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Revista de Extensão - PROEC - Universidade Federal do Paraná

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<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> Extensão - <strong>PROEC</strong>EXTENSÃO EM FOCONº 22008


Denise <strong>do</strong> Rocio Calomeno Martini da SEED-PR traz uma resenha <strong>do</strong> livro“Arte e mídia”, <strong>do</strong> autor Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> que nos leva a refletir sobre as técnicastradicionais da arte aliadas aos avanços tecnológicos.Agra<strong>de</strong>cemos, mais uma vez, aos colegas professores pesquisa<strong>do</strong>resextensionistas que colaboraram com seus textos para que viabilizássemos mais umnúmero da Extensão em Foco, contribuin<strong>do</strong> conjuntamente para a expansão <strong>do</strong>s<strong>de</strong>bates no campo da extensão universitária.Gláucia da Silva BritoEditoraOutubro - 2008


SUMÁRIODOSSIÊ – Cultura e ArteApresentaçãoAlianças entre o Terceiro Setor, a Universida<strong>de</strong> e os Sistemas Públicos: pelamelhoria <strong>do</strong>s processos educacionais em Arte.Alliances among the Third Sector, the University and the Public Systems towards abetter educational process in artEvelyn Berg IoschopeAções <strong>de</strong> extensão: trabalho solitário ou possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexões entre ensino epesquisa?Extension acts: solitary work or possible connections between teaching andresearch?Silvia Sell Duarte PillottoFormação Continuada <strong>de</strong> Professores que atuam com o Ensino da Arte na Escola<strong>de</strong> Educação Básica, Instituições Públicas <strong>de</strong> Ensino Superior, ExtensãoUniversitária e o Terceiro Setor.Continued Formation of Teachers that teach Art at the Basic Education, PublicsInstitutions of Superior Teaching, University Extension and the Third Sector.Sandra FranciscoSala <strong>de</strong> Aula: espaço pedagógico para viver e apren<strong>de</strong>r arte.Classroom, space for living and learning art reading and re-reading of art workAlexandre Silva <strong>do</strong>s Santos FilhoArte na escola na universida<strong>de</strong> na Rua: a interface <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formação em artee a extensão universitária.Art in school at university in the street: the interface of training courses in art an<strong>de</strong>xtension University.Célia Pereira GomesNádia Régia M. NeckelOficina permanente <strong>de</strong> gravura: um projeto <strong>de</strong> extensão em arte.Extension project: permanent workshop of printmaking.Dulce Regina Baggio OsinskiProjeto célula: gravura na escolaThe project cell: workshop of engravingIriana VezzaniRelatos e reflexões sobre as ações <strong>do</strong> pólo arte na escola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> Paraná.Report and Reflexions about the actions of the Programa Arte na Escola - UFPRAna Maria Petraitis Liblik


DEMANDA CONTÍNUAPrograma para a formação da cidadania infanto-juvenil: um caminho para aautonomia infantilProgram for the formation of the citizenship infant-youthful: a way for the infantileautonomyAna Cláudia Delfini Capistrano <strong>de</strong> Oliveira; Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Alves Zanatta; LíviaLima; Maiti Mattoso Fontana; Rodrigo Fuck Giostri; Simone Cristine DavelRelógio solar: construção <strong>do</strong> saber em física aplicada às edificações, com efeitoextensionistaSundials: building knowledge in architectural physics with an university outreacheffectAloísio Leoni Schmid ; Wânia Cruz <strong>do</strong> Nascimento ; Caroline Barp ZanchetTransformações na socieda<strong>de</strong>, transformações na educação: O projeto Católico-Conserva<strong>do</strong>r <strong>de</strong> educação na década <strong>de</strong> 1920.Society transformations, education transformations: The catholic-conservative projectof the education on the <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of 1920.Volnei Antonio Sacar<strong>do</strong>De que riem os po<strong>de</strong>rosos? o riso soberano da poesiaMaria Heloísa Martins DiasExtensão Universitária e Direitos Humanos: Desafios na Contemporaneida<strong>de</strong>University Extension and Human Rights :Challenges in the Contemporaneida<strong>de</strong>Silene <strong>de</strong> Moraes FreireLíngua Francesa: atual e necessáriaFrench language: present and necessaryRita <strong>de</strong> Cássia GomesRELATO DE EXPERIENCIAImplantação <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> “Posse Responsável” no município <strong>de</strong> Palotina/PR -BrasilImplantation of concept “Responsible Owner” at Palotina/PR – BrazilErica Cristina B. P. Guirro ; Kleber Menegon Lemes ; Suellen Lovato Ribeiro2;Marcelo Morato Silva ; Tammy Lyn Labatut Bini3; Olicies da CunhaGuia <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas: relato <strong>de</strong> experiência realizada no ProgramaGeral <strong>de</strong> Extensão da PUC-CampinasBeatriz Helena Bueno Brandão; Camila <strong>de</strong> Araújo; Juliana Caroni Medlij; PriscilaLina Rodrigues <strong>de</strong> MatosO perfil e a política <strong>de</strong> atendimento ao abusa<strong>do</strong>r sexual no Presídio Regional <strong>de</strong>Tijucas (SC). The profile and the politics of attendance to the sexual abuser in theRegional Penitentiary of Tijucas (SC).


MSc Edgar Antonio Piva; Aline R. CarvalhoO uso da maquete no ensino <strong>de</strong> GeografiaThe use of me mock-up in the Geography teachingBárbara Renata <strong>de</strong> Oliveira; Lawrence Mayer MalanskiRESENHAArte e Mídia, <strong>do</strong> livro <strong>de</strong> Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>Denise <strong>do</strong> Rocio Calomeno Martini


DOSSIÊ:Cultura e ArteOrganiza<strong>do</strong>ra: Ana Maria Petraitis Liblik


ApresentaçãoEnsino <strong>de</strong> Artes Visuais – reflexões sobre projetos extensionistasProfessora Dra. Ana Maria Petraitis LiblikUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paranáampliblik@ufpr.brNos dias <strong>de</strong> hoje, toda e qualquer reflexão sobre o ensino é bem vista poreduca<strong>do</strong>res e profissionais liga<strong>do</strong>s à Educação. No caso específico <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong>Artes Visuais há uma carência <strong>de</strong> textos com experiências não apenas positivas,mas principalmente sobre outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação que conduzam a este olharpromissor e que não sejam as costumeiras lamúrias sobre o que há <strong>de</strong> ruim nestaárea <strong>de</strong> ensino. Parece que quase to<strong>do</strong>s os que escrevem na mídia, e que nãonecessariamente são educa<strong>do</strong>res, sentem certa euforia em <strong>de</strong>screver fatosocorri<strong>do</strong>s e situações em que o ensino <strong>de</strong> Artes limita-se a tristes e meros papéispreenchi<strong>do</strong>s com giz <strong>de</strong> cera, em folhas mimeografadas a partir <strong>de</strong> um padrãoestereotipa<strong>do</strong>. Isto, mesmo ainda existin<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ramos que já está sen<strong>do</strong>supera<strong>do</strong>.Sabemos que, em todas as áreas <strong>de</strong> ensino básico, há os professoresespecialistas, forma<strong>do</strong>s nas áreas específicas (é bem verda<strong>de</strong> que constituem umaminoria no universo escolar), e há os professores generalistas que, mesmoassumin<strong>do</strong> a falta <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s e leituras na área, assim trabalham. Estesprofissionais, ao não compreen<strong>de</strong>r plenamente o texto e o contexto das ArtesVisuais, tornam incipiente o saber escolar que sabemos po<strong>de</strong>ria ser muito maisabrangente e enriquece<strong>do</strong>r para as ações <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.Professores e alunos, com muita freqüência, pensam a escola como umtempo e um espaço <strong>de</strong> preparação, espera para um futuro promissor, como se aalegria <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r não fosse a coisa mais importante no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>adultos e crianças, naquele momento específico. Como professores, nas nossasescolhas meto<strong>do</strong>lógicas, po<strong>de</strong>mos apresentar para os alunos um texto – tantoescrito como visual - um <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> autor, uma idéia, uma representação, ummovimento artístico, mas não po<strong>de</strong>mos apreciar por eles, não po<strong>de</strong>mos sentir ostextos nem vivenciá-los por eles. E é por esta razão que <strong>de</strong>vemos encontrar omelhor caminho meto<strong>do</strong>lógico para que os próprios alunos percebam o prazer <strong>de</strong><strong>de</strong>scobrir, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong> construir seus próprios conhecimentos. Um <strong>do</strong>s recursosque temos é a utilização <strong>de</strong> imagens, pois elas estão por toda parte. Sejam elas na


forma virtual, sonora, escrita, são instrumentos complexos muito pouco utiliza<strong>do</strong>s pornós professores e muito, muito utiliza<strong>do</strong>s pelas mídias. Costumamos brincar comnossos alunos ao dizer que <strong>de</strong>vemos ser muito ruins como professores, poisnormalmente temos muitas horas/aula nas salas com eles e eles dificilmente selembram <strong>de</strong> nós. Em compensação um anúncio televisivo dura por volta <strong>de</strong> 30segun<strong>do</strong>s, apresenta neste curtíssimo espaço <strong>de</strong> tempo, produtos, marcas, forma <strong>de</strong>uso, local <strong>de</strong> compra, nomes diferentes e o pior, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> comprar! Como épossível isso? Som e imagem conjuga<strong>do</strong>s em uma tela nos remetem a umasensação incômoda <strong>de</strong> incompetência. Imaginem se colocarem mais sensaçõestáteis, espaciais, como nos vi<strong>de</strong>ogames: aí sim, possivelmente per<strong>de</strong>remos opequeno status que ainda mantemos.É claro que a cultura visual é diferente <strong>de</strong> outras culturas tais como a verbal, atextual, a gráfica. Sabemos que todas elas convergem para a criação <strong>de</strong> imagensmentais, imagens das quais po<strong>de</strong>m ser encontradas outras. Forma-se uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong>analogias, <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s simétricas e assimétricas, <strong>de</strong> diálogos entre as própriasidéias que possibilitarão aos alunos a assimilação <strong>do</strong>s conceitos que preten<strong>de</strong>mosensinar. Assimilação, acomodação. Operações que permitem o “apren<strong>de</strong>r”, o tomarconsciência <strong>de</strong> algo. Segun<strong>do</strong> Piaget, o conhecimento não se encontra nem noobjeto nem no sujeito, mas nas ações que o sujeito exerce sobre os objetos.Portanto possibilitar que o sujeito e que o objeto se relacionem por imagens étambém possibilitar que os sujeitos aprendam.É tempo <strong>de</strong> espera. Mas até quan<strong>do</strong>? Talvez até o tempo <strong>de</strong> ouvir maisalgumas idéias a partir <strong>de</strong>stes artigos, po<strong>de</strong>r refletir sobre elas e agir. Há imagem eimagens. A que tentamos salientar é a da utilização das imagens produzidas nocontexto das Artes Visuais sen<strong>do</strong> ensinadas a<strong>de</strong>quadamente por professores quecompartilham conosco <strong>de</strong> nossos projetos extensionistas. Temos tenta<strong>do</strong> trilhar estepercurso nem sempre fácil, pois nem sempre somos reconheci<strong>do</strong>s pelo trabalho querealizamos. Muitas vezes estamos perdi<strong>do</strong>s entre imagens que povoam nossoimaginário advindas <strong>de</strong> sensações, percepções construídas a partir <strong>de</strong> leituras, <strong>de</strong>sons, <strong>de</strong> cheiros, movimentos, <strong>de</strong> contatos com gente. Vivemos intensamente, e istoaparece nos artigos a seguir, por enquanto isso aparentemente nos basta.Esperamos <strong>de</strong>ixar muitas imagens no imaginário <strong>de</strong> vocês, leitores. Todas otimistasquanto aos projetos educacionais que esperamos, tenham continuida<strong>de</strong>.Este <strong>do</strong>ssiê foi organiza<strong>do</strong> a partir das reflexões advindas <strong>de</strong> um programa


extensionista da UFPR, <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> Arte na Escola, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1994 está presentenesta instituição. Portanto publicar este <strong>do</strong>ssiê sobre o tema é fruto <strong>de</strong> anos <strong>de</strong>pesquisa, estu<strong>do</strong>s, trabalho e principalmente ações extensionistas na área.Complementam os artigos <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong>sta casa, relatos significativos <strong>de</strong>outras experiências pelo Brasil.O primeiro texto foi escrito pela Sra. Evelyn Berg Ioschpe, Diretorapresi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Instituto Arte na Escola, com se<strong>de</strong> em São Paulo, e nos apresentacomo esta instituição foi organizada, portanto um retrato histórico <strong>de</strong> seu início comsua continuida<strong>de</strong> até os dias <strong>de</strong> hoje e apresenta como esta parceria com as próreitorias<strong>de</strong> extensão e pesquisa <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> Ensino Superior está sen<strong>do</strong>realizada.Um segun<strong>do</strong> trabalho, da Professora Dra. Silvia Pillotto, da Univille –Universida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> Joinville/SC nos relata como o trabalho extensionista emsua instituição po<strong>de</strong> ser uma conexão entre o ensino e a pesquisa, parte <strong>de</strong>ste tripéensino, pesquisa e extensão que caracteriza as instituições <strong>de</strong> Ensino Superior.Um terceiro, da Profª Me. Sandra Suely <strong>do</strong>s Santos Francisco,coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> pólo Arte na Escola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará, relata comoesta parceria público-privada para o Ensino <strong>de</strong> Artes po<strong>de</strong> acontecer e não apenascomo parte <strong>de</strong> uma pró-reitoria <strong>de</strong> extensão e cultura, mas como da pesquisaespecifica realizada por um curso <strong>de</strong> pós-graduação.Um quarto texto, <strong>do</strong> Professor Me Alexandre Silva <strong>do</strong>s Santos Filho, damesma instituição anterior - Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará, nos conta como a sala<strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> ser um espaço pedagógico para viver e apren<strong>de</strong>r arte.As professoras Célia Pereira Gomes e Nádia Régia M. Neckel, daUniversida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> – SC, também escrevem sobre esta parceria quepossibilita a execução e ampliação <strong>de</strong> interessantes projetos extensionistas para acomunida<strong>de</strong>.O texto seguinte, sobre o trabalho amplamente conheci<strong>do</strong> na Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, é o da professora Dulce Osinski. Após nove anos <strong>de</strong> atuaçãocontínua, ela relata e faz uma análise sobre esta ação extensionista que não só épertinente, mas primordial para po<strong>de</strong>r refletir sobre a importância da existência <strong>de</strong>ações que aproximem a comunida<strong>de</strong> das instituições <strong>de</strong> Ensino Superior.Interessante também é a inclusão na revista Extensão em foco <strong>de</strong> um artigoescrito a partir <strong>do</strong> olhar <strong>de</strong> uma aluna <strong>de</strong> nossa instituição que participou <strong>de</strong> uma das


ações propostas a partir da Oficina permanente <strong>de</strong> gravura da UFPR. O relatointitula<strong>do</strong> Projeto Célula: gravura na escola, da (futura) professora <strong>de</strong> Artes VisuaisIriana Vezzani, é uma confirmação <strong>de</strong> que estamos, em nossa instituição, forman<strong>do</strong>a<strong>de</strong>quadamente novos professores e <strong>de</strong> como um projeto bem organiza<strong>do</strong> eorienta<strong>do</strong> pelos <strong>do</strong>centes da UFPR (no caso a professora Dra. Dulce Osisnki) po<strong>de</strong>ren<strong>de</strong>r frutos promissores a curto, médio e longo prazo.Completa este <strong>do</strong>ssiê um Relato sobre as ações extensionistas <strong>do</strong>Programa Arte na Escola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002. OPrograma está estabeleci<strong>do</strong> no Departamento <strong>de</strong> Teoria e Prática <strong>de</strong> Ensino <strong>do</strong>Setor <strong>de</strong> Educação e não mais no Departamento <strong>de</strong> Artes, local on<strong>de</strong> iniciou 1994,quan<strong>do</strong> a Professora Msc. Marília Díaz firmou pela primeira vez o convênio com oInstituto Arte na Escola.Boa leitura e boas reflexões para possibilitar que novas açõesextensionistas se propagem.BOSI, Alfre<strong>do</strong>. O ser e o tempo da poesia. 6. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.BUORO, Anamelia Bueno. O olhar em construção. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003.CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.DERDYK, Edith. Formas <strong>de</strong> pensar o <strong>de</strong>senho. São Paulo: Scipione, 1994.FÁVERO, Maria Helena. Psicologia e conhecimento. Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, 2005.FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários para a prática <strong>do</strong>cente. São Paulo:Paz e Terra, 2000.HERNANDEZ, Fernan<strong>do</strong>. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto <strong>de</strong> Trabalho. Porto Alegre:Artmed, 2000.MEIRA, Marly Ribeiro. Educação estética, arte e cultura <strong>do</strong> cotidiano. In: PILLAR, Analice Dutra. AEducação <strong>do</strong> olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação, 2003.VIGOTSKI, L.S. A construção <strong>do</strong> pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 2001.


ALIANÇAS ENTRE O TERCEIRO SETOR, A UNIVERSIDADE E OS SISTEMASPÚBLICOS: PELA MELHORIA DOS PROCESSOS EDUCACIONAIS EM ARTE.Alliances among the Third Sector, the University and the Public Systems towards abetter educational process in artEvelyn Ioschpe 1RESUMOO artigo relata a interação entre uma entida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Terceiro Setor – a FundaçãoIochpe e seu Instituto Arte na Escola - com uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> 53 universida<strong>de</strong>s brasileiraspor meio <strong>de</strong> suas pró-reitorias <strong>de</strong> extensão. A Re<strong>de</strong> Arte na Escola se <strong>de</strong>dica acapacitar professores <strong>de</strong> Arte <strong>do</strong> ensino público. O artigo discute a interface entreentida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Terceiro Setor e a Universida<strong>de</strong>, problematizan<strong>do</strong> o relacionamento queesta última mantém com a comunida<strong>de</strong> maior, ainda excessivamente distante.Palavras-chave: Projetos extensionistas; interfaces; terceiro setor.ABSTRACTThis article refers to the interaction between a philanthropic entity – The IochpeFoundation and its Arts in School Institute- with a network of 53 Brazilian universities,through their extension course <strong>de</strong>anships. The network Arts in School focuses on thetraining of art teachers for the public school system. The article discusses theinterface between a philantropic entity and the University, and the problematicrelationship that the latter maintains with the community at large, which is stillexcessivel.Keywords: Extension projects; interfaces; third sector.RESUMENEl artículo relata la interacción entre una entidad <strong>de</strong>l Tercer Sector- la FundaciónIochpe y su Instituto Arte en la Escuela- con la red <strong>de</strong> 53 universida<strong>de</strong>s brasileñaspor medio <strong>de</strong> sus pro-rectorías <strong>de</strong> extensión. La Red Arte en la Escuela se <strong>de</strong>dica ala capacitación <strong>de</strong> profesores <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> la enseñanza pública. El artículo discute elinterfaz entre una entidad <strong>de</strong>l Tercer Sector y la Universidad, problematizan<strong>do</strong> larelación que mantiene la última con la comunidad más amplia que es aúnexcesivamente lejana.Palabras-clave: projectos <strong>de</strong> extensión; interfaz; tercer sector.1 Socióloga e jornalista pela UFRGS e especialista em Educação em Museus pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>York, Inglaterra, atualmente Diretora Presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Instituto Arte na Escola.13


A Fundação Iochpe, entida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Terceiro Setor voltada para Educação,<strong>de</strong>senvolveu tecnologias sociais em re<strong>de</strong> para seus programas Formare e Arte naEscola. No primeiro, volta<strong>do</strong> para educação técnica profissional, a parceria érealizada com empresas privadas. No Arte na Escola foi <strong>de</strong>senvolvida uma re<strong>de</strong>relacional com universida<strong>de</strong>s, majoritariamente públicas, através <strong>de</strong> suas Pró-Reitorias <strong>de</strong> Extensão. O presente artigo preten<strong>de</strong> analisar esta última tecnologiasocial, buscan<strong>do</strong> enten<strong>de</strong>-la e discutir suas premissas.Um pouco <strong>de</strong> históriaA Fundação Iochpe foi criada em 1989 no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul pelas empresasIochpe-Maxion buscan<strong>do</strong> dar maior foco e estratégia às múltiplas ações voltadaspara a comunida<strong>de</strong> que a empresa habitualmente patrocinava. Partin<strong>do</strong> da tradição<strong>do</strong> Mecenato Cultural no qual a empresa se <strong>de</strong>stacara na década <strong>de</strong> 80, a<strong>de</strong>liberação foi <strong>de</strong> investir <strong>de</strong> maneira mais dura<strong>do</strong>ura buscan<strong>do</strong> resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> longoprazo, focan<strong>do</strong> agora em Educação – vista como questão estratégica para o<strong>de</strong>senvolvimento.Uma oportunida<strong>de</strong> acabou geran<strong>do</strong> a linha <strong>de</strong> trabalho a qual nos<strong>de</strong>dicaríamos: o governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul estava crian<strong>do</strong> um novoequipamento cultural – a Casa <strong>de</strong> Cultura Mário Quintana – em que <strong>de</strong>sejavainstalar uma vi<strong>de</strong>oteca. A idéia parecia interessante, mas teria relevância social?Seria útil para o ensino <strong>de</strong> Arte, como se propunha? Por meio <strong>de</strong> consultoria com aDra. Ana Mae Barbosa da USP, <strong>de</strong>cidimos conduzir uma pesquisa-ação paraenten<strong>de</strong>r a utilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>s ví<strong>de</strong>os na sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Artes, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> anova Meto<strong>do</strong>logia Triangular que vinha sen<strong>do</strong> proposta.Os resulta<strong>do</strong>s da pesquisa conduzida pelas Professoras Analice Dutra Pillar eDenyse Vieira, publica<strong>do</strong>s em O ví<strong>de</strong>o e a meto<strong>do</strong>logia triangular no ensino da Arteapontam para a ocorrência <strong>de</strong> alterações significativas. Isso se reflete, não só nosprocessos <strong>do</strong>s alunos (se <strong>de</strong>senvolveram no fazer artístico, em duas e trêsdimensões, na leitura e na contextualização histórica das imagens) como também notrabalho <strong>do</strong>s professores (os planos <strong>de</strong> ensino para o ano seguinte tinham unida<strong>de</strong>,14


seqüência, estrutura, flexibilida<strong>de</strong>, integração entre os conteú<strong>do</strong>s, e os professoresmostravam-se mais estimula<strong>do</strong>s, mais bem informa<strong>do</strong>s e prepara<strong>do</strong>s). 2No capítulo inicial <strong>do</strong> livro as pesquisa<strong>do</strong>ras historiam os pressupostos <strong>do</strong>ensino da Arte, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> a transição <strong>de</strong> uma abordagem mo<strong>de</strong>rnista (a livreexpressão)para outra contemporânea (a triangular), pois “era necessário a<strong>do</strong>taruma abordagem mais substancial e abrangente para elevar a qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensinoda Arte nas escolas”. 3 Elas relatam como uma meto<strong>do</strong>logia concebida na Inglaterrae nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s nos anos 1960 foi adaptada para o contexto brasileiroenvolven<strong>do</strong> três vertentes: o fazer artístico, a leitura da imagem e a história da Arte.E concluem afirman<strong>do</strong> que a função primordial da Arte-educação na escola é aformação estética <strong>do</strong>s indivíduos, que os levem a um entendimento da gramáticavisual e a uma reflexão acerca das imagens. O objetivo, portanto, não é criarartistas, mas ajudar a <strong>de</strong>senvolver leitores <strong>de</strong> Arte.Com os resulta<strong>do</strong>s, tínhamos não apenas a convicção <strong>de</strong> que o uso <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>ose da meto<strong>do</strong>logia agregava valor à aula <strong>de</strong> Artes, mas também que odirecionamento que havíamos toma<strong>do</strong> <strong>de</strong> realizar o trabalho em parceria com aUniversida<strong>de</strong> (Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão) e o Po<strong>de</strong>r Público (Secretaria <strong>de</strong> Educação<strong>do</strong> Município) era além <strong>de</strong> promissor, o único que po<strong>de</strong>ria garantir a perenida<strong>de</strong> e oenraizamento da ação e, conseqüentemente, <strong>de</strong> seus benefícios.Aban<strong>do</strong>namos, portanto, a idéia inicial <strong>de</strong> alocar ví<strong>de</strong>os em instituição culturalpública para constituir uma Vi<strong>de</strong>oteca multiplicável que pu<strong>de</strong>sse subsidiar osesforços das universida<strong>de</strong>s na formação <strong>do</strong>s professores – especialmente emEducação Continuada. Por que optar pela parceria com a universida<strong>de</strong>, ao invés dainstituição pública? Enquanto o po<strong>de</strong>r público no Brasil se caracteriza por mudançasradicais a cada quatro anos, a Universida<strong>de</strong> tem ti<strong>do</strong> estabilida<strong>de</strong> em seusprogramas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> gestões específicas. A esta (relativa) estabilida<strong>de</strong>se somava outro fator <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong> nossa escolha: ao longo da pesquisa-ação<strong>de</strong>senvolvida entre 1990 e 1991, em que vários processos <strong>de</strong> capacitação <strong>de</strong>professores foram realiza<strong>do</strong>s, ficou claro que a Universida<strong>de</strong> seria o ambientenatural e propício para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> trabalho. Não só sua estrutura física2 PILLAR, Analice Dutra; VIEIRA, Denyse. O ví<strong>de</strong>o e a meto<strong>do</strong>logia triangular no ensino da Arte.Porto Alegre: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul: Fundação Iochpe, 1992.3 ibi<strong>de</strong>m.15


está <strong>de</strong>senhada para a finalida<strong>de</strong> didática que realiza, como esta é a sua própria eprimordial razão <strong>de</strong> existir.A Fundação Iochpe enten<strong>de</strong>u que este mo<strong>de</strong>lo geraria a sustentabilida<strong>de</strong> dainiciativa, na medida em que cada parceiro po<strong>de</strong>ria realizar sem maior esforço aquiloque é sua função inerente. A universida<strong>de</strong> enquanto <strong>de</strong>positária e transmissora <strong>do</strong>conhecimento – no caso, nas áreas <strong>de</strong> Arte e educação – tem comoresponsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>volver este saber à socieda<strong>de</strong>. Foi nosso entendimento que aoproduzirmos e encaminharmos materiais <strong>de</strong> apoio ao ensino às Universida<strong>de</strong>s, paraque estas os disponibilizem aos seus públicos, estávamos enriquecen<strong>do</strong> os acervoscapazes <strong>de</strong> gerar a multiplicação <strong>do</strong> conhecimento e ainda favorecen<strong>do</strong> a pesquisa.Não é necessário acrescentar que a Universida<strong>de</strong> dispõe das condições <strong>de</strong> realizaras funções <strong>de</strong>talhadas no convênio: guarda e empréstimo da Midiateca e EducaçãoContinuada <strong>do</strong>s professores da re<strong>de</strong> pública. Caberia, portanto a uma fundação <strong>de</strong>natureza privada buscar tão somente complementá-la, adicionan<strong>do</strong> a agilida<strong>de</strong>, osrecursos e a gestão que uma entida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Terceiro é capaz <strong>de</strong> ter por sua próprianatureza.Esta lógica, aparentemente óbvia, não apareceu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu nasce<strong>do</strong>uro. Oprimeiro convênio da Fundação Iochpe foi firma<strong>do</strong> pela Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul, na figura <strong>do</strong> Dr. Wal<strong>do</strong>miro Manfrói em1991. Sua ratificação pelo Conselho Universitário consumiu tempo e argumentaçãodifíceis <strong>de</strong> prever para quem estava realizan<strong>do</strong> uma <strong>do</strong>ação: questionava-se quaisseriam as “reais intenções” <strong>de</strong> uma empresa privada da área metal-mecânica aoinvestir em processos educacionais em Arte. Naquele momento em que o TerceiroSetor recém se estruturava e que eram raras as iniciativas com este perfil, estasdúvidas (embora surpreen<strong>de</strong>ntes) foram absorvidas consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o marcoi<strong>de</strong>ológico que pautava o corpo <strong>do</strong>cente universitário: um “neo-marxismo”genericamente avesso ao capital priva<strong>do</strong>. Basta lembrar a emblemática figura <strong>de</strong>Betinho que nesta época diziaPertenci a uma geração em que empresário era o diabo dasocieda<strong>de</strong>. E se era gran<strong>de</strong> empresário, diabo gran<strong>de</strong> – se erapequeno empresário, diabo pequeno. Hoje estamos noutro mun<strong>do</strong>,em outra socieda<strong>de</strong> e pensamos que o gran<strong>de</strong> empresário temimensa responsabilida<strong>de</strong>, o médio responsabilida<strong>de</strong> média e o microresponsabilida<strong>de</strong> menorzinha <strong>de</strong> mudar o Brasil.16


Enten<strong>de</strong>r a postura acadêmica vigente na época nos fez repensar ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> projeto. Decidimos utilizar apenas a marca <strong>do</strong> Arte na Escola parai<strong>de</strong>ntificá-lo na universida<strong>de</strong>, sem menção à Fundação ou a empresa patrocina<strong>do</strong>ra.Profissionais <strong>de</strong> marketing po<strong>de</strong>rão analisar o acerto ou não <strong>de</strong>sta estratégia. Comoconsumi<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>vo dizer que até hoje, em plena febre <strong>do</strong> “marketing relaciona<strong>do</strong> acausas” tenho gran<strong>de</strong>s dúvidas sobre sua utilida<strong>de</strong> e eficácia. De qualquer forma, <strong>de</strong>parte da Companhia Iochpe-Maxion, não se tratava <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> marketing e sim<strong>de</strong>liberação <strong>do</strong> Conselho <strong>de</strong> efetivamente <strong>de</strong>volver à socieda<strong>de</strong> recursos que haviamsi<strong>do</strong> propicia<strong>do</strong>s pela mesma. Iniciamos, pois, o então chama<strong>do</strong> “Projeto Arte naEscola” por meio da assinatura <strong>de</strong> convênio com a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> RioGran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul e a Secretaria <strong>de</strong> Educação Municipal <strong>de</strong> Porto Alegre. Para aocasião auspiciosa levamos a Porto Alegre um <strong>do</strong>s maiores “scholars” mundiais daArte-Educação: o Prof. Dr. Elliot Eisner da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Stanford, autor <strong>de</strong> quinzelivros <strong>de</strong> referência na área, que além <strong>de</strong> ter recebi<strong>do</strong> prêmios importantes comoFullbrigth e Guggenheim, presidiu a International Society for Education Throught Art(INSEA).A mo<strong>de</strong>lagem inicial <strong>do</strong> Projeto Arte na Escola foi influenciada também peloaprendiza<strong>do</strong> que a agência americana USIS nos proporcionou ao montar um périplopelos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s para conhecer experiências <strong>de</strong>stacadas <strong>de</strong> Arte-educação.Tomar contato com o gigantesco trabalho <strong>do</strong> Getty Institute e sua ligação comalgumas universida<strong>de</strong>s americanas reforçou nosso <strong>de</strong>senho estratégico e abriuoportunida<strong>de</strong> para que vários Arte-educa<strong>do</strong>res brasileiros 4 , <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1991,freqüentassem os Summer Institutes <strong>de</strong> capacitação para professores opera<strong>do</strong>s poruniversida<strong>de</strong>s americanas. Esta experiência <strong>de</strong> aprendiza<strong>do</strong> logo encontrou seuvetor <strong>de</strong> retorno e fez com que produzíssemos um pôster <strong>de</strong> Arte brasileira com seurespectivo material educacional em parceria com The Getty Center for Education inthe Arts, a University of Tennessee at Chattanooga, o Museu Lasar Segall e aPinacoteca <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Vários <strong>de</strong> nossos Arte-educa<strong>do</strong>res convida<strong>do</strong>snão só receberam aulas, mas também repartiram sua experiência com os colegasamericanos.4 Amanda Tojal, Rosa Iavelberg, Iveta Maria Fernan<strong>de</strong>s, Dora Maria Dutra Bay, Denise Grinspum,Elizabeth Militisky Aguiar, Mari Lucie da Silva Loretto, Tarsisio Sapienza, Heloisa Margari<strong>do</strong> Salles,Maria Cristina Biazus, Maria Helena Wagner Rossi, Sebastião Pedrosa, Marlene Ramires Françoise,Milene Chiovatto.17


Com o trabalho inicia<strong>do</strong>, constituímos a Vi<strong>de</strong>oteca Arte na Escola, cujos 248títulos foram seleciona<strong>do</strong>s pelo cineasta Henrique Freitas Valle levan<strong>do</strong> emconsi<strong>de</strong>ração questões <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> e forma. Foi igualmente realiza<strong>do</strong> o esforço <strong>de</strong>criação <strong>de</strong> um Material Educacional para cada ví<strong>de</strong>o, patrocina<strong>do</strong>s pela FundaçãoVitae. Obtivemos recursos <strong>do</strong> Ministério da Educação para a compra <strong>de</strong> um aparelhoRecord Play Laser, que ficou lota<strong>do</strong> na UFRGS, e que nos possibilitava prensar umamatriz <strong>de</strong> cada ví<strong>de</strong>o para o qual havíamos adquiri<strong>do</strong> os direitos <strong>de</strong> reprodução e,portanto fazer cópias para distribuir. A partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda <strong>do</strong> próprio MECoferecemos às <strong>de</strong>mais universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais gaúchas a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>participarem <strong>do</strong> Arte na Escola. A Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas a<strong>de</strong>riu e,posteriormente, uma universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> natureza comunitária – a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Caxias <strong>do</strong> Sul – veio se juntar ao que começava a se transformar numa Re<strong>de</strong>. Umauniversida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral se manifestou contrariamente a a<strong>de</strong>são: a <strong>de</strong> Santa Maria.Enten<strong>de</strong>r a lógica <strong>de</strong>sta universida<strong>de</strong> fez com que <strong>de</strong>liberássemos, então, pautarnossa expansão unicamente na <strong>de</strong>manda das universida<strong>de</strong>s, e não numa oferta próativa.Em 1994 a Re<strong>de</strong> Arte na Escola assinou nova etapa <strong>de</strong> expansão,consolidan<strong>do</strong> seu trabalho em 08 Pólos Universitários 5 e um Museu.Prosseguíamos com nossa proposta inicial <strong>de</strong> reforçar a linha <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>Formação Continuada para os <strong>do</strong>centes <strong>de</strong> Arte das re<strong>de</strong>s públicas, instrumentalizáloscom material educacional <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e incentivar as iniciativas universitáriaspor “grants” específicos para este fim.O Programa Arte na Escola tem por missão qualificar processos educacionaisem Arte e abrange programas na área <strong>de</strong> Arte-educação consistentes em:a) Educação Continuada, que visa, por meio da manutenção <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s e a realização <strong>de</strong> seminários, palestras e outras ativida<strong>de</strong>spresenciais e/ou à distância, a qualificação <strong>do</strong> professor das re<strong>de</strong>s públicas<strong>de</strong> ensino;b) Midiateca, que proporciona o empréstimo <strong>de</strong> acervo <strong>de</strong> DVDs especializa<strong>do</strong>sem Artes visuais com seus respectivos materiais <strong>de</strong> apoio ao ensino.Para enten<strong>de</strong>r como funciona o Arte na Escola na prática as universida<strong>de</strong>spólo<strong>de</strong>stinam um espaço físico à Midiateca e realizam o empréstimo <strong>do</strong>s títulos aos5 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul – UFRGS, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias <strong>do</strong> Sul – UCS,Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas – UFPEL, Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina – UDESC,Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná – UFPR, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba – UFPB, Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará – UFPA e Museu Lasar Segall.18


professores das re<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> ensino sem ônus para os mesmos. Estasuniversida<strong>de</strong>s, ao operar os programas <strong>de</strong> Educação Continuada, praticam açãoextensionista, entendida aqui conforme <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> Plano Nacional <strong>de</strong> ExtensãoUniversitária <strong>de</strong> 1999:A ação cidadã das universida<strong>de</strong>s não po<strong>de</strong> prescindir da efetivadifusão <strong>do</strong>s saberes nelas produzi<strong>do</strong>s, <strong>de</strong> tal forma que aspopulações cujos problemas tornam-se objeto da pesquisaacadêmica sejam também consi<strong>de</strong>radas sujeito <strong>de</strong>sse conhecimento,ten<strong>do</strong>, portanto, pleno direito <strong>de</strong> acesso às informações resultantes<strong>de</strong>ssas pesquisas.Novo salto <strong>de</strong> crescimento ocorreu em 2003, quan<strong>do</strong> abrimos edital para queas universida<strong>de</strong>s públicas <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o Brasil viessem a integrar a Re<strong>de</strong> Arte na Escola.O respal<strong>do</strong> técnico veio <strong>do</strong> Fórum Nacional <strong>de</strong> Pró-Reitores <strong>de</strong> Extensão dasUniversida<strong>de</strong>s Públicas, com o qual assinamos Acor<strong>do</strong> Operacional num momentoem que este lograra produzir instrumento <strong>de</strong> Avaliação para a Extensão Universitáriapela publicação <strong>do</strong> volume “Avaliação Nacional <strong>de</strong> Extensão Universitária” (2001).Acreditamos que fomos o primeiro projeto a utilizar esta ferramenta <strong>de</strong>avaliação gestada ao longo <strong>de</strong> muitos anos <strong>de</strong> trabalho <strong>do</strong> Fórum <strong>de</strong> Pró-Reitores <strong>de</strong>Extensão, o que nos permitiu <strong>de</strong>senvolver parâmetros muito objetivos para aadmissão <strong>de</strong> novas universida<strong>de</strong>s na Re<strong>de</strong> que havíamos inicia<strong>do</strong> no Sul no inicio<strong>do</strong>s anos 90. O Fórum participou conosco <strong>do</strong> Comitê <strong>de</strong> Seleção e assim logramoschegar ao novo milênio com mais <strong>de</strong> 50 pólos seleciona<strong>do</strong>s e implanta<strong>do</strong>s, numprocesso <strong>de</strong> avaliação entre pares que visava garantir condições a<strong>de</strong>quadas <strong>de</strong>funcionamento <strong>do</strong> programa. As pré-condições para candidatura a este edital foram:• Ser Instituição <strong>do</strong> Ensino Superior Pública (Municipal, Estadual e Fe<strong>de</strong>ral);• Estar nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maior população escolar <strong>de</strong> 5ª a 8ª séries;• Ter a Extensão Universitária institucionalizada;• Desenvolver ativida<strong>de</strong>s em Arte-educação;• Trabalhar em parceria com as Re<strong>de</strong>s Públicas.O acelera<strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> Arte na Escola neste perío<strong>do</strong> gerou anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova institucionalida<strong>de</strong>: formalizamos a criação <strong>do</strong> Instituto Artena Escola, que assim se <strong>de</strong>smembrou da Fundação Iochpe. Os Arte-educa<strong>do</strong>respresentes no Encontro Anual da Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1999 reuni<strong>do</strong>s em Assembléia Geraltornaram-se os sócios-funda<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sta instituição privada sem fins lucrativos.19


Posteriormente outros nomes exponenciais na Arte-educação foram convida<strong>do</strong>s esubscreveram a fundação da entida<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> então o Instituto Arte na Escola é umaorganização não-governamental mantida pela Fundação Iochpe, patrocina<strong>do</strong>res epor receitas próprias. É <strong>do</strong>tada <strong>de</strong> Conselho Deliberativo composto por 09 membrose Conselho Fiscal composto <strong>de</strong> 03 membros, ten<strong>do</strong> seus números audita<strong>do</strong>sanualmente, e publica<strong>do</strong>s com transparência no site www.Artenaescola.org.br. Asquestões <strong>de</strong> governança também impactaram esta organização e a levaram a seconstituir, em 2007 numa OSCIP – Organização da Socieda<strong>de</strong> Civil <strong>de</strong> InteressePúblico, que é a nova geração das Organizações Sociais preocupadas comtransparência na gestão.Uma crença básica sustenta este trabalho: a <strong>de</strong> que o Brasil só vai sercompetitivo globalmente quan<strong>do</strong> alcançarmos patamares sóli<strong>do</strong>s e maduros <strong>de</strong>educação e <strong>de</strong> que isto se logra capacitan<strong>do</strong> o professor <strong>de</strong> forma continuada esustentada. Estamos nos referin<strong>do</strong>, no caso <strong>do</strong> Arte na Escola, ao professor <strong>de</strong>Artes, sempre que ele está presente na escola. Autorida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> MEC falam em 75%como o índice <strong>de</strong> professores nas aulas <strong>de</strong> Arte não forma<strong>do</strong>s em Arte.Des<strong>de</strong> o início <strong>do</strong>s anos 1990 nossa aposta é na potencialida<strong>de</strong> da ExtensãoUniversitária e na sua vonta<strong>de</strong> política <strong>de</strong> agir esten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os benefícios <strong>do</strong> saberacadêmico à comunida<strong>de</strong> maior.Ao se afirmar que a extensão é pArte indispensável <strong>do</strong> pensar efazer universitários assume-se uma luta pela institucionalização<strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista administrativo comoacadêmico, o que implica a a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> medidas e procedimentos queredirecionam a própria política das universida<strong>de</strong>s. 6E aí chegamos ao nó da questão: embora formalmente este reconhecimentoexista e estejamos ven<strong>do</strong> uma gran<strong>de</strong> expansão <strong>de</strong> projetos lota<strong>do</strong>s na Extensão, ofato é que esta ainda <strong>de</strong>tém pouco prestígio quan<strong>do</strong> comparada ao Ensino ePesquisa. O tripé em que a vida universitária se assenta não tem equivalência e,portanto equilíbrio. O ensino – aprendizagem se constitui no eixo primordial davivência universitária e se confun<strong>de</strong> com a sua própria razão <strong>de</strong> ser. As exigências6 PLANO Nacional <strong>de</strong> Extensão Universitária. Edição atualizada. Brasil, 2000- 2001. Fórum <strong>de</strong> Pró-Reitores <strong>de</strong> Extensão das Universida<strong>de</strong>s Públicas Brasileiras e SESu / MEC. Disponível em:. Acesso em: jun. 2008.20


que são feitas sobre o professor para a publicação faz com que a pesquisa sefortaleça como um segun<strong>do</strong> vetor que justifica alocação importante <strong>de</strong> verbas.Po<strong>de</strong>ria se questionar a relevância <strong>do</strong> que se pesquisa ou a finalida<strong>de</strong> para qual sepesquisa, já que pArte significativa <strong>de</strong>ste esforço acaba circunscrita à própriaAca<strong>de</strong>mia. Em contraste com esta postura a idéia <strong>de</strong> Extensão, segun<strong>do</strong> a Wikipediaestá associada à crença <strong>de</strong> que o conhecimento “gera<strong>do</strong> pelas instituições <strong>de</strong>pesquisa <strong>de</strong>ve necessariamente possuir intenções <strong>de</strong> transformar a realida<strong>de</strong> social,intervin<strong>do</strong> em suas <strong>de</strong>ficiências e não se limitan<strong>do</strong> apenas à formação <strong>do</strong>s alunosregulares daquela instituição”. 7A realida<strong>de</strong> social brasileira indica que sua Educação Básica, avaliada peloPISA em 2006, nos <strong>de</strong>ixa num embaraçoso 53º lugar em Matemática e no 48º emLeitura entre os 57 países analisa<strong>do</strong>s. Qual o papel da Universida<strong>de</strong>, por meio <strong>do</strong>ensino, pesquisa e extensão para equacionar este monumental déficit? Se temosuma universida<strong>de</strong> que em muitas áreas <strong>do</strong> conhecimento se ombreia com asmelhores no mun<strong>do</strong>, como enten<strong>de</strong>r que a pesquisa educacional nela gerada nãoconsiga melhorar o <strong>de</strong>sempenho da Educação como um to<strong>do</strong>? Como construirconhecimento se não se volta ao próprio processo <strong>de</strong>sta construção?Utilizar a Extensão Universitária que se conecta com uma socieda<strong>de</strong> pulsantee suas necessida<strong>de</strong>s reais para alimentar a pesquisa ainda não é uma práticacorrente. O Arte na Escola estimula esta atitu<strong>de</strong> que faz gerar um professor –pesquisa<strong>do</strong>r atento à sua realida<strong>de</strong>, que aprofunda seus processos e sistematiza oaprendiza<strong>do</strong> que esta lhe traz. A REDE ARTE NA ESCOLA contabilizou váriaspesquisas voltadas à concretu<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> Arte nas re<strong>de</strong>s públicas e queinvestigam o próprio trabalho extensionista realiza<strong>do</strong> pelo Pólo:FRANCISCO, Sandra Suely <strong>do</strong>s Santos. A formação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong>Arte da região metropolitana <strong>de</strong> Belém na perspectiva da parceira. 2007. 94 f.Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação) – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Uberaba – Uniube, 2007.NASCIMENTO, Erinal<strong>do</strong> Alves <strong>do</strong>. Mudanças nos nomes da Arte na educação: qualinfância? que ensino? 2005. 254 p. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Artes) - Escola <strong>de</strong>Comunicações e Artes da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - ECA/USP, São Paulo, 2005.7 EXTENSÃO universitária. Disponível em:. Acesso em: jun. 2008.21


PILLOTTO, Silvia Sell DuArte. O ensino da Arte na educação infantil. 1997.Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação) – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná – UFPR,Curitiba, 1997.Os Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Pólos Arte na Escola, igualmente, vem se envolven<strong>do</strong>na elaboração <strong>do</strong>s Referenciais Curriculares <strong>de</strong> Arte nos sistemas municipais eestaduais <strong>de</strong> ensino. Neste momento temos ciência <strong>de</strong> trabalho nesta direção <strong>de</strong>Arte <strong>de</strong>: Vera Lúcia Penzo Fernan<strong>de</strong>s e Ana Lúcia Serrou Castilho, <strong>do</strong> Pólo Arte naEscola na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Mato Grosso <strong>do</strong> Sul (UFMS), que participaramda elaboração <strong>do</strong> referencial curricular da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> Campo Gran<strong>de</strong> (MS);Silvia Sell Duarte Pillotto, <strong>do</strong> Pólo Arte na Escola da Universida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong>Joinville (UNIVILLE), que contribuiu com a proposta curricular <strong>de</strong> Santa Catarina,escreven<strong>do</strong> um volume sobre a formação <strong>do</strong>cente e Erinal<strong>do</strong> Alves <strong>do</strong> Nascimento,que foi coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Pólo Arte na Escola da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba(UFPB) e prestou consultoria na construção da proposta curricular <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>Sergipe. Iniciam a redação, igualmente, Ana Mariza Filipouski, (UFRGS) e IsabelPetry da FUNDARTE, ambas no Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.O envolvimento <strong>de</strong>stes professores na reflexão sobre o que e como se ensinanas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> nível fundamental e médio é, <strong>do</strong> nosso ponto <strong>de</strong> vista, averda<strong>de</strong>ira expressão da influência que a (boa) aca<strong>de</strong>mia po<strong>de</strong> ter sobre aEducação <strong>de</strong> um país entendida como um processo <strong>de</strong> inclusão social. Sóprofessores universitários que não per<strong>de</strong>ram a sensibilida<strong>de</strong> (e o conhecimento) <strong>do</strong>que efetivamente se passa na sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong>m ser propositores da arquitetura <strong>do</strong>ensino em suas regiões.No que diz respeito à pesquisa, são autores norte-americanos que lograramestabelecer o impacto <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> Arte na educação como um to<strong>do</strong>. São estaspesquisas 8 que nos informam da correlação negativa existente, por exemplo, entreum bom programa <strong>de</strong> Arte e os índices <strong>de</strong> evasão escolar. Hoje sabemos queapenas 37% <strong>do</strong> contingente que ingressa nas primeiras séries, no Brasil, cumpre os12 primeiros anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Portanto, além das consi<strong>de</strong>rações quanto àimportância <strong>do</strong> ensino da Arte per se, e como se não bastassem, temos hoje a clara8 ARTS Education Partnership. Research. Disponível em:. Acesso em: jun. 2008.22


percepção da importância <strong>de</strong> bons programas <strong>de</strong> Arte para reter esta população <strong>de</strong>63% <strong>de</strong> crianças e jovens na escola.O Arte na Escola aposta no tripé ENSINO-PESQUISA-EXTENSÃOuniversitárias para encontrar soluções efetivamente calcadas em nossa realida<strong>de</strong>,que sejam eficazes e efetivas para a socieda<strong>de</strong> como um to<strong>do</strong>.Pela sua prática, que presentemente soma 19 anos, vem comprovan<strong>do</strong> apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> mútua influência entre Terceiro Setor eUniversida<strong>de</strong> visan<strong>do</strong> causar impacto sobre os indica<strong>do</strong>res educacionais brasileirose, conseqüentemente, sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da Educação brasileira.A maneira como a maioria <strong>do</strong>s 53 pólos universitários assumiu como seu o trabalho,nos dá esperanças <strong>de</strong> uma nova postura acadêmica efetivamente comprometidacom os <strong>de</strong>stinos da nação.REFERÊNCIASALEXANDER, Kay; DAY, Michael (Ed.). Discipline-based art education: a curriculumsampler. Los Angeles: Getty Center for Education in the Arts, 1991.ARNHEIM, Ru<strong>do</strong>lf. Thoughts on art education. Los Angeles: Getty Center forEducation in the Arts, 1989. (Occasional papers, 2).BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da Arte: anos oitenta e novos tempos.São Paulo: Perspectiva; Porto Alegre: Fundação Iochpe, 1991. (Estu<strong>do</strong>s, 126).EISNER, Elliot W. Reimagining schools: the selected works of Elliot W. Eisner.Lon<strong>do</strong>n: Routledge, 2005. (World library of educationalists).__________. The enlightened eye: qualitative inquiry and the enhancement ofeducational practice. Upper Saddle River: Prentice-Hall, 1998.GARDNER, Howard. Art education and human <strong>de</strong>velopment. Los Angeles: GettyCenter for Education in the Arts, 1990. (Occasional papers, 3).HERNÁNDEZ, Fernan<strong>do</strong>. Cultura visual, mudança educativa e projeto <strong>de</strong> trabalho.Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Consultoria, supervisão e revisão técnica MirianCeleste Martins. Porto Alegre: Artmed, 2000.IOSCHPE, Evelyn Berg (Org.). 3º Setor: <strong>de</strong>senvolvimento social sustenta<strong>do</strong>. TextosRuth Car<strong>do</strong>so et al. 3.ed. São Paulo: Gife: Paz e Terra, 2005. Trabalhosapresenta<strong>do</strong>s no III Encontro Ibero-Americano <strong>do</strong> Terceiro Setor em setembro <strong>de</strong>1996.23


IOSCHPE, Gustavo. A ignorância custa um mun<strong>do</strong>: o valor da educação no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Brasil. São Paulo: Francis, 2004.PARSONS, Michael J. Cómo enten<strong>de</strong>mos el Arte: una perspectiva cognitivoevolutiva<strong>de</strong> la experiencia estética. Barcelona: Paidós, 2002. (Arte y educación, 3).PERKINS, David N. The intelligent eye: learning to think by looking at art. SantaMonica: Getty Center for Education in the Arts, 1994. (Occasional papers, 4).PILLAR, Analice Dutra; VIEIRA, Denyse. O ví<strong>de</strong>o e a meto<strong>do</strong>logia triangular noensino da Arte. Porto Alegre: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul: FundaçãoIochpe, 1992.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.24


AÇÕES DE EXTENSÃO: TRABALHO SOLITÁRIO OU POSSIBLIDADES DECONEXÕES ENTRE ENSINO E PESQUISA?Extension acts: solitary work or possible connection between teaching and research?Silvia Sell Duarte Pillotto 9RESUMOEste artigo fará um pequeno recorte relaciona<strong>do</strong> às experiências referentes a umNúcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Arte na Educação - NUPAE, cria<strong>do</strong> em 2003 naUniversida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> Joinville – UNIVILLE, município <strong>de</strong> Joinville, SantaCatarina, Brasil, que num primeiro momento <strong>de</strong>senvolvia ações <strong>de</strong> naturezaInstitucional, amplian<strong>do</strong> posteriormente para ações Interinstitucionais. A idéia dacriação <strong>de</strong> um Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa perpassava pela vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar projetoscompartilhan<strong>do</strong> ensino, pesquisa e extensão, tría<strong>de</strong> fundamental para que realmentese possa pensar em construção, socialização e (re) significação <strong>do</strong> conhecimento.Palavras Chave: Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa; construção <strong>de</strong> conhecimento; socialização.ABSTRACTThis work is related to the experiences referent an Art and Education ResearchNucleon (Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Arte na Educação – NUPAE), created in 2003 atthe University of the Region of Joinville – UNIVILLE, city of Joinville, Santa CatarinaState, Brazil, that at a first moment <strong>de</strong>veloped actions of Institutional nature,amplifying, afterwards, to Interinstitutional actions. The i<strong>de</strong>a of the creation of aResearch Nucleon was conceived with the will of creation projects that shareteaching, research and extension, fundamental triad so that it can really be thought inconstruction, socialization and meaning of knowledge.Keywords: Research Nucleon; knowledge construction; socialization.RESUMENEste artículo hará un pequeño recorte relacionan<strong>do</strong> a las experiencias referentes aun Núcleo <strong>de</strong> Investigación en Arte en la Educación – NUPAE, crea<strong>do</strong> el 2003 en laUniversidad <strong>de</strong> la Región <strong>de</strong> Joinville – UNIVILLE, municipio <strong>de</strong> Joinville, SantaCatarina, Brasil, que en un primer momento <strong>de</strong>sarrollaba acciones <strong>de</strong> naturalezainstitucional, amplian<strong>do</strong> posteriormente para acciones Interinstitucionales. La i<strong>de</strong>a <strong>de</strong>la creación <strong>de</strong> un núcleo <strong>de</strong> investigación perpasaba por las ganas <strong>de</strong> realizar9 Pós- Doutora Em Sociologia da Infância, pelo Instituto <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s da Criação na Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong>Minho, Portugal; Doutora em Engenharia da Produção (Gestão) pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Santa Catarina – UFSC; Mestre em Educação (Currículo) pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná –UFPR; Professora nos cursos <strong>de</strong> Artes Visuais e Pedagogia; Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Núcleo <strong>de</strong>Pesquisa em Arte na Educação – NUPAE, na Universida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> Joinville – UNIVILLE.25


proyectos compartien<strong>do</strong> enseñanza, investigación y extensión, tría<strong>de</strong> fundamentalpara que realmente se pueda pensar en construcción, socialización y (re)significación <strong>de</strong> conocimiento.Palabras Clave: Núcleo <strong>de</strong> Investigación; construcción <strong>de</strong>l conocimiento;socialización.IntroduçãoNas últimas décadas uma discussão tem si<strong>do</strong> motivo para reflexões no campoacadêmico: como articular ensino, pesquisa e extensão? Essa não é uma tarefafácil, pois implica em relações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m administrativa e pedagógica inseridas nasconcepções filosóficas apropriadas pelos seus autores no contexto Institucional.A partir <strong>de</strong>ssa perspectiva, foi cria<strong>do</strong> o Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Arte naEducação – NUPAE, legitiman<strong>do</strong> o interesse e vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> profissionaisque buscava trocar experiências e aprofundar questões relacionadas à educação, àarte e à arte na educação. Como aborda Thompson (1981, p.15) essas relações“compreen<strong>de</strong>m a resposta mental e emocional, seja <strong>de</strong> um indivíduo ou <strong>de</strong> um gruposocial a muitos acontecimentos inter-relaciona<strong>do</strong>s ou a muitas repetições <strong>do</strong> mesmotipo <strong>de</strong> acontecimento.” Reiteran<strong>do</strong> as palavras <strong>do</strong> autor, o convívio que temos com<strong>de</strong>termina<strong>do</strong> grupo, embora cada um <strong>do</strong>s membros tenham suas singularida<strong>de</strong>s,possibilita o planejamento <strong>de</strong> metas em comum e, amplia experiências cognitivas esensíveis. Trata-se, segun<strong>do</strong> Dubet (1996, p. 94) “<strong>de</strong> uma maneira <strong>de</strong> sentir, <strong>de</strong> serinvadi<strong>do</strong> por um esta<strong>do</strong> emocional suficientemente forte para que o actor <strong>de</strong>ixe <strong>de</strong>ser livre, <strong>de</strong>scobrin<strong>do</strong> ao mesmo tempo uma subjetivida<strong>de</strong> pessoal”.Num grupo, ao mesmo tempo em que temos nossas próprias i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, nosapropriamos das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> outrem, e nesse momento somos livres eprisioneiros ao mesmo tempo. Essa relação é próxima à idéia <strong>do</strong> <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser nooutro e <strong>de</strong> olhar através <strong>do</strong> outro para nos construirmos também a partir <strong>do</strong> outro.Essa também é uma questão que está relacionada à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Nas palavras <strong>de</strong>CostaDe uma concepção uma, centrada, equilibrada, coerente e estável <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, passa-se a fragmentação. Po<strong>de</strong>mos ser um e muitos, aomesmo tempo e em diferentes tempos. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> parece que estáa <strong>de</strong>riva no tempo e no espaço, o que a torna permanentementecapturável, ancorável, mas, para<strong>do</strong>xalmente, ao mesmo tempoescorregadia – uma celebração móvel... (COSTA, 2006, p. 94).26


I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e experiências se conectam num Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa que tem emsuas bases conceituais e vivenciais a idéia <strong>de</strong> que “a experiência é uma activida<strong>de</strong>cognitiva, é uma maneira <strong>de</strong> construir o real e, sobretu<strong>do</strong>, <strong>de</strong> o verificar, <strong>de</strong> oexperimentar, uma maneira <strong>de</strong> construir o mun<strong>do</strong>.” (DUBET: 1996, p. 95). Portanto,o que realizamos enquanto Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa está particularmente liga<strong>do</strong> ao quepensamos, sentimos, interpretamos e (re) significamos a partir <strong>de</strong> nossasi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e experiências.Qual é a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>do</strong> NUPAE?Em 2003, surgia o Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Arte na Educação – NUPAE com ocompromisso <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver pesquisas <strong>de</strong> cunho multidisciplinar, ten<strong>do</strong> como ponto<strong>de</strong> partida a Arte e a Educação, disseminan<strong>do</strong>-as e socializan<strong>do</strong>-as, a fim <strong>de</strong>construir conhecimentos e compartilhá-los com a comunida<strong>de</strong>, em ações <strong>de</strong> ensino,pesquisa e extensão.Esse Núcleo inicialmente tinha natureza Institucional, atuan<strong>do</strong> no contexto dauniversida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> Joinville – UNIVILLE, com ações que incluíamprofessores <strong>do</strong>s Departamentos <strong>de</strong> Artes Visuais, Pedagogia, Psicologia, Letras,História, além <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res e Administra<strong>do</strong>res <strong>de</strong> Escolas Públicas e Privadas.Ao to<strong>do</strong>, somos em torno <strong>de</strong> 12 profissionais, que <strong>de</strong>senvolvem ações no ensino,pesquisa e extensão.No entanto, logo percebemos que necessitávamos ampliar nossas ações eparcerias, especialmente no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> unirmos forças políticas. Essas parceriaspo<strong>de</strong>riam contribuir para que pudéssemos expandir nossos conhecimentos eexperiências acerca <strong>do</strong> currículo, avaliação, infância, gestão, cultura e arte naeducação, exercen<strong>do</strong> nosso papel enquanto pesquisa<strong>do</strong>res e profissionais dasáreas envolvidas. Desta forma, atualmente temos duas vertentes no NUPAE: ogrupo Institucional (UNIVILLE) e o Interinstitucional, forma<strong>do</strong> pelas seguintesinstituições: Universida<strong>de</strong> da Região <strong>de</strong> Joinville - UNIVILLE, Universida<strong>de</strong> daRegião <strong>de</strong> Blumenau - FURB, Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Planalto Serrano - UNIPLAC,Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> - UnC, Universida<strong>de</strong> da Região Sul <strong>de</strong> Santa Catarina -UNESC e Universida<strong>de</strong> para o Desenvolvimento <strong>de</strong> Santa Catarina - UDESC, com27


15 profissionais da área <strong>de</strong> Arte na Educação. São Instituições <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> SantaCatarina que possuem cursos <strong>de</strong> Formação em Arte na Educação e que buscamparcerias no trabalho <strong>de</strong> ensino, pesquisa e extensão.As ativida<strong>de</strong>s Institucionais acontecem mensalmente por meio <strong>de</strong> um grupo<strong>de</strong> pesquisa e estu<strong>do</strong>s que se reúne com o intuito <strong>de</strong> abordar questões <strong>de</strong> interesseda comunida<strong>de</strong>. Escolhe-se um tema que é amplamente investiga<strong>do</strong> durante certotempo, com ativida<strong>de</strong>s como: fóruns, seminários, congressos, reuniões epublicações.As ações Interinstitucionais acontecem trimestralmente e <strong>de</strong> forma itinerante,no intuito <strong>de</strong> que todas as universida<strong>de</strong>s possam socializar com outros pares daInstituição (Reitoria, Pró-Reitorias, Departamentos, acadêmicos) o que vem sen<strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo Núcleo e suas concepções relacionadas ao ensino, pesquisa eextensão. Além disso, unir forças políticas é fundamental para que o Núcleo selegitime em sua natureza Institucional para garantirmos a sua permanência.Com relação ao tema estuda<strong>do</strong>, <strong>de</strong>finimos que é o mesmo para os <strong>do</strong>isgrupos (institucional e interinstitucional), pois enten<strong>de</strong>mos que um grupo realimentao outro e vice-versa. As discussões são ampliadas e a produção científica é tambémuma culminância <strong>de</strong>ssas trocas e experiências.Nesses seis anos <strong>de</strong> existência <strong>do</strong> Núcleo, duas pesquisas foram realizadas eoutra está em fase <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. Uma <strong>de</strong>las: Processos curriculares em Arte:da formação ao ensino básico, resultou em várias apresentações em eventoscientíficos e, em um livro pensa<strong>do</strong> e escrito pelo Grupo Interinstitucional, Aslinguagens da Arte na educação infantil, culminan<strong>do</strong> em formação continuada paraprofessores <strong>de</strong> educação da Re<strong>de</strong> Pública e também com publicação. Esse trabalhosintetizou um processo <strong>de</strong> pesquisa, ensino e extensão na sua completu<strong>de</strong>.Atualmente estamos <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> a pesquisa relacionada aos Processosavaliativos em arte: da formação ao ensino básico, tema bastante complexo quemerece um estu<strong>do</strong> mais aprofunda<strong>do</strong> e muita reflexão.Vale ressaltar que os estu<strong>do</strong>s e investigações só têm senti<strong>do</strong> realmente, searticula<strong>do</strong>s aos processos <strong>de</strong> extensão, na socialização <strong>do</strong> conhecimento e aoensino, pois não é mais possível se pensar um ensino que não esteja emconsonância com a pesquisa e sua disseminação.28


EnsinoO que pensamos sobre ensino e aprendizagem? Nossas concepçõescertamente materializam aquilo que pensamos, seja no âmbito da sala <strong>de</strong> aula, sejapara além <strong>de</strong>la. Sabemos perfeitamente que o ensino não consegue mais ficar amercê <strong>do</strong> quadro e giz. O ensino precisa <strong>do</strong> aporte da pesquisa e extensão para que<strong>de</strong> fato encontre sustentação necessária, tanto <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista teórico/conceitual,quanto prático. Nessa perspectiva Cunha afirma que o professor:[...] não mais representa o tradicional transmissor <strong>de</strong> informações econhecimentos – acção quase em extinção em função da revoluçãotecnológica – mas assume uma nova profissionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráterinterpretativo, sen<strong>do</strong> uma ponte entre o conhecimento sistematiza<strong>do</strong>,os saberes da prática social e a cultura on<strong>de</strong> acontece o actoeducativo, incluin<strong>do</strong> as estruturas sócio-cognitivas <strong>do</strong> aluno (CUNHA,2006, p. 75).A mesma autora aponta os <strong>de</strong>safios da educação na atualida<strong>de</strong>, afirman<strong>do</strong>que “nem os estereótipos da profissão científica nem o da prática interpretativa, emsepara<strong>do</strong>, conseguem dar conta <strong>do</strong> reca<strong>do</strong>” (2006, p. 77). O trabalho <strong>do</strong>cente hoje,“requer uma simbiose <strong>de</strong>stas duas vertentes acrescidas <strong>de</strong> outrashabilida<strong>de</strong>s/conhecimentos/saberes que provoquem o estudante o protagonismo <strong>de</strong>seu próprio saber (CUNHA, 2006, p. 77).O trabalho <strong>do</strong>cente na contemporaneida<strong>de</strong> pressupõe que professores,gestores, alunos e comunida<strong>de</strong> construam diálogos permanentes; que possamplanejar ações coletivamente. É também imprescindível que o professor “exponha assuas condições <strong>de</strong> ensino, discuta a aprendizagem <strong>do</strong>s alunos e a sua própriaformação. Transgrida as fronteiras <strong>de</strong> sua disciplina, interprete a cultura e reconheçao contexto em que se dá o ensino e on<strong>de</strong> sua produção acontece” (CUNHA, 2006, p.78).Em nosso sistema <strong>de</strong> ensino existem pelo menos <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> organizações,[...] a universida<strong>de</strong> que se organiza e se constitui como profissãocientífica e erudita, que produz e aplica seu próprio conhecimento; eo ensino básico e secundário que se organiza e se constitui comouma profissão prática, que aplica na prática esse conhecimento29


convenientemente contextualiza<strong>do</strong> por instâncias políticas e sociais.(GERRERO, 1996, p. 173)No entanto, é preciso no contexto atual, pensar em alternativas para queessas duas instâncias, universida<strong>de</strong> e escola possam <strong>de</strong>senvolver suas ações <strong>de</strong>forma a compartilhar problemas, necessida<strong>de</strong>s e idéias, a fim <strong>de</strong> conviver emharmonia e apren<strong>de</strong>r a lidar com seus conflitos. Não basta apenas a inserção dauniversida<strong>de</strong> na ocasião <strong>do</strong>s estágios que ocorrem nos cursos <strong>de</strong> formação. Faz-senecessário que esse diálogo se prolifere por meio da formação continuada, açãofundamental para que tanto a universida<strong>de</strong> como a escola seja compreendida comoespaço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos e saberes, bem como <strong>de</strong> experiênciasapropriadas e socializadas.Diante <strong>de</strong>ssas consi<strong>de</strong>rações, o NUPAE, liga<strong>do</strong> às Pró-Reitorias <strong>de</strong> Pesquisae Extensão, busca trazer para o bojo das discussões <strong>do</strong> grupo, questõesrelacionadas às suas práticas <strong>de</strong> ensino, seja no âmbito da formação inicial (cursos<strong>de</strong> licenciatura), seja no ensino básico, por meio <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> experiências,questões-problema ou qualquer outra que o grupo julgue pertinente.A partir <strong>do</strong> tema e livros seleciona<strong>do</strong>s, organizamos pequenos grupos <strong>de</strong>trabalho que assumiram o compromisso <strong>de</strong> apresentar questões-problema e mediálascom o gran<strong>de</strong> grupo, que participa ativamente levantan<strong>do</strong> outras questões,fazen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>rações, argüin<strong>do</strong> e algumas vezes comentan<strong>do</strong> alguma experiênciaque venha a contribuir com as reflexões. É <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> também espaço para osrelatos <strong>de</strong> experiências, nos quais os professores/pesquisa<strong>do</strong>res socializamvivências que po<strong>de</strong>m contribuir para as discussões apresentadas. Nesse momento,o gran<strong>de</strong> grupo participa com sugestões e reflexões críticas, com o objetivo <strong>de</strong>contribuir nas ações <strong>de</strong> ensino.Compreen<strong>de</strong>mos que as ações <strong>de</strong> pesquisa e extensão <strong>de</strong>vem estar emconsonância com o ensino, ou seja, as experiências socializadas, os estu<strong>do</strong>s<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s e as reflexões precisam culminar no contexto da sala <strong>de</strong> aula paraque possamos repensar nossas práticas, amplian<strong>do</strong> as nossas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ensinar e apren<strong>de</strong>r.Pesquisa30


Schmidt; Garcia compreen<strong>de</strong>m o professor-pesquisa<strong>do</strong>r como construtor <strong>de</strong>conhecimentos sobre e no ensino a partir <strong>de</strong> princípios, como[...] a colaboração entre grupos como escolas, sistemas <strong>de</strong> ensino euniversida<strong>de</strong>s; a centralida<strong>de</strong> das ações que os professores realizampara planejar e <strong>de</strong>senvolver suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino; e, ainda, aexistência <strong>de</strong> um projeto comum, elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> forma coletiva e noqual se articulam os interesses <strong>do</strong>s diferentes pesquisa<strong>do</strong>res(SCHMIDT; GARCIA, 2006, p.257).Sobre essa questão é relevante <strong>de</strong>stacar que a pesquisa só faz senti<strong>do</strong>quan<strong>do</strong> socializada e articulada às reais necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> contexto. No casoespecífico <strong>do</strong> NUPAE, sempre que selecionamos uma temática para a investigação,mapeamos as condições <strong>do</strong> cenário a ser investiga<strong>do</strong>. Esse cenário po<strong>de</strong> ser aescola, o museu, a biblioteca, assim como <strong>do</strong>cumentos, como: currículo, livrodidático, projeto político pedagógico, entre outros. Os protagonistas da pesquisageralmente são professores, estudantes, gestores e artistas. Além disso, nospreocupamos com pesquisas relacionadas aos espaços escolares: como sãoconstruí<strong>do</strong>s? Como são ocupa<strong>do</strong>s? Quais i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s são construídas a partir <strong>do</strong>sespaços? De que forma a arte no currículo está conectada a esses espaços?É perceptível um vácuo entre a universida<strong>de</strong> e as escolas. Os motivos sãovários, entre eles estão: a inexistência <strong>de</strong> diálogo, a falta <strong>de</strong> articulação política epedagógica e o jogo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Existe ainda a velha rixa <strong>de</strong> quem são os culpa<strong>do</strong>spelos problemas educacionais e, <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formação que não ‘preparam’a<strong>de</strong>quadamente seus professores e gestores ou <strong>do</strong> ensino básico que não “prepara”seus alunos para aprofundarem os conhecimentos <strong>do</strong> ensino universitário. Aquestão não é a <strong>de</strong> procurar culpa<strong>do</strong> e vítimas, mas, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneiracompartilhada pensarmos em alternativas em prol <strong>de</strong> um ensino significativo, querealmente priorize a formação humana. Que para além <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s,procedimentos operacionais saibam também lidar com o conhecimento sensível.O professor-pesquisa<strong>do</strong>r é capaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r essas questões e<strong>de</strong>senvolver ações para além <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s escolares. Ele[...] po<strong>de</strong> ser um investiga<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ensino quan<strong>do</strong>estabelece relações com os saberes a serem ensina<strong>do</strong>s e a seremapropria<strong>do</strong>s que compõem os currículos oficiais e que <strong>de</strong>mandam umconjunto <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> escolha, <strong>de</strong> inclusão e <strong>de</strong> exclusão, <strong>de</strong>31


privilegiamento e <strong>de</strong> secundarização <strong>de</strong> temas, assuntos, formas <strong>de</strong>abordagens <strong>do</strong>s assuntos. (SCHMIDT; GARCIA, 2006.p.257)E o que enten<strong>de</strong>mos sobre pesquisa nesse contexto? Segun<strong>do</strong> Heron (1996)a pesquisa é um processo <strong>de</strong> participação social, em que é preciso haver umaharmonia entre a autonomia <strong>do</strong> investiga<strong>do</strong>r e a hierarquia e respeito <strong>de</strong>le com seuspares investiga<strong>do</strong>s, ou seja, as tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão precisam ser amplamentediscutidas e compartilhadas. Essa relação necessita ser interativa e sempre aberta amudanças. Para esse autor, a pesquisa é vista como um espaço intersubjetivo, noqual se materializam múltiplas formas <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento e uma troca<strong>de</strong> experiências fundamental entre investiga<strong>do</strong>r e investiga<strong>do</strong>.Autores como Hart (1992) e Shier (2001) apontam algumas categorias quepo<strong>de</strong>m contribuir nos processos e ritmo <strong>de</strong> uma pesquisa que tem como pressupostoas relações sócio-culturais:- Mobilização: o pesquisa<strong>do</strong>r compreen<strong>de</strong> o investiga<strong>do</strong> como um parceiro, queparticipa não apenas como objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, mas também influencian<strong>do</strong> naspossíveis mudanças relacionadas aos temas, objetivos e meto<strong>do</strong>logias.- Parceria: Tanto pesquisa<strong>do</strong>r como investiga<strong>do</strong> <strong>de</strong>senham os rumos da pesquisa eambos tomam <strong>de</strong>cisões referentes aos seus rumos.- Protagonismo: O investiga<strong>do</strong> é autor <strong>do</strong> processo e <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> também o<strong>de</strong>senho que se construirá para a pesquisa. Portanto, há nessa relação certacumplicida<strong>de</strong>, em que ambos participam <strong>de</strong> um jogo <strong>do</strong> qual os possíveis resulta<strong>do</strong>sestarão sempre relaciona<strong>do</strong>s aos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> percepção <strong>de</strong> um e <strong>de</strong> outro.ExtensãoEssas são preocupações também da área <strong>de</strong> Extensão da Universida<strong>de</strong> daRegião <strong>de</strong> Joinville. Ou seja, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem estar voltadas para o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticas acadêmicas articuladas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Ensino ePesquisa, perceben<strong>do</strong> as <strong>de</strong>mandas da socieda<strong>de</strong> e contribuin<strong>do</strong> para a formação<strong>do</strong> profissional e <strong>do</strong> cidadão. As ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação comunitária voltam-se paraapoiar e auxiliar a comunida<strong>de</strong> acadêmica, objetivan<strong>do</strong> o atendimento das suasnecessida<strong>de</strong>s por meio <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s que promovam a sua integração emanutenção na universida<strong>de</strong>.Essas ações fundamentam-se em princípios <strong>de</strong> socialização <strong>do</strong>32


conhecimento, no intuito <strong>de</strong> compartilhar o conhecimento acadêmico econhecimento popular promoven<strong>do</strong> a socialização <strong>do</strong>s saberes da universida<strong>de</strong> comos saberes populares.A inserção comunitária acontece no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r iniciativas <strong>de</strong>educação continuada, prestação <strong>de</strong> serviços, ações comunitárias, promoven<strong>do</strong> aparceria entre universida<strong>de</strong>, comunida<strong>de</strong> e outras organizações. Na sua interfacecom o ensino, a extensão <strong>de</strong>ve contribuir para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um processopedagógico participativo, possibilitan<strong>do</strong> um envolvimento social com a prática <strong>do</strong>conhecimento e, na sua interface com a pesquisa, <strong>de</strong>ve respon<strong>de</strong>r cientificamenteàs <strong>de</strong>mandas suscitadas pela comunida<strong>de</strong>.Importante <strong>de</strong>stacar que o respeito às diferenças <strong>de</strong>ve ser uma constantenesse processo, bem como a valorização das potencialida<strong>de</strong>s e as peculiarida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> cada universo social, compartilhan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento cultural, biopsicossocial,ecológico e histórico.O NUPAE tem como pressuposto básico em suas ações o compromisso coma socialização e reflexão <strong>de</strong> suas ações. Portanto, o registro é fundamental para quese possa visualizar e disseminar as ações <strong>de</strong>senvolvidas. Utilizamos para os nossosregistros individuais e em grupo, meios, como: atas, anotações individuais e emgrupo, relatórios, blog (que apresenta todas as apresentações em sli<strong>de</strong>s <strong>do</strong> grupo,os textos estuda<strong>do</strong>s, as sínteses <strong>de</strong>senvolvidas, informações referentes a eventos,sites...), e-mails, fóruns virtuais, entre outros.Compreen<strong>de</strong>mos que o registro <strong>do</strong> processo contribui na construção <strong>de</strong>produções científicas e também para que possamos ter uma noção mais clara dasações já <strong>de</strong>senvolvidas, das que estão em andamento e das que necessitamosrealizar. Esses meios <strong>de</strong> comunicação e registro permitem um maior envolvimento<strong>do</strong> gran<strong>de</strong> grupo, comprometen<strong>do</strong>-os também nas realizações <strong>de</strong> tarefas. Oenvolvimento e comprometimento <strong>do</strong> grupo são fundamentais para que um Núcleose fortaleça, dan<strong>do</strong> continuida<strong>de</strong> aos trabalhos inicia<strong>do</strong>s.Em pesquisas realizadas tanto por Freitas (2003) quanto por Montero (2003),são abordadas algumas questões fundamentais, que <strong>de</strong> certa forma sinalizamnossas ações no trabalho <strong>de</strong> extensão:a) De que forma é possível envolver e comprometer as pessoas (profissionais,acadêmicos, comunida<strong>de</strong>...) na realização <strong>de</strong> ações sócio-culturais, que33


trazem em seus pressupostos concepções que integram ensino, pesquisa eextensão?b) Como manter as pessoas <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> essas ações e continuan<strong>do</strong> aacreditar que vale a pena aquilo que estão fazen<strong>do</strong>?A permanência <strong>de</strong> um Núcleo é tarefa difícil, pois geralmente os gruposiniciam com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> participantes e à medida que asresponsabilida<strong>de</strong>s com a leitura, produção e socialização <strong>do</strong>s conhecimentos vãosen<strong>do</strong> exigidas, o grupo ten<strong>de</strong> a diminuir com a <strong>de</strong>sistência <strong>de</strong> alguns partícipes.Essa é uma situação que precisa ser administrada com muita cautela, no intuito <strong>de</strong>não per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista os pressupostos conceituais apropria<strong>do</strong>s pelo grupo em<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> manter um número razoável <strong>de</strong> participantes. É preferível um númeroreduzi<strong>do</strong>, mas que realmente esteja comprometi<strong>do</strong> com a pesquisa, com o ensino ecom a socialização <strong>do</strong>s conhecimentos.As questões levantadas acima são fundamentais nos processos <strong>de</strong> reflexão,pois para além <strong>do</strong> compromisso com o gran<strong>de</strong> grupo, precisamos nos comprometercom a produção e socialização <strong>do</strong>s conhecimentos. Esse é o pressuposto básico notrabalho <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> e, portanto, compromisso também <strong>do</strong>Núcleo <strong>de</strong> pesquisa.Consi<strong>de</strong>rações FinaisO trabalho <strong>de</strong> pesquisa e também o <strong>de</strong> ensino só terão senti<strong>do</strong> realmente sehouver comprometimento nas ações <strong>de</strong>senvolvidas e se essas ações foremsocializadas em forma <strong>de</strong> aulas, seminários, publicações, encontros e formaçãocontinuada. O comprometimento <strong>do</strong>s autores com relação à extensão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rásempre das culturas que construímos, ou seja, é preciso reconhecer o <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>espaço <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> extensão, valorizan<strong>do</strong>-o tanto quanto ao da pesquisa e <strong>do</strong>ensino.Também é fundamental que não entendamos a extensão apenas como forma<strong>de</strong> transmitir conhecimentos construí<strong>do</strong>s por outrem, mas, sobretu<strong>do</strong>, comoprocesso dialógico, no qual to<strong>do</strong>s os protagonistas ao mesmo tempo que ensinam,apren<strong>de</strong>m.A extensão, no contexto atual assume importante papel, tanto na sua relaçãocom o ensino, quanto com a pesquisa. Acreditamos que essas interações, possam34


se fortalecer por meio da formação <strong>de</strong> Núcleos que se apropriem <strong>de</strong> concepçõesfundamentadas na idéia <strong>de</strong> conexões entre ensino, pesquisa e extensão. O NUPAE,enquanto Núcleo que se interessa por essa tría<strong>de</strong> e que busca estar tambéminteira<strong>do</strong> das políticas públicas educacionais, preten<strong>de</strong> continuar <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong>ações compartilhadas com os parceiros atuais, sempre aberto a novas parcerias enovos <strong>de</strong>safios.REFERÊNCIASCOSTA, M. V. Quem são? Que querem? Que fazer com eles? Eis que chegam àsnossas escolas as crianças e jovens <strong>do</strong> século XXl. In: MOREIRA, A. F. B; ALVES,M. P. C; GARCIA, R. L. (Orgs.). Currículo, cotidiano e tecnologias. Araraquara/SP:Junqueira&Marin, 2006.CUNHA, Maria Isabel. Trabalho <strong>do</strong>cente e profissionalida<strong>de</strong> na universida<strong>de</strong>. In:<strong>Revista</strong> <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s curriculares. Ano 4, n. 1. Braga/Portugal: IEP - UMINHO, 2006.FREITAS, M. F. Q. Psychosocial practices and community dynamics. Meanings andpossibililities of advance from the perpective of the engaged social actors. Theinternational journal of critical psychology. M. Montero and P.F. Christliebb eds. 9,pp. 107- 124, Lon<strong>do</strong>n: Lawrence & Wishart, 2003.GUERRERO, Serón Antonio. Manual <strong>de</strong> sociologia <strong>de</strong> la educación. Madri: Síntesis,1996.HART, R. The meaning of children´s participation. EDev News – Education for<strong>de</strong>velopment ulletin. Genebra: UNICEF, 1992.MONTERO, M. Teoría y práctica <strong>de</strong> la psicología comunitária. Buenos Aires: Paidós,2003.SCHMIDT, M. A; GARCIA, T. M. F. B. A formação continuada <strong>de</strong> professores comoespaço <strong>de</strong> recriação <strong>do</strong> currículo: possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> superação <strong>do</strong> seqüestro dacognição histórica. In: <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s Curriculares. Ano 4, n. 2. Braga/Portugal:IEP – UMINHO, 2006.SHIER, H. Pathways to participation: openings, opportunities and obligations: a newmo<strong>de</strong>l for enhancing children’s participation in <strong>de</strong>cision-making, in line with article12.1 of the United nations Convention on the Rights of the child. Children&society, 15(2): 107-117, 2001.THOMPSON, E. P. A miséria da teoria ou um planetário <strong>de</strong> erros – uma crítica aopensamento <strong>de</strong> Althusser. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Zahar, 1981.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.35


FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES QUE ATUAM COM O ENSINODA ARTE NA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA, INSTITUIÇÕES PÚBLICASDE ENSINO SUPERIOR, EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E O TERCEIRO SETOR.Continued Formation of Teachers that teach Art at the Basic Education, PublicsInstitutions of Superior Teaching, University Extension and the Third Sector.Professora Me. Sandra Francisco 10RESUMOEste artigo é parte <strong>de</strong> uma dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong> on<strong>de</strong> se relata e analisa aformação continuada <strong>de</strong> professores que atuam com o Ensino <strong>de</strong> Arte na Escola <strong>de</strong>Educação Básica em Belém e região metropolitana. Relata a contribuição <strong>do</strong>Terceiro Setor na formação continuada <strong>do</strong> professor. Parte <strong>do</strong> pressuposto que amelhor qualida<strong>de</strong> da Formação Continuada <strong>do</strong> Professor <strong>de</strong> Arte não se garanteapenas por meio da utilização <strong>de</strong> significativo material didático – pedagógico, massim, com os processos <strong>de</strong> mediação <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s na constituição <strong>do</strong> conhecimentoem arte.Palavras Chave: Formação continuada <strong>de</strong> professores; parceria; ensino da Arte.ABSTRACTThis paper is part of a Master's <strong>de</strong>gree text where it relates and analyses how thecontinued formation of teachers at the basic education that teach art in the city ofBelem in the state of Para. Accounts for the contribution of the Third Sector in thecontinued formation of teachers and it assumes that the best quality of the continuedformation of teachers of art it is not guareented only through the use of significanteducational materials, but with the process of mediation <strong>de</strong>veloped in the structure ofthe knowledge in art.Keywords: Continued Formation of teachers; partnership; Art teaching.RESUMENEste articulo es parte <strong>de</strong> una dissertacion <strong>de</strong> maestria que relata y hace un analisis<strong>de</strong> la formacion continuada <strong>de</strong> profesores <strong>de</strong> la escuela basica que ensenan arte enBelem, en el esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>l Para. Relata la contribuicion <strong>de</strong>l Tercero Sector para laformacion continuada <strong>de</strong>l profesor, parte <strong>de</strong> la i<strong>de</strong>a <strong>de</strong> que la mejor formacioncontinuada <strong>de</strong>l profesor <strong>de</strong> arte no se garante apenas por el uso <strong>de</strong> significativomaterial didactico-pedagogico, pero si, por los processos <strong>de</strong> mediacion<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s en la construcción <strong>de</strong>l conocimiento en arte.10 Sandra Suely <strong>do</strong>s Santos Francisco. Mestre. Secretaria Estadual <strong>de</strong> Educação <strong>do</strong> Pará eSecretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Belém, cedida para atuar na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará.Av. 25 <strong>de</strong> Setembro, 2019. Apto 401-A. Belém, PA. 66093-000. (91)99889665.sandrafrancisco@yahoo.com.br.36


Palabras-clave: Formación continuada <strong>de</strong> profesores; parceria; enzenanza <strong>de</strong>l Arte.IntroduçãoA necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atuar para aten<strong>de</strong>r as <strong>de</strong>mandas sociais tem se amplia<strong>do</strong>significativamente a cada dia. É necessário criar novas frentes <strong>de</strong> trabalho quepossibilitem o atendimento <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>mandas, pois sabemos que o Esta<strong>do</strong> nãooferece políticas e serviços satisfatórios para suprir as necessida<strong>de</strong>s da socieda<strong>de</strong>brasileira. Assim, surgem novas frentes para estes atendimentos e essas -incluin<strong>do</strong> as instituições <strong>do</strong> Terceiro Setor - apresentam-se com propostasinova<strong>do</strong>ras, administração mais ágil que a das instituições públicas e, cada vezmais, tornam-se parceiras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no atendimento das exigências sociais.A participação <strong>do</strong>s atores sociais é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância no processo <strong>de</strong>constituição das parcerias. Essa participação propicia a construção <strong>de</strong> propostas<strong>de</strong> intervenção a partir <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> conhecida e vivida, objetivan<strong>do</strong> soluçõesaos problemas <strong>do</strong> cotidiano. Nesse senti<strong>do</strong>, as instituições <strong>do</strong> terceiro setor queatuam na área educacional, possibilitam essa articulação, pois “na prática, oterceiro setor parece estar caminhan<strong>do</strong> para uma articulação conjunta, em termos<strong>de</strong> frente <strong>de</strong> trabalho” (GOHN, 2001, p. 83). E nessa questão, já que “o Esta<strong>do</strong> nãoconsegue mais penetrar nas microesferas da socieda<strong>de</strong>” (ibi<strong>de</strong>m, p. 83), essasinstituições apresentam solução à problemática.Para aten<strong>de</strong>r a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Arte da extensa regiãometropolitana <strong>de</strong> Belém, composta por 06 (seis) municípios e <strong>do</strong>is distritostotalizan<strong>do</strong> 2.162.977 habitantes 11 , estes professores necessitam <strong>de</strong> umaformação continuada <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e assim se faz necessária a ampliação <strong>de</strong>parcerias entre instituições <strong>do</strong> Terceiro Setor e instituições educacionais públicaspreocupadas em oferecer tal modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação. Tais parcerias, a exemploda existente entre o Instituto Arte na Escola e a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará(UFPA), estão em consonância com o que pressupõe Gohn (2001, p. 73), quan<strong>do</strong>diz que: “a nova forma supõe novas regras <strong>de</strong> contrato social que envolvaparcerias entre o público estatal com o chama<strong>do</strong> público não estatal, ou seja, como terceiro setor”.11http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2006/POP_2006_DOU.pdfhttp://www.citybrazil.com.br/pa/regioes/belem/in<strong>de</strong>x.htme37


A partir <strong>de</strong>ssa parceria está implanta<strong>do</strong> na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará oPrograma Arte na Escola - UFPA/Belém ou PAE - UFPA/Belém. O Programa fazparte da Re<strong>de</strong> Arte na Escola, uma Re<strong>de</strong> constituída por universida<strong>de</strong>s einstituições culturais que tem por objetivo atuar para a melhoria <strong>do</strong> Ensino <strong>de</strong> Arteno Brasil. Tem o Instituto Arte na Escola como seu mantene<strong>do</strong>r, que por sua vezrecebe incentivos da Fundação Iochpe 12 . Esse instituto pertence à categoriachamada Terceiro Setor, cujo conceito é ainda carente <strong>de</strong> rigor teórico, conformenos diz Montaño (2005).No Terceiro Setor, a iniciativa da esfera privada surge para aten<strong>de</strong>r aointeresse público e sua atuação vem crescen<strong>do</strong> significativamente no Brasil,principalmente na área social, na qual ações <strong>de</strong>senvolvidas por organizações dasocieda<strong>de</strong> civil assumem questões da socieda<strong>de</strong> dan<strong>do</strong> resposta às <strong>de</strong>mandassociais a partir <strong>de</strong> valores <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> local, auto-ajuda e ajuda mútua(MONTAÑO, 2005). Esse setor se caracteriza pela atuação na área social e sepropõe a contribuir para a formação e fortalecimento <strong>do</strong> comportamento <strong>do</strong>cidadão e da cultura <strong>de</strong>mocrática, trazen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento e mudanças,propician<strong>do</strong> a construção da <strong>de</strong>mocracia e a promoção da cidadania (TORO,1997), segun<strong>do</strong> seu próprio conceito i<strong>de</strong>ológico <strong>do</strong>minante, que o <strong>de</strong>fine comosetor nem público, nem priva<strong>do</strong>.O PAE - UFPA/Belém funciona em um espaço cedi<strong>do</strong> pela UFPA no prédio <strong>do</strong>Atelier <strong>de</strong> Artes <strong>do</strong> Instituto <strong>de</strong> Ciências da Arte. Faz parte da parceria, a cessão <strong>de</strong>instalações físicas e a concessão <strong>de</strong> bolsas <strong>de</strong> Extensão aos alunos queparticipam <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações. Essas bolsas são disponibilizadas peloPrograma <strong>de</strong> Bolsas da Pró-Reitoria <strong>de</strong> Extensão da UFPA. Mantém também,professores coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res, sen<strong>do</strong> 01 (um) cedi<strong>do</strong> da Secretaria Estadual <strong>de</strong>Educação <strong>do</strong> Pará e Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Belém. É <strong>de</strong> seressaltar que as ações <strong>do</strong> Pólo são referências no Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará, sobretu<strong>do</strong> noque diz respeito à Formação Continuada <strong>do</strong>s Professores <strong>de</strong> Arte da EducaçãoBásica.As ações <strong>de</strong> Formação Continuada propostas pelo Programa Arte na Escola –Pólo Belém - fortalecem a proposta <strong>de</strong> Extensão da UFPA. Pois, ela é promovidaem parceria com instituições <strong>de</strong> educação e apoio à cultura com o intuito <strong>de</strong>12 Organização <strong>do</strong> Terceiro Setor vinculada ao Grupo Empresarial Iochpe.38


produzir conhecimentos e qualificar recursos humanos, por meio <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>ensino, pesquisa e extensão, na perspectiva <strong>de</strong> buscar a transformação <strong>do</strong> ensinoda Arte na educação básica <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará.Como diz Marques (2003), a formação continuada <strong>de</strong>ve ser constituída comoobra <strong>de</strong> um empenho coletivo <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res, ten<strong>do</strong> como base programas quepossam ser, ao mesmo tempo, participativos, orgânico-sistêmicos e continua<strong>do</strong>s,além <strong>de</strong> exigir uma equipe <strong>de</strong>dicada ao trabalho <strong>do</strong>cente, solidária, integrada ea<strong>de</strong>quada às particularida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s alunos. Tais parcerias, no entanto, só darãoretorno social se houver o engajamento efetivo das instâncias envolvidas evonta<strong>de</strong> política, essencial para a mobilização da socieda<strong>de</strong>.Nesse contexto, espera-se que a universida<strong>de</strong> se reconheça enquantoespaço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos, atue na realida<strong>de</strong> social e busqueparcerias que propiciem a socialização <strong>do</strong>s saberes constituí<strong>do</strong>s. Nisto, inclui-setrabalhos parceiros com os professores <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> apossibilitar que a escola cumpra o seu compromisso social, pois é “somente na<strong>do</strong>cência em sala <strong>de</strong> aula, e por causa <strong>de</strong>la, [que] a escola assume e cumpre seucompromisso social <strong>de</strong> instância da aprendizagem sistemática requerida pelos<strong>de</strong>mais tempo-lugares da vida <strong>do</strong>s homens” (MARQUES, 1995, p. 145).Assim, concordamos que cabe, então, à universida<strong>de</strong>, ampliar seus espaços<strong>de</strong> ação, também no que diz respeito à socialização das práticas educativas. Epara que tal ampliação se concretize é necessária a parceria constante com assecretarias <strong>de</strong> educação na intenção <strong>de</strong> informar e formar o professor. Trata-se <strong>de</strong>planejar ações conjuntas que incentivem o professor a participar <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong>formação continuada, tais como as <strong>de</strong> ajuda financeira e liberação <strong>de</strong> carga horária<strong>de</strong> trabalho. Nossa experiência profissional, com atuação no PAE – UFPA/Belémpermite afirmar que a indisponibilida<strong>de</strong> financeira e o número <strong>de</strong> horas dasexaustivas jornadas <strong>de</strong> trabalho representam os fatores que impe<strong>de</strong>m aparticipação <strong>do</strong>s professores nos cursos programa<strong>do</strong>s.A universida<strong>de</strong> pública é um espaço <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimentos que<strong>de</strong>veria estar sempre a serviço da comunida<strong>de</strong> a qual pertence. Ao nos<strong>de</strong>pararmos com a problemática da formação continuada <strong>de</strong> professores, sentimosa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar soluções à questão, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> auxiliar o professor arefletir sua prática, em tempos e espaços remunera<strong>do</strong>s para isso, contan<strong>do</strong> com orespal<strong>do</strong> <strong>de</strong> políticas públicas para tais fins. Desta forma, é lega<strong>do</strong> aos professores39


o repensar da prática, a avaliação e a busca <strong>de</strong> fundamentação teórica, suporteessencial para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua prática social significativa. Sabemos quea formação continuada <strong>do</strong> professor visa à competência profissional, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> alhe oferecer instrumentos que possam auxiliar em seu trabalho <strong>de</strong> intervenção nasocieda<strong>de</strong> e na busca <strong>de</strong> soluções aos problemas <strong>do</strong> cotidiano.Na análise das entrevistas realizadas com professores que participam e comos que não participam da formação continuada <strong>do</strong> PAE – UFPA/Belém, para nossadissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong>, e observan<strong>do</strong> a proposta apresentada por Mazzeu(1998), refletimos acerca <strong>de</strong> sua aplicabilida<strong>de</strong> no <strong>de</strong>senvolvimento das açõesarticuladas pela parceria que constitui o Programa. Essa parceria é evi<strong>de</strong>nciada nocompromisso com a formação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Arte da regiãometropolitana <strong>de</strong> Belém e numa materialização <strong>de</strong>sta proposta que parte da práticasocial, passa pela problematização, pela instrumentalização, catarse e retorna àprática social.A proposta <strong>de</strong> Mazzeu (1998) é fundamentada na prática pedagógica epossui referenciais que regem a pedagogia histórico-crítica sistematizada porSaviani. Mazzeu afirma que: “Para conseguir que os alunos se apropriem <strong>do</strong> saberescolar <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a se tornarem autônomos e críticos, o professor precisa estar, elepróprio, aproprian<strong>do</strong>-se <strong>de</strong>sse saber e tornan<strong>do</strong>-se cada vez mais autônomo ecrítico” (MAZZEU, 1998, p. 61).Basea<strong>do</strong> em Saviani, a proposta histórico-social <strong>de</strong> Mazzeu, orientameto<strong>do</strong>logicamente uma seqüência <strong>de</strong> trabalho, ten<strong>do</strong> como foco a FormaçãoContinuada <strong>de</strong> Professores. Ele nos diz que a prática social, não <strong>de</strong>ve serconfundida com a experiência <strong>de</strong> cada indivíduo. Partir da prática social naformação <strong>de</strong> professores implica não só o conhecimento <strong>de</strong> seus saberes, <strong>de</strong> suasmemórias, <strong>de</strong> seus saberes práticos, como também a ruptura com a forma <strong>de</strong>pensamento e ação, próprios <strong>do</strong> cotidiano. Daí termos que “são essas relaçõescontraditórias que estão no ponto <strong>de</strong> partida da formação <strong>de</strong> professores, uma vezque essa formação ocorre nessa prática social e não apenas no momento em queo professor recebe algum tipo <strong>de</strong> curso” (MAZZEU, 1998, p.64).A prática social é sempre uma contextualização <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> e um momento<strong>de</strong> conscientização <strong>do</strong> que ocorre na socieda<strong>de</strong> em relação ao tópico a sertrabalha<strong>do</strong>. É o momento <strong>de</strong> retorno, <strong>de</strong> transformação das formas <strong>de</strong> pensar eagir em torno <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s escolares. Sobre a problematização, “segun<strong>do</strong>40


Saviani, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> refletir filosoficamente evi<strong>de</strong>ncia-se quan<strong>do</strong> o serhumano se encontra diante <strong>de</strong> uma situação problemática” (SAVIANI apudMAZZEU, 1998, p. 65). Na problematização, o professor i<strong>de</strong>ntifica as necessida<strong>de</strong>spercebidas no cotidiano, a partir das próprias experiências <strong>de</strong> vida, e passa arefletir sobre a questão no senti<strong>do</strong> da superação <strong>do</strong> problema (MAZZEU, 1998).No que diz respeito à instrumentalização, Mazzeu (1998) afirma que elaocorre na apropriação <strong>do</strong>s instrumentos e signos elabora<strong>do</strong>s e acumula<strong>do</strong>s pelohomem e, ao mesmo tempo, na criação <strong>de</strong> novos instrumentos e signos. Oprofessor elabora seus próprios instrumentos e discursos, assimilan<strong>do</strong> a produção<strong>de</strong> outros e se envolven<strong>do</strong> afetivamente com esses instrumentos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> autilizá-los em benefício <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da humanida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> cada indivíduo.Quanto à catarse, tem a sua conceituação como a[...] constituição <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> ‘segunda natureza’, isto é, sãoformas <strong>de</strong> pensar e agir produzidas histórica e socialmente, que seincorporam <strong>de</strong> tal maneira na estrutura psíquica <strong>do</strong> indivíduo que asutiliza que aparecem como formas naturais, mas que na verda<strong>de</strong>resultam <strong>de</strong> um longo processo educativo (SAVIANI apud MAZZEU,1998, p.70).Na catarse, a operação fundamental é a síntese <strong>do</strong> cotidiano e <strong>do</strong> científico,<strong>do</strong> teórico e <strong>do</strong> prático a que o educan<strong>do</strong> chegou. É o momento que o pensamentochega a uma conclusão, sen<strong>do</strong> este o ponto culminante <strong>do</strong> processo educativo(GASPARIN, 2005). Com a catarse, o estudante, “constitui para si uma nova visãoda realida<strong>de</strong>” (ibi<strong>de</strong>m, p. 129). É o momento <strong>do</strong> encontro e da integração maisclara e consciente da teoria com a prática na nova realida<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> o alunopercebe que a realida<strong>de</strong> antes conhecida como “natural” agora é histórica, pois foiproduzida pelo homem em <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tempo e lugar, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a intençõespolíticas implícitas e explicitas, como também aos interesses e necessida<strong>de</strong>ssocioeconômicas.Percorri<strong>do</strong>s os “passos” acima, se retoma a prática social <strong>de</strong>ntro dacontextualização fechan<strong>do</strong> os ciclos da formação continuada <strong>do</strong> professor e suapráxis, o que conforme o mo<strong>de</strong>lo proposto acontece pela “criação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>snovas e como colocação <strong>de</strong> novos temas objeto <strong>de</strong> [...] reflexão [...]” (MAZZEU,1998, p. 65). Daí tem-se que, “a prática social referida no ponto <strong>de</strong> partida(primeiro passo) e no ponto <strong>de</strong> chegada (quinto passo) é e não é a mesma”41


(SAVIANI apud MAZZEU, 1998, p. 71), pois, sen<strong>do</strong> a mesma no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> que atransformação das formas <strong>de</strong> pensar e agir em face <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s escolares jánão o é, em razão <strong>de</strong> que professor e alunos transformaram-se no transcurso <strong>do</strong>processo. Transformações que se refletem nas <strong>de</strong>mais instâncias da socieda<strong>de</strong>,tanto no âmbito das produções reflexivas, como nas produções da existênciamaterial (MAZZEU, 1998).Assim, se vislumbra a possibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Programa Arte na Escola estar emconsonância com a referida proposta no que tange à formação continuada <strong>do</strong>professor <strong>de</strong> Arte. Neste senti<strong>do</strong>, foi possível perceber, por meio das respostas <strong>do</strong>sprofessores às perguntas formuladas nas entrevistas, que a formação continuada é<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, pois possibilita a reflexão da prática, a socialização <strong>de</strong>experiências, bem como a construção <strong>de</strong> novas propostas para o ensino <strong>de</strong> Arte.Levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração a análise <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> das entrevistas,percebemos que o professor, mesmo com a posse <strong>do</strong> material <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>disponibiliza<strong>do</strong> pelo Instituto Arte na Escola para ser utiliza<strong>do</strong> em sala <strong>de</strong> aula,necessita <strong>de</strong> conhecimentos da arte e da educação, para melhor articular aconstrução <strong>de</strong> conhecimentos significativos <strong>de</strong> seus alunos. Além disso, énecessário que o professor assuma compromisso político com os alunos namedida em que remete sua prática social educativa ao resgate da cidadania,utilizan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> mecanismos e meios media<strong>do</strong>res <strong>do</strong> ato político pedagógico.É necessário ainda, e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância, que a UFPA, por meio <strong>do</strong> PAEUFPA/Belém, busque ampliar as parcerias com a Secretaria <strong>de</strong> Educação <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará, com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Belém e assecretarias <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais municípios da região metropolitana. Essas parceriaspo<strong>de</strong>rão facilitar o acesso <strong>do</strong>s professores às informações educativas e açõespropostas pelo Programa, além <strong>de</strong> permitir a freqüência eficaz e compatível comas necessida<strong>de</strong>s profissionais.No tocante à aferição <strong>do</strong> atendimento às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res comos materiais disponibiliza<strong>do</strong>s pelo Terceiro Setor, pelo PAE – UFPA/Belém foipossível visualizar a importância da Midiateca, para a construção <strong>de</strong> práticaseducacionais significativas. Foi <strong>de</strong>tecta<strong>do</strong> que esses materiais aten<strong>de</strong>m asnecessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong> arte que atuam na região metropolitana <strong>de</strong>Belém, quan<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong>s no contexto da formação continuada, bem como nocontexto da ativida<strong>de</strong> pedagógica. Em relação ao acesso a esses materiais, os42


entrevista<strong>do</strong>s apontaram a dificulda<strong>de</strong> que encontram em pesquisar esse acervo<strong>do</strong> Programa, que está no Campus Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará, em Belém, cujalocalização dificulta o acesso constante e rápi<strong>do</strong>.A não participação <strong>de</strong> algumas professoras às ações <strong>de</strong> formação continuada<strong>do</strong> PAE - UFPA/Belém <strong>de</strong>ve-se principalmente ao fato <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> talparceria e projetos. Alegaram também, o problema <strong>do</strong> difícil acesso ao Pólo, emrelação à localização das escolas em que atuam. Isso trouxe à tona a questão da<strong>de</strong>sarticulação das instituições e re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino ao promover a socialização e aformação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte a partir das propostas originadas nasações <strong>do</strong> PAE – UFPA/Belém, o que evi<strong>de</strong>ncia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> maior divulgaçãodas ações <strong>do</strong> Pólo <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>scentralizada, fazen<strong>do</strong> chegar tais informaçõesdiretamente ao público alvo. A título <strong>de</strong> sugestão, cada Secretaria Municipal <strong>de</strong>Educação <strong>do</strong>s municípios da região metropolitana <strong>de</strong> Belém po<strong>de</strong>ria ter, em sua<strong>de</strong>pendência, um Pólo dissemina<strong>do</strong>r, com pessoal responsável pelas açõesprogramadas.Para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s professores, contemplan<strong>do</strong> horários eativida<strong>de</strong>s, seria <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia que os eventos <strong>de</strong> formação continuada <strong>do</strong> PAE -UFPA/Belém fossem realiza<strong>do</strong>s em diferentes perío<strong>do</strong>s, com divulgação a<strong>de</strong>quada<strong>de</strong> forma a sensibilizar os <strong>do</strong>centes e com conteú<strong>do</strong>s que contemplem as reaisnecessida<strong>de</strong>s pedagógicas <strong>do</strong>s professores e suas respectivas escolas. Assim, asituação po<strong>de</strong>ria ser outra, no que diz respeito à participação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes. Urgeque as instituições responsáveis pela educação estejam envolvidas, em parceria,nos processos <strong>de</strong> formação continuada. É premente o engajamento <strong>do</strong>s gestores<strong>do</strong>s diversos níveis da Educação Básica nesse processo formativo a fim <strong>de</strong> quepossam ampliar seus olhares sobre o ensino <strong>de</strong> Arte, bem como valorizar eviabilizar parcerias necessárias à concretização da formação continuada <strong>do</strong>professor <strong>de</strong> Arte.Po<strong>de</strong>-se observar nas narrativas das entrevistas com os professores,participantes e não participantes da formação continuada proporcionada pelo PAE– UFPA/Belém, que há diferença na atuação e consi<strong>de</strong>ração <strong>do</strong>s mesmos quantoas ações formativas. Certamente por conta <strong>do</strong>s momentos <strong>de</strong> reflexão<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s em tais cursos, os professores que <strong>de</strong>les participaram<strong>de</strong>monstraram <strong>de</strong>senvolver práticas pedagógicas fundamentadas em teorias efocalizar a construção <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> articula<strong>do</strong> com <strong>de</strong>terminadas43


concepções. Também apontaram para a necessida<strong>de</strong> e importância <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>smateriais <strong>de</strong> suporte pedagógico ofereci<strong>do</strong>s pelo Pólo. De acor<strong>do</strong> com o dizer<strong>de</strong>sses mesmos professores, tais materiais, embora consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> significativaqualida<strong>de</strong>, estão atrela<strong>do</strong>s à questão da mediação, o que evi<strong>de</strong>ncia a constantepreocupação que o professor necessita ter para manter-se atualiza<strong>do</strong> a fim <strong>de</strong>ampliar seus recursos e estratégias na constituição <strong>do</strong> conhecimento em arte. Oscursos <strong>de</strong> formação continuada ofereci<strong>do</strong>s pelo PAE-UFPA/Belém objetivamenfatizar a mediação <strong>do</strong> professor na utilização <strong>do</strong>s materiais disponibiliza<strong>do</strong>s,evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> que, em si mesmos, eles pouco significam. O enriquecimento <strong>de</strong>seus efeitos na aprendizagem está na qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> mediação e nãoem sua materialida<strong>de</strong>.A articulação entre os materiais <strong>de</strong> suporte pedagógico ofereci<strong>do</strong> pelo Pólo ea mediação <strong>do</strong> professor é pouco percebida entre os professores entrevista<strong>do</strong>s,não participantes <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formação continuada. A título <strong>de</strong> ilustração,po<strong>de</strong>mos citar o caso <strong>de</strong> um professor que se recusou a participar da entrevista,dan<strong>do</strong> a perceber que sentia-se <strong>de</strong>sprepara<strong>do</strong> para respon<strong>de</strong>r às questõesrelativas à sua formação continuada.Finalizan<strong>do</strong> este trabalho, po<strong>de</strong>mos afirmar que o pressuposto da pesquisa<strong>de</strong> nossa dissertação <strong>de</strong> mestra<strong>do</strong>, o qual ressalta que a melhor qualida<strong>de</strong> daFormação Continuada <strong>do</strong> Professor <strong>de</strong> Arte não se garante por meio da utilização<strong>de</strong> significativo material didático-pedagógico, mas por processos <strong>de</strong> mediação<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s na constituição <strong>do</strong> conhecimento em arte, são evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong>s nasvozes da maioria <strong>do</strong>s professores entrevista<strong>do</strong>s. Isto <strong>de</strong>veria se tornar, a nossover, ponto <strong>de</strong> atenção e reflexão no <strong>de</strong>s<strong>do</strong>bramento das ações <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong>parceria entre as instituições públicas ou privadas com o Terceiro Setor.Visan<strong>do</strong> à melhor qualida<strong>de</strong> <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> aprendizagem em Arte, o olhar<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r apóia-se na materialida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s suportes pedagógicos comoinstrumentos para explorar as múltiplas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mediar a constituição <strong>do</strong>conhecimento. Tais possibilida<strong>de</strong>s se constroem, sobretu<strong>do</strong>, nas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>trocas e vivências coletivas que os cursos <strong>de</strong> formação continuada po<strong>de</strong>m ofereceraos profissionais da educação. Nossa esperança é que as narrativas registradas eanalisadas na pesquisa realizada possam <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar ações efetivas <strong>de</strong> melhorqualida<strong>de</strong>, constituídas na perspectiva da parceria e capazes <strong>de</strong> transformar a44


ealida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s processos <strong>de</strong> mediação e aprendizagem, promoven<strong>do</strong> mudançasnos significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formação continuada <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res liga<strong>do</strong>s àárea da Arte.REFERÊNCIASFRANCISCO, Sandra. A formação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte da regiãometropolitana <strong>de</strong> Belém na perspectiva da parceria. 2007. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> emEducação). Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Uberaba, Minas Gerais. 2007GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre oassociativismo <strong>do</strong> terceiro setor. São Paulo: Cortez, 2001.MARQUES, Mário Osório. Escola , aprendizagem e <strong>do</strong>cência: imaginário social eintencionalida<strong>de</strong> política. In: VEIGA, Ilma Passos A. (Org.). Projeto políticopedagógico da escola: uma construção possível. 4. ed. (Coleção Magistério:Formação e Trabalho Pedagógico). Campinas: Papirus, 1995.MARQUES, Mário Osório. Formação <strong>do</strong> profissional da educação. 4. Unijuí: Ijuí,2003.MAZZEU, Francisco José Carvalho. Uma proposta meto<strong>do</strong>lógica para a formaçãocontinuada <strong>de</strong> professores na perspectiva histórico social. Ca<strong>de</strong>rnos CEDES,Campinas, ano 19, n. 44, abr. 1998.MONTAÑO, Carlos. Terceiro setor e questão social: critica ao padrão emergente <strong>de</strong>intervenção social. São Paulo: Cortez, 2005.SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 8. ed. rev.e amp. Campinas: Autores Associa<strong>do</strong>s, 2003.SAVIANI, Dermeval. Educação: <strong>do</strong> senso comum à consciência filosófica. 13. ed.Campinas: Autores Associa<strong>do</strong>s, 2000.SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 6. ed.Campinas: Autores Associa<strong>do</strong>s, 1997.SAVIANI, Demerval. Educação: <strong>do</strong> senso comum à consciência filosófica. 5. ed. SãoPaulo. Autores Associa<strong>do</strong>s, 1985.TORO, José Bernar<strong>do</strong>. O papel <strong>do</strong> terceiro setor em socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> baixaparticipação (Quatro teses para discussão). In: IOCHPE, Evelyn Berg . 3º setor:<strong>de</strong>senvolvimento social sustenta<strong>do</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra. 1997.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.45


SALA DE AULA: ESPAÇO PEDAGÓGICO PARA VIVER E APRENDER ARTEClassroom, Space for Living and Learning Art Reading and Re-Reading of Art WorkAlexandre Silva <strong>do</strong>s Santos Filho 13RESUMOA importância <strong>do</strong> professor saber ler uma imagem visual é imprescindível para quetambém possa possibilitar a seus alunos a experiência <strong>de</strong> entrar em contato com oconteú<strong>do</strong> objetivo e subjetivo das obras artísticas. Otto Dix e Lassar Segaltrabalharam a temática guerra, muito oportuna para ser discutida como tema da artee vivência atual sobre as guerras e o terrorismo no mun<strong>do</strong>. O objetivo principal<strong>de</strong>ssa experiência por meio da leitura e releitura <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte foi promover umencontro com professores leigos em arte que, ao mesmo tempo, estavamtrabalhan<strong>do</strong> a disciplina em sala <strong>de</strong> aula, mas que não tinham nenhuma experiênciacom a arte e a sua história. Dessa forma, tornou-se oportuno realizar a alfabetizaçãoestético-visual e o conhecimento da gramática visual numa oficina promovida pelaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará - Campus <strong>de</strong> Marabá pelo Núcleo <strong>de</strong> Arte EducaçãoSul e Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará e projeto Arte na Escola.Palavras-chave: Leitura <strong>de</strong> imagem; alfabetização estético-visual; arte; professor.ABSTRACTThe importance of the professor knowing how to read visual image is essential to thatstu<strong>de</strong>nts be able to be in touch with the objective and subjective contents of theartistic works. Otto Dix and Lassar Segal work the theme “war”, very timely to bediscussed as an art theme and actual experiences about the wars and terrorism inthe world. The main objective of this experience through reading and re-reading ofthe art work was to promote a meeting with professor lay in art that, at the same time,were working the discipline in the classroom, but did not have any experience with artand its history. In this way, it has became timely to achieve the aesthetic-visualliteracy and the knowing of the visual grammar in a workshop promoted byUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará – Campus <strong>de</strong> Marabá (Fe<strong>de</strong>ral University of Pará –Campus of Marabá) through the Núcleo <strong>de</strong> Arte-Educação <strong>do</strong> Sul (Core of art-Education South) and Su<strong>de</strong>ste d Pará (Southeast of Pará) and projet Art at School.Keywords: Reading of image; aesthetic-visual literacy; art; professor.13 Professor na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Pará, Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Arte na Escola UFPA – Campus <strong>de</strong>Marabá, Mestre em Comunicação e Cultura Contemporânea e <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> em educação na UFG.Rua 226, Qd.67C, Lt.10, Nº894, apto. 102, Ed. Milão, CEP 74610-130, Goiânia-Go. Fone (62)32616601/ 81697139. E-mail: alixandresantos@gmail.com46


RESUMENLa importancia <strong>de</strong> que el profesor sepa leer imagenes visuales es esencial parapossibilitar a sus alumnos la experiencia <strong>de</strong> tener contacto con el conteni<strong>do</strong> objetivoy subjetivo <strong>de</strong> las obras esteticas. Otto Dix y Lassar Segall se preocuparon con latematica guerra, muy oportuna para ser discutida como tema <strong>de</strong> la arte y vivenciaactual sobre las guerras y el terrorismo en el mun<strong>do</strong>. El objetivo principal <strong>de</strong> nuestasacciones para la lectura y (re)lectura <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte y historia <strong>de</strong>l arte fue permitirque profesores no forma<strong>do</strong>s en arte, pero que esenavan este conteni<strong>do</strong>, tubieranesta experiencia. Desta forma, fue oportuno realizar la alfabetizacion estetico visualy apresentar lo que es gramatica visual en la Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>l Para -Campus <strong>de</strong> Maraba, por el nucleo <strong>de</strong> Arte Educacion Sur y Su<strong>de</strong>ste <strong>de</strong>l Para y elProjecto Arte na Escola.Palabras-clave: lectura <strong>de</strong> imagenes visuales; alfabetizacion estetico-visual; Arte;profesor.“Gostar <strong>de</strong> Apren<strong>de</strong>r Arte” foi o tema escolhi<strong>do</strong> para a realização <strong>do</strong>Seminário <strong>de</strong> Educação Continuada, promovi<strong>do</strong> pelo Projeto Arte na Escola eNúcleo <strong>de</strong> Arte-Educação <strong>do</strong> Sul e Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará, inspira<strong>do</strong> no livro da professoraRosa Iavelberg (2003). O evento aten<strong>de</strong>u cerca <strong>de</strong> cem (100) participantes – <strong>do</strong>ensino fundamental e médio – liga<strong>do</strong>s à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino público nas regiões <strong>do</strong> sul esu<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará. Este tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> (voltada exclusivamente ao ensino da arte) érealização inédita da UFPA – Campus <strong>de</strong> Marabá. O evento focalizouexclusivamente o professor que atua na sala <strong>de</strong> aula com a seguinte particularida<strong>de</strong>:nenhum professor (participante) tem formação específica em arte, daí a gran<strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino na região.É importante ressaltar que a arte sempre esteve <strong>de</strong>svinculada <strong>do</strong> ensino nainstituição escolar e que somente a partir da LDB, Lei nº 9394/96, § 2°, é que foicriada a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> arte no Brasil. A partir daí, a arte foiintroduzida na Educação Infantil, no Ensino Fundamental <strong>do</strong> 1º ao 5º ano,manten<strong>do</strong>-a nos 6º ao 9º anos 14 e no Ensino Médio, extinguin<strong>do</strong> assim a antigaEducação Artística.Entretanto, isso motivou o aparecimento <strong>de</strong> alguns problemas relaciona<strong>do</strong>s,principalmente, com a regência da disciplina. No caso específico <strong>do</strong> 6º ao 9º ano <strong>do</strong>Ensino Fundamental, as instituições <strong>de</strong> ensino superiores mantêm curso <strong>de</strong>licenciatura em artes somente na capital. No sul e su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará, a situação é14 Antigas 5 as a 8 as séries <strong>do</strong> Ensino Fundamental.47


constrange<strong>do</strong>ra porque não existe curso <strong>de</strong> formação em arte, resultan<strong>do</strong> em umadificulda<strong>de</strong> para a área. Do mesmo mo<strong>do</strong>, na esfera da Educação Infantil e sériesiniciais <strong>do</strong> Ensino Fundamental, tornou-se eminentemente difícil dizer, na prática,quem seria o ministrante <strong>de</strong>ssa disciplina na escola, apesar <strong>de</strong> as Secretarias <strong>de</strong>Educação <strong>do</strong>s Municípios (<strong>do</strong> sul e su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará) insistirem em conce<strong>de</strong>r estatarefa ao professor uni<strong>do</strong>cente com formação múltipla.Desse mo<strong>do</strong>, perseveram as questões: se o professor uni<strong>do</strong>cente não temformação específica em arte, o que ele ensina na escola? Por que ele tem que darconta <strong>do</strong> ensino da arte na escola, já que para ensinar arte é indispensável que o<strong>do</strong>cente tenha vivência com a linguagem artística, conhecimentos teóricos e práticos<strong>de</strong> arte, bem como saber promover a experiência estética? Em geral, é evi<strong>de</strong>nte queo professor, tanto da capital como <strong>do</strong> interior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará, sinta gran<strong>de</strong>sdificulda<strong>de</strong>s para trabalhar a arte na escola. Existem certas restrições ao professor,tal como o acesso às produções artísticas nos diversos âmbitos da arte regional,nacional e internacional. Este distanciamento <strong>do</strong>s produtores culturais acabageran<strong>do</strong> uma <strong>de</strong>ficiência na vivência <strong>do</strong> próprio professor e reflete sensivelmente emseus alunos uma exclusão ao patrimônio <strong>de</strong> bens culturais e ao uso <strong>de</strong> umameto<strong>do</strong>logia <strong>de</strong> ensino a<strong>de</strong>quada.A dificulda<strong>de</strong> torna-se amplamente perversa quan<strong>do</strong> estamos diante <strong>do</strong> fato<strong>de</strong> que existem professores leigos <strong>de</strong> arte, os quais se aventuram a ensinar o quenão sabem. É escandalosa essa <strong>de</strong>sventura. E po<strong>de</strong>r-se-ia alcunhá-los <strong>de</strong>“aventureiros <strong>do</strong> tempo vazio”, porque nada ensinam, já que não o po<strong>de</strong>m fazer semque se tenham aprendi<strong>do</strong> primeiramente. Estes professores confun<strong>de</strong>m obra <strong>de</strong> artecom artesanato e - tamanha é a insensatez <strong>do</strong>s regra<strong>do</strong>s senhores que dispõem <strong>de</strong>po<strong>de</strong>res para atribuir <strong>de</strong>sígnios no ato da lotação a <strong>do</strong>centes - nem ao menos foramalfabetiza<strong>do</strong>s em arte e acabam tornan<strong>do</strong>-se alfabetiza<strong>do</strong>res <strong>de</strong>la na escola (esse éo caso específico <strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> 6º ao 9º ano <strong>do</strong> Ensino Fundamental <strong>do</strong> sul esu<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará).Do mesmo mo<strong>do</strong>, percebe-se que a “insensatez apraz a morbi<strong>de</strong>z”. Oslota<strong>do</strong>s para o ensino artístico, apesar <strong>do</strong> esforço, muitos são incapazes <strong>de</strong>reconhecer a importância da arte-educação na escola. Contu<strong>do</strong>, por uma razão quenão é a dificulda<strong>de</strong> somente, eles assumem a disciplina por causa da sua cargahorária a ser completada. Essa condição contingente acaba se revelan<strong>do</strong> comoesdrúxula, já que saber arte não é o objetivo principal para se construir o ensino48


artístico na escola. Desse mo<strong>do</strong>, a escola é invadida por professores que searriscam a ensinar arte sem ao menos, conhecer a história da arte como ponto <strong>de</strong>partida para a ampliação <strong>do</strong> conhecimento das crianças, além <strong>de</strong> contribuir para aalfabetização verbal e não-verbal. Na verda<strong>de</strong>, estamos diante <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong>para<strong>do</strong>xo educacional artístico: professores que assumem o ensino <strong>de</strong> arte e quenão sabem como lidar com ela. Dessa forma, que importância tem a alfabetizaçãovisual ou estética na escola se o professor não respon<strong>de</strong> à linguagem da arte?Devi<strong>do</strong> à preocupação com esse contexto discrepante, criou-se o Núcleo <strong>de</strong>Arte-Educação <strong>do</strong> Sul e Su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong> Pará, apoia<strong>do</strong> pelo Projeto Arte na Escola, como propósito <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r a formação <strong>de</strong> professores leigos em Arte e que muitonecessitam <strong>de</strong> apoio para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> seus projetos na escola. Isso é <strong>de</strong>interesse público, já que a educação <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>verá refletir a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>continuação <strong>do</strong> trabalho que se insere neste âmbito, ou seja, o propósitofundamental é possibilitar o uso da linguagem artística por meio da alfabetizaçãopara e com a imagem da arte e, oferecer a esses professores a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> setornarem alfabetiza<strong>do</strong>res estético-visuais.É necessário que o professor seja um estudante fascina<strong>do</strong> por arte,pois só assim terá que ensinar e transmitir a seus alunos a vonta<strong>de</strong><strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r. Nesse senti<strong>do</strong>, um professor mobiliza<strong>do</strong> para aaprendizagem contínua, em sua vida pessoal e profissional, saberáensinar essa postura a seus estudantes. (IAVELBERG, 2003, p. 12)De acor<strong>do</strong> com Iavelberg, sem fascinação pela arte é difícil empreen<strong>de</strong>rmosuma educação continuada. É primordial que o professor esteja estimula<strong>do</strong> paraenvolver-se com o estu<strong>do</strong> e a reflexão da arte na escola e que amplie o pensarcrítico, valorizan<strong>do</strong> as ativida<strong>de</strong>s em sala <strong>de</strong> aula como forma <strong>de</strong> impulsionar umarevolução estética capaz <strong>de</strong> influir na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida das crianças com as quaistrabalha na escola. Enfim, <strong>de</strong>sejamos que os professores da região sul e su<strong>de</strong>ste <strong>do</strong>Pará se disponibilizem em participar <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>senvolvam práticas <strong>de</strong>ver e conhecer a arte e que possam realizar projetos <strong>de</strong> ocupação <strong>do</strong>s espaçosculturais da escola e da cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> moram. Desse mo<strong>do</strong>, <strong>de</strong>monstrarão interessepela arte e cultura da região em conexão com o mun<strong>do</strong> da gran<strong>de</strong> arte ecompreen<strong>de</strong>rão que a arte faz parte da vida <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s.49


A guerra como tema e a linha como gramática visualCom o <strong>de</strong>senrolar <strong>do</strong>s acontecimentos, tornou-se necessário seguir etapas afim <strong>de</strong> envolver o “professor leigo” em arte. Propôs-se iniciar a oficina <strong>de</strong>alfabetização visual com o significa<strong>do</strong> da sintaxe da linha como semântica que semostra através da forma, dada visualmente pelas obras <strong>de</strong> Otto Dix (1891-1969) eLasar Segall (1891-1957). Diante <strong>do</strong> preposto e da qualida<strong>de</strong> artística selecionada(as imagens reproduzidas das obras <strong>do</strong>s artistas), ofereceu-se a oportunida<strong>de</strong> aosprofessores <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r dialogar entre si – um momento <strong>de</strong> contemplação e troca <strong>de</strong>idéias – a fim <strong>de</strong> que pu<strong>de</strong>ssem abrir espaço para a apreensão <strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s e<strong>de</strong>codificação da mensagem posta nas imagens artísticas das obras <strong>de</strong> arte.Dix e Segall 15 , ambos <strong>de</strong> origem estrangeira, serviram para impulsionar oolhar <strong>do</strong>s professores contempla<strong>do</strong>res com suas gravuras, num jogo entre asensibilida<strong>de</strong> e o entendimento da poética <strong>do</strong>s artistas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s possibilida<strong>de</strong>ssensoriais e visuais. Assim, construiu um percurso por meio <strong>de</strong> um diálogoestabeleci<strong>do</strong> entre a obra <strong>do</strong> artista e o olhar <strong>do</strong> expecta<strong>do</strong>r.Po<strong>de</strong>r-se-ia indagar sobre o porquê <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is artistas. A justificativa seriapelo fato <strong>de</strong> que tanto Dix quanto Segall são artistas contemporâneos queinterpretaram a realida<strong>de</strong> sobre a segunda guerra mundial se valen<strong>do</strong> <strong>de</strong> técnicas dagravura em metal, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> aos nossos olhares o contexto das atrocida<strong>de</strong>s.Isso traz uma conotação à realida<strong>de</strong> emergente em que vivemos na atualida<strong>de</strong>quan<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong> nossas vidas acabamos envolvi<strong>do</strong>s com os mesmossentimentos <strong>de</strong> mortes, perdas, violências, traumas etc. Segall diz que “... real eimaginário são ingredientes que se enfrentam, com plena consciência, na razãohistórica <strong>do</strong> presente, apoia<strong>do</strong>s sempre no senti<strong>do</strong> místico” (SEGAL apud RIBEIRO,2002). Percebe-se a visão <strong>de</strong> um homem atormenta<strong>do</strong> pela presença <strong>do</strong> terrordiante da morte <strong>do</strong>s seus conterrâneos, o pavor, a fome e a miséria.Dix, abala<strong>do</strong> pela pressão das recordações da guerra, “[...] retrata ascruelda<strong>de</strong>s vistas nos campos <strong>de</strong> batalha em gravuras carregadas <strong>de</strong> profundapressão emocional e tensão visual” (Ibi<strong>de</strong>m). Ele expressa a visão da guerra nas15 Os <strong>do</strong>is artistas se conheceram na cida<strong>de</strong> alemã <strong>de</strong> Dres<strong>de</strong>n ao término da Primeira Gran<strong>de</strong>Guerra. Compartilhan<strong>do</strong> os i<strong>de</strong>ais <strong>do</strong> Expressionismo alemão – que os levou, com outros artistas, àcriação da Secessão <strong>de</strong> Dres<strong>de</strong>n, Grupo 1919 –, Otto Dix e Lasar Segall produziram obras <strong>de</strong>distintas poéticas pessoais, mas que possibilitaram estimulantes comparações (RIBEIRO, 2002,p.05).50


trincheiras, mostran<strong>do</strong> seus companheiros mortos e em <strong>de</strong>composição na lama <strong>do</strong>campo <strong>de</strong> batalha. Dessa forma, a visão <strong>de</strong>sses artistas perpassa o tempo, e oprofessor participante <strong>do</strong> seminário “Gostar <strong>de</strong> Apren<strong>de</strong>r Arte” testemunha um tempovivi<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> ele a terceira visão da guerra, sem estar nos escombros ou nastrincheiras, mas consciente <strong>de</strong>la, da sua existência, presencia<strong>do</strong> por uma mídiaescrita e televisual em seus lares.Ao consi<strong>de</strong>rarmos a guerra um fato contemporâneo presente em nossasvidas, estamos evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong>-a, principalmente, pela existência <strong>do</strong> terrorismo e daviolência crescentes em nossas cida<strong>de</strong>s. O combate <strong>de</strong>stes é visível em toda a parte<strong>do</strong> globo. O professor é testemunha <strong>de</strong> uma guerra existente no mun<strong>do</strong>, que não sevê, porém a reconhece muito bem porque está em contato diariamente com asnotícias narradas nos <strong>do</strong>cumentários e noticiários da televisão, pelas imagens bemelaboradas <strong>de</strong> filmes com esse tema, além das fotografias em revistas. A guerra éalgo que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> la<strong>do</strong> sem percebê-la. Ela é marcante em nossasvidas, contu<strong>do</strong>, no nosso caso, <strong>de</strong> cidadão brasileiro, pouco se sabe, realmente,sobre o seu efeito na socieda<strong>de</strong>. Por isso é que não po<strong>de</strong>mos evitar este tema evirar o rosto sem nos importar.Um outro aspecto <strong>de</strong>sta justificativa é o fator artístico, a gramática visual, oelemento sintático que une os <strong>do</strong>is artistas: a linha. A linha é o elemento dasemântica visual que tratamos como uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informação sensorial, geran<strong>do</strong>significantes e significa<strong>do</strong>s nas obras <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>is talentos.Assim, a linha ao se tornar o elemento sintático revela<strong>do</strong>r da expressãoartística <strong>de</strong> Dix e Segall, revela também a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um e é percebidapelos contempla<strong>do</strong>res/professores a partir da leitura que se estrutura na forma <strong>de</strong>imagem visual. A leitura da imagem é outro passo que foi trabalha<strong>do</strong> usan<strong>do</strong> asobras <strong>de</strong>sses artistas. Tal proposição requisita que o apren<strong>de</strong>nte se torne uminquisi<strong>do</strong>r das mensagens através <strong>do</strong>s elementos visuais, por isso <strong>de</strong>tivemo-nos empensar a linha sob seu aspecto sintático.Recorremos ao conceito <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> imagem proposto por Pillar (1003, p.77),que bem o <strong>de</strong>fine: “Ler uma imagem é compreendê-la, interpretá-la, <strong>de</strong>screvê-la,<strong>de</strong>compô-la e recompô-la para apreendê-la como objeto a conhecer”. Dessa forma,também propusemos usar o roteiro basea<strong>do</strong> em etapas, tais como: <strong>de</strong>scrição,51


análise, interpretação, fundamentação e releitura, explicitadas <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>, combase em Pillar (1992, p. 79-82):A <strong>de</strong>scrição diz respeito à i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> titulo <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> artista que ofez, <strong>do</strong> lugar e da época em que a imagem foi criada, da linguagem plásticaempregada, <strong>do</strong> material utiliza<strong>do</strong>, <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> representação, se figurativa ou abstrata,entre outros. A técnica usada no trabalho é essencial para i<strong>de</strong>ntificar o mo<strong>do</strong> como aimagem parece ter si<strong>do</strong> elaborada, ou seja, como aparentemente o pintor usou opincel, que tipo <strong>de</strong> instrumento e que méto<strong>do</strong> artístico ele teria emprega<strong>do</strong>.A análise procura discriminar as relações entre os elementos formais daimagem: o que as formas criam entre si, como elas se influenciam e se relacionam.Examinam-se relações <strong>de</strong> tamanho, relação entre as formas, relações <strong>de</strong> cor e <strong>de</strong>textura, <strong>de</strong> superfícies texturizadas e lisas, <strong>de</strong> espaço e <strong>de</strong> volume. É muitoimportante também o mo<strong>do</strong> como as formas estão dispostas, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> dadisposição horizontal, vertical ou diagonal, mudam-se as relações entre elas.Interpretar é organizar as observações <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> significativo, ou seja, éconectar idéias que explicam sensações e sentimentos experimenta<strong>do</strong>s frente a umaimagem. Po<strong>de</strong>-se expor “um problema que o trabalho parece ter tenta<strong>do</strong> resolver.”(FELDMAN, 1970, p.362 apud PILLAR) Segun<strong>do</strong> o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> quem estáinterpretan<strong>do</strong>.Fundamentação é conhecer o artista e sua obra, falar <strong>do</strong> envolvimento <strong>de</strong>lecom o meio em que viveu e relacionar a sua vida artística com o contexto histórico esocial da sua época.Releitura é reinterpretar a obra <strong>do</strong> artista sob diferentes aspectos elinguagens. Po<strong>de</strong> ser por meio da poesia, <strong>do</strong> teatro, da dança, <strong>do</strong> <strong>de</strong>senho, daescultura, da pintura etc. Isso <strong>de</strong>monstra que o observa<strong>do</strong>r também participa daconstrução da idéia da obra juntamente com o artista.Para que o professor tivesse contato com os aspectos conceituais queenvolvem a linha, optamos por fazer uma revisão <strong>do</strong>s aspectos daunidimensionalida<strong>de</strong>, da classificação, das sensações transmitidas e daexpressivida<strong>de</strong> que se materializam nesses conceitos. Desse mo<strong>do</strong>, nos colocamosem frente <strong>do</strong>s elementos visuais <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s que elaboram a forma visual edaqueles que interferem na leitura <strong>do</strong> aprecia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> imagens (o observa<strong>do</strong>r). Mesmoque alguém se coloque diante das imagens fixas (obras <strong>de</strong> arte) – nesse caso as52


gravuras <strong>de</strong> Dix e Segall – <strong>de</strong> maneira parcial, há ainda a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>apreciação artística da obra, posto que se envolvem com uma gama <strong>de</strong> sensações einterpretações, movimentan<strong>do</strong> seus senti<strong>do</strong>s e exigin<strong>do</strong> a participação <strong>de</strong> suapercepção num jogo entre o entendimento e a imaginação, interagin<strong>do</strong>esteticamente e mobilizan<strong>do</strong>, além da sensorialida<strong>de</strong>, a emoção.Resulta<strong>do</strong> PerformáticoA última etapa <strong>de</strong>ste processo culminou em uma releitura das obras <strong>do</strong>sartistas, já que se consi<strong>de</strong>ra este momento como a reinterpretação da obra sobdiferentes aspectos e linguagens. Assim, a proposta <strong>de</strong> releitura foi construir trêsimagens a partir <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> Segall ou Dix, as quais seriam interpretadas noespaço tridimensional. Cada cena organizada em 3D teria <strong>de</strong>z segun<strong>do</strong>s <strong>de</strong>“apresentação”, já que estas não seriam representadas, e sim apresentadas comocriação chamada <strong>de</strong> “imagem congelada”, sem o uso da fala, <strong>do</strong> som e <strong>do</strong>movimento. Seria como um quadro que tomou conta <strong>do</strong> espaço para viver aspersonagens <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> real, porém naquele momento imóvel, mas comunican<strong>do</strong>sensações e pulsan<strong>do</strong> nos corações a beleza da imagem que agora estava vivadiante <strong>do</strong>s olhares <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s e viva nos observa<strong>do</strong>res da imagem.A seqüência <strong>de</strong> apresentação das imagens congeladas seguiu um roteiro:primeiramente, o grupo <strong>de</strong> professores que realizou a releitura <strong>de</strong>veria respon<strong>de</strong>r “oque aconteceu antes?”. Em resposta, o grupo apresentou uma cena relacionada àimagem principal, escolhida <strong>de</strong>ntre as obras <strong>de</strong> Dix ou Segall, e <strong>de</strong>pois criou o que<strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> ação pictórica no espaço tridimensional, apresentada imóvel,usan<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s corpos <strong>do</strong>s participantes que se transformaram empersonagens construí<strong>do</strong>s para compor a cena. A segunda cena tinha como propostaa reprodução da imagem da obra <strong>do</strong> artista. O <strong>de</strong>safio envere<strong>do</strong>u pelo mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>fazer pesquisa visual, abrin<strong>do</strong> a observação para os <strong>de</strong>talhes <strong>do</strong>s elementos quecompunham a imagem. Dessa forma, usariam elementos reais para refazer a cena,reformulariam o espaço, recrian<strong>do</strong> cenários e outros elementos pictóricosnecessários para se aproximar da imagem escolhida, para ser apresentada noespaço tridimensional e, por fim, a cena respon<strong>de</strong>ria: “o que aconteceu <strong>de</strong>pois?”Esta resposta <strong>de</strong>veria conter uma conclusão a partir da mensagem – tirada da53


gravura central – usan<strong>do</strong> para isso os corpos como elementos pictóricos e plásticovisuais,<strong>de</strong> forma a fornecer imaginação aos aprecia<strong>do</strong>res ali dispostos.O resulta<strong>do</strong> é performático. A sensação das imagens é uma volta ao passa<strong>do</strong>.Aparentemente a turma entrou em sintonia com a imagem, confundin<strong>do</strong>-se com aobra. O ganho disso foi surpreen<strong>de</strong>nte, pois a leitura é estabelecida pelo toque,cheiro, sabor, cor, beleza e muito mais. É o verbal que se traduz em não-verbal, ou onão-verbal que se cristaliza em imagens emocionantes.O professor vivencia a gramática visual e se envolve na pesquisa plástica. Asala <strong>de</strong> aula virou um laboratório <strong>de</strong> experimentação estético-artística e sensóriovisual,um ateliê <strong>do</strong> não-verbal. Por fim, as experiências tornam-se significativasporque houve <strong>de</strong>scobertas <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s das ações. Assim, as obras <strong>de</strong> Dix e Segall,que pareciam distante <strong>do</strong> contexto <strong>do</strong> professor, num primeiro momento, passam afazer parte <strong>de</strong> sua vida, pois a vida é arte e entre elas há certa combinação.Refletin<strong>do</strong> sobre...A partir <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is artistas, Otto Dix e Lasar Segall, o olhar <strong>do</strong> aprecia<strong>do</strong>r –neste caso <strong>do</strong> professor – se transformou em puro exercício <strong>de</strong> vida e arte. Houvediálogo visual entre as construções sensoriais no espaço tridimensional e as formasgráficas das pranchas das gravuras que foram lidas pelos participantes. Nessabusca, a imagem da guerra foi transformada em uma forma <strong>de</strong> dizer algo aoespecta<strong>do</strong>r por meio da linguagem <strong>do</strong> expressionismo. Assim, a cristalização daimaginação e a mensagem <strong>do</strong>s artistas foram reinterpretadas pelos professores porseus próprios corpos, ou seja, viveram a arte.Os objetivos foram alcança<strong>do</strong>s e reconheceu-se a importância <strong>de</strong> seexperimentar a arte <strong>de</strong> forma mais integra<strong>do</strong>ra e estimulante, capaz <strong>de</strong> restabelecerproximida<strong>de</strong>s com os elementos táteis-visuais da obra <strong>do</strong>s artistas expressionistas(Dix e Segall), consolidan<strong>do</strong>-se a alfabetização estético-visual a qual nospropusemos realizar.Assim, ao compor e <strong>de</strong>compor a imagem da obra <strong>de</strong> arte por meio <strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> leitura e releitura, os professores foram capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrarhabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fazer, ler e contextualizar a obra no tempo e espaço. Portanto, aocompreen<strong>de</strong>rem os aspectos subjetivos e objetivos existentes na obra <strong>de</strong> arte,54


enten<strong>de</strong>ram que as possibilida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> uso da imagem, na educação das crianças ejovens, são <strong>de</strong> importância fundamental, pois é por esse processo que se inicia acrítica à imagem.REFERÊNCIASIAVELBERG, Rosa. Para gostar <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r arte: sala <strong>de</strong> aula e formação <strong>de</strong>professores. Porto Alegre:Artmed, 2003.PILLAR, Analice Dutra. A leitura <strong>de</strong> imagem. In: Pesquisa em artes plásticas. PortoAlegre: Ed. Universida<strong>de</strong>/ UFRGS/ Associação Nacional <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res emArtes Plásticas (ANPAP), 1993.RIBEIRO, Noêmia. Lasar Segall e Otto Dix: o expressionismo alemão em museuspaulistano. In: LASAR SEGAL & OTTO DIX. Diálogos gráficos. Museu Lasar Segall/MASP/ IPHAN: São Paulo, 2002.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.55


ARTE NA ESCOLA, NA UNIVERSIDADE, NA RUA: A INTERFACE DOS CURSOSDE FORMAÇÃO EM ARTE E A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIAArt in school, at university, in the street: the interface of training courses in art andExtension University.Célia Pereira Gomes 16Nádia Régia M. Neckel 17RESUMOEste texto preten<strong>de</strong> uma reflexão a cerca da constitutivida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong>formação em artes e suas interfaces com a extensão universitária. As consi<strong>de</strong>raçõesaqui tecidas ancoram-se nas perspectivas atuais <strong>do</strong> ensino da arte bem como daconstituição da extensão enquanto parte <strong>do</strong> tripé que sustenta a universida<strong>de</strong>:Ensino – Pesquisa – Extensão. Apontamos que tais instâncias não são lineares nemtão pouco estanques, mas constituem-se mutuamente e colocam em movimento,sempre em relação à, o processo <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> conhecimento da/na socieda<strong>de</strong>.Palavras-Chave: Extensão; conhecimento; arte.ABSTRACTThis text wants a reflection about the constitutivida<strong>de</strong> of training courses in arts andinterfaces with the university extension. The consi<strong>de</strong>rations ma<strong>de</strong> here anchor onperspectives of the current teaching of art and the formation of the extension as partof the tripod that claims the university: Education - Search - Extension. Indicate thatsuch instances are not linear nor units but constitute each other and put in motion,always in relation to the process of building knowledge on / in society.Keywords: Extension; knowledge; art.RESUMEMEste articulo es acerca <strong>de</strong> una reflexión sobre la constitutividad <strong>de</strong> los cursos <strong>de</strong> laformación en artes y sus interfaces com la extensión <strong>de</strong> la universidad. Las16 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Extensão e Cultura na Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> – Canoinhas SC – Graduadaem Licenciatura Plena Educação Física pela Universida<strong>de</strong> Cruz Alta RS; Mestre em Educação eCultura – U<strong>de</strong>sc, Joinville/ SC; Orienta projeto <strong>de</strong> pesquisa e extensão. gcelia@cni.unc.br17Professora na Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> – Canoinhas SC – Graduada em Licenciatura PlenaEducação Artística – Habilitação Artes Cênicas pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria RS; Mestreem Ciências da Linguagem – Unisul, Florianópolis/ SC; Doutoranda Lingüística Unicamp/SP. Entre osanos <strong>de</strong> 1999 a 2004 atuou como assessora <strong>de</strong> extensão e cultura na mesma universida<strong>de</strong>.Atualmente atua no Curso <strong>de</strong> Artes Visuais, no Pólo Arte na Escola e como pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> NUPAE– Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Arte e Educação (<strong>de</strong> caráter interinstitucional) e orienta projeto <strong>de</strong> pesquisae extensão. nregia@cni.unc.br56


consi<strong>de</strong>raciones aca tejidas son sustentadas por la percepción <strong>de</strong> actuales <strong>de</strong> loensino <strong>de</strong> la arte asi como <strong>de</strong> la constitución <strong>de</strong> la extensión como parte <strong>de</strong> lo tripeque sustenta la universidad: Ensino – Investigacion – Extensión. Logramos que lasestansias no son lineares ni tampoco estañadas, pero se constituyen mutuamente ycolocan en movimiento siempre en relación para, el proceso <strong>de</strong> construcción <strong>de</strong>lconocimiento <strong>de</strong> la sociedad.Palabras-Clave: Extensión, conocimiento; arte.Ao compreen<strong>de</strong>rmos que o fazer artístico é constituí<strong>do</strong> por um processo quealia tanto o conhecimento técnico quanto o sensível, sen<strong>do</strong> que este processo estáem um lugar <strong>de</strong> entremeio nas diversas práticas <strong>de</strong> linguagem, somos leva<strong>do</strong>s apensar a presença <strong>de</strong>sse processo no âmbito educacional tanto na escola <strong>de</strong>educação básica, quanto na universida<strong>de</strong>. Percebemos que a gran<strong>de</strong> problemática<strong>de</strong>ntro da educação é compreen<strong>de</strong>r o fazer artístico enquanto processo. Na maioriadas vezes, esse processo é confundi<strong>do</strong> com o produto e com técnicas <strong>de</strong> produção,como a obra pronta e acabada que vai para a sala <strong>de</strong> aula, e a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>produção em um horário <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> da semana, tanto par o aluno quanto para oprofessor. Em quarenta e cinco minutos, <strong>de</strong> um final <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, numa sexta-feira, osalunos têm a obrigação <strong>de</strong> criar e o professor tem a obrigação <strong>de</strong> levar uma “técnicainteressante”. E quanto aos cursos <strong>de</strong> formação em arte? E quanto aos cursos <strong>de</strong>extensão em arte?Assistimos a mudanças extremas no ensino da arte, principalmente, nosúltimos <strong>de</strong>z anos em nosso país. Tais mudanças, não estão <strong>de</strong>scoladas das <strong>de</strong>maistransformações, tanto na escola, quanto na universida<strong>de</strong>.A Universida<strong>de</strong> para ser compreendida como tal, <strong>de</strong>ve pautar-se no tripéEnsino-Pesquisa-Extensão. Tais bases, não são compartimentais, nem tão poucoestanques ou lineares, mas <strong>de</strong> constituição mútua. A extensão universitária, a partir<strong>de</strong> suas diretrizes conceituais e políticas, volta-se historicamente à articulação <strong>do</strong>ensino e da pesquisa <strong>de</strong> forma indissociável, assumin<strong>do</strong> assim uma posiçãomedia<strong>do</strong>ra das práticas acadêmicas e da/na socieda<strong>de</strong>.Com as reformulações nas diretrizes nacionais <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> graduação,incluin<strong>do</strong> os cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professor <strong>de</strong> arte – o qual é o escopo <strong>de</strong> nossareflexão – o aumento das horas <strong>de</strong> estágio e/ou práticas educativas em arte faz, daextensão universitária, uma instância importantíssima na formação <strong>do</strong> futuro57


professor <strong>de</strong> arte. Segun<strong>do</strong> Pimentel (2008), o estágio curricular é o momento daprática profissional, da consciência social e <strong>do</strong> compromisso político, sen<strong>do</strong> uminstrumento a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para viabilizar a extensão universitária. O estágio <strong>de</strong>verespon<strong>de</strong>r às questões sociais dimensionadas nos <strong>de</strong>bates entre universida<strong>de</strong> ecomunida<strong>de</strong>, fortalecen<strong>do</strong> a relação entre ambas. Recomenda-se ainda que aparticipação <strong>do</strong>s discentes em projetos e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>ve sercomputada para integralização curricular. Assim, tanto no que diz respeito a práticaeducativa <strong>do</strong>s conhecimentos pedagógicos no ensino da arte, quanto na <strong>de</strong>manda<strong>de</strong> oficinas solicitadas pela comunida<strong>de</strong> à universida<strong>de</strong> via extensão, e ainda nacirculação <strong>do</strong>s fazeres artísticos e acadêmicos, a extensão universitária<strong>de</strong>sempenha um papel fundamental nos cursos <strong>de</strong> formação em arte.No entanto é preciso consi<strong>de</strong>rar questões fundamentais voltadas àspropostas educativas em arte. A sustentação <strong>de</strong> um fazer/ensinar ou a proposição<strong>de</strong> experiências pedagógicas em arte <strong>de</strong>ve ocupar-se <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> materiaispedagógicos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e com perspectivas atualizadas <strong>de</strong> aprendizagem emarte. Neste ponto tocamos no outro vértice <strong>do</strong> tripé universitário, a pesquisa. Portrás <strong>de</strong> materiais pedagógicos <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> há uma pesquisa responsável pautadaem bases <strong>de</strong> sustentação teórica e profunda reflexão acadêmica.O ensino da arte <strong>de</strong>ve primar por um processo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>conhecimento tanto cognitivo quanto sensível. As atuais tendências abordam umperfil <strong>de</strong> um profissional media<strong>do</strong>r/propositor. Se tomarmos o conceito <strong>de</strong> mediação,verificaremos que o professor necessita <strong>do</strong>minar tanto os códigos técnicos da arte,quanto os códigos educacionais para assim dispor ao educan<strong>do</strong> uma ‘abertura’quanto as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> perceber o mun<strong>do</strong> que o cerca. Essas são condições<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento em arte.Em nossa percepção, cada artista é um sujeito marca<strong>do</strong> histórica, i<strong>de</strong>ológicae socialmente, e assume uma posição em seu contexto social, lançan<strong>do</strong> mão dasfunções próprias da arte, segun<strong>do</strong> o que nos ensina Fischer (1975). A funçãoindividual pauta-se no aprimoramento das habilida<strong>de</strong>s técnicas <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, emoutras palavras, uma busca <strong>de</strong> sua construção poética observan<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suapercepção e sensibilida<strong>de</strong>, até a elaboração <strong>de</strong> um olhar crítico que são as bases<strong>de</strong> seu fazer expressivo. A função social da arte é a que se pautam as relaçõessociais e que reflete sobre o mun<strong>do</strong> circundante. Função essa que se encarrega <strong>de</strong>58


tecer relações por meio <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong> em arte entre os sujeitos e, entre essescom o mun<strong>do</strong>. E ainda, a função ambiental, a interferência da arte no meio. Refletirsobre o mun<strong>do</strong> que nos cerca e interferir nele, a arte buscan<strong>do</strong> seu espaço emespaços até então <strong>de</strong>spercebi<strong>do</strong>s. E, assim estamos com a arte na rua e nacomunida<strong>de</strong>. Aqui, temos novamente outro ponto <strong>de</strong> intersecção importante daextensão universitária tanto na formação <strong>do</strong> professor <strong>de</strong> arte ou bacharel, quan<strong>do</strong>pensamos nos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong> sua produção. Quan<strong>do</strong> pensamos nosmo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> circulação pensamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a divulgação <strong>do</strong> ensino e da pesquisa, aténas exposições, educação em museu, material pedagógico etc.Assim diferenças individuais <strong>de</strong> cada artista são contempladas amplamentenas teorias da arte, consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os aspectos estruturais da obra. Para nós,educa<strong>do</strong>res, é apenas um <strong>do</strong>s aspectos <strong>do</strong> fazer artístico, e não o mais importante<strong>de</strong>les.Estamos nos propon<strong>do</strong> a operar na dimensão sócio-histórica, naaprendizagem em arte, partin<strong>do</strong> da noção <strong>de</strong> sujeito e não <strong>de</strong> indivíduo. A diferença<strong>de</strong> traços, <strong>de</strong> grafias, <strong>de</strong> pinceladas é da or<strong>de</strong>m individual, e as percebemosenquanto um ponto minúsculo quan<strong>do</strong> focamos a dimensão da arte na educaçãobásica, na universida<strong>de</strong>, na rua, na comunida<strong>de</strong>.Em seu livro “Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Ver” John Berger inclui um ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>Cézanne que parece compatível com essa discussão que estamos <strong>de</strong>linean<strong>do</strong>‘Um minuto na vida <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> passa! Pintá-lo em sua realida<strong>de</strong>, eesquecer tu<strong>do</strong> o mais para isso! Tornar-se esse minuto, ser a chapaimpressora ... da imagem <strong>do</strong> que vemos, esquecen<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> o queapareceu antes <strong>de</strong> nosso tempo...’ (Cézanne) O que fazemosdaquele momento pinta<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> ele está diante <strong>de</strong> nossos olhosvai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r daquilo que esperamos da arte, e que, por sua vez,hoje <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> como já vivenciamos o significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> pinturaatravés <strong>de</strong> reproduções. (BERGER, 1999, pág. 33)Parece-nos que Berger consi<strong>de</strong>ra que, <strong>de</strong> alguma forma, a imagem (ou aobra <strong>de</strong> arte) não é apenas estrutura, mas está localizada em um tempo histórico e<strong>de</strong> certa forma é afetada por esse tempo. É a arte da galeria, <strong>do</strong> ateliê, <strong>do</strong> museu,<strong>do</strong> metrô, da pare<strong>de</strong> <strong>do</strong> prédio, a arte para além <strong>do</strong>s muros da escola ou dauniversida<strong>de</strong>. A arte como forma constitutiva <strong>do</strong> homem.59


As obras <strong>de</strong> arte, em sua circulação, abrem espaços para o especta<strong>do</strong>r comofrui<strong>do</strong>r ativo da obra e não somente como um leitor passivo, <strong>de</strong>sta forma, conta-secom o <strong>de</strong>slizamento <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s em um espaço <strong>de</strong> inter-relação. A imagem “salta”da tela, <strong>do</strong> ví<strong>de</strong>o, da pare<strong>de</strong>... possibilitan<strong>do</strong> ao especta<strong>do</strong>r uma busca <strong>de</strong> relaçõesa partir não só <strong>do</strong>s signos, mas uma busca embasada e fundamentada emexperiências pessoais e em uma história contextual, ou seja, a uma constante resignificação<strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s.A leitura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> prece<strong>de</strong> à leitura da palavra. O processo <strong>de</strong>aprendizagem se dá por um conjunto indivisível: o mun<strong>do</strong>, o pensamento, a palavrae, é claro seu articula<strong>do</strong>r, o sujeito 18 . No momento em que o professor, comomedia<strong>do</strong>r ou propositor, compreen<strong>de</strong> seu real papel no processo ensinoaprendizagem,passa a enten<strong>de</strong>r a importância <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> que promova a leitura<strong>de</strong> mun<strong>do</strong> proporcionan<strong>do</strong>, assim, um meio <strong>do</strong> aluno construir seus conhecimentospela exploração gradativa e formulação <strong>de</strong> conceitos, ou seja, assim será sujeitohistórico social <strong>de</strong> sua trajetória.A escola e a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenham (ou pelo menos <strong>de</strong>veriam<strong>de</strong>sempenhar) um papel media<strong>do</strong>r, proporcionan<strong>do</strong> ao aluno condições para aconstrução <strong>do</strong> conhecimento, para que possa compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>scobrir oureinventar o mun<strong>do</strong> que o ro<strong>de</strong>ia por meio <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>scobertas. A educação, aopropiciar à criança o acesso ao conhecimento sistematiza<strong>do</strong>, está colaboran<strong>do</strong> paraque ela articule e amplie seus conhecimentos espontâneos adquiri<strong>do</strong>s naturalmentepelo seu <strong>de</strong>senvolvimento e por suas experiências vivenciais. Desta forma, torna-sefundamental o ‘velho’ tripé educativo: Ensino – Pesquisa – Extensão.Ousamos dizer mais, amplian<strong>do</strong> tal percepção <strong>de</strong> forma análoga, quan<strong>do</strong>pensamos nos cursos <strong>de</strong> formação em arte, é pela instância <strong>do</strong> ensino queexercitamos didaticamente os conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s. Entretanto, são nasinstâncias da pesquisa e extensão que as condições <strong>de</strong> aprendizagem seestabelecem, observan<strong>do</strong> e <strong>de</strong>screven<strong>do</strong> o meio que os cerca, suas experiências.Dividin<strong>do</strong> estas experiências com outros, é que os alunos po<strong>de</strong>m participarativamente das <strong>de</strong>cisões sobre o que investigar e como fazer, o que possibilita umestu<strong>do</strong> vivencial e não apenas <strong>de</strong> cunho teórico ou individualizante. Daí dizer que as18 A formação da criança enquanto sujeito histórico – social. (Proposta Curricular <strong>de</strong> Santa Catarina1998 – Educação Infantil p. 19)60


instâncias ensino-pesquisa-extensão não são linearizadas ou estanques, masconstitutivas, relacionais.As formas <strong>de</strong> buscarmos essa inter-relação com o meio em que estamosinseri<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong> universo das artes acontece pelo caminho <strong>do</strong> sensível, no qualrepresentamos o real, conseguimos tecer relações com o objeto o qual queremosrepresentar, buscan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> e significa<strong>do</strong>. Assim, o processo criativo, trata<strong>do</strong>enquanto processo discursivo, como dito anteriormente, é carrega<strong>do</strong> <strong>de</strong> interfaceshistóricas, sociais e i<strong>de</strong>ológicas e o artista se insere em uma <strong>de</strong>terminada formaçãodiscursiva para produzir seu dizer. Essa percepção consta em inúmeras teses arespeito da arte, tanto no campo histórico quanto estético. Benjamim (1934), em suaabordagem marxista da Arte, percebe o artista como um ‘trabalha<strong>do</strong>r’ <strong>de</strong> seu tempo.Alguns pesquisa<strong>do</strong>res brasileiros partem <strong>de</strong> leituras como essa, especializan<strong>do</strong> ahipótese para discutir a produção artística contemporânea, como por exemplo,Santaella quan<strong>do</strong> aponta quepassamos a enxergar que a historicida<strong>de</strong> da realida<strong>de</strong> objetivaimpõe, ao mesmo tempo, uma historicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s meios <strong>de</strong> produçãoartística, sem o que não se torna possível inteligir o própriomovimento <strong>de</strong> transformação da arte. Com isso, Benjamim dá umpasso avante nas consi<strong>de</strong>rações acerca das relações entre intraestruturaeconômica e produção artística, visto que a transformação<strong>do</strong>s meios artísticos está inextricavelmente ligada ao<strong>de</strong>senvolvimento das forças produtivas. Por outro la<strong>do</strong>, os mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong>produção artística <strong>de</strong> que uma socieda<strong>de</strong> dispõe são <strong>de</strong>terminantesdas relações sociais entre produtores e consumi<strong>do</strong>res, assim comointerferem substancialmente na própria natureza da obra.(SANTAELLA, 1995 p. 103)Assim, a perspectiva atualizada da arte na escola, na universida<strong>de</strong>, na rua,na comunida<strong>de</strong> volta-se ao processo, ao movimento ao estar em relação à. E <strong>de</strong>staforma, o tripé universitário – Ensino-Pesquisa-Extensão – <strong>do</strong> qual falávamos vem aoencontro <strong>de</strong>sta perspectiva: ensinar – pesquisar/verificar – apreen<strong>de</strong>r/ fazer circular– buscar na rua e <strong>de</strong>volver para a rua, tanto a arte, quanto as vivências estéticas.Hasse aponta queTem-se hoje como princípio a efetiva integração entre a Universida<strong>de</strong>e a Comunida<strong>de</strong>. Esta integração com as comunida<strong>de</strong>s externas, emsuas mais diferentes formas <strong>de</strong> organização, estabelece uma troca<strong>de</strong> saberes, entre o acadêmico e o popular, que terá comoconseqüência a produção <strong>do</strong> conhecimento resultante <strong>do</strong> confrontocom a realida<strong>de</strong>, a <strong>de</strong>mocratização <strong>do</strong> conhecimento acadêmico e a61


participação efetiva da comunida<strong>de</strong> na atuação da universida<strong>de</strong>, e<strong>de</strong>sta forma viabilizar uma relação transforma<strong>do</strong>ra entre aUniversida<strong>de</strong> e a Socieda<strong>de</strong>. (HASSE, 2006, p.16)Tocamos aqui num ponto muito importante, mas que, no entanto, suscitaoutra reflexão específica, mesmo assim, não po<strong>de</strong>ríamos nos furtar <strong>de</strong> mencioná-lo:a relação extensão universitária e cultura 19 , e nessa, outra interface. Pois há <strong>de</strong> seconsi<strong>de</strong>rar que as relações culturais são constitutivas <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formação emarte, não é por acaso que colocamos a palavra “rua” <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o título <strong>de</strong>sta reflexão.Rua aqui entendida em <strong>do</strong>is âmbitos, tanto no que diz respeito a abertura, àpolissemia, a diversida<strong>de</strong>, à diferença cultural, como no que diz respeito ao espaço<strong>de</strong> circulação e divulgação da ‘arte pública’, a arte da rua e na rua. Entretanto, comofoi dito, esse ponto abre para uma outra reflexão que exige mais <strong>de</strong>dicação.Ousamos dizer e, insistimos neste ponto, para terminar nossa reflexão. Oscursos <strong>de</strong> formação em arte pelo seu caráter cultural são caracteristicamenteextensionistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua formulação até sua constitutivida<strong>de</strong>. E assim, a instânciapropulsora <strong>de</strong>ste movimento, com absoluta certeza é a extensão universitária. Tantopela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efetiva experiência da ação pedagógica, quanto pelacirculação <strong>do</strong> fazer artístico.REFERÊNCIASACAFE, Associação Catarinense das Fundações Educacionais. Fórum <strong>de</strong> ExtensãoUniversitária. Org. HASSE, Charles Roberto. Rio <strong>do</strong> Sul/SC: UNIDAVI, 2006.__________. I Fórum <strong>de</strong> Extensão Universitária ACAFE: Panorama <strong>de</strong> Extensãonas Universida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Sistema ACAFE. Tubarão/SC: 2000.ALTHUSSER, Louis. Aparelhos I<strong>de</strong>ológicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>: nota sobre os aparelhosi<strong>de</strong>ológicos <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> (AIE). Tradução <strong>de</strong> Walter José Evangelista e Maria Laura19 Em muitas Universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Catarina o setor nomeia-se Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria <strong>de</strong> Extensão eCultura. Por quatro anos, atuamos na assessoria <strong>de</strong>ste setor na Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Contesta<strong>do</strong> –Campus Canoinhas, vem daí nosso interesse em refletir sobre essa interface <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> formaçãoem arte e da extensão. No nosso caso, o Curso <strong>de</strong> Artes Visuais nasceu a partir da <strong>de</strong>manda <strong>de</strong>trabalhos e oficinas na extensão universitária <strong>de</strong>sta instituição e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação em 2001 mantémdiversos projetos <strong>de</strong> extensão liga<strong>do</strong>s ao Programa <strong>de</strong> Apoio a Extensão e a Cultura (PAEC) etambém o Pólo Arte na Escola em convênio com o Instituto Arte na Escola /SP da Fundação Iochpe.62


Viveiros <strong>de</strong> Castro: introdução critica <strong>de</strong> José Augusto Guilhon Albuquerque, 2. ed.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Edições Graal,1985.BERGER, John. Mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Ver. Tradução Lúcia Olinto. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco,1999.HUINZINGA, Johan. Homo Lu<strong>de</strong>ns: o jogo como elemento da cultura. TraduçãoJoão Paulo Monteiro. 4.ed. São Paulo: Perspectiva, 2000.MASON, R. Por uma Arte-Educação Multicultural. Campinas/SP: Merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> letras2001.MORSS, Susan Buck. Estética e Anestética: o “ensaio sobre a obra <strong>de</strong> arte” <strong>de</strong>Walter Benjamim reconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>. In: <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> Literatura. Florianópolis:UFSC,1996.__________. Dialética <strong>do</strong> olhar: Walter Benjamin e o projeto das passagens.Tradução Ana Luiza Andra<strong>de</strong>. Belo Horizonte/MG: Ed. UFMG – Chapecó/SC:ARGOS, 2002.NECKEL, Nádia Régia Maffi. Os contos <strong>de</strong> fadas e suas formas <strong>de</strong> representaçãona educação infantil. Canoinhas: UnC, 2000.__________. A formação <strong>do</strong> professor <strong>de</strong> artes cênicas. In: Livro <strong>de</strong> Memórias <strong>do</strong>Seminário Estadual da Arte na Educação. Joinville/SC: Univille, 2003.__________. Do discurso artístico à percepção <strong>de</strong> diferentes processos discursivos.Dissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> – Programa <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> Ciências da Linguagem.Florianópolis: Unisul, 2004.ORLANDI, Eni Pulccinelli. Interpretação: autoria, leitura e efeitos <strong>do</strong> trabalhosimbólico. Petrópolis/RJ: Vozes,1998.__________. A linguagem e seu funcionamento: as formas <strong>do</strong> discurso.Campinas/SP: Pontes, 1987.__________. Análise <strong>de</strong> discurso: princípios e procedimentos. Campinas, SP:Pontes, 1999.__________. As formas <strong>do</strong> silêncio, no movimento <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s. 4. ed.Campinas/SP: Editora da Unicamp,1997.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.63


OFICINA PERMANENTE DE GRAVURA: UM PROJETO DE EXTENSÃO EMARTEExtension project: permanent workshop of printmaking.Dulce Regina Baggio Osinski 20RESUMOEste artigo analisa as ativida<strong>de</strong>s extensionistas em arte <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Arte daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, em especial o Projeto <strong>de</strong> Extensão OficinaPermanente <strong>de</strong> Gravura que, cria<strong>do</strong> em 1999 e em funcionamento até 2007. Foii<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> com o objetivo <strong>de</strong> criar um espaço <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à produção e reflexão dagravura enquanto expressão artística. Configuran<strong>do</strong>-se em espaço aberto àcomunida<strong>de</strong>, congregou estudantes, artistas, arte-educa<strong>do</strong>res e profissionais <strong>de</strong>áreas correlatas, interessa<strong>do</strong>s em pesquisar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste meio queabrange <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as técnicas tradicionais <strong>de</strong> gravura até os mais atuais meios <strong>de</strong>reprodução da imagem, como a fotocópia, o off-set e a impressão digital. Ameto<strong>do</strong>logia utilizada baseou-se nas teorias para o ensino da arte que têm comoprincipais teóricos Elliot Eisner, Brent Wilson e Ana Mae Barbosa e preconizam aindissociabilida<strong>de</strong> entre a produção artística, sua contextualização histórico-cultural ea leitura estética e crítica da obra produzida. Além <strong>do</strong> trabalho prático em ateliê, oProjeto promoveu encontros semanais, conduzi<strong>do</strong>s pelos professores orienta<strong>do</strong>res,para discussão <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>s participantes. Foram também promovi<strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong>iniciação e aperfeiçoamento, ministra<strong>do</strong>s por artistas e teóricos da arte, os quaisforam convida<strong>do</strong>s a falar sobre sua poética ou sobre temas relevantes para o <strong>de</strong>bateda arte e da gravura. Além disso, foram promovidas exposições da produçãoartística da Oficina e <strong>de</strong>monstrações em eventos institucionais como um meio <strong>de</strong>socialização <strong>de</strong>sta experiência.Palavras-chave: Arte-educação; gravura; ensino da arte; Oficina Permanente <strong>de</strong>Gravura; arte no Paraná.ABSTRACT20 Doutora em Educação (UFPR). Professora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Artes da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná.Rua Coronel Dulcídio, 638 – Batel. Curitiba, PR. Tel.: 41 3224-9915. E-mail: dulceosinski@ufpr.br.64


This article analyses the extensionist activities in art of the Department of Art of theFe<strong>de</strong>ral University of Paraná, specially the Extension Project Permanent Workshopof Printmaking. Created in 1999 and operating until to 2007. It was i<strong>de</strong>alized to createa space for printmaking production and reflection as an artistic expression. Openedto the community, it brought together stu<strong>de</strong>nts, artists, art-educators andprofessionals of other areas, interested in investigating the printmaking language,wich inclu<strong>de</strong>s the traditional techniques of engraving and also the most updated waysof image reproduction like the photocopy, the off-set and the digital print. Themetho<strong>do</strong>logy used was based on the theories for art that have like principaltheoreticians Elliot Eisner, Brent Wilson and Ana Mae Barbosa, that advocate the thestrict relation among art production, history of art, aesthetics and critics. Besi<strong>de</strong>s thework in studio, the Project promoted weekly meetings driven by the teachersadvisors, for discussion of the participants process. There were promoted alsoinitiation and improvement courses, administered by artists and theoreticians of theart, what were invited to speak on their poetics or on relevant subjects for the the artand of the printmaking <strong>de</strong>bate. Besi<strong>de</strong>s, there were promoted exhibitions of theartistic production of the Workshop and <strong>de</strong>monstrations in institutional events like away of socializating this experience.Keywords: Art-education; printmaking; art teaching; Permanent Workshop ofPrintmaking; art in Paraná.RESUMENEste artículo analiza las activida<strong>de</strong>s extensionistas en el arte <strong>de</strong>l Departamento <strong>de</strong>Arte <strong>de</strong> la Universidad Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Paraná, especialmente el Proyecto <strong>de</strong> Extensiónel Taller Permanente <strong>de</strong> Grava<strong>do</strong>. Crea<strong>do</strong> en 1999 y funcionan<strong>do</strong> hasta 2007, fuei<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> para crear un espacio para producción y reflexión <strong>de</strong>l grava<strong>do</strong> como unaexpresión artística. Abierto a la comunidad, juntó a estudiantes, artistas, educa<strong>do</strong>res<strong>de</strong> arte y profesionales <strong>de</strong> otras áreas, interesa<strong>do</strong>s en la investigación <strong>de</strong>stalenguaje artistica, que inclue las técnicas tradicionales <strong>de</strong>l graba<strong>do</strong> y también losmedios más actualiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> la reproducción <strong>de</strong> imagen como la fotocopia, lel off-sety la estampa digital. La meto<strong>do</strong>logía es basada en las teorías para el arte que tienencomo teóricos principales Elliot Eisner, Brent Wilson y Ana Mae Barbosa, y que<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n la relación estricta entre la producción <strong>de</strong>l arte, la historia <strong>de</strong>l arte, laestética y la crítica. A<strong>de</strong>más <strong>de</strong>l trabajo en el estudio, el Proyecto promovióreuniones semanales conducidas por los profesores, para la discusión <strong>de</strong>l proceso<strong>de</strong> participantes. Allí fueron promovi<strong>do</strong>s también cursos <strong>de</strong> iniciación y <strong>de</strong>perfeccionamiento, administra<strong>do</strong>s por artistas y teóricos <strong>de</strong>l arte, también invita<strong>do</strong>s ahablar <strong>de</strong> su poética o <strong>de</strong> sujetos relevantes para el <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>l arte y <strong>de</strong> grava<strong>do</strong>.A<strong>de</strong>más, fueran promovidas exposiciones <strong>de</strong> la producción artística <strong>de</strong>l Taller y<strong>de</strong>mostraciones en acontecimientos institucionales, como un camino <strong>de</strong> socialización<strong>de</strong> esta experiencia.Palabras Claves: Educación <strong>de</strong> arte; grava<strong>do</strong>; enseñanza <strong>de</strong> arte; Taller Permanente<strong>de</strong> Grava<strong>do</strong>; arte en Paraná.65


IntroduçãoA opção pela extensão em arte, no contexto das universida<strong>de</strong>s públicasbrasileiras, exige <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s o constante enfrentamento com o poucoentendimento da real importância <strong>de</strong>ssas duas ativida<strong>de</strong>s em nosso meio social euniversitário. Embora inúmeros <strong>do</strong>cumentos, entre eles o Plano Nacional <strong>de</strong>Extensão Universitária (2001) reafirmem o papel da extensão como indissociável ao<strong>do</strong> ensino e da pesquisa, permanece ela ainda como uma espécie <strong>de</strong> prima pobre,cujos predica<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s se valem na hora <strong>do</strong> discurso, mas que não goza dasmesmas oportunida<strong>de</strong>s em termos <strong>de</strong> apoio e financiamento. Vale lembrar que asprincipais linhas <strong>de</strong> fomento privilegiam, sobretu<strong>do</strong>, a pesquisa, e que, em projetosinstitucionais como o recente REUNI 21 , lança<strong>do</strong> em 2007 pelo Governo Fe<strong>de</strong>ral, asativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão não são levadas em consi<strong>de</strong>ração. Da mesma forma, ocampo da arte luta constantemente para romper com o senso comum, que o vinculaao entretenimento e ao supérfluo, e ser visto como sério, envolvi<strong>do</strong> com a pesquisae fundamental na constituição humana e <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> social.Campos como os da ciência e da tecnologia são privilegia<strong>do</strong>s no que serefere à distribuição <strong>de</strong> recursos entre as diversas unida<strong>de</strong>s acadêmicas. Afinal,instalações a<strong>de</strong>quadas para o ensino, para a pesquisa e para a produção da artenunca po<strong>de</strong>rão competir em pé <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> com equipamentos <strong>de</strong> ressonânciamagnética ou com instrumentos <strong>de</strong> precisão, esses sim, <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> indubitável e <strong>de</strong>retorno mais visível para a comunida<strong>de</strong>.Segun<strong>do</strong> Maria José Justino (2001, p. 10-16), essa visão encerra uma graveignorância da função da arte na formação humana, fruto da cisão entre arte epúblico que “passa também por questões educacionais e econômicas, coincidin<strong>do</strong>com a industrialização e a ascensão <strong>de</strong> uns poucos, que acabam confiscan<strong>do</strong> asconquistas da humanida<strong>de</strong> – bens que <strong>de</strong>veriam ser compartilha<strong>do</strong>s por to<strong>do</strong>s”. Paraa autora, cabe à universida<strong>de</strong> o estabelecimento <strong>de</strong> políticas, ações e mecanismos<strong>de</strong> troca com a comunida<strong>de</strong>, a partir <strong>do</strong>s quais to<strong>do</strong>s possam contribuir com oprocesso <strong>de</strong> criação.O Departamento <strong>de</strong> Artes da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná (DEARTES)tem se empenha<strong>do</strong> no cumprimento <strong>de</strong>sse papel, embora contan<strong>do</strong> com inúmeras21 Progama <strong>de</strong> Apoio a Planos <strong>de</strong> Reestruturação e Expansão das Universida<strong>de</strong>s Fe<strong>de</strong>rais.66


dificulda<strong>de</strong>s e, via <strong>de</strong> regra, com nenhum financiamento. São numerosas asativida<strong>de</strong>s propostas que, para além <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> extensão e eventos <strong>de</strong> curtaduração, fazem parte, principalmente, <strong>do</strong>s diversos Projetos <strong>de</strong> Extensão que vêmsen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1999 por um corpo técnico e <strong>do</strong>cente consi<strong>de</strong>ravelmentediminuto, inicialmente como partes <strong>do</strong> Programa Arte na Universida<strong>de</strong> 22 (1999-2004)mas com funcionamento autônomo, embora integra<strong>do</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005. Promoven<strong>do</strong>integração com disciplinas curriculares, envolvem estudantes <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong>Educação Artística (Habilitação Artes Plásticas), Artes Visuais (Bacharela<strong>do</strong> eLicenciatura), Produção Sonora e Licenciatura em Música, e mobilizam um públicoamplo <strong>de</strong> diversos extratos sociais que inclui bebês <strong>de</strong> colo, crianças <strong>de</strong> todas asida<strong>de</strong>s, a<strong>do</strong>lescentes, adultos interessa<strong>do</strong>s, artistas ama<strong>do</strong>res e profissionais,educa<strong>do</strong>res, estudantes universitários e grupos <strong>de</strong> terceira ida<strong>de</strong>.Seus pressupostos baseiam-se na idéia <strong>de</strong> que tanto o artista como oeduca<strong>do</strong>r em arte são intelectuais no senti<strong>do</strong> gramsciano, não ten<strong>do</strong> sua açãoreduzida à realização <strong>do</strong> produto artístico ou acadêmico, mas <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> tambémcontribuir para a ampliação <strong>do</strong> acesso à arte <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, visan<strong>do</strong> àtransformação social e imiscuin<strong>do</strong>-se ativamente na vida prática, como construtores,organiza<strong>do</strong>res, “persuasores permanentes” (GRAMSCI, 2004, p. 53). Comungamtambém com as idéias <strong>de</strong> Ana Mae Barbosa (1994, p. XII) para quem “o fazerartístico não po<strong>de</strong> ser entendi<strong>do</strong> como a aventura individual <strong>de</strong> uma inteligência ousensibilida<strong>de</strong> especialmente <strong>do</strong>tada”, refutan<strong>do</strong>, assim, o mito <strong>do</strong> <strong>do</strong>m ou talentoinato, categoria nebulosa <strong>de</strong>finida pelo senso comum como condição prévia para asativida<strong>de</strong>s artísticas. Concordam, por fim, com Porcher (1982, p. 15), para quem “ascategorias atuantes no discurso estético não são em absoluto naturais (ou seja,inatas), mas constituem produtos <strong>de</strong> origem cultural”.Na área da música, muitas têm si<strong>do</strong> as propostas que visam não só encurtara distância com o público especta<strong>do</strong>r, mas também torná-lo partícipe da experiênciamusical. O curso <strong>de</strong> extensão Musicalização Infantil 23 , envolven<strong>do</strong> estudantes daLicenciatura em Música, que nele atuam como estagiários, atinge anualmente cerca<strong>de</strong> duzentas crianças a partir <strong>do</strong>s poucos meses <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, que ali são sensibilizadase iniciadas na linguagem da música.22 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela professora Tânia Bloomfield (DEARTES – UFPR)23 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela professora Beatriz Ilari (DEARTES – UFPR).67


Na área das artes visuais, Projetos como o Artista na Universida<strong>de</strong> 24 e Arteem Ví<strong>de</strong>o 25 que, atuan<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> integra<strong>do</strong>, organizam e <strong>do</strong>cumentam<strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> artistas plásticos brasileiros e paranaenses concedi<strong>do</strong>s em forma <strong>de</strong>palestras e conversas para o público aberto, possibilitam o diálogo semintermediação da produção artística contemporânea com nossos estudantes e com acomunida<strong>de</strong> interessada. E ainda, contribui com a construção <strong>de</strong> importantes fontespara a pesquisa acadêmica em arte.A interface entre arte e público também é facilitada pelo Projeto Educa<strong>do</strong>r emMuseu: Entre exercícios <strong>de</strong> monitoria e a troca <strong>de</strong> olhares 26 (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003), origina<strong>do</strong><strong>do</strong> Projeto Educação no museu: Uma contribuição para a formação estética 27 (1999-2002), que se apropria <strong>do</strong> Museu <strong>de</strong> Arte da UFPR e o transforma em laboratório.Lá, estudantes vivenciam to<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> uma exposição <strong>de</strong>arte, auxilian<strong>do</strong> professores-cura<strong>do</strong>res na escolha <strong>do</strong> tema, na seleção e montagemdas obras e, finalmente, na intermediação <strong>de</strong> seus conteú<strong>do</strong>s e significa<strong>do</strong>s junto aopúblico frui<strong>do</strong>r. Já patrimônio artístico-cultural disperso pela cida<strong>de</strong> é objeto <strong>do</strong>Projeto <strong>de</strong> Extensão Monumento em Movimento 28 , que promove visitas guiadas peloespaço urbano, numa interface entre as áreas <strong>do</strong> turismo, da arte e da música,ten<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s últimos anos, promovi<strong>do</strong> parcerias com os diversos projetos <strong>do</strong>Departamento <strong>de</strong> Artes e outros afins.A integração entre arte, artesanato e <strong>de</strong>sign foi pensada pelo Projeto <strong>de</strong>Extensão O fazer cerâmico em Antonina 29 (1992-1997), que procurou, motiva<strong>do</strong> pelainserção <strong>do</strong> Festival <strong>de</strong> Inverno da UFPR naquela comunida<strong>de</strong>, recuperar nosartesãos antoninenses aquela forma <strong>de</strong> conhecimento e fazer artesanal já nãopraticada nos anos 1990. Da mesma forma, o Projeto A Cerâmica como Fonte <strong>de</strong>Conhecimento, Trabalho e Renda 30 vem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2006, oferecen<strong>do</strong> cursos, oficinas e24 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela professora Tânia Bloomfield e pelo servi<strong>do</strong>r Luís Carlos <strong>do</strong>s Santos (DEARTES –UFPR).25 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo professor Carlos Alberto Martins da Rocha e pelo servi<strong>do</strong>r Luís Carlos <strong>do</strong>s Santos(DECOM – UFPR).26 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelos professores Consuelo Schlichta, Marília Diaz e Tânia Bloomfield (DEARTES –UFPR) em 2003-2004, Paulo Reis e Consuelo Schlichta (DEARTES – UFPR) em 2005 -2006 e porJuliana Gisi (Setor <strong>de</strong> Educação) e Consuelo Schichta (DEARTES – UFPR) em 2007-2008.27 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelas professoras Rose Meri Trojan (DEPLAE – UFPR) e Consuelo Schlichta(DEARTES – UFPR).28 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela servi<strong>do</strong>ra Desire <strong>de</strong> Oliveira (DEARTES – UFPR).29 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelas professoras Dulce Fernan<strong>de</strong>s (então DEARTES – UFPR, agora DEDESIGN –UFPR) e Marília Diaz (DEARTES UFPR) <strong>de</strong> 2002 a 2004, e pela professora Marília Diaz <strong>de</strong> 1995 a1997.30 Coor<strong>de</strong>nação da professora Marília Diaz (DEARTES – UFPR).68


assessoria continuada a comunida<strong>de</strong>s organizadas que <strong>de</strong>sejem se apropriar dastécnicas e da linguagem da cerâmica como um meio <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong>sobrevivência.A educação continuada <strong>do</strong>s profissionais <strong>do</strong>centes foi preocupação <strong>do</strong>Projeto Ponto Inicial: A Formação <strong>do</strong> Professor 31 (1999-2002), uma parceria <strong>do</strong>Departamento <strong>de</strong> Planejamento <strong>de</strong> Administração Escolar (DEPLAE) – Setor <strong>de</strong>Educação com o Departamento <strong>de</strong> Artes que teve como foco principal a escolapública, trabalhan<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos participantes o senso <strong>de</strong>pesquisa e <strong>de</strong> instrumentalizá-los para um exercício mais consciente e competenteda profissão.Outros projetos, volta<strong>do</strong>s para a produção artística, têm auxilia<strong>do</strong> estudantes,artistas e outros interessa<strong>do</strong>s na reflexão sobre seu processo <strong>de</strong> criação. O ProjetoOficina Permanente <strong>de</strong> Arte 32 , atualmente não operante, centrou-se na discussãosobre as poéticas artísticas individuais, promoven<strong>do</strong> o aprofundamento <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> trabalho artístico por meio <strong>do</strong> embate coletivo <strong>de</strong> cada proposta,apresentada em forma <strong>de</strong> projeto. Da mesma forma, os Projetos Oficina Permanente<strong>de</strong> Desenho 33 e Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura 34 procuram, por meio <strong>do</strong> exercícioreflexivo <strong>de</strong>sta linguagem específica, envolver o participante num mergulho com osaspectos significativos da construção <strong>de</strong> sua própria obra. Este último será objetodas análises que empreen<strong>de</strong>remos a seguir.A gravura como matriz <strong>de</strong> ações em extensãoCria<strong>do</strong> em 1999 a partir <strong>de</strong> experiência prévia <strong>do</strong>s coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res com asoficinas livres <strong>de</strong> gravura da Casa da Gravura - Solar <strong>do</strong> Barão 35 e da própriadisciplina curricular intitulada Oficina <strong>de</strong> Gravura <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Educação Artística, oProjeto <strong>de</strong> Extensão Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura foi i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> com o objetivo <strong>de</strong>criar um espaço <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à produção e reflexão da gravura enquanto expressãoartística e veículo <strong>de</strong> comunicação. Basean<strong>do</strong>-se no pensamento <strong>de</strong> teóricos <strong>do</strong>31 Coor<strong>de</strong>nação das professoras Consuelo Schichta (DEARTES – UFPR) e Rose Meri Trojan(DEPLAE – UFPR).32 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pelo professor Geral<strong>do</strong> Leão Veiga <strong>de</strong> Camargo (DEARTES-UFPR).33 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela professa Consuelo Schlichta (DEARTES-UFPR).34 Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Dulce Osinski e Ricar<strong>do</strong> Carneiro (DEARTES – UFPR).35 Espaço público manti<strong>do</strong> pela Fundação Cultural <strong>de</strong> Curitiba.69


ensino da arte, como Ana Mae Barbosa, Elliot Eisner e Brent Wilson, e emtendências como o DBAE 36 e a Meto<strong>do</strong>logia Triangular 37 , o Projeto a<strong>do</strong>ta comoreferencial <strong>do</strong> trabalho pedagógico em arte o diálogo entre a produção, a apreciaçãocrítico-estética e a contextualização histórica. Nesta linha <strong>de</strong> trabalho, enten<strong>de</strong>-se aarte não apenas como ativida<strong>de</strong> expressiva, mas como área <strong>de</strong> conhecimento comconteú<strong>do</strong>s específicos constituintes da formação humana.A integração da expressão com o conhecimento e o incentivo ao processocriativo ampara<strong>do</strong> por informações e pela reflexão foram alguns <strong>do</strong>s principaisobjetivos da Oficina, que consoli<strong>do</strong>u um grupo <strong>de</strong> grava<strong>do</strong>res cuja principalcaracterística é a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linguagens e o interesse em compartilharexperiências técnicas e soluções estéticas. Outra meta alcançada foi a criação, entreos estudantes <strong>de</strong> graduação, <strong>de</strong> uma mentalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção que não se limiteaos conteú<strong>do</strong>s programáticos exigi<strong>do</strong>s pelas disciplinas. Enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a dimensãoeducativa <strong>do</strong> processo artístico <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> amplia<strong>do</strong>, atuou-se junto à formação <strong>de</strong>artistas e <strong>de</strong> educa<strong>do</strong>res, no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> fornecimento <strong>de</strong> subsídios teóricos epráticos para sua atuação profissional, mas também junto à comunida<strong>de</strong> formadapor aprecia<strong>do</strong>res e frui<strong>do</strong>res <strong>de</strong>sejosos <strong>de</strong> uma experiência estética concreta.A <strong>de</strong>manda das diversas técnicas <strong>de</strong> gravura por materiais e equipamentos<strong>de</strong> custo eleva<strong>do</strong> faz com que sua produção seja mais bem viabilizada por meio <strong>de</strong>espaços <strong>de</strong> trabalho coletivos. Conjugar teoria e prática, fazer e reflexão, é um papelapropria<strong>do</strong> para a Universida<strong>de</strong>, por sua vocação <strong>de</strong> fomentar o conhecimento emsuas diversas instâncias, seja no âmbito teórico, seja na esfera da produçãoartística.A Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura, <strong>de</strong> caráter livre e aberta a qualquerinteressa<strong>do</strong>, possibilitou uma rica troca <strong>de</strong> experiências entre profissionais das artesvisuais, alunos <strong>de</strong> cursos universitários regulares e aqueles que se relacionam coma arte <strong>de</strong> maneira informal, sen<strong>do</strong>, ao longo <strong>de</strong> sua existência, local privilegia<strong>do</strong> paradiscussão sobre a produção artística contemporânea. Contribuiu, assim, para acongregação <strong>de</strong> interessa<strong>do</strong>s em pesquisar as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta linguagemartística, que abrange <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as técnicas tradicionais, como a xilogravura, alinoleogravura, a gravura em metal, a litografia e a serigrafia, passan<strong>do</strong> por matrizes36 Discipline Based Art Education, ou seja, Arte-educação como Disciplina.37 Proposta <strong>de</strong> Ana Mae Barbosa que pensa o ensino da arte a partir <strong>do</strong> tripé: fazer artístico,contextualização histórica e leitura da obra <strong>de</strong> arte.70


feitas com materiais alternativos, até os mais atuais meios <strong>de</strong> reprodução daimagem, como a fotocópia e a impressão digital. As pesquisas se dirigiram, emalguns casos, ao diálogo entre as diversas linguagens artísticas, como o da gravuracom a expressão tridimensional, com a instalação ou com as mídias eletrônicas.A escolha da linguagem da gravura para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> Projeto,entendida aqui no senti<strong>do</strong> amplo que abrange to<strong>do</strong>s os meios <strong>de</strong> confecção <strong>de</strong>matrizes e reprodução <strong>de</strong> imagens se <strong>de</strong>u, principalmente, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> ao seu potencial<strong>de</strong>mocratiza<strong>do</strong>r <strong>de</strong> multiplicação da mensagem artística e conseqüentedisseminação a um público mais amplo. Já dizia Walter Benjamin (1994, p. 180)profeticamente nas primeiras décadas <strong>do</strong> século XX que “a arte contemporânea serátanto mais eficaz quanto mais se orientar em função da reprodutibilida<strong>de</strong> e, portanto,quanto menos colocar em seu centro a obra original”. Segun<strong>do</strong> Aracy Amaral (1987,p. 25), uma das problemáticas <strong>do</strong> artista contemporâneo resi<strong>de</strong> em como fazer comque o produto <strong>de</strong> seu trabalho tenha uma comunicação com um público mais amplo.Acrescentaríamos a isso que o artista, gozan<strong>do</strong> <strong>do</strong> envolvimento direto no processocriativo, privilégio <strong>de</strong> poucos, tem por obrigação não apenas a socialização <strong>de</strong> seupróprio trabalho, mas <strong>do</strong> processo artístico como um to<strong>do</strong>.Funcionan<strong>do</strong> no atelier <strong>de</strong> gravura <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Artes 38 daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, o Projeto Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura tevesuas ações voltadas para a ampliação <strong>do</strong> acesso da comunida<strong>de</strong> à arte, oferecen<strong>do</strong>,além <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> iniciação e aperfeiçoamento, palestras e conversas com artistasgrava<strong>do</strong>rese teóricos da arte, e atuan<strong>do</strong> também na organização <strong>de</strong> exposições,numa efetiva colaboração com os cursos <strong>de</strong> graduação da UFPR, em especial ocurso <strong>de</strong> Educação Artística.Foram ministra<strong>do</strong>s, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1999 a 2007, 57 cursos <strong>de</strong> extensão paraum público <strong>de</strong> 1575 pessoas. Os cursos <strong>de</strong> iniciação, ministra<strong>do</strong>s por artistasatuantes, pelos próprios professores da Universida<strong>de</strong> e por profissionais forma<strong>do</strong>spela licenciatura em artes da UFPR, cumpriram o papel <strong>de</strong> introduzir os interessa<strong>do</strong>sno universo da gravura, preparan<strong>do</strong>-os para a participação nas <strong>de</strong>mais ativida<strong>de</strong>s daOficina. Dentre os muitos cursos ofereci<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>mos citar como exemplo:Xilogravura à base d’água (2000), ministra<strong>do</strong> por Andréia Las; Iniciação àLinoleogravura (2003) e A cor na Linoleogravura (2004 e 2006), ministra<strong>do</strong>s por38 O Departamento <strong>de</strong> Artes da UFPR está localiza<strong>do</strong> à rua Coronel Dulcício, 638, bairro Batel, emCuritiba, PR.71


Michelle Behar; Iniciação à Gravura em Metal (2003), ministra<strong>do</strong> por Márcia Nagano;Iniciação à serigrafia (2003, 2004 e 2005), ministra<strong>do</strong> por Glauco Menta; Iniciação àLitografia (2003), ministra<strong>do</strong> por Everly Giller; Gravura em Metal – Água Tinta(2004), ministra<strong>do</strong> por Renato Torres; Gravura em Metal – Técnicas Tradicionais eAlternativas e Gravura em Metal – Experimentações técnicas (2005), ministra<strong>do</strong>s porAdriane Pasa; Xilogravan<strong>do</strong> (2005), ministra<strong>do</strong> por André <strong>de</strong> Miranda; e Gravura eInterferência Urbana (2007), ministra<strong>do</strong> por Roger Wodzynski.Curso <strong>de</strong> Aperfeiçoamento Oficina <strong>de</strong> Gravura (2005)O curso <strong>de</strong> aperfeiçoamento intitula<strong>do</strong> Oficina <strong>de</strong> Gravura, com carga horáriamédia <strong>de</strong> 100 horas, foi ofereci<strong>do</strong> anualmente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, sen<strong>do</strong> ministra<strong>do</strong> peloscoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Projeto Dulce Osinski e Ricar<strong>do</strong> Carneiro e exigin<strong>do</strong>, como prérequisito,alguma experiência prévia na área da gravura. Além <strong>do</strong>s encontrossemanais para a troca <strong>de</strong> idéias e orientação, os participantes foram incentiva<strong>do</strong>s afreqüentar o atelier em horários alternativos para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> trabalhoprático, o que resultou em produtiva troca <strong>de</strong> experiências com os estudantes daUniversida<strong>de</strong>, que tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar em contato com artistas e <strong>de</strong>acompanhar seu processo <strong>de</strong> criação.Outros cursos e oficinas aten<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>mandas específicas, como acapacitação <strong>de</strong> professores, o atendimento a porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong>s especiaise ao público infantil. Em muitas <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s, estudantes, supervisiona<strong>do</strong>s por72


professores-orienta<strong>do</strong>res, estiveram envolvi<strong>do</strong>s como ministrantes ou comomonitores, num aprofundamento da experiência relacionada à sua área <strong>de</strong>formação. A partir <strong>de</strong> 2003, essa participação foi intensificada com a inserção <strong>do</strong>sprojetos <strong>de</strong> extensão no rol <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> estágioobrigatório, estabeleci<strong>do</strong> na disciplina <strong>de</strong>nominada Projetos Integra<strong>do</strong>s.Os alunos também se envolveram na organização das 50 palestras econversas com artistas e teóricos da arte que ocorreram nesse perío<strong>do</strong> para umaaudiência <strong>de</strong> 1237 participantes. Vieram colocar seu trabalho em discussão e darseu <strong>de</strong>poimento artistas como: Juliane Fuganti (1999); Andréia Las e Glauco Menta(2000); Carlos Henrique Tullio e Nelson Hohmann (2001); Guita Soifer, AnaGonzáles, Isabel <strong>de</strong> Castro e Sebastião Pedrosa (2002); Everly Giller, Hebe Libera,Glauco Menta e Michelle Behar (2003); Márcia Nagano, Sandra Natter, André <strong>de</strong>Miranda, Daniel Marques, Cláudio Boczon e Renato Torres (2004); Adriane Pasa,Eliana Herreros, Fabrício Tacahashi, Rosana van <strong>de</strong>r Meer e Tânia Blommfield(2005); Valdir Francisco, José Roberto da Silva, Roger Wodzynski e Lahir Ramos(2006); Denise Roman, Cleverson Salvaro e Rubens Mano (2007). Nessasoportunida<strong>de</strong>s os participantes tiveram a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer processos <strong>de</strong>trabalho diversos e <strong>de</strong> trocar idéias e experiências <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> direto com produtorescontemporâneos <strong>de</strong> arte. Outras palestras, não só na temática da gravura, mas daarte <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral, foram ministradas por professores, artistas e teóricos comoDulce Osinski, Maria José Justino, Paulo Reis, Geral<strong>do</strong> Leão, Eliane Prolik eBenedito Costa Neto. Foram aborda<strong>do</strong>s assuntos relaciona<strong>do</strong>s com a história dagravura e da arte, com a arte paranaense e arte contemporânea.A política <strong>de</strong> organização <strong>de</strong> exposições, presente em to<strong>do</strong> o tempo <strong>de</strong>duração <strong>do</strong> Projeto, funcionou no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> incentivar a produção <strong>de</strong>ntro da Oficina,geran<strong>do</strong> o sentimento <strong>de</strong> comprometimento e fazen<strong>do</strong> com que cada trabalhopu<strong>de</strong>sse ser pensa<strong>do</strong> como parte <strong>de</strong> um conjunto maior. As mostras <strong>de</strong> arte sãomomentos privilegia<strong>do</strong>s <strong>de</strong> reflexão sobre o fazer artístico, possibilitan<strong>do</strong> ao artistaavançar e reorientar seu percurso quan<strong>do</strong> necessário, viabilizan<strong>do</strong> o diálogo entre osparticipantes e possibilitan<strong>do</strong> o exercício <strong>do</strong> processo coletivo <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>ssetipo <strong>de</strong> evento. Nesse caso específico, foram também uma oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>divulgação <strong>de</strong>ssas ações extensionistas e um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> contas junto àcomunida<strong>de</strong>. As 39 exposições realizadas foram visitadas por 45.990 pessoas,ten<strong>do</strong> lugar em instituições relevantes como a Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina e73


o Ecomuseu <strong>de</strong> Itaipu, em Foz <strong>do</strong> Iguaçu, PR (2001); o Museu <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Cascavel,PR (2002); o Núcleo <strong>de</strong> Arte Contemporânea da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral da Paraíba,em João Pessoa (2003); o Museu <strong>de</strong> Arte Contemporânea <strong>do</strong> Paraná, em Curitiba(2004); a Galeria <strong>de</strong> Arte da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, emFlorianópolis, a Galeria <strong>de</strong> Arte em Papel da Aliança Francesa, em Brasília, DF e oEspaço Cultural BRDE, em Curitiba, PR (2005).A participação <strong>do</strong>s alunos envolvi<strong>do</strong>s no Projeto não se restringiu àsativida<strong>de</strong>s acima <strong>de</strong>scritas, abrangen<strong>do</strong> também a organização <strong>do</strong> espaço <strong>de</strong>trabalho e <strong>do</strong> material didático, a orientação técnica aos participantes e oatendimento à <strong>de</strong>manda por visitas monitoradas <strong>de</strong> escolas ao atelier. Oficinas <strong>de</strong>curta duração e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>monstrativas em eventos como a Feira <strong>de</strong> Cursos eProfissões da UFPR foram regularmente organizadas pelos bolsistas da OficinaPermanente <strong>de</strong> Gravura, cujo amadurecimento acadêmico foi visível. Sentin<strong>do</strong>-sepeças importantes <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> cunho social como esta, os estudantesexercitaram sua cidadania e sentiram-se mais fortes para o enfrentamento <strong>do</strong>spercursos nem sempre tranqüilos <strong>de</strong> sua futura trajetória <strong>do</strong>cente. É no <strong>de</strong>bate comas dúvidas, com as incertezas, com a constatação da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> umaprendiza<strong>do</strong> contínuo e, principalmente, com o enfrentamento <strong>de</strong> situações reais <strong>de</strong>ensino-aprendizagem <strong>de</strong> suas áreas específicas, que esses professores <strong>de</strong> amanhãpo<strong>de</strong>m encontrar algumas respostas que os conduzam a outros questionamentos,mas que os impulsionem nessa ativida<strong>de</strong> tão necessária quanto pouco valorizada.No ano <strong>de</strong> 2007, uma experiência artística singular mobilizou os participantesda Oficina, entre eles artistas, estudantes, bolsistas e os próprios coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res. Arealização <strong>do</strong> projeto Será impressão minha? Álbum <strong>de</strong> Gravurinhas 39 , que tevetema, argumento e concretização coletiva, gerou uma ação integrada quetranscen<strong>de</strong>u a realização <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> arte. A confecção das figurinhas eposteriormente a troca das mesmas entre os participantes para completar os álbunsforam pontos culminantes <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> discussões contínuas nas quais tanto39 Idéia original e coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Dulce Osinski; tema <strong>de</strong> Cláudio Boczon; projeto gráfico <strong>de</strong> FabrícioTacahashi, Rosana Van <strong>de</strong>r Meer e Sílvio Spannenberg. Artistas participantes: Célia Favaro, CiçaRodrigues, Claudia Brito, Cláudio Boczon, Dulce Osinski, Eliana Herreros, Estela Lindner, FabrícioTacahashi, Fátima Vera, Graciela Scandurra, Hebe Libera, Jota Lopes, Lindamir <strong>de</strong> Sá, LucianeFilizola, Magda Proença Martins, Michelle Behar, Paulo Cougo, Renato Torres, Ricar<strong>do</strong> Carneiro,Romana Flejs, Rosana van <strong>de</strong>r Meer, Sandra Natter, Sílvio Spannenberg, Thel Olisar, Thiago Zanotti,Valdir Francisco, Vavá Diehl, Vera Andra<strong>de</strong>, Wiilie Anne e Yvelise.74


o conceito da proposta como <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> operacionalização eram postos em pauta.Cláudio Boczon resumiu, em texto <strong>de</strong> abertura <strong>do</strong> álbum, o espírito da propostaAbrir um álbum enquanto ele ainda faz juz à etimologia e é umespaço a ser preenchi<strong>do</strong> com imagens, idéias, lembranças enovida<strong>de</strong>s é sempre bastante lúdico e, quan<strong>do</strong> soma<strong>do</strong> a isto, opropósito <strong>de</strong>le é formar uma coleção com as impressões <strong>de</strong> trintaartistas, a brinca<strong>de</strong>ira fica ainda mais prazerosa. Por isso, aansieda<strong>de</strong> ao abrir os envelopes, <strong>de</strong>calcar as gravurinhas, interagircom os outros para trocar as repetidas por aquelas que faltam, asatisfação ao completar a coleção, a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar oautor ou o palpite para acertar a autoria tornam este álbum umtráfego <strong>de</strong> impressões; minhas, nossas e suas (BOCZON, 2007).Será Impressão minha? Álbum <strong>de</strong> Gravurinhas. Troca das figurinhas.Nesses nove anos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, mais <strong>de</strong> 50.000 pessoas foram atingidas emações que contribuíram para aproximá-las <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da arte, estimulan<strong>do</strong> seuespírito crítico, sua dimensão sensível e sua percepção estética. O incentivo aosprocessos investigativos foi presença constante nas diversas ativida<strong>de</strong>s, apontan<strong>do</strong>para novos caminhos e para uma troca maior entre artista e público. Novos suportes<strong>de</strong> impressão e novos materiais para a confecção <strong>de</strong> matrizes, bem como ospressupostos conceituais <strong>de</strong> sua inserção social e as diferentes formas <strong>de</strong> circulação<strong>de</strong> uma obra múltipla, permearam as discussões <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão75


Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura, cuja experiência <strong>de</strong>monstrou que as possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> interação entre arte e público, e entre o artista e o meio social, são inesgotáveis.Resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s pelo Projeto <strong>de</strong> Extensão Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura2 CURSOS DEEXTENSÃOPALESTRASEXPOSIÇÕESREALIZADASOUTRASATIVIDADES1.1.1Nº DEATIVI-DADESNº DEPARTICI-PANTESNº DEATIVI-DADESNº DEPARTICI-PANTESNº DEATIVI-DADESNº DEPARTICI-PANTESNº DEATIVI-DADESNº DEPARTICI-PANTES1999 --- --- --- --- --- --- 02 742000 01 11 02 40 01 216 01 302001 03 82 04 84 03 27862 02 4032002 05 126 06 96 04 3643 01 302003 13 289 08 215 07 4143 07 6402004 16 426 09 256 13 6304 13 37422005 09 409 08 202 08 2466 10 4612006 06 159 06 119 --- --- 08 4932007 04 73 07 225 03 1356 08 450Total 57 1575 50 1237 39 45990 52 6323Totalização <strong>de</strong> público3 ANO 3.1 PÚBLICOATINGIDO1999 742000 6572001 280712002 39542003 52872004 107282005 35382006 7712007 2104Total <strong>de</strong> públicoatingi<strong>do</strong> pelo projeto 5518476


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__________. Sala Arte, Design & Cia. Matrizes - Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravurada UFPR. Catálogo <strong>de</strong> exposição. Curitiba, 2003.UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA. Sala Celso Garcia Cid. Casa <strong>de</strong>Cultura/Divisão <strong>de</strong> Artes Plásticas. Grava<strong>do</strong>res da UFPR – 2001. Curitiba, 2001.Catálogo <strong>de</strong> exposição.UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA. Núcleo <strong>de</strong> Arte Contemporânea. PlanosGrava<strong>do</strong>s: Grava<strong>do</strong>res da Oficina Permanente <strong>de</strong> Gravura da UFPR 2003. JoãoPessoa, PB. Convite <strong>de</strong> exposição.UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Galeria <strong>de</strong> Arte. PlanosEspaços: Grava<strong>do</strong>res da UFPR 2005. Florianópolis, 2005. Catálogo <strong>de</strong> exposição.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.79


PROJETO CÉLULA: GRAVURA NA ESCOLAThe Project Cell: Workshop of EngravingIriana Vezzani 40RESUMOEste artigo se constitui no relato <strong>de</strong> uma experiência acadêmica planejada e<strong>de</strong>senvolvida <strong>de</strong>ntro da disciplina <strong>de</strong> Projetos Integra<strong>do</strong>s no Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>de</strong>Educação Artística – Artes Plásticas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, e vinculadaàs ativida<strong>de</strong>s extensionistas da Oficina <strong>de</strong> Gravura da UFPR. O Projeto Célula,direciona<strong>do</strong> à formação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte, dá início a um jogocontínuo entre a percepção, o olhar, a gravura e a arte. O grupo participa <strong>de</strong><strong>de</strong>scobertas a partir das quais é estimula<strong>do</strong> a perceber o seu entorno e, ao mesmotempo, pensar o que po<strong>de</strong>ria ver além <strong>de</strong>le. A aprendizagem <strong>do</strong> olhar e a expansão<strong>de</strong> suas possibilida<strong>de</strong>s foram o foco principal <strong>de</strong>ste projeto, que buscou centrar-seem questões que se inserissem na construção <strong>de</strong> um conhecimento quepossibilitasse que a escola, o professor e o aluno exercitassem seu olhar em todasas direções possíveis por meio <strong>de</strong> uma linguagem comum: a da gravura.Palavras-chave: Escola; <strong>de</strong>scobertas; reflexão; gravura; professor/aluno.ABSTRACTThis article is the report of an aca<strong>de</strong>mic experience planned and <strong>de</strong>veloped insi<strong>de</strong>the discipline of Projects Joined the Degree course of Artistic Education – Plastic Artsof the Fe<strong>de</strong>ral University of Paraná, and linked to the activities extensionistas of theWorkshop of Engraving of the UFPR. The Project Cell, directed to the continuedformation of teachers of art, gives beginning to a continuous play between theperception, the glance, the engraving and the art. The group participates ofdiscoveries from which it is stimulated realizing his I tip over and, at the same time, tothink what he might see besi<strong>de</strong>s him. The apprenticeship of the glance and theexpansion of his means were the principal focus of this project, for which it looked tobe centered in questions that were inserting in the construction of a knowledge that itwas making possible that the school, the teacher and the pupil were exercising hisglance in all the possible directions through a common language: that of theengraving.Keywords: School; discovered; reflection; engraving; teacher / pupil.40 Acadêmica <strong>de</strong> Educação Artística – Artes Plásticas UFPR . Departamento <strong>de</strong> Artes, Setor <strong>de</strong>Ciências Humanas Letras e Artes. E-mail: irianazz@yahoo.com.br80


RESUMENEste artículo es el informe <strong>de</strong> una experiencia académica planeada y <strong>de</strong>sarrollada<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> la disciplina <strong>de</strong> Proyectos Se afilió al curso <strong>de</strong> Gra<strong>do</strong> <strong>de</strong> la EducaciónArtística – las Artes Plásticas <strong>de</strong> la Universidad Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>l Paraná, y unió para lasactivida<strong>de</strong>s extensionistas <strong>de</strong>l Taller <strong>de</strong> Graba<strong>do</strong> <strong>de</strong>l UFPR. La Célula <strong>de</strong> Proyecto,direciona<strong>do</strong> a la formación continuada <strong>de</strong> profesores <strong>de</strong>l arte, da el principio a unjuego continuo entre la percepción, el vistazo, el graba<strong>do</strong> y el arte. El grupo participa<strong>de</strong> <strong>de</strong>scubrimientos <strong>de</strong> los cuales es estimula<strong>do</strong> realizan<strong>do</strong> su me caigo y, al mismotiempo, pensar lo que él podría ver a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> él. El aprendizaje <strong>de</strong>l vistazo y laextensión <strong>de</strong> sus medios era el foco principal <strong>de</strong> este proyecto, para el cual mirópara ser centra<strong>do</strong> en preguntas que insertaban en la construcción <strong>de</strong> unconocimiento que hacía posible que la escuela, el profesor y el alumno ejercieran suvistazo en todas las direcciones posibles por una lengua común: esto <strong>de</strong>l graba<strong>do</strong>.Palabras claves: Escuela; <strong>de</strong>scubierto; reflexión; graba<strong>do</strong>; profesor / alumno.A experiência aqui relatada buscou, em sua concepção inicial que o títuloexplicita, referências no campo da biologia, a partir da observação <strong>do</strong> que se passa<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pequenas unida<strong>de</strong>s vitais. As Células, em sua simplicida<strong>de</strong>, integramorganismos complexos, e graças à sua capacida<strong>de</strong> espantosa <strong>de</strong> reprodução,povoaram <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> nosso planeta. Assim i<strong>de</strong>alizamos nosso Projeto Célula:unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> arte e potencial <strong>de</strong> multiplicação e diversida<strong>de</strong>.A proposta em questão foi i<strong>de</strong>alizada, planejada e <strong>de</strong>senvolvida em parceriacom Marcella Piovesan 41 , <strong>de</strong>ntro da disciplina <strong>de</strong> Projetos Integra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong>Educação Artística da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, sen<strong>do</strong> requisito parcialobrigatório para obtenção <strong>do</strong> diploma <strong>de</strong> graduação nas habilitações <strong>de</strong> ArtesPlásticas.A disciplina <strong>de</strong> Projetos Integra<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> estar vinculada tanto aativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão como a trabalhos <strong>de</strong> graduação, visa ampliar o leque <strong>de</strong>situações e espaços educacionais para o cumprimento das horas <strong>de</strong> estágiosupervisiona<strong>do</strong> 42 <strong>do</strong> aluno <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Educação Artística. Permite, <strong>de</strong>sta forma, aaplicação <strong>de</strong> um projeto pedagógico que coloque o aluno <strong>de</strong> graduação em situação<strong>de</strong> ensino-aprendizagem, preferencialmente em âmbito <strong>de</strong> Educação não formal, no41 Acadêmica <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Educação Artística – Habilitação Artes Plásticas da UFPR, e <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong>Design <strong>de</strong> Móveis da UTFPR42 A supervisão <strong>de</strong>ste Projeto Integra<strong>do</strong> é da Prof.Dra.Dulce Osinski.81


qual ele po<strong>de</strong>rá exercer o papel <strong>do</strong>cente em arte em diferentes situações tais como:ateliês públicos e priva<strong>do</strong>s, hospitais, grupos em situação <strong>de</strong> risco, manicômios,presídios, comunida<strong>de</strong>s carentes, entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe, empresas públicas eprivadas, entre outras.Ten<strong>do</strong> por objetivo a inserção da gravura como processo artístico <strong>de</strong>ntro daescola, o Projeto Célula vinculou-se, por afinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> meios e técnicas, à Oficina <strong>de</strong>Gravura da UFPR 43 , espaço <strong>de</strong>stina<strong>do</strong> à produção e reflexão da gravura enquantoexpressão artística, para além <strong>do</strong>s limites <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s programáticos exigi<strong>do</strong>spelas disciplinas. Ana Mae Barbosa, Elliot Eisner e Brent Wilson foram a base <strong>do</strong>pensamento teórico e as tendências como o DBAE 44 e a Meto<strong>do</strong>logia Triangular 45 ,foram nosso referencial no trabalho pedagógico. A gravura seria o centro dasreflexões, como meio <strong>de</strong> produção artística inseri<strong>do</strong> na contextualização histórica esob uma apreciação crítico-estética.Durante a fase <strong>de</strong> pesquisa diagnóstica <strong>de</strong>ste projeto, foi possível observarque as escolas, pelo pouco entendimento <strong>de</strong> suas inúmeras possibilida<strong>de</strong>s, não<strong>de</strong>senvolvem to<strong>do</strong> o potencial da linguagem da gravura. Isso ocorre, em parte,<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à idéia <strong>de</strong> que esta linguagem envolve custos eleva<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> não se limitasomente a materiais como as matrizes em isopor e o guache. Este <strong>de</strong>safio foi um<strong>do</strong>s nossos focos <strong>de</strong> interesse: trabalhar no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>smistificar tais idéias préconcebidas.Pensamos também que essa linguagem tem como peculiarida<strong>de</strong>, acaracterística da geração <strong>de</strong> múltiplas imagens a partir <strong>de</strong> uma matriz gera<strong>do</strong>ra.Partimos, então, da idéia <strong>de</strong> que, na escola, a primeira imagem impressa não po<strong>de</strong>ser aceita como única possível e sim, como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção.A principal ação <strong>do</strong> projeto foi a elaboração <strong>de</strong> uma oficina <strong>de</strong> capacitaçãopara os professores, a partir da qual a prática da gravura pu<strong>de</strong>sse se disseminar nasescolas, por meio da criação <strong>de</strong> pequenas Células – os atelieres <strong>de</strong> gravura. Uma <strong>de</strong>nossas primeiras constatações foi a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma divulgação efetiva, pois opúblico-alvo não seria alcança<strong>do</strong> com cartazetes distribuí<strong>do</strong>s pelos espaços da daUFPR. Rompen<strong>do</strong> com o silêncio interinstitucional que muitas vezes estorva odiálogo entre o meio universitário e outras instâncias governamentais, o Projeto43 Coor<strong>de</strong>nação da Prof.Dra. Dulce Osinski.44 Discipline Based Art Education, ou seja, Arte-educação como Disciplina.45 Proposta <strong>de</strong> Ana Mae Barbosa que pensa o ensino da arte a partir <strong>do</strong> tripé: fazer artístico,contextualização histórica e leitura da obra <strong>de</strong> arte.82


CÉLULA abriu um canal <strong>de</strong> comunicação da UFPR com o Núcleo Regional daEducação <strong>de</strong> Curitiba 46 , setor da Equipe Disciplinar. 47 Por intermédio daCoo<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> Arte, Alair Costa Nascimento Wendpap, estabelecemos um contatodireto com os professores <strong>de</strong> Educação Artística da Re<strong>de</strong> Estadual <strong>do</strong> Paraná.O envolvimento <strong>de</strong>sta equipe foi <strong>de</strong> extrema importância, uma vez que esteNúcleo <strong>de</strong>senvolve ações <strong>de</strong> apoio que têm por finalida<strong>de</strong> estimular diretores,técnicos pedagógicos, <strong>do</strong>centes e educan<strong>do</strong>s para a construção <strong>de</strong> um novo saberacadêmico. A tarefa maior <strong>do</strong> Núcleo é construir pontes para que se efetive arelação entre os professores <strong>de</strong> arte e toda uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> canais formativos como:ativida<strong>de</strong>s em museus, cursos, palestras e encontros <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> que acontecem<strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> sistema educacional <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná. Foi uma parceria quepossibilitou a divulgação <strong>do</strong> projeto para 600 professores <strong>de</strong> arte. Os <strong>do</strong>centes quecomprovassem seu vínculo com o Esta<strong>do</strong> receberiam uma bolsa <strong>de</strong> 100% parainscrição no Projeto.To<strong>do</strong> este processo teve início logo após a elaboração da idéia base <strong>do</strong>projeto e da seleção <strong>do</strong> público-alvo. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007, antes <strong>do</strong> encerramento<strong>do</strong> ano letivo, os professores já haviam recebi<strong>do</strong>, por correspondência eletrônica,uma nota <strong>de</strong> divulgação comunican<strong>do</strong> sobre o que seria o Projeto CÉLULA e queestariamos receben<strong>do</strong> inscrições para o início da oficina em abril <strong>de</strong> 2008. Asprimeiras inscrições foram feitas ainda em <strong>de</strong>zembro.Com o começo das inscrições era possível perceber o nível <strong>de</strong> motivação <strong>do</strong>sprofessores. Nas fichas, da<strong>do</strong>s como: data <strong>de</strong> nascimento, telefones, en<strong>de</strong>reço,formação, escola em que atua, tempo <strong>de</strong> atuação em artes e e-mail, serviram paraque montássemos o perfil básico <strong>do</strong> professor <strong>de</strong> arte que encontraríamos em abril,e pudéssemos prever, mesmo que hipoteticamente, algumas necessida<strong>de</strong>s que<strong>de</strong>veriam ser contempladas no planejamento da oficina.A inscrição por e-mail possibilitou contatos importantes com o nosso público.Muitas correspondências foram trocadas antes mesmo <strong>de</strong> começarem as ativida<strong>de</strong>s,com a intenção <strong>de</strong> gerar espectativa e manter os professores foca<strong>do</strong>s na data <strong>de</strong>abril, para a qual faltavam ainda quatro meses. Os futuros participantes foram46 Extensão da Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> da Educação <strong>do</strong> Paraná, ten<strong>do</strong> como Chefe Regional ProfessoraSheila Marize Tole<strong>do</strong> Pereira.47 Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong> pela pedagoga Maria Cristina Theobal<strong>do</strong>.83


comunica<strong>do</strong>s sobre exposições, palestras e cursos que aconteciam em Curitiba,como um meio <strong>de</strong> fazê-los a<strong>de</strong>ntrar na atmosfera que <strong>de</strong>sejávamos quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> inícioefetivo das ativida<strong>de</strong>s. Este canal se mostrou realmente muito eficaz, e estávamosatentas para respon<strong>de</strong>r to<strong>do</strong>s os e-mails. O projeto começava a fazer parte da vida<strong>de</strong> quem já havia feito esta escolha.Era preciso criar uma imagem que representasse o Projeto Célula: Gravurana Escola. O nome já induzia a escolha <strong>de</strong> uma Célula, mas não queríamos pensarno padrão. Buscávamos algo que apenas representasse o conceito. Entretanto,quan<strong>do</strong> a Célula-tronco apresentou-se como imagem, não houve melhor escolhapossível. A formação <strong>de</strong> um círculo, a multiplicação se concretizan<strong>do</strong>. Conhecidascomo Células-mãe ou Células estaminais, são vitais para a constituição <strong>de</strong>organismos complexos e tem gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se dividir e se multiplicar.Ao observar nossa imagem-símbolo, alguns vêem um ninho com ovos, e erajustamente um ninho o projeto naquele momento: uma estrutura construída para aproteção às idéias e novos projetos.Chegou abril e, como se fosse a nossa primavera, começaram as ativida<strong>de</strong>sda oficina. Estávamos atentas nessa tarefa, que para nós era novida<strong>de</strong>, não só porestarmos lidan<strong>do</strong> com uma situação inusitada – estudantes atuan<strong>do</strong> na capacitação<strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte – mas também pelo conteú<strong>do</strong> com o qual nos dispusemos atrabalhar. Queríamos um diálogo possível, e escolhemos nos comunicar pelalinguagem da gravura, baseadas no seu gran<strong>de</strong> potencial <strong>de</strong>mocratiza<strong>do</strong>r.A ação <strong>de</strong> gravar existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos imemoráveis e, ao longo <strong>de</strong> suahistória, a linguagem da gravura incorporou mudanças <strong>de</strong> forma muito mais rápida eradical que as outras artes, talvez por nunca ter se limita<strong>do</strong> à esfera artística. Asuperação <strong>do</strong>s limites técnicos ou estéticos e sua relação com fins utilitários fez agravura transitar com <strong>de</strong>senvoltura entre a vida real e o mun<strong>do</strong> artístico. Parapercebê-la e apreciá-la no contexto contemporâneo é preciso exercitar não só asensibilida<strong>de</strong>, mas também o olhar.É nessa educação <strong>do</strong> olhar, a partir <strong>de</strong>la, que se institui toda a filosofia e asciências <strong>do</strong> Oci<strong>de</strong>nte, e até mesmo o saber volta<strong>do</strong> para o prático, como atesta aescola médica <strong>de</strong> Cós, que calou a boca <strong>do</strong> feiticeiro e ensinou a estabelecer umdiagnóstico a partir <strong>de</strong> um olhar mais atento (BORNHEIM,1988, p.89). Ir em busca84


<strong>de</strong> um ver que sabe ver, que inventa meios para ver cada vez melhor, este era onosso foco inicial.Eram quarenta e três pessoas inscritas. Foram montadas duas turmas: umamista, com alunos da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, interessa<strong>do</strong>s em arte e professores, euma somente com professores <strong>de</strong> arte da Re<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Ensino <strong>do</strong> Paraná. Aprimeira turma funcionava às quartas-feiras no perío<strong>do</strong> da noite, enquanto que asegunda teve suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas aos sába<strong>do</strong>s pela manhã. Focaremos,nesse relato, essa última turma <strong>de</strong> professores, que permitiu uma observação maisespecífica <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> projeto.Em nosso encontro inicial, formamos um círculo – ou ninho – para que to<strong>do</strong>sos olhares pu<strong>de</strong>ssem curiosamente se percorrer mutuamente. Na apresentação,to<strong>do</strong>s se <strong>de</strong>clararam professores <strong>de</strong> arte, sen<strong>do</strong> <strong>do</strong>is forma<strong>do</strong>s em música. Pessoasdiferentes com perfis semelhantes, cabeças cheias <strong>de</strong> razões, lutan<strong>do</strong> contra arotina e a monotonia: um gran<strong>de</strong> nó a ser <strong>de</strong>sata<strong>do</strong>. Esperavam a fala inicial sobre“gravura alternativa”, termo <strong>do</strong> uso comum para a exploração da gravura commateriais simples ou reaproveitáveis, tais como isopor, caixas <strong>de</strong> leite, etc., <strong>de</strong>ntro<strong>do</strong> contexto escolar. Porém, os olhos curiosos foram convida<strong>do</strong>s primeiramente aolhar.Seguin<strong>do</strong> as orientações <strong>de</strong> Fayga Ostrower, falamos sobre o papel que é<strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pela percepção, <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> olhar-avaliar-compreen<strong>de</strong>r, esobre o quanto a percepçao está ligada aos processos <strong>de</strong> criação, pois é no ato <strong>de</strong>perceber que tentamos interpertar e, neste intrepretar, já começamos a criar. Nãoexiste um momento <strong>de</strong> compreensão que não seja ao mesmo tempo criação(OSTROWER, 1988, p.167). O caminho por nós escolhi<strong>do</strong> era o <strong>de</strong> tocar asensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um.O Projeto Célula <strong>de</strong>u início, então, a um jogo contínuo entre a percepção, agravura e a arte. O grupo participou <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas perceptivas, sen<strong>do</strong> estimula<strong>do</strong>a olhar o seu entorno e ao mesmo tempo pensar como po<strong>de</strong>ria ir além <strong>de</strong>le. É sóquan<strong>do</strong> passamos <strong>do</strong> limiar <strong>do</strong> olhar para o universo <strong>do</strong> ver que realizamos um ato<strong>de</strong> leitura e <strong>de</strong> reflexão (ZAMBONI,1998, p.54). Este tipo <strong>de</strong> reflexão interessava aoprojeto juntamente com questões a respeito da construção <strong>de</strong> um conhecimento quepossibilitassem que a escola, o professor e o aluno falassem a mesma linguagem: ada arte da gravura.85


Como há sempre uma tendência a buscarmos respostas certas e precisas anossas dúvidas e questionamentos, com as ações pedagógicas isto não ocorre <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> diferente. Um caminho mais curto é um facilita<strong>do</strong>r que não se po<strong>de</strong> dispensarnesta jornada <strong>de</strong> intrincadas escolhas. No entanto, mesmo os professores querelataram – confessamente - que esperavam fórmulas e leituras prontas para aplicarcom os alunos, foram abala<strong>do</strong>s pela curiosida<strong>de</strong>, pela poesia e pela pesquisa.Nada estava pronto, tu<strong>do</strong> seria construí<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> coletivo a partir <strong>de</strong> novosolhares, comprometi<strong>do</strong>s pelos seus próprios referenciais. Quan<strong>do</strong> um grupo faz umcírculo e analisa conjuntamente uma imagem, fica claro que não há uma única visão,uma só leitura possível. Este é o nosso <strong>de</strong>sejo: lançar múltiplos olhares sobre umamesma imagem e criar uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> relações. É um processo complexo que exigetempo, treino, vonta<strong>de</strong>, estu<strong>do</strong>, sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>terminação para criar e testarmuitas hipóteses. A profundida<strong>de</strong> da experiência humana <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> fato <strong>de</strong>sermos capazes <strong>de</strong> variar nossos mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> ver fazen<strong>do</strong> <strong>do</strong> olhar artístico um olharconstrutivo (CASSIER, 1960, p.287). A curiosida<strong>de</strong>, neste caso, <strong>de</strong>ve ser semprevista como uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta.Para este grupo curioso <strong>de</strong> professores, parecia já ser hora da tal “gravuraalternativa”, mas, se íamos falar da luz, como meio <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lar volumes, <strong>de</strong>sombras, que dão a sensação misteriosa <strong>de</strong> mover-se no espaço e <strong>de</strong> obscurida<strong>de</strong>stão profundas que po<strong>de</strong>m produzir um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> não ser, era preciso olhar mais umpouco. E se o olhar usurpa os <strong>de</strong>mais senti<strong>do</strong>s fazen<strong>do</strong>-se cânone <strong>de</strong> todas aspercepções, para ver era preciso tomar uma certa distância, como se fossemostomar impulso para um gran<strong>de</strong> salto.Abrimos então uma “caixa”, conten<strong>do</strong> ferro granula<strong>do</strong> e grafite em pó. A únicaexigência era uma mão próxima, tão próxima foi possível sentir o peso e o frio <strong>de</strong>forma tátil. Enquanto a mão manipulava, o olho captava no espelho o resulta<strong>do</strong> daação. Mais uma vez foram chama<strong>do</strong>s a participar sensorialmente, sen<strong>do</strong> convida<strong>do</strong>sa mergulhar as mãos, a olhar apalpan<strong>do</strong>, repousan<strong>do</strong> a mão, senti<strong>do</strong> o material,aproprian<strong>do</strong>-se, não <strong>de</strong>le, mas <strong>de</strong> seu resíduo.Quan<strong>do</strong> pressionaram a mão sobre o papel, uma imagem se formou, e apartir daí construíram sua primeira gravura, como nas cavernas <strong>de</strong> Lascaux eAltamira, on<strong>de</strong> o homem pré-histórico realizou alguns <strong>de</strong> seus primeirosexperimentos a cerca <strong>do</strong> fazer artístico, há milhares <strong>de</strong> anos. A partir <strong>de</strong>sta “caixa”86


muitas imagens pu<strong>de</strong>ram ser geradas, sem a preocupação da multiplicação idêntica,pois todas serão únicas, literalmente como uma impressão digital.E sobre a mesa <strong>de</strong> entintagem <strong>do</strong>ateliê, fez-se uma mágica que se repetea cada oficina. As tintas <strong>de</strong> impressão,viscosas e brilhantes, ao serem abertasinva<strong>de</strong>m a sala <strong>de</strong> intensaexpressivida<strong>de</strong> e uma energia intensa.Alguns experimentos já comprovaramesta resposta corpórea à cor interferin<strong>do</strong>na musculatura e na circulaçãosanguínea: sabe-se que a relação <strong>do</strong>olho é íntima e estrutural. O anatomistanorte-americano Stephen Poliak admitea hipótese revolucionária <strong>de</strong> que oteci<strong>do</strong> cerebral resultou <strong>de</strong> umaevolução <strong>do</strong>s olhos em pequenosorganismos aquáticos que viveram hámais <strong>de</strong> um bilhão <strong>de</strong> anos atrás. Querdizer: foi o olho que se complicou dan<strong>do</strong> origem ao Ativida<strong>de</strong> córtex on<strong>de</strong>, com a “Caixa”. supõe-se, está ase<strong>de</strong> da visualida<strong>de</strong> (CONRAD, 1972, p.174). Com a introdução das primeirasexperiências envolven<strong>do</strong> processos <strong>de</strong> impressão, era possível perceber a gravura,como processo, atuan<strong>do</strong> em cada “Célula”.Sempre que sentavam para analisar as imagens <strong>do</strong> acervo 48 da disciplina <strong>de</strong>Gravura 49 da UFPR havia intensos momentos <strong>de</strong> troca, os professores sepermitin<strong>do</strong> passar pela experiência como se estivessem ven<strong>do</strong> pela primeira vezcom os olhos <strong>de</strong> uma criança, como disse Matisse, ou - para melhor a<strong>de</strong>quarmos aonosso projeto - como pássaros recém saí<strong>do</strong>s da casca.Os olhos estavam sempre surpresos diante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s possíveis, mesmoquan<strong>do</strong> a técnica era conhecida e já tinha si<strong>do</strong> aplicada em sala <strong>de</strong> aula. A cada48 No acervo ficam arquiva<strong>do</strong>s, um exemplar seleciona<strong>do</strong> <strong>de</strong> cada técnica, das gravuras produzidaspelos alunos da disciplina no Laboratório <strong>de</strong> Gravura.49 Ministrada pela Prof.Dra. Dulce Osinski, no Curso <strong>de</strong> Bacharela<strong>do</strong> e Licenciatura em Artes Visuais<strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Artes – UFPR.87


impressão, uma reflexão. Cada possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gravura era uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>leitura, <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r a fazer imagem, <strong>de</strong> expressar-se e <strong>de</strong> comunicar-se porimagem. Eram ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> preparação com intuito <strong>de</strong> conduzir para um mesmoalvo olhares que partiam <strong>de</strong> lugares diferentes. Afinal o que é a imagem se não umobjeto polissêmico? No entanto, é justamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta polissemia, que existeum espaço para a formação estética individualizada. Antes <strong>do</strong> aluno passar por esteprocesso tão intrinca<strong>do</strong>, achamos necessário que o professor <strong>de</strong>vesse fazê-lo.Café da Manhã e conversa com os artistas ValdirFranscico, Sandra Natter e Michelle Behar.Como toda verda<strong>de</strong>ira práxis humana, a arte se situa na esfera da ação, datransformação, tem um caráter prático, realiza<strong>do</strong>r e transforma<strong>do</strong>r (VÁZQUEZ,2007,p.229) e a disciplina <strong>de</strong> arte, apesar <strong>de</strong> ainda ter um caráter secundário ouextracurricular, é plena <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> específico com potencial para atuar como eixoarticula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> outros saberes, <strong>de</strong>ntro e fora da escola. Era esse universo que nossosprofessores precisavam estar dispostos a re<strong>de</strong>scobrir.Mesmo tratan<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> arte, não partimos da premissa <strong>de</strong> queto<strong>do</strong>s conheciam as especificida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sta linguagem. Era importante, antes <strong>de</strong> mais88


nada, que tomassem consciência das exigências técnicas da gravura. Esta é umaquestão que Consuelo Schlichta 50 aborda com muita proprieda<strong>de</strong>, quan<strong>do</strong> afirmaque algumas práticas pedagógicas vêem o saber artístico como um receituáriovolta<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> técnicas restrito a crianças e ao espaço escolar. Para ela, atécnica nunca <strong>de</strong>ve ser aplicada como receita mas, como meio <strong>de</strong> expressão econhecimento, pois somente <strong>de</strong>sta maneira possibilita a verda<strong>de</strong>ira compreensãoda arte e <strong>de</strong> seu campo. Então, permear técnica e conhecimento e prática era ocaminho i<strong>de</strong>al a ser segui<strong>do</strong>.Romper com a hierarquia professor-aluno foi um <strong>do</strong>s <strong>de</strong>safios a seremenfrenta<strong>do</strong>s, e que revelou resulta<strong>do</strong>s surpreen<strong>de</strong>ntes. Se ensinar se constitui empo<strong>de</strong>r, ou seja, uma ativida<strong>de</strong> transforma<strong>do</strong>ra, quem estava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste projeto<strong>de</strong>veria estar disposto a isto. Quan<strong>do</strong> então, duas acadêmicas, em plena construção<strong>de</strong> uma competência que está constantemente em elaboração, diziam que tu<strong>do</strong>estava para ser construí<strong>do</strong> e questionavam sobre, se em algum momento, estesprofessores – ou elas mesmas – estariam prontos? Este era um momento <strong>de</strong>lica<strong>do</strong>e o começo <strong>de</strong> um processo verbal complica<strong>do</strong>, concentra<strong>do</strong> na sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>percepção, conhecimento artístico, transferência <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>, expressão visual eavaliação estética (FAIRCHILD, 2005, p. 391).A tarefa era selecionar uma linguagem apropriada para criar valores estéticose promover dinâmicas que levassem os professores envolvi<strong>do</strong>s a elaborar propostascom diferenciais significativos, e rompen<strong>do</strong> com o senso comum <strong>de</strong> que qualquerimagem impressa é gravura, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> as diferenças evi<strong>de</strong>ntes entre os váriosprocessos possíveis permean<strong>do</strong> a tradição da técnica e das novas possibilida<strong>de</strong>s.Tínhamos também, que inverter o senti<strong>do</strong> das limitações econômicas das escolasestaduais, principalmente para disciplina <strong>de</strong> artes, e viabilizar o contato com osmateriais, as ferramentas e as tintas, a<strong>de</strong>quan<strong>do</strong> um espaço físico para implantação<strong>de</strong> um Laboratório Célula que abriria novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa artística<strong>de</strong>ntro das escolas.50 Mestre em Educação pela UFPR, Doutora em História pela UFPR, Professora <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong>Bacharela<strong>do</strong> e Licenciatura em artes Visuais <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Artes – UFPR.89


Senti<strong>do</strong>-se segura com o trabalho realiza<strong>do</strong> com a “caixa”, Tânia BarcalaDutra 51 , adaptou sua experiência pessoal com originalida<strong>de</strong> e levou suas cincoturmas <strong>de</strong> 5ª séries, <strong>de</strong> 19 a 21 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2008, para uma viagem nas cavernas epela arte rupestreA alegria com que as crianças participaram <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> foicontagiante e chamou a atenção <strong>de</strong> outros alunos que estavam nopátio. Tinham a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber como acontecia que materialera utiliza<strong>do</strong> e ficaram muito empolga<strong>do</strong>s com os resulta<strong>do</strong>s. Após otrabalho foi feita uma exposição em sala para que to<strong>do</strong>s pu<strong>de</strong>ssemobservar as impressões enquanto a professora explicava que aativida<strong>de</strong> realizada tratava-se <strong>de</strong> gravura, chaman<strong>do</strong> a atenção paraos conceitos básicos <strong>de</strong>sta linguagem.Era a primeira multiplicação: o Projeto Célula estava estabelecen<strong>do</strong> relaçõesfora <strong>do</strong> seu ninho. Estávamos começan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>rrubar as barreiras entre a gravura ea escola. E o professor <strong>de</strong> arte, que tem seu olhar apura<strong>do</strong>, sabe que para seutrabalho ter maior relevância <strong>de</strong>ntro da escola, é preciso conhecer seus alunos ebuscar elementos significativos para que encontrem novas formas <strong>de</strong> se expressar.É ele que tem a oportunida<strong>de</strong> – e <strong>de</strong>ve aproveitá-la – <strong>de</strong> ajudar a construir seuuniverso imaginário e <strong>de</strong> ativar to<strong>do</strong> um processo criativo, bastan<strong>do</strong> para isso estaratento.A professora Sandra Anália <strong>do</strong>s Santos 52 estava atenta e sentiu-se prontapara penetrar neste valiosíssimo universo. Com o projeto veio a motivação quefaltava para levar a gravura para a escola, porém a sala <strong>de</strong> aula foi pequena para oimpulso que a gravura tomou. Ela acabou receben<strong>do</strong> da diretoria a “Sala 22”, queestava fechada, encarou o <strong>de</strong>safio com todas as suas turmas e “viciou” os alunosFiquei um pouco apreensiva, pois não sabia como os alunospo<strong>de</strong>riam receber esta novida<strong>de</strong> e se gostariam ou não. Primeiro foida<strong>do</strong> aulas explicativas sobre gravura: a história, como iniciou, paraque po<strong>de</strong>ria ser usa<strong>do</strong> no futuro e os méto<strong>do</strong>s mais acessíveis. Logovieram as aulas práticas. Foi uma gostosura! O interesse <strong>do</strong>s alunosfoi imediato e a solicitação <strong>de</strong> mais aulas práticas é o tempo to<strong>do</strong>.Digo até que os alunos ficaram vicia<strong>do</strong>s pela gravura! Tenho alunosinteressadíssimos para trazer <strong>de</strong>finitivamente o projeto para o51Profa. Graduada em Educação Artística/ Habilitação em Artes Plásticas. Especialista emMeto<strong>do</strong>logia da Ciência pelo Centro Integra<strong>do</strong> <strong>de</strong> Educação Superior <strong>de</strong> “Dr. Bezerra <strong>de</strong> Menezes”.Atua no Colégio Estadual Santa Felicida<strong>de</strong> – Curitiba – Paraná.52 Prof. Graduada em Educação Artística / Habilitação em Música na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Artes <strong>do</strong> Paraná,Pós Graduada em Piscopedagogia na FACINTER e Mestre em Educação na Holanda. Atua naEscola Estadual Prof. Brasílio Vicente <strong>de</strong> Castro – CIC – Curitiba.90


colégio. O Projeto Célula agora já tem muito mais Células! Asativida<strong>de</strong>s são dinâmicas e quan<strong>do</strong> termina o horário os alunos nãoquerem voltar para a sala <strong>de</strong> aula. Vejo também o interesse por parteda direção e orientação <strong>do</strong> colégio por ter uma ativida<strong>de</strong> diferenciadapara os alunos. Sei que é <strong>de</strong>sta forma que po<strong>de</strong>mos fazer umaeducação diferenciada usan<strong>do</strong> até a interdisciplinarida<strong>de</strong>, pois houvetambém interesse <strong>do</strong>s professores <strong>de</strong> outras disciplinas.Motivada, a professora Vanessa Dybax 53 , primeira inscrita <strong>do</strong> projeto,experimentou todas as propostas e criou situações inventivas. Seu foco eram asdiferentes possibilida<strong>de</strong>s que pu<strong>de</strong>ssem estimular a ampliação <strong>do</strong> repertório <strong>do</strong>sseus alunos:O arte-educa<strong>do</strong>r é motiva<strong>do</strong> por tu<strong>do</strong> que é novo e gera expectativas.O Projeto Célula: Gravura na Escola, surgiu em um momento em queas idéias e práticas estavam um pouco saturadas, e propiciou umnovo olhar sobre a gravura e suas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com ocontexto escolar. Quan<strong>do</strong> realizei minha inscrição, ainda no final <strong>de</strong>2007, senti a euforia para iniciar logo a oficina, apren<strong>de</strong>r e mesmorever técnicas e resgatar um conhecimento pouco explora<strong>do</strong>, que fezparte da minha formação acadêmica. Hoje, po<strong>de</strong>r freqüentar asaulas, além da alegria <strong>de</strong> estar livre para criar, <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong>boas recordações e novas <strong>de</strong>scobertas é a satisfação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rparticipar ativamente com aulas dinâmicas on<strong>de</strong> posso convidarmeus alunos para uma viagem ao mun<strong>do</strong> da arte.Para que estes professores se sentissem seguros para propor as ativida<strong>de</strong>sna sala <strong>de</strong> aula, foi necessário <strong>de</strong>spertar alguns conhecimentos. Apresentamosconteú<strong>do</strong>s da história da gravura abordan<strong>do</strong> algumas <strong>de</strong> suas diferentes técnicasgráficas e alguns <strong>do</strong>s mestres como: Albert Dürer (1471-1528), Rembrandt vanRijin (1606-1669), Francisco Goya (1746-1828) Henri <strong>de</strong> Toulouse-Lautrec (1864-1901), Wassily Kandisnsky (1866-1944), Pablo Picasso (1881-1973 e Andy Warhol(1928-1987). A esses, juntamos também, a gravura japonesa e alguns artistas,autores <strong>de</strong> obras representativas <strong>de</strong> momentos da história da arte, em que a gravurafoi instrumento <strong>de</strong> construção e o principal meio <strong>de</strong> poéticas artísticas específicas,como o Expressionismo e a Pop Art. Também artistas brasileiros, paranaenses ecuritibanos.53 Prof. <strong>de</strong> Educação Artística no Colégio Estadual Ivo Leão em Curitiba, Paraná. Graduada emEducação Artística –Artes Visuais e Pós-Graduação em Web<strong>de</strong>singer pela Universida<strong>de</strong> Tuiuti <strong>do</strong>Paraná.91


Como o valor <strong>de</strong> um trabalho não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da técnica utilizada, mas <strong>do</strong>resulta<strong>do</strong> final obti<strong>do</strong>, apresentamos não somente a técnica, mas algumas daspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> matrizes e resulta<strong>do</strong>s possíveis em sala <strong>de</strong> aula. Nãoconsi<strong>de</strong>ramos “gravura alternativa”, não usamos esta expressão em nenhummomento, pois se o que chamamos <strong>de</strong> gravura é a impressão no papel <strong>de</strong> umamatriz trabalhada e preenchida com tinta para reprodução da imagem, é com esteconceito geral que trabalhamos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> projeto.A primeira técnica que apresentamos foi a monotipia 54 , que possibilitavaapenas cópia única, mas podia e <strong>de</strong>via ser utilizada como base <strong>de</strong> composição paraimpressões posteriores. Algumas imagens eram tão expressivas que dispensavaminterferência. Ao trabalharmos com as técnicas <strong>de</strong> relevo 55 abordamos aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> xilogravuras com matrizes <strong>de</strong> isopor, pastas polionda, trabalhan<strong>do</strong>a composição elaborada da imagem. Sempre que uma impressão era geradaestavámos prontos a refletir sobre o resulta<strong>do</strong> e novas formas que permitiriam umamelhor expressão, mas to<strong>do</strong>s os momentos eram aproveita<strong>do</strong>s para que a discussãocoletiva sobre os resulta<strong>do</strong>s fosse instaurada.A grava<strong>do</strong>ra Juliana Kudlinski foi convidada a falar sobre seu trabalho no“Café da Manhã com Artista” 56 , apresentan<strong>do</strong> carimbos feitos <strong>de</strong> borrachasescolares, como matrizes gera<strong>do</strong>ras da construção <strong>de</strong> mandalas e <strong>do</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua poética plástica e <strong>de</strong> seus caminhos investigativos. Era umaalternativa que alguns conheciam, mas não haviam aplica<strong>do</strong> em sala. Estaapresentação gerou uma reação muito rápida no grupo, que se mobilizouimediantamente e aproveitou a presença e orientação da artista para fazerem seusprimeiros carimbos e mandalas.Seguin<strong>do</strong> o planejamento, abordamos em seguida as técnicas <strong>de</strong> baixorelevo57 que têm como característica a absorção e a impressão das linhas <strong>de</strong> tintaque foram riscadas na matriz. Nesta técnica estavam as maiores novida<strong>de</strong>s: o cd, acaixa <strong>de</strong> leite, latinhas <strong>de</strong> refrigerante, retalhos <strong>de</strong> acetato e plásticos...54 Composição <strong>de</strong> uma imagem diretamente sobre uma superfície e a impressão no papel.55 O termo refere-se as partes elevadas da matriz <strong>de</strong> impressão. São estas partes que irão absorvera tinta e transferí-la para o papel.56 Uma das ativida<strong>de</strong>s criadas pelo Projeto Célula em que um artista local e atuante é convida<strong>do</strong> paraum café da manhã com o grupo.57 O termo refere-se a partes afundadas, encravadas, riscadas ou esculpidas da matriz que sãopreenchidas com tinta.92


Era o momento certo para novas edições <strong>do</strong> “Café da Manhã com Artista”,pois seria necessária uma troca <strong>de</strong> olhares entre o grupo e artistas atuantes paraque fizessem a apresentação <strong>de</strong> seus trabalhos e poéticas.O primeiro encontro foi com as artistas grava<strong>do</strong>ras Hebe Libera e ElianaHerrera. Hebe trabalha com plástico polionda, pois era o material que tinhadisponível em gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong>senvolveu sua poética sobre aspossibilida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>scobria com a sua manipulação como matriz. Eliana trabalhacom cds, caixas <strong>de</strong> leite, sucos, acetatos <strong>de</strong> golas <strong>de</strong> camisa, retalhos plásticos. Éuma aproveita<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> materiais e uma visionária. Constrói matrizes mínimas comgran<strong>de</strong> potencia visual. As artistas estavam disponíveis e os professoresmergulharam nessa troca que o contato direto com o produtor <strong>de</strong> arte possibilita.Aconteceu também o café da manhã com os artistas Valdir Francisco, SandraNatter e Michelle Behar, to<strong>do</strong>s atuantes e participantes <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Oficina <strong>de</strong>Gravura da UFPR e cujas poéticas possuem características comuns: um olhardiferencia<strong>do</strong> para o mun<strong>do</strong> e a paixão pela arte da gravura. Valdir constrói matrizescom figuras colecionáveis, <strong>de</strong>stas que vêm em pacotes <strong>de</strong> salgadinhos, exploran<strong>do</strong>encaixes, repetições e sen<strong>do</strong> incansável na busca <strong>de</strong> novas alternativas. Sandra seinteressa pela simplicida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s materiais, agregan<strong>do</strong> valor e buscan<strong>do</strong> inspiraçãonas cenas <strong>do</strong> dia-a-dia e nas suas memórias. Michele é mestre na composição, naescolha das cores, na transformação da matriz e das formas, ten<strong>do</strong> trazi<strong>do</strong> umelemento a mais que já <strong>de</strong>spertara o interesse <strong>do</strong> grupo: a gravura digital.Depois <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s estes encontros e trocas, uma <strong>de</strong>scoberta: a tão esperada“gravura alternativa” não existia! Todas as alternativas que os artistas apresentarameram ótimas gravuras resultantes <strong>de</strong> pesquisas em áreas <strong>de</strong> interesse. E não eramótimos por que eram “bonitinhos”, mas porque pensavam a construção da imagem apartir <strong>do</strong> que está no nosso entorno. Quan<strong>do</strong> os professores começaram a percebero mun<strong>do</strong> como uma imensa matriz a ser gravada e impressa, era o momento queaguardávamos para dar início à gravura na escola.Colocamos uma pequena prensa a disposição <strong>do</strong>s professores. Tambémestivemos presentes em algumas escolas, em oficinas <strong>de</strong> gravura trabalhan<strong>do</strong> juntocom o professor, auxilian<strong>do</strong> na apresentação e aplicação da técnica.93


Estão, também, sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>s Monitores Célula 58 <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> próprioLaboratório <strong>de</strong> Gravura da UFPR para que auxiliem o professor na escola. Estasações geraram, e ainda estão fomentan<strong>do</strong>, resulta<strong>do</strong>s positivos na relação professor– escola – aluno, pois estes estabeleceram a linguagem da gravura como forma <strong>de</strong>comunicação – como já fizeram muitos artistas grava<strong>do</strong>res!Novos projetos já foram inicia<strong>do</strong>s nas escolas, ten<strong>do</strong> os professores seapropria<strong>do</strong>, para o fazer da gravura, <strong>de</strong> salas que antes estavam <strong>de</strong>stinadas paraoutros fins. Outras disciplinas começam a ver na arte o seu potencial como eixoarticula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> saberes. Alguns <strong>do</strong>s professores relataram que, nas visitas aosmuseus, já se permitem fazer uma mediação mais consistente, estebelecen<strong>do</strong> commaior facilida<strong>de</strong> uma ponte interligan<strong>do</strong> a educação perceptiva <strong>de</strong> seus alunos e aexpressão criativa das obras. Somente o professor, ten<strong>do</strong> vivencia<strong>do</strong>a<strong>de</strong>quadamente a experiência estética, po<strong>de</strong> permitir e ampliar, com maiorfacilida<strong>de</strong>, a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sta experiência para o aluno. E se, além <strong>de</strong>stes, outrosbenefícios resultarem das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arte e da gravura, tanto melhor.E sobre o ninho? Ele não estará vazio. O Projeto Célula acredita que sob osolhos atentos <strong>do</strong>s professores, respeitan<strong>do</strong> o tempo <strong>de</strong> cada um, outros estarãosen<strong>do</strong> construí<strong>do</strong>s, em cada escola: um espaço maior para gravura.REFERÊNCIASBORNHEIM, Gerd A. As metamorfoses <strong>do</strong> olhar. In: NOVAES, Adauto. O olhar. SãoPaulo : Companhia das Letras, 1988, p.89-93.__________. Caixa <strong>de</strong> Cultura. Gravura: História e técnica. São Paulo : Itaú Cultural,2002.CASSIER, Ernst. Ensaio sobre o homem. Lisboa: Guimarães Editores, s/d.CONRAD, Mueller. Luz e visão. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 1972.FAIRCHILD, Maurice e Marguerite. A aprendizagem visual: uma análise sóciolingüisticasobre a crítica <strong>de</strong> arte no ensino <strong>de</strong> artistas. In: BARBOSA, Ana Mae(Org.) Arte/educação contemporânea: consonâncias internacionais. São Paulo:Cortez, 2005, p.388-403.58 Estes monitores são alunos seleciona<strong>do</strong>s nas turmas pelo professor envolvi<strong>do</strong> no projeto, e fazemuma tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> oficina no Laboratório <strong>de</strong> Gravura da UFPR.94


MACHADO, Regina. Rasas razões. In: BARBOSA, Ana Mae (Org.). Inquietações eMudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002, p.175-180.OSTROWER, Fayga. A construção <strong>do</strong> olhar. In: NOVAES, Adauto. O olhar. SãoPaulo : Companhia das Letras, 1988, p. 167-182.PORCHER, Louis. Educação Artística: luxo ou necessida<strong>de</strong>?. São Paulo: Summus,1982.VÁZQUEZ, A<strong>do</strong>lfo Sánchez. Filosofia da práxis. São Paulo: Expressão Popular,2007.ZAMBONI, Sílvio. A pesquisa em Arte: paralelo entre arte e ciência. Campinas:Autores Associa<strong>do</strong>s, 1998.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.95


RELATOS E REFLEXÕES SOBRE AS AÇÕES DO PÓLO ARTE NA ESCOLA DAUNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ.Report and Reflexions about the actions of the Programa Arte na Escola - UFPRAna Maria Petraitis Liblik 59RESUMOEste artigo relata as ações extensionistas <strong>do</strong> pólo UFPR <strong>do</strong> Programa Arte naEscola. Uma breve reflexão sobre estas ações com vista à integração <strong>do</strong> tripégraduação – pesquisa – extensão, da nossa universida<strong>de</strong>. Perspectivas sobre asações futuras e a sua importância para a comunida<strong>de</strong> externa.Palavras-chave: Ensino <strong>de</strong> Arte; ações extensionistas.ABSTRACTThis paper reports the extensionists actions of the Program Arte na Escola/ UFPR. Ashort reflextion over these actions regarding the integration of the activities of thetripod: graduation – extension and research, of our university. Perpectivs about thefuture actions and its importancy for the external community.Keywords: art teaching; extensionist activities.RESUMENEste artículo <strong>de</strong>scribe las acciones extensionistas <strong>de</strong>l polo UFPR <strong>de</strong>l Programa Artena Escola. Es un breve relato <strong>de</strong> las acciones para la integración <strong>de</strong> las activida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> trípo<strong>de</strong> graduación, extensión y pesquisa <strong>de</strong> nuesta universidad, con vistas a lasperspectivas <strong>de</strong> acciones futuras y su importancia para la comunidad externa.Palabras-clave: enzenanza <strong>de</strong>l arte; activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensión.Para começo <strong>de</strong> conversaFinal <strong>de</strong> ano e final <strong>de</strong> semestre, correria natural <strong>de</strong> pequenas ações que, aose organizar em conjunto, encerram o trabalho <strong>de</strong> professores, alunos e convida<strong>do</strong>s.São trabalhos e provas corrigi<strong>do</strong>s, listagens com freqüências e conceitos lança<strong>do</strong>s,notas encerradas para o ano ou semestre letivo que finda, relatórios escritos eapresenta<strong>do</strong>s às instâncias superiores.59 Doutora em Educação (USP). Professora <strong>do</strong> Departamento <strong>de</strong> Teoria e Prática <strong>do</strong> Ensino <strong>do</strong> Setor<strong>de</strong> Educação da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná, Rua General Carneiro, 460 - # 511 – Curitiba,PR - ampliblik@UFPR.br - Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> pólo UFPR – artenaescola@UFPR.br96


Ao mesmo tempo em que isto acontece, uma saraivada <strong>de</strong> idéias se compõee, efervescente, lança tentáculos em direção ao futuro. São os novos projetos quetomarão forma durante as férias, para as novas ações, para o ano ou semestrevin<strong>do</strong>uro.A cada ano que passa, esta é como uma rotina natural: o que “<strong>de</strong>u certo” semantém e o que apresentou algumas falhas, algumas lacunas, pensa-se novamentee se refaz o percurso organizan<strong>do</strong> <strong>de</strong> outra forma as ações. Projetos extensionistas,em sua maioria, são assim projeta<strong>do</strong>s.Uma universida<strong>de</strong> se estrutura a partir <strong>de</strong> um tripé bem conheci<strong>do</strong>: ensino,pesquisa e extensão. Enquanto o ensino é como que uma constante obrigatória epouco valorizada, a pesquisa tem o status <strong>de</strong> elite. Pesquisar-ensinar <strong>de</strong>veria ser opercurso natural <strong>de</strong> qualquer professor universitário, para não dizer <strong>de</strong> qualquerprofissional da Educação comprometi<strong>do</strong> consigo e com a comunida<strong>de</strong>.Entretanto, a realida<strong>de</strong> é bem mais cruel <strong>do</strong> que parece: nas universida<strong>de</strong>spúblicas a pesquisa, até por uma questão <strong>de</strong> injeção <strong>de</strong> verbas fe<strong>de</strong>rais, apresentasecomo um “<strong>de</strong>grau” acima <strong>do</strong> ensino. E neste cenário capenga, a extensão quase<strong>de</strong>saparece nas ações universitárias. Em instituições públicas, difícil <strong>de</strong>cisão a <strong>de</strong>priorizar uma das três ações em <strong>de</strong>trimento das outras...Como a <strong>do</strong>cência é obrigatória e a pesquisa também, a extensão ficarelegada, na maioria <strong>do</strong>s casos, a uma gaveta <strong>de</strong> projetos pensa<strong>do</strong>s e nãorealiza<strong>do</strong>s. Há uma via <strong>de</strong> mão dupla, um ciclo que se repete, mas em forma <strong>de</strong>espiral. Da extensão para a graduação e <strong>de</strong>pois para a pesquisa, e da pesquisanovamente para a graduação e/ou a extensão. Enquanto a graduação éintermediária da relação entre o Ensino Médio e a formação profissional superior, apesquisa é a que permite aos <strong>do</strong>centes aperfeiçoar seus conhecimentos e fazê-losavançar para que se adaptem e se constituam como base para novas construçõesteóricas. Uma teoria ou se refuta ou se amplia, ou então, se cria uma nova. E é nasuniversida<strong>de</strong>s, com a pesquisa, que isto acontece.O ensino é o que melhor representa o que a comunida<strong>de</strong> acredita ser eespera da universida<strong>de</strong>. A graduação é o que to<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sejam alcançar sen<strong>do</strong> que após-graduação – tanto strictu quan<strong>do</strong> latu senso, ainda é para poucos.A extensão, por outro la<strong>do</strong>, esten<strong>de</strong> seus braços para a comunida<strong>de</strong> nãonecessariamente acadêmica. São grupos <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, projetos, cursos, palestras,ações pontuais e outras continuadas, que apresentam a quem estiver interessa<strong>do</strong>,97


parte da pesquisa realizada pelos professores da universida<strong>de</strong> associan<strong>do</strong> assim umsaber a um fazer.Parece fácil pensar em ativida<strong>de</strong>s extensionistas assim, em termos <strong>de</strong>pessoas e materiais. Porém a organização e a efetiva realização das ações<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m muito mais <strong>de</strong> projetos pessoais <strong>de</strong> vida e <strong>de</strong> crenças <strong>do</strong> que <strong>de</strong> outrosmecanismos. Extensão sem profissionais comprometi<strong>do</strong>s e sem suporte logístico eafetivo torna-se quase uma utopia. É necessária uma estrutura mínima para que elaaconteça, mas não basta haver um local, uma sala, telefone e computa<strong>do</strong>r comInternet, professor responsável e, quem sabe, bolsistas. Além <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> isto é precisoestabelecer parcerias – internas e externas à universida<strong>de</strong> – que auxiliem ocoor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r a realizar os projetos que ele propõe. Uma <strong>de</strong>stas parcerias é arealizada com o Instituto Arte na Escola <strong>de</strong> São Paulo (IAE) e é <strong>de</strong>sta possibilida<strong>de</strong>que este artigo trata.O objetivo <strong>do</strong> Instituto Arte na Escola sempre foi capacitar professores <strong>de</strong>ensino básico para o ensino <strong>de</strong> Artes, sen<strong>do</strong> num primeiro momento, artes visuais, epara a produção <strong>de</strong> materiais como subsídios nessa tarefa. Além <strong>de</strong> textos (livros),há ví<strong>de</strong>os, pastas com imagens fixas <strong>de</strong>nominadas arte br, e dvd’s, tu<strong>do</strong> paraempréstimo aos professores que nos procuram. Como é sabi<strong>do</strong> que este materialpor si só não resolve o problema, o IAE sugere que sejam organiza<strong>do</strong>s grupos <strong>de</strong>estu<strong>do</strong> e outras ativida<strong>de</strong>s extensionistas para o efetivo entendimento <strong>do</strong> uso <strong>do</strong>smateriais por ele produzi<strong>do</strong>s.As ações extensionistasO convênio assina<strong>do</strong> entre a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná e o InstitutoArte na Escola prevê estas ações extensionistas. O objetivo principal <strong>do</strong> ProgramaArte na Escola no pólo UFPR (assim como o <strong>do</strong>s outros 53 pólos espalha<strong>do</strong>s por 24esta<strong>do</strong>s brasileiros e o distrito fe<strong>de</strong>ral) é estudar as diferentes possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ensino <strong>de</strong> Artes nos mais diversos graus <strong>de</strong> escolarização e auxiliar professores aimplementá-las. Projetos extensionistas trabalham <strong>de</strong>sta maneira: não é apenas umensinar, mas principalmente, é construir juntos, universida<strong>de</strong> e comunida<strong>de</strong>, saberesespecíficos para o ensino <strong>de</strong> Artes. Os pólos têm ativida<strong>de</strong>s organizadas a partir <strong>do</strong>s98


objetivos <strong>do</strong> IAE, da formação <strong>do</strong> coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> pólo e das <strong>de</strong>mandas dacomunida<strong>de</strong> local. Alguns pólos trabalham com conteú<strong>do</strong>s <strong>de</strong> artes visuais, outroscom a linguagem da música, <strong>do</strong> teatro e da dança. Outros pólos voltam-se, além dasdiscussões sobre as diferentes linguagens artísticas, para a formação continuada <strong>de</strong>professores <strong>do</strong> ensino básico (sem formação específica em Artes). Como isto éfeito?Novamente a imagem <strong>de</strong> uma espiral se faz presente e explicita como istoacontece. Estudar, estudar muito, pesquisar, (re) elaborar idéias e conceitos econcretizá-los. Pesquisa<strong>do</strong>res e professores em ação contínua organizan<strong>do</strong>encontros, sugerin<strong>do</strong> textos, apresentan<strong>do</strong> estratégias. A troca entre parceiros ésalutar e acontece constantemente e a cada ano por meio <strong>de</strong> produções textuaisque po<strong>de</strong>m ou não ser apresentadas em eventos. A publicação <strong>de</strong>stas pesquisas fazparte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> acadêmico e sua socialização impele a novas organizações mentaisque po<strong>de</strong>m ou não gerar novas idéias e novas ações. O ciclo se completa a cadaano que termina, com a reflexão <strong>do</strong> aconteci<strong>do</strong> e com a preparação <strong>do</strong> que vaiacontecer no próximo ano.Vejamos então o que foi feito pelo pólo UFPR <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu (re) começo em2004, quan<strong>do</strong> da assinatura <strong>de</strong> um novo convênio com o Instituto Arte na Escola <strong>de</strong>São Paulo.Quadro <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s realizadasano título Mês /semestre Número <strong>de</strong>professoresatendi<strong>do</strong>s2004 1. Lançamento <strong>do</strong>material arte br.2. Capacitaçãopara uso <strong>do</strong> materialarte br.Observaçõesjunho 880 Presença<strong>do</strong> Sr.Reitor2º semestre 800 Entrega <strong>de</strong>uma pastapara cadaprofessor.20051. Inauguraçãodas instalações dasala <strong>do</strong> pólo UFPR,com a apresentação<strong>do</strong> Quarteto <strong>de</strong> cordasdidático.2. I Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – conhecen<strong>do</strong>01 <strong>de</strong> junho 30 Presença<strong>do</strong> Sr.Reitor09/11 a 07/12 3099


20062007e enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>utilização <strong>do</strong> material<strong>do</strong> Projeto Arte naEscola.3. Doação <strong>de</strong> 800publicações <strong>de</strong> Artepara a Secretaria <strong>de</strong>Cultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Paraná4. Quarteto <strong>de</strong>Cordas didático1. II Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – História daArte e Leitura <strong>de</strong>imagens no Ensino daArte.2. III Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, apartir da vi<strong>de</strong>otecaArte na Escola.3. Ensino <strong>de</strong>Geometria nas SériesIniciais <strong>do</strong> EnsinoFundamental:conexões com ocontexto artístico.4. Quarteto <strong>de</strong>Cordas didático1. IV Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, apartir da vi<strong>de</strong>otecaArte na Escola.2. Ensino <strong>de</strong>Geometria nas SériesIniciais <strong>do</strong> EnsinoFundamental:conexões com ocontexto artístico.3. V Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, apartir da vi<strong>de</strong>otecaArte na Escola.4. Grupo <strong>de</strong>Estu<strong>do</strong>s em Artes aMarçonovembroa21/03 a 13/06 1016/08 a 22/11 1616/08 a 22/11 12Marçonovembro07/03 a 20/0615/08 a 28/0815/08 a 28/0815/08 a 28/08aDois exemplares paracada biblioteca <strong>de</strong> escolas<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná.16 concertos - com apresença <strong>de</strong> 35 alunos e<strong>do</strong>is professores cada.16 concertos - com apresença <strong>de</strong> 35 alunos e<strong>do</strong>is professores cada.100


partir da midiatecaArte na Escola2007 Exposições com a chancela Arte na Escola em espaços culturais daUFPR• ESPAÇO, TEMPO, ESTRUTURA, ABSTRAÇÃODIÁLOGOS ENTRE ARTE E MATEMÁTICAMusA - Museu <strong>de</strong> arte da UFPR26 <strong>de</strong> junho a 09 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007• IV MOSTRA LATINOAMERICANA DE ARTES VISUAISMusA - Museu <strong>de</strong> arte da UFPR13 <strong>de</strong> setembro a 18 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007• REMINISCÊNCIAS DO TEMPO – RICARDO CARNEIROMusA - Museu <strong>de</strong> arte da UFPR28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007 a 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2008Espetáculos• DANÇA MONDRIANApresentação <strong>do</strong> Grupo Téssera Cia. <strong>de</strong> Dança da UFPR naConferência Inaugural no XI EBRAPEM – Encontro Brasileiro <strong>de</strong>estudantes <strong>de</strong> pós-graduação em Educação Matemática.CENTRO POLITÉCNICO DA UFPR – SAGUÃO DO PRÉDIO DAADMINISTRAÇÃO07 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007Mesas re<strong>do</strong>ndas• NARRATIVAS CONTEMPORÂNEASFÁBIO MAGALHÃES, MONTSERRAT ALBORES GLEASON(MÉXICO), JAIME CERÓN (COLÔMBIA), PAULO REIS.Sala Homero <strong>de</strong> Barros – Reitoria da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong>Paraná.13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 as 15 h• NARRATIVAS CONTEMPORÂNEASPAULO REIS, TICIO ESCOBAR (PARAGUAI), EVA GRINSTEIN(ARGENTINA) E FERNANDO BINI.Sala Homero <strong>de</strong> Barros – Reitoria da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong>Paraná.13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2007 as 18 h 30• SOBRE A OBRA DE RICARDO CARNEIROMusA – Museu <strong>de</strong> Arte da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná.29 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2007 as 19 hOutras ativida<strong>de</strong>s• NOITE DE AUTÓGRAFOSLançamento <strong>do</strong> livro BRUGNERA – LUIZ CARLOS101


MusA – Museu <strong>de</strong> Arte da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná18 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2007 às 19 h20081. Grupo <strong>de</strong>Estu<strong>do</strong>s em Artes apartir da midiatecaArte na Escola2. VI Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, apartir da vi<strong>de</strong>otecaArte na Escola.3. Grupo <strong>de</strong>Estu<strong>do</strong>s em Teatro I –jogos dramáticos paraa sala <strong>de</strong> aula4. Grupo <strong>de</strong>Estu<strong>do</strong>s em Artes apartir da midiatecaArte na Escola5. VII Ciclo <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, apartir da vi<strong>de</strong>otecaArte na Escola.6. Grupo <strong>de</strong>Estu<strong>do</strong>s em Teatro II– jogos dramáticospara a sala <strong>de</strong> aula7. Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Dança para as sériesiniciais <strong>do</strong> Ensinofundamental8. Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>Capoeira para asséries iniciais <strong>do</strong>Ensino fundamental19/03 a25/0619/03 a25/0619/03 a25/0611/08 a28/1111/08 a28/1111/08 a28/1111/08 a28/1111/08 a28/115 Produção <strong>de</strong> materiaisdidáticos12 Produção <strong>de</strong> materiaisdidáticos1205 Produção <strong>de</strong> materiaisdidáticos151212129. Atendimento aprofessores - plantãosemanal19/03 a28/11VariávelO atendimento funcionacomo um espaço paratroca <strong>de</strong> “figurinhas”entre professores <strong>do</strong>ensino básico e acoor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> pólo.As ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> pólo UFPR aten<strong>de</strong>m basicamente três linguagens artísticas:Música, Teatro e Artes Visuais, todas encaminhadas para as ações <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.102


Uma primeira reflexão seria sobre o projeto Quarteto <strong>de</strong> Cordas didático. Éuma ativida<strong>de</strong> realizada com alunos <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Licenciatura em Música on<strong>de</strong> elesapresentam para alunos <strong>de</strong> uma turma <strong>de</strong> escola pública, e em uma hora/aula, o queé um quarteto <strong>de</strong> cordas. O trabalho é feito em uma sala <strong>de</strong> aula, com no máximo 35alunos e <strong>do</strong>is professores e não no auditório da escola para que os alunos possamse aproximar <strong>do</strong>s instrumentos e <strong>do</strong>s músicos. Mantivemos esta ativida<strong>de</strong> durante<strong>do</strong>is anos consecutivos – 2005 e 2006 – e preten<strong>de</strong>mos retomá-la em 2009, pois aprocura é muito gran<strong>de</strong>. A nossa reflexão nos leva a perguntar: como formarouvintes <strong>de</strong> música se ela não é apresentada ce<strong>do</strong>, durante a escolarida<strong>de</strong> básica<strong>do</strong>s alunos? A resposta se esta forma <strong>de</strong> “formar” ouvintes é ou não positiva, só otempo po<strong>de</strong>rá nos dar.O Teatro como ativida<strong>de</strong> para a sala <strong>de</strong> aula é recente em nosso programa.Começou no primeiro semestre <strong>de</strong>ste ano e estamos repetin<strong>do</strong> no segun<strong>do</strong>semestre. Há interesse e procura e os participantes são varia<strong>do</strong>s. Temos <strong>de</strong>s<strong>de</strong>professores em formação continuada até alunos <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> graduação e filhos <strong>de</strong>servi<strong>do</strong>res da própria UFPR. A linguagem <strong>do</strong> Teatro, utilizada na perspectiva <strong>do</strong>sjogos dramáticos tem muito a acrescentar nas ativida<strong>de</strong>s escolares e tem si<strong>do</strong> umaexperiência interessante.As Artes Visuais são atendidas em diferentes momentos. Temos os Ciclos <strong>de</strong>ví<strong>de</strong>o/dvd que passaram, <strong>de</strong> uma simples apresentação da fita ou <strong>do</strong> dvd damidiateca com uma posterior discussão, a grupos organiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s comprodução <strong>de</strong> materiais didáticos. O objetivo <strong>de</strong> <strong>do</strong>is <strong>de</strong>stes grupos agora é apublicação <strong>do</strong>s materiais produzi<strong>do</strong>s.Um momento interessante e que ainda não está bem explora<strong>do</strong>, é oatendimento individual a professores. Como o horário à disposição é semanal, hádias em que aparecem para conversar <strong>do</strong>is ou três professores e em outros, nãovem ninguém. To<strong>do</strong>s até agora tiveram interesse em discutir sobre a própria sala <strong>de</strong>aula, o que ensinar em Arte e como fazê-lo. Funciona mais como uma ouvi<strong>do</strong>ria <strong>do</strong>que propriamente um espaço para discussão, mas estes professores retornam e,quem sabe, um dia po<strong>de</strong>rão fazer parte <strong>de</strong> nossas ativida<strong>de</strong>s em grupo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>s.Algumas consi<strong>de</strong>rações po<strong>de</strong>m ser feitas a partir <strong>do</strong> perfil <strong>de</strong> quem nosprocura para as ativida<strong>de</strong>s extensionistas. Praticamente 85% <strong>do</strong>s professores quefreqüentam o pólo pertencem à categoria <strong>de</strong> professores em formação continuada.Destes, a maioria está em sala <strong>de</strong> aula e vem à procura <strong>de</strong> novas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>103


ação. Buscam conhecer teóricos mais atuais e participam ativamente das ativida<strong>de</strong>sextensionistas por <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> tempo. Novos materiais e outras possibilida<strong>de</strong>s paraa sala <strong>de</strong> aula os atraem e continuamente nos procuram, tanto por e-mail quanto portelefone. Uma parte pequena ainda não assumiu uma classe <strong>de</strong> alunos e, portanto,ao freqüentar os cursos proporciona<strong>do</strong>s pelo pólo Arte na Escola UFPR, acreditamestar mais bem prepara<strong>do</strong>s para o futuro próximo. Há também alunos <strong>do</strong> curso <strong>de</strong>Artes Visuais – da nossa própria instituição e <strong>de</strong> outras da cida<strong>de</strong>, alunos <strong>de</strong> outrasgraduações e muitos professores <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná que fazem parte <strong>de</strong> umprograma <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> PDE – Programa <strong>de</strong> Desenvolvimento Educacional. Estesúltimos, para fazer parte <strong>de</strong>ste programa, passaram por uma rigorosa seleção daSecretaria <strong>de</strong> Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná e, por terem que freqüentar auniversida<strong>de</strong>, incluem as nossas ações extensionistas em sua gra<strong>de</strong> horária.Outro fator interessante a ser nota<strong>do</strong> é que o espaço <strong>do</strong> nosso pólo, assimcomo <strong>de</strong>ve ser o <strong>de</strong> outros, serve também como um local <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> “figurinhas”entre pares. São estratégias compartilhadas, são idéias postas em discussão, sãoações que vão para as salas <strong>de</strong> aula e se renovam a cada encontro que passa.ConclusõesHá muito que escrever sobre as ações extensionistas <strong>de</strong> nossa universida<strong>de</strong>para o ensino <strong>de</strong> Artes Visuais. As organizadas e realizadas pelo pólo Arte naEscola da UFPR são tímidas pelo que po<strong>de</strong>ria ser feito com uma equipe maior <strong>de</strong>participantes ou com a superação das limitações que uma universida<strong>de</strong> públicaimpõe.Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>, porém, o que está sen<strong>do</strong> feito, acreditamos aten<strong>de</strong>rpositivamente o público que nos procura. Talvez o mais importante, maissignificativo nestas nossas ações, seja não o que fazemos, mas a maneira com queisso acontece. No começo entendíamos que bastava “dar receitas prontas” para umpúblico que ainda não sabia o que esperar <strong>do</strong> projeto. Nem nós sabíamos muito bemo que fazer, era apenas uma intuição acadêmica <strong>do</strong> que acreditávamos ser o maisa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para os professores que nos procuravam. Hoje temos, com este mesmopúblico, muito mais que uma troca <strong>de</strong> idéias, um compartilhar <strong>de</strong> saberes quelentamente, mas consistentemente se organiza a partir <strong>do</strong> que se lê, <strong>do</strong> que seestuda para passar então a produzir novos saberes em conjunto. Percebemos que104


agora é uma construção coletiva, um caminhar juntos, mesmo que seja com asdificulda<strong>de</strong>s da construção epistemológica <strong>do</strong> saber. Consi<strong>de</strong>ramos, nos grupos, quenão há quem sabe mais, e sim quem sabe diferente. E é no confronto <strong>de</strong>stasdiferenças que se possibilita o surgimento <strong>de</strong> um novo saber. Questionan<strong>do</strong> orespeito pelo outro, enten<strong>de</strong>r as diferenças e, conseguin<strong>do</strong> assim, saber manteresse respeito permite-se e se aceita a tão discutida alterida<strong>de</strong>. Segun<strong>do</strong> Gusmão(1997) “a aventura <strong>de</strong> se colocar no lugar <strong>do</strong> outro, <strong>de</strong> ver como o outro vê, <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>r um conhecimento que não é nosso é o que chamamos <strong>de</strong> alterida<strong>de</strong>”.E é nesta troca entre professores em formação e professores com anos <strong>de</strong>experiência e a aca<strong>de</strong>mia que se pautam as ações extensionistas.A universida<strong>de</strong> sempre se preocupou em pesquisar e ensinar. A questão daextensão, a ponte entre a aca<strong>de</strong>mia e a comunida<strong>de</strong> que origina e sustenta estainstituição, é bem mais recente. Saber para si é importante, mas saber para si e paraos outros é sábio e muito mais valioso.REFERÊNCIASGUSMÃO, Neusa M. M. Antropologia e educação: origens <strong>de</strong> um diálogo. Campinas:1997.UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> ExtensãoLançamento <strong>do</strong> material arte br. Curitiba, 2004.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Capacitação para uso <strong>do</strong> materialarte br. Curitiba, 2004.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão I Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – conhecen<strong>do</strong> eenten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong> material <strong>do</strong> Projeto Arte na Escola.Curitiba, 2005.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Quarteto <strong>de</strong> cordas didático. Curitiba,2005.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão II Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – História da Arte eLeitura <strong>de</strong> imagens no Ensino da Arte. Curitiba, 2006.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão III Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, a partir da vi<strong>de</strong>oteca Arte na Escola. Curitiba, 2006105


__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Ensino <strong>de</strong> Geometria nas SériesIniciais <strong>do</strong> Ensino Fundamental: conexões com o contexto artístico. Curitiba, 2006.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Quarteto <strong>de</strong> cordas didático. Curitiba,2006.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão IV Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, a partir da vi<strong>de</strong>oteca Arte na Escola. Curitiba, 2007.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Ensino <strong>de</strong> Geometria nas SériesIniciais <strong>do</strong> Ensino Fundamental: conexões com o contexto artístico. Curitiba, 2007.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão V Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>sem Artes, a partir da vi<strong>de</strong>oteca Arte na Escola. Curitiba, 2007.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Grupo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s em Artes a partirda midiateca Arte na Escola. Curitiba, 2007.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Grupo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s em Artes a partirda midiateca Arte na Escola. Curitiba, 2008.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão VI Ciclo <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os – grupo <strong>de</strong>estu<strong>do</strong>s em Artes, a partir da vi<strong>de</strong>oteca Arte na Escola. Curitiba, 2008.__________. Relatório <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão Grupo <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s em Teatro I –jogos dramáticos para a sala <strong>de</strong> aula. Curitiba, 2008.Texto recebi<strong>do</strong> em 30 jun. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 10 set. 2008.106


Demanda Contínua107


PROGRAMA PARA A FORMAÇÃO DA CIDADANIA INFANTO-JUVENIL: UMCAMINHO PARA A AUTONOMIA INFANTILProgram for the formation of the citizenship infant-youthful: a way for the infantileautonomyAna Cláudia Delfini Capistrano <strong>de</strong> Oliveira 60Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Alves Zanatta 61Lívia Lima 62Maiti Mattoso Fontana 63Rodrigo Fuck Giostri 64Simone Cristine Davel 65RESUMOEste artigo apresenta o Programa <strong>de</strong> Formação da Cidadania Infanto-juvenil queresultou na publicação <strong>de</strong> um livro para crianças e a<strong>do</strong>lescentes chama<strong>do</strong>CADERNO DE CIDADANIA. Seu objetivo principal é o fortalecimento da cidadaniainfanto-juvenil na perspectiva da autonomia e da emancipação da criança nasocieda<strong>de</strong> brasileira, que vem sofren<strong>do</strong> um absoluto <strong>de</strong>scaso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a gênese daprópria socieda<strong>de</strong> brasileira. Para concretizar este objetivo o Ca<strong>de</strong>rno foi construí<strong>do</strong><strong>de</strong> forma participativa, unifican<strong>do</strong> três projetos, o “Projeto Cidadania e MeioAmbiente na Escola: A Cartilha <strong>do</strong> Cidadão Mirim”, “Direitos Humanos no BancoEscolar” e “Ação Cidadã: Aplicação <strong>do</strong> Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente numacomunida<strong>de</strong>”. O ca<strong>de</strong>rno, <strong>de</strong> maneira lúdica e interativa, integra as habilida<strong>de</strong>s ecompetências que contribuem para a formação <strong>de</strong> cidadãos conscientes e ativos na<strong>de</strong>fesa e proteção <strong>de</strong> seus direitos fundamentais e <strong>do</strong> patrimônio ambiental, fazen<strong>do</strong>da escola não apenas espaço <strong>de</strong> apreensão <strong>de</strong> informações técnico-formais, e sim<strong>de</strong> formação e instrumentalização para a cidadania. O Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadaniatrabalha na perspectiva <strong>de</strong> ser um material <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong> transversal que po<strong>de</strong>rá serutiliza<strong>do</strong> pelos professores <strong>de</strong> todas as disciplinas, bem como por facilita<strong>do</strong>resautônomos. O objetivo <strong>de</strong>sse projeto é <strong>de</strong>spertar a consciência crítica e estimular aautonomia, que significa mudança na organização da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social que afetaas crianças brasileiras.Palavras-chave: Cidadania; direitos; infância e juventu<strong>de</strong>.ABSTRACT60 Mestre em Sociologia Política e professora da UNIVALI61 Mestre em Direito Internacional e professora da UNIVALI62 Graduanda em Direito e bolsista <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Extensão UNICIDADE63 Graduada em Engenharia Ambiental e bolsista <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Extensão UNICIDADE64 Graduan<strong>do</strong> em Direito e bolsista <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Extensão UNICIDADE65 Graduanda em Direito e bolsista <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Extensão UNICIDADE108


This article presents the Program of Formation of the Infant-youthful Citizenship thatresulted in the publication of a book for children and a<strong>do</strong>lescents called NOTEBOOKOF CITIZENSHIP. Its main objective is to encourage the infant-youthful citizenship inthe perspective of the autonomy and the emancipation of the child in the Braziliansociety, whose comes suffering an absolute indifference since the beginning ofBrazilian society. To materialize this objective the Notebook was constructed unifyingthree different projects: the Project “Citizenship and Environment in the School: Thenotebook of the Mirim Citizen, “Right Human beings in the Pertaining to school Bank”and “Action Citizen: Application of the Statute of the Child and the A<strong>do</strong>lescent in acommunity”. The notebook integrates, in a playful and interactive way, the abilitiesthat in such a way contribute for the formation of conscientious and active citizens inthe <strong>de</strong>fense and protection of its basic rights and the ambient patrimony, making theschool not only space of apprehension of information technician-<strong>de</strong>eds of division,and yes of formation of citizenship. The objective of this project is to awake the criticconscience and to stimulate the autonomy, which means changing the socialinequality organization that affects Brazilians children.RESUMENEl articulo trae el Programa <strong>de</strong> Formação da Cidadania Infanto-juvenil, ha resulta<strong>do</strong>en la publicación <strong>de</strong> un libro para ninõs y jovenes llama<strong>do</strong> CUADERNO DE LACIUDADANÍA.Su objetivo principal es el fortalecimiento <strong>de</strong> la ciudadanía infantojovenen la perspectiva <strong>de</strong> la autonomía y la emancipación <strong>de</strong>l niño en la sociedadbrasileña, que sigue sufrien<strong>do</strong> una indiferencia absoluta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la genese <strong>de</strong> lasociedad. Para materializar este objetivo, el CUADERNO fue construi<strong>do</strong> <strong>de</strong> formaparticipativa, por la unificación <strong>de</strong> tres proyectos <strong>de</strong> extensión: “Ciudadanía ymedioambiente en la escuela: La cartilha <strong>de</strong>l ciudadano mirim”, “Derechos humanosen el banco <strong>de</strong> la escuela” y “Acción ciudadã: El uso <strong>de</strong>l estatuto <strong>de</strong>l niño y <strong>de</strong>la<strong>do</strong>lescente en una comunidad”. El cua<strong>de</strong>rno integra, <strong>de</strong> manera juguetona yinteractiva, las habilida<strong>de</strong>s y capacida<strong>de</strong>s que contribuyen para la formación <strong>de</strong>ciudadanos concienzu<strong>do</strong>s y activos en la <strong>de</strong>fensa y la protección <strong>de</strong> sus <strong>de</strong>rechosfundamentales y patrimonio ambiental, hacien<strong>do</strong> <strong>de</strong>l espacio <strong>de</strong> la escuela no sólo<strong>de</strong> la aprehensión <strong>de</strong> la información técnico-formale y sí <strong>de</strong> la formación y <strong>de</strong>linstrumentalización para la ciudadanía. El CUADERNO funciona en la perspectiva<strong>de</strong>l conteni<strong>do</strong> transversal que se podría utilizar por los profesores <strong>de</strong> todas lasdisciplinas, así como para facilita<strong>do</strong>res in<strong>de</strong>pendientes. El objetivo <strong>de</strong>l proyecto es<strong>de</strong>spertar la conciencia critica y estimular la autonomia como cambio <strong>de</strong> laorganización <strong>de</strong>l iniquidad social que afecta a niños brasileños.IntroduçãoO objetivo <strong>de</strong>ste artigo é apresentar o histórico e a atuação <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong>Formação para a Cidadania Infanto-Juvenil, projeto integrante <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong>Extensão UNICIDADE da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Vale <strong>de</strong> Itajaí/Univali, em seusaspectos teóricos e práticos, por meio da utilização <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania, umlivro para crianças e a<strong>do</strong>lescentes utiliza<strong>do</strong> em escolas municipais e entida<strong>de</strong>ssociais <strong>do</strong>s municípios <strong>de</strong> Itajaí, Balneário Piçarras, Balneário Camboriú e109


Florianópolis, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina.1. Programa <strong>de</strong> Formação para a Cidadania Infanto-JuvenilTu<strong>do</strong> começou no ano <strong>de</strong> 2002 com o Projeto “Cidadania e Meio Ambiente naEscola: A Cartilha <strong>do</strong> Cidadão Mirim”, no qual se trabalhou a temática <strong>do</strong> exercícioda cidadania nas questões ambientais junto aos alunos da Escola Básica Ariribá noBairro Praia Brava/Itajaí/SC, que teve como objetivo construir conhecimentos emprol da formação <strong>do</strong> cidadão, reconhecimento e exercício <strong>de</strong> direitos/<strong>de</strong>veres emobilização comunitária em prol da temática ambiental. Este projeto inicial integravao Programa <strong>de</strong> Monitoramento Ambiental Voluntário (MAV) – <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelaequipe <strong>do</strong> Laboratório <strong>de</strong> Educação Ambiental (LEA) <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> CiênciasTecnológicas da Terra e <strong>do</strong> Mar – a fim <strong>de</strong> complementar as ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas pelo mesmo, orienta<strong>do</strong> à Educação Ambiental e basean<strong>do</strong>-se naformação <strong>do</strong> “Clube Olho Vivo”, um clube <strong>de</strong> monitores mirins voluntários da escola.O Programa, enquanto proposta <strong>de</strong> Educação Ambiental Comunitáriafundamentava-se na Pedagogia da Autonomia (que falaremos adiante) e teve comoponto <strong>de</strong> partida a realida<strong>de</strong> socioambiental da própria escola.Se a escola, em vez <strong>de</strong> humanizar e preparar para a cidadania reforça a<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social e “<strong>de</strong>sciviliza” o aluno, então é preciso começar <strong>do</strong> zero. Nãoadianta falar <strong>de</strong> participação, <strong>de</strong> conscientização, aliás, uma palavra bastanteproblemática para uma criança ou um a<strong>do</strong>lescente que não se sente assim, que nãose vê nem como cidadão e nem como sujeito, nas palavras <strong>do</strong> sociólogo PedroDemo, “cidadania é a competência humana <strong>de</strong> fazer-se sujeito para fazer históriaprópria e coletivamente organizada.”(DEMO, 1995, p.01). Essas palavrasapresentam os <strong>do</strong>is pilares que norteiam o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania - em primeirolugar, fazer-se sujeito para fazer história própria e em segun<strong>do</strong> lugar, fazer históriaprópria mas coletivamente organizada.Como resulta<strong>do</strong> da experiência no “Clube Olho Vivo”, produziu-se um mo<strong>de</strong>lopiloto <strong>de</strong> cartilha sobre cidadania e meio ambiente direcionada ao público infantojuvenilque po<strong>de</strong>ria ser utilizada como instrumento para a formação da consciênciacidadã. Esta foi a segunda etapa <strong>do</strong> projeto na qual a proposta <strong>de</strong> Cartilhaconstruída na Etapa 1 foi testada e aprimorada junto aos professores e alunos, paraque pu<strong>de</strong>sse se constituir em material pedagógico para as escolas. Visou-se, ainda,<strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s voltadas aos professores no intuito <strong>de</strong> capacitá-los para110


incorporar temas liga<strong>do</strong>s à cidadania nas suas disciplinas, e estimulá-los a umamaior interação com as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto.Paralelamente a este projeto, estavam em <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>is outrosprojetos <strong>de</strong> extensão em outro bairro da cida<strong>de</strong>, o Nossa Senhora das Graças, comobjetivos e princípios semelhantes. O primeiro, “Apre(e)n<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a Cidadania: DireitosHumanos no Banco Escolar” tinha seu foco <strong>de</strong> atuação na Escola Básica Carlos <strong>de</strong>Paula Seara e o segun<strong>do</strong>, “Ação Cidadã: Aplicação <strong>do</strong> Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente numa comunida<strong>de</strong>”, atuava junto à Associação <strong>de</strong> Mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong>stemesmo bairro. A forma <strong>de</strong> inserção <strong>do</strong> tema cidadania se dava, nestes projetos, <strong>de</strong>diferentes formas. No caso <strong>do</strong> primeiro, a inserção se dava mediante uma parceriacom a escola para que o tema da cidadania fosse <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> no ensinofundamental, a partir <strong>do</strong>s alunos da 4ª série. A equipe <strong>do</strong> projeto, juntamente com asprofessoras <strong>do</strong> colégio, <strong>de</strong>senvolvia temas relativos ao conceito <strong>de</strong> cidadania pormeio <strong>de</strong> várias dinâmicas e técnicas para que as turmas fossem estimuladas asintetizar o seu próprio conceito <strong>de</strong> cidadania, como princípio orienta<strong>do</strong>r dadiscussão sobre direitos humanos.A finalização <strong>de</strong>ste projeto <strong>de</strong>u-se com a organização <strong>de</strong> uma passeata daescola até a Universida<strong>de</strong> para a apresentação <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os trabalhos elabora<strong>do</strong>spelos alunos no Auditório <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Ciências Jurídicas e Sociais (CEJURPS),com a participação da Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra Pedagógica da escola, <strong>do</strong>s professores,amigos e familiares das crianças, monitoras <strong>do</strong> projeto e autorida<strong>de</strong>s da Univali.O segun<strong>do</strong> projeto, <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> por uma professora e uma acadêmica <strong>do</strong>curso <strong>de</strong> Ciências Sociais da Univali, “Ação Cidadã: Aplicação <strong>do</strong> Estatuto daCriança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente numa comunida<strong>de</strong>”, também possuía um diferencial <strong>de</strong>atuação no que diz respeito ao acesso à cidadania, pois seu público-alvo não eramas crianças matriculadas nas escolas, mas as crianças <strong>do</strong> bairro Nossa Senhora dasGraças. Pela Associação <strong>de</strong> Mora<strong>do</strong>res foi possível reunir as crianças, uma tar<strong>de</strong>por semana, para as oficinas sobre cidadania. As oficinas eram realizadas com 10crianças entre 07 e 10 anos numa das salas da Associação com um único objetivo:apresentar o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente <strong>de</strong> forma lúdica e interativa paraque as próprias crianças discutissem o que entendiam por cidadania, e a partir disto,<strong>de</strong>senvolver uma conversa sobre direitos e <strong>de</strong>veres.A principal ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvida pelas crianças era <strong>de</strong>senhar sobre cadadireito estuda<strong>do</strong>, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o próprio Estatuto. Com isso, duas metas eram111


alcançadas – a primeira era usufruir um espaço próprio da comunida<strong>de</strong>, reivindica<strong>do</strong>e legitima<strong>do</strong> por ela, porém, um espaço eminentemente <strong>de</strong> adultos. A segunda metaera socializar o Estatuto e permitir que cada criança se manifestasse a respeito <strong>de</strong>cada direito e <strong>de</strong> cada obrigação correspon<strong>de</strong>nte, a fim <strong>de</strong> enfatizar o princípio daemancipação e <strong>do</strong> direito da criança <strong>de</strong> se expressar e comunicar suas idéias apartir <strong>de</strong> sua própria vivência e da leitura que ela faz da realida<strong>de</strong>. O resulta<strong>do</strong> distoforam <strong>de</strong>senhos, <strong>de</strong> certa forma, chocantes, que <strong>de</strong>nunciavam a realida<strong>de</strong> daprostituição infantil e <strong>do</strong> alcoolismo que afetavam as famílias daquele bairro.Diante <strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, era mister conjugar to<strong>do</strong>s estes projetos num únicoprograma que aprimorasse sua atuação comunitária em prol da cidadaniaparticipativa: O Programa <strong>de</strong> Formação para a Cidadania Infanto-juvenil. Nascia,no ano <strong>de</strong> 2004, o Programa <strong>de</strong> Formação para a Cidadania Infanto-juvenil. Aequipe executora <strong>do</strong> projeto é composta por professores das áreas <strong>de</strong> Direito eCiências Sociais, juntamente com acadêmicos <strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s cursos e <strong>do</strong> curso <strong>de</strong>Engenharia Ambiental, que atuam junto ao público-alvo para captar as principaisproblemáticas locais.O ano <strong>de</strong> 2006 foi marca<strong>do</strong> pela concretização <strong>de</strong> parte importante <strong>do</strong>sobjetivos <strong>do</strong> Programa. A Cartilha <strong>do</strong> Cidadão Mirim se transformou em “Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>Cidadania” e teve sua publicação e catalogação com uma tiragem inicial <strong>de</strong> nove(09) mil cópias com recursos da Assembléia Legislativa <strong>de</strong> Santa Catarina. São osprincipais objetivos <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Formação para a Cidadania Infanto-juvenil:1.1 Objetivos: Implementar um Programa <strong>de</strong> Formação volta<strong>do</strong> ao público infantojuvenilcentra<strong>do</strong> nos Direitos Fundamentais, no Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente e nos Direitos Socioambientais, por meio da estruturação<strong>de</strong> material didático-pedagógico intitula<strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania; Realizar Oficinas <strong>de</strong> Capacitação para os parceiros <strong>do</strong> Programa a fim<strong>de</strong> proporcionar subsídios teóricos e práticos para a utilização <strong>do</strong>Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania nos âmbitos da educação formal e comunitáriacom vistas à formação <strong>de</strong> multiplica<strong>do</strong>res. Até o momento foramrealizadas 40 Oficinas para os atuais 12 parceiros <strong>do</strong> Programa; Elaboração <strong>de</strong> um Livro para Multiplica<strong>do</strong>res conten<strong>do</strong> textos esugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para embasar as Oficinas com o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>Cidadania.112


1.2 Público Alvo: 7 escolas municipais, 2 centros educacionais, 2ONGs/associações comunitárias e 1 entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acolhimento institucional.1.3 Perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> realização: 03/2004 – atual1.4 Área geográfica da abrangência <strong>do</strong> Projeto: Itajaí, Balneário Piçarras,Balneário Camboriú e Florianópolis, no Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Santa Catarina.O Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania fundamenta-se na pedagogia da autonomia (Freire,2002) e no princípio da cidadania participativa (Demo, 1995; Santos, 2002) a fim <strong>de</strong>quebrar o estigma da criança como “cidadã <strong>do</strong> amanhã”, para a construção <strong>de</strong> umacidadania <strong>do</strong> “presente”, que contemple a criança como agente atuante etransforma<strong>do</strong>r, e até mesmo multiplica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> práticas e conhecimentos atinentes àsua realida<strong>de</strong> social. Desta forma, o Ca<strong>de</strong>rno possui conteú<strong>do</strong>s transversais quepo<strong>de</strong>m ser utiliza<strong>do</strong>s tanto pelos professores <strong>de</strong> várias disciplinas como por outrosprofissionais autônomos (ONGs, conselhos municipais, projetos <strong>de</strong> extensão etc.)que tenham o compromisso <strong>de</strong> utilizar o Ca<strong>de</strong>rno conforme as diretrizes nortea<strong>do</strong>rasque são passadas em uma capacitação prévia com a equipe <strong>do</strong> Programa. OCa<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania está dividi<strong>do</strong> em <strong>de</strong> três módulos principais - Módulo Um:Cidadania e Direitos Fundamentais, Módulo Dois: Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente e Módulo Três: Cidadania Sócioambiental.Faz-se importante salientar que estes módulos trazem ativida<strong>de</strong>s que levam ascrianças a criarem seus próprios conceitos. O material não traz nenhum conceitopronto, é necessário que as crianças juntamente com o professor/facilita<strong>do</strong>r,trabalhem no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> conhecimento <strong>do</strong> tema aborda<strong>do</strong> e a partir disto evoluamcrian<strong>do</strong> seus próprios conceitos <strong>de</strong> cidadania, <strong>de</strong> família, <strong>de</strong> Estatuto da Criança e<strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente, <strong>de</strong> Socioambientalismo e assim por diante. O que aquele livrobusca é valorizar as vivências <strong>de</strong> cada criança/a<strong>do</strong>lescente no senti<strong>do</strong> dacompreensão e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conceitos a partir <strong>de</strong>las mesmas.O primeiro módulo <strong>do</strong> CADERNO traz uma discussão sobre cidadania <strong>de</strong>forma criativa, superan<strong>do</strong> a velha idéia <strong>de</strong> “direitos e <strong>de</strong>veres” que tanto estigmatizouo conceito <strong>de</strong> cidadania. Esta discussão é perpassada pelo auto-conhecimento, ouseja, antes <strong>de</strong> falar em cidadão a proposta é que a criança/a<strong>do</strong>lescente saiba se113


nominar, dizer quem ela é, qual a importância <strong>do</strong> seu nome, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar a simesma, mostran<strong>do</strong> à criança/a<strong>do</strong>lescente a sua importância enquanto cidadão,valorizan<strong>do</strong> sua história pessoal <strong>de</strong> vida e a história <strong>de</strong> sua família. Com estadiscussão inicial já temos possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avançar nos conceitos <strong>de</strong> família e gruposocial, referin<strong>do</strong> à diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los familiares para então pensar nadiversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s grupos sociais. A partir <strong>de</strong> então é possível discutir a cidadaniapartin<strong>do</strong> da reflexão <strong>de</strong> quem é o cidadão, quem a criança/a<strong>do</strong>lescente reconhececomo cidadão e o que ele faz, a fim <strong>de</strong> estabelecer os seus critérios para a sua<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cidadão e cidadã.Por exemplo, no tópico Cidadania, o Ca<strong>de</strong>rno sugere a construção <strong>de</strong> umpainel para colar figuras em <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s – em um la<strong>do</strong> a criança/a<strong>do</strong>lescente cola asfiguras que consi<strong>de</strong>re relacionadas com o ser e o fazer <strong>do</strong> cidadão/cidadã, e <strong>do</strong>outro la<strong>do</strong> as figuras que consi<strong>de</strong>rem negativas <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua idéia <strong>de</strong>cidadão/cidadã. É a partir <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> que a turma sintetiza seu próprio conceito<strong>de</strong> cidadania, como mostram as páginas abaixo reproduzidas:Durante to<strong>do</strong> este módulo as ações propostas caminham na direção <strong>de</strong> sepensar a cidadania aliada a movimentos sociais e à organização social. A criançaterá que se <strong>de</strong>slocar <strong>de</strong> sua escola para pensar sua comunida<strong>de</strong>, sua casa, suafamília, seus amigos, vizinhos, seu bairro etc. num esforço conjunto <strong>de</strong> análise que<strong>de</strong> fato promova tanto a interação com o cotidiano da criança/a<strong>do</strong>lescente como acrítica <strong>de</strong>ste mesmo cotidiano. Assim, o intuito é <strong>de</strong> gerar ações <strong>de</strong> intervençãodireta no senti<strong>do</strong> da crítica e <strong>do</strong> melhoramento <strong>do</strong> meio em que vive, e <strong>de</strong> como elapo<strong>de</strong> ser um agente transforma<strong>do</strong>r. Neste senti<strong>do</strong>, é salutar concordar com Freirequan<strong>do</strong> afirma quePensar certo coloca ao professor ou mais amplamente, à escola, o<strong>de</strong>ver não só <strong>de</strong> respeitar os saberes com que os educan<strong>do</strong>s,sobretu<strong>do</strong> os das classes populares, chegam a ela – saberessocialmente constituí<strong>do</strong>s na prática comunitária, mas também discutircom os alunos a razão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>sses saberes em relaçãocom o ensino <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. Porque não estabelecer, uma114


necessária “intimida<strong>de</strong>” entre os saberes curriculares fundamentaisaos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos?(Freire, 2002, p. 33-34).Enten<strong>de</strong>-se que, mais que possuir um bom recurso teórico-meto<strong>do</strong>lógico, oCa<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>ve retratar a realida<strong>de</strong> local propician<strong>do</strong> uma reflexão a partir da própriapercepção e vivência das crianças e a<strong>do</strong>lescentes em suas comunida<strong>de</strong>s. Porexemplo, o problema <strong>do</strong>s pesca<strong>do</strong>res artesanais e os diversos tipos <strong>de</strong> dano aomeio-ambiente, a falta <strong>de</strong> uma associação <strong>de</strong> mora<strong>do</strong>res em alguns bairros, o<strong>de</strong>sconhecimento da Agenda 21 Mirim e <strong>do</strong> próprio Estatuto da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente, esclarecimentos acerca <strong>do</strong>s Direitos Humanos assim como daConstituição.Para tanto, cita-se uma ativida<strong>de</strong> que tem por objetivo estimular estaparticipação no bairro a fim <strong>de</strong> captar suas potencialida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>ficiências na forma<strong>de</strong> um “Monitoramento”. Se necessário, disponibiliza-se o instrumento reivindicatório<strong>do</strong> “abaixo-assina<strong>do</strong>”, quan<strong>do</strong> então, após to<strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> reconhecimento dacomunida<strong>de</strong> e a percepção <strong>do</strong> que é bom e <strong>do</strong> que ainda precisa ser melhora<strong>do</strong>,estas crianças/a<strong>do</strong>lescentes são “apresentadas” a esta forma popular <strong>de</strong>reivindicação para “partir para a ação”.Como fruto <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong>, foi realiza<strong>do</strong> em 2002, numa das escolasoriginárias <strong>do</strong> projeto, um abaixo-assina<strong>do</strong> por parte <strong>do</strong>s alunos da escolasolicitan<strong>do</strong> a construção <strong>de</strong> uma praça. As crianças participaram <strong>de</strong> uma AudiênciaPública com o Prefeito quan<strong>do</strong> então entregaram o <strong>do</strong>cumento. Hoje, após 6 anos,esta praça está no Orçamento Participativo da cida<strong>de</strong>. Outro exemplo, tambémrefere-se à uma escola local que, por conta da mobilização e reivindicação <strong>do</strong>salunos, conseguiram para a escola um novo telha<strong>do</strong>. Mesmo quan<strong>do</strong> não forpossível a realização <strong>de</strong> todas as reivindicações, terá sem dúvida existi<strong>do</strong> umexercício <strong>de</strong> participação e construção coletiva. A intenção <strong>de</strong>ste livro é cultivar emcada criança/a<strong>do</strong>lescente, a curiosida<strong>de</strong> necessária para ir além, uma vez queeducar criticamente é possível <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contexto, e ainda aproximar educa<strong>do</strong>r eeducan<strong>do</strong>, eliminar a imagem <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r como apenas transferi<strong>do</strong>r <strong>de</strong>conhecimento <strong>de</strong> maneira verticalizada, e que para os educan<strong>do</strong>s muitas vezespassam como inacessíveis. Seguin<strong>do</strong> o conselho <strong>de</strong> Freire:O fundamental é que professor e alunos saibam que a postura <strong>de</strong>les,<strong>do</strong> professor e <strong>do</strong>s alunos, é dialógica, aberta, curiosa, indaga<strong>do</strong>ra e115


não apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa éque o professor e alunos se assumam epistemologicamente. (Freire2002, p. 96)Com a utilização <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno é possível trocar experiências e trazer assim ocaráter socializante da escola. Assim, o escopo <strong>de</strong>ste projeto é construir, <strong>de</strong> formaparticipativa, conhecimentos, habilida<strong>de</strong>s e competências que contribuam para aformação <strong>de</strong> cidadãos conscientes e ativos na <strong>de</strong>fesa e proteção tanto <strong>de</strong> seusdireitos fundamentais, assegura<strong>do</strong>s pela Constituição, como <strong>do</strong> patrimônioambiental. E assim, utilizar-se da escola não apenas como espaço <strong>de</strong> apreensão <strong>de</strong>informações técnico-formais, e sim, como <strong>de</strong> formação e instrumentalização para acidadania, pois educar é, sobretu<strong>do</strong>, formar e permitir a participação cidadã.No entanto, toda a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saber exige uma reflexão crítica e prática, <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> que o próprio discurso teórico terá <strong>de</strong> ser alia<strong>do</strong> à sua aplicação prática. Énesta forma <strong>de</strong> educar que segue o Programa, com o intuito <strong>de</strong> levar ascrianças/a<strong>do</strong>lescentes a i<strong>de</strong>ntificarem <strong>de</strong>ntro da sua realida<strong>de</strong> quais são osproblemas e quais as soluções que po<strong>de</strong>m ser por elas encontradas, com isto eles<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser expecta<strong>do</strong>ras e passam a ser autores <strong>de</strong> sua própria história. Sobreesta discussão, convém observar como a discussão sobre cidadania participativaintegra a prática <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania.2. Cidadania participativaA discussão sobre cidadania já é uma tradição na socieda<strong>de</strong> brasileira quediscute e problematiza este conceito <strong>de</strong> variadas formas. Diante disto, não énecessário discorrer sobre a farta bibliografia que trata <strong>do</strong> tema, apenas chamar aatenção para algumas particularida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> conceito que são pertinentes ao Ca<strong>de</strong>rno<strong>de</strong> Cidadania. A matriz teórica nortea<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Formação para acidadania infanto-juvenil revela uma <strong>de</strong>stas particularida<strong>de</strong>s, qual seja a dimensãoparticipativa da cidadania, um potencial ainda tão pouco <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> na socieda<strong>de</strong>brasileira.Entretanto, discutir cidadania no alvorecer <strong>do</strong> século XXI implica em esboçarrespostas que dêem conta das amarras sociais que ainda emperram a participação<strong>de</strong> inúmeros grupos sociais ao acesso e vivência cotidiana da cidadania. Na gran<strong>de</strong>maioria <strong>de</strong>stes grupos sociais, estão crianças e a<strong>do</strong>lescentes con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s à nãocidadania.Pensan<strong>do</strong> neles, o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania foi elabora<strong>do</strong> para ser utiliza<strong>do</strong>116


pelas crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> ensino fundamental das escolas municipais <strong>de</strong>Itajaí como uma das alternativas <strong>de</strong> formação para a cidadania que o programaprevê, por meio <strong>de</strong> treinamentos ofereci<strong>do</strong>s aos professores e gestoreseducacionais.A escola pública é consi<strong>de</strong>rada por diversos segmentos sociais como o “maiorpatrimônio popular <strong>de</strong> um país”, mas diante <strong>do</strong> <strong>de</strong>scaso com a educação a palavra“popular” ganha estigmas como “popular é sinônimo <strong>de</strong> pobreza” e por isso asescolas públicas não precisam primar pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, uma vez que seusalunos já estão em condição <strong>de</strong> “subalternida<strong>de</strong>” 66 , ou como afirma Jessé Souza, jáestão em condição <strong>de</strong> “subcidadania” 67 . Este estigma reduz o ensino a meroinstrucionismo por meio <strong>do</strong> qual o conhecimento é “repassa<strong>do</strong>”, “transmiti<strong>do</strong>” aosalunos, o que gera uma atitu<strong>de</strong> passiva diante <strong>do</strong> conhecimento e um imobilismodiante da própria socieda<strong>de</strong>.Se a escola é uma entida<strong>de</strong> representativa da socieda<strong>de</strong> civil, ela <strong>de</strong>ve serpalco não só <strong>de</strong> discussão e diálogo, mas também <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> hábitos eatitu<strong>de</strong>s transforma<strong>do</strong>ras que po<strong>de</strong>m, na sua persistência e continuida<strong>de</strong>, formaragentes transforma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> um bairro, <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> uma nação e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Caso contrário, ao invés <strong>de</strong> avançarmos na conquista <strong>de</strong> uma cidadania ativa(BENEVIDES,1991) continuaremos reféns <strong>de</strong> uma cidadania tutelada e assistida(DEMO, 1995) marcada pelo compasso <strong>do</strong> merca<strong>do</strong> e da competitivida<strong>de</strong> que,infelizmente, ainda são as marcas da educação pública no Brasil. Para mudar estarealida<strong>de</strong>, como Demo tem mostra<strong>do</strong> em suas obras, somente se houver[...] uma <strong>de</strong>cidida conscientização e educação permanentementequalificada em torno da formação e correto exercício da cidadaniaassim como o <strong>de</strong>senvolvimento comunitário. Neste senti<strong>do</strong>, torna-seimprorrogável planejar e executar programas específicos capazes <strong>de</strong>favorecer a formação integral e harmônica, <strong>de</strong>mocrática, conscientee responsável mediante – entre outras alternativas – promoção eformação para cidadania; promoção da cultura e <strong>de</strong> uma educaçãoque possibilite a to<strong>do</strong>s os cidadãos a sua habilitação para ser pessoadigna, construtiva e solidária, comprometida mediante participação,66 Para Demo, a condição <strong>de</strong> subalternida<strong>de</strong> é menos carência material <strong>do</strong> que incapacida<strong>de</strong> cidadã.O pobre é, sobretu<strong>do</strong>, subalterno quan<strong>do</strong> aceita esta condição sem crítica, como situaçãoimutável.67 A condição <strong>de</strong> subcidadania para Souza implica na naturalização da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social no Brasil,que reconhece os direitos e <strong>de</strong>veres <strong>do</strong> cidadão, mas o classifica <strong>de</strong> variadas formas, incluin<strong>do</strong> ospobres e principalmente os negros na categoria <strong>de</strong> subcidadão, isto é, cidadãos <strong>de</strong> segundacategoria.117


esponsável e generosa, na construção <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> maisjusta, fraterna, <strong>de</strong>mocrática e liberta<strong>do</strong>ra (DEMO, 1995, p.180-181).Outro autor central neste <strong>de</strong>bate é Norberto Bobbio. Para o referi<strong>do</strong> autor, naobra A era <strong>do</strong>s direitos (1992), não adianta falarmos da cidadania como meraretórica. Esse <strong>de</strong>bate não se resume na justificação <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> homem, jáconsagra<strong>do</strong>s historicamente com a Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos Humanos,mas falar em cidadania implica especialmente na proteção <strong>do</strong>s direitos e <strong>de</strong>veres e“no mo<strong>do</strong> mais seguro para garanti-los, para impedir que, apesar das solenes<strong>de</strong>clarações, eles sejam constantemente viola<strong>do</strong>s.” (BOBBIO, 1992, p.25). Para quehaja essa <strong>de</strong>vida e justa proteção, o autor mostra a necessida<strong>de</strong> premente <strong>de</strong>resolver o problema das <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais a fim <strong>de</strong> se obter um eqüitativo<strong>de</strong>senvolvimento global da civilização humanaNão se po<strong>de</strong> pôr o problema <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> homem abstrain<strong>do</strong>-o <strong>do</strong>s<strong>do</strong>is gran<strong>de</strong>s problemas <strong>de</strong> nosso tempo, que são os problemas daguerra e da miséria, <strong>do</strong> absoluto contraste entre o excesso <strong>de</strong>potência que criou as condições para uma guerra extermina<strong>do</strong>ra e oexcesso <strong>de</strong> impotência que con<strong>de</strong>na gran<strong>de</strong>s massas humanas àfome. Só nesse contexto é que po<strong>de</strong>mos nos aproximar <strong>do</strong>s direitoscom senso <strong>de</strong> realismo (BOBBIO, 1992, p.45)Da mesma forma, Boaventura <strong>de</strong> Sousa Santos na obra Democratizar a<strong>de</strong>mocracia (2002), alu<strong>de</strong> ao mesmo senso <strong>de</strong> realismo quan<strong>do</strong> fala que o tempoatual é um tempo para<strong>do</strong>xal, um tempo <strong>de</strong> regresso em to<strong>do</strong>s os senti<strong>do</strong>s(escravatura, servidão, guerras, pan<strong>de</strong>mias...) sen<strong>do</strong> o principal <strong>de</strong>les, o senti<strong>do</strong> dapalavra <strong>de</strong>mocracia. De fato, o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta palavra se per<strong>de</strong>u para gran<strong>de</strong> parceladas crianças e a<strong>do</strong>lescentes brasileiros em condição <strong>de</strong> pobreza com famílias querecebem até ½ salário mínimo, como fruto da chamada “questão social”, a maldita“herança histórica brasileira da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>” (PAOLI apud SANTOS, 2002, p.388).Para fazer uma discussão sobre os direitos da criança/a<strong>do</strong>lescente no Brasilcom um mínimo <strong>de</strong> senso <strong>de</strong> realismo, temos que concordar com a historia<strong>do</strong>raMary <strong>de</strong>l Priore quan<strong>do</strong> diz que esta história, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época colonial, é permeadamais pela violência <strong>do</strong> que pela educação “num país on<strong>de</strong>, há quinhentos anos, aformação social da criança passa mais pela violência explicita ou implícita <strong>do</strong> quepelo livro, pelo aprendiza<strong>do</strong> e pela educação, raramente aproximam as crianças <strong>de</strong>conceitos como civilida<strong>de</strong> e cidadania.” (PRIORE, 2000, p.105).118


Desta forma, o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania tem permiti<strong>do</strong> uma nova escrita nahistória da formação social da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente uma vez que permite acriação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> cidadania <strong>de</strong>liberadamente participativos, seja nos bancosescolares como nas entida<strong>de</strong>s que usam o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania diretamente comas crianças por elas atendidas.Esta experiência encontra-se em andamento em um bairro popular <strong>do</strong>Município <strong>de</strong> Itajaí, o bairro Nossa Senhora das Graças, on<strong>de</strong> o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>Cidadania é utiliza<strong>do</strong> no espaço físico da Associação <strong>de</strong> Mora<strong>do</strong>res aos sába<strong>do</strong>spela manhã. Nesta comunida<strong>de</strong>, realiza-se um Curso <strong>de</strong> Arte e Cidadania para<strong>de</strong>spertar e estimular a prática da cidadania nos vários aspectos que o Ca<strong>de</strong>rnopropõe em cada módulo. A utilização <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno pelas crianças é coor<strong>de</strong>nada pelosbolsistas <strong>do</strong> Programa e aten<strong>de</strong> em torno <strong>de</strong> 15 crianças.O Curso, em realização <strong>de</strong>s<strong>de</strong> maio/2007, utiliza em conjunto o primeiroMódulo e o terceiro Módulo, isto é, as ativida<strong>de</strong>s são pensadas a partir <strong>do</strong>s temasambientais e da ação coletiva. Possibilita-se a estas crianças/a<strong>do</strong>lescentes aoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sonhar com um bairro em melhores condições com o objetivoprincipal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstruir a visão negativista <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> oferta<strong>do</strong> à população <strong>de</strong>baixa renda, especialmente a visão conformista <strong>de</strong> que “as coisas são assimmesmo” para a visão <strong>de</strong> que “as coisas ESTÃO assim, mas po<strong>de</strong>m mudar.” É Freire(2002, p.85) quem, mais uma vez, ensina que “não sou apenas objeto da história,mas seu sujeito igualmente,” po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta forma participar ativamente da história:E não se trata obviamente <strong>de</strong> impor à população que se rebele, quese mobilize, que se organize para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-se, vale dizer que paramudar o mun<strong>do</strong>. Trata-se na verda<strong>de</strong> – não importa se trabalhamoscom alfabetização, com saú<strong>de</strong>, com evangelização ou com todaselas – <strong>de</strong> simultaneamente com o trabalho especifico <strong>de</strong> cada um<strong>de</strong>sses campos, <strong>de</strong>safiar os grupos populares para que percebam,em termos críticos, a violência e a profunda injustiça quecaracterizam sua situação concreta. Mais ainda, que sua situaçãoconcreta não é <strong>de</strong>stino certo ou vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus, algo que nãopo<strong>de</strong>rá ser muda<strong>do</strong> (Freire, 2002, p.89)3. Resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s: qualitativos e quantitativosA convite da Secretaria da Educação <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Itajaí, por intermédio <strong>de</strong>sua Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Projetos para o Ensino Fundamental, a primeira Oficinarealizada que <strong>de</strong>u início às ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Formação foi a Oficina <strong>de</strong>119


Capacitação <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania realizada em julho <strong>de</strong> 2006 durante o XSeminário Municipal <strong>de</strong> Educação: Escola, Espaço <strong>de</strong> Mudanças e Conquistas, nas<strong>de</strong>pendências da Univali. A Oficina, que totalizou uma carga horária <strong>de</strong> 8 horas com81 participantes, <strong>de</strong>ntre professores e gestores municipais, é o ponto <strong>de</strong> partida paraa discussão referente aos resulta<strong>do</strong>s qualitativos e quantitativos <strong>do</strong> projeto.QualitativosUtilização <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania comoinstrumento facilita<strong>do</strong>r para a cidadaniaparticipativa.Fechamento <strong>de</strong> parcerias com as escolas eentida<strong>de</strong>s municipais.Quantitativos81 participantes forma<strong>do</strong>s.48 parceiros <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>s que representavam 13escolas.Das 13 escolas contactadas na Oficina,04 firmaram as parcerias e receberam04 capacitações durante o primeiro semestre <strong>de</strong>2007.Doação <strong>de</strong> 2.000 Ca<strong>de</strong>rnos para as escolas eentida<strong>de</strong>s parceiras.Doação <strong>de</strong> 1.000 Ca<strong>de</strong>rnos para divulgaçãoentre os gestores das escolas e da Universida<strong>de</strong>.Retomada <strong>do</strong> contato com as duas escolasoriginárias <strong>do</strong> Projeto com vistas a oferecer oretorno social <strong>do</strong> mesmo.Filmagem nas escolas e entida<strong>de</strong>s parceiraspara divulgação <strong>do</strong> alcance social <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno<strong>de</strong> Cidadania.Atendimento a <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> escolas, entida<strong>de</strong>s,ONG etc. que <strong>de</strong>sejavam ser parceiras <strong>do</strong>Programa.Realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s educativas no bairroNossa Senhora das Graças com o Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong>Cidadania com vistas ao <strong>de</strong>senvolvimento daautonomia infanto-juvenil das crianças ea<strong>do</strong>lescentes <strong>do</strong> bairro.Término <strong>do</strong> Livro <strong>do</strong>s Multiplica<strong>do</strong>res que será<strong>do</strong>a<strong>do</strong> aos parceiros.2 oficinas para 20 professores das 2 escolasoriginárias.Interesse <strong>do</strong>s alunos que participaram <strong>do</strong>sprojetos que <strong>de</strong>ram origem ao Programa <strong>de</strong>Formação .Doação <strong>de</strong> 1.000 Ca<strong>de</strong>rnos para as escolas.Realização <strong>de</strong> 2 entrevistas para o Canal Futuracom uma escola e uma ONG parceira <strong>do</strong> projetoRealização <strong>de</strong> 4 entrevistas <strong>de</strong> divulgação <strong>do</strong>Programa para jornais locais e da Univali.Realização <strong>de</strong> 1 entrevista para o Jornal daAssembléia Legislativa <strong>de</strong> SC.Realização <strong>de</strong> 4 oficinas com os novos parceiros.Realização <strong>de</strong> um curso com duração <strong>de</strong> 6meses.Realização <strong>de</strong> 30 Oficinas com 15 crianças.Doação <strong>de</strong> 15 Ca<strong>de</strong>rnos para cada criança .Diagramação <strong>do</strong> Livro para posterior publicação<strong>de</strong> 3 mil exemplares.4. Benefícios sociais alcança<strong>do</strong>s pelo projetoApós a publicação <strong>do</strong> Ca<strong>de</strong>rno, em 2006, as parcerias firmadas em 2007<strong>de</strong>mostram que uma outra cidadania para crianças e a<strong>do</strong>lescentes é possível. Sejana escola, ou na comunida<strong>de</strong>, o importante é perceber que se caminha para aconsolidação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> que está dinamizan<strong>do</strong> e potencializan<strong>do</strong> as crianças ea<strong>do</strong>lescentes como cidadãos autônomos e conscientes <strong>de</strong> seu papel na socieda<strong>de</strong>.A parceria com as escolas traduz o esforço em contribuir para o enfrentamento <strong>do</strong>s120


problemas <strong>de</strong> exclusão e violência infantil por meio <strong>de</strong> uma nova ferramentapedagógica.Consi<strong>de</strong>rações finaisDiante <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, a inserção <strong>de</strong>ste projeto junto à população infantojuveniltem possibilita<strong>do</strong> a criação <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> ação-reflexão-intervenção nascomunida<strong>de</strong>s e nas escolas ao permitir o <strong>de</strong>senvolvimento da autonomia e datomada <strong>de</strong> consciência da cidadania das crianças e a<strong>do</strong>lescentes frente à suarealida<strong>de</strong>. O Programa tem contribuí<strong>do</strong> para a formação <strong>de</strong> multiplica<strong>do</strong>res <strong>do</strong>Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Cidadania por Oficinas que permitem a construção conjunta <strong>de</strong>conhecimentos e da disponibilização <strong>de</strong> informações necessárias à plena formação<strong>do</strong> cidadão. Neste senti<strong>do</strong>, o direito da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescente se apresentacomo uma das mais importantes discussões <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> âmbito sócio-político ejurídico que necessita <strong>de</strong> ações integradas. Visan<strong>do</strong> o seu fortalecimento edivulgação como uma das formas <strong>de</strong> promoção da cidadania e da luta contra asituação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> social a que está submetida gran<strong>de</strong> parte da populaçãoinfanto-juvenil brasileira.REFERÊNCIASBENEVIDES, Maria V. <strong>de</strong> M. A cidadania ativa: Referen<strong>do</strong>, plebiscito e iniciativapopular. São Paulo: Ática, 2003.BOBBIO, Norberto. A era <strong>do</strong>s direitos. São Paulo: Ática, 1999.CANDAU, V. M. et all. Tecen<strong>do</strong> a cidadania: oficinas pedagógicas <strong>de</strong> direitoshumanos. Petrópolis: Vozes, 1995DEMO, Pedro. Cidadania Tutelada e Cidadania Assistida. Campinas: AutoresAssocia<strong>do</strong>s, 1995, v.1FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 22. ed, São Paulo: Paz e Terra S/A,2002.PRIORE, Mary <strong>de</strong>l. História da Criança no Brasil. São Paulo: Contexto, 2002.SANTOS, Boaventura <strong>de</strong> S.(org) Democratizar a <strong>de</strong>mocracia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Civ.Brasileira, 2002.Texto recebi<strong>do</strong> em 09 jan. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 19 mar. 2008.121


RELÓGIO SOLAR: CONSTRUÇÃO DO SABER EM FÍSICA APLICADA ÀSEDIFICAÇÕES COM EFEITO EXTENSIONISTASundials: building knowledge in architectural physics with an university outreacheffectAloísio Leoni Schmid 68 ,Wânia Cruz <strong>do</strong> NascimentoCaroline Barp Zanchet Macha<strong>do</strong> 69RESUMOEste artigo relata a concepção e realização <strong>de</strong> nove relógios solares em pátios <strong>de</strong>escolas <strong>de</strong> ensino fundamental em Curitiba. Trata-se <strong>de</strong> um projeto realiza<strong>do</strong> noâmbito da disciplina <strong>de</strong> Conforto Ambiental no curso <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo eainda no estágio <strong>de</strong> <strong>do</strong>cência <strong>de</strong> duas mestrandas em Construção Civil. O mo<strong>de</strong>loutiliza<strong>do</strong> é <strong>de</strong> um relógio solar interativo, em que cada pessoa realiza a leitura dashoras a partir da sombra projetada pelo próprio corpo. O intuito principal é a fixação<strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> geometria solar pelos estudantes <strong>de</strong> arquitetura. Observou-seem todas as situações um razoável envolvimento <strong>de</strong>stes estudantes, que seapropriaram da responsabilida<strong>de</strong> executiva e até mesmo pedagógica diante dacomunida<strong>de</strong> das escolas. Desenvolveu-se assim uma ativida<strong>de</strong> prática, eficiente, <strong>de</strong>efeito extensionista.Palavras-chave: Física das edificações; conforto ambiental; relógio solar; eficiênciaenergética; projeto <strong>de</strong> arquitetura.ABSTRACTThis article is on the conception, implementation and follow-up of nine sundials builtin public primary schools in Curitiba within the course In<strong>do</strong>or Comfort, careerArchitecture and City Planning, and within the scope of a teaching internship of twoM.Sc. candidates in Civil Construction. An interactive sundial was conceived. Theuser has to use the own body to cast a sha<strong>do</strong>w and read the time on the ground. Themain purpose is to serve as an exercise on solar geometry for architectural stu<strong>de</strong>nts.A high level of engagement was observed by the stu<strong>de</strong>nts, who carried the executiveresponsibility and even the pedagogic responsibility towards the school communities.A practical activity of both pedagogic value and outreach effectiveness was<strong>de</strong>veloped.Keywords: Building physics; in<strong>do</strong>or comfort; sundial; energy efficiency; architectural<strong>de</strong>sign.68 Prof. Dr. UFPR, Departamento <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo e Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação emConstrução Civil - PPGCC, Caixa Postal 19011 – DAU, 81.531-990 – Curitiba – PR, isso@ufpr.br69 Arquitetas e Urbanistas, Mestres em Construção Civil, egressas <strong>do</strong> PPGCC - UFPR122


RESUMENEste artículo trata <strong>de</strong> el concepto, la implementación y el seguimiento <strong>de</strong> nueverelojes solares construi<strong>do</strong>s en escuelas primarias públicas en Curitiba <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> ladisciplina Fisica aplicada a las edificaciones, en la carrera <strong>de</strong> arquitectura. El <strong>de</strong>señoa<strong>do</strong>pta<strong>do</strong> es tal que una persona tiene que parar <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a proyectar su sombrasobre un mostra<strong>do</strong>r e leer las horas a partir <strong>de</strong> su sombra. El propósito principal esservir como ejercicio en la geometría solar para los estudiantes <strong>de</strong> arquitectura. Losestudiantes mostraran un alto nivel <strong>de</strong> compromiso e asumieran responsabilida<strong>de</strong>jecutiva e también pedagógica. Un alto nivel <strong>de</strong> compromiso fue logra<strong>do</strong> contratofue observa<strong>do</strong> por los estudiantes, que llevaron la responsabilidad ejecutiva eincluso la responsabilidad pedagógica hacia las comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> la escuela. Unaactividad práctica <strong>de</strong>l valor pedagógico y exce<strong>de</strong> eficacia fue convertida.INTRODUÇÃONa disciplina <strong>de</strong> Física Aplicada às Edificações, ainda com relevância para asdisciplinas <strong>de</strong> Construção Civil e Projeto <strong>de</strong> Arquitetura, é <strong>de</strong> importânciafundamental o conhecimento da geometria da insolação. Ela abrange osmovimentos relativos entre o sol e a terra, que têm relação direta com o<strong>de</strong>sempenho energético <strong>de</strong> edifícios e o conforto térmico <strong>do</strong>s usuários, e mais ainda:po<strong>de</strong> vir a influenciar toda uma proposta <strong>de</strong> zoneamento urbano e seu <strong>de</strong>talhamentoem esquemas <strong>de</strong> arruamento e <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> gabaritos.Em especial em época <strong>de</strong> conscientização a respeito <strong>de</strong> mudançasclimáticas, espera-se que as edificações sejam concebidas e <strong>de</strong>talhadas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> aaproveitar as condições naturais em favor <strong>do</strong> conforto ambiental e da a<strong>de</strong>quaçãofuncional <strong>do</strong> ambiente construí<strong>do</strong>, resultan<strong>do</strong> em edificações energeticamenteeficientes e mais alinhadas com o i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>. Uma aplicação direta<strong>de</strong>ste conhecimento se dá no traça<strong>do</strong> <strong>de</strong> máscaras <strong>de</strong> sombreamento, um méto<strong>do</strong>gráfico muito eficiente para o projeto exato <strong>de</strong> aberturas e <strong>de</strong> sua proteção solar,seja ela na forma <strong>de</strong> marquises, brise-soleil, tol<strong>do</strong>s ou <strong>do</strong>s próprios pilares e vigas daestrutura <strong>do</strong> edifício, concebida <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a criar controle solar.A geometria da insolação é um conhecimento cuja transmissão não po<strong>de</strong> selimitar à mera exposição, uma vez que requer o exercício <strong>do</strong> raciocínio espacialutilizan<strong>do</strong> relações esféricas e, ao mesmo tempo, aplica<strong>do</strong> em realida<strong>de</strong>sgeralmente cartesianas (os edifícios). Desenhos em vistas, perspectivas, simulaçõesno computa<strong>do</strong>r, mo<strong>de</strong>los reduzi<strong>do</strong>s com globos terrestres e lâmpadas, simula<strong>do</strong>res123


solares <strong>do</strong> tipo helio<strong>do</strong>n para observação <strong>de</strong> maquetes, sistemas <strong>de</strong> software <strong>de</strong>projeto por computa<strong>do</strong>r e a observação direta são algumas técnicas que auxiliam noaprendiza<strong>do</strong>.Uma variação da observação direta, empregada com êxito pelos autores,consistiu em promover um concurso <strong>de</strong> fotografias <strong>do</strong> nascer <strong>do</strong> sol ou <strong>do</strong> pôr <strong>do</strong> solnum <strong>do</strong>s equinócios. Os estudantes recebiam o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> produzir fotografiasassociadas a referências urbanas que indicassem a direção Leste/Oeste. Assim,estariam fixan<strong>do</strong> o conhecimento <strong>de</strong> que, nos equinócios, o sol nasce exatamente aLeste e se põe a Oeste – em qualquer lugar <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Outra forma <strong>de</strong> apoio à observação direta é encontrada no uso <strong>de</strong> relógiossolares. É o assunto <strong>de</strong>ste artigo. O problema <strong>de</strong> interesse em ensino <strong>de</strong> engenhariae arquitetura po<strong>de</strong> ser formula<strong>do</strong> na seguinte questão: “como melhorar oaprendiza<strong>do</strong> da geometria solar por meio <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> relógios solares?”A hipótese consi<strong>de</strong>rada é que um melhor entendimento é espera<strong>do</strong> se osestudantes tiverem <strong>de</strong> construir os próprios relógios; ainda, acrescenta-se relevânciaà ativida<strong>de</strong> se ela transcen<strong>de</strong>r o caráter <strong>de</strong> formalização <strong>de</strong> uma etapa, mas se forinserida num contexto <strong>de</strong> extensão universitária. Ao perceber a importância social,assumin<strong>do</strong> a responsabilida<strong>de</strong> perante a comunida<strong>de</strong> beneficiada, os estudantesencarariam com mais naturalida<strong>de</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a geometriasolar.O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é verificar a eficácia da tarefa <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>relógios solares para uso da comunida<strong>de</strong> – no caso, escolas públicas <strong>de</strong> ensinofundamental – como apoio ao aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> orientação solar por estudantes <strong>de</strong>arquitetura. Ressalte-se que semelhante projeto po<strong>de</strong>ria ser igualmente<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> com estudantes <strong>de</strong> engenharia civil, uma vez que o problema <strong>de</strong>pesquisa se lhes aplica com igual relevância.O méto<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> é a pesquisa-ação na própria aula.O projeto tem sua justificativa, inicialmente, na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fixação <strong>do</strong>sconhecimentos <strong>de</strong> orientação solar, pelos estudantes <strong>de</strong> conforto ambiental,disciplina comum nos cursos <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo, mas também Engenharia.Ainda, ressalta-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se disseminar, junto à população, anoção e a prática da construção a<strong>de</strong>quada ao clima e à região. Isto inclui comoconhecimento fundamental a orientação solar. Espera-se que ao iniciar adisseminação pelas escolas o efeito social possa ser maximiza<strong>do</strong>, atingin<strong>do</strong> não só124


os alunos como os professores das escolas. A observação da natureza é umahabilida<strong>de</strong> que po<strong>de</strong> ser ensinada; é esta a opinião <strong>do</strong> físico Fritjof Capra, quepropôs o termo “alfabetização ecológica”. Apren<strong>de</strong>r a ver a realida<strong>de</strong> - por vezes, jáseria muito ver a própria cida<strong>de</strong> – como na Erro! Fonte <strong>de</strong> referência nãoencontrada. que mostra um relógio solar que está a 150 anos numa fachada<strong>de</strong>fronte à catedral <strong>de</strong> Curitiba e é <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitos estudantesuniversitários.Os <strong>do</strong>is propósitos somente existem <strong>de</strong> forma concomitante: ao assumirem com aescola a tarefa da construção <strong>de</strong> um relógio solar, os estudantes <strong>de</strong> arquiteturacriam um compromisso consigo mesmos <strong>de</strong> aprofundar conhecimentos referentes àorientação solar.FIGURA 1 – RELÓGIO SOLARFonte: Domínio Público.Relógio existente na fachada da farmácia existente na Praça Tira<strong>de</strong>ntes, <strong>de</strong>fronte àcatedral metropolitana <strong>de</strong> Curitiba.1. FUNDAMENTAÇÃOApresenta-se aqui, <strong>de</strong> forma simplificada, fundamentos astronômicos e,posteriormente, fundamentos didáticos para o relógio solar proposto. Trata-se <strong>de</strong> umrelógio construí<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> ele, mediante pintura feita no solo. O tradicional gnomonsóli<strong>do</strong> é substituí<strong>do</strong> pelo próprio observa<strong>do</strong>r, a<strong>de</strong>quadamente posiciona<strong>do</strong> emrelação a sua estatura (conforme explicação abaixo).125


3.2 ASTRONOMIAAs horas <strong>de</strong>correm principalmente <strong>de</strong> <strong>do</strong>is movimentos aparentes da Terraem relação ao sol: translação ao longo <strong>do</strong> plano da eclíptica e rotação ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong>próprio eixo.Se o ciclo <strong>de</strong> um dia tem 24h, então cada hora correspon<strong>de</strong> à rotação <strong>de</strong> 15°da Terra ao re<strong>do</strong>r <strong>do</strong> próprio eixo. Este movimento é percebi<strong>do</strong>, da superfície daTerra, como uma translação <strong>do</strong> sol ao re<strong>do</strong>r da Terra.No entanto, neste movimento aparente, o sol quan<strong>do</strong> nasce sobe, e <strong>de</strong>pois<strong>de</strong>sce sobre um plano inclina<strong>do</strong> em relação ao horizonte. Esta inclinação é igual àlatitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> local. No Equa<strong>do</strong>r, excepcionalmente, o sol sobe e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>sce sobreum plano vertical. Nos pólos Sul e Norte, o sol se movimenta paralelo ao horizonte.Há ainda um fato interveniente, que é a inclinação <strong>de</strong> 23°25’ <strong>do</strong> eixo da Terraem relação ao referi<strong>do</strong> plano. O efeito disto, percebi<strong>do</strong> sobre a superfície da Terra, é<strong>de</strong> o plano segui<strong>do</strong> no movimento aparente <strong>do</strong> sol se <strong>de</strong>slocar gradativamente aolongo <strong>do</strong> ano, ora mais para Norte (junho), ora mais para Sul (<strong>de</strong>zembro). Num localsob o Equa<strong>do</strong>r, este <strong>de</strong>slocamento é tal que o nascente se movimenta mais oumenos 23°25’ para o Norte, ou para o Sul em relação a Leste. Ao se afastar <strong>do</strong>Equa<strong>do</strong>r, este <strong>de</strong>slocamento aumenta progressivamente. Em território brasileiro, istose dá mais acentuadamente ao se caminhar em direção ao extremo Sul, mas o<strong>de</strong>slocamento não ultrapassa mais ou menos 28°. Um caso extremo já ocorre sobreo Círculo Polar Ártico: ali, o sol nasce exatamente no pólo <strong>de</strong> mesmo nome <strong>do</strong>hemisfério (neste caso, o Sul) no solstício <strong>de</strong> verão (único dia <strong>de</strong> 24h), e nasceexatamente no pólo <strong>de</strong> nome oposto ao hemisfério (neste caso, o Norte) no solstício<strong>de</strong> inverno (única noite <strong>de</strong> 24h). Já para além <strong>do</strong> Círculo Polar, no inverno tem-senão mais somente um dia, mas to<strong>do</strong> um perío<strong>do</strong> em que a noite tem 24h; e noverão, um perío<strong>do</strong> em que o dia tem 24h. Este perío<strong>do</strong> tem por centro os solstícios(sempre mais compri<strong>do</strong> ao se caminhar em direção ao pólo, até atingir seis mesesno Pólo).Tu<strong>do</strong> o que foi dito para o hemisfério Sul se repete no hemisfério Norte,apenas consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> que quan<strong>do</strong> um hemisfério tem seu verão, o outro tem seuinverno e vice-versa.O relógio solar plano126


Consi<strong>de</strong>re-se, por exemplo, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, com latitu<strong>de</strong> aproximada <strong>de</strong>25° Sul. O procedimento que será <strong>de</strong>scrito po<strong>de</strong> ser repeti<strong>do</strong> numa outra cida<strong>de</strong>,com algumas adaptações <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> relógio (pois há tipos mais ou menos oportunos<strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a faixa <strong>de</strong> latitu<strong>de</strong>).Uma barra alongada em relação ao solo, alinhada em orientação paralela aoeixo da Terra, terá a proprieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> projetar sombras, a cada hora, sobre linhas quepermanecerão imóveis a <strong>de</strong>speito da estação <strong>do</strong> ano. O que po<strong>de</strong>ria mudar seria aposição exata da sombra sobre estas linhas: a sombra se <strong>de</strong>slocaria, no invernomais para o Sul, e no verão mais para o Norte. Esta é a marcação que dá origem aorelógio solar e que permite, inclusive, a leitura das estações.FIGURA 2 – MODELO DE RELÓGIO SOLARFonte: Laboratório <strong>de</strong> conforto ambiental, UFPR.Como o chão é inclina<strong>do</strong> da latitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> local, a linha superior <strong>do</strong> gnomon éperpendicular ao plano <strong>do</strong> movimento aparente <strong>do</strong> sol.Uma representação <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relógio solar, basea<strong>do</strong> na construção <strong>de</strong>um gnomon sobre um pátio plano e livre <strong>de</strong> sombras, é mostrada na Fonte:Laboratório <strong>de</strong> conforto ambiental, UFPR.Como o chão é inclina<strong>do</strong> da latitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> local, a linha superior <strong>do</strong>gnomon é perpendicular ao plano <strong>do</strong> movimento aparente <strong>do</strong> sol.. A fotografiafoi obtida no simula<strong>do</strong>r <strong>de</strong> trajetória solar, no Laboratório <strong>do</strong> Ambiente Construí<strong>do</strong>(UFPR), em que este relógio solar foi testa<strong>do</strong>.Inicialmente, imagine-se que ainda uma pessoa entra <strong>de</strong>baixo da barra eajusta sua posição, corretamente na vertical, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que a cabeça toque a barra.127


Pois a sombra <strong>de</strong> sua cabeça estará, a to<strong>do</strong> momento, tangencian<strong>do</strong> a linha <strong>de</strong> horacorrespon<strong>de</strong>nte. Qualquer pessoa, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua altura, po<strong>de</strong>rá ler as horasassim.Se for feita no solo uma marcação que permita cada pessoa encontrar oponto em que, com sua estatura, encontraria com a cabeça a barra, então a barrapo<strong>de</strong>ria ser eliminada. O relógio solar se reduz a uma série <strong>de</strong> linhas e marcaçõesno chão. É esta a novida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste trabalho: ao invés <strong>de</strong> uma barra engastada nosolo, a barra seja construída <strong>de</strong> forma virtual com a estatura das pessoas que foremler o relógio. Tal <strong>de</strong>sign apresenta três vantagens:- econômico: gasta-se apenas tintas;- segurança: <strong>de</strong>ixa-se <strong>de</strong> construir um objeto potencial causa<strong>do</strong>r <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntescomo contusões no ambiente escolar;- interativa: as crianças da escola, e mesmo adultos, terão <strong>de</strong> participar comseu corpo se quiserem ler as horas; assim, estarão mais conscientes da orientaçãosolar.Além da marcação <strong>de</strong> uma escala <strong>de</strong> alturas sobre o solo é importante que semarque numa pare<strong>de</strong> próxima uma escala <strong>de</strong> alturas, para que as pessoasinicialmente possam ler sua altura, para <strong>de</strong>pois ocuparem sua posição na sua escala<strong>de</strong>formada <strong>do</strong> relógio. É uma escala <strong>de</strong>formada, pois a distância entre <strong>do</strong>is pontospara pessoas <strong>de</strong> estaturas distintas não necessariamente correspon<strong>de</strong>rá à diferençareal entre as estaturas.Determinação <strong>do</strong> Norte verda<strong>de</strong>iroMediante o uso <strong>de</strong> bússolas é possível encontrar-se o Norte magnético(embora aqui seja possível uma ativida<strong>de</strong> extra <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma bússolarudimentar, é conveniente utilizar-se uma bússola profissional).Como o núcleo magnético da Terra é móvel, é necessário o uso <strong>de</strong> um valor<strong>de</strong> referência da <strong>de</strong>clinação magnética δ (mapea<strong>do</strong> por localida<strong>de</strong>, em curvasisogônicas, obtém-se para Curitiba, na data <strong>de</strong> referência 01/01/1990, o valor <strong>de</strong> -16°) e ainda um valor para a variação anual na localida<strong>de</strong>, (mapea<strong>do</strong> em curvasisopóricas, obtém-se para Curitiba -7,6 minutos/ano), sen<strong>do</strong> este multiplica<strong>do</strong> pelotempo <strong>de</strong>corri<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a data <strong>de</strong> referência <strong>do</strong> mapa e a data em questão (17,3anos em abril <strong>de</strong> 2007).Logo, tem-se128


δ = -16,0-7,6 x 17,3 = 16°-131,5 minutos = -18,2° (1)Sen<strong>do</strong> a <strong>de</strong>clinação <strong>de</strong> valor negativo, o Norte verda<strong>de</strong>iro está a 18,2° a partir<strong>do</strong> Norte magnético, conta<strong>do</strong>s no senti<strong>do</strong> horário.Traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> gabaritoO gabarito para o traça<strong>do</strong> <strong>do</strong> relógio solar é obti<strong>do</strong> da projeção, sobre o chão,da sombra que teria a cada hora uma barra mantida paralela ao eixo da Terra(orientada para o Norte e inclinada para o chão, no ângulo da latitu<strong>de</strong>). Consi<strong>de</strong>ra-secada hora <strong>do</strong> dia (Figura 3).Cada hora gera um ponto sobre o solo. Cada um <strong>de</strong>stes é então uni<strong>do</strong> aoponto em que o eixo da Terra intercepta o solo, chama<strong>do</strong> centro <strong>do</strong> relógio (Figura4Fonte: os autores. Etapa posterior <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> relógio solar. ).FIGURA 3– A DIREÇÃO DE CADA HORA PROJETADA SOBRE O CHÃO.129


Fonte: os autores.Etapa inicial da construção <strong>do</strong> relógio solar.A partir <strong>do</strong> centro <strong>do</strong> relógio, é construída, na direção Norte-Sul e no senti<strong>do</strong>Sul, uma escala <strong>de</strong>formada <strong>de</strong> estaturas em que cada acréscimo unitário <strong>de</strong> estaturacorrespon<strong>de</strong>, no solo, a 1 / tg (latitu<strong>de</strong>). Obtém-se assim o gabarito para traça<strong>do</strong> <strong>do</strong>relógio solar (Figura 5).Os ângulos <strong>de</strong> azimute e altura solar para cada hora, obti<strong>do</strong>s da literatura (porexemplo, FROTA, 2004) para cada mês ou estação <strong>do</strong> ano, permitem ainda<strong>de</strong>terminar, sobre o gabarito, a sombra <strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong> altura pré-<strong>de</strong>finida. Unin<strong>do</strong>seas extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stas sombras para cada hora, obtêm-se a curva <strong>de</strong> sombrapara cada mês ou estação <strong>do</strong> ano. Estas linhas não são fundamentais para a leituradas horas; no entanto, acrescentam importante conteú<strong>do</strong> ao relógio.130


FIGURA 4 – LINHAS DAS SOMBRAS DO EIXO DA TERRA SOBRE O CHÃOFonte: os autores. Etapa posterior <strong>de</strong> construção <strong>do</strong> relógio solar.FIGURA 5 – GABARITOFonte: os autoresO relógio solar <strong>de</strong>scrito acima, a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba(consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> a latitu<strong>de</strong>), po<strong>de</strong> ser adapta<strong>do</strong> a regiões cuja latitu<strong>de</strong> não exceda afaixa entre 10° e 45° ao Sul (ou ao Norte). Torna-se inviável numa localida<strong>de</strong> mais131


próxima <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r: a escala <strong>de</strong>formada <strong>de</strong> alturas se torna <strong>de</strong>masiadamentelonga.Exatamente sob o Equa<strong>do</strong>r, as linhas horárias seriam todas paralelas, e serianecessário um conjunto <strong>de</strong> linhas para cada estatura. Neste caso, torna-seconveniente o relógio construí<strong>do</strong> com um cilindro fixo, sen<strong>do</strong> as linhas referidas àsua altura. Há ainda outros mo<strong>de</strong>los cujo marca<strong>do</strong>r é feito em formastridimensionais, como o segmento <strong>de</strong> calha cilíndrica volta<strong>do</strong> para cima,assemelhan<strong>do</strong>-se a uma pista <strong>de</strong> skate; ou um relógio cuja leitura é obtida a partir <strong>do</strong>reflexo <strong>de</strong> uma moeda que reflete a radiação solar sobre o mostra<strong>do</strong>r em calhavoltada para baixo (Figura 6).FIGURA 6 – RELÓGIO SOLAR EM MEDELIN (COLÔMBIA).Fonte: Aloísio l. Schmid. Relógio solar em calha invertida.Já em latitu<strong>de</strong>s altas (a partir <strong>de</strong> 45°), a escala <strong>de</strong>formada <strong>de</strong> alturas secomprime. Isto dificulta a precisão, sen<strong>do</strong> mais aconselhável uma barra fixa.Do ponto <strong>de</strong> vista da didática, o relógio solar em modalida<strong>de</strong> interativa, emque o próprio corpo com sua estatura faz parte da leitura das horas, convida àobservação sistemática da natureza, que se insere naturalmente no ciclo <strong>de</strong> um anointeiro, e continua nos outros anos se diferencian<strong>do</strong>, uma vez que, ao crescer, ascrianças são convidadas a continuar len<strong>do</strong>. Além disso, abre espaço para o132


<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> conteú<strong>do</strong>s diversos no âmbito da aprendizagem, envolven<strong>do</strong>disciplinas diversas como Matemática, Ciências e Artes por exemplo.4 MATERIAIS E MÉTODOS4.1 IMPLEMENTAÇÃO DO RELÓGIOO procedimento <strong>de</strong> implementação <strong>do</strong> relógio compreen<strong>de</strong> os seguintespassos:1) localizar aproximadamente o Norte2) encontrar uma área perfeitamente plana <strong>de</strong> aproximadamente 16m (Leste-Oeste)por 8m (Norte-Sul), distante <strong>de</strong> objetos altos como árvores, construções ou murosque possam lhe projetar sombras;3) <strong>de</strong>terminar o Norte com bússola e acrescentar-lhe a correção <strong>de</strong>vida à <strong>de</strong>clinaçãomagnética (que era <strong>de</strong> 18,2° para Curitiba em abril <strong>de</strong> 2007, mas <strong>de</strong>ve ser atualizadapara cada local);4) traçar um eixo Norte-Sul no meio da área selecionada;5) traçar, perpendicular a este, um eixo Leste-Oeste na porção mais ao Norte daárea selecionada;6) traçar o restante <strong>do</strong> retângulo <strong>de</strong> 16m x 8m, ou dimensões menores, caso hajarestrição <strong>de</strong> espaço;7) sobre o gabarito, fazen<strong>do</strong> coincidir a linha Leste-Oeste mais ao Norte e a linhaNorte-Sul central, reproduzir o retângulo assim <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong> a escala <strong>do</strong><strong>de</strong>senho;8) <strong>de</strong> cada uma das linhas horárias, sobre o retângulo assim obti<strong>do</strong> no gabarito, apartir <strong>do</strong>s catetos, reproduzir sobre o solo a extremida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada linha, a ser unidacom o ponto central a Norte;9) para cada uma das linhas horárias, esticar um barbante <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o centro até aextremida<strong>de</strong> e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eliminar resíduos <strong>de</strong> poeira na região ao longo <strong>do</strong>barbante, com um rolo e tinta traçar a linha horária correspon<strong>de</strong>nte;10) <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> feitas estas linhas, mediante uso <strong>do</strong> quadricula<strong>do</strong> e escala, reproduziras linhas <strong>de</strong> estação <strong>do</strong> ano;11) escrever números das horas;12) a partir <strong>do</strong> centro da linha Leste-Oeste mais a Norte, marcar a escala <strong>de</strong> alturas<strong>de</strong>formada: cada 10cm no chão correspon<strong>de</strong>m a 10 / tg (latitu<strong>de</strong>) (em cm);133


13) escrever números da altura na escala <strong>de</strong>formada – linha correspon<strong>de</strong>nte às 12h;14) construir sobre uma pare<strong>de</strong> próxima uma régua <strong>de</strong> estatura na escala 1:1;15) os executores tem total liberda<strong>de</strong> para trabalhar o layout <strong>do</strong> relógio.4.2 MODO DE LEITURAO relógio construí<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> gabarito aqui apresenta<strong>do</strong> marca, para cadalocalida<strong>de</strong>, a hora local. Isto significa que a hora oficial po<strong>de</strong> estar adiantada ouatrasada, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da longitu<strong>de</strong>. A hora oficial <strong>do</strong> Brasil (Brasília) é baseada nofuso horário <strong>de</strong> 45° Oeste. Já a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba se encontra a 49,25° a Oeste.Cada fuso horário tem 15°, ou seja, cada 1° <strong>de</strong> longitu<strong>de</strong> equivale a umadiferença <strong>de</strong> 4 minutos no horário. A diferença <strong>de</strong> -4,25° equivale, portanto, a (4,25 x4) = 17 minutos. Assim, em Curitiba, o Sol estará na “posição <strong>de</strong> meio-dia” às12h17min. Um relógio solar que assimilasse na sua marcação esta <strong>de</strong>fasagem<strong>de</strong>veria seguir um outro gabarito, já não mais simétricas em relação à linha Norte-Sul central. Entretanto, consi<strong>de</strong>ra-se instrutivo que o relógio marque o tempo local,para que se tenha consciência <strong>do</strong> caráter <strong>de</strong> convenção que tem o horário oficial.5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOSMediante entendimento preliminar com a Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação<strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Curitiba, no perío<strong>do</strong> entre 27/4/2007 e 4/5/2007, foram construí<strong>do</strong>srelógios solares em nove escolas, uma em cada um <strong>do</strong>s núcleos em que estãoorganizadas as 181 escolas <strong>do</strong> município. Cada escola foi atendida por um grupo <strong>de</strong>quatro ou cinco alunos <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> ano <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo, emais um orienta<strong>do</strong>r em tempo parcial, escolhi<strong>do</strong> entre a equipe da disciplina: além<strong>do</strong> professor, duas mestrandas (em seu estágio <strong>de</strong> <strong>do</strong>cência), a monitora dadisciplina e uma bolsista <strong>de</strong> iniciação científica. Os estudantes <strong>de</strong> arquiteturareceberam previamente instruções teóricas e práticas a respeito da orientação solar,ao longo <strong>de</strong> três aulas <strong>de</strong> três horas.Nas duas semanas prévias à realização das pinturas, as escolas foramvisitadas pelas equipes para avaliação das condições. Em <strong>do</strong>is casos foi necessáriaa substituição das escolas, por constatação da ausência <strong>de</strong> espaço a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> aotipo <strong>de</strong> relógio solar em pauta. Uma solução possível, mas nem sempre aceita pelas134


escolas é a realização da pintura sobre as quadras poli-esportivas. Em taissituações, optou-se por linhas tracejadas e cores discretas como o azul marinho oumarrom.A pintura <strong>de</strong> cada relógio solar levou entre seis e nove horas: ou seja, um dia<strong>de</strong> trabalho. Mostrou-se importante a realização da pintura num dia ensolara<strong>do</strong>,tanto pela rapi<strong>de</strong>z <strong>de</strong> secagem assim obtida, como pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testar orelógio durante a marcação. No entanto, a ativida<strong>de</strong> se mostrou árdua com respeitoà radiação solar, recomendan<strong>do</strong>-se cuida<strong>do</strong>s com a ingestão <strong>de</strong> bebidas e proteçãoa<strong>de</strong>quada da cabeça e da pele contra os raios solares.FIGURA 7 – TRABALHOS NA ESCOLA NYMPHA PEPLOWFonte: Laboratório <strong>de</strong> conforto ambiental (UFPR)No caso <strong>de</strong> erro na pintura sobre piso <strong>de</strong> cimento, é possível corrigi-la logo após asecagem atritan<strong>do</strong>-se sobre tal trecho um pedaço <strong>de</strong> bloco <strong>de</strong> concreto, que<strong>de</strong>sempenha o papel <strong>de</strong> borracha.Duas semanas após a realização das pinturas, foi convocada uma reunião com umrepresentante <strong>de</strong> cada escola municipal <strong>de</strong> Curitiba, em que a experiência foirelatada pela equipe da UFPR. Em tal ocasião, os professores das escolas que nãoreceberam os relógios solares manifestaram o interesse em receber instrução paratambém construírem os seus. Já os professores das escolas selecionadas pararealização <strong>do</strong>s nove relógios solares apresentaram críticas quanto à falta <strong>de</strong>135


esclarecimento das equipes <strong>de</strong> professores sobre a maneira <strong>de</strong> utilização <strong>do</strong>srelógios, e seu princípio <strong>de</strong> funcionamento, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a po<strong>de</strong>rem respon<strong>de</strong>rperguntas <strong>do</strong>s alunos. Ainda, foram levantadas preocupações quanto à inserção<strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> no contexto <strong>de</strong> diferentes disciplinas: Ciências, Matemática e Artes.Constatou-se, em tal ocasião, a necessida<strong>de</strong> da realização <strong>de</strong> um seminário comprofessores, envolven<strong>do</strong> o preparo <strong>de</strong> um material impresso <strong>de</strong> apoio.FIGURA 8 – TESTE DO RELÓGIO NA ESCOLA EVA DA SILVAFonte: os autores.Esta foto <strong>de</strong>monstrou que o erro na leitura é menor que 5 minutos.Agra<strong>de</strong>cimentosAo cartógrafo Roberto Teixeira Luz pelos cálculos e esclarecimentos referentes à<strong>de</strong>clinação magnética e hora civil. À Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação pelo apoio àiniciativa. À monitora da disciplina Conforto Ambiental I, Mônica Máximo da Silva, e àbolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica Claudia Morishita pela orientação <strong>de</strong> equipes durantea realização <strong>do</strong>s relógios.REFERÊNCIASFROTA, A. B. Geometria da insolação. São Paulo: Geros, 2004.136


LUZ, R.T. Correção da direção <strong>do</strong> Norte magnético para utilização com tabelassolares (Norte verda<strong>de</strong>iro). Comunicação pessoal. Curitiba, 2007.Texto recebi<strong>do</strong> em 19 mar. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 24 jun. 2008.137


TRANSFORMAÇÕES NA SOCIEDADE, TRANSFORMAÇÕES NA EDUCAÇÃO: OPROJETO CATÓLICO-CONSERVADOR DE EDUCAÇÃO NA DÉCADA DE 1920.Society transformations, education transformations: The catholicconservativeproject of the education on the <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of 1920.Volnei Antonio Sacar<strong>do</strong> 70RESUMOEm pleno início <strong>do</strong> século XXI, a educação brasileira persiste na centralida<strong>de</strong> daspreocupações nacionais, evi<strong>de</strong>nciada pela <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> ensino e pelasúltimas posições que o Brasil ocupa em praticamente todas as análises a que ésubmeti<strong>do</strong>. Há <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar que as mais curiosas propostas aparecem comosolução <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> problema <strong>do</strong> ensino brasileiro, típicas, na história <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong>momentos <strong>de</strong> agitação e transformações em outras esferas sociais. Na perspectivada “situação <strong>de</strong> crise” da educação, estimulada pelas transformações <strong>de</strong> outrasáreas, esse artigo procura revelar um importante momento da trajetória educacionalno Brasil: a década <strong>de</strong> 1920, quan<strong>do</strong> a temática educacional se levantava como ocentro das discussões nacionais, combinada com o contexto <strong>do</strong> final da PrimeiraRepública. Nesse perío<strong>do</strong>, a iniciativa católica, centralizada em Jackson <strong>de</strong>Figueire<strong>do</strong>, apoiava-se na educação para realizar o seu programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>saceleraçãoda história. Objetiva-se enten<strong>de</strong>r o uso da educação para a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al Católico-Conserva<strong>do</strong>r, em nome da or<strong>de</strong>m e da formação da elite intelectual católica que, pormeio <strong>do</strong> ensino superior, buscou sistematizar e unir os esforços reacionáriosenfrentan<strong>do</strong> abertamente a gama <strong>de</strong> transformações que se operava em diversossetores sociais naquele momento.Palavras-Chave: Educação; conserva<strong>do</strong>rismo; or<strong>de</strong>m; Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>;transformações sociais.ABSTRACTOn the XXI century the Brazilian education persists in centralization of nationalconcerns, conspicuous for <strong>de</strong>gradation of the teaching system and for the lastpositions that Brazil places in practically all analysis, which it is subjected. There’ssomething to <strong>de</strong>tach that the most curious proposals appear as a <strong>de</strong>finite solution ofthe Brazilian education problem, typical, in the history of Brazil, of agitation momentsand transformations in other social globes. On the perspective of the education “crisis situation”, stimulated for the other areas transformations, this article tries toreveal an important moment of the Brazilian educational trajectory: the <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of1920, when the educational thematic stands as the center of the national70 Aluno <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Geografia UNESP – Rio Claro. E-mail: fsacar<strong>do</strong>@yahoo.com.br / Fone:(19) 3406-7350. En<strong>de</strong>reço: Rua Equa<strong>do</strong>r, 244 – Bairro Frezarin – CEP 13465-791- Americana/SP138


discussions, combined with the final context of the First Republic. During this term,the catholic initiative, centralized in Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, rested on the educationto realize its <strong>de</strong>celeration program of the history. The target is to un<strong>de</strong>rstand the useof education to <strong>de</strong>fend of the Conservative-Catholic i<strong>de</strong>al, on behalf of the or<strong>de</strong>r an<strong>do</strong>f the catholic intellectual elite formation that, through superior teaching, looked forsystematize and unite the diehards, freely facing the transformations gamma thatoperated in several social sectors that moment.Keywords: Education; conservatism; or<strong>de</strong>r; Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>; socialtransformations.RESUMENAl inicio <strong>de</strong>l siglo XXI la educación brasileña persiste en la centralización <strong>de</strong> laspreocupaciones nacionales, marcada por la <strong>de</strong>gradación <strong>de</strong>l sistema <strong>de</strong> enseñanzay por las últimas posiciones que Brasil ocupa practicamente em to<strong>do</strong>s los análisis emlos que es someti<strong>do</strong>. Se pue<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar que las más curiosas propuestas aparecencomo solución <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>l problema <strong>de</strong> la enseñanza brasileña, típicas, en lahistoria <strong>de</strong> Brasil, <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> agitación y transformaciones en otras esferassociales. En la perspectiva <strong>de</strong> “situación <strong>de</strong> crisis” <strong>de</strong> la educación, estimulada porlãs tranformaciones <strong>de</strong> otras áreas, esse artículo tiene como objetivo revelar ummomento importante <strong>de</strong> la trayectoria educacional em Brasil: la década <strong>de</strong> 1920,cuan<strong>do</strong> la temática educacional se levantaba como el centro <strong>de</strong> las discusionesnacionales, ajustada com el contexto <strong>de</strong>l final <strong>de</strong> la Primera República. En esseperío<strong>do</strong>, la iniciativa católica, centralizada em Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, se apoyabaem la educación para realizar su programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>saceleración <strong>de</strong> la historia. Seobjetiva enten<strong>de</strong>r el uso <strong>de</strong> la educación para la <strong>de</strong>fensa <strong>de</strong>l i<strong>de</strong>al católicoconserva<strong>do</strong>r, em nombre <strong>de</strong>l or<strong>de</strong>m y <strong>de</strong> la formación da la elite intelectual católica,que, através <strong>de</strong> la enseñanza superior, buscó sistematizar y unir los esfuerzosreaccionarios, abalanzan<strong>do</strong> abertamente la gama <strong>de</strong> transformaciones que seoperaba y diversos sectores sociales em aquel momento.Palabras-Clave: Educación; conserva<strong>do</strong>rismo; el or<strong>de</strong>n; Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>;transformaciones sociales.IntroduçãoSob a égi<strong>de</strong> da tecnologia, em pleno início <strong>do</strong> século XXI, os impressionantesavanços na economia e na ciência não combinam com os problemas elementaresque persistem e corroem a base da socieda<strong>de</strong> brasileira, <strong>de</strong>struin<strong>do</strong> aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> equilíbrio e <strong>de</strong> avanço em direção às garantias da distribuição dasconquistas <strong>de</strong> diversos setores. Problemas básicos da população, como fome,<strong>do</strong>enças e geração <strong>de</strong> renda, reapareceram em proporções nunca antesimagináveis. Nesse quadro contraditório que mistura o sucesso econômico ecientífico com o fracasso social, a qualida<strong>de</strong> da educação é apontada comoresponsável pelos fracassos sociais <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo. Tal entendimento139


origina-se <strong>do</strong>s sistemas <strong>de</strong> avaliação nacionais e internacionais que submetem oBrasil a processos, mais ou menos rigorosos, <strong>de</strong> apontamento <strong>do</strong> seu fracasso,revela<strong>do</strong> pela <strong>de</strong>gradação <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong> ensino e pelas últimas posições que ocupaem praticamente todas as análises, além da constatação prática <strong>de</strong> quem convivediretamente com o sistema <strong>de</strong> ensino no Brasil.Há <strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacar que as mais curiosas propostas aparecem como solução<strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> problema educacional brasileiro, perpassan<strong>do</strong> pela resolução dasdificulda<strong>de</strong>s financeiras, como a construção <strong>de</strong> novas escolas, maior <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong>verbas ao ensino público, reformas <strong>de</strong> currículos, mudanças no processo <strong>de</strong> acessoao ensino superior e a inclusão <strong>de</strong> outras formas <strong>de</strong> entendimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, não<strong>de</strong>rivadas <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> científico, como o Criacionismo. Essa esquizofrenia <strong>de</strong>propostas no apontamento <strong>de</strong> caminhos, a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> novos méto<strong>do</strong>s e/ou aban<strong>do</strong>nocompleto <strong>de</strong> outros, ti<strong>do</strong>s como ultrapassa<strong>do</strong>s, é típica, na história <strong>do</strong> Brasil, <strong>de</strong>momentos <strong>de</strong> agitação e transformações em outras esferas sociais.Sobre a educação recai historicamente a responsabilida<strong>de</strong> pelo <strong>de</strong>stino <strong>do</strong>país, tornan<strong>do</strong>-se continuamente subterfúgio <strong>do</strong> fracasso <strong>de</strong> outros atores dasocieda<strong>de</strong>. A diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propostas oriundas <strong>de</strong>sses momentos <strong>de</strong>aprofundamento da “situação <strong>de</strong> crise” na educação brasileira, da mesma forma quepossibilita a sua melhoria pela abertura <strong>do</strong> leque <strong>de</strong> discussões, também oportunizao aprofundamento <strong>do</strong> fosso que separa o lugar o qual <strong>de</strong>veria ocupar daquele querealmente ocupa. Isto <strong>de</strong>ve-se, principalmente, por ter se transforma<strong>do</strong> eminstrumento <strong>de</strong> pregação i<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> aventureiros revesti<strong>do</strong>s pelos nobres i<strong>de</strong>aiseducativos, mas conservam em seu núcleo objetivos <strong>de</strong> favorecimento políticoindividual, <strong>de</strong> classe ou <strong>de</strong> seus fragmentos.Esse artigo preten<strong>de</strong> discutir, <strong>de</strong>ntro da perspectiva acima apontada, outromomento da história brasileira em que eclodiam propostas diversas para aeducação: trata-se da década <strong>de</strong> 1920, quan<strong>do</strong> a temática educacional erabombar<strong>de</strong>ada por outros interesses, como o político-partidário, religioso, econômicoe social, reduzin<strong>do</strong>-a a simples instrumento <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> programas, distantes,na maioria das vezes, das verda<strong>de</strong>iras questões pedagógicas. Para tanto, procurarse-ádiscutir a iniciativa católica a partir <strong>do</strong> pensamento <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e<strong>do</strong> grupo <strong>de</strong> intelectuais forma<strong>do</strong> em torno <strong>de</strong>le em 1922, por meio da criação <strong>do</strong>Centro Dom Vital e <strong>de</strong> seu principal órgão <strong>de</strong> divulgação, a <strong>Revista</strong> A Or<strong>de</strong>m, criadaem 1921.140


6 AS TRANSFORMAÇÕES NA DÉCADA DE 1920Apesar das reformas culturais empreendidas pela vinda da família real para oBrasil, como a criação da Imprensa Régia, da Biblioteca Nacional Pública, <strong>do</strong> MuseuReal, da Aca<strong>de</strong>mia Real da Marinha, <strong>de</strong> cursos médicos–cirúrgicos, cursos jurídicos,<strong>de</strong> economia, química e agricultura, a herança educacional <strong>do</strong> Império para aRepública é <strong>de</strong>sola<strong>do</strong>ra. Prevaleceu nas últimas décadas <strong>do</strong> Império, apesar <strong>do</strong>avanço das ciências e <strong>do</strong> Positivismo em outras partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e até mesmo noBrasil, um quadro <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação em que inexistia um projeto nacional <strong>de</strong>educação. O ato adicional <strong>de</strong> 1834 <strong>de</strong>scentralizou e educação formal, caben<strong>do</strong> aopo<strong>de</strong>r central promover o Ensino Superior e às províncias o Ensino Elementar eSecundário. O fracionamento da educação, o pequeno número <strong>de</strong> vagas, a falta <strong>de</strong>um currículo nacional, a atenção ao Ensino Superior em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outrosassocia<strong>do</strong>s à exclusão da mulher e à falta <strong>de</strong> professores qualifica<strong>do</strong>s, mesmo coma criação <strong>de</strong> algumas escolas normais a partir <strong>de</strong> 1835, mantém apenas 10% dapopulação em ida<strong>de</strong> escolar matriculada nas escolas primárias (ARANHA,1993,p.193). Nesse esta<strong>do</strong> generaliza<strong>do</strong> <strong>de</strong> aban<strong>do</strong>no da educação pública, é abertoespaço para a criação <strong>de</strong> colégios <strong>de</strong> iniciativa particular, sobretu<strong>do</strong> católicos, quealém da educação pública, on<strong>de</strong> já exerciam influência na prepon<strong>de</strong>rância <strong>do</strong> ensino<strong>do</strong>utrinário e moral sobre o científico, aumentam o controle sobre a populaçãotambém pelas novas escolas particulares. As iniciativas não religiosas tambémacontecem, porém, com menor relevância no quadro geral no país.No fim <strong>do</strong> século XIX, com o advento da República, uma profunda discussãoem torno da educação tomou corpo <strong>de</strong>ntro da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> opinião que nesseperío<strong>do</strong> emergia no cenário nacional. Três abrangentes correntes <strong>de</strong> pensamentoexerciam influência sobre a educação. O Positivismo, o Liberalismo e a CorrenteCatólico–Conserva<strong>do</strong>ra. Segun<strong>do</strong> Nagle (1990, p. 262), “o fervor i<strong>de</strong>ológico que se<strong>de</strong>senvolveu no final <strong>do</strong> Império só em parte continua <strong>de</strong>pois da instalação <strong>do</strong>regime republicano”. Apesar <strong>de</strong> alguns planos como a Reforma Benjamim Constant(1890) e a Caetano <strong>de</strong> Campos (1892) em São Paulo, acontece, nas primeirasdécadas <strong>do</strong> novo regime um arrefecimento <strong>do</strong> caloroso <strong>de</strong>bate em torno daeducação que movimentou as últimas décadas <strong>do</strong> século XIX.141


Somente após 1915, mais especificamente na década <strong>de</strong> 1920, o interesseeducacional retorna em função <strong>do</strong> fortalecimento <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al liberal e das diversasmanifestações <strong>de</strong> contestação da “falsa república”. “Trata-se <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong>republicanização da República, pela difusão <strong>do</strong> processo educacional [...]” (NAGLE,1990, p. 262).Marcada profundamente pela efervescência social, a década <strong>de</strong> 1920representou a agonia <strong>do</strong> primeiro perío<strong>do</strong> republicano, no quadro das profundasmudanças que se operavam no seio da socieda<strong>de</strong> brasileira. A Proclamação daRepública trouxe poucas novida<strong>de</strong>s práticas para o Brasil, já que até a segundadécada <strong>do</strong> século XX a estrutura social se manteve praticamente inalterada. Nascida<strong>do</strong> i<strong>de</strong>al liberal, a expectativa entre as diversas camadas em relação àstransformações provenientes da conquista republicana havia si<strong>do</strong> frustrada, por terse torna<strong>do</strong> o reduto da ação das oligarquias rurais, sob coman<strong>do</strong> político <strong>do</strong>sgoverna<strong>do</strong>res, e pela manutenção <strong>do</strong>s privilégios, opostos à natureza <strong>de</strong> talmovimento. Porém, as velhas resistências <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> imperial começaram a serrompidas <strong>de</strong>finitivamente e uma nova socieda<strong>de</strong> nasceu <strong>de</strong> um parto <strong>do</strong>loroso e dainsatisfação com o aprisionamento fetal <strong>do</strong> corpo que crescia e não cabia mais nabolsa limitada da política, da economia e da antiga socieda<strong>de</strong> brasileira.Do ponto <strong>de</strong> vista econômico, a industrialização se fez <strong>de</strong> forma balbuciante(SANTOS; SILVEIRA, 2001), mas irredutível quanto à pre<strong>do</strong>minância nas décadasque se seguiram estimulada por agentes externos, como a Primeira Guerra Mundial,e internos, como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> consumo e acúmulo <strong>de</strong>capital, principalmente na região Su<strong>de</strong>ste. A formação <strong>de</strong> um merca<strong>do</strong> interiorcoman<strong>do</strong>u as importantes transformações que lentamente marcaram a passagem daeconomia tipicamente feudal para a urbano-industrial.O crescimento das cida<strong>de</strong>s impulsionou o estilo <strong>de</strong> vida urbano-industrial quese contrapôs ao rural, agrário e exporta<strong>do</strong>r. O novo <strong>de</strong>senvolvimento econômico nãose limitou às transformações quantitativas, provocou mudanças que dialeticamentese combinaram com o novo entusiasmo social e político. Novas camadas e classesrefletiam a transição da socieda<strong>de</strong> imperial, marcada pelas relações escravistas,para uma nova, representada pelo nascimento da classe média, da burguesiaindustrial e <strong>do</strong> operaria<strong>do</strong> urbano. Unida ao aparecimento <strong>de</strong> novas classes, aimigração européia completou o quadro necessário para a agitação social ao trazerpara o Brasil idéias e visões <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> pioneira na revolução142


liberal, mais consciente <strong>do</strong>s direitos trabalhistas e com disposição para participaçãopolítica. Os efeitos mais notórios da nova realida<strong>de</strong> transpareceram na agitaçãogrevista, que mesclava o conteú<strong>do</strong> empresta<strong>do</strong> <strong>do</strong> anarquismo e <strong>do</strong> socialismo aosgrupos insatisfeitos com as novas relações <strong>de</strong> trabalho e com a condição <strong>de</strong> atraso<strong>do</strong> país. Ilustrativo <strong>do</strong> espírito <strong>do</strong> momento, o Tenentismo da Revolta <strong>do</strong> Forte <strong>de</strong>Copacabana e da Revolução <strong>de</strong> São Paulo serviu <strong>de</strong> base para a Coluna Prestesque levou <strong>de</strong> norte a sul <strong>do</strong> país o clima <strong>de</strong> insatisfação.A estrutura da Política <strong>do</strong>s Governa<strong>do</strong>res balançou durante a década <strong>de</strong>1920. A rigi<strong>de</strong>z e a segurança <strong>do</strong> revezamento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is maiores esta<strong>do</strong>s dafe<strong>de</strong>ração no coman<strong>do</strong> <strong>do</strong>s rumos nacionais foram afrouxadas pela ReaçãoRepublicana e pela Aliança Liberal. Dessa forma, o i<strong>de</strong>al republicano capenga <strong>de</strong>1891 a 1920 ressurgiu e retomou a luta pela representativida<strong>de</strong> política e garantia<strong>do</strong>s direitos liberais <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e justiça. Novos parti<strong>do</strong>s e organizações civis, areligião católica e o próprio Esta<strong>do</strong> não passaram à margem <strong>de</strong>ssas transformações.Diversos setores e fragmentos sociais se envolveram no clima <strong>de</strong> mudança ea educação passou a ser encarada se não como o mais importante instrumento parao cumprimento <strong>do</strong>s diversos programas, pelo menos, um <strong>do</strong>s pontos relevantes parao <strong>de</strong>bate nacional. Segun<strong>do</strong> Nagle (1974) as décadas <strong>de</strong> 1910 e 1920 forammarcadas pelo “entusiasmo pela educação”, transforman<strong>do</strong>-a no ponto <strong>de</strong>convergência <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>ais nacionais, ten<strong>do</strong> na difusão das escolas pelo país aprincipal ban<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> combate ao atraso nacional. Em mea<strong>do</strong>s da década <strong>de</strong> 1920, o“entusiasmo pela educação” converteu-se em “otimismo pedagógico”, trazen<strong>do</strong> àtona a discussão qualitativa e as novas exigências estritamente educacionais paracombater o atraso nessa área, revela<strong>do</strong> pela elevada população analfabeta <strong>do</strong> país.Diferentes perspectivas marcaram a passagem da educação residual <strong>do</strong> Império,altamente elitista e <strong>de</strong>claradamente legitima<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> statu quo para outras propostas.Essas novas correntes, quan<strong>do</strong> progressistas, revelaram a insatisfação com amanutenção da or<strong>de</strong>m e quan<strong>do</strong> conserva<strong>do</strong>ras atacaram profundamente o<strong>de</strong>smantelamento <strong>do</strong> tradicional sistema social e educativo.As reformas educacionais são visíveis, nesse perío<strong>do</strong>, no estu<strong>do</strong> das propostas<strong>de</strong> grupos como a Liga <strong>de</strong> Defesa Nacional, a Liga Nacionalista <strong>de</strong> São Paulo, omovimento da Escola Nova, o Parti<strong>do</strong> Democrático Nacional e finalmente, <strong>de</strong>ntreoutros, o movimento católico; diferentes nos fins, mas convergentes nos meios.143


Assim as décadas <strong>de</strong> 1910, 1920 e 1930 assistiram ao bombar<strong>de</strong>io da educaçãocomo principal responsável pela aceleração ou retorno da história.Quanto à Constituição <strong>de</strong> 1891, “[...] a Igreja foi forçada à resignar-se: casamentocivil, ensino leigo, secularização <strong>do</strong>s cemitérios, recusa <strong>do</strong>s direitos eleitorais aosreligiosos liga<strong>do</strong>s por voto <strong>de</strong> obediência [...]” (ALMEIDA; MOURA, 1990, p. 328).Em termos objetivos, a educação católica é prejudicada com a Proclamação daRepública, pelo avanço das idéias cientificista e pela reforma curricular, queexcluiu da gra<strong>de</strong>, disciplinas como História Sagrada ou <strong>de</strong> Doutrina Cristã.Des<strong>de</strong> a Proclamação da República havia uma situação <strong>de</strong> “calmaria” nos meiosleigos e clericais, manifesta<strong>do</strong> pelo distanciamento religioso <strong>do</strong> cenário políticonacional a partir <strong>do</strong> afastamento entre religião e Esta<strong>do</strong>. Quanto aos efeitos paraa Igreja Católica <strong>de</strong> tal separação, duas formas <strong>de</strong> análise po<strong>de</strong>m serencontradas. A primeira a enten<strong>de</strong> como negativa, pois <strong>de</strong>correu <strong>de</strong>sse evento oenfraquecimento da religião, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte historicamente da proteção oficial e <strong>do</strong>privilégio garanti<strong>do</strong> pelo po<strong>de</strong>r público, sob a forma <strong>de</strong> padroa<strong>do</strong>. A segundacompreen<strong>de</strong> o evento <strong>de</strong> 1891, como favorável pelo rompimento positivo,portanto, com o subjugamento e o papel secundário <strong>de</strong>sempenha<strong>do</strong> pela religiãonos últimos anos <strong>do</strong> império.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tais formulações, a década <strong>de</strong> 1920 significou o rompimentocom a “mornalida<strong>de</strong>” católica pela organização <strong>do</strong> movimento leigo, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>por Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, sob orientação <strong>de</strong> Dom Sebastião Leme, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1916 havia estremeci<strong>do</strong> a passivida<strong>de</strong> católica com a elaboração da 1ª CartaPastoral, na qual conclamava os católicos a <strong>de</strong>sempenharem um papel políticoativo, como forma <strong>de</strong> revalorização <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>ais cristãos esqueci<strong>do</strong>s pela maioria dapopulação que se auto-<strong>de</strong>finia católica. A reação conserva<strong>do</strong>ra foi estruturadaten<strong>do</strong> como pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> as transformações sociais, econômicas e políticas,atingida portanto, pela base <strong>de</strong> toda a sua estrutura e lógica interna <strong>de</strong>pensamento, não se reduzin<strong>do</strong> meramente à ambição <strong>de</strong> sua presença no novoregime. Dessa forma, se opôs à gama <strong>de</strong> transformações <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os aspectosda vida social, constituin<strong>do</strong>-se como pensamento e açãoconserva<strong>do</strong>ra/reacionária via educação.Para enten<strong>de</strong>r a posição jacksoniana, portanto católica, diante da educaçãona década <strong>de</strong> 1920, é necessário enten<strong>de</strong>r a significação <strong>do</strong> termo conserva<strong>do</strong>r. Otermo conserva<strong>do</strong>r teve origem no Iluminismo <strong>do</strong> século XVIII, cujos representantesacusavam-no <strong>de</strong> contraposição injustificada às i<strong>de</strong>ais naturalistas, materialistas e <strong>do</strong>progresso inevitável (VIEIRA, 1998). O conflito entre as idéias iluministas e opensamento conserva<strong>do</strong>r centrava-se na oposição entre igualda<strong>de</strong>/liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> umla<strong>do</strong> e manutenção da hierarquia/vida regrada pela Igreja <strong>de</strong> outro. Defensor <strong>do</strong>pensamento católico, Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> era crente <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>s eternas eabsolutas, <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r divino em relação ao temporal. No bojo <strong>de</strong>ssemovimento <strong>de</strong> oposição entre novo e tradicional, centrou o seu combate.144


Parte das justificativas <strong>do</strong> seu pensamento veio das leituras <strong>de</strong> Joseph DeMaistre, expositor <strong>do</strong> pensamento autoritário, antiprogressista, antimaterialista eanti<strong>de</strong>mocrático. Italiano, forma<strong>do</strong> em direito em 1772. Crítico da RevoluçãoFrancesa, De Maistre lutou arduamente pelo retorno à monarquia tradicional. Umadas suas principais obras: “Consi<strong>de</strong>rações sobre a França”, <strong>de</strong> 1797, representouum marco para o pensamento Conserva<strong>do</strong>r. Suas idéias se resumem na negaçãodas transformações daquela que <strong>de</strong>veria ser a autoritária, conserva<strong>do</strong>ra e rígidaorganização social. Segun<strong>do</strong> De Maistre (apud VIEIRA, 1998, p. 31), “os homensveneram o que não po<strong>de</strong>m compreen<strong>de</strong>r. As socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem ser governadaspelos costumes e pelas instituições, cuja origem se per<strong>de</strong> nas névoas da história”.Tal Conserva<strong>do</strong>rismo está intimamente relaciona<strong>do</strong> ao momento, ao local e a formacomo ocorre e se traduz pela posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> idéias contráriasàs transformações <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada realida<strong>de</strong>. Dessa forma, a utilização <strong>do</strong>termo conserva<strong>do</strong>r para Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, se refereÀs atitu<strong>de</strong>s e <strong>do</strong>utrinas conserva<strong>do</strong>ras que representam-se emconcepções <strong>de</strong> mun<strong>do</strong>, em construções i<strong>de</strong>ológicas, emsistema <strong>de</strong> idéias, cujos significa<strong>do</strong>s se enraízam num grupoou numa classe social, e explicam essas atitu<strong>de</strong>s e essas<strong>do</strong>utrinas (VIEIRA, 1998, p.30)A atitu<strong>de</strong> prática <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, sergipano <strong>de</strong> Aracaju, advoga<strong>do</strong>empenha<strong>do</strong> na causa católica, se fez pela criação <strong>do</strong> Centro Dom Vital em 1922,on<strong>de</strong> formou um grupo <strong>de</strong> intelectuais católicos que <strong>de</strong>sempenhou importante papel.Além da transformação das consciências e a publicação da <strong>Revista</strong> A Or<strong>de</strong>m, criadaem 1921, <strong>de</strong>stacou-se pelos embates trava<strong>do</strong>s nos órgãos públicos <strong>de</strong>representação, em jornais e revistas.O projeto <strong>de</strong> educação <strong>de</strong>fendi<strong>do</strong> por Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e,conseqüentemente, pelo grupo <strong>de</strong> intelectuais forma<strong>do</strong> em seu entorno fez-se emconsonância com a visão católica <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e das transformações que nela seoperavam. O <strong>de</strong>senvolvimento econômico, nessa visão, era ataca<strong>do</strong> por permitir asmudanças <strong>de</strong> posição <strong>de</strong> grupos ou indivíduos na hierarquia social, entendida comoimutável e necessária para a manutenção da or<strong>de</strong>m. Quanto ao Esta<strong>do</strong>, Jackson <strong>de</strong>Figueire<strong>do</strong> <strong>de</strong>fendia o governo autoritário e centraliza<strong>do</strong>; representante temporal daor<strong>de</strong>m, submisso à Igreja - verda<strong>de</strong>ira e única representante <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r divino.145


Das mudanças sociais, criticava duramente os novos costumes, a imigraçãopara as cida<strong>de</strong>s e os movimentos revolucionários, tais como os movimentostenentistas e as greves que passaram a ocorrer com freqüência após 1917.Consi<strong>de</strong>rava a revolução social um mal, movimento satânico <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação,<strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> um povo <strong>de</strong>seduca<strong>do</strong> e <strong>de</strong> um ambiente permissivo e favorável àagitação e <strong>de</strong>sarticulação política e social. Sua posição se fazia contra os i<strong>de</strong>aisliberais, o Socialismo e o Anarquismo. Seguramente Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> seenquadrou no movimento <strong>de</strong> intelectuais <strong>do</strong> século XX que assumem a política comocentralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas elaborações convergin<strong>do</strong> diversas correntes em torno <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al<strong>de</strong> que o Esta<strong>do</strong> respon<strong>de</strong>ria ao problema da organização <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r, que naquelemomento adquiria proporção nacional.Segun<strong>do</strong> Pecault, “O processo <strong>de</strong> conversão <strong>do</strong>s intelectuais em agentespolíticos assumiu, a partir <strong>de</strong> 1915 o caráter <strong>de</strong> um movimento global e realizou-sesobre diversas formas: vaga nacionalista, mo<strong>de</strong>rnização cultural, ressurgimentocatólico e impulso antiliberal” (PECAULT, 1990, p. 23). O contexto da RepúblicaVelha em que a totalida<strong>de</strong> das classes sociais ainda não apresentavam umasituação <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> e que a política tramitava entre o avanço liberal e a<strong>de</strong>cepção e inconformação republicana exigiu <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> <strong>do</strong>is papéisa priori distintos e antagônicos, mas que na complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> momento se explicame completam. Se por um la<strong>do</strong> temia o futuro que <strong>de</strong>spontava, por outro, rejeitava opresente. Defendia como exemplo <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Média, on<strong>de</strong> os valorescatólicos garantiriam a or<strong>de</strong>m e o respeito à autorida<strong>de</strong>. A reconstrução <strong>de</strong>ssemomento da história só po<strong>de</strong>ria acontecer pela educação, vista comotransforma<strong>do</strong>ra das consciências e, portanto, meio pacífico e espiritual <strong>de</strong> revoluçãoe formação da elite intelectual católica que conduziria as mentes ao<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong> verda<strong>de</strong>iro projeto nacional. A exemplo <strong>do</strong> que acontecia comoutras organizações <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, a discussão sobre a educação passou distante <strong>do</strong>sreais problemas pedagógicos.Para os católicos só havia uma opção para a recuperação da socieda<strong>de</strong>: acompreensão e a incorporação das leis divinas e sobrenaturais provenientes <strong>de</strong>Deus. No contexto da segunda década <strong>do</strong> século XX, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à aceleração dastransformações e à efervescência <strong>do</strong> perío<strong>do</strong>, a incorporação das leis divinascorrespondia à única possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentamento <strong>do</strong> mobilismo mo<strong>de</strong>rno e <strong>do</strong>146


avanço positivista. Esse pensamento também po<strong>de</strong> ser trata<strong>do</strong> como tradicionalista,por buscar na tradição brasileira a saída <strong>do</strong> caos social.A viabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> resgate <strong>do</strong> tradicionalismo e da or<strong>de</strong>m perpassa pelaconstrução <strong>de</strong> uma elite intelectual católica que conduziria à restauração da or<strong>de</strong>mnos padrões medievais. Para Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, a República, representou atraição <strong>de</strong> um pequeno grupo movi<strong>do</strong> pelo espírito mo<strong>de</strong>rno, ao tirar Deus daconstituição, vetar a obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> ensino religioso e criar o ambiente <strong>de</strong><strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m política e social. A constituição da República não somente traiu o i<strong>de</strong>alcatólico como a própria nacionalida<strong>de</strong>, pois se existia uma verda<strong>de</strong>ira tradição noBrasil, essa é a tradição católica. Da sua reconstrução <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> a existência <strong>do</strong>verda<strong>de</strong>iro nacionalismo, entendida por Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> como[...] ação <strong>de</strong> uma elite que, acertada ou erroneamente, repito,mas <strong>de</strong> boa fé, quer dar a uma dada pátria o sentimento e aidéia <strong>de</strong> que já a constitui uma raça histórica, tão legítimaquanto as que mais legítimas se julguem (FIGUEIREDO, 1921,p. 22).Portanto, o afastamento <strong>de</strong> Deus da constituição não foi apenas um atenta<strong>do</strong>contra a Igreja, mas contra a nacionalida<strong>de</strong>. Dependia da elite intelectual católica areconstrução da or<strong>de</strong>m e da nacionalida<strong>de</strong>, caben<strong>do</strong> à educação a sua formação,responsabilizan<strong>do</strong>-a pelo <strong>de</strong>stino moral e social <strong>do</strong> país. Coerente com a formacatólica <strong>de</strong> organização social, a educação não <strong>de</strong>veria trilhar os caminhos da<strong>de</strong>mocracia, mas negá-la duplamente: primeiro por não divulgar os avanços ouconquistas <strong>do</strong> pensamento científico e segun<strong>do</strong> porque não vislumbrava a inclusãodas massas no processo educativo. Combina-se perfeitamente a <strong>de</strong>fesa daeducação elitista com o autoritarismo católico. Dois projetos <strong>de</strong> educação partiam <strong>do</strong>grupo católico: um para o ensino primário e outro para o superior. A preocupação eas esperanças <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> em recatolicizar o país <strong>de</strong>rivava-se daescola superior, acreditava que a fé católica viria pela revelação, por meio <strong>do</strong> ensinoda filosofia tomista. À educação primária cabia o ensino pela repetição <strong>do</strong>s valoresmorais e <strong>do</strong> resgate da tradição.A educação, para os católicos, era <strong>de</strong>ver da Igreja e da família. A concepçãorestringia-se a participação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> republicano, travan<strong>do</strong> o embate entre o grupocatólico e os escolanovistas: pela <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> papel da educação, obrigatorieda<strong>de</strong> <strong>do</strong>ensino primário, méto<strong>do</strong> e a responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tal processo. Para os católicos, a147


Igreja <strong>de</strong>veria ser a “Gran<strong>de</strong> Mestra”, responsável pela condução da educação, porpossuir o direito divino – sobrenatural, na orientação das consciências. À famíliacabia o direito natural <strong>de</strong> educar, pois antes <strong>de</strong> pertencer à socieda<strong>de</strong>, o homempertence ao núcleo familiar, primeira organização social. Ao Esta<strong>do</strong> cabe o papelsecundário, restrito à construção <strong>de</strong> ferramentas que garantam a execução <strong>do</strong>processo educativo <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela Igreja. Da condução católica <strong>do</strong> ensino superiornasceria a elite católica, enquanto que o acesso ao primário seria restrito, pois amassa da população <strong>de</strong>veria ser conduzida e, para tanto, a ignorância era umasanta alternativa aos espíritos rebel<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnizantes.Nessa perspectiva, a educação laica representa uma profunda ameaça àor<strong>de</strong>m e à socieda<strong>de</strong> por ser local da pregação da liberda<strong>de</strong>, naturalmenterepaganiza<strong>do</strong>ra. Deve-se à escola a restituição da autorida<strong>de</strong>, da unida<strong>de</strong>, <strong>do</strong>respeito à proprieda<strong>de</strong> e à família, orientada pelos princípios infalíveis da religiãocatólica. A educação católica se contrapôs substancialmente aos <strong>de</strong>maismovimentos da educação por não preten<strong>de</strong>r o progresso e nem vislumbrar mo<strong>de</strong>losexternos para o Brasil, como o <strong>do</strong>s países europeus. Jackson acreditava que assoluções <strong>do</strong>s problemas brasileiros existiam internamente, <strong>de</strong>pendiam simplesmente<strong>do</strong> resgate da tradição. A educação assumia o papel político, para aplicação dassoluções morais e materiais, já resolvidas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Ida<strong>de</strong> Média. À educação iniciadana família, se seguiria a escolar, privilegiada por marcar a transição da esferaparticular à pública, revestida <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ação católica. Pela recuperação dafilosofia e <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong>s <strong>do</strong>gmas, o grupo católico pretendia elevar o homemindividual à categoria <strong>de</strong> ser social. Somente pela educação conserva<strong>do</strong>ra ereacionária o Brasil po<strong>de</strong>ria ter certeza <strong>do</strong> futuro, num processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>saceleraçãoda história.Em 1926 os intelectuais leigos coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s por Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> eDom Sebastião Leme lutam para conquistar espaço na reforma Constitucional <strong>de</strong>Arthur Bernar<strong>de</strong>s, por meio <strong>de</strong> duas emendas: a primeira pretendia tornar oCatolicismo como religião oficial e a segunda pretendia o ensino religioso facultativonas escolas públicas.Essas exigências tinham como principal argumentação o número <strong>de</strong> católicosno Brasil. Como gran<strong>de</strong> maioria, os católicos <strong>de</strong>veriam ter seus direitos respeita<strong>do</strong>sem garantir aos filhos a educação cristã católica e o seu reconhecimento comoreligião oficial. Saben<strong>do</strong> da apatia política <strong>do</strong>s católicos brasileiros, a educação148


católica também <strong>de</strong>veria aquecer a ação <strong>do</strong>s <strong>de</strong>clara<strong>do</strong>s católicos, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oImpério <strong>do</strong>rmiam na tranqüilida<strong>de</strong> da vida cotidiana, admitin<strong>do</strong> os efeitos maléficosda república na política, <strong>do</strong> liberalismo na economia e das liberda<strong>de</strong>s e revoltasanárquicas, grevistas e socialistas no campo social. A eclosão da reação católicacoincidiu com o aparecimento <strong>do</strong> movimento escolanovista. Segun<strong>do</strong> Nagle (1990) omovimento escolanovista no Brasil aconteceu em <strong>do</strong>is momentos distintos, oprimeiro que abrange o fim <strong>do</strong> Império até o final da segunda década <strong>do</strong> século XX eo segun<strong>do</strong> que compreen<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 1920.No primeiro momento encontravam-se alguns antece<strong>de</strong>ntes, idéias vagas oupouco sistematizadas <strong>de</strong>ssa nova concepção <strong>de</strong> educação. Também aparecemnesse primeiro momento algumas ações práticas como a criação <strong>de</strong> escolasmo<strong>de</strong>los em São Paulo e o <strong>de</strong>creto nº 980, <strong>de</strong> 1890, como centro impulsiona<strong>do</strong>r danova forma <strong>de</strong> concepção <strong>de</strong> ensino. Não por coincidência, é na década <strong>de</strong> 1920que tal movimento se processa, principalmente pelo amplo projeto reforma<strong>do</strong>r <strong>do</strong>sistema <strong>de</strong> educação. O objetivo principal <strong>do</strong> escolanovismo se referia à mudançano processo <strong>de</strong> ensino/aprendizagem. A idéia central era sistematizar e enten<strong>de</strong>rcientificamente os diferentes processos <strong>de</strong> aprendizagem ten<strong>do</strong> o aluno como centroda educação.Nesse momento o “entusiasmo pela educação” abre espaço para “otimismopedagógico”, ou seja, a educação <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o meio <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r objetivos eprogramas políticos para se tornar o núcleo <strong>de</strong> preocupações internas relacionadasà aprendizagem. A preocupação com a função social da escola para a vida <strong>do</strong> aluno,a organização <strong>do</strong> currículo volta<strong>do</strong> para a realida<strong>de</strong> <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, a infânciavislumbrada como um momento importante da vida e a <strong>de</strong>mocratização da educaçãoprimária como princípio da liberda<strong>de</strong> se opunham substancialmente ao projeto <strong>de</strong>educação <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>. Para esse, a educação também tinha um papelsocial, que <strong>de</strong>veria se estruturar em torno da manutenção da or<strong>de</strong>m. A or<strong>de</strong>m para opensamento conserva<strong>do</strong>r era expressão clara <strong>do</strong> pre<strong>do</strong>mínio da hierarquia. Àeducação cabia o papel <strong>de</strong> controlar e frear os espíritos rebel<strong>de</strong>s, principalmentepelo ensino da religião. A <strong>do</strong>utrina católica teria na escola a continuida<strong>de</strong> da religião.Como os Jesuítas atuavam na conversão <strong>do</strong>s povos, também a Igreja atuaria,refrean<strong>do</strong> a rebeldia das consciências. O mecanismo a seguir compara o projeto <strong>de</strong>educação <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> e <strong>do</strong> grupo católico com o i<strong>de</strong>al escolanovista.149


1. Quadro comparativo das propostas educacionais <strong>do</strong> movimento Católicoconserva<strong>do</strong>re o movimento EscolanovistaProposta educacional escolanovista Proposta educacional <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong>Figueire<strong>do</strong>Ensino Superior como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Ensino Superior para a formação da elite<strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>s outros níveis <strong>de</strong> intelectual católica, <strong>de</strong>svincula<strong>do</strong> <strong>de</strong>educaçãooutros níveis <strong>de</strong> ensinoAtenção ao ensino primário como forma Ensino primário para <strong>do</strong>mar os espíritos<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocratização <strong>do</strong> ensinorebel<strong>de</strong>s: liberais e anarquistasMéto<strong>do</strong> <strong>de</strong> ensino basea<strong>do</strong> nas Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> ensino basea<strong>do</strong> na repetição<strong>de</strong>scobertas científicas <strong>do</strong> aprendiza<strong>do</strong>por faixas etárias e <strong>do</strong> comportamentohumanoEducação como divulga<strong>do</strong>ra das idéias Educação como divulga<strong>do</strong>ra da <strong>do</strong>utrinacientíficascatólicaEducação para <strong>de</strong>senvolver a liberda<strong>de</strong> Educação para controlar a liberda<strong>de</strong>Educação em oposição à ignorância Educação católica em oposição àeducação laica. Preferência pelaignorância à educação laicaO centro da aprendizagem é o aluno. O centro da aprendizagem é o professorApós a morte prematura <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> em 1928, o movimentopela educação católica passou por uma luta mais ferrenha, tanto pelas mudançasque se operavam no Centro Dom Vital, irradia<strong>do</strong>r monopoliza<strong>do</strong> pelo lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong>movimento católico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1922, ano <strong>de</strong> sua fundação, como pelo espaço aberto napolítica nacional em 1930. Dom Sebastião Leme, Alceu Amoroso Lima - substituto<strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> no Centro Dom Vital - e o padre Leonel Francacontinuaram o projeto <strong>de</strong> Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> <strong>de</strong> recristianização católica <strong>do</strong> país.Mesmo com uma proposta mais cultural <strong>do</strong> que política, o grupo católico pós-Jackson não arrefeceu na busca <strong>de</strong> inclusão <strong>do</strong> ensino religioso no currículo oficial ena criação <strong>de</strong> um centro <strong>de</strong> ensino superior, partin<strong>do</strong> da <strong>de</strong>rrota <strong>de</strong> 1926, quan<strong>do</strong> aproposta <strong>de</strong> ensino religioso facultativo foi rejeita<strong>do</strong> na emenda constitucional, para a150


primeira conquista real nesse campo. Já em 1931, com a promulgação <strong>do</strong> <strong>de</strong>creto19941 <strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> abril, tornou-se facultativo o ensino religioso nas escolas públicas.O governo <strong>de</strong> Getúlio Vargas não tar<strong>do</strong>u em perceber a importância <strong>do</strong> i<strong>de</strong>alcatólico no combate ao comunismo e aos movimentos sociais, permitin<strong>do</strong> aaproximação <strong>do</strong> i<strong>de</strong>al católico <strong>do</strong> po<strong>de</strong>r oficialmente constituí<strong>do</strong>. Tal representaçãose confirma com a constituição <strong>de</strong> 1934, quan<strong>do</strong> a Igreja quase recupera o seucaráter <strong>de</strong> oficialida<strong>de</strong>, com a garantia <strong>de</strong> não legalização <strong>do</strong> divórcio e o retorno <strong>do</strong>ensino religioso facultativo nas escolas públicas, agora, garanti<strong>do</strong>constitucionalmente.Des<strong>de</strong> 1929, o Centro Dom Vital, sob coman<strong>do</strong> <strong>de</strong> Alceu Amoroso Lima,expandiu sua atuação através da Ação Católica, mais importante organização laicacatólica <strong>do</strong> Brasil. Um <strong>do</strong>s importantes instrumentos <strong>de</strong> formação intelectual superiorfoi a criação da Associação Universitária Católica, que passou a usufruir espaçopróprio na <strong>Revista</strong> A Or<strong>de</strong>m. Em 1932, a criação <strong>do</strong> Instituto Católico <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>sSuperiores e a sistematização <strong>do</strong> ensino católico na área superior revelavam aintenção <strong>de</strong> controlar a educação superior. Em 1941 entram em funcionamento noRio <strong>de</strong> Janeiro os <strong>do</strong>is primeiros cursos superiores controla<strong>do</strong>s pela Igreja Católica,<strong>de</strong> Direito e Filosofia. Em 1946, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à junção com a Escola <strong>de</strong> Serviço Social <strong>do</strong>Instituto Social <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, fundada em 1937, forma-se a Universida<strong>de</strong>Católica, agraciada em 1948, pela Santa Sé, ao receber as prerrogativas <strong>de</strong>Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica.7 CONCLUSÃOQuanto à correspondência entre o i<strong>de</strong>al sonha<strong>do</strong> por Jackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong> ea educação como ban<strong>de</strong>ira para a sua realização, po<strong>de</strong>-se afirmar que pouco serealizou <strong>do</strong> ambicioso projeto católico. A idéia <strong>de</strong> transformar o país em reduto daor<strong>de</strong>m, com retorno da história e resgate <strong>do</strong> tradicionalismo católico em nome danacionalida<strong>de</strong>, efetivamente não se realizou.É evi<strong>de</strong>nte que o pensamento Católico-Conserva<strong>do</strong>r firmou-se pelasistematização e atuação política leiga <strong>do</strong>s católicos organiza<strong>do</strong>s. Ainda que diluídaem manifestações atuais, resistentes às transformações no ramo científico, como adiscussão em torno das células-tronco e da clonagem, em luta constante peloespaço político e pela relevância <strong>de</strong> sua representativida<strong>de</strong> e inflexibilida<strong>de</strong> quantoao controle <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong>, a história <strong>de</strong>sse movimento no Brasil comprovou não ser151


a educação o reduto da realização <strong>do</strong> programa católico. Com universida<strong>de</strong>spróprias, organizadas pelos mais responsáveis e apaixona<strong>do</strong>s católicos, atuantesintensos na área política e cultural, o pensamento Conserva<strong>do</strong>r protagoniza<strong>do</strong> porJackson <strong>de</strong> Figueire<strong>do</strong>, apesar das transformações nos objetivos iniciais e dasrelativas conquistas, <strong>de</strong>ixa uma importante lição para as especulações em torno <strong>do</strong>sprojetos educacionais: a educação não é a única responsável pelos rumos <strong>do</strong> país,<strong>de</strong>ve<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s encargos <strong>de</strong>correntes <strong>do</strong>s fracassos <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os <strong>de</strong>mais setores. Nosenti<strong>do</strong> Freireano, a educação é participante da transformação social, porémresponsabilizá-la ou sobrecarregá-la pelos fracassos ou sucessos <strong>do</strong> complexosistema histórico-social <strong>do</strong> país, <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong>, pelo exemplo católico, é ingenuida<strong>de</strong>.As preocupações que atualmente <strong>de</strong>vem ser mantidas com a educação não po<strong>de</strong>m<strong>de</strong>stoar das mantidas com outras organizações, como a polícia, o po<strong>de</strong>r público, afamília, o sistema <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> etc.Percebe-se, claramente, que as escolas públicas e privadas estãosobrecarregadas pelo seu trabalho, que não é pouco, e por funções <strong>de</strong>legadas poroutros setores da socieda<strong>de</strong>. O avanço da educação brasileira <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>tratamento estritamente pedagógico dispensa<strong>do</strong> ao seu dinamismo interno, partin<strong>do</strong><strong>do</strong> movimento <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> para a formação <strong>de</strong> alunos apren<strong>de</strong>ntes e atuantes,lembran<strong>do</strong> que a construção <strong>do</strong> conhecimento é ao mesmo tempo difícil eimprescindível para a formação humana. Qualquer iniciativa que busque a educaçãocomo realização <strong>de</strong> objetivos individuais alheios às necessida<strong>de</strong>s pedagógicas,colaborará <strong>de</strong>cisivamente para o fracasso <strong>do</strong> cumprimento <strong>de</strong> seus programas e oque é ainda pior: marcará negativamente a educação, servin<strong>do</strong> menos para amelhoria e o <strong>de</strong>senvolvimento da socieda<strong>de</strong>.A partir <strong>de</strong>sse breve relato histórico, algumas reflexões po<strong>de</strong>m ser sugeridas.A priori, a comparação entre esses <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>s é possível porque a evolução <strong>do</strong>quadro econômico e a retração das políticas sociais, na década <strong>de</strong> 1920 marcadapelo elitismo da política <strong>do</strong>s governa<strong>do</strong>res e atualmente pelo Neoliberalismo,apontam para resulta<strong>do</strong>s iguais, sen<strong>do</strong> que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> quase 90 anos os <strong>de</strong>safios naeducação brasileira continuam no centro da discussão nacional.O apelo <strong>de</strong> grupos exteriores à esfera educacional, a exemplo <strong>do</strong> católico nadécada <strong>de</strong> 1920, expressa a semelhança entre esses <strong>do</strong>is momentos. As religiõesainda resistem aos avanços da ciência. Num momento em que se luta pelasuperação <strong>de</strong> problemas históricos no campo da vida - como a cura <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças a152


partir da manipulação genética e <strong>de</strong> antí<strong>do</strong>tos para enfermida<strong>de</strong>s que ainda afligema humanida<strong>de</strong> - os quais tiveram na educação o <strong>de</strong>senvolvimento e a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> avanço, ainda existem grupos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> o retorno <strong>do</strong> Criacionismo como meio<strong>de</strong> entendimento <strong>do</strong> universo.Em 09/03/2008, a Igreja Católica divulgou os novos peca<strong>do</strong>s, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>stacajuntamente com o uso <strong>de</strong> drogas, poluição ambiental e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, amanipulação genética. Excluin<strong>do</strong> os três primeiros, abstratos e <strong>de</strong> difícilapontamento e i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s responsáveis, o golpe mais duro para o “mun<strong>do</strong>mo<strong>de</strong>rno”, para a melhoria da socieda<strong>de</strong> e o conjunto da humanida<strong>de</strong> está vincula<strong>do</strong>ao combate <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> ao avanço da ciência, ou seja, à própria educação. Soma<strong>do</strong> àquestão <strong>do</strong> aborto, <strong>do</strong> controle <strong>de</strong> natalida<strong>de</strong> e questões <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, a IgrejaCatólica mantém institucionalmente a posição conserva<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> início <strong>do</strong> séculopassa<strong>do</strong>, <strong>de</strong> manutenção da or<strong>de</strong>m e <strong>de</strong> ataque às conquistas mo<strong>de</strong>rnas.Multiplica<strong>do</strong> pela geração <strong>de</strong> seitas, religiões e formas mágico-religiosas <strong>de</strong>explicação da realida<strong>de</strong>, o arrebanhamento <strong>de</strong> novos a<strong>de</strong>ptos tem encontra<strong>do</strong> nadificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso da maioria das pessoas aos avanços da ciência o campo fértil<strong>do</strong> qual se colhe números surpreen<strong>de</strong>ntes para o crescimento da i<strong>de</strong>ologia anticientífica.A educação não passa à margem <strong>de</strong> tais retrocessos. Quan<strong>do</strong> não éincorporada ao currículo ou à práticas conserva<strong>do</strong>ras, a influência negativa dareligião aparece no duro embate que a escola progressista trava com valores moraise antiqua<strong>do</strong>s da socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XXI. Ultrapassan<strong>do</strong> tais limites para aanálise, é impressionante como a educação se tornou <strong>de</strong>positária das mais diversaspropostas. A confluência da escola com a ciência po<strong>de</strong> transformar esse momento<strong>de</strong> revigoramento <strong>do</strong> “entusiasmo pela educação” em bens reais e concretos, numapassagem <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> escala pessoal ou elitista para a coletivida<strong>de</strong> social, combenefício à coletivida<strong>de</strong>. Quan<strong>do</strong> a escola estiver livre <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> outros atores,que ancoram o vazio <strong>de</strong> suas áreas na educação, e pu<strong>de</strong>r se entregar à nova tarefa<strong>de</strong> incorporação da ciência em seus méto<strong>do</strong>s, na divulgação e no <strong>de</strong>senvolvimentocientífico, a humanida<strong>de</strong> terá acesso às melhorias mo<strong>de</strong>rnas, ocupan<strong>do</strong> o espaço <strong>de</strong>outros programas extra-científicos que historicamente marcaram os mais horren<strong>do</strong>scapítulos da miserável história humana.153


8 REFERÊNCIASALMEIDA, José M. G; MOURA, Sérgio L. A Igreja na Primeira República. In: Fausto,B. (org). O Brasil Republicano. t. 1, v.2, São Paulo: DIFEL, 1990.ARANHA, Maria L. A. História da Educação. São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1993.FIGUEIREDO, Jackson <strong>de</strong>. Do Nacionalismo na hora presente. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Centro Dom Vital, 1921.NAGLE, Jorge. Educação e socieda<strong>de</strong> na Primeira República. São Paulo:EPU/EDUSP, 1974.NAGLE, Jorge. A educação na Primeira República. In: Fausto, B. (org). O BrasilRepublicano. t. 1, v.2, São Paulo: DIFEL, 1990.PECAULT, Daniel. Os intelectuais e a politica no Brasil: entre o Povo e a Nação. SãoPaulo, Ática, 1990.SANTOS, Milton; SILVEIRA, Maria Laura. O Brasil: território e socieda<strong>de</strong> no início <strong>do</strong>século XXI. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Record, 2001.VIEIRA, Eval<strong>do</strong>. Po<strong>de</strong>r político e resistência cultural. Campinas/SP: AutoresAssocia<strong>do</strong>s, 1998.Texto recebi<strong>do</strong> em 19 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 13 mar. 2008.154


“DE QUE RIEM OS PODEROSOS?” O RISO SOBERANO DA POESIAThe poetry's sovereign laughterMaria Heloísa Martins Dias 71RESUMOAs relações tensivas entre o discurso autoritário <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r e a resistência da falapoética sempre foi uma das preocupações <strong>do</strong>s escritores, em especial, <strong>do</strong>s quesabem fazer da linguagem literária, não uma arma <strong>de</strong> combate ou instrumento <strong>de</strong>engajamento, mas um espaço singular em que consciência lírica e socieda<strong>de</strong>dialogam na trama mais íntima <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> poético. Eis o que um pensa<strong>do</strong>r comoA<strong>do</strong>rno, por exemplo, mostrou muito bem em suas postulações sobre a arte e opoeta contemporâneo Affonso Romano <strong>de</strong> Sant´Anna também exibe em seu poema“De que riem os po<strong>de</strong>rosos?”, conti<strong>do</strong> em A catedral <strong>de</strong> colônia (1985). Nossopropósito é analisar como se dá esse “diálogo”, por meio da reflexão sobreprocedimentos estéticos presentes no texto <strong>do</strong> poeta brasileiro.Palavras-chave: Affonso Romano <strong>de</strong> Sant´Anna; poesia; realida<strong>de</strong> sócio-política;transgressão.ABSTRACTThe tensive relationship between the authoritarian discourse of Power and the poeticspeech of resistance has always been one of the writers’ concern, especially of thosewho know how to make literary language neither a combat weapon nor anengagement instrument, but a singular space of lyric consciousness and society71 Unesp/Ibilce/SP155


dialogue in the most intimate thread of the poetic tissue. This is what a thinker asA<strong>do</strong>rno, for instance, repeatedly showed from his postulate of art. Also, thecontemporary poet Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna points it out in his poem “Do queriem os po<strong>de</strong>rosos?” [What <strong>do</strong> powerful people laugh at?], in A catedral <strong>de</strong> Colonia(1985). Our paper aimed at analyzing how this “dialogue” happens, by investigatingaesthetic procedures present in the Brazilian poet’s text.Keywords: Affonso Romano <strong>de</strong> Sant´Anna; poetry; social-politcal reality;transgression.RESUMENLas relaciones en tensión entre el discurso autoritario <strong>de</strong>l Po<strong>de</strong>r y la resistencia <strong>de</strong>ldiscurso poético siempre ha si<strong>do</strong> una <strong>de</strong> las preocupciones <strong>de</strong> los escritores, enespecial, <strong>de</strong> los que saben hacer <strong>de</strong>l lenguaje literario no un arma o instrumento <strong>de</strong>combate, sino un espacio singular en el que la conciencia lírica y la sociedaddialogan en la trama más íntima <strong>de</strong>l teji<strong>do</strong> poético. El pensa<strong>do</strong>r A<strong>do</strong>rno, por ejemplo,ha señala<strong>do</strong> muy bien en sus postula<strong>do</strong>s sobre el arte, como también el poetacontemporáneo Affonso Romano <strong>de</strong> San’Anna exibe en su poema De que riem ospo<strong>de</strong>rosos (1985). Nuestro objetivo es analizar como se construye tal “diálogo” pormedio <strong>de</strong> procedimientos estéticos presentes en el texto <strong>de</strong>l poeta brasileño.Palabras-clave: Affonso Romano <strong>de</strong> San’Anna; poesía; realidad socio-política;transgresión.1. Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna e suas antenas literáriasO poeta, jornalista, crítico e professor universitário Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna esteve sempre antena<strong>do</strong> aos apelos culturais <strong>de</strong> seu tempo, confirman<strong>do</strong> opensamento <strong>de</strong> Ezra Pound <strong>de</strong> que os artistas são as antenas <strong>de</strong> sua raça. 72Captação difícil, em que percepção sensível e consciência crítica entrelaçam seusfios para produzirem um discurso capaz <strong>de</strong> se afirmar ao mesmo tempo como arte eintervenção social.A numerosa e diversificada produção literária <strong>de</strong> Sant’Anna, em especial apoética, vem confirman<strong>do</strong> a feliz conjunção daquilo que A<strong>do</strong>rno discutiu a propósitodas relações entre lírica e socieda<strong>de</strong> em suas conferências. 73 A tensão entreengajamento e realização estética por meio da linguagem poética ren<strong>de</strong> resulta<strong>do</strong>ssurpreen<strong>de</strong>ntes quan<strong>do</strong> o que está em jogo não são soluções apressadas nemposições radicais, mas justamente formas <strong>de</strong> resistência <strong>de</strong> ambos os pólos para72 Em seu ABC da Literatura. São Paulo: Cultrix, s.d.73 Ver seu conheci<strong>do</strong> texto “Conferências sobre lírica e socieda<strong>de</strong>”, conti<strong>do</strong> em Notas <strong>de</strong> literatura(2003).156


configurarem o diálogo entre ética e estética. É o que as poesias <strong>de</strong> Sant’ Anna vêmoferecen<strong>do</strong> ao leitor.Num momento em que se tornam agudas as questões em torno <strong>do</strong>s direitoshumanos, cada vez mais ameaça<strong>do</strong>s em sua essência, nada melhor <strong>do</strong> queafinarmos os ouvi<strong>do</strong>s para a escuta <strong>de</strong> uma fala <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>ra, como a <strong>do</strong> poema “Deque riem os po<strong>de</strong>rosos?”. Conti<strong>do</strong> em A Catedral <strong>de</strong> Colônia, obra <strong>de</strong> 1985, o texto<strong>de</strong> Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’ Anna continua a <strong>de</strong>spertar interesse, pois suaatualida<strong>de</strong> está na maneira hábil com que o poeta coloca em jogo duas formasdistintas <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r: a <strong>do</strong> sistema político e a da linguagem poética que o<strong>de</strong>smascara. Evi<strong>de</strong>ntemente que não se trata <strong>de</strong> uma medição <strong>de</strong> forças, até porquea poesia não preten<strong>de</strong> se impor ou abrir caminho como numa luta <strong>de</strong> braços; ospo<strong>de</strong>res <strong>de</strong> sua linguagem são bem outros, e tanto mais convincentes (sedutores?)quanto menos expõem os senti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> que se arma.Parece que a sedução exercida pela poesia está exatamente nessasingularida<strong>de</strong> com que ela oferece seu corpo simultaneamente aberto eimpenetrável, a falar <strong>do</strong> real quanto mais <strong>de</strong>le se afasta. Algo que A<strong>do</strong>rno comentou,mas <strong>de</strong> outro mo<strong>do</strong>. Ele não abor<strong>do</strong>u essa natureza sedutora da lírica, porémapontou para a resistência encarnada na subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa linguagem, que nãosignifica <strong>de</strong>sligamento ou alienação em relação à socieda<strong>de</strong>, como se costumapensar. Ao contrário, o diálogo entre consciência e lirismo se revela não natransparência <strong>do</strong> discurso ou instantaneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu enuncia<strong>do</strong>, mas na forma comoo sujeito lírico elabora a recusa <strong>de</strong>ssa a<strong>de</strong>são, tensionan<strong>do</strong> os vínculos entre arte epráxis.2. O poema “De que riem os po<strong>de</strong>rosos?” em discussãoConvém resgatarmos o poema <strong>de</strong> Sant’ Anna para uma melhor reflexãosobre as questões apontadas acima.De que riem os po<strong>de</strong>rosos?De que riem os po<strong>de</strong>rosos?tão gor<strong>do</strong>s e melosos?tão cientes e ociosos?tão eternos e onerosos?Por que riem atrozes157


como olímpicos algozes,enfian<strong>do</strong> em nossos tímpanosseus alari<strong>do</strong>s e vozes?De que ri o sinistro ministrocom sua melosa angústiae gordurosa fala?Por que tão eufemísticoexibe um riso políticocom seus números e levíticos,com recursos estatísticosfingin<strong>do</strong> gerar o gênesis,mas crian<strong>do</strong> o apocalipse?Riem místicos? ou terrenosriem, com seus mistérios gozosos,esses que fraudulentosse assentam flatulentosem seus misteres gasosos?Riem sem dó? em dó maior?ou operísticos gargalhamaos gritos como gralhasaté ter <strong>do</strong>r no peito,até dar nó nas tripasem <strong>de</strong>srespeito?Ah, como esse riso <strong>de</strong> ogreempesteia <strong>de</strong> enxofreo <strong>de</strong>sjejum <strong>do</strong> pobre.Riem à tripa forra?riem só com a boca?riem sobre a magreza <strong>do</strong>s súditosfamintos <strong>de</strong> realeza?riem na entradae riem mais na sobremesa?Mas se tanto riem juntospor que choram a sós,converten<strong>do</strong> o eu <strong>do</strong>s outrosnum cordão <strong>de</strong> tristes nós?(Sant’ Anna, 1999, p. 21-22)A inquietação <strong>do</strong> poeta, ou melhor, sua indignação revela-se já no título, pormeio <strong>de</strong> uma pergunta que, longe <strong>de</strong> ser retórica, afia a consciência <strong>do</strong> sujeito nabusca <strong>de</strong> possíveis respostas, fáceis <strong>de</strong> se encontrar, porém difíceis <strong>de</strong> secompreen<strong>de</strong>r. Mais <strong>do</strong> que os po<strong>de</strong>rosos, o que incomoda o poeta é o riso absur<strong>do</strong>que ostentam, eis o porquê <strong>do</strong> insistente questionamento <strong>do</strong> eu, existin<strong>do</strong> como um158


círculo ou como um “cordão <strong>de</strong> tristes nós” (último verso) amarran<strong>do</strong> o corpo dasocieda<strong>de</strong> e o <strong>do</strong> próprio poema.Sabemos, por meio <strong>de</strong> vários filósofos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os cínicos gregos, passan<strong>do</strong>por Voltaire, Bergson, sen<strong>do</strong> teoriza<strong>do</strong> por estudiosos como Bakthin e Propp, e<strong>de</strong>sembocan<strong>do</strong> no cancioneiro popular (a clássica “Máscara Negra”, <strong>de</strong> Zé Keti, porexemplo), a importância que o riso <strong>de</strong>sempenha enquanto manifestação humana,seja na realida<strong>de</strong> prática, seja na produção artística. Seu efeito catártico relaciona<strong>do</strong>à correção <strong>do</strong>s costumes, segun<strong>do</strong> a máxima <strong>de</strong> Horácio, foi adquirin<strong>do</strong> diversosmatizes e se transforman<strong>do</strong> em po<strong>de</strong>rosa arma a serviço da arte. Toda uma vastaliteratura, em diversos momentos e espaços, já explorou o papel <strong>do</strong> riso e suasvariantes, humor e comicida<strong>de</strong>, resultantes <strong>do</strong> escárnio, da sátira, da paródia, <strong>do</strong>grotesco, caricatura etc. Embora haja diferenças entre essas formas discursivas, nãopreten<strong>de</strong>-se focá-las aqui.Para nossa reflexão interessa o que o riso, ou aquilo que Macha<strong>do</strong> <strong>de</strong> Assisilustrou tão bem com sua “pena da galhofa”, contém por trás <strong>de</strong>ssa aparência leve,nas <strong>do</strong>bras da enunciação discursiva. Ou seja, interessa-nos o gosto amargo <strong>do</strong>humor, jamais ingênuo ou superficial, posto que indicia<strong>do</strong>r <strong>de</strong> valores a seremrevistos, até mesmo revira<strong>do</strong>s <strong>do</strong> avesso. Rimos, porque um <strong>de</strong>slocamento dasexpectativas habituais, ao promover <strong>de</strong>sestabilizações, provoca o humor e, assim,somos surpreendi<strong>do</strong>s.Mas será esse o tipo <strong>de</strong> humor que move “os po<strong>de</strong>rosos” no poema <strong>de</strong> Sant’Anna? E não haverá uma diferença entre aquele que ri e aquele que provoca o riso?Entre o riso espontâneo e o produzi<strong>do</strong> ou manipula<strong>do</strong>r?Ao colocar o riso na boca <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rosos, o eu lírico já está conferin<strong>do</strong>negativida<strong>de</strong> a esse gesto, isto é, rir estará associa<strong>do</strong> a conotações in<strong>de</strong>sejáveis, aolongo <strong>do</strong> poema, que obviamente não satisfazem “o <strong>de</strong>sjejum <strong>do</strong> pobre” (últimoverso da 5ª estrofe). Assim, o riso que emana da classe política <strong>do</strong>minanteescancara-se tanto quanto a caracterização que esses sujeitos recebem: os“atrozes” e “algozes” são signos que não rimam apenas entre si, mas ecoam porto<strong>do</strong> o poema por meio <strong>de</strong> adjetivos que vão reiteran<strong>do</strong> a imagem <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r.“Gor<strong>do</strong>s”, “melosos”, “cientes”, “ociosos”, “eternos”, “onerosos”, “olímpicos”,“fraudulentos”, “flatulentos” – atributos que contêm toda uma carga semânticamarcada pela adiposida<strong>de</strong>, procedimento <strong>de</strong> linguagem que figurativiza oengordamento <strong>do</strong> sistema político.159


A atuação arbitrária (e autoritária) <strong>do</strong> man<strong>do</strong> é comparada aos <strong>de</strong>uses <strong>do</strong>Olimpo, os quais, com proibições e castigos, conduziam o homem a labirintos eprovações sem escapatória. Com a diferença nada pequena <strong>de</strong> que os “<strong>de</strong>uses” <strong>de</strong>nosso mun<strong>do</strong> são tão humanos quanto os seres que eles subjugam, o que tornamais perverso o seu <strong>do</strong>mínio. As maldições ou falas sibilinas <strong>do</strong>s antigos <strong>de</strong>usestransformaram-se em “alari<strong>do</strong>s e vozes” (2ª estrofe) que ferem nossos ouvi<strong>do</strong>s,numa alusão aos discursos promissores, mas enganosos.Os versos dão corpo à manobra retórica utilizada pelo Po<strong>de</strong>r (não seriapo<strong>de</strong>r?), o que transparece na escolha <strong>de</strong> palavras proparoxítonas, característicasda fala rebuscada – “eufemístico”, “político”, “levíticos”, “estatísticos” (3ª estrofe) –apontan<strong>do</strong> para uma prática discursiva modalizada pelo engo<strong>do</strong>. Os números eda<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s pelo sistema instituí<strong>do</strong> jamais correspon<strong>de</strong>m à verda<strong>de</strong> e simulamuma visão progressista ou benéfica que oculta o caos, ou seja, ao invés <strong>do</strong> gênesiso apocalipse, como concluem os versos da 3ª estrofe. A intertextualida<strong>de</strong> com aBíblia transparece, por outro la<strong>do</strong>, na referência aos levíticos, um <strong>do</strong>s Livros bíblicos,atribuí<strong>do</strong> a Levi.Trata-se, afinal, <strong>de</strong> uma realida<strong>de</strong> permanentemente presente, cujo quadroconhecemos muito bem, ou parodian<strong>do</strong> Camões, “mudam-se os tempos, mudam-seas vonta<strong>de</strong>s”, mas a condição humana não muda, permanece a artimanha comoestratégia política.A mística <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r também é ironizada pelo poeta, na medida em que a auraenigmática que envolve os po<strong>de</strong>rosos não resiste ao olhar crítico que a <strong>de</strong>ssacraliza.É interessante notar como essa <strong>de</strong>smistificação se concretiza na linguagem, pois ogozo <strong>do</strong> man<strong>do</strong> se transforma em gases que se dissipam, graças ao jogo verbalentre “mistérios gozosos” e “misteres gasosos” (4ª estrofe).Voltemos a A<strong>do</strong>rno. É justamente esse po<strong>de</strong>r da linguagem literária, cujaatuação está contida em sua corporalida<strong>de</strong> ou funcionalida<strong>de</strong> poética, que lhepermite atingir a realida<strong>de</strong> social; menos pelos senti<strong>do</strong>s ditos <strong>do</strong> que pela trama<strong>de</strong>sse dizer pela enunciação.Também po<strong>de</strong>mos resgatar a antiga função <strong>do</strong> riso como purgação contra osmales, apren<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a eles resistir por força <strong>de</strong>sse teatro <strong>de</strong> ridículos. Pareceestarmos diante das peças alegóricas <strong>de</strong> Gil Vicente, com seu <strong>de</strong>sfile <strong>de</strong> tiposgrotescos exibin<strong>do</strong> vícios e peca<strong>do</strong>s <strong>de</strong> toda or<strong>de</strong>m. Espécie <strong>de</strong> “ri<strong>de</strong>n<strong>do</strong>, castigat160


mores” (Horácio), é assim que a 5ª estrofe explora o cenário burlesco <strong>do</strong>spo<strong>de</strong>rosos, comparan<strong>do</strong>-os a uma opereta bufa.Nesse momento <strong>do</strong> poema torna-se intenso o jogo com o significante, pois asugestão musical potencializa a carnavalização <strong>do</strong> riso estúpi<strong>do</strong> <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rosos:“riem sem dó” / “dó maior” / “<strong>do</strong>r no peito” / “nó nas tripas” / “<strong>de</strong>srespeito”. Há umaalternância lúdica entre som aberto e som fecha<strong>do</strong>, o que nos leva a perceber essediscurso poético em diálogo com outro, <strong>do</strong>s tempos áureos <strong>do</strong> barroco brasileiro. Jáem Gregório <strong>de</strong> Matos está presente a exploração das potencialida<strong>de</strong>s verbais eefeitos lúdicos para a configuração da sátira sócio-política. 74 . Assim como nossonetos <strong>de</strong> Gregório, no poema <strong>de</strong> Sant’Anna os sons se <strong>de</strong>stacam enquantorealida<strong>de</strong> carnal, por meio <strong>de</strong> paronomásias 75 e aliterações 76 , como em “gargalham”,“gritos”, “gralhas”, “ogre”. Também na poesia <strong>do</strong> poeta barroco as diferenças entreclasses sociais, os <strong>de</strong>sman<strong>do</strong>s e abusos <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r, vícios e imoralida<strong>de</strong>s são postasa nu pelo discurso crítico. E isto com a habilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> trava-língua (note-se o 12ºverso <strong>do</strong> soneto <strong>de</strong> regório), cuja mensagem não tem nada <strong>de</strong> trava<strong>do</strong>...Como se vê, há um sincronismo nas produções poéticas, o que exige <strong>do</strong> leitora percepção das intersecções criadas ao longo da cultura literária, e isso enriqueceo jogo entre as temporalida<strong>de</strong>s, tornan<strong>do</strong>-as sempre abertas à visão crítica. Herançabarroca, mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, vanguarda, esses fios vão se entretecen<strong>do</strong> para apagar asfronteiras rígidas <strong>do</strong> que chamaríamos tradição e, assim, <strong>de</strong>sfazen<strong>do</strong> também o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>senfrea<strong>do</strong> <strong>de</strong> ruptura. Octavio Paz que o diga 77 . Ora, essa projeção dasconstantes retomadas, ao longo da literatura, é sinal <strong>de</strong> que os problemas vivi<strong>do</strong>spelos homens em sua luta social também se repetem, apenas mudan<strong>do</strong>-se as74 Lembremos, por exemplo, o paradigmático soneto “Contemplan<strong>do</strong> nas cousas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oseu retiro, lhe atira com o seu apage, como quem a na<strong>do</strong> escapou da tormenta” : Neste mun<strong>do</strong> émais rico, o que mais rapa: / Quem mais limpo se faz, tem mais carepa: / Com sua língua ao nobreo vil <strong>de</strong>cepa: / O Velhaco maior sempre tem capa. // Mostra o patife da nobreza o mapa: / Quemtem mão <strong>de</strong> agarrrar, ligeiro trepa: / Quem menos falar po<strong>de</strong>, mais increpa: / Quem dinheiro tiver,po<strong>de</strong> ser Papa. // A flor baixa se inculca por Tulipa; / Bengala hoje na mão, ontem garlopa: / Maisisento se mostra, o que mais chupa. // Para a tropa <strong>do</strong> trapo vazo a tripa, / E mais não digo,porque a Musa topa / Em apa, epa, ipa, opa, upa.”. (2002).75 Uma das figuras <strong>de</strong> linguagem que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os tempos da Retórica aristotélica vem sen<strong>do</strong> discutida.Consiste no emprego <strong>de</strong> vocábulos semelhantes na forma, mas opostos ou aparenta<strong>do</strong>s nosenti<strong>do</strong>. No poema são paronomásias, por exemplo, “fraudulentos”/ “flatulentos”, “algozes”/“gozosos” etc.76 Recurso sonoro, freqüente na linguagem poética, que consiste na repetição <strong>do</strong> mesmo som ousílaba em diversas palavras no mesmo verso ou nos versos ao longo <strong>do</strong> poema.77 Idéias <strong>de</strong>fendidas em seu livro Los hijos <strong>de</strong>l limo. Barcelona: Seix Barral, 1974.161


configurações; no fun<strong>do</strong>, as diferenças, perversamente mantidas pelo po<strong>de</strong>r,recobertas pela casca falsa da justiça existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que surgiu o mun<strong>do</strong>.O curioso, no poema <strong>de</strong> Sant’Anna, é que a partir <strong>do</strong> <strong>de</strong>smascaramento <strong>do</strong>riso <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rosos, o próprio eu lírico incorpora o riso em seu discurso, comoacontece na 5ª estrofe, graças ao investimento intenso nos efeitos lúdicos dacamada verbal, conforme visto. É o momento em que a interrogação ce<strong>de</strong> espaço àexclamação: “Ah, como esse riso <strong>de</strong> ogre / empesteia <strong>de</strong> enxofre / o <strong>de</strong>sjejum <strong>do</strong>pobre.”. A contraposição entre fracos e po<strong>de</strong>rosos, típica <strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os tempos eeternamente insolúvel, patenteia-se nos versos cita<strong>do</strong>s, os quais <strong>de</strong>nunciam a fomena mesa <strong>do</strong>s miseráveis, pois regada a enxofre. Notemos, nesse senti<strong>do</strong>, comopermanece a alternância jocosa entre sons abertos e fecha<strong>do</strong>s (ogre/enxofre/pobre).Sem esquecer também que a imagem <strong>do</strong> ogre, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos imemoriais, estáassociada à feiúra, ao grotesco, à <strong>de</strong>formação, enfim, àqueles seres fantásticos quenão apenas alimentam o imaginário popular, mas os olhos <strong>do</strong>s ricos em sua visão<strong>do</strong>s pobres, como no poema.A metáfora da comida, habilmente utilizada pelo poeta, aponta não apenaspara a diferença <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r econômico entre ricos e pobres (aqueles “flatulentos” e“gor<strong>do</strong>s”, estes, marca<strong>do</strong>s pela magreza, “famintos <strong>de</strong> realeza”), mas também para ofato <strong>de</strong> ser engoli<strong>do</strong> pelos po<strong>de</strong>rosos; estes, além <strong>de</strong> comerem bem, com direito àentrada e sobremesa, também comem a classe miserável, a <strong>de</strong>glutem.Esse texto <strong>de</strong> Romano <strong>de</strong> Sant’Anna, como a maioria <strong>de</strong> suas poesias, apóiasenuma fala reiterativa, feita <strong>de</strong> eixos ou paradigmas estrutura<strong>do</strong>res <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>. Em“De que riem os po<strong>de</strong>rosos?”, o poema repete o “riem”, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser essa umaforma <strong>de</strong> o poeta ir à forra, tal como fazem os que riem abusadamente.O final <strong>do</strong> poema nos reserva um da<strong>do</strong> novo, não aguarda<strong>do</strong> pela leitura,funcionan<strong>do</strong> como um trunfo ou “forra” que o eu lírico parece lançar aos po<strong>de</strong>rosos.Vejamos como.Caracteriza<strong>do</strong>s, ao longo <strong>do</strong> poema, pela insensibilida<strong>de</strong> e cruelda<strong>de</strong>, ospo<strong>de</strong>rosos estão <strong>de</strong>stituí<strong>do</strong>s <strong>de</strong> paixão, como se a emoção (e comoção) não fizesseparte <strong>de</strong> seu mun<strong>do</strong>. Pelo menos, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> aparente. Assim, o riso seria sua únicaforma <strong>de</strong> manifestação anímica, a face <strong>de</strong>bochada e perversa <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r voltada aossúditos. Entretanto, um único verso, como se coloca<strong>do</strong> en passant, <strong>de</strong>spretensioso,<strong>de</strong>svela o que ficara oculto: “por que choram a sós”, o antepenúltimo verso <strong>do</strong>poema. Choro escondi<strong>do</strong>, como o são as verda<strong>de</strong>iras intenções que movem todas162


as ações <strong>do</strong>s po<strong>de</strong>rosos, significan<strong>do</strong> que a fragilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses sujeitos não semostra jamais. Por isso, a positivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse gesto é relativa e o seu verda<strong>de</strong>irosenti<strong>do</strong> (arrependimento? culpa? compaixão? fraqueza?) nunca saberemos. O quesabemos, aliás, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>do</strong> poema, é o que eles fazem com o eu <strong>do</strong>s outros:um “cordão <strong>de</strong> tristes nós”, expressão em que o “nós” atua com significa<strong>do</strong> duplo,po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser tanto a massa (to<strong>do</strong>s nós) miserável e triste quanto os nós que atornam amarrada à sua condição social.3. O poeta e suas antenas <strong>de</strong> longo alcanceEis o interesse <strong>de</strong>sse texto que, apesar <strong>do</strong>s vinte e <strong>do</strong>is anos que <strong>de</strong>le nosseparam, ainda contém verda<strong>de</strong>s a serem apontadas pelo poeta. É que suasantenas continuam a captar os “mistérios gozosos”, os quais não são nadaagradáveis para a classe explorada, mas enchem <strong>de</strong> prazer os explora<strong>do</strong>res.Em to<strong>do</strong>s os tempos a função <strong>do</strong> artista tem si<strong>do</strong> a <strong>de</strong> lançar seu olhar críticosobre a “máquina <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>”, aquela que Carlos Drummond <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> cantou emseu famoso poema. O eu lírico drummondiano lamenta ter suas pupilas gastas nainspeção <strong>do</strong> que a máquina lhe oferece e, embora sua consciência peregrine peloespaço à procura <strong>de</strong> soluções para o enigma <strong>do</strong> universo, ele recusa a oferta,respeitosamente. Já em Affonso Romano <strong>de</strong> Sant’Anna, ao contrário, a reação <strong>do</strong>sujeito lírico diante <strong>do</strong> funcionamento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> (ou da maquinaria humana) não serevela respeitosa ou humil<strong>de</strong>. Nem po<strong>de</strong>ria, porque os danos sobre os homens (osmais fracos) é tal que não há como fazer frente ao <strong>de</strong>srespeito <strong>do</strong>s que riem sem dó,a não ser por meio <strong>de</strong> uma linguagem também marcada pelo riso.Não se trata <strong>de</strong> vingança, pois não cabe tentar corrigir a violência por meio <strong>de</strong>outra violência. Como disse antes, os po<strong>de</strong>res da arte são distintos <strong>do</strong> Po<strong>de</strong>r,marca<strong>do</strong> por um autoritarismo que em nada correspon<strong>de</strong> à liberda<strong>de</strong> da criação.Para quem pensa que é preciso fazer justiça com as próprias mãos, então amelhor forma <strong>de</strong> a poesia respon<strong>de</strong>r a esse direito é utilizar as armas que o seuespaço interno <strong>de</strong> operação oferece à linguagem como intervenção cria<strong>do</strong>ra. Dentreessas armas está, sem dúvida, a ousadia <strong>do</strong> poeta em <strong>de</strong>smontar a aparelhagem<strong>do</strong>s sistemas <strong>do</strong>minantes em favor <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s menos in<strong>de</strong>sejáveis. Nesse caso,po<strong>de</strong>ríamos também terminar, assim como Affonso em seu poema, com umapergunta:163


Por que não <strong>de</strong>satarmos os nós que nos pren<strong>de</strong>m sem precisarmos <strong>de</strong>satar anós mesmos?ReferênciasADORNO, T. Conferência sobre lírica e socieda<strong>de</strong>. In: Notas <strong>de</strong> literatura I. SãoPaulo: Duas Cida<strong>de</strong>s/Ed. 34, 2003.MATOS, G. <strong>de</strong>. Poemas satíricos. São Paulo: Martin Claret, 2002.PAZ, O. Los hijos <strong>de</strong>l limo. Barcelona: Seix Barral, 1974.POUND, E. Abc da literatura. São Paulo: Cultrix, s.d.SANT’ANNA, A. R. <strong>de</strong>. A Catedral <strong>de</strong> colônia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 1985.__________. Intervalo amoroso & outros poemas escolhi<strong>do</strong>s. Porto Alegre: L&PM,1999.Texto recebi<strong>do</strong> em 15 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 21 mai. 2008.164


EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E DIREITOS HUMANOS: DESAFIOS NACONTEMPORANEIDADEUniversity Extension and Human Rights :Challenges in the Contemporaneida<strong>de</strong>Silene <strong>de</strong> Moraes Freire 78RESUMOO presente artigo, <strong>de</strong> caráter teórico-interpretativo, objetiva discutir a relaçãonecessária entre Direitos Humanos e a Extensão Universitária, enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> estaúltima, no estabelecimento da relação Universida<strong>de</strong>-socieda<strong>de</strong>, como instrumentoprivilegia<strong>do</strong> na luta pela garantia <strong>do</strong>s Direitos Humanos enquanto expressão maisampla da cidadania. Partimos da premissa que a Extensão é um espaçofundamental para trabalhar as diferentes expressões <strong>do</strong>s direitos humanos,buscan<strong>do</strong> resgatar o papel da Universida<strong>de</strong> Pública na construção da cidadania.Palavras-chave: Universida<strong>de</strong> pública; extensão universitária; direitos humanos;neoliberalismoABSTRACTThe present article, of character theoretician-interpretativo, objective to argue thenecessary relation between Human Rights and the University Extension,un<strong>de</strong>rstanding this last one, in the establishment of the relation University-society, asprivileged instrument in the fight for the guarantee of the Human Rights while amplerexpression of the citizenship. We leave of the premise that the Extension is a basicspace to work the different expressions of the human rights, searching to rescue thepaper of the University in the construction of the citizenship.Keywords: Public university; university extension; human rights; neoliberalism.RESUMENEl actual artículo, <strong>de</strong>l carácter teórico-interpretativo, objetiva discutir la relaciónnecesaria entre los <strong>de</strong>rechos humanos y la extensión <strong>de</strong> la universidad, entendien<strong>do</strong>este último, en el establecimiento <strong>de</strong> la Universidad-sociedad <strong>de</strong> la relación, comoinstrumento privilegia<strong>do</strong> en la lucha para la garantía <strong>de</strong> los <strong>de</strong>rechos humanosmientras que una expresión más amplia <strong>de</strong> la ciudadanía. Tenemos como premisaque la extensión es un espacio básico para trabajar las diversas expresiones <strong>de</strong> los<strong>de</strong>rechos humanos, buscan<strong>do</strong> para rescatar el papel <strong>de</strong> la universidad en laconstrucción <strong>de</strong> la ciudadanía.78 En<strong>de</strong>reço: Rua Domingos Ferreira 171, Apartamento 108. Copacabana. Rio <strong>de</strong> Janeiro/RJ.CEP: 22050-010.Telefone (XX) 2255-1619 e 99170593. e-mails: silenefreire@gmail.com, silene-freire@ig.com.br165


Palabras-clave: Universidad pública; extensión <strong>de</strong> la universidad; <strong>de</strong>rechoshumanos; neoliberalismo.IntroduçãoA proposta <strong>de</strong>sse artigo surgiu <strong>do</strong> reconhecimento da importância <strong>de</strong> seestreitar o vínculo da Extensão Universitária com a efetivação <strong>do</strong>s Direitos Humanosno Brasil. Nesse senti<strong>do</strong>, objetivamos contribuir para aprofundar o entendimento daimportância <strong>de</strong>ssa relação frente aos <strong>de</strong>safios presentes na contemporaneida<strong>de</strong>. Talpreocupação não é fortuita, mas parte da compreensão <strong>de</strong> que não são poucos osaspectos que confirmam a história bastante polêmica da extensão no<strong>de</strong>senvolvimento das universida<strong>de</strong>s brasileiras. Nela se dá uma acumulaçãofantástica <strong>de</strong> contradições, para<strong>do</strong>xos, equívocos, imprecisões e diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>entendimentos que até hoje limitam um fácil entendimento <strong>de</strong> sua função.A insuficiência da produção e <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate acadêmico a esse respeito é frutoda facilida<strong>de</strong> com que a entronização das ativida<strong>de</strong>s, rotinas e práticas geram"<strong>de</strong>finições" institucionais distanciadas <strong>do</strong>s objetivos originais. Confundir ativida<strong>de</strong>scom objetivos, rotinas com normas orienta<strong>do</strong>ras, práticas usuais (ou difundidas) com<strong>de</strong>finições ou emergências com priorida<strong>de</strong>s é, por mais absur<strong>do</strong> que pareça, comomencionou Botomé (1996), uma das práticas comuns na universida<strong>de</strong>. O resulta<strong>do</strong>mais evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong>sse processo é uma ampla e profunda <strong>de</strong>scaracterização daUniversida<strong>de</strong> Pública. Essa constatação, a nosso ver, soma-se ao entendimento <strong>de</strong>que a própria força da universida<strong>de</strong>, historicamente, tem si<strong>do</strong> <strong>de</strong>corrência da clarezaconceitual e das práticas que realiza em relação as suas responsabilida<strong>de</strong>sespecíficas, enquanto instituição historicamente situada numa socieda<strong>de</strong>.No atual contexto <strong>de</strong> hegemonia <strong>do</strong> capital financeiro 79 , on<strong>de</strong> a Extensãopassa a ser um lócus da privatização, reforçamos a importância <strong>de</strong> projetos eprogramas <strong>de</strong> extensão que estejam assenta<strong>do</strong>s em uma lógica <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong>espaço público e a favor da cidadania. Vale ressaltar que a análise pretendida nãopo<strong>de</strong> se abster <strong>do</strong> conhecimento sobre a universida<strong>de</strong>, sobre seus processos,características, história, papel social, objetivos e outros aspectos da instituição, bem79 Tal hegemonia revela a centralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> fetichismo na socieda<strong>de</strong> regida pelo capital (maisespecificamente o capital que ren<strong>de</strong> juros), on<strong>de</strong> as relações humanas assumem o aspecto <strong>de</strong>relações entre coisas (mercantilização das relações sociais). Há assim uma conformação dasocieda<strong>de</strong> e uma reconfiguração <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da socieda<strong>de</strong> civil, um redimensionamento das lutassociais, uma regressão <strong>do</strong>s direitos sociais e políticas públicas.166


como <strong>do</strong> contexto histórico em que se insere. Concordamos com ErnestoLeyen<strong>de</strong>cker quan<strong>do</strong> observa queA Universida<strong>de</strong> não está fora da história <strong>de</strong> um país, tampouco étoda a história, mas por ela 'passa' a história, da vida; neste senti<strong>do</strong> éaspiração humana, tentativa, ensaio, verificação, drama e <strong>de</strong>senlace,tarefa comunitária (...) é uma realida<strong>de</strong> que fala.(LEYENDECKER,1974, p.5)O tema <strong>do</strong>s direitos humanos num cenário no qual a perversida<strong>de</strong> social seapresenta <strong>de</strong> forma tão nítida, não po<strong>de</strong> ser esqueci<strong>do</strong> numa universida<strong>de</strong>comprometida com a realida<strong>de</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, este texto tem por objetivo discutir asprincipais questões que envolvem a plena efetivação <strong>do</strong>s Direitos Humanos noBrasil, buscan<strong>do</strong> situar essencialmente o terreno no qual estão inscritos estesdireitos. Esses, apesar <strong>de</strong> encontrarem respal<strong>do</strong> numa série <strong>de</strong> <strong>do</strong>cumentos legaistanto no Brasil, cuja principal expressão é a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988, quantoem diversos trata<strong>do</strong>s internacionais <strong>do</strong>s quais o Brasil é signatário, como o PactoInternacional <strong>do</strong>s Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional <strong>do</strong>s DireitosEconômicos, Culturais e Sociais. Esses direitos pouco avançaram na sua efetivida<strong>de</strong>prática, refletin<strong>do</strong> o tão conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong>scompasso entre o plano legal e aconcretização efetiva <strong>do</strong>s direitos em nosso país.O limite <strong>de</strong> tal concretização não é fortuito quan<strong>do</strong> reconhecemos que aocontrário da tradição européia ou norte-americana, por exemplo, a introdução <strong>do</strong>capitalismo no Brasil <strong>de</strong>u-se por um viés extraordinariamente conserva<strong>do</strong>r, semqualquer processo <strong>de</strong> ruptura com os valores e tradições <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> pré-capitalista.Estes valores foram, em nossa história, aqueles lega<strong>do</strong>s pela herança dacolonização portuguesa e <strong>do</strong> regime escravista. Por outro la<strong>do</strong>, não conseguimosconsolidar uma tradição <strong>de</strong>mocrática no perío<strong>do</strong> republicano. Ou seja, nossopassa<strong>do</strong> recente <strong>de</strong>sconheceu a <strong>de</strong>mocracia e nos legou uma herança com marcasprofundas <strong>de</strong> uma tradição autoritária.É importante ressaltar que a razão essencial <strong>de</strong>ste fato não será encontradase <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rarmos que entre nós o projeto burguês esteve sempre divorcia<strong>do</strong> <strong>do</strong>pacto <strong>de</strong>mocrático. Aqui, o processo histórico da revolução burguesa não seconfigurou como instaura<strong>do</strong>r quer <strong>de</strong> uma tradição política, quer <strong>de</strong> uma cultura<strong>de</strong>mocrática – sequer no senti<strong>do</strong> posto pelas vertentes liberais, conforme observou167


Freire (2002). Tu<strong>do</strong> isto fez com que em nossa cultura existisse “um padrãohegemônico <strong>de</strong> "civilização" limita<strong>do</strong>r da plena efetivação da cidadania e bastantereticente à idéia <strong>de</strong> Direitos Humanos, fenômeno que é plenamente visível aindahoje. ”(FREIRE, 2002, p.150).Direitos Humanos, Desigualda<strong>de</strong> Social e Extensão Universitária: aportes para o<strong>de</strong>bateNo ano <strong>de</strong> 2008 a Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988 completa vinte anos <strong>de</strong>existência. Nossa Carta Constitucional Cidadã, que foi promulgada como umaautêntica “carta <strong>de</strong> direitos” que compõe os 77 incisos <strong>do</strong> artigo 5, <strong>do</strong> capítulo I “Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”, a mais precisa e abrangente emtoda a história política <strong>do</strong> país, ultrapassa a maiorida<strong>de</strong> num contexto extremamenteperverso em termos <strong>do</strong> acesso da população aos direitos nela previstos. Oreconhecimento formal <strong>de</strong>sses direitos, formidável progresso em termos <strong>do</strong>constitucionalismo, não foi suficiente nesses anos <strong>de</strong> vigência da constituição paramodificar o padrão <strong>de</strong> graves violações <strong>do</strong>s direitos civis, em muitas áreas atéagrava<strong>do</strong>s. Por outro la<strong>do</strong>, também po<strong>de</strong>mos mencionar que há mais <strong>de</strong> meioséculo as Nações Unidas aprovaram a Declaração Universal <strong>do</strong>s Direitos Humanos.Hoje, não existe <strong>do</strong>cumento mais cita<strong>do</strong> e elogia<strong>do</strong>. Entretanto, são poucos os queobservam a ameaça que o <strong>de</strong>clínio da esfera pública, guia<strong>do</strong> pela reconfiguração <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> na contemporaneida<strong>de</strong>, impõe à mesma. A Declaração possui 30 artigos,mas alguns <strong>de</strong>les nos dão uma clara dimensão <strong>do</strong>s riscos que as formas <strong>de</strong>enfrentamento da pobreza no Brasil vêm <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> em termos <strong>de</strong> anulação<strong>do</strong>s direitos, sobretu<strong>do</strong> os humanos. Segun<strong>do</strong> Marilena ChauíCada direito <strong>de</strong>clara<strong>do</strong> abre campo para a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> outros, sejacomo complemento, seja como efeito, seja como recurso <strong>de</strong>legitimação. Isso significa que uma <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> direitos civis abrecampo para a busca e conquista <strong>de</strong> direitos sociais (condições <strong>de</strong>vida e trabalho, educação, saú<strong>de</strong>, cultura, lazer etc.) que po<strong>de</strong>mtrazer como conseqüência a luta pela igualda<strong>de</strong> efetiva e, portanto,começan<strong>do</strong> pelo direito à redistribuição da renda, po<strong>de</strong> chegar à lutacontra a proprieda<strong>de</strong> privada <strong>do</strong>s meios sociais <strong>de</strong> produção (CHAUÍ,2006, p.112).168


O artigo 30 da Declaração assegura que “nada po<strong>de</strong>rá suprimir nenhum <strong>do</strong>sdireitos presentes na Declaração”. Entretanto, alguém po<strong>de</strong>ria observar: aDeclaração proclama, a realida<strong>de</strong> trai. A <strong>de</strong>claração formal <strong>do</strong>s direitos está longe <strong>de</strong>possibilitar sua efetivação. Sobretu<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> a construção <strong>do</strong> consenso (neo)liberalreforça, por meio das políticas sociais, a idéia <strong>de</strong> que os indivíduos e pequenosgrupos são os únicos responsáveis pela garantia <strong>de</strong> seus direitos e não precisam<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da ativida<strong>de</strong> pública <strong>do</strong> mesmo. Mais uma vez a história<strong>de</strong>monstra que os indivíduos não nascem com direitos, os direitos são fenômenossociais, são resulta<strong>do</strong>s da própria história.Nesse senti<strong>do</strong>, é preciso lembrar que as dificulda<strong>de</strong>s encontradas para suaefetivação não po<strong>de</strong>m ser entendidas se <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rarmos o momento <strong>de</strong> níti<strong>do</strong>retrocesso social <strong>de</strong> parcelas crescentes da população mundial em face daspolíticas <strong>de</strong>liberadas <strong>de</strong> corte neoliberal. A implementação da agenda neoliberalaprofun<strong>do</strong>u um círculo vicioso, difícil <strong>de</strong> ser rompi<strong>do</strong>, pois as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>seconômicas, sociais e políticas afetam diretamente a capacida<strong>de</strong> legal <strong>do</strong>sindivíduos e garantem a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>les perante as leis. Nesse senti<strong>do</strong>, éimportante registrar que nada seria mais revolucionário no Brasil contemporâneo <strong>do</strong>que a plena efetivação da Constituição e da Declaração Universal <strong>do</strong>s DireitosHumanos para to<strong>do</strong>s os cidadãos <strong>de</strong>ste país.Desse mo<strong>do</strong>, antes <strong>de</strong> entrarmos na questão <strong>do</strong>s direitos humanos, faz-senecessário reconhecermos que hoje no fun<strong>do</strong> <strong>de</strong>ssa questão há uma criseprovavelmente <strong>de</strong>terminada pela erosão da sociabilida<strong>de</strong> capitalista, vale dizer, pelaimplosão das relações que constituíram, historicamente, o chão das possibilida<strong>de</strong>sda cidadania burguesa, entendida esta em senti<strong>do</strong> amplo. Melhor dizen<strong>do</strong>, asrelações <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho, a ultrapassagem da centralida<strong>de</strong> <strong>do</strong> capitalprodutivo pelo capital financeiro (capital fictício/fetiche), o fundamental lugar daciência e da tecnologia, o <strong>de</strong>sgaste das territorialida<strong>de</strong>s nacionais, o novo papel <strong>do</strong>sserviços na nova estrutura social, to<strong>do</strong> esse enorme processo <strong>de</strong> que a globalizaçãoé o resumo ainda inacaba<strong>do</strong>, e certamente não fatalístico, estão produzin<strong>do</strong>profun<strong>do</strong> rombo na cidadania produzida pela Era das Revoluções. E com isso arelação entre ela e sua representação certamente está sofren<strong>do</strong> po<strong>de</strong>rosos abalos.Vivenciamos um momento histórico no qual,169


A filantropia substitui o direito social. Os pobres substituem oscidadãos. A ajuda individual substitui a solidarieda<strong>de</strong> coletiva. Oemergencial e o provisório substituem o permanente. Asmicrossoluções ad hoc substituem as políticas públicas. (SOARES,2003, p.12).Neste senti<strong>do</strong>, pensar direitos humanos significa refletir primeiramente sobreo contexto no qual se inscrevem estes direitos, contexto este em que a globalização<strong>do</strong> capital globaliza também as mazelas provenientes <strong>do</strong> sistema capitalista,globalizan<strong>do</strong> portanto a pobreza, as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais e amplian<strong>do</strong> o abismoentre ricos e pobres.Este é um país, conforme <strong>de</strong>monstrou o IBGE recentemente, <strong>de</strong> profundase históricas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s. A publicação “Estatísticas <strong>do</strong> Século 20”, lançada em2003 pelo Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o PIB <strong>do</strong>país equivalia a cerca <strong>de</strong> R$ 1 bilhão em 1900, para uma população <strong>de</strong> 17,4 milhões<strong>de</strong> pessoas e, em 2000, chegou a R$ 1 trilhão para 169,6 milhões <strong>de</strong> brasileiros. OBrasil aumentou em cem vezes o Produto Interno Bruto (PIB) e multiplicou por 10 apopulação durante o século passa<strong>do</strong>. A distribuição <strong>de</strong> renda, no entanto, piorou noperío<strong>do</strong>. Ainda <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a publicação, em 1960 a renda total <strong>do</strong>s 10% maisricos era 34 vezes maior que a <strong>do</strong>s 10% mais pobres. Trinta anos <strong>de</strong>pois, adiferença havia cresci<strong>do</strong> para 60 vezes. A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> foi ampliada apesar <strong>de</strong> oPIB per capita <strong>do</strong> brasileiro ter cresci<strong>do</strong> quase 12 vezes <strong>de</strong> 1901 a 2000, com umamédia <strong>de</strong> 2,5% ao ano, passan<strong>do</strong> <strong>do</strong> equivalente a R$ 516 para R$ 6.060. O<strong>de</strong>sempenho só foi supera<strong>do</strong> por poucas economias no mun<strong>do</strong>, como Japão,Taiwan, Finlândia, Noruega e Coréia.A atual conjuntura aprofunda ainda mais a histórica concentração <strong>de</strong> renda<strong>do</strong> país. De acor<strong>do</strong> com os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> IBGE, 10% <strong>do</strong>s mais ricos <strong>de</strong>têm 75,4% dasriquezas, ao passo em que os 10% mais pobres <strong>de</strong>têm somente 1,1% da riquezanacional, constatan<strong>do</strong> um quadro que se arrasta por anos e que se mantémpraticamente inaltera<strong>do</strong> sob o mandato <strong>de</strong> um presi<strong>de</strong>nte e um parti<strong>do</strong> originário <strong>do</strong>smovimentos sociais.Da<strong>do</strong>s ainda mais recentes <strong>do</strong> relatório da ONU, relativos ao Índice <strong>de</strong>Desenvolvimento Humano (IDH), divulga<strong>do</strong> nos jornais brasileiros <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>circulação no dia 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005, revelam um Brasil fratura<strong>do</strong>/cindi<strong>do</strong>, quese divi<strong>de</strong> entre os que têm tu<strong>do</strong> e os que não têm nada: os 10% <strong>de</strong> brasileiros maisricos ficam com nada menos <strong>de</strong> 47% da renda nacional. O da<strong>do</strong> mais <strong>do</strong> que170


impressionante, é elucidativo, e nos ajuda a <strong>de</strong>svelar algumas questões, tais como omotivo pelo qual a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social não é consi<strong>de</strong>rada o problema maior <strong>do</strong> país:são os 10% mais ricos que estabelecem – no Executivo, no Legislativo e noJudiciário, nos parti<strong>do</strong>s políticos, nas instituições religiosas, na imprensa, naaca<strong>de</strong>mia, nas universida<strong>de</strong>s – a hierarquia <strong>do</strong>s problemas nacionais. Como elessão beneficiários da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>, não lhes convém chamar a atenção para oassunto. Com esse abismo social, também po<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r o motivo, recorrente,da discussão sobre a economia brasileira se dar exclusivamente em torno <strong>do</strong>crescimento econômico.No dia 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2008, a <strong>Revista</strong> Digital Envolver<strong>de</strong> divulgou o Informeda pesquisa sobre o Desenvolvimento Juvenil latino-americano elaborada pelopsicólogo Júlio Jacobo Waiselfisz. A informação revelava que sete milhões <strong>de</strong>brasileiros engrossam um verda<strong>de</strong>iro exército <strong>de</strong> jovens latino-americanos semtrabalho e fora <strong>do</strong> sistema educacional, que ameaçam reproduzir a pobreza se nãoforem tomadas medidas contun<strong>de</strong>ntes para reincluí-los, alerta o pesquisa<strong>do</strong>r. NoBrasil esse contingente representa quase 20% da população entre 15 e 24 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>. Afinal, conforme revelou a publicação “Estatísticas <strong>do</strong> Século 20”, mencionadaanteriormente, o crescimento econômico, em nosso país, não está diretamenterelaciona<strong>do</strong> a redução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, <strong>de</strong> forma que o aumento da produção<strong>de</strong> riquezas em um país, se não for acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> políticas públicas queviabilizem uma efetiva distribuição <strong>de</strong> renda, apenas manterá por mais tempo a<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> histórica e intencional da renda nas mãos <strong>de</strong> poucos.Como menciona Freire (2006) vivenciamos hoje no Brasil, umaprofundamento das políticas <strong>de</strong> cunho compensatório, num cenário em que aspropostas mais imediatas <strong>de</strong> enfrentamento da questão social vêm atualizan<strong>do</strong> aarticulação da assistência focalizada e repressão, evi<strong>de</strong>ncian<strong>do</strong> um violentoprocesso <strong>de</strong> criminalização das expressões da questão social, reciclan<strong>do</strong> a noção <strong>de</strong>classes perigosas, sujeitas à repressão e extinção.Desta forma temos, por um la<strong>do</strong>, programas assistenciais focaliza<strong>do</strong>s <strong>de</strong>“combate” à pobreza, em consonância com as políticas das agências multilaterais,sobretu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Banco Mundial, a exemplo <strong>do</strong> Bolsa Família, que são programaspobres para os mais pobres <strong>de</strong>ntre os pobres; e paralelo a isso, a construção <strong>de</strong> umgigantesco Esta<strong>do</strong> Penal, como menciona<strong>do</strong> por Löic Wacquant (2003), quecriminaliza a pobreza e recicla a noção <strong>de</strong> classes perigosas.171


Cabe ressaltar, no entanto, que isso não é mera coincidência. É justamenteporque as elites <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> se converteram à i<strong>de</strong>ologia <strong>do</strong> livre merca<strong>do</strong>, vinda <strong>do</strong>sEUA, diminuin<strong>do</strong> suas prerrogativas na frente social, que se faz necessário que estemesmo Esta<strong>do</strong> aumente e reforce suas missões em matéria <strong>de</strong> segurança, quasesempre relegada a mera questão criminal.Trata-se, portanto, <strong>de</strong> tentar remediar, nos termos <strong>do</strong> sociólogo francês LöicWacquant (2003), com um “Mais Esta<strong>do</strong>” Penitenciário e Policial um “Menos Esta<strong>do</strong>”social, transferin<strong>do</strong>-se uma imensa população para <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong>s cárceres brasileiros;população esta com um perfil muito específico, e que antes mesmo <strong>de</strong> ingressar noscárceres já era incluída na socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma exclu<strong>de</strong>nte80. Ou seja, não se trata<strong>de</strong> encarcerar qualquer um: são pobres em sua gran<strong>de</strong> maioria (99%), jovens - 54%têm menos <strong>de</strong> 30 anos, e <strong>de</strong> pouca escolarida<strong>de</strong>, sen<strong>do</strong> 10,4 % analfabetos e 69,5%possuem apenas o 1º grau completo81.Sen<strong>do</strong> assim, cabe ressaltar que em um país cuja trajetória histórica éfortemente marcada por uma frágil cidadania e por profun<strong>do</strong>s traços <strong>de</strong> autoritarismoe conserva<strong>do</strong>rismo, a consolidação <strong>do</strong> neoliberalismo não só mantém taiscaracterísticas como aprofunda <strong>de</strong> forma inequívoca os “estragos” já conheci<strong>do</strong>s.Alguns avanços conquista<strong>do</strong>s no século passa<strong>do</strong>, como o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> Bem-Estar, cujas configurações em nosso país sempre foram frágeis, são consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s"problemas", sen<strong>do</strong> até aponta<strong>do</strong>s como "causas" <strong>de</strong> muitos <strong>de</strong> nossos males.Melhor dizen<strong>do</strong>, as conseqüências <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo injusto e <strong>de</strong>sigual, mesmo parapadrões capitalistas, são confundidas com as causas pelo neoliberalismo. Assimsen<strong>do</strong>, tal como no econômico, a intervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> no social é vista comopouco "recomendável", <strong>de</strong>ven<strong>do</strong> ser substituída pela lógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.Isto posto, é importante enten<strong>de</strong>r que as transformações sofridas pelaeducação superior no Brasil e nos <strong>de</strong>mais países latino-americanos, com aefetivação da agenda política neoliberal, não ocorreram por “geração espontânea”,nem por <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> “sua clientela”, mas sim, abarcadas por diversas orientaçõesencontradas nos principais <strong>do</strong>cumentos <strong>do</strong>s organismos multilaterais, como o BancoMundial, assim como na cartilha <strong>do</strong> Consenso <strong>de</strong> Washington. Dentre as exigências,80 A esse respeito ver MARTINS, José <strong>de</strong> Souza. A Socieda<strong>de</strong> Vista <strong>do</strong> Abismo. Novosestu<strong>do</strong>s sobre exclusão, pobreza e classes sociais, Petrópolis, RJ, Editora Vozes, 200281 Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> CESEC - Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Segurança e Cidadania da Universida<strong>de</strong>Cândi<strong>do</strong> Men<strong>de</strong>s, 2004.172


<strong>de</strong>stacam-se: a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que o Esta<strong>do</strong> se <strong>de</strong>svencilhe da manutenção daeducação superior, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> esta a cargo da iniciativa privada, se ocupan<strong>do</strong> apenasda educação básica e média; a indicação para as instituições <strong>de</strong> ensino superior seorganizarem e serem geridas como empresas econômicas; a importância dasuniversida<strong>de</strong>s públicas serem privatizadas ou diversificarem suas fontes <strong>de</strong> recursos(via cobrança <strong>de</strong> mensalida<strong>de</strong>s, contratos <strong>de</strong> pesquisa com empresas, venda <strong>de</strong>serviços e consultorias e <strong>do</strong>ações <strong>de</strong> iniciativa privada) e a imposição <strong>do</strong> máximo <strong>de</strong>diferenciação institucional (universida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> ensino, centrosuniversitários, etc.), o que garantiria a competitivida<strong>de</strong> e, conseqüentemente, oprogresso <strong>de</strong>sses <strong>do</strong>mínios. (DRUCKE; FILGUEIRAS,1997)Essas recomendações preten<strong>de</strong>ram serem válidas para to<strong>do</strong>s os países,sem consi<strong>de</strong>rar as especificida<strong>de</strong>s nacionais e <strong>de</strong> seus sistemas universitários.Entretanto, elas tiveram maior êxito especialmente nos países <strong>de</strong> periferia, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> amenor capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resistência das respectivas socieda<strong>de</strong>s civis, organizaçõescientífico-acadêmicas e instituições universitárias; além das conjunturas econômicopolíticasvividas pelos diferentes países por ocasião da implantação <strong>de</strong>ssa agendapolítica.Cabe lembrar, que as autorida<strong>de</strong>s brasileiras iniciaram, em 1995, o atualprocesso <strong>de</strong> reconfiguração da educação superior no país, dan<strong>do</strong> centralida<strong>de</strong> aoconceito da educação como um serviço competitivo não-exclusivo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, <strong>de</strong>autonomia financeira das universida<strong>de</strong>s, em lugar da autonomia <strong>de</strong> gestãofinanceira, <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> gestão, <strong>de</strong> público não estatal etc. Esses permearam aslinhas tanto da legislação aprovada pelo parlamento quanto pelos <strong>de</strong>cretospresi<strong>de</strong>nciais e das portarias <strong>do</strong> Ministério da Educação.O ajuste promovi<strong>do</strong> pelo neoliberalismo tornou o ensino superior ummerca<strong>do</strong> promissor que <strong>de</strong>spertou interesses empresariais. Hoje, no Brasil, das 905instituições privadas, apenas 348 são consi<strong>de</strong>radas comunitárias ou confessionais, orestante pertence a iniciativas empresariais, assumidamente com fins lucrativos. Alógica empresarial <strong>de</strong>u ao ensino superior <strong>do</strong> país uma nova cara, muito diferentedas universida<strong>de</strong>s e centros <strong>de</strong> excelência basea<strong>do</strong>s no tripé ensino-pesquisaextensão.Ten<strong>do</strong> como pressuposto a lógica <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>, a instalação <strong>de</strong> um novoestabelecimento <strong>de</strong> ensino não se norteia mais pelo <strong>de</strong>senvolvimento nacional, maspelas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ser lucrativo ao seu <strong>do</strong>no. A distribuição das instituiçõespassa a se concentrar nos gran<strong>de</strong>s centros financeiros <strong>do</strong> país, pois nestes se173


encontram mais jovens egressos <strong>do</strong> ensino médio com possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arcar comos custos para o diploma.Conforme observou Carlos Lessa (1999), a radicalida<strong>de</strong> da a<strong>do</strong>ção <strong>do</strong>paradigma <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> <strong>de</strong>fendida pelo neoliberalismo “amesquinha a visão <strong>de</strong>Universida<strong>de</strong>, hipertrofia os argumentos utilitaristas e abre uma busca <strong>de</strong>sesperadada merca<strong>do</strong>ria a ser produzida pela Universida<strong>de</strong>” (LESSA, loc.cit. p.23). Nessaperspectiva,a Universida<strong>de</strong> é pensada como uma escola-fábrica, que produzmão-<strong>de</strong>-obra com a qualificação <strong>de</strong>sejada pelo merca<strong>do</strong>. Arecombinação da seqüência educação-trabalho mediante a educaçãocontinuada ou permanente dissolve a distinção entre o educan<strong>do</strong> e odiploma<strong>do</strong>, dissolve a titularida<strong>de</strong> e cria o estagiário perpétuo. Istoexpulsa custos <strong>de</strong> treinamento e confere à empresa facilida<strong>de</strong> norecrutamento <strong>de</strong> pessoal (LESSA, 1999, p.24).No momento atual, em que a universida<strong>de</strong> pública sofre as mais durasameaças, as principais abordagens e características <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento daextensão universitária no Brasil per<strong>de</strong>m espaço diante da voracida<strong>de</strong> da lógicamerca<strong>do</strong>lógica. A força <strong>do</strong> paradigma <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> inspira as ações universitáriassem preocupações em fundamentar as mesmas para além <strong>do</strong>s critérios <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>.Carlos Lessa acha importante ressaltar que a prestação <strong>de</strong> serviços àeconomia e à socieda<strong>de</strong> é um <strong>do</strong>s caminhos pelos quais a Universida<strong>de</strong> esten<strong>de</strong>sua presença para fora da instituição. Dessa forma, operan<strong>do</strong> como um sistema <strong>de</strong>apoio aos serviços da socieda<strong>de</strong> e às empresas, a instituição apresenta-se, assimilae transporta para o ensino, a pesquisa e a extensão as características <strong>do</strong> contextoem que está inserida. Entretanto, essa prestação <strong>de</strong> serviços conduz a Universida<strong>de</strong>ao risco fronteiriço <strong>de</strong> se converter em uma macroconsultoria. Para tanto, bastaassumir o critério <strong>de</strong> merca<strong>do</strong> e enten<strong>de</strong>r tal via como um caminho complementar <strong>de</strong>financiamento <strong>do</strong> ensino superior.Atualmente, a história da extensão universitária no país, como palco <strong>de</strong>muitas polêmicas e controvérsias, se repete, quan<strong>do</strong> o termo extensão é utiliza<strong>do</strong>muitas vezes para sublinhar apenas os cursos ministra<strong>do</strong>s em universida<strong>de</strong>spúblicas. Só que hoje, esses cursos são, em sua imensa maioria, pagos. Comoobservou Diogo Moysés, "na realida<strong>de</strong>, tais cursos são <strong>de</strong>stina<strong>do</strong>s a incrementar asverbas <strong>de</strong>ficitárias das universida<strong>de</strong>s e, ainda, uma forma nada transparente <strong>de</strong>174


aumentar a folha <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> alguns <strong>do</strong>centes" (MOYSÉS, 2001, p.12). Além<strong>de</strong>ste aspecto, diz o autor, temos que atentar para o fato <strong>de</strong> que esses cursos, aoserem pagos, contradizem na essência uma possível intenção <strong>de</strong> socializar oconhecimento produzi<strong>do</strong> na universida<strong>de</strong>. Uma coisa é clara: o tema da extensão eseu significa<strong>do</strong> nas universida<strong>de</strong>s brasileiras continuam sen<strong>do</strong> <strong>de</strong> suma importância,<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa longa batalha, agravada pelas políticas <strong>de</strong> cunho neoliberal, paraaproximar os objetivos das universida<strong>de</strong>s públicas aos interesses revela<strong>do</strong>s pelaproblemática social.A questão central que esse <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>ve encarar é que não se conquistamdireitos pelo mero acesso ao “merca<strong>do</strong>” e sim, por meio <strong>de</strong> políticas públicasuniversais e igualitárias. Nessa perspectiva, enten<strong>de</strong>mos que a extensãouniversitária - principalmente das Universida<strong>de</strong>s Públicas - tem hoje como <strong>de</strong>safiocentral “a <strong>de</strong>fesa das Políticas Públicas, participan<strong>do</strong> na formulação,acompanhamento e avaliação <strong>de</strong>ssas Políticas em to<strong>do</strong>s os âmbitos da fe<strong>de</strong>ração esetores <strong>de</strong> atuação, especialmente aqueles relaciona<strong>do</strong>s à garantia <strong>do</strong>s direitos”(SOARES, 2007, p.9). Conforme observou a Pró-reitora <strong>de</strong> Extensão daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Laura Tavares Soares “não po<strong>de</strong>mostransformar a Extensão em programas pobres para pobres (a la “responsabilida<strong>de</strong>social” das empresas, apenas para aplacar a “má consciência” a respeito <strong>do</strong> seupapel social)” (ibi<strong>de</strong>m).Ainda segun<strong>do</strong> Soares (2007), no <strong>de</strong>bate dito “mo<strong>de</strong>rno” – no qual vem seconstituin<strong>do</strong> uma espécie <strong>de</strong> “novo consenso” – prega-se a “auto-sustentabilida<strong>de</strong>” eo “empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo” como um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> afirmar que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é algo“negativo”. Não por acaso, um <strong>do</strong>s maiores pilares da <strong>de</strong>sresponsabilização <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> na garantia <strong>do</strong>s direitos é sem dúvida o empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo. Essa figura <strong>de</strong><strong>de</strong>staque na extensão universitária da atualida<strong>de</strong> tem como pressuposto que opequeno negócio, sobretu<strong>do</strong>, viabiliza<strong>do</strong> pelo microcrédito, eleva a auto-estima,<strong>de</strong>senvolve responsabilida<strong>de</strong> individual, inclui no universo da liberda<strong>de</strong> que é omerca<strong>do</strong>. Essa é a negação da verda<strong>de</strong>ira essência da extensão. Essa estratégia <strong>de</strong>enfrentamento da questão social é vista quase como uma <strong>de</strong>corrência natural dastransformações em curso na realida<strong>de</strong>. Com isso se afirmam vitoriosas as tesesneoliberais.Essas idéias, segun<strong>do</strong> Soares (i<strong>de</strong>m), reforçam - <strong>de</strong> maneira perigosa,irresponsável e hipócrita - a i<strong>de</strong>ologia (neo)liberal <strong>de</strong> que “pessoas e comunida<strong>de</strong>s”175


são as responsáveis pela resolução <strong>do</strong>s seus próprios problemas, tratan<strong>do</strong> aintervenção <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> como algo “paternalista”, elas legitimam o <strong>de</strong>clínio da esferapública.Por mais distintas que sejam as experiências e realida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> nossasuniversida<strong>de</strong>s, a discussão sobre a importância da extensão universitária foihistoricamente impulsionada por um aspecto comum a todas: o da percepção <strong>de</strong> quea universida<strong>de</strong> caminhava distanciada da realida<strong>de</strong> social <strong>do</strong> país. Em outraspalavras, a extensão se construiu e se <strong>de</strong>senvolveu como ativida<strong>de</strong> universitária emconexão com o reconhecimento <strong>de</strong> que ensino e pesquisa não respondiam aosinteresses <strong>de</strong> tal realida<strong>de</strong>. Em suma, a extensão é fruto <strong>de</strong> propostas que admitema universida<strong>de</strong> como um corpo estranho à socieda<strong>de</strong> "alienada em relação aomun<strong>do</strong> à sua volta, praticamente inerte aos tantos problemas sociais que afligem amaioria <strong>do</strong> país" (MOYSÉS, 2001, p.12).Consi<strong>de</strong>rações FinaisGostaríamos <strong>de</strong> registrar que não preten<strong>de</strong>mos, nem conseguiríamos,analisar todas as peculiarida<strong>de</strong>s da relação entre direitos humanos e extensãouniversitária no Brasil contemporâneo, nos limites <strong>de</strong>sse texto. O que intentamosapresentar foi um conjunto <strong>de</strong> questões que abordamos e <strong>de</strong>finimos comorelevantes, com o máximo <strong>de</strong> clareza <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> <strong>de</strong> nossas propostas.Sem dúvida, com o passar <strong>do</strong>s séculos, muito se evoluiu no Brasil emtermos <strong>de</strong> Legislação. Hoje, temos uma das Constituições mais avançadas <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> em termos <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos. No entanto, o <strong>de</strong>safio posto nacontemporaneida<strong>de</strong> é como garantir os meios, os mecanismos <strong>de</strong> efetivação <strong>de</strong>stesdireitos, que apesar <strong>de</strong> terem um marco legal ainda não foram efetiva<strong>do</strong>s narealida<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> brasileira. A luta pelos Direitos Humanos não se dá apenasno plano formal, no plano das leis, faz-se mister compreen<strong>de</strong>r a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stesdireitos no contexto no qual estão inseri<strong>do</strong>s, ou seja, <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> capitalista<strong>de</strong>sigual. No caso brasileiro, profundamente <strong>de</strong>sigual. Como mencionou Bobbio(2004, p.58), “o problema fundamental em relação aos direitos <strong>do</strong> homem, hoje, nãoé tanto <strong>de</strong> justificá-los, mas o <strong>de</strong> protegê-los. Trata-se <strong>de</strong> um problema nãofilosófico, mas político”.176


Assim, abrir mão das concepções que enten<strong>de</strong>m direitos humanos comoalgo limita<strong>do</strong> a <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s mo<strong>de</strong>los que lhes seriam inerentes, como ”coisa emsi”, abstrata e da essência <strong>do</strong>s homens, torna-se fundamental para que possamosabrir um caminho <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s direcionadas para a produção, como observouCoimbra (2001), <strong>de</strong> uma nova socieda<strong>de</strong>, em que a <strong>de</strong>mocracia não seja reduzidaao pleito eleitoral, mas seja concebida também pelo ângulo da ampliação dacidadania.Estamos convenci<strong>do</strong>s que a Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve contribuir neste <strong>de</strong>bate, eque a extensão é o espaço com maior capacida<strong>de</strong> em seu interior, paraconstruirmos nesse início <strong>de</strong> século XXI um consenso <strong>de</strong> que somos uma nação enão uma aglomeração <strong>de</strong> consumi<strong>do</strong>res. Portanto, o merca<strong>do</strong> não po<strong>de</strong> tersoberania frente à universida<strong>de</strong>.Cabe à Universida<strong>de</strong> um importante papel nessa luta pela <strong>de</strong>fesa eefetivação <strong>do</strong>s direitos, ten<strong>do</strong> em vista ser ela o local privilegia<strong>do</strong> da produção <strong>de</strong>conhecimento e sua potencialida<strong>de</strong> na produção <strong>do</strong> dissenso acerca <strong>do</strong>“pensamento único” neoliberal. É neste senti<strong>do</strong> que creditamos à Universida<strong>de</strong> umpapel fundamental na consolidação <strong>de</strong> uma nação centrada no princípio dacidadania, sen<strong>do</strong> a extensão, no estabelecimento da relação Universida<strong>de</strong> –socieda<strong>de</strong>, um instrumento privilegia<strong>do</strong> na luta pela garantia <strong>do</strong>s Direitos Humanosenquanto expressão mais ampla da cidadania.REFERÊNCIASBOBBIO, Norberto. A Era <strong>do</strong>s Direitos. Nova Edição. Campus. 2004,210p.BOTOMÉ, Silvio Paulo. Pesquisa alienada e ensino alienante: o equívoco daextensão universitária, Petrópolis/São Carlos/Caxias <strong>do</strong> Sul: Vozes/EDUFSCar/EDUCS,1996. 248p.BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Fe<strong>de</strong>rativa <strong>do</strong> Brasil.Brasília/ DF: Sena<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ral, 1990. 210 p.CHAUÍ, Marilena. I<strong>de</strong>ologia neoliberal e universida<strong>de</strong>. In: OLIVEIRA, Francisco ePAOLI, Maria Célia. Os Senti<strong>do</strong>s da Democracia. Políticas <strong>do</strong> dissenso e hegemoniaglobal. Petrópolis: Vozes, 1999. 335p. p.27-51_________. Simulacro e po<strong>de</strong>r: uma análise da mídia. São Paulo: Fundação PerseuAbramo, 2006, 142 p.177


COIMBRA, Cecília. Operação Rio - o mito das classes perigosas: um estu<strong>do</strong> sobre aviolência urbana, a mídia impressa e os discursos <strong>de</strong> segurança pública. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Oficina <strong>do</strong> Autor e Intertexto, 2001.DRUCK, Graça; FILGUEIRAS, Luiz. O projeto <strong>do</strong> Banco Mundial, o governo FHC e aprivatização das universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais. In: <strong>Revista</strong> Plural, São Paulo, FFLCH-Sociologia/USP, v.6, n. 9, 1997.FREIRE, Silene <strong>de</strong> Moraes . “Esta<strong>do</strong>, Democracia e Questão Social”, In: BRAVO,Maria.Inês Souza e PEREIRA, Potyara (orgs). Política Social e Democracia, SãoPaulo: Cortez, 2002._________. “Análise das ‘novas’ expressões da questão social no BrasilContemporâneo”. In: <strong>Revista</strong> <strong>de</strong> Ciências Sociales, n o 22, Ano XVIII. Desigualda<strong>de</strong>sPersistencias en America Latina: Democracia y Exclusión Social. Uruguay,Montevi<strong>de</strong>o: Universidad <strong>de</strong> la Republica / Facultad <strong>de</strong> Ciencias Sociales -Departamento <strong>de</strong> Sociologia, Setiembre 2005._________. As armadilhas da recente notorieda<strong>de</strong> da socieda<strong>de</strong> civil no Brasil, In:FREIRE, Silene <strong>de</strong> M., FREIRE, Lúcia M. B. e CASTRO, Alba T. B. Serviço Social,Política Social e Trabalho. São Paulo: Cortez, 2006.__________. O Fetiche <strong>do</strong> enfrentamento da pobreza no Brasil: nem direitos, nemhumanos. In: FREIRE, Silene <strong>de</strong> Moraes (org). Direitos Humanos, Violência ePobreza na América Latina Contemporânea. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Letra e Imagem, 2007.__________. Extensão e Empreen<strong>de</strong><strong>do</strong>rismo: um <strong>de</strong>bate que precisa advir. In:<strong>Revista</strong> Advir. N. 21, Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ/ASDUERJ, <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007.GÓIS, Antonio e CONSTANTINO, Luciana. Um país Desigual. In: Jornal Folha <strong>de</strong>São Paulo, 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2005, p. 46.LESSA, Carlos. A universida<strong>de</strong> e a pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>: o panorama brasileiro .Da<strong>do</strong>s. v.42 n.1 Rio <strong>de</strong> Janeiro:IUPERJ, 1999.In:LEYENDERCKER, Ernesto. Universidad y Dependência. Buenos Aires: Guadalupe,1974.MARTINS, José <strong>de</strong> Souza. A Socieda<strong>de</strong> Vista <strong>do</strong> Abismo - novos estu<strong>do</strong>s sobre exclusão, pobreza e classessociais, Petrópolis/RJ: Vozes, 2002.MOYSÉS, Diogo. Nas discussões sobre extensão universitária, ainda não se fez omais importante: diagnosticar a origem <strong>do</strong> <strong>de</strong>bate. Caros Amigos Especial (9). SãoPaulo: Casa Amarela, novembro <strong>de</strong> 2001.NAÇÕES UNIDAS NO BRASIL. Declaração universal <strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong> homem. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Nações Unidas No Brasil, 2000.178


SOARES, Laura Tavares. Prefácio: Direitos Humanos Políticas Públicas e ExtensãoUniversitária. In: FREIRE, Silene <strong>de</strong> Moraes (org). Direitos Humanos, Violência ePobreza na América Latina Contemporânea. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Letra e Imagem, 2007.WACQUANT, Loïc. Punir os Pobres: A nova gestão da miséria nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.Rio <strong>de</strong> Janeiro: Revan, 2003.Centro <strong>de</strong> Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Segurança e Cidadania, disponível em, acesso em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005.IBGE, disponível em , acesso em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2005.Justiça Global, disponível em , acesso em 13 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005.WAISELFISZ, Júlio Jacobo. Desenvolvimento Juvenil latino-americano, disponívelem , acesso em 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2008.Texto recebi<strong>do</strong> em 20 ago. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 05 set. 2008.179


LÍNGUA FRANCESA: ATUAL E NECESSÁRIAFrench language: present and necessaryRita <strong>de</strong> Cássia Gomes 82RESUMOO presente trabalho visa explicitar as contribuições que po<strong>de</strong> trazer o ensinoaprendizagemda Língua Francesa. Nosso objetivo é evi<strong>de</strong>nciar que o aprendiza<strong>do</strong>da referida língua tem muito a contribuir para a formação <strong>do</strong> indivíduo, sobretu<strong>do</strong>nos níveis cultural e acadêmico. Falamos <strong>de</strong>ssas contribuições nos basean<strong>do</strong> naopinião <strong>de</strong> diversos autores sobre o papel que exerce o aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma línguaestrangeira. Preten<strong>de</strong>mos mostrar que, embora vivamos um momento em que aslínguas estrangeiras não <strong>de</strong>sempenham um papel <strong>de</strong> prestígio, o francês <strong>de</strong>sperta,ainda hoje, o interesse pelo seu estu<strong>do</strong>. Para tal, apresentamos os da<strong>do</strong>s colhi<strong>do</strong>sem um questionário aplica<strong>do</strong> a alunos <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesaque representam, ainda que em número reduzi<strong>do</strong>, os cursos ofereci<strong>do</strong>s pelaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV).Palavras-Chave: Língua Francesa; contribuições; UFV.ABSTRACTThis paper will present the contributions the process of teaching and learning Frenchcould bring. Our goal is to emphasize that the acquisition of this language is veryuseful to the individual’s formation, especially in cultural and aca<strong>de</strong>mic fields. We talkabout these contributions relying upon many authors’ opinion about how theacquisition of a foreign language can help people. We want to show that, in spite ofliving in a time in which the foreign languages aren’t prestige, people are stillinterested in learning French. In or<strong>de</strong>r to prove this, we will present the data collectedin a questionnaire given to some stu<strong>de</strong>nts from the French Course offered by theFe<strong>de</strong>ral University of Viçosa (UFV).Keywords: French language; contributions; UFV.RESUMENEste trabajo preten<strong>de</strong> explicitar las contribuciones que pue<strong>de</strong>n traer la enseñanza yel aprendizaje <strong>de</strong> la Lengua Francesa. Nuestro objetivo es evi<strong>de</strong>nciar que el82 Graduada em Letras pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa. Professora Substituta <strong>de</strong> LínguaFrancesa no Departamento <strong>de</strong> Letras da mesma instituição. Rua “R” n° 35 apto 01/ Bairro StoAntônio- Viçosa- MG cep 36570-000 tel: (31) 3892-2111.E-mail: ritacagomes@yahoo.fr/ritinha.gomes@yahoo.com.br180


aprendizaje <strong>de</strong> esta lengua ofrece una gran contribución para la formación <strong>de</strong>lindividuo, sobreto<strong>do</strong> en los niveles cultural y académico. Hablamos <strong>de</strong> estascontribuciones basán<strong>do</strong>nos en la opinión <strong>de</strong> diversos autores sobre el papel queejerce el aprendizaje <strong>de</strong> una lengua extranjera. Preten<strong>de</strong>mos mostrar que, aunqueestemos vivien<strong>do</strong> un momento <strong>do</strong>n<strong>de</strong> las lenguas extranjeras no <strong>de</strong>sempeñan unpapel <strong>de</strong> prestigio, la lengua francesa <strong>de</strong>spierta, aún hoy, el interés por su estudio.Para tal presentamos los datos recogi<strong>do</strong>s en un cuestionario aplica<strong>do</strong> a los alumnos<strong>de</strong>l Curso <strong>de</strong> Extensión en la Lengua Francesa que representan, mismo que ennúmero reduci<strong>do</strong>, los cursos ofreci<strong>do</strong>s por la Universidad Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV).Palabras-Claves: Lengua Francesa; contribuciones; UFV.O presente trabalho tem por objetivo expor os diferentes fatores que motivamos estudantes da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa a estudarem a Língua Francesa,em um momento não muito favorável às línguas estrangeiras no contexto nacional.Faremos uma pequena exposição <strong>do</strong> caminho percorri<strong>do</strong> pelas línguas estrangeirasno Brasil para mostrar que havia um gran<strong>de</strong> interesse com relação ao seu ensino noinício da consolidação <strong>do</strong> nosso sistema educativo e mostraremos ainda, comoestas per<strong>de</strong>ram um lugar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> prestígio nas décadas seguintes.Em nossa instituição, a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa (UFV), a LínguaFrancesa representa a língua <strong>de</strong> resistência ao monolingüismo estrangeiro. Areferida língua é oferecida no Departamento <strong>de</strong> Letras aos estudantes <strong>de</strong> Letras etambém aos <strong>de</strong> Secretaria<strong>do</strong> Executivo Trilingüe. Liga<strong>do</strong> ao Departamento funcionao Curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesa (CELIF); trata-se <strong>de</strong> um curso particularque recebe, na maioria das vezes, estudantes <strong>de</strong> todas as áreas da UFV. É por estarazão que escolhemos os alunos <strong>do</strong> CELIF para colher da<strong>do</strong>s para a pesquisa.Como se trata <strong>de</strong> uma instituição reconhecida pelo seu caráter agrícola, oaumento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> estudantes que <strong>de</strong>sejam apren<strong>de</strong>r francês na UFV mostraque a língua em questão é ainda atual e que, além disso, ela po<strong>de</strong> proporcionar aosestudantes inúmeros benefícios, não importa qual seja sua área <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>.O papel das Línguas Estrangeiras181


Segun<strong>do</strong> Morin (2001), o ensino/aprendizagem <strong>de</strong> línguas estrangeiras ajudaa amadurecer o olhar em relação ao outro, faz com que cresça o respeito pelacultura alheia e reforça a dignida<strong>de</strong> da pessoa humana.Infelizmente, no nosso país, quan<strong>do</strong> se fala em língua estrangeira, enten<strong>de</strong>-seLíngua Inglesa. Apesar <strong>de</strong> os PCN’s <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem o ensino/aprendizagem <strong>de</strong> línguasestrangeiras, o que se vê no território nacional é a hegemonia <strong>do</strong> Inglês. Éimpossível negar a importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta língua, que nos tempos atuais é alíngua das relações internacionais, e que, como qualquer outra língua estrangeira, éfonte <strong>de</strong> enriquecimento cultural. Porém, essa massificação, essa unificação,acarreta um inegável empobrecimento cultural.Apesar <strong>de</strong> estarmos viven<strong>do</strong> em tempos <strong>de</strong> globalização e inegávelpre<strong>do</strong>mínio da Língua Inglesa em diversos campos (comercial, educacional,científico e tecnológico, entre outros), “o processo <strong>de</strong> mundialização não <strong>de</strong>ve sercompreendi<strong>do</strong> como uma uniformização empobrece<strong>do</strong>ra, ao contrário, são asparticularida<strong>de</strong>s e as especificida<strong>de</strong>s culturais que <strong>de</strong>vem sustentar a globalização”(ROUQUIÉ, 2001, p.9).A Língua Estrangeira não tem um fim simplesmente tecnicista, não habilita oindivíduo simplesmente para o manuseio <strong>de</strong> máquinas ou para a compreensão <strong>de</strong>textos, há ainda o enriquecimento cultural e pessoal, como já foi comenta<strong>do</strong> acima,em conformida<strong>de</strong> com os PCN’S.O <strong>do</strong>mínio da Língua Inglesa no sistema educativo nacional é conheci<strong>do</strong> porto<strong>do</strong>s. O que muitos ignoram é que já houve uma gran<strong>de</strong> ênfase no ensino <strong>de</strong>línguas no nosso país. Em um primeiro momento, no ensino das línguas clássicas(grego e latim) e <strong>de</strong>pois no ensino das línguas ditas mo<strong>de</strong>rnas: francês, inglês,alemão e italiano (LEFFA, 2001). Apresentaremos, com base nos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Leffa(2001) e Kundman (2001 e 2005), os perío<strong>do</strong>s favoráveis às línguas eevi<strong>de</strong>nciaremos também como estas per<strong>de</strong>ram um lugar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque.Antes <strong>do</strong> ImpérioDurante o perío<strong>do</strong> colonial, o grego e o latim eram as disciplinas <strong>do</strong>minantes.As línguas mo<strong>de</strong>rnas foram introduzidas no ensino brasileiro em 1808. Com achegada da família real, em 1808, e com a criação <strong>do</strong> colégio Pedro II em 1837, as182


línguas estrangeiras começam a se firmar no sistema <strong>de</strong> ensino brasileiro. Suaconsolidação culmina com as medidas <strong>do</strong> ministro Couto Ferraz em 1855, quepropõe uma reforma no ensino. É quan<strong>do</strong> as línguas mo<strong>de</strong>rnas - francês, inglês,alemão e italiano - começam a ser vistas com a mesma importância das línguasclássicas - latim e grego.O ensino das línguas durante o Império sucumbia ao problema da falta <strong>de</strong>meto<strong>do</strong>logia a<strong>de</strong>quada. A meto<strong>do</strong>logia utilizada para as línguas mo<strong>de</strong>rnas (ou vivas)era a mesma utilizada para as línguas clássicas (ditas mortas): tradução <strong>de</strong> textos eanálise gramatical.Embora não se tenha da<strong>do</strong>s precisos sobre o ensino <strong>de</strong> línguas nesseperío<strong>do</strong>, tal como a carga horária semanal <strong>de</strong> cada língua ensinada, aqueles quepu<strong>de</strong>mos encontrar nos mostram uma queda na valorização das línguasestrangeiras na escola. Com base nos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Leffa (2001), po<strong>de</strong>mos constatarque, durante o Império, os alunos estudavam no mínimo quatro línguas no ensinosecundário, muitas vezes cinco ou seis línguas, quan<strong>do</strong> o italiano era ofereci<strong>do</strong>facultativamente. Apesar <strong>de</strong> o quadro <strong>de</strong> línguas oferecidas não ter sofri<strong>do</strong> muitasmudanças no que diz respeito à quantida<strong>de</strong>, notamos que, no final <strong>do</strong> império, onúmero <strong>de</strong> horas estudadas foi reduzi<strong>do</strong>, chegan<strong>do</strong> a pouco mais da meta<strong>de</strong>.Sob a RepúblicaEm tempos <strong>de</strong> República, o ensino-aprendizagem <strong>de</strong> língua materna eestrangeira tornou-se objeto <strong>de</strong> reflexão no que concerne à meto<strong>do</strong>logia.Observan<strong>do</strong> as reformas divulgadas por diferentes ministros, po<strong>de</strong>mos notar quealguns <strong>de</strong>fendiam a importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> textos literários e <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>civilização, enquanto outros procuravam mostrar a necessida<strong>de</strong> da prática nautilização da língua, ou seja, da oralida<strong>de</strong> e da escrita.Nesse contexto, o <strong>de</strong>sprestígio das línguas estrangeiras torna-se ainda maisacentua<strong>do</strong>, uma vez que há uma redução significativa no número <strong>de</strong> horas<strong>de</strong>dicadas ao seu ensino. Dessa forma, das (76) setenta e seis horas semanais em1892, chega-se em 1925, a (29) vinte e nove horas, ou seja, menos da meta<strong>de</strong>.Nesse perío<strong>do</strong>, o ensino <strong>do</strong> grego <strong>de</strong>saparece, o francês, quan<strong>do</strong> não tem a mesmasorte, tem sua carga horária semanal reduzida e o italiano ou permanece <strong>de</strong> forma183


facultativa, ou não é ofereci<strong>do</strong>. O inglês e o alemão são ofereci<strong>do</strong>s ainda nasescolas, porém o aluno <strong>de</strong>ve optar por uma língua ou outra.A reforma <strong>de</strong> 1931Já no século XX, a reforma <strong>de</strong> 1931 constitui a primeira tentativa realmenteséria feita no Brasil visan<strong>do</strong> uma maior orientação para o ensino/aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong>língua estrangeira (CHAGAS, 1957 apud KUNDMAN, 2005). Extinguiu-se afreqüência livre e foi instituí<strong>do</strong> o regime seria<strong>do</strong> obrigatório com o objetivo não só <strong>de</strong>preparar o aluno para ingressar no Ensino Superior, mas também <strong>de</strong> proporcionarlheuma formação integral. Introduziu-se oficialmente no Brasil o que tinha si<strong>do</strong> feitona França em 1901: o uso <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> direto, que consistia no ensino da língua pormeio da própria língua. Isso porque, até aquele momento, utilizava-se o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong>tradução e gramática e eram raros os professores que trabalhavam a oralida<strong>de</strong> emsala <strong>de</strong> aula.A Reforma CapanemaEm 1942 instaurou-se a nova Lei Orgânica <strong>do</strong> Ensino Secundário, <strong>de</strong> GustavoCapanema. Esta lei introduz o espanhol no ensino secundário. Segun<strong>do</strong> Kundman(2005), o <strong>de</strong>creto atribui às línguas objetivos educativos: “contribuir na formação damentalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> observação e reflexão”; e tambémobjetivos culturais como “o conhecimento da civilização estrangeira” e a “capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r os i<strong>de</strong>ais e as tradições <strong>de</strong> outros povos”. (KUNDMAN, 2001 apudCHAGAS, 1957).A lei que o ministro Capanema propõe em 1942 <strong>de</strong>ve, segun<strong>do</strong> ele, formarnos a<strong>do</strong>lescentes uma sólida cultura geral, marcada pelo cultivo tanto dashumanida<strong>de</strong>s antigas como das mo<strong>de</strong>rnas, e ainda, acentuar e elevar sua“consciência patriótica” e sua “consciência humanística.” (LEFFA, 2001 apudCHAGAS, 1957).A Reforma Capanema, apesar das críticas que diversos educa<strong>do</strong>res lheatribuem por a verem como um <strong>do</strong>cumento fascista dada sua exaltação aonacionalismo, foi a reforma que <strong>de</strong>u mais importância ao ensino das línguasestrangeiras. Estudava-se latim, francês, inglês e espanhol <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ginásio até o184


científico ou “clássico”. Terminava-se o ensino médio, muitas vezes, len<strong>do</strong>-se osautores nos originais. Leffa (2001, p.9) argumenta que “<strong>de</strong> uma perspectiva histórica,as décadas <strong>de</strong> 40 e 50 foram os anos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s das línguas estrangeiras no Brasil”.LDB <strong>de</strong> 1961Em 1961 a Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases (LDB) não fez alusão ao ensino daslínguas vivas, ainda que uma ou duas línguas estrangeiras pu<strong>de</strong>ssem ser indicadasentre as disciplinas complementares (facultativas). Com a entrada em vigor dareferida lei, as <strong>de</strong>cisões sobre e ensino <strong>de</strong> língua estrangeira ficaram sob aresponsabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s conselhos estaduais <strong>de</strong> educação. O latim foi retira<strong>do</strong> <strong>do</strong>currículo, o francês ou tinha o mesmo tratamento, ou via sua carga horária serdiminuída ainda mais e o inglês permaneceu sem gran<strong>de</strong>s alterações. “Comparada àReforma Capanema e à LDB que veio em seguida, a lei <strong>de</strong> 1961 é o começo <strong>do</strong> fim<strong>do</strong>s anos <strong>do</strong>ura<strong>do</strong>s das línguas estrangeiras.” (LEFFA, 2001, p. 10).LDB <strong>de</strong> 1971Com a LDB <strong>de</strong> 1971, o ensino é reduzi<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>do</strong>ze para onze anos. Adiminuição <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e a ênfase na habilitação profissionalprovocam uma gran<strong>de</strong> redução nas horas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> língua estrangeira. Paraagravar ainda mais a situação, um parecer <strong>do</strong> Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>clara que alíngua estrangeira <strong>de</strong>veria ser dada “por acréscimo” <strong>de</strong>ntro das condições <strong>de</strong> cadaestabelecimento. As conseqüências são comentadas por Leffa,Muitas escolas tiraram a língua estrangeira <strong>do</strong> primeiro grau e nosegun<strong>do</strong> grau não ofereciam mais <strong>do</strong> que uma hora por semana, àsvezes durante apenas um ano. Inúmeros alunos, principalmente <strong>do</strong>supletivo, passaram pelo primeiro e segun<strong>do</strong> graus sem nunca teremvisto uma língua estrangeira. (LEFFA, 2001, p.10).Apesar das diversas <strong>de</strong>clarações favoráveis à presença e à diversificação daslínguas estrangeiras nas escolas <strong>de</strong> primeiro e segun<strong>do</strong> graus (atualmente, ciclosfundamental e médio) assitiu-se, nesse perío<strong>do</strong>, a uma redução significativa <strong>do</strong> seuensino.185


LDB <strong>de</strong> 1996A nova Lei <strong>de</strong> Diretrizes e Bases da Educação Nacional (lei 9394/96) recomendana parte diversificada <strong>do</strong> programa <strong>do</strong> Ensino Fundamental, a partir da quinta série,o ensino obrigatório <strong>de</strong> uma língua estrangeira mo<strong>de</strong>rna. No Ensino Médio, umalíngua estrangeira é também obrigatória, mas uma segunda língua po<strong>de</strong> ser incluídafacultativamente.Embora haja uma abertura dada pela lei à a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma línguaestrangeira, o que acontece é, na gran<strong>de</strong> maioria das vezes, o ensino único eexclusivo da Língua Inglesa. Sobre essa questão comenta Kundman:Essa orientação única, a não diversificação na escolha das línguas,nos parece bastante grave <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista cultural, econômico epolítico, em um momento em que a tendência atual é a <strong>do</strong>plurilingüismo. (KUNDMAN, 2001, p.5).O quadro abaixo representa as línguas estrangeiras no sistema educativobrasileiro, <strong>do</strong> império aos dias atuais.1855 grego, latim, francês, inglês, alemão, italiano1892-1925 francês, italiano, inglês ou alemão1942 latim, francês, inglês e espanhol1961 francês e inglês1996 (a partir <strong>de</strong>) inglêsNo quadro acima po<strong>de</strong>mos notar como o número <strong>de</strong> línguas estrangeirasdiminui ao longo <strong>do</strong>s anos. Po<strong>de</strong>mos dizer que a situação na qual vivemos é, nomínimo curiosa, uma vez que já tivemos o oferecimento <strong>de</strong> seis línguas estrangeirase no momento somente uma língua é oferecida e com uma carga horária muitomenor compara<strong>do</strong> ao que tínhamos antes. Como já dissemos, nosso objetivo éapenas elucidar o que aconteceu com as línguas estrangeiras ao longo da história186


<strong>do</strong> sistema educativo brasileiro. A discussão <strong>do</strong>s fatores que levaram a essasituação não fará parte <strong>de</strong>ste trabalho.A Língua Francesa na Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> ViçosaCriada em 1922, a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa é consi<strong>de</strong>rada uma dasmais renomadas <strong>do</strong> Brasil. Ela é composta por 750 professores e aproximadamente12000 estudantes dispostos nas áreas <strong>de</strong> Ciências Exatas, Humanas, Agrárias eBiológicas.O Departamento <strong>de</strong> Letras e Artes foi cria<strong>do</strong> em 1976. É um <strong>de</strong>partamentoque está em fase <strong>de</strong> expansão. Este possibilita aos estudantes licenciarem-se emPortuguês/Inglês, Português/Francês e Português/Literatura. O Departamento <strong>de</strong>Letras é responsável ainda pelo curso <strong>de</strong> Secretaria<strong>do</strong> Executivo Trilingüe(português, inglês, francês).O ensino <strong>de</strong> Língua Francesa é obrigatório durante três anos e meio (LínguaFrancesa I, II, III, IV, V, VI, VII e Francês Instrumental) para os estudantes <strong>de</strong>Secretaria<strong>do</strong> Executivo Trilingüe. O curso tem por objetivo empregar os alunos emempresas francesas situadas no Brasil, além <strong>de</strong> capacitá-los a fazer traduções <strong>de</strong>textos e <strong>do</strong>cumentos em francês.Os estudantes <strong>de</strong> Letras são obriga<strong>do</strong>s a seguir os <strong>do</strong>is primeiros níveis <strong>de</strong>Língua Francesa (Língua Francesa I e II). Depois <strong>de</strong>sse perío<strong>do</strong> eles escolhem alicenciatura a seguir. Normalmente, <strong>de</strong> 40 alunos aprova<strong>do</strong>s por ano, em média,40% optam pela licenciatura Português/Inglês, 15% por Português/Francês e 45%optam por Português/Literatura.Os alunos que optam pela licenciatura Português/Francês estudam oito níveis<strong>de</strong> Língua Francesa, cinco níveis <strong>de</strong> Literatura Francesa, <strong>do</strong>is níveis <strong>de</strong> conversaçãoe fazem um estágio obrigatório <strong>de</strong> quatro meses em uma escola da região. O cursoé concluí<strong>do</strong> em quatro anos.O Curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesa teve início no mês <strong>de</strong> março, noano <strong>de</strong> 2005, com o objetivo <strong>de</strong> oferecer aos estudantes <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Letras umaoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estágio. Vincula<strong>do</strong> ao Departamento <strong>de</strong> Letras e Artes, o cursoaten<strong>de</strong> basicamente aos graduan<strong>do</strong>s da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, receben<strong>do</strong>também mestran<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong>s <strong>de</strong>sta instituição e ainda pessoas da187


comunida<strong>de</strong> viçosense. To<strong>do</strong>s os estagiários <strong>do</strong> curso são estudantes daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Viçosa, regularmente matricula<strong>do</strong>s no Curso <strong>de</strong> Letras. Oobjetivo maior <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Extensão, como já menciona<strong>do</strong>, é a formação <strong>de</strong> futurosprofessores, o que beneficia duplamente a instituição (UFV).Os estudantes <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Letras licencia<strong>do</strong>s em francês, sem ter on<strong>de</strong> sepreparar para ser um bom profissional (antigamente), encontraram no Curso <strong>de</strong>Extensão uma ótima oportunida<strong>de</strong> para começar a carreira <strong>do</strong>cente. O Cursopossibilita a esses estagiários, além da experiência como <strong>do</strong>cente (ainda que sejacomo estagiário), uma ajuda financeira, visto que to<strong>do</strong>s eles recebem uma bolsacujo valor é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela instituição. O outro la<strong>do</strong> beneficia<strong>do</strong> são os graduan<strong>do</strong>sque se matriculam no Curso, pois estes passaram a ter o oferecimento da LínguaFrancesa a um custo muito acessível e <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> campus universitário.Observan<strong>do</strong> o número <strong>de</strong> estudantes que <strong>de</strong>sejam apren<strong>de</strong>r a LínguaFrancesa, surgiu o interesse, ao final <strong>do</strong> primeiro ano <strong>do</strong> curso, <strong>de</strong> conhecer amotivação <strong>de</strong>stes alunos para estudarem a língua em questão. Desta forma, osda<strong>do</strong>s que serão apresenta<strong>do</strong>s fazem parte <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> curso(monografia) apresenta<strong>do</strong> no mês <strong>de</strong> maio <strong>do</strong> ano <strong>de</strong> 2006. Para buscar conhecer amotivação <strong>do</strong>s alunos, aplicamos um questionário com 10 perguntas aos estudantes<strong>de</strong> quatro turmas <strong>de</strong> nível inicial e também àqueles que cursavam o segun<strong>do</strong>semestre <strong>do</strong> curso (uma turma). No momento em que foi realizada a pesquisa,havia 93 alunos matricula<strong>do</strong>s no curso, <strong>do</strong>s quais entrevistamos 49.A partir das respostas obtidas nos questionários, constatamos que o Centro<strong>de</strong> Ciências Humanas (CCH) compreen<strong>de</strong> 52% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s alunos entrevista<strong>do</strong>s.Em seguida apareceu o Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas (CCE), 22,9%. O Centro <strong>de</strong>Ciências Biológicas (CCB) somou 12,5%, assim como os mestran<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong>s(12,5%) o Centro <strong>de</strong> Ciências Agrárias compreen<strong>de</strong>u 0%, ou seja, não foirepresenta<strong>do</strong> pelos alunos que participaram da entrevista.Vamos nos restringir a três pontos na análise <strong>do</strong>s questionários, ten<strong>do</strong> emvista os alunos que respon<strong>de</strong>ram à nossa questão: “o que leva os alunos <strong>de</strong>stainstituição a estudar a Língua Francesa?”.O primeiro ponto diz respeito à importância da língua estrangeira <strong>de</strong> um mo<strong>do</strong>geral.188


A gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s alunos atribuiu à importância <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong> línguaestrangeira três fatores: ao mun<strong>do</strong> cada vez mais globaliza<strong>do</strong> e competitivo(figuran<strong>do</strong> a língua estrangeira como um diferencial no currículo), à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>leitura <strong>de</strong> textos no original e à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enriquecimento cultural.O segun<strong>do</strong> ponto questiona sobre a importância <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> LínguaFrancesa consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> o curso <strong>de</strong> graduação.Os alunos <strong>do</strong> CCH revelaram que um <strong>do</strong>s fatores mais relevantes seria aleitura <strong>de</strong> textos no original (alunos <strong>do</strong>s cursos <strong>de</strong> Geografia, Direito, CiênciasEconômicas, História e Comunicação Social). Para os estudantes <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong>Direito, alguns citaram a importância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> daquela língua na área <strong>do</strong> DireitoCompara<strong>do</strong>, outros citaram na área <strong>do</strong> Direito Internacional. Os estudantes <strong>de</strong>Geografia afirmaram que, por ser a “escola francesa” a “mãe” da GeografiaContemporânea, é indispensável seu estu<strong>do</strong>. Os estudantes <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Históriaacrescentaram que muitos nomes <strong>de</strong> indiscutível importância para esse campo <strong>do</strong>conhecimento produziram suas obras em francês, e daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>ressa língua, pois a tradução nem sempre é satisfatória.Os alunos <strong>do</strong> CCE, ainda que com menor urgência, salientaram também aimportância da leitura <strong>de</strong> textos em francês. Vários <strong>de</strong>les citaram o Convênio UFV -França, que para os estudantes <strong>de</strong> Engenharia é o melhor estágio que a instituiçãooferece.Os alunos <strong>do</strong> mestra<strong>do</strong> e <strong>do</strong>utora<strong>do</strong> <strong>de</strong>ram respostas mais voltadas para oenriquecimento cultural. Para aqueles que fazem ainda o mestra<strong>do</strong> é uma forma <strong>de</strong>se preparar também para a avaliação <strong>do</strong> <strong>do</strong>utora<strong>do</strong>.O terceiro ponto diz respeito à representativida<strong>de</strong> da Língua Francesa paracada um. Foram colocadas quatro opções e, a gran<strong>de</strong> maioria <strong>do</strong>s alunos relacionoutodas. Foram elas: oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estágio no exterior, enriquecimento cultural,qualificação para o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho e auxílio no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas.Alguns alunos acrescentaram o prazer em apren<strong>de</strong>r tal língua, uma vez que, nagran<strong>de</strong> maioria das vezes estudavam uma língua estrangeira por obrigação.Conclusão189


Pela análise das respostas obtidas, constatamos que a Língua Francesa é <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> importância para os estudantes da instituição, seja para o conhecimento dasobras produzidas em francês, pelas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho que aquele paísoferece juntamente à UFV, ou para um maior conhecimento da cultura francesacomo forma <strong>de</strong> enriquecimento pessoal.Pu<strong>de</strong>mos observar ainda, pela análise <strong>do</strong>s questionários, que não hánenhuma pretensão, por parte <strong>do</strong>s alunos que estudam a Língua Francesa, emrestringir seu estu<strong>do</strong> somente a ela. Vários citaram a importância <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong>várias línguas e <strong>do</strong> acesso a várias culturas, o que <strong>de</strong>monstra que a semente <strong>do</strong>plurilingüismo está plantada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já na mente <strong>de</strong> cada um.Para Barbosa (2005) a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> plurilingüismo (maior abertura para aslínguas estrangeiras) juntamente com a <strong>de</strong>fesa <strong>do</strong> ensino <strong>de</strong> Língua Francesa po<strong>de</strong>parecer para<strong>do</strong>xal e contraditória. Entretanto, esta atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstra umengajamento incondicional a favor da diversida<strong>de</strong> cultural, como meio <strong>de</strong> salvar osvalores humanistas asfixia<strong>do</strong>s pelos efeitos da globalização.É importante salientar que no momento da realização <strong>de</strong>sta pesquisa(maio/2006), como já havíamos menciona<strong>do</strong>, o número <strong>de</strong> estudantes matricula<strong>do</strong>sno Curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesa era <strong>de</strong> 93. Felizmente nósacompanhamos um crescimento da Língua Francesa em nosso meio, visto que onúmero <strong>de</strong> estudantes inscritos no último semestre (2007/02) foi <strong>de</strong> 162. Estarealida<strong>de</strong> nos mostra que os estudantes <strong>de</strong>sejam ter acesso à língua e à culturaestrangeira, no caso a francesa. Estes da<strong>do</strong>s nos mostram também o amor e aadmiração que estes nutrem pela Língua Francesa, uma vez que o número <strong>de</strong><strong>de</strong>sistências tem si<strong>do</strong> muito pequeno e o <strong>de</strong> inscrições cresce a cada semestre.A pesquisa<strong>do</strong>ra iniciou sua trajetória como estagiária <strong>do</strong> curso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suacriação, (embora não seja este o foco <strong>do</strong> trabalho) e percebeu que as contribuiçõespara a prática pedagógica são inúmeras, pois iniciou as ativida<strong>de</strong>s comoprofessor/estagiário no curso e hoje encontra-se como supervisora pedagógica nomesmo curso, sen<strong>do</strong> responsável pela formação <strong>do</strong>s novos estagiários.REFERÊNCIAS190


BARBOSA, Márcio Venício. Présentation du XV e Congrès Brésilien <strong>de</strong>s Professeurs<strong>de</strong> Français. Belo Horizonte: ABPF, 2005.BRAUN, Alain. Une stratégie pour lutter contre l’uniformisation voire une nouvelleforme d’impérialisme: le français langue d’alliances. In: Sedifrale XII – Mondialisationet humanisme (les actes) - Politiques linguistiques. Rio <strong>de</strong> Janeiro: APERJ, 2001.CONSEIL D’ÉTAT. L’influence du Droit Français. Paris: La <strong>do</strong>cumentation Française,2001.CUNHA, José Carlos. Mondialisation et enseignement <strong>de</strong>s langues: Pour unplurilinguisme effectif dans le système éducatif brésilien. In: ROUMEGAS, J. P.,PAGEL, Dario e BORG, Serge (Org) Synergies Brésil - Numero spécial. Rio <strong>de</strong>Janeiro: GERFLINT, 2001.KUNDMAN, Maria Sabina. Enseignement-apprentissage <strong>de</strong>s langues étrangères etleurs représentations auprès <strong>de</strong>s pouvoirs publics. In: Sedifrale XII – Mondialisationet humanisme (les actes) - Politiques linguistiques. Rio <strong>de</strong> Janeiro: APERJ, 2001.___________. Politiques linguistiques et Enseignement <strong>de</strong>s langues étrangères auBrésil. Anais <strong>do</strong> XV e Congrès Brésilien <strong>de</strong>s Professeurs <strong>de</strong> Français. Belo Horizonte:ABPF, 2005.MORIN, Edgar. Diversité culturelle et pluralité d’individus. In: ROUMEGAS, J. P.,PAGEL, Dario e BORG, S. (Org) Synergies Brésil - Numero special. Rio <strong>de</strong> Janeiro:GERFLINT, 2001.ROUQUIÉ, Alain. Le français, passeport pour la mondialisation. In: ROUMEGAS, J.P., PAGEL, D. e BORG, S. (Org) Synergies Brési l- Numero special. Rio <strong>de</strong> Janeiro:GERFLINT, 2001.Texto recebi<strong>do</strong> em 21 fev. 2007.Texto aprova<strong>do</strong> em 12 mar. 2008.191


ANEXOQuestionário aplica<strong>do</strong> aos estudantes <strong>do</strong> Curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesa.9 QUESTIONÁRIOCurso <strong>de</strong> graduação: _____________________ Perío<strong>do</strong>: ________ Data: ______1) O que você pensa sobre o aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma língua estrangeira?____________________________________________________________________2) Em sua opinião, o ensino brasileiro valoriza o aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> língua estrangeira?____________________________________________________________________3) Quantas línguas estrangeiras você <strong>do</strong>mina? De on<strong>de</strong> surgiu seu interesse poraprendê-las?_________________________________________________4) Antes <strong>de</strong> ingressar no Curso <strong>de</strong> Extensão, o que você sabia sobre a língua/culturafrancesa?_________________________________________________________5) O que o levou a matricular-se no curso?____________________________6) Para você, o conhecimento da Língua Francesa po<strong>de</strong> auxiliar na sua graduação?( ) Muito ( ) Pouco ( ) Nem um pouco Por quê?_____________________________________________________________________7) O aprendiza<strong>do</strong> da Língua Francesa representa para você ( po<strong>de</strong>-se marcar mais <strong>de</strong>uma opção):( ) oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estágio no exterior.( ) enriquecimento cultural.( ) qualificação para o merca<strong>do</strong> <strong>de</strong> trabalho.( ) auxílio no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas.( ) outros. ___________________________________________________________8) O curso <strong>de</strong> Extensão em Língua Francesa tem atendi<strong>do</strong> às suas expectativas?Justifique.( ) Sim. ( ) Não. ( ) Em partes.9) Você acha que seria necessário o oferecimento <strong>do</strong> ensino <strong>do</strong> francês no seu curso<strong>de</strong> graduação?Por quê?_____________________________________________10) Como você vê a Língua Francesa daqui a alguns anos no contexto universitário?____________________________________________________________________192


Relato <strong>de</strong> Experiência193


IMPLANTAÇÃO DO CONCEITO DE “POSSE RESPONSÁVEL” NO MUNICÍPIODE PALOTINA/PR - BRASILImplantation of concept “Responsible Owner” at Palotina/PR - BrazilErica Cristina B. P. Guirro 83Kleber Menegon Lemes 84Suellen Lovato Ribeiro 2Marcelo Morato Silva 85Tammy Lyn Labatut Bini 3Olicies da Cunha 86RESUMOO conceito <strong>de</strong> posse responsável po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como a aquisição consciente <strong>de</strong>um animal <strong>de</strong> estimação, visan<strong>do</strong> aten<strong>de</strong>r a todas as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> animal,garantin<strong>do</strong>-lhe bem-estar satisfatório. Na tentativa <strong>de</strong> implantar esse conceito nomunicípio <strong>de</strong> Palotina/PR foram realizadas palestras educacionais e feiras <strong>de</strong><strong>do</strong>ação <strong>de</strong> animais. Cerca <strong>de</strong> 280 jovens já assistiram às palestras e cerca <strong>de</strong> 50animais foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s. Com menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> projeto, tem-se verifica<strong>do</strong>estreitamento da relação entre a população e a comunida<strong>de</strong> acadêmica,entendimento <strong>do</strong> que é posse responsável pelos munícipes e ampliação da ativida<strong>de</strong>social por parte <strong>do</strong>s graduan<strong>do</strong>s.Palavras-chave: Cães; gatos; posse responsável; responsabilida<strong>de</strong> social.ABSTRACTConcept of responsible owner is conscious acquisition of an animal and consi<strong>de</strong>ringto caring for all necessities of animal to warrant good well-being. This projectobjective implant the concept of responsible owner at Palotina/PR and this was <strong>do</strong>nethought educative lectures and <strong>do</strong>nation open-air market. About 280 stu<strong>de</strong>nts and 50animals were present at lectures and 50 animals were a<strong>do</strong>pted. Until one year ofproject, have been observed strait relationship between population and aca<strong>de</strong>mic83Professora Assistente da UFPR/Palotina, Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão “PosseResponsável”. E-mail: ericaguirro@ufpr.br. Autor para correspondência: UFPR, Rua Pioneiro,2153, Palotina/PR, CEP 85950-000.84 Acadêmico da UFPR/Palotina, bolsista da <strong>PROEC</strong> - UFPR85 Acadêmico da UFPR/Palotina, bolsista da Fundação Araucária (Ação Afirmativa)86 Professor Assistente da UFPR/Palotina, Vice-coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Projeto <strong>de</strong> Extensão “PosseResponsável”194


community, better un<strong>de</strong>rstanding about responsible owner by population andincrease in social activity by aca<strong>de</strong>mics.Keywords: Cats; <strong>do</strong>gs; responsible owner; social responsibility.RESUMENEl concepto <strong>de</strong> pose responsable pue<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> como la adquisición conciente<strong>de</strong> un animal <strong>de</strong> compañía, buscan<strong>do</strong> aten<strong>de</strong>r a todas las necesida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lamascota, garantizán<strong>do</strong>le bien estar. En el intento <strong>de</strong> implantar ese concepto en elmunicipio <strong>de</strong> Palotina, PR – Brasil, fueron realizadas charlas educativas y ferias <strong>de</strong><strong>do</strong>nación <strong>de</strong> animales. Cerca <strong>de</strong> 280 jóvenes ya participaron <strong>de</strong> las charlas yalre<strong>de</strong><strong>do</strong>r <strong>de</strong> 50 animales ya fueron a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>s. Fue verifica<strong>do</strong> el estrechamiento <strong>de</strong>la relación entre la población y la comunidad académica, entendimiento <strong>de</strong>l concepto<strong>de</strong> pose responsable por parte <strong>de</strong> los habitantes <strong>de</strong> la ciudad y aumento <strong>de</strong> laactividad social por parte <strong>de</strong> los graduan<strong>do</strong>s.Palabras-clave: Gatos; perros; pose responsable; responsabilidad social.Introdução e Revisão <strong>de</strong> LiteraturaO tema “posse responsável” é um conceito atual sobre os cuida<strong>do</strong>s que se<strong>de</strong>ve ter com os animais <strong>do</strong>mésticos, especialmente com cães e gatos. Posseresponsável po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como a aquisição consciente <strong>de</strong> um animal <strong>de</strong>estimação, visan<strong>do</strong> aten<strong>de</strong>r a todas as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> animal, garantin<strong>do</strong>-lhe bemestarsatisfatório (www.arcabrasil.org.br).A proliferação <strong>de</strong>scontrolada <strong>de</strong> cães e gatos é resulta<strong>do</strong> direto <strong>do</strong>aban<strong>do</strong>no ou maus cuida<strong>do</strong>s vivi<strong>do</strong>s por tais animais e, assim, é essencial quehaja aplicação <strong>de</strong> uma política nacional que vise conscientizar a população sobrea necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se cuidar bem <strong>do</strong>s animais e evitar sua proliferação<strong>de</strong>scontrolada (www.kennelclub.com.br). Segun<strong>do</strong> o CENSO <strong>de</strong> 1998, apopulação estimada <strong>do</strong> Município <strong>de</strong> Palotina é <strong>de</strong> 26.545 habitantes (IBGE,1998). Como é estima<strong>do</strong> que a população canina esteja em torno <strong>de</strong> 10% dapopulação humana na área urbana, significa que em Palotina existem cerca <strong>de</strong>2.500 cães.No Brasil, o primeiro projeto <strong>de</strong> lei visan<strong>do</strong> a implantação <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong>posse responsável foi i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> pelo Deputa<strong>do</strong> Fe<strong>de</strong>ral Cunha Bueno, em 1999.Em 2000, tal projeto foi protocola<strong>do</strong> no Sena<strong>do</strong> e contempla 10 artigos queabrangem cuida<strong>do</strong>s sanitários e garantem o bem-estar animal em to<strong>do</strong> o território195


nacional, além <strong>de</strong> se referir aos cuida<strong>do</strong>s necessários para se evitar aci<strong>de</strong>ntescausa<strong>do</strong>s por animais errantes (www.nossoscaesegatos.hpg.ig.com.br).Alguns municípios brasileiros que investiram no esclarecimento econscientização da importância da posse responsável obtiveram sucesso. Aimplantação <strong>de</strong>ste conceito tem si<strong>do</strong> realizada por meio <strong>de</strong> inúmeras práticas,como registro <strong>do</strong>s animais <strong>de</strong> estimação e emprego <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>s animais, como coleiras, chips entre outras, melhoria da saú<strong>de</strong> eda qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida <strong>do</strong>s animais, estimulação da a<strong>do</strong>ção responsável e amanutenção em <strong>do</strong>micílio <strong>do</strong>s cães e gatos, prevenção <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças e estimulaçãodas vacinações, visan<strong>do</strong> a manutenção da saú<strong>de</strong> e <strong>do</strong> bem-estar <strong>do</strong>s animais<strong>do</strong>mésticos e <strong>do</strong>s seres humanos, melhoria na relação homem-animal, <strong>de</strong>stinação<strong>do</strong>s animais errantes, utilização <strong>do</strong>s animais para experimentação, planejamentoda natalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s animais, facilitan<strong>do</strong> o acesso às cirurgias <strong>de</strong> esterilização <strong>do</strong>scães e gatos, aumento <strong>do</strong> conhecimento das necessida<strong>de</strong>s e <strong>do</strong> comportamento<strong>do</strong>s animais <strong>do</strong>mésticos, entre outros (CARVALHO, s/d; RUIZ, s/d;www.forumnacional.com.br).Dessa forma, os objetivos fundamentais <strong>de</strong>ste trabalho foram <strong>de</strong> or<strong>de</strong>msanitária e social. O foco sanitário foi o <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,oferecen<strong>do</strong> informações que contribuam na redução <strong>do</strong> número <strong>de</strong> animais soltosnas ruas <strong>de</strong> Palotina o que, conseqüentemente, po<strong>de</strong> diminuir os índices <strong>de</strong><strong>do</strong>enças infecto-contagiosas entre os animais e entre o homem e os animais(zoonoses). Os objetivos sociais fundamentaram-se no estreitamento da relaçãoda população com os animais, aumento <strong>do</strong> vínculo entre a população e acomunida<strong>de</strong> acadêmica e ampliação o senso <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> social nosalunos participantes <strong>do</strong> projeto.Material e Méto<strong>do</strong>sEste projeto iniciou-se no ano <strong>de</strong> 2007 e continua sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pormeio <strong>de</strong> duas ações principais: palestras educativas e feiras <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação <strong>de</strong>animais (Figura 1). Para tais ativida<strong>de</strong>s foram seleciona<strong>do</strong>s alunos <strong>do</strong> curso <strong>de</strong>Medicina Veterinária da UFPR/ Campus Palotina, bolsistas ou voluntários, quesão orienta<strong>do</strong>s pelos coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>res <strong>do</strong> projeto.196


As palestras são agendadas, nas escolas públicas e privadas <strong>de</strong> Palotina,com o auxílio da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação. O público alvo envolve jovens<strong>de</strong> 4 a 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, pois este é o futuro público forma<strong>do</strong>r <strong>de</strong> opinião e,portanto, o ponto chave da implantação <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>rno conceito <strong>de</strong> posseresponsável. Dessa forma, estarão sen<strong>do</strong> forma<strong>do</strong>s cidadãos mais conscientes arespeito <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> sobre a presença <strong>de</strong> animais soltos nas ruas,<strong>de</strong>sprovi<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>s necessários e <strong>de</strong> medicina veterinária preventiva. Alémdisso, por ter jovens como público alvo, há maior possibilida<strong>de</strong> quanto à redução<strong>de</strong> gastos com vigilância sanitária e recolhimento <strong>de</strong> animais das ruas.Diante da diferença quanto ao grau <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong>sta faixa etária,criaram-se três mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> palestras, varian<strong>do</strong> a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> texto e <strong>de</strong>imagens, mas sempre limitan<strong>do</strong> as apresentações entre 20 a 30 minutos a fim <strong>de</strong>garantir a atenção <strong>do</strong> público. Os temas aborda<strong>do</strong>s são longevida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s animais,educação <strong>do</strong>s filhotes e <strong>do</strong>s adultos, abrigo, espaço físico necessário, higiene,banhos, alimentação, água, aban<strong>do</strong>no, a<strong>do</strong>ção, cuida<strong>do</strong>s veterinários, vacinação,vermifugação e controle populacional (castração).As feiras <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> animais são realizadas durante feiras promovidaspela Prefeitura, por associações <strong>de</strong> Palotina ou, ainda, em casas agropecuáriasque apóiam o projeto. A a<strong>do</strong>ção é precedida <strong>do</strong> preenchimento <strong>de</strong> um cadastrocom i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> futuro proprietário que, obrigatoriamente, <strong>de</strong>ve ser maior <strong>de</strong>18 anos e, também, no esclarecimento <strong>de</strong> como se <strong>de</strong>ve cuidar <strong>do</strong> cão e/ou gatoque está sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> e, durante essa explicação, são passadas as mesmasinformações contidas nas palestras educativas.Os animais que são encaminha<strong>do</strong>s à a<strong>do</strong>ção são cães e gatos oriun<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>ação ou aban<strong>do</strong>no nas <strong>de</strong>pendências <strong>do</strong> Campus da UFPR, no município <strong>de</strong>Palotina/PR. Esses animais são examina<strong>do</strong>s, recebem os cuida<strong>do</strong>s higiênicosa<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s e, se a ida<strong>de</strong> permitir, são submeti<strong>do</strong>s à esterilização cirúrgica. Osanimais muito jovens que não pu<strong>de</strong>ram ser opera<strong>do</strong>s são <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s, mas o futuroproprietário é informa<strong>do</strong> que po<strong>de</strong> procurar o Hospital Veterinário quan<strong>do</strong> o animalatingir mais <strong>de</strong> 6 meses para ser submeti<strong>do</strong> ao procedimento cirúrgico a baixocusto.197


ABCEFDGHFigura 1 – Execução <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> extensão que visa implantar o conceito <strong>de</strong> posseresponsável no município <strong>de</strong> Palotina/PR. A exibe o logotipo <strong>do</strong> projeto “PosseResponsável”; B ilustra os acadêmicos bolsistas durante a realização <strong>de</strong> palestraeducativa; C mostra o público <strong>de</strong> uma palestra educativa; D apresenta o momento daa<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> um cão, sempre com a presença <strong>de</strong> um responsável maior <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; E mostraos alunos voluntários que participam <strong>de</strong> feira <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação <strong>de</strong> cães e gatos; F exibe umacadêmico explican<strong>do</strong> como cuidar <strong>de</strong> um animal que será a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>; G ilustra o interesse<strong>de</strong> crianças na a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> animais, inclusive por aqueles que sofreram danospermanentes como a amputação <strong>de</strong> um membro; H apresenta um grupo <strong>de</strong> cães filhotesexpostos para a a<strong>do</strong>ção em uma das feiras.Resulta<strong>do</strong>s e DiscussãoComo resulta<strong>do</strong>s diretos,constata-se que cerca <strong>de</strong> 280 jovens <strong>de</strong> 4 a 15anos já assistiram às palestras e cerca <strong>de</strong> 50 cães ou gatos foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>mo<strong>do</strong> proposto. Com base nos valores <strong>do</strong> CENSO <strong>de</strong> 1998, esses númerosrepresentariam cerca <strong>de</strong> 1% da população humana e 2% da população <strong>de</strong> cães, oque passa a ser significativo por ter ocorri<strong>do</strong> em menos <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> criação eexecução <strong>do</strong> projeto.198


Indiretamente, é importante salientar que durante a realização daspalestras observou-se gran<strong>de</strong> interesse por parte <strong>do</strong> público e o questionamento<strong>do</strong>s jovens ao final das apresentações foi notável. Durante as feiras <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação,houve gran<strong>de</strong> aproximação entre a comunida<strong>de</strong> palotinense e os acadêmicos <strong>do</strong>curso <strong>de</strong> Medicina Veterinária, sen<strong>do</strong> que os munícipes indagavam sobreinúmeros sinais clínicos observa<strong>do</strong>s em outros animais e como cuidar <strong>de</strong> cães egatos. A Coor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong>cidiu que não seriam realizadas consultas aoutros animais durante as feiras, pois se tratava <strong>de</strong> ambiente ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> àprática da Medicina Veterinária. Todavia, orientou-se a população a agendarconsultas no Hospital Veterinário da Universida<strong>de</strong> e observou-se aumento daprocura posteriormente às feiras.Além disso, é importante ressaltar que os acadêmicos que participaram <strong>do</strong>projeto exibiram enorme satisfação ao final das palestras e das feiras <strong>de</strong> <strong>do</strong>ação.Os acadêmicos <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Medicina Veterinária mostraram extremo interessepelo contato com os expecta<strong>do</strong>res das palestras e não mediram esforços pararespon<strong>de</strong>r a to<strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> questionamento pertinente ao tema. Foram freqüentesos relatos sobre a importância da responsabilida<strong>de</strong> social vivida pelos acadêmicosque se sensibilizaram ao praticar a profissão que escolheram e po<strong>de</strong>r estreitar arelação com futuros proprietários <strong>de</strong> animais aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s. Foi evi<strong>de</strong>nte amotivação para a próxima ativida<strong>de</strong> proposta, fosse palestra ou feira.Notou-se, também, que este projeto recebeu atenção da comunida<strong>de</strong>, queatualmente vem até o Hospital Veterinário da UFPR/ Campus Palotina em busca<strong>de</strong> animais para a<strong>do</strong>ção. A imprensa local escrita e falada também procurou aCoor<strong>de</strong>nação <strong>do</strong> projeto a fim <strong>de</strong> apoiar sua divulgação.ConclusõesDiante <strong>do</strong> exposto, nota-se que o conceito <strong>de</strong> posse responsável já temsignifica<strong>do</strong> mais claro à população palotinense, que gradualmente tem semostra<strong>do</strong> mais atenciosa quanto aos cuida<strong>do</strong>s necessários à criação <strong>de</strong> animais<strong>de</strong> estimação e à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se reduzir o risco <strong>de</strong> contágio <strong>de</strong> <strong>do</strong>ençastransmitidas por esses animais. A<strong>de</strong>mais, é salutar a geração <strong>de</strong> acadêmicos <strong>de</strong>Medicina Veterinária mais preocupada com seu papel na socieda<strong>de</strong>, não apenas199


no que tange ao trabalho técnico, mas também ao social e voluntaria<strong>do</strong>. Assim,preten<strong>de</strong>-se continuar com o projeto <strong>de</strong> extensão “Posse Responsável” a fim <strong>de</strong>aumentar a inclusão <strong>de</strong>ste conceito na comunida<strong>de</strong>.REFERÊNCIASCARVALHO, V. F. A posse responsável <strong>do</strong>s animais é um compromisso com a vida.Disponível em . Acesso em 09/01/2007.Encontro Proteção Ambiental: O Novo Papel <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Zoonoses.Disponível em.Acesso em 14/01/2007.RUIZ, D. MP intervém em causa animal. Disponível em. Acesso em 11/101/2007.Disponível em . Acesso em 09/01/2007.Disponível em . Acesso em 12/01/2007.Disponível em . Acesso em 09/01/2007.Texto recebi<strong>do</strong> em 12 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 26 mar. 2008.200


GUIA DE ACESSIBILIDADE DE CAMPINAS: RELATO DE EXPERIÊNCIAREALIZADA NO PROGRAMA GERAL DE EXTENSÃO DA PUC-CAMPINASAccessibility Gui<strong>de</strong> of Campinas: report of an experience <strong>do</strong>ne at a GeneralExtension Program of PUC-Campinas.Beatriz Helena Bueno Brandão 87Camila <strong>de</strong> Araújo 88Juliana Caroni Medlij 89Priscila Lina Rodrigues <strong>de</strong> Matos 90RESUMOEste relato <strong>de</strong>screve, a partir <strong>do</strong> Programa Geral <strong>de</strong> Extensão da PUC-Campinas, aexperiência <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> um Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> para a cida<strong>de</strong>, ematendimento a to<strong>do</strong>s os usuários e em especial às pessoas com <strong>de</strong>ficiência ou commobilida<strong>de</strong> reduzida. O relato se propõe a socializar informações sobre o projetoproposto, quanto às referências utilizadas, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas e em<strong>de</strong>senvolvimento, bem como sobre as oportunida<strong>de</strong>s geradas nas realizações<strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s. O guia <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> tem mo<strong>de</strong>lo análogo em ediçãorealizada para a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e publicada no ano <strong>de</strong> 2001, com informaçõessobre acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficientes físicos a ambientes, edificações, equipamentos esistemas <strong>de</strong> comunicação. Como se trata <strong>de</strong> projeto em andamento, inicia<strong>do</strong> em2007, é ainda relatada a programação das ativida<strong>de</strong>s para o ano <strong>de</strong> 2008 com asperspectivas <strong>de</strong> realização para 2009.Palavras-chave: Guias; Acessibilida<strong>de</strong>; Pessoas com <strong>de</strong>ficiência; Campinas; Cida<strong>de</strong>.SUMMARY87 Professa Me. <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Ciências Exatas, Ambientais e <strong>de</strong> Tecnologias da PUC-Campinas.E mail – biabrandao@puc-campinas.edu.br88 Aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornalismo da PUC-Campinas89 Aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas90 Aluna da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo da PUC-Campinas201


This report <strong>de</strong>scribes, starting from the Extension General Program of PUC-Campinas,the experience of the accomplishment of a Accessibility Gui<strong>de</strong> for the city, inattendance to all users and specially for the handicapped or with a reduced mobility<strong>de</strong>ficiency. The report proposes to socialize information about the proposed project,as to the references used, the <strong>de</strong>veloped activities and the ones in <strong>de</strong>velopment, aswell as the opportunities created in the achievement of these activities. Theaccessibility gui<strong>de</strong> as an analogous mo<strong>de</strong>l in an edition ma<strong>de</strong> for the city of SãoPaulo and was published in 2001, with information on accessibility for thehandicapped, constructions, equipments and communication systems. Because thisis a project in process, initiated in 2007, it is still related in the programming of theactivities for 2008 with the perspectives of consummation in 2009.Keywords: Gui<strong>de</strong>s; accessibility; handicapped; campinas; city.RESUMENEste relato <strong>de</strong>scribe, a partir <strong>de</strong>l Programa General <strong>de</strong> Extensión <strong>de</strong> la PUC-Campinas, la experiencia <strong>de</strong> realización <strong>de</strong> un Guia <strong>de</strong> Acceso para la ciudad, enatención a to<strong>do</strong>s los usuários y en especial a las personas con discapacidad o conmovilidad reducida. El relato se propone socializar informaciones sobre el proyectopropuesto, sobre las referencias usadas, las activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvueltas y en<strong>de</strong>senvolvimiento, bien como sobre las oportunida<strong>de</strong>s creadas en las realizaciones<strong>de</strong> esas activida<strong>de</strong>s. El guia <strong>de</strong> acceso tiene mo<strong>de</strong>lo análogo en edición realizadapara la ciudad <strong>de</strong> São Paulo y publicada en el año 2001, con informaciones sobre elacceso <strong>de</strong> discapacita<strong>do</strong>s a ambientes, construcciones, equipamentos y sistemas <strong>de</strong>comunicación. Como se trata <strong>de</strong> un proyecto en andamiento, inicia<strong>do</strong> en 2007, ytodavia relatada la programación <strong>de</strong> las activida<strong>de</strong>s para el año 2008 con lasperspectivas <strong>de</strong> realización para 2009.Palabras-Clave: Guias; acceso; personas con discapacidad; Campinas; ciudad.A Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Campinas, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com sua vocação<strong>de</strong> universida<strong>de</strong> confessional, tem como missão, entre outras, a <strong>de</strong> contribuir naedificação <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> justa e solidária, por intermédio <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ensino, pesquisa e extensão.As suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>senvolvem-se, costumeiramente, nosprogramas <strong>de</strong> atendimento <strong>do</strong> Hospital e Maternida<strong>de</strong> Celso Pierro, bem como no202


Centro Interdisciplinar <strong>de</strong> Atenção ao Deficiente e em algumas ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s cursos<strong>do</strong>s seus diversos Centros.Contu<strong>do</strong>, foi a regulamentação <strong>do</strong> Plano <strong>de</strong> Carreira Docente em 2006 queinstitucionalizou a Extensão na PUC-Campinas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a ajudá-la a cumprir seupapel social e “criar um centro <strong>de</strong> referência <strong>do</strong> conhecimento sobre a realida<strong>de</strong>, asvicissitu<strong>de</strong>s e as perspectivas da região metropolitana em que se localiza auniversida<strong>de</strong>.” (Circular PROEXT – 023/2006).Nesse novo contexto universitário e no atendimento aos novos paradigmassociais <strong>de</strong> promover a inclusão e estimular a cidadania é que surgiu a oportunida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas, como projeto <strong>de</strong>extensão.O tema da acessibilida<strong>de</strong> é trata<strong>do</strong> pela autora em algumas disciplinas, nasFaculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo e <strong>de</strong> Artes Visuais com Ênfase em Designnas quais leciona, estan<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta maneira, inserida nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino. Foitema ainda, <strong>de</strong> Pesquisa <strong>de</strong> Iniciação Científica, no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1997 e 2001 eorientada no intuito <strong>de</strong> aferir as condições <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Campus I dauniversida<strong>de</strong>, no qual a autora <strong>de</strong>senvolve suas ativida<strong>de</strong>s. Faltava, portanto, otratamento <strong>do</strong> assunto como um trabalho <strong>de</strong> extensão universitária.O projeto proposto teve como parâmetros os conceitos <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>vigentes na legislação brasileira (Decreto 5296/04) e na normalização pertinente(NBR 9050/04). Esses parâmetros prevêem o atendimento prioritário às pessoascom <strong>de</strong>ficiência ou com mobilida<strong>de</strong> reduzida, que incluem entre outros, os i<strong>do</strong>sos, osobesos, as gestantes e as mães com crianças <strong>de</strong> colo. O projeto enfoca também oconceito <strong>do</strong> Desenho Universal <strong>de</strong> atendimento à maior gama <strong>de</strong> variaçõespossíveis das características antropométricas e sensoriais da população (NBR9050/04).Dessa forma, o Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas tem como objetivo geralservir como meio <strong>de</strong> comunicação no atendimento à socieda<strong>de</strong> da RegiãoMetropolitana <strong>de</strong> Campinas em geral, e em especial às pessoas com <strong>de</strong>ficiência oumobilida<strong>de</strong> reduzida, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a lhes proporcionar melhores condições <strong>de</strong> acesso nacida<strong>de</strong>, aos ambientes, edificações, equipamentos e sistemas <strong>de</strong> comunicação.Preten<strong>de</strong> assim melhorar as condições <strong>de</strong> vida das pessoas contribuin<strong>do</strong> noatendimento das condições humanas naturais <strong>de</strong> crescimento e envelhecimento.203


A existência, porém, <strong>de</strong> legislação brasileira específica sobre o assunto não égarantia <strong>de</strong> respeito aos direitos <strong>do</strong>s cidadãos. Apesar <strong>de</strong> algumas situações <strong>de</strong>adaptações já existirem em cida<strong>de</strong>s, edificações, equipamentos e sistemas <strong>de</strong>comunicação, o conhecimento <strong>de</strong>sses fatos, bem como da própria legislação, pelapopulação, é muito precário, quan<strong>do</strong> não inexistente. Essa precarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>informação justifica plenamente a função <strong>do</strong> guia como meio <strong>de</strong> informação edivulgação.O Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> proposto tem como mo<strong>de</strong>lo o Guia São PauloAdaptada elabora<strong>do</strong> para disponibilizar informações sobre acessibilida<strong>de</strong> na cida<strong>de</strong><strong>de</strong> São Paulo e publica<strong>do</strong> em 2001. O guia paulistano foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> somente emversão impressa e distribuí<strong>do</strong> para órgãos públicos, instituições, entida<strong>de</strong>s eassociações relacionadas às pessoas com <strong>de</strong>ficiência sen<strong>do</strong> vendi<strong>do</strong> ainda, na re<strong>de</strong><strong>de</strong> supermerca<strong>do</strong>s Pão <strong>de</strong> Açúcar.Observamos empiricamente que, poucas pessoas, mesmo entre as com<strong>de</strong>ficiência conhecem o referi<strong>do</strong> guia e ele também não foi atualiza<strong>do</strong> ou reedita<strong>do</strong>.Nossa proposta, diante <strong>de</strong>ssa observação é da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> elaboração <strong>do</strong> Guia<strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas, também em versão eletrônica, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> apossibilitar sua atualização constante e seu acesso mais abrangente.A partir da aprovação <strong>do</strong> projeto pelas instâncias competentes, proce<strong>de</strong>u-se àseleção <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> diferentes cursos da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma a envolverdiferentes habilida<strong>de</strong>s, como forma <strong>de</strong> melhor contribuir para a execução <strong>do</strong> trabalhoproposto e possibilitar o exercício da transdisciplinarida<strong>de</strong>. E assim, selecionamosalunas da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Arquitetura e Urbanismo e da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Jornalismo. Seas primeiras têm uma maior familiarida<strong>de</strong> com os aspectos urbanos e edilícios, asseguintes têm a maior experiência <strong>do</strong> trabalho <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> informações, texto edivulgação.O plano <strong>de</strong> trabalho individual das alunas foi elabora<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira acontemplar a diversida<strong>de</strong> das informações propostas para serem divulgadas no Guia<strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong>. Como no Guia São Paulo Adaptada, as informações serão sobreo acesso a edificações e espaços urbanos (arte e cultura, entretenimento e lazer);serviços (esporte, transporte, órgãos públicos e associações, serviços); leis enormas; além <strong>de</strong> informações <strong>de</strong> interesse geral. Assim, estamos elaboran<strong>do</strong> olevantamento e coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s e imagens <strong>do</strong>s espaços acessíveis na cida<strong>de</strong>, para204


numa etapa seguinte proce<strong>de</strong>r a sua classificação e organização, visan<strong>do</strong> àspublicações em meio impresso e eletrônico <strong>de</strong>ssas informações.Cabe esclarecer que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a proposta inicial <strong>de</strong> implantação <strong>do</strong>Programa <strong>de</strong> Extensão da PUC-Campinas, foram previstos três Núcleos Territoriaisrelaciona<strong>do</strong>s a regiões da cida<strong>de</strong> nos quais já se <strong>de</strong>senvolviam ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>atendimento às comunida<strong>de</strong>s ali existentes. Optamos por <strong>de</strong>senvolver nosso projetono Núcleo Territorial da Catedral Metropolitana <strong>de</strong> Campinas pela sua localização naárea central da cida<strong>de</strong>. Acreditamos que essa região concentraria uma maiorquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> edifícios públicos e que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a legislação fe<strong>de</strong>ral em vigor,já teriam executa<strong>do</strong> as a<strong>de</strong>quações <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong> necessárias. Nossa surpresafoi constatar que essa hipótese não se confirmava. Porém a escolha da áreaconfirmava ainda sua vocação relativa à concentração <strong>de</strong> serviços e <strong>de</strong> moradia dapopulação i<strong>do</strong>sa.A meto<strong>do</strong>logia proposta consistiu, inicialmente, em leituras <strong>de</strong> fundamentaçãoconceitual, bem como na utilização <strong>de</strong> varia<strong>do</strong>s relatos <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> pessoascom <strong>de</strong>ficiência, aborda<strong>do</strong>s em filmes VHS e DVD. As informações oriundas <strong>de</strong>ssematerial <strong>de</strong> fundamentação permitiram o nivelamento conceitual das alunas nasquestões sobre legislação e normalização referentes à acessibilida<strong>de</strong> e necessáriasà elaboração <strong>do</strong> roteiro <strong>de</strong> avaliação.Esse roteiro consiste em uma planilha com os principais itens a seremavalia<strong>do</strong>s nos espaços, <strong>de</strong> forma geral, e foi elabora<strong>do</strong> com base em roteirossemelhantes, como o utiliza<strong>do</strong> na Pesquisa <strong>de</strong> Iniciação Científica <strong>de</strong> Avaliação <strong>do</strong>Campus I da PUC-Campinas e outros mais atuais como o <strong>do</strong> CREA-PR. To<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>maneira geral, procuram aten<strong>de</strong>r aos capítulos e itens da NBR 9050/04 que trata daacessibilida<strong>de</strong> a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos.A elaboração <strong>do</strong> roteiro <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong>u-se ao mesmo tempo em que serealizava a pesquisa <strong>do</strong>s edifícios <strong>de</strong> órgãos públicos existentes na região central <strong>de</strong>Campinas. Obtivemos uma carta <strong>de</strong> apresentação da Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria Geral <strong>de</strong>Projetos <strong>de</strong> Extensão que atestava a vinculação <strong>do</strong> projeto à Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>maneira a facilitar o acesso aos lugares seleciona<strong>do</strong>s. Nossa segunda surpresa foiconstatar que, como os edifícios <strong>do</strong>s órgãos públicos não executaram as obrasindicadas na legislação especifica sobre acessibilida<strong>de</strong>, em gran<strong>de</strong> medida, issocontribuía para a postergação <strong>do</strong> aceite <strong>de</strong> nossa visita. Esse fato colaborou para oatraso na realização das etapas previstas em cronograma.205


Um fato, no entanto, viria a contribuir significativamente para fortalecer eimpulsionar nosso trabalho. Logo no início <strong>de</strong> nossas ativida<strong>de</strong>s extensionistasaconteceu o I Encontro Municipal <strong>de</strong> Informação e Defesa das Pessoas comDeficiência, organiza<strong>do</strong> pelo Conselho Municipal <strong>de</strong> Atenção à Pessoa comDeficiência e com Necessida<strong>de</strong>s Especiais, atual Conselho Municipal <strong>de</strong> Direitos daPessoa com Deficiência, <strong>de</strong> Campinas. A participação nesse Encontro possibilitou ocontato com a presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Conselho Municipal e o convite para apresentação <strong>do</strong>projeto <strong>do</strong> Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas em uma das reuniões mensais.A apresentação <strong>do</strong> Guia no Conselho Municipal abriu uma série <strong>de</strong>oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> participação em eventos relaciona<strong>do</strong>s à causa da <strong>de</strong>ficiência enosso projeto é, invariavelmente, qualifica<strong>do</strong> como fundamental pelas pessoasparticipantes. Entre esses eventos que participamos, cabe <strong>de</strong>stacar o V FórumPermanente <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> em Curitiba, no mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007 e aorganização da Semana <strong>de</strong> Luta pela Cidadania da Pessoa com Deficiência emCampinas, que aconteceu no mês <strong>de</strong> setembro. A participação na organização daSemana <strong>de</strong> Luta proporcionou que uma comitiva <strong>de</strong> pessoas com <strong>de</strong>ficiência efamiliares, assim como o nosso grupo, estivesse no 3º Enduro da Autonomiarealiza<strong>do</strong> na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santos, litoral <strong>de</strong> São Paulo. E ainda, fizemos aapresentação <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> Guia, na Câmara Municipal <strong>de</strong> Campinas, como partedas palestras programadas. Nesse dia realizamos uma enquête sobre questõesrelacionadas ao Guia, cujo mo<strong>de</strong>lo e tabulação se encontram nos anexos e queapesar da pequena quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>voluções foi muito significativa.As questões formuladas na enquête foram relativas à área com menosinformações sobre acessibilida<strong>de</strong> em Campinas, o conhecimento ou não das leis enormas sobre a acessibilida<strong>de</strong>, a contribuição no dia a dia <strong>de</strong> um guia como oproposto pelo projeto e finalmente, qual o melhor meio para veiculá-lo. Dentre as 22pessoas que respon<strong>de</strong>ram a enquête, a área <strong>de</strong> órgãos públicos e associações foi amais associada à falta <strong>de</strong> informações na cida<strong>de</strong>, seguida das áreas <strong>de</strong> arte, culturae lazer. A resposta sobre o conhecimento das leis e normas <strong>de</strong> acessibilida<strong>de</strong>indicou um <strong>de</strong>sconhecimento <strong>do</strong> assunto <strong>de</strong> mais da meta<strong>de</strong> das pessoas. Quanto àproprieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> guia para a vida diária das pessoas a resposta positiva foiunanimida<strong>de</strong>. E no tocante à melhor veiculação <strong>do</strong> guia o meio impresso foi o maisaponta<strong>do</strong>, segui<strong>do</strong> da internet. Essas respostas vieram a confirmar algumas206


hipóteses acerca <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong>, bem como a manutençãodas etapas <strong>de</strong>finidas.Entre os contatos proporciona<strong>do</strong>s pela participação nas reuniões <strong>do</strong> ConselhoMunicipal <strong>de</strong> Direitos da Pessoa com Deficiência, <strong>de</strong>stacamos também o convitepara integrar a Comissão Permanente <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> - CPA, vinculada aSecretaria Municipal <strong>de</strong> Urbanismo da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Campinas. Além daparticipação efetiva nas reuniões quinzenais da CPA, será realiza<strong>do</strong> um Curso <strong>de</strong>Extensão vincula<strong>do</strong> ao projeto <strong>do</strong> Guia, para formação <strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res municipais emrelação aos conceitos e as a<strong>de</strong>quações necessárias à promoção da acessibilida<strong>de</strong>urbana e edilícia.Este relato não estaria completo ainda, se não mencionasse que além <strong>do</strong>scontatos e ativida<strong>de</strong>s nas instituições campineiras, o projeto <strong>do</strong> Guia foi apresenta<strong>do</strong>em diversos eventos da universida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>mos citar a participação no eventoextensionista “A Universida<strong>de</strong> Socializan<strong>do</strong> a Diversida<strong>de</strong>”, com apresentação <strong>de</strong>trabalhos e comunicações, pelos professores da universida<strong>de</strong> e instituiçõesconvidadas sobre a temática da <strong>de</strong>ficiência. E também a participação no I EncontroAnual <strong>de</strong> Extensão, da PUC-Campinas, com apresentação <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>do</strong>trabalho pela autora e um pôster pelas alunas.A vinculação <strong>do</strong> projeto <strong>do</strong> Guia ao Núcleo Territorial da CatedralMetropolitana <strong>de</strong> Campinas possibilitou o trabalho conjunto com os <strong>de</strong>maisprofessores extensionistas integra<strong>do</strong>s ao mesmo núcleo. Essa integraçãoultrapassou os limites da diversida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s trabalhos individuais e permitiu a execução<strong>de</strong> trabalhos coletivos como a Exposição <strong>de</strong> Maria, que reuniu obras <strong>do</strong> acervo <strong>do</strong>Museu <strong>de</strong> Arte Sacra da Arquidiocese <strong>de</strong> Campinas, para visitação, na CatedralMetropolitana da cida<strong>de</strong>. O grupo <strong>de</strong> professores extensionistas, vincula<strong>do</strong>s aosnúcleos territoriais, buscam constantemente o intercâmbio <strong>de</strong> idéias e a práticaconjunta <strong>de</strong> ações.Em relação ao projeto <strong>do</strong> Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas açõesconjugadas será a aplicação <strong>do</strong> roteiro <strong>de</strong> avaliação pelas senhoras freqüenta<strong>do</strong>rasda Catedral e que participam <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong> extensão da Universida<strong>de</strong> da 3ª ida<strong>de</strong>.Essa participação <strong>de</strong> pessoas i<strong>do</strong>sas contempla o lema proposto no I EncontroMunicipal <strong>de</strong> Informação e Defesa <strong>do</strong>s Direitos das Pessoas com Deficiência, emCampinas, que é “Nada sobre Nós sem Nós”. Outra possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> açãoconjugada acontecerá quan<strong>do</strong> da participação <strong>de</strong> alunos <strong>do</strong> Centro Interdisciplinar207


<strong>de</strong> Atenção ao Deficiente – CIAD da PUC-Campinas que é uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>extensão, em alguns roteiros <strong>de</strong> avaliação.Essas ativida<strong>de</strong>s todas aconteceram nos <strong>do</strong>is semestres <strong>de</strong> 2007 e foramapresentadas em relatório que avaliou os resulta<strong>do</strong>s espera<strong>do</strong>s e os efetivamenteobti<strong>do</strong>s, para se necessário, proce<strong>de</strong>r à reelaboração <strong>do</strong> cronograma para o biênio2008/2009. Apresentamos, então, nova proposta que esten<strong>de</strong> as etapas <strong>de</strong>classificação e organização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, publicação e divulgação <strong>do</strong> Guia<strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> nos meios impresso e eletrônico para este ano. Como parteintegrante <strong>do</strong> projeto, a sistematização <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> elaboração e execução <strong>do</strong>Guia será <strong>de</strong>senvolvida em 2009, para reprodução em outros Núcleos Territoriais <strong>de</strong>Extensão.REFERÊNCIASACESSIBILIDADE BRASIL. Disponível em: .Acesso em: 10 jan. 2008.ATIID – Acessibilida<strong>de</strong>, Tecnologia da Informação e Inclusão Digital. Disponível em:. Acesso em: 10 jan. 2008.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050/04:Acessibilida<strong>de</strong> a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos. ABNT:Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2004.BRASIL. Lei n. 10048 – 8 nov. 2000. Dá priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento às pessoasporta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência física, aos i<strong>do</strong>sos com ida<strong>de</strong> igual ou superior a sessenta ecinco anos, às gestantes, às lactantes e às pessoas acompanhadas por crianças <strong>de</strong>colo, e dá outras providências. Brasília/ DF: Subchefia para Assuntos Jurídicos daCasa Civil, 2000.BRASIL. Lei n. 10098 – 19 <strong>de</strong>z. 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicospara a promoção da acessibilida<strong>de</strong> das pessoas porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência ou commobilida<strong>de</strong> reduzida, e dá outras providências. Brasília/ DF: Subchefia paraAssuntos Jurídicos da Casa Civil, 2000.BRASIL. Decreto 5296 – 2 <strong>de</strong>z. 2004. Regulamenta as Leis n. 10048, <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong>novembro <strong>de</strong> 2000, que dá priorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atendimento às pessoas que especifica, e10098, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2000, que estabelece normas gerais e critériosbásicos para a promoção da acessibilida<strong>de</strong> das pessoas porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiênciaou com mobilida<strong>de</strong> reduzida, e dá outras providências. Brasília/DF: Subchefia paraassuntos Jurídicos da Casa Civil, 2004.CENTER FOR UNIVERSAL DESIGN – Carolina <strong>do</strong> Norte. Disponível em:. Acesso em: 10 jan. 2008.208


CORDE- Coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ria Nacional para Integração da Pessoa Porta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong>Deficiência. Disponível em:. Acesso em: 10 jan.2008.REDE SACI – Solidarieda<strong>de</strong>, Apoio, Comunicação e Informação. Disponível em:. Acesso em: 10 jan. 2008.SÃO PAULO. Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> em Edificações. São Paulo/SP: ComissãoPermanente <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> da Secretaria da Habitação e DesenvolvimentoUrbano da Prefeitura, 2002.SÃO PAULO. Guia <strong>de</strong> Mobilida<strong>de</strong> Urbana. São Paulo/SP: Comissão Permanente <strong>de</strong>acessibilida<strong>de</strong> da Secretaria da Habitação e Desenvolvimento Urbano da Prefeitura,2002.SCHWARZ, Andréa e HABER, Jaques Marcos. Guia São Paulo Adaptada. 2001.São Paulo: O Nome da Rosa, 2001.SERPRO – Serviço Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Da<strong>do</strong>s – Brasil. Disponível em:. Acesso em: 10 jan. 2008.ANEXOSRoteiro <strong>de</strong> Avaliação – Guia <strong>de</strong> Acessibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> CampinasLocal: ______________________________________________________EXTERIORAproximação + SinalizaçãoGuia RebaixadaPiso regular e anti<strong>de</strong>rrapantePiso tátil ou linha guiaPlacasSímbolo internacional <strong>de</strong> acessoCalçadas em frente à edificaçãoem bom esta<strong>do</strong>.- Material- DimensõesINTERIORCirculação HorizontalObservações:- Desníveis <strong>de</strong> até 0,005- Grelha: com dimensão máxima <strong>de</strong>0,015m.- Largura mínima <strong>de</strong> 1,20m Largura- Capachos não <strong>de</strong>vem exce<strong>de</strong>r a CapachosPiso regular e anti<strong>de</strong>rrapanteDesníveisGrelha no senti<strong>do</strong> transversalao movimento209


altura <strong>de</strong> 0.005m- Carpetes e forrações não <strong>de</strong>vemexce<strong>de</strong>r a altura <strong>de</strong> 0,006mCarpetes e forraçõesSinalizaçãoCirculação Vertical - Rampas A<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> materialDesenvolvimentoInclinaçãoObservações:Largura- Largura mínima <strong>de</strong> 1,20m (recomenda<strong>do</strong>: 1,50m) Comprimento- Guarda-corpo com altura <strong>de</strong> 1,05m <strong>do</strong> piso (quan<strong>do</strong> Altura <strong>do</strong> guarda-corponão houver pare<strong>de</strong>s adjacentes)- Rampas em curva (inclinação máxima <strong>de</strong> 8,33% e Rampas em curvaraio mínimo <strong>de</strong> 3m)- Patamares no início e término das rampas: largura e Patamares no início e términocomprimento com mínimo <strong>de</strong> 1,20m <strong>de</strong> altura das rampas:- Guia <strong>de</strong> balizamento com altura mínima <strong>de</strong> 0,05m Piso tátil- Corrimão: - material rígi<strong>do</strong>Guia <strong>de</strong> balizamento- duas alturas: 0,7m e 0,92m <strong>do</strong> piso- largura: seção circular <strong>de</strong> 0,03 a 0,045m- prolongamento mínimo <strong>de</strong> 0,30m, antes <strong>do</strong> Corrimão – duas alturasprimeiro e após o último <strong>de</strong>grauObstruçãoCirculação Vertical - Escadas SinalizaçãoA<strong>de</strong>quação <strong>do</strong> materialObservações:Largura- Largura livre mínima <strong>de</strong> 1,20m Espelhos- Espelhos entre 0,16 e 0,18m Pisos- Pisos entre 0,28 e 0,32m Patamares- Patamares a cada 3,20m Guarda-corpo- Guarda-corpo com altura <strong>de</strong> 1,05m <strong>do</strong> piso(quan<strong>do</strong> não houver pare<strong>de</strong>s adjacentes)Faixa <strong>de</strong> textura- Faixa <strong>de</strong> textura diferenciada, no início etérmino da escada (mínimo <strong>de</strong> 0,28m)Corrimão com duas alturas- Corrimão: - material rígi<strong>do</strong>- <strong>de</strong>ve haver duas alturas: 0,7m e 0,92m <strong>do</strong>Obstruçãopiso- largura: seção circular <strong>de</strong> 0,03 a 0,045m- prolongamento mínimo <strong>de</strong> 0,30m, antes <strong>do</strong>primeiro e após o último <strong>de</strong>grauSinalização tátil e visualCirculação Vertical - Eleva<strong>do</strong>res nos pisos e pare<strong>de</strong>sSinalização visual e auditivaObservações:para sinalização <strong>do</strong> andar- Cabina com dimensões mínimas <strong>de</strong> 1,10 x1,40mDimensões da cabine- Espelho na face posta Espelho- I<strong>de</strong>ntificação em Braille <strong>do</strong> pavimento nobatente com altura entre 0,90 e 1,10mI<strong>de</strong>ntificação em Braille- Botoeiras localizadas entre 0,89 e 1,30m Botoeiras210


- Braille localiza<strong>do</strong> no la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> <strong>do</strong> botãoCirculação VerticalPlataformas móveisObservações:- Desníveis máximo <strong>de</strong> 0,015mCirculação interna – Corre<strong>do</strong>resObservaçoes:- Largura:- 0,90m (Os eleva<strong>do</strong>res com até 4m <strong>de</strong>extensão)- 1,20m para corre<strong>do</strong>res com até 10m <strong>de</strong>extensão- 1,50m para corre<strong>do</strong>res com extensãosuperior a 10m- 1,50m para corre<strong>do</strong>res <strong>de</strong> uso público- Para corre<strong>do</strong>res longos <strong>de</strong>ve haver um bolsão acada 15m para manobrar a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas.Circulação interna – PortasObservações:- Vão livre <strong>de</strong> 0,80m e altura <strong>de</strong> 2,10m- Portas <strong>de</strong> 2 folhas – uma <strong>de</strong>las pelo menos<strong>de</strong>ve ter um vão livre <strong>de</strong> 0,80m- Portas <strong>de</strong> sanitários, vestiários e quartosacessíveis <strong>de</strong>vem ter um puxa<strong>do</strong>r horizontalassocia<strong>do</strong> a maçaneta e com o comprimentoigual a meta<strong>de</strong> da largura da porta- Portas <strong>do</strong> tipo vaivém <strong>de</strong>vem ter visor comlargura mínima <strong>de</strong> 0,20m, situa<strong>do</strong> a uma altura<strong>de</strong> 0,4 a 0,9m a partir <strong>do</strong> piso e a face superiorno mínimo a 1,50m <strong>do</strong> piso- As maçanetas <strong>do</strong> tipo alavanca <strong>de</strong>vem estar auma altura <strong>de</strong> 0,90 a 1,00m <strong>do</strong> piso- Revestimento na parte inferior com alturamínima <strong>de</strong> 0,4m <strong>do</strong> piso- Portas providas <strong>de</strong> dispositivos <strong>de</strong> acionamentopelo usuário: os dispositivos <strong>de</strong>vem estar <strong>de</strong>0,90 a 1,10m <strong>do</strong> piso_ Portas <strong>de</strong> correr: os trilhos <strong>de</strong>vem estarlocaliza<strong>do</strong>s na parte superior. Na parte inferior<strong>de</strong>vem estar nivela<strong>do</strong>s com o pisoSinalização – visual e tátilAlarme sonoro e luminosoDesníveisProjeção sinalizada no pisoBarras <strong>de</strong> proteção eguarda-corpoLarguraComprimentoLarguraAltura da maçanetaRevestimento naparte inferiorVisorCirculação Interna - JanelasObservações:Altura das janelas <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> 1,00 a 1,35mTrinco ou maçaneta <strong>do</strong> tipo alavancaAlturaAltura da maçaneta211


Sanitários ConvencionaisSinalizaçãoVisorProteção inferior na portaAltura da maçanetaDimensão da portaDimensãoAltura <strong>do</strong> vaso sanitárioLavatórioTorneirasMictório – altura <strong>do</strong> pisoMictório – altura da<strong>de</strong>scargaSanitários Adapta<strong>do</strong>sObservações:Dimensão mínima <strong>de</strong> 1,50 x 1,70mEm reformas: dimensão mínima 1,50x1,50m, masa manobra da ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas será <strong>do</strong> la<strong>do</strong>externo e a porta <strong>de</strong>verá ter 1,00m <strong>de</strong> larguraAltura da bacia: 0,43 a 0,45m <strong>do</strong> pisoA válvula da <strong>de</strong>scarga <strong>de</strong>ve estar a 1,00m <strong>do</strong> pisoBarras horizontais:- comprimento mínimo <strong>de</strong> 0,8m- altura: 0,75m <strong>do</strong> pisoOs lavatórios <strong>de</strong>vem ser suspensos com altura <strong>de</strong>0,78 a 0,8m <strong>do</strong> pisoAs torneiras <strong>de</strong>vem ser acionadas por alavancas,sensores eletrônicos ou dispositivos equivalentes.Mictório (este <strong>de</strong>ve estar com altura <strong>de</strong> 0,6 a0,65m <strong>do</strong> piso acaba<strong>do</strong>).Mictório – acionamento da <strong>de</strong>scarga, se houver,<strong>de</strong>ve estar a 1,00m <strong>de</strong> altura <strong>do</strong> piso, sen<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> tipo alavanca ou com mecanismo automático.Mictório – barras verticais com altura <strong>de</strong> 0,7m ecomprimento <strong>de</strong> 0,8m <strong>de</strong>vem estar ao la<strong>do</strong> <strong>do</strong>mictório, e a distância entre estas <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>0,8m.SinalizaçãoVisorProteção inferiorna portaMaterial <strong>do</strong> pisoDimensão da portaDimensãoBarra horizontal naporta (la<strong>do</strong> interno)Altura <strong>do</strong> vaso sanitárioAltura da válvula <strong>de</strong><strong>de</strong>scargaBarras horizontaisLavatórios suspensosAlturaTorneiras (coman<strong>do</strong>)Sifão protegi<strong>do</strong>Mictório – altura <strong>do</strong> pisoMictório – altura da<strong>de</strong>scargaMictório – barras verticaisMobiliário Interno – Bebe<strong>do</strong>uroObservações:AlturaÁrea <strong>de</strong> aproximaçãofrontal212


- Altura: 0,9m Altura livre inferior- Área <strong>de</strong> aproximação frontal, possibilitan<strong>do</strong>avançar sob o bebe<strong>do</strong>uro até no máximo 0,5m- Altura livre inferior: no mínimo 0,73m <strong>do</strong> piso Copos <strong>de</strong>scartáveis- Copos <strong>de</strong>scartáveis <strong>de</strong>vem estar localiza<strong>do</strong>s auma altura <strong>de</strong> no máximo 1,20mMobiliário Interno - Mesas ousuperfícies para refeitórios outrabalhoObservações:- 5% <strong>de</strong>vem ser acessíveis- Aproximação frontal, possibilitan<strong>do</strong> avançarsob as mesas ou superfícies até no máximo 0,5m- Altura livre inferior: no mínimo 0,73m <strong>do</strong> piso- Deve haver uma faixa livre <strong>de</strong> circulação <strong>de</strong>0,9m- Altura <strong>de</strong>ve estar entre 0,75 a 0,85m <strong>do</strong> pisoAltura livre inferiorMobiliário Interno - Balcão <strong>de</strong> Altura livre inferiorAtendimentoObservações:- Altura <strong>de</strong> no máximo 0,9m <strong>do</strong> piso Profundida<strong>de</strong>- Altura livre inferior a 0,93m <strong>do</strong> piso- Profundida<strong>de</strong>: no mínimo 0,3mEstacionamento – VagasObservações:Dimensões das vagas: 2,30x 5,50mSinalização horizontalSinalização verticalFaixa <strong>de</strong> circulação com no mínimo 1,20m <strong>de</strong>larguraRebaixamento <strong>de</strong> guiasNúmero <strong>de</strong> vagas Vagas reservadasAté 10 -De 11 a 100 1Acima <strong>de</strong> 100 1%Dimensões da vagaENQUÊTE1- Qual é a área que falta mais informações sobre a acessibilida<strong>de</strong> em Campinas?a) arte, cultura e lazerb) esporte213


c) órgãos públicos e associaçõesd) outros: ___________________________________2- Você conhece as leis e normas sobre a acessibilida<strong>de</strong>?a) simb) não3- Um guia com o objetivo <strong>de</strong> melhorar as informações sobre acesso na cida<strong>de</strong>, aosambientes, edificações, equipamentos e sistemas <strong>de</strong> comunicação para pessoascom <strong>de</strong>ficiência ou mobilida<strong>de</strong> reduzida contribuiria no seu dia a dia?a) simb) não4- Se sim, qual o melhor meio a ser veicula<strong>do</strong>?a) internetb) impressoc) outros: ___________________________________TABULAÇÃO DA ENQUETE22 pessoas respon<strong>de</strong>ram a enquête.1- Qual é a área que falta mais informações sobre a acessibilida<strong>de</strong> em Campinas?(21 respostas tabuladas)a) arte,cultura e lazer 38,09%b) esporte 4,78%c) órgãos públicos e associações 42,85%d) outros 14,28%214


órgãospúblicos eassociaçõesarte,culturae lazeroutrosesporteOBS: As pessoas que respon<strong>de</strong>ram outros alegaram que não moram em Campinas (3casos).Houve também um caso em que a pessoa marcou as alternativas a, b e c. Esse último casonão está tabula<strong>do</strong>.Sugeriram também informação sobre empresas.2- Você conhece as leis e normas sobre a acessibilida<strong>de</strong>? (22 respostas tabuladas)a) Sim 42,86%b) Não 57,14%nãosimOBS: Houve um caso que disse estar toman<strong>do</strong> conhecimento no dia <strong>do</strong> evento.3- Um guia com o objetivo <strong>de</strong> melhorar as informações sobre o acesso na cida<strong>de</strong>, aosambientes, edificações, equipamentos e sistemas <strong>de</strong> comunicação para pessoas com<strong>de</strong>ficiência ou mobilida<strong>de</strong> reduzida contribuiria no seu dia a dia? (22 respostastabuladas)a) Sim 100%b) Não 0%215


simnão4- Se sim, qual o melhor meio a ser veicula<strong>do</strong>? (20 respostas tabuladas)a) Internet 35%b) Impresso 60%c) Outros 5%impressointernetoutrosOBS: Houve <strong>do</strong>is casos em que a pessoa assinalou as opções a e b, esses não foramtabula<strong>do</strong>s.Sugestões <strong>de</strong> veicular na TV, murais e jornais e em site <strong>de</strong> fácil acesso e com muitadivulgação.Texto recebi<strong>do</strong> em 21 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 25 mar. 2008.216


O PERFIL E A POLÍTICA DE ATENDIMENTO AO ABUSADOR SEXUAL NOPRESÍDIO REGIONAL DE TIJUCAS (SC).The profile and the politics of attendance to the sexual abuser in the RegionalPenitentiary of Tijucas (SC).Edgar Antonio Piva 91Aline R. Carvalho 92RESUMOA violência sexual contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes passou a ser abordada no Brasilna década <strong>de</strong> 90, sen<strong>do</strong> incluída na luta pelos direitos humanos <strong>de</strong> crianças ea<strong>do</strong>lescentes na Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong> 1988, dan<strong>do</strong> início a luta pelaconquista <strong>de</strong> respeito e dignida<strong>de</strong> das crianças e a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o Brasil. Apresente pesquisa foi realizada no Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas e no Fórum <strong>de</strong> PortoBelo, Santa Catarina, abrangen<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1999, quan<strong>do</strong> dafundação <strong>do</strong> Presídio, até março <strong>de</strong> 2007. Com esta pesquisa conseguimosconhecer o perfil <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tentos <strong>do</strong> Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas que cometeramcrimes <strong>de</strong> natureza sexual contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes e avaliar as ações <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> em face <strong>do</strong> agressor sexual, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> prevenir o crime e orientar o seuretorno à convivência em socieda<strong>de</strong>. Esta pesquisa foi realizada com o intuito <strong>de</strong>contribuir para a reflexão <strong>do</strong> fenômeno, buscan<strong>do</strong> oferecer subsídios para ampararpossíveis programas junto aos abusa<strong>do</strong>res sexuais encarcera<strong>do</strong>s.Palavras-chave: Violência Sexual; direitos humanos; abusa<strong>do</strong>res sexuais; crianças ea<strong>do</strong>lescentes.ABSTRACTThe sexual violence against children and a<strong>do</strong>lescents started to be boar<strong>de</strong>d in Brazilin the <strong>de</strong>ca<strong>de</strong> of 90, and enclosed in the fight for the human rights of children anda<strong>do</strong>lescents in the Fe<strong>de</strong>ral Constitution of Brazil of 1988, giving to beginning the fightfor the conquest of respect and dignity of the children and a<strong>do</strong>lescents of all Brazil.The present research was carried through in the Regional Penitentiary of Tijucas andthe Fórum <strong>de</strong> Porto Beautiful - Santa Catarina, having enclosed the period of Augustof 1999, when of the foundation of the Penitentiary, until March of 2007. With thisresearch we obtain to know the profile of the prisoners of the Regional Penitentiary ofTijucas who had committed crimes of sexual nature against children and a<strong>do</strong>lescentsand to evaluate the actions of the State in face of the sexual aggressor, in thedirection to prevent the crime and to instruct them in how to resume their lives insociety. The research was carried through with intention to contribute for a reflection,91 Professor Mestre da Universida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Vale <strong>do</strong> Itajaí (SC) e coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>r <strong>do</strong>s projetos <strong>de</strong>extensão Valorização da Vida e Ciranda. En<strong>de</strong>reço: Rua Pará, 315. Bairro Universitário,Tijucas, SC. Tel. (048) 3263 0576. E-mail: piva@univali.br92 Acadêmica <strong>do</strong> curso <strong>de</strong> Direito da Univali, campus Tijucas, SC.217


eing searched to offer subsidies to support possible programs together to the jailedsexual abusers.Keywords: sexual violence; human rights; sexual abusers; children and teenagers.RESUMENLa violencia sexual contra niños y a<strong>do</strong>lescentes paso a ser abordada en el Brasil enla década <strong>de</strong> 90, sien<strong>do</strong> incluida en la lucha por los <strong>de</strong>rechos humanos <strong>de</strong> niños ya<strong>do</strong>lescentes en la Constitución Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Brasil <strong>de</strong> 1988, dan<strong>do</strong> inicio a la luchapor la conquista <strong>de</strong> respeto y dignidad <strong>de</strong> los niños y a<strong>do</strong>lescentes <strong>de</strong> to<strong>do</strong> el Brasil.La presente pesquisa fue realizada en el Presidio Regional <strong>de</strong> Tijucas y en elJuzga<strong>do</strong> <strong>de</strong> Porto Belo, Santa Catarina, abarcan<strong>do</strong> el perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1999,cuan<strong>do</strong> da la fundación <strong>de</strong>l Presidio, hasta marzo <strong>de</strong> 2007. Con esta pesquisaconseguimos conocer el perfil <strong>de</strong> los <strong>de</strong>teni<strong>do</strong>s <strong>de</strong>l Presidio Regional <strong>de</strong> Tijucas quecometieran crímenes <strong>de</strong> naturaleza sexual contra niños y a<strong>do</strong>lescentes y evaluar lasacciones <strong>de</strong>l Esta<strong>do</strong> en función <strong>de</strong>l agresor sexual, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> prevenir el crimeny orientar su retorno a la convivencia en sociedad. Esta pesquisa fue realizada conel intuito <strong>de</strong> contribuir para la reflexión <strong>de</strong>l fenómeno, buscan<strong>do</strong> ofrecer subsidiospara amparar posibles programas junto a los abusa<strong>do</strong>res sexuales encarcela<strong>do</strong>s.Palabras-Clave: Violencia sexual, <strong>de</strong>rechos humanos, abusa<strong>do</strong>res sexuales, niños ya<strong>do</strong>lescentes.O fenômeno da violência e exploração sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentespassou a ser aborda<strong>do</strong>, no Brasil, a partir da década <strong>de</strong> 90, sen<strong>do</strong> incluída na lutapelos direitos humanos <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes preconiza<strong>do</strong>s na ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong> 1988, no Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (lei 8.069/90) ena Convenção Internacional <strong>do</strong>s Direitos da Criança. Com vistas ao enfrentamento<strong>de</strong>sta realida<strong>de</strong>, foi cria<strong>do</strong>, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Chapecó, Santa Catarina, em maio <strong>de</strong>1998, o Fórum Catarinense Pelo Fim da Violência e da Exploração Sexual Infanto-Juvenil. No ano <strong>de</strong> 2000, foi cria<strong>do</strong> o Conselho Nacional <strong>do</strong>s Direitos da Criança e<strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (CONANDA) que aprovou o Plano Nacional <strong>de</strong> Enfrentamento daViolência Sexual Infanto-Juvenil.O Plano (2000) aponta que escolas e universida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ter um papel<strong>de</strong>staca<strong>do</strong> no trabalho <strong>de</strong> pesquisa, orientação e prevenção da violência sexualcontra crianças e a<strong>do</strong>lescentes. O referi<strong>do</strong> Plano (2000) está estrutura<strong>do</strong> em seiseixos estratégicos: análise da situação, mobilização e articulação, <strong>de</strong>fesa eresponsabilização, atendimento, prevenção e protagonismo infanto-juvenil.218


O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é apresentar os resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> uma pesquisa realizadano Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas, Santa Catarina, sobre o perfil e o atendimento aoagressor sexual encarcera<strong>do</strong>. A pesquisa foi motivada a partir <strong>de</strong> nossasintervenções como extensionistas <strong>do</strong>s Projetos Valorização da Vida e Ciranda, daUnivali, junto aos reeducan<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Presídio 93 . As intervenções são realizadassemanalmente, durante uma hora e meia, no interior das galerias <strong>do</strong> presídio, nasquais são aborda<strong>do</strong>s temas como <strong>do</strong>enças sexualmente transmissíveis, drogas eviolência sexual.A pesquisa foi realizada no Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas, Santa Catarina, eno Fórum <strong>de</strong> Porto Belo, Santa Catarina, abrangen<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1999,quan<strong>do</strong> da fundação <strong>do</strong> Presídio, até março <strong>de</strong> 2007. A primeira parte da pesquisafoi <strong>de</strong> natureza quantitativa: consistiu na consulta <strong>do</strong>s arquivos <strong>do</strong> Presídio, <strong>do</strong>Fórum da Comarca <strong>de</strong> Tijucas e <strong>do</strong> Fórum <strong>de</strong> Porto Belo, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> e analisan<strong>do</strong>as informações e peças contidas nos Processos. Consultamos os <strong>do</strong>ssiês,arquivos, relatórios, fichas e processos on<strong>de</strong> foram consigna<strong>do</strong>s registros sobre asocorrências. Em seguida, realizamos a análise <strong>do</strong>s principais textos legais sobre amatéria da pesquisa em questão, especialmente o Código Penal Brasileiro, sobre ocrime contra os costumes, e a Lei <strong>de</strong> Execução Penal (Lei 7.210/1984). Por fim,consi<strong>de</strong>ramos as observações e reações <strong>do</strong>s reeducan<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> da abordagem<strong>do</strong> assunto Violência Sexual contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes nas intervençõeseducativas.A pesquisa preten<strong>de</strong>u respon<strong>de</strong>r as seguintes perguntas:- Qual o perfil <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tentos <strong>do</strong> Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas que cometeramcrimes <strong>de</strong> natureza sexual contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes?- Quantos con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>s após cumprimento da pena voltaram ao presídio porreincidência?- Qual é a visão que o Esta<strong>do</strong> tem <strong>do</strong> abusa<strong>do</strong>r sexual?- Qual o atendimento e assistência que o Esta<strong>do</strong> dá ao agressor sexual?- Qual é a visão <strong>do</strong>s presos com relação aos abusa<strong>do</strong>res sexuais?93 O Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas foi inaugura<strong>do</strong> em agosto <strong>de</strong> 1999 abrigan<strong>do</strong> atualmenteaproximadamente 230 presos, dividi<strong>do</strong>s em 3 galerias, duas masculinas e uma feminina.219


O presente artigo está estrutura<strong>do</strong> em duas partes. A primeira parte <strong>de</strong>fine osprincipais conceitos utiliza<strong>do</strong>s na pesquisa servin<strong>do</strong> <strong>de</strong> enquadramento teórico paraa mesma, já a segunda parte apresenta e discute os da<strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>s.Violência e exploração sexualO fenômeno da violência e exploração sexual <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes éconseqüência da conjugação <strong>de</strong> vários fatores psicológicos, sócio-econômicos eculturais. Somente um mo<strong>de</strong>lo explicativo multicausal po<strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong>stefenômeno. Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma abordagem multidisciplinar e multiprofissional<strong>do</strong> problema.A violência sexual é apenas uma das formas <strong>de</strong> violência que atinge criançase a<strong>do</strong>lescentes. A violência contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes inclui 4 modalida<strong>de</strong>s: afísica, a psicológica, a sexual e a negligência. A violência sexual é uma das formasmais complexas, pois na maioria das vezes ela está associada a outras formas <strong>de</strong>violência e envolve a problemática <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> da sexualida<strong>de</strong> humana.A violência sexual é <strong>de</strong>finida por Azeve<strong>do</strong> e Guerra (2000, 11) como “to<strong>do</strong> atoou jogo sexual, relação hetero ou homossexual entre um ou mais adultos [...] e umacriança/a<strong>do</strong>lescente, ten<strong>do</strong> por finalida<strong>de</strong> estimular esta criança/a<strong>do</strong>lescente ouutilizá-los para obter uma estimulação sexual sobre sua pessoa ou a <strong>de</strong> outrapessoa”. É toda ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> caráter sexual envolven<strong>do</strong> menor <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e um adultoou a<strong>do</strong>lescente mais velho, parente ou não, buscan<strong>do</strong> unicamente o prazer <strong>do</strong>adulto ou a<strong>do</strong>lescente mais velho envolvi<strong>do</strong>, ainda que seja com aparenteconsentimento da vítima. A violência sexual é um fenômeno ao mesmo tempo intrafamiliar,pois é provocada na maioria das vezes por membros da famíliacaracterizada como incestuosa, e extrafamiliar, na medida em que é praticada porpessoas que não tenham laços <strong>de</strong> família com a vítima.Na violência sexual intra-familiar, a relação <strong>do</strong> adulto com a criança é <strong>de</strong>consangüinida<strong>de</strong>, afinida<strong>de</strong> ou <strong>de</strong> mera responsabilida<strong>de</strong>, caracterizan<strong>do</strong>-se comouma relação que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> incestuosa. Estas relações sexuais po<strong>de</strong>m semanifestar <strong>de</strong> diferentes formas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> carícias, manipulação da genitália, mama ouânus, voyeurismo, exibicionismo, conversas ou telefonemas obscenas, até o atosexual com ou sem penetração, com ou sem violência. Portanto, a violência sexualpossui um espectro bastante amplo, in<strong>do</strong> das formas mais sutis e dissimuladas atéas mais <strong>de</strong>claradas e violentas, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong> marcas profundas na vítima. Esta forma <strong>de</strong>220


violência é <strong>de</strong>nominada por muitos pesquisa<strong>do</strong>res <strong>do</strong> fenômeno como abuso sexual,distinguin<strong>do</strong>-o <strong>de</strong> uma outra modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> violência que é exploração sexual. Aexploração sexual se distingue <strong>do</strong> abuso sexual na medida em que envolve nãoapenas a satisfação sexual <strong>de</strong> um adulto ou a<strong>do</strong>lescente mais velho, mas um usocomercial. A exploração sexual é a comercialização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e expressõessexuais envolven<strong>do</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes sob várias formas: prostituição infantil,produção e comercialização <strong>de</strong> materiais pornográficos envolven<strong>do</strong> crianças pormeio <strong>de</strong> fotos, revistas, ví<strong>de</strong>os, internet etc., shows eróticos, turismo sexual.O Código Penal Brasileiro, nos artigos 213 a 234, <strong>de</strong>fine estas modalida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> violência sexual como crimes contra a liberda<strong>de</strong> sexual <strong>do</strong> cidadão: estupro (art.213), atenta<strong>do</strong> violento ao pu<strong>do</strong>r (art. 214), sedução e corrupção <strong>de</strong> menores (art.217 e 218), prostituição (art. 228), tráfico <strong>de</strong> mulheres (art. 231), ato obsceno (art.233) e escrito ou objeto obsceno (art. 234).O abusa<strong>do</strong>r sexualAs recentes pesquisas nos apresentam um perfil bastante heterogêneo <strong>do</strong>abusa<strong>do</strong>r sexual, incluin<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> pessoas tidas como “normais”, pedófilos,psicopatas, mulheres e até a<strong>do</strong>lescentes. Para a percepção <strong>do</strong> público em geral, osabusa<strong>do</strong>res sexuais são pessoas <strong>de</strong>sconhecidas, estranhas e perigosas, mas todasas pesquisas contrariam este senso comum. Na maioria <strong>do</strong>s casos, o agressor éuma pessoa que a criança conhece, confia e, freqüentemente, ama. Os estudiosos<strong>do</strong> fenômeno classificam os abusa<strong>do</strong>res em <strong>do</strong>is tipos: o abusa<strong>do</strong>r circunstancial ousituacional e o abusa<strong>do</strong>r preferencial.O agressor circunstancial é aquele indivíduo consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> “normal”, acima <strong>de</strong>qualquer suspeita, que em <strong>de</strong>terminadas circunstâncias momentâneas po<strong>de</strong> cometero abuso sexual. Geralmente são pais, padrastos, tios ou alguém liga<strong>do</strong> à família.Já o agressor sexual preferencial é aquele indivíduo que prefere manterrelações sexuais com crianças e/ou a<strong>do</strong>lescentes. São conheci<strong>do</strong>s como pedófilosou pe<strong>de</strong>rastas. Alguns pedófilos sentem atração sexual exclusivamente por crianças(tipo exclusivo), enquanto outros, às vezes, sentem atração por adultos (tipo nãoexclusivo).Alguns preferem meninos, outras meninas.A maioria <strong>do</strong>s abusa<strong>do</strong>res sexuais são homens. A violência sexual é, namaioria das vezes, <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> <strong>do</strong>minação e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>gênero entre homens e mulheres construí<strong>do</strong> pela cultura, e não apenas <strong>de</strong>corrência221


<strong>de</strong> um distúrbio ou <strong>de</strong>sequilíbrio <strong>de</strong> personalida<strong>de</strong>. Estu<strong>do</strong>s mais recentes mostrama existência <strong>de</strong> abusa<strong>do</strong>res sexuais femininos. A violência sexual praticada pormulheres é um tema pouco estuda<strong>do</strong> ainda e cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> muitos tabus.A maioria <strong>do</strong>s agressores sexuais não apresenta nenhum sinal <strong>de</strong> alienaçãomental, portanto, são juridicamente imputáveis. Deste grupo, aproximadamente 30%não apresenta nenhum transtorno psicopatológico da personalida<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nte e suaconduta sexual cotidiana e aparente parece a<strong>de</strong>quada. Nos outros 70% estão aspessoas com evi<strong>de</strong>ntes transtornos da personalida<strong>de</strong>, com ou sem perturbaçõessexuais manifestas, tais como os psicopatas e sociopatas. Portanto, o abusa<strong>do</strong>rsexual <strong>de</strong>ve ser criminalmente responsabiliza<strong>do</strong>, porém, como to<strong>do</strong> con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>,<strong>de</strong>ve ser objeto <strong>de</strong> atenção, cuida<strong>do</strong> e atendimento especializa<strong>do</strong>, “objetivan<strong>do</strong>prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em socieda<strong>de</strong>” (art. 10 da Lei <strong>de</strong>Execução Penal, Lei no. 7.210). To<strong>do</strong> agressor sexual <strong>de</strong>ve passar por umaavaliação psicológica e ser acompanha<strong>do</strong> por uma equipe multiprofissional einterdisciplinar, ten<strong>do</strong> em vista a complexida<strong>de</strong> <strong>do</strong> problema.O perfil <strong>do</strong> abusa<strong>do</strong>r sexual no Presídio Regional <strong>de</strong> TijucasNo <strong>de</strong>correr da história e evolução da socieda<strong>de</strong>, o ser humano passou a sersujeito <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>veres. No Brasil, o primeiro Código Criminal foi feito apenasem 1830, oito anos após a in<strong>de</strong>pendência, substituin<strong>do</strong> as arcaicas legislações <strong>do</strong>Reino. Ainda que o esforço fosse intenso por parte <strong>do</strong>s Magistra<strong>do</strong>s, Promotores eConselheiros tornou-se claramente visível que o Código Penal Brasileiro éinsuficiente para abarcar os avanços da socieda<strong>de</strong> brasileira. Com estereótipospreconceituosos, o Código Penal Brasileiro, ainda <strong>de</strong>fine “mulher honesta” e“virginda<strong>de</strong> da mulher” persistin<strong>do</strong> nesta legislação moralista, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong>todas as noções psicológicas que envolvem os possíveis traumas causa<strong>do</strong>s por umabuso sexual.A partir da consulta inicial aos arquivos <strong>do</strong> Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas, noperío<strong>do</strong> <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1999 até março <strong>de</strong> 2007, constatamos que 67 (sessenta esete) homens e 2 (duas) mulheres passaram pelo Presídio, acusa<strong>do</strong>s <strong>de</strong> seenvolverem em crimes <strong>de</strong> natureza sexual. Porém, <strong>de</strong>stes 69 casos nem to<strong>do</strong>s seenquadram em crimes sexuais contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes. Muitos eram crimescontra pessoas maiores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, o que não foi o objeto <strong>de</strong>sta pesquisa.222


A partir <strong>de</strong>ste momento nosso material <strong>de</strong> pesquisa ficou reduzi<strong>do</strong>, pois nemto<strong>do</strong>s os processos <strong>do</strong>s 69 acusa<strong>do</strong>s encontravam-se no Presídio Regional <strong>de</strong>Tijucas, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a transferência <strong>do</strong>s mesmos para outras Comarcas ou o término <strong>do</strong>cumprimento <strong>de</strong> suas penas. Por esse motivo tivemos que aprofundar nossapesquisa em outros Fóruns, especialmente <strong>de</strong> Porto Belo, on<strong>de</strong> se encontravamarquiva<strong>do</strong>s muitos processos.Conseguimos chegar ao fim <strong>de</strong>sta pesquisa com o levantamento completo <strong>do</strong>perfil <strong>de</strong> 18 <strong>do</strong>s 69 agressores, to<strong>do</strong>s acusa<strong>do</strong>s por crimes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m sexual contracrianças e a<strong>do</strong>lescentes, abrangen<strong>do</strong> o Código Penal, <strong>do</strong>s artigos 213 ao 234, comas mais diversas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crime contra a liberda<strong>de</strong> sexual.Dos 18 agressores pesquisa<strong>do</strong>s, 9 eram solteiros, 6 casa<strong>do</strong>s ou conviviamem união estável e 3 divorcia<strong>do</strong>s. O que é possível verificar com esses da<strong>do</strong>s é onumero <strong>de</strong> homens casa<strong>do</strong>s ou que conviviam em união estável que cometeramagressões <strong>de</strong> cunho sexual contra menores <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. As vítimas eram suas própriasfilhas, enteadas, sobrinhas, netas. Alegavam que as crianças os incitavam acometerem tais atos, ou simplesmente culpavam suas companheiras pela monotonia<strong>de</strong> suas vidas e a ausência <strong>de</strong> relação sexual.A vitimologia ou a arte <strong>de</strong> culpar a vítima por comportamentossedutores, provocativos, como manifestação <strong>de</strong> uma naturezafeminina perversa e <strong>de</strong>moníaca, ou uma forma <strong>de</strong> inocentar oagressor através da sua patologização (SCHMICKLER, 2006, p. 29).A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s agressores é <strong>de</strong> 23 a 48 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. O grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> também é muito baixo: <strong>do</strong>s 18 casos, apenas um iniciou um cursosuperior sem chegar a completá-lo, os <strong>de</strong>mais não ultrapassaram o ensino médio.Conforme Schmickler “a violência estrutural, <strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> parcela da população évitima, é o pano <strong>de</strong> fun<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> com profundas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s”(SCHMICKLER, 2006, p. 31).Em relação a origem e naturalida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s agressores, verificamos que 8nasceram na Região da Costa Esmeralda e Vale <strong>do</strong> Rio Tijucas 94 , 5 nasceram em94 As regiões Costa Esmeralda e Vale <strong>do</strong> Rio Tijucas são compostas pelos seguintes municípios <strong>do</strong>litoral catarinense: Itapema, Porto Belo, Bombinhas, Tijucas, Canelinha, São João Batista, MajorGercino e Nova Trento.223


outras cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santa Catarina, e os outros 5 nasceram nos <strong>de</strong>mais esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>Brasil, com pre<strong>do</strong>minância para os esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Paraná e Rio Gran<strong>de</strong> <strong>do</strong> Sul.O abuso sexual intra-familiar vem sen<strong>do</strong> discuti<strong>do</strong> por diversos estudiosos esuas estatísticas são estarrece<strong>do</strong>ras. O fenômeno da criança e <strong>do</strong> a<strong>do</strong>lescenteagredi<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> seu próprio lar é alarmante, pois o lar <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um lugarseguro para seus membros. Esta pesquisa reafirmou o que muitas crianças vêmpassan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> suas próprias casas. Dos 18 acusa<strong>do</strong>s, 10 eram pais, padrastose tios <strong>de</strong>stas crianças e a<strong>do</strong>lescentes, 5 eram amigos próximos da família da vítima,vizinhos ou conheci<strong>do</strong>s, e 3 eram <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong>s tanto da família como da vítima.Segun<strong>do</strong> Ribeiro e Martins ”embora os arranjos familiares tenham muda<strong>do</strong> com otranscorrer <strong>do</strong> tempo, a violência familiar continua marcan<strong>do</strong> presença,caracterizada pela ação ou omissão <strong>do</strong> adulto sobre a criança e/ou a<strong>do</strong>lescente”(RIBEIRO e MARTINS, 2006, p. 73).Em relação às modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> crimes cometi<strong>do</strong>s pelos abusa<strong>do</strong>respesquisa<strong>do</strong>s, usamos o Código Penal Brasileiro para classificá-los. Dos 18 acusa<strong>do</strong>spor crimes sexuais, 6 são acusa<strong>do</strong>s pelo art.213 <strong>do</strong> Código Penal <strong>de</strong> Estupro, 10acusa<strong>do</strong>s pelo art.214 <strong>do</strong> C.P. <strong>de</strong> Atenta<strong>do</strong> Violento ao Pu<strong>do</strong>r e 2 foram con<strong>de</strong>na<strong>do</strong>spelo art.228. <strong>do</strong> C.P. por Favorecimento da Prostituição c/c art.229 <strong>do</strong> C.P.Casa <strong>de</strong>Prostituição. Com a lei 8.072, <strong>de</strong> 1990, o atenta<strong>do</strong> violento ao pu<strong>do</strong>r, assim como oestupro, passou a ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> crime hedion<strong>do</strong>. Atualmente, o atenta<strong>do</strong> violentoao pu<strong>do</strong>r é o crime correspon<strong>de</strong>nte ao estupro, quan<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> contra meninos. Arecomendação <strong>do</strong> relatório final da CPMI da Exploração Sexual, <strong>de</strong> 2004, é unificaros <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> crime e ampliar a pena quan<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> contra pessoasvulneráveis, entre essas, se incluem crianças e a<strong>do</strong>lescentes.A política <strong>de</strong> atendimento <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> ao abusa<strong>do</strong>r sexual <strong>do</strong> Presídio Regional <strong>de</strong>TijucasA Lei 7.210/1984, <strong>do</strong> art.10 da Lei <strong>de</strong> Execução Penal prevê que: aassistência ao preso e ao interna<strong>do</strong> é <strong>de</strong>ver <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, objetivan<strong>do</strong> prevenir o crimee orientar o retorno à convivência em socieda<strong>de</strong>. Durante nossa pesquisa noPresídio, pu<strong>de</strong>mos verificar, por meio <strong>de</strong> registro e entrevistas, que jamais o Esta<strong>do</strong>disponibilizou qualquer tipo <strong>de</strong> assistência ao Abusa<strong>do</strong>r Sexual. O único fato que224


po<strong>de</strong>mos relatar é <strong>de</strong> um acusa<strong>do</strong> pelo crime <strong>de</strong> estupro, que pagou para receber aassistência <strong>de</strong> uma psicóloga.O objetivo da assistência, como está expresso, é prevenir o crime e orientar oretorno à convivência em socieda<strong>de</strong>, porém, ficou evi<strong>de</strong>nte que os objetivosreferi<strong>do</strong>s, ficam apenas na frieza <strong>do</strong> papel, que tu<strong>do</strong> aceita. Então como encarar apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um sujeito acusa<strong>do</strong> por crimes tão bárbaros, voltar à convivência dasocieda<strong>de</strong>, sem passar por nenhum tipo <strong>de</strong> tratamento psicológico ou patológico?Infelizmente a lei não cumpre o seu <strong>de</strong>stino, fican<strong>do</strong> esquecida nas gavetas dasinstituições brasileiras.Dos 18 acusa<strong>do</strong>s por crimes sexuais contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes, nenhum<strong>de</strong>stes retornou ao presídio <strong>de</strong> Tijucas por reincidência. Porém, este da<strong>do</strong> positivonão é resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma política pública <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.O Esta<strong>do</strong> tem a obrigação <strong>de</strong> garantir as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>do</strong> serhumano, garantias que a própria Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Brasil <strong>de</strong> 1988 assegura.Como prevê a Lei <strong>de</strong> Execuções Penais, o Esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ve garantir ao indivíduo ajudaemocional, educacional, tratamento psicológico e auxílio jurídico. Do contrário, ocon<strong>de</strong>na<strong>do</strong> cumpre sua pena e retorna à socieda<strong>de</strong> <strong>do</strong> mesmo jeito ou pior <strong>do</strong> queantes: volta a abusar sexualmente <strong>de</strong> crianças e a<strong>do</strong>lescentes. O Presídio Regional<strong>de</strong> Tijucas é uma exceção: preocupa-se com a reeducação <strong>do</strong>s presos promoven<strong>do</strong>projetos <strong>de</strong> educação e <strong>de</strong> profissionalização <strong>do</strong>s mesmos, sen<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> noesta<strong>do</strong> um presídio mo<strong>de</strong>lo.Ao questionarmos os presos sobre qual a pena justa para um homem quecomete o crime <strong>de</strong> abuso sexual, a resposta foi <strong>de</strong> total indignação. Muitos <strong>de</strong>lesesbravejaram e disseram que “a solução para estes presos era a pena <strong>de</strong> morte,ca<strong>de</strong>ira elétrica, prisão perpetua”. Outros até cogitaram que “<strong>de</strong>veriam estes recebercomo tratamento o mesmo que fizeram”. Quan<strong>do</strong> perguntamos se acreditavam queestes po<strong>de</strong>riam ser pessoas <strong>do</strong>entes, afirmaram que “não era <strong>do</strong>ença coisanenhuma e sim coisa <strong>de</strong> gente sem vergonha”.A discriminação que um con<strong>de</strong>na<strong>do</strong> por abuso sexual recebe <strong>de</strong> seuscompanheiros <strong>de</strong> cela, bem como <strong>do</strong>s <strong>de</strong>mais presos, é muito gran<strong>de</strong>. Foi visívelque estes são repudia<strong>do</strong>s pelos <strong>de</strong>mais, e logo ao entrarem no presídio, recebem oapeli<strong>do</strong> <strong>de</strong> “DUC”. Ouvimos <strong>do</strong>s presos relatos <strong>de</strong> tortura e até <strong>de</strong> estupro. Abaixomencionamos o relato <strong>de</strong> um preso que nos contou como é trata<strong>do</strong> o preso recémchega<strong>do</strong> ao Presídio Regional <strong>de</strong> Tijucas, acusa<strong>do</strong> por abuso sexual:225


A.L. 26 anos -- Quan<strong>do</strong> um estupra<strong>do</strong>r chega aqui no Presídio, to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>grita <strong>de</strong> sela em sela, DUC, DUC, DUC, para to<strong>do</strong>s da ca<strong>de</strong>ia saberem quechegou, um art.213, aí a bagunça toma conta, e to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> fica na agonia<strong>de</strong> encontrar ele, pra mostrar pra ele como é bom estuprar menininha.A opinião da socieda<strong>de</strong> não difere muito da opinião <strong>do</strong>s presos, a não ser pelasutileza das palavras que as pessoas usam para se referirem aos abusa<strong>do</strong>res. Das30 pessoas questionadas, 23 foram favoráveis à pena <strong>de</strong> morte, 5 acreditam emuma possível recuperação e reinserção na vida social, e 2 pessoas acreditam quesão eles pessoas <strong>do</strong>entes que precisam <strong>de</strong> ajuda psiquiátrica.Por meio da pesquisa foi possível conhecer o perfil <strong>do</strong>s <strong>de</strong>tentos <strong>do</strong> PresídioRegional <strong>de</strong> Tijucas que cometeram crimes <strong>de</strong> natureza sexual contra crianças ea<strong>do</strong>lescentes e avaliar as ações <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> em face ao agressor sexual, no senti<strong>do</strong><strong>de</strong> prevenir o crime e orientar o seu retorno à convivência em socieda<strong>de</strong>.Constatamos claramente a falta <strong>de</strong> interesse <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> para com essas pessoas, aausência <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> para minimizar estes problemas. Por outro la<strong>do</strong>,pu<strong>de</strong>mos presenciar inúmeras iniciativas da comunida<strong>de</strong> (indivíduos, grupos eentida<strong>de</strong>s empresariais e educacionais), em parceria com a Direção e o ConselhoComunitário <strong>do</strong> Presi<strong>do</strong>, no senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> proporcionar aos presos um atendimentoeducacional, profissional, religioso, psicológico e jurídico. Porém, a superpopulaçãocarcerária tem dificulta<strong>do</strong> a realização e a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stas iniciativas.REFERÊNCIASAZEVEDO, M.A. & GUERRA, V. N. A. Infância e violência <strong>do</strong>méstica: fronteiras <strong>do</strong>conhecimento. 3. ed. São Paulo: Cortez, 2000.FORUM CATARINENSE PELO FIM DA VIOLÊNCIA E DA EXPLORAÇÃO SEXUALINFANTO-JUVENIL, Informativo, Florianópolis, agosto, 2004.FURNISS, T. Abuso Sexual da Criança. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.GABEL, M. Crianças vítimas <strong>de</strong> abuso sexual. 1. ed. São Paulo: Summus, 1997.AZAMBUJA, M. R. F. Violência sexual intrafamiliar: É possível proteger a criança? 1.ed. Porto Alegre: Livraria <strong>do</strong> Advoga<strong>do</strong>, 2004.BRASIL. Código Penal. 4. ed. São Paulo: Ri<strong>de</strong>el, 2006.226


RIBEIRO, M. M. & MARTINS, R. B. Violência <strong>do</strong>mestica contra a criança e oa<strong>do</strong>lescente. 1º ed. Curitiba: Afiliada, 2004.ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA MULTIPROFISSIONAL DE PROTEÇÃO À INFÂNCIAE ADOLESCÊNCIA. Abuso sexual: mitos e realida<strong>de</strong>. Petrópolis: Autores & Agentes& Associa<strong>do</strong>s, 1997.AZEVEDO, M. A. & GUERRA, V. N. A. (Org.). Crianças vitimizadas: a síndrome <strong>do</strong>pequeno po<strong>de</strong>r. São Paulo: Iglu, 1989.CARVALHO, A. R. & PIVA, E. A. Violência Sexual Contra Criança e A<strong>do</strong>lescente.Tijucas: 2006. Trabalho não publica<strong>do</strong>.CENTRO BRASILEIRO PARA A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA. Estatuto da Criançae <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente. Brasília: Ministério <strong>do</strong> Bem-Estar Social, 1993.DAMASIO, E. J. Código Penal Anota<strong>do</strong>. São Paulo: Saraiva, 1995.FORUM CATARINENSE PELO FIM DA VIOLÊNCIA E DA EXPLORAÇÃO SEXUALINFANTO-JUVENIL, Informativo, Florianópolis, agosto, 2004.SCHMICKLER, C. M. A revelação <strong>do</strong> indizível. Um estu<strong>do</strong> sobre o protagonista <strong>do</strong>abuso sexual incestuoso contra crianças e a<strong>do</strong>lescentes. (Tese <strong>de</strong> Doutora<strong>do</strong>) SãoPaulo: PUC, 2001.VERONESE, J. R. P. Crianças e a<strong>do</strong>lescentes vítimas: violência gerada por quem?In: <strong>Revista</strong> Roteiro. Joaçaba, v.18, n.35, p.159-175, jan./jun. 1998.SCHMICKLER, C. M. O protagonista <strong>do</strong> abuso Sexual. Sua lógica e estratégias.Chapecó: Argos, 2006.Plano nacional <strong>de</strong> enfrentamento da violência sexual infanto-juvenil. Natal; Ministérioda Justiça/Secretaria <strong>de</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s Direitos/Departamento da Criança e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente, CEDECA/BA – Secretaria Executiva <strong>do</strong> ECPAT, Casa Renascer,CECRIA, Fórum DCA: 2000.Texto recebi<strong>do</strong> em 21 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 17 mar. 2008.227


O USO DA MAQUETE NO ENSINO DE GEOGRAFIAThe use of me mock-up in the Geography teachingBárbara Renata <strong>de</strong> Oliveira 95Lawrence Mayer Malanski 96RESUMOO uso da maquete no ensino da Geografia é um recurso didático importante, poisauxilia a compreensão <strong>de</strong> temas com eleva<strong>do</strong> grau <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> e abstração, além<strong>de</strong> promover a inclusão social <strong>de</strong> pessoas porta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência visual parcial outotal pela utilização <strong>do</strong> tato no processo <strong>de</strong> aprendizagem. A maquete permite avisualização em terceira dimensão <strong>do</strong>s objetos em estu<strong>do</strong>. Para a construção damaquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná foram utiliza<strong>do</strong>s o mapa topográfico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> naescala 1/1.700.000, placas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong> 5mm, papel vegetal, papel carbono, fitaa<strong>de</strong>siva, canetas coloridas, alfinetes, cola branca ou <strong>de</strong> isopor, massa corrida, lixafina, tintas acrílicas e pincéis. O procedimento para a construção <strong>de</strong>sta maquete foi:<strong>de</strong>senho das curvas <strong>de</strong> nível, transposição das curvas <strong>de</strong> nível para as placas <strong>de</strong>isopor, recorte e colagem das placas <strong>de</strong> isopor, recobrimento com massa corrida,acabamento e suporte. Alguns cuida<strong>do</strong>s são necessários, pois os materiaispontiagu<strong>do</strong>s e cortantes po<strong>de</strong>m causar aci<strong>de</strong>ntes. A maquete é um recurso didáticoque po<strong>de</strong> auxiliar os estudantes na compreensão <strong>do</strong>s conceitos da Geografia nasmais diferentes escalas, permitin<strong>do</strong> estabelecer associações entre as diversasproporções, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o local até o global. Essas associações <strong>de</strong>vem estarrelacionadas com o cotidiano <strong>do</strong> estudante e respeitar o seu <strong>de</strong>senvolvimentocognitivo.Palavras-chave: Ensino <strong>de</strong> Geografia; maquete; recurso didático.ABSTRACTThe use of the mock-up in the Geography teaching is a important didactic resource,as it helps the un<strong>de</strong>rstanding of the elevated <strong>de</strong>gree of difficulty and abstractionthemes, besi<strong>de</strong>s it promotes the social inclusion of people with partial or total visualdisabilities using touch into the learning process. The mock-up allows the third95 Graduanda em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná (UFPR). Bolsista <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong>extensão universitária Feira Geográfica Itinerante, vincula<strong>do</strong> à PROGRAD e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> peloLaboratório Pedagógico <strong>de</strong> Geografia da UFPR (LABOGEO).96 Graduan<strong>do</strong> em Geografia pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Paraná (UFPR). Bolsista <strong>do</strong> projeto <strong>de</strong>extensão universitária Feira Geográfica Itinerante, vincula<strong>do</strong> à PROGRAD e <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> peloLaboratório Pedagógico <strong>de</strong> Geografia da UFPR (LABOGEO).En<strong>de</strong>reço: Rua Confúcio, nº 18, Barreirinha, Curitiba, Paraná. CEP: 82. 700. 230. Tel. (41) 3255-1607.E-mail: lawrence@ufpr.br.228


dimension visualization of the objects that are being studied. In or<strong>de</strong>r to build theState of Paraná mock-up, it has been used the topographical map of the State,scaled 1/1.700.000, boards of isoprene of 5mm, vegetable paper, carbon paper ,masking tape, colored pens, pins , white glue or isoprene glue , synthetic mass,abrasive paper, acrylic paints and paintbrushes. The procedure for building thismock-up was: the drawing of the level curves, transposition of the level curves overthe boards of isoprene, clipping and gluing of the boards of isoprene, re-covering thiswith the synthetic mass, fine adjustment and support. Some cautions are nee<strong>de</strong>d,mainly because of the risk that pointing and cutting materials offer. They may causeacci<strong>de</strong>nts. The mock-up is didactic resources that may assist stu<strong>de</strong>nts un<strong>de</strong>rstandthe Geography concepts in the most different scales, allowing associations amongdifferent proportions, from the local to the global. Such associations must be relatedto the daily life of the stu<strong>de</strong>nt and respect their cognitive <strong>de</strong>velopment.Keywords: Geography teaching; mock-up; didactic resource.RESUMENEl uso <strong>de</strong> la maqueta en la enseñanza <strong>de</strong> Geografía es un recurso didácticoimportante, pues ayuda la comprensión <strong>de</strong> los asuntos con eleva<strong>do</strong> gra<strong>do</strong> <strong>de</strong>dificultad y abstracción, a<strong>de</strong>más promueve la inclusión social <strong>de</strong> las personasporta<strong>do</strong>ras <strong>de</strong> discapacidad visual parcial o total a través <strong>de</strong> la utilización <strong>de</strong> lo tactoen lo proceso <strong>de</strong> aprendizaje. La maqueta permite la visualización en terceradimensión <strong>de</strong> los objetos en estudio. Para la construcción <strong>de</strong> la maqueta <strong>de</strong>l Esta<strong>do</strong><strong>de</strong>l Paraná se ha utiliza<strong>do</strong> el mapa topográfico <strong>de</strong>l esta<strong>do</strong> en la escala 1/1.700.000,placas <strong>de</strong> telgopor <strong>de</strong> 5mm, papel vegetal, papel carbón, cinta adhesiva, bolígrafoscolori<strong>do</strong>s, alfileres, pegamento o <strong>de</strong> telgopor, masa sintética, lija fina, pinturasacrílicas y pinceles. El procedimiento para la construcción <strong>de</strong> esta maqueta fue:traza<strong>do</strong> <strong>de</strong> las curvas <strong>de</strong> nivel, transposición <strong>de</strong> las curvas <strong>de</strong> nivel para las placas<strong>de</strong> telgopor, recorte y encolamiento <strong>de</strong> las placas <strong>de</strong> telgopor, recubrimiento conmasa sintética, finalización y soporte. Algunos cuida<strong>do</strong>s son necesarios, pues losmateriales puntiagu<strong>do</strong>s y cortantes pue<strong>de</strong>n causar acci<strong>de</strong>ntes. La maqueta es unrecurso didáctico que pue<strong>de</strong> ayudar los estudiantes en la comprensión <strong>de</strong> losconceptos <strong>de</strong> la Geografía en las más diferentes escalas, permitien<strong>do</strong> establecerasociaciones entre las diversas proporciones, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> el local hasta el global. Esasasociaciones <strong>de</strong>ben estar relacionadas con el cotidiano <strong>de</strong>l estudiantes y respectarel su <strong>de</strong>sarrollo cognitivo.Palabras-clave: Enseñanza <strong>de</strong> Geografía; maqueta; recurso didáctico.IntroduçãoO uso da maquete no ensino <strong>de</strong> GeografiaA maquete permite uma concreta manipulação e visualização, em terceiradimensão (3D), <strong>de</strong> diferentes da<strong>do</strong>s e informações, construída a partir <strong>de</strong> uma base229


cartográfica plana, em duas dimensões (2D), po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ser usada, principalmente,por estudantes <strong>do</strong> ensino fundamental (5ª ou 6ª série), que ainda apresentam umnível <strong>de</strong> abstração insuficiente para a interpretação <strong>de</strong> mapas e cartashipsométricos. “[...] a maquete aparece como o processo <strong>de</strong> restituição <strong>do</strong> ‘concreto’(relevo) a partir <strong>de</strong> uma ‘abstração’ (curvas <strong>de</strong> nível), centran<strong>do</strong>-se aí sua realutilida<strong>de</strong>, complementada com os diversos usos <strong>de</strong>ste mo<strong>de</strong>lo concreto trabalha<strong>do</strong>pelos alunos” (SIMIELLI et al., 1992, p. 6).Desse mo<strong>do</strong>, a maquete permite ao professor explorar diferentes conteú<strong>do</strong>sda Geografia Escolar, tanto <strong>de</strong> aspecto físico (geomorfologia, hidrografia, geologiaentre outros) quanto humano (urbanização, cultura, economia etc), ou interrelacionarambos os aspectos em diferentes escalas cartográficas e geográficassobre o mo<strong>de</strong>lo. Segun<strong>do</strong> SIMIELLI et al.É importante que no momento em que os alunos estejamtrabalhan<strong>do</strong> com a maquete consigam, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com seu nível,produzir conhecimento. Essa produção se faz a partir dasinformações que os elementos da maquete em si traduzem, assimcomo <strong>de</strong> informações que possam ser sobrepostas à maquete etrabalha<strong>do</strong>s para a elaboração <strong>de</strong> conceitos e <strong>de</strong> fenômenos, comotambém <strong>de</strong> suas interações com o relevo (SIMIELLI et al. 1992, p.19).Mesmo em tempos em que o uso <strong>de</strong> softwares <strong>de</strong> Sistemas <strong>de</strong> InformaçõesGeográficas (SIG) alcançou algumas escolas <strong>de</strong> ensino fundamental e médio (comoo CTGEO Escola 97 , por exemplo), possibilitan<strong>do</strong> a manipulação virtual <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s einformações espaciais, a maquete se apresenta como um recurso didáticorelativamente simples e barato <strong>de</strong> construir, se comparada com o uso <strong>de</strong> softwares<strong>de</strong> SIG e hardwares necessários para a utilização <strong>de</strong>sses sistemas.Ainda, “[...] a maquete contribui, também, no aprendiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> alunosporta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiência visual, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> estes, sentir as diferentes formas <strong>de</strong>relevo através <strong>do</strong> tato” (LOMBARDO e CASTRO, 2001). Para isso, a maquete <strong>de</strong>veser construída utilizan<strong>do</strong> uma linguagem tátil e alguns cuida<strong>do</strong>s específicos, taiscomo a<strong>do</strong>ção <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> revestimento agradáveis ao tato, tamanho a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>(recomenda-se 50cm X 50cm), pintura <strong>do</strong>s conjuntos em cores fortes (para que97CTGEO Escola é um software <strong>de</strong> SIG <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pela Companhia Tecnológica <strong>de</strong>Geoprocessamento (CTGEO) com o objetivo <strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> em algumas escolas <strong>de</strong> ensinofundamental e médio na alfabetização cartográfica <strong>de</strong> seus estudantes.230


possa ser utilizada por estudantes com visão sub-normal, chama<strong>do</strong>s alunosvi<strong>de</strong>ntes) e legenda em escrita convencional e Braille.Convém <strong>de</strong>stacar que tais maquetes táteis po<strong>de</strong>m ser construídas <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>que possam ser utilizadas por to<strong>do</strong>s os estudantes (<strong>de</strong>ficientes ou não)conjuntamente. Além <strong>de</strong> proporcionar aos educan<strong>do</strong>s regulares outras formas <strong>de</strong>percepção <strong>do</strong> espaço, o professor cria um ambiente inclusivo que fornece ao<strong>de</strong>ficiente visual, subsídios para que este explore melhor o meio em que vive,proporcionan<strong>do</strong>-lhes condições para que participem ativamente e conjuntamente dasativida<strong>de</strong>s escolares. Desse mo<strong>do</strong>, convém <strong>de</strong>stacar que “Através da compreensão<strong>do</strong> espaço local, torna-se muito mais fácil o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> qualquer área <strong>do</strong> planeta, poispermite estabelecer analogias a partir <strong>de</strong> uma experiência vivida, além <strong>de</strong> aguçar ograu <strong>de</strong> reflexão” (KOZEL, 1999).A maquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná – méto<strong>do</strong> e materiaisPara a confecção <strong>de</strong> maquetes, “[...] é fundamental o <strong>do</strong>mínio <strong>de</strong><strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s conceitos como, escala cartográfica, exagero vertical e generalizaçãocartográfica. Escala cartográfica é a relação entre as medidas <strong>do</strong> terreno e as <strong>do</strong>mapa” (COLLISCHONN, 1997, p.3). Ainda, segun<strong>do</strong> a autora, partin<strong>do</strong> <strong>de</strong>sse ponto,uma maquete apresenta duas escalas: uma chamada escala horizontal, querepresenta a relação entre as medidas planas (a escala <strong>do</strong> mapa) e outra chamadaescala vertical, que representa a relação entre as amplitu<strong>de</strong>s altimétricas reais e asda maquete. O exagero vertical, “[...] é necessário na confecção <strong>de</strong> maquetes paratermos a noção <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, estan<strong>do</strong> diretamente correlaciona<strong>do</strong>, e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, paraefeito <strong>de</strong> opção e cálculo, da escala horizontal (ou seja, a escala <strong>do</strong> mapa).”(SIMIELLI et al. 1992, p. 7). A generalização cartográfica implica numa seleção <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s a serem representa<strong>do</strong>s e numa a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>stes da<strong>do</strong>s à maquete.2.1 Base meto<strong>do</strong>lógicaPara a construção da maquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, utilizaremos como basemeto<strong>do</strong>lógica a proposta por Simielli et. al. (1992) no texto Do Plano aoTridimensional: A Maquete como Recurso Didático <strong>de</strong>vidamente adaptada aoobjetivo <strong>de</strong>ssa pesquisa.231


2.2 Materiais utiliza<strong>do</strong>sOs seguintes materiais serão utiliza<strong>do</strong>s na elaboração da maquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><strong>do</strong> Paraná:• Mapa topográfico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná na escala 1/1.700.000;• Placas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong> 5mm;• Papel vegetal;• Papel carbono;• Fita a<strong>de</strong>siva;• Canetas <strong>de</strong> diferentes cores;• Alfinete;• Cola branca ou <strong>de</strong> isopor;• Massa corrida;• Lixa fina. Recomenda-se a <strong>de</strong> granulometria P120;• Tintas acrílicas;• Pincéis.Convém <strong>de</strong>stacar que na escolha da espessura das placas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong>veráser levada em conta a escala vertical pretendida para o mo<strong>de</strong>lo tridimensional, umavez que tal escala será dada pela relação d/D = 1/T, on<strong>de</strong> a espessura da folha serárepresentada por “d” e a eqüidistância das curvas <strong>de</strong> nível será representada por“D”. Em nosso exemplo, da maquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, a<strong>do</strong>taremos a espessuradas placas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong> 5mm (0,5cm). A eqüidistância das curvas <strong>de</strong> nível <strong>do</strong> mapatopográfico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná é <strong>de</strong> 200m (20.000cm). Desse mo<strong>do</strong>, aplican<strong>do</strong>-sea relação escalar, a escala vertical <strong>de</strong> nosso mo<strong>de</strong>lo será <strong>de</strong> 1/40.000, on<strong>de</strong> 1cmrepresentará 40.000cm, ou 400m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> <strong>do</strong> terreno real.2.3 Confecção <strong>do</strong> mapa <strong>de</strong> baseMuitas vezes, os mapas e cartas disponíveis para a construção da maquetenão se apresentam na escala <strong>de</strong>sejável para o trabalho, sen<strong>do</strong> necessário a<strong>de</strong>quálaspor processos <strong>de</strong> ampliação ou redução.232


Nos mapas hipsométricos, conforme SIMIELLI (1992), a representação <strong>do</strong>relevo é feita por classes <strong>de</strong> valores não eqüidistantes. Para a obtenção das curvas<strong>de</strong> nível com eqüidistâncias é necessário usar o processo <strong>de</strong> interpolação <strong>de</strong> curvas<strong>de</strong> nível, no qual a partir <strong>de</strong> valores altimétricos conheci<strong>do</strong>s, obtêm-se valoresintermediários. Entre os vários méto<strong>do</strong>s existentes para a interpolação <strong>de</strong> curvas <strong>de</strong>nível, o mais usual é o processo <strong>de</strong> avaliação.Para facilitar a elaboração <strong>de</strong> maquetes, existem bases cartográficas prontase reduzidas, que po<strong>de</strong>m ser adquiridas pelo professor e ampliadas pelo processo <strong>de</strong>fotocópia até a escala pretendida.3 Confecção da maquete <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná passo a passo3.1 Para a confecção da maquete sete passos serão realiza<strong>do</strong>s:1º) Desenho das curvas <strong>de</strong> nível;2º) Transposição das curvas <strong>de</strong> nível para as placas <strong>de</strong> isopor;3º) Recorte das placas <strong>de</strong> isopor;4º) Colagem das placas <strong>de</strong> isopor;5º) Recobrimento com massa corrida;6º) Acabamento;7º) Base.1º) Desenho das curvas <strong>de</strong> nívelSobrepon<strong>do</strong>-se uma folha <strong>de</strong> papel vegetal ao mapa topográfico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong>Paraná, <strong>de</strong>marcar nesse papel, utilizan<strong>do</strong> canetas coloridas, as diferentes cotasaltimétricas (uma cor representan<strong>do</strong> cada cota altimétrica para facilitar avisualização).FIGURA 1: DESENHO DAS CURVAS DE NÍVEL233


Fonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.2º) Transposição das curvas <strong>de</strong> nível para as placas <strong>de</strong> isoporTranspor, intercalan<strong>do</strong>-se folhas <strong>de</strong> papel carbono entre uma placa <strong>de</strong> isopore a folha <strong>de</strong> papel vegetal com as curvas <strong>de</strong> nível, as curvas <strong>de</strong> nível para a folha <strong>de</strong>isopor furan<strong>do</strong> com alfinete com cabeça to<strong>do</strong> o contorno, fican<strong>do</strong> a curva <strong>de</strong>marcadana placa. Todas as curvas <strong>de</strong> nível <strong>do</strong> mapa topográfico <strong>de</strong>vem ser transpostas, uma<strong>de</strong> cada vez em placas diferentes.FIGURA 2: TRANSPOSIÇÃO DAS CURVAS DE NÍVEL PARA A PLACA DEISOPORFonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.3º) Recorte das placas <strong>de</strong> isoporRecortar e <strong>de</strong>stacar as curvas <strong>de</strong> nível das placas <strong>de</strong> isopor utilizan<strong>do</strong> uminstrumento <strong>de</strong> ponta aquecida (instrumento próprio para o corte <strong>de</strong> isopor, ouesquenta<strong>do</strong>, na chama <strong>de</strong> uma vela, a ponta <strong>de</strong> uma faca, estilete ou agulha).FIGURA 3: RECORTE DAS PLACAS DE ISOPOR234


Fonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.4º) Colagem das placas <strong>de</strong> isoporColar, utilizan<strong>do</strong> cola branca ou cola <strong>de</strong> isopor, as curvas <strong>de</strong> nível recortadas,começan<strong>do</strong> pela montagem da curva <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> mais baixa, seguin<strong>do</strong>gradativamente para as <strong>de</strong> maior altitu<strong>de</strong>.FIGURA 4: COLAGEM DAS PLACAS DE ISOPORFonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.5º) Recobrimento com massa corridaApós todas as curvas <strong>de</strong> nível serem coladas, as placas <strong>de</strong> isopor <strong>de</strong>ve sercobertas com massa corrida para dar uma noção <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> <strong>do</strong> relevo. Amassa não <strong>de</strong>ve ser aplica em excesso para não alterar as escalas <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.Geralmente é necessário sobrepor mais <strong>de</strong> uma camada <strong>de</strong> massa para um melhorrecobrimento <strong>do</strong> mo<strong>de</strong>lo.Após a secagem completa <strong>do</strong> material, lixá-lo, suavemente, para daruniformida<strong>de</strong> ao acabamento.FIGURA 5: RECOBRIMENTO COM MASSA CORRIDA235


Fonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.6º) AcabamentoTerminada a fase anterior, inicia-se a pintura com as tintas acrílicas (acrílicaspara não agredir o isopor e a massa corrida), conforme o tema escolhi<strong>do</strong>.Sugerimos, aplicar primeiro uma <strong>de</strong>mão <strong>de</strong> tinta base branca, uma vez que a massacorrida absorve uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tinta.7º) SuportePor ser construída com materiais frágeis, po<strong>de</strong>-se utilizar um suporte para amaquete feito <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> papelão ou ma<strong>de</strong>ira, no qual <strong>de</strong>vem ser coloca<strong>do</strong>s alegenda, fonte, título, orientação, autores e data.FIGURA 6: ACABAMENTO E SUPORTEFonte: (foto) MALANSKI, Lawrence Mayer, 2006.3 Cuida<strong>do</strong>s na confecção <strong>de</strong> maquetes junto com os estudantesSe o professor optar por construir uma maquete junto com seus estudantes,alguns cuida<strong>do</strong>s <strong>de</strong>vem ser toma<strong>do</strong>s, principalmente com os alfinetes, facas ouestiletes utiliza<strong>do</strong>s para furar e cortar o isopor, pois além <strong>de</strong> pontiagu<strong>do</strong>s, po<strong>de</strong>rãoestar quentes. Outro utensílio que merece cuida<strong>do</strong>, se usa<strong>do</strong>, é a vela, pois po<strong>de</strong>causar queimaduras. Além disso, o pó resultante da massa corrida lixada po<strong>de</strong>causar algum tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> respiratória nas crianças.236


Para se tentar prevenir aci<strong>de</strong>ntes, o ambiente <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>ve estartranqüilo, areja<strong>do</strong>, ventila<strong>do</strong> e os objetos perigosos <strong>de</strong>vem ser sempre utiliza<strong>do</strong>s soba supervisão <strong>de</strong> um adulto.4 ConclusãoA maquete não se apresenta como um fim didático, auto-explicativa etrabalhada <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> isola<strong>do</strong> <strong>de</strong> outros conteú<strong>do</strong>s e disciplinas escolares, mas comoum recurso didático interessante que leva o estudante, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu nívelcognitivo, a <strong>de</strong>senvolver e <strong>do</strong>minar conceitos espaciais e suas representações emdiversas escalas. Assim, ela aparece como uma forma prática da teoriaconstrutivista <strong>do</strong> conhecimento e uma prática escolar em busca da alfabetizaçãocartográfica e geográfica e entendimento da realida<strong>de</strong>.Além disso, o uso da maquete estimula o estudante a fazer uma análise 3Dintegrada e generaliza<strong>do</strong>ra <strong>do</strong>s fenômenos espaciais, permitin<strong>do</strong> ao professorabordar diretamente noções <strong>de</strong> posição, distância, direção, quantida<strong>de</strong> entre outrose contornar a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> entendimento das representações planas (2D).Por fim, mais recentemente, com a inclusão <strong>de</strong> estudantes porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong>s especiais nas salas <strong>de</strong> aula <strong>do</strong> ensino regular, a maquete po<strong>de</strong> serutilizada em conjunto pelos educan<strong>do</strong>s regulares e por porta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> <strong>de</strong>ficiênciavisual (vi<strong>de</strong>ntes ou cegos), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que toma<strong>do</strong>s alguns cuida<strong>do</strong>s meto<strong>do</strong>lógicos naelaboração <strong>de</strong>sse material, contribuin<strong>do</strong> para a inserção <strong>de</strong>stes nas práticaspedagógicas.REFERÊNCIASCOLLISCHONN, É. Maquetes <strong>de</strong> Municípios – Um Recurso Didático. In: Agora.Santa Cruz <strong>do</strong> Sul, v.3, n.1, p. 75-89, 1997.CTGEO. CTGEO Escola. Disponível em: Acesso em:06/10/2007.KOZEL, S. T, Produção e reprodução <strong>do</strong> espaço na escola: o uso da maqueteambiental. In: <strong>Revista</strong> paranaense <strong>de</strong> geografia. n. 4, AGB, Curitiba, 1999, p.28-32.237


LOMBARDO, M. A., CASTRO, J. F. M. O uso <strong>de</strong> maquete como recurso didático.Anais <strong>do</strong> II Colóquio <strong>de</strong> Cartografia para Crianças, Belo Horizonte, 1996. In: <strong>Revista</strong>Geografia e Ensino. UFMG/IGC/Departamento <strong>de</strong> Geografia, 6(1) p. 81-83, 1997.SIMIELLI, M. E. R. et al. Do plano ao tridimensional: a maquete como recursodidático. In: Boletim Paulista <strong>de</strong> Geografia, nº 70, AGB, São Paulo, 1991, p. 5-21.VENTORINI, Silvia Elena; FREITAS, Maria Isabel Castreghini <strong>de</strong>. Cartografia Tátil:Pesquisa e Perspectiva no Desenvolvimento <strong>de</strong> Material Didático Tátil. Disponívelem: Acesso em: 06/10/2007.Texto recebi<strong>do</strong> em 19 fev. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 18 mar. 2008.238


Resenha239


Arte e MídiaDenise <strong>do</strong> Rocio Calomeno Martini 98MACHADO, Arlin<strong>do</strong>. Arte e mídia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge Zahar, 2007.Na contemporaneida<strong>de</strong> a arte não nega as técnicas tradicionais, mas aliadacada vez mais aos avanços tecnológicos e as outras possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>representação, o artista se realiza e oferece ao público e a crítica novasexperiências estéticas. A arte torna-se interativa, provoca os senti<strong>do</strong>s humanos erequer <strong>do</strong> homem uma reeducação <strong>do</strong> olhar, <strong>do</strong> sentir, <strong>do</strong> perceber.No livro “Arte e Mídia” (2007), Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> discute a artemídia e asimbricações <strong>do</strong>s vocábulos - arte e mídia - com significa<strong>do</strong>s distintos e que vão além<strong>do</strong> instrumental, <strong>do</strong> uso <strong>de</strong> equipamentos e da interferência e presença da arte pelosmeios <strong>de</strong> comunicação em massa.Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong> é critico <strong>de</strong> arte, cura<strong>do</strong>r e teórico da mídia, <strong>do</strong>utor emComunicação, <strong>do</strong>cente da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo - Escola <strong>de</strong> Comunicações eArtes e da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> São Paulo. Dirige seus estu<strong>do</strong>s àprodução artística imagética da contemporaneida<strong>de</strong> vinculada à tecnologia - ví<strong>de</strong>oarte,artes eletrônicas, teoria da comunicação e informação, produção televisiva - eas formas <strong>de</strong> mediação <strong>de</strong>sta produção.No primeiro capítulo intitula<strong>do</strong> - “Arte e mídia: aproximações e distinções”(p.9) - Macha<strong>do</strong> nos instiga a refletir sobre a produção em arte e a apropriação pelosartistas <strong>do</strong>s meios disponíveis em cada momento histórico. Afirma que: “Se toda aarte é feita com os meios <strong>de</strong> seu tempo, as artes midiáticas representam aexpressão mais avançada da criação artística atual e aquela que melhor exprimesensibilida<strong>de</strong>s e saberes <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> início <strong>do</strong> terceiro milênio” (p.10).O subitem <strong>do</strong> primeiro capítulo <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> “Desvian<strong>do</strong> a tecnologia <strong>do</strong> seuprojeto industrial” (p.10) trata da forma como o artista utiliza “aparelhos, instrumentos98 Especialista em Meto<strong>do</strong>logias <strong>de</strong> Ensino, Magistério Superior e Educação EspecialGraduada em Artes Visuais – UFPR e em Comunicação Visual – UFPR. Professora PDE2008 - pesquisa<strong>do</strong>ra em Tecnologias Aplicadas à Arte, Educação e Educação Especial.Contato: prof<strong>de</strong>nise@seed.pr.gov.br240


e máquinas semióticas” que não foram projeta<strong>do</strong>s com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seremsuportes para a arte e sim <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> industrial, daprodução em série, <strong>de</strong>ntro da lógica <strong>de</strong> expansão capitalista. O artista reinventa osmeios, “é um subverter continuamente a função da máquina” (p.14). Entre algunsexemplos Macha<strong>do</strong> nos traz o romance digital Agrippa (1992) <strong>de</strong> William Gibson emque o artista apresenta na tela um texto on<strong>de</strong> as palavras se misturam e são<strong>de</strong>struídas por um vírus <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>r, capaz <strong>de</strong> acabar conflitos <strong>de</strong> memória <strong>do</strong>aparelho. O autor conclui: “então não se po<strong>de</strong> mais (...) dizer que os artistas estãooperan<strong>do</strong> <strong>de</strong>ntro das possibilida<strong>de</strong>s programadas e previsíveis <strong>do</strong>s meios invoca<strong>do</strong>s.Eles estão, na verda<strong>de</strong>, ultrapassan<strong>do</strong> os limites das máquinas semióticas ereinventan<strong>do</strong> radicalmente os seus programas e as suas finalida<strong>de</strong>s.” (p.14)Na seqüência em “A arte como metalinguagem da mídia” (p.17) o autorquestiona a representativida<strong>de</strong> da artemídia <strong>de</strong>ntro da socieda<strong>de</strong> midiática, “o‘<strong>de</strong>svio’ <strong>do</strong> projeto tecnológico original no diálogo com as mídias e a socieda<strong>de</strong>industrializada.” (p.17) Apresenta a vi<strong>de</strong>oarte como expressão pioneira <strong>de</strong>intervenção artística nesta socieda<strong>de</strong> midiática, com interferência críticaextrapolan<strong>do</strong> o mecanismo inicial da máquina, a técnica programada, distorcen<strong>do</strong>“as suas funções simbólicas, obrigan<strong>do</strong>-as a funcionar fora <strong>do</strong>s parâmetrosconheci<strong>do</strong>s e a explicitar seus mecanismos <strong>de</strong> controle e sedução.” (p.22)Macha<strong>do</strong> conclui o primeiro capitulo com o tema “A mídia comoreor<strong>de</strong>namento da arte” (p.23), retoman<strong>do</strong> o conceito <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste contexto<strong>de</strong> transformação da representação artística através da produção midiática, <strong>do</strong> “fazerarte nas mídias ou com as mídias” (p.24). Discute a revisão <strong>do</strong>s conceitostradicionais sobre representação artística e um repensar consonante com a novasensibilida<strong>de</strong> trazida nas obras atuais. O artista, cada vez mais, encontra um públicodiversifica<strong>do</strong>, diferente daquele que direciona seu olhar para a apreciação da obra.Este público nem sempre compreen<strong>de</strong> que, o que estão vivencian<strong>do</strong>, é umaexperiência estética. A arte ocupa outros espaços e exige um redimensionamento noseu significa<strong>do</strong>, enfrenta “o <strong>de</strong>safio da sua dissolução e da sua reinvenção comoevento <strong>de</strong> massa.” (p.30)O segun<strong>do</strong> capitulo “Tecnologia e arte: como politizar o <strong>de</strong>bate” (p.30) Arlin<strong>do</strong>Macha<strong>do</strong> discute o progresso tecnológico e o posicionamento <strong>do</strong> Brasil diante <strong>de</strong>outros países produtores <strong>de</strong> tecnologias eletrônicas, digitais ou biogenéticas e a<strong>de</strong>mocratização <strong>do</strong> acesso a estes avanços – seletivos e discriminatórios. Questiona241


a implantação centraliza<strong>do</strong>ra das tecnologias por empresas privadas ou por políticasexclusivistas. O autor nos traz o pensamento <strong>de</strong> Roy Ascott quan<strong>do</strong> analisa asmudanças comportamentais advindas da comunicação em re<strong>de</strong> e afirma que “estãoafetan<strong>do</strong> profundamente as relações <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> sociabilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>shomens (...)” (p.35) consigo mesmo e em relação aos outros. Diante <strong>de</strong>ste contextouma das preocupações exposta é a carência <strong>de</strong> aprofundamento das discussõessobre tecnologia em toda a complexida<strong>de</strong> que este tema necessita, resultan<strong>do</strong> emum ”<strong>de</strong>sgringolamento” <strong>de</strong> valores e da própria concepção <strong>de</strong> arte, numa socieda<strong>de</strong>sem massa crítica.Macha<strong>do</strong> apresenta a teoria <strong>do</strong> filósofo “tcheco-brasileiro” Vilém Flusser, queanalisa as mudanças culturais, sociais e antropológicas presentes nacontemporaneida<strong>de</strong>. Neste momento Macha<strong>do</strong> traz como referência o livro “Filosofiada caixa-preta” (1984), on<strong>de</strong> Flusser reflete sobre a socieda<strong>de</strong> “pós-histórica”, comoassim <strong>de</strong>nomina nossa era, “marcada pelo colapso <strong>do</strong>s textos e pela hegemonia dasimagens.” (p.42) e discute a fotografia como primeiro impulso para a automatizaçãoda produção, distribuição e consumo da informação, passan<strong>do</strong> pela imagemeletrônica e chegan<strong>do</strong> as imagens digitalizadas e a manipulação <strong>de</strong>stas imagenspelo artista e sua relação com a máquina.Finalizan<strong>do</strong> o segun<strong>do</strong> capitulo, intitula<strong>do</strong> por “Artemídia: a experiênciabrasileira” (p.49), Macha<strong>do</strong> faz um breve histórico da presença das poéticastecnológicas resultantes da arte cinética, da música eletroacústica, da computer artcomputer music, holografia, arte-comunicação, poesia intersemiótica e da interseçãoarte-ciência. Questiona a substituição da discussão estética, em relação à produçãomidiática, em contrapartida à relevância <strong>de</strong> questões técnicas, e os critérios <strong>de</strong>avaliação <strong>de</strong>sta produção que “apontem para perspectivas <strong>de</strong> invenção, liberda<strong>de</strong> econhecimento.” (p.56)No terceiro e último capítulo “Convergência e divergência das artes e <strong>do</strong>smeios” (p.57) o autor cria uma metáfora visual partin<strong>do</strong> da imagem <strong>de</strong> três círculosintercepta<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>res <strong>do</strong>s meios – fotografia, cinema e música – e exemplifica adivergência e convergência entre estes meios <strong>de</strong> representação artística. Discute ahibridização e as relações <strong>de</strong> senti<strong>do</strong>s que constituem o pensamento da divergência– cada arte midiática pensada e praticada <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – e daconvergência – a migração das imagens, as conexões entre fotografia, cinema,ví<strong>de</strong>o e as artes digitais.242


Perfazen<strong>do</strong> a obra literária “Arte e mídia” (2007), Arlin<strong>do</strong> Macha<strong>do</strong>contextualiza seu pensamento trazen<strong>do</strong> como referência a produção e pesquisa <strong>de</strong>diferentes artistas, analistas, semioticistas, produtores cinematográficos, críticosentre outros estudiosos da arte e tecnologia, direcionan<strong>do</strong> a leitura numa perspectivahistórica, o que possibilita ao leitor <strong>de</strong>svelar os argumentos e conceitos intrínsecosno texto <strong>de</strong> forma prazerosa e enriquece<strong>do</strong>ra.Texto recebi<strong>do</strong> em 27 set. 2008.Texto aprova<strong>do</strong> em 6 out. 2008.243


PARECERISTAS 2007/2008A<strong>de</strong>mir Valdir <strong>do</strong>s Santos - UTFPRAna Cláudia Farranha – UNIEUROCristofer Gol<strong>de</strong>r – UFPAGláucia da Silva Brito – UFPRGutemberg Melo Rocha - Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Ribeirão Preto - USPJheison Nunes Holthausen – UNICENTROJosé <strong>de</strong> Siqueira Silva Junior – UNIEUROLeila Maria Amaral Ribeiro – UFRJMadalena <strong>de</strong> Fátima Zaccara Pekala – UFPEMarcelo Gustavo Andra<strong>de</strong> <strong>de</strong> Souza – PUC-RioMarcia Maria <strong>do</strong>s Anjos Azeve<strong>do</strong> – UFRJMaria <strong>de</strong> Nazaré Tavares Zenai<strong>de</strong> – UFPBMaria Stela Santos Graciani – PUCSPMarisa Oliveira Nativida<strong>de</strong> – UFSMNicolau Maués Serra Freire – FIOCRUZPaulo Vinícius Baptista da Silva – UFPRRosana Glat – UERJSilvia Schawab – UFPRSonia Cristina Vermelho – FACNOPAR/UFPRSuely <strong>de</strong> Souza Almeida – UFRJSylvia Maria Macha<strong>do</strong> Vendramini – UFV - Viçosa244

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