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EXTENSÃO - PROEC - Universidade Federal do Paraná

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EXTENSÃOFOCO<br />

EM


Reitor<br />

Zaki Akel Sobrinho<br />

Vice-reitor<br />

Rogério Mulinari<br />

Pró-Reitora de Extensão<br />

Elenice Mara Matos Novak<br />

Diretor da Editora UFPR<br />

Gilberto de Castro<br />

Extensão em Foco<br />

Publicação semestral da Pró-Reitoria de Extensão em Cultura da UFPR<br />

extensaoemfoco@ufpr.br<br />

http://www.proec.ufpr.br/extensaoemfoco/index.htm<br />

Editora: Luciana Panke<br />

Conselho Editorial: Ana Maria Petraitis Liblik (UFPR); Ana Maria Costa e Silva<br />

(University of Minho); Geysa Abreu (UDESC); José Sariol Bonilla (Universidad de<br />

Granma); Julio Pérez López (<strong>Universidade</strong> de Murcia – Espanha);<br />

Suely Scherer (UNERJ); Fernan<strong>do</strong> Oliveira Paulino (UNB).<br />

Conselho Consultivo: Alexander Welker Bion<strong>do</strong>, Aloísio Leoni Schmid,<br />

Araci Asinelli da Luz; Hugo Melo, Luis Allan Künzle, Mariluci Alves Maftum,<br />

Sandra Regina Kirchner Guimarães, Vera Karam de Chueiri.<br />

Sistema Eletrônico de Revistas - SER<br />

Programa de Apoio à Publicação de Periódicos da UFPR<br />

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação<br />

www.prppg.ufpr.br<br />

O Sistema Eletrônico de Revistas (SER) é um software livre e permite a<br />

submissão de artigos e acesso às revistas de qualquer parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Pode ser acessa<strong>do</strong><br />

por autores, consultores, editores, usuários, interessa<strong>do</strong>s em acessar e obter cópias de artigos<br />

publica<strong>do</strong>s nas revistas. O sistema avisa automaticamente, por e-mail, <strong>do</strong> lançamento de um<br />

novo número da revista aos cadastra<strong>do</strong>s.


EXTENSÃOFOCO<br />

EM<br />

N.º 6 - JUL./DEZ. 2010


Editora UFPR<br />

Rua João Negrão, 280 - Centro<br />

Caixa Postal: 17.309<br />

Tel.: (41) 3360-7489 - fax: (41) 3360-7486<br />

80010-200 - Curitiba - Paraná - Brasil<br />

www.editora.ufpr.br<br />

editora@ufpr.br<br />

Coordenação editorial: Daniele Soares Carneiro<br />

Revisão <strong>do</strong>s textos em português: Fabricio Alberto de Oliveira<br />

Projeto gráfico: Glauco Pessoa Salamunes<br />

Editoração eletrônica: Pedro Henrique de Sousa Ferreira<br />

Projeto gráfico de Capa: Eliane Ribeiro Campos<br />

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ<br />

SISTEMA DE BIBLIOTECAS<br />

BIBLIOTECA CENTRAL. COORD. PROCESSOS TÉCNICOS<br />

Ficha catalográfica<br />

EXTENSÃO EM FOCO / <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná. Pró-Reitoria de<br />

Extensão e Cultura, Coordena<strong>do</strong>ria de Extensão; editora Luciana Panke, n. 1, 2008-<br />

[Curitiba] : Editora UFPR, 2008. (Revista da UFPR, n. 232)<br />

n. 6, jul./dez. 2010<br />

Semestral<br />

Textos em Português, Inglês e Espanhol<br />

Inclui bibliografia e notas<br />

ISSN: 19824432<br />

1. Meio ambiente - Educação ambiental. 2. Extensão rural. 3. Formação de professores. 4.<br />

Educação em direitos humanos.<br />

I. <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná. Pró-Reitoria de Extensão e Cultura.<br />

Coordena<strong>do</strong>ria de Extensão. II. Panke, Luciana. Série.<br />

Samira Elias Simões CRB-9 /755<br />

CDD 22.ed. 341.48<br />

Série Revista da UFPR, n. 254<br />

ISSN 1982-4432<br />

Ref. 631<br />

PRINTED IN BRAZIL<br />

Curitiba, 2011<br />

PEDE-SE PERMUTA<br />

WE ASK FOR EXCHANGE


Editorial<br />

Uma das principais questões públicas <strong>do</strong> século XXI é o meio-ambiente. Tema de imensurável<br />

relevância, cabe também à <strong>Universidade</strong> fomentar a discussão e possibilitar o acompanhamento<br />

da sociedade em projetos e ações continuadas.<br />

Desta forma, a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná busca<br />

contribuir para o fomento com a publicação de um <strong>do</strong>ssiê específico nesta área. A organização <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>ssiê contou com a colaboração <strong>do</strong> prof. Dr. Toni André Scharlau, cuja seleção abrange artigos<br />

produzi<strong>do</strong>s em diversas regiões brasileiras.<br />

O Dossiê abre com o trabalho de Maria das Graças Ribeiro sobre o histórico da extensão<br />

rural em Minas Gerais. Depois, temos o panorama pernambucano com o texto de Jowania Rosas<br />

e Christina Nunes. O trabalho de Daniela Biondi relata experiências não formais que contribuem<br />

para a educação ambiental. Por sua vez, a jornalista Mônica Pinto discute a responsabilidade da<br />

comunicação inserida na sociedade <strong>do</strong> consumo.<br />

O artigo seguinte é resulta<strong>do</strong> de uma equipe – Luciana Paula Vieira, Juliana Moreira Prudenye<br />

de Oliveira, Kassiana da Silva Miguel, Daniela Frigo Ferraz, André Luis de Oliveira e Anelize<br />

Queiroz Amaral – que investiu nos módulos ambientais na educação básica. O autor Hugo Tavares<br />

relata a extensão rural no Paraná, sob o enfoque histórico. E os catarinenses Silvia Odebrecht, João<br />

Francisco Noll e Sheila E. S. Klein, da Furb, trazem o tema sob o viés da arquitetura. No encerramento<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>ssiê, os desafios na recuperação de uma nascente é relatada por Júlia Soares Pereira,<br />

Robi Tabolka <strong>do</strong>s Santos, Catyelle M. A. Ferreira e Genival Barros Júnior. E, como é de praxe, a<br />

resenha oferecida possui relação com o tema, e nesta edição conta com a colaboração da instrutora<br />

de educomunicação Evanise Gomes, que escreve sobre o trabalho de Cremilda e Sinval Medina.<br />

A edição 6 da Revista Extensão em Foco apresenta, na categoria Demanda Contínua, o<br />

relato da aplicação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de massagem em bebês, Shantala, descrito por Arlete Motter. A<br />

educação popular é foco da publicação de Mauricio Mogilka, da UFBA, e a formação continuada<br />

e formação de professores estão presentes nas pesquisas de Alessandra Magro e Kethlen Leite de<br />

Moura e Irizelda Martins de Souza e Silva, respectivamente.<br />

A equipe <strong>do</strong> Pará traz o tema <strong>do</strong>s direitos humanos e os desafios sobre a saúde sexual<br />

de a<strong>do</strong>lescentes são retrata<strong>do</strong>s por Juliana Sampaio; Roseléia Carneiro <strong>do</strong>s Santos e Anna Cléa<br />

Ferreira da Silva. A revista ainda publica a experiência na alfabetização de adultos em Minas Gerais<br />

e também as possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho.<br />

A Revista está repleta de bons temas e ótimos autores contribuin<strong>do</strong> com a disseminação<br />

<strong>do</strong> conhecimento. Esperamos colaborar sempre para que temas relevantes da sociedade estejam<br />

em evidência.<br />

Boa leitura!<br />

Dra. Luciana Panke - editora<br />

!


Sumário<br />

13<br />

Dossiê: Meio Ambiente<br />

Apresentação<br />

15<br />

A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG).<br />

1948-1969<br />

Rural Extention at <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG).<br />

1948-1969 / Extensión Universitaria Rural en la <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

Maria das Graças M. Ribeiro<br />

27<br />

Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de<br />

extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006-2008<br />

Extension policy: the environmental education projects in view of extended UFPE<br />

during 2006-2008 / Políticas de extensión: la educación medioambiental en la<br />

perspectiva de los proyectos de extensión de la UFPE en el perio<strong>do</strong> 2006-2008<br />

Jowania Rosas e Christina Nunes<br />

37<br />

Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

The “Floresta-Escola” Project – environmental nonformal education with public<br />

institutions / Proyecto “Floresta-Escola” – educación medioambiental no formal<br />

con instituciones publicas<br />

Daniela Biondi e Antonio Carlos Batista<br />

47<br />

Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de<br />

consumo<br />

Environmental communication: challenges to transcend the logic of consumer<br />

society / Comunicación medioambiental: desafíos de trascender la lógica de la<br />

sociedad de consumo<br />

Mônica Pinto<br />

53<br />

Experiências no Programa <strong>Universidade</strong> sem Fronteiras: contribuição de um<br />

módulo didático de educação ambiental em escolas de educação básica<br />

Experiences at “<strong>Universidade</strong> sem Fronteiras” program: contribution of a<br />

Didactic Module about Environmental Education in basic education schools<br />

Experiencias en el “Programa <strong>Universidade</strong> sem Fronteiras”: contribución de un<br />

módulo didáctico de educación medioambiental en escuelas de educación básica<br />

Luciana Paula Vieira, Juliana Moreira Prudente de Oliveira, Kassiana da Silva<br />

Miguel, Daniela Frigo Ferraz, André Luis de Oliveira e Anelize Queiroz Amaral


63<br />

Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

Beginnings of Rural Extension in the state of Paraná, Brazil / Comienzos de la<br />

Extensión Rural en el esta<strong>do</strong> de Paraná, Brasil<br />

Hugo Moura Tavares<br />

73<br />

Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

“Nova Rússia Preservada” NGO headquarters: sustainability in architecture<br />

La sede de la ONG “Nova Rússia Preservada”: sostenibilidad en la arquitectura<br />

Silvia Odebrecht, João Francisco Noll e Sheila E. S. Klein<br />

81<br />

Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

Recovery and management of “nascente Chorona” in the rural community of Uruçu<br />

/ Recuperación y gestión del manantial “Chorona” en la comunidad rural de Uruçu<br />

Júlia Soares Pereira, Robi Tabolka <strong>do</strong>s Santos, Catyelle M. A. Ferreira, Genival<br />

Barros Júnior e Fernan<strong>do</strong> G. de Oliveira<br />

Demanda Contínua<br />

93<br />

101<br />

Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

Shantala Extension Project: baby massage / Proyecto de Extensión Shantala:<br />

masaje para bebés<br />

Arlete Motter, Sacha Fernanda Sartor Porto, Ana Paula Micos, Tharcila Pazinatto<br />

da Veiga, Mônica Fernandes <strong>do</strong>s Santos, Karen de Souza Derussi, Indaiara<br />

Felisbino, Elisiane Krupniski e Camila Ollé da Luz Szklar<br />

A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

Mediation in popular education and its impact in subjectivity<br />

Mediación en la educación popular y su impacto en la subjectividad<br />

Maurício Mogilka<br />

113<br />

Sistema Série Escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

“Série Escola” system: verification resource for continuing education<br />

Sistema “Série Escola”: recurso de verificación para formación continuada<br />

Alessandra Nichele Magro<br />

125<br />

A construção da Rede de Educação em Direitos Humanos: a experiência da UFPA<br />

The construction of the Network for Education in Human Rights: the experience<br />

of UFPA / La construcción de la Red de Educación en Derechos Humanos: la<br />

experiencia de la UFPA<br />

Alberto Damasceno, Émina Márcia Nery <strong>do</strong>s Santos, Ney Cristina Monteiro de<br />

Oliveira, Marcos Vinícius Lobo e Pedro Henrique Queiróz


133<br />

Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na<br />

atenção à saúde sexual e reprodutiva de a<strong>do</strong>lescentes no Vale <strong>do</strong> São Francisco<br />

Challenges in work process reorganizing and networking development in sexual<br />

and reproductive health care for a<strong>do</strong>lescents in the São Francisco Valley<br />

Desafíos para reorganización del proceso de trabajo y desarrollo de la red de<br />

atención a la salud sexual y reproductiva de los a<strong>do</strong>lescentes en el Valle del río<br />

São Francisco<br />

Juliana Sampaio, Roseléia Carneiro <strong>do</strong>s Santos e Anna Cléa Ferreira da Silva<br />

143<br />

Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – a experiência no<br />

Noroeste de Minas Gerais<br />

Youth and Adult Literacy in Agrarian Reform – The Experience at the Brazilian<br />

state of Minas Gerais' Northwestern region / La alfabetización de jóvenes y<br />

adultos en la Reforma Agraria – La experiencia en el Noroeste del Esta<strong>do</strong> de<br />

Minas Gerais, Brasil<br />

Ana Lucia Ferreira Faria, Etelvina Valente <strong>do</strong>s Anjos Silva e Elenice Rosa Costa<br />

151<br />

As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

The possibilities of psychological duty in work place<br />

Las posibilidades del deber psicologico en la oficina<br />

Janaina Lucia Rodrigues e Fernanda Candi<strong>do</strong><br />

161<br />

Orientações da Unesco para a formação de professores no e <strong>do</strong> campo na<br />

década da educação (1997-2007)<br />

Guidelines from Unesco to the formation of teachers in and from the countryside<br />

areas in the decade of education (1997-2007) / Directrices de la Unesco para la<br />

formación de maestros en y del campo en la década de la educación (1997-2007)<br />

Kethlen Leite de Moura e Irizelda Martins de Souza e Silva<br />

Resenha<br />

175<br />

Energia, Meio Ambiente e Comunicação Social<br />

Energy, environment and social communication / Energía, medio ambiente y<br />

comunicación social<br />

Evanise Rodrigues Gomes


DOSSIÊ:<br />

Meio Ambiente<br />

Organiza<strong>do</strong>res:<br />

Luciana Panke e Toni André Scharlau


Apresentação<br />

Nesta edição a revista apresenta diversos artigos nos quais a preocupação com o meio<br />

ambiente vem à tona. Diferentes áreas <strong>do</strong> conhecimento mostram iniciativas de intervenções junto<br />

a comunidades, além de outras ações de extensão universitária.<br />

O assunto é sempre destaque nos noticiários e nas agendas políticas das lideranças mundiais.<br />

A revista mostra como ações extensionistas podem ser importantes aliadas para a preservação<br />

<strong>do</strong> meio ambiente. Os artigos dão conta de projetos onde se pode avaliar como a Extensão<br />

universitária é importante para que a sociedade se conheça melhor e, assim, possa dar mais valor<br />

aos assuntos ambientais.<br />

A questão <strong>do</strong> reaproveitamento <strong>do</strong> óleo residual para produção <strong>do</strong> biodiesel é bastante<br />

importante. É relevante o fato de que o desenvolvimento de novos hábitos de consumo possam<br />

ser ensina<strong>do</strong>s como possibilita<strong>do</strong>res de uma intervenção <strong>do</strong> povo para uma melhora ambiental!<br />

Esse aspecto também é foca<strong>do</strong> no texto que trata da história <strong>do</strong> extensionismo rural em<br />

Minas Gerais. O recorte é o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong> final <strong>do</strong>s anos 40 até a década de 60, época da então universidade<br />

estadual rural. No Paraná a recuperação histórica é realizada pela UFPR.<br />

A extensão universitária e sua dedicação aos assuntos de educação ambiental estão presentes<br />

em <strong>do</strong>is textos. São relatos de experiência das <strong>Universidade</strong>s de Pernambuco e <strong>do</strong> Paraná.<br />

Sustentabilidade na arquitetura é o tema <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> pessoal de Blumenau, Santa<br />

Catarina. O texto conta a experiência com a ONG Nova Rússia.<br />

Da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Campina Grande, na Paraíba, chega o debate sobre recuperação<br />

de nascentes. No artigo é apresenta<strong>do</strong> um relato sobre o manejo em uma nascente “Chorona”<br />

no município de Uruçu.<br />

Entre os textos recebi<strong>do</strong>s através da Demanda Contínua, os temas mais trabalha<strong>do</strong>s foram<br />

saúde, reforma agrária e educação, especialmente a realizada no campo. Destaca-se, ainda, um<br />

trabalho sobre o plantão psicológico em ambientes de trabalho.<br />

A revista de Extensão da UFPR traz um interessante mosaico de ações em várias regiões<br />

brasileiras. É uma importante forma de ampliar a importância <strong>do</strong> trabalho extensionista e da atualidade<br />

<strong>do</strong> trabalho realiza<strong>do</strong> diretamente nos locais de ocorrência de diferentes fenômenos.<br />

Boa leitura<br />

13


A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas<br />

Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

Rural Extention at <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais<br />

(UREMG). 1948-1969<br />

Extensión Universitaria Rural en la <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

Maria das Graças M. Ribeiro 1<br />

RESUMO<br />

A <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa (UFV) é uma das mais importantes universidades no ensino de agronomia<br />

no Brasil. Esta <strong>Universidade</strong> nasceu da Escola Superior de Agricultura e Veterinária <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas<br />

Gerais (ESAV), a qual foi criada em 1926. Em 1948, a instituição tornou-se <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Minas Gerais (UREMG). Desde as suas raízes, a instituição praticou a extensão rural, mas foi com a<br />

UREMG que esta atividade foi institucionalizada. Contribuiu para este fato um acor<strong>do</strong> entre o governo<br />

<strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Minas Gerais e a American International Association for Economic and Social Development,<br />

visan<strong>do</strong> o estabelecimento de um programa de crédito que deveria estimular a produção agrícola e outras<br />

atividades das comunidades rurais deste esta<strong>do</strong>. A experiência neste programa fez da instituição pioneira<br />

em extensão rural no Brasil.<br />

Palavras-chave: Extensão Rural; <strong>Universidade</strong>; Ensino Agrícola.<br />

ABSTRACT<br />

The <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa (UFV) is one of the most important university in agricultural teaching in<br />

Brazil. This University was born from the Escola Superior de Agricultura e Veterinária <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas<br />

Gerais (ESAV) which was created in 1926. In 1948, the institution became the <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

de Minas Gerais (UREMG). Since its roots the institution has practized agricultural extension, but it was with<br />

UREMG that this activity was institucionalized. It has contributed to this fact an agreement signed between<br />

the government of the state of Minas Gerais and the American International Association for Economic and<br />

Social Development for providing the establishment of a program of credit that would stimulate crop and<br />

livestock production and other activities to the rural community of this state. The experience in the program<br />

has made the institution pioneer in agricultural extension in Brazil.<br />

Keywords: Agricultural Extension; University; Agricultural Teaching.<br />

RESUMEN<br />

La <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa (UFV) és una de las más importantes universidades en Brasil en la enseñanza<br />

de la agronomia. Esta Universidad tuvo su origen en la Escola Superior de Agricultura e Veterinária<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (ESAV), que ha si<strong>do</strong> creada en 1926. En 1948, la instituición ha cambia<strong>do</strong><br />

para lhamarse <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). Desde temprano, la instituición<br />

há practica<strong>do</strong> la extensión rural, pero esta actividad solo hay si<strong>do</strong> institucionalizada en UREMG. Ha con-<br />

1 Socióloga. Doutora em Educação. Professora Associada da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa. Tel: -31-38911387. e-mail: mariagr@<br />

ufv.br<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

15


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

tribui<strong>do</strong> para este hecho un acuer<strong>do</strong> firma<strong>do</strong><br />

entre el gobierno del esta<strong>do</strong> de Minas Gerais<br />

y la American International Association for<br />

Economic and Social Development con la<br />

finalidad de desarollar un programa de credito<br />

para incentibar la produción agrícola y otras<br />

actividades de las comunidades rurales en este<br />

esta<strong>do</strong>. La experiencia en este programa ha<br />

hecho la instituición pionera en la extensión<br />

agrícola en Brasil.<br />

Palabras-clave: Extensión Rural; Universidad;<br />

Educación Agrícola.<br />

Introdução<br />

A <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa<br />

(UFV) reivindica-se pioneira entre as instituições<br />

de educação superior brasileiras no que<br />

diz respeito à indissociabilidade entre o ensino,<br />

a pesquisa e a extensão. Não obstante sua qualidade<br />

nestas atividades, é possível afirmar que<br />

esta universidade destacou-se excepcionalmente,<br />

desde muito ce<strong>do</strong>, principalmente em razão das<br />

suas atividades de extensão.<br />

O trabalho hora apresenta<strong>do</strong> constitui<br />

uma tentativa de contribuição para a elucidação<br />

da história da extensão na UFV, toman<strong>do</strong> como<br />

objeto as atividades de extensão desenvolvidas<br />

pela antiga <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de<br />

Minas Gerais (UREMG) que lhe deu origem. A<br />

investigação teve como eixo nortea<strong>do</strong>r a busca<br />

<strong>do</strong>s impactos produzi<strong>do</strong>s sobre estas atividades<br />

pelos convênios firma<strong>do</strong>s entre a UREMG e<br />

entidades norte-americanas, no perío<strong>do</strong> compreendi<strong>do</strong><br />

entre mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1940 e final<br />

<strong>do</strong>s anos 1960.<br />

Considerada como uma das finalidades<br />

da educação superior pela Lei de Diretrizes e Bases<br />

da Educação Nacional de 1996, a extensão<br />

universitária também está prevista como atividade<br />

obrigatória para as universidades brasileiras<br />

pela Constituição <strong>Federal</strong> de 1988.<br />

De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, o trabalho de extensão<br />

realiza<strong>do</strong> pelas universidades não tem atraí<strong>do</strong>,<br />

enquanto objeto de estu<strong>do</strong>, a atenção <strong>do</strong>s que<br />

têm se dedica<strong>do</strong> à analise <strong>do</strong>s problemas da<br />

educação superior em nosso país. Vários <strong>do</strong>s<br />

trabalhos existentes sobre o tema constituem<br />

relatos de experiência ou referem-se à realidade<br />

posterior à reforma universitária de 1968.<br />

Além disso, há uma curiosidade no que<br />

se refere à literatura sobre o tema – os poucos trabalhos<br />

existentes estão volta<strong>do</strong>s, em sua maioria,<br />

para a extensão rural. É o caso <strong>do</strong>s trabalhos de<br />

Fagundes (1985,1986), Fonseca (1985) e Freire<br />

(1979). Buscamos neles, principalmente nos <strong>do</strong>is<br />

primeiros, o suporte teórico para nossa investigação,<br />

consideran<strong>do</strong> que falar em Extensão na<br />

UREMG significa falar em Extensão Rural.<br />

Para Freire (1971), extensão significa<br />

a ação de estender algo a alguém; no caso <strong>do</strong><br />

extensionista, estender seus conhecimentos e<br />

suas técnicas.<br />

Da<strong>do</strong>s os fins deste trabalho – a extensão<br />

realizada por uma instituição universitária<br />

–, a<strong>do</strong>tamos em nossas análises a perspectiva<br />

de Fagundes (1986), para quem a universidade<br />

sempre esteve comprometida com algum grupo<br />

ou classe social.<br />

O autor critica a concepção de extensão<br />

como “modalidade de compromisso social da<br />

<strong>Universidade</strong> que se efetiva através da prestação<br />

de serviços, sobretu<strong>do</strong> dirigida aos ausentes da<br />

<strong>Universidade</strong>”, colocan<strong>do</strong> como objetivo principal<br />

da extensão “a integração e a melhoria da<br />

vida das comunidades aban<strong>do</strong>nadas e desintegradas”<br />

(FAGUNDES, 1986, p.109,110).<br />

Assim, para Fagundes,<br />

[...] o senti<strong>do</strong> da extensão, enquanto<br />

função da <strong>Universidade</strong>, reside no seu<br />

não-senti<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> tiver contribuí<strong>do</strong><br />

para a deselitização <strong>do</strong> ensino e da pesquisa,<br />

para as transformações estruturais<br />

da sociedade e para a socialização da<br />

<strong>Universidade</strong>, a extensão tornar-se-á<br />

desnecessária, terá cumpri<strong>do</strong> a sua função<br />

como não-função da <strong>Universidade</strong><br />

(FAGUNDES, 1986, p.110).<br />

16<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

Foi à luz destas considerações que as<br />

práticas extensionistas da antiga UREMG foram<br />

aqui analisadas. Para tanto, foram utilizadas<br />

fontes primárias tais como atas de reuniões, regimentos,<br />

estatutos, cartas, jornais, fotografias e<br />

outros <strong>do</strong>cumentos, to<strong>do</strong>s localiza<strong>do</strong>s no acervo<br />

<strong>do</strong> Arquivo Central e Histórico da UFV.<br />

Origens da extensão universitária e da<br />

extensão rural<br />

As primeiras universidades nasceram<br />

a partir <strong>do</strong> século XII, ten<strong>do</strong> como função a<br />

transmissão <strong>do</strong> conhecimento mediante um<br />

ensino volta<strong>do</strong> para a formação e a reprodução<br />

<strong>do</strong>s quadros dirigentes. A partir <strong>do</strong> século XIX,<br />

na Alemanha, conferiu-se à universidade uma<br />

nova atribuição – a pesquisa.<br />

No que diz respeito à extensão como<br />

atividade universitária, ela apareceria, pela<br />

primeira vez, na Inglaterra, alguns anos após a<br />

Revolução Industrial, em razão das pressões que<br />

eram exercidas sobre a universidade pelas “[...]<br />

camadas que não usufruíam de seus benefícios”.<br />

Foi nesse contexto que a instituição<br />

começou “[...] a desenvolver algumas atividades<br />

para além de seus muros e de sua clientela tradicional<br />

[...]” (FAGUNDES, 1986, p.107).<br />

No que se refere à extensão rural, as<br />

primeiras experiências de que se tem notícia<br />

desenvolveram-se nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, vinculan<strong>do</strong>-se<br />

ao desenvolvimento da agricultura, a partir<br />

da segunda metade <strong>do</strong> século XIX. Esta prática<br />

extensionista iniciou-se através das associações<br />

agrícolas, fundadas por fazendeiros que tinham<br />

a finalidade de discutir e buscar soluções para<br />

os problemas relativos à comercialização e ao<br />

aumento da produtividade de suas culturas e<br />

da pecuária. Nestas associações eram realizadas<br />

palestras, reuniões, feiras e concursos, visan<strong>do</strong><br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

um contato mais estreito entre os chama<strong>do</strong>s<br />

farmers 2 .<br />

Neste mesmo perío<strong>do</strong>, começaram a<br />

ser instituí<strong>do</strong>s os Conselhos de Agricultura, os<br />

quais, junto com as associações, promoviam<br />

conferências públicas e cursos de curta duração<br />

conjuga<strong>do</strong>s aos trabalhos desenvolvi<strong>do</strong>s nos<br />

land grant colleges. Assim, em 1914, quan<strong>do</strong> o<br />

governo norte-americano editou o Smith Lever<br />

Act, a extensão agrícola já estava em marcha<br />

(RIBEIRO, 2006).<br />

De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, sem as estações experimentais,<br />

criadas a partir de então, a história da<br />

extensão teria si<strong>do</strong> no máximo uma mera sombra<br />

<strong>do</strong> que se conheceu no século XX. (BOWMAN,<br />

1962, p.537).<br />

Na verdade, ao serem cria<strong>do</strong>s, os land<br />

grant colleges tinham em vista a aplicação prática<br />

<strong>do</strong> conhecimento para a vida das pessoas em<br />

geral, o que implicava levá-lo para fora <strong>do</strong> campus.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, tão logo inaugura<strong>do</strong>s, muitos<br />

colleges começaram a organizar atividades extra<br />

muros que envolviam cursos de curta duração<br />

e visitas para demonstração nas fazendas. A<br />

solicitação por esses serviços avolumou-se, levan<strong>do</strong><br />

alguns professores a produzirem artigos<br />

para jornais e boletins, além de continuarem<br />

frequentan<strong>do</strong> os encontros <strong>do</strong>s farmers. Logo<br />

estabeleceu-se nos land grant colleges a tripla<br />

função de ensino, pesquisa e extensão.<br />

No Brasil, as primeiras experiências<br />

de Extensão Universitária de que se tem notícia<br />

apareceram com a <strong>Universidade</strong> de São Paulo.<br />

Não a universidade paulista criada por Fernan<strong>do</strong><br />

de Azeve<strong>do</strong>, em 1934, mas uma outra, fundada<br />

como sociedade civil, em 1911. A instituição<br />

reunia então dez escolas superiores profissionais<br />

e uma escola superior de filosofia, história e literatura.<br />

Esta última, inaugurada, em 1914, como<br />

<strong>Universidade</strong> Popular, não contava com um<br />

quadro regular de professores e estudantes. Suas<br />

atividades consistiam em conferências semanais<br />

2 Utilizamos a palavra na língua inglesa, na qual o termo refere-<br />

-se a proprietários e trabalha<strong>do</strong>res rurais em geral, diferentemente<br />

da palavra fazendeiro de nosso idioma que está referida a grandes<br />

e médios proprietários.<br />

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RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

abertas e gratuitas e em cursos <strong>do</strong>s mais varia<strong>do</strong>s<br />

tipos, desde que não volta<strong>do</strong>s para propaganda<br />

política, religiosa ou comercial.<br />

De existência efêmera, contu<strong>do</strong>, como<br />

quase todas as instituições universitárias no Brasil<br />

<strong>do</strong> início <strong>do</strong> século XX, a universidade paulista<br />

encerrou suas atividades em poucos anos.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, no que se refere especificamente<br />

à extensão rural, são sempre apontadas<br />

como pioneiras as experiências desenvolvidas<br />

em Viçosa.<br />

UREMG. Um breve histórico<br />

A UREMG foi criada em 1948, ten<strong>do</strong><br />

a sua origem na antiga Escola Superior de Agricultura<br />

e Veterinária <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais<br />

(ESAV). Inaugurada na Zona da Mata mineira,<br />

em 1926, pelo Presidente Arthur da Silva<br />

Bernardes, então presidente daquele esta<strong>do</strong>, a<br />

construção desta Escola deveu-se a um decreto<br />

governamental que data na verdade de 1920.<br />

A ESAV tinha entre as suas finalidades,<br />

definidas pelo seu Regulamento de 1926, a<br />

aquisição e a disseminação de conhecimentos<br />

“relativos à economia rural, em to<strong>do</strong>s os seus<br />

graus e modalidades”, deven<strong>do</strong> para tanto formar<br />

“agricultores com conhecimentos scientíficos<br />

necessários à exploração racional <strong>do</strong> solo”;<br />

“administra<strong>do</strong>res para os differentes serviços<br />

publicos e particulares que se relacionem com<br />

a vida agrícola em geral”; “technologistas para<br />

as industrias intimamente ligadas à agricultura”;<br />

“engenheiros agrônomos para os serviços de<br />

melhoramentos agrícolas”; “veterinários para<br />

exercício da medicina applicada aos animaes<br />

<strong>do</strong>mésticos” e “professores para o ensino agrícola<br />

em to<strong>do</strong>s os seus aspectos e especialidades” 3 .<br />

É interessante notar que a despeito de<br />

a ESAV ter si<strong>do</strong> concebida como instituição de<br />

ensino superior, a ela foi atribuí<strong>do</strong> não só o papel<br />

3 MINAS GERAES. Decreto n. 7323 de 25 de agosto de 1926.<br />

18<br />

de instituição de ensino para a formação de profissionais<br />

de nível superior, mas também, como<br />

apresenta<strong>do</strong> com clareza em seu Regulamento,<br />

o papel de difundir conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s<br />

à atividade agrícola “em to<strong>do</strong>s os seus graus”.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, vale ainda notar que<br />

o ensino ministra<strong>do</strong> pela Escola deveria também<br />

ter “o intuito de educar a população agrícola <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os assumptos pertencentes à<br />

vida rural e melhorar as suas condições moraes,<br />

mentaes e econômicas, no mais breve tempo<br />

possível ” 4 .<br />

As primeiras aulas na ESAV foram<br />

ministradas para os cursos elementar e médio.<br />

Somente em 1928 teve início o curso superior<br />

de agronomia, contan<strong>do</strong> com nove alunos, que<br />

o concluiriam, em 1931. A primeira turma de<br />

veterinária começou o curso em 1932, contan<strong>do</strong><br />

com oito alunos que o concluiriam em 1935.<br />

Da<strong>do</strong>s os seus objetivos, o ensino, a<br />

pesquisa e a extensão sempre estiveram associa<strong>do</strong>s<br />

na Escola, entenden<strong>do</strong>-se a pesquisa<br />

como pesquisa aplicada, cujos resulta<strong>do</strong>s eram<br />

divulga<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> trabalho de extensão.<br />

Concebida nos moldes <strong>do</strong>s land grant<br />

colleges 5 , escolas superiores agrícolas norte-<br />

-americanos, a ESAV teve, como seu primeiro<br />

diretor um especialista em ensino agrícola, contrata<strong>do</strong><br />

pelo governo de Minas Gerais junto ao<br />

governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Este especialista<br />

era o Dr. Peter Henry Rolfs, o qual chegou ao<br />

Brasil, em 1921, para coordenar os trabalhos de<br />

construção e implementação da Escola.<br />

Rolfs se tornou uma espécie de patriarca<br />

da instituição. Ele vinha <strong>do</strong> Florida Agricultural<br />

College, onde era reitor desde 1915, sen<strong>do</strong><br />

muito prestigia<strong>do</strong> no seu meio.<br />

Rolfs conferiu à ESAV um dinamismo<br />

próprio à sua personalidade. A Escola logo<br />

ganhou projeção, no país e na América Latina.<br />

Alguns anos após o seu afastamento da direção<br />

4 Idem.<br />

5 Sobre os land-grant colleges como modelo para a ESAV, ver<br />

Ribeiro (2006).<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

da ESAV, em 1929 6 , começaram, no entanto,<br />

os problemas na Escola.<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1930, as atas de<br />

reuniões da Congregação registravam as dificuldades<br />

da Escola; elas se referiam aos obstáculos<br />

para a aquisição de material, ao atraso no pagamento<br />

de professores e funcionários, a pedi<strong>do</strong>s<br />

de demissão de professores e às dificuldades<br />

em novas contratações. Tais problemas que<br />

envolviam principalmente questões de ordem<br />

financeira não impediram o seu reconhecimento<br />

oficial pelo governo federal em 1935.<br />

De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> relatos memoriais<br />

de ex-alunos e ex-professores da Escola,<br />

havia neste perío<strong>do</strong> muitos boatos afirman<strong>do</strong><br />

que ela seria desativada, dan<strong>do</strong> lugar a um<br />

quartel de polícia.<br />

Em 1938, apesar da crise, foi criada<br />

uma Estação Experimental. A partir de mea<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s anos 1940, foi se apresentan<strong>do</strong> uma tendência<br />

de reversão daquela situação. Antes da<br />

transformação da ESAV em UREMG, em 1948,<br />

a crise da instituição foi se dissipan<strong>do</strong>.<br />

A UREMG foi criada pela lei n.272 de<br />

13 de novembro de 1948. Esta lei estabeleceu<br />

que além de incorporar a antiga Escola Superior<br />

de Agricultura, a nova instituição contaria com<br />

a Escola Superior de Veterinária, que retornava<br />

a Viçosa após ter si<strong>do</strong> transferida para Belo<br />

Horizonte em 1943; com a Escola Superior de<br />

Ciências Domésticas, cuja criação era prevista<br />

naquela lei, e ainda com a Escola de Especialização,<br />

o Serviço de Experimentação e Pesquisa<br />

e o Serviço de Extensão, to<strong>do</strong>s também com<br />

criação prevista pelo mesmo ato.<br />

Com seus Estatutos aprova<strong>do</strong>s em<br />

1950, a UREMG deveria, segun<strong>do</strong> os mesmos,<br />

desenvolver de forma conjugada suas atividades<br />

de ensino, de pesquisa e de extensão.<br />

Houve, desde então, um intenso<br />

processo de expansão e modernização da instituição,<br />

que se estenderia até o início <strong>do</strong>s anos<br />

6 Neste ano, Rolfs transferia-se para Belo Horizonte, onde atuaria<br />

como Consultor Técnico de Agricultura <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas<br />

Gerais. Não há nas fontes levantadas nenhum indício das razões<br />

que levaram o Dr. Rolfs a afastar-se de Viçosa.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

1970. Para os estudiosos (BORGES et. al, 2000;<br />

GOMIDE, 2000; LOPES,1998), esta teria constituí<strong>do</strong><br />

a fase de maior prosperidade na história<br />

da atual <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa.<br />

Este processo vivi<strong>do</strong> pela UREMG, a<br />

partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s anos 1950, teve também<br />

como cenário um projeto de modernização<br />

da produção agrícola para o país, o qual não<br />

deixava de ter relação com os investimentos de<br />

instituições norte-americanas na nossa universidade.<br />

Tal projeto atendia, em parte, interesses<br />

<strong>do</strong> governo norte-americano em sua estratégia<br />

de manter nosso país como economia agro-<br />

-exporta<strong>do</strong>ra inserida de forma subordinada ao<br />

merca<strong>do</strong> internacional e como alia<strong>do</strong> político no<br />

contexto da Guerra Fria que se iniciava.<br />

A Extensão na UREMG<br />

Desde os seus primórdios, quan<strong>do</strong><br />

estava ainda organizada como escola superior<br />

isolada (ESAV) a UREMG tratou de oferecer os<br />

seus serviços aos agricultores não só <strong>do</strong> esta<strong>do</strong><br />

de Minas Gerais, mas de to<strong>do</strong> o país.<br />

Vale notar que a ESAV desenvolvia um<br />

trabalho de contato direto junto aos agricultores<br />

da Zona da Mata mineira, realizan<strong>do</strong> visitas<br />

<strong>do</strong>s professores com seus alunos às fazendas e<br />

ministran<strong>do</strong> cursos para pequenos grupos de<br />

agricultores que vinham à Escola.<br />

A ESAV também difundia os trabalhos<br />

realiza<strong>do</strong>s através de publicações como jornais,<br />

boletins e revistas. Do mesmo mo<strong>do</strong>, a Escola<br />

participava regularmente de exposições e feiras<br />

de amostras estaduais, nacionais e em outros<br />

países da América Latina, ten<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong>, a<br />

partir de 1932, a sua própria exposição anual,<br />

contan<strong>do</strong> ainda, desde 1931, com a Exposição<br />

<strong>do</strong> Milho (COMETTI, 2003).<br />

As constantes visitas de pequenos e<br />

médios proprietários rurais à Escola para cursos<br />

de breve duração acabou dan<strong>do</strong> origem, em<br />

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RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

1929, à “Semana <strong>do</strong> Fazendeiro”, evento que<br />

se inscreveu definitivamente no calendário da<br />

ESAV, perpetuan<strong>do</strong>-se pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong><br />

de Viçosa que a realiza anualmente.<br />

A finalidade original da Semana <strong>do</strong><br />

Fazendeiro era, além da propaganda <strong>do</strong> trabalho<br />

agrícola da Escola, a transmissão de conhecimentos<br />

ali produzi<strong>do</strong>s, vin<strong>do</strong> o agricultor receber<br />

orientações, nas suas estações experimentais,<br />

sobre como proceder em relação aos problemas<br />

enfrenta<strong>do</strong>s nas suas terras. Embora este caráter<br />

não tenha se perdi<strong>do</strong> completamente, décadas<br />

mais tarde, o evento iria adquirir também o<br />

senti<strong>do</strong> de feira de agronegócios.<br />

Para alguns autores (COMETTI, 2003;<br />

OLIVEIRA, 1987), a Semana <strong>do</strong> Fazendeiro<br />

pode ser considerada um marco na história da<br />

extensão rural no Brasil.<br />

Este evento anual contou, por um breve<br />

perío<strong>do</strong>, com sua versão feminina – o Mês<br />

Feminino – cria<strong>do</strong> possivelmente em razão da<br />

solicitação de mulheres fazendeiras que também<br />

compareciam aos encontros promovi<strong>do</strong>s pela<br />

Escola.<br />

Em 1939, foi cria<strong>do</strong> o Departamento de<br />

Educação Rural, que tornou-se responsável pela<br />

organização de todas as atividades de extensão<br />

da ESAV.<br />

Foi com a UREMG, todavia, que a<br />

extensão praticada pela universidade de Viçosa<br />

teve o seu reconhecimento.<br />

Em 1948, juntamente com a criação<br />

da UREMG, foi aprova<strong>do</strong> o Regimento <strong>do</strong> seu<br />

Serviço de Extensão. Ele contaria com um corpo<br />

de especialistas constituí<strong>do</strong> por conservacionistas<br />

de solos, zootecnistas, agrônomos, veterinários e<br />

orienta<strong>do</strong>ras de economia <strong>do</strong>méstica. Também<br />

estava prevista neste regimento a criação de<br />

escritórios regionais que atendessem diferentes<br />

regiões <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Minas Gerais.<br />

A UREMG já contava com uma boa<br />

infraestrutura para o desenvolvimento de suas<br />

atividades de extensão em to<strong>do</strong> o território<br />

mineiro, quan<strong>do</strong> começou a atuar juntamente<br />

20<br />

com a Associação de Crédito e Assistência Rural<br />

(ACAR).<br />

A ACAR resultou de acor<strong>do</strong>, assina<strong>do</strong><br />

em 1948, entre o governo estadual mineiro e a<br />

American International Association for Economic<br />

and Social Development (AIA), entidade filantrópica<br />

dirigida por Nelson Rockefeller.<br />

Segun<strong>do</strong> Oliveira, o surgimento da<br />

ACAR representou um marco institucional fundamental<br />

para a extensão rural e acabou pon<strong>do</strong><br />

em prática os ideais de uma nova filosofia de<br />

intervenção no campo, agora orientada por<br />

princípios educativos (OLIVEIRA, 1987).<br />

Deste mo<strong>do</strong>, além de voltar-se para<br />

a oferta de crédito aos trabalha<strong>do</strong>res agrícolas,<br />

a Associação prestaria serviços técnicos,<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s por agrônomos que visitariam<br />

e inspecionariam os pequenos fazendeiros, e<br />

por supervisoras <strong>do</strong>mésticas que ensinariam às<br />

famílias noções de saneamento, nutrição e puericultura.<br />

Para tanto vieram <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

especialistas encarrega<strong>do</strong>s de treinar o pessoal<br />

que seria envolvi<strong>do</strong> neste trabalho.<br />

Posteriormente, a UREMG foi assumin<strong>do</strong><br />

a responsabilidade da formação deste<br />

pessoal. Contan<strong>do</strong> com profissionais de outras<br />

entidades, a UREMG ofereceu cursos que<br />

compreendiam o ensino teórico e prático de<br />

agricultura, veterinária, administração agrícola<br />

e crédito supervisiona<strong>do</strong> e, ainda,<br />

aulas de nutrição, horticultura, puericultura,<br />

carpintaria, higiene e saneamento,<br />

costura, sociologia, organização de<br />

clubes, e até ordenha e direção de jeeps 7<br />

conforme está registra<strong>do</strong> no Terceiro Relatório<br />

Anual da ACAR.<br />

Neste mesmo Relatório, afirma-se que<br />

foram lança<strong>do</strong>s nestes cursos “os alicerces para<br />

o estabelecimento de uma escola permanente<br />

7 Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR). Terceiro<br />

Relatório Anual, 1951, p.10,11.<br />

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RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

de economia <strong>do</strong>méstica para integrar o currículo<br />

de Viçosa” 8 .<br />

No início de 1952, a UREMG, em<br />

conjunto com a ACAR e o Ministério da Agricultura<br />

e outras entidades, como o Instituto de<br />

Assuntos Inter-Americanos, Secretarias estaduais<br />

de Agricultura e de Saúde, a AIA, os Colégios<br />

Americano de Porto Alegre e Bennett <strong>do</strong> Rio de<br />

Janeiro e a Embaixada <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, realizou,<br />

em suas instalações, um curso ministra<strong>do</strong><br />

por especialistas da ACAR e por <strong>do</strong>centes da<br />

própria UREMG, com duração de sete semanas,<br />

volta<strong>do</strong> para o treinamento de pessoal para atuar<br />

na área da Extensão Rural.<br />

No mesmo ano, a UREMG e a ACAR<br />

realizaram, em conjunto com a Secretaria de<br />

Agricultura de Minas Gerais, serviços intensivos<br />

de reabilitação rural em dez municípios da Zona<br />

da Mata mineira<br />

É interessante notar as considerações<br />

contidas num <strong>do</strong>cumento anterior a 1948, no<br />

qual deputa<strong>do</strong>s da Assembleia Legislativa de<br />

Minas Gerais, defenden<strong>do</strong> a transformação da<br />

antiga ESAV em universidade rural, propunham<br />

a criação de uma Escola Superior de Ciências<br />

Domésticas naquela instituição, observan<strong>do</strong><br />

que a<br />

falta de estabelecimento de ensino<br />

superior, onde a mulher possa receber<br />

educação objetiva em bases científicas<br />

e de aplicação imediata, tem si<strong>do</strong> em<br />

parte responsável pelo baixo standard<br />

de vida de nossas populações rurais 9 .<br />

o primeiro curso superior de Economia Doméstica<br />

no Brasil nascia, assim, intrinsecamente liga<strong>do</strong><br />

à Extensão Rural e como fruto <strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s de<br />

cooperação firma<strong>do</strong>s entre o Brasil e os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s no pós-guerra.<br />

Cabe considerar que logo após a assinatura<br />

<strong>do</strong>s acor<strong>do</strong>s de paz que puseram fim à<br />

8 Idem, p.10.<br />

9 ESTADO DE MINAS GERAIS. Anais da Assembléia Legislativa.<br />

Volume I I. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1947, p. 62.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

guerra, em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1940, as rivalidades<br />

entre Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e União Soviética foram<br />

crescen<strong>do</strong> de tal mo<strong>do</strong> que o mun<strong>do</strong> logo passou<br />

a viver o fenômeno da Guerra Fria. Na busca<br />

de estreitamento com seus alia<strong>do</strong>s, os Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s anunciaram então o seu apoio a planos<br />

de reconstrução nacional, nos países europeus,<br />

e programas para o apoio ao desenvolvimento<br />

econômico de países da América Latina.<br />

Neste contexto, o Programa de Cooperação<br />

Técnica <strong>do</strong> Governo <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s<br />

foi lança<strong>do</strong> por Truman, ten<strong>do</strong> em seu bojo o<br />

chama<strong>do</strong> Ponto IV que, volta<strong>do</strong> para os países<br />

latino-americanos, prometia a assistência técnica<br />

aos “países amigos”.<br />

Segun<strong>do</strong> Noam Chomsky, o governo<br />

norte-americano preocupava-se, na verdade,<br />

com um nacionalismo de tipo novo que então<br />

emergia na América Latina, pregan<strong>do</strong> “o aumento<br />

da produção para atender às necessidades<br />

internas” (CHOMSKY, 1997, p. 74).<br />

Para o autor,<br />

Os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s se opunham a isso<br />

veementemente, e propuseram uma<br />

estratégia econômica para o continente<br />

americano, baseada na eliminação<br />

de todas as formas de nacionalismo<br />

econômico e na insistência em que o<br />

desenvolvimento da região fosse “complementar”<br />

ao <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Isso<br />

significaria que os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s teriam<br />

a indústria e a tecnologia mais avançadas,<br />

enquanto os peões na América<br />

Latina produziriam alimentos para exportação<br />

e se incumbiriam de um certo<br />

número de operações mais simples, que<br />

estavam ao seu alcance [...] (CHOMSKY,<br />

1997, p.74).<br />

No caso <strong>do</strong> Brasil, esta estratégia de<br />

intervenção sobre o chama<strong>do</strong> nacionalismo<br />

econômico tinha como alvo aquilo que Truman<br />

e Eisenhower consideravam “desenvolvimento<br />

industrial excessivo”, o qual levava ao temor da<br />

possibilidade de um desenvolvimento capaz de<br />

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RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

fazer face às grandes corporações norte-americanas<br />

na região ao sul <strong>do</strong> Equa<strong>do</strong>r (CHOMSKY,<br />

1993).<br />

A despeito de tais considerações, não<br />

tardaram os vários convênios firma<strong>do</strong>s entre<br />

autoridades norte-americanas e as autoridades<br />

brasileiras, tanto com aquelas <strong>do</strong> governo federal<br />

quanto com aquelas <strong>do</strong>s governos estaduais.<br />

Um desses convênios, assina<strong>do</strong> com o<br />

governo de Minas Gerais, em 1951, envolvia a<br />

<strong>Universidade</strong> Rural de Minas Gerais 10 , estabelecen<strong>do</strong><br />

que os norte-americanos<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s para a execução de um<br />

programa de cooperação agrícola.<br />

Para dar suporte à implementação deste<br />

acor<strong>do</strong>, era então cria<strong>do</strong> o Escritório Técnico<br />

de Agricultura (ETA), que tinha como “função em<br />

solo brasileiro ”, entre outras responsabilidades<br />

desenvolver projeto em educação e pesquisas<br />

agrícolas de conservação de recursos<br />

naturais, de fomento da produção<br />

agrícola, incluin<strong>do</strong> o planejamento de<br />

armazéns e silos e finalmente, da extensão<br />

rural (FONSECA, 1985, p.86,87).<br />

[...] forneceriam técnicos especializa<strong>do</strong>s<br />

para trabalharem na UREMG,<br />

dan<strong>do</strong> cursos de economia <strong>do</strong>méstica e<br />

de méto<strong>do</strong>s extensivos de agricultura e<br />

desenvolven<strong>do</strong> trabalho extensivo de agricultura,<br />

economia <strong>do</strong>méstica, nutrição<br />

e higiene rural (FONSECA, 1985, p.86).<br />

Contan<strong>do</strong> ainda com o patrocínio <strong>do</strong><br />

Instituto de Ensino Agrícola de Washington, este<br />

convênio foi decisivo para a implementação <strong>do</strong><br />

curso superior em Economia Doméstica e para a<br />

criação <strong>do</strong> Serviço de Extensão da <strong>Universidade</strong><br />

Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais.<br />

Foi, ainda, em razão <strong>do</strong>s trabalhos<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s no bojo deste mesmo convênio,<br />

que a <strong>Universidade</strong> de Viçosa teria sua história<br />

irremediavelmente ligada à <strong>Universidade</strong> de<br />

Purdue, a qual, em 1952, enviava para Viçosa<br />

Anita Dickson e O. Winks. A primeira, escolhida<br />

pela sua experiência com a Extensão Rural nos<br />

EUA, vinha com o objetivo de implementar o<br />

curso de Economia Doméstica. Já Winks teria<br />

a responsabilidade de coordenar o Serviço de<br />

Extensão da UREMG.<br />

Em 1953, outro convênio substituía<br />

o anterior. A cooperação agora se dava nos<br />

marcos <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> firma<strong>do</strong> entre o Ministério da<br />

Agricultura <strong>do</strong> Brasil e a Missão de Operações<br />

Em 1957, o ETA oficializou o Projeto<br />

39, um convênio com a UREMG, a ACAR, a<br />

Associação Brasileira de Crédito Agrícola (AB-<br />

CAR) 11 e a Associação de Crédito e Assistência<br />

Rural <strong>do</strong> Espírito Santo (ACARES), que levaria<br />

à criação, em 1958, de um Centro de Ensino<br />

de Extensão, localiza<strong>do</strong> no campus da UREMG.<br />

Este Centro ministraria, através da<br />

Escola Superior de Ciências Domésticas da<br />

UREMG, cursos de Extensão Rural, Economia<br />

Doméstica e Crédito Rural Supervisiona<strong>do</strong>.<br />

Para Fonseca (1985), o ETA representou,<br />

nas diretrizes da extensão rural brasileira,<br />

uma nova fase, colocan<strong>do</strong> em vista, além <strong>do</strong>s<br />

seus objetivos específicos, a busca da experimentação<br />

empírica, a valorização <strong>do</strong> tipo de<br />

trabalho exerci<strong>do</strong> pelo técnico extensionista, o<br />

caráter educativo <strong>do</strong> trabalho de extensão e a<br />

difusão da crença em alternativas comunitárias<br />

de autoajuda.<br />

A autora observa que nessa perspectiva,<br />

era necessário que os programas de extensão<br />

produzissem uma ação educativa capaz de<br />

mudar a mentalidade <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo em<br />

prol das novas exigências feitas ao setor agrícola<br />

pela demanda da economia em seu processo de<br />

modernização (FONSECA, 1985).<br />

10 Sobre a participação da instituição nos convênios de assistência<br />

técnica com entidades norte-americanas, ver Ribeiro (2007).<br />

22<br />

11 Sobre a ABCAR, ver Lima (1985).<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

Além <strong>do</strong>s convênios menciona<strong>do</strong>s,<br />

outros tantos também envolveram a UREMG<br />

em atividades de extensão.<br />

Em mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1950, impulsionada<br />

pelo suporte proveniente <strong>do</strong>s mesmos, a<br />

instituição desenvolvia de forma mais sistemática<br />

atividades já iniciadas no perío<strong>do</strong> da antiga<br />

ESAV, como demonstrações para agricultores<br />

em fazendas da região e a organização de feiras<br />

e exposições.<br />

Do mesmo mo<strong>do</strong>, a <strong>Universidade</strong> Rural<br />

de Minas Gerais renovava a prática extensionista<br />

em Viçosa, procuran<strong>do</strong> organizar associações<br />

rurais e realizan<strong>do</strong> novos tipos de eventos como<br />

a Semana Ruralista para Padres e a Semana Ruralista<br />

para freiras, ambas em 1954, e a Primeira<br />

Semana Ruralista Feminina, no ano seguinte.<br />

Ainda em 1954, a UREMG ofereceria<br />

um curso curto para Demonstra<strong>do</strong>res de Agentes<br />

Domésticos da ACAR, outro para mulheres<br />

religiosas e outro para pastores, conforme afirma<br />

Odemar Resende Pimenta, então Chefe <strong>do</strong><br />

Serviço de Extensão da <strong>Universidade</strong>, em carta<br />

enviada ao diretor <strong>do</strong> Departamento de Agricultura<br />

<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.<br />

Neste perío<strong>do</strong>, houve, da parte <strong>do</strong> Serviço<br />

de Extensão, grande interesse na divulgação<br />

e criação de Cooperativas de Consumo e de<br />

Produção na Zona da Mata mineira.<br />

Dan<strong>do</strong> continuidade a uma prática<br />

a<strong>do</strong>tada nos tempos da ESAV, a UREMG produzia<br />

com frequência boletins sobre assuntos<br />

diversos, volta<strong>do</strong>s para os agricultores mineiros.<br />

Produzia também “circulares” que eram geralmente<br />

distribuídas por ocasião da Semana <strong>do</strong><br />

Fazendeiro.<br />

A partir de mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1960, as<br />

atividades de extensão da UREMG ainda se expandiam<br />

significativamente, envolven<strong>do</strong> novas<br />

unidades da instituição como o recém cria<strong>do</strong><br />

Instituto de Zootecnia, que passava a desenvolver,<br />

entre as suas atividades, a programação<br />

de cursos rápi<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong>s para cria<strong>do</strong>res de<br />

animais e líderes rurais.<br />

Este processo de expansão teve seu<br />

ápice com a criação de um curso de pós-graduação<br />

em extensão na UREMG, em 1967 – o<br />

Mestra<strong>do</strong> em Extensão Rural. Desde então o<br />

mesmo passaria a receber estudantes de todas<br />

as regiões <strong>do</strong> país.<br />

Vale notar que a partir <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s<br />

anos 1960, to<strong>do</strong>s os convênios que envolviam<br />

a UREMG com organismos norte-americanos<br />

passaram a ser coordena<strong>do</strong>s pela United States<br />

Agency for International Development (USAID).<br />

Apontada como instrumento por excelência<br />

da infiltração imperialista no Brasil, não<br />

por acaso, a USAID envolveria a UREMG, no<br />

final <strong>do</strong>s anos 1960, num treinamento técnico<br />

desenvolvi<strong>do</strong> para voluntários <strong>do</strong> Peace Corps,<br />

cujas atividades de propaganda anticomunista<br />

e de defesa <strong>do</strong> ideário norte-americano foram<br />

muitas vezes denunciadas antes <strong>do</strong> golpe de<br />

Esta<strong>do</strong> que, em 1964, levou o Brasil a uma<br />

ditadura militar.<br />

O treinamento, realiza<strong>do</strong> no campus da<br />

UREMG, era destina<strong>do</strong> a voluntários que então<br />

atuavam junto à população rural de pequenas<br />

comunidades localizadas nos esta<strong>do</strong>s de Minas<br />

Gerais, Rio de Janeiro e Mato Grosso, e que<br />

tentavam ali organizar clubes agrícolas.<br />

Para os rapazes <strong>do</strong>s Corpos da Paz,<br />

o treinamento incluía demonstrações práticas<br />

sobre agricultura, horticultura e silvicultura, e<br />

para as voluntárias eram feitas demonstrações<br />

práticas sobre preparação e conservação de alimentos,<br />

além <strong>do</strong> ensino de corte e costura. Em<br />

ambos os casos as atividades eram coordenadas<br />

por professores da UREMG e por professores da<br />

Purdue University.<br />

A despeito da promoção de atividades<br />

de extensão que atraíam grupos de to<strong>do</strong> o país,<br />

a UREMG privilegiava na sua prática extensionista<br />

o público <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de Minas Gerais,<br />

especialmente a população da Zona da Mata<br />

mineira. Deste mo<strong>do</strong>, ela realizou, também em<br />

parceria com a USAID e a ACAR, cursos para<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

23


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

feirantes de Viçosa sobre técnicas de produção<br />

de hortaliças e outros.<br />

As atividades de extensão rural desenvolvi<strong>do</strong>s<br />

pela UREMG, ao longo das décadas de<br />

1950 e 1960, não só a projetaram para além das<br />

fronteiras de Minas Gerais, mas se constituíram<br />

como um <strong>do</strong>s elementos dinamiza<strong>do</strong>res da vida<br />

acadêmica na instituição.<br />

Conjugada ao ensino e à pesquisa, a<br />

extensão na UREMG contribuiu significativamente<br />

para um processo acelera<strong>do</strong> de modernização,<br />

expresso no aparecimento de novos<br />

cursos de graduação e pós-graduação, assim<br />

como de novas frentes de pesquisa.<br />

Esse processo de modernização, impulsiona<strong>do</strong>,<br />

em grande parte, pela extensão,<br />

nos leva a pensar que a UREMG, buscan<strong>do</strong> no<br />

início a sua adaptação funcional às demandas da<br />

sociedade, acabou por consolidar a vocação, já<br />

demonstrada pela antiga ESAV, de uma universidade<br />

de prestação de serviços, antecipan<strong>do</strong>-se<br />

a uma tendência mundial seguida pelas universidades<br />

no final <strong>do</strong> século XX.<br />

Já reconhecida nacionalmente como<br />

centro de referência da extensão rural no Brasil,<br />

a UREMG, ao tornar-se, em 1969, <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> de Viçosa, tinha, assim, a sua reputação<br />

consolidada nesta área.<br />

Considerações Finais<br />

A despeito <strong>do</strong> pioneirismo da ESAV, foi<br />

com a UREMG que nossa instituição tornou-se<br />

referência para a Extensão Rural no país.<br />

A experiência de extensão rural desenvolvida<br />

pela UREMG não pode ser compreendida<br />

senão no contexto <strong>do</strong> intenso processo de<br />

modernização vivi<strong>do</strong> pela agricultura brasileira,<br />

a partir <strong>do</strong> pós-guerra. Por outro la<strong>do</strong>, não há<br />

como ignorar que este processo esteve inseri<strong>do</strong><br />

nos marcos da cooperação bilateral Brasil-Esta<strong>do</strong>s<br />

Uni<strong>do</strong>s, no mesmo perío<strong>do</strong>, constituin<strong>do</strong><br />

a UREMG uma peça chave na estratégia <strong>do</strong><br />

governo norte-americano de garantir um certo<br />

controle sobre a produção de alimentos no Brasil<br />

e de assegurar o apoio <strong>do</strong> nosso governo aos<br />

Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s na batalha da Guerra Fria.<br />

Neste contexto, a extensão rural constituiu<br />

um eficiente instrumento para os norte-<br />

-americanos. Os extensionistas prepara<strong>do</strong>s pelos<br />

mesmos e imbuí<strong>do</strong>s de seus valores e ideais<br />

apresentavam-se às comunidades rurais credencia<strong>do</strong>s<br />

como técnicos especializa<strong>do</strong>s e difusores<br />

<strong>do</strong> progresso e promotores <strong>do</strong> bem-estar social.<br />

Garantia-se, assim, o controle de áreas<br />

e merca<strong>do</strong>s tradicionais <strong>do</strong>s EUA e se legitimava<br />

a sua pretensa “missão civiliza<strong>do</strong>ra”.<br />

Vale notar que o trabalho <strong>do</strong>s extensionistas<br />

contribuiu decisivamente para apaziguar<br />

a animosidade de uma população miserável e<br />

pre<strong>do</strong>minantemente rural, objeto de um trabalho<br />

educativo no senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu disciplinamento.<br />

A história da extensão universitária<br />

no Brasil tem na ESAV um importante marco.<br />

Voltada para o ensino prático e para a busca de<br />

soluções imediatas para os problemas da agricultura,<br />

a instituição começou a difundir, desde<br />

os seus primórdios, o conhecimento produzi<strong>do</strong>.<br />

Pelo próprio caráter da instituição, sua prática extensionista<br />

esteve, todavia, voltada inteiramente<br />

para a extensão rural.<br />

24<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RIBEIRO, M.G.M. A Extensão Rural na <strong>Universidade</strong> Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (UREMG). 1948-1969<br />

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Texto recebi<strong>do</strong> em 19 de fevereiro de 2009.<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 15-25, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s<br />

projetos de extensão da ufpe no perío<strong>do</strong> 2006 - 2008<br />

Extension policy: the environmental education projects in view of<br />

extended UFPE during 2006 - 2008<br />

Políticas de extensión: la educación medioambiental en la perspectiva<br />

de los proyectos de extensión de la UFPE en el perio<strong>do</strong> 2006-2008<br />

Jowania Rosas 1<br />

Christina Nunes 2<br />

RESUMO<br />

O presente artigo propõe, em primeiro lugar, dar um passeio pelo tema Educação ambiental, seus conceitos,<br />

e apresentan<strong>do</strong> alguns esforços <strong>do</strong>s órgãos internacionais na conscientização da sociedade. Em segun<strong>do</strong> lugar<br />

mostrar o empenho desenvolvi<strong>do</strong> pela Pró-Reitoria de Extensão da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Pernambuco,<br />

na busca de uma política extensionista forte dentro da comunidade acadêmica, seu compromisso social<br />

na formação profissional <strong>do</strong> aluno. Finalmente, mostrar os projetos de extensão registra<strong>do</strong>s na PROEXT<br />

volta<strong>do</strong>s para a Educação Ambiental. Como aporte meto<strong>do</strong>lógico foi utilizada pesquisa exploratória conduzida<br />

como estu<strong>do</strong> de caso, através de da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s por esta Pró-Reitoria, com foco em projetos de<br />

extensão na temática educação ambiental, no perío<strong>do</strong> 2006 a 2008. Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s confirmaram,<br />

ainda que os índices de envolvimento da comunidade embora tími<strong>do</strong>s demonstram um crescimento de 8%<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes, 4% <strong>do</strong>s discentes e 8% <strong>do</strong>s técnico-administrativos envolvi<strong>do</strong>s em projetos na área abordada.<br />

Além disso, <strong>do</strong>s 493 projetos registra<strong>do</strong>s neste perío<strong>do</strong> só 6% são volta<strong>do</strong>s ao tema, mas com o apoio da<br />

Administração central, o quadro tende a ser reverti<strong>do</strong>, provavelmente, em médio prazo.<br />

Palavras-chave: Política de Extensão; Educação ambiental; projetos de extensão.<br />

ABSTRACT<br />

This article proposes, first, give a tour of subject concepts and their environmental education efforts of presenting<br />

some international bodies in the awareness of society. Second show the commitment undertaken by the<br />

Pro-Dean for Extension, <strong>Federal</strong> University of Pernambuco, in search of a strong extension within the academic<br />

community, its social commitment in the training of the student. Finally show the extent of projects registered<br />

in PROEXT toward Environmental Education. Intake was used as metho<strong>do</strong>logical research survey conducted<br />

as a case study, using data provided by the Pro-Rectory, with a focus on projects in the thematic scope of<br />

environmental education in the period 2006 to 2008. The results confirmed, although the levels of community<br />

involvement is limited to an 8% growth for teachers, 4% of the students, 8% of the technical-administrative<br />

involved in projects in the area addressed. Moreover, the 493 projects registered during this period only 6%<br />

are dedicated to the theme, but with the support of central government, the framework tends to be reversed,<br />

probably in the medium term.<br />

Keywords: Extension Policy; Environmental Education; Extension Projects.<br />

1 Coordena<strong>do</strong>ra de Gestão da Informação da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Pernambuco-UFPE -Pró-Retoria de Extensão-PROEXT,<br />

Mestranda em Gestão Pública para o Desenvolvimento <strong>do</strong> Nordeste-MPANE. Email: jowania.rosas@ufpe.br. Fone: (81) 21268138<br />

2 Coordena<strong>do</strong>ra de Gestão da Extensão da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Pernambuco-UFPE -Pró-Reitoria de Extensão-PROEXT.<br />

Especialista em Gestão Pública.Email: christina.nunes@ufpe.br. Fone: (81) 21268609<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

27


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

RESUMEN<br />

En este artículo se propone, en primer lugar,<br />

dar un paseo en el tema de educación ambiental,<br />

sus conceptos, y la presentación de algunos<br />

esfuerzos de los organismos internacionales en<br />

la sensibilización de la sociedad. En segun<strong>do</strong><br />

lugar muestran el compromiso asumi<strong>do</strong> por el<br />

Pro-Decano de Extensión, Universidad <strong>Federal</strong><br />

de Pernambuco, en la búsqueda de una fuerte<br />

ampliación en la comunidad académica, su<br />

compromiso social en la formación del estudiante.<br />

Por último mostrar la magnitud de<br />

los proyectos registra<strong>do</strong>s en PROEXT hacia<br />

la Educación Ambiental. Ingesta se utilizó<br />

como meto<strong>do</strong>logía la investigación realizada<br />

como estudio de caso, utilizan<strong>do</strong> los datos<br />

proporciona<strong>do</strong>s por la Pro-Rectoría, con un<br />

enfoque en proyectos en el ámbito temático<br />

de la educación ambiental en el perío<strong>do</strong> 2006<br />

a 2008. Los resulta<strong>do</strong>s confirma<strong>do</strong>s, aunque<br />

los niveles de participación de la comunidad,<br />

pero tími<strong>do</strong>s, muestran un crecimiento del 8%<br />

de los <strong>do</strong>centes, el 4% y 8% de los estudiantes<br />

de técnicos y administrativos que participan<br />

en proyectos en el ámbito aborda<strong>do</strong>. Por otra<br />

parte, los 493 proyectos registra<strong>do</strong>s durante<br />

este perío<strong>do</strong> sólo el 6% están dedica<strong>do</strong>s al<br />

tema, pero con el apoyo del gobierno central,<br />

el marco tiende a ser reversible, probablemente<br />

en el mediano plazo.<br />

Palabras-clave: Políticas de Extensión; Educación<br />

ambiental; Proyectos para ampliar.<br />

Introdução<br />

As universidades públicas tem como<br />

alicerce de sua missão a formação profissional e<br />

um papel de destaque na sociedade sen<strong>do</strong> uma<br />

das responsáveis pela sua consciência crítica.<br />

Essa responsabilidade passa pela extensão universitária,<br />

que forma com o ensino e a pesquisa<br />

os pilares da universidade, e essa relação de<br />

indissociabilidade dá à extensão, entre outras<br />

atribuições, a de contribuir para reduzir as diferenças<br />

sociais criadas pelo sistema capitalista.<br />

As atividades extensionistas,<br />

dentro <strong>do</strong> universo acadêmico, vêm enfrentan<strong>do</strong>,<br />

ao longo <strong>do</strong>s anos, novos e constantes<br />

desafios, tanto nas formas de articulação entre<br />

o saber universitário e suas práticas quanto na<br />

concepção de sua própria existência e de seu<br />

verdadeiro papel.<br />

Para alguns autores a extensão oxigena<br />

o ensino como fonte de enriquecimento<br />

intelectual, social e cultural; para outros, ela<br />

assume, ainda, uma forma assistencialista buscan<strong>do</strong><br />

suprir a função <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.<br />

A temática da sustentabilidade vem<br />

paulatinamente ocupan<strong>do</strong> espaços na extensão<br />

universitária, e a educação é, segun<strong>do</strong> Mayor<br />

(1998), a chave para o desenvolvimento sustentável.<br />

A cultura de sustentabilidade, ainda<br />

em processo de construção, vem se tornan<strong>do</strong><br />

cada vez mais uma exigência da sobrevivência<br />

humana, o que permite que os membros de<br />

uma sociedade moderna possam incorporar<br />

mudanças de concepções de forma a promover<br />

atitudes e comportamentos que os tornem mensageiros<br />

de uma efetiva cultura, considerada<br />

sustentável.<br />

É nesse contexto que as universidades,<br />

como “lócus” da construção e difusão de<br />

conhecimentos e de formação de consciências<br />

críticas, devem trabalhar para preparar novas<br />

gerações para um futuro viável com ações<br />

multiplica<strong>do</strong>ras, e só através delas os atores<br />

institucionais, segun<strong>do</strong> Paulo Freire (1997),<br />

sujeitos históricos, serão capazes de contribuir<br />

para a transformação de suas realidades, suas<br />

vidas quotidianas e profissionais.<br />

No tripé que forma a missão universitária,<br />

é a extensão que se destaca pela função<br />

social que exerce de forma mais ampla, e pela<br />

maior possibilidade de provocar transformações<br />

nos ambientes de sua execução; e dentre as<br />

tipologias de ação, a que consegue promover<br />

de forma mais ampla e consistente as mudanças<br />

na realidade social são os projetos de extensão,<br />

foco <strong>do</strong> nosso estu<strong>do</strong>.<br />

São os projetos que têm um papel<br />

mais relevante nessa integração universidade-<br />

28<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

-sociedade. Eles mesclam conhecimentos<br />

científicos e populares, as teorias e práticas<br />

pedagógicas e vão mais além, são vias de mão<br />

dupla que permitem à universidade trabalhar<br />

a formação <strong>do</strong> aluno e sua interação com a<br />

sociedade.<br />

A extensão universitária tornou-se<br />

obrigatória em to<strong>do</strong>s os estabelecimentos de<br />

ensino superior em 1968, através da Lei 5.540.<br />

A partir daí surge um novo paradigma para a<br />

universidade brasileira, sua relação com a sociedade<br />

e o papel da extensão neste contexto.<br />

Em 1987 foi cria<strong>do</strong> o Fórum de<br />

Pró-Reitores de Extensão - FORPROEXT - e<br />

posteriormente aprovada na Constituição o<br />

princípio de indissociabilidade <strong>do</strong> ensino – pesquisa-extensão<br />

3 . O FORPROEXT criou o Plano<br />

Nacional de Extensão, publica<strong>do</strong> em 1999, em<br />

que estabelece um conceito de extensão 4 , e são<br />

didaticamente constituídas em quatro eixos:<br />

impacto e transformação, interação dialógica,<br />

interdisciplinaridade, indissociabilidade ensino-<br />

-pesquisa-extensão.<br />

O Plano Nacional de Extensão, além<br />

de definir a política de extensão, que inclui o<br />

conceito, as diretrizes e as finalidades, define<br />

ainda todas as suas áreas temáticas, que estão<br />

correlacionadas às áreas <strong>do</strong> conhecimento<br />

definidas pelo CNPq 5 . Assim, as ações são<br />

classificadas: comunicação, cultura, direitos<br />

humanos e justiça, educação, saúde, tecnologia<br />

e produção, trabalho e, finalmente, meio<br />

ambiente.<br />

Este artigo tem por finalidade, inicialmente,<br />

viajar pelo conceito da Educação<br />

Ambiental desenvolvi<strong>do</strong> por diversos autores.<br />

Posteriormente socializar o trabalho desenvol-<br />

3 “Art 207. As universidades gozam de autonomia didático-<br />

-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial<br />

e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre o ensino,<br />

pesquisa e extensão”.<br />

4 “A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e<br />

científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável<br />

e viabiliza a relação transforma<strong>do</strong>ra entre a <strong>Universidade</strong> e a<br />

Sociedade”.<br />

5 Áreas <strong>do</strong> Conhecimento: Ciências Exatas e da Terra, Biológica,<br />

Engenharia/Tecnologia, Saúde, Agrárias, Sociais, Humanas,<br />

Lingüística, Letras e Artes.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

vi<strong>do</strong> pela Pró-Reitoria de Extensão da <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> de Pernambuco no fortalecimento<br />

dessa modalidade de atividade extensionista na<br />

comunidade acadêmica e na sensibilização de<br />

professores, alunos e técnicos para a importância<br />

da extensão, mediante o desenvolvimento<br />

de projetos volta<strong>do</strong>s prioritariamente para<br />

setores historicamente excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s direitos e<br />

da cidadania.<br />

Finalmente, apresentar os projetos<br />

de extensão na temática Educação Ambiental,<br />

analisan<strong>do</strong> sua evolução de 2006 a 2008 e sua<br />

importância dentro <strong>do</strong> contexto atual. A meto<strong>do</strong>logia<br />

utilizada é exploratória, quantitativa e<br />

<strong>do</strong>cumental com os indica<strong>do</strong>res forneci<strong>do</strong>s pela<br />

Pró-Reitoria de Extensão e pelo SIEX – Sistema<br />

de Informação de Extensão.<br />

Os resulta<strong>do</strong>s mostram-se, na atualidade,<br />

acanha<strong>do</strong>s, já que só 5% da comunidade<br />

acadêmica, formada por <strong>do</strong>centes, discentes e<br />

técnicos, correspondente a 3874 pessoas, está<br />

envolvida com o tema Educação Ambiental.<br />

Além disso, <strong>do</strong> público de 703.697 atendi<strong>do</strong><br />

direta e indiretamente por projetos de extensão<br />

só 4%, não mais que 28.166, são pessoas<br />

beneficiadas pelos projetos extensionistas nesta<br />

área temática.<br />

É fundamental conscientizar nossos<br />

<strong>do</strong>centes e discentes que o papel da universidade<br />

não é só transformar o aluno em profissional<br />

competente e cidadão comprometi<strong>do</strong> com a<br />

realidade, educan<strong>do</strong> para o desenvolvimento<br />

sustentável <strong>do</strong> planeta, mas, também, buscar<br />

transformar a universidade e a sociedade através<br />

da produção <strong>do</strong> conhecimento pautada em<br />

princípios volta<strong>do</strong>s à democracia, a qualidade<br />

e o compromisso social.<br />

Marco Teórico<br />

Estudar e compreender o tema Gestão<br />

Ambiental é um dever de to<strong>do</strong>s, sejam eles gesto-<br />

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ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

res em todas as esferas de governo, seja federal,<br />

estadual e municipal, como também professores<br />

e estudantes em to<strong>do</strong>s os níveis de escolaridade<br />

formais ou informais.<br />

Por isso concordamos com Philippi Jr.<br />

(2005) quan<strong>do</strong> afirma que Educação Ambiental<br />

deve formar e preparar cidadãos para a reflexão<br />

crítica e para uma ação social corretiva ou transforma<strong>do</strong>ra<br />

<strong>do</strong> sistema, de forma a tornar viável<br />

o desenvolvimento integral <strong>do</strong>s seres humanos.<br />

A Comunidade como um to<strong>do</strong>, representada<br />

pelos seus diversos segmentos da sociedade<br />

civil organizada deve, também, despertar<br />

para os problemas ambientais e ter consciência<br />

de que sua participação é fundamental para<br />

melhoria <strong>do</strong> ambiente para as gerações presentes<br />

e futuras.<br />

A Educação Ambiental, também vista<br />

como um processo de educação política que<br />

busca, conforme Pelicioni (2005), formar consciência<br />

crítica em direção a uma ação transforma<strong>do</strong>ra,<br />

onde a cidadania seja exercida a fim<br />

de melhorar a qualidade de vida da sociedade.<br />

Leff (2001) afirma que a educação é<br />

um processo em que devemos congregar concepções<br />

de ordens socioambientais, ecológicas,<br />

éticas e estéticas objetivan<strong>do</strong> construir novas<br />

formas de pensar a preservação e a recuperação<br />

<strong>do</strong> nosso ambiente. Temas como: acidentes<br />

nucleares, camada de ozônio, poluição marinha<br />

e atmosférica devem permear sempre os conteú<strong>do</strong>s<br />

programáticos das escolas e universidades.<br />

A Conferência Intergovernamental<br />

sobre Educação Ambiental, organizada pela<br />

UNESCO 6 e Pnuma 7 aprovaram a Declaração<br />

de Tbilisi 8 em que convoca os esta<strong>do</strong>s-membros<br />

9 através de suas autoridades educacionais<br />

6 A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência<br />

e a Cultura (UNESCO) fun<strong>do</strong>u-se a 16 de Novembro de 1945<br />

com o objectivo de contribuir para a paz e segurança no mun<strong>do</strong><br />

mediante a educação, a ciência, a cultura e as comunicações.<br />

7 Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNU-<br />

MA - foi cria<strong>do</strong> em 1972 para coordenar as ações internacionais<br />

de proteção ao meio ambiente e de desenvolvimento sustentável.<br />

8 Tbilisi é a capital e maior cidade da República da Geórgia,<br />

nas margens <strong>do</strong> rio Kura.<br />

9 Organização das Nações Unidas (ONU) foi fundada oficialmente<br />

a 24 de Outubro de 1945 em São Francisco. A sua sede atual<br />

30<br />

(universidades) a ativarem pesquisas na área<br />

em questão, intercâmbios, além de criarem uma<br />

política de educação voltada para conteú<strong>do</strong>s,<br />

diretrizes e atividades ambientais que promovam<br />

a conscientização populacional.<br />

O Congresso de NICE sobre interdisciplinaridade<br />

nas universidades, em 1970, foi<br />

fundamental para ratificar uma proposta de consolidação<br />

da construção de um conhecimento<br />

volta<strong>do</strong> à integração <strong>do</strong> homem com a natureza e<br />

os ecossistemas. Essas ideias vieram ao encontro<br />

<strong>do</strong> pensamento de Edgar Morin em seu livro “o<br />

méto<strong>do</strong>”, em que aborda a “complexidade como<br />

um méto<strong>do</strong> de auto-organização das disciplinas<br />

na perspectiva de uma ecologia global.”<br />

Essa interdisciplinariedade a<strong>do</strong>tada<br />

como propósito explicito em diversos programas<br />

e tratada também em Tbilisi, além de ter uma<br />

abordagem holística é um ponto de referência<br />

constante em projetos educacionais, principalmente<br />

nas universidades.<br />

A interdisciplinariedade ambiental,<br />

consolidadada em 1990 na América Latina, é<br />

para Leff (2001) o “ questionamentos <strong>do</strong>s paradigmas<br />

<strong>do</strong>minantes, da formação de professores<br />

e da incorporação de saberes ambientais nos<br />

programas curriculares”.<br />

Os eixos conceituais antropocentrismo<br />

10 e ecocentrismo 11 de Eckersley (1992) que<br />

aborda a sociabilidade humana mostra a educação<br />

ambiental como proposta interdisciplinar<br />

onde devem ser trabalhadas a integração <strong>do</strong><br />

homem com a natureza, seja ele como elemento<br />

principal ou parte <strong>do</strong>s ecossistemas.<br />

Finalizamos com Morin (2004) quan<strong>do</strong><br />

traz uma visão transdisciplinar da educação em<br />

seu livro “Os sete saberes necessários a educação<br />

<strong>do</strong> futuro”. Esses saberes tão basilares para<br />

a qualidade <strong>do</strong> ensino devem contribuir para<br />

é na cidade de Nova Iorque.Em 2006 a ONU tem representação<br />

de 192 Esta<strong>do</strong>s-Membros<br />

10 Antropocentrismo – concepção que considera que a humanidade<br />

deve permanecer no centro <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong>s humanos,<br />

isto é, o universo deve ser avalia<strong>do</strong> de acor<strong>do</strong> com a sua relação<br />

com o homem.<br />

11 Ecocentrismo – concepção em que o homem é apenas um<br />

elemento da natureza.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

conscientizar a “comunidade planetária” <strong>do</strong><br />

seu compromisso na busca de uma sociedade<br />

sustentável, através da educação ambiental,<br />

apoiada na ética, equidade e na justiça social.<br />

Publicizan<strong>do</strong> os números da Pró-Reitoria<br />

de Extensão<br />

A <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Pernambuco,<br />

no espírito empreende<strong>do</strong>r, elaborou o<br />

Planejamento Estratégico Institucional - PEI -<br />

com o objetivo de nortear a instituição para os<br />

próximos 10 anos.<br />

Nesse <strong>do</strong>cumento, a extensão tem<br />

como metas “adequar a atual política de<br />

extensão às tendências de desenvolvimento<br />

social; intensificar atividades integra<strong>do</strong>res de<br />

ensino-pesquisa-extensão; fortalecer as oportunidades<br />

e espaços de discussão, socialização<br />

de experiência, atualização de conhecimento e<br />

interação com a sociedade entre outras de igual<br />

relevância”. 12<br />

Nesta perspectiva, apresentamos da<strong>do</strong>s<br />

coleta<strong>do</strong>s na Pró-Reitoria de Extensão, demonstran<strong>do</strong>,<br />

na Tabela 1, sua evolução nas diversas<br />

áreas, na Tabela 2 os recursos financeiros, e na<br />

Tabela 3 as bolsas concedidas, seja pelo tesouro<br />

ou captadas através de convênios no perío<strong>do</strong> de<br />

2006 a 2008; observa-se, através <strong>do</strong>s números,<br />

uma demonstração clara de eficiência, eficácia<br />

e efetividade em favor da sociedade tanto em<br />

quantitativo de projetos, <strong>do</strong>centes, discentes e<br />

público, quanto em recursos aloca<strong>do</strong>s para atender<br />

essas demandas da comunidade acadêmica<br />

e da sociedade.<br />

TABELA 1<br />

Itens 2006 2007 2008 Total<br />

Projetos<br />

143 166 216<br />

Registra<strong>do</strong>s<br />

525<br />

Docentes<br />

299 411 739<br />

Envolvi<strong>do</strong>s<br />

1.449<br />

Discentes<br />

1.056 833 1.071<br />

Envolvi<strong>do</strong>s<br />

2.960<br />

Técnicos<br />

77 111 20<br />

Envolvi<strong>do</strong>s<br />

208<br />

Parcerias 208 202 111<br />

521<br />

Bolsas<br />

319 254 344<br />

Concedidas<br />

917<br />

Público<br />

175.935 211.017 422.624<br />

Atendi<strong>do</strong><br />

1.080.448<br />

FONTE: PROEXT – COORD. DE GESTÃO DA EXTENSÃO<br />

TABELA 2<br />

Ano Próprios 1 Tesouro Total<br />

2006 2.190.748,01 404.512,67 2.595.260,68<br />

2007 2.038.140,00 628.907,00 2.667.047,00<br />

2008 1.465.552,68 855.396,00 2.295.843,34<br />

Total 5.694.440,69 1.888.815,67 7.558.151,02<br />

FONTE: PROEXT - COORD. DE GESTÃO ORGANIZACIONAL<br />

TABELA 3<br />

Ano<br />

Tesouro<br />

Bolsas Concedidas<br />

Captadas<br />

2006 118 371<br />

2007 131 412<br />

2008 162 181<br />

Total 411 964<br />

FONTE: PROEXT – COORD. DE GESTÃO ORGANIZACIONAL<br />

A PROEXT continua na busca de defender<br />

uma concepção de extensão universitária<br />

como função acadêmica de caráter educativo,<br />

cultural e científico e de aperfeiçoar seus mecanismos,<br />

visan<strong>do</strong> contribuir no processo de transformação<br />

social. Além disso, vem envidan<strong>do</strong><br />

esforços na sensibilização da comunidade interna<br />

para as atividades extensionistas, principalmente<br />

para a modalidade de projetos de extensão,<br />

canal mais efetivo e consistente de reafirmar e<br />

dar visibilidade ao compromisso social da UFPE.<br />

12 Planejamento Estratégico da UFPE -2003.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

31


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

Os Projetos de Extensão na Temática<br />

Educação Ambiental<br />

Uma das formas, segun<strong>do</strong> Munhoz<br />

(2004), de levar a educação ambiental à sociedade<br />

é pelas mãos <strong>do</strong>s professores, de to<strong>do</strong>s os<br />

níveis, principalmente em atividades extracurriculares.<br />

Os projetos extensionistas tornam-se<br />

uma grande oportunidade acadêmica de aprendizagem<br />

teórico-prática, de mostrar aos alunos<br />

a realidade, seus problemas e levá-los a refletir,<br />

criticar e reposicionar atitudes e ações com relação<br />

ao meio ambiente e sua degradação.<br />

Conforme o Gráfico 4 a UFPE apresenta<br />

da<strong>do</strong>s anima<strong>do</strong>res frente às <strong>Universidade</strong>s<br />

Federais no Nordeste 13 na área foco <strong>do</strong> nosso<br />

estu<strong>do</strong>. São 32 projetos registra<strong>do</strong>s na temática<br />

meio ambiente, o que significa 29% <strong>do</strong> total de<br />

projetos registra<strong>do</strong>s nas demais áreas temáticas.<br />

GRÁFICO 4<br />

TABELA 5<br />

ANO<br />

PROJETOS<br />

REGISTRADOS<br />

PROJETOS<br />

REGISTRADOS<br />

TEMÁTICA<br />

MEIO<br />

AMBIENTE PERCENTUAL PÚBLICO<br />

2006 143 10 7% 11.428<br />

2007 166 8 5% 5.340<br />

2008 216 14 6% 11.398<br />

TOTAL 525 32 18% 28.166<br />

FONTE: PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO – COORD. DE GESTÃO<br />

DA EXTENSÃO<br />

O estu<strong>do</strong> permitiu-nos traduzir no<br />

Gráfico 6 a distribuição <strong>do</strong>s projetos por Centros<br />

Acadêmicos. Observa-se que, consideran<strong>do</strong> a<br />

transversalidade <strong>do</strong> tema, o mesmo é pre<strong>do</strong>minantemente<br />

objeto de projetos oriun<strong>do</strong>s de<br />

cursos como Ciências Geográficas, localiza<strong>do</strong> no<br />

Centro de Filosofia e Ciências Humanas – CFCH<br />

–, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro Acadêmico <strong>do</strong> Agreste –<br />

CAA – onde os projetos estão concentra<strong>do</strong>s nos<br />

cursos de Design e Engenharia; segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> Centro<br />

de Tecnologia e Geociências – CTG –, onde se<br />

32<br />

15<br />

19<br />

9<br />

1 0 0 1 0 0 0 0<br />

2<br />

UFPB<br />

UFCE<br />

UFPE<br />

UFRPE<br />

UNIVASP<br />

UFPI<br />

UFRN<br />

UFAL<br />

UFBA<br />

UFRB<br />

UFCG<br />

UFRN<br />

UFS<br />

FONTE: SIEX – SISTEMA NACIONAL DE EXTENSÃO – GEREN-<br />

CIADO PELA UFMG -UNIVERSIDADE FEDERAL<br />

DE MINAS GERAIS<br />

Apesar da relevância que o tema<br />

tem desperta<strong>do</strong> no cenário mundial, os projetos<br />

de extensão registra<strong>do</strong>s na PROEXT volta<strong>do</strong>s<br />

para área da Educação Ambiental na UFPE<br />

tem cresci<strong>do</strong>, ainda, de forma tímida dentro <strong>do</strong><br />

universo acadêmico. Os números da Tabela 5<br />

mostram que de 525 projetos de extensão, no<br />

perío<strong>do</strong> de 2006 a 2008, só 18%, isto é, 32<br />

projetos, trabalharam o tema.<br />

situam os cursos de Engenharia e Oceanografia,<br />

que tem se destaca<strong>do</strong> em ações de preservação<br />

<strong>do</strong> ambiente marinho. Foram identificadas ainda<br />

ações desenvolvidas nos Centros de Ciências<br />

Biológicas e de Ciências Sociais Aplicadas.<br />

13 Da<strong>do</strong>s consulta<strong>do</strong>s em abril de 2009<br />

32<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

GRÁFICO 6<br />

32<br />

15<br />

19<br />

9<br />

1 0 0 1 0 0 0 0<br />

2<br />

UFPB<br />

UFCE<br />

UFPE<br />

UFRPE<br />

FONTE: AUTORIA PRÓPRIA<br />

UNIVASP<br />

UFPI<br />

UFRN<br />

UFAL<br />

UFBA<br />

UFRB<br />

UFCG<br />

UFRN<br />

UFS<br />

A Tabela 7 demonstra que a comunidade<br />

acadêmica ainda tem participação tímida nos<br />

projetos vincula<strong>do</strong>s ao tema, pois aponta que só<br />

8% <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes, 4% <strong>do</strong>s discentes e 8% <strong>do</strong>s<br />

técnicos administrativos estão envolvi<strong>do</strong>s nessa<br />

temática. Além disso, o público beneficia<strong>do</strong> em<br />

projetos de extensão nesse perío<strong>do</strong> perfaz um<br />

total 703.697 pessoas, significan<strong>do</strong> que 96%<br />

desse universo, só 4% (28.166) são atendi<strong>do</strong>s em<br />

projetos na área Educação Ambiental (Tabela 8).<br />

TABELA 7<br />

COMUNIDADE<br />

ACADÊMICA<br />

PROJETOS<br />

TEMÁTICA MEIO<br />

AMBIENTE<br />

TOTAL DE<br />

PROJETOS<br />

PERCENTUAL<br />

Docentes 83 926 8%<br />

Discentes 119 2960 4%<br />

Técnicos 18 208 8%<br />

FONTE: PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO –COORD. DE GESTÃO<br />

DA EXTENSÃO<br />

TABELA 8<br />

ANO<br />

PÚBLICO BENEFICIADO<br />

PROJ.TEMÁTICA MEIO AMBIENTE<br />

2006 11.428<br />

2007 5.340<br />

2008 11.398<br />

Total 28.166<br />

FONTE: PRÓ-REITORIA DE EXTENSÃO –COORD. DE GESTÃO<br />

DA EXTENSÃO<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

A estratégia escolhida para o desenvolvimento<br />

da pesquisa é a exploratória - descritiva,<br />

conduzida sob a forma de estu<strong>do</strong> de caso. Teve<br />

como base a análise <strong>do</strong>cumental, através <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s que foram forneci<strong>do</strong>s pela Pró-Reitoria<br />

de Extensão da UFPE, cujos procedimentos<br />

meto<strong>do</strong>lógicos foram de caráter eminentemente<br />

quantitativo e o seu foco foi em número de projetos<br />

de extensão, na temática meio ambiente,<br />

registra<strong>do</strong>s na PROEXT, no perío<strong>do</strong> de 2006 a<br />

2008.<br />

Considerações Finais<br />

O Plano Nacional de Extensão determina<br />

as diretrizes da Extensão Universitária<br />

que estão inseridas em todas as ações das Pró-<br />

-Reitorias de Extensão das IES públicas. Elas<br />

são constituídas por quatro importantes eixos:<br />

impacto e transformação; interação dialógica;<br />

interdisciplinaridade e a indissociabilidade<br />

ensino-pesquisa-extensão 14 .<br />

14 Plano Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-<br />

-Reitores de Extensão das <strong>Universidade</strong>s Públicas Brasileiras.<br />

Brasília: Ministério de Educação, 2000.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

33


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

A política de extensão universitária,<br />

executada pela comunidade acadêmica, reflete<br />

um campo representativo <strong>do</strong>s diferentes setores<br />

da sociedade que estão diretamente envolvi<strong>do</strong>s<br />

com a vida acadêmica ou que se articula com<br />

ela, a partir de demandas e interesses específicos<br />

e coletivos. Entre os atores coletivos que<br />

definem e influenciam as políticas para a extensão<br />

encontram-se o governo, os segmentos<br />

da sociedade civil organizada, o merca<strong>do</strong> e a<br />

comunidade acadêmica.<br />

Analisan<strong>do</strong> os quatro eixos, podemos<br />

afirmar que a PROEXT tem avança<strong>do</strong> principalmente<br />

quan<strong>do</strong> avaliamos os impactos de suas<br />

atividades na sociedade através <strong>do</strong>s seus 525<br />

projetos executa<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de 2006 a 2008.<br />

Atualmente, o projeto de extensão<br />

numa perspectiva ideológica de compromisso<br />

social, disseminada especialmente nos anos<br />

90, está voltan<strong>do</strong> com força total, mesmo com<br />

restrições orçamentárias impostas pelo Ministério<br />

da Educação às universidades públicas. Por<br />

esta razão, como já comenta<strong>do</strong> anteriormente, a<br />

UFPE tem aloca<strong>do</strong> verbas objetivan<strong>do</strong> estimular<br />

a comunidade acadêmica na participação <strong>do</strong>s<br />

seus projetos.<br />

Os projetos na temática da educação<br />

ambiental surgiram com o a finalidade de suscitar<br />

uma consciência ecológica em cada um de nós.<br />

Uma das suas preocupações é criar oportunidades<br />

de conhecimento que permitam ao homem<br />

mudar o seu comportamento frente à natureza.<br />

A <strong>Universidade</strong> não pode se refutar <strong>do</strong> papel de<br />

interlocutora neste cenário. É através da extensão<br />

universitária que a universidade renova o ensino,<br />

incorporan<strong>do</strong> a experiência ao conhecimento<br />

teórico, que vai qualificar a atuação <strong>do</strong> futuro<br />

profissional, com princípios de cidadania e responsabilidade<br />

social.<br />

O estu<strong>do</strong> mostrou que várias são as<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento que tem interface com<br />

a Educação Ambiental (geografia, engenharia,<br />

ciências biológicas dentre outras), o que torna o<br />

tema objeto de pesquisa, estu<strong>do</strong>s e práticas que<br />

se difundem através da extensão universitária.<br />

A prática sistemática da UFPE por meio<br />

de projetos de extensão na área da Educação<br />

Ambiental envolven<strong>do</strong> diversas instâncias é de<br />

total importância para a sociedade, pois mostra<br />

a sintonia com as transformações sociais, nas<br />

quais a prioridade são as atividades que resultem<br />

na inclusão social, na sustentabilidade ambiental<br />

e no fortalecimento da cidadania com alunos-<br />

-cidadãos conscientes e comprometi<strong>do</strong>s com o<br />

futuro <strong>do</strong> planeta.<br />

REFERÊNCIAS<br />

AVALIAÇÃO NACIONAL DA EXTENSÃO/Fórum de<br />

Pró-Reitores de Extensão das <strong>Universidade</strong>s Públicas<br />

Brasileiras. Brasília: MEC/SESU; Paraná: UFPR; IIlheus:<br />

UESC, 2001.<br />

BRÜGGER, P. Educação ou adestramento ambiental<br />

Santa Catarina: Letras Contemporâneas, 1994.<br />

DECLARAÇÃO DE TBILISI - Documento extraí<strong>do</strong> de<br />

Educação ambiental e desenvolvimento: <strong>do</strong>cumentos<br />

oficiais, Secretaria <strong>do</strong> Meio Ambiente, Coordena<strong>do</strong>ria<br />

de Educação o Ambiental, São Paulo, 1994, Série Documentos,<br />

ISSN 0103-264X. Disponível em: . Acesso<br />

em: 22/4/2009.<br />

ECKERSLEY, R. Environmentalism and political theory:<br />

Toward an ecocentric aproach. Albany: State University of<br />

New York Press, 1992.<br />

HERCKERT, Werno. Educação Ambiental. Disponível<br />

em: . Acesso em: 17/5/2005.<br />

LEFF, E. Epistemologia Ambiental. São Paulo: Cortez,<br />

2001.<br />

MAYOR, F. Preparar um futuro viável: ensino superior e<br />

desenvolvimento sustentável. In: CONFERÊNCIA MUN-<br />

34<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ROSAS, J; NUNES, C. Política de extensão: a educação ambiental na perspectiva <strong>do</strong>s projetos de extensão da UFPE no perío<strong>do</strong> 2006 – 2008<br />

DIAL SOBRE O ENSINO SUPERIOR. Tendências de<br />

educação superior para o século XXI. Paria. Anais... 1998.<br />

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação <strong>do</strong><br />

futuro. Disponível em: . Acesso em: 10/4/2009.<br />

MORIN, Edgar. Méto<strong>do</strong> 1. Natureza da Natureza. Porto -<br />

Portugal: Europa-américa, 1977.<br />

MUNHOZ, Tânia. Desenvolvimento sustentável e educação<br />

ambiental. Disponível em: . Acesso em: 2004.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes<br />

necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra,<br />

1997.<br />

PHILIPPI JUNIOR, Arlin<strong>do</strong>; PELICIONI, Maria Cecília Focesi.<br />

Educação Ambiental. 2005. Barueri: Manole, 2005.<br />

PLANO NACIONAL DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA.<br />

Fórum de Pró-Reitores de Extensão das <strong>Universidade</strong>s<br />

Públicas Brasileiras. Brasília: Ministério de Educação,<br />

2000.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 29 de julho de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 3 de abril de 2010.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 27-35, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

35


Projeto “floresta-escola” – educação ambiental não formal<br />

com instituições públicas<br />

The "Floresta-Escola" project – envinronmetal nonformal education<br />

with public institutions<br />

Proyecto “Floresta-Escola”- educación medioambiental no formal con<br />

instituciones publicas<br />

Daniela Biondi 1<br />

Antonio Carlos Batista 2<br />

RESUMO<br />

Este trabalho descreve as atividades <strong>do</strong> projeto de extensão Floresta-Escola, desenvolvi<strong>do</strong> por acadêmicos<br />

<strong>do</strong> curso de engenharia florestal no Campus III da UFPR e em várias escolas públicas da cidade de Curitiba.<br />

O objetivo geral <strong>do</strong> projeto foi transmitir conhecimentos conservacionistas através da educação ambiental<br />

não formal tanto numa Floresta (remanescente florestal no campus III – Jardim Botânico-Curitiba-PR)<br />

como nas escolas públicas, através de visitas monitoradas <strong>do</strong>s estudantes das escolas à trilha da Floresta,<br />

planejamento e elaboração de atividades lúdicas, oficinas e palestras nas escolas pelos acadêmicos bolsistas<br />

<strong>do</strong> projeto e realização de pesquisas sobre os diversos componentes <strong>do</strong> ecossistema florestal encontra<strong>do</strong>s<br />

ao longo da trilha para dar suporte às atividades de educação ambiental. Em 2010 foram atendi<strong>do</strong>s 450<br />

estudantes de 12 escolas para as atividades na trilha, foram realizadas 20 palestras em 14 escolas com 486<br />

estudantes e 62 estudantes participaram das oficinas. Vinte acadêmicos <strong>do</strong> curso de engenharia florestal e<br />

um acadêmico <strong>do</strong> curso de biologia participaram <strong>do</strong> projeto. Os resulta<strong>do</strong>s refletem a dimensão alcançada<br />

pelo projeto, concluin<strong>do</strong>-se que os objetivos foram alcança<strong>do</strong>s: o projeto contribuiu significativamente para<br />

complementar a formação <strong>do</strong>s acadêmicos de engenharia florestal em educação ambiental e promoveu<br />

uma conscientização pela educação ambiental não formal para diversas escolas municipais de Curitiba.<br />

Palavras-chave: conservação da natureza; trilha; consciência ambiental.<br />

ABSTRACT<br />

This paper describes the activities of the extension project “Floresta-Escola”, developed by students of forestry,<br />

at the Campus III of <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná and at various public schools in the city of Curitiba.<br />

The project’s overall objective was to transmit knowledge conservation through not formal environmental<br />

education both in a Forest (forest remnant in campus III – Jardim Botânico-Curitiba-PR) as public schools,<br />

through monitored visits of students of schools to track the Forest, planning and development of recreational<br />

activities , workshops and lectures in schools by students and scholars of design research on the various<br />

components of the forest ecosystem found along the trail to support environmental education activities. In<br />

2010 450 students from 12 schools were attending for activities on the trail, there were 20 lectures in 14<br />

schools with 486 students and 62 students participated in the workshops. Twenty students of forestry and<br />

one student of biology course participated in the project in 2010, developing the proposed activities. The<br />

results reflect the scale achieved by the project and may be concluded that the objectives were achieved: the<br />

project contributed significantly to supplement the training of forestry engineering students and promoted<br />

the environmental education by an awareness of non-formal environmental education for several schools<br />

1 Engenheira Florestal, Dra., Professora Associada <strong>do</strong> Curso de Engenharia Florestal da UFPR.<br />

2 Engenheiro Florestal, Dr., Professor Associa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Curso de Engenharia Florestal da UFPR.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

37


BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

in Curitiba. With this, the project contributed to<br />

the formation of future citizens who will preach<br />

respect for the environment.<br />

Keywords: nature conservation; trail; environmental<br />

awareness.<br />

RESUMEN<br />

En este trabajo se describen las actividades<br />

del proyecto de extensión “Floresta-Escola”,<br />

desarrolla<strong>do</strong> por estudiantes de Ingeniería<br />

Forestal de la <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná<br />

PR en el Campus III y en varias escuelas<br />

públicas de la ciudad de Curitiba. El objetivo<br />

general del proyecto fue transmitir conocimientos<br />

conservacionistas mediante la educación<br />

ambiental no formal tanto en un bosque (remanente<br />

de bosque en el campus III - Jardín<br />

Botánico-Curitiba-PR) como en las escuelas<br />

públicas, a través de las visitas monitoreadas<br />

de los estudiantes a las trillas del bosque, la<br />

planificación y el desarrollo de actividades<br />

recreativas, talleres y conferencias en las escuelas<br />

por los estudiantes becarios del proyecto<br />

y investigación de los distintos componentes<br />

del ecosistema forestal que se encuentran a<br />

lo largo de la trilla del bosque para apoyar<br />

las actividades de educación ambiental. En<br />

el año 2010 450 estudiantes de 12 escuelas<br />

fueron atendi<strong>do</strong>s en visitas a la trilla, hubo 20<br />

conferencias en 14 escuelas con 486 alumnos y<br />

62 alumnos participaron en los talleres. Veinte<br />

estudiantes de ingeniería forestal y uno del<br />

curso de biología participaron del proyecto.<br />

Los resulta<strong>do</strong>s reflejan la escala lograda por<br />

el proyecto y se concluye que los objetivos<br />

se lograron: el proyecto contribuyó significativamente<br />

a complementar la formación de<br />

estudiantes de ingeniería forestal en el tema<br />

de educación ambiental y se incentivó una<br />

concienciación por la educación ambiental<br />

non-formal para varias escuelas municipales<br />

de Curitiba. Además, el proyecto contribuyó<br />

para la formación de futuros ciudadanos<br />

que van preconizar el respecto por el medio<br />

ambiente.<br />

Palabras-clave: conservación de la naturaleza;<br />

trilla; conciencia ambiental.<br />

Introdução<br />

A educação é a base para a conscientização<br />

de um individuo ou grupo social, permitin<strong>do</strong><br />

estabelecer, através de seus julgamentos<br />

morais, uma harmonia entre os homens e entre o<br />

homem e a natureza. Visto que não se sabe tu<strong>do</strong><br />

sobre a natureza <strong>do</strong> homem e nem a natureza<br />

da natureza, a relação homem-natureza deve ser<br />

um processo de contínuo respeito e aprendiza<strong>do</strong><br />

(BIONDI, 2008).<br />

De acor<strong>do</strong> com Dias (2004), desde<br />

sua origem, o conceito de “meio ambiente” tem<br />

si<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> como sinônimo de “Natureza” ou<br />

“recursos naturais”. Ainda hoje permanece forte<br />

a influência <strong>do</strong> pensamento conservacionista,<br />

o qual a “Natureza” deve ser reverenciada e<br />

isolada <strong>do</strong> homem para ser salva. No entanto,<br />

reduzir esse conceito a aspectos exclusivamente<br />

“naturais” exclui as interdependências e interações<br />

com a sociedade. O meio ambiente, ou<br />

simplesmente ambiente, não é forma<strong>do</strong> apenas<br />

pela flora e fauna, água, solo e ar, como era<br />

tradicionalmente defini<strong>do</strong>. O referi<strong>do</strong> autor<br />

salienta: “Hoje, as atividades humanas sobre<br />

a Terra produzem tantas influências que a sua<br />

cultura passou a fazer parte da definição de meio<br />

ambiente” (DIAS, 2004).<br />

A educação ambiental é uma ação<br />

interdisciplinar para ser trabalhada por todas as<br />

idades, comunidades e realidades, consideran<strong>do</strong><br />

o meio ambiente em sua totalidade: o resgate<br />

e o surgimento de novos valores sociais que<br />

conduzam a um mo<strong>do</strong> de vida mais consciente<br />

e sustentável. Essa educação deveria preparar<br />

o indivíduo, mediante a compreensão <strong>do</strong>s principais<br />

problemas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo,<br />

proporcionan<strong>do</strong>-lhe conhecimentos técnicos e<br />

as qualidades necessárias para desempenhar<br />

uma função produtiva, com vistas a melhorar a<br />

qualidade de vida e proteger o meio ambiente,<br />

prestan<strong>do</strong> a devida atenção aos valores éticos<br />

(MACIEL et al., 2011).<br />

Entende-se por educação ambiental<br />

não formal as propostas educativas que, sem ser<br />

curriculares, estão integradas em projetos com finalidades<br />

particulares e uma intencionalidade. A<br />

sua maior vantagem é que pode se desenvolver<br />

38<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR


BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

processos muito mais flexíveis <strong>do</strong> que no ensino<br />

formal, utiliza meios pedagógicos multivaria<strong>do</strong>s<br />

e tem a função de informar e formar (ARAUJO,<br />

2006)<br />

Articular a educação, em seu senti<strong>do</strong><br />

mais amplo, com os processos de formação <strong>do</strong>s<br />

indivíduos como cidadãos, ou articular a escola<br />

com a comunidade educativa de um território<br />

é um sonho, uma utopia, mas também uma<br />

urgência e uma demanda da sociedade atual<br />

(GOHN, 2006).<br />

Este projeto teve seu início com outro<br />

projeto de extensão intitula<strong>do</strong> Trilha da Floresta<br />

que teve como objetivo realizar atividades de<br />

educação ambiental, demonstran<strong>do</strong> a interdependência<br />

<strong>do</strong> homem com o meio que o envolve,<br />

conscientizan<strong>do</strong> a sociedade da importância<br />

da utilização reflexiva e prudente <strong>do</strong>s recursos<br />

que atendem às necessidades humanas. Em<br />

2009, com a ocorrência da suspensão <strong>do</strong>s ônibus<br />

que transportam as crianças por causa da gripe<br />

A e com a incidência da grande quantidade de<br />

chuvas, buscaram-se novas alternativas para<br />

os acadêmicos <strong>do</strong> curso de engenharia florestal<br />

desenvolverem atividades de educação ambiental<br />

com as crianças de escolas públicas. Devi<strong>do</strong><br />

a isto, procurou-se parceria junto a Secretaria<br />

Municipal de Defesa Social – Programa Guarda<br />

Mirim, para viabilizar a realização de atividades<br />

de educação ambiental nas escolas em forma de<br />

palestras e exposição de produtos florestais. Esta<br />

parceria veio preencher uma lacuna <strong>do</strong> referi<strong>do</strong><br />

programa em relação aos conhecimentos da<br />

conservação da natureza. E ao mesmo tempo<br />

proporcionou uma oportunidade para os acadêmicos<br />

desenvolverem atividades educativas e<br />

extensionistas, carente nos currículos acadêmicos<br />

de engenharia florestal.<br />

O título desta pesquisa “Floresta-Escola”<br />

sugere que: a Floresta é uma escola – quan<strong>do</strong><br />

os acadêmicos recebem o público para as práticas<br />

educativas; e a Floresta vai à escola – quan<strong>do</strong><br />

os acadêmicos vão às escolas para transmitirem<br />

os conhecimentos relaciona<strong>do</strong>s com a floresta.<br />

Na perspectiva acadêmica e social, a<br />

existência deste projeto justifica-se pelas seguintes<br />

razões:<br />

a. A utilização da Floresta, remanescente florestal<br />

no campus III – Jardim Botânico, tanto<br />

para os aspectos científicos (pesquisas) como<br />

para os aspectos sociais (prática de educação<br />

ambiental) que, consequentemente, obriga a<br />

instituição (UFPR) estabelecer uma permanente<br />

manutenção e proteção da área;<br />

b. Devi<strong>do</strong> a falta de disciplinas ou estágios na<br />

área de extensão, as excursões guiadas que são<br />

realizadas criam oportunidades únicas para os<br />

acadêmicos complementarem as lacunas curriculares;<br />

c. A transmissão de conhecimentos ecológicos<br />

e filosofias conservacionistas para as crianças<br />

de escolas públicas ajudam a formar cidadãos<br />

responsáveis pela natureza;<br />

d. O contato <strong>do</strong>s acadêmicos com o público<br />

externo, através das palestras nas escolas, é<br />

um bom treinamento para uma boa oratória,<br />

desenvoltura, autoconfiança, expansividade e<br />

responsabilidade;<br />

e. Com a formação das oficinas, tanto o público<br />

visitante como os acadêmicos terão oportunidade<br />

de desenvolver uma consciência ecológica,<br />

fazen<strong>do</strong> uso da criatividade através das diferentes<br />

práticas realizadas com materiais encontra<strong>do</strong>s<br />

na floresta.<br />

Ten<strong>do</strong> em vista o exposto anteriormente,<br />

o objetivo deste trabalho foi transmitir conhecimentos<br />

conservacionistas através da educação<br />

ambiental tanto numa Floresta (remanescente<br />

florestal no campus III – Jardim Botânico) como<br />

nas escolas públicas, através <strong>do</strong>s seguintes objetivos<br />

específicos:<br />

a. Monitorar estudantes de escolas <strong>do</strong> Ensino<br />

Básico e Fundamental da Rede Pública e Privada,<br />

durante uma excursão à trilha numa área<br />

com Floresta localizada no campus III – Jardim<br />

Botânico, realizan<strong>do</strong> atividades de educação<br />

ambiental com as crianças;<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

b. Elaborar, desenvolver e exercitar atividades<br />

de educação ambiental junto aos monitores <strong>do</strong><br />

projeto (estudantes bolsistas e voluntários) a fim<br />

de habilitá-los para o atendimento <strong>do</strong> público<br />

externo (escolas);<br />

c. Ampliar o conhecimento <strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong><br />

projeto sobre o remanescente de Floresta da<br />

trilha através da pesquisa, para servir de conteú<strong>do</strong><br />

às atividades desenvolvidas com as escolas<br />

visitantes e visitadas;<br />

d. Estimular os acadêmicos a usarem mais a criatividade<br />

na forma de transmitir os conhecimentos<br />

ecológicos e filosofias conservacionistas para as<br />

crianças (elaboração de dinâmicas);<br />

e. Planejar, elaborar e executar práticas educativas<br />

com produtos da floresta através de oficinas<br />

e palestras.<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

Este projeto de extensão tem como<br />

público alvo estudantes <strong>do</strong> ensino básico, fundamental<br />

e médio de Escolas da Rede Pública e<br />

Privada de Ensino. Parte <strong>do</strong> projeto foi realiza<strong>do</strong><br />

na UFPR e outra parte foi realizada em várias<br />

escolas públicas.<br />

O projeto possui parceria com a Secretaria<br />

Municipal de Defesa Social – Departamento<br />

de Promoção da Defesa Comunitária com o<br />

Programa Guarda Mirim que é responsável pela<br />

maioria da demanda das escolas agendadas.<br />

Além desta, tem como parceria, desde a origem<br />

<strong>do</strong> projeto, o PET-Floresta.<br />

A meto<strong>do</strong>logia deste projeto foi dividida<br />

em três atividades distintas: Excursão das<br />

escolas na trilha chamada “Trilha da Floresta” –<br />

UFPR, Palestras nas Escolas – Floresta na Escola<br />

e Oficinas da Floresta.<br />

40<br />

Excursão das escolas na trilha da Floresta – UFPR<br />

A excursão com as escolas conta com<br />

a seguinte infraestrutura: Centro de Educação<br />

Ambiental e um fragmento de floresta (Floresta<br />

Ombrófila Mista) bem conserva<strong>do</strong> com área de<br />

15 ha localiza<strong>do</strong> no Campus Jardim Botânico<br />

– UFPR, onde foi construída uma trilha interpretativa<br />

com um percurso de 750 m, sinalizada<br />

com placas para atividades educativas (Figura 1).<br />

O Centro de Educação Ambiental é<br />

uma construção em madeira de pinus proveniente<br />

de reflorestamento, com uma área aproximada<br />

de 110 m², que foi construída pela MOBASA<br />

- Battistella Indústria e Comércio Ltda. Neste<br />

local é realizada a recepção aos visitantes, além<br />

de dinâmicas que visam a integração <strong>do</strong> grupo<br />

e a sua preparação para o início das atividades<br />

na Trilha da Floresta. O Centro desempenha,<br />

ainda, a função de museu, com a exposição de<br />

diversos produtos da floresta e possui área para<br />

atividades em dias de chuva, quan<strong>do</strong> não é possível<br />

percorrer o percurso da Trilha da Floresta.<br />

A excursão das escolas à Trilha da Floresta<br />

é dividida em três fases:<br />

Recepção – acontece com a chegada das<br />

crianças ao Centro de Visitação, onde to<strong>do</strong>s se<br />

apresentam e participam das primeiras atividades<br />

lúdicas. Em seguida são levadas para o interior<br />

<strong>do</strong> Centro de Visitação onde observarão e terão<br />

informações sobre exsicatas de plantas, sementes,<br />

frutos, insetário, mapas e outros materiais referentes<br />

ao que será visto durante a caminhada na<br />

trilha. Em seguida a turma de estudantes é dividida<br />

em <strong>do</strong>is grupos que entram separadamente,<br />

cada grupo deven<strong>do</strong> ser acompanha<strong>do</strong> de pelo<br />

menos <strong>do</strong>is monitores <strong>do</strong> projeto;<br />

Trilha – ao longo da trilha, são aborda<strong>do</strong>s<br />

conteú<strong>do</strong>s que fazem referência à interdependência<br />

<strong>do</strong> homem e <strong>do</strong> meio ambiente, conscientizan<strong>do</strong> as<br />

crianças sobre a importância de uma utilização sustentável<br />

<strong>do</strong>s recursos naturais presentes na floresta.<br />

Além disso, é repassa<strong>do</strong>, com muita propriedade,<br />

o máximo de informações sobre as espécies ali<br />

presentes na borda da trilha, tais como: nome po-<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR


BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

pular, nome científico, família, qual o seu papel na<br />

floresta, usos desta espécie, curiosidades e outros;<br />

Encerramento – ao final da caminhada<br />

na trilha, os participantes voltam para o Centro<br />

de Visitação, onde têm um tempo livre para<br />

realizar brincadeiras e merendar. As atividades<br />

são encerradas com uma dinâmica de grupo<br />

para relembrar os principais pontos discuti<strong>do</strong>s e<br />

o que elas aprenderam ao longo das atividades.<br />

Ao terminar todas as atividades, os estudantes<br />

recebem <strong>do</strong>s monitores um certifica<strong>do</strong> prometen<strong>do</strong><br />

serem defensores da natureza.<br />

As atividades de educação ambiental<br />

realizadas durante a excursão na trilha são desenvolvidas<br />

de maneira não formal, tentan<strong>do</strong><br />

sempre associar os temas pertencentes às disciplinas<br />

da grade curricular das escolas. Busca-se<br />

sempre transmitir as informações ao ar livre, em<br />

contato com natureza.<br />

A interpretação da natureza na Trilha<br />

da Floresta foi desenvolvida com as seguintes<br />

abordagens:<br />

Água – onde se procura transmitir a<br />

importância da água para o homem, demonstran<strong>do</strong><br />

a necessidade e os meios para a sua<br />

conservação, além da inter-relação da mesma<br />

com os demais elementos da floresta;<br />

Solo – é enfatizada e demonstrada a<br />

interdependência floresta/solo;<br />

Flora – a diversidade de espécies<br />

vegetais, a estruturação da floresta, bem como<br />

a relação existente entre as espécies é o maior<br />

enfoque da<strong>do</strong>;<br />

Fauna – é demonstra<strong>do</strong> o papel da<br />

fauna para a manutenção da floresta, sensibilizan<strong>do</strong><br />

os visitantes sobre a relevância de sua<br />

conservação.<br />

Para melhor aprendiza<strong>do</strong> e sensibilização<br />

das crianças, os monitores sempre informam<br />

os conhecimentos <strong>do</strong>s componentes presentes<br />

na floresta para evitar uma abordagem teórica.<br />

FIGURA 1 - PERCURSO DA TRILHA DA FLORESTA<br />

Palestras nas Escolas – Floresta na Escola<br />

As palestras nas escolas são realizadas<br />

pelos acadêmicos com apoio <strong>do</strong> Programa Guarda<br />

Mirim (agendamento das escolas e transporte).<br />

O tema principal das palestras é sempre relativo<br />

à conservação da natureza e principalmente das<br />

florestas. Desde que foi feita a parceria com o<br />

Programa Guarda Mirim, o tema da palestra<br />

é incrementa<strong>do</strong> com a campanha anual deste<br />

programa. Neste ano de 2010 foi introduzida<br />

a abordagem sobre Responsabilidade Fiscal no<br />

tema Conservação da Natureza. Uma exposição<br />

de produtos da floresta (madeira, sementes,<br />

frutos, fibra de papel, remédios etc.) faz parte da<br />

finalização de cada palestra proferida nas escolas.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

41


BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

Oficinas da Floresta<br />

A realização das oficinas teve por objetivos:<br />

contribuir para a fixação <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

conservacionistas adquiri<strong>do</strong>s na excursão ou nas<br />

palestras; desenvolver a criatividade <strong>do</strong>s acadêmicos<br />

e <strong>do</strong>s estudantes das escolas; e promover também<br />

uma atividade recreativa. Os acadêmicos devem<br />

pesquisar temas que possam ser transforma<strong>do</strong>s em<br />

oficinas, tais como:<br />

a. Oficina da Paisagem – ensinar os estudantes a<br />

criar paisagem numa cartolina com o uso de restos<br />

de folhas, galhos, cascas de frutos, sementes, pedra<br />

etc.;<br />

b. Oficina <strong>do</strong> Barulho – ensinar os estudantes a<br />

fazer instrumentos que produzam sons com restos<br />

de bambu.<br />

Todas as oficinas têm como introdução<br />

uma ligeira visita à floresta e uma apresentação<br />

teórica sobre a meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> que será realiza<strong>do</strong><br />

na oficina.<br />

A avaliação <strong>do</strong> projeto é feita de forma<br />

quantitativa, consideran<strong>do</strong> o número de participantes<br />

<strong>do</strong> projeto, e qualitativa, através da análise<br />

das fichas de visitantes, que são preenchidas pelos<br />

bolsistas, conten<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s perfis <strong>do</strong>s grupos<br />

de visitantes, como: faixa etária, procedência, nome<br />

da instituição, informações de conhecimento <strong>do</strong><br />

projeto etc.<br />

As observações <strong>do</strong>s bolsistas de extensão e<br />

voluntários também servem como avaliação, sen<strong>do</strong><br />

discutidas em reuniões após cada atividade, auxilian<strong>do</strong><br />

os acadêmicos envolvi<strong>do</strong>s nos seus processos<br />

de formação, expressan<strong>do</strong> opiniões e promoven<strong>do</strong><br />

discussões acerca <strong>do</strong>s trabalhos realiza<strong>do</strong>s. Esses<br />

resulta<strong>do</strong>s são anota<strong>do</strong>s nas fichas <strong>do</strong>s grupos de<br />

visitantes (avaliação contínua e participativa).<br />

Após todas as atividades educativas (trilha,<br />

palestras e oficinas), descritas na meto<strong>do</strong>logia deste<br />

projeto, é feita uma enquete com o público e os<br />

monitores <strong>do</strong> projeto para que as falhas sejam imediatamente<br />

corrigidas durante o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> mesmo (avaliação não cumulativa).<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão<br />

Em 2010 foram atendi<strong>do</strong>s 450 estudantes<br />

de 12 escolas para as atividades na trilha (Figura 2).<br />

FIGURA 2 – ATIVIDADES DOS ESTUDANTES NA TRILHA DA<br />

FLORESTA<br />

42<br />

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BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

Foram realizadas 20 palestras em 14<br />

escolas com 486 estudantes (Figura 3) e 62<br />

estudantes participaram das oficinas (Figura 4).<br />

Algumas escolas participaram mais de uma vez<br />

das atividades demonstran<strong>do</strong> que o projeto vem<br />

desempenhan<strong>do</strong> um papel muito importante na<br />

complementação da educação formal.<br />

Da avaliação feita pelos professores<br />

que acompanharam os estudantes das escolas<br />

visitantes, os resulta<strong>do</strong>s mais significativos foram:<br />

100% responderam que as atividades <strong>do</strong> projeto<br />

Floresta-Escola corresponderam às expectativas;<br />

95% responderam que o tempo despendi<strong>do</strong><br />

para visita foi suficiente; 90% disseram que o<br />

atendimento pelos monitores foi ótimo; 24%<br />

sugeriram algumas melhorias no espaço físico<br />

que é anexo à trilha (Centro de Educação<br />

Ambiental); 29% afirmaram que a participação<br />

<strong>do</strong>s alunos no projeto serviu para fundamentar<br />

as aulas teóricas dadas em sala de aula; e 81%<br />

deram nota 10 ao projeto.<br />

Além disso, as professoras afirmaram<br />

que o tema “preservação da natureza” presente<br />

no conteú<strong>do</strong> aborda<strong>do</strong> nas atividades é bastante<br />

interessante para as crianças, e as atividades educativas<br />

e lúdicas desenvolvidas são adequadas<br />

às idades e séries escolares das crianças.<br />

FIGURA 3 – PALESTRAS NAS ESCOLAS<br />

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BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

isto os acadêmicos têm oportunidade de<br />

exercer conscientemente a práxis de extensão<br />

com as diferentes áreas de conhecimento<br />

deste curso através da educação ambiental.<br />

FIGURA 4 – OFICINAS DA FLORESTA<br />

As atividades <strong>do</strong> projeto foram desenvolvidas<br />

por 19 acadêmicos <strong>do</strong> curso de<br />

engenharia florestal (4 bolsistas e 15 voluntários)<br />

e 1 de biologia (Figura 5). Para estes<br />

acadêmicos, este projeto foi uma grande<br />

oportunidade de praticar a extensão através<br />

da educação ambiental com crianças, experiência<br />

ímpar no seu curso. Tanto o contato com<br />

as crianças quanto a participação permanente<br />

em todas as fases <strong>do</strong> projeto, proporcionaram<br />

aos acadêmicos maior responsabilidade,<br />

autoconfiança, criatividade, expansividade,<br />

experiência e espírito de equipe.<br />

O projeto apresentou ganhos sociais<br />

significativos porque conseguiu, através<br />

da educação ambiental, complementar as<br />

atividades práticas <strong>do</strong> currículo <strong>do</strong>s estudantes<br />

<strong>do</strong> ensino fundamental das escolas<br />

públicas. Além de atender as necessidades<br />

curriculares das escolas visitantes, também<br />

preenche a lacuna relativa às práticas de<br />

educação ambiental inexistentes no currículo<br />

atual <strong>do</strong> curso de Engenharia Florestal. Com<br />

44<br />

FIGURA 5. TREINAMENTO DOS BOLSISTAS DO PROJETO<br />

FLORESTA-ESCOLA<br />

Em todas as ações <strong>do</strong> projeto o acadêmico<br />

logo percebe que não pode dissociar<br />

a trilogia “ensino/pesquisa/extensão”. Da<br />

mesma forma, os acadêmicos não veem os<br />

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BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

temas e assuntos aborda<strong>do</strong>s nas atividades<br />

educativas com as crianças, como disciplinas<br />

ou matérias isoladas. Tanto na estrutura intelectual<br />

(conhecimentos) como na estrutura<br />

operacional <strong>do</strong> projeto é fácil observar que<br />

tanto os assuntos aborda<strong>do</strong>s e as pessoas envolvidas<br />

(academia e sociedade) fazem parte<br />

de um sistema, onde to<strong>do</strong>s os componentes<br />

são vitais, sem hierarquia de importância.<br />

Isto faz com que eles sintam claramente o<br />

processo de interdisciplinaridade.<br />

Considerações finais<br />

A procura das escolas para a visitação<br />

da trilha é boa, mas é, na maioria das<br />

vezes, prejudicada pela falta de transporte e<br />

pelas condições climáticas adversas, ocorrência<br />

de chuva.<br />

O projeto proporcionou aos acadêmicos<br />

ganhos significativos no âmbito profissional<br />

e pessoal, tais como:<br />

• Sentir que é um dever prestar algum serviço<br />

para a sociedade, enquanto aluno de<br />

universidade pública;<br />

• Adquirir o hábito de pesquisar e estudar<br />

antes de elaborar ou executar alguma atividade;<br />

• Ouvir as críticas visan<strong>do</strong> melhorias <strong>do</strong><br />

projeto;<br />

• Sentir que, embora seja pequena sua<br />

contribuição, está fazen<strong>do</strong> alguma coisa pela<br />

natureza;<br />

• Ter a experiência <strong>do</strong> sucesso (quan<strong>do</strong> dá<br />

tu<strong>do</strong> certo) e a <strong>do</strong> fracasso (quan<strong>do</strong> não foi<br />

como planeja<strong>do</strong>);<br />

• Transformar os conhecimentos técnico-<br />

-científicos para uma linguagem coloquial;<br />

• Ter a oportunidade de lidar e conviver<br />

com crianças;<br />

• Sentir-se responsável pelos conhecimentos<br />

e a disciplina de um grupo de pessoas, mesmo<br />

que seja por duas horas.<br />

Durante o ano 2010 o projeto<br />

“Floresta-Escola” articulou as seguintes ações<br />

com a comunidade interna: reunião semanal<br />

com os acadêmicos para reformular as ações<br />

(dialógica); treinamento <strong>do</strong>s acadêmicos<br />

na forma de expressar os conhecimentos<br />

técnico-científicos para as crianças (ensino/<br />

extensão); treinamento <strong>do</strong>s acadêmicos em<br />

atividades lúdicas (dinâmicas) para as crianças<br />

(extensão); pesquisa com espécies de<br />

plantas e animais da floresta para transmitir<br />

essas informações durante a trilha (pesquisa).<br />

Com a comunidade externa, foram<br />

articuladas as seguintes ações: divulgação,<br />

contato e agendamento das escolas para a trilha;<br />

contatos com escolas para a realização de<br />

palestras; busca de apoio logístico (transporte<br />

– viatura) da Secretaria Municipal de Defesa<br />

social para locomoção <strong>do</strong>s acadêmicos para<br />

as escolas (proferir palestras); visita a uma<br />

trilha elaborada pela empresa CONPACEL –<br />

SP, parte de uma oficina desenvolvida pelo<br />

projeto (Figura 5).<br />

Percebe-se que além das alterações<br />

feitas nas atividades desenvolvidas, que são<br />

analisadas e discutidas durante as reuniões<br />

semanais, o projeto parece estar sempre se<br />

renovan<strong>do</strong>. Isto se deve à grande quantidade<br />

de discentes voluntários envolvi<strong>do</strong>s e a alta<br />

rotatividade <strong>do</strong>s mesmos durante o ano.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ARAUJO, I. A. A educação ambiental não formal no<br />

contexto das organizações não governamentais ambientalistas<br />

<strong>do</strong> litoral norte <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> de São Paulo. Dissertação<br />

(Mestra<strong>do</strong> em Educação) - Programa de Pós- Graduação<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

45


BIONDI, D.; BATISTA, A. C. Projeto “Floresta-Escola” – educação ambiental não formal com instituições públicas<br />

em Educação da UNIMEP, <strong>Universidade</strong> Metodista de<br />

Piracicaba, São Paulo, 2006.<br />

BIONDI, D. Arborização aplicada à Educação ambiental.<br />

Curitiba: D. Biondi Ed. independente, 2008. 120 p.<br />

DIAS, G. F. Educação Ambiental – princípios e práticas.<br />

5 ed. São Paulo: Gaia, 2004. 551p.<br />

GOHN, M. G. Educação não formal, participação da<br />

sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio:<br />

aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v. 14, n. 50, p. 27-<br />

38, jan./mar. 2006.<br />

MACIEL, J. L.; WACHHOLZ, C. B.; ALMINHANA, C. O.;<br />

BITAR, P. G.; MUHLE, R. P. Meto<strong>do</strong>logias de uma educação<br />

ambiental inclusiva. REVISTA EGP. Disponível em:<br />

<br />

Acesso em: 23/4/2011.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 20 de maio de 2011.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 30 de junho de 2011.<br />

46<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 37-46, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da<br />

sociedade de consumo<br />

Environmental Communication: challenges to transcend the logic of<br />

consumer society<br />

Comunicación medioambiental: desafíos de trascender la lógica de la<br />

sociedad de consumo<br />

Mônica Pinto 1<br />

RESUMO<br />

As questões ambientais estão na ordem <strong>do</strong> dia e ganham cada vez mais espaço no merca<strong>do</strong> midiático.<br />

Entretanto, de mo<strong>do</strong> geral, ações práticas para seu enfrentamento terminam relegadas a um segun<strong>do</strong> plano,<br />

na medida em que transformações na ordem vigente de produção e de aquisição de produtos nem sempre<br />

são bem absorvidas pelo establishment que, via de regra, se nutre da sociedade de consumo. Para a indústria<br />

da mídia, subverter a lógica consumista significa, muitas vezes, romper com a estrutura que a sustenta,<br />

cenário a dificultar a disseminação de informações qualificadas quanto à crise ambiental da atualidade. Isso<br />

porque, como já dito, os veículos tendem a não se debruçar sobre as causas <strong>do</strong>s problemas com o devi<strong>do</strong><br />

aprofundamento. Assim, a Comunicação Social vê-se hoje imersa em desafios, entre os quais reformulações<br />

epistemológicas quanto aos princípios <strong>do</strong> Jornalismo e da Propaganda. O papel da Academia, por sua<br />

vez, mostra-se fundamental para elucidar a importância da a<strong>do</strong>ção de um novo modelo de produção e<br />

consumo, de mo<strong>do</strong> a suprir as lacunas que possam ser verificadas, sob esse viés, no universo midiático.<br />

Palavras-chave: Comunicação social; sociedade de consumo; meio ambiente.<br />

ABSTRACT<br />

Environmental issues are are in the order of the day and gain more and more space in the media market.<br />

However, broadly speaking, practical actions to cope with it end up relegated to a second plane, in the extent<br />

that changes in the current order of production and acquisition of goods are not always well absorbed<br />

by the establishment that, as a rule, is nourished by the society of consumption. For the media industry, to<br />

subvert the logic of consumerism means, quite often, a rupture with the structure that supports it, a scenario<br />

that hampers the dissemination of good quality information about the environmental crisis of today. This<br />

happens because, as already said, the vehicles of propaganda tend not to look into its causes with the due<br />

depth. Thus, the Social Communication finds itself today immersed in challenges, such as epistemological<br />

reformulations about the principles of Journalism and Propaganda. The role of the Academy, in turn, has<br />

proven fundamental to elucidate the importance of a<strong>do</strong>pting a new model of production and consumption,<br />

so as to cover the loopholes that can be verified under this tendency, in the media universe.<br />

Keywords: Social communication; society of consumption; environment.<br />

1 Especialista em Mudanças Climáticas e Sequestro de Carbono (<strong>Universidade</strong> Positivo – PR), mestranda em Comunicação pela<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná. Contatos: Rua Dr. Sátilas <strong>do</strong> Amaral Camargo, 31, Tingui, Curitiba (PR), telefone: (41) 8445-2294,<br />

jornalistamonicapinto@gmail.com<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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PINTO, M. Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de consumo<br />

RESUMEN<br />

Las cuestiones ambientales están en el orden<br />

del día y ganan más espacio en el merca<strong>do</strong> de<br />

los medios de comunicación. Sin embargo, en<br />

general, medidas prácticas para hacer frente a<br />

ella terminan relegadas a un segun<strong>do</strong> plan, en<br />

la medida en que los cambios en el orden de<br />

producción y de compras no son siempre bien<br />

absorbi<strong>do</strong>s por el establishment que, por regla<br />

general, se nutre de la sociedad del consumo.<br />

Para la industria de los medios de comunicación,<br />

subvertir la lógica consumista significa romper<br />

con la estructura que la mantiene, lo que dificulta<br />

la difusión de información de calidad sobre la<br />

crisis ambiental de hoy. Eso es porque, como ya<br />

fue dicho, los medios tienden a no detenerse en<br />

las causas de los problemas debi<strong>do</strong> a la profundización<br />

del tema. Por lo tanto, la comunicación<br />

social se encuentra inmersa en los retos actuales,<br />

incluyen<strong>do</strong> los cambios epistemológicos cuanto a<br />

los principios del periodismo y de la propaganda.<br />

El rol de la Academia, a su vez, ha demostra<strong>do</strong><br />

ser crucial para aclarar la importancia en a<strong>do</strong>ptar<br />

un nuevo modelo de producción y consumo<br />

para completar las lagunas que pueden ser verificadas,<br />

con este sesgo, en el universo mediático.<br />

Palabras-clave: Comunicación social; sociedad<br />

del consumo; médio ambiente.<br />

Introdução<br />

ininterrupta <strong>do</strong> meio ambiente mundial são os<br />

padrões insustentáveis de consumo e produção,<br />

especialmente nos países industrializa<strong>do</strong>s”. Com<br />

base nessa premissa, o <strong>do</strong>cumento estabelece,<br />

entre seus objetivos, “desenvolver uma melhor<br />

compreensão <strong>do</strong> papel <strong>do</strong> consumo e da forma<br />

de se implementar padrões de consumo mais<br />

sustentáveis”.<br />

Fica claro o protagonismo da Comunicação<br />

Social no cumprimento desse propósito, paralelo<br />

em relevância e complementar aos esforços<br />

da educação – formal e não formal – no mesmo<br />

senti<strong>do</strong>. Especificamente no âmbito <strong>do</strong> Jornalismo,<br />

Loose e Girardi (2009) defendem que<br />

Muito além da denúncia, o jornalista<br />

pode sim ser um educa<strong>do</strong>r e auxiliar na<br />

formação da opinião pública em prol da<br />

sobrevivência planetária. A difusão de<br />

uma postura ética para o restabelecimento<br />

<strong>do</strong> equilíbrio da vida já coloca o jornalista<br />

ambiental como agente da propagação da<br />

proteção de onde vivemos, oferecen<strong>do</strong><br />

visibilidade e argumentos para cobranças<br />

<strong>do</strong> poder público (LOOSE; GIRARDI,<br />

2009, p. 2).<br />

A Conferência das Nações Unidas sobre<br />

Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, conhecida<br />

como ECO-92, realizada em 1992, no Rio<br />

de Janeiro, é considerada um marco no senti<strong>do</strong> de<br />

nortear políticas públicas em prol <strong>do</strong> conceito de<br />

desenvolvimento sustentável. O resulta<strong>do</strong> prático<br />

desse propósito foi a Agenda 21, um programa de<br />

ações elabora<strong>do</strong> com participação de governos e<br />

entidades civis de 179 países, constituin<strong>do</strong>-se em<br />

um esforço pioneiro de a<strong>do</strong>ção, em escala global,<br />

de um modelo de desenvolvimento basea<strong>do</strong> em<br />

justiça social, conservação <strong>do</strong>s recursos naturais<br />

e em um paradigma evolutivo mensura<strong>do</strong> mais<br />

pela qualidade de vida <strong>do</strong> que pela quantidade<br />

<strong>do</strong> crescimento econômico.<br />

Em seu quarto capítulo, a Agenda 21<br />

coloca que “as principais causas da deterioração<br />

48<br />

No bojo das mudanças climáticas globais,<br />

questão que, no entender de Giddens (2010), “saltou<br />

para o primeiro plano das discussões e debates,<br />

não apenas neste ou naquele país, mas no mun<strong>do</strong><br />

inteiro” (p. 19), popularizar o entendimento quanto<br />

às contribuições individuais para o problema também<br />

se mostra fundamental.<br />

O autor cunhou, inclusive, um comportamento<br />

<strong>do</strong>minante que chamou de “para<strong>do</strong>xo de<br />

Giddens”, para ilustrar o resulta<strong>do</strong> de pesquisas de<br />

atitude a demonstrarem que, enquanto a maior<br />

parte da população mundial reconhece as mudanças<br />

<strong>do</strong> clima como uma grave ameaça, “apenas<br />

uns poucos se dispõem a alterar sua vida de mo<strong>do</strong><br />

significativo em decorrência disso” (GIDDENS,<br />

2010, p. 20).<br />

Pinto (2010) ilustra como sentimentos<br />

associa<strong>do</strong>s à prosperidade e ao sucesso pessoais<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR


PINTO, M. Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de consumo<br />

contribuem para a manutenção de comportamentos<br />

hoje consagra<strong>do</strong>s como danosos ao meio<br />

ambiente. Dá o exemplo da queima de combustíveis<br />

fósseis, apontada pela Ciência como vilã na<br />

emissão de gases de efeito estufa, mas que nem<br />

por isso obstaculiza o desejo comum de possuir<br />

um carro particular, “alimenta<strong>do</strong> rotineiramente<br />

como pressuposto de status”, no que a autora<br />

chama de “contradição à necessidade imperiosa<br />

de se privilegiar o transporte coletivo, cujo uso, no<br />

Brasil, é fortemente associa<strong>do</strong> à ‘pobreza’” (p. 10).<br />

São transformações culturais que demandam<br />

acesso à informação de qualidade, com o<br />

estabelecimento de causas e efeitos em relação ao<br />

problema. Quan<strong>do</strong> da criação <strong>do</strong> Fórum Brasileiro<br />

de Mudança Global <strong>do</strong> Clima, no ano de 2000, em<br />

seu artigo primeiro já se estabelecia como objetivo<br />

prioritário “conscientizar e mobilizar a sociedade<br />

para a discussão e tomada de posição sobre os<br />

problemas decorrentes da mudança <strong>do</strong> clima por<br />

gases de efeito estufa”.<br />

Destacam-se <strong>do</strong>is verbos plenamente<br />

associa<strong>do</strong>s ao papel da Comunicação, ao menos<br />

em tese: “conscientizar” e “mobilizar”. Entretanto,<br />

voltan<strong>do</strong> ao “para<strong>do</strong>xo de Giddens”, estaria o<br />

merca<strong>do</strong> midiático brasileiro esclarecen<strong>do</strong> de fato,<br />

ao público receptor, a necessidade emergencial de<br />

rever seus padrões de consumo Numa visão pró-<br />

-ativa, estariam os cidadãos sen<strong>do</strong> rotineiramente<br />

municia<strong>do</strong>s de subsídios que os capacitem a cobrar<br />

<strong>do</strong>s setores produtivos e <strong>do</strong>s poderes públicos investimentos<br />

e programas em observância concreta<br />

aos parâmetros <strong>do</strong> desenvolvimento sustentável<br />

Essas são questões recorrentes na esfera<br />

da chamada Comunicação Ambiental, seja sob<br />

uma avaliação baseada em critérios científicos, no<br />

universo acadêmico; seja em meio a observações<br />

empíricas a circularem em fóruns de profissionais<br />

<strong>do</strong> segmento. Contu<strong>do</strong>, o cerne <strong>do</strong> debate é potencialmente<br />

o mesmo: qual a dimensão da responsabilidade<br />

<strong>do</strong>s agentes da Comunicação brasileira<br />

frente à emergencial adequação da sociedade aos<br />

requisitos da nova ordem produtiva e de consumo<br />

Um longo caminho a percorrer<br />

No raio de atuação da chamada Comunicação<br />

Ambiental, emerge um desafio basilar<br />

na trajetória de conscientizar a sociedade quanto<br />

aos impactos <strong>do</strong> modelo de desenvolvimento<br />

vigente sobre os recursos naturais: transcender<br />

a lógica da sociedade de consumo.<br />

O Ministério da Educação <strong>do</strong> Brasil<br />

(2005) expõe que “em suas atividades de consumo,<br />

os indivíduos acabam agin<strong>do</strong> centra<strong>do</strong>s em<br />

si mesmos, sem se preocupar com as consequências<br />

de suas escolhas” (p. 15). Um procedimento<br />

que, na avaliação <strong>do</strong> órgão, reduz o cidadão ao<br />

papel de consumi<strong>do</strong>r, na medida em que impõe<br />

a ele “uma espécie de ‘obrigação moral e cívica<br />

de consumir’” (p. 15).<br />

No entanto, mesmo na esfera da educação<br />

ambiental formal, se observa uma tônica<br />

em apontar caminhos volta<strong>do</strong>s ao “consumo<br />

consciente”, ou seja, à seleção de produtos e<br />

serviços teoricamente comprometi<strong>do</strong>s com o<br />

respeito aos recursos naturais. Entretanto, ao<br />

mesmo tempo, pouco ou nada se fala quanto à<br />

necessidade de que as pessoas mais favorecidas<br />

economicamente repensem seus padrões no<br />

senti<strong>do</strong> de simplesmente consumir menos.<br />

O MEC (2005) registra que o consumo<br />

envolve coesão social, produção e reprodução<br />

de valores, por isso não poden<strong>do</strong> ser considera<strong>do</strong><br />

uma “atividade neutra, individual e despolitizada”<br />

(p. 15). Ao contrário, o ato de consumir é<br />

emblemático da forma como o cidadão encara<br />

o mun<strong>do</strong>, numa conexão entre seus “valores<br />

éticos, escolhas políticas, visões sobre a natureza<br />

e comportamentos” (p. 14) relaciona<strong>do</strong>s à essa<br />

prática cotidiana.<br />

No campo <strong>do</strong> jornalismo ambiental,<br />

Bueno (2007) propõe um caminho para o rompimento<br />

<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> midiático com a estrutura<br />

capitalista que, via de regra, o sustenta:<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

49


PINTO, M. Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de consumo<br />

O Jornalismo Ambiental deve propor-se<br />

política, social e culturalmente engaja<strong>do</strong>,<br />

porque só desta forma conseguirá encontrar<br />

forças para resistir às investidas<br />

e pressões de governos, empresas e<br />

até de universidades e institutos de<br />

pesquisa, muitos deles patrocina<strong>do</strong>s ou<br />

reféns <strong>do</strong>s grandes interesses. (BUENO,<br />

2007, p. 36)<br />

Esse confronto entre a notícia que<br />

potencialmente melindra o establishment e o<br />

direito <strong>do</strong> receptor a conhecer os fatos em profundidade<br />

– pressuposto para fazer sobre eles<br />

seu juízo de valor – denota o papel da mídia<br />

enquanto construtora de senti<strong>do</strong>s. Cria a “nítida<br />

sensação de pertencimento social” de que trata<br />

Gomes (2001) como resulta<strong>do</strong> da absorção de<br />

“imagens e informações que, através da mídia,<br />

estão no <strong>do</strong>mínio de to<strong>do</strong>s” (p. 202).<br />

Fica claro o desafio com que se depara<br />

o merca<strong>do</strong> midiático, se de fato se propuser a<br />

transformar o vigente sentimento de pertença<br />

social, a grosso mo<strong>do</strong> alimenta<strong>do</strong> pelo consumo.<br />

Como demonstram Sousa e Fernandes (2002), a<br />

função pedagógica <strong>do</strong>s meios de comunicação,<br />

particularmente com relação ao meio ambiente,<br />

tem implicações de ordem estrutural, uma vez<br />

que “as grandes redes estão organizadas como<br />

indústrias e como tal buscam sobrevivência<br />

merca<strong>do</strong>lógica dentro <strong>do</strong> sistema capitalista”<br />

(p. 162).<br />

À semelhança <strong>do</strong> que ocorre com o<br />

exercício <strong>do</strong> Jornalismo, configura-se também<br />

uma necessidade o reformular <strong>do</strong>s princípios<br />

epistemológicos da publicidade e da propaganda,<br />

cujo objetivo fundamental é justamente<br />

estimular o consumo, determinante como “diferencia<strong>do</strong>r<br />

identitário”, conforme expõem Ribeiro<br />

e Procópio (2007).<br />

Trata-se de um para<strong>do</strong>xo, pois as autoras<br />

demonstram que, ao mesmo tempo em que<br />

“o sujeito passa a auto-identificar-se pela propriedade”,<br />

o aspecto persuasivo da publicidade<br />

transcende a compulsão de adquirir produtos e/<br />

ou serviços: “visa também a adesão ao consenso<br />

social <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> que certo discurso sugere na<br />

relação <strong>do</strong> sujeito com os objetos e, conseqüentemente,<br />

com a sociedade" (p. 2).<br />

Dito de outro mo<strong>do</strong>, enquanto ao consumi<strong>do</strong>r<br />

aparenta fortalecer o caráter único de<br />

sua identidade, a publicidade reafirma valores e<br />

hábitos, “procura enquadrá-lo em determina<strong>do</strong><br />

molde, assujeitan<strong>do</strong>-o quan<strong>do</strong> o transforma em<br />

sujeito conduzi<strong>do</strong> pelas normas sociais, culturais<br />

e ideológicas” (p. 2).<br />

Marketing verde<br />

O trabalho <strong>do</strong> movimento ambientalista,<br />

na visão de Bedante (2004), foi a mola<br />

propulsora para a emergência de um novo tipo<br />

de consumi<strong>do</strong>r, o “ambientalmente orienta<strong>do</strong>”<br />

(p. 15), isto é, aquele cujo poder decisório de<br />

aquisição tornou-se fortemente pauta<strong>do</strong> pela<br />

“imagem ecologicamente correta de produtos”,<br />

resultante, na prática, em um “apelo diferencial<br />

à venda” (p. 18).<br />

Ainda que figure legítimo colocar sob<br />

suspeita as ideologias a nortearem esse nicho de<br />

negócios relativamente novo, pode-se ao menos<br />

vislumbrar que ele se revele proveitoso enquanto<br />

concepção alternativa a suprir os interesses da<br />

sociedade de consumo. Confronta, por exemplo,<br />

a estratégia apontada por Souza et al (2007),<br />

para quem<br />

é perceptível que, sob o discurso da<br />

inovação, as empresas têm conjuga<strong>do</strong><br />

as estratégias de obsolescência técnica e<br />

física para atender suas necessidades de<br />

curto prazo, em detrimento das necessidades<br />

<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res, da sociedade e<br />

<strong>do</strong> ambiente (SOUZA et al, 2007, p. 7).<br />

50<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR


PINTO, M. Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de consumo<br />

No entanto, os efeitos <strong>do</strong> chama<strong>do</strong><br />

marketing verde ou ecológico sobre as decisões<br />

de compra ainda é terreno a exigir investigações<br />

mais consistentes, como aponta Pereira (2003).<br />

Estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> autor demonstrou uma “aparente indiferença<br />

aos apelos ecológicos nas embalagens<br />

por parte <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res” (p. 60), cenário<br />

que ele aventa dever-se à falta de credibilidade<br />

quanto aos da<strong>do</strong>s forneci<strong>do</strong>s por estas embalagens<br />

e, numa outra possibilidade, à “pouca<br />

informação por parte <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res sobre<br />

questões ambientais” (p. 60).<br />

De mo<strong>do</strong> geral, os resulta<strong>do</strong>s das hipóteses<br />

<strong>do</strong> trabalho de Pereira (2003) corroboram<br />

que as empresas a atuarem compromissadas<br />

com a responsabilidade ambiental agregam valor<br />

a suas marcas, sem que, contu<strong>do</strong>, esse mérito<br />

seja necessariamente transposto à intenção de<br />

compra <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res – “ou seja, estes não<br />

parecem dispostos a comprar produtos apenas<br />

porque estes demonstram preocupação com<br />

questões ambientais” (p. 63).<br />

Delimitar com ética e correção os<br />

preceitos da propaganda e <strong>do</strong> jornalismo nem<br />

sempre é tarefa fácil. Bueno (2007) expõe uma<br />

tendência, por parte de “mídias conserva<strong>do</strong>ras<br />

e comunica<strong>do</strong>res desavisa<strong>do</strong>s”, a tornar o jornalismo<br />

ambiental “refém de ações merca<strong>do</strong>lógicas<br />

ou empresariais e interesses políticos” (p.36).<br />

Nessa trajetória, diz o autor,<br />

Confundem jornalismo ambiental com<br />

marketing verde ou ecopropaganda, termos<br />

e práticas que se situam não apenas<br />

em campos conceituais e epistemológicos<br />

distintos, mas que estão atrela<strong>do</strong>s a<br />

compromissos de outra ordem (BUENO,<br />

2007, p. 36).<br />

Considerações finais<br />

A capacidade <strong>do</strong>s cidadãos em perceber<br />

a distinção concreta entre o discurso publicitário<br />

vela<strong>do</strong> e a informação jornalística confiável<br />

é determinada, fortemente, pelo cabedal de conhecimentos<br />

que cada receptor vai amealhan<strong>do</strong><br />

em seu cotidiano. Novamente, se estabelece um<br />

para<strong>do</strong>xo, da<strong>do</strong> que esse arcabouço é municia<strong>do</strong>,<br />

em grande parte, pela própria mídia.<br />

Se até agora, na qualidade de construtora<br />

de imaginários, a mídia – resguardadas exceções<br />

– mantém-se fornecen<strong>do</strong> nutrientes para<br />

a sociedade de consumo, ao mesmo tempo se vê<br />

diante de um cenário de degradação ambiental<br />

cada vez mais difícil de negligenciar, haja vista a<br />

gradual conscientização sobre o tema.<br />

Revela-se prioritário que o merca<strong>do</strong><br />

da Comunicação invista em capacitação para<br />

operar com responsabilidade e eficácia no bojo<br />

da nova ordem produtiva e de consumo que os<br />

desafios ambientais impõem. Um estímulo para<br />

o engajamento transforma<strong>do</strong>r, sob pena de,<br />

mantida a inércia, veículos jornalísticos sofrerem<br />

abalos em sua credibilidade e, por consequência,<br />

em seus ganhos <strong>do</strong> ponto de vista econômico.<br />

Da mesma forma, a publicidade claramente<br />

evolui se, atenta às demandas atuais,<br />

qualifica-se no senti<strong>do</strong> de subsidiar seus clientes<br />

de da<strong>do</strong>s que os impulsionem a abraçar o compromisso<br />

com o desenvolvimento sustentável,<br />

movimento cuja importância é crescente como<br />

diferencial positivo em competitividade.<br />

Nesse panorama, a Academia desponta<br />

como importante media<strong>do</strong>ra, sobretu<strong>do</strong> face à<br />

possibilidade de atuar diretamente junto aos<br />

varia<strong>do</strong>s extratos sociais, por intermédio de atividades<br />

de extensão. Essa aproximação entre a<br />

<strong>Universidade</strong> e a sociedade pode estabelecer um<br />

movimento de efeitos ímpares no processo de<br />

maior conscientização quanto a causas e efeitos<br />

de nossas práticas cotidianas. É o conhecimento<br />

exercen<strong>do</strong> seu pleno potencial transforma<strong>do</strong>r, no<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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PINTO, M. Comunicação ambiental: os desafios de transcender a lógica da sociedade de consumo<br />

esforço inadiável de salvaguardar a biodiversidade<br />

planetária; em especial, a qualidade de vida<br />

da espécie humana.<br />

REFERÊNCIAS<br />

BEDANTE, Gabriel Navarro. A influência da consciência<br />

ambiental e das atitudes em relação ao consumo sustentável<br />

na intenção de compra de produtos ecologicamente<br />

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– Programa de Pós-Graduação em Administração, <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, Porto Alegre,<br />

2004. 159 p.<br />

BUENO, Wilson da Costa. Jornalismo ambiental: Exploran<strong>do</strong><br />

além <strong>do</strong> conceito. Desenvolvimento e Meio<br />

Ambiente, Curitiba, n. 15, p. 33-44. jan./jun. 2007.<br />

CONSUMO SUSTENTÁVEL: Manual de educação.<br />

Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/IDEC,<br />

2005. 160 p.<br />

GIDDENS, Anthony. A política da Mudança Climática.<br />

Rio de Janeiro: Zahar, 2010. 314 p.<br />

set. 2010, Caxias <strong>do</strong> Sul. Anais... Caxias <strong>do</strong> Sul: Intercom,<br />

2010.<br />

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Publicitário. Linguagens & Cidadania, ano 9, n. 1. Rio<br />

Grande <strong>do</strong> Sul: <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Santa Maria,<br />

2007.<br />

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SOUZA, Altamir da Silva et al. A obsolescência planejada:<br />

uma reflexão frente aos problemas socioambientais<br />

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2007. Disponível em: .<br />

Acesso<br />

em: 07/03/2011.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 30 de abril de 2011.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 18 de junho de 2011.<br />

GOMES, Paola Basso. Mídia, Imaginário de consumo e<br />

Educação. Educação & Sociedade, São Paulo, n. 74, p.<br />

191-207, 2001.<br />

LOOSE, Eloisa Beling; GIRARDI, Ilza Maria Tourinho. O<br />

Jornalismo Ambiental e seu caráter educativo. Trabalho<br />

apresenta<strong>do</strong> no GP Comunicação, Ciência, Meio Ambiente<br />

e Sociedade <strong>do</strong> IX Encontro <strong>do</strong>s Grupos/Núcleos<br />

de Pesquisa em Comunicação, evento componente <strong>do</strong><br />

XXXII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.<br />

Curitiba: Intercom, 2009.<br />

MINISTÉRIO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA. Fórum Brasileiro<br />

de Mudanças Climáticas. Decreto de 28 de agosto<br />

de 2000. Dispõe sobre o Fórum Brasileiro de Mudanças<br />

Climáticas e dá outras providências. Disponível em:<br />

. Acesso em: 4/3/2011.<br />

PEREIRA, Severino Joaquim. O impacto <strong>do</strong> argumento<br />

ecológico nas atitudes <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res – um estu<strong>do</strong><br />

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Acesso em: 5/3/2011.<br />

PINTO, Monica. Educomunicação para as Mudanças<br />

Climáticas: A Contribuição da Grande Imprensa Brasileira<br />

para uma Nova Consciência. In: CONGRESSO<br />

BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO. 23.,<br />

52<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 47-52, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Experiências no programa universidade sem fronteiras:<br />

contribuição de um módulo didático de educação ambiental em<br />

escolas de educação básica<br />

Experiences at "<strong>Universidade</strong> sem Fronteiras" program: contribution of<br />

a Didactic Module about Environmental Education<br />

in basic education schools<br />

Experiencias en el "Programa <strong>Universidade</strong> sem Fronteiras":<br />

contribución de un módulo didáctico de educación medioambiental en<br />

escuelas de educación básica<br />

Luciana Paula Vieira 1<br />

Juliana Moreira Prudente de Oliveira 1/2<br />

Kassiana da Silva Miguel 1<br />

Daniela Frigo Ferraz 3<br />

André Luis de Oliveira 4<br />

Anelize Queiroz Amaral 4<br />

RESUMO<br />

No processo de formação de professores, discute-se muito como superar a distância entre a teoria e a<br />

prática, pois normalmente a preparação <strong>do</strong>s cursos de formação é insuficiente para dar conta das realidades<br />

encontradas nos contextos em que os professores irão atuar após sua formação inicial. Uma das<br />

formas de superar esse distanciamento é pelo desenvolvimento de atividades extensionistas nos campos<br />

de atuação profissional, já no início <strong>do</strong> curso. O desenvolvimento desse tipo de projetos favorece a relação<br />

entre a população e a academia, aproximan<strong>do</strong> o saber <strong>do</strong> fazer. Neste trabalho procurou-se analisar as<br />

contribuições <strong>do</strong> projeto de extensão denomina<strong>do</strong> "Articulação entre formação inicial na licenciatura em<br />

Ciências Biológicas e a comunidade escolar: trilhan<strong>do</strong> novos caminhos", promovi<strong>do</strong> nas escolas e realiza<strong>do</strong><br />

por meio das atividades desenvolvidas durante as aplicações de um Módulo Didático (MD) sobre Educação<br />

Ambiental. O módulo envolveu atividades teórico-práticas e dinâmicas relacionadas ao tema, trabalhadas<br />

conforme a meto<strong>do</strong>logia problematiza<strong>do</strong>ra proposta por Delizoicov (2005). Pode-se perceber, em to<strong>do</strong>s os<br />

momentos, grande motivação <strong>do</strong>s alunos. Essas experiências foram únicas e de extrema importância para<br />

a formação inicial <strong>do</strong>s acadêmicos envolvi<strong>do</strong>s, uma vez que possibilitou maior contato com a futura área<br />

de atuação e intensa troca de conhecimento com os já profissionais e atuantes no ensino.<br />

Palavras-chave: Extensão Universitária; Educação Ambiental; Módulo didático; Atividades de sensibilização;<br />

Representação de Meio Ambiente.<br />

1 Acadêmicas de Ciências Biológicas– Licenciatura/UNIOESTE/Campus Cascavel (bolsistas <strong>do</strong> projeto menciona<strong>do</strong> no resumo, o qual é<br />

vincula<strong>do</strong> ao programa <strong>Universidade</strong> Sem Fronteiras e apoia<strong>do</strong> pela SETI/PR). Endereço: Rua Ômega, Quadra 08, Lote 10, Residencial<br />

Grama<strong>do</strong> II – CEP: 85818 – 770 – Cascavel – PR/ Fone: 3220- 3238/ 9114-8748/ Email: lpveacc@yahoo.com.br<br />

2 Licenciada em Ciências Biológicas/UNIOESTE/Campus Cascavel (Bolsista recém-formada <strong>do</strong> projeto cita<strong>do</strong>).<br />

3 Professora Ms. coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> projeto/UNIOESTE/Campus Cascavel.<br />

4 Professores Ms. colabora<strong>do</strong>res <strong>do</strong> projeto/UNIOESTE/Campus Cascavel.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

ABSTRACT<br />

In the process of teachers formation, is a lot<br />

discussed how to overcome the distance between<br />

theory and practice, because normally, the preparing<br />

of the formation courses is insufficiently<br />

to bear the realities found in the contexts that<br />

the teachers will act after their initial graduation.<br />

One of the ways to overcome this distance is by<br />

developing de activities extended in the fields of<br />

professional acting, in the very beginning of the<br />

graduation course. The development of these<br />

sort of projects favors the relation between population<br />

and the academy, enclosing the “knowing”<br />

to the “<strong>do</strong>ing”. In this paper, it was tried to<br />

analyze the contributions of the extension project<br />

called: Articulation between the initial formation<br />

in the graduation course of biological Sciences<br />

and the school community: crossing new paths,<br />

promoted in the schools e <strong>do</strong>ne by means of<br />

the developed activities during the application<br />

of a Didactic Module (DM) over Environmental<br />

Education. The module involved theoreticalpractical<br />

activities and dynamics related to the<br />

theme, worked as the problematizing metho<strong>do</strong>logy<br />

purposed by Delizoicov (2005). We could<br />

notice in every moment, good motivation by the<br />

students. These experiments were unique and<br />

of extreme importance to the initial formation<br />

of the graduating students involved, as it made<br />

possible a better contact with the future area of<br />

acting and intense exchange of knowledge with<br />

the professionals already acting at teaching.<br />

Keywords: Graduating Extension; Environmental<br />

Education; Didactic Module awareness activities;<br />

Representation of Environment.<br />

RESUMEN<br />

En ele proceso de formación de profesores,<br />

demasiadamente se discute acerca de cómo<br />

sobrepasar la distancia entre la teoría y la práctica,<br />

una vez que, normalmente, la preparación<br />

de los cursos de formación es insuficiente para<br />

dar cuenta de las realidades encontradas en<br />

los contextos <strong>do</strong>nde los profesores irán actuar<br />

después de su formación inicial. Unas de las<br />

formas de sobrepasar ese distanciamiento es por<br />

el desarrollo de actividades de extensión en los<br />

campos de actuación profesional, ya al principio<br />

del curso. El desarrollo de este tipo de proyectos<br />

es de gran importancia a la relación entre la<br />

populación y la academia, pues aproxima el<br />

saber del hacer. En este trabajo se buscó analizar<br />

las contribuciones del proyecto de extensión<br />

denomina<strong>do</strong>: Articulación entre formación inicial<br />

en la licenciatura en Ciencias Biológicas y la comunidad<br />

escolar: búsqueda de nuevos caminos,<br />

promociona<strong>do</strong> en las escuelas y realiza<strong>do</strong>, por<br />

medio de las actividades desarrolladas durante<br />

las aplicaciones de un Modulo Didáctico (MD)<br />

acerca de la Educación Ambiental. El modulo<br />

arrolló actividades teórico-practicas y dinámicas<br />

relacionadas al tema, laboradas conforme la<br />

meto<strong>do</strong>logía problematiza<strong>do</strong>ra propuesta por<br />

Delizoicov (2005). Se pu<strong>do</strong> percibir, en to<strong>do</strong>s<br />

los momentos, gran motivación de los alumnos.<br />

Esas experiencias fueran únicas y de extrema<br />

importancia para la formación inicial de los<br />

académicos participantes, una vez que posibilitó<br />

mayor contacto con la futura área de actuación<br />

e intenso cambio de conocimientos con los<br />

profesionales que ya actúan en la enseñanza.<br />

Palabras-clave: Extensión Universitaria; Educación<br />

ambiental; Modulo didáctico; Actividades<br />

de sensibilización; Representación del medio<br />

ambiente.<br />

Introdução<br />

A reflexão sobre formação de professores<br />

deve considerar, entre outros fatores, que o conhecimento<br />

científico produzi<strong>do</strong>, principalmente nas<br />

áreas de ciência e tecnologia, é fator determinante<br />

das transformações ocorridas no mun<strong>do</strong> contemporâneo.<br />

Ao mesmo tempo, não se pode perder<br />

de vista que deve haver um equilíbrio para que<br />

essas transformações não sejam tão danosas ao<br />

meio ambiente, equilíbrio que está estreitamente<br />

relaciona<strong>do</strong> às atitudes humanas.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, no âmbito educacional, é<br />

necessária a seleção de conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logias<br />

que possam nortear as ações em sala de aula, acompanhan<strong>do</strong><br />

a evolução da ciência. É preciso repensar<br />

o perfil <strong>do</strong> professor que se quer formar e o papel<br />

das instituições responsáveis por sua formação.<br />

Seria conveniente que as licenciaturas<br />

incluíssem em seu projeto pedagógico atividades<br />

em que o discente possa assumir efetivamente o<br />

papel <strong>do</strong> professor. O convívio <strong>do</strong> futuro profissional<br />

no âmbito escolar, junto aos alunos, professores e<br />

administra<strong>do</strong>res é importante para propor novas<br />

ideias e analisá-las ativamente (AMARAL, 2006).<br />

Promover uma prática de ensino, pela<br />

qual professores e alunos tenham a oportunidade de<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR


VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

desenvolver trabalhos de intervenção na realidade<br />

e no cotidiano escolar é uma forma de ensinar e,<br />

ao mesmo tempo, formar pesquisa<strong>do</strong>res reflexivos,<br />

pois estan<strong>do</strong> no ambiente escolar, pode-se discutir<br />

e refletir sobre situações que são próprias dessa realidade,<br />

tanto de forma individual (com cada aluno/<br />

pesquisa<strong>do</strong>r) como coletiva (professores/alunos pesquisa<strong>do</strong>res)<br />

(JUSTINA et al., 2005). Essa perspectiva<br />

também é válida para outras atividades de ensino ou<br />

de extensão que promovam a troca de experiências<br />

entre as escolas de educação básica e as instituições<br />

de ensino superior, analisan<strong>do</strong> e discutin<strong>do</strong> as várias<br />

realidades defini<strong>do</strong>ras dessa formação.<br />

Neste trabalho serão discutidas algumas<br />

propostas para buscar a unidade entre a teoria<br />

e a prática com o intuito de melhor preparar os<br />

acadêmicos para atuar nas realidades escolares da<br />

educação básica. Neste senti<strong>do</strong>, o desenvolvimento<br />

de projetos de extensão é uma alternativa que favorece<br />

a relação entre a população e a academia,<br />

propician<strong>do</strong> um aprofundamento da relação teoria/<br />

prática (FÓRUM, 2001).<br />

Para Ferreira (1986), extensão é “o ato<br />

ou efeito de estender, ampliar, desenvolver”, isto<br />

é, o que almejamos fazer neste projeto: estender a<br />

prática de ensino a municípios distantes <strong>do</strong>s locais<br />

habituais de atuação da <strong>Universidade</strong>, amplian<strong>do</strong><br />

o conhecimento construí<strong>do</strong> na <strong>Universidade</strong> e desenvolven<strong>do</strong><br />

novas meto<strong>do</strong>logias, na perspectiva de<br />

aperfeiçoamento da formação inicial <strong>do</strong> licencian<strong>do</strong>.<br />

Para Rodrigues, Oliveira e Robazzi (1993) as atividades<br />

de extensão possibilitam uma interposição de<br />

ideias e informações e que a partir deste intercâmbio<br />

podem ocorrer transformações.<br />

Objetivan<strong>do</strong> o enriquecimento de experiências<br />

na formação inicial de acadêmicos <strong>do</strong> curso<br />

de Ciências Biológicas, bem como a contribuição às<br />

escolas de educação básica (EEB) foi cria<strong>do</strong> o projeto:<br />

Articulação entre formação inicial na licenciatura<br />

em Ciências Biológicas e a comunidade escolar:<br />

trilhan<strong>do</strong> novos caminhos. Esse projeto de extensão<br />

está liga<strong>do</strong> ao programa: <strong>Universidade</strong> sem fronteiras,<br />

subprograma de apoio às licenciaturas, vincula<strong>do</strong><br />

à Secretaria de Esta<strong>do</strong> da Ciência, Tecnologia e<br />

Ensino Superior <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná – SETI/PR – e<br />

vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong> desde o ano de 2007. O<br />

projeto é desenvolvi<strong>do</strong> em quatro escolas públicas<br />

de educação básica <strong>do</strong>s municípios de Catanduvas,<br />

Ibema e Campo Bonito, escolhi<strong>do</strong>s por possuírem<br />

baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),<br />

atenden<strong>do</strong> ao que propõe o Fórum de Pró-reitores<br />

de Extensão das <strong>Universidade</strong>s Públicas Brasileiras<br />

(2001): a extensão deve desempenhar o compromisso<br />

que a <strong>Universidade</strong> tem com a sociedade.<br />

Inicialmente foram realizadas visitas a essas<br />

escolas a fim de levantar temáticas prioritárias, ou<br />

seja, quais os temas urgentes para serem trabalha<strong>do</strong>s<br />

com os alunos. Nessas visitas, desenvolveram-se reuniões<br />

com a equipe pedagógica da escola e com professores<br />

de diversas disciplinas que indicaram, como<br />

necessário, o desenvolvimento <strong>do</strong>s seguintes temas:<br />

sexualidade, afetividade/autoestima, educação<br />

ambiental, drogas e higiene/nutrição. No trabalho<br />

aqui apresenta<strong>do</strong> será discuti<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

de um desses temas, que é a Educação ambiental.<br />

Esse trabalho atende à perspectiva sobre extensão<br />

da Avaliação Nacional da Extensão Universitária<br />

proposta pelo Fórum (2001, p. 27): as atividades<br />

de extensão devem focalizar suas ações em grandes<br />

temas sociais e às necessidades locais e/ou regionais.<br />

Com os temas seleciona<strong>do</strong>s a equipe <strong>do</strong><br />

projeto, formada por professores orienta<strong>do</strong>res e<br />

colabora<strong>do</strong>res, acadêmicos bolsistas e colabora<strong>do</strong>res<br />

e um professor recém-forma<strong>do</strong> na licenciatura<br />

em Ciências Biológicas, da <strong>Universidade</strong> Estadual<br />

<strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong> Paraná – UNIOESTE, campus de<br />

Cascavel, PR, foram elabora<strong>do</strong>s os Módulos Didáticos<br />

(MD), fundamenta<strong>do</strong>s em uma meto<strong>do</strong>logia<br />

problematiza<strong>do</strong>ra associada a atividades lúdicas.<br />

Segun<strong>do</strong> Delizoicov (2005), a meto<strong>do</strong>logia<br />

problematiza<strong>do</strong>ra tem o potencial de gerar no<br />

aluno a necessidade da obtenção de conhecimento.<br />

Nesse processo o <strong>do</strong>cente pode verificar, também, os<br />

conhecimentos prévios <strong>do</strong>s alunos, poden<strong>do</strong> realizar<br />

discussões na sala de aula e localizar possíveis contradições<br />

e limitações <strong>do</strong>s alunos. Essa meto<strong>do</strong>logia,<br />

na proposição de Delizoicov e Angotti (2000), é<br />

dividida em três momentos pedagógicos principais:<br />

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VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

• Problematização inicial: são apresentadas situações<br />

reais que os alunos conhecem e presenciam<br />

relacionadas a um tema, problematiza-se então o<br />

conhecimento que os alunos vão expon<strong>do</strong>, a partir<br />

de poucas questões propostas; sem necessariamente<br />

respondê-las. Promove-se então uma discussão com<br />

um problema que possa ser enfrenta<strong>do</strong>, fazen<strong>do</strong><br />

com que o aluno sinta a necessidade da aquisição<br />

de outros conhecimentos que ainda não detém;<br />

• Organização <strong>do</strong> conhecimento: trabalha-se<br />

então o conhecimento seleciona<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong> tema<br />

sob a orientação <strong>do</strong> professor, para a compreensão<br />

científica da situação problematizada inicialmente;<br />

• Aplicação <strong>do</strong> conhecimento: esse momento<br />

destina-se a abordar sistematicamente o conhecimento<br />

que vem sen<strong>do</strong> incorpora<strong>do</strong> pelo aluno<br />

para observar tanto a situação proposta inicialmente<br />

como outras que possam ser entendidas<br />

pelo mesmo conhecimento. Depois de prontos,<br />

os módulos foram apresenta<strong>do</strong>s aos <strong>do</strong>centes e<br />

responsáveis pelas escolas e adapta<strong>do</strong>s conforme<br />

suas sugestões, pois segun<strong>do</strong> Rodrigues, Oliveira<br />

e Robazzi (1993), para planejar e implementar a<br />

extensão é necessária uma legítima articulação com<br />

a comunidade para que possa ocorrer ampliação <strong>do</strong><br />

papel da <strong>Universidade</strong>. O que é possível por meio<br />

da troca de experiências com a comunidade que<br />

contribui para o conhecimento da academia, e esta,<br />

por sua vez, repassa assim o seu saber acadêmico,<br />

garantin<strong>do</strong> uma legítima e saudável bilateralidade<br />

<strong>do</strong>s benefícios.<br />

O Módulo Didático (MD) de Educação<br />

Ambiental foi planeja<strong>do</strong> com os seguintes objetivos:<br />

refletir sobre a importância da educação ambiental<br />

como instrumento de transformação social; compreender<br />

aspectos gerais <strong>do</strong>s processos de degradação<br />

e cuida<strong>do</strong>s com o meio ambiente; levar informações<br />

para o aluno aplicar não só em sala de aula, mas<br />

na sua vida, transmitin<strong>do</strong> as informações à família,<br />

amigos, entre outros, divulgan<strong>do</strong> a importância da<br />

preservação <strong>do</strong> meio ambiente. Para o desenvolvimento<br />

<strong>do</strong> MD, foram elaboradas atividades de<br />

caráter lúdico, como a Trilha ambiental e a Teia<br />

ecológica.<br />

56<br />

A seguir, apresenta-se um relato da experiência<br />

no desenvolvimento <strong>do</strong> MD aplica<strong>do</strong> nas<br />

escolas participantes <strong>do</strong> projeto e discutem-se as<br />

representações apresentadas pelos alunos sobre<br />

meio ambiente, durante a implementação <strong>do</strong> MD,<br />

e como fazer para ampliar suas percepções sobre<br />

o tema com a aplicação das atividades propostas.<br />

Ao mesmo tempo, visualiza-se a importância <strong>do</strong><br />

desenvolvimento <strong>do</strong> tema para os acadêmicos em<br />

formação inicial em contextos que podem vivenciar<br />

situações reais de ensino nas quais haja o contato<br />

com guias mais experientes, os professores das<br />

escolas envolvidas, promoven<strong>do</strong> uma relação de<br />

troca <strong>do</strong> saber teórico-prático.<br />

O Desenvolvimento <strong>do</strong> Módulo Didático<br />

de Educação Ambiental<br />

Na primeira atividade proposta no<br />

MD, desenvolvida durante o primeiro momento<br />

pedagógico, ou seja, durante a Problematização<br />

Inicial (PI), foi entregue a cada aluno uma folha de<br />

papel sulfite em branco, solicitan<strong>do</strong>-se a eles que<br />

desenhassem o meio ambiente. Esta atividade foi<br />

realizada ao mesmo tempo em que passava um<br />

vídeo anima<strong>do</strong>, ilustran<strong>do</strong> as partes da letra da<br />

música Aquarela, <strong>do</strong> cantor Toquinho (2009), que<br />

fala sobre a viagem que pode ser feita através da<br />

imaginação, utilizada para que os alunos pudessem<br />

relaxar e soltar sua imaginação. O objetivo dessa<br />

atividade foi verificar nos desenhos <strong>do</strong>s alunos se<br />

eles demonstram uma concepção sobre a integração<br />

<strong>do</strong> ser humano com o meio ambiente.<br />

De acor<strong>do</strong> com Mansano (2006), ao<br />

analisar as representações e impressões <strong>do</strong>s alunos,<br />

percebe-se que as suas formas de verem os espaços<br />

vão além <strong>do</strong> que os olhos conseguem identificar,<br />

pois perceber é sentir, é vivenciar, é experimentar.<br />

Neste momento, foi possível notar uma<br />

grande motivação <strong>do</strong>s alunos com a atividade,<br />

visto que perguntavam se poderiam pintar seus<br />

desenhos, o que faziam com muita dedicação.<br />

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Após o término da atividade, verificou-se que a<br />

maioria <strong>do</strong>s desenhos continha apenas plantas<br />

e/ ou animais, o que demonstrou a dificuldade<br />

de os alunos perceberem a integração <strong>do</strong> homem<br />

com o meio, por possuírem uma visão naturalista<br />

de ambiente, que evidencia, segun<strong>do</strong> Reigota<br />

(1998), os aspectos naturais <strong>do</strong> meio ambiente.<br />

Um exemplo de um desses desenhos pode ser<br />

visualiza<strong>do</strong> na Figura. 1<br />

FIGURA 1 - REPRESENTAÇÕES NATURALISTAS<br />

De acor<strong>do</strong> com Reigota (2002), a<br />

grande maioria <strong>do</strong>s alunos representa o meio<br />

ambiente como sinônimo de natureza, “elementos<br />

bióticos e abióticos”, ten<strong>do</strong> a natureza como<br />

algo intoca<strong>do</strong>.<br />

No desenho de outros alunos, verificou-se<br />

uma representação de meio ambiente<br />

globalizante. De acor<strong>do</strong> com Reigota (2002), a<br />

ideia de uma natureza transformada pela ação<br />

humana aparece com maior dificuldade, haja<br />

vista a impossibilidade <strong>do</strong>s alunos incorporarem<br />

espontaneamente questões que satisfaçam<br />

totalidade <strong>do</strong> problema, em que o homem é<br />

apresenta<strong>do</strong> como elemento constitutivo <strong>do</strong><br />

meio ambiente, enquanto ser social, viven<strong>do</strong><br />

em comunidades. Dois desenhos <strong>do</strong>s alunos<br />

são representativos dessa visão, conforme se<br />

visualiza na Figura 2<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

FIGURA 2 - REPRESENTAÇÕES GLOBALIZANTES<br />

Na sequência das atividades propostas,<br />

foram seleciona<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os desenhos que<br />

continham representações globalizantes (que<br />

sempre eram poucos) e apresenta<strong>do</strong>s aos alunos,<br />

ao mesmo tempo em que se discutia com<br />

eles se estes desenhos também representavam<br />

o meio ambiente. Essa atividade tinha como<br />

finalidade demonstrar que o meio ambiente<br />

é muito mais <strong>do</strong> que os ambientes naturais<br />

que costumamos imaginar e que devemos ter<br />

uma visão globalizante de meio ambiente, que<br />

considere as relações recíprocas entre natureza<br />

e sociedade (REIGOTA, 1998) e não apenas<br />

naturalista. Também foi possível constatar que<br />

esta atividade deixou os alunos à vontade para<br />

indagar na busca por um entendimento mais<br />

amplo, conforme falas <strong>do</strong>s alunos:<br />

Ah! Professora, então a escola também<br />

é meio ambiente A1.<br />

Então por que estamos construin<strong>do</strong> e<br />

avançan<strong>do</strong> para dentro da floresta é<br />

que o meio ambiente é tu<strong>do</strong> que nos<br />

rodeia A2.<br />

As falas denotam uma representação<br />

mais abrangente sobre o meio ambiente, porém,<br />

é possível perceber na descrição <strong>do</strong> aluno<br />

A2 uma concepção antropocêntrica acerca da<br />

temática, pois considera o ambiente como os<br />

elementos que estão em seu entorno, ou seja,<br />

à sua disposição. Tal interpretação vem ao encontro<br />

da classificação de representação de meio<br />

ambiente antropocêntrica realizada por Reigota<br />

(1998). Além disso, na visão de Sauvé (1997), o<br />

57


VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

ambiente pode ser entendi<strong>do</strong> como: a natureza,<br />

um recurso, um problema, um lugar para se viver,<br />

a biosfera e como um projeto. Nesses relatos, os<br />

alunos revelaram o entendimento de ambiente<br />

como natureza e lugar para viver, evidencia<strong>do</strong><br />

na fala <strong>do</strong> aluno A1.<br />

Almejan<strong>do</strong> visualizar a percepção <strong>do</strong>s<br />

alunos sobre problemática ambiental, ainda<br />

durante a PI, foram escritos sobre um pedaço de<br />

papel par<strong>do</strong> (na forma de cartaz) os problemas<br />

ambientais aponta<strong>do</strong>s pelos alunos. Primeiro,<br />

citaram os problemas de sua cidade, depois,<br />

os problemas nacionais, posteriormente, os<br />

problemas globais. Esta atividade objetivou<br />

levantar com os educan<strong>do</strong>s uma listagem <strong>do</strong>s<br />

principais problemas ambientais locais, com alguns<br />

comentários, diagnostican<strong>do</strong> o seu grau de<br />

preocupação e esclarecimento sobre o assunto,<br />

bem como a percepção <strong>do</strong>s problemas ambientais<br />

mais gerais no globo terrestre.<br />

Por meio desta atividade, identificou-se<br />

a dificuldade que os alunos possuem em organizar<br />

o (vasto) conhecimento que possuem, uma<br />

vez que eles indicavam problemas diretamente<br />

relaciona<strong>do</strong>s e que poderiam ser resumi<strong>do</strong>s em<br />

um só, como nas seguintes falas:<br />

Derretimento das geleiras. A3.<br />

Aquecimento global. A4.<br />

Aumento <strong>do</strong> nível <strong>do</strong> mar. A5.<br />

Estes três exemplos de problemas<br />

poderiam ter si<strong>do</strong> resumi<strong>do</strong>s em “aquecimento<br />

global”, que causa os demais. Então, quan<strong>do</strong><br />

dizíamos isso a eles, estes se empolgavam para<br />

tentar entender qual a forma correta de falar<br />

sobre os problemas, de qual forma eles realmente<br />

eram ocasiona<strong>do</strong>s, tentan<strong>do</strong>, muitas vezes, passar<br />

deste passo meto<strong>do</strong>lógico que era a problematização<br />

para a organização <strong>do</strong> conhecimento.<br />

Outra constatação realizada nesta<br />

atividade foi o grau de interação <strong>do</strong>s alunos e<br />

o alto nível de correlação entre a problemática<br />

ambiental, já que estes, na medida em que citavam<br />

os problemas, exemplificavam suas falas<br />

com um acontecimento real em suas cidades,<br />

escolas, famílias e outros ambientes, como fica<br />

evidente na fala que segue:<br />

Tráfico de animais. A professora sabia<br />

que aqui na cidade tem um homem que<br />

coloca um alçapão na janela da casa<br />

e pega passarinhos para vender Isso<br />

também é trafico, não é professora A7.<br />

A fala citada revela a necessidade <strong>do</strong>s<br />

educa<strong>do</strong>res assumirem, ao longo <strong>do</strong> exercício de<br />

sua profissão, a responsabilidade de sensibilizar<br />

seus alunos em relação aos problemas ambientais<br />

locais. Para tanto, é preciso acreditar que<br />

os problemas serão ameniza<strong>do</strong>s na medida em<br />

que os alunos estiverem conscientes das condições<br />

ambientais que circundam sua realidade<br />

e o quanto é importante tentar restaurar sua<br />

condição original ou preservar sua integridade.<br />

Corroboran<strong>do</strong> esta ideia, Layrargues (2001) observa<br />

que a resolução de problemas ambientais<br />

locais é uma das recomendações da Conferência<br />

de Tbilisi como estratégia meto<strong>do</strong>lógica da ação<br />

educativa. Para o autor, esta estratégia busca:<br />

[...] uma aproximação <strong>do</strong> vínculo entre<br />

os processos educativos e a realidade<br />

cotidiana <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, onde a ação<br />

local representa a melhor oportunidade<br />

tanto <strong>do</strong> enfrentamento <strong>do</strong>s problemas<br />

ambientais, como da compreensão<br />

da complexa interação <strong>do</strong>s aspectos<br />

ecológicos com os político-econômicos<br />

e socioculturais da questão ambiental<br />

(LAYRARGUES, 2001, p. 133).<br />

No momento de organização <strong>do</strong> conhecimento<br />

foram exibi<strong>do</strong>s slides, com o uso da TV<br />

Pen drive (que é uma TV usada no esta<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

Paraná com um dispositivo USB, que possibilita<br />

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VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

o trabalho com imagens, vídeos e apresentações,<br />

como um Data show que expõe a imagem em<br />

um tamanho menor), segui<strong>do</strong>s da explicação <strong>do</strong>s<br />

acadêmicos trazen<strong>do</strong> o conhecimento científico,<br />

para que os alunos refletissem sobre o meio<br />

ambiente, seus componentes e o uso consciente<br />

<strong>do</strong>s bens naturais.<br />

Nestes slides mostrou-se que o ecossistema<br />

é forma<strong>do</strong> por componentes bióticos<br />

e abióticos, explican<strong>do</strong> resumidamente cada<br />

um destes termos; num segun<strong>do</strong> momento<br />

apresentou-se o vídeo A turma da Clarinha e<br />

o ciclo da água (2008) que trata da água, de<br />

como este bem natural se apresenta na natureza,<br />

sua importância, como ocorre o processo de<br />

tratamento, a importância <strong>do</strong> uso de esgotos e<br />

a questão <strong>do</strong> desperdício de água.<br />

Após esses procedimentos, foram<br />

apresentadas temáticas relacionadas ao solo, ar<br />

e as principais formas de contaminação, sempre<br />

buscan<strong>do</strong> exemplos que permitiam a reflexão<br />

sobre atitudes cotidianas. Explicou-se, também,<br />

o que são cadeias alimentares, a fim de promover<br />

o entendimento de que to<strong>do</strong>s os organismos são<br />

importantes na manutenção <strong>do</strong> ecossistema.<br />

Durante a explicação os alunos fizeram alguns<br />

questionamentos, conforme se pode verificar na<br />

fala a seguir:<br />

Mas professora então até a cobra que<br />

é tão malvada e o tubarão são importantes!<br />

Como fazer então se uma cobra<br />

entrar na minha casa, já que ela é importante,<br />

não posso matar! A6.<br />

Durante a organização <strong>do</strong> conhecimento,<br />

verificou-se que houve um confronto<br />

entre as ideias prévias <strong>do</strong>s alunos e a busca pela<br />

aplicação prática <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s,<br />

conforme exemplifica<strong>do</strong> nas falas <strong>do</strong>s alunos<br />

abaixo:<br />

Já que o uso de agrotóxicos é uma forma<br />

de poluição <strong>do</strong> ar, como devemos fazer<br />

então A7.<br />

Mas na minha cidade só tem fossa, como<br />

fazer para colocar esgoto A8.<br />

Falou-se também sobre o lixo e os problemas<br />

envolvi<strong>do</strong>s nesta questão, com o apoio<br />

<strong>do</strong> vídeo Tá limpo! de Christina Koening (2009),<br />

que mostra os problemas relaciona<strong>do</strong>s ao lixo,<br />

como enchentes, perda da boa aparência e <strong>do</strong>enças<br />

trazidas por vetores que se instalam nos<br />

lixos. Neste mesmo vídeo ao se dar conta destes<br />

problemas, os personagens encontraram uma<br />

boa solução: fizeram separação de lixo e com isso<br />

empregaram pessoas (diminuin<strong>do</strong> a miséria) e<br />

arrecadaram fun<strong>do</strong>s para aquisição de produtos<br />

necessários para eles, como ferramentas, livros<br />

e panelas para as escolas <strong>do</strong> Bairro. Este vídeo<br />

ficou bem contextualiza<strong>do</strong> e, quan<strong>do</strong> iniciada a<br />

discussão, novamente os alunos se mostraram<br />

muito interessa<strong>do</strong>s queren<strong>do</strong> participar, comentar,<br />

como pode ser verifica<strong>do</strong> nas falas abaixo:<br />

Tinha ratos e baratas no lixo e eles transmitem<br />

<strong>do</strong>enças por que levam micróbios<br />

no corpo. A9.<br />

O médico falou que tinham muitos<br />

casos de <strong>do</strong>enças por que tinha muito<br />

lixo ali. A10.<br />

Após esses questionamentos colocamos<br />

questões referentes ao consumo relaciona<strong>do</strong><br />

ao desperdício. De acor<strong>do</strong> Brügger (1994), os<br />

problemas ambientais e sociais liga<strong>do</strong>s ao lixo<br />

têm origem numa mentalidade instrumental refletida<br />

em comportamentos utilitaristas, próprios<br />

de uma sociedade que se organiza de maneira<br />

insustentável. Enfrentar tais problemas, sob o<br />

ponto de vista da autora, implica a construção<br />

de uma crítica profunda a to<strong>do</strong> um modelo de<br />

civilização, pois o privilégio da<strong>do</strong> a soluções<br />

técnicas consolida a alienação e leva à crença<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

59


VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

equivocada de que a produção <strong>do</strong> lixo é algo<br />

natural, que seus problemas afetam a to<strong>do</strong>s indistintamente<br />

e que a sua correta manipulação<br />

viabiliza a reprodução <strong>do</strong>s padrões atuais de<br />

organização social.<br />

Portanto, no trabalho com a questão<br />

<strong>do</strong> lixo, os professores enfatizam os processos de<br />

coleta seletiva e reciclagem como melhor solução<br />

para amenizar o problema. Dessa forma deixam<br />

de refletir sobre questões como a educação <strong>do</strong><br />

consumo, desperdício e reutilização <strong>do</strong>s produtos<br />

que precedem a questão da reciclagem <strong>do</strong> lixo.<br />

De acor<strong>do</strong> com Cinquetti e Carvalho<br />

(2003):<br />

para a proteção de nascentes e rios. Conforme<br />

defende Krasilchik (2008), o uso de demonstrações<br />

é útil para que to<strong>do</strong>s os alunos possam<br />

visualizar o mesmo fenômeno ao mesmo tempo<br />

e serve como ponto de partida para discussão.<br />

Para esta modalidade didática, utilizamos a maquete<br />

de um rio em que uma margem continha<br />

mata ciliar e a outra não. Assim, ao despejarmos<br />

água sobre as margens (simbolizan<strong>do</strong> a chuva)<br />

ficou evidente que onde não tinha mata ciliar a<br />

terra era levada para dentro <strong>do</strong> rio, como pode<br />

ser visualiza<strong>do</strong> na Figura 3.<br />

60<br />

Causam, por exemplo, menos impacto<br />

ambiental eliminan<strong>do</strong> o consumo de<br />

descartáveis (filtro de café e guardanapos,<br />

fraldas, canu<strong>do</strong>s, copos plásticos)<br />

<strong>do</strong> que reciclan<strong>do</strong> ou reutilizan<strong>do</strong> esses<br />

produtos. A reciclagem de qualquer<br />

material implica impactos ambientais,<br />

pelo gasto de energia no processo industrial<br />

e no transporte <strong>do</strong>s materiais<br />

recicláveis, pelos recursos naturais<br />

adicionais no caso <strong>do</strong>s materiais que<br />

requerem adição de matéria-prima e<br />

por ser uma atividade poluente (utiliza<br />

solventes e alvejantes).(CINQUETTI;<br />

CARVALHO, 2003, p.6)<br />

Ainda com base nos slides, foram<br />

abordadas as principais interferências humanas<br />

no ecossistema, como o tráfico de animais e<br />

desmatamento. Da mesma forma que em outros<br />

momentos, houve grande participação <strong>do</strong>s<br />

alunos. Após estas explicações e discussões com<br />

os alunos, sobre to<strong>do</strong>s esses assuntos, foram<br />

desenvolvidas algumas atividades que os auxiliaram<br />

em sua compreensão das perspectivas<br />

apresentadas.<br />

Para complementar a apresentação <strong>do</strong>s<br />

slides, quanto à discussão sobre a água, utilizou-<br />

-se uma prática demonstrativa de mata ciliar, a<br />

fim de demonstrar a importância da vegetação<br />

FIGURA 3 - PRÁTICA DEMONSTRATIVA DA MATA CILIAR<br />

Durante essa prática, discutiu-se com<br />

os alunos qual é a situação da mata ciliar das<br />

nascentes e rios que conhecem, se existe, se<br />

está sen<strong>do</strong> cuidada e o que poderiam fazer em<br />

relação a isso, ten<strong>do</strong> em vista que grande parte<br />

desses alunos reside na área rural ou próximos a<br />

ela; local onde se encontra um grande número de<br />

nascentes, córregos e rios que precisam ser preserva<strong>do</strong>s.<br />

O que foi esclarece<strong>do</strong>r para os alunos,<br />

que haviam aponta<strong>do</strong> alguns problemas, como:<br />

Aqui perto tem um rio que tá enchen<strong>do</strong><br />

de terra por que não tem mata ciliar.<br />

A11.<br />

Às vezes os animais vão beber água no<br />

rio e destroem a mata ciliar. A12.<br />

Em seguida foi realizada a atividade<br />

Teia ecológica, adaptada de Bottega (2009),<br />

também contextualizada com a apresentação<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR


VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

<strong>do</strong>s slides. Essa atividade foi introduzida com a<br />

seguinte indagação aos alunos: “Qual organismo<br />

é mais importante na cadeia alimentar” e teve<br />

como objetivo observar se os alunos conseguiriam<br />

propor formas de preservação <strong>do</strong> meio<br />

ambiente. Os alunos foram reuni<strong>do</strong>s em círculo<br />

e a cada um foi distribuí<strong>do</strong> o nome de um animal<br />

ou planta. Com auxílio de um barbante foram se<br />

forman<strong>do</strong> as teias, à medida que cada um <strong>do</strong>s<br />

componentes ia se revelan<strong>do</strong>. A Figura 4 ilustra<br />

esta atividade.<br />

ambiente. Neste momento também se verificou<br />

o grau de sensibilização <strong>do</strong>s alunos com a<br />

questão ambiental, pois durante a atividade,<br />

estes deveriam citar ações/práticas cotidianas<br />

que possibilitassem a preservação ambiental e<br />

pudessem ser realizadas na escola, em casa e em<br />

qualquer lugar, caso eles não soubessem tinham<br />

que “pagar” um castigo, como: voltar 3 casas ou<br />

passar a vez, entre outros.<br />

FIGURA 5 - ATIVIDADE TRILHA AMBIENTAL<br />

FIGURA 4 - ATIVIDADE TEIA ALIMENTAR COM ALUNOS DE<br />

UM DOS COLÉGIOS<br />

Ao terminar a formação da teia, o<br />

condutor da atividade puxava de repente a<br />

parte <strong>do</strong> barbante que estava seguran<strong>do</strong>, dessa<br />

forma desestabilizava toda a teia. Assim, a atividade<br />

foi encerrada, fazen<strong>do</strong>-se uma analogia<br />

ao que acontece quan<strong>do</strong> há um desequilíbrio no<br />

ecossistema: to<strong>do</strong>s são afeta<strong>do</strong>s. Como as falas<br />

demonstradas a seguir:<br />

Ah! Entendi por que cada um precisa <strong>do</strong><br />

outro, de certo mo<strong>do</strong> a capivara precisa<br />

da onça e a onça da capivara! Então<br />

to<strong>do</strong>s são importantes! A9.<br />

Em seguida realizou-se a atividade<br />

lúdica da Trilha ambiental, para promover a<br />

aplicação <strong>do</strong> conhecimento, pois esta atividade<br />

tinha por objetivo observar se os alunos conseguiriam<br />

propor formas de preservação <strong>do</strong> meio<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

Essa atividade levou os alunos a refletirem<br />

sobre como poderiam incorporar ao<br />

seu cotidiano o que aprenderam, e foi o ápice<br />

de todas as aplicações, pois, por meio dela,<br />

verificou-se que os objetivos <strong>do</strong> projeto quanto<br />

à temática Educação Ambiental foram atingi<strong>do</strong>s,<br />

principalmente porque os alunos demonstraram<br />

compreensão <strong>do</strong>s conhecimentos trabalha<strong>do</strong>s,<br />

como pode ser constata<strong>do</strong> nas inúmeras sugestões<br />

de ações que surgiram, a partir deles:<br />

Produzir menos lixo.<br />

Reaproveitar água da máquina para<br />

lavar as calçadas.<br />

Não pescar quan<strong>do</strong> os peixes forem se<br />

reproduzir.<br />

Economizar água.<br />

Fazer adubo com os lixos da cozinha.<br />

Não deixar a torneira ligada enquanto<br />

lava a louça.<br />

Não jogar gordura no ralo.<br />

Separar o lixo.<br />

Fechar vazamentos em canos.<br />

Quan<strong>do</strong> tomar banho desligar o chuveiro<br />

para ensaboar e depois ligar.<br />

61


VIEIRA, L. P. et al. Experiências no programa universidade sem fronteiras: contribuição de um módulo didático de educação ambiental...<br />

62<br />

Quan<strong>do</strong> for lavar as verduras não deixar<br />

muita água vazar.<br />

Espera-se que os alunos possam realizar<br />

essas ações para amenizar os diversos problemas<br />

ambientais, pois, no momento da aplicação <strong>do</strong><br />

módulo eles se mostraram bastante sensibiliza<strong>do</strong>s<br />

com to<strong>do</strong>s os assuntos trabalha<strong>do</strong>s.<br />

A experiência vivenciada neste projeto<br />

foi de extrema importância para a formação inicial<br />

<strong>do</strong>s acadêmicos envolvi<strong>do</strong>s, porquanto possibilitou<br />

maior contato com a futura área de atuação,<br />

por meio <strong>do</strong> projeto de extensão, o que permitiu,<br />

também, grande envolvimento com profissionais<br />

que atuam na área de Ensino, ocorren<strong>do</strong> intensa<br />

troca de experiências, além de ser um trabalho<br />

desenvolvi<strong>do</strong> com municípios de baixo IDH, que<br />

revela diferentes quadros da sociedade, proporcionan<strong>do</strong><br />

a prática real da extensão.<br />

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Texto recebi<strong>do</strong> em 10 de setembro de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 5 de abril de 2010.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 53-62, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

Beginnings of Rural Extension in the state of Paraná, Brazil<br />

Comienzos de la Extensión Rural en el esta<strong>do</strong> de Paraná, Brasil<br />

Hugo Moura Tavares 1<br />

RESUMO<br />

O presente artigo tem como objetivo resgatar os primórdios da extensão rural paranaense. Não<br />

tem a pretensão de ser um estu<strong>do</strong> crítico da história <strong>do</strong> extensionismo rural, mas, apenas, destacar<br />

alguns fatos e práticas desta modalidade educativa. Dentre eles, a criação <strong>do</strong> Escritório Técnico de<br />

Agricultura, ETA 15, o trabalho com as famílias <strong>do</strong>s agricultores, com os jovens, com as cooperativas<br />

e as estratégias de comunicação utilizadas.<br />

Palavras-chave: extensão rural; extensão rural paranaense; escritório técnico de agricultura; cooperativas<br />

rurais.<br />

ABSTRACT<br />

This article aims to rescue the beginnings of agricultural extension of Paraná. It is not intended to<br />

be a critical study of the history of outreaching rural, but only to highlight some facts and practices<br />

of this type of education. Among them, the creation of the Technical Office for Agriculture, ETA<br />

15, working with farm families, with youth, with cooperatives and communication strategies used.<br />

Keywords: Agricultural extension; agricultural extension of Paraná; technical office for agriculture;<br />

rural cooperatives.<br />

RESUMEN<br />

Este artículo tiene como objetivo rescatar a los inicios de extensión agrícola en el Esta<strong>do</strong> de Paraná.<br />

No pretende ser un estudio crítico de la historia de contactos directos rurales, pero sólo para poner<br />

de relieve algunos hechos y las prácticas de este tipo de educación. Entre ellos, la creación de la<br />

Oficina Técnica de Agricultura, ETA 15, trabajan<strong>do</strong> con las familias de agricultores, con los jóvenes,<br />

con las cooperativas y las estrategias de comunicación utilizadas.<br />

Palabras-clave: extensión rural; extensión rural en Paraná; oficina técnica del cultivo; cooperativas<br />

rurales.<br />

1 Doutoran<strong>do</strong> em História, UFPR. Rua Nostradamus, 138, fone 3350-9957, hugomour@yahoo.com.br<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

63


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

No Brasil, a atividade extensionista<br />

rural, de maneira mais sistematizada, teve como<br />

marco o surgimento da Escola Superior de Agricultura<br />

e Medicina Veterinária em Viçosa, Minas<br />

Gerais. Fundada em 1928, pelo norte-americano<br />

Peter Henry Rolfs, foi pioneira na prática <strong>do</strong><br />

extensionismo no Brasil. Em 1930, instituiu a<br />

Semana <strong>do</strong> Fazendeiro na qual os agricultores<br />

e esposas recebiam, em Viçosa, aulas práticas<br />

com demonstrações de méto<strong>do</strong>s em assuntos<br />

agropecuários e economia <strong>do</strong>méstica. Esses cursos<br />

eram cuida<strong>do</strong>samente reuni<strong>do</strong>s em folhetos<br />

e divulga<strong>do</strong>s através de circulares de extensão.<br />

Na década de 1940, três experiências<br />

desenvolvidas pelo Ministério da Agricultura,<br />

com o apoio <strong>do</strong>s órgãos estaduais, merecem<br />

destaque: as Semanas Ruralistas, os Postos<br />

Agropecuários e as Missões Rurais.<br />

As Semanas Ruralistas eram palestras e<br />

demonstrações práticas ministradas por técnicos<br />

que se deslocavam para o interior <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s<br />

com o intuito de transmitir seus conhecimentos<br />

ao povo rural.<br />

Os Postos Agropecuários eram pequenas<br />

fazendas-modelo nas quais equipes formadas<br />

por no mínimo um agrônomo e um veterinário<br />

procuravam prestar assistência aos agricultores<br />

da região servida pelo Posto. Mudas, sementes<br />

selecionadas e reprodutores podiam ser <strong>do</strong>a<strong>do</strong>s,<br />

empresta<strong>do</strong>s ou vendi<strong>do</strong>s aos agricultores.<br />

Desenvolvidas a partir de 1949, as<br />

Missões Rurais envolviam os Ministérios da<br />

Agricultura, Educação e Saúde. Formadas<br />

por equipes interdisciplinares compostas por<br />

agrônomos, médicos, sociólogos, psicólogos e<br />

assistentes sociais tornaram-se verdadeiras caravanas<br />

de assistência rural. Porém, “duraram<br />

pouco e foram das mais onerosas e pouco úteis<br />

experiências visan<strong>do</strong> ajudar as famílias rurais.<br />

As Missões Rurais morreram antes da idade <strong>do</strong><br />

uso da razão”. 2<br />

Paralelamente a essas experiências,<br />

merecem destaque duas realizadas em 1948,<br />

2 OLINGER, Glauco. Ascensão e decadência da extensão rural<br />

no Brasil. Florianópolis: EPAGRI, 1996, p.46.<br />

64<br />

que iriam mudar a história da extensão rural<br />

no Brasil: o Programa Piloto de Santa Rita <strong>do</strong><br />

Passa Quatro em São Paulo e a fundação da Associação<br />

de Crédito e Assistência Rural (ACAR)<br />

em Minas Gerais. Ambas intermediadas pela<br />

American International Association for Economic<br />

and Social Development (AIA), uma instituição<br />

filantrópica criada nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s pelos<br />

irmãos Nelson e David Rockefeller e que atuava<br />

em vários países latino-americanos.<br />

O programa desenvolvi<strong>do</strong> em Santa<br />

Rita <strong>do</strong> Passa Quatro abrangia<br />

assuntos de agropecuária e economia<br />

<strong>do</strong>méstica e tinha por objetivo aumentar<br />

a produção, a produtividade e a renda<br />

das famílias rurais, garantin<strong>do</strong>-lhes um<br />

melhor nível de vida. Marcos [engenheiro<br />

agrônomo responsável] a<strong>do</strong>tava,<br />

como processo pedagógico, a meto<strong>do</strong>logia<br />

educativa da extensão. 3<br />

Em 1946, o Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais vivia<br />

um perío<strong>do</strong> de dificuldades econômicas. Seu<br />

novo governa<strong>do</strong>r eleito, ten<strong>do</strong> consciência <strong>do</strong>s<br />

problemas e procuran<strong>do</strong> superá-los, elaborou<br />

um Plano de Recuperação Econômica e Fomento<br />

da Produção. O plano propunha uma série<br />

de medidas que priorizavam todas as atividades<br />

econômicas e, dentre elas, as agropecuárias. Em<br />

resumo, havia a consciência de que o êxo<strong>do</strong><br />

rural estava comprometen<strong>do</strong> seriamente a produtividade<br />

agrícola mineira e que a efetivação<br />

de propostas concretas nesta área refletiria na<br />

economia <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Nesse contexto, o governo<br />

mineiro encontrava-se extremamente receptivo<br />

à cooperação daqueles que pudessem oferecer<br />

apoio técnico e financeiro para a solução <strong>do</strong>s<br />

seus problemas. Em 6 de dezembro de 1948, era<br />

firma<strong>do</strong> um convênio entre o Governo de Minas<br />

Gerais e a AIA, crian<strong>do</strong> a Associação de Crédito<br />

e Assistência Rural, que iniciou suas atividades<br />

em janeiro de 1949:<br />

3 OLINGER, Glauco. Ascensão..., p. 47.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

Em princípios de 1949, um punha<strong>do</strong><br />

de brasileiros e de norte-americanos,<br />

especialistas em agricultura e em economia<br />

<strong>do</strong>méstica, empreendeu uma nova<br />

tarefa em três comunidades rurais <strong>do</strong><br />

centro e <strong>do</strong> sul de Minas Gerais.<br />

Seis destes técnicos – jovens brasileiros<br />

– fizeram residência nessas pequenas<br />

cidades. Os especialistas norte-americanos<br />

iniciaram uma série ininterrupta de<br />

viagens entre esses vilarejos e o escritório<br />

central de Belo Horizonte, indican<strong>do</strong> as<br />

diretrizes e preparan<strong>do</strong> uma expansão<br />

<strong>do</strong> programa.<br />

Sua tarefa: levantar o nível de vida rural<br />

em Minas Gerais.<br />

O méto<strong>do</strong>: ajudar a população rural a<br />

ajudar a si própria.<br />

Os instrumentos: crédito aos pequenos<br />

lavra<strong>do</strong>res, assistência técnica, ensino<br />

coletivo – ministra<strong>do</strong> em cada comunidade<br />

por um agrônomo e por uma<br />

supervisora <strong>do</strong>méstica.<br />

Esta pequena equipe constituiu o núcleo<br />

a partir <strong>do</strong> qual a Associação de Crédito<br />

e Assistência Rural (ACAR) iniciou sua<br />

ação. 4<br />

Tanto o Programa desenvolvi<strong>do</strong><br />

em Santa Rita <strong>do</strong> Passa Quatro bem como os<br />

leva<strong>do</strong>s a cabo pela ACAR de Minas Gerais,<br />

repercutiram nacionalmente, influencian<strong>do</strong> a<br />

criação de experiências semelhantes em outros<br />

Esta<strong>do</strong>s. Foi assim que surgiu no Nordeste, em<br />

1954, a Associação Nordestina de Crédito e<br />

Assistência Rural-ANCAR e no Rio Grande <strong>do</strong><br />

Sul, em 1955, a Associação Sulina de Crédito e<br />

Assistência Rural-ASCAR.<br />

Em 1956, com o objetivo de coordenar<br />

os Serviços de Extensão Rural no país, foi criada<br />

a Associação Brasileira de Crédito e Assistência<br />

Rural-ABCAR.<br />

Ainda na década de 1950, os governos<br />

brasileiro e americano assinavam o Acor<strong>do</strong> Geral<br />

de Cooperação Técnica que previa uma cooperação<br />

recíproca de intercâmbio de méto<strong>do</strong>s,<br />

4 MINAS GERAIS. ACAR. Relatório 1950/51, p.3. Cita<strong>do</strong> em<br />

DA FONSECA, Maria Teresa Lousa. A extensão rural no Brasil,<br />

um projeto educativo para o capital. São Paulo: Edições Loyola,<br />

1985, p. 82.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

conhecimentos técnicos e atividades afins. Em<br />

consequência desse Acor<strong>do</strong> Geral, em 1953, foi<br />

assina<strong>do</strong> um convênio com o governo americano<br />

crian<strong>do</strong>, com sede no Rio de Janeiro, o Escritório<br />

Técnico de Agricultura - E.T.A. - com a missão de<br />

desenvolver projetos “em educação e pesquisas<br />

agrícolas de conservação de recursos naturais,<br />

de fomento da produção agrícola, incluin<strong>do</strong> o<br />

planejamento de armazéns e silos e, finalmente,<br />

da extensão rural”. 5<br />

O Paraná acompanhou a tendência<br />

nacional. Em 1951, por exemplo, o<br />

governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> afirmava que a assistência<br />

ao trabalha<strong>do</strong>r rural era um <strong>do</strong>s pontos fundamentais<br />

<strong>do</strong> plano de governo, pois não havia<br />

“em to<strong>do</strong> o Brasil, oportunidade melhor que a<br />

hora vivida pelo Paraná em suas zonas rurais<br />

para o início dessa assistência”. 6<br />

Reconhecen<strong>do</strong> os benefícios trazi<strong>do</strong>s<br />

pelos serviços de Extensão Rural, o governo estadual<br />

programou uma série de medidas visan<strong>do</strong><br />

à melhoria das condições de vida da população<br />

rural, tais como a criação da Fundação de Assistência<br />

ao Trabalha<strong>do</strong>r Rural, a implantação das<br />

Casas Rurais, a lei <strong>do</strong> Fun<strong>do</strong> de Equipamento<br />

Agropecuário, dentre outras.<br />

A Fundação de Assistência ao Trabalha<strong>do</strong>r<br />

Rural, nesse perío<strong>do</strong>, era a<br />

principal organização voltada para o<br />

agricultor, desenvolven<strong>do</strong> uma série de<br />

atividades como cursos (horticultura,<br />

corte e costura, habilidades <strong>do</strong>mésticas<br />

e trabalhos manuais), ensinos religiosos,<br />

morais e cívicos, alfabetização, higiene,<br />

recreação e assistência técnica. Oferecia<br />

crédito para a aquisição de sementes,<br />

pequenas máquinas, adubos, inseticidas,<br />

fungicidas e meios de transporte.<br />

Prestava assistência veterinária, jurídica,<br />

5 RELATÓRIO. The Avail Development of Brazil’s Cooperative<br />

Agriculture Extension Service, p.2. Cita<strong>do</strong> em DA FONSECA, Maria<br />

Teresa Lousa. A extensão rural no Brasil, um projeto educativo<br />

para o capital. São Paulo: Edições Loyola, 1985, p. 87.<br />

6 Mensagem apresentada à Assembleia Legislativa <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

por ocasião da abertura da sessão legislativa ordinária de 1957 pelo<br />

Senhor Bento Munhoz da Rocha Neto, Governa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Paraná.<br />

Curitiba – Paraná, 1951. p. 6.<br />

65


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

66<br />

médica, organizava Semanas Ruralistas<br />

e dirigia Clubes Agrícolas.<br />

Foi nesse contexto, que no dia 20 de<br />

janeiro de 1956, foi assina<strong>do</strong> um contrato, com<br />

a duração de cinco anos, entre<br />

a Fundação de Assistência ao Trabalha<strong>do</strong>r<br />

Rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, o<br />

Departamento de Fronteiras <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> Paraná e o Escritório Técnico de<br />

Agricultura com o fim especial de aumentar<br />

a produtividade o obter melhores<br />

condições de vida para a população<br />

rural <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, usan<strong>do</strong><br />

os méto<strong>do</strong>s de Extensão, Economia<br />

Domés tica e Crédito Supervisiona<strong>do</strong>. 7<br />

Estava cria<strong>do</strong> o ETA, Projeto número 15.<br />

Para diretor <strong>do</strong> Projeto foi designa<strong>do</strong> o<br />

Doutor Lívio Luiz de Almeida que junto com a<br />

sua primeira equipe de supervisores, “constituída<br />

de 11 moças e 9 agrônomos, pode iniciar a<br />

instalação de sete escritórios locais. Três foram<br />

localiza<strong>do</strong>s na região extremo-oeste, os outros<br />

quatro, na região centro-sul.” 8<br />

Vários eram os obstáculos para desenvolver<br />

o programa de trabalho e, dentre eles,<br />

o fato de que os méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s – extensão<br />

rural e economia <strong>do</strong>méstica – eram pouco difundi<strong>do</strong>s<br />

no Paraná. Estabelecer um trabalho de<br />

campo que superasse a assistência e o fomento<br />

então vigentes bem como treinar o pessoal técnico<br />

envolvi<strong>do</strong> foram os primeiros desafios <strong>do</strong><br />

ETA 15.<br />

Cada escritório local atendia um ou<br />

mais municípios próximos. A equipe mínima<br />

era composta por um extensionista rural, uma<br />

extensionista de economia <strong>do</strong>méstica e um ou<br />

uma auxiliar de escritório. As instalações eram<br />

simples e, na concepção vigente, o bom exten-<br />

7 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PARANÁ. Curitiba 12<br />

jun. 1956, p. 5<br />

8 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE AGRICULTURA BRASIL-<br />

-ESTADOS UNIDOS. Relatório de atividades 1956. Rio de Janeiro,<br />

1956.<br />

sionista não era aquele que ficava no Escritório,<br />

mas o que estava no campo com o agricultor.<br />

O primeiro Escritório Central <strong>do</strong> ETA<br />

Projeto 15 foi instala<strong>do</strong> na Rua José Loureiro,<br />

307. Essa casa (já demolida), construída por<br />

volta de 1929, foi projetada pelo escultor paranaense<br />

João Turin, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> então renoma<strong>do</strong><br />

médico local, Bernar<strong>do</strong> Leinig.<br />

Livio Luiz de Almeida, após regressar<br />

<strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de treinamento em Ipanema (Projeto<br />

n.° 06), onde foi formada a primeira turma de<br />

Supervisores, constituída de 11 economistas <strong>do</strong>mésticas<br />

e 9 agrônomos, pode iniciar a instalação<br />

<strong>do</strong>s primeiros sete escritórios paranaenses. Três<br />

foram localiza<strong>do</strong>s na região extremo-oeste, os<br />

outros quatro, na região centro-sul, em Tole<strong>do</strong>,<br />

Foz <strong>do</strong> Iguaçu, São Mateus <strong>do</strong> Sul, Rebouças,<br />

Prudentópolis, Campo Largo e União da Vitória. 9<br />

Em 1957, o ETA possuía 10 escritórios<br />

locais nos municípios de Campo Largo, Campo<br />

Mourão, Foz <strong>do</strong> Iguaçu, Pato Branco, Prudentópolis,<br />

Rebouças, Rio Azul, São Mateus <strong>do</strong> Sul,<br />

Tole<strong>do</strong> e União da Vitória.<br />

O Escritório Técnico de Agricultura –<br />

E.T. A. n.° 15 tinha como objetivos:<br />

a. Prestar assistência técnica aos lavra<strong>do</strong>res e<br />

cria<strong>do</strong>res nos moldes de um serviço de extensão;<br />

b. auxiliar os agricultores no levantamento da<br />

sua situação organizan<strong>do</strong> planos para melhorar<br />

o aproveitamento de seus recursos;<br />

c. orientá-los tecnicamente na execução desses<br />

planos;<br />

d. instruí-los como obter crédito;<br />

e. supervisionar uso <strong>do</strong> crédito;<br />

f. rientá-los na colocação <strong>do</strong>s seus produtos;<br />

g. promover a organização de sociedades de<br />

classe e atividades sociais;<br />

h. assistir às famílias <strong>do</strong>s agricultores em economia<br />

<strong>do</strong>méstica;<br />

i. treinar agrônomos, veterinários e supervisoras<br />

<strong>do</strong>mésticas para execução desses trabalhos;<br />

9 Os técnicos responsáveis eram, respectivamente, Divon Scarpin,<br />

Wal<strong>do</strong>miro E. Cezar Valeixo, Nelson, Kochinski Hasselmann,<br />

Francisco Gouveia, José Augusto Wronski, Álvaro Albano San<strong>do</strong>val<br />

e Ivo Hauer.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

j. manter estreita ligação entre os agricultores e<br />

os serviços técnicos oficiais de forma que aqueles<br />

se beneficiem da assistência deste;<br />

k. promover a obtenção de informações que<br />

permitam a apuração das necessidades da agricultura<br />

e <strong>do</strong>s progressos consegui<strong>do</strong>s;<br />

l. manter um programa de propaganda áudio-<br />

-visual;<br />

m. executar outros trabalhos que forem julga<strong>do</strong>s<br />

necessários pelas Partes Contratantes. 10<br />

Os objetivos, seguin<strong>do</strong> o modelo<br />

nacional eram, para a realidade local, no mínimo<br />

audaciosos. Para alcançá-los inicou-se um<br />

programa nacional de capacitação que tinha<br />

como base os Centros de Treinamento.<br />

A extensão rural, pelas suas próprias<br />

características e, sobretu<strong>do</strong>, por utilizar méto<strong>do</strong>s<br />

de trabalho basea<strong>do</strong>s em princípios próprios,<br />

necessitava de pessoal especializa<strong>do</strong> e altamente<br />

treina<strong>do</strong>. Ten<strong>do</strong> em vista a necessidade de um<br />

treinamento adequa<strong>do</strong>, capaz de preparar o seu<br />

pessoal técnico para a execução de um trabalho<br />

repleto de problemas e de características inteiramente<br />

diferentes de outros sistemas assistenciais,<br />

é que foram desenvolvi<strong>do</strong>s o Pré-serviço e os<br />

Centros Regionais de Treinamento.<br />

Um <strong>do</strong>s primeiros e mais importantes<br />

Centros de Treinamento cria<strong>do</strong>s foi o da fazenda<br />

Ipanema, em Sorocaba (SP), que funcionou<br />

de 1955 a 1964. Seu corpo de instrutores era<br />

forma<strong>do</strong> por norte-americanos especialistas em<br />

extensão rural e crédito rural educativo, e brasileiros<br />

que ministravam os cursos mais aplica<strong>do</strong>s<br />

à agropecuária. Os primeiros extensionistas<br />

realizavam seus primeiros pré-serviços nessa<br />

instituição e os agentes paranaenses <strong>do</strong> Projeto<br />

n.° 15 não foram exceção:<br />

Após uma seleção foi realiza<strong>do</strong> um<br />

treinamento de cerca de três meses<br />

em Sorocaba na Fazenda Ipanema,<br />

<strong>do</strong> Ministério da Agricultura, <strong>do</strong> qual<br />

participavam além <strong>do</strong>s agrônomos<br />

10 DIÁRIO OFICIAL DO ESTADO DO PARANÁ. Curitiba 12<br />

jun. 1956, p. 5-6.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

também as moças que iriam prestar<br />

orientações às <strong>do</strong>nas de casa <strong>do</strong> meio<br />

rural. Nesse “Pré-Serviço” contamos<br />

com a orientação de grande número de<br />

técnicos norte-americanos, funcionários<br />

<strong>do</strong> ETA (Escritório Técnico de Agricultura).<br />

A maioria das aulas era através<br />

de tradução simultânea. Nesse perío<strong>do</strong><br />

tomamos conhecimento da filosofia da<br />

Extensão Rural.<br />

Após os três meses retornamos, os<br />

futuros extensionistas, à Curitiba onde já encontramos<br />

a primeira sede <strong>do</strong> ETA – Projeto 15, à<br />

Rua José Loureiro, 307. 11<br />

Após uma seleção prévia na Secretaria<br />

de Agricultura, foi escolhi<strong>do</strong> o primeiro<br />

grupo de engenheiros agrônomos e economistas<br />

<strong>do</strong>mésticas para realizarem o primeiro Pré-<br />

-Serviço na Fazenda Ipanema em São Paulo.<br />

O agrônomo Rubens de Moura Rezende assim<br />

recor<strong>do</strong>u o fato:<br />

...pegar um técnico recém-saí<strong>do</strong> ou já<br />

forma<strong>do</strong> na escola e dar para ele noções<br />

<strong>do</strong> que era a extensão rural, como funcionava<br />

a extensão rural, sabe, que não<br />

era apenas um fomento. Então com toda<br />

aquela tecnologia americana, e já com<br />

tecnologia brasileira das experiências<br />

<strong>do</strong> Nordeste e de Minas, foi feito um<br />

primeiro pré-serviço para o pessoal <strong>do</strong><br />

Paraná.<br />

Fui um <strong>do</strong>s escolhi<strong>do</strong>s para fazer parte<br />

desse grupo que ia fazer o pré-serviço<br />

lá na fazenda Ipanema. Não sabíamos<br />

nada como é que era o serviço, não tínhamos<br />

idéia e fomos pra poder receber<br />

a informação <strong>do</strong> que era a extensão<br />

rural, <strong>do</strong> que é que se tratava, qual era a<br />

filosofia <strong>do</strong> trabalho, o que nós devíamos<br />

evitar, o que nós devíamos enfatizar, pra<br />

fazer um serviço novo, completamente<br />

novo.<br />

A parte teórica era a mesma para os<br />

“moços e moças”. A parte de filosofia,<br />

<strong>do</strong> trabalho, tu<strong>do</strong> isso, as turmas eram<br />

11 REZENDE, Rubens de Moura. Depoimento ACARPA. A<br />

História que a Extensão Conta. Curitiba: Assessoria de Relações<br />

Públicas e Imprensa, 1981. (sem paginação)<br />

67


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

juntas, agora, naturalmente, na parte de<br />

economia <strong>do</strong>méstica elas se separavam.<br />

Elas tinham uma aula sobre alimentação,<br />

melhoramento da alimentação da família,<br />

melhoramento da higiene da casa,<br />

a confecção de poço morto, não jogar<br />

resíduos da cozinha pela janela, fazer<br />

casinhas sanitárias, tu<strong>do</strong> isso elas tinham<br />

orientação, confecção de peças de<br />

roupa feita na casa com uma máquina<br />

de costura simples, fazer um colchão de<br />

palha com a palha que eles tinham de<br />

milho, tu<strong>do</strong> isso havia essa orientação.<br />

Era muito interessante esse serviço, mas<br />

a parte filosófica da extensão, o trabalho<br />

em si era em conjunto.<br />

Acho que ninguém, ninguém da minha<br />

turma, tinha contato com o meio rural,<br />

realmente tivemos contato através <strong>do</strong><br />

curso, <strong>do</strong> pré-serviço, e fomos enfrentar<br />

de peito aberto sem saber o que vinha<br />

pela frente.” 12<br />

<strong>do</strong> tipo de trabalho exerci<strong>do</strong> pelo supervisor e<br />

supervisora extensionistas, o caráter educativo<br />

<strong>do</strong> trabalho e a crença em alternativas comunitárias<br />

de autoajuda.<br />

Extensão Rural era, na visão <strong>do</strong> momento,<br />

um empreendimento educativo assumin<strong>do</strong><br />

características de ensino informal, isto é,<br />

“extramuros”. Para um extensionista qualquer<br />

lugar era um lugar de aprendiza<strong>do</strong> e o importante<br />

era “ensinar a fazer fazen<strong>do</strong>”.<br />

A base material <strong>do</strong> processo<br />

educativo era o núcleo familiar <strong>do</strong> agricultor. A<br />

família rural era a unidade sociológica a partir da<br />

qual se esperava a transformação. Assim, era de<br />

extrema importância para o sucesso <strong>do</strong> projeto<br />

convencer e comprometer to<strong>do</strong> o núcleo familiar.<br />

Em 1957, o ETA 15 informava em seu<br />

relatório de atividades:<br />

Técnicos norte-americanos e brasileiros<br />

apresentaram a meto<strong>do</strong>logia e as estratégias que<br />

marcariam os primeiros trabalhos da extensão<br />

rural: economia <strong>do</strong>méstica, juventude rural, clubes<br />

4-S, demonstração de resulta<strong>do</strong>s, liderança<br />

no campo, comunicação rural, levantamento<br />

da realidade <strong>do</strong> município, entre outras. Toda a<br />

parte teórica era acompanhada de aulas práticas,<br />

como as de mecanização, conservação <strong>do</strong> solo,<br />

avicultura, pecuária e apicultura.<br />

Os alunos e alunas eram avalia<strong>do</strong>s durante<br />

o curso inteiro e deviam demonstrar para<br />

a turma e professores tu<strong>do</strong> o que aprendiam,<br />

no entanto não sabiam que estavam sen<strong>do</strong><br />

avalia<strong>do</strong>s constantemente. Ao final <strong>do</strong> intenso<br />

treinamento, a primeira turma de Supervisores,<br />

constituída de 11 moças e 9 agrônomos, estava<br />

preparada para instalar os primeiros escritórios<br />

no Paraná.<br />

Na época <strong>do</strong> Projeto 15, o modelo de<br />

extensão proposto era o difusionista-inova<strong>do</strong>r.<br />

Esse tinha como características principais a<br />

importância da experimentação, a valorização<br />

12 REZENDE, Rubens de Moura. Rubens de Moura Rezende.<br />

Curitiba, 26 jan. 2006. Entrevista concedida a Hugo Moura Tavares.<br />

68<br />

A educação já foi definida como sen<strong>do</strong><br />

um processo que consiste em orientar a<br />

experiência de mo<strong>do</strong> tal, que produza<br />

modificações nos conhecimentos, na<br />

habilidade e na atitude das pessoas. Óra<br />

é evidente, que a extensão rural visa<br />

precisamente êsse objetivo, em razão<br />

<strong>do</strong> que é classificada como méto<strong>do</strong><br />

educativo.<br />

Há que convir, contu<strong>do</strong>, que não é fácil<br />

conseguir-se a alteração das atitudes,<br />

principalmente em pessoas adultas,<br />

particularmente no ambiente rural,<br />

onde tradicionalismo primitivo, longe<br />

de ser simplesmente conserva<strong>do</strong>r é na<br />

realidade profundamente rotineiro.<br />

Por isso, dedica a extensão rural especial<br />

atenção à educação da juventude, eis<br />

que a mentalidade da criança ou <strong>do</strong><br />

a<strong>do</strong>lescente é essencialmente moldável<br />

e suscetível a aprender com muito maior<br />

facilidade, as evoluções e o progresso<br />

das atividades humanas. 13<br />

O ETA 15 iniciou seu trabalho extensionista<br />

ten<strong>do</strong> como foco a agricultura familiar ou,<br />

como era chama<strong>do</strong> na época, o pequeno agricul-<br />

13 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE AGRICULTURA BRASIL-<br />

-ESTADOS UNIDOS. Relatório de atividades 1958. Curitiba, 1958.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

tor. O principal méto<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> pelos técnicos e<br />

técnicas era a demonstração de resulta<strong>do</strong>s, não<br />

só pela sua natureza prática como por demonstrar<br />

ao agricultor que, em sua própria terra com<br />

seus próprios recursos, a sua produção podia ser<br />

aumentada e a sua vida familiar transformada.<br />

Após realizar o Levantamento da Realidade<br />

Rural <strong>do</strong> Município os extensionistas<br />

partiam para a elaboração <strong>do</strong>s Programas de<br />

Trabalho que compreendiam uma série de projetos<br />

específicos. Em 1958, os principais programas<br />

eram Solo, Produção Agrícola, Rebanhos,<br />

Família Rural, Comunidade, Juventude Rural e<br />

Crédito Rural Supervisiona<strong>do</strong>. Desenvolven<strong>do</strong><br />

projetos como os de correção e conservação <strong>do</strong><br />

solo, adubação, seleção de sementes, mecanização<br />

agrícola, irrigação e drenagem e combate às<br />

pragas e <strong>do</strong>enças das plantas, armazenamento e<br />

a conservação da colheita, pretendia-se atender<br />

o agricultor de uma ponta a outra <strong>do</strong> processo<br />

produtivo.<br />

A atuação <strong>do</strong> ETA Projeto 15 desenvolvia-se<br />

em regiões onde pre<strong>do</strong>minava fundamentalmente<br />

a atividade agrícola, sen<strong>do</strong> a criação de<br />

animais considerada apenas como atividade subsidiária,<br />

com exceção da suinocultura, bastante<br />

intensa, principalmente na região da Fronteira,<br />

onde possuía alta expressão econômica. O porco<br />

tipo banha, pre<strong>do</strong>minante antes da década<br />

de 50, passou a ser substituí<strong>do</strong> pelo suíno tipo<br />

carne. O uso de ração balanceada, a famosa<br />

“ração ACARPA”, de água corrente e limpa,<br />

de instalações higiênicas, de controle sanitário<br />

acompanha<strong>do</strong>s <strong>do</strong> manejo correto eram bases<br />

para o melhoramento da suinocultura.<br />

Além das Demonstrações de Resulta<strong>do</strong>s<br />

também eram importantes as Unidades de<br />

Observação e as Unidades Demonstrativas. A<br />

necessidade de levar o sucesso <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<br />

a um número maior de produtores incentivou a<br />

organização das feiras de produtores. As feiras<br />

tornaram-se um <strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s para difundir<br />

as novas raças e aprimorar sua qualidade<br />

através <strong>do</strong>s cruzamentos.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

A Demonstração de Resulta<strong>do</strong>s, o trabalho<br />

com as lideranças rurais e os Clubes 4-S<br />

eram importantes estratégias de divulgação <strong>do</strong><br />

extensionismo rural. Com o objetivo de divulgar<br />

os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s, incentivan<strong>do</strong> as famílias<br />

rurais à a<strong>do</strong>ção de novas e mais modernas<br />

práticas, foram incentivadas, ao mesmo tempo,<br />

as realizações de exposições, feiras e competições.<br />

Em 1958, o ETA 15 informava:<br />

Na localidade de General Ron<strong>do</strong>n, foi<br />

levada a efeito, e estreita colaboração<br />

com a Prefeitura Municipal de Tole<strong>do</strong><br />

e o Conselho de Desenvolvimento de<br />

Comunidades da Fronteira, a Primeira<br />

Exposição Agropecuária Industrial <strong>do</strong><br />

Município de Tole<strong>do</strong>. O êxito assinala<strong>do</strong><br />

pelo certame em causa, foi sem dúvida,<br />

uma demonstração flagrante, da influência<br />

exercida sobre a população<br />

rural daquele Município, pelo trabalho<br />

de extensão, que ali vem sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong><br />

desde mea<strong>do</strong>s de 1956. Não só<br />

o volume mas principalmente a qualidade<br />

<strong>do</strong>s produtos expostos, e ainda<br />

a extraordinária influência assinalada<br />

na exposição em causa, atestaram de<br />

forma eloqüente, a excelente receptividade<br />

assinalada naquela região, pelas<br />

práticas extensionistas, sen<strong>do</strong> de se<br />

ressaltar ainda, que a colonização da<br />

área em questão, data de apenas mais<br />

de dez anos. 14<br />

Seis anos mais tarde, em 1964, exposições<br />

e competições como as citadas acima<br />

começavam a se difundir pelas regiões atendidas<br />

pelos escritórios locais com apoio das<br />

autoridades locais e firmas comerciais. Além<br />

<strong>do</strong>s vários prêmios ofereci<strong>do</strong>s, o agricultor que<br />

se destacasse recebia um diploma de “melhor<br />

agricultor <strong>do</strong> ano”.<br />

As feiras e exposições eram ainda uma<br />

oportunidade de fazer negócios, conhecer novas<br />

14 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE AGRICULTURA BRASIL-<br />

-ESTADOS UNIDOS. Relatório de atividades 1958. Curitiba, 1958.<br />

69


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

tecnologias e conseguir o apoio de importantes<br />

lideranças agrícolas, comerciais e agropecuárias.<br />

Mais <strong>do</strong> que um evento era o prolongamento <strong>do</strong><br />

resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho no campo.<br />

Ten<strong>do</strong> como base a experiência norte-<br />

-americana <strong>do</strong>s Clubes 4-H (Head, Heart, Health<br />

and Hands) e com o objetivo de orientar<br />

as atividades junto à juventude rural, foi cria<strong>do</strong><br />

um projeto específico denomina<strong>do</strong> Programa<br />

de Clubes 4-S (Saber, Sentir, Saúde e Servir).<br />

Os Clubes 4-S foram muito importantes<br />

na introdução de novas tecnologias já que, em<br />

várias ocasiões, o técnico conseguia convencer<br />

os pais agricultores a partir <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s que os<br />

filhos obtinham nos projetos <strong>do</strong>s clubes.<br />

O ETA 15 deu início aos trabalhos<br />

iniciais com grupos de jovens em mea<strong>do</strong>s de<br />

1958. Fundaram-se os Clubes 4-S forma<strong>do</strong>s por<br />

jovens de ambos os sexos, com idade entre 10 e<br />

18 anos, ten<strong>do</strong> como símbolo um trevo de quatro<br />

folhas e por lema a frase “Progredir Sempre”.<br />

O primeiro clube 4-S <strong>do</strong> Paraná foi<br />

funda<strong>do</strong> em 1° de outubro de 1958, em Campo<br />

Largo, e foi denomina<strong>do</strong> Clube 4-S <strong>do</strong>s Pinheirais.<br />

Cada sócio 4-S devia executar um projeto<br />

individual de agricultura ou participar de um<br />

projeto coletivo.<br />

No final <strong>do</strong> mesmo ano, o clube contava<br />

com 19 associa<strong>do</strong>s<br />

70<br />

...to<strong>do</strong>s intensamente ativos e entusiastas,<br />

dedican<strong>do</strong>-se particularmente à criação<br />

de Suínos, Apicultura e Hortas Domésticas,<br />

no que concerne aos membros<br />

<strong>do</strong> sexo masculino e melhoramentos <strong>do</strong><br />

Lar, nutrição e vestuário, na parte relativa<br />

aos associa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> sexo feminino. 15<br />

No clube eram realizadas reuniões de<br />

formação e planejamento, excursões, projeções<br />

de filmes, torneios esportivos, encontros culturais,<br />

comemorações cívicas e as demonstrações.<br />

15 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE AGRICULTURA BRASIL-<br />

-ESTADOS UNIDOS. Relatório de atividades 1958. Curitiba, 1958.<br />

Além de apresentar os resulta<strong>do</strong>s de um projeto<br />

desenvolvi<strong>do</strong>, as demonstrações deveriam influenciar<br />

a mudança das técnicas de trabalho e<br />

produção <strong>do</strong>s agricultores.<br />

Nesta época, na concepção <strong>do</strong>s extensionistas<br />

rurais, o trabalho deveria ser desenvolvi<strong>do</strong><br />

nas famílias e entre as comunidades familiares<br />

a partir <strong>do</strong> incentivo ao Cooperativismo.<br />

Em 1957, o ETA 15 afirmava:<br />

A atuação educacional da extensão<br />

rural, não visa o homem como simples<br />

unidade de produção, ou apenas como<br />

indivíduo isola<strong>do</strong>, mas sim, como participante<br />

de uma comunidade, onde<br />

possui responsabilidades e para cujo<br />

bem estar deve influir e colaborar, o que,<br />

evidentemente, requer uma organização<br />

específica, que embora sem características<br />

formais, venha disciplinar e regular<br />

as relações <strong>do</strong> indivíduo com a sua<br />

comunidade, e desta com os indivíduos<br />

que a constituem.<br />

...os supervisores <strong>do</strong> Escritório Técnico<br />

de Agricultura – Projeto n.° 15, procuram<br />

com to<strong>do</strong>s os meios ao seu alcance, desenvolver<br />

uma intensa ação educativa,<br />

visan<strong>do</strong> despertar e desenvolver o espírito<br />

comunitário, ressaltan<strong>do</strong> os aspectos<br />

de relações de vizinhança, conceitos<br />

de civismo, cidadania e democracia, e<br />

a sua conseqüente aplicação: o desenvolvimento<br />

da comunidade, cooperação<br />

com as organizações cívicas, educativas,<br />

recreativas, agrícolas, cooperativistas,<br />

etc. e ainda princípios de justiça e compreensão<br />

mútua. 16<br />

A experiência cooperativista no Paraná<br />

data de pelo menos o final <strong>do</strong> século XIX e<br />

início <strong>do</strong> XX, onde se destacam os trabalhos <strong>do</strong><br />

agrônomo ucraniano Valentin P. Cuts. Até a promulgação<br />

da Lei 22.239, em 1932, várias foram<br />

as cooperativas que surgiram no Esta<strong>do</strong> sen<strong>do</strong><br />

que uma das pioneiras foi a Sociedade Cooperativista<br />

de Consumo Svitlo (luz em ucraniano)<br />

16 ESCRITÓRIO TÉCNICO DE AGRICULTURA BRASIL-<br />

-ESTADOS UNIDOS. Relatório de atividades 1957. Curitiba, 1957.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

fundada em 1920, na localidade de Carazinho,<br />

comarca de União da Vitória.<br />

Uma das personagens centrais da<br />

história <strong>do</strong> cooperativismo <strong>do</strong> Paraná foi a Extensão<br />

Rural. Em 1962, o relatório da ACARPA<br />

afirmava:<br />

O homem rural é por natureza isola<strong>do</strong>,<br />

e seus problemas são apenas por êle<br />

encara<strong>do</strong>, crian<strong>do</strong> com isso, barreiras<br />

desanima<strong>do</strong>ras.<br />

Desta maneira, nos princípios apregoa<strong>do</strong>s<br />

pela Extensão, procura-se mostrar<br />

ao homem rural que seus problemas,<br />

comuns aos agricultores de uma mesma<br />

região, são facilmente resolvi<strong>do</strong>s pela<br />

união de esforços. Isto chamamos Associativismo<br />

Rural.<br />

No ano de 1962, foram fundadas 3 (três)<br />

novas cooperativas nos municípios de<br />

Campo Largo e União da Vitória. 17<br />

Vários eram os problemas vivi<strong>do</strong>s pelo<br />

agricultor paranaense e, principalmente pela<br />

agricultura familiar. Dentre eles, o baixo preço<br />

consegui<strong>do</strong> pelo produtor; a falta de uma infra-<br />

-estrutura de comercialização que abrangesse os<br />

setores de transporte, beneficiamento, industrialização<br />

e armazenamento da produção, deixan<strong>do</strong><br />

a classe produtora à mercê <strong>do</strong>s atravessa<strong>do</strong>res; a<br />

necessidade de insumos à disposição <strong>do</strong>s produtores<br />

e os eleva<strong>do</strong>s custos <strong>do</strong>s mesmos, causan<strong>do</strong><br />

elevação <strong>do</strong> custo de produção.<br />

Para o extensionismo rural, representa<strong>do</strong>s<br />

pelo ETA 15, depois ACARPA e, posteriormente<br />

a EMATER, o cooperativismo deveria ser<br />

prioridade incentivan<strong>do</strong> a criação de cooperativas,<br />

reorganizan<strong>do</strong> as existentes, estabelecen<strong>do</strong><br />

entrepostos e prestan<strong>do</strong> assistência técnica,<br />

creditícia e administrativa aos sócios.<br />

A extensão rural sempre teve um senti<strong>do</strong><br />

altamente educativo, visan<strong>do</strong> atuar sobre<br />

a mentalidade <strong>do</strong> agricultor e de sua família,<br />

induzin<strong>do</strong>-o à mudança de atitudes e a<strong>do</strong>ção<br />

de novas práticas.<br />

Dentre as dificuldades das equipes de<br />

extensionistas estava a de ter que estar em vários<br />

lugares ao mesmo tempo. Na prática, nas décadas<br />

1950 e 1960, por exemplo, era impossível<br />

aos supervisores atender, na sua área de ação,<br />

to<strong>do</strong>s os que requeriam a sua atuação educativa<br />

e orienta<strong>do</strong>ra:<br />

O extensionista fazia um treinamento<br />

para poder estar em contato com o seu<br />

público e esse treinamento envolvia,<br />

principalmente, os méto<strong>do</strong>s e meios de<br />

comunicação. Então, a carta circular,<br />

o álbum seria<strong>do</strong>, o flanelógrafo, então<br />

existiam especialistas que ensinavam<br />

o pessoal a fazer esse tipo de coisa. E<br />

o interessante é que os especialistas<br />

que ensinavam eram os agrônomos,<br />

agrônomos que se especializaram nesse<br />

tipo de coisa para poder transmitir aos<br />

seus colegas sua experiência. Então, a<br />

gente tinha que procurar fazer as coisas<br />

de uma forma mais fácil, de mais fácil<br />

entendimento por parte <strong>do</strong> agricultor<br />

e o rádio foi uma grande mola mestra<br />

pra isso aí porque você procurava levar<br />

dentro da linguagem <strong>do</strong> produtor. O<br />

extensionista era treina<strong>do</strong> antes de ir<br />

para o campo, para o seu trabalho, pra<br />

se utilizar desses meios e méto<strong>do</strong>s que<br />

possibilitasse ele atingir um número<br />

maior de pessoas.<br />

Então quan<strong>do</strong> você procura levar a<br />

mensagem até onde está o indivíduo ela<br />

assume uma importância muito grande.<br />

Ele tem essa necessidade de se informar,<br />

mas se informar dentro da sua realidade.<br />

Muitas vezes não interessa para ele o que<br />

está acontecen<strong>do</strong> lá no Irã, no Iraque<br />

porque isso diretamente não o afeta,<br />

ele pensa que não afeta a sua maneira<br />

de vida no dia-a-dia, mas ele precisa<br />

saber, dentro da sua realidade, aquilo<br />

que está acontecen<strong>do</strong> e o que ele pode<br />

melhorar. E quan<strong>do</strong> ele não pode ir em<br />

busca da informação ela chegan<strong>do</strong> até<br />

ele é importantíssimo, então hoje o rádio<br />

17 ASSOCIAÇÃO DE CRÉDITO E ASSISTÊNCIA RURAL DO<br />

PARANÁ. Relatório de atividades 1962. Curitiba, 1962.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

71


TAVARES, H. M. Primórdios da Extensão Rural Paranaense<br />

ainda é, o rádio local ainda é o grande<br />

veículo de comunicação. 18<br />

Era necessário a<strong>do</strong>tar estratégias<br />

de comunicação que levassem as informações<br />

a um número cada vez maior de famílias rurais.<br />

Para isso a Extensão Rural lançou mão de uma<br />

meto<strong>do</strong>logia própria caracterizada pelos atendimentos<br />

na época chama<strong>do</strong>s de individual, grupal<br />

e massal.<br />

Na divulgação <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

técnicos foram utiliza<strong>do</strong>s os auxílios audiovisuais<br />

como cartazes, folders, folhetos, boletins, artigos<br />

em jornais, programas de rádio, flanelógrafos, slides,<br />

álbum seria<strong>do</strong>, projeções cinematográficas,<br />

e posteriormente produções como Vídeo Rural,<br />

“Projeto VER”.<br />

No ano de 1957, grande parte desses<br />

auxílios audiovisuais era elaborada pela própria<br />

organização, que editou, um total de 17 folhetos,<br />

14 boletins e 3 cartazes, além de um Boletim<br />

Mensal de circulação permanente.<br />

Nas décadas posteriores a ACAR-<br />

PA/EMATER foi se tornan<strong>do</strong> um <strong>do</strong>s órgãos<br />

integra<strong>do</strong>res da agropecuária paranaense coordenan<strong>do</strong><br />

o Programa Estadual de Exposições e<br />

elaboran<strong>do</strong> os calendários anuais de exposições,<br />

feiras e festas agropecuárias.<br />

Em mea<strong>do</strong>s da década de 1950, um<br />

pequeno grupo de extensionistas iniciou uma<br />

nova experiência de Extensão Rural no Paraná.<br />

O oeste era chama<strong>do</strong> de “fronteira”, o norte era<br />

coloniza<strong>do</strong> pelo café, o su<strong>do</strong>este era ocupa<strong>do</strong><br />

por gaúchos e catarinenses e o sul e leste representavam<br />

o chama<strong>do</strong> Paraná tradicional.<br />

Mais de cinquenta anos depois muita<br />

coisa mu<strong>do</strong>u. A agricultura se transformou no<br />

agronegócio, a industrialização <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> é uma<br />

realidade e o desenvolvimento sustentável deve<br />

ser a referência de qualquer política pública. A<br />

Extensão Rural Paranaense foi um fator importantíssimo<br />

para essa história. Seu desafio sempre<br />

foi o de criar estratégias práticas e rápidas, se<br />

apoian<strong>do</strong> na troca entre a informação técnica e<br />

a realidade e experiência <strong>do</strong> agricultor. Desenvolvida<br />

a partir das experiências norte-americanas,<br />

convive com suas permanências e rupturas<br />

advindas de outros modelos extensionistas. De<br />

qualquer maneira, o resgate histórico de seus<br />

primórdios é sempre importante no embate <strong>do</strong><br />

velho com o novo na construção da agricultura<br />

paranaense.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 1º de março de 2011.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 1º de julho de 2011.<br />

18 PINHEIRO, Josué Gomes. Josué Gomes Pinheiro. Curitiba,<br />

25 jan. 2006. Entrevista concedida a Hugo Moura Tavares.<br />

72<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 63-72, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Sede ong nova rússia preservada: sustentabilidade na<br />

arquitetura<br />

"Nova Rússia Preservada" NGO headquarters: sustainability in<br />

architecture<br />

La Sede de la ONG "Nova Rússia Preservada": Sostenibilidad en la<br />

arquitectura<br />

Silvia Odebrecht 1<br />

João Francisco Noll 2<br />

Sheila E. S. Klein 3<br />

RESUMO<br />

O Programa de Extensão Construir e a ONG Nova Rússia Preservada firmaram uma parceria para a elaboração<br />

de um plano diretor e de projeto arquitetônico para a implantação e construção de um moderno centro de<br />

interpretação da natureza e escola modelo de educação ambiental, visan<strong>do</strong> contribuir para o desenvolvimento<br />

sustentável da região. O objetivo, neste artigo, é relatar essa experiência, com foco no projeto e na sustentabilidade<br />

<strong>do</strong> projeto de arquitetura. Assim, a meto<strong>do</strong>logia de projeto, os conceitos projetuais e construtivos e sua<br />

aplicação são apresenta<strong>do</strong>s com ênfase na abordagem ambiental. A diretoria da ONG Nova Rússia Preservada<br />

considerou que os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s excederam as suas expectativas, o que os motivou a buscar parceiros<br />

comerciais, entre empresários e comerciantes regionais, para viabilizar a execução da almejada obra.<br />

Palavras-chave: sustentabilidade; projeto de arquitetura; extensão comunitária.<br />

ABSTRACT<br />

The Extension Program Building and the NGO Preserved New Russia signed a partnership for developing<br />

a master plan and architectural design for the deployment and construction of a modern interpretation of<br />

nature and environmental education model school in order to contribute to the sustainable development<br />

region’s. The aim of this article, reports this experience, focusing on design and sustainability of the architecture<br />

project. Thus, the design metho<strong>do</strong>logy, the design concepts and construction techniques and their<br />

application are presented with emphasis on environmental approach. The board of the NGO Preserved<br />

New Russia considered that the results exceeded their expectations, what motivated them to seek trading<br />

partners among regional entrepreneurs and traders, to enable the implementation of the envisaged work.<br />

Keywords: sustainability; architectural design; community extension.<br />

RESUMEN<br />

El Programa de Extensión Construir y la ONG Nueva Rusia Preservada firmaran una aparcería para la<br />

elaboración de un plan director y de proyecto arquitectónico, para la ubicación y construcción de un<br />

moderno centro de interpretación de la naturaleza y una escuela modelo de educación ambiental, visan<strong>do</strong><br />

contribuir para el desarrollo sostenible de la región. El objetivo, en este artículo, es relatar esa experiencia,<br />

1 Doutora, <strong>Universidade</strong> Regional de Blumenau - FURB, Rua São Paulo, 1430, Bairro Victor Konder, 89012-000 Blumenau, SC.<br />

Fone: 047 3321 0273, siba@furb.br<br />

2 Doutor, <strong>Universidade</strong> Regional de Blumenau - FURB.<br />

3 Mestre, <strong>Universidade</strong> Regional de Blumenau - FURB.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

73


ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

con enfoque en el proyecto de una arquitectura<br />

sostenible. Así, la meto<strong>do</strong>logía y los<br />

conceptos de proyectos y constructivos, y su<br />

aplicación son presenta<strong>do</strong>s con énfasis en el<br />

abordaje ambiental. La directoria de la ONG<br />

Nueva Rusia Preservada consideró que los<br />

resulta<strong>do</strong>s logra<strong>do</strong>s desbordaron sus expectativas,<br />

lo que los ha motiva<strong>do</strong> a buscar socios<br />

comerciales, entre empresarios y comerciantes<br />

regionales, para llevar a cabo la ejecución de<br />

la obra deseada.<br />

Palabras-clave: sostenibilidad; proyecto de<br />

arquitectura; extensión comunitaria.<br />

Introdução<br />

O Programa Construir é uma atividade<br />

de extensão universitária desenvolvida junto ao<br />

Departamento de Arquitetura e Urbanismo da<br />

<strong>Universidade</strong> Regional de Blumenau – FURB –, e<br />

é constituí<strong>do</strong> de três projetos: Planejar: produção<br />

arquitetônica; Estruturar: produção complementar;<br />

e Conscientizar: educação ambiental e qualidade<br />

<strong>do</strong>s espaços urbanos e construí<strong>do</strong>s. Nesse<br />

programa são realiza<strong>do</strong>s projetos de arquitetura,<br />

acessibilidade e paisagismo e complementares:<br />

estrutural, elétrico, hidráulico e sanitário e preventivo<br />

de incêndio e, ainda, assessoria técnica<br />

para construção e reforma de equipamentos<br />

comunitários no município de Blumenau. Tem-<br />

-se como objetivo promover uma arquitetura<br />

comunitária, através da efetiva participação <strong>do</strong>s<br />

corpos <strong>do</strong>cente e discente de distintos cursos<br />

acadêmicos <strong>do</strong> Centro de Ciências Tecnológicas<br />

da <strong>Universidade</strong> Regional de Blumenau, na<br />

resolução <strong>do</strong>s problemas e necessidades sociais<br />

e ambientais e na busca da cidadania e de melhores<br />

condições de vida para a comunidade na<br />

qual está inserida, visan<strong>do</strong> contribuir no processo<br />

de desenvolvimento sustentável.<br />

Van Bellen (2006), conceitua desenvolvimento<br />

sustentável como, especificamente, uma<br />

nova maneira da sociedade se relacionar com<br />

seu ambiente de forma a garantir a sua própria<br />

continuidade e a de seu meio externo.<br />

A ONG Nova Rússia Preservada solicitou<br />

uma parceria com o Programa, por meio<br />

de correspondência assinada por seu presidente,<br />

para a elaboração de um plano diretor e de<br />

projetos arquitetônico e complementares de um<br />

moderno centro de interpretação da natureza<br />

e escola modelo de educação ambiental. Essa<br />

organização tem como principal objetivo a preservação<br />

ambiental da região da Nova Rússia<br />

através <strong>do</strong> desenvolvimento sustenta<strong>do</strong> e da<br />

educação ambiental da comunidade, incentivan<strong>do</strong><br />

as ações de ecoturismo na região.<br />

Essa experiência será relatada a seguir,<br />

com foco no projeto e na sustentabilidade de<br />

Arquitetura.<br />

O projeto para a Ong Nova Rússia Preservada<br />

A ONG Nova Rússia Preservada<br />

A Nova Rússia localiza-se no extremo<br />

sul <strong>do</strong> município de Blumenau, SC, nos limites<br />

da zona de amortecimento <strong>do</strong> Parque das Nascentes,<br />

atual Parque Nacional da Serra <strong>do</strong> Itajaí<br />

(PNSI), parque esse com área de 57.374 ha de<br />

Mata Atlântica, distribuí<strong>do</strong>s entre os municípios<br />

de Blumenau, Indaial, Apiúna, Ascurra, Presidente<br />

Nereu, Vidal Ramos, Botuverá, Guabiruba<br />

e Gaspar. O PNSI encontra-se inseri<strong>do</strong> na bacia<br />

hidrográfica <strong>do</strong> Rio Itajaí e abriga as nascentes<br />

<strong>do</strong>s principais ribeirões <strong>do</strong>s nove municípios,<br />

representan<strong>do</strong> 0,05% da área total original <strong>do</strong><br />

bioma Mata Atlântica no Brasil, 0,55% da área<br />

remanescente de Mata Atlântica e é um <strong>do</strong>s três<br />

grandes fragmentos florestais ainda existentes<br />

em Santa Catarina. A área <strong>do</strong> Parque representa<br />

2,5% <strong>do</strong>s remanescentes de Floresta Atlântica<br />

de Santa Catarina e é a segunda maior Unidade<br />

74<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

de Conservação de Proteção Integral <strong>Federal</strong> <strong>do</strong><br />

bioma no sul <strong>do</strong> Brasil.<br />

A comunidade local caracteriza-se por<br />

pequenas propriedades agrícolas, cujos <strong>do</strong>nos<br />

dedicam maior tempo a atividades profissionais<br />

nas indústrias ou outra atividade comercial ou de<br />

serviço em Blumenau, e que relegaram a produção<br />

rural para segun<strong>do</strong> plano. As poucas famílias<br />

rurais residentes na localidade ainda preservam<br />

costumes coloniais, como produzir pães caseiros,<br />

geleias, deriva<strong>do</strong>s de leite e cultivar hortaliças e<br />

frutas. Outras pessoas se dedicam à jardinagem<br />

e aos trabalhos manuais.<br />

Existem também algumas propriedades<br />

maiores pertencentes a empresas e pessoas<br />

que residem na cidade de Blumenau e que as<br />

mantêm, principalmente, como sítios de fim de<br />

semana. Além disso, há na região alguns empreendimentos<br />

turísticos, sen<strong>do</strong> três empresas<br />

ligadas ao artesanato, uma agroindústria, uma<br />

pousada e cinco recantos.<br />

Para garantir a manutenção e conservação<br />

da natureza e promover a melhoria<br />

da qualidade de vida através de serviços e<br />

infraestruturas, a ONG relacionou uma série<br />

de prioridades, dentre as quais destacam-se a<br />

urbanização da rua de acesso à Nova Rússia;<br />

a elaboração da sinalização turística e de segurança;<br />

a extensão da linha telefônica para toda<br />

a comunidade; o combate à ocupação irregular,<br />

aos caça<strong>do</strong>res e ladrões de palmitos; a criação<br />

de um centro de cultura rural e ecológica que<br />

abrigue um posto avança<strong>do</strong> para a polícia ambiental<br />

e a sede da ONG; oferecimento de cursos<br />

e palestras volta<strong>do</strong>s à formação profissional na<br />

área de prestação de serviços turísticos e o beneficiamento<br />

de produtos agrícolas. A organização<br />

também pretende realizar, entre outras atividades<br />

na região da Nova Rússia, o saneamento<br />

básico, a elaboração de um folheto informativo<br />

das ações da organização e a construção de um<br />

complexo que abrigue um horto botânico de<br />

plantas nativas, conforme página eletrônica da<br />

ONG Nova Rússia. No senti<strong>do</strong> de viabilizar a<br />

realização de alguns destes trabalhos, entra em<br />

cena o Programa Construir.<br />

O Projeto de Arquitetura na meto<strong>do</strong>logia<br />

de trabalho <strong>do</strong> Programa Construir<br />

Como tema para projeto, foi defini<strong>do</strong><br />

um complexo de cunho ambiental, um moderno<br />

Centro de Interpretação da Natureza, com o<br />

desenvolvimento de um pequeno horto para a<br />

produção de espécies nativas. Os usuários desse<br />

complexo foram dividi<strong>do</strong>s em três categorias: (i)<br />

os dirigentes da organização não governamental<br />

que aí realizarão suas reuniões e outras atividades<br />

diversas de integração com a comunidade<br />

local; (ii) a comunidade em geral, bem como<br />

grupos escolares, na participação de palestras,<br />

cursos ou visitas para a educação ambiental;<br />

e (iii) a polícia ambiental, na criação de um<br />

posto avança<strong>do</strong> como ponto de apoio em suas<br />

atividades diárias de vigilância e fiscalização de<br />

crimes ambientais.<br />

Neste contexto, as atividades <strong>do</strong> Programa<br />

Construir a<strong>do</strong>taram, no caso da ONG<br />

Nova Rússia Preservada, o seguinte sequenciamento:<br />

A equipe de alunos designada para<br />

realizar tal atividade, em companhia de três<br />

professores, realizou a visita para, na presença de<br />

representantes da comunidade, conhecer o local,<br />

as condições físicas e ambientais, as carências e<br />

potencialidades existentes e as reivindicações e<br />

necessidades da comunidade (Figura 1). Nessa<br />

ocasião solicitou-se cópia <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento que<br />

comprove a propriedade <strong>do</strong> imóvel. No caso<br />

dessa entidade, o terreno é de propriedade particular,<br />

gentilmente cedi<strong>do</strong> para a construção da<br />

sede. Solicitou-se, também, que se providenciasse<br />

o levantamento planialtimétrico <strong>do</strong> terreno e a<br />

respectiva sondagem de solo para conhecer sua<br />

consistência e capacidade de suporte.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

Realizou-se a análise <strong>do</strong>s condicionantes<br />

<strong>do</strong> local, como clima, insolação, paisagem<br />

natural, paisagem urbana, infraestrutura,<br />

equipamentos institucionais. Discutiu-se com os<br />

integrantes da diretoria da entidade presentes os<br />

principais aspectos projetuais, como o programa<br />

de necessidades, a estimativa de áreas, o número<br />

de pavimentos, a locação da obra (Figura 2).<br />

FIGURA 1 – LEVANTAMENTO DE DADOS: VISITA DA EQUIPE<br />

DO PROGRAMA CONSTRUIR AO TERRENO NA ONG NOVA<br />

RÚSSIA PRESERVADA<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

sanitários. E como os objetivos deste espaço estão<br />

diretamente vincula<strong>do</strong>s com atividades ambientais<br />

e de preservação da natureza, definiu-se que o<br />

edifício também deveria assumir esses conceitos<br />

e a<strong>do</strong>tar princípios de menor insustentabilidade,<br />

tanto no projeto quanto em sua construção.<br />

Realizaram-se várias reuniões entre a<br />

equipe discente e <strong>do</strong>cente para a efetivação <strong>do</strong><br />

trabalho. De posse da planta <strong>do</strong> terreno, fornecida<br />

pela diretoria da ONG Nova Rússia Preservada,<br />

analisaram-se os condicionantes legais relaciona<strong>do</strong>s<br />

ao Código de Zoneamento <strong>do</strong> Plano Diretor,<br />

avalian<strong>do</strong>-se uso e ocupação <strong>do</strong> solo, coeficiente de<br />

aproveitamento, taxa de ocupação e recuos obrigatórios.<br />

Discutiu-se a implantação e paisagismo, a<br />

disposição e o dimensionamento <strong>do</strong>s setores com<br />

seus compartimentos, a estrutura, a funcionalidade,<br />

a volumetria e a viabilidade técnica, econômica e<br />

ambiental <strong>do</strong> edifício.<br />

Essa etapa concluiu-se com a elaboração<br />

<strong>do</strong> anteprojeto arquitetônico, compreendi<strong>do</strong> por<br />

plantas baixas, cortes, fachadas e perspectivas da<br />

intervenção proposta. O anteprojeto foi apresenta<strong>do</strong><br />

à comunidade requerente e discutida a proposta<br />

e sua viabilidade (Figura 3). Nessa reunião a comunidade<br />

sugeriu pequenas complementações no<br />

projeto que geraram revisão no trabalho. Após discussões<br />

entre a equipe técnica e devidas alterações,<br />

realizaram-se novas reuniões com a comunidade<br />

até obtenção da aprovação final <strong>do</strong> anteprojeto<br />

para, então, iniciar o projeto executivo (Figura 4).<br />

FIGURA 2 – LEVANTAMENTO DE DADOS: DISCUSSÃO DO<br />

PROGRAMA DE NECESSIDADES E DIRETRIZES DO PRO-<br />

JETO COM A DIRETORIA DA ONG<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

O programa de necessidades, assim, ficou<br />

defini<strong>do</strong> com os seguintes espaços: uma ampla<br />

sala de atividades múltiplas (reuniões, palestras,<br />

cursos e aulas), uma sala com pequena copa/<br />

cozinha para o posto avança<strong>do</strong> da polícia ambiental,<br />

um depósito para materiais diversos, espaços<br />

abertos e protegi<strong>do</strong>s para íntima relação interior/<br />

exterior, para contatos diretos com a natureza, e<br />

FIGURA 3 – DISCUSSÃO DAS DIRETRIZES DO PROJETO COM<br />

PRINCÍPIOS DE SUSTENTABILIDADE<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

76<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

A equipe <strong>do</strong> Programa Construir estabeleceu<br />

critérios de projeto que propiciassem<br />

soluções projetuais e construtivas de forma a<br />

contribuir no processo de sustentabilidade ambiental<br />

e, também, econômica e sociocultural,<br />

dentro <strong>do</strong> contexto apresenta<strong>do</strong>.<br />

Gonçalves e Duarte (2006) afirmam<br />

que a sustentabilidade de um projeto arquitetônico<br />

começa na leitura e no entendimento <strong>do</strong><br />

contexto no qual o edifício se insere e nas decisões<br />

iniciais de projeto, e Sachs (1993) define<br />

sustentabilidade como um conceito complexo<br />

que envolve de forma integrada variáveis econômicas,<br />

sociais, políticas, culturais e ambientais.<br />

Dentre a série de medidas tomadas<br />

para promover a implantação de um programa<br />

minimamente adequa<strong>do</strong> ao desenvolvimento<br />

sustentável e para a construção da consciência<br />

ambiental da comunidade, a equipe <strong>do</strong> Programa<br />

Construir, com o beneplácito da diretoria da<br />

ONG Nova Rússia Preservada, deu prioridade,<br />

na implantação <strong>do</strong> projeto arquitetônico (Fig.<br />

5), para a preservação da vegetação significativa<br />

existente no terreno e na preservação e recomposição<br />

da mata ciliar das margens <strong>do</strong> Ribeirão<br />

Garcia; nas áreas antropizadas, para a recomposição<br />

da vegetação com espécies nativas, crian<strong>do</strong>-se<br />

um horto florestal para fins educativos; e<br />

para incentivar a comunidade local a observar<br />

e cuidar da natureza, indicou a construção de<br />

composteiras, que gerarão o adubo para as plantas<br />

em fase de crescimento e desenvolvimento.<br />

FIGURA 4 – APRESENTAÇÃO DO ANTEPROJETO À DIRETORIA<br />

DA ONG NOVA RÚSSIA<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

A sustentabilidade no projeto de Arquitetura<br />

FIGURA 5 – IMPLANTAÇÃO DO PROJETO ARQUITETÔNICO<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

No que se refere ao projeto arquitetônico<br />

especificamente, as decisões projetuais<br />

foram baseadas em espaços adequadamente<br />

ventila<strong>do</strong>s e com máxima iluminação natural;<br />

no uso de cobertura verde para o sequestro e<br />

armazenamento de carbono e para minimizar os<br />

efeitos da radiação solar, promoven<strong>do</strong> a inércia<br />

térmica, com consequente conforto térmico nos<br />

espaços interiores; uso de pilotis baixos para<br />

manter inaltera<strong>do</strong> o relevo natural e diminuir o<br />

impacto no solo, evitan<strong>do</strong>-se sua impermeabilização<br />

e para proteger o edifício <strong>do</strong>s eleva<strong>do</strong>s<br />

índices de umidade da região, recoberta de<br />

vegetação arbórea nativa e em eleva<strong>do</strong> estagio<br />

de regeneração; estruturas e materiais de menor<br />

impacto ambiental, dan<strong>do</strong>-se preferência aos<br />

produzi<strong>do</strong>s na região, principalmente renováveis,<br />

com utilização de mão de obra local; uso<br />

racional de recursos naturais como energia e<br />

água; captação da água das chuvas, que poderão<br />

ser utilizadas na irrigação da vegetação<br />

<strong>do</strong> entorno da edificação; grandes beirais para<br />

proteção contra as intempéries; menor geração<br />

de resíduos; durabilidade, flexibilidade no reuso<br />

e reciclagem e baixa manutenção (Figura 6, 7 e<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

8). Esse elenco de possibilidades e soluções, com<br />

vistas a planejar e agir de forma a atingir a pró-<br />

-eficiência desejada, foi o resulta<strong>do</strong> de diversas<br />

reuniões realizadas entre os atores envolvi<strong>do</strong>s ao<br />

longo <strong>do</strong> ano de 2009.<br />

Resulta<strong>do</strong>s<br />

Quan<strong>do</strong> a equipe de professores e<br />

bolsistas <strong>do</strong> Programa Construir apresentou o<br />

FIGURA 6 – VISTA PANORÂMICA DO PROJETO PARA A SEDE<br />

DA ONG NOVA RÚSSIA PRESERVADA<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

FIGURA 7 – PERSPECTIVA POSTERIOR DO PROJETO PARA A<br />

ONG NOVA RÚSSIA PRESERVADA<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

anteprojeto a integrantes da diretoria da ONG<br />

Nova Rússia Preservada, estes consideraram<br />

que os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s excederam as suas<br />

expectativas, o que os motivou no intuito de<br />

buscar parceiros comerciais entre empresários e<br />

comerciantes regionais, para granjear os recursos<br />

financeiros que viabilizarão executar a almejada<br />

obra. Esses resulta<strong>do</strong>s corroboram que bolsistas<br />

e acadêmicos extensionistas voluntários <strong>do</strong> Programa<br />

Construir, devidamente orienta<strong>do</strong>s pelos<br />

professores, desenvolveram extensa e correta<br />

pesquisa de técnicas e materiais adequa<strong>do</strong>s aos<br />

objetivos propostos pela equipe que, adiciona<strong>do</strong>s<br />

aos ensinamentos acadêmicos, resultaram na<br />

equivalente relação ensino, pesquisa e extensão.<br />

Demonstraram que na universidade “a pesquisa<br />

é o céu e a extensão é o chão”, conforme<br />

Ribeiro (2003), e sustentaram que, além de<br />

formar pesquisa<strong>do</strong>res e profissionais idôneos e<br />

gerar conhecimentos científicos e tecnológicos<br />

a universidade, segun<strong>do</strong> Pardal et al. (2005), é<br />

capaz de compreender a realidade e contribuir<br />

com valores e critérios que concorrem ao fortalecimento<br />

de vínculos entre os cidadãos. Esses<br />

vínculos são percebi<strong>do</strong>s no número crescente de<br />

pessoas que se alinham no senti<strong>do</strong> de viabilizar<br />

a plena realização da sede da ONG Nova Rússia<br />

Preservada.<br />

78<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR


ODEBRECHT, S. et al. Sede ONG Nova Rússia Preservada: sustentabilidade na arquitetura<br />

FIGURA 8 – PERSPECTIVA LATERAL MOSTRA O VOLUME<br />

SUSPENSO NO TERRENO COM LEVE DESNÍVEL<br />

FONTE: ACERVO DO PROGRAMA CONSTRUIR<br />

Os resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s<br />

objetivos propostos buscaram a melhoria da<br />

qualidade de vida socioambiental da comunidade<br />

envolvida e a preservação <strong>do</strong> ambiente<br />

natural da região da Nova Rússia, tanto em seu<br />

envolvimento comunitário propriamente dito,<br />

como a educação ambiental em seu enfoque<br />

individual, bem como no desenvolvimento sustentável<br />

em geral.<br />

Considerações finais<br />

O Programa Construir possibilita a troca<br />

de informações técnicas com àquelas oriundas<br />

<strong>do</strong>s habitantes, conhece<strong>do</strong>res de sua realidade,<br />

e oportuniza aos acadêmicos extensionistas a<br />

convivência com a realidade social e a prática<br />

profissional, através <strong>do</strong> contato com o usuário,<br />

da aplicação <strong>do</strong>s conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s<br />

em sala de aula e <strong>do</strong> aprofundamento destes<br />

conhecimentos pela pesquisa, num processo de<br />

complementação <strong>do</strong> saber ofereci<strong>do</strong> pelo ensino<br />

curricular.<br />

A comunidade, beneficiada com projetos<br />

ecoéticos, adquire seu espaço de congregação<br />

sociopolítico inerente aos direitos humanos<br />

e, como resposta direta, percebe-se melhoria<br />

na qualidade de vida e observam-se mudanças<br />

socioculturais, que de forma positiva contribuem<br />

para uma inquestionável autoavaliação, converten<strong>do</strong><br />

seus participantes em procria<strong>do</strong>res da<br />

realidade em suas dimensões econômica, social,<br />

política e cultural.<br />

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Texto aprova<strong>do</strong> em 27 de maio de 2011.<br />

80<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 73-80, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Recuperação e manejo da nascente “chorona” na comunidade<br />

rural de uruçu<br />

Recovery and management of "nascente Chorona” in the rural<br />

community of Uruçu<br />

Recuperación y gestión del manantial “Chorona” en la comunidad<br />

rural de Uruçu<br />

Júlia Soares Pereira 1<br />

Robi Tabolka <strong>do</strong>s Santos 2<br />

Catyelle M. A. Ferreira 3<br />

Genival Barros Júnior 4<br />

Fernan<strong>do</strong> G. de Oliveira 5<br />

RESUMO<br />

O uso inadequa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s recursos naturais, sem levar em conta as potencialidades <strong>do</strong>s agroecossistemas, é uma<br />

das principais causas da degradação ambiental, com sérios comprometimentos <strong>do</strong> solo, água, biodiversidade<br />

e da qualidade de vida das comunidades. Então o presente trabalho discorre sobre o desenvolvimento <strong>do</strong><br />

Projeto Piloto Recuperação e Manejo das Nascentes de Água, realiza<strong>do</strong> pelo projeto <strong>Universidade</strong>s Cidadãs<br />

na comunidade rural de Uruçu. A ideia surge através da manifestação de lideranças locais que perceberam<br />

diminuição considerável de água da nascente denominada “Chorona”. Assim, a partir deste problema,<br />

começaram a ser realizadas visitas in loco para visualizar o nível de degradação da área, além de reuniões<br />

semanais de planejamento com a equipe da universidade e os representantes da comunidade, a fim de<br />

estabelecerem objetivos e implementar ações para restauração da mata ciliar. Destaca-se ainda a realização<br />

de um grande mutirão, com a mobilização de toda a comunidade (adultos, jovens, crianças e professores<br />

da escola municipal), para recuperação da “Chorona”, com o plantio de 400 mudas de espécies nativas<br />

no entorno da nascente.<br />

Palavras-chave: revitalização; água; mata ciliar.<br />

ABSTRACT<br />

The misuse of natural resources, without taking into account the potential of agroecosystems, it is a major<br />

cause of environmental degradation, with serious commitments of soil, water, biodiversity and quality of<br />

life of communities. Then this paper discusses the development of the Pilot Project Recovery and Management<br />

of Water Nascentes, conducted by University City project in the rural community of Uruçu. The idea<br />

comes through the expression of local leaders who saw considerable decrease of water from the source<br />

called “Chorona”. So from this problem began to be performed on-site visits to view the level of degradation<br />

of the area, and weekly planning meetings with the team of university and community representatives<br />

1 Aluna de Engenharia Agrícola, Bolsista CNPq, Unidade Acadêmica de Engenharia Agrícola/UFCG, Campina Grande, PB, julia_eng@<br />

hotmail.com.br;<br />

2 Engenheiro Florestal, Mestran<strong>do</strong> em Engenharia Agrícola UFCG, Extensionista Rural da EMATER, PB, robytabolka@yahoo.com.<br />

br;<br />

3 Aluna <strong>do</strong> Curso de Ciências Sociais, UACS/UFCG, Campus CG/PB, extensionista CNPq <strong>do</strong> Projeto <strong>Universidade</strong>s Cidadãs UFCG/<br />

COEP, catyelle_maf@hotmail.com<br />

4 Engenheiro Agrônomo, Doutor em Engenharia Agrícola pela UFCG, Professor da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> Rural de<br />

Pernambuco, Campus de Serra Talhada, barrosjnior@yahoo.com.br;<br />

5 Engº de Produção – Prof. Doutor em Sociologia, Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> Projeto <strong>Universidade</strong>s Cidadãs, UFCG/COEP, CG/PB, aquiri48@<br />

hotmail.com<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

82<br />

to set goals and implement actions to restore<br />

the forest gallery. It is also the realization of<br />

a great effort, with the mobilization of the<br />

entire community (adults, youth, children and<br />

teachers of municipal schools), for recovery of<br />

“Chorona” with the planting of 400 seedlings<br />

of native species around the source.<br />

Keywords: regeneration; water; riparian.<br />

RESUMEN<br />

El mal uso de los recursos naturales, sin tener<br />

en cuenta el potencial de los agroecosistemas,<br />

es una de las principales causas de la degradación<br />

ambiental, con compromisos serios<br />

de los suelos, el agua, la biodiversidad y la<br />

calidad de vida de las comunidades. Entonces<br />

este <strong>do</strong>cumento se examina el desarrollo del<br />

Proyecto Piloto de Recuperación y Gestión del<br />

Agua Nascentes, llevada a cabo por la Universidad<br />

de la Ciudad de proyecto en la comunidad<br />

rural de Urucu. La idea viene a través de<br />

la expresión de los dirigentes locales que vieron<br />

una considerable disminución de agua de la<br />

fuente denominada “Chorona”. Por lo tanto,<br />

este problema comenzó a realizar visitas sobre<br />

el terreno para ver el nivel de degradación<br />

de la zona, y la planificación de reuniones<br />

semanales con el equipo de la universidad<br />

y representantes de la comunidad para fijar<br />

metas y ejecutar acciones para restaurar el<br />

bosque galería. Es también la realización de un<br />

gran esfuerzo, con la movilización de toda la<br />

comunidad (adultos, jóvenes, niños y maestros<br />

de las escuelas municipales), para la recuperación<br />

de “Chorona”, con la plantación de 400<br />

plántulas de especies nativas en to<strong>do</strong> el fuente.<br />

Palabras-clave: regeneración; el agua; los<br />

ribereños.<br />

Introdução<br />

O Projeto <strong>Universidade</strong>s Cidadãs tem<br />

o objetivo de contribuir para o desenvolvimento<br />

de comunidades de agricultores familiares <strong>do</strong><br />

Nordeste, resultan<strong>do</strong> da parceria entre o Comitê<br />

de Entidades no Combate à Fome e pela Vida<br />

(COEP) e as <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Campina<br />

Grande (UFCG), <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> Rural<br />

de Pernambuco (UFRPe), <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong><br />

<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Norte (UFRN), <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> de Sergipe (UFS), <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong><br />

<strong>do</strong> Piauí (UFPI) e <strong>Universidade</strong> Regional <strong>do</strong> Cariri<br />

(URCA) com atuações efetivas nos Esta<strong>do</strong>s<br />

da Paraíba, Pernambuco, Rio Grande <strong>do</strong> Norte,<br />

Alagoas, Sergipe, Piauí e Ceará.<br />

Na Paraíba existem duas áreas polos,<br />

sen<strong>do</strong> uma no alto-sertão, trabalhada pela<br />

URCA, e outra no Município de Juarez Távora,<br />

onde se desenvolvem as ações da UFCG, sen<strong>do</strong><br />

realizadas atividades de capacitação direcionadas<br />

a grupos de mulheres em comunidades de<br />

agricultores familiares.<br />

No agreste paraibano, o projeto <strong>Universidade</strong>s<br />

Cidadãs trabalha com seis comunidades,<br />

no senti<strong>do</strong> de capacitar e assessorar agricultores<br />

e agricultoras familiares residentes na região<br />

semiárida brasileira, através da meto<strong>do</strong>logia de<br />

Extensão Rural, objetivan<strong>do</strong> melhorar, proporcionar<br />

e desenvolver novas oportunidades de<br />

geração de emprego e renda.<br />

Em cada comunidade existe um telecentro,<br />

que consiste de edificações compostas de<br />

cinco computa<strong>do</strong>res e uma antena que viabiliza<br />

o acesso à internet por satélite, visan<strong>do</strong> garantir<br />

a privacidade e segurança digital <strong>do</strong> cidadão,<br />

sua inserção na sociedade da informação e o<br />

fortalecimento <strong>do</strong> desenvolvimento local.<br />

Para melhor gestão, existe um grupo<br />

denomina<strong>do</strong> Comitê Mobiliza<strong>do</strong>r, constituí<strong>do</strong> por<br />

pessoas da comunidade que irão acompanhar a<br />

execução das metas <strong>do</strong>s projetos. A equipe de<br />

trabalho é composta por professores e alunos<br />

de diferentes áreas, o que confere ao trabalho<br />

uma característica multidisciplinar, agregan<strong>do</strong><br />

ao mesmo uma qualidade diferenciada nos<br />

resulta<strong>do</strong>s finais.<br />

Dentre as comunidades trabalhadas,<br />

destaca-se a comunidade de Uruçu, localizada<br />

no município de Gurinhém – PB, distante 80 km<br />

de Campina Grande, e que vem sen<strong>do</strong> uma das<br />

beneficiadas pelo projeto <strong>Universidade</strong>s Cidadãs<br />

desde janeiro de 2006. O grande destaque com<br />

relação a esta comunidade provém <strong>do</strong> fato de<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR


PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

percepção e entendimento com relação à meto<strong>do</strong>logia<br />

de Extensão a<strong>do</strong>tada pelo projeto.<br />

Caporal et al (2006) sugere que a Extensão<br />

Rural brasileira contribua para o enfretamento<br />

da crise socioambiental resultante <strong>do</strong>s<br />

modelos de desenvolvimento e de agricultura<br />

convencionais, implementa<strong>do</strong>s principalmente<br />

a partir de 1970 com o advento da “Revolução<br />

Verde”.<br />

Através da adesão à revolução verde,<br />

com o desmatamento, uso e manejo inadequa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>s recursos naturais, têm provoca<strong>do</strong>, dentre<br />

outros efeitos, a deterioração <strong>do</strong>s solos agricultáveis,<br />

alterações nas redes de drenagens com<br />

perdas qualitativas e quantitativas das águas<br />

<strong>do</strong>s rios, lagos e reservatórios. A ocupação<br />

inapropriada favorece os processos erosivos,<br />

reduzin<strong>do</strong> a produtividade <strong>do</strong> solo com consequente<br />

transporte e acúmulo de sedimentos<br />

para os reservatórios, diminuin<strong>do</strong> a quantidade<br />

e qualidade da água.<br />

Costa (2000) relatou que uma readequação<br />

na condução <strong>do</strong>s problemas ambientais<br />

dentro de uma concepção sistêmica, entre<br />

diferentes áreas <strong>do</strong> conhecimento (interdisciplinaridade)<br />

e instituições participantes (multinstitucionalidade),<br />

aumenta a possibilidade<br />

da complementação de ações, sen<strong>do</strong> esta uma<br />

forma de planejamento e gerenciamento mais<br />

adequa<strong>do</strong> de microbacias hidrográficas.<br />

O uso inadequa<strong>do</strong> destes recursos já<br />

está sen<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> pelas pessoas da Comunidade<br />

de Urucu, localizada no município de Gurinhém<br />

– PB, que notaram drástica diminuição da água<br />

que transcorre no leito <strong>do</strong> córrego que atravessa<br />

a comunidade. Esta percepção foi despertada<br />

principalmente pelo projeto Espaço da Água<br />

realiza<strong>do</strong> pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Campina<br />

Grande, que teve como principal foco a atualização<br />

de professores <strong>do</strong> ensino fundamental e<br />

médio sobre a questão da conservação e o uso<br />

racional da água desde o ano de 2006, e pelas<br />

próprias lideranças que atuam na comunidade.<br />

Após esta atualização, as pessoas notaram diminuição,<br />

com maior impacto principalmente no<br />

ano de 2006, devi<strong>do</strong> à baixa precipitação anual.<br />

O semiári<strong>do</strong> Nordestino se caracteriza<br />

por temperaturas elevadas e chuvas relativamente<br />

escassas e irregulares, distribuídas entre 3 e 6<br />

meses <strong>do</strong> ano, e um potencial de evaporação<br />

que supera, em muito, as alturas da precipitação<br />

(SILVA, et al. 1987). No ambiente semiári<strong>do</strong> os<br />

reservatórios estão submeti<strong>do</strong>s a processos de<br />

evaporação elevada que causam concentrações<br />

de sais, deterioran<strong>do</strong> a qualidade da água,<br />

particularmente para consumo humano e para<br />

irrigação (TUNDISI, 2003).<br />

A região semiárida da Paraíba compreende<br />

uma área de aproximadamente 20.000 km²<br />

e caracteriza-se, <strong>do</strong> ponto de vista geoambiental,<br />

pela diversidade de suas paisagens, ten<strong>do</strong> como<br />

elemento marcante, no quadro natural da região,<br />

a condição de semiaridez que atinge grande<br />

parte <strong>do</strong> seu território e a alta variabilidade pluviométrica<br />

espacial e temporal inerente a esse<br />

tipo climático (SALES, 2002).<br />

A vegetação pre<strong>do</strong>minante <strong>do</strong> Nordeste<br />

é a caatinga, com uma flora geneticamente<br />

rica e biodiversidade única, pouco conhecida<br />

e atualmente muito ameaçada pela atividade<br />

humana nesses cenários, que tem acentua<strong>do</strong> a<br />

degradação <strong>do</strong>s recursos naturais, originan<strong>do</strong><br />

em várias áreas os núcleos de desertificação.<br />

Ecologicamente, é uma área muito devastada<br />

devi<strong>do</strong> à luta que o homem enfrenta com a natureza<br />

na tentativa de sobrevivência. A região é<br />

caracterizada por condições sociais e ambientais<br />

muito vulneráveis.<br />

Segun<strong>do</strong> Carpanezzi (2000), o papel<br />

hidrológico da floresta resulta de uma rede de<br />

interações, em que a vegetação em geral, principalmente<br />

a floresta, permite a infiltração e armazenamento<br />

temporário de água no solo. Assim, a<br />

cobertura vegetal controla a erosão, conservan<strong>do</strong><br />

os solos e regulan<strong>do</strong> a vazão <strong>do</strong>s rios.<br />

Para Rocha (2005), as coroas de proteção<br />

de nascentes são conceituadas como a área<br />

compreendida entre o divisor de águas e a base<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

das ravinas, aproximadamente, a meia encosta.<br />

Esta área tem grande importância para o afloramento<br />

da água subterrânea, pois sua principal<br />

característica é propiciar a infiltração das águas<br />

das chuvas, e também evitar erosão.<br />

A mata ciliar é uma área de preservação<br />

permanente, que segun<strong>do</strong> o Código Florestal<br />

(Lei n 4.771/65) deve-se manter intocada, e<br />

caso esteja degradada deve-se prever a imediata<br />

recuperação. Essa lei já existe há 40 anos! Mas<br />

nem sempre foi cumprida. Toda a vegetação<br />

natural (arbórea ou não) presente ao longo das<br />

margens <strong>do</strong>s rios, e ao re<strong>do</strong>r de nascentes e de<br />

reservatórios, deve ser preservada. De acor<strong>do</strong><br />

com o artigo 2° desta lei, a largura da faixa de<br />

mata ciliar a ser preservada está relacionada<br />

com a largura <strong>do</strong> curso d’água. Na Figura 1<br />

visualizam-se as dimensões das faixas de mata<br />

ciliar em relação à largura <strong>do</strong>s rios, lagos, represas<br />

e nascentes.<br />

De um mo<strong>do</strong> geral, é percebi<strong>do</strong> que as<br />

matas ciliares encerram um conjunto de características<br />

que lhe são próprias. Nesse senti<strong>do</strong>, a<br />

vegetação ciliar ocorre nas porções de terreno<br />

que incluem tanto a ribanceira de um curso de<br />

água, como também a planície de inundação<br />

(LIMA, 1989). Este tipo de vegetação é bem<br />

definida em regiões de <strong>do</strong>mínio de formações<br />

savânicas ou campestres, porém menos diferenciada<br />

nas regiões de <strong>do</strong>mínio de florestas, onde<br />

se distingue principalmente pela composição<br />

florística (MANTOVANI et al., 1989).<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

Para modificar o quadro atual da comunidade,<br />

pois as fontes de abastecimento da<br />

população vêm de 40 cisternas, um açude de<br />

FIGURA 1 – LARGURA DA MATA CILIAR RELACIONADA A<br />

NASCENTES E A LARGURA DO ESPELHO DE<br />

ÁGUA DOS RIOS, LAGOS E REPRESAS<br />

Conforme Plano Estadual de Recursos<br />

Hídricos da Paraíba, a Sub-bacia Hidrográfica <strong>do</strong><br />

Baixo Paraíba, onde encontra-se a Comunidade<br />

de Urucu, contém apenas 4,7% de vegetação<br />

natural.<br />

84<br />

porte razoável pertencente a um fazendeiro da<br />

região, um poço artesiano com água salobra e<br />

caminhões pipas forneci<strong>do</strong>s pelo governo municipal,<br />

torna-se necessário o desenvolvimento de<br />

um programa racional de utilização e manejo <strong>do</strong>s<br />

recursos naturais, enfatizan<strong>do</strong> o solo e a água,<br />

e contan<strong>do</strong> com a participação direta desta co-<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

munidade rural. Assim, a proposta <strong>do</strong> trabalho<br />

para Recuperação de Nascentes é a capacitação,<br />

de forma a preparar as famílias de agricultores<br />

para gestão <strong>do</strong>s recursos hídricos que dispõem<br />

na comunidade.<br />

Desta forma, inicialmente foram estabelecidas<br />

condições para formação de um grupo<br />

de trabalho interdisciplinar, definin<strong>do</strong> uma agenda<br />

de ações com identificação de turmas, perío<strong>do</strong>s<br />

de realização e as devidas responsabilidades<br />

no processo. Estes grupos foram orienta<strong>do</strong>s a<br />

desenvolver as seguintes atividades:<br />

- Projetar e realizar um inventário que<br />

identifique todas as fontes de captação e abastecimento<br />

de água da comunidade, estabelecen<strong>do</strong><br />

planos para o gerenciamento desta água;<br />

- Elaborar materiais pedagógicos como<br />

manuais, folder, cartilhas, vídeos e cartazes sobre<br />

saúde, meio ambiente e gestão da água, volta<strong>do</strong>s<br />

à realidade existente na área da comunidade,<br />

levan<strong>do</strong> em consideração inclusive o problema<br />

<strong>do</strong> analfabetismo;<br />

- Produzir programas radiofônicos<br />

enfatizan<strong>do</strong> os problemas ambientais liga<strong>do</strong>s<br />

ao manejo da água, desmatamento, erosão e<br />

<strong>do</strong>enças de veiculação hídrica;<br />

Uma outra ação de caráter permanente<br />

que deverá ser desencadeada e que tem influência<br />

direta sobre a recuperação e conservação<br />

das nascentes diz respeito à reconstituição das<br />

formações vegetais. Sen<strong>do</strong> assim, deverá ser<br />

realiza<strong>do</strong> um outro diagnóstico que permita<br />

caracterizar as matas ciliares ainda existentes<br />

e as formações vegetais que ainda podem ser<br />

caracterizadas como tal, o que permitirá a realização<br />

de um monitoramento da vegetação a cada<br />

ano. Neste senti<strong>do</strong> os grupos serão orienta<strong>do</strong>s a<br />

executarem as seguintes atividades:<br />

- Construir e estruturar um viveiro de<br />

mudas nativas para reprodução de espécies silvícolas<br />

a serem destinadas a recomposição da<br />

flora nas áreas degradadas;<br />

- Implementar a recomposição e conservação<br />

das matas ciliares e demais formações<br />

vegetais das áreas de proteção, como também<br />

nas áreas urbanizadas e outras que interfiram na<br />

qualidade <strong>do</strong>s recursos hídricos;<br />

- Incentivar o manejo florestal sustentável,<br />

como forma de aumentar a cobertura vegetal<br />

e a geração de renda;<br />

- Desenvolver ações de recuperação<br />

de áreas degradadas que possam ter influência<br />

direta nas nascentes e cursos d’água;<br />

- Desenvolver na comunidade escolar<br />

uma ampla e sistemática programação, com<br />

atividades de campo e em sala de aula voltadas<br />

para o tema em questão; através da utilização<br />

de vídeos, produção de textos, cartazes, murais,<br />

criação, montagem e apresentação de encenações<br />

teatrais, cantos e danças; e da realização<br />

de excursões com base em “Trilhas Ecológicas<br />

que levem às fontes de captação de água”, com<br />

a criação de Estações devidamente sinalizadas<br />

nos reservatórios e nas fontes de água mapeadas.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussão<br />

Conforme “Diagnóstico da comunidade<br />

de Uruçu” e com relatos <strong>do</strong>s mora<strong>do</strong>res da<br />

comunidade, existe um poço que está localiza<strong>do</strong><br />

às margens <strong>do</strong> riacho da “Chorona”, denomina<strong>do</strong><br />

“poço de Zé de Zefinha”, que, segun<strong>do</strong> informações<br />

obtidas, fornece água para consumo<br />

humano de inúmeras famílias durante o perío<strong>do</strong><br />

de estiagem.<br />

Para reconhecimento total <strong>do</strong> riacho da<br />

chorona, bem como das ravinas da área, foram<br />

necessárias visitas a campo, visto que várias<br />

pessoas da comunidade acompanharam.<br />

Conforme relatos, há aproximadamente<br />

um ano, pessoas da comunidade juntamente<br />

com integrantes <strong>do</strong> Projeto universidade Cidadãs,<br />

visitaram, constataram e registraram grande<br />

quantidade de água armazenada (Figura 2),<br />

além de fluxo intenso de água no córrego.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

Na primeira visita, no dia 20 de junho<br />

de 2008, percorreu-se o córrego da comunidade<br />

até a nascente denominada “Chorona”. De<br />

acor<strong>do</strong> com os mora<strong>do</strong>res, descobriu-se que a<br />

nascente denominada, outrora com muita água,<br />

encontra-se totalmente assoreada (Figura 3) com<br />

as recentes chuvas.<br />

FIGURA 2 – NASCENTE “CHORONA” COM ÁGUA EM<br />

AGOSTO DE 2007<br />

FIGURA 3 – NASCENTE “CHORONA” TOTALMENTE AS-<br />

SOREADO EM JUNHO DE 2008<br />

Percebe-se que o córrego está com<br />

grau eleva<strong>do</strong> de assoreamento e de matéria<br />

orgânica. Problema esse que se agrava com as<br />

fortes chuvas de inverno, onde há carreamento<br />

de solo - tornan<strong>do</strong>-se voçoroca em alguns casos,<br />

restos de cultura e de produtos químicos para<br />

o leito <strong>do</strong>s rios. Esses fatores são ocasiona<strong>do</strong>s<br />

principalmente devi<strong>do</strong> ao manejo inadequa<strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> solo e pela falta da vegetação arbustiva e<br />

arbórea nas margens <strong>do</strong>s rios.<br />

86<br />

Após georeferenciamento, registro fotográfico,<br />

análise, interpretação e discussão <strong>do</strong><br />

local, concluiu-se que o lugar não se tratava da<br />

nascente, e sim <strong>do</strong> local onde fica uma quantidade<br />

relativamente grande de água armazenada no<br />

solo, devi<strong>do</strong> às condições geográficas existentes.<br />

Diante disso, decidiu-se chegar até o início das<br />

ravinas que formam a nascente.<br />

A poucos metros acima da chorona<br />

existe uma divisão de córregos. Após esta divisão<br />

percorreram-se por 500 metros dentro <strong>do</strong><br />

roça<strong>do</strong> de milho e 200 metros de cerca<strong>do</strong> com<br />

pasto, chegan<strong>do</strong> ao ponto inicial <strong>do</strong> córrego na<br />

encosta esquerda.<br />

Em uma segunda visita no dia 25 de<br />

junho de 2008, percorreu-se o la<strong>do</strong> direito <strong>do</strong><br />

córrego acima da chorona, onde após percorrer<br />

200 metros encontra-se nova divisão de córregos.<br />

Diante disso, opta-se por percorrer o la<strong>do</strong><br />

esquer<strong>do</strong>, com uma distância de 300 metros no<br />

meio <strong>do</strong> plantio de milho consorcia<strong>do</strong> com fava.<br />

Logo após inicia-se uma área cercada<br />

de arame farpa<strong>do</strong>, com regeneração natural em<br />

estágio bem desenvolvi<strong>do</strong>, classificada como<br />

sen<strong>do</strong> de segun<strong>do</strong> estágio de sucessão. Segun<strong>do</strong><br />

as pessoas da comunidade presentes, nesta área<br />

o plantio de culturas anuais foi aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong> há<br />

mais de 10 anos. Sen<strong>do</strong> assim, avista-se várias<br />

espécies representativas como aroeira, pau<br />

d’arco, pau ferro, quixabeira, jurema preta entre<br />

outras. Nota-se também que a área é cercada,<br />

com animais caminhan<strong>do</strong> e se alimentan<strong>do</strong>. No<br />

entanto, o número de indivíduos está abaixo da<br />

capacidade de suporte forrageiro, pois o desenvolvimento<br />

das plantas arbustivas e arbóreas está<br />

em bom estágio.<br />

Após retornar até a divisão antes encontrada,<br />

percorre-se a encosta até a ravina <strong>do</strong><br />

la<strong>do</strong> direito. Nesta, observa-se grande quantidade<br />

de plantas em estágio inicial de desenvolvimento,<br />

com grandes clareiras. Em conversa<br />

com as pessoas da comunidade, estas informam<br />

que a área era cultivada até três anos atrás,<br />

compreenden<strong>do</strong> assim o motivo de ter grande<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

quantidade de plantas de sucessão inicial, como<br />

jurema, marmeleiro, pereiro entre outras.<br />

Analisan<strong>do</strong> as ravinas que formam o<br />

córrego, percebe-se que em duas cabeceiras a<br />

vegetação inicial está em bom estágio de desenvolvimento.<br />

No entanto, entre as cabeceiras e a<br />

junção das três ravinas, os agricultores cultivam<br />

a terra até as margens, não respeitan<strong>do</strong> a legislação<br />

sobre mata ciliar.<br />

Diante <strong>do</strong> fato exposto, e em acor<strong>do</strong><br />

com to<strong>do</strong>s os presentes, definiu-se fazer a intervenção<br />

na encosta totalmente descoberta,<br />

e também nas matas ciliares <strong>do</strong>s córregos que<br />

formam a chorona.<br />

Também ficou acorda<strong>do</strong> que serão realizadas<br />

palestras e capacitações com os alunos<br />

e os proprietários das áreas onde se encontram<br />

estas nascentes, com o objetivo de conscientizar<br />

a população local sobre restauração e/ou recuperação,<br />

utilização, conservação e preservação<br />

<strong>do</strong>s recursos naturais.<br />

Logo que foi iniciada a mobilização<br />

para o mutirão as professoras da escola começaram<br />

a organizar um concurso de redação e<br />

desenho em torno <strong>do</strong> assunto, com o objetivo<br />

de impulsionar os alunos a contribuírem mais<br />

na ação <strong>do</strong> projeto na comunidade. Este estilo<br />

de concurso já foi realiza<strong>do</strong> em outro projeto<br />

em Uruçu.<br />

Segun<strong>do</strong> Assunção et al. (1996) a conscientização<br />

sobre a necessidade de conservação<br />

e defesa <strong>do</strong> meio ambiente para presentes e futuras<br />

gerações é incontestável; o conhecimento da<br />

lei para entendimento <strong>do</strong>s deveres e prerrogativa<br />

<strong>do</strong>s cidadãos é imprescindível; a importância de<br />

se começar a educação ambiental na infância é<br />

inquestionável; fazer com que as crianças entendam<br />

as leis ambientais, para contribuir com<br />

a preservação e defesa <strong>do</strong> meio ambiente como<br />

cidadãos responsáveis; conseguir, de forma<br />

criativa, mudar o comportamento de um maior<br />

número possível de estudantes e torná-los agentes<br />

de defesa <strong>do</strong> meio ambiente ecologicamente<br />

equilibra<strong>do</strong> e saudável.<br />

FIGURA 4 – REUNIÕES PARA DEFINIÇÃO DAS AÇÕES DO<br />

MUTIRÃO<br />

FIGURA 5 – SLOGAN CRIADO PELA COMUNIDADE PARA O<br />

PROJETO DE RECUPERAÇÃO DE NASCENTES<br />

Como resulta<strong>do</strong> desta atividade foi realiza<strong>do</strong><br />

no dia 15 de agosto de 2008 um grande<br />

mutirão para revitalização da nascente Chorona.<br />

Foi realiza<strong>do</strong> em três etapas. São elas:<br />

I etapa – Plantio de Mudas na Nascente<br />

“Chorona”<br />

Com a participação de 30 alunos, 10<br />

professores da Escola Municipal Anália Arruda<br />

da Silva e parte da equipe <strong>do</strong> projeto <strong>Universidade</strong><br />

Cidadãs, foram plantadas 400 mudas<br />

(Figura 6) de diferentes espécies e diferentes<br />

funções ecológicas.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

Dentre as espécies plantadas destacam-<br />

-se ipê, baraúna, aroeira, ingá, pau-brasil, oiti<br />

(Figura 7), jaca, aroeira, pau d’arco, pau ferro,<br />

quixabeira e jurema preta. As mudas foram<br />

<strong>do</strong>adas pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba,<br />

Campus de Areia, permanecen<strong>do</strong> na comunidade<br />

por duas semanas até o mutirão para plantio.<br />

Algumas delas são espécies pioneiras e outras<br />

secundárias, ou seja, espécies que participam<br />

<strong>do</strong>s estágios iniciais e intermediários da sucessão.<br />

Apesar de estar fora <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> de<br />

inverno, o mutirão de plantio foi realiza<strong>do</strong> em<br />

época com grande intensidade de chuvas na<br />

região, sen<strong>do</strong> assim as chances de pega e desenvolvimento<br />

das plantas são grandes.<br />

II etapa - Avaliação didática<br />

Na segunda parte <strong>do</strong> mutirão foram realizadas<br />

apresentações (Figura 8) sobre a importância<br />

da água para a vida. Estas apresentações<br />

enfatizaram o uso e conservação <strong>do</strong>s recursos<br />

naturais de forma sustentável.<br />

III etapa - Apresentação cultural e encerramento<br />

Na ultima etapa <strong>do</strong> evento, foram<br />

apresentadas peças teatrais (Figuras 9) com<br />

encenação, musicas e fantoches relacionadas<br />

ao meio ambiente. Estas apresentações foram<br />

elaboradas, montadas e encenadas pelos professores<br />

e alunos da escola.<br />

FIGURA 6 – MUTIRÃO DE PLANTIO DE MUDAS<br />

FIGURA 8 – PALESTRA RELACIONADA COM O TEMA ÁGUA<br />

FIGURA 7 – PLANTIO DE MUDA DE OITI<br />

FIGURA 9 – APRESENTAÇÃO TEATRAL SOBRE MEIO AM-<br />

BIENTE<br />

88<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR


PEREIRA, J. S. et al. Recuperação e manejo da nascente “Chorona” na comunidade rural de Uruçu<br />

E por último foram realizadas as premiações<br />

<strong>do</strong> concurso de redação e desenho.<br />

Logo em seguida iniciou-se uma gincana com<br />

perguntas sobre meio ambiente com o intuito de<br />

aguçar o aprendiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluna<strong>do</strong> que estavam<br />

em sua maioria presente.<br />

Duas semanas após o mutirão foram<br />

feitas avaliações sobre o mesmo, aproveitan<strong>do</strong><br />

para elencar e reparar os erros questiona<strong>do</strong>s<br />

pelos mora<strong>do</strong>res, alunos e coordena<strong>do</strong>res (líderes<br />

<strong>do</strong> projeto na comunidade e a equipe <strong>do</strong><br />

<strong>Universidade</strong>s Cidadãs) em geral.<br />

Passo <strong>do</strong> Pilão: Estu<strong>do</strong> e Adequação de Uso da terra Relaciona<strong>do</strong><br />

aos Sistemas Agrícolas. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>,<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Santa Maria, 2000.<br />

EMBRAPA SEMI-ÁRIDO. II Plano Diretor Embrapa Semi-<br />

Ári<strong>do</strong> 2000-2003. Petrolina, PE, 2000. 55 p.<br />

IBGE. Produção da extração vegetal e da silvicultura. Rio<br />

de Janeiro, 2000. 249 p.<br />

LIMA, W. DE P.; ZAKIA, M. J. B. Hidrologia de Matas<br />

Ciliares. In: Matas Ciliares Conservação e Recuperação.<br />

São Paulo: Editora <strong>Universidade</strong> de São Paulo, 2000.<br />

LIMA, W. de P. Função Hidrológica da Mata Ciliar. In:<br />

SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. Anais...Campinas:<br />

Fundação Cargill, 1989. p 25-42.<br />

MAIA, G. N. Caatinga: árvores e arbustos e suas utilidades<br />

1. ed. São Paulo: D&Z, 2004.<br />

Conclusões<br />

Através <strong>do</strong> presente artigo conclui-se<br />

que:<br />

As reuniões na comunidade foram<br />

extremamente proveitosas, geran<strong>do</strong> subsídios<br />

para implementação <strong>do</strong> projeto.<br />

A mobilização da população na comunidade<br />

de Uruçu foi realizada com perfeição<br />

entre as crianças, jovens e adultos, pertencentes<br />

ao projeto e/ou voluntários.<br />

Foram elabora<strong>do</strong>s materiais pedagógicos,<br />

com divulgação sobre as ações de recuperação<br />

e proteção das nascentes.<br />

O mutirão para plantio das mudas foi<br />

realiza<strong>do</strong> com grande sucesso, plantan<strong>do</strong> 400<br />

mudas.<br />

MANTOVANI, W. Conceituação e fatores condicionantes.<br />

In: SIMPÓSIO SOBRE MATA CILIAR. Anais. Campinas:<br />

Fundação Cargill, 1989. p 11-19<br />

ORMOND, J. G. P. Glossário de termos usa<strong>do</strong>s em atividades<br />

agropecuárias, florestais e ciências ambientais. Rio<br />

de Janeiro: BNDES, 2006. p 124 - 125.<br />

ROCHA, J. S. M. da. Diagnóstico de Vegetação. In: Projeto<br />

CIPAM. UFSM, 2005.<br />

SALES, M. C. L. Evolução <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s de desertificação<br />

no nordeste brasileiro. GEOUSP – Espaço e Tempo, São<br />

Paulo, n. 11, p.115-126, 2002.<br />

SILVA, M. A. V.; BRAGA, C. C.; NIETZSCHE, M. H. Atlas<br />

climatológico <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> da Paraíba. 2. ed. Campina<br />

Grande: UFPB, 1987.<br />

TUNDISI, J. G. Água no século XXI: enfrentan<strong>do</strong> a escassez.<br />

São Carlos: RIMA, IIE, 2003. 248 p.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 12 de março de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 18 de setembro de 2010.<br />

REFERÊNCIAS<br />

CAPORAL, F. R.; RAMOS, L. F. Da extensão rural convencional<br />

à extensão rural para o desenvolvimento sustentável:<br />

Enfrentar desafios para romper a inércia, 2006.<br />

CARPANEZZI, A. A. Benefícios Indiretos da Floresta. In:<br />

Reflorestamento de Propriedades Rurais para fins Produtivos<br />

e ambientais. EMBRAPA Florestas, 2000.<br />

COSTA, F. A. da. Aplicação de Geoprocessamento na<br />

Análise e Modelagem Ambiental da Microbacia Arroio<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 81-89, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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Demanda contínua


Projeto de extensão shantala: massagem para bebês<br />

Shantala Extension Project: Baby Massage<br />

Proyecto de Extensión Shantala: masaje para bebés<br />

Arlete Ana Motter 1<br />

Sacha Fernanda Sartor Porto 2<br />

Ana Paula Micos 2<br />

Tharcila Pazinatto da Veiga 2<br />

Mônica Fernandes <strong>do</strong>s Santos 2<br />

Karen de Souza Derussi 2<br />

Indaiara Felisbino 2<br />

Elisiane Krupniski 2<br />

Camila Ollé da Luz Szklar 2<br />

RESUMO<br />

O Projeto de Extensão Shantala (massagem para bebês) tem o objetivo de estreitar os laços entre a família e o<br />

bebê, por meio da divulgação e aplicação da técnica em Centros de Educação Infantil de Matinhos/PR. O projeto<br />

possibilita a integração entre os fundamentos teóricos práticos (ensino), pesquisa e extensão, para estudantes<br />

<strong>do</strong> Curso de Fisioterapia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná, Setor Litoral. O objetivo deste relato é descrever<br />

as atividades desenvolvidas no projeto de extensão no perío<strong>do</strong> de março a julho de 2010. Nesse perío<strong>do</strong> as<br />

atividades se concentraram em uma escola da rede pública de educação infantil, onde pais, cuida<strong>do</strong>res e bebês<br />

participaram de oficinas e de intervenções realizadas pela equipe <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>. A experiência proporcionou a interação<br />

entre alunos e a comunidade e a vivência de resulta<strong>do</strong>s positivos como o relaxamento e a melhora <strong>do</strong><br />

sono <strong>do</strong>s bebês, a importância da familiarização prévia às intervenções, o interesse da escola na continuidade<br />

<strong>do</strong> projeto e o prazer e satisfação das estudantes em participar da experiência. Por outro la<strong>do</strong> conviveram com<br />

dificuldades como local impróprio para aplicação da técnica, ruí<strong>do</strong>s de outras crianças, baixa adesão de alguns<br />

pais e problemas em estabelecer vínculos com as crianças quan<strong>do</strong> não foi possível um perío<strong>do</strong> de familiarização.<br />

Palavras-chave: massagem; bebês; educação em saúde; vínculo família-bebê.<br />

ABSTRACT<br />

The Extension Project Shantala (baby massage) aims to strengthen ties between the family and baby,<br />

through the dissemination and application of the technique in Early Childhood Education Centres of<br />

Matinhos / PR. The project enables integration between the theoretical practical (teaching), research and<br />

extension, to students of Physiotherapy, from the <strong>Federal</strong> University of Parana, coastal sector. The purpose<br />

of this report is to describe the activities in the extension project in the period from March to July 2010.<br />

During this period the activities were concentrated in a public school early childhood education, where<br />

parents, caregivers and infants participated in workshops and interventions conducted by the study team.<br />

The experience provided the interaction between students and the community and experiencing positive<br />

results such as relaxation and improvement on infant sleep, the importance of familiarization prior to the<br />

interventions, the school’s interest in continuing the project and the pleasure and satisfaction of students<br />

to participate in the experience. On the other hand they lived with difficulties as an inappropriate place for<br />

application of the technique, noise of other children, poor compliance of parents, problems in establishing<br />

ties with the children when it was not possible a familiarization period.<br />

Keywords: massage; babies; health education; family-baby bond.<br />

1 Professora Adjunta <strong>do</strong> Curso de Fisioterapia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná.<br />

2 Acadêmicas <strong>do</strong> Curso de Fisioterapia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

RESUMEN<br />

El proyecto de extensión Shantala (masaje<br />

para bebés) tiene el objetivo de estrechar los<br />

lazos entre la familia y el bebé, por medio de<br />

la divulgación y aplicación de la técnica en<br />

Centros de Educación Infantil de Matinhos/PR.<br />

El proyecto posibilita la integración entre los<br />

fundamientos teoricos prácticos (enseñanza),<br />

pesquisa y extensión, para estudiantes del<br />

Curso de Fisioterapia de la <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná, Setor Litoral. El objetivo<br />

de este informe es drescribir las actividades<br />

desarrolladas en el proyecto de extensión en<br />

el perio<strong>do</strong> de marzo a julio de 2010. En ese<br />

perio<strong>do</strong> las actividades concentráronse en<br />

una escuela de la red pública de educación<br />

infantil, <strong>do</strong>nde padres, cuida<strong>do</strong>res, y bebés<br />

participaron de talleres y de intervenciones realizadas<br />

por el equipo de estudios. La experiéncia<br />

proporcionó la interación entre alumnos<br />

y la comunidad y la vivencia de resulta<strong>do</strong>s<br />

positivos como el relaxamiento y la mejora<br />

del sueño de los bebés, la importancia de la<br />

familiarización previa a las intervenciones,<br />

el interés de la escuela en la continuidad<br />

del proyecto y el placer y satisfacción de las<br />

estudiantes en participar de la experiéncia.<br />

Por otro la<strong>do</strong> convivieron con dificultades<br />

como sitio improprio para aplicación de la<br />

técnica, rui<strong>do</strong>s de otros niños, baja adhesión<br />

de algunos padres y problemas en establecer<br />

lazos con los niños cuan<strong>do</strong> no fue posible un<br />

perio<strong>do</strong> de familiarización.<br />

Palabras-clave: masaje; bebés; educación en<br />

salud; lazos familia-bebé.<br />

Introdução<br />

A Shantala é uma técnica de massagem<br />

para bebês que foi descrita inicialmente por Fréderick<br />

Leboyer, médico obstetra. Por volta <strong>do</strong>s<br />

anos 1970, Leboyer, andan<strong>do</strong> pelas ruas <strong>do</strong> sul<br />

da Índia, avistou uma mulher sentada ao chão<br />

com seu bebê entre as pernas. Ficou encanta<strong>do</strong><br />

com a cena, observan<strong>do</strong> a expressão singela <strong>do</strong><br />

bebê e a concentração da mãe, forman<strong>do</strong> um<br />

vínculo intensamente afetivo. Perceben<strong>do</strong> que<br />

massagear bebês é um costume da cultura local,<br />

o médico aprofun<strong>do</strong>u-se no assunto, pesquisan<strong>do</strong><br />

sobre os efeitos fisiológicos da massagem.<br />

Da pesquisa, surgiu um livro, colocan<strong>do</strong> como<br />

título o nome da mãe observada inicialmente:<br />

Shantala (BRÊTAS, 1999).<br />

Estu<strong>do</strong>s comprovam a eficácia da<br />

massagem. O toque na pele <strong>do</strong> bebê estimula<br />

a percepção cutânea e acelera o crescimento<br />

psicomotor (VICTOR ; MOREIRA, 2004). Efeitos<br />

sistêmicos abrangem os sistemas músculo-esquelético,<br />

nervoso e circulatório. A estimulação<br />

da digestão e <strong>do</strong> sistema respiratório também é<br />

alcançada com a Shantala (BRÊTAS ; SILVA,<br />

1998; CRUZ ; CAROMANO, 2005). A criança<br />

relaxa e tem um sono mais tranquilo, diminui-se<br />

a ocorrência de cólicas e o vínculo entre mãe e<br />

bebê é aumenta<strong>do</strong>, geran<strong>do</strong> um melhor desenvolvimento<br />

infantil (FIELD et al, 1996b, cita<strong>do</strong><br />

por ONOZAWA et al, 2001).<br />

A massagem baseia-se no toque. Os<br />

atos de tocar e sentir são transmiti<strong>do</strong>s fisicamente<br />

entre mãos, braços, pernas, tronco e pés, com<br />

contato direto sobre a pele. A mão <strong>do</strong> massagea<strong>do</strong>r<br />

deve estar aquecida, proporcionan<strong>do</strong> o<br />

melhor contato com a pele <strong>do</strong> bebê. A massagem<br />

inicia com deslizamento das mãos sobre o peito,<br />

seguin<strong>do</strong> para braços, mãos, barriga, pernas, pés<br />

e, assim, costas. Por último, o rosto é massagea<strong>do</strong><br />

(VICTOR ; MOREIRA, 2004). O toque terapêutico<br />

é uma prática milenar de imposição das mãos<br />

sobre o corpo. É muito utiliza<strong>do</strong> por profissionais<br />

da saúde a fim de promover relaxamento, reduzir<br />

ansiedade, controlar <strong>do</strong>r, edema e outros efeitos<br />

(GOMES; SILVA ; ARAÚJO, 2008).<br />

O Projeto de Extensão Universitário<br />

Shantala: massagem para bebês, é um projeto<br />

<strong>do</strong> Curso de Fisioterapia da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong><br />

<strong>do</strong> Paraná, que se iniciou em março de 2009. A<br />

ideia <strong>do</strong> projeto surgiu a partir de uma oficina<br />

sobre cuida<strong>do</strong>s com o bebê ministrada pela<br />

coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> projeto no semestre anterior,<br />

no eixo Interações Culturais e Humanísticas, o<br />

qual faz parte <strong>do</strong> Projeto Político e Pedagógico<br />

da UFPR-Litoral. Está cadastra<strong>do</strong> na <strong>PROEC</strong><br />

sob número 535/09. Inicialmente trabalhou-se<br />

para adequar o projeto às normas <strong>do</strong> Comitê de<br />

94<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

Ética em Pesquisa da própria universidade, ten<strong>do</strong><br />

si<strong>do</strong> aprova<strong>do</strong> em agosto de 2009 sob o número<br />

777.112.09.08. No primeiro ano <strong>do</strong> projeto o<br />

enfoque foi na elaboração de material didático<br />

e divulgação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, fase em que participaram<br />

duas alunas bolsistas e três voluntárias.<br />

Neste segun<strong>do</strong> ano, além das oficinas, também<br />

foram introduzidas intervenções da massagem<br />

em crianças <strong>do</strong> ensino público de Matinhos/PR.<br />

No perío<strong>do</strong> descrito <strong>do</strong> projeto, contava-se com<br />

cinco alunas bolsistas e duas alunas voluntárias,<br />

que neste relato foram identificadas por número.<br />

O presente estu<strong>do</strong> desenvolveu-se de<br />

março a julho de 2010, em um Centro de Educação<br />

Infantil (CEI) de Matinhos/PR. To<strong>do</strong>s os pais<br />

ou responsáveis <strong>do</strong> Berçario 1, que participaram<br />

da reunião inicial, foram convida<strong>do</strong>s a autorizar<br />

a participação de seus filhos no protocolo<br />

de atendimento. Inicialmente foram incluídas<br />

dez crianças, porém duas delas apresentaram<br />

problemas de saúde e faltaram diversas vezes,<br />

sen<strong>do</strong> excluídas <strong>do</strong> protocolo. Participaram<br />

efetivamente oito bebês de ambos os sexos (4<br />

meninas e 4 meninos), de idade entre 6 meses e<br />

1 ano e 5 meses, cujos pais assinaram um Termo<br />

de Compromisso Livre e Esclareci<strong>do</strong>, elabora<strong>do</strong><br />

para esse estu<strong>do</strong>. A fim de garantir o sigilo em<br />

relação à identificação <strong>do</strong>s sujeitos <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>, as<br />

crianças receberam nomes fictícios.<br />

As oito crianças receberam oito aplicações<br />

da técnica Shantala. Entretanto, em seis<br />

lactentes foram realizadas quatro semanas de<br />

familiarização no berçário I, com o objetivo de<br />

favorecer o vínculo entre o acadêmico e o bebê.<br />

Dois bebês não participaram da familiarização<br />

devi<strong>do</strong> à entrada tardia de uma das discentes no<br />

projeto, participan<strong>do</strong> somente das aplicações da<br />

massagem.<br />

Desenvolvimento<br />

O Projeto de Extensão Shantala<br />

desenvolveu-se em quatro etapas. A primeira,<br />

dita familiarização, contemplou 4 semanas de<br />

vivência das estudantes na escola, com a finalidade<br />

de facilitar a interação acadêmica-bebê.<br />

Nesta etapa, as alunas basicamente brincavam<br />

com os bebês e auxiliavam na alimentação <strong>do</strong>s<br />

mesmos, permanecen<strong>do</strong> no CEI por cerca de<br />

duas horas em cada encontro.<br />

Na segunda etapa, o projeto foi apresenta<strong>do</strong><br />

aos pais e cuida<strong>do</strong>res, que receberam<br />

uma cartilha, elaborada pelo grupo de extensionistas,<br />

sobre a técnica Shantala e orientação<br />

quanto à realização da massagem em <strong>do</strong>micílio.<br />

Nessa ocasião, cada criança foi avaliada<br />

com uma ficha de avaliação estruturada para<br />

a pesquisa, onde haviam informações a serem<br />

coletadas junto aos pais ou responsáveis.<br />

A terceira etapa constituiu-se das oito<br />

intervenções realizadas no CEI, uma ou duas<br />

vezes por semana, sen<strong>do</strong> atendidas sempre<br />

pela mesma acadêmica <strong>do</strong> projeto. Após cada<br />

aplicação da massagem, cada discente foi orientada<br />

a anotar suas próprias percepções sobre o<br />

desenrolar das atividades <strong>do</strong> projeto, desse mo<strong>do</strong><br />

favorecen<strong>do</strong> a coleta de da<strong>do</strong>s qualitativos. Na<br />

quarta etapa <strong>do</strong> projeto de extensão, cada criança<br />

foi reavaliada e houve novo encontro com os<br />

pais ou responsáveis, pois deveriam questionar<br />

sobre a realização da massagem em <strong>do</strong>micílio,<br />

a observação de mudanças no comportamento<br />

<strong>do</strong>s filhos, alterações no desenvolvimento motor<br />

e padrão <strong>do</strong> sono <strong>do</strong> bebê.<br />

Uma das acadêmicas, que não fazia<br />

intervenções atuou como observa<strong>do</strong>ra externa,<br />

também anotan<strong>do</strong> suas percepções sobre as vivências<br />

<strong>do</strong> projeto. Esses da<strong>do</strong>s junto às outras<br />

percepções e fichas de avaliação e reavaliação,<br />

permitiram que se refletisse sobre os pontos de<br />

fragilidades e pontos fortes <strong>do</strong> projeto.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

Pontos de Fragilidade<br />

A acadêmica que não realizou o perío<strong>do</strong><br />

de familiarização encontrou muita dificuldade<br />

em estabelecer vínculos com as crianças<br />

em quem aplicava a massagem. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

houve dificuldade em adquirir a confiança das<br />

crianças, conforme ela descreve: “Não participei<br />

das semanas de familiarização, pois entrei tardiamente<br />

no projeto. Esse foi o primeiro ponto que<br />

dificultou a aplicação da técnica nos bebês. Como<br />

não tive este primeiro contato, precisei, em toda<br />

sessão, conquistar e me aproximar das crianças”<br />

(Acadêmica 2). Diante de tal experiência, recomenda-se<br />

que, sempre que possível, prever um<br />

perío<strong>do</strong> inicial às intervenções destina<strong>do</strong> para<br />

as vivências com as crianças, que contemplem<br />

o lúdico favorecen<strong>do</strong> a relação terapeuta-bebê.<br />

Quan<strong>do</strong> trata-se da aplicação da<br />

massagem pelos familiares, esse problema<br />

não aparece, pois já existe um vínculo estabeleci<strong>do</strong><br />

e que poderá ser amplia<strong>do</strong> com<br />

a massagem. Também permite refletir sobre a<br />

frequência das intervenções, pois a dificuldade<br />

enfrentada pela aluna poderia ter si<strong>do</strong> minimizada<br />

se fossem aplicadas sessões diárias, pois para<br />

a criança se sentir segura e aproveitar mais esse<br />

toque, precisa-se de certo tempo adaptativo e<br />

de certa frequência de realização da massagem<br />

(LEBOYER, 1995). Assim, se os pais também<br />

realizassem a massagem em <strong>do</strong>micílio, conforme<br />

orientação <strong>do</strong> projeto, provavelmente o bebê se<br />

adaptaria melhor ao toque, seja <strong>do</strong> familiar ou<br />

da acadêmica.<br />

A aplicação <strong>do</strong> protocolo semanal<br />

foi prejudica<strong>do</strong>, em alguns casos, pela falta<br />

de assiduidade de algumas crianças, ten<strong>do</strong><br />

como exemplo problemas de saúde de <strong>do</strong>is<br />

bebês e por alterações climáticas. No litoral<br />

<strong>do</strong> Paraná, especialmente na cidade de<br />

Matinhos os perío<strong>do</strong>s chuvosos são longos.<br />

Não há proposição para resolver esses problemas,<br />

pois tanto os problemas de saúde<br />

apresenta<strong>do</strong>s, quanto alterações climáticas<br />

fogem ao controle <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res.<br />

Devi<strong>do</strong> à limitação de espaço físico <strong>do</strong><br />

CEI e a precária infraestrutura da escola, foi necessário<br />

realizar as intervenções na própria sala<br />

<strong>do</strong> berçário onde conviviam crianças atendidas<br />

pelo projeto e crianças que não recebiam as intervenções.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, no momento em que<br />

era realizada a massagem, haviam ruí<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s<br />

outros bebês e uma tentativa de chamar atenção<br />

das estudantes a to<strong>do</strong> momento, tornan<strong>do</strong>-se um<br />

ambiente desfavorável para prender a atenção<br />

daqueles que recebiam a massagem.<br />

O ideal seria ter um espaço reserva<strong>do</strong><br />

para que a massagem fosse feita individualmente,<br />

assim a criança não iria se dispersar<br />

com fatores adversos e poderia ficar ainda mais<br />

envolvida com a acadêmica, pois, segun<strong>do</strong><br />

Figueire<strong>do</strong> (2007) o “tocar” a criança pode ir<br />

além <strong>do</strong> próprio toque com as mãos, pode ser<br />

tocada com os olhos (observan<strong>do</strong> atentamente<br />

a criança e suas necessidades), tocá-la com a<br />

voz (conversan<strong>do</strong> com a criança), tocá-la com o<br />

corpo (a entrega recíproca), e, até mesmo tocá-la<br />

com o cheiro (o próprio perfume).<br />

O CEI não oferecia ambiente climatiza<strong>do</strong><br />

(conforme preconiza o méto<strong>do</strong> Shantala), sala<br />

reservada para a execução das massagens e sala<br />

para reuniões com os pais, tais dificuldades podem<br />

ser ilustradas pelos relatos das acadêmicas:<br />

O pedi<strong>do</strong> da mãe de não despir a criança<br />

devi<strong>do</strong> ao frio dificultou a atividade,<br />

pois em alguns dias a massagem teve<br />

que ser realizada por cima da roupa ou<br />

colocan<strong>do</strong> as mãos por baixo da vestimenta<br />

da criança. (Acadêmica 1)<br />

A estrutura <strong>do</strong> local também foi um limitante<br />

porque é um ambiente pequeno,<br />

as salas não são devidamente aquecidas<br />

e as crianças ficam ‘amontoadas’.<br />

(Acadêmica 2)<br />

96<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

A solução poderia contemplar melhorias<br />

e ampliação <strong>do</strong> local, como construção<br />

de novas salas e implantação de climatiza<strong>do</strong>res<br />

de ar, medidas estas que deveriam ser tomadas<br />

pelos órgãos gestores da escola. Nesse senti<strong>do</strong>,<br />

pretende-se apresentar os resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> estu<strong>do</strong><br />

ao Secretário Municipal de Educação <strong>do</strong> município,<br />

para que seja conscientiza<strong>do</strong> das reais<br />

necessidades <strong>do</strong> CEI, no qual se realizou as<br />

intervenções.<br />

Outra possibilidade seria encaminhar<br />

os bebês à Clínica Escola de Fisioterapia da<br />

UFPR-Litoral, onde seria possível o atendimento<br />

em ambiente mais adequa<strong>do</strong>. Entretanto, não se<br />

sabe como seria a adesão de pais e responsáveis<br />

com a mudança de local.<br />

Na percepções das alunas extensionistas,<br />

em alguns momentos, houve pouca<br />

colaboração por parte de algumas cuida<strong>do</strong>ras<br />

em distrair as crianças que não faziam parte <strong>do</strong><br />

protocolo, tornan<strong>do</strong>-se um fator limitante a aplicação<br />

da massagem pelas acadêmicas, conforme<br />

relato a seguir: “Houve um dia em que eu estava<br />

tentan<strong>do</strong> iniciar a aplicação da massagem e a<br />

criança estava meio irritada. Uma das cuida<strong>do</strong>ras<br />

colocou uma música agitada e, em vez de auxiliar<br />

cuidan<strong>do</strong> das outras crianças, pegou a Júlia no<br />

colo e disse: ‘Não quer fazer Shantala hoje Fica<br />

aqui dançan<strong>do</strong> com a tia’. Nesse dia não houve<br />

aplicação, devi<strong>do</strong> ao barulho e a atitude de não<br />

cooperação da cuida<strong>do</strong>ra.” (Acadêmica 2)<br />

Há necessidade, portanto, de maior<br />

conscientização das cuida<strong>do</strong>ras sobre a importância<br />

de sua participação nesse processo de<br />

divulgação e promoção de saúde infantil. Outra<br />

possibilidade de solução seria a inserção de um<br />

aluno somente para interagir com as crianças<br />

que não recebem as intervenções.<br />

A baixa adesão de alguns pais foi um<br />

ponto de fragilidade <strong>do</strong> projeto. Tal problema<br />

pode ter correlação com o horário <strong>do</strong>s encontros<br />

(final <strong>do</strong> horário da tarde), pois os pais e bebês<br />

estavam cansa<strong>do</strong>s e ansiosos em ir para casa.<br />

Como dito anteriormente, o local para as reuniões<br />

com os pais não eram adequa<strong>do</strong>s. Assim, o<br />

pai ou responsável ficava em pé com a criança<br />

no colo, enquanto recebia as informações das<br />

extensionistas, crian<strong>do</strong> uma situação desconfortável.<br />

“... a dificuldade era em falar com alguns<br />

pais que não se mostravam muito interessa<strong>do</strong>s<br />

com o que eu tinha a dizer ou o que eu estava<br />

fazen<strong>do</strong> no local, sempre estavam com pressa.”<br />

(Acadêmica 6).<br />

Na continuidade <strong>do</strong> projeto, poderá<br />

ser necessário alterar o horário para divulgar a<br />

técnica e demonstrá-la, procuran<strong>do</strong> abranger<br />

o coletivo <strong>do</strong>s pais, com o intuito de aumentar<br />

sua adesão. Também pretende-se conseguir<br />

sala própria para reuniões, seja no próprio CEI,<br />

seja na UFPR – Litoral ou na Clínica Escola de<br />

Fisioterapia. Além disso, pretende-se atuar precocemente<br />

divulgan<strong>do</strong> a massagem Shantala,<br />

em grupo de gestantes, pois verificou-se pela<br />

literatura (HOGA; REBERTE, 2006) que se a<br />

conscientização sobre a importância e benefícios<br />

da técnica for realizada durante o perío<strong>do</strong><br />

gestacional, a adesão é maior no pós-parto, pois<br />

as mães iniciam a aplicação da massagem já nos<br />

primeiros meses de vida e a criança se adapta<br />

ao toque.<br />

Os bebês maiores de 1 ano queriam<br />

brincar e correr pela sala, tornan<strong>do</strong> o processo<br />

mais lento e complica<strong>do</strong>, como mostra o relato<br />

a seguir: “Como iniciei tardiamente a aplicação,<br />

acabei fican<strong>do</strong> com duas crianças com mais de 1<br />

ano. Uma delas corria quan<strong>do</strong> percebia que era<br />

hora da Shantala, fazen<strong>do</strong> gesto de ‘não’ com o<br />

dedinho. O tamanho também influenciou, porque<br />

era difícil colocar a criança na posição deitada<br />

em cima das pernas estendidas”.(Acadêmica<br />

2). Pela experiência <strong>do</strong> projeto, quanto antes<br />

se iniciam as primeiras aplicações da Shantala,<br />

maior o vínculo estabeleci<strong>do</strong> entre familiar-bebê<br />

ou entre acadêmico-bebê. Se as intervenções<br />

iniciarem até o terceiro mês de vida, conforme<br />

recomendação de Leboyer (1995), de maneira<br />

gradual a criança vai se adaptan<strong>do</strong> à técnica.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

Pontos fortes <strong>do</strong> projeto<br />

O perío<strong>do</strong> de familiarização (4 semanas)<br />

foi de grande importância para as intervenções<br />

posteriores, pois nesse perío<strong>do</strong> as acadêmicas<br />

interagiam com as crianças, com brincadeiras<br />

e atividades lúdicas, até que se desenvolveu o<br />

binômio acadêmica-bebê.<br />

Se por um la<strong>do</strong> houve diversas dificuldades<br />

ligadas à execução <strong>do</strong> projeto, por outro<br />

la<strong>do</strong> a experiência foi muito gratificante para<br />

to<strong>do</strong>s os envolvi<strong>do</strong>s. O contato com as crianças<br />

proporcionou a incrível sensação de relaxamento<br />

e serenidade, tanto para quem aplicou<br />

a massagem quanto para quem recebeu. Quem<br />

estava apenas olhan<strong>do</strong>, observan<strong>do</strong> cada gesto<br />

e cada sentimento, se encantou com o que viu.<br />

A vivência foi única, em cada sessão de Shantala<br />

se obtinha uma nova percepção e (re)conhecimento<br />

sobre o corpo humano.<br />

Acredito que toda a experiência que vivi,<br />

tu<strong>do</strong> o que senti, é inexplicável e com<br />

certeza o fim desse trabalho envolveu<br />

muito mais que um simples papel com<br />

escritas. Esse trabalho resultou num<br />

despertar de cuida<strong>do</strong> e carinho pelo<br />

próximo por meio de um leve toque<br />

e um singelo sorriso, tive um verdadeiro<br />

crescimento como ser humano.<br />

(Acadêmica 3)<br />

O carinhoso toque das acadêmicas,<br />

que passava tranquilidade e confiança<br />

aos bebês, criou importantes laços afetivos.<br />

A fascinação <strong>do</strong>s bebês pelas discentes era<br />

visível e cativava aos que compartilhavam <strong>do</strong><br />

momento.“Marina ainda não anda e pouco<br />

engatinha. Sempre que eu chegava ao CEI, ela<br />

estava no chão e vinha até mim se arrastan<strong>do</strong><br />

com o bumbum, sabia que era hora da Shantala.”<br />

(Acadêmica 1)<br />

Cada movimento era percebi<strong>do</strong> pela<br />

criança. Elas gostavam de atenção e da ideia<br />

de ter alguém ali, interagin<strong>do</strong> diretamente. Cada<br />

toque gerava um sorriso, um tanto desconfia<strong>do</strong><br />

em princípio, mas que foi progredin<strong>do</strong> com o<br />

andar da experiência. A leve desconfiança permaneceu<br />

até que a ida das acadêmicas ao CEI<br />

tornou-se rotina e, então, to<strong>do</strong>s ficavam ansiosos<br />

pela chegada da equipe <strong>do</strong> projeto.<br />

Notei que durante a massagem ela (a<br />

criança) gostou muito, ficava olhan<strong>do</strong><br />

bem atenta to<strong>do</strong>s os movimentos e até<br />

tentou falar algumas palavras. Gostava<br />

quan<strong>do</strong> eu tocava seu rosto e seus pés –<br />

dava risadas e relaxava principalmente<br />

quan<strong>do</strong> massageava o peito, braços e<br />

mãos.” (Acadêmica 1)<br />

A vivência dentro <strong>do</strong> Centro de Educação<br />

Infantil foi de muita valia para a vida. As<br />

realizações que aconteceram nesse espaço não<br />

só contribuíram para o crescimento profissional,<br />

mas também para a vida (inter)pessoal. As cuida<strong>do</strong>ras,<br />

assim como as acadêmicas, perceberam<br />

diferenças nas crianças após as sessões.“As crianças<br />

melhoram muito nos dias de atendimento.<br />

Ficam mais calmas e tranquilas. Nos dias que não<br />

tem atendimento, elas ficam mais agitadas e se<br />

um bebê acorda, to<strong>do</strong>s acordam. […] Crianças<br />

que não conseguiam <strong>do</strong>rmir ou <strong>do</strong>rmiam pouco,<br />

agora ficam mais relaxadas a maior parte <strong>do</strong> tempo,<br />

graças à intervenção das meninas.” (Relato<br />

de uma Cuida<strong>do</strong>ra)<br />

Os pais que realizaram a Shantala<br />

em casa, relataram que os bebês ficavam mais<br />

tranquilos após as massagens e <strong>do</strong>rmiam melhor.<br />

Tal observação também foi descrita pelas<br />

extensionistas em suas percepções. Pais que se<br />

envolveram e demonstraram maior integração,<br />

participan<strong>do</strong> das experiências, aprenden<strong>do</strong> e<br />

aplican<strong>do</strong> as orientações em suas casas, proporcionaram<br />

benefícios tanto para si quanto para<br />

os bebês (SIMPSON, 2001).<br />

98<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOTTER, A.A. et al. Projeto de Extensão Shantala: massagem para bebês<br />

De maneira geral, o projeto Shantala<br />

contribuiu para a aproximação, o afeto, o carinho<br />

e a comunicação entre aqueles que cuidam,<br />

educam e compartilham <strong>do</strong> conjunto de méto<strong>do</strong>s<br />

aplica<strong>do</strong>s junto aos processos que ocorrem no<br />

desenvolvimento infantil.<br />

A direção da escola prontamente acolheu<br />

a equipe <strong>do</strong> projeto e mesmo com poucos<br />

recursos, procurou viabilizar o que era possível,<br />

favorecen<strong>do</strong> a comunicação com os pais ou responsáveis.<br />

A receptividade foi tão positiva que<br />

motivou aos participantes <strong>do</strong> projeto a continuar<br />

desenvolven<strong>do</strong> ações por um semestre a mais <strong>do</strong><br />

perío<strong>do</strong> pretendi<strong>do</strong>.<br />

As acadêmicas <strong>do</strong> curso de fisioterapia<br />

desenvolveram-se tecnicamente durante esta experiência<br />

<strong>do</strong> projeto, pois tal qual o enfermeiro,<br />

o fisioterapeuta, no seu processo de formação<br />

acadêmica, deve passar obrigatoriamente pelo<br />

ensino teórico e pelo saber fazer (vivências práticas)<br />

que somente serão possíveis nos campos<br />

de estágio (SALOMÉ; ESPÓSITO, 2008) e em<br />

experiências proporcionadas por projetos de<br />

extensão. Também houve condições oportunas<br />

para o amadurecimento relativo a questões operacionais,<br />

características desse tipo de atividade<br />

que envolvem ações extensionistas.<br />

Portanto, acredita-se estar favorecen<strong>do</strong><br />

a integração <strong>do</strong> ensino-pesquisa e extensão, com<br />

a continuidade <strong>do</strong> projeto de extensão Shantala:<br />

massagem para bebês.<br />

Considerações finais<br />

O perío<strong>do</strong> de familiarização foi de suma<br />

importância para o bom desenvolvimento da<br />

técnica, pois a confiança expressa pelas crianças<br />

se deu graças a essa etapa. Tal constatação se<br />

deu pela dificuldade em criar vínculos com os<br />

bebês da acadêmica que não participou desse<br />

processo. As intervenções que iniciam nos primeiros<br />

meses de vida <strong>do</strong> bebê e realizadas com<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

maior frequência semanal favorecem a adaptação<br />

ao toque terapêutico e o aumento <strong>do</strong> vínculo<br />

familiar ou acadêmico-bebê.<br />

As intervenções foram essenciais para<br />

comprovar que a massagem Shantala exige um<br />

ambiente adequa<strong>do</strong> (climatização, ambiente<br />

calmo e tranquilo) para sua realização. Assim,<br />

torna-se imprescindível a utilização de um local<br />

apropria<strong>do</strong> que ofereça o conforto necessário<br />

aos bebês e aplica<strong>do</strong>res, visan<strong>do</strong> alcançar o relaxamento<br />

que a massagem promove. A aplicação<br />

da massagem envolve uma entrega de quem<br />

aplica e de quem recebe a massagem. Os pais<br />

que aderiram à prática da Shantala observaram<br />

seus benefícios para a saúde e tranquilidade <strong>do</strong>s<br />

bebês, o que também foi observa<strong>do</strong> pelas alunas.<br />

As atividades realizadas propiciaram a<br />

integração <strong>do</strong>s estudantes <strong>do</strong> Curso de Fisioterapia<br />

com a comunidade litorânea e favoreceram<br />

a integração <strong>do</strong> ensino-pesquisa e extensão. O<br />

projeto é viável, pois exige poucos recursos e<br />

com alguns ajustes será possível continuar esse<br />

trabalho em outros centros de educação infantil<br />

<strong>do</strong> município ou com grupos de gestantes.<br />

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no Tocar. Acta Paul. Enf., São Paulo, v. 12, n. 2, p.<br />

16-26, 1999.<br />

BRÊTAS, J. R. S.; SILVA, M. G. B. Massagem em bebês:<br />

um projeto de extensão comunitária. Acta Paul. Enf., São<br />

Paulo, v. 11, Número Especial, p. 59-63, 1998.<br />

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técnicas de massagem para bebês. Rev. Ter. Ocup. Univ.,<br />

São Paulo, v. 16, n. 1, p. 47-53, jan./abr., 2005.<br />

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Pediatria. Braga: 2007. p. 29-38.<br />

GOMES, V. M.; SILVA, M. J.; ARAÚJO, E. A. C. Efeitos<br />

gradativos <strong>do</strong> toque terapêutico na redução da ansiedade<br />

99


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de estudantes universitários. Rev. Bras. Enferm., Brasília,<br />

v. 61, n. 6, p. 841-846, nov.-dez. 2008.<br />

HOGA, L. A. K.; REBERTE, L. M. Terapias corporais em<br />

grupos de gestantes: a experiência <strong>do</strong>s participantes. Rev.<br />

Bras. Enferm., v. 59, n. 3, p. 308-313, 2006.<br />

LEBOYER, F. Shantala: uma arte tradicional massagem<br />

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SALOMÉ, G. M.; ESPÓSITO, V. H. C. Vivências de<br />

acadêmicos de enfermagem durante o cuida<strong>do</strong> presta<strong>do</strong><br />

às pessoas com feridas. Rev. Bras. Enferm., Brasília, v. 61,<br />

n. 6, p. 822-827, nov./dez. 2008.<br />

SIMPSON, Robbie. Baby massage classes and the work<br />

of the International Associatin of Infant Massage. Complementary<br />

Therapies in Nursing & Midwifery, Leicester, v.<br />

7, p. 25-33, 2001.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 22 de setembro de 2010.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 10 de maio de 2011.<br />

100<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 93-100, jul./dez. 2010. Editora UFPR


A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

Mediation in popular education and its impact in subjectivity<br />

Mediación en la educación popular y su impacto en la subjectividad<br />

Maurício Mogilka 1<br />

RESUMO<br />

A discussão travada neste artigo pretende ser uma contribuição ao complexo problema das questões psicossociais<br />

presentes na relação de mediação em educação popular. A discussão toma como ponto específico<br />

o impacto que esta relação tem ou pode ter no desenvolvimento da subjetividade popular. Este tema é de<br />

fundamental importância para as práticas de mediação com caráter liberta<strong>do</strong>r, paradigma que é o principal<br />

fundamento deste texto. Contu<strong>do</strong>, o termo liberta<strong>do</strong>r é toma<strong>do</strong> aqui em senti<strong>do</strong> amplo, para designar não<br />

apenas o pensamento de autores latino-americanos fundamentais para se compreender a nossa realidade<br />

social, como Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão ou Pablo Richard, mas também qualquer outro<br />

autor que possa contribuir para os processos de libertação <strong>do</strong> ser humano. Neste texto específico, foram<br />

trabalhadas reflexões vindas da própria prática <strong>do</strong> autor no trabalho social, há mais de duas décadas, e<br />

algumasdeias de autores como Dewey, Sartre, Hegel e Galeffi.<br />

Palavras-chave: mediação; educação popular; subjetividade.<br />

ABSTRACT<br />

This article makes a reflection about complex problem of the psicossocial question in the educational relationship<br />

in popular education. The main focus of the discussion is the impact that this relationship have in<br />

the development of the subjectivity of the poor peoples. This matter is of fundamental importance to the<br />

educational practices with liberator nature, pedagogic paradigm that is the main theoretical support of this<br />

text. However, the word liberator is take here in the large sense, meaning the thought of Latin American<br />

authors, like Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão or Pablo Richard, that have a great importance to<br />

the understand our social reality; but liberator here in this text means too the thought of others authors, that<br />

can contribute to the liberation of the human being. In this specific article, was used reflections of the own<br />

practices of the author in the social work, and some ideas of authors like Dewey, Sartre, Hegel e Galeffi.<br />

Keywords: educational relationship; popular education; subjectivity.<br />

RESUMEN<br />

La discusión planteada en este artículo desea ser una contribución al complexo problema de las cuestiones<br />

psicossociales presentes en la relación educativa en el trabajo social. La discusión toma como punto específico<br />

el impacto que esta relación ten o pode tener en el desarrollo de las personas de las camadas más<br />

pobres de la población. Esta temática es de fundamental importancia para las prácticas educativas del tipo<br />

liberta<strong>do</strong>r, paradigma que es el fundamento de este texto. Todavía, la palabra liberta<strong>do</strong>r es usada aquí en<br />

senti<strong>do</strong> amplio, significan<strong>do</strong> no solamente el pensamiento de autores latino-americanos fundamentales para<br />

se comprehender la nuestra realidad social, como Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão ou Pablo Richard,<br />

mas también cualquier otro autor que posa contribuir para los procesos de liberación del ser humano. En<br />

este texto específico, se trabajó con las reflexiones de la propia práctica del autor de este artículo, como<br />

1 Professor Adjunto de Didática da Faculdade de Educação da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Bahia. Doutor em Educação pela FACED/<br />

UFBA. Coordena<strong>do</strong>r <strong>do</strong> projeto de extensão “Educação e Libertação”. Da<strong>do</strong>s para contato: Faculdade de Educação da UFBA – Av.<br />

Reitor Miguel Calmon, s/n, Canela – 40110-100 - Salva<strong>do</strong>r – BA; Tel. (71)32837230; e-mail: mmogilka@ufba.br<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

102<br />

también con algunas ideas de autores como<br />

Dewey, Sartre, Hegel e Galeffi.<br />

Palabras-clave: relación educativa; educación<br />

popular; subjectividad.<br />

Relação de mediação e desenvolvimento<br />

da subjetividade popular<br />

A discussão travada neste artigo pretende<br />

ser uma contribuição ao complexo problema<br />

das questões psicossociais presentes na relação<br />

de mediação em educação popular. A discussão<br />

toma como ponto específico o impacto que esta<br />

relação tem ou pode ter no desenvolvimento da<br />

subjetividade popular. Pretende também avaliar as<br />

consequências práticas e subjetivas desta relação<br />

para a construção da autonomia <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.<br />

Este tema é de fundamental importância para<br />

as práticas de mediação com caráter liberta<strong>do</strong>r,<br />

paradigma que é o principal fundamento <strong>do</strong> meu<br />

trabalho na área social, e também a inspiração<br />

teórica deste texto.<br />

Contu<strong>do</strong>, é importante ressaltar que<br />

eu tomo aqui o termo liberta<strong>do</strong>r em um senti<strong>do</strong><br />

amplo, para designar não apenas o pensamento<br />

de autores latino-americanos fundamentais para<br />

se compreender a nossa realidade social, como<br />

Paulo Freire, Carlos Rodrigues Brandão ou Pablo<br />

Richard, mas também qualquer outro autor que<br />

possa contribuir para os processos de libertação<br />

<strong>do</strong> ser humano, seja Marx, Gramsci, A<strong>do</strong>rno<br />

ou Dewey. Neste texto específico, eu trabalharei<br />

com reflexões vindas da minha própria prática no<br />

trabalho social, há mais de duas décadas, e com<br />

algumas ideias de autores como Dewey, Sartre,<br />

Hegel e Galeffi.<br />

A relação de mediação no trabalho social<br />

já é complexa em si mesma, devi<strong>do</strong> à complexidade<br />

<strong>do</strong> educar. Os efeitos desta complexidade se<br />

mostram ainda mais graves quan<strong>do</strong> se trata de práticas<br />

de mediação em projetos e movimentos sociais<br />

que trabalham com crianças, jovens e adultos<br />

que vivem em precárias condições sociais em nosso<br />

país ou até mesmo em situação de risco. Abordar<br />

e se relacionar com os educan<strong>do</strong>s em qualquer<br />

tipo de situação educativa a partir <strong>do</strong>s modelos<br />

pedagógicos convencionais tem produzi<strong>do</strong> grandes<br />

dificuldades de aprendizagem e desenvolvimento<br />

nesta população. Mas a presença <strong>do</strong>s paradigmas<br />

pedagógicos conserva<strong>do</strong>res ainda é forte, de forma<br />

secreta e sutil, em muitos media<strong>do</strong>res que se<br />

propõem a um trabalho de auto-libertação popular.<br />

A relação de mediação “montada”<br />

(muitas vezes inconscientemente) a partir destes<br />

modelos tem leva<strong>do</strong> à intervenções autoritárias ou<br />

paternalistas, para que se alcancem os objetivos<br />

defini<strong>do</strong>s, geralmente sem a participação da própria<br />

população. As dificuldades de aprendizagem<br />

ocorrem porque é impossível para os educan<strong>do</strong>s<br />

aprender e se desenvolver de forma sadia se ela<br />

não consegue atribuir significa<strong>do</strong>s àquilo que lhe<br />

é proposto, sejam conceitos, ideias, valores ou<br />

normas de convivência.<br />

Contu<strong>do</strong>, como atribuir significa<strong>do</strong>s, senão<br />

a partir da experiência e <strong>do</strong>s conhecimentos<br />

prévios <strong>do</strong> grupo, que frequentemente são considera<strong>do</strong>s<br />

um obstáculo às atividades educativas<br />

A influência de uma persistente e subliminar epistemologia<br />

positivista mantém uma cissão artificial<br />

entre o mun<strong>do</strong> da vida cotidiana e o logos <strong>do</strong>s<br />

saberes e reflexões chama<strong>do</strong>s elabora<strong>do</strong>s. Esta<br />

cissão provoca uma desqualificação, mesmo que<br />

“delicada”, da experiência e da cultura popular.<br />

Este é um <strong>do</strong>s fatores que irão dificultar a construção<br />

de uma relação de mediação baseada em<br />

afetividades positivas e um respeito genuíno, que<br />

supera tanto o autoritarismo positivista como uma<br />

idealização romântica da cultura popular.<br />

Estas reflexões poderiam contribuir para<br />

uma qualificação teórica e também para uma<br />

mudança de atitudes por parte de educa<strong>do</strong>res<br />

sociais, e por parte <strong>do</strong>s cursos de formação destes<br />

profissionais. Mesmo no campo da chamada educação<br />

popular, ainda é muito forte a compreensão<br />

convencional de intervenção junto aos educan<strong>do</strong>s,<br />

fortemente centrada no saber instituí<strong>do</strong> e nos valores<br />

<strong>do</strong>minantes. Se para qualquer educan<strong>do</strong> isto é<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

um problema, pois oprime o seu ser, para aqueles<br />

que vem de situações de risco é ainda mais grave,<br />

exigin<strong>do</strong> <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res sociais muito preparo<br />

teórico e muita flexibilidade.<br />

As situações de mediação são, por excelência,<br />

momentos onde a subjetividade gera mais<br />

subjetividade. Isto é, elas são situações forma<strong>do</strong>ras<br />

onde a subjetividade joga um forte papel, ao<br />

menos nas práticas presenciais. Considerar estes<br />

fatores subjetivos no trabalho social não significa<br />

cair em posições subjetivistas ou psicologizantes,<br />

pois aqui entendemos os fatores subjetivos sempre<br />

articula<strong>do</strong>s com os aspectos materiais, políticos e<br />

sociais que deixam suas fortes marcas em qualquer<br />

prática social de formação. Estas práticas e<br />

seus resulta<strong>do</strong>s são entendi<strong>do</strong>s desta forma como<br />

situações multicausais e complexas, nunca imunes<br />

aos fatores sociais e subjetivos que influem<br />

na suas trajetórias, embora seja difícil determinar<br />

com precisão o peso que cada fator representa na<br />

constituição da prática.<br />

Mesmo consideran<strong>do</strong> o peso <strong>do</strong>s fatores<br />

mais objetivos na estruturação da situação<br />

de mediação, eu creio que a subjetividade, como<br />

fator forma<strong>do</strong>r de mais subjetividade, tem uma<br />

força maior <strong>do</strong> que lhe é atribuída pela maioria<br />

das teorias pedagógicas. Em 1910, no livro Como<br />

pensamos, Dewey já nos alertava para a importância<br />

<strong>do</strong>s fatores subjetivos na relação pedagógica:<br />

Raras vezes (e jamais completamente) é<br />

o educa<strong>do</strong>r um “meio transparente” para<br />

fazer o educan<strong>do</strong> conhecer determina<strong>do</strong><br />

assunto. Para os educan<strong>do</strong>s a influência da<br />

personalidade <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r influi intimamente<br />

sobre o resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> seu ensino. Não<br />

só eles não separam as duas coisas, como<br />

não as distinguem. E como as reações<br />

<strong>do</strong> educan<strong>do</strong> o aproximam ou afastam<br />

de tu<strong>do</strong> o que lhe ensinam, ele associa<br />

continuamente suas sensações de prazer<br />

ou desprazer, de simpatia ou aversão, não<br />

só aos atos <strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, como também<br />

ao assunto trata<strong>do</strong> por este. (DEWEY,<br />

1953, p. 51).<br />

O caráter formativo (ou deformativo, se<br />

exerci<strong>do</strong> de forma desumana) <strong>do</strong>s fatores subjetivos<br />

nas relações de mediação ocorre sempre, em<br />

maior ou menor grau. Contu<strong>do</strong>, ele é mais intenso<br />

quan<strong>do</strong> as relações são mais longas no tempo: ser<br />

trata<strong>do</strong> de forma severa pelo funcionário de um<br />

banco atinge a pessoa bem menos <strong>do</strong> que ser trata<strong>do</strong><br />

de forma semelhante pelos media<strong>do</strong>res, com<br />

quem elas convivem por vários meses ou anos.<br />

Este tipo de clima emocional afeta a aprendizagem<br />

e o desenvolvimento de educan<strong>do</strong>s de qualquer<br />

origem social, mas produz efeitos ainda mais devasta<strong>do</strong>res<br />

quan<strong>do</strong> se tratam de pessoas em situação<br />

de risco ou pertencentes a minorias, como já foi<br />

explicita<strong>do</strong>. Por que isto acontece<br />

Estas pessoas geralmente já têm a auto-<br />

-estima comprometida, pelas características das<br />

próprias condições sociais em que vivem. Aprendizagem<br />

e desenvolvimento não são processos<br />

simples, e dependem muito de fatores afetivos,<br />

como tentarei desenvolver a seguir. No caso <strong>do</strong><br />

desenvolvimento de atitudes, valores, interesses e<br />

consciência crítica, elementos básicos <strong>do</strong> trabalho<br />

social em perspectivas liberta<strong>do</strong>ras, que envolvem<br />

mudanças nas atitudes políticas, esta dificuldade<br />

fica ainda mais clara.<br />

É difícil as pessoas mudarem os seus<br />

valores e atitudes, pois eles constituem a própria<br />

personalidade, aquilo que a pessoa é: mudar<br />

valores é, de certa forma, mudar o próprio eu.<br />

Além disto, o trabalho social com valores e atitudes<br />

é difícil pelas escolhas éticas que ele coloca.<br />

Quem garante ao educa<strong>do</strong>r social ou à liderança<br />

comunitária que aquele valor social ou político é<br />

preferível a outro, mais conserva<strong>do</strong>r, por exemplo<br />

Onde encontrar um critério de legitimidade<br />

para defender um comportamento político, e<br />

mais difícil, convencer as pessoas a defendê-lo<br />

e praticá-lo Isto é essencial aos projetos educativos<br />

e políticos de inspiração liberta<strong>do</strong>ra, pois<br />

aqui não se aceita a prática da <strong>do</strong>utrinação e nem<br />

a atitude política de se considerarem os media<strong>do</strong>res<br />

a “vanguarda” que vai “guiar o povo” rumo à<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

libertação. O conceito de auto-libertação popular<br />

não combina com <strong>do</strong>utrinação.<br />

As práticas de mediação liberta<strong>do</strong>ras, ao<br />

menos na minha interpretação, ao trabalharem<br />

com desenvolvimento de valores, exigem que estes<br />

valores e atitudes sejam pratica<strong>do</strong>s para serem<br />

desenvolvi<strong>do</strong>s. Isto significa construir relações interpessoais<br />

coerentes com tais valores, o que depende<br />

fortemente <strong>do</strong> preparo psicossocial <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res<br />

e das lideranças comunitárias: aqui, o discurso não<br />

basta. Aliás, eu acredito que a credibilidade social<br />

de qualquer trabalho de inspiração liberta<strong>do</strong>ra<br />

depende de uma rigorosa coerência entre discurso,<br />

teoria e prática por parte <strong>do</strong>s profissionais, inclusive<br />

intelectuais acadêmicos, que trabalham neste<br />

campo ou tentam aí produzir influências.<br />

Incoerências desta natureza comprometem<br />

os resulta<strong>do</strong>s de experiências alternativas, em<br />

projetos ou movimentos sociais, que são representa<strong>do</strong>s<br />

socialmente, muitas vezes, como não<br />

distintos das práticas e atitudes conserva<strong>do</strong>ras.<br />

Valores essenciais à construção de experiências<br />

sociais mais justas e humanas, como a ética e a<br />

sociabilidade cooperativa, precisavam ser vivi<strong>do</strong>s<br />

e experimenta<strong>do</strong>s na prática, pois o discurso<br />

separa<strong>do</strong> da experiência é pouco eficaz para o<br />

desenvolvimento das pessoas.<br />

Outros discursos corroboram esta posição,<br />

mostran<strong>do</strong> como a experiência prática e a<br />

qualidade da relação interpessoal são fundamentais<br />

para o desenvolvimento de valores e atitudes.<br />

Por exemplo Galeffi (1998), a partir de um enfoque<br />

fenomenológico, nos chama a atenção para a<br />

conexão entre relação, senti<strong>do</strong> e autonomia política.<br />

A consciência e a autonomia político-social,<br />

consideradas nos jogos de relação com os outros<br />

sujeitos e com as estruturas de poder, só podem<br />

se dar se há uma correspondência de senti<strong>do</strong> da<br />

autonomia em cada pessoa em desenvolvimento.<br />

Não há condição de ocorrer nenhuma forma<br />

consistente de consciência politico-social, capaz de<br />

sustentar um projeto genuinamente democrático<br />

de sociedade, se o sujeito singular não desenvolver<br />

uma pessoalidade própria e um exercício de<br />

autonomia inter e intrapessoal (GALEFFI, 1998).<br />

Para isto, é necessário a instauração de<br />

relações interpessoais adequadas, que permitam<br />

ao grupo viver a sua diferença e experimentar a<br />

sua autonomia de forma concreta, de tal maneira<br />

que os participantes tenham uma base prática<br />

para elaborar um senti<strong>do</strong> para a autonomia social.<br />

Desta forma, qualquer discussão e tentativa<br />

de democracia real e de autonomia social só tem<br />

senti<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> desenvolvimento concreto de<br />

sujeitos sociais, com uma singularidade construída<br />

culturalmente (GALEFFI, 1998). Sem esta<br />

correspondência de senti<strong>do</strong>, os discursos sobre a<br />

consciência político-social e a cidadania têm grande<br />

chance de se tornarem formais e abstratos, ou<br />

ainda mais grave, normativos, pois não têm senti<strong>do</strong><br />

para aquela pessoa específica, e dificilmente terão<br />

o seu conteú<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> por ela.<br />

Contu<strong>do</strong>, as relações interpessoais não<br />

exercem influência importante apenas na elaboração<br />

da consciência política, mas na própria<br />

estruturação <strong>do</strong> sujeito, isto é, no processo de<br />

formação humana. O sujeito não se constitui sozinho,<br />

ele precisa da relação com seus semelhantes.<br />

A autonomia de uma pessoa, se por um la<strong>do</strong> não<br />

pode ser <strong>do</strong>ada por um outro, também não nasce<br />

de uma decisão pessoal, de um ato isola<strong>do</strong> e<br />

auto-suficiente. Ela precisa ser reconhecida, não se<br />

estrutura na solidão: a sua constituição é interativa.<br />

Analisan<strong>do</strong> o pensamento de Hegel,<br />

Sartre (1998) nos mostra a importância das ideias<br />

deste autor alemão para compreendermos o processo<br />

de constituição da consciência que o sujeito<br />

elabora de si. Sartre nos mostra como Hegel desvela<br />

este fenômeno sutil e complexo: para se constituir<br />

enquanto consciência, é necessário que o eu seja<br />

percebi<strong>do</strong> por outra consciência. Logo, ser para o<br />

outro é uma etapa necessária no desenvolvimento<br />

da consciência que o eu elabora de si, de tal forma<br />

que o eu precisa obter o reconhecimento <strong>do</strong> seu ser<br />

no outro. Hegel procura provar sua tese através <strong>do</strong><br />

princípio da identidade: o que caracteriza o eu é a<br />

sua identidade consigo mesmo, e sua consequente<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

não identidade com o resto <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, inclusive<br />

com o outro (SARTRE, 1998; HEGEL, 1978).<br />

Só assim, se opon<strong>do</strong> ao outro (em termos<br />

de representação identitária), é que o eu é<br />

o que é, ou seja, é ele mesmo. Somente assim<br />

o eu consegue se definir, obter um estatuto de<br />

ser. Não haveria possibilidade e senti<strong>do</strong> no eu, se<br />

ele fosse contínuo com tu<strong>do</strong> que o rodeia; seria<br />

não-eu, seria o próprio to<strong>do</strong>. Mas este reconhecimento,<br />

esta identidade consigo mesmo, ainda<br />

carece <strong>do</strong> reconhecimento <strong>do</strong> outro. Ou seja,<br />

depende que o outro reconheça o eu como um<br />

objeto, como algo externo a si mesmo (externo<br />

ao outro). Esta é a prova conclusiva, pois o eu<br />

não poderia ser objeto para o outro, se fosse<br />

ele mesmo (o outro). Isto explicaria porque a<br />

consciência precisa ser reconhecida por outra<br />

consciência, para ser:<br />

Assim, a intuição genial de Hegel é a de<br />

fazer-me dependente <strong>do</strong> outro em meu<br />

ser. Eu sou – diz ele – um ser Para-si<br />

(consciência) que só é Para-si por meio<br />

<strong>do</strong> outro. Portanto, o outro me penetra<br />

em meu âmago. Não poderia colocálo<br />

em dúvida sem duvidar de mim<br />

mesmo, pois “a consciência de si é real<br />

somente enquanto conhece seu eco (e<br />

seu reflexo) no outro” (...) Ao invés de o<br />

problema <strong>do</strong> outro se colocar a partir da<br />

consciência, é, ao contrário, a existência<br />

<strong>do</strong> outro que faz a consciência possível<br />

como o momento abstrato em que o eu<br />

se apreende como objeto. (SARTRE,<br />

1998, p. 307-308).<br />

Trazen<strong>do</strong> esta discussão para a área de<br />

formação política, creio que a compreensão deste<br />

fenômeno é fundamental para a constituição<br />

de práticas favoráveis à libertação. O educa<strong>do</strong>r e<br />

a liderança comunitária representam importantes<br />

outros no processo de estruturação política da<br />

população. Principalmente com populações<br />

marginalizadas, cuja relação com a autoridade<br />

instituída é vertical e tende a negar a afirmação<br />

da autonomia e de um auto-conceito positivo.<br />

Aliás, este é um perverso mecanismo <strong>do</strong>s processos<br />

históricos de <strong>do</strong>minação na América Latina,<br />

face subjetiva complementar e imprescindível<br />

destes processos de opressão secular, atuan<strong>do</strong><br />

de forma conjugada com os processos de <strong>do</strong>minação<br />

física, material e jurídica.<br />

Logo, a forma como estes agentes sociais<br />

enxergam e tratam a população afeta sensivelmente<br />

o auto-conceito que esta elabora de si<br />

mesma, embora não o determine completamente.<br />

Tal fenômeno é agrava<strong>do</strong> pelo fato que esta<br />

influência muitas vezes não é percebida pelos<br />

educan<strong>do</strong>s. Isto nos alerta para a força que irão<br />

jogar as representações, preconceitos e expectativas<br />

<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res no delica<strong>do</strong> processo de<br />

constituição da autonomia <strong>do</strong>s grupos populares<br />

participantes <strong>do</strong>s projetos e movimentos sociais<br />

com os quais atuamos.<br />

A relação de mediação e as aprendizagens<br />

conceituais<br />

O conjunto de argumentos acima parece<br />

mostrar as conexões entre a subjetividade<br />

<strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s e o desenvolvimento<br />

de atitudes e valores favoráveis às<br />

lutas por direitos e por sociedades mais justas.<br />

Ou seja, sociedades capazes de humanizar a<br />

humanidade, de jogar a humanidade para novos<br />

patamares de vida, de convivência e de relação<br />

com o planeta, além <strong>do</strong>s parâmetros limitantes<br />

e mercantilistas da ordem capitalista. É, sem<br />

dúvida, um campo complexo de se trabalhar<br />

em educação popular. Será, contu<strong>do</strong>, que estas<br />

questões subjetivas também não atingem, talvez<br />

em menor grau, as aprendizagens no campo<br />

mais cognitivo, como conceitos e fatos Será a<br />

aprendizagem neste campo mais fácil, e talvez<br />

até, isenta <strong>do</strong>s fatores subjetivos Ou serão as<br />

aprendizagens no campo conceitual também<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

afetadas pela natureza e qualidade das relações<br />

interpessoais<br />

As aprendizagens <strong>do</strong> campo cognitivo,<br />

como fatos, conceitos e princípios, são também<br />

muito importantes em propostas de educação<br />

liberta<strong>do</strong>ra. Primeiro, porque a própria aprendizagem<br />

da ciência e da cultura elaborada constitui<br />

em si um fator de cidadania, um direito e uma<br />

necessidade da população. E uma parte <strong>do</strong>s<br />

conhecimentos desta cultura estão no campo<br />

conceitual. Em segun<strong>do</strong> lugar, apesar de eu não<br />

acreditar que conceitos e ideias modifiquem<br />

comportamentos, eles são importantes, pois são<br />

portas de entrada, são provocações, possibilidades<br />

de mudanças futuras de valores, atitudes e<br />

formas de sociabilidade.<br />

A crença iluminista de mudança <strong>do</strong><br />

sujeito a partir de conceitos e ideias é problemática<br />

na área educativa, pois simplifica o que<br />

é complexo. Os processos de mudança <strong>do</strong> ser<br />

humano são muito mais complexos e envolvem<br />

bem mais <strong>do</strong> que o campo cognitivo e intelectual.<br />

Uma parte <strong>do</strong> pensamento social mais engaja<strong>do</strong>,<br />

e inclusive <strong>do</strong> ativismo social, esteve durante os<br />

séculos XIX e XX fortemente liga<strong>do</strong> a duas ideias<br />

de base racionalista, herança da concepção de<br />

sujeito <strong>do</strong> século XVIII. A primeira é a crença<br />

segun<strong>do</strong> a qual quanto mais informação e conhecimento,<br />

mais pensamento, e quanto mais<br />

pensamento, mais consciência sobre a realidade.<br />

Ou seja, o processo de superação da alienação<br />

política é um processo prioritariamente cognitivo.<br />

Esta ideia sustentou e sustenta ainda<br />

parte das propostas mais engajadas de formação<br />

para a cidadania na modernidade. A sua representação<br />

gráfica poderia ser feita da seguinte<br />

forma:<br />

práticas de mediação<br />

construção <strong>do</strong> conhecimento<br />

autonomia intelectual e política<br />

Na educação popular temos um modelo<br />

<strong>do</strong>minante, ainda muito forte, cuja base<br />

filosófica repousa sobre ideia semelhante:<br />

conhecimento<br />

conscientização<br />

mudanças no comportamento<br />

Mas as mudanças subjetivas, especialmente<br />

aquelas de caráter político, não são tão<br />

simples. Elas necessitam de outros elementos<br />

para acontecerem. Que elementos seriam estes<br />

conhecimento<br />

conscientização<br />

<br />

A manutenção de propostas de formação<br />

baseadas nestas ideias, é uma herança<br />

da racionalidade constituída nos séculos XVII e<br />

XVIII, na forma como ela foi apropriada pelas<br />

estruturas políticas <strong>do</strong>minantes nas sociedades<br />

capitalistas. Estas propostas têm o mérito de<br />

mostrar a importância <strong>do</strong>s elementos cognitivos<br />

e intelectuais para o processo de constituição da<br />

autonomia das pessoas. Mas falta uma ênfase<br />

maior nos demais elementos necessários para<br />

esta constituição: o desejo pela mudança; aspecmudanças<br />

no<br />

comportamento<br />

<br />

<br />

<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

tos subjetivos como afetividade, auto-conceito e<br />

autoconfiança; a identificação com o coletivo; e<br />

a estruturação de uma ambiência social que dê<br />

suporte e alguma segurança para a coletividade<br />

experimentar processos de mudança.<br />

A segunda ideia, incorporada mesmo<br />

em abordagens com um pensamento social bastante<br />

avança<strong>do</strong>, é a crença de que uma lúcida e<br />

penetrante consciência <strong>do</strong>s problemas leva necessariamente<br />

o sujeito a desenvolver uma ação para<br />

transformar a realidade, ou seja, leva à práxis.<br />

Inclusive, o conceito freireano de conscientização<br />

é uma síntese, uma integração entre o exercício<br />

da consciência crítica e a práxis. Isto é altamente<br />

desejável, mas não ocorre sempre junto.<br />

Ao menos na minha experiência de<br />

trabalho comunitário, tenho visto que o salto<br />

da conscientização para a práxis não é inevitável,<br />

ele não acontece sempre. E inversamente:<br />

uma pessoa ou comunidade que não se põe a<br />

transformar uma realidade problemática, mesmo<br />

ten<strong>do</strong> condições potenciais para isto, não está<br />

necessariamente alienada, inconsciente das causas<br />

<strong>do</strong>s problemas. Outros autores, com sólida<br />

formação liberta<strong>do</strong>ra e riquíssimo trabalho na<br />

área comunitária, como Valla (1996), parecem<br />

corroborar esta interpretação.<br />

Embora a conscientização não ocorra<br />

separada da ação, nem sempre uma comunidade<br />

prosseguirá em um processo de práxis. Não<br />

podemos desconsiderar que em seu cotidiano,<br />

em uma luta contínua pela sobrevivência, uma<br />

comunidade vive e exercita uma série de ações,<br />

sen<strong>do</strong> que muitas destas ações (não todas) são<br />

gera<strong>do</strong>ras de conscientização. Nós percebemos,<br />

em movimentos sociais e associações comunitárias,<br />

que um grupo pode estar consciente <strong>do</strong>s<br />

problemas e suas causas, mas concluir que naquele<br />

momento um processo de enfrentamento<br />

com os poderes instituí<strong>do</strong>s não é promissor.<br />

Mas é inegável que o conceito, em<br />

certas situações, coloca as pessoas conscientemente<br />

em contato com certas questões, e<br />

abre a possibilidade delas serem trabalhadas.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

Um exemplo típico desta abertura é o fato de<br />

muitas pessoas no Brasil, milhões de pessoas,<br />

aliás, sequer sabem que possuem certos direitos.<br />

Como lutar por algo que desconhecemos Outro<br />

exemplo importante, para quem trabalha na área<br />

social, é ajudar as pessoas de uma comunidade<br />

a conhecer certas formas de reivindicação e luta,<br />

que deram certo em outras situações semelhantes.<br />

Este conhecimento estimula a confiança <strong>do</strong><br />

grupo e a participação.<br />

Logo, este campo conceitual também<br />

é importante para os que trabalham com a relação<br />

entre educação e processos de organização<br />

popular. Contu<strong>do</strong>, creio que as aprendizagens<br />

nesta área são também afetadas pelos fatores<br />

subjetivos da relação. O trabalho educativo é<br />

muito absorvente e complexo. Ele exige um<br />

grau de comprometimento e envolvimento que<br />

é incomum em muitas outras atividades. Se os<br />

media<strong>do</strong>res não possuem uma relação afetiva<br />

forte com seu trabalho, isto dificulta uma ação<br />

educativa eficaz. 2 Ele tem, então, menos motivação<br />

para “entrar” nas questões problemáticas<br />

<strong>do</strong> trabalho educativo.<br />

Além de ser exigente e complexo, o trabalho<br />

educativo expõe muito os media<strong>do</strong>res aos<br />

seus parceiros, os educan<strong>do</strong>s: as contradições<br />

ficam muito claras. Isto é ainda mais transparente<br />

nos movimentos e projetos sociais, pois aí não<br />

existem as autoritárias regras escolares ou acadêmicas<br />

para calar os alunos, ao menos não com a<br />

mesma força e organização. Para intensificar este<br />

efeito, há ainda o fato de que as crianças e jovens<br />

são mais sensíveis aos aspectos emocionais das<br />

relações <strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s adultos.<br />

Um fator subjetivo muito grave, que<br />

normalmente nos escapa, é o fato que a relação<br />

de uma pessoa consigo mesma afeta fortemente<br />

a sua relação com outras pessoas. Isto é ainda<br />

mais grave no caso das relações que envolvem<br />

2 Afetividade aqui neste artigo é usa<strong>do</strong> não apenas como sinônimo<br />

de sentimentos, mas de acor<strong>do</strong> com seu significa<strong>do</strong> mais amplo,<br />

como utiliza<strong>do</strong> na psicologia e na filosofia. Neste caso, a dimensão<br />

afetiva inclui sentimentos e emoções, interesses, impulsos e tendências,<br />

além da vontade e <strong>do</strong>s valores da pessoa, que a dirigem<br />

voluntariamente para certos objetos e atividades, e não para outros.<br />

107


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

uma grande desigualdade de acesso ao saber<br />

elabora<strong>do</strong> e à compreensão <strong>do</strong>s mecanismos<br />

políticos de funcionamento das sociedades capitalistas.<br />

E assim são geralmente as relações entre<br />

media<strong>do</strong>res e grupos populares, secularmente<br />

excluí<strong>do</strong>s na América Latina <strong>do</strong>s instrumentos<br />

culturais necessários à esta compreensão. Media<strong>do</strong>res<br />

em conflito com sua profissão, méto<strong>do</strong><br />

de trabalho ou consigo mesmos, dificilmente<br />

deixam de expressar isto, crian<strong>do</strong> geralmente<br />

um clima socio-emocional severo, frio e distante.<br />

Esta falta de envolvimento afetivo <strong>do</strong>s<br />

media<strong>do</strong>res, contu<strong>do</strong>, produz um efeito ainda<br />

mais sutil e poderoso, com fortes reflexos na<br />

aprendizagem: ela é lida por muitos educan<strong>do</strong>s<br />

como falta de afetividade por eles, e não somente<br />

pelo trabalho, pois em alguns casos é impossível<br />

estabelecer uma distinção entre os <strong>do</strong>is<br />

fenômenos. Esta mensagem involuntária <strong>do</strong>s<br />

media<strong>do</strong>res afeta negativamente a auto-estima<br />

e o autoconceito <strong>do</strong> grupo. Para complicar ainda<br />

mais, muitas vezes esta relação fria ou autoritária<br />

com os profissionais afeta até as relações entre<br />

os educan<strong>do</strong>s, desagregan<strong>do</strong> o grupo. Este quadro<br />

complexo provoca diferentes reações <strong>do</strong>s<br />

participantes, como o desinteresse pelo assunto<br />

a aprender, o ressentimento com o media<strong>do</strong>r, a<br />

indisciplina ou mesmo a submissão.<br />

Todas estas reações são desfavoráveis<br />

à cidadania e à participação social. Contu<strong>do</strong>,<br />

é importante compreender que os educan<strong>do</strong>s<br />

não reagem assim por estratégia consciente e<br />

voluntária contra a severidade ou despreparo<br />

psicossocial <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res. É realmente difícil<br />

para o ser humano conviver em ambientes e situações<br />

“frias” ou permeadas por afetos negativos.<br />

Através de uma atitude negativa ou até mesmo<br />

tentan<strong>do</strong> bloquear o trabalho educativo, através<br />

da dispersão, os educan<strong>do</strong>s estão na verdade<br />

reagin<strong>do</strong>. Desta forma, estão tentan<strong>do</strong> restabelecer<br />

o equilíbrio interno através da recuperação<br />

da sua auto-estima, que é um mecanismo de<br />

regulação da energia vital da pessoa.<br />

Aprendizagem e desenvolvimento não<br />

são processos simples, e exigem fortes relações<br />

afetivas para serem bem sucedi<strong>do</strong>s. Isto ocorre<br />

porque a aprendizagem e a emoção são processos<br />

que não estão separa<strong>do</strong>s, mas juntos. Isto<br />

vale mesmo para os adultos. Qual de nós negará<br />

que aprende mais quan<strong>do</strong> gosta <strong>do</strong> assunto, <strong>do</strong><br />

méto<strong>do</strong>, <strong>do</strong> grupo e da pessoa que nos ensina<br />

Ou seja, quan<strong>do</strong> nos sentimos bem afetivamente<br />

e em segurança Porque seria diferente<br />

com crianças e jovens, ainda mais de minorias<br />

e grupos sociais excluí<strong>do</strong>s, que já vivem em um<br />

cotidiano severo e violento<br />

É verdade que o desafio intelectual<br />

é importante, para provocar o desequilíbrio<br />

cognitivo que nos leva a pensar e investigar.<br />

Contu<strong>do</strong>, se este estímulo se torna impositivo<br />

e desagradável, ele deixa de ser desafio e se<br />

converte em ameaça ao eu. Ter que conviver<br />

em ambiente emocional desta natureza contribui<br />

para desagregar a pessoa, e não para uma<br />

formação integral.<br />

Além disto, a falta de envolvimento<br />

afetivo produz ainda outro impacto desfavorável<br />

à aprendizagem. Se entendemos o conhecimento<br />

como resulta<strong>do</strong> de uma construção ativa por<br />

parte da pessoa, e não como cópia de conceitos<br />

externos, apresenta<strong>do</strong>s ao educan<strong>do</strong> e<br />

assimila<strong>do</strong>s passivamente por ele, isto significa<br />

que aprender é um fenômeno ativo, e não passivo.<br />

Por isto, envolve um grande engajamento<br />

<strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, exigin<strong>do</strong> altos níveis de energia,<br />

atenção e disciplina. Os participantes não irão<br />

dedicar esta energia e nem se engajar na atividade<br />

proposta, indispensável à aprendizagem,<br />

se não estiverem genuinamente interessa<strong>do</strong>s,<br />

direcionan<strong>do</strong>-se voluntariamente para o objeto<br />

<strong>do</strong> conhecimento.<br />

Assim, o problema não é apenas o fato<br />

que o educa<strong>do</strong>r obterá melhores resulta<strong>do</strong>s na<br />

aprendizagem e no desenvolvimento de uma<br />

consciência política por parte <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s,<br />

se forem construídas relações afetivamente positivas<br />

com o grupo. A natureza deste fenômeno<br />

108<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

parece ser mais radical: a dimensão afetiva de<br />

uma prática educativa não é opcional, ela não<br />

pode ser evitada, pois é inerente a qualquer<br />

prática que seja realizada diretamente através<br />

de relações interpessoais. Os agentes envolvi<strong>do</strong>s<br />

estabelecerão algum tipo de afetividade – positiva<br />

ou negativa – para levar à frente processo tão<br />

absorvente como o educativo. O envolvimento<br />

afetivo com a prática e com os outros participantes<br />

será provavelmente negativo se não for<br />

positivo, pois é muito difícil a existência de uma<br />

afetividade neutra em atividade que demanda<br />

tanto envolvimento.<br />

Sempre se poderá argumentar que<br />

a afetividade também pode ser usada para<br />

manipular, para omitir ou para <strong>do</strong>minar. Isto é<br />

verdadeiro. Relações afetivas podem esconder<br />

o desejo de <strong>do</strong>minar, como também podem<br />

representar uma postura paternalista, que não<br />

contribui para processos de emancipação e participação<br />

da comunidade. Isto, contu<strong>do</strong>, não desqualifica<br />

o que foi afirma<strong>do</strong> acima. Apenas nos<br />

mostra que a afetividade, sozinha, não garante<br />

um trabalho social que promova a autonomia<br />

e libertação.<br />

A afetividade positiva é imprescindível<br />

ao trabalho de mediação liberta<strong>do</strong>ra, mas<br />

ela é insuficiente. Para favorecer este trabalho,<br />

relações afetivamente positivas precisam estar<br />

intrinsecamente articuladas à aprendizagem, ao<br />

exercício da consciência crítica e à mobilização<br />

para a práxis. Neste caso, estas práticas e relações<br />

envolvem uma tentativa coletiva de compreensão<br />

das estruturas políticas que, de forma direta<br />

ou mediada, interferem na vida <strong>do</strong> grupo.<br />

Há ainda um outro problema causa<strong>do</strong><br />

pelo inadequa<strong>do</strong> tratamento da afetividade na<br />

relação de mediação: o estímulo à dependência e<br />

à falta de autonomia <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, que em nada<br />

contribui para uma formação crítica. Dewey<br />

chama a atenção para este risco:<br />

Os educa<strong>do</strong>res – e pode-se dizer isto<br />

especialmente <strong>do</strong>s mais enérgicos e<br />

melhores – tendem a recorrer às suas<br />

principais qualidades pessoais para<br />

dirigirem o trabalho <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, e<br />

assim, a fazerem que sua influência pessoal<br />

vá substituin<strong>do</strong> a <strong>do</strong> assunto, como<br />

estímulo para o trabalho. Com o tempo<br />

o educa<strong>do</strong>r descobre que sua própria<br />

influência pessoal mostra eficácia em<br />

casos em que é quase nulo o poder <strong>do</strong><br />

assunto para atrair a atenção; utiliza-se<br />

então da mesma até que a relação entre<br />

o educan<strong>do</strong> e o conhecimento seja substituída<br />

pela relação entre o educan<strong>do</strong> e<br />

o educa<strong>do</strong>r. Assim, a personalidade <strong>do</strong><br />

educa<strong>do</strong>r transforma-se em uma fonte<br />

de dependência e enfraquecimento<br />

da personalidade <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, e esta<br />

circunstância torna a este indiferente<br />

pelo conhecimento ensina<strong>do</strong>. (DEWEY,<br />

1953, p. 52).<br />

Ressalva<strong>do</strong>s estes cuida<strong>do</strong>s necessários<br />

na relação afetiva, a preparação psico-<br />

-emocional <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res só tem a acrescentar<br />

no trabalho com populações marginalizadas,<br />

geralmente com a autoestima muito comprometida.<br />

A autoestima constitui um forte exemplo<br />

das articulações entre os fatores subjetivos, a<br />

aprendizagem e o trabalho social volta<strong>do</strong> para<br />

a conquista de direitos. O poder instituí<strong>do</strong>, em<br />

uma sociedade fragmentada em classes, precisa<br />

trabalhar a subjetividade <strong>do</strong>s indivíduos para<br />

reforçar o seu <strong>do</strong>mínio neste intenso campo<br />

de batalha que é o eu. Uma das formas mais<br />

perversas e sutis de enfraquecer uma pessoa e<br />

aumentar a sua dependência em relação à autoridade<br />

é atacar a sua auto-estima, pois aí ela<br />

fica mais insegura na relação com o instituí<strong>do</strong>.<br />

Isto é bem visível nas pessoas que<br />

integram grupos sociais subordina<strong>do</strong>s. Com<br />

frequência os educa<strong>do</strong>res entram neste jogo<br />

(muitas vezes sem perceber), para conseguir se<br />

impor e manter autoridade frente ao grupo de<br />

educan<strong>do</strong>s, devi<strong>do</strong> às dificuldades <strong>do</strong> próprio ato<br />

educativo. Outra causa deste comportamento é o<br />

fato destes profissionais terem passa<strong>do</strong> por uma<br />

formação tradicional, na maioria <strong>do</strong>s casos, e ser<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

109


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

esta a sua única referência de trabalho educativo.<br />

Uma terceira causa são as pressões sociais<br />

sobre os educa<strong>do</strong>res. Contu<strong>do</strong>, isoladas, elas são<br />

incapazes de produzir um comportamento no<br />

modelo tradicional.<br />

A formação <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res é um ponto<br />

crítico para a relação entre educação e libertação.<br />

Sem viver experiências alternativas de formação,<br />

de onde os educa<strong>do</strong>res poderão extrair<br />

outros paradigmas para o trabalho educativo<br />

Isto ocorre inclusive nos projetos e movimentos<br />

sociais, isto é, na educação popular. Minha<br />

experiência nesta modalidade de educação tem<br />

mostra<strong>do</strong> que somente o trabalhar em situações<br />

alternativas (não escolares) é insuficiente para<br />

gerar práticas alternativas (não convencionais).<br />

Infelizmente parte <strong>do</strong>s projetos de trabalho social<br />

importou para dentro de suas práticas as soluções<br />

tradicionais, a não ser naqueles casos em que os<br />

profissionais tiveram acesso a referências teóricas<br />

e experiências alternativas.<br />

Os educa<strong>do</strong>res não podem dar aquilo<br />

que não tem. Ou colocan<strong>do</strong> de outra maneira,<br />

não podem proporcionar aquilo que não experimentaram<br />

antes. Isto nos mostra como é<br />

importante uma formação alternativa para os<br />

media<strong>do</strong>res, fora <strong>do</strong>s desgastantes e centraliza<strong>do</strong>s<br />

modelos da educação conserva<strong>do</strong>ra. Por to<strong>do</strong>s<br />

os argumentos coloca<strong>do</strong>s acima, tal formação<br />

precisaria colocar em destaque, entre outros<br />

elementos da formação <strong>do</strong> profissional da área<br />

social, a importância das suas habilidades relacionais,<br />

uma das capacidades que considero<br />

fundamentais para a formação <strong>do</strong>s media<strong>do</strong>res<br />

nas propostas liberta<strong>do</strong>ras.<br />

As relações interpessoais são a ponte<br />

para educa<strong>do</strong>res e educan<strong>do</strong>s desenvolverem<br />

os vários objetivos da formação humana, inclusive<br />

aqueles de caráter político. A natureza e a<br />

qualidade destas relações contamina tu<strong>do</strong> o que<br />

os educan<strong>do</strong>s sentem, percebem e aprendem.<br />

Se a ponte não está bem construída, a travessia<br />

se torna difícil, instável ou pouco interessante.<br />

Por melhores que sejam as intenções <strong>do</strong> projeto<br />

político desenvolvi<strong>do</strong>, elas naufragam se não<br />

estiverem baseadas em relações afetivamente positivas,<br />

ao menos na perspectiva defendida aqui.<br />

Cuidar e retrabalhar as relações das<br />

quais participamos é fundamental tanto por<br />

razões sociais como pessoais. Sociais, porque<br />

a reconstrução das relações é essencial para a<br />

instauração de novas éticas e novas políticas,<br />

favoráveis à construção de sociedades mais justas.<br />

Pessoais, porque nós vivemos mergulha<strong>do</strong>s<br />

em um oceano social. Nós estamos imersos em<br />

relações to<strong>do</strong> o tempo, em to<strong>do</strong>s os lugares. Isto<br />

está em nossa ontologia, o isolamento é uma<br />

condição desumana. Felizmente nós estamos<br />

condena<strong>do</strong>s à convivência, e dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

seu caráter, esta convivência pode ser um forte<br />

fator de crescimento e felicidade. Cuidar das<br />

nossas relações é simultaneamente cuidar de<br />

nós mesmos e <strong>do</strong> outro. O reconhecimento, a<br />

afeição e a companhia <strong>do</strong>s nossos semelhantes<br />

são o maior bem da vida humana.<br />

REFERÊNCIAS<br />

DEWEY, John. Como pensamos. São Paulo: Nacional,<br />

1953.<br />

DEWEY, John. Pode a Educação participar na reconstrução<br />

social Currículos sem fronteiras. v. 2, p. 189-193.<br />

jul./dez. 2001.<br />

FREIRE, Paulo. Pedagogia <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong>. Rio de Janeiro:<br />

Paz e Terra, 1987.<br />

FREIRE, Paulo. Conscientização. Teoria e prática da libertação.<br />

São Paulo: Moraes, 1980.<br />

GALEFFI, Dante. Relações interpessoais – a construção<br />

<strong>do</strong>s sujeitos sociais autônomos e inventivos: esta<strong>do</strong> da<br />

questão. Revista da FAEEBA, Salva<strong>do</strong>r, n. 9, p. 193-209,<br />

1998.<br />

HEGEL, Georg. Fenomenologia <strong>do</strong> espírito. Petrópolis:<br />

Vozes, 1978.<br />

MOGILKA, Maurício. Pensamento e desejo – Práticas educativas<br />

e processos de formação humana em pleno capi-<br />

110<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOGILKA, M. A mediação na educação popular e seu impacto na subjetividade<br />

talismo. 216p. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Educação) - FACED/<br />

UFBA, Salva<strong>do</strong>r, 2004.<br />

MOGILKA, Maurício. O que é educação democrática<br />

Contribuições para uma questão sempre atual. Curitiba:<br />

Editora da UFPR, 2003.<br />

MOGILKA, Maurício. Educação, desenvolvimento humano<br />

e cosmos. Educação e pesquisa, São Paulo, v. 31, p. 363-<br />

377, USP, dez. 2005. Disponível em: .<br />

SARTRE, Jean-Paul. O ser e o nada. Ensaio de ontologia<br />

fenomenológica. Petrópolis: Vozes, 1998.<br />

VALLA, Victor. A crise de interpretação é nossa: procuran<strong>do</strong><br />

compreender a fala das classes subalternas. Educação<br />

& Realidade, Porto Alegre, n. 21, p. 177-190, dez. 1996.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 1º de dezembro de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 14 de dezembro de 2010.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 101-111, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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Sistema série escola: recurso de verificação para formação<br />

continuada<br />

"Série Escola" system: verification resource for continuing education<br />

Sistema "Série Escola": recurso de verificación para formación<br />

continuada<br />

Alessandra Nichele Magro 1<br />

RESUMO<br />

A formação <strong>do</strong>cente, num viés da práxis educativa, se configura como uma política voltada à qualidade<br />

pessoal e profissional. Como consequência são evidentes as exigências de mudança comportamental <strong>do</strong><br />

<strong>do</strong>cente no atual cenário educacional. Buscou-se investigar de que maneira os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sistema SERIE,<br />

um programa computacional de estatísticas disponível nas escolas estaduais de Santa Catarina, podem ser<br />

utiliza<strong>do</strong>s para o planejamento de formação continuada, nas escolas da rede pública estadual de abrangência<br />

da Sétima Gerência Regional de Educação. Procurou-se entender, também, em que medida esse Sistema é<br />

utiliza<strong>do</strong> para diagnosticar as áreas de menor rendimento educacional, que, consequentemente, precisam<br />

de intervenção, utilizan<strong>do</strong> estes da<strong>do</strong>s para reflexão e aprimoramento pedagógico. A pesquisa realizada<br />

é de cunho qualitativo, ten<strong>do</strong> o questionário estrutura<strong>do</strong> como técnica da pesquisa, envolven<strong>do</strong> todas as<br />

escolas de abrangência da Sétima Gerência Regional de Educação. Constatou-se que as equipes pedagógicas<br />

das escolas utilizam, na sua maioria, os da<strong>do</strong>s estatísticos de aprendizagem para o planejamento<br />

de formação <strong>do</strong>cente, mas contradizem-se na seleção das temáticas da formação a ser proposta, uma vez<br />

que não analisam os da<strong>do</strong>s e, em grande parte, consultam aleatoriamente o interesse <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes. Outra<br />

variável diagnosticada é o posicionamento da equipe pedagógica que reconhece a eficácia da formação<br />

continuada quan<strong>do</strong> é realizada por área de ensino. No entanto, essa equipe realiza uma formação conjunta<br />

com to<strong>do</strong>s os profissionais da educação nas unidades escolares. Dessa forma, é possível constatar que o<br />

Sistema SERIE possibilita recursos de análise para o aumento <strong>do</strong>s índices da qualidade <strong>do</strong> ensino público<br />

estadual, mas está disperso e sem organização para seu uso adequa<strong>do</strong> e promissor.<br />

Palavras-chave: Formação Docente; Planejamento; Sistema SERIE.<br />

ABSTRACT<br />

The teaching background, in an approach of educational practice, is characterized as a policy aimed to the<br />

professional and personal quality, and as a result the requirements of teacher’s behavioral change have been<br />

clear to the educational scenery. From such suppositions, we investigated how the data from the SERIE<br />

System, a statistical computer software that is available in public schools in Santa Catarina, can be used<br />

to plan the extended education in the state public schools reaching the Seventh Regional Office of Education.<br />

We also attempted to understand how this System has been used to diagnose the environments with<br />

lower educational efficiency, and consequently which environments need intervention, using these data<br />

for a better reflection and pedagogical improvement. It is a qualitative research, which used a structured<br />

questionnaire as research technique, reaching every school from the Seventh Regional Office of Education.<br />

We observed that the pedagogical team from the schools has used, in most of the cases, the learning<br />

statistical data to plan the teachers’ education, nevertheless the selection of the education theme to be pro-<br />

1 Mestre em Educação pela <strong>Universidade</strong> <strong>do</strong> Oeste de Santa Catarina (Unoesc), aluna <strong>do</strong> Curso Especialização em Administração<br />

Pública da Unoesc. E-mail: alessandra.magro@unoesc.edu.br.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

113


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

posed is conflicting, because the data are not<br />

analyzed and most of the times the teachers’<br />

interests are examined at ran<strong>do</strong>m. Another<br />

variable diagnosed is the pedagogical team’s<br />

positioning, which recognizes the efficiency<br />

of the extended education when it is carried<br />

out in the area of teaching, therefore teachers<br />

have had joint education together with all the<br />

professionals of education in school units. This<br />

way, it is possible to evidence that the SERIE<br />

System enables analysis resources to improve<br />

the quality indexes of state public teaching,<br />

however it is dispersedly and disorganized for<br />

an adequate and flattering use.<br />

Keywords: Teaching Background; Planning;<br />

SERIE System.<br />

RESUMEN<br />

La formación <strong>do</strong>cente, en el segmento de la<br />

praxis educativa, es configurada como una<br />

política que se vuelve a la calidad personal y<br />

profesional; como consecuencia son evidentes<br />

las exigencias de mudanza de comportamiento<br />

del <strong>do</strong>cente en el actual escenario educacional.<br />

Se buscó investigar de que manera<br />

los datos del Sistema SERIE, un programa<br />

computacional de estadísticas, disponible en<br />

las escuelas estaduales de Santa Catarina,<br />

pueden ser utiliza<strong>do</strong>s para el planeamiento<br />

de formación continuada en las escuelas de<br />

red pública estadual que hacen parte de la<br />

Séptima Gerencia Regional de Educación.<br />

Se intentó entender, también, en que medida<br />

ese sistema es utiliza<strong>do</strong> para diagnosticar las<br />

áreas de menor rendimiento educacional, que,<br />

por consecuencia, necesitan de intervención,<br />

utilizan<strong>do</strong> estos datos para reflexión y mejoría<br />

pedagógica. La investigación realizada es<br />

de carácter cualitativo, con un cuestionario<br />

estructura<strong>do</strong> como técnica de investigación,<br />

envolvien<strong>do</strong> todas las escuelas que componen<br />

la Séptima Gerencia Regional de Educación.<br />

Fue constata<strong>do</strong> que los equipos pedagógicos<br />

de las escuelas utilizan, en su gran mayoría,<br />

los datos estadísticos de aprendizaje para el<br />

planeamiento de formación <strong>do</strong>cente, sin embargo<br />

son contradictorios en la selección de<br />

las temáticas de formación a ser propuesta,<br />

una vez que no analizan los datos y, en gran<br />

parte, consultan de mo<strong>do</strong> aleatorio el interés<br />

de los <strong>do</strong>centes. Otra variable diagnosticada es<br />

el posicionamiento del equipo pedagógico que<br />

reconoce la eficacia de la formación continuada<br />

cuan<strong>do</strong> es realizada por área de enseño.<br />

No obstante, ese equipo realiza una formación<br />

conjunta con to<strong>do</strong>s los profesionales de la<br />

educación en las unidades escolares. De esa<br />

manera, es posible constatar que el Sistema<br />

SERIE posibilita recursos de análisis para el<br />

crecimiento de los índices de la calidad de enseño<br />

publico estadual, pero está disperso y sin<br />

organización para su uso adecua<strong>do</strong> y promisor.<br />

Palabras-clave: Formación Docente; Planeamiento;<br />

Sistema SERIE.<br />

Introdução<br />

A educação pública brasileira apresenta<br />

o caráter democrático como uma das principais<br />

variáveis para sua qualidade. Observa-se que a<br />

democratização da escola e <strong>do</strong> ensino é propulsora<br />

da nova caracterização da escola pública no<br />

país, da<strong>do</strong>s os registros legais que norteiam toda<br />

ação pedagógica. Com essa ideia, é necessário<br />

refletir sobre o que significa na prática a democratização,<br />

como qualidade da escola pública.<br />

Para que o processo democrático seja<br />

real e valida<strong>do</strong> cotidianamente nas escolas públicas,<br />

há vieses que devem fazer parte da rotina da<br />

instituição, e, nessa perspectiva, a gestão escolar<br />

abrange o exercício de poder, incluin<strong>do</strong> os processos<br />

de planejamento, a tomada de decisões<br />

e a avaliação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s.<br />

Consideran<strong>do</strong>-se que o ponto de partida<br />

e de chegada da escola é a aprendizagem <strong>do</strong><br />

aluno, é imprescindível o olhar atento de como<br />

está esse processo. Para isso, as unidades escolares<br />

da rede pública estadual de Santa Catarina<br />

dispõem de recursos humanos e tecnológicos<br />

que possibilitam a leitura panorâmica e processual<br />

de como está a evolução acadêmica de cada<br />

aluno e o desempenho de cada área de ensino.<br />

Inúmeras ações podem ser desenvolvidas<br />

para a democratização da escola pública e,<br />

nesse senti<strong>do</strong>, a busca permanente <strong>do</strong> aprimoramento<br />

de ferramentas que auxiliem no acompanhamento<br />

pedagógico é uma premissa para o<br />

alcance de um eixo importante no processo educacional,<br />

a avaliação. Para tanto, todas as escolas<br />

públicas estaduais têm à disposição um programa<br />

desenvolvi<strong>do</strong> pela Secretaria de Esta<strong>do</strong> que<br />

114<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

possibilita aos profissionais da educação liga<strong>do</strong>s<br />

diretamente ao departamento pedagógico da<br />

instituição − os assistentes técnicos pedagógicos,<br />

especialistas, coordena<strong>do</strong>res pedagógicos, entre<br />

outros − uma leitura panorâmica de como está o<br />

processo ensino-aprendizagem, estatisticamente.<br />

Esse programa é denomina<strong>do</strong> Sistema SERIE e,<br />

por meio dele, é possível diagnosticar, durante<br />

o ano letivo, variáveis que possam dificultar o<br />

processo de ensino-aprendizagem. Além disso,<br />

os resulta<strong>do</strong>s possibilitam a promoção de formação<br />

continuada, eficiente, com os <strong>do</strong>centes<br />

das áreas que apresentem menor rendimento<br />

escolar, ou seja, esse sistema é uma ferramenta<br />

que possibilita verificar, acompanhar e subsidiar<br />

a intervenção na formação <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes das<br />

escolas da rede pública estadual, priman<strong>do</strong> pela<br />

qualidade de ensino.<br />

Os índices nacionais comprovam que<br />

a educação da rede pública estadual de Santa<br />

Catarina está acima da média nacional, conforme<br />

está publica<strong>do</strong> no site <strong>do</strong> Ideb (http://<br />

sistemasideb.inep.gov.br/resulta<strong>do</strong>), o que instiga<br />

a pesquisar como as equipes pedagógicas das<br />

escolas acompanham o processo educacional<br />

e em que medida utilizam os da<strong>do</strong>s para a proposição<br />

da formação continuada nas Unidades<br />

Escolares, bem como a busca por uma política<br />

de formação eficiente que melhore ainda mais<br />

os índices estatísticos das unidades escolares<br />

da rede pública estadual da Sétima Gerência<br />

Regional de Educação.<br />

Diante da necessidade de reconhecer<br />

como são diagnosticadas as áreas que<br />

precisam de maior planejamento, investimento<br />

e formação continuada <strong>do</strong>s profissionais,<br />

serão utiliza<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s,<br />

com o intuito de servir de base para o reconhecimento<br />

de como acontece o planejamento<br />

regional de formação <strong>do</strong>cente, ten<strong>do</strong><br />

a possibilidade de conhecer as estratégias de<br />

planejamento utilizadas até o momento pela<br />

equipe pedagógica das escolas, voltadas à<br />

formação <strong>do</strong>cente.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, o uso de ferramentas<br />

que apresentam da<strong>do</strong>s reais e atualiza<strong>do</strong>s para<br />

a eficácia <strong>do</strong> acompanhamento pedagógico e de<br />

sua intervenção é de grande valia, o que evidencia<br />

a importância da utilização <strong>do</strong> Sistema SERIE<br />

para planejar ações pedagógicas, pois esse sistema<br />

dispõe de vários módulos, sen<strong>do</strong> considera<strong>do</strong><br />

por seus usuários um sistema acadêmico<br />

e de gestão. Acadêmico porque engloba to<strong>do</strong>s<br />

os da<strong>do</strong>s referentes aos discentes. De gestão<br />

porque contém todas as informações necessárias<br />

<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res públicos estaduais, com subsídios<br />

reais e concretos, que servem como ferramenta<br />

para os gestores da setorial da educação pública<br />

estadual. Esse sistema está instala<strong>do</strong> em todas<br />

as Unidades Escolares Estaduais e é diariamente<br />

atualiza<strong>do</strong> pelas próprias escolas, sen<strong>do</strong> delas<br />

a inteira responsabilidade pela veracidade das<br />

informações, bem como os resulta<strong>do</strong>s advin<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s inseri<strong>do</strong>s no programa.<br />

Nesse viés de análise, a democratização<br />

da escola e <strong>do</strong> ensino configurar-se-á nos<br />

momentos de verificação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s com<br />

análise, estu<strong>do</strong> e proposições coletivas para a<br />

qualidade <strong>do</strong> ensino na escola pública estadual.<br />

Aportan<strong>do</strong> o levantamento de como se tem<br />

planeja<strong>do</strong> a formação <strong>do</strong>cente nas escolas, a<br />

Gerência Regional de Educação poderá propor<br />

e dinamizar a utilização de critérios para a<br />

execução de formação continuada, de mo<strong>do</strong><br />

que sejam eficientes no uso de recursos para<br />

a capacitação <strong>do</strong>cente das unidades escolares<br />

estaduais de abrangência da Sétima Gered.<br />

No entanto, procurou-se entender<br />

como o Sistema SERIE está sen<strong>do</strong> utiliza<strong>do</strong> pelas<br />

escolas para gerar conhecimento e informações<br />

de planejamento para a capacitação <strong>do</strong>cente e<br />

qual é a utilização da equipe pedagógica das<br />

escolas envolvidas nesse sistema. Para responder<br />

ao objetivo <strong>do</strong> trabalho, foi desenvolvida uma<br />

pesquisa qualitativa descritiva, utilizan<strong>do</strong>-se um<br />

questionário estrutura<strong>do</strong> para coleta de da<strong>do</strong>s.<br />

Optou-se pela pesquisa qualitativa, uma vez<br />

que essa abordagem oferece base para a com-<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

115


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

preensão e interpretação <strong>do</strong>s processos sociais<br />

subjacentes à administração (GEPHART, 1999).<br />

Entende-se que esta pesquisa se enquadra<br />

na abordagem qualitativa, pois as respostas<br />

<strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, apesar de serem agrupadas e<br />

tabuladas objetivamente, resguardam um eleva<strong>do</strong><br />

grau de subjetividade. Além disso, entende-se<br />

que, conforme sugere Minayo (1995), a pesquisa<br />

qualitativa trabalha com um universo de significa<strong>do</strong>s,<br />

motivos, aspirações, crenças e percepções<br />

<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, como é o caso deste estu<strong>do</strong>.<br />

O universo da pesquisa foi constituí<strong>do</strong><br />

pelas trinta e duas escolas estaduais de abrangência<br />

da Sétima Gerência Regional de Educação<br />

de Joaçaba. O questionário foi aplica<strong>do</strong> entre<br />

maio e junho de 2010, e apenas vinte escolas<br />

o devolveram.<br />

O processo de análise e interpretação<br />

<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s foi referencia<strong>do</strong> nas teorias vigentes<br />

relacionadas ao tema de pesquisa, bem como<br />

nas inferências das pesquisa<strong>do</strong>ras a partir <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s coleta<strong>do</strong>s, utilizan<strong>do</strong> procedimentos interpretativos.<br />

O presente artigo está estrutura<strong>do</strong> nesta<br />

introdução, uma revisão bibliográfica, que versará<br />

sobre o espaço educativo, a avaliação e a<br />

prática <strong>do</strong>cente reflexiva, uma análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s<br />

e as considerações finais.<br />

A escola como espaço organiza<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

trabalho educativo<br />

116<br />

As mudanças vividas na atualidade,<br />

processadas desde a década de 1980 em âmbito<br />

mundial, como eleições diretas, democracia, gestão<br />

participativa, entre outras, desenvolveram-se<br />

e indicaram novos paradigmas de administração,<br />

o que repercutiu na gestão educacional. Não<br />

alheias à sociedade, essas e outras temáticas<br />

passaram a complementar a formação continuada<br />

<strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes e a reconfigurar o contexto<br />

educacional. É pertinente que temáticas discutidas<br />

mundialmente sejam incluídas nos debates<br />

educacionais, trazen<strong>do</strong> para dentro da escola a<br />

inquietação de toda a sociedade.<br />

A gestão escolar, bem como a escola<br />

como um to<strong>do</strong>, tem seus fins historicamente e<br />

socialmente diversifica<strong>do</strong>s; contu<strong>do</strong>, na tentativa<br />

de nos aproximar de uma definição de escola<br />

atual, os aspectos que devemos abordar em<br />

relação à educação são referentes às relações<br />

sociais, políticas e econômicas que são estabelecidas<br />

em um determina<strong>do</strong> contexto. Isso porque<br />

a sociedade como um to<strong>do</strong> está mudan<strong>do</strong> seu<br />

mo<strong>do</strong> organizacional, que interfere diretamente<br />

no percurso <strong>do</strong> desenvolvimento da educação,<br />

já que envolve todas as esferas. Ter a intenção<br />

de definir a finalidade pura da escola e tratar<br />

dela não é possível porque somos impedi<strong>do</strong>s<br />

pelas inúmeras visões e concepções acerca da<br />

responsabilidade e abrangência dessa instituição.<br />

Segun<strong>do</strong> Tardif:<br />

Os fins da escola atual não são “claros”<br />

e “evidentes”, quer dizer, da<strong>do</strong>s de<br />

uma vez por todas, mas que se trata,<br />

ao contrário, de verdadeiros problemas<br />

hermenêuticos que abrem espaço, por<br />

exemplo, a reforma escolar, a grandes<br />

debates ideológicos e políticos. Não<br />

há nada de surpreendente nisso, pois<br />

a escola é uma organização social tão<br />

importante que é normal que esteja<br />

no centro de um “conflito de interpretações”:<br />

ela não é lugar de maior poder<br />

para o controle e desenvolvimento da<br />

sociedade Desse ponto de vista, vê-se<br />

que o caráter “aberto” e “variável” <strong>do</strong>s<br />

fins da escola não tem nada de acidental,<br />

mas, ao contrário, trata-se de uma<br />

característica intrínseca a esse tipo de<br />

organização presta<strong>do</strong>ra de serviços a<br />

seres humanos em função de valores e<br />

finalidades sociopolíticas (TARDIF, 2005,<br />

p. 199, grifos <strong>do</strong> autor).<br />

Estruturalmente, a escola, como instituição<br />

organizada <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>cente, prevê<br />

resulta<strong>do</strong>s da ação educativa por meio <strong>do</strong><br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

processo de ensino-aprendizagem integra<strong>do</strong>,<br />

articulan<strong>do</strong> aspectos intelectuais, emocionais<br />

e práticos. Para isso, desenvolve seu trabalho<br />

com peculiaridades que são restritas a essa instituição,<br />

que busca organizar seu espaço e sua<br />

mediação pedagógica por meio de programas,<br />

áreas de ensino, meto<strong>do</strong>logias, recursos tecnológicos,<br />

entre outros, utiliza<strong>do</strong>s por seus agentes<br />

almejan<strong>do</strong> fins. Bidwell se inspira na teoria das<br />

organizações:<br />

O objetivo geral das escolas é a socialização<br />

técnica e moral <strong>do</strong>s jovens. Elas<br />

visam a preparar os jovens para a vida<br />

adulta, forman<strong>do</strong>-os para os saberes e<br />

as habilidades necessárias à vida profissional,<br />

educan<strong>do</strong>-os moralmente em<br />

função das orientações básicas <strong>do</strong> status<br />

de adultos. Em suma, são organizações<br />

orientadas a uma dupla missão: educar<br />

e instruir, socializar e formar (BIDWELL,<br />

1965 apud TARDIF, 2005, p. 198, grifo<br />

<strong>do</strong> autor).<br />

No entanto, o novo modelo de organização<br />

educativo aponta para a coparticipação<br />

e responsabilidade de to<strong>do</strong>s os segmentos da<br />

comunidade organizacional para o sucesso<br />

educativo. Parafrasean<strong>do</strong> Moran (2000), educar<br />

é envolver-se num processo preven<strong>do</strong> o alcance<br />

daquilo que esperamos de cada criança no fim<br />

de cada etapa, o que, muitas vezes, é imprevisível,<br />

pois alguns resulta<strong>do</strong>s da educação têm<br />

sua aplicabilidade a longo prazo. Diante disso,<br />

há uma grande preocupação com a educação<br />

de qualidade, para que os resulta<strong>do</strong>s, independentemente<br />

<strong>do</strong> tempo, sejam positivos. O autor<br />

aponta os desafios de ensinar e educar com qualidade<br />

e, na sua concepção, ensino e educação<br />

são conceitos diferentes:<br />

No ensino organiza-se uma série de<br />

atividades didáticas para ajudar os<br />

alunos a compreender áreas específicas<br />

<strong>do</strong> conhecimento. [...] Na educação<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

o foco, além de ensinar, é ajudar a<br />

integrar ensino e vida, conhecimento e<br />

ética, reflexão e ação, a ter uma visão<br />

de totalidade. Educar é ajudar a integrar<br />

todas as dimensões da vida, a encontrar<br />

nosso caminho intelectual, emocional,<br />

profissional, que nos realize e que contribua<br />

para modificar a sociedade que<br />

temos. Educar é [...] ajudar os alunos<br />

na construção da sua identidade, <strong>do</strong> seu<br />

caminho pessoal e profissional – <strong>do</strong> seu<br />

projeto de vida, no desenvolvimento das<br />

habilidades de compreensão, emoção<br />

e comunicação que lhes permitam encontrar<br />

seus espaços pessoais, sociais e<br />

profissionais e tornar-se cidadãos realiza<strong>do</strong>s<br />

e produtivos. Educamos de verdade<br />

quan<strong>do</strong> aprendemos com cada coisa [...]<br />

(MORAN, 2000, p. 12-13).<br />

Acredita-se que to<strong>do</strong>s são responsáveis<br />

por uma educação de qualidade, e que o<br />

professor fará, com ajuda <strong>do</strong>s demais, com que<br />

sua mediação torne o caminho da construção <strong>do</strong><br />

conhecimento mais significativo, selecionan<strong>do</strong><br />

as informações mais relevantes, para torná-las<br />

compreensíveis de maneira que possam reverter<br />

informação em conhecimento aplica<strong>do</strong> e útil.<br />

O educa<strong>do</strong>r torna-se, assim, canal de acesso<br />

<strong>do</strong> processo de interação <strong>do</strong> aluno com fatores<br />

externos e internos.<br />

O conhecimento se dá fundamentalmente<br />

no processo de interação, de<br />

comunicação. A informação é o primeiro<br />

passo para conhecer. [...] Conseguimos<br />

compreender melhor o mun<strong>do</strong> e os outros<br />

equilibran<strong>do</strong> os processos de interação<br />

e de interiorização. Pela interação<br />

entramos em contato com tu<strong>do</strong> o que<br />

nos rodeia. [...] Mas a compreensão só<br />

se completa com a interiorização, com o<br />

processo de síntese pessoal, de reelaboração<br />

de tu<strong>do</strong> o que captamos por meio<br />

da interação (MORAN, 2000, p. 25).<br />

Conclui-se, portanto, que os educa<strong>do</strong>res,<br />

na busca constante dessa interação/interio-<br />

117


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

rização, vislumbram na prática <strong>do</strong>cente também<br />

a responsabilidade de educar para a cidadania,<br />

para que os alunos sejam capazes de construir<br />

a própria realização, tornan<strong>do</strong>-os competentes<br />

para conquistar, a partir de seus esforços, melhorias<br />

pessoais e coletivas.<br />

Avaliação: um princípio da gestão democrática<br />

A educação escolar, numa perspectiva<br />

de gestão democrática, tem características e<br />

exigências próprias. Para efetivá-la é necessário<br />

compreender como conduzir os procedimentos<br />

que promovam o envolvimento, o comprometimento<br />

e a participação das pessoas, expandin<strong>do</strong><br />

para a divisão de responsabilidades, exercen<strong>do</strong><br />

na escola a cidadania.<br />

Para tanto, é necessário superar as formas<br />

conserva<strong>do</strong>ras de organização e de gestão.<br />

Parafrasean<strong>do</strong> Libâneo (2004), a perspectiva da<br />

principal função social e pedagógica da escola<br />

é assegurar o desenvolvimento das capacidades<br />

cognitivas, operativas, sociais e morais <strong>do</strong><br />

aluno a partir da dinamização <strong>do</strong> currículo, no<br />

desenvolvimento <strong>do</strong>s processos <strong>do</strong> pensar, na<br />

formação da cidadania participativa e na formação<br />

ética.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, Libâneo (2004) apresenta<br />

alguns princípios da organização e gestão<br />

escolar democrático-participativa que devem ser<br />

relembra<strong>do</strong>s:<br />

1. Autonomia das escolas e da comunidade<br />

educativa.<br />

2. Relação orgânica entre a direção e a participação<br />

<strong>do</strong>s membros da equipe escolar.<br />

3. Envolvimento da comunidade no processo<br />

escolar.<br />

4. Planejamento das tarefas.<br />

5. Formação continuada para o desenvolvimento<br />

pessoal e profissional <strong>do</strong>s integrantes da<br />

comunidade escolar.<br />

118<br />

6. Utilização de informações concretas e análise<br />

de cada problema em seus múltiplos aspectos,<br />

com ampla democratização das informações.<br />

7. Relações humanas produtivas e criativas assentadas<br />

na busca de objetivos comuns.<br />

8. Avaliação compartilhada.<br />

Com foco na reflexão no princípio da<br />

gestão democrática, que se volta à avaliação<br />

compartilhada, todas as decisões e procedimentos<br />

organizativos precisam ser acompanha<strong>do</strong>s<br />

e avalia<strong>do</strong>s com base no princípio da relação<br />

orgânica entre a direção e a participação <strong>do</strong>s<br />

membros da equipe escolar. Ressalta-se que a<br />

ação de organização <strong>do</strong> trabalho na escola deverá<br />

voltar-se para as ações pedagógico-didáticas,<br />

em função <strong>do</strong>s objetivos da escola, num senti<strong>do</strong><br />

de entrosamento das ações administrativas e<br />

pedagógicas (LIBÂNEO, 2004, p. 146).<br />

Percepção <strong>do</strong> ato de avaliar<br />

A avaliação processual escolar não<br />

deve assumir uma função disciplina<strong>do</strong>ra nem<br />

ter como objetivo menosprezar seus envolvi<strong>do</strong>s.<br />

Entretanto, não se pode fugir <strong>do</strong> fato de que é<br />

sempre um juízo de valor sobre um fenômeno<br />

ocorri<strong>do</strong> no processo de aprendizagem, juízo este<br />

que pode se referir a um aluno, a uma turma<br />

específica, a uma série ou até ao conjunto <strong>do</strong>s<br />

alunos de uma instituição escolar. Assim, a avaliação<br />

conduz a um juízo de valor, mas também é<br />

um meio para a obtenção de da<strong>do</strong>s que orientem<br />

a tomada de decisões, ten<strong>do</strong> como pressuposto<br />

final o diagnóstico da aprendizagem. Nesse<br />

senti<strong>do</strong>, a avaliação possibilita a apreciação da<br />

aprendizagem <strong>do</strong> aluno e remete à análise das<br />

estratégias utilizadas pelo <strong>do</strong>cente para atingir<br />

os objetivos propostos. O resulta<strong>do</strong> da avaliação<br />

pode, portanto, levar a uma revisão das estratégias<br />

<strong>do</strong>centes e, no limite, pode levar a uma<br />

revisão <strong>do</strong>s próprios objetivos da ação <strong>do</strong>cente.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

A avaliação é um termo geral que diz respeito<br />

a um conjunto de ações voltadas<br />

para o estu<strong>do</strong> sistemático de um fenômeno,<br />

uma situação, um processo, um<br />

evento, uma pessoa, visan<strong>do</strong> a emitir um<br />

juízo valorativo. Considera-se, em geral,<br />

que os processos de avaliação implicam<br />

a coleta de da<strong>do</strong>s (de informação), a<br />

análise e uma apreciação (juízo) valorativa<br />

com base em critérios prévios,<br />

ten<strong>do</strong> em vista a tomada de decisões<br />

para novas ações. [...] A avaliação supõe<br />

uma coleta de da<strong>do</strong>s e informações,<br />

por meio de diferentes instrumentos de<br />

verificação, para saber se os objetivos<br />

previstos estão sen<strong>do</strong> atingi<strong>do</strong>s (HADJI,<br />

2001, p. 21).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, a avaliação deve ir muito<br />

além da verificação de da<strong>do</strong>s, mas se completar<br />

com a reflexão sobre os da<strong>do</strong>s empíricos obti<strong>do</strong>s<br />

com a verificação; em suma, trata-se de<br />

interpretá-los. Só assim a avaliação pode diagnosticar<br />

e, dessa forma, identificar as razões <strong>do</strong>s<br />

erros, acertos e buscar diretrizes para o alcance<br />

de resulta<strong>do</strong>s positivos.<br />

Dessa forma, ela não deve ser vista<br />

como um controle, mas como uma possibilidade<br />

de auxiliar os alunos a construir aprendizagens e<br />

de propor aos <strong>do</strong>centes a reflexão da práxis educativa,<br />

ou seja, a avaliação, nesse senti<strong>do</strong>, é de<br />

caráter formativo. Segun<strong>do</strong> Hadji (2001), há um<br />

critério que permite designar <strong>do</strong> exterior quan<strong>do</strong><br />

uma avaliação é formativa: é aquele <strong>do</strong> lugar<br />

da avaliação em relação à ação de formação.<br />

Quan<strong>do</strong> a avaliação precede a ação, fala-se da<br />

avaliação prognóstica ou diagnóstica, e quan<strong>do</strong><br />

a avaliação ocorre depois da ação, fala-se da<br />

avaliação cumulativa, que faz um balanço final.<br />

De acor<strong>do</strong> com esse mesmo autor:<br />

Quan<strong>do</strong> a avaliação situa-se no centro<br />

da ação, temos a avaliação formativa,<br />

porque “sua função principal é contribuir<br />

para uma boa regulação da atividade de<br />

ensino. Trata-se de levantar informações<br />

úteis à regulação <strong>do</strong> processo de ensinoaprendizagem.<br />

[...] uma avaliação<br />

formativa informa os <strong>do</strong>is principais<br />

atores <strong>do</strong> processo. O professor, que<br />

será informa<strong>do</strong> <strong>do</strong>s efeitos reais de seu<br />

trabalho pedagógico, poderá regular sua<br />

ação a partir disso. O aluno, que não<br />

somente saberá onde anda, mas poderá<br />

tomar consciência das dificuldades que<br />

encontra e tornar-se-á capaz, na melhor<br />

das hipóteses, de reconhecer e corrigir<br />

ele próprio seus erros.” (HADJI, 2001,<br />

p. 19-20).<br />

Perrenoud (1999), referin<strong>do</strong>-se à avaliação<br />

formativa, retrata a interferência desta no<br />

processo da aprendizagem. Segun<strong>do</strong> ele:<br />

A avaliação formativa apresenta-se, então,<br />

antes de mais nada, sob a forma de<br />

uma regulação interativa, isto é, de uma<br />

observação e de uma intervenção em<br />

tempo real, praticamente indissociáveis<br />

das interações didáticas propriamente<br />

ditas (PERRENOUD, 1999, p. 123).<br />

Nessa perspectiva, a intervenção<br />

pedagógica que será proposta e refletida conjuntamente<br />

com a equipe pedagógica/<strong>do</strong>cente<br />

propõe a busca pelo alcance <strong>do</strong>s objetivos básicos<br />

da escola. Diante disso, a visão <strong>do</strong> processo<br />

de acompanhamento pedagógico por meio <strong>do</strong><br />

Sistema SERIE deverá voltar-se aos benefícios<br />

de que o programa dispõe na leitura de como<br />

está o processo de aprendizagem, justamente<br />

para, em tempo real, valer-se de indica<strong>do</strong>res que<br />

demonstrem onde é necessário intervir e refletir<br />

nas possíveis falhas existentes no processo educacional.<br />

Com esse comportamento, estar-se-á<br />

realizan<strong>do</strong> na escola um <strong>do</strong>s princípios da gestão<br />

democrático-participativa: o envolvimento <strong>do</strong>s<br />

profissionais da educação na verificação, análise<br />

e proposições de melhoria da educação.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

119


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

Prática <strong>do</strong>cente e reflexão, ações interligadas<br />

Propor a reflexão para profissionais<br />

da educação parece um tanto ambíguo, pois se<br />

trata se um ato indissociável da efetiva prática a<br />

que se propôs como profissional. Considera-se<br />

que to<strong>do</strong>s pensam e planejam ações rotineiras e<br />

habituais; no entanto, refletir sobre a costumeira<br />

ação, que por vezes é planejada, torna-se uma<br />

tarefa que exige desprendimento e aceitação em<br />

avaliar a maneira como são conduzidas suas<br />

ações diárias.<br />

Perrenoud (2002) propõe a noção de<br />

prática reflexiva remeten<strong>do</strong> a <strong>do</strong>is processos<br />

mentais que devem ser distingui<strong>do</strong>s, consideran<strong>do</strong><br />

seus vínculos. Trata-se de refletir para agir e<br />

refletir sobre a ação:<br />

Não há ação complexa sem reflexão durante<br />

o processo; a prática reflexiva pode<br />

ser entendida, no senti<strong>do</strong> mais comum<br />

da palavra, como reflexão acerca da situação,<br />

<strong>do</strong>s objetivos, <strong>do</strong>s meios, <strong>do</strong> lugar,<br />

[...] Refletir durante a ação consiste em<br />

se perguntar o que está acontecen<strong>do</strong><br />

ou o que vai acontecer, o que podemos<br />

fazer, o que devemos fazer, qual melhor<br />

tática, [...] Refletir sobre a ação já é algo<br />

bem diferente. Nesse caso, tomamos<br />

nossa própria ação como objeto de<br />

reflexão, seja para compará-la com um<br />

modelo prescritivo, que poderíamos ou<br />

deveríamos ter feito, o que outro profissional<br />

teria feito, seja para explicá-la ou<br />

criticá-la (PERRENOUD, 2002, p. 30,<br />

grifos <strong>do</strong> autor).<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, refletir sobre a ação requer<br />

desejo para isso, pois acontece no momento<br />

da transição ou a posteriori, enquanto alterar<br />

o que já havia si<strong>do</strong> proposto no planejamento<br />

é uma decisão que exigirá remanejamento de<br />

ações e posturas, em síntese, é mais trabalhoso<br />

e nem to<strong>do</strong>s estão dispostos a isso. Contu<strong>do</strong>, é<br />

nato da profissionalização de educa<strong>do</strong>r rever,<br />

replanejar e, principalmente, refletir sobre a ação<br />

para o alcance de suas proposições.<br />

Em contraponto, alerta que “a postura<br />

e as competências reflexivas não garantem nada;<br />

contu<strong>do</strong>, ajudam a analisar os dilemas, a construir<br />

escolhas e a assumi-las.” (PERRENOUD,<br />

2002, p. 56). Mais além, este autor afirma que<br />

ela promove a possibilidade de perceber como<br />

podem ser melhoradas as atitudes, principalmente<br />

no que se refere às relações interpessoais.<br />

Analisan<strong>do</strong> o perfil de educa<strong>do</strong>res idealiza<strong>do</strong><br />

como proposta de ação, obtém-se como<br />

ideário o profissional crítico reflexivo, que, na<br />

conceituação de Libâneo (2004), é aquele que<br />

“<strong>do</strong>mina uma prática-reflexiva”. No entanto,<br />

quan<strong>do</strong> se estuda sobre educação, suas possibilidades<br />

e limitações, tem-se por hábito visualizar<br />

a escola como espaço único de organização <strong>do</strong><br />

conhecimento, mais especificamente a sala de<br />

aula e, diretamente, os professores.<br />

Assmann (2001) apresenta treze colocações<br />

sobre a qualidade cognitiva e social da<br />

educação, destacan<strong>do</strong>-se, neste artigo, a décima<br />

colocação deste autor:<br />

É preciso substituir a pedagogia das<br />

certezas e <strong>do</strong>s saberes pré-fixa<strong>do</strong>s por<br />

uma pedagogia da pergunta, <strong>do</strong> melhoramento<br />

das perguntas e <strong>do</strong> acessamento<br />

de informações. Em suma, por uma<br />

pedagogia da complexidade, que saiba<br />

trabalhar com conceitos transversáteis,<br />

abertos para a surpresa e o imprevisto<br />

(ASSMANN, 2001, p. 30).<br />

É necessária abertura <strong>do</strong>s processos<br />

vivos para a incerteza, questionar e questionar-<br />

-se sempre em todas as ações. Ainda segun<strong>do</strong><br />

esse mesmo autor, “[...] parece recomendável<br />

uma pedagogia plástica e sinuosa que incentive<br />

certezas operacionais imprescindíveis, capacite<br />

para modelizações da realidade.” (ASSMANN,<br />

2001, p. 32).<br />

120<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, é imprescindível a<br />

vitalização <strong>do</strong> trabalho educativo que apoia e<br />

acompanha as ações educacionais nas instituições<br />

de ensino, partin<strong>do</strong> da ação reflexiva da<br />

maneira como aprimorar ainda mais o trabalho<br />

técnico-burocrático, que é essencial na eficiência<br />

educativa.<br />

Coleta e análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s: a percepção<br />

pedagógica das escolas estaduais pertencentes<br />

à Sétima Gerência Regional<br />

de Educação<br />

Buscan<strong>do</strong> conhecer a percepção <strong>do</strong>s<br />

envolvi<strong>do</strong>s no processo ensino-aprendizagem<br />

das escolas públicas estaduais, referente à formação<br />

<strong>do</strong>cente, foram convida<strong>do</strong>s para participar<br />

da pesquisa os assistentes técnicos pedagógicos<br />

das escolas públicas estaduais pertencentes à<br />

Sétima Regional de Educação, representan<strong>do</strong><br />

a equipe pedagógica de cada unidade escolar,<br />

que conta com 32 instituições de ensino regular.<br />

A coleta de da<strong>do</strong>s, em diferentes<br />

unidades escolares, teve por objetivo alcançar<br />

uma amostra que contemplasse a realidade<br />

educacional da Sétima Gerência Regional de<br />

Educação de Joaçaba, não haven<strong>do</strong> o propósito<br />

de estabelecer diferenças ou semelhanças na<br />

caracterização dessas instituições.<br />

As respostas foram analisadas com<br />

foco nos objetivos, decorrentes <strong>do</strong> agrupamento<br />

de questões, com 20 escolas, que representam<br />

62,5% <strong>do</strong> total das escolas convidadas a participar<br />

<strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.<br />

Para a análise da utilização de da<strong>do</strong>s<br />

estatísticos para “planejamento de formação<br />

continuada”, foram consideradas as respostas<br />

<strong>do</strong> questionamento feito a assistentes técnicos<br />

pedagógicos acerca <strong>do</strong> que consideram como<br />

cursos eficazes. Verificou-se nas respostas que,<br />

para 90% <strong>do</strong> total participantes, a formação<br />

continuada é mais eficaz quan<strong>do</strong> é realizada<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

por área <strong>do</strong> conhecimento. Esse da<strong>do</strong> revela a<br />

importância demonstrada pelos profissionais da<br />

educação da área pedagógica em conhecer quais<br />

são as áreas de conhecimento mais defasadas<br />

na unidade escolar para o planejamento e a<br />

intervenção pedagógica por meio de formação<br />

<strong>do</strong>cente.<br />

Contu<strong>do</strong>, para a seleção das temáticas<br />

para os cursos de formação continuada, os profissionais<br />

que integram a equipe pedagógica, em<br />

sua maioria (44,8%), consultam aleatoriamente<br />

o interesse <strong>do</strong>s professores em realizar cursos de<br />

formação, enquanto 27,5% têm como base os<br />

da<strong>do</strong>s estatísticos para elaborar planos de formação;<br />

em 24,1% <strong>do</strong>s casos, a equipe pedagógica<br />

decide com base na percepção geral que curso<br />

irá propor; e 3,4% informaram que a temática<br />

<strong>do</strong>s cursos é selecionada de outro mo<strong>do</strong>, sem<br />

especificar qual é a maneira.<br />

Em resposta à “reflexão pedagógica”,<br />

55% <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s afirmam que o que foi<br />

apreendi<strong>do</strong> na formação <strong>do</strong>cente é algumas<br />

vezes aplica<strong>do</strong>, enquanto para 45%, os novos<br />

conhecimentos são sempre aplica<strong>do</strong>s no âmbito<br />

escolar. A percepção da aplicabilidade <strong>do</strong> que se<br />

aprendeu em cursos é diagnosticada pela equipe<br />

pedagógica em 34,4% <strong>do</strong>s casos nos conselhos<br />

de classe, em 31,2% a partir de acompanhamento<br />

pedagógico durante a realização de atividades<br />

cotidianas, em 25% por meio de análise<br />

de da<strong>do</strong>s e em 9,3% de mo<strong>do</strong> informal. Assim,<br />

entenden<strong>do</strong>-se que a melhoria da qualidade da<br />

educação básica depende substancialmente da<br />

formação <strong>do</strong>s professores e <strong>do</strong> acompanhamento<br />

pedagógico das atividades curriculares, os<br />

da<strong>do</strong>s revelam que as equipes pedagógicas das<br />

escolas estão no caminho certo no acompanhamento<br />

<strong>do</strong> processo ensino-aprendizagem, pois<br />

a prática pedagógica deve estar alicerçada em<br />

bases teórico-práticas, num viés de reflexão permanente<br />

da práxis educativa, conforme sugere<br />

Libâneo (2004).<br />

Os assistentes técnicos pedagógicos<br />

revelaram que 50% <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s identificam<br />

121


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

a melhoria e diversidade das práticas utilizadas<br />

pelos professores após a participação <strong>do</strong>s cursos<br />

por meio de diferentes técnicas utilizadas, enquanto<br />

34,6% percebem no resulta<strong>do</strong> positivo <strong>do</strong><br />

desempenho <strong>do</strong>s alunos e 15,3% nas avaliações<br />

mais bem elaboradas por esses professores. Além<br />

de a prática pedagógica ser critério de averiguação<br />

posterior aos cursos, 75% <strong>do</strong>s assistentes<br />

técnicos pedagógicos afirmam que a unidade<br />

escolar disponibiliza espaço para compartilhar as<br />

novas aprendizagens com os demais professores<br />

nas reuniões pedagógicas organizadas conforme<br />

calendário escolar, enquanto 15% asseguram<br />

que esse espaço é ofereci<strong>do</strong> somente algumas<br />

vezes.<br />

Referin<strong>do</strong>-se aos “benefícios <strong>do</strong> Sistema<br />

SERIE” para planejamento, aplicação e melhoria<br />

na qualidade <strong>do</strong> ensino-aprendizagem por meio<br />

<strong>do</strong>s cursos de formação <strong>do</strong>cente, identificou-se<br />

que, <strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, 60% afirmam que utilizam<br />

os da<strong>do</strong>s estatísticos <strong>do</strong> Sistema SERIE para<br />

propor formação <strong>do</strong>cente, enquanto 40% não<br />

utilizam esse instrumento para a proposição de<br />

estu<strong>do</strong>s. Contu<strong>do</strong>, 80% asseguram que utilizam<br />

os da<strong>do</strong>s para reuniões pedagógicas, enquanto<br />

20% não utilizam os da<strong>do</strong>s estatísticos para a<br />

reflexão e análise pedagógica nesses encontros.<br />

Em contrapartida, 90% afirmam que os da<strong>do</strong>s<br />

extraí<strong>do</strong>s com maior frequência <strong>do</strong> Sistema<br />

SERIE são as notas <strong>do</strong>s alunos, enquanto 10%<br />

utilizam o sistema para outros fins. Dessa forma,<br />

pode-se averiguar que os da<strong>do</strong>s disponíveis são<br />

conheci<strong>do</strong>s e emprega<strong>do</strong>s, mas poderiam ser<br />

mais bem utiliza<strong>do</strong>s e, consequentemente, teriam<br />

melhores resulta<strong>do</strong>s, uma vez que as funções<br />

pedagógicas respondem pela viabilização <strong>do</strong> trabalho<br />

pedagógico-didático e por sua integração<br />

e articulação com os professores em função da<br />

qualidade de ensino.<br />

Em síntese, é de competência da equipe<br />

gestora e pedagógica acompanhar, organizar<br />

e coordenar as atividades <strong>do</strong> planejamento e <strong>do</strong><br />

Projeto Político Pedagógico, propon<strong>do</strong> e supervisionan<strong>do</strong><br />

a elaboração de diagnósticos para<br />

o projeto da escola; orientan<strong>do</strong> a organização<br />

curricular e o desenvolvimento <strong>do</strong> currículo;<br />

estimulan<strong>do</strong> a realização de projetos conjuntos<br />

entre os professores; diagnostican<strong>do</strong> problemas<br />

de ensino e aprendizagem; estimulan<strong>do</strong> a a<strong>do</strong>ção<br />

de medidas pedagógicas preventivas, a adequação<br />

de conteú<strong>do</strong>s, meto<strong>do</strong>logias e práticas<br />

avaliativas; oferecen<strong>do</strong> assistência pedagógica<br />

sistematizada aos professores; desenvolven<strong>do</strong><br />

ações de formação continuada; e realizan<strong>do</strong> as<br />

ações com base em da<strong>do</strong>s com a segurança de<br />

que o foco e a necessidade real de intervenção<br />

pedagógica não será infrutuosa.<br />

Destarte, o estu<strong>do</strong> revela que as escolas<br />

públicas estaduais de abrangência da Sétima<br />

Gered, em sua maioria, empregam os da<strong>do</strong>s<br />

disponíveis no Sistema SERIE e que esse sistema<br />

apresenta variáveis importantes para que<br />

a equipe pedagógica dessa gerência planeje a<br />

formação <strong>do</strong>cente, envolven<strong>do</strong> os professores<br />

que a compõem. Contu<strong>do</strong>, a mudança e a melhoria<br />

da práxis educativa envolvem diretamente<br />

o querer pessoal de cada profissional que deseja<br />

resulta<strong>do</strong>s significativos na prática <strong>do</strong>cente.<br />

Considerações finais<br />

Percebeu-se que as equipes pedagógicas<br />

das escolas envolvidas no estu<strong>do</strong> reconhecem<br />

a importância <strong>do</strong> uso de da<strong>do</strong>s para o planejamento<br />

<strong>do</strong>cente e a facilidade proporcionada<br />

pelo Sistema SERIE, contu<strong>do</strong>, para a seleção<br />

das temáticas a serem estudadas, os critérios são<br />

vagos e incoerentes com o posicionamento <strong>do</strong><br />

que julgam eficiente para a formação <strong>do</strong>cente.<br />

Outra variável significativa diagnosticada<br />

é a percepção da aplicabilidade e mudança<br />

de postura didática após a formação <strong>do</strong>cente.<br />

Ao tempo em que se nota a melhoria didática,<br />

não há instrumento para o registro de tais mudanças,<br />

fican<strong>do</strong> à mercê da “sensibilidade” da<br />

equipe pedagógica em perceber o comporta-<br />

122<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MAGRO, A. N. Sistema série escola: recurso de verificação para formação continuada<br />

mento diferencia<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>, a utilização <strong>do</strong>s<br />

da<strong>do</strong>s disponíveis no Sistema SERIE ocorre em<br />

momentos importantes da avaliação pedagógica,<br />

tais como reuniões pedagógicas, conselhos de<br />

classe e extração de notas <strong>do</strong>s alunos.<br />

Esses da<strong>do</strong>s remetem à Gerência Regional<br />

de Educação a consideração de como as<br />

escolas que estão sob sua supervisão organizam-<br />

-se para a formação continuada de seus <strong>do</strong>centes<br />

e demais profissionais, revelan<strong>do</strong> fragilidades e<br />

aspectos positivos que devem ser considera<strong>do</strong>s.<br />

Atribuem ainda à Gerência de Educação a missão<br />

de ser elemento decisivo para o planejamento<br />

de formação <strong>do</strong>cente e tornar úteis os da<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> Sistema SERIE, os quais, como se percebe,<br />

revelam a configuração processual de cada área<br />

de ensino, tornan<strong>do</strong> assim a formação <strong>do</strong>cente<br />

eficaz naquilo a que se propõe, ou seja, na qualidade<br />

de ensino como investimento humano.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a<br />

educação: epistemologia e didática. 3. ed. Piracicaba:<br />

Unimep, 2001.<br />

DERMEVAL, Saviani (Org.). Educa<strong>do</strong>r: novo milênio,<br />

novo perfil São Paulo: Paulus, 2000.<br />

GEPAHART, R. Paradigmas and research methods.<br />

Disponível em: .<br />

Acesso em: 1/8/2004.<br />

HADJI, Charles. Avaliação desmistificada. Porto Alegre:<br />

Artmed, 2001.<br />

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Acesso em: 7/5/2010.<br />

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de;<br />

TOSCHI, Mirza Seabra. Educação escolar: políticas,<br />

estrutura e organização. 4. ed. São Paulo: Cortez, 2006.<br />

_____. Organização e gestão da escola: teoria e prática.<br />

5. ed. Goiânia: Alternativa, 2004.<br />

MINAYO, M. C. S. Pesquisa social: teoria, méto<strong>do</strong> e criatividade.<br />

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ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.<br />

_____. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização<br />

e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002.<br />

TARDIF, Maurice. O trabalho <strong>do</strong>cente: elementos para uma<br />

teoria da <strong>do</strong>cência como profissão de interações humanas.<br />

Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 1º de agosto de 2010.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 15 de março de 2011.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 113-123, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

123


A construção da rede de educação em direitos humanos: a<br />

experiência da ufpa<br />

The construction of the Network for Education in Human Rights: the<br />

experience of UFPA<br />

La construcción de la Red de Educación en Derechos Humanos: la<br />

experiencia de la UFPA<br />

Alberto Damasceno 1<br />

Émina Márcia Nery <strong>do</strong>s Santos 2<br />

Ney Cristina Monteiro de Oliveira 3<br />

Marcos Vinícius Lobo 4<br />

Pedro Henrique Queiróz 5<br />

RESUMO<br />

Este trabalho apresenta a experiência da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará no Projeto REDE DE EDUCAÇÃO<br />

EM DIREITOS HUMANOS (REDH), cujo objetivo é desenvolver ações para a implementação de uma cultura<br />

de Direitos Humanos nos sistemas de ensino por meio da capacitação e desenvolvimento de atividades<br />

em educação em direitos humanos para e com a comunidade escolar (educa<strong>do</strong>res, técnicos e gestores)<br />

da rede de educação básica, lideranças, profissionais das cinco áreas <strong>do</strong> Plano Nacional de Educação em<br />

Direitos Humanos e profissionais da área de saúde. O curso proposto pela UFPA é realiza<strong>do</strong> na cidade de<br />

Belém (PA) e em mais três municípios da Ilha <strong>do</strong> Marajó (Breves, Gurupá e Soure).<br />

Palavras-chave: Educação; Direitos Humanos e Extensão Universitária.<br />

ABSTRACT<br />

This study presents the experience of <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará in the project NETWORK FOR EDU-<br />

CATION IN HUMAN RIGHTS, whose objective is to develop actions towards a culture of Human Rights<br />

in education systems through training and development activities in education for human rights aiming<br />

the school community (teachers, technicians and managers) of the network of basic education, leaders,<br />

professionals in five areas of the National Plan for Human Rights Education and health professionals in the<br />

area. The course offered by UFPA is held in the city of Belém (PA) and in three more districts of the Marajó<br />

island (Breves, Gurupá and Soure).<br />

Keywords: Education; Human rights and Science outreach.<br />

1 Doutor em Educação (PUC/SP), professor associa<strong>do</strong> da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará lota<strong>do</strong> no Instituto de Ciências da Educação,<br />

pesquisa<strong>do</strong>r <strong>do</strong> GESTAMAZON . Atualmente é titular da Diretoria de Assistência e Integração Estudantil da Pró-Reitoria de Extensão.<br />

2 Doutora em Ciências Ambientais (NAEA/UFPA), professora <strong>do</strong> Instituto de Ciências da Educação da UFPA, pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

GESTAMAZON, atualmente é Diretora de Programas e Projetos da Pró Reitora de Extensão.<br />

3 Doutora em Educação (PUC/SP), professora da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará lotada no Instituto de Ciências da Educação,<br />

pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> GESTAMAZON . Atualmente é Pró Reitora de Extensão da UFPA, presidente <strong>do</strong> Fórum de Pró-Reitores de Extensão<br />

das <strong>Universidade</strong>s Públicas Brasileiras - FORPROEX.<br />

4 Acadêmico <strong>do</strong> Curso de O<strong>do</strong>ntologia da UFPA, membro <strong>do</strong> Programa MULTICAMPISOCIAL.<br />

5 Acadêmico <strong>do</strong> Curso de O<strong>do</strong>ntologia da UFPA, membro <strong>do</strong> Programa MULTICAMPISOCIAL, bolsista <strong>do</strong> REDH/UFPA.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

125


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

126<br />

RESUMEN<br />

Esto trabajo presenta la experiencia de la<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará en el Proyecto<br />

de Red de Educación en Derechos Humanos<br />

(REDH), cuyo objetivo es desarrollar acciones<br />

hacia una cultura de los derechos humanos<br />

en los sistemas educativos mediante la capacitación<br />

y las actividades de desarrollo en<br />

la educación de los derechos humanos y la<br />

comunidad escolar (profesores, técnicos y<br />

directivos) de la red de la educación básica, los<br />

dirigentes, los profesionales en cinco áreas del<br />

Plan Nacional para la Educación en Derechos<br />

Humanos y de los profesionales de la salud. El<br />

curso es ofreci<strong>do</strong> por UFPA, celebra<strong>do</strong> en la<br />

ciudad de Belém (Pará) y en otros tres distritos<br />

de la isla del Marajó (Breves, Gurupá y Soure)<br />

Palabras-clave: Educación; Derechos Humanos<br />

y Extensión Universitaria.<br />

A ressignificação da extensão universitária<br />

e seu papel na construção de estratégias<br />

de controle social<br />

As ressignificações das relações entre<br />

esta<strong>do</strong>, sociedade civil e merca<strong>do</strong> presentes na<br />

dinâmica de organização político-administrativa<br />

<strong>do</strong> território nacional, geraram a exigência de<br />

novos posicionamentos por parte de suas instituições<br />

com a finalidade de incluir e dar visibilidade<br />

a grupos sociais tradicionalmente excluí<strong>do</strong>s <strong>do</strong><br />

cenário da vida pública brasileira.<br />

Na lógica de institucionalização de um<br />

novo contrato social que agregue novos protagonistas<br />

e novas demandas sociais, as <strong>Universidade</strong>s<br />

públicas assumiram como missão a organização<br />

de redes dialogais com setores da sociedade na<br />

perspectiva da produção de novos saberes capazes<br />

de qualificar a vida das populações da região<br />

amazônica.<br />

Importante nesse contexto, a atividade<br />

da extensão universitária adquiriu maior significa<strong>do</strong>,<br />

pois é potencialmente capaz de maximizar<br />

as condições para a participação da <strong>Universidade</strong><br />

Pública na elaboração das políticas de Esta<strong>do</strong><br />

voltadas para a maioria da população, bem como<br />

para sua constituição em organismo legítimo no<br />

controle social da implantação de tais políticas.<br />

Altera-se, deste mo<strong>do</strong>, a dimensão e a<br />

substância das ações extensionistas universitárias<br />

para além de políticas assistencialistas, elemento<br />

que estruturou a existência de tal atividade como<br />

tripé da missão institucional da universidade,<br />

qualifican<strong>do</strong>-a como processo acadêmico defini<strong>do</strong><br />

e efetiva<strong>do</strong> em função das exigências da<br />

realidade, indispensável na formação <strong>do</strong> aluno,<br />

na qualificação <strong>do</strong> professor e no intercâmbio<br />

com a sociedade.<br />

O entendimento <strong>do</strong> salto de qualidade<br />

exerci<strong>do</strong> por estas atividades carece de argumentação<br />

teórico-conceitual para que não transpareça<br />

a sensação de naturalização das atividades humanas<br />

a partir de determinismos sem substância e,<br />

desta forma, possa ser resgatada a importância<br />

histórica da extensão na construção de uma universidade<br />

sustentável.<br />

Os primeiros <strong>do</strong>cumentos que tratam da<br />

questão de extensão nas universidades brasileiras<br />

datam <strong>do</strong> início <strong>do</strong>s anos 30 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>.<br />

Na “Exposição de Motivos sobre a Reforma das<br />

<strong>Universidade</strong>s Brasileiras”, de abril de 1931, a<br />

“extensão universitária se destina a dilatar os<br />

benefícios da atmosfera universitária aqueles<br />

que não se encontram diretamente associa<strong>do</strong>s à<br />

vida da universidade”. Em outro <strong>do</strong>cumento, <strong>do</strong><br />

mesmo ano, os cursos de extensão universitária<br />

eram “destina<strong>do</strong>s a propagar, em benefício coletivo,<br />

a atividade técnica e científica <strong>do</strong>s institutos<br />

universitários”.<br />

A ambiguidade da expressão “benefício<br />

coletivo” permite questionar o compromisso<br />

social da política de extensão das universidades<br />

brasileiras à época. Permite, também, concluir<br />

que a diretriz de um assistencialismo difuso, mas<br />

direciona<strong>do</strong> concreta e ideologicamente, nunca<br />

esteve tão bem explicitada como no Estatuto das<br />

<strong>Universidade</strong>s Brasileiras data<strong>do</strong> de 1931.<br />

O golpe de 1937 e a ditadura Varguista<br />

estenderam suas marcas até o final <strong>do</strong>s anos 60.<br />

Durante quarenta anos os <strong>do</strong>cumentos trataram<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

a extensão universitária de forma secundária,<br />

acessória ou simplesmente não trataram.<br />

A extensão, definida como um <strong>do</strong>s<br />

objetivos-fim da <strong>Universidade</strong> Brasileira e institucionalizada<br />

de forma sistemática e oficial no interior<br />

da Academia, foi produto da Reforma Universitária<br />

de 1968 6 , marco normativo que estabelece que “as<br />

universidades e as instituições de ensino superior<br />

estenderão à comunidade, sob forma de cursos<br />

e serviços especiais, as atividades de ensino e os<br />

resulta<strong>do</strong>s da pesquisa que lhe são inerentes”.<br />

Anteriormente à Reforma, as experiências<br />

que poderiam caber dentro desse espectro de<br />

preocupação representavam iniciativas isoladas,<br />

geralmente assistemáticas, quan<strong>do</strong> não episódicas,<br />

limitadas por um contexto histórico onde a<br />

<strong>Universidade</strong>, quan<strong>do</strong> muito, era vista como uma<br />

boa escola de terceiro grau, forma<strong>do</strong>ra de quadros<br />

profissionais educa<strong>do</strong>s dentro de padrões culturais<br />

e técnicos importa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s centros mais dinâmicos<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> capitalista ocidental, particularmente<br />

os Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, França e Inglaterra.<br />

Entretanto, as ambiguidades ou desatenções<br />

das políticas públicas para as atividades<br />

de extensão não lograram impedir que algumas<br />

experiências socialmente compromissadas 7 existissem<br />

à sombra ou à margem das universidades<br />

brasileiras ao longo desses anos.<br />

Essas divergências quanto ao papel que<br />

a universidade deveria cumprir no interior de uma<br />

sociedade periférica e dependente acirraram-<br />

-se com o golpe de 64 pois, a partir de então,<br />

as atividades de extensão foram canceladas tal<br />

como eram e assimiladas e retrabalhadas pelas<br />

reformas introduzidas em 1968, quan<strong>do</strong> passa a<br />

pre<strong>do</strong>minar no espaço universitário a concepção<br />

de extensão enquanto “prestação de serviços”,<br />

6 Por meio <strong>do</strong> artigo 20 da Lei nº 5.540, de 28 de novembro<br />

de 1968.<br />

7 Algumas vivências não podem passar desapercebidas, dentre<br />

elas: O Movimento da Cultura Popular, os CPC’s (Centro de Cultura<br />

Popular, ativa<strong>do</strong>s pela UNE), a campanha “De Pé no Chão<br />

Também se Aprende a Ler”, o Movimento de Educação de Base<br />

(MEB), o Serviço de Extensão Rural da UFPE, a <strong>Universidade</strong><br />

Volante (da UFPR) e, até um certo momento, o CRUTAC - Centro<br />

Rural Universitário de Treinamento e Ação Comunitária, são experiências<br />

que representavam vertentes ideológicas diferenciadas<br />

dentro da academia.<br />

a exemplo de instituições norte-americanas, à<br />

reboque <strong>do</strong>s Acor<strong>do</strong>s MEC-USAID 8 .<br />

No que tange à UFPA, a introdução <strong>do</strong><br />

seu Plano Diretor de Extensão para 1976-1979<br />

revela não só a percepção dessas diferenças,<br />

como sugere caminhos para a sua “correção”. O<br />

assistencialismo e a descontinuidade, enquanto<br />

características das atividades extensionistas das<br />

universidades brasileira se reproduz na nossa<br />

universidade desde sua fundação, em 57, até<br />

a criação <strong>do</strong> CRUTAC 9 em 1972.Ten<strong>do</strong> como<br />

origem em sua maioria, os Departamentos <strong>do</strong>s<br />

Centros de Exatas e de Saúde e como destino a<br />

população da cidade de Belém. A extensão na<br />

UFPA variava das prestações de serviços técnicos<br />

a entidades públicas e privadas até o atendimento<br />

o<strong>do</strong>ntológico às comunidades da capital <strong>do</strong><br />

esta<strong>do</strong>. Em menor escala ocorreram atividades<br />

oriundas das áreas de ciências humanas e socioeconômicas<br />

e na área cultural.<br />

Com o advento da reforma universitária<br />

e a criação da Subreitoria de Assuntos de Extensão<br />

e Natureza Estudantil, a UFPA deu início a<br />

uma série de medidas de caráter administrativo<br />

com o objetivo de oferecer aos agentes de extensão<br />

condições para um trabalho mais integra<strong>do</strong>,<br />

interdisciplinar e homogêneo, <strong>do</strong> ponto de vista<br />

institucional.<br />

A partir <strong>do</strong>s anos 80 o foco das atividades<br />

de extensão se deslocou para o atendimento<br />

de propostas mais “regionais”, voltadas para as<br />

necessidades que emergissem da própria comunidade.<br />

Mesmo após a realização <strong>do</strong> I Seminário e<br />

Extensão da Amazônia – articula<strong>do</strong> e coordena<strong>do</strong><br />

pela UFPA - onde se detectou uma nova retórica<br />

extensionista, foram poucas as propostas estruturadas<br />

de forma participativa. Entretanto uma das<br />

maiores demonstrações <strong>do</strong> poder transforma<strong>do</strong>r da<br />

8 Foram acor<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s nos anos 1960 <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>,<br />

entre o Ministério da Educação <strong>do</strong> Brasil (MEC) e a United States<br />

Agency for International Development (USAID). Tais acor<strong>do</strong>s<br />

visavam garantir assistência técnica e cooperação financeira à<br />

educação brasileira em seus diferentes níveis. O perío<strong>do</strong> que foi<br />

de junho de 1964 e janeiro de 1968 foi o de maior intensidade<br />

nos acor<strong>do</strong>s, sen<strong>do</strong> firma<strong>do</strong>s nada menos que <strong>do</strong>ze deles.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

127


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

extensão universitária na UFPA foi dada a partir da<br />

implantação <strong>do</strong>s campi no interior <strong>do</strong> esta<strong>do</strong>, fator<br />

estruturante no dimensionamento multicampi da<br />

universidade 10 , sobretu<strong>do</strong> com o estabelecimento<br />

de duas unidades na ilha <strong>do</strong> Marajó 11 .<br />

Naquela região se encontram os piores<br />

índices de desenvolvimento humano <strong>do</strong> País e<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> que seus municípios apresentam<br />

baixíssimo índice de qualidade de vida e,<br />

ainda que tenham apresenta<strong>do</strong> algum crescimento<br />

na década passada, a situação global ainda é<br />

de profundas necessidades, corroboran<strong>do</strong> a tese<br />

de que a ilha ainda é uma fronteira social a ser<br />

conquistada por meio de ações de desenvolvimento<br />

humano e cidadania.<br />

IDH<br />

(1)<br />

IDEB*<br />

(2)<br />

IDI<br />

(3)<br />

Taxa de<br />

Escolarização<br />

líquida EF<br />

(4)<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> nas opções culturais e condições de<br />

moradia muito pobres em termos materiais.<br />

O problema <strong>do</strong> abuso e exploração sexual<br />

de crianças e a<strong>do</strong>lescentes, que já era grave,<br />

chegou a níveis alarmantes, pois agora se trata<br />

da comercialização <strong>do</strong> corpo de meninas a partir<br />

de onze anos de idade com aval das próprias<br />

famílias, posto que esta é a única forma de verem<br />

garantidas a sua sobrevivência. As balsas e navios<br />

que transportam merca<strong>do</strong>rias ficam para<strong>do</strong>s<br />

em pontos combina<strong>do</strong>s, esperan<strong>do</strong> as barcaças<br />

atracarem e as meninas passarem para elas.<br />

Tais denúncias são oriundas de diversas<br />

fontes, feitas por inúmeros setores da sociedade,<br />

desde a Igreja Católica até o Ministério Público<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>. Em síntese, as crianças não vão à<br />

Taxa de<br />

Escolarização<br />

líquida EM<br />

(4)<br />

Taxa de<br />

analfabetismo (10<br />

a 15 anos)<br />

(5)<br />

Taxa de<br />

analfabetismo (15<br />

ou mais)<br />

(5)<br />

População<br />

(6)<br />

Breves 0,630 2,5 0,360 77,0 5,1 35,80 35,80 94.458<br />

Gurupá 0,630 2,1 0,340 76,6 1,8 31,90 35,00 24.384<br />

Soure 0,723 2,6 0,690 22.244 83,5 11,60 13,10 21.395<br />

FONTE: (1) ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO - PNUD - 2000; (2) MEC 2007; 3) ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO<br />

DA INFÂNCIA - UNICEF - 2004; (5) IBGE - CENSO DEMOGRÁFICO DE 2000 (6) IBGE - CONTAGEM 2007; *IDEB<br />

ANOS INICIAIS<br />

Uma análise ainda que sucinta <strong>do</strong>s<br />

indica<strong>do</strong>res sociais <strong>do</strong>s municípios da ilha<br />

permite-nos concluir pela existência de grande<br />

concentração da renda, elevada mortalidade infantil,<br />

desnutrição, malária e óbitos por <strong>do</strong>enças<br />

parasitárias. Acrescente-se a isso uma grande<br />

carência por obras de infra-estrutura para saneamento<br />

ambiental, tratamento mais abrangente<br />

<strong>do</strong>s serviços de saúde pública e a necessidade<br />

de mais escolaridade, o que se representa por<br />

elevada taxa de analfabetismo, pouca presença<br />

10 Foi a partir de ações de assistência à saúde da população e de<br />

ações de ensino - que remontam mais freqüentemente à década de<br />

1950 - que a instituição percebeu a necessidade de se estabelecer<br />

formalmente em outras cidades <strong>do</strong> Pará já nos anos de 1980. Antes<br />

de serem concebidas no conjunto de uma política de extensão,<br />

as atividades sofreram o impacto das variações no conceito de<br />

extensão universitária ocorridas em to<strong>do</strong> o país. Ganharam marcos<br />

regulatórios e atualmente são estimuladas a estarem cada vez<br />

mais aliadas à pesquisa e ao ensino e a provocarem novamente<br />

mudanças nas instâncias acadêmicas.<br />

11 Campi Universitários de Breves e Soure.<br />

128<br />

escola porque a trocam pela necessidade de sobrevivência<br />

e se prostituem com o aval <strong>do</strong>s pais. Por<br />

isso este projeto tem características preponderantemente<br />

educativo-culturais, cujos resulta<strong>do</strong>s dependem<br />

de outros vetores político-sociais e cujo prazo<br />

não é curto. Todavia, teremos possibilidade de êxito<br />

na medida em que contarmos com uma rede de<br />

proteção que precisa ser construída e fortalecida<br />

permanentemente, sobretu<strong>do</strong> em se tratan<strong>do</strong> das<br />

áreas da educação, saúde e assistência social no<br />

âmbito <strong>do</strong> município.<br />

Confrontada com seu inestimável papel<br />

social e sua missão institucional, a <strong>Universidade</strong><br />

<strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará, em conjunto com as Secretarias<br />

Municipais de Educação, de Saúde e de Assistência<br />

Social, possui um papel decisivo na efetividade das<br />

políticas sociais naquela região, em particular na<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

formação inicial e continuada de agentes multiplica<strong>do</strong>res<br />

<strong>do</strong>s Direitos Humanos.<br />

Construin<strong>do</strong> a rede nacional de educação<br />

em direitos humanos<br />

A Temática <strong>do</strong>s Direitos Humanos e<br />

Justiça 12 , que é constituinte <strong>do</strong> Plano Nacional de<br />

Extensão desde 2001, fato que contribuiu com a<br />

sistematização de diversas experiências em direitos<br />

humanos nas universidades brasileiras.<br />

Dentre estas experiências, destacamos as<br />

ações <strong>do</strong> projeto Educação em Direitos Humanos,<br />

concebi<strong>do</strong> pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> da Paraíba-<br />

-UFPB 13 e executa<strong>do</strong> por meio da sua Pró-Reitoria<br />

de Extensão e Assuntos Comunitários (Núcleo de<br />

Cidadania e Direitos Humanos). Sua estrutura de<br />

financiamento institucional se originou na Secretaria<br />

de Educação Continuada, Alfabetização e<br />

Diversidade – SECAD, <strong>do</strong> Ministério da Educação<br />

e no âmbito da parceria executiva contou com a<br />

presença <strong>do</strong> Fórum de Pró-Reitores de Extensão das<br />

<strong>Universidade</strong>s Públicas Brasileiras - FORPROEX.<br />

As ações <strong>do</strong> Projeto tiveram início em<br />

agosto de 2007, ten<strong>do</strong> como parceiros os seguintes<br />

esta<strong>do</strong>s: Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia,<br />

Distrito <strong>Federal</strong>, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso<br />

<strong>do</strong> Sul, Minas Gerais, Pará, Paraná, Rio de Janeiro,<br />

Rio Grande <strong>do</strong> Sul e Sergipe, que por meio de suas<br />

<strong>Universidade</strong>s Públicas executaram as ações <strong>do</strong> Projeto.<br />

As IFES envolvidas são: UNIFAP, UFAC, UFAM,<br />

UFPA, UFAL, UFS, UFBA, UFES, UFRJ,UFVJM,<br />

UNB, UFG, UFMS, UFPR e FURG;<br />

Destacam-se como objetivos específicos<br />

da Rede ações voltadas para a concepção, planejamento,<br />

execução, monitoramento e avaliação,<br />

sistematização e publicização de experiências de<br />

formação de agentes direta ou indiretamente en-<br />

volvi<strong>do</strong>s com a inserção da temática <strong>do</strong>s direitos<br />

humanos em ações educativas das unidades escolares<br />

<strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s referi<strong>do</strong>s.<br />

Meto<strong>do</strong>logicamente as ações da REDH<br />

são executadas em um curso de 132 horas/aula<br />

(onde 60 são presenciais, 24 são práticas e 40<br />

referem-se à orientação à distância) dispostas em 4<br />

módulos assim dispostos:<br />

1. Fundamentos históricos e ético-filosóficos da<br />

Educação em Direitos Humanos;<br />

2. Fundamentos Políticos e Jurídicos da Educação<br />

em Direitos Humanos;<br />

3. Fundamentos Culturais da Educação em Direitos<br />

Humanos;<br />

4. Fundamentos Educacionais da Educação em<br />

Direitos Humanos.<br />

A parceria com as universidades nos<br />

15 esta<strong>do</strong>s envolvi<strong>do</strong>s, a partir <strong>do</strong> intercâmbio de<br />

professores envolvi<strong>do</strong>s na temática, permite que,<br />

em um primeiro momento os módulos aconteçam<br />

concomitantemente nas 15 capitais-sede e sejam<br />

replica<strong>do</strong>s, em um momento posterior, de acor<strong>do</strong><br />

com o Plano de Trabalho proposto por cada universidade,<br />

em municípios circunvizinhos, eleitos a<br />

partir <strong>do</strong>s seguintes critérios: baixos índices no IDEB,<br />

presença e citação no mapa nacional de violência,<br />

ser sede de outros projetos federais que façam referência<br />

aos Direitos Humanos, como o “Escola que<br />

Protege”, por exemplo, dentre outros.<br />

Como resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s parcialmente<br />

pelo projeto podemos elencar o acervo bibliográfico<br />

de autoria de vários professores, que em parceria<br />

com a SECAD/MEC idealizaram e levaram à produção<br />

<strong>do</strong> livro “Direitos Humanos:capacitação de educa<strong>do</strong>res”,<br />

composto por <strong>do</strong>is volumes, que serviu<br />

de subsídio para os cursistas durante a capacitação,<br />

além de um CD-ROM conten<strong>do</strong> as mesas-re<strong>do</strong>ndas<br />

gravadas e apresentadas durante os módulos e com<br />

vídeos utiliza<strong>do</strong>s como instrumentos meto<strong>do</strong>lógicos<br />

na capacitação; e, por fim, em processo de finalização,<br />

uma coletânea de textos, com um texto para<br />

12 Além desta, outras seis temáticas compõem o PNE, que são:<br />

Educação, Saúde, Meio Ambiente, Tecnologia e Produção, Cultura<br />

e Comunicação.<br />

13 Maiores informações podem ser encontradas no site: www.<br />

redhbrasil.net/oprojeto_restrito.php<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

129


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

cada IFES com o relato de experiência de cada<br />

projeto, conten<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s qualitativos e quantitativos<br />

de to<strong>do</strong>s os Esta<strong>do</strong>s.<br />

A experiência no Pará<br />

No Pará, os módulos de capacitação da<br />

REDH, além de ocorrerem na capital, foram realiza<strong>do</strong>s<br />

nos municípios de Breves, Gurupá e Soure,<br />

sedia<strong>do</strong>s na ilha <strong>do</strong> Marajó, em função de corresponderem<br />

aos critérios de escolha defini<strong>do</strong>s pelas<br />

instituições parceiras <strong>do</strong> Programa, isto soma<strong>do</strong> à<br />

existência de contatos consolida<strong>do</strong>s anteriormente<br />

por intermédio de professores da UFPA que já possuíam<br />

trabalhos de pesquisa e extensão na região,<br />

fator que facilitou a relação mais estreita com suas<br />

respectivas Secretarias de Educação, de Saúde e de<br />

Assistência Social. Estas condições os avalizaram<br />

como potenciais parceiros e loci de irradiação de<br />

ações de planejamento, gestão e execução de políticas<br />

sociais relacionadas às diretrizes <strong>do</strong> programa, o<br />

que contribuiu para a premissa de sustentabilidade<br />

e continuidade das proposições implementadas.<br />

Dividida em 4 (quatro) módulos o processo<br />

de capacitação aconteceu primeiramente em<br />

Belém, onde o módulo Fundamentos Histórico-<br />

-Filosóficos <strong>do</strong>s Direitos Humanos foi realiza<strong>do</strong><br />

no perío<strong>do</strong> de 1º a 2 de agosto de 2008, quan<strong>do</strong><br />

se discutiu a construção de uma rede nacional de<br />

educa<strong>do</strong>res em Direitos Humanos, assim como a<br />

inserção <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Pará como parte da mesma.<br />

A “Capacitação de Educa<strong>do</strong>res da Rede<br />

Básica de Ensino em Educação em Direitos Humanos”<br />

tem como objeto a promoção de mudanças<br />

no sistema educacional de ensino no senti<strong>do</strong> de<br />

implementar uma cultura de Direitos Humanos nas<br />

escolas por meio da capacitação de educa<strong>do</strong>res,<br />

técnicos e gestores da rede básica de educação,<br />

lideranças comunitárias, profissionais das cinco<br />

áreas (Educação básica, superior, nãoformal, <strong>do</strong>s<br />

profissionais <strong>do</strong>s sistemas de justiça e segurança e<br />

educação e mídia) <strong>do</strong> Plano Nacional de Educação<br />

130<br />

em Direitos Humanos, junto a quinze esta<strong>do</strong>s da<br />

federação.<br />

Um aspecto de grande relevância foi a<br />

participação efetiva de diversos representantes das<br />

esferas governamentais estaduais e municipais,<br />

Organizações Não-Governamentais e membros e<br />

entidades <strong>do</strong> Movimento Social, além da presença<br />

de Professores da Rede Básica de Ensino, público-<br />

-alvo desse projeto.<br />

DISTRIBUIÇÃO DOS CURSISTAS POR<br />

GÊNERO<br />

23%<br />

Homens<br />

DISTRIBUIÇÃO DOS CURSISTAS POR<br />

COR / ETNIA<br />

DISTRIBUIÇÃO DOS CURSISTAS POR FOR-<br />

MAÇÃO SUPERIOR<br />

Frequência<br />

30<br />

25<br />

20<br />

15<br />

10<br />

5<br />

0<br />

14%<br />

Preta<br />

1 2<br />

5<br />

19%<br />

Não<br />

declarou<br />

10<br />

2 1<br />

4<br />

1<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

4<br />

Formação<br />

0<br />

27<br />

10<br />

1<br />

77%<br />

Mulheres<br />

22%<br />

Branca<br />

44%<br />

Parda<br />

30<br />

1%<br />

Indígena<br />

4<br />

21


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

DISTRIBUIÇÃO DOS CURSISTAS POR ESCO-<br />

LARIDADE<br />

por objetivo final, informar a comunidade <strong>do</strong><br />

entorno escolar a respeito <strong>do</strong> assunto, fazen<strong>do</strong><br />

valer os direitos fundamentais previstos na constituição<br />

brasileira.<br />

Conclusões: perspectivas de continuidade<br />

da REDH<br />

DISTRIBUIÇÃO DOS CURSISTAS POR FAIXA<br />

ETÁRIA<br />

Nos municípios de Breves, Gurupá e<br />

Soure, localiza<strong>do</strong>s na Ilha <strong>do</strong> Marajó, o projeto<br />

ainda se encontra em fase de conclusão, com<br />

previsão de término para o 1º semestre de 2009,<br />

porém está sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> semelhante<br />

à capital, embora adapta<strong>do</strong> às realidades locais.<br />

Uma dificuldade considerável na realização <strong>do</strong>s<br />

módulos no interior da Amazônia, consiste nas<br />

dinâmicas de mobilização <strong>do</strong>s cursistas, preocupação<br />

maior da coordenação no Esta<strong>do</strong>.<br />

Ao final <strong>do</strong>s módulos tanto na capital<br />

como nos municípios da Ilha <strong>do</strong> Marajó, será<br />

cria<strong>do</strong> um Plano de Ação em Educação em e<br />

para Direitos Humanos, onde serão planejadas<br />

ações com a comunidade escolar, construin<strong>do</strong><br />

metas que visam levar informações básicas relativas<br />

ao objeto <strong>do</strong> programa, capacitan<strong>do</strong> os<br />

<strong>do</strong>centes para a elaboração de materiais didáticos<br />

a respeito <strong>do</strong>s Direitos Humanos e, ten<strong>do</strong><br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

Ensino, Pesquisa e Extensão são classicamente<br />

os três pilares da universidade pública<br />

brasileira. Entretanto, enquanto os <strong>do</strong>is primeiros<br />

são campos consagra<strong>do</strong>s e bem consolida<strong>do</strong>s, a<br />

Extensão continua objeto de controvérsias. Por<br />

vários anos a academia entendeu a Extensão<br />

apenas como uma forma de prestação de serviços<br />

à Sociedade, com enfoque ao caráter assistencialista<br />

da ação. Depois de muitos debates e<br />

experiências acumuladas, esse conceito está mudan<strong>do</strong>.<br />

Hoje, Extensão é, principalmente, troca<br />

de saberes entre a Academia e a Sociedade. É,<br />

portanto, um processo de aprendizagem mútua.<br />

As transformações ocorridas na gestão<br />

da Extensão exigem agora da <strong>Universidade</strong> a<br />

instalação de dinâmicas de acompanhamento e<br />

avaliação das suas ações, a partir de um processo<br />

permanente de registro e controle pelas unidades<br />

acadêmicas e de uma nova lógica de significação<br />

das ações baseada na vinculação orgânica da extensão<br />

às atividades de ensino, posto que a UFPA<br />

coloca como desafio até 2009 institucionalizá-la<br />

por meio <strong>do</strong>s projetos pedagógicos <strong>do</strong>s cursos<br />

de graduação, em atendimento à Meta 23 <strong>do</strong><br />

Plano Nacional de Educação em cumprimento<br />

ao seu novo Regulamento da Graduação. Tais<br />

marcos têm desafia<strong>do</strong> a UFPA, seus <strong>do</strong>centes,<br />

discentes e técnicos, no senti<strong>do</strong> de institucionalizar<br />

a vivência de ações extensionistas enquanto<br />

síntese <strong>do</strong> fazer universitário e a realidade social,<br />

questionan<strong>do</strong> o seu papel e redimensionan<strong>do</strong>-o<br />

rumo à uma atuação mais eficaz na sociedade.<br />

Por outro la<strong>do</strong>, é essencial compreender<br />

que a dimensão inclusiva da extensão, mani-<br />

131


DAMASCENO, A. et al. A construção da rede de educação em direitos humanos: a experiência da UFPA<br />

festa na consolidação das políticas de assistência<br />

estudantil, ainda são um desafio cuja superação<br />

apresenta naturezas diversas (de proteção, de<br />

diversidade, de sensibilidade e de inovação),<br />

afinal, seu fortalecimento como dimensão<br />

estratégica representa, sem dúvida, uma real<br />

contribuição para a retomada da democracia e<br />

da cidadania em nosso país.<br />

A experiência aqui apresentada pretende<br />

atender um total de 500 (quinhentas)<br />

pessoas e agrega na perspectiva extensionista<br />

uma prática acadêmica na qual estudantes<br />

da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Pará, <strong>do</strong>s cursos<br />

de Ciências da Computação, Comunicação,<br />

Enfermagem, Farmácia, Medicina, Nutrição,<br />

O<strong>do</strong>ntologia, Pedagogia e Serviço Social atuam<br />

de forma direta e indireta junto às populações,<br />

oportunizan<strong>do</strong> o aprendiza<strong>do</strong> e a prática <strong>do</strong>s<br />

Direitos Humanos, estimulan<strong>do</strong> a criticidade<br />

e, por sua vez, motivan<strong>do</strong>-as a reivindicar seus<br />

direitos junto às autoridades, observan<strong>do</strong> que<br />

a participação popular nas políticas públicas é<br />

fundamental para o monitoramento e compreensão<br />

<strong>do</strong>s direitos <strong>do</strong>s cidadãos como um to<strong>do</strong>.<br />

Revela-se, portanto, para além <strong>do</strong> ensino e da<br />

pesquisa, ação extensionista no mais puro senti<strong>do</strong><br />

de serviço à sociedade, à sua emancipação e<br />

desenvolvimento humano e, porque educativa,<br />

de maneira sustentável.<br />

REFERÊNCIAS<br />

GOMIDE, Denise (org.). Governo e Sociedade Civil: um<br />

debate sobre espaços públicos democráticos. São Paulo:<br />

ABONG, 2003.<br />

GONH, Maria da Glória. Movimentos Sociais no Início<br />

<strong>do</strong> Século XXI: antigos e novos atores sociais. Petrópolis:<br />

Vozes, 2003.<br />

UFPA. Pró-Reitoria de Extensão. Anteprojeto da Política<br />

de Assistência Estudantil/UFPA/Belém/Dezembro de 2007.<br />

UFPA. Centro de Educação. Relatório da pesquisa sobre<br />

a questão racial na UFPA. Belém, UFPA, Novembro de<br />

2004.<br />

UFPA. Instituto de Ciências da Educação. Projeto Multicampisocial/UFPA/Belém/Dezembro<br />

de 2008.<br />

UFPB. Pró-Reitoria de Extensão. Projeto de capacitação<br />

em Direitos Humanos. Disponivel em: . Acesso em: 05/2/2009.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 16 de janeiro de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 19 de junho de 2009.<br />

132<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 125-132, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e<br />

articulação de redes na atenção à saúde sexual e reprodutiva<br />

de a<strong>do</strong>lescentes no vale <strong>do</strong> são francisco<br />

Challenges in work process reorganizing and networking development<br />

in sexual and reproductive health care for a<strong>do</strong>lescents in the São<br />

Francisco Valley<br />

Desafíos para reorganización del proceso de trabajo y desarrollo de la<br />

red de atención a la salud sexual y reproductiva de los a<strong>do</strong>lescentes<br />

en el Valle del río São Francisco 1<br />

Juliana Sampaio 2<br />

Roseléia Carneiro <strong>do</strong>s Santos 3<br />

Anna Cléa Ferreira da Silva 4<br />

RESUMO<br />

A Atenção Básica da Saúde no Brasil é organizada, prioritariamente, pela Estratégia de Saúde da Família<br />

(ESF) e deve desenvolver ações democráticas e participativas nos espaços coletivos, dentre elas as direcionadas<br />

à atenção <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes. Partin<strong>do</strong> desta prerrogativa, o presente trabalho tem como objetivo tecer<br />

algumas reflexões sobre os desafios para a articulação de redes sociais na implantação de novas modalidades<br />

de cuida<strong>do</strong> à saúde sexual e reprodutiva de a<strong>do</strong>lescentes. Para tanto, foi desempenhada uma pesquisaação<br />

(MORIN, 2004), com o suporte teórico <strong>do</strong> Construcionismo Social (SPINK; MEDRADO, 1999), na<br />

qual foram realizadas oficinas de trabalho com 72 profissionais de saúde objetivan<strong>do</strong> o desenvolvimento<br />

de 128 rodas de conversas sobre sexualidade com cerca de 240 a<strong>do</strong>lescentes, autoriza<strong>do</strong>s por seus pais ou<br />

responsáveis. Para construção das redes de cuida<strong>do</strong>, foram articuladas 7 escolas municipais, 1 escola militar,<br />

1 CRAS, 1 ONG dirigida a jovens e 1 igreja católica. Os resulta<strong>do</strong>s indicam diversas dificuldades para o<br />

desenvolvimento de ações em saúde com a<strong>do</strong>lescentes e sobre sexualidade. Tais dificuldades envolvem<br />

desde o perfil <strong>do</strong>s profissionais de saúde, centra<strong>do</strong> no modelo de atenção medicamentoso e especialista,<br />

que dificulta trabalhos participativos e dialógicos entre os profissionais, e entre eles e os a<strong>do</strong>lescentes; até<br />

a falta de articulação da equipe de saúde com os equipamentos sociais locais, evidencian<strong>do</strong> a dificuldade<br />

<strong>do</strong>s mesmos trabalharem de forma intersetorial e no território, com vistas a uma atenção integral em saúde.<br />

Palavras-chave: a<strong>do</strong>lescentes; estratégia de saúde da família; práticas dialógicas; promoção da saúde sexual<br />

e reprodutiva; rede social.<br />

ABSTRACT<br />

The Primary Health in Brazil is organized primarily by the Strategy Family Health (ESF) and must develop<br />

democratic and participatory actions in collective spaces, among them directed to the attention of teenagers.<br />

Based on this prerogative, this work aims to make some reflections on the challenges to the articulation<br />

1 Apoio CNPq<br />

2 Doutora em Saúde Coletiva; Profª da UFCG; julianasmp@hotmail.com. Endereço: Av. Eng. José Celino Filho, nº 380/504. Mirante.<br />

Campina Grande – PB CEP: 58.407-664. Fone: (83) 3310 9996/ 8756 8756<br />

3 Graduanda em Psicologia pela UNIVASF; rose_psi_univasf@hotmail.com<br />

4 Graduanda em Psicologia pela UNIVASF; clea_anna@yahoo.com.br<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

133


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

of social networks in the implementation of<br />

new forms of care for sexual and reproductive<br />

health of a<strong>do</strong>lescents. The work was performed<br />

an Action Research (Morin, 2004), with the<br />

theoretical suport of Social Construccionism<br />

(SPINK, MEDRADO, 1999), which were held<br />

workshops with 72 health professionals aimed<br />

at developing 128 wheels of conversations<br />

about sexuality with around 240 teenage<br />

authorized by their parents or guardians. For<br />

construction of networks of care were articulated<br />

7 municipal schools, 1 military school,<br />

CRAS 1, 1 ONG aimed at young people and<br />

1 Catholic church. The results indicate several<br />

difficulties for the development of health interventions<br />

with a<strong>do</strong>lescents and sexuality. These<br />

difficulties involve from the profile of health<br />

professionals, centered care model and medical<br />

expert who makes work and participatory<br />

dialogue between professionals and between<br />

them and teenagers, even the lack of articulation<br />

of the healthcare team with the social<br />

welfare sites, showing the difficulty of such<br />

intersectoral work and in territory, with a view<br />

to a comprehensive health care.<br />

Keywords: a<strong>do</strong>lescents; strategy family health;<br />

dialogical practices; promotion of sexual and<br />

reproductive health; social network.<br />

RESUMEN<br />

Primaria de la salud en Brasil está organiza<strong>do</strong><br />

principalmente por la Estrategia de Salud de<br />

la Familia (ESF) y debe desarrollar acciones<br />

democrática y participativa en los espacios<br />

colectivos, entre ellos dirigi<strong>do</strong>s a la atención de<br />

los a<strong>do</strong>lescentes. En base a esta prerrogativa,<br />

este trabajo pretende hacer algunas reflexiones<br />

sobre los retos para la articulación de redes<br />

sociales en la aplicación de nuevas formas de<br />

cuida<strong>do</strong> de la salud sexual y reproductiva de<br />

los a<strong>do</strong>lescentes. El trabajo fue conçus com<br />

una investigación-acción (Morin, 2004), com<br />

el marco teórico del Construccionismo Social<br />

(Spink, Medra<strong>do</strong>, 1999), que se llevaron a<br />

cabo 72 talleres con profesionales de la salud<br />

destinadas a desarrollar 128 ruedas de conversaciones<br />

sobre la sexualidad con alrede<strong>do</strong>r de<br />

240 a<strong>do</strong>lescentes autoriza<strong>do</strong>s por sus padres o<br />

tutores. Para la construcción de redes de atención<br />

fueron articuladas 7 escuelas municipales,<br />

1 escuela militar, 1 CRAS, 1 ONG destinadas a<br />

los jóvenes y 1 iglesia católica. Los resulta<strong>do</strong>s<br />

indican varias dificultades para el desarrollo de<br />

intervenciones de salud con los a<strong>do</strong>lescentes<br />

y la sexualidad. Estas dificultades implican<br />

desde el perfil de los profesionales de la salud,<br />

la modelo centra<strong>do</strong> en la atención y el perito<br />

médico que hace el trabajo y el diálogo participativo<br />

entre profesionales y entre éstos y los<br />

a<strong>do</strong>lescentes, incluso la falta de articulación del<br />

equipo de salud con el bienestar social sitios,<br />

mostran<strong>do</strong> la dificultad de ese trabajo en una<br />

intersectoriales y el territorio, con vistas a una<br />

atención integral de salud.<br />

Palabras-clave: a<strong>do</strong>lescentes; estrategia de<br />

salud de la familia; prácticas dialógicas; promoción<br />

de la salud sexual y reproductiva; red<br />

social.<br />

Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo<br />

de trabalho e articulação de redes na<br />

atenção à saúde sexual e reprodutiva de<br />

a<strong>do</strong>lescentes no Vale <strong>do</strong> São Francisco<br />

Introdução<br />

A Estratégia de Saúde da Família surge<br />

na proposição de um modelo de atenção à<br />

saúde que tem como prerrogativa a prevenção<br />

de agravos e promoção da saúde, a partir de<br />

uma atenção integral, cujo objetivo é melhorar<br />

a qualidade de vida da população. A integralidade<br />

desta atenção, por sua vez, se opera em<br />

um conjunto articula<strong>do</strong> de ações e serviços preventivos<br />

e assistenciais, individuais e coletivos,<br />

nos diversos níveis de complexidade <strong>do</strong> sistema,<br />

reconhecen<strong>do</strong> o sujeito em seus diversos contextos<br />

e demandas (BRASIL, 2005a).<br />

Para tanto, é imprescindível que<br />

as ações de saúde sejam interdisciplinares, rompen<strong>do</strong><br />

com a dicotomia entre os saberes e fazeres<br />

<strong>do</strong>s diversos profissionais e da comunidade. Para<br />

que isso aconteça, é necessário que os agentes<br />

de saúde exercitem uma rede de comunicação<br />

efetiva e eficaz.<br />

De acor<strong>do</strong> com Corbo e Morosini<br />

(2005), a integralidade no cuida<strong>do</strong> à saúde<br />

ainda é um desafio para to<strong>do</strong>s os atores envolvi<strong>do</strong>s<br />

com o processo de mudança da formação<br />

profissional e das práticas em saúde. Entende-se<br />

como o maior desafio dessas práticas, não só sua<br />

134<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

dimensão institucional ou política, mas também<br />

o rompimento de formas cristalizadas de entender<br />

e realizar ações técnicas, que conformam<br />

padrões de intervenção em saúde já toma<strong>do</strong>s<br />

como tradição, a exemplo <strong>do</strong>s tratamentos medicamentosos<br />

e hospitalocêntricos.<br />

No que se referem ao público a<strong>do</strong>lescente,<br />

estu<strong>do</strong>s apontam para uma prática<br />

profissional que reforça modelos de gênero e<br />

sexualidade basea<strong>do</strong>s em valores machistas<br />

e normatiza<strong>do</strong>res, que dificultam o exercício<br />

<strong>do</strong>s direitos sexuais e reprodutivos. Muitas das<br />

atividades que tematizam as práticas sexuais se<br />

restringem, quan<strong>do</strong> muito, à prescrição de méto<strong>do</strong>s<br />

contraceptivos, não oferecen<strong>do</strong> um espaço<br />

de troca dialógica entre profissionais de saúde<br />

e a<strong>do</strong>lescentes (PAIVA, 2001). Nesta mesma direção,<br />

Villela (1999) e Paiva (2006) evidenciam<br />

práticas de saúde orientadas pela compreensão<br />

da sexualidade na a<strong>do</strong>lescência como algo a ser<br />

controla<strong>do</strong>, <strong>do</strong>mestica<strong>do</strong>, deven<strong>do</strong>-se adiar ao<br />

máximo as primeiras práticas sexuais.<br />

Assim, Costa (2000) aponta para<br />

a necessidade <strong>do</strong>s profissionais investirem no<br />

potencial <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes para opinar, apontar<br />

ideias e participar no planejamento de seu futuro;<br />

e Parker (2000) defende que os jovens têm de<br />

falar em nome próprio sobre suas experiências,<br />

expressan<strong>do</strong>-se com suas próprias palavras,<br />

gestos, senti<strong>do</strong>s e significa<strong>do</strong>s. Para tanto, é<br />

imprescindível que os profissionais permitam<br />

a distribuição <strong>do</strong> poder <strong>do</strong> discurso, abrin<strong>do</strong><br />

mão de suas próprias verdades, possibilitan<strong>do</strong><br />

a construção coletiva.<br />

O Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente<br />

(BRASIL, 1990) prevê que todas as crianças e<br />

a<strong>do</strong>lescentes são sujeitos de direitos, em diferentes<br />

condições sociais e individuais; e que a<br />

condição de pessoa em desenvolvimento não as<br />

priva de gozar desses direitos. Nesta perspectiva,<br />

o Ministério da Saúde (BRASIL, 2005b) vem<br />

desenvolven<strong>do</strong> ações para fortalecer os direitos<br />

sexuais e reprodutivos e a relevância desses para<br />

o público a<strong>do</strong>lescente. A proposta ministerial é<br />

desenvolver atividades educativas, abordan<strong>do</strong><br />

informações sobre méto<strong>do</strong>s contraceptivos e<br />

esclarecimentos sobre a legislação federal vigente<br />

a respeito <strong>do</strong> planejamento familiar.<br />

O Ministério da Saúde desenvolverá<br />

esforços visan<strong>do</strong> à sensibilização <strong>do</strong>s<br />

gestores de saúde para a organização<br />

de ações e serviços de atenção à<br />

saúde sexual e à saúde reprodutiva de<br />

a<strong>do</strong>lescentes e jovens, que respeitem<br />

os princípios de confidencialidade e<br />

de privacidade e que contemplem as<br />

especificidades da a<strong>do</strong>lescência, garantin<strong>do</strong><br />

o acolhimento, o acesso a ações<br />

educativas e méto<strong>do</strong>s contraceptivos<br />

e para prevenção das DST/HIV/Aids<br />

(BRASIL, 2005b, p. 20-21)<br />

Para tanto, a atenção básica de saúde<br />

por meio das equipes de Saúde da Família, assim<br />

como as escolas e CRAS, configuram-se como<br />

importantes espaços para ações que visem à<br />

garantia <strong>do</strong>s direitos sexuais e reprodutivos <strong>do</strong>s<br />

a<strong>do</strong>lescentes. Estes equipamentos sociais devem,<br />

ainda, para maximizar seus esforços, trabalhar<br />

em conjunto.<br />

A articulação de redes prevê aproximar<br />

pessoas e ações, em mútuo “apoio social”. Este é<br />

defini<strong>do</strong> por Valla (2000) “como sen<strong>do</strong> qualquer<br />

informação, falada ou não, e/ou auxílio material,<br />

ofereci<strong>do</strong>s por grupos e/ou pessoas que se conhecem,<br />

que resultam em efeitos emocionais e/<br />

ou comportamentos positivos” (VALLA, 2000,<br />

p. 41). Assim, o objetivo maior é o de potencializar<br />

recursos e criar alternativas novas para<br />

a resolução de problemas e/ou atendimento de<br />

necessidades, o que no campo da saúde significa<br />

aumentar a qualidade <strong>do</strong>s serviços presta<strong>do</strong>s e<br />

consequentemente melhorar os indica<strong>do</strong>res de<br />

saúde da população.<br />

A perspectiva de rede fundamenta-se<br />

na valorização de ações mais integrais, de<br />

mo<strong>do</strong> que os diversos serviços trabalhem articuladamente,<br />

objetivan<strong>do</strong> o apoio social necessário<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

135


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

ao bom desenvolvimento e bem-estar das pessoas.<br />

Partin<strong>do</strong> de tal compreensão, Ribeiro (2005)<br />

chama a atenção para o papel da Estratégia de<br />

Saúde da Família como importante articula<strong>do</strong>r<br />

de redes sociais, por estabelecer contato com a<br />

família, os vizinhos e lideranças comunitárias,<br />

“poden<strong>do</strong> incentivar a interação entre as várias<br />

iniciativas de apoio, incorporan<strong>do</strong> as práticas de<br />

apoio social às ações de saúde” (RIBEIRO, 2005,<br />

p. 02). Entretanto, como destaca a autora, essa<br />

prática não é devidamente valorizada por grande<br />

parte <strong>do</strong>s profissionais, que não reconhecem as<br />

ações de apoio social como parte <strong>do</strong> processo<br />

terapêutico.<br />

Assim, o presente estu<strong>do</strong> circunscreve-<br />

-se numa experiência de implantação, em conjunto<br />

com profissionais das ESF das cidades<br />

de Petrolina-PE e Juazeiro-BA, de rodas de<br />

conversas sobre direitos sexuais e reprodutivos<br />

com a<strong>do</strong>lescentes, como estratégia de criação<br />

de espaços dialógicos entre sujeitos.<br />

Nestas cidades, assim como na maioria<br />

das localidades brasileiras, poucas são as ações<br />

de saúde destinadas aos a<strong>do</strong>lescentes, que não<br />

são percebi<strong>do</strong>s como uma população prioritária<br />

<strong>do</strong> serviço. Nas unidades de saúde faltam insumos<br />

de prevenção, em especial a camisinha, e<br />

demais materiais educativos de saúde sexual e<br />

reprodutiva. Ao mesmo tempo, observam-se<br />

posturas conserva<strong>do</strong>ras <strong>do</strong>s profissionais frente<br />

aos a<strong>do</strong>lescentes, e o sentimento de despreparo<br />

para trabalhar sexualidade, principalmente com<br />

esta população. Em contrapartida, os a<strong>do</strong>lescentes<br />

não se interessam pelas atividades <strong>do</strong> serviço<br />

de saúde e quan<strong>do</strong> convoca<strong>do</strong>s, resistem em<br />

participar das ações propostas (SAMPAIO, 2007)<br />

Partin<strong>do</strong> de tal constatação, pretende-<br />

-se nesse trabalho tecer algumas reflexões a<br />

respeito da articulação de redes sociais ao longo<br />

<strong>do</strong> processo de construção, com profissionais das<br />

ESF de Petrolina e Juazeiro, de novas modalidades<br />

de cuida<strong>do</strong> à saúde sexual e reprodutiva<br />

de a<strong>do</strong>lescentes. Assim, serão apontadas dificuldades<br />

encontradas no processo, pon<strong>do</strong> em foco<br />

a forma como os dispositivos sociais existentes<br />

nas comunidades trabalhadas foram articula<strong>do</strong>s<br />

ao longo da intervenção.<br />

Material e méto<strong>do</strong>s<br />

O estu<strong>do</strong> em tela segue o méto<strong>do</strong> qualitativo<br />

em saúde (MINAYO, 2007), que busca<br />

privilegiar os significa<strong>do</strong>s e senti<strong>do</strong>s produzi<strong>do</strong>s<br />

pelos atores sociais. Fundamenta-se na perspectiva<br />

<strong>do</strong> Construcionismo Social, que segun<strong>do</strong><br />

Spink e Frezza (2000), busca compreender as<br />

ações, as práticas sociais e os sistemas de significações<br />

pelos quais as pessoas dão senti<strong>do</strong> ao<br />

mun<strong>do</strong>. Nesse ínterim, a linguagem é compreendida<br />

como uma produção social, historicamente<br />

datada, fruto <strong>do</strong> compartilhamento de senti<strong>do</strong>s<br />

entre os sujeitos (SPINK, MEDRADO, 1999).<br />

Nessa direção, foi realizada uma<br />

pesquisa-ação (MORIN, 2004), a partir da qual<br />

o conhecimento se articula com a prática, num<br />

processo reflexivo sobre si mesmo. O pesquisa<strong>do</strong>r<br />

– aquele que busca construir conhecimentos<br />

– deve propor a constante reflexão das práticas<br />

produzidas, abrin<strong>do</strong>-se a novas realidades, num<br />

processo de aprendizagem experiencial.<br />

A experiência que sustenta este estu<strong>do</strong><br />

caracteriza-se pelo desenvolvimento de oficinas<br />

de trabalho junto a 72 profissionais de oito<br />

unidades de saúde da família das cidades de<br />

Petrolina e Juazeiro. O objetivo foi realizar 128<br />

rodas de conversas com aproximadamente 240<br />

a<strong>do</strong>lescentes de ambos os sexos, entre 10 e 19<br />

anos, dividi<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>is grupos de acor<strong>do</strong> com<br />

a faixa etária (10-15/16-19). Para a escolha<br />

das equipes de saúde, foram consideradas as<br />

localizadas em comunidades populares, com<br />

alta densidade populacional, grande número de<br />

a<strong>do</strong>lescentes, alto índice de gravidez e DST entre<br />

a<strong>do</strong>lescentes e que dispunham de equipamentos<br />

sociais como escola e/ou Centro de Referência<br />

em Assistência Social (CRAS). A escolha foi<br />

136<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

ainda orientada pela própria indicação <strong>do</strong>s gestores<br />

da saúde como áreas de maior prioridade<br />

para o trabalho no campo <strong>do</strong>s direitos sexuais e<br />

reprodutivos e pela disponibilidade <strong>do</strong>s próprios<br />

profissionais em participar <strong>do</strong> projeto.<br />

Para a pactuação dessas ações, foram<br />

convida<strong>do</strong>s, em cada unidade de saúde, representantes<br />

de to<strong>do</strong>s os equipamentos sociais da<br />

área. O conjunto <strong>do</strong>s atores convida<strong>do</strong>s variou<br />

de acor<strong>do</strong> com cada unidade trabalhada e sua<br />

rede social estabelecida. Assim, nas oito comunidades<br />

foi possível articular sete escolas publicas<br />

municipais, uma escola militar, um CRAS, uma<br />

ONG que trabalha com jovens e uma igreja<br />

católica.<br />

Para a realização das rodas de conversas,<br />

também foram contata<strong>do</strong>s os pais e responsáveis<br />

pelos a<strong>do</strong>lescentes para apresentação e<br />

pactuação da proposta.<br />

Resulta<strong>do</strong>s e discussões<br />

Como propor o novo numa estrutura velha<br />

No primeiro momento, a proposta<br />

foi lançada aos profissionais de saúde, sen<strong>do</strong><br />

apresenta<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s de uma pesquisa anterior<br />

(SAMPAIO, 2007) que evidenciava a ausência<br />

de trabalhos no campo <strong>do</strong>s direitos sexuais e<br />

reprodutivos com a<strong>do</strong>lescentes e a vulnerabilidade<br />

destes frente às DST/Aids e gravidez não<br />

planejada. A proposta foi bem recebida por parte<br />

das equipes, que reconheceram o problema e sua<br />

necessidade de capacitação para o trabalho com<br />

a<strong>do</strong>lescentes e para o uso de técnicas dialógicas<br />

com grupo e com o tema sexualidade.<br />

Entretanto, corroboran<strong>do</strong> com da<strong>do</strong>s<br />

de outros pesquisa<strong>do</strong>res (PAIVA, 2006; VI-<br />

LELLA, 1999) ao longo <strong>do</strong> processo de pactuação<br />

com a comunidade e de planejamento das<br />

atividades, foi possível perceber a resistência<br />

<strong>do</strong>s profissionais de saúde em se engajaram em<br />

ações de educação sexual. Sua expectativa era<br />

que a “equipe da universidade” realizasse todas<br />

as ações, sen<strong>do</strong> eles os especta<strong>do</strong>res <strong>do</strong> processo.<br />

Como o objetivo <strong>do</strong> projeto era fornecer<br />

suporte técnico para que os próprios profissionais<br />

tornassem-se capazes de realizar as atividades<br />

educativas com os a<strong>do</strong>lescentes, tais expectativas<br />

não foram atendidas e muitos profissionais,<br />

que no primeiro momento se interessaram pela<br />

proposta, afastaram-se <strong>do</strong> processo.<br />

Em uma unidade da zona rural de<br />

Juazeiro/BA a dificuldade de articular os profissionais<br />

foi tão significativa, que o projeto teve<br />

que ser remaneja<strong>do</strong> para outra comunidade,<br />

que apesar de participar, não fugiu ao perfil das<br />

demais equipes de saúde trabalhadas. Destas,<br />

em apenas uma foi possível contar com a adesão<br />

de <strong>do</strong>is enfermeiros que coordenavam as duas<br />

equipes da unidade. Nas demais, os agentes<br />

comunitários de saúde (ACS) foram os únicos<br />

profissionais que se engajaram no processo.<br />

Um <strong>do</strong>s fatores elenca<strong>do</strong>s como justificativa<br />

para a não adesão foi o pouco tempo<br />

disponível para trabalhar com processos de<br />

educação em saúde. Os profissionais de nível superior,<br />

em especial as enfermeiras, encontram-se<br />

sobrecarregadas com a coordenação da unidade;<br />

e a grande maioria das equipes encontra-se<br />

incompleta, sem o profissional de medicina,<br />

ocasionan<strong>do</strong> grande demanda reprimida para<br />

os atendimentos ambulatoriais.<br />

Outro problema constata<strong>do</strong> foi a<br />

grande rotatividade <strong>do</strong>s profissionais. Durante<br />

o desenvolvimento <strong>do</strong> projeto, aconteceram<br />

várias demissões e com isso, após a pactuação<br />

com determinada equipe de saúde, quan<strong>do</strong> a<br />

extensionista chegava à unidade na semana<br />

seguinte, havia modificações intensas no quadro<br />

funcional <strong>do</strong> serviço, sen<strong>do</strong> necessário repactuar<br />

o processo novamente. Infelizmente, essa rotatividade<br />

não prejudicou apenas o desenrolar <strong>do</strong><br />

projeto, mas teve impactos diretos no processo<br />

de trabalho <strong>do</strong> serviço, tanto porque interferia<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

no vínculo estabeleci<strong>do</strong> entre a comunidade e a<br />

equipe, quanto porque implica num sistemático<br />

recomeço de projetos de trabalho, sem garantias<br />

de continuidade, o que também finda por desmotivar<br />

os profissionais.<br />

Chamou a atenção ainda a falta de integração<br />

da equipe de saúde, que se organizava<br />

por especialidades (MEHRY, 2009). A equipe<br />

de saúde bucal (o<strong>do</strong>ntólogos e auxiliares) não<br />

se envolvia com outras demandas de saúde<br />

que não as estritamente relacionadas com seu<br />

núcleo de saber (saúde bucal). Este modelo de<br />

gestão <strong>do</strong> trabalho é antagônico à proposta da<br />

interdisciplinaridade que possibilita a integralidade<br />

<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>. Desta forma, ao contrário de<br />

uma equipe de saúde, que trabalha de forma<br />

colegiada e partilhada na análise das condições<br />

de vida da população sob sua responsabilidade<br />

sanitária, assim como no planejamento e execução<br />

de projetos terapêuticos singulares, proposta<br />

pela política de humanização das práticas em<br />

saúde (BRASIL, 2008), tem-se um conjunto de<br />

profissionais que compartimentalizam a gestão<br />

<strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, atribuin<strong>do</strong> a cada categoria profissional<br />

uma atividade especifica ao seu núcleo de<br />

saber (CAMPOS, 2007a).<br />

Outro fator relevante neste contexto<br />

é a própria demanda gerencial <strong>do</strong>s municípios<br />

centrada na computação de procedimentos<br />

realiza<strong>do</strong>s (produtividade). Este da<strong>do</strong> põe em<br />

questão a necessidade da própria gestão de saúde<br />

permitir a construção de novos modelos assistenciais,<br />

centra<strong>do</strong>s em processos participativos<br />

de cuida<strong>do</strong> (CAMPOS, 2007b). Ou seja, para a<br />

implantação de uma gestão <strong>do</strong> cuida<strong>do</strong>, centrada<br />

em processos longitudinais de acompanhamento<br />

das pessoas, é preciso a valorização de novos<br />

mo<strong>do</strong>s de organização das práticas de saúde,<br />

e este tipo de mudança não implica apenas na<br />

transformação <strong>do</strong> perfil profissional, mas também<br />

da própria gerência governamental. Sem o<br />

respal<strong>do</strong> institucional, que se concretiza, dentre<br />

outras coisas, no reconhecimento e legitimação<br />

de diferentes práticas em saúde não centralizadas<br />

em procedimentos, os profissionais de saúde não<br />

encontram tempo, nem estrutura gerencial e política<br />

para o desenvolvimento de outras práticas<br />

de saúde além <strong>do</strong>s atendimentos ambulatoriais<br />

que geram códigos de produtividade.<br />

Por fim, deve-se considerar o próprio<br />

perfil <strong>do</strong>s profissionais de saúde. O modelo de<br />

formação a que foram submeti<strong>do</strong>s é denuncia<strong>do</strong><br />

por Merhy (2002) como incompatível com a<br />

proposta da integralidade no cuida<strong>do</strong>. Trata-se<br />

de uma formação centrada em procedimentos<br />

técnicos específicos, que não instrumentalizam os<br />

profissionais para o encontro com outros saberes<br />

e o trabalho em equipe. Assim, em pesquisas<br />

anteriores (SAMPAIO, 2007) já havia si<strong>do</strong> identificada<br />

a priorização de um caráter biomédico de<br />

atenção, em detrimento das ações de promoção<br />

de saúde e práticas que visem o empoderamento<br />

<strong>do</strong>s jovens (PARKER, 2000).<br />

Esta formação tem como foco a <strong>do</strong>ença<br />

(e seus processos de detecção, tratamento<br />

e prevenção) (LUZ, 2005), não habilitan<strong>do</strong> os<br />

profissionais em tecnologias relacionais (MERHY,<br />

2002) que permitem o encontro com as pessoas<br />

e a produção coletiva de novos mo<strong>do</strong>s de gestão<br />

da vida, com vistas à promoção da saúde.<br />

Compreende-se, com isso, o fato <strong>do</strong>s profissionais<br />

relatarem que se sentiam desprepara<strong>do</strong>s<br />

para realizar atividades de educação sexual e<br />

que nunca haviam desenvolvi<strong>do</strong> ações de educação<br />

em saúde fora <strong>do</strong> modelo das palestras<br />

meramente informativas. Para os profissionais de<br />

enfermagem envolvi<strong>do</strong>s no projeto, as atividades<br />

deveriam ser pautadas em informes sobre DST,<br />

gravidez e méto<strong>do</strong>s contraceptivos, marcan<strong>do</strong><br />

o tecnicismo e a transmissão de informação<br />

(PAIVA, 2001) como forma de controle <strong>do</strong>s<br />

corpos, característico <strong>do</strong> perfil assistencialista e<br />

medicamentoso que ainda estrutura as ações de<br />

saúde (LIMA, 2007).<br />

Já os ACS apontaram a necessidade<br />

de ouvir os jovens para saber sobre suas reais<br />

demandas. Esta preocupação <strong>do</strong>s ACS pode ser<br />

interpretada a partir de duas leituras: Primeira,<br />

138<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

que os ACS envolvi<strong>do</strong>s no projeto são os mais<br />

afina<strong>do</strong>s com a proposta <strong>do</strong> mesmo, e assim,<br />

são os mais interessa<strong>do</strong>s na construção de novas<br />

práticas em saúde. O segun<strong>do</strong> aspecto que<br />

parece relevante é o engajamento de alguns<br />

desses atores em movimentos sociais, associação<br />

de mora<strong>do</strong>res e de mulheres. Pode-se supor que<br />

esta inserção social favoreça a valorização <strong>do</strong><br />

saber da comunidade, a legitimação <strong>do</strong> outro<br />

na cogestão da saúde e a construção coletiva<br />

de projetos comunitários.<br />

Este resulta<strong>do</strong> evidencia a importância<br />

<strong>do</strong>s ACS para o desenvolvimento de processos<br />

de cuida<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, aposta-se no<br />

seu reconhecimento como parte da equipe de<br />

saúde e não apenas como um “elo” entre ela e<br />

a comunidade. Em grande parte das equipes<br />

participantes <strong>do</strong> projeto, as agentes de saúde não<br />

discutiam casos, nem participavam das reuniões<br />

de equipe, restringin<strong>do</strong> seu papel ao contato com<br />

a comunidade e/ou apoio às ações de saúde na<br />

unidade, sob gerência das enfermeiras.<br />

Por fim, merece destaque no processo<br />

de gestão <strong>do</strong> trabalho nas unidades de saúde,<br />

a relação que os profissionais buscavam estabelecer<br />

com as equipes <strong>do</strong>s Núcleos de Apoio<br />

à Saúde da Família (NASF). Em 2008, a cidade<br />

de Juazeiro deu início à implantação <strong>do</strong>s NASF.<br />

Inicialmente, as ESF, assim como os próprios<br />

profissionais <strong>do</strong>s NASF e gestores, tinham como<br />

expectativa que tais núcleos funcionassem como<br />

unidades para o referenciamento <strong>do</strong>s casos mais<br />

complica<strong>do</strong>s que as ESF tivessem dificuldades de<br />

resolver (BASTOS; SAMPAIO, 2009), o que não<br />

condizia com a perspectiva de apoio matricial ao<br />

qual a proposta <strong>do</strong> NASF estava atrelada (CAM-<br />

POS, 2007b). Com isso, para as ESF de Juazeiro,<br />

os NASF deveriam desenvolver, dentre outras, as<br />

atividades educativas com os a<strong>do</strong>lescentes, o que<br />

denota a intenção de uma desresponsabilização<br />

pelo desenvolvimento de tais ações.<br />

A partir <strong>do</strong> exposto, conclui-se<br />

que para a construção de novos mo<strong>do</strong>s de cuida<strong>do</strong>,<br />

que trabalhem na perspectiva da integralidade<br />

e interdisciplinaridade, construin<strong>do</strong> redes<br />

de atenção, em parceria com diversos atores, é<br />

importante desenvolver processos de educação<br />

permanente (CECCIM, 2005) que contribuam<br />

com a reconstrução <strong>do</strong> perfil <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

em saúde, buscan<strong>do</strong> romper com o tradicional<br />

modelo de atenção centra<strong>do</strong> na especialidade<br />

clínica, que põe em foco a <strong>do</strong>ença e que normatiza<br />

e compartimentaliza o sujeito, que não<br />

participa da gestão de sua saúde.<br />

A desarticulação de redes: uma realidade<br />

cristalizada<br />

Após a apresentação e pactuação da<br />

proposta com as equipes de saúde, foi inicia<strong>do</strong><br />

o processo de construção de redes de apoio<br />

para a realização das rodas de conversas. A<br />

necessidade de buscar parcerias surgiu por vários<br />

motivos: O primeiro pela própria aposta da<br />

Estratégia de Saúde da Família em trabalhar no<br />

território, articulan<strong>do</strong> seus diversos dispositivos<br />

para a integralidade das ações. O território é<br />

aqui entendi<strong>do</strong> não apenas como um espaço<br />

físico, mas uma rede de relações e processos de<br />

subjetivações, nas quais a realidade e os sujeitos<br />

são forja<strong>do</strong>s e onde se operam as relações sociais<br />

e de cuida<strong>do</strong>.<br />

O segun<strong>do</strong> motivo deve-se ao precário<br />

vínculo estabeleci<strong>do</strong> entre as equipes de saúde e<br />

os a<strong>do</strong>lescentes de sua área adscrita. O vínculo<br />

é uma relação afetiva que permite a confiança<br />

entre profissional de saúde e usuário (CAMPOS,<br />

G. W. S., 2003). Ele se opera quan<strong>do</strong> o usuário<br />

credita ao profissional de saúde sua demanda de<br />

cuida<strong>do</strong>, e este reconhece no usuário a capacidade<br />

de gerir sua vida da melhor forma possível.<br />

Só a partir desse reconhecimento mútuo é<br />

possível estabelecer uma comunicação legítima<br />

entre os atores, que possibilite a cogestão <strong>do</strong><br />

cuida<strong>do</strong>. Entretanto, na experiência relatada, o<br />

profissional de saúde percebe os a<strong>do</strong>lescentes<br />

139


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

como irresponsáveis e inconsequentes, sen<strong>do</strong><br />

necessária sua tutela. Em contrapartida, os a<strong>do</strong>lescentes<br />

não confiam na equipe de saúde, por<br />

não desejarem sua tutela. Assim, os a<strong>do</strong>lescentes<br />

não atenderam ao convite da equipe de saúde<br />

para participar das rodas de conversas que eram<br />

propostas pelo presente projeto.<br />

As parcerias locais foram também importantes<br />

para o desenvolvimento <strong>do</strong>s grupos,<br />

pois em várias unidades de saúde não havia<br />

espaço físico adequa<strong>do</strong> para a realização <strong>do</strong>s<br />

encontros. Na realidade das cidades estudadas,<br />

as unidades de saúde encontravam-se em<br />

precárias condições, com esgoto a céu aberto,<br />

instalações sucateadas, inundações em época de<br />

chuva, não disponibilidade de banheiros para a<br />

população, sem salas para grupos, nem materiais<br />

e equipamentos necessários para a efetivação de<br />

ações de educação em saúde.<br />

Mesmo assim, foi observada certa<br />

resistência <strong>do</strong>s profissionais em sair <strong>do</strong> seu<br />

território institucional. Mesmo compreenden<strong>do</strong><br />

que a construção dessas redes sociais facilitaria<br />

o desenvolvimento das atividades e viabilizaria<br />

a formação <strong>do</strong> vínculo entre os a<strong>do</strong>lescentes e<br />

unidade, sen<strong>do</strong> uma ferramenta a mais nas atividades<br />

de promoção da saúde (VALLA, 2009), os<br />

profissionais acreditavam ser menos trabalhoso<br />

fazer as rodas sozinhos.<br />

Esta resistência se concretizava no desenvolvimento<br />

das ações de saúde desarticuladas<br />

das demais atividades existentes no território,<br />

sem conseguir implementar a intersetorialidade.<br />

Partin<strong>do</strong> da compreensão de que os problemas<br />

de saúde ultrapassam questões biológicas, e se<br />

constituem nos mo<strong>do</strong>s de vida das pessoas, o<br />

cuida<strong>do</strong> em saúde não é possível ocorrer limita<strong>do</strong><br />

ao seu setor. É preciso formar parcerias,<br />

no senti<strong>do</strong> de promover ações que articulem<br />

educação, lazer, cultura, religiosidade, assistência<br />

social, mobilização política etc; Portanto, para<br />

oferecer uma atenção de fato integral, é necessário<br />

que o serviço de saúde seja capaz de acionar<br />

os diversos dispositivos sociais da comunidade<br />

(CAMPOS, C. E. A., 2003).<br />

As redes de colaboração ampliam o escopo<br />

da ação, potencializan<strong>do</strong> os investimentos<br />

(físicos, financeiros, políticos, sociais, afetivos<br />

e relacionais) emprega<strong>do</strong>s (MARTINS, 2004).<br />

Por isso, frente às dificuldades de contatar os<br />

a<strong>do</strong>lescentes e de realizar atividades de grupo<br />

nas unidades, foi possível ir ao encontro <strong>do</strong>s<br />

possíveis parceiros. Mas no que se refere à afirmação<br />

de parcerias com os dispositivos sociais<br />

locais, é importante salientar que as ESF não<br />

mantinham nenhum tipo de comunicação com<br />

outros equipamentos sociais da comunidade<br />

(escola, igreja, liderança comunitária, CRAS, e<br />

outros), muitas vezes nem mesmo conhecen<strong>do</strong><br />

os profissionais que trabalham no seu território.<br />

Na verdade, a dificuldade em estabelecer redes<br />

de atenção não era exclusiva <strong>do</strong>s profissionais<br />

de saúde. As demais instituições sociais também<br />

atuavam de maneira isolada e restrita a sua área<br />

de intervenção.<br />

Assim, quan<strong>do</strong> convoca<strong>do</strong>s os representantes<br />

<strong>do</strong>s diversos equipamentos sociais das<br />

comunidades para a pactuação da proposta de<br />

trabalho, muitos não compareceram às reuniões<br />

ou se mostraram resistentes em executar ações<br />

em conjunto. Na maioria das vezes, os possíveis<br />

parceiros se mostraram interessa<strong>do</strong>s no projeto,<br />

mas esperavam que o mesmo fosse executa<strong>do</strong><br />

pelo serviço de saúde e pela universidade, sem<br />

querer se implicar no processo. Como resulta<strong>do</strong>,<br />

na maioria das escolas trabalhadas, houve<br />

apenas a concessão <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> acesso aos<br />

a<strong>do</strong>lescentes, não haven<strong>do</strong> nenhum profissional<br />

<strong>do</strong> serviço interessan<strong>do</strong> em participar das rodas,<br />

nem mesmo através <strong>do</strong> desenvolvimento de alguma<br />

atividade escolar articulada com o projeto.<br />

No caso <strong>do</strong> CRAS, ficou ainda evidente<br />

o interesse <strong>do</strong>s coordena<strong>do</strong>res <strong>do</strong> serviço em<br />

permitir o desenvolvimento das rodas, pois assim<br />

ampliariam as atividades que precisam diariamente<br />

oferecer aos a<strong>do</strong>lescentes. Mesmo desta<br />

forma utilitária, foi possível estabelecer algum<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 133-142, jul./dez. 2010. Editora UFPR


SAMPAIO, J. et al. Desafios para reorganização <strong>do</strong> processo de trabalho e articulação de redes na atenção à saúde...<br />

tipo de comunicação entre os profissionais de<br />

saúde e demais atores sociais que operam no<br />

território. O processo, apesar de árduo, permitiu<br />

que os ACS passassem a desenvolver atividades<br />

dentro de outras instituições (escolas e CRAS),<br />

sen<strong>do</strong> reconheci<strong>do</strong>s e legitima<strong>do</strong>s em seu trabalho.<br />

Assim, foi possível começar um processo de<br />

encontro entre as instituições e seus atores, com<br />

a proposição paulatina de novas modalidades<br />

de cuida<strong>do</strong> centradas em processos coletivos e<br />

dialógicos.<br />

diante de todas as dificuldades, as alunas se<br />

comprometeram a somar esforços para realizar<br />

as atividades programadas, concluí-las a tempo<br />

e com qualidade, possibilitan<strong>do</strong> o fortalecimento<br />

<strong>do</strong> vínculo entre a<strong>do</strong>lescentes e profissionais,<br />

bem como a manutenção das ações, mesmo<br />

após a finalização <strong>do</strong> projeto, dan<strong>do</strong> sustentabilidade<br />

ao mesmo.<br />

REFERÊNCIAS<br />

Conclusão<br />

É possível concluir que apesar das diversidades,<br />

foi possível obter a participação e/ou<br />

aceitação <strong>do</strong>s profissionais de saúde e a adesão<br />

<strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes da comunidade para o desenvolvimento<br />

das rodas de conversas. Isto para<br />

um projeto que objetiva qualificar as ações de<br />

saúde sexual da atenção básica é muito importante.<br />

Além disso, deu-se o primeiro passo para<br />

formação de redes colaborativas no território.<br />

Deste mo<strong>do</strong>, o presente estu<strong>do</strong>, ao<br />

problematizar a implantação dessas ações, põe<br />

em destaque diversos desafios para gestores<br />

e profissionais de saúde. Estes precisam ser<br />

postos em pauta para que saídas, construídas<br />

no cotidiano das práticas de saúde e de forma<br />

colegiada, possam ser encontradas de forma<br />

criativa e solidária.<br />

Por fim, a proposta meto<strong>do</strong>lógica da<br />

pesquisa-ação, que favorece o intercâmbio entre<br />

a extensão e a pesquisa, tem se mostra<strong>do</strong> uma<br />

importante ferramenta acadêmica no senti<strong>do</strong><br />

de produzir conhecimento a partir <strong>do</strong> desenvolvimento<br />

de práticas sociais politicamente<br />

comprometidas. Esta experiência permitiu o<br />

contato das extensionistas com a realidade sanitária<br />

<strong>do</strong> município, desenvolven<strong>do</strong> habilidades<br />

técnico–meto<strong>do</strong>lógicas no âmbito da articulação<br />

ensino-serviço, com compromisso social. Mesmo<br />

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22-setembro 2005. Disponível em:


Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A<br />

Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

Youth and Adult Literacy in Agrarian Reform – The Experience at the<br />

Brazilian state of Minas Gerais' Northwestern region<br />

La alfabetización de jóvenes y adultos en la Reforma Agraria – La<br />

experiencia en el Noroeste del Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais, Brasil<br />

Ana Lucia Ferreira Faria 1<br />

Etelvina Maria Valente <strong>do</strong>s Anjos Silva 2<br />

Elenice Rosa Costa 3<br />

RESUMO<br />

Em nosso país, existem milhares de adultos no campo que, por diversos motivos, não tiveram acesso à<br />

educação. Consideran<strong>do</strong> que a educação se constitui um direito social, muitos programas governamentais<br />

vêm surgin<strong>do</strong>, a exemplo, o PRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária). No perío<strong>do</strong><br />

de 2006 a 2007 foi estabeleci<strong>do</strong> um convênio da UFV (<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa) em parceria com<br />

o PRONERA/INCRA/FETAEMG, com o objetivo de alfabetizar 1.976 adultos assenta<strong>do</strong>s e acampa<strong>do</strong>s, na<br />

região Noroeste de Minas Gerais. Neste contexto, o presente trabalho teve por objetivo relatar a experiência<br />

da UFV, no que se refere ao desenvolvimento <strong>do</strong> Projeto: “A Educação em Movimento: Interagir e Aprender<br />

em Busca da Cidadania” Neste contexto o estu<strong>do</strong> em questão apoiou-se em pesquisa bibliográfica e<br />

análises de <strong>do</strong>cumentos. Ao final <strong>do</strong> Projeto além da UFV ter cumpri<strong>do</strong> com seu papel social, os universitários<br />

tiveram complementação em sua formação acadêmica, na área da Educação de Jovens e Adultos,<br />

aos jovens e adultos assenta<strong>do</strong>s da região Noroeste de Minas, foi oferecida a oportunidade e a garantia <strong>do</strong><br />

direito de alfabetizar-se.<br />

Palavras-chave: PRONERA; alfabetização de jovens e adultos; formação de educa<strong>do</strong>res de jovens e adultos.<br />

ABSTRACT<br />

In our country there are thousands of adults in the field that, for various reasons, had no access to education.<br />

Whereas education is a social right is, many government programs have emerged, like the PRONERA<br />

(Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária). In the period 2006 to 2007 was an agreement of<br />

UFV (<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Viçosa) in partnership with PRONERA / INCRA / FETAEMG, with the goal<br />

of adult literacy 1976 settlers and camped in the northwest region of Minas Gerais. In this context, this<br />

paper aimed to report the experience of the UFV, regarding the development of the Project: “Education in<br />

Motion: Learning and Interacting in Search of Citizenship” In this context the study in question was based<br />

on literature search and analysis of <strong>do</strong>cuments. At the end of the project beyond the UFV has complied<br />

with its social role, the university had to supplement their academic training in the area of adult and youth<br />

education, young adults and settlers in the region northwest of Minas, was offered the opportunity and the<br />

assurance of right to literacy itself.<br />

Keywords: PRONERA; the Youth and Adult Literacy; training of educators of young people and adults.<br />

1 Graduada em Pedagogia/UFV, Endereço: Rua Jorge Ramos nº. 156, Bairro: Santo Antonio, Cidade: Viçosa, Esta<strong>do</strong>: MG, CEP:<br />

36570-000, Tel: (31) 87696640, E-mail: analucia@ufv.br<br />

2 Professora/UFV<br />

3 Graduada em Pedagogia/UFV<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

143


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

RESUMEN<br />

En nuestro país hay miles de adultos en el<br />

campo que, por diversas razones, no tienen<br />

acceso a la educación. Consideran<strong>do</strong> que<br />

la educación es un derecho social, es decir,<br />

muchos programas de gobierno han surgi<strong>do</strong>,<br />

al igual que el PRONERA (Programa Nacional<br />

de Educação na Reforma Agrária). En el perío<strong>do</strong><br />

comprendi<strong>do</strong> entre 2006 y 2007 fue un<br />

acuer<strong>do</strong> de la UFV (<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de<br />

Viçosa), en asociación con PRONERA/ INCRA<br />

/ FETAEMG, con el objetivo de la alfabetización<br />

de adultos y 1.976 colonos acamparon<br />

en la región noroeste de Minas Gerais. En este<br />

contexto, este <strong>do</strong>cumento de reflexión para<br />

que informe la experiencia de la UFV, en relación<br />

con el desarrollo del Proyecto: “Educación<br />

en Movimiento: Interacción y aprendizaje en<br />

busca de la ciudadanía” En este contexto, el<br />

estudio en cuestión se basó en la literatura de<br />

búsqueda y análisis de <strong>do</strong>cumentos. Al final<br />

del proyecto más allá de la UFV ha cumpli<strong>do</strong><br />

con su papel social, la universidad tuvo que<br />

completar su formación académica en el área<br />

de educación de adultos y la educación de<br />

los jóvenes, los adultos jóvenes y los colonos<br />

en la región noroeste de Minas, se le ofreció<br />

la oportunidad y la garantía de derecho a la<br />

alfabetización propiamente dicha.<br />

Palabras-clave: PRONERA; la Juventud y de<br />

alfabetización de adultos; la formación de<br />

educa<strong>do</strong>res de jóvenes y adultos.<br />

constatou a necessidade de um projeto de<br />

alfabetização, já que, nesse perío<strong>do</strong>, 30% <strong>do</strong>s<br />

funcionários da instituição eram analfabetos.<br />

Atualmente, a UFV conta com o Núcleo de Educação<br />

de Adultos (NEAd), que atende cerca de<br />

140 adultos ao ano, ten<strong>do</strong> como educa<strong>do</strong>res os<br />

estudantes <strong>do</strong>s cursos de licenciaturas da UFV,<br />

sob a coordenação de professores <strong>do</strong> Departamento<br />

de Educação.<br />

A partir de experiências nesta área, a<br />

UFV se tornou parceira de outros programas de<br />

Educação de Jovens e Adultos (EJA), tais como<br />

o Programa Alfabetização Solidária (ALFASOL),<br />

o Programa Brasil Alfabetiza<strong>do</strong> e o Programa<br />

Nacional de Educação na Reforma Agrária<br />

(PRONERA), ten<strong>do</strong> como objetivo a formação<br />

de educa<strong>do</strong>res para atuar no campo da EJA.<br />

Neste contexto, o presente trabalho<br />

tem por objetivo relatar a experiência da UFV<br />

ao desenvolver o Projeto “A Educação em<br />

Movimento: Interagir e Aprender em Busca da<br />

Cidadania”, desenvolvi<strong>do</strong> na região Noroeste de<br />

Minas Gerais, no perío<strong>do</strong> de 2006 a 2007, em<br />

parceria com o PRONERA/INCRA/FETAEMG/<br />

UFV. Especificamente, conhecer o processo de<br />

realização <strong>do</strong> Projeto em questão.<br />

Introdução e Objetivo<br />

Em nosso país existem milhares de<br />

adultos no campo, que por diversos motivos não<br />

tiveram acesso à educação. Levan<strong>do</strong>-se em consideração<br />

de que a educação se constitui em um<br />

direito social, muitos programas governamentais<br />

vêm surgin<strong>do</strong> com o intuito de diminuir esse quadro,<br />

como, por exemplo, o Programa Nacional<br />

de Educação na Reforma Agrária (PRONERA)<br />

que busca elevar o nível de escolaridade da<br />

população <strong>do</strong> campo com qualidade.<br />

A experiência da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong><br />

de Viçosa (UFV) na área de educação de adultos<br />

iniciou em 1987, por iniciativa da Associação<br />

<strong>do</strong>s Servi<strong>do</strong>res Administrativos – ASAV –, que<br />

144<br />

Meto<strong>do</strong>logia<br />

Por meio de uma pesquisa bibliográfica<br />

procurou-se conhecer algumas políticas públicas<br />

que surgiram voltadas para a EJA e o funcionamento<br />

<strong>do</strong> PRONERA, bem como sua história<br />

de criação. A realização da pesquisa diagnóstica<br />

foi com base em Cervo (2002), uma vez que,<br />

segun<strong>do</strong> ele há diversas formas de pesquisar,<br />

citan<strong>do</strong>, como exemplo, estu<strong>do</strong> de caso, pesquisa<br />

de opinião, de motivação e a <strong>do</strong>cumental. Em<br />

ambas as formas trabalha-se com da<strong>do</strong>s ou fatos<br />

colhi<strong>do</strong>s da própria realidade.<br />

Para tanto, utilizou-se da pesquisa<br />

descritiva <strong>do</strong>cumental, buscan<strong>do</strong> conhecer os<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

registros, analisá-los, correlacioná-los e descrever<br />

fatos sobre o desenvolvimento <strong>do</strong> Projeto,<br />

os quais se encontram nos arquivos <strong>do</strong> NEAd.<br />

O PRONERA como parte da história da<br />

EJA<br />

Segun<strong>do</strong> Cunha (1999, p. 9) 4 , a denominação<br />

“educação de jovens e adultos” é<br />

recente no país. No perío<strong>do</strong> Brasil Colônia, a<br />

educação para a população não infantil possuía<br />

um caráter mais religioso <strong>do</strong> que educacional.<br />

Nessa época, pode-se constatar uma fragilidade<br />

da educação, pois ela não era considerada a<br />

responsável pelo aumento da produtividade, o<br />

que acabava por acarretar descaso por parte <strong>do</strong>s<br />

dirigentes <strong>do</strong> país.<br />

No Brasil Império, algumas reformas<br />

educacionais reconheciam a necessidade de<br />

haver classes noturnas de ensino elementar para<br />

os adultos analfabetos. Em 1876, foi constata<strong>do</strong>,<br />

através de um relatório elabora<strong>do</strong> pelo então<br />

ministro José Bento da Cunha Figueire<strong>do</strong>, a difusão<br />

na época <strong>do</strong> ensino noturno para adultos,<br />

existin<strong>do</strong> 200 mil alunos frequenta<strong>do</strong>res de aulas<br />

noturnas. As escolas noturnas, portanto, durante<br />

muito tempo, foram a única forma de oferecimento<br />

de educação de adultos em nosso país.<br />

Cunha (1999, p. 10) ressalta que o<br />

desenvolvimento industrial brasileiro contribuiu<br />

para a valorização da educação de adultos sob<br />

pontos de vista diferentes, quais sejam: a valorização<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>mínio da língua falada e escrita,<br />

visan<strong>do</strong> o <strong>do</strong>mínio das técnicas de produção; a<br />

aquisição da leitura e da escrita como instrumento<br />

da ascensão social; a alfabetização de adultos<br />

vista como meio de progresso <strong>do</strong> país e como<br />

ampliação da base de votos. Após detectar os<br />

altos índices de analfabetismo, em 1940, o Go-<br />

4 CUNHA, Conceição Maria da. Introdução – discutin<strong>do</strong> conceitos<br />

básicos. In: SEED-MEC. Salto para o futuro – Educação de<br />

jovens e adultos. Brasília, 1999.<br />

verno criou um fun<strong>do</strong> destina<strong>do</strong> à alfabetização<br />

e à educação da população adulta analfabeta.<br />

Segun<strong>do</strong> Soares (1996, p. 29) 5 , a<br />

Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização<br />

das Nações Unidas para a Educação,<br />

Ciência e Cultura (UNESCO) solicitaram aos<br />

países integrantes, dentre eles o Brasil, que investissem<br />

em campanhas de massa para educar<br />

os adultos analfabetos. Sofren<strong>do</strong> forte pressão<br />

destas organizações internacionais, o Governo<br />

lançou, então, a Primeira Campanha Nacional<br />

de Educação de Adultos, em 1947, sen<strong>do</strong> esta<br />

a primeira iniciativa pública visan<strong>do</strong> o atendimento<br />

de adultos. Essa campanha criou 10 mil<br />

classes de ensino supletivo em to<strong>do</strong> o país.<br />

Nessa época, o analfabetismo era<br />

visto como causa <strong>do</strong> baixo desenvolvimento<br />

brasileiro e o adulto analfabeto era identifica<strong>do</strong><br />

como elemento incapaz e marginal, psicológica<br />

e socialmente, sen<strong>do</strong> submeti<strong>do</strong> à menoridade<br />

econômica, política e jurídica, não poden<strong>do</strong><br />

votar ou ser vota<strong>do</strong>.<br />

Para Soares (1996, p. 29), essa Primeira<br />

Campanha foi lançada por <strong>do</strong>is motivos:<br />

o primeiro era o momento pós-guerra, que fez<br />

com que a ONU fizesse uma série de recomendações<br />

aos países, entre as quais a de darem um<br />

olhar específico para a educação de adultos. O<br />

segun<strong>do</strong> motivo foi o fim <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> Novo, que<br />

trazia um processo de redemocratização que gerava<br />

a necessidade de ampliação <strong>do</strong> contingente<br />

de eleitores no país. No momento em que se<br />

lançava a Primeira Campanha Nacional de Educação<br />

de Adultos, estava sen<strong>do</strong> organiza<strong>do</strong> pela<br />

Associação <strong>do</strong>s Professores <strong>do</strong> Ensino Noturno<br />

e pelo Departamento de Educação, o Primeiro<br />

Congresso Nacional de Educação de Adultos. O<br />

Ministério, então, convocou <strong>do</strong>is representantes<br />

de cada Esta<strong>do</strong> para participarem <strong>do</strong> Congresso.<br />

O Serviço de Educação de Adultos (SEA) <strong>do</strong> Ministério<br />

da Educação e Cultura (MEC) elaborou e<br />

5 SOARES, Leôncio José Gomes. A educação de jovens e<br />

adultos: momentos históricos e desafios atuais. Revista Presença<br />

Pedagógica, v. 2, n. 11, Dimensão, set./out. 1996.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

enviou para discussões, aos SEAs estaduais, um<br />

conjunto de publicações sobre o tema.<br />

De acor<strong>do</strong> com Soares (1996, p. 30),<br />

as concepções presentes nessas publicações<br />

eram: o investimento na educação como solução<br />

para os problemas da sociedade; o alfabetiza<strong>do</strong>r<br />

identifica<strong>do</strong> como missionário; o analfabeto visto<br />

como causa da pobreza; o ensino de adultos<br />

como tarefa fácil; assim sen<strong>do</strong>, não existia a necessidade<br />

de formação específica e remuneração,<br />

ocorren<strong>do</strong> a valorização <strong>do</strong> “voluntaria<strong>do</strong>”. A<br />

partir daí, iniciou-se um processo de mobilização<br />

nacional no senti<strong>do</strong> de se discutir a educação de<br />

jovens e adultos no país.<br />

De certa forma, embora a Campanha<br />

não tenha alcança<strong>do</strong> grande sucesso, conseguiu<br />

alguns bons resulta<strong>do</strong>s no que se refere à visão<br />

preconceituosa, que foi sen<strong>do</strong> superada a partir<br />

das discussões que foram ocorren<strong>do</strong> sobre o<br />

processo de educação de adultos. Com o surgimento<br />

de diversas pesquisas desenvolvidas<br />

e algumas teorias mais recentes da psicologia,<br />

gradativamente foi sen<strong>do</strong> desmentida a ideia<br />

de incapacidade de aprendizagem <strong>do</strong> educan<strong>do</strong><br />

adulto.<br />

Diante <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s insatisfatórios da<br />

Campanha, o Ministério da Educação convocou,<br />

em 1958, o 2º Congresso Nacional de Educação<br />

de Adultos. Nesse evento, sobressaiu-se a figura<br />

<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r Paulo Freire, que propôs uma maior<br />

comunicação entre o educa<strong>do</strong>r e o educan<strong>do</strong> e<br />

uma adequação <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> de alfabetização às<br />

características das classes populares.<br />

No final <strong>do</strong>s anos 50 e início <strong>do</strong>s<br />

anos 60, ocorreu uma intensa mobilização da<br />

sociedade civil em torno das reformas de base,<br />

contribuin<strong>do</strong> para a mudança nas iniciativas<br />

públicas de educação de adultos.<br />

Segun<strong>do</strong> Soares (1996, p. 31), em<br />

1963 o Ministério da Educação extinguiu a<br />

Campanha Nacional de Educação de Adultos<br />

e encarregou Paulo Freire de se empenhar na<br />

elaboração de um Programa Nacional de Alfabetização.<br />

Surgiu, então, uma nova visão sobre a<br />

alfabetização e o analfabetismo, antes aponta<strong>do</strong><br />

como causa da pobreza e da marginalização,<br />

passou a ser interpreta<strong>do</strong> como efeito da pobreza<br />

gerada por uma estrutura social não igualitária.<br />

Na percepção de Paulo Freire, educação<br />

e alfabetização estão muito próximas. A<br />

alfabetização é mais que o <strong>do</strong>mínio mecânico de<br />

técnicas para escrever e ler, é o <strong>do</strong>mínio dessas<br />

técnicas em termos conscientes, resultan<strong>do</strong> numa<br />

postura atuante <strong>do</strong> homem sobre o seu contexto.<br />

Em 1964, com o Golpe Militar, a conscientização<br />

proposta por Freire passou a ser vista<br />

como ameaça à ordem instalada e Freire foi<br />

exila<strong>do</strong>. De acor<strong>do</strong> com Cunha (1999, p. 12),<br />

o Governo passou, então, a permitir apenas a<br />

realização de programas de alfabetização de<br />

adultos de caráter assistencialista e conserva<strong>do</strong>r.<br />

Dentro desse contexto, em 1967, o<br />

Governo assumiu o controle da alfabetização<br />

de adultos, com a criação <strong>do</strong> Movimento Brasileiro<br />

de Alfabetização (MOBRAL), volta<strong>do</strong> para<br />

a população de 15 a 30 anos, objetivan<strong>do</strong> a<br />

alfabetização funcional, não desenvolven<strong>do</strong> uma<br />

alfabetização crítica. Com isso, as orientações<br />

meto<strong>do</strong>lógicas e os materiais didáticos esvaziaram-se<br />

de to<strong>do</strong> senti<strong>do</strong> crítico e problematiza<strong>do</strong>r<br />

proposto anteriormente por Freire.<br />

Na década de 70, ocorreu a expansão<br />

<strong>do</strong> MOBRAL e, paralelamente, alguns grupos<br />

que atuavam na educação popular continuaram<br />

a alfabetização de adultos dentro de uma linha<br />

mais criativa.<br />

Através da Lei de Diretrizes e Bases da<br />

Educação, LDB 5692/71, implantou-se o Ensino<br />

Supletivo, sen<strong>do</strong> dedica<strong>do</strong> pela primeira vez na<br />

história das legislações educacionais um capítulo<br />

específico para a EJA. Esta lei limitou o dever<br />

<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> à faixa etária <strong>do</strong>s 7 aos 14 anos, mas<br />

reconheceu a educação de adultos como um<br />

direito de cidadania, o que pode ser considera<strong>do</strong><br />

um avanço para a área da EJA no país.<br />

Assim, segun<strong>do</strong> Soares (1996, p. 32),<br />

em 1974 o MEC implantou os Centros de Estu<strong>do</strong>s<br />

Supletivos (CES), considera<strong>do</strong>s a solução<br />

146<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

mais viável para a educação de jovens e adultos,<br />

de mo<strong>do</strong> a atender ao mesmo tempo ao trinômio<br />

tempo, custo e efetividade. A implantação<br />

<strong>do</strong>s CES nos esta<strong>do</strong>s ocorreu num perío<strong>do</strong> de<br />

intenso intercâmbio entre o MEC com a USAID<br />

e, devi<strong>do</strong> a isso, os cursos foram influencia<strong>do</strong>s<br />

pelo tecnicismo, a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong>-se os módulos instrucionais,<br />

visan<strong>do</strong> ao atendimento individualiza<strong>do</strong>,<br />

à autoinstrução e a arguição em duas etapas.<br />

Como consequências, ocorreram eleva<strong>do</strong>s índices<br />

de evasão, o individualismo, o pragmatismo<br />

e a certificação rápida e superficial.<br />

Em 1985, com a República, criou-se<br />

a Fundação EDUCAR, que veio substituir o<br />

MOBRAL. Esta Fundação se responsabilizou<br />

por apoiar financeiramente e tecnicamente as<br />

iniciativas <strong>do</strong> Governo, das entidades civis e<br />

das empresas a ela conveniada. A Constituição<br />

de 1988 ampliou o dever <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> com a educação<br />

de jovens e adultos, garantin<strong>do</strong> o ensino<br />

fundamental obrigatório e gratuito.<br />

Segun<strong>do</strong> Cunha (1999, p. 15), o desafio<br />

da EJA nos anos 90 foi o estabelecimento de<br />

uma política e de meto<strong>do</strong>logias criativas, para<br />

garantir o acesso à cultura letrada, possibilitan<strong>do</strong><br />

uma participação mais ativa no universo profissional,<br />

político e cultural.<br />

Internacionalmente, a UNESCO reconheceu<br />

a importância da EJA para o fortalecimento<br />

da cidadania, e passou a promover conferências<br />

internacionais, o que vem influencian<strong>do</strong><br />

positivamente as iniciativas desta modalidade<br />

no Brasil.<br />

A partir da V CONFINTEA (Conferência<br />

Internacional de Educação de Adultos), realizada<br />

em 1995, na Alemanha, encontro no qual<br />

estavam presentes 170 representantes de vários<br />

países, foi formulada a Agenda para o Futuro da<br />

Educação de Jovens e Adultos. A partir desse<br />

encontro, o Governo passou a criar programas<br />

visan<strong>do</strong> a Educação de Jovens e Adultos e dentre<br />

essas iniciativas surgiu o Programa Nacional de<br />

Educação na Reforma Agrária (PRONERA).<br />

O PRONERA surgiu em 1998, através<br />

da luta <strong>do</strong>s movimentos sociais e sindicais de<br />

trabalha<strong>do</strong>res rurais pelo direito à educação<br />

com qualidade. O programa é uma política <strong>do</strong><br />

Governo <strong>Federal</strong>, executada pelo Instituto Nacional<br />

de Colonização e Reforma Agrária (INCRA),<br />

no âmbito <strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Desenvolvimento<br />

Agrário (MDA).<br />

De acor<strong>do</strong> com Haddad e Di Pierro<br />

(2000, p. 124), o PRONERA guarda a singularidade<br />

de ser um programa <strong>do</strong> Governo <strong>Federal</strong><br />

gesta<strong>do</strong> fora da arena governamental: uma<br />

articulação <strong>do</strong> Conselho de Reitores das <strong>Universidade</strong>s<br />

Brasileiras (CRUB) com o MST foi capaz<br />

de introduzir uma proposta de política pública<br />

de educação de jovens e adultos no meio rural<br />

no âmbito das ações governamentais da reforma<br />

agrária. Coordena<strong>do</strong> pelo INCRA, vincula<strong>do</strong> ao<br />

Ministério Extraordinário da Política Fundiária<br />

(MEPF), o Programa foi delinea<strong>do</strong> em 1997 e<br />

operacionaliza<strong>do</strong> a partir de 1998.<br />

Dentre as inovações introduzidas pelo<br />

PRONERA, pode-se destacar a parceria entre<br />

o Governo <strong>Federal</strong>, responsável pelo financiamento,<br />

as instituições de ensino superior,<br />

responsáveis pela formação <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res<br />

e os movimentos sociais e sindicais de trabalha<strong>do</strong>res<br />

rurais, responsáveis pela mobilização<br />

de educan<strong>do</strong>s e educa<strong>do</strong>res. Já as secretarias<br />

estaduais ou municipais de educação e também<br />

os movimentos sociais são responsáveis pela<br />

infraestrutura necessária ao bom funcionamento<br />

de to<strong>do</strong> o trabalho.<br />

O PRONERA tem como um de<br />

seus objetivos promover ações educativas<br />

nos assentamentos da reforma agrária, com<br />

meto<strong>do</strong>logias de ensino específicas à realidade<br />

sociocultural <strong>do</strong> campo, tornan<strong>do</strong>-se um<br />

instrumento de democratização <strong>do</strong> conhecimento<br />

<strong>do</strong> campo. De acor<strong>do</strong> com Andrade e Di Pierro<br />

(2004, p. 29.), as metas específicas <strong>do</strong> PRO-<br />

NERA são: reduzir as taxas de analfabetismo<br />

e elevar o nível de escolarização da população<br />

nos assentamentos, promoven<strong>do</strong> a habilitação<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

147


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

de professores nos níveis médio e superior, bem<br />

como a formação técnico-profissional <strong>do</strong>s jovens<br />

e adultos, com foco nas áreas de produção<br />

agropecuária e administração rural. Também<br />

compõe o escopo <strong>do</strong> Programa a produção de<br />

materiais didático-pedagógicos subsidiários às<br />

ações educativas.<br />

O público alvo desta iniciativa educacional<br />

são jovens e adultos <strong>do</strong>s projetos de assentamentos<br />

cria<strong>do</strong>s pelo INCRA ou por órgãos<br />

estaduais de terras, desde que exista parceria<br />

formal entre o INCRA e esses órgãos. No caso<br />

da EJA, nas modalidades de alfabetização e escolaridade/ensino<br />

fundamental, também podem<br />

participar to<strong>do</strong>s os trabalha<strong>do</strong>res acampa<strong>do</strong>s e<br />

cadastra<strong>do</strong>s pelo INCRA.<br />

O Programa se desenvolve por meio<br />

de projetos específicos em to<strong>do</strong>s os níveis de<br />

ensino, ten<strong>do</strong> por base a diversidade cultural<br />

e socioterritorial, os processos de interação e<br />

transformação <strong>do</strong> campo, a gestão democrática<br />

e o avanço científico e tecnológico.<br />

A Inserção da UFV no Projeto “A Educação<br />

em Movimento: Interagir e Aprender<br />

em Busca da Cidadania”<br />

Em consonância com os objetivos<br />

<strong>do</strong> PRONERA, em parceria com o INCRA e a<br />

Federação <strong>do</strong>s Trabalha<strong>do</strong>res na Agricultura <strong>do</strong><br />

Esta<strong>do</strong> de Minas Gerais (FETAEMG), a UFV,<br />

através <strong>do</strong> Departamento de Educação e <strong>do</strong><br />

NEAd, desenvolveu o projeto “A Educação em<br />

Movimento: Interagir e Aprender em Busca da<br />

Cidadania”. Este projeto teve como objetivo<br />

“fortalecer a educação de jovens e adultos nos<br />

Projetos de Assentamentos da Reforma Agrária,<br />

de forma a estimular, propor, criar, desenvolver<br />

e coordenar ações educacionais, que visa o<br />

aprimoramento de inclusão social <strong>do</strong> país” 6 . Es-<br />

6 Documento Elabora<strong>do</strong> pela Equipe Coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Projeto<br />

“Educação em Movimento: Interagir e Apreender em Busca da<br />

Cidadania”, junho 2005.<br />

148<br />

pecificamente, objetivou-se alfabetizar jovens e<br />

adultos, visan<strong>do</strong> estimulá-los a exercer de forma<br />

efetiva a sua cidadania, oferecen<strong>do</strong> cursos de alfabetização,<br />

de forma a atender as necessidades<br />

daqueles educan<strong>do</strong>s.<br />

Além disso, proporcionar a formação<br />

continuada para os educa<strong>do</strong>res e acompanhar o<br />

desenvolvimento da prática político-pedagógica,<br />

a partir <strong>do</strong>s princípios teóricos de uma pedagogia<br />

dialética, promoven<strong>do</strong>, assim, a formação integral<br />

<strong>do</strong>s cidadãos. Para tanto, foram produzi<strong>do</strong>s<br />

materiais didático-pedagógicos, em todas as<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento, a partir da realidade<br />

<strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s, de forma a atender às necessidades<br />

específicas de cada etapa <strong>do</strong> processo de<br />

alfabetização.<br />

A proposta de trabalho foi embasada<br />

nos pressupostos teórico-meto<strong>do</strong>lógicos de<br />

Piaget, Vigotsky e Paulo Freire. Os autores defendem<br />

uma relação dialógica entre educa<strong>do</strong>r e<br />

educan<strong>do</strong>, ação essencial para a interpretação e<br />

a inserção <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s na realidade sociocultural,<br />

in<strong>do</strong> ao encontro da essência <strong>do</strong> trabalho<br />

proposto pelo Projeto.<br />

Esse processo ocorreu por meio <strong>do</strong><br />

oferecimento de Oficinas Pedagógicas, Ciclos<br />

de Estu<strong>do</strong>s, proporcionan<strong>do</strong> assim a formação<br />

<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res e a melhoria da qualidade <strong>do</strong><br />

ensino-aprendizagem.<br />

A meta era alcançar a alfabetização de<br />

1.976 adultos, distribuí<strong>do</strong>s em 17 municípios: Paracatu,<br />

Guarda Mor, Lagoa Grande, Presidente<br />

Olegário, Cabeceira Grande, Unaí, Riachinho,<br />

Natalândia, Brasilândia, Dom Bosco, Santa Fé<br />

de Minas, João Pinheiro, Arinos, Formoso, Bonfinópolis,<br />

Buritis e Urucuia, em 82 assentamentos,<br />

totalizan<strong>do</strong> 99 turmas.<br />

Consideran<strong>do</strong> as distâncias existentes<br />

entre os municípios e os assentamentos e acampamentos<br />

da região Noroeste de Minas, e para<br />

evitar o comprometimento <strong>do</strong> atendimento pedagógico<br />

ocorreu a divisão da Região Noroeste<br />

em três microrregiões, quais sejam: Bacia <strong>do</strong><br />

Paracatu, composta pelos seguintes municípios:<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

Paracatu, Guardar Mor, Lagoa Grande, Presidente<br />

Olegário, Cabeceira Grande e Unaí. A<br />

microrregião Serra da Mata era formada por<br />

Riachinho, Natalândia, Brasilândia, Dom Bosco,<br />

Santa Fé de Minas e João Pinheiro. Sen<strong>do</strong> a<br />

microrregião Grandes Sertões Veredas composta<br />

por Arinos, Formoso, Bonfinópolis, Buritis e Urucuia.<br />

A partir dessa divisão o Projeto envolveu a<br />

participação no trabalho de três coordena<strong>do</strong>res<br />

regionais, sen<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s professores <strong>do</strong> Departamento<br />

de Educação da UFV.<br />

A equipe executora <strong>do</strong> Projeto foi<br />

composta por um coordena<strong>do</strong>r geral, três coordena<strong>do</strong>res<br />

pedagógicos, 8 coordena<strong>do</strong>res locais,<br />

8 universitários licencian<strong>do</strong>s da UFV.<br />

Após a seleção <strong>do</strong>s universitários, estes<br />

realizaram um Estágio de Vivência, que tinha<br />

como objetivo fazer com que estes tivessem<br />

contato com a realidade onde iriam atuar. O<br />

estágio promoveu a integração entre educa<strong>do</strong>res,<br />

coordena<strong>do</strong>res locais, educan<strong>do</strong>s e familiares<br />

destes últimos, além de proporcionar aos universitários<br />

um diagnóstico das condições estruturais<br />

existentes e necessárias à execução <strong>do</strong> projeto.<br />

O acompanhamento pedagógico se<br />

constituiu de visitas periódicas <strong>do</strong>s universitários<br />

às salas de aulas, visan<strong>do</strong> levantar dúvidas e dificuldades<br />

enfrentadas pelos educa<strong>do</strong>res, o que<br />

subsidiava a programação <strong>do</strong>s Ciclos de Estu<strong>do</strong>s<br />

e Oficinas Pedagógicas.<br />

Os Resulta<strong>do</strong>s de um Trabalho Integra<strong>do</strong>:<br />

caminhos percorri<strong>do</strong>s<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

No decorrer <strong>do</strong> Projeto foram realiza<strong>do</strong>s<br />

na cidade de Paracatu 11 Ciclos de Estu<strong>do</strong>s,<br />

que cumpriram uma carga horária média de 60<br />

horas e foram ministra<strong>do</strong>s pelos universitários<br />

e pelos membros da equipe coordena<strong>do</strong>ra. A<br />

meto<strong>do</strong>logia implementada durante estes cursos<br />

foram embasadas nos princípios da meto<strong>do</strong>logia<br />

dialética de Paulo Freire, com o intuito de preparar<br />

os educa<strong>do</strong>res, para o exercício <strong>do</strong>cente,<br />

estabelecen<strong>do</strong> relações entre as várias áreas <strong>do</strong><br />

conhecimento e levan<strong>do</strong> em consideração a<br />

integração entre o ensino e as necessidades das<br />

comunidades.<br />

Nos Ciclos de Estu<strong>do</strong>s trabalharam-se<br />

as seguintes temáticas: A História da EJA no<br />

Brasil, A EJA no Campo, O educan<strong>do</strong> Adulto,<br />

A Auto Estima <strong>do</strong> Aluno Adulto, Fases da Escrita,<br />

A Vivência <strong>do</strong> Nome, O Erro Construtivo,<br />

Alfabetização Matemática, Planejamento de<br />

Ensino, Avaliação em EJA, Vida e Obra de Paulo<br />

Freire, Méto<strong>do</strong> Paulo Freire e Princípios Básicos,<br />

Etapas <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong>, Tema Gera<strong>do</strong>r e Palavra<br />

Gera<strong>do</strong>ra, Jogos Educativos, Turmas Heterogêneas,<br />

Construção e Utilização das Fichas de<br />

Descoberta, Produção de Textos, Preparação<br />

de Aulas Simuladas, Memorial, Inclusão de<br />

Alunos Porta<strong>do</strong>res de Necessidades Especiais,<br />

Construção de Material Didático, Estu<strong>do</strong>s Sobre<br />

a Natureza, Estu<strong>do</strong>s Sobre a Sociedade, Oficina<br />

de Matemática, Oficina de Português, O Ensino<br />

da Ciência, Revisão de História, Planejamento<br />

<strong>do</strong> Momento Cultural, Avaliação de História,<br />

Revisão de Português, Revisão de Ciências e<br />

Revisão de Matemática.<br />

Na realização das oficinas de Jogos<br />

Educativos e Pedagógicos, percebeu-se que na<br />

formação <strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res considerou-se importante<br />

alguns pressupostos, como, por exemplo,<br />

a não infantilização <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> e <strong>do</strong> próprio<br />

jogo pedagógico; a (re)significação <strong>do</strong> jogo como<br />

facilita<strong>do</strong>r da aprendizagem.<br />

Os educa<strong>do</strong>res, através de atividades<br />

realizadas em grupos, vivenciaram na prática a<br />

oportunidade de criar vários recursos didáticos<br />

para serem utiliza<strong>do</strong>s em suas aulas, enriquecen<strong>do</strong>-as.<br />

Como exemplos, a confecção de cartazes,<br />

com todas as etapas <strong>do</strong> Méto<strong>do</strong> Paulo Freire e<br />

jogos volta<strong>do</strong>s para o ensino da Matemática e<br />

<strong>do</strong> Português para as diferentes fases de aprendizagem.<br />

As atividades <strong>do</strong>s Ciclos de Estu<strong>do</strong>s<br />

eram muito intensas, acontecen<strong>do</strong> nos perío-<br />

149


FARIA, A. L. F. et al. Alfabetização de Jovens e Adultos na Reforma Agrária – A Experiência no Noroeste de Minas Gerais<br />

<strong>do</strong>s da manhã, tarde e noite. Por esse motivo,<br />

com a finalidade de oferecer a oportunidade<br />

aos participantes de vivenciarem momentos de<br />

descontração e reflexão, eram desenvolvidas,<br />

no perío<strong>do</strong> da noite, a exibição de filmes, como<br />

“Quem Mexeu no Meu Queijo” e “Central <strong>do</strong><br />

Brasil”.<br />

No perío<strong>do</strong> da noite ocorria o Momento<br />

Cultural, no qual os educa<strong>do</strong>res apresentavam<br />

as particularidades de seus municípios e assentamentos<br />

através da dança, <strong>do</strong> teatro e <strong>do</strong>s relatos<br />

orais, entre outras formas. Esse momento era<br />

prepara<strong>do</strong> por cada universitário, juntamente<br />

com os educa<strong>do</strong>res e coordena<strong>do</strong>res locais.<br />

No que diz respeito ao material didático,<br />

foram elaboradas apostilas como apoio aos<br />

educa<strong>do</strong>res. Esse material foi confecciona<strong>do</strong><br />

para ser utiliza<strong>do</strong> no contexto <strong>do</strong> assentamento<br />

rural, sen<strong>do</strong> composto por textos, exercícios e<br />

meto<strong>do</strong>logias adequadas à realidade daqueles<br />

aos quais destinava o projeto. Estas apostilas<br />

se constituíram de conteú<strong>do</strong>s de Matemática,<br />

Língua Portuguesa, Estu<strong>do</strong>s sobre a Natureza,<br />

enfatizan<strong>do</strong> e valorizan<strong>do</strong> a realidade e a cultura<br />

<strong>do</strong> educan<strong>do</strong>.<br />

Diante disso, pode-se perceber que o<br />

Projeto foi para os universitários um campo rico<br />

de aprendizagem na área da EJA, complementan<strong>do</strong><br />

a formação acadêmica, possibilitan<strong>do</strong> a<br />

eles maior formação sobre o processo ensino-<br />

-aprendizagem e crescimento profissional e pessoal.<br />

Como impactos sociais, a região Noroeste<br />

ganhou muito, pois ofereceu aos adultos <strong>do</strong>s<br />

assentamentos da região a oportunidade e a<br />

garantia <strong>do</strong> direito de alfabetizar-se e de continuar<br />

seus estu<strong>do</strong>s em diferentes níveis de ensino.<br />

A partir de então, ao constatar os resulta<strong>do</strong>s<br />

<strong>do</strong> trabalho pelos órgãos governamentais<br />

parceiros, gerou-se uma nova parceria, visan<strong>do</strong><br />

dar continuidade a esse processo educacional,<br />

de forma a proporcioná-los a oportunidade de<br />

dar sequência aos seus estu<strong>do</strong>s, nas séries iniciais<br />

<strong>do</strong> ensino fundamental.<br />

Nesse senti<strong>do</strong>, foi elabora<strong>do</strong> novo<br />

projeto, intitula<strong>do</strong> “Educação para a Cidadania:<br />

Escolarização de Jovens e Adultos”, sob o convênio<br />

PRONERA/FETAEMG/FADEMA/UFV, agora<br />

sob a coordenação da Fundação de Apoio ao<br />

Desenvolvimento e Ensino de Macha<strong>do</strong> (FADE-<br />

MA), através da Instituição Agrotécnica <strong>Federal</strong><br />

de Macha<strong>do</strong>. Este se encontra em andamento,<br />

ten<strong>do</strong> o perío<strong>do</strong> de 2008 a 2009 para a sua<br />

conclusão, objetivan<strong>do</strong> a escolarização de cerca<br />

de 1.600 jovens e adultos assenta<strong>do</strong>s rurais da<br />

região Noroeste de Minas Gerais.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ANDRADE, M. R.; DI PIERRO, M. C. Programa Nacional<br />

de Educação na Reforma Agrária em perspectiva: da<strong>do</strong>s<br />

básicos para uma avaliação. São Paulo: Ação Educativa,<br />

2004, 83 p.<br />

CERVO, Ama<strong>do</strong> Luiz. Meto<strong>do</strong>logia científica. 5. ed. São<br />

Paulo: Pearson Prentice Hall, 2002.<br />

CUNHA, Conceição Maria da. Introdução – discutin<strong>do</strong><br />

conceitos básicos. In: SEED-MEC. Salto para o futuro –<br />

Educação de jovens e adultos. Brasília, 1999.<br />

HADDAD, Sérgio; DI PIERRO, M. C. Escolarização de<br />

jovens e adultos. Revista Brasileira de Educação, São<br />

Paulo, n. 14, p. 108-130, maio/ago. 2000 .<br />

SOARES, Leôncio José Gomes. A educação de jovens<br />

e adultos: momentos históricos e desafios atuais. Revista<br />

Presença Pedagógica, v. 2, n. 11, set./out. 1996.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 7 de agosto de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 14 de junho de 2010.<br />

150<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 143-150, jul./dez. 2010. Editora UFPR


As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de<br />

trabalho<br />

The possibilities of psychological duty in work place<br />

Las posibilidades del deber psicologico en la oficina<br />

Janaina Lucia Rodrigues 15<br />

Fernanda Candi<strong>do</strong> 26<br />

RESUMO<br />

Este artigo apresenta uma reflexão sobre as possibilidades <strong>do</strong> serviço de Plantão Psicológico (SPP). Para<br />

leitura teórica utilizamos a perspectiva teórica de Carl Rogers (1983, 1997) e sua Abordagem Centrada na<br />

Pessoa bem como com autores de estimável valor para temática: Dejours (1992, 1999), Co<strong>do</strong> (2006), May<br />

(1999), Mahfoud (1999), Rosemberg (1987). Enfatizamos a importância de um espaço de acolhimento e<br />

auxílio terapêutico em empresas e instituições, com a finalidade de proporcionar acolhimento e segurança<br />

aos trabalha<strong>do</strong>res e seus familiares. As análises apontam o quanto esse serviço pode contribuir para uma<br />

significativa melhora na qualidade de vida <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res e seus familiares, visto que possibilita um<br />

espaço de escuta e acolhimento em que os trabalha<strong>do</strong>res podem sentir aceitos para expressar seus sentimentos<br />

vivencia<strong>do</strong>s tanto dentro quanto fora <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social <strong>do</strong> trabalho.<br />

Palavras-chave: Plantão Psicológico; Saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r; Saúde Mental; Qualidade de vida no Trabalho;<br />

Abordagem Centrada na Pessoa.<br />

ABSTRACT<br />

This article presents a reflection on the possibilities of Plantão Psychological Service (SPP). To use the<br />

theoretical reading perspective of Carl Rogers (1983, 1997) and the Person-Centered Approach as well<br />

as authors of estimable value for thematic as Dejours (1992, 1999), Co<strong>do</strong> (2006), May ( 1999), Mahfoud<br />

(1999), Rosemberg (1987). We emphasize the importance of an area of reception and therapeutic aid in<br />

enterprises and institutions with the aim of providing shelter and security for workers and their families. The<br />

analysis suggests how this service can contribute to a significant improvement in quality of life of workers<br />

and their families, because that allows a space of listening and reception where workers may feel allowed<br />

to express their feelings experienced both inside and outside world social work.<br />

Keywords: Psychological duty; Employee health; Mental Health; Quality of Life at Work; The Person-<br />

Centered Approach.<br />

RESUMEN<br />

Este artículo presenta una reflexión en las posibilidades del servicio de Plantão Psicológico (SPP). Para la<br />

lectura teórica utilizamos la perspectiva teórica de Carl Rogers (1983, 1997) y el su subir centra<strong>do</strong> en la<br />

persona así como con autores del valor estimable para temático como: Dejours (1992, 1999), Co<strong>do</strong> (2006),<br />

puede (1999), Mahfoud (1999), Rosemberg (1987). Acentuamos la importancia de un espacio del abrigo<br />

y de la ayuda terapéutica en compañías e instituciones, con el propósito de proporcionar al abrigo y a la<br />

1 Psicóloga. Especialista em Saúde Publica com ênfase em Saúde da Família. Endereço: Rua: G-1, Qd: 08, Casa: 09 Residencial Noise<br />

Curvo – Várzea Grande-MT. E-mail: janainapsicologia@hotmail.com Telefone (65) 8414-7162.<br />

2 Orienta<strong>do</strong>ra Professora Mestre em Educação pela <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Mato Grosso-MT<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

151


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

seguridad a los trabaja<strong>do</strong>res y sus familiares.<br />

El punto de los análisis cuánto este servicio<br />

puede contribuir para una mejora significativa<br />

en la calidad de la vida de los trabaja<strong>do</strong>res y<br />

sus familiares, puesto que hace posible un<br />

espacio y un abrigo que escuchan <strong>do</strong>nde los<br />

trabaja<strong>do</strong>res pueden sentirse acepta<strong>do</strong>s para<br />

expresar sus profundamente vividas sensaciones<br />

en tal interior de la manera cuánto está<br />

del mun<strong>do</strong> social del trabajo.<br />

Palabras-Clave: Plantão psicologico; Salud del<br />

trabaja<strong>do</strong>r; Salud mental; Calidad de la vida<br />

en el trabajo; El subir centra<strong>do</strong> en la persona.<br />

Introdução<br />

Quan<strong>do</strong> referimos a atendimentos<br />

em plantão nos remetemos a serviços em que<br />

o atendimento fique à disposição das pessoas<br />

que necessitam. Porém, o serviço de plantão em<br />

psicologia ainda é uma modalidade a ser incorporada<br />

e aprofundada, como uma possibilidade<br />

da prática <strong>do</strong> psicólogo.<br />

O Plantão Psicológico consiste<br />

em oferecer um serviço em que o profissional<br />

fique disponível para oferecer atendimento, em<br />

dias e horários determina<strong>do</strong>s.<br />

O interesse em desenvolver esse trabalho<br />

sobre Plantão Psicológico e relatar a efetividade<br />

desse serviço, se deu em virtude das vivências<br />

nessa de modalidade de atendimento, obtida<br />

através <strong>do</strong>s estágios curriculares proporciona<strong>do</strong>s<br />

pelo curso de psicologia <strong>do</strong> UNIVAG – Centro<br />

Universitário. Enquanto estagiária, o trabalho de<br />

plantão psicológico se efetivou na Policlínica Dr.<br />

Lucilo Mace<strong>do</strong> de Freitas, e também na Empresa<br />

Brasileira de Correios e Telégrafos, Diretoria<br />

Regional de Mato Grosso. Os estágios e as intervenções<br />

realiza<strong>do</strong>s na clínica escola <strong>do</strong> Univag,<br />

obtiveram sustentação teórica na Abordagem<br />

Centrada na Pessoa (ACP).<br />

Segun<strong>do</strong> o Ministério da Saúde,<br />

estima-se que 15% da população mundial (975<br />

milhões) precisem de atendimento em saúde<br />

mental. No Brasil, 28,3 milhões de pessoas<br />

sofrem de algum transtorno mental, sen<strong>do</strong> que<br />

dessas mais de 5 milhões de pessoas sofrem<br />

de transtornos mentais severos, que requerem<br />

atendimento constante. Cerca de 18 milhões são<br />

acometi<strong>do</strong>s por transtornos causa<strong>do</strong>s pelo uso<br />

de álcool e drogas. As <strong>do</strong>enças mentais estão<br />

entre as três primeiras causas de incapacitação<br />

para o trabalho no país. As pesquisas indicam,<br />

ainda, que 26% das pessoas apresentam ou<br />

apresentarão um transtorno mental em alguma<br />

fase de sua vida.<br />

A alta prevalência desses transtornos, o<br />

seu crescimento em to<strong>do</strong>s os países e segmentos<br />

sociais, além da interface estreita com as drogas<br />

e violência, tornam a questão uma das prioridades<br />

para a saúde pública. Porém, o acesso ao<br />

tratamento ainda não está garanti<strong>do</strong> a to<strong>do</strong>s,<br />

especialmente nos países em que o desenvolvimento<br />

ainda é precário. Essa constatação levou a<br />

Organização Mundial de Saúde (OMS) a propor<br />

em 2008 o debate sobre o tema “Saúde mental<br />

como prioridade: melhoria <strong>do</strong>s serviços com<br />

participação social e cidadania”, com o objetivo<br />

de estimular reflexão sobre a melhoria <strong>do</strong> acesso<br />

ao tratamento e redução das iniquidades.<br />

Apesar desse quadro, apenas pouco<br />

mais de 2% <strong>do</strong> orçamento público são destina<strong>do</strong>s<br />

à saúde mental, conforme da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Governo<br />

<strong>Federal</strong> no portal da saúde.<br />

Esses da<strong>do</strong>s apontam para a necessidade<br />

de se criar políticas de saúde, que garanta a toda<br />

a população acesso aos tratamentos necessários.<br />

Acreditamos, dessa forma, que em um país como o<br />

Brasil, com ampla dimensão territorial, que engloba<br />

diversidades culturais e socioeconômicas, a responsabilidade<br />

por ações políticas que contribuam para<br />

o desenvolvimento pleno e saudável <strong>do</strong>s cidadãos<br />

e eliminem os fatores de risco e as ameaças mais<br />

imediatas à saúde (geral e mental) da população<br />

seja de responsabilidade tanto das políticas de<br />

saúde como da sociedade e das instituições.<br />

Sen<strong>do</strong> assim, para que a saúde mental<br />

deixe de ser um fator implica<strong>do</strong>r no impedimento<br />

de uma sociedade saudável e produtiva,<br />

152<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

não cabe apenas ao governo criar ações que<br />

favoreçam o desenvolvimento pleno <strong>do</strong>s cidadãos,<br />

mas o comprometimento das instituições<br />

e empresas com o bem estar psicosocial de seus<br />

colabora<strong>do</strong>res e funcionários.<br />

Moscovici (1995, p. 31) diz que “As empresas<br />

parecem não ter desperta<strong>do</strong> inteiramente<br />

para o fato repetidamente constata<strong>do</strong>: para trabalhar<br />

bem e produzir em grupo, as pessoas precisam<br />

possuir mais <strong>do</strong> que competência técnica para as<br />

funções”. Esclarece ainda que as pessoas precisam<br />

sentir que as diferenças nesse ambiente são aceitas<br />

e tratadas em aberto, para que a comunicação<br />

possa fluir com facilidade, em dupla direção.<br />

A autora afirma que quan<strong>do</strong> as pessoas<br />

podem falar o que pensam e sentem, e tem<br />

a possibilidade de dar e receber feedback, isso<br />

contribui para o autoconhecimento, que precisa<br />

ser elabora<strong>do</strong> para a autoaceitação. Sen<strong>do</strong><br />

que dar e receber feedback auxilia para que o<br />

indivíduo possa ter percepção mais acurada de<br />

si e da relação interpessoal, e se constitui como<br />

primeiro passo para se construir relacionamentos<br />

autênticos.<br />

Assim, o Plantão Psicológico no contexto<br />

empresarial se apresenta como uma possibilidade<br />

de oferecer às pessoas um Serviço de<br />

Pronto Atendimento Psicológico. Para Schmidt<br />

(2004), esse serviço é pensa<strong>do</strong> e pratica<strong>do</strong>, basicamente,<br />

como um mo<strong>do</strong> de acolher e responder<br />

a demandas por ajuda psicológica. O profissional<br />

se coloca à disposição das pessoas que procuram<br />

um tempo e um espaço de escuta aberto à<br />

diversidade e à pluralidade das demandas.<br />

Para tal, o estu<strong>do</strong> constitui-se em uma pesquisa<br />

de caráter bibliográfico a partir <strong>do</strong> campo da<br />

psicologia, ten<strong>do</strong> como contribuições autores como:<br />

Dejours (1992), Co<strong>do</strong> (2006), May (1999), Mahfoud<br />

(1999), Rosemberg (1987) e Rogers (1983, 1997).<br />

O plantão psicológico e a proposta de<br />

Carl Rogers<br />

Para dialogar sobre o Plantão Psicológico<br />

é importante o conhecimento <strong>do</strong> processo<br />

histórico dessa modalidade de atendimento.<br />

Segun<strong>do</strong> Mahfoud (1999), esse serviço<br />

chama<strong>do</strong> de Plantão Psicológico foi implanta<strong>do</strong><br />

no Brasil inspira<strong>do</strong> nas experiências <strong>do</strong> modelo<br />

de walk-in clinics, <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, para<br />

prestar atendimento imediato à comunidade nas<br />

décadas de 70 e 80, e visava um atendimento<br />

emergencial no momento em que havia procura.<br />

Rosemberg (1987) relata a trajetória<br />

<strong>do</strong> primeiro serviço de Plantão Psicológico de<br />

que se tem registro no Brasil, cuja implantação<br />

ocorreu no Instituto de Psicologia da <strong>Universidade</strong><br />

de São Paulo (IPUSP), em 1969, no setor<br />

de aconselhamento psicológico.<br />

De acor<strong>do</strong> com Forghieri (2007),<br />

Rogers foi o responsável pelo movimento que<br />

visava o reconhecimento <strong>do</strong> aconselhamento<br />

psicológico pela comunidade científica, comenta<br />

ainda que este teórico denominou seus atendimentos<br />

de aconselhamento psicológico, para não<br />

ser impedi<strong>do</strong> de atuar como terapeuta na época,<br />

mas, depois <strong>do</strong> reconhecimento pela comunidade<br />

científica desta modalidade de atendimento<br />

terapêutico, passou a denominar sua teoria de<br />

Centrada no Cliente e posteriormente de Abordagem<br />

Centrada na Pessoa<br />

Dessa forma, a base teórica <strong>do</strong> Plantão<br />

Psicológico foi fundamentalmente humanista,<br />

que considera o homem um ser de possibilidades,<br />

e valoriza a própria essência da natureza<br />

humana. Assim, ao nos referirmos ao Plantão<br />

Psicológico, nos remetemos à Abordagem Centrada<br />

na Pessoa.<br />

Os pilares que fundamentam essa<br />

abordagem estão caracteriza<strong>do</strong>s no clima em<br />

que o encontro entre terapeuta e cliente ocorre,<br />

de aceitação positiva incondicional, compreensão<br />

empática, congruência ou autenticidade na<br />

relação, denominadas de atitudes psicológicas<br />

facilita<strong>do</strong>ras. Rogers (1983) coloca que os indivíduos<br />

possuem dentro de si vastos recursos<br />

para autocompreensão e modificação de seus<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

autoconceitos, acredita ainda na tendência ao<br />

crescimento e na autorrealização diante das<br />

escolhas.<br />

Para Rogers (1983), o clima de atitudes<br />

psicológicas facilita<strong>do</strong>ras ocorre quan<strong>do</strong> o terapeuta<br />

consegue ser ele mesmo na relação com<br />

o outro e tem atitudes de congruência, aceitação<br />

incondicional, compreensão empática na relação.<br />

Coloca ainda que essas atitudes estimulam<br />

o cliente a se autocompreender. Para o autor<br />

essas posturas são assim descritas:<br />

Ser congruente ou transparente é ser<br />

sincero e buscar compreender efetivamente o<br />

outro, e poder falar sobre essa vivência na relação<br />

que se estabelece entre terapeuta e cliente.<br />

De forma que essa relação autêntica possibilite<br />

ao cliente expressar seus sentimentos livremente.<br />

A aceitação incondicional é uma atitude<br />

positiva e aceita<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> terapeuta, em relação<br />

ao que o cliente é naquele momento, permite-se<br />

dessa forma que o cliente possa ser ele mesmo.<br />

Assim, essa atitude <strong>do</strong> terapeuta estimula o cliente<br />

a ser autêntico na relação e conseguir dessa<br />

forma se conhecer.<br />

A compreensão empática é o terapeuta<br />

poder mergulhar na busca de conhecer o que<br />

ocorre com o cliente, como se fosse ele mesmo,<br />

e expressar o seu olhar a ele para ajudá-lo a<br />

se compreender. É se aventurar em busca de<br />

compreender o outro e falar dessa leitura para o<br />

cliente, para possibilitar ao cliente compreender<br />

a si mesmo e seus conflitos.<br />

Romero (2001, p.66) entende que<br />

compreensão empática é: “[...] colocar-se no<br />

lugar <strong>do</strong> outro para assim captar o senti<strong>do</strong> de<br />

sua vivência, compartilhan<strong>do</strong> dessa maneira seu<br />

sentir”. Aponta ainda que é muito diferente de<br />

qualquer compreensão meramente intelectual,<br />

por ter um caráter afetivo e um movimento de<br />

aproximação <strong>do</strong> outro.<br />

Mediante o exposto, o terapeuta na<br />

ACP precisa ser sensível às relações humanas<br />

para poder compreender o cliente, tanto nas suas<br />

limitações emocionais, quanto na suas potencialidades.<br />

Sen<strong>do</strong> que cada sessão é única, porque<br />

é o cliente quem vai trazer o que o angustia e<br />

que precisa ser fala<strong>do</strong>. Rogers (1997) afirma que<br />

mesmo em um curto espaço de tempo é possível<br />

oferecer um tipo muito precioso de ajuda, de<br />

esclarecimento, quan<strong>do</strong> permite que o cliente<br />

exprima seus problemas e sentimentos de forma<br />

livre, e tenha reconhecimento das questões que<br />

enfrenta.<br />

É a partir dessa visão de um ser livre,<br />

em busca de crescimento e realização que os humanistas<br />

apresentam a proposta de atendimento<br />

de Plantão Psicológico, que busca possibilitar a<br />

esse homem sentir-se aceito para falar das suas<br />

angústias, ressignificar o que o faz sofrer para que<br />

possa fazer suas escolhas e se responsabilizar por<br />

elas, de forma autêntica.<br />

Dessa forma, compreendemos que a<br />

demanda por atendimento terapêutico é um<br />

pedi<strong>do</strong> de ajuda, para que um outro auxilie a<br />

compreender o que está incomodan<strong>do</strong>, o que<br />

está acontecen<strong>do</strong> com a pessoa. Quan<strong>do</strong> uma<br />

pessoa está angustiada, pode tentar resolver seus<br />

problemas sozinha, mas também pode buscar<br />

por auxílio, se desejar. Hegenberg (2004, p. 12)<br />

pondera que no mun<strong>do</strong> atual, fazer várias Psicoterapias<br />

Breves, nos vários momentos diferentes<br />

de uma pessoa, parece fazer mais senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> que<br />

uma análise única, por um longo perío<strong>do</strong> de tempo,<br />

afirma ainda que: “É urgente que possamos<br />

contar com práticas clínicas de qualidade e que<br />

tenham si<strong>do</strong> desenvolvidas em meio ao rigor<br />

demanda<strong>do</strong> pela comunidade científica, para<br />

que possam ser inseridas em políticas públicas<br />

de saúde mental”.<br />

O Plantão Psicológico é uma possibilidade<br />

de atender a essa demanda, no momento<br />

em que busca oferecer um Pronto Atendimento,<br />

para que a pessoa, ao buscar ajuda, possa ser<br />

acolhida, e experiencie seus sentimentos naquele<br />

momento.<br />

É preciso considerar que para o ser<br />

humano o passa<strong>do</strong> pode se fazer presente a cada<br />

instante, bem como remeter-se ao futuro a to<strong>do</strong> o<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

momento Assim, quan<strong>do</strong> o homem busca ajuda<br />

no momento de sua necessidade ele está trazen<strong>do</strong><br />

para esse momento os reflexos de toda sua<br />

vida, sem que haja divisão da linha <strong>do</strong> tempo.<br />

E nesse aspecto Romero (2001, p.69)<br />

afirma que:<br />

Embora seja uma história já vivida,<br />

para a maioria das pessoas o passa<strong>do</strong><br />

permanece, em medida considerável,<br />

estranho e mal-assimila<strong>do</strong>. Existe ai<br />

também uma notória alienação <strong>do</strong> ser<br />

mais próprio. Não é insólito que alguns<br />

até se recusem a fazer um exame atento<br />

dessa história, alegan<strong>do</strong> que “tu<strong>do</strong> aquilo<br />

já passou” ou que quase tu<strong>do</strong> está<br />

encoberto pela poeira <strong>do</strong> tempo. É verdade,<br />

por definição o passa<strong>do</strong> “já passou”,<br />

mas ele existe; continua existin<strong>do</strong><br />

de diversas formas em nós.<br />

Dessa maneira, quan<strong>do</strong> o homem busca<br />

ajuda para enfrentar a realidade presente, ele<br />

está em busca de mudanças em seu futuro. Mas<br />

nem sempre este enfrentamento é uma tarefa<br />

fácil, por conduzir o homem a examinar seu<br />

passa<strong>do</strong>, e se defrontar com reflexos deste no<br />

seu presente, e ao homem cabe a difícil liberdade<br />

de escolher entre ser ou não autêntico consigo<br />

mesmo, e fazer suas escolhas consciente de sua<br />

responsabilidade.<br />

Para May (1999, p.222), a melhor maneira<br />

para o homem garantir o futuro é enfrentar<br />

o presente de forma autêntica com coragem e<br />

proveito, mas alerta que: “Enfrentar a realidade<br />

presente provoca às vezes ansiedade. [...] esta<br />

ansiedade é uma espécie de vaga sensação de<br />

estar , ou de encontrar-se diante de<br />

uma realidade da qual não se pode fugir, recuar<br />

ou esconder-se”.<br />

Apoiar o homem nesse enfrentamento<br />

faz parte da proposta <strong>do</strong> atendimento da psicologia<br />

e, em especial, <strong>do</strong> Plantão Psicológico,<br />

que cria um espaço em que se pode buscar por<br />

ajuda quan<strong>do</strong> precisar.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

Ao terapeuta cabe acolher esse homem<br />

e acreditar que o seu trabalho não termina com<br />

o fim <strong>do</strong> encontro, mas se estende ao longo <strong>do</strong><br />

tempo, e confiar que seu cliente pode continuar a<br />

aprender sozinho e lidar com os acontecimentos<br />

inespera<strong>do</strong>s da vida, a partir <strong>do</strong> que foi inicia<strong>do</strong><br />

durante o atendimento.<br />

Forma de atuação <strong>do</strong> psicólogo<br />

O profissional que atua em Plantão<br />

Psicológico tem que se colocar disponível para<br />

estar ali e lidar com o inespera<strong>do</strong>, pois este é um<br />

espaço em que a pessoa terá para buscar ajuda<br />

quan<strong>do</strong> necessitar falar <strong>do</strong>s seus sentimentos e<br />

<strong>do</strong> que se passa com ela. A escuta é o principal<br />

instrumento utiliza<strong>do</strong> pelo profissional, que nos<br />

atendimentos busca ouvir o outro e estar disponível<br />

para receber a vivência que o cliente trouxer<br />

de maneira a facilitar que a pessoa examine sua<br />

experiência.<br />

Facilitar ao ser humano essa compreensão<br />

de si é um <strong>do</strong>s objetivos <strong>do</strong> profissional que<br />

atua em Plantão Psicológico, assim como acolher<br />

e oferecer atenção à experiência <strong>do</strong> cliente no<br />

momento em que este procura ajuda. Isto inclui,<br />

não apenas o que convencionalmente se entende<br />

por queixa, mas o mo<strong>do</strong> como o cliente vivencia<br />

o seu sofrimento, bem como as expectativas e<br />

perspectivas que se apresentam a partir dessa<br />

busca de auxílio.<br />

Cada encontro entre terapeuta e<br />

cliente é único, pois é o cliente quem vai trazer<br />

para o atendimento o que precisa ser fala<strong>do</strong>,<br />

os seus conflitos naquele momento. Podemos<br />

pensar dessa forma que até mesmo um único<br />

atendimento pode possibilitar a pessoa ter um<br />

encontro consigo mesma e se colocar diante<br />

<strong>do</strong>s acontecimentos da vida mais consciente de<br />

suas escolhas.<br />

Essa forma de atuação em Plantão<br />

Psicológico permite ao cliente a liberdade de po-<br />

155


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

der escolher se deseja ou não dar continuidade<br />

aos atendimentos em processo terapêutico, até<br />

porque se acredita que a pessoa tem dentro de<br />

si os recursos necessários para autorrealização,<br />

que podem ser ativa<strong>do</strong>s até mesmo em um único<br />

encontro com o terapeuta.<br />

Acreditamos que quan<strong>do</strong> a pessoa<br />

tem clareza das questões que enfrenta, faz escolhas<br />

conscientes, é autêntica com ela mesma<br />

e consegue realizar-se nas escolhas que faz. Ao<br />

profissional de psicologia nessa modalidade de<br />

atendimento cabe iluminar o caminho para que<br />

a pessoa conheça as possibilidades que tem e<br />

possa fazer as escolhas de forma verdadeira<br />

consigo mesma.<br />

Plantão psicológico e a empresa<br />

Trata-se de um serviço de emergência,<br />

em que o psicólogo se defronta a to<strong>do</strong> instante<br />

com o não planeja<strong>do</strong>, e tem no pronto acolhimento<br />

a principal ferramenta a ser utilizada. Ao<br />

profissional em psicologia cabe ter sensibilidade<br />

para acolher, compreender e responder às demandas,<br />

sem perder de vista a singularidade <strong>do</strong><br />

indivíduo .<br />

Desta forma, compreendemos que<br />

acolher é oferecer atenção ao sofrimento, e estabelecer<br />

uma relação de confiança e aceitação,<br />

pensan<strong>do</strong> no bem estar e na qualidade de vida<br />

<strong>do</strong>s profissionais que buscam o atendimento de<br />

Plantão Psicológico no qual se oferece às pessoas<br />

um serviço de pronto atendimento àqueles que<br />

procuram auxílio psicológico.<br />

Essa modalidade de atendimento é<br />

analisada à luz da teoria de Carl Rogers (1997),<br />

conforme já menciona<strong>do</strong>, que afirma que<br />

quan<strong>do</strong> o terapeuta tem uma atitude positiva<br />

aceita<strong>do</strong>ra, em relação ao que quer que o cliente<br />

seja naquele momento, a probabilidade de<br />

ocorrer um movimento terapêutico ou mudança<br />

aumenta.<br />

156<br />

É a partir desse conceito que<br />

pensamos nesse serviço de Plantão Psicológico<br />

no ambiente de trabalho, que está direcionada<br />

ao cuida<strong>do</strong> com a saúde, já que a escuta <strong>do</strong><br />

psicólogo visa possibilitar que a pessoa tenha<br />

maior clareza da sua realidade e das questões<br />

que enfrenta.<br />

Esse serviço dentro da empresa estabelece<br />

um espaço em que se possa ter aceitação<br />

e acolhimento no momento em que à pessoa<br />

sentir necessidade. Cautella (1999) afirma que<br />

se faz necessário, em algum momento da história<br />

de uma instituição, instaurar um espaço de<br />

acolhimento e segurança para seus funcionários.<br />

Acreditamos que ter um espaço para falar das<br />

sensações e sentimentos varia<strong>do</strong>s já existentes,<br />

ou gera<strong>do</strong>s pela própria convivência e atividades<br />

em grupo, contribuirá para o crescimento e<br />

amadurecimento pessoal que terá seus reflexos<br />

na produtividade e satisfação fora e dentro <strong>do</strong><br />

ambiente de trabalho.<br />

De acor<strong>do</strong> com Palmieri e Cury (2007,<br />

p.473), “A estrutura <strong>do</strong> Plantão Psicológico responde<br />

a essa demanda institucional na qual o<br />

funcionário tem um espaço para expressar suas<br />

angústias, seus anseios e estruturar-se melhor<br />

para dar conta das exigências internas e externas<br />

<strong>do</strong> seu cotidiano nesse contexto de trabalho”.<br />

Consideran<strong>do</strong> que a possibilidade<br />

desse serviço no ambiente de trabalho oferecerá<br />

um espaço de acolhimento, segurança e auxílio<br />

terapêutico aos funcionários.<br />

Para Dejours (1999), o trabalho não é<br />

somente a execução de atividades produtivas,<br />

mas, também, é o espaço de convivência, e<br />

aponta ainda para a importância de uma preocupação<br />

não apenas com a eficácia técnica, mas<br />

também com o mun<strong>do</strong> social <strong>do</strong> trabalho, de<br />

proteção e realização <strong>do</strong> ego, portanto relativos<br />

à saúde e ao mun<strong>do</strong> subjetivo. É justamente<br />

nesse espaço de convivência <strong>do</strong> trabalho que<br />

pensamos em um espaço em que esse homem<br />

possa buscar ajuda quan<strong>do</strong> sentir necessidade.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

Assim, pode-se considerar que o campo<br />

de saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r se mostra como um<br />

campo promissor para o exercício <strong>do</strong> profissional<br />

de psicologia, e a proposta <strong>do</strong> Serviço de Plantão<br />

Psicológico em Empresa é uma dessas possibilidades<br />

de atuação que tem um enfoque e se constitui<br />

como tentativa de acolher e compreender o<br />

homem e suas relações entre condições de vida<br />

e trabalho. Conforme Co<strong>do</strong> (2006, p.186): "O<br />

trabalho é o mo<strong>do</strong> de ser <strong>do</strong> homem, e como tal<br />

permeia to<strong>do</strong>s os níveis de sua atividade, seus<br />

afetos, sua consciência, o que permite que os<br />

sintomas se escondam em to<strong>do</strong>s os lugares [...]".<br />

Entendemos dessa forma, que para<br />

o homem o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e o priva<strong>do</strong> se<br />

misturam de forma que os sentimentos vivencia<strong>do</strong>s<br />

pela pessoa refletem nas suas atitudes independentes<br />

<strong>do</strong> lugar. Com isso, acreditamos ser<br />

importante acolher o homem em seu sofrimento<br />

e atender a algumas dificuldades específicas <strong>do</strong><br />

ambiente de trabalho; uma vez que consideramos<br />

que estas dificuldades refletem também no<br />

convívio familiar <strong>do</strong> homem.<br />

Palmieri e Cury (2007) afirmam que é<br />

necessário cuidar <strong>do</strong>s profissionais, para benefícios<br />

destes e para melhor qualidade <strong>do</strong> trabalho<br />

ofereci<strong>do</strong>, em função de algumas dificuldades<br />

específicas desse ambiente, como insatisfação<br />

no trabalho, baixa utilização das potencialidades<br />

entre outros. Apontam ainda que estes<br />

fatores podem conduzir a consequências como:<br />

absenteísmos, baixo rendimento, aumento nas<br />

reclamações, causan<strong>do</strong> sérias consequências à<br />

saúde física e mental <strong>do</strong>s funcionários.<br />

Ao pensar no serviço de Plantão Psicológico<br />

inseri<strong>do</strong> no ambiente de trabalho, nos<br />

remetemos a refletir sobre qualidade de vida no<br />

trabalho.<br />

Silva e Marchi (1997), afirmam que a<br />

relação entre saúde e qualidade de vida parece<br />

óbvia, consideran<strong>do</strong> que o próprio senso comum<br />

diz que ter saúde é a primeira e essencial condição<br />

para que alguém possa considerar sua vida<br />

como de boa qualidade. Mas o que parece óbvio<br />

e claro nem sempre o é, na realidade. Tanto a<br />

concepção de saúde, como a de qualidade de<br />

vida comportam discussões e interpretações<br />

diversas.<br />

Os referi<strong>do</strong>s autores compreendem ainda<br />

que os valores de saúde e <strong>do</strong>ença são construí<strong>do</strong>s,<br />

na empresa, sob o foco da produtividade,<br />

sob os princípios que se a<strong>do</strong>ta de responsabilidade<br />

social e o valor que se dá à preservação das<br />

pessoas, das histórias de acidentes de trabalho<br />

e da própria cultura da organização. A pressão<br />

organizacional leva o indivíduo a esta<strong>do</strong>s de<br />

stress, o que afeta diretamente a qualidade de<br />

vida <strong>do</strong> trabalho.<br />

Possibilitar ao homem falar <strong>do</strong>s seus<br />

sentimentos de forma livre para que possa<br />

ressignificar suas vivências, faz parte da proposta<br />

<strong>do</strong> Serviço de Plantão Psicológico que atua na<br />

forma de prevenção, de agravamento <strong>do</strong>s conflitos<br />

psíquicos.<br />

Fernandes (1996, p. 46) aponta que<br />

“[...] pouco resolve atentar-se apenas para<br />

fatores físicos, pois aspectos sociológicos e psicológicos<br />

interferem igualmente na satisfação<br />

<strong>do</strong> indivíduo em situação de trabalho; [...] com<br />

reflexos na produtividade e na satisfação <strong>do</strong>s<br />

emprega<strong>do</strong>s”.<br />

Desta forma, pensamos que à implantação<br />

de política de saúde mental que, de fato,<br />

promova mudanças, é responsabilidade de<br />

vários agentes, instituições, sistema de saúde<br />

e sociedade. Quan<strong>do</strong> a instituição também se<br />

sente responsabilizada por gerar mudanças no<br />

âmbito da saúde mental <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r, ela<br />

busca medidas que permitem e contribuem para<br />

melhoria da qualidade de vida desse trabalha<strong>do</strong>r.<br />

Vieira (1996, p.107) compreende a<br />

Qualidade de Vida no Trabalho como: “[...] um<br />

conjunto de fatores (ou indica<strong>do</strong>res) que se fazen<strong>do</strong><br />

presente nas organizações, proporcionam<br />

aos trabalha<strong>do</strong>res bem estar físico, mental, econômico<br />

e social, permitin<strong>do</strong> que cada indivíduo<br />

resgate sua condição de cidadão”.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

Esse resgate <strong>do</strong> homem da condição<br />

de cidadão faz parte da proposta da psicologia,<br />

inclusive no mun<strong>do</strong> social <strong>do</strong> trabalho. No que<br />

se refere a esta estreita relação entre o homem<br />

e o trabalho, Dejours (1992, p.164) afirma que:<br />

De qualquer maneira, o trabalho não<br />

é nunca neutro em relação à saúde, e<br />

favorece seja a <strong>do</strong>ença seja a saúde. De<br />

mo<strong>do</strong> que o trabalho deveria aparecer<br />

na própria definição <strong>do</strong> conceito de<br />

saúde, e particularmente no que concerne<br />

à definição <strong>do</strong> “bem estar social”,<br />

figuran<strong>do</strong> na Organização Mundial da<br />

Saúde. Por outro la<strong>do</strong> é importante<br />

ressaltar que a relação de saúde e trabalho<br />

não diz respeito apenas a pessoas<br />

diretamente engajadas no processo<br />

de trabalho, isto é, aos trabalha<strong>do</strong>res.<br />

Com efeito, na divisão entre espaço de<br />

trabalho e espaço priva<strong>do</strong> só eventualmente<br />

pertinente na análise econômica,<br />

mas torna-se totalmente inconsistente a<br />

partir <strong>do</strong> momento em que se trata das<br />

relações sociais e das questões de saúde.<br />

Isso nos leva a pensar no sujeito como<br />

um to<strong>do</strong>, que mesmo no trabalho carrega<br />

consigo suas questões pessoais, pois não há<br />

como deixar em casas seus conflitos, pois esses<br />

o acompanham e independente de onde este<br />

sujeito esteja e que o trabalho afeta tanto o trabalha<strong>do</strong>r<br />

quanto seus familiares. Foi a partir dessas<br />

reflexões e estimuladas pela proposta <strong>do</strong> Plantão<br />

Psicológico que consideramos esta modalidade<br />

de atendimento como uma possibilidade de<br />

atuação <strong>do</strong> psicólogo tanto com o trabalha<strong>do</strong>r<br />

quanto com seus familiares, pois compreendemos<br />

que ambos podem se beneficiar com esses<br />

atendimentos em que o psicólogo atua como<br />

facilita<strong>do</strong>r de um desenvolvimento pleno efetivo<br />

da sociedade e mais diretamente <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

e seus familiares.<br />

Considerações finais<br />

Como relatamos, o interesse por discutir<br />

teoricamente sobre Plantão Psicológico e<br />

Trabalho iniciou-se durante os estágios curriculares<br />

proporciona<strong>do</strong>s pelo curso de Psicologia<br />

<strong>do</strong> UNIVAG – Centro Universitário, bem como<br />

a identificação pela Abordagem Centrada na<br />

Pessoa, conforme ênfase dada para a análise e<br />

reflexões <strong>do</strong> tema proposto neste artigo.<br />

Como vimos, cuidar da saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r<br />

é um desafio a se alcançar e que há<br />

muito ainda por avançar. Consideramos que a<br />

busca pela qualidade de vida no trabalho se estende<br />

para fora <strong>do</strong>s muros das instituições, uma<br />

vez que compreendemos como inconsistente a<br />

divisão entre o mun<strong>do</strong> social <strong>do</strong> trabalho e o<br />

priva<strong>do</strong>, de tal forma que os conflitos vivencia<strong>do</strong>s<br />

estão presentes na vida da pessoa independente<br />

<strong>do</strong> ambiente em que ela se encontre.<br />

Buscamos compreender esse homem<br />

trabalha<strong>do</strong>r e suas vivências à luz da teoria<br />

<strong>do</strong> psicólogo Carl Rogers, que nos afirma que<br />

mesmo em um curto espaço de tempo é possível<br />

oferecer uma importante ajuda ao cliente, de<br />

acolhê-lo e fornecer esclarecimentos das questões<br />

que ele enfrenta, pois o terapeuta oferece<br />

uma escuta centrada e confiante na tendência à<br />

realização que cada ser possui.<br />

Acreditamos, dessa forma, que a teoria<br />

de Rogers oferece embasamento para o atendimento<br />

em Plantão Psicológico realiza<strong>do</strong> em<br />

empresa, uma vez que consideramos importante<br />

cuidar da saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r.<br />

Para Silva e Marchi (1997), a a<strong>do</strong>ção<br />

de programas que visem à qualidade de vida e<br />

a promoção de saúde proporciona ao indivíduo<br />

maior resistência ao stress, maior estabilidade<br />

emocional, maior motivação, eficiência no<br />

trabalho, além de melhorar a autoimagem e os<br />

relacionamentos dentro e fora <strong>do</strong> ambiente de<br />

trabalho.<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR


RODRIGUES, J. L.; CANDIDO, F. As possibilidades <strong>do</strong> plantão psicológico no ambiente de trabalho<br />

Assim, quan<strong>do</strong> as empresas investem<br />

em programas de qualidade de vida no trabalho,<br />

são beneficiadas com trabalha<strong>do</strong>res mais saudáveis,<br />

isto automaticamente contribui não só<br />

como bem estar das pessoas, mas também para<br />

a redução <strong>do</strong> absenteísmo e rotatividade, menor<br />

número de acidentes, maior produtividade e<br />

melhor imagem, o que contribui para a melhora<br />

no ambiente de trabalho.<br />

Com isso, entendemos que o mun<strong>do</strong><br />

social <strong>do</strong> trabalho também favorece a construção<br />

subjetiva <strong>do</strong> homem, e influencia no esta<strong>do</strong> de<br />

saúde e <strong>do</strong>ença de forma que se torna compreensível<br />

à necessidade de um espaço de acolhimento<br />

e ajuda terapêutica nesse contexto social.<br />

E foi justamente a partir dessas reflexões<br />

que pensamos e desenvolvemos o projeto<br />

de Plantão Psicológico em Empresa, na Empresa<br />

Brasileira de Correios e Telégrafos da Diretoria<br />

Regional de Mato Grosso, cujas vivências influenciaram<br />

a busca por olhar e compreender o homem<br />

e o seu sofrimento, muitas vezes sufoca<strong>do</strong>s<br />

frente às exigências <strong>do</strong> cotidiano de seu trabalho.<br />

Os pontos discuti<strong>do</strong>s neste artigo<br />

apontam algumas das questões da realidade <strong>do</strong><br />

ambiente de trabalho e traz como desafio para<br />

a prática da psicologia no âmbito da saúde <strong>do</strong><br />

trabalha<strong>do</strong>r, e também a possibilidade de continuar<br />

a ampliar o leque de reflexões e de repensar<br />

sobre o já pensa<strong>do</strong> e pratica<strong>do</strong>.<br />

O impacto <strong>do</strong>s conflitos <strong>do</strong> ambiente de<br />

trabalho no mun<strong>do</strong> subjetivo <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res<br />

e seus familiares é um <strong>do</strong>s desafios da psicologia<br />

no âmbito da saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r. A angústia<br />

presente em suas vidas, sejam em decorrência<br />

<strong>do</strong> que acontece dentro ou fora <strong>do</strong> ambiente<br />

de trabalho, pode ser ressignificada através da<br />

escuta terapêutica disponível nessa modalidade<br />

de atendimento dentro <strong>do</strong> próprio ambiente de<br />

trabalho. Acreditamos que acolher o trabalha<strong>do</strong>r<br />

e oferecer auxílio psicológico, contribui com a<br />

prevenção de comprometimentos maiores na<br />

saúde <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e para melhor qualidade<br />

de vida.<br />

Enfim, destacamos a importância da<br />

nossa busca, profissionais da psicologia, por<br />

abertura de espaços que permitam aos trabalha<strong>do</strong>res<br />

e seus familiares se sentirem aceitos e acolhi<strong>do</strong>s<br />

para falar <strong>do</strong>s sentimentos vivencia<strong>do</strong>s, e<br />

apresentamos a proposta <strong>do</strong> serviço de Plantão<br />

Psicológico como uma possibilidade de ajuda<br />

psicológica àqueles que necessitarem.<br />

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Texto recebi<strong>do</strong> em 16 de julho de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 23 de setembro de 2009.<br />

160<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 151-160, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e<br />

Do Campo na década da educação (1997 – 2007)<br />

Guidelines from Unesco to the formation of teachers in and from the<br />

countryside areas in the decade of education (1997 – 2007)<br />

Directrices de la Unesco para la formación de maestros en y del<br />

campo en la década de la educación (1997 – 2007)<br />

Kethlen Leite de Moura 1<br />

Irizelda Martins de Souza e Silva 2<br />

RESUMO<br />

A partir de 1990, no âmbito das Nações Unidas, foram realiza<strong>do</strong>s eventos cuja tônica foi a Educação e a<br />

Formação de Professores. Derivaram de cada um <strong>do</strong>s eventos <strong>do</strong>cumentos que estabeleceram políticas que<br />

tratavam da Formação de Professores. Pareceu-nos significativo captar e analisar, nos <strong>do</strong>cumentos gera<strong>do</strong>s<br />

pela UNESCO, conteú<strong>do</strong>s que apontaram para políticas de governo que corporificaram, nos seus discursos,<br />

elementos para a Formação de Professores. Nesse senti<strong>do</strong>, apreender as influências da organização<br />

vinculada à ONU, denominada UNESCO, sobre as propostas de Formação de Professores no e <strong>do</strong> Campo<br />

foi o desafio que empreendemos. Nessa perspectiva, a pesquisa vinculada ao Projeto: Em Busca de Uma<br />

Política de Formação de professores no Brasil – orientações da UNESCO 1990, examinou as políticas de<br />

Formação de Professores para a Educação no e <strong>do</strong> Campo contidas nas orientações da UNESCO para o<br />

Brasil, na década da educação (1997 – 2007). A relevância <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da problemática desvelou que, na<br />

Formação de Professores para a Educação no e <strong>do</strong> Campo, houve ruptura entre os objetivos declara<strong>do</strong>s<br />

e a prática realizada. A educação no e <strong>do</strong> campo é timidamente tratada, muitas vezes apresentada como<br />

“rural” ou “de zonas mais afastadas” e ainda “lugares de difícil acesso”, incidin<strong>do</strong> nas políticas de Formação<br />

de Professores no Brasil.<br />

Palavras-chave: Formação de Professores; Educação no e <strong>do</strong> Campo; UNESCO.<br />

ABSTRACT<br />

Since 1990, in the United Nations environment, events focused on Education and the Formation of Educators<br />

have been set up. Through them, <strong>do</strong>cuments which established policies which ensured the Formation of<br />

Teachers were created. It seemed important to capture and analyze the <strong>do</strong>cuments generated by UNESCO<br />

content that pointed to government policies that integrate in their speeches, elements for Teacher Education<br />

Developing conscience and unveiling the real basis, the propositions of the Formation of Teachers in<br />

1 Mestranda <strong>do</strong> Programa de Pós-Graduação em Educação da <strong>Universidade</strong> Estadual de Maringá – PPE/UEM. Pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong><br />

Grupo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa em Políticas e Gestão Educacional – GEPPGE/CNPq. Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de<br />

Pessoal de Nível Superior – CAPES. <strong>Universidade</strong> Estadual de Maringá (UEM). E-MAIL: ketty1985@gmail.com. Rua Tietê, nº 375,<br />

Bloco A, Apto 03, CEP 87020-210. Maringá – PR, Brasil.<br />

2 Professora Doutora Associada A <strong>do</strong> Departamento de Teoria e Prática da Educação, da <strong>Universidade</strong> Estadual de Maringá. Pertence<br />

ao Programa de Pós-Graduação em Educação: Mestra<strong>do</strong>. Atua na área de Educação, com ênfase em Políticas Públicas e Gestão<br />

Educacional atuan<strong>do</strong>, principalmente nos seguintes temas: Educação no e <strong>do</strong> Campo, Formação de Professores, Políticas Educacionais<br />

e Esta<strong>do</strong>. Também é pesquisa<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> Grupo de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas em Políticas e Gestão Educacional – GEPPGE/CNPq e <strong>do</strong> Grupo<br />

de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisa em Políticas Públicas e Gestão da Educação na América Latina e Caribe - PGEALC. E-MAIL: irizmss@yahoo.<br />

com.br.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

161


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

and of the Countryside Areas, and realizing the<br />

influences of the organization linked to the UN,<br />

called UNESCO was the challenge that we developed.<br />

Through this perspective, the research<br />

linked to the Project: Searching for a Policy of<br />

Formation of Teachers in Brazil – oriented by<br />

the UNESCO 1990, analyzed the policies of<br />

Formation of Teachers for the Education in and<br />

of the Countryside Areas based on the orientations<br />

of the UNESCO for Brazil, in the decade<br />

of education (1997 - 2007). The relevance of<br />

studying the problem that were revealed in Formation<br />

of Teachers in and of the Countryside<br />

Areas, was a rift between the stated objectives<br />

and practice held. The Education in and of<br />

the Countryside Areas is maidenlike treated,<br />

often presented as “remote location” and also<br />

“places of difficult access”, focusing on policies<br />

for Teacher Education in Brazil.<br />

Keywords: Formation of Teachers; Education<br />

in and of the Countryside Areas; UNESCO.<br />

RESUMEN<br />

Nos pareció significativo captar y analizar, em<br />

los <strong>do</strong>cumentos genera<strong>do</strong>s por la UNESCO<br />

conteni<strong>do</strong>s que apuntarón para políticas de<br />

gobierno que introducirón en sus discursos, elementos<br />

para la Capacitación de Educa<strong>do</strong>res.<br />

En ese senti<strong>do</strong>, incautar las influencias de la<br />

organización vinculada a la ONU, denominada<br />

UNESCO, sobre lãs propuestas de Capacitación<br />

de Educa<strong>do</strong>res en el y Del Campo<br />

fue nuestro desafío. En esa oportunidad, la<br />

investigación al Proyecto: En Búsqueda de<br />

Uma Política de Capacitación de Educa<strong>do</strong>res<br />

em Brasil – orientaciones de la UNESCO<br />

1990, examino las políticas de Capacitación<br />

de Educa<strong>do</strong>res para la Educación en el y del<br />

Campo contenidas em las orientaciones de<br />

la UNESCO para Brasil, en lo decenio de la<br />

educación (1997-2007). La pertinencia del<br />

estúdio de la cuestionable desvelo que, em<br />

la Capacitación de Educa<strong>do</strong>res para la Educación<br />

en el y del Campo, tenen la suspensión<br />

entre los objectivos declara<strong>do</strong>s y la práctica<br />

consumada. La educación en el y del campo<br />

es tímidamente tratada, muchas veces presentada<br />

como “rural” o “de zonas más alejadas”<br />

y aún “lugares de difícil acceso”, incidin<strong>do</strong> en<br />

las políticas de Capacitación de Educa<strong>do</strong>res<br />

en Brasil.<br />

Palabras-clave: Formación del personal <strong>do</strong>cente;<br />

Educación en el campo; La UNESCO.<br />

Introdução<br />

A pesquisa sobre Formação de Professores<br />

para a Educação no e <strong>do</strong> Campo é<br />

complexa e propõe questões para reflexões e<br />

implicações nos <strong>do</strong>cumentos oficiais. Deriva de<br />

políticas educacionais que, a cada momento,<br />

vão conduzin<strong>do</strong> a educação e a formação de<br />

professores como desafios a se enfrentar. A tentativa<br />

de apreender em que medida as políticas<br />

e os projetos da Organização das Nações Unidas<br />

para a Educação, Ciência e Cultura – UNESCO<br />

– podem influenciar a Educação brasileira nos<br />

levou à proposta de examinar <strong>do</strong>cumentos desta<br />

agência na década da Educação (1997-2007).<br />

As Organizações das Nações Unidas – ONU – e<br />

a UNESCO, em destaque, têm revela<strong>do</strong> questões<br />

no mínimo controvertidas, pois as Políticas Públicas<br />

para a Educação, que são vinculadas ao meio<br />

acadêmico, levam-nos a observar que os traços<br />

que marcam a Educação estão estreitamente<br />

vincula<strong>do</strong>s ao espaço urbano. Desse mo<strong>do</strong>,<br />

a Educação <strong>do</strong> Campo tem que “se adaptar”<br />

muitas vezes para atender às reais necessidades<br />

<strong>do</strong>s indivíduos campesinos. Entendemos que<br />

a Educação no e <strong>do</strong> Campo se fazem “para” e<br />

“com” esses indivíduos 3 , envolven<strong>do</strong> a cultura, a<br />

Educação, os meios de produção, enfim, todas as<br />

suas especificidades, buscan<strong>do</strong> a construção de<br />

um homem capaz de questionar e refletir sobre<br />

sua condição humana.<br />

Por toda a década de 1980, inevitavelmente<br />

nos anos de 1990, deparamo-nos com a<br />

depreciação, pelos agentes nacionais e internacionais,<br />

de tu<strong>do</strong> aquilo que fosse público. Ligada<br />

ao esquema de privatização e às leis de merca<strong>do</strong>,<br />

aos “olhos <strong>do</strong>s outros”, vai se estabelecen<strong>do</strong><br />

uma ação sanea<strong>do</strong>ra, via desmobilização, entre<br />

o público e o priva<strong>do</strong>. Qualifica-se, por meio de<br />

órgãos internacionais e agências multilaterais<br />

(UNESCO, Fun<strong>do</strong> Monetário Internacional –<br />

3 Que englobam: assalaria<strong>do</strong>s temporários, posseiros, meeiros,<br />

arrendatários, trabalha<strong>do</strong>res rurais, acampa<strong>do</strong>s, assenta<strong>do</strong>s,<br />

atingi<strong>do</strong>s por barragens, povos da floresta, indígenas, ilhéus,<br />

quilombolas, pesca<strong>do</strong>res e ribeirinhos.<br />

162<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

FMI, Banco Internacional de Reconstrução e<br />

Desenvolvimento – BIRD, Banco Interamericano<br />

– BID), o ensino de boa qualidade, o priva<strong>do</strong>.<br />

Paulatinamente, a Educação Pública, com seus<br />

atores de frente, os professores, vão forçosamente<br />

se conforman<strong>do</strong> com as leis da livre concorrência,<br />

desvian<strong>do</strong> as energias <strong>do</strong> coletivo e da<br />

interação, assumin<strong>do</strong> algumas responsabilidades<br />

e exigências que estão acima <strong>do</strong> “ser professor”.<br />

A formação de professores está ligada<br />

às reformas sociais mais amplas, nas quais os<br />

professores, muitas vezes, são ti<strong>do</strong>s como “incompetentes”<br />

e não são incluí<strong>do</strong>s nas definições<br />

das reformas educacionais necessárias. A maioria<br />

das propostas educacionais limita-se ao espaço<br />

mínimo de “reciclagem”, em que a prática <strong>do</strong><br />

professor é dispensada. Teorizam-se, na maioria<br />

das vezes, os modismos e as recomendações <strong>do</strong>s<br />

especialistas.<br />

A Formação de Professores para a<br />

Educação no e <strong>do</strong> Campo constitui espaço ainda<br />

pouco pesquisa<strong>do</strong>, necessitan<strong>do</strong> de aprofundamento,<br />

no meio acadêmico, nos cursos de Licenciatura.<br />

Tais questões refletem a relevância desta<br />

pesquisa, proposta no âmbito da UNESCO e sua<br />

relação com a Educação no Brasil. Destacamos<br />

como principais metas: identificar e analisar, nos<br />

<strong>do</strong>cumentos da UNESCO, a partir <strong>do</strong> início da<br />

Década da Educação (1997 a 2007), quais são<br />

as recomendações para o Brasil no que tange<br />

à Formação de Professores para a Educação<br />

no e <strong>do</strong> Campo. A pesquisa foi <strong>do</strong>cumental em<br />

fontes primárias, que são acessíveis e disponibilizadas<br />

via relatórios da UNESCO, publica<strong>do</strong>s no<br />

Brasil, tornan<strong>do</strong>-se material importante para a<br />

apreensão das orientações das agendas políticas<br />

<strong>do</strong>s governos locais. Utilizamo-nos, ainda, de<br />

bibliografias e autores que discutiram a temática<br />

proposta. Foi fundamental o referencial teórico<br />

meto<strong>do</strong>lógico de cunho histórico-crítico que<br />

orientou a leitura <strong>do</strong> diálogo entre as fontes.<br />

Esses <strong>do</strong>cumentos e agências internacionais<br />

influenciaram e influenciam as políticas<br />

públicas brasileiras e mundiais, organizaram as<br />

formas de elaboração de projetos educacionais,<br />

cobran<strong>do</strong> e ordenan<strong>do</strong> meios de avaliação e de<br />

divulgação desses resulta<strong>do</strong>s para que os países<br />

pudessem melhorar a qualidade <strong>do</strong> ensino e da<br />

Educação, baixan<strong>do</strong> os níveis de analfabetismo,<br />

evasão escolar e repetência e conceden<strong>do</strong> melhoria<br />

à situação <strong>do</strong>cente.<br />

Podemos destacar da pesquisa os seguintes<br />

<strong>do</strong>cumentos:<br />

• Conferência Mundial de Educação para<br />

To<strong>do</strong>s – “Declaração de Jomtien” (1990) – que<br />

apontou a taxa de analfabetismo e destacou os<br />

nove países com índice mais alto dessa taxa,<br />

dentre eles, o Brasil, que fez algumas tentativas<br />

de elaboração de políticas para a necessidade<br />

da Educação Básica – NEBAS 4 ;<br />

• Comissão Internacional sobre Educação para<br />

o Século XXI (1993-1996). Como resulta<strong>do</strong> dessa<br />

Comissão, temos o <strong>do</strong>cumento: Um Tesouro<br />

a Descobrir – “Relatório Delors” (1996), que<br />

enfatiza as dimensões que a Educação deveria<br />

atingir, no século XXI, para amenizar problemas<br />

de pobreza, desemprego e a exclusão social,<br />

dan<strong>do</strong> grande ênfase ao “papel <strong>do</strong> professor”.<br />

Desenvolvimento<br />

A Organização das Nações Unidas para<br />

a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO),<br />

fundada em meio a resquícios da II Guerra<br />

Mundial, em 16 de novembro de 1945, apreende<br />

como principal meta a construção da paz<br />

na mente <strong>do</strong>s homens e atua em diversas áreas<br />

como Educação, Ciências Naturais, Ciências<br />

Humanas e Sociais, Cultura, Comunicação e<br />

Informação.<br />

4 Plano de Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de<br />

Aprendizagem (NEBAS), foi aprova<strong>do</strong> pela Conferência Mundial<br />

sobre Educação para To<strong>do</strong>s. Jomtien, Tailância, 5 a 9 de março<br />

de 1990.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

No Brasil, a UNESCO (Organização<br />

das Nações Unidas da Educação, Ciência e<br />

Cultura) representou-se com sua sede apenas<br />

em 1966, em determina<strong>do</strong> momento em que a<br />

Organização deixava de agir sozinha e passava<br />

a atuar em conjunto com as demais agências<br />

que já atuavam no Brasil desde 1964. Vejamos<br />

o que estava ocorren<strong>do</strong> no Brasil nesse perío<strong>do</strong><br />

com relação à Educação <strong>do</strong> Campo:<br />

164<br />

Na década de 60, a fim de atender aos<br />

interesses da elite brasileira, então preocupada<br />

com o crescimento <strong>do</strong> número<br />

de favela<strong>do</strong>s nas periferias <strong>do</strong>s grandes<br />

centros urbanos, a educação rural foi<br />

a<strong>do</strong>tada pelo Esta<strong>do</strong> como estratégia de<br />

contenção <strong>do</strong> fluxo migratório <strong>do</strong> campo<br />

para a cidade. A Lei de Diretrizes e Bases<br />

da Educação Nacional de 1961, em seu<br />

art. 105, estabeleceu que “os poderes<br />

públicos instituirão e ampararão serviços<br />

e entidades que mantenham na zona<br />

rural escolas capazes de favorecer a adaptação<br />

<strong>do</strong> homem ao meio e o estímulo<br />

de vocações profissionais” (BRASIL,<br />

2007, p.11).<br />

O que queremos dizer é que as atividades<br />

capitalistas, avançan<strong>do</strong> nos territórios<br />

nacionais, fizeram com que o Esta<strong>do</strong> assumisse a<br />

educação rural, bem como escolas agrícolas cujo<br />

conteú<strong>do</strong> tratava de ações práticas de plantio e colheita.<br />

Assinalamos ainda que a educação teria a<br />

tarefa de realizar uma mudança no campo, tiran<strong>do</strong><br />

o homem <strong>do</strong> atraso e da ignorância, impedin<strong>do</strong>,<br />

assim, a migração dessa população para a cidade.<br />

A partir de 1966, a UNESCO tem apresenta<strong>do</strong><br />

diversos programas de melhoria em suas<br />

áreas de abrangência, mas estes geralmente não<br />

são específicos para um determina<strong>do</strong> país. Deste<br />

mo<strong>do</strong>, tais programas têm que ser adapta<strong>do</strong>s ao<br />

contexto vivi<strong>do</strong> na sociedade brasileira ou nos<br />

países em que forem implanta<strong>do</strong>s. Para que o<br />

Brasil possa avançar, deve superar o analfabetismo,<br />

a miséria, a falta de emprego, entre outros.<br />

Essas metas devem ser alcançadas por meio de<br />

estratégias que possam minimizar qualquer dificuldade<br />

encontrada para a realização <strong>do</strong>s projetos<br />

a serem implementa<strong>do</strong>s nos próximos anos. Os<br />

<strong>do</strong>cumentos dessa agência multilateral – UNES-<br />

CO, que trazem diagnósticos atuais sobre países<br />

em desenvolvimento como o Brasil, são temáticas<br />

importantes que pretendem obter respostas positivas<br />

aos encargos deste país.<br />

Para tanto, a UNESCO amplia seu<br />

campo de atuação, sen<strong>do</strong> capaz de mobilizar<br />

representantes de to<strong>do</strong>s os continentes para cumprir<br />

suas competências. E no Brasil não é muito<br />

diferente, há sedes e agências que se prontificam<br />

em atender a to<strong>do</strong>s os países da América Latina,<br />

porém, muitos projetos não se adequam às necessidades<br />

<strong>do</strong> País, pois muitos contam com a ajuda<br />

<strong>do</strong> Governo, que, em muitos casos, dá prioridade<br />

a outros setores.<br />

Na apresentação <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento Dos<br />

Valores Proclama<strong>do</strong>s aos Valores Vivi<strong>do</strong>s (2001,<br />

p.7), analisamos e parafraseamos as normas<br />

e orientações da UNESCO sobre a educação.<br />

Podemos ler que a UNESCO tem a função de<br />

estimular a eficiência <strong>do</strong>s países e seus governos<br />

para que os projetos propostos sejam cumpri<strong>do</strong>s.<br />

Em vista disso, ela também é responsável por<br />

oferecer caminhos que auxiliam na experiência<br />

nacional com a educação. A UNESCO tem<br />

função intermediária frente aos diversos grupos<br />

existentes no país, especificamente para aqueles<br />

que são excluí<strong>do</strong>s da sociedade civil. A UNESCO<br />

têm a função de estimular a eficiência <strong>do</strong>s países<br />

e seus governos e para que os projetos propostos<br />

sejam cumpri<strong>do</strong>s à vista disso, ela também é<br />

responsável por oferecer caminhos que auxiliam<br />

na experiência nacional. Então, a UNESCO tem<br />

a função intermediária frente aos diversos grupos<br />

existentes no país, especificamente àqueles que<br />

são excluí<strong>do</strong>s da sociedade civil.<br />

Erradicar o analfabetismo é uma perspectiva<br />

ainda em foco no Brasil, sen<strong>do</strong> preciso<br />

combater as desigualdades na educação, as<br />

metas estabelecidas por essa agência internacional<br />

aparentemente é uma das opções para tais<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

problemas, porém, executar nem sempre é tão<br />

fácil, ainda existem grupos específicos na sociedade<br />

brasileira como: a população campesina, a<br />

população indígena, quilombolas, entre outros,<br />

que são totalmente esqueci<strong>do</strong>s no momento de<br />

se instruir políticas públicas que deveriam ser<br />

coordenadas pelo governo mas que acabam nas<br />

mãos da iniciativa privada e de ONGs. Vejamos<br />

os da<strong>do</strong>s abaixo (INEP/MEC, 2007, p.15):<br />

[...] Segun<strong>do</strong> da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> PNDA 2004,<br />

29,8% da população adulta (de 15 anos<br />

ou mais) da zona rural é analfabeta,<br />

enquanto na zona urbana essa taxa é<br />

de 8,7%. É importante ressaltar que a<br />

taxa de analfabetismo aqui considerada<br />

não inclui os analfabetos funcionais, ou,<br />

seja, aquela população com menos que<br />

as quatro séries <strong>do</strong> ensino fundamental.<br />

De acor<strong>do</strong> com o Ministério da Educação<br />

e Cultura – MEC, o Brasil, no ano de 2004,<br />

alcançou metas bastante significativas com relação<br />

à educação de povos indígenas, no entanto, ainda<br />

se faz necessário o oferecimento de uma educação<br />

mais condizente às suas reais necessidades<br />

e prioridades e isso só será possível com vasto<br />

investimento na formação inicial e continuada<br />

de professores.<br />

No ano de 2000, início <strong>do</strong> século XXI,<br />

a ONU estabeleceu a Declaração <strong>do</strong> Milênio das<br />

Nações Unidas, como resulta<strong>do</strong> da Cúpula <strong>do</strong><br />

Milênio, e definiu uma lista <strong>do</strong>s principais componentes<br />

da agenda global <strong>do</strong> Século XXI: 1.<br />

Erradicar a extrema pobreza e a fome; 2. Atingir o<br />

ensino básico universal; 3. Promover a igualdade<br />

entre os sexos e a autonomia das mulheres; 4. Reduzir<br />

a mortalidade infantil; 5. Melhorar a saúde<br />

materna; 6. Combater o HIV/AIDS, a malária e<br />

outras <strong>do</strong>enças; 7. Garantir a sustentabilidade<br />

ambiental; e 8. Estabelecer uma parceria mundial<br />

para o desenvolvimento. A UNESCO está envolvida<br />

em seis <strong>do</strong>s oito objetivos.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

Essa agência, vinculada à ONU (Organização<br />

das Nações Unidas),exerce com precisão e regularidade<br />

o papel de edifica<strong>do</strong>ra de ideais, firman<strong>do</strong><br />

acor<strong>do</strong> entre países com a intenção de disseminar e<br />

compartilhar informações e conhecimentos, visan<strong>do</strong><br />

ao trabalho em comum nas áreas da educação,<br />

ciência e cultura. O acervo <strong>do</strong>s princípios e normas<br />

e orientações sobre a educação tem se constituí<strong>do</strong><br />

em constante desafio às mudanças da realidade, não<br />

bastan<strong>do</strong> apenas construir salas de aulas, em países<br />

subdesenvolvi<strong>do</strong>s, ou até mesmo divulgar pesquisas<br />

cientificas, seu maior intento é estabelecer quatro<br />

critérios: educação, ciência sociais e naturais, cultura<br />

e comunicação, que poderão atingir um único alvo<br />

que é a edificação da paz entre os homens. Para<br />

alguns pesquisa<strong>do</strong>res, tais princípios não deixam<br />

de ser, muitas vezes, apenas “bonitas palavras”<br />

acumuladas sobre papéis desde o pós-guerra; têm<br />

a inegável força moral que, mesmo em situações<br />

de despotismo, desnudam a tensão entre o ser e o<br />

dever ser ou querer ser menos. Vamos tratar a seguir<br />

<strong>do</strong> nosso percurso na apreensão <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />

gera<strong>do</strong>s na Conferência e Relatório propostos para<br />

educação pela UNESCO.<br />

Conferência Mundial De Educação Para<br />

To<strong>do</strong>s – Declaração de Jomtien<br />

A Conferência Mundial de Educação<br />

para To<strong>do</strong>s foi realizada em Jomtien, na Tailândia,<br />

no perío<strong>do</strong> de 5 a 9 de março de 1990 e teve<br />

como órgãos financia<strong>do</strong>res: a UNESCO; o Fun<strong>do</strong><br />

das Nações Unidas para a Infância – UNICEF; o<br />

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento<br />

– PNUD; e o Banco Mundial – BM. O<br />

principal compromisso foi impulsionar políticas<br />

educacionais que objetivassem (e objetivem)<br />

reduzir as taxas de analfabetismo e fortalecer a<br />

Educação Básica 5 . Outro aspecto que se deve<br />

5 A educação básica refere-se à educação que objetiva satisfazer<br />

as necessidades básicas de aprendizagem; inclui a instrução<br />

primária ou fundamental, em que a aprendizagem subsequente<br />

deve ser baseada; compreende a educação infantil e primária (ou<br />

165


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

observar é o início da transferência de responsabilidade,<br />

por parte <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e das autoridades,<br />

para a comunidade, organismos governamentais<br />

e não governamentais (ONGs) e grupos religiosos.<br />

A Declaração de Jomtien relata, em<br />

seu Documento, que “toda pessoa tem direito à<br />

Educação”, passan<strong>do</strong> a ser conhecida como a<br />

Declaração Mundial de Educação para To<strong>do</strong>s.<br />

Sua grande precursora, a UNESCO, propôs tal<br />

Documento cujo principal objetivo é “Satisfazer<br />

as Necessidades Básicas de Aprendizagem” de<br />

todas as crianças, jovens e adultos. O esforço de<br />

longo prazo para a consecução desse objetivo<br />

pode ser sustenta<strong>do</strong> de forma mais eficaz, uma<br />

vez estabeleci<strong>do</strong> e medi<strong>do</strong>s os objetivos intermediários<br />

através <strong>do</strong>s progressos realiza<strong>do</strong>s.<br />

Os países que participam desse acor<strong>do</strong><br />

são estimula<strong>do</strong>s a preparar gradualmente Planos<br />

Decenais, mostran<strong>do</strong> quais são as diretrizes e<br />

metas <strong>do</strong> Plano de Ação da Conferência que podem<br />

ser observadas atentamente. Diante de tais<br />

propostas, no Brasil, o Ministério da Educação e<br />

Cultura divulgou o Plano Decenal de Educação<br />

para To<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> de 1993 a 2003, seguin<strong>do</strong><br />

o propósito da Conferência Mundial de Educação<br />

para To<strong>do</strong>s e suas resoluções.<br />

O Plano de Ação conclama a sociedade<br />

a promover a Educação para To<strong>do</strong>s, mobilizan<strong>do</strong><br />

os recursos financeiros, humanos, públicos,<br />

priva<strong>do</strong>s ou voluntários.<br />

To<strong>do</strong>s os membros da sociedade têm<br />

uma contribuição a dar, lembran<strong>do</strong><br />

sempre que o tempo, a energia e os<br />

recursos dirigi<strong>do</strong>s à educação básica<br />

constituem, certamente, o investimento<br />

mais importante que se pode fazer no<br />

elementar), bem como a alfabetização, cultura geral e habilidades<br />

essenciais na capacitação de jovens e adultos; em alguns lugares<br />

inclui também o ensino médio. As necessidades básicas de aprendizagem,<br />

segun<strong>do</strong> a mesma fonte, referem-se “ao conhecimento,<br />

habilidades, atitudes e valores necessários para as pessoas sobreviverem,<br />

desenvolverem a qualidade de suas vidas e continuarem<br />

aprenden<strong>do</strong>”. (Disponível em: .<br />

Acesso em: 20 fev. 2009.<br />

povo e no futuro de um país. (Artigo 9,<br />

UNESCO, 1990).<br />

Este Documento aponta, ainda, para<br />

a urgente necessidade de melhoria da situação<br />

<strong>do</strong>cente. Podemos observar no Plano de Ação<br />

(UNESCO, 1990), no item 33, que:<br />

O proeminente papel <strong>do</strong> professor e demais<br />

profissionais da educação no provimento<br />

de educação básica de qualidade<br />

deverá ser reconheci<strong>do</strong> e desenvolvi<strong>do</strong>,<br />

de forma a otimizar sua contribuição.<br />

Isso irá implicar a a<strong>do</strong>ção de medidas<br />

para garantir o respeito aos seus direitos<br />

sindicais e liberdade profissional, e<br />

melhorar suas condições e status de<br />

trabalho, principalmente em relação a<br />

sua contramão, formação inicial, capacitação<br />

em serviço, remuneração e<br />

possibilidades de desenvolvimento na<br />

carreira <strong>do</strong>cente, bem como permitir<br />

ao pessoal <strong>do</strong>cente a plena satisfação<br />

de suas aspirações e o cumprimento<br />

satisfatório de suas obrigações sociais e<br />

responsabilidades éticas.<br />

Cabe lembrar que, desde que se realizou<br />

a Conferência Mundial de Educação para<br />

To<strong>do</strong>s (1990), muitos países assumiram o compromisso<br />

de garantir ao menos uma Educação<br />

Básica e com qualidade para crianças, jovens e<br />

adultos, pois a realidade <strong>do</strong>s países participantes<br />

demonstrava que:<br />

Mais de 100 milhões de crianças das<br />

quais pelo menos 60 milhões são<br />

meninas não têm acesso ao ensino<br />

primário. Mais de 960 milhões de adultos<br />

– <strong>do</strong>is terços <strong>do</strong>s quais mulheres<br />

- são analfabetos, e o analfabetismo<br />

funcional é um problema significativo<br />

em to<strong>do</strong>s os países industrializa<strong>do</strong>s ou<br />

em desenvolvimento; mais de um terço<br />

<strong>do</strong>s adultos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> não tem acesso<br />

ao conhecimento impresso, às novas<br />

habilidades e tecnologias, que poderiam<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

melhorar a qualidade de vida e ajudá-los<br />

a perceber e a adaptar-se às mudanças<br />

sociais e culturais. E mais de 100 milhões<br />

de crianças e incontáveis adultos<br />

não conseguem concluir o ciclo básico,<br />

e outros milhões, apesar de concluí-lo,<br />

não conseguem adquirir conhecimentos<br />

e habilidades essenciais 6 .<br />

Um <strong>do</strong>s primordiais <strong>do</strong>cumentos mundiais<br />

sobre Educação é a Declaração de Jomtien,<br />

pois ela caminha com os Direitos da Criança<br />

(1988) e com a Declaração de Salamanca<br />

(1994). Portanto, há asserção explícita que cada<br />

pessoa – criança, jovem e adulto – deve estar<br />

em condições de aproveitar as oportunidades<br />

educativas, voltadas para satisfazer tanto suas<br />

necessidades básicas de aprendizagem (como<br />

leitura e a escrita, a expressão oral, o cálculo,<br />

a solução de problemas), quanto os conteú<strong>do</strong>s<br />

básicos de aprendizagem (como conhecimentos,<br />

habilidades, valores e atitudes), necessários<br />

para que os seres humanos possam sobreviver,<br />

desenvolver-se plenamente, melhorar a qualidade<br />

de vida, tomar decisões fundamentadas,<br />

continuan<strong>do</strong> a aprender.<br />

No Brasil, de acor<strong>do</strong> com Shiroma,<br />

Moraes e Evangelista (2004), empresários e<br />

renoma<strong>do</strong>s educa<strong>do</strong>res atuaram como arautos<br />

das reformas educacionais no final <strong>do</strong> século XX.<br />

Como resulta<strong>do</strong> da Conferência Mundial sobre<br />

Educação para To<strong>do</strong>s (Jomtien, 1990), foi formulada<br />

a Declaração Mundial sobre Educação<br />

para To<strong>do</strong>s: Satisfação das Necessidades Básicas<br />

de Aprendizagem (NEBA’s). Aprova<strong>do</strong>, o Plano<br />

de Ação para atender a essas Necessidades Básicas<br />

de Aprendizagem seria de responsabilidade<br />

de ‘To<strong>do</strong>s’. Sedutoras preocupações políticas que<br />

sensibilizaram muitos políticos e educa<strong>do</strong>res bem<br />

intenciona<strong>do</strong>s, mas também abriram brechas<br />

para ações oportunistas (SILVA JÚNIOR, 2002).<br />

A tarefa <strong>do</strong>s países signatários seria<br />

ajustar o Plano de Ação para satisfazer as ne-<br />

6 Disponível em: . Acesso em: 17 jul. 2008.<br />

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cessidades básicas de aprendizagem, enfatizadas<br />

na Declaração Mundial sobre Educação para<br />

To<strong>do</strong>s (1990). No artigo 3, item 4, “Universalizar<br />

o acesso à Educação e Promover a Equidade”,<br />

podemos observar:<br />

Um compromisso efetivo para superar<br />

as disparidades educacionais deve ser<br />

assumi<strong>do</strong>. Os grupos excluí<strong>do</strong>s – os<br />

pobres, os meninos e meninas de rua<br />

ou trabalha<strong>do</strong>res; as populações das<br />

periferias urbanas e zonas rurais;<br />

os nômades e os trabalha<strong>do</strong>res migrantes;<br />

os povos indígenas; as minorias<br />

étnicas, as raciais e lingüísticas;<br />

os refugia<strong>do</strong>s, os desloca<strong>do</strong>s<br />

pela guerra; e os povos submeti<strong>do</strong>s a<br />

um regime de ocupação – não devem<br />

sofrer qualquer tipo de discriminação no<br />

acesso às oportunidades educacionais<br />

(grifo nosso).<br />

Este item focaliza os desvali<strong>do</strong>s sociais,<br />

não pon<strong>do</strong> em pauta as condições e razões da<br />

realidade desses sujeitos. Não declara suas condições<br />

nem os meios para ajudá-los a perceber<br />

e adaptar-se às mudanças sociais e culturais em<br />

trânsito em to<strong>do</strong> o país.<br />

A enunciação dessa Conferência<br />

Mundial de Educação para To<strong>do</strong>s proporciona<br />

algumas definições e novos conceitos sobre a<br />

satisfação das necessidades básicas de aprendizagem,<br />

tentan<strong>do</strong> instituir compromissos a serem<br />

firma<strong>do</strong>s mundialmente, pretenden<strong>do</strong> garantir<br />

ao menos conhecimentos básicos e necessários<br />

para uma vida digna das populações viventes<br />

neste Planeta, almejan<strong>do</strong>, assim, uma sociedade<br />

mais humana e mais justa.<br />

A Carta de Jomtien não destaca apenas<br />

a Educação Básica escolar, mas sim as necessidades<br />

básicas de aprendizagem (NEBA’s), referin<strong>do</strong>-se<br />

àqueles conhecimentos teóricos e práticos,<br />

a capacidades e valores. Surge, em meio a essas<br />

mudanças, a expressão ‘Para To<strong>do</strong>s’ que, no<br />

Documento cita<strong>do</strong>, coloca a universalização da<br />

167


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

Educação Básica. Aqui no Brasil, compreendeu-<br />

-se tal termo desde a Educação Básica ao Ensino<br />

Médio, algo que a Conferência não pretendia.<br />

A educação brasileira tem uma <strong>do</strong>utrina que<br />

admite a coexistência de <strong>do</strong>is princípios: atender<br />

às necessidades das camadas mais empobrecidas<br />

e conferir urgência à necessidade de mudanças<br />

educacionais, atitudes indispensáveis para que<br />

o sujeito enfrente suas necessidades básicas,<br />

conforme Shiroma, Moraes e Evangelista (2004,<br />

p. 58):<br />

1) sobrevivência; 2) desenvolvimento<br />

pleno de suas capacidades; 3) uma<br />

vida e um trabalho dignos; 4) uma<br />

participação plena no desenvolvimento;<br />

5) a melhoria na qualidade de vida; 6)<br />

a tomada de decisões informadas; 7)<br />

possibilidade de continuar aprenden<strong>do</strong>.<br />

Faz-se necessário, ainda, dar um novo<br />

senti<strong>do</strong> ao papel <strong>do</strong> professor, consideran<strong>do</strong><br />

fatores que, pelo Esta<strong>do</strong>, são deixa<strong>do</strong>s de la<strong>do</strong>,<br />

como a formação inicial até a continuada, pois<br />

não se considera que o professor tenha suas reais<br />

necessidades básicas de aprendizagem. Guiomar<br />

Namo de Mello (2003, p. 2-4) diz a respeito:<br />

Como essas necessidades básicas de<br />

aprendizagem se expressariam no contexto<br />

da formação e exercício profissional<br />

<strong>do</strong> professor<br />

1. Aprender a conhecer: saber os conteú<strong>do</strong>s<br />

a serem ensina<strong>do</strong>s e os conteú<strong>do</strong>s<br />

que fundamentam o ensino;<br />

2. aprender a fazer: saber gerenciar<br />

o ensino e a aprendizagem em sala de<br />

aula;<br />

3. aprender a conviver: saber estabelecer<br />

relações de autonomia e respeito<br />

com o meio social, institucional e profissional<br />

em que vive e com os alunos;<br />

4. aprender a ser professor: construir<br />

a própria identidade.<br />

Cabe lembrar, com alguns estudiosos<br />

como Shiroma, Moraes e Evangelista (2004) e<br />

Arelaro (2000), que a Conferência Mundial de<br />

Educação para To<strong>do</strong>s foi uma mobiliza<strong>do</strong>ra de<br />

ações e marco na esfera da convocação e definição<br />

das políticas da UNESCO nos anos que se<br />

seguiram. Ela apontou agendas e princípios fundamentais<br />

nos quais as políticas nacionais para<br />

a educação e formação de educa<strong>do</strong>res foram<br />

fundamentais. Como agência especializada em<br />

Educação, desde a sua criação tem trabalha<strong>do</strong><br />

para o aprimoramento da Educação mundial,<br />

ten<strong>do</strong>, como principal diretriz, a partir <strong>do</strong>s anos<br />

1990, a Educação para To<strong>do</strong>s.<br />

Todavia, nesse movimento, as camadas<br />

populares aprendem a desconfiar da retórica<br />

oficial da Educação para To<strong>do</strong>s, das propostas<br />

de democratização da educação escolar, identifican<strong>do</strong><br />

contradições nos discursos competentes.<br />

Após dez anos <strong>do</strong> compromisso firma<strong>do</strong> em<br />

Jomtien, houve uma avaliação em Dacar, Senegal,<br />

retoman<strong>do</strong>, assim, conteú<strong>do</strong>s discuti<strong>do</strong>s<br />

(EVANGELISTA, 2003):<br />

Esta assumiu, entre outros, os desafios<br />

no senti<strong>do</strong> de melhorar a cobertura da<br />

educação inicial; de assegurar educação<br />

de qualidade, enfatizan<strong>do</strong> os grupos<br />

vulneráveis; de dar maior prioridade à<br />

alfabetização e à educação de jovens e<br />

adultos, incorporan<strong>do</strong>-as aos sistemas<br />

educacionais nacionais; e de formular<br />

políticas educacionais inclusivas. Entre<br />

os compromissos firma<strong>do</strong>s, estão os<br />

de priorizar políticas e estratégias que<br />

tendam a diminuir a repetência e a<br />

deserção; atribuir lugar central à escola<br />

para que seja acolhe<strong>do</strong>ra para as crianças<br />

em seu ambiente físico e social, favorecen<strong>do</strong>,<br />

inclusive, o exercício precoce<br />

da cidadania e a vida em democracia,<br />

com experiências de participação nas<br />

decisões da vida escolar na aprendizagem;<br />

desenvolver estratégias para<br />

a focalização na destinação <strong>do</strong> gasto<br />

para diminuir a iniqüidade e favorecer<br />

a população em situação de vulnerabilidade;<br />

e definir estruturas administrativas<br />

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Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

que tenham a escola como uma unidade<br />

básica e tendam à sua autonomia. Em<br />

outros termos, além <strong>do</strong>s compromissos<br />

financeiros e da gestão, refletin<strong>do</strong> a situação<br />

<strong>do</strong> continente latino – americano,<br />

foram enfatiza<strong>do</strong>s a atenção à educação<br />

infantil e o acesso e o sucesso no ensino<br />

fundamental (GOMES, 2001, p. 25).<br />

Embora a citação acima seja extensa,<br />

é imprescindível para o entendimento <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong><br />

da proposta e <strong>do</strong> acor<strong>do</strong> entre o governo<br />

brasileiro, signatário de tal compromisso, e a<br />

agência da UNESCO.<br />

Educação, Um Tesouro A Descobrir –<br />

Relatório Para A UNESCO Da Comissão<br />

Internacional Sobre Educação Para<br />

O Século XXI (1993-1996) – Relatório<br />

Delors (1996)<br />

A UNESCO convocou especialistas<br />

<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> to<strong>do</strong> para compor a Comissão Internacional<br />

sobre a Educação no século XXI<br />

que, entre os anos 1993 e 1996, sob árduos<br />

estu<strong>do</strong>s e discussões e presidência <strong>do</strong> francês<br />

Jacques Delors, objetivou responder à seguinte<br />

pergunta: “que tipo de educação se necessita<br />

no futuro e para que tipo de sociedade”. Visto<br />

que a UNESCO tem vasta publicação 7 no que<br />

se refere à Educação, o Relatório veio solidificar<br />

no campo educacional as ideias <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos<br />

e relatórios anteriores e, concomitantemente,<br />

“reafirmar as ações individuais como parte para<br />

a resolução <strong>do</strong>s problemas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” (RIZO,<br />

2005, p. 16).<br />

Este Documento serviu de base para<br />

se rever a política educacional de vários países,<br />

aproximan<strong>do</strong>-se melhor da realidade de alguns<br />

deles. Apontou que mesmo os países mais ricos<br />

apresentavam problemas socioculturais, o que<br />

trouxe desilusão em grande parte da população<br />

mundial. Revelaram da<strong>do</strong>s sobre a miséria,<br />

o desemprego e a exclusão social. Conforme<br />

pudemos observar na leitura <strong>do</strong> Relatório, a<br />

solidariedade, a tolerância e o respeito mútuo<br />

são valores que a Educação deve priorizar para<br />

a coesão social. Cabe lembrar que o Relatório<br />

reforçou a noção de educação permanente, ou<br />

seja, ao longo da vida.<br />

O Relatório propõe quatro tipos de<br />

aprendizagem que, no Brasil, são aponta<strong>do</strong>s<br />

como os quatro pilares da Educação: aprender<br />

a conhecer; aprender a fazer; aprender a ser e<br />

aprender a viver juntos.<br />

[...] Aprendemos o conhecer-nos (e a<br />

respeitarmo-nos mau gra<strong>do</strong> as vigorosas<br />

diferenças de pontos de vista)como<br />

ponto de partida para a aprendizagem<br />

comum de fazer uma proposta de futuro.<br />

Ao mesmo tempo provamos que<br />

podíamos aprender a viver juntos e que<br />

o aprender a ser só tem significa<strong>do</strong> na<br />

relação com o outro diferente e na sua<br />

inesgotável riqueza pessoal (UNESCO,<br />

1996, p.10).<br />

7 Recomendação Concernente à Condição <strong>do</strong> Pessoal Docente<br />

(UNESCO e OIT, 1996) e Declaração da Conferência Internacional<br />

de Educação (1996) – Condição da Pessoa Docente; Declaração<br />

de Salamanca (1994) – Necessidades Educativas Especiais;<br />

Declaração de Hamburgo sobre a educação de Adultos (1997)<br />

– Educação de Adultos; Declaração Mundial sobre a Educação<br />

Superior no Século XXI – Educação Superior; Convenção sobre<br />

Educação Técnica e Vocacional (1989) e Ensino e Formação Técnica<br />

Profissional (1999) – Educação Profissional; Programa de Ação<br />

da Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento<br />

(1994) – Educação em Matéria de População e Desenvolvimento;<br />

A UNESCO e a Sociedade da Informação para To<strong>do</strong>s (1996) –<br />

Educação e Sociedade da Informação; Entre outras publicações<br />

que tratam da Educação Ambiental, a Educação Física e o Desporto<br />

e Educação para o Lazer.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

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MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

Não se pode falar da formação <strong>do</strong><br />

professor, que foi o foco de nossa pesquisa, sem<br />

antes apreender algumas características sobre o<br />

ensino apresenta<strong>do</strong> no Relatório Delors. Só assim<br />

poderíamos compreender por que o Relatório<br />

destaca o professor como o principal agente,<br />

responsável pelas mudanças apontadas pelo<br />

novo ideário de Educação para o século XXI.<br />

Face aos múltiplos desafios <strong>do</strong> futuro,<br />

a educação surge como um trunfo indispensável<br />

à humanidade na sua construção<br />

<strong>do</strong>s ideais de paz, da liberdade<br />

e da justiça social. Ao terminar os seus<br />

trabalhos, a Comissão faz, pois, questão<br />

de afirmar a sua fé no papel essencial da<br />

educação no desenvolvimento contínuo,<br />

tanto das pessoas como das sociedades<br />

[...] (UNESCO, 1996, p. 11).<br />

Porém, as responsabilidades que são<br />

colocadas aos professores vão muito além da<br />

competência e <strong>do</strong> profissionalismo. Estão relacionadas<br />

à sua maneira de ensinar, como ensinar,<br />

o que ensinar, acarretan<strong>do</strong>, em muitos países, a<br />

falta de profissionais capacita<strong>do</strong>s e a superlotação<br />

de salas, pois espera-se <strong>do</strong> professor muito<br />

além de suas responsabilidades de sala de aula.<br />

O trabalho <strong>do</strong> professor não consiste<br />

simplesmente em transmitir informações<br />

ou conhecimentos, mas em apresentálos<br />

sobre a forma de problemas a resolver,<br />

contextualizan<strong>do</strong>-os e perspectivan<strong>do</strong>-os<br />

de tal mo<strong>do</strong> que o aluno possa<br />

estabelecer a ligação entre a sua solução<br />

e as outras interrogações mais abrangentes.<br />

A relação pedagógica visa ao pleno<br />

desenvolvimento da personalidade <strong>do</strong><br />

aluno no respeito pela sua autonomia<br />

e, deste ponto de vista, a autoridade de<br />

que os professores estão revesti<strong>do</strong>s tem<br />

sempre um caráter para<strong>do</strong>xal, uma vez<br />

que não se baseia numa afirmação de<br />

poder, mas no livre reconhecimento da<br />

legitimidade <strong>do</strong> saber (UNESCO, 1996,<br />

p.135).<br />

A Educação é colocada como meio<br />

para a promoção tanto individual como da própria<br />

sociedade. Destaca-se que a promoção da<br />

Educação Básica deve ser o ponto de partida,<br />

“é um indispensável passaporte para a vida,<br />

faz com que os que dela se beneficiam possam<br />

escolher o que pretendem fazer, a educação<br />

básica é essencial se queremos lutar com êxito”<br />

(UNESCO, 1996, p.106). E o professor é o principal<br />

agente responsável pelas mudanças que<br />

devem ocorrer, tanto nos indivíduos como no<br />

seio da sociedade, de acor<strong>do</strong> com o Relatório:<br />

Os professores têm um papel determinante<br />

na formação de atitudes – positivas<br />

ou negativas – perante o estu<strong>do</strong>.<br />

Devem despertar a curiosidade, desenvolver<br />

a autonomia, estimular o rigor intelectual<br />

e criar as condições necessárias<br />

para o sucesso da educação formal e<br />

da educação permanente (UNESCO,<br />

1996, p.131).<br />

Embora se reconheça que os problemas<br />

como a pobreza e violência sejam responsabilidade<br />

da sociedade como um to<strong>do</strong>, e poden<strong>do</strong>-<br />

-se dizer que são problemas crônicos, não só<br />

no Brasil, mas em outras partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e<br />

que as crianças não deixam a porta da escola,<br />

espera-se que<br />

[...] os professores sejam capazes, não<br />

só de enfrentar esses problemas e esclarecer<br />

os alunos sobre um conjunto de<br />

questões sociais, [...] mas também que<br />

obtêm suces so em áreas em que pais,<br />

instituições religiosas e poderes públicos<br />

falharam muitas vezes (UNESCO, 1996,<br />

p.131).<br />

Conforme o Relatório, a qualidade de<br />

formação <strong>do</strong>s professores é indispensável para<br />

a qualidade <strong>do</strong> ensino e, deste mo<strong>do</strong>, apresenta<br />

algumas medidas que devem ser observadas:<br />

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MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

recrutamento; formação inicial; formação contínua;<br />

professores com formação pedagógica;<br />

controle; gestão; participação de agentes exteriores<br />

à escola; melhores condições de trabalho;<br />

meios de ensino.<br />

Salientamos que, com a leitura <strong>do</strong> Relatório<br />

Delors, foi possível observar forte viés de<br />

cunho moralista em relação à formação e atuação<br />

<strong>do</strong>s professores, não só para os que atuam<br />

na zona urbana, mas envolven<strong>do</strong>, também, os<br />

que atuam no campo, objeto de nossa pesquisa.<br />

A leitura <strong>do</strong> Documento nos possibilitou observar<br />

que, ao mesmo tempo em que põe a responsabilidade<br />

no professor, ele não apresenta soluções<br />

para os problemas já existentes, no caso <strong>do</strong> Brasil,<br />

a defasagem salarial e a falta de condições<br />

mínimas de trabalho, observadas principalmente<br />

nos esta<strong>do</strong>s nordestinos, e outros, que acarretam<br />

a má formação <strong>do</strong> professor, resultan<strong>do</strong> na qualidade<br />

da Educação. E ainda:<br />

O Relatório recomenda que o professor<br />

exerça outras profissões além da sua,<br />

a de ser professor. Ainda existe a indicação<br />

de que os professores deveriam<br />

envolver-se com a pesquisa, esta em<br />

perío<strong>do</strong>s de licença. Politicamente existe<br />

a desconfiança e o reconhecimento da<br />

capacidade de organização da categoria.<br />

Aconselha às instituições “dialogarem<br />

com os sindicatos, buscan<strong>do</strong> ultrapassar<br />

as questões salariais e as condições<br />

de trabalho” (SHIROMA; MORAES;<br />

EVANGELISTA, 2004, p.70).<br />

O Relatório adverte, contu<strong>do</strong>, que as<br />

organizações de professores podem contribuir de<br />

forma determinante para instaurar na profissão<br />

um clima de confiança e uma atitude positiva em<br />

face das inovações educativas. Considera que a<br />

concepção e aplicação das reformas deveriam<br />

ser ocasiões de busca de consensos de finalidades<br />

e meios. Nenhuma reforma da Educação<br />

teve êxito contra ou sem os professores.<br />

Algumas Considerações<br />

Os relatórios pesquisa<strong>do</strong>s e os objetivos<br />

por eles determina<strong>do</strong>s, no que diz respeito à<br />

formação de professores para a Educação no e<br />

<strong>do</strong> Campo, são pensa<strong>do</strong>s na esfera mais ampla<br />

da sociedade e procuram apreender a relação<br />

entre o universal e o singular. Constatamos que<br />

a discussão sobre a formação de professores<br />

segue os ditames <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos produzi<strong>do</strong>s<br />

internacionalmente a partir <strong>do</strong>s anos de 1990,<br />

os quais foram foco de nossas investigações.<br />

Tais <strong>do</strong>cumentos pautam o ensino<br />

como o principal responsável pelas mudanças<br />

econômicas e sociais que devem ocorrer ao<br />

longo <strong>do</strong> século XXI e colocam o professor como<br />

agente indispensável para essa promoção.<br />

Há produção intensa e diversificada de<br />

propostas que são veiculadas em nome da Educação,<br />

no que tange à formação de professores<br />

urbanos. No entanto, não podemos considerar<br />

que tratam da educação <strong>do</strong> e no campo, muitas<br />

vezes apresentadas como “rural” ou “de zonas<br />

mais afastadas” e ainda “lugares de difícil acesso”.<br />

A UNESCO exerce com regularidade<br />

o seu papel de edifica<strong>do</strong>ra de ideias, firman<strong>do</strong><br />

acor<strong>do</strong> entre os países com a intenção de disseminar<br />

e compartilhar informações e conhecimentos,<br />

visan<strong>do</strong> ao trabalho em comum nas<br />

áreas da Educação, Ciência e Cultura. O acervo<br />

de princípios e normas e as orientações sobre a<br />

Educação têm constituí<strong>do</strong> desafios às mudanças<br />

da realidade, não bastan<strong>do</strong> apenas construir salas<br />

de aulas, em países subdesenvolvi<strong>do</strong>s, ou até<br />

mesmo divulgar pesquisas científicas, seu maior<br />

intento é estabelecer critérios para se estabelecer<br />

a paz entre os homens.<br />

Em meio à complexa expressão que<br />

é a Educação, os órgãos internacionais têm firma<strong>do</strong><br />

diversos <strong>do</strong>cumentos que focalizam áreas<br />

específicas como a Formação de Professores.<br />

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171


MOURA, K. L.; SILVA, I. M. S. Orientações da Unesco para a Formação de Professores No e Do Campo...<br />

Essas recomendações abrangem timidamente<br />

aqueles educa<strong>do</strong>res que atuam na área campesina.<br />

As políticas educacionais voltam-se, na sua<br />

quase totalidade, para a zona urbana, omitin<strong>do</strong><br />

que os países em desenvolvimento têm outras<br />

necessidades. É preciso compreender o campo<br />

como parte integrante desses acor<strong>do</strong>s e medidas<br />

educacionais a serem toma<strong>do</strong>s nas necessidades<br />

de cada região <strong>do</strong> País.<br />

Os maiores desafios são construir um<br />

elo entre a Educação urbana e a Educação no<br />

e <strong>do</strong> Campo, sem, contu<strong>do</strong> dicotomizar campo<br />

e cidade, e avançar na elaboração de conceitos<br />

que tragam clareza, construin<strong>do</strong>, consolidan<strong>do</strong> e<br />

disseminan<strong>do</strong> novas visões sobre o rural e o urbano,<br />

diante de uma realidade que se constituiu<br />

pela relação entre campo e educação.<br />

Social ) – <strong>Universidade</strong> Estadual <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Rio<br />

de Janeiro, 2005.<br />

SHIROMA, Eneida Oto; MORAES, Maria Célia Marcondes;<br />

EVANGELISTA, Olinda. Política Educacional.<br />

3.ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2004.<br />

SILVA JÚNIOR, João <strong>do</strong>s Reis. Reforma <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e da<br />

Educação no Brasil de FHC. São Paulo: Xamã, 2002.<br />

UNESCO. Educação um tesouro a descobrir. Relatório<br />

para a UNESCO da Comissão Internacional sobre a<br />

Educação para o Século XXI, Jacques Delors. Lisboa:<br />

ASA, 1996.<br />

UNESCO. Legislação, normativas, <strong>do</strong>cumentos e declarações.<br />

Declaração Mundial sobre Educação para<br />

To<strong>do</strong>s (Conferência de Jomtien, 1990). Plano de Ação<br />

de Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem.<br />

Aprovada pela Conferência Mundial sobre Educação<br />

para To<strong>do</strong>s. Jomtien, Tailândia, 5 a 9 de março de 1990.<br />

Texto recebi<strong>do</strong> em 8 de julho de 2009.<br />

Texto aprova<strong>do</strong> em 20 de outubro de 2010.<br />

REFERÊNCIAS<br />

ARELARO, Lisete Regina Gomes. Resistência e submissão:<br />

a reforma educacional na década de 1990. In: KRAW-<br />

CZYCK, Nora; CAMPOS, Maria Malta; Hadad, Sérgio<br />

(Org.). O cenário educacional latino-americano no limiar<br />

<strong>do</strong> século XXI: reformas em debate. Campinas: Autores<br />

Associa<strong>do</strong>s, 2000. p. 95-116.<br />

BRASIL. Educação <strong>do</strong> Campo: diferenças mudan<strong>do</strong><br />

paradigmas. Brasília, DF: Cadernos SECAD 2, INEP/<br />

MEC, 2007.<br />

EVANGELISTA, Olinda. Formação de professores:<br />

perspectivas educacionais e curriculares. Porto: Porto<br />

Editora, 2003.<br />

GOMES, Cândi<strong>do</strong> Alberto. Dos Valores Proclama<strong>do</strong>s aos<br />

Valores Vivi<strong>do</strong>s: traduzin<strong>do</strong> em atos os princípios das<br />

Nações Unidas e da UNESCO para projetos escolares<br />

e políticas educacionais. Brasília, DF: UNESCO, 2001.<br />

Cadernos UNESCO Brasil. Série Educação, 7.<br />

MELLO, Guiomar Namo de. As necessidades básicas de<br />

aprendizagem <strong>do</strong>s professores: um enfoque útil à formulação<br />

de política. 2003. Disponível em: .<br />

Acesso em: 8/4/2009.<br />

RIZO, Gabriela. Aprender a Ser Aprender a Reinventar:<br />

caminhos da UNESCO para a era Global – o Relatório<br />

Delors, o Planejamento Estratégico Situacional e o Processo<br />

Civiliza<strong>do</strong>r. 225f. Tese (Doutora<strong>do</strong> em Psicologia<br />

172<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 161-172, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Resenha


Energia, meio ambiente e comunicação social<br />

Energy, environment and social communication<br />

Energía, medio ambiente y comunicación social<br />

Evanise Rodrigues Gomes 1<br />

MEDINA, Cremilda; MEDINA, Sinval (Orgs.). Energia, meio ambiente e comunicação<br />

social. São Paulo: Mega Brasil, 2009 (Coleção Novo Pacto da Ciência, n. 10).<br />

A produção de energia e seus impactos<br />

no meio ambiente é um <strong>do</strong>s temas mais presentes<br />

na agenda política e econômica <strong>do</strong> mun<strong>do</strong><br />

contemporâneo. Soma-se a essa questão o<br />

papel <strong>do</strong>s meios de comunicação e teremos um<br />

enorme desafio para superar modelos positivistas<br />

que ainda estão cristaliza<strong>do</strong>s nas coberturas<br />

da mídia sobre os temas. Buscar diagnósticos<br />

abrangentes e estratégias integradas para lidar<br />

com essas questões da produção de energia e<br />

de seus impactos no meio ambiente foi a principal<br />

preocupação <strong>do</strong> I Fórum Internacional de<br />

Energia, Meio Ambiente e Comunicação Social,<br />

realizada em São Paulo entre 20 e 23 de outubro<br />

de 2008 e apresenta<strong>do</strong> em livro em 2009. Os trabalhos<br />

ofereceram uma visão mais ampla para o<br />

profissional da comunicação social desempenhar<br />

sua importante função de mediação simbólica<br />

na sociedade contemporânea.<br />

Cremilda Medina e Sinval Medina,<br />

organiza<strong>do</strong>res <strong>do</strong> livro, perseguem a ideia de<br />

discutir a crise <strong>do</strong>s paradigmas e a proposta de<br />

um “novo pacto da Ciência”, desde 1990. Esse<br />

é o décimo livro da série e nasceu a partir de<br />

uma inquietação: que contribuição a academia,<br />

principalmente os <strong>do</strong>centes e pesquisa<strong>do</strong>res em<br />

Comunicação Social, podem dar para aproximar<br />

os jovens educan<strong>do</strong>s dessa complexa agenda<br />

que envolve meio ambiente, geração de energia<br />

e a comunicação social<br />

O pensamento majoritário entre os<br />

diversos textos que compõem o livro mostra que<br />

é necessário superar o modelo positivista, uma<br />

vez que ele não possibilita uma apreensão ampla<br />

e a compreensão da realidade complexa com<br />

que lidam a ciência em geral e o profissional de<br />

comunicação social em particular.<br />

A obra é apresentada a partir de grandes<br />

temas começan<strong>do</strong> pelos painéis científicos<br />

(a primeira parte!), o seminário pedagógico de<br />

comunicação social (segunda parte) e o balanço<br />

e perspectivas <strong>do</strong> evento (terceira parte). Entre<br />

os especialistas que escrevem na primeira parte<br />

estão Manuel Lemos de Souza, João Marcelo<br />

1 Graduada em Jornalismo e instrutora de Educomunicação.<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 175-176, jul./dez. 2010. Editora UFPR<br />

175


GOMES, E. R. Energia, meio ambiente e comunicação social<br />

Ketzer, José Goldemberg, Laércio Giampani,<br />

entre outros.<br />

O evento foi organiza<strong>do</strong> pela Faculdade<br />

Cásper Líbero e pela <strong>Universidade</strong> Fernan<strong>do</strong><br />

Pessoa, da cidade <strong>do</strong> Porto, Portugal. Os painéis<br />

técnico-científicos, seminários pedagógicos,<br />

workshops e discussões realiza<strong>do</strong>s durante o<br />

Fórum trouxeram exemplos contundentes da<br />

insuficiência <strong>do</strong> paradigma positivista para a<br />

compreensão da realidade complexa com que<br />

lida o profissional da comunicação social em<br />

geral e, em particular, o jornalista.<br />

Nos textos são apresenta<strong>do</strong>s aspectos<br />

multidimensionais relaciona<strong>do</strong>s à produção de<br />

energia, ao meio ambiente e ao desenvolvimento<br />

sustentável. Evidenciou-se nos debates que, de<br />

mo<strong>do</strong> geral, a cobertura jornalística sobre pautas<br />

ambientais apresenta características típicas <strong>do</strong><br />

modelo positivista: fragmentação da informação;<br />

discurso autoritário e opinitivo das fontes que<br />

controlam, editam e difundem o fluxo de informações<br />

destinadas à sociedade; identificação de<br />

fenômenos causais e seus efeitos; classificação<br />

de condutas “certas” ou “erradas” <strong>do</strong>s diferentes<br />

atores sociais envolvi<strong>do</strong>s nos temas energéticos,<br />

ambientais e desenvolvimentistas. Poucas coberturas<br />

jornalísticas escapam <strong>do</strong>s vieses positivistas.<br />

Por esses motivos o fórum apontou a<br />

necessidade urgente de a<strong>do</strong>ção de outros paradigmas,<br />

mais complexos, de mediação simbólica<br />

para captar os aspectos multidimensionais, polifônicos,<br />

polissêmicos e intertextuais inerentes à<br />

vida social contemporânea.<br />

Se o sujeito observa<strong>do</strong>r se colocar,<br />

também, como sujeito observa<strong>do</strong> no contexto<br />

<strong>do</strong> fenômeno que examina, poderá apreender<br />

e compreender mais amplamente as múltiplas<br />

dimensões, vozes e senti<strong>do</strong>s que emergem da<br />

sociedade. É a polifonia.<br />

A parceria <strong>do</strong>s autores, Cremilda e<br />

Sinval, é resulta<strong>do</strong>, também, de um convívio<br />

de muitos anos! Ela, jornalista, pesquisa<strong>do</strong>ra<br />

e professora, ele escritor premia<strong>do</strong> e jornalista<br />

sintoniza<strong>do</strong> com as pautas não consagradas e<br />

que apontam para ampliações. Isso significa<br />

que o saber plural também quer dizer ternura,<br />

afeto e respeito.<br />

Com a aproximação entre o debate<br />

sobre meio ambiente e a prática da comunicação<br />

social, em especial o jornalismo, percebe-se<br />

mais claramente a necessidade de uma maior e<br />

melhor formação profissional. Houve, ainda, o<br />

desejo de ampliar as contribuições <strong>do</strong>s acadêmicos,<br />

principalmente professores e pesquisa<strong>do</strong>res,<br />

da área de Comunicação Social com os alunos<br />

de graduação.<br />

A perspectiva apontada é a de que<br />

há necessidade de aproximar aqueles que logo<br />

estarão trabalhan<strong>do</strong> como media<strong>do</strong>res sociais<br />

de senti<strong>do</strong> com as complexidades da agenda de<br />

meio ambiente <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>. Afinal, há<br />

um entendimento coletivo de que a informação<br />

é a grande alavanca para construir alternativas<br />

para a situação caótica que vivemos hoje na<br />

área ambiental.<br />

As atividades foram planejadas com<br />

seis meses de antecedência. E a ideia de “discutir<br />

ainda mais as ações que apontem para a<br />

construção de um futuro menos sombrio para<br />

o planeta terra e todas as formas de vida que<br />

a povoam” (MEDINA, C.; MEDINA, S. 2009,<br />

p. 13) sempre estiveram presentes nos debates.<br />

Esse livro é um grande painel de pesquisa<strong>do</strong>res<br />

e profissionais, representan<strong>do</strong> uma<br />

excelente discussão. Os anais <strong>do</strong> evento I Fórum<br />

de Energia, Meio Ambiente e Comunicação<br />

Social transcritos na obra, podem fazer com que<br />

os estudantes (de Graduação ou Pós) de várias<br />

áreas <strong>do</strong> conhecimento tenham material significativo<br />

para trabalhar em suas vidas profissionais.<br />

176<br />

Extensão em Foco, Curitiba, n. 6, p. 175-176, jul./dez. 2010. Editora UFPR


Critérios de publicação<br />

Extensão em Foco aceita trabalhos que tratem de temas relaciona<strong>do</strong>s à extensão com as seguintes<br />

especificações:<br />

Artigos inéditos, em português ou espanhol, sob a forma de demanda contínua, temática<br />

<strong>do</strong> <strong>do</strong>ssiê, relatos de experiência e resenha.<br />

Seções:<br />

Apresentação<br />

Editorial<br />

Dossiê Temático: os temas que forem sen<strong>do</strong> defini<strong>do</strong>s terão anúncio com antecedência.<br />

Artigos: Textos analíticos resultantes de estu<strong>do</strong>s e revisões sobre temas relaciona<strong>do</strong>s à extensão<br />

universitária.<br />

Relatos de Experiência: Textos descritivos de experiências desenvolvidas nas áreas temáticas<br />

estabelecidas para a extensão universitária: 1. Comunicação; 2. Cultura; 3. Direitos Humanos e<br />

Justiça; 4. Educação; 5. Meio Ambiente; 6. Saúde; 7. Tecnologia e Produção e 8. Trabalho. Os<br />

relatos deverão ter no máximo 15 (quinze) páginas, incluin<strong>do</strong> os anexos e referências.<br />

Resenhas: As resenhas poderão ter, no máximo, 3 (três) laudas e o título será a referência bibliográfica<br />

completa da obra resenhada em áreas desenvolvidas conforme as áreas afins da extensão,<br />

de obra publicada nos últimos <strong>do</strong>is anos. Palavras-chave e resumo não são necessários. Ex.: VIDAL,<br />

D. G. O exercício disciplina<strong>do</strong> <strong>do</strong> olhar: livros, leituras e práticas de formação <strong>do</strong>cente no Instituto<br />

de Educação <strong>do</strong> Distrito <strong>Federal</strong> (1932-1937). Bragança Paulista: EDUSF, 2001.<br />

Apresentação <strong>do</strong>s Artigos:<br />

Cada artigo deverá ter no máximo, 15 (quinze) páginas, incluin<strong>do</strong> referências bibliográficas,<br />

ilustrações, gráficos, mapas e tabelas.<br />

Título e Resumo, na língua <strong>do</strong> artigo, em inglês e em espanhol (resumo de no máximo 230<br />

– duzentas e trinta palavras) logo abaixo <strong>do</strong>(s) nome(s) <strong>do</strong>(s) autor(es).<br />

Até cinco palavras-chave na língua <strong>do</strong> artigo, em inglês e em espanhol.<br />

Os textos devem ser digita<strong>do</strong>s utilizan<strong>do</strong>-se Microsoft Word versão 6.0 ou posterior, seguin<strong>do</strong><br />

os parâmetros abaixo:<br />

1. Fonte: Arial, tamanho 12, espaçamento 1,5 da entrelinha;<br />

2. Configurações das margens em 2,5 cm para direita, esquerda, superior e inferior<br />

em papel A4.


Identificação no alto da página incluin<strong>do</strong>: Título <strong>do</strong> trabalho (em português, em espanhol<br />

e em inglês) - em caso de financiamento da pesquisa, a instituição financia<strong>do</strong>ra deverá ser mencionada<br />

em nota de rodapé. Nome(s) <strong>do</strong>(s) autor(es) – titulação máxima, afiliação institucional à<br />

qual se vincula, endereço completo de pelo menos um <strong>do</strong>s autores incluin<strong>do</strong> telefone e e-mail, em<br />

nota de rodapé.<br />

As notas de rodapé deverão ser utilizadas para esclarecimentos absolutamente necessários.<br />

Os autores menciona<strong>do</strong>s no artigo deverão ser cita<strong>do</strong>s entre parênteses no corpo <strong>do</strong> texto, com<br />

o ano da publicação da obra e, quan<strong>do</strong> for o caso, com a(s) página(s) citada(s). Ex.: (CALKINS,<br />

1950, p. 161).<br />

Conferências seguirão as mesmas normas <strong>do</strong>s artigos.<br />

As traduções deverão vir acompanhadas de autorização <strong>do</strong> autor e <strong>do</strong> original <strong>do</strong> texto,<br />

além de uma autorização sobre direitos autorais para textos não originais.<br />

Ilustrações, tabelas, gráficos e mapas (digitaliza<strong>do</strong>s com 300 DPI) deverão ser envia<strong>do</strong>s já<br />

incluí<strong>do</strong>s no corpo <strong>do</strong> texto e também em arquivos separa<strong>do</strong>s (extensão .TIF). Nos casos pertinentes,<br />

na parte superior esquerda da figura deve estar seu número e título (ex. FIGURA 2 – LICEU<br />

JANSON). Na parte inferior esquerda, a fonte (ex.: FONTE: COLEÇÃO MARC LE COEUR) e<br />

pequeno texto explicativo de no máximo 3 (três) linhas. Qualquer imagem inserida deve estar<br />

em preto e branco (figura, ilustração, tabelas, gráficos).<br />

As referências seguem o sistema alfabético e devem ser reunidas no final <strong>do</strong> texto, exemplos:<br />

Livro<br />

AMADO, Jorge. Capitães de areia. Rio de Janeiro: Record, 1991. 233 p.<br />

Obs: autoria múltipla: <strong>do</strong>is ou três autores, nomes separa<strong>do</strong>s por ponto e vírgula; mais de três autores,<br />

utilizar apenas o primeiro e et. al. Ex.: BABIN, Pierre; KOULOUMDJIAN, Marie-France. Os<br />

novos mo<strong>do</strong>s de compreender: a geração <strong>do</strong> audiovisual e <strong>do</strong> computa<strong>do</strong>r. São Paulo: Paulinas,<br />

1989. 236 p.<br />

Capítulo de livro<br />

BORSOI, Isabel Cristina Ferreira. A saúde da mulher trabalha<strong>do</strong>ra. In: CODO, Wanderley; SAM-<br />

PAIO, José Jacson Coelho (Org.). Sofrimento psíquico nas organizações. Rio de Janeiro: Vozes,<br />

1995. p. 115-126.<br />

Artigo<br />

PAZ, M.E. da. A educação sócio-econômica <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong>. Educação & Realidade, Porto Alegre,<br />

v. 20, n. 1, p. 191-202, jan./jun. 1995.<br />

BRITO, Gláucia da Silva. O professor e o computa<strong>do</strong>r. O Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Paraná, Curitiba, 3 mar. 1996.<br />

Obs.: os títulos de periódicos não devem ser abrevia<strong>do</strong>s e as primeiras letras devem ser maiúsculas<br />

(exceto artigos e preposições que não iniciem o título)<br />

Página na WEB ( home page)<br />

FALZETTA, R. Navegar é preciso. Nova Escola, n. 131, abr. 2000. Disponível em: . Acesso em: 27/05/2000.


JORGE, Maria Tereza Soler Será o ensino escolar supérfluo no mun<strong>do</strong> das novas tecnologias Disponível<br />

em . Acesso em: 22/09/2002.<br />

Lista de discussão<br />

BIOLINE Discussion List. List maintained by the Bases de Da<strong>do</strong>s Tropical, BDT in Brazil. Disponível<br />

em: . Acesso em: 14/01/2003.<br />

Correio eletrônico<br />

PINTO, Moreira Artur. Envio de artigo. Mensagem recebida por geral<strong>do</strong>@yahoo.cpm.br em 13<br />

mar. 2007.<br />

SILVA, G. Publicação eletrônica. [mensagem pessoal]. Mensagem recebida por marthaa34@uol.<br />

com.br em 26 de ago. 2007.<br />

Tese ou Dissertação. Trabalho de conclusão de curso. Relatório<br />

GOUVÊA, F. C. F. Um percurso com os boletins da CAPES: a contribuição de Anísio Teixeira para<br />

a institucionalização da Pós-Graduação no Brasil. Dissertação (Mestra<strong>do</strong> em Educação) – Departamento<br />

de Educação, Pontifícia <strong>Universidade</strong> Católica <strong>do</strong> Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2001.<br />

SCHIMIGUEL Kelli; SKIBA, Luciana. Relações Públicas em Instituições Educacionais. 2006. Trabalho<br />

de conclusão de curso (Graduação) – <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná, Curitiba.<br />

CAMPOS, M. H. R. A universidade não será mais a mesma. 1984. (Relatório) Belo Horizonte:<br />

Conselho de Extensão da <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> de Minas Gerais.<br />

Legislação<br />

BRASIL. Lei n. 5.517 – 23 out.1968. Dispõe sobre o exercício da profissão de médico-veterinário e<br />

cria os Conselhos <strong>Federal</strong> e Regional de Medicina Veterinária. Belo Horizonte: Conselho Regional<br />

de Medicina Veterinária, 1968, 48p.<br />

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa <strong>do</strong> Brasil. Brasília, DF: Sena<strong>do</strong><br />

<strong>Federal</strong>, 1990. 210 p.<br />

Anais<br />

RIBEIRO, A. M.; CASA, M. E. Construção de uma plataforma multiagentes para o ambiente de<br />

aprendizagem ILENA. In: WORKSHOP DE AMBIENTES DE APRENDIZAGEM BASEADOS EM<br />

AGENTES, 3, 22 nov. 2001, Vitória. Anais... Vitória , 2001, p. 7-21<br />

CD-ROM<br />

Acrescentar ao final da referência: (CD-ROM)<br />

Ex.: SILVA, R. N.; OLIVEIRA, R.. M. Os limites pedagógicos <strong>do</strong> paradigma da qualidade total na<br />

educação. In: CONGRESSO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFPe, 4, 1996, Recife. Anais...<br />

Recife: UFPe, 1996. (CD-ROM)<br />

Os textos podem ser envia<strong>do</strong>s para Extensão em Foco na seguinte forma:<br />

Apenas por e-mail, para o endereço: extensaoemfoco@ufpr.br: uma cópia integral, uma<br />

cópia sem o nome <strong>do</strong>s autores e uma carta direcionada à revista Extensão em Foco autorizan<strong>do</strong> sua


publicação, com endereço completo <strong>do</strong>(s) autor(es) para correspondência. Aguardar confirmação<br />

de recebimento via e-mail.<br />

Os textos recebi<strong>do</strong>s serão encaminha<strong>do</strong>s a 2 (<strong>do</strong>is) pareceristas ad hoc. Caso ocorram<br />

pareceres divergentes, serão envia<strong>do</strong>s para um terceiro consultor.<br />

Cada artigo/conferência dá direito a 3 (três) exemplares <strong>do</strong> número da revista em que o<br />

texto foi publica<strong>do</strong> (ou um exemplar por autor, caso o trabalho tenha mais de três autores).<br />

Somente serão aprecia<strong>do</strong>s os textos que obedecerem as normas estabelecidas para publicação.<br />

Os originais não serão devolvi<strong>do</strong>s.<br />

Extensão em Foco reserva-se o direito de não publicar trabalho(s) de mesmo(s) autor(es)<br />

em intervalos menores que 3 (três) edições, salvo em números especiais.<br />

A aceitação da matéria para a publicação implica a transferência de direitos autorais para a<br />

revista. Assegura-se a Extensão em Foco o direito à divulgação da informação e os direitos editoriais,<br />

na forma da Lei. Os conteú<strong>do</strong>s da matéria são de inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).<br />

Contato:<br />

Revista Extensão em Foco<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná<br />

Trav. Alfre<strong>do</strong> Bufren, 140<br />

CEP: 80020-240<br />

Fone: (0xx41)-3310-2831 ou (0xx41)-3313-2022 - Fax: (0xx41)-3310-2607<br />

Curitiba – PR – Brasil<br />

E-mail: extensaoemfoco@ufpr.br


Coordena<strong>do</strong>ria<br />

de Pós-Graduação<br />

Stricto Sensu<br />

Revistas Técnico-Científicas da UFPR<br />

Periódicos da UFPR<br />

A <strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná instituiu o Sistema Eletrônico de Revistas (SER), abrin<strong>do</strong> um<br />

importante canal de interação entre usuários e a comunidade científica. Neste espaço estão listadas as<br />

Revistas Técnico-Científicas publicadas com recursos próprios ou com recursos <strong>do</strong> programa de apoio à<br />

publicação instituí<strong>do</strong> pela UFPR.<br />

O SER utiliza-se <strong>do</strong> Open Journal System, software livre e com protocolo internacional que<br />

permite a submissão de artigos e o acesso às revistas de qualquer parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Nesse sistema já estão<br />

cadastradas 42 revistas da UFPR, abrangen<strong>do</strong> diversas áreas de conhecimento. O sistema pode ser acessa<strong>do</strong><br />

por AUTORES, para a submissão de trabalhos, CONSULTORES, para a avaliação <strong>do</strong>s trabalhos,<br />

EDITORES, para o gerenciamento <strong>do</strong> processo editorial e USUÁRIOS, interessa<strong>do</strong>s em acessar e obter<br />

CÓPIAS de artigos já publica<strong>do</strong>s nas revistas.<br />

A SUBMISSÃO de artigos é feita por meio eletrônico e o autor poderá fazer o ACOMPANHAMENTO<br />

<strong>do</strong> processo de AVALIAÇÃO por parte <strong>do</strong>s consultores até a editoração final <strong>do</strong> artigo. As NORMAS de<br />

publicação e demais instruções, bem como os endereços <strong>do</strong>s editores são encontra<strong>do</strong>s nas páginas de cada<br />

revista.<br />

O trabalho de editoração de algumas revistas (Boletim Paranaense de Geociências, Desenvolvimento<br />

e Meio Ambiente, Educar em Revista, Extensão em Foco, História: Questões & Debates, RA’E GA: O Espaço<br />

Geográfico em Análise, Revista de Economia e Revista Letras) é supervisiona<strong>do</strong> pela EDITORA UFPR,<br />

que conta com corpo editorial especializa<strong>do</strong> que se ocupa da revisão final <strong>do</strong>s volumes de seus respectivos<br />

periódicos, dentro <strong>do</strong>s padrões estabeleci<strong>do</strong>s pela Editora. Fin<strong>do</strong> o processo de editoração, uma cópia (pdf)<br />

<strong>do</strong>s artigos é disponibilizada em meio digital, dentro <strong>do</strong> Sistema SER, enquanto outra segue para impressão<br />

nas gráficas determinadas para cada publicação.<br />

Para submeter um trabalho pela primeira vez será, antes, necessário entrar em CADASTRO. Uma<br />

vez cadastra<strong>do</strong>, abre-se uma caixa de diálogo indican<strong>do</strong> os passos a serem segui<strong>do</strong>s para o processo de<br />

submissão <strong>do</strong> artigo. Desejan<strong>do</strong> apenas consultar trabalhos já publica<strong>do</strong>s, basta acessar ARQUIVOS e<br />

obter o artigo deseja<strong>do</strong>.<br />

O SER oferece ainda o Public Knowledge Project, poderosa ferramenta de pesquisa, com<br />

acessibilidade global. Para fazer a busca por um tema de seu interesse utilizan<strong>do</strong> essa ferramenta basta clicar<br />

em PKP e, em seguida, digitar uma palavra-chave na caixa de diálogo. Com isso você acessará artigos sobre<br />

o tema de seu interesse publica<strong>do</strong>s em diversas partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.<br />

<strong>Universidade</strong> <strong>Federal</strong> <strong>do</strong> Paraná<br />

Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (PRPPG)<br />

Rua Dr. Faivre, 405, Ed. D. Pedro II, 1º andar, Centro<br />

80060-140 – Curitiba – Paraná – Brasil<br />

Tel.: (41) 3360-5405/ Fax: (41) 3360-5113<br />

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sta ♦ obra ♦ foi ♦ impressa ♦ na ♦ Imprensa ♦<br />

Universitária ♦ da ♦ UFPR ♦ Curitiba ♦ PR ♦ em<br />

♦ dezembro ♦ de ♦ 2011 ♦ para ♦ a ♦ Editora<br />

♦ <strong>Universidade</strong> ♦ <strong>Federal</strong> ♦ <strong>do</strong> ♦ Paraná ♦

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