a antecipação terapêutica de fetos anencefálicos - Fabsoft - Cesupa
a antecipação terapêutica de fetos anencefálicos - Fabsoft - Cesupa
a antecipação terapêutica de fetos anencefálicos - Fabsoft - Cesupa
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
20<br />
Sim, porque não se po<strong>de</strong> olvidar que a pon<strong>de</strong>ração, como método <strong>de</strong> solução <strong>de</strong><br />
conflitos entre princípios, exige a simetria <strong>de</strong> peso entre os direitos pon<strong>de</strong>rados, pelo que<br />
resta essencial ao Juiz, para autorizar-lhe o manejo <strong>de</strong>sta técnica, que constate a<br />
inexistência <strong>de</strong> hierarquia normativa fixada na própria Constituição, que, portanto, não<br />
po<strong>de</strong>rá ter excluído do âmbito normativo <strong>de</strong> certo princípio a proteção <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />
conduta 28 . Trata-se <strong>de</strong> fixar os limites imanentes <strong>de</strong> cada princípio.<br />
No que tange à <strong>antecipação</strong> do parto <strong>de</strong> <strong>fetos</strong> <strong>anencefálicos</strong>, a Constituição da<br />
República fixou, <strong>de</strong> modo claro, uma hierarquia normativa entre os direitos da mãe e os<br />
do feto.<br />
Primeiramente, <strong>de</strong>staque-se que o aborto foi tema profundamente discutido a<br />
quando da realização dos trabalhos da Assembleia Constituinte <strong>de</strong> 87/88. Foram ouvidas<br />
representantes das mulheres (Conselho Nacional <strong>de</strong> Defesa da Mulher), da Igreja<br />
Católica (CNBB), da socieda<strong>de</strong> civil (OAB), <strong>de</strong>ntre inúmeros outros setores<br />
representativos da socieda<strong>de</strong> e instituições brasileiras.<br />
Ao final dos trabalhos, <strong>de</strong>cidiram os constituintes não guindar o tema à categoria <strong>de</strong><br />
Direito Constitucional Formal.<br />
Mas não é só.<br />
Houve proposta para que a Constituição se referisse, <strong>de</strong> forma expressa, à proteção<br />
da vida <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a concepção, por intermédio <strong>de</strong> alteração à redação do seu atual artigo 5º,<br />
formulada à época da constituinte pelo Deputado Fe<strong>de</strong>ral João Assis Meira Filho (PMDM-<br />
DF). Referida proposta foi rejeitada pela Assembleia Nacional Constituinte 29 .<br />
A Constituição da República, não por omissão, mas por silêncio eloquente, <strong>de</strong>ixou<br />
<strong>de</strong> adotar a doutrina que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a concepção como o marco inicial da vida 30 .<br />
28 Inserido do âmbito <strong>de</strong> proteção da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão não está o assassinato <strong>de</strong> uma pessoa no<br />
palco. Aqui inexiste conflito atual, passível <strong>de</strong> ser juridicamente analisado, entre a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão e<br />
o direito à vida da pessoa que se preten<strong>de</strong> assassinar durante o espetáculo. Nossa Constituição já excluiu a<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conflito, ao excluir, do campo <strong>de</strong> proteção da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão, o atendado contra a<br />
vida humana. Aqui <strong>de</strong>scabe a pon<strong>de</strong>ração, porquanto tal técnica, utilizada em face <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> conflito<br />
concreto, pressupõe que qualquer um dos princípios coli<strong>de</strong>ntes po<strong>de</strong>rá sair vitorioso, se não hoje,<br />
provavelmente amanhã, em um outro conflito. Ora, não se po<strong>de</strong>rá admitir em qualquer hipótese o<br />
assassinato <strong>de</strong> uma pessoa como forma <strong>de</strong> manifestação da liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> expressão.<br />
29 Diário da Assembleia Nacional Constituinte (Brasil, 1987/88, p. 7220, 7419-7422, 7450).<br />
30 De pouca valia servirá, portanto, o manejo <strong>de</strong> argumentos com base no art. 4º, I do Pacto <strong>de</strong> São José,<br />
que afirma que "toda persona tiene <strong>de</strong>recho que se respete su vida. Este <strong>de</strong>recho estará protegido por la ley<br />
y, en general, a partir <strong>de</strong>l momento <strong>de</strong> la concepción. Nadie pue<strong>de</strong> ser privado <strong>de</strong> la vida arbitrariamente".<br />
Trata-se <strong>de</strong> norma supralegal (hierarquicamente superior às leis ordinárias, mas inferior à Constituição -<br />
STF: RE 466.343 – HC 94.695 – HC 87.585). A<strong>de</strong>mais, a Comissão Interamericana <strong>de</strong> Direitos Humanos,<br />
<strong>de</strong>cidiu, por intermédio da Resolução 23/81, que o direito ao aborto não viola o artigo 4º, inciso I, do Pacto <strong>de</strong><br />
São José, nem o artigo 1º da Declaração Americana dos Direitos do Homem. Tal posição foi ratificada, em<br />
2006, quando a mesma Comissão remeteu carta ao Governo da Nicarágua, <strong>de</strong>clarando que a proibição<br />
absoluta ao aborto, então aprovada no País, contrariava o Direito Internacional e ameaçava os Direitos<br />
Humanos das mulheres.