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PATOLOGIAS ASSOCIADAS AO DESMAME - Embrapa Suínos e Aves

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<strong>PATOLOGIAS</strong> <strong>ASSOCIADAS</strong> <strong>AO</strong> <strong>DESMAME</strong><br />

Nelson Morés; Armando lopes do Amaral<br />

<strong>Embrapa</strong> Suínos e <strong>Aves</strong>, Cx. Postal 21, 89700-000, Concórdia/SC<br />

E-mail: mores@cnpsa.embrapa.br<br />

INTRODUÇÃO<br />

Na suinocultura intensiva, a fase de creche é um período crítico na produção de leitões, devido a ocorrência de<br />

problemas de desempenho e de ordem sanitária, principalmente, a síndrome da diarréia pós-desmame (SDPD) e a<br />

doença do edema (DE). Entretanto, essas patologias são consideradas de etiologia multifatorial, onde agentes<br />

infecciosos como amostras patogênicas de E. coli e o rotavirus, exercem seu poder patogênico, predominantemente,<br />

em lotes de leitões sob condição de risco. Dessa forma, fatores ligados ao manejo, ao ambiente e a nutrição dos leitões,<br />

desempenham papel fundamental na ocorrência e severidade da SDPD e DE, uma vez que os agentes infecciosos<br />

estão presentes, tanto em rebanhos com problemas, como em rebanhos sem problemas. Dessa forma, os programas<br />

de controle dos problemas dos leitões na fase de creche, devem incluir a identificação e correção dos fatores de riscos.<br />

Em rebanhos afetados, a taxa de mortalidade pode se elevar 4,5 vezes, podendo chegar a 8%, e os leitões<br />

levam em média 2,3 dias a mais para atingir 25 kg de peso. O peso do leitão em idade jovem tem forte influência<br />

(P=0,001) sobre o seu peso na vida posterior. Um leitão que pesa 0,5kg a mais no nascimento terá um ganho extra de<br />

0,8kg ao desmame e 1,2 nas 7 semanas de idade e um leitão com 5kg a mais nas 7 semanas de idade terá um ganho<br />

extra de 1,5kg nas 14 semanas e de 2,0kg nas 20 semanas de idade.<br />

Outras doenças como viroses imunosupressivas emergentes, entre elas a síndroma reprodutiva e respiratória<br />

dos suínos, a influenza suína, a doença de Aujeszky, a peste suína e o circovírus, parasitoses como a isosporose e<br />

doenças bacterianas, principalmente a meningite por Streptococcus, Infecção por Clostridium perfringes tipo A e a ileíte<br />

podem ter importância também na fase de creche. As viroses imunosupressivas podem causar surtos , com quadros<br />

patológicos próprios, mas as formas enzoóticas estão recebendo cada vez mais importância por atingirem,<br />

principalmente, leitões entre 6 – 30 kg, na fase de creche. Em tais situações, muitas bactérias existentes nos rebanhos<br />

exacerbam seu potencial patogênico, causando quadros patológicos complexos. Um exemplo disso é a síndrome<br />

respiratória pós-desmame que tem causado grandes perdas econômicas em muitos países. Nesta palestra serão<br />

abordados apenas os problemas relacionados com a desmama dos leitões.<br />

Porque o desmame é uma fase crítica do leitão<br />

Nas últimas décadas, a idade de desmame dos leitões foi drasticamente reduzida. Na Inglaterra, a idade de<br />

desmame foi reduzida de 42 para 30 dias, de 1976 a 1982 e, atualmente, é feita com aproximadamente 21 dias. Na<br />

região sul do Brasil, em rebanhos que praticavam a suinocultura intensiva, em 1989 a idade média do desmame era 42<br />

dias e em 1995 - 1997 era de 27 dias. Atualmente, a maioria das granjas desmamam os leitões entre 21 a 28 dias de<br />

idade. Esse período corresponde à fase de transição entre a imunidade passiva e a imunidade ativa, em que os leitões<br />

apresentam a menor concentração de IgG no soro, sendo, portanto, uma época crítica para o estabelecimento de<br />

infecções (Tabela1).<br />

Tabela 1 - Concentração média de IgG no soro de leitões da primeira à décima semana de idade.<br />

Semanas após o nascimento<br />

Concentração de IgG no soro (mg/mI)<br />

1 20,92<br />

2 14,11<br />

3 9,72<br />

4 8,92<br />

5 9,57<br />

6 12,71<br />

7 14,63<br />

8 17,83<br />

9 21,53<br />

10 21,84<br />

Fonte: Frenyó et al. (1980-1981).<br />

Nos atuais sistemas de produção intensiva, os leitões são submetidos, precocemente, a dietas que podem<br />

predispor o aparelho digestivo a um desequilíbrio da microbiótica, favorecendo a proliferação exagerada de agentes<br />

com poder patogênico. Somando-se a isso, por ocasião do desmame, os leitões são submetidos a vários fatores<br />

estressantes nutricionais (mudança brusca tanto na composição como na estrutura física das dietas), sociais (separação<br />

das suas mães, formação de nova hierarquia social pela mistura de leitões de várias leitegadas) e ambientais e de


manejo (transferência dos leitões a um novo ambiente). Tais situações causam estresse nos leitões que, associado aos<br />

fatores de risco ligados ao ambiente e ao manejo na fase de creche, favorecem a multiplicação dos agentes infecciosos<br />

no intestino, os quais determinam a ocorrência de diarréia.<br />

1. Fatores nutricionais<br />

Vários estudos têm demonstrado que a manutenção da arquitetura da mucosa intestinal no período logo após o<br />

desmame, depende basicamente do suprimento contínuo de nutrientes. As células epiteliais do intestino são as que<br />

apresentam crescimento mais rápido do corpo e muitos dos nutrientes requeridos são absorvidos direto do lúmen<br />

intestinal. Por isso, parece que a redução na altura das vilosidades intestinais, não é uma função da forma física da<br />

dieta, mas sim da continuidade na ingestão de nutrientes. A redução na altura das vilosidades, seguindo o desmame,<br />

reduz a digestão e absorção de nutrientes e permite maior passagem de nutrientes para o intestino grosso, favorecendo<br />

o desenvolvimento de uma microbiótica intestinal inadequada, que por sua vez, pode dar origem a doenças entéricas.<br />

Há importante variação no intervalo de tempo entre o desmame e a primeira ingestão de água ou alimento pelos leitões.<br />

A maioria acessa o alimento em 3 horas após o desmame, mas alguns demoram até 54 horas, induzindo alterações na<br />

arquitetura da mucosa intestinal. Então, estratégias de manejo devem ser tomadas para assegurar a ingestão de água e<br />

alimento de forma contínua, por todos os leitões, o mais rápido possível após o desmame. Os sinais de alerta,<br />

indicativos que os leitões não estão ingerindo alimento suficiente são: aparência desidratada (pêlos compridos e sem<br />

brilho), abdômen retraído, aparências dos ossos da bacia e das costelas e apatia. Dois fatores principais parecem<br />

influenciar a manifestação de patologias digestivas no desmame, conforme segue:<br />

a) Altura das vilosidades e profundidade das criptas<br />

Muitos autores relataram que há uma atrofia das vilosidade e uma hiperplasia das criptas após o desmame,<br />

com maior intensidade quando o desmame é feito com 14 dias de idade, comparativamente com 28 dias. Esse efeito é<br />

muito forte no primeiro dia após o desmame, mas prolonga-se até o quinto dia quando atinge apenas 50% do valor da<br />

altura das vilosidades encontrado no dia do desmame. A redução na altura das vilosidades, seguindo o desmame, é<br />

causada por aumento na taxa de perda de células epiteliais e reduzida taxa de renovação celular, por redução na<br />

divisão celular nas criptas (como no consumo insuficiente de energia e proteína). Se for associada ao aumento da taxa<br />

de perda celular, ocorre aumento na produção de células na cripta com aumento na profundidade (como na presença de<br />

componentes antigênicos na dieta e agressão microbiana).<br />

b) Capacidade de absorção e digestão do intestino delgado após o desmame<br />

A redução na altura das vilosidades e o aumento na profundidade das criptas no intestino delgado, após o<br />

desmame, estão associados com redução na atividade específica de enzimas como a lactase e sucrase. Essa redução<br />

atinge os valores mais baixos 4 a 5 dias após o desmame e ocorre independentemente se ração pré-inicial foi ou não<br />

oferecida aos leitões antes do desmame.<br />

Fatores que afetam a estrutura e função do intestino após o desmame<br />

a) Bactérias enteropatogênicas e suas interações no intestino delgado<br />

Durante a fase de aleitamento, o colostro e o leite, alteram o crescimento bacteriano no intestino, mas com o<br />

desmame, os leitões não somente tornam-se mais vulneráveis à infecções, como também alteram a morfologia e função<br />

do intestino. É comum leitões desenvolverem diarréia entre 3 – 7 dias pós-desmame. Embora sorotipos específicos de<br />

E. coli têm papel central na etiologia da diarréia pós-desmame, o problema é complexo e multifatorial, pois outros<br />

microrganismos, como o rotavírus, também devem ser considerados. A predisposição para infecção por estes agentes<br />

envolve muitos fatores. Uma forte associação existe entre a colonização intestinal por E. coli enteropatogênicas e a<br />

ocorrência de diarréia, mas a inoculação experimental com essas bactérias, na ausência de fatores pré-disponentes,<br />

falha na indução da doença. Vários trabalhos têm postulado que o encurtamento das vilosidades e aumento da<br />

profundidade das criptas, estão associados a menor quantidade de células secretoras e de absorção na mucosa do<br />

intestino delgado. A redução na capacidade de digestão e absorção, induz o desenvolvimento de diarréia osmótica, que<br />

por sua vez, os nutrientes não absorvidos podem atuar como substrato para multiplicação da E. coli enteropatogênica.<br />

Há uma correlação negativa (r = - 0,95, P < 0,02) entre a absorção intestinal e a altura das vilosidade em leitões<br />

infectados com E. coli enteropatogênicas o que pode ser explicado pela presença de enterócitos imaturos nas<br />

vilosidades que tornam-se mais susceptíveis à toxinas bacterianas. O papel preciso que a E. coli enteropatogênica tem<br />

como causador ou fator pré-disponente para a altura das vilosidades e profundidade das criptas do intestino delgado<br />

após o desmame, é difícil de assegurar, uma vez que essas alterações podem resultar de várias mudanças que<br />

ocorrem no desmame. Atualmente, não é possível assegurar se a proliferação da E. coli enteropatogênica é uma causa<br />

ou um efeito dos distúrbios gerais associados com o processo do desmame.<br />

b) Adaptação inadequada para fatores estressores no desmame<br />

Há poucas informações sobre o efeito do estresse psicológico imposto aos leitões no desmame. A<br />

administração de amperozide, uma droga com efeito psicotrópico, parece normalizar a altura das vilosidades e a<br />

atividade da fosfatase alcalina nos enterócitos. Então, mudanças na estrutura e função do intestino delgado podem ser<br />

uma conseqüência do estresse psicológico imposto no desmame (separação da porca, mistura de leitões e mudança de<br />

ambiente), mas pode ser confundido com baixo nível de ingestão voluntária de alimento. Leitões separados das mães,


mas alimentados com leite de porca, apresentam arquitetura intestinal similar àqueles deixados mamando na porca,<br />

sem o estresse psicológico da separação.<br />

c) Retirada do leite da porca no desmame<br />

A retirada abrupta do leite da porca ao desmame, suprime o epitélio do intestino de fatores de crescimento,<br />

hormônios e outras substâncias bioativas presentes no leite da porca. Isto têm acentuado efeito nos processos que<br />

regulam o crescimento, diferenciação e função celular no epitélio intestinal. Os componentes bioativos envolvidos no<br />

desenvolvimento do intestino delgado, presentes em altas concentrações no leite da porca, são: fatores de crescimento<br />

epidérmico, poliaminas, insulina e fatores de crescimento semelhante a insulina.<br />

d) Mudanças na dieta associadas ao desmame<br />

O tipo de dieta fornecida aos leitões após o desmame parece influenciar a estrutura e função do intestino<br />

delgado. Leitões que receberam dieta na forma de papa tinham maior altura das vilosidade aos 8 e 11 dias pósdesmame,<br />

consumiram 13% mais alimento e cresceram 11% a mais do que os que receberam a mesma dieta na forma<br />

peletizada. O consumo voluntário de alimento nos primeiros dias após o desmame, geralmente, é baixo para atender as<br />

necessidades dos leitões em energia. Com isso, parece que a ingestão de energia após o desmame,<br />

independentemente do tipo de dieta, é a maior causa da atrofia das vilosidades. Também, tem sido sugerido que<br />

mudanças morfológicas no intestino de leitões desmamados, podem resultar de uma hipersensibilidade retardada à<br />

antígenos contidos na dieta. Nessa direção, o alto consumo de ração antes do desmame favorece a tolerância<br />

imunológica, enquanto que o baixo consumo sensibiliza o sistema imune e pré-dispõe os leitões desmamados a<br />

desenvolverem distúrbios entéricos. Há evidências que o farelo de soja, incluído na dieta do desmame, é antigênico<br />

(glicenina e β-conglicenina) e estimula uma resposta imune localizada, predispondo a diarréia. Como um dos mais<br />

potentes estímulos para proliferação intestinal é a presença de alimento no lúmen, a ausência de nutrientes, como<br />

ocorre logo após o desmame, resulta em atrofia das vilosidades e redução na taxa de produção de células das criptas.<br />

e) Problemas na disponibilidade de ração para os leitões logo após o desmame<br />

As vezes os leitões ingerem pouco alimento, simplesmente porque é feita restrição alimentar para controlar<br />

problemas entéricos, ou por problemas com o comedouro ou por falta de ração no cocho. Alguns comedouros podem<br />

apresentar problemas de fluxo da ração (devido a compactação) do depósito até o local de acesso dos leitões,<br />

principalmente, com dietas contendo alta quantidade de produtos láteos, em salas com alta temperatura e umidade.<br />

f) Citoquinas como reguladores do crescimento intestinal<br />

As citoquinas estão envolvidas na comunicação entre células linfóides da mucosa (placas de Payer), linfócitos<br />

da lâmina própria e linfócitos intra-epiteliais. Mas seu papel nas mudanças estruturais da mucosa do intestino delgado<br />

de leitões desmamados não tem sido investigado.<br />

2. Fatores sociais<br />

Em trabalho de composição de grupos de leitões no desmame, foram testados 3 métodos de agrupamentos<br />

para compor baias de 12 leitões cada: 6 leitões de 2 leitegadas (6X2), 4 leitões de 3 leitegadas (4X3) e 3 leitões de 4<br />

leitegadas (3X4). A composição 4X3 mostrou-se provocar menos contato físico (brigas) entre os leitões do que os<br />

demais grupos. Também, em trabalho realizado na França foi identificado como fator de risco para os problemas<br />

digestivos do desmame, o número de leitegadas de origem na formação do lote de leitões de uma baia, aparecendo<br />

como melhor situação quando o número de leitegadas de origem foi menor de 4 e como fator de risco mais forte quando<br />

maior de 7.<br />

3. Fatores ambientais e de manejo<br />

Leitões jovens, desmamados com idade inferior a 28 dias são muito sensíveis ao frio. Assim, a temperatura da<br />

creche é o primeiro parâmetro ambiental a ser controlado. Embora a ventilação é usada para controlar a temperatura,<br />

ela também deve fornecer aeração aos leitões e trabalhadores. No inverno uma taxa de ventilação mínima deve ser<br />

fornecida para manter a umidade relativa abaixo de 80% e para reduzir as concentrações de poeiras, microrganismos e<br />

gases no ambiente. O ideal é manter as concentrações de dióxido de carbono menor que 1500ppm (0,15%), de amônia<br />

menor que 10ppm e de microorganismos menor que 200.000 partículas bacterianas formadoras de colônias/m 3 . Os<br />

fatores mais importantes que influenciam estes valores são a densidade animal e a taxa de ventilação na sala ou na<br />

instalação.<br />

A associação entre o estresse pelo frio e a susceptibilidade à doenças infecciosas é bem documentada na<br />

literatura. Tem sido demonstrado que enquanto a resposta imune pode ser aumentada ou diminuída, dependendo do<br />

tipo e duração do estresse e da natureza e virulência do patógeno, a resistência do hospedeiro é geralmente reduzida<br />

durante o estresse pelo frio. Na ausência de outros fatores de risco, leitões mantidos em ambiente de termoneutralidade<br />

não sofrem de diarréia pós-desmame, mesmo na presença de amostra enterotoxigênicas de E. coli. Porém, a incidência<br />

e severidade da diarréia por E. coli é maior em leitões mantidos a 15 o C e menor naqueles a 30 o C (Tabela 2), mas<br />

esse efeito somente foi observado nos leitões alimentados à vontade.


Tabela 2 - Excreção de E. coli, mortalidade por colibacilose e incidência de diarréia em leitões infectados por E. coli e<br />

submetidos a diferentes temperaturas no período pós-desmama<br />

Temperatura da<br />

sala (°C)<br />

N° de leitões N° de leitões<br />

excretores<br />

N° de leitões<br />

mortos<br />

N° de leitões com<br />

diarréia<br />

30 34 1 0 3<br />

20 22 2 0 11<br />

15 66 48 14 45<br />

Fonte: Wathes et al., 1989.<br />

O piso utilizado nas instalações de creche também pode interferir na sanidade dos leitões. Em estudo<br />

epidemiológico realizado no sul do Brasil foi identificado como fator de risco para a ocorrência de linfadenite em suínos<br />

de abate, o uso de piso compacto e a má qualidade da higiene na fase de creche. Em estudo, testando 6 diferentes<br />

tipos de piso para leitões de creche (plástico e diferentes tipos de ferro), não foram observadas diferenças na<br />

performance, taxa de mortalidade e % de leitões medicados. Leitões desmamados ao anoitecer, às 20:00hs,<br />

apresentaram melhor performance (consumiram 5% mais alimento e ganharam 6% mais peso durante um período de<br />

28 dias) do que aqueles desmamados pela manhã, às 8:00hs.<br />

Fatores de risco na fase de creche<br />

Em estudo epidemiológico para identificação de fatores de risco na fase de creche já foram realizados em<br />

vários países como França, Portugal, Austrália e no Brasil. No estudo realizado em criações de suínos da região sul do<br />

Brasil, foram observados diferentes níveis de performances dos leitões em fase de creche, nos diferentes rebanhos,<br />

quanto a ocorrência de diarréia, mortalidade e de ganho de peso dos leitões na fase de creche, permitindo a<br />

classificação dos mesmos em 3 categorias: granjas sem problemas, com problemas intermediários e com problemas<br />

graves (Tabela 3). Associado à estas diferentes categorias foram identificados um conjunto de 10 variáveis que estão<br />

descritas na Tabela 4. Com essas variáveis foi possível estabelecer o perfil de granjas para a região Sul do Brasil com<br />

alta tendência de apresentarem problemas com os leitões na fase de creche: desmamam os leitões com menos de 25<br />

dias, com peso médio inferior a 6,3kg, com ocorrência de onfalite em mais de 8% dos leitões e casos de artrite entre os<br />

leitões; presença de casos de vício de sucção entre os leitões logo após o desmame; usam bebedouros inadequados na<br />

fase de creche; possuem problemas ambientais com umidade relativa do ar maior que 82% e volume de ar menor que<br />

1,4m 3 /leitão na sala onde estão alojados os leitões; usam ração pré-inicial com menos de 18% de proteína bruta; e a<br />

granja está localizada na encosta sul ou fundo de vale. É importante salientar que três (peso médio baixo ao desmame,<br />

ocorrência de onfalite e de artrite) dos 10 fatores de risco identificados, são conseqüência de problemas existentes na<br />

fase de maternidade, com reflexos negativos no período pós-desmame. A forte influência do peso e da idade ao<br />

desmame sobre a ocorrência de diarréia e taxa de mortalidade de leitões na fase de creche tem sido comprovada em<br />

vários estudos. Portanto, para solucionar os problemas com os leitões na fase de creche, várias medidas corretivas<br />

deverão ser direcionadas para a fase de maternidade, para que os leitões sejam desmamados sem problemas de saúde<br />

e com bom peso.<br />

Tabela 3 - Variável sintética obtida a partir da análise fatorial de correspondência e classificação hierárquica ascendente<br />

com as sete variáveis objetivas (classificação das 65 granjas em função do perfil apresentado).<br />

Freqüência<br />

Variável Classificação das granjas Sigla<br />

Absoluta Relativa<br />

Gravidade dos problemas 1- granjas sem problemas<br />

Boa 25 38,5<br />

com os leitões na fase de<br />

2- granjas intermediárias<br />

Interm. 19 29,2<br />

creche<br />

3- granjas com problemas graves Ruim 21 32,3<br />

Fonte: Morés et al. 2000.


Tabela 4 - Relação das variáveis explicativas e suas respectivas classes, associadas com os problemas dos leitões na<br />

fase de creche.<br />

Freqüência<br />

Variável Sigla Classe*<br />

1. Peso médio ao desmame (kg) PMD<br />

PMD1: Maior que 7,30<br />

PMD2: De 6,30 a 7,30<br />

PMD3: Até 6,30<br />

Absoluta<br />

21<br />

25<br />

19<br />

Relativa<br />

32,3<br />

38,5<br />

29,2<br />

2. Idade ao desmame (dias) IDE<br />

IDE1: Maior que 28<br />

IDE2: De 25 a 28<br />

IDE3: Menor que 25<br />

21<br />

25<br />

19<br />

32,3<br />

38,5<br />

29,2<br />

3. Porcentagem de leitões com<br />

onfalite no desmame<br />

ONF<br />

ONF1: Até 8,0<br />

ONF2: De 8,0 a 20,0<br />

ONF3: Maior que 20,0<br />

21<br />

25<br />

19<br />

32,3<br />

38,5<br />

29,2<br />

4. Ocorrência de leitões com artrite<br />

ao desmame<br />

ART<br />

ART-: Ausência<br />

ART+: Presença<br />

44<br />

21<br />

67,7<br />

32,3<br />

5. Vício de sucção entre leitões após<br />

o desmame<br />

SUC<br />

SUC1: Ausência<br />

SUC2: Presença<br />

42<br />

23<br />

64,6<br />

35,4<br />

6. Localização geográfica da granja ** LOC<br />

LOC1: Boa<br />

LOC2: Ruim<br />

35<br />

28<br />

55,6<br />

44,4<br />

7. Tipo de bebedouro usado na<br />

creche<br />

TB<br />

TB1: Chupeta<br />

TB2: Outros<br />

46<br />

19<br />

70,8<br />

29,2<br />

8. Porcentagem de proteína bruta na<br />

ração pré-inicial dos leitões<br />

PB<br />

PB1: Maior que 20,0<br />

PB2: De 18,0 a 20,0<br />

PB2: Até 18,0<br />

18<br />

23<br />

19<br />

30,0<br />

38,3<br />

31,7<br />

9. Umidade relativa média do ar nos<br />

21 dias após o desmame (%)<br />

UR<br />

UR1: Até 72,0<br />

UR2: De 72,0 a 82,0<br />

UR3: Maior que 82,0<br />

18<br />

25<br />

22<br />

27,7<br />

38,5<br />

33,8<br />

10. Volume de ar por leitão na creche<br />

(m 3 )<br />

VOL<br />

VOL1: Maior que 2,0<br />

VOL2: 1,4 a 2,0<br />

VOL3: Até 1,4<br />

*Classes em negrito são consideradas fatores de risco que devem ser evitados ou corrigidos para atingir a situação<br />

desejável representada pelas classes em itálico.<br />

** Boa = Encosta norte ou topo de morro<br />

Ruim = Encosta sul, fundo de vale ou outros<br />

Fonte: Morés et al. 2000.<br />

18<br />

24<br />

21<br />

33,3<br />

38,1<br />

28,6<br />

Em estudo realizado na França, foram identificados fatores de risco com base na baia em que os leitões eram<br />

alojados (Tabela 5), aparecendo como principais fatores de risco, o peso médio ao desmame menor que 7,2 kg, número<br />

médio de leitões por baia maior que 23 e consumo médio de alimento/leitão na primeira semana pós-desmame menor<br />

que 1,0 kg. Também identificaram os fatores de risco com base no rebanho (Tabela 6), sendo os mais importantes<br />

consumo médio de alimento/leitão na primeira semana pós-desmame menor que 1,0 kg, a má situação higiênica da<br />

creche na entrada dos leitões, qualidade de ar inadequada na sala de creche e a idade ao desmame menor que 26,5<br />

dias. Analisando-se os fatores de risco identificados nas criações francesas e nas brasileiras verifica-se muita<br />

semelhança.<br />

A condição higiênica da sala de creche que irá receber um novo lote de leitões desmamados é de fundamental<br />

importância na prevenção de problemas sanitários na fase de creche. Em um trabalho realizado na França, foram<br />

identificados oito fatores de risco associados a contaminação residual na creche no momento da entrada de um novo<br />

lote de leitões. São eles:<br />

1. Distância entre a superfície dos dejetos na pré-fossa e piso ripado menor que 40 cm;<br />

2. Presença acentuada de sujeiras;<br />

3. Mais de 24 horas entre a saída dos leitões do lote anterior e a primeira limpeza úmida;<br />

4. Não aplicação de detergente na lavagem;<br />

5. Número de limpeza úmida menor do que duas;<br />

6. Mais de 20 horas entre o fim da lavagem e a primeira desinfecção;


7. Relação: dose de desinfetante/valor recomendado menor que 1 ou maior que 3,5;<br />

8. Aplicação do desinfetante por nebulização;<br />

9. Superfícies das paredes e pisos com muita rugosidade (cavidades).<br />

Tabela 5 - Modelo de regressão logística final, com base na baia, para problemas digestivos pós desmame em leitões,<br />

(616 baias de 106 rebanhos franceses, 1994 – 1995.<br />

Variáveis Categorias ODD RATIO<br />

< 7,2 5,2<br />

1 – Peso médio ao desmame, kg<br />

7,2 – 8,1 1,1<br />

8,11 – 9 0,8<br />

13 – 16 0,7<br />

2 - Número médio de leitões/baia<br />

17 – 23 1,07<br />

3 – Consumo de alimento/leitão na 1ª semana pós<br />

desmame, kg<br />

Fonte: MADEC, et al. 1998.<br />

> 23 3,5<br />

< 1,0 7,5<br />

1 – 1,34 4,1<br />

1,35 – 1,8 1,9<br />

Tabela 6 - Fatores de risco para os problemas digestivos pós-desmame dos leitões a nível de granja = variáveis retirada<br />

no modelo de regressão logística final.<br />

Variáveis Categorias ODD RATION<br />

< 1,0 33,6<br />

Consumo de ração/leitão na 1ª semanba pós desmame (kg) 1,0 - 1,36 18,6<br />

1,36 - 1,72 1,1<br />

< 8 7,8<br />

Situação higiênica na sala de creche na entrada dos leitões 8 - 10 2,6<br />

11 - 12 0,8<br />

< 7 6,8<br />

Qualidade do ar na sala de creche 7 2,0<br />

8 4,3<br />

Idade ao desmame (dias) < 26,5 8,5<br />

26,5 - 28,2 0,7<br />

Fonte: Madec et al., 1998.<br />

Patologias mais freqüentes observadas na fase de creche dos leitões<br />

1. Síndrome da diarréia pós-desmame<br />

A síndrome da diarréia pós-desmame (SDPD), é uma doença multifatorial que afeta os leitões nas duas<br />

primeiras semanas após o desmame. É de grande importância econômica, em função das perdas por mortalidade (que<br />

podem atingir 10%), pelo surgimento de muitos refugos e pelos gastos com medicamentos no seu controle. A SDPD<br />

possui uma etiologia múltipla, onde alguns agentes infecciosos, principalmente, amostras de E. coli enterotoxigênicas e<br />

o rotavírus, principalmente, aqueles do grupo A, são envolvidos. Outros agentes (como o Clostridium perfringes tipo A e<br />

o Cryptosporidium sp.) são eventualmente isolados em surtos da SDPD. As principais amostras de E. coli associadas à<br />

diarréia pós-desmame possuem as fímbrias F4 (K88) e F18. Estas amostras podem produzir uma ou mais enterotoxinas<br />

só ou em associação com verotoxina, responsável pela doença do edema.<br />

2. Doença do edema<br />

A doença do edema (DE) é uma toxi-infecção caracterizada pela ocorrência de sinais de disfunção neurológica,<br />

mortes súbitas e desenvolvimento de edemas que afeta, principalmente, os leitões entre 4 a 15 dias após o desmame.<br />

Os sintomas e lesões estão associados a uma toxina (verotoxina - VT2e), produzida por certas cepas de E. coli, que<br />

age na parede de vasos sangüíneos. A hipótese mais aceita para a patogenia é que cepas patogênicas de E. coli<br />

aderem-se e proliferam no epitélio do intestino delgado de leitões susceptíveis, onde produzem a verotoxina. Essa<br />

toxina é absorvida na corrente sangüínea e causa injúria vascular sistêmica, com surgimento dos sintomas e lesões.<br />

Esse efeito da toxina parece ser retardado por cerca de 24 a 36 horas após sua absorção, uma vez que suínos<br />

inoculados com a toxina desenvolvem hipertensão aguda cerca de 40 horas após, coincidindo com o surgimento dos<br />

sinais de ataxia. Existe, também, a possibilidade da doença ocorrer na forma subclínica, com prejuízo ao desempenho<br />

dos animaisHá evidências da existência de predisposição genética para a DE. O problema pode estar ligado a presença<br />

de receptores na superfície dos enterócitos para o pile F107 de cepas de E. coli.


3. Vício de sucção pós-desmame<br />

É uma alteração psíquica ou hábito de sugar o umbigo, vulva ou orelha que ocorre entre leitões no período de<br />

creche. O desejo de sucção é maior em leitões de desmame precoce em que a falta da mãe`, associado a outros<br />

fatores, desencadeia o vício de sucção. Logo após o desmame pode ser observado atitudes de massageamento entre<br />

leitões, principalmente no ventre que podem evoluir para sucção do umbigo, prepúcio, virilha ou orelhas. A sucção do<br />

umbigo pode deformá-lo, o qual fica semelhante a uma teta, inchado, hiperêmico, dolorido e, freqüentemente, com<br />

infecção secundária. Geralmente, os leitões menores são os que sugam os maiores. Esse comportamento reduz o<br />

ganho de peso, tanto para a vítima como para o sugador. Em trabalho realizado no sul do Brasil, 35,4% dos lotes<br />

acompanhados na fase de creche, apresentaram leitões com vício de sucção, cujo um ganho de peso médio diário no<br />

período de 21 dias após o desmame, foi menor (em média 56 g por dia) quando comparado com lotes que não<br />

apresentaram o vício de sucção (Tabela 7).<br />

Tabela 7 - Ganho de peso médio diário (GPD) de lotes de leitões, nos 21 dias seguindo-se o desmame, em relação ao<br />

vício de sucção.<br />

Vício de Sucção no lote N % GPD*(g)<br />

Ausente<br />

42<br />

Presente<br />

23<br />

* letras distintas na coluna diferença significativa pelo teste t (p 6,3 ≤ 7,3<br />

PME 3 > 7,3<br />

19<br />

25<br />

21<br />

306 a<br />

250 b<br />

29,2<br />

38,5<br />

32,3<br />

2. bebedouro específico para os leitões na<br />

maternidade<br />

BEM 1 = Sim<br />

BEM 2 = mesmo da porca<br />

43<br />

22<br />

66,2<br />

33,8<br />

3. diarréia na 1ª semana após a desmama DIA 1 = ausência<br />

DIA 2 = presença<br />

34<br />

31<br />

52,3<br />

47,7<br />

4. mesmo modelo de bebedouro para os leitões MMB 1 = Sim<br />

33<br />

50,8<br />

na maternidade e creche<br />

MMB 2 = Não<br />

32<br />

49,2<br />

5. orientação do eixo do prédio OEP 1 = bom<br />

OEP 2 = ruim<br />

18<br />

47<br />

27,7<br />

72,3<br />

6. sinais de sarna no lote SAR 1 = ausência<br />

SAR 2 = presença<br />

57<br />

8<br />

87,7<br />

12,3<br />

7. sistema de manejo da creche MAJ 1 = contínuo<br />

MAJ 2 = vazio sanitário<br />

36<br />

29<br />

55,4<br />

44,6<br />

8. manejo da alimentação após o desmame ALI 1 = à vontade<br />

ALI 2 = com restrição<br />

43<br />

22<br />

66,2<br />

33,8<br />

Classes em negrito representam situações de risco para ocorrência de vício de sucção nos lotes de leitões desmamados.<br />

As classes das variáveis explicativas com associação ao vício de sucção nas granjas foram: peso médio ao<br />

desmame ≤ 6,3 kg; ausência de bebedouro específico para os leitões na maternidade; presença de diarréia na primeira<br />

semana após o desmame; tipo de bebedouros diferentes para os leitões na maternidade e creche; orientação do eixo do<br />

prédio inadequado; presença de sinais de sarna no lote; ausência de vazio sanitário na creche e uso de restrição<br />

alimentar logo após o desmame. Eventualmente, esse vício, também, pode ocorrer como uma manifestação clínica de<br />

intoxicação por carbadox ou olanquindox quando essas drogas são usadas em doses excessivas ou por períodos<br />

prolongados.<br />

4. Síndroma da desidratação de origem não infecciosa<br />

A desidratação ocorre quando a perda de líquido do corpo é superior à sua ingestão. Ela pode ocorrer como<br />

resultado da perda excessiva de fluídos, como nas diarréias, sem a reposição compensatória ou devido a ingestão<br />

insuficiente de água com perdas normais de líquidos. O primeiro sinal de desidratação é visto na região dos olhos, onde<br />

surge uma auréola regular um pouco congesta. No caso do problema estar relacionado com a insuficiente ingestão de<br />

água, as fezes estão normais ou endurecidas e a pele apresenta-se seca com cerdas sem brilho. Em estudo realizado<br />

na região sul do Brasil foi observado que a pressão de acionamento dos bebedouros de creche estava incorreta em


73,2% das granjas, o que representa excesso de pressão e formação de esguicho, inibindo a ingestão de água pelos<br />

leitões, principalmente nos primeiros dias após o desmame. No mesmo estudo também observaram que 53,3% dos<br />

rebanhos apresentavam bebedouros instalados na altura incorreta, 72,3% apresentavam água contaminada por<br />

coliformes fecais, 80,0% tinham apenas um bebedouro por baia e 55,6% tinham relação maior que 10<br />

suínos/bebedouro.<br />

A desidratação por insuficiente ingestão de água pode ser provocada por diversas situações, a maioria delas<br />

ligadas ao ambiente e manejo que os leitões são submetidos logo após o desmame, tais como:<br />

• Água quente, devido a exposição da canalização ao sol, ou suja, tanto na origem como no próprio bebedouro. Os<br />

bebedouros tipo concha ou taça devem ser mantidos rigorosamente limpos para que os leitões não rejeitem a água.<br />

• Calor excessivo quando a umidade relativa do ar for acima de 60%;<br />

• Velocidade do ar superior a 0,5m/segundo, onde os suínos estão alojados;<br />

• Calor excessivo associado à velocidade do ar muito rápida. Ocorre principalmente em maternidades ou creches que<br />

usam lâmpadas de 250 watts colocadas numa altura de 60 a 80 cm do piso;<br />

• Problemas no fornecimento de água: tanto a relação animais/bebedouro, como o débito de água e altura dos<br />

bebedouros são importantes.<br />

- É preciso prever 1 bebedouro para cada 10 suínos e um débito de água de, no mínimo, 1,0 litro/minuto na fase<br />

de creche. A ingestão de alimento pelos leitões de creche é determinado pela quantidade de água ingerida e<br />

não o inverso.<br />

- A altura inadequada dos bebedouros pode dificultar a ingestão de água, especialmente, na fase de creche,<br />

devendo-se seguir a recomendação de acordo com o tipo de bebedouro usado. Para bebedouros tipo chupeta,<br />

o ideal é usar aqueles com altura regulável que possibilita ajustá-la conforme o crescimento dos animais. Neste<br />

tipo de bebedouro, o consumo de água pode ser inibido se a altura ou ângulo estão incorretos e se está<br />

posicionado em local errado na baia.<br />

- Também, a mudança de tipo de bebedouro no desmame pode ocasionar a síndroma de adaptação com<br />

desidratação dos leitões, uma vez que eles encontram dificuldade para acionar um bebedouro que não estão<br />

acostumados, num período que necessitam ingerir grande quantidade de água, em substituição ao leite;<br />

• A qualidade química da água também é importante. Teor de nitritos superior a 0,2mg/litro pode causar desidratação<br />

com diarréia e anemia e teores de cloretos superior a 60mg/litro pode causar desidratação e acidose.<br />

• O excesso de cloretos na ração (acima de 0,4%), também pode provocar desidratação, principalmente, quando há<br />

dificuldades no fornecimento de água.<br />

Controle:<br />

O controle dos problemas do desmame consiste basicamente em evitar os fatores de risco, fornecer uma dieta<br />

adequada a idade dos leitões e fazer com que os leitões não parem de ingerir água e ração após o desmame. Para isto,<br />

é necessário inspecionar as salas de creche pelo menos 3 vezes ao dia, durante a primeira semana após o desmame,<br />

para observar o comportamento dos leitões, para monitorar a temperatura e ventilação interna e para limpar e ajustar<br />

comedouros e bebedouros para assegurar a ingestão contínua de alimento.<br />

Como alimento para prevenir a SDPD e DE, recomenda-se para leitões desmamados com 21 dias de idade, o<br />

fornecimento de uma dieta complexa contendo milho gelatinizado, soja extrusada, entre 7 a 14 % de lactose, no<br />

máximo 15% de inclusão de farelo de soja e suplementada com aminoácidos sintéticos até o nível de exigência dos<br />

leitões e com um acidificante. Isso pode auxiliar a prevenir a multiplicação da E. coli no intestino delgado, evitando o<br />

surgimento de diarréia. A adição de zinco à ração (em níveis de 2.400 ppm), proveniente do óxido de zinco, por um<br />

período de 15 a 20 dias após o desmame, tem mostrado excelentes resultados na profilaxia da SDPD, a um baixo<br />

custo, mas com o inconveniente de ser um potencial poluidor ambiental, uma vez que a maior parte do zinco ingerido é<br />

eliminado nas fezes. No caso da DE, os suínos que já apresentam sinais clínicos da raramente se recuperam, mesmo<br />

com tratamento quimioterápico. Para tratamento preventivo é sempre conveniente selecionar o antibiótico a ser usado,<br />

com base em teste de antibiograma. Os mais recomendados para SDPD e DE na fase de desmame são a apramicina,<br />

a colistina e a neomicina. Para evitar o surgimento de novos casos da doença no mesmo lote ou em lotes seguintes<br />

várias estratégias têm sido adotadas, todas elas com o objetivo de prevenir a proliferação exagerada de cepas<br />

patogênicas E. coli no intestino. A restrição alimentar gradativa e o fornecimento de ração controlada várias vezes ao<br />

dia, auxilia na renovação do conteúdo intestinal, sendo indicada para o lote de leitões logo que surgem os primeiros<br />

sintomas da doença, mas pode haver prejuízo no desempenho dos animais.<br />

O controle do vício de sucção envolve uma revisão de todos os fatores que podem desencadear o problema e<br />

corrigir aqueles que estão fora das necessidades dos leitões na fase de creche. Para isso, um protocolo específico deve<br />

ser elaborado para medir todos os possíveis fatores envolvidos. Lembrar que se trata de uma manifestação de<br />

desconforto dos leitões diante do ambiente e das técnicas de produção que estão sendo submetidos. Em rebanhos com<br />

problemas deve-se fornecer ambiente confortável, ração balanceada, de boa qualidade e alta palatabilidade e água de<br />

fácil acesso, para os leitões na fase de creche. Em alguns casos, o atraso do desmame em alguns dias, pode ser<br />

recomendado, temporariamente, até a correção dos fatores de risco envolvidos.<br />

O controle da desidratação por insuficiente ingestão de água baseia-se na identificação e correção das causas<br />

acima descritas. Por vezes, há necessidade de tratamento sintomático com hidratantes convencionais de uso individual<br />

ou coletivo via água. A rehidratação oral pode ser feita com solução isotônica de glicose e eletrólitos. Se os leitões têm


acesso limitado à água, o consumo de alimento é reduzido. Providenciando um bebedouro extra por baia a variação do<br />

peso dos leitões pode ser reduzido para mais da metade.<br />

CONCLUSÕES<br />

1) A qualidade da sala que irá receber leitões recentemente desmamados é de fundamental importância na<br />

prevenção das patologias do desmame. A expressão patogênica dos agentes infecçiosos basicamente da sua natureza<br />

(fatores de patogenicidade), mas para um grande número deles, principalmente os agentes bacterianos, os aspectos<br />

quantitativos tem papel fundamental. Por isso é importante limitar a população microbiana nas salas e reduzir ao<br />

máximo o contacto dos leitões com suas dejeções.<br />

2) Todos os esforços, também, devem ser feitos para manter a continuidade de ingestão de alimentos (ração e<br />

água) após o desmame, mesmo que isto resulte em algum aumento no volume de efluentes e no uso de mão de obra.<br />

Deve-se facilitar o acesso aos bebedouros e comedouros, oferecer um alimento com boa palatabilidade e de alta<br />

digestibilidade e fazer lotes homogêneos ou mantendo-se a mesma leitegada. A manutenção da integridade estrutural<br />

das vilosidades intestinais depende da ingestão contínua de nutrientes, seguindo o desmame.<br />

3) Deve-se limitar os fatores estressantes no desmame, simulando um ambiente na creche semelhante ao da<br />

maternidade (temperatura, luminosidade e ventilação). Sugere-se avaliar e mensurar, periodicamente, 3 a 4 vezes ao<br />

ano, através de protocolo pré-estabelecido, as variáveis de desempenho e saúde dos lotes e os fatores de risco já<br />

conhecidos, estabelecendo estratégias para correção daqueles negativos.<br />

4) Embora estressores psicológicos podem levar ao síndrome da refugagem em leitões desmamados, parece<br />

que os fatores responsáveis por mudanças na estrutura do intestino são mais complexos e envolvem fatores adicionais,<br />

tais como a quantidade e qualidade de alimento ingerido nos primeiros dias após o desmame, mais do que um efeito<br />

direto do estresse psicológico em si.<br />

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