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1º dia - Professor Mazzei

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VESTIBULAR 2007 UFRRJ<br />

Texto I<br />

2<br />

Língua Portuguesa<br />

O homem das palavras<br />

De Aurélio Buarque de Holanda, que nos deixou<br />

esta semana, guardo algumas lembranças. Todas alegres.<br />

Uma vez, por exemplo, estávamos num<br />

congresso de escritores em Brasília. Assentados no<br />

auditório ouvíamos as doutas palavras que eram ditas<br />

no palco onde alguém proclamava as virtudes de um<br />

texto literário. A rigor, o texto em questão era a “Canção<br />

do Exílio”, de Gonçalves Dias, que até dez anos atrás<br />

todos os brasileiros sabiam de cor, não exatamente<br />

por causa da ditadura mais recente, mas porque era<br />

texto que aparecia em todas as antologias escolares.<br />

Quem tem mais de trinta anos e estudou<br />

português e não a famigerada comunicação e expressão<br />

se lembra dos primeiros versos:<br />

Minha terra tem palmeiras<br />

Onde canta o sabiá,<br />

As aves, que aqui gorjeiam,<br />

Não gorjeiam como lá.<br />

Pois bem. Lá ia o expositor à mesa ressaltando<br />

que a grande força deste poema estava no fato de que<br />

era um texto sem qualquer adjetivo. Disse isto, conferindo<br />

tal observação ao grande Ayres da Matta Machado.<br />

Mal se pronunciou esta frase, ouviu-se do fundo<br />

do auditório um vozeirão contestando e reclamando:<br />

– Perdão, mas esta idéia é minha.<br />

A platéia voltou-se estupefata.<br />

Era Mestre Aurélio, que levantando-se da<br />

poltrona e encaminhando-se desassombradamente para<br />

o palco continuou falando:<br />

– Sim, esta idéia é minha. Tive poucas, não<br />

sei se terei outras e tenho que defendê-las.<br />

Isto posto assumiu seu imprevisto lugar à<br />

cabeceira das idéias e fez um brilhante aparte que virou<br />

uma conferência.<br />

.........................................................................................................................<br />

Outra estorinha sobre Aurélio já é clássica.<br />

Tendo que ir à Academia, uniformizado com espada e<br />

chapéu, ficou ali na Glória aguardando táxi, até que um<br />

parou. O motorista fascinado com a sua indumentária,<br />

olhando pelo retrovisor, de repente indagou:<br />

– Ainda que mal pergunte: sois algum reis?<br />

A construção da frase era estranha, mas o<br />

motorista estava jogando até com a possibilidade de<br />

“folia-de-reis” tendo em vista a semelhança entre a<br />

fantasia dos acadêmicos e a do folclore.<br />

Aurélio explicou que não, falou da Academia.<br />

O chofer não entendeu muito bem. Mas quando Aurélio<br />

lhe pediu para se apressar, porque estava atrasado, o<br />

outro atalhou confiante:<br />

– Pode deixar, doutor, que do jeito que o senhor<br />

está vestido, nada começa antes do senhor chegar.<br />

.........................................................................................................................<br />

(SANT’ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras crônicas. 2ª ed.<br />

São Paulo: Ática, 1997. p. 53-56. Coleção Para Gostar de Ler. 16 Vol.)<br />

QUESTÃO 1<br />

Affonso Romano de Sant’Anna, além de professor e<br />

jornalista, é poeta, escritor e crítico literário. Desde a década<br />

de 80, tem-se dedicado muito à composição de crônicas –<br />

gênero contemporâneo situado entre o jornalismo e a ficção,<br />

que traz reflexões sobre o nosso coti<strong>dia</strong>no. O título “O<br />

homem das palavras” é bastante sugestivo.<br />

Tendo em vista o assunto de que trata a crônica em<br />

questão, relacione o título ao conteúdo do texto.<br />

QUESTÃO 2<br />

“– Pode deixar, doutor, que do jeito que o senhor está<br />

vestido, nada começa antes do senhor chegar.” (l. 49)<br />

Reescreva a passagem acima, destacada do texto,<br />

usando o discurso indireto. Faça as adaptações<br />

necessárias sem alterar o sentido da frase.<br />

QUESTÃO 3<br />

A sinonímia e o emprego de pronomes são alguns dos<br />

recursos possíveis para estabelecer a coesão textual<br />

evitando, inclusive, a repetição de palavras em um texto.<br />

Atualmente, um termo bastante empregado para codificar<br />

o conceito “profissional que dirige táxi” é “taxista”.<br />

Aponte os três vocábulos usados pelo autor do<br />

texto “O homem das palavras” para se referir a<br />

essa acepção.<br />

QUESTÃO 4<br />

“A rigor, o texto em questão era a ‘Canção do Exílio’,<br />

de Gonçalves Dias, que até dez anos atrás todos os<br />

brasileiros sabiam de cor, não exatamente por causa<br />

da ditadura mais recente, mas porque era texto que<br />

aparecia em todas as antologias escolares.” (l. 7)<br />

A passagem acima cita o poema “Canção do Exílio”,<br />

de Gonçalves Dias. A popularidade dessa composição<br />

é devida não só à presença em várias antologias<br />

escolares, como diz a crônica, mas também à exaltação<br />

à pátria e à musicalidade.<br />

Tendo em vista esses aspectos, a que escola<br />

literária se filia o referido poema?

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