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Nº28 - FEVEREIRO/2010 39<br />
fessores poderiam introduzir nas inovações planejadas significavam<br />
um fracasso, uma adulteração das mesmas, e<br />
era necessário contê-las. Planejar bem uma inovação era<br />
reduzir ao máximo a possibilidade de que fosse “deformada”<br />
pelos professores.<br />
As experiências de desenvolvimento do currículo baseadas<br />
nos professores.<br />
Como alternativas às concepções tecnológicas do currículo,<br />
nas quais o docente ficava reduzido ao papel do<br />
técnico aplicador de planos alheios, surgiram experiências<br />
em que os professores eram protagonistas do desenvolvimento<br />
curricular. Nesses casos, não se pretendia a fidelidade<br />
dos professores ao programa curricular, mas o contrário,<br />
apelava-se para sua capacidade de experimentação<br />
das propostas de ensino, para que eles mesmos testassem<br />
suas possibilidades educativas.<br />
Mudança de perspectiva na compreensão dos professores.<br />
Um dos fatores fundamentais nesta mudança de mentalidade<br />
foi a aceitação, por parte da comunidade de pesquisadores,<br />
de que os professores não poderiam ser compreendidos<br />
o suficiente em termos de suas condutas ou<br />
como simples aplicadores de diretrizes. Com o advento do<br />
behaviorismo e o assentamento dos modelos cognitivos<br />
surgiu uma nova linha de pesquisa que entendia em uma<br />
nova fonte de compreensão dos professores como mediadores<br />
cognitivos das ideias e propostas educativas, bem<br />
como pensadores dinâmicos de sua própria realidade de<br />
ensino (Clark e Peterson, 1989).<br />
A escola como unidade de ação e mudança. Após sucessivas<br />
experiências de inovação e diversas tentativas de<br />
transformação curricular, foi-se descobrindo também que<br />
era insuficiente pensar no ensino e em sua melhoria com<br />
professores isolados em suas salas de aula. No entanto, o<br />
reconhecimento do papel mediador das escolas não se pode<br />
realizar sem levar em conta que são as pessoas concretas<br />
que as habitam, ou seja, aqueles que vivem, interpretam,<br />
transmitem e transformam os costumes, relações e crenças<br />
que constituem a cultura da escola.<br />
A crise das ideias de mudança como solução definitiva<br />
de problemas. Uma das razões para a perda de fé nos clássicos<br />
modelos de inovação encontra-se no fato de que cada<br />
vez mais se desconfia da aspiração para encontrar a solução<br />
definitiva dos problemas que afligem a educação ou<br />
sua organização institucional. Os problemas e suas circunstâncias<br />
mudam no tempo e no espaço, transformando-se<br />
e singularizando-se, e as soluções devem ser aceitas como<br />
aproximações provisórias que se tentam adequar como<br />
tentativa de circunstâncias concretas de casa caso ou escola<br />
em particular. A realidade é sempre mutante e as organizações<br />
educativas devem aprender a se adaptar e a<br />
encontrar suas próprias estratégias de ação. Isto supõe a<br />
transformação da própria noção de mudança escolar.<br />
2. A descentralização administrativa das reformas<br />
Um fenômeno bastante comum na maioria dos países<br />
ocidentais, na década de 1990, foi o surgimento de reformas<br />
educacionais que estão apresentando três âmbitos fundamentais<br />
de preocupação: o currículo, as escolas e os professores.<br />
Embora de forma bastante ambígua, quando não<br />
claramente contraditória, a descentralização e a autonomia<br />
estão sendo utilizadas como princípios nos quais se dizem<br />
baseadas as mudanças propostas: a descentralização do<br />
currículo associada à autonomia de escolas e professores.<br />
Em termos de política educativa, poderíamos dizer que<br />
uma das coisas que o princípio de descentralização supôs<br />
foi o reconhecimento, no processo de planejamento<br />
curricular, deste fato. Razão pela qual se tende a pensar<br />
cada vez mais no currículo oficial como aquele documento<br />
que deve ser adaptado, desenvolvido ou concretizado<br />
nas circunstâncias particulares de ensino. Este princípio<br />
passou a fazer parte do discurso público e da retórica da<br />
administração em relação ao currículo, e que, não sendo<br />
tão novo na experiência dos professores, não justificou por<br />
si só as atuais tendências de descentralização curricular.<br />
Especialistas e administradores insistem na importância<br />
de que as escolas se considerem unidades de autogestão,<br />
sensíveis a seu contexto, tratando de atender às<br />
suas demandas e em contínuo desenvolvimento profissional<br />
e institucional. Os professores tornarão sua a reforma<br />
se tomarem o currículo como seu e se comprometerem<br />
com sua escola, conferindo-lhe um caráter próprio e singular.<br />
A qualidade da educação depende da qualidade das<br />
escolas, e estas, por sua vez, dependem de que os professores<br />
se comprometam com elas, de que trabalhem em<br />
colaboração com seus colegas para sua permanente<br />
melhoria, atendendo às necessidades do contexto e respondendo<br />
às demandas.<br />
Que cada escola assuma “autonomamente” a responsabilidade<br />
de seu próprio projeto educacional tem sua tradução<br />
na prática no assumir tal responsabilidade perante<br />
a “sociedade”, entendendo-se, neste caso, as famílias concretas<br />
que buscam as escolas concretas. A sociedade,<br />
particularizada nas famílias singulares com filhos em idade<br />
escolar, assume as responsabilidades “devolvidas” pelo<br />
Estado, adquirindo a obrigação de exigir das escolas uma<br />
educação de qualidade. A forma pela qual se entende esse<br />
princípio de participação das famílias é, sobretudo, incentivando<br />
e facilitando a escolha das escolas.<br />
Dessa forma, a devolução de responsabilidades é entendida<br />
como entrega, aos atores concretos (as escolas específicas<br />
e as famílias envolvidas em cada uma delas), da responsabilidade<br />
dos efeitos de suas decisões isoladas. Efeitos<br />
que, entretanto, por vezes só podem ser entendidos em sua<br />
dimensão sociológica, cultural e política, e não só na dimensão<br />
particular em que se tomam estas decisões.<br />
4. O que há por trás As mudanças<br />
ideológicas de fundo<br />
Até o momento, as razões dessas tendências reformistas,<br />
que podem ser observadas tanto na Espanha como<br />
internacionalmente, estão presentes, de um modo ou de<br />
outro, nos discursos públicos e na retórica das administrações.<br />
Entretanto, devemos compreender o fenômeno