médias e medidas de dispersão da pressão arterial no primeiro ano ...

MÉDIAS E MEDIDAS DE DISPERSÃO
DA PRESSÃO ARTERIAL NO PRIMEIRO ANO DE VIDA
DYRCE MARIA ROCHA MARTINS
RESUMO
A autora apresenta as médias e medidas
de dispersão (desvios padrões e percentis)
das pressões sistólicas e diastólicas
de crianças no primeiro ano de vida,
como recurso auxiliar no controle de saúde
no aspecto em questão.
Algumas causas que alteram os valores
da pressão arterial incidem mais sobre adultos
e outros sobre crianças. Assim, por
exemplo, a hipertensão essencial é a principal
causa de pressão elevada em adultos e
a hipertensão secundária é mais comum em
crianças 8 ; mas tanto uma como outra podem
ser diagnosticadas na infância 7 .
Alguns autores afirmam ser rara a elevação
persistente da pressão arterial na criança,
mas acreditam que a baixa freqüência de
hipertensão na infância se deve ao fato de
não ser sistematizada a medida da pressão
arterial em ambulatório pediátrico 5 . É óbvio,
entretanto, que para interpretar os valores
da pressão arterial há necessidade de padrões
de referência para comparação dos dados
obtidos na prática. Os padrões de referência
possibilitam a detectação dos desvios
do normal e a partir destes é possível indagar
as causas e tratá-las. Mas, onde estão
os padrões de referência atualizados e obtidos
de dados representativos para a nossa
população, para que se possa estabelecer
Disciplina de Enfermagem Pediátrica da Escola de Enfermagem da
Universidade de São Paulo
1 Professor Assistente
Aceito para publicação em 10 de novembro de 1981
comparações e detectar os desvios da normalidade
de pressão arterial de criança
Fazendo revisão bibliográfica sobre o assunto
a autora constatou haver falta de concordância
entre os valores da pressão arterial
apresentados por diferentes autores. Verificou
também que, na literatura brasileira,
os dados encontrados nos livros de texto,
são transcrições de estudos estrangeiros.
Diante desta constatação, a autora realizou
um estudo da pressão arterial em crianças
no primeiro ano de vida. O método auscultatório
foi o escolhido pela sua simplicidade
e por ser de uso corrente entre nós.
Existem muitas dificuldades para se controlar
e manter as condições necessárias à leitura
das pressões sistóNca e diastólica em
crianças nessa faixa etária mas, apesar dessas
dificuldades, o método auscultatório é
exeqüível em recém-nascidos e lactentes 12 .
Material e método
A população examinadora foi constituída
de uma amostra de crianças que freqüentavam
creches da cidade de São Paulo em
1974.

As crianças incluídas no estudo pertenciam
ao grupo etário de O a 389 dias de idade;
apresentavam índice de crescimento normal,
leve ou moderadamente prejudicado, segundo
índice de McLaren; não estavam sob
cuidados médicos por distúrbios de saúde e
no dia da coleta de dados, não apresentavam
alterações, respiratórias, cardíacas, térmicas
ou digestivas.
Para controle das variáveis mais relevantes
que podem interferir na exatidão da leitura
da pressão arterial de crianças foram
levadas em consideração as condições abaixo
descritas.
Condições da criança
Durante a leitura da pressão arterial a
criança deveria estar acordada e sem manifestação
de sono; livre do desconforto de
roupas sujas ou molhadas; no intervalo das
refeições; quieta e apresentando relaxamento
muscular do membro escolhido para a leitura
da pressão; com fisionomia tranqüila 12 .
A criança poderia estar em decúbito dorsal
ou sentada, com o braço apoiado ao nível do
coração 10 .
Condição dos instrumentos
O manómetro aneroide utilizado no estudo
foi testado com aparelho de mercúrio e
com aparelho "Arteriosonde", aparelho ultra-sônico,
descrito em 1971 9 .
Manguitos com bolsa de ar de 4cm de
largura por 11,5cm de comprimento e de 6cm
de largura por 17,5cm de comprimento foram
de dimensão apropriada, isto é, de comprimento
suficiente para envolver o braço e de
largura capaz de cobrir a extensão proporcional
ao diâmetro do braço mais 20%, aproximadamente.
Este foi o critério adotado para
a seleção do manguito adequado a cada
criança, neste estudo. A idade não foi o ponto
de referência para a seleção do manguito,
mas sim as dimensões do braço de cada
criança, onde foram feitas as leituras da
pressão arterial.
Condições para a leitura da pressão
arterial
Neste estudo foram observadas as recomendações
aprovadas pela American Heart
Association, não somente no que se refere
à calibragem do aparelho, posição do esfigmomanômetro
em relação ao examinador,
seleção e aplicação do manguito e do estetoscopio
no braço da criança, velocidade no
insuflar e no esvaziar a bolsa de ar do manguito,
mas, também, a todas as recomendações
sobre a seqüência a ser observada durante
a leitura das pressões sistólica e diastólica
11 .
Determinou-se em primeiro lugar a pressão
sistólica pelo método palpatório e em seguida
insuflou-se o manguito, aproximadamente
e SOmmHg acima desse valor, procedendo-se
então às três leituras das pressões
sistólicas e diastólicas pelo método auscultatório.
Todas as leituras foram feitas pela
mesma examinadora, assessorada por uma
assistente que procurou manter a criança em
condições de ser examinada: quieta e tranqüila
12 .
Interpretação dos valores da pressão
arterial
O critério adotado para a interpretação
dos valores das pressões sistólica e diastólica
foi o mesmo das recomendações aprovadas
pela American Heart Association, a saber:
o ponto onde se ouviram os primeiros
sons vasculares, ao desinsuflar o manguito,
foi considerado como a pressão sistólica e o
ponto onde os sons mudaram de intensidade,
abafamento, foi considerado como pressão
diastólica. Quando a pressão por palpação
resultou mais alta do que a percebida pela
ausculta, aquela foi considerada como pressão
sistólica 11 .
Para que os dados deste estudo, embora
limitados a uma faixa etária, possam ser utilizados
como recurso auxiliar no controla de
saúde da criança neste aspecto, a autora -determinou
os valores médios e diferentes medidas
de dispersão, para as pressões sistólica
e diastólica de crianças de O a 12 meses
de idade.
Medidas de dispersão
Como se sabe o critério de referir um
determinado índice, considerando apenas a
média aritmética, é de utilidade duvidosa,
uma vez que somente uma pequena porcentagem
de indivíduos apresentam medida
igual à média. Para minimizar esta problemática
utiliza-se das medidas de dispersão. As
medidas de dispersão estabelecem diferentes
valores normais de variação para determinada
medida.
O conhecimento das medidas de dispersão
para valores que controlam determina-

das variáveis de saúde é de grande importância
na prática diária.
As medidas de dispersão mais usadas
são: desvio padrão e percentis.
Desvio padrão
O desvio padrão é a média quadrática
entre os afastamentos encontrados com relação
à média aritmética. Em uma distribuição
normal, o desvio padrão, tomado com duplo
sinal ± em torno da média aritmética, abrange
68,27% das probabilidades de freqüência;
se forem utilizados duas vezes o desvio padrão,
com duplo sinal =b, incluirá 95,45% da
probabilidade de ocorrência 4 .
Percentis
O percentil indica a posição que uma
determinada medida ocupa numa série de
100. Por exemplo, o 90.° percentil para a
pressão arterial de uma criança indica que
há 90 crianças com pressão arterial mais baixa
e 10 com pressão arterial mais alta do
que a dela. O percentil 50 representa o ponto
médio, isto é, indica que há 50 indivíduos
com valores abaixo e 50 com valores acima
do seu 16 .
Qualquer das medidas de dispersão pode
ser adotado, desde que se tenha padrões
de referência para que se possa interpretar
os dados obtidos na prática.
Resultados e comentários
Os resultados aqui apresentados são
baseados em 294 leituras da pressão arterial
em 98 crianças no primeiro ano de vida,
matriculadas em uma das 15 creches selecionadas
na cidade de São Paulo, que preencheram
os critérios de seleção estabelecidos
para o estudo realizado em 1974 12 .
Valores médios e medidas
de dispersão para a pressão arterial
Valores médios e desvios padrões
Na tabela 1 estão apresentados os valores
médios da pressão sistólica e da pressão
diastólica de criança de O a 6 meses e
de 6 a 12 meses de idade e os valores correspondentes
a 1 e 2 desvios padrões. Para
essa população os valores normais de variação
de pressão arterial de crianças no primeiro
semestre de vida, segundo o critério
de dois desvios padrões com duplo sinal ±,
em torno da média estão entre:
85.8 a 126,6mmHg para pressão sistólica e
57.9 a 91,9mmHg para pressão diastólica.
E para crianças no segundo semestre de vida
os valores normais da pressão arterial
têm uma oscilação entre:
87,7 a 117,8mmHg para pressão sistólica e
63,1 a 81,7mmHg para pressão diastólica.
Os valores médios das pressões sistólicas e
diastólicas obtidos das crianças deste estudo
são mais elevados do que os valores
apresentados por diferentes autores, como
pode ser visto na tabela 2.
Acredita-se que esta diferença possa
estar relacionada com o método de verificação
da pressão arterial adotado pelos autores
acima citados.
Os resultados deste estudo estão de
acordo com a afirmação dos autores que,
afirmaram ser a pressão arterial da criança
um pouco mais baixa do que a do adulto 1 ,
Ponto médio e diferentes percentis
No meio médico considera-se o percentil
95 como o ponto máximo de referência
para o limite de normalidade, para a pressão
arterial. Valores acima desse percentil
são considerados indicativos de hipertensão
arterial 3 . Considera-se normais os dados da
pressão arterial que se enquadram entre os
percentis 5 e 95.
Nas tabelas 3 e 4 estão apresentados
os diferentes percentis para as pressões
sistólica e diastólica de crianças de O a 6
e de 12 meses de idade.
Considerando o 5.° e 95.° percentis como
os pontos extremos para a variação normal
da pressão arterial, teremos os seguintes
valores da pressão arterial para o primeiro
semestre de vida:
91,0 a 125,7mmHg para a pressão sistólica
e
61,0 a 89,ÔmmHg para a pressão diastólica.
Para crianças no segundo semestre de
vida os valores da pressão arterial oscilam
entre:
91.6 e 108,2mmHg para pressão sistólica e
60.7 e 81,9mmHg para pressão diastólica.
Apesar de estar estabelecido que valores
da pressão arterial acima do 95.° percentil
sejam indicativos de hipertensão arterial,
a maioria dos autores apresentam valores
de percentis da pressão arterial de crianças
a partir de 2 anos de idade 368 . Alguns
autores 7 que fazem referência ao 50.° e 95.°
percentis para a pressão arterial de crianças

de O a 6 meses, baseam seus dados em trabalhos
de outros estudiosos que utilizaram
o método flush na verificação da pressão
arterial das crianças nesta faixa etária 13 .
Os valores do 50.° e 95.° percentis para
as pressões sistólicas e diastólicas calculados
para as crianças deste estudo 12 são
mais elevados do que os valores apresentados
pelos referidos autores 7 .
Acredita-se que essa diferença possa
estar relacionada com o método de verificação
da pressão arterial adotada pelos diferentes
autores,
Comentários finais
Os valores normais de variação para as
pressões sistólicas e diastólicas de crianças
no primeiro ano de vida, segundo as três diferentes
medidas de dispersão aqui estudadas,
apresentam pequenas oscilações entre
si. Qualquer dos critérios pode ser adotado
na prática; basta que se determine qual o
padrão de referência que se vai adotar na
interpretação dos dados obtidos na prática.
Os padrões de referência atualizados e
obtidos de uma amostra representativa da
população que se está examinando, parecem
ser os dados mais significativos. É óbvio, entretanto,
que uma das condições muito importante
na determinação da pressão arterial
de crianças, como foi lembrado neste artigo,
é que sejam controladas as variáveis relevantes
que podem interferir na exatidão da
leitura das pressões sistólicas de crianças.
SUMMARY
Blood pressure: means and measure of
dispersion in the first year.
The author presents means and measures
of dispersion: atandards deviations,
percentiles of systolic and diastolic pressure
in children last than one year of age,
as an aid in the health control in this
aspect.
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Endereço para correspondência:
Escola de Enfermagem
Av. Dr. Enéias de Carvalho Aguiar, s/n.°
São Paulo — SP — CEP 05403
Brasil