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Nº28 - FEVEREIRO/2010 35<br />
Mac Donald: “O ensino não é a aplicação do currículo, mas a<br />
contínua invenção, reinvenção e improvisação do currículo".<br />
O professor, como pesquisador de sua própria prática,<br />
transforma-a em objeto de indagação dirigida à melhoria<br />
de suas qualidades educativas. O currículo, enquanto expressão<br />
de sua prática e das qualidades pretendidas, é o<br />
elemento que se reconstrói na indagação, da mesma maneira<br />
que também se reconstrói a própria ação.<br />
A ideia do professor como pesquisador está ligada,<br />
portanto, à necessidade dos professores de pesquisar e<br />
experimentar sobre sua prática enquanto expressão de<br />
determinados ideais educativos.<br />
3. O fundamento aristotélico:<br />
a racionalidade prática<br />
Tanto o trabalho de Schön como o de Stenhouse, e<br />
seus seguidores, podem ser assumidos perfeitamente sob<br />
a perspectiva da racionalidade prática aristotélica.<br />
Para Aristóteles, há uma diferença clara entre o que se<br />
chama de atividades técnicas e as atividades práticas. De<br />
acordo com essa ética, é evidente que a educação é um<br />
tipo de atividade prática se for entendida como dirigida<br />
não à consecução de produtos, mas à realização de qualidades<br />
intrínsecas ao próprio processo educativo.<br />
4. Autonomia das decisões profissionais<br />
e responsabilidade social<br />
Ser sensível às características do caso, e atuar em relação<br />
ao mais apropriado para o mesmo, é algo que requer<br />
processos reflexivos, os quais não podem manipular elementos<br />
que não estiverem assimilados por seus protagonistas,<br />
seja a partir de sua própria experiência ou da proposição<br />
de uma tradição. Se a deliberação é sobre a forma<br />
de realizar o bem, nenhum professor poderá evitar agir em<br />
relação à sua própria concepção do que é o bem na educação,<br />
independentemente das restrições ou das ordens<br />
às quais estejam submetidos.<br />
A conclusão que se extrai é a de que a educação não<br />
pode ser determinada a partir de fora; entenda-se a partir<br />
disto a ideia de que a prática educativa não pode ser a<br />
realização de valores educativos formulados por agentes<br />
externos à própria ação. São os próprios profissionais do<br />
ensino que, em ultima instância, decidem a forma com<br />
que planejam suas aulas, por meio das quais as tentativas<br />
de influência externa são transformadas em práticas que<br />
nem sempre têm muito a ver com a essência das mudanças<br />
pretendidas.<br />
“Como poderemos nós, professores, conhecer o que se<br />
deve fazer: Uma resposta possível é que teremos de receber<br />
instruções em forma de currículo e de especificações sobre<br />
os métodos pedagógicos. Pessoalmente, rejeito essa ideia.<br />
A educação é um aprendizado no contexto de uma busca<br />
da verdade. A verdade não pode estar definida pelo Estado,<br />
nem sequer por meio de processos democráticos: um controle<br />
estrito do currículo e dos métodos pedagógicos nas<br />
escolas é equivalente ao controle totalitário da arte. Alcançar<br />
a verdade por meio da educação é um assunto de juízo<br />
profissional em cada situação concreta, e os professores de<br />
educação ou os administradores não podem nos indicar o<br />
que devemos fazer. As recomendações vão variar em cada<br />
caso. Não necessitaremos de um médico se o que este nos<br />
indicar for um tratamento prescrito pelo Estado ou sugerido<br />
por seu professor, sem sequer nos ter examinado e diagnosticado<br />
previamente” (Stenhouse, 1985:44-5)<br />
CONTRADIÇÕES E CONTRARIEDADES:<br />
DO PROFISSIONAL REFLEXIVO AO<br />
INTELECTUAL CRÍTICO<br />
Não vivemos em uma sociedade simplesmente pluralista,<br />
mas estratificada e dividida em grupos com status desigual,<br />
poder e acesso a recursos materiais e culturais<br />
(Warnke, 1992:150). A prática profissional não é só a realização<br />
de pretensões educativas. Nós, docentes, em um<br />
mundo não só plural, mas também desigual e injusto, nos<br />
encontramos submetidos a pressões e vivemos contradições<br />
e contrariedades das quais nem sempre é fácil sair,<br />
ou nem sequer captar com lucidez.<br />
É essa fraqueza ou insuficiência de argumentação do<br />
profissional reflexivo que conduz à busca de uma concepção<br />
que, sem renunciar ao que anuncia a pretensão reflexiva<br />
(uma prática consciente e deliberativa, guiada pela<br />
busca da coerência pessoal entre as atuações e convicções),<br />
dê conta dessas preocupações em relação a qual<br />
deveria ser a orientação para a reflexão do professor<br />
1. Apropriação generalizada do termo reflexivo<br />
Desde que se publicou a obra de Schön (1983), a ideia<br />
do docente como profissional reflexivo passou a ser moeda<br />
corrente na literatura pedagógica. Vários autores tentaram<br />
fazer uma revisão sobre o enfoque reflexivo. De um<br />
lado, não se sabe, em muitas ocasiões, o que querem dizer<br />
os autores com o termo reflexão, fora do uso comum<br />
utilizado pela maioria dos professores.<br />
Zeichner (1993), por exemplo, em uma tentativa de esclarecer<br />
o campo, identificou na literatura pedagógica cinco<br />
variedades da prática reflexiva:<br />
• Versão acadêmica: que acentua a reflexão sobre as disciplinas,<br />
e a representação e tradução do conhecimento<br />
disciplinar em matérias, para promover a compreensão<br />
dos estudantes;<br />
• Versão de eficiência social: que ressalta a aplicação<br />
minuciosa de estratégias particulares de ensino que vêm<br />
sugeridas por um “conhecimento básico” externo à prática<br />
e que se deduz da pesquisa sobre o ensino;<br />
• Versão evolutiva que prioriza um ensino sensível ao pensamento,<br />
aos interesses e às pautas do desenvolvimento<br />
evolutivo dos estudantes, bem como da própria evolução<br />
do professor como docente e como pessoa;<br />
• Versão de reconstrução social que acentua a reflexão<br />
sobre os contextos institucionais, sociais e políticos, bem<br />
como a valorização das atuações em sala de aula em<br />
relação à sua capacidade para contribuir para uma igualdade<br />
maior, justiça e condições humanas, tanto no ensino<br />
como na sociedade;<br />
• Versão genética, na qual se defende a reflexão em ge-