20.03.2015 Views

Os dicionários de falsos amigos - Celsul.org.br

Os dicionários de falsos amigos - Celsul.org.br

Os dicionários de falsos amigos - Celsul.org.br

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

<strong>Os</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong><<strong>br</strong> />

Félix Bugueño Miranda<<strong>br</strong> />

Instituto <strong>de</strong> Letras – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (UFRGS)<<strong>br</strong> />

felixv@uol.com.<strong>br</strong><<strong>br</strong> />

Resumo. O objetivo do presente trabalho é fazer uma exposição so<strong>br</strong>e o<<strong>br</strong> />

fenômeno dos <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, tanto do ponto <strong>de</strong> vista lexicológico quanto do<<strong>br</strong> />

ponto <strong>de</strong> vista (meta)lexicográfico. Essa dupla perspectiva se justifica, já que<<strong>br</strong> />

as relações formais e <strong>de</strong> conteúdo entre duas palavras <strong>de</strong> estrutura fonológica<<strong>br</strong> />

análoga ou idêntica são muito mais complexas do que normalmente se pensa.<<strong>br</strong> />

Como suporte metodológico, serão empregados princípios <strong>de</strong> lingüística<<strong>br</strong> />

geral, tais como as distinções entre sincronia e diacronia, uma concepção<<strong>br</strong> />

diassitêmica da língua e princípios <strong>de</strong> estruturação metalexicográficos. <strong>Os</strong><<strong>br</strong> />

resultados do nosso trabalho <strong>de</strong>monstram que esse tipo <strong>de</strong> lexicografia requer<<strong>br</strong> />

subsídios muito mais complexos para se obter resultados satisfatórios.<<strong>br</strong> />

Resumen. El objetivo <strong>de</strong>l presente trabajo es ofrecer una exposición so<strong>br</strong>e el<<strong>br</strong> />

fenómeno <strong>de</strong> los <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, tanto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> una perspectiva lexicológica,<<strong>br</strong> />

como <strong>de</strong>s<strong>de</strong> una perspectiva (meta)lexicográfica. Esa doble perspectiva se<<strong>br</strong> />

justifica porque las relaciones formales y <strong>de</strong> contenido entre dos pala<strong>br</strong>as <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

estructura fonológica análoga o idéntica son mucho más complejas <strong>de</strong> lo que<<strong>br</strong> />

normalmente se piensa. Como soporte metodológico serán empleados<<strong>br</strong> />

principios <strong>de</strong> lingüística general, tales como sincronía y diacronía, una<<strong>br</strong> />

concepción diasistémica <strong>de</strong> la lengua y principios <strong>de</strong> estructuración<<strong>br</strong> />

(meta)lexicográficos. Los resultados <strong>de</strong> nuestro trabajo <strong>de</strong>muestran que ese<<strong>br</strong> />

tipo <strong>de</strong> lexicografía requiere subsidios mucho más complejos para obtener<<strong>br</strong> />

resultados satisfactorios.<<strong>br</strong> />

Palavras-chave: lexicografia; lexicologia; <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong><<strong>br</strong> />

1. Introdução<<strong>br</strong> />

Já em um trabalho anterior (BUGUEÑO, 2007b), foi mencionado que os dicionários <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> encontram-se em uma situação um tanto especial: como curiosida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

extralingüística, constituem um fato léxico bastante conhecido e bem representado em<<strong>br</strong> />

muitas o<strong>br</strong>as dicionarísticas; como problema lexicológico e (meta)lexicográfico, no<<strong>br</strong> />

entanto, são ainda pouco conhecidos. Para po<strong>de</strong>r compreen<strong>de</strong>r a natureza <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

lexicografia, faz-se necessário abordar o problema separando e analisando,<<strong>br</strong> />

primeiramente, o fato lexicológico “<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>” para, posteriormente, se a<strong>de</strong>ntrar na<<strong>br</strong> />

discussão lexicográfica <strong>de</strong>sse fenômeno.<<strong>br</strong> />

2. <strong>Os</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> como problema lexicológico<<strong>br</strong> />

2.1. A primeira questão a ser <strong>de</strong>senvolvida é <strong>de</strong>finir o que são “<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>”. Falsos<<strong>br</strong> />

<strong>amigos</strong> são duas unida<strong>de</strong>s léxicas <strong>de</strong> duas línguas que apresentam uma convergência<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

fonológica total ou parcial, mas uma divergência <strong>de</strong> significado, que po<strong>de</strong> ser também<<strong>br</strong> />

total ou parcial.<<strong>br</strong> />

2.2. Como conseqüência direta da <strong>de</strong>finição oferecida em 2.1., é pertinente<<strong>br</strong> />

assinalar que tanto a convergência fonológica total ou parcial quanto a divergência total<<strong>br</strong> />

ou parcial se <strong>de</strong>vem a uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores. Esses fatores, no entanto, não<<strong>br</strong> />

costumam ser levados em conta na praxe lexicográfica <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, refletindo-se<<strong>br</strong> />

na megaestrutura da quase totalida<strong>de</strong> dos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> em circulação 1 ,<<strong>br</strong> />

questão que será abordada na terceira parte do trabalho. A <strong>de</strong>finição proposta em 2.1.<<strong>br</strong> />

permite, por outro lado, estabelecer as seguintes precisões:<<strong>br</strong> />

2.2.1. <strong>Os</strong> chamados heterotônicos não são <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> em função da evi<strong>de</strong>nte<<strong>br</strong> />

natureza exclusivamente fonológica do fenômeno. Nesses casos, não há divergência<<strong>br</strong> />

sêmica.<<strong>br</strong> />

2.2.2. No que diz respeito aos diferentes nomes dados ao fenômeno, em<<strong>br</strong> />

Bugueño (2002, p.187-190) foi feita uma análise <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>signações, concluindo-se que<<strong>br</strong> />

“<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>” constitui a <strong>de</strong>signação mais neutra. Além <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>signação, as outras<<strong>br</strong> />

empregadas são as seguintes 2 : “<strong>falsos</strong> cognatos”, “heterossemânticos”, “homônimos<<strong>br</strong> />

interlinguais”, “<strong>falsos</strong> enganadores”, ou “<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>”. Uma das mais usadas é a <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

“<strong>falsos</strong> cognatos”. Em Bugueño (1999, p.74 e ss.) argumentamos contra tal <strong>de</strong>signação.<<strong>br</strong> />

Consi<strong>de</strong>ramos que a palavra cognato restringe o problema. Lem<strong>br</strong>amos que cognato se<<strong>br</strong> />

refere a uma língua ou forma lingüística historicamente <strong>de</strong>rivada da mesma fonte <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

outra língua/forma (CRYSTAL, 1988, s.v. cognato). Portanto, haveria <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong><<strong>br</strong> />

unicamente naqueles casos em que há uma relação etimológica entre duas formas. No<<strong>br</strong> />

entanto, os casos <strong>de</strong> choques homonímicos apresentam uma relevância significativa,<<strong>br</strong> />

como será exposto em 2.2.3. Palavras como it. burro e esp. burro, embora<<strong>br</strong> />

correspondam a duas bases etimológicas completamente distintas 3 , são palavras muito<<strong>br</strong> />

freqüentes em ambas as línguas como para não serem consi<strong>de</strong>radas <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. Outra<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signação que vem ganhando <strong>de</strong>staque aqui no Brasil é a <strong>de</strong> heterossemânticos. Se a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signação <strong>de</strong>ve dar conta <strong>de</strong> um fato lingüístico claro e <strong>de</strong>finido, que se oponha a<<strong>br</strong> />

outros fatos lingüísticos, então heterossemânticos é altamente insatisfatória, já que<<strong>br</strong> />

parece que a “pluralida<strong>de</strong> na semanticida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> uma palavra ocorre somente no<<strong>br</strong> />

fenômeno léxico <strong>de</strong> que tratamos, coisa que é, naturalmente, completamente absurda.<<strong>br</strong> />

Heterossemânticos, por outra parte, está associado a heterossemia, que, segundo MLS<<strong>br</strong> />

(2000, s.v. Heterosemie), significa “Diferença <strong>de</strong> significado <strong>de</strong> um lexema no caso <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

homofonia, homografia e homonímia” 4 . Em outras palavras, heterossemanticida<strong>de</strong> seria<<strong>br</strong> />

simplesmente outra <strong>de</strong>signação para polissemia. A <strong>de</strong>signação homomorfos heterossemânticos<<strong>br</strong> />

tampouco é completamente satisfatória, <strong>de</strong>vido à confusão que gera. Ao se<<strong>br</strong> />

falar em palavras que têm a mesma estrutura fonológica, mas diferente significação, e<<strong>br</strong> />

aten<strong>de</strong>ndo à risca à significação <strong>de</strong> “homomorfos heterossemânticos”, é difícil<<strong>br</strong> />

1 Para o conceito <strong>de</strong> “megaestrutura”, cf. Hartmann (2001, p. 59).<<strong>br</strong> />

2 Na melalexicografia inglesa, além <strong>de</strong> “false friends”, costuma-se empregar também “confusables” (cf.<<strong>br</strong> />

HARTMANN, JAMES, 2001, s.v.). No entanto, essa <strong>de</strong>signação possui um caráter hiperonímico, já que<<strong>br</strong> />

serve tanto para o fenômeno que se discute nessa oportunida<strong>de</strong> como para os parônimos.<<strong>br</strong> />

3 It. burro “manteiga” (


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

estabelecer uma diferença entre o fenômeno dos <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, a homonímia e/ou a<<strong>br</strong> />

polissemia 5 . Assim, por exemplo, ao interior do par léxico esp. acordar/port. acordar se<<strong>br</strong> />

dá a seguinte situação: esp. acordar é homofônico (cfr. DEtEsp (1987, s.v. acordar 1 ,<<strong>br</strong> />

acordar 2 )), ou seja, cumpre, a condição <strong>de</strong> ser “homomorfo heterossemântico”. De<<strong>br</strong> />

outro lado, entre esp. acordar/ port. acordar existem significações não compartilhadas.<<strong>br</strong> />

São, portanto, também homomorfos heterossemânticos. Como estabelecer a diferença<<strong>br</strong> />

entre um e outro fenômeno léxico a partir da mesma <strong>de</strong>signação? Em relação à <strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

enganadores, parece ser o caso clássico <strong>de</strong> “contradictio in terminis”. Se um falante do<<strong>br</strong> />

espanhol manifesta em português que uma iguaria é exquisita (na significação esp.<<strong>br</strong> />

“gostosa”), então a condição <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> fonológica entre port. esquisito e esp.<<strong>br</strong> />

exquisito o terá enganado efetivamente. Falso enganador, então, seria um fenômeno<<strong>br</strong> />

léxico que, aparentemente, engana, mas ao mesmo tempo não. Uma solução um tanto<<strong>br</strong> />

diferente é a <strong>de</strong>signação “homônimos interlinguais”. Ainda que não ofereça uma<<strong>br</strong> />

solução completamente satisfatória, pelo menos faz alguma justiça à realida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

lingüística, pois se está reconhecendo o caráter contrastivo do fenômeno que envolve<<strong>br</strong> />

duas línguas.<<strong>br</strong> />

2.2.3. A origem dos <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>ver a três causas:<<strong>br</strong> />

2.2.3.1. Duas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> duas línguas apresentam a mesma base etimológica,<<strong>br</strong> />

mas uma <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s per<strong>de</strong> uma significação. Assim, por exemplo, do latim tutor<<strong>br</strong> />

“protetor” (cf. LatDtHwtb 1988,s.v.) provêm as formas ingl. tutor e e. tutor. A<<strong>br</strong> />

significação na língua inglesa, “professor particular”, que também existiu no espanhol, é<<strong>br</strong> />

hoje antiquada nessa última língua.<<strong>br</strong> />

2.2.3.2. Duas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> duas línguas apresentam a mesma base etimológica,<<strong>br</strong> />

mas uma <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s ganha uma nova significação. Por exemplo, em pt.o adjetivo<<strong>br</strong> />

hinchada significa “inflamada”; no espanhol, além <strong>de</strong>ssa significação, significa também<<strong>br</strong> />

“torcida” (substantivo).<<strong>br</strong> />

2.2.3.3. A convergência fonológica <strong>de</strong>ve-se a um choque homonímico, como,<<strong>br</strong> />

por exemplo, pt. cueca, eCh. cueca. O português cueca é um <strong>de</strong>rivado vernáculo <strong>de</strong> cu<<strong>br</strong> />

(cf. DEtP (1996, s.v. cu), enquanto que eCh. cueca é, ao que parece, <strong>de</strong> origem<<strong>br</strong> />

onomatopéica; outro tanto acontece com a. Regal “prateleira” e e. regalo “presente”. A<<strong>br</strong> />

forma alemã é <strong>de</strong> origem <strong>de</strong>sconhecida (cf. EtWtbDt (1999, s.v.), enquanto que a forma<<strong>br</strong> />

espanhola parece ser <strong>de</strong> origem francesa. Em relação a esse último aspecto, Gorbahn-<<strong>br</strong> />

Orme, Hausmann (1989, p. 2883) manifestam que os homônimos não po<strong>de</strong>m ser<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rados casos <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. No entanto, po<strong>de</strong>m ser arrolados dois argumentos<<strong>br</strong> />

contra essa posição. Em primeiro lugar, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> choques homonímicos que<<strong>br</strong> />

constituem <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> é muito significativa para ser <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada. Em segundo<<strong>br</strong> />

lugar, são realmente poucas as línguas com uma base léxica predominantemente<<strong>br</strong> />

vernácula, <strong>de</strong> forma que muitos casos <strong>de</strong> choques homonímicos apresentam, na verda<strong>de</strong>,<<strong>br</strong> />

uma base etimológica comum. Exemplo disso são as formas ing. exit, port. êxito. Por<<strong>br</strong> />

outro lado, é pertinente assinalar também que é possível distinguir, em relação à<<strong>br</strong> />

convergência fonológica, entre homônimos propriamente ditos, como checo pan<<strong>br</strong> />

5 Temos sido particularmente cuidadosos no uso alternativo dos conectores aditivo e disjuntivo na nossa<<strong>br</strong> />

formulação, seguindo a observação <strong>de</strong> Palmer (1991): it is not always clear wheather we shall say that [sc.<<strong>br</strong> />

a pair of words are] an example of polisemy (...) or of homonimy (...) (p.101). Optamos pela alternativa da<<strong>br</strong> />

homonímia em razão <strong>de</strong> critérios etimológicos.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 3


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

“senhor” e e. pan “pão”, e o que chamamos <strong>de</strong> “ressonancias fonológicas” [resonâncias<<strong>br</strong> />

fonológicas] (cf. BUGUEÑO (2005, p.253), isto é, quando só em uma das línguas existe<<strong>br</strong> />

uma unida<strong>de</strong> léxica, mas que possui alguma similitu<strong>de</strong> com os contornos fonológicos<<strong>br</strong> />

próprios <strong>de</strong> outra, havendo, portanto, estruturas canônicas análogas. Esse é ocaso, por<<strong>br</strong> />

exemplo, do a. Rezensent “pessoa que resenha um livro” e do i. stanciare “pôr uma<<strong>br</strong> />

quantia <strong>de</strong> dinheiro à disposição”. Em ambos os casos, as combinações fonológicas do<<strong>br</strong> />

alemão têm alguma similitu<strong>de</strong> com palavras do espanhol, tais como senso “senso” e<<strong>br</strong> />

estancia. O prefixo re-, por outro lado, possui um valor <strong>de</strong> duplicação no espanhol.<<strong>br</strong> />

2.2.4. <strong>Os</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> constituem sempre um problema quase exclusivamente entre<<strong>br</strong> />

estados sincrônicos <strong>de</strong> duas línguas. Só para fins filológicos consi<strong>de</strong>ra-se,<<strong>br</strong> />

esporadicamente, problemas <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> uma perspectiva diacrônica (cf. por<<strong>br</strong> />

exemplo, BALDINGER 1974, 1981). A dimensão sincrônica está intimamente ligada ao<<strong>br</strong> />

fato <strong>de</strong> serem encontrados no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>de</strong> uma língua<<strong>br</strong> />

estrangeira, embora isso aconteça também nas ativida<strong>de</strong>s tradutórias. De fato, o públicoalvo<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> Koesssler, Derocquigny (1928) era justamente o dos tradutores. A dimensão<<strong>br</strong> />

sincrônica tem uma ligação direta com a <strong>de</strong>finição macroestrutural qualitativa dos<<strong>br</strong> />

dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> (cf. BUGUEÑO 2007a para o conceito <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição<<strong>br</strong> />

macroestrutural), como será exposto na terceira parte do trabalho.<<strong>br</strong> />

3. <strong>Os</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> como problema lexicográfico<<strong>br</strong> />

Embora a lexicografia <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> possua claros pontos <strong>de</strong> convergência com a<<strong>br</strong> />

lexicografia bilíngüe, é pertinente assinalar que apresenta também notórias diferenças.<<strong>br</strong> />

No entanto, a maioria dos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> é <strong>de</strong>senhada segundo a<<strong>br</strong> />

arquitetura arquetípica do dicionário bilíngüe, o que, às vezes, compromete até a<<strong>br</strong> />

eficácia do instrumento lexicográfico. Nesse ponto, ganha importância a distinção entre<<strong>br</strong> />

genótipos e fenótipos lexicográficos. Em Bugueño, Farias (2008), argumenta-se em<<strong>br</strong> />

favor <strong>de</strong> estabelecer uma diferença entre um genótipo lexicográfico, isto é, um tipo <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

o<strong>br</strong>a lexicográfica <strong>de</strong>finida à luz <strong>de</strong> um feixe <strong>de</strong> traços, e um fenótipo, ou seja, a<<strong>br</strong> />

manifestação real <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>a dicionarística, não necessariamente produto <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>finição teórico-metodológica. Isto significa que é possível distinguir dois tipos <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

situações. Por um lado, há o<strong>br</strong>as lexicográficas concebidas segundo um <strong>de</strong>terminado<<strong>br</strong> />

conjunto <strong>de</strong> traços e cuja manifestação real é conseqüente com esse conjunto <strong>de</strong> traços.<<strong>br</strong> />

Por outro lado, há o<strong>br</strong>as que são a manifestação <strong>de</strong> uma intenção <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>rem<<strong>br</strong> />

(intencionalmente ou não) a um genótipo, mas que, <strong>de</strong> fato, são uma simples<<strong>br</strong> />

transposição “amorfa” <strong>de</strong> algum tipo <strong>de</strong> dicionário. No Brasil, por exemplo, a quase<<strong>br</strong> />

totalida<strong>de</strong> das o<strong>br</strong>as ditas escolares correspon<strong>de</strong> a fenótipos lexicográficos 6 .<<strong>br</strong> />

3.1. Em Bugueño (2007b) é feita uma distinção entre dicionário bilíngüe e<<strong>br</strong> />

dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, caracterizando-se ambos genótipos lexicográficos. Em<<strong>br</strong> />

primeiro lugar, constata-se que o dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> aparece sempre<<strong>br</strong> />

“eclipsado” pelo dicionário bilíngüe. É pertinente lem<strong>br</strong>ar que os dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

<strong>amigos</strong> aparecem somente na meta<strong>de</strong> do século XVIII. A sua redação mais sistemática<<strong>br</strong> />

é, porém, um fato intimamente atrelado à segunda meta<strong>de</strong> do século XX. Esses dados<<strong>br</strong> />

ganham ainda mais relevância se comparados com a história do dicionário bilíngüe,<<strong>br</strong> />

6 Essa indistinção conceitual correspon<strong>de</strong>-se com as chamadas taxonomias impressionistas, ou seja, à<<strong>br</strong> />

classificação <strong>de</strong> dicionários segundo critérios fenomenológicos, tais como o tamanho. Por outro lado, as<<strong>br</strong> />

taxonomias funcionais e as lingüísticas lidam com genótipos lexicográficos.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 4


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

tradição lexicográfica que se cultiva mais ou menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2500 anos a.C. (cfr. VAN<<strong>br</strong> />

HOOF 1994, p.37). Na Ida<strong>de</strong> Média, por outro lado, a praxe lexicográfica mais<<strong>br</strong> />

expressiva foi também a do dicionário bilíngüe, aliás, em clara vantagem se comparada<<strong>br</strong> />

com a o dicionário monolíngüe. Outro elemento a ser consi<strong>de</strong>rado é o fato <strong>de</strong> o<<strong>br</strong> />

dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> também aparecer atrelado, em parte, ao dicionário bilíngüe,<<strong>br</strong> />

levando em consi<strong>de</strong>ração que a nominata apresenta, aparentemente, um universo léxico<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> duas línguas. Como <strong>de</strong>pois será <strong>de</strong>talhado, o dicionário bilíngüe e o dicionário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> apresentam duas concepções diferentes em relação ao léxico das línguas<<strong>br</strong> />

que codificam. Por outro lado, Hartmann (2001, p.73) é categórico ao afirmar que<<strong>br</strong> />

nenhuma tipologia proposta até agora consegue representar completamente todos os<<strong>br</strong> />

possíveis tipos <strong>de</strong> dicionários. Alertamos que essa afirmação <strong>de</strong> Hartmann (2001) <strong>de</strong>ve<<strong>br</strong> />

ser compreendida, na nossa opinião, em relação aos genótipos <strong>de</strong> dicionários, isto é, ao<<strong>br</strong> />

dicionário entendido como feixe <strong>de</strong> traços que formam uma oposição constante entre as<<strong>br</strong> />

diferentes o<strong>br</strong>as lexicográficas. Se no plano genotípico isso é difícil <strong>de</strong> ser alcançado, já<<strong>br</strong> />

que não se dispõe, para muitos dicionários, <strong>de</strong> feixes <strong>de</strong> traços que permitam a sua<<strong>br</strong> />

caracterização, a situação é mais complexa no plano fenotípico, ou seja, nas<<strong>br</strong> />

manifestações concretas das diferentes o<strong>br</strong>as lexicográficas. Em função <strong>de</strong>ssas<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rações, julgamos que a única maneira <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r situar o dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

<strong>amigos</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma tipologia <strong>de</strong> o<strong>br</strong>as lexicográficas é trabalhando com um número<<strong>br</strong> />

reduzido <strong>de</strong> parâmetros. Isto correspon<strong>de</strong> ao que Schlaefer (2002, p. 108) chama <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

classificação por traços guias livres 7 e que oferece a vantagem <strong>de</strong> permitir uma<<strong>br</strong> />

somatória <strong>de</strong> traços relativamente exaustiva. Para gerar uma taxonomia parcial,<<strong>br</strong> />

escolhemos três parâmetros básicos e tentamos dar a cada um <strong>de</strong>les uma combinação<<strong>br</strong> />

binária dicotômica: A. Perspectiva por função do dicionário: transferência <strong>de</strong> material<<strong>br</strong> />

léxico entre duas línguas v/s contraste entre línguas. B. Perspectiva do signo lingüístico:<<strong>br</strong> />

onomasiologia v/s semasiologia. C. Perspectiva por eixos da língua: diacronia parcial,<<strong>br</strong> />

diatopia, diastratia-diafasia v/s sincronia, diatopia parcial, diastratia-diafasia parcial<<strong>br</strong> />

3.1.1. Perspectiva por função do dicionário. O dicionário bilíngüe é uma o<strong>br</strong>a<<strong>br</strong> />

lexicográfica que almeja estabelecer relações <strong>de</strong> equivalência léxica (e semântica) entre<<strong>br</strong> />

duas línguas com o objetivo <strong>de</strong> possibilitar a transferência <strong>de</strong> material léxico <strong>de</strong> uma<<strong>br</strong> />

língua para a outra, seja na função passiva (da L2 para a L1), seja na função ativa (da L1<<strong>br</strong> />

para a L2) (cf. KROMANN, RÜBER, ROSBACH (1991, p. 2713-2714)). Não será<<strong>br</strong> />

discutida nessa oportunida<strong>de</strong> a proposta <strong>de</strong> Béjoint (2000), quem salienta a necessida<strong>de</strong><<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> um dicionário cogitado unicamente para a compreensão, sem o intuito <strong>de</strong> traduzir.<<strong>br</strong> />

Ainda assim, a transferência existe. O dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, por outro lado, é um<<strong>br</strong> />

dicionário que tem por função permitir o contraste entre duas línguas. Seu objetivo não<<strong>br</strong> />

é permitir a transferência <strong>de</strong> material léxico entre uma língua e outra, mas sim mostrar<<strong>br</strong> />

as diferenças (totais ou parciais) entre duas unida<strong>de</strong>s léxicas <strong>de</strong> duas línguas. O<<strong>br</strong> />

dicionário bilíngüe almeja fornecer informações so<strong>br</strong>e a <strong>de</strong>signação em uma língua<<strong>br</strong> />

estrangeira para uma unida<strong>de</strong> léxica da língua materna, ou fornecer a <strong>de</strong>signação na<<strong>br</strong> />

língua materna do consulente para uma unida<strong>de</strong> léxica <strong>de</strong> uma língua estrangeira<<strong>br</strong> />

(mantendo em ambos os casos a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> semântica). Já o dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong><<strong>br</strong> />

tem por objetivo pôr em evidência a discrepância entre duas unida<strong>de</strong>s léxicas <strong>de</strong> duas<<strong>br</strong> />

línguas que têm como traço marcante uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (ou semelhança) fonológica e/ou<<strong>br</strong> />

ortográfica, e on<strong>de</strong> o cálculo <strong>de</strong> transferência (isto é, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> semântica) se tornaria<<strong>br</strong> />

7 [eine freie Leitmerkmalklassifikation].<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 5


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

assim automaticamente convergente, embora aconteça exatamente o contrário, ou seja,<<strong>br</strong> />

dita i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não acontece.<<strong>br</strong> />

3.1.2. Perspectiva do signo lingüístico. O dicionário bilíngüe é um dicionário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

orientação onomasiológica. A transferência <strong>de</strong> material lingüístico entre uma L1 e uma<<strong>br</strong> />

L2 se produz so<strong>br</strong>e a base <strong>de</strong> um “tertium comparationis” implícito, que é o que permite<<strong>br</strong> />

justamente estabelecer a equação lexicográfica. É esse “tertium comparationis” o que<<strong>br</strong> />

aparece marcado por índices formais, por exemplo, nos lemas polissêmicos (cf.<<strong>br</strong> />

MARELLO 1996, 42). Dito em outros termos, no caso do dicionário ativo, o lema<<strong>br</strong> />

representa a união do significante e do significado, enquanto a equivalência é a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signação e o significante (com o mesmo significado) na outra língua. No caso do<<strong>br</strong> />

dicionário passivo, o lema representa o significante, enquanto que a equivalência é a<<strong>br</strong> />

soma do significante e do significado na língua materna do usuário. Nos dois casos há<<strong>br</strong> />

um procedimento onomasiológico. Segundo Hartmann, James (2001, s.v.<<strong>br</strong> />

onomasiology), só o dicionário ativo teria um viés onomasiológico. No entanto, a<<strong>br</strong> />

unida<strong>de</strong> léxica que o consulente conhece, seja na L1 ou na L2 é a que fornece esse<<strong>br</strong> />

“tertium comparationis” (implícito) em que se funda a equivalência. Do outro lado,<<strong>br</strong> />

haverá, pois uma <strong>de</strong>signação. Herbst, Klotz (2003, p. 106-107), por exemplo, chamam a<<strong>br</strong> />

atenção para o fato <strong>de</strong> que no dicionário bilíngüe se “estabelecem relações [sc.<<strong>br</strong> />

semânticas implícitas] entre unida<strong>de</strong>s léxicas <strong>de</strong> duas línguas” 8 . Essas relações<<strong>br</strong> />

constituem o “tertium comparationis”. Naturalmente, as consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes não<<strong>br</strong> />

se aplicam nos casos em que o dicionário bilíngüe está o<strong>br</strong>igado a fornecer paráfrases<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>finidoras, como acontece com os “realia”, por exemplo (cf. DUBOIS ET ALI. 1999,<<strong>br</strong> />

s.v. realia). O dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, por sua vez, <strong>de</strong>ve ter uma orientação<<strong>br</strong> />

semasiológica, já que a sua função é estabelecer o contraste semântico entre unida<strong>de</strong>s<<strong>br</strong> />

léxicas <strong>de</strong> duas línguas. Na prática, isso significa que o comentário semântico <strong>de</strong>ve ter,<<strong>br</strong> />

preferencialmente, a forma <strong>de</strong> uma paráfrase <strong>de</strong>finidora para mostrar a divergência<<strong>br</strong> />

semântica.<<strong>br</strong> />

3.1.3. Perspectiva por eixos da língua. Embora não existam trabalhos que caracterizem<<strong>br</strong> />

explicitamente o dicionário bilíngüe à luz <strong>de</strong> uma concepção diassistêmica (cf.<<strong>br</strong> />

COSERIU (1992, p. 280-283)), alguns genótipos editoriais, tais como o<<strong>br</strong> />

Enzyklopedisches [zweisprachiges] Wörterbuch para o inglês da editora Langenscheidt<<strong>br</strong> />

permitem afirmar que eles são abertos à diatopia, à diastratia-diafasia e, parcialmente, à<<strong>br</strong> />

diacronia. <strong>Os</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, no entanto, <strong>de</strong>vem ser rigorosamente<<strong>br</strong> />

sincrônicos e parcialmente diatópicos e diastrático-diafásicos. Na teoria<<strong>br</strong> />

metalexicográfica ainda não existe um consenso so<strong>br</strong>e esse particular, mas se po<strong>de</strong> dizer<<strong>br</strong> />

que se lhes atribui uma função <strong>de</strong> auxílio no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

línguas estrangeiras que, como é sabido, se baseia sempre na língua contemporânea. Em<<strong>br</strong> />

relação aos eixos diastrático-diafásico e diatópico, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um recorte léxico diaou<<strong>br</strong> />

sintópico e dia- ou sinstrático-sintópico <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> muito das línguas postas em<<strong>br</strong> />

contato. No caso do espanhol, por exemplo, a variação diatópica <strong>de</strong>ve existir nos<<strong>br</strong> />

dicionários, já que o léxico é o nível <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização da língua on<strong>de</strong> o espanhol<<strong>br</strong> />

apresenta a maior varieda<strong>de</strong> entre a realização léxica na Espanha e as diferentes<<strong>br</strong> />

realizações nos países da América Latina. Finalmente, no eixo diastrático-diafásico os<<strong>br</strong> />

limites são mais difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir, tanto em termos teóricos quanto em atenção às<<strong>br</strong> />

8 [Relationen zwischen lexikalischen Einheiten zweier Sprachen]<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 6


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada língua. Tanto o vocabulário excessivamente culto quanto o<<strong>br</strong> />

vocabulário excessivamente chulo po<strong>de</strong>m ser excluídos. Para o português do Brasil, no<<strong>br</strong> />

entanto, o fenômeno da gíria <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado.<<strong>br</strong> />

4. <strong>Os</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> no Brasil 9<<strong>br</strong> />

Em termos gerais, se po<strong>de</strong>ria dizer que a redação <strong>de</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> no<<strong>br</strong> />

Brasil reflete o estado geral da lexicografia e da metalexicografia no país. Com fins<<strong>br</strong> />

ilustrativos, trataremos neste trabalho dos seguintes dicionários: Mello, Bath (1996),<<strong>br</strong> />

Leal (1997), Bechara, Moure (1998), Feijóo (1999), Marzano (2001) –para o espanhol -,<<strong>br</strong> />

Mascherpe, Zamarin (1998) – para o inglês -, Xatara, Oliveira (1995) – para o francês -<<strong>br</strong> />

e Budini (2002) – para o italiano.<<strong>br</strong> />

4.1. Problemas <strong>de</strong> concepção no plano macroestrutural<<strong>br</strong> />

Segundo a proposta <strong>de</strong> Gorbahn-Orme, Hausmann (1989, p. 2883), os<<strong>br</strong> />

dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> “belong to the category of learning dictionaries”, fato que<<strong>br</strong> />

atrela a sua seleção macroestrutural ao uso atual da língua 10 e que vale, naturalmente,<<strong>br</strong> />

para as duas línguas consi<strong>de</strong>radas. Esta precisão metodológica justifica-se, já que o<<strong>br</strong> />

objetivo (geralmente implícito) <strong>de</strong>stes dicionários é auxiliar no ensino <strong>de</strong> línguas<<strong>br</strong> />

estrangeiras 11 , que se apóia, como é sabido, na varieda<strong>de</strong> contemporânea da língua. Na<<strong>br</strong> />

prática, porém, esta precisão metodológica parece ser quase completamente<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>sconhecida para os compiladores <strong>br</strong>asileiros, que se empenham em dicionarizar<<strong>br</strong> />

unida<strong>de</strong>s léxicas sem avaliar se realmente são empregadas nas respectivas comunida<strong>de</strong>s.<<strong>br</strong> />

Deve ser levado em consi<strong>de</strong>ração, no entanto, que até a publicação <strong>de</strong> DUPB (2002) a<<strong>br</strong> />

lexicografia <strong>br</strong>asileira carecia <strong>de</strong> um levantamento do uso léxico luso-<strong>br</strong>asileiro<<strong>br</strong> />

contemporâneo. A falta <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>ssa natureza nem sempre permite,<<strong>br</strong> />

naturalmente, fazer escolhas metodologicamente fundadas. Ainda assim, suspeitamos<<strong>br</strong> />

que a inclusão <strong>de</strong>stas e outras unida<strong>de</strong>s léxicas obe<strong>de</strong>ce mais ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> apresentar<<strong>br</strong> />

“curiosida<strong>de</strong>s léxicas” que à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oferecer um levantamento léxico confiável,<<strong>br</strong> />

capaz <strong>de</strong> espelhar o léxico <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> das duas línguas. Feijóo (1999), por<<strong>br</strong> />

exemplo, o mais completo dos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> espanhol-português, contêm<<strong>br</strong> />

uma significativa lista <strong>de</strong> inclusões duvidosas. Oferecemos a seguinte amostra: madre<<strong>br</strong> />

“útero” é pouco usual no espanhol atual 12 , assim como engarrafar “agarrar fortemente”<<strong>br</strong> />

(cfr. DUE, 1996-1997: s.v.). Outro tanto cabe dizer <strong>de</strong> romancear “traduzir para o<<strong>br</strong> />

romance espanhol; explicar com outras palavras uma oração em espanhol, para traduzila<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>pois ao latim” (FEIJÓO, 1999: s.v.). Em relação a este verbete há dois aspectos a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>stacar: em primeiro lugar, a segunda acepção (“explicar com outras palavras (...)”) já<<strong>br</strong> />

está marcada como “pouco usual” em DRAE (2001, s.v.), <strong>de</strong> modo que não faz muito<<strong>br</strong> />

sentido insistir em uma acepção assim; em segundo lugar, e já no plano microestrutural,<<strong>br</strong> />

9 Essa parta da exposição reproduz o exposto em Bugueño (2005).<<strong>br</strong> />

10 Na prática isto significa <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, na macroestrutura, palavras arcaicas, <strong>de</strong> uso literário estrito,<<strong>br</strong> />

diassistemicamente muito marcadas, etc. Em Bugueño (2001a) faz-se um estudo <strong>de</strong>talhado <strong>de</strong>stes<<strong>br</strong> />

problemas.<<strong>br</strong> />

11 Talvez a única exceção seja Mascherpe, Zamarim (1998), cogitado para ser um auxílio ao tradutor.<<strong>br</strong> />

12 Inexplicavelmente aparece sem nenhuma marca especial em DRAE (2001, s.v.), mas é “pouco<<strong>br</strong> />

freqüente” em DUE (1996-1997, s.v.) e “regional” em DEA (1999, s.v.). A forma madre “útero”<<strong>br</strong> />

correspon<strong>de</strong> à romanização do lat. matrix. No entanto, a forma útero impôss-se so<strong>br</strong>e a forma madre.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 7


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

é costume bastante difundido traduzir simplesmente para o português as <strong>de</strong>finições<<strong>br</strong> />

contidas nos dicionários do espanhol, como é o caso <strong>de</strong> romancear. O problema está em<<strong>br</strong> />

que a palavra romance é altamente polissêmica no português, <strong>de</strong> forma que a paráfrase<<strong>br</strong> />

“traduzir para o romance espanhol” é pouco clara. Além mais, ninguém “romancea” nos<<strong>br</strong> />

dias <strong>de</strong> hoje em espanhol, já que se trata do espanhol medieval. Em outros casos, até<<strong>br</strong> />

mesmo Feijóo (1999) marca como “pouco usuais” algumas palavras, tais como pt.<<strong>br</strong> />

acamar, afrentar, arpista, azotar, sen<strong>de</strong>iro, serviçal, etc. ou esp. sacada, sarda 13 . Outro<<strong>br</strong> />

caso similar é Marzano (2001), que oferece formas tidas pelo próprio dicionário como<<strong>br</strong> />

“antiquadas” ou “pouco usuais”. Não fica claro segundo que critérios foram atribuídas<<strong>br</strong> />

essas marcas a alguns verbetes, mas o fato é que se o lexicógrafo julgou que tais<<strong>br</strong> />

unida<strong>de</strong>s léxicas eram pouco usuais ou <strong>de</strong>sconhecidas na comunida<strong>de</strong> lingüística<<strong>br</strong> />

hispânica, qual po<strong>de</strong>ria ser então o objetivo <strong>de</strong> dicionarizá-las. Se oferece a seguir uma<<strong>br</strong> />

lista <strong>de</strong> palavras incluídas na seleção macroestrutural <strong>de</strong> Marzano (2001) que não são<<strong>br</strong> />

usuais no espanhol contemporâneo: esquinar (ant.), canudo (ant.), chingar (p.us.), colo<<strong>br</strong> />

(ant.), radío (ant.), segurar (ant.), teste “testículo” (p.us.), yanta “almoço” (p.us.) 14 . Em<<strong>br</strong> />

Mascherpe, Zamarim (1998), por outro lado, é possível encontrar problemas parecidos.<<strong>br</strong> />

S.v. conversant, a significação “relacionado, íntimo” é também antiquada (cfr. OEEt<<strong>br</strong> />

1996, s.v.).<<strong>br</strong> />

4.2. Problemas <strong>de</strong> concepção no plano microestrutural.<<strong>br</strong> />

No plano microestrutural, a lexicografia <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> no Brasil evi<strong>de</strong>ncia<<strong>br</strong> />

também uma falta <strong>de</strong> consistência na apresentação do “programa constante <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

informações” 15 <strong>de</strong> muitos verbetes. Em Mascherpe, Zamarim (1998, s.v.) o verbete<<strong>br</strong> />

absolutly, apresenta a seguinte redação:<<strong>br</strong> />

ABSOLUTLY, <strong>de</strong>ve-se lem<strong>br</strong>ar que, em muitos casos, este advérbio<<strong>br</strong> />

não po<strong>de</strong> ser traduzido por absolutamente, porque enquanto em inglês<<strong>br</strong> />

ele encerra uma idéia <strong>de</strong> afirmação, em português é o contrário, indica<<strong>br</strong> />

uma negação. Deve ser, pois, traduzido por certamente, com toda a<<strong>br</strong> />

certeza, sem dúvida.<<strong>br</strong> />

A redação nestes termos constitui uma violação flagrante da distinção entre<<strong>br</strong> />

metalinguagem <strong>de</strong> conteúdo e metalinguagem <strong>de</strong> signo. Em outros casos, utiliza-se uma<<strong>br</strong> />

fórmula <strong>de</strong> negação com que se inicia, em metalinguagem <strong>de</strong> signo, a paráfrase, o que,<<strong>br</strong> />

além <strong>de</strong> constituir um erro metodológico, é supérfluo, já que o dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

<strong>amigos</strong> enfatiza justamente a diferença léxica, <strong>de</strong> modo que nos casos em que a<<strong>br</strong> />

paráfrase não apresenta uma negação, fica a critério do usuário informar-se se o falso<<strong>br</strong> />

amigo po<strong>de</strong> ter significações compartilhadas entre as duas línguas. Por exemplo, o<<strong>br</strong> />

verbete large oferece a seguinte informação: “LARGE, não se <strong>de</strong>ve traduzir por largo<<strong>br</strong> />

(=wi<strong>de</strong>) mas por gran<strong>de</strong>, amplo, espaçoso (...)” Mascherpe, Zamarim (1998, s.v.). O<<strong>br</strong> />

mesmo fenômeno observa-se também em Budini (2002), on<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> distinção entre<<strong>br</strong> />

metalinguagem <strong>de</strong> signo e metalinguagem <strong>de</strong> conteúdo não permite distinguir <strong>de</strong> forma<<strong>br</strong> />

13 Outros exemplos mais: esp. ocupada “diz-se da mulher grávida”, puño “murro, soco”.<<strong>br</strong> />

14 Em Bechara, Moura (1998) encontramos casos análogos, tais como bastilla / bastilha, gajo / gajo, mear<<strong>br</strong> />

/ mear.<<strong>br</strong> />

15 Tomamos o termo <strong>de</strong> Wiegand (1989, p. 420). Ainda que o conceito apareça aplicado ao dicionário<<strong>br</strong> />

monolíngüe, acreditamos que nada impe<strong>de</strong> aplicá-lo ao dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 8


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

imediata os <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> dos “verda<strong>de</strong>iros” 16 . O artigo maggiore aparece estruturado<<strong>br</strong> />

da seguinte forma:<<strong>br</strong> />

MAGGIORE (s.m. e adj.) Como s. traduz-se por MAJORIl maggiore<<strong>br</strong> />

è stato promosso, “o major foi promovido”Quando está no pl. (i<<strong>br</strong> />

maggiori) passa a significar também: OS ANCESTRAIS, ou AS<<strong>br</strong> />

PERSONAGENS MAIS INFLUENTES DE UMA SOCIEDADE (...)<<strong>br</strong> />

Budini (2002, s.v.)<<strong>br</strong> />

Teria sido muito mais prático e efetivo ter usado estilo mais simples <strong>de</strong> redação para<<strong>br</strong> />

enfatizar que existe uma correspondência parcial <strong>de</strong> significação entre (it.) maggiore e<<strong>br</strong> />

(pt.) major 17 .<<strong>br</strong> />

Outro problema bastante freqüente diz respeito à assimetria na apresentação do<<strong>br</strong> />

programa <strong>de</strong> informações. Fica a critério <strong>de</strong> cada lexicógrafo se o comentário semântico<<strong>br</strong> />

será constituído por paráfrases ou equivalências. O importante é que exista uma<<strong>br</strong> />

apresentação constante do tipo <strong>de</strong> informação fornecida, <strong>de</strong> tal modo que qualquer<<strong>br</strong> />

omissão no “padrão <strong>de</strong> apresentação” do comentário semântico seja um fato funcional 18 .<<strong>br</strong> />

Porém, o que se observa muitas vezes é uma assimetria. Em Feijóo (1999, s.v. o<strong>br</strong>ar),<<strong>br</strong> />

por exemplo, o artigo na direção espanhol-português apresenta a seguinte informação:<<strong>br</strong> />

“O<strong>br</strong>ar: <strong>de</strong>fecar”. Na direção inversa (português-espanhol), ao contrário, oferece-se uma<<strong>br</strong> />

paráfrase: “O<strong>br</strong>ar: funcionarle el intestino a alguien”, embora o espanhol possua a forma<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>fecar 19 . Unido ao problema <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> simetria na apresentação do programa <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

informações, há casos em que a equivalência na outra língua não obe<strong>de</strong>ce tampouco a<<strong>br</strong> />

uma escolha metodologicamente fundada. <strong>Os</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> apresentam<<strong>br</strong> />

um traço claramente contrastivo 20 . Em função <strong>de</strong>sse fato é que as equivalências<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>veriam refletir também esse caráter contrastivo. Em Bechara, Moure (1998, s.v.), por<<strong>br</strong> />

exemplo, encontramos exemplos claros em que este princípio não é respeitado. S.v<<strong>br</strong> />

bailar / bailar oferece-se a seguinte informação:<<strong>br</strong> />

esp. bailar: v.t./i. Bailar ║ Girar (para peões). ║v.i. Balançar, oscilar;<<strong>br</strong> />

dançar (algo em um espaço amplo).║ Pular, dar pulos (<strong>de</strong> alegria, <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

felicida<strong>de</strong>).║Movimentar-se com vivacida<strong>de</strong> (os olhos).║v.pr.vulg.<<strong>br</strong> />

Cuba Matar, assassinar.<<strong>br</strong> />

port. bailar: v.t./i. Bailar.<<strong>br</strong> />

Bechara, Moure (1998, s.v.)<<strong>br</strong> />

Se o objetivo das equivalências é fornecer ao usuário uma informação so<strong>br</strong>e a<<strong>br</strong> />

significação compartilhada (os “verda<strong>de</strong>iros <strong>amigos</strong>”) e a não compartilhada (os “<strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

16 Ou seja, as significações compartilhadas entre as duas línguas.<<strong>br</strong> />

17 Outros exemplos do mesmo problema s.v. ingordo e interesse.<<strong>br</strong> />

18 Para a redação do dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> espanhol-português temos seguido um padrão rígido<<strong>br</strong> />

neste quesito. Assim, por exemplo, no artigo léxico reservamos um lugar para os “verda<strong>de</strong>iros <strong>amigos</strong>”<<strong>br</strong> />

(caso existam). Estes vão expressos por equivalências, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as ditas equivalências apresentem um<<strong>br</strong> />

baixo (ou nulo) grau <strong>de</strong> polissemia (ou homonímia) e não estejam diatopicamente marcados. Caso<<strong>br</strong> />

contrário, oferece-se uma glosa. <strong>Os</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, por outro lado, são expressos por <strong>de</strong>finições.<<strong>br</strong> />

19 Além mais, a paráfrase “funcionarle el intestino a alguien” é pouco clara.<<strong>br</strong> />

20 Prova-se esse fato nas formulações que muitos verbetes apresentam: “x não significa y, mas a” ou,<<strong>br</strong> />

“além <strong>de</strong> x, a significa também y”.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 9


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

<strong>amigos</strong>”), é <strong>de</strong> perguntar-se por que se escolheu (p.) bailar como equivalência léxica <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

(e.) bailar, consi<strong>de</strong>rando que na língua portuguesa a forma freqüente é dançar. Por<<strong>br</strong> />

outro lado, no que diz respeito à acepção 3. “Balançar, oscilar; dançar (algo em um<<strong>br</strong> />

espaço amplo)”, os redatores <strong>de</strong>cidiram oferecer dançar para esclarecer erroneamente a<<strong>br</strong> />

significação “estar [algo] folgado, frouxo”. S.v. mangar há também problemas na<<strong>br</strong> />

apresentação das informações:<<strong>br</strong> />

esp. mangar: v.t./i.pop.Cuba Mangar, enganar ║pop. (t.us.<<strong>br</strong> />

“manguear”). Pedir ║vulg. Afanar, surrupiar, meter a mão, roubar.<<strong>br</strong> />

port. mangar: v.t./i. Mangar (en Cuba), burlar, eludir, engañar<<strong>br</strong> />

║Burlarse, chasquear, tomar el pelo.<<strong>br</strong> />

Bechara, Moure (1998: s.v.)<<strong>br</strong> />

Na segunda parte do verbete, isto é, na direção do português ao espanhol, fornece-se<<strong>br</strong> />

para pt. mangar a equivalência e. mangar, que está diatopicamente marcada (seria um<<strong>br</strong> />

cubanismo) e só <strong>de</strong>pois as equivalências “burlar, eludir, engañar”. A disposição das<<strong>br</strong> />

equivalências nessa or<strong>de</strong>m só teria sentido se os <strong>de</strong>stinatários hispano-falantes do<<strong>br</strong> />

dicionário fossem cubanos, o que não é o caso. Em Leal (1997), por outro lado, a falta<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> critérios <strong>de</strong> simetria leva a uma perda <strong>de</strong> economia na apresentação da informação<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>ntro do verbete. S.v as, por exemplo, oferece-se o seguinte comentário semântico:<<strong>br</strong> />

“As ás, carta <strong>de</strong> baralho; ás, pessoa que se <strong>de</strong>staca em sua classe, profissão, etc.<<strong>br</strong> />

não <strong>de</strong>signa o artigo <strong>de</strong>finido feminino plural as (las)”. Teria sido bem mais prático<<strong>br</strong> />

empregar números, letras ou signos gráficos para separar as acepções <strong>de</strong> ás na língua<<strong>br</strong> />

portuguesa. O pior, porém, é que a apresentação da polissemia em muitos artigos não<<strong>br</strong> />

correspon<strong>de</strong> a nenhuma fórmula. S.v. propósito, a variação <strong>de</strong> significação expressa-se<<strong>br</strong> />

da seguinte forma: “além <strong>de</strong> significar a propósito, po<strong>de</strong> significar <strong>de</strong> propósito (...)”<<strong>br</strong> />

(Leal (1997: s.v.)). Mello, Bath (1996, s.vs.), por sua vez, apresenta problemas<<strong>br</strong> />

similares. Observe-se a redação dos artigos chacina e chopo:<<strong>br</strong> />

chacina É a carne, em geral <strong>de</strong> porco, salgada e temperada para<<strong>br</strong> />

encher lingüiça. Em português este é o sentido original da palavra,<<strong>br</strong> />

mas a empregamos habitualmente para “matança”, que em espanhol se<<strong>br</strong> />

dirá matanza ou carnicería.<<strong>br</strong> />

chopo É o nosso “choupo”, árvore da família das Salicáceas. No<<strong>br</strong> />

Chile, chope é um instrumento agrícola, garfo <strong>de</strong> ferro para retirar do<<strong>br</strong> />

solo raízes, etc.<<strong>br</strong> />

Po<strong>de</strong>-se observar s.v. chacina que o usuário é submetido a um esforço <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

concentração para compreen<strong>de</strong>r a informação contida no comentário semântico. Pelo<<strong>br</strong> />

caráter contrastivo que <strong>de</strong>ve ter o dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, o i<strong>de</strong>al é que se distinga<<strong>br</strong> />

claramente a significação do espanhol da do português. Porém, os redatores inserem<<strong>br</strong> />

uma informação etimológica que, além <strong>de</strong> estar na posição errada (<strong>de</strong>veria ir no final do<<strong>br</strong> />

artigo), é ambígua, pois não fica claro se a significação compartilhada correspon<strong>de</strong> ao<<strong>br</strong> />

estado atual da língua ou se correspon<strong>de</strong> a algum momento do passado (“Em português<<strong>br</strong> />

este é o sentido original da palavra (...)”). Acrescenta-se também ao anterior que, se o<<strong>br</strong> />

sentido do comentário semântico é do espanhol ao português, não é relevante apresentar<<strong>br</strong> />

no espanhol a <strong>de</strong>signação do português “matança”. Isto até po<strong>de</strong>ria constituir parte do<<strong>br</strong> />

programa constante <strong>de</strong> informações, mas não é o caso. S.v. chopo observa-se a situação<<strong>br</strong> />

completamente inversa ao verbete anterior. Neste caso, apresentou-se primeiro a<<strong>br</strong> />

significação compartilhada entre espanhol e português e só <strong>de</strong>pois a diferencial, que,<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 10


Anais do CELSUL 2008<<strong>br</strong> />

aliás, é diatopicamente diferenciada. O artigo merece duas reflexões: por um lado, volta<<strong>br</strong> />

a repetir-se a confusão entre metalinguagem <strong>de</strong> conteúdo e metalinguagem <strong>de</strong> signo. Por<<strong>br</strong> />

outro, a uma significação diatopicamente diferenciada proposta, ainda que conste em<<strong>br</strong> />

vários dicionários <strong>de</strong> americanismos, não parece completamente confiável. A palavra é<<strong>br</strong> />

própria da cultura campesina chilena do século XIX. Temos dúvidas do seu emprego<<strong>br</strong> />

real no espanhol do Chile nos últimos sessenta anos.<<strong>br</strong> />

O único dicionário que <strong>de</strong>monstra obe<strong>de</strong>cer a um princípio teórico-metodológico<<strong>br</strong> />

é Xatara, Oliveira (1995). Trata-se <strong>de</strong> um dicionário “bidirecional” (como o dicionário<<strong>br</strong> />

bilíngüe) francês-português / português-francês. Macroestruturalmente, a nominata dá<<strong>br</strong> />

conta do léxico atual das línguas francesa e portuguesa. Fornecemos dois artigos léxicos<<strong>br</strong> />

como amostra:<<strong>br</strong> />

ba<strong>de</strong>rne f. Velho ignorante: Il n´est qu´une vieille ba<strong>de</strong>rne. [ba<strong>de</strong>rna:<<strong>br</strong> />

pagaille]<<strong>br</strong> />

test m. 1. Concha (zool.): À quoi sert les test? 2. teste: Les adolescents<<strong>br</strong> />

sont soumis à <strong>de</strong>s tests à l´examen. [texto: texte].<<strong>br</strong> />

<strong>Os</strong> verbetes revelam um bom fundamento teórico-metodológico. No plano<<strong>br</strong> />

macroestrutural, correspon<strong>de</strong>m a situações lingüísticas diferentes que evi<strong>de</strong>nciam a<<strong>br</strong> />

presença <strong>de</strong> parâmetros <strong>de</strong> seleção da nominata. Ba<strong>de</strong>rne é um empréstimo no francês 21 ,<<strong>br</strong> />

ou seja, o campo propício para processos <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> sêmica. Test, por outra parte,<<strong>br</strong> />

apresenta a particularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser uma homonímia em francês 22 , que foi reduzida<<strong>br</strong> />

acertadamente a um único artigo léxico. Não sempre o lexicógrafo po<strong>de</strong> usufruir <strong>de</strong>sta<<strong>br</strong> />

opção 23 , mas neste caso concreto não há nenhuma razão para construir artigos léxicos<<strong>br</strong> />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. No plano microestrutural é facilmente i<strong>de</strong>ntificável um “programa<<strong>br</strong> />

constante <strong>de</strong> informações” que é o que em <strong>de</strong>finitiva ajuda ao usuário.<<strong>br</strong> />

4.3. Problemas <strong>de</strong> concepção no plano medioestrutural<<strong>br</strong> />

Em Bugueño, Farias (2007), é atribuído ao dicionário <strong>de</strong> orientação semasiológica um<<strong>br</strong> />

conjunto o<strong>br</strong>igatório <strong>de</strong> estruturas, chamadas <strong>de</strong> “componentes canônicos”, o qual é<<strong>br</strong> />

composto pela macro, micro e medioestrutura, além do “front matter”. No que diz<<strong>br</strong> />

respeito à medioestrutura, em Bugueño, Zanatta (2008), propõe-se que a sua <strong>de</strong>finição<<strong>br</strong> />

constitui um problema axiomático, na medida em que uma remissão <strong>de</strong>ve estar fundada<<strong>br</strong> />

em uma necessida<strong>de</strong> real que leve o consulente <strong>de</strong> um ponto a outro do dicionário.<<strong>br</strong> />

Segundo Martínez <strong>de</strong> Souza (1995, s.v. remisión), tal procedimento se justifica por duas<<strong>br</strong> />

razões: 1°) para não repetir informação, e 2°) para ampliar o conjunto <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

que o usuário procura no dicionário. A partir <strong>de</strong>ssas precisões conceituais, e<<strong>br</strong> />

consi<strong>de</strong>rando o exposto por Wiegand (1996), po<strong>de</strong>r-se-ia propor a seguinte tipologia <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

relações medioestruturais:<<strong>br</strong> />

a) referências <strong>de</strong> um segmento macro ou microestrutural para outro segmento<<strong>br</strong> />

macro ou microestrutural;<<strong>br</strong> />

b) referências <strong>de</strong> um segmento macro ou microestrtural a qualquer texto externo à<<strong>br</strong> />

macro ou microestrutura;<<strong>br</strong> />

21 De origem controversa, cfr. DDM (1990, s.v.).<<strong>br</strong> />

22 Cfr. PRob (1993, s.v.).<<strong>br</strong> />

23 Isto acontece quando há relações multilaterais entre duas formas <strong>de</strong> duas línguas (por homofonia ou<<strong>br</strong> />

homografia).<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 11


c) referências <strong>de</strong> um segmento macro ou microestrutural a outro dicionário.<<strong>br</strong> />

Engelberg, Lemnitzer (2004, p. 155), por sua vez, apontam outros 4 parâmetros que<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>vem ser respeitados no <strong>de</strong>senho do sistema <strong>de</strong> remissões <strong>de</strong> um dicionário: i. o<<strong>br</strong> />

impulso <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador da referência [Verweisursprung], ii. a meta da referência<<strong>br</strong> />

[Verweisziel], iii. a correlação entre a meta da referência e o impulso <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador da<<strong>br</strong> />

referência [<strong>de</strong>r Repräsentant <strong>de</strong>s Verweiszieles am Verweisursprung], e iv. o símbolo<<strong>br</strong> />

empregado na referência [Verweissymbol]. Esses quatro parâmetros são<<strong>br</strong> />

complementares aos apresentados no parágrafo anterior.<<strong>br</strong> />

As consi<strong>de</strong>rações prece<strong>de</strong>ntes levam a propor os seguintes princípios axiomáticos:<<strong>br</strong> />

1°) uma referência medioestrutural <strong>de</strong>ve levar o usuário rapidamente à informação que o<<strong>br</strong> />

dicionário <strong>de</strong>seja fornecer: a referência medioestrutural <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer sempre a um<<strong>br</strong> />

único movimento.<<strong>br</strong> />

2°) uma referência medioestrutural <strong>de</strong>ve ser sempre elucidativa: a referência <strong>de</strong>ve ser<<strong>br</strong> />

compreendida pelo usuário tanto pela motivação do impulso como pela meta <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

remissão proposta.<<strong>br</strong> />

3°) uma referência medioestrutural <strong>de</strong>ve ser sempre funcional: a referência<<strong>br</strong> />

medioestrutural <strong>de</strong>ve acarretar um ganho para o usuário.<<strong>br</strong> />

Embora os princípios axiomáticos propostos tenham sido cogitados para um dicionário<<strong>br</strong> />

semasiológico, po<strong>de</strong>m aplicar-se também aos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. No entanto,<<strong>br</strong> />

é necessário salientar que esses procedimentos medioestruturais são indispensáveis<<strong>br</strong> />

somente no caso dos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> <strong>de</strong> lematização dupla, ou seja, quando<<strong>br</strong> />

almejam representar as duas línguas. Segundo essa distinção, por exemplo, Mello, Bath<<strong>br</strong> />

(1996), Leal (1997), Mascherpe, Zamarim (1998), Marzano (2001) e Budini (2002) não<<strong>br</strong> />

precisariam <strong>de</strong> nenhum tipo <strong>de</strong> referência medioestrutural e, <strong>de</strong> fato, não há evidências<<strong>br</strong> />

do emprego <strong>de</strong>sses procedimentos. Em situação diferente estão Bechara, Moure (1998) e<<strong>br</strong> />

Feijóo (1999), que correspon<strong>de</strong>m a casos <strong>de</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> <strong>de</strong> lematização<<strong>br</strong> />

dupla 24 .<<strong>br</strong> />

A maior parte dos procedimentos medioestruturais em Bechara, Moura (1998)<<strong>br</strong> />

são supérfluos. Há, por exemplo, referências medioestruturais <strong>de</strong> um verbete a outro,<<strong>br</strong> />

como nas seguintes situações: <strong>de</strong>sgarrado / <strong>de</strong>sgarrado (V. <strong>de</strong>sgarrar / <strong>de</strong>sgarrar),<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>squitar / <strong>de</strong>squitar (V. <strong>de</strong>squite / <strong>de</strong>squite) faja / faixa (V. faja / farra. V. franja / franja),<<strong>br</strong> />

fallar / falhar (V. fallir / falir). Em todos esses casos, a remissão é inócua, já que é muito<<strong>br</strong> />

difícil imaginar que as metas <strong>de</strong> remissão possam vir a constituir <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. No que<<strong>br</strong> />

diz respeito a <strong>de</strong>sgarrado / <strong>de</strong>sgarrado e <strong>de</strong>squitar / <strong>de</strong>squitar, há uma flagrante<<strong>br</strong> />

violação aos princípios básicos dos procedimentos medioestruturais, já que a remissão<<strong>br</strong> />

não poupa nem acrescenta informação. Em contrapartida, também foram <strong>de</strong>tectados<<strong>br</strong> />

casos on<strong>de</strong> a remissão sim é funcional, como do / do, com remissão a do / dó, ou<<strong>br</strong> />

enrolar / enrolar, com remissão para enrollar / enrolar. Contrário à tendência <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

24 <strong>Os</strong> dicionários que consi<strong>de</strong>ram as duas línguas po<strong>de</strong>m ser classificados em dicionários <strong>de</strong> lematização<<strong>br</strong> />

dupla, que possuem uma microestrutura integrada, e dicionários <strong>de</strong> lematização paralela, que possuem<<strong>br</strong> />

uma microestrutura não integrada. <strong>Os</strong> termos “microestrutura integrada” e “macroestrutura não integrada”<<strong>br</strong> />

não correspon<strong>de</strong>m à taxonomia <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> microestruturas proposta por Wiegand (1989). No âmbito da<<strong>br</strong> />

lexicografia <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>, uma microestrutura integrada é a que explicita, em um único bloco <strong>de</strong> texto,<<strong>br</strong> />

as relações formais e <strong>de</strong> conteúdo, convergentes e divergentes, <strong>de</strong> um caso <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> (cf.<<strong>br</strong> />

BUGUEÑO, 2003, p. 116). Quando o arranjo das informações é feito em dois blocos <strong>de</strong> texto, fala-se em<<strong>br</strong> />

“microestrutura não integrada”. Para as <strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong>ssa solução, cf. Bugueño (2000).<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 12


perceber os <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> na progressão do significante ao significado, há casos como<<strong>br</strong> />

s.v. clase / classe, com remissão para aula / aula e <strong>de</strong>sligado / <strong>de</strong>sligado, com remissão<<strong>br</strong> />

para <strong>de</strong>sconectado / <strong>de</strong>sconectado, on<strong>de</strong> a remissão correspon<strong>de</strong> à <strong>de</strong>signação “correta”,<<strong>br</strong> />

na outra língua, para o conteúdo sêmico. A respeito disso, é pertinente comentar que o<<strong>br</strong> />

procedimento não é comum em dicionários <strong>de</strong> lematização dupla, e, o que é mais<<strong>br</strong> />

importante, a sua meta <strong>de</strong> referência não é clara. Outro procedimento empregado por<<strong>br</strong> />

Bechara, Moura (1998, s.v.) é uma remissão <strong>de</strong> uma acepção a um pós-comentário<<strong>br</strong> />

semântico que contém exemplos. Em Farias (2008), propõe-se que os exemplos, para<<strong>br</strong> />

fins semasiológicos, só são funcionais quando as paráfrases explanatórias, nesse caso, as<<strong>br</strong> />

equivalências, são pouco elucidativas, o que não se verifica. Exemplos:<<strong>br</strong> />

alza / alça<<strong>br</strong> />

esp. alza: s.f. Alta, aumento <strong>de</strong> preço 1 .<<strong>br</strong> />

port. alça: s.f. Manija, (...).<<strong>br</strong> />

ex.: 1. El alza para productos agropecuários será <strong>de</strong>l 2%.<<strong>br</strong> />

esposa / esposa<<strong>br</strong> />

esp. esposa: s.f. Esposa || pl. Algemas 1<<strong>br</strong> />

port. esposa: s.f. Esposa.<<strong>br</strong> />

ex.: 1 El policía le colocó las esposas al asesino.<<strong>br</strong> />

Bechara, Moura (1998, s.v.)<<strong>br</strong> />

Um evi<strong>de</strong>nte problema <strong>de</strong> concepção nos dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> é oferecer<<strong>br</strong> />

exatamente a mesma <strong>de</strong>signação, na outra língua, para conteúdos sêmicos diferentes.<<strong>br</strong> />

Nesses casos, o exemplo é funcional, já que a congruência fonológica (o significante)<<strong>br</strong> />

produz justamente o efeito “falso amigo”. Nos verbetes analisados, no entanto, a<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong>signação, na outra língua, é tão clara que não há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procedimentos<<strong>br</strong> />

explanatórios complementares, tais como os exemplos.<<strong>br</strong> />

No que diz respeito a Feijóo (1999), há dois tipos <strong>de</strong> procedimentos<<strong>br</strong> />

medioestruturais empregados nesse dicionário. Por tratar-se <strong>de</strong> um dicionário <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

lematização paralela, e, <strong>de</strong> forma similar ao que ocorre no caso da lematização dupla, a<<strong>br</strong> />

progressão lemática produz-se em função <strong>de</strong> uma das línguas. A língua escolhida foi o<<strong>br</strong> />

espanhol. Como existem casos <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> com divergência ortográfica (e/ou<<strong>br</strong> />

fonológica), são necessários procedimentos <strong>de</strong> remissão quando a progressão alfabética<<strong>br</strong> />

é interrompida. Por exemplo:<<strong>br</strong> />

*(cf. avalar)<<strong>br</strong> />

abarloar<<strong>br</strong> />

abate<<strong>br</strong> />

abati<strong>de</strong>ro<<strong>br</strong> />

abatimento<<strong>br</strong> />

abertura<<strong>br</strong> />

*(cf. aboyar)<<strong>br</strong> />

abalar<<strong>br</strong> />

abalroar<<strong>br</strong> />

abate<<strong>br</strong> />

abatedouro<<strong>br</strong> />

abatimento<<strong>br</strong> />

abertura<<strong>br</strong> />

aboiar V. infra aboyar / aboiar<<strong>br</strong> />

O procedimento é coerente e extremamente prático. A outra opção medioestrutural <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Feijóo (1999 s.v.) é empregada para marcar os “verda<strong>de</strong>iros <strong>amigos</strong>”, como, por<<strong>br</strong> />

exemplo.<<strong>br</strong> />

tanque m. Tanque: carro <strong>de</strong> combate; <strong>de</strong>pósito para armazenar<<strong>br</strong> />

líquidos.<<strong>br</strong> />

tanque m. Tanque: carro <strong>de</strong> combate; <strong>de</strong>pósito para almacenar<<strong>br</strong> />

líquidos. Pila para lavar ropa, lava<strong>de</strong>ro.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 13


Esse procedimento medioestrutural ajuda a perceber os casos <strong>de</strong> convergência sêmica,<<strong>br</strong> />

mas, em verbetes mais extensos, nem sempre fica na mesma posição, o que dificulta, às<<strong>br</strong> />

vezes, a comparação entre as duas unida<strong>de</strong>s léxicas.<<strong>br</strong> />

Referências bibliográficas<<strong>br</strong> />

BALDINGER, K. Stupi<strong>de</strong> bei Rabelais: Faux amis in <strong>de</strong>r Übersetzung. In: Europäische<<strong>br</strong> />

Mehrsprachigkeit. Festschrift Wandruszka zum 70. Geburtstag. Tübingen: Niemeyer,<<strong>br</strong> />

1981. p. 349-357.<<strong>br</strong> />

________ . Les gaffes <strong>de</strong>s lexicographes. In: Studia in honorem R. Lapesa. Madrid:<<strong>br</strong> />

Gredos , 1974. p. 81-87.<<strong>br</strong> />

BECHARA, S.; MOURE, W. ¡Ojo! Con los <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>.Dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong><<strong>br</strong> />

cognatos em Espanhol e Português, São Paulo: Mo<strong>de</strong>rna, 1998.<<strong>br</strong> />

BÉJOINT, H. Toward a bilingual dictionary for “comprehension”. In: FERRARIO, H.;<<strong>br</strong> />

PULCINI, V. La lessicografía bilingue tra presente e avvenire. Verceli: Mercurio,<<strong>br</strong> />

2000. p. 33-48.<<strong>br</strong> />

BUDINI, P. Amici ma non tropo. Dicionário italiano-português <strong>de</strong> falsas analogias.<<strong>br</strong> />

São Paulo: Martins Fontes, 2002.<<strong>br</strong> />

BUGUEÑO, F. O que é macroestrutura no dicionário <strong>de</strong> língua? In: ISQUERDO, A. N.,<<strong>br</strong> />

ALVES, I. M. (<strong>org</strong>.). As ciências do léxico vol III. São Paulo: Humanitas, 2007a. p.261-<<strong>br</strong> />

272.<<strong>br</strong> />

_________. A lexicografia <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> frente à bilíngüe: <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um novo<<strong>br</strong> />

dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> espanhol-português. Voz das Letras, Contestado, v.8/2, p.1-<<strong>br</strong> />

15, disponível em: www.nead.uncnet.<strong>br</strong>/2007/revistas/letras/ed_8php, 2007b.<<strong>br</strong> />

________. Problemas y <strong>de</strong>safíos <strong>de</strong> un diccionario <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> español-alemán /<<strong>br</strong> />

alemán-español. In: FISCHER, E.; GLENK, E.; MEIRELLES, S. ((Hrsgn).<<strong>br</strong> />

Blickwechsel: Akten <strong>de</strong>s XI. Lateinamerikanischen Germanistenkongresses. São Paulo:<<strong>br</strong> />

EDUSP, Monferrer, 2005. p. 252-257.<<strong>br</strong> />

___________. <strong>Os</strong> dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> no Brasil. Lusorama, Frankfurt am<<strong>br</strong> />

Main, v.61-62, p. 180-194, 2005.<<strong>br</strong> />

___________. Consi<strong>de</strong>raciones para un nuevo diccionario <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> españolportugués.<<strong>br</strong> />

Polifonia, Cuiabá, v.6, p. 103-127, 2003.<<strong>br</strong> />

__________. Falsos <strong>amigos</strong>, <strong>falsos</strong> cognatos, heterossemânticos: uma simples escolha<<strong>br</strong> />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>signações? Organon, Porto Alegre, v. 32-33, p. 183-192, 2002.<<strong>br</strong> />

___________. Problemas macroestruturais em dicionários <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. Expressão.<<strong>br</strong> />

Santa Maria, v. 5/2, p. 89-93, 2001.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 14


___________. A propósito dos dicionários <strong>de</strong> ´<strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>´: ´Kritische Würdigung <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Hun<strong>de</strong>rtmark-Santos Martins 1995. Expressão, Santa Maria, v.4/1, p. 123-128, 2000.<<strong>br</strong> />

__________. Cuán <strong>falsos</strong> (algunos) <strong>amigos</strong>! Artexto, Rio Gran<strong>de</strong>, v. 10, p.73-84, 1999.<<strong>br</strong> />

__________________; FARIAS, V. Desenho da macroestrutura <strong>de</strong> um dicionário<<strong>br</strong> />

escolar <strong>de</strong> língua portuguesa. In: BEVILACQUA, C.; HUMBLÉ, Ph.; XATARA,<<strong>br</strong> />

Claudia (<strong>org</strong>.). Lexicografia pedagógica: Pesquisas e Perspectivas. Florianópolis:<<strong>br</strong> />

UFSC/NUT, disponível em: www.clip.ufsc.<strong>br</strong>/LEXICOPED.pdf., 2008.<<strong>br</strong> />

____________________________. Avaliação do programa constante <strong>de</strong> informações<<strong>br</strong> />

em dicionários monolíngües do português. In: Atas do VIII Congresso Brasileiro <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Lingüística Aplicada [no prelo], 2007.<<strong>br</strong> />

______________; Zanatta, F. Procedimentos medioestruturais em dicionários gerais <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

língua portuguesa. Revista da ABRALIN [em avaliação editorial], 2008.<<strong>br</strong> />

COSERIU, Eugenio. Einführung in die Allgemeine Sprachwissenschaft. Tübingen:<<strong>br</strong> />

Francke, 1992.<<strong>br</strong> />

CRYSTAL, D. Dicionário <strong>de</strong> lingüística e fonética. Rio <strong>de</strong> Janeiro, J<strong>org</strong>e Zahar, 1988.<<strong>br</strong> />

1988.<<strong>br</strong> />

DEA. SECO, M.; ANDRÉS, O.; RAMOS, G. Diccionario d el español actual, Madrid:<<strong>br</strong> />

Aguilar 1999.<<strong>br</strong> />

DDM. DAUZAT, A.; DUBOIS, J.; MITTERAND, H. Nouveau dictionnaire<<strong>br</strong> />

étymologique et historique, Paris: Larousse, 1990.<<strong>br</strong> />

DEtEsp. COROMINAS, J. Breve diccionario etimológico <strong>de</strong> la lengua castellana.<<strong>br</strong> />

Madrid: Gredos, 1987.<<strong>br</strong> />

DEtP. CUNHA, A. G. da. Diccionario etimológico da lengua portuguesa. Rio <strong>de</strong><<strong>br</strong> />

Janeiro: Nova Fronteira, 1996.<<strong>br</strong> />

DRAE. Real Aca<strong>de</strong>mia Española. Diccionario <strong>de</strong> la lengua española. Madrid: Espasa-<<strong>br</strong> />

Calpe, 2001.<<strong>br</strong> />

DUBOIS, Jean et ali. Dictionnaire <strong>de</strong> linguistique et <strong>de</strong>s sciences du langage. Paris,<<strong>br</strong> />

Larousse, 1999.<<strong>br</strong> />

DUE. MOLINER, M. Diccionario <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>l español, Madrid: Gredos, 1996-1997.<<strong>br</strong> />

ENGELBERT, S.; LEMNITZER, L. Lexikographie und Wörterbuchbenutzung.<<strong>br</strong> />

Tübingen: Stauffenburg, 2004.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 15


EtWtbDt. KLUGE, F. Etymologisches Wörterbuch <strong>de</strong>s Deutschen. Berlin: <strong>de</strong> Gruyter,<<strong>br</strong> />

1999.<<strong>br</strong> />

FARIAS, V. O ejemplo como informação discreta e discriminante em dicionários<<strong>br</strong> />

semasiológicos <strong>de</strong> língua portuguesa. Alfa, São Paulo, v.52/1, p. 101-122, 2008.<<strong>br</strong> />

FEIJÓO, B. Diccionario <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> <strong>de</strong>l español y <strong>de</strong>l portugués. São Paulo:<<strong>br</strong> />

Enterprise, 1999.<<strong>br</strong> />

GORBAHN-ORME, A.; HAUSMANN, F. J. The dictionary of False Friends. In:<<strong>br</strong> />

HAUSMANN, F. J.; REICHMANN, O.; WIEGAND, H.E.; ZGUSTA, L. (Hrsgn.).<<strong>br</strong> />

Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires:Ein internationales Handbuch zur<<strong>br</strong> />

Lexikographie III. Berlin, New York, Walter <strong>de</strong> Gruyter, 1991.<<strong>br</strong> />

HARTMANN, R.R.K. Teaching and researching lexicography. London: Longman<<strong>br</strong> />

2001.<<strong>br</strong> />

__________________; James,G.<<strong>br</strong> />

2001.<<strong>br</strong> />

Dictionary of lexicography. London: Routledge,<<strong>br</strong> />

HERBST, Th., KLOTZ. M. Lexikographie. Pa<strong>de</strong>rborn: Schöningh, 2003.<<strong>br</strong> />

KOESSLER, M.; DEROCQUIGNY, J. Les faux amis <strong>de</strong>s vocabulaire anglais et<<strong>br</strong> />

américain. Conseils aux traducteurs. Paris, 1928.<<strong>br</strong> />

KROMANN, Hans-Pe<strong>de</strong>r, RIIBER, Theis, ROSBACH, Poul. Principles of bilingual<<strong>br</strong> />

lexicography. In: HAUSMANN, F. J.; REICHMANN, O.; WIEGAND, H.E.; ZGUSTA,<<strong>br</strong> />

L. (Hrsgn.). Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires:Ein internationales Handbuch<<strong>br</strong> />

zur Lexikographie III. Berlin, New York, Walter <strong>de</strong> Gruyter, 1991.p. 2711-2728.<<strong>br</strong> />

LatDtHwtb. GEORGES, Karl Ernst. Ausführliches Lateinisch-Deutsches<<strong>br</strong> />

Handwörterbuch. Darmstadt: WBG, 1988.<<strong>br</strong> />

LEAL C. Dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>. Armadilhas na tradução do espanhol para o<<strong>br</strong> />

português. Fortaleza: Banco do Nor<strong>de</strong>ste, 1997.<<strong>br</strong> />

MARTÍNEZ DE SOUZA, J. Diccionario <strong>de</strong> lexicografía práctica. Barcelona:<<strong>br</strong> />

Bibliograf, 1995.<<strong>br</strong> />

MARZANO, F. Dicionário espanhol-português <strong>de</strong> falsas semelhanças. Rio <strong>de</strong> Janeiro:<<strong>br</strong> />

Campus, 2001.<<strong>br</strong> />

MASCHERPE, M.; ZAMARIN, L. <strong>Os</strong> <strong>falsos</strong> cognatos na tradução do inglês para o<<strong>br</strong> />

português. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Bertrand Brasil, 1998.<<strong>br</strong> />

MELLO, Th.; BATH, S. Amigos traiçoeiros: coletânea <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong> e outras<<strong>br</strong> />

peculiarida<strong>de</strong>s da língua espanhola para uso dos <strong>br</strong>asileiros. Brasília: UnB, 1996.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 16


MLS. GLÜCK, Helmut (Hrsg.). Metzler Lexikon Sprache. Stuttgart: Metzler, 2000.<<strong>br</strong> />

OEEt. HOAD, T.F. (ed.). The Concise Oxford Dictionary of English Etymology. Oford:<<strong>br</strong> />

OUP, 1996.<<strong>br</strong> />

PALMER, F.R. Semantics. Cam<strong>br</strong>idge: CUP, 1991.<<strong>br</strong> />

PIANIGIANI, Ottorino. Vocabolario etimologico <strong>de</strong>lla lingua italiana. La Spezia,<<strong>br</strong> />

Fratelli Melita, 1990 (3a.ed.).<<strong>br</strong> />

PRob Nouveau Petit Robert. Dictionnaire <strong>de</strong> la langue française, Paris: Dictionnaires<<strong>br</strong> />

Le Robert, 1993.<<strong>br</strong> />

SCHLAEFER, Michael. Lexikologie und Lexikographie. Berlin: Erich Schmidt, 2002.<<strong>br</strong> />

VAN HOOF, H. Petite histoire <strong>de</strong>s dictionnaires. Louvain-la-Neuve: Peeeters.<<strong>br</strong> />

WIEGAND, H.E. Über die Mediostrukturen bei gedruckten Wörterbüchern. In:<<strong>br</strong> />

ZETTERSTEN, A., PEDERSEN, V.H. (Hrsgn.). Symposium on lexicography VII.<<strong>br</strong> />

Tübingen: Max Niemeyer, 1996, p. 11-43.<<strong>br</strong> />

________________. Arten vom Mikrostrukturen im allgemeinen einsprachigen<<strong>br</strong> />

Wörterbuch. In: HAUSMANN, F. J.; REICHMANN, O.; WIEGAND, H.E.; ZGUSTA,<<strong>br</strong> />

L. (Hrsgn.). Wörterbücher, Dictionaries, Dictionnaires:Ein internationales Handbuch<<strong>br</strong> />

zur Lexikographie I. Berlin, New York, Walter <strong>de</strong> Gruyter, 1989. p. 462-501.<<strong>br</strong> />

XATARA, C.; OLIVEIRA, W. Dicionário <strong>de</strong> <strong>falsos</strong> <strong>amigos</strong>: francêsportuguês/português-francês.<<strong>br</strong> />

São Paulo: Casa Editorial Schmidt, 1995.<<strong>br</strong> />

GT Lexicografia, Terminologia, Lexicologia 17

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!