17.11.2014 Views

Projeto Genoma do Câncer - Biotecnologia

Projeto Genoma do Câncer - Biotecnologia

Projeto Genoma do Câncer - Biotecnologia

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

R$ 5,00<br />

ano II • número 12 • janeiro/fevereiro de 2000<br />

ESPECIAL<br />

<strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer<br />

Análise Diagnóstica de um Produto Transgênico<br />

Terapia Gênica<br />

<strong>Projeto</strong> Transcriptoma<br />

Biomonitoramento de Mutagênese Ambiental<br />

Proteínas Recombinantes<br />

Construin<strong>do</strong> Flores<br />

O controle molecular da arquitetura floral<br />

www.biotecnologia.com.br


BIOTECNOLOGIA/KL3<br />

REPETE FOTOLITO<br />

2 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


BIOTECNOLOGIA/KL3<br />

REPETE FOTOLITO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 3


ENTREVISTA<br />

Diagnóstico<br />

Genético<br />

Entrevista concedida a<br />

Ana Lúcia Azeve<strong>do</strong><br />

José Bines<br />

Mulheres <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio de Janeiro contam agora com<br />

um serviço que poderá ajudar a prevenir cânceres de<br />

mama e ovário com ajuda de novas descobertas da<br />

genética. O serviço pioneiro de aconselhamento genético<br />

é fruto da iniciativa de profissionais <strong>do</strong> Instituto Nacional<br />

<strong>do</strong> Câncer (INCa), no Centro <strong>do</strong> Rio, e atende a mulheres<br />

com casos de câncer de mama ou ovário na família.<br />

Coordena<strong>do</strong> pelo oncologista Dr. José Bines, o grupo dá<br />

assistência a parentes de pacientes <strong>do</strong> próprio INCa. A<br />

meta <strong>do</strong> grupo de aconselhamento genético é identificar<br />

mulheres com alto risco de câncer de mama e ovário e ajudá-las a evitar a<br />

<strong>do</strong>ença com a combinação de méto<strong>do</strong>s tão varia<strong>do</strong>s quanto o diagnóstico de<br />

genes associa<strong>do</strong>s ao câncer e atendimento psicológico. Numa segunda etapa<br />

<strong>do</strong> trabalho, a equipe também espera obter informações para produzir um<br />

perfil <strong>do</strong>s cânceres de mama e ovário adequa<strong>do</strong> às características da mulher<br />

brasileira. Em entrevista à Revista <strong>Biotecnologia</strong>, Dr. José Bines conta que o<br />

trabalho ainda está no início, mas tem um caminho promissor pela frente com<br />

o avanço das técnicas de biologia molecular.<br />

Dr. José Bines é médico, oncologista, responsável pelo Grupo de<br />

Aconselhamento Genético <strong>do</strong> INCa. Ele é forma<strong>do</strong> pela UFRJ e tem<br />

Fellowship em Hematologia e Oncologia pela Northwestern University<br />

(Chicago). Obteve certifica<strong>do</strong> em Clínica Médica e Oncologia pelo American<br />

Board of Internal Medicine.<br />

4 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


BC&D - O que é aconselhamento genético?<br />

José Bines - R: O objetivo <strong>do</strong> aconselhamento<br />

genético é analisar e explicar, em<br />

termos compreensíveis para os pacientes,<br />

o risco de desenvolver determinadas<br />

<strong>do</strong>enças. No nosso caso, de desenvolver<br />

câncer. Sempre que possível, a meta é<br />

oferecer propostas de prevenção e detecção<br />

precoce.<br />

BC&D - Como surgiu a idéia de oferecer<br />

um serviço de aconselhamento<br />

genético no INCa para cânceres de<br />

mama e de ovário?<br />

José Bines - Uma das linhas de pesquisa<br />

que mais tem se desenvolvi<strong>do</strong> no campo<br />

<strong>do</strong> aconselhamento genético é justamente<br />

o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s cânceres de mama e<br />

ovário. O INCa atende a um grande<br />

número de pacientes com essas <strong>do</strong>enças.<br />

Por isso, é importante que consigamos<br />

avançar no que diz respeito ao diagnóstico<br />

precoce e a prevenção.<br />

BC&D - Quan<strong>do</strong> o serviço de aconselhamento<br />

genético <strong>do</strong> INCa começou<br />

a funcionar?<br />

José Bines - Começamos a formar o<br />

grupo em maio de 1999. Desde então,<br />

temos manti<strong>do</strong> reuniões semanais e em<br />

agosto passa<strong>do</strong> iniciamos a parte de<br />

assistência propriamente dita.<br />

BC&D - Quantos profissionais fazem<br />

parte <strong>do</strong> grupo?<br />

José Bines - Além de mim, que sou<br />

oncologista, participam <strong>do</strong>is mastologistas,<br />

um ginecologista, duas psicólogas,<br />

uma enfermeira, uma assistente social e<br />

quatro geneticistas.<br />

BC&D - Quantas pessoas já foram atendidas?<br />

José Bines - Vinte mulheres já foram<br />

entrevistadas pelo grupo. Seis delas não<br />

se encaixavam nos critérios de risco para<br />

que precisassem ser testadas para identificação<br />

de mutações nos genes BRCA1 e<br />

BRCA2, os <strong>do</strong>is maiores envolvi<strong>do</strong>s em<br />

cânceres de mama e ovário de caráter<br />

hereditário. Com isso, 14 realizaram o<br />

teste de DNA para detecção <strong>do</strong> BRCA1 e<br />

<strong>do</strong> BRCA2. Nos baseamos na história<br />

familiar da mulher e na idade de aparecimento<br />

<strong>do</strong>s tumores na família.<br />

BC&D - Como é feita a seleção de<br />

pacientes?<br />

José Bines - Por enquanto, estamos atenden<strong>do</strong><br />

somente pacientes <strong>do</strong> INCa. Elas<br />

são encaminhadas por outros médicos da<br />

instituição, que indicam nosso serviço<br />

para pacientes com história familiar e<br />

idade precoce (menos de 50 anos) de<br />

aparecimento de câncer de mama ou<br />

ovário. A avaliação sempre começa com<br />

"A avaliação sempre<br />

começa com a pessoa que<br />

tem a <strong>do</strong>ença, caso o teste<br />

seja positivo para mutação<br />

<strong>do</strong> BRCA1/BRCA2,<br />

passamos a avaliar os<br />

familiares"<br />

a pessoa que tem a <strong>do</strong>ença, caso o teste<br />

seja positivo para mutação <strong>do</strong> BRCA1/<br />

BRCA2 , passamos a avaliar os familiares.<br />

BC&D - Existem projetos de ampliar o<br />

serviço para outros tipos de câncer? Quais?<br />

"...há possibilidade de<br />

prevenção e detecção<br />

precoce, os principais<br />

benefícios. O maior risco<br />

é o estresse psicológico ao<br />

qual a pessoa que tem<br />

mutações identificadas e<br />

não tem a <strong>do</strong>ença estará<br />

exposta durante o<br />

restante da vida"<br />

José Bines - Esse é apenas o início <strong>do</strong><br />

serviço. Ainda neste ano pretendemos<br />

ampliar o serviço e atender a pacientes<br />

com câncer de intestino (colo-retal) e<br />

melanoma (câncer de pele). Há informações<br />

relativas à transmissão hereditária<br />

nesses tumores e estratégias que podem<br />

ser utilizadas na sua prevenção e detecção<br />

precoce.<br />

BC&D - Qual é o papel da hereditariedade<br />

no câncer da mama? Qual é o<br />

percentual de casos associa<strong>do</strong>s à hereditariedade?<br />

José Bines - To<strong>do</strong> câncer é genético, isto<br />

é, decorrente de mutações. Porém, a<br />

maioria ocorre em células somáticas e<br />

não germinativas. A maioria <strong>do</strong>s tumores<br />

de mama são esporádicos, isto é, não são<br />

hereditários. Somente entre 5 e 10% <strong>do</strong>s<br />

tumores de mama são hereditários.<br />

BC&D - Quan<strong>do</strong> uma paciente é considerada<br />

em risco?<br />

José Bines - Os critérios variam um<br />

pouco de acor<strong>do</strong> com cada serviço. Todavia,<br />

de mo<strong>do</strong> geral, é considerada em<br />

risco a mulher que tiver história de mais<br />

de um caso na familia com idade de<br />

aparecimento da <strong>do</strong>ença antes <strong>do</strong>s 50<br />

anos, câncer bilateral (presença de câncer<br />

de mama e ovário). Consideramos a<br />

combinação de to<strong>do</strong>s esses fatores para<br />

calcular o risco de uma mulher. Quan<strong>do</strong><br />

o risco (calcula<strong>do</strong> com o uso de tabelas)<br />

é maior <strong>do</strong> que 10%, há indicação para<br />

exames de detecção de mutações nos<br />

genes BRCA1 e BRCA2.<br />

BC&D - Quantas mutações nos genes<br />

BRCA1 e BRCA2 já foram associadas<br />

ao câncer de mama e de ovário?<br />

José Bines - Há várias mutações nos <strong>do</strong>is<br />

genes: algumas de significa<strong>do</strong> incerto,<br />

outras sem relação com o aumento <strong>do</strong><br />

risco de câncer e outras diretamente<br />

relacionadas a um risco aumenta<strong>do</strong>. Há<br />

três mutações principais associadas a um<br />

risco aumenta<strong>do</strong> de câncer de mama e<br />

ovário, duas delas no BRCA1 e uma no<br />

BRCA2.<br />

BC&D - Quais são as mais importantes?<br />

José Bines -No BRCA1, a 185 delAG e<br />

5382 insC. No BRCA2, a 6174 delT. (185<br />

é a posição no gene, del indica deleção,<br />

ins é igual à inserção, AGCT são as bases<br />

nitrogenadas <strong>do</strong> DNA).<br />

BC&D - Como é feito o aconselhamento<br />

genético?<br />

José Bines - A paciente passa por uma<br />

série de avaliações. Inicialmente ela conversa<br />

com a assistente social. Depois é<br />

entrevistada por uma psicóloga. Só depois<br />

disso, passa para o exame médico.<br />

Fazemos um here<strong>do</strong>grama e um exame<br />

físico. Depois, estimamos o risco de uma<br />

paciente apresentar mutações. A pacien-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 5


te sai da consulta com um consentimento<br />

informa<strong>do</strong>, que é um <strong>do</strong>cumento no qual<br />

expomos os riscos e benefícios para testagem.<br />

A paciente deve retornar após três<br />

semanas para nos trazer questões que<br />

possam ter surgi<strong>do</strong> nesse perío<strong>do</strong> e o<br />

consentimento assina<strong>do</strong> (caso queira se<br />

submeter à testagem). Nessa segunda<br />

etapa, coletamos sangue para exame.<br />

Fazemos uma outra consulta que começa<br />

com uma avaliação psicológica e, finalmente,<br />

damos os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> exame<br />

genético. Caso a paciente tenha mutação<br />

característica, o próximo passo é a avaliação<br />

de familiares de primeiro grau (mãe,<br />

irmãs e filhas com mais de 21 anos).<br />

BC&D - Como tem si<strong>do</strong> a resposta das<br />

pacientes ao serviço?<br />

José Bines - A aceitação tem si<strong>do</strong> muito<br />

boa. As pessoas têm se mostra<strong>do</strong> interessadas<br />

e compreendem exatamente a função<br />

da testagem. Há pouca alteração na<br />

conduta no que diz respeito a mulheres<br />

que já têm câncer. O principal objetivo é<br />

o aconselhamento <strong>do</strong>s familiares.<br />

BC&D - Os méto<strong>do</strong>s de diagnóstico<br />

genético existentes oferecem que margem<br />

de acurácia?<br />

"A maioria <strong>do</strong>s tumores<br />

de mama são<br />

esporádicos, isto é, não<br />

são hereditários. Somente<br />

entre 5 e 10% <strong>do</strong>s<br />

tumores de mama são<br />

hereditários"<br />

José Bines - Fazemos o sequenciamento<br />

de to<strong>do</strong> o DNA <strong>do</strong>s genes BRCA1 e<br />

BRCA2, considera<strong>do</strong> o teste padrão (“goldstandard”).<br />

Até o momento, encontramos<br />

mutações clássicas. É importante ressaltar<br />

que algumas mutações são de significa<strong>do</strong><br />

incerto, isto é, não se sabe se estão<br />

associadas a um risco aumenta<strong>do</strong> de<br />

câncer de mama ou ovário. Ainda pode<br />

se tratar de um câncer hereditário, porém,<br />

com uma mutação num gene ainda<br />

não identifica<strong>do</strong>.<br />

BC&D - Os resulta<strong>do</strong>s ficam prontos<br />

em quanto tempo?<br />

José Bines - Entre <strong>do</strong>is e três meses.<br />

BC&D - Nos últimos anos têm havi<strong>do</strong><br />

um grande desenvolvimento na<br />

área de testes genéticos. Que tipo de<br />

benefício, e também de risco, essa<br />

nova forma de diagnóstico traz para<br />

pacientes com câncer e suas famílias?<br />

José Bines - Não há evidência de<br />

aumento de sobrevida, porém há possibilidade<br />

de prevenção e detecção<br />

precoce, os principais benefícios. O<br />

maior risco é o estresse psicológico ao<br />

qual a pessoa que tem mutações identificadas<br />

e não tem a <strong>do</strong>ença estará<br />

exposta durante o restante da vida.<br />

BC&D - Que tipo de aplicação médica<br />

mais imediata o <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong><br />

Humano pode ter?<br />

José Bines - O conhecimento <strong>do</strong> código<br />

genético humano permitirá avaliar<br />

as alterações existentes, sua associação<br />

com <strong>do</strong>enças e a a busca de caminhos<br />

para a prevenção e tratamento.<br />

Etapas <strong>do</strong> aconselhamento genético para mulheres com mutações associadas aos genes BRCA1 e BRCA2 identificadas:<br />

CÂNCER DE MAMA :<br />

Detecção: Auto-exame da mama uma vez por mês<br />

a partir <strong>do</strong>s 25 anos; realização de exame médico a<br />

cada seis meses para mulheres com mais de 25<br />

anos; mamografia uma vez por ano entre os 25 e<br />

os 35 anos.<br />

Quimioprevenção: Os médicos <strong>do</strong> INCa ainda<br />

não recomendam remédios para prevenção porque<br />

não existem estu<strong>do</strong>s suficientes que indiquem sua<br />

eficiência e segurança. No Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, estu<strong>do</strong>s<br />

com a droga tamoxifeno revelaram que ela pode<br />

diminuir em 50% o número de casos de câncer de<br />

mama não relaciona<strong>do</strong>s à hereditariedade em mulheres<br />

com mais de 60 anos. Porém, os médicos<br />

não sabem se ela teria o mesmo êxito contra tumores<br />

associa<strong>do</strong>s a genes específicos. Há pesquisas<br />

com resulta<strong>do</strong>s semelhantes com o medicamento<br />

raloxifeno.<br />

Cirurgia: Segun<strong>do</strong> Dr. José Bines, a remoção <strong>do</strong>s<br />

ovários pode diminuir em até 50% o risco de uma<br />

mulher contrair tumor maligno na mama. Os médicos,<br />

todavia, só recomendam a cirurgia de<br />

ooforectomia para mulheres que já têm filhos e podem<br />

suportar os problemas causa<strong>do</strong>s por uma menopausa<br />

precoce. A outra opção é bem mais radical. A<br />

mastectomia (extirpação da mama) pode diminuir o risco<br />

da <strong>do</strong>ença em 90% em mulheres sem mutações nos<br />

genes. Todavia, não há resulta<strong>do</strong>s para mulheres com<br />

risco associa<strong>do</strong> ao câncer hereditário. Dr. José Bines diz<br />

que por ser uma decisão drástica, precisa ser muito bem<br />

avaliada por médico e paciente.<br />

CÂNCER DE OVÁRIO :<br />

Detecção: Os médicos recomendam um exame de sangue<br />

para detectar uma substância chamada CA-125<br />

(cujos níveis são altera<strong>do</strong>s pelo câncer) a cada seis meses.<br />

Eles também sugerem a realização de uma exame<br />

de ultra-som transvaginal a cada seis meses.<br />

Quimioprevenção: As pílulas anticoncepcionais comuns<br />

são a melhor opção. Elas podem diminuir em 50%<br />

o risco de câncer de ovário.<br />

Cirurgia: Para algumas pacientes, os médicos recomendam<br />

a ooforectomia.<br />

6 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


MONSANTO NOVO<br />

FOTOLITO EM<br />

ANEXO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 7


Carta ao Leitor<br />

BIOTECNOLOGIA Ciência & Desenvolvimento<br />

KL3 Comunicação<br />

Funda<strong>do</strong>r<br />

Henrique da Silva Castro<br />

Diretora de Pesquisa e Edição<br />

Ana Lúcia de Almeida<br />

Diretor Executivo<br />

Márcio Brasil<br />

Diretor de Arte<br />

Henrique S. Castro Fº<br />

Departamento Comercial,<br />

Redação e Edição:<br />

SRTV/Sul - Quadra 701<br />

Ed. Palácio <strong>do</strong> Rádio II<br />

Sala 215 - CEP 70340-902<br />

Brasília - DF<br />

Tel.: (061) 225-1512 (061) 225-0976<br />

Fax: (061) 224-2830<br />

E-mail<br />

kl3@biotecnologia.com.br<br />

Home-Page<br />

www.biotecnologia.com.br<br />

Com a conclusão <strong>do</strong> <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> Xylella, podemos<br />

dizer que o Brasil deu uma grande arrancada no progresso<br />

científico <strong>do</strong> país. Não apenas pelo fato de ter<br />

si<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong> em tempo record, um projeto de suma<br />

importância para a erradicação <strong>do</strong> grande problema na<br />

citricultura brasileira, mas principalmente por ter proporciona<strong>do</strong><br />

to<strong>do</strong> um desenvolvimento tecnológico em<br />

torno <strong>do</strong> próprio projeto.<br />

Afinal, foram muitos laboratórios de sequenciamento,<br />

espalha<strong>do</strong>s pelo Brasil inteiro, envolven<strong>do</strong> vários especialistas,<br />

num projeto completamente novo. Parabéns<br />

aos cientistas envolvi<strong>do</strong>s, aos técnicos, aos especialistas<br />

das áreas de bioinformática, à Fapesp, e aos demais<br />

envolvi<strong>do</strong>s. Parabéns também, àqueles que dão<br />

sequencia e aprimoramento às pesquisas. Com o desenvolvimento<br />

da biologia molecular, to<strong>do</strong>s os setores se<br />

beneficiam. Da agricultura à saúde, novos projetos,<br />

novas pesquisas e novas descobertas. Poderíamos até<br />

dizer que, se o mun<strong>do</strong> não está melhor, ao menos<br />

aponta para um futuro promissor. No encarte especial,<br />

publicamos o artigo <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer Humano,<br />

projeto da maior importância para a saúde mundial,<br />

escrito por Emmanuel Dias Neto, <strong>do</strong> Instituto Ludwig,<br />

de cujo grupo desenvolveu uma nova tecnologia, a<br />

chamada Estratégia Orestes.<br />

Dr. Henrique da Silva Castro<br />

<strong>Projeto</strong> Gráfico<br />

Agência de Comunicação IRIS<br />

www.agenciairis.com.br<br />

iris@agenciairis.com.br<br />

Assinaturas<br />

O pedi<strong>do</strong> de assinatura é realiza<strong>do</strong> através<br />

da carta resposta-comercial encartada em<br />

cada revista, por telefonema ou fax<br />

diretamente à KL3 ou pela Internet<br />

através <strong>do</strong>s nossos endereços eletrônicos.<br />

A revista não tem vende<strong>do</strong>res autoriza<strong>do</strong>s.<br />

ISSN 1414-4522<br />

8 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


Conselho Científico<br />

Dr. Aluízio Borém - Genética e Melhoramento Vegetal<br />

Dr. Henrique da Silva Castro - Saúde;<br />

Dra. Johanna Döbereiner - Microbiologia de Solos;<br />

Dr. Maçao Tadano - Agricultura;<br />

Dr. Naftale Katz - Saúde;<br />

Dr. Pedro Juberg - Ciências;<br />

Dr. Sérgio Costa Oliveira - Imunologia e Vacinas;<br />

Dr. Vasco Ariston de Carvalho Azeve<strong>do</strong> - Genética de Microorganismos;<br />

Dr. William Gerson Matias - Toxicologia Ambiental.<br />

Conselho Brasileiro de Fitossanidade - Cobrafi<br />

Dr. Ivan Rud de Moraes - Toxicologia;<br />

Dr. Luís Carlos Bhering Nasser - Fitopatologia<br />

Conselho Federal de Biologia<br />

Dr. João de Deus Medeiros<br />

Fundação Dalmo Catauli Giacometti<br />

Dr. Eugen Silvano Gander - Engenharia Genética;<br />

Dr. José Manuel Cabral de Sousa Dias - Controle Biológico;<br />

Dra. Marisa de Goes - Recursos Genéticos<br />

Colaboraram nesta edição:<br />

CARLOS FREDERICO MARTINS MENK,<br />

CATHERINE NGUYEN E BERTRAND JORDAN,<br />

CELIO LOPES SILVA,<br />

EMMANUEL DIAS NETO,<br />

FERNANDO ARARIPE GONÇALVES TORRES,<br />

GERALDO A. S. PASSOS,<br />

JOSE MACIEL RODRIGUES JÚNIOR,<br />

KARLA DE MELO LIMA,<br />

LIDIA MARIA PEPE DE MORAES,<br />

MARCELO CARNIER DORNELAS,<br />

MARCIO CASTRO SILVA-FILHO,<br />

MARIA CRISTINA FALCO,<br />

PEDRO CANISIO BINSFELD,<br />

RENATA MARIA AUGUSTO DA COSTA,<br />

SERGIO U. DANI.<br />

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares - IPEN<br />

Dr. José Roberto Rogero<br />

Especial<br />

O <strong>Projeto</strong> <strong>Genoma</strong> <strong>do</strong> Câncer Humano - Ludwig/Fapesp<br />

- Encarte Especial<br />

Novas Tecnologias<br />

Microesferas Biodegradáveis - pág 10<br />

Saúde<br />

Terapia Gênica - pág 28<br />

Entrevista<br />

Diagnóstico Genético - José Bines - pág 04<br />

Pesquisa<br />

Análise Diagnóstica de um Produto Transgênico - pág 16<br />

Proteínas Recombinantes Produzidas em Leveduras - pág 20<br />

Biomonitoramento de Mutagênese Ambiental - pág 24<br />

<strong>Projeto</strong> Transcriptoma - pág 34<br />

Interação Planta-Inseto - pág 38<br />

Construin<strong>do</strong> Flores - pág 44<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 9


Novas Tecnologias<br />

Microesferas<br />

Biodegradáveis<br />

Uma nova alternativa para administração de vacinas de DNA<br />

Karla de Melo Lima<br />

Doutoranda <strong>do</strong> curso de Imunologia<br />

Básica e Aplicada<br />

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto<br />

Universidade de São Paulo<br />

klima@rpm.fmrp.usp.br<br />

Célio Lopes Silva<br />

Professor Titular de Imunologia da<br />

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto<br />

Universidade de São Paulo<br />

clsilva@fmrp.usp.br<br />

José Maciel Rodrigues Júnior<br />

Professor Adjunto da Faculdade de<br />

Farmácia da Universidade<br />

Federal de Minas Gerais<br />

rodrigue@dedalus.lcc.ufmg.br<br />

Fotos cedidas pelos autores<br />

a última década, os avanços<br />

no desenvolvimento<br />

de vacinas permitiram a<br />

introdução de novas estratégias<br />

para a obtenção<br />

e produção de antígenos,<br />

assim como foram desenvolvidas vias alternativas<br />

de administração e apresentação<br />

desses antígenos para as células <strong>do</strong><br />

sistema imune. Estas estratégias abriram<br />

caminho para inovações, particularmente<br />

no contexto <strong>do</strong> desenvolvimento de vacinas<br />

mais seguras, eficazes e polivalentes.<br />

Dentro deste contexto, as vacinas de DNA<br />

surgiram como uma alternativa<br />

interessante para o desencadeamento<br />

de proteção, especialmente<br />

quan<strong>do</strong> a resposta<br />

imune celular é requerida.<br />

A vacina gênica ou vacina<br />

de DNA, pode tornar-se<br />

um poderoso instrumento de<br />

combate a <strong>do</strong>enças infecciosas<br />

para as quais até hoje não<br />

existe prevenção segura,<br />

como herpes, AIDS, malária,<br />

tuberculose, hepatite, esquistossomose<br />

e dengue, dentre<br />

outras. O processo de vacinação<br />

envolve a inoculação intramuscular<br />

<strong>do</strong> DNA que leva<br />

a mensagem para a síntese <strong>do</strong><br />

antígeno apropria<strong>do</strong> no interior<br />

das células <strong>do</strong> indivíduo<br />

10 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

vacina<strong>do</strong>. Este tipo de vacinação<br />

apresenta uma grande<br />

vantagem, pois fornece ao<br />

organismo hospedeiro a informação<br />

genética necessária<br />

para que ele produza o<br />

antígeno com todas as características<br />

importantes para a<br />

geração de uma resposta imune.<br />

Isto, sem os efeitos colaterais<br />

que podem ser gera<strong>do</strong>s<br />

pela introdução de patógenos<br />

no organismo, ou problemas<br />

proporciona<strong>do</strong>s pela introdução das<br />

vacinas de subunidades associadas a adjuvantes<br />

que são frequentemente tóxicos. As<br />

vacinas de DNA representam uma meto<strong>do</strong>logia<br />

que se aproxima da infecção natural,<br />

alcançan<strong>do</strong> altos níveis da proteção<br />

desejada. Para a sua produção, uma porção<br />

<strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> agente causa<strong>do</strong>r da <strong>do</strong>ença,<br />

que pode ser um vírus, bactéria, fungo<br />

ou um parasita, é retirada. Essa porção <strong>do</strong><br />

DNA, que normalmente representa um<br />

gene que codifica um antígeno imuno<strong>do</strong>minante<br />

ou um fator de virulência, apresenta<br />

a potencialidade de induzir o sistema<br />

Figura 1 – Obtenção das vacinas de DNA. Uma porção <strong>do</strong><br />

DNA de um patógeno, correspondente a um gene que<br />

codifica uma proteína antigênica apropriada, é retirada<br />

(A) e clonada em um plasmídeos conten<strong>do</strong> um gene de<br />

resistência a antibiótico (B). Os plasmídeos obti<strong>do</strong>s (C)<br />

são introduzi<strong>do</strong>s em células bacterianas (D). As bactérias<br />

são semeadas em um meio conten<strong>do</strong> antibiótico (E) onde<br />

apenas as células transformantes, isto é, que contêm o<br />

plasmídeo, serão capazes de crescer (F). Estes clones são<br />

então expandi<strong>do</strong>s em meio líqui<strong>do</strong> com antibiótico (G)<br />

possibilitan<strong>do</strong> a obtenção <strong>do</strong> plasmídeo em grande quantidade<br />

após a lise das células (H). Uma vez purifica<strong>do</strong>s os<br />

plasmídeos são utiliza<strong>do</strong>s como vacina de DNA<br />

imunológico para a produção de anticorpos<br />

ou estimular a imunidade mediada por<br />

células, principalmente linfócitos T auxiliares<br />

ou citotóxicos. O DNA é então clona<strong>do</strong><br />

em um plasmídeo e a transformação de<br />

células bacterianas é utilizada para a sua<br />

obtenção em grande quantidade. A figura<br />

1 ilustra o processo de obtenção das vacinas<br />

de DNA.<br />

A vacinação com DNA pode ser feita<br />

em várias espécies animais e no homem,<br />

por diversas vias e esquemas. Embora a<br />

injeção intramuscular seja um processo<br />

simples e de baixo custo, sua utilização na<br />

maioria das vezes requer uma<br />

quantidade elevada de plasmídeo<br />

para estimular uma resposta<br />

imune adequada. O uso de solução<br />

de glicose hipertônica para<br />

edemaciar o teci<strong>do</strong> muscular, ou<br />

de anestésicos locais como a<br />

bupivacaína, que são capazes de<br />

lesar o teci<strong>do</strong> e causar uma reação<br />

inflamatória, têm si<strong>do</strong> emprega<strong>do</strong>s,<br />

em modelos animais,<br />

como alternativas para aumentar<br />

a transfecção de células apresenta<strong>do</strong>ras<br />

de antígenos, como<br />

macrófagos e células dendríticas,<br />

após a injeção intramuscular<br />

(Davis et al., 1993). Entretanto,<br />

tais procedimentos não são aceitáveis<br />

para utilização em clínica<br />

humana devi<strong>do</strong> aos seus efeitos<br />

colaterais. Vários pesquisa<strong>do</strong>res<br />

mostraram que a injeção intramuscular<br />

requer uma quantidade<br />

de plasmídeo 100 vezes superior<br />

para gerar uma expressão<br />

equivalente àquela produzida<br />

pelo bombardeamento de partículas<br />

sob alta pressão com “gene<br />

gun” (Barry & Johnston, 1997).<br />

Esta diferença na eficácia de<br />

transfecção pode ser atribuída<br />

ao fato da injeção intramuscular<br />

colocar o plasmídeo em um<br />

ambiente extracelular onde quan-


Figura 2 – Avaliação in situ da<br />

expressão da enzima β-galactosidade<br />

em células J777 transfectadas in<br />

vitro com o plasmídeo pSV-βgal<br />

(Invitrogen®) utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong><br />

de bombardeamento com partículas<br />

de ouro. As setas indicam as<br />

partículas de ouro no citoplasma<br />

da célula<br />

tidades significativas <strong>do</strong> DNA são rapidamente<br />

degradadas por nucleases. Em contraste,<br />

com o bombardeamento de partículas<br />

ocorre liberação <strong>do</strong> DNA dentro das<br />

células, evitan<strong>do</strong> a degradação <strong>do</strong>s plasmídeos<br />

funcionais (Figura 2). Embora promova<br />

uma transfecção eficiente, a imunização<br />

pelo bombardeamento de partículas<br />

apresenta inconvenientes como a necessidade<br />

de aparelhos especiais para a sua<br />

execução e a necessidade de <strong>do</strong>ses de<br />

reforço. Além disso, como muitos patógenos<br />

penetram no organismo através de<br />

superfícies mucosas como aquelas <strong>do</strong> trato<br />

respiratório, gastrointestinal ou urogenital<br />

entre outras, seria vantajoso que as vacinas<br />

de DNA também estimulassem a imunidade<br />

nestes teci<strong>do</strong>s. Embora demonstra<strong>do</strong><br />

que vacinas de DNA são capazes de estimular<br />

uma resposta humoral em superfícies<br />

mucosas sua administração por estas<br />

vias requer o desenvolvimento de estratégias<br />

que assegurem a sua estabilidade<br />

principalmente no que concerne à administração<br />

por via oral.<br />

A busca por alternativas para administração<br />

de vacinas, levou Preis e Langer<br />

(1979) a aplicarem a tecnologia da liberação<br />

controlada de fármacos no campo da<br />

imunização. Eles demonstraram que a produção<br />

de anticorpos em camun<strong>do</strong>ngos<br />

imuniza<strong>do</strong>s com uma única <strong>do</strong>se de um<br />

antígeno conti<strong>do</strong> numa matriz polimérica<br />

não degradável, mantinha-se por mais de<br />

6 meses em níveis comparáveis aos <strong>do</strong>s<br />

camun<strong>do</strong>ngos imuniza<strong>do</strong>s por duas vezes<br />

com o mesmo antígeno incorpora<strong>do</strong> em<br />

adjuvante completo de Freund. Entretanto,<br />

a aplicação desta estratégia suscitou a<br />

preocupação sobre os possíveis efeitos<br />

adversos que a presença deste material no<br />

organismo poderia ocasionar crian<strong>do</strong>-se,<br />

desta forma, a necessidade de remoção<br />

cirúrgica <strong>do</strong> implante após a liberação <strong>do</strong><br />

antígeno. Neste senti<strong>do</strong>, a síntese de polímeros<br />

biodegradáveis contribuiu para a<br />

melhoria <strong>do</strong> sistema visto que eles não<br />

requerem remoção cirúrgica e efeitos colaterais<br />

a longo prazo podem ser minimiza<strong>do</strong>s<br />

uma vez que tais polímeros se<br />

degradam em função <strong>do</strong> tempo. Dentre os<br />

polímeros biodegradáveis comercialmente<br />

disponíveis, os poliésteres deriva<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s lático e glicólico (PLGA) merecem<br />

destaque por serem aprova<strong>do</strong>s pelo<br />

Figura 3 – Microscopia eletrônica de varredura mostran<strong>do</strong> microesferas de PLGA<br />

após o preparo (A) e após a liberação <strong>do</strong> antígeno encapsula<strong>do</strong> (B) (Barra = 5<br />

µm)<br />

FDA para utilização na clínica humana e<br />

terem uma longa história de segurança.<br />

Além disso, quimicamente, estes polímeros<br />

podem apresentar diferenças no tamanho<br />

das cadeias e no número de monômeros<br />

de áci<strong>do</strong> lático e glicólico presentes nas<br />

mesmas. Tais diferenças estão diretamente<br />

relacionadas com a degradação permitin<strong>do</strong><br />

assim, a obtenção de diferentes polímeros<br />

cujo tempo de degradação pode variar<br />

entre alguns dias e vários meses. No organismo,<br />

estes polímeros são hidrolisa<strong>do</strong>s e<br />

uma vez degrada<strong>do</strong>s, são gera<strong>do</strong>s o áci<strong>do</strong><br />

lático e o glicólico que são compostos<br />

inócuos ao organismo. O desenvolvimento<br />

de sistemas de liberação controlada de<br />

fármacos e antígenos visan<strong>do</strong> a otimização<br />

da resposta terapêutica e imunológica é<br />

uma das principais linhas de pesquisa <strong>do</strong><br />

Laboratório de Tecnologia Farmacêutica<br />

da Faculdade de Farmácia da UFMG.<br />

As microesferas poliméricas surgiram<br />

como alternativa de sistema de liberação<br />

controlada que pudesse ser administra<strong>do</strong><br />

de maneira simples, sem a necessidade de<br />

técnicas cirúrgicas, contan<strong>do</strong> apenas com<br />

o auxílio de seringa. Elas são partículas<br />

poliméricas esféricas cujo diâmetro varia<br />

entre 1 e 250 µm (figura 3) e constituem um<br />

sistema matricial ou reservatório no qual o<br />

antígeno está dissolvi<strong>do</strong>, disperso ou encapsula<strong>do</strong>.<br />

Microesferas constituídas de<br />

poliésteres <strong>do</strong>s áci<strong>do</strong>s lático e glicólico<br />

(PLGA) possuem a vantagem de serem<br />

biodegradáveis sem manifestações ulcerativas<br />

no sítio de administração se utilizadas<br />

por via parenteral. Além disso, sua potencialidade<br />

de utilização como adjuvante<br />

reside também no fato delas formarem,<br />

após administração subcutânea ou intramuscular,<br />

um depósito onde o antígeno é<br />

libera<strong>do</strong> lentamente, de maneira controlada,<br />

de acor<strong>do</strong> com o polímero utiliza<strong>do</strong> na<br />

sua fabricação. A velocidade de hidrólise<br />

de tais polímeros depende: de sua composição<br />

química; da proporção <strong>do</strong>s monômeros;<br />

<strong>do</strong> tamanho da cadeia e <strong>do</strong> tamanho<br />

das partículas, poden<strong>do</strong>-se obter tempos<br />

de degradação que variam entre algumas<br />

semanas e vários meses. A combinação da<br />

difusão através de poros e da erosão da<br />

matriz polimérica permite controlar a taxa<br />

de liberação <strong>do</strong> antígeno encapsula<strong>do</strong> nas<br />

microesferas. Esta propriedade permitiu a<br />

criação <strong>do</strong> conceito de vacina de <strong>do</strong>se<br />

única onde uma formulação composta por<br />

microesferas de tamanho, porosidade e<br />

composição polimérica diferentes, liberaria<br />

o antígeno encapsula<strong>do</strong> em intervalos<br />

de tempo substituin<strong>do</strong> as <strong>do</strong>ses de reforço<br />

de uma vacina convencional (Figura 4).<br />

Outra vantagem destes sistemas reside no<br />

fato de poderem ser administra<strong>do</strong>s por<br />

diferentes vias. As potencialidades de microesferas<br />

como adjuvantes de vacinas<br />

foram recentemente revisadas por Lima &<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 11


Figura 4 – Modelo<br />

esquemático da vacina<br />

de <strong>do</strong>se única (“singleshot<br />

vaccine”) baseada<br />

no encapsulamento de<br />

antígenos em<br />

microesferas de PLGA<br />

Rodrigues Júnior (1999).<br />

Vários méto<strong>do</strong>s têm si<strong>do</strong> descritos para<br />

a obtenção de microesferas. Dentre eles, o<br />

mais utiliza<strong>do</strong> para o encapsulamento de<br />

compostos hidrofílicos e também o méto<strong>do</strong><br />

de escolha para encapsulamento<br />

de antígenos<br />

protéicos e DNA,<br />

é o méto<strong>do</strong> de emulsão<br />

múltipla e evaporação<br />

<strong>do</strong> solvente. Trata-se de<br />

um méto<strong>do</strong> simples, de<br />

fácil transposição para<br />

escala industrial e cuja<br />

realização em condições<br />

assépticas garante<br />

a esterilidade final <strong>do</strong><br />

produto. O esquema na<br />

figura 5 ilustra o encapsulamento<br />

de DNA em<br />

microesferas de PLGA.<br />

O processo consiste,<br />

inicialmente, na formação<br />

da emulsão primária<br />

<strong>do</strong> tipo água/óleo.<br />

O DNA é dissolvi<strong>do</strong> na<br />

fase aquosa e o polímero<br />

na fase orgânica<br />

cujo solvente consiste<br />

normalmente de cloreto<br />

de metileno ou acetato<br />

de etila. A emulsão<br />

primária é então vertida,<br />

sob agitação, sobre uma segunda fase<br />

aquosa conten<strong>do</strong> um agente tensoativo<br />

(álcool poli vinílico) para formar uma<br />

emulsão estável <strong>do</strong> tipo água/óleo/água.<br />

Esta emulsão é mantida sob constante<br />

agitação até que o solvente orgânico, volátil,<br />

seja completamente elimina<strong>do</strong> da<br />

formulação. A remoção <strong>do</strong> solvente orgânico<br />

faz com que o polímero, insolúvel em<br />

água, precipite em torno das gotículas de<br />

água da fase aquosa interna resultan<strong>do</strong> na<br />

suspensão de microesferas. As partículas<br />

são coletadas por centrifugação, lavadas<br />

para remover o excesso de tensoativo e<br />

liofilizadas. As microesferas poliméricas<br />

oferecem ainda vantagens no que concerne<br />

à sua estabilidade visto que elas são<br />

armazenadas na forma de pó liofiliza<strong>do</strong> a<br />

ser reconstituí<strong>do</strong> imediatamente antes da<br />

sua utilização.<br />

Outra característica fundamental para<br />

a adjuvanticidade das microesferas reside<br />

no fato de que, após administração parenteral,<br />

as partículas menores que 10 µm são<br />

fagocitadas pelas células fagocíticas <strong>do</strong><br />

sistema fagocitário mononuclear, apresenta<strong>do</strong>ras<br />

de antígenos. Já as partículas com<br />

diâmetro superior a 10 µm seriam responsáveis<br />

pela formação <strong>do</strong> depósito e liberação<br />

<strong>do</strong> antígeno por um perío<strong>do</strong> prolonga<strong>do</strong>.<br />

Uma vez que o antígeno encontra-se<br />

encapsula<strong>do</strong> no interior das partículas e<br />

por isso protegi<strong>do</strong> da ação de enzimas, as<br />

microesferas têm si<strong>do</strong> utilizadas para a<br />

estimulação da resposta imune em nível de<br />

mucosas. Após administração por via oral,<br />

as partículas menores que 5µm são captadas<br />

nas placas de Peyer por células M e<br />

Figura 5 – Obtenção de microesferas<br />

poliméricas conten<strong>do</strong> DNA<br />

pelo méto<strong>do</strong> de emulsão múltipla<br />

e evaporação <strong>do</strong> solvente<br />

transportadas para o teci<strong>do</strong> linfóide onde<br />

elas encontram células apresenta<strong>do</strong>ras de<br />

antígenos. Esta possibilidade de imunização<br />

tem como grande vantagem a produção<br />

de IgA secretória que funcionaria como<br />

uma barreira inicial contra patógenos que<br />

invadem o organismo por superfícies mucosas.<br />

Recentemente, Jones e colabora<strong>do</strong>res<br />

(1997) demonstraram que o plasmídeo<br />

conten<strong>do</strong> o gene que codifica a enzima<br />

luciferase, encapsula<strong>do</strong> em microesferas<br />

de PLGA foi capaz de estimular a resposta<br />

imune humoral efetiva após administração<br />

oral em camun<strong>do</strong>ngos. Pelo exposto, as<br />

microesferas poliméricas têm surgi<strong>do</strong> como<br />

uma estratégia interessante a ser empregada<br />

no processo de vacinação com DNA. A<br />

figura 6 ilustra o esquema de ação das<br />

vacinas de DNA encapsuladas em microesferas.<br />

Desde 1991, o Laboratório de Vacinas<br />

Gênicas da Faculdade de Medicina de<br />

Ribeirão Preto - USP, vem desenvolven<strong>do</strong><br />

projeto de pesquisa, visan<strong>do</strong> a descoberta<br />

de uma nova vacina contra a tuberculose.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s mostraram que a vacina<br />

gênica desenvolvida pelo grupo não só<br />

tem atividade preventiva contra o estabelecimento<br />

da tuberculose experimental<br />

como também alta atividade terapêutica<br />

contra a <strong>do</strong>ença já estabelecida (Lowrie et<br />

al., 1999 ). Em resumo, a vacina de DNA,<br />

que codifica o antígeno<br />

imunoestimulante hsp65<br />

de Mycobacterium leprae,<br />

tem a habilidade de: (I)<br />

prevenir o estabelecimento<br />

da infecção e da <strong>do</strong>ença;<br />

(II) eliminar a infecção<br />

causada pelo bacilo da tuberculose<br />

e curar casos<br />

crônicos da <strong>do</strong>ença disseminada;<br />

(III) resolver casos<br />

de tuberculose causada<br />

por bactérias altamente<br />

resistentes aos medicamentos<br />

usa<strong>do</strong>s no combate<br />

à <strong>do</strong>ença; e (IV) impedir<br />

a reativação da <strong>do</strong>ença<br />

quan<strong>do</strong> os animais são<br />

submeti<strong>do</strong>s a uma imunodepressão<br />

pelo tratamento<br />

com drogas imunossupressoras.<br />

Além disso,<br />

durante o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> projeto, foram determina<strong>do</strong>s<br />

os mecanismos<br />

imune efetores responsáveis<br />

pelo controle da infecção<br />

e da <strong>do</strong>ença assim<br />

como inicia<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s para saber qual a<br />

melhor maneira de se administrar as preparações<br />

vacinais para conferir maior proteção<br />

nos camun<strong>do</strong>ngos. Entretanto, para<br />

se alcançar tais resulta<strong>do</strong>s, foram necessárias<br />

3 injeções, por via intramuscular, de<br />

12 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


técnica de imunocitoquímica (Figura 7). Os da<strong>do</strong>s<br />

demonstram que o encapsulamento <strong>do</strong> DNA em<br />

microesferas é capaz de promover a transfecção de<br />

células fagocíticas in vitro. Então para avaliar o<br />

funcionamento deste sistema in vivo, estão sen<strong>do</strong><br />

estuda<strong>do</strong>s parâmetros imunológicos, em camun<strong>do</strong>ngos<br />

BALB/c, após a administração da vacina<br />

encapsulada em microesferas, por vias e esquemas<br />

diversos. Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s permitirão o estabelecimento<br />

de comparação da administração da vacina<br />

empregan<strong>do</strong>-se outras técnicas como injeção intramuscular<br />

e bombardeamento de partículas.<br />

Agradecimentos: FAPEMIG, FAPESP, CNPq,<br />

PRPq/UFMG. Ao Centro de Microscopia Eletrônica<br />

<strong>do</strong> Instituto de Ciências Biológicas da Universidade<br />

Federal de Minas Gerais pela análise de microscopia<br />

eletrônica.<br />

Figura 6– Modelo esquemático da ativação da resposta imune pela<br />

vacina de DNA encapsulada em microesferas. A) Após administração,<br />

as microesferas sâo fagocitadas por células apresenta<strong>do</strong>ras de antígenos.<br />

A erosão da matriz e difusão através de poros permite a liberação<br />

<strong>do</strong> DNA encapsula<strong>do</strong> nas microesferas. B) O plasmídeo libera<strong>do</strong><br />

penetra então no núcleo da célula hospedeira e inicia a transcrição <strong>do</strong><br />

RNAm que originará a proteína antigênica. O antígeno presente no<br />

citoplasma é então degrada<strong>do</strong> em peptídeos que se ligam a moléculas<br />

de MHC de classe I. Após a ligação, o complexo é transporta<strong>do</strong> via<br />

Golgi para a superfície celular onde podem ser reconheci<strong>do</strong>s por<br />

linfócitos T citotóxicos. C) O antígeno pode também ser processa<strong>do</strong><br />

por via exógena onde ele é fagocita<strong>do</strong> e degrada<strong>do</strong> no fagolisossoma.<br />

Os peptídeos gera<strong>do</strong>s são então conjuga<strong>do</strong>s a moléculas de MHC de<br />

Classe II e apresenta<strong>do</strong>s na superfície celular poden<strong>do</strong> ativar linfócitos<br />

T auxiliares. Dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> tipo de linfócito T auxiliar estimula<strong>do</strong>,<br />

células B podem ser ativadas e a produção de anticorpos específicos<br />

induzida. Entretanto as células B podem também sofrer ativação<br />

direta <strong>do</strong> antígeno secreta<strong>do</strong> ou libera<strong>do</strong> no meio<br />

grande quantidade de DNA (50 a 100µg<br />

por amimal). Com o objetivo de otimizar<br />

a utilização da vacina, possibilitan<strong>do</strong><br />

a redução da quantidade e <strong>do</strong><br />

número de administrações <strong>do</strong> DNA,<br />

microesferas de PLGA estão sen<strong>do</strong><br />

empregadas como carrea<strong>do</strong>res <strong>do</strong> plasmídeo.<br />

Para tal, o plasmídeo dissolvi<strong>do</strong><br />

em salina tamponada foi encapsula<strong>do</strong><br />

em microesferas de PLGA 50:50<br />

utilizan<strong>do</strong>-se o méto<strong>do</strong> de emulsão<br />

múltipla e evaporação <strong>do</strong> solvente. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s preliminares mostraram que<br />

o plasmídeo mantém-se funcional após<br />

o seu encapsulamento em microesferas<br />

e que as partículas obtidas apresentam<br />

distribuição de diâmetro varian<strong>do</strong><br />

entre 1 e 10µm, essencial para a<br />

captura por células fagocíticas. Quan<strong>do</strong><br />

adicionadas a cultura de macrófagos<br />

as microesferas são fagocitadas e<br />

a expressão da hsp65 por estas células<br />

pode ser detectada, 10 e 20 dias após<br />

o início <strong>do</strong> tratamento, utilizan<strong>do</strong>-se a<br />

Figura 7– Avaliação da expressão de hsp65<br />

por células J774 transfectadas com o DNA<br />

encapsula<strong>do</strong> em microesferas. As setas indicam<br />

as microesferas no interior das células<br />

Referências Bibliográficas:<br />

Barry M.A. & Johnston S.A. Biological features<br />

of genetic immunization. Vaccine, 15(8):788-791,<br />

1997.<br />

Davis H.L., Whalen R.G., Demeneix B.A. Direct<br />

gene transfer in skeletal muscle in vivo: factors<br />

affecting efficiency of transfer and stability of expression.<br />

Hum. Gene Ther., 4:151-156, 1993.<br />

Jones D.H., Corris S., McDonald S., Clegg J.C.S.<br />

and Farrar G.H. Poly(DL-lactide-co-glycolide)-encapsulated<br />

plasmid DNA elicits systemic and mucosal<br />

antibody responses to encoded protein after oral<br />

administration. Vaccine, 15(8):814-817, 1997.<br />

Lima K.M. & Rodrigues Júnior J.M. Poly-DLlactide-co-glycolide<br />

microspheres as a controlled<br />

delivery system. Braz. J. Med. Biol. Res., 32(2): 171-<br />

180, 1999.<br />

Lowrie DB, Tascon RE, Bonato VL, Lima VM,<br />

Faccioli LH, Stavropolous E., Colston MJ, Hewinson<br />

RG, Moelling K, Silva CL. (1999) Therapy tuberculosis<br />

in mice by DNA vaccination. Nature 400:269-<br />

271<br />

Preis I, Langer RS (1979) A single-step immunization<br />

by sustained antigen release. J Immunol<br />

Methods. 28(1-2):193-7.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 13


WWW.BIOTECNOLOGIA.COM.BR<br />

REPETE FOTOLITO<br />

14 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


CARGILL<br />

REPETE FOTOLITO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 15


Análise Diagnóstica de um<br />

PESQUISA<br />

Produto Transgênico<br />

Pedro C. Binsfeld<br />

Institute of Agricultural Botany<br />

Rheinische Friedrich-Wilhelms-University of Bonn<br />

Physiology and Biotechnology of Plants<br />

Ulp50b@uni-bonn.de<br />

Foto cedida pelo autor<br />

O CASO DO TOMATE FLAVR SAVR<br />

biotecnologia rejuvenesceu<br />

com a revolução<br />

da engenharia genética.<br />

Durante a última<br />

década <strong>do</strong> século XX,<br />

inúmeros produtos biotecnológicos<br />

deixaram de ser uma promessa<br />

para se tornar uma realidade <strong>do</strong><br />

Figura 1. Representação<br />

esquemática<br />

<strong>do</strong> vasto pool<br />

gênico e méto<strong>do</strong>s<br />

de melhoramento<br />

aplica<strong>do</strong>s na transferência<br />

de genes<br />

entre espécies em<br />

programas de melhoramento<br />

de<br />

plantas<br />

nosso cotidiano. Entre esses, incluemse<br />

inúmeros produtos usa<strong>do</strong>s na medicina,<br />

no processamento industrial, na<br />

produção de alimentos e na agricultura<br />

(Tabela 1). Entre os produtos da engenharia<br />

genética consolida<strong>do</strong>s encontramse<br />

quase que exclusivamente os controla<strong>do</strong>s<br />

por genes únicos, isto é, por monogenes.<br />

Porém, o grande desafio da nova<br />

era da engenharia genética para o início<br />

<strong>do</strong> próximo milênio será o controle de<br />

processos ou rotas metabólicas que envolvam<br />

genes múltiplos,<br />

abrin<strong>do</strong>-se, assim, uma<br />

nova página na evolução<br />

dessa tecnologia, bem<br />

como a possibilidade de<br />

gerar produtos inova<strong>do</strong>res.<br />

O melhoramento de<br />

plantas agrícolas é obti<strong>do</strong><br />

por meio <strong>do</strong> acúmulo de<br />

genes que conferem maior<br />

produtividade e qualidade<br />

aos produtos agrícolas,<br />

assim como conferem<br />

maior tolerância a fatores<br />

de estresses bióticos e abióticos.<br />

Para alcançar esse<br />

objetivo, os melhoristas<br />

lançam mão de complexos<br />

sistemas de cruzamentos<br />

e retrocruzamentos<br />

quan<strong>do</strong> os genes de interesse<br />

localizam-se na mesma<br />

espécie. Porém, quan<strong>do</strong><br />

os genes de interesse<br />

encontram-se fora <strong>do</strong> pool<br />

gênico primário da espécie,<br />

a engenharia genética<br />

oferece as ferramentas básicas<br />

para identificar, selecionar,<br />

isolar e transferir<br />

genes específicos escolhi<strong>do</strong>s<br />

dentro de um vasto<br />

pool gênico engloban<strong>do</strong> um amplo espectro<br />

de seres vivos como fonte de<br />

genes (Figura 1).<br />

Plantas transgênicas caracterizam-se<br />

16 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


por possuir um ou mais genes provenientes<br />

de um pool gênico mais distante. Pelo<br />

uso dessa tecnologia espera-se produzir<br />

novos produtos ecologicamente sustentáveis,<br />

mais produtivos, com superior<br />

qualidade e que sejam capazes de colaborar<br />

na solução da falta nutricional <strong>do</strong>s<br />

mais de 1,5 bilhão de pessoas no mun<strong>do</strong>,<br />

que sofrem de subnutrição (Malik, 1999),<br />

bem como, reduzir substancialmente a<br />

agressão ao meio ambiente (Sachse, 1998).<br />

Porém, antes que produtos de plantas<br />

transgênicas cheguem ao merca<strong>do</strong> consumi<strong>do</strong>r,<br />

a legislação prevê que esses<br />

sejam analisa<strong>do</strong>s sob diversos aspectos,<br />

garantin<strong>do</strong> seguridade para o homem,<br />

animais e meio ambiente. Tais análises<br />

envolvem inúmeros testes bioquímicos,<br />

fisiológicos, alimentares, testes de impacto<br />

ambiental e, finalmente, testes de campo.<br />

Desde 1986, após os primeiros testes<br />

de campo com plantas transgênicas, já<br />

foram realiza<strong>do</strong>s testes de campo com<br />

mais de 40 espécies de culturas agrícolas<br />

transformadas, em 31 países (Bilang. &<br />

Potrikus, 1997). Desde que se iniciou o<br />

uso comercial de plantas transgênicas<br />

nos EUA, em mea<strong>do</strong>s da década de 90,<br />

tem-se ti<strong>do</strong> um crescimento médio de<br />

20% ao ano na oferta de novos produtos<br />

provenientes da engenharia genética<br />

(Kleinmann, 1998).<br />

Por meio da engenharia genética de<br />

plantas, pode-se alterar importantes rotas<br />

metabólicas e, com isso, promover a<br />

alteração no tipo e composição de ami<strong>do</strong>,<br />

óleos, proteínas, vitaminas, etc. Com<br />

essas modificações objetiva-se: 1) elevar<br />

o valor nutricional <strong>do</strong>s alimentos, 2)<br />

melhorar o processamento industrial e a<br />

comercialização <strong>do</strong>s produtos, 3) desenvolver<br />

plantas transgênicas que funcionem<br />

como bioreatores, onde seja possível<br />

produzir polipeptídios de valor farmacêutico,<br />

como, por exemplo, vacinas<br />

na forma de antígenos de vírus ou anticorpos,<br />

e 4) produzir inúmeras enzimas<br />

(proteínas) para fins industriais. A lista de<br />

áreas de aplicação dessa tecnologia poderia<br />

ser significativamente estendida.<br />

Porém, para efeitos concretos, analisaremos<br />

a seguir um produto de engenharia<br />

genética (Tomate-FLAVR SAVR) sob o<br />

aspecto da segurança alimentar.<br />

O caso <strong>do</strong> tomate FLAVR SAVR<br />

O tomate denomina<strong>do</strong> de FLAVR<br />

SAVR, modifica<strong>do</strong> pela engenharia genética,<br />

produzida pela empresa Calgene,<br />

EUA, foi libera<strong>do</strong> pela USDA para ser<br />

comercializa<strong>do</strong> desde 1994 (Schlüter &<br />

Potrikus, 1997). O objetivo da empresa<br />

foi produzir um tomate que durante a<br />

maturação amolecesse vagarosamente.<br />

Assim, em vez de colher os frutos verdes,<br />

Figura 2. Frutos de tomate convencional<br />

em avança<strong>do</strong> processo de<br />

maturação (esquerda), frutos <strong>do</strong><br />

tomate FLAVR SAVR, com desacelera<strong>do</strong><br />

processo de amolecimento<br />

(direita)<br />

esses poderiam permanecer na planta<br />

para maturar até ficarem vermelhos. Isso<br />

melhoraria a qualidade <strong>do</strong>s frutos sem<br />

que implicasse perdas na colheita, no<br />

transporte e no armazenamento, uma vez<br />

que os frutos vermelhos e firmes, em sua<br />

consistência, assemelham-se aos que são<br />

colhi<strong>do</strong>s verdes.<br />

Variedades de tomate que produzam<br />

frutos firmes podem ser obtidas também<br />

pelos méto<strong>do</strong>s tradicionais de melhoramento.<br />

Porém, até o momento, não foi<br />

possível transferir o gene de plantas silvestres<br />

para a cultura sem que houvesse<br />

também a transferência de inúmeros caracteres<br />

indesejáveis. A engenharia genética<br />

tem si<strong>do</strong> usada como ferramenta<br />

auxiliar no melhoramento de espécies<br />

vegetais, por oferecer elevada precisão<br />

na transferência de um ou mais genes,<br />

oriun<strong>do</strong>s da própria ou de outra espécie,<br />

sem que haja perda das características<br />

desejáveis da espécie transformada, obten<strong>do</strong>-se<br />

assim o somatório de caracteres<br />

desejáveis.<br />

O amolecimento <strong>do</strong> fruto <strong>do</strong> tomate<br />

na maturação é causa<strong>do</strong> pela presença e<br />

ação de uma enzima denominada poligalacturonase<br />

(PG). Essa enzima degrada a<br />

pectina, que é um importante componente<br />

da parede celular de frutos imaturos.<br />

Durante a maturação, o amolecimento<br />

<strong>do</strong>s frutos é diretamente proporcional<br />

à presença e ação dessa enzima, assim o<br />

processo <strong>do</strong> amadurecimento pode ser<br />

retarda<strong>do</strong> se essa enzima for freada (Figura<br />

2). Para essa finalidade, isolou-se uma<br />

cópia da seqüência gênica <strong>do</strong> tomate que<br />

codifica para a PG e esta foi transferida<br />

novamente para a planta no senti<strong>do</strong> inverti<strong>do</strong><br />

(Antisenso). O gene antisenso da<br />

PG foi liga<strong>do</strong> a um promotor constitutivo,<br />

isto é, um promotor que está ativo continuamente.<br />

Por esse processo, supõe-se<br />

que a mRNA antisenso <strong>do</strong> gene da PG seja<br />

anela<strong>do</strong> ao mRNA <strong>do</strong> gene da PG normal<br />

<strong>do</strong> tomate e, assim, freie a síntese da<br />

enzima PG (isto é, o produto gênico). O<br />

mecanismo preciso desse processo não<br />

está completamente elucida<strong>do</strong>, porém,<br />

tem-se indicativos de que o mRNA seja<br />

afeta<strong>do</strong> em diferentes níveis, como na<br />

estabilidade, na transcrição, no transporte<br />

e na tradução.<br />

Além <strong>do</strong> gene antisenso da PG, transferiu-se<br />

também um gene marca<strong>do</strong>r, que<br />

facilita a identificação e a seleção das<br />

plantas transgênicas. Como gene marca<strong>do</strong>r<br />

usou-se o gene nptII associa<strong>do</strong> a um<br />

promotor constitutivo. O gene nptII codifica<br />

para a enzima fosforiltransferase<br />

[APH(3’)II], também conhecida como<br />

neomicina fosfotransferase II (NPT II),<br />

que, pela fosforilação, inativa os antibióticos<br />

<strong>do</strong> grupo aminoglicosídios (Neomicina,<br />

Canamicina e Gentamicina) (Schlüter<br />

& Potrikus, 1997). A construção gênica<br />

compreendida pelo gene antisenso da<br />

PG e o gene marca<strong>do</strong>r foi transferida<br />

mediante o vetor Agrobacterium tumefaciens.<br />

A caracterização das plantas transgênicas<br />

foi realizada por de análises moleculares<br />

e testes de segregação gênica. Os<br />

resulta<strong>do</strong>s mostraram que o número de<br />

cópias <strong>do</strong> gene antisenso da PG e nptII<br />

variava entre 2 a 6 cópias por planta<br />

transformada. Os genes distribuiam-se<br />

em diferentes regiões <strong>do</strong> genoma. Foi<br />

observa<strong>do</strong> também que os genes eram<br />

transferi<strong>do</strong>s para a progenie e segregavam<br />

de acor<strong>do</strong> com as leis de Mendel<br />

(Bilang & Potrikus, 1997; Schlüter & Potrikus,<br />

1997).<br />

A segurança <strong>do</strong> tomate transgênico,<br />

bem como sua eqüivalência com as variedades<br />

produzidas por méto<strong>do</strong>s de melhoramento<br />

convencional, tem si<strong>do</strong> questionada.<br />

Na prática, no tomate transgênico<br />

tem-se somente o gene nptII e o seu<br />

produto gênico, a enzima NPT II, como<br />

novo componente, pois o gene PG foi<br />

isola<strong>do</strong> <strong>do</strong> próprio tomate e, depois,<br />

inseri<strong>do</strong> novamente em senti<strong>do</strong> contrário.<br />

Mesmo assim, a transformação e a<br />

introdução de genes no genoma receptor<br />

podem provocar alterações genotípicas e<br />

fenotípicas inesperadas, pois podem ocorrer<br />

mutações pela integração de novos<br />

genes, já que a integração de genes pode<br />

ocorrer em regiões codifica<strong>do</strong>ras, poden<strong>do</strong>-se<br />

esperar que genes da planta receptora<br />

sejam desativa<strong>do</strong>s (silencia<strong>do</strong>s) ou<br />

outros ativa<strong>do</strong>s pela inativação de genes<br />

supressores. Mutações e efeitos pleiotrópicos,<br />

causa<strong>do</strong>s pela integração gênica,<br />

podem ser espera<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> se usa o<br />

vetor Agrobacterium. Mutações e efeitos<br />

pleiotrópicos, no entanto, não são exclusivamente<br />

causa<strong>do</strong>s pelo evento da transformação,<br />

mas também são verifica<strong>do</strong>s<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 17


em plantas criadas pelos méto<strong>do</strong>s convencionais<br />

de melhoramento (Kleinmann,<br />

1998).<br />

Um critério de avaliação de plantas<br />

transgênicas é a identificação de caracteísticas<br />

atípicas (mutações). Essas, podem<br />

originar-se da técnica de cultura de teci<strong>do</strong>s<br />

ou serem resultantes da transformação<br />

genética. Plantas com anomalias são eliminadas,<br />

manten<strong>do</strong>-se somente plantas que<br />

não exibem alterações fenotípicas, com<br />

exceção da característica para a qual foi<br />

feita a transformação da planta.<br />

Avaliação<br />

Em geral, tomates frescos são analisa<strong>do</strong>s<br />

e testa<strong>do</strong>s para sabor, aroma, textura e<br />

cor, enquanto que produtos <strong>do</strong> tomate<br />

(sucos, molho, polpa concentrada, etc.)<br />

são avalia<strong>do</strong>s para quantidade de carotenóides<br />

(Pró-vitamina A e Licopeno), vitamina<br />

C, composição total de sóli<strong>do</strong>s solúveis,<br />

teor de açúcar, teor de áci<strong>do</strong>s (citrato<br />

e malato), assim como a viscosidade e a<br />

consistência. A viscosidade é, em grande<br />

parte, função da concentração de moléculas<br />

de pectina, enquanto que a consistência<br />

depende da quantidade e estruturação<br />

<strong>do</strong>s sóli<strong>do</strong>s solúveis. No tomate transgênico,<br />

adicionalmente foram analisa<strong>do</strong>s os<br />

seguintes componentes: gordura, proteínas,<br />

tiamina, riboflavina, vitamina B6, áci<strong>do</strong><br />

nicotínico, cálcio, magnésio e fósforo,<br />

como também a presença de potenciais<br />

toxinas, como os glicoalcalóides tomatina<br />

e solanina. De acor<strong>do</strong> com a análise <strong>do</strong>s<br />

componentes <strong>do</strong> FLAVR SAVR, não ocorreram<br />

alterações na composição nutricional<br />

(Tabela 2), exceto as já esperadas na<br />

degradação da pectina. Devi<strong>do</strong> a ação <strong>do</strong><br />

gene antisenso PG no tomate transgênico,<br />

tanto o mRNA quanto a atividade enzimática<br />

da PG foram frea<strong>do</strong>s em 90-95%. Com<br />

essa redução da atividade da PG, obtevese<br />

um processo desacelera<strong>do</strong> da degradação<br />

da pectina no fruto. Isso implicou<br />

numa maior conservabilidade (Figura 2),<br />

aumento <strong>do</strong> rendimento, melhorou o processamento<br />

industrial e aumentou a tolerância<br />

a patógenos (Schlüter & Potrikus,<br />

1997).<br />

Comparan<strong>do</strong> o sabor <strong>do</strong> tomate transgênico<br />

com o <strong>do</strong> tomate convencional,<br />

não foi constatada nunhuma alteração<br />

quan<strong>do</strong> estes foram colhi<strong>do</strong>s no mesmo<br />

estádio de maturação. Para os glicoalcalóides<br />

(tomatina e solanina) não se constatou<br />

diferenças em relação ao tomate convencional.<br />

A variação constatada entre diferentes<br />

frutos de uma mesma planta foi devi<strong>do</strong><br />

a diferença no grau de maturação <strong>do</strong>s<br />

frutos. Em frutos verdes, o teor desses<br />

glicoalcalóides chega a miligramas, enquanto<br />

que em frutos maduros, devi<strong>do</strong> a<br />

presença da enzima tomatinase, o teor<br />

encontra<strong>do</strong> foi da ordem de microgramas<br />

(Redenbaugh et al. 1994).<br />

A toxicidade da enzima NPT II foi<br />

testada para verificar se esta não poderia<br />

representar um risco à saúde, mesmo que<br />

ela não tenha parentesco com proteínas<br />

tóxicas. No cotidiano, estima-se que cada<br />

pessoa ingira juntamente com saladas e<br />

verduras cruas, até 1,2x10 6 bactérias resistentes<br />

à canamicina que possuem essa<br />

enzima. A NPT II é liberada pela morte e<br />

lise bacteriana no trato digestivo humano,<br />

assim como acontece pela ingestão<br />

de um tomate transgênico. Porém, para<br />

verificar o que acontece com a enzima<br />

NPT II, simulou-se uma digestão ácida<br />

(estômago) e alcalina (intestino). Tomou-se<br />

a enzima NPT II purificada e<br />

submeteu-a ao suco estomacal. Neste, a<br />

NPT II foi destruída após 2 minutos de<br />

incubação, enquanto que, no suco intestinal,<br />

a ação proteolítica foi um pouco<br />

mais lenta e a proteólise da NPT II deuse<br />

em 5 minutos (Schlüter & Potrikus,<br />

1997).<br />

Na seqüência, testou-se a enzima ativa<br />

e purificada na alimentação de camun<strong>do</strong>ngos,<br />

onde ministrou-se uma <strong>do</strong>se<br />

única de 150 mg da enzima NPT II. Essa<br />

<strong>do</strong>se representa o conteú<strong>do</strong> enzimático<br />

de mais de 1 milhão de tomates transgênicos.<br />

Nos 7 dias subseqüentes ao tratamento,<br />

não ocorreram mortes ou alterações<br />

de comportamento <strong>do</strong>s camun<strong>do</strong>ngos.<br />

Igualmente, não puderam ser verificadas<br />

alterações de peso ou indícios<br />

patológicos nos órgãos <strong>do</strong>s animais. Paralelamente<br />

ao experimento anterior,<br />

conduziu-se outro experimento, onde<br />

tratou-se ratos com tomate transgênico<br />

durante 28 dias. A <strong>do</strong>sagem de tomates<br />

ingerida pelos ratos representaria para o<br />

homem o consumo de, aproximadamente,<br />

100 tomates por dia. Também nesse<br />

caso, não foram constata<strong>do</strong>s efeitos negativos<br />

da enzima NPT II sobre os animais.<br />

Essa enzima não possui homologia<br />

com alergênicos conheci<strong>do</strong>s, além disso,<br />

faltam à NPT II as típicas características<br />

<strong>do</strong>s alergênicos, tais como, estabilidade<br />

ao calor e estabilidade contra atividade<br />

proteolítica das enzimas digestivas.<br />

Freqüentemente, questiona-se se a<br />

atividade antibiótica seria reduzida ou<br />

inativada com o consumo de produtos<br />

transgênicos que contenham NPT II, no<br />

caso de um tratamento com canamicina e<br />

neomicina. Mesmo que o consumo <strong>do</strong><br />

tomate fosse eleva<strong>do</strong>, pela rápida atividade<br />

proteolítica no trato digestivo, a presença<br />

dessa enzima seria muito baixa, de<br />

mo<strong>do</strong> que o risco nesse caso, pode ser<br />

descarta<strong>do</strong>. Um eventual risco, porém<br />

reduzi<strong>do</strong>, poderia ocorrer se o antibiótico<br />

fosse consumi<strong>do</strong> juntamente com o<br />

tomate transgênico. Porém, para isso seriam<br />

necessárias condições ideais como: 1)<br />

toda a enzima NPT II deveria estar livre no<br />

suco gástrico, 2) deveria ter disponibilidade<br />

suficiente de ATP no meio e 3) o suco<br />

gástrico deveria estar tampona<strong>do</strong> em pH<br />

7,0, o que na prática é irreal (Schlüter &<br />

Potrikus, 1997).<br />

Via de regra, administra-se, por via<br />

oral, os antibióticos <strong>do</strong> grupo aminoglicosídios<br />

a pacientes nos casos de encefalopatia<br />

sistêmica e de cirurgia de intestino.<br />

Neste último caso, é improvável que o<br />

paciente ingira alimentos sóli<strong>do</strong>s antes da<br />

intervenção cirúrgica, portanto, não haveria<br />

risco de inativação da canamicina. No<br />

caso da encefalopatia sistêmica, a inativação<br />

da neomicina, segun<strong>do</strong> cálculos, poderia<br />

ser, no máximo, de 1,5% se o paciente<br />

ingerisse tomate transgênico juntamente<br />

com o antibiótico (Redenbaugh et al. 1994).<br />

Outra preocupação freqüentemente<br />

mencionada é se poderia haver a transferência<br />

<strong>do</strong> gene nptII da planta transformada<br />

para bactérias <strong>do</strong> trato digestivo ou<br />

bactérias patogênicas. Cálculos de probabilidade<br />

mostraram que tal evento, por<br />

várias razões, é muito raro. Isso porque o<br />

local da provável transformação seria na<br />

parte posterior <strong>do</strong> intestino delga<strong>do</strong> (íleo)<br />

e <strong>do</strong> intestino grosso (cólon), onde se<br />

encontra uma quantidade enorme de bactérias.<br />

Nesse ponto, os alimentos chegam<br />

digeri<strong>do</strong>s e o DNA fragmenta<strong>do</strong>. Porém, a<br />

concentração de DNA que estaria disponível<br />

nesse local é mínima, uma vez que, 10<br />

minutos no suco estomacal e mais 10<br />

minutos no suco intestinal as extensas<br />

moléculas de DNA são degradadas em<br />

pequenos fragmentos, onde mais de 99,99%<br />

destes são menores que 1 kb, tamanho<br />

correspondente ao tamanho <strong>do</strong> gene nptII.<br />

Fragmentos menores poderiam ser integra<strong>do</strong>s<br />

ao genoma, mas não resultariam em<br />

uma seqüência capaz de produzir uma<br />

enzima ativa. Isso mostra que a quase<br />

totalidade <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong> tomate transgênico é<br />

destruí<strong>do</strong> no trato digestivo, não haven<strong>do</strong>,<br />

portanto, risco de transferência por essas<br />

vias.<br />

Especula-se também que o gene nptII<br />

possa ser integra<strong>do</strong> ao genoma de células<br />

humanas, como, por exemplo, em células<br />

epiteliais <strong>do</strong> intestino. Para esse aspecto,<br />

não há pesquisas acabadas. Porém, a probabilidade<br />

de que isso ocorra é infinitamente<br />

reduzida. Primeiro, porque, habitualmente,<br />

células eucarióticas não tendem a<br />

integrar genes estranhos e essas possuem<br />

nucleases próprias que destroem DNA estranho<br />

que venha a penetrá-las. Segun<strong>do</strong>,<br />

a maior parte da alimentação que ingerimos<br />

é composta por genes e não se tem<br />

conhecimento de que, por isso, tenham-se<br />

introgredi<strong>do</strong> novos genes nas células epiteliais<br />

<strong>do</strong> intestino. Terceiro, a vida média<br />

18 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


de células epiteliais <strong>do</strong> intestino é relativamente<br />

curta. Se ocorresse o caso de uma<br />

eventual transferência, a probabilidade de<br />

que esse gene se estabilizasse seria pouco<br />

provável, porque a célula já estaria em<br />

processo de morte. Porém, supon<strong>do</strong> que<br />

houvesse transferência e expressão <strong>do</strong><br />

gene nptII na célula humana, isso não<br />

levaria a uma nova característica, já que as<br />

células humanas, naturalmente, já possuem<br />

elevada resistência à canamicina e à<br />

neomicina. Caso contrário, não poderíamos<br />

tomar esses antibióticos (Redenbaugh<br />

et al. 1994, Schlüter & Potrikus, 1997).<br />

Conclusão<br />

Conforme fica transparente para o produto<br />

transgênico aqui analisa<strong>do</strong>, o risco<br />

pelo consumo humano ou animal não é<br />

significante. Porém, essa não é uma afirmativa<br />

que vale para to<strong>do</strong>s os produtos da<br />

engenharia genética. Assim, como se analisou<br />

o tomate ’’FLAVR SAVR’’, é necessário<br />

que to<strong>do</strong>s os produtos transgênicos<br />

sejam examina<strong>do</strong>s, avalia<strong>do</strong>s e julga<strong>do</strong>s,<br />

caso a caso, ten<strong>do</strong> em vista a sua finalidade<br />

benéfica e que, em concordância com a<br />

legislação e basea<strong>do</strong>s nos preceitos éticos,<br />

morais, sócio-econômicos e de segurança<br />

ambiental, venham garantir vantagens ao<br />

consumi<strong>do</strong>r e ao processo produtivo, sem<br />

que, no entanto, se ponha em risco a vida<br />

e sua evolução como processo dinâmico e<br />

multivariável.<br />

Bibliografia<br />

Bilang, R. & Potrikus, I. Pflanzenzüchtung.<br />

In: Gassen, H.G. & Hammes,<br />

W.P. Handbuch Gentechnologie Lebensmittell.<br />

1ºAuflage. Hamburg - Behr Verlag,<br />

1997.<br />

Kleinmann, K. Gentechnik im Lebensmittelbereich.<br />

In: Matissek & Reinhould<br />

(ed.) Lebensmitttelchemische Gesellschaft.<br />

1º Auflage - Hamburg - Behr Verlag, 1998.<br />

Malik, V.D. Biotechnology: Multibilion<br />

Dollar Industry. In: Chopra, V.L., Malik,<br />

V.D. & Bhat S.R. Applied plant biotechnology.<br />

Science Publishers, Inc. USA, 1-69,<br />

1999.<br />

Redenbaugh, K., Hiatt, W., Martineau,<br />

B., Lindemann, J. & Emlay, D. Aminoglycoside<br />

3’-prosphotransferase II<br />

(APH(3’)II): review of ist safety and use in<br />

the production of genetically engenered<br />

plants. Food Biotechnology 8, 137-165,<br />

1994.<br />

Sachse, L. Gentechnik im Lebensmittelbereich.<br />

In: Matissek & Reinhould (ed.)<br />

Lebensmitttelchemische Gesellschaft. 1º<br />

Auflage - Hamburg - Behr Verlag, 1998.<br />

Schlüter K. & Potrikus I. Anwendungsbeispiele<br />

für die Gentechnik bei Lebensmitteln,<br />

transgene Nutzpflanzen. In: Gassen,<br />

H.G. & Hammes, W.P. Handbuch<br />

Gentechnologie Lebensmittell. 1º Auflage,<br />

Hamburg - Behr Verlag, 1997.<br />

Tabela 1. Alguns exemplos de produtos obti<strong>do</strong>s através da engenharia genética<br />

que já são amplamente utiliza<strong>do</strong>s no cotidiano (Kleinmann, 1998; Sachse, 1998,<br />

Malik, 1999)<br />

Tipo de produto<br />

Insulina humana<br />

Vacina anti-Hepatite B<br />

Alteplase<br />

Interferon- α−2b<br />

Fator anti-hemofílico<br />

Hormônio <strong>do</strong> crescimento humano<br />

Interferon-β<br />

Culturas agrícolas<br />

Tomate<br />

Canola<br />

Milho<br />

Batata<br />

Soja<br />

Algodão<br />

Aplicação industrial<br />

Detergentes e sabão em pó<br />

Produção de papel<br />

Produção de sucos e vinhos<br />

Produção de queijos<br />

Produção de álcool<br />

Indicação de uso<br />

Diabetes<br />

Prevenção da hepatite B<br />

Prevenção de infarto <strong>do</strong> miocárdio<br />

Tratamento da leucemia<br />

Hemofilia A<br />

Deficiência de crescimento<br />

Tratamento de esclerose múltipla<br />

Fenótipo verifica<strong>do</strong><br />

Maturação retardada<br />

Alteração da composição <strong>do</strong> óleo<br />

Resistência a insetos<br />

Resistência a viroses<br />

Tolerância a herbicidas<br />

Tolerância a herbicidas<br />

Tipo de enzimas<br />

Com protease, lipase, celulase, amilase<br />

Lipases<br />

Pectinase<br />

Chimosina<br />

Amilase e amiloglicosidase<br />

Tabela 2. Comparação <strong>do</strong> tomate transgênico FLAVR SAVR e o tomate não<br />

transgênico (Schlüter & Potrykus 1997)<br />

Componentes Características Alteradas<br />

Sabor<br />

Coloração <strong>do</strong> fruto<br />

Características de processamento<br />

Viscosidade <strong>do</strong> suco<br />

•<br />

Características de produção<br />

Resistência a <strong>do</strong>enças fúngicas<br />

•<br />

Amolecimento <strong>do</strong> fruto<br />

•<br />

Teor de toxina<br />

Teor de proteínas<br />

Teor de Vitamina A<br />

Teor de Vitamina B 1<br />

(Tiamina)<br />

Teor de Vitamina B 2<br />

(Riboflavina)<br />

Teor de Vitamina C<br />

Teor de áci<strong>do</strong> nicotínico<br />

Teor de cálcio<br />

Teor de magnésio<br />

Teor de fosfato<br />

Teor de sódio<br />

Teor de ferro<br />

Características Não Alteradas<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

•<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 19


PROTEÍNAS RECOMBINANTES<br />

PRODUZIDAS EM LEVEDURAS<br />

PESQUISA<br />

Fernan<strong>do</strong> Araripe Gonçalves Torres<br />

PhD, Professor Adjunto <strong>do</strong> Departamento de Biologia<br />

Celular da Universidade de Brasília.<br />

ftorres@unb.br<br />

Lídia Maria Pepe de Moraes<br />

PhD, Professora Adjunto <strong>do</strong><br />

Departamento de Biologia Celular da<br />

Universidade de Brasília<br />

lmoraes@unb.br<br />

Considerações sobre o uso de leveduras para a expressão de proteínas de interesse econômico<br />

Fotos cedidas pelos autores<br />

A levedura<br />

Saccharomyces cerevisiae<br />

As leveduras são fungos que têm si<strong>do</strong><br />

utiliza<strong>do</strong>s pelo homem há milhares de<br />

anos e cuja manipulação causou um grande<br />

impacto na produção de alimentos e,<br />

por conseguinte, influencian<strong>do</strong> o próprio<br />

processo de desenvolvimento sócio-econômico<br />

da humanidade. O pão, a cerveja<br />

e o vinho representam os produtos mais<br />

expressivos <strong>do</strong> processo de manipulação<br />

desses microrganismos ao longo <strong>do</strong> tempo.<br />

Em to<strong>do</strong>s esses processos, a levedura<br />

Saccharomyces cerevisiae teve um papel<br />

de destaque. Além de ser considerada um<br />

<strong>do</strong>s microrganismos mais úteis ao homem,<br />

essa levedura é um <strong>do</strong>s sistemas eucarióticos<br />

mais bem conheci<strong>do</strong>s. Sua genética é<br />

bem <strong>do</strong>minada e seu genoma foi totalmente<br />

seqüencia<strong>do</strong>, fato este que representou<br />

uma das maiores conquistas da Biologia<br />

no século XX. Após o advento da tecnologia<br />

<strong>do</strong> DNA recombinante, a levedura S.<br />

cerevisiae pôde ser empregada em estu<strong>do</strong>s<br />

de genética molecular a partir <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s<br />

anos 70, quan<strong>do</strong> ela foi geneticamente<br />

transformada pela primeira vez. Desde<br />

então, vários tipos de vetores moleculares<br />

foram desenvolvi<strong>do</strong>s, inclusive cromossomos<br />

artificiais, mais conheci<strong>do</strong>s como YAC<br />

(“Yeast Artificial Chromosomes”). Com a<br />

obtenção de cepas de leveduras mutantes<br />

foi possível o isolamento de genes de<br />

outros organismos eucarióticos por complementação.<br />

Nos últimos anos, foi desenvolvida<br />

em S. cerevisiae uma das mais<br />

sofisticadas abordagens para a identificação<br />

de genes interativos. Trata-se de uma<br />

técnica conhecida como sistema duplohíbri<strong>do</strong><br />

ou “two hybrid”, que propicionou<br />

a identificação de vários genes envolvi<strong>do</strong>s<br />

em vias de transdução de sinal e no ciclo<br />

celular.<br />

No campo da pesquisa aplicada, a<br />

levedura S. cerevisiae logo se destacou<br />

como um interessante candidato para a<br />

expressão de genes heterólogos de interesse<br />

biotecnológico. Embora a bactéria<br />

Escherichia coli represente uns <strong>do</strong>s mais<br />

Figura 1: Mapa <strong>do</strong> plasmídio<br />

pPIC9. Apenas os sítios de restrição<br />

mais relevantes estão indica<strong>do</strong>s.<br />

5’AOX: região promotora <strong>do</strong><br />

gene AOX1; PS: peptídeo sinal <strong>do</strong><br />

fator α; T: região termina<strong>do</strong>ra da<br />

transcrição; HIS4: marca de seleção<br />

para Pichia; 3’AOX: fragmento 3’<br />

<strong>do</strong> gene AOX1; ColE1: origem de<br />

replicação bacteriana; Amp: marca<br />

de seleção para E. coli<br />

poderosos sistemas de expressão heteróloga,<br />

várias proteínas eucarióticas de interesse<br />

comercial não puderam ser expressas<br />

eficientemente nesse microrganismo.<br />

Entre as razões para esses insucessos poderíamos<br />

citar: conformação incorreta,<br />

ausência de modificações pós-traducionais<br />

e baixos níveis de expressão. Alguns<br />

desses problemas puderam ser resolvi<strong>do</strong>s<br />

quan<strong>do</strong> as mesmas proteínas foram expressas<br />

em S. cerevisiae. O ambiente intracelular<br />

da levedura é adequa<strong>do</strong> para a<br />

ocorrência de várias reações que normalmente<br />

ocorrem em células de mamíferos.<br />

Além <strong>do</strong> mais, S. cerevisiae goza <strong>do</strong> status<br />

de microrganismo “GRAS” (Generally Recognized<br />

As Safe”) o que é de suma<br />

importância no que se refere à produção<br />

de biofármacos por engenharia genética.<br />

No entanto, várias proteínas humanas sofrem<br />

hiperglicosilação quan<strong>do</strong> secretadas<br />

por S. cerevisiae o que será discuti<strong>do</strong> mais<br />

adiante.<br />

A levedura metilotrófica<br />

Pichia pastoris<br />

Ao longo das últimas duas décadas,<br />

outras leveduras têm si<strong>do</strong> apresentadas<br />

como sistemas alternativos de expressão<br />

por apresentarem vantagens sobre S. cerevisiae.<br />

Entre esses novos sistemas, destacase<br />

Pichia pastoris, uma levedura metilotrófica,<br />

ou seja, que é capaz de crescer em<br />

meio de cultura conten<strong>do</strong> metanol como<br />

única fonte de carbono. O fato de crescer<br />

até alta densidade celular em um meio<br />

barato levou a empresa Phillips Petroleum<br />

Company a propor o uso dessa levedura<br />

como fonte de alimento (“single cell protein”<br />

- SCP). Após constatar que o processo<br />

de produção de SCP era inviável economicamente,<br />

a empresa decidiu transformar P.<br />

pastoris em um sistema de produção de<br />

proteínas recombinantes.<br />

A levedura P. pastoris apresenta duas<br />

características que a tornam uma atraente<br />

hospedeira para a produção de proteínas<br />

heterólogas. A primeira, é o forte promotor<br />

usa<strong>do</strong> para transcrever genes heterólogos,<br />

o qual é deriva<strong>do</strong> <strong>do</strong> gene da álcool<br />

oxidase (AOX1) de P. pastoris. Esse promotor<br />

é regula<strong>do</strong> transcricionalmente por<br />

metanol, um indutor relativamente barato.<br />

Em células expostas a metanol como única<br />

fonte de carbono, o início da transcrição<br />

no promotor AOX1 é altamente eficiente e<br />

comparável aos promotores deriva<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

genes altamente expressos da via glicolítica.<br />

No entanto, ao contrário <strong>do</strong>s promoto-<br />

20 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


es glicolíticos, o promotor AOX1 é firmemente<br />

regula<strong>do</strong> e reprimi<strong>do</strong> sob condições<br />

de crescimento sem metanol. Uma<br />

vez que a maioria das proteínas heterólogas<br />

são de alguma forma deletérias para a<br />

célula, quan<strong>do</strong> expressas em altos níveis,<br />

a habilidade de manter a cultura em um<br />

esta<strong>do</strong> reprimi<strong>do</strong> ou desliga<strong>do</strong> é altamente<br />

desejável. Trata-se de uma importante precaução<br />

para minimizar a seleção de mutantes<br />

que não expressam o produto heterólogo<br />

durante o crescimento da cultura.<br />

Para ser ativa<strong>do</strong>, o promotor AOX1 requer<br />

a presença de metanol e, na ausência<br />

desse indutor, ele se torna reprimi<strong>do</strong>. Além<br />

de metanol, o sistema AOX1 necessita da<br />

ausência de glicose para ser plenamente<br />

ativa<strong>do</strong>. Uma vez que o promotor AOX1 é<br />

controla<strong>do</strong> pela manipulação da fonte de<br />

carbono adiciona<strong>do</strong> ao meio de cultura, o<br />

crescimento e a indução de cepas de P.<br />

pastoris, que expressam proteínas heterólogas,<br />

são facilmente obti<strong>do</strong>s em todas as<br />

escalas, desde frascos até grandes fermenta<strong>do</strong>res.<br />

A segunda característica importante de<br />

P. pastoris é que esta levedura não é<br />

considerada uma forte fermenta<strong>do</strong>ra, como<br />

S. cerevisiae. A fermentação realizada por<br />

leveduras gera etanol, o qual, em culturas<br />

de alta densidade, pode rapidamente atingir<br />

níveis tóxicos (“efeito Crabtree”). Para<br />

uma produção economicamente viável de<br />

proteínas recombinantes a concentração<br />

de proteínas no meio deve ser proporcional<br />

à quantidade de células. É necessário,<br />

pois, atingir níveis de alta densidade celular<br />

os quais não são facilmente obti<strong>do</strong>s<br />

com S. cerevisiae. Em contraste, as cepas<br />

produtoras de P. pastoris são facilmente<br />

cultivadas a densidades celulares de aproximadamente<br />

100 g/L de peso seco, ou até<br />

maiores.<br />

Vários genes de diferentes procedências<br />

(bactérias, fungos, invertebra<strong>do</strong>s<br />

, plantas e humanos) já foram expressos<br />

em P. pastoris sob o controle <strong>do</strong><br />

promotor AOX1. A maioria <strong>do</strong>s genes<br />

expressos tiveram seus produtos secreta<strong>do</strong>s<br />

para o meio extracelular e alguns,<br />

como o fator de necrose tumoral humano,<br />

foi produzi<strong>do</strong> no ambiente intracelular. Os<br />

vetores de expressão em P. pastoris são<br />

geralmente <strong>do</strong> tipo integrativo. Esses vetores<br />

possuem um cassete de expressão<br />

forma<strong>do</strong> pelo promotor e pela região termina<strong>do</strong>ra<br />

de transcrição <strong>do</strong> gene AOX1<br />

além de uma marca de seleção, sen<strong>do</strong> a<br />

mais utilizada o gene histidinol desidrogenase<br />

(HIS4) de P. pastoris. Essa marca<br />

permite a seleção de transformantes prototróficos<br />

His + a partir de uma linhagem<br />

hospedeira his4. Um <strong>do</strong>s vetores mais<br />

utiliza<strong>do</strong>s é o plasmídio pPIC9 (Figura 1)<br />

desenvolvi<strong>do</strong> e patentea<strong>do</strong> pela empresa<br />

Invitrogen. O gene de interesse é clona<strong>do</strong><br />

Figura 2: Análise da expressão de<br />

clones de P. pastoris (protease positiva)<br />

transformada com o cassete de<br />

expressão conten<strong>do</strong> a fusão α amilase-glucoamilase.<br />

Os clones foram inocula<strong>do</strong>s<br />

em meio conten<strong>do</strong> ami<strong>do</strong><br />

que foi, então, cora<strong>do</strong> com vapor de<br />

io<strong>do</strong> após crescimento das colônias.<br />

Notar os diversos tamanhos <strong>do</strong>s halos<br />

de hidrólise que correspondem a clones<br />

com diferentes números de cópias<br />

<strong>do</strong> cassete de expressão<br />

na região <strong>do</strong> cassete de expressão em um<br />

<strong>do</strong>s sítios de clonagem que se localizam<br />

logo após o sinal de secreção, nesse caso,<br />

o peptídeo sinal <strong>do</strong> fator α de S. cerevisiae.<br />

O cassete de expressão é libera<strong>do</strong> pela<br />

digestão <strong>do</strong> plasmídio com a enzima de<br />

restrição BglII, e uma cepa his4 de P.<br />

pastoris é transformada por eletroporação.<br />

Como em S. cerevisiae, o DNA lineariza<strong>do</strong><br />

pode gerar transformantes estáveis quan<strong>do</strong><br />

se integra no genoma por recombinação<br />

homóloga. Esses transformantes podem<br />

se originar pela integração <strong>do</strong> cassete<br />

de expressão tanto no locus AOX1 quanto<br />

no his4. No primeiro caso, pode haver uma<br />

substituição completa <strong>do</strong> gene AOX1 pelo<br />

cassete de expressão, o que resulta em um<br />

fenótico denomina<strong>do</strong> Mut s , caracteriza<strong>do</strong><br />

por um crescimento lento na presença de<br />

metanol. Ocasionalmente, o cassete de<br />

expressão pode se integrar várias vezes no<br />

locus AOX1, o que pode ser confirma<strong>do</strong><br />

por análise de “Southern blotting”. Outros<br />

vetores, semelhantes ao pPIC9, não possuem<br />

sinais de secreção e, portanto, são<br />

emprega<strong>do</strong>s para a expressão intracelular.<br />

Existem variantes <strong>do</strong> pPIC9 que não possuem<br />

o sinal de secreção no cassete de<br />

expressão sen<strong>do</strong>, portanto, ideais para<br />

expressão intracelular.<br />

Embora muito utiliza<strong>do</strong>s, os vetores<br />

descritos anteriormente têm como desvantagens<br />

o grande tamanho (cerca de 8 Kb)<br />

e a presença de poucos sítios de restrição<br />

para a clonagem <strong>do</strong> gene heterólogo. Há<br />

uma família de vetores de P. pastoris que<br />

contém o gene Sh ble, que confere resistência<br />

à droga zeocina tanto em E. coli<br />

quanto em P. pastoris. Embora esses vetores<br />

sejam bem menores que o pPIC9, o<br />

preço proibitivo da droga de seleção inibe<br />

o uso desse sistema em escala industrial.<br />

Recentemente, novos plasmídios com promotores<br />

alternativos se tornaram disponíveis.<br />

Esses vetores contêm o promotor<br />

GAP, um forte promotor constitutivo deriva<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> gene gliceraldeí<strong>do</strong>-3-fosfato desidrogenase<br />

(GAP). Em culturas crescidas<br />

em glicose, os níveis de expressão obti<strong>do</strong>s<br />

pelo promotor GAP são similares àqueles<br />

obti<strong>do</strong>s com o promotor AOX1 em culturas<br />

crescidas com metanol em frascos. Uma<br />

das vantagens <strong>do</strong> promotor GAP com relação<br />

ao promotor AOX1 é que, por ser<br />

constitutivo, não é necessário mudar a<br />

cultura de um meio para outro para induzir<br />

expressão. No entanto, o uso <strong>do</strong> promotor<br />

GAP é apropria<strong>do</strong> somente para genes<br />

cujo produto não seja deletério para a<br />

célula. Além <strong>do</strong> mais, os níveis de expressão<br />

a partir <strong>do</strong> promotor AOX1 são geralmente<br />

aumenta<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> o metanol é<br />

adiciona<strong>do</strong> à culturas com taxas de crescimento<br />

limitantes em fermenta<strong>do</strong>res. O<br />

mesmo fenômeno não é observa<strong>do</strong> com o<br />

promotor GAP.<br />

Expressão heteróloga em<br />

P. pastoris<br />

Sen<strong>do</strong> P. pastoris um organismo eucariótico,<br />

a produção de proteínas heterólogas<br />

neste sistema é um processo mais<br />

complexo <strong>do</strong> que em E. coli. Mesmo as<br />

proteínas que são produzidas em P. pastoris<br />

em concentrações acima de 1 g/L podem<br />

apresentar, em frascos, níveis desaponta<strong>do</strong>res<br />

de produção inicial (menos de<br />

1 mg/L). A geração de uma linhagem<br />

produtiva requer um grande esforço de<br />

investigação para se controlar os fatores<br />

que possam limitar a produção da proteína<br />

heteróloga, assim como desenvolver estratégias<br />

para otimização da produção. Para a<br />

detecção de baixos níveis de expressão,<br />

um fator chave para a obtenção de um<br />

linhagem de P. pastoris produtiva é a<br />

disponibilidade de anticorpos específicos<br />

para a proteína heteróloga de interesse. É<br />

aconselhável que a seleção de clones<br />

prototróficos que expressam a proteína de<br />

interesse deva ser iniciada pela detecção<br />

imunológica <strong>do</strong> mesmo. Essa etapa permite<br />

selecionar clones expressan<strong>do</strong> a proteína<br />

heteróloga em diversos níveis, o que<br />

poderia implicar a existência de clones<br />

com diversos números de cópias integradas<br />

<strong>do</strong> gene de interesse.<br />

A maioria das proteínas secretadas<br />

por P. pastoris são glicosiladas, o que<br />

pode ou não afetar a atividade biológica da<br />

proteína recombinante. A glicosilação é<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 21


uma modificação pós-traducional que ocorre,<br />

primeiramente, no retículo en<strong>do</strong>plasmático<br />

e, posteriormente, no aparelho de<br />

Golgi. Observou-se que o tamanho da<br />

cadeia de carboidratos adiciona<strong>do</strong>s por P.<br />

pastoris é bem menor que aquele adiciona<strong>do</strong><br />

por S. cerevisiae. A estrutura destes<br />

oligossacarídeos é muito similar à adicionada<br />

em mamíferos e, por não ser capaz de<br />

adicionar manoses terminais com ligações<br />

α-1,3, como S. cerevisiae, as proteínas<br />

produzidas em P. pastoris são menos imunogênicas.<br />

Todavia, se a glicosilação não é<br />

desejada, as proteínas de interesse devem<br />

ser produzidas intracelularmente. Algumas<br />

proteínas expressas em P. pastoris<br />

apresentaram um núcleo de glicosilação<br />

pequeno, como no caso da invertase de S.<br />

cerevisiae. Outras, como a proteína gp120<br />

<strong>do</strong> HIV, apresentaram um padrão de glicosilação<br />

semelhante ao obti<strong>do</strong> em S. cerevisiae.<br />

Ainda não está claro porque a algumas<br />

proteínas são adicionadas cadeias<br />

externas longas de carboidratos e a outras<br />

apenas o núcleo central.<br />

A levedura P. pastoris ganhou grande<br />

aceitação com organismo hospedeiro para<br />

a produção de proteínas heterólogas de<br />

interesse farmacológico. Entre essas proteínas,<br />

destacam-se: a albumina sérica humana<br />

- que já esta em testes clínicos para<br />

seu uso como produto de substituição de<br />

plasma -, e o antígeno de superfície da<br />

hepatite B - que foi aprova<strong>do</strong> para se fazer<br />

uma vacina contra esse vírus. Em nosso<br />

laboratório, temos emprega<strong>do</strong> o sistema<br />

de expressão em P. pastoris para a expressão<br />

de várias proteínas de interesse biotecnológico.<br />

Algumas proteínas recombinantes<br />

serão utilizadas para fins farmacêuticos<br />

e outras para processos de conversão de<br />

biomassa. Dentre as proteínas já expressas<br />

por nosso grupo, destacam-se: 1) α-amilase<br />

de Bacillus subtilis (sozinha ou fusionada<br />

a uma glicoamilase de Aspergillus awamori);<br />

2) um fragmento de anticorpo (scFv)<br />

anti-Z-DNA; 3) celobiohidrolase I.2 de<br />

Humicola grisea var thermoidea.. No caso<br />

da proteína de fusão formada pelo gene da<br />

α-amilase de Bacillus subtilis e o cDNA da<br />

glicoamilase de Aspergillus awamori, a<br />

expressão foi realizada em duas linhagens<br />

de P. pastoris: uma protease negativa e a<br />

outra protease positiva. Os resulta<strong>do</strong>s preliminares<br />

mostraram que a melhor condição<br />

de expressão foi obtida quan<strong>do</strong> a<br />

linhagem protease positiva foi usada e<br />

quan<strong>do</strong> 3 cópias em sequência haviam<br />

si<strong>do</strong> integradas (Figuras 2 e 3). Aparentemente,<br />

o uso da linhagem protease negativa<br />

não é o ideal quan<strong>do</strong> a expressão<br />

ocorre em altos níveis devi<strong>do</strong> à necessidade<br />

de processamento pós-traducional da<br />

proteína de fusão. Por outro la<strong>do</strong>, no caso<br />

da expressão <strong>do</strong> fragmento de anticorpo<br />

scFv, o melhor resulta<strong>do</strong> foi obti<strong>do</strong> com<br />

uma linhagem protease negativa já que a<br />

proteína recombinante mostrou ser suscetível<br />

à ação das proteases produzidas<br />

por P. pastoris. Como no caso da proteína<br />

de fusão, a expressão da clobiohidrolase<br />

I.1 de Humicola grisea var. thermoidea, o<br />

melhor resulta<strong>do</strong> foi obti<strong>do</strong> com uma linhagem<br />

protease positiva. Experimentos<br />

preliminares demonstraram baixos níveis<br />

de expressão em frasco (cerca de 10 mg/<br />

L para a fusão e 1 mg/L para o fragmento<br />

scFv). No entanto, o rendimento poderá<br />

ser sensivelmente maior quan<strong>do</strong> as condições<br />

de expressão em fermenta<strong>do</strong>r forem<br />

ajustadas.<br />

Figura 3: Expressão da fusão α amilase-glucoamilase<br />

em cepas de P. pastoris<br />

protease negativa (SMD) e protease<br />

positiva (GS115) em meio conten<strong>do</strong><br />

ami<strong>do</strong>. Após crescimento das células, a<br />

placa foi corada com vapor de io<strong>do</strong>.<br />

GS115-C: cepa GS115 transformada com<br />

cassete de expressão sem a fusão;<br />

Fαg41 e Fαg38: cepa GS115 com 3<br />

cópias da fusão; Fαg14: cepa GS115<br />

com 1 cópia da fusão; SDM-C: cepa<br />

SMD transformada com cassete de expressão<br />

sem a fusão; SMD-Mut + e SMD-<br />

Mut s : cepa SMD com 3 cópias da fusão<br />

Perspectivas futuras<br />

Com a finalidade de reduzir os custos<br />

das etapas “<strong>do</strong>wnstream” de produção de<br />

proteínas recombinantes a partir de P.<br />

pastoris, estamos construin<strong>do</strong> novos vetores<br />

que possibilitem a rápida purificação<br />

da proteína de interesse. Estamos também<br />

desenvolven<strong>do</strong> novas estratégias que permitam<br />

a co-expressão de duas subunidades<br />

protéicas que formariam, então, uma<br />

proteína heterodimérica funcional. Essa<br />

estratégia seria útil para a expressão de<br />

alguns hormônios proteicos. A longo prazo,<br />

pretendemos isolar, a partir da biodiversidade<br />

<strong>do</strong> cerra<strong>do</strong>, novas espécies de<br />

levedura que possam ser empregadas como<br />

hospedeiras alternativas para expressão<br />

heteróloga. Esses novos sistemas poderão,<br />

eventualmente, reduzir os custos de produção<br />

com o pagamento de royalties ao<br />

exterior quan<strong>do</strong> são utiliza<strong>do</strong>s sistemas de<br />

expressão já patentea<strong>do</strong>s.<br />

Referências bibliográficas<br />

Barr, K. A., Hopkins, S. A. & Sreekrishna,<br />

K. (1992). Protocol for efficient secretion<br />

of HSA developed from Pichia pastoris.<br />

Pharmaceutical Engineering 12: 48-51.<br />

Cregg, J. M., Barringer, K. J., Hessler,<br />

ªY. & Madden, K. R. (1985). Pichia pastoris<br />

as a host system for transformants. Molecular<br />

Cell Biology 5: 3375-3385.<br />

Cregg, J. M., Tschopp, J. F., Stillman,<br />

C., Siegel, R., Akong, M., Craig, W. S.,<br />

Buckholtz, R. G., Madden, K. R., Kellaris,<br />

P.ª, Davis, G. R., Smiley, B. L., Cruze, J.,<br />

Torregrossa, R., Velicelebi, G & Thill, G. P.<br />

(1987). High-level expression and efficient<br />

assembly of hepatites B surface antigen<br />

in the methilotrophic yeast Pichia<br />

pastoris. Bio/Technology 5: 479-485.<br />

Cregg, J. M., Vedvick, T. S. & Raschke,<br />

W. C. (1993). Recent advances in the<br />

expression of foreign genes in Pichia<br />

pastoris. Bio/Technology 11: 905-910.<br />

Cregg, J. M. (1999). Expression in the<br />

methylotrophic yeast Pichia pastoris. Em<br />

“Gene Expression Systems”, ed. Joseph M.<br />

Fernandez & James P. Hoeffler, Academic<br />

Press, ISBN 012253840-4.<br />

Higgins, D. R. & Cregg, J. M. (1998).<br />

Pichia Protocols: Methods in Molecular<br />

Biology, Human Press, Totawa, N. J.<br />

Moraes, L.M.P., Astolfi-Filho, S. & Oliver,<br />

S.G. (1995). Development of yeast<br />

strains for the efficient utilization of starch:<br />

evaluation of constructs that express α-<br />

amylase and glucoamylase separately or<br />

as bifunctional fusion proteins. Applied<br />

Microbiology Biotechnology 43:1067-1076<br />

Scorer, C. A., Buckholz, R. G., Clare,<br />

J.J. & Romanos, M. A. (1993). The intracelular<br />

production and secretion of HIV-1<br />

envelope protein in the methylotrophic<br />

yeast Pichia pastoris. Gene 136: 111-119.<br />

Siegel, R. S. & Brierley, R. A. (1989).<br />

Methylotrophic yeast Pichia pastoris produced<br />

in high-cell-density fermentations<br />

with high cell yields as vehicle for recombinant<br />

protein production. Biotechnology<br />

Bioengineering 34: 403-404.<br />

Sreekrishna, K., Nelles, L., Potenz, R.<br />

Cruze, J., Mazzaferro, P., Fish, W. Fuke,<br />

M., Holden, K., Phelps, D., Wood, P. &<br />

Parker, K. (1989). High-level expression<br />

purification, and characterization, of recombinant<br />

human tumor necrosis factor<br />

synthesized in the methylotrophic yeast<br />

Pichia pastoris. Biochemistry 28: 4117-<br />

4125.<br />

Waterham, H. R., Digan, M. E., Koutz,<br />

P. J., Lair, S. L. & Cregg, J. M. (1997).<br />

Isolation of the Pichia pastoris glyceraldehyde-3-phosphate<br />

dehydrogenase gene<br />

and regulation and use of its promoter.<br />

Gene 186: 37-44.<br />

22 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


NOVARTIS<br />

REPETE FOTOLITO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 23


BIOMONITORAMENTO DE<br />

MUTAGÊNESE AMBIENTAL<br />

PESQUISA<br />

Renata Maria Augusto da Costa<br />

Aluna <strong>do</strong> programa de <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Depto. de Biologia/Genética<br />

Instituto de Biociências/USP<br />

recosta@usp.br<br />

Carlos Frederico Martins Menk<br />

Professor titular <strong>do</strong><br />

Depto. de Microbiologia<br />

Instituto de Ciências BiomédicasII/USP<br />

cfmmenck@usp.br<br />

Emprego de plantas transgênicas em mutagênese ambiental<br />

Fotos cedidas pelos autores<br />

s organismos vivos estão<br />

freqüentemente<br />

expostos a agentes<br />

ambientais que podem<br />

induzir modificações<br />

químicas no<br />

DNA, a molécula responsável pela informação<br />

genética das células. As lesões<br />

no DNA podem ser induzidas por<br />

agentes químicos, provenientes <strong>do</strong> meio<br />

ambiente ou resultantes de reações<br />

químicas que ocorrem nas próprias<br />

células; ou ainda por radiações, tais<br />

como a luz ultravioleta (UV) e raios-X.<br />

Estas modificações na estrutura <strong>do</strong> DNA<br />

são prejudiciais às células, uma vez<br />

que podem prejudicar processos vitais,<br />

tais como a duplicação <strong>do</strong> DNA e a<br />

transcrição gênica. Elas também podem<br />

causar mutações e aberrações<br />

cromossômicas, fenômenos estes que<br />

podem levar ao desenvolvimento de<br />

processos cancerosos e morte celular.<br />

Pelo fato de causarem lesões no material<br />

genético e potencialmente gerarem<br />

tumores em seres humanos, esses agentes<br />

são normalmente conheci<strong>do</strong>s como<br />

genotóxicos ou carcinogênicos. A presença<br />

de produtos químicos carcinógenos<br />

no meio ambiente vem sofren<strong>do</strong><br />

um crescente aumento, devi<strong>do</strong> à atividade<br />

humana, tanto rural e industrial,<br />

quanto urbana . A detecção destes<br />

produtos e seus prováveis efeitos nos<br />

organismos é importante no estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

impacto que eles podem trazer às<br />

populações animal, vegetal e humana.<br />

Uma boa alternativa no emprego de<br />

bioindica<strong>do</strong>res é a utilização de organismos<br />

fenotipicamente mais sensíveis<br />

às lesões no DNA. O objetivo <strong>do</strong> nosso<br />

trabalho tem si<strong>do</strong> a obtenção de um<br />

indica<strong>do</strong>r vegetal sensível à uma grande<br />

variedade de produtos lesivos ao<br />

DNA.<br />

Figura 1-<br />

Arabi<strong>do</strong>psis thaliana<br />

adulta<br />

O organismo estuda<strong>do</strong> foi Arabi<strong>do</strong>psis<br />

thaliana (figura 1), que apesar de não<br />

ser nativa da flora brasileira e não apresentar<br />

interesse econômico, é ideal para<br />

estu<strong>do</strong>s em laboratório. O pequeno porte,<br />

a alta produção de sementes (cerca<br />

de 10.000 por indivíduo) e o rápi<strong>do</strong> ciclo<br />

de vida de cinco semanas facilitam a<br />

análise genética e a identificação de<br />

mutantes.<br />

Para a obtenção de uma planta mais<br />

sensível, optamos pelo emprego de<br />

uma variedade que apresentasse alteração<br />

em alguma via de reparo das<br />

lesões no DNA. To<strong>do</strong>s os organismos<br />

vivos apresentam mecanismos que reparam,<br />

revertem, ou simplesmente toleram<br />

a persistência da lesão. O reparo<br />

por excisão de nucleotídeos (NER- nucleotide<br />

excision repair) é uma via de<br />

reparo geral, que reconhece e remove<br />

lesões que distorcem a dupla hélice em<br />

um processo multi-enzimático (para<br />

revisão, Petit and Sancar, 1999). Após o<br />

reconhecimento, o segmento de DNA<br />

ao re<strong>do</strong>r da lesão é removi<strong>do</strong> (~30<br />

nucleotídeos), forman<strong>do</strong> uma lacuna<br />

que é preenchida por meio da polimerização<br />

de uma nova fita, usan<strong>do</strong> como<br />

molde a fita não danificada e sua posterior<br />

ligação (veja figura 2). Devi<strong>do</strong> à<br />

esta atuação bastante abrangente, optamos<br />

pela obtenção de uma planta<br />

deficiente no reparo por excisão de<br />

nucleotídeos.<br />

A obtenção dessa planta não é uma<br />

tarefa fácil, uma vez que o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

reparo de DNA em plantas está apenas<br />

começan<strong>do</strong> a despertar interesse científico<br />

recentemente Vornarx et al., 1998;<br />

Britt, 1999). Desta forma, iniciamos a<br />

clonagem de genes envolvi<strong>do</strong>s nesta<br />

via em Arabi<strong>do</strong>psis thaliana. Para isso,<br />

escolhemos uma proteína de função<br />

essencial na remoção de lesões no<br />

DNA e bastante conservada entre diferentes<br />

organismos. Essa proteína é uma<br />

helicase, componente <strong>do</strong> fator de transcrição<br />

da RNA polimerase II, denominada<br />

XPB (veja figura 2). A proteína<br />

vegetal deduzida a partir da seqüência<br />

de DNA clona<strong>do</strong> por nós (atXPB1)<br />

apresentou cerca de 50% de homologia<br />

com as proteínas humana e de levedura<br />

(Ribeiro et al., 1998). Entretanto,<br />

24 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


diferin<strong>do</strong> de outros organismos,<br />

a proteína vegetal<br />

está representada em duas<br />

cópias gênicas, expressas<br />

em to<strong>do</strong>s os teci<strong>do</strong>s e todas<br />

as fases <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />

A ação da proteína vegetal<br />

atXPB1 na remoção de<br />

lesões no DNA foi inicialmente<br />

verificada por meio<br />

de ensaios de complementação<br />

em leveduras mutantes<br />

para o gene rad 25,<br />

homólogo à XPB. Após exposição<br />

à <strong>do</strong>ses crescentes<br />

de luz UV, as leveduras que<br />

expressavam a proteína<br />

vegetal apresentaram significativo<br />

aumento no nível<br />

de sobrevivência. Este resulta<strong>do</strong><br />

sugere que atXPB1<br />

atua na remoção das lesões<br />

induzidas por UV.<br />

Após a primeira indicação<br />

de que a proteína clonada<br />

estaria, de fato, envolvida<br />

no reparo por excisão<br />

de nucleotídeos, prosseguiu-se<br />

o estu<strong>do</strong> através da<br />

obtenção de uma planta<br />

mutante transgênica para<br />

esse gene, e portanto, mais<br />

sensível aos compostos genotóxicos.<br />

Para a obtenção de mutantes,<br />

a meto<strong>do</strong>logia mais<br />

utilizada em organismos animais<br />

e em leveduras é a<br />

inserção de um fragmento<br />

de DNA conheci<strong>do</strong> no gene<br />

de interesse. Entretanto, essa<br />

mutagênese dirigida ainda<br />

não é possível em plantas, uma vez que<br />

requer recombinação somática, a qual é<br />

quase inexistente em células vegetais<br />

(Leehan e Feldmann, 1997). Dessa forma,<br />

a integração de um DNA de transferência<br />

(T-DNA) é um sistema alternativo<br />

para mutagênese em A.thaliana. O T-<br />

DNA é o segmento de um plasmídeo<br />

indutor de tumorogênese de Agrobacterium<br />

tumefaciens, delimita<strong>do</strong> por seqüências<br />

de repetições imperfeitas. Como<br />

mostra<strong>do</strong> na figura 3, o T-DNA, incluin<strong>do</strong><br />

qualquer seqüência inserida entre as<br />

bordas, pode ser transferi<strong>do</strong> por meio de<br />

Agrobacterium às células vegetais e ser<br />

inseri<strong>do</strong> aleatoriamente no genoma. Vale<br />

lembrar que nesta meto<strong>do</strong>logia a seqüência<br />

de T-DNA foi modificada geneticamente<br />

através da eliminação <strong>do</strong> promotor<br />

de tumorogênese. No lugar desta<br />

seqüência indutora de tumores, está<br />

presente um marca<strong>do</strong>r de resistência ao<br />

Figura 2- Modelo para o reparo<br />

por excisão de nucleotídeos (NER)<br />

em eucariontes. Em amarelo são<br />

representa<strong>do</strong>s os componentes<br />

desta via de reparo já identifica<strong>do</strong>s<br />

em plantas<br />

antibiótico que permite a seleção de<br />

plantas transformadas.<br />

Nós empregamos uma biblioteca de<br />

Arabi<strong>do</strong>psis thaliana com cerca de 30.000<br />

plantas conten<strong>do</strong>, em média, 1,5 insertos<br />

independentes por genoma (gentilmente<br />

cedida por D. Bouchez). A identificação<br />

da planta conten<strong>do</strong> o gene atXPB1<br />

interrompi<strong>do</strong> foi feita por meio de triagem<br />

via PCR (polymerase chain reaction,<br />

ou reação em cadeia por polimerase,<br />

técnica que permite amplificação de<br />

seqüências específicas de DNA). A escolha<br />

<strong>do</strong>s inicia<strong>do</strong>res utiliza<strong>do</strong>s foi muito<br />

importante para o sucesso da<br />

seleção e está esquematiza<strong>do</strong><br />

na figura 4. Foram desenha<strong>do</strong>s<br />

oligos para o gene atX-<br />

PB1 distantes entre si cerca de<br />

1 Kpb, o que permitiu uma<br />

total cobertura <strong>do</strong> DNA genômico<br />

durante a triagem. Nas<br />

reações de PCR foram emprega<strong>do</strong>s<br />

pares de inicia<strong>do</strong>res<br />

correspondentes ao gene em<br />

questão e às bordas <strong>do</strong> T-<br />

DNA inseri<strong>do</strong>. A identificação<br />

da planta conten<strong>do</strong> o gene<br />

interrompi<strong>do</strong> foi realizada gradativamente,<br />

partin<strong>do</strong> de “hiper<br />

pools” com cerca de 750<br />

plantas, reduzin<strong>do</strong> o número<br />

de plantas na amostra testada<br />

até a obtenção da planta positiva.<br />

A confirmação da disrupção<br />

<strong>do</strong> gene atXPB1 foi<br />

obtida após o sequenciamento<br />

de bases <strong>do</strong> fragmento gera<strong>do</strong><br />

na reação de PCR. Como<br />

pode ser visualiza<strong>do</strong> na figura<br />

5, este está localiza<strong>do</strong> na extremidade<br />

<strong>do</strong> último <strong>do</strong>mínio<br />

de helicase da proteína, o que<br />

provavelmente resulta em perda<br />

da atividade enzimática.<br />

Após a obtenção da planta<br />

mutante para o gene de<br />

reparo atXPB1 foram inicia<strong>do</strong>s<br />

os primeiros testes de<br />

sensibilidade a agentes genotóxicos.<br />

A sensibilidade da<br />

planta mutada foi testada para<br />

o agente químico metilante,<br />

metil metano sulfonato (MMS),<br />

que lesa o DNA por inserção<br />

de um grupo metila nas bases<br />

nitrogenadas dessa molécula. O tratamento<br />

foi realiza<strong>do</strong> em plântulas de<br />

cinco dias e, após alguns dias, as plântulas<br />

mutantes apresentaram sensível redução<br />

no crescimento em <strong>do</strong>ses baixas<br />

<strong>do</strong> agente químico. Em <strong>do</strong>ses superiores<br />

de MMS, as plântulas mutantes apresentaram<br />

porcentagem de sobrevivência<br />

muito inferior às plântulas selvagens<br />

(figura 6). Esse resulta<strong>do</strong> sugere que a<br />

planta mutante para atXPB1 apresenta<br />

deficiência na remoção das lesões no<br />

DNA, resultan<strong>do</strong> em uma maior sensibilidade<br />

aos agentes genotóxicos.<br />

Os da<strong>do</strong>s apresenta<strong>do</strong>s indicam que<br />

dispomos de uma planta que pode servir<br />

de modelo como bioindica<strong>do</strong>ra na detecção<br />

de mutagênese ambiental. O fato<br />

desta planta estar adaptada a climas<br />

tempera<strong>do</strong>s, limita o seu emprego no<br />

Brasil a estu<strong>do</strong>s no laboratório, isto é, na<br />

detecção de agentes genotóxicos. Por<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 25


Figura 3- Esquema representativo da obtenção de plantas transgênicas mutadas através da inserção de seqüência de T-DNA.<br />

Plantas adultas com flores são co-cultivadas com Agrobacterium conten<strong>do</strong> a construção <strong>do</strong> DNA de transferência (LB e RBseqüências<br />

repetitivas nas bordas esquerda e direita, respectivamente, da inserção) mais o gene para resistência à antibiótico<br />

(KAN). As sementes destas plantas são coletadas e crescidas em meio conten<strong>do</strong> o antibiótico. As plântulas resistentes,<br />

portanto,portan<strong>do</strong> a seqüência de interesse, são crescidas até o estágio maduro para obtenção de sementes. A progênie é<br />

crescida a fim de que se possa extrair o DNA para reação de PCR e identificação da planta conten<strong>do</strong> o inserto de T-DNA no<br />

gene de interesse<br />

Figura 4- Esquema<br />

representativo da<br />

escolha e uso <strong>do</strong>s<br />

inicia<strong>do</strong>res emprega<strong>do</strong>s<br />

no PCR<br />

Figura 5- Localização da inserção de T-DNA na<br />

proteína vegetal at XPB1<br />

exemplo, em amostras de solo potencialmente<br />

contamina<strong>do</strong>, ou resíduos de<br />

filtra<strong>do</strong>s a partir de poluição atmosférica<br />

urbana. Entretanto, como Arabi<strong>do</strong>psis<br />

é uma planta bastante conhecida<br />

geneticamente, sistemas que revelam<br />

mutações já existem e podem ser incorpora<strong>do</strong>s<br />

à este modelo por simples<br />

cruzamentos com a planta at XPB1.<br />

Como resulta<strong>do</strong>, teremos uma linhagem<br />

de plantas altamente sensível a<br />

agentes genotóxicos, possibilitan<strong>do</strong> a<br />

detecção de níveis menores de produtos<br />

mutagênicos. Dessa forma, esperamos<br />

que em breve esta e outras plantas<br />

que serão obtidas possibilitem o desenvolvimento<br />

de sistemas vegetais úteis<br />

no monitoramento ambiental para a<br />

presença de produtos que sejam tóxicos<br />

e nocivos à saúde humana.<br />

Referência Bibliográfica<br />

Britt A.B.- Molecular genetics of<br />

DNA repair in higher plants- Trends in<br />

plant science. 4: 20-25 (1999).<br />

Leehan R.A., Feldmann K.A.-T-DNA<br />

insertion mutagenesis in Arabi<strong>do</strong>psis:<br />

going back and forth- Trends in Genetics<br />

13: 152-156 (1997).<br />

Petit C., Sancar A.- Nucleotide excision<br />

repair: From E.coli to man. Biochemie<br />

81: 15-25 (1999).<br />

Ribeiro D.T., Macha<strong>do</strong> C.R., Costa<br />

R.M.A., Praekelt U.M., Van Sluys M.A.,<br />

Menck, C.F.M.- Cloning of a cDNA from<br />

Arabi<strong>do</strong>psis thaliana homologous to<br />

the human XPB gene- Gene 208: 207-<br />

213 (1998).<br />

Vornax E.J., Mitchell H.L., Karthikeyrn<br />

R., Chatterjee I., Kunz B.A.- DNA<br />

repair in higher plants- Mutation Research<br />

400: 187-200 (1998).<br />

Figura 6- Sensibilidade das plantas araXPB1-/- ao MMS<br />

26 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


EMBRAPA<br />

REPETE FOTOLITO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 27


SAÚDE<br />

TERAPIA<br />

GÊNICA<br />

Sergio U. Dani<br />

Médico pela Universidade<br />

Federal de Minas Gerais;<br />

Doutor em Medicina pela<br />

Universidade de Hannover, Alemanha;<br />

Livre-Docente em Genética pela Faculdade<br />

de Medicina de Ribeirão Preto – USP;<br />

Bolsista <strong>do</strong> Programa Jovem Pesquisa<strong>do</strong>r<br />

em Centro Emergente, da FAPESP;<br />

Diretor de Pesquisa & Desenvolvimento<br />

da Genon ltda.<br />

sudani@rgm.fmrp.usp.br<br />

Vetores para terapia gênica<br />

Fotos cedidas pelo autor<br />

erapia gênica é o tratamento<br />

de <strong>do</strong>enças basea<strong>do</strong> na transferência<br />

de material genético.<br />

Em sua forma mais simples,<br />

a terapia gênica consiste<br />

na inserção de genes funcionais<br />

em células com genes defeituosos,<br />

para substituir ou complementar esses<br />

genes causa<strong>do</strong>res de <strong>do</strong>enças. A maioria<br />

das tentativas clínicas de terapia gênica<br />

atualmente em curso são para o tratamento<br />

de <strong>do</strong>enças adquiridas, como AIDS, neoplasias<br />

malignas e <strong>do</strong>enças cardiovasculares,<br />

mais <strong>do</strong> que para <strong>do</strong>enças<br />

hereditárias. Em alguns protocolos,<br />

a tecnologia da transferência<br />

gênica vem sen<strong>do</strong> usada<br />

para alterar fenotipicamente uma<br />

célula de tal mo<strong>do</strong> a torná-la<br />

antigênica e assim desencadear<br />

uma resposta imunitária. De<br />

maneira análoga, um gen estranho<br />

pode ser inseri<strong>do</strong> em uma<br />

célula para servir como um<br />

marca<strong>do</strong>r genotípico ou fenotípico,<br />

que pode ser usa<strong>do</strong> tanto<br />

em protocolos de marcação gênica<br />

quanto na própria terapia<br />

gênica. O panorama atual indica<br />

que a terapia gênica não se<br />

limita às possibilidades de substituir<br />

ou corrigir genes defeituosos,<br />

ou eliminar seletivamente<br />

células marcadas. Um espectro<br />

terapêutico muito mais amplo<br />

se apresenta à medida em que<br />

novos sistemas são desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

para permitir a liberação de<br />

proteínas terapêuticas, tais como<br />

hormônios, citocinas, anticorpos,<br />

antígenos ou novas proteínas<br />

recombinantes. A terapia gênica<br />

é a esperança de tratamento<br />

para um grande número de <strong>do</strong>enças<br />

até hoje consideradas incuráveis<br />

por méto<strong>do</strong>s convencionais,<br />

das hereditárias e degenerativas<br />

às diversas formas de<br />

câncer e <strong>do</strong>enças infecciosas.<br />

28 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

A tecnologia básica envolvida em qualquer<br />

aplicação da terapia gênica é a transferência<br />

gênica. Vários méto<strong>do</strong>s atuais de<br />

transferência gênica e suas vantagens e<br />

desvantagens estão lista<strong>do</strong>s nas Tabelas 1<br />

a 3. A maneira mais simples de transferir<br />

genes para células e teci<strong>do</strong>s é por meio da<br />

inoculação de DNA puro, com técnicas de<br />

microinjeção; eletroporação e o méto<strong>do</strong><br />

biobalístico. Méto<strong>do</strong>s mais elabora<strong>do</strong>s e<br />

mais eficientes incluem a administração de<br />

DNA encapsula<strong>do</strong> (e.g., liposomos); ou<br />

através de vetores virais, que podem ser<br />

Tabela 1<br />

Méto<strong>do</strong>s Químicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />

fragmentos de DNA de vírus conten<strong>do</strong> o<br />

DNA a ser transferi<strong>do</strong>; ou mesmo a partícula<br />

viral formada por proteínas virais<br />

empacotan<strong>do</strong> um DNA viral modifica<strong>do</strong><br />

de maneira a tornar o vetor menos tóxico,<br />

menos patogênico ou não-patogênico.<br />

A palavra vetor, que deriva <strong>do</strong> Latim<br />

vector (“aquele que carrega, entrega”) define<br />

o agente que constitui ou contém os<br />

genes a serem transferi<strong>do</strong>s e expressos em<br />

uma célula receptora. Os diversos tipos de<br />

vetores são utiliza<strong>do</strong>s com o objetivo de<br />

levar o DNA terapêutico ao núcleo das<br />

Méto<strong>do</strong> Vantagens Desvantagens<br />

DNA-fosfato de cálcio Morte celular durante Só ex vivo; transfecção é<br />

o procedimento é mínima; baixa; baixo nível de<br />

importante na produção de expressão <strong>do</strong> transgen;<br />

vetores virais recombinantes;<br />

simples e barato; expressão<br />

pode ser transitória ou estável;<br />

DNA-DEAE dextran Mais reprodutível que o méto- Só ex vivo; transfecção é<br />

<strong>do</strong> anterior;<br />

baixa e transitória; só<br />

funciona em alguns<br />

tipos celulares<br />

DNA-lípide (liposomos) Não se integram ao genoma Baixa eficiência de transfechospedeiro;<br />

uso in vitro e in ção em relação aos sistemas<br />

vivo; carregam grandes peda- virais; expressão transitória<br />

ços de DNA (tão grandes como <strong>do</strong> transgen; leve toxicidade<br />

cromossomos inteiros); direcio- celular; podem ser inibi<strong>do</strong>s<br />

náveis; não-imunogênicos; por componentes séricos<br />

preparações livres de contaminantes<br />

(cf. vetores virais); alto<br />

grau de pureza; padronização<br />

DNA-proteína Maior direcionamento -<br />

DNA-lípide-proteína<br />

HACs (cromossomos Não se integram no genoma; Em desenvolvimento<br />

artificiais)<br />

inserções maiores são possíveis;<br />

melhor controle transcricional


células-alvo. Outra forma de transferência<br />

da mensagem genética envolve a entrega<br />

de RNA diretamente ao citoplasma das<br />

células, mas o RNA é mais instável que o<br />

DNA, o que limita a aplicação dessa modalidade<br />

de transferência gênica. O uso de<br />

mitocôndrias ou DNA mitocondrial (mtD-<br />

NA) como vetores gênicos citoplasmáticos<br />

tem aplicação potencial na reposição <strong>do</strong><br />

mtDNA a células com deficiência no metabolismo<br />

energético da fosforilação oxidativa<br />

causada por mutações no mtDNA.<br />

Afora o núcleo, a mitocôndria é a única<br />

organela que possui seu próprio DNA.<br />

Uma questão-chave da terapia gênica<br />

é a escolha <strong>do</strong> vetor adequa<strong>do</strong> a cada<br />

situação. Um vetor ideal seria aquele que<br />

pudesse acomodar um tamanho ilimita<strong>do</strong><br />

de DNA inseri<strong>do</strong>, fosse disponível em uma<br />

forma concentrada, pudesse ser facilmente<br />

produzi<strong>do</strong>, pudesse ser direciona<strong>do</strong><br />

para tipos específicos de células, não permitisse<br />

replicação autônoma <strong>do</strong> DNA, pudesse<br />

garantir uma expressão gênica a<br />

longo prazo e fosse não-tóxico e nãoimunogênico.<br />

Tal vetor ainda não existe e<br />

nenhum <strong>do</strong>s sistemas de entrega de DNA<br />

atualmente disponíveis para transferência<br />

gênica in vivo é perfeito com respeito a<br />

qualquer um desses pontos. Até a presente<br />

data, quatro sistemas de transferência gênica<br />

(DNA plasmidial complexa<strong>do</strong>, vetores<br />

retrovirais, vetores adenovirais e vetores<br />

basea<strong>do</strong>s no virus adeno-associa<strong>do</strong>)<br />

foram os mais usa<strong>do</strong>s em tentativas de<br />

terapia gênica em humanos, totalizan<strong>do</strong><br />

uma experiência clínica de cerca de três<br />

mil pacientes em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

DNA Plasmidial Complexa<strong>do</strong><br />

Um vetor plasmidial é uma molécula<br />

de DNA circular purificada, construída por<br />

meio de técnicas <strong>do</strong> DNA recombinante<br />

para conter, além <strong>do</strong> gen terapêutico de<br />

interesse, sequências regulatórias tipo promotores<br />

e intensifica<strong>do</strong>res, para facilitar e<br />

controlar a expressão <strong>do</strong> gen. Vetores de<br />

DNA plasmidial podem ser introduzi<strong>do</strong>s<br />

nas células por uma variedade de méto<strong>do</strong>s.<br />

O mais óbvio deles, conceitualmente,<br />

é a injeção direta, que exige técnicas<br />

sofisticadas para injeção em escala microscópica.<br />

Essa técnica, entretanto, é limitada<br />

pelo fato de que somente um número<br />

relativamente pequeno de células pode<br />

ser injeta<strong>do</strong> em um determina<strong>do</strong> momento.<br />

Apesar das tentativas de automatizar as<br />

técnicas de microinjeção, o pequeno número<br />

de células que podem ser injetadas<br />

por vez continua sen<strong>do</strong> uma grande limitação.<br />

Esse méto<strong>do</strong> de transferência gênica<br />

poderá ter interesse e de utilidade clínica<br />

se um pequeno número de células purificadas<br />

da medula óssea forem injetadas e<br />

condições de cultivo celular forem encontradas<br />

para expandi-las substancialmente.<br />

Entretanto, ainda existirá o problema da<br />

expressão transitória, pois a maioria das<br />

células injetadas com o vetor não será<br />

capaz de manter a expressão por longo<br />

prazo. Isso exige outras melhorias na sequência<br />

<strong>do</strong> vetor, de mo<strong>do</strong> a aumentar, por<br />

exemplo, a eficiência de sua integração.<br />

Aumento da eficiência de transfecção<br />

<strong>do</strong> DNA plasmidial purifica<strong>do</strong> pode ser<br />

obti<strong>do</strong> com a formação de algum tipo de<br />

complexo: lipídico, protéico, ou misto.<br />

Após a aplicação desse complexo nas<br />

células em cultura ou in vivo, uma porção<br />

substancial das células en<strong>do</strong>cita o DNA e é<br />

capaz de transportar pelo menos parte<br />

dele para o núcleo, onde o DNA é expresso<br />

transitoriamente por alguns dias (Figura<br />

1). A não ser que o DNA plasmidial<br />

tenha a capacidade de integração dirigida,<br />

apenas uma fração muito pequena (geralmente<br />

muito menos de 1 por cento) das<br />

células retêm o DNA permanentemente,<br />

incorporan<strong>do</strong>-o em seus cromossomos e<br />

continuam a expressar os genes introduzi<strong>do</strong>s.<br />

Vetores Virais<br />

Vírus são vetores gênicos por excelência<br />

e vêm evoluin<strong>do</strong> há milhões de anos na<br />

natureza em associação com virtualmente<br />

to<strong>do</strong>s os organismos, de bactérias até plantas<br />

e animais. Os sistemas biomoleculares<br />

específicos de transferência, recombinação<br />

e expressão gênica a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s pelos<br />

virus constituem instrumentos poderosos<br />

para a construção de vetores mais eficientes<br />

e seguros, com indicações precisas de<br />

uso. Bacteriófagos, baculovirus, retrovirus,<br />

adenovirus e virus adeno-associa<strong>do</strong>s<br />

são exemplos de virus que foram modifica<strong>do</strong>s<br />

com sucesso pelas técnicas <strong>do</strong> DNA<br />

recombinante e já possuem aplicações na<br />

pesquisa, na agricultura e na medicina.<br />

Conceitualmente, não é surpreendente que<br />

virus de animais estejam sen<strong>do</strong> usa<strong>do</strong>s<br />

como vetores para a transferência de genes<br />

para células de mamíferos. Conforme<br />

lista<strong>do</strong> na Tabela 3, vários virus vêm<br />

sen<strong>do</strong> explora<strong>do</strong>s desta maneira.<br />

Vetores Retrovirais<br />

Um retrovirus murino, o virus da leucemia<br />

murina de Moloney (MoMuLV), foi<br />

o primeiro sistema vetorial desenvolvi<strong>do</strong><br />

para aplicações clínicas da terapia gênica.<br />

Os conceitos gerais da produção e uso<br />

desse tipo de vetor estão ilustra<strong>do</strong>s na<br />

Figura 2: Por meio de técnicas de DNA<br />

recombinante, os genes no genoma viral<br />

necessários para a reprodução <strong>do</strong> Mo-<br />

MuLV, genes gag, pol e env, são removi<strong>do</strong>s<br />

e substituí<strong>do</strong>s por um gen de interesse. O<br />

que sobra <strong>do</strong> retrovirus são seus elementos<br />

regulatórios: as repetições terminais<br />

longas (LTR), que funcionam como sinais<br />

de integração <strong>do</strong> provirus e promotores da<br />

transcrição e um sinal de empacotamento,<br />

para permitir que o RNA transcrito seja<br />

acomoda<strong>do</strong> em uma partícula viral. Para a<br />

produção <strong>do</strong>s vetores retrovirais conten<strong>do</strong><br />

o gen de interesse, é utilizada uma linhagem<br />

celular de empacotamento conten<strong>do</strong><br />

os genes gag, pol e env incorpora<strong>do</strong>s ao<br />

genoma destas células. Os vetores são<br />

produzi<strong>do</strong>s em altos títulos nas células de<br />

empacotamento e a seguir purifica<strong>do</strong>s e<br />

injeta<strong>do</strong>s no paciente (terapia gênica in<br />

vivo) ou postos em contato com células<br />

colhidas <strong>do</strong> paciente e mantidas em codições<br />

de cultivo celular (terapia gênica ex<br />

vivo). Os vetores têm a habilidade de<br />

entrar nas células-alvo, transcrever seu<br />

RNA na forma de DNA (graças à atividade<br />

da enzima transcritase reversa), e se integrar<br />

estavelmente em um cromosomo da<br />

célula como resulta<strong>do</strong> da presença das<br />

sequências regulatórias retrovirais remanescentes.<br />

Uma vez integra<strong>do</strong>, o gen inseri<strong>do</strong><br />

pode ser expresso para produzir a<br />

proteína terapêutica desejada. O vetor retroviral,<br />

desprovi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s genes para a replicação<br />

viral, não é competente para a<br />

replicação (diz-se que o vetor é “defectivo”),<br />

e por isso não é capaz de produzir<br />

mais virus competentes dentro da célulaalvo.<br />

Portanto, o vetor age como um agente<br />

final de transferência gênica, deixan<strong>do</strong><br />

uma cópia de sua sequência no genoma da<br />

célula-alvo.<br />

Vetores Adenovirais<br />

Os adenovírus humanos são DNAvírus,<br />

não envelopa<strong>do</strong>s, com um genoma<br />

dupla-fita linear de, aproximadamente, 36<br />

kb, encapsula<strong>do</strong> em um capsídeo icosaédrico<br />

medin<strong>do</strong> 70-100 nm de diâmetro. O<br />

capsídeo contém em seus vértices espículas<br />

por onde se dá a interação com receptores<br />

celulares. Na natureza, os adenovirus<br />

são capazes de infectar células <strong>do</strong> trato<br />

respiratório e gastrointestinal, causan<strong>do</strong><br />

gripes, gastroenterites em crianças ou conjuntivites<br />

epidêmicas. As glândulas adenóides<br />

são um de seus alvos e de onde se<br />

originou o nome adenovírus. Infecções<br />

envolven<strong>do</strong> o trato urinário, vias hepáticas<br />

e o sistema nervoso central podem ocorrer<br />

esporádicamente. A maioria, senão a totalidade<br />

<strong>do</strong>s adultos já foi exposta ao adenovirus<br />

e já possui anticorpos anti-adenovirus.<br />

Ao contrário <strong>do</strong>s retrovirus, os adenovirus<br />

se replicam independentemente da<br />

divisão da célula hospedeira, e seu cromosomo<br />

raramente se integra ao genoma da<br />

célula, permanecen<strong>do</strong> episomal na maioria<br />

das vezes. A integração parece ocorrer<br />

somente na presença de altos níveis de<br />

infecção em células em divisão, mas esse<br />

evento não contribui significativamente<br />

para a utilidade destes virus como vetores.<br />

Os vetores adenovirais possuem um largo<br />

espectro de infectividade celular que inclui<br />

virtualmente todas as células pósmitóticas<br />

e mitóticas (Figura 3), e também<br />

podem ser produzi<strong>do</strong>s em eleva<strong>do</strong>s títulos.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 29


Tabela 2<br />

Méto<strong>do</strong>s Físicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />

Méto<strong>do</strong> Vantagens Desvantagens<br />

Microinjeção direta Alta taxa de transfecção; Só ex vivo; potencial para<br />

evita a degradação cito- uso em terapia gênica da<br />

plasmática e lisossomal linhagem germinativa<br />

<strong>do</strong> material injeta<strong>do</strong>; apresenta problemas<br />

técnica muito trabalhosa; técnicos e éticos<br />

requer células muito<br />

bem isoladas<br />

Eletroporação Alta taxa de transfecção Só ex vivo; muita morte<br />

celular torna o procedimento<br />

pouco eficiente<br />

Injeção de plasmídeo<br />

Simplicidade; 2-19 kb po- Baixa porcentagem de fibras<br />

dem ser facilmente trans- expressam o transgen após a<br />

feri<strong>do</strong>s para músculo; uso injeção; uso restrito a pele,<br />

em vacinação gênica timo e músculo estria<strong>do</strong><br />

Injeção balística de DNA Alta taxa de transfecção; Expressão transitória;<br />

entrega de <strong>do</strong>ses precisas; lesão celular considerável<br />

uso em vacinação gênica no centro da região atingida<br />

pelo disparo<br />

A estrutura genômica <strong>do</strong>s adenovirus é<br />

mais complexa que a <strong>do</strong>s retrovirus. O<br />

genoma adenoviral codifica aproximadamente<br />

15 proteínas. A expressão gênica<br />

viral ocorre de uma maneira ordenada e é<br />

dirigida, em grande parte, pelos genes E1A<br />

e E1B, localiza<strong>do</strong>s na porção 5' <strong>do</strong> genoma<br />

adenoviral. Esses genes possuem funções<br />

de transativação para a transcrição de<br />

vários genes virais e da célula hospedeira.<br />

Como estes genes da região E1 estão<br />

envolvi<strong>do</strong>s na replicação <strong>do</strong> adenovirus,<br />

sua remoção torna o virus incompetente<br />

para replicação ou “defectivo”. A remoção<br />

também cria espaço para a inserção de um<br />

gen de interesse terapêutico. A região E3,<br />

cujo produto está envolvi<strong>do</strong> na habilidade<br />

<strong>do</strong> virus de escapar <strong>do</strong> sistema imunológico<br />

<strong>do</strong> organismo hospedeiro, também pode<br />

ser substituída por um DNA exógeno.<br />

Para a produção de vetores adenovirais,<br />

é necessário utilizar, a exemplo <strong>do</strong><br />

que ocorre com vetores retrovirais defectivos,<br />

uma linhagem de células empacota<strong>do</strong>ras<br />

conten<strong>do</strong> genes virais que transcomplementam<br />

o vetor defectivo a ser produzi<strong>do</strong>.<br />

As etapas principais de produção e<br />

uso de um vetor adenoviral estão ilustradas<br />

na Figura 4. Uma das modalidades<br />

começa pela produção de um plasmídeo<br />

ou cosmídeo conten<strong>do</strong> o genoma <strong>do</strong> adenovirus<br />

com deleções em algumas regiões<br />

especiais, como a região E1. A deleção de<br />

E1 torna o virus defectivo. O gen de<br />

interesse pode ser clona<strong>do</strong> nestas regiões<br />

deletadas, e o plasmídeo ou cosmídeo<br />

pode ser multiplica<strong>do</strong> em uma cultura de<br />

bactéria. O plasmídeo ou cosmídeo purifica<strong>do</strong><br />

é então transfecta<strong>do</strong> para as células<br />

empacota<strong>do</strong>ras onde ele é empacota<strong>do</strong> na<br />

forma de partículas adenovirais defectivas.<br />

Os vetores adenovirais assim produzi<strong>do</strong>s<br />

são isola<strong>do</strong>s <strong>do</strong> meio de cultivo das células<br />

empacota<strong>do</strong>ras, e purifica<strong>do</strong>s por ultracentrifugação<br />

em gradiente de cloreto de<br />

césio, que também concentra o vetor em<br />

suspensões com elevada titulação (mais de<br />

10 13 UFP ml -1 ), ou por cromatografia. O<br />

virus purifica<strong>do</strong> é estável em uma variedade<br />

de tampões aquosos e pode ser congela<strong>do</strong><br />

por perío<strong>do</strong>s prolonga<strong>do</strong>s sem perda<br />

de atividade.<br />

Uma estratégia alternativa de produção<br />

de vetores adenovirais consiste em<br />

preparar um plasmídeo no qual o gen de<br />

interesse é flanquea<strong>do</strong> por seqüências de<br />

DNA adenovirais. Estas sequências servem<br />

como regiões controle e contêm sinais de<br />

empacotamento e sítios para a recombinação<br />

com DNA genômico adenoviral, que<br />

será usa<strong>do</strong> para reconstituir adenovirions<br />

defectivos dentro da célula empacota<strong>do</strong>ra.<br />

A transfecção desse plasmídeo para células<br />

empacota<strong>do</strong>ras, juntamente com o DNA<br />

genômico de adenovirus com deleções<br />

selecionadas (e.g., E1, E3) leva, por meio<br />

de recombinação homóloga, à formação<br />

de partículas adenovirais com o(s)<br />

transgen(es) substituin<strong>do</strong> as regiões previamente<br />

deletadas. Portanto, tanto a clonagem<br />

direta, quanto a recombinação homóloga<br />

podem ser usadas para produzir adenovirions<br />

defectivos. Com o desenvolvimento<br />

de novas linhagens de células de<br />

empacotamento conten<strong>do</strong> um número cada<br />

vez maior de genes adenovirais para a<br />

transcomplementação, já é possível produzir<br />

vetores adenovirais conten<strong>do</strong> um<br />

número cada vez menor de sequências<br />

adenovirais e um número cada vez maior<br />

de sequências exógenas. Um vetor adenoviral<br />

“all deleted” foi produzi<strong>do</strong> recentemente.<br />

Esse vetor possuía 28 kb de DNA<br />

exógeno (gen da distrofina) e apenas 8 kb<br />

de sequências adenovirais.<br />

Vetores Adeno-Associa<strong>do</strong>s<br />

Algumas características desfavoráveis<br />

<strong>do</strong>s vetores adenovirais e retrovirais revistas<br />

na Tabela 3 incluem a incapacidade de<br />

integração <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong>s vetores adenovirais<br />

ao genoma da célula hospedeira, ocasionan<strong>do</strong><br />

uma expressão instável e a integração<br />

aleatória <strong>do</strong> DNA <strong>do</strong>s vetores retrovirais<br />

ao genoma hospedeiro, poden<strong>do</strong><br />

acarretar mutagênese insercional ativa<strong>do</strong>ra<br />

de proto-oncogenes celulares humanos<br />

ou inativação de genes supressores de<br />

tumor. Além disso, esses vetores podem<br />

provocar resposta imunológica <strong>do</strong>s tipos<br />

humoral e celular e podem ser patogênicos.<br />

Vetores alternativamente indica<strong>do</strong>s para<br />

contornar esses problemas são basea<strong>do</strong>s<br />

no virus adeno-associa<strong>do</strong> (AAV, adenoassociated<br />

virus), um pequeno vírus de<br />

DNA, não envelopa<strong>do</strong>, não patogênico,<br />

pertencente à família Parvoviridae. O AAV<br />

possui uma única molécula de DNA fita<br />

simples de 4681 bases, com repetições<br />

terminais invertidas (ITRs, inverted terminal<br />

repeats). Os ITRs são sequências palindrômicas<br />

de 145 pares de bases envolvidas<br />

na regulação <strong>do</strong> ciclo celular <strong>do</strong> AAV,<br />

dispostas nas porções terminais 5' e 3' <strong>do</strong><br />

genoma viral, que servem como origem e<br />

inicia<strong>do</strong>res para a replicação <strong>do</strong> DNA.<br />

Flanqueadas pelas ITRs, duas amplas molduras<br />

abertas de leitura codificam uma<br />

proteína regulatória e outra estrutural denominadas<br />

rep e cap, respectivamente. A<br />

região de leitura situada na porção 5' (gen<br />

rep) codifica quatro proteínas não-estruturais<br />

envolvidas com a replicação genômica.<br />

A porção 3' contém o gen cap, que<br />

codifica três proteínas estruturais para a<br />

formação <strong>do</strong> capsídeo viral.<br />

O AAV é considera<strong>do</strong> um depen<strong>do</strong>virus<br />

porque somente é capaz de se replicar<br />

em uma célula na presença de um virus<br />

auxiliar (adenovirus ou virus da herpes),<br />

que lhe forneça, em transcomplementação,<br />

os fatores auxiliares essenciais para<br />

sua replicação. Na ausência <strong>do</strong> vírus auxiliar,<br />

o genoma <strong>do</strong> AAV integra-se, preferencialmente,<br />

em um sítio específico<br />

(AAVS1) no braço curto <strong>do</strong> cromossomo<br />

19, entre q13.3 e qter, utilizan<strong>do</strong> para isso<br />

os ITRs, com alta freqüência e estabilidade,<br />

para estabelecer uma infecção latente tanto<br />

em células mitóticas quanto em células<br />

pós-mitóticas. Recentemente, formas episomais<br />

<strong>do</strong> vírus também foram identifica-<br />

30 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


das e a integração em sítios não<br />

específicos foi <strong>do</strong>cumentada, porém<br />

não há, até o momento, nenhuma<br />

relação destas formas com oncogênese<br />

insercional. O provírus latente pode<br />

ser recupera<strong>do</strong> e replica<strong>do</strong> através de<br />

uma superinfecção com o vírus auxiliar.<br />

O vírus adeno-associa<strong>do</strong> tem desperta<strong>do</strong><br />

grande interesse como um<br />

vetor potencial para transferência de<br />

genes em tentativas de terapia gênica<br />

humana. Entre as suas propriedades<br />

mais favoráveis estão: (I) nenhuma<br />

relação com <strong>do</strong>enças humanas; (II)<br />

poder de infecção de uma ampla<br />

gama de linhagens celulares derivadas<br />

de diferentes teci<strong>do</strong>s; (III) a sua<br />

habilidade de integrar dentro <strong>do</strong> genoma<br />

hospedeiro e estabelecer uma<br />

infecção latente. Este tipo de integração<br />

pode ocorrer em células que não<br />

estejam em processo de divisão, embora<br />

aconteça com uma freqüência<br />

menor que em células em divisão.<br />

Soma-se a estas características favoráveis<br />

o tipo de integração proporciona<strong>do</strong><br />

pelo AAV. A capacidade de<br />

transdução com AAV recombinante<br />

(rAAV) tem si<strong>do</strong> demonstrada em<br />

uma ampla variedade de tipos celulares,<br />

incluin<strong>do</strong> as diferenciadas, o que<br />

sugere um grande potencial desse<br />

sistema de vetor para transferência<br />

gênica in vivo para órgãos como músculo,<br />

fíga<strong>do</strong>, sistema nervoso central<br />

e pulmão.<br />

Vetores rAAV são deriva<strong>do</strong>s de<br />

plasmídeos que carregam os ITRs<br />

flanquean<strong>do</strong> o gen exógeno de interesse.<br />

Esses vetores podem ser empacota<strong>do</strong>s<br />

dentro <strong>do</strong> capsídeo <strong>do</strong> AAV<br />

pela co-transfecção em células infectadas<br />

com (I) adenovírus, e (II) um<br />

segun<strong>do</strong> plasmídeo de empacotamento<br />

conten<strong>do</strong> os genes rep e cap (Figura<br />

5). O rAAV é recupera<strong>do</strong> em células<br />

lisadas e o vírus auxiliar é removi<strong>do</strong>.<br />

Desta forma, quatro elementos são requeri<strong>do</strong>s<br />

para o empacotamento <strong>do</strong> vetor<br />

AAV: (I) células eucarióticas em cultura,<br />

(II) as proteínas responsáveis pela replicação<br />

<strong>do</strong> genoma viral e síntese <strong>do</strong> capsídeo,<br />

(III) o DNA <strong>do</strong> vetor e (IV) o vírus auxiliar.<br />

As desvantagens de utilizar partículas<br />

rAAV como vetores de transferência gênica<br />

estão no tamanho <strong>do</strong> seu genoma<br />

(acima de 5 kb ocorre interferência no<br />

encapsulamento viral), o que limita a clonagem<br />

de determina<strong>do</strong>s genes, e a dificuldade<br />

de produzir o vetor viral em grandes<br />

quantidades. Entretanto, vários melhoramentos<br />

têm si<strong>do</strong> obti<strong>do</strong>s na produção e<br />

uso de vetores basea<strong>do</strong>s em AAV. A dificuldade<br />

de produzir estes vetores em larga<br />

escala foi minimizada pela utilização de<br />

Tabela 3<br />

Méto<strong>do</strong>s Biológicos para Introdução de Genes em Células de Mamíferos<br />

Vetores Vantagens Desvantagens<br />

Retrovirais Alta taxa de transdução; Imunogênico; requer células<br />

amplo espectro de hospedeiro em divisão; risco de mutagênese<br />

(somente células em divisão); insercional; risco de reversão para o<br />

sistema muito bem estuda<strong>do</strong> tipo selvagem; inativação pelo<br />

e conheci<strong>do</strong>; integração no complemento; baixos títulos;<br />

genoma hospedeiro; proteínas baixa taxa de entegra in vivo<br />

<strong>do</strong> vetor não expressas no<br />

hospedeiro<br />

Adenovirais Amplo espectro de hospedeiro Imunogênico; reversão para o tipo<br />

(células mitóticas e não<br />

selvagem; perío<strong>do</strong> curto de expressão<br />

mitóticas); altos títulos;<br />

gênica em células em divisão (depuraalta<br />

eficiência de transdução; ção <strong>do</strong> epissomo); “vazamento” de<br />

genoma viral epissomal;<br />

proteínas virais<br />

virus selvagem causa <strong>do</strong>ença<br />

leve; não envelopa<strong>do</strong><br />

Adeno- Amplo espectro de hospedeiro; Limite ao empacotamento de DNA;<br />

associa<strong>do</strong>s nenhuma <strong>do</strong>ença humana integração não é sempre sítio-dirigida;<br />

associada; infecta células imunogênico (?)<br />

em divisão ou paradas; integração<br />

dirigida é preferencial<br />

Híbri<strong>do</strong>s Amplo espectro; altos títulos; Imunogênico<br />

Adenovirus-AAV alta eficiência de transdução;<br />

integração dirigida<br />

Herpes simples Epissomal; pode induzir infec- Imunogênico; virus diferentes têm<br />

ção latente por toda a vida (es- seletividade diferente; EBV é oncogêpecialmente<br />

no CNS);<br />

nico; ativação de virus latente; baixa<br />

acomoda insertos grandes; eficiência de transdução; expressão<br />

produção de altos títulos transitória nos vetores atuais; sistema<br />

em desenvolvimento<br />

HIV Infectam e transduzem células Sistema pouco conheci<strong>do</strong>;<br />

mitóticas e pós-mitóticas, por eficiência baixa in vivo<br />

longo prazo<br />

Vaccinia Potencial para desenvolvimento Uso limita<strong>do</strong> aos individuos não<br />

de uma grande variedade de previamente vacina<strong>do</strong>s; uso não indivacinas<br />

gênicas<br />

ca<strong>do</strong> em imunossuprimi<strong>do</strong>s<br />

plasmídeos conten<strong>do</strong> sequências de ITR e<br />

sua multiplicação em linhagens recombinantes<br />

de Escherichia coli. A restrição ao<br />

tamanho <strong>do</strong> genoma viral também foi<br />

minimizada, visto que esses plasmídeos<br />

não precisam ser encapsula<strong>do</strong>s em um<br />

capsídeo viral, poden<strong>do</strong> ser introduzi<strong>do</strong>s<br />

em células eucarióticas utilizan<strong>do</strong> a técnica<br />

de transfecção com lipossomos, sem<br />

prejuízo <strong>do</strong> amplo espectro de infectividade<br />

celular característico <strong>do</strong> AAV.<br />

Combinações de<br />

Elementos Virais e Não-Virais<br />

A combinação de elementos virais e<br />

não-virais tem si<strong>do</strong> usada para aumentar a<br />

eficiência da transferência gênica para células<br />

em cultura. Um exemplo de combinação<br />

de elementos virais e não virais é uma<br />

alternativa ao uso de partículas de rAAV<br />

mencionada anteriormente, e consiste na<br />

construção de plasmídeos com sequências<br />

de ITR delimitan<strong>do</strong> genes de interesse para<br />

promover a transformação gênica em células<br />

eucarióticas e conferir maior persistência<br />

<strong>do</strong> DNA transfecta<strong>do</strong>, se comparada<br />

àquela obtida com plasmídeos convencionais<br />

sem os ITRs. Os vírus AAV podem ser<br />

substituí<strong>do</strong>s por esse tipo de construção<br />

complexada em liposomos, pois os níveis<br />

de expressão gênica e retenção <strong>do</strong> transgen<br />

nas células transfectadas por esses<br />

complexos são semelhantes aos níveis<br />

obti<strong>do</strong>s com partículas virais encapsuladas.<br />

Mitocôndrias e DNA Mitocondrial<br />

A mitocôndria é a única organela que<br />

possui seu próprio DNA (mtDNA). Em<br />

princípio, as mitocôndrias se assemelham<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 31


Figura 1. Os complexos forma<strong>do</strong>s entre lípides ou fosfolípides e DNA constituem<br />

liposomos. Liposomos catiônicos são geralmente prepara<strong>do</strong>s a partir de fosfolípides<br />

bipolares e consistem de um núcleo hidrofílico, delimita<strong>do</strong> por uma camada<br />

lipídica externa. Os lípides catiônicos formam interações eletrostáticas com a<br />

molécula fortemente aniônica <strong>do</strong> DNA de maneira espontânea, promoven<strong>do</strong> o<br />

encapsulamento <strong>do</strong> áci<strong>do</strong> nucleico. Os liposomos assim produzi<strong>do</strong>s possuem um<br />

amplo espectro de infectividade celular<br />

Figura 2. Produção e uso de retrovirus<br />

aos lipossomos utiliza<strong>do</strong>s em transferência<br />

gênica, constituí<strong>do</strong>s de membranas lipídicas<br />

envolven<strong>do</strong> moléculas de DNA. Uma<br />

vez que mitocôndrias podem ser purificadas<br />

por ultracentrifugação de homogena<strong>do</strong>s<br />

celulares, elas poderiam ser utilizadas<br />

como vetores de transferência gênica. Mitocôndrias<br />

isoladas <strong>do</strong> sangue de <strong>do</strong>a<strong>do</strong>res<br />

podem ser fundidas a células receptoras,<br />

geran<strong>do</strong> híbri<strong>do</strong>s de citoplasma (cíbri<strong>do</strong>s)<br />

viáveis. O uso de mitocôndrias ou <strong>do</strong><br />

DNA mitocondrial (mtDNA) como vetores<br />

gênicos tem aplicação potencial na reposição<br />

<strong>do</strong> mtDNA a células com deficiências<br />

no metabolismo energético da fosforilação<br />

oxidativa causadas por mutações. Mutações<br />

no mtDNA estão ligadas a um grande<br />

número de síndromes degenerativas neuromusculares<br />

com padrão de herança materna.<br />

Além disso, mutações no mtDNA<br />

ocorrem em células da linhagem somática<br />

e se acumulam durante o envelhecimento<br />

e em condições de stress oxidativo, e<br />

podem explicar boa parte <strong>do</strong>s fenótipos<br />

característicos da idade avançada, como<br />

fraqueza muscular, <strong>do</strong>ença de Alzheimer e<br />

<strong>do</strong>ença de Parkinson.<br />

Conclusão e Perspectivas<br />

Várias <strong>do</strong>enças incuráveis pelos méto<strong>do</strong>s<br />

terapêuticos convencionais representam<br />

perspectivas futuras para a aplicação<br />

da terapia gênica. Contu<strong>do</strong>, ainda existem<br />

limitações com relação à eficiência e direcionamento<br />

<strong>do</strong>s vetores de transferência<br />

gênica da geração atual. Os vetores virais<br />

recombinantes são os veículos mais potentes<br />

para a transferência gênica, mas a<br />

resposta imunológica <strong>do</strong> hospedeiro e as<br />

dificuldades de produção em larga escala<br />

e padronização ainda são grandes barreiras<br />

para seu uso clínico. A entrega de DNA<br />

via lipossomos ou via direcionamento a<br />

receptores celulares oferece alternativas<br />

elegantes para a transferência mediada por<br />

virus, mas os níveis de expressão gênica<br />

obti<strong>do</strong>s com esses méto<strong>do</strong>s precisam ser<br />

melhora<strong>do</strong>s significativamente antes que<br />

eles possam ser utiliza<strong>do</strong>s para o tratamento<br />

de <strong>do</strong>enças humanas. Além disso, nosso<br />

conhecimento <strong>do</strong> controle transcricional é<br />

incompleto. Estes campos estão sob intensa<br />

investigação; os méto<strong>do</strong>s de transferência<br />

gênica ex vivo e in vivo estão em franco<br />

desenvolvimento e esperam-se avanços<br />

consideráveis na próxima década.<br />

O desenvolvimento de sistemas altamente<br />

eficientes de empacotamento viral<br />

e o refinamento <strong>do</strong>s processos de purifica-<br />

Figura 3. Amplo espectro de infectividade celular de um vetor adenoviral carregan<strong>do</strong> o gen LacZ de E. coli, que codifica a enzima<br />

beta-galactosidase. A expressão <strong>do</strong> gen é denotada pela cor azul <strong>do</strong> substrato X-gal, metaboliza<strong>do</strong> pela enzima nas células<br />

infectadas pelo vetor. No senti<strong>do</strong> horário, começan<strong>do</strong> pelo canto superior direito: (I) córtex renal de coelho, após infusão<br />

intracarotídea <strong>do</strong> vetor; (II) fibras de músculo estria<strong>do</strong> esquelético de rato, após injeção intramuscular <strong>do</strong> vetor; (III) células<br />

en<strong>do</strong>teliais em capilar de cérebro de rato, após infusão intracarotídea <strong>do</strong> vetor; (IV) fibroblastos na pia mater de rato, após injeção<br />

intraparenquimal <strong>do</strong> vetor; (V) astrócitos no córtex cerebral de rato, após injeção estereotáxica <strong>do</strong> vetor; (VI) neurônio piramidal<br />

<strong>do</strong> córtex <strong>do</strong> giro <strong>do</strong> cíngulo, após injeção estereotáxica <strong>do</strong> vetor no hipocampo de rato<br />

32 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


ecombinase funcional com a construção<br />

de expressão gênica em complexos lipossomais<br />

direciona<strong>do</strong>s a uma célula específica<br />

com anticorpos ou proteínas ligantes de<br />

receptores. A longo prazo, novos méto<strong>do</strong>s<br />

de entrega poderão ser desenvolvi<strong>do</strong>s para<br />

a transferência intranuclear de cromossomos<br />

artificiais humanos (HACs) carregan<strong>do</strong><br />

grupos inteiros de genes com seus elementos<br />

naturais de controle. No futuro, a pesquisa<br />

básica deverá tentar definir os elementos<br />

genômicos que tornam possível o<br />

controle temporal e espacial da expressão<br />

gênica durante a vida de um indivíduo.<br />

Avanços nessas áreas irão requerer desenvolvimentos<br />

paralelos no desenho de vetores,<br />

antes que os conhecimentos possam<br />

ser utiliza<strong>do</strong>s na prática clínica.<br />

Da grande quantidade e criatividade<br />

<strong>do</strong>s sistemas de vetores e méto<strong>do</strong>s de<br />

transfecção gênica que estão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s,<br />

parece claro que, no futuro, haverá<br />

uma grande escolha de méto<strong>do</strong>s diferentes<br />

para as diferentes aplicações clínicas.<br />

Isso certamente ampliará as oportunidades<br />

para o uso da transferência gênica no<br />

contexto clínico. A terapia gênica promete<br />

ser uma área fértil de pesquisa científica e<br />

clínica por muitos anos, e não há dúvida<br />

que se tornará uma prática clínica importante<br />

neste novo século. A terapia gênica<br />

poderá representar uma mudança de paradigma<br />

da medicina, com importantes repercussões<br />

para a sociedade.<br />

Leituras recomendadas<br />

Figura 4. Etapas da produção e uso de vetores adenovirais<br />

Figura 5. Etapas da produção e uso de partículas de vetores adeno-associa<strong>do</strong>s<br />

recombinantes (rAAV)<br />

ção e concentração poderão melhorar os<br />

títulos <strong>do</strong>s vetores virais para valores que<br />

poderão permitir a transferência gênica pela<br />

administração sistêmica. O direcionamento<br />

da entrega poderá ser possível pela incorporação<br />

de anticorpos de cadeia única contra<br />

antígenos de superfície ou ligantes para<br />

receptores transmembrânicos incorpora<strong>do</strong>s<br />

ao envelope de retrovírus ou proteínas penton<br />

de adenovírus, e há sinais encoraja<strong>do</strong>res<br />

de que essa estratégia possa alcançar sucesso.<br />

A médio prazo, espera-se a chegada de<br />

“vetores de desenho” incorporan<strong>do</strong> os elementos<br />

mais úteis <strong>do</strong>s sistemas virais e sintéticos<br />

disponíveis atualmente, com variações<br />

dependen<strong>do</strong> da aplicação. Por exemplo, as<br />

repetições terminais invertidas (ITR) <strong>do</strong>s virus<br />

adeno-associa<strong>do</strong>s, que promovem integração<br />

cromossomal estável, podem ser combinadas<br />

com seqüências de outros vetores<br />

com maior capacidade de acomodação de<br />

insertos. A integração pode ser aumentada<br />

através <strong>do</strong> empacotamento de uma enzima<br />

Balagué C, Kalla M, Zhang W-W. 1997.<br />

Adeno-associated virus rep78 protein and<br />

terminal repeats enhance integration of<br />

DNA sequences into the cellular genome. J.<br />

Virology 71:3299-3306.<br />

Dani, S.U. 1998. Terapia Gênica. Capítulo<br />

90, in Dani, R. Gastroenterologia Essencial.<br />

Rio de Janeiro, Guanabara Koogan.<br />

Dani SU. 1999. Terapia Gênica: O Objetivo<br />

Final. Cap. 14 in Rossi, BM, Pinho, M.<br />

Genética e Biologia Molecular para o Cirurgião.<br />

São Paulo, Editora Lemar, pp. 261-<br />

289.<br />

Dani SU. 1999. The challenge of vector<br />

development in gene therapy. Braz. J. Med.<br />

Biol. Res. 32:133-145.<br />

Dani SU, Uetsuki T, Nishimura I, Saito I,<br />

Yoshikawa K. 1998. Improved adenovirusmediated<br />

gene transfer to neurons in the<br />

brain: Effect of intraparenchymal injection<br />

of hypertonic mannitol and concentration<br />

of the vector particles in the infusate. Virus<br />

Reviews and Research 3(1-2):41-49.<br />

Darquet A-M, et al. 1997. A new DNA<br />

vehicle for nonviral gene delivery: supercoiled<br />

minicircle. Gene Therapy 4:1341-<br />

1349.<br />

Hartikka, J., et al. 1996. An improved<br />

plasmid DNA expression vector for direct<br />

injection into skeletal muscle. Hum Gene<br />

Ther 7:1205-1217<br />

Lebkowski JS, et al. 1988. Adeno-associated<br />

virus: a vector system for efficient<br />

introduction and integration of DNA into a<br />

variety of mammalian cell types. Mol Cell<br />

Biol 8(10):3988-96<br />

Lebkowski JS, Okarma TB, Philip R.<br />

1996. The challenges of recombinant adeno-associated<br />

virus manufacturing: alternative<br />

use of adeno-associated virus plasmid/<br />

liposome complexes for gene therapy applications.<br />

Curr Top Microbiol Immunol<br />

218:51-9<br />

Philip, R., et al. 1994. Efficient and<br />

sustained gene expression in primary T<br />

lymphocytes and primary and cultured tumor<br />

cells mediated by adeno-associated<br />

virus plasmids DNA complexed to cationic<br />

liposomes. Mol. Cell. Biol. 14, 2411-2418.<br />

Zhu, N., Liggitt, D., Liu, Y., Debs, R.<br />

1993. Systemic gene expression after intravenous<br />

DNA delivery into adult mice. Science<br />

261, 209-211.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 33


PROJETO<br />

PESQUISA<br />

TRANSCRIPTOMA<br />

Análise da Expressão Gênica em Larga Escala Usan<strong>do</strong> DNA - Arrays<br />

Geral<strong>do</strong> A. S. Passos<br />

Professor Associa<strong>do</strong> (Genética),<br />

Faculdade de O<strong>do</strong>ntologia de<br />

Ribeirão Preto e<br />

Grupo de Imunogenética Molecular,<br />

Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, USP<br />

passos@rgm.fmrp.usp.br<br />

Catherine Nguyen<br />

Bertrand Jordan<br />

Pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Centre d’Immunologie<br />

Marseille-Luminy, Equipe TAGC,<br />

INSERM-CNRS de Marseille, França<br />

nguyen@ciml.univ-mrs.fr<br />

jordan@ciml.univ-mrs.fr<br />

Fotos cedidas pelos autores<br />

34 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

s projetos genoma estão<br />

revolucionan<strong>do</strong> a maneira<br />

como a biologia e a<br />

medicina serão exploradas<br />

no próximo século e<br />

além (Collins et al., 1998). Com o seqüenciamento<br />

total <strong>do</strong>s genomas humano<br />

e de outras espécies e a disponibilidade<br />

das bibliotecas de cDNA, abriu-se<br />

a possibilidade de uma nova estratégia<br />

para a genética, que está sen<strong>do</strong> chamada<br />

de genômica funcional, a interpretação<br />

da função das seqüências de DNA<br />

numa escala genômica.<br />

No curso <strong>do</strong> seqüenciamento de<br />

diversos genomas, demonstrou-se que<br />

muitos genes são descobertos somente<br />

quan<strong>do</strong> suas seqüências totais tornamse<br />

conhecidas. Assim, a descoberta de<br />

novos genes fica dependente <strong>do</strong> trabalho<br />

de seqüenciamento <strong>do</strong> DNA.<br />

Entretanto, o conhecimento da estrutura<br />

de um gene ou de outro elemento<br />

funcional é somente parte da resposta<br />

que precisamos.<br />

A necessidade vai mais além; está na<br />

elucidação da função <strong>do</strong>s genes e isso<br />

resultará da comparação de da<strong>do</strong>s, como<br />

interação de genomas com o ambiente<br />

ou níveis de expressão gênica com o<br />

desenvolvimento normal e patológico.<br />

Isto será um desafio para toda a<br />

biologia <strong>do</strong> futuro.<br />

Os recursos rotineiros atuais para<br />

abordarmos a função <strong>do</strong>s genes numa<br />

escala genômica são por comparação e<br />

análise de padrões de seqüência com<br />

expressão gênica (RNAs mensageiros).<br />

Mas são necessárias novas estratégias<br />

para podermos relacionar a expressão<br />

<strong>do</strong>s genes diretamente com os fenômenos<br />

biológicos. Isso nos aproximará<br />

mais da função desses genes.<br />

A caracterização em larga escala de<br />

transcritos (RNAs) e suas proteínas resultantes<br />

está bem dentro da análise<br />

funcional <strong>do</strong> genoma.<br />

É bastante razoável pensarmos que o<br />

seqüenciamento e a análise <strong>do</strong>s níveis<br />

de expressão de to<strong>do</strong>s os genes de um<br />

organismo devem ser toma<strong>do</strong>s como<br />

alta prioridade.<br />

Por analogia com o termo genoma,<br />

que representa o conjunto completo <strong>do</strong>s<br />

genes (DNA) de um organismo, criou-se<br />

o termo transcriptoma, que representa o<br />

conjunto completo <strong>do</strong>s transcritos (RNAs).<br />

Seguin<strong>do</strong> a idéia, temos também o proteoma,<br />

que representa todas as proteínas.<br />

O novo desafio para a biologia está,<br />

então, na análise global desses sistemas:<br />

genoma, transcriptoma e proteoma.<br />

Recursos meto<strong>do</strong>lógicos para enfrentar<br />

esses desafios estão sen<strong>do</strong> padroniza<strong>do</strong>s<br />

com sucesso.<br />

Dentro da análise <strong>do</strong>s transcriptomas,<br />

o primeiro recurso disponível foram<br />

as bibliotecas de DNAs complementares<br />

(cDNA), ou seja, um conjunto de<br />

clones (de fagos ou plasmídeos) que<br />

abrigam cópias , se possível, de to<strong>do</strong>s os<br />

RNAs mensageiros de uma linhagem<br />

celular ou órgão na forma de cDNA.<br />

Seqüências de cDNA e conjuntos<br />

valida<strong>do</strong>s de clones com marca<strong>do</strong>res<br />

únicos são muito úteis na análise da<br />

expressão gênica.<br />

Atualmente, uma das “últimas palavras”<br />

em tecnologia para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s<br />

transcriptomas são os DNA-arrays.<br />

Alian<strong>do</strong>-se a disponibilidade das bibliotecas<br />

de cDNA com a robótica de alta<br />

precisão na deposição de pequenas<br />

amostras em superfícies sólidas, tornouse<br />

possível a preparação <strong>do</strong>s arrays<br />

(arranjos) de clones de cDNA ou até de<br />

produtos de PCRs (reação de polimerização<br />

em cadeia) em membranas de<br />

nylon ou em lâminas de vidro (figura 1).


Vejamos o princípio<br />

<strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s DNA-arrays<br />

e das sondas complexas<br />

de cDNA (Jordan,<br />

1998).<br />

Essencialmente, os<br />

méto<strong>do</strong>s das assinaturas<br />

de hibridação usam sondas<br />

complexas preparadas<br />

a partir de RNAs mensageiros<br />

de uma dada linhagem<br />

celular, teci<strong>do</strong> ou<br />

amostra cirúrgica por<br />

transcrição reversa e marcação<br />

radioativa. A sonda<br />

contém muitas espécies<br />

de RNAs mensageiros que<br />

podem variar muito em<br />

quantidade; por exemplo,<br />

no cérebro, podemos encontrar<br />

espécies varian<strong>do</strong><br />

de 1.000 a 30.000 moléculas<br />

de RNA mensageiro por célula.<br />

Sugere-se que uma célula de mamífero<br />

típica contenha, aproximadamente,<br />

300.000 moléculas individuais de RNAs<br />

mensageiros. Algumas delas estão presentes<br />

em abundância que variam de um<br />

a vários por cento.<br />

Uma parcela razoável de RNAs mensageiros<br />

são de espécies raras, representa<strong>do</strong>s<br />

a uma molécula por célula ou<br />

mesmo menos (uma espécie de RNA<br />

mensageiro presente somente uma vez a<br />

cada dez células poderá, mesmo assim,<br />

ter significa<strong>do</strong> biológico).<br />

O seqüenciamento sistemático de<br />

cDNAs poderá proporcionar os da<strong>do</strong>s<br />

de caracterização <strong>do</strong> transcriptoma, especialmente<br />

se feito em bibliotecas de<br />

cDNA (Okubo et al., 1992).<br />

Entretanto, a quantificação de baixos<br />

níveis de expressão envolve uma quantidade<br />

não usual de seqüenciamentos:<br />

para seqüenciarmos um da<strong>do</strong> RNA mensageiro<br />

abundante de 1:10.000 faz-se<br />

necessário o seqüenciamento de 50 a<br />

100.000 clones. Para cada biblioteca !<br />

Os méto<strong>do</strong>s que envolvem os tags<br />

(etiquetas moleculares de cDNAs) diminuem<br />

o seqüenciamento pela redução<br />

de cada cDNA, mas o trabalho para<br />

padronizar esses méto<strong>do</strong>s é enorme e as<br />

limitações estatísticas ainda persistem.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, os méto<strong>do</strong>s de hibridação<br />

molecular, usan<strong>do</strong> sondas complexas<br />

e um grande arranjo de alvos de<br />

DNA (DNA-arrays) têm seu poder deriva<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> fato de que cada experimento<br />

individual proporciona uma grande quantidade<br />

de informação; ainda não há<br />

méto<strong>do</strong> rival para as medidas de expressão<br />

gênica em grande escala.<br />

É claro que o seqüenciamento <strong>do</strong><br />

Figura 1.<br />

Utilização de bibliotecas de cDNA,<br />

produtos de PCR ou oligonucleotídeos<br />

na confecção <strong>do</strong>s DNA-arrays<br />

e suas alternativas de análise<br />

DNA é e será o “méto<strong>do</strong> final” para a<br />

caracterização da estrutura gênica. Com<br />

ele podemos deduzir a seqüência <strong>do</strong>s<br />

resíduos de aminoáci<strong>do</strong>s da proteína<br />

mesmo sem a termos isola<strong>do</strong>.<br />

Mas fica claro que o caminho mais<br />

rápi<strong>do</strong> e lógico para identificarmos os<br />

genes implica<strong>do</strong>s nos fenômenos biológicos<br />

normais e patológicos está sen<strong>do</strong><br />

o uso <strong>do</strong>s DNA-arrays.<br />

O poder <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s que também<br />

estão sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>s de assinaturas<br />

de hibridação se deve ao fato de que<br />

milhares de níveis de expressão podem<br />

ser mensura<strong>do</strong>s num único experimento.<br />

Brevemente, uma sonda complexa é<br />

hibridada com um array consistin<strong>do</strong> de<br />

muitos “alvos de DNA”, cada um representan<strong>do</strong><br />

um gene em particular. Seguiremos<br />

a definição a<strong>do</strong>tada por Jordan<br />

(1998), onde o DNA imobiliza<strong>do</strong> é considera<strong>do</strong><br />

como alvo.<br />

Os DNA alvos podem ser tanto colônias<br />

de bactérias fixadas em membranas,<br />

produtos PCR de clones de cDNA ou<br />

oligonucleotídeos sintéticos desenha<strong>do</strong>s<br />

para ensaiar um gene em particular.<br />

O ponto importante é que a combinação<br />

de uma sonda complexa conten<strong>do</strong><br />

muitas espécies de RNAs mensageiros<br />

com um grande arranjo (array) de<br />

alvos, o que permite a coleção de um<br />

grande volume de informações<br />

em paralelo.<br />

Nesse ponto, temos<br />

que salientar que as diferenças<br />

entre esse tipo<br />

de hibridação com as<br />

clássicas hibridações<br />

Southern- e northernblot.<br />

Nestas últimas, trabalhamos<br />

com um excesso<br />

de sonda, o DNA<br />

alvo é hibrida<strong>do</strong> até a<br />

saturação, no final da<br />

incubação.<br />

Nos experimentos de<br />

medidas de expressão<br />

gênica, entretanto, cada<br />

seqüência individual na<br />

sonda complexa está<br />

presente em pequenas<br />

quantidades em relação<br />

ao(s) seu(s) alvo(s) no<br />

array.<br />

Determinações realizadas pelo grupo<br />

de um <strong>do</strong>s autores (B. Jordan, ver<br />

Nguyen et al., 1995) para esses arrays<br />

indicaram uma proporção de 30 ng de<br />

inserto de cDNA de uma colônia de E.<br />

coli crescida sobre a membrana de<br />

nylon para menos de 0,1 ng de RNA<br />

mensageiro (cDNA).<br />

Nessas condições, a cinética de hibridação<br />

é linear e a quantidade da<br />

sonda hibridada a um da<strong>do</strong> alvo será<br />

proporcional à abundância da seqüência<br />

correspondente na sonda complexa<br />

e, portanto, ao nível de expressão <strong>do</strong><br />

gene na célula ou teci<strong>do</strong> <strong>do</strong> qual a sonda<br />

foi preparada.<br />

Embora o princípio <strong>do</strong> uso de DNAarrays<br />

tenha si<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> tão ce<strong>do</strong><br />

como, em 1991 (Lennon & Lehrach,<br />

1991), somente quatro anos após é que<br />

apareceram os primeiros trabalhos mostran<strong>do</strong><br />

a possibilidade de quantificação<br />

em DNA-arrays (Nguyen et al., 1995;<br />

Zhao et al., 1995; Pietu et al., 1996).<br />

A aquisição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s usan<strong>do</strong> sondas<br />

radioativas ou fluorescentes envolve<br />

outras necessidades como algoritmos<br />

para detecção <strong>do</strong>s pontos (spots de hibridação),<br />

subtração <strong>do</strong> background, atribuição<br />

<strong>do</strong>s sinais às entidades corretas<br />

(Granjeaud et al., 1996) e, geralmente,<br />

procedimentos corretos para o manuseio<br />

de milhares de da<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s em<br />

cada experimento individual.<br />

Os requerimentos para um sistema<br />

ideal são, principalmente, a habilidade<br />

de quantificar níveis de expressão abaixo<br />

<strong>do</strong> nível de uma molécula por célula<br />

(1/300.000); dar uma resposta linear<br />

dentro da faixa de abundância (1/300.000<br />

a 1/100); capacidade de mensuração de<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 35


muitos alvos ao mesmo tempo,<br />

idealmente o complemento total<br />

<strong>do</strong>s 100.000 genes humanos<br />

e o uso de pequenas quantidades<br />

de material de partida para<br />

a sonda, já que os interesses<br />

envolvem o estu<strong>do</strong> de populações<br />

de células difíceis de coletar<br />

e também de biópsias<br />

clínicas.<br />

Tu<strong>do</strong> isso deve ser consegui<strong>do</strong><br />

com uma reprodutibilidade<br />

aceitável, pois uma diferença<br />

de um fator de 2 entre<br />

duas assinaturas de hibridação<br />

pode ser altamente significativo.<br />

É claro que a aparelhagem<br />

deve ser compacta, com alta<br />

performance e fácil de usar.<br />

Nessas aplicações, clones<br />

de cDNA (ou produtos PCR)<br />

são arranja<strong>do</strong>s em filtros de<br />

nylon com auxílio de um robô<br />

(figura 2); as sondas complexas<br />

são marcadas com fósforo<br />

radioativo ( 32 P ou 33 P) e, então,<br />

hibridadas com os filtros.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s são adquiri<strong>do</strong>s<br />

com auxílio de sistemas de<br />

placas de imagens (phosphor<br />

imagers).<br />

O uso de sondas fluorescentes,<br />

que permitem a miniaturização<br />

devi<strong>do</strong> à sua muito boa resolução,<br />

iniciou-se em 1995 (Schena, 1995)<br />

e foi posteriormente desenvolvidas a<br />

ponto de padronizarem os micro-arrays<br />

conten<strong>do</strong> vários milhares de amostras de<br />

DNA em superfícies de um centímetro<br />

quadra<strong>do</strong>, os quais têm si<strong>do</strong> produzi<strong>do</strong>s<br />

por laboratórios acadêmicos e firmas<br />

(figura 3).<br />

Também desenvolveram os oligonucleotide-chips,<br />

sen<strong>do</strong> o setor priva<strong>do</strong><br />

norte americano o principal produtor.<br />

Tais chips contém 64.000 diferentes<br />

oligonucleotídeos sintetiza<strong>do</strong>s<br />

numa superfície de <strong>do</strong>is<br />

centímetros quadra<strong>do</strong>s (Chee<br />

et al., 1996).<br />

O DNA-chip resultante é<br />

então usa<strong>do</strong> para aplicações<br />

tipo “quase-seqüenciamento”,<br />

como, por exemplo, a detecção<br />

de mutações ao longo <strong>do</strong> gene<br />

p53.<br />

Embora originariamente<br />

projeta<strong>do</strong> para esse fim, os DNAchips<br />

podem também ser aplica<strong>do</strong>s<br />

aos estu<strong>do</strong>s de medidas de expressão<br />

gênica (Lockhart et al., 1996).<br />

Devi<strong>do</strong> ao enorme potencial de miniaturização,<br />

o DNA-chip poderá, a longo<br />

prazo, representar a principal via para<br />

Figura 2.<br />

Utilização <strong>do</strong>s macro-arrays e sondas<br />

complexas de cDNA radioativas<br />

na identificação de genes exclusivamente<br />

expressos numa dada linhagem<br />

tumoral<br />

medidas sistemáticas de expressão gênica.<br />

Entretanto, as membranas de nylon<br />

de alta densidade (membranas HD) são<br />

Sites na Internet sobre DNA-arrays e expressão<br />

gênica:<br />

http://tagc.univ-mrs.fr/<br />

www.ncbi.nlm.nih.gov/dbEST/index.html<br />

www-bio.llnl.gov/bbrp/image/image.html<br />

www.clontech.com/clontech/Catalog/Hybridization/Atlas.html<br />

www.genome-systems.com/GDA/<br />

www.synteni.com<br />

http://cmgm.Stanford.EDU/pbrown/<br />

a opção mais razoável atualmente para<br />

os estu<strong>do</strong>s de expressão gênica. As<br />

colônias de E.coli são crescidas sobre as<br />

membranas que são então lisadas e<br />

fixadas por méto<strong>do</strong>s usuais.<br />

Alternativamente, DNA<br />

obti<strong>do</strong> por PCR a partir desses<br />

clones também pode ser fixa<strong>do</strong><br />

nas membranas; isso pode<br />

contornar o problema de crescimento<br />

desigual das colônias<br />

de bactérias. Os produtos<br />

PCR podem ser aplica<strong>do</strong>s às<br />

membranas como são, só necessitan<strong>do</strong><br />

de ser <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>s e<br />

diluí<strong>do</strong>s de maneira uniforme<br />

antes de ser aplica<strong>do</strong>s. Mas<br />

realizar milhares de PCRs e<br />

depois <strong>do</strong>sar cada uma das<br />

reações não é tarefa fácil é<br />

muito demorada.<br />

Por isso é que o crescimento<br />

de colônias bacterianas<br />

sobre as membranas ainda<br />

é a melhor opção.<br />

Quanto às sondas complexas<br />

de cDNA, estas são<br />

preparadas a partir <strong>do</strong>s RNAs<br />

mensageiros (RNA poli A+)<br />

ou a partir de RNA total por<br />

transcrição reversa e marcação<br />

radioativa simultânea <strong>do</strong>s<br />

cDNAs resultantes (Bernard<br />

et al., 1996). A marcação radioativa<br />

é feita com 32 P ou,<br />

preferencialmente, com 33 P,<br />

que permite maior resolução<br />

quan<strong>do</strong> se trabalha com membranas<br />

HD.<br />

A aquisição <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s quantitativos<br />

das hibridações é obtida com as imaging<br />

plates de aparelhos leitores de fósforo<br />

(phosphor imagers). As imaging plates<br />

associadas com scanners a laser proporcionam<br />

um formato conveniente, já que<br />

muitas membranas podem ser simultaneamente<br />

expostas e um scanning demora<br />

em média cinco minutos.<br />

A imagem da hibridação, uma vez<br />

adquirida, é salva como arquivo de<br />

computa<strong>do</strong>r e pode ser quantificada,<br />

isto é, os spots de<br />

hibridação são defini<strong>do</strong>s assim<br />

como o background e<br />

valores numéricos são atribuí<strong>do</strong>s<br />

a cada spot. Agora cada<br />

valor é associa<strong>do</strong> ao clone<br />

correspondente para análises<br />

posteriores.<br />

A sensibilidade atual das<br />

membranas HD está na faixa<br />

de 1/10.000, isto é, os níveis<br />

de expressão podem ser quantifica<strong>do</strong>s<br />

ao que corresponde<br />

a espécies de RNA presentes nessa proporção<br />

em relação à população total de<br />

RNAs mensageiros.<br />

As sondas são preparadas geralmente<br />

a partir de um a alguns microgramas<br />

36 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


de RNA poli A+, ou a partir<br />

de 25 microgramas de RNA<br />

total para uso em macroarrays<br />

(membranas HD de 8<br />

x 12 cm) ou 5 microgramas<br />

de RNA total para uso em<br />

micro-arrays (1 cm 2 ).<br />

Esse “screening diferencial<br />

quantitativo” tem si<strong>do</strong><br />

aplica<strong>do</strong> na procura de “novos”<br />

genes diferencialmente<br />

expressos em células cancerosas<br />

e em teci<strong>do</strong>s normais<br />

(Zhao et al., 1995) para estudar<br />

genes especificamente<br />

expressos no músculo (Pietu<br />

et al., 1996) e para estu<strong>do</strong>s<br />

sobre a maturação <strong>do</strong> timo<br />

<strong>do</strong> camun<strong>do</strong>ngo (Rocha et<br />

al., 1997).<br />

Nosso Grupo de Imunogenética<br />

Molecular situa<strong>do</strong><br />

no Departamento de Genética<br />

da Faculdade de Medicina<br />

de Ribeirão Preto, USP, trabalha<br />

em colaboração com a<br />

Equipe TAGC (Technologies<br />

Avancées pour le Génome et<br />

la Clinique) no Centre d’Immunologie<br />

de Marseille-Luminy (Marseille, França),<br />

por intermédio <strong>do</strong> Acor<strong>do</strong> INSERM-<br />

FAPESP. Esse acor<strong>do</strong> prevê a ida de<br />

pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros para a Equipe<br />

TAGC e a vinda <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res franceses<br />

para o nosso laboratório.<br />

Estamos trabalhan<strong>do</strong> com análise da<br />

expressão gênica em larga escala durante<br />

o desenvolvimento <strong>do</strong> timo <strong>do</strong> camun<strong>do</strong>ngo,<br />

com o intuito de descobrirmos<br />

“novos” genes implica<strong>do</strong>s na maturação<br />

<strong>do</strong>s linfócitos T e na recombinação<br />

V(D)J <strong>do</strong>s genes de receptores de antígenos<br />

(TCR) (Passos et al., 1999).<br />

Essa tecnologia tenderá a tornar o<br />

processo muito mais prático quan<strong>do</strong><br />

dispusermos de toda a expressão de<br />

genomas (o transcriptoma) numa só<br />

membrana, provavelmente isso acontecerá<br />

com os micro-arrays e DNA-chips e<br />

detecção por fluorescência.<br />

O que, há <strong>do</strong>is anos, ainda era um<br />

ponto de “estrangulamento” nessa tecnologia,<br />

hoje, é realidade, ou seja, já<br />

encontramos no merca<strong>do</strong> to<strong>do</strong> um conjunto<br />

de aparelhos, que vão desde o<br />

robô para repicar os clones nas placas de<br />

microtitulação até a preparação <strong>do</strong>s micro-arrays<br />

acopla<strong>do</strong>s a um sistema para<br />

hibridação e a um scanning que identifica<br />

e quantifica os níveis de hibridação<br />

com softwares dedica<strong>do</strong>s.<br />

Em resumo, os micro-arrays são definitivamente<br />

a etapa lógica nos estu<strong>do</strong>s<br />

de expressão gênica em larga escala,<br />

Figura 3.<br />

Utilização <strong>do</strong>s DNA-chips na identificação<br />

de genes preferencialmente<br />

expressos pela levedura crescida em<br />

meios de cultura de diferentes composições<br />

embora estejam rapidamente sen<strong>do</strong> alcança<strong>do</strong>s<br />

pelos DNA-chips que foram<br />

originariamente desenvolvi<strong>do</strong>s para um<br />

propósito diferente.<br />

As realizações que apresentamos revelam<br />

o imenso potencial <strong>do</strong>s DNAarrays<br />

e o futuro promete a essa tecnologia<br />

uma revolução comparável àquela<br />

que ocorreu com o advento da reação de<br />

polimerização em cadeia (PCR).<br />

Enfim, a padronização de DNA-chips<br />

para explorar n genes em n situações<br />

abre um futuro de combinações muito<br />

mais sofisticadas, <strong>do</strong> tipo lab on a chip.<br />

No momento em que as necessidades<br />

<strong>do</strong> seqüenciamento massivo de genomas<br />

orientou a biologia em direção<br />

aos grandes equipamentos, no modelo<br />

da física de partículas, vemos o nascimento<br />

de uma solução meto<strong>do</strong>lógica<br />

proporcionada por uma ferramenta que<br />

cabe na palma de nossa mão!<br />

Referências Bibliográficas:<br />

Bernard, K., Auphan, N., Granjeaud,<br />

S., Victorero, G., Schmitt-Verhulst, A.M.,<br />

Jordan, B.R. e Nguyen, C. (1996) Nucleic<br />

Acids Res. 24: 1435-1443.<br />

Collins, F.S., Patrinos, A.,<br />

Jordan, E., Chakravarti, A.,<br />

Gesteland, R., Walters, L. et<br />

al. (1998) Science 282: 682-<br />

689.<br />

Chee, M., Yang, R., Hubbell,<br />

E., Berno, A., Huang,<br />

X.C., Stern, D., Winkler, J.,<br />

Lockhart, D.J., Morris, M.S. e<br />

Fo<strong>do</strong>r, S.P. (1996) Science<br />

274: 610-614.<br />

Granjeaud, S., Nguyen C.,<br />

Rocha, D., Luton, R. e Jordan,<br />

B. (1996) Genetic Anal. Biomol.<br />

Eng. 12: 151-162.<br />

Jordan, B.R. (1998) J. Biochem.<br />

(Tokyo) 124: 251-258.<br />

Lennon, G.G. e Lehrach,<br />

H. (1991) Trends Genet. 7:<br />

314-317.<br />

Lockhart, D.J., Dong, H.,<br />

Byrne, M.C., Follettie, M.T.,<br />

Gallo, M.V., Chee, M.S., Mittmann,<br />

M., Wang, C., Kobayashi,<br />

M., Horton, H. e<br />

Brown, E.L. (1996) Nature<br />

Biotechnol. 14: 1675-1680.<br />

Nguuen, C., Rocha, D., Granjeaud,<br />

S., Baldit, M., Bernard, K., Naquet, P. e<br />

Jordan, B. (1995) Genomics 29: 207-<br />

215.<br />

Okubo, K., Hori, N., Matoba, R.,<br />

Niiyama, T., Fukushima, A., Kojima, Y.<br />

e Matsubara, K. (1992) Nature Genet. 2:<br />

173-179.<br />

Passos, G.A.S., Junta, C.M., Espanhol,<br />

A.R., Mace<strong>do</strong>, C., Jordan, B.,<br />

Nguyen, C., Victorero., G., Loriod, B.,<br />

Granjeaud, S. (1999) Genetics Mol. Biol.<br />

22, supp.: 312.<br />

Pietu, G., Alibert, O., Guichard, V.,<br />

Lamy, B., Bois, F., Leroy, E., Mariage-<br />

Samson, R., Houlgate, R., Soularue, P. e<br />

Auffray, C. (1996) Genome Res. 6: 492-<br />

503.<br />

Rocha, D., Carrier, A., Naspetti, M.,<br />

Victorero, G., Anderson, E., Botcherby,<br />

M., Nguyen, C., Naquet, P. e Jordan, B.<br />

(1997) Immunogenetics 46: 142-151.<br />

Schena, M., Shalon, D., Davis, R.W.<br />

e Brown, P.O. (1995) Science 270: 467-<br />

470.<br />

Zhao, N., Hashida, H., Takahashi,<br />

N., Misumi, Y. e Sakaki, Y. (1995) Gene<br />

156: 207-213.<br />

Agradecimentos:<br />

À Fundação de Amparo à Pesquisa<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo (FAPESP) e ao<br />

Institut National de la Santé et de la<br />

Recherche Médicale (INSERM, França)<br />

por possibilitar o trabalho em colaboração<br />

entre nossas equipes (Proc. No. 98/<br />

09789-4).<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 37


INTERAÇÃO<br />

PESQUISA<br />

PLANTA-INSETO<br />

Adaptação <strong>do</strong>s insetos aos inibi<strong>do</strong>res de proteinases produzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />

Fotos cedidas pelos autores<br />

Marcio Castro Silva-Filho<br />

Prof. Dr. da Escola Superior de Agricultura “Luiz de<br />

Queiroz” (ESALQ/USP)<br />

Departamento de Genética<br />

Laboratório de Biologia Molecular de Plantas<br />

mdcsilva@carpa.ciagri.usp.br<br />

A<br />

B<br />

C<br />

D<br />

Maria Cristina Falco<br />

Pós-Doc. <strong>do</strong> Departamento de Genética<br />

da ESALQ/USP<br />

mcfalco@carpa.ciagri.usp.br<br />

Figura 1. Pragas de importância econômica. A) Lagarta da maçã <strong>do</strong> algo<strong>do</strong>eiro<br />

(Heliothis virescens). B) Broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis). C)<br />

Lagarta da soja (Anticarsia gemmatalis). D) Lagarta <strong>do</strong> algo<strong>do</strong>eiro (Alabama<br />

argillacea). Fotografias cedidas por Heral<strong>do</strong> Negri de Oliveira (Depto de<br />

Entomologia ESALQ/USP)<br />

co-evolução de inibi<strong>do</strong>res<br />

de proteinases (IPs) de<br />

plantas e proteinases de<br />

insetos fornece um interessante<br />

e novo paradigma<br />

para pesquisas ecológicas, fisiológicas<br />

e bioquímicas. As plantas parecem<br />

ter desenvolvi<strong>do</strong> IPs com extraordinárias<br />

propriedades contra proteinases<br />

de insetos. Eles são extremamente resistentes<br />

à proteólise e permanecem<br />

ativos sob diversos pHs intestinais<br />

(Christeller et al., 1994), além de ser<br />

identifica<strong>do</strong>s como inibi<strong>do</strong>res contra<br />

quase todas as classes de proteinases.<br />

Os IPs tendem a ser sensivelmente<br />

amplos em seus campos de ação, e há<br />

indicações que eles têm propriedades<br />

parecidas com a <strong>do</strong>s anticorpos para<br />

precipitar proteinases intestinais, retiran<strong>do</strong>-as<br />

da solução. Por outro la<strong>do</strong>, as<br />

pragas conhecidas apresentam diversas<br />

formas de evitar os efeitos negativos<br />

dessas proteínas de defesa presentes<br />

nas plantas hospedeiras. Estas incluem<br />

o uso de proteinases para as<br />

quais as plantas hospedeiras não tenham<br />

inibi<strong>do</strong>res, a degradação proteolítica<br />

de inibi<strong>do</strong>res, e mutações adquiridas<br />

que resultam em proteinases<br />

menos sensíveis aos IPs sem a perda da<br />

atividade proteolítica. Além disso, o<br />

monitoramento de mecanismos de atividade<br />

proteolítica, aparentemente leva<br />

para uma rápida resposta aos altos<br />

níveis de IPs na dieta. A expressão de<br />

proteinases insensíveis aos IPs parece<br />

ser flexivelmente regulada para compensar<br />

as proteinases inibidas.<br />

Controle de Insetos<br />

Estima-se que as perdas provocadas<br />

por pragas e <strong>do</strong>enças na agricultura<br />

mundial atinjam 37% da produção, <strong>do</strong>s<br />

quais cerca de 13% devi<strong>do</strong> a insetos<br />

(Fig. 1). Atualmente os méto<strong>do</strong>s de<br />

controle concentram-se basicamente<br />

38 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


Tabela 1. Propriedades cinéticas e peso molecular de diferentes atividades<br />

trípticas presentes em lagartas alimentadas com dieta artificial e à base de folhas<br />

Enzima<br />

T1<br />

T2<br />

T3<br />

T4<br />

Dieta à base de folhas a<br />

Km (mM)<br />

0,27<br />

0,35<br />

2,4<br />

15<br />

Peso Molecular (kDa)<br />

70<br />

67<br />

29<br />

17<br />

Km (mM)<br />

-<br />

-<br />

2,9<br />

*<br />

Dieta artificial<br />

Peso Molecular (kDa)<br />

-<br />

-<br />

29<br />

17<br />

a<br />

Folhas de fumo transgênico e não transgênico apresentaram os mesmos resulta<strong>do</strong>s<br />

* Atividade não detectada<br />

na utilização de agroquímicos dentro<br />

de um manejo integra<strong>do</strong> de pragas.<br />

Entretanto, há uma grande demanda<br />

por parte da sociedade pelo desenvolvimento<br />

de uma agricultura limpa, que<br />

diminua o uso de energia e produtos<br />

químicos, que não deixe resíduos indesejáveis<br />

no meio ambiente e nos alimentos,<br />

além de reduzir as contaminações<br />

aos agricultores. Entre as alternativas<br />

para contornar estes problemas estão<br />

o controle biológico e o uso de<br />

variedades resistentes.<br />

Com o desenvolvimento<br />

das técnicas de<br />

biologia molecular que<br />

permitem a manipulação<br />

de genes de interesse,<br />

aliadas às meto<strong>do</strong>logias<br />

de transformação<br />

genética de<br />

plantas, uma nova e<br />

interessante abordagem<br />

no controle de<br />

insetos vem atrain<strong>do</strong> a<br />

atenção de pesquisa<strong>do</strong>res<br />

em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>.<br />

Genes que codificam<br />

para proteínas<br />

com atividade inseticida<br />

tornaram-se uma<br />

arma bastante poderosa<br />

e com um amplo<br />

potencial de utilização.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, estu<strong>do</strong>s<br />

envolven<strong>do</strong> a interação<br />

entre as plantas<br />

hospedeiras com seus insetos, notadamente<br />

as pragas, não se desenvolveram<br />

com a mesma intensidade. Um <strong>do</strong>s<br />

sistemas mais fascinantes envolven<strong>do</strong><br />

esse tipo de interação é basea<strong>do</strong> nos<br />

estu<strong>do</strong>s com inibi<strong>do</strong>res de proteinases<br />

produzi<strong>do</strong>s pelas plantas e insetos herbívoros.<br />

Inibi<strong>do</strong>res de Proteinases de<br />

Plantas Contra Insetos Herbívoros<br />

Sabe-se há mais de 60 anos que as<br />

plantas contêm peptídeos que atuam<br />

como inibi<strong>do</strong>res de proteinases (IPs).<br />

Este grupo de proteínas está amplamente<br />

distribuí<strong>do</strong> no reino vegetal e faz<br />

parte de um mecanismo de defesa das<br />

plantas contra o ataque de pragas e<br />

patógenos (Richardson, 1991). As proteínas<br />

de defesa podem ser produzidas<br />

constitutivamente em teci<strong>do</strong>s que são<br />

particularmente vulneráveis ao ataque<br />

de insetos, como as sementes, ou podem<br />

ser induzi<strong>do</strong>s por danos mecânicos,<br />

como ocorre quan<strong>do</strong> um inseto se<br />

alimenta de uma folha (Jouanin et al.,<br />

Figura 2-<br />

Esquema representativo da ligação<br />

de uma serino-proteinase (tripsina)<br />

ao inibi<strong>do</strong>r correspondente<br />

(Adapta<strong>do</strong> de Bode & Huber, 1992)<br />

1998). Entretanto, muitas delas são tóxicas<br />

também a mamíferos, o que indica<br />

que devam ser cautelosamente estudadas<br />

para uso como mecanismo de proteção<br />

de plantas a insetos.<br />

De acor<strong>do</strong> com sua especificidade,<br />

as proteinases podem ser divididas em<br />

quatro classes: as serino-, cisteíno-, metalo-<br />

e aspartil-proteinases. Os IPs mais<br />

abundantes e estuda<strong>do</strong>s são aqueles<br />

capazes de inibir as serino-proteinases,<br />

grupo das tripsinas e quimotripsinas,<br />

enzimas encontradas majoritariamente<br />

em insetos da ordem Lepi<strong>do</strong>ptera (Terra<br />

& Ferreira, 1994). Os inibi<strong>do</strong>res de<br />

serino- e cisteíno-proteinases são amplamente<br />

distribuí<strong>do</strong>s em sementes e<br />

teci<strong>do</strong>s de reserva de plantas. Portanto,<br />

além de protegerem as plantas contra o<br />

ataque de insetos, os IPs são utiliza<strong>do</strong>s<br />

como proteínas de reserva em algumas<br />

sementes.<br />

O mecanismo de ação de um IP<br />

baseia-se na inibição competitiva de<br />

uma proteinase, via bloqueio de sua<br />

atividade proteolítica (Fig. 2). A ingestão<br />

de IPs pelos insetos herbívoros<br />

interfere no processo de degradação de<br />

proteínas no intestino médio. Assim<br />

sen<strong>do</strong>, os inibi<strong>do</strong>res são considera<strong>do</strong>s<br />

agentes anti metabólicos, pois<br />

levam a uma deficiência protéica<br />

<strong>do</strong>s insetos. A atividade<br />

antibiótica <strong>do</strong>s IPs é atribuída<br />

à sua interferência na digestão<br />

protéica que diminui a<br />

disponibilidade de aminoáci<strong>do</strong>s,<br />

prejudican<strong>do</strong> a síntese<br />

de proteínas necessárias ao<br />

crescimento, desenvolvimento<br />

e reprodução. Uma outra<br />

hipótese é que os inibi<strong>do</strong>res<br />

afetem o desenvolvimento de<br />

forma indireta, via um mecanismo<br />

de “feedback”, que<br />

levaria a um aumento da produção<br />

de proteinases digestivas<br />

para compensar os baixos<br />

níveis de aminoáci<strong>do</strong>s<br />

disponíveis. Os aminoáci<strong>do</strong>s<br />

seriam desloca<strong>do</strong>s para a síntese<br />

de proteinases em detrimento<br />

de outras proteínas<br />

essenciais. Entretanto, investigações<br />

mais recentes mostraram que a<br />

deficiência de aminoáci<strong>do</strong>s essenciais<br />

resultantes da hiperprodução de proteinases<br />

em lagartas de Spo<strong>do</strong>ptera exigua<br />

e Heliothis zea deveu-se à redução da<br />

atividade proteolítica intestinal (Broadway,<br />

1995).<br />

Uma vez estabeleci<strong>do</strong> que os IPs são<br />

produzi<strong>do</strong>s pelas plantas em resposta<br />

ao ataque de pragas, suas propriedades<br />

antimetabólicas foram testadas contra<br />

diversos insetos. Resulta<strong>do</strong>s in vitro ba-<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 39


Figura 3.<br />

Separação das tripsinas (n)e quimotripsinas<br />

(♦) presentes em extrato<br />

intestinal de Spo<strong>do</strong>ptera frugiperda<br />

alimentadas com dieta artificial<br />

(A) e com dieta artificial suplementada<br />

com 0,5 % (p/v) de IPs extraí<strong>do</strong>s<br />

de sementes de soja (B)<br />

sea<strong>do</strong>s na combinação de extratos<br />

intestinais com diferentes inibi<strong>do</strong>res,<br />

mostraram que os IPs<br />

foram efetivos na inibição das<br />

proteinases digestivas. Além disso,<br />

a incorporação de IPs em<br />

dietas artificiais mostrou-se eficiente<br />

em vários estu<strong>do</strong>s. Desta<br />

forma, foram obtidas plantas<br />

transgênicas resistentes a pragas<br />

via expressão de genes de IPs<br />

(Hilder et al., 1987; Duan et al.,<br />

1996; Gatehouse et al., 1997).<br />

Paralelamente aos resulta<strong>do</strong>s<br />

positivos com as plantas transgênicas,<br />

um número crescente<br />

de trabalhos mostrou que os<br />

insetos eram capazes de adaptar-se<br />

à presença <strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res<br />

produzi<strong>do</strong>s pelas plantas (para<br />

uma revisão, veja Jongsma &<br />

Bolter, 1997).<br />

Mecanismos de Adaptação<br />

<strong>do</strong>s Insetos aos Inibi<strong>do</strong>res<br />

de Proteinase<br />

Em um trabalho pioneiro,<br />

Jongsma e colabora<strong>do</strong>res (1995a)<br />

observaram que lagartas de Spo<strong>do</strong>ptera<br />

exigua adaptaram-se à presença de<br />

IPs expressos em plantas transgênicas<br />

via indução de proteinases insensíveis<br />

ao inibi<strong>do</strong>r. A partir de então, estas<br />

observações foram extendidas à uma<br />

ampla gama de insetos-praga. No entanto,<br />

um outro mecanismo adaptativo<br />

basea<strong>do</strong> na síntese de proteinases capazes<br />

de inativar, via degradação proteolítica,<br />

os IPs produzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />

foi descrito por outros grupos (Giri<br />

et al., 1998; Girard et al., 1998).<br />

O Laboratório de Biologia Molecular<br />

de Plantas <strong>do</strong> Departamento de<br />

Genética da ESALQ/USP iniciou, recentemente,<br />

estu<strong>do</strong>s envolven<strong>do</strong> o uso<br />

de IPs visan<strong>do</strong> a obtenção de resistência<br />

a pragas de importância econômica.<br />

Os trabalhos também tiveram como<br />

objetivo o estu<strong>do</strong> a nível molecular da<br />

interação entre plantas de interesse<br />

econômico e insetos herbívoros. O<br />

primeiro trabalho avaliou os efeitos da<br />

presença <strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>r de proteinase <strong>do</strong><br />

tipo 2 de batata (PIN-2) em plantas<br />

transgênicas de tabaco, sobre o desenvolvimento,<br />

metabolismo e proteinases<br />

intestinais da lagarta da maçã <strong>do</strong><br />

algo<strong>do</strong>eiro, Heliothis virescens (Brito et<br />

al., submeti<strong>do</strong>). Os ensaios biológicos,<br />

realiza<strong>do</strong>s com apoio <strong>do</strong> Departamento<br />

de Entomologia da ESALQ/USP mostraram<br />

não haver diferenças significativas<br />

quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong>s com o tratamento<br />

à base de plantas não transformadas.<br />

Estas observações levaram à<br />

hipótese de uma adaptação deste inseto<br />

ao inibi<strong>do</strong>r. A fim de estudar o<br />

possível mecanismo adaptativo das<br />

lagartas, foram caracterizadas as proteinases<br />

digestivas <strong>do</strong>s insetos, com<br />

apoio <strong>do</strong> Laboratório de Bioquímica<br />

de Insetos <strong>do</strong> Departamento de Bioquímica<br />

<strong>do</strong> IQ/USP. Assim, as lagartas<br />

foram submetidas a três dietas distintas:<br />

1) à base de folhas de plantas<br />

transgênicas de fumo, 2) folhas de<br />

plantas de fumo não transforma<strong>do</strong> e,<br />

3) dieta artificial sem a presença de IPs.<br />

A combinação de técnicas de separação<br />

de proteínas e estu<strong>do</strong>s cinéticos,<br />

revelaram a presença de duas tripsinas<br />

e uma quimotripsina no tratamentos à<br />

base de dieta sem inibi<strong>do</strong>r. No entanto,<br />

em lagartas alimentadas à base de<br />

folhas transgênicas ou não, foram detectadas<br />

quatro atividades trípticas,<br />

sen<strong>do</strong> que duas eram totalmente novas<br />

(Tab. 1). Uma única atividade<br />

de quimotripsina foi observada.<br />

Uma observação interessante foi<br />

que as novas tripsinas apresentavam<br />

pesos moleculares bem superiores<br />

aos demais e maior afinidade<br />

pelo substrato. A filtração<br />

em gel na presença ou ausência<br />

de SDS, revelou que as tripsinas<br />

de alto peso molecular seriam<br />

originadas a partir das tripsinas de<br />

menor peso recém sintetizadas,<br />

via um processo de oligomerização.<br />

Portanto, trata-se de mais um<br />

novo mecanismo de adaptação<br />

<strong>do</strong>s insetos aos IPs produzi<strong>do</strong>s<br />

pelas plantas.<br />

Novas evidências de adaptação<br />

<strong>do</strong>s insetos à presença de<br />

inibi<strong>do</strong>res de proteinases foram<br />

verificadas em um estu<strong>do</strong> envolven<strong>do</strong><br />

um outro inseto polífago<br />

(múltiplos hospedeiros), a lagarta<br />

<strong>do</strong> cartucho <strong>do</strong> milho, Spo<strong>do</strong>ptera<br />

frugiperda, e inibi<strong>do</strong>res de serinoproteinases<br />

extraí<strong>do</strong>s de soja.<br />

Os inibi<strong>do</strong>res de proteinase de<br />

soja “Bowman-Birk” e “Kunitz” foram<br />

incorpora<strong>do</strong>s em dietas artificiais que<br />

foram utilizadas na alimentação das<br />

lagartas desde as primeiras fases <strong>do</strong><br />

desenvolvimento. Embora os ensaios<br />

de inibição in vitro tenham mostra<strong>do</strong><br />

uma alta eficiência contra as proteinases<br />

da lagarta, os ensaios biológicos<br />

mostraram que não houve alterações<br />

significativas no desenvolvimento e<br />

metabolismo de lagartas alimentadas<br />

com dieta artificial conten<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>res<br />

extraí<strong>do</strong>s da soja. Esse fato levou à<br />

investigação <strong>do</strong> mecanismo responsável<br />

pela adaptação <strong>do</strong>s insetos à presença<br />

<strong>do</strong>s inibi<strong>do</strong>res. Para isso, foram<br />

analisa<strong>do</strong>s extratos intestinais das lagartas<br />

alimentadas com dietas conten<strong>do</strong><br />

os inibi<strong>do</strong>res. O mecanismo adaptativo<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pelas lagartas de S.<br />

frugiperda estava relaciona<strong>do</strong> à alteração<br />

na expressão das serino-proteinases.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s mostraram o aparecimento<br />

de uma nova atividade tríptica<br />

e um aumento significativo na atividade<br />

quimotríptica <strong>do</strong> inseto (Fig. 3). A<br />

polifagia <strong>do</strong> inseto pode ter facilita<strong>do</strong><br />

o desenvolvimento de proteinases que<br />

tenham reduzida afinidade aos IPs da<br />

soja. Como a eficiência de um inibi<strong>do</strong>r<br />

específico é dependente da compatibilidade<br />

estrutural <strong>do</strong> seu sítio reativo<br />

com o sítio ativo da proteinase, é<br />

provável que as enzimas digestivas<br />

tenham sofri<strong>do</strong> alterações nos amino-<br />

40 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


áci<strong>do</strong>s que circundam o sítio de ligação,<br />

resultan<strong>do</strong> em uma fraca interação com<br />

os inibi<strong>do</strong>res (Paulillo et al., no prelo).<br />

Perspectivas na Utilização de<br />

Inibi<strong>do</strong>res de Proteinases no<br />

Controle de Insetos<br />

Ao se considerar a possibilidade de<br />

produzir plantas transgênicas expressan<strong>do</strong><br />

IPs, algumas considerações se<br />

fazem necessárias a fim de aumentar as<br />

chances de sucesso. Entre estas, incluem-se<br />

os níveis de expressão <strong>do</strong> IP, sua<br />

constante de inibição, a estabilidade <strong>do</strong><br />

IP no intestino <strong>do</strong> inseto e a habilidade<br />

de adaptação <strong>do</strong> inseto aos inibi<strong>do</strong>res<br />

via alteração da expressão gênica. Fatores<br />

ambientais secundários também podem<br />

interferir na severidade <strong>do</strong>s sintomas.<br />

Como os IPs agem causan<strong>do</strong> uma<br />

deficiência na disponibilidade de aminoáci<strong>do</strong>s,<br />

a digestibilidade <strong>do</strong> alimento,<br />

a concentração e a qualidade protéica<br />

da dieta serão determinantes<br />

para maximizar os efeitos <strong>do</strong>s IPs<br />

sobre os insetos. Além disso, inúmeros<br />

compostos fitoquímicos<br />

presentes ou induzi<strong>do</strong>s pelas plantas<br />

também apresentam potencial<br />

de alterar a toxicidade <strong>do</strong>s IPs<br />

sobre os insetos hospedeiros (Broadway<br />

& Duffey, 1988).<br />

A pressão de seleção sobre os<br />

insetos para desenvolver proteinases<br />

que são insensíveis aos IPs<br />

de plantas hospedeiras são consideráveis<br />

e a evolução de insetos<br />

em muitas gerações por ano oferece<br />

uma vantagem significativa sobre<br />

as plantas. Mas, além das altas<br />

concentrações de inibi<strong>do</strong>res, as<br />

plantas podem encontrar alternativas<br />

de melhorar a eficácia de<br />

seus inibi<strong>do</strong>res envolven<strong>do</strong> multi<strong>do</strong>mínios<br />

ou variantes multiméricos.<br />

Isso é antes regra que exceção<br />

entre os IPs vegetais, e uma ampla<br />

gama de combinações é observada.<br />

Além de serem encontra<strong>do</strong>s<br />

inibi<strong>do</strong>res com sítios ativos repeti<strong>do</strong>s,<br />

é comum encontrar inibi<strong>do</strong>res<br />

de serino-proteinases em combinações<br />

com inibi<strong>do</strong>res de cisteíno-,<br />

aspartil-proteinases e amilases<br />

(Richardson, 1991). Isto, por<br />

um la<strong>do</strong>, parece uma elegante<br />

forma de economizar proteínas,<br />

mas o significa<strong>do</strong> desses múltiplos<br />

sítios pode ser muito mais complexo.<br />

Ferreira et al. (1994) têm demonstra<strong>do</strong><br />

que as enzimas digestivas de insetos<br />

ocorrem muitas vezes em formas multiméricas.<br />

Jongsma & Bolter (1997) propõem<br />

que os efeitos da combinação de<br />

inibi<strong>do</strong>res multiméricos com enzimas<br />

multiméricas em quantidades equimolares<br />

devem ser muito similar aos anticorpos<br />

policlonais e antígenos com múltiplos<br />

epitopos.<br />

Os insetos polífagos são um caso<br />

interessante. Ao longo da evolução,<br />

estes insetos desenvolveram a capacidade<br />

de atacar uma grande variedade<br />

de espécies vegetais, incluin<strong>do</strong> mono e<br />

dicotiledôneas. Consequentemente, eles<br />

foram capazes de responder a uma<br />

gama de diferentes inibi<strong>do</strong>res vegetais.<br />

Isso vai de encontro aos resulta<strong>do</strong>s<br />

obti<strong>do</strong>s pelo nosso grupo e descritos<br />

acima. Recentes experimentos com plantas<br />

transgênicas utilizan<strong>do</strong> genes de IPs<br />

de monocotiledôneas expressos em dicotiledôneas<br />

e vice-versa, sugeriram que<br />

aqueles insetos que normalmente se<br />

Figura 4.<br />

A meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> “Phage Display”<br />

(Adapta<strong>do</strong> de Webster, 1996)<br />

alimentam de mono ou dicotiledôneas<br />

são capazes de se adaptar a IPs de<br />

diversos tipos de plantas (Leplé et al.,<br />

1995). Para contornar estes problemas<br />

de adaptação, seria interessante utilizar<br />

IPs de espécies vegetais bastante separadas<br />

evolutivamente daquelas cujos<br />

insetos são preda<strong>do</strong>res. Duan et al.,<br />

(1996) demonstraram que isso é possível<br />

a partir da obtenção de plantas<br />

transgênicas de arroz expressan<strong>do</strong> o<br />

inibi<strong>do</strong>r de proteinase <strong>do</strong> tipo 2 de<br />

batata. Os autores mostraram que as<br />

plantas transgênicas foram protegidas<br />

contra o ataque da praga Sesamia inferens.<br />

Esta possibilidade está sen<strong>do</strong><br />

testada no nosso laboratório com a<br />

broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis)<br />

e os inibi<strong>do</strong>res de proteinases<br />

de soja (Kunitz e Bowman-Birk). Os<br />

resulta<strong>do</strong>s da caracterização das<br />

proteinases das lagartas, segui<strong>do</strong><br />

da realização de ensaios biológicos<br />

com a incorporação <strong>do</strong>s IPs<br />

de soja em dieta artificial, mostraram-se<br />

muito promissores (Patrícia<br />

Pompermayer, comunicação<br />

pessoal). Assim, os genes<br />

que codificam para os IPs da soja<br />

foram clona<strong>do</strong>s e utiliza<strong>do</strong>s na<br />

transformação genética da canade-açúcar<br />

(Maria Cristina Falco,<br />

comunicação pessoal).<br />

Uma outra alternativa seria a<br />

geração de novas moléculas de<br />

inibi<strong>do</strong>res de proteinases específicos<br />

contra enzimas de pragas<br />

de importância econômica. Esta<br />

estratégia pode ser testada utilizan<strong>do</strong>-se<br />

IPs engenheira<strong>do</strong>s, com<br />

suas afinidades otimizadas por<br />

modelos computacionais, como<br />

descrito por Urwin et al. (1995),<br />

ou por “phage display”, como<br />

proposto por Jongsma et al.<br />

(1995b). Na meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong><br />

“phage display”, múltiplas sequências<br />

de genes inibi<strong>do</strong>res, que<br />

diferem apenas no sítio da proteína<br />

que interage com a proteinase<br />

<strong>do</strong> inseto são geradas, utilizan<strong>do</strong>-se<br />

a técnica da Reação da<br />

Polimerase em Cadeia -“PCR” e<br />

oligonucleotídeos degenera<strong>do</strong>s.<br />

A biblioteca é clonada em um<br />

fagomídeo ou um vetor M13<br />

fusiona<strong>do</strong> ao gene da capa protéica<br />

- g3 - <strong>do</strong> fago, que expõe as<br />

proteínas em sua superfície. Esses fagos<br />

são seleciona<strong>do</strong>s contra uma proteína<br />

de interesse (proteinase digestiva de D.<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 41


saccharalis, por exemplo), imobilizada<br />

em suporte sóli<strong>do</strong> (uma placa Elisa, p.<br />

ex.). Subseqüentes lavagens eliminam<br />

os fagos sem ou com pouca afinidade.<br />

As partículas <strong>do</strong> fago com alta afinidade<br />

são selecionadas para transformação de<br />

E. coli, fornecen<strong>do</strong> novos genes e codifican<strong>do</strong><br />

inibi<strong>do</strong>res de proteinase mais<br />

específicos (Fig. 4). Essa meto<strong>do</strong>logia<br />

foi utilizada para a família de inibi<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong> tipo Kunitz, geran<strong>do</strong> inibi<strong>do</strong>res potentes<br />

e específicos contra várias proteinases<br />

<strong>do</strong> tipo serina (Roberts et al.,<br />

1992; Dennis & Lazarus, 1994). Esta<br />

estratégia vem sen<strong>do</strong> explorada em<br />

nosso laboratório com o IP “Bowman-<br />

Birk” de soja, dirigi<strong>do</strong> contra as proteinases<br />

digestivas da broca da cana-deaçúcar,<br />

D. saccharalis (Marcia O. de<br />

Mello, comunicação pessoal).<br />

Provavelmente algum mecanismo<br />

adaptativo ocorrerá, apesar da<br />

utilização desta tecnologia. O que se<br />

procura, na verdade, é que esta adaptação<br />

seja mais lenta, de forma a permitir<br />

um maior tempo de cultivo sem que a<br />

presença <strong>do</strong>s insetos cause danos econômicos<br />

significativos à cultura. A utilização<br />

de vários méto<strong>do</strong>s de controle<br />

dentro <strong>do</strong> manejo integra<strong>do</strong> de pragas,<br />

a diversificação <strong>do</strong> material cultiva<strong>do</strong>,<br />

de forma a diminuir a pressão de seleção<br />

sobre a praga, rotação de culturas e<br />

práticas culturais, retardariam o aparecimento<br />

de insetos resistentes.<br />

A maioria das pesquisas atuais estão<br />

focadas na expressão de inibi<strong>do</strong>res de<br />

proteinases únicos em plantas transgênicas.<br />

O sucesso deve ser mais significativo<br />

quan<strong>do</strong> combinações de IPs cobrirem<br />

o espectro de proteinases intestinais.<br />

Isto tornará mais difícil para o<br />

inseto superar os efeitos <strong>do</strong>s IPs simplesmente<br />

aumentan<strong>do</strong> a expressão de<br />

genes de proteinases insensíveis aos<br />

IPs. Alguns desses genes podem ser<br />

encontra<strong>do</strong>s na natureza, mas a engenharia<br />

genética tem permiti<strong>do</strong> alterá-los<br />

de forma a torná-los mais eficientes.<br />

Na verdade, é necessário compreender<br />

melhor o mo<strong>do</strong> de ação <strong>do</strong>s IPs<br />

sobre os insetos e as formas pelas quais<br />

eles se adaptam. Esta promete ser uma<br />

linha de pesquisa com muito espaço<br />

para crescer nos próximos anos.<br />

Agradecimentos<br />

Agradecemos a colaboração <strong>do</strong>s professores<br />

Walter R. Terra (Depto. de<br />

Bioquímica, IQ/USP) e José Roberto P.<br />

Parra (Depto. de Entomologia, ESALQ/<br />

USP), à FAPESP pelo suporte financeiro,<br />

ao Biólogo Heral<strong>do</strong> Negri de Oliveira<br />

42 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

(Depto. de Entomologia, ESALQ/USP),<br />

pelas fotografias.<br />

Referências Bibliográficas<br />

Bode W & Huber R (1992) Natural<br />

protein proteinase inhibitors and their<br />

interation with proteinases. Europ Biochem<br />

204: 433-451.<br />

Broadway RM & Duffey SS (1986)<br />

Plant proteinase inhibitor: mechanism<br />

of action and effect on the growth and<br />

digestive physiology of larval Heliothis<br />

zea and Spo<strong>do</strong>ptera exiqua. J Insect<br />

Physiol 32: 827-833.<br />

Broadway RM & Duffey SS (1988)<br />

The effect of plant protein quality on<br />

insect digestive physiology and the<br />

toxicity of plant proteinase inhibitors. J<br />

Insect Physiol 34: 1111-1117.<br />

Broadway RM (1995) Are insects<br />

resistant to plant proteinase inhibitors?<br />

J Insect Physiol 41: 107-116.<br />

Christeller JT, Laing WA, Markwick<br />

NP, Burgess EPJ (1992) Midgut protease<br />

activities in 12 phytophagous lepi<strong>do</strong>pteran<br />

larvae: dietary and protease<br />

inhibitor interactions. Insect Biochem<br />

Mol Biol 22: 735-746,.<br />

Dennis MS & Lazarus RA (1994)<br />

Kunitz <strong>do</strong>main inhibitor of tissue factor-Factor<br />

VIIa. I. Potent inhibitor selected<br />

from libraries by phage-display.<br />

J Biol Chem 269: 22129-22136.<br />

Duan X, Li X, Xue Q, Abo-El-Saad<br />

M, Xu D, Wu R. (1996) Transgenic rice<br />

plants harboring an introduced potato<br />

proteinase inhibitor II gene are insect<br />

resistant. Nature Biotech 14: 494-498.<br />

Ferreira C, Capella AN, Sitnik R,<br />

Terra WR (1994) Properties of the digestive<br />

enzymes and the permeability<br />

of the periotrophic membrane of Spo<strong>do</strong>ptera<br />

frugiperda (Lepi<strong>do</strong>ptera) larvae.<br />

Comp Biochem Physiol 107: 631-<br />

640.<br />

Gatehouse AMR, Davison GM,<br />

Newell CA, Merryweather A, Hamilton<br />

WDO, Burgess EPJ, Gilbert RJC, Gatehouse<br />

JA (1997) Transgenic potato<br />

plants with enhanced resistance to the<br />

tomato moth, Lacanobia oleracea: growth<br />

room trials. Mol Breed 31: 49-63.<br />

Girard C, Le Métayer M, Bonadé-<br />

Bottino M, Pham-Delègue M-H, Jouanin<br />

L (1998) High level of resistance to<br />

proteinase inhibitors may be conferred<br />

by proteolytic cleavage in beetle larvae.<br />

Insect Biochem Mol Biol 28: 229-237.<br />

Giri AP, Harsulkar AM, Deshpande<br />

VV, Sainani MN, Gupta VS, Ranjekar PK<br />

(1998) Chickpea defensive proteinase<br />

inhibitors can be inactivated by podborer<br />

gut proteinases. Plant Physiol 116:<br />

393-401.<br />

Hilder VA, Gatehouse AMR, Sheerman<br />

SE, Barker RF, Boulter D (1987) A<br />

novel mechanism of insect resistance<br />

engineered into tobacco. Nature 330:<br />

160-163.<br />

Jongsma MA, Bakker PL, Peters J,<br />

Bosch D, Stiekema WJ (1995a) Adaptation<br />

of Spo<strong>do</strong>ptera exigua larvae to<br />

plant proteinase inhibitors by induction<br />

of gut proteinase activity insensitive<br />

to inhibition. Proc Natl Acad Sci<br />

USA 92: 8041-8045.<br />

Jongsma MA, Bakker PL, Stiekema<br />

WJ, Bosch D (1995b) Phage display of<br />

a <strong>do</strong>uble-headed proteinase inhibitor<br />

analysis of the binding <strong>do</strong>mains of<br />

potato proteinase inhibitor II. Mol Breed<br />

1: 181-191.<br />

Jongsma MA & Bolter C (1997) The<br />

adaptation of insects to plant protease<br />

inhibitors. J Insect Physiol 43: 885-895.<br />

Jouanin L, Bonadé-Bottino M, Girard<br />

C, Morrot G, Giband M. (1998)<br />

Transgenic plants for insect resistance.<br />

Plant Sci 131: 1-11.<br />

Leplé JC, Bonadé-Bottino M, Augustin<br />

S (1995) Toxicity to Chrysomela<br />

tremulae (Coleoptera: Chrysomelidae)<br />

of transgenic poplars expressing a<br />

cysteine proteinase inhibitor. Mol Breed<br />

1: 319-328.<br />

Michaud D (1997) Avoiding protease-mediated<br />

resistance in herbivorous<br />

pests. Trends Biotechnol 15: 4-6.<br />

Paulillo LCMS, Lopes AR, Cristofoleti<br />

P, Parra JRP, Terra WR, Silva-Filho<br />

MC (2000) Changes in midgut en<strong>do</strong>peptidase<br />

activity of Spo<strong>do</strong>ptera frugiperda<br />

(J.E. Smith, 1797) is responsible<br />

for adaptation to soybean proteinase<br />

inhibitors. J Econ Entomol (No Prelo).<br />

Richardson MJ (1991) Seed Storage<br />

Protein: the Enzyme inhibitors. In:<br />

Roger L.J. ed. Methods in Plant Biochemistry,<br />

Academic Press, New York,<br />

v.5, p. 259-305 .<br />

Roberts BL, Markland W, Siranosian<br />

K, Saxena MJ, Guterman SK, Ladner<br />

RC (1992) Protease inhibitor display<br />

M13 phage: selection of high affinity<br />

neutrophil elastase inhibitors. Gene<br />

121: 9-15.<br />

Terra WR, Ferreira C (1994) Insect<br />

digestive enzymes: properties, compartmentalization<br />

and function. Comp<br />

Biochem Physiol 109B: 1-62.<br />

Webster RE (1996) Biology of the<br />

filamentous bacteriophage. In: Kay BK,<br />

Winter J, McCafferty J. Phage Display<br />

of Peptides and Proteins: A Laboratory<br />

Manual. Academic Press, Inc. 344p.


DEKALB<br />

Atenção:<br />

Anúncio Novo em Anexo!<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 43


CONSTRUINDO<br />

PESQUISA<br />

FLORES<br />

Marcelo Carnier Dornelas<br />

phD pela Université de Paris XI (France)<br />

Pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Departamento de Ciências<br />

Florestais da Escola Superior de<br />

Agricultura Luiz de Queiroz - USP<br />

mc<strong>do</strong>rnel@carpa.ciagri.usp.br<br />

O controle molecular da arquitetura floral<br />

Fotos cedidas pelo autor<br />

A uniformidade estrutural<br />

das plantas<br />

Uma idéia unifica<strong>do</strong>ra em biologia<br />

vegetal é que a variedade de formas <strong>do</strong>s<br />

vegetais reflete simplesmente variações<br />

de um plano de desenvolvimento comum.<br />

Diferentes permutações de umas<br />

poucas características-chave <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

vegetal podem gerar um universo<br />

de formas distintas. Provavelmente<br />

não há ilustração melhor deste princípio<br />

<strong>do</strong> que a comparação entre uma flor e um<br />

ramo. A noção de que estas duas estruturas<br />

poderiam ser fundamentalmente<br />

equivalentes foi exemplificada<br />

pela primeira vez pelo<br />

famoso naturalista e poeta Goethe<br />

(o mesmo que escreveu<br />

«Fausto»), em um trata<strong>do</strong> sobre<br />

a metamorfose, há mais de 300<br />

anos. Goethe concluiu que «As<br />

flores que se desenvolvem das<br />

gemas devem ser vistas como<br />

ramos ou plantas inteiras, inseridas<br />

na planta-mãe, como esta<br />

está inserida na terra» (Goethe,<br />

1790). Comparan<strong>do</strong>-se flores e<br />

ramos, quatro detalhes precisam<br />

ser esclareci<strong>do</strong>s. Primeiro,<br />

as diferentes partes de uma flor<br />

(sépalas, pétalas, estames e carpelos)<br />

são os equivalentes de<br />

folhas em um ramo. Segun<strong>do</strong>, os órgãos<br />

de ramos e flores são separa<strong>do</strong>s por<br />

entrenós, mas no caso das flores, estes<br />

são tão curtos que raramente são visíveis.<br />

Terceiro, os órgãos <strong>do</strong>s ramos e das flores<br />

podem ter uma filotaxia distinta, ou seja,<br />

são diferencialmente arranja<strong>do</strong>s ao re<strong>do</strong>r<br />

de um eixo. Finalmente, o crescimento<br />

indetermina<strong>do</strong> que caracteriza um ramo<br />

é suprimi<strong>do</strong>, no caso de uma flor, tanto<br />

apicalmente, porque uma flor, em geral,<br />

pára de produzir órgãos ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> eixo<br />

central, quanto lateralmente, pois novos<br />

brotos não surgem nas axilas <strong>do</strong>s órgãos<br />

florais, como pode acontecer nas axilas<br />

das folhas <strong>do</strong>s ramos.<br />

Portanto, a comparação entre flores e<br />

ramos aponta quatro variáveis importantes:<br />

a identidade <strong>do</strong>s órgãos produzi<strong>do</strong>s,<br />

o tamanho <strong>do</strong> entrenó, a filotaxia e a<br />

determinação <strong>do</strong> crescimento. Desse<br />

mo<strong>do</strong>, as inúmeras formas e hábitos<br />

visíveis das plantas simplesmente refletem<br />

variações e permutações desses quatro<br />

aspectos fundamentais <strong>do</strong> desenvolvimento.<br />

Quais os princípios cria<strong>do</strong>res e<br />

regula<strong>do</strong>res desses parâmetros? Eles poderiam<br />

ser manipula<strong>do</strong>s pelo Homem?<br />

Figura 1: A flor de arabidópsis<br />

(Arabi<strong>do</strong>psis thaliana) <strong>do</strong> tipo<br />

selvagem possui 4 sépalas (não<br />

visíveis nesta foto), 4 pétalas brancas,<br />

6 estames e um gineceu composto<br />

por 2 carpelos uni<strong>do</strong>s<br />

O desenvolvimento de ramos e flores<br />

depende <strong>do</strong> comportamento das regiões<br />

de proliferação celular na planta, os meristemas<br />

apicais. Na periferia <strong>do</strong>s meristemas,<br />

grupos de células são arregimenta<strong>do</strong>s<br />

para formar meristemas secundários<br />

ou primórdios de órgãos. A filotaxia<br />

depende <strong>do</strong> padrão preciso em que ocorre<br />

essa repartição. A determinação também<br />

é reflexo desta partição, principalmente<br />

se ela favorece a continuidade <strong>do</strong><br />

meristema ou a formação de primórdios.<br />

A identidade <strong>do</strong>s órgãos forma<strong>do</strong>s depende<br />

das caractísticas <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

<strong>do</strong>s primórdios (principalmente<br />

de seu padrão de divisões celulares).<br />

Finalmente, o crescimento da região entre<br />

os mesmos determina o tamanho <strong>do</strong>s<br />

entrenós.<br />

Dessa forma, a grande questão é:<br />

como as células ainda indiferenciadas<br />

«aprendem» suas posições<br />

relativas de tal forma a se diferenciarem<br />

de maneira correta?<br />

Esta pergunta tem preocupa<strong>do</strong>,<br />

há muito tempo, pesquisa<strong>do</strong>res<br />

que estudam a formação de padrões<br />

de desenvolvimento em<br />

diferentes organismos, na tentativa<br />

de compreender como o<br />

comportamento de um grupo<br />

de células é coordena<strong>do</strong>. A formação<br />

de padrões durante o<br />

desenvolvimento tem si<strong>do</strong> mais<br />

intensamente estudada em animais,<br />

particularmente a moscadas-frutas,<br />

<strong>do</strong> gênero Drosophila.<br />

Recentemente, entretanto,<br />

vários grupos trabalhan<strong>do</strong> com<br />

plantas modelo como a boca-de-leão<br />

(Antirrhinum majus) e arabidópsis (Arabi<strong>do</strong>psis<br />

thaliana, Figura 1) usaram da<strong>do</strong>s<br />

genéticos e moleculares para formular<br />

um modelo de um processo forma<strong>do</strong>r<br />

de padrão de desenvolvimento único de<br />

plantas: a especificação <strong>do</strong>s órgãos florais.<br />

O modelo ABC <strong>do</strong><br />

desenvolvimento floral<br />

Embora uma vasta gama de mutações<br />

genéticas possa alterar o processo de<br />

44 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


formação de uma flor, relativamente poucos<br />

genes foram encontra<strong>do</strong>s que estejam<br />

envolvi<strong>do</strong>s com a especificação <strong>do</strong>s<br />

órgãos florais per se. Mutações em tais<br />

genes causam transformações homeóticas<br />

em <strong>do</strong>is verticilos adjacentes da flor.<br />

Os <strong>do</strong>is verticilos mais externos de mutantes<br />

apetala2 (ap2) de arabidópsis, por<br />

exemplo, contêm carpelos e estames no<br />

lugar de sépalas e pétalas, respectivamente.<br />

Mutações nos genes APETALA3<br />

(AP3) ou PISTILLATA (PI) de arabidópsis<br />

causam a substituição de pétalas por<br />

sépalas e de estames por carpelos. Finalmente,<br />

no mutante agamous (ag; Figura<br />

2) de arabidópsis, os <strong>do</strong>is verticilos mais<br />

internos são altera<strong>do</strong>s: estames são transforma<strong>do</strong>s<br />

em pétalas e carpelos em sépalas.<br />

(Coen & Meyerowitz, 1991; Meyerowitz<br />

et al., 1991; Ma, 1998). Em adição ao<br />

controle da identidade <strong>do</strong>s órgãos florais,<br />

o gene AG deve suprimir o crescimento<br />

<strong>do</strong> meristema floral uma vez que os<br />

carpelos estão forma<strong>do</strong>s, pois a mutação<br />

ag tem o efeito adicional de causar a<br />

proliferação indeterminada <strong>do</strong> meristema.<br />

Desta forma, o quarto verticilo de<br />

uma flor ag constitui o primeiro verticilo<br />

de uma nova «flor» mutante, que contém<br />

outras em seu interior. Portanto, o gene<br />

AG também é responsável pelo hábito<br />

determina<strong>do</strong> <strong>do</strong> meristema floral.<br />

As modificações das características<br />

<strong>do</strong>s órgãos florais <strong>do</strong>s mutantes descritos<br />

acima sugerem um modelo combinatorial<br />

simples para a determinação da identidade<br />

destes órgãos (Coen & Meyerwitz,<br />

1991; Figura 3). Segun<strong>do</strong> este modelo, os<br />

genes responsáveis pela identidade estão<br />

ativos em três regiões sobrepostas, cada<br />

uma compreenden<strong>do</strong> <strong>do</strong>is verticilos adjacentes.<br />

Devi<strong>do</strong> à sobreposição das regiões<br />

de expressão de cada gene, uma<br />

combinação única de genes especifica a<br />

identidade de cada verticilo (Figura 3a).<br />

Se a região de atividade B (que requer a<br />

expressão <strong>do</strong>s genes AP3 e PI em arabidópsis)<br />

está ausente, ambos os verticilos<br />

1 e 2 serão especifica<strong>do</strong>s apenas pela<br />

região de atividade A (AP2 em arabidópsis)<br />

e conterão sépalas (Figura 3b). De<br />

maneira similar, nesse caso, os verticilos<br />

3 e 4 serão ambos especifica<strong>do</strong>s pela<br />

região de atividade C (AG em arabidópsis)<br />

e conterão carpelos. Para explicar os<br />

fenótipos <strong>do</strong>s mutantes ap2 e ag, é necessário<br />

adicionar ao modelo a previsão de<br />

que as atividades A e C são mutuamente<br />

antagonistas. Ou seja, em um mutante<br />

para genes <strong>do</strong> tipo A, a ação de C se<br />

expande para os quatro verticilos e em<br />

um mutante <strong>do</strong> tipo C, dessa vez, é a<br />

atividade de A que é expressa nos quatro<br />

verticilos (Figuras 3c, d).<br />

Esse modelo, cria<strong>do</strong> para explicar os<br />

fenótipos de mutantes simples,<br />

passa por uma prova final: ele<br />

fielmente prevê o fenótipo de<br />

mutantes duplos. Por exemplo, o<br />

modelo prevê que, se as funções B<br />

e C fossem removidas, C deveria<br />

definir a identidade <strong>do</strong>s quatro<br />

verticilos, que se desenvolveriam<br />

em carpelos. De fato, to<strong>do</strong>s os<br />

verticilos <strong>do</strong> mutante duplo ap2ap3<br />

contêm carpelos (Meyerowitz et<br />

al., 1991). Similarmente, se as atividades<br />

B e C estivessem ausentes,<br />

A deveria definir a identidade de<br />

to<strong>do</strong>s os órgãos da flor. Como<br />

previsto pelo modelo, sépalas se<br />

desenvolvem em to<strong>do</strong>s os verticilos de<br />

mutantes duplos agpi. O fenótipo deste<br />

duplo mutante apresenta ainda vários<br />

verticilos concêntricos adicionais (to<strong>do</strong>s<br />

compostos de sépalas), devi<strong>do</strong> ao efeito<br />

da mutação ag de suprimir a determinação<br />

<strong>do</strong> meristema floral.<br />

O que aconteceria se ambas as funções<br />

A e C fossem removidas? A atividade<br />

B sozinha definiria a identidade <strong>do</strong>s verticilos<br />

2 e 3, porém nenhuma das atividades<br />

identificadas estaria presente nos<br />

verticilos 1 e 4. O modelo não faz nenhuma<br />

previsão óbvia sobre o fenótipo resultante,<br />

pois nenhum destes esta<strong>do</strong>s ocorre<br />

em nenhum verticilo da flor <strong>do</strong> tipo<br />

selvagem. A função B é associada à<br />

formação de pétalas e estames; assim,<br />

espera-se que, na ausência de A e C, B<br />

cause a produção de órgãos intermediários<br />

entre pétalas e estames. De fato, os<br />

verticilos 2 e 3 das flores <strong>do</strong> mutante<br />

duplo ap2ag são ocupa<strong>do</strong>s por pétalas<br />

estaminoidais. Os verticilos 1 e 4 deste<br />

duplo mutante contêm folhas. Igualmente,<br />

no triplo mutante ap2ap3ag, no qual<br />

as funções A, B e C foram desativadas, as<br />

«flores» são formadas por folhas organizadas<br />

em vários verticilos concêntricos.<br />

Estas observações indicam que a folha<br />

seria o «esta<strong>do</strong> basal» a partir <strong>do</strong> qual a<br />

identidade de cada órgão floral seria<br />

determinada.<br />

Por meio destes resulta<strong>do</strong>s, a equivalência<br />

de flores e ramos (e portanto de<br />

órgãos florais e folhas), clamada por<br />

Goethe há mais de 300 anos, foi finalmente<br />

demonstrada.<br />

O ABC não é suficiente<br />

Figura 2: A flor <strong>do</strong> mutante<br />

agamous de arabidópsis é<br />

composta por uma série de<br />

verticilos conten<strong>do</strong> apenas<br />

sépalas e pétalas<br />

Durante a década passada, to<strong>do</strong>s os<br />

genes descritos acima foram clona<strong>do</strong>s e<br />

seqüencia<strong>do</strong>s. A localização <strong>do</strong>s respectivos<br />

RNA mensageiros foi determinada<br />

por hibridização in situ e corresponde,<br />

de fato, às regiões descritas pelo modelo<br />

ABC (veja a revisão de Ma, 1998). To<strong>do</strong>s<br />

os genes <strong>do</strong> modelo ABC codificam fatores<br />

de transcrição, sugerin<strong>do</strong> que seus<br />

respectivos produtos ativam ou reprimem<br />

a transcrição de outros genes requeri<strong>do</strong>s<br />

para a diferenciação de tipos celulares<br />

órgão-específicos. Embora o modelo<br />

ABC explique com sucesso como a<br />

combinação de genes homeóticos pode<br />

especificar a identidade <strong>do</strong>s primórdios<br />

<strong>do</strong>s órgãos florais, ele não explica como<br />

os <strong>do</strong>mínios de expressão de cada gene<br />

homeótico são defini<strong>do</strong>s. Outros mutantes<br />

homeóticos <strong>do</strong> desenvolvimento floral<br />

de arabidópsis, como superman (sup;<br />

Figura 4) e leafy (lfy), foram caracteriza<strong>do</strong>s<br />

e os genes correspondentes, clona<strong>do</strong>s.<br />

O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> fenótipo destes mutantes<br />

e <strong>do</strong>s mutantes duplos entre esses e os<br />

<strong>do</strong> modelo ABC, permitiu o aprimoramento<br />

<strong>do</strong> modelo (Ma, 1998). Assim,<br />

SUP, cujo mutante apresenta o desenvolvimento<br />

de anteras no lugar de carpelos,<br />

embora possua os verticilos 1, 2 e 3<br />

normais (Figura 4), estaria envolvi<strong>do</strong> na<br />

retenção da expressão <strong>do</strong>s genes de<br />

função B. O gene LFY faria o papel<br />

contrário, ativan<strong>do</strong> os genes de função B.<br />

Tanto LFY quanto SUP também codificam<br />

regula<strong>do</strong>res de transcrição. Outros fatores<br />

de transcrição, como o codifica<strong>do</strong><br />

pelo gene PERIANTHIA (PAN, Figura 5),<br />

controlam o número de órgãos florais<br />

sem alterar suas identidades (veja a revisão<br />

de Baum, 1998). Assim, as flores <strong>do</strong><br />

mutante pan possuem mais sépalas e<br />

pétalas que as <strong>do</strong> tipo selvagem (Figura<br />

5).<br />

Em animais, a atividade e a extensão<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio de expressão de fatores de<br />

transcrição envolvi<strong>do</strong>s no desenvolvimento<br />

são geralmente controladas por<br />

cascatas de sinalização. O exemplo de<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 45


estu<strong>do</strong> mais detalha<strong>do</strong> deste mecanismo<br />

é o da cascata iniciada pelo gene WIN-<br />

GLESS (WG) de Drosophila. O produto <strong>do</strong><br />

gene WG é utiliza<strong>do</strong> como um sinal na<br />

comunicação entre as células. Como resulta<strong>do</strong><br />

desta comunicação, decisões relativas<br />

ao destino celular são tomadas,<br />

tais como a expressão de genes homeóticos.<br />

Um elemento chave da cascata de<br />

sinalização de WG é o gene SHAGGY<br />

(SGG) que codifica uma proteína-kinase.<br />

Homólogos de SGG foram recentemente<br />

clona<strong>do</strong>s em arabidópsis e denomina<strong>do</strong>s<br />

ASK (Dornelas et al., 1998; 1999). Os<br />

genes ASK formam uma família multigênica,<br />

cujos produtos parecem fazer parte<br />

de uma cascata de sinalização semelhante<br />

àquela em que SGG está envolvi<strong>do</strong>. Os<br />

produtos <strong>do</strong>s genes ASK controlam o<br />

<strong>do</strong>mínio de expressão de AG e AP3 e,<br />

portanto, a arquitetura floral (Dornelas et<br />

al., in press). Assim, aparentemente, mecanismos<br />

controla<strong>do</strong>res de alguns aspectos<br />

<strong>do</strong> desenvolvimento podem ter si<strong>do</strong><br />

conserva<strong>do</strong>s entre animais e plantas.<br />

Evolução e biotecnologia<br />

Figura 3: Modelo ABC para a especificação<br />

da identidade <strong>do</strong>s órgãos<br />

florais. O modelo prevê os casos em<br />

que to<strong>do</strong>s os fatores estão presentes,<br />

como no tipo selvagem (a); quan<strong>do</strong><br />

o fator B está ausente, como no<br />

mutante apetala3, de arabidópsis;<br />

quan<strong>do</strong> o fator A está ausente, como<br />

no mutante apetala2 e quan<strong>do</strong> o<br />

fator C está ausente, como no mutante<br />

agamous. Se: sépala; Pe: pétala;<br />

Es: estame; Ca: carpelo<br />

Como tanto os genes homeóticos <strong>do</strong><br />

modelo ABC quanto os genes regula<strong>do</strong>res<br />

ASK são conserva<strong>do</strong>s durante a evolução,<br />

espera-se que os mecanismos de<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s órgãos florais sejam<br />

semelhantes entre as diferentes espécies<br />

de plantas. De fato, vários homólogos<br />

<strong>do</strong>s genes envolvi<strong>do</strong>s na diferenciação<br />

floral foram clona<strong>do</strong>s em vários gêneros<br />

e famílias, tanto de mono- como de<br />

dicotiledôneas, e o princípio de funcionamento<br />

<strong>do</strong>s mesmos parece conserva<strong>do</strong><br />

pela evolução (Baum, 1998).<br />

A obtenção de plantas transgênicas,<br />

onde se modifica a expressão <strong>do</strong>s genes<br />

envolvi<strong>do</strong>s no florescimento, tem demonstra<strong>do</strong><br />

que é possível a manipulação<br />

da arquitetura floral pelo Homem (Ma,<br />

1998; Dornelas et al. in press). As conseqüências<br />

biotecnológicas são óbvias. A<br />

capacidade de modelar a arquitetura floral<br />

artificialmente, eliminan<strong>do</strong> ou adicionan<strong>do</strong><br />

verticilos e/ou modifican<strong>do</strong> a identidade<br />

e a posição de cada órgão floral,<br />

abre um invejável universo de possibilidades<br />

agronômicas.<br />

Assim, com a possibilidade atual<br />

de «construir» flores por meio da manipulação<br />

genética molecular, a expressão<br />

«engenharia genética» ganhou um aspecto<br />

arquitetônico renova<strong>do</strong>.<br />

Referências<br />

Baum, D. (1998) The evolution of<br />

plant development. Curr. Opin. Plant<br />

Biol. 1:79-86.<br />

Coen, E.S.; Meyerowitz, E.M. (1991)<br />

The war of the worls: genetic interactions<br />

controlling flower development. Nature<br />

353:31-37.<br />

Dornelas, M.C.; Lejeune, B.; Dron, M.;<br />

Kreis, M. (1998). The Arabi<strong>do</strong>psis SHA-<br />

GGY-related protein kinase (ASK) gene<br />

family: structure, organization and evolution.<br />

Gene 212:249-257.<br />

Dornelas, M.C.; Wittich, P.E.; von<br />

Recklinghausen, I.R.; van Lammeren,<br />

A.A.M.; Kreis, M. (1999). Characterization<br />

of three novel members of the Arabi<strong>do</strong>psis<br />

SHAGGY-related protein kinase (ASK)<br />

multigene family. Plant Mol. Biol. 39:137-<br />

147.<br />

Goehte, J.W. (1790). Versuch die metamorphose<br />

der Plantzen zu erklaren. In:<br />

A. Arber (1946) Goethe´s Botany. Chron.<br />

Bot. 10:63-126.<br />

Ma, H. (1998). To be, or not to be, a<br />

flower - control of floral meristem identity.<br />

Trends in Genetics 14:26-32.<br />

Meyerowitz, E.M.; Bowman, J.L.; Brockman,<br />

L.L.; Drews, G.L.; Jack, T.; Sieburth,<br />

L.E.; Weigel, D. (1991). A genetic and<br />

molecular model for flower development<br />

in Arabi<strong>do</strong>psis thaliana. Development<br />

112 (Suppl.): 157-169.<br />

Figura 4: A flor <strong>do</strong> mutante superman de arabi<strong>do</strong>psis<br />

possui estames (órgãos masculinos) no lugar <strong>do</strong>s carpelos<br />

(órgãos femininos) no verticilo central<br />

Figura 5: As flores <strong>do</strong> mutante perianthia de arabi<strong>do</strong>psis<br />

apresentam um número superior de sépalas e pétalas (5 ou<br />

mais) que as <strong>do</strong> tipo selvagem (sempre 4)<br />

46 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento


BAYER<br />

Atenção:<br />

REPETE FOTOLITO ANTIGO<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento 47


SEÇÃO DE CARTAS<br />

CARTAS<br />

Para entrar em contato com <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento você pode<br />

enviar sua correspondência via Internet, fax ou carta para esta seção. A critério <strong>do</strong> editor,<br />

as mensagens poderão ser publicadas resumidamente. Nossos endereços são:<br />

Redação de <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento: SRTV/Sul – Quadra 701 – Ed.<br />

Palácio <strong>do</strong> Rádio II, sala 215 – Cep 70340-902 – Brasília –DF Tel: (061) 225-1512 Fax:<br />

(061)224-2830<br />

Home-page: http://www.biotecnologia.com.br Email: kl3@biotecnologia.com.br<br />

Parabenizo a equipe responsável pela<br />

revista <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento<br />

pois há muito estávamos<br />

precisan<strong>do</strong> de uma revista tão<br />

bem elaborada tanto em nível editorial<br />

quanto em nível de conteú<strong>do</strong>,<br />

sempre abordan<strong>do</strong> temas atuais de<br />

forma simples e bem ilustrada.<br />

A revista constitui-se de fato um<br />

material excelente para a elaboração<br />

de discussões em sala de aula com<br />

alunos de graduação que geralmente<br />

não tem acesso à revistas estrangeiras,<br />

ou não <strong>do</strong>minam o inglês. Certamente<br />

utilizarei no próximo perío<strong>do</strong><br />

letivo os artigos sobre OGM’S com<br />

meus alunos <strong>do</strong>s cursos de Engenharia<br />

Florestal e Agronomia na Universidade<br />

Federal de Mato Grosso, e<br />

dessa forma abordar o tema de uma<br />

forma diferente desta que sempre<br />

ouvimos em simpósios e palestras:<br />

muitas perguntas, poucas respostas.<br />

O artigo de Escape Gênico <strong>do</strong><br />

Prof.Dr.ALuísio Borém(UFV) vem<br />

mostrar algo completo com relação<br />

ao risco ao meio ambiente. Chega de<br />

achismo!<br />

Parabéns!<br />

Profa.Rute Magalhães Brito Ribon<br />

Departamento de Biologia e Zoologia<br />

– IB/UFMT (MSc em Genética<br />

e Melhoramento - UFV).<br />

llll<br />

Sou assinante desta revista e aluno<br />

<strong>do</strong> curso de Engenharia Agrícola da<br />

Universidade Estadual de Campinas,<br />

e gostaria de parabenizá-los pela<br />

ótima revista produzida. Estou fazen<strong>do</strong><br />

uma pesquisa para meu orienta<strong>do</strong>r,<br />

a respeito da utilização de agroquímicos,<br />

e gostaria de saber: qual a<br />

quantidade de herbicidas necessários<br />

para manter uma lavoura de Soja<br />

de um hectare “limpa”, consideran<strong>do</strong><br />

que foram utilizadas as <strong>do</strong>ses<br />

corretas, desde o plantio até a colheita.<br />

Em relação as várias formulações<br />

existentes atualmente, qual o custo<br />

para o produtor?<br />

Sem mais, obriga<strong>do</strong>.<br />

Daniel Albiero<br />

Dalbiero@agr.unicamp.br<br />

As informações acima poderão ser<br />

obtidas junto à Associação Nacional<br />

de Defesa Vegetal, ANDEF. Pelo tel.<br />

0XX11- 8815033.<br />

llll<br />

Gostaria de parabenizar a iniciativa<br />

de vocês de iniciarem uma revista tão<br />

boa. Assinei a revista e estou ansiosa<br />

para receber os outros números.<br />

Estou interessada em reportagens sobre<br />

biotecnologia em plantas <strong>do</strong> Cerra<strong>do</strong>,<br />

portanto sugiro este tema para<br />

reportagem.<br />

Daniela Orem<br />

Zazae487@zaz.com.br<br />

Informamos que sua sugestão foi encaminhada.<br />

llll<br />

Informamos a inauguração <strong>do</strong> laboratório<br />

de Fitopatologia Molecular e<br />

Engenharia Genética em 01/10/99 da<br />

UFSCAR- Lafimeg – Laboratório de<br />

Fitopatologia Molecular e Engenharia<br />

Genética.<br />

Centro de Ciências Agrárias – Dep. de<br />

<strong>Biotecnologia</strong> Vegetal – CCA<br />

Lafimeg@dbv.cca.ufscar.br<br />

www.dbv.cca.ufscar.br<br />

llll<br />

Agradeço a divulgação <strong>do</strong> site <strong>do</strong><br />

nosso laboratório (Cultura de Teci<strong>do</strong>s<br />

da UFPEL), na página eletronica<br />

desta revista. Nosso conta<strong>do</strong>r de visitas<br />

aumentou consideravelmente. Gostaria<br />

que divulgassem outras páginas da nossa<br />

Universidade, relacionadas a programas<br />

de pós-graduação, tais como:<br />

Programa de Pós –Graduação em Fitossanidade<br />

(FAEM-UFPel), áreas de concentração<br />

em: Solos, Fitomelhoramento,<br />

Fruticultura de Clima Tempera<strong>do</strong> e<br />

Produção Vegetal.<br />

www.ufpel.tche.br/faem/ppga<br />

Programa de Pós- Graduação em Fitossanidade<br />

(FAEM-Ufpel), áreas de concentração<br />

em: Fitopatologia e Entomologia.<br />

www.ufpel.tche.br/faem/ppgfs<br />

Programa de Pós-Graduação em Fisiologia<br />

Vegetal (IB-UFPel)<br />

Mestra<strong>do</strong><br />

www.ufpel.tche.br/ib/botanica/fisiologia<br />

delponte@ufpel.tche.br<br />

llll<br />

A Faculdade de Engenharia Agrícola-<br />

FEAGRI – da UNICAMP promoveu o<br />

evento Engenharia Agrícola aberta ao<br />

Público nos dias 17 e 18 de Setembro<br />

de 1999. O evento teve como objetivo<br />

apresentar a sociedade em geral e aos<br />

vestibulan<strong>do</strong>s, as atividades desenvolvidas<br />

na faculdade, bem como possibilitar<br />

a esse público a oportunidade de<br />

nos visitar e conhecer as nossas modernas<br />

instalações e laboratórios, assim<br />

como conhecer um pouco sobre a profissão<br />

em Engenharia Agrícola, seu<br />

merca<strong>do</strong> de trabalho e perspectivas<br />

futuras. Mais informações na página da<br />

Faculdade de Engenharia agrícola.<br />

www.agr.unicamp.br<br />

48 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & Desenvolvimento

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!