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Nº28 - FEVEREIRO/2010 49<br />
mento, discernimento, sentimentos e imaginação de que<br />
necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem,<br />
tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.<br />
CAPÍTULO 5<br />
EDUCAÇÃO AO LONGO DE TODA A VIDA<br />
A educação ocupa cada vez mais espaço na vida das<br />
pessoas à medida que aumenta o papel que desempenha<br />
na dinâmica das sociedades modernas. Este fenômeno tem<br />
várias causas. A divisão tradicional da existência em períodos<br />
distintos — o tempo da infância e da juventude consagrado<br />
à educação escolar, o tempo da atividade profissional<br />
adulta, o tempo da aposentadoria — já não corresponde às<br />
realidades da vida contemporânea e, ainda menos, às exigências<br />
do futuro. Hoje em dia, ninguém pode pensar adquirir,<br />
na juventude, uma bagagem inicial de conhecimentos<br />
que lhe baste para toda a vida, porque a evolução rápida<br />
do mundo exige uma atualização contínua dos saberes,<br />
mesmo que a educação inicial dos jovens tenda a prolongar-se.<br />
Além disso, a redução do período de atividade profissional,<br />
a diminuição do volume total de horas de trabalho<br />
remuneradas e o prolongamento da vida após a aposentadoria<br />
aumentam o tempo disponível para outras atividades.<br />
Paralelamente, a própria educação está em plena mutação:<br />
as possibilidades de aprender oferecidas pela sociedade<br />
exterior à escola multiplicam-se, em todos os domínios,<br />
enquanto a noção de qualificação, no sentido tradicional,<br />
é substituída, em muitos setores modernos de atividade,<br />
pelas noções de competência evolutiva e capacidade<br />
de adaptação (cf. capítulo quarto).<br />
A Educação no coração da sociedade<br />
A família constitui o primeiro lugar de toda e qualquer<br />
educação e assegura, por isso, a ligação entre o afetivo e o<br />
cognitivo, assim como a transmissão dos valores e das<br />
normas. As suas relações com o sistema educativo são,<br />
por vezes, tidas como relações de antagonismo: em alguns<br />
países em desenvolvimento, os saberes transmitidos<br />
pela escola podem opor-se aos valores tradicionais da família;<br />
acontece também que as famílias mais desfavorecidas<br />
encaram, muitas vezes, a instituição escolar como um<br />
mundo estranho de que não compreendem nem os códigos<br />
nem as práticas.<br />
Um diálogo verdadeiro entre pais e professores é, pois,<br />
indispensável, porque o desenvolvimento harmonioso das<br />
crianças implica uma complementaridade entre educação<br />
escolar e educação familiar.<br />
Diga-se, a propósito, que as experiências de educação<br />
pré-escolar dirigidas a populações desfavorecidas mostraram<br />
que a sua eficácia deveu-se muito ao fato das famílias<br />
terem passado a conhecer melhor e a respeitar mais o sistema<br />
escolar.<br />
Por outro lado, cada um aprende ao longo de toda a<br />
sua vida no seio do espaço social constituído pela comunidade<br />
a que pertence. Esta varia, por definição, não só de<br />
um indivíduo para outro, mas também no decurso da vida<br />
de cada um. A educação deriva da vontade de viver juntos<br />
e de basear a coesão do grupo que é confrontado com<br />
múltiplas obrigações e que seriam particularmente bemvindas<br />
soluções como o trabalho por tempo reduzido, licenças<br />
por paternidade, licenças sabáticas ou licenças para<br />
formação Uma política do tempo de trabalho que tivesse<br />
em conta estas necessidades,poderia contribuir muito para<br />
conciliar a vida familiar e a vida profissional, e para ultrapassar<br />
a divisão tradicional de papéis entre homens e mulheres.<br />
Desde o começo dos anos oitenta André Gorz lutou<br />
por uma redução substancial da duração da vida ativa.<br />
A proposta do antigo presidente da Comissão Européia,<br />
Jacques Delors — é a de chegarmos a uma duração da<br />
vida ativa de 40.000 horas até ao ano 2010 — sublinha a<br />
atualidade e pertinência deste ponto de vista.<br />
CAPÍTULO 6<br />
DA EDUCAÇÃO BÁSICA À UNIVERSIDADE<br />
O conceito de uma educação que se desenrola ao longo<br />
de toda a vida não leva o autor a negligenciar a importância<br />
da educação formal, em proveito da não-formal ou<br />
informal. O autor pensa, pelo contrário, que é no seio dos<br />
sistemas educativos que se forjam as competências e aptidões<br />
que farão com que cada um possa continuar a aprender.<br />
Longe de se oporem, educação formal e informal devem<br />
fecundar-se mutuamente. Por isso, é necessário que<br />
os sistemas educativos se adaptem a estas novas exigências:<br />
trata-se, antes de mais nada, de repensar e ligar entre<br />
si as diferentes sequências educativas, de as ordenar<br />
de maneira diferente, de organizar as transições e de diversificar<br />
os percursos educativos. Assim se escapará ao<br />
dilema que marcou profundamente as políticas de educação:<br />
selecionar multiplicando o insucesso escolar e o risco<br />
de exclusão, ou nivelar por baixo, uniformizando os cursos,<br />
em detrimento da promoção dos talentos individuais.<br />
É no seio da família, mas também e mais ainda, no<br />
nível da educação básica (que inclui em especial os ensinos<br />
pré-primário e primário) que se forjam as atitudes perante<br />
a aprendizagem que durarão ao longo de toda a vida:<br />
a chama da criatividade pode começar a brilhar ou, pelo<br />
contrário, extinguir-se; o acesso ao saber pode tornar-se,<br />
ou não, uma realidade. É então que cada um de nós adquire<br />
os instrumentos do futuro desenvolvimento das suas<br />
capacidades de raciocinar e imaginar, da capacidade de<br />
discernir, do senso das responsabilidades, é então que<br />
aprende a exercer a sua curiosidade em relação ao mundo<br />
que o rodeia. A Comissão está bem consciente das<br />
disparidades intoleráveis que subsistem entre grupos sociais,<br />
países, ou diferentes regiões do mundo: generalizar o<br />
acesso a uma educação básica de qualidade continua a<br />
ser um dos grandes desafios dos finais do século XX. É, de<br />
fato, esse o sentido do compromisso que a comunidade<br />
internacional subscreveu por ocasião da Conferência de<br />
Jomtien: porque a questão não diz respeito apenas aos<br />
países em desenvolvimento, é necessário que todos dominem<br />
os conhecimentos indispensáveis à compreensão do<br />
mundo em que vivem. Este empenho deve ser renovado,