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KARATE DO O MEU MODO DE VIDA.pdf - Visionvox

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— mais do que isso — me sentia profundamente devedor a esta arte por meu bem-estar<br />

aumentado, e foi por essa época que comecei a pensar seriamente na possibilidade de<br />

fazer do Karatê-dô um modo de vida.<br />

Entretanto, não passava pela minha cabeça que pudesse fazer dele uma profissão, e<br />

já que a controvérsia espinhosa do birote havia posto a carreira médica fora do meu<br />

alcance, começava agora a pensar em alternativas. Visto que tanto meu avô como Azato<br />

haviam me ensinado os clássicos chineses desde a infância, decidi fazer uso desse<br />

conhecimento tornando-me professor. Concretizando a decisão, prestei os exames de<br />

qualificação e assumi a função de instrutor assistente numa escola primária. Minha primeira<br />

experiência como responsável por uma sala de aula aconteceu em 1888, com a idade<br />

de vinte e um anos.<br />

Mas o birote ainda importunava, pois antes de ser autorizado a assumir minhas<br />

funções, fui solicitado a livrar-me dele. Isso me pareceu plenamente razoável. O Japão<br />

vivia então um momento de grande efervescência; mudanças importantes ocorriam em<br />

todas as panes, afetando cada faceta da vida. Como professor, sentia que tinha a<br />

obrigação de ajudar a geração mais jovem, que um dia forjaria o destino de nossa nação, a<br />

preencher as enormes lacunas que se escancaravam entre o Japão velho e o novo. Eu<br />

mal podia objetar ao edito oficial que prescrevia que nosso birote tradicional tinha se<br />

tornado agora uma relíquia do passado. Todavia, tremia ao pensar no que os demais<br />

membros mais velhos da família iriam dizer.<br />

Naquela época, os professores trajavam um uniforme especial (semelhante ao usado<br />

pelos estudantes na Escola de Pares antes da última guerra); uma jaqueta escura<br />

abotoada até o pescoço, os botões de cobre com desenho em relevo de uma florescência<br />

de cereja, e um boné com uma insígnia também com o desenho de uma cereja em flor. Foi<br />

no tempo em que usava esse uniforme, tendo o birote raspado, que fiz uma visita aos<br />

meus pais para<br />

relatar que havia sido empregado como instrutor assistente numa escola primária.<br />

Meu pai mal podia acreditar em seus olhos. “O que você fez a você mesmo?”, gritou<br />

com raiva. “Você, o filho de um samurai!” Minha mãe, ainda mais raivosa do que ele,<br />

recusou-se a falar comigo. Virou-me as costas, saiu de casa pela porta dos fundos e fugiu<br />

para a casa de seus pais. Imagino que os jovens de hoje devem considerar esse bateboca<br />

uma coisa inconcebivelmente ridícula.<br />

De qualquer modo, o dado fora lançado. Apesar de toda objeção ardorosa dos meus<br />

pais, adotei a profissão que seguiria pelos trinta anos seguintes. Mas em hipótese alguma<br />

abandonei meu primeiro verdadeiro amor. Dava aulas durante o dia e em seguida, como a

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