01.02.2015 Views

Promotor natural na opinio delicti. - BuscaLegis - UFSC

Promotor natural na opinio delicti. - BuscaLegis - UFSC

Promotor natural na opinio delicti. - BuscaLegis - UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

® <strong>BuscaLegis</strong>.ccj.ufsc.br<br />

<strong>Promotor</strong> <strong><strong>na</strong>tural</strong> <strong>na</strong> <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>.<br />

Edison Miguel da Silva Jr *<br />

Sumário: 1. Introdução - 2. Interpretação da lei processual pe<strong>na</strong>l - 3.<br />

<strong>Promotor</strong> <strong><strong>na</strong>tural</strong> e <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> - 4. O juiz pode indeferir o retorno de<br />

inquérito policial à delegacia para novas diligências - 5. O juiz pode<br />

deixar de encaminhar o inquérito policial ao juiz apontado como<br />

competente pelo promotor - 6. A divergência entre promotores,<br />

acolhida pelos juízes, resulta em conflito de competência - 7. Ao<br />

resolver conflito de atribuições, o procurador-geral pode desig<strong>na</strong>r um<br />

dos promotores em conflito - 8. Qual a solução para o conflito de<br />

atribuição entre promotores de Ministérios Públicos diferentes 9. O<br />

promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP pode deixar de oferecer a<br />

denúncia 10. Conclusões - Referências bibliográficas.<br />

Resumo: Na persecução pe<strong>na</strong>l, existe um momento no qual ocorre, pelo<br />

órgão acusador e somente por ele, a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, isto é,<br />

com base nos elementos apurados no inquérito, o promotor, convencido<br />

da existência de justa causa para a ação pe<strong>na</strong>l, oferece a denúncia,<br />

encerrando a fase administrativa da persecução pe<strong>na</strong>l. Portanto, todas<br />

as questões que surgirem nesse momento (recebimento do inquérito<br />

pelo promotor e antes do oferecimento da denúncia) relacio<strong>na</strong>das com a<br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> somente podem ser respondidas com base no


princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> (toda e qualquer atribuição judicial deve ser<br />

exercida pelo órgão do Ministério Público determi<strong>na</strong>do em lei).<br />

1. Introdução<br />

Durante o século 18, intelectuais franceses elaboraram um quadro geral<br />

da produção científica da época por meio da organização de uma Enciclopédia.<br />

Essa tendência histórica de reunir o saber humano sobre determi<strong>na</strong>da área em<br />

uma única obra (enciclopedismo), durante o século 19, em quase toda a Europa e<br />

América, levou à codificação das leis, isto é, reunir em uma lei todas as<br />

disposições sobre uma determi<strong>na</strong>da matéria, orde<strong>na</strong>ndo-as de forma sistemática.<br />

Como essas leis (códigos) eram a reunião de todas as disposições legais,<br />

acreditava-se que todas as questões possíveis estavam expressamente previstas.<br />

Assim, cabia ao juiz simplesmente aplicar a lei, para o que necessitava ape<strong>na</strong>s<br />

compreender o seu sentido literal. Os comentários eram desnecessários e até<br />

proibidos. O conhecimento jurídico foi reduzido a uma pura interpretação<br />

gramatical do texto legal. Se dúvida houvesse, valia a vontade do legislador, pois<br />

tudo estaria previsto <strong>na</strong> lei. Proclamou-se, então, o fim das decisões arbitrárias,<br />

baseadas <strong>na</strong>s qualidades e defeitos de um juiz. Com os códigos, era possível<br />

prever e verificar o acerto das decisões: se estava expressamente prevista <strong>na</strong> lei<br />

era justa; se não, injusta.<br />

Insuficiência do método literal - No entanto, logo descobriu-se que o<br />

método exegético (literal) era insuficiente porque a lei não resolvia expressamente<br />

todos as questões que surgiam - hoje sabemos que essa pretensão é impraticável.<br />

Assim, a investigação jurídica abandonou a interpretação literal e a vontade do<br />

legislador. A proibição dos comentários foi abolida e o jurista passou a propor<br />

soluções para questões que a realidade apresenta e não estão previstas<br />

expressamente <strong>na</strong> lei.


Entre essas questões, o presente trabalho investiga o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong><br />

<strong>na</strong> <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Inicia recolhendo da doutri<strong>na</strong> o conceito de promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> e<br />

<strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Para em seguida, reduzir esses dados em uma teoria capaz de<br />

identificar o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> <strong>na</strong>s principais situações que podem ocorrer <strong>na</strong> <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> (denúncia, pedido de arquivamento, novas diligências, remessa ao juiz<br />

competente e conflito de atribuições). Elaborando, dessa forma, um conhecimento<br />

que se pretende científico, isto é, que seu valor de verdade possa ser verificado.<br />

2. Interpretação da lei processual pe<strong>na</strong>l<br />

Zaffaroni e Pierangeli (1999, p. 158 e ss.) ensi<strong>na</strong>m que todo<br />

conhecimento é uma interpretação sobre determi<strong>na</strong>do fato. Se esse conhecimento<br />

for verificável, será um conhecimento científico. Assim, para a ciência, a verdade<br />

ou a falsidade de uma proposição se estabelece pela verificação. Algumas<br />

ciências, em decorrência dos fatos estudados, admitem verificação experimental<br />

(física, por exemplo); outras, a verificação somente é possível pela observação<br />

(astronomia).<br />

Para obterem maior sucesso <strong>na</strong> elaboração das suas teorias<br />

(interpretações), os cientistas criaram métodos baseados <strong>na</strong> razão. Tomando a lei<br />

como um fato, a sua interpretação pode operar com método similar ao das<br />

ciências consagradas (física, astronomia), verificando suas proposições pela<br />

observação; sendo possível, por isso, falar-se em ciência jurídica.<br />

Atualmente, o método mais difundido <strong>na</strong> ciência jurídica é o dogmático.<br />

A denomi<strong>na</strong>ção de dogmática tem sentido metafórico: o intérprete não pode alterar<br />

o conteúdo da lei, devendo respeitá-lo como dogma. Logo, será <strong>na</strong> observação da<br />

lei, da mesma maneira que o astrônomo observa o espaço para confirmar ou<br />

negar uma teoria, que o jurista verificará se uma teoria jurídica é verdadeira ou


falsa. Sua técnica: procura reconstruir os variados elementos que integram a lei (o<br />

fato), organizando-os como sistema.<br />

Zaffaroni e Pierangeli (1999, p. 166-167) explicam como se faz isso:<br />

"Frente a um conjunto de disposições legais, o jurista comporta-se como<br />

o físico: deve tomar os dados, a<strong>na</strong>lisá-los, estabelecer as<br />

semelhanças e diferenças e reduzir o material com que opera a um<br />

conceito único. Com essas unidades elabora uma construção lógica, que<br />

é uma teoria, em que cada uma dessas unidades ou dogmas encontra o<br />

seu lugar e a sua explicação. Cumprida essa tarefa, deve formular uma<br />

hipótese, a fim de averiguar se essa teoria funcio<strong>na</strong> de conformidade<br />

com a totalidade do texto legal, isto é, se não há elementos que se<br />

encontram sem explicação, ou seja, se alguma parte do todo se<br />

contradiz. Esse último passo é exigido porque nenhuma construção<br />

pode entrar em contradição com o texto legal. Esse é o processo de<br />

verificação. A construção não só não deve ser contraditada pelos textos,<br />

mas tampouco pode ser ela mesma contraditória. Em síntese, o jurista,<br />

como qualquer cientista, deve elaborar um sistema não contraditório de<br />

proposições cujo valor de verdade deve ser verdadeiro e que expliquem<br />

os fatos de seu horizonte de projeção científico."<br />

Método dogmático - Esquematicamente, prosseguem os autores<br />

(1999, p. 168), o método dogmático opera da seguinte maneira: a) - <strong>na</strong> lei<br />

encontramos uma série de disposições que vigoram simultaneamente; b) -<br />

procedemos a sua análise e separação; c) - elaboramos a proposição teórica (a<br />

construção dogmática), organizando os elementos de forma lógica; c) -<br />

formulamos hipóteses e comprovamos que essa explicação serve para respondêlas,<br />

sem que seja contraditada por nenhuma disposição legal.<br />

Por fim, ainda segundo os mesmos autores (1999, p. 168), a construção<br />

dogmática deve obedecer a três leis: 1ª ) - deve ser conforme a lógica (não


contraditória em si mesma); 2ª) - Não deve ser contrária ao texto da lei; 3ª) - deve<br />

ser simétrica, <strong><strong>na</strong>tural</strong>, não artificiosa (lei da estética jurídica).<br />

Necessidade prática da construção dogmática - Ainda segundo<br />

Zaffaroni e Pierangeli, ao interpretar a lei dessa forma, a ciência jurídica busca<br />

determi<strong>na</strong>r o seu alcance - não a vontade do legislador ou o mero significado<br />

literal do texto, mas o seu conteúdo que pode abranger também os casos não<br />

expressamente previstos -, fornecendo ao juiz um sistema de proposições que,<br />

aplicado por este, faz previsíveis suas decisões, reduzindo a margem de<br />

arbitrariedade (decisões baseadas exclusivamente <strong>na</strong>s qualidades e defeitos de<br />

um juiz).<br />

Assim, como se pretende um conhecimento científico, a investigação do<br />

promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> <strong>na</strong> <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> seguiu o método dogmático. O texto a seguir é o<br />

resultado dessa investigação que se oferece aos juristas para verificação do seu<br />

valor de verdade.<br />

3. <strong>Promotor</strong> <strong><strong>na</strong>tural</strong> e <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong><br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>:<br />

a) - o juiz pode indeferir o retorno de inquérito policial à delegacia para<br />

novas diligências;<br />

b) - o juiz pode deixar de encaminhar o inquérito policial ao juiz apontado<br />

como competente pelo promotor<br />

c) - a divergência entre promotores, acolhida pelos juízes, resulta em<br />

conflito de competência


d) - ao resolver conflito de atribuições, o procurador-geral pode desig<strong>na</strong>r<br />

um dos promotores em conflito<br />

e) - Qual a solução para o conflito de atribuição entre promotores de<br />

Ministérios Públicos diferentes<br />

f) - O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP pode deixar de<br />

oferecer a denúncia<br />

Essas questões, não previstas expressamente <strong>na</strong> lei, devem ser<br />

respondidas com base no princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>, porque todas ocorrem <strong>na</strong><br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> e somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> pode formar a <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> no caso concreto.<br />

Opinio <strong>delicti</strong> - A persecução pe<strong>na</strong>l desenvolve-se em duas fases: uma<br />

administrativa (inquérito policial) e outra jurisdicio<strong>na</strong>l (ação pe<strong>na</strong>l). O inquérito<br />

policial é uma peça escrita, preparatória da ação pe<strong>na</strong>l, de <strong>na</strong>tureza inquisitiva -<br />

não lhe aplicado os princípios da atividade jurisdicio<strong>na</strong>l. Quem o preside é o<br />

delegado de polícia que desenvolve atividade administrativa. Sua fi<strong>na</strong>lidade é a<br />

investigação sobre a existência de fato criminoso e sua autoria (justa causa para a<br />

ação pe<strong>na</strong>l), atendendo a dois objetivos: a) - dar elementos para a formação da<br />

<strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> do órgão acusador (convicção do promotor ou do querelante); b) - dar<br />

embasamento fático para que a ação pe<strong>na</strong>l tenha justa causa (decisão do juiz<br />

recebendo a acusação).<br />

Portanto:<br />

I) - a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador de que existe justa<br />

causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l;


II) - formada a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o órgão acusador apresenta a denúncia,<br />

materializando a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>;<br />

III) - a apresentação da denúncia ou da queixa ao juiz encerra a fase<br />

administrativa da persecução pe<strong>na</strong>l, iniciando-se a fase jurisdicio<strong>na</strong>l.<br />

A Constituição Federal, art. 129, inc. I, estabeleceu que é função<br />

institucio<strong>na</strong>l do Ministério Público promover, privativamente, a ação pe<strong>na</strong>l pública.<br />

Logo, se no inquérito policial o fato investigado foi classificado, pelo delegado,<br />

como crime de ação pe<strong>na</strong>l pública, o órgão acusador para a formação da <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> é o Ministério Público. Mas qual órgão do Ministério Público<br />

Princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> - Toda e qualquer atribuição judicial<br />

deve ser exercida pelo órgão do Ministério Público determi<strong>na</strong>do em lei, sob pe<strong>na</strong><br />

de manifesta nulidade do processo. Ao concluir o inquérito, o delegado enviará os<br />

autos ao juiz competente (CPP, art. 10, §1º), isto é, àquele que aponta como<br />

competente, conforme a classificação pe<strong>na</strong>l que atribuiu ao fato criminoso que<br />

investigou.<br />

Portanto:<br />

IV) - ao receber o inquérito policial, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação<br />

da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> será aquele que tiver atribuição judicial perante o juiz<br />

apontado como competente pelo delegado;<br />

V) - a remessa do inquérito ao juiz tem por fi<strong>na</strong>lidade o controle sobre o<br />

seu procedimento.<br />

A atribuição judicial do promotor perante determi<strong>na</strong>do juiz é definida pelo<br />

Colégio de Procuradores de Justiça, <strong>na</strong> forma prevista pela Lei 8.625/93, art. 23,<br />

§2º. Essa definição, genérica e prévia, da atuação ministerial decorre do princípio


do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> (no processo pe<strong>na</strong>l: garantia do cidadão de não ser<br />

processado por acusador de exceção). Integrando o devido processo legal.<br />

Portanto:<br />

VI) - quando o promotor recebe o inquérito é necessário que verifique se<br />

tem atribuição, no caso concreto, para a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>;<br />

como sua atribuição está vinculada à competência do juiz perante o qual<br />

oficia, essa verificação se faz quanto à competência deste.<br />

Artigo 28 do CPP - Contudo, se este promotor, e somente ele, requerer<br />

arquivamento do inquérito, poderá o juiz remeter o inquérito ao procurador-geral<br />

para formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Trata-se da situação discipli<strong>na</strong>da pelo art. 28 /<br />

CPP: se o promotor, ao invés de oferecer denúncia, requerer o arquivamento do<br />

inquérito considerado improcedente pelo juiz. Na hipótese de não confirmação do<br />

arquivamento, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> será, então, o<br />

próprio procurador-geral, que oferecerá a denúncia, ou outro órgão do Ministério<br />

Público desig<strong>na</strong>do por ele, conforme determi<strong>na</strong> o mesmo art. 28 e a Lei 8.625/93,<br />

art. 10, inc. IX, letra "d".<br />

Portanto:<br />

VII) - a aplicação do art. 28 / CPP, autorizando ao procurador-geral<br />

formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, somente será possível se o promotor que tiver<br />

atribuição judicial perante o juiz apontado como competente requerer o<br />

arquivamento do inquérito;<br />

VIII) - neste caso, o órgão acusador que formou a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> não será<br />

obrigatoriamente o mesmo que oferecerá a denúncia.


O momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> - Na persecução pe<strong>na</strong>l,<br />

existe um momento no qual ocorre, pelo órgão acusador e somente por ele, a<br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, isto é, com base nos elementos apurados no inquérito,<br />

o promotor, convencido da existência de justa causa para a ação pe<strong>na</strong>l, oferece a<br />

denúncia, encerrando a fase administrativa da persecução pe<strong>na</strong>l.<br />

Contudo, nesse momento (recebimento do inquérito pelo promotor e<br />

antes do oferecimento da denúncia), pode o promotor entender que: 1) - o<br />

inquérito não esclareceu suficientemente os fatos; 2) - o foro ou o juízo não são<br />

competentes para a ação pe<strong>na</strong>l. E, dessa forma, ocorrerem as questões<br />

inicialmente propostas:<br />

a) - O juiz pode indeferir o retorno de inquérito policial à delegacia para<br />

novas diligências<br />

b) - O juiz pode deixar de encaminhar inquérito policial ao juiz apontado<br />

como competente pelo promotor<br />

c) - A divergência entre promotores, acolhida pelos juízes, resulta em<br />

conflito de competência<br />

d) - Ao resolver conflito de atribuições, o procurador-geral pode desig<strong>na</strong>r<br />

um dos promotores em conflito<br />

e) - Qual a solução para o conflito de atribuição entre promotores de<br />

Ministérios Públicos diferentes<br />

f) - O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP pode deixar de<br />

oferecer a denúncia


Proposição teórica - Essas questões devem ser respondidas com base<br />

no princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>, porque todas ocorrem <strong>na</strong> formação da <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> e somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> pode formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> no caso concreto.<br />

4. O juiz pode indeferir o retorno de inquérito policial à delegacia para novas<br />

diligências<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o juiz não pode indeferir o<br />

retorno de inquérito policial à delegacia para novas diligências, porque a <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador - e somente dele - de que existe justa<br />

causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l. Ninguém poderá obrigá-lo a essa convicção e<br />

somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer. Se for com base em inquérito<br />

policial, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> será aquele que tiver atribuição judicial perante o juiz<br />

apontado como competente pelo delegado. Oferecida a denúncia, o juiz, com base<br />

no mesmo inquérito, poderá rejeitá-la por falta de justa causa, mas antes do seu<br />

oferecimento não poderá decidir sobre a convicção do órgão acusador.<br />

Logo, se o juiz apreciar a pertinência da diligência requisitada para a<br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> indeferindo o encaminhamento, incorre em "erro de<br />

ofício" suscetível de correição parcial, conforme o art. 385 do Regimento Interno<br />

do Tribu<strong>na</strong>l de Justiça do Estado de Goiás, por exemplo.<br />

Por outro lado, embora possa requisitar diligências à autoridade policial<br />

(CPP, art. 13, inc. II), o promotor não deve encaminhar diretamente o retorno do<br />

inquérito à delegacia, pois frustraria a fi<strong>na</strong>lidade da sua remessa ao juiz (CPP, art.<br />

10, §1º). Assim, é necessário o requerimento de retorno do inquérito à delegacia<br />

para registro (controle de procedimento do inquérito); servindo, por exemplo, para<br />

verificação da legitimidade de ação pe<strong>na</strong>l privada subsidiária, por eventual<br />

omissão do Ministério Público. O despacho do juiz retor<strong>na</strong>ndo o inquérito à<br />

delegacia, então, tem <strong>na</strong>tureza administrativa e de encaminhamento - não decide


sobre a pertinência das diligências requisitadas -, o faz como chefe dos serviços<br />

administrativos do cartório.<br />

Impossibilidade de aplicação a<strong>na</strong>lógica do art. 28 / CPP - A a<strong>na</strong>logia<br />

consiste em aplicar a uma situação não prevista em lei a disposição relativa a uma<br />

hipótese semelhante. Portanto, não é possível a aplicação a<strong>na</strong>lógica do art. 28 /<br />

CPP, porque as situações, aquela do dispositivo legal e a promoção de novas<br />

diligências, não são semelhantes; bem como, não existe omissão da lei. A<br />

aplicação do art. 28 / CPP, autorizando ao procurador-geral formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>,<br />

somente será possível se o promotor que tiver atribuição judicial perante o juiz<br />

apontado como competente requerer arquivamento do inquérito. Ao contrário,<br />

quando requisita novas diligências, esse promotor - que é o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>,<br />

nesse momento - está exatamente buscando elementos para a sua promoção;<br />

não requereu arquivamento do inquérito ou formou a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> e, muito menos,<br />

declinou da sua atribuição. Logo, a remessa do inquérito ao procurador-geral viola<br />

o princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>.<br />

5. O juiz pode deixar de encaminhar o inquérito policial ao juiz apontado<br />

como competente pelo promotor<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o juiz não pode deixar de<br />

encaminhar o inquérito ao juiz apontado como competente pelo promotor, pela<br />

mesma razão que não pode indeferir o seu retorno à delegacia para nova<br />

diligência: a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador - e somente dele - de<br />

que existe justa causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l; ninguém poderá obrigá-lo a<br />

essa convicção e somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer.<br />

Ao receber o inquérito policial, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação da<br />

<strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> será aquele que tiver atribuição judicial perante o juiz apontado como<br />

competente pelo delegado. Contudo, o promotor não está vinculado à


classificação pe<strong>na</strong>l que o delegado atribuiu ao fato investigado. Dele pode<br />

discordar. Como a atribuição judicial do promotor está vinculada à competência do<br />

juiz, discordando, aponta outro juiz como competente e, conseqüentemente, outro<br />

promotor para a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Enfim, o conteúdo do pedido de encaminhamento<br />

não é dirigido ao juiz, mas ao promotor apontado como <strong><strong>na</strong>tural</strong> por aquele,<br />

inicialmente, assim indicado pelo delegado.<br />

Também aqui, o despacho do juiz encaminhando os autos ao juiz<br />

apontado como competente pelo promotor tem <strong>na</strong>tureza administrativa e de<br />

encaminhamento - não prejulga a competência jurisdicio<strong>na</strong>l. Oferecida a denúncia,<br />

o novo juiz poderá decli<strong>na</strong>r a competência e remeter os autos àquele que entende<br />

ser o competente, mas, antes do oferecimento da denúncia não poderá decidir<br />

sobre a convicção do órgão acusador.<br />

Impossibilidade de aplicação a<strong>na</strong>lógica do art. 28 / CPP - A aplicação do<br />

art. 28 / CPP, autorizando ao procurador-geral formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, somente<br />

será possível se o promotor que tiver atribuição judicial perante o juiz apontado<br />

como competente requerer o arquivamento do inquérito. Logo, a promoção de<br />

remessa do inquérito ao juiz que aponta como competente não admite aplicação<br />

a<strong>na</strong>lógica, pois não há semelhança entre as situações, bem como omissão legal.<br />

A remessa do inquérito, nessa hipótese, viola o princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>.<br />

6. A divergência entre promotores, acolhida pelos juízes, resulta em conflito<br />

de competência<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, a divergência entre<br />

promotores nunca resultará em conflito de competência, pela mesma razão que o<br />

juiz não pode indeferir o retorno dos autos à delegacia ou deixar de encaminhar o<br />

inquérito ao juiz apontado como competente pelo promotor: a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a<br />

convicção do órgão acusador - e somente dele - de que existe justa causa para o


início da ação pe<strong>na</strong>l; ninguém poderá obrigá-lo a essa convicção e somente o<br />

promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer.<br />

Quando o juiz encaminha o inquérito conforme a promoção ministerial e<br />

o promotor indicado oferece a denúncia, encerra-se a primeira fase da persecução<br />

pe<strong>na</strong>l. Cabendo, então - findo o momento de formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> -, ao juiz<br />

decidir sobre a sua competência, pois, como tradicio<strong>na</strong>lmente se afirma, é o<br />

próprio órgão jurisdicio<strong>na</strong>l que atua no processo o primeiro juiz da sua<br />

competência.<br />

Contudo, não é raro que o promotor indicado pelo promotor que recebeu<br />

origi<strong>na</strong>riamente o inquérito, em decorrência da classificação pe<strong>na</strong>l feita pelo<br />

delegado, não concorde com a indicação. Nessa hipótese, surge um conflito de<br />

atribuições, a ser dirimido pelo procurador-geral, conforme discipli<strong>na</strong> a Lei<br />

8.625/93, art. 10, inc. X (em Goiás, também pela Lei Complementar 25/98, art. 15,<br />

inc. XII), definindo qual promotor tem atribuição para formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>.<br />

Destaca-se que o envio ao procurador-geral não decorre da aplicação a<strong>na</strong>lógica<br />

do art. 28 / CPP, portanto, ele não é o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação da <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong>. Dirimido o conflito de atribuições, oferecida a denúncia, o juiz, então,<br />

decidirá sobre a sua competência; ou, se requerido o arquivamento do inquérito,<br />

possibilidade de aplicação do art. 28 / CPP.<br />

Por hipótese, se ambos os juízes, ao receberem o inquérito policial,<br />

encamparem as razões dos promotores, decli<strong>na</strong>ndo da atribuição para a formação<br />

da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, mesmo assim ocorrerá conflito de atribuições e não de<br />

competência, porque o despacho do juiz encaminhando os autos ao juiz apontado<br />

como competente pelo promotor tem <strong>na</strong>tureza administrativa e de<br />

encaminhamento - não prejulga a competência jurisdicio<strong>na</strong>l. Eventual decisão do<br />

tribu<strong>na</strong>l, solucio<strong>na</strong>ndo o aparente conflito de competência, não vincula os<br />

promotores em conflito, pois a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador de<br />

que existe justa causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l. A divergência entre eles


persistirá desafiando a intervenção do procurador-geral que, de acordo com as<br />

normas genéricas de atribuição de cada promotor, decidirá qual deles tem<br />

atribuição para formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, face ao fato investigado.<br />

Conflito de competência x conflito de atribuição - Portanto, é a<br />

<strong>na</strong>tureza do ato a ser praticado que define se o conflito é de competência ou de<br />

atribuição. Na formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, ocorrendo divergência entre promotores,<br />

surge um conflito de atribuições e não de competência, mesmo que exista<br />

pronunciamento do juiz sobre sua competência, porque o ato a ser praticado,<br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> com a conseqüente denúncia, é privativo do Ministério<br />

Público.<br />

7. Ao resolver conflito de atribuições, o procurador-geral pode desig<strong>na</strong>r um<br />

dos promotores em conflito<br />

No momento formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, ao resolver conflito de<br />

atribuições, o procurador-geral pode e deve, se for o caso, desig<strong>na</strong>r um dos<br />

promotores em conflito, em respeito ao princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>. O conflito<br />

surge porque os promotores divergem sobre qual deles tem atribuição para a<br />

formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. O procurador-geral, então, conforme as normas gerais<br />

de fixação das atribuições de cada promotor irá explicitar qual deles tem essa<br />

atribuição, isto é, no caso concreto, qual é o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação da<br />

<strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>.<br />

O princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> ou legal decorre do princípio institucio<strong>na</strong>l<br />

da independência funcio<strong>na</strong>l. Toda e qualquer atribuição judicial deve ser exercida<br />

pelo promotor determi<strong>na</strong>do em lei. Logo, se a atribuição recair sobre um dos<br />

promotores em conflito não ocorrerá ofensa a sua independência funcio<strong>na</strong>l, mas<br />

respeito a ela, pois respeitado o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>. O procurador-geral, ao dirimir<br />

conflito de atribuição, não tem atribuição legal para formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, mas


tão-somente desig<strong>na</strong>r - explicitar segundo critérios legais genéricos - qual<br />

promotor tem atribuição para oficiar no feito, <strong>na</strong>quele momento (Lei 8.625/93, art.<br />

10, inc. X).<br />

Mesmo quando o procurador-geral tem que se manifestar sobre o fato<br />

apurado no inquérito policial para dirimir o conflito de atribuição (por exemplo:<br />

divergem os promotores se o fato tem adequação típica <strong>na</strong> lesão corporal ou <strong>na</strong><br />

tentativa de homicídio), o faz para explicitar, no caso concreto, qual é o promotor<br />

<strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Somente se este, assim desig<strong>na</strong>do,<br />

requerer arquivamento e for aplicado o art. 28 / CPP, poderá o procurador-geral,<br />

então, formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, se for o caso, oferecendo a denúncia ou desig<strong>na</strong>ndo<br />

outro promotor para oferecê-la.<br />

Controle judicial - O princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> integra o devido<br />

processo legal. Logo, qualquer promoção que não for pelo promotor determi<strong>na</strong>do<br />

em lei é nula. Assim, a solução do conflito de atribuição está sujeita ao controle<br />

judicial, da mesma forma dos demais requisitos para o recebimento da denúncia.<br />

Desig<strong>na</strong>do o promotor para a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, oferecida a denúncia,<br />

cabe ao juiz decidir sobre a observância das normas gerais de fixação das<br />

atribuições de cada promotor, recebendo ou não a denúncia.<br />

8. Qual a solução para o conflito de atribuição entre promotores de<br />

Ministérios Públicos diferentes<br />

As atribuições de cada promotor estão fixadas em normas gerais que<br />

podem ser verificadas pelo juiz, quando a denúncia é oferecida. Logo, não<br />

havendo órgão do Ministério Público com atribuição legal para solucio<strong>na</strong>r conflito<br />

de atribuição entre promotores de Ministérios Públicos diferentes não é possível<br />

solucio<strong>na</strong>r o conflito.


Esse conflito deve ser evitado pelo promotor que recebeu o inquérito<br />

remetido pelo colega, promovendo o ato ministerial, anotando a sua discordância.<br />

Com o prosseguimento do feito, oferecida a denúncia, se for o caso, o juiz poderá<br />

definir a sua competência.<br />

9. O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP pode deixar de oferecer a<br />

denúncia<br />

O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP não pode deixar de<br />

oferecer a denúncia, pois não pode rever ato praticado pelo promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>, isto<br />

é, não pode modificar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> formulada pelo procurador-geral. Neste caso,<br />

o órgão acusador que formulou a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> não será o mesmo que oferecerá a<br />

denúncia.<br />

O promotor desig<strong>na</strong>do não tem atribuição para formular a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>,<br />

pois a convicção do Ministério Público (órgão acusador) de que existe justa causa<br />

para o início da ação pe<strong>na</strong>l já foi formada pelo procurador-geral e não existe<br />

previsão legal que permita modificar esta convicção. Sua desig<strong>na</strong>ção é para<br />

oferecer a denúncia, não podendo recusar essa atribuição porque fixada <strong>na</strong> forma<br />

da lei. Se, porém, tiver algum motivo de caráter pessoal para não oferecê-la -<br />

suspeição, impedimento ou incompatibilidade -, deve declarar, remetendo o<br />

inquérito ao substituto legal, com comunicação do motivo, de forma reservada, ao<br />

corregedor-geral. Portanto, o promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP não<br />

atua em nome do procurador-geral (longa manus), mas no seu próprio, com seus<br />

impedimentos e suspeições de caráter pessoal.<br />

Explico melhor. A <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é do Ministério Público e não de cada<br />

promotor que oficiar nos autos. Na situação do art. 28 / CPP, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong><br />

para formar a convicção da existência da justa causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l é<br />

o procurador-geral de justiça que o faz pelo Ministério Público, obrigando a prática


do ato conseqüente, isto é, oferecimento da denúncia. Opinio <strong>delicti</strong> e denúncia<br />

são atos que não se confundem, embora vinculados. Naquele, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong><br />

é o procurador-geral; neste, o promotor desig<strong>na</strong>do. Assim, o promotor desig<strong>na</strong>do<br />

<strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP não atua como longa manus do procurador-geral, mas<br />

por dever de ofício.<br />

10. Conclusões<br />

Na persecução pe<strong>na</strong>l, existe um momento no qual ocorre, pelo órgão<br />

acusador e somente por ele, a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, isto é, com base nos<br />

elementos apurados no inquérito, o promotor, convencido da existência de justa<br />

causa para a ação pe<strong>na</strong>l, oferece a denúncia, encerrando a fase administrativa da<br />

persecução pe<strong>na</strong>l. Portanto, todas as questões que surgirem nesse momento<br />

(recebimento do inquérito pelo promotor e antes do oferecimento da denúncia)<br />

relacio<strong>na</strong>das com a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> somente podem ser respondidas<br />

com base no princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> (toda e qualquer atribuição judicial deve<br />

ser exercida pelo órgão do Ministério Público determi<strong>na</strong>do em lei).<br />

ser observadas:<br />

Para tanto, as disposições seguintes, que foram deduzidas da lei, devem<br />

I) - a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador de que existe justa<br />

causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l;<br />

II) - formada a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o órgão acusador apresenta a denúncia,<br />

materializando a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>;<br />

III) - a apresentação da denúncia ao juiz encerra a fase administrativa da<br />

persecução pe<strong>na</strong>l, iniciando-se a fase jurisdicio<strong>na</strong>l;


IV) - ao receber o inquérito policial, o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação<br />

da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> será aquele que tiver atribuição judicial perante o juiz<br />

apontado como competente pelo delegado;<br />

V) - a remessa do inquérito ao juiz tem por fi<strong>na</strong>lidade o controle sobre o<br />

seu procedimento;<br />

VI) - quando o promotor recebe o inquérito é necessário que verifique se<br />

tem atribuição, no caso concreto, para a formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>;<br />

como sua atribuição está vinculada à competência do juiz perante o qual<br />

oficia, essa verificação se faz quanto à competência deste;<br />

VII) - a aplicação do art. 28 / CPP, autorizando ao procurador-geral<br />

formar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, somente será possível se o promotor que tiver<br />

atribuição judicial perante o juiz apontado como competente requerer o<br />

arquivamento do inquérito;<br />

VIII) - neste caso, o órgão acusador que formou a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> não será<br />

obrigatoriamente o mesmo que oferecerá a denúncia.<br />

Assim, as questões inicialmente propostas são respondidas, em resumo,<br />

da seguinte maneira:<br />

a) - O juiz pode indeferir o retorno de inquérito policial à delegacia para<br />

novas diligências<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o juiz não pode indeferir o<br />

retorno de inquérito policial à delegacia para novas diligências, porque a <strong>opinio</strong><br />

<strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador - e somente dele - de que existe justa


causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l. Ninguém poderá obrigá-lo a essa convicção e<br />

somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer.<br />

b) - O juiz pode deixar de encaminhar inquérito policial ao juiz apontado<br />

como competente pelo promotor<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, o juiz não pode deixar de<br />

encaminhar o inquérito ao juiz apontado como competente pelo promotor, pela<br />

mesma razão que não pode indeferir o seu retorno à delegacia para nova<br />

diligência: a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a convicção do órgão acusador - e somente dele - de<br />

que existe justa causa para o início da ação pe<strong>na</strong>l; ninguém poderá obrigá-lo a<br />

essa convicção e somente o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer.<br />

c) - A divergência entre promotores, acolhida pelos juízes, resulta em<br />

conflito de competência<br />

No momento da formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, a divergência entre<br />

promotores nunca resultará em conflito de competência, pela mesma razão que o<br />

juiz não pode indeferir o retorno dos autos à delegacia ou deixar de encaminhar o<br />

inquérito ao juiz apontado como competente pelo promotor: a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> é a<br />

convicção do órgão acusador - e somente dele - de que existe justa causa para o<br />

início da ação pe<strong>na</strong>l; ninguém poderá obrigá-lo a essa convicção e somente o<br />

promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> poderá se convencer.<br />

d) - Ao resolver conflito de atribuições, o procurador-geral pode desig<strong>na</strong>r<br />

um dos promotores em conflito<br />

No momento formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>, ao resolver conflito de<br />

atribuições, o procurador-geral pode e deve, se for o caso, desig<strong>na</strong>r um dos<br />

promotores em conflito, em respeito ao princípio do promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>. O conflito<br />

surge porque os promotores divergem sobre qual deles tem atribuição para a


formação da <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. O procurador-geral, então, conforme as normas gerais<br />

de fixação das atribuições de cada promotor irá explicitar qual deles tem essa<br />

atribuição, isto é, no caso concreto, qual é o promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong> para a formação da<br />

<strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>.<br />

e) - Qual a solução para o conflito de atribuição entre promotores de<br />

Ministérios Públicos diferentes<br />

As atribuições de cada promotor estão fixadas em normas gerais que<br />

podem ser verificadas pelo juiz, quando a denúncia é oferecida. Logo, não<br />

havendo órgão do Ministério Público com atribuição legal para solucio<strong>na</strong>r conflito<br />

de atribuição entre promotores de Ministérios Públicos diferentes não é possível<br />

solucio<strong>na</strong>r o conflito.<br />

f) - O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP pode deixar de<br />

oferecer a denúncia<br />

O promotor desig<strong>na</strong>do <strong>na</strong> forma do art. 28 / CPP não pode deixar de<br />

oferecer a denúncia, pois não pode rever ato praticado pelo promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>, isto<br />

é, não pode modificar a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> formulada pelo procurador-geral. Neste caso,<br />

o órgão acusador que formulou a <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong> não será o mesmo que oferecerá a<br />

denúncia.<br />

Referências bibliográficas<br />

BARROS, Romeu Pires de Campos. Sistema do processo pe<strong>na</strong>l brasileiro. Rio de<br />

Janeiro: Forense, 1987, vol. 1, p. 80-93.<br />

BATISTA, Nilo. Introdução crítica ao direito pe<strong>na</strong>l brasileiro. 3ª ed. Rio de Janeiro:<br />

Revan, 1996, p. 117-122.


CARNEIRO, Paulo Cezar Pinheiro. O Ministério Público no processo civil e pe<strong>na</strong>l:<br />

promotor <strong><strong>na</strong>tural</strong>: atribuição e conflito. 5ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 1994, p. 46-<br />

51; 190-199.<br />

CINTRA, Antonio Carlos de Araújo; GRINOVER, Ada Pellegrini; DINAMARCO,<br />

Cândido Rangel. Teoria geral do processo. 18ª ed. São Paulo: Malheiros, 2002, p.<br />

213.<br />

JESUS, Damásio E. de. Direito pe<strong>na</strong>l: parte geral.15ª ed. São Paulo: Saraiva,<br />

1991, vol. 1, p. 42.<br />

GRECO FILHO, Vicente. Manual de processo pe<strong>na</strong>l. 6ª ed. São Paulo: Saraiva,<br />

1999, p. 91-92; 98-99; 102.<br />

Karam, Maria Lúcia. Competência no processo pe<strong>na</strong>l. 2ª ed. São Paulo: Editora<br />

Revista dos Tribu<strong>na</strong>is, 1998, p. 128-133.<br />

MARQUES, José Frederico. Elementos de direito processual pe<strong>na</strong>l. Campi<strong>na</strong>s:<br />

Bookseller, 1997, vol. 1, p. 50-53.<br />

MIRABETE, Julio Fabbrini. Processo pe<strong>na</strong>l. 13ª ed. São Paulo: Atlas, 2002, p. 69-<br />

72.<br />

MORAES, José Geraldo Vinci de. História integrada: Geral e Brasil. São Paulo:<br />

Atual, 1998, p. 231.<br />

TOURINHO FILHO, Fer<strong>na</strong>ndo da Costa. Processo pe<strong>na</strong>l. 20ª ed. São Paulo:<br />

Saraiva, 1998, 4º vol., p. 460.<br />

ZAFFARONI, Eugenio Raúl; PIERANGELI, José Henrique. Manual de direito pe<strong>na</strong>l


asileiro: parte geral. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribu<strong>na</strong>is, 1999, p.<br />

163-172.<br />

* Procurador de Justiça em Goiás<br />

Sítio <strong>na</strong> internet: www.juspuniendi.net<br />

emiguel@cultura.com.br<br />

SILVA JÚNIOR, Edison Miguel da. <strong>Promotor</strong> <strong><strong>na</strong>tural</strong> <strong>na</strong> <strong>opinio</strong> <strong>delicti</strong>. Disponível em:<br />

http://www.juspuniendi.net/01/01-0019.htm Acesso em: 2.ago.2006.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!