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Polissemia e produtividade lexical do prefixo des-: as ... - Celsul.org.br

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Anais <strong>do</strong> CELSUL 2008<strong>Polissemia</strong> e <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong> <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-: <strong>as</strong>múltipl<strong>as</strong> facet<strong>as</strong> semântic<strong>as</strong> de um morfema presente –reformulan<strong>do</strong> alguns conceitosLuizane Schneider 11 Centro de Educação, Comunicação e Artes – Universidade Estadual <strong>do</strong> Oeste <strong>do</strong>Paraná (UNIOESTE)luizaneschneider@yahoo.com.<strong>br</strong>Resumo. Este trabalho tem por objetivos investigar o grau de <strong>produtividade</strong><strong>lexical</strong> <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, bem como <strong>as</strong> alterações semântic<strong>as</strong> por eleprovocad<strong>as</strong> ao se antepor às palavr<strong>as</strong> que o admitem como <strong>prefixo</strong>. Paratanto, são considera<strong>do</strong>s textos <strong>do</strong> jornal on-line Observatório da Imprensacomo objeto de análise, já que se refere a um ambiente lingüístico decredibilidade e situa<strong>do</strong> num viés sincrônico. Para essa discussão, sãoconsidera<strong>do</strong>s os valores semânticos atribuí<strong>do</strong>s ao <strong>prefixo</strong> pel<strong>as</strong> gramátic<strong>as</strong>tradicionais e a grande fragilidade d<strong>as</strong> mesm<strong>as</strong> ao abordar essa questão.Assim, essa pesquisa insere-se na área de Lexicologia no momento em queinvestiga a <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong> <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, um simples elementolingüístico capaz de produzir inúmeros vocábulos com diferentes acepçõessemântic<strong>as</strong> na língua. Dessa forma, ao se ter em mãos apen<strong>as</strong> a partemorfológica para análise, qualquer pesquisa nessa área torna-se po<strong>br</strong>e erestrita. Devi<strong>do</strong> a esse fato busca-se, nesse artigo, englobar outr<strong>as</strong> correntesda Lingüística como a semântica, por exemplo, que trata de questões depolissemia relacionad<strong>as</strong> ao <strong>prefixo</strong> em questão. Recorre-se à teoriamorfológica a partir de B<strong>as</strong>ílio (1980 e 1991) e Rocha (1998) que trabalhamcom questões de <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong>, estrutura morfológica, morfema, léxicoe, principalmente, aborda-se a teoria semântica por meio de autores comoLyons (1997), Ullmann (1964) e Tamba-Mècz (2006) que tratam acerca depolissemia, homonímia, importância da polissemia no ambiente d<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>naturais. Conforme Ullmann (1964) a polissemia já foi considerada porAristóteles um defeito na linguagem pois corria-se o risco de causar malentendi<strong>do</strong>sna comunicação. Porém, com o p<strong>as</strong>sar <strong>do</strong>s tempos e com maispesquis<strong>as</strong> nessa área, a polissemia é considerada uma virtude no ambiented<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>, uma vez que revela o crescimento intelectual e social de um povo.Assim, percebe-se na polissemia a riqueza lingüística de um povo. Nessesenti<strong>do</strong>, é que se pretende estudar o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, i.e., a partir de um viéspolissêmico e, ao mesmo tempo, inseri<strong>do</strong> no contexto lexicológico, porque elese revela um elemento que o falante dispõe para formar antônimos, dar aidéia de intensidade, aumento, ação contrária, positividade além de outr<strong>as</strong>facet<strong>as</strong> semântic<strong>as</strong>.Também, para esse artigo, entende-se a <strong>produtividade</strong><strong>lexical</strong> não enquanto elemento de quantidade, ou seja, o número de palavr<strong>as</strong>GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia1


não importa, m<strong>as</strong> sim, a multiciplidade de senti<strong>do</strong>s que o <strong>des</strong>- atribui àspalavr<strong>as</strong> com <strong>as</strong> quais se adjunge.Abstract (ou Resumen). This paper intends to investigate the <strong>lexical</strong>productivity degree of the prefix <strong>des</strong>-, <strong>as</strong> well <strong>as</strong> the semantic changesprovoked by it when before words that admit it <strong>as</strong> prefix. So, the analysisobject is the texts of Observatório da imprensa journal because it refers to alinguistic environment of credibility and placed in a synchronic bi<strong>as</strong>. Thisissue considers the semantic values granted to that prefix by traditionalgrammars and their weakness to aboard this question. On this way, thisresearch is inserted in the lexicology area because it investigates the <strong>des</strong>prefix<strong>lexical</strong> productivity, a simple linguistic element capable to produceseveral words with different semantic meanings in the language. By the way,when only the morphologic part available for analysis, any research in thatarea gets poor and restrict. Due to such a fact, this article intends em<strong>br</strong>aceother linguistic lines <strong>as</strong> semantics, when concerning to questions aboutpolissemy related to that prefix. It uses the morphologic theory since B<strong>as</strong>ílio(1980 and 1991) and Rocha (1998) who work on morphologic structure,morpheme, lexicon and <strong>lexical</strong> productivity questions, also the semantic theoryb<strong>as</strong>ed on Lyons (1997) Ullmann (1964) and Tamba-Mècz (2006) who threatabout polissemy, homonymy, and the importance of polissemy on naturallanguages environment. According to Ullmann ( 1964) the polissemy h<strong>as</strong>already been considered by Aristóteles a language defect due to the risk ofmisunderstandings in the communication it could cause. However, with thetime and with more research on that area the polissemy is considered anadvantage in the language environment, because it shows intellectual andsocial growth of a people. So polissemy can be noted <strong>as</strong> a linguistic richnessof a people. In this sense, this paper intends to study the <strong>des</strong>- prefix i.e., from apolissemic bi<strong>as</strong> and, at the same time, inserted in the lexicographic contextbecause it gets an element owned by the speaker to form antonyms, to giveide<strong>as</strong> of intensity, incre<strong>as</strong>ing, contrary action, positivity, and other semanticfaces. Also for this article, the term <strong>lexical</strong> productivity is not an element ofquantity, i.e., the number of words, but the senses multiplicity that the <strong>des</strong>prefixgives to the words integrated by it.Palavr<strong>as</strong>-chave: <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, polissemia, <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong>1. Suporte teóricoÉ fácil perceber que to<strong>do</strong> falante nativo de uma língua demonstra uma enormehabilidade para o uso <strong>do</strong>s afixos. Mesmo que não tenha a clareza <strong>do</strong> que se trata um<strong>prefixo</strong> ou sufixo, tampouco o que cada um deles significa individualmente, os falantesreconhecem o papel que <strong>des</strong>empenham junto às palavr<strong>as</strong> e é por isso que ocorre apossibilidade de criação de neologismos, i.e., a renovação vocabular da língua.Dessa maneira, os processos morfológicos instaura<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong> língu<strong>as</strong> são tãointrinca<strong>do</strong>s que seria muito difícil imaginar como se processariam esses elementos semGT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia2


a existência de um ambiente de armazenamento para <strong>as</strong> informações de natureza <strong>lexical</strong>e de mecanismos lingüísticos sofistica<strong>do</strong>s capazes de manipulá-l<strong>as</strong>. A esse ambientechamar-se-á léxico. Define-se, portanto, léxico como sen<strong>do</strong> um lugar, seja um meiofísico ou via mente humana, em que estariam os morfem<strong>as</strong>, <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> e, em algum<strong>as</strong>situações, expressões correntes n<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>.Nesse senti<strong>do</strong>, morfologia e processos derivacionais são manifestações da línguaque se interligam na questão da <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong>. Entende-se por morfologia a parteda Lingüística que se ocupa com o estu<strong>do</strong> da estrutura da palavra, ou seja, osmorfem<strong>as</strong> 1 . Já os processos derivacionais são <strong>des</strong>critos por Said Ali (1971, p.229) comoo acréscimo de certos elementos formativos que emprestam à palavra primitiva um novosenti<strong>do</strong>.Em contextos mais ou menos complexos, um <strong>do</strong>s fenômenos lingüísticos quemuito tem chama<strong>do</strong> à atenção <strong>do</strong>s estudiosos diz respeito à <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong> que osmorfem<strong>as</strong> provocam na língua. Para Andrade (2006), a <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong> precisa serfocalizada a partir de uma perspectiva semântica, uma vez que está diretamenterelacionada ao <strong>as</strong>pecto polissêmico e/ou multifuncional <strong>do</strong>s processos de formação depalavr<strong>as</strong>. B<strong>as</strong>ílio (1999), também chama a atenção para essa questão. Para ela, dizer quedetermina<strong>do</strong> afixo é produtivo é dizer pouco, pois é importante verificar a <strong>produtividade</strong>de uma Regra de Formação de Palavr<strong>as</strong> (RFP) quan<strong>do</strong> atuan<strong>do</strong> so<strong>br</strong>e uma b<strong>as</strong>emorfológica determinada, uma vez que uma RFP pode ser mais produtiva com uma b<strong>as</strong>e<strong>do</strong> que com outra. Nesse senti<strong>do</strong>, é importante que afirmações de <strong>produtividade</strong> estejamcircunscrit<strong>as</strong> a tipos morfológicos de b<strong>as</strong>es. Acrescenta-se aqui o fato de a necessidadede especificação de ambientes de <strong>produtividade</strong> não se devem limitar ao ambientemorfológico, m<strong>as</strong> sim à questão de polissemia que perp<strong>as</strong>sa pelo viés semântico <strong>do</strong>sprocessos de formação de palavr<strong>as</strong>.Partin<strong>do</strong>-se <strong>des</strong>se ponto, o objetivo <strong>des</strong>se artigo é investigar a plurissignificaçãoque um <strong>do</strong>s morfem<strong>as</strong> mais produtivos da língua portuguesa, o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, incorpora àlíngua.Dentre os processos de formação de palavr<strong>as</strong> mais produtivos na línguaportuguesa está a derivação que tanto pode ser de natureza prefixal ou sufixal. Aderivação tratada aqui é a <strong>do</strong> tipo prefixal, ou seja, <strong>do</strong> afixo anteposto à b<strong>as</strong>e da palavra.Rocha (1998, p. 152) define a derivação prefixal como um processo de criação <strong>lexical</strong>que consiste na formação de uma nova palavra a partir <strong>do</strong> acréscimo de um morfema auma b<strong>as</strong>e já existente. Para ele, um <strong>prefixo</strong> se caracteriza como sen<strong>do</strong> uma seqüênciafônica recorrente, que não se constitui uma b<strong>as</strong>e, com o objetivo de se formar uma novapalavra [...] os <strong>prefixo</strong>s apresentam identidade fonológica, semântica e funcional. To<strong>do</strong><strong>prefixo</strong> – <strong>as</strong>sim como o sufixo – se caracteriza pelo fato de ser uma forma presa.Com b<strong>as</strong>e em estu<strong>do</strong>s diacrônicos, Cunha (1985) preconiza que os <strong>prefixo</strong>s sãomais independentes que os sufixos, originam-se, em geral, de advérbios ou preposiçõesque têm ou tiveram vida autônoma na língua. Segun<strong>do</strong> o autor, a derivação prefixal1 Conforme Ca<strong>br</strong>al (1974), um morfema representa uma unidade morfológica identificável e básica decada palavra, cujo significa<strong>do</strong> se mantém em tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> estrutur<strong>as</strong> em que ocorre.GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia3


difere da sufixal por não provocar a alteração da cl<strong>as</strong>se gramatical da palavra com quese coliga, m<strong>as</strong> por promover uma alteração semântica considerável so<strong>br</strong>e o significa<strong>do</strong>original daquela palavra.Coutinho (1976) explica que o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- é um morfema de origem latina(de+ex ou de dis), usa<strong>do</strong> freqüentemente para exprimir a idéia de separação,af<strong>as</strong>tamento, ablação (ato de tirar por força), ação contrária, de cima para baixo,intensidade e reforço. Tanta multiplicidade de senti<strong>do</strong>s, embora à primeira vista pareçauma relação exaustiva e consagrada, está no centro de questionamentos e longe de um<strong>as</strong>olução definitiva.Não constitui novidade para os estudiosos da língua o fato de <strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> oumesmo os morfem<strong>as</strong> admitirem senti<strong>do</strong>s diversos. Com o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- esse fenômenoaparece muito acentua<strong>do</strong>. N<strong>as</strong> língu<strong>as</strong>, a multiplicidade de senti<strong>do</strong>s provoca osurgimento de <strong>do</strong>is tipos principais de ambigüidade <strong>lexical</strong>: a polissemia e a homonímia.São muit<strong>as</strong> <strong>as</strong> definições encontrad<strong>as</strong> na literatura para estabelecer a diferençaentre a polissemia e a homonímia. Para Tamba Mècz (2006), a polissemia é amultiplicação <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s de uma mesma palavra com um mesmo significante aplica<strong>do</strong>a significa<strong>do</strong>s aparenta<strong>do</strong>s. Já a homonímia consiste em significantes idênticos, cujossignifica<strong>do</strong>s não guardam entre si qualquer relação semântica de proximidade.Tradicionalmente, os homônimos são palavr<strong>as</strong> diferentes (i.e. lexem<strong>as</strong>) com uma formaigual, enquanto a polissemia se caracteriza pela existência de muitos senti<strong>do</strong>s liga<strong>do</strong>sentre si por um significa<strong>do</strong> básico e central. Embora sejam muitos os critérios propostospara diferenciar a homonímia da polissemia, ainda não existe aquele considera<strong>do</strong>consistente e definitivo. Lyons (1987), por exemplo, coloca em dúvida o critérioetimológico. Para ele, é muito difícil saber em que momento histórico uma palavratenha <strong>as</strong>sumi<strong>do</strong> esse ou aquele novo significa<strong>do</strong>. Vári<strong>as</strong> tentativ<strong>as</strong> já foram feit<strong>as</strong> nessesenti<strong>do</strong>, m<strong>as</strong> os resulta<strong>do</strong>s e a veracidade <strong>do</strong>s fatos, por razões divers<strong>as</strong>, tornam-se nãoconfiáveis. O dinamismo com que <strong>as</strong> língu<strong>as</strong> evoluem e <strong>as</strong> diferentes situaçõescotidian<strong>as</strong> que se interpõem nesse percurso são os principais entraves para aconfirmação <strong>des</strong>ses resulta<strong>do</strong>s.Dubois (2004, p.326) também contribui para o esclarecimento entre homonímiae polissemia. De acor<strong>do</strong> com ele, “homônimo é a palavra que se pronuncia e/ou seescreve como outra, sem ter o mesmo senti<strong>do</strong> ou ainda, é a identidade fônica(homofonia) ou a identidade gráfica (homografia) de <strong>do</strong>is morfem<strong>as</strong> que não tem omesmo senti<strong>do</strong>, de um mo<strong>do</strong> geral”. No que tange à polissemia, Dubois (2004, p. 427) aconceitua como sen<strong>do</strong> a propriedade <strong>do</strong> signo lingüístico que possui vários senti<strong>do</strong>s.Entretanto, o autor <strong>as</strong>sume que a questão entre polissemia e homonímia é de difícilresolução ao afirma que se poderia buscar os critérios de distinção entre polissemia ehomonímia na Etimologia, todavia seria um recurso diacrônico e provavelmente nãofuncionaria.A polissemia, embora hoje estudada com maior atenção, nem sempre foi umfenômeno aprecia<strong>do</strong>. Ao longo da história, muitos a censuraram. O primeiro deles e,talvez o mais importante de to<strong>do</strong>s, foi Aristóteles (apud Ullmann, 1964). Para ele, <strong>as</strong>palavr<strong>as</strong> de significa<strong>do</strong> ambíguo serviam, so<strong>br</strong>etu<strong>do</strong>, para permitir ao sofista <strong>des</strong>orientaros seus ouvintes. Ullmann (1964) relata que os filósofos competiam uns com os outrosGT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia4


denuncian<strong>do</strong> a polissemia como um defeito da linguagem e como um importanteobstáculo na comunicação e até mesmo para um pensamento claro; uma idéia nãocompartilhada por Frederico, o Grande, um admira<strong>do</strong>r ardente <strong>do</strong> Francês que via nosignifica<strong>do</strong> multifaceta<strong>do</strong> um sinal de prosperidade da língua. O próprio Bréalconcordava com o Rei. Para ele, “Quanto mais significa<strong>do</strong>s uma palavra acumulou,mais diversos <strong>as</strong>pectos da atividade intelectual e social ela é capaz de representar” (apudUllmann, 1964).À parte tod<strong>as</strong> <strong>as</strong> paixões e crenç<strong>as</strong>, o fato é que se não fosse possível atribuirvários senti<strong>do</strong>s às palavr<strong>as</strong> e morfem<strong>as</strong> da língua, nossa memória estaria so<strong>br</strong>ecarregada.Para B<strong>as</strong>ílio (1991, p.10):...formamos palavr<strong>as</strong> pela mesma razão que formamos fr<strong>as</strong>es, o mecanismoda língua sempre procura atingir o máximo de flexibilidade em termos deexpressão simultaneamente a um mínimo de elementos estoca<strong>do</strong>s namemória. É essa flexibilidade que nos permite contar com um númerogigantesco de elementos básicos de comunicação sem termos queso<strong>br</strong>ecarregar a memória com esses mesmos elementos.A multiplicidade de senti<strong>do</strong>s admitid<strong>as</strong> pelo <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- dá a ele um caráteraltamente produtivo pouco comum a outros afixos. E é justamente isso que o torna ummorfema tão intrigante na Língua Portuguesa.Percebe-se, no uso da partícula <strong>des</strong>-, um <strong>des</strong>ejo de economia discursiva por parte<strong>do</strong> falante, pois a negação <strong>lexical</strong>, por exemplo, permite fr<strong>as</strong>es como “...o<strong>des</strong>contentamento em relação à situação <strong>do</strong> campo”, ao invés de fr<strong>as</strong>es sintaticamentemais complex<strong>as</strong> <strong>do</strong> tipo “ a falta de contentamento em relação à situação <strong>do</strong> campo”.Porém, há c<strong>as</strong>os em que a ocorrência <strong>do</strong> <strong>des</strong>- parece não exercer qualquerinfluência semântica so<strong>br</strong>e a palavra. É o que se nota com <strong>des</strong>inquieto. Para Coutinho(1976), “c<strong>as</strong>os como esses são inexpressivos e esporádicos. O papel <strong>des</strong>sa partícula é ode ajuntar à palavra a que se agrega uma idéia qualquer e acessória”.Contu<strong>do</strong>, ess<strong>as</strong> não constituem <strong>as</strong> únic<strong>as</strong> possibilida<strong>des</strong> observad<strong>as</strong> com o<strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-. As investigações, a partir de um corpus de aproximadamente 200 fr<strong>as</strong>es,têm da<strong>do</strong> conta de uma grande variedade de situações em que o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- se revelamais produtivo <strong>do</strong> que poderia parecer à primeira vista.Não podemos deixar de perceber que, além <strong>do</strong> caráter polissêmico <strong>do</strong> morfemaem voga, seu grau de ocorrência é relativamente alto. De acor<strong>do</strong> com Alves (2004), essefato pode possibilitar também um grau de polissemia acentua<strong>do</strong>, ou seja, quanto maisform<strong>as</strong> prefixad<strong>as</strong> ocorrerem, maior a probabilidade de nov<strong>as</strong> acepções para o morfema.2. Material e méto<strong>do</strong>s: o corpus de análisePara esse artigo, analisou-se um corpus de língua escrita extraí<strong>do</strong> <strong>do</strong> jornal (on-line)Observatório da Imprensa. A coleta de da<strong>do</strong>s iniciou-se em outu<strong>br</strong>o de 2007 até a<strong>br</strong>il de2008. Foram catalogad<strong>as</strong> 200 fr<strong>as</strong>es em que <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- aparece de maneiratransparente, ou seja, observou-se a capacidade de se recuperar, morfológica esemanticamente, tanto a b<strong>as</strong>e da palavra, quanto o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-. Dessa maneira,formações como <strong>des</strong>tacar e <strong>des</strong>truir, por não conterem uma b<strong>as</strong>e com significa<strong>do</strong>sincronicamente recuperável, a saber *tacar e *truir, não são objeto <strong>des</strong>sa análise.GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia5


A escolha <strong>do</strong> Observatório da Imprensa se justifica pelo jornal ser de fácilacesso, estar disponibiliza<strong>do</strong> na internet e por proporcionar um maior número de textos,inclusive mais longos <strong>do</strong> que seria possível a um veículo impresso, e isto tem reflexosimportantes no que se refere à qualidade <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que se oferecem à análise.É importante salientar que não se selecionou uma seção específica <strong>do</strong>Observatório da Imprensa, para que não pu<strong>des</strong>se ocorrer uma tendência a determina<strong>do</strong>valor semântico. Por exemplo, devi<strong>do</strong> à situação política <strong>br</strong><strong>as</strong>ileira estar em constante<strong>des</strong>crédito, <strong>as</strong> formações podem encaminhar-se para teores semânticos negativos.Assim, pretende-se mesclar diferentes <strong>as</strong>suntos para que se possa averiguar a presença<strong>do</strong> <strong>des</strong>- em diferentes situações de uso, a saber, em textos escritos e b<strong>as</strong>ea<strong>do</strong>s noscritérios da sincronia 2 .3. Análise e discussão <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sNessa pesquisa, como vári<strong>as</strong> vezes menciona<strong>do</strong> anteriormente, discute-se a ocorrência<strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- e sua influência so<strong>br</strong>e o significa<strong>do</strong> d<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> a partir de um viésmorfo-semântico, i.e., entende-se que a morfologia, nesse contexto de pesquisa, não écapaz de explicar com clareza alguns fenômenos, logo, parte-se para o entendimento<strong>des</strong>s<strong>as</strong> manifestações nos apoian<strong>do</strong> na semântica, mais especificamente, na questão dehomonímia e polissemia.Considera-se que a polissemia é um fenômeno b<strong>as</strong>tante marcante n<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>.No c<strong>as</strong>o <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, a sua ocorrência é b<strong>as</strong>tante produtiva. Sacconi (1984), porexemplo, cita uma série de significa<strong>do</strong>s que o <strong>des</strong>- atribui à palavra a qual se coliga.Dentre <strong>as</strong> gramátic<strong>as</strong> pesquisad<strong>as</strong>, Nossa Gramática: teoria e prática de Sacconi é a querelaciona uma maior incidência de valores semânticos para o <strong>prefixo</strong>, sem é claro,considerar seu ambiente de ocorrência. Apen<strong>as</strong> cita os teores semânticos de formaisolada e com poucos exemplos:. negação: <strong>des</strong>leal, <strong>des</strong>engano, <strong>des</strong>onra, <strong>des</strong>amor. ação contrária: <strong>des</strong>arrumar, <strong>des</strong>dizer. aumento, intensidade: <strong>des</strong>abusa<strong>do</strong>, <strong>des</strong>comunal. <strong>des</strong>truição: <strong>des</strong>mantelar, <strong>des</strong>moronar. separação: <strong>des</strong>c<strong>as</strong>car, <strong>des</strong>locarEntretanto, na maioria d<strong>as</strong> gramátic<strong>as</strong>, <strong>as</strong> variações indicad<strong>as</strong> de significa<strong>do</strong>sestão longe de serem exaustiv<strong>as</strong> e, não raro, pouco revela<strong>do</strong>r<strong>as</strong> da potencialidade <strong>do</strong><strong>prefixo</strong>. Para Cunha (1985) e Cunha & Cintra (2007) o <strong>des</strong>- exprime separação e açãocontrária, apen<strong>as</strong>. São cita<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is exemplos: <strong>des</strong>viar e <strong>des</strong>fazer. Na Nova Gramática <strong>do</strong>Português Contemporâneo (2007), os autores não se preocuparam em ampliar os2 Conceito importante estabeleci<strong>do</strong> por Saussure n<strong>as</strong> investigações lingüístic<strong>as</strong> em que se faz um recorteda língua em determina<strong>do</strong> momento e não a partir de sua evolução de geração a geração (diacronia).GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia6


senti<strong>do</strong>s admiti<strong>do</strong>s pelo <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-, muito menos explorar novos exemplos. Issodemonstra o <strong>des</strong>c<strong>as</strong>o com que determina<strong>do</strong>s morfem<strong>as</strong> da língua são trata<strong>do</strong>s pel<strong>as</strong>Gramátic<strong>as</strong> Tradicionais, pois apen<strong>as</strong> é listada sua origem (latina ou grega) com poucosexemplos e, no máximo, <strong>do</strong>is ou três teores semânticos.De imediato, percebe-se a ausência de algum<strong>as</strong> possibilida<strong>des</strong> semântic<strong>as</strong>, talcomo o senti<strong>do</strong> positivo que o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- impregna em algum<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>. Em palavr<strong>as</strong><strong>des</strong>cansar e <strong>des</strong>m<strong>as</strong>carar além de estabelecer uma ação contrária nota-se ness<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong>um senti<strong>do</strong> positivo. Embora o <strong>des</strong>taque seja para o senti<strong>do</strong> negativo, o <strong>prefixo</strong> podecarregar também consigo vários senti<strong>do</strong>s ao mesmo tempo, como em <strong>des</strong>cansar quealém de ser uma ação contrária a cansar, tem em sua essência algo positivo, de ganho. Omesmo ocorre em <strong>des</strong>m<strong>as</strong>carar que pode representar <strong>do</strong>is significa<strong>do</strong>s distintos: umdenotativo (tirar a máscara – objeto) e outro conotativo (<strong>des</strong>mentir alguém), o que épositivo/digno.As gramátic<strong>as</strong> não têm demonstra<strong>do</strong> gran<strong>des</strong> preocupações com ess<strong>as</strong> situações.Nem sequer os indícios semânticos mínimos aparecem na maioria del<strong>as</strong>. Ressalta-seaqui que a única gramática que considerou outros fatores semânticos foi Nossagramática: teoria e prática de Luiz Carlos Sacconi, mesmo <strong>as</strong>sim de uma forma b<strong>as</strong>tantetímida.No corpus analisa<strong>do</strong> foram encontrad<strong>as</strong> oito acepções pre<strong>do</strong>minantes. Destaca-seque ess<strong>as</strong> identificações não são exaustiv<strong>as</strong>. A partir <strong>des</strong>sa investigação, apresentam-se<strong>as</strong> acepções semântic<strong>as</strong> admitid<strong>as</strong> pelo <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-:Teores semânticosPalavr<strong>as</strong> analisad<strong>as</strong>1. Negatividade <strong>des</strong>informação, <strong>des</strong>personalização2. Positividade <strong>des</strong>o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>, <strong>des</strong>co<strong>br</strong>imento, <strong>des</strong>cansem3. Ação contrária <strong>des</strong>embolsar, <strong>des</strong>montada, <strong>des</strong>aceleração4. Aumento, intensidade <strong>des</strong>g<strong>as</strong>ta<strong>do</strong>s5. Separação <strong>des</strong>atrelada, <strong>des</strong>colamento6. Transformação <strong>des</strong>figura<strong>do</strong>, degelo7. Destruição <strong>des</strong>matamento8. Falta de harmonia <strong>des</strong>equilí<strong>br</strong>io, <strong>des</strong>proporção, <strong>des</strong>controleTabela 1. Teores Semânticos <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>-Entre <strong>as</strong> oito acepções explica-se a primeira del<strong>as</strong> – negatividade.3.1. NegatividadeO grupo a seguir informa o teor mais evidente <strong>do</strong> morfema <strong>des</strong>-: a característica denegatividade, ou seja, nega-se algo, prevalece aqui o senti<strong>do</strong> de perda.GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia7


(1) A censura pode resultar em rumores e <strong>des</strong>informação n<strong>as</strong> ru<strong>as</strong>.Observatório da Imprensa 01/01/2008.Em (1) observa-se que o substantivo <strong>des</strong>informação 3 indica um esta<strong>do</strong> de quemtem pouca ou nenhuma informação so<strong>br</strong>e algum <strong>as</strong>sunto. Ou ainda, sugere umainformação propositadamente errônea. Isso, certamente, se revela um dano ou prejuízoe, por isso, o <strong>des</strong>- imprime um senti<strong>do</strong> negativo à palavra a qual se coliga.Já em (2), <strong>des</strong>personalização mostra a falta ou perda de respeito pela própriapersonalidade, fato esse verifica<strong>do</strong> em indivíduos que sofrem de determinad<strong>as</strong> <strong>do</strong>enç<strong>as</strong>de foro psíquico, pois perdem o senso de identidade pessoal. Observe:(2) Para citar estu<strong>do</strong> recente, a pesquisa<strong>do</strong>ra Gisele Levy (UERJ) divulgouum resulta<strong>do</strong> preocupante, que reflete a realidade de muit<strong>as</strong> cida<strong>des</strong><strong>br</strong><strong>as</strong>ileir<strong>as</strong>: cerca de 70% <strong>do</strong>s professores de cinco escol<strong>as</strong> públic<strong>as</strong> emNiterói sofrem da chamada síndrome de Burnout, que se traduz em exaustãoemocional, <strong>des</strong>personalização e falta de realização. Observatório daImprensa 17/12/2007.Percebe-se, a partir <strong>des</strong>ses <strong>do</strong>is exemplos, a força semântica que o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>imprimeà b<strong>as</strong>e da palavra. Também, pelo material coleta<strong>do</strong>, <strong>as</strong> formações com teoresnegativos pre<strong>do</strong>minam, porém não são <strong>as</strong> únic<strong>as</strong>.3.2. PositividadeNesse grupo arrola-se o teor semântico positivo. Constata-se que a b<strong>as</strong>e da palavraapresenta um teor negativo e com o <strong>prefixo</strong> imprime a idéia de ganho.Naturalmente, n<strong>as</strong> crític<strong>as</strong> ao ex-presidente foram usa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pesos e du<strong>as</strong>medid<strong>as</strong>, pois <strong>do</strong> presidente Lula tu<strong>do</strong> se per<strong>do</strong>a ness<strong>as</strong> questões, como seele fosse o único <strong>br</strong><strong>as</strong>ileiro <strong>des</strong>o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong> de se submeter à norma culta,poden<strong>do</strong> falar como puder ou quiser. Observatório da Imprensa 27/11/2007No exemplo (3), a b<strong>as</strong>e da palavra sugere algo força<strong>do</strong>, sem escolha. A partir <strong>do</strong><strong>des</strong>- ocorre a negação <strong>des</strong>sa b<strong>as</strong>e e, por conseguinte, reforça o caráter positivo de<strong>des</strong>o<strong>br</strong>iga<strong>do</strong>, i.e., livre, que está à vontade.Verifica-se positividade também em outros exemplos:Os 200 anos da chegada da família real ao Br<strong>as</strong>il estão mais anima<strong>do</strong>s <strong>do</strong>que os festejos <strong>do</strong>s 500 anos <strong>do</strong> Desco<strong>br</strong>imento. Observatório da Imprensa04/12/2007.E espero que lá meus ossos <strong>des</strong>cansem até se fundirem com a terra.Observatório da Imprensa 15/01/2008.Assim, verifica-se que o <strong>des</strong>-, embora considera<strong>do</strong> por excelência um morfemaque imprime negatividade, também apresenta um teor positivo conforme exemploscita<strong>do</strong>s.3.3. Ação contrária3 Dicionários eletrônicos utiliza<strong>do</strong>s na definição d<strong>as</strong> palavr<strong>as</strong> analisad<strong>as</strong>.http://michaelis.uol.com.<strong>br</strong>/http://www.priberam.pt/dlpo/dlpo.<strong>as</strong>pxGT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia8


O grupo 3.3 menciona o valor semântico de ação contrária, i.e., indica uma açãotranseunte ou imanente àquela expressa pela b<strong>as</strong>e da palavra.(4) M<strong>as</strong> os preços <strong>des</strong>se conversor na faixa de 500 reais, no mínimo,significa que o consumi<strong>do</strong>r terá de <strong>des</strong>embolsar qu<strong>as</strong>e o valor de <strong>do</strong>istelevisores atuais de 16 polegad<strong>as</strong> para melhorar a sua recepção.Observatório da Imprensa 04/12/2007.(5) O <strong>as</strong>sunto é nosso – nos porões de uma d<strong>as</strong> naus que trouxe a Corte, aMedusa, veio uma prensa <strong>des</strong>montada e, graç<strong>as</strong> a isso, chegamos à eraGutenberg. Observatório da Imprensa 04/12/2007.Tanto em (4) quanto em (5), o ato de <strong>des</strong>embolsar e <strong>des</strong>montar denota algooposto, mais especificamente, é necessário embolsar e montar para posteriormenterealizar o ato inverso. Embora esse grupo apresente uma idéia de ação, é importantefrisar que o conceito de ação será considera<strong>do</strong> também em nomes, como aprece nos <strong>do</strong>isexemplos que seguem. Essa ressalva deve-se ao fato de que <strong>as</strong> gramátic<strong>as</strong> tradicionaisprescrevem que somente verbos imprimem idéia de ação e não mencionam nada arespeito <strong>do</strong>s substantivos.(7) Segun<strong>do</strong> essa tese, uma <strong>des</strong>aceleração da maior economia <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>pouco afetaria, <strong>des</strong>ta vez, os gran<strong>des</strong> emergentes como China, Índia e Br<strong>as</strong>il.Observatório da Imprensa 22/01/2008.A fr<strong>as</strong>e (6) apresenta um adjetivo e a (7) um substantivo. Embora sejam nomes,possuem teor semântico de ação, pois indicam resulta<strong>do</strong> de uma força, movimento ouatividade.3.4. Aumento, intensidadeO particípio de <strong>des</strong>g<strong>as</strong>tar – <strong>des</strong>g<strong>as</strong>ta<strong>do</strong> – revela um teor reforçativo à b<strong>as</strong>e com a qual apalavra se coliga. Ou seja, a idéia veiculada pelo <strong>prefixo</strong> se so<strong>br</strong>epõe à b<strong>as</strong>e da palavra.3.5. Separação(8) As medid<strong>as</strong> tributári<strong>as</strong> anunciad<strong>as</strong> quarta-feira (2) pelo governo aindaestão sen<strong>do</strong> digerid<strong>as</strong> pela imprensa, m<strong>as</strong> claramente se percebe quaissetores ficaram mais <strong>des</strong>g<strong>as</strong>ta<strong>do</strong>s com o aumento de tributos. Observatórioda Imprensa 04/12/2008.Neste grupo, tem-se formações em que o emprego <strong>do</strong> <strong>des</strong>- indica separação <strong>do</strong>sconstituintes.(9) Não é possível mais conceber a TV ou qualquer outra produção de mídia<strong>des</strong>atrelada da educação e da promoção da cultura. Observatório daImprensa 04/12/2007.(10) Um exemplo <strong>des</strong>se "<strong>des</strong>colamento" são os resulta<strong>do</strong>s de uma pesquisamundial so<strong>br</strong>e liberdade de imprensa divulgada no início de dezem<strong>br</strong>o.Observatório da Imprensa 01/01/2008Constata-se que <strong>as</strong> sentenç<strong>as</strong> (9) e (10) transmitem a idéia de af<strong>as</strong>tamento,<strong>des</strong>união e <strong>des</strong>ligamento entre determina<strong>do</strong>s elementos.3.6. TransformaçãoGT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia9


Trata-se de formações n<strong>as</strong> quais a palavra apresenta transformação ou alteração naestrutura em relação à b<strong>as</strong>e da palavra.O item <strong>lexical</strong> <strong>des</strong>figura<strong>do</strong>s denota algo que deformou e alterou rostos e corpos,Por isso, trata-se de uma transformação.(11) Alguns com três pern<strong>as</strong>, com rostos e corpos <strong>des</strong>figura<strong>do</strong>s, commem<strong>br</strong>os <strong>des</strong>proporcionais etc., para a diversão própria e de seus conviv<strong>as</strong>.Observatório da Imprensa 08/01/2008.(12) As revist<strong>as</strong> colorid<strong>as</strong> alarmam-se com o degelo d<strong>as</strong> calot<strong>as</strong> polares e <strong>as</strong>orte <strong>do</strong>s ursinhos <strong>br</strong>ancos. Observatório da Imprensa 15/05/2008.Em (12), considera-se o <strong>prefixo</strong> de como um processo de alomorfia <strong>do</strong> morfema<strong>des</strong>- devi<strong>do</strong> a uma acomodação fonética. Assim, degelo revela uma transformação, ouseja, derrete-se algo sóli<strong>do</strong> e se transforma em líqui<strong>do</strong>.3.7. DestruiçãoFigura-se neste grupo de acepção uma única formação encontrada em que o <strong>des</strong>expressaum senti<strong>do</strong> de extinção, pelo ato de derrubar ou dev<strong>as</strong>tar.3.8. Falta de Harmonia(13) Contu<strong>do</strong>, talvez não haja razão para pânico, já que o Br<strong>as</strong>il reduziu em60% o <strong>des</strong>matamento nos últimos três anos, o que equivale a meio bilhão detonelad<strong>as</strong> de CO2, ou 14% de tu<strong>do</strong> que teria que ser reduzi<strong>do</strong> pelos países"<strong>des</strong>envolvi<strong>do</strong>s" até 2012. Observatório da Imprensa 01/01/2008.O último grupo aponta<strong>do</strong> expressa a idéia de falta de harmonia ou instabilidade.(14) Na retaguarda, n<strong>as</strong> equipes técnic<strong>as</strong> e de produção, também se repete o<strong>des</strong>equilí<strong>br</strong>io observa<strong>do</strong> na tela. Observatório da Imprensa 17/12/2007.(15) A <strong>des</strong>proporção entre conteú<strong>do</strong> e publicidade verifica-se também emoutros veículos de comunicação de m<strong>as</strong>sa. Observatório da Imprensa04/12/2007.(16) O DVD intitula<strong>do</strong> Tropa de Elite 3, que se acha há muito tempo n<strong>as</strong>ru<strong>as</strong> <strong>do</strong> Rio, poderia ser noticia<strong>do</strong> apen<strong>as</strong> como sintoma de <strong>do</strong>is fatos sociaismaiores, para os quais só agora o poder público parece estar acordan<strong>do</strong>: (1)o agravamento da violência urbana pela progressiva falta de controle so<strong>br</strong>eo tráfico de drog<strong>as</strong> e os <strong>as</strong>saltos; (2) a transformação <strong>des</strong>se <strong>des</strong>controle emespetáculo. Observatório da Imprensa 15/01/2008.Em to<strong>do</strong>s os exemplos percebe-se esse caráter. Embora haja uma certanegatividade nesses há uma particularidade que sugere essa categoria semântica.4. Considerações finaisA intenção neste artigo foi explorar a <strong>produtividade</strong> <strong>lexical</strong> em processos de formaçãode palavr<strong>as</strong>, partin<strong>do</strong> de um viés semântico e ten<strong>do</strong> como foco o fenômeno dapolissemia.Observou-se que a função primordial <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- consiste em provocar umaalteração semântica à b<strong>as</strong>e da palavra. O <strong>prefixo</strong> não se adjunge a qualquer palavra,forman<strong>do</strong> um vocábulo anômalo e incoerente, ele se combina com palavr<strong>as</strong> compatíveis.GT Lexicologia, Lexicografia e Terminologia10


Assim, podemos afirmar que o <strong>prefixo</strong> <strong>des</strong>- é altamente produtivo ao se levar emconta os processos polissêmicos que o envolvem.5. Referênci<strong>as</strong>ALVES, Ieda. Neologismo - Criação Lexical. São Paulo: Ática, 1990. 93 p.ANDRADE, Fernan<strong>do</strong> Gil Coutinho de. <strong>Polissemia</strong> e <strong>produtividade</strong> n<strong>as</strong> construçõeslexicais: um estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>prefixo</strong> re- no português contemporâneo. Orienta<strong>do</strong>ra: MargaridaB<strong>as</strong>ílio. Dissertação de Mestra<strong>do</strong>. Rio de Janeiro: PUC, Departamento de Letr<strong>as</strong>, 2006.83 p.ARONOFF, Mark. Word Formation in Generative Grammar. Cam<strong>br</strong>idge, M<strong>as</strong>s., TheMIT Press, 1976. 148 p.BASÍLIO, Margarida. Estrutur<strong>as</strong> lexicais <strong>do</strong> português: uma abordagem gerativa.Petrópolis: Vozes, 1980. 128 p.___________________. Formação e cl<strong>as</strong>se de palavr<strong>as</strong> no português <strong>do</strong> Br<strong>as</strong>il. SãoPaulo: Contexto, 2004. 95 p.___________________. Teoria Lexical. São Paulo: Ática, 1991. 94 p.___________________. A morfologia no Br<strong>as</strong>il: Indica<strong>do</strong>res e Questões. DELTA. Vol.15, n.especial, 1999. Disponível em

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