Importância nutricional dos lanches na dieta de adolescentes

Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.Artigo Original Original Article Artículo OriginalImportância nutricional dos lanches na dieta de adolescentesurbanos de classe médiaNutritional importance of snacks in urban medium class adolescent dietContribución de la merienda en la alimentación de adolescentes urbanos de clase mediaElizabeth Maria Bismarck-Nasr 1 , Maria Fernanda Petroli Frutuoso 2 , Ana Maria Dianezi Gambardella 3Departamento de Nutrição da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP)ResumoObjetivo: avaliar o papel nutricional dos lanches na alimentação de adolescentes urbanos de classe média.Casuística e métodos: foi avaliado o consumo alimentar de 128 adolescentes de uma escola de classe médiada cidade de São Paulo. Para a avaliação, aplicou-se o método recordatório de 24 h e o registro fotográfi copara estimativa das porções. A ingestão de gordura no lanche em percentual superior a 30% foi consideradaexcessiva. Resultados: os lanches constituíram 30,5% da ingestão calórica diária para o sexo masculino e34,1% para o sexo feminino. Houve ingestão excessiva de gordura em 36% dos moços e 51,3% das moças.Conclusão: o consumo de lanches proporcionou maior oferta energética quando comparado às principaisrefeições; é freqüente a ingestão alimentar de lanches por adolescentes, e inadequada a qualidade nutricionaldos alimentos consumidos, sobretudo devido ao elevado teor de lipídios. A implicação para a saúde destesmaus hábitos alimentares sugere a adoção de medidas profi láticas e corretivas, com o objetivo de estabelecera ingestão das principais refeições - café da manhã, almoço e jantar.Descritores: Avaliação nutricional. Nutrição do adolescente. Alimentação. Hábitos alimentares. Consumo dealimentos.1Mestre em Nutrição e Saúde Pública pela FSP-USP, é nutricionista clínica do Hospital Municipal Dr. José de Carvalho Florence, em São Josédos Campos (SP)2Doutora em Nutrição e Saúde Pública pela FSP-USP, é docente do curso de Nutrição da Universidade Anhembi-Morumbi3Professora-doutora do Departamento de Nutrição da FSP-USPProjeto fi nanciado pela Fapesp: 99/05461-726

Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.Consumo de lanches por adolescentesBismarck-Nasr EM et al.AbstractObjective: to evaluate the nutritional role of snacks in the nutrition of urban adolescents of middle classsociety. Casuistic and methodology: the nutritional consumption of 128 adolescents of a school of middleclass society of São Paulo was evaluated. For this evaluation the method of 24 h registration and photographicdocumentation was applied in order to estimate the portions. The consumption of fat in snacks in a percentagehigher than 30% was considered to be excessive. Results: the snacks constituted 30.5 % of daily caloricconsumption for males and 34.1% for females. There was excessive fat consumption in 36% of the young manand 51.3% of the young woman. Conclusion: the consumption of snacks provides the major energy supplywhen compared to the main meals; adolescents eat often snacks as nutritional consumption, the nutritionalquality of these consumed snacks is inadequate, above all due to increased quantity of lipids. The implicationof these bad habits for health suggests the adoption of prophylactic and corrective measures, with the aim ofestablishing the consumption of the main meals -breakfast, lunch and dinner.Keywords: Nutrition assessment. Adolescent nutrition. Feeding. Food habits. Food consumption.ResumenObjetivo: evaluar el papel nutricional de las meriendas en la alimentación de adolescentes de clase media.Casuística y metodología: fue evaluado el consumo alimentar de 128 adolescentes de una escuela de clasemedia de la ciudad de San Pablo. Para evaluar se aplicó el método recordatorio de 24 h y el registro fotográfi copara estimativa de las porciones. La ingestión de gordura en la merienda en porcentaje superior a 30% fueconsiderada excesiva. Resultados: las meriendas constituyeron 30,5% de la ingestión de calorías diarias para elsexo masculino y 34,1% para el sexo femenino. Hubo ingestión de gordura excesiva en 36% de los muchachosy 51,3% de las jóvenes. Conclusión: el consumo de meriendas proporcionó mayor oferta energética cuandocomparado a las comidas principales; es frecuente la ingestión alimentar de merienda por adolescentes, yinadecuada la calidad nutricional de los alimentos consumidos, sobre todo debido al elevado teor de lípidos.La implicación para la salud de estos malos hábitos alimentares sugiere la adopción de medidas profi lácticas ycorrectivas, con el objetivo de establecer la ingestión de las principales comidas - desayuno, almuerzo y cena.Palabras clave: Evaluación nutricional. Nutrición del adolescente. Alimentación. Hábitos alimenticios. Consumode alimentos.IntroduçãoConsideram-se lanches os episódios de ingestãoalimentar realizados entre as três principais refeiçõesdo dia, sendo esta prática alimentar uma característicacomum durante a adolescência 1-3 . O comportamentoalimentar dos adolescentes é influenciado pelas necessidadesnutricionais e energéticas, pelo hábito alimentarfamiliar, pelo vínculo social com seus pares e pelaimagem corporal 4 . Estes dois últimos fatores podemlevar o adolescente a uma prática alimentar inadequada,caracterizada por: omissão de refeições, freqüenteconsumo de alimentos fora de casa (geralmente ricosem lipídios e carboidratos simples), consumo excessivode refrigerantes, ingestão de alimentos muito energéticose insufi ciência de determinados nutrientes 5-11 . Acontribuição dos lanches no total de nutrientes consumidosdiariamente constitui, habitualmente, de 25 a50% da dieta dos jovens 12-15 . O consumo de lanchesé um dos fatores preditivos do excesso de peso entreos adolescentes 2 e pode determinar, em longo prazo, odesenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes,obesidade e aterosclerose 9 . Isto se deve à manutençãodas preferências alimentares estabelecidas durante aadolescência na vida adulta 16,17 .Devido à influência do meio sobre os hábitos alimentares,foi realizado um estudo transversal, para avaliar aimportância dos lanches em um grupo de adolescentesde classe média urbana da cidade de São Paulo.Casuística e métodosO estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética emPesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidadede São Paulo (FSP-USP), pela direção da27

Consumo de lanches por adolescentesBismarck-Nasr EM et al.Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.escola, pelos pais dos alunos e pelos adolescentes,obedecendo à Resolução 196/96 do Conselho Nacionalde Saúde do Ministério da Saúde, que regulamentapesquisas realizadas com seres humanos.Foram avaliados, no estudo, adolescentes deambos os sexos com idade entre 14 e 18 anos, matriculadosno ensino médio de um colégio particular domunicípio de São Paulo. Foram 128 adolescentes comidade média 15,9 ± 0,9 anos, sendo 39,1% (n = 50) dosexo masculino e 60,9% (n = 78) do sexo feminino.Para a avaliação do consumo alimentar, foi aplicadoo método recordatório de 24 h informado pelosadolescentes, que receberam orientações referentesao preenchimento deste inquérito. Foi utilizadocomo instrumento auxiliar um álbum fotográfi co dealimentos 18 , com ilustrações dos diferentes tamanhosde porções de diversos alimentos de uso comum,permitindo a quantifi cação das porções ingeridas nodia anterior. Foi utilizado questionário para registrardados demográfi cos e o tipo, duração e freqüência deexercícios físicos.A composição nutricional da dieta foi calculada pormeio da tabela de composição química dos alimentoselaborada pelo IBGE 19 , após a conversão das medidascaseiras para peso em gramas 20 . Para os produtosindustrializados, foram consideradas as informaçõescontidas nos rótulos dos alimentos.Foram adotadas como referências as recomendaçõesenergéticas diárias estabelecidas peloNational Resource Council 21 , segundo sexo e faixaetária. Para os rapazes de 11 a 14 anos, o consumoenergético foi estabelecido em 2.500 Kcal/dia, e3.000 Kcal/dia, para aqueles com idade entre 15 e18 anos. Para as adolescentes, o valor adotado foi2.200 Kcal/dia, para toda a faixa etária estudada.Considerou-se ingestão energética adequada, aquelacompreendida entre 90 e 110% dos parâmetrosacima adotados. Também foi avaliada a proporçãodos macronutrientes, em relação ao valor energéticototal (VET). Consideraram-se como adequadas asproporções de proteína/VET entre 10 e 15%, de carboidratos/VETentre 55 a 75% e de lipídios/VET entre15 e 30% 22 . Valores inferiores ou superiores aosdescritos acima foram considerados inadequados.Foram aferidos o peso corporal e a altura dosadolescentes, em roupas leves, no dia da entrevista,por um único entrevistador previamente treinado. Osrapazes apresentaram, em média, 1,70 ± 0,06 metrode altura e 67,7 ± 14,3 kg de peso corporal, conferindoum índice de massa corporal (IMC) médio de 22,5 ±4,3. Entre as moças verifi cou-se peso corporal médiode 56,5 ± 6,5 kg, e altura de 1,6 ± 0,05 metro e 21,3 ±2,22 de índice de massa corporal.Para análise estatística dos dados, utilizou-se a média,como medida de tendência central, e o desvio padrão,para descrever a variabilidade dos resultados obtidos.ResultadosA prática alimentar mostrou o consumo das trêsprincipais refeições - café da manhã, almoço e jantarem 100 (78%) adolescentes, sendo que os 28 (22%)restantes informaram omitir pelo menos uma dessasrefeições; sendo o café da manhã, a refeição maisausente da dieta, em 7 (14%) rapazes e 14 (17,9%)das moças (Tabela 1).Calculando-se a composição química da dieta diáriados rapazes, encontrou-se consumo médio de 92,0(± 39,9) g de proteínas, 297,4 (± 108,9) g de carboidratose 74,7 (± 38,1) g de lipídios, resultando em valor energéticototal de 2.230,1 (± 798,0) Kcal, em média. Para asmoças, verificou-se um consumo médio de 71,7 (± 30,2) gde proteínas, 224,9 (± 101,0) g de carboidratos e 66,6Tabela 1 – Refeições realizadas pelo grupo de 128 adolescentes urbanosRapazes (N=50) Moças (N=78)RefeiçãoSim Não Sim NãoN (%) N (%)* N (%) # N (%)Café da manhã 43 86,0 07 14,0 64 82,1 14 17,9Lanche da manhã 36 72,0 14 28,0 57 73,1 21 26,9Almoço 48 96,0 02 4,0 75 96,2 03 3,8Lanche da tarde 31 62,0 19 38,0 55 70,5 23 29,5Jantar 48 96,0 02 4,0 77 98,7 01 1,3Lanche da noite 11 22,0 39 78,0 16 20,5 62 79,5*Percentual da linha#Percentual da linha28

Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.Consumo de lanches por adolescentesBismarck-Nasr EM et al.(± 38,8) g de lipídios, resultando em valor energéticototal de 1.785,5 (± 792,6) Kcal, em média.Quanto à adequação alimentar, verifi cou-se que,em média, os rapazes alcançaram 74% das recomendaçõesenergéticas diárias, sendo que 66% (n= 33) do grupo mostrou consumo energético inferiorao estipulado para a faixa etária, 32% (n = 16) apresentouconsumo adequado e 2% (n = 1), acima dasrecomendações.Com relação à adequação alimentar das moças,observou-se que, em média, estas atingiram 81,3%das recomendações. Assim como os rapazes, grandeproporção das adolescentes 59% (n = 46) apresentouingestão aquém das recomendações, 29,5% (n= 23) mostraram adequação energética e 11,5% (n= 9) apresentaram consumo energético superior aorecomendado para o grupo.Em média, verifi cou-se que, entre os rapazes, aproporção de energia proveniente de proteínas erade 16,5%, de carboidratos 53,3% e de lipídios 30,2%.Resultado semelhante foi verifi cado entre as moçasque, em média, consumiram 16,1% do valor calóricototal em proteínas, 50,4% em carboidratos e 33,5% emlipídios. Vale ressaltar que o consumo de proteínas elipídios mostrou-se ligeiramente superior ao recomendadopela Organização Mundial da Saúde 22 , conformeapontado na Tabela 2.Verificou-se entre as principais refeições realizadaspelos adolescentes (café da manhã, almoço e jantar), que ojantar apresentou maior contribuição energética (Tabela 3),correspondendo a 28,9 e 26,5% do valor energético diáriototal dos rapazes e moças, respectivamente. Vale ressaltarque estes resultados mostram-se próximos ao verificadono almoço, que preencheu 28,1% do VET dos rapazes e25,5% do VET das moças. No entanto, o café da manhãrepresentou apenas 19,3 e 21% do VET dos rapazes emoças, respectivamente.Quanto à participação dos lanches, encontrou-se,entre os rapazes o valor energético médio de 680,1(± 517,4) Kcal nos episódios alimentares compreendidosentre as refeições (Tabela 4), resultando em30,5% do total energético. A composição média foi de10,9% de proteínas, 59,6% de carboidratos e 29,5%de lipídios. Nos lanches das moças foi verifi cada aingestão média de 609,1 (± 492,2) Kcal, correspondentea 34,1% do VET diário. A composição média foide 10,5% de origem protéica, 55,3% de carboidratose 34,2% de lipídios. A distribuição do consumo médiode energia e macronutrientes segundo tipo de lanche esexo está contida na Tabela 4. Apesar de a composiçãonutricional dos lanches dos adolescentes apresentarse,em média, adequada quanto à distribuição dosmacronutrientes 22 , foi detectada inadequação alimentarem grande número das entrevistas (Tabela 5).Tabela 2 – Adequação da ingestão alimentar de macronutrientes de 128 adolescentes urbanos, em relação aovalor energético total (VET)Adequação emrelação ao VETLipídios Carboidratos ProteínasRapazes Moças Rapazes Moças Rapazes MoçasN (%)* N (%)* N (%)* N (%)* N (%)* N (%)*Abaixo - - - - 24 48,0 56 71,8 3 6,0 3 3,8Adequado 30 60,0 28 35,9 26 52,0 22 28,2 14 28,0 26 33,4Acima 20 40,0 50 64,1 - - - - 33 66,0 49 62,8Total 50 100,0 78 100,0 50 100,0 78 100,0 50 100,0 78 100,0*Percentual da colunaTabela 3 – Consumo médio de energia e macronutrientes nas refeições de 128 adolescentesCafé da manhã*Almoço*Jantar*Consumo médio deRapazes Moças Rapazes Moças Rapazes Moçasenergia e macronutrientesn = 43 n = 64 n = 48 n = 75 n = 48 n = 77Energia (Kcal) 437,8 375,9 627,5 455,3 644,2 473,4Proteína (g) 18,9 17,3 33,9 21,7 27,2 22,1Carboidratos (g) 60,3 52,1 77,4 52,7 81,3 54,5Lipídios (g) 14,3 12,4 20,2 16,7 23,3 18,7*Parte dos adolescentes não realizava esta refeição29

Consumo de lanches por adolescentesBismarck-Nasr EM et al.Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.Tabela 4 – Consumo médio de energia e macronutrientes nos lanches de 128 adolescentes urbanosLanche manhã Lanche tarde Lanche noite TotalRapazes Moças Rapazes Moças Rapazes Moças Rapazes Moçasn = 36 n = 57 n = 31 n = 55 n = 11 n = 15 n = 46 n = 72Energia (Kcal) 344,6 257,0 486,6 434,0 274,3 285,0 680,1 609,1Proteína (g) 11,6 7,8 10,7 11,1 9,7 6,3 18,6 16,0Carboidratos (g) 43,3 35,5 83,6 62,6 46,2 39,8 101,3 84,2Lipídios (g) 14,1 10,0 14,0 17,2 7,8 13,2 22,3 23,7Tabela 5 – Adequação* da ingestão alimentar de macronutrientes em relação ao VET, nos lanches de 128adolescentes urbanosLipídiosCarboidratosProteínasProporçãoRapazes Moças Rapazes Moças Rapazes Moçasmacronutriente: VETN (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%)Abaixo* 12 24,0 20 25,6 21 42,0 38 48,7 24 48,0 45 57,7Adequado* 20 40,0 18 23,1 20 40,0 29 37,2 21 42,0 17 21,8Acima* 18 36,0 40 51,3 09 18,0 11 14,1 05 10,0 16 20,5Total 50 100,0 78 100,0 50 100,0 78 100,0 50 100,0 78 100,0*Referência 22DiscussãoPode-se verifi car que grande parte dos entrevistadosapresentava inadequação energética, pequenaingestão de carboidratos e excessivo consumo deproteínas e lipídios. Estes achados estão em acordocom os de outros estudos referentes à alimentação deadolescentes, destacando-se a inadequada distribuiçãodos macronutrientes em relação ao valor calóricototal da dieta.A prática alimentar de adolescentes norte-americanosapresentou algumas modificações nas últimas décadas,entre as quais houve redução no valor energético totalda dieta e no consumo de lipídios. No entanto, apesarda redução no consumo lipídico - de 39% em 1965 para32% em 1996, esta proporção ainda se manteve elevada,o que tem sido associado ao aumento na prevalência dedoenças crônicas de origem nutricional nesta população.Adicionalmente, houve a substituição do consumo deleite e suco de fruta natural por refrigerante e suco industrializado23 , sendo estes dois últimos caracterizados porserem alimentos de alta densidade energética, ricos emcarboidratos simples e pobres em vitaminas e minerais,ou seja, de baixa qualidade nutricional.Um estudo avaliou a ingestão de energia e lipídios,de adolescentes norte-americanos obesos enão obesos, ao longo de um século, sem detectardiferenças entre os dois grupos, exceto com relaçãoà contribuição energética de refrigerantes e/ou sucosindustrializados no total energético diário no grupo deobesos 24 . O consumo de refrigerantes constituiu 10,3e 8,6% do valor calórico total da dieta dos rapazes emoças obesos, respectivamente. Também no Brasil,Gama 25 , em avaliação da alimentação de estudantespaulistas de diferentes níveis sócio-econômicos, verificou que 64% consumiam, habitualmente, alimentoscalóricos e de baixa qualidade nutricional, tais comorefrigerantes e salgadinhos industrializados.No presente estudo, foi elevada a contribuiçãodos lanches sobre o total energético da dieta dosadolescentes, que representou cerca de 30% do totalde energia. Além disso, verifi cou-se que 51,3% dasmoças consumiam excesso de gordura na composiçãodos lanches, ou seja, superior a 30% do valorcalórico total.A contribuição dos lanches sobre o valor energéticototal - rapazes = 30,5% e moças = 34,1% do VET,mostrou-se superior ao valor encontrado nas principaisrefeições, inclusive no jantar, refeição realizadapor praticamente todos os adolescentes (Tabela 3).Tais achados vão ao encontro do verifi cado por outrospesquisadores. Estudo realizado com adolescentessuíços mostrou que o consumo de lanches apresentoumaior oferta energética do que as principais refeições26 . Na Inglaterra, Summerbell et al. 1 verifi caramentre os adolescentes que os lanches constituíram30

Pediatria (São Paulo) 2006;28(1):26-32.Consumo de lanches por adolescentesBismarck-Nasr EM et al.de 23,6 a 29% do total de energia/dia, para moças erapazes, respectivamente.O freqüente hábito de consumir alimentos em redesde fast food contribui para este consumo de lanches; emum grupo de estudantes adolescentes paulistas, 7,2%afi rmaram realizar este tipo de refeição diariamente,21,9% de uma a duas vezes por semana e 11,1% maisde duas vezes por semana 27 . O período de permanênciaescolar é propício ao consumo de lanches. SegundoWildey et al. 28 , crianças e adolescentes consomem, aproximadamente,um terço da sua ingestão diária de energiaenquanto permanecem na escola (6 h/dia), sobretudo àscustas de refeições ricas em energia e pobres em nutrientes.Estudo realizado com crianças norte-americanasmostrou alto consumo de lanches, principalmente duranteo período da tarde, sendo que 28,7% dos escolares afirmaramingerir quatro lanches por dia 29 .O incremento dos lanches como má prática alimentardeve-se à progressiva ausência dos pais emcasa, com o trabalho externo da mulher e a extensãodo período de estudo e de outras atividades pelosadolescentes, que tiveram a concomitante oferta deprodutos industrializados e de redes de fast food. Defato, a ingestão de lanches com alto teor de lipídioselevou-se, alcançando 72% dos adolescentes norteamericanos30 . Deve ser enfatizado que o aumentoda oferta de lanches ao consumidor, tanto nas redesde lanchonetes como em produtos industrializados,mostra-se responsável pela elevada oferta energéticados lanches na população norte-americana 22,31 e que,esta tendência de mercado encontra-se presente emgrandes centros urbanos do Brasil.ConclusãoO consumo de lanches proporcionou maior ofertaenergética quando comparado às principais refeições;é freqüente a ingestão alimentar de lanches por adolescentes,e inadequada a qualidade nutricional dosalimentos consumidos, sobretudo devido ao elevadoteor de lipídios. A implicação para a saúde destesmaus hábitos alimentares sugere a adoção de medidasprofi láticas e corretivas, com o objetivo de estabelecera ingestão das principais refeições - café da manhã,almoço e jantar.Referências1. Summerbell CD, Moody RC, Shanks J, Stock MJ,Geissler C. Sources of energy from meals versus snacksin 220 people in four age groups. Eur J Clin Nutr1995;49:33-41.2. Drummond SE, Crombie MC, Kirk TR. A critique of theeffects of snacking on body weight status. Eur J ClinNutr 1996;50:779-83.3. Ruxton, CHS, Kirk TR, Belton NR. The contribution ofspecific dietary patterns to energy and nutrient intakes in7-8 year old Scottish schoolchildren. III Snacking habits.J Hum Nutr Diet 1996;9:23-31.6. Cavadini C, Decarli B, Dirren H, Cauderay M, NarringF, Michaud PA. Assessment of adolescent food habitsin Switzerland. Appetite 1999;32:97-106.7. Gambardella AMD, Frutuoso MFP, Franchi C. Práticaalimentar de adolescentes. Rev Nutr 1999;12:55-63.8. Samuelson G. Dietary habits and nutritional status in adolescentsover Europe. An overview of current studies inthe Nordic countries. Eur J Clin Nutr 2000;54:S21-S28.9. Farthing MC. Current eating patterns of adolescents in theUnited States. Nutr Today 1991; 35-9.4. Amador MA. La obesidad en la adolescencia. In: OPAS.La obesidad en la pobreza: un nuevo reto para la saludpública. Washington, DC: OPS, 2000. (Publicación Científican. 576).5. Bull NL, Phil M. Dietary habits, food consumption andnutrient intake during adolescence. J Adolesc Health1992;13:384-8.10. Cusatis DC, Shannon BM. Infl uences on adolescenteating behavior. J Adolesc Health 1996;18:27-34.11. Subar AF, Krebs-Smith SM, Cook A, Kahle LL. Dietarysources of nutrients among US children, 1989-1991.Pediatrics 1998;102:913-23.31

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