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imagem mental e representação social - Escola de Arquitetura - UFMG

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Page: 1<br />

IMAGEM<br />

MENTAL E<br />

REPRESENTAÇÃO<br />

SOCIAL:<br />

ESTUDO DE<br />

CASO<br />

CAMPOS (1) , Paulo M.<br />

E., SOUZA (2) , Renato C.<br />

Ferreira<br />

(1) Psicólogo, Corpo Técnico<br />

Administrativo da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong><br />

<strong>Arquitetura</strong> da <strong>UFMG</strong> (e-mail:<br />

paulo@arquitetura.ufmg.br)<br />

(2) Arquiteto, M.Sc., Professor<br />

Assistente Dep.to <strong>de</strong> Projetos da<br />

<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> <strong>Arquitetura</strong> da <strong>UFMG</strong><br />

(e-mail:<br />

rcesar@arquitetura.ufmg.br)<br />

Imagem do Bairro <strong>de</strong> Santa Tereza, em Belo Horizonte<br />

Paper apresentado no 1.o<br />

Congresso Internacional <strong>de</strong><br />

<strong>Arquitetura</strong> e Psicologia -<br />

FAU/UFRJ Agosto 2000<br />

RESUMO<br />

Este estudo analisa a relação entre <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> e a <strong>representação</strong><br />

<strong>social</strong> <strong>de</strong> um bairro, contrastando a percepção ambiental com os<br />

conflitos entre as formas físicas dos seus espaços urbanos e as formas<br />

sociais da sua população.<br />

A pesquisa revelou que a apreensão do território po<strong>de</strong>ria ser<br />

interpretada como um conjunto <strong>de</strong> situações espaciais e idéias mais<br />

ou menos estáveis, criadas para explicar um modo peculiar <strong>de</strong> relação<br />

do bairro com o resto da cida<strong>de</strong>. Esse fenômeno incluía as invenções<br />

individuais sobre a história local e sobre os significados dos<br />

elementos espaciais, articulando o sentido <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e por outro<br />

lado, reforçando uma <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> e uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> que<br />

eram utilizadas para o marketing da cida<strong>de</strong> como parte <strong>de</strong> um<br />

processo administrativo.<br />

Os conflitos entre formas sociais e os elementos espaciais não eram<br />

percebidos pelos moradores, ainda que causassem a diminuição da<br />

qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida. Portanto, a percepção encontrava-se superposta por<br />

uma <strong>representação</strong> <strong>social</strong> que não encontra seu equivalente no espaço<br />

físico.


Page: 2<br />

Foi utilizado um estudo comparado dos registros da pesquisa, num<br />

mo<strong>de</strong>lo explicativo através da <strong>Arquitetura</strong> e da Psicologia,<br />

buscando-se termos comuns para próximos avanços sobre o assunto.<br />

ABSTRACT<br />

This study analyzes the relationship between <strong>mental</strong> image and the <strong>social</strong><br />

representation of a neighborhood, confronting the environ<strong>mental</strong> perception<br />

with conflicts between the urban spaces' physical forms and the population´s<br />

<strong>social</strong> forms.<br />

Further, the research revealed that the apprehension of the territory could be<br />

interpreted as a group of space situations and stable i<strong>de</strong>as, ma<strong>de</strong> to explain the<br />

peculiar relationship between the neighborhood and the rest of the city. The<br />

phenomenon inclu<strong>de</strong>d the individual inventions of the local history and the<br />

meanings of the space elements, articulating the i<strong>de</strong>ntity sense and, on the other<br />

hand, reinforcing a <strong>mental</strong> image and a <strong>social</strong> representation. The latter factors<br />

were used for the marketing of the city as part of an administrative process.<br />

The conflicts between <strong>social</strong> forms and the space elements were not noticed by<br />

the inhabitants, although they caused a life quality <strong>de</strong>crease. Thus, the<br />

perception is modified by an i<strong>de</strong>a of <strong>social</strong> representation that does not find its<br />

equivalent in the physical space.<br />

In this paper, a compared study of the registrations' research was beeing used,<br />

creating an explanatory mo<strong>de</strong>l through Architecture and Psychology, in search<br />

for common terms in or<strong>de</strong>r to reach future progress within the area.<br />

1. INTRODUÇÃO<br />

"O won<strong>de</strong>r!<br />

How many goodly creatures are there here!<br />

How beauteous mankind is! O brave new world,<br />

That has such people in´t!"<br />

"The Tempest", actV, scene 1<br />

Traduzido <strong>de</strong> SHAKESPEARE, 1996. p. 1157<br />

Em "A Tempesta<strong>de</strong>", última comédia <strong>de</strong> Shakespeare<br />

(1564-1616), o personagem Próspero mantinha sob seu<br />

controle a percepção dos <strong>de</strong>mais, <strong>de</strong> modo que não viam a<br />

<strong>imagem</strong> <strong>de</strong>solada da ilha on<strong>de</strong> se encontravam. Em seu<br />

lugar, enxergavam uma bela paisagem, habitada por seres<br />

amigáveis. A filha <strong>de</strong> Próspero, Miranda, não contendo a<br />

emoção diante das ilusões orquestradas pelo pai, exclamou:<br />

"- Que admirável mundo novo!". Essa expressão<br />

celebrizou-se, e passou a significar uma percepção<br />

equivocada ou, no mínimo, alterada e sob influência <strong>de</strong><br />

outrem. A ficção <strong>de</strong> Aldous Huxley (1894-1973), publicada<br />

em 1932, utilizou a expressão "Brave new world" como<br />

título. A obra <strong>de</strong>screve uma socieda<strong>de</strong> do futuro que usa o<br />

"soma" ( 1 ), droga capaz <strong>de</strong> provocar alucinações coletivas,<br />

permitindo o controle <strong>social</strong>. Muitos trabalhos científicos<br />

também empregam a expressão <strong>de</strong> Shakespeare nesse<br />

sentido ( 2 ) e é notável o aspecto <strong>de</strong> ingênua ironia que ela<br />

contém, pois supõe que alguém possa ter a visão e o


Page: 3<br />

controle do real estado das coisas , enquanto os outros<br />

permanecem iludidos.<br />

Este estudo <strong>de</strong> caso trata das relações entre a <strong>imagem</strong><br />

<strong>mental</strong> <strong>de</strong> um bairro e as suas representações sociais. O<br />

bairro em questão é uma espécie <strong>de</strong> "brave new world" ,<br />

<strong>de</strong>scrito pela imprensa e pela população como um lugar<br />

"agradável" e "tradicional" da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte,<br />

Minas Gerais. Recebeu o nome <strong>de</strong> "Santa Tereza"( 3 )<br />

<strong>de</strong>pois que seu traçado urbano já estava projetado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<br />

fundação da cida<strong>de</strong>, em 1897. Seus limites físicos<br />

permaneceram claros no território da cida<strong>de</strong> e sua área é <strong>de</strong><br />

84,292 hectares ( 4 ). Sua população ultrapassa 20.000<br />

habitantes e, em 1991, tinha 3.014 domicílios, dos quais<br />

60% pertenciam aos seus moradores ( 5 ). As narrativas<br />

sobre o bairro, obtidas <strong>de</strong> jornais e <strong>de</strong> entrevistas com<br />

moradores, apresentam cinco significados básicos expressos<br />

resumidamente da seguinte forma:<br />

Santa Tereza é como uma cida<strong>de</strong> do interior;<br />

Santa Tereza é como um bairro <strong>de</strong> boa vizinhança;<br />

Santa Tereza é como um bairro <strong>de</strong> boemia;<br />

Santa Tereza é como um bairro <strong>de</strong> artistas e intelectuais;<br />

Santa Tereza é como um bairro <strong>de</strong> heróis <strong>de</strong> guerra.<br />

Foram estudadas as relações entre formas sociais e formas<br />

físicas, revelando conflitos que afetam a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida<br />

dos moradores. Esses conflitos diminuem a habitabilida<strong>de</strong><br />

dos recintos urbanos, mas não são reclamados pela maioria<br />

da população, que superpõe os significados <strong>de</strong>scritos à<br />

percepção do ambiente construído. O estudo compreen<strong>de</strong>u<br />

uma crítica sobre a <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> e sua relação com as<br />

representações sociais no espaço, <strong>de</strong> modo a permitir<br />

algumas explicações mais genéricas para outros setores da<br />

cida<strong>de</strong> que também se apresentam como "novos e<br />

admiráveis mundos" à mercê <strong>de</strong> um markenting e <strong>de</strong> uma<br />

administração alheia ao quotidiano dos seus cidadãos.<br />

( 1 )"Soma", vocábulo sanscrítico que significa um tipo <strong>de</strong><br />

sumo fermentado usado na Índia, "vinho". Na ficção <strong>de</strong><br />

Aldous Huxley o Soma tem proprieda<strong>de</strong>s anti<strong>de</strong>pressivas e,<br />

quando usado em gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s, alucinógenas<br />

( 2 )Há muitas referências sobre o emprego da expressão,<br />

<strong>de</strong>ntre as quais <strong>de</strong>stacam-se ALKINS (1957) e STAFFORD<br />

(1995)<br />

( 3 ) Cf. SOUZA, 1998. O nome indica a semelhança com<br />

o bairro <strong>de</strong> mesmo nome no Rio <strong>de</strong> Janeiro, na narrativa<br />

dos moradores.<br />

( 4 ) Área consi<strong>de</strong>rada no censo <strong>de</strong> 1991 como oficial. As<br />

narrativas populares colocam a área do bairro na casa <strong>de</strong> 120<br />

hectares. Dados para a população consi<strong>de</strong>rada em 10.761<br />

habitantes, no censo <strong>de</strong> 1991(Prodabel).<br />

( 5 ) Dados para a população consi<strong>de</strong>rada em 10.761<br />

habitantes, no censo <strong>de</strong> 1991(Prodabel)..<br />

2. FUNDAMENTAÇÃO


Page: 4<br />

2.1. CONJUNÇÃO E TOTALIDADE DOS CONCEITOS<br />

A pesquisa sobre a percepção ambiental necessita<br />

<strong>de</strong> clareza conceitual (Kohlsdorf, 1996) que é<br />

mais que o translado <strong>de</strong> atributos teóricos <strong>de</strong> uma<br />

ciência à outra, num transbordamento <strong>de</strong><br />

paradigmas. Tal é o problema que nos ocupa<br />

aqui, uma vez que a relação entre a Psicologia e a<br />

<strong>Arquitetura</strong> foi, até alguns anos atrás, bastante<br />

<strong>de</strong>dicada ao estudo do comportamento do<br />

"homem" no "espaço", como duas categorias<br />

distintas, objetivas e em disjunção.<br />

A abordagem comporta<strong>mental</strong>ista incorre no erro<br />

<strong>de</strong> outras abordagens que separam os conceitos <strong>de</strong><br />

"meio ambiente ", "cultura " e "homem".<br />

Perez-Gomez (1980) indica que as ciências têm se<br />

transformado em um tipo <strong>de</strong> pesquisa tecnológica<br />

que não lida com os autênticos valores humanos,<br />

como o <strong>de</strong>sejo e a vonta<strong>de</strong>. O homem é tratado<br />

nesse contexto como um objeto em relação a um<br />

mundo <strong>de</strong> objetos e a ação humana como ação<br />

sem significado, cujo parâmetro é simplesmente a<br />

economia e a eficiência. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

abordagens ingênuas das questões ambientais, os<br />

múltiplos, relativos e conflitantes parâmetros <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong> ambiental apontam que "o problema<br />

que <strong>de</strong>termina nossa crise é precisamente o fato<br />

<strong>de</strong> que o marco conceitual das ciências não é<br />

compatível com a realida<strong>de</strong>" (Perez-Gomez,<br />

1980).<br />

A fenomenologia foi adotada neste trabalho por<br />

ser uma tentativa que preten<strong>de</strong> recuperar a<br />

dimensão existencial em todas as áreas do saber.<br />

Como um método, e não como uma síntese<br />

filosófica, a fenomenologia preten<strong>de</strong> realizar a<br />

convergência das contribuições <strong>de</strong> todas as áreas<br />

(Perez-Gomez, 1980), consi<strong>de</strong>rando em todos os<br />

campos do conhecimento aquilo que neles se<br />

relaciona com a importância da dimensão da<br />

existência humana, sua finalida<strong>de</strong> e o sentido do<br />

fazer do homem.<br />

2.2. CONCEITOS<br />

O quadro conceitual compreen<strong>de</strong>u a conjunção e<br />

totalida<strong>de</strong> composta pelo homem e seu meio<br />

ambiente. O homem é um "ser-no-mundo "<br />

(Hei<strong>de</strong>gger, 1995) e o meio ambiente construído é<br />

uma concreção da cultura ( 6 ) (Hei<strong>de</strong>gger, 1951),<br />

<strong>de</strong>ntro da qual a existência humana tem<br />

primeiramente o seu lugar. Sendo uma forma da<br />

expressão humana, o ambiente construído é<br />

"congruente com os tipos <strong>de</strong> organização <strong>social</strong><br />

da cultura, da qual ele emerge como concreção "<br />

(Souza, 1998). Dessa maneira, "não habitamos


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porque construímos, mas construímos e temos<br />

construído porque habitamos, isto é, enquanto<br />

somos habitantes " (Hei<strong>de</strong>gger, 1951 p. 167). Há<br />

uma reciprocida<strong>de</strong> entre o ambiente e os padrões<br />

culturais, <strong>de</strong> modo que formas físicas e formas<br />

sociais se <strong>de</strong>terminam umas às outras, como<br />

afirma Malard (1995). Essa condição interativa<br />

entre homem e espaço <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rada um<br />

componente dinâmico da percepção ambiental,<br />

característica presente também nos conceitos <strong>de</strong><br />

<strong>representação</strong> <strong>social</strong> e <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong>.<br />

Para Piaget (1978) a <strong>representação</strong> po<strong>de</strong> significar<br />

tanto uma "<strong>imagem</strong>" <strong>mental</strong> (um símbolo<br />

concreto) quanto conceitos (abstratos). Há uma<br />

continuida<strong>de</strong> entre formas perceptivas e<br />

representações figuradas ( 7 )e as imagens visuais<br />

necessitam <strong>de</strong> esquemas motores e perceptivos<br />

prévios, adquiridos pela vivência (ação e<br />

exploração do indivíduo no meio ao longo do<br />

tempo), resultando num novo tipo <strong>de</strong> esquema<br />

avançado, que é a abstração. O termo<br />

<strong>representação</strong> é, portanto, usado em dois sentidos<br />

diferentes, ou seja, como pensamento<br />

(in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> esquemas sensório-motores) e<br />

como <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> ou recordação-<strong>imagem</strong>.<br />

Por sua vez o conceito <strong>de</strong> <strong>representação</strong> <strong>social</strong>,<br />

segundo Moscovici (1978), diferencia-se da<br />

opinião e da "Eikonics" ( 8 ), por estar inserida<br />

num universo <strong>de</strong> fenômenos sociais, como a<br />

linguagem e a transmissão <strong>de</strong> valores e<br />

conhecimentos. Os sistemas simbólicos que<br />

compõem a cultura são transformados e<br />

interiorizados <strong>de</strong> modo individual e nessa<br />

transformação nasce a <strong>representação</strong>, que é <strong>social</strong><br />

porque contém valores e julgamentos tomados da<br />

experiência grupal. Consi<strong>de</strong>ra-se que a criação das<br />

representações sociais ocorra em conjunção com<br />

outro fenômeno, que <strong>de</strong>nominamos eventos.<br />

Consi<strong>de</strong>ram-se eventos as ativida<strong>de</strong>s humanas no<br />

espaço que implicam em interações entre as coisas<br />

e outras pessoas ( 9 ) (MALARD, 1992). O<br />

homem não é um objeto isolado, mas está<br />

implicado numa forma <strong>social</strong>, em exercício <strong>de</strong><br />

suas ativida<strong>de</strong>s, através dos eventos. Os termos<br />

"forma <strong>social</strong>" e "eventos" possuem, <strong>de</strong>sse<br />

modo, o mesmo valor, e os termos "espaço<br />

físico" e "forma física" referem-se à mesma<br />

categoria <strong>de</strong> fenômenos, que é o espaço vivido<br />

como o compreen<strong>de</strong> Merleau-Ponty (1971).<br />

Os eventos po<strong>de</strong>m ser agrupados em categorias ,<br />

ou padrões, correspon<strong>de</strong>ndo a uma forma física<br />

(casa, rua, praça, por exemplo). Cada conjunto <strong>de</strong><br />

formas físicas está relacionado a uma forma <strong>social</strong><br />

que po<strong>de</strong> ser parcialmente representada no espaço.<br />

A <strong>representação</strong> <strong>social</strong> foi compreendida, <strong>de</strong>sse<br />

modo, através da interpretação das intenções<br />

observadas na or<strong>de</strong>nação dos conjuntos <strong>de</strong> formas<br />

físicas. Essa <strong>representação</strong> foi registrada através da


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observação direta das formas físicas, mas a forma<br />

física não é entendida como a <strong>representação</strong> <strong>social</strong><br />

em sua totalida<strong>de</strong>, nem substitui o que representa,<br />

ou seja, os <strong>de</strong>sejos e as vonta<strong>de</strong>s coletivas da<br />

forma <strong>social</strong>. Trata-se <strong>de</strong> um dos modos<br />

expressivos da forma <strong>social</strong>, que parece compor a<br />

percepção ambiental informacional ( 10 ),<br />

representando através da forma física a conotação<br />

das relações sociais. Qualquer forma física po<strong>de</strong>,<br />

portanto, ser interpretada como um fenômeno<br />

comunicacional relacionado às representações<br />

sociais. O processo interpretativo <strong>de</strong>ssas formas<br />

físicas <strong>de</strong>nomina-se "leitura <strong>de</strong> espacializações ".<br />

Denominaram-se espacializações as expressões das<br />

interações entre eventos (formas sociais ) e as<br />

coisas (formas físicas ) no espaço. As<br />

espacializações são o modo concreto como se<br />

or<strong>de</strong>nam intencionalmente os objetos, os marcos<br />

e sinais. Ou seja, referem-se à maneira como são<br />

dispostas as coisas <strong>de</strong> forma tal a expressar<br />

intenções e promover representações das formas<br />

sociais. Um meio ambiente construído é o<br />

universo das espacializações que estão<br />

configuradas sob um cenário cultural. Portanto, a<br />

interpretação das formas fisicas através <strong>de</strong> leituras<br />

<strong>de</strong> espacializações é um processo <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong><br />

conjecturas, e consiste em criar um mo<strong>de</strong>lo do<br />

meio ambiente pesquisado.<br />

O homem não lida diretamente com o mundo<br />

(bandler, 1977), mas com mo<strong>de</strong>los, imagens ou<br />

representações das suas experiências no mundo. A<br />

transformação da vivência em um mo<strong>de</strong>lo vem<br />

acompanhada <strong>de</strong> erros <strong>de</strong> generalização ,<br />

distorção e eliminação na acumulação <strong>de</strong><br />

conhecimento e na memória individual. Esses<br />

erros reduzem as múltiplas dimensões do vivido<br />

e o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> mundo po<strong>de</strong> operar <strong>de</strong> modo<br />

ineficaz ao tentar explicar, <strong>de</strong>screver e prescrever a<br />

realida<strong>de</strong> que simultaneamente representa. Os<br />

mo<strong>de</strong>los que não conseguem interpretar o mundo<br />

para instruir a ação, originam conflitos<br />

individuais e coletivos. Esses conflitos po<strong>de</strong>m<br />

estar presentes no ambiente construído e po<strong>de</strong>m<br />

ser interpretados a partir das leituras <strong>de</strong><br />

espacializações, revelando os conflitos entre<br />

formas sociais e formas físicas e explicitando<br />

elementos espaciais, ausentes ou em mal<br />

funcionamento.<br />

Chamou-se <strong>de</strong> <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> ao fenômeno<br />

psíquico da associação da memória dos eventos<br />

com seu sentido subjetivo e individual <strong>de</strong><br />

valoração. Supõe-se que essa associação seja feita<br />

a partir das vivências e tem por finalida<strong>de</strong><br />

principal a orientação física e a estabilida<strong>de</strong><br />

emocional. Sua construtura consiste na criação <strong>de</strong><br />

um mo<strong>de</strong>lo abstrato do meio ambiente e <strong>de</strong> tudo<br />

o que nele ocorre, mo<strong>de</strong>lo no qual se encontram<br />

dinamicamente conexas diversas informações, dos<br />

valores aos <strong>de</strong>sejos individuais e coletivos. Esse


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mo<strong>de</strong>lo não po<strong>de</strong> ser representado por nenhum<br />

outro tipo <strong>de</strong> <strong>imagem</strong> bidimensional ou<br />

tridimensional conhecida sem per<strong>de</strong>r sua<br />

multidimensionalida<strong>de</strong> e seu sentido plural,<br />

dinâmico e utilitário. Essa <strong>imagem</strong> possui<br />

diversos pontos <strong>de</strong> vista aglutinados<br />

simultaneamente, que são resultantes do<br />

intercâmbio da experiência com a alterida<strong>de</strong>, no<br />

processo <strong>de</strong> conhecimento e composição da<br />

memória. A <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> é, pois, um mo<strong>de</strong>lo<br />

<strong>de</strong> mundo.<br />

Se a essência do espaço arquitetural é ser para<br />

habitar (souza, 1998), tal como um tipo <strong>de</strong><br />

equipamento (levinas,1980) o meio ambiente<br />

construído também o é, uma vez que é<br />

essencialmente "para habitação do homem"<br />

(souza, 1998). As situações <strong>de</strong> conflito ocorrem<br />

quando algum elemento espacial, necessário para<br />

a realização <strong>de</strong> um evento, está ausente ou em mal<br />

estado, afetando algum atributo da habitabilida<strong>de</strong>.<br />

A habitabilida<strong>de</strong> se enten<strong>de</strong> como uma qualida<strong>de</strong><br />

que compreen<strong>de</strong> alguns fenômenos espaciais<br />

correlatos à existência espacial do homem. Esses<br />

fenômenos são a territorialida<strong>de</strong>, a privacida<strong>de</strong>, a<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a ambiência. A existência do homem<br />

supõe que ele se separe <strong>de</strong> um exterior, criando<br />

um território interior que lhe é próprio. Ao<br />

<strong>de</strong>limitar esse território, ele controla suas relações<br />

com o resto do mundo, ou seja, sua privacida<strong>de</strong>.<br />

O interior é apropriado por ele, conferindo-lhe<br />

ambiência. Esta última po<strong>de</strong> ser entendida como<br />

conforto, a<strong>de</strong>quação, funcionalida<strong>de</strong>, beleza. O<br />

exterior é caracterizado <strong>de</strong> modo a se tornar uma<br />

aparência distinta e idêntica só a si mesma.<br />

Portanto, esses atributos constituem a essência do<br />

objeto utilitário que se <strong>de</strong>nomina espaço<br />

arquitetural e lhe conferem habitabilida<strong>de</strong>. Uma<br />

situação <strong>de</strong> conflito entre elemento espacial<br />

(forma física) e ativida<strong>de</strong> humana po<strong>de</strong> ter origem<br />

no modo como o meio ambiente é apreendido,<br />

pelas suas formas sociais, <strong>de</strong> modo contraditório,<br />

num conflito <strong>de</strong> percepção.<br />

São consi<strong>de</strong>rados conflitos <strong>de</strong> percepção<br />

ambiental, para esta pesquisa, as diferentes<br />

interpretações dadas às apreensões individuais ou<br />

coletivas do ambiente construído, através das<br />

espacializações. As espacializações po<strong>de</strong>m<br />

revelar valores contraditórios, no contexto cultural<br />

consi<strong>de</strong>rado. Esses conflitos <strong>de</strong> percepção<br />

correspon<strong>de</strong>m a conflitos entre elementos<br />

espaciais e as ativida<strong>de</strong>s humanas, sendo que,<br />

com maior proprieda<strong>de</strong>, interessam à pesquisa<br />

apoiada pela psicologia.<br />

( 6 ) A palavra cultura é entendida aqui como<br />

condição da existência humana e permite que as<br />

dimensões existenciais do homem sejam


Page: 8<br />

compartilhadas na medida em que se tornem<br />

experiências comuns <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma coletivida<strong>de</strong>,<br />

fazendo com que ele ultrapasse sua condição<br />

individual e partícipe do mundo mais amplo e<br />

gregário.<br />

( 7 ) Numa tarefa interessante, PIAGET (1993)<br />

dava objetos conhecidos para que crianças<br />

apalpassem sem vê-los. Depois, ele pedia para<br />

que elas os <strong>de</strong>senhassem. Desse modo, a tarefa<br />

consistia primeiro em traduzir a percepção<br />

tátil-cinestésica em percepções visuais e, num<br />

segundo momento, na construção <strong>de</strong> uma <strong>imagem</strong><br />

visual que exprimisse os resultados da interação.<br />

Explorando dados obtidos em tarefas<br />

semelhantes, Piaget propôs a continuida<strong>de</strong><br />

percepção-<strong>representação</strong>. Por exemplo, a abstração<br />

das formas.<br />

(8) "Eikon", do grego, significa <strong>imagem</strong>, ícone.<br />

(9) O processo <strong>de</strong> construção das representações<br />

sociais não é consi<strong>de</strong>rado um evento, mas um<br />

fenômeno psíquico em conjunção.<br />

(10)No sentido que FERRARA (1999) aplica ao<br />

termo. Cf. a semelhança com o conceito <strong>de</strong><br />

"or<strong>de</strong>nação da comunicação no território" em<br />

RAPOPPORT (1972).<br />

3. METODOLOGIA<br />

A metodologia consistiu basicamente em proce<strong>de</strong>r<br />

leituras das espacializações, na rua mais central e<br />

<strong>de</strong> maior percurso e conectivida<strong>de</strong> do bairro,<br />

compreen<strong>de</strong>ndo os recintos urbanos conexos do<br />

setor historicamente representativo, utilizando-se<br />

todos os registros disponíveis (fotos, entrevistas,<br />

registros históricos oficiais ou não, observação<br />

direta em campo) num prazo <strong>de</strong> 4 semanas. Após<br />

esse período o conjunto <strong>de</strong> dados foi interpretado<br />

e voltou-se a campo para nova coleta <strong>de</strong> dados,<br />

em mais 4 semanas. Esses novos dados foram<br />

interpretados confirmando ou refutando as<br />

hipóteses <strong>de</strong> conflitos anteriormente i<strong>de</strong>ntificados.<br />

As interpretações das espacializações tinham por<br />

fim a i<strong>de</strong>ntificação dos conflitos entre formas<br />

físicas e formas sociais do recinto urbano, bem<br />

como sua localização e ocorrência. Os conflitos<br />

foram <strong>de</strong>scritos exaustivamente, na maneira <strong>de</strong><br />

antagonismos entre elementos espaciais (ausentes<br />

ou em mal estado) "versus" eventos (ativida<strong>de</strong>s<br />

prejudicadas). As <strong>de</strong>scrições relacionaram os<br />

conflitos com os fenômenos da habitabilida<strong>de</strong>,<br />

classificando-os como conflitos que afetavam a<br />

territorialida<strong>de</strong>, a privacida<strong>de</strong>, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a<br />

ambiência.<br />

A crítica à ingênua ironia contida no uso da<br />

expressão Shakespeariana "brave new world ",<br />

mencionada no início, elucida que não existe uma<br />

percepção correta em relação à qual as <strong>de</strong>mais


Page: 9<br />

estão equivocadas. A atitu<strong>de</strong> especulativa do<br />

método hipotético-<strong>de</strong>dutivo ( 11 )usada para<br />

elaborar as interpretações das leituras <strong>de</strong><br />

espacializações, não se restringindo a um tipo<br />

único <strong>de</strong> registro dos dados, mas consi<strong>de</strong>rando<br />

que todos os registros interessavam, mas não<br />

podiam ser tomados como a realida<strong>de</strong> em si,<br />

apenas como um aspecto revelado por sua<br />

aparência ( 12 ). Isso leva a consi<strong>de</strong>rar que toda a<br />

pesquisa contenha distorções na interpretação das<br />

espacializações, tornando-as passíveis <strong>de</strong><br />

falseamento , e validando a técnica como processo<br />

científico. As interpretações foram posteriormente<br />

criticadas à partir do referencial teórico<br />

fenomênico da psicologia, elucidando os<br />

conceitos relatados, validando algumas<br />

interpretações e refutando outras.<br />

( 11) Cf. BUNGE, 1974.<br />

( 12) Cf. CRITELLI, 1996..<br />

4. RESULTADOS<br />

Foram i<strong>de</strong>ntificados e interpretados 27 conflitos<br />

<strong>de</strong> ocorrência continuada e localização<br />

generalizada. Em 5 conjuntos <strong>de</strong> conflitos, todos<br />

os atributos da habitabilida<strong>de</strong> estavam afetados.<br />

Os conjuntos se referiam a conflitos relacionados<br />

ao uso do passeio público, ao uso do meio-fio, ao<br />

ruído da rua, e às transições entre interior e<br />

exterior das residências e estabelecimentos<br />

comerciais. Os conflitos que ocorriam por<br />

ausência ou mal estado das transições entre<br />

interior e exterior das edificações foram<br />

interpretados <strong>de</strong> forma que sua <strong>de</strong>scrição sempre<br />

continha aspectos relacionados à falta <strong>de</strong><br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos edifícios no recinto urbano, por<br />

conseguinte, à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do bairro. Os dados<br />

sobre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> remetiam aos registros<br />

históricos que, por sua vez, revelavam nas<br />

narrativas da polulação os 5 estereótipos sobre o<br />

bairro, <strong>de</strong>scritos anteriormente.<br />

As narrativas dos moradores sobre o bairro foram<br />

consi<strong>de</strong>radas inicialmente como imagens mentais<br />

e posteriormente como representações sociais.<br />

Notou-se que a <strong>imagem</strong> <strong>mental</strong> tinha<br />

significações distintas, embora utilizadas para<br />

explicar o mesmo fenômeno. Referia-se, nos<br />

registros obtidos, tanto ao significante quanto ao<br />

significado, ou seja, a <strong>imagem</strong> era empregada ora<br />

para referenciar aspectos subjetivos que diziam<br />

respeito à apreensão perceptiva do meio ambiente,<br />

ora aspectos fenomênicos tais como a presença<br />

das formas sociais no espaço. Esse duplo uso do<br />

termo era extrapolado das narrativas do senso<br />

comum, inserindo-se nos diversos canais sociais<br />

discursivos, <strong>de</strong>ntre eles o da mídia e o da própria


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ciência. Por outro lado, a <strong>representação</strong> <strong>social</strong>,<br />

interpretada no espaço físico, revelava<br />

significados opostos aos estereótipos. Santa<br />

Tereza não era como uma cida<strong>de</strong> do interior, pois<br />

não tinha interiorida<strong>de</strong> suficiente para <strong>de</strong>limitar<br />

um ambiente com qualida<strong>de</strong>s ambientais<br />

constantes; não era um bairro <strong>de</strong> boa vizinhança,<br />

pois os moradores já não se conheciam como no<br />

passado <strong>de</strong>vido ao aumento populacional e<br />

estabeleciam entre si uma relação <strong>de</strong> "reserva"( 13<br />

); não era um bairro <strong>de</strong> boemia porque esta<br />

entrava em conflito direto com o uso resi<strong>de</strong>ncial,<br />

sendo gradativamente eliminada; os artistas e<br />

intelectuais referiam-se às lembranças <strong>de</strong> algumas<br />

poucas personalida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>riam ter morado<br />

em qualquer região da cida<strong>de</strong>, o mesmo ocorrendo<br />

para os heróis <strong>de</strong> guerra que eram combatentes<br />

enviados <strong>de</strong> Belo Horizonte a São Paulo, nas<br />

revoluções constitucionalistas <strong>de</strong> 1930 e 1932, e<br />

moram em toda a cida<strong>de</strong>, não se concentrando<br />

apenas no bairro.<br />

A crítica dos mo<strong>de</strong>los que levavam à formação<br />

<strong>de</strong>sses estereótipos revelou que as "imagens"<br />

constituiam-se em níveis <strong>de</strong> abstração cada vez<br />

maiores, envolvendo aspectos i<strong>de</strong>ntitários e a<br />

memória <strong>social</strong>, e a conclusão é que o termo<br />

<strong>imagem</strong> se tornava uma polissemia. Assim,<br />

muitas vezes o que estava em jogo era a<br />

<strong>representação</strong> <strong>social</strong> dos moradores que<br />

ultrapassava as dimensões apreensivas,<br />

inserindo-se no universo simbólico da cultura do<br />

lugar. Desta maneira, podia-se compreen<strong>de</strong>r a<br />

aparente cumplicida<strong>de</strong> entre a mídia jornalistica e<br />

os <strong>de</strong>mais habitantes da cida<strong>de</strong> em compartilhar<br />

idéias sobre o bairro cujos temas visavam reforçar<br />

estórias ou invenções dos moradores a respeito do<br />

lugar e das relações das pessoas. Os aspectos<br />

consi<strong>de</strong>rados "bons" pela população do bairro e da<br />

cida<strong>de</strong> passavam a ser evocados e incorporados à<br />

realida<strong>de</strong>, mesmo que histórica e<br />

docu<strong>mental</strong>mente não fossem comprovados os<br />

fatos <strong>de</strong> que eram conseqüências. As invenções<br />

adquiriam, assim, o status <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> e eram<br />

agregadas aos valores mais bem cultivados pelos<br />

moradores do bairro. A <strong>representação</strong> <strong>social</strong><br />

passava a ser compartilhada por uma comunida<strong>de</strong><br />

cada vez maior, num processo <strong>de</strong> enraizamento<br />

individual ( 14 )e era utilizada pelos processos<br />

políticos <strong>de</strong> marketing da cida<strong>de</strong>, nos quais se<br />

inserem os responsáveis legais pela preservação e<br />

a<strong>de</strong>quação da área às expectativas criadas.<br />

Em 1996, através da pressão política <strong>de</strong> um<br />

abaixo-assinado dos moradores, a Câmara<br />

Municipal <strong>de</strong> Belo Horizonte <strong>de</strong>cretou que o<br />

Bairro se tornaria uma Área <strong>de</strong> Diretrizes<br />

Especiais ( 15 ). O fato repercutiu positivamente<br />

na mídia como sendo um "auto-tombamento" ,<br />

fato raro e exemplar <strong>de</strong> cidadania. Em 1999, a<br />

Prefeitura resolveu reformar a praça do Bairro, que<br />

segundo os moradores não carecia <strong>de</strong> reformas. O


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projeto encontra-se em curso, e em março <strong>de</strong><br />

2000, para dar lugar ao novo projeto, foi<br />

<strong>de</strong>molido o coreto central da praça, edifício<br />

revestido <strong>de</strong> "pó-<strong>de</strong>-pedra"construído em 1934<br />

que tinha 40 m2 <strong>de</strong> área e um subsolo, uma das<br />

poucas edificações <strong>de</strong> valor histórico e que se<br />

relacionava intensamente à história da vida dos<br />

moradores. As diretrizes especiais ainda não se<br />

tornaram leis no prazo previsto no Plano Diretor<br />

<strong>de</strong> Belo Horizonte, acumulando hoje um atraso <strong>de</strong><br />

3 anos.<br />

Tal fato mostra que sem a <strong>de</strong>vida <strong>representação</strong><br />

política, os lugares da cida<strong>de</strong> ficam à mercê das<br />

ações do marketing. Como um "admirável<br />

mundo novo ", o universo simbólico <strong>de</strong> uma<br />

região, seus aspectos i<strong>de</strong>ntitários e sua memória<br />

são vítimas da magia <strong>de</strong>scrita em Shakespeare. O<br />

<strong>de</strong>sabafo <strong>de</strong> MUNFORD (1982, p.589) lembra<br />

esse po<strong>de</strong>r "mágico" dos planejadores. Neste<br />

contexto, eles são como ilusionistas profissionais<br />

que dirigem o olhar das pessoas, <strong>de</strong> acordo com<br />

as conveniências políticas. Usam luzes que<br />

iluminam somente os cenários <strong>de</strong> sua propaganda,<br />

no interior da <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m metropolitana. O cidadão<br />

é uma "crédula vítima" das ilusões orquestradas e<br />

passa a ter, por fim, uma administração alheia ao<br />

seu cotidiano.<br />

(13) C.f. SIMMEL, 1976<br />

(14) C.f. WEIL, 1979.<br />

(15) A ADE <strong>de</strong> Santa Tereza é ferida no artigo 83,<br />

Cap. VI da Lei 7.166 <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1996.<br />

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