<br />
com deleções em algumas regiões<br />
especiais, como a região E1. A deleção de<br />
E1 torna o virus defectivo. O gen de<br />
interesse pode ser clona<strong>do</strong> nestas regiões<br />
deletadas, e o plasmídeo ou cosmídeo<br />
pode ser multiplica<strong>do</strong> em uma cultura de<br />
bactéria. O plasmídeo ou cosmídeo purifica<strong>do</strong><br />
é então transfecta<strong>do</strong> para as células<br />
empacota<strong>do</strong>ras onde ele é empacota<strong>do</strong> na<br />
forma de partículas adenovirais defectivas.<br />
Os vetores adenovirais assim produzi<strong>do</strong>s<br />
são isola<strong>do</strong>s <strong>do</strong> meio de cultivo das células<br />
empacota<strong>do</strong>ras, e purifica<strong>do</strong>s por ultracentrifugação<br />
em gradiente de cloreto de<br />
césio, que também concentra o vetor em<br />
suspensões com elevada titulação (mais de<br />
10 13 UFP ml -1 ), ou por cromatografia. O<br />
virus purifica<strong>do</strong> é estável em uma variedade<br />
de tampões aquosos e pode ser congela<strong>do</strong><br />
por perío<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s sem perda<br />
de atividade.<br />
Uma estratégia alternativa de produção<br />
de vetores adenovirais consiste em<br />
preparar um plasmídeo no qual o gen de<br />
interesse é flanquea<strong>do</strong> por seqüências de<br />
DNA adenovirais. Estas sequências servem<br />
como regiões controle e contêm sinais de<br />
empacotamento e sítios para a recombinação<br />
com DNA genômico adenoviral, que<br />
será usa<strong>do</strong> para reconstituir adenovirions<br />
defectivos dentro da célula empacota<strong>do</strong>ra.<br />
A transfecção desse plasmídeo para células<br />
empacota<strong>do</strong>ras, juntamente com o DNA<br />
genômico de adenovirus com deleções<br />
selecionadas (e.g., E1, E3) leva, por meio<br />
de recombinação homóloga, à formação<br />
de partículas adenovirais com o(s)<br />
transgen(es) substituin<strong>do</strong> as regiões previamente<br />
deletadas. Portanto, tanto a clonagem<br />
direta, quanto a recombinação homóloga<br />
podem ser usadas para produzir adenovirions<br />
defectivos. Com o desenvolvimento<br />
de novas linhagens de células de<br />
empacotamento conten<strong>do</strong> um número cada<br />
vez maior de genes adenovirais para a<br />
transcomplementação, já é possível produzir<br />
vetores adenovirais conten<strong>do</strong> um<br />
número cada vez menor de sequências<br />
adenovirais e um número cada vez maior<br />
de sequências exógenas. Um vetor adenoviral<br />
“all deleted” foi produzi<strong>do</strong> recentemente.<br />
Esse vetor possuía 28 kb de DNA<br />
exógeno (gen da distrofina) e apenas 8 kb<br />
de sequências adenovirais.<br />
Vetores Adeno-Associa<strong>do</strong>s<br />
Algumas características desfavoráveis<br />
<strong>do</strong>s vetores adenovirais e retrovirais revistas<br />
na Tabela 3 incluem a incapacidade de<br />
integração <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong>s vetores adenovirais<br />
ao genoma da célula hospedeira, ocasionan<strong>do</strong><br />
uma expressão instável e a integração<br />
aleatória <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong>s vetores retrovirais<br />
ao genoma hospedeiro, poden<strong>do</strong><br />
acarretar mutagênese insercional ativa<strong>do</strong>ra<br />
de proto-oncogenes celulares humanos<br />
ou inativação de genes supressores de<br />
tumor. Além disso, esses vetores podem<br />
provocar resposta imunológica <strong>do</strong>s tipos<br />
humoral e celular e podem ser patogênicos.<br />
Vetores alternativamente indica<strong>do</strong>s para<br />
contornar esses problemas são basea<strong>do</strong>s<br />
no virus adeno-associa<strong>do</strong> (AAV, adenoassociated<br />
virus), um pequeno vírus de<br />
DNA, não envelopa<strong>do</strong>, não patogênico,<br />
pertencente à família Parvoviridae. O AAV<br />
possui uma única molécula de DNA fita<br />
simples de 4681 bases, com repetições<br />
terminais invertidas (ITRs, inverted terminal<br />
repeats). Os ITRs são sequências palindrômicas<br />
de 145 pares de bases envolvidas<br />
na regulação <strong>do</strong> ciclo celular <strong>do</strong> AAV,<br />
dispostas nas porções terminais 5' e 3' <strong>do</strong><br />
genoma viral, que servem como origem e<br />
inicia<strong>do</strong>res para a replicação <strong>do</strong> DNA.<br />
Flanqueadas pelas ITRs, duas amplas molduras<br />
abertas de leitura codificam uma<br />
proteína regulatória e outra estrutural denominadas<br />
rep e cap, respectivamente. A<br />
região de leitura situada na porção 5' (gen<br />
rep) codifica quatro proteínas não-estruturais<br />
envolvidas com a replicação genômica.<br />
A porção 3' contém o gen cap, que<br />
codifica três proteínas estruturais para a<br />
formação <strong>do</strong> capsídeo viral.<br />
O AAV é considera<strong>do</strong> um depen<strong>do</strong>virus<br />
porque somente é capaz de se replicar<br />
em uma célula na presença de um virus<br />
auxiliar (adenovirus ou virus da herpes),<br />
que lhe forneça, em transcomplementação,<br />
os fatores auxiliares essenciais para<br />
sua replicação. Na ausência <strong>do</strong> vírus auxiliar,<br />
o genoma <strong>do</strong> AAV integra-se, preferencialmente,<br />
em um sítio específico<br />
(AAVS1) no braço curto <strong>do</strong> cromossomo<br />
19, entre q13.3 e qter, utilizan<strong>do</strong> para isso<br />
os ITRs, com alta freqüência e estabilidade,<br />
para estabelecer uma infecção latente tanto<br />
em células mitóticas quanto em células<br />
pós-mitóticas. Recentemente, formas episomais<br />
<strong>do</strong> vírus também foram identifica-<br />
30 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
das e a integração em sítios não<br />
específicos foi <strong>do</strong>cumentada, porém<br />
não há, até o momento, nenhuma<br />
relação destas formas com oncogênese<br />
insercional. O provírus latente pode<br />
ser recupera<strong>do</strong> e replica<strong>do</strong> através de<br />
uma superinfecção com o vírus auxiliar.<br />
O vírus adeno-associa<strong>do</strong> tem desperta<strong>do</strong><br />
grande interesse como um<br />
vetor potencial para transferência de<br />
genes em tentativas de terapia gênica<br />
humana. Entre as suas propriedades<br />
mais favoráveis estão: (I) nenhuma<br />
relação com <strong>do</strong>enças humanas; (II)<br />
poder de infecção de uma ampla<br />
gama de linhagens celulares derivadas<br />
de diferentes teci<strong>do</strong>s; (III) a sua<br />
habilidade de integrar dentro <strong>do</strong> genoma<br />
hospedeiro e estabelecer uma<br />
infecção latente. Este tipo de integração<br />
pode ocorrer em células que não<br />
estejam em processo de divisão, embora<br />
aconteça com uma freqüência<br />
menor que em células em divisão.<br />
Soma-se a estas características favoráveis<br />
o tipo de integração proporciona<strong>do</strong><br />
pelo AAV. A capacidade de<br />
transdução com AAV recombinante<br />
(rAAV) tem si<strong>do</strong> demonstrada em<br />
uma ampla variedade de tipos celulares,<br />
incluin<strong>do</strong> as diferenciadas, o que<br />
sugere um grande potencial desse<br />
sistema de vetor para transferência<br />
gênica in vivo para órgãos como músculo,<br />
fíga<strong>do</strong>, sistema nervoso central<br />
e pulmão.<br />
Vetores rAAV são deriva<strong>do</strong>s de<br />
plasmídeos que carregam os ITRs<br />
flanquean<strong>do</strong> o gen exógeno de interesse.<br />
Esses vetores podem ser empacota<strong>do</strong>s<br />
dentro <strong>do</strong> capsídeo <strong>do</strong> AAV<br />
pela co-transfecção em células infectadas<br />
com (I) adenovírus, e (II) um<br />
segun<strong>do</strong> plasmídeo de empacotamento<br />
conten<strong>do</strong> os genes rep e cap (Figura<br />
5). O rAAV é recupera<strong>do</strong> em células<br />
lisadas e o vírus auxiliar é removi<strong>do</strong>.<br />
Desta forma, quatro elementos são requeri<strong>do</strong>s<br />
para o empacotamento <strong>do</strong> vetor<br />
AAV: (I) células eucarióticas em cultura,<br />
(II) as proteínas responsáveis pela replicação<br />
<strong>do</strong> genoma viral e síntese <strong>do</strong> capsídeo,<br />
(III) o DNA <strong>do</strong> vetor e (IV) o vírus auxiliar.<br />
As desvantagens de utilizar partículas<br />
rAAV como vetores de transferência gênica<br />
estão no tamanho <strong>do</strong> seu genoma<br />
(acima de 5 kb ocorre interferência no<br />
encapsulamento viral), o que limita a clonagem<br />
de determina<strong>do</strong>s genes, e a dificuldade<br />
de produzir o vetor viral em grandes<br />
quantidades. Entretanto, vários melhoramentos<br />
têm si<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>s na produção e<br />
uso de vetores basea<strong>do</strong>s em AAV. A dificuldade<br />
de produzir estes vetores em larga<br />
escala foi minimizada pela utilização de<br />
Tabela 3<br />
Méto<strong>do</strong>s Biológicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />
Vetores Vantagens Desvantagens<br />
Retrovirais Alta taxa de transdução; Imunogênico; requer células<br />
amplo espectro de hospedeiro em divisão; risco de mutagênese<br />
(somente células em divisão); insercional; risco de reversão para o<br />
sistema muito bem estuda<strong>do</strong> tipo selvagem; inativação pelo<br />
e conheci<strong>do</strong>; integração no complemento; baixos títulos;<br />
genoma hospedeiro; proteínas baixa taxa de entegra in vivo<br />
<strong>do</strong> vetor não expressas no<br />
hospedeiro<br />
Adenovirais Amplo espectro de hospedeiro Imunogênico; reversão para o tipo<br />
(células mitóticas e não<br />
selvagem; perío<strong>do</strong> curto de expressão<br />
mitóticas); altos títulos;<br />
gênica em células em divisão (depuraalta<br />
eficiência de transdução; ção <strong>do</strong> epissomo); “vazamento” de<br />
genoma viral epissomal;<br />
proteínas virais<br />
virus selvagem causa <strong>do</strong>ença<br />
leve; não envelopa<strong>do</strong><br />
Adeno- Amplo espectro de hospedeiro; Limite ao empacotamento de DNA;<br />
associa<strong>do</strong>s nenhuma <strong>do</strong>ença humana integração não é sempre sítio-dirigida;<br />
associada; infecta células imunogênico (?)<br />
em divisão ou paradas; integração<br />
dirigida é preferencial<br />
Híbri<strong>do</strong>s Amplo espectro; altos títulos; Imunogênico<br />
Adenovirus-AAV alta eficiência de transdução;<br />
integração dirigida<br />
Herpes simples Epissomal; pode induzir infec- Imunogênico; virus diferentes têm<br />
ção latente por toda a vida (es- seletividade diferente; EBV é oncogêpecialmente<br />
no CNS);<br />
nico; ativação de virus latente; baixa<br />
acomoda insertos grandes; eficiência de transdução; expressão<br />
produção de altos títulos transitória nos vetores atuais; sistema<br />
em desenvolvimento<br />
HIV Infectam e transduzem células Sistema pouco conheci<strong>do</strong>;<br />
mitóticas e pós-mitóticas, por eficiência baixa in vivo<br />
longo prazo<br />
Vaccinia Potencial para desenvolvimento Uso limita<strong>do</strong> aos individuos não<br />
de uma grande variedade de previamente vacina<strong>do</strong>s; uso não indivacinas<br />
gênicas<br />
ca<strong>do</strong> em imunossuprimi<strong>do</strong>s<br />
plasmídeos conten<strong>do</strong> sequências de ITR e<br />
sua multiplicação em linhagens recombinantes<br />
de Escherichia coli. A restrição ao<br />
tamanho <strong>do</strong> genoma viral também foi<br />
minimizada, visto que esses plasmídeos<br />
não precisam ser encapsula<strong>do</strong>s em um<br />
capsídeo viral, poden<strong>do</strong> ser introduzi<strong>do</strong>s<br />
em células eucarióticas utilizan<strong>do</strong> a técnica<br />
de transfecção com lipossomos, sem<br />
prejuízo <strong>do</strong> amplo espectro de infectividade<br />
celular característico <strong>do</strong> AAV.<br />
Combinações de<br />
Elementos Virais e Não-Virais<br />
A combinação de elementos virais e<br />
não-virais tem si<strong>do</strong> usada para aumentar a<br />
eficiência da transferência gênica para células<br />
em cultura. Um exemplo de combinação<br />
de elementos virais e não virais é uma<br />
alternativa ao uso de partículas de rAAV<br />
mencionada anteriormente, e consiste na<br />
construção de plasmídeos com sequências<br />
de ITR delimitan<strong>do</strong> genes de interesse para<br />
promover a transformação gênica em células<br />
eucarióticas e conferir maior persistência<br />
<strong>do</strong> DNA transfecta<strong>do</strong>, se comparada<br />
àquela obtida com plasmídeos convencionais<br />
sem os ITRs. Os vírus AAV podem ser<br />
substituí<strong>do</strong>s por esse tipo de construção<br />
complexada em liposomos, pois os níveis<br />
de expressão gênica e retenção <strong>do</strong> transgen<br />
nas células transfectadas por esses<br />
complexos são semelhantes aos níveis<br />
obti<strong>do</strong>s com partículas virais encapsuladas.<br />
Mitocôndrias e DNA Mitocondrial<br />
A mitocôndria é a única organela que<br />
possui seu próprio DNA (mtDNA). Em<br />
princípio, as mitocôndrias se assemelham<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 31
Figura 1. Os complexos forma<strong>do</strong>s entre lípides ou fosfolípides e DNA constituem<br />
liposomos. Liposomos catiônicos são geralmente prepara<strong>do</strong>s a partir de fosfolípides<br />
bipolares e consistem de um núcleo hidrofílico, delimita<strong>do</strong> por uma camada<br />
lipídica externa. Os lípides catiônicos formam interações eletrostáticas com a<br />
molécula fortemente aniônica <strong>do</strong> DNA de maneira espontânea, promoven<strong>do</strong> o<br />
encapsulamento <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> nucleico. Os liposomos assim produzi<strong>do</strong>s possuem um<br />
amplo espectro de infectividade celular<br />
Figura 2. Produção e uso de retrovirus<br />
aos lipossomos utiliza<strong>do</strong>s em transferência<br />
gênica, constituí<strong>do</strong>s de membranas lipídicas<br />
envolven<strong>do</strong> moléculas de DNA. Uma<br />
vez que mitocôndrias podem ser purificadas<br />
por ultracentrifugação de homogena<strong>do</strong>s<br />
celulares, elas poderiam ser utilizadas<br />
como vetores de transferência gênica. Mitocôndrias<br />
isoladas <strong>do</strong> sangue de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res<br />
podem ser fundidas a células receptoras,<br />
geran<strong>do</strong> híbri<strong>do</strong>s de citoplasma (cíbri<strong>do</strong>s)<br />
viáveis. O uso de mitocôndrias ou <strong>do</strong><br />
DNA mitocondrial (mtDNA) como vetores<br />
gênicos tem aplicação potencial na reposição<br />
<strong>do</strong> mtDNA a células com deficiências<br />
no metabolismo energético da fosforilação<br />
oxidativa causadas por mutações. Mutações<br />
no mtDNA estão ligadas a um grande<br />
número de síndromes degenerativas neuromusculares<br />
com padrão de herança materna.<br />
Além disso, mutações no mtDNA<br />
ocorrem em células da linhagem somática<br />
e se acumulam durante o envelhecimento<br />
e em condições de stress oxidativo, e<br />
podem explicar boa parte <strong>do</strong>s fenótipos<br />
característicos da idade avançada, como<br />
fraqueza muscular, <strong>do</strong>ença de Alzheimer e<br />
<strong>do</strong>ença de Parkinson.<br />
Conclusão e Perspectivas<br />
Várias <strong>do</strong>enças incuráveis pelos méto<strong>do</strong>s<br />
terapêuticos convencionais representam<br />
perspectivas futuras para a aplicação<br />
da terapia gênica. Contu<strong>do</strong>, ainda existem<br />
limitações com relação à eficiência e direcionamento<br />
<strong>do</strong>s vetores de transferência<br />
gênica da geração atual. Os vetores virais<br />
recombinantes são os veículos mais potentes<br />
para a transferência gênica, mas a<br />
resposta imunológica <strong>do</strong> hospedeiro e as<br />
dificuldades de produção em larga escala<br />
e padronização ainda são grandes barreiras<br />
para seu uso clínico. A entrega de DNA<br />
via lipossomos ou via direcionamento a<br />
receptores celulares oferece alternativas<br />
elegantes para a transferência mediada por<br />
virus, mas os níveis de expressão gênica<br />
obti<strong>do</strong>s com esses méto<strong>do</strong>s precisam ser<br />
melhora<strong>do</strong>s significativamente antes que<br />
eles possam ser utiliza<strong>do</strong>s para o tratamento<br />
de <strong>do</strong>enças humanas. Além disso, nosso<br />
conhecimento <strong>do</strong> controle transcricional é<br />
incompleto. Estes campos estão sob intensa<br />
investigação; os méto<strong>do</strong>s de transferência<br />
gênica ex vivo e in vivo estão em franco<br />
desenvolvimento e esperam-se avanços<br />
consideráveis na próxima década.<br />
O desenvolvimento de sistemas altamente<br />
eficientes de empacotamento viral<br />
e o refinamento <strong>do</strong>s processos de purifica-<br />
Figura 3. Amplo espectro de infectividade celular de um vetor adenoviral carregan<strong>do</strong> o gen LacZ de E. coli, que codifica a enzima<br />
beta-galactosidase. A expressão <strong>do</strong> gen é denotada pela cor azul <strong>do</strong> substrato X-gal, metaboliza<strong>do</strong> pela enzima nas células<br />
infectadas pelo vetor. No senti<strong>do</strong> horário, começan<strong>do</strong> pelo canto superior direito: (I) córtex renal de coelho, após infusão<br />
intracarotídea <strong>do</strong> vetor; (II) fibras de músculo estria<strong>do</strong> esquelético de rato, após injeção intramuscular <strong>do</strong> vetor; (III) células<br />
en<strong>do</strong>teliais em capilar de cérebro de rato, após infusão intracarotídea <strong>do</strong> vetor; (IV) fibroblastos na pia mater de rato, após injeção<br />
intraparenquimal <strong>do</strong> vetor; (V) astrócitos no córtex cerebral de rato, após injeção estereotáxica <strong>do</strong> vetor; (VI) neurônio piramidal<br />
<strong>do</strong> córtex <strong>do</strong> giro <strong>do</strong> cíngulo, após injeção estereotáxica <strong>do</strong> vetor no hipocampo de rato<br />
32 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
ecombinase funcional com a construção<br />
de expressão gênica em complexos lipossomais<br />
direciona<strong>do</strong>s a uma célula específica<br />
com anticorpos ou proteínas ligantes de<br />
receptores. A longo prazo, novos méto<strong>do</strong>s<br />
de entrega poderão ser desenvolvi<strong>do</strong>s para<br />
a transferência intranuclear de cromossomos<br />
artificiais humanos (HACs) carregan<strong>do</strong><br />
grupos inteiros de genes com seus elementos<br />
naturais de controle. No futuro, a pesquisa<br />
básica deverá tentar definir os elementos<br />
genômicos que tornam possível o<br />
controle temporal e espacial da expressão<br />
gênica durante a vida de um indivíduo.<br />
Avanços nessas áreas irão requerer desenvolvimentos<br />
paralelos no desenho de vetores,<br />
antes que os conhecimentos possam<br />
ser utiliza<strong>do</strong>s na prática clínica.<br />
Da grande quantidade e criatividade<br />
<strong>do</strong>s sistemas de vetores e méto<strong>do</strong>s de<br />
transfecção gênica que estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s,<br />
parece claro que, no futuro, haverá<br />
uma grande escolha de méto<strong>do</strong>s diferentes<br />
para as diferentes aplicações clínicas.<br />
Isso certamente ampliará as oportunidades<br />
para o uso da transferência gênica no<br />
contexto clínico. A terapia gênica promete<br />
ser uma área fértil de pesquisa científica e<br />
clínica por muitos anos, e não há dúvida<br />
que se tornará uma prática clínica importante<br />
neste novo século. A terapia gênica<br />
poderá representar uma mudança de paradigma<br />
da medicina, com importantes repercussões<br />
para a sociedade.<br />
Leituras recomendadas<br />
Figura 4. Etapas da produção e uso de vetores adenovirais<br />
Figura 5. Etapas da produção e uso de partículas de vetores adeno-associa<strong>do</strong>s<br />
recombinantes (rAAV)<br />
ção e concentração poderão melhorar os<br />
títulos <strong>do</strong>s vetores virais para valores que<br />
poderão permitir a transferência gênica pela<br />
administração sistêmica. O direcionamento<br />
da entrega poderá ser possível pela incorporação<br />
de anticorpos de cadeia única contra<br />
antígenos de superfície ou ligantes para<br />
receptores transmembrânicos incorpora<strong>do</strong>s<br />
ao envelope de retrovírus ou proteínas penton<br />
de adenovírus, e há sinais encoraja<strong>do</strong>res<br />
de que essa estratégia possa alcançar sucesso.<br />
A médio prazo, espera-se a chegada de<br />
“vetores de desenho” incorporan<strong>do</strong> os elementos<br />
mais úteis <strong>do</strong>s sistemas virais e sintéticos<br />
disponíveis atualmente, com variações<br />
dependen<strong>do</strong> da aplicação. Por exemplo, as<br />
repetições terminais invertidas (ITR) <strong>do</strong>s virus<br />
adeno-associa<strong>do</strong>s, que promovem integração<br />
cromossomal estável, podem ser combinadas<br />
com seqüências de outros vetores<br />
com maior capacidade de acomodação de<br />
insertos. A integração pode ser aumentada<br />
através <strong>do</strong> empacotamento de uma enzima<br />
Balagué C, Kalla M, Zhang W-W. 1997.<br />
Adeno-associated virus rep78 protein and<br />
terminal repeats enhance integration of<br />
DNA sequences into the cellular genome. J.<br />
Virology 71:3299-3306.<br />
Dani, S.U. 1998. Terapia Gênica. Capítulo<br />
90, in Dani, R. Gastroenterologia Essencial.<br />
Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.<br />
Dani SU. 1999. Terapia Gênica: O Objetivo<br />
Final. Cap. 14 in Rossi, BM, Pinho, M.<br />
Genética e Biologia Molecular para o Cirurgião.<br />
São Paulo, Editora Lemar, pp. 261-<br />
289.<br />
Dani SU. 1999. The challenge of vector<br />
development in gene therapy. Braz. J. Med.<br />
Biol. Res. 32:133-145.<br />
Dani SU, Uetsuki T, Nishimura I, Saito I,<br />
Yoshikawa K. 1998. Improved adenovirusmediated<br />
gene transfer to neurons in the<br />
brain: Effect of intraparenchymal injection<br />
of hypertonic mannitol and concentration<br />
of the vector particles in the infusate. Virus<br />
Reviews and Research 3(1-2):41-49.<br />
Darquet A-M, et al. 1997. A new DNA<br />
vehicle for nonviral gene delivery: supercoiled<br />
minicircle. Gene Therapy 4:1341-<br />
1349.<br />
Hartikka, J., et al. 1996. An improved<br />
plasmid DNA expression vector for direct<br />
injection into skeletal muscle. Hum Gene<br />
Ther 7:1205-1217<br />
Lebkowski JS, et al. 1988. Adeno-associated<br />
virus: a vector system for efficient<br />
introduction and integration of DNA into a<br />
variety of mammalian cell types. Mol Cell<br />
Biol 8(10):3988-96<br />
Lebkowski JS, Okarma TB, Philip R.<br />
1996. The challenges of recombinant adeno-associated<br />
virus manufacturing: alternative<br />
use of adeno-associated virus plasmid/<br />
liposome complexes for gene therapy applications.<br />
Curr Top Microbiol Immunol<br />
218:51-9<br />
Philip, R., et al. 1994. Efficient and<br />
sustained gene expression in primary T<br />
lymphocytes and primary and cultured tumor<br />
cells mediated by adeno-associated<br />
virus plasmids DNA complexed to cationic<br />
liposomes. Mol. Cell. Biol. 14, 2411-2418.<br />
Zhu, N., Liggitt, D., Liu, Y., Debs, R.<br />
1993. Systemic gene expression after intravenous<br />
DNA delivery into adult mice. Science<br />
261, 209-211.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 33
PROJETO<br />
PESQUISA<br />
TRANSCRIPTOMA<br />
Análise da Expressão Gênica em Larga Escala Usan<strong>do</strong> DNA - Arrays<br />
Geral<strong>do</strong> A. S. Passos<br />
Professor Associa<strong>do</strong> (Genética),<br />
Faculdade de O<strong>do</strong>ntologia de<br />
Ribeirão Preto e<br />
Grupo de Imunogenética Molecular,<br />
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP<br />
passos@rgm.fmrp.usp.br<br />
Catherine Nguyen<br />
Bertrand Jordan<br />
Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Centre d’Immunologie<br />
Marseille-Luminy, Equipe TAGC,<br />
INSERM-CNRS de Marseille, França<br />
nguyen@ciml.univ-mrs.fr<br />
jordan@ciml.univ-mrs.fr<br />
Fotos cedidas pelos autores<br />
34 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
s projetos genoma estão<br />
revolucionan<strong>do</strong> a maneira<br />
como a biologia e a<br />
medicina serão exploradas<br />
no próximo século e<br />
além (Collins et al., 1998). Com o seqüenciamento<br />
total <strong>do</strong>s genomas humano<br />
e de outras espécies e a disponibilidade<br />
das bibliotecas de cDNA, abriu-se<br />
a possibilidade de uma nova estratégia<br />
para a genética, que está sen<strong>do</strong> chamada<br />
de genômica funcional, a interpretação<br />
da função das seqüências de DNA<br />
numa escala genômica.<br />
No curso <strong>do</strong> seqüenciamento de<br />
diversos genomas, demonstrou-se que<br />
muitos genes são descobertos somente<br />
quan<strong>do</strong> suas seqüências totais tornamse<br />
conhecidas. Assim, a descoberta de<br />
novos genes fica dependente <strong>do</strong> trabalho<br />
de seqüenciamento <strong>do</strong> DNA.<br />
Entretanto, o conhecimento da estrutura<br />
de um gene ou de outro elemento<br />
funcional é somente parte da resposta<br />
que precisamos.<br />
A necessidade vai mais além; está na<br />
elucidação da função <strong>do</strong>s genes e isso<br />
resultará da comparação de da<strong>do</strong>s, como<br />
interação de genomas com o ambiente<br />
ou níveis de expressão gênica com o<br />
desenvolvimento normal e patológico.<br />
Isto será um desafio para toda a<br />
biologia <strong>do</strong> futuro.<br />
Os recursos rotineiros atuais para<br />
abordarmos a função <strong>do</strong>s genes numa<br />
escala genômica são por comparação e<br />
análise de padrões de seqüência com<br />
expressão gênica (RNAs mensageiros).<br />
Mas são necessárias novas estratégias<br />
para podermos relacionar a expressão<br />
<strong>do</strong>s genes diretamente com os fenômenos<br />
biológicos. Isso nos aproximará<br />
mais da função desses genes.<br />
A caracterização em larga escala de<br />
transcritos (RNAs) e suas proteínas resultantes<br />
está bem dentro da análise<br />
funcional <strong>do</strong> genoma.<br />
É bastante razoável pensarmos que o<br />
seqüenciamento e a análise <strong>do</strong>s níveis<br />
de expressão de to<strong>do</strong>s os genes de um<br />
organismo devem ser toma<strong>do</strong>s como<br />
alta prioridade.<br />
Por analogia com o termo genoma,<br />
que representa o conjunto completo <strong>do</strong>s<br />
genes (DNA) de um organismo, criou-se<br />
o termo transcriptoma, que representa o<br />
conjunto completo <strong>do</strong>s transcritos (RNAs).<br />
Seguin<strong>do</strong> a idéia, temos também o proteoma,<br />
que representa todas as proteínas.<br />
O novo desafio para a biologia está,<br />
então, na análise global desses sistemas:<br />
genoma, transcriptoma e proteoma.<br />
Recursos meto<strong>do</strong>lógicos para enfrentar<br />
esses desafios estão sen<strong>do</strong> padroniza<strong>do</strong>s<br />
com sucesso.<br />
Dentro da análise <strong>do</strong>s transcriptomas,<br />
o primeiro recurso disponível foram<br />
as bibliotecas de DNAs complementares<br />
(cDNA), ou seja, um conjunto de<br />
clones (de fagos ou plasmídeos) que<br />
abrigam cópias , se possível, de to<strong>do</strong>s os<br />
RNAs mensageiros de uma linhagem<br />
celular ou órgão na forma de cDNA.<br />
Seqüências de cDNA e conjuntos<br />
valida<strong>do</strong>s de clones com marca<strong>do</strong>res<br />
únicos são muito úteis na análise da<br />
expressão gênica.<br />
Atualmente, uma das “últimas palavras”<br />
em tecnologia para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />
transcriptomas são os DNA-arrays.<br />
Alian<strong>do</strong>-se a disponibilidade das bibliotecas<br />
de cDNA com a robótica de alta<br />
precisão na deposição de pequenas<br />
amostras em superfícies sólidas, tornouse<br />
possível a preparação <strong>do</strong>s arrays<br />
(arranjos) de clones de cDNA ou até de<br />
produtos de PCRs (reação de polimerização<br />
em cadeia) em membranas de<br />
nylon ou em lâminas de vidro (figura 1).
Vejamos o princípio<br />
<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s DNA-arrays<br />
e das sondas complexas<br />
de cDNA (Jordan,<br />
1998).<br />
Essencialmente, os<br />
méto<strong>do</strong>s das assinaturas<br />
de hibridação usam sondas<br />
complexas preparadas<br />
a partir de RNAs mensageiros<br />
de uma dada linhagem<br />
celular, teci<strong>do</strong> ou<br />
amostra cirúrgica por<br />
transcrição reversa e marcação<br />
radioativa. A sonda<br />
contém muitas espécies<br />
de RNAs mensageiros que<br />
podem variar muito em<br />
quantidade; por exemplo,<br />
no cérebro, podemos encontrar<br />
espécies varian<strong>do</strong><br />
de 1.000 a 30.000 moléculas<br />
de RNA mensageiro por célula.<br />
Sugere-se que uma célula de mamífero<br />
típica contenha, aproximadamente,<br />
300.000 moléculas individuais de RNAs<br />
mensageiros. Algumas delas estão presentes<br />
em abundância que variam de um<br />
a vários por cento.<br />
Uma parcela razoável de RNAs mensageiros<br />
são de espécies raras, representa<strong>do</strong>s<br />
a uma molécula por célula ou<br />
mesmo menos (uma espécie de RNA<br />
mensageiro presente somente uma vez a<br />
cada dez células poderá, mesmo assim,<br />
ter significa<strong>do</strong> biológico).<br />
O seqüenciamento sistemático de<br />
cDNAs poderá proporcionar os da<strong>do</strong>s<br />
de caracterização <strong>do</strong> transcriptoma, especialmente<br />
se feito em bibliotecas de<br />
cDNA (Okubo et al., 1992).<br />
Entretanto, a quantificação de baixos<br />
níveis de expressão envolve uma quantidade<br />
não usual de seqüenciamentos:<br />
para seqüenciarmos um da<strong>do</strong> RNA mensageiro<br />
abundante de 1:10.000 faz-se<br />
necessário o seqüenciamento de 50 a<br />
100.000 clones. Para cada biblioteca !<br />
Os méto<strong>do</strong>s que envolvem os tags<br />
(etiquetas moleculares de cDNAs) diminuem<br />
o seqüenciamento pela redução<br />
de cada cDNA, mas o trabalho para<br />
padronizar esses méto<strong>do</strong>s é enorme e as<br />
limitações estatísticas ainda persistem.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, os méto<strong>do</strong>s de hibridação<br />
molecular, usan<strong>do</strong> sondas complexas<br />
e um grande arranjo de alvos de<br />
DNA (DNA-arrays) têm seu poder deriva<strong>do</strong><br />
<strong>do</strong> fato de que cada experimento<br />
individual proporciona uma grande quantidade<br />
de informação; ainda não há<br />
méto<strong>do</strong> rival para as medidas de expressão<br />
gênica em grande escala.<br />
É claro que o seqüenciamento <strong>do</strong><br />
Figura 1.<br />
Utilização de bibliotecas de cDNA,<br />
produtos de PCR ou oligonucleotídeos<br />
na confecção <strong>do</strong>s DNA-arrays<br />
e suas alternativas de análise<br />
DNA é e será o “méto<strong>do</strong> final” para a<br />
caracterização da estrutura gênica. Com<br />
ele podemos deduzir a seqüência <strong>do</strong>s<br />
resíduos de aminoáci<strong>do</strong>s da proteína<br />
mesmo sem a termos isola<strong>do</strong>.<br />
Mas fica claro que o caminho mais<br />
rápi<strong>do</strong> e lógico para identificarmos os<br />
genes implica<strong>do</strong>s nos fenômenos biológicos<br />
normais e patológicos está sen<strong>do</strong><br />
o uso <strong>do</strong>s DNA-arrays.<br />
O poder <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s que também<br />
estão sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>s de assinaturas<br />
de hibridação se deve ao fato de que<br />
milhares de níveis de expressão podem<br />
ser mensura<strong>do</strong>s num único experimento.<br />
Brevemente, uma sonda complexa é<br />
hibridada com um array consistin<strong>do</strong> de<br />
muitos “alvos de DNA”, cada um representan<strong>do</strong><br />
um gene em particular. Seguiremos<br />
a definição a<strong>do</strong>tada por Jordan<br />
(1998), onde o DNA imobiliza<strong>do</strong> é considera<strong>do</strong><br />
como alvo.<br />
Os DNA alvos podem ser tanto colônias<br />
de bactérias fixadas em membranas,<br />
produtos PCR de clones de cDNA ou<br />
oligonucleotídeos sintéticos desenha<strong>do</strong>s<br />
para ensaiar um gene em particular.<br />
O ponto importante é que a combinação<br />
de uma sonda complexa conten<strong>do</strong><br />
muitas espécies de RNAs mensageiros<br />
com um grande arranjo (array) de<br />
alvos, o que permite a coleção de um<br />
grande volume de informações<br />
em paralelo.<br />
Nesse ponto, temos<br />
que salientar que as diferenças<br />
entre esse tipo<br />
de hibridação com as<br />
clássicas hibridações<br />
Southern- e northernblot.<br />
Nestas últimas, trabalhamos<br />
com um excesso<br />
de sonda, o DNA<br />
alvo é hibrida<strong>do</strong> até a<br />
saturação, no final da<br />
incubação.<br />
Nos experimentos de<br />
medidas de expressão<br />
gênica, entretanto, cada<br />
seqüência individual na<br />
sonda complexa está<br />
presente em pequenas<br />
quantidades em relação<br />
ao(s) seu(s) alvo(s) no<br />
array.<br />
Determinações realizadas pelo grupo<br />
de um <strong>do</strong>s autores (B. Jordan, ver<br />
Nguyen et al., 1995) para esses arrays<br />
indicaram uma proporção de 30 ng de<br />
inserto de cDNA de uma colônia de E.<br />
coli crescida sobre a membrana de<br />
nylon para menos de 0,1 ng de RNA<br />
mensageiro (cDNA).<br />
Nessas condições, a cinética de hibridação<br />
é linear e a quantidade da<br />
sonda hibridada a um da<strong>do</strong> alvo será<br />
proporcional à abundância da seqüência<br />
correspondente na sonda complexa<br />
e, portanto, ao nível de expressão <strong>do</strong><br />
gene na célula ou teci<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual a sonda<br />
foi preparada.<br />
Embora o princípio <strong>do</strong> uso de DNAarrays<br />
tenha si<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> tão ce<strong>do</strong><br />
como, em 1991 (Lennon & Lehrach,<br />
1991), somente quatro anos após é que<br />
apareceram os primeiros trabalhos mostran<strong>do</strong><br />
a possibilidade de quantificação<br />
em DNA-arrays (Nguyen et al., 1995;<br />
Zhao et al., 1995; Pietu et al., 1996).<br />
A aquisição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong> sondas<br />
radioativas ou fluorescentes envolve<br />
outras necessidades como algoritmos<br />
para detecção <strong>do</strong>s pontos (spots de hibridação),<br />
subtração <strong>do</strong> background, atribuição<br />
<strong>do</strong>s sinais às entidades corretas<br />
(Granjeaud et al., 1996) e, geralmente,<br />
procedimentos corretos para o manuseio<br />
de milhares de da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s em<br />
cada experimento individual.<br />
Os requerimentos para um sistema<br />
ideal são, principalmente, a habilidade<br />
de quantificar níveis de expressão abaixo<br />
<strong>do</strong> nível de uma molécula por célula<br />
(1/300.000); dar uma resposta linear<br />
dentro da faixa de abundância (1/300.000<br />
a 1/100); capacidade de mensuração de<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 35
muitos alvos ao mesmo tempo,<br />
idealmente o complemento total<br />
<strong>do</strong>s 100.000 genes humanos<br />
e o uso de pequenas quantidades<br />
de material de partida para<br />
a sonda, já que os interesses<br />
envolvem o estu<strong>do</strong> de populações<br />
de células difíceis de coletar<br />
e também de biópsias<br />
clínicas.<br />
Tu<strong>do</strong> isso deve ser consegui<strong>do</strong><br />
com uma reprodutibilidade<br />
aceitável, pois uma diferença<br />
de um fator de 2 entre<br />
duas assinaturas de hibridação<br />
pode ser altamente significativo.<br />
É claro que a aparelhagem<br />
deve ser compacta, com alta<br />
performance e fácil de usar.<br />
Nessas aplicações, clones<br />
de cDNA (ou produtos PCR)<br />
são arranja<strong>do</strong>s em filtros de<br />
nylon com auxílio de um robô<br />
(figura 2); as sondas complexas<br />
são marcadas com fósforo<br />
radioativo ( 32 P ou 33 P) e, então,<br />
hibridadas com os filtros.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s são adquiri<strong>do</strong>s<br />
com auxílio de sistemas de<br />
placas de imagens (phosphor<br />
imagers).<br />
O uso de sondas fluorescentes,<br />
que permitem a miniaturização<br />
devi<strong>do</strong> à sua muito boa resolução,<br />
iniciou-se em 1995 (Schena, 1995)<br />
e foi posteriormente desenvolvidas a<br />
ponto de padronizarem os micro-arrays<br />
conten<strong>do</strong> vários milhares de amostras de<br />
DNA em superfícies de um centímetro<br />
quadra<strong>do</strong>, os quais têm si<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>s<br />
por laboratórios acadêmicos e firmas<br />
(figura 3).<br />
Também desenvolveram os oligonucleotide-chips,<br />
sen<strong>do</strong> o setor priva<strong>do</strong><br />
norte americano o principal produtor.<br />
Tais chips contém 64.000 diferentes<br />
oligonucleotídeos sintetiza<strong>do</strong>s<br />
numa superfície de <strong>do</strong>is<br />
centímetros quadra<strong>do</strong>s (Chee<br />
et al., 1996).<br />
O DNA-chip resultante é<br />
então usa<strong>do</strong> para aplicações<br />
tipo “quase-seqüenciamento”,<br />
como, por exemplo, a detecção<br />
de mutações ao longo <strong>do</strong> gene<br />
p53.<br />
Embora originariamente<br />
projeta<strong>do</strong> para esse fim, os DNAchips<br />
podem também ser aplica<strong>do</strong>s<br />
aos estu<strong>do</strong>s de medidas de expressão<br />
gênica (Lockhart et al., 1996).<br />
Devi<strong>do</strong> ao enorme potencial de miniaturização,<br />
o DNA-chip poderá, a longo<br />
prazo, representar a principal via para<br />
Figura 2.<br />
Utilização <strong>do</strong>s macro-arrays e sondas<br />
complexas de cDNA radioativas<br />
na identificação de genes exclusivamente<br />
expressos numa dada linhagem<br />
tumoral<br />
medidas sistemáticas de expressão gênica.<br />
Entretanto, as membranas de nylon<br />
de alta densidade (membranas HD) são<br />
Sites na Internet sobre DNA-arrays e expressão<br />
gênica:<br />
http://tagc.univ-mrs.fr/<br />
www.ncbi.nlm.nih.gov/dbEST/index.html<br />
www-bio.llnl.gov/bbrp/image/image.html<br />
www.clontech.com/clontech/Catalog/Hybridization/Atlas.html<br />
www.genome-systems.com/GDA/<br />
www.synteni.com<br />
http://cmgm.Stanford.EDU/pbrown/<br />
a opção mais razoável atualmente para<br />
os estu<strong>do</strong>s de expressão gênica. As<br />
colônias de E.coli são crescidas sobre as<br />
membranas que são então lisadas e<br />
fixadas por méto<strong>do</strong>s usuais.<br />
Alternativamente, DNA<br />
obti<strong>do</strong> por PCR a partir desses<br />
clones também pode ser fixa<strong>do</strong><br />
nas membranas; isso pode<br />
contornar o problema de crescimento<br />
desigual das colônias<br />
de bactérias. Os produtos<br />
PCR podem ser aplica<strong>do</strong>s às<br />
membranas como são, só necessitan<strong>do</strong><br />
de ser <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>s e<br />
diluí<strong>do</strong>s de maneira uniforme<br />
antes de ser aplica<strong>do</strong>s. Mas<br />
realizar milhares de PCRs e<br />
depois <strong>do</strong>sar cada uma das<br />
reações não é tarefa fácil é<br />
muito demorada.<br />
Por isso é que o crescimento<br />
de colônias bacterianas<br />
sobre as membranas ainda<br />
é a melhor opção.<br />
Quanto às sondas complexas<br />
de cDNA, estas são<br />
preparadas a partir <strong>do</strong>s RNAs<br />
mensageiros (RNA poli A+)<br />
ou a partir de RNA total por<br />
transcrição reversa e marcação<br />
radioativa simultânea <strong>do</strong>s<br />
cDNAs resultantes (Bernard<br />
et al., 1996). A marcação radioativa<br />
é feita com 32 P ou,<br />
preferencialmente, com 33 P,<br />
que permite maior resolução<br />
quan<strong>do</strong> se trabalha com membranas<br />
HD.<br />
A aquisição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos<br />
das hibridações é obtida com as imaging<br />
plates de aparelhos leitores de fósforo<br />
(phosphor imagers). As imaging plates<br />
associadas com scanners a laser proporcionam<br />
um formato conveniente, já que<br />
muitas membranas podem ser simultaneamente<br />
expostas e um scanning demora<br />
em média cinco minutos.<br />
A imagem da hibridação, uma vez<br />
adquirida, é salva como arquivo de<br />
computa<strong>do</strong>r e pode ser quantificada,<br />
isto é, os spots de<br />
hibridação são defini<strong>do</strong>s assim<br />
como o background e<br />
valores numéricos são atribuí<strong>do</strong>s<br />
a cada spot. Agora cada<br />
valor é associa<strong>do</strong> ao clone<br />
correspondente para análises<br />
posteriores.<br />
A sensibilidade atual das<br />
membranas HD está na faixa<br />
de 1/10.000, isto é, os níveis<br />
de expressão podem ser quantifica<strong>do</strong>s<br />
ao que corresponde<br />
a espécies de RNA presentes nessa proporção<br />
em relação à população total de<br />
RNAs mensageiros.<br />
As sondas são preparadas geralmente<br />
a partir de um a alguns microgramas<br />
36 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
de RNA poli A+, ou a partir<br />
de 25 microgramas de RNA<br />
total para uso em macroarrays<br />
(membranas HD de 8<br />
x 12 cm) ou 5 microgramas<br />
de RNA total para uso em<br />
micro-arrays (1 cm 2 ).<br />
Esse “screening diferencial<br />
quantitativo” tem si<strong>do</strong><br />
aplica<strong>do</strong> na procura de “novos”<br />
genes diferencialmente<br />
expressos em células cancerosas<br />
e em teci<strong>do</strong>s normais<br />
(Zhao et al., 1995) para estudar<br />
genes especificamente<br />
expressos no músculo (Pietu<br />
et al., 1996) e para estu<strong>do</strong>s<br />
sobre a maturação <strong>do</strong> timo<br />
<strong>do</strong> camun<strong>do</strong>ngo (Rocha et<br />
al., 1997).<br />
Nosso Grupo de Imunogenética<br />
Molecular situa<strong>do</strong><br />
no Departamento de Genética<br />
da Faculdade de Medicina<br />
de Ribeirão Preto, USP, trabalha<br />
em colaboração com a<br />
Equipe TAGC (Technologies<br />
Avancées pour le Génome et<br />
la Clinique) no Centre d’Immunologie<br />
de Marseille-Luminy (Marseille, França),<br />
por intermédio <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> INSERM-<br />
FAPESP. Esse acor<strong>do</strong> prevê a ida de<br />
pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros para a Equipe<br />
TAGC e a vinda <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res franceses<br />
para o nosso laboratório.<br />
Estamos trabalhan<strong>do</strong> com análise da<br />
expressão gênica em larga escala durante<br />
o desenvolvimento <strong>do</strong> timo <strong>do</strong> camun<strong>do</strong>ngo,<br />
com o intuito de descobrirmos<br />
“novos” genes implica<strong>do</strong>s na maturação<br />
<strong>do</strong>s linfócitos T e na recombinação<br />
V(D)J <strong>do</strong>s genes de receptores de antígenos<br />
(TCR) (Passos et al., 1999).<br />
Essa tecnologia tenderá a tornar o<br />
processo muito mais prático quan<strong>do</strong><br />
dispusermos de toda a expressão de<br />
genomas (o transcriptoma) numa só<br />
membrana, provavelmente isso acontecerá<br />
com os micro-arrays e DNA-chips e<br />
detecção por fluorescência.<br />
O que, há <strong>do</strong>is anos, ainda era um<br />
ponto de “estrangulamento” nessa tecnologia,<br />
hoje, é realidade, ou seja, já<br />
encontramos no merca<strong>do</strong> to<strong>do</strong> um conjunto<br />
de aparelhos, que vão desde o<br />
robô para repicar os clones nas placas de<br />
microtitulação até a preparação <strong>do</strong>s micro-arrays<br />
acopla<strong>do</strong>s a um sistema para<br />
hibridação e a um scanning que identifica<br />
e quantifica os níveis de hibridação<br />
com softwares dedica<strong>do</strong>s.<br />
Em resumo, os micro-arrays são definitivamente<br />
a etapa lógica nos estu<strong>do</strong>s<br />
de expressão gênica em larga escala,<br />
Figura 3.<br />
Utilização <strong>do</strong>s DNA-chips na identificação<br />
de genes preferencialmente<br />
expressos pela levedura crescida em<br />
meios de cultura de diferentes composições<br />
embora estejam rapidamente sen<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>s<br />
pelos DNA-chips que foram<br />
originariamente desenvolvi<strong>do</strong>s para um<br />
propósito diferente.<br />
As realizações que apresentamos revelam<br />
o imenso potencial <strong>do</strong>s DNAarrays<br />
e o futuro promete a essa tecnologia<br />
uma revolução comparável àquela<br />
que ocorreu com o advento da reação de<br />
polimerização em cadeia (PCR).<br />
Enfim, a padronização de DNA-chips<br />
para explorar n genes em n situações<br />
abre um futuro de combinações muito<br />
mais sofisticadas, <strong>do</strong> tipo lab on a chip.<br />
No momento em que as necessidades<br />
<strong>do</strong> seqüenciamento massivo de genomas<br />
orientou a biologia em direção<br />
aos grandes equipamentos, no modelo<br />
da física de partículas, vemos o nascimento<br />
de uma solução meto<strong>do</strong>lógica<br />
proporcionada por uma ferramenta que<br />
cabe na palma de nossa mão!<br />
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Agradecimentos:<br />
À Fundação de Amparo à Pesquisa<br />
<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo (FAPESP) e ao<br />
Institut National de la Santé et de la<br />
Recherche Médicale (INSERM, França)<br />
por possibilitar o trabalho em colaboração<br />
entre nossas equipes (Proc. No. 98/<br />
09789-4).<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 37
INTERAÇÃO<br />
PESQUISA<br />
PLANTA-INSETO<br />
Adaptação <strong>do</strong>s insetos aos inibi<strong>do</strong>res de proteinases produzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />
Fotos cedidas pelos autores<br />
Marcio Castro Silva-Filho<br />
Prof. Dr. da Escola Superior de Agricultura “Luiz de<br />
Queiroz” (ESALQ/USP)<br />
Departamento de Genética<br />
Laboratório de Biologia Molecular de Plantas<br />
mdcsilva@carpa.ciagri.usp.br<br />
A<br />
B<br />
C<br />
D<br />
Maria Cristina Falco<br />
Pós-Doc. <strong>do</strong> Departamento de Genética<br />
da ESALQ/USP<br />
mcfalco@carpa.ciagri.usp.br<br />
Figura 1. Pragas de importância econômica. A) Lagarta da maçã <strong>do</strong> algo<strong>do</strong>eiro<br />
(Heliothis virescens). B) Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). C)<br />
Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis). D) Lagarta <strong>do</strong> algo<strong>do</strong>eiro (Alabama<br />
argillacea). Fotografias cedidas por Heral<strong>do</strong> Negri de Oliveira (Depto de<br />
Entomologia ESALQ/USP)<br />
co-evolução de inibi<strong>do</strong>res<br />
de proteinases (IPs) de<br />
plantas e proteinases de<br />
insetos fornece um interessante<br />
e novo paradigma<br />
para pesquisas ecológicas, fisiológicas<br />
e bioquímicas. As plantas parecem<br />
ter desenvolvi<strong>do</strong> IPs com extraordinárias<br />
propriedades contra proteinases<br />
de insetos. Eles são extremamente resistentes<br />
à proteólise e permanecem<br />
ativos sob diversos pHs intestinais<br />
(Christeller et al., 1994), além de ser<br />
identifica<strong>do</strong>s como inibi<strong>do</strong>res contra<br />
quase todas as classes de proteinases.<br />
Os IPs tendem a ser sensivelmente<br />
amplos em seus campos de ação, e há<br />
indicações que eles têm propriedades<br />
parecidas com a <strong>do</strong>s anticorpos para<br />
precipitar proteinases intestinais, retiran<strong>do</strong>-as<br />
da solução. Por outro la<strong>do</strong>, as<br />
pragas conhecidas apresentam diversas<br />
formas de evitar os efeitos negativos<br />
dessas proteínas de defesa presentes<br />
nas plantas hospedeiras. Estas incluem<br />
o uso de proteinases para as<br />
quais as plantas hospedeiras não tenham<br />
inibi<strong>do</strong>res, a degradação proteolítica<br />
de inibi<strong>do</strong>res, e mutações adquiridas<br />
que resultam em proteinases<br />
menos sensíveis aos IPs sem a perda da<br />
atividade proteolítica. Além disso, o<br />
monitoramento de mecanismos de atividade<br />
proteolítica, aparentemente leva<br />
para uma rápida resposta aos altos<br />
níveis de IPs na dieta. A expressão de<br />
proteinases insensíveis aos IPs parece<br />
ser flexivelmente regulada para compensar<br />
as proteinases inibidas.<br />
Controle de Insetos<br />
Estima-se que as perdas provocadas<br />
por pragas e <strong>do</strong>enças na agricultura<br />
mundial atinjam 37% da produção, <strong>do</strong>s<br />
quais cerca de 13% devi<strong>do</strong> a insetos<br />
(Fig. 1). Atualmente os méto<strong>do</strong>s de<br />
controle concentram-se basicamente<br />
38 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
Tabela 1. Propriedades cinéticas e peso molecular de diferentes atividades<br />
trípticas presentes em lagartas alimentadas com dieta artificial e à base de folhas<br />
Enzima<br />
T1<br />
T2<br />
T3<br />
T4<br />
Dieta à base de folhas a<br />
Km (mM)<br />
0,27<br />
0,35<br />
2,4<br />
15<br />
Peso Molecular (kDa)<br />
70<br />
67<br />
29<br />
17<br />
Km (mM)<br />
-<br />
-<br />
2,9<br />
*<br />
Dieta artificial<br />
Peso Molecular (kDa)<br />
-<br />
-<br />
29<br />
17<br />
a<br />
Folhas de fumo transgênico e não transgênico apresentaram os mesmos resulta<strong>do</strong>s<br />
* Atividade não detectada<br />
na utilização de agroquímicos dentro<br />
de um manejo integra<strong>do</strong> de pragas.<br />
Entretanto, há uma grande demanda<br />
por parte da sociedade pelo desenvolvimento<br />
de uma agricultura limpa, que<br />
diminua o uso de energia e produtos<br />
químicos, que não deixe resíduos indesejáveis<br />
no meio ambiente e nos alimentos,<br />
além de reduzir as contaminações<br />
aos agricultores. Entre as alternativas<br />
para contornar estes problemas estão<br />
o controle biológico e o uso de<br />
variedades resistentes.<br />
Com o desenvolvimento<br />
das técnicas de<br />
biologia molecular que<br />
permitem a manipulação<br />
de genes de interesse,<br />
aliadas às meto<strong>do</strong>logias<br />
de transformação<br />
genética de<br />
plantas, uma nova e<br />
interessante abordagem<br />
no controle de<br />
insetos vem atrain<strong>do</strong> a<br />
atenção de pesquisa<strong>do</strong>res<br />
em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />
Genes que codificam<br />
para proteínas<br />
com atividade inseticida<br />
tornaram-se uma<br />
arma bastante poderosa<br />
e com um amplo<br />
potencial de utilização.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>s<br />
envolven<strong>do</strong> a interação<br />
entre as plantas<br />
hospedeiras com seus insetos, notadamente<br />
as pragas, não se desenvolveram<br />
com a mesma intensidade. Um <strong>do</strong>s<br />
sistemas mais fascinantes envolven<strong>do</strong><br />
esse tipo de interação é basea<strong>do</strong> nos<br />
estu<strong>do</strong>s com inibi<strong>do</strong>res de proteinases<br />
produzi<strong>do</strong>s pelas plantas e insetos herbívoros.<br />
Inibi<strong>do</strong>res de Proteinases de<br />
Plantas Contra Insetos Herbívoros<br />
Sabe-se há mais de 60 anos que as<br />
plantas contêm peptídeos que atuam<br />
como inibi<strong>do</strong>res de proteinases (IPs).<br />
Este grupo de proteínas está amplamente<br />
distribuí<strong>do</strong> no reino vegetal e faz<br />
parte de um mecanismo de defesa das<br />
plantas contra o ataque de pragas e<br />
patógenos (Richardson, 1991). As proteínas<br />
de defesa podem ser produzidas<br />
constitutivamente em teci<strong>do</strong>s que são<br />
particularmente vulneráveis ao ataque<br />
de insetos, como as sementes, ou podem<br />
ser induzi<strong>do</strong>s por danos mecânicos,<br />
como ocorre quan<strong>do</strong> um inseto se<br />
alimenta de uma folha (Jouanin et al.,<br />
Figura 2-<br />
Esquema representativo da ligação<br />
de uma serino-proteinase (tripsina)<br />
ao inibi<strong>do</strong>r correspondente<br />
(Adapta<strong>do</strong> de Bode & Huber, 1992)<br />
1998). Entretanto, muitas delas são tóxicas<br />
também a mamíferos, o que indica<br />
que devam ser cautelosamente estudadas<br />
para uso como mecanismo de proteção<br />
de plantas a insetos.<br />
De acor<strong>do</strong> com sua especificidade,<br />
as proteinases podem ser divididas em<br />
quatro classes: as serino-, cisteíno-, metalo-<br />
e aspartil-proteinases. Os IPs mais<br />
abundantes e estuda<strong>do</strong>s são aqueles<br />
capazes de inibir as serino-proteinases,<br />
grupo das tripsinas e quimotripsinas,<br />
enzimas encontradas majoritariamente<br />
em insetos da ordem Lepi<strong>do</strong>ptera (Terra<br />
& Ferreira, 1994). Os inibi<strong>do</strong>res de<br />
serino- e cisteíno-proteinases são amplamente<br />
distribuí<strong>do</strong>s em sementes e<br />
teci<strong>do</strong>s de reserva de plantas. Portanto,<br />
além de protegerem as plantas contra o<br />
ataque de insetos, os IPs são utiliza<strong>do</strong>s<br />
como proteínas de reserva em algumas<br />
sementes.<br />
O mecanismo de ação de um IP<br />
baseia-se na inibição competitiva de<br />
uma proteinase, via bloqueio de sua<br />
atividade proteolítica (Fig. 2). A ingestão<br />
de IPs pelos insetos herbívoros<br />
interfere no processo de degradação de<br />
proteínas no intestino médio. Assim<br />
sen<strong>do</strong>, os inibi<strong>do</strong>res são considera<strong>do</strong>s<br />
agentes anti metabólicos, pois<br />
levam a uma deficiência protéica<br />
<strong>do</strong>s insetos. A atividade<br />
antibiótica <strong>do</strong>s IPs é atribuída<br />
à sua interferência na digestão<br />
protéica que diminui a<br />
disponibilidade de aminoáci<strong>do</strong>s,<br />
prejudican<strong>do</strong> a síntese<br />
de proteínas necessárias ao<br />
crescimento, desenvolvimento<br />
e reprodução. Uma outra<br />
hipótese é que os inibi<strong>do</strong>res<br />
afetem o desenvolvimento de<br />
forma indireta, via um mecanismo<br />
de “feedback”, que<br />
levaria a um aumento da produção<br />
de proteinases digestivas<br />
para compensar os baixos<br />
níveis de aminoáci<strong>do</strong>s<br />
disponíveis. Os aminoáci<strong>do</strong>s<br />
seriam desloca<strong>do</strong>s para a síntese<br />
de proteinases em detrimento<br />
de outras proteínas<br />
essenciais. Entretanto, investigações<br />
mais recentes mostraram que a<br />
deficiência de aminoáci<strong>do</strong>s essenciais<br />
resultantes da hiperprodução de proteinases<br />
em lagartas de Spo<strong>do</strong>ptera exigua<br />
e Heliothis zea deveu-se à redução da<br />
atividade proteolítica intestinal (Broadway,<br />
1995).<br />
Uma vez estabeleci<strong>do</strong> que os IPs são<br />
produzi<strong>do</strong>s pelas plantas em resposta<br />
ao ataque de pragas, suas propriedades<br />
antimetabólicas foram testadas contra<br />
diversos insetos. Resulta<strong>do</strong>s in vitro ba-<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 39
Figura 3.<br />
Separação das tripsinas (n)e quimotripsinas<br />
(♦) presentes em extrato<br />
intestinal de Spo<strong>do</strong>ptera frugiperda<br />
alimentadas com dieta artificial<br />
(A) e com dieta artificial suplementada<br />
com 0,5 % (p/v) de IPs extraí<strong>do</strong>s<br />
de sementes de soja (B)<br />
sea<strong>do</strong>s na combinação de extratos<br />
intestinais com diferentes inibi<strong>do</strong>res,<br />
mostraram que os IPs<br />
foram efetivos na inibição das<br />
proteinases digestivas. Além disso,<br />
a incorporação de IPs em<br />
dietas artificiais mostrou-se eficiente<br />
em vários estu<strong>do</strong>s. Desta<br />
forma, foram obtidas plantas<br />
transgênicas resistentes a pragas<br />
via expressão de genes de IPs<br />
(Hilder et al., 1987; Duan et al.,<br />
1996; Gatehouse et al., 1997).<br />
Paralelamente aos resulta<strong>do</strong>s<br />
positivos com as plantas transgênicas,<br />
um número crescente<br />
de trabalhos mostrou que os<br />
insetos eram capazes de adaptar-se<br />
à presença <strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res<br />
produzi<strong>do</strong>s pelas plantas (para<br />
uma revisão, veja Jongsma &<br />
Bolter, 1997).<br />
Mecanismos de Adaptação<br />
<strong>do</strong>s Insetos aos Inibi<strong>do</strong>res<br />
de Proteinase<br />
Em um trabalho pioneiro,<br />
Jongsma e colabora<strong>do</strong>res (1995a)<br />
observaram que lagartas de Spo<strong>do</strong>ptera<br />
exigua adaptaram-se à presença de<br />
IPs expressos em plantas transgênicas<br />
via indução de proteinases insensíveis<br />
ao inibi<strong>do</strong>r. A partir de então, estas<br />
observações foram extendidas à uma<br />
ampla gama de insetos-praga. No entanto,<br />
um outro mecanismo adaptativo<br />
basea<strong>do</strong> na síntese de proteinases capazes<br />
de inativar, via degradação proteolítica,<br />
os IPs produzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />
foi descrito por outros grupos (Giri<br />
et al., 1998; Girard et al., 1998).<br />
O Laboratório de Biologia Molecular<br />
de Plantas <strong>do</strong> Departamento de<br />
Genética da ESALQ/USP iniciou, recentemente,<br />
estu<strong>do</strong>s envolven<strong>do</strong> o uso<br />
de IPs visan<strong>do</strong> a obtenção de resistência<br />
a pragas de importância econômica.<br />
Os trabalhos também tiveram como<br />
objetivo o estu<strong>do</strong> a nível molecular da<br />
interação entre plantas de interesse<br />
econômico e insetos herbívoros. O<br />
primeiro trabalho avaliou os efeitos da<br />
presença <strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>r de proteinase <strong>do</strong><br />
tipo 2 de batata (PIN-2) em plantas<br />
transgênicas de tabaco, sobre o desenvolvimento,<br />
metabolismo e proteinases<br />
intestinais da lagarta da maçã <strong>do</strong><br />
algo<strong>do</strong>eiro, Heliothis virescens (Brito et<br />
al., submeti<strong>do</strong>). Os ensaios biológicos,<br />
realiza<strong>do</strong>s com apoio <strong>do</strong> Departamento<br />
de Entomologia da ESALQ/USP mostraram<br />
não haver diferenças significativas<br />
quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com o tratamento<br />
à base de plantas não transformadas.<br />
Estas observações levaram à<br />
hipótese de uma adaptação deste inseto<br />
ao inibi<strong>do</strong>r. A fim de estudar o<br />
possível mecanismo adaptativo das<br />
lagartas, foram caracterizadas as proteinases<br />
digestivas <strong>do</strong>s insetos, com<br />
apoio <strong>do</strong> Laboratório de Bioquímica<br />
de Insetos <strong>do</strong> Departamento de Bioquímica<br />
<strong>do</strong> IQ/USP. Assim, as lagartas<br />
foram submetidas a três dietas distintas:<br />
1) à base de folhas de plantas<br />
transgênicas de fumo, 2) folhas de<br />
plantas de fumo não transforma<strong>do</strong> e,<br />
3) dieta artificial sem a presença de IPs.<br />
A combinação de técnicas de separação<br />
de proteínas e estu<strong>do</strong>s cinéticos,<br />
revelaram a presença de duas tripsinas<br />
e uma quimotripsina no tratamentos à<br />
base de dieta sem inibi<strong>do</strong>r. No entanto,<br />
em lagartas alimentadas à base de<br />
folhas transgênicas ou não, foram detectadas<br />
quatro atividades trípticas,<br />
sen<strong>do</strong> que duas eram totalmente novas<br />
(Tab. 1). Uma única atividade<br />
de quimotripsina foi observada.<br />
Uma observação interessante foi<br />
que as novas tripsinas apresentavam<br />
pesos moleculares bem superiores<br />
aos demais e maior afinidade<br />
pelo substrato. A filtração<br />
em gel na presença ou ausência<br />
de SDS, revelou que as tripsinas<br />
de alto peso molecular seriam<br />
originadas a partir das tripsinas de<br />
menor peso recém sintetizadas,<br />
via um processo de oligomerização.<br />
Portanto, trata-se de mais um<br />
novo mecanismo de adaptação<br />
<strong>do</strong>s insetos aos IPs produzi<strong>do</strong>s<br />
pelas plantas.<br />
Novas evidências de adaptação<br />
<strong>do</strong>s insetos à presença de<br />
inibi<strong>do</strong>res de proteinases foram<br />
verificadas em um estu<strong>do</strong> envolven<strong>do</strong><br />
um outro inseto polífago<br />
(múltiplos hospedeiros), a lagarta<br />
<strong>do</strong> cartucho <strong>do</strong> milho, Spo<strong>do</strong>ptera<br />
frugiperda, e inibi<strong>do</strong>res de serinoproteinases<br />
extraí<strong>do</strong>s de soja.<br />
Os inibi<strong>do</strong>res de proteinase de<br />
soja “Bowman-Birk” e “Kunitz” foram<br />
incorpora<strong>do</strong>s em dietas artificiais que<br />
foram utilizadas na alimentação das<br />
lagartas desde as primeiras fases <strong>do</strong><br />
desenvolvimento. Embora os ensaios<br />
de inibição in vitro tenham mostra<strong>do</strong><br />
uma alta eficiência contra as proteinases<br />
da lagarta, os ensaios biológicos<br />
mostraram que não houve alterações<br />
significativas no desenvolvimento e<br />
metabolismo de lagartas alimentadas<br />
com dieta artificial conten<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>res<br />
extraí<strong>do</strong>s da soja. Esse fato levou à<br />
investigação <strong>do</strong> mecanismo responsável<br />
pela adaptação <strong>do</strong>s insetos à presença<br />
<strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res. Para isso, foram<br />
analisa<strong>do</strong>s extratos intestinais das lagartas<br />
alimentadas com dietas conten<strong>do</strong><br />
os inibi<strong>do</strong>res. O mecanismo adaptativo<br />
desenvolvi<strong>do</strong> pelas lagartas de S.<br />
frugiperda estava relaciona<strong>do</strong> à alteração<br />
na expressão das serino-proteinases.<br />
Os resulta<strong>do</strong>s mostraram o aparecimento<br />
de uma nova atividade tríptica<br />
e um aumento significativo na atividade<br />
quimotríptica <strong>do</strong> inseto (Fig. 3). A<br />
polifagia <strong>do</strong> inseto pode ter facilita<strong>do</strong><br />
o desenvolvimento de proteinases que<br />
tenham reduzida afinidade aos IPs da<br />
soja. Como a eficiência de um inibi<strong>do</strong>r<br />
específico é dependente da compatibilidade<br />
estrutural <strong>do</strong> seu sítio reativo<br />
com o sítio ativo da proteinase, é<br />
provável que as enzimas digestivas<br />
tenham sofri<strong>do</strong> alterações nos amino-<br />
40 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
áci<strong>do</strong>s que circundam o sítio de ligação,<br />
resultan<strong>do</strong> em uma fraca interação com<br />
os inibi<strong>do</strong>res (Paulillo et al., no prelo).<br />
Perspectivas na Utilização de<br />
Inibi<strong>do</strong>res de Proteinases no<br />
Controle de Insetos<br />
Ao se considerar a possibilidade de<br />
produzir plantas transgênicas expressan<strong>do</strong><br />
IPs, algumas considerações se<br />
fazem necessárias a fim de aumentar as<br />
chances de sucesso. Entre estas, incluem-se<br />
os níveis de expressão <strong>do</strong> IP, sua<br />
constante de inibição, a estabilidade <strong>do</strong><br />
IP no intestino <strong>do</strong> inseto e a habilidade<br />
de adaptação <strong>do</strong> inseto aos inibi<strong>do</strong>res<br />
via alteração da expressão gênica. Fatores<br />
ambientais secundários também podem<br />
interferir na severidade <strong>do</strong>s sintomas.<br />
Como os IPs agem causan<strong>do</strong> uma<br />
deficiência na disponibilidade de aminoáci<strong>do</strong>s,<br />
a digestibilidade <strong>do</strong> alimento,<br />
a concentração e a qualidade protéica<br />
da dieta serão determinantes<br />
para maximizar os efeitos <strong>do</strong>s IPs<br />
sobre os insetos. Além disso, inúmeros<br />
compostos fitoquímicos<br />
presentes ou induzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />
também apresentam potencial<br />
de alterar a toxicidade <strong>do</strong>s IPs<br />
sobre os insetos hospedeiros (Broadway<br />
& Duffey, 1988).<br />
A pressão de seleção sobre os<br />
insetos para desenvolver proteinases<br />
que são insensíveis aos IPs<br />
de plantas hospedeiras são consideráveis<br />
e a evolução de insetos<br />
em muitas gerações por ano oferece<br />
uma vantagem significativa sobre<br />
as plantas. Mas, além das altas<br />
concentrações de inibi<strong>do</strong>res, as<br />
plantas podem encontrar alternativas<br />
de melhorar a eficácia de<br />
seus inibi<strong>do</strong>res envolven<strong>do</strong> multi<strong>do</strong>mínios<br />
ou variantes multiméricos.<br />
Isso é antes regra que exceção<br />
entre os IPs vegetais, e uma ampla<br />
gama de combinações é observada.<br />
Além de serem encontra<strong>do</strong>s<br />
inibi<strong>do</strong>res com sítios ativos repeti<strong>do</strong>s,<br />
é comum encontrar inibi<strong>do</strong>res<br />
de serino-proteinases em combinações<br />
com inibi<strong>do</strong>res de cisteíno-,<br />
aspartil-proteinases e amilases<br />
(Richardson, 1991). Isto, por<br />
um la<strong>do</strong>, parece uma elegante<br />
forma de economizar proteínas,<br />
mas o significa<strong>do</strong> desses múltiplos<br />
sítios pode ser muito mais complexo.<br />
Ferreira et al. (1994) têm demonstra<strong>do</strong><br />
que as enzimas digestivas de insetos<br />
ocorrem muitas vezes em formas multiméricas.<br />
Jongsma & Bolter (1997) propõem<br />
que os efeitos da combinação de<br />
inibi<strong>do</strong>res multiméricos com enzimas<br />
multiméricas em quantidades equimolares<br />
devem ser muito similar aos anticorpos<br />
policlonais e antígenos com múltiplos<br />
epitopos.<br />
Os insetos polífagos são um caso<br />
interessante. Ao longo da evolução,<br />
estes insetos desenvolveram a capacidade<br />
de atacar uma grande variedade<br />
de espécies vegetais, incluin<strong>do</strong> mono e<br />
dicotiledôneas. Consequentemente, eles<br />
foram capazes de responder a uma<br />
gama de diferentes inibi<strong>do</strong>res vegetais.<br />
Isso vai de encontro aos resulta<strong>do</strong>s<br />
obti<strong>do</strong>s pelo nosso grupo e descritos<br />
acima. Recentes experimentos com plantas<br />
transgênicas utilizan<strong>do</strong> genes de IPs<br />
de monocotiledôneas expressos em dicotiledôneas<br />
e vice-versa, sugeriram que<br />
aqueles insetos que normalmente se<br />
Figura 4.<br />
A meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> “Phage Display”<br />
(Adapta<strong>do</strong> de Webster, 1996)<br />
alimentam de mono ou dicotiledôneas<br />
são capazes de se adaptar a IPs de<br />
diversos tipos de plantas (Leplé et al.,<br />
1995). Para contornar estes problemas<br />
de adaptação, seria interessante utilizar<br />
IPs de espécies vegetais bastante separadas<br />
evolutivamente daquelas cujos<br />
insetos são preda<strong>do</strong>res. Duan et al.,<br />
(1996) demonstraram que isso é possível<br />
a partir da obtenção de plantas<br />
transgênicas de arroz expressan<strong>do</strong> o<br />
inibi<strong>do</strong>r de proteinase <strong>do</strong> tipo 2 de<br />
batata. Os autores mostraram que as<br />
plantas transgênicas foram protegidas<br />
contra o ataque da praga Sesamia inferens.<br />
Esta possibilidade está sen<strong>do</strong><br />
testada no nosso laboratório com a<br />
broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis)<br />
e os inibi<strong>do</strong>res de proteinases<br />
de soja (Kunitz e Bowman-Birk). Os<br />
resulta<strong>do</strong>s da caracterização das<br />
proteinases das lagartas, segui<strong>do</strong><br />
da realização de ensaios biológicos<br />
com a incorporação <strong>do</strong>s IPs<br />
de soja em dieta artificial, mostraram-se<br />
muito promissores (Patrícia<br />
Pompermayer, comunicação<br />
pessoal). Assim, os genes<br />
que codificam para os IPs da soja<br />
foram clona<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s na<br />
transformação genética da canade-açúcar<br />
(Maria Cristina Falco,<br />
comunicação pessoal).<br />
Uma outra alternativa seria a<br />
geração de novas moléculas de<br />
inibi<strong>do</strong>res de proteinases específicos<br />
contra enzimas de pragas<br />
de importância econômica. Esta<br />
estratégia pode ser testada utilizan<strong>do</strong>-se<br />
IPs engenheira<strong>do</strong>s, com<br />
suas afinidades otimizadas por<br />
modelos computacionais, como<br />
descrito por Urwin et al. (1995),<br />
ou por “phage display”, como<br />
proposto por Jongsma et al.<br />
(1995b). Na meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong><br />
“phage display”, múltiplas sequências<br />
de genes inibi<strong>do</strong>res, que<br />
diferem apenas no sítio da proteína<br />
que interage com a proteinase<br />
<strong>do</strong> inseto são geradas, utilizan<strong>do</strong>-se<br />
a técnica da Reação da<br />
Polimerase em Cadeia -“PCR” e<br />
oligonucleotídeos degenera<strong>do</strong>s.<br />
A biblioteca é clonada em um<br />
fagomídeo ou um vetor M13<br />
fusiona<strong>do</strong> ao gene da capa protéica<br />
- g3 - <strong>do</strong> fago, que expõe as<br />
proteínas em sua superfície. Esses fagos<br />
são seleciona<strong>do</strong>s contra uma proteína<br />
de interesse (proteinase digestiva de D.<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 41
saccharalis, por exemplo), imobilizada<br />
em suporte sóli<strong>do</strong> (uma placa Elisa, p.<br />
ex.). Subseqüentes lavagens eliminam<br />
os fagos sem ou com pouca afinidade.<br />
As partículas <strong>do</strong> fago com alta afinidade<br />
são selecionadas para transformação de<br />
E. coli, fornecen<strong>do</strong> novos genes e codifican<strong>do</strong><br />
inibi<strong>do</strong>res de proteinase mais<br />
específicos (Fig. 4). Essa meto<strong>do</strong>logia<br />
foi utilizada para a família de inibi<strong>do</strong>res<br />
<strong>do</strong> tipo Kunitz, geran<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>res potentes<br />
e específicos contra várias proteinases<br />
<strong>do</strong> tipo serina (Roberts et al.,<br />
1992; Dennis & Lazarus, 1994). Esta<br />
estratégia vem sen<strong>do</strong> explorada em<br />
nosso laboratório com o IP “Bowman-<br />
Birk” de soja, dirigi<strong>do</strong> contra as proteinases<br />
digestivas da broca da cana-deaçúcar,<br />
D. saccharalis (Marcia O. de<br />
Mello, comunicação pessoal).<br />
Provavelmente algum mecanismo<br />
adaptativo ocorrerá, apesar da<br />
utilização desta tecnologia. O que se<br />
procura, na verdade, é que esta adaptação<br />
seja mais lenta, de forma a permitir<br />
um maior tempo de cultivo sem que a<br />
presença <strong>do</strong>s insetos cause danos econômicos<br />
significativos à cultura. A utilização<br />
de vários méto<strong>do</strong>s de controle<br />
dentro <strong>do</strong> manejo integra<strong>do</strong> de pragas,<br />
a diversificação <strong>do</strong> material cultiva<strong>do</strong>,<br />
de forma a diminuir a pressão de seleção<br />
sobre a praga, rotação de culturas e<br />
práticas culturais, retardariam o aparecimento<br />
de insetos resistentes.<br />
A maioria das pesquisas atuais estão<br />
focadas na expressão de inibi<strong>do</strong>res de<br />
proteinases únicos em plantas transgênicas.<br />
O sucesso deve ser mais significativo<br />
quan<strong>do</strong> combinações de IPs cobrirem<br />
o espectro de proteinases intestinais.<br />
Isto tornará mais difícil para o<br />
inseto superar os efeitos <strong>do</strong>s IPs simplesmente<br />
aumentan<strong>do</strong> a expressão de<br />
genes de proteinases insensíveis aos<br />
IPs. Alguns desses genes podem ser<br />
encontra<strong>do</strong>s na natureza, mas a engenharia<br />
genética tem permiti<strong>do</strong> alterá-los<br />
de forma a torná-los mais eficientes.<br />
Na verdade, é necessário compreender<br />
melhor o mo<strong>do</strong> de ação <strong>do</strong>s IPs<br />
sobre os insetos e as formas pelas quais<br />
eles se adaptam. Esta promete ser uma<br />
linha de pesquisa com muito espaço<br />
para crescer nos próximos anos.<br />
Agradecimentos<br />
Agradecemos a colaboração <strong>do</strong>s professores<br />
Walter R. Terra (Depto. de<br />
Bioquímica, IQ/USP) e José Roberto P.<br />
Parra (Depto. de Entomologia, ESALQ/<br />
USP), à FAPESP pelo suporte financeiro,<br />
ao Biólogo Heral<strong>do</strong> Negri de Oliveira<br />
42 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
(Depto. de Entomologia, ESALQ/USP),<br />
pelas fotografias.<br />
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Leplé JC, Bonadé-Bottino M, Augustin<br />
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Richardson MJ (1991) Seed Storage<br />
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Winter J, McCafferty J. Phage Display<br />
of Peptides and Proteins: A Laboratory<br />
Manual. Academic Press, Inc. 344p.
DEKALB<br />
Atenção:<br />
Anúncio Novo em Anexo!<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 43
CONSTRUINDO<br />
PESQUISA<br />
FLORES<br />
Marcelo Carnier Dornelas<br />
phD pela Université de Paris XI (France)<br />
Pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Departamento de Ciências<br />
Florestais da Escola Superior de<br />
Agricultura Luiz de Queiroz - USP<br />
mc<strong>do</strong>rnel@carpa.ciagri.usp.br<br />
O controle molecular da arquitetura floral<br />
Fotos cedidas pelo autor<br />
A uniformidade estrutural<br />
das plantas<br />
Uma idéia unifica<strong>do</strong>ra em biologia<br />
vegetal é que a variedade de formas <strong>do</strong>s<br />
vegetais reflete simplesmente variações<br />
de um plano de desenvolvimento comum.<br />
Diferentes permutações de umas<br />
poucas características-chave <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
vegetal podem gerar um universo<br />
de formas distintas. Provavelmente<br />
não há ilustração melhor deste princípio<br />
<strong>do</strong> que a comparação entre uma flor e um<br />
ramo. A noção de que estas duas estruturas<br />
poderiam ser fundamentalmente<br />
equivalentes foi exemplificada<br />
pela primeira vez pelo<br />
famoso naturalista e poeta Goethe<br />
(o mesmo que escreveu<br />
«Fausto»), em um trata<strong>do</strong> sobre<br />
a metamorfose, há mais de 300<br />
anos. Goethe concluiu que «As<br />
flores que se desenvolvem das<br />
gemas devem ser vistas como<br />
ramos ou plantas inteiras, inseridas<br />
na planta-mãe, como esta<br />
está inserida na terra» (Goethe,<br />
1790). Comparan<strong>do</strong>-se flores e<br />
ramos, quatro detalhes precisam<br />
ser esclareci<strong>do</strong>s. Primeiro,<br />
as diferentes partes de uma flor<br />
(sépalas, pétalas, estames e carpelos)<br />
são os equivalentes de<br />
folhas em um ramo. Segun<strong>do</strong>, os órgãos<br />
de ramos e flores são separa<strong>do</strong>s por<br />
entrenós, mas no caso das flores, estes<br />
são tão curtos que raramente são visíveis.<br />
Terceiro, os órgãos <strong>do</strong>s ramos e das flores<br />
podem ter uma filotaxia distinta, ou seja,<br />
são diferencialmente arranja<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r<br />
de um eixo. Finalmente, o crescimento<br />
indetermina<strong>do</strong> que caracteriza um ramo<br />
é suprimi<strong>do</strong>, no caso de uma flor, tanto<br />
apicalmente, porque uma flor, em geral,<br />
pára de produzir órgãos ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> eixo<br />
central, quanto lateralmente, pois novos<br />
brotos não surgem nas axilas <strong>do</strong>s órgãos<br />
florais, como pode acontecer nas axilas<br />
das folhas <strong>do</strong>s ramos.<br />
Portanto, a comparação entre flores e<br />
ramos aponta quatro variáveis importantes:<br />
a identidade <strong>do</strong>s órgãos produzi<strong>do</strong>s,<br />
o tamanho <strong>do</strong> entrenó, a filotaxia e a<br />
determinação <strong>do</strong> crescimento. Desse<br />
mo<strong>do</strong>, as inúmeras formas e hábitos<br />
visíveis das plantas simplesmente refletem<br />
variações e permutações desses quatro<br />
aspectos fundamentais <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />
Quais os princípios cria<strong>do</strong>res e<br />
regula<strong>do</strong>res desses parâmetros? Eles poderiam<br />
ser manipula<strong>do</strong>s pelo Homem?<br />
Figura 1: A flor de arabidópsis<br />
(Arabi<strong>do</strong>psis thaliana) <strong>do</strong> tipo<br />
selvagem possui 4 sépalas (não<br />
visíveis nesta foto), 4 pétalas brancas,<br />
6 estames e um gineceu composto<br />
por 2 carpelos uni<strong>do</strong>s<br />
O desenvolvimento de ramos e flores<br />
depende <strong>do</strong> comportamento das regiões<br />
de proliferação celular na planta, os meristemas<br />
apicais. Na periferia <strong>do</strong>s meristemas,<br />
grupos de células são arregimenta<strong>do</strong>s<br />
para formar meristemas secundários<br />
ou primórdios de órgãos. A filotaxia<br />
depende <strong>do</strong> padrão preciso em que ocorre<br />
essa repartição. A determinação também<br />
é reflexo desta partição, principalmente<br />
se ela favorece a continuidade <strong>do</strong><br />
meristema ou a formação de primórdios.<br />
A identidade <strong>do</strong>s órgãos forma<strong>do</strong>s depende<br />
das caractísticas <strong>do</strong> desenvolvimento<br />
<strong>do</strong>s primórdios (principalmente<br />
de seu padrão de divisões celulares).<br />
Finalmente, o crescimento da região entre<br />
os mesmos determina o tamanho <strong>do</strong>s<br />
entrenós.<br />
Dessa forma, a grande questão é:<br />
como as células ainda indiferenciadas<br />
«aprendem» suas posições<br />
relativas de tal forma a se diferenciarem<br />
de maneira correta?<br />
Esta pergunta tem preocupa<strong>do</strong>,<br />
há muito tempo, pesquisa<strong>do</strong>res<br />
que estudam a formação de padrões<br />
de desenvolvimento em<br />
diferentes organismos, na tentativa<br />
de compreender como o<br />
comportamento de um grupo<br />
de células é coordena<strong>do</strong>. A formação<br />
de padrões durante o<br />
desenvolvimento tem si<strong>do</strong> mais<br />
intensamente estudada em animais,<br />
particularmente a moscadas-frutas,<br />
<strong>do</strong> gênero Drosophila.<br />
Recentemente, entretanto,<br />
vários grupos trabalhan<strong>do</strong> com<br />
plantas modelo como a boca-de-leão<br />
(Antirrhinum majus) e arabidópsis (Arabi<strong>do</strong>psis<br />
thaliana, Figura 1) usaram da<strong>do</strong>s<br />
genéticos e moleculares para formular<br />
um modelo de um processo forma<strong>do</strong>r<br />
de padrão de desenvolvimento único de<br />
plantas: a especificação <strong>do</strong>s órgãos florais.<br />
O modelo ABC <strong>do</strong><br />
desenvolvimento floral<br />
Embora uma vasta gama de mutações<br />
genéticas possa alterar o processo de<br />
44 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
formação de uma flor, relativamente poucos<br />
genes foram encontra<strong>do</strong>s que estejam<br />
envolvi<strong>do</strong>s com a especificação <strong>do</strong>s<br />
órgãos florais per se. Mutações em tais<br />
genes causam transformações homeóticas<br />
em <strong>do</strong>is verticilos adjacentes da flor.<br />
Os <strong>do</strong>is verticilos mais externos de mutantes<br />
apetala2 (ap2) de arabidópsis, por<br />
exemplo, contêm carpelos e estames no<br />
lugar de sépalas e pétalas, respectivamente.<br />
Mutações nos genes APETALA3<br />
(AP3) ou PISTILLATA (PI) de arabidópsis<br />
causam a substituição de pétalas por<br />
sépalas e de estames por carpelos. Finalmente,<br />
no mutante agamous (ag; Figura<br />
2) de arabidópsis, os <strong>do</strong>is verticilos mais<br />
internos são altera<strong>do</strong>s: estames são transforma<strong>do</strong>s<br />
em pétalas e carpelos em sépalas.<br />
(Coen & Meyerowitz, 1991; Meyerowitz<br />
et al., 1991; Ma, 1998). Em adição ao<br />
controle da identidade <strong>do</strong>s órgãos florais,<br />
o gene AG deve suprimir o crescimento<br />
<strong>do</strong> meristema floral uma vez que os<br />
carpelos estão forma<strong>do</strong>s, pois a mutação<br />
ag tem o efeito adicional de causar a<br />
proliferação indeterminada <strong>do</strong> meristema.<br />
Desta forma, o quarto verticilo de<br />
uma flor ag constitui o primeiro verticilo<br />
de uma nova «flor» mutante, que contém<br />
outras em seu interior. Portanto, o gene<br />
AG também é responsável pelo hábito<br />
determina<strong>do</strong> <strong>do</strong> meristema floral.<br />
As modificações das características<br />
<strong>do</strong>s órgãos florais <strong>do</strong>s mutantes descritos<br />
acima sugerem um modelo combinatorial<br />
simples para a determinação da identidade<br />
destes órgãos (Coen & Meyerwitz,<br />
1991; Figura 3). Segun<strong>do</strong> este modelo, os<br />
genes responsáveis pela identidade estão<br />
ativos em três regiões sobrepostas, cada<br />
uma compreenden<strong>do</strong> <strong>do</strong>is verticilos adjacentes.<br />
Devi<strong>do</strong> à sobreposição das regiões<br />
de expressão de cada gene, uma<br />
combinação única de genes especifica a<br />
identidade de cada verticilo (Figura 3a).<br />
Se a região de atividade B (que requer a<br />
expressão <strong>do</strong>s genes AP3 e PI em arabidópsis)<br />
está ausente, ambos os verticilos<br />
1 e 2 serão especifica<strong>do</strong>s apenas pela<br />
região de atividade A (AP2 em arabidópsis)<br />
e conterão sépalas (Figura 3b). De<br />
maneira similar, nesse caso, os verticilos<br />
3 e 4 serão ambos especifica<strong>do</strong>s pela<br />
região de atividade C (AG em arabidópsis)<br />
e conterão carpelos. Para explicar os<br />
fenótipos <strong>do</strong>s mutantes ap2 e ag, é necessário<br />
adicionar ao modelo a previsão de<br />
que as atividades A e C são mutuamente<br />
antagonistas. Ou seja, em um mutante<br />
para genes <strong>do</strong> tipo A, a ação de C se<br />
expande para os quatro verticilos e em<br />
um mutante <strong>do</strong> tipo C, dessa vez, é a<br />
atividade de A que é expressa nos quatro<br />
verticilos (Figuras 3c, d).<br />
Esse modelo, cria<strong>do</strong> para explicar os<br />
fenótipos de mutantes simples,<br />
passa por uma prova final: ele<br />
fielmente prevê o fenótipo de<br />
mutantes duplos. Por exemplo, o<br />
modelo prevê que, se as funções B<br />
e C fossem removidas, C deveria<br />
definir a identidade <strong>do</strong>s quatro<br />
verticilos, que se desenvolveriam<br />
em carpelos. De fato, to<strong>do</strong>s os<br />
verticilos <strong>do</strong> mutante duplo ap2ap3<br />
contêm carpelos (Meyerowitz et<br />
al., 1991). Similarmente, se as atividades<br />
B e C estivessem ausentes,<br />
A deveria definir a identidade de<br />
to<strong>do</strong>s os órgãos da flor. Como<br />
previsto pelo modelo, sépalas se<br />
desenvolvem em to<strong>do</strong>s os verticilos de<br />
mutantes duplos agpi. O fenótipo deste<br />
duplo mutante apresenta ainda vários<br />
verticilos concêntricos adicionais (to<strong>do</strong>s<br />
compostos de sépalas), devi<strong>do</strong> ao efeito<br />
da mutação ag de suprimir a determinação<br />
<strong>do</strong> meristema floral.<br />
O que aconteceria se ambas as funções<br />
A e C fossem removidas? A atividade<br />
B sozinha definiria a identidade <strong>do</strong>s verticilos<br />
2 e 3, porém nenhuma das atividades<br />
identificadas estaria presente nos<br />
verticilos 1 e 4. O modelo não faz nenhuma<br />
previsão óbvia sobre o fenótipo resultante,<br />
pois nenhum destes esta<strong>do</strong>s ocorre<br />
em nenhum verticilo da flor <strong>do</strong> tipo<br />
selvagem. A função B é associada à<br />
formação de pétalas e estames; assim,<br />
espera-se que, na ausência de A e C, B<br />
cause a produção de órgãos intermediários<br />
entre pétalas e estames. De fato, os<br />
verticilos 2 e 3 das flores <strong>do</strong> mutante<br />
duplo ap2ag são ocupa<strong>do</strong>s por pétalas<br />
estaminoidais. Os verticilos 1 e 4 deste<br />
duplo mutante contêm folhas. Igualmente,<br />
no triplo mutante ap2ap3ag, no qual<br />
as funções A, B e C foram desativadas, as<br />
«flores» são formadas por folhas organizadas<br />
em vários verticilos concêntricos.<br />
Estas observações indicam que a folha<br />
seria o «esta<strong>do</strong> basal» a partir <strong>do</strong> qual a<br />
identidade de cada órgão floral seria<br />
determinada.<br />
Por meio destes resulta<strong>do</strong>s, a equivalência<br />
de flores e ramos (e portanto de<br />
órgãos florais e folhas), clamada por<br />
Goethe há mais de 300 anos, foi finalmente<br />
demonstrada.<br />
O ABC não é suficiente<br />
Figura 2: A flor <strong>do</strong> mutante<br />
agamous de arabidópsis é<br />
composta por uma série de<br />
verticilos conten<strong>do</strong> apenas<br />
sépalas e pétalas<br />
Durante a década passada, to<strong>do</strong>s os<br />
genes descritos acima foram clona<strong>do</strong>s e<br />
seqüencia<strong>do</strong>s. A localização <strong>do</strong>s respectivos<br />
RNA mensageiros foi determinada<br />
por hibridização in situ e corresponde,<br />
de fato, às regiões descritas pelo modelo<br />
ABC (veja a revisão de Ma, 1998). To<strong>do</strong>s<br />
os genes <strong>do</strong> modelo ABC codificam fatores<br />
de transcrição, sugerin<strong>do</strong> que seus<br />
respectivos produtos ativam ou reprimem<br />
a transcrição de outros genes requeri<strong>do</strong>s<br />
para a diferenciação de tipos celulares<br />
órgão-específicos. Embora o modelo<br />
ABC explique com sucesso como a<br />
combinação de genes homeóticos pode<br />
especificar a identidade <strong>do</strong>s primórdios<br />
<strong>do</strong>s órgãos florais, ele não explica como<br />
os <strong>do</strong>mínios de expressão de cada gene<br />
homeótico são defini<strong>do</strong>s. Outros mutantes<br />
homeóticos <strong>do</strong> desenvolvimento floral<br />
de arabidópsis, como superman (sup;<br />
Figura 4) e leafy (lfy), foram caracteriza<strong>do</strong>s<br />
e os genes correspondentes, clona<strong>do</strong>s.<br />
O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenótipo destes mutantes<br />
e <strong>do</strong>s mutantes duplos entre esses e os<br />
<strong>do</strong> modelo ABC, permitiu o aprimoramento<br />
<strong>do</strong> modelo (Ma, 1998). Assim,<br />
SUP, cujo mutante apresenta o desenvolvimento<br />
de anteras no lugar de carpelos,<br />
embora possua os verticilos 1, 2 e 3<br />
normais (Figura 4), estaria envolvi<strong>do</strong> na<br />
retenção da expressão <strong>do</strong>s genes de<br />
função B. O gene LFY faria o papel<br />
contrário, ativan<strong>do</strong> os genes de função B.<br />
Tanto LFY quanto SUP também codificam<br />
regula<strong>do</strong>res de transcrição. Outros fatores<br />
de transcrição, como o codifica<strong>do</strong><br />
pelo gene PERIANTHIA (PAN, Figura 5),<br />
controlam o número de órgãos florais<br />
sem alterar suas identidades (veja a revisão<br />
de Baum, 1998). Assim, as flores <strong>do</strong><br />
mutante pan possuem mais sépalas e<br />
pétalas que as <strong>do</strong> tipo selvagem (Figura<br />
5).<br />
Em animais, a atividade e a extensão<br />
<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio de expressão de fatores de<br />
transcrição envolvi<strong>do</strong>s no desenvolvimento<br />
são geralmente controladas por<br />
cascatas de sinalização. O exemplo de<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 45
estu<strong>do</strong> mais detalha<strong>do</strong> deste mecanismo<br />
é o da cascata iniciada pelo gene WIN-<br />
GLESS (WG) de Drosophila. O produto <strong>do</strong><br />
gene WG é utiliza<strong>do</strong> como um sinal na<br />
comunicação entre as células. Como resulta<strong>do</strong><br />
desta comunicação, decisões relativas<br />
ao destino celular são tomadas,<br />
tais como a expressão de genes homeóticos.<br />
Um elemento chave da cascata de<br />
sinalização de WG é o gene SHAGGY<br />
(SGG) que codifica uma proteína-kinase.<br />
Homólogos de SGG foram recentemente<br />
clona<strong>do</strong>s em arabidópsis e denomina<strong>do</strong>s<br />
ASK (Dornelas et al., 1998; 1999). Os<br />
genes ASK formam uma família multigênica,<br />
cujos produtos parecem fazer parte<br />
de uma cascata de sinalização semelhante<br />
àquela em que SGG está envolvi<strong>do</strong>. Os<br />
produtos <strong>do</strong>s genes ASK controlam o<br />
<strong>do</strong>mínio de expressão de AG e AP3 e,<br />
portanto, a arquitetura floral (Dornelas et<br />
al., in press). Assim, aparentemente, mecanismos<br />
controla<strong>do</strong>res de alguns aspectos<br />
<strong>do</strong> desenvolvimento podem ter si<strong>do</strong><br />
conserva<strong>do</strong>s entre animais e plantas.<br />
Evolução e biotecnologia<br />
Figura 3: Modelo ABC para a especificação<br />
da identidade <strong>do</strong>s órgãos<br />
florais. O modelo prevê os casos em<br />
que to<strong>do</strong>s os fatores estão presentes,<br />
como no tipo selvagem (a); quan<strong>do</strong><br />
o fator B está ausente, como no<br />
mutante apetala3, de arabidópsis;<br />
quan<strong>do</strong> o fator A está ausente, como<br />
no mutante apetala2 e quan<strong>do</strong> o<br />
fator C está ausente, como no mutante<br />
agamous. Se: sépala; Pe: pétala;<br />
Es: estame; Ca: carpelo<br />
Como tanto os genes homeóticos <strong>do</strong><br />
modelo ABC quanto os genes regula<strong>do</strong>res<br />
ASK são conserva<strong>do</strong>s durante a evolução,<br />
espera-se que os mecanismos de<br />
desenvolvimento <strong>do</strong>s órgãos florais sejam<br />
semelhantes entre as diferentes espécies<br />
de plantas. De fato, vários homólogos<br />
<strong>do</strong>s genes envolvi<strong>do</strong>s na diferenciação<br />
floral foram clona<strong>do</strong>s em vários gêneros<br />
e famílias, tanto de mono- como de<br />
dicotiledôneas, e o princípio de funcionamento<br />
<strong>do</strong>s mesmos parece conserva<strong>do</strong><br />
pela evolução (Baum, 1998).<br />
A obtenção de plantas transgênicas,<br />
onde se modifica a expressão <strong>do</strong>s genes<br />
envolvi<strong>do</strong>s no florescimento, tem demonstra<strong>do</strong><br />
que é possível a manipulação<br />
da arquitetura floral pelo Homem (Ma,<br />
1998; Dornelas et al. in press). As conseqüências<br />
biotecnológicas são óbvias. A<br />
capacidade de modelar a arquitetura floral<br />
artificialmente, eliminan<strong>do</strong> ou adicionan<strong>do</strong><br />
verticilos e/ou modifican<strong>do</strong> a identidade<br />
e a posição de cada órgão floral,<br />
abre um invejável universo de possibilidades<br />
agronômicas.<br />
Assim, com a possibilidade atual<br />
de «construir» flores por meio da manipulação<br />
genética molecular, a expressão<br />
«engenharia genética» ganhou um aspecto<br />
arquitetônico renova<strong>do</strong>.<br />
Referências<br />
Baum, D. (1998) The evolution of<br />
plant development. Curr. Opin. Plant<br />
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molecular model for flower development<br />
in Arabi<strong>do</strong>psis thaliana. Development<br />
112 (Suppl.): 157-169.<br />
Figura 4: A flor <strong>do</strong> mutante superman de arabi<strong>do</strong>psis<br />
possui estames (órgãos masculinos) no lugar <strong>do</strong>s carpelos<br />
(órgãos femininos) no verticilo central<br />
Figura 5: As flores <strong>do</strong> mutante perianthia de arabi<strong>do</strong>psis<br />
apresentam um número superior de sépalas e pétalas (5 ou<br />
mais) que as <strong>do</strong> tipo selvagem (sempre 4)<br />
46 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento
BAYER<br />
Atenção:<br />
REPETE FOTOLITO ANTIGO<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 47
SEÇÃO DE CARTAS<br />
CARTAS<br />
Para entrar em contato com <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento você pode<br />
enviar sua correspondência via Internet, fax ou carta para esta seção. A critério <strong>do</strong> editor,<br />
as mensagens poderão ser publicadas resumidamente. Nossos endereços são:<br />
Redação de <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento: SRTV/Sul – Quadra 701 – Ed.<br />
Palácio <strong>do</strong> Rádio II, sala 215 – Cep 70340-902 – Brasília –DF Tel: (061) 225-1512 Fax:<br />
(061)224-2830<br />
Home-page: http://www.biotecnologia.com.br Email: kl3@biotecnologia.com.br<br />
Parabenizo a equipe responsável pela<br />
revista <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />
pois há muito estávamos<br />
precisan<strong>do</strong> de uma revista tão<br />
bem elaborada tanto em nível editorial<br />
quanto em nível de conteú<strong>do</strong>,<br />
sempre abordan<strong>do</strong> temas atuais de<br />
forma simples e bem ilustrada.<br />
A revista constitui-se de fato um<br />
material excelente para a elaboração<br />
de discussões em sala de aula com<br />
alunos de graduação que geralmente<br />
não tem acesso à revistas estrangeiras,<br />
ou não <strong>do</strong>minam o inglês. Certamente<br />
utilizarei no próximo perío<strong>do</strong><br />
letivo os artigos sobre OGM’S com<br />
meus alunos <strong>do</strong>s cursos de Engenharia<br />
Florestal e Agronomia na Universidade<br />
Federal de Mato Grosso, e<br />
dessa forma abordar o tema de uma<br />
forma diferente desta que sempre<br />
ouvimos em simpósios e palestras:<br />
muitas perguntas, poucas respostas.<br />
O artigo de Escape Gênico <strong>do</strong><br />
Prof.Dr.ALuísio Borém(UFV) vem<br />
mostrar algo completo com relação<br />
ao risco ao meio ambiente. Chega de<br />
achismo!<br />
Parabéns!<br />
Profa.Rute Magalhães Brito Ribon<br />
Departamento de Biologia e Zoologia<br />
– IB/UFMT (MSc em Genética<br />
e Melhoramento - UFV).<br />
llll<br />
Sou assinante desta revista e aluno<br />
<strong>do</strong> curso de Engenharia Agrícola da<br />
Universidade Estadual de Campinas,<br />
e gostaria de parabenizá-los pela<br />
ótima revista produzida. Estou fazen<strong>do</strong><br />
uma pesquisa para meu orienta<strong>do</strong>r,<br />
a respeito da utilização de agroquímicos,<br />
e gostaria de saber: qual a<br />
quantidade de herbicidas necessários<br />
para manter uma lavoura de Soja<br />
de um hectare “limpa”, consideran<strong>do</strong><br />
que foram utilizadas as <strong>do</strong>ses<br />
corretas, desde o plantio até a colheita.<br />
Em relação as várias formulações<br />
existentes atualmente, qual o custo<br />
para o produtor?<br />
Sem mais, obriga<strong>do</strong>.<br />
Daniel Albiero<br />
Dalbiero@agr.unicamp.br<br />
As informações acima poderão ser<br />
obtidas junto à Associação Nacional<br />
de Defesa Vegetal, ANDEF. Pelo tel.<br />
0XX11- 8815033.<br />
llll<br />
Gostaria de parabenizar a iniciativa<br />
de vocês de iniciarem uma revista tão<br />
boa. Assinei a revista e estou ansiosa<br />
para receber os outros números.<br />
Estou interessada em reportagens sobre<br />
biotecnologia em plantas <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>,<br />
portanto sugiro este tema para<br />
reportagem.<br />
Daniela Orem<br />
Zazae487@zaz.com.br<br />
Informamos que sua sugestão foi encaminhada.<br />
llll<br />
Informamos a inauguração <strong>do</strong> laboratório<br />
de Fitopatologia Molecular e<br />
Engenharia Genética em 01/10/99 da<br />
UFSCAR- Lafimeg – Laboratório de<br />
Fitopatologia Molecular e Engenharia<br />
Genética.<br />
Centro de Ciências Agrárias – Dep. de<br />
<strong>Biotecnologia</strong> Vegetal – CCA<br />
Lafimeg@dbv.cca.ufscar.br<br />
www.dbv.cca.ufscar.br<br />
llll<br />
Agradeço a divulgação <strong>do</strong> site <strong>do</strong><br />
nosso laboratório (Cultura de Teci<strong>do</strong>s<br />
da UFPEL), na página eletronica<br />
desta revista. Nosso conta<strong>do</strong>r de visitas<br />
aumentou consideravelmente. Gostaria<br />
que divulgassem outras páginas da nossa<br />
Universidade, relacionadas a programas<br />
de pós-graduação, tais como:<br />
Programa de Pós –Graduação em Fitossanidade<br />
(FAEM-UFPel), áreas de concentração<br />
em: Solos, Fitomelhoramento,<br />
Fruticultura de Clima Tempera<strong>do</strong> e<br />
Produção Vegetal.<br />
www.ufpel.tche.br/faem/ppga<br />
Programa de Pós- Graduação em Fitossanidade<br />
(FAEM-Ufpel), áreas de concentração<br />
em: Fitopatologia e Entomologia.<br />
www.ufpel.tche.br/faem/ppgfs<br />
Programa de Pós-Graduação em Fisiologia<br />
Vegetal (IB-UFPel)<br />
Mestra<strong>do</strong><br />
www.ufpel.tche.br/ib/botanica/fisiologia<br />
delponte@ufpel.tche.br<br />
llll<br />
A Faculdade de Engenharia Agrícola-<br />
FEAGRI – da UNICAMP promoveu o<br />
evento Engenharia Agrícola aberta ao<br />
Público nos dias 17 e 18 de Setembro<br />
de 1999. O evento teve como objetivo<br />
apresentar a sociedade em geral e aos<br />
vestibulan<strong>do</strong>s, as atividades desenvolvidas<br />
na faculdade, bem como possibilitar<br />
a esse público a oportunidade de<br />
nos visitar e conhecer as nossas modernas<br />
instalações e laboratórios, assim<br />
como conhecer um pouco sobre a profissão<br />
em Engenharia Agrícola, seu<br />
merca<strong>do</strong> de trabalho e perspectivas<br />
futuras. Mais informações na página da<br />
Faculdade de Engenharia agrícola.<br />
www.agr.unicamp.br<br />
48 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento