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ATENÇÃO FARMACÊUTICA DOMICILIAR: ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES<br />
HIPERTENSOS ATENDIDOS NA UNIDADE DE SAÚDE CAMARGO EM CURITIBA.<br />
Thaís Bolognesi 1 , Thais Sousa Fiusa 1 , Djuliani Fernando Ceccato 1 ,<br />
Deise P. Montrucchio 2<br />
1 Acadêmicos do Curso de Farmácia – UFPR; 2 Departamento de Farmácia – UFPR<br />
RESUMO<br />
A Atenção Farmacêutica é um modelo de prática profissional executada pelo<br />
farmacêutico onde este, juntamente com a equipe de saúde, visa o conforto máximo do<br />
paciente e a máxima efetividade de seus tratamentos. O trabalho executado pela<br />
equipe deve incluir a estruturação, execução e monitorização do plano terapêutico,<br />
sendo objetivo do farmacêutico a detecção, resolução e prevenção de Probl<strong>em</strong>as<br />
Relacionados aos Medicamentos (PRMs). O <strong>projeto</strong> visa o acompanhamento domiciliar<br />
de pacientes hipertensos atendidos pelo Sist<strong>em</strong>a Único de Saúde (SUS) da unidade de<br />
saúde Camargo, <strong>em</strong> Curitiba-PR, fazendo o controle dos medicamentos dos pacientes,<br />
como também a aferição da sua pressão arterial, para avaliação da efetividade e<br />
segurança dos medicamentos. Para tal, são realizadas visitas domiciliares regulares,<br />
onde os integrantes do <strong>projeto</strong> orientam quanto ao uso correto do medicamento e<br />
medidas para melhoria da qualidade de vida. O fato de a hipertensão poder levar a<br />
conseqüências como infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral,<br />
insuficiência renal, entre outros, reforça a importância do controle da pressão arterial.<br />
PALAVRAS-CHAVE: hipertensão, atenção farmacêutica, PRM.<br />
ABSTRACT
Pharmaceutical care is a model of pharmaceutical practice in which the pharmacist,<br />
among other health professionals, has the goal of achieve the best results in the<br />
patient’s treatment. The work of the healthcare team includes structure, execution and<br />
monitoring of therapeutic plan, being the pharmacist’s goal the detection, resolving and<br />
prevention of medicine-related probl<strong>em</strong>s. The project goals the homecare of patients<br />
with high pressure that use the public health syst<strong>em</strong>, in the Health Unit Camargo, in<br />
Curitiba-PR, with the control of their medicine and monitoring of their blood pressure, to<br />
evaluation of effectiveness and security of medicine. The group makes home visits to<br />
the patients and provides orientation about the correct use of medicine and measures of<br />
good quality life.<br />
KEYWORDS: blood pressure, pharmaceutical care, medicine-related probl<strong>em</strong>.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A Atenção Farmacêutica pode ser definida como a provisão responsável da<br />
farmacoterapia com o propósito de obter resultados clínicos definidos que melhor<strong>em</strong> a<br />
qualidade de vida dos pacientes. O foco principal da atenção farmacêutica é o paciente,<br />
e deve haver uma interação entre este e o farmacêutico, e entre este e a equipe de<br />
saúde, com o objetivo de detectar, resolver e prevenir probl<strong>em</strong>as relacionados aos<br />
medicamentos (PRMs).<br />
Pode-se definir PRM como todo probl<strong>em</strong>a de saúde que suceda (ou que seja<br />
provável que suceda) <strong>em</strong> um paciente, e que está relacionado com seus<br />
medicamentos. Tais probl<strong>em</strong>as são classificados basicamente <strong>em</strong> 3 grupos: probl<strong>em</strong>as<br />
de necessidade (quando o paciente faz uso de um medicamento não necessário, ou<br />
quando não utiliza um medicamento necessário); probl<strong>em</strong>as de efetividade (quando o<br />
medicamento utilizado não promove o efeito desejado, podendo ou não ser dosedependente);<br />
probl<strong>em</strong>as de segurança (quando o paciente utiliza um medicamento que<br />
não está sendo seguro, seja por utilização de uma dose muito alta ou por aparecimento<br />
de reações adversas, independent<strong>em</strong>ente da dose utilizada).
A hipertensão arterial é uma doença de alta prevalência que pode levar a sérias<br />
complicações se não controlada. Por ser uma patologia crônica que requer, na maioria<br />
das vezes, associação medicamentosa de uso contínuo, é alta também a prevalência<br />
de aparecimento de PRMs, o que torna este um grupo de pacientes importantes para o<br />
acompanhamento farmacoterapêutico.<br />
OBJETIVOS<br />
O objetivo do <strong>projeto</strong> é de contribuir para a melhoria das condições de saúde de<br />
pacientes hipertensos, realizando o acompanhamento farmacoterapêutico dos mesmos<br />
através de visitas domiciliares realizadas regularmente. Através <strong>deste</strong><br />
acompanhamento pod<strong>em</strong> ser avaliadas as condições <strong>em</strong> que os pacientes se tratam,<br />
verificando se executam a terapêutica prescrita pelo médico de maneira adequada,<br />
orientando s<strong>em</strong>pre que necessário, e avaliando também a efetividade e a segurança<br />
dos esqu<strong>em</strong>as terapêuticos.<br />
O <strong>projeto</strong> também proporciona benefícios aos acadêmicos que o executam, pois<br />
os mesmos têm o contato direto com a comunidade, tendo uma visão diferenciada<br />
daquela oferecida pela graduação <strong>em</strong> si.<br />
METODOLOGIA<br />
Para avaliar se o medicamento tomado pelo paciente é necessário, se é seguro e<br />
se é efetivo, é importante discriminar as reações dos medicamentos e estabelecer<br />
relações com os probl<strong>em</strong>as de saúde tratados.<br />
O método <strong>em</strong>pregado é o Método Dáder de Acompanhamento<br />
Farmacoterapêutico, desenvolvido pelo grupo de investigação <strong>em</strong> Atenção<br />
Farmacêutica da Universidade de Granada, <strong>em</strong> 1999. Este método permite sist<strong>em</strong>atizar<br />
o Acompanhamento Farmacoterapêutico (AFT), fazendo um estudo da história das<br />
doenças e probl<strong>em</strong>as de saúde apresentados pelo paciente, b<strong>em</strong> como seus
medicamentos usados. Este estudo é sist<strong>em</strong>atizado através da elaboração de uma<br />
ficha de estado de situação do avaliado, a partir da qual pode-se avaliar e fazer as<br />
intervenções adequadas.<br />
O AFT começa com uma entrevista inicial, onde se toma conhecimento dos<br />
hábitos de vida, probl<strong>em</strong>as de saúde e medicamentos utilizados pelo paciente,<br />
questionando sobre a quantidade utilizada, a hora e a forma de uso, para que é<br />
utilizado, alguma possível reação e seu histórico farmacoterapêutico. Para a primeira<br />
entrevista recomenda-se utilizar uma folha <strong>em</strong> branco para anotar os dados relatados<br />
pelo paciente, e só depois preencher a ficha do paciente, fazendo-se assim uma maior<br />
aproximação com o mesmo. O paciente ainda deve expor seus probl<strong>em</strong>as de saúde,<br />
s<strong>em</strong> que o farmacêutico faça qualquer tipo de intervenção, permitindo que este possa<br />
avaliar o nível de preocupação de cada probl<strong>em</strong>a de saúde por parte do paciente. Para<br />
finalizar, o entrevistador deve fazer uma revisão, relacionando todas as partes do corpo<br />
e deixando que o paciente relate o(s) probl<strong>em</strong>a(s) nele(s) encontrado(s). É importante<br />
l<strong>em</strong>brar dos hábitos de vida do paciente, como por ex<strong>em</strong>plo consumo de álcool, cigarro,<br />
sedentarismo e consumo de sal.<br />
Apos a primeira entrevista, deve ser elaborado o primeiro estado de situação do<br />
paciente (relação entre seus probl<strong>em</strong>as de saúde e seus medicamentos), que deve<br />
conter: probl<strong>em</strong>as de saúde, medicamentos, avaliação e intervenção farmacêutica.<br />
Para tal é necessária uma fase de estudos onde se estudam os probl<strong>em</strong>as de saúde<br />
relacionados, de preferência separadamente e iniciando por aqueles diagnosticados<br />
pelo médico (os aspectos básicos para o estudo dev<strong>em</strong> ser: mecanismos fisiológicos da<br />
doença, sinais e sintomas, causa e conseqüências), e os medicamentos (sendo<br />
analisados: mecanismos de ação, indicação, posologia, farmacocinética, interações,<br />
precauções, contra indicações, probl<strong>em</strong>as de segurança) que também dev<strong>em</strong> ser<br />
estudados um por vez.<br />
A fase de avaliação t<strong>em</strong> como objetivo estabelecer as interrelações e os<br />
possíveis Probl<strong>em</strong>as Relacionados ao Medicamento (PRMs). Nesta fase é importante
uma profunda análise do estado de situação, b<strong>em</strong> como a relação risco-benefício para<br />
o paciente <strong>em</strong> relação ao medicamento.<br />
Para avaliar o medicamento utilizado pelo paciente, é necessário avaliar as três<br />
propriedades da farmacoterapêutica sendo elas: necessidade, efetividade e segurança.<br />
É importante discriminar as reações dos medicamentos e se está havendo correlação<br />
entre os medicamentos, permitindo estabelecer relações com os probl<strong>em</strong>as de saúde<br />
tratados pelos mesmos. Faz-se uma sucinta revisão do estado de situação do paciente<br />
para estabelecer prioridades e s<strong>em</strong>pre deve-se considerar um conjunto. Para saber se<br />
as três propriedades da farmacoterapêutica estão sendo seguidas deve-se fazer as<br />
seguintes perguntas: O paciente necessita do medicamento O medicamento está<br />
sendo efetivo O medicamento é seguro A pergunta sobre segurança deve ser feita<br />
para cada medicamento.<br />
Para descrever os possíveis PRMs que o paciente possa apresentar segue-se as<br />
normas estabelecidas pelo Segundo Consenso de Granada.<br />
Na pergunta “O paciente necessita do medicamento” deve-se considerar se há<br />
uma prescrição médica recomendando o devido medicamento; caso não haja uma<br />
prescrição, deve-se avaliar se o paciente possui o probl<strong>em</strong>a de saúde relacionado.<br />
Caso a resposta seja não, será relacionado o PRM 2, indicando a inexistência de um<br />
probl<strong>em</strong>a de saúde.<br />
Na pergunta “O medicamento está sendo efetivo”, uma resposta negativa<br />
indicaria probl<strong>em</strong>as de efetividade, devendo ser avaliado se a inefetividade é<br />
dependente ou não ad dose utilizada do medicamento.<br />
Na pergunta “O medicamento está sendo seguro”, uma resposta negativa indica<br />
um probl<strong>em</strong>a de segurança, que pode ou não ser dependente da dose utilizada do<br />
medicamento, devendo ser devidamente avaliado.<br />
A última pergunta, “O paciente t<strong>em</strong> algum probl<strong>em</strong>a que não está sendo<br />
tratado”, relaciona-se a probl<strong>em</strong>as que a princípio poderiam ser interpretados como<br />
relacionados com o uso de algum medicamento. Ao final desta fase faz-se uma lista<br />
com as possíveis suspeitas de PRMs para uma posterior intervenção.
Por fim, de acordo com a suspeita de PRM estabelecida, é realizada a fase de<br />
intervenção, s<strong>em</strong>pre analisando o que é mais benéfico ao paciente. Esta intervenção<br />
pode ser feita de duas maneiras, a saber: a) diretamente entre o farmacêutico e o<br />
paciente, feita nos casos <strong>em</strong> que os PRMs exist<strong>em</strong> devido a forma de utilização<br />
inadequada do medicamento, ou b) entre o farmacêutico, o paciente e o médico, a qual<br />
é utilizada nos casos de inefetividade ou insegurança não quantitativas, onde haja a<br />
necessidade de troca de medicamentos ou doses utilizadas, ou ainda uma necessidade<br />
de diagnóstico de um probl<strong>em</strong>a de saúde. Estas intervenções pod<strong>em</strong> ser feitas<br />
verbalmente ou da forma escrita.<br />
Depois da intervenção, caso aceita, faz-se um novo estado de situação para<br />
analisar o novo estado de saúde do paciente. É necessária a utilização do método de<br />
visitas sucessivas para que haja análise contínua do paciente, na tentativa de diminuir a<br />
aparição de novos probl<strong>em</strong>as, e resolução dos atuais, além da possibilidade de se obter<br />
mais informações sobre o paciente que auxili<strong>em</strong> no tratamento do mesmo.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÂO<br />
O <strong>projeto</strong> encontra-se no segundo ano de execução, com novos pacientes <strong>em</strong><br />
acompanhamento. Dos pacientes que entraram <strong>em</strong> acompanhamento há menos de 3<br />
meses ainda não há resultados tabulados. Dos pacientes anteriormente<br />
acompanhados, t<strong>em</strong>-se os seguintes dados:<br />
Foi realizada uma média de 7,4 visitas a cada um dos 10 pacientes abordados<br />
na primeira fase, sendo que <strong>em</strong> 30% dos casos os medicamentos relacionados à<br />
hipertensão eram efetivos e <strong>em</strong> 70% eram inefetivos. Sete pacientes tomavam a<br />
medicação <strong>em</strong> horários errados, quantidades erradas ou fazendo associações com<br />
outros medicamentos gerando interações medicamentosas. Em 50% dos casos onde<br />
foram feitas intervenções, sendo estas farmacêutico-médico-paciente ou diretamente<br />
farmacêutico-paciente, houve melhora dos parâmetros de pressão arterial. Mesmo os<br />
pacientes nos quais não foi necessária a intervenção, foram feitas orientações com
elação as melhores hábitos de saúde, medicamentos usados e sobre a hipertensão.<br />
30% dos pacientes apresentavam outros probl<strong>em</strong>as como depressão, diabetes, e<br />
efeitos adversos de medicamentos, como tonturas e outros.<br />
Analisando os dados relacionados acima pode-se observar que a maioria dos<br />
pacientes apresentou uma melhora no quadro de hipertensão, d<strong>em</strong>onstrando assim a<br />
importância do acompanhamento farmacoterapêutico para melhoria da saúde.<br />
REFERÊNCIAS<br />
ABDA. Federal Union of Germain Associations of Pharmacists. Cooperación de<br />
médicos y farmacéuticos en farmacoterapia. Pharm Care Esp, v.2, p.261-263, 2000.<br />
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farmacéutico en la atención primária. Pharm Care Esp, v.2, p.272-278, 2000.<br />
BRASIL. Ministério da Saúde. Plano de reorganização da Atenção à Hipertensão<br />
Arterial e ao Diabetes Mellitus. Brasília: MS, 2001.<br />
CIPOLLE, R.J. STRAND, L.M. MORLEY, P.C. Outcomes of Pharmaceutical Care<br />
Practice. In:____. Pharmaceutical Care Practice. New York: McGraw-Hill, 1998.<br />
CIPOLLE, R.J. STRAND, L.M. MORLEY, P.C. The Patient Care Process. In:____.<br />
Pharmaceutical Care Practice. New York: McGraw-Hill, 1998.<br />
COMITÉ DE CONSENSO. Segundo Consenso de Granada sobre Probl<strong>em</strong>as<br />
Relacionados com Medicamentos. Ars Pharm, v.43, n.3-4, p.175-184, 2002.<br />
IVAMA, A.M. et al. Consenso Brasileiro sobre Atenção Farmacêutica. Proposta.<br />
Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2002.
MACHUCA, M. FERNÁNDEZ-LLIMÓS, F. FAUS, M.J. Método Dáder. Guia de<br />
Seguimento Farmacoterapêutico. Granada: Universidad de Granada, 2003.<br />
SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO (SBH). IV Diretrizes Brasileiras de<br />
Hipertensão Arterial, 2002.<br />
Contato:<br />
Profa. Deise Prehs Montrucchio<br />
Departamento de Farmácia<br />
Av. Pref. Lothário Meissner 3400<br />
Curitiba – PR<br />
Tel: 3360-4139<br />
E-mail: dpmontrucchio@ufpr.br