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Caderno de Resumos - Celsul.org.br

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Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do SulInstituto <strong>de</strong> LetrasPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em LetrasVIII Encontrodo CELSULCIRCULO DE ESTUDOS LINGÜÍSTICOS DO SUL - CELSULProgramação e <strong>Resumos</strong>29 a 31 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2008


UNIVERSIDADE FEDERAL DORIO GRANDE DO SULReitorCarlos Alexandre NettoVice-ReitorRui Vicente OppermannPró-Reitor <strong>de</strong> GraduaçãoValquíria Linck BassaniPró-Reitor <strong>de</strong> Pós-GraduaçãoAldo Bolten LucionPró-Reitor <strong>de</strong> PesquisaJoão Edgar SchmidtPró-Reitor <strong>de</strong> ExtensãoSandra <strong>de</strong> DeusPró-Reitora <strong>de</strong> PlanejamentoMaria Aparecida <strong>de</strong> SouzaPró-Reitor <strong>de</strong> Recursos HumanosMaurício Viegas da SilvaDiretor do Instituto <strong>de</strong> LetrasArcanjo Pedro BriggmannCoor<strong>de</strong>nadora do Programa <strong>de</strong>Pós-Graduação em LetrasLúcia Sá RebelloUNIVERSIDADE CATÓLICADE PELOTASChancelerD. Jayme Henrique ChemelloReitorAlencar Mello ProençaVice-ReitorJosé Carlos Bachettini JúniorPró-Reitora AcadêmicaMyriam Siqueira da CunhaPró-Reitor AdministrativoCarlos Ricardo Gass SinnottEDUCAT - Editora da UCPELEditorWallney Joelmir HammesCONSELHO EDITORIALWallney Joelmir HammesPresi<strong>de</strong>nteA<strong>de</strong>nauer Corrêa YamimFernando Celso Lopes Fernan<strong>de</strong>s<strong>de</strong> BarrosLuciana Bicca Do<strong>de</strong> Vera MariaRibeiro NogueiraVilson José Leffa2


Diretoria do CELSUL Biênio 2007/2008Gisela Collischonn (UFRGS) - Presi<strong>de</strong>nteSergio <strong>de</strong> Moura Menuzzi (UFRGS) - Vice-presi<strong>de</strong>nteElisa Battisti (UCS) - TesoureiraIngrid Finger (UFRGS) - SecretáriaSecretariaAline Gouveia <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Renata Pires <strong>de</strong> Souza Emanuel Souza <strong>de</strong> QuadrosComitê Científico - Seleção <strong>de</strong> PôsteresBerna<strong>de</strong>te Abaurre (UNICAMP)Cláudia Brescancini (PUCRS)Conrado Chagas (PPGL/UFRGS)Ga<strong>br</strong>iel Roisenberg (PPGL/UFRGS)Ingrid Finger (IL/UFRGS)Luciana Pilatti Telles (PPGL/UFRGS)Comitê Científico - Seleção <strong>de</strong> Comunicações nos GTsAdair Bonini (UNISUL)A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Hercília Pescatori Silva (UFPR)Adriana <strong>de</strong> Carvalho Kuerten Dellagnelo (UFSC)Ana Maria <strong>de</strong> Mattos Guimarães(UNISINOS)Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS)Carlos Rossa (PUCRS)Cátia <strong>de</strong> Azevedo Fronza (UNISINOS)Débora <strong>de</strong> Carvalho Figueiredo (UNISUL)Edair Maria Görski (UFSC)Eleonora Cavalcante Albano (UNICAMP)Evandra Grigoletto (UPF)Fábio José Rauen (UNISUL)Felício Wessling Margotti (UFSC)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)Giselle Mantovani Dal Corno (UCS)Iara Bemquerer Costa (UFPR)Ina Emmel (UFSC)Izabel Christine Seara (UFSC)Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC)J<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)José Luiz Meurer (UFSC)Karen Pupp Spinassé (UFRGS)Leci B<strong>org</strong>es Barbisan (PUCRS)Leda Tomitch (UFSC)Luciana Pereira da Silva (UTFPR)Luciene Juliano Simões (UFRGS)Márcia Zimmer (UFSM)Márcio Renato Guimarães (UFPR)Organização do Livro <strong>de</strong> Programação e <strong>Resumos</strong>Marcos Goldna<strong>de</strong>lGisela CollischonnCapaPedro Figueiredo <strong>de</strong> A<strong>br</strong>euMaria Lúcia <strong>de</strong> Oliveira Andra<strong>de</strong> (USP)Tatiana Keller (PPGL/PUCRS)Raquel Santana Santos (USP)Regina Mutti (FACED/UFRGS)Sa<strong>br</strong>ina A<strong>br</strong>eu (IL/UFRGS)Sergio Menuzzi (IL/UFRGS)Tania Alkmim (UNICAMP)Marcos Baltar (UCS)Marcos Goldna<strong>de</strong>l (UFRGS)Maria Ester Wollstein Moritz (UNISUL)Maria José Bocorny Finatto (UFRGS)Maria Marta Furlanetto (UNISUL)Marília dos Santos Lima (UFRGS)Mary Neiva Surdi da Luz (UNOCHAPECÓ)Neiva Maria Jung (UEM/UEPG)O<strong>de</strong>te Pereira da Silva Menon (UFPR)Otilia Lizete <strong>de</strong> Oliveira Martins Heinig (FURB)Patrícia Rodrigues (UEL)Pedro <strong>de</strong> Souza (UFSC)Pedro M. Garcez (UFRGS)Rafael Vetromille-Castro (UFRGS)Regina Ritter Lamprecht (PUCRS)Renata Vieira (PUCRS)Rosângela Ga<strong>br</strong>iel (UNISC)Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC)Rove Chishman (UNISINOS)Sandro Braga (UNISUL)Solange Mittmann (UFRGS)Teresa Cristina Wachowicz (UFPR)Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR)Ubiratã Kickhöfel Alves (UCPel)Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)Valéria Monaretto (UFRGS)Van<strong>de</strong>rci <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Aguilera (UEL)Verli Petri (UFSM)Vilson José Leffa (UCPel)3


© 2008 Marcos Goldna<strong>de</strong>l (Org.)Gisela Collischonn (Org.)Direitos <strong>de</strong>sta edição reservados àEditora da Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> PelotasRua Félix da Cunha, 412Fone (53)2128.8030 - Fax (53)2128.8229Pelotas - RS - BrasilE-mail: educat@phoenix.ucpel.tche.<strong>br</strong>Loja virtual: http://educat.ucpel.tche.<strong>br</strong>Editora filiada àPROJETO EDITORIALEDUCATEDITORAÇÃO ELETRÔNICAMarcos Goldna<strong>de</strong>lCAPAPedro Figueiredo <strong>de</strong> A<strong>br</strong>euE471Encontro do CELSUL - Círculo <strong>de</strong> Estudos Lingüísticosdo Sul (8. : 2008 : Porto Alegre, RS).VIII Encontro do CELSUL, Porto Alegre, 29 a 31 <strong>de</strong>Outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2008: Programação e Resumo / – Pelotas:EDUCAT, 2008..ISBN 978-85-7590-114-4. I. TítuloCDD 410Ficha catalográfica elaborada pela bibliotecária Cristiane <strong>de</strong> Freitas Chim4


APRESENTAÇÃODes<strong>de</strong> sua criação, em 1995, o CELSUL – Círculo <strong>de</strong> EstudosLingüísticos do Sul – tem-se constituído como ponto <strong>de</strong> convergência daprofusão <strong>de</strong> estudos lingüísticos realizados na região Sul. Cada Encontrobienal do CELSUL tem sido o testemunho da diversida<strong>de</strong> e da qualida<strong>de</strong> dapesquisa lingüística <strong>de</strong>senvolvida não só na região, mas no país e no exterior,reunindo pesquisadores comprometidos com a ampliação das fronteiras dosaber lingüístico. Essa ampliação resulta do esforço <strong>de</strong> pesquisa permanente<strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> ciente <strong>de</strong> suas responsabilida<strong>de</strong>s e do empenhocontinuado para a divulgação dos resultados alcançados.Os Encontros do CELSUL constituem espaço privilegiado <strong>de</strong>discussão para todos os participantes, que têm a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>compartilhar suas <strong>de</strong>scobertas com uma comunida<strong>de</strong> que, pela qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sua produção, tem colaborado generosamente para o <strong>de</strong>bate qualificadoso<strong>br</strong>e a linguagem, tão importante para o incremento da pesquisa emLingüística. Além disso, a reunião <strong>de</strong> pesquisadores representando o melhorda produção acadêmica tem um valor didático inestimável para as gerações<strong>de</strong> futuros pesquisadores, muitos <strong>de</strong>les envolvidos em programas <strong>de</strong>pesquisa nas universida<strong>de</strong>s. Essa nova geração toma contato, nos Encontrosdo CELSUL, com um ambiente propício à reflexão, fundamental para aformação <strong>de</strong> quadros qualificados, principalmente neste momento, em que auniversida<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira assiste a um aumento <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>corrente dosurgimento <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> vagas em instituições <strong>de</strong> ensinosuperior.Assim, é com gran<strong>de</strong> satisfação que a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do RioGran<strong>de</strong> do Sul (UFRGS), através <strong>de</strong> seu Instituto <strong>de</strong> Letras, Programa <strong>de</strong>Pós-Graduação em Letras, e com apoio da CAPES e do CNPq, realiza o VIIIEncontro do CELSUL. O leitor <strong>de</strong>ste livro <strong>de</strong> resumos po<strong>de</strong>rá verificar, pelaquantida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong> das mesas-redondas, dos grupos temáticos(novida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste Encontro) e dos pôsteres – são 9 mesas redondas, 29 grupostemáticos e 81 pôsteres nas mais diversas áreas da Lingüística – e pelaconsistência teórica das propostas apresentadas, o vigor <strong>de</strong> nossa produçãoacadêmica. Aqui o leitor encontrará um guia para a sua participação no VIIIEncontro do CELSUL, com informações so<strong>br</strong>e os locais on<strong>de</strong> ocorrem asativida<strong>de</strong>s da programação principal e os resumos <strong>de</strong> todas as apresentaçõesdo evento. Desejamos a todos um gran<strong>de</strong> encontro.Gisela Collischonn (UFRGS) - Presi<strong>de</strong>nteSergio <strong>de</strong> Moura Menuzzi (UFRGS) - Vice-presi<strong>de</strong>nteElisa Battisti (UCS) – TesoureiraIngrid Finger (UFRGS) – SecretáriaDiretoria do CELSUL – Biênio 2007/2008Comissão Orgnizadora do VIII Encontro do CELSUL5


SUMÁRIOAPRESENTAÇÃO ..................................................................... 5SUMÁRIO .................................................................................. 7PROGRAMAÇÃO GERAL ....................................................... 9LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO I ..................................... 12LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO II ....................................16RESUMOS DAS CONFERÊNCIAS ........................................ 20RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NAS MESAS-REDONDAS ............................................................................. 22RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOSTEMÁTICOS ............................................................................ 41RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO I ........................... 415RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO II .......................... 445RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOSTEMÁTICOS: SESSÕES ESPECIAIS .............................................. 4737


PROGRAMAÇÃO GERALDia 29 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o – quarta-feiraManhã8h30min – Inscrições e cre<strong>de</strong>nciamento9h – Sessão <strong>de</strong> Abertura9h15min – Conferência: Prof. Dr. Anthony Naro (UFRJ)10h30min - Intervalo11h – 13h Mesas-redondasMesa 1 – Lingüística Aplicada e Ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa(Salão <strong>de</strong> Atos)Ana Maria Guimarães (UNISINOS – coor<strong>de</strong>nadora)Djane Antonucci Correa (UEPG)Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Meirelles Matêncio (PUCMG)Luciene Juliano Simões (UFRGS)Mesa 2 – Lexicologia, Lexicografia e TerminologiaMaria José Finatto (UFRGS – coor<strong>de</strong>nadora)Ieda Maria Alves (USP)Herbert Welker (UnB)Felix Bugueño (UFRGS)(Sala II)Mesa 3 – Estudos <strong>de</strong> Variação Lingüística (Plenarinho)Dermeval da Hora (UFPB (coor<strong>de</strong>nador)Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC)Cláudia Brescancini (PUCRS)Tar<strong>de</strong>14h30min – Sessão I <strong>de</strong> comunicações dos GTs (salas Anexos I eIII, FACED, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas)16h – Intervalo16h30min – Sessão II <strong>de</strong> comunicações nos GTs (salas Anexos I eIII, FACED, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas)9


Dia 30 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o – quinta-feiraManhã9h – Sessão I <strong>de</strong> pôsteres (Hall do Salão <strong>de</strong> Atos)10h30min - Intervalo11h – 13h Mesas-redondasMesa 1 – Análises textuais e discursivas (Sala II)Freda Indursky (UFRGS – coor<strong>de</strong>nadora)Diana Luz Pessoa <strong>de</strong> Barros (USP, UPM)Anna Christina Bentes (UNICAMP)Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)Mesa 2 – Aquisição da escrita e fonologia (Audit. FCE)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPEL- coor<strong>de</strong>nadora)Luciani Tenani (UNESP –SJRP)Lourenço Chacon (UNESP – Marília)Mesa 3 – Abordagens Formais da Sintaxe e da Semântica(Plenarinho)Maria José Foltran (UFPR – coor<strong>de</strong>nadora)Carlos Mioto (UFSC)Ana Lúcia Muller (USP)Tar<strong>de</strong>14h30min – 16h Sessão III <strong>de</strong> comunicações nos GTs (salas AnexosI e III, FACED, Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Econômicas)16h – Intervalo16h30min – Sessão IV <strong>de</strong> comunicações nos GTs18h30min – Coquetel e lançamento <strong>de</strong> livros – 2° andar da Reitoria10


Dia 31 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o – sexta-feiraManhã9h – Sessão II <strong>de</strong> pôsteres - Hall do Salão <strong>de</strong> Atos10h30min - Intervalo11h – Mesas-redondasMesa 1 – Ensino-aprendizagem <strong>de</strong> línguas estrangeiras eformação <strong>de</strong> professores (Sala II)Ingrid Finger (UFRGS – coor<strong>de</strong>nadora)Ricardo Augusto <strong>de</strong> Souza (UFMG)Telma Gimenez (UEL)Márcia Zimmer (UCPel)Mesa 2 – Linguagem e Contexto Social (Sala 601 FACED)Pedro Garcez (UFRGS - coor<strong>de</strong>nador)Elisa Battisti (UCS)Neiva Jung (UEM)Tarcísio Arantes Leite (USP)Mesa 3 – Fonologia e Morfologia (Plenarinho)Leda Bisol (PUCRS – coor<strong>de</strong>nadora)Carlos Alexandre Gonçalves (UFRJ)Luiz Carlos Schwindt (UFRGS)Tar<strong>de</strong>14h30min – Assembléia do CELSUL (Sala II)16h - Intervalo16h30min – Conferência: Profa. Dra. Carmen Lúcia BarretoMatzenauer (UCPEL) (Sala II)18h – Sessão <strong>de</strong> Encerramento20h30min –Jantar (por a<strong>de</strong>são)11


LISTA DOS PÔSTERS – SESSÃO I30 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2008, das 9h às 10h30OS SIGNIFICADOS INTERPESSOAIS NAS HISTÓRIAS EMQUADRINHOSValéria Fontoura Nunes (UNIFRA)Valeria Iensen Bortoluzzi (UNIFRA)A CONSTITUIÇÃO DO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO NOÂMBITO DO DISCURSO EVANGÉLICOAntônio Paulo Mércio <strong>de</strong> Oliveira (UFG)IDENTIDADES DISCURSIVAS QUE O RECLAMANTE(CONSUMIDOR) ASSUME EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃOREALIZADAS NO PROCONThenner Freitas da Cunha (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> fora)Carolina Peixoto Barros (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> fora)A REGULAÇÃO DOS DISCURSOS SOBRE LETRAMENTO NOORKUTPatrícia Camini (UFRGS – Mestrado em Educação)O ABORTO NA FOLHA UNIVERSAL: CAMINHOS E EFEITOS DEUM DISCURSO RELIGIOSOBruno <strong>de</strong> Matos Reis (UFF)“MAS É IMPORTANTE QUANDO PRECISO FAZERRELATÓRIOS”: UMA DISCUSSÃO ACERCA DO ATO DEESCREVER NOS CURSOS DE LICENCIATURACamila Thaisa Alves (FURB)A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A PARTIR DE UM LUGARINTERVALARCaroline Mallmann Schnei<strong>de</strong>rs ( UFSM)A RELAÇÃO DO ALUNO DE LETRAS DO ENSINO A DISTÂNCIACOM O DICIONÁRIO DIGITALIZADOElisabeth Silveira Gonçalves (UFSM, Santa Maria)A CONSTRUÇÃO DO IDEAL DE CORPO NOS MAGAZINESFEMININOS TELEVISIVOS.Aline Broetto (UCS)César Vinicius Ribeiro Massing (UCS)Franciele do Nascimento Ghiggi (UCS)Ísis Laroque Cornelli (UCS)Lucas Lizot (UCS)Nicolas <strong>de</strong> Araújo (UCS)12


A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DE PROFESSORES RECÉM-FORMADOSLiza Buttchevitz (FURB)ALEMÃO EM SANTA CATARINA: UM OLHAR DISCURSIVOSOBRE OS NÃO-FALANTES DESSA LÍNGUAScheila Maas (FURB)MARCAS HESITATIVAS E SUA RELAÇÃO COM O ENUNCIADO:ANÁLISE DE ENUNCIADOS FALADOS DE SUJEITOS COMDOENÇA DE PARKINSONRoberta Vieira (UNESP – São José do Rio Preto)“O QUE SIGNIFICA SER MELHOR?”: COTAS RACIAIS EMARTIGOS DE OPINIÃO SOB UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVADA LINGUAGEMGa<strong>br</strong>iela Barboza (UFSM)ESPECIFICAÇÕES DO DIZER MARCADAS POR HESITAÇÕESEM UM SUJEITO PARKINSONIANO E EM UM SUJEITO SEMLESÃO NEUROLÓGICALourenço Chacon (UNESP – Marília e São José do Rio Preto/CNPq)UMA ANÁLISE BAKHTINIANA EM ‘Ó, PAÍ, Ó: O SIGNO NEGRO’Sa<strong>br</strong>ine Amaral Martins (UCPEL)OPERADORES ARGUMENTATIVOS: INDÍCIOS DE POLIFONIAEM ENTREVISTAS DA REVISTA CULTVanessa Raini <strong>de</strong> Santana (UNIOESTE – Cascavel)Aparecida Feola Sella (UNIOESTE – Cascavel)O DESVIO FONOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES NA CLÍNICAFONOAUDIOLÓGICA: UM ESTUDO DE CASOChristiane <strong>de</strong> Bastos Delfrate (UFPR)A AQUISIÇÃO DA PASSIVA NO PORTUGUÊS POR CRIANÇASEM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO BILÍNGÜELuciana <strong>de</strong> Souza Brentano (UFRGS)Ingrid Finger (UFRGS)A AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA INGLESA COMO L2Débora do Couto Pereira (Unipampa – Bagé)Débora Mariana Lopes (Unipampa – Bagé)Luciano Peres (Unipampa – Bagé)Valter Nei Feijó Bierhauls (Unipampa – Bagé)Cristiane Lazzaroto Volcão (Unipampa – Bagé)13


O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DASCONSOANTES NASAIS INGLESAS EM POSIÇÃO FINAL DESÍLABAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRODenise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES)AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO EPRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES PORAPRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUAESTRANGEIRAMara Silvia Reis (UFSC/CAPES)Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)PRODUÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS EM INGLÊS E PORTUGUÊSPOR FALANTES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUAESTRANGEIRAMariane A. Alves (UFSC)EVIDÊNCIAS DA DINAMICIDADE NA INTERLÍNGUAPORTUGUÊS – INGLÊS: O PROCESSO DE DESSONORIZAÇÃOTERMINALSa<strong>br</strong>ina Costa (UCPel - BIC/FAPERGS)Márcia Zimmer (UCPel)A MELODIA DO FRANCÊS: ANÁLISE ENTOACIONAL DO FALARDE DOIS RESIDENTES DE MONTREALSara Farias da Silva (UFSC)O FENÔMENO DA “LIAISON” NA LEITURA EM VOZ ALTA: OCASO DE APRENDIZES DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRAVanessa Gonzaga Nunes (UFSC)LÉXICO VERBAL E EXPRESSÃO DE CONCEITOS COGNITIVOSKetlin Elis Perske (UFSM/PIBIC)Mirian Rose Brum-<strong>de</strong>-Paula (UFSM)ORDEM DAS PALAVRAS E OS ADVÉRBIOS EM –MENTE:EXPERIMENTOS DE PRODUÇÃO SEMI-ESPONTÂNEAFernanda Lima Jardim (UFSC/PIBIC)MAIS DADOS PARA A CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DASVOGAIS NASAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIROGesoel Ernesto Ribeiro Men<strong>de</strong>s Junior (UFPR)14


A LIGAÇÃO FONOLÓGICA DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAVARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊSCristina Márcia Monteiro <strong>de</strong> Lima Corrêa (UFRJ)UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PALAVRAMORFOLÓGICA E PALAVRA FONOLÓGICA EM VOCÁBULOSCOMPLEXOS DO PORTUGUÊS BRASILEIROEmanuel Souza <strong>de</strong> Quadros (UFRGS/CNPq)Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq)AQUISIÇÃO DE SEGMENTOS NOS DIFERENTES MODELOS DETERAPIA FONOLÓGICAAna Rita Brancalioni (UFSM)Caroline Marini (UFSM)Karina Carlesso Pagliarin (UFSM)Marizete Ilha Ceron (UFSM)Márcia Keske-Soares (UFSM)AQUISIÇÃO DO ONSET COMPLEXO: POSIÇÃO NA PALAVRA,PONTO DE ARTICULAÇÃO E FREQÜÊNCIA LEXICALFabiana Veloso <strong>de</strong> Melo (UFSM/FIPE)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)AQUISIÇÃO DO ACENTO DO PORTUGUÊS: O PAPEL DOLÉXICOJoice Ines Bieger (UFSM/BIC-FAPERGS)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)O PAPEL DA FREQÜÊNCIA LEXICAL E SEGMENTAL NAAQUISIÇÃO DA NASALIDADE DAS VOGAIS: INCLUINDOPARÂMETROS CONTÍNUOS NO ESTUDO DA AQUISIÇÃOFONOLÓGICAMagnun Rochel(UCPEL/PIBIC–CNPq)Márcia C. Zimmer (UCPel)AS HIPERSEGMENTAÇÕES NA ESCRITA INICIAL DE ADULTOSE CRIANÇASCarmen Regina Ferreira Souza (UFPEL/FaE)Natalia Devantier (UFPEL/FaE)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPEL/PPGE-FaE)A MORFOLOGIA DO VERBO E OS DADOS DE ESCRITA INICIALCinara Miranda Lima (UFPel/PIC)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel/PPGE)15


CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: ATIVIDADES DE RIMA E DECONSCIÊNCIA SILÁBICACláudia Camila Lara (FURG)INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: AQUISIÇÃOBILÍNGÜE PORTUGUÊS/ALEMÃOGlívia Guimarães Nunes (UFSM/PIBIC-CNPq)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DAS VOGAIS PRETÔNICAS NOPORTUGUÊS EM DADOS DE AQUISIÇÃO DA ESCRITALuísa Hernan<strong>de</strong>s Grassi (UFPel)DADOS DA ESCRITA INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO ÀDISCUSSÃO FONOLÓGICA SOBRE OS DITONGOS [AJ] E [EJ]Marco Antônio Adamoli (UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel)DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOSREFERENTES À GRAFIA DAS SOANTES PALATAIS EDISCUSSÃO SOBRE SEU STATUS FONOLÓGICOShimene Teixeira (UFPel/FaE–PIC)LISTA DOS PÔSTERES – SESSÃO II31 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2008, das 9h às 10h30FILOLOGIA PASSO A PASSOAna Kelly Borba da Silva (UFSC)Gisele Iandra Pessini Anater (UFSC)COMBINATÓRIAS LÉXICAS ESPECIALIZADAS DA GESTÃOAMBIENTAL: SUAS CARACTERÍSTICAS EM LÍNGUAESPANHOLACarolina dos Santos Carboni (UFRGS)Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS)PADRÕES VERBAIS NAS CONSTITUIÇÕES LUSÓFONASCarolina Rübensam Ourique (UFRGS/PIBIC)O TRATAMENTO DA VALÊNCIA VERBAL EM DICIONÁRIOSGERAIS DO PORTUGUÊSEduardo Correa Soares(UFRGS)O DESENHO DAS TAREFAS DE RECEPÇÃO E PRODUÇÃO EMUM DICIONÁRIO MONOLÍNGÜE PARA APRENDIZES DEESPANHOLMariana Espíndola da Cruz (UFRGS)16


UM VOCABULÁRIO DEFINIDOR PARA UM DICIONÁRIO DEAPRENDIZES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRAVanessa da Rocha (UCPel)“PARA NÓS APRENDER A LER E ESCREVER DIREITINHO”:ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOSALUNOSAlícia Endres Soares (UCPel, Pelotas)CONCEPÇÕES E ENSINO DE LÍNGUA MATERNADaiana <strong>de</strong> Nez Moura, Mary Stela Surdi (UNOCHAPECÓ)Mary Neiva S. Da Luz (UNOCHAPECÓ)SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: LUGAR DEDICIONÁRIOS? LUGAR DE FALANTES? QUE RELAÇÕES SÃOESSAS?Daiane da Silva Delevati (UFSM)PESQUISA EM ESCRITA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DEPRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOSFrancieli Socoloski Rodrigues (UNIPAMPA, São Borja)¿HAY RESTRICCIONES ABSOLUTAS EN LAS INTERFERENCIAS?Patrícia Mussi Escobar (FURG)María Josefina Israel Semino (FURG)TRATAMENTO DE ALOMORFES DE ARTIGO NO COMENTÁRIODE FORMA DE UM DICIONÁRIO PARA APRENDIZES DEESPANHOLAgnesse Radmann Gonzalez (UFRGS)OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DEPORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRAJordane Duarte <strong>de</strong> Souza (UCPEL)A TRADUÇÃO NO CONTEXTO EDITORIAL MIDIÁTICO: UMESTUDO DE CASO DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊSCarolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG)Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG)Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG-CNPq)A QUALIDADE DAS NARRATIVAS INFANTIS ESCRITAS:INFERÊNCIAS E TERGIVERSAÇÕESClaudia Susana Dias Crespi <strong>de</strong> Campos (FAE-UFPEL)17


A RELAÇÃO DE COMENTÁRIO EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃOCIENTÍFICAJanice Mayer (UNISINOS/BIC)Maria Eduarda Giering (UNISINOS)COESÃO LEXICAL E TRANSITIVIDADE NA TRADUÇÃOKórian Leite Carvalho (FALE/UFMG)Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG)Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG)A INTELIGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO DA OBRAPRIMEIRAS ESTÓRIAS, DE GUIMARÃES ROSAVanessa Koudsi Faustini (PUCPR)XENOFONTE E A CIROPEDIA: CAMINHOS E RECURSOS DEUMA BIOGRAFIAVinicius Ferreira Barth (UFPR)PROPRIEDADES DAS NOMINALIZAÇÕES A PARTIR DEVERBOS DEADJETIVAISAdriano Scandolara (UFPR)CARACTERÍSTICAS SINTÁTICAS E SEMÂNTICAS DE VERBOSDEADJETVAIS DO PBLara Frutos (UFPR)ORDEM DAS PALAVRAS E A TOPICALIZAÇÃO SELVAGEM:EXPERIMENTOS PERCEPTUAISMichelle Donizetti Euzébio (UFSC/PIBIC)UMA ANÁLISE PROTOTÍPICA DO OBJETO DIRETO EM TEXTOSESCRITOSEduardo Elisal<strong>de</strong> Toledo (UFRGS)SENTENÇAS CLIVADAS E PSEUDO-CLIVADAS DO PORTUGUÊSBRASILEIRO E DO JAPONÊSJulia Orie Yamamoto (UFSC)PADRÕES DE CONCORDÂNCIA DEFECTIVA EM PASSIVAS EPREDICATIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIROLeonor Simioni (USP)PRINCÍPIOS QUE INFLUENCIAM A ANTEPOSIÇÃO EPOSPOSIÇÃO DE CLÁUSULAS FINAIS E TEMPORAISMariléia Silva da Rosa (Unipampa, Bagé)18


A SINTAXE DA ELIPSE DE VP EM PORTUGUÊS BRASILEIROSa<strong>br</strong>ina Casagran<strong>de</strong> (UNICAMP)A LÍNGUA NA/PELA HISTÓRIA: O CASO DOS DESCENDENTESDE ITALIANO NA REGIÃO DE NOVA PALMAAline Pegoraro (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)O MIGRANTE CARIOCA NO SUL: QUESTÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAISEster Dias <strong>de</strong> Barros (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)O ESTRANGEIRO HISPÂNICO EM DISCURSO: LUGAR DECONTRADIÇÕESJosiane da Silva Quintana Alves (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)A RETOMADA ANAFÓRICA PRONOMINAL EM TEXTOSJORNALÍSTICOS: FATORES MOTIVADORESMariana M. Trautwein (PUCPR)Uiara Chagas (PUCPR)QUANTO MAIS EU VIVO, MENOS SUJEITO ME APARECE: UMESTUDO SOBRE O PREENCHIMENTO DO SUJEITOPRONOMINAL NA FALA E NA ESCRITA DE JOVENS DEFLORIANÓPOLISChristiane Maria Nunes <strong>de</strong> Souza (UFSC)Patricia Floriani Sachet (UFSC)A ORDEM DO CLÍTICO PRONOMINAL EM CONTEXTOS DECOMPLEXOS VERBAIS – A SOCIOVARIAÇÃO NA ESCRITAESCOLARAdriana Lopes Rodrigues (UFRJ)APAGAMENTO DO /R/ EM FINAL DE PALAVRAS: UM ESTUDOCOMPARATIVO ENTRE FALANTES DAS VARIANTES CULTA EPOPULARAnay Batista Linares (PUCPR)Camila Rigon Peixoto (PUCPR)Tiago Moreira (PUCPR)O USO DOS PRONOMES NÓS E A GENTE NO SUL DO BRASILAndré Luiz <strong>de</strong> Oliveira Almeida (UFPR)Tathyana Szmidziuk (UFPR)19


APAGAMENTO DO FONEMA /R/ PÓS-VOCÁLICO NA FALA‘AMREQUIANA’Ângela Regina Meira Matias (UNESC, Criciúma)Liriane Teixeira (UNESC, Criciúma)O USO DO IMPERATIVO NA MÍDIA: UMA ANÁLISESOCIOLINGÜÍSTICAAntonio José <strong>de</strong> Pinho (UFSC)Bruno Cardoso (UFSC)VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM EAD – ISSO É POSSÍVEL?Clau<strong>de</strong>nir Caetano <strong>de</strong> Barros (CEAD/UFPEL)Cristiane dos Santos Azevedo (CEAD/UFPEL)Joelma Santos Castilhos (CEAD/UFPEL)VARIAÇÃO ESTILÍSTICA E GENERICIDADE: A VARIAÇÃO DEPRONOMES POSSESSIVOS DE SEGUNDA E TERCEIRA PESSOADO SINGULARFernanda Men<strong>de</strong>s (UFSC)DE QUEM NÓS/A GENTE ESTÁ(MOS) FALANDO AFINAL?VARIAÇÃO SINCRÔNICA DE ESTRATÉGIAS DE DESIGNAÇÃOREFERENCIAL NO USO DA PRIMEIRA PESSOAL DO PLURALIvanil<strong>de</strong> da Silva (UFSC)RESUMOS DAS CONFERÊNCIASAQUISIÇÃO DE FORMAS DE PRESTÍGIO: O PAPEL DO GÊNEROEM TEMPO REALAnthony Julius Naro (UFRJ/CNPq)Maria Marta Pereira Scherre (UnB/CNPq, UFRJ)Comparamos o uso variável da concordância verbal <strong>de</strong> terceira pessoa pluralem duas amostras aleatórias da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala do Rio <strong>de</strong> Janeiro,constituídas nas décadas <strong>de</strong> 1980 e <strong>de</strong> 2000, separadas por um intervaloaproximado <strong>de</strong> 18 anos.Na análise dos dados das duas amostras em foco no presente texto, um fato éimediatamente óbvio: o uso <strong>de</strong> formas com concordância é mais alto naamostra <strong>de</strong> 2000. As médias globais <strong>de</strong> concordância verbo/sujeito nas duasamostras <strong>de</strong> nossa pesquisa, da mesma comunida<strong>de</strong>, em dois pontossucessivos no tempo são:Amostra 1980: 3424/4713=73%Amostra 2000: 1724/2079=83%20


Uma análise mais <strong>de</strong>talhada revela que os homens, como um grupo, parecemnão evi<strong>de</strong>nciar mudança forte nas restrições sociais que afetam seus padrões<strong>de</strong> uso no intervalo <strong>de</strong> 1980 a 2000, embora eles aumentem o nível global <strong>de</strong>concordância e continuem a mostrar efeito claro e forte em função dos anos<strong>de</strong> escolarização. As mulheres, por sua vez, revelam estar em um processoetário <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> prestígio, abandonando o contato com amídia e se juntando aos homens, no sentido <strong>de</strong> extrair frutos lingüísticos doambiente escolar, similares à sua ascensão no mercado <strong>de</strong> trabalho e naarena política, em áreas inicialmente mais difíceis <strong>de</strong> serem por elasconquistadas.Neste sentido, as mulheres jovens estão se agrupando e passando à frente dasmulheres mais velhas na aquisição <strong>de</strong> formas lingüísticas <strong>de</strong> prestígio social,as formas consi<strong>de</strong>radas padrão. O padrão etário curvilíneo do mercado <strong>de</strong>trabalho, mais característico dos falantes masculinos nas duas amostras <strong>de</strong>fala analisadas, não mais se manifesta nos dados da amostra <strong>de</strong> 2000 paraelas. As mulheres, mais do que os homens, estão mudando em direção aosistema avaliado pela comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala <strong>br</strong>asileira como padrão, uma vezque as formas <strong>de</strong> prestígio adquiridas pelas mulheres mais velhas estãosendo passadas para as mulheres mais jovens.SOBRE VARIAÇÃO, AQUISIÇÃO E TIPOLOGIAS DE LÍNGUASCarmen Lúcia Barreto Matzenauer(UCPEL/CNPq)Na observação do funcionamento <strong>de</strong> sistemas lingüísticos, três questões,<strong>de</strong>ntre outras, merecem apreciação <strong>de</strong>talhada: (a) Por que os inventáriosfonológicos das línguas não integram apenas unida<strong>de</strong>s não-marcadas, se amarcação é fator relevante em sua constituição, nas mudanças que neles seoperam e no processo <strong>de</strong> sua aquisição como língua materna? (b) Por que avariação fonológica apresenta limitações vinculadas tanto ao inventário <strong>de</strong>segmentos da língua, como à sílaba, enquanto unida<strong>de</strong> prosódica? (c) Porque o processo <strong>de</strong> aquisição fonológica, apesar das diferenças individuais,tem relação direta com o inventário <strong>de</strong> segmentos da língua-alvo, em umjogo <strong>de</strong> forças com marcação? Estando a noção <strong>de</strong> inventário fonológicosubjacente a essas três questões, enten<strong>de</strong>-se haver a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>apresentar-se resposta que capte generalizações e bases comuns a elaspertinentes com o suporte <strong>de</strong> princípios, propostos por Clements (2006),relativos à arquitetura <strong>de</strong> inventários fonológicos <strong>de</strong> sistemas lingüísticos.21


RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NAS MESAS-REDONDASDIA 29 DE OUTUBRO – QUARTA-FEIRAMesa 1 – Lingüística Aplicada e Ensino <strong>de</strong> Língua PortuguesaLINGÜÍSTICA, LÍNGUA PORTUGUESA E A VOZ DOS DOCENTESAna Maria <strong>de</strong> Mattos Guimarães (UNISINOS)Se um panorama da relação lingüística/ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa aolongo dos últimos <strong>de</strong>z anos e’ o ponto <strong>de</strong> partida da mesa-redonda, propostasadvindas <strong>de</strong>ssa relação constituem o foco principal do trabalho. Taispropostas têm em comum enfatizar as relações que se estabelecem entrelíngua e socieda<strong>de</strong>. Djane Correa apresentará como base da discussão o fato<strong>de</strong> que ações planejadas so<strong>br</strong>e a(s) língua(s) requerem a consi<strong>de</strong>ração dasituação sociolingüística inicial – se satisfatória ou não – e a condição que se<strong>de</strong>seja alcançar. Enquanto o trabalho se concentra na <strong>de</strong>finição dasdiferenças entre a situação inicial e a almejada, as intervenções são da or<strong>de</strong>mdas políticas lingüísticas, ao passo que a discussão so<strong>br</strong>e como passar <strong>de</strong>uma condição para outra está no âmbito do planejamento lingüístico. Fazer oplanejamento <strong>de</strong> status e <strong>de</strong> corpus das variantes; refletir so<strong>br</strong>e a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> equipar uma língua para que ela <strong>de</strong>sempenhe <strong>de</strong>terminadas funções e asimplicações <strong>de</strong> tais ações para as questões <strong>de</strong> ensino serão alguns dos itens aserem <strong>de</strong>senvolvidos. Luciene Simões falará a partir <strong>de</strong> dois eixoscentralizadores: 1) apren<strong>de</strong>r a converter a compreensão teórica empedagogia: 2) a<strong>br</strong>ir mão do normativismo, enten<strong>de</strong>ndo que, se o aluno <strong>de</strong>fato apren<strong>de</strong>r, po<strong>de</strong>rá fazer escolhas. Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Matencio abordará oque consi<strong>de</strong>ra as gran<strong>de</strong>s tarefas da lingüística na formação e atuação <strong>de</strong>professores, focalizando, particularmente, a relação entre a escolarização eas <strong>de</strong>mais formas <strong>de</strong> socialização, para chegar na função do gênero e das/naspráticas <strong>de</strong> letramento. Fechando as apresentações, Ana Maria Guimarãesenfatizará a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar língua portuguesa por meio <strong>de</strong> gêneros<strong>de</strong> texto, como uma forma <strong>de</strong> articular as práticas linguajeiras, enten<strong>de</strong>ndooscomo passíveis <strong>de</strong> serem aprendidas, mas, so<strong>br</strong>etudo, como formas <strong>de</strong>interação.CONSIDERAÇÕES SOBRE POLÍTICAS LINGÜÍSTICAS E ENSINODE LÍNGUA PORTUGUESADjane Antonucci Correa (UEPG)A temática “Lingüística Aplicada e Ensino <strong>de</strong> Língua” traz uma a<strong>br</strong>angentegama <strong>de</strong> assuntos passíveis <strong>de</strong> abordagem. Dentre as perspectivas que têmsido alvo <strong>de</strong> discussão atualmente, as relações que se estabelecem entrelíngua e socieda<strong>de</strong> obtiveram e ainda obtêm um espaço significativo.Seguindo essa perspectiva, Faraco (2007) faz uma importante retrospectiva22


so<strong>br</strong>e os avanços dos estudos da linguagem na construção <strong>de</strong> uma pedagogiada leitura e da produção <strong>de</strong> texto, o que ainda está por ser feito após aintervenção dos lingüistas nos <strong>de</strong>bates so<strong>br</strong>e o ensino do Português everifica que os lingüistas têm que reconhecer o atraso na construção <strong>de</strong>uma pedagogia da variação lingüística, complementando que este é nossogran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio doravante. No encalço <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate, também em Bagno(2007), a presente proposta tem como objetivo <strong>de</strong>senvolver alguns<strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>amentos so<strong>br</strong>e o tema. A base da discussão será a <strong>de</strong> que açõesplanejadas so<strong>br</strong>e a(s) língua(s) requerem a consi<strong>de</strong>ração da situaçãosociolingüística inicial – se satisfatória ou não – e a condição que se <strong>de</strong>sejaalcançar. Enquanto o trabalho se concentra na <strong>de</strong>finição das diferenças entrea situação inicial e a almejada, as intervenções são da or<strong>de</strong>m das políticaslingüísticas, ao passo que a discussão so<strong>br</strong>e como passar <strong>de</strong> uma condiçãopara outra está no âmbito do planejamento lingüístico (CALVET, 2007).Fazer o planejamento <strong>de</strong> status e <strong>de</strong> corpus das variantes; refletir so<strong>br</strong>e anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equipar uma língua para que ela <strong>de</strong>sempenhe <strong>de</strong>terminadasfunções e as implicações <strong>de</strong> tais ações para as questões <strong>de</strong> ensino serãoalguns dos itens a serem <strong>de</strong>senvolvidos oportunamente.ESTUDOS DO LETRAMENTO E FORMAÇÃO DE PROFESSORES:RETOMADAS, DESLOCAMENTOS E IMPACTOSMaria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Meirelles Matencio (PUC Minas/CNPq)A literatura recente so<strong>br</strong>e os estudos do letramento aponta, basicamente,para duas gran<strong>de</strong>s frentes <strong>de</strong> interesse. Muitos dos trabalhos <strong>de</strong>senvolvidosnas últimas três décadas salientam a relevância <strong>de</strong> as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura eescrita serem flagradas e compreendidas no âmbito das práticas sociais emque ocorrem, dadas as relações complexas entre práticas e representações <strong>de</strong>escrita, entre construção <strong>de</strong> saberes e posicionamentos do sujeito. Além <strong>de</strong>permitir que se flagrem os usos efetivos da palavra escrita, em diferentesgrupos e por diferentes sujeitos, <strong>de</strong>svelando muitas das mitificações emtorno <strong>de</strong> práticas em que se recorre à escrita, essa abordagem permitiria,<strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista, a <strong>de</strong>sconstrução <strong>de</strong> representações pelas quais se atribuisuperiorida<strong>de</strong> aos grupos que <strong>de</strong>têm <strong>de</strong>terminadas tecnologias e se legitimam<strong>de</strong>terminados usos como “corretos”. Um segundo grupo <strong>de</strong> trabalhos,também no esteio dos novos estudos <strong>de</strong> letramento, têm focalizado astransformações sociodiscursivas e cognitivas implicadas no recurso àsmídias eletrônicas, por meio <strong>de</strong> mapeamentos das práticas que seestabelecem, por exemplo, na Internet. Há, entretanto, estudos que, semnecessariamente se colocarem numa <strong>de</strong>ssas perspectivas, têm consi<strong>de</strong>rado oletramento em diferentes instâncias sociais e relacionado esse processo ao<strong>de</strong>senvolvimento da linguagem e às situações <strong>de</strong> socialização envolvendo aescrita e o processo <strong>de</strong> aprendizagem sistemático, à luz dos gêneros dodiscurso.Dado o estágio em que nos encontramos e a dificulda<strong>de</strong> que vivenciamos,muitas vezes por questões institucionais – e certamente por questões23


i<strong>de</strong>ológicas –, o diálogo entre essas frentes nem sempre se estabelece acontento e não tem permitido, ao que parece, que se faça um balanço so<strong>br</strong>e,<strong>de</strong> um lado, o impacto dos estudos dos gêneros para os conceitos quecircundam o que temos concebido como letramento e, <strong>de</strong> outro, so<strong>br</strong>e osefeitos sociais que os resultados das pesquisas que elegem o gênero comoobjeto <strong>de</strong> estudo têm efetivamente acarretado. À luz <strong>de</strong> amplo estudobibliográfico e com base em resultados obtidos em pesquisas recentes,preten<strong>de</strong>-se as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interface entre as frentes <strong>de</strong> investigaçãoaqui anunciadas.ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA E TAREFAS DALINGÜÍSTICA APLICADA NO BRASILLuciene Juliano Simões (UFRGS)Partindo <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> ensino do português que focaliza o uso dalíngua como eixo central, o trabalho busca estabelecer um elenco <strong>de</strong> linhas<strong>de</strong> pesquisa importantes para que a produção acadêmica responda àsinquietações <strong>de</strong> professores em exercício e em formação. Procura-se<strong>de</strong>monstrar que historicamente a Lingüística e a Lingüistica Aplicada,justificadamente, vem cumprindo importante papel <strong>de</strong> reflexão so<strong>br</strong>epressupostos para o estabelecimento <strong>de</strong> projetos pedagagócios na área dalinguagem e so<strong>br</strong>e as razões por que as práticas pedagagógicas baseadas emvisões tão-somente estruturais e prescritivas da língua não produzemresultados úteis para a formação <strong>de</strong> relações autorais entre os estudantes eseus usos da linguagem. Neste momento histórico, entretanto, este papelcrítico, <strong>de</strong> revisão da herança cultural e <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> novas basesepistemológicas para sua renovação, não parece suficiente, pois, na ausência<strong>de</strong> objetos materiais, cuja leitura e uso em sala <strong>de</strong> aula permitam aoprofessor atualizar esse conjunto <strong>de</strong> pressupostos <strong>de</strong> modo concreto, torna-sedifícil, se não impossível, aos professores renovarem <strong>de</strong> fato suas relaçõescom a linguagem, com a produção <strong>de</strong> tarefas para os alunos, e, ao fim, comos próprios alunos. Três são os eixos centrais da pesquisa para que respondaa essa contradição: a análise crítica e teoricamente fundamentada <strong>de</strong> boaspráticas, em oposição à crítica <strong>de</strong> práticas negativamente interpretadas; aprodução <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> referência compatíveis com uma visão discursivada língua, principalmente gramáticas gerais que tenham a comunida<strong>de</strong>escolar como público alvo; e, por fim, a produção <strong>de</strong> materiais didáticosflexíveis, mas norteadores <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> fato interativas.24


Mesa 2 – Lexicologia, Lexicografia e TerminologiaNOVAS PERSPECTIVAS PARA A TERMINOLOGIA: PARA ALÉMDOS GLOSSÁRIOS E DICIONÁRIOSMaria José B. Finatto (UFRGS)Defen<strong>de</strong>mos, nesta apresentação, que <strong>de</strong>screver qualquer linguagemcientífica ou técnica implicará <strong>de</strong>screver os seus diferentes usos emdiferentes situações comunicativas. No estudo do texto técnico ou científico,a observação da linguagem não po<strong>de</strong> ser limitada às terminologias mais oumenos marcadas em relação à linguagem quotidiana, e essa é uma condição<strong>de</strong> renovação necessária no cenário dos estudos e das pesquisas emTerminologia. É importante levar em conta o todo do texto em que esses oselementos terminológicos ocorrem, bem como as tipologias textuais, osmodos <strong>de</strong> estruturação macro e microestrutural. Enfim, é preciso consi<strong>de</strong>rara constituição lexical e gramatical da linguagem em uso <strong>de</strong> uma forma maisampla. Se o principal objeto <strong>de</strong> estudo em Terminologia é, sim, e sempreserá, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominada termo, talvez tenha chegado o momentoavaliarmos o escopo e o rendimento das diferentes unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> análisemobilizadas em diferentes tipos <strong>de</strong> pesquisas.PARA QUE SERVEM OS ESTUDOS NEOLÓGICOS?Ieda Maria Alves (USP)Embora trabalhos esporádicos so<strong>br</strong>e a neologia lexical sejam observados jáno século XIX, os estudos sistemáticos so<strong>br</strong>e as unida<strong>de</strong>s lexicais neológicasdatam do início da década <strong>de</strong> 1960, quando foram criados os Archives duFrançais Contemporain, projeto <strong>de</strong> observação neológica vinculado aoLaboratoire <strong>de</strong> l’Université <strong>de</strong> Besançon, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Besançon, França. Aesse primeiro observatório <strong>de</strong> neologia seguiram-se vários outros, a exemplodos criados na Universida<strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa, na Universida<strong>de</strong> PompeuFa<strong>br</strong>a, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, na Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vigo.Esses observatórios, <strong>de</strong>dicados a diferentes línguas românicas, cumpriam,inicialmente, o objetivo <strong>de</strong> contribuírem para a atualização <strong>de</strong> dicionários <strong>de</strong>língua. Com o advento da Lingüística <strong>de</strong> Corpus, que tem subsidiado alexicografia no que concerne à busca <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s lexicais neológicasextraídas <strong>de</strong> textos, os observatórios <strong>de</strong> neologia passaram a preencheroutras funções, relativas à <strong>de</strong>scrição do léxico.Nesta exposição, apresentamos algumas contribuições que a observaçãosistemática da neologia lexical, em um corpus jornalístico, tem trazido parao conhecimento do léxico do português <strong>br</strong>asileiro.25


SOBRE O USO DE DICIONÁRIOSHerbert Andreas Welker (UnB)Todo aprendiz <strong>de</strong> línguas, todo professor <strong>de</strong> línguas, todo tradutor - além <strong>de</strong>outras pessoas - consultam dicionários, com maior ou menor freqüência.Mesmo assim, o assunto "dicionários" é muito pouco <strong>de</strong>batido no ensino <strong>de</strong>línguas e em geral, e, consi<strong>de</strong>rando-se todos os países do mundo,existem poucas pesquisas so<strong>br</strong>e seu uso (em média, pouco mais <strong>de</strong> uma).Nesta apresentação, é dada uma <strong>br</strong>eve visão geral do tema "uso <strong>de</strong>dicionários". São citadas algumas opiniões a favor do uso e sãomencionados livros so<strong>br</strong>e o ensino <strong>de</strong> línguas nos quais falta qualquermenção às o<strong>br</strong>as lexicográficas. A maior parte é <strong>de</strong>dicada às pesquisas so<strong>br</strong>eo uso <strong>de</strong> dicionários (tanto no Brasil quanto no mundo), mostrando-se osdiversos métodos empregados, os assuntos estudados, problemas eresultados gerais.OS DICIONÁRIOS DE FALSOS AMIGOSFélix B. Miranda (UFRGS)A lexicografia <strong>de</strong> falsos amigos encontra se em uma situação muitoparticular. Por um lado, esse fenômeno léxico chama a atenção pelos valoresinusitados que co<strong>br</strong>am algumas palavras <strong>de</strong> uma língua estrangeira quandocomparadas com as da nossa língua materna ou alguma outra língua queconheçamos. Por outro lado, os dicionários <strong>de</strong> falsos amigos aparecemsempre implicitamente protelados a um segundo lugar em relação aosdicionários bilíngües. Em função <strong>de</strong>sses fatores, os dicionários <strong>de</strong> falsosamigos, enquanto fenótipos, isto é, manifestações reais <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>adicionarística, apresentam problemas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho que acabamcomprometendo a sua qualida<strong>de</strong>. Assim, por exemplo, é muito comumregistrarem curiosida<strong>de</strong>s lingüísticas em lugar <strong>de</strong> fatos funcionais. Essescasos constituem o que chamamos <strong>de</strong> informações não discretas. Salienta-setambém que o tratamento lexicográfico <strong>de</strong>sses fenômenos é feito a partir <strong>de</strong>duas premissas erradas. Em primeiro lugar, é comum que a disposição dosverbetes siga o mo<strong>de</strong>lo do verbete do dicionário bilíngüe. Em segundo lugar,implicitamente, não se reconhece princípio do “anissomorfismo lingüístico”,coisa que tampouco leva em conta, aliás, em gran<strong>de</strong> parte da lexicografiabilíngüe. O objetivo do presente trabalho é fazer uma exposição so<strong>br</strong>e ofenômeno dos falsos amigos, tanto do ponto <strong>de</strong> vista lexicológico como doponto <strong>de</strong> vista (meta)lexicográfico. Essa dupla perspectiva se justifica, já queas relações formais e <strong>de</strong> conteúdo entre duas palavras <strong>de</strong> estrutura fonológicaanáloga ou idêntica são muito mais complexas do que normalmente se possapensar. Como suporte metodológico, serão empregados princípios <strong>de</strong>lingüística geral, tais como as distinções entre sincronia e diacronia, umaconcepção diassitêmica da língua, e princípios <strong>de</strong> estruturaçãometalexicográficos. Esses princípios têm sido por nós empregados naredação <strong>de</strong> um dicionário <strong>de</strong> falsos amigos espanhol-português, mas po<strong>de</strong>m26


ser empregados também para outras línguas. Os resultados do nosso trabalho<strong>de</strong>monstram que esse tipo <strong>de</strong> lexicografia requer subsídios muito maiscomplexos para se obter resultados satisfatórios. Assim, por exemplo, nocaso das línguas espanhola e portuguesa, as distinções diatópicas sãofundamentais para po<strong>de</strong>r obter uma “imagem léxica” o mais fiel possível.Em segundo lugar, e para respeitar as particularida<strong>de</strong>s semânticas queconformam essas colisões léxicas, foi necessário <strong>de</strong>senvolver também ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> microestrutura que facilitasse uma apreensão mais a<strong>br</strong>angente dasmesmas.Mesa 3 – Estudos <strong>de</strong> Variação LingüísticaQUANDO A AVALIAÇÃO DE UM PROCESSO FONOLÓGICOPODE REFLETIR PRESTÍGIO OU ESTIGMADermeval da Hora (UFPB/CNPq)A variação, processo inerente à fala, é utilizada, inúmeras vezes, comoelemento para <strong>de</strong>terminar o prestígio ou a estigmatização <strong>de</strong> seus usuários.Em se tratando <strong>de</strong> processos fonológicos presentes no Português Brasileiro,observa-se que os ditongos <strong>de</strong>crescentes, em vocábulos paroxítonos, aexemplo <strong>de</strong> “ciência”, “edifício”, “espécie”, “árduo”, quandomonotongados, po<strong>de</strong>m estar associados, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das vogais envolvidas,ao nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> do falante. Falantes com mais anos <strong>de</strong> escolarizaçãoterão maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicar a regra <strong>de</strong> monotongação, quando asaliência entre as vogais envolvidas for menos perceptível, como em“espécie” e “árduo”, ao contrário daqueles com menos anos <strong>de</strong> escolarizaçãoque po<strong>de</strong>m aplicá-la in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do grau <strong>de</strong> saliência entre as vogais. Entreestes, é possível encontrar também formas como “paciença”, “edifiço”. Ointeressante <strong>de</strong>ssa variação é que ela evi<strong>de</strong>ncia a perfeita correlação entre olingüístico e o social. O lingüístico representado pela saliência fônica quenorteia as vogais envolvidas; o social, presente no uso da língua por falantescom anos distintos <strong>de</strong> escolarização. Assim, usando dados do ProjetoVariação Lingüística no Estado da Paraíba (HORA,1993), será dada ênfase aum dos problemas levantados em Weinreich, Labov, Herzog (1968), o daAVALIAÇÃO.NATUREZA E EXTENSÃO DO ENCAIXAMENTO DO PRONOMEVOCÊ NO PORTUGUÊS DE SC: VARIAÇÃO OU COMPETIÇÃOENTRE DIFERENTES SISTEMAS?Izete Lehmkuhl Coelho (UFSC)Neste trabalho, pretendo levantar questionamentos a respeito do princípioempírico <strong>de</strong> encaixamento lingüístico <strong>de</strong> Weinreich, Labov e Herzog (1968),segundo o qual uma mudança lingüística po<strong>de</strong>rá ser compreendida seconsi<strong>de</strong>rarmos sua inserção no sistema lingüístico que ela afeta. Tomo como27


ponto <strong>de</strong> partida para as reflexões a <strong>de</strong>scrição da variação pronominal <strong>de</strong>segunda pessoa no sul do Brasil (tu e você), especialmente em quatro regiões<strong>de</strong> Santa Catarina: Florianópolis, Lages, Blumenau e Chapecó, para tentarcompreen<strong>de</strong>r a natureza e a extensão do encaixamento do você no sistemalingüístico <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s, em contraposição a um sistema <strong>de</strong>tuteamento que ali já estava instaurado. Quero analisar se a mudança queessa variação provocou (ou está provocando) no sistema estariacorrelacionada a outros fenômenos lingüísticos como pronomes possessivose clíticos, concordância verbal, preenchimento e or<strong>de</strong>m do sujeito no que serefere especificamente à segunda pessoa do discurso. Essa investigaçãotenciona a<strong>br</strong>ir questionamentos a respeito das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> co-presençaem um mesmo falante ou em uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> gramáticas ousistemas mutuamente incompatíveis.SOBRE O EFEITO DOS FATORES ESTRUTURAIS NAGENERALIDADE DE RESULTADOS: A VARIAÇÃOFONOLÓGICA EM DADOS DO VARSULCláudia Regina Brescancini (PUCRS)O estágio atual das pesquisas em variação fonológica no Sul do Brasil jáaponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> composição <strong>de</strong> um quadro regional so<strong>br</strong>e ocomportamento <strong>de</strong> vários dos fenômenos variáveis do português <strong>br</strong>asileiro.Para tanto, é necessário inicialmente certificar-se <strong>de</strong> que os resultadosapresentados pelos diversos estudos são <strong>de</strong> fato generalizáveis. De acordocom Bailey e Tillery (2004), tal tarefa, estreitamente relacionada a um dosprincipais objetivos da sociolingüística variacionista, o <strong>de</strong> produzirresultados que possam ser generalizados à população, envolvenecessariamente o exame cuidadoso em cada trabalho das estratégias <strong>de</strong>coleta dos dados, dos procedimentos <strong>de</strong> amostragem e dos fatores estruturaisadotados. Com foco nos efeitos estruturais, um dos problemas para aconstituição <strong>de</strong> uma teoria da mudança lingüística, conforme Weinreich,Labov e Herzog (1968), esta pesquisa preten<strong>de</strong> examinar os estudosreferentes a três regras variáveis fonológicas do português falado no Sul doBrasil, a saber a variação da pretônica, da vi<strong>br</strong>ante em coda e da elisãovocálica em fronteira <strong>de</strong> palavra, a fim <strong>de</strong> avaliar o quanto a divergência <strong>de</strong>resultados entre os estudos <strong>de</strong> cada processo reflete <strong>de</strong> fato ocomportamento dos falantes ou são conseqüência da forma como a pesquisafoi conduzida. No primeiro caso, propõe-se que a confiabilida<strong>de</strong> e aintersubjetivida<strong>de</strong>, condições necessárias à generalida<strong>de</strong>, são atendidas; nosegundo, enten<strong>de</strong>-se que os resultados são não generalizáveis.28


DIA 30 DE OUTUBRO – QUINTA-FEIRAMesa 1 – Análises textuais e discursivasA EXTERIORIDADE CONSTITUTIVA DO TEXTO À LUZ DAANÁLISE DO DISCURSOFreda Indursky (UFRGS)O presente trabalho propõe-se a refletir teórica e analiticamente a relaçãoentre a categoria analítica texto e sua exteriorida<strong>de</strong> à luz da Análise doDiscurso. Tal <strong>de</strong>cisão implica, <strong>de</strong> imediato, pensar que texto, nesteenquadramento teórico, apresenta-se sob uma dupla face: <strong>de</strong> um lado, éconcebido como um objeto empírico, tangível, <strong>de</strong>terminado; <strong>de</strong> outro, étomado como um objeto aberto à exteriorida<strong>de</strong>, atravessado pelointerdiscurso, in<strong>de</strong>terminado. A primeira face é a materialida<strong>de</strong> lingüísticaatravés da qual se tem acesso à segunda que, <strong>de</strong> fato, interessa: a facediscursiva do texto. Para examinar as relações que o texto assim concebidoestabelece com a exteriorida<strong>de</strong>, serão mobilizadas, pelo menos, as noções <strong>de</strong>interdiscurso (Pêcheux, 1988), memória discursiva (Courtine, 1981, 1983),pré-construído (Pêcheux, 1988) e anáfora discursiva (Indursky, 1997) parafazer uma <strong>br</strong>eve análise ilustrativa <strong>de</strong> um texto publicado inicialmente no JBOnline e, posteriormente, em sua edição em papel.UMA REFLEXÃO SEMIÓTICA SOBRE A "EXTERIORIDADE"Diana Luz Pessoa <strong>de</strong> Barros (Universida<strong>de</strong> Presbiteriana Mackenzie, USP)Nesta exposição vamos tratar da questão da exteriorida<strong>de</strong> do discurso noquadro teórico da Semiótica discursiva <strong>de</strong> origem francesa. Para isso, serãoexaminados conceitos e procedimentos semióticos <strong>de</strong> três tipos: as relaçõesentre texto/discurso e contexto, consi<strong>de</strong>radas, nesse quadro teórico, comorelações intertextuais e interdiscursivas; os temas e figuras do discurso, quesão os lugares, por excelência, das <strong>de</strong>terminações sócio-históricasinconscientes do discurso; o ator da enunciação e a questão das imagens doenunciador e do enunciatário, a partir da retomada, na perspectiva dasemiótica, das noções retóricas <strong>de</strong> éthos e páthos. Serão analisados algunstextos, para verificar, do ponto <strong>de</strong> vista escolhido, como se constroem ossentidos da exteriorida<strong>de</strong> discursiva.INVESTIGANDO OS IMPACTOS DA NOÇÃO DE CONTEXTOSOBRE AS TEORIAS DO TEXTOAnna Christina Bentes (UNICAMP)Ao longo da história do campo dos estudos do texto, a noção <strong>de</strong> contextotem <strong>de</strong>sempenhado um papel fundamental na elaboração das teorias do texto.Koch e Elias (2006) apontam para as diferentes concepções <strong>de</strong> contexto29


assumidas ao longo do percurso da Lingüística Textual (LT): a concepção <strong>de</strong>contexto como entorno verbal (co-texto), como situação interativa imediata,como situação mediata (entorno sociopolítico-cultural) e como conjunto <strong>de</strong>suposições, baseadas nos saberes dos interlocutores, mobilizadas para ainterpretação <strong>de</strong> um texto (contexto socio-cognitivo). Para as autoras, estaúltima noção engloba todas as outras em função do entendimento <strong>de</strong> que “ocontexto seria um conjunto <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> natureza não objetiva, mas cognitiva,que se achariam interiorizados pelos interlocutores e seriam mobilizáveissempre que necessário em um ato <strong>de</strong> enunciação” (cf. Ker<strong>br</strong>at-Orecchioni,1996:42). Marcuschi (2004:87) chama a atenção para o fato <strong>de</strong> que ocontexto “tem um lugar cativo na produção <strong>de</strong> sentido”. Para o autor, osentido (<strong>de</strong> um texto, por exemplo) é fruto <strong>de</strong> uma operação complexa comsignos na relação com ações situadas socialmente” (op. cit.:95). Nestetrabalho, preten<strong>de</strong>mos aprofundar a discussão so<strong>br</strong>e como o texto seconstitui como um objeto <strong>de</strong> estudos a partir da compreensão <strong>de</strong>sse objetocomo uma unida<strong>de</strong> que apenas se torna completa dada a sua união com omundo sociocultural. Assumiremos, então, que a relação entre texto econtexto não é uma <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência e externalida<strong>de</strong>. Assim, um textosomente po<strong>de</strong> ser compreendido como uma estrutura esquemática se oconsi<strong>de</strong>rarmos no interior <strong>de</strong> suas realizações concretas. Sua estruturaesquemática é completamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da informação “<strong>de</strong> fora”(cf.Hanks, 1989/2008). É nesse sentido que o principal objetivo do trabalho é o<strong>de</strong> mostrar como o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> contexto <strong>de</strong>senvolvido por Hanks (2006/2008)po<strong>de</strong> fornecer ferramentas analíticas que propiciem maior visibilida<strong>de</strong> àrelação <strong>de</strong> im<strong>br</strong>icação, <strong>de</strong> mútua constitutivida<strong>de</strong> entre os modos <strong>de</strong>produção do texto e os modos <strong>de</strong> convivência social e <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação dasações humanas (cf. Marcuschi, 2004).LINGÜÍSTICA ENUNCIATIVA E EXTERIORIDADEValdir N. Flores (UFRGS)A relação do texto com a exteriorida<strong>de</strong> também toca <strong>de</strong> perto o campo dalingüística enunciativa, pois, como se sabe, a hipótese <strong>de</strong> base <strong>de</strong> toda teoriada enunciação é admitir que o sujeito se inscreve no âmago do sistemalingüístico.Essa inscrição – que marca a relação do sujeito com seu próprio enunciado –é <strong>de</strong>scrita nas diferentes teorias da enunciação, no mínimo, em duas direções:a) através do estudo <strong>de</strong> certas categorias gramaticais específicas (pessoa,tempo e espaço) manifestadas, por exemplo, em pronomes, verbos,advérbios etc.; b) através do exame <strong>de</strong> outros fenômenos lingüísticos cujaformalização é mais difícil, tais como as funções sintáticas (<strong>de</strong> interrogação,<strong>de</strong> intimação, <strong>de</strong> asserção), as modalida<strong>de</strong>s, as fraseologias, entre outros. Emambas, conserva-se o princípio <strong>de</strong> que o sujeito se “marca” na língua. Talprincípio recebe distintas versões nas diferentes teorias da enunciação: emAntoine Culioli são estudados os fenômenos da negação, da representaçãometalingüística em sintaxe, da quantificação, da temporalida<strong>de</strong> e do aspecto;30


em Danon-Boileau, são abordadas as referências nominais; em Ker<strong>br</strong>at-Orecchioni, são <strong>de</strong>scritos substantivos, verbos, adjetivos, advérbios,ambigüida<strong>de</strong>s, modalizações e implícitos; em Oswald Ducrot, são vistos osconectores, os operadores, os modalizadores, a negação e os pressupostos;em Authier-Revuz, as incisas, a pseudo-anáfora, as correções, as glosas; emCatherine Fuchs, o fenômeno da paráfrase; em Clau<strong>de</strong> Hagège, o fenômenoda variação social, da conotação, da día<strong>de</strong> tema-rema, do tempo. Enfim,todos, e cada um a seu modo, esforçam-se para abordar aquilo que foigenericamente nomeado por Émile Benveniste <strong>de</strong> aparelho formal <strong>de</strong>enunciação.Assim, tendo em vista os objetivos <strong>de</strong>sta mesa <strong>de</strong> trabalho, caberia indagar:que estatuto recebe, no campo enunciativo, o estudo das marcas do sujeito?Como é estudada, nesse campo, a relação entre o enunciado e suaexteriorida<strong>de</strong>, ou ainda, entre enunciado e enunciação?Mesa 2 – Aquisição da escrita e fonologiaESTUDOS SOBRE AS RELAÇÕES ENTRE AS ESCRITAS INICIAISE O CONHECIMENTO FONOLÓGICOAna Ruth Moresco Miranda (UFPel)Nesta apresentação serão examinados os principais resultados <strong>de</strong> estudos quevisam o estabelecimento <strong>de</strong> relações entre escrita espontânea erepresentações fonológicas. Esses trabalhos, <strong>de</strong>senvolvidos a partir daanálise <strong>de</strong> dados pertencentes ao Banco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita(FaE-UFPel), <strong>de</strong>screvem e analisam os erros ortográficos motivadosfonologicamente (CUNHA, 2004; ADAMOLLI, 2006; MIRANDA, 2007,2008a, 2008b). Tais erros, interpretados como indícios capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelarconhecimentos que a criança já construiu so<strong>br</strong>e a fonologia da língua, po<strong>de</strong>menvolver tanto a grafia <strong>de</strong> segmentos como <strong>de</strong> sílabas ou palavras. Assim, osdados so<strong>br</strong>e a grafia das vogais átonas (pretônica e postônica final), dosditongos mediais e das sílabas com coda nasal, bem como as grafias queapresentam segmentações não-convencionais, ao serem discutidos à luz dosestudos fonológicos, fortalecem nossa hipótese <strong>de</strong> que, no processo <strong>de</strong>aquisição da escrita, se a<strong>br</strong>e uma via <strong>de</strong> mão dupla: da fonologia para aortografia e da ortografia para a fonologia. Essa hipótese tem sua origem noentendimento que temos <strong>de</strong> que a criança busca, no seu conhecimento so<strong>br</strong>eas estruturas sonoras, referências que lhe permitam criar as representaçõesortográficas do sistema <strong>de</strong> sua língua materna.A CODA SILÁBICA NA ESCRITA DE JOVENS E ADULTOSLuciani Tenani (UNESP)A coda silábica tem sido objeto <strong>de</strong> várias pesquisas, por ocorrerem, nessaposição, processos fonológicos que possibilitam diferentes análises so<strong>br</strong>e a31


Mesa 3 – Abordagens Formais da Sintaxe e da SemânticaA INTERFACE COM O LÉXICOMaria José Foltran (UFPR/CNPq)Parece consensual que a gramática <strong>de</strong> uma língua é um sistema coerente <strong>de</strong>princípios que <strong>de</strong>termina a formação das sentenças <strong>de</strong> uma língua. Agramática terá, portanto, uma unida<strong>de</strong> básica que é a sentença. Essagramática <strong>de</strong>ve especificar quais são os componentes da sentença, como elesinteragem , em que or<strong>de</strong>m ocorrem, etc. Essa gramática não terá nada adizer a respeito <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s maiores que a sentença, tais como texto,discurso, etc, que são objeto <strong>de</strong> outro tipo <strong>de</strong> investigação. Terá, no entanto,que lidar muito, e cada vez mais, com as unida<strong>de</strong>s menores, como sintagmas,palavras, morfemas, etc. Esse tipo <strong>de</strong> investigação ganha força com a teoriagerativista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seus primeiros momentos. Embasada em princípios taiscomo o Critério Theta, Princípio <strong>de</strong> Projeção, e com o <strong>de</strong>senvolvimento dasteorias lexicalistas, essa investigação ganha contornos diferentes nomomento em que a estrutura argumental é reconhecida como um complexo<strong>de</strong> informações que está na base do comportamento sintático <strong>de</strong> um itemlexical. Assim, a semântica e a sintaxe precisam conversar. Este trabalhomostra como certas proprieda<strong>de</strong>s semânticas do item lexical, comogradualida<strong>de</strong>, tipo <strong>de</strong> evento, interferem na realização sintática <strong>de</strong> certosargumentos e na expressão <strong>de</strong> certas alternâncias.VARIAÇÃO SEMÂNTICA NA EXPRESSÃO DA SINGULARIDADEE DA PLURALIDADEAna Müller (USP-SP/CNPq)Este trabalho enfocará a contribuição do estudo das línguas indígenas<strong>br</strong>asileiras para a compreensão da amplitu<strong>de</strong> da variação semântica naslínguas naturais. Preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>bater a questão sob o enfoque teórico dasemântica lógica. Muitas das principais teorias lingüísticas atuais elaboraramsuas generalizações apoiadas principalmente em dados das línguas indoeuropéias.Dados <strong>de</strong> línguas pouco discutidas pela lingüística teórica po<strong>de</strong>mpor em questão fatos e enfoques estabelecidos e, ao mesmo tempo, fornecernovas perspectivas a esses enfoques.Entre os semanticistas lógicos, existem basicamente dois enfoques: (i) ahipótese <strong>de</strong> que a variação está localizada na sintaxe e a semântica <strong>de</strong> cadalíngua reflete com transparência sua estrutura sintática e (ii) a hipótese <strong>de</strong>uma semântica universal para todas as línguas. A primeira hipótese permiteuma gran<strong>de</strong> variação semântica (ver Partee 1995). Já a segunda hipóteseassume a hipótese nula <strong>de</strong> que não há variação lingüística na semântica daslínguas naturais. De acordo com essa visão, existem certas estruturassemânticas fundamentais que todas as línguas <strong>de</strong>vem partilhar (Chierchia1998 e Matthewson 2001). O trabalho discutirá a expressão das noções <strong>de</strong>singularida<strong>de</strong> e pluralida<strong>de</strong> nas línguas naturais, <strong>de</strong><strong>br</strong>uçando-se33


especificamente na língua Karitiana, língua da família Tupi-Guarani, faladaem Rondônia. Karitiana é uma língua que não expressa a oposição singularpluralem suas expressões nominais. Por outro lado, possui uma marcaçãoverbal <strong>de</strong> pluralida<strong>de</strong> – pluracionalida<strong>de</strong> –que expressa a ocorrência <strong>de</strong>eventos plurais. Coloca em questão, portanto, o modo como as línguasnaturais expressam a noção <strong>de</strong> número.A SINTAXE DAS PSEUDO-CLIVADASCarlos Mioto (UFSC/CNPq)A exposição preten<strong>de</strong> ilustrar como a sintaxe formal proce<strong>de</strong> paraanalisar construções <strong>de</strong> uma língua. A construção inicial escolhida é (1):(1) O que a Maria é é importante.A análise mostrará que a ambigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong> (1) entre uma leitura predicacionale especificacional (pseudo-clivada) <strong>de</strong>corre da estrutura da sentença. Asduas estruturas <strong>de</strong> (1) se revelam mais claramente em (2), on<strong>de</strong> adisponibilida<strong>de</strong> da concordância anula a ambigüida<strong>de</strong>:(2) a. O que a Maria é é escandaloso. (predicacional)b. O que a Maria é é escandalosa. (pseudo-clivada)A concordância em escandaloso revela que a relativa livre em (2a) é osujeito; a concordância em escandalosa revela que o sujeito do adjetivo em(2b) é a Maria e que a relativa livre/o pronome relativo é, neste caso, <strong>de</strong>natureza diferente.Além disso, a sentença em (1) será relacionada com (3):(3) A Maria é é importante.(3) é consi<strong>de</strong>rada por alguns autores uma versão reduzida (pseudo-clivadareduzida) <strong>de</strong> (1) no sentido especificacional. A análise que faremos <strong>de</strong> (3)vai contra esta concepção.34


DIA 31 DE OUTUBRO – SEXTA-FEIRAMesa 1 – Ensino-aprendizagem <strong>de</strong> línguas estrangeiras e formação <strong>de</strong>professoresEFEITOS COGNITIVOS POSITIVOS DO BILINGÜISMO E DAAPRENDIZAGEM DA L2Márcia C. Zimmer (UCPel)Uma das maiores tarefas com que as ciências cognitivas se <strong>de</strong>param é a <strong>de</strong><strong>de</strong>slindar e explicar a aquisição e o uso <strong>de</strong> uma língua (materna ouestrangeira), processos essencialmente humanos e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m, em maiorou menor grau, <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> variáveis, todas <strong>de</strong> naturezacomplexa (DEKEYSER, 2005). Nesta fala, o alto grau <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong>com que essas variáveis se interrelacionam é visto <strong>de</strong>ntro do quadro teóricoconexionista, que parte do pressuposto <strong>de</strong> que a cognição em geral édinâmica, e <strong>de</strong> que essa dinamicida<strong>de</strong> caracteriza tanto a aquisição como ouso da língua estrangeira. Além disso, ao ressaltar as característicastemporais intrínsecas à noção <strong>de</strong> linguagem, o conexionismo assume odinamismo da temporalida<strong>de</strong> contínua da aquisição e do uso da linguagem,colocando em <strong>de</strong>staque a continuida<strong>de</strong> entre linguagem e processoscognitivos (SEIDENBERG & MACDONALD, 1999; MACDONALD &CHRISTIANSEN, 2002), entre memórias implícitas e explícitas(O’REILLY & NORMAN, 2005), entre processamento sensório e motor naprodução e percepção da fala (ALBANO, 2007), e entre memóriasprocedurais e <strong>de</strong>clarativas. Essa continuida<strong>de</strong> entre processamento cognitivoe lingüístico é muito bem ilustrada pelo bilingüismo. As diferentescompetências <strong>de</strong>senvolvidas nos diversos contextos <strong>de</strong> uso nas duas ou maislínguas faladas pelos indivíduos coloca em <strong>de</strong>staque o modo <strong>de</strong> ativação eprocessamento das línguas, que, segundo Grosjean (1999), constitui umcontinuum, que vai do modo monolíngüe ao modo bilíngüe, passando porvários estados intermediários <strong>de</strong> processamento e ativação das línguasusadas. Além disso, há diferenças individuais na habilida<strong>de</strong> com que osbi/multilíngües mudam o modo ao longo do contínuo. Tanto o bilingüismocomo o multilingüismo são dinâmicos, e não estáticos, pois o perfil dosbi/multilíngües mudam com o passar do tempo, à medida que progri<strong>de</strong>m nocontinuum. Evidências em estudos psicolingüísticos <strong>de</strong> processamento dalinguagem <strong>de</strong> adultos mostram que as duas línguas <strong>de</strong> um bilíngüepermanecem constantemente ativas durante o processamento <strong>de</strong> uma. Aativida<strong>de</strong> nos dois sistemas requer um mecanismo para manter as línguas emníveis <strong>de</strong> ativação suficientemente distintos para que se chegue a umaperformance fluente da língua em questão. Green (1998) propôs um mo<strong>de</strong>lobaseado no controle inibitório, no qual a língua não relevante em<strong>de</strong>terminado contexto é <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rada pelas funções do sistema executivo,usado para controlar a atenção e a inibição. Se esse mo<strong>de</strong>lo estiver correto,35


então bilíngües têm prática massiva em exercitar o controle inibitório, umaexperiência que po<strong>de</strong> ir além dos domínios cognitivos verbais. Tendo emvista essa hipótese, estudos recentes <strong>de</strong>senvolvidos no Rio Gran<strong>de</strong> do Sulvêm evi<strong>de</strong>nciando o fato <strong>de</strong> que as habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas ao falar umalíngua estrangeira conferem vantagens a crianças e jovens adultosbilíngües/trilíngües no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> funções executivas e ten<strong>de</strong>m aprotelar o surgimento <strong>de</strong> problemas nos mecanismos <strong>de</strong> percepção, memóriae funções executivas relacionadas à memória <strong>de</strong> trabalho na estruturacognitiva dos idosos. Os resultados <strong>de</strong>sses estudos e suas implicaçõesteórico-práticas em termos <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> L2 são discutidos nestaapresentação.ESTUDOS DA INTERLÍNGUA SOB A ÓTICA DA ARQUITETURAPARALELA: POSSIBILIDADES DE INVESTIGAÇÃORicardo Augusto <strong>de</strong> Souza (UFMG)Mo<strong>de</strong>los teóricos da <strong>org</strong>anização gramatical da linguagem sãofreqüentemente cotejados nos estudos aquisicionistas que contemplam asrepresentações que, hipoteticamente, um aprendiz <strong>de</strong> L2 <strong>de</strong>senvolve temacerca da língua alvo, ou seja, as representações <strong>de</strong> interlíngua (BRAIDI,1999). Dentre tais mo<strong>de</strong>los, é conhecida a influência das teorizações <strong>de</strong>ntrodo quadro conceitual da Gramática Gerativa nos estudos <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> L2(exs: WHITE, 2004, LARDIERE, 2008). Contudo, a centralida<strong>de</strong> e primaziado componente sintático, teorizada no referido quadro, parece engendrarhipóteses so<strong>br</strong>e a natureza das representações interlinguais que acarretam<strong>de</strong>bates, tais como aquele acerca do déficit gramatical ou não na aquisição<strong>de</strong> L2, <strong>de</strong> difícil solução. A “Arquitetura Paralela” é um mo<strong>de</strong>lo recenteso<strong>br</strong>e a <strong>org</strong>anização das representações gramaticais, que vem sendo<strong>de</strong>senvolvido por Jackendoff (1997, 2002), e que guarda elementos dateorização gerativista, abandonando, entretanto, a hipótese da centralida<strong>de</strong> eda primazia da sintaxe. Nesta comunicação, preten<strong>de</strong>mos refletir so<strong>br</strong>epossibilida<strong>de</strong>s abertas pelo mo<strong>de</strong>lo da Arquitetura Paralela para ainvestigação <strong>de</strong> fenômenos interlinguais e que possivelmente po<strong>de</strong>mconduzir a novas perspectivas acerca da questão <strong>de</strong> déficit representacionalnas interlínguas.TENDÊNCIAS DAS PESQUISAS NA ÁREA DE FORMAÇÃO DEPROFESSORES DE LÍNGUAS ESTRANGEIRASTelma Gimenez (UEL)No quadro <strong>de</strong> pesquisas so<strong>br</strong>e o ensino <strong>de</strong> línguas estrangeiras, nas últimasdécadas, tem havido interesse crescente pelo professor, especialmente noque diz respeito a seu pensamento e ações em sala <strong>de</strong> aula. Maisrecentemente, este foco tem se ampliado para aspectos <strong>de</strong> seu trabalho e suaformação, ampliando o escopo da Lingüística Aplicada. Esse movimentotem provocado alterações no campo <strong>de</strong> pesquisa no contexto <strong>br</strong>asileiro, comaportes multidisciplinares e gran<strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos que procuram36


compreen<strong>de</strong>r os processos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem <strong>de</strong> línguas estrangeirasem sala <strong>de</strong> aula. Minha participação nesta mesa terá como foco uma análisedas contribuições das pesquisas so<strong>br</strong>e formação <strong>de</strong> professores em nossaárea para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> políticas públicas para programas <strong>de</strong> ensinoaprendizagem<strong>de</strong> línguas em escolas regulares.Mesa 2 – Linguagem e Contexto SocialO SIGNIFICADO SOCIAL NA ESTRUTURA LINGÜÍSTICANeiva Maria Jung (UEM, UEPG-PR)De acordo com a Sociolingüística Interacional, os participantes <strong>de</strong> uma dadainteração negociam elementos dinâmicos e múltiplos que apontam para asi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s sociais construídas, a partir <strong>de</strong> sua participação prolongada emdiferentes re<strong>de</strong>s sociais (GUMPERZ & COOK-GUMPERZ, 1982) oudiferentes comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prática (ECKERT & McCONNELL-GINET,1992). A alternância <strong>de</strong> códigos, inclusive <strong>de</strong>ntro da mesma língua, do falarculto para o falar dialetal e vice-versa, po<strong>de</strong> ser uma pista contextual queaponta para o contexto comum sustentado entre os participantes <strong>de</strong> uma dadainteração. A troca <strong>de</strong> códigos po<strong>de</strong> re<strong>de</strong>finir ou enriquecer uma situaçãosocial em curso (BLOM & GUMPERZ, 2002). Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva, oobjetivo <strong>de</strong>ste trabalho é realizar uma reflexão so<strong>br</strong>e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> contextoe so<strong>br</strong>e a co-sustentação <strong>de</strong> um contexto pela alternância <strong>de</strong> códigos somadaa outros traços que se articularam a esse contexto. Os dados que serãoanalisados são <strong>de</strong> interação em sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> uma comunida<strong>de</strong> multilíngüe(alemão, <strong>br</strong>asileiro, português) do oeste do Paraná e dados <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> umgrupo <strong>de</strong> mulheres artesãs do noroeste do Paraná. Na comunida<strong>de</strong>multilíngüe, os dados <strong>de</strong> fala-em-interação <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula apontam para umaquestão <strong>de</strong> gênero social, em co-construção na comunida<strong>de</strong>.O ESTUDO SOCIOLINGÜÍSTICO DA VARIAÇÃOElisa Battisti (UCS/CNPq)Os estudos <strong>de</strong> variação lingüística conforme a abordagem <strong>de</strong> William Labov(LABOV 1972, 1994, 2001) têm sido <strong>de</strong>finidos por seus métodos e objetivos,antes que por seu objeto <strong>de</strong> estudo, a linguagem em uso. Decorre daí não sóa redutora <strong>de</strong>nominação sociolingüística quantitativa, mas a ina<strong>de</strong>quadainterpretação <strong>de</strong> que estudos nessa linha resultam apenas na correlação entrecertas características lingüísticas e dados aspectos da estratificação social. Oobjetivo do presente trabalho é refletir so<strong>br</strong>e o caráter sociolingüístico davariação, so<strong>br</strong>e o estudo da estrutura e evolução da língua no contexto socialda comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala (LABOV, 1972), enten<strong>de</strong>ndo-se contexto socialcomo fatos sociais que, enquanto formas <strong>de</strong> comportamento gerais numasocieda<strong>de</strong>, exercem restrição inconsciente so<strong>br</strong>e os indivíduos (FIGUEROA,1994). A investigação <strong>de</strong> uma regra variável do português <strong>br</strong>asileiro, a37


palatalização das oclusivas alveolares, numa pequena cida<strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul fundada por imigrantes italianos no final do século XIX, AntônioPrado, fornecerá elementos para a reflexão.É <strong>de</strong> 30% a freqüência <strong>de</strong> aplicação da palatalização no português falado emAntônio Prado, um índice mo<strong>de</strong>rado se comparado ao <strong>de</strong> outros falares<strong>br</strong>asileiros (HORA, 1990; BISOL, 1991; ALMEIDA, 2000; PAGOTTO,2001; ABAURRE e PAGOTTO, 2002; KAMIANECKY, 2002; PIRES,2003; PAULA, 2006; BATTISTI, DORNELLES FILHO, LUCAS e BOVO,2007). Além da análise <strong>de</strong> regra variável, realizou-se análise da re<strong>de</strong> socialdos informantes (MILROY, 1980; MILROY e MILROY, 1992) e <strong>de</strong>variação lingüística como prática social (ECKERT, 2000), o que permitiuverificar que a palatalização, apesar <strong>de</strong> condicionada pelos jovens, mostrasinais <strong>de</strong> estabilização na comunida<strong>de</strong> em índices mo<strong>de</strong>stos. A relação emre<strong>de</strong> entre os informantes reforça o emprego da alternante mais conservadora,a forma não-palatalizada, e a observação <strong>de</strong> práticas sociais dos jovensrevelou uma atitu<strong>de</strong> positiva em relação à comunida<strong>de</strong>, o que explica seupapel introdutor da regra <strong>de</strong> um lado, mas seu fraco papel difusor <strong>de</strong> outro.Além <strong>de</strong> permitir afirmar que a palatalização não é mudança em progressona comunida<strong>de</strong>, a articulação das análises possibilitou explicitar a ação docontexto social, enquanto fatos sociais, so<strong>br</strong>e o indivíduo e seus hábitos <strong>de</strong>fala, ao potencializar manifestações variáveis, ou ao refreá-las.ANÁLISE GRAMATICAL EM CONTEXTO: QUAL CONTEXTO?Tarcísio Leite (USP)De maneira geral, estudos so<strong>br</strong>e gramática e estudos so<strong>br</strong>e dimensões sociaisda linguagem são abordados e discutidos separadamente: ou se focaliza alíngua como um sistema abstrato, ou se focaliza a significação social dodiscurso para os seus usuários. Contudo, sob a perspectiva <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong>estudo da linguagem que emergiram no campo das ciências sociais (porexemplo, a análise da conversa <strong>de</strong> base etnometodológica e a antropologialingüística, entre outras), a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> abordar a linguagem como umsistema abstrato analisável <strong>de</strong> maneira in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos contextos <strong>de</strong>interação que lhe dão vida tem sido questionada. A presente comunicaçãoirá reportar um estudo centrado na segmentação da Língua <strong>de</strong> SinaisBrasileira (LIBRAS) em unida<strong>de</strong>s gramaticais que foi realizado com oesforço particular <strong>de</strong> não <strong>de</strong>svincular a gramática sob análise <strong>de</strong> seu contextointeracional. Com o intuito <strong>de</strong> levantar questões relevantes para o tema damesa, a comunicação irá apresentar e problematizar as <strong>de</strong>cisões tomadasneste estudo, trazendo alguns questionamentos so<strong>br</strong>e a noção <strong>de</strong> “unida<strong>de</strong>lingüística” e <strong>de</strong> “ação social, bem como so<strong>br</strong>e que nível e que tipo <strong>de</strong>participação na interação po<strong>de</strong>/<strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado como “contexto”socialmente relevante para as análises gramaticais.38


Mesa 3 – Fonologia e MorfologiaO PLURAL EM DIMINUTIVOSLeda Bisol (PUCRS/CNPq)O diminutivo tem sido motivo <strong>de</strong> discussões em artigos diversos, em virtu<strong>de</strong><strong>de</strong> características que o distingue dos <strong>de</strong>mais <strong>de</strong>rivativos, entre essas a <strong>de</strong>permitir vogal temática no interior da palavra, oferecendo argumentospara diferentes propostas <strong>de</strong> análise. Este texto, que se <strong>de</strong>tém no plural <strong>de</strong>diminutivos, situa-se entre os que o interpretam como <strong>de</strong>rivativo. A análiserealiza-se na linha da Teoria da Otimida<strong>de</strong>, contando com uma hierarquia <strong>de</strong>restrições em que interagem restrições <strong>de</strong> correspondência input e output,<strong>de</strong> alinhamento <strong>de</strong> níveis estruturais distintos e <strong>de</strong> marcação. Ao consi<strong>de</strong>rarque o diminutivo, -inho na subjacência, tem uma base morfológica, isto é,um nominal temático ou atemático, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>m-se com naturalida<strong>de</strong> asaparentes irregularida<strong>de</strong>s do output, referentes ao plural.PROCESSOS DE MESCLAGEM VOCABULAR: UMA ANÁLISE DAINTERFACE MORFOLOGIA-FONOLOGIA PELA TEORIA DACORRESPONDÊNCIACarlos Alexandre Gonçalves (UFRJ/CNPq)Também chamado <strong>de</strong> palavra-valise (Alves, 1990), mistura (Sândalo, 2001),mescla lexical (Silveira, 2002) e portmanteau (Araújo, 2000), o cruzamentovocabular, doravante CV, é quase sempre <strong>de</strong>finido como um processo <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> palavras que consiste na fusão <strong>de</strong> duas bases, a exemplo do queocorre com ‘mautorista’ (junção <strong>de</strong> ‘mau’ com ‘motorista’, “motorista semperícia”) e ‘craquético’ (mistura <strong>de</strong> ‘craque’ com ‘caquético’, “craque compéssima aparência física, em geral ocasionada pelo consumo <strong>de</strong> drogas”).Apesar <strong>de</strong> relevância do fenômeno tanto para a análise <strong>de</strong> questõesfonológicas quanto para a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> aspectos morfológicos e semânticos,até a década passada o CV recebeu pouca atenção dos estudiososcontemporâneos <strong>de</strong> morfologia, merecendo não mais que menções em nota<strong>de</strong> rodapé. Nos últimos anos, o cruzamento vocabular vem per<strong>de</strong>ndo oenfoque marginal e constituindo objeto <strong>de</strong> investigação tanto <strong>de</strong>pesquisadores europeus (Piñeros, 2000) quanto norte-americanos (Quinnion,2002; Kemmer, 2003). Com base em diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> análise, taisautores <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que, nas línguas estudadas (espanhol, por Piñeros, e inglês,por Quinnion e Kemmer), o fenômeno <strong>de</strong> modo algum é idiossincrático,como preconiza a literatura morfológica, sendo consi<strong>de</strong>rado regular tantofonológica quanto semanticamente. Dando continuida<strong>de</strong> à investigação dofenômeno, pretendo mostrar que o CV é um processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>palavras que atua na interface morfologia-fonologia e, para tanto, analiso-ocom base na Teoria da Correspondência (McCarthy & Prince, 1995; Benua,1997). Diferentemente do que vinha propondo nos últimos estudos so<strong>br</strong>e ofenômeno (p. ex., Gonçalves, 2007), procuro mostrar que o termo39


cruzamento vocabular é enganoso, uma vez que, sob esse rótulo, a<strong>br</strong>igam-se,na verda<strong>de</strong>, três diferentes processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras: (a) oentranhamento lexical (processo em que as duas formas <strong>de</strong> base seso<strong>br</strong>epõem, promovendo a ambimorfemia, a exemplo <strong>de</strong> ‘aborrescente’), (b)a combinação truncada (mecanismo pelo qual uma forma <strong>de</strong> base completaa outra, sem acesso à ambimorfemia, como em ‘portunhol’) e (c) a reanáliseestrutural (operação em que uma forma <strong>de</strong> base é reinterpretadamorfologicamente). Na apresentação, aponto as principais diferenças entreos três tipos <strong>de</strong> processos e analiso o chamado “entranhamento lexical” à luz<strong>de</strong> um ranking <strong>de</strong> restrições.ADJUNÇÃO E INCORPORAÇÃO PROSÓDICA NA MORFOLOGIAPREFIXAL DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE BASEADAEM RESTRIÇÕESLuiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq)Neste trabalho, revisitamos a discussão em torno do estatuto prosódico emorfológico <strong>de</strong> prefixos no português <strong>br</strong>asileiro (PB), na perspectiva daTeoria da Otimida<strong>de</strong> (OT), originalmente proposta por McCarthy e Prince(1993a,b) e Prince & Smolensky (1993). Nosso objetivo é explicar padrõesalomórficos envolvendo o prefixo e sua palavra-base, a partir da relaçãoentre unida<strong>de</strong>s morfológicas e unida<strong>de</strong>s prosódicas, sem fazer uso <strong>de</strong>expedientes <strong>de</strong>rivacionais. Orientam nossa discussão, entre outros, ostrabalhos <strong>de</strong> Nespor & Vogel (1986), Selkirk (1995), Booij (1996),Peperkamp (1997), Beckman (1998), Schwindt (2000) e Vigário (2001). Omapeamento imperfeito <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s morfológicas em unida<strong>de</strong>s prosódicas ea obediência a princípios <strong>de</strong> boa-formação <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s prosódicas po<strong>de</strong>mexplicar muito do que se tem entendido classicamente por alomorfia.Defen<strong>de</strong>mos a idéia <strong>de</strong> que unida<strong>de</strong>s morfológicas (afixos, radicais, palavraslexicais etc.) ensejam isomorfismo com unida<strong>de</strong>s prosódicas (sílabas, pés,palavras fonológicas etc.) e que essa pressão se so<strong>br</strong>epõe a condições <strong>de</strong>dominância envolvendo unida<strong>de</strong>s prosódicas, como exaustivida<strong>de</strong> e nãorecursivida<strong>de</strong>da PW. A TO mostra-se a<strong>de</strong>quada para tratar <strong>de</strong> fenômenos<strong>de</strong>ssa natureza, uma vez que admite que todas as restrições são universais - oque permite explicar por que esses princípios falham em sua aplicação sob<strong>de</strong>terminadas condições. Nessa linha <strong>de</strong> raciocínio, retomamos nossahipótese <strong>de</strong>senvolvida anteriormente (Schwindt, 2000), <strong>de</strong> que prefixos se<strong>org</strong>anizam em três tipos <strong>de</strong> configuração prosódica: incorporados, adjuntosou compostos à base a que se ligam: prefixos monossilábicos inacentuadossão sílabas adjuntas ou incorporadas à esquerda <strong>de</strong> uma base e prefixosacentuados são palavras fonológicas in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. As evidências paraconstruir o ranking provêm, especialmente, dos processos <strong>de</strong> ressilabação,vozeamento intervocálico, epêntese e assimilação da nasal. A maior partedos argumentos que apresentamos diz respeito à <strong>de</strong>fesa do limite <strong>de</strong> palavraprosódica entre prefixo e base, o que diferencia a adjunção da incorporação,mas também a composição <strong>de</strong>sta última.40


RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOS TEMÁTICOSGT1 Gêneros textuais jornalísticos em suportes diversos: análise eensinoCoor<strong>de</strong>nadoresAdair Bonini (UNISUL, Tubarão, SC)Marcos Baltar (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias do Sul)SUPORTE E GÊNERO: UMA RELAÇÃO DE INTERDEPENDÊNCIAAdair Bonini (UNISUL)A conexão entre suporte e gênero textual, ainda pouco esclarecida pelaliteratura da área <strong>de</strong> texto e discurso, é um problema que afeta tanto osprocedimentos da pesquisa <strong>de</strong> gênero quanto as práticas <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>linguagem relacionadas e esse objeto. A apresentação aqui proposta consisteem uma reflexão teórica acerca <strong>de</strong>sse problema. O trabalho orienta-se poruma perspectiva sócio-retórica <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> gênero (Swales, 1990, 1998,2004; Bazerman, 2005) e procurou atingir quatro objetivos, quais sejam: i)revisar o modo como a literatura tem <strong>de</strong>finido a noção <strong>de</strong> suporte em suarelação com o gênero (Marcuschi, 2001; entre outros); ii) retomar o conceito<strong>de</strong> hipergênero (Maingueneau, 2004; Bonini, 2003, 2004); iii) avaliar apreditibilida<strong>de</strong> das noções <strong>de</strong> suporte e hipergênero frente aos objetos queelas focalizam; e iv) avaliar a relação entre hipergênero e hierarquia, ca<strong>de</strong>ia,conjunto e re<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros, conceitos que Swales (2004) alocou sob o rótulo“constelações <strong>de</strong> gêneros”.ORGANIZAÇÃO RETÓRICA DO GÊNERO NOTÍCIA DEPOPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UM ESTUDO COMPARATIVOENTRE PORTUGUÊS E INGLÊSDésirée Motta-Roth (UFSM)Cristina dos Santos Lovato (UFSM)Liane Beatriz Gerhardt (UFSM)O objetivo <strong>de</strong>ste estudo é realizar uma análise comparativa da <strong>org</strong>anizaçãoretórica <strong>de</strong> textos do gênero “notícia <strong>de</strong> popularização da ciência” (PC) emportuguês e inglês. Textos <strong>de</strong> PC são comumente direcionados ao públiconão-especialista, pois têm a função <strong>de</strong> divulgar, <strong>de</strong> forma simplificada,resultados <strong>de</strong> pesquisas científico-tecnológicas. O ponto <strong>de</strong> partida paraanálise foi o estudo <strong>de</strong> Nowgu (1991) so<strong>br</strong>e os movimentos retóricos(conforme Swales, 1990) da versão jornalística <strong>de</strong> textos científicos. Aanálise em andamento aponta a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mudanças significativasnesse mo<strong>de</strong>lo para dar conta dos textos publicados mais recentemente naInternet. Serão apresentados os resultados da análise atualmente emandamento <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> 20 textos, divididos igualmente entre os sitesCiência Hoje On-line e BBC online, publicados entre 2004 e 2008. Serão41


apresentados resultados relativos à configuração textual em movimentos epassos retóricos e à semelhança ou diferença entre os textos nas duas línguas.A análise prévia so<strong>br</strong>e PC em português e em inglês sugere que hápredominância da seguinte estrutura: indicação dos resultados gerais no li<strong>de</strong>,seguida pela apresentação da nova pesquisa, que é sustentada com aindicação <strong>de</strong> observações consistentes relacionadas ao processo <strong>de</strong> pesquisae aos dados, que na seqüência têm sua coleta e procedimentos experimentais<strong>de</strong>scritos. A explicação dos resultados específicos e gerais são os últimosmovimentos predominantes, marcados principalmente pela polifonia. [Estetrabalho é parte do projeto PQ/CNPq (2008-2011), nº 304256/2004-8,<strong>de</strong>senvolvido pelos mem<strong>br</strong>os do GRPESQ/CNPQ “Linguagem como PráticaSocial”, sob coor<strong>de</strong>nação da terceira autora].O GÊNERO COMENTÁRIO: ANÁLISE SÓCIO-RETÓRICA DEEXEMPLARES PUBLICADOS NOS JORNAIS DIÁRIOCATARINENSE E FOLHA DE SÃO PAULODaniela Arns Silveira Monteiro (UNISUL, Tubarão, SC)Esta pesquisa teve como objeto o gênero comentário jornalístico. Aperspectiva teórica adotada é a da sócio-retórica, que concebe o gênerotextual como uma forma <strong>de</strong> ação social. Foi estudado um corpus <strong>de</strong> 42exemplares do comentário, sendo 18 textos extraídos do jornal DiárioCatarinense e 24 da Folha <strong>de</strong> S. Paulo, em edições que circularam entre osdias 7 e 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007. A metodologia empregada baseou-se na análise<strong>de</strong> movimentos retóricos conforme proposta por Swales (1990), nosprocedimentos apontados por Paré e Smart (1994) e em diretrizes elaboradaspor Bonini (2004b). Os exemplares do gênero foram analisadoscomparativamente entre si e em termos <strong>de</strong> seu papel como componente dojornal. Foram objetivos da pesquisa: a) <strong>de</strong>terminar a <strong>org</strong>anização retórica dogênero comentário; b) <strong>de</strong>terminar aspectos da relação entre o comentário e opapel social do comentarista; e c) levantar a ocorrência do gênero <strong>de</strong>ntro dosjornais Diário Catarinense e Folha <strong>de</strong> S. Paulo, observando as peculiarida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>ssa ocorrência nos ca<strong>de</strong>rnos e seções <strong>de</strong>sses jornais. Os principaisresultados apontam para: a) uma <strong>org</strong>anização do gênero em novemovimentos retóricos; b) um papel social do comentarista restrito a<strong>de</strong>terminadas áreas sociais e um estilo <strong>de</strong> escrita que fica a um meio termoentre o formal e o informal; e c) uma <strong>de</strong>limitação do espaço da discussão <strong>de</strong>assuntos-alvo dos comentários, <strong>de</strong>ntro dos jornais.O GÊNERO TEXTUAL CARTA DO LEITOR NO ENSINO DELINGUAGEMEliane <strong>de</strong> Fátima Manenti Rangel (UNIFRA)Este trabalho trata <strong>de</strong> gêneros textuais a partir <strong>de</strong> pressupostos teóricosbaseados em autores como Bakthin, Bonini, Meurer e Motta-Roth, entreoutros, que enten<strong>de</strong>m a leitura <strong>de</strong> gêneros como uma prática social.42


Objetiva-se discutir e analisar o gênero textual carta do leitor no ensino <strong>de</strong>linguagem através <strong>de</strong> uma experiência didática. Esse trabalho procurapropiciar aos alunos apreen<strong>de</strong>r as características gramático-textuaisempregadas pelo autor da carta para opinar, reclamar, reivindicar ou<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r seu ponto <strong>de</strong> vista. Desse modo, por meio da leitura e interpretaçãodo referido gênero, procura-se discutir com os estudantes as diferentesformas utilizadas pelo autor para enfatizar a sua opinião e chamar a atençãodos leitores. O trabalho com esse gênero revela características lingüísticas egramaticais que servem para mo<strong>de</strong>rnizar a didática do ensino <strong>de</strong> linguagem,atingindo um resultado satisfatório, em que se percebe que a leitura e aconseqüente produção do gênero carta do leitor instigam o aluno a<strong>de</strong>senvolver seu senso crítico e aperfeiçoar a escrita.O STORY-BOARD JORNALÍSTICO: ANÁLISE DO GÊNERO APARTIR DE EXEMPLARES PUBLICADOS NA FOLHA DE S.PAULOEmerson <strong>de</strong> Lima (UNISUL)O trabalho aqui apresentado consiste em uma pesquisa em <strong>de</strong>senvolvimento,cujo objeto é o story-board jornalístico. O gênero é estudado <strong>de</strong> acordo coma perspectiva sócio-retórica, com ênfase na análise <strong>de</strong> movimentos <strong>de</strong>Swales (1990) e no conceito <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> Bazerman (1994,2005). Objetiva-se, nessa pesquisa: 1) levantar a <strong>org</strong>anização textual dogênero em questão; 2) <strong>de</strong>terminar aspectos e sua produção; e 3) levantar asrelações entre esse gênero, o texto ao qual serve como ilustração e o jornalcomo um todo. São analisados exemplares do story-board coletados nasedições do jornal folha <strong>de</strong> S. Paulo, no período <strong>de</strong> seis meses.O ESTUDO DA CRÔNICA JORNALÍSTICA NO QUADROTEÓRICO DE SWALES E BAZERMAN: ESTRUTURA RETÓRICAE PROCESSO DE PRODUÇÃOJuliana Bernardini Francischini (UNISUL)O presente trabalho se propõe a analisar o gênero “crônica jornalística”,apresentando os critérios para sua classificação, os mecanismos lingüísticosque a caracterizam e o sistema <strong>de</strong> gêneros e ativida<strong>de</strong>s envolvido em seuprocesso <strong>de</strong> produção. Na condução das análises, são consi<strong>de</strong>rados ospostulados teóricos da abordagem sócio-retórica <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong>John Swales (1990), que indicam a estrutura composicional e as marcasformais do gênero a partir da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> seus movimentos retóricos. A fim<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o processo <strong>de</strong> produção da crônica, utilizam-se os conceitos <strong>de</strong>“conjunto <strong>de</strong> gêneros, sistema <strong>de</strong> gêneros e sistema <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s”, propostospor Charles Bazerman. Para <strong>de</strong>senvolver a pesquisa, são exploradosexemplares do gênero, extraídos <strong>de</strong> dois diferentes jornais <strong>de</strong> circulaçãonacional e regional (Folha <strong>de</strong> São Paulo e Zero Hora), durante o período <strong>de</strong>um mês (<strong>de</strong> 15/05/08 a 15/06/08). Essas análises são operacionalizadas43


<strong>de</strong>ntro do quadro metodológico <strong>de</strong> Paré e Smart (1994), que consiste emverificar, entre outros aspectos, quais regularida<strong>de</strong>s são observáveis em umconjunto <strong>de</strong> textos representativos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado gênero e nosprocessos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sses textos. Além <strong>de</strong> ser viável para um melhorentendimento das práticas jornalísticas, esse estudo se torna relevante umavez que não foram encontrados trabalhos ou pesquisas que apresentem umaanálise da crônica jornalística nessa perspectiva teórica. O trabalho tambémapresenta relevância social, <strong>de</strong>vido à sua potencial utilização prática noensino, visando <strong>de</strong>senvolver entre os aprendizes (alunos <strong>de</strong> jornalismo ou <strong>de</strong>Ensino Fundamental e Médio) o conhecimento do gênero e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>produzir textos que realizem <strong>de</strong> modo bem-sucedido as características dacrônica.CINEMINHA E GALERIA: GÊNEROS JORNALÍSTICOSANALISADOS A PARTIR DE UMA VISÃO SÓCIO-RETÓRICALis Airê Fogolari (UNISUL)A proposta <strong>de</strong>ssa pesquisa é a <strong>de</strong> analisar os gêneros fotográficos cineminhae galeria publicados no jornal Folha <strong>de</strong> S. Paulo. A pesquisa se apóia naabordagem sócio-retórica para explicar a <strong>org</strong>anização <strong>de</strong>sses gêneros. Além<strong>de</strong> investigar a relação <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les com o texto ao qual estáreferenciado (matéria do jornal), também procura levantar a relação <strong>de</strong>stesgêneros com o próprio jornal. A fundamentação <strong>de</strong>ssa pesquisa tem base naproposta teórica <strong>de</strong> John M. Swales (1990), especialmente em termos dosconceitos <strong>de</strong> gênero textual e comunida<strong>de</strong> discursiva, e em Bazerman (1994),quanto ao conceito <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s. Para a análise dos dados, foiconsi<strong>de</strong>rada a metodologia proposta por Paré e Smart (1994), especialmenteem relação a dois pontos: 1) <strong>org</strong>anização textual: utilizando-se da análise <strong>de</strong>movimento <strong>de</strong>fendida por Swales, aliada à proposta <strong>de</strong> análise do jornal <strong>de</strong>Bonini (2003); e 2) processos <strong>de</strong> produção: levantados através <strong>de</strong> entrevistascom os produtores. A pesquisa se justifica pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos quese ocupem da relação entre o texto jornalístico e a imagem, já que esterecurso se apresenta num crescente nos periódicos impressos.QUESTÕES EM TORNO DA ESCRITA E DA LEITURA: DOIMBRICAMENTO ENTRE LINGUAGEM, GÊNERO E SUPORTEEM TEXTOS DE MÍDIA IMPRESSALuzmara Curcino Ferreira (FAFIPAR)Neste trabalho abordaremos a estreita ligação entre a(s) linguagem(s), ogênero e o suporte e as implicações <strong>de</strong>sse im<strong>br</strong>icamento atualizado naescrita <strong>de</strong> textos midiáticos, em especial textos <strong>de</strong> revista impressa. Nossoobjetivo é abordar a relação <strong>de</strong> homologia discursiva que se estabelece entreas linguagens verbal e não-verbal, o gênero e o suporte, consi<strong>de</strong>rados aquicomo instâncias discursivas que atuam na produção e recepção dos discursos.Apresentaremos algumas reflexões so<strong>br</strong>e o estatuto <strong>de</strong>sses elementos na44


construção dos sentidos dos textos tendo em vista os conceitos <strong>de</strong>materialida<strong>de</strong> discursiva, <strong>de</strong> gênero discursivo, e <strong>de</strong> suporte segundo osestudos <strong>de</strong>senvolvidos: 1) em Análise <strong>de</strong> Discurso – em especial asconsi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> Michel Pêcheux e seus seguidores, acerca do problema damaterialida<strong>de</strong> discursiva, e <strong>de</strong> Mikhail Bakthin, acerca dos gêneros dodiscurso; e 2) em História Cultural – mais especificamente da “teoria dosuporte” esboçada por Roger Chartier.RÁDIO NA ESCOLA E/OU RÁDIO DA ESCOLA: FERRAMENTADE INTERAÇÃO SOCIODISCURSIVA E DE MÚLTIPLOSLETRAMENTOSMarcos Baltar (UCS)Este trabalho investiga a potencialida<strong>de</strong> da Rádio Escolar como ferramenta<strong>de</strong> interação sociodiscursiva e <strong>de</strong> múltiplos letramentos na escola,caracterizando-se como um dispositivo <strong>de</strong> ensinagem <strong>de</strong> gêneros textuaisque circulam no ambiente discursivo midiático. Tem como propósitodiferenciar o trabalho com a rádio na escola do trabalho com a rádio daescola, além <strong>de</strong> construir novos caminhos para a promoção do<strong>de</strong>senvolvimento e aprendizagem <strong>de</strong> crianças, jovens e adultos. A pesquisaestá ancorada nos pressupostos das teorias do letramento, em especial Streete Kleiman, e no escopo do interacionismo sociodiscursivo, especialmenteBronckart, Schneuwly e Dolz. O quadro metodológico está alinhado com osditames do paradigma da pesquisa-ação integral <strong>de</strong> Morin. Até o presentemomento envolveu cinco escolas públicas da região do entorno daUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias do Sul. Os resultados indicam movimentos <strong>de</strong><strong>de</strong>slocamento dos sujeitos envolvidos no que tange aos parâmetros <strong>de</strong>contrato, participação, discurso, ação e mudança.ESTRATÉGIAS RETÓRICAS E ESTRUTURA COMPOSICIONALDE ARTIGOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA MIDIÁTICA PARACRIANÇAS: PRINCÍPIOS ASCENDENTES E DESCENDENTESMaria Eduarda Giering (UNISINOS)Esta apresentação parte <strong>de</strong> resultados quantitativos da pesquisa DivulgaçãoCientífica: Estratégias Retóricas e Organização Textual - DCEROT, em quese constatou que artigos <strong>de</strong> divulgação científica midiáticos (doravante DC)– dirigidos a crianças e jovens – possuem diferentes fins discursivos, osquais <strong>de</strong>terminam <strong>org</strong>anizações retóricas distintas (Bernár<strong>de</strong>z, 1995; Mann eThompson, 1992). Aos diferentes fins discursivos, correspon<strong>de</strong>m<strong>org</strong>anizações retóricas prototípicas predominantes. Observou-se que aescolha do produtor por certa relação retórica entre segmentosinformacionais do texto acarreta a presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada(s) seqüência(s)prototípica(s) (Adam 1992). Salienta-se que a noção <strong>de</strong> retórica empregada éa da Rhetorical Structure Theory (Mann, W. C. et al, 1992), para a qual otermo retórica relaciona-se à concepção <strong>de</strong> que as estruturações das relações45


no texto refletem as opções <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização e <strong>de</strong> apresentação do produtor. ARST oferece um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> enfoque cognitivo e <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> processosque permite tratar das tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão do produtor implicadas naconcepção <strong>de</strong> texto como configuração <strong>de</strong> estratégias e possibilita, <strong>de</strong> formaprobabilística, prever as estratégias <strong>de</strong> formação do texto, num nívelmacroestrutural. Nesta apresentação, expõem-se diferentes artigos DC comfins discursivos distintos, a fim <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar (a) a relação entre as escolhasretóricas predominantes e os fins discursivos dos textos; (b) acorrespondência entre <strong>org</strong>anizações retóricas predominantes dos textos DC eseqüência (s) prototípica(s). Com base em Adam (1999), discutem-se osprincípios internos (ascen<strong>de</strong>ntes) e externos (<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes) que estão emjogo na <strong>org</strong>anização composicional <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> divulgação científicamidiática. O conhecimento <strong>de</strong>sses princípios <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização composicionaldos artigos DC oferece subsídios para o ensino da produção e dacompreensão <strong>de</strong>sse gênero <strong>de</strong> texto.A PESQUISA E A SALA DE AULA: MODOS DE ORGANIZAÇÃODO DISCURSO JORNALÍSTICONeiva Maria Tebaldi Gomes (Uniritter)A comunicação apresenta resultados parciais <strong>de</strong> uma pesquisa que propõeuma análise dos modos <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização do discurso jornalístico, visandoi<strong>de</strong>ntificar, nesse discurso – pretensamente <strong>de</strong>finido contra a manipulação –,a presença <strong>de</strong> marcas lingüísticas <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> do locutor, conectores,operadores argumentativos e outros recursos e procedimentos empregadospara conduzir o leitor à <strong>de</strong>terminada conclusão e/ou a <strong>de</strong>terminado ponto <strong>de</strong>vista. O objetivo fundamental é o <strong>de</strong> aprofundar reflexões so<strong>br</strong>e a ativida<strong>de</strong>lingüística <strong>de</strong> argumentação. A pesquisa justifica-se pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aescola integrar-se, <strong>de</strong> alguma forma, à dinâmica comandada por múltiplastecnologias <strong>de</strong> informação. O corpus é constituído por editoriais, textosopinativos, reportagens, notícias e charges <strong>de</strong> diferentes mídias. A semânticaargumentativa, segundo estudos realizados por Ducrot, Anscom<strong>br</strong>e e Carel,fornece embasamento teórico e metodológico. Estudos das conjunções doportuguês e princípios e conceitos da lingüística da enunciação integram oapoio teórico. O estudo <strong>de</strong>senvolve-se em três etapas: a) seleção dos textos,levantamento e análise dos recursos e procedimentos lingüístico-discursivos;b) levantamento <strong>de</strong> regularida<strong>de</strong>s lingüísticas e <strong>de</strong> procedimentosargumentativos a partir dos quais são propostas estratégias <strong>de</strong> leitura; e c)estudo <strong>de</strong>ssas estratégias com professores <strong>de</strong> língua portuguesa da educaçãobásica. Integrando a linha <strong>de</strong> pesquisa Linguagem, processos cognitivos eaprendizagem, o objetivo final do projeto é a construção <strong>de</strong> conhecimentorelativo à <strong>org</strong>anização discursiva necessário à proposição <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong>leitura que visem à formação <strong>de</strong> um leitor crítico, menos suscetível àmanipulação do discurso <strong>de</strong> informação. Como resultado parcial, já que apesquisa encontra-se ainda na sua primeira etapa, com esta comunicação46


objetiva-se socializar formas <strong>de</strong> explicitação <strong>de</strong> estratégias discursivas(argumentativas) presentes em textos já analisados.ESTUDO DA DIMENSÃO SEMIÓTICO-TEXTUAL DO GÊNEROENTREVISTA PINGUE-PONGUE, DO JORNALISMO DE REVISTANívea Rohling da Silva (UFSC)Temos por objetivo apresentar uma análise da dimensão semiótico-textualdo gênero entrevista pingue-pongue, do jornalismo <strong>de</strong> revista quecompreen<strong>de</strong>: a) a composição lingüístico-textual; b) a intercalação genérica;c) a análise do verbo-visual, que diz respeito à articulação entre os elementosverbais e os elementos pictóricos (principalmente a fotografia). Afundamentação teórico-medotodológica insere-se na teoria <strong>de</strong> gêneros dodiscurso e da análise dialógica do discurso do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin. Os dados<strong>de</strong> pesquisa são compostos por todas as entrevistas pingue-pongues (52)publicadas nas revistas semanais CartaCapital, ISTOÉ e Veja, no período <strong>de</strong>4 <strong>de</strong> outu<strong>br</strong>o a 8 <strong>de</strong> novem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2006, época <strong>de</strong> cobertura do segundo turnodas eleições presi<strong>de</strong>nciais no Brasil. Os resultados <strong>de</strong> análise mostram que,com relação à composição lingüístico-textual, o gênero pesquisadocaracteriza-se por seguir uma certa padronização, uma vez que suacomposição textual não se altera sensivelmente <strong>de</strong> edição para edição; nãopermite varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> intercalação <strong>de</strong> gêneros, com exceção da entrevistaface a face e da inserção da propaganda em <strong>de</strong>terminadas entrevistas. Assim,ao ler uma entrevista, o leitor já sabe, <strong>de</strong> antemão, que encontrará umaseqüência sistematizada: título, introdução, foto, “olho”, pergunta e resposta.Já com relação à análise da articulação entre elementos verbais e visuais,observamos que a integração <strong>de</strong>sses elementos contribui significativamentepara constituição do gênero, e que, <strong>de</strong>ntre os elementos pictóricos estudados(cor, disposição gráfica dos elementos, etc.), a fotografia do entrevistado é omais “saliente” no gênero. Isso se comprova pelo fato <strong>de</strong> que em todas asincidências do gênero há pelo menos uma fotografia do entrevistado. É ela aresponsável por “atrair” a atenção do leitor para que ele leia a entrevista,concretizando assim a interação discursiva entre autor e leitor, além <strong>de</strong>atribuir valoração axiológica à pessoa do entrevistado. Nessa análise foipossível capturar efeitos <strong>de</strong> sentido que vão além do objetivo discursivo <strong>de</strong>“ilustrar” a entrevista, a<strong>de</strong>ntrando caminhos em direção à materializaçãoi<strong>de</strong>ológica <strong>de</strong> posições políticas. Assim, a relação entre o material lingüísticoe o material pictórico permite uma ampliação ou redimensionamento <strong>de</strong>sentidos. E, por fim, com relação à intercalação genérica no gêneropesquisado, constatamos a intercalação do gênero entrevista face a face, daesfera jornalística. Essa intercalação ocorre <strong>de</strong> maneira implícita; é como sefosse um “vestígio” da interação face a face que se “aporta” no gênero emestudo.47


POLIFONIA E AVALIAÇÃO EM NOTÍCIAS DE POPULARIZAÇÃODA CIÊNCIAPatrícia Marcuzzo (UFSM)Désirée Motta-Roth (UFSM)Este trabalho é parte <strong>de</strong> um projeto guarda-chuva, intitulado Análise crítica<strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> artigos <strong>de</strong> popularização da ciência (PQ/CNPq nº.301962/2007-3), <strong>de</strong>senvolvido no LABLER/UFSM, cujo objetivo éinvestigar diferentes aspectos do processo <strong>de</strong> popularização científica, comenfoque no gênero discursivo notícia <strong>de</strong> popularização científica. O objetivomais amplo <strong>de</strong>sse projeto é propor uma sistematização dos procedimentosanalíticos no estudo <strong>de</strong> gêneros discursivos escritos a fim <strong>de</strong> subsidiar oensino <strong>de</strong> leitura e redação em inglês como língua estrangeira e redação emlíngua materna. Nesta comunicação, enfocamos a polifonia, já que aliteratura (Oliveira e Pagano, 2006) e a análise prévia do corpus indicam seresse um traço discursivo característico do gênero. O corpus é composto por20 notícias <strong>de</strong> popularização da ciência, publicadas entre 2004 e 2008, emdois sites: BBC News International e Scientific American. A análise dostextos foi realizada a partir da ótica sistêmico-funcional (Halliday, 2004).Nesta comunicação, serão apresentados resultados relativos às estratégias <strong>de</strong>polifonia utilizadas nos textos do corpus, mais especificamente, em relação àpolifonia manifestada lingüisticamente nesses textos e à função <strong>de</strong> diferentesvozes na construção do sentido da notícia e na avaliação das pesquisasreportadas.O GÊNERO JORNALÍSTICO NOTÍCIA – DIALOGISMO,DISCURSIVIDADE E VALORAÇÃORodrigo Acosta Pereira (UFSC)Pesquisas contemporâneas em Lingüística Aplicada (LA) têm buscadocompreen<strong>de</strong>r a intrínseca relação entre linguagem e socieda<strong>de</strong>, apresentando,<strong>de</strong>ntre diversos percursos e abordagens, estudos direcionados à investigaçãoda constituição e do funcionamento dos gêneros do discurso nas variadasinterações sociais. Sob essa perspectiva, a presente pesquisa inserida noâmbito da LA transdisciplinar, busca (a) apresentar discussões acerca dosgêneros do discurso com base no Círculo <strong>de</strong> Bakhtin; (b) localizar o gêneronotícia na esfera sociodiscursiva do jornalismo impresso, buscando apontarposições teórico-metodológicas so<strong>br</strong>e esse gênero com base na Teoria doJornalismo (TJ) e na Análise Dialógica <strong>de</strong> Discurso (ADD) <strong>de</strong> Bakhtin; (c)explorar as projeções estilístico-composicionais do gênero notícia,entrecruzando a TJ e a ADD, visando a uma posição transdisciplinar <strong>de</strong>estudo e (d) investigar as relações dialógicas que engendram o gêneronotícia e sua socioconstituição e funcionamento na esfera do jornalismo.Foram selecionados 20 enunciados <strong>de</strong> notícias retiradas dos jornais O Estado<strong>de</strong> S. Paulo, Diário Catarinense, Zero Hora e Correio do Povo no períododo dia 13 a 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2007. Para análise, a pesquisa baseia-se na48


metodologia sociológica <strong>de</strong> análise da linguagem proposta pelo Círculo <strong>de</strong>Bakhtin e revisitada por Brait (2007), Rodrigues (2001) e Rojo (2005, 2007).A pesquisa apresenta-se relevante, à medida que contribui para discussõesem TJ e para a consolidação <strong>de</strong> uma Teoria Sociodialógica <strong>de</strong> Gêneros doDiscurso frente às <strong>de</strong>mais abordagens em LA (sociossemiótica, socioretórica,interacionista-sociodiscursiva, semiodiscursiva e sociocognitivista).USOS DE TU E VOCÊ EM JORNAIS DO INÍCIO DO SÉCULO XX:UM ESTUDO CLASSIFICATÓRIO DOS GÊNEROS TEXTUAISSa<strong>br</strong>ina Rodrigues Garcia Balsalo<strong>br</strong>e (UNESP/CNPq, Araraquara)Juliana Bertucci Barbosa (UNESP/CNPq, Araraquara)Nesta pesquisa – ligada ao projeto “Para a História do Português Paulista”(PHPP), sub-projeto “Mudança gramatical no português <strong>de</strong> São Paulo” –partimos do pressuposto <strong>de</strong> que a língua não é uma realida<strong>de</strong> estática, queperdura <strong>de</strong> maneira imutável ao longo do tempo; a língua é o resultado <strong>de</strong>variações e/ou mudanças lingüísticas (WEINREICH, LABOV, HERZOG,1968; LABOV,1972, 1982, 1994). A partir <strong>de</strong>ssa perspectiva e da proposta<strong>de</strong> Bonini (2001; 2003) – que consi<strong>de</strong>ra o jornal como um suporte paraoutros gêneros textuais –, refletimos so<strong>br</strong>e o uso do jornal como corpus parapesquisas sociolingüísticas. Levantamos algumas discussões so<strong>br</strong>e ascaracterísticas do gênero jornalístico no início do século XX, estabelecendoparalelos entre essas características e a realida<strong>de</strong> lingüística <strong>de</strong>sse mesmoperíodo. Além disso, por terem sido <strong>de</strong>tectadas alterações nos resultadoslingüísticos, segundo o jornal e o gênero textual em análise, fez-senecessário analisar os jornais, levando em consi<strong>de</strong>ração as suascaracterísticas internas, para que assim, pudéssemos chegar à resultados“mais confiáveis”. Com a intenção <strong>de</strong> ilustrar a proposta <strong>de</strong>ste trabalho – aelaboração <strong>de</strong> pesquisa lingüística em alguns jornais do início do século XXa partir do levantamento <strong>de</strong> seus respectivos gêneros textuais – investigamoso uso dos pronomes tu e você em diferentes seções do jornal. Para isso,analisamos amostras <strong>de</strong> jornais do início do século XX: O Kosmos e OAlfinete, que tinham por objetivo divulgar a comunida<strong>de</strong> negra, do períodopós-abolição, com fins <strong>de</strong> inserção social; e os jornais do município <strong>de</strong>Araraquara, interior <strong>de</strong> São Paulo – O Araraquarense, O Jornal doCommercio <strong>de</strong> Araraquara – <strong>de</strong>dicados a noticiar (e a influenciar) fatosimportantes, principalmente, os relacionados à política. Para a realização<strong>de</strong>sse estudo, propomos o levantamento dos gêneros contidos nesses jornais,classificando-os em central e periférico, <strong>de</strong> acordo com a nomenclatura <strong>de</strong>Bonini (2003) para o estudo do hipergênero jornalístico. O resultado <strong>de</strong>sselevantamento apontou para a necessida<strong>de</strong> da realização <strong>de</strong> uma tabelaclassificatória para cada jornal específico, respeitando a natureza interna eseus fatores histórico-sociais. Os resultados obtidos indicam, por exemplo,uma maior ocorrência <strong>de</strong> tu e você em jornais da Imprensa Negra, por haverum número maior <strong>de</strong> gêneros textuais que prevêem situações <strong>de</strong> interlocução,ou seja, situações em que o autor do texto se dirige diretamente aos leitores.49


Além disso, verificou-se que em um mesmo jornal há gêneros que propiciama ocorrência <strong>de</strong> tu e outros <strong>de</strong> você, <strong>de</strong> acordo com o público alvo <strong>de</strong> cadajornal.POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA: UMA VISÃO PANORÂMICA DODIÁRIO DE SANTA MARIATânia Maria Moreira (UFSM)Désirée Motta-Roth (UFSM)Este trabalho, vinculado ao projeto “Análise crítica <strong>de</strong> gêneros com foco emartigos <strong>de</strong> popularização da ciência”, em <strong>de</strong>senvolvimento no GRPesq/CNPq“Linguagem como prática social” do LABLER/UFSM, tem como objetivoinvestigar com que recorrência um jornal local <strong>de</strong> Santa Maria, RS, divulgatextos <strong>de</strong> popularização da ciência e como esses textos se configuramretoricamente. Gêneros <strong>de</strong> popularização da ciência po<strong>de</strong>m ser interpretadoscomo uma versão re-elaborada e relativamente simplificada dos resultados<strong>de</strong> pesquisas publicadas no formato <strong>de</strong> artigo acadêmico (Pagano, 2001).Foram selecionadas 48 edições <strong>de</strong> 2007, do jornal Diário <strong>de</strong> Santa Maria,para análise da <strong>org</strong>anização retórica em movimentos e passos (Swales, 1990),a partir <strong>de</strong> uma adaptação do mo<strong>de</strong>lo proposto por Nwogu (1990; 1991) parao gênero notícia <strong>de</strong> popularização da ciência. A análise preliminar indicauma <strong>org</strong>anização retórica diferente do mo<strong>de</strong>lo proposto por Nwogu, o quepo<strong>de</strong> sinalizar que a popularização científica em questão não se refere a umapesquisa propriamente dita, mas ao conhecimento científico mais amplo, <strong>de</strong>um campo <strong>de</strong> estudos ou uma área do saber.O GÊNERO CARTA DO LEITOR: ANÁLISE DE EXEMPLARESPUBLICADOS NO JORNAL FOLHA DE S. PAULOZulmar Teresinha Barbosa Corrêa (UNISUL)Esta pesquisa tem como objeto <strong>de</strong> estudo o gênero textual carta do leitor.Pelo fato <strong>de</strong> existir muitas variações <strong>de</strong>sse gênero distribuídas em váriasseções do jornal, <strong>de</strong> modo geral, nessa pesquisa ele é entendido como umsubgênero da carta ao editor. A carta do leitor é um dos espaços que o jornala<strong>br</strong>e à sua audiência para feedbacks <strong>de</strong> diversas naturezas. O estudo da cartado leitor, aqui realizado, tem como diretriz teórica os trabalhos<strong>de</strong>senvolvidos <strong>de</strong>ntro do campo da sócio-retórica, mais especificamente os<strong>de</strong> Swales (1990) e Bazerman (2005). O corpus da pesquisa compõe-se <strong>de</strong>: i)exemplares do gênero retirados do jornal a Folha <strong>de</strong> S. Paulo no período <strong>de</strong>21 a 27 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2007; e ii) cartas originais do leitor (pré-edição) enviadasvia e-mail pelo editor responsável pela seção <strong>de</strong> cartas do leitor nesse jornal.Com a realização <strong>de</strong>sta pesquisa buscou-se atingir os seguintes objetivos: a)levantar a <strong>org</strong>anização retórica do gênero carta do leitor; e b) <strong>de</strong>terminaraspectos da edição das cartas como parte do processo <strong>de</strong> textualização dogênero. Além <strong>de</strong> contribuir com o estudo dos gêneros jornalísticos, a50


pesquisa, através <strong>de</strong> seus resultados, tem a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> auxiliar epromover o ensino <strong>de</strong> produção textual nas escolas.GT2 Evidências fonéticas e elaboração <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los fonológicosCoor<strong>de</strong>nadoresA<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Hercília Pescatori Silva (UFPR)Eleonora Cavalcante Albano (UNICAMP)EVIDÊNCIAS PARA A ADOÇÃO DE PRIMITIVOS DOTADOS DETEMPO INTRÍNSECO: OS RÓTICOSA<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> H.P. Silva (LEFON/UFPR)A caracterização acústica dos róticos do português <strong>br</strong>asileiro (Silva 1996;Silva, 2002; Nishida, 2005; Clemente, 2005; Ferraz, 2005; Silva, Clemente& Nishida, 2006) tem mostrado, consistentemente, que a alofonia <strong>de</strong>variação livre, como rotulada pela literatura fonológica, não é tão livre comoparece à primeira vista: os estudos citados evi<strong>de</strong>nciam que a realização dorótico, tanto em início como em final <strong>de</strong> palavra, não é aleatória, mascondicionada por fatos prosódicos ou pela natureza <strong>de</strong> um segmentoadjacente, como os segmentos vocálicos. Os estudos mostram, também, quea variação exibida pelos róticos não consiste tão somente na produção <strong>de</strong>uma variante ou outra, isto é, ora <strong>de</strong> uma vi<strong>br</strong>ante, ora <strong>de</strong> uma fricativa:assim, por exemplo, Silva (2002) observa a existência <strong>de</strong> um contínuo físicopara róticos iniciais <strong>de</strong> palavras, fato que vem se mostrando também para osróticos <strong>de</strong> final <strong>de</strong> palavra, segundo estudos recentes <strong>de</strong> Clemente (2007). Aalofonia gradiente exibida pelos róticos <strong>de</strong> início e final <strong>de</strong> palavra colocaum problema para a literatura fonológica tradicional, em especial <strong>de</strong>vido aofato <strong>de</strong> que tal alofonia é condicionada, nos dois casos específicos, pelaestrutura prosódica do enunciado on<strong>de</strong> os róticos se inserem. O problemaestá na maneira <strong>de</strong> se representar tais fatos na gramática da língua. Istoporque os mo<strong>de</strong>los fonológicos tradicionalmente tomam como primitivosunida<strong>de</strong>s dotadas <strong>de</strong> tempo extrínseco, i.e., unida<strong>de</strong>s em que o tempo é umavariável externa à sua própria estrutura. Portanto, ainda que se tente umtratamento via traços distintivos, por exemplo, é impossível captar agradiência envolvida na produção dos segmentos mencionados.Argumenta-se, então, neste trabalho, que os róticos constituem uma forteevidência empírica para se adotar mo<strong>de</strong>los que tomam primitivos dotados <strong>de</strong>tempo intrínseco para a sua representação: a incorporação da variável tempoà estrutura dos primitivos <strong>de</strong> análise, aliás, é um fato para o qual a literaturaatenta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da década <strong>de</strong> 90 (vi<strong>de</strong>, e.g., Fowler, 1980). Nestesentido, propõe-se que os róticos sejam representados à luz <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lodinâmico <strong>de</strong> produção da fala, como a Fonologia Gestual (Browman &Goldstein, 1992): mostrar-se-á que, neste caso, é possível dar conta daalofonia gradiente verificada.51


O GESTO DA NASALIDADE VOCÁLICA EM PB: BORDAS EALTURASBeatriz Raposo <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros (USP)Através <strong>de</strong> inspeção visual acústica, em Me<strong>de</strong>iros (a sair) propôs-se que avogal nasal do Português Brasileiro (doravante, PB) teria um murmúrionasal diante <strong>de</strong> consoante oclusiva, mas não diante <strong>de</strong> uma fricativa. Aoaprofundar esta questão, valendo-se <strong>de</strong> medidas aerodinâmicas, Me<strong>de</strong>iros etal (2008) tiveram <strong>de</strong> lançar uma hipótese alternativa para a problemática davogal nasal antes <strong>de</strong> fricativa e encontraram - com auxílio <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong>duração – o seguinte: (1) o apêndice nasal (não mais murmúrio nasal oumurmúrio vocálico, já que estes termos são mais a<strong>de</strong>quados aos fenômenos<strong>de</strong> consoante nasal e murmúrio vocálico <strong>de</strong> vogal oral, respectivamente)inicia-se quando do fechamento dos lábios, o que é facilmente <strong>de</strong>tectável viadados aerodinâmicos quando o contexto à direita é uma consoante oclusiva.(2) quando o contexto à direita é uma fricativa, o apêndice nasal estápresente, porém há poucas evidências (nem oclusão, nem perda sistemática<strong>de</strong> energia no espectro), o que po<strong>de</strong> se inferir pela comparação da duração daseqüência vogal nasal + oclusiva com a seqüência vogal nasal + fricativa.Também em Me<strong>de</strong>iros (a sair), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u-se que a porção inicial da vogal énasal, uma vez que o espectro dos primeiros pulsos já é característico davogal nasal, o que se evi<strong>de</strong>nciou mais robustamente para a vogal nasal baixa.Clumeck (1976), <strong>de</strong>monstrou o que chamou <strong>de</strong> heavy nasalization dasvogais do PB, so<strong>br</strong>etudo junto à vogal baixa, medindo a duração da vogalem relação à duração da nasalida<strong>de</strong> e também verificou que há diferença <strong>de</strong>abaixamento do véu segundo a altura da vogal. Tais achados nos fizerampensar que a vogal baixa seria a vogal “mais nasal” entre as vogais nasais doPB, havendo sincronia no abaixamento do véu e posicionamento da língua,este último, o gesto responsável pela qualida<strong>de</strong> vocálica.No entanto, investigando-se o comportamento aerodinâmico da vogalanterior alta nasalizada e da vogal baixa nasalizada, em contextos [p], [k] enulo, à esquerda, viu-se que são diferentes tanto quanto ao fluxo <strong>de</strong> ar nasal(FAN; vogal anterior alta nasalizada > vogal baixa nasalizada) como aomomento do início do mesmo (Me<strong>de</strong>iros et al, estudo em preparo). Pareceque o contexto à esquerda possa ter alguma influência na <strong>de</strong>mora do FANpara a vogal baixa, que se nasaliza tardiamente se comparada à vogal alta.Tanto os dados menos recentes (Clumeck, 1976), como os dados maisrecentes (Me<strong>de</strong>iros et al, 2008 e em preparo) em torno da vogal nasal,apresentam <strong>de</strong>safios para sua explicação. Propomos discutir os ajustesarticulatórios envolvidos na produção da vogal nasal no PB, tomando ogesto como primitivo fonológico (Fonologia Articulatória), pois este fornecea elasticida<strong>de</strong> necessária para representá-la, uma vez que trata-se <strong>de</strong> gestoaltamente sensível à altura vocálica e contextos adjacentes.52


A TRANSFERÊNCIA FONÉTICO-FONOLÓGICA L2 (FRANCÊS) –L3 (INGLÊS): UM ESTUDO DE CASOCintia Avila Blank (UCPel)Márcia C. Zimmer (UCPel)Ao observar o foco dos estudos em aquisição <strong>de</strong> língua estrangeira, não éraro encontrar trabalhos so<strong>br</strong>e as relações entre a língua materna (L1) e alíngua estrangeira (L2). Contudo, investigações acerca <strong>de</strong> como oconhecimento das línguas previamente aprendidas (tanto a L1 como a L2)po<strong>de</strong>m influenciar a aquisição <strong>de</strong> uma terceira língua (L3) ainda são escassas.Essa lacuna motivou um estudo <strong>de</strong> caso so<strong>br</strong>e a transferência fonéticofonológicaem que se investigou se a assimilação vocálica na L3 (inglês)ocorreria em direção às características vocálicas (F1, F2 e duração) da L1(português) ou da L2 (francês) do participante. A assimilação vocálicainvestigada nesta pesquisa trata-se <strong>de</strong> um tipo <strong>de</strong> assimilação doconhecimento fonético-fonológico que po<strong>de</strong> ocorrer tanto em relação acaracterísticas espectrais (mudança na qualida<strong>de</strong> vocálica) quanto em relaçãoa características ligadas ao tempo <strong>de</strong> duração das vogais. Os dados utilizadosnesta pesquisa, obtidos através <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> leitura oral nas três línguasfaladas pelo sujeito, foram analisados acusticamente com o programa Praat.Discutidos a partir <strong>de</strong> um referencial conexionista, os resultados da análiseacústica apontam para a criação, nas vogais da L3, <strong>de</strong> categorias fonéticashí<strong>br</strong>idas entre a L1 e a L2. Dessa forma, as vogais produzidas na L3 dosujeito apresentaram características que podiam ser encontradas tanto nasvogais da sua L1 quanto nas da sua L2, evi<strong>de</strong>nciando a formação <strong>de</strong>categorias intermediárias entre essas duas línguas para a produção em L3.FREQÜÊNCIA DE CO-OCORRÊNCIA CV EM ESPANHOL EPORTUGUÊS: PISTAS PARA A NATUREZA GESTUAL DASUNIDADES FÔNICAS LEXICAISEleonora C. ALBANO (Lafape/Unicamp)Os vieses <strong>de</strong> co-ocorrência CV já foram objeto <strong>de</strong> investigação em váriaslínguas (Maddieson e Precoda 1992). Reporta-se em geral um padrão <strong>de</strong>preferência pela manutenção do ponto <strong>de</strong> constrição nos pares <strong>de</strong> consoante<strong>de</strong> ataque e vogal nuclear. Assim, têm-se repetidamente freqüências relativasacima do aleatório em pares <strong>de</strong>: (1) consoantes coronais e vogais anteriores;(2) consoantes velares e vogais posteriores; e (3) consoantes labiais e vogaiscentrais. Não obstante as exceções, essa regra tem sido consi<strong>de</strong>radacandidata a universal probabilístico. Recentemente a discussão foi retomadano contexto da polêmica so<strong>br</strong>e as bases biológicas da linguagem oral.MacNeilage e Davis (2000) replicaram o achado para um número razoável<strong>de</strong> línguas e o relacionaram a outro – seu – concernente à aquisição dalinguagem, a saber: preferências análogas são encontráveis, na aquisição <strong>de</strong>muitas línguas, durante as fases do balbucio e das primeiras palavras,ten<strong>de</strong>ndo, <strong>de</strong>pois, a <strong>de</strong>saparecer. Segundo os autores, o <strong>de</strong>saparecimento53


eflete a expansão do vocabulário e ocorre apenas em corporaconversacionais, não em léxicos, on<strong>de</strong> os vieses permanecem. Afirmam,assim, que tais vieses refletem tendências biomecânicas filogenéticas queteriam <strong>de</strong>terminado a seleção da oralida<strong>de</strong> enquanto canal privilegiado paraa linguagem natural humana. Desse modo, a fala emergiria, filogenética eontogeneticamente, por auto-<strong>org</strong>anização, a partir <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s tais como a<strong>de</strong>glutição e a mastigação e seus efeitos auditivos. Outra maneira <strong>de</strong> ver aeconomia biomecânica em questão é supor que, no ambiente humano, ela ésempre usada em favor da comunicação, sem prejuízo das <strong>de</strong>mais funções.Se o ambiente interpreta as ações vocais do bebê, assim como todas asoutras, como comunicativas, é porque não as vê como marcas inalienáveisda natureza e, sim, como matéria significante para a cultura. Por essa novalógica, a suposta inércia biomecânica não se manifestaria uniformementenos léxicos, mas estaria sujeita a restrições relacionadas à cargainformacional que a língua distribui entre as posições vocabulares. O acentolexical, por exemplo, seria um fator relevante em línguas em que é distintivo.Estudos minuciosos <strong>de</strong> vários léxicos falados e escritos do português e doespanhol corroboram essa previsão. A co-ocorrência CV <strong>de</strong> basesupostamente inercial é estável entre diferentes amostras do léxico <strong>de</strong> ambasas línguas, mas a força da associação C-V só se torna estatisticamenteimportante em posição inicial absoluta átona, ou seja, on<strong>de</strong> praticamente nãoconcorre com qualquer outro fator – prosódico ou gramatical – que contribuapara tornar a palavra previsível e facilitar o acesso lexical. Sob acento e emposições freqüentadas pela morfologia flexional ou <strong>de</strong>rivacional, astendências “naturais” ten<strong>de</strong>m a retroce<strong>de</strong>r ou – mais interessante – a sercontrariadas. Com efeito, ambas as línguas apresentam nessas posiçõesefeitos probabilísticos <strong>de</strong> dissimilação (OCP) entre C e V. Pontos <strong>de</strong> vista<strong>org</strong>anicistas como o <strong>de</strong> MacNeilage e Davis são incapazes <strong>de</strong> racionalizar ofino jogo entre a semelhança e o contraste encenado por qualquer fonologia.Já a Fonologia Gestual aponta confiante para esse horizonte ao subordinar alinguagem oral à lógica da ação comunicativa humana. Nesse afã, faz-senecessário lidar com graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> maiores do que os <strong>de</strong> qualquerperspectiva inatista e/ou reducionista – mas esse é o preço a pagar pelointento <strong>de</strong> adicionar mais conteúdo empírico à teoria. Este trabalho reportaalgumas tentativas <strong>de</strong> reduzir tais graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> por meio <strong>de</strong> estudosestatísticos fônicos. São usadas cinco bases <strong>de</strong> dados das línguasmencionadas, fonetizadas via Albano e Moreira (1996), <strong>de</strong> tamanho maiorou igual a 20.000 palavras. As freqüências <strong>de</strong> co-ocorrência CV sãolevantadas por posição e tratadas através da técnica estatística nãoparamétricada análise <strong>de</strong> correspondência (Benzécri 1980). O tamanho dosefeitos obtidos é avaliado e hierarquizado através do índice <strong>de</strong> Cramer.Po<strong>de</strong>-se especular que a concordância C-V “inercial” é um dos <strong>de</strong>faultsuniversais da coor<strong>de</strong>nação articulatória a comandar a redundância lexical.Por isso ten<strong>de</strong>ria a ce<strong>de</strong>r a vez a fatores mais marcadamente lingüísticos emposições <strong>de</strong> alta carga informacional.54


RETROFLEXÃO GRADIENTE EM DADOS DO PBFelipe Costa Clemente (UFPR)O estudo <strong>de</strong> Sproat e Fujimura (1993), so<strong>br</strong>e as variantes <strong>de</strong> /l/ do inglêsnorte-americano, aponta existência <strong>de</strong> alofonias gradientes na produção dalateral. Ou seja, os autores verificam, através <strong>de</strong> dados acústicos earticulatórios, que não existe uma variante alveolar e outra velarizada, comorelatava a literatura fonético-fonológica até então; ao contrário, notam aexistência <strong>de</strong> uma variação alofônica que se esten<strong>de</strong> ao longo <strong>de</strong> umcontínuo físico e que permite observar variantes ten<strong>de</strong>ndo à alveolar e outrasten<strong>de</strong>ndo à velarizada, sendo tal tendência <strong>de</strong>terminada pela força <strong>de</strong>fronteira adjacente à lateral, <strong>de</strong> modo que, quanto mais forte a fronteira, maisa lateral ten<strong>de</strong> a velarizada e, quanto mais fraca a fronteira, mais a lateralten<strong>de</strong> a alveolar. Como laterais e róticos exibem gran<strong>de</strong> semelhança –atestada, e.g., por fatos sincrônicos e diacrônicos <strong>de</strong> lambdacismo erotacismo em diversas línguas, o que faz com que a literatura fonológica <strong>de</strong>inspiração gerativista abarque todos esses segmentos numa mesma classe –levantou-se a hipótese <strong>de</strong> que também os róticos <strong>de</strong> final <strong>de</strong> palavra possamexibir retroflexão gradiente. Cabe frisar que, assim como a velarização dalateral, também a retroflexão do rótico parece requerer um tempo maior <strong>de</strong>ativação do gesto <strong>de</strong> dorso <strong>de</strong> língua relativamente ao <strong>de</strong> ponta, o que seobserva pelo aspecto visual contínuo da retroflexa comparativamente aoaspecto visual <strong>de</strong>scontínuo do tap, a variante <strong>de</strong> /r/ produzida pela ação <strong>de</strong>movimento <strong>de</strong> ponta <strong>de</strong> língua. Assim, preten<strong>de</strong>mos testar a hipótese acimainvestigando dados <strong>de</strong> um dialeto on<strong>de</strong> os informantes alternam tap eretroflexo em coda – o dialeto curitibano. Para tanto, foi elaborado umexperimento em que se manipula a força <strong>de</strong> fronteira seguinte ao rótico, <strong>de</strong>modo a gerar sentenças que constituem um par mínimo prosódico: numa dassentenças, o rótico prece<strong>de</strong> fronteira <strong>de</strong> vocativo – fronteira forte, portanto –e, na outra, o rótico prece<strong>de</strong> a fronteira – fraca – entre o NP e o VP <strong>de</strong> umasentença. Assim, o corpus contém pares <strong>de</strong> sentenças como: “Almir, apaga alousa” e “Almir apaga a lousa.” A análise acústica dos dados <strong>de</strong> umainformante, realizada com o auxílio do software Praat, parece confirmarnossa hipótese, <strong>de</strong> modo que variantes ten<strong>de</strong>ndo a retroflexo são observadasdiante <strong>de</strong> fronteira forte e variantes ten<strong>de</strong>ndo a tap ocorrem diante <strong>de</strong>fronteira fraca. Como esta é uma primeira análise, novos dados serãocolhidos e analisados com o intuito <strong>de</strong> verificar se a relação ali observada semantém.INCORPORAÇÃO DE DETALHE FONÉTICO NAREPRESENTAÇÃO DO TAP E JOGOS DE CODIFICAÇÃO DELINGUAGEMGustavo Nishida (UFPR)Estudos so<strong>br</strong>e os róticos do Português Brasileiro (PB) mostram que aestrutura formântica do elemento vocálico que acompanha o tap varia <strong>de</strong>55


acordo com a posição em que se encontra na sílaba. Isto é, quando em coda,o elemento vocálico à sua direita tem estrutura formântica ten<strong>de</strong>ndo a vogalcentraliza (cf. Clemente 2005) e, quando em grupos, o elemento vocálicoparece ser a própria vogal do núcleo silábico sendo entrecortada pelo tapapós alguns milissegundos (cf. Nishida 2005). Assim, tendo em vista essascaracterísticas acústicas do tap específicas <strong>de</strong> língua, faz-se necessárioenten<strong>de</strong>r como se <strong>org</strong>anizam os gestos articulatórios envolvidos na suaprodução. Silva, Clemente & Nishida (2006) argumentam que somente ummo<strong>de</strong>lo que leve em conta primitivos <strong>de</strong> análise dotados <strong>de</strong> tempo intrínseco(como a Fonologia Articulatória, Browman & Goldstein 1992) conseguerepresentar satisfatoriamente os fatos referentes à produção do tap. Noentanto, para o PB, a única representação dinâmica para o tap intervocálicoencontra-se em Silva (2002) que, ainda, não contemplava as característicasespecíficas da produção do elemento vocálico. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho éconseguir dados referentes à produção do tap do PB buscando incorporar o<strong>de</strong>talhe fonético em sua representação. Para tanto, serão utilizados jogos <strong>de</strong>codificação <strong>de</strong> linguagem. Faz-se necessário o uso <strong>de</strong> jogos pois: 1) épossível ter controle so<strong>br</strong>e a produção dos informantes; 2) há maneiras <strong>de</strong>elicitar a produção do elemento vocálico <strong>de</strong> modo natural; 3) é difícil oacesso à informantes que realizam o tap em início <strong>de</strong> palavra. O experimentopossui duas fases: 1) treinamento/aprendizagem do jogo inventado, no qualos informantes o apren<strong>de</strong>m a partir <strong>de</strong> instruções previamente gravadas; 2) egravação das respostas dos informantes. O jogo consistia em produzir umaversão reduzida da palavra. Uma palavra como “barata”, seria codificadacomo “rata”. No treinamento/aprendizagem, os informantes eram corrigidoscaso fossem enviesados pela ortografia, pois em palavras como “casaco” ou“marido” a codificação correta seria com a fricativa alveolar sonora (“zaco”)e com o tap em início <strong>de</strong> palavra, respectivamente. A codificação erradaseria com a fricativa alveolar surda no primeiro caso e com a fricativaaspirada no segundo. Assim, foram selecionados trissílabos paroxítonos paraque fossem produzidos dissílabos paroxítonos na codificação. Os dadosforam submetidos à análise espectrográfica e em seguida quantificados. Osprimeiros resultados (tal como os <strong>de</strong> Nishida 2005) têm corroborado ahipótese <strong>de</strong> o tap entrecorta a vogal <strong>de</strong> núcleo silábico após algunsmilissegundos.O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DAS NASAISINGLESAS EM FINAL DE SÍLABA POR APRENDIZESBRASILEIROS.Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES)Rosana Denise Koerich (UFSC)A produção das nasais bilabial e alveolar em posição final <strong>de</strong> sílaba (coda)difere entre o português <strong>br</strong>asileiro (PB) e o inglês. Enquanto em inglês elassão articulatória e auditivamente distintas, em PB as nasais não são56


pronunciadas. A vogal anterior recebe o traço nasal <strong>de</strong> modo que, via <strong>de</strong>regra, não há distinção. O presente estudo objetivou investigar a utilização,por <strong>br</strong>asileiros aprendizes <strong>de</strong> inglês, <strong>de</strong> informações fonéticas contidas empistas visuais na percepção das consoantes nasais /m/ e /n/ do inglês emposição <strong>de</strong> coda. Os dados foram coletados com <strong>de</strong>z alunos do nívelintermediário do Curso Extracurricular <strong>de</strong> Inglês da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Santa Catarina (UFSC). A percepção foi aferida através <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação no qual as consoantes nasais foram apresentadas em posiçãofinal <strong>de</strong> sílaba em três condições diferentes: (a) apenas áudio, no qual osparticipantes somente ouviram palavras e foram solicitados a i<strong>de</strong>ntificar anasal produzida; (b) apenas ví<strong>de</strong>o, no qual os participantes tiveram acesso aoestímulo visual, exclusivamente, e foram solicitados a i<strong>de</strong>ntificar a nasalproduzida, e (c) áudio e ví<strong>de</strong>o, no qual os participantes tiveram acesso aosdois tipos <strong>de</strong> estímulo e foram solicitados a i<strong>de</strong>ntificar a nasal produzida.Quanto ao contexto fonológico antece<strong>de</strong>ndo as nasais-alvo, as vogaisanteriores alta, média e baixa foram selecionadas por apresentarem maiorpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pares mínimos do que as <strong>de</strong>mais vogais. Os resultadoscorroboraram a hipótese que a combinação dos dois tipos <strong>de</strong> pistas –acústicas e visuais – favoreceria a i<strong>de</strong>ntificação das nasais inglesas emposição final <strong>de</strong> sílaba, <strong>de</strong>monstrando que os participantes tiveram melhor<strong>de</strong>sempenho nas condições ví<strong>de</strong>o e áudio e apenas ví<strong>de</strong>o, que na condiçãoapenas áudio. Em relação ao contexto fonológico, os resultados indicaramque a vogal anterior baixa parece favorecer a i<strong>de</strong>ntificação das nasais /m/ e/n/ em posição final <strong>de</strong> sílaba, enquanto a vogal alta parece <strong>de</strong>sfavorecer tali<strong>de</strong>ntificação.ANÁLISE DO CONTRASTE FÔNICO ENTRE OCLUSIVASALVEOLAR E VELAR À LUZ DE UM MODELO DINÂMICO NOCHAMADO DESVIO FONOLÓGICOLarissa Cristina Berti (UNESP, Marília)Viviane Cristina <strong>de</strong> Castro Marino (UNESP, Marília)Na Fonoaudiologia, comumente classificam-se crianças com problemas <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> fala como tendo alteração fonética ou fonológica, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndoda etiologia apresentada por esses indivíduos. Os problemas fonéticos sãocaracterizados como dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong>vido acomprometimentos das estruturas envolvidas na produção da fala. Já oschamados problemas fonológicos são caracterizados por dificulda<strong>de</strong>s noconhecimento dos segmentos fonéticos, das regras fonológicas ou namaneira em que se utiliza esse conhecimento, sem que os indivíduosapresentem qualquer etiologia <strong>org</strong>ânica. Observa-se, nesta área, a herançaadvinda da Lingüística (mais tradicional) no tocante à dissociação entre aFonética e a Fonologia, concebendo a fala em dois níveis distintos eincomensuráveis. No entanto, nos mo<strong>de</strong>los dinâmicos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fala,tal como a FAR e a FAAR, a fala não precisa ser entendida como tendo duasestruturas indissociáveis, uma física e outra cognitiva, em que a relação entre57


ambas geralmente é <strong>de</strong>scrita separadamente. Ao contrário, os mo<strong>de</strong>lossupracitados se propõem a tese da comensurabilida<strong>de</strong> entre essas duas áreas,a partir da adoção <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> dinâmica <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong>signada<strong>de</strong> gesto articulatório. À luz dos mo<strong>de</strong>los dinâmicos mencionados o presenteestudo procurou investigar, com auxílio <strong>de</strong> análise acústica, oestabelecimento <strong>de</strong> um contraste fonológico em um sujeito com o chamado<strong>de</strong>svio fonológico que apresenta posteriorização da oclusiva alveolar [t],realizando-a <strong>de</strong> forma semelhante, auditivamente, à oclusiva velar [k]. Ocorpus foi constituído por palavras dissílabas paroxítonas que combinavamas oclusivas com as vogais [i,a,u] na posição acentuada. A criança foigravada numa sala tratada acusticamente com equipamento <strong>de</strong> alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>.Utilizou-se para análise dos dados o software PRAAT e para análiseestatística o software STATISTICA. Os parâmetros acústicos adotados naanálise foram: duração; pico espectral; momentos espectrais e transiçãoformântica. O principal resultado foi a presença maciça <strong>de</strong> produçõesgradientes e contrastes encobertos entre as duas oclusivas investigadas,apreendidos pelos parâmetros <strong>de</strong> duração, pico espectral e transiçãoformântica. Isso significa dizer que a criança parece estar avançando emdireção ao domínio gradual dos parâmetros fonético-acústicos faltantes parao estabelecimento do contraste entre as oclusivas. Nesse processo <strong>de</strong>estabelecimento do contraste fônico a diferenciação, ajuste e coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong>gestos articulatórios <strong>de</strong>sempenham um papel fundamental. Adicionalmente,uma reinterpretação dos problemas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fala po<strong>de</strong>ria ser proposta,na medida em que tal problema não po<strong>de</strong>ria ser visto como alteraçõesrefletidas predominantemente no aspecto motor ou simbólico, mas emambos os domínios.PROCEDIMENTOS PARA AVALIAÇÃO INSTRUMENTAL DAPRONÚNCIA DO PORTUGUÊS BRASILEIRO POR CRIANÇAS DE5 A 7 ANOS DE IDADELarissa Rinaldi (PG-UNICAMP)Existem várias abordagens teóricas que po<strong>de</strong>m fundamentar a terapiafonoaudiológica para queixas <strong>de</strong> pronúncia em crianças. A abordagemarticulatória no sentido fisiológico reduz as questões <strong>de</strong> linguagem aperturbações musculares. A abordagem que versa so<strong>br</strong>e os <strong>de</strong>sviosfonológicos busca numa <strong>org</strong>anização não padrão a fonte das possíveisqueixas. Propõe-se neste trabalho a ótica trazida pela Fonologia Acústico-Articulatória, que leva em conta a gradiência dos processos fônicos e propõeo uso <strong>de</strong> Análise Acústica para revelar a dinâmica articulatória. Os estudos,na área, das crianças com dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pronúncia têm utilizado umacriança sem queixas como termo <strong>de</strong> comparação. Porém, a situação i<strong>de</strong>alseria ter dados <strong>de</strong> vários sujeitos coletados com base num corpus <strong>de</strong>referência. Para possibilitar a existência <strong>de</strong>sse corpus, elaborou-se umametodologia <strong>de</strong> coleta com bases lúdicas. A metodologia é baseada em uminstrumento <strong>de</strong>senvolvido pela pesquisadora. Desenvolveu-se um livro58


infantil, cuja estória foi baseada em 57 palavras alvo dissílabas paroxítonasque incluem sons fricativos, oclusivos, nasais e líquidos em contato com asvogais [a], [i] e [u], em posição inicial e medial. Em contraponto às palavrasda estória, elaboraram-se 57 logatomas, incluindo os mesmos sons da língua,que seriam utilizados também para a avaliação. Tal cuidado permite umacomparação entre dois contextos. Um contexto “balanceado” (que apresentatodos os sons da língua portuguesa em posição inicial e medial) e umcontexto controlado. Associados ao livrinho foram produzidos dois jogos <strong>de</strong>tabuleiro (<strong>de</strong> percurso) que geram a produção semi-espontânea das palavrasalvo em contexto <strong>de</strong> frase-veículo. O primeiro jogo utiliza palavras daprópria estória, seguindo no percurso do tabuleiro a mesma sequênciaapresentada no livrinho. Já o segundo utiliza apenas o tema central da estóriapara gerar o jogo, on<strong>de</strong> os logatomas passam a ser nomes <strong>de</strong> poções mágicas.A partir <strong>de</strong> tal material, coletaram-se dados <strong>de</strong> fala infantil <strong>de</strong> crianças semqueixas fonoaudiológicas e realizaram-se análises so<strong>br</strong>e essa fala, visandocaracterizar os sons fricativos, os oclusivos e as vogais. Os primeirosresultados indicam que a metodologia foi efetiva para coleta. O jogoassociado à estória apresenta dados mais facilmente análisáveis do que ojogo <strong>de</strong> contexto controlado, uma vez que no contexto controlado oslogatomas estão escritos nos rótulos das poções mágicas. Tal fato geradificulda<strong>de</strong>s, pois crianças <strong>de</strong>ssa faixa etária estão também iniciando oprocesso <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> escrita e diversas vezes tentam ler as palavras aoinvés <strong>de</strong> somente enunciá-las, apresentando pausas excessivas. Parecemindicar também uma maior variabilida<strong>de</strong> na produção das vogais comrelação à fala adulta. No caso da vogal [u] há uma maior variabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> F2.Espera-se <strong>de</strong>monstrar que a ótica dinâmica é capaz <strong>de</strong> refinar e renovar osprocedimentos <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> linguagem.ESTRATÉGIAS DE COMPENSAÇÃO NA COPRODUÇÃO V-VLaudino Roces Rodrigues (PG-UNICAMP)Em nossos estudos anteriores, apontamos que, nas relações <strong>de</strong> coproduçãoV_V, as vogais médias em posição pré-tônica assimilavam as configuraçõesformânticas das vogais em posição tônica. Os efeitos <strong>de</strong> assimilaçãoocorreram não só nas vogais médias pré-tônicas, mas também nas as vogais/i,a,u/.Tais assimilações na posição não acentuada são condizentes com osachados pioneiros <strong>de</strong> Fowler (1981) so<strong>br</strong>e a relação entre as posiçõesrelativas ao acento e sua maior ou menor resistência às influênciascoarticulatórias. Fowler sugeriu que a posição acentuada é a <strong>de</strong> maiorresistência. Além disso, estudos posteriores, principalmente os referentes àcoarticulação CV, (por exemplo, Farnetani 1997) também mostraram umamaior resistência da posição tônica à coarticulação. No entanto, os trabalhos<strong>de</strong> Magen (1997) sugeriram que não havia um padrão consistente <strong>de</strong>resistência coarticulatória relacionado com a posição acentual.Nossos trabalhos mostraram, por outro lado, que as influências <strong>de</strong>coprodução V-V ocorrem tanto nas pré-tônicas como nas tônicas. Isso nos59


levou a criticar a idéia <strong>de</strong> resistência coarticulatória clássica tendo em vistaa coprodução V-V. Classicamente, a resistência está sempre ligada à relaçãoCV ou VC, fazendo com que a relativa in<strong>de</strong>pendência V-V, característica dacoprodução, fique em segundo plano. Os testes realizados com as vogais/i,a,u/ apontaram para uma maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efeitos significativosquando essas vogais foram testadas em posição pré-tônica, em comparaçãocom os testes com as mesmas na posição tônica. Tal constatação está <strong>de</strong>acordo com a previsão <strong>de</strong> Fowler. No entanto, nossos achados tambémmostraram que o mesmo não vale para as vogais médias, pois essas, emposição tônica, sofreram efeitos tanto no sentido <strong>de</strong> assimilar a configuraçãoformântica da vogal prece<strong>de</strong>nte (F2), quanto no <strong>de</strong> dissimilar <strong>de</strong>ssaconfiguração formântica (F1). Outro achado importante são os indícios <strong>de</strong>que, na posição tônica, os valores <strong>de</strong> F1 das vogais médias são menores nosdados com foco, que apresentam durações maiores, do que nos dados semfoco, com durações menores. De acordo com a literatura, uma duração maiorteria, necessariamente, que ser acompanhada <strong>de</strong> uma subida no valor <strong>de</strong> F1(para o PB, ver Arnold 2005). Tal diminuição <strong>de</strong> F1 mostraria umacompensação tendo em vista o possível aumento <strong>de</strong> F1 em função da maiorduração <strong>de</strong>corrente do foco. De acordo com a Teoria da Perturbação, ummaior espaço faríngeo diminui F1, assim como um menor espaço o aumenta.Assim, uma posição mais alta da língua ten<strong>de</strong> a aumentar mecanicamente acavida<strong>de</strong> faríngea e diminuir F1. Por outro lado, a abertura da mandíbulaten<strong>de</strong> a diminuir mecanicamente a mesma cavida<strong>de</strong>, aumentando F1. Emnossos dados, uma relação entre a dissimilação formântica em V-V ediminuição <strong>de</strong> F1 em duração maiores, po<strong>de</strong>ria residir numa estratégia quevisasse restabelecer a qualida<strong>de</strong> da vogal apesar da abertura <strong>de</strong> mandíbulaassociada, seja à coprodução V_V, seja ao foco. Assim, em posições <strong>de</strong>proeminência, em que a vogal <strong>de</strong>ve manter-se distinta visando àinteligibilida<strong>de</strong>, a maior duração ou a coprodução dos segmentos po<strong>de</strong>riaprovocar a obliteração <strong>de</strong> algumas distinções. A retração da raiz da línguacompensaria esses efeitos nas vogais médias, que são relativamentepróximas entre si do ponto <strong>de</strong> vista acústico-auditivo. O corpusutilizado neste trabalho foi composto com dados <strong>de</strong> 6 falantes femininos doPB e dividido em 2 partes, <strong>de</strong> acordo com a presença <strong>de</strong> foco na não- palavra(pV 1 CV 2 ) utilizada. Foi utilizado o mo<strong>de</strong>lo estatístico GLM para medidasrepetidas, com cada sujeito constituindo uma unida<strong>de</strong> experimental, <strong>de</strong>acordo com o trabalho <strong>de</strong> Max & Onghena (1999).O PROCESSO DE AQUISIÇÃO DE SONS RÓTICOS PORCRIANÇAS COM QUEIXA FONOAUDIOLÓGICALuciana Lessa Rodrigues (PG - UNICAMP)O interesse no estudo da aquisição dos róticos por crianças com queixafonoaudiológica relacionada ao sistema fônico partiu, so<strong>br</strong>etudo, do fato <strong>de</strong>ser uma classe <strong>de</strong> sons <strong>de</strong> estabilização tardia, mesmo para crianças sem60


dificulda<strong>de</strong>s na aquisição <strong>de</strong>sse sistema. Nesse processo, as criançasapresentam tanto produções que correspon<strong>de</strong>m às categorias fônicas dalíngua quanto produções gradientes em relação a essas categorias. Namaioria das vezes, essas produções gradientes não são suficientementeaudíveis, fazendo com que uma avaliação apenas por meio <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>outiva seja ineficiente. Dessa forma, a utilização <strong>de</strong> análise instrumentaltorna-se fundamental para revelar diferenças entre duas produçõesaparentemente semelhantes via outiva. Face ao exposto, a proposta <strong>de</strong>steestudo foi avaliar o processo <strong>de</strong> aquisição dos róticos partindo <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lodinâmico <strong>de</strong> produção da fala, a Fonologia Acústico-Articulatória – FAAR(ALBANO, 2001). Esse mo<strong>de</strong>lo teórico prevê a ocorrência <strong>de</strong> fenômenosfônicos categóricos e gradientes, e, por essa razão, propõe a utilização <strong>de</strong>informação acústica para a análise <strong>de</strong>sses fenômenos. Foram analisadosdados <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> dois sujeitos – LF e MD – que apresentavam queixafonoaudiológica relacionada ao sistema fônico. LF omitia o tap em posição<strong>de</strong> ataque silábico simples, enquanto que MD semivocalizava esse som nessamesma posição silábica, além <strong>de</strong> semivocalizar a aproximante retroflexa(realização fonética preferencial do rótico em posição <strong>de</strong> coda no interior doestado <strong>de</strong> SP). Foram realizadas, durante cinco meses, gravações digitaislongitudinais da fala <strong>de</strong> LF e MD, com o objetivo <strong>de</strong> acompanhar o processo<strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong>sses sons por parte dos sujeitos. Os parâmetros acústicosutilizados na análise foram: (a) Duração; (b) Trajetória Formântica <strong>de</strong> F1, F2e F3; e (c) Medidas espectrais – tap. Os resultados das medidas dastrajetórias formânticas foram <strong>de</strong> extrema importância para resgatar,acusticamente, distinções fônicas em andamento ainda não perceptíveis viaoutiva, o que sugere que os sujeitos já realizavam constrições no trato vocalainda não suficientemente sinalizadas auditivamente. Dados referentes àduração mostraram que, em momentos <strong>de</strong> mudança do padrão <strong>de</strong> pronúncia,os sujeitos apresentaram maior variação (flutuação) em suas produções, oque permitiu concluir que, nesses momentos, a criança experencia diversastentativas/possibilida<strong>de</strong>s para a estabilização <strong>de</strong> um novo padrão, o quecaracteriza, portanto, a flutuação como um processo fundamental naestruturação e na formação <strong>de</strong> padrões do sistema fônico da criança. Quantoàs medidas espectrais do tap, foi encontrada uma gran<strong>de</strong> variação dosvalores entre os sujeitos. Entretanto, essas produções – distintas do ponto <strong>de</strong>vista acústico – eram sempre percebidas, auditivamente, como o tap. Osresultados obtidos trouxeram importantes contribuições para o entendimentodo processo <strong>de</strong> aquisição dos róticos, tais como: (a) a observação <strong>de</strong>contrastes encobertos nas produções <strong>de</strong> fala dos sujeitos; (b) a relevância daflutuação em momentos <strong>de</strong> reestruturação do sistema fônico; (c) o indício <strong>de</strong>que diferentes configurações articulatórias po<strong>de</strong>m gerar resultadosauditivamente semelhantes entre si, como se po<strong>de</strong> inferir a partir dosresultados encontrados nas medidas espectrais do tap; e (d) oreconhecimento <strong>de</strong> que os processos <strong>de</strong> percepção e produção <strong>de</strong> fala nãosão lineares, como revelam os resultados relacionados aos contrastesencobertos e às medidas espectrais do tap. Os achados <strong>de</strong>sse estudo foram61


possíveis <strong>de</strong>vido à metodologia e análise dos dados baseadas na FAAR, quepermitiram uma investigação <strong>de</strong> fenômenos fônicos tanto categóricos quantogradientes, resgatando, portanto, a natureza dinâmica do processo <strong>de</strong>aquisição dos róticos.REPRESENTAÇÕES DE TRAÇOS PARA AS CONSOANTESSOANTES EM VISTA DA OBSERVAÇÃO DOS FENÔMENOSFONOLÓGICOSLuciane Trennephol da Costa (UFPR)A representação dos traços <strong>de</strong> modo é controversa na teoria dos traçosfonológicos distintivos. Uma das abordagens possíveis é postular aexistência <strong>de</strong> um nó <strong>org</strong>anizador comum na estrutura interna dos segmentossoantes, o nó Spontaneous Voice (SV). Nessa abordagem, os traços nasal elateral são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>sse nó que une as consoantes nasais, laterais evi<strong>br</strong>antes; possibilitando justificar vários processos fonológicos do português<strong>br</strong>asileiro como o rotacismo e a assimilação <strong>de</strong> ponto das nasais em codasilábica. Neste trabalho, discutimos algumas questões residuais <strong>de</strong>stapropost,a como a localização dos traços <strong>de</strong> modo em laterais e vi<strong>br</strong>antes comespecificação <strong>de</strong> ponto e o valor do traço contínuo para as laterais. O valordo traço contínuo para as laterais é variável nas línguas e estudos, como o <strong>de</strong>Mielke (2005), <strong>de</strong>monstram que laterais e nasais são segmentosambivalentes, sons cujo padrão nas línguas é variável criando contradiçõespara a teoria os traços fonológicos distintivos. As soluções apontadas paraeste impasse, a mesma proprieda<strong>de</strong> fonética com diferentes representaçõesnas línguas, é o <strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>amento do traço contínuo conforme a região do tratovocal ou aceitar a emergência dos traços fonológicos. Quanto à localizaçãodos traços <strong>de</strong> modo, existem propostas que postulam a sua localizaçãovariável conforme o segmento, um mesmo traço fonológico localizadodiferentemente na hierarquia interna <strong>de</strong> traços <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do segmento. Areflexão so<strong>br</strong>e os traços controversos e a representação das consoantessoantes e líquidas a<strong>de</strong>quada aos fenômenos impõem a observação objetiva<strong>de</strong>sses com o aporte da tecnologia disponível <strong>de</strong> modo a examinar asproprieda<strong>de</strong>s fonéticas que são ou não realmente relevantes.REDISCUTINDO A NOÇÃO DE DESVOZEAMENTO TERMINALNO INGLÊS (L2): INCLUINDO PISTAS ACÚSTICAS NO ESTUDODA INTERLÍNGUAMárcia Zimmer (UCPel)Ubiratã Alves (UCPel)O presente estudo preten<strong>de</strong> discutir, sob uma perspectiva dinâmica, o statusdo processo <strong>de</strong> Dessonorização Terminal como um processo <strong>de</strong> interlínguaentre alunos <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> Inglês, tendo por base os pressupostos doConexionismo e da Fonologia Acústica Articulatória (ALBANO, 2001,2002). Sob a abordagem fonológica tradicional, o processo <strong>de</strong>62


<strong>de</strong>ssonorização terminal consiste na perda do traço sonoro em algumasobstruintes em posição final e, para Eckman (1981,1987), esse processoseria usado apenas na interlíngua. Ao revisitar essa discussão, Zimmer (2004)e Zimmer & Alves (2007) propõem um novo estudo a fim <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r se a<strong>de</strong>ssonorização terminal é um processo caracterizado pela neutralização totaldo contraste surdo-sonoro, ou se consiste no <strong>de</strong>svozeamento parcial <strong>de</strong>ssecontraste por falantes <strong>br</strong>asileiros aprendizes <strong>de</strong> Inglês, analisando a duraçãoda vogal que antece<strong>de</strong> a consoante para a distinção entre as obstruintessurdas do inglês falado pelos alunos <strong>br</strong>asileiros. O trabalho aqui proposto dácontinuida<strong>de</strong> à pesquisa <strong>de</strong> Zimmer & Alves (2007), <strong>de</strong> modo a ampliar oescopo da investigação para a verificação do comprimento da vogal queprece<strong>de</strong> o segmento plosivo final, produzido por vinte participantes<strong>br</strong>asileiros, 10 homens e 10 mulheres. Para tanto, investigamos os efeitos <strong>de</strong>fatores lingüísticos (tal como o ponto <strong>de</strong> articulação do segmento plosivofinal e nível <strong>de</strong> proficiência) e extra-lingüísticos (sexo dos participantes) naprodução do vozeamento do segmento plosivo final e no tempo do segmentovocálico que prece<strong>de</strong> tal consoante. O instrumento <strong>de</strong> coleta consistiu naleitura oral <strong>de</strong> seis itens terminados em plosivas sonoras: bad, pad, bob, cab,rag, bag; seis itens terminados em plosivas surdas: bat, pat, bop, cap, rack,back; oito itens distratores. Esses vinte itens foram apresentados em Powerpoint, <strong>de</strong> forma aleatória na tela <strong>de</strong> computador, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> dois tipos <strong>de</strong>frase-veículo: "Say ______." e “Say _____ again”. Cada item, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>cada uma das frases-veículo, foi repetido 5 vezes, totalizando duzentasfrases. Os dados foram analisados acusticamente e os parâmetros medidosforam a duração da vogal que antece a obstruinte final e a porcentagem <strong>de</strong>vozeamento na closura.A partir da análise acústica e do tratamento estatístico dos dados, discutimoso status da Dessonorização Terminal, propondo uma revisão do processo apartir <strong>de</strong> uma concepção dinâmica do sistema fônico-fonológico (ALBANO,2007; SILVA, 2008), o que redunda na interpretação das característicasparciais do <strong>de</strong>svozeamento terminal como uma evidência a favor docontinuum fonética-fonologia e da dinamicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong>interlíngua.RELAÇÕES ENTRE FLUÊNCIA E AQUISIÇÃO FÔNICA EMCRIANÇAS COM DESVIOS FONOLÓGICOSMaria Cláudia Camargo <strong>de</strong> Freitas (UNICAMP)Com o objetivo <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>r características do processo <strong>de</strong> estabelecimento<strong>de</strong> contrastes fônicos em crianças com <strong>de</strong>svios fonológicos foi realizado umestudo longitudinal que focou, particularmente, sons obstruintes coronaissurdos. Dentre os achados <strong>de</strong>sse estudo, <strong>de</strong>stacou-se neste momento aapreensão <strong>de</strong> disfluências aparentemente motivadas por questões fônicas.Tais disfluências consistiram em pausas, alongamentos e inserções <strong>de</strong> sonsque antecediam produções da categoria fônica em aquisição pelas crianças.Foram utilizados dados <strong>de</strong> duas crianças (S1 e S2) com <strong>de</strong>svios fonológicos63


que apresentavam produções não convencionais <strong>de</strong> obstruintes coronaissurdas. No início do processo <strong>de</strong> coleta, S1 produzia as fricativas coronaissurdas <strong>de</strong> forma semelhante à plosiva <strong>de</strong>ntal-alveolar surda. Diferentemente,S2 produzia a fricativa palatal surda <strong>de</strong> forma semelhante à fricativa alveolarsurda. No total, foram analisadas quatro coletas com S1 e três com S2 – comintervalo <strong>de</strong> um mês. Utilizou-se um sujeito controle (SC), sem dificulda<strong>de</strong>sfônicas e com ida<strong>de</strong>, sexo e escolarida<strong>de</strong> compatíveis aos <strong>de</strong> S1 e S2. Cadacriança foi gravada separadamente, em sala acusticamente tratada, por meio<strong>de</strong> equipamento digital <strong>de</strong> alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>. O corpus foi composto porpalavras dissílabas paroxítonas iniciadas por obstruintes coronais surdasseguidas, preferencialmente, das vogais [a], [i] e [u]. Para obter o registrodas palavras do corpus, as mesmas foram inseridas em uma frase-veículo.Foram registradas 5 repetições <strong>de</strong> cada palavras do corpus. Foi realizadaanálise acústica dos dados por meio do software livre Praat. Inicialmente, foifeita a i<strong>de</strong>ntificação das produções em que ocorreram disfluências. Tanto S1quanto S2 apresentaram disfluências em sua terceira coleta, momento emque passaram a produzir os contrastes entre obstruintes coronais surdas <strong>de</strong>forma mais próxima ao consi<strong>de</strong>rado padrão na língua. No total, S1apresentou <strong>de</strong>zoito produções consi<strong>de</strong>radas disfluentes – onze pausassilenciosas, quatro inserções <strong>de</strong> ruídos, dois alongamentos, uma pausaseguida <strong>de</strong> um alongamento e uma inserção seguida <strong>de</strong> um alongamento – eS2 <strong>de</strong>zessete – treze pausas silenciosas e quatro inserções <strong>de</strong> ruídos. Naanálise acústica das produções consi<strong>de</strong>radas fluentes objetivou-se i<strong>de</strong>ntificarpossíveis alterações na fluência não percebidas auditivamente. Tal análisefoi direcionada pelos parâmetros: voice onset time, stop gap e <strong>de</strong>voicinginterval – parâmetros apontados como sensíveis para evi<strong>de</strong>nciar<strong>de</strong>scoor<strong>de</strong>nações entre movimentos orais e laríngeos. Os resultados nãoapontaram diferenças significativas entre as produções consi<strong>de</strong>radas fluentes<strong>de</strong> S1 e S2 quando comparadas às <strong>de</strong> SC. Tal achado po<strong>de</strong> ser indício <strong>de</strong> queas disfluências seriam particularida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> momentos específicos daaquisição fônica, nos quais uma maior atenção seria exigida da criança paraa realização <strong>de</strong> um som <strong>de</strong> acordo com as convenções da língua. Apesar <strong>de</strong>marcarem uma aparente que<strong>br</strong>a nas produções infantis, as disfluênciasseriam sinais <strong>de</strong> uma sistematização em curso e evi<strong>de</strong>nciariam umanegociação da criança entre diferentes possibilida<strong>de</strong>s fônicas emconcorrência. Face ao exposto, acredita-se que as disfluências po<strong>de</strong>m serpensadas como um tipo <strong>de</strong> produção gradiente presente durante o processo<strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> contrastes fônicos. Conseqüentemente, a i<strong>de</strong>ntificação ecaracterização <strong>de</strong>ssas disfluências po<strong>de</strong>m trazer importantes contribuiçõespara o entendimento do processo <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> contrastes fônicosem crianças com padrões não mais esperados para sua faixa etária.64


AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO EPRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES PORAPRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUAESTRANGEIRAMara Silvia Reis (UFSC/CAPES)Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)No que concerne à área da interfonologia, pesquisas indicam que a precisapercepção dos sons da língua estrangeira é capaz <strong>de</strong> influenciarpositivamente a produção dos mesmos (Major, 1994; Flege, 1993, 1995;Munro & MacKay, 1996; Wo<strong>de</strong>, 1995; Rochet, 1995; Best, 1995; Kuhl &Iverson, 1995; Baker & Trofimovich 2001; Koerich 2002; Best & Tyler,2007). O presente estudo foi conduzido com o propósito <strong>de</strong> investigar se talcorrelação está presente entre a percepção e a produção dos fonemasinter<strong>de</strong>ntais ingleses por <strong>br</strong>asileiros aprendizes <strong>de</strong> inglês como línguaestrangeira (EFL). O estudo focou na percepção e produção dos fonemasvozeados e não-vozeados em posição inicial <strong>de</strong> palavras. Cinco falantesnativos <strong>de</strong> inglês e vinte e quatro aprendizes <strong>de</strong> EFL, igualmente divididosem dois grupos <strong>de</strong> iniciantes e avançados, participaram da pesquisa. Ambosos grupos <strong>de</strong> aprendizes pertenciam ao Programa Extracurricular <strong>de</strong> Ensino<strong>de</strong> Línguas Estrangeiras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina. Osdados foram coletados por meio <strong>de</strong> três testes <strong>de</strong> produção, (a) leitura <strong>de</strong>texto, (b) relato do texto lido, e (c) leitura <strong>de</strong> sentenças, e três testes <strong>de</strong>percepção, (a) percepção geral <strong>de</strong> erros <strong>de</strong> pronúncia, (b) teste <strong>de</strong>discriminação categórica, e (c) teste <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação forçada. Os resultadosindicam que (a) não há uma diferença significativa <strong>de</strong> percepção dosfonemas entre os grupos <strong>de</strong> aprendizes, e (b) que a percepção mais acuradados fonemas alvo não necessariamente acarreta numa produção mais precisados mesmos.A FISSURA LÁBIO-PALATINA SOB O OLHAR DA FONOLOGIAARTICULATÓRIARita <strong>de</strong> Cassia Tonocchi (UFPR)A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> H. P. Silva (UFPR)Quadros <strong>de</strong> alterações no <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem constituem umlugar privilegiado para refletir so<strong>br</strong>e a natureza da clínica fonoaudiológica.Nessa direção, ressaltamos as alterações vinculadas à fissura lábio-palatina,que <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> alteração na fusão dos processos faciais em<strong>br</strong>ionários e secaracteriza por má-formação crânio-facial congênita, <strong>de</strong>vido a umainterrupção na continuida<strong>de</strong> dos tecidos do lábio e/ou palato. As fissuras <strong>de</strong>lábio e/ou palato assumem importância: pela sua acentuada incidência,representando uma das mais freqüentes anomalias faciais e responsável por25% <strong>de</strong> todos os <strong>de</strong>feitos congênitos; pela complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>comprometimentos que acarreta no indivíduo, como ina<strong>de</strong>quaçõesarticulatórias e peculiarieda<strong>de</strong>s na voz <strong>de</strong> valor mais ou menos consi<strong>de</strong>rável.65


Comumente, constata-se um quadro “padronizado” nas alterações <strong>de</strong> fala <strong>de</strong>indivíduos portadores <strong>de</strong> fissura lábio-palatina, ou seja, uma tendência emposteriorizar os sons para região faríngea ou glotal, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> suasalterações anátomo-funcionais. Entretanto, verifica-se que certas ocorrênciassão recorrentes, como as dificulda<strong>de</strong>s na produção <strong>de</strong> sons alveolares,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tipo <strong>de</strong> fissura. Desse modo, tornam-se intrigantes, o quemotiva e aponta para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar a reflexão acerca <strong>de</strong> taisocorrências. Nesse sentido, é preciso consi<strong>de</strong>rar parâmetros fonéticosacústicosna análise <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> sujeitos com fissura lábio-palatina, buscandouma maior compreensão da dinâmica <strong>de</strong> produções dos sons do português<strong>br</strong>asileiro. Para tanto, é preciso conduzir análises acústicas acuradas da fala<strong>de</strong>sses sujeitos, ao invés da análise <strong>de</strong> outiva que comumente se realiza naprática clínica e que acaba embasando todo o trabalho terapêutico. A análiseacústica, porém, po<strong>de</strong> relevar fatos imperceptíveis ao ouvido humano, comoé o caso <strong>de</strong> contrastes encobertos, i.e., produções que evi<strong>de</strong>nciam quecrianças em fase <strong>de</strong> aquisição e portadores <strong>de</strong> patologias fazem distinçõesque adultos ou pessoas não portadoras <strong>de</strong> patologias não percebem.A observação <strong>de</strong> fatos como esses po<strong>de</strong> dar outro rumo à prática clínica e,neste sentido, serão apresentados dados <strong>de</strong> uma análise acústica preliminardos segmentos alveolares produzidos por um sujeito fissurado, que servirá<strong>de</strong> base para a montagem <strong>de</strong> um experimento <strong>de</strong> produção controlado o qual,por sua vez, constituirá a base para um estudo que preten<strong>de</strong> explicar a razão<strong>de</strong> tal dificulda<strong>de</strong>, tomando como arcabouço teórico a Fonologia Gestual,mo<strong>de</strong>lo que permite uma ponte direta entre representação e realização dossegmentos e, por isso, parece se afigurar como um arcabouço teórico maisa<strong>de</strong>quado para se lidar com patologias <strong>de</strong> fala.A INFLUÊNCIA DA FALA BILÍNGÜE HUNSRÜKISCH-PB NAAPRENDIZAGEM DA ESCRITA DO PBSa<strong>br</strong>ina Gewehr Borella (UCPEL)Várias são as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> bilingüismo encontradas na literatura. De umamaneira geral, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>fini-lo como uma habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação emduas línguas, on<strong>de</strong> um indivíduo utiliza um ou outro sistema <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo docontexto em que se encontra (Zimmer, Finger, Scherer, 2008).O Brasil, por ser um país formado por culturas hí<strong>br</strong>idas, possui um gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s bilíngües. Dentre as diversas variantes existentes, apesquisa em questão irá se voltar para um dos principais dialetos alemães dosul do país: o Hunsrückisch. Tal dialeto foi selecionado <strong>de</strong>vido a uma coleta<strong>de</strong> dados escritos realizada no ano <strong>de</strong> 2000, em uma primeira série do EnsinoFundamental no interior da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ivoti/RS, em que gran<strong>de</strong> parte dapopulação fala essa variante como língua materna. Os participantes <strong>de</strong>ssaamostra, por utilizarem o Português Brasileiro muito pouco, antes <strong>de</strong>entrarem para o colégio, po<strong>de</strong>m ser caracterizados como aprendizes <strong>de</strong> L2no contexto <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> leitura e escrita do PB. A experiência <strong>de</strong>professores alfabetizadores mostra que aprendizes <strong>de</strong>ssas comunida<strong>de</strong>s,66


durante a aprendizagem da escrita, alternam grafemas representando asplosivas surdas e sonoras em posição inicial <strong>de</strong> sílaba (onset) com maiorfreqüência que crianças monolingües. Alguns alunos escrevem, por exemplo,a palavra ca<strong>de</strong>rno, no estágio silábico, da seguinte forma: “GTO”,“trocando” a surda [k] pela sonora [g] e a sonora [d] pela surda [t].Consi<strong>de</strong>rando que no alemão padrão somente em posição final <strong>de</strong> sílaba(coda) as obstruintes são neutralizadas (Gafos, 2003, Piroth e Janker, 2003),algumas questões <strong>de</strong>vem ser pesquisadas, <strong>de</strong>ntre elas: Por que os alunosestariam passando a neutralização para a posição <strong>de</strong> onset? Por que estariam“trocando” também as surdas pelas sonoras nesta posição? Partindo dasindagações apresentadas, esta pesquisa visa a investigá-las através: a) daobservação da fala em PB <strong>de</strong> habitantes da região em que os dados foramcoletados, para a i<strong>de</strong>ntificação dos processos fonético-fonológicos <strong>de</strong>transferência, a partir <strong>de</strong> uma visão dinâmica da produção da fala (Albano,2007); e b) da análise da transferência grafo-fônico-fonológica(MacWhinney, 2001, Zimmer, 2004, Zimmer e Alves, 2006), que acontecequando as crianças estão apren<strong>de</strong>ndo a escrever, nos dados <strong>de</strong> escritaconstantes do corpus produzido em 2000, e <strong>de</strong> crianças monolíngües, parafins <strong>de</strong> comparação.FLUTUAÇÕES NAS PRODUÇÕES COMPENSATÓRIAS DE UMACRIANÇA COM FISSURA DE PALATO: INDÍCIOS DE UMACONSTRUÇÃO DO SISTEMA FONOLÓGICO.Viviane Cristina <strong>de</strong> Castro Marino (UNESP, Marília)Larissa Cristina Berti (UNESP, Marília)Crianças com fissura <strong>de</strong> palato (FP) e/ou disfunção velofaríngea (DVF)po<strong>de</strong>m apresentar dificulda<strong>de</strong>s para produzir as consoantes que necessitam<strong>de</strong> alta pressão intra-oral. A falta <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> para gerar e/ou manter níveisa<strong>de</strong>quados <strong>de</strong> pressão intra-oral necessária para a produção dos fonemasobstruintes po<strong>de</strong> justificar o <strong>de</strong>senvolvimento das chamadas articulaçõescompensatórias (ACs) apresentadas por sujeitos que apresentam FP e/ouDVF. Assim, o bebê com FP aberta e/ou DVF ao apresentar uma perda <strong>de</strong> arnasal muito gran<strong>de</strong>, não encontra meios para gerar e/ou manter a quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> pressão intra-oral necessária para a produção da plosão e/ou da fricçãoenvolvida nos fonemas obstruintes orais. Ao tentar reproduzir os sonsouvidos em seu meio ambiente, muitos <strong>de</strong>stes bebês passam a usar pontosarticulatórios alternativos no trato vocal on<strong>de</strong> conseguem obter a pressãonecessária para a produção mais aproximada possível do som alvo. Essasproduções passam, então, a fazer parte do sistema fonológico da criança, namedida em que as crianças utilizam essas ACs para marcarem contrastesfônicos da língua, prejudicando a inteligibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua fala <strong>de</strong> formaconsistente e persistente. Consi<strong>de</strong>rando as implicações das chamadas ACs naprodução <strong>de</strong> sujeitos com FP e/ou DVF, profissionais da área daFonoaudiologia preocupam-se, fundamentalmente, em <strong>de</strong>screver essascompensações tanto pela avaliação <strong>de</strong> outiva quanto por informações67


advindas da análise instrumental. Na maioria <strong>de</strong>sses estudos, as chamadasACs são entendidas como tendo o modo articulatório preservado enquanto oponto articulatório é posteriorizado. Não se observa, contudo, uma maiorpreocupação em (i) interpretar possíveis flutuações que possam ocorrerdurante a produção das chamadas ACs; (ii) levantar qual o papel <strong>de</strong>ssasflutuações na aquisição do sistema fonológico. Neste estudo preten<strong>de</strong>-serealizar uma análise acústica das ACs <strong>de</strong>scritas como oclusivas glotais(“golpe <strong>de</strong> glote”) presentes na fala <strong>de</strong> uma criança com FP reparadacirurgicamente durante a produção das oclusivas velares e fricativas palatais.O corpus será constituído por palavras dissílabas paroxítonas que combinamas oclusivas e fricativas com as vogais [i,a,u] na posição acentuada. Acriança será gravada numa sala tratada acusticamente com equipamento <strong>de</strong>alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> e a análise dos dados será realizada a partir dos softwaresPRAAT e STATISTICA. A hipótese que se preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r é a <strong>de</strong> que setrata, em muitas das ACs <strong>de</strong>scritas como oclusivas glotais, <strong>de</strong> flutuações naprodução, sugerindo uma tentativa <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> contrastefonológico. Além <strong>de</strong> contribuições para o estudo das ACs, também seesperam contribuições para os mo<strong>de</strong>los fonológicos que incorporamexplicitamente o <strong>de</strong>talhe fonético, tal como a FAR e a FAAR.GT3 A linguagem na escola: contextos, <strong>de</strong>safios e perspectivas emLingüística e EducaçãoCoor<strong>de</strong>nadoresCátia <strong>de</strong> Azevedo Fronza (UNISINOS)Otilia Lizete <strong>de</strong> Oliveira Martins Heinig (FURB)A HIPOSSEGMENTAÇÃO DA ESCRITA E OS PROCESSOS DESÂNDIAna Paula No<strong>br</strong>e da Cunha (UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel)Na ressilabação vocálica do português acontecem, segundo Bisol (1992,1996, 2000), três processos fonológicos distintos <strong>de</strong> sândi externo: a elisão, aditongação e a <strong>de</strong>geminação. O processo <strong>de</strong> elisão, em geral, ocorre com avogal baixa átona /a/ diante <strong>de</strong> outra vogal (ex. camisa usada >cami[zu]sada). A ditongação po<strong>de</strong> acontecer quando a última vogal <strong>de</strong> umapalavra forma um ditongo com a vogal inicial da palavra seguinte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> queuma <strong>de</strong>las seja alta (ex. camisa usada > cami[zaw]sada). A <strong>de</strong>geminação épossível no encontro <strong>de</strong> duas vogais idênticas (ex. camisa amarela >cami[za]marela) ou, também, no caso <strong>de</strong> duas vogais semelhantes (ex.ven<strong>de</strong> isqueiros > vend[i]squeiros). Tenani (2006), com o objetivo <strong>de</strong>investigar qual a relação entre os processos <strong>de</strong> sândi e a <strong>org</strong>anização rítmica<strong>de</strong> uma língua, <strong>de</strong>screve, além dos processos fonológicos já citados, ovozeamento da fricativa (ex. o arro[za]marelo), o tapping (ex.açúca[ra]marelo) e a haplologia (ex. a faculda[dzi]nâmica). O vozeamento68


da fricativa e o tapping são consi<strong>de</strong>rados pela autora como processos domesmo tipo, visto que ambos se caracterizam por uma reestruturação <strong>de</strong>sílabas, na qual o elemento da coda da sílaba final do primeiro vocábulotorna-se o onset da primeira sílaba do segundo vocábulo. O resultado <strong>de</strong>ssareestruturação é a formação <strong>de</strong> duas sílabas CV. A haplologia também é umprocesso <strong>de</strong> sândi que envolve duas sílabas, mas, segundo Tenani (2006), separticulariza por ocorrer entre duas sílabas semelhantes que já sãoinicialmente CV. Embora a aquisição da linguagem e aaquisição/aprendizagem da escrita sejam processos diferentes, estudos comoos <strong>de</strong> Abaurre (1987, 1990, 1999), Capistrano (2003, 2004), Chacon (2004,2005, 2006), Cunha (2004), Fronza (2002, 2003, 2004), Miranda (2005,2006, 2007) e Tenani (2004), entre outros, trazem importantes análises so<strong>br</strong>eas relações estabelecidas entre a escrita inicial produzida <strong>de</strong> formaespontânea e aspectos do conhecimento lingüístico infantil. Com base nessarelação – oralida<strong>de</strong> / escrita –, Cunha (2004) <strong>de</strong>screve e analisa dados <strong>de</strong>hipo e hipersegmentação em textos <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> primeira a quarta série. Osprocessos <strong>de</strong> sândi, segundo a autora, revelam-se <strong>de</strong> maneira significativanos dados <strong>de</strong> hipossegmentação. Partindo-se da análise <strong>de</strong>sses e <strong>de</strong> outrosdados extraídos do Banco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita – FaE/UFPel,busca-se com esse trabalho: a) <strong>de</strong>screver como acontecem os processos <strong>de</strong>sândi na escrita, pois se acredita que a <strong>de</strong>scrição e a análise <strong>de</strong>sses dadospo<strong>de</strong>m auxiliar o professor <strong>de</strong> séries inicias, na medida em que oconhecimento da linguagem é <strong>de</strong> fundamental importância para quemtrabalha com a aquisição/aprendizagem da escrita; b) estabelecer umadiscussão em torno da possibilida<strong>de</strong> dos dados <strong>de</strong> escrita contribuírem, nessecaso em particular, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> argumentos que auxiliem adiscussão <strong>de</strong> um tema relativamente polêmico na fonologia: o ritmolingüístico do Português Brasileiro.CONSTRUÇÕES LINGÜÍSTICAS, IDENTITÁRIAS E CULTURAIS NAAPRENDIZAGEM DA LIBRAS: IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO EFORMAÇÃO DE PROFESSORESAudrei Gesser (UENP/Faficop, Cornélio Procópio)Este trabalho, parte da tese <strong>de</strong> doutoramento, <strong>de</strong>screve a interação social facea face entre um professor surdo e seus alunos ouvintes em um contexto <strong>de</strong>ensino e aprendizagem <strong>de</strong> LIBRAS. Orientada por princípios teóricos daSociolingüística Interacional (Schiffrin, 1996) e da Etnografia Escolar(Erickson, 1986), ilustro, a partir <strong>de</strong> alguns fragmentos interacionais, como éa relação dos alunos ouvintes com a LIBRAS e como as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s eculturas ouvintes e surdas são manifestadas e co-construídas no e através douso <strong>de</strong> linguagem na interação face a face (Goffman, 1981, 2002; Gumperz,1982a/b, Jacob & Ochs, 1995). O contexto investigado é inerentementecomplexo, uma vez que envolve variáveis sociolingüísticas e valoresatribuídos a essas variáveis pelos interactantes, ou seja, a interação compõeuma complexa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> negociações sociais <strong>org</strong>anizadas, reunindo indivíduos69


(surdos e ouvintes) com realida<strong>de</strong>s e experiências diversas, isto é, “comvárias subjetivida<strong>de</strong>s” (Cavalcanti & Moita Lopes, 1991). Tal investigaçãoa<strong>br</strong>e questionamentos para o ensino <strong>de</strong> uma língua espaço-visual, porexemplo, em relação à formação <strong>de</strong> professores surdos, pedagogia surda eaprendizagem da LIBRAS por ouvintes.ESCRITA CRIATIVA, LEITURA E EXPLICITAÇÃOGRAMATICAL EM SALA DE AULA DE EJA – EIXOSCONVERGENTES PARA A AQUISIÇÃO DA ESCRITA COMAPRENDENTES ADULTOSCristiane dos Santos Azevedo (PPGE FaE/UFPEL)Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE FaE/UFPEL)Este trabalho é uma síntese da dissertação <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong>fendida emsetem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2007 na Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação da UFPEL e orientada pelaprofessora Ana Ruth Moresco Miranda. Nesse trabalho, acompanhamosquatro sujeitos adultos, que na época (2005) cursavam a aceleração <strong>de</strong>estudos <strong>de</strong> 5ª/6ª série do ensino fundamental em uma escola municipal dacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, RS. Nossa hipótese era a <strong>de</strong> que se tais alunos fossemexpostos a uma prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula voltada para a produção sistematizada<strong>de</strong> textos narrativos, <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> narrativas em sala <strong>de</strong> aula semanalmente e<strong>de</strong> explicitação <strong>de</strong> certos aspectos gramaticais específicos que ocorriam nosseus textos, que esses, ao final do processo, qualificariam sua produçãotextual. As categorias <strong>de</strong> análise utilizadas para a análise dos textos foram asseguintes: erros ortográficos motivados pela fonética da língua, aquisição <strong>de</strong>elementos <strong>de</strong> coesão referencial e presença <strong>de</strong> estrutura narrativa nos textos.Ao todo foram analisados 51 textos produzidos pelos quatro alunoscoletados entre março e <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2005 e os resultados obtidosmostraram que em relação aos erros motivados pela fonética, que esses nãomostraram diminuição, embora o número <strong>de</strong> linhas produzidas tenhaaumentado significativamente; em relação à aquisição <strong>de</strong> elementos <strong>de</strong>coesão referencial (formas remissivas referencias, não-referenciais presas elivres) constatamos que, mesmo sem a explicitação teórica <strong>de</strong> tais elementos,os informantes adquiriram tais elementos <strong>de</strong> coesão no <strong>de</strong>correr do processo,utilizando-os <strong>de</strong> forma efetiva e, finalmente que em relação à presença <strong>de</strong>estrutura narrativa nos textos produzidos pelos alunos, que a partir do meiodo ano letivo todos os textos produzidos pelos sujeitos apresentaram aestrutura narrativa esperada. Tais constatações parecem mostrar aimportância do professor <strong>de</strong> Língua materna trabalhar os três eixosconcomitantemente, a saber: explicitação gramatical, escrita e leitura em sala<strong>de</strong> aula.70


DESENVOLVIMENTO DA NARRATIVA EM JOVENS COMSÍNDROME DE DOWNGilsenira <strong>de</strong> Alcino Rangel (UFPel)Este trabalho é fruto <strong>de</strong> uma pesquisa que vem sendo feita so<strong>br</strong>e o processo<strong>de</strong> aprendizagem da leitura e da escrita por crianças e jovens com síndrome<strong>de</strong> Down. Apesar <strong>de</strong> muitos diagnósticos negativos quanto ao<strong>de</strong>senvolvimento cognitivo da pessoa com síndrome <strong>de</strong> Down, o que se po<strong>de</strong>observar é que muitas vezes os limites são impostos por nós. Há um númerogran<strong>de</strong> <strong>de</strong> jovens com a síndrome que não foram alfabetizados em<strong>de</strong>corrência do mito <strong>de</strong> que seriam incapazes <strong>de</strong> tal proeza. Atualmente, porterem se tornado mais visíveis à socieda<strong>de</strong>, as pessoas com síndrome <strong>de</strong>Down têm alcançado sucesso em tarefas como apren<strong>de</strong>r a ler/escrever, tocarinstrumentos musicais, chegar ao ensino médio e até mesmo universitário.Para Vigotsky, “o <strong>de</strong>senvolvimento incompleto das funções superiores estáligado ao <strong>de</strong>senvolvimento cultural incompleto da criança mentalmenteretardada, à sua exclusão do ambiente cultural, da nutrição ambiental.Freqüentemente as dificulda<strong>de</strong>s secundárias são o resultado <strong>de</strong> umaeducação incompleta, <strong>de</strong> uma negligência pedagógica” (1977, p. 144).Levando em consi<strong>de</strong>ração as idéias <strong>de</strong> Vigotsky, estamos trabalhando comum grupo <strong>de</strong> jovens com síndrome <strong>de</strong> Down, com ida<strong>de</strong>s que variam <strong>de</strong> 19 a27 anos proporcionando-lhes o contato mais direto com práticas <strong>de</strong> leitura eescrita e pu<strong>de</strong>mos, no <strong>de</strong>correr <strong>de</strong> um ano <strong>de</strong> intervenção, verificar aevolução apresentada quanto ao <strong>de</strong>senvolvimento da estrutura narrativa.PESQUISA EM LINGUISTICA APLICADA NO BRASIL: UMLUGAR DO FAZER PEDAGÓGICOHilario I. BOHN (UCPel/FURB)A educação <strong>br</strong>asileira enfrenta inúmeros <strong>de</strong>safios entre os quais se <strong>de</strong>stacama ausência <strong>de</strong> políticas públicas coerentes propostas pelas autorida<strong>de</strong>sgovernamentais e educacionais; a precária formação dos professores; acarência e a falta <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> dos materiais pedagógicos; a relaçãoconflituosa entre as autorida<strong>de</strong>s educacionais e da socieda<strong>de</strong> com osprofessores, conflitos que se filtram para a sala <strong>de</strong> aula; não menosimportante são as dificulda<strong>de</strong>s que os professores encontram em <strong>org</strong>anizar otempo e o espaço escolar como um lugar <strong>de</strong> interação, <strong>de</strong> dialogia,constituindo-se assim uma comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> práticas empenhada naconstrução <strong>de</strong> saberes e formação cidadã. Um dos resultados <strong>de</strong>stascarências é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> os professores oferecerem oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>aprendizagem para os alunos e <strong>de</strong> nem todos os alunos sentirem-seconvidados a participarem das práticas <strong>de</strong> aprendizagem propostas. Asrelações que se estabelecem entre os atores presentes na sala <strong>de</strong> aula,professores e alunos, vinculados à instituição e socieda<strong>de</strong>, parecem ser71


constitutivas e elas são o produto dos discursos produzidos por estes atores.Recentemente a aca<strong>de</strong>mia, mais particularmente os pesquisadores das áreas<strong>de</strong> educação e linguistica aplicada, produziram reflexões importantes so<strong>br</strong>e aformação e as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s do professor e dos alunos; procurou-secompreen<strong>de</strong>r a diferença, a heterogeneida<strong>de</strong> presentes entre os mem<strong>br</strong>os dasala <strong>de</strong> aula, os pertencimentos culturais, linguisticos, i<strong>de</strong>ntitários trazidospelos alunos. Esta complexida<strong>de</strong> tem sido <strong>de</strong>scrita pelos pesquisadores, masraramente se questionam os discursos que perpassam os relatos <strong>de</strong> pesquisaem relação aos sentidos que se produzem nestes textos quanto à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>linguagem, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s dos aprendizes e às tentativas <strong>de</strong> formarcomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prática que se <strong>org</strong>anizam nas salas <strong>de</strong> aula, aspectosessenciais para a aprendizagem porque são estas <strong>de</strong>finições que produzem osdiscursos e as ativida<strong>de</strong>s pedagógicas priorizadas pelos professores e<strong>de</strong>finem a aprendizagem como uma ativida<strong>de</strong> social. Neste trabalho propõeseanalisar um conjunto <strong>de</strong> relatos <strong>de</strong> pesquisa so<strong>br</strong>e a leitura, publicados emperiódicos <strong>de</strong> Linguistica Aplicada <strong>br</strong>asileiros, procurando-se compreen<strong>de</strong>ras abordagens privilegiadas pelos pesquisadores quando relatam osresultados <strong>de</strong> suas pesquisas. Faz-se este recorte porque a leitura, juntamentecom a produção textual, parecem ser o eixo <strong>org</strong>anizador das ativida<strong>de</strong>spedagógicas, porque <strong>de</strong>finem a relação do sujeito com a linguagem e osletramentos privilegiados pela escola, neste sentido também espelhos dosprocessos <strong>de</strong> inclusão e exclusão do fazer pedagógico. A análise se limitaaos textos publicados nos últimos <strong>de</strong>z anos em três periódicos nacionais <strong>de</strong>Linguistica Aplicada (Trabalhos <strong>de</strong> Linguistica Aplicada, UNICAMP,Linguagem e Ensino, UCPel e a Revista Brasileira <strong>de</strong> Linguistica Aplicada,UFMG).OS SENTIDOS DE ALFABETIZAÇÃO PARA OS PROFESSORESALFABETIZADORESJociane Stolf (FURB)Otilia Lizete Martins <strong>de</strong> Oliveira Heinig (FURB)Esse artigo está vinculado ao projeto <strong>de</strong> pesquisa A compreensão doletramento e suas implicações na educação que visa investigar professoresque trabalhem na área da alfabetização com turmas <strong>de</strong> primeiro ano ouprimeira série. O aporte teórico está ancorado em Bakhtin, Vigotsky,Cagliari, Cardoso e Teberosky. Nosso principal objetivo é analisar aconcepção <strong>de</strong> linguagem que permeia a prática pedagógica do professoralfabetizador. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> cunho qualitativo que seconstituiu <strong>de</strong> um levantamento <strong>de</strong> dados norteado pelas seguintes questões:O que você associa com a palavra Alfabetização? O que significaAlfabetização para você? A coleta <strong>de</strong> dados iniciou-se com a escolha <strong>de</strong> umsujeito <strong>de</strong> cada município que fizesse parte da AMMVI (Associação dosMunicípios do Médio Vale do Itajaí) a fim <strong>de</strong> analisar através dos dizeres<strong>de</strong>sses sujeitos qual era a concepção <strong>de</strong> linguagem que permeia a práticapedagógica do professor alfabetizador. A amostra é composta por oito72


sujeitos que representam <strong>de</strong>z dos quatorze municípios da AMMVI. Asentrevistas ocorreram <strong>de</strong> forma não-diretiva e foram gravadas. A análise dosdizeres dos sujeitos aponta para uma <strong>de</strong>scrição do que é ser alfabetizar e nãohá um conceito teórico <strong>de</strong> alfabetização.O PROCESSO DE AQUISIÇÃO/APRENDIZAGEM DOS DITONGOSORAIS MEDIAIS EM TEXTOS INFANTISMarco Antônio Adamoli (UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel)Por caracterizar-se como um período bastante complexo para a criança queestá em fase <strong>de</strong> alfabetização, a produção escrita <strong>de</strong>ssa fase constitui ummaterial lingüístico extremamente interessante para fins <strong>de</strong> análise, sequisermos enten<strong>de</strong>r um pouco melhor como a criança processa oconhecimento que está adquirindo e como ela o representa em suas primeirasproduções escritas. A análise <strong>de</strong> 940 textos produzidos por alunos <strong>de</strong> 1ª e 2ªséries do ensino fundamental <strong>de</strong> duas escolas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas/RSrevelou erros ortográficos envolvendo a grafia dos ditongos orais mediais,cujas semivogais ora eram grafadas, ora suprimidas, ora, ainda, substituídaspor consoantes. Tal observação revelou a ambigüida<strong>de</strong> gerada por essasestruturas às crianças, bem como a dificulda<strong>de</strong> que possuem em relação àsua escrita. Alguns ditongos, especialmente os fonéticos [aj], [ej] e [ow],vêm sendo, a longa data, discutidos sob diferentes perspectivas, quer pela dagramática tradicional, quer pela dos estudos variacionistas, quer ainda peladas recentes teorias fonológicas, resultando, assim, em um vasto materialacerca <strong>de</strong>sse assunto. Entretanto, muitas questões so<strong>br</strong>e esses constituintessilábicos ainda permanecem em aberto. Na tentativa, então, <strong>de</strong> contribuirpara com a discussão a respeito do status dos ditongos do PB, porém combase agora em dados da escrita infantil, este estudo tem o propósito <strong>de</strong>apresentar os resultados obtidos por Adamoli (2006) acerca do processo <strong>de</strong>aquisição/aprendizagem gráfica dos ditongos orais mediais. A pesquisarevelou, entre outras questões, que os ditongos ai, ei e ou, igualmente ao queocorre na língua oral, foram os grupos vocálicos que mais sofreram asalterações gráficas. Além disso, os dados mostraram também que asvariáveis contexto seguinte e tipo <strong>de</strong> escola foram <strong>de</strong>cisivas para supressãodas semivogais dos ditongos mediais orais na escrita infantil.ANDAIMENTO COLETIVO NO ENSINO DE LÍNGUAPORTUGUESA PARA SURDOSVanessa <strong>de</strong> Oliveira Dagostim Pires (UNISINOS)Inspirada no trabalho <strong>de</strong> Richard Donato, publicado em 1997, que buscoui<strong>de</strong>ntificar a presença da prática do andaimento nas interações entre pares emsala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> língua francesa como segunda língua, a presente pesquisainvestiga como os alunos surdos <strong>de</strong> uma escola especial co-constroemexperiências <strong>de</strong> língua portuguesa no contexto <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Também73


analisa como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta L2 é trazido para o plano social,partindo da hipótese <strong>de</strong> que os aprendizes po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong> certa maneira, emalgumas circunstâncias, prover o mesmo tipo <strong>de</strong> suporte e orientação uns aosoutros, assim como os adultos fazem com as crianças, segundo o conceito <strong>de</strong>scaffolding investigado por Wood, Bruner e Ross (1976). Para isto, serãogerados dados mediante observação participante <strong>de</strong> aulas e aplicação <strong>de</strong>seqüência didática elaborada especialmente para este fim em uma turma <strong>de</strong>6ª série do Ensino Fundamental <strong>de</strong> uma escola estadual especial para surdosda região metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre. Essas aulas foram gravadas emví<strong>de</strong>o, transcritas e analisadas. Durante este período, os alunos foramconvidados a estudar e reconhecer a estrutura <strong>de</strong> uma carta <strong>de</strong> reclamação, e,posteriormente, a produzirem, em conjuntos, uma carta <strong>de</strong> reclamação arespeito da escola on<strong>de</strong> estudam. Analisaremos as interações entre alunos ealgumas intervenções da professora e pesquisadora no momento da produçãodas cartas e como essas práticas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em conjunto geram estratégiasfacilitadoras <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> LP.ATIVIDADES EM CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA NAMETODOLOGIA DE ALFABETIZAÇÃO: IMPORTANTEFERRAMENTA NO DESENVOLVIMENTO DA CONSCIÊNCIAFONOLÓGICA E A EVOLUÇÃO DA ESCRITAAna Paula Rigatti Scherer (PUCRS)O trabalho apresenta o <strong>de</strong>senvolvimento da consciência fonológica e daescrita, ao longo do ano letivo da 1ª série do Ensino Fundamental, <strong>de</strong> 22alunos da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino do município <strong>de</strong> Guaíba-RS. A pesquisafoi realizada com alunos pertencentes a 5 turmas <strong>de</strong> diferentes escolas. Osprofessores <strong>de</strong>stas turmas receberam treinamento da pesquisadora so<strong>br</strong>econsciência fonológica e explicitação do princípio alfabético. As turmas dosalunos foram acompanhadas ao longo do ano letivo e os alunos avaliados em3 momentos distintos: março, julho e novem<strong>br</strong>o. Somente participaram dasavaliações nestes meses, os alunos indicados para a pesquisa, os quais<strong>de</strong>veriam estar, em março, no nível pré-silábico da Psicogênese da Escrita(Ferreiro e Teberosky, 1985). Em cada avaliação era realizada uma coleta<strong>de</strong> amostra <strong>de</strong> escrita para verificar em qual hipótese os alunos seencontravam e era aplicado o instrumento CONFIAS (Moojen e cols, 2002)para verificar o nível <strong>de</strong> consciência fonológica dos alunos. Com relação àescrita, verificou-se que houve diferentes evoluções ao longo do ano,formando-se, assim, 3 grupos <strong>de</strong> alunos: G1, classificado <strong>de</strong> “rapidamenteótimo” - 13 alunos que iniciaram o ano pré-silábicos e avançaram, já no mês<strong>de</strong> julho para o nível alfabético; G2, classificado <strong>de</strong> “mo<strong>de</strong>radamente muitobom” - 7 alunos que iniciaram pré-silábicos, avançaram para silábicoalfabéticoem julho e chegaram ao nível alfabético em novem<strong>br</strong>o e G3,classificado <strong>de</strong> “lentamente muito bom” - 2 alunos que iniciaram présilábicos,avançaram para o nível silábico em julho e chegaram ao alfabéticoem novem<strong>br</strong>o. Com relação à consciência fonológica, verificou-se que os 2274


alunos obtiveram aumento da pontuação no CONFIAS a cada aplicaçãorealizada, porém nem sempre esse aumento não ocorreu no mesmo períododo ano. Comparando os resultados do teste CONFIAS com os dados <strong>de</strong>escrita, verificou-se que quanto mais avanços os alunos obtinham na escrita,maior era o aumento <strong>de</strong> pontuação no CONFIAS. Confirma-se com essetrabalho, a relação recíproca que existente entre consciência fonológica eaquisição da escrita, pois o nível elementar em consciência fonológica queos sujeitos tinham em março auxiliou na aquisição da escrita e estaaprimorou níveis mais complexos <strong>de</strong> consciência fonológica ao longo do ano.Verifica-se, também, que ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consciência fonológica aliadas àmetodologia <strong>de</strong> ensino facilitam a aquisição da escrita.AS VOGAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ORTOGRAFIA EFONOLOGIA NA ESCRITA INFANTILCarolina Reis Monteiro (UFPel)Ana Ruth Miranda (UFPel)Estudos so<strong>br</strong>e a aquisição ortográfica, como os <strong>de</strong> Miranda (2007, 2008a eb), têm mostrado que a criança, no processo <strong>de</strong> aquisição da escrita,estabelece relações com outro objeto <strong>de</strong> natureza semelhante, a linguagemoral, ou seja, a criança utiliza o conhecimento que já possui a respeito daestrutura lingüística ao representar graficamente as palavras <strong>de</strong> sua língua.No entanto, por não haver relação direta entre esses conhecimentos, surgemos erros ortográficos. Este estudo tem o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e analisar oserros relacionados à grafia das vogais presentes em textos espontâneos,pertencentes ao Banco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita (FaE/UFPel),produzidos por crianças <strong>de</strong> 1ª a 4ª série do Ensino Fundamental <strong>de</strong> duasescolas <strong>de</strong> Pelotas, uma particular e outra pública, bem como, estabelecerrelações entre os processos fonológicos na aquisição do sistema vocálico doportuguês <strong>br</strong>asileiro, observados por Rangel (2002), e os erros envolvendoas vogais encontrados nos dados <strong>de</strong> escrita. Os resultados até agora obtidosmostram que as crianças, ao grafarem as vogais, utilizam conhecimentosfonológicos e fonéticos que produzem erros, interpretados como o resultado<strong>de</strong> “vazamentos” da fonologia na ortografia (Miranda, 2007); e apontampara a presença <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> substituições nos erros <strong>de</strong> escritasemelhantes àquelas verificadas por Rangel (2002). Estudos como estereforçam a idéia segundo a qual o professor <strong>de</strong>ve conhecer a natureza daortografia e suas relações com a fonologia e a fonética para tornar maiseficaz sua intervenção pedagógica.O ERRO ORTOGRÁFICO NAS REDAÇÕES DE VESTIBULARDaiani <strong>de</strong> Jesus Garcia (UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel)A escola (e, por que não, a socieda<strong>de</strong>, no geral) co<strong>br</strong>a <strong>de</strong> seus alunos umaescrita escorreita, no entanto, pouco proporciona momentos <strong>de</strong> reflexão75


so<strong>br</strong>e as dificulda<strong>de</strong>s ortográficas da língua. Talvez alguns professoresapresentem resistência em trabalhar a ortografia com receio <strong>de</strong> seremtachados <strong>de</strong> tradicionais e obsoletos. Todavia, é <strong>de</strong> suma importância umtrabalho reflexivo, que oriente os aprendizes, a fim <strong>de</strong> que eles, semconstrangimentos, possam redigir seus textos sem medo <strong>de</strong> errar. Com ointuito <strong>de</strong> averiguar o quão produtivo tem sido o trabalho da escola a esterespeito, este estudo busca analisar a freqüência dos erros ortográficoscometidos pelos egressos do ensino médio a partir da análise das redaçõesdo processo seletivo <strong>de</strong> Verão/2007, da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas. Aamostra é constituída por 100 dissertações escolhidas aleatoriamente, cujoserros encontrados são classificados, <strong>de</strong> acordo com Morais (2003), em duascategorias: regulares e irregulares. Os erros pertencentes à primeira categoriasão aqueles ocasionados pela não observância <strong>de</strong> regras contextuais, como aregra <strong>de</strong> uso do dígrafo ‘rr’, por exemplo. Os irregulares dizem respeitoàqueles casos em que não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir contexto para o uso <strong>de</strong><strong>de</strong>terminado grafema e há no mínimo dois disponíveis, embora apenas umseja <strong>de</strong>finido pela norma. Nossa hipótese era <strong>de</strong> que estes últimosaparecessem com mais freqüência, o que se confirmou. No entanto, nãoesperávamos encontrar tantos erros regulares, visto que já <strong>de</strong>veriam ter sidosanados no contexto escolar. Incorporar as normas ortográficas é um longoprocesso e a escola <strong>de</strong>ve se conscientizar que não é apenas pelo simplescontato com a escrita que se apren<strong>de</strong> ortografia. É necessário um trabalhosistemático que auxiliará o aluno a adquirir certos automatismos que lhepermitirá não per<strong>de</strong>r tanto tempo com a escolha das letras na hora da escrita,ficando, segundo Morais (2003), mais livre para <strong>org</strong>anizar suas idéias nopapel.O PAPEL DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA NOSCONTEXTOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE LÍNGUAPORTUGUESA ESCRITA PARA SURDOSGisele Farias Muck (UNISINOS)Cátia <strong>de</strong> Azevedo Fronza (UNISINOS)Este estudo integra a dissertação <strong>de</strong> Mestrado em Lingüística Aplicada,<strong>de</strong>senvolvida na Universida<strong>de</strong> do Vale do Rio dos Sinos, e tem como base aproposta educacional bilíngüe e bicultural, segundo a qual a língua <strong>de</strong> sinais(Li<strong>br</strong>as) é consi<strong>de</strong>rada a língua própria dos surdos e a Língua Portuguesa, namodalida<strong>de</strong> escrita, é a sua segunda língua, que <strong>de</strong>verá ser aprendida combase na primeira. Essa pesquisa preten<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o papel que a Li<strong>br</strong>as e aLíngua Portuguesa <strong>de</strong>sempenham nos contextos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem daescrita do Português para crianças surdas, refletindo so<strong>br</strong>e a forma como osdois sistemas lingüísticos são abordados, na escola, para proporcionar aossurdos a sua integração com o mundo social e um ensino a<strong>de</strong>quado as suascapacida<strong>de</strong>s. Nessa perspectiva, o presente trabalho discute aspectosrelacionados a concepções <strong>de</strong> língua, à proposta educacional bilíngüe ebicultural, à estrutura da Li<strong>br</strong>as e a sua aquisição como primeira língua dos76


surdos e à aprendizagem da Língua Portuguesa, na modalida<strong>de</strong> escrita, comosegunda língua <strong>de</strong>sses sujeitos. Para a realização <strong>de</strong>ssa investigação, estásendo feito um estudo <strong>de</strong> cunho qualitativo, com base em entrevistas comprofessores, em coletas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s escritas <strong>de</strong> crianças surdas e emobservações e filmagens, no ambiente <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, <strong>de</strong> uma turma <strong>de</strong>primeira, <strong>de</strong> segunda, <strong>de</strong> quarta e <strong>de</strong> quinta série do Ensino Fundamental, <strong>de</strong>uma escola regular da região do Vale do Rio dos Sinos, que aten<strong>de</strong> alunossurdos. Mediante autorização dos professores envolvidos e dos pais ouresponsáveis pelas crianças, foi feita a entrevista com os profissionais, arespeito <strong>de</strong> suas concepções <strong>de</strong> surdo e ouvinte e <strong>de</strong> Li<strong>br</strong>as e LínguaPortuguesa, e, no momento, estão sendo realizadas as observações efilmagens das aulas <strong>de</strong> língua <strong>de</strong>ssas turmas, além da coleta <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sescritas dos alunos surdos, as quais representam o trabalho <strong>de</strong>senvolvido emsala <strong>de</strong> aula. As informações obtidas estão sendo transcritas e analisadas pelapesquisadora, com base nos pressupostos teóricos e nos objetivos dapesquisa. Este trabalho traz, portanto, algumas consi<strong>de</strong>rações a respeito dadissertação <strong>de</strong> Mestrado referente ao papel da Li<strong>br</strong>as e da Língua Portuguesanos contextos <strong>de</strong> ensino-aprendizagem da Língua Portuguesa escrita paracrianças surdas.ME DIGAM EM QUE SOU DIFERENTE DE VOCÊS? : SENTIDOSDE UMA ESCOLA INCLUSIVA PARA PESSOAS COMDEFICIÊNCIA EM UM PROGRAMA DA EJAJamile Delagnelo Fagun<strong>de</strong>s da Silva (FURB)Vivenciamos hoje, no Brasil, um amplo movimento político para a inclusão<strong>de</strong> pessoas com <strong>de</strong>ficiência nas diferentes instituições, particularmente nasescolas <strong>de</strong> ensino regular e nas empresas. A o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> legal <strong>de</strong>inserção das pessoas com <strong>de</strong>ficiência em instituições educacionais eempresarias resulta <strong>de</strong> lutas históricas <strong>de</strong> movimentos sociais por garantia <strong>de</strong>direitos <strong>de</strong> cidadania e igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> para todos. Neste contexto,a solicitação crescente das indústrias catarinenses para a capacitaçãoeducacional e profissional da mão-<strong>de</strong>-o<strong>br</strong>a potencial constituída pelaspessoas com <strong>de</strong>ficiência foi fator <strong>de</strong>terminante para o surgimento <strong>de</strong> umaescola inclusiva no norte <strong>de</strong> Santa Catarina. Nesta escola <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong>Jovens e Adultos são atendidas pessoas que apresentam algum tipo <strong>de</strong><strong>de</strong>ficiência e por algum motivo abandonaram seus estudos na ida<strong>de</strong> regular.O que se preten<strong>de</strong> neste artigo é <strong>de</strong>svelar os sentidos que esta escola têmpara estes sujeitos, refletir so<strong>br</strong>e como acontece o processo <strong>de</strong> interação einclusão na voz <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>le participa: alunos e professores. Os dados dapesquisa foram coletados através <strong>de</strong> um comando enviado pelo correioeletrônico para 03 professores e 11 alunos. Neste comando foi solicitadopara que escrevessem so<strong>br</strong>e o que acreditam ser uma educação inclusiva eque sentido tem estudar/trabalhar nesta escola. Os discursos produzidospelos sujeitos apontam para questões relacionadas a I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e Diferença.Nesta perspectiva os dados foram analisados à luz <strong>de</strong> Silva e Baumann77


consi<strong>de</strong>rando I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e diferença em uma estreita relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência,ligadas a sistemas <strong>de</strong> significação e o processo <strong>de</strong> inclusão foi discutido apartir <strong>de</strong> autores que abordam a educação inclusiva na perspectiva dainterculturalida<strong>de</strong> como Fleuri e Rodrigues. Segundo Rodrigues (2003), aeducação inclusiva <strong>de</strong>ve se constituir como um processo educacional,simultaneamente “para todos e para cada um”. A educação inclusiva buscapartir <strong>de</strong> múltiplos contextos (culturais, subjetivos, sociais e ambientais)promover com as pessoas e grupos, simultânea e articuladamente, aarticulação da diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos, contextos, linguagens, <strong>de</strong> ações eproduções culturais.FLUTUAÇÕES NOS REGISTROS ESCRITOS DO FONEMA /A/ EMCONTEXTO DE NASALIZAÇÃO EM PRÉ-ESCOLARES.Larissa Cristina Berti (UNESP)Lourenço Chacon (UNESP)Alessandra Pagliuso (UNESP)Na aquisição inicial da escrita infantil observa-se, freqüentemente, apresença <strong>de</strong> flutuações nos registros escritos das crianças. Um exemplo <strong>de</strong>flutuação que po<strong>de</strong>mos explorar diz respeito aos registros do fonema /a/ emcontexto <strong>de</strong> nasalização. Nesse sentido, no presente trabalho procurou-seinvestigar: (a) em que medida as crianças, na fase <strong>de</strong> aquisição da escrita,registram o fonema /a/ em contexto <strong>de</strong> nasalização e (b) em caso <strong>de</strong> registros,a que tipos <strong>de</strong> registros escritos (convencionais ou <strong>de</strong>sviantes) as criançasutilizariam para marcarem o fonema acima referido. Para tanto, foramselecionadas ocorrências <strong>de</strong>sse registro extraídas <strong>de</strong> uma proposta textual<strong>de</strong>senvolvida em contexto escolar <strong>de</strong> 20 sujeitos que freqüentavam o Pré IIIda Escola Municipal <strong>de</strong> Educação Infantil Raio <strong>de</strong> Sol da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Marília/SP. Nessa proposta textual havia a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>registro do fonema /a/ em contexto <strong>de</strong> nasalização em nove palavras,computando um total <strong>de</strong> 180 possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ocorrência. Foram<strong>de</strong>scartadas da análise as palavras não interpretáveis (escrita refratária).Constatou-se que <strong>de</strong>ntre os registros interpretáveis (150), apenas 27 (18%)registros estavam <strong>de</strong> acordo com as convenções ortográficas, e 123 (82%)eram registros <strong>de</strong>sviantes. Dentre os registros <strong>de</strong>sviantes, observou-se que: 6(4%) correspon<strong>de</strong>ram ao não registro do fonema /a/ em contexto <strong>de</strong>nasalização; 47 (31%) correspon<strong>de</strong>ram apenas ao registro do elementovocálico; 9 (6%) correspon<strong>de</strong>ram apenas ao registro do elemento nasal e 61(40,66%) correspon<strong>de</strong>ram ao registro <strong>de</strong>sviante do elemento vocálico maiselemento nasal. No que se refere aos 47 registros apenas do elementovocálico, 26 (55%) foram marcados com o grafema “a”, 11 (24%) forammarcados com o grafema “o”, 9 (19%) foram marcados com o grafema “e” eapenas 1 (2%) marcado com o grafema “i”. Em relação aos 9 registrosapenas do elemento nasal, 7 (78%) foram marcados com o grafema “n”,1(11%) foi marcado com o grafema “m” e 1 (11%) com o grafema “nh”.Finalmente, <strong>de</strong>ntre os 61 registros <strong>de</strong>sviantes do elemento vocálico mais o78


elemento nasal, 7 (11%) foram grafados <strong>de</strong> forma que não alteraram aconfiguração fonológica da palavra; e 54 (89%) foram grafados <strong>de</strong> formaque alteraram a configuração fonológica da palavra. Um entrecruzamento <strong>de</strong>fatores (fonoacústico, gráfico-visual e fonotático) parece estar na base <strong>de</strong>uma possível explicação para as principais tendências das flutuações nagrafia do fonema /a/ em contexto <strong>de</strong> nasalização, apontando para o caráterheterogêneo da escrita.TEXTO DE ALUNOS DO ENSINO MÉDIO: UM OLHAR ACERCADO DISCURSO SOBRE O PANORAMA POLÍTICORafaela Lorena Vieira Otte (FURB)Este trabalho intenciona analisar o dizer do sujeito so<strong>br</strong>e seu próprio texto,numa espécie <strong>de</strong> exercício metalingüístico. Trata-se do recorte dadissertação <strong>de</strong> mestrado intitulada “o que veio na cabeça eu escrevi: aheterogeneida<strong>de</strong> nos textos <strong>de</strong> alunos do ensino médio”, que tem comoobjeto o texto <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> ensino médio, mais especificamente do terceiroano <strong>de</strong> uma escola pública <strong>de</strong> Blumenau/SC. Esta pesquisa tem como lugara sala <strong>de</strong> aula, por isso os sujeitos foram convidados a participar <strong>de</strong> umaaula <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> textos, baseada numa seqüência didática (Dolz eSchneuwly), que culminou com a escritura <strong>de</strong> um artigo <strong>de</strong> opinião. Osujeito, um dos que participaram <strong>de</strong>ssa aula, foi entrevistado e comentou otexto que havia produzido naquela aula. A partir <strong>de</strong>sses dizeres - o artigo <strong>de</strong>opinião e a entrevista - é que analisaremos a heterogeneida<strong>de</strong> mostradamarcada, fundamentada por Authier-Revuz. Neste artigo, buscamos odiscurso <strong>de</strong>ste sujeito so<strong>br</strong>e a temática do panorama político daquelaocasião, já que dos textos que compunham a seqüência didática, eleescolheu escrever seu artigo so<strong>br</strong>e essa temática. A análise se pauta emalgumas questões como <strong>de</strong> on<strong>de</strong> vêm os dizeres <strong>de</strong>sse sujeito e o que o levaaos posicionamentos que afirma. As marcas lingüísticas no fio do discursonos sinalizaram alguns lugares que o sujeito aponta como origem do seudizer. Esse exercício metalingüístico realizado pelo sujeito indica muitasreflexões acerca da família e da mídia, so<strong>br</strong>etudo <strong>de</strong> como o discurso so<strong>br</strong>epolítica é construído pelo sujeito, bem como a imagem social do político.O USO DE MECANISMOS DE COESÃO REFERENCIAL NAPRODUÇÃO ESCRITA DE ALUNOS DE 5ª SÉRIEArlete Amaral Corrêa (UFPel)Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) <strong>de</strong> Língua Portuguesapreconizam uma discussão acerca da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> melhorar a qualida<strong>de</strong> daeducação no País. Resultados <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> como os realizados peloInep (2005/2007) e Saers (2007) apontam que os alunos apresentam baixosíndices quanto ao seu <strong>de</strong>sempenho em leitura e escrita, mostrando que asituação atual no que concerne ao ensino <strong>de</strong> língua não é satisfatória. Apesardos avanços dos estudos da Psicolingüística, da Lingüística Aplicada e da79


Lingüística Textual, os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos na sala <strong>de</strong> aula continuampresos a antigas formas <strong>de</strong> trabalho com a gramática, as quais se mantêmprepon<strong>de</strong>rantemente prescritiva, sem preocupação com a leitura e aprodução textual. Neste estudo será analisado o modo como os alunos fazemuso dos mecanismos <strong>de</strong> coesão referencial, conforme <strong>de</strong>scritos por Koch(2002). A amostra é constituída por vinte resumos, produzidos por <strong>de</strong>zalunos <strong>de</strong> 5ª série da Escola Municipal Mate Amargo, da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> RioGran<strong>de</strong>. A hipótese <strong>de</strong>ste trabalho é a <strong>de</strong> que um ensino baseado em umametodologia centrada na produção <strong>de</strong> textos, leituras e ensino produtivo(Halliday, McIntosh e Strevens, 1974) po<strong>de</strong> levar o aluno a ampliar suaspráticas <strong>de</strong> leitura bem como qualificar a sua produção escrita, tanto emrelação a aspectos lingüísticos como discursivos. Na metodologia <strong>de</strong> ensinoutilizada a produção textual <strong>de</strong>corre se ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e são propostosexercícios que visam o <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> síntese e omapeamento (esquemas) do texto; as tarefas <strong>de</strong> escrita visam à ampliaçãoda habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrever um resumo coeso, baseado na leitura <strong>de</strong> um livro,utilizando elementos coesivos referenciais (artigos, pronomes e conjunções),ampliação <strong>de</strong> vocabulário e a distinção entre oralida<strong>de</strong> e escrita; o conjunto<strong>de</strong> ações <strong>de</strong> explicitação gramatical é regularmente utilizado. Para esteestudo são analisados dois textos <strong>de</strong> cada aluno, o primeiro produzido antesda intervenção e o segundo, <strong>de</strong>pois. Os resultados mostram que no primeirotexto há a predominância <strong>de</strong> formas remissivas gramaticais presas; enquantono texto 2, ocorre uma variabilida<strong>de</strong> entre remissivas presas e livres. Houvea seleção <strong>de</strong> informações significativas para compor o resumo, <strong>de</strong>ixandoassim evi<strong>de</strong>nciado que uma prática pedagógica que reserva um espaçoigualitário para tarefas <strong>de</strong> leitura, escrita e gramática, articulando-as <strong>de</strong>forma sistemática, melhora significativamente o <strong>de</strong>sempenho dos alunos emrelação aos usos da língua escrita.A CO-CONSTRUÇÃO DA NARRATIVA EM UMA SALA DE AULABILÍNGÜECristiane Ely Lemke (UNISINOS)O presente trabalho, a Co-construção da Narrativa em uma Sala <strong>de</strong> AulaBilíngüe, faz parte <strong>de</strong> um projeto maior intitulado A co-construção danarrativa na família e na escola, coor<strong>de</strong>nado pela professora Dra. Ana MariaStahl Zilles. Tendo em vista o importante papel das narrativas nas diferentesculturas e a sua contribuição para a formação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e da linguagem,este estudo tem como objetivo analisar como se dá a contação <strong>de</strong> históriasem uma sala <strong>de</strong> aula bilíngüe, procurando respon<strong>de</strong>r a algunsquestionamentos: Como alunos e professores co-constroem significado ecompreensão em um outro idioma, nesse caso o inglês? Como o andaime éfornecido durante esses momentos? Como se configura a estrutura <strong>de</strong>participação durante a contação <strong>de</strong> uma história em uma sala <strong>de</strong> aula? Comoo turno é negociado entre esses participantes? Qual o estilo escolhido pelaprofessora ao narrar: o <strong>de</strong> contadora ou <strong>de</strong> co-construtora da história?80


Para respon<strong>de</strong>rmos a essas perguntas, momentos <strong>de</strong> contação estão sendogravados e então transcritos <strong>de</strong> acordo com as convenções por Jefferson(1984) e traduzidas e adaptadas por Schnack, Pisoni e Ostermann (2005). Osdados até agora mostram que os alunos se orientam para os momentos emque há um ponto relevante para a tomada <strong>de</strong> turno e o tomam quando istoacontece, co-narrando a história e co-construindo significado do que foi dito,através do andaime provido pela professora e também por outros alunos.Mostram também que o estilo adotado pela professora, como <strong>de</strong>scrito porBlok em 1999, <strong>de</strong> falar com a criança ou falar para a criança, influencia aestrutura <strong>de</strong> participação dos alunos durante este momento.A apresentação do trabalho terá uma parte inicial <strong>de</strong> fundamentação teórica e,em seguida, serão analisadas partes <strong>de</strong> transcrições <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong>contação <strong>de</strong> histórias.A APRENDIZAGEM DE INGLÊS EM SALA DE AULA DE LÍNGUAESTRANGEIRA EM ESCOLA PÚBLICA NO BRASILElisabete Andra<strong>de</strong> Longaray (UFRGS)Estampada em jornais, digna <strong>de</strong> pesquisa realizada por consultoresinternacionais, ou na sala <strong>de</strong> estar em meio ao <strong>de</strong>bate daquelas famílias quepo<strong>de</strong>m apostar num futuro melhor para seus filhos, a importância dodomínio <strong>de</strong> uma língua estrangeira, principalmente o inglês, vem chamandoa atenção <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> pesquisadores da área <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> SegundaLíngua nos últimos anos. Muitos <strong>de</strong>sses autores estão preocupados emestabelecer relações entre a aprendizagem da língua estrangeira e questõesi<strong>de</strong>ntitárias que po<strong>de</strong>m resultar num maior ou menor investimento por partedos aprendizes <strong>de</strong> inglês em sala <strong>de</strong> aula. O trabalho aqui relatado explorapesquisas recentes que dão conta <strong>de</strong> tais questões e investiga a existência <strong>de</strong>movimentos <strong>de</strong> não participação, resistência ou <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao discursopredominante na escola, nas famílias e nos meios <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> acordocom os quais o conhecimento da língua inglesa exerce influência direta nofuturo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dos jovens <strong>br</strong>asileiros. Até on<strong>de</strong> isso tudo é verda<strong>de</strong> e,se a língua inglesa é mesmo tão importante, o que acontece com aqueles quenão falam, não lêem, tampouco escrevem nessa língua? Após uma <strong>br</strong>eveintrodução na qual a autora revela sua própria experiência enquanto aprendize professora <strong>de</strong> língua inglesa, este trabalho discute uma série <strong>de</strong> estudos quetêm caráter seminal para a pesquisa do ensino <strong>de</strong> Língua Estrangeira em sala<strong>de</strong> aula no que diz respeito às questões <strong>de</strong> língua e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. A autora fazuso <strong>de</strong> seu estudo (Longaray, 2005) realizado junto aos alunos <strong>de</strong> uma escolapública da região sul do Brasil para revelar a ambivalência existente entre odiscurso politicamente correto sustentado pela maioria <strong>de</strong> seus entrevistadosque <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m o aprendizado da língua inglesa em sala <strong>de</strong> aula e osdiferentes movimentos <strong>de</strong> resistência apresentados pelos mesmos quando emsituação real <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.81


O TEXTO EM SALA DE AULA: A VOZ DOS PROFESSORES DELÍNGUA MATERNAHenriette Luise Steuck (FURB)Otilia Lizete Martins <strong>de</strong> Oliveira Heinig (FURB)Este trabalho é resultado <strong>de</strong> uma pesquisa mais ampla inserida no projetoInvestigação so<strong>br</strong>e o ensino <strong>de</strong> língua materna: ponte entre formar e ensinar.Dentro <strong>de</strong>sse projeto foi <strong>de</strong>senvolvido o subprojeto O ensino da línguamaterna sob o ponto <strong>de</strong> vista do professor formado pela FURB(Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau) que nos permitiu chegar aos dadosaqui apresentados. Essa pesquisa foi realizada no período <strong>de</strong> 2004 a 2005com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar o perfil dos alunos do curso <strong>de</strong> Letras no quediz respeito ao ensino-aprendizagem <strong>de</strong> língua materna. O objetivo <strong>de</strong>stetrabalho aqui apresentado é então compreen<strong>de</strong>r as estratégias que os sujeitos,professores <strong>de</strong> língua materna, utilizam para trabalhar o texto em suas aulastanto para a produção textual quanto para a leitura, e ainda verificar comoavaliam os textos produzidos por seus alunos. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>cunho qualitativo com foco na teoria da enunciação. A coleta <strong>de</strong> dados foirealizada através <strong>de</strong> entrevistas não-diretivas gravadas com egressos docurso <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau (FURB) que, nomomento da coleta <strong>de</strong> dados, estavam atuando como professores <strong>de</strong> LínguaPortuguesa. São sujeitos egressos dos anos <strong>de</strong> 1993 a 2003 (dos últimos <strong>de</strong>zanos contando da data <strong>de</strong> realização da pesquisa). A partir da transcrição eanálise das entrevistas, notou-se que os sujeitos, como professores <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, procuram realizar um trabalho compreen<strong>de</strong>ndo a escrita e aleitura <strong>de</strong> textos como ativida<strong>de</strong>s indispensáveis para a internalização dasregras gramaticais. A maioria dos dizeres dos sujeitos aponta para umtrabalho gramatical realizado a partir <strong>de</strong> textos lidos em sala <strong>de</strong> aula ou entãoproduzidos pelos alunos. Quanto à avaliação dos textos escritos por seusalunos, observou-se que os sujeitos têm o cuidado <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar quem é oaluno que escreveu o texto a ser corrigido, afirmam realizar uma correçãojunto aos alunos comentando os problemas que mais aparecem nos textoscom toda a turma. Alguns ainda trabalham com a reescrita dos textos. Osdizeres dos sujeitos apontam para o compromisso que tem com o outro e adificulda<strong>de</strong> que surge da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atribuir uma nota numérica aostextos <strong>de</strong> seus alunos. Além disso, <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>u-se que os sujeitos têm umamaior preocupação com a estrutura textual, bem como com a questão dacoesão e da coerência em <strong>de</strong>trimento da exclusiva preocupação com os errosrelacionados à norma.PROGRAMA DE EXTENSÃO SENTIDOS PARA ATIVIDADES DELEITURA E ESCRITA NA ESCOLA:UMA COMUNICAÇÃO ENTRE UNIVERSIDADE ECOMUNIDADES.Jeice Campregher (FURB)Osmar <strong>de</strong> Souza (FURB)82


Este artigo objetiva refletir so<strong>br</strong>e a comunicação estabelecida entrecomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Blumenau e FURB – Fundação Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong>Blumenau – através do Programa <strong>de</strong> Extensão “Sentidos para ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>leitura e escrita na escola”. O termo “comunicação” é utilizado, pois oprograma se propõe a estabelecer uma via <strong>de</strong> mão dupla, ou seja, que sejamprovocadas mudanças tanto na comunida<strong>de</strong> como na universida<strong>de</strong>. OPrograma e os projetos vinculados a ele – (1) Ler e escrever históriasfamiliares e (2) Ler e escrever histórias <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s – estão em<strong>de</strong>senvolvimento em escolas públicas municipais e estaduais <strong>de</strong> Blumenau,Santa Catarina, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> 2007, com duração até o final <strong>de</strong> 2008. Afinalida<strong>de</strong> do Programa é permitir que alunos <strong>de</strong> quartas-séries leiam eescrevam textos so<strong>br</strong>e questões familiares e comunitárias, em oposição auma prática escolar que privilegia textos do livro didático, que nem semprepertencem ao universo sócio-cultural dos alunos. Um dos objetivos doPrograma é contribuir na conscientização da relevância <strong>de</strong> um trabalho comoesse. O meio para isso é a socialização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nos doisprojetos, dos objetivos e da teoria que os embasa. Através da socialização,um maior número <strong>de</strong> pessoas é alcançado indiretamente. A socialização estásendo feita em mídia – TV e rádio –, participação em eventos e exposiçõesem turmas <strong>de</strong> Letras da universida<strong>de</strong>. Os fundamentos teóricos que orientamo Programa têm como base outro similar, na Universida<strong>de</strong> do Minho,Uminho, em Braga, Portugal, em que alunos, <strong>de</strong> camadas popularesresgatam a história <strong>de</strong> seus nomes. Esta comunicação relatará como oPrograma em questão está sendo <strong>de</strong>senvolvido. Serão apresentados algunsdados coletados através da produção <strong>de</strong> textos das crianças. E, ainda,apontadas algumas questões acerca da relevância do programa nasdimensões acadêmica, social e institucional.CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA E ALFABETIZAÇÃO: UM OLHARPARA A NÃO-BIUNIVOCIDADE ENTRE A CODIFICAÇÃO EDESCODIFICAÇÃO DOS GRAFEMAS “E” E “O”Lucimar Ferreira da Silva Oliveira (UNISUL)Este trabalho aborda a importância do <strong>de</strong>senvolvimento da consciênciafonológica como principal facilitador da aprendizagem da leitura e da escritapela criança. Tem como objetivo verificar a influência <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong>formação so<strong>br</strong>e os princípios do sistema alfabético do português do Brasil,com base em Scliar-Ca<strong>br</strong>al (2003a; b), nas competências teóricometodológicas<strong>de</strong> docentes das séries iniciais do ensino fundamental no quediz respeito a estratégias <strong>de</strong> ensino aprendizagem so<strong>br</strong>e a relação nãobiunívocaentre a codificação e <strong>de</strong>scodificação dos grafemas “e” e “o”.Enten<strong>de</strong>-se como correspondência biunívoca aquela em que “um elemento <strong>de</strong>um conjunto correspon<strong>de</strong> a apenas um elemento <strong>de</strong> outro conjunto, ou seja, é<strong>de</strong> um para um a correspondência entre os elementos, em ambas as direções.”(Lemle, 2006, p. 17). Para dar conta <strong>de</strong>ste objetivo será ministrado um cursoem regime <strong>de</strong> formação continuada a nove professores que atuam nas séries83


iniciais do ensino fundamental da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Imbituba (SC). Oreferido curso será constituído <strong>de</strong> três estágios: aplicação <strong>de</strong> um pré-teste, quese caracteriza como uma ativida<strong>de</strong> diagnóstica so<strong>br</strong>e as estratégias utilizadaspelos docentes no ensino-aprendizagem do fenômeno em questão;<strong>de</strong>senvolvimento do curso; e reaplicação <strong>de</strong> um pós-teste (mesmo teste aotérmino do curso) para avaliação do progresso (ou não) na formação doprofessor em relação ao objeto em estudo. Na análise dos dados coletados,com base em Scliar-Ca<strong>br</strong>al (2003a; b), serão consi<strong>de</strong>rados os conhecimentosapontados pelo professor antes e <strong>de</strong>pois do curso.UM ESTUDO SOBRE O CONHECIMENTO MORFOLÓGICO DEUM GRUPO DE ALUNOS DE 5ª SÉRIETaiçara Farias Canez Duarte (UFPel)Este trabalho insere-se em uma linha <strong>de</strong> estudos que procura compreen<strong>de</strong>r oque sabe o aluno/aprendiz acerca da estrutura <strong>de</strong> sua língua materna bemcomo o modo como constrói seus conhecimentos so<strong>br</strong>e esse objeto. Váriosaspectos da língua po<strong>de</strong>riam ser explorados, entretanto foram selecionadosaqueles relacionados à morfologia da palavra. Estudos como o <strong>de</strong> Titone(1983) e o <strong>de</strong> Figueira (1998) evi<strong>de</strong>nciam que a criança, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, ésensível aos recursos morfológicos da língua; e estudos como os <strong>de</strong> Basílio(2004) revelam que o reconhecimento dos morfemas da língua nos permiteproduzir e enten<strong>de</strong>r palavras nunca antes ouvidas. Com base nessesresultados e consi<strong>de</strong>rando-se o trabalho <strong>de</strong> Duarte (2006), que ao estudar arelação ortografia-morfologia mostrou que um trabalho <strong>de</strong> explicitação daestrutura morfológica em sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> auxiliar os alunos a resolveremproblemas ortográficos que envolvem este componente do sistema da língua,o estudo agora proposto tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelar os conhecimentos quealunos <strong>de</strong> uma 5ª série do Ensino Fundamental, <strong>de</strong> uma escola da re<strong>de</strong>pública municipal <strong>de</strong> Pelotas, possuem acerca da morfologia da LínguaPortuguesa, para, após, investigar a relação existente entre essesconhecimentos e o <strong>de</strong>sempenho ortográfico dos alunos bem como a possívelconexão entre esses conhecimentos e a complexida<strong>de</strong> ou produtivida<strong>de</strong><strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s na língua. Além disso, a pesquisa preten<strong>de</strong> proporestratégias <strong>de</strong> ensino que permitam ao aluno trabalhar <strong>de</strong> modo consciente arelação ortografia-morfologia. Na primeira etapa da pesquisa preten<strong>de</strong>-se,através do método clínico piagetiano (Carraher, 1989), investigar osconhecimentos que um grupo <strong>de</strong> alunos possui acerca da morfologia dalíngua portuguesa. Os resultados preliminares vêm mostrando que os alunos,embora lancem mão dos morfemas da língua <strong>de</strong> modo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> umaida<strong>de</strong> bastante precoce, não possuem metalinguagem para explicitar seusconhecimentos, especialmente, no que diz respeito a morfemas gramaticaisda língua, fato que po<strong>de</strong> ser um dos responsáveis pelos erros ortográficosencontrados nos textos dos alunos ao longo <strong>de</strong> todo o Ensino Fundamental.84


GT4 Cognição, relevância e interface semântico-pragmáticaCoor<strong>de</strong>nadoresFábio José Rauen (UNISUL)J<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)O PROCESSAMENTO COGNITIVO-INFERENCIAL DAINFORMAÇÃO PELA RELEVÂNCIA: UMA EXEMPLIFICAÇÃOATRAVÉS DE UMA PEÇA PUBLICITÁRIA AUDIOVISUALAline Aver Vanin (PUCRS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é aplicar a Teoria da Relevância, <strong>de</strong> Sperber &Wilson (1995), a uma peça publicitária audiovisual, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrarcomo ocorre a compreensão dos enunciados nas trocas comunicativascotidianas. De acordo com essa teoria, o processamento cognitivo <strong>de</strong>informações leva os indivíduos a reconhecerem as intenções comunicativas<strong>de</strong> seus interlocutores, dando-lhes condições <strong>de</strong> construir as melhoreshipóteses interpretativas possíveis dos enunciados produzidos, indo além donível do dito. Nesse sentido, a formação <strong>de</strong> inferências ocorre através <strong>de</strong>uma comunicação do tipo ostensivo-inferencial, na qual o mecanismo<strong>de</strong>dutivo mental opera com o propósito <strong>de</strong> formar potenciais inferências no<strong>de</strong>correr da interação para então levar à compreensão do que o interlocutorquer transmitir. Pensa-se ser pertinente utilizar como ferramenta um filmepublicitário por esse representar uma situação-tipo <strong>de</strong> comunicação cotidianaatravés das trocas entre os personagens. Dessa forma, é possível corroborar eexemplificar aspectos básicos previstos pela Teoria, investigando-se, nopróprio comercial, as possíveis inferências formadas, as quais po<strong>de</strong>m serdivididas para fins metodológicos. Em primeiro plano, analisam-se asinferências internas, as quais são resultados da interação entre ospersonagens, como uma imitação do que ocorre no dia-a-dia. Em segundo,as inferências externas ao comercial são examinadas, ou seja, aquelasconstruídas pelo público-alvo do filme pelo reconhecimento das intençõesdo anunciante. Assim, mesmo tratando-se do mesmo processo, ainvestigação <strong>de</strong>sses dois tipos <strong>de</strong> inferência separadamente permite que seentenda como os implícitos dos atos comunicativos são percebidos e, damesma forma, como um filme publicitário é capaz <strong>de</strong> chamar a atenção paraseu produto, para então se extraírem benefícios cognitivos maiores <strong>de</strong>esforços mentais mínimos na interpretação dos enunciados. Acrescenta-seque essa relação <strong>de</strong> efeito e esforço é explorada na análise por ser essa <strong>de</strong>crucial importância na <strong>de</strong>finição do que é a Relevância, um dos princípiosque regem o <strong>de</strong>senrolar da comunicação.HUMOR EM QUADRINHOS: HIBRIDIZAÇÃO DE ELEMENTOSIMAGÉTICOS E VERBAIS METAFÓRICOSArlene Koglin (UFSC)Sila Marisa <strong>de</strong> Oliveira (UFSC)85


A partir <strong>de</strong> uma perspectiva cognitivista, este trabalho se propõe discutir opapel da linguagem metafórica verbal e sua relação com as imagens,necessárias para a geração <strong>de</strong> humor nos quadrinhos da Mafalda, <strong>de</strong> criaçãodo cartunista argentino Quino. As tiras são provenientes do livro 1, versãopublicada no Brasil e traduzida por Mouzar Benedito. O critério para aseleção foi a presença <strong>de</strong> linguagem metafórica. A análise será conduzidasob a concepção cognitivista <strong>de</strong> metáfora, cujos aportes teóricosfundamentam-se na premissa <strong>de</strong> que a linguagem metafórica permeia nossomodo <strong>de</strong> pensar, agir e expressar-nos lingüisticamente (LAKOFF;JOHNSON, 1980). Acredita-se que o efeito <strong>de</strong> humor, neste estudo,acontecerá com base na incongruência semântica e/ou ambigüida<strong>de</strong>, vistoque a metáfora apresenta uma duplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planos – literal e metafórico –embora nem sempre o primeiro <strong>de</strong>les seja acessado (GIORA, 1997, 2002).Análises preliminares dos quadrinhos selecionados apontam para o fato <strong>de</strong>que a imagem não apenas constitui-se um elemento imprescindível para acompreensão das metáforas como, em alguns casos, é essencial para ai<strong>de</strong>ntificação e constituição metafórica. O efeito humorístico, por sua vez,sustenta-se no aspecto da hi<strong>br</strong>idização das linguagens envolvidas e tem oenunciado metafórico como fio condutor para sua criação.INTERPRETAÇÕES DO POEMA O BARRO, DE PAULO LEMINSKI:UMA ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIA DASJUSTIFICATIVAS DE AVALIAÇÃO ATRIBUÍDAS PORDOCENTES DE LÍNGUA PORTUGUESA.Eva Lour<strong>de</strong>s Pires (UNISUL)O presente estudo <strong>de</strong> caso faz parte do Projeto Teoria da Relevância:práticas <strong>de</strong> leitura e produção textual em contexto escolar, do Curso <strong>de</strong>Mestrado do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ciências da Linguagem daUnisul. Neste trabalho, <strong>de</strong>screvo e explico os processos ostensivoinferenciaisque permeiam justificativas <strong>de</strong> cinco docentes <strong>de</strong> LínguaPortuguesa para a atribuição <strong>de</strong> notas avaliativas a interpretações do poemaO barro, <strong>de</strong> Paulo Leminski. Para atingir esse objetivo, tomei por base otrabalho <strong>de</strong> Vandresen (2005) e Silveira (2005). Vandresen analisou opoema, com base nos conceitos <strong>de</strong> forma lógica, explicatura e implicatura <strong>de</strong>Sperber e Wilson (1986, 1995) e Carston (1988), gerando critérios <strong>de</strong>avaliação para interpretações <strong>de</strong>sse texto poético. Com base nesses critérios,a autora analisou trinta interpretações redigidas por docentes em capacitação.Dessas trinta interpretações, selecionei doze exemplares, simulando dozeestudantes do terceiro ano ensino médio, para então solicitar que os docenteslessem, avaliassem, atribuíssem nota e justificassem essa nota, nos mol<strong>de</strong>sdo trabalho <strong>de</strong> Silveira. Esta comunicação apresenta os resultados dapesquisa.86


EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO: UMA ANÁLISE À LUZ DATEORIA DA RELEVÂNCIAGeraldo <strong>de</strong> Carvalho (UFMG, Belo Horizonte)Este trabalho visa a contribuir, à luz da Teoria da Relevância (Sperber eWilson, 1986/1995), para o estudo <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> explicitação em tradução(Blum-Kulka, 1986; Steiner, 2005; Hansen-Schirra, Neumann e Steiner,2007, Séguinot, 1988; Englund-Dimitrova, 2005, entre outros). Tomandocomo exemplo um excerto talmúdico em he<strong>br</strong>aico do Tratado <strong>de</strong> BavaMetsia, o presente estudo tem como ponto <strong>de</strong> partida os conceitos <strong>de</strong>explicatura e implicatura postulados por Sperber e Wilson (id.) e objetivaperscrutar o processo inferencial em curso durante a tarefa <strong>de</strong> metarepresentaçãopelo tradutor tanto do ambiente cognitivo da audiência dotexto-fonte quanto daquele da audiência do texto-alvo. Segundo Gutt (2005),o tradutor busca criar em seu texto-alvo o maior efeito cognitivo possívelcom o mínimo <strong>de</strong> esforço processual necessário, guiando-se pelascodificações conceituais e procedimentais, assim como pelas pistascomunicativas do texto-fonte. Valendo-se <strong>de</strong> tais conceitos <strong>de</strong>ntro doarcabouço teórico da Teoria da Relevância, o trabalho preten<strong>de</strong> analisarexplicaturas e implicaturas, fortes e fracas, veiculadas pelo texto-fonte e, apartir <strong>de</strong>sta análise, mapear os processos <strong>de</strong> explicitação nos textos-alvo.Para tanto, serão tomadas as traduções feitas por 08 (oito) tradutoresexpertos do he<strong>br</strong>aico para o português <strong>br</strong>asileiro, tendo como suportemetodológico os relatos retrospectivos, a observação direta e dadosprocessuais capturados em tempo real por meio do programa Camtasia@.Busca-se enten<strong>de</strong>r o processo meta-representacional em curso durante atarefa tradutória, e <strong>de</strong> que forma este processo guia o tradutor na resolução<strong>de</strong> problemas advindos das codificações do texto-fonte. A proposta <strong>de</strong>análise po<strong>de</strong>rá contribuir para a compreensão <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> explicitaçãoem tradução, através do viés inferencial e do monitoramento da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>tradutores expertos, em tempo real, na maneira como lidam com suashabilida<strong>de</strong>s pragmáticas para a <strong>de</strong>codificação lingüística, so<strong>br</strong>etudo tratandose<strong>de</strong> textos produzidos em ambientes cognitivos (parcialmente)<strong>de</strong>sconhecidos do ambiente cognitivo da audiência do texto-alvo.PROCESSOS INFERENCIAIS EM SEMÂNTICAS COGNITIVAS:AUTONOMIA PARCIAL E PRINCÍPIO DA RELEVÂNCIAHeloísa Pedroso <strong>de</strong> Moraes Feltes (UCS)Nesta comunicação, visa-se levantar algumas questões problemáticasrelativas ao tratamento <strong>de</strong> processos inferenciais em mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Semânticaem Lingüística Cognitiva, como a Teoria dos Mo<strong>de</strong>los CognitivosI<strong>de</strong>alizados, a Teoria da Metáfora Conceitual Reformulada e a Teoria <strong>de</strong>Blending, tomando como base o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Har<strong>de</strong>r (1999). Har<strong>de</strong>rafirma que a Lingüística Cognitiva não estabelece uma distinção nítida entrecompetência e performance. É um mo<strong>de</strong>lo baseado no uso sem marcar uma87


distinção entre a linguagem, <strong>de</strong> um lado, e a experiência humana, <strong>de</strong> outro,pois seu propósito é im<strong>br</strong>icar a linguagem em um contexto cognitivo eexperiencial mais amplo. Também não faz uma distinção nítida entrefenômenos cognitivos e fenômenos biológicos, porque as habilida<strong>de</strong>slingüísticas são mediadas por padrões neurológicos. Tais fenômenos sãotratados num continuum. A Lingüística Cognitiva nega, segundo Har<strong>de</strong>r, aexistência <strong>de</strong> um nível sintático puramente formal. Em função disso, esse“continuísmo” po<strong>de</strong> ser responsável por muitos equívocos. O autor <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>uma ontologia baseada na autonomia parcial, que é entendida como “um fatocentral so<strong>br</strong>e as relações entre domínios relacionados: fatos cognitivos sãoparcialmente autônomos <strong>de</strong> fatos <strong>br</strong>utos; fatos lingüísticos são parcialmenteautônomos <strong>de</strong> fatos experienciais; fatos sintáticos são parcialmenteautônomos <strong>de</strong> fatos so<strong>br</strong>e o significado <strong>de</strong> elementos, e fatos sociais sãoparcialmente autônomos <strong>de</strong> fatos mentais”. (p. 196). Pela autonomia parcialseria possível capturar um quadro integrado dos fenômenos sintáticos,semânticos e pragmáticos e, em nosso ponto <strong>de</strong> vista, avaliar o papel <strong>de</strong> umateoria (<strong>de</strong> interface) da inferência, como a Teoria da Relevância, em que oPrincípio da Relevância e conceitos co-<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, pu<strong>de</strong>ssem seroperacionalmente reconstruídos no quadro epistemológico da LingüísticaCognitiva, fornecendo as bases para o tratamento sistemático dos processosinferenciais envolvidos principalmente em acarretamentos metafóricos emetonímicos e operações <strong>de</strong> blending.REDISCUTINDO O CONCEITO DE COMPETÊNCIA DE UMAPERSPECTIVA RELEVANTISTA.José Luiz Vila Real Gonçalves (UFOP)O conceito <strong>de</strong> competência, nas últimas décadas, tem se fixado a partir daspropostas da abordagem modularista nos estudos da cognição e dalinguagem (Fodor, 1983; Chomsky, 1980). Po<strong>de</strong>mos dizer, grosso modo,que esta abordagem postula competência como um fenômeno <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong>uma pré-configuração filogenética que permite a ativação <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>módulos inatos, os quais seriam responsáveis pela manifestação <strong>de</strong> uma série<strong>de</strong> fenômenos cognitivos, bio-mecânicos e interacionais observáveis, ou seja,o <strong>de</strong>sempenho. Em linhas gerais, essa abordagem <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que um indivíduosó po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar <strong>de</strong>terminada tarefa ou um conjunto <strong>de</strong> ações se tiverinternalizada(s) a(s) <strong>de</strong>vida(s) competência(s). Por outro lado, há nasabordagens conexionistas da cognição (e.g. Elman et al., 1996) a postulação<strong>de</strong> que competências e fenômenos cognitivos em geral se dão não pelaativação <strong>de</strong> módulos pré-configurados geneticamente, mas pela progressivaconstrução <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s neuronais e pela estabilização <strong>de</strong> rotinas processuaisnessas re<strong>de</strong>s, as quais <strong>de</strong>rivam, entre outros fatores, da história <strong>de</strong> interaçõese estímulos vivenciados pelo indivíduo. Neste trabalho, pretendo discutir anoção <strong>de</strong> competência a partir <strong>de</strong> uma perspectiva mais a<strong>br</strong>angente,adotando as bases teóricas e epistemológicas das abordagens conexionistas,fundamentado-me em trabalhos recentes acerca do tema (Gonçalves, 2003;88


Alves e Gonçalves, 2006; 2007; Rothe-Neves, 2007) e concentrando o focodo <strong>de</strong>bate na competência do tradutor, so<strong>br</strong>e a qual tenho me <strong>de</strong><strong>br</strong>uçado mais<strong>de</strong>tidamente. Além disto, adotarei conceitos e princípios da Teoria daRelevância (Sperber & Wilson, 1986/1995), os quais têm se mostradoconsistentes e promissores para as questões tratadas neste âmbito. Em linhasgerais, procurarei expandir a noção modularista <strong>de</strong> competênciainternalizada, que é tida como a contrapartida para o <strong>de</strong>sempenho,argumentando em favor do caráter indissociável dos fenômenos cognitivos esócio-interativos, que, da perspectiva aqui adotada, são domínios essenciaispara a constituição <strong>de</strong> qualquer competência. Tais reflexões têm se<strong>de</strong>senvolvido no âmbito da pesquisa Avaliando a Competência do Tradutorem Formação: uma pesquisa empírico-experimental, realizada naUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Ouro Preto, como parte do projeto interinstitucionalUFMG-UFOP/FAPEMIG 8763, intitulado Competência em Tradução: opapel dos conhecimentos <strong>de</strong>clarativo e procedimental na formação <strong>de</strong>tradutores aprendizes.TEORIA DAS INFERÊNCIAS PRAGMÁTICAS DO TIPOIMPLICATURA: POR UMA POTENCIAL APLICAÇÃO PARA OENSINO DO PORTUGUÊS COMO L2.Silvana Souza Silveira (PUCRS)Conhecer o léxico <strong>de</strong> uma língua e ser capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificá-lo não é osuficiente para compreen<strong>de</strong>r o significado implícito <strong>de</strong>ssa língua. Énecessário, também, reconhecer as intenções do falante no momento daenunciação. Este estudo apresentará, primeiramente, os fundamentos dasignificação explícita e da significação implícita, por meio <strong>de</strong> teoriassemânticas e pragmáticas, respectivamente. Argumentaremos que éimpossível pensar nessas teorias como autônomas, se levarmos emconsi<strong>de</strong>ração que a língua é composta <strong>de</strong> aspectos semânticos e pragmáticos,prova <strong>de</strong> que há uma forte interface entre esses dois níveis. A fim <strong>de</strong>mostrarmos como os falantes <strong>de</strong> uma língua inferem no significado implícito,escolhemos a Teoria das Implicaturas <strong>de</strong> Grice (1975), refinada pelaproposta <strong>de</strong> Costa (1984, 2005). Elaboramos um questionário composto <strong>de</strong>21 diálogos composto <strong>de</strong> Implicaturas Convencionais e Conversacionaispara testar o potencial teórico das duas teorias e, também, para verificar sefalantes nativos do português do Brasil e falantes não-nativos do português,especificamente falantes do mandarin, com um período <strong>de</strong> imersão naPontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul – PUCRS, PortoAlegre/RS, Brasil, apresentam diferenças significativas em suas inferências.Concluímos que Grice e Costa oferecem explicações consistentes esistemáticas <strong>de</strong> como inferências pragmáticas são realizadas. O resultado doquestionário mostrou que os dois grupos estudados não apresentamdiferenças estatísticas significantes, embora, do ponto <strong>de</strong> vista qualitativo,tais diferenças parecem ser significantes, especialmente no que diz respeito àcomunicação oral. Além disso, será oferecida como sugestão que os89


professores <strong>de</strong> L2 conheçam as teorias do significado abordadas nesta tesepara que possam, <strong>de</strong>ssa forma, otimizar a sua prática pedagógica.COMO ANALISAR A INTERFACE SEMÂNTICO/PRAGMÁTICADA NEGAÇÃO MÚLTIPLA?Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS)Suponha diferentes tipos <strong>de</strong> negação múltipla, ilustrados com exemplos <strong>de</strong>línguas românicas. Português Brasileiro: (1) Ninguém não me disse nada; (2)Eu não vi nunca jamais nada; (3) Não fui a nenhum lugar com ninguém.Francês: (4) Personne ne m´a rien dit ; (5) Je n´aime ni le vin ni la bière ; (6)Je n´y suis jamais allé avec personne. Espanhol: (7) Nadie me dijo nada; (8)No vino nadie comigo; (9) Nunca fui com nadie a parte alguna. E consi<strong>de</strong>reas seguintes questões relevantes para o tópico: (a) De que maneira, anegação padrão da Lógica <strong>de</strong> Predicados é capaz <strong>de</strong> lidar com a negação daslínguas naturais? (Horn,2001); (b) Que proprieda<strong>de</strong>s semânticas po<strong>de</strong>m seratribuídas a tal variação sintática, dado o Princípio <strong>de</strong> Isomorfia entre duassubteorias lingüísticas? (Cann, 1993); (c) Dado o princípio <strong>de</strong> economia,como a Navalha <strong>de</strong> Occam Modificada (Grice 1978, p. 118-119) que sugereque os sentidos não po<strong>de</strong>m ser multiplicados, o que dizer so<strong>br</strong>e negaçõesmúltiplas como nos exemplos? Semanticamente falando, a que estaredundância está conectada?; e (d) Será possível que a redundância em (c)possa ser explicada através do princípio pragmático da Relevância? (Sperber& Wilson, 1995). Costa (2005) apresenta interessantes insights so<strong>br</strong>e (a), (b)e (c) via uma tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e explicar tais problemas introduzindomecanismos formais <strong>de</strong> regras não-triviais que po<strong>de</strong>m evitar característicastautológicas das contrapartes lógicas da negação. Da mesma forma, será queo uso <strong>de</strong> dupla negação po<strong>de</strong> ser explicado via Relevância? Este trabalho sepropõe a fazer interface entre semântica e pragmática, para dar conta <strong>de</strong> umproblema que perpassa todas as subteorias da Lingüística.A INTERFACE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA NAINTERPRETAÇÃO DOS NUMERAIS: UM ESTUDO EMPÍRICOCarine Haupt (UFSC)Leandra Cristina <strong>de</strong> Oliveira (UFSC)Neste trabalho, discutimos o significado dos numerais a partir da interfaceteórica Semântica e Pragmática. Com base nos pressupostos <strong>de</strong>ssas áreas,diversos autores têm se <strong>de</strong>dicado a analisar a interpretação que os indivíduosfazem dos números. A conseqüência <strong>de</strong>sses múltiplos olhares é a existência<strong>de</strong> teorias convergentes e conflitantes. Nossa atenção está voltada a duasabordagens teóricas divergentes: i) <strong>de</strong> um lado, a teoria neo-griceana,afirmando que ‘um número x’ significa ‘pelo menos x’, e a interpretação‘exatamente x’ é concebida pragmaticamente; ii) <strong>de</strong> outro, estudos que seopõem aos pressupostos neo-griceanos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que ‘um número x’significa ‘exatamente x’; <strong>de</strong>terminados contextos, entretanto, po<strong>de</strong>m gerar a90


interpretação <strong>de</strong> ‘pelo menos x’. Tais posicionamentos motivaram-nos arealizar um estudo empírico que pu<strong>de</strong>sse corroborar uma das teoriassupracitadas. Assim, elaboramos um teste e o aplicamos com crianças eadultos com o objetivo <strong>de</strong> verificar: a) se o numeral po<strong>de</strong> gerar diferentesinterpretações conforme o contexto em que se insere; b) se crianças e adultosinterpretam da mesma forma os numerais. Em seguida, relacionamos osresultados com os estudos: Levinson (2000), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo que ‘dois’ (porexemplo) significa ‘pelo menos dois’; e Geurts (2006), sustentando que‘dois’ significa ‘exatamente dois’, porém certos contextos po<strong>de</strong>m conduzir àinterpretação <strong>de</strong> ‘pelo menos dois’. Em suma, segundo esta últimaabordagem, os numerais, como outros itens lexicais, são polissêmicos. Osresultados <strong>de</strong> nosso teste mostram que a teoria <strong>de</strong> Levinson, bem como <strong>de</strong>outros pesquisadores neo-griceanos, é contestável no que se refere àinterpretação dos numerais. O primeiro aspecto que sustenta essa afirmaçãoé a proximida<strong>de</strong> nos resultados do teste com crianças e adultos.Consi<strong>de</strong>rando que as crianças fazem interpretações lógicas e adultos fazemimplicatura, o esperado seria que os resultados fossem discrepantes, já que ainterpretação lógica dos numerais é ‘pelo menos’ e a interpretaçãopragmática é ‘exatamente’, isto é, crianças e adultos interpretariam <strong>de</strong>maneira diferente as sentenças com numerais, caso a abordagem neogriceanase sustentasse. Nossos resultados corroboram a teoria <strong>de</strong> Geurts:números são polissêmicos – diferentes contextos favorecem diferentesinterpretações. Segundo Geurts, enquanto predicado, os numerais sãointerpretados como ‘exatamente x’, e, enquanto quantificadores, po<strong>de</strong>m serinterpretados tanto como ‘exatamente x’ quanto ‘pelo menos x’, sendo asegunda interpretação <strong>de</strong>rivada da primeira. A partir <strong>de</strong>sta teoria,conseguimos explicar a diferença <strong>de</strong> tratamento que nossos informantes(crianças e adultos) <strong>de</strong>ram aos dois grupos <strong>de</strong> frases, o que não seria possívelcom base na proposta neo-griceana.EXPLICITUDE E EXPLICITAÇÃO EM TRADUÇÃO: UMAANÁLISE DA INTERFACE SEMÂNTICO-PRAGMÁTICA COMBASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIAFabio Alves (UFMG)Este trabalho tem por objetivo contribuir, à luz da Teoria da Relevância(Sperber e Wilson, 1986; 1995), para o estudo <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> explicitaçãoem tradução. Parte-se do princípio, consoante Steiner (2005), que a noção <strong>de</strong>significado implícito é central para a compreensão da explicitação. Estesignificado po<strong>de</strong> ser analisado tanto no domínio da pragmática quanto nodomínio da semântica. O significado implícito no domínio da semânticaestaria condicionado a uma interpretação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das proprieda<strong>de</strong>s dacodificação. Por outro lado, o significado implícito no domínio dapragmática estaria vinculado a uma interpretação <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> um contextoespecífico. Tomando por base a diferenciação feita por Hansen-Schirra,Neumann e Steiner (2007) entre processos <strong>de</strong> explicitu<strong>de</strong> (explicitness), <strong>de</strong>91


ase semântica, e processos <strong>de</strong> explicitação (explicitation), <strong>de</strong> basepragmática, o trabalho busca estabelecer uma distinção entre um conceito <strong>de</strong>explicitação que assume a existência <strong>de</strong> uma contrapartida implícita, nonível do texto e/ou do discurso, para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>explicitação (Steiner, 2005) e um conceito <strong>de</strong> explicitação com base naTeoria da Relevância (Carston, 2002) que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> uma redução do escopoda semântica neste processo e, conseqüentemente, uma ampliação dodomínio da pragmática, uma vez que os significados codificadoslingüisticamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> forma crucial do processamento inferencial.A fim <strong>de</strong> aferir a força <strong>de</strong> argumentação <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas propostas, estetrabalho utiliza como corpus <strong>de</strong> análise um fragmento do romance "A Horada Estrela” <strong>de</strong> Clarice Lispector e suas traduções para o alemão, espanhol einglês. Com base nesses dados, o trabalho busca indagar quais são os fatoresque levam tradutores a contornar problemas, quer seja no nível dacodificação lingüística ou no nível contextual, através da explicitação, notexto-alvo, <strong>de</strong> trechos do texto-fonte cujas características, sob umaperspectiva semântica e/ou pragmática, impossibilitam que a tradução tomepor base apenas a codificação lingüística da língua-fonte. A análise dosdados sugere que os processos <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão em tradução <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>mfundamentalmente <strong>de</strong> uma sinergia entre processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificaçãolingüística e o processamento contextual <strong>de</strong> pistas comunicativas (Gutt,2000), indicando que, <strong>de</strong> acordo com os pressupostos da Teoria daRelevância, os processos inferenciais não se resumem à recuperação <strong>de</strong>implicaturas, mas estão envolvidos também na recuperação <strong>de</strong> explicaturas..Em síntese, as conclusões parecem confirmar a proposta <strong>de</strong> Carston (2002;2006) <strong>de</strong> se alocar um peso maior à pragmática na recuperação <strong>de</strong>explicaturas, avançando em espaços tradicionalmente ocupados pelasemântica.O USO DE MAPAS CONCEITUAIS NO PROCESSO DEAPRENDIZAGEM: UMA QUESTÃO DE RELEVÂNCIAGilberto Keller <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (PUCRS)A Teoria da Aprendizagem Significativa <strong>de</strong> Ausubel <strong>de</strong>u origem à criaçãodos Mapas Conceituais por Novak. A <strong>org</strong>anização <strong>de</strong> um conteúdo (umconceito mais geral que se <strong>de</strong>seja estudar) na forma <strong>de</strong> um mapa <strong>de</strong>conceitos estruturados hierarquicamente (conceitos mais específicos ajudama esclarecer ou compreen<strong>de</strong>r conceitos mais gerais) oferece a opção <strong>de</strong> umaaprendizagem mais econômica (do ponto <strong>de</strong> vista da Teoria da Relevância)ao estudante. Esta é a nossa hipótese central. A pesquisa fará a investigação<strong>de</strong>sta hipótese, na avaliação <strong>de</strong> resumos produzidos por diferentes estudantesem duas situações: um grupo gerará o resumo a partir do texto original e umsegundo grupo gerará o resumo a partir dos mapas conceituais construídospelos próprios integrantes do grupo.92


PUBLICIDADE: UMA QUESTÃO DE RELEVÂNCIAJane Rita Caetano da Silveira (PUCRS)Muito se tem questionado o papel da publicida<strong>de</strong> como uma comunicaçãocaracterizada ora pela imagem que se impõe à palavra, ora pela palavra quese fortalece com a imagem, gerando pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão nosreceptores e, conseqüentemente, uma aceitação/submissão, às vezesinconsciente, da mensagem apresentada. Embora as muitas divergênciasteórico-críticas so<strong>br</strong>e essa questão, há um acordo mais ou menos tácito so<strong>br</strong>ea importância, em maior ou menor grau, em diferentes esferas, que apublicida<strong>de</strong> continua assumindo no mundo contemporâneo, ao invadir, sempedir licença, nossa visão, nossa mente, nossa vida. Neste trabalho, sem<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> reconhecer a polêmica subjacente, e mantendo-a como pano <strong>de</strong>fundo, o nosso propósito a extrapola. Centra-se no profissional <strong>de</strong>publicida<strong>de</strong> e na sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio e conhecimento dosmecanismos lingüísticos, imagéticos e cognitivos que dão vida à “fala”publicitária, cujo objetivo maior é convencer/persuadir o potencialconsumidor para a escolha do produto, serviço ou idéia “à venda”. Ou seja, apreocupação é mostrar como texto e imagem, quando usados a<strong>de</strong>quadamente,po<strong>de</strong>m se tornar estímulos que chamam a atenção do receptor,<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando nele a construção <strong>de</strong> inferências para a compreensão, e quaisos fatores pragmático-cognitivos estão envolvidos nesse processamentoinferencial da informação. Para <strong>de</strong>senvolver essa proposta, seguimos umaabordagem pragmático-cognitiva da comunicação humana, a Teoria daRelevância, <strong>de</strong> Sperber e Wilson (1986, 1995), enfatizando, particularmente,duas proprieda<strong>de</strong>s indissociáveis neste mo<strong>de</strong>lo teórico: a ostensão, por partedo comunicador, e a inferência, por parte do receptor, num processo em quecusto mental e benefício cognitivo-interpretativo são inerentes. Em outraspalavras, buscamos mostrar como uma peça publicitária po<strong>de</strong> constituir umestímulo ostensivo que, ao levar à compreensão da mensagem pretendida,com eficiência e economia, também objetiva criar uma resposta específicano receptor, pois, da mesma forma que qualquer ato comunicativo, apublicida<strong>de</strong> pressupõe interação humana, com uma participação ativa entrecomunicador e <strong>de</strong>stinatário.A RELEVÂNCIA NO PROCESSO DE LEITURA PARA APRODUÇÃO DE RESUMOS ESCOLARES: UMA QUESTÃO DEESCOLHA OU UM PROCESSO ORIENTADO PELA MODALIDADETEXTUAL?Marisa Helena Degasperi (PUCRS)Este estudo aborda a questão da seleção <strong>de</strong> elementos que se processa, já naleitura, quando a ativida<strong>de</strong> está voltada para a produção <strong>de</strong> resumosescolares. O resumo escolar é uma ativida<strong>de</strong> que se apresenta como um tipoparticular <strong>de</strong> texto que se a<strong>de</strong>qua às estruturas <strong>de</strong> um texto fonte, mas quetem características particulares e, entre elas, a principal é a <strong>de</strong> apresentar o93


conteúdo daquele sumarizado. A fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> às idéias contidas no texto fonteé também peculiar a um tipo <strong>de</strong> resumo, entre diferentes tipos que existem.Cabe a este trabalho, com base na Teoria da Relevância, através <strong>de</strong> relatos e<strong>de</strong> produto final <strong>de</strong> escritura <strong>de</strong> resumo, verificar que elementos evi<strong>de</strong>nciamsecomo relevantes em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros e se a seleção é feita <strong>de</strong> maneiraorientada por uma rigi<strong>de</strong>z do mo<strong>de</strong>lo textual ou por escolha pessoal doindivíduo. Também se aborda a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecimentos estruturais <strong>de</strong>gêneros textuais para que a seleção se acomo<strong>de</strong> à ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> resumir,exigindo maior ou menor esforço cognitivo para essa a<strong>de</strong>quação e se ascondições <strong>de</strong> produção exercem influências nos efeitos cognitivos. Oresultado final foi originado <strong>de</strong> entrevistas com estudantes <strong>de</strong> segundo ano<strong>de</strong> Ensino Médio e <strong>de</strong> suas produções nas aulas <strong>de</strong> Português, em uma escolapública do Estado. Através <strong>de</strong>le se constata que o maior esforço gerado naprodução é originado por lacunas cognitivas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m conceitual, estruturale <strong>org</strong>anizacional do texto. Também se percebe que o esforço cognitivo paraa produção, resultado da seleção das informações essenciais do texto fonte,está projetado para o menor esforço cognitivo do leitor, ou seja, para ageração <strong>de</strong> efeitos cognitivos positivos dos enunciados. Isso se explica pelaintenção <strong>de</strong> oferecer, <strong>de</strong> forma mais simplificada para o leitor do resumo, osenunciados que exigiram maior esforço cognitivo do autor na leitura do textofonte, intenção esta verificada tanto nos relatos quanto nas produções finais.Enten<strong>de</strong>-se que o resumo escolar constitui-se num instrumento <strong>de</strong> peculiarimportância para aplicação didática nas aulas <strong>de</strong> línguas e <strong>de</strong> outrasdisciplinas que trabalham com textos. Por isso, esta investigação preten<strong>de</strong>contribuir substancialmente com o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estudos voltadospara esse tipo <strong>de</strong> texto e atribuir-lhe o valor necessário como instrumento <strong>de</strong>aprendizagem.PRAGMÁTICA DO CONFLITO E HISTORIOGRAFIA DALINGÜÍSTICARodrigo B<strong>org</strong>es <strong>de</strong> Faveri (UFPR)O objetivo da proposta é apresentar o intrumental analítico-pragmático dateoria dos discursos polêmicos, ou, como também é conhecida, da teoria dascontrovérsias (Dascal, 1989, 1995, 1998, 2005). Na apresentação daproposta <strong>de</strong> interpretação pragmática, enquanto ferramenta e mo<strong>de</strong>lo para ateoria das controvérsias, será discutido comparativamente as aproximações eos distanciamentos <strong>de</strong>sta abordagem em relação ao mo<strong>de</strong>lo comunicativo dateoria da relevância (Sperber & Wilson, 1982, 1986, 1995). Partindo danoção <strong>de</strong> ‘literalismo mo<strong>de</strong>rado’ (Dascal, 1981), que trata das implicaçõesna interface semântica-pragmática as diferentes formas <strong>de</strong> conceber ocontexto, apresentarei como uma abordagem puramente semântica dasinterações polêmicas é insuficiente para a compreensão do fenômeno dosdiscursos polêmicos, sendo necessária a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> elementosinterpretativos pragmáticos. A concepção <strong>de</strong> contexto <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong>staabordagem, a que <strong>de</strong>nomino por ‘contexto cognitivo’, permite compreen<strong>de</strong>r94


as interações polêmicas como interações dialógicas. Discuto também aconcepção <strong>de</strong> contexto elaborada por Sperber & Wilson e suas implicaçõespara os discursos polêmicos. Em seguida, exploro os mecanismos cognitivosenvolvidos nos processos inferenciais <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> implicaturasenvolvendo as noções <strong>de</strong> ‘exigência conversacional’ e <strong>de</strong> ‘reação’ a estaexigência (Dascal, 1977). Desta forma, torna-se evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>reavaliar a idéia <strong>de</strong> ‘unida<strong>de</strong> mínima’ em pragmática (Clark, 1992, 2004) e aimportância da concepção cognitiva <strong>de</strong> contexto, proporcionando oequilí<strong>br</strong>io entre as estruturas semânticas e pragmáticas da significação nosprocessos <strong>de</strong> interpretação e compreensão. Na apresentação <strong>de</strong>sta proposta,elaboro o levantamento comparativo das suas características em relação àteoria da relevância <strong>de</strong> Sperber & Wilson, elencando as vantagens e<strong>de</strong>svantagens <strong>de</strong> ambas as abordagens para a análise das interaçõespolêmicas. Aplico este aparato analítico a um caso empírico <strong>de</strong> discursopolêmico na historiografia lingüística representado pelo <strong>de</strong>bate Searle-Chosmky. Apesar <strong>de</strong> parecer consensual que a gramática gerativa (GG)representa uma revolução científica na história da lingüística, opondo-se aopensamento lingüístico que a antece<strong>de</strong>u, os contínuos <strong>de</strong>bates científicos efilosóficos envolvendo a GG, foram paulatinamente inserindo a perspectivagerativista na história do pensamento lingüístico e também propiciando oseu <strong>de</strong>senvolvimento. Minha proposta consi<strong>de</strong>ra que o <strong>de</strong>senvolvimentohistoriográfico e epistemológico da GG é caracterizado por um processodialógico que po<strong>de</strong> ser melhor compreendido através da aplicação da teoriapragmática, mais especificamente na forma <strong>de</strong> uma pragmática do conflito,que combina elementos pragmáticos com a interpretação histórico-filosóficaproporcionado pela teoria das controvérsias. Esta abordagem possibilitainterpretar e compreen<strong>de</strong>r a chamada “revolução chomskyana” como umasérie <strong>de</strong> controvérsias.A RELEVÂNCIA EM LITERATURA: A CONSTRUÇÃO DACOERÊNCIA EM “O MEZ DA GRIPPE”, DE VALÊNCIO XAVIERAna Sueli Ribeiro Vandresen (FAPI)Este estudo <strong>de</strong> caso em <strong>de</strong>senvolvimento visa investigar a consistência daTeoria da Relevância, <strong>de</strong> Sperber e Wilson (1986; 1995), no tratamento daconstrução da coerência textual em textos literários pós-mo<strong>de</strong>rnistas. Essateoria é um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> comunicação e cognição humana que postula ser estaúltima – a cognição humana, operada por inferências, com base narelevância. A fim <strong>de</strong> investigar essa consistência, selecionou-se cincofragmentos <strong>de</strong> “O Mez da Grippe”, <strong>de</strong> Valêncio Xavier, por tratar-se <strong>de</strong> umtexto que mescla linguagem verbal com linguagem visual. A seguintepergunta norteia este estudo: A Teoria da Relevância é, realmente,consistente para a reconstrução dos processos inferenciais necessários para aatribuição <strong>de</strong> coerência a textos literários pós-mo<strong>de</strong>rnistas? Apesar <strong>de</strong>inconcluso, este estudo aponta para a consistência <strong>de</strong>sta teoria nesseprocesso.95


TEORIA DA RELEVÂNCIA EM NEVE SOBRE OS CEDROSCélia Maria da Silva (UNISUL-Florianópolis)A Teoria da Relevância – <strong>de</strong> Sperber e Wilson (1986, 1995) e Carston(1988) – analisa os atos comunicativos e <strong>de</strong>screve-os como processosostensivo-inferenciais inerentes ao ser humano. Para a Teoria, as atitu<strong>de</strong>sproposicionais que acompanham uma ação comunicativa são importantespara que o interlocutor/ouvinte acione sua memória enciclopédica,juntamente com um processo <strong>de</strong> lógica e infira as intenções (comunicativa einformativa) <strong>de</strong>ste interlocutor/falante. Com base nesta Teoria, foramanalisadas as ações comunicativas do personagem Ishmael Chambers nofilme Neve so<strong>br</strong>e os cedros, <strong>de</strong> Scott Hicks (1999), que se angustia entreajudar ou não o réu no julgamento.SOBRE RELEVÂNCIA E IRRELEVÂNCIAS: PRINCÍPIO DERELEVÂNCIA E VARIÁVEIS DE EXAUSTÃO E DE SATURAÇÃOFábio Jose Rauen (UNISUL-Tubarão)Para a teoria da relevância, a noção <strong>de</strong> relevância <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma economiabaseada na relação entre custos e benefícios, <strong>de</strong> modo que quanto maioressão os benefícios e menores os custos, maior é a relevância <strong>de</strong> um input.Costa (2005), porém, apresenta sete eventos comunicativos que <strong>de</strong>safiamessa relação. Neste ensaio, analisam-se esses casos, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo-se a tese <strong>de</strong>que em estados tensos ou distensos os seres humanos ten<strong>de</strong>m a ser guiadospara a maximização da relevância, mas essa maximização é mo<strong>de</strong>rada pelasvariáveis <strong>de</strong> exaustão e saturação.RELEVÂNCIA, FALÁCIAS E KLUGESJ<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)A Teoria da Relevância (TR) <strong>de</strong> Sperber e Wilson, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas formasclássicas <strong>de</strong> 1986 e 1995, tem sido sustentada por dois princípiosfundamentais, o Princípio Cognitivo da Relevância e o PrincípioComunicativo da Relevância, ambos enraizados numa relação <strong>de</strong>custo/benefício, cuja direção básica é explicar a racionalida<strong>de</strong> dacomunicação humana. Nessa perspectiva, as inferências não-triviais, não<strong>de</strong>monstrativas,ou cotidianas, em oposição às formas <strong>de</strong>dutivas <strong>de</strong>senhadaspela Lógica Clássica, justificam-se como orientadas pela noção <strong>de</strong>relevância que se so<strong>br</strong>epõe às regras tradicionais <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação,especialmente às <strong>de</strong> introdução. O trabalho que se propõe aqui é oquestionamento <strong>de</strong> como funcionam as falácias argumentativas, dado quesão persuasivas na comunicação cotidiana, mas ancoradas, por <strong>de</strong>finição, nainvalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>dutiva. Como compatibilizar na TR relevância e invalida<strong>de</strong>, oucomo consi<strong>de</strong>rar invalida<strong>de</strong> argumentativa, que leva a conclusões in<strong>de</strong>vidas,um processo relevante? Recentemente, Costa (2006) tem consi<strong>de</strong>rado oprocesso inferencial <strong>de</strong>dutivo, em sua expressão comunicativa rotineira,96


como sujeito a interferências semântico-pragmáticas que levam a falácias.Como ficam os referidos princípios da TR nesse tipo <strong>de</strong> situação em queso<strong>br</strong>e falácias, lingüisticamente justificáveis, constrói-se uma racionalida<strong>de</strong>problemática? Marcus (2008) tem-se valido do raciocínio falacioso,persuasivo e convincente como um tipo <strong>de</strong> evidência para a metáfora <strong>de</strong> quea mente humana é construída so<strong>br</strong>e “Kluges”, ou peças imperfeitas, aindaque eficientes. Seriam os processos falaciosos justificáveis por “kluges” eestes ameaças à racionalida<strong>de</strong> relevante?INFERÊNCIAS: A FORÇA PERSUASIVA DO DITO PELO NÃODITO EM TEXTOS DE ALEGORIAReginaldo Nascimento Neto (UNIOESTE)Este artigo preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r que as inferências lingüísticas têm forçapersuasiva capaz <strong>de</strong> retratar, reforçar e estabelecer condicionamentos sociais<strong>de</strong> forma sub-reptícia. Parte-se do pressuposto <strong>de</strong> que a manipulação <strong>de</strong>processos inferenciais po<strong>de</strong> instilar veladamente silhuetas i<strong>de</strong>ológicasmúltiplas anulando o arbítrio da individualida<strong>de</strong>. Após expor que os textosescritos são estruturas permeadas <strong>de</strong> poros e ambigüida<strong>de</strong>s, discute-se opapel da inferência como dispositivo que preenche as lacunas textuais comsignificado e coerência em conformida<strong>de</strong> ao conhecimento previamenteestabelecido durante a primeira socialização que, via linguagem, cunha osarbítrios mentais que <strong>de</strong>terminarão seus juízos <strong>de</strong> valor e significação <strong>de</strong>mundo. Nesse sentido, buscou-se respaldo teórico nos escritos <strong>de</strong> Pinker(1997), Chemiak (1983), Vigotsky (1993), e Dennet (1987) no que concerneao funcionamento do pensamento; Silva (2001), Charau<strong>de</strong>au (2007), quantoao discurso e persuasão; Labov (1994), Damke(1992), no que trata asociolingüística, Goffman (2002), Bourdieu (2005) Berger e Luckman(1994)quanto à relação linguagem e socieda<strong>de</strong>, Lipton (2004), Sperber & Wilson(1995), Goodman (1970), Kleiman (1989), Koch (1993) e Marcuschi(1994)referente à inferência. Segue-se a perspectiva sócio-cognitiva concluindo-seque a leitura centra-se no leitor. É nele que ocorrem as inferências, isto é, oleitor é quem completa, sob a égi<strong>de</strong> das pistas lingüísticas, os poros inerentesa um texto por meio <strong>de</strong> conhecimentos partilhados ou situados que lhe sãoacumulados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a socialização primária.INFLUÊNCIA DA INTERVENÇÃO ESCRITA DO DOCENTE EMTEXTOS DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVOS REESCRITOS:ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIARosane Maria Bolzan (UNISUL, CEFET-SC-São José)Com base na Teoria da Relevância, esta pesquisa analisou a influência doregistro escrito <strong>de</strong> questões <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m (perguntas-QU) pelo docentena explicitação lingüística dos elementos da forma lógico-proposicional dosenunciados da reescrita <strong>de</strong> produções textuais dissertativo-argumentativas <strong>de</strong>estudantes do ensino médio. Para tanto, trabalhamos com estudantes da 1ª97


fase do ensino médio do CEFET/SC – em São José. O trabalho <strong>de</strong>senvolveuseem três etapas. Na primeira, solicitamos aos alunos que escrevessem umadissertação com base em um texto <strong>de</strong> base. Na segunda tarefa, analisamos ostextos e elaboramos perguntas-QU em enunciados com lacunas lógicas. Aterceira tarefa consistiu na reescrita das dissertações pelos alunos,consi<strong>de</strong>rando as perguntas-QU registradas nas redações. Dos trinta e umtextos coletados, selecionamos quinze, consi<strong>de</strong>rados problemáticos sob aótica da falta <strong>de</strong> estrutura lógico-proposicional. Desses quinze alunos,<strong>de</strong>vido à repetição dos casos, selecionamos os dados do aluno 1. Dos outrostextos, selecionamos e analisamos alguns recortes sob o ponto <strong>de</strong> vista dasvárias marcas <strong>de</strong>ixadas pelo aluno na reescrita do texto, a saber, do texto <strong>de</strong>base, da primeira produção do aluno, da intervenção docente e tambémmarcas inéditas. Os resultados <strong>de</strong>monstraram a a<strong>de</strong>quação dos três níveisrepresentacionais – forma lógica, explicatura e implicatura – propostos porSperber e Wilson (1986, 1995 [2001]) e Carston (1988) para a <strong>de</strong>scrição e aexplicação dos processos ostensivo-inferenciais envolvidos na interpretaçãoe na produção textual. Com base no instrumento <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> dados e nametodologia adotada por Rauen (2005), observamos que os enunciados dareescrita foram mais explícitos, formando escalas focais completasinfluenciadas pelas perguntas-QU do docente. Nessa reescrita, houveinfluência dos ambientes cognitivos <strong>de</strong> fases anteriores: marcas do texto <strong>de</strong>base, marcas da primeira produção textual dos alunos, marcas da intervençãodo professor, através <strong>de</strong> perguntas-QU, e marcas inéditas.GT 5 Processos <strong>de</strong> Construção TextualCoor<strong>de</strong>nadoresIara Bemquerer Costa (UFPR)Luciana Pereira da Silva (UTFPR)O ENSINO DA ESCRITA E A REDAÇÃO DE VESTIBULARMárcia Dresch (UniRitter)Este trabalho, produzido a partir <strong>de</strong> uma pesquisa com provas <strong>de</strong> redação <strong>de</strong>vestibular, ao mesmo tempo em que busca apreen<strong>de</strong>r nas produções escritascomo se constrói a argumentação do ponto <strong>de</strong> vista lingüístico – coerênciaentre as partes, articulação <strong>de</strong> frases e parágrafos, ocorrência <strong>de</strong> marcaçãotemporal, etc. –, avança na investigação dos discursos que perpassam essestextos. A pesquisa oferece contribuição ao ensino da escrita na escola e tomacomo pressupostos teóricos os estudos so<strong>br</strong>e texto e discurso. Num primeiromomento, coteja os textos que compõem o corpus (200 redações <strong>de</strong>vestibular do Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul- Brasil) com as orientações <strong>de</strong>manuais <strong>de</strong> ensino utilizados por escolas <strong>de</strong> ensino médio e cursinhos prévestibulares,estabelecendo relação entre essas orientações e a estrutura dotexto, sua conformação argumentativa e a constituição da autoria. Comoresultados parciais da pesquisa, <strong>de</strong>stacam-se nos textos a alta produtivida<strong>de</strong>98


<strong>de</strong> advérbios <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> lugar, a uniformida<strong>de</strong> no uso <strong>de</strong> algunselementos seqüencializadores e o diálogo manifesto com discursos quecirculam na socieda<strong>de</strong>.A COERÊNCIA COMO CRITÉRIO DE AVALIAÇÃO PARATEXTOS PRODUZIDOS EM SITUAÇÃO DE EXAME VESTIBULARLuciana Pereira da Silva (UTFPR)O presente trabalho objetiva discutir a avaliação <strong>de</strong> produções originadas emresposta a questões do exame vestibular da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná(UFPR). Nessa avaliação, preten<strong>de</strong>-se empregar a perspectiva da coerênciatextual ¾ importante fator <strong>de</strong> legibilida<strong>de</strong> dos textos. Teoricamentepartilhamos das elaborações presentes nos trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos porBeaugran<strong>de</strong> e Dressler (1981), Charolles (1978), Koch (1997) e Koch eTravaglia (1989, 1990). A partir <strong>de</strong>sses autores, po<strong>de</strong>-se apresentar acoerência como um critério <strong>de</strong> interpretabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> atribuição <strong>de</strong> sentido.Tal sentido não está no texto, mas é construído a partir <strong>de</strong> elementossubjacentes à superfície textual e vinculado ao contexto a aos parceiros dainteração. Para tanto, são elencados fatores responsáveis por essainterpretabilida<strong>de</strong>; fatores esses <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m cognitiva, situacional,sociocultural e interacional. Com esse arcabouço teórico, po<strong>de</strong>-se examinartanto os textos que compõem as propostas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> texto quanto asproduções <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ssas, atentando-se para a pertinência da atribuiçãoda coerência, por parte do candidato, das primeiras para a elaboração eficazdas segundas.O GÊNERO RESUMO NA PROVA DE PRODUÇÃO DE TEXTO DOVESTIBULARJosélia Ribeiro (UFPR)O ensino, hoje, quando trata da análise <strong>de</strong> textos, <strong>de</strong> leitura e produçãotextual se pauta nos estudos so<strong>br</strong>e gêneros, os quais são tratados como objeto<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> leitura, compreensão e produção <strong>de</strong> textos escritos e orais.Dentro <strong>de</strong>ssa perspectiva estabelecida, ao fim do Ensino Médio, o aluno<strong>de</strong>ve mostrar-se apto a ler e produzir os mais diversos gêneros textuais nasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> que participar; isto é, <strong>de</strong>ve dominar diferentes gêneros textuaisque circulam mais comumente em seu universo cotidiano. Na prova <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> textos da UFPR, o candidato se vê frente a um <strong>de</strong>safio: <strong>de</strong>vereconhecer, ou, ainda, produzir textos com características <strong>de</strong> um<strong>de</strong>terminado gênero textual. Artigo <strong>de</strong> opinião, editorial, charge, gráfico,resumo, tira, entrevista, tabela, poema são alguns dos gêneros maisrecorrentes da prova da UFPR. Os textos que representam esses gêneros são“pinçados” <strong>de</strong> veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>de</strong> a<strong>br</strong>angência nacional, tais comoFolha <strong>de</strong> São Paulo, IstoÉ, Veja, Superinteressante, Ciência Hoje etc., ouseja, acredita-se que esses textos circulam em esferas sociais das quais oscandidatos a uma vaga na instituição fazem parte. Tomando por referência a99


proposta <strong>de</strong> produção textual que exige o gênero resumo, serão analisadostrês textos produzidos por candidatos no vestibular 2008. Na proposta emquestão, um “trabalho <strong>de</strong> mão dupla” acontece: o candidato <strong>de</strong>ve reconhecero gênero artigo <strong>de</strong> opinião e produzir o gênero resumo. Com relação a essesgêneros, o que será significativo para que o candidato confeccione um textoa<strong>de</strong>quado ao que é solicitado na proposta? Como o candidato se sai nostextos selecionados para análise? Essas questões constituirão o foco maior<strong>de</strong>ste trabalho que tem o objetivo <strong>de</strong> contribuir para o estudo dos processos<strong>de</strong> construção do gênero resumo, o qual, acredita-se, fará parte da vidaacadêmica do candidato aprovado.A ARGUMENTAÇÃO EQUÍVOCA EM TEXTOS DEVESTIBULANDOSClaudia Men<strong>de</strong>s Campos (UFPR)O projeto <strong>de</strong> extensão “Pensando o letramento na educação básica”,promovido pelo grupo <strong>de</strong> pesquisa Processos <strong>de</strong> Construção Textual,propôs-se a investigar algumas das características dos textos produzidos porcandidatos na prova <strong>de</strong> Compreensão e Produção <strong>de</strong> Textos do Processoseletivo 2007/2008 da UFPR, com vistas a i<strong>de</strong>ntificar os principaisproblemas apresentados por eles. Dentre tais características, está aarticulação textual, mais especificamente os enca<strong>de</strong>amentos argumentativos.É interessante observar o aparente encontro entre a escrita <strong>de</strong>ssesvestibulandos e a escrita infantil, no que diz respeito à imprevisibilida<strong>de</strong> dasocorrências ali encontradas e mesmo a certa in<strong>de</strong>terminação i<strong>de</strong>ntificadastanto na escrita da criança quanto nos textos investigados neste projeto. Istoé, também no texto dos vestibulandos os efeitos <strong>de</strong> argumentação sãoproduzidos ora pela atualização <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>amentos do tipo X conectivo Y, orapor sua orientação argumentativa, sendo que nem sempre o preenchimentodas variáveis dos enca<strong>de</strong>amentos argumentativos se dá <strong>de</strong> modo claro ea<strong>de</strong>quado. Nesses casos, a sua interpretação fica suscetível à i<strong>de</strong>ntificação,pelo leitor, da orientação argumentativa do texto, prejudicando a clarezaesperada em textos produzidos nesse contexto e produzindo certain<strong>de</strong>terminação quanto ao posicionamento argumentativo sustentado. Aimprevisibilida<strong>de</strong> mencionada acima diz respeito aos <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong>sentido i<strong>de</strong>ntificados na escrita da criança, que se fazem presentes tambémna escrita produzida em situação <strong>de</strong> exame vestibular sempre que opreenchimento da ca<strong>de</strong>ia se dá <strong>de</strong> modo equívoco do ponto <strong>de</strong> vista doleitor(-examinador), representante da língua constituída. Em outras palavras,encontramos nesta escrita, do mesmo modo que na da criança, ainda que emmenor extensão, preenchimento insólito das variáveis abertas na ca<strong>de</strong>ia peloconectivo, uso equívoco do conectivo, contradições entre os segmentosenca<strong>de</strong>ados, cruzamento <strong>de</strong> estruturas sintáticas, incompletu<strong>de</strong> (ou mesmoausência) <strong>de</strong> uma das variáveis do enca<strong>de</strong>amento. Nesta comunicação,pretendo discutir a caracterização <strong>de</strong> tais enca<strong>de</strong>amentos em alguns dostextos <strong>de</strong>sse corpus, focalizando a imprevisibilida<strong>de</strong> do preenchimento das100


variáveis nos enca<strong>de</strong>amentos. Para <strong>de</strong>senvolver esta investigação, recorro àconcepção <strong>de</strong> argumentação da semântica da enunciação, segundo a qual aconstituição dos sentidos no texto po<strong>de</strong> ser estudada através <strong>de</strong> uma relaçãoentre texto e discurso que leve em consi<strong>de</strong>ração a estrutura e a orientaçãoargumentativa, os jogos polifônicos e o interdiscurso.A RELAÇÃO ENTRE REFERENCIAÇÃO E GÊNERO TEXTUALNA CONSTRUÇÃO DO SENTIDO NO TEXTODaniela Zimmermann Machado (UFPR)Este trabalho tem como objetivo averiguar a relação entre referenciação -especificamente as anáforas indiretas (AI) - e gênero textual. Com esteintento, analisamos os processos <strong>de</strong> referenciação textual, no caso asanáforas indiretas, presentes nas redações dos candidatos do vestibular daUFPR, nos anos <strong>de</strong> 2007 e 2008. Estão sendo analisadas 600 redações,embasadas em 6 questões que contemplam as seguintes seqüências textuais:argumentativa, <strong>de</strong>scritiva e expositiva, <strong>de</strong> Adam (2001). Enten<strong>de</strong>mos porreferenciação o processo coesivo que diz respeito à relação anafórica <strong>de</strong>retomada, inferência e referência <strong>de</strong> elementos do/no texto, sendo asanáforas indiretas os elementos referenciais da or<strong>de</strong>m da inserção <strong>de</strong>elementos novos, porém previsíveis na estrutura textual. As seqüênciastextuais po<strong>de</strong>m ser vistas, aqui, como mecanismos <strong>de</strong> construção dainfraestrutura do texto (Bronckart 2003), que, acreditamos, possuem certascaracterísticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação e composição <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado tipo textual.Ou seja, há elementos que constituem cada seqüência textual. Pensamos emuma possível relação entre o gênero textual, a seqüência que constitui talgênero, e os elementos <strong>de</strong> referenciação, tentando estabelecer e encontraralguma correspondência, entre essas características textuais, que contribuana constituição do sentido do texto. Até o momento, o corpus analisadosinalizou para o uso <strong>de</strong> AI em opções argumentativas pressupostas emqualquer propósito comunicativo, conforme sinalizado pelas novas teorias daRetórica (Reboul 1998, Perelman & Ol<strong>br</strong>echts-Tyteca, 2005) e notadotambém em Ducrot 1989. Até o Encontro do <strong>Celsul</strong>, teremos condições <strong>de</strong>expor os resultados finais <strong>de</strong> nossa investigação, bem como as confirmações(ou não) da possível relação entre gênero e referenciação na construção dosentido <strong>de</strong> um texto. Para este estudo, buscamos fundamentos na retórica, apartir dos trabalhos <strong>de</strong> Perelman & Ol<strong>br</strong>echts-Tyteca (2005) e Reboul (2004),observando os tipos <strong>de</strong> argumentos (lógicos, simétricos etc.), relacionandooscom os elementos anafóricos presentes nos textos dos candidatos;apoiamo-nos também em Ducrot (1989), no que diz respeito à argumentação;Adam (1999/2001), no que concerne ao estudo das seqüências textuais; emMarcuschi (2002), Koch (2002/2005) e Cavalcante (2005), no estudo dasanáforas indiretas, e Bronckart (2007) no que diz respeito ao estudointeracionista sociodiscursivo, uma vez que é a partir <strong>de</strong>sta teoria quepensamos e relacionamos as noções <strong>de</strong> argumentação, <strong>de</strong> referenciação, <strong>de</strong>texto e <strong>de</strong> produção escrita dos candidatos.101


ASPECTOS DA PROGRESSÃO TEMPORAL EM NARRATIVASORAIS E ESCRITASLou-Ann Kleppa (UNICAMP)Renato Miguel Basso (UNICAMP)Neste trabalho, apresentamos uma análise da progressão temporal emnarrativas construídas numa situação experimental, utilizando as ferramentaspropostas pela DRT. A análise da progressão temporal <strong>de</strong> uma narrativa<strong>org</strong>aniza os eventos contidos na estória numa suposta linha do tempo, naqual eventos são apresentados como tendo ocorrido anteriormente ouposteriormente a outros eventos e em relação ao momento <strong>de</strong> fala ou aalgum outro que sirva <strong>de</strong> ponto <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ração temporal. A progressãotemporal po<strong>de</strong> ser marcada <strong>de</strong> diferentes formas: (i) no verbo, através <strong>de</strong>marcas <strong>de</strong> tempo e aspecto; (ii) com advérbios (<strong>de</strong>pois, então, antes); (iii)através <strong>de</strong> estruturas retóricas específicas (causa e efeito, explicação, etc.).Buscamos essas marcas e como se dá seu uso, por meio <strong>de</strong> narrativas criadaspor adultos com nível universitário, a partir <strong>de</strong> oito fotografias que lhesforam apresentadas, sempre na mesma or<strong>de</strong>m para cada sujeito. Solicitou-seaos participantes do experimento que iniciassem suas narrativas com ‘Erauma vez’, na expectativa <strong>de</strong> que o gênero dos contos <strong>de</strong> fada lhes servisse <strong>de</strong>base para as estórias. Trabalhamos com dados obtidos <strong>de</strong> duas maneiras: umgrupo <strong>de</strong> 9 professores (das disciplinas <strong>de</strong> Português, Educação Física eArtes), participantes do programa <strong>de</strong> formação continuada ‘Teia do Saber’,<strong>de</strong> uma escola estadual em Pindamonhangaba escreveu suas narrativas apartir das imagens que lhe eram mostradas pela investigadora; enquanto ooutro grupo composto <strong>de</strong> 8 universitários e recém-formados (que cursa(ra)mLetras, Lingüística, Midialogia, Química e Educação Física) contou suasestórias oralmente para a mesma investigadora, que as gravou em áudio.Além <strong>de</strong> investigarmos como se dá a estruturação temporal das narrativasnessa situação experimental específica, i.e. a seqüência <strong>de</strong> fotografias,apresentamos também diferenças que encontramos na comparação dosgêneros oral e escrito, tanto do ponto <strong>de</strong> vista quantitativo (quais os recursosmais utilizados num e noutro gênero), quanto qualitativo (as diferentesestratégias mobilizadas acarretam que tipos <strong>de</strong> efeito semântico-pragmáticono ouvinte ou leitor que acompanha essas narrativas). Por fim, resta dizerque a DRT nos proporcionará também o formalismo utilizado para aapreensão da progressão temporal.A CONSTRUÇÃO DO TEXTO: O USO DA ANÁFORA EM TEXTOSDE ALUNOS DO 3º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL AO 3º ANODO ENSINO MÉDIOMarilei<strong>de</strong> dos Santos <strong>de</strong> Oliveira (UESC – Ilhéus)Nossa pesquisa foi direcionada para a produção <strong>de</strong> textos, escritos aolongo da vida escolar, tendo como objeto <strong>de</strong> estudo a coesão textual, em102


especial a Anáfora Associativa. Com esse direcionamento, analisamoscem textos escolares, da 3ª série do Ensino Fundamental ao 3º ano doEnsino Médio, coletados em dois momentos distintos: nas aulas <strong>de</strong>História e nas <strong>de</strong> Língua Materna. O objetivo era verificar se haviadiferença no uso das Anáforas Associativas nos dois tipos <strong>de</strong> textos e seesse uso se intensificava ao longo da vida escolar. Após a análise ediscussão dos dados, chegamos aos seguintes resultados: a) nos textos <strong>de</strong>História não há, em resultados percentuais, um maior uso das AA, mas érelevante a predominância das anáforas construídas com SN <strong>de</strong>finidos eexpressões nominais <strong>de</strong>finidas. Em função disso, po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>duzir que osalunos, ao usarem em maior intensida<strong>de</strong> esses recursos, <strong>de</strong> acordo com omo<strong>de</strong>lo teórico <strong>de</strong> BERRENDONNER (1995), assim o fazem pelavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> informações que os SN <strong>de</strong>finidos e as expressões nominais<strong>de</strong>finidas comportam, perceptíveis através dos seus atributos e que vãoaumentando, em quantida<strong>de</strong> e em qualida<strong>de</strong>, à medida que os alunosamadurecem como produtores <strong>de</strong> textos; b) as estratégias <strong>de</strong> uso daAnáfora Associativa são adquiridas ao longo da vida escolar e, duranteesse período, os alunos vão especializando-se e passando a usá-las,progressivamente, com mais intensida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>senvoltura. Portanto, foipossível concluir que a Anáfora Associativa é usada como elemento <strong>de</strong>coesão nos textos escolares e que ela é resultado <strong>de</strong> operações mentais,implementadas no interior <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> mundopartilhado pelos interlocutores, através do qual é possível encontrar osreferentes não presentes na co-textualida<strong>de</strong> e preencher os vaziostextuais.A COESÃO TEXTUAL NA TESSITURA DO TEXTO: AREFERENCIAÇÃO COMO ARTIFÍCIO DE CONSTRUÇÃO DEOBJETOS DISCURSIVOSMarly <strong>de</strong> Fátima Gonçalves Tavares Biezus (Unioeste)Aparecida Feola Sella (Unioeste)Justifica-se o presente trabalho <strong>de</strong> pesquisa pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estudaremos elementos referenciais na construção do texto. O ensino da língua reclamaresultados <strong>de</strong> práticas efetivas, significativas e contextualizadas para que oleitor seja capaz <strong>de</strong> interagir com os textos. Essa interação pauta-se, entreoutras tantas habilida<strong>de</strong>s, no reconhecimento das funções dos elementoslingüísticos que os <strong>de</strong>ixam coesos e coerentes. A referenciação segundoKoch (2005) é um recurso que assinala uma forma particular <strong>de</strong> retratarconhecimento <strong>de</strong> mundo, por exemplo. O ensino da língua, nessa ótica,ren<strong>de</strong> um olhar múltiplo nos elementos lingüísticos que colaboram para atessitura do texto e a referenciação um exercício <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> juízos <strong>de</strong>valor, <strong>de</strong> opiniões, e também <strong>de</strong> <strong>de</strong>svelamento do entendimento do produtordo texto. Este trabalho consiste em analisar as estratégias <strong>de</strong> referenciaçãodo conto O Cinturão, <strong>de</strong> Graciliano Ramos. A referenciação é tida, então,como parte integrante da coesão textual, estudada no âmbito da lingüística103


textual, a qual trata o texto como um ato <strong>de</strong> comunicação unificado numcomplexo universo <strong>de</strong> ações humanas. Intenciona – se não só possibilitar aoleitor o entendimento <strong>de</strong> como os textos, produzidos em língua escrita,contam com o aparato da referenciação para construção <strong>de</strong> objetosdiscursivos, mas também criar situações em que os leitores tenhamoportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e os textos, que lêem e/ou escrevem.ANÁFORA INDIRETA: UMA ESTRATÉGIA DO DISCURSOPUBLICITÁRIOMaria Elizabete B<strong>org</strong>es Vargas (UPF)Neste trabalho, fazemos uma leitura dos slogans publicitários <strong>de</strong> duasinstituições privadas, veiculados na mídia impressa, na perspectiva dateoria da enunciação, <strong>de</strong> Benveniste e dos estudos <strong>de</strong> referenciação – maiprecisamente so<strong>br</strong>e as anáforas indiretas. Parte-se do pressuposto <strong>de</strong> queesse gênero textual <strong>de</strong>ve ter a interação produto-consumidor como focoprincipal, utilizando-se, para isso, <strong>de</strong> recursos lingüísticos. Tratamos <strong>de</strong>analisar os textos – slogans do Banco Banrisul e do Mc Donald’s -,observando o funcionamento enunciativo do vocábulo “tudo”. Partimos dahipótese <strong>de</strong> que há, nesse “pronome in<strong>de</strong>finido” bastante lacunoso, umaocorrência explícita <strong>de</strong> anáfora indireta, cujo papel principal é, além <strong>de</strong>encapsular, fazer uma ancoragem a partir <strong>de</strong> um processo cognitivo. Essaâncora situa-se em elementos contextuais – focos implícitos armazenadosem nossa memória a partir <strong>de</strong> conhecimentos <strong>de</strong> mundo <strong>org</strong>anizados - enão (co-)textuais, para que se dê uma inferência discursiva. Para tanto,fundamentamos essa abordagem nos estudos so<strong>br</strong>e referenciação, sob aorientação teórica <strong>de</strong> Koch e Marcuschi.A ATIVIDADE ESTRATÉGICA REALIZADA POR MEIO DASANÁFORAS ASSOCIATIVAS.Mara Terezinha dos Santos (Unioeste)Aparecida Feola Sella (Unioeste)Segundo Koch (2004), o texto institui-se como o lugar próprio da interação,por meio do qual os sujeitos interagem e, para isso, mobilizam os recursoslingüísticos que a língua nos põe a disposição, ao quais se constituem comouma série <strong>de</strong> estratégias que funcionam como instruções ou sinalizações naorientação do sentido. Nessa perspectiva, o processo <strong>de</strong> referenciação, comorecurso lingüístico que atua não só na progressão textual, mas também naorientação discursiva, configura-se, por isso, como uma escolha estratégicaempreendida pelo autor do texto. Com base nessas consi<strong>de</strong>rações, o presentetrabalho propõe uma análise acerca do processo referencial, realizado pelasanáforas associativas, na crônica A cigarra e a formiga: a nova versão, <strong>de</strong>Moacyr Scliar, veiculada pelo Jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo. Nessa pesquisa,ainda inicial, objetiva-se analisar a constituição da teia referencial dada pelasanáforas associativas, como recurso lingüístico e discursivo empreendido104


estrategicamente pelo produtor do texto, com vistas à construção do sentido.Para tanto, tomaram-se, como aporte teórico, os estudos <strong>de</strong> Zamponi (2003),Koch (2004, 2005, 2006), Marcuschi (2007), entre outros, numa análise quecompreen<strong>de</strong> o processo referencial como um trabalho criativo e estratégicoque visa à construção do sentido e do viés humorístico dado ao fato narrado,na sua recriação por meio da crônica.META-DISCURSO: A CONSOLIDAÇÃO DE UM GÊNEROESTILÍSTICOLígia Negri (UFPR)A concepção <strong>de</strong> que a linguagem é heterogeneamente constituída já é umconsenso, senão um truísmo. Dessa forma, analisar os gêneros textuais comoprocessos interdiscursivos não traz nenhuma novida<strong>de</strong>. Contudo, embora ostextos – aqui chamados <strong>de</strong> estéticos por força <strong>de</strong> uma generalizaçãonecessária –, produzidos em diversas chaves semióticas, tenham semprelançado mão <strong>de</strong> referências explícitas a outros discursos como glosas, motes,epígrafes ou citações, conforme se po<strong>de</strong> atestar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong> Clássica,esse processo <strong>de</strong> construção interdiscursiva como trama intencional dopróprio texto é uma marca recorrente e <strong>de</strong> largo uso no final do últimomilênio, um traço que passou a ser o i<strong>de</strong>ntificador do que se chamausualmente <strong>de</strong> pós-mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. O presente trabalho preten<strong>de</strong> focalizar duasnarrativas cinematográficas <strong>de</strong>sse período, mais exatamente das duas últimasdécadas do século passado, Carmen, do diretor espanhol Carlos Saura (1983)e Ricardo III – um ensaio, do diretor americano Al Pacino (1996), sob aperspectiva da narrativa meta-lingüística e, assim, verificar diferentesprocessos <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> meta-discurso e suas diferentes maneiras <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> sentido. Preten<strong>de</strong>-se, ainda, confrontar as consi<strong>de</strong>raçõesrelevantes para esse tipo <strong>de</strong> discurso estético com as construções similaresencontradas em outras mídias narrativas.AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS NAESFERA DA ATIVIDADE EMPRESARIALFernanda Pizarro <strong>de</strong> Magalhães (UCPEL)O presente trabalho apresenta os resultados <strong>de</strong> um estudo piloto que visouconhecer a realida<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong> disciplinas voltadas à comunicação emcursos técnicos profissionalizantes e a <strong>de</strong>screver e a sistematizar os novosgêneros textuais que vêm se consolidando no contexto empresarial, nointuito <strong>de</strong> dar subsídios aos professores da área para uma prática pedagógicaque atenda as reais necessida<strong>de</strong>s do aluno e do mercado <strong>de</strong> trabalho. Oestudo apóia-se na proposta <strong>de</strong> Bakhtin so<strong>br</strong>e Gêneros do Discurso e <strong>de</strong> seusseguidores como Schneuwly e Dolz e Marcuschi. Para atingir os objetivosda pesquisa, foram entrevistados 4 professores <strong>de</strong> cursos técnicos doCEFET/RS e 6 alunos egressos da Instituição e já atuantes no mercado <strong>de</strong>trabalho. Os resultados, em termos teóricos, comprovaram que toda105


ativida<strong>de</strong> humana está ligada ao uso da linguagem, e o caráter e as formas<strong>de</strong>sse uso são tão multiformes quanto aos campos da própria ativida<strong>de</strong>; e, emtermos práticos, reafirmaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer uma práticainterdisciplinar que promova efetivamente o <strong>de</strong>senvolvimento das ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> linguagem dos alunos e conseqüentemente <strong>de</strong> suas práticas sociais.A ORGANIZAÇÃO SEQÜENCIAL NO GÊNERO DEPOIMENTO DOORKUTCarla Edila Santos da Rosa Silveira (UFPR)Em análise preliminar <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos publicados na versão <strong>br</strong>asileira dosite orkut, buscamos caracterizar o comportamento do gênero <strong>de</strong>poimento doorkut sob a perspectiva bakhtiniana. O gênero apresenta um comportamentomarcado pelo uso <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> escrita hipertextual (reiteração <strong>de</strong>pontuação e letras, escrita em letras minúsculas, a<strong>br</strong>eviações) e por certohi<strong>br</strong>idismo visto através <strong>de</strong> marcas <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixadas no texto escrito,como vocativos, dêiticos pessoais e marcadores discursivos. A presença<strong>de</strong>sses traços era esperada por se tratar <strong>de</strong> um gênero próprio do contextodigital. Na estrutura composicional, verificamos uma disposição emseqüências textuais (Adam, 1993), <strong>de</strong>ntre as quais somente não apareceu aseqüência dialogal. Outra verificação é o uso <strong>de</strong> SN in<strong>de</strong>finido anafórico,que, segundo Lima (2003), tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recategorizar um referente <strong>de</strong>natureza existencial no discurso. Quanto ao conteúdo temático,reconhecemos uma projeção <strong>de</strong> imagem positiva do outro com base naestratégia referencial que <strong>de</strong>scarta manifestações <strong>de</strong>preciativas so<strong>br</strong>e oobjeto <strong>de</strong> discurso (Mondada & Dubois, 1995). Diante <strong>de</strong>ssa caracterização,propomos um estudo da <strong>org</strong>anização seqüencial do gênero <strong>de</strong>poimento doorkut. Segundo a concepção <strong>de</strong> Adam (1993), assumimos as seqüênciastextuais como unida<strong>de</strong>s constituintes do texto e constituídas por um conjunto<strong>de</strong> macroproposições distribuídas em relação hierárquica. Com estaproposta, visamos à especificação lingüística do esquema seqüencialexistente nos <strong>de</strong>poimentos do orkut. Para tanto, observamos a disposição <strong>de</strong>seqüências <strong>de</strong>scritivas e suas relações com as <strong>de</strong>mais seqüências porque,<strong>de</strong>ntre as características levantadas, a seqüência <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>scritivachamou atenção pela presença recorrente no corpus e, em vários casos, porapresentar uso anafórico <strong>de</strong> SNs in<strong>de</strong>finidos. Presumimos que há umaligação entre seqüências <strong>de</strong>scritivas e anáforas <strong>de</strong> SNs in<strong>de</strong>finidos, pois aocorrência associada <strong>de</strong>sses aspectos não parece fortuita, tendo em vista a<strong>de</strong>scrição valorativa do enunciatário pelo produtor, a constante categorizaçãoe recategorização do receptor <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimento, bem como o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma temática inclinada para a projeção <strong>de</strong> imagem positiva do outro.A IMPORTÂNCIA DO GÊNERO NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDODA PRODUÇÃO TEXTUALMagali Pagnoncelli (FAERS)106


Classificar uma produção escrita como texto ou não, e enten<strong>de</strong>r adiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> textos existentes na socieda<strong>de</strong> tem sido objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>vários lingüistas, que procuram critérios para classificá-los, surgindo <strong>de</strong>ntreos conceitos selecionados os <strong>de</strong> tipos textuais, gêneros textuais e gêneros dodiscurso. O objetivo <strong>de</strong>ste artigo, ancorado na Teoria Bakhtiniana, é exporque a classificação tipológica <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rar critérios lingüísticos,funcionais e contextuais; observando o texto como um produto social,inserindo-o no dia-a-dia do aluno. O presente trabalho consiste em: estudaros níveis <strong>de</strong> conhecimento necessário ao domínio da escrita formal e mostrarque os tradicionalmente mais trabalhados com o aluno, na escola, não sãosuficientes para o domínio da escrita <strong>de</strong> textos com real função social;<strong>de</strong>monstrar que o conhecimento das características textuais, lingüísticas ediscursivas do texto a ser escrito é pré-requisito para a produção e que essesó po<strong>de</strong> ser bem construído se a motivação do aluno for satisfatória e se elepossuir o domínio do conceito <strong>de</strong> gênero textual. Sabe-se que a prática daescrita é fundamental para o aprendizado da mesma, no entanto, não ésuficiente. A leitura <strong>de</strong> diferentes gêneros textuais, sob um mesmo tema, porexemplo, é primordial para que o estudante/escritor perceba as diferentesfinalida<strong>de</strong>s e os diferentes interlocutores possíveis para este processo.Portanto, para apren<strong>de</strong>r o enredamento dos usos escritos, é preciso haverativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino e aprendizagem que prevejam a existência <strong>de</strong>conhecimentos específicos relacionados com as particularida<strong>de</strong>s dos gêneros<strong>de</strong>scritos a ensinar. Preten<strong>de</strong>-se ainda apontar a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong>que se dispõe, questionando o próprio ensino <strong>de</strong> redação nas escolas, muitasvezes, calcado na tradicional trilogia narração, <strong>de</strong>scrição e dissertação,enquadrando-se apenas ao uso normativo da língua, evi<strong>de</strong>nciando-se queessa classificação não dá conta das diferentes práticas sociais através dalinguagem, ou seja, não contempla os inúmeros gêneros textuais existentes,além <strong>de</strong> limitar o prazer do aluno em relação à escrita, principalmente, naprodução textual da escola. Visto <strong>de</strong> outra perspectiva, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ensino por si mesmas, sem oferecer aos alunos oportunida<strong>de</strong>s para escreverem situações diferentes, não seriam suficientes para apren<strong>de</strong>r a escrevertextos que <strong>de</strong>vem respon<strong>de</strong>r à complexida<strong>de</strong> dos contextos interativos.Partindo <strong>de</strong>sse pressuposto, salienta-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orientar os alunosso<strong>br</strong>e a multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> gêneros textuais existentes e seus usos, uma vezque já se tornou consenso que o trabalho com os gêneros no ensino <strong>de</strong>língua é relevante, <strong>de</strong> modo particular em relação à produção textual,vê-se a urgência <strong>de</strong> relacionar a prática com a reflexão.SEQÜÊNCIA ARGUMENTATIVA EM TEXTOS ESCOLARESFábio Gusmão da Silva (UFPR)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é verificar se os alunos do Ensino Médioempregam a seqüência argumentativa proposta por Jean-Michel Adam(2001) em suas produções dissertativas. Seqüências, para Adam, sãounida<strong>de</strong>s estruturais relativamente autônomas que integram e <strong>org</strong>anizam107


macroproposições que, por sua vez, combinam diversas proposições, eformam uma <strong>org</strong>anização linear do texto. Assim, o texto po<strong>de</strong> ser concebidoa partir <strong>de</strong> combinações e da articulação <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> seqüência. Ostextos analisados, neste estudo, foram escritos por alunos do primeiro ano doEnsino médio, como parte das ativida<strong>de</strong>s realizadas em sala <strong>de</strong> aula. Aproposta <strong>de</strong> texto motivadora que faz parte <strong>de</strong>sse trabalho foi extraída daprova do ENEM, Exame nacional do Ensino Médio, do ano <strong>de</strong> 2003. Ointeresse em <strong>de</strong>senvolver o trabalho partiu <strong>de</strong> um questionamento levantadono momento da correção <strong>de</strong>sses textos, já que, muitas vezes, alguns alunosnão seguiam um mo<strong>de</strong>lo esperado e construíam seus textos <strong>de</strong> maneirasdiversas, diferente da que era sugerido e preconizado pelos manuaisdidáticos, bem como proposto por Adam, além <strong>de</strong> fugirem ao padrão <strong>de</strong> umtexto dissertativo-argumentativo. A hipótese aqui levantada é que os textossem seqüência argumentativa, ou seja, sem a seqüência elucidada por Adam,comum nos textos argumentativos, são bons e não fogem ao seu propósito,ou seja, mesmo que haja subversão <strong>de</strong>ssa seqüência por parte do aluno, ogênero textual se mantém. Um estudo nessa área se mostra necessário umavez que tanto o interesse dos gêneros quanto suas aplicações têm assumidogran<strong>de</strong> relevância nas áreas que se <strong>de</strong>dicam ao estudo da interação humana,principalmente da Lingüística textual.INTERFACES ENTRE LINGÜÍSTICA TEXTUAL E TEORIA DATRADUÇÃOÁlvaro Kasuaki Fujihara (PG-UFPR)Livy Maria Real Coelho (PG-UFPR)No âmbito dos estudos da tradução, <strong>de</strong>terminadas vertentes teóricas porvezes reconhecem a produtivida<strong>de</strong> (e mesmo a necessida<strong>de</strong>) <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>raras convenções textuais específicas <strong>de</strong> cada cultura durante o ato tradutório.Dadas vertentes, como a funcionalista (Cf. Nord), são categóricas ao afirmaressa necessida<strong>de</strong>. Por outro lado, a prática tradutória é eventualmenteinvocada como exemplo, no âmbito da lingüística textual, a fim <strong>de</strong> justificara necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma taxonomia tipológica, ou mesmo para reafirmar suaprodutivida<strong>de</strong> prática enquanto ramo do conhecimento. Contudo, essas duasáreas parecem transcorrer em paralelo, sem que haja gran<strong>de</strong> diálogo entreelas. Há mesmo uma recusa por vezes categórica em se manter um diálogo(cf. Vermeer) alegando-se que a Lingüística Textual ainda não colocou asquestões que interessam aos teóricos dos Estudos da Tradução. O presentetrabalho preten<strong>de</strong> verificar em que medida há e em que medida po<strong>de</strong>riahaver uma interface entre as duas áreas, e quais os eventuais ganhos <strong>de</strong>ssainteração. Enten<strong>de</strong>mos que tal interação é favorecida pela ênfase dada pordiversas vertentes teóricas dos Estudos da Tradução no caráter textual datradução (i.e. no fato <strong>de</strong> que uma tradução é um texto traduzido, umaprodução textual na língua <strong>de</strong> chegada).108


AS MÚLTIPLAS VOZES QUE ATRAVESSAM O TEXTOMagna Diniz Matos (UFMG)A questão so<strong>br</strong>e as diferentes vozes que atravessam o texto ou o discursovem sendo amplamente discutida por teóricos sob diferentes prismas.Termos como polifonia, heterogeneida<strong>de</strong>, intertextualida<strong>de</strong> e interdiscurso,entre outros, ora se distinguem, ora se misturam ao tratar <strong>de</strong> tais conceitos.Apoiando-se no conceito polifônico bakhtiniano, Ducrot <strong>de</strong>senvolveu umanoção lingüística da polifonia, partindo da tese <strong>de</strong> que, no enunciado, váriasvozes se fazem ouvir. Ducrot distingue vozes no enunciado que pertencem aelementos distintos: o sujeito falante, o locutor e o enunciador. O sujeitofalante é o autor, o ser empírico, o produtor do enunciado. O locutor (L) “é oresponsável pela enunciação consi<strong>de</strong>rada unicamente enquanto tendo estaproprieda<strong>de</strong>” (1987:188). O terceiro elemento apresentado, o enunciador,são aqueles que se expressam através da enunciação, “sem que para tantoque atribuam palavras precisas.” (1987: 192). Koch (2007:16) afirma quetodo texto é “um objeto heterogêneo, que revela uma relação radical <strong>de</strong> seuinterior com seu exterior. Dele fazem parte outros textos que lhe dão origem,que o pre<strong>de</strong>terminam, com os quais dialoga, que ele retoma, a que alu<strong>de</strong> ouaos quais se opõe”. Nas palavras <strong>de</strong> Greimas (1966, apud KOCH, i<strong>de</strong>m, p.14)“todo texto redistribui a língua. Uma das vias <strong>de</strong>ssa reconstrução é a <strong>de</strong>permutar textos, fragmentos <strong>de</strong> textos que existiram ou existem em redor dotexto consi<strong>de</strong>rado, e, por fim, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>le mesmo.” Na mesma orientaçãoque os autores acima, Bazerman (2006:88) afirma que “nós criamos osnossos textos a partir do oceano <strong>de</strong> textos anteriores que estão a nossa voltae do oceano <strong>de</strong> linguagem em que vivemos. E compreen<strong>de</strong>mos os textos dosoutros <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse mesmo oceano”. Po<strong>de</strong>-se perceber como ponto comumna <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sses autores, o postulado do dialogismo bakhtiniano, que <strong>de</strong>uorigem ao que Júlia Kristeva (1974), em seus estudos literários, na década <strong>de</strong>60, <strong>de</strong>nominou como intertextualida<strong>de</strong>. A autora consi<strong>de</strong>ra que cada texto seconstrói como um “mosaico <strong>de</strong> citações” e é a absorção e transformação <strong>de</strong>um outro texto. Na apresentação no grupo temático “PROCESSOS DECONSTRUÇÃO TEXTUAL”, preten<strong>de</strong>mos ampliar a discussão so<strong>br</strong>e osconceitos <strong>de</strong> polifonia, heterogeneida<strong>de</strong>, interdiscursivida<strong>de</strong> eintertextualida<strong>de</strong>, tendo como base os trabalhos <strong>de</strong> autores como Ducrot,Maingueneau, Koch e Genette. Para finalizar a discussão, utilizaremos osconceitos tratados em uma análise textual, no qual procuraremos i<strong>de</strong>ntificaras diferentes vozes discursivas presentes no mesmo.INTERTEXTUALIDADE E ESTILO NO ARTIGO DE OPINIÃOIara Bemquerer Costa (UFPR)Entre os diversos gêneros textuais que se agrupam em cada exemplar <strong>de</strong>jornal ou revista, os artigos <strong>de</strong> opinião parecem ser os que admitem maiorflexibilida<strong>de</strong> para o autor fazer escolhas pessoais, ou seja, produzir textos emque a manifestação do estilo individual se torne mais perceptível do que o109


estilo do gênero. Tais escolhas po<strong>de</strong>m se dar em vários níveis – opçõessintáticas, lexicais, <strong>de</strong> articulação textual etc - e são o resultado do trabalhodo autor, que procura produzir <strong>de</strong>terminados efeitos <strong>de</strong> sentido. Comopublicações que têm como tema eventos <strong>de</strong> interesse social e personalida<strong>de</strong>sem evidência na política, arte, esportes, os discursos <strong>de</strong>ssas pessoas(<strong>de</strong>clarações, entrevistas, artigos, livros) são temas constantes dos artigos <strong>de</strong>opinião publicados em jornais e revistas. Os pontos <strong>de</strong> vista dos autoresopinião são construídos em uma relação intertextual com os discursos <strong>de</strong>pessoas públicas que tenham se manifestado so<strong>br</strong>e os temas so<strong>br</strong>e os quaisopinam. Assim, o processo <strong>de</strong> construção dos textos apresenta sempreformas <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> mostrada. A intertextualida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> se manifestar<strong>de</strong> formas diferenciadas e, conseqüentemente, produzir efeitos tambémdiversos, já que a escolha das formas <strong>de</strong> expressão da intertextualida<strong>de</strong>resulta do trabalho do autor e revela o jogo entre seu estilo pessoal, suasescolhas, e o estilo do gênero. Para estudar essa questão, foram escolhidosdois autores que têm colunas semanais na revista Veja: Diogo Mainardi eRoberto Pompeu <strong>de</strong> Toledo. Procuramos caracterizar o estilo <strong>de</strong>sses doisjornalistas a partir da forma prototípica <strong>de</strong> expressão da intertextualida<strong>de</strong>que adotam. O estudo foi feito a partir <strong>de</strong> 36 artigos <strong>de</strong> cada um dos autores,publicados no período <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007 a junho <strong>de</strong> 2008 e faz parte <strong>de</strong> umprojeto mais amplo, que inclui também outros jornalistas.INTERGENERICIDADEAcir Mário Karwoski (UFTM, Uberaba)Beatriz Gay<strong>de</strong>czka (PG-DL/USP)Pesquisas na temática “análise <strong>de</strong> gêneros textuais” concentram-se emquestões cognitivas, lingüísticas, históricas e sociais a fim <strong>de</strong> explicardiversos efeitos tais como o <strong>de</strong> intergenericida<strong>de</strong> (MARCUSCHI, 2008;DELL’ISOLA, 2007, 2008; KARWOSKI, 2007, 2008). A intergenericida<strong>de</strong>é o fenômeno composicional hí<strong>br</strong>ido <strong>de</strong> um gênero com forma e/ou função<strong>de</strong> outro gênero. Nosso trabalho faz parte do grupo <strong>de</strong> pesquisa emandamento no curso <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do TriânguloMineiro (UFTM) em Uberaba – MG e tem por objetivo relatar os resultadosacerca da análise <strong>de</strong> num corpus <strong>de</strong> anúncios publicitários. Preten<strong>de</strong>mosmostrar que a i<strong>de</strong>ntificação e a nomeação <strong>de</strong> um gênero <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m nãoapenas da forma estrutural, mas do conteúdo temático, do propósitocomunicativo, do meio e do suporte <strong>de</strong> circulação, do contexto, dos papéisdos interlocutores envolvidos no processo <strong>de</strong> comunicação, <strong>de</strong>ntre outrosfatores. Concluímos, preliminarmente, neste trabalho: a) que não existeprivilégio exclusivo para a forma ou para a função sócio-comunicativa <strong>de</strong><strong>de</strong>terminados gêneros <strong>de</strong> textos hi<strong>br</strong>idizados; b) que reconhecer até mesmoas intenções subversivas <strong>de</strong> alguns textos, especialmente os anúnciospublicitários, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diretamente da competência metagenérica do leitor.110


A CONSTRUÇÃO MULTIMODALIZADA DOS DIVERSOSGÊNEROS TEXTUAIS PRESENTES NO SUPORTE REVISTA PEPSITWIST: UMA ANÁLISE DA PRESENÇA INTERGENÉRICAAtilio Augustinho Matozzo (PG-UFPR)O objetivo central <strong>de</strong>ste trabalho é analisar a construção dos diversosgêneros textuais presentes no suporte Revista Pepsi Twist (junho <strong>de</strong> 2008,edição número 01), a partir da presença da multimodalida<strong>de</strong> e daintergenericida<strong>de</strong>. Nossa análise parte, primeiramente, da discussão acercada constituição do suporte, pois esta revista, que nos serve <strong>de</strong> corpus <strong>de</strong>análise, vem agregada a outra revista <strong>de</strong> circulação nacional (MundoEstranho, junho <strong>de</strong> 2008), como se fosse um a<strong>de</strong>ndo. Outro ponto que nosinteressa é a construção da linguagem utilizada na produção dos gêneros,pois, o uso <strong>de</strong> gírias, piadas e sarcasmos <strong>de</strong>limita o público alvo da revista,os jovens. Tudo isso é reforçado com a presença dos dois limões(personagens centrais), os quais são os editores <strong>de</strong>ssa revista, eles aparecemem todas as páginas, reforçando a marca <strong>de</strong> intergenericida<strong>de</strong> emultimodalida<strong>de</strong>. Num terceiro momento nos <strong>de</strong>dicamos em observar aintergenericida<strong>de</strong>, diferenciado-a <strong>de</strong> hi<strong>br</strong>idismo, por consi<strong>de</strong>rarmos duasvertentes distintas na teoria dos gêneros textuais. Assim, aprofundamos,também, a discussão em torno do uso da multimodalida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong>toda a revista, a qual reforça o processo dialógico entre os gêneros presentesnela. Para isso, embasamo-nos em alguns teóricos como: Swales (1990),Marcuschi (2002, 2005 e 2006), Bakhtin (2002), Bazerman (2005, 2006),Dionisio (2006), entre outros.GT6 Abordagens Acústicas em Estudos Segmentais e Supra-SegmentaisCoor<strong>de</strong>nadoresIzabel Christine Seara (UFSC)A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Hercília Pescatori Silva (UFPR)ANÁLISE ACÚSTICA DE VOGAIS DEGEMINADAS NO ITALIANOEM FRASES FONOLÓGICAS REESTRUTURADASDenise Nau<strong>de</strong>rer Hogetop (PUCRS/CAPES)Nesta comunicação, apresentamos a análise acústica <strong>de</strong> vogais <strong>de</strong>geminadasno italiano em frases fonológicas reestruturadas. Estas frases foramelaboradas como instrumento <strong>de</strong> nossa pesquisa <strong>de</strong>senvolvida no curso <strong>de</strong>mestrado da Pucrs e seus resultados foram apresentados no ano <strong>de</strong> 2006. A<strong>de</strong>geminação é a fusão <strong>de</strong> duas vogais <strong>de</strong> igual qualida<strong>de</strong> em seqüência VV,na qual a primeira vogal é final da primeira palavra e a segunda vogal é oinício da palavra seguinte. Com base nos pressupostos da Teoria Prosódica(Nespor e Vogel, 1986), da Fonologia Rítmica (Nespor, 1993) e nos estudos<strong>de</strong> sândi externo em português <strong>br</strong>asileiro (Bisol, 1996a, 1996b, 2003)constatamos, através <strong>de</strong> nosso trabalho, que o verda<strong>de</strong>iro bloqueio para a111


aplicação da regra <strong>de</strong> <strong>de</strong>geminação no italiano é o acento principal da frasefonológica, assim como ocorre no português <strong>br</strong>asileiro. Em nosso trabalhorealizamos uma análise perceptual do instrumento elaborado e testado com14 informantes, cuja língua materna é o italiano. Posteriormente, com oobjetivo <strong>de</strong> verificar a qualida<strong>de</strong> das vogais resultantes do processo <strong>de</strong><strong>de</strong>geminação, submetemos as frases ao programa <strong>de</strong> computador PRAAT5.0.29, <strong>de</strong>senvolvido por Boersma, Paul & Weenink, David (2008). Praat:doing phonetics by computer (Version 5.0.29) [Computer program].Retrieved July 14, 2008, from http://www.praat.<strong>org</strong>/. Através da análise dosdados, foi possível caracterizar acusticamente estas vogais e estabelecer osvalores <strong>de</strong> duração dos segmentos resultantes do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>geminação.O ESTATUTO DA ANÁLISE ACÚSTICA NOS ESTUDOS FÔNICOSA<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Hercília Pescatori Silva (LEFON/UFPR)Com o surgimento da ciência lingüística e, so<strong>br</strong>etudo, do estabelecimento doobjeto <strong>de</strong> estudo e da metodologia <strong>de</strong> análise da fonologia, com Trubetzkoy(1939), a fonética é relegada a um segundo plano nos estudos lingüísticos:por influência do próprio Trubetzkoy, para quem a fonética se aproximavamais das ciências naturais do que das ciências sociais, essa disciplina passa aser vista como um “acessório”, utilizado para corroborar impressõesauditivas so<strong>br</strong>e a ca<strong>de</strong>ia da fala, sob um ponto <strong>de</strong> vista inicialmentearticulatório e até mesmo impressionístico. Esse caráter acessório dafonética persiste durante o estruturalismo lingüístico: apesar da <strong>de</strong>finiçãoacústica dos traços distintivos por Jakobson, Fant & Halle (1952), o papel dafonética no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Jakobson & Halle (1956) continua sendo meramenteacessório. A diferença é que, nele, focaliza-se a análise acústica da ca<strong>de</strong>ia dafala. Da dissociação entre fonética e fonologia resultam <strong>de</strong>finições para asduas disciplinas – ainda correntes em alguns manuais – segundo as quais àfonologia cabe o estudo das unida<strong>de</strong>s distintivas <strong>de</strong> uma língua, enquanto afonética <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>screver os sons <strong>de</strong> uma língua sob aspectos articulatórios,acústicos e perceptuais. Por outro lado, avanços tecnológicos, ocorridosespecialmente no pós-guerra, permitiram passar a empregar técnicas maissofisticadas <strong>de</strong> análise do sinal <strong>de</strong> fala – so<strong>br</strong>etudo acústica.Conseqüentemente, foi possível passar a enxergar no sinal <strong>de</strong> fala fatos atéentão não percebidos, o que colocava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se repensar osmo<strong>de</strong>los disponíveis <strong>de</strong> análise fonológica (vi<strong>de</strong>, e.g. Fowler, 1981) einclusive a relação entre fonética e fonologia. Dessas reflexões surgem osmo<strong>de</strong>los dinâmicos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> fala, cujo principal expoente é aFonologia Articulatória (Browman & Goldstein, 1986, 1989, 1990, 1992).Ao propor um novo primitivo <strong>de</strong> análise – o gesto articulatório – essemo<strong>de</strong>lo torna comensuráveis fonética e fonologia, <strong>de</strong>sfazendo a fronteiraentre ambas. Apesar <strong>de</strong>sse inegável avanço, há trabalhos que ainda insistematribuir à fonética um papel meramente <strong>de</strong>scritivo e que visa, não raro, acorroborar impressões auditivas do pesquisador so<strong>br</strong>e a ca<strong>de</strong>ia da fala. Nãose trata mais <strong>de</strong> uma fonética impressionística, mas da análise acústica, que112


se tornou extremamente acessível com o advento <strong>de</strong> softwares livres paraanálise acústica, como o Praat. Este trabalho, então, argumenta que oestatuto da análise acústica não é o <strong>de</strong> confirmar análises impressionísticasdo sinal <strong>de</strong> fala. Ao contrário, assumindo-se a perspectiva <strong>de</strong>comensurabilida<strong>de</strong> entre fonética e fonologia, a análise acústica temprecedência so<strong>br</strong>e a análise <strong>de</strong> outiva, dado que permite observar o <strong>de</strong>talhefonético que, muitas vezes, é essencial para se compreen<strong>de</strong>rem fatos fônicosque, <strong>de</strong> outro modo, permaneceriam obscuros.O TAP [R] NA FALA NORMAL E COM DESVIO: UMA ANÁLISEQUALITATIVAHelena Ferro Blasi (Faculda<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá)Nesta pesquisa, é feita uma análise acústica da realização do tap [R],procurando-se mostrar uma <strong>de</strong>scrição visual <strong>de</strong>talhada, principalmente como auxílio <strong>de</strong> espectrogramas dos sinais <strong>de</strong> fala com e sem <strong>de</strong>svio, a partir daemissão <strong>de</strong> palavras contendo a realização do fonema em estudo produzidopor três sujeitos portadores <strong>de</strong> distúrbios articulatórios com característicasperceptualmente semelhantes, relacionadas a esse segmento. A pesquisaconfigura-se como um estudo acústico qualitativo, representando umaimportante contribuição à clínica fonoaudiológica, na medida em que revelaos parâmetros acústicos so<strong>br</strong>e os segmentos normais e com distúrbios, quepermitem a avaliação do processo <strong>de</strong> reabilitação <strong>de</strong> pacientes submetidos atratamento. Primeiramente é <strong>de</strong>scrito o segmento em questão, na falanormal, isto é, na ausência <strong>de</strong> <strong>de</strong>svios em sua emissão, através <strong>de</strong>espectrogramas representando os fatos acústicos e articulatórios <strong>de</strong> umaemissão consi<strong>de</strong>rada a<strong>de</strong>quada para os falantes do português do Brasil. Aseguir, é apresentado o segmento com <strong>de</strong>svio, em espectrogramas queregistram a produção dos sujeitos da pesquisa, acompanhados da análise e<strong>de</strong>scrição dos aspectos visuais <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ados pela distorção na produção dosegmento realizada pelos sujeitos. A pesquisa realizada é do tipoexperimental e <strong>de</strong> cunho qualitativo, visto que, <strong>de</strong>screve apenas osparâmetros acústicos que caracterizam o segmento em estudo em falanormal e com <strong>de</strong>svios, sem recorrer a dados numéricos referentes aosformantes ou a dados estatísticos mais apurados. Os sujeitos da pesquisa sãotrês adultos na faixa etária <strong>de</strong> 20 a 25 anos, falantes do português do Brasil,moradores <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s do estado <strong>de</strong> Santa Catarina, portadores <strong>de</strong>distúrbio articulatório envolvendo somente a realização do tap /R/. A falados sujeitos que constitui o corpus <strong>de</strong>sta pesquisa apresenta um padrão <strong>de</strong>alteração perceptualmente similar, isto é, aproxima-se <strong>de</strong> um rótico fricativovelar ou uvular. A coleta dos dados foi realizada, através da gravaçãoindividual da fala dos sujeitos, a partir da emissão oral <strong>de</strong> uma lista <strong>de</strong>palavras lidas isoladamente e inseridas em frases-veículo. Após a gravação,proce<strong>de</strong>u-se à análise acústica com a utilização <strong>de</strong> espectrogramas criadospelo programa PRAAT. A partir das análises realizadas, foi possívelconstatar que o contexto aparece <strong>de</strong> fato como um facilitador para a113


produção do tap sem <strong>de</strong>svios. Essas análises permitem acompanhar aevolução do tratamento fonoaudiológico voltado à a<strong>de</strong>quação das produçõesorais da fala <strong>de</strong> sujeitos com <strong>de</strong>svios articulatórios, traduzindo-se em umavaliosa ferramenta terapêutica para pacientes e fonoaudiólogos.“INADEQUAÇÕES ACÚSTICAS” NA FALA INFANTIL:PRODUÇÃO E PERCEPÇÃOCarla Cristofolini e Izabel Christine Seara (PGL - UFSC)A análise acústica da fala permite estudar em maiores <strong>de</strong>talhes a produçãodos segmentos <strong>de</strong> uma língua. Com esse enfoque acústico, analisaram-seconsoantes oclusivas e fricativas do português <strong>br</strong>asileiro (PB) na fala <strong>de</strong>crianças com ida<strong>de</strong>s entre 10 e 12 anos. As crianças falam a<strong>de</strong>quadamente oPB, mas parte <strong>de</strong>las apresenta, em suas escritas, trocas grafêmicas relativasao traço <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong>. Este estudo focaliza-se então no vozeamento <strong>de</strong>segmentos oclusivos e fricativos, uma vez que esse é o traço que trazdificulda<strong>de</strong>s na escrita para as crianças analisadas. O corpus a ser gravadofoi baseado nas palavras que apresentaram trocas nas redações das crianças.Essas palavras foram inseridas em pequenos textos e em frases veículo. Asgravações e análises acústicas foram realizadas no PRAAT (disponível emwww.praat.<strong>org</strong>).Tradicionalmente, a literatura da área caracteriza consoantesvozeadas, <strong>de</strong>ntre outros parâmetros (por exemplo: VOT e duração), comoaquelas que apresentam pulsos glotais, o que evi<strong>de</strong>ncia a vi<strong>br</strong>ação das pregasvocais. A não ocorrência <strong>de</strong> tais pulsos caracterizaria as consoantes nãovozeadas.Análises qualitativas <strong>de</strong>talhadas realizadas no presente estudoencontraram características acústicas diferentes daquelas apontadas pelaliteratura para a distinção do traço <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong>. Assim, esta pesquisapreten<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e classificar essas características, aqui <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong>ina<strong>de</strong>quações acústicas, em segmentos oclusivos e fricativos na fala <strong>de</strong>crianças que apresentavam trocas (grupo trocas) e naquelas que nãoapresentavam tais trocas ortográficas na escrita (grupo controle). Comoexemplo <strong>de</strong>ssas ina<strong>de</strong>quações, tem-se a interrupção do vozeamento emfonemas vozeados, ou a presença do vozeamento em fonemas não vozeados(tanto oclusivos quanto fricativos), consoantes fricativas com explosão eoclusivas com múltiplas explosões. Uma diferença relevante entre os doisgrupos <strong>de</strong> crianças recai so<strong>br</strong>e a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ina<strong>de</strong>quações. Enquanto, nogrupo controle, as ina<strong>de</strong>quações estão presentes em apenas 4% das oclusivase fricativas; no grupo trocas, este número é bem maior: 18% nas oclusivas e17% nas fricativas. Foram realizados testes perceptuais, nos quais secomparavam dois pares <strong>de</strong> sílabas: uma com ina<strong>de</strong>quação e outra não. Oobjetivo <strong>de</strong>sses testes era verificar como os segmentos com ina<strong>de</strong>quaçõeseram percebidos pelos sujeitos envolvidos nesta pesquisa e se as trocasortográficas po<strong>de</strong>riam estar associadas a produções ina<strong>de</strong>quadas quetrouxessem dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> percepção do traço <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong>. Os resultadosdos testes apontam para a correta percepção dos segmentos em 87% doscasos.114


O VOT NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: ESTUDO NA FALACATARINENSESimone Klein (LINSE-UFSC)Há diversas pistas que po<strong>de</strong>m ser utilizadas na distinção entre segmentossonoros e surdos <strong>de</strong> uma língua. No caso das consoantes oclusivas, um dosparâmetros mais eficazes é o Voice Onset Time (VOT) – relação temporalentre a soltura da oclusão e o início da excitação glotal. O VOT apresentatrês categorias que irão caracterizá-lo, a saber, pré-sonorização, em que asonorização é anterior à soltura; retardo curto, no qual a sonorização ésimultânea ou imediatamente posterior à soltura; e retardo longo, cujovozeamento é posterior à soltura em cerca <strong>de</strong> 35 ms a 100 ms. Todas aslínguas que fazem o contraste sonoro versus surdo irão apresentar ou as trêscategorias, ou apenas duas. O português <strong>br</strong>asileiro, que distingue entreoclusivas sonoras e surdas, apresenta as categorias <strong>de</strong> pré-sonorização eretardo curto. Foram selecionados, para o presente estudo, quatro sujeitos,falantes nativos do português <strong>br</strong>asileiro, todos catarinenses. Para amontagem do corpus, foram empregados logatomas e palavras reais. Ossegmentos tinham, todos, a estrutura CV (consoante + vogal), e consistiramdas oclusivas /b, d, g/ e /p, t, k/ e das vogais /e, a, o/ do português <strong>br</strong>asileiro,inseridos em frases-veículo (FV). As gravações dos dados e análisesposteriores foram realizadas em um microcomputador com dispositivo <strong>de</strong>análise e síntese <strong>de</strong> fala – o Computer Speech Lab (CSL Mo<strong>de</strong>lo 4300 B daKay Elemetrics). Os valores <strong>de</strong> VOT foram obtidos a partir da forma-<strong>de</strong>onda,vinculada ao espectrograma. Nossos resultados revelaram umaprecedência longa <strong>de</strong> sonorização para as oclusivas sonoras e retardo curtopara as oclusivas surdas, embora estas últimas tenham apresentado valoresencaminhando-se para a área <strong>de</strong> retardo longo, ou seja, uma certa aspiração.O valor médio <strong>de</strong> VOT para a oclusiva sonora bilabial foi <strong>de</strong> -104,98 ms;para a sonora <strong>de</strong>ntal foi <strong>de</strong> -93,31 ms e para a velar, <strong>de</strong> -76,93 ms. Para asoclusivas surdas, os valores médios <strong>de</strong> VOT foram <strong>de</strong> 15,49 ms para abilabial; 17,13 ms, para a <strong>de</strong>ntal, e 33,90 ms para a velar.OS RÓTICOS NA ILHA DE SANTA CATARINAAna Kelly Borba da Silva (PGL-UFSC)À luz da Teoria da Variação e Mudança e da Fonética Acústica, preten<strong>de</strong>-se,neste estudo, investigar as marcas dialetais e sociais da língua falada na ilha<strong>de</strong> Santa Catarina (região sul do estado), <strong>de</strong>stacando as diferentes realizaçõesdos fonemas róticos, ou seja, da pronúncia dos “erres”. O corpus para apesquisa constitui-se <strong>de</strong> quatro entrevistas gravadas em estúdio cominformantes do sexo masculino nascidos em Florianópolis (capital <strong>de</strong> SantaCatarina). Apresentam-se como objetivos específicos: (i) analisar osaspectos fonético-acústicos dos róticos no falar florianopolitano e (ii)verificar as relações sócio-dialetais existentes no uso dos róticos na língua115


falada em Florianópolis - suas marcas fonéticas, diatópicas (regionais) ediastráticas (sociais) que o distinguem <strong>de</strong> outros falares catarinenses eregionais. A categorização dos dados e a análise estatística serão feitas coma utilização do software <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> fala - PRAAT - e do pacoteVARBRUL, respectivamente. Os dados serão codificados <strong>de</strong> acordo comgrupos <strong>de</strong> fatores (GF) lingüísticos e sociais, bem como <strong>de</strong> acordo com aposição (posição intervocálica (palavras diferentes), final <strong>de</strong> sílaba interna,final <strong>de</strong> palavra seguida <strong>de</strong> consoante e final absoluto). Far-se-á a análisequalitativa <strong>de</strong>stes dados do ponto <strong>de</strong> vista fonético-acústico, com abordagenssociolingüísticas. A análise qualitativa será realizada por meio <strong>de</strong>espectrogramas, nos quais será avaliada a configuração acústica (freqüência,duração, amplitu<strong>de</strong>) dos segmentos produzidos. Dessa forma, objetiva-seobter as variantes dos róticos no falar do florianopolitano, traçando-se operfil sócio-dialetal do falar <strong>de</strong> Florianópolis. Os resultados gerais <strong>de</strong>stapesquisa apontam para um predomínio da variante fricativa, do apagamentoe algum uso da variante tepe.PROPRIEDADES ACÚSTICAS DA LATERAL /L/ EM CODASILÁBICA NO PBLílian Elisa Minikel Brod (PGL - UFSC)Estudos so<strong>br</strong>e o segmento lateral no português do Brasil (PB) <strong>de</strong>monstramque a forma vocalizada tem sido recorrente nos dados encontrados.Consi<strong>de</strong>rando que o processo <strong>de</strong> vocalização é uma tendência observada noPB, esta pesquisa caracteriza-se como um estudo das proprieda<strong>de</strong>s acústicasda consoante lateral e da semivogal que é freqüentemente produzida emcoda silábica no lugar da lateral na fala <strong>de</strong> três (03) informantes falantes doPB. Para tanto, o estudo da variação entre a realização da consoante lateral eda semivogal assume um caráter relevante na investigação docomportamento acústico <strong>de</strong>sses fonemas. Interessa à pesquisa não somente olevantamento <strong>de</strong> dados, mas observar o contexto que favorece a variação.Para alcançar os objetivos <strong>de</strong>ste estudo, os participantes foramcuidadosamente selecionados com o intuito <strong>de</strong> controlar possíveis variáveis.Os dados foram coletados em sessões e posteriormente analisados utilizandoo software Praat 5.0 para observação dos parâmetros acústicos dos fonemasem coda silábica. Na análise dos dados, foram consi<strong>de</strong>radas como variáveislingüísticas: item lexical, tonicida<strong>de</strong>, contextos prece<strong>de</strong>nte e seguinte, eposição na sílaba, com o objetivo <strong>de</strong> verificar se estes aspectos favorecem ouinibem a vocalização. As proprieda<strong>de</strong>s acústicas dos fonemas em estudo,como duração e freqüência dos formantes também foram avaliadas natentativa <strong>de</strong> estabelecer valores que <strong>de</strong>terminem <strong>de</strong> maneira mais a<strong>de</strong>quada avocalização do segmento em coda silábica, uma vez que não são tãoevi<strong>de</strong>ntes as diferenças acústicas entre a semivogal posterior e a consoantelateral.UM ESTUDO SOBRE VOZEAMENTO DA FRICATIVA E TAPPINGNA REGIÃO DA GRANDE FLORIANÓPOLIS116


Cristina <strong>de</strong> Souza Prim (UFSC)Tenani (2002) estuda evidências segmentais e entoacionais dos domíniosprosódicos superiores à palavra fonológica (a frase fonológica, a fraseentoacional e o enunciado fonológico) com o objetivo <strong>de</strong> comparar asestruturas prosódicas do português <strong>br</strong>asileiro e do português europeu. Após ai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> evidências entoacionais dos três domínios citados acima,Tenani passou a investigar as evidências segmentais para verificar se essesmesmos domínios são relevantes para a <strong>org</strong>anização da ca<strong>de</strong>ia da fala emunida<strong>de</strong>s maiores do que a palavra. Para isso, foram analisados seisprocessos segmentais que envolvem fronteiras <strong>de</strong> palavra, a saber:vozeamento da fricativa, tapping, haplologia, <strong>de</strong>geminação, elisão editongação. Os resultados dos experimentos revelaram que o sândi externoem PB ocorre entre todas as fronteiras prosódicas, mesmo quando há choque<strong>de</strong> acentos entre as sílabas envolvidas no processo, e que somente a pausainibe o sândi.Com base nesta pesquisa, investiga-se neste trabalho se as relações entreprocessos fonológicos que afetam a estrutura silábica e a implementação <strong>de</strong>um padrão rítmico preferencial, em especial o vozeamento da fricativa e otapping, são igualmente consistentes se nos basearmos em informantesflorianopolitanos. A pesquisa <strong>de</strong> Tenani baseou-se em três informantes queresidiam há, pelo menos, quatro anos em São José do Rio Preto (SP), comida<strong>de</strong>s entre 21 e 28 anos, do sexo feminino e grau universitário. Para esteestudo, foram analisadas, através do Praat, 25 frases lidas e repetidas por seisinformantes – três do sexo feminino, três do sexo masculino – <strong>de</strong> mesmafaixa etária e escolarida<strong>de</strong> observados por Tenani, porém resi<strong>de</strong>ntes naregião da gran<strong>de</strong> Florianópolis há pelo menos <strong>de</strong>z anos. A hipótese é que osândi seja predominante, porém não ocorra entre todas as fronteirasprosódicas.DESCRIÇÃO ACÚSTICA DOS SONS VOCÁLICOS ANTERIORESDO INGLÊS E DO PORTUGUÊS REALIZADOS PORPROFESSORES DE INGLÊS LÍNGUA ESTRANGEIRA NO OESTEPOTIGUARClerton Luiz Felix Barboza (UERN - Mossoró)O estudo comparou acusticamente as vogais anteriores do PortuguêsBrasileiro (PB) com as vogais correlatas do Inglês Língua Estrangeira (ILE)produzidas por professores <strong>de</strong> inglês no oeste do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte.Analisamos as vogais [i, e, eI, E] do PB e [i, I, eI, E, Q] do ILE. Em nossametodologia, utilizamos quatro experimentos. Os dois primeiros foram<strong>de</strong>nominados POR1 e ING1. Constituíram-se da produção <strong>de</strong> vogaisanteriores tônicas, entre consoantes plosivas, em palavras dissílabas comacento na primeira sílaba no PB, e palavras monossílabas no ILE, inseridasnas frases-veículos “Diga X alto” e “Say X again”. Os experimentosseguintes POR2 e ING2 fizeram uso <strong>de</strong> algumas palavras utilizadas nos117


experimentos anteriores inseridas como nomes <strong>de</strong> ruas em um pequenomapa. Solicitamos aos nossos informantes que verbalizassem o caminho <strong>de</strong>um ponto a outro, fazendo uso, portanto, das vogais a serem analisadas.Onze hipóteses foram elaboradas visando à comparação das vogaisanteriores do PB e do ILE: (1) o par [i, I] do ILE seria realizado semdiferenças espectrais significativas; (2) o som [i] do ILE seria realizado semdiferenças espectrais significativas em relação ao som [i] do PB; (3) o som [I]do ILE seria realizado sem diferenças espectrais significativas em relação aosom [i] do PB; (4) o som [i] do ILE seria realizado com uma duraçãosignificativamente maior que o som [I] do ILE; (5) o som [I] do ILE seriarealizado sem diferença significativa <strong>de</strong> duração em relação ao som [i] doPB; (6) o primeiro elemento do som [eI] do ILE e do PB seriam realizadossem diferenças espectrais significativas; (7) o par [E, Q] do ILE seriarealizado sem diferenças espectrais significativas; (8) o som [E] do ILE seriarealizado sem diferenças espectrais significativas em relação ao som [E] doPB; (9) o som [Q] do ILE seria realizado sem diferenças espectraissignificativas em relação ao som [E] do PB; (10) o som [Q] do ILE seriarealizado com uma duração significativamente maior que o som [E] do ILE;(11) o som [E] do ILE seria realizado sem diferença significativa <strong>de</strong> duraçãoem relação ao som [E] do PB. As hipóteses (1), (2), (3), (5), (8), (9), (10) e(11) foram refutadas, as hipóteses (6) e (7) parcialmente confirmadas e a (4)confirmada.EFEITOS DE TREINAMENTO PERCEPTUAL NA PRODUÇÃODAS PLOSIVAS NÃO-VOZEADAS INGLESAS POR APRENDIZESBRASILEIROS DE INGLÊSMara Silvia Reis (PGI - UFSC)Denise Cristina Kluge (PGI - UFSC)Rosana Denise Koerich (PGI - UFSC)O treinamento perceptual tem sido usado em estudos investigando a relaçãoentre a percepção e a produção <strong>de</strong> línguas estrangeiras (Hazan, Sennema,Iba, & Faulkner, 2005; Pruitt, Jenkins, & Strange, 2006). Dadosexperimentais têm <strong>de</strong>monstrado que o treinamento perceptual é capaz <strong>de</strong>,não somente alterar a percepção <strong>de</strong> sons não-nativos, como também <strong>de</strong>modificar a produção dos mesmos (Clarke, & Luce, 2005). Entretanto, autilização <strong>de</strong> treinamento perceptual não é prática corriqueira no ensino <strong>de</strong>línguas estrangeiras. O presente estudo apresenta os resultados <strong>de</strong> umexperimento envolvendo treinamento perceptual das plosivas não-vozeadas(/p, t, k/) conduzido com onze aprendizes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> inglês como línguaestrangeira. Embora as medidas do ataque do vozeamento da consoante(Voice Onset Time – VOT) <strong>de</strong> cada plosiva não apresentem um valorabsoluto, sabe-se que existe uma diferença nos valores <strong>de</strong> tais fonemas entreo português <strong>br</strong>asileiro (PB) e o inglês. O principal objetivo <strong>de</strong>ste estudo éverificar se o treinamento perceptual é capaz <strong>de</strong> alterar os valores <strong>de</strong>118


produção <strong>de</strong> VOT no inglês dos <strong>br</strong>asileiros. Tarefas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação ediscriminação perceptual foram utilizadas como instrumentos notreinamento perceptual. A produção foi aferida através da leitura <strong>de</strong> umalista <strong>de</strong> palavras nos pré e pós-testes em PB e em inglês, e analisada atravésda utilização do software <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> fala - Praat. Os resultados sugeremque o treinamento perceptual po<strong>de</strong> modificar a produção dos valores <strong>de</strong>VOT aproximando-os dos valores do inglês.ESTUDO ACÚSTICO DAS VOGAIS ORAIS TÔNICAS DOPORTUGUÊS EM QUATRO TIPOS DE DISFARCESandra G. Kafka (LINSE-UFSC)As características físicas e estruturais do trato vocal po<strong>de</strong>m ser alteradasintencionalmente (com o uso, por exemplo, <strong>de</strong> um disfarce) para aadulteração do sinal <strong>de</strong> fala. O propósito, quando se utiliza um disfarce, é o<strong>de</strong> que a informação própria da voz do falante não seja totalmente impressano sinal <strong>de</strong> fala. Essas alterações na voz dificultam a <strong>de</strong>terminação darelação entre a voz e o indivíduo, prejudicando, por exemplo, o trabalho <strong>de</strong>perícia do foneticista responsável pela tarefa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação do falante.Nesta pesquisa, analisou-se, através do parâmetro acústico ‘medida <strong>de</strong>formantes’, as freqüências <strong>de</strong> F1 e F2 das vogais orais tônicas do português<strong>br</strong>asileiro alteradas por quatro tipos <strong>de</strong> disfarce, comparando-as comproduções <strong>de</strong> fala normal (sem disfarce). Como disfarce foi utilizado umobjeto entre os <strong>de</strong>ntes em uma linha perpendicular ao plano sagital e outrastrês variantes <strong>de</strong>ste disfarce. Selecionou-se um grupo <strong>de</strong> quatro informantesdo sexo masculino, adultos, com ida<strong>de</strong> entre 20 e 40 anos, provenientes <strong>de</strong>quatro cida<strong>de</strong>s <strong>br</strong>asileiras diferentes. Para o corpus foi selecionado um texto<strong>de</strong> 118 palavras, segmentado em sentenças curtas visando minimizar o efeitolista. Os informantes reproduziram as sentenças oralmente em duas seções:primeiramente em condições <strong>de</strong> fala dita normal; em segundo lugar com vozadulterada pelo uso dos disfarces em estudo. Os registros foram realizadosem uma câmara acústica com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> obter dados sem interferências,como: eco, reverberações, ruídos <strong>de</strong> fundo, etc. Para a coleta dos valores <strong>de</strong>F1 e F2 das vogais, utilizaram-se análises em freqüência (FFT), com oauxílio <strong>de</strong> espectrogramas, através do sistema <strong>de</strong> análise e síntese <strong>de</strong> fala(CSL - Computerized Speech Lab) da KAY Elemetrics (mo<strong>de</strong>lo 4300b).Os resultados das análises acústicas <strong>de</strong>monstraram que os formantesreferentes à vogal [a], in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do informante, apresentam suasfreqüências sempre abaixadas em fala disfarçada. As alterações no padrãoformântico para os <strong>de</strong>mais segmentos vocálicos não são, no entanto,análogos para os quatro informantes avaliados. Possivelmente, há questões<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m idiossincrática que implicam nesse tipo <strong>de</strong> procedimento <strong>de</strong>mascaramento da voz.119


ACENTO SECUNDÁRIO E INTENSIDADE EM PORTUGUÊSBRASILEIROFlaviane Romani Fernan<strong>de</strong>s-Svartman (UNICAMP)Maria Berna<strong>de</strong>te Marques Abaurre (UNICAMP - CNPq)Verônica Andrea González-López (UNICAMP)Trabalhos <strong>de</strong> cunho acústico, como os trabalhos <strong>de</strong> Gama Rossi (1998),Arantes & Barbosa (2002), Moraes (2003) e Arantes (2005), têm buscado,em correlatos acústicos, como duração, freqüência fundamental, intensida<strong>de</strong>e configuração formântica, evidências para a existência do acento secundárioem português <strong>br</strong>asileiro (doravante, PB). Tais trabalhos, com foco naimplementação fonética da sílaba percebida como portadora <strong>de</strong> acentosecundário, especificamente, e com base em dados experimentaisconstituídos por frases isoladas, afirmam não haver correlatoestatisticamente robusto para a existência <strong>de</strong>ste acento percebido pelosfalantes <strong>de</strong> PB.Dado o fato <strong>de</strong> o acento secundário se constituir em um fenômeno <strong>de</strong>natureza supra-segmental, nossa hipótese é a <strong>de</strong> que os correlatos acústicos aele associados se manifestam predominantemente em outra(s) sílaba(s)adjacentes à sílaba portadora <strong>de</strong> acento secundário e prece<strong>de</strong>ntes à sílabaportadora <strong>de</strong> acento primário (sílaba tônica) no âmbito da palavra prosódica.Os resultados preliminares <strong>de</strong>ste trabalho, provenientes da análise <strong>de</strong> dadosproduzidos a partir <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> um mesmo texto por falantes <strong>de</strong> PB, trazemevidências <strong>de</strong> que a variação <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> manifestada na sílaba percebidacomo portadora <strong>de</strong> acento secundário, bem como nas outras sílabasadjacentes a ela, configura-se como um correlato robusto para a presença doacento secundário percebido auditivamente pelos falantes <strong>de</strong>sta varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>português. Há uma correlação entre os valores <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> da sílabapercebida como portadora <strong>de</strong> acento secundário e as outras ao seu entorno eprece<strong>de</strong>ntes à tônica, o que permite postular que a intensida<strong>de</strong> resumidapela(s) sílaba(s) pré-tônica(s) resulta em um preditor natural da intensida<strong>de</strong>da sílaba portadora <strong>de</strong> acento secundário.A metodologia <strong>de</strong>ste trabalho consiste: (i) na análise do sinal acústico, emtermos <strong>de</strong> intensida<strong>de</strong> dos núcleos silábicos prece<strong>de</strong>ntes à sílaba tônica <strong>de</strong>palavras prosódicas constantes <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> PB nas quais forami<strong>de</strong>ntificadas perceptualmente ocorrências <strong>de</strong> acentos secundários porfalantes nativos <strong>de</strong>sta varieda<strong>de</strong>; e (ii) na aplicação <strong>de</strong> análises estatísticas aestes dados, ajustando-se um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> regressão <strong>de</strong> efeitos fixos, cujoobjetivo é o <strong>de</strong> extrair a influência do locutor e o <strong>de</strong> estimar a intensida<strong>de</strong>média associada a ambos os processos: intensida<strong>de</strong> observada na sílabapercebida como portadora <strong>de</strong> acento secundário e intensida<strong>de</strong> médiaobservada na(s) outra(s) sílaba(s) pré-tônica(s). A análise do sinal acústico eas análises estatísticas dos dados foram realizadas, respectivamente, atravésdo uso do programa <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> fala Praat(http://www.fon.hum.uva.nl/praat/) e do programa estatístico R-project,disponível na página: http://www.r-project.<strong>org</strong>/.120


OBSERVAÇÕES SOBRE O SÂNDI VOCÁLICO NA REGIÃO DAGRANDE FLORIANÓPOLISFlávio Martins <strong>de</strong> Araújo (UFSC)Este trabalho tem como objetivo a observação <strong>de</strong> contextos <strong>de</strong> sândi externo,em especial os <strong>de</strong> sândi vocálico, buscando averiguar se há consistênciaentre os dados em que se vê a aplicação <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> reestruturaçãosilábica, no dialeto florianopolitano, e os dados apresentados em Tenani(2002), para o dialeto <strong>de</strong> São José do Rio Preto (SP). Os resultados relatadosem Tenani (2002) foram obtidos através <strong>de</strong> um estudo que buscavaevidências segmentais e entoacionais para a existência <strong>de</strong> domíniosprosódicos superiores à palavra fonológica – frase fonológica, fraseentoacional e enunciado – tendo como objetivo a comparação entre osresultados encontrados para o português <strong>br</strong>asileiro e os apresentados porFrota (1998), para o português europeu.Após confirmar, através <strong>de</strong> evidências entoacionais, a existência <strong>de</strong>sses trêsdomínios maiores que a palavra fonológica, Tenani passou a investigar arelevância <strong>de</strong>les para a <strong>org</strong>anização rítmica do português <strong>br</strong>asileiro. Paratanto, foram utilizados seis processos segmentais envolvendo fronteiras <strong>de</strong>palavras e <strong>de</strong> domínios prosódicos – vozeamento da fricativa, tapping,haplologia, <strong>de</strong>geminação, elisão e ditongação – os quais revelaram apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> sândi entre todas as fronteiras prosódicasenvolvidas, mesmo quando há ocorrência <strong>de</strong> choques <strong>de</strong> acento, e quesomente a pausa inibe os processos <strong>de</strong> sândi. Deste modo, busca-se aqui,também, examinar o comportamento segmental das vogais encontradasnesses locais nos quais o sândi ocorreu, procurando <strong>de</strong>screver modificaçõesque possam indicar a implementação <strong>de</strong> algum dos processos observados.Para a construção do experimento utilizou-se como base o experimentoencontrado em Tenani (2002). Depois <strong>de</strong> escolhidos os contextos, foramfeitas gravações, utilizando o programa PRAAT, com seis informantes – trêsdo sexo masculino e três do sexo feminino – com ida<strong>de</strong>s entre 20 e 30 anos ecom grau universitário. As primeiras observações indicaram a ocorrênciados processos sândi nos contextos gravados.A ENTOAÇÃO DAS SENTENÇAS CLIVADAS EM PORTUGUÊSBRASILEIRO E A INTERFACE SINTAXE-FONOLOGIAFlaviane Romani Fernan<strong>de</strong>s-Svartman (UNICAMP)O uso <strong>de</strong> estruturas clivadas é uma das maneiras <strong>de</strong> expressar focalização emportuguês <strong>br</strong>asileiro (PB) - cf., entre outros, Kato & Raposo, 1996; Mo<strong>de</strong>sto,2001; Fernan<strong>de</strong>s, 2007. Nesta mesma varieda<strong>de</strong> do português, encontramosdiferentes tipos <strong>de</strong> estruturas clivadas, <strong>de</strong>ntre elas: sentenças clivadas,pseudo-clivadas, clivadas invertidas, clivadas invertidas reduzidas.Trataremos aqui apenas das sentenças clivadas, clivadas invertidas eclivadas invertidas reduzidas do PB, como exemplificado em (1a), (1b) e(1c) respectivamente:121


[Contexto: Estamos à espera das governadoras no gabinete. Percebo quevocê vê chegar alguém, então, pergunto a você:]Quem chegou?(1) a. Foram as governadoras que chegaram.b. As governadoras é que chegaram.c. As governadoras que chegaram.De acordo com os trabalhos <strong>de</strong> Frota (1994), Vigário (1998) eFernan<strong>de</strong>s-Svartman (2007), em estruturas sintáticas especiais do portuguêseuropeu (como sentenças com elementos <strong>de</strong>slocados, sentenças comadvérbios em diferentes posições e com diferentes escopos, sentençaspseudo-clivadas), o contorno entoacional sofre alterações locais e, algumasvezes, globais. Com base nesta afirmação, nosso objetivo é verificar se,também em PB, a mesma afirmação po<strong>de</strong> ser feita, ou seja, se também emPB, estruturas sintáticas especiais, como o caso das sentenças clivadas eclivadas invertidas (reduzidas ou não), po<strong>de</strong>m ser codificadasprosodicamente através do contorno entoacional.Os resultados obtidos por este trabalho revelam que a estrutura entoacionaldas sentenças clivadas e clivadas invertidas po<strong>de</strong> diferir da estruturaentoacional das sentenças neutras do PB. Enquanto no contorno entoacionaldas sentenças neutras encontramos acentos tonais (T*) associados a cadapalavra fonológica (w) do sintagma entoacional (I) e ausência <strong>de</strong> acentosfrasais (T - ), no contorno das sentenças clivadas e clivadas invertidas(reduzidas ou não) do PB, encontramos acento tonal associadoo<strong>br</strong>igatoriamente apenas à w cabeça do sintagma fonológico (f) no qual osujeito é mapeado e acento frasal associado opcionalmente à fronteira direita<strong>de</strong>ste mesmo sintagma. Exemplos:122


Sentença Neutra(2) [[(as meNInas)w(BElas)w]f[(laVAram)w]f[(as LUvas)w]f]I| | | | |L*+H L*+H L*+H H+L* L%Sentença Clivada(3a) [[(FOram)w]f[(as venezueLAnas)w]f[(que laVAram)w]f[(as LUvas)| | |L*+H L -Sentença Clivada Invertida Reduzida(3b) [[(as aLUnas)w(JOvens)w]f[(que leVAram)w]f[(as MAlas)w| | |L*+H L -A metodologia utilizada aqui consiste: (i) na gravação <strong>de</strong> sentenças neutras,clivadas, clivadas invertidas e clivadas invertidas reduzidas produzidas porfalantes do PB e; (ii) na análise do contorno entoacional <strong>de</strong>stas sentenças,através do uso do programa <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> fala Praat(http://www.fon.hum.uva.nl/praat/) e com base no quadro teórico daFonologia Entoacional.PROSÓDIA DE SENTENÇAS SV NO PORTUGUÊS BRASILEIRO:EXPERIMENTOS PERCEPTUAISMaria Cristina Figueiredo Silva e Izabel Christine Seara (PGL - UFSC)Defen<strong>de</strong> a literatura especializada (cf. <strong>de</strong>ntre outros BERLINCK, 1988;KATO, 2000) que o português <strong>br</strong>asileiro (doravante PB) está per<strong>de</strong>ndo aconstrução Verbo-Sujeito. Assim, vê-se a realização da or<strong>de</strong>m Sujeito-Verbonesta língua qualquer que seja o contexto discursivo ou gramatical. Mascomo são os padrões entoacionais <strong>de</strong> SV no PB atual? A distribuição <strong>de</strong>ssespadrões varia segundo as situações discursivas do mesmo modo queobservamos em inglês? Nosso objetivo com o presente estudo é discutirquestões colocadas por um experimento <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentenças comverbos monoargumentais. Nesse experimento, eram apresentadas aosinformantes narrativas e itens lexicais, com os quais <strong>de</strong>veriam serelocucionadas sentenças com o padrão entoacional a<strong>de</strong>quado em função <strong>de</strong> osujeito ser ou não parte da pressuposição discursiva. Esperava-se que,quando o sujeito fizesse parte da pressuposição, houvesse um evento tonal Hrealizado so<strong>br</strong>e o verbo e, quando não, o evento H se realizasse so<strong>br</strong>e opróprio sujeito, como em inglês (cf. CINQUE, 1993; LADD, 1996).Contudo, os resultados mostram que os informantes produzem sentençascom eventos tonais H simultaneamente so<strong>br</strong>e o sujeito e so<strong>br</strong>e o verbo em123


ambas as situações. Por essa razão, foram elaborados dois testes perceptuaiscom falantes do PB, que ouviam como estímulos as respostas dadas pelosinformantes no experimento <strong>de</strong> produção nas diferentes situaçõesdiscursivas. No primeiro, os falantes <strong>de</strong>veriam escolher entre duas respostas,optando pela mais a<strong>de</strong>quada à narrativa ouvida. No segundo, havia trêspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> resposta: as duas apresentadas no primeiro teste e umaterceira que seria escolhida no caso <strong>de</strong> ambas as respostas do primeiro testeparecerem a<strong>de</strong>quadas à situação da narrativa. Os scripts foram rodados noPrograma PRAAT. Para esta avaliação foi usado o teste <strong>de</strong> avaliaçãocomparativa <strong>de</strong> categorias (CCR) (cf. JILKA e al. 1996). Os primeirosresultados <strong>de</strong>ste experimento perceptual mostram que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntementeda situação discursiva, a maior amplitu<strong>de</strong> do contorno <strong>de</strong> pitch da curva queapresenta evento tonal tanto so<strong>br</strong>e o sujeito quanto so<strong>br</strong>e o verbo, comparadaa uma relativa monotonia na curva melódica com evento tonal em somenteum dos constituintes, parece levar o ouvinte a consi<strong>de</strong>rar esta como asentença mais aceitável, mesmo exibindo evento tonal H so<strong>br</strong>e os doisconstituintes. Um exemplo que reforça essa conclusão é a Narrativa 7, naqual as duas respostas exibem eventos tonais so<strong>br</strong>e V; porém, 60% dasopções foram pela primeira resposta, que se diferencia da segunda por suamaior amplitu<strong>de</strong> da curva <strong>de</strong> pitch.GT7 Estudos em Análise Crítica do Discurso: questões <strong>de</strong> gênero social,da mídia e da educação.Coor<strong>de</strong>nadoresJosé Luiz Meurer (UFSC)Débora <strong>de</strong> Carvalho Figueiredo (UNISUL)MANIFESTO: EM NOME DA NATUREZA A BELEZA PÕE A MESANA TVNajara Ferrari Pinheiro (UCS)O presente trabalho, vinculado ao GrPesq/CNP/UCS Discurso, Mídia eSocieda<strong>de</strong> e à pesquisa Corpo na TV: estratégias verbais e não-verbias <strong>de</strong>representação <strong>de</strong> gênero no discurso dos magazines femininos televisivos,discute as estratégias discursivas que revelam ou mascaram no discurso dosprogramas femininos da TV, o culto ao corpo e a representação das relaçõessociais <strong>de</strong> gênero como uma das formas <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> práticas sociaisconservadoras. A análise do discurso dos programas Bem Família (Re<strong>de</strong>Ban<strong>de</strong>irantes) e Mais Você (Re<strong>de</strong> Globo), <strong>de</strong>stacando a relação entreestratégias verbais e não-verbais, com base nos fundamentos da AnáliseCrítica do Discurso (ACD), revela que esses produtos, apesar <strong>de</strong> semostrarem inovadores e diferenciados, inseridos na dinâmica e naconstrução i<strong>de</strong>ntitária da socieda<strong>de</strong> contemporânea, reforçam o po<strong>de</strong>r docorpo e da beleza feminina como uma das molduras para garantir a<strong>de</strong>sões aprojeto sociais e causas que <strong>de</strong>vem/<strong>de</strong>veriam ser função do Estado. Os124


programas investigados apontam que para aquém e além das causas e dosprojetos, como o “Amazônia para sempre” (disponível emhttp://www.amazoniaparasempre.com.<strong>br</strong>/) estão as cele<strong>br</strong>ida<strong>de</strong>s e suasperformances, validando assim a estética do belo (e engajado), dopoliticamente correto e das concepções <strong>de</strong> mundo que, mesmo enfatizando aexposição do novo, reproduzem práticas (sociais e econômicas) consagradas,reforçando, assim, a manutenção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los hegemônicos vigentes.CRÍTICA DO DISCURSO; ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS;PRÁTICAS SOCIAISREPRESENTAÇÕES VISUAIS DE GÊNERO NO JORNALIMPRESSOSusana Bornéo Funck (UCPel)Em trabalho anterior, que analisava a representação da mulher no Jornal <strong>de</strong>Domingo, pu<strong>de</strong> perceber uma certa recorrência estrutural na representaçãovisual <strong>de</strong> homens e mulheres, em fotografias ilustrativas <strong>de</strong> notícias <strong>de</strong>interesse geral. Na presente investigação, buscarei verificar se há realmenteum padrão implícito na representação <strong>de</strong> homens e <strong>de</strong> mulheres, isolados ouem pares (ou grupos mistos) no que concerne às relações dos indivíduosentre si e à relação entre as fotografias e o/a leitor/a. Minha hipótese é a <strong>de</strong>que homens são representados “em ação”, ou seja, realizando algorelacionado com sua ativida<strong>de</strong> ou profissão, enquanto que mulheres sãorepresentadas num estilo “medalhão”. Suspeito, ainda, que quando juntos ohomem apareça em primeiro plano e a mulher em segundo. Embora eu nãotrabalhe <strong>de</strong> maneira formal com a Gramática Sistêmico Funcional,procurarei utilizar algumas das categorias propostas por Kress & vanLeeuwen (1996). Meu corpus será retirado da seção “Geral” <strong>de</strong> um conjunto<strong>de</strong> exemplares do Diário Catarinense (RBS Florianópolis) coletados duranteo ano <strong>de</strong> 2007.CURVAS PERIGOSAS: LEITURAS POSSÍVEISMárcia Maria Severo Ferraz (UFSM)Utiliza-se, nesta pesquisa, o método <strong>de</strong> comparação qualitativa <strong>de</strong> elementosdiscursivos, enunciativos e imagéticos para se verificar como asrepresentações so<strong>br</strong>e as feminilida<strong>de</strong>s e as masculinida<strong>de</strong>s são veiculadaspela mídia nos cartuns intitulados Curvas Perigosas, na revista Cláudia. Ospressupostos teóricos utilizados associam as teorias culturais <strong>de</strong> gênero àmultimodalida<strong>de</strong> (Kress e van Leeuwen, 1996) e à enunciação (Ker<strong>br</strong>at-Orecchioni, 1980). Dessa forma, analisam-se as representações sociais nalinguagem, consi<strong>de</strong>rando-se as visões femininas e masculinas, bem como asdiferenças <strong>de</strong> gênero subordinadas aos processos sociais e consi<strong>de</strong>ra-se queos paradigmas culturais <strong>de</strong> gênero são referenciais que estruturam toda avida dos indivíduos, <strong>de</strong>terminando seus discursos e suas condutas. Assim,125


objetiva-se <strong>de</strong>tectar, especialmente, no gênero discursivo cartum, asocorrências dos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das estratégias <strong>de</strong> leitura,referentes aos gêneros feminino e masculino, verificar as suas motivaçõesem relação às estratégias discursivas utilizadas e também relacionar asproduções <strong>de</strong>sses gêneros, relacionando-os aos processos <strong>de</strong> compreensãodos significados. Para tanto, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênerosão construídas, enfatizando-se as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s as quais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aantigüida<strong>de</strong>, sempre foram incutidas e tornadas naturais a fim <strong>de</strong> conformaras condutas <strong>de</strong> mulheres e homens. Contudo, essas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem serbanidas da socieda<strong>de</strong> e buscam-se estabelecer focos <strong>de</strong> resistência quepromovam as diferenças centradas nas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mulheres e homens.DISCUTINDO A DOMINAÇÃO MASCULINA EM PROPAGANDASDE CASAS NOTURNASVitor Hugo Chaves Costa (UFSM)Nos últimos anos, a questão <strong>de</strong> gênero social tem sido bastante investigada<strong>de</strong>ntro dos estudos lingüísticos (HERBELE, 1997; PIRES, 2008;MORAES,2002; MOITA-LOPES, 2004; OSTERMANN, 2006;FIGUEIREDO, 2006). As pesquisas lingüísticas que abordam essa temáticatratam <strong>de</strong> assuntos tais como: a masculinida<strong>de</strong> e o homoerotismo (PRADO& MOTTA-ROTH, 2006; MOITA-LOPES, 2006), a construção dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina em revistas (FIGUEIREDO, 1994; OSTERMANN,1994; HERBELE, 1997) e as relações <strong>de</strong> gênero social (PIRES, 1999).Nessa apresentação, buscamos analisar, com base na Análise Crítica doDiscurso, como a dominação masculina é legitimada no gênerodiscursivo/textual propaganda <strong>de</strong> casas <strong>de</strong> noturnas a partir <strong>de</strong> três anúnciospublicados no Jornal A Razão, <strong>de</strong> Santa Maria-RS. Pu<strong>de</strong>mos notar que, naspropagandas analisadas, a figura masculina é colocada em um lugarprivilegiando, sendo o participante que tem o po<strong>de</strong>r (dinheiro) para consumiro produto e <strong>de</strong>ve ser agradado e persuadido a <strong>de</strong>sfrutá-lo. A figura feminina,em contrapartida, assume um papel <strong>de</strong> produto <strong>de</strong> consumo sexual, <strong>de</strong>scritacom atributos que agra<strong>de</strong>m os homens e apresentadas com imagens que, <strong>de</strong>certa forma, provoquem e estimulem o interesse e o <strong>de</strong>sejo por parte doshomens. Em relação às imagens, notamos também que elas colocam oshomens em uma relação <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r. Somente imagens <strong>de</strong> mulheres sãoapresentadas nas propagandas, o que as coloca numa posição inferior, <strong>de</strong>quem <strong>de</strong>ve mostrar os atributos físicos (corpo) e ser adquirido ou recusado.As poses sensuais as colocam no papel <strong>de</strong> quem <strong>de</strong>ve “agradar” sexualmenteos homens, ou seja, serviçais. A ausência <strong>de</strong> imagens masculinas e a não<strong>de</strong>limitação do público masculino que po<strong>de</strong> consumir o produto põem oshomens em uma posição <strong>de</strong> maior po<strong>de</strong>r. Em suma, não importam quais sãoos atributos físicos dos homens, o que interessa para os anunciantes é odinheiro do público masculino, enquanto que as mulheres <strong>de</strong>vem ser bonitas,novas, atraentes e sensuais. Levando em consi<strong>de</strong>ração esses aspectos,po<strong>de</strong>mos concluir que a dominação masculina é altamente legitimada nessas126


propagandas, reforçando a idéia <strong>de</strong> que os homens são os indivíduos que temo po<strong>de</strong>r aquisitivo maior e as mulheres <strong>de</strong>vem servi-los sexualmente.LITERATURA E DISCURSORenata Kabke-Pinheiro (UCPel)A Análise Crítica do Discurso (FAIRCLOUGH, 2001; WODAK, 2004)freqüentemente trabalha com textos presentes em veículos <strong>de</strong> amplacirculação, tais como jornais e revistas, porém pouca atenção tem sido dadaa um meio cuja permanência entre nós é muito mais duradoura e suacirculação em muitos casos, ainda que não tão rápida, muito maior: o livro.A literatura já foi consi<strong>de</strong>rada um estranhamento em relação às rotinasdiárias da língua e da realida<strong>de</strong> (EAGLETON, 2003) mas hoje não se po<strong>de</strong><strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> reconhecer que ela é uma ferramenta po<strong>de</strong>rosa na propagação eperpetuação <strong>de</strong> diversos discursos. Cranny-Francis (1990), por exemplo, nosdiz que “as práticas e convenções que <strong>de</strong>finem e caracterizam os textos paraos leitores […] não são neutras: elas carregam ou codificam as funçõesi<strong>de</strong>ológicas do texto no mínimo tanto quanto o faz a história”. Entre osdiversos discursos circulantes em textos literários encontram-se muitas vezesos referentes às questões <strong>de</strong> gênero, abordados extensivamente pela críticaliterária feminista. A Análise Crítica do Discurso (ACD), no entanto, parecenão haver dado a <strong>de</strong>vida importância a esse meio <strong>de</strong> circulação, não havendomuitos trabalhos que se <strong>de</strong>diquem à interface entre literatura e discurso sob aótica da ACD e, principalmente, <strong>de</strong>dicados às questões <strong>de</strong> gênero. Assim,neste trabalho nos propusemos a abordar tal questão, refletindo so<strong>br</strong>e aimportância <strong>de</strong> estudos feitos a partir do ponto <strong>de</strong> vista teórico emetodológico <strong>de</strong>ssa linha <strong>de</strong> pesquisa e enfocando o(s) discurso(s)circulantes em textos literários.PERFORMANCES DE GÊNERO EM INTERAÇÕES EMCOMUNIDADES DE PRÁTICA DE SALA DE AULABeatriz Fontana (UNISINOS)Este estudo <strong>de</strong>screve as rotinas <strong>de</strong> aulas <strong>de</strong> inglês como língua estrangeira(LE) numa escola da re<strong>de</strong> pública municipal da área metropolitana <strong>de</strong> PortoAlegre, consi<strong>de</strong>rando a contribuição multidisciplinar da Sociologia, daSociolingüística Interacional, da Análise da Conversa, dos Estudos Culturais,da Lingüística Feminista e da Análise Crítica do Discurso, além dospressupostos da Lingüística Aplicada. Com tal aporte teórico preten<strong>de</strong>u-se o<strong>de</strong>svelamento <strong>de</strong> como os participantes <strong>de</strong> interações em situação regida pormandato institucional (SCHEGLOFF, 1992) co-constroem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>ssociais, na perspectiva <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como uma construção social situada(ECKERT e McCONNEL-GINET, 1999), dinâmica e multifacetada(CANCLINI, 1997), realizada através da linguagem em uso (CLARK, 2000) e<strong>de</strong> gênero como algo que se faz (CAMERON, 1998), ou, conforme Butler(1990), algo que se <strong>de</strong>sempenha. Também se consi<strong>de</strong>rou que a linguagem é127


parte integrante das ações que realizamos na vida social porque, na medida emque agimos e interagimos <strong>de</strong> formas específicas, segundo situaçõesespecíficas nas comunida<strong>de</strong>s das quais fazemos parte, constituímosi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s enquanto formas <strong>de</strong> ser no mundo, da mesma forma queconstituímos a representação <strong>de</strong> mundo em si (CHOULIARAKI eFAIRCLOUGH, 2000). Este estudo confirma as observações <strong>de</strong> Swann(1996), segundo a qual os meninos dominam o uso dos turnos, tanto por serempreferencialmente nomeados pelo professor, quanto por interromperem osturnos dos <strong>de</strong>mais participantes. Também ficou evi<strong>de</strong>nciado que as diferentescomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prática (WENGER, 1998) que coexistem nessa sala <strong>de</strong> aula,muitas vezes disputando o controle das ativida<strong>de</strong>s que se realizam durante operíodo <strong>de</strong>terminado para as aulas <strong>de</strong> língua inglesa, produzem diferentestrajetórias <strong>de</strong> participação. Os meninos iniciam mais pisos conversacionais eorientam a maioria das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, seja por <strong>de</strong>safiarem ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> institucional do professor, seja por estabelecerem interaçõessegundo seus interesses, provocando trajetórias periféricas para as meninas.Os acontecimentos analisados contribuíram para a percepção <strong>de</strong> que duranteas aulas <strong>de</strong> inglês, esses meninos e essas meninas exercitam papéis sociais queconsolidam relações <strong>de</strong> gênero que favorecem os meninos. Por fim, tambémficou evi<strong>de</strong>nciado que a naturalização com que se avalia a escola publicacomo lugar <strong>de</strong> insucesso fica sob rasura (STUART, 2000), já que oandaimento (MOITA LOPES, 2003) necessário à construção <strong>de</strong> conhecimentoem inglês é promovido por uma aluna, nas situações <strong>de</strong> cumprimento <strong>de</strong>tarefas em sala <strong>de</strong> aula.RELAÇÕES DE GÊNERO NA PUBLICIDADE: PALAVRAS EIMAGENS CONSTITUINDO IDENTIDADESGraziela Frainer Knoll (UFSM)Vera Lúcia Pires (UFSM)Através das mais diversas práticas sociais, as pessoas se constituem comomulheres e homens em um processo nunca finalizado, pelo contrário, sempreem construção. Dentre tais práticas, <strong>de</strong>staca-se o papel da comunicaçãomidiática e, especialmente, do discurso publicitário na produção emanutenção das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gênero. Em vista disso, <strong>de</strong>senvolvemos nopresente trabalho um estudo que aborda a construção discursiva do gênerona publicida<strong>de</strong> pelo prisma teórico-metodológico da análise <strong>de</strong> discursocrítica (ADC). Como a publicida<strong>de</strong> tem como característica amultimodalida<strong>de</strong>, que consiste na combinação <strong>de</strong> diferentes códigossemióticos, no caso da publicida<strong>de</strong> impressa, palavras e imagens, nossasanálises a<strong>br</strong>angem os textos verbais e não-verbais. Procuramos averiguar opapel da linguagem em sua relação dialética com a socieda<strong>de</strong>, na produção<strong>de</strong> sentidos e na manutenção das relações sociais. Combinamos ametodologia da ADC com conceitos <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin, a saber os <strong>de</strong> signoi<strong>de</strong>ológico e dialógico, consi<strong>de</strong>rado por muitos o precursor das teorias dodiscurso. Além dos textos verbais, nossa análise contempla os textos não-128


verbais, utilizando um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> análise da imagem (Kress e van Leeuwen,1996) bastante peculiar, uma vez que propicia a relação entre processoslingüísticos e visuais. Procuramos também conduzir estas reflexões <strong>de</strong>maneira transdisciplinar, pois se trata <strong>de</strong> um estudo discursivo <strong>de</strong> gênero, umestudo lingüístico e, ao mesmo tempo, sociológico, cujo foco principal estána linguagem em uso e seu papel na produção, reprodução ou aindatransformação das relações <strong>de</strong> gênero. Com isso, levamos ao <strong>de</strong>bateacadêmico a questão das relações <strong>de</strong> gênero produzidas e reproduzidas naspráticas sociais, esperando que esse <strong>de</strong>bate alcance <strong>de</strong> alguma maneira avida comum, intervindo na prática discursiva publicitária ou favorecendouma leitura crítica por parte dos leitores <strong>de</strong>sses anúncios. Tem, portanto,relevância também para a área da comunicação, especificamente, dapublicida<strong>de</strong>.DO TEXTO LITERÁRIO AO TEXTO FÍLMICO - A SAGA DE D.SEBASTIÃO, O DESEJADO, REVIVIDA POR QUADERNA, EM APEDRA DO REINO, DE ARIANO SUASSUNA: ORECONHECIMENTO DO SEBASTIANISMO EM SOLOBRASILEIROEunice Lopes <strong>de</strong> Souza Toledo (FCLAssis - UNESP)No castelo artístico-literário <strong>de</strong> Ariano Suassuna o Rei D. Sebastião, <strong>de</strong>Portugal, se <strong>de</strong>sencanta na figura <strong>de</strong> Qua<strong>de</strong>rna, um palhaço “multifacetado”que revive a saga do rei português em pleno sertão <strong>br</strong>asileiro. Impulsionadopelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a história do próprio país, universalizando ossonhos e as lutas do sertanejo nor<strong>de</strong>stino, repleto <strong>de</strong> uma religiosida<strong>de</strong>profunda que o fortalece diante da vida e da morte, Suassuna conquista oencantamento do diretor cinematográfico Luiz Fernando Carvalho que sepropõe a esten<strong>de</strong>r os horizontes intertextuais das palavras para as imagens,por meio da formatação <strong>de</strong> uma mini-série, homônima, veiculada pela Re<strong>de</strong>Globo <strong>de</strong> Televisão, bem como por variados cinemas digitais espalhadospelo país. Munida do conceito <strong>de</strong> intertextualida<strong>de</strong> – pela ótica daLingüística textual ou da Análise Crítica do Discurso - bem como dosconceitos <strong>de</strong> dialogismo e polifonia, pela ótica da Filosofia da Linguagem <strong>de</strong>Bakhtin, buscarei <strong>de</strong>cifrar o emaranhado polifônico que perpassa o textoliterário, adaptado para texto fílmico.A IDENTIDADE FEMININA NO GÊNERO TEXTUAL MÚSICAFUNKEdinéia Aparecida Chaves <strong>de</strong> Oliveira (UNISUL, Tubarão)O presente trabalho analisa a representação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina em umaseleção <strong>de</strong> 24 letras <strong>de</strong> músicas da terceira geração funk <strong>br</strong>asileira (ano 2000em diante), uma fase do movimento funk caracterizada pela sensualida<strong>de</strong> eerotismo. A pesquisa baseou-se na ACD (Análise Crítica do Discurso) comoteoria <strong>de</strong> suporte. Em termos metodológicos, foram utilizadas duas129


categorias analíticas da Lingüística Sistêmica Funcional. Primeiro, o sistema<strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong> (metafunção i<strong>de</strong>acional, e textual), e o sistema <strong>de</strong>modo/modalida<strong>de</strong> (metafunção interpessoal), através dos quais investigueicomo as escolhas léxico-gramaticais representam a mulher na comunida<strong>de</strong>funkeira e quais são as relações sociais mantidas entre os participantes<strong>de</strong>sses textos. Essas categorias mostraram como as escolhas feitas <strong>de</strong>ntro dosistema <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong> (processos, participantes e circunstâncias) e dosmodos oracionais são usadas para criar uma representação social <strong>de</strong>inferiorização feminina, como a voz masculina é majoritariamenterepresentada como superior a feminina, e como o homem <strong>de</strong>tém o po<strong>de</strong>rnessas representações. A segunda categoria analítica foi o conceito <strong>de</strong>registro (campo, relação e modo), que permitiu i<strong>de</strong>ntificar traços docontexto da situação na qual essas músicas são criadas, circulam e sãoconsumidas. As análises macro e micro textual indicaram que as músicasanalisadas representam uma mulher a disposição sexual do homem, cujaimagem é um produto <strong>de</strong> venda para o Funk. Os resultados corroboram anoção <strong>de</strong> que a linguagem veicula e dissemina i<strong>de</strong>ologias, e que os valoresmisóginos e sexistas que circulam, <strong>de</strong> forma naturalizada, numa comunida<strong>de</strong>como a funkeira, se refletem nas músicas aí produzidas, assim como essasmúsicas ajudam a naturalizar as representações sociais <strong>de</strong>preciativas dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina <strong>de</strong>ntro da comunida<strong>de</strong> consumidora do funk.ÍNDICES DE MODALIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA IMAGEMDE SIMaria do Socorro <strong>de</strong> Almeida Farias (UFSM)Vera Lúcia Pires (orientadora- UFSM)Os estudos so<strong>br</strong>e a linguagem versam so<strong>br</strong>e diversos campos <strong>de</strong> saberes,<strong>de</strong>ntre eles a relação entre gênero social e discurso. Nesse contexto, muitossão os trabalhos que ocupam lugar expressivo na Lingüística Aplicada, o quepo<strong>de</strong> ser comprovado com os inúmeros estudos e publicações que versamso<strong>br</strong>e a construção do feminino e do masculino materializada no discurso.Este trabalho está vinculado ao grupo “Estudos <strong>de</strong> gênero nos discursos docotidiano”, e à linha <strong>de</strong> pesquisa “Linguagem como prática social”, doPrograma <strong>de</strong> Pós-graduação em Letras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SantaMaria (PPGL/UFSM). Temos como objetivo, na comunicação proposta,verificar no nosso corpus, composto pelo gênero discursivo “carta <strong>de</strong>aconselhamento” publicado na revista Veja.com, como os índices <strong>de</strong>modalização auxiliam na construção da imagem <strong>de</strong> si no discurso dasmulheres autoras das cartas enviadas para a revista. A partir <strong>de</strong>sse objetivo,preten<strong>de</strong>mos observar se essas imagens e discursos veiculados edisseminados pela mídia rompem com o estereótipo tradicional da figurafeminina e seus papéis sociais, ou indicam a manutenção <strong>de</strong> papéisconservadores. Para tanto, temos como apoio teórico estudos so<strong>br</strong>e relaçõessociais <strong>de</strong> gênero, ethos (Amossy e Maingueneau) e os estudos <strong>de</strong> Ker<strong>br</strong>at-130


Orecchioni, que discutem os índices <strong>de</strong> modalização como inscrição dosujeito no discurso.O IMPERATIVO DO CORPO MAGRO E IDENTIDADESCORPORAIS ADOLESCENTES NA REVISTA CAPRICHO: UMAANÁLISE A PARTIR DA GRAMÁTICA VISUALAdriana Alves Daufemback (UNISUL)Esta pesquisa teve como objetivo analisar como o discurso da revistaCapricho representa, através das imagens presentes em anúncios e textospromocionais veiculados nessa revista, o imperativo do corpo magro.Partindo do pressuposto <strong>de</strong> que a Capricho, como outros suportes midiáticos<strong>de</strong> massa, compartilha, constrói e dissemina o culto ao corpo e o padrão <strong>de</strong>corpo magro, foram selecionados 20 anúncios, coletados <strong>de</strong> 15 revistaspublicadas entre os meses <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2006 a outu<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2007. Afundamentação teórica utilizada foi a abordagem da Análise Crítica doDiscurso (ACD), e a metodologia <strong>de</strong> análise a Gramática Visual (GV) <strong>de</strong>Kress e van Leeuwen. Os resultados obtidos mostram que as imagensveiculadas pela Capricho seduzem e estimulam em suas leitoras o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>um único mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> corpo - o magro -, e o consumo <strong>de</strong> produtos ligados aesse mo<strong>de</strong>lo (especialmente roupas e acessórios <strong>de</strong> moda). Deste modo, asimagens promocionais constituem um importante campo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s adolescentes na revista Capricho, uma vez que produzem formas<strong>de</strong> pensar, agir e se relacionar com e no mundo. Po<strong>de</strong>-se dizer que asimagens da revista Capricho não apenas orientam ou informam as leitorasso<strong>br</strong>e o próprio corpo, mas, so<strong>br</strong>etudo, produzem e disseminam um tipoúnico <strong>de</strong> corpo a ser <strong>de</strong>sejado, influenciando, <strong>de</strong>sta forma, a construção dasi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s corporais das leitoras adolescentes e seus padrões <strong>de</strong> consumo.O RISO E O ESCATOLÓGICO A SERVIÇO DA MÍDIAGregory Weiss Costa (UCPel)A mídia, enquanto aparelho i<strong>de</strong>ológico do estado, se baseia em discursos queagem no inconsciente coletivo para interpelarem os sujeitos. Atualmente,além da comédia, ela tem articulado a escatologia em seu âmbito, valendo-seassim <strong>de</strong> novas estratégias para a edificação das práticas sociais. Norteadopelo questionamento <strong>de</strong> qual é a pretensão i<strong>de</strong>ológica da mídia ao utilizar oescatológico como estratégia publicitária, o presente trabalho propõe umaanálise <strong>de</strong> uma propaganda da aguar<strong>de</strong>nte Velho Barreiro, veiculada namídia no ano <strong>de</strong> 2007, para explicitar as relações travadas entre práticasdiscursivas e socieda<strong>de</strong>, embando-se no mo<strong>de</strong>lo tridimensional da linguagemproposto por Fairclough (2001) e nos elementos <strong>de</strong> análise visual <strong>de</strong> Kress eVan Leeuwen (1996), além das concepções teóricas <strong>de</strong> Bakhtin (1993) so<strong>br</strong>eo cômico e grotesco.131


“UMA PROFESSORA MUITO MALUQUINHA” - PROPOSIÇÕESDO GÊNERO INFANTO-JUVENIL MODERNOMárcia Cristine Agustini (UFSC)A perspectiva teórica da Análise do Discurso Crítica (ACD) consi<strong>de</strong>ra alinguagem como prática social. Isto significa dizer que as práticas sociais, aoserem mediadas pela linguagem influenciam e são influenciadas por esta.Este caráter constitutivo do discurso confere à linguagem outrascaracterísticas que lhe são intrínsecas. A linguagem, ao intermediar práticassociais, apresenta traços <strong>de</strong>ssas rotinas que, eventualmente são cristalizadosem forma <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias, que po<strong>de</strong>m perpetuar relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r. Além disso,estes fragmentos discursivos estão em permanente conexão com outrostextos (Fairclough, 1989, 1992a; Fairclough & Wodak, 1997, Meurer, 2005).Em um estudo comparativo <strong>de</strong> textos do gênero infanto-juvenil <strong>de</strong> um modogeral, e o texto “Uma professora muito maluquinha” <strong>de</strong> Ziraldoespecificamente, procuramos levantar similarida<strong>de</strong>s e disparida<strong>de</strong>s emtermos <strong>de</strong> finalida<strong>de</strong> discursiva e a forma como a relação texto/leitor éproposta. A ACD propõe uma análise <strong>de</strong> texto que se fun<strong>de</strong> em trêsdimensões: textual, prática discursiva e prática social. O foco <strong>de</strong> nossotrabalho recai so<strong>br</strong>e a prática discursiva, e, a partir da perspectiva dialógica<strong>de</strong> Batkhin (1992), analisamos o texto proposto levando em consi<strong>de</strong>raçãoconceitos como intertextualida<strong>de</strong>, interdiscursivida<strong>de</strong> e finalida<strong>de</strong> discursiva.A QUESTÃO DE GÊNERO NO DISCURSO DE POLICIAIS SOBREA DELEGACIA DA MULHERMárcia Cristiane Nunes Scardueli (UNISUL – Araranguá)Dentre as políticas públicas <strong>de</strong> repressão e enfrentamento da problemática daviolência <strong>de</strong> gênero, consi<strong>de</strong>rada um grave problema social, a instituição daDelegacia da Mulher (DM) assume lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque. Porém, <strong>de</strong>vido àpouca compreensão das questões e políticas <strong>de</strong> gênero por parte dos policiaiscivis, essa unida<strong>de</strong> policial muitas vezes é limitada quanto ao tipo <strong>de</strong>serviços que oferece. Assim, a presente comunicação objetiva apresentar osresultados alcançados na pesquisa “A representação da Delegacia da Mulherpara policiais civis da 19ª Região Policial Catarinense”, <strong>de</strong>senvolvida noPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências da Linguagem da Universida<strong>de</strong> doSul <strong>de</strong> Santa Catarina, que investigou as representações da DM naperspectiva <strong>de</strong> policiais civis catarinenses. A fundamentação teóricautilizada para a pesquisa foi baseada na Análise Crítica do Discurso e nomo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> representação dos atores sociais proposto por Theo van Leeuwen.O corpus foi composto <strong>de</strong> questionários aplicados a policiais civis da 19ªregião. A análise dos dados coletados permitiu concluir que esses policiaisrepresentam a DM como um órgão policial ativo e importante na instituiçãopolicial civil, mas também apontou a presença, no discurso dos policiais, <strong>de</strong>crenças e mitos baseados em noções do senso comum a respeito da DM edas questões <strong>de</strong> gênero a ela relacionadas.132


COMODIFICAÇÕES DE GÊNERO NA MÍDIA: ANÁLISE DE UMAMARCA REGISTRADANara Widholzer (UCPel)Em 2003, Nigel Cole levou às telas o filme Calendar Girls, baseado nahistória real <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> mulheres que <strong>de</strong>cidiu arrecadar fundos para acausa do combate ao câncer. Resi<strong>de</strong>ntes em uma localida<strong>de</strong> conservadora docondado <strong>de</strong> Yorkshire (Inglaterra), as senhoras conceberam o projeto nadaortodoxo <strong>de</strong> publicarem um calendário ilustrado por nus artísticos <strong>de</strong>lasmesmas. Ao final, não apenas obtiveram dinheiro, mas tambémconquistaram sucesso internacional. Inspirada nessa idéia, em 2005, apsicóloga <strong>br</strong>asileira Márcia Papaléo criou, em Porto Alegre, o projetobeneficente As Gurias do Calendário, em prol <strong>de</strong> idosos. O calendário foipatenteado como marca, e as “gurias” tornaram-se “mo<strong>de</strong>los da maturida<strong>de</strong>”,personagens midiáticas, empreen<strong>de</strong>doras e estrelas <strong>de</strong> um blococarnavalesco. As selecionadas a cada ano, mulheres na faixa etária dos 50aos 80 anos, recebem aulas <strong>de</strong> etiqueta, postura, maquiagem e passarela.Neste trabalho, examinam-se o calendário das “gurias”, textos publicados noPediódico MP e conteúdos do site da MP Marketing & Psicologia, empresaresponsável pela promoção do grupo. Tendo-se por marco teórico a AnáliseCrítica do Discurso, analisam-se os discursos veiculados nessas publicaçõese as práticas sociais a eles relacionadas. Focalizam-se especialmentequestões <strong>de</strong> gênero social, enten<strong>de</strong>ndo-se ser essa uma categoria analíticaatravessada por variáveis como ida<strong>de</strong>, sexo e classe econômica, entre outras.Consoante a noção <strong>de</strong> semiose proposta por Norman Faircloug (2002), ogênero é aqui situado como um aparato semiótico, representação que atribuisignificados aos indivíduos em socieda<strong>de</strong> (cf. Lauretis, 1996). Os dadosapontam que a proposta das calendar girls, inicialmente subversiva,preservou com as Gurias do Calendário so<strong>br</strong>etudo sua faceta comercial, aoser espetacularizada pela mídia. A imagem corpórea a<strong>de</strong>quou-se a padrões<strong>de</strong> beleza e comportamento socialmente aceitos a fim <strong>de</strong> ser comodificada,aproximando-se as gurias às pin ups, já cristalizadas na memória discursivado Oci<strong>de</strong>nte.PRÁTICAS DISCURSIVAS DA MODERNIDADE TARDIA: ODISCURSO DE PROFESSORES DE LÍNGUA ESTRANGEIRANilceia Bueno <strong>de</strong> Oliveira (SEED/PR)As práticas sociais da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> tardia têm levado o professor à reflexãoconstante so<strong>br</strong>e o ensino-aprendizagem. Assim, a investigação do discursodos professores <strong>de</strong> Língua Estrangeira se fez relevante, especialmente sob aótica <strong>de</strong> abordagens críticas como a da Análise Crítica do Discurso e daLingüística Sistêmica Funcional. O presente trabalho orienta-se por umaperspectiva teórico-metodológica <strong>de</strong> estudo na qual o discurso é entendidocomo prática social (Fairclough, 2001), e os dados analisados procuram133


elacionar o discurso dos professores com as noções <strong>de</strong> mudança social,i<strong>de</strong>ologia e empo<strong>de</strong>ramento. Exemplares do discurso dos professores,coletados através <strong>de</strong> questionários, foram analisados a partir <strong>de</strong> dois gran<strong>de</strong>stemas: o da competência e o da formação do professor <strong>de</strong> Língua Estrangeira.A pesquisa aponta que as crenças dos professores são hí<strong>br</strong>idas, apresentandotraços <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologias que vão do tradicional ao contemporâneo, posições maiscríticas e menos críticas, reproduzindo e também subvertendo asrepresentações tradicionais so<strong>br</strong>e ensinar e apren<strong>de</strong>r uma língua estrangeira.AS REPRESENTAÇÕES DE PROFESSOR E ALUNO EMPROPAGANDAS DE LIVROS DIDÁTICOS DE LÍNGUA INGLESARicharles Souza <strong>de</strong> Carvalho (UNESC - Criciúma)Este trabalho, parte <strong>de</strong> minha dissertação <strong>de</strong> mestrado, teve como objetivoinvestigar o discurso publicitário presente em propagandas <strong>de</strong> livrosdidáticos <strong>de</strong> língua inglesa <strong>de</strong> 1 a . a 8 a . série do Ensino Fundamental,utilizados no município <strong>de</strong> Criciúma-SC em 2005-2006. Os 23 textospromocionais so<strong>br</strong>e oito livros didáticos foram retirados das contra-capasdos livros, dos websites das editoras e <strong>de</strong> catálogos impressos. Esses textosutilizam diferentes semioses verbais e não-verbais para convencer osdocentes a adotar <strong>de</strong>terminados livros didáticos nas escolas em quelecionam. A Análise Crítica do Discurso e a Abordagem da Avaliativida<strong>de</strong>(MARTIN; WHITE, 2005) serviram <strong>de</strong> fundamentação teórica emetodológica para a análise das práticas discursivas e sociais presentes naspropagandas. Os resultados mostram que, por meio da hi<strong>br</strong>idização dodiscurso publicitário com o discurso acadêmico <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> línguas – como primeiro se valendo do segundo para ganhar cientificida<strong>de</strong>, prestígio epo<strong>de</strong>r –, e das escolhas léxico-gramaticais que supervalorizam a qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> seus produtos, as editoras constroem um ambiente favorável para a venda<strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> ensino e exercem um forte po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> persuasão so<strong>br</strong>e seuscompradores em potencial, os professores. Representações <strong>de</strong> alunos eprofessores também estão presentes nos textos analisados: o contexto doprofessor em sala <strong>de</strong> aula, sua formação, suas necessida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s,freqüentemente aparecem nas entrelinhas dos textos publicitários analisados;da mesma forma, quando a propaganda explica porque o material foi feito equais suas vantagens, <strong>de</strong>terminadas representações <strong>de</strong> aluno, em especial doaluno “pós-mo<strong>de</strong>rno”, das “turmas heterogêneas”, do “aluno que gosta <strong>de</strong>jogos”, são estabelecidas e exploradas instrumentalmente, numa relaçãointerdiscursiva com o discurso acadêmico <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> línguas.O ESTUDO DA CHARGE E A REPRESENTAÇÃO DO POLÍTICOSilmara Siqueira Batistel (Unioeste)A pesquisa objetiva <strong>de</strong>senvolver análise do corpus teórico pautado no estudoda galeria <strong>de</strong> charges <strong>de</strong> viés político do cartunista Angeli, veiculadas namídia escrita <strong>de</strong>nominada Revista Veja, sob o enfoque da Análise do134


Discurso. Neste sentido, sob o aporte teórico da AD, discutiremos arepresentação e a materialização do discurso do político. Nesta perspectiva,o estudo das charges políticas concerne a dicotomia humor/política quepermeia os principais suportes <strong>de</strong> comunicação midiática do século XXI. Ascharges <strong>de</strong> Angeli constituem a representação da imagem do político e amaterialização i<strong>de</strong>ológica do discurso proferido por tais representantes, vistoque estabelecem um cotejo entre o discurso imagético que retrata a figura dopolítico, especificamente, do presi<strong>de</strong>nte Lula e o contexto sociopolítico eeconômico que remonta ao período do governo petista. Logo, faz-sepertinente compreen<strong>de</strong>r o contexto em que as charges foram produzidas,visando <strong>de</strong>scortinar o signo i<strong>de</strong>ológico que as caracterizam e o discursometafórico, polifônico e intertextual que compõe o estilo do gênero, bemcomo do autor. Discutiremos os conceitos <strong>de</strong> polifonia, intertextualida<strong>de</strong> esigno lingüístico embasados na concepção Bakhtiniana e, no que tange àconstrução da imagem do político e suas representações, em estudos <strong>de</strong>Bourdieu e Weber.INVESTIGANDO PRÁTICAS DE LETRAMENTO PELAPERSPECTIVA DA ANÁLISE CRÍTICA DO DISCURSOViviane M. Heberle (UFSC)Estudos em lingüística sistêmico-funcional e em análise crítica do discursoapontam para a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se pesquisar outros sistemas semióticosalém da linguagem verbal. A gramática visual proposta por Kress e vanLeeuwen (1996/2006), baseada na lingüística sistêmico-funcional <strong>de</strong>Halliday, vem sendo utilizada como aparato teórico <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ssa novaperspectiva pedagógica <strong>de</strong> multiletramento, que engloba diferentes formasmultimidiáticas e tecnologias <strong>de</strong> comunicação. Neste trabalho, comfundamentação teórica da lingüística sistêmico-funcional, da análise críticado discurso e da gramática visual, discuto minha pesquisa so<strong>br</strong>e práticas <strong>de</strong>letramento <strong>de</strong> alunos do ensino médio <strong>de</strong> três escolas públicas <strong>de</strong> SantaCatarina. Resultados parciais mostram que ainda predominam práticasdiscursivas convencionais nas aulas e pouca diversida<strong>de</strong> em relação àincorporação <strong>de</strong> formas multimidiáticas. Espera-se que a pesquisa possacontribuir para um maior discernimento so<strong>br</strong>e a relevância <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rardiferentes recursos semióticos no ensino.A IDENTIDADE FEMININA NA MATURIDADE: O GÊNEROCARTA AO LEITOR NAS REVISTAS FEMININASFátima Andréia Tamanini-Adames (UFSM)Vera Lúcia Pires (UFSM)No século XIX, a menopausa marcava o término da feminilida<strong>de</strong>. Hoje, amulher madura exerce sua sexualida<strong>de</strong>, trabalha e consome, mas parece estarainda presa a um padrão <strong>de</strong> beleza estereotipado. Em conseqüência, ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da “vovó” não é mais a mesma, e o mercado editorial está atento.135


O gênero carta ao leitor ou editorial possui uma base argumentativa,apresenta-se <strong>de</strong> forma diversificada, o que po<strong>de</strong> oferecer modos diferentes<strong>de</strong> argumentação, e mostra, não o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma só pessoa, mas oponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> uma instituição, com públicos e propósitos distintos. Nasrevistas femininas, servindo também como uma introdução às matériasprincipais, esse gênero é um bom representante para a verificação <strong>de</strong> como oreferencial do gênero feminino está em processo <strong>de</strong> mudança. O principiodialógico <strong>de</strong> Bakhtin e a análise crítica do discurso (ACD), através dosistema da transitivida<strong>de</strong>, oportunizam o estudo do discurso da mídia e daconstrução <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, ou seja, o processo <strong>de</strong> mudança do imagináriosocial da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> feminina na maturida<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> referentes reais. NaACD, a transitivida<strong>de</strong> tornou-se um instrumento lingüístico importante paraa interpretação <strong>de</strong> aspectos i<strong>de</strong>ológicos, socioculturais ou estilísticos. Então,tomamos como parâmetros quatro processos consi<strong>de</strong>rados significativos naanálise <strong>de</strong> editoriais <strong>de</strong> revistas femininas: materiais, mentais, verbais erelacionais. A análise da transitivida<strong>de</strong> no exemplar selecionado mostra quea revista fala também àquelas mulheres <strong>de</strong> mais ida<strong>de</strong> que, neste ano <strong>de</strong>2008, já ocupam cargos importantes e outrora masculinos. Mas, embora sereconheça a gran<strong>de</strong> mudança na condição feminina, fato observado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> otítulo “O dia-a-dia do po<strong>de</strong>r”, o qual refere-se a uma mulher po<strong>de</strong>rosa,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte e muitas vezes <strong>de</strong> uma faixa etária mais alta, ainda estãopresentes estereótipos pré-feministas, como a exigência <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong>beleza feminino estabelecido, a maternida<strong>de</strong>, e a insegurança em assumircargos <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e influência. Neste estudo, a ACD e o princípiodialógico <strong>de</strong> Bakhtin se mostraram recursos eficientes para evi<strong>de</strong>nciar acontradição entre a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> nova – mulher autônoma e livre, e ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> velha – mulher símbolo <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> diante do ainda dominantegênero masculino. Entretanto, seria necessário analisar muitos outrosexemplares <strong>de</strong>ste gênero discursivo para comprovar esta afirmação,principalmente referindo-se à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da mulher na maturida<strong>de</strong>.GT8 Ensino De Línguas, Tecnologia E Paradigmas Da Complexida<strong>de</strong>Coor<strong>de</strong>nadoresVilson José Leffa (UCPel)Rafael Vetromille-Castro (UFRGS)DE AULAS DE GRAMÁTICA, QUERO DISTÂNCIA!Ana Cláudia Pereira <strong>de</strong> Almeida (UCPel)O uso <strong>de</strong> objetos digitais <strong>de</strong> aprendizagem em uma sala <strong>de</strong> aula virtual po<strong>de</strong>ser uma boa estratégia para ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa - afinal, se osmeios e os estudantes já não são mais os mesmos, não faz sentido mantervelhas fórmulas. Assim, em um curso <strong>de</strong> português redacional básico adistância foram propostos objetos digitais <strong>de</strong> aprendizagem, comconteúdo <strong>de</strong>terminado pelas necessida<strong>de</strong>s mostradas pelos participantes. A136


idéia <strong>de</strong> se escolher o ambiente virtual para proce<strong>de</strong>r à investigação justificasepor a comunicação nesse espaço acontecer apenas por meio <strong>de</strong> textosescritos, o que "o<strong>br</strong>iga" os participantes a mostrarem-se e às suasnecessida<strong>de</strong>s em relação à norma culta da Língua Portuguesa e pela atitu<strong>de</strong>lingüística dos sujeitos-pesquisados em ambiente virtual, on<strong>de</strong> costumampriorizar o conteúdo e preterir a forma, postura que <strong>de</strong>monstra <strong>de</strong> maneiramais genuína os tópicos gramaticais a ser discutidos. Dessa forma,reconhecendo as necessida<strong>de</strong>s dos estudantes, cria-se <strong>de</strong>manda;reinaugurando-se as formas <strong>de</strong> ensinar - tal qual os recursos dos ambientesvirtuais <strong>de</strong> aprendizagem permitem -, torna-se possível ensinar maisefetivamente os conteúdos da gramática.A INTERATIVIDADE E OS PAPÉIS ASSUMIDOS EM UMCONTEXTO INFORMATIZADO DE PRODUÇÃO DE LINGUAGEMAndréia Vielmo <strong>de</strong> Quadros (UNISINOS)Dinorá Moraes <strong>de</strong> Fraga (UNISINOS)A idéia do conceito <strong>de</strong> interação e interativida<strong>de</strong> ainda causa confusão nomundo mo<strong>de</strong>rno, no qual as pessoas interagem com outras pessoas e commáquinas. Essa dualida<strong>de</strong>, a grosso modo, é chamada <strong>de</strong> interação quandoformada somente por pessoas e <strong>de</strong> interativida<strong>de</strong> quando há pessoas emáquinas envolvidas no contexto. Este trabalho tem por objetivos estudar ospapéis assumidos por professor, aluno e computador na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um site e também preten<strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e as relaçõesentre interação e interativida<strong>de</strong> na perspectiva da teoria <strong>de</strong> Paul Ricoeur eJean-Paul Bronckart, em que se prioriza o conceito <strong>de</strong> ação e <strong>de</strong> agir. Apesquisa foi <strong>de</strong>limitada a oficinas para <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um siteeducacional, realizadas pela pesquisadora na Escola Municipal <strong>de</strong> EnsinoFundamental Incompleto Doutor Alfredo Bemfica Filho na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> NovoHamburgo-RS. Essas oficinas ocorreram <strong>de</strong> setem<strong>br</strong>o a <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2007,com alunos <strong>de</strong> 5ª série, que, em turno oposto, <strong>de</strong>senvolveram o site dareferida escola.A INTERATIVIDADE PROPOSTA PELOS OBJETOS DEAPRENDIZAGEM EM CURSOS ON-LINE DE ESPANHOLArice Cardoso Tavares (CEFETRS, Pelotas)É cada vez mais freqüente no ensino <strong>de</strong> línguas estrangeiras a utilização dastecnologias interativas. O uso dos objetos <strong>de</strong> aprendizagem, vistos comoartefatos culturais capazes <strong>de</strong> promover a aprendizagem, tem recebido<strong>de</strong>staque recentemente. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>screver e analisar oconteúdo pedagógico <strong>de</strong>sses objetos e <strong>de</strong>tectar sua presença nos cursos quepropõem o ensino da língua espanhola na re<strong>de</strong> mundial <strong>de</strong> computadores.Procuraremos, <strong>de</strong>sta forma, aferir o valor educacional <strong>de</strong>sses objetos, com<strong>de</strong>staque para a interativida<strong>de</strong>.137


WEB 2.0 E A FORMAÇÃO DE COMUNIDADES VIRTUAISChristiane Heemann (UCPEL)Web 2.0 é o termo usado para referir-se à segunda geração da internet que émarcada fortemente pela interação e dinamismo e pelos conteúdos geradospelos próprios usuários, criando uma gran<strong>de</strong> personalização. Os usuários naWeb 2.0 passam <strong>de</strong> agentes passivos para agentes altamente ativos queescrevem, criticam e avaliam, e também são criticados e avaliados, gerandouma gran<strong>de</strong> troca <strong>de</strong> informações, formando, assim, uma gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s virtuais que compartilham saberes e opiniões. Na Web 2.0,cujos conceitos chave são publicação e participação, blogs, wikis , re<strong>de</strong>ssociais e os sites <strong>de</strong> compartilhamento unem pessoas muito mais queinformação. A escrita na Web 2.0 cumpre um papel fundamental, uma vezque é por meio <strong>de</strong> textos que as pessoas se comunicam. A Web 2.0 nos levaa pensar em Pierre Levy e a Inteligência Coletiva (1998), que é um princípiono qual as inteligências individuais são somadas e compartilhada por toda asocieda<strong>de</strong>, sendo potencializadas com as tecnologias <strong>de</strong> informação como ainternet.APRENDENDO INGLÊS NA INTERNET: UMA EXPERIÊNCIACOM BLOGS NA ESCOLA PÚBLICADébora Lisiane Carneiro Tura (UNIFRA)Tânia Maria Moreira (UNIFRA)Este trabalho, vinculado ao curso <strong>de</strong> Pós-Graduação em Metodologia <strong>de</strong>Ensino <strong>de</strong> Língua Inglesa da UNIFRA, tem como objetivo apresentar asativida<strong>de</strong>s elaboradas e <strong>de</strong>senvolvidas no projeto “Apren<strong>de</strong>ndo Inglês naInternet”, bem como reflexões acerca dos tipos <strong>de</strong> interações estabelecidasentre os interagentes mediante o uso <strong>de</strong> blogs. No experimento, umaprofessora e um grupo <strong>de</strong> treze alunos da 5ª série do Ensino Fundamental <strong>de</strong>uma escola pública interagiram e estabeleceram um sistema <strong>de</strong> cooperação ecolaboração mútua no ciberespaço com internautas, alunos e professores <strong>de</strong>escolas <strong>br</strong>asileiras e estrangeiras, por meio <strong>de</strong> blogs e o engajamento emtarefas <strong>de</strong> leitura e escrita. Nesse período, as ativida<strong>de</strong>s e tópicos básicos <strong>de</strong>LI foram <strong>org</strong>anizados <strong>de</strong> modo que os aprendizes utilizassem as funções dalinguagem mais recorrentes na comunicação via web. O embasamentoteórico adotado partiu <strong>de</strong> estudos sociointeracionistas (VYGOTSKY, 1998),dos princípios da teoria da complexida<strong>de</strong> (POLÔNIA, 2003; PAIVA, 2005;VETROMILLE-CASTRO, 2007), da teoria da interação (PRIMO, 2007) eda noção <strong>de</strong> LI como uma prática social (PAIVA, 2001). Além disso,discute-se o uso <strong>de</strong> blogs como uma ferramenta <strong>de</strong> comunicação que permiteo oferecimento <strong>de</strong> andaimes (WOOD et al, 1976) em uma interaçãopedagógico-digital, a partir da formação <strong>de</strong> sistemas complexos em re<strong>de</strong>ssociais virtuais. A análise preliminar das postagens e comentários nos blogsindica que em um sistema complexo os participantes do processo <strong>de</strong> ensino eaprendizagem se alteram, passando a ser constituídos por alunos, professores138


e internautas. Isso <strong>de</strong>manda mais autonomia na atuação dos aprendizes, umaatuação do professor como orientador das ativida<strong>de</strong>s e um gran<strong>de</strong> interessepor parte do internauta em se envolver em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> interação ecomunicação. Nas trocas interativas estabelecidas, observam-se relaçõesmútuas e alterações recíprocas no que diz respeito à leitura e escrita em LI<strong>de</strong> tópicos recorrentes em qualquer contato social, tais como: informaçõespessoais, preferências e interesses, informações so<strong>br</strong>e a família e amigos,bem como informações so<strong>br</strong>e o que fazem na escola e no tempo livre,informações so<strong>br</strong>e “rotina”, viagem, férias e informações so<strong>br</strong>e a cultura dolocal em que vivem.DESIGN DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL: INCORPORANDOCONCEPÇÕES QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS DE LÍNGUAE APRENDIZAGEM DE LÍNGUA.Delfina Cristina Paizan (UNIOESTE, Institute of Education/University ofLondon)Ensinar é reconhecidamente um processo complexo. Consi<strong>de</strong>rando o ensino<strong>de</strong> uma língua estrangeira especificamente, as complexida<strong>de</strong>s que seapresentam também são muitas e vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> qual língua estrangeira <strong>de</strong>ve serensinado em um país <strong>de</strong> proporções continentais como o Brasil, até qual aseqüência a ser seguida na apresentação do conteúdo a ser ensinado (Bohn,2003). Uma outra complexida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> interesse aqui, é a integração datecnologia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto <strong>de</strong> ensino e aprendizagem <strong>de</strong> línguaestrangeira. Esta comunicação trata <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> doutorado em seuestágio final que buscou envolver os alunos no <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> tecnologia parainvestigar como a construção que os alunos fazem da sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> InglêsInstrumental po<strong>de</strong> influenciar – e ser influenciado pela – a participação dosalunos nesse processo. Para conduzir tal pesquisa, uma abordagemparticipativa para o <strong>de</strong>sign <strong>de</strong> tecnologia foi adotada: a pesquisadoraconvidou alunos <strong>de</strong> ciência da computação, a professora <strong>de</strong> InglêsInstrumental e uma tecnóloga para, juntos <strong>de</strong>senharem um Portal da Webcom o objetivo <strong>de</strong> ajudar a aprendizagem <strong>de</strong> Inglês Instrumental. Dadosforam coletados através <strong>de</strong> entrevistas, observação da participação dosalunos nas sessões <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign, e diário online. A estrutura analítica propostapor Benson e Lor (1999), baseada na distinção feita por Marton et al (1997)entre concepções qualitativa e quantitativa <strong>de</strong> aprendizagem, foi utilizadapara dar acesso às concepções <strong>de</strong> crenças so<strong>br</strong>e, e abordagens para aaprendizagem <strong>de</strong> línguas dos alunos e, assim, à construção que eles têm dasala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Inglês Instrumental. Os dados indicam que os alunosconstroem a sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Inglês Instrumental como um ambiente <strong>de</strong>aprendizagem po<strong>br</strong>e. Por outro lado, a participação <strong>de</strong>les no processo <strong>de</strong><strong>de</strong>sign ajudou a criar um ambiente <strong>de</strong> aprendizagem mais rico ao incorporartanto concepções qualitativas quanto quantitativas <strong>de</strong> língua e <strong>de</strong>aprendizagem <strong>de</strong> língua.139


PROJETO HIPERTEXTO PARA LICENCIATURA EM LETRAS -INGLÊS NA MODALIDADE A DISTÂNCIA: A APLICAÇÃO DATEORIA DOS SISTEMAS COMPLEXOS À CONSTRUÇÃO DECONTEÚDOS PARA UM CURRÍCULO EM REDEEunice Polônia (UFRGS)Apresento a estruturação hipertextual <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> Licenciatura emLetras <strong>de</strong> Língua Inglesa a distância, tomando por base a teoria dos sistemascomplexos aplicados à aprendizagem <strong>de</strong> línguas (Larsen-Freeman, 1997) etransposta para a criação <strong>de</strong> currículos e <strong>org</strong>anização <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>seus conteúdos (Polonia, 2003; 2007). Tomando por princípio que ossistemas são abertos, auto-<strong>org</strong>anizáveis, sensíveis ao feedback e adaptáveis,abandono a idéia <strong>de</strong> linearida<strong>de</strong> da aprendizagem <strong>de</strong> itens lingüísticos, on<strong>de</strong>nos encaminhamos para um novo item após dominar o anterior, observandoque a curva <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> cada item também não é linear. Esta flui<strong>de</strong>zconcretiza-se em planos processuais – o baseado em tarefas e o processual –intrinsecamente mais flexíveis que os tradicionais, por estarem voltados àsformas como os aprendizes po<strong>de</strong>m alcançar os objetivos e à como elesnavegam a rota em si. Aplicados aos ambientes digitais, verifica-se a totalaplicabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stes mo<strong>de</strong>los à arquitetura hipertextual. O projetoHipertexto para Pró-Licenciatura <strong>de</strong> Inglês a Distância da REGESD (Re<strong>de</strong>Gaúcha <strong>de</strong> Ensino Superior a Distância), concebido pelo Instituto <strong>de</strong> Letrasda UFRGS, visa <strong>de</strong>senvolver um hipertexto <strong>de</strong> aprendizagem paradisciplinas a serem ministradas durante o curso <strong>de</strong> licenciatura a distânciapara formação <strong>de</strong> professores leigos <strong>de</strong> inglês da re<strong>de</strong> pública gaúcha,conforme projeto do MEC ─ o PROLIC. Ele será aplicado <strong>de</strong>ntro doconvênio REGESD formado pela UFRGS, UNISC, UFSM e UCS atravésda plataforma MOODLE. Discorrerei so<strong>br</strong>e aspectos pedagógicos e <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento envolvidos no processo <strong>de</strong> criação <strong>de</strong>ste hipertexto econcluirei com indicações para a efetivação plena do potencial integrativo,interativo e cooperativo previsto no uso pedagógico a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> umcurrículo em re<strong>de</strong> digital tal como proposto neste projeto.A UTILIZAÇÃO DE FERRAMENTAS DE TIC EM CURSOS DELETRAS INGLÊS: CRENÇAS DE PROFESSORES E ALUNOSFernanda Ramos Machado (UFSC)O acesso à informação tornou-se in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> tempo e espaço com osavanços da tecnologia e o advento da internet em 1969 e do World Wi<strong>de</strong>Web (WWW) em 1991 (Paiva, 2001), afetando não apenas o cenário políticoe econômico, mas também a área da educação. No Brasil, o ministério daeducação lançou em 1997 o Programa Nacional <strong>de</strong> Informática na Educação(ProInfo), em uma iniciativa <strong>de</strong> acompanhar a tendência global <strong>de</strong> incluirtecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação (TICs) na educação. Na área <strong>de</strong>ensino e aprendizagem <strong>de</strong> língua estrangeira, especificamente, o númerocrescente <strong>de</strong> pesquisas investigando e reportando investigações so<strong>br</strong>e o uso140


<strong>de</strong> TICs nesta área aponta para a relevância e o potencial <strong>de</strong>ssas ferramentasem auxiliar professores e alunos no processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem dalíngua alvo. Pesquisas mostram que a utilização <strong>de</strong> TICs po<strong>de</strong> ajudar osestudantes na aprendizagem das quatro habilida<strong>de</strong>s lingüísticas(compreensão oral, compreensão escrita, produção oral e produção escrita)oferecendo a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver letramento digital e habilida<strong>de</strong>srelacionadas que estão se tornando cada vez mais importantes nos dias atuaispara acompanhar o progresso e manter-se qualificado num mercadocompetitivo. Para tanto, é primordial para o sucesso da integração <strong>de</strong> TICsnas salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> língua estrangeira, que diretores <strong>de</strong> escolas, juntamentecom coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos e professores se unam para avaliarem ebuscarem soluções relacionadas à infra-estrutura, à a<strong>de</strong>quação das TICs<strong>de</strong>ntro do currículo da disciplina e ao treinamento especializado ecapacitação <strong>de</strong> professores. Entretanto, alguns estudos encontraram queapesar <strong>de</strong> alguns professores disponibilizarem <strong>de</strong> infra-estrutura apropriada eterem recebido treinamento específico, eles continuam não incluindoferramentas <strong>de</strong> TIC em suas práticas pedagógicas. Uma maneira <strong>de</strong> tentarcompreen<strong>de</strong>r este fenômeno é investigar as crenças <strong>de</strong>sses professores emrelação à utilização <strong>de</strong>ssas ferramentas, uma vez que, “crenças em relação aum objeto levam a atitu<strong>de</strong>s em relação a este, que por sua vez levam aintenções comportamentais em relação ao mesmo objeto” (Fishbein e Ajzen,1975, p.128, citado em Levine & Donitsa-Schimidt, 1998). Neste sentido, opresente trabalho reporta os resultados preliminares <strong>de</strong> um estudo, ainda emandamento, que tem como objetivo investigar (1) o uso <strong>de</strong> TICs no curso <strong>de</strong>Letras Inglês <strong>de</strong> universida<strong>de</strong>s fe<strong>de</strong>rais <strong>br</strong>asileiras, (2) as crenças <strong>de</strong>professores e estudantes <strong>de</strong>ssas universida<strong>de</strong>s em relação às TICs e, (3) arelação entre as suas crenças e a utilização <strong>de</strong> TICs para o ensino eaprendizagem <strong>de</strong> inglês.ESCRITA COLETIVA EM LÍNGUA INGLESA REALIZADA PORADOLESCENTES DE ESCOLA PÚBLICA EM UM AMBIENTEDIGITALIngrid Kuchenbecker Broch (UFRGS)O presente trabalho investiga uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita coletiva em línguainglesa em ambiente digital realizada por adolescentes do Ensino Médio <strong>de</strong>uma escola pública. Com base nas Teorias da Ativida<strong>de</strong> e da Complexida<strong>de</strong>são levantadas as seguintes questões: 1) Como se dá a participação <strong>de</strong>adolescentes em um texto coletivo? 2) Como eles lidam com as diversassituações que emergem no processo? Qual o papel do professor na ativida<strong>de</strong>?Os dados foram gerados a partir do projeto Drama Club Webwriters<strong>de</strong>senvolvido nas aulas <strong>de</strong> Língua Inglesa do Colégio <strong>de</strong> Aplicação daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Os participantes são oito alunosdo primeiro ano do Ensino Médio divididos em quatro día<strong>de</strong>s, que, após aleitura <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>a adaptada em inglês, discutem e adaptam a história a umroteiro <strong>de</strong> peça teatral através do Fórum do ambiente virtual <strong>de</strong>141


aprendizagem ALED (www.ufrgs.<strong>br</strong>/aled) e o editor <strong>de</strong> texto colaborativoEquiText (http://equitext.pgie.ufrgs.<strong>br</strong> As interações entre pares são vistas,nesse estudo, como momentos significativos no processo <strong>de</strong> ensino eaprendizagem <strong>de</strong> uma língua estrangeira, exigindo um aprendiz maisautônomo, consciente e voluntário. Os resultados apontam a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>escrita coletiva <strong>de</strong> texto teatral em ambiente virtual <strong>de</strong> aprendizagem comouma nova proposta pedagógica <strong>de</strong> abordagem processual que favorece aconstrução <strong>de</strong> significados. Por ser realizada em um ambiente digital, estaativida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um <strong>de</strong>sequilí<strong>br</strong>io nas ações dos participantes, emfunção da imediata publicação e do contato com a escrita do outro,oportunizando uma reflexão que po<strong>de</strong> resultar em uma aprendizagem maissignificativa. Por fim, conclui-se que a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escrita coletiva em AVArequer uma mudança <strong>de</strong> paradigma <strong>de</strong> ensino e aprendizagem, visando umaaprendizagem mais autônoma.VIGOTSKY.COMUM PRIMEIRO ENCONTRO ENTRE PROFESSORES EMFORMAÇÃO E NOVAS TECNOLOGIAS DO PONTO DE VISTA DATEORIA DA ATIVIDADEMarcus Vinícius Liessem Fontana (UCPel/UFPel)Este trabalho é o resultado do acompanhamento feito a um grupo <strong>de</strong> alunos<strong>de</strong> 5º semestre da Licenciatura em Língua Espanhola e Literaturas daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas durante o primeiro semestre letivo <strong>de</strong> 2008na disciplina A Internet no Ensino do Espanhol/Língua Estrangeira. Nestaca<strong>de</strong>ira, que existe há apenas 3 anos, os estudantes são apresentados a váriosrecursos gratuitos disponíveis na Internet, apren<strong>de</strong>m a montar sites, a editar ea utilizar áudios e ví<strong>de</strong>os com finalida<strong>de</strong>s pedagógicas e conhecemprogramas <strong>de</strong> autoria para professores, como o HotPotatoes e o ELO. Oprojeto <strong>de</strong> conclusão da disciplina configura-se na elaboração <strong>de</strong> umaunida<strong>de</strong> didática on-line que <strong>de</strong>monstre que os alunos conseguiram assimilara<strong>de</strong>quadamente o uso das ferramentas estudadas. O trabalho <strong>de</strong>senvolvidopelos alunos ao longo do semestre, nesta comunicação, é analisado com osolhos da Teoria da Ativida<strong>de</strong> (TA), teoria cuja base está assentada nosestudos do psicólogo russo Lev Vygotsky e que foi elevada a novospatamares por Luria, sendo atualmente pensada e aprofundada porimportantes nomes como Engeström, Wertsch e Cole. Com base nesta teoria,busca-se enten<strong>de</strong>r o processo que permitiu que os alunos, muitos dos quaiscom um conhecimento quase nulo em informática, fossem capazes <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolver uma interação, pelo menos, eficiente com as ferramentas quelhes foram apresentadas. A análise é realizada levando-se em consi<strong>de</strong>raçãoos 6 princípios básicos da TA elencados por Kaptelinin (1996): união entreconsciência e ativida<strong>de</strong>, orientação a objeto, estrutura hierárquica,internalização-externalização, mediação e <strong>de</strong>senvolvimento ou evoluçãohistórica da ativida<strong>de</strong>. Cada um <strong>de</strong>sses princípios é <strong>de</strong>tidamente observado eminuciosamente analisado no marco <strong>de</strong>sta disciplina, a fim <strong>de</strong> lograr a142


compreensão integral do processo <strong>de</strong> aprendizagem pelo qual passaram estesprofessores em formação e <strong>de</strong>monstrar a importância da inclusão <strong>de</strong> tópicosrelacionados ao uso <strong>de</strong> novas tecnologias em um curso <strong>de</strong> licenciatura.A COMPLEXIDADE NA/DA FORMAÇÃO TECNOLÓGICA DEPROFESSORES DE INGLÊSMaximina M. Freire (PUCSP)Esta apresentação visa a compartilhar reflexões e discutir a formaçãotecnológica <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> inglês, a partir da ótica <strong>de</strong> uma formadora que,interpretando um curso semipresencial <strong>de</strong> formação continuada em/paracontextos mediados pelo computador, <strong>de</strong>senhado a partir da perspectiva dos6R’s (Freire, 2006,2007), embasa sua construção <strong>de</strong> sentidos no viés dacomplexida<strong>de</strong> (Morin,1996,2000, 2005; Moraes,2002). Partindo dopressuposto <strong>de</strong> que a escola é um sistema complexo, caracterizado poror<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m, interação e re<strong>org</strong>anização (Morin, 2005; Tescarolo,2005), e consi<strong>de</strong>rando as naturais contradições e ambigüida<strong>de</strong>s que oconfronto entre teoria e prática provoca, a formação tecnológica <strong>de</strong>professores <strong>de</strong> inglês é, aqui, entendida como resultante <strong>de</strong> questionamentose reflexões so<strong>br</strong>e vivências (reais e vicárias) em ambientes <strong>de</strong> aprendizagemmediados pelo computador, bem como <strong>de</strong> certezas e conflitos <strong>de</strong>lasemergentes, confirmando a não-linearida<strong>de</strong> na construção <strong>de</strong> conhecimentose, portanto, na própria formação docente. Os resultados da interpretação docurso em questão ilustram uma relação sistêmica indissolúvel queinterconecta a formação tecnológica à formação docente, garantindo-lhesuma totalida<strong>de</strong> indivisível, uma auto-<strong>org</strong>anização constante e umainconclusivida<strong>de</strong> que justifica o <strong>de</strong>senvolvimento profissional ao longo davida, sob um olhar paradigmático complexo, transformador e emancipador.A PRÁTICA DO DESIGN INSTRUCIONAL ALIADA AOCURRÍCULO BASEADO EM TAREFASPatrícia da Silva Campelo Costa (UFRGS)Baseando-se na discussão <strong>de</strong> Filatro(2004) acerca do <strong>de</strong>sign instrucionalcontextualizado e nos estudos <strong>de</strong> Ellis(2003) e Willis(1996) so<strong>br</strong>e tarefas, aproposta <strong>de</strong>ste trabalho é articular essas pesquisas a fim <strong>de</strong> propor currículosque propiciem a flexibilização <strong>de</strong> conteúdos em ambientes virtuais <strong>de</strong>aprendizagem (AVAs). Partindo da idéia <strong>de</strong> um ciclo que envolva análise,projeto, <strong>de</strong>senvolvimento, implementação e avaliação, a composição do<strong>de</strong>sign instrucional é <strong>de</strong> caráter dinâmico e permite a contextualização <strong>de</strong>tarefas didáticas à medida que é implantado. Desse modo, esse mo<strong>de</strong>lo está<strong>de</strong> acordo com as características do meio digital, que dispõe <strong>de</strong>imprevisibilida<strong>de</strong> e requer currículos processuais (Breen,1987) <strong>de</strong> modonão-linear, conforme a noção <strong>de</strong> sistemas auto-<strong>org</strong>anizáveis da Teoria daComplexida<strong>de</strong>. A proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>sign instrucional contextualizado po<strong>de</strong>partir <strong>de</strong> uma questão norteadora e se moldar <strong>de</strong> acordo com os objetivos <strong>de</strong>143


aprendizes e professores. Em relação à análise <strong>de</strong> dados <strong>de</strong>sse estudo, apartir <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s propostas em um curso online para professores, édiscutido em que medida um currículo baseado em tarefas e no <strong>de</strong>signinstrucional po<strong>de</strong> ser aplicado em cursos a distância. Para tanto, os dadoscoletados são confrontados com as noções <strong>de</strong> currículo processual ecurrículo baseado em tarefas. Os resultados remetem a reflexões so<strong>br</strong>e acomposição <strong>de</strong> tarefas em ambiente digital.OFICINAS PRESENCIAIS TEMÁTICAS: COMPLEXIDADE EIDENTIDADE EM UM CURSO DE LÍNGUA PORTUGUESA PARAREFUGIADOSPaulo Rezen<strong>de</strong> (PUCSP)Este trabalho apresenta uma proposta <strong>de</strong> investigação do processo <strong>de</strong> re/coconstruçãoi<strong>de</strong>ntitária dos alunos <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> língua portuguesa pararefugiados no Brasil, consi<strong>de</strong>rando a utilização do computador em OficinasPresenciais Temáticas. Consi<strong>de</strong>rando a ótica do pensamento complexo, apesquisa procurará revelar os possíveis papéis que as oficinas <strong>de</strong>sempenhamno processo <strong>de</strong> reconstrução da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> a partir da interpretação dasexperiências vividas.As Oficinas Presenciais Temáticas fundamentam-se no conceito <strong>de</strong> OficinasVirtuais Temáticas (Rezen<strong>de</strong>, 2003), que, por sua vez, representam umareleitura do conceito <strong>de</strong> Oficinas Virtuais propostas por Freire (2000, 2003),as quais, embasadas na abordagem tridimensional (Freire, 1998, 2000),buscam promover uma associação entre experiência, reflexão e prática. Apartir dos textos coletados que compreen<strong>de</strong>m, mensagens eletrônicastrocadas entre pesquisador e professora, informações registradas nosencontros presenciais entre pesquisador e professora, e professora e alunos,será possível investigar o fenômeno <strong>de</strong> re/co-construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> daprofessora do curso.CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO E REFLEXÃO NAFORMAÇÃO DE PROFESSORES DE LÍNGUAS A DISTÂNCIARenata Costa <strong>de</strong> Sá Bonotto (UFRGS)Esta pesquisa constitui uma reflexão so<strong>br</strong>e a formação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong>línguas na modalida<strong>de</strong> a distância. Os dados são gerados a partir <strong>de</strong> umcurso a distância com duração <strong>de</strong> 10 semanas. O curso tem comoparticipantes professores <strong>de</strong> LE em serviço na re<strong>de</strong> pública e particular <strong>de</strong>ensino <strong>de</strong> diferentes áreas do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. O ambientevirtual <strong>de</strong> aprendizagem usado é o ALED (www.ufrgs.<strong>br</strong>/aled). A<strong>org</strong>anização e a condução do curso têm como base a Teoria Sociocultural.Para a análise dos dados são consi<strong>de</strong>radas as discussões so<strong>br</strong>e a formação <strong>de</strong>professores em Lingüística Aplicada e o Paradigma da Complexida<strong>de</strong> com oobjetivo <strong>de</strong> analisar as interações que ocorrem e como elas se relacionaramcom a construção <strong>de</strong> conhecimento e a reflexão. Os resultados revelam o144


estabelecimento <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> interações variados e a formação <strong>de</strong> sistemascomplexos no ambiente virtual conducentes a maior ou menor engajamentona proposta do curso, a saber, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> interações para levar àconstrução <strong>de</strong> conhecimento e reflexão. Quanto às práticas pedagógicas,<strong>de</strong>staca-se a importância da elaboração das tarefas para promover oestabelecimento <strong>de</strong> interações significativas e que possam favorecer aaprendizagem <strong>de</strong> todos. Como as instâncias <strong>de</strong> interações mútuas e <strong>de</strong>engajamento dos participantes são mais freqüentes nos momentos em que háuma postura <strong>de</strong> colaboração, sugere-se que as tarefas <strong>de</strong> cursos a distânciasemelhantes enfatizem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> colaboração como propostaorientadora. Parece ser importante também estabelecer ações para promovera autonomia e a responsabilida<strong>de</strong> pessoal em relação à aprendizagem assimcomo a reflexão so<strong>br</strong>e as concepções <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem dosprofessores nos cursos <strong>de</strong> formação com base na sua experiência <strong>de</strong>aprendizagem a distância e através das TICs.OBJETOS DE APRENDIZAGEM: IMPLEMENTANDO OSPRESSUPOSTOS DE VYGOTSKYSimone Carboni Garcia (UCPEL)As tecnologias <strong>de</strong> informação e comunicação apresentam novaspossibilida<strong>de</strong>s ao processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagem escolar,principalmente no que se refere à construção e uso <strong>de</strong> materiais educativosenvolvendo multimídia e interativida<strong>de</strong>. Conhecidos como objetos <strong>de</strong>aprendizagem (OAs), esses materiais são na gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>senvolvidossem a preocupação <strong>de</strong> um embasamento pedagógico, priorizando,essencialmente, questões técnicas. A análise dos OAs disponíveis emrepositórios evi<strong>de</strong>ncia que o foco do processo <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong> aprendizagemresi<strong>de</strong> na día<strong>de</strong> estímulo-resposta, fato que aponta para uma perspectivaempirista do conhecimento e gera dificulda<strong>de</strong>s na compreensão dosconteúdos trabalhados. Dessa forma, o objetivo <strong>de</strong>ste trabalho resi<strong>de</strong> natentativa <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> OAs que privilegiem a construção doconhecimento. Para tanto, são adotados os pressupostos epistemológicos <strong>de</strong>Vygotsky, no que tange ao processo <strong>de</strong> mediação, a formação <strong>de</strong> conceitos, acolaboração e ao trabalho na zona <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento proximal dosestudantes. O estudo visa evi<strong>de</strong>nciar os OAs como instrumentos facilitadorese potencializadores da aprendizagem no contexto da era digital.AS TENDÊNCIAS TEÓRICAS EM ESTUDOS DE CALL NO BRASIL:IDENTIFICANDO O ESTADO DA ARTESusana Cristina dos Reis ( PPGL-UFSM)A necessida<strong>de</strong> do estabelecimento da agenda <strong>de</strong> pesquisa em CALL tem sidofoco <strong>de</strong> investigação <strong>de</strong> diferentes pesquisadores da área na última década(Chapelle, 2000; Levy, 2004; Felix, 2005; 2008; Paiva, 2005; Leffa, 2006).Tendo em vista essa tendência, neste trabalho tenho por objetivo i<strong>de</strong>ntificar145


as teorias que têm orientado as diferentes fases <strong>de</strong> pesquisas em CALL noBrasil, ao investigar os objetivos das pesquisas e as tendências teóricaspublicadas em artigos, dissertações e teses da área. Resultados iniciaisapontam que os estudos em CALL têm sido orientados por quatro teorias, asaber, a teoria sociocultural, os estudos <strong>de</strong> gêneros, a teoria da ativida<strong>de</strong> e ateoria da complexida<strong>de</strong>. Os dados coletados so<strong>br</strong>e essas tendências serãoapresentados e discutidos com vistas a contribuir para a <strong>de</strong>limitação dastendências teóricas que orientam os estudos <strong>de</strong> CALL em nosso país, bemcomo essas teorias têm sido implementadas na elaboração <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong>aprendizagem e em discussões so<strong>br</strong>e a prática pedagógica.O DISCURSO UNIVERSITÁRIO SOBRE AS TECNOLOGIASEDUCACIONAIS: UM DEBATE EM ABERTOValesca Brasil Irala (PPGL-UCPel, UNIPAMPA)Neste trabalho, à luz <strong>de</strong> duas teorias sócio-históricas, a teoria da ativida<strong>de</strong>(TA) e a teoria enunciativa <strong>de</strong> Bakhtin(TE), busco analisar o material coletado durante o segundo semestre <strong>de</strong>2007, em que ministrei a disciplina Letramento Digital em um curso <strong>de</strong>Letras em uma universida<strong>de</strong> fe<strong>de</strong>ral do interior do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Omaterial em questão consiste em gravações em ví<strong>de</strong>o dos <strong>de</strong>bates ocorridosem sala <strong>de</strong> aula a partir <strong>de</strong> 18 artigos teóricos versando so<strong>br</strong>e tecnologiaseducacionais e <strong>de</strong> perguntas e respostas elaboradas pelos alunos <strong>de</strong>ssadisciplina em um blog criado para esse fim. Diante da amplitu<strong>de</strong> do corpus,as análises enfatizam os processos <strong>de</strong> metaforização produzidos, a seleçãolexical e a introdução <strong>de</strong> aspas no discurso dos alunos ao referir-se ao temaem questão. A tônica aqui levantada é o tratamento do signo verbal comoferramenta capaz <strong>de</strong> produzir mediação, assim como outros artefatosculturais. O signo, marcado socialmente, é engendrado em um sistema <strong>de</strong>gêneros, assumindo esses como ativida<strong>de</strong>. Nessa lógica, a internalizaçãodas mudanças é perpassada em todo momento pelo social, embora não <strong>de</strong>forma <strong>de</strong>terminística. A ampliação na oferta <strong>de</strong> disciplinas <strong>de</strong>ssa natureza éapenas um índice <strong>de</strong> que essas mudanças po<strong>de</strong>rão ser efetivadas.WEB 2.0: DE BLOGS A WIKIS – A COLABORAÇÃO EM MASSANA FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES DE LÍNGUAESTRANGEIRASVanessa Ribas Fialho (FAMES, UCPEL)A web 2.0, como está sendo chamada a segunda geração <strong>de</strong> ferramentas daInternet, possui um caráter bastante colaborativo. Como exemplo <strong>de</strong>ssasferramentas, temos os ambientes ou ferramentas wikis e os tambémconhecidos blogs. Nos wikis, por exemplo, é possível criar hipertextos <strong>de</strong>forma coletiva, rápida e simplificada. A Wikipédia, enciclopédia virtualconstruída a partir da colaboração <strong>de</strong> voluntários, é um dos principaisexemplos <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> ambiente bastante controversial. O blog, novo146


gênero <strong>de</strong> circulação na Internet, já conhecido e difundido em várias esferas(pessoais, educacionais, comerciais), po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finido como uma página daweb atualizada com freqüência e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da participação/colaboração<strong>de</strong> vários autores através <strong>de</strong> posts para que <strong>de</strong> fato funcione,<strong>de</strong>scaracterizando sua relação anterior com o gênero diário pessoal, no quala participação <strong>de</strong> outros era inviável. Assim, tendo em mente os conceitos <strong>de</strong>Blogs e Wikis, esta comunicação tem como objetivo <strong>de</strong>finir o que écolaboração em massa, exemplificando alguns lugares on<strong>de</strong> essacolaboração acontece e <strong>de</strong> que forma acontece, <strong>de</strong>stacando suas vantagens;exemplificar ambientes <strong>de</strong> colaboração como Blogs e Wikis e <strong>de</strong>stacar suaspotencialida<strong>de</strong>s para a formação continuada <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> línguasestrangeiras.ENTROPIA SÓCIO-INTERATIVA: LIDANDO COM OINEVITÁVEL E COM A COMPLEXIDADE DAS INTERAÇÕES EMAMBIENTES (VIRTUAIS) DE APRENDIZAGEMRafael Vetromille-Castro (UFPel)As teorias da Complexida<strong>de</strong> e do Caos (MORIN, 1995; GLEICK, 1989;RUELLE, 1993; LEWIN, 1999) permitem que o processo <strong>de</strong> aprendizagemseja visto <strong>de</strong> modo diferente daquele da Ciência Clássica. Na sala <strong>de</strong> aulasob a perspectiva complexa, a imprevisibilida<strong>de</strong>, a não-linearida<strong>de</strong> e asusceptibilida<strong>de</strong> às condições iniciais e aos fatores externos ao contextoeducacional – <strong>de</strong>ntre outras características dos sistemas complexos – sãofundamentais e, portanto, consi<strong>de</strong>radas na compreensão dos comportamentosemergentes dos elementos. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>finir grupos <strong>de</strong>professores <strong>de</strong> línguas em serviço e pré-serviço em um ambiente virtual <strong>de</strong>aprendizagem como um sistema complexo, analisar os elementos envolvidose seus comportamentos, apresentar o conceito <strong>de</strong> entropia sócio-interativa(VETROMILLE-CASTRO, 2007) e, a partir <strong>de</strong>la, discutir o funcionamento<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> sistema, especialmente no que diz respeito à emergência e àmanutenção da interação, aspecto essencial para a construção doconhecimento sob a ótica sócio-construtivista. Para a discussão da interação,complementam o suporte teórico os Estudos Sociológicos <strong>de</strong> Jean Piaget(1973) e a Sustentação Solidária (ESTRÁZULAS, 2004), na medida em quedão espaço para a compreensão das trocas interindividuais associadas àcolaboração e à autonomia. Preten<strong>de</strong>-se também esten<strong>de</strong>r algumasconstatações oriundas do ambiente virtual <strong>de</strong> aprendizagem para oscontextos <strong>de</strong> Educação presencial."YO SOY YO Y MIS CIRCUNSTANCIAS": EMERGÊNCIA,COMPLEXIDADE E ENSINO DE LÍNGUASVilson J. Leffa (UCPEL)147


O objetivo da apresentação é introduzir o conceito <strong>de</strong> emergência sob aperspectiva das teorias da complexida<strong>de</strong>. Mostra-se que a sala <strong>de</strong> aula é umsistema complexo, caracterizado pela mudança constante, que ocorre pelainteração <strong>de</strong> seus elementos. Essa interação não se dá apenas <strong>de</strong>ntro dosistema, (incluindo, por exemplo, professor, aluno e material didático), mastambém com elementos <strong>de</strong> outros sistemas, na medida em que condiçõesexternas (um temporal que causa transtornos no trânsito) po<strong>de</strong>m afetar o queacontece <strong>de</strong>ntro da sala <strong>de</strong> aula. Argumenta-se que a perspectiva dacomplexida<strong>de</strong> traz <strong>de</strong>safios e affordances (possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação) para oprofessor. Entre os <strong>de</strong>safios, <strong>de</strong>staca-se a imprevisibilida<strong>de</strong>, que é aimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer, com antecedência, relações <strong>de</strong> causa e efeitonas ações da sala <strong>de</strong> aula, como preconiza a ciência clássica. O professor nãotem como garantir o resultado <strong>de</strong> suas ações; a mesma estratégia quefunciona numa <strong>de</strong>terminada aula po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sastrosa em outra. Entre asaffordances, está a abertura dos sistemas complexos, que são extremamentesensíveis não só às condições iniciais, mas também às condições externas.Entre as condições iniciais está o princípio <strong>de</strong> que os sistemas complexosemergem em algum momento em algum lugar. Já as condições externasmostram que os sistemas, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> iniciados, po<strong>de</strong>m ser modificados aolongo <strong>de</strong> seu percurso. São essas condições que dão ao professor apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interferir no sistema. A conclusão é <strong>de</strong> que, <strong>de</strong>vido àsrelações que se estabelecem entre elementos do próprio sistema e <strong>de</strong>elementos externos, o ensino da língua, materna ou estrangeira, precisa iralém dos estratos meramente lingüísticos (sistemas fonológico, morfológico,sintático e semântico) para incorporar outros sistemas, incluindo aquelestrazidos pelo aluno. Ignorar o que ele traz é correr o risco <strong>de</strong> dar aula par umaluno que não existe.GT9 Plurilingüismo e Contato LingüísticoCoor<strong>de</strong>nadoresKaren Pupp Spinassé (UFRGS)Ina Emmel (UFSC)BILETRAMENTO: QUANDO E COMO DESENVOLVÊ-LO?REFLEXÕES SOBRE BILETRAMENTO EM CURRÍCULOSBILÍNGÜES DE PRESTÍGIOVanessa Viega Prado (UFRGS)Com os estudos so<strong>br</strong>e a educação bilíngüe e com o aumento <strong>de</strong> escolas queproporcionam programas bilíngües, principalmente os <strong>de</strong> prestígio como nocaso do Brasil, surge a questão do biletramento: como tornar o indivíduoletrado em duas línguas, <strong>de</strong>sempenhando sua competência lingüística <strong>de</strong>compreensão e produção escrita nas duas línguas <strong>de</strong> forma proficiente. Essaé uma preocupação que surge com esse novo tipo <strong>de</strong> proposta escolar, ocurrículo bilíngüe. A pesquisa so<strong>br</strong>e bilingüismo e currículos bilíngües vem148


aumentando ao longo dos anos, no entanto a questão do biletramento pareceainda ser pouco discutida e estudada, sendo a literatura recente escassa.Sendo assim, o presente estudo busca refletir so<strong>br</strong>e alguns aspectos dobiletramento e respon<strong>de</strong>r à seguinte pergunta: o biletramento <strong>de</strong>ve ser<strong>de</strong>senvolvido simultaneamente através da língua materna e da segundalíngua ou primeiramente em uma língua e após na outra? Para respon<strong>de</strong>r aessa pergunta, o estudo é baseado em algumas discussões teóricas econceitos so<strong>br</strong>e bilingüismo, letramento e biletramento e em reflexões arespeito do ensino bilíngüe. Além disso, apresenta as consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> doisprofessores <strong>de</strong> educação bilíngüe do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, coletadas através <strong>de</strong>entrevista. Com esse estudo, busca-se então contribuir para as discussões arespeito da educação bilíngüe no Brasil“MINHA LÍNGUA ENTRE A VIDA E A MORTE”, OU: OCOMPLEXO JOGO DE RELAÇÕES ENTREMONOLINGUALIZAÇÃO E BILINGÜISMOMarley Pertile (UFRGS)Cléo V. Altenhofen (UFRGS)Apesar dos benefícios da aquisição bilíngüe, apontados pelas pesquisas <strong>de</strong>bilingüismo, nas mais diferentes perspectivas – tanto cognitiva (Bialystok2005) quanto social ou sociológica (Fishman 2006; Romaine 1995) – aindapredomina no contexto <strong>br</strong>asileiro a visão essencialmente monolíngüe emonolingualizadora, que conseqüentemente conduz a uma perda <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s. A presente contribuição tem por objetivoi<strong>de</strong>ntificar os diferentes fatores que, <strong>de</strong> um lado, aceleram a morte <strong>de</strong> umalíngua, fomentando o lingüicídio (Skutnabb-Kangas. & Phillipson 1996), ou,na melhor das hipóteses, mantêm e até mesmo revitalizam uma língua(Fishman 2006). Para tanto, toma-se por base a pesquisa <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> M.Pertile (em andamento) so<strong>br</strong>e “O talian entre o italano-padrão e oportuguês <strong>br</strong>asileiro: manutenção e substituição lingüística no AltoUruguai/RS”. A pesquisa aponta para a ausência <strong>de</strong> uma conscientização(language awareness, Hélot 2006) e <strong>de</strong> uma política lingüística a<strong>de</strong>quadapara o plurilingüismo, no Brasil. É o que acontece na região do Alto UruguaiGaúcho, foco do estudo, on<strong>de</strong> se registra a presença significativa <strong>de</strong>comunida<strong>de</strong>s bilíngües formadas por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> imigrantes italianos,alemães, poloneses e ju<strong>de</strong>us, on<strong>de</strong>, contrariamente, os benefícios apontadospara as habilida<strong>de</strong>s bilíngües se per<strong>de</strong>m em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa visão monolíngüee monolingualizadora que leva à mortanda<strong>de</strong> lingüística e cultural <strong>de</strong>ssaslínguas minoritárias. Afinal, perguntamos quais os fatores que levam àprogressiva substituição ou perda do talian, nas novas gerações, e o que issorepresenta em termos sociais e educativos? Os dados analisados até agoraapontam para uma dupla substituição, tanto <strong>de</strong> substituição maciça do talianpelo português, quanto <strong>de</strong> substituição, embora em grau menor, do talianpelo italiano-padrão. Constitui, por isso, um dos objetivos principais da Tese<strong>de</strong>terminar os fatores mais relevantes e a proporção em que contribuíram149


para a manutenção ou substituição <strong>de</strong>ssa língua alóctone, seja no contato dasdiferentes variantes da língua italiana entre si e com o italiano-padrão, sejano contato com a língua majoritária do novo país. A base teórica emetodológica utilizada orienta-se pelos princípios da geolingüísticapluridimensional e relacional (Thun 1998). Dados preliminares apontam queé bastante difícil manter uma língua por várias gerações se não há umsuporte social e se a língua é usada puramente no ambiente familiar. Poroutro lado, a transmissão intergeracional é um fator-chave na transmissão evitalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma língua (Fishman 2006). A configuração local <strong>de</strong> cadacontexto em particular mostra a convergência <strong>de</strong> diversos fatores. A presentecontribuição busca explicitar a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas relações e seu papel noprocesso <strong>de</strong> vitalida<strong>de</strong> e perda do talian nas comunida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong>pesquisa.O TALIAN EM CASCAVELAlessandra Regina Ribeiro Honório (UNIOESTE)Cavalcanti (1999) afirma que existe hoje, no Brasil, o mito domonolingüismo. Sabe-se que uma língua atua como um forte instrumento <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r social, e que fatores históricos/políticos <strong>de</strong>terminam a língua <strong>de</strong>prestígio a ser veiculada como sendo a norma “culta”. Apesar <strong>de</strong> se acreditarque a língua portuguesa no Brasil é o único veículo <strong>de</strong> comunicação, existemminorias lingüísticas faladas no dia-a-dia em território <strong>br</strong>asileiro. O contextoobjeto <strong>de</strong>ste estudo será o município <strong>de</strong> Cascavel localizado na região oestedo Paraná, o qual tem gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua história marcada pelas mãos <strong>de</strong>imigrantes italianos. Existem, neste município, várias manifestações dacultura italiana, entre elas, o Talian, o dialeto italiano trazido do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul. Com o objetivo <strong>de</strong> colaborar com a <strong>de</strong>smistificação <strong>de</strong> que no Brasilsó se fala o português, apresentaremos partes <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> mestradorealizada na Universida<strong>de</strong> Estadual do Oeste do Paraná- UNIOESTE, nocampus <strong>de</strong> Cascavel, que revelam situações <strong>de</strong> bilingüismo no referidomunicípio.O MITO DA PUREZA LINGÜÍSTICA CONFRONTADO PELOCONCEITO DE CODE-SWITCHINGIsabella Mozzillo (UFPel)Partimos do pressuposto <strong>de</strong> que as conversações que ocorrem entre falantesnão monolíngües, e que sabem que partilham o mesmo par <strong>de</strong> línguas,sempre apresentam características próprias, quais sejam, a presença, emmaior ou em menor grau, <strong>de</strong> traços das duas línguas em contato. Interessanosdiscutir situações <strong>de</strong> contato lingüístico sob diversas perspectivas paraesclarecer que a alternância lingüística ou co<strong>de</strong>-switching não apenas éinevitável, como é útil do ponto <strong>de</strong> vista pragmático <strong>de</strong> negociação <strong>de</strong>significados. Os fenômenos advindos do contato <strong>de</strong> línguas são naturais einerentes à condição <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um idioma e constituem150


estratégias <strong>de</strong> adaptação comunicativa altamente <strong>de</strong>sejável e benéfica,<strong>org</strong>anizando-se como um comportamento <strong>de</strong> ativação-<strong>de</strong>sativação <strong>de</strong> uma ououtra língua segundo elementos particulares a cada situação interativa.Numa socieda<strong>de</strong> que preza a pureza e a separação das línguas e que <strong>de</strong>sprezaas mesclas, as misturas e os hi<strong>br</strong>idismos lingüísticos, é importante ressaltaros fenômenos inerentes às conversações bilíngües para contribuir nadiminuição do preconceito.MULTILINGÜISMO, VOZES PARALELAS EM ESPIRAL:LÍNGUAS INTEGRADAS OU CINDIDAS OU, MAIS DO QUE ISTO,LÍNGUAS TRADUZIDAS?Lúcia Valquíria Souza Grigoletti (UCPEL)Dando seguimento a seus estudos so<strong>br</strong>e o processo i<strong>de</strong>ntitário do multilíngüe,a autora se propõe a olhar, nesse momento, um outro vértice <strong>de</strong> um mesmoprisma: a tradução. Hodierno a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do multilíngüe é uma realida<strong>de</strong>compartilhada por muitos indivíduos da esfera global e, po<strong>de</strong>-se dizer, umai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> não mais em crise – conflito vivido em curto espaço <strong>de</strong> tempo –mas em estado constante. Sendo este estado <strong>de</strong> ser uma vivência cada vezmais ten<strong>de</strong>nte do indivíduo na contemporaneida<strong>de</strong>, o presente trabalhoobjetiva criar um espaço <strong>de</strong> reflexão so<strong>br</strong>e alguns aspectos que possam levaro multilíngüe a um processo <strong>de</strong> tradução que contribuirá na integração ou nacisão psico/lingüística. Sabe-se que tal vivência (multilíngüe) é motivo <strong>de</strong>divergência <strong>de</strong> acordo com os autores. Alguns a enten<strong>de</strong>m como cisão,irreparável dano ao eu do sujeito, outros acreditam que o tecido das diversaslínguas permite dizer e pensar os antigos conflitos com novas palavras,como uma forma <strong>de</strong> reparação. Numa linguagem Psicanalítica a autorautiliza-se da concepção kleiniana <strong>de</strong> cisão/integração para melhor enten<strong>de</strong>r etraduzir o processo do multilíngüe aqui focalizado.Muitos são os autores que compartilham a idéia da complexida<strong>de</strong> enecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intensos estudos para enten<strong>de</strong>r melhor essa torre <strong>de</strong> Babel.Ciente dos inúmeros vértices que o trabalho possa contemplar é focalizado atradução – uma imposição que resulta da incompletu<strong>de</strong> <strong>de</strong> qualquer língua.E é nessa incompletu<strong>de</strong> – é impossível para um signo <strong>de</strong> uma língua ocuparo mesmo lugar que ocupa na sua o signo com o qual é traduzido – que oconflito cisão X integração se <strong>de</strong>senvolve. Focalizar o olhar na tradução écontemplar, inevitavelmente, espaço e tempo, concepções tão bemtrabalhadas na visão bakhtiniana <strong>de</strong> enunciado, cronotopia e exotopia.Interligando a estes conceitos é <strong>de</strong>stacado o lugar do silêncio e datransgressão ao estabelecido. Traduzindo em sua língua materna, aPsicanálise, a autora enten<strong>de</strong> que a tradução possa ser visualizada em trêsníveis: intrapessoal; interpessoal e transgeracional. E será numa vivênciarelacional polifônica na intralíngua, na interlíngua e na translinguagem, queo conflito cisão X integração po<strong>de</strong>rá na tradução, no microkairos,transformar-se em novos percursos <strong>de</strong> linguagem para o polilíngüe, opoliglota e o monolíngüe. Portanto, para o multilíngüe transladar, <strong>de</strong> forma151


integrada, em outra, ou outras, língua, é necessário um vínculo seguro àlíngua materna e, simultaneamente, será na agorida<strong>de</strong>, na différance, que iráco-construir, junto com o outro, sua língua subjetiva e <strong>de</strong>s-co<strong>br</strong>ir suacompetência na translinguagem ao traduzir e traduzir-se e ao transmitir atransmissão em qualquer língua. Co-escrevendo e inscrevendo sua históriaem uma outra língua e em outro contexto <strong>de</strong> linguagem, resgata suacompetência <strong>de</strong> natureza individual – instinto epistemofílico (<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>conhecer) e escopofílico (<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ver) – e social (ser <strong>de</strong> interação enarração). Des-co<strong>br</strong>e a própria competência <strong>de</strong> transitar, <strong>de</strong> transformar-se ehistoricizar-se como sujeito autônomo em seu saber implícito: competênciapara comunicar-se nas três mil línguas faladas por 200 Estados politicamenteindividualizados. Línguas interligadas/traduzidas, paralelas e em espiral!O PORTUGUÊS DOS “HOLANDESES” DE CARAMBEÍ:IDENTIDADE E R-FORTELetícia Fraga (UEPG, Ponta Grossa/UNICAMP)Carambeí, uma pequena cida<strong>de</strong> no interior do Paraná, é a primeira colôniaholan<strong>de</strong>sa do Brasil, fundada em 1911. Apesar <strong>de</strong> ser bastante antiga, atéhoje temos a impressão <strong>de</strong> que saímos do Brasil quando vamos a Carambeí econhecemos sua gente. Mas o que é fato e o que é impressão? Quem são oscarambeienses? São holan<strong>de</strong>ses ou são <strong>br</strong>asileiros? Consi<strong>de</strong>rando que essasquestões ainda não foram suficientemente respondidas e que o município <strong>de</strong>Carambeí é bastante complexo cultural e lingüisticamente, este estudopreten<strong>de</strong>: a) discutir a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos “holan<strong>de</strong>ses” <strong>de</strong> Carambeí; b) analisara varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> português falada pelos “holan<strong>de</strong>ses” <strong>de</strong> Carambeí no que dizrespeito ao uso do r-forte; e c) estabelecer que tipo <strong>de</strong> relação se dá entrei<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e uso <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada variante <strong>de</strong> r-forte no português. No que dizrespeito à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> manifesta pelos “holan<strong>de</strong>ses”, percebe-se que seestabelecem dois grupos distintos: o dos “<strong>br</strong>asileiros” (parte do Grupo 2F eGrupos 3M e 3F) e dos “holan<strong>de</strong>ses” (Grupos 1M, 1F, 2M, e parte do Grupo2F). No que diz respeito ao uso <strong>de</strong> r-forte, os grupos 1M e 1F usam vi<strong>br</strong>antemúltipla e tepe; o Grupo 2M também usa a vi<strong>br</strong>ante e o tepe; já o Grupo 2Ffoi dividido: o Grupo 2Fa usa somente vi<strong>br</strong>ante e tepe e o Grupo 2Fb usafricativa e vi<strong>br</strong>ante. Os Grupos 3M e 3F usam somente fricativa. Enfim,po<strong>de</strong>-se dizer que a manifestação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> holan<strong>de</strong>sa contribui para ouso <strong>de</strong> tepe. Já para o uso <strong>de</strong> vi<strong>br</strong>ante, parecem contribuir mais para umai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>finida, mas oposta à “<strong>br</strong>asileira”. O uso <strong>de</strong> vi<strong>br</strong>ante e fricativaparece estar relacionado à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> “<strong>br</strong>asileira”. Finalmente, o usoexclusivo <strong>de</strong> fricativa parece estar ligado à total indiferença quanto aoholandês e à total i<strong>de</strong>ntificação com a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “<strong>br</strong>asileiro”.EFEITOS DO CONTATO PORTUGUÊS-ESPANHOL NOCONTÍNUO LINGÜÍSTICO BRASILEIRO-URUGUAIOJ<strong>org</strong>e Espiga (UCPEL, CEFET/RS)152


Ao referirmos o contato lingüístico <strong>br</strong>asileiro-uruguaio, tentamos conferir aoespaço fronteiriço caráter central, por consi<strong>de</strong>rarmos que um contínuo quetranscen<strong>de</strong> os limites territoriais ou políticos entre o Brasil e o Uruguai – nãoapenas no lingüístico – <strong>de</strong>ve ter a fronteira como epicentro e o fronteiriço<strong>de</strong>ve ser a sua essência. Trata-se <strong>de</strong> uma fronteira móvel, difusa, permeável epermeante, que também transcen<strong>de</strong>, por si, as <strong>de</strong>limitações ou recortesartificiais que a metodologia lingüística pretenda impor-lhe e o imagináriodiscursivo queira atribuir-lhe, ao tentar analisar, separadamente, umportuguês que suponha o espanhol como vizinho ou vice-versa. Nessarealida<strong>de</strong> complexa, dificilmente divisível, observamos alguns efeitos que ocontato lingüístico acarreta para a sincronia e diacronia do espanholfronteiriço e do português fronteiriço – este consi<strong>de</strong>rado aqui como oconjunto <strong>de</strong> dialetos <strong>de</strong> português falados <strong>de</strong> ambos os lados da fronteira: oportuguês do Uruguai (os DPU – Dialetos Portugueses do Uruguai) e oportuguês sul-rio-gran<strong>de</strong>nse ou gaúcho. De tais cenários <strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong>extraímos alguns casos <strong>de</strong> interferências <strong>de</strong> um domínio so<strong>br</strong>e outro, nocontínuo <strong>de</strong> contato português-espanhol, aportando, quando possível,resultados estatísticos que respal<strong>de</strong>m as observações qualitativas. Além disso,discutiremos que impactos ou repercussões são projetadas no contínuo, aolongo do tempo, a partir da reiteração do contato. Para tal, utilizaremosresultados do Projeto VCPF – Variação e Contato do Português Fronteiriço-, <strong>de</strong>senvolvido na Universida<strong>de</strong> Católica com o apoio do CNPq, eacessaremos dados do BDS Pampa – Banco <strong>de</strong> Dados da Fronteira e daCampanha Sul-Rio-Gran<strong>de</strong>nse, do BDPU – Banco <strong>de</strong> Dados do Portuguêsdo Uruguai – e do BDEF – Banco <strong>de</strong> Dados do Espanhol Fronteiriço –,resi<strong>de</strong>ntes na Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pelotas e construídos conjuntamentecom a Universida<strong>de</strong> da República, do Uruguai.INFLUÊNCIA DO PORTUGUÊS SOBRE O SEGMENTO /S/ DOESPANHOL EM ZONAS FRONTEIRIÇASLuciana Rodrigues Alves Ribeiro (FURG/UFPEL)J<strong>org</strong>e Walter Rocha Espiga (UCPEL/CEFET-RS)Este trabalho com uma aproximação metodológica quantitativa propõe umenfoque diacrônico da possível influência do português so<strong>br</strong>e o espanhol narealização fônica do segmento /s/ nas zonas <strong>de</strong> contato entre as línguas.Segue os critérios metodológicos labovianos e tem como base gravaçõesfeitas em dois períodos (1988/2008) em comunida<strong>de</strong>s fronteiriças on<strong>de</strong>ocorre tal contato: Rivera - Sant’Ana do Livramento e Chuy – Chuí. Aoselecionar os informantes os critérios avaliados foram: ida<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong>,nível <strong>de</strong> contato com o português e local <strong>de</strong> nascimento. O trabalho parte dasuposição que nessa zona <strong>de</strong> fronteira a evolução do segmento /s/ doespanhol não apresenta apenas as realizações fônicas do dialeto distantes docontato português/espanhol. O estudo usa como base o espanhol <strong>de</strong>Montevidéu, uma vez que é <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proce<strong>de</strong> o espanhol que estabelececontato com o português do espaço fronteiriço.153


O ESPANHOL DA REGIÃO DO RIO DA PRATA. CONTATOLINGÜÍSTICO COM O PORTUGUÊS DO BRASILMarcelo Pastafiglia (UNESC - Criciúma)A variante do espanhol do Rio da Prata caracteriza-se por um fenômenolingüístico conhecido como lunfardo. O lunfardo tem suas origens emBuenos Aires, no final do século XIX. Surgido como jargão carcerário,converteu-se, nas primeiras décadas do século XX, em patrimônio lexical doespanhol do Rio da Prata. Tão estranho como vigente, o lunfardoincorporou-se aos diferentes níveis da língua castelhana <strong>de</strong> Argentina eUruguai. Pelo contato lingüístico, muitos termos e expressões lunfardaspassaram ao português do Brasil. O assunto <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisaconsiste em <strong>de</strong>finir a evolução do idioma espanhol na região do Rio da Pratae como o lunfardo se incorpora à linguagem popular, coloquial e familiar<strong>de</strong>sses países. Segundo Espíndola, quando se diz que um indivíduo fala ouescreve em lunfardo, não significa que exista uma sintaxe lunfarda própria,alheia à espanhola; significa que o indivíduo se expressa segundo os mol<strong>de</strong>se mecanismos do espanhol, mas fazendo uso, predominantemente, <strong>de</strong>vocábulos e expressões <strong>de</strong> extração lunfarda. (ESPÍNDOLA; 2003: 295). Aprimeira vez que se tem notícia da presença <strong>de</strong> termos lunfardos na imprensaescrita argentina data <strong>de</strong> um artigo <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1878, em La Prensa, sobo título <strong>de</strong> "El dialecto <strong>de</strong> los ladrones”, que comenta a existência <strong>de</strong>sse“dialeto carcerário”:“Estando en el bolín polizando, se presentó elmayorengo: A portarlo en cana vengo, su mina lo ha <strong>de</strong>latado.”(Trad:Estando no meu quarto dormindo, apresentou-se o policial: Venho levá-loà prisão, sua mulher o <strong>de</strong>latou.). O lunfardo era um jargão criado pelosladrões para entendimento entre si, e para dificultar a compreensão entre elese a polícia ou entre eles e suas possíveis vítimas. (GOBELLO,1998:159-160). Observamos que termos tais como “mina” e “cana” passaram aoportuguês do Brasil, ainda que consi<strong>de</strong>rados como parte da gíria <strong>br</strong>asileira.Composto, primitiva e primordialmente, <strong>de</strong> palavras relacionadas aoexercício do <strong>de</strong>lito, na última década do século XIX e nos primeiros anos doséculo XX, o lunfardo exce<strong>de</strong> o âmbito do submundo <strong>de</strong>litivo. É adotadopelos nativos <strong>de</strong> Buenos Aires e Montevidéu, quando estas duas cida<strong>de</strong>scomeçam a receber o processo imigratório europeu. As camadas baixas dapopulação, no contato lingüístico com os imigrantes dos conventillos(cortiços), transformam o lunfardo original, restrito às camadas socialmente<strong>de</strong>sfavorecidas, em fala popular.O primitivo jargão se a<strong>br</strong>e à incorporação <strong>de</strong> novas vozes, enriquecendo-secom a adoção <strong>de</strong> locuções trazidas pela imigração, e expandindo seu usocomo veículo verbal <strong>de</strong> comunicação cotidiana, familiar, e literária.(ESPÍNDOLA, 2003: 293). O lunfardo, como fenômeno lingüístico,continuou evoluindo e consolidando-se nas décadas sucessivas até aatualida<strong>de</strong>. A análise <strong>de</strong>ssa evolução po<strong>de</strong> colaborar para a compreensão da154


ealida<strong>de</strong> idiomática do espanhol da região do Rio da Prata que tanto adiferencia das outras comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fala espanhola.A GESTÃO DAS LÍNGUAS EM UM CONTEXTO MULTILÍNGÜE:CONFRONTO ENTRE LÍNGUA OFICIAL, LÍNGUA DEIMIGRAÇÃO E LÍNGUA ESTRANGEIRACibele Krause-lemke (UNICENTRO, PG/FEUSP)O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é apresentar um estudo ainda em<strong>de</strong>senvolvimento so<strong>br</strong>e o ensino/aprendizagem <strong>de</strong> língua espanhola emcontexto multilíngüe. Trata-se <strong>de</strong> uma região do centro-sul do Paraná, <strong>de</strong>imigração majoritariamente ucraniana. Neste contexto, há o confronto entrea língua <strong>de</strong> imigração, a língua oficial e as línguas ensinadas na escola: oespanhol e o inglês. Através da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa etnográfica e daanálise da conversação, <strong>de</strong> um lado, o estudo focalizará como ocorre agestão das línguas em sala <strong>de</strong> aula, por professores e alunos, a partir daobservação da existência <strong>de</strong> alternância <strong>de</strong> línguas. De outro, lançará umolhar so<strong>br</strong>e as políticas e práticas lingüísticas e questionará o papelmonolíngüe atribuído ao nosso país.GRAUS DE DIALETALIDADE DO HUNSRÜCKISCH EMCONTATO COM O PORTUGUÊSCléo V. Altenhofen, (UFRGS)Martina Meyer (UFRGS)Estudos prévios so<strong>br</strong>e o Hunsrückisch em contato com o português têmmostrado a variação interna <strong>de</strong>ssa língua <strong>de</strong> imigração alemã (Altenhofen1996). Esse fato é evi<strong>de</strong>nciado através dos diferentes traços presentes na fala<strong>de</strong> teuto-<strong>br</strong>asileiros, seja <strong>de</strong> base germânica (interesse germanístico), sejamotivado pelo contato com o português (foco em aspectos romanísticos).Consi<strong>de</strong>rando o Hunsrückisch um contínuo lingüístico que varia entre umtipo [+dialetal], <strong>de</strong> base francônio-moselana ou -renana e, <strong>de</strong> outro lado, umtipo [-dialetal], portanto [+padrão], preten<strong>de</strong>-se neste estudo, a) <strong>de</strong>finirparâmetros para a medição do grau <strong>de</strong> dialetalida<strong>de</strong> do Hunsrückisch(Herrgen & Schmidt 1989), bem como b) i<strong>de</strong>ntificar os processos e asrelações que subjazem à composição <strong>de</strong>ssa língua <strong>de</strong> contato nas diferenteslocalida<strong>de</strong>s analisadas pelo projeto ALMA-H (Atlas Lingüístico-Contatualdas Minorias Alemãs da Bacia do Prata: Hunsrückisch). A coleta e análisedos dados do Projeto seguem os pressupostos da geolingüísticapluridimensional e relacional (Thun 1998), ou seja são <strong>de</strong> or<strong>de</strong>mmacroanalítica e abarcam diferentes dimensões <strong>de</strong> análise da variaçãolingüística. Para tanto, servem <strong>de</strong> base para a análise não apenas variáveisfonético-fonológicas, morfossintáticas e semântico-lexicais, mas também asatitu<strong>de</strong>s dos falantes em relação às diferentes variantes da língua (dimensãodiarreferencial). As análises preliminares <strong>de</strong> dados coletados até agorapermitem reconhecer duas subvarieda<strong>de</strong>s do Hunsrückisch, que se opõem155


pelo status que lhes é atribuído em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu grau <strong>de</strong> dialetalida<strong>de</strong>maior – o tipo reconhecido como <strong>de</strong>itsch (ou Platt<strong>de</strong>itsch) – ou menor, nestecaso uma varieda<strong>de</strong> que <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> <strong>de</strong>utsch, e que não <strong>de</strong>ve serconfundida com o Hoch<strong>de</strong>utsch, associado ao alemão-padrão falado naAlemanha. A ocorrência <strong>de</strong> variantes do <strong>de</strong>itsch e do <strong>de</strong>utsch obe<strong>de</strong>ce a umasérie <strong>de</strong> fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m diatópica, diageracional e diacrônica (imigrantesmais antigos ou mais recentes), contatual ou dialingual (nivelamentolingüístico), entre outros aspectos que serão sumariamente apresentados.(Auxílio: Fundação Alexan<strong>de</strong>r von Humboldt, Alemanha – 2008-2010)A LEGITIMAÇÃO DO LÉXICO DO HUNSRÜCKISCH:REFLEXÕES E PROPOSTAS LEXICOGRÁFICAS PARA ACRIAÇÃO DE UM DICIONÁRIO BILÍNGÜE HUNSRÜCKISCH-PORTUGUÊSFábio Anschau (UFRGS)Por necessida<strong>de</strong> do aumento da integração entre os povos, surgem osprimeiros dicionários bilíngües e multilíngües. Dicionário é, segundoKRIEGER (1993), um lugar <strong>de</strong> representação do bem-dizer, ou seja, nomomento em que um vocábulo está registrado (dicionarizado) ele adquirelegitimida<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo assim, ser utilizado sem causar contravençõeslingüísticas. A legitimação do léxico e a consagração do significadoatribuem ao dicionário um certo status (po<strong>de</strong>r). Esse po<strong>de</strong>r faz com que osdicionários se revelem o<strong>br</strong>as dinâmicas, ou melhor, se tornem dinâmicos,pois a língua está em constante mudança. Nesse sentido, a presente pesquisabusca dar um tratamento léxico ao Hunsrückisch, uma vez que não existedicionário para tal variante da língua alemã. Como subprojeto do ALMA(Atlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs da Bacia do Prata) seencontra o Dicionário do Hunsrückisch e, por isso, quer-se aqui não apenasanalisar e traçar um paralelo entre os principais dicionários bilíngüesdialetais da língua alemã: Hunsrücker Wörterbuch (Diener), RheinischesWörterbuch, Pfälzisches Wörterbuch e o Dicionário EnciclopédicoPomerano-Português (Tressmann), mas também apresentar algumaspropostas lexicográficas para a criação <strong>de</strong> um dicionário bilíngüeHunsrückisch-Português. Por fim, preten<strong>de</strong>-se refletir acerca da importânciada legitimação do léxico das línguas minoritárias.ENSINO DE LÍNGUAS EM CONTEXTOS MULTILÍNGÜESKaren Pupp Spinassé (UFRGS)Em um país multilíngüe como o Brasil, muitos são ainda os obstáculos queimpe<strong>de</strong>m um ensino <strong>de</strong> línguas bem-sucedido, principalmente no queconcerne a um contexto envolvendo línguas minoritárias. A <strong>de</strong>sinformação arespeito do fator bilíngüe em diferentes âmbitos da socieda<strong>de</strong>, a falta <strong>de</strong>políticas lingüísticas mais eficazes e a complexida<strong>de</strong> do fenômeno bilíngüeem si são fatores que estimulam o preconceito lingüístico, a substituição156


lingüística e, em conseqüência disso, po<strong>de</strong>m levar a um aprendizado <strong>de</strong>línguas <strong>de</strong>ficiente – o que po<strong>de</strong>ria ser diferente se esses fatores fossemlevados em consi<strong>de</strong>ração.A partir <strong>de</strong> exemplos concretos <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> fala do hunsrückisch, umavarieda<strong>de</strong> minoritária <strong>de</strong> base alemã, bem como baseados na teoria dobilingüismo e nas pesquisas que vêm sendo realizadas nos nossos projetos naUFRGS, buscamos, nessa comunicação, apresentar algumas consi<strong>de</strong>rações arespeito do ensino <strong>de</strong> línguas em contextos multilíngües, discutindo aproblemática acima levantada para que reflitamos so<strong>br</strong>e a perguntacondutora <strong>de</strong> nossos estudos: Qual é a Educação Bilíngüe que queremos?ATITUDES E CONCEPÇÕES LINGÜÍSTICAS E SUA RELAÇÃOCOM AS PRÁTICAS SOCIAIS DE PROFESSORES EMCOMUNIDADES BILÍNGÜES ALEMÃO-PORTUGUÊS DO RIOGRANDE DO SULMaria Nilse Schnei<strong>de</strong>r (UFRGS)Este estudo investiga atitu<strong>de</strong>s e concepções lingüísticas (crenças epreconceitos lingüísticos) <strong>de</strong> 20 professores e a relação com as suas práticassociais em três escolas <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s bilíngües alemão-português do RioGran<strong>de</strong> do Sul. Primeiramente, <strong>de</strong>screve o repertório lingüístico, a dinâmicadas competências lingüísticas na dimensão diageracional e a manutenção doHunsrückisch. Em seguida, discute atitu<strong>de</strong>s e concepções lingüísticas <strong>de</strong>ssesprofessores e analisa como as suas concepções se refletem na valoração e notratamento que conferem às varieda<strong>de</strong>s lingüísticas, aos traços <strong>de</strong> fala e aouso <strong>de</strong> alemão na interação em aula. Este estudo insere-se naSociolingüística Interacional e na Sociolingüística, mais precisamente, nosestudos <strong>de</strong> interação social, bilingüismo, política lingüística e <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s econcepções lingüísticas. Na geração e análise dos dados combinainstrumentos e categorias <strong>de</strong> análise das abordagens quantitativa equalitativa. Os resultados evi<strong>de</strong>nciam um alto grau <strong>de</strong> manutenção doHunsrückisch e conflitos i<strong>de</strong>ntitários e educacionais, os quais se refletem nasatitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> distinção lingüística e nas práticas sociais dosprofessores.LÍNGUAS EM CONTATO/CONFLITO: EM FOCO UMA ESCOLARURAL EM ZONA DE IMIGRAÇÃO ALEMÃ NO SUL DO BRASILMaristela Pereira Fritzen (FURB)O Vale do Itajaí, em Santa Catarina, se constituiu como um cenáriomulticultural e plurilingüístico, em função do modo <strong>de</strong> colonização da região.Apesar das campanhas <strong>de</strong> nacionalização do ensino, cuja premissa principalbaseava-se no lema “uma língua, uma nação”, entrecruzam-se, hoje ainda,neste contexto, ao lado do português, línguas <strong>de</strong> imigração como o alemão, oitaliano e o polonês. Porém, o bilingüismo <strong>de</strong>sses grupos minoritarizados,que conservam a língua <strong>de</strong> seu grupo étnico, não é reconhecido pela157


socieda<strong>de</strong> majoritária. O que circula, em geral, na região, são discursoshegemônicos <strong>de</strong> estigmatização das línguas <strong>de</strong> herança e <strong>de</strong> seus falantes. Naescola, o bilingüismo das crianças é tratado, não raro, como um problemapara a aprendizagem do português escrito e das <strong>de</strong>mais disciplinas ou ésimplesmente apagado do contexto escolar. Nesta comunicação,preten<strong>de</strong>mos socializar e discutir no GT Plurilingüismo e ContatoLingüístico parte <strong>de</strong> nossa pesquisa <strong>de</strong>senvolvida no Programa <strong>de</strong> Doutoradoem Lingüística Aplicada da Unicamp, na linha <strong>de</strong> pesquisaMulticulturalismo, Plurilingüismo e Educação Bilíngüe. O estudo <strong>de</strong>natureza etnográfica foi realizado em uma escola rural multisseriada,inserida em contexto bilíngüe alemão/português <strong>de</strong> Blumenau, SC. Comapoio teórico do campo <strong>de</strong> estudos do bilingüismo como fenômeno social edos estudos culturais, o objetivo é (i) problematizar o contato/conflitolingüístico presente na socieda<strong>de</strong> e na escola, (ii) combater o preconceitolingüístico, (iii) visibilizar o grupo estudado e (iv) <strong>de</strong>svelar as intersecçõesentre as línguas em uso e questões sócio-históricas, políticas e i<strong>de</strong>ntitáriaspresentes nesse cenário sociolinguisticamente complexo, a fim <strong>de</strong> contribuirpara o reconhecimento do direito das crianças bilíngües ao ensino formal dalíngua e da cultura do seu grupo étnico, como apregoa a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Lingüísticos, <strong>de</strong> 1996.A VARIAÇÃO NA ESCRITA DE CRIANÇAS EM PROCESSO DEALFABETIZAÇÃO DECORRENTE DO BILINGÜISMO-PORTUGUÊS/HUNSRÜCKRosemari Lorenz Martins (PUCRS, Feevale)Regina Ritter Lamprecht (PUCRS)Este trabalho tem como objetivo principal verificar se crianças bilíngües -falantes <strong>de</strong> Português Brasileiro e do dialeto Hunsrück falado no Rio Gran<strong>de</strong>do Sul - apresentam variações na escrita quanto ao uso <strong>de</strong> p / b; t / d; q – c /g; f / v; ch – x / j – g ; R / r no processo <strong>de</strong> alfabetização em <strong>de</strong>corrência dobilingüismo, a fim <strong>de</strong> contribuir com seu processo <strong>de</strong> alfabetização. A área<strong>de</strong> estudos em que se inscreve o tema é a da Aquisição da Linguagem, maisprecisamente a Aquisição da Escrita e da Fonologia. O problema que esteprojeto propõe verificar é se essas crianças bilíngües apresentam variação naescrita quanto ao emprego das consoantes surdas e sonoras acima referidas.Embora o dialeto esteja <strong>de</strong>saparecendo, ainda se mantém em algumasregiões, em que as crianças apren<strong>de</strong>m o dialeto como primeira língua.Quando chegam à escola, contudo, acabam substituindo sua língua maternapelo Português, que acaba fluindo mais facilmente. As marcas do dialeto,entretanto, continuam enraizadas e po<strong>de</strong>m ser percebidas <strong>de</strong> várias formas,tanto na seleção <strong>de</strong> palavras, como na sintaxe, e, principalmente, nafonologia. Muitos dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> alemães, inclusive os que não falammais o dialeto, apresentam variação fonética quanto ao uso <strong>de</strong> diversosfonemas em Português. Esse fato é umas das justificativas usadas por muitospais para não ensinarem o dialeto a seus filhos, pois julgam que ele158


prejudicará as crianças na escola durante a alfabetização. Isso até po<strong>de</strong>acontecer, mas as vantagens <strong>de</strong> se dominar mais <strong>de</strong> uma língua são bemmaiores do que as pequenas variações lingüísticas que po<strong>de</strong>rão serfacilmente corrigidas por professores preparados para tanto e, além disso,corrigir essas variações é muito mais fácil do que ensinar uma segundalíngua que po<strong>de</strong>ria ser aprendida naturalmente no seio familiar. Ametodologia a ser utilizada para a realização <strong>de</strong>ste projeto consiste em trêsgran<strong>de</strong>s etapas: revisão teórica, coleta <strong>de</strong> dados e compreensão e análise dosdados coletados com base na revisão teórica realizada. A coleta <strong>de</strong> dadosfar-se-á em uma escola da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> do Vale dos Sinoscom uma turma <strong>de</strong> alunos da 1ª série em 2009. Coletar-se-ão dados dascrianças e <strong>de</strong> seus pais. Acredito que este trabalho seja importante paraevitar que o dialeto, que foi preservado por mais <strong>de</strong> duzentos anos no Brasil,<strong>de</strong>sapareça entre os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> alemães no Rio gran<strong>de</strong> do Sul.O TRILINGÜISMO NO COLÉGIO FRITZ KLIEWER DEWITMARSUM (PARANÁ)Elvine Siemens Dück (UFRGS)O presente trabalho tem por objetivo analisar o uso e a alternância daslínguas Plautdietsch (alemão-baixo), Hoch<strong>de</strong>utsch (alemão standard) eportuguês no Colégio Estadual Fritz Kliewer. Trata-se, neste caso, <strong>de</strong> umColégio situado na Colônia Witmarsum, município <strong>de</strong> Palmeira (PR), cujacomunida<strong>de</strong> é formada predominantemente por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes menonitasalemãesque vieram em 1930 ao Brasil. No início da fundação do ColégioFritz Kliewer em 1952 e nas seguintes duas décadas a gran<strong>de</strong> maioria <strong>de</strong>alunos menonitas-alemães se comunicava entre si em Plautdietsch e/ou emHoch<strong>de</strong>utsch. No entanto, nos últimos anos este quadro teve gran<strong>de</strong>smudanças no que se refere ao emprego das línguas, conforme <strong>de</strong>monstra oestudo <strong>de</strong> DÜCK (2005). Ao invés <strong>de</strong> haver um estímulo para a continuida<strong>de</strong>do trilingüismo entre os jovens, vários fatores levaram praticamente aoabandono do uso do Plautdietsch no ambiente escolar e uso restrito doHoch<strong>de</strong>utsch, com exceção nas aulas <strong>de</strong> língua alemã. O presente trabalhopreten<strong>de</strong> contribuir, com isso, para um entendimento melhor da dinâmicados contatos lingüísticos no ambiente escolar, observando a relação entre ouso das diferentes línguas (prestígio/estigma, número <strong>de</strong> falantes etc) eapontar para as principais tendências lingüísticas no uso diário dos alunosmenonitas-alemães no Colégio.FORMAÇÃO DE PROFESSORES EM CONTEXTOSPLURILÍNGÜES: A (DES)ESTABILIZAÇÃO DAS FRONTEIRASÂngela Derlise Stübe Netto (UNICAMP)Neste estudo – fruto <strong>de</strong> nossa tese <strong>de</strong> doutoramento -, analisamos aconstituição i<strong>de</strong>ntitária <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> língua portuguesa (LP), que nãopossuem exclusivamente essa língua (normalmente tomada como língua159


materna <strong>de</strong> quem é <strong>br</strong>asileiro) em sua inscrição no campo da linguagem para,com isso, pensar seu processo <strong>de</strong> formação. Participaram <strong>de</strong> nossa pesquisa14 professores da educação básica, da re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino, da região <strong>de</strong>Concórdia/SC, cuja história sócio-cultural é marcada pela imigraçãoeuropéia. A construção metodológica orientou-se por relatos escritos so<strong>br</strong>e ahistória <strong>de</strong> formação lingüística e profissional do professor, seguida <strong>de</strong> umaentrevista pautada em elementos <strong>de</strong>sse relato. O pressuposto que norteianossa investigação é <strong>de</strong> que, no imaginário, circula a idéia <strong>de</strong> que a LP é alíngua materna (LM) <strong>de</strong> quem nasce no Brasil. Entretanto, muitosenunciadores – como po<strong>de</strong>mos verificar em nosso corpus - não possuemexclusivamente a LP como LM. Frente a esse contexto, formulamos ahipótese <strong>de</strong> que essa história <strong>de</strong> vida, caracterizada por uma constituiçãolingüística marcadamente plural, traz incidências para a formação <strong>de</strong>professores <strong>de</strong> LP. Do ponto <strong>de</strong> vista teórico, situamo-nos na interface <strong>de</strong>teorias que trabalham com a noção <strong>de</strong> sujeito da linguagem, compreendidona sua contradição inerente, sustentado pelo <strong>de</strong>sejo e pelo inconsciente. Nasanálises, percebemos a tentativa dos professores <strong>de</strong> se manterem filiados auma kultur. Entretanto, essa filiação não se dá sem tensões, embates econflitos, gran<strong>de</strong>mente influenciados pela política lingüística, como, porexemplo, a interdição das línguas estrangeiras no Estado Novo. Essadiscursivida<strong>de</strong> produz efeitos na memória dos <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> imigrantes,na maneira como eles formulam discursivamente seu passado e nasincidências so<strong>br</strong>e sua constituição i<strong>de</strong>ntitária. Além disso, observamos que aescola assume uma prática <strong>de</strong> silenciar essa história marcadamente plural,sem torná-la dizível, <strong>de</strong>ixando, assim, <strong>de</strong> trabalhar a relação com a alterida<strong>de</strong>lingüística e com as memórias outras que constituem os enunciadores <strong>de</strong>nossa pesquisa. O real da língua irrompe e – no dizer, no fio do discurso-,(<strong>de</strong>s)constroem a representação <strong>de</strong> língua una, homogênea e <strong>de</strong> naçãomonolíngüe. A partir <strong>de</strong>ssas análises, concebemos a noção <strong>de</strong> línguaatravessada pela heterogeneida<strong>de</strong>, movimento <strong>de</strong> entre-línguas. A alterida<strong>de</strong>(<strong>de</strong>s)mascarada no dizer <strong>de</strong>sses enunciadores conduzem a uma experiência<strong>de</strong> estranhamento – unheimlich -, e isso nos leva a (re)pensar os processos <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> professores nesse locus.GT10 Inferências em Linguagem Natural, uma Abordagem viaInterface Externa Lingüístico-lógico-computacional e Interface InternaSintático-semântico-pragmática dos Operadores SentenciaisCoor<strong>de</strong>nadores: J<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)Ana Maria Tramunt Ibaños (PUCRS)PROPRIEDADES LÉXICO-SINTATICO-SEMÂNTICO-PRAGMÁTICAS PROBLEMÁTICAS PARA UM TRATAMENTOFORMAL DA INFERÊNCIA DEDUTIVAJ<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)160


O tratamento formal das inferências <strong>de</strong>dutivas na Lógica Proposicional<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> , como se sabe, dos conetivos veritativo-funcionais, como“se...então...”, “e”, “ou”, etc. A valida<strong>de</strong> ou invalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um argumento<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma lógica que o sustenta. “se P então Q e P, permite inferirvalidamente Q”. Já a forma lógica “se P então Q e Q não conduzvalidamente a P, ou seja é uma falácia. Ocorre que proprieda<strong>de</strong>s do léxico,da sintaxe, da semântica e, especialmente, da pragmática das línguas naturaisinterferem so<strong>br</strong>e a forma lógica, gerando aceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falácias einaceitabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tautologias. Isso dificulta uma abordagem formal <strong>de</strong>argumentos da linguagem natural e, conseqüentemente, traz problemas parao tratamento computacional <strong>de</strong> inferências <strong>de</strong>sse tipo.HANDLING UNLIKE COORDINATED PHRASES IN TAG BYMIXING SYNTACTIC CATEGORY AND GRAMMATICALFUNCTIONCarlos A. Prolo (PUCRS)Coordination of phrases of different syntactic categories has posed aproblem for generative systems based only on syntactic categories. Althoughsome prefer to treat them as exceptional cases that should require some extramechanism (as for elliptical constructions), or to allow for unrestrictedcross-category coordination, they can be naturally <strong>de</strong>rived in a grammaticalfunctional generative approach. In this paper we explore the i<strong>de</strong>a on howmixing syntactic categories and grammatical functions in the label set of aTree Adjoining Grammar allows us to <strong>de</strong>velop grammars that elegantlyhandle both the cases of same- and cross-category coordination in anuniform way.CONDICIONAIS INDICATIVOS, SUBJUNTIVOS ECONTRAFACTUAIS NUMA PERSPECTIVA INTERDISCIPLINARKarina Veronica Molsing (PUCRS)O objetivo <strong>de</strong>ssa apresentação é levantar questões e problemas com respeitoao estado da arte <strong>de</strong> certos fenômenos envolvendo condicionais. Muitasvezes, ao embarcar num projeto <strong>de</strong> pesquisa particular so<strong>br</strong>e condicionais,<strong>de</strong>ve-se <strong>de</strong>limitar o escopo a poucos aspectos empíricos específicos daconstrução geral, o que invariavelmente remete a uma literatura gran<strong>de</strong>filosófica que está por trás. Há muitos estudos que fizeram isso com respeitoa elementos sintático-semântico-pragmático dos condicionais, fazendodiferentes tipos <strong>de</strong> interfaces e tratando <strong>de</strong> alguns assuntos empíricos, aomesmo tempo em que reconhece os <strong>de</strong>safios filosóficos. Por outro lado,alguns po<strong>de</strong>m se concentrar em questões ou empíricas ou filosóficas,<strong>de</strong>ixando outras <strong>de</strong> lado. Os estudos influentes mais recentes têmreconhecido o que foi e não foi analisado nos seus trabalhos respectivos, eao mesmo tempo esperam que uma fusão seja possível entre todas asanálises. Entretanto, parece que esse fenômeno complexo ficou mais161


disperso com as linhas <strong>de</strong> pesquisa saindo por tangentes diferentes, <strong>de</strong>ixandouma fusão cada vez menos provável. O foco particular <strong>de</strong>ssa apresentaçãotrata da relação entre os condicionais indicativos e subjuntivos, as suasconcepções nos fundamentos Lingüísticos – Filosóficos – Lógicos tantoquanto os seus diagnósticos mais superficiais, a saber, o papel <strong>de</strong> tempo easpecto no significado dos dois tipos <strong>de</strong> condicionais. Algumas questõesimportantes são levantadas com respeito a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma fusãoteórica, cujo propósito seria tratar tais fenômenos relacionados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>uma abordagem mais geral. Essas questões incluem: i) se o condicionalindicativo <strong>de</strong> linguagem natural é equivalente à implicação material lógica;ii) se as diferenças entre indicativos, subjuntivos e contrafactuais po<strong>de</strong>m seracomodadas <strong>de</strong>ntro da mesma abordagem; e iii) qual é o papel <strong>de</strong> tempo,aspecto e modo?PREDICADOS SECUNDÁRIOS DESCRITIVOS: UMA COMPLEXATEIA DE RELAÇÕES ENTRE SINTAXE, SEMÂNTICA E LÉXICOGa<strong>br</strong>iela Betania Hinrichs Conteratto (PUCRS)Neste trabalho, o objetivo principal é mostrar que a hipótese <strong>de</strong> que asparáfrases com o conectivo quando são as mais a<strong>de</strong>quadas para estruturascom predicado secundário <strong>de</strong>scritivo é limitada, ou até mesmo, inconsistente,pois o conectivo quando não dá conta <strong>de</strong> todas as implicações contidas narelação entre predicado primário e predicado secundário <strong>de</strong>scritivo (i.e.Paulo escreveu o relatório nervoso/ Paulo estava nervoso quando escreveu orelatório). Um dos primeiros estudos que discute a questão do conectivoquando como paráfrase perfeita para os predicados <strong>de</strong>scritivos é <strong>de</strong> Dowty(1972) (i.e. The girl married young/ The girl married when she was young).Ao assumir tal pressuposto, Dowty (1972) quer apontar simplesmente que osdois predicados compartilham o mesmo tempo e nada mais. No entanto, essaquestão não é tão simples quanto aparenta ser. O próprio autor se dá contadisso ao observar que, em termos <strong>de</strong> pressuposição, tais sentenças sãodiferentes: uma sentença com predicado secundário <strong>de</strong>scritivo somentevincula a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste, enquanto que uma sentença com conectivo quandopressupõe a verda<strong>de</strong> da when-clause. Aqui, argumenta-se que o predicado<strong>de</strong>scritivo, apesar <strong>de</strong> estar temporalmente relacionado com o predicadoprimário, não po<strong>de</strong> ser reduzido a isso, pois po<strong>de</strong> estabelecer relações <strong>de</strong>outras naturezas. Jackendoff (1990), por exemplo, afirma que a relação dopredicado secundário com o predicado primário parece ser do tipo <strong>de</strong><strong>de</strong>pendência mútua não específica que ele codifica como um modificador <strong>de</strong>acompanhamento. Para ele, o acompanhamento é um tipo <strong>de</strong> subordinaçãoque é assimétrica e que implica uma relação entre estruturas conceptuaisprincipais e subordinadas. Segundo Jackendoff, essa subordinação é mais doque uma conjunção, mas menos do que uma causação. Foltran (1999) eConteratto (2005) parecem não corroborar em parte tal afirmação, pois asautoras afirmam que, em alguns casos da língua portuguesa, a relação entrepredicado primário e secundário po<strong>de</strong> ser assumida como sendo <strong>de</strong> causa (i.e.162


Maria esperava o lanche irritada. (irritada por esperar)/ Carla dirigiu ocarro nervosa. (nervosa por dirigir)). Essa constatação também parecefragilizar a conclusão <strong>de</strong> Rothsthein (2003) <strong>de</strong> que o evento <strong>de</strong>notado pelopredicado secundário <strong>de</strong>scritivo assume um lugar no passado em relação aopredicado primário, pois, quando a relação entre predicado primário epredicado secundário é assumida como sendo <strong>de</strong> causa, isso não acontece.Uma das hipóteses levantadas neste trabalho é <strong>de</strong> que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo danatureza semântica do predicado primário e do predicado secundário, arelação entre eles po<strong>de</strong> ser diferente, acarretando ou não certas restrições.Acredita-se também que, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da natureza da relação entreessas duas eventualida<strong>de</strong>s, elas sempre vão compartilhar um argumento e teruma correlação temporal. Logo, o conectivo quando não esclarece todas asimplicações relativas a essa relação. Assim, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se que somente umaanálise composicional po<strong>de</strong> dar conta <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a relação entre aeventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>notada pelo predicado primário e a eventualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>notadapelo predicado secundário.NEGAÇÃO DE DICTO E DE RE : PROBLEMAS PARA OTRATAMENTO COMPUTACIONAL .Ana Maria T. Ibanos (PUCRS)A negação tem sido, nas línguas naturais , um problema constante do ponto<strong>de</strong> vista léxico, sintático, semântico e pragmático. Na perspectiva lexical,por exemplo, chamam atenção redundâncias como (a) Ninguém nunca diznada. e (b) Não vi ninguém .Na sintaxe, a negação <strong>de</strong> uma sentença como (c) João é vegetariano. po<strong>de</strong>ser expressa em duas formas diferentes em (d) e (e): (d) João não évegetariano.(e) Não é verda<strong>de</strong> que João seja vegetariano.Semanticamente, proposições como (f) O Rei da França não existe.geram o clássico problema <strong>de</strong>, sendo verda<strong>de</strong>iras, não saberemos so<strong>br</strong>equem estamos falando.Do ponto <strong>de</strong> vista pragmático, como se sabe, um enunciado (g), afirmativo,po<strong>de</strong> ser entendido como uma negação:(g) (x) Gostarias que a tua sogra fosse junto?(y) Claro que sim (ironicamente)Dadas essas aparentes idiossincrasias no processo <strong>de</strong> negação , comooferecer-lhe um tratamento computacional a<strong>de</strong>quado se argumentosproblemáticos po<strong>de</strong>m ser obtidos pelo uso da negação ? Em (h), por exemplo,(h) (x) Se esta é uma flor, então não é uma rosa.(y) é uma rosa.-------------------------------(z) Portanto, não é uma flor163


A regra <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação Modus Tollens é corretamente aplicada e, mesmoassim, leva a incongruência da conclusão Z.SOBRE A RELAÇÃO ENTRE ANTECEDENTE E CONSEQÜENTEEM PROPOSIÇÕES COM OPERADORES CONDICIONAISGa<strong>br</strong>iel Othero (PUCRS)Em linguagem natural, parece ser o<strong>br</strong>igatória a existência <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong>sentido entre o antece<strong>de</strong>nte e o conseqüente em uma proposição comoperadores condicionais do tipo se... então. Essa relação não estáinerentemente ligada à forma lógico-semântica do operador, P --> Q (se P,então Q), nem à sua sintaxe. Sempre nos esforçamos para interpretar arelação entre antece<strong>de</strong>nte e conseqüente, <strong>de</strong> alguma forma. Quando ainterpretação é difícil, acreditamos estar diante <strong>de</strong> sentençaspragmaticamente mal formadas. Por isso, a interpretação <strong>de</strong> um condicionalparece <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> inferências pragmáticas que o falante po<strong>de</strong> construir coma ajuda do contexto. A interpretação do condicional, em uma interfacelingüística x comunicação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> elementos que vão além <strong>de</strong> umaanálise formal. A estrutura <strong>de</strong> uma sentença condicional é <strong>de</strong>terminada porsua sintaxe; a semântica da proposição garante que o uso do condicionaldispare uma inferência <strong>de</strong> relação entre P e Q; e, em contexto, viapragmática, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar a natureza <strong>de</strong>ssa inferência.PADRONIZAÇÃO DO CONETIVO "OU" EM ARGUMENTOSDEDUTIVOS NO PORTUGUÊSBRASILEIRO: UMA PESQUISABASEADA EM CORPUS.Heloísa Orsi Koch Delgado (PUCRS)Este trabalho tem por objetivo realizar uma <strong>de</strong>scrição lingüística do conetivoou em argumentos <strong>de</strong>dutivos no português <strong>br</strong>asileiro. Preten<strong>de</strong>-se ilustrarcomo a investigação da linguagem baseada em corpus po<strong>de</strong> colaborar paraum melhor entendimento da léxico-gramática do português. Para tal seráutilizado um corpus eletrônico que permitirá o estudo sistemático dapadronização (patterning), ou seja, das regularida<strong>de</strong>s formadas pelarecorrência <strong>de</strong> itens co-ocorrentes.O corpus utilizado será o Corpus do Português, disponível em(http://www.corpusdoportugues.<strong>org</strong>/x.asp). Para a análise <strong>de</strong> padronização énecessária a observação dos contextos <strong>de</strong> ocorrência do item em questão,com a utilização dos instrumentos <strong>de</strong> concordância e a lista <strong>de</strong> colocados.Busca-se respon<strong>de</strong>r a duas questões básicas: Quais são os padrões <strong>de</strong> que oufaz parte? Quais os sentidos associados a tais padrões? Essa pesquisa éinspirada na metodologia consagrada para a <strong>de</strong>scrição léxico-gramatical doinglês baseada em corpus, fundamentada teoricamente no princípioidiomático (Sinclair, 1991). Segundo esses princípios (BERBER-SARDINHA, 2004): (1) as escolhas léxicogramaticais não são feitas emisolamento, mas sim em ca<strong>de</strong>ia; (2) as palavras possuem padronização,164


observável a partir da exploração <strong>de</strong> um corpus computadorizado; (3) não hádistinção entre palavras gramaticais e palavras lexicais; (4) formas <strong>de</strong>rivadas<strong>de</strong> uma mesma raiz <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas itens lexicais distintos; e (5)diferenças entre padrões colocacionais indicam diferença <strong>de</strong> sentido.PADRONIZAÇÃO DO CONETIVO “E” EM ARGUMENTOSDEDUTIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA PESQUISABASEADA EM CORPUSSimone Sarmento (PUCRS)Este trabalho tem por objetivo realizar uma <strong>de</strong>scrição lingüística do conetivo“e” em argumentos <strong>de</strong>dutivos no português <strong>br</strong>asileiro. Preten<strong>de</strong>-se ilustrarcomo a investigação da linguagem baseada em corpus po<strong>de</strong> colaborar paraum melhor entendimento da léxico-gramática do português. Para tal seráutilizado um corpus eletrônico que permitirá o estudo sistemático dapadronização (patterning), ou seja, das regularida<strong>de</strong>s formadas pelarecorrência <strong>de</strong> itens coocorrentes. O corpus utilizado será o Corpus doPortuguês, disponível em (http://www.corpusdoportugues.<strong>org</strong>/x.asp). Para aanálise <strong>de</strong> padronização é necessária a observação dos contextos <strong>de</strong>ocorrência do item em questão, com a utilização dos instrumentos <strong>de</strong>concordância e a lista <strong>de</strong> colocados. Busca-se respon<strong>de</strong>r a duas questõesbásicas: Quais são os padrões <strong>de</strong> que “e” faz parte? Quais os sentidosassociados a tais padrões. Essa pesquisa é inspirada na metodologiaconsagrada para a <strong>de</strong>scrição léxico-gramatical do inglês baseada em corpus,fundamentada teoricamente no princípio idiomático (Sinclair, 1991).Segundo esses princípios (BERBER-SSARDINHA, 2004): (1) as escolhasléxico-gramaticais não são feitas em isolamento, mas sim em ca<strong>de</strong>ia; (2) aspalavras possuem padronização, observável a partir da exploração <strong>de</strong> umcorpus computadorizado; (3) não há distinção entre palavras gramaticais epalavras lexicais; (4) formas <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> uma mesma raiz <strong>de</strong>vem serconsi<strong>de</strong>radas itens lexicais distintos; e (5) diferenças entre padrõescolocacionais indicam diferença <strong>de</strong> sentido.TRATAMENTO COMPUTACIONAL DE CONECTORESPREPOSITIVOS PARA RESSIGNIFICAÇÃO PROPOSICIONALCelso Augusto Conceição (UNILASALLE)Os conectores preposicionais exercem funções sintático-semânticopragmáticase são provocados pela transitivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> léxicos específicos:nomes e verbos. Como têm formas distintas e cada uma com funçõesespecíficas, alguns alteram os significados das sentenças e outros as tornamagramaticais ou, até mesmo, com significações incoerentes. Essa pluralida<strong>de</strong><strong>de</strong> significação po<strong>de</strong> ser justificada pelo caráter polissêmico <strong>de</strong>ssa categoriagramatical, pois esses conectivos caracterizam as relações estabelecidaspelos segmentos lingüísticos que compõem as proposições. Tudo na língua ésemântico. Neste trabalho, os conectores prepositivos estarão inseridos entre165


vocábulos e serão analisados na interface com a computação, com o objetivo<strong>de</strong> criar recursos para que as máquinas os i<strong>de</strong>ntifiquem. Isso possibilitaráfazer um estudo da sua função <strong>de</strong> ressignificar quando a sentença permitirsubstituições <strong>de</strong>ssa natureza. Com o corpus estruturado em proposições, osintagma preposicional será tratado nos níveis gramaticais em seu sentidolato, possibilitando assim analisar essas variações significativas provocadaspela transitivida<strong>de</strong> lexical.POR QUE A TROCA DE ORDEM DAS PROPOSIÇÕES LIGADASPELO CONETIVO “E” COMO: JOÃO ESTUDOU E PASSOU NOVESTIBULAR, GERA IMPLICATURAS ?Adriana Quinelo (PUCRS)O conetivo “e”, do tipo “veritativo-funcional”, garante que oresultado/significado do todo venha do significado das partes. Em umtratamento formal, o “e” serve apenas para articular o conteúdo dasproposições, não possuindo sentido em si mesmo, como na lingüística.Dessa diferença no tratamento do “e” tem-se a geração <strong>de</strong> implicaturas.Portanto, numa interface lógico-lingüística, um argumento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> damaneira como é construído. Temos que enten<strong>de</strong>r como taisoperadores/conetivos funcionam na interface para enten<strong>de</strong>r o que po<strong>de</strong>mossignificar através <strong>de</strong>les.OS CONECTIVOS LÓGICOS ‘®’ (O IMPLICADOR MATERIAL) EO ‘«’ (O DUPLO IMPLICADOR) NA INTERFACE SEMÂNTICA-PRAGMÁTICAGustavo Brauner (UFRGS)A linguagem é um dos principais mecanismos <strong>de</strong> asserção da cogniçãohumana. Os estudos cognitivos, tal como têm sido <strong>de</strong>senvolvidos nosúltimos cinqüenta anos, buscam, através <strong>de</strong> pesquisas envolvendo alinguagem, <strong>de</strong>screver como a mente/cére<strong>br</strong>o realmente funciona (‘mente’ e‘cére<strong>br</strong>o’ são aqui entendidos como a mesma coisa). Nesse sentido, oadvento do computador se mostrou mais do que instrumental – umverda<strong>de</strong>iro pivô, uma base comum para todo tipo <strong>de</strong> estudo da cogniçãohumana, seja qual for a perspectiva escolhida. Os softwares, os programas<strong>de</strong> computador, são escritos em linguagem <strong>de</strong> máquina, em uma das muitaslinguagens <strong>de</strong> programação. Essas ‘linguagens das máquinas’, entretanto,<strong>de</strong>vem compartilhar <strong>de</strong> características comuns à linguagem humana, umavez que foram <strong>de</strong>senvolvidas por seres humanos, capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver alinguagem. Uma das bases – na verda<strong>de</strong>, a principal base – das linguagens<strong>de</strong> programação é a Lógica Clássica e suas variações. Mas a própria LógicaClássica também tem como sua mãe a linguagem humana, uma vez que foi<strong>de</strong>senvolvida por um ser humano – Aristóteles. Assim, <strong>de</strong>ve existir um pontocomum entre os operadores lógicos, em especial os conectivos lógicos, e suacontraparte na linguagem natural. O presente trabalho visa a explorar,166


através <strong>de</strong> uma a<strong>de</strong>quação metodológica envolvendo uma interface entresintaxe, semântica e pragmática, exemplos em Português Brasileiroenvolvendo os conectivos da linguagem natural, exemplos com osconectivos lógicos ‘®’ (o implicador material) e o ‘«’ (o duplo implicador),<strong>de</strong>screver as semelhanças e diferenças entre esses conectivos lógicos e suascontrapartes na linguagem natural, e <strong>de</strong>senvolver uma reflexão so<strong>br</strong>e a basecomum existente entre a linguagem natural e a linguagem lógicocomputacional,visando sempre os interesses computacionais.O PAPEL DOS CONECTORES NA COMPREENSÃO DE EBOOKSEDUCATIVOSRonei Guaresi (PUCRS)Sob o ponto <strong>de</strong> vista da compreensão, especialmente dos significadosimplícitos, o presente estudo objetiva analisar ebooks com fins educativos,especificamente os conectores (predominantemente preposições econjunções) como marcadores que influenciam na compreensão do leitor.Questão central: como um ebook, com fins instrucionais, po<strong>de</strong>ria abordar osconectores a fim <strong>de</strong> viabilizar a compreensão do leitor.GT11 - Estudos Enunciativos - Fundamentos e TeoriasCoor<strong>de</strong>nadoresLeci B<strong>org</strong>es Barbisan (PUCRS)Valdir do Nascimento Flores (UFRGS)A METAENUNCIATIVIDADE NO DISCURSO INFANTILMarlete Sandra Diedrich (UPF)O propósito <strong>de</strong>ste texto é, com base em consi<strong>de</strong>rações epistemológicas daárea da enunciação, discutir aspectos da aquisição <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>smetaenunciativas a partir do discurso infantil. A metaenunciação érepresentada lingüisticamente pelo ato em que o enunciador se <strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>a emdois, um que diz e o outro que se pronuncia <strong>de</strong> alguma forma so<strong>br</strong>e essedizer. Assim, propomo-nos a discutir a seguinte questão: na construção doseu discurso, uma criança produz formas metaenunciativas reveladoras dareflexivida<strong>de</strong> em torno da própria enunciação à semelhança do que faz oenunciador adulto? Se produz, a que campos da heterogeneida<strong>de</strong> do dizerelas pertencem e o que revelam acerca da aquisição da competência <strong>de</strong>negociação por parte do enunciador com as não-coincidências do dizer? Oque dizem essas formas acerca da capacida<strong>de</strong> da criança, a partir da suaposição <strong>de</strong> domínio metaenunciativo, <strong>de</strong> controlar seu dizer? Para tornar oestudo possível, buscamos nos trabalhos da lingüista francesa JaquelineAuthier-Revuz a base teórica para a investigação <strong>de</strong> nosso objeto, maisprecisamente, nos quatro tipos <strong>de</strong> metaenunciativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominados pelaautora <strong>de</strong> não-coincidências. A autora elenca as seguintes manifestações: a167


não-coincidência interlocutiva, a não-coincidência entre as palavras e ascoisas; a não-coincidência do discurso consigo mesmo e, finalmente, a nãocoincidênciadas palavras consigo mesmas, as quais trataremos mais<strong>de</strong>talhadamente na seqüência <strong>de</strong>ste artigo. Para Authier-Revuz, ametaenunciativida<strong>de</strong> representa lingüisticamente o ato <strong>de</strong> dizer em que oenunciador se <strong>de</strong>sdo<strong>br</strong>a em dois, um que diz e o outro que se pronuncia <strong>de</strong>alguma forma so<strong>br</strong>e esse dizer. Neste trabalho, baseamo-nos nas pesquisasda autora para investigar, na perspectiva da enunciação, como se estruturamtais enunciados nos textos falados produzidos pela criança, uma vez queacreditamos ser possível, em investigações posteriores, chegarmos à<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s metaenunciativas.Trata-se <strong>de</strong> um trabalho em estágio inicial, o qual ainda não é capaz <strong>de</strong>apontar consi<strong>de</strong>rações conclusivas acerca da questão, mas revela algumasanálises preliminares do objeto em foco. Representa um primeiro passo nabusca <strong>de</strong> investigação do fenômeno metaenunciativo no discurso produzidopor um enunciador criança. Lem<strong>br</strong>amos que nosso trabalho se volta paratal fenômeno enten<strong>de</strong>ndo-o como uma marca da enunciação revelada notexto produzido pela criança e, portanto, capaz <strong>de</strong> apontar consi<strong>de</strong>raçõesimportantes acerca das condições <strong>de</strong> produção do discurso e do sujeito quenele se manifesta. Assim, buscamos atingir os seguintes objetivos: investigarformas metaenunciativas pelas quais, no discurso, os enunciadores duplicama enunciação como representação reflexiva <strong>de</strong>sta, <strong>de</strong>screver essas formasmetaenunciativas produzidas pela criança, explicitando-lhes característicasformais e funcionais <strong>de</strong>terminadas pela heterogeneida<strong>de</strong> revelada na buscada construção do sentido.UM ESTUDO ENUNCIATIVO SOBRE AS ATIVIDADES DECORREÇÃO DA FALA NA CONVERSAÇÃO ENTRE AFÁSICOS ENÃO-AFÁSICOSCarolina Hebeling (IEL/UNICAMP)No âmbito dos estudos da linguagem que conferem ao aspecto sóciointeracionalpapel explicativo <strong>de</strong>cisivo em suas análises, o fenômeno dacorreção tem sido oferecido às abordagens teóricas <strong>de</strong>safios investigativosreferentes a situações “problemáticas” que os sujeitos enfrentam em meio àspráticas <strong>de</strong> linguagem cotidianas(cf.Fávero, 2003).No campo da Afasiologia, o caráter consciente/inconsciente dos atoslingüísticos realizados pelos sujeitos afásicos tem guiado osquestionamentos relativos à metalinguagem e à reflexivida<strong>de</strong> observadasneste contexto empírico. Via <strong>de</strong> regra, os fenômenos ditos "corretivos" sãovistos a partir <strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> afasia que afirma o comprometimentoda capacida<strong>de</strong> reflexiva dos sujeitos <strong>de</strong> maneira a torná-los incompetentes(meta)lingüisticamente (cf.Morato, 2003,2005;Morato et alli, 2008).Retomando uma discussão fecunda <strong>de</strong>ntro da Semântica Enunciativa(Culioli, 1983; Authier-Revuz, 1995, etc.) e <strong>de</strong>ntro da PsicolingüísticaInteracionista (Gombert, 1993, De Lemos, 1998, etc.) so<strong>br</strong>e a distinção entre168


metalinguagem e epilinguagem, o presente estudo tem se <strong>de</strong>dicado, noambiente empírico afasiológico, à i<strong>de</strong>ntificação e à caracterização dotrabalho reflexivo e intersubjetivo que os sujeitos empreen<strong>de</strong>m nosprocessos interlocutivos em situações conflituosas, <strong>de</strong> instabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sentido, em que observamos ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> correção da fala. Privilegiandoinstâncias <strong>de</strong> uso real da linguagem para nos perguntarmos so<strong>br</strong>e a estruturae o funcionamento das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> correção, partimos <strong>de</strong> um corpusconstituído por dados transcritos <strong>de</strong> encontros semanais doCCA(IEL/UNICAMP), espaço interativo <strong>de</strong> que participam sujeitos afásicose pesquisadores em uma espécie <strong>de</strong> “réplica da socieda<strong>de</strong>” na qual atuam emum “jogo discursivo” que os o<strong>br</strong>iga a “constantes tarefas <strong>de</strong> reformulação,<strong>de</strong> ajustes enunciativos, <strong>de</strong> indicações <strong>de</strong> intuições manifestas ou pretendidas,<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação do estilo e do ‘código’ comum” (cf.Morato, 2005). Tomando areferenciação como "ato <strong>de</strong> enunciação" no qual o sujeito transforma osreferentes lingüísticos em “objetos <strong>de</strong> discurso”, averiguamos que processoscomo promptings, especularida<strong>de</strong>, complementarida<strong>de</strong> e reformulações sãolevados a cabo por afásicos e não-afásicos, <strong>de</strong> acordo com escolhas lexicaisdos sujeitos, reconhecimento <strong>de</strong> implícitos, das posições enunciativas que ossujeitos ocupam, etc. Neste sentido, discutimos o quanto a interlocuçãorevela o caráter não apenas colaborativo, mas mais profundamente, dialógicona emergência <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s epilingüísticas em situações <strong>de</strong> reformulação,a<strong>de</strong>quação, negociações <strong>de</strong> sentido. Investigar o caráter mais ou menosconsciente da metalinguagem (tomada num sentido amplo), permite observarna afasia não uma perda estrita da capacida<strong>de</strong> reflexiva ou do controle dareferência, mas a constante ação dos falantes (afásicos e não afásicos) com eso<strong>br</strong>e a linguagem.REFERENCIAÇÃO E AFASIA: REFLEXÕES ACERCA DACATEGORIZAÇÃOCarolina Raizer (IEL/UNICAMP)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é trazer à cena uma reflexão acerca dareferenciação e <strong>de</strong> como a língua a <strong>org</strong>aniza. Interessa-nos observar <strong>de</strong> quemaneira se estabelecem na enunciação as re<strong>de</strong>s lexicais, que formam, porsua vez, re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relações nas quais os elementos se integram com a culturae com as ações praticadas pelos falantes em interação. Nesse sentido, acategorização é um tipo <strong>de</strong> processo referencial significativo, porque através<strong>de</strong>la é possível verificar como ocorre a <strong>de</strong>terminação referencial, dada a re<strong>de</strong>lexical em que as palavras se encontram e seu contexto lingüístico esituacional. A Afasiologia se mostra como uma área em que se po<strong>de</strong>visualizar na língua o sentido como sendo construído conjuntamente pelossujeitos em interação porque, não obstante suas dificulda<strong>de</strong>s neurológicas ealterações na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> realizar operações metalingüísticas, os afásicospredicam, e isso porque as alterações metalingüísticas, próprias das afasias,parecem não afetar <strong>de</strong> todo a competência lingüística lato sensu dos sujeitos,que inclui outros processos semiológicos que extrapolam o estritamente169


lingüístico, como os aspectos pragmáticos. O interesse <strong>de</strong>ssa abordagemsócio-cognitiva, que parte dos processos gerais e abstratos para a análise <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s situadas local e historicamente, consiste em interpretar as práticasdiscursivas dos sujeitos, mas não necessariamente tratando a variabilida<strong>de</strong>como erro, negligência ou imprecisão, pois isso só faria sentido numuniverso etiquetado, cujos objetos são estáveis e há uma cartografia perfeitaentre as palavras e as coisas. Nossa perspectiva parte do pressuposto <strong>de</strong> queas categorias não po<strong>de</strong>m ser evi<strong>de</strong>ntes nem dadas porque as suasocorrências, ligadas tanto a processos <strong>de</strong> enunciação como a ativida<strong>de</strong>scognitivas não verbalizadas, acarretam instabilida<strong>de</strong>s, resolvidas enegociadas contextualmente. A hiperonímia, uma ativida<strong>de</strong> específica <strong>de</strong>categorização, foi tratada por Monteiro (2001) a partir da idéia <strong>de</strong> que,estando os hiperônimos fundados em uma hierarquização semântica, haveriaa mobilização <strong>de</strong> uma <strong>org</strong>anização mental capaz <strong>de</strong> dar conta do enquadrecognitivo, o qual, não sendo natural, estaria disposto e se manifestaria <strong>de</strong>forma diferente para sujeitos cujo grau <strong>de</strong> instrução variava <strong>de</strong> “iletrados aformados no terceiro grau” (estes, por exemplo, quando instados a agruparas palavras conforme os comandos, o faziam a partir <strong>de</strong> uma basetaxonômica mais específica do que genérica, ao contrário dos informantesmenos escolarizados e letrados).Respostas ao comando “Eu vou te dizer três palavras e você vai me dizer oque essas três coisas são” se <strong>de</strong>ram da seguinte forma:-FHC, Lula, Enéas a políticos-genro, nora, cunhada a parentes-FHC, Lula, Enéas a três sem-vergonha-genro, nora, cunhada à ruma p. <strong>br</strong>iga <strong>de</strong> foiceCom relação à análise <strong>de</strong>sse corpus so<strong>br</strong>e hiperônimos, Marcuschi (2002), apartir da perspectiva sócio-cognitiva aqui esboçada, propôs um viés teóricodistinto para a apreciação dos dados: ao invés da suposição <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong>representações mentais, parece mais interessante a adoção <strong>de</strong> uma hipóteseque trata as escolhas dos sujeitos como sendo as mais representativas <strong>de</strong> suaspráticas cotidianas. Essa interpretação nos motivou a adotar tal perspectiva<strong>de</strong> sentido construído (por oposição à <strong>de</strong> sentido imanente) através daelaboração <strong>de</strong> um protocolo a ser aplicado especialmente para este fim, entresujeitos afásicos.A análise das estratégias <strong>de</strong> categorização elaboradas por falantes eobservadas em tarefas metalingüísticas como a <strong>de</strong> hiperonímia, que acabampor não <strong>de</strong>scartar os elementos pragmáticos, discursivos e interativos quecaracterizam a prática social da linguagem, é pertinente para a Afasiologiajustamente pelo fato <strong>de</strong> que, se, como se viu, a categorização envolveprocessos meta, e se os afásicos, na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong>fato predicam, um estudo que envolve objetos semânticos e pragmáticosparece ser um lugar motivador e fértil <strong>de</strong> investigação.170


A ENUNCIAÇÃO DA SUBJETIVIDADE: DÊIXIS E ENUNCIAÇÃOGa<strong>br</strong>iela Barboza (UFSM)Vera Lúcia Pires (UFSM)Este trabalho preten<strong>de</strong> abordar a importância da categoria dêixis nos estudosenunciativos, partindo das elaborações feitas por É. Benveniste bem comodos estudos <strong>de</strong> R. Jakobson. A partir <strong>de</strong>sse aporte teórico, cogita-seinvestigar sua aplicação nas linguagens do cotidiano. À noção <strong>de</strong> dêixisremetem certos signos lingüísticos que se <strong>de</strong>finem como marcas quemostram o sujeito no ato <strong>de</strong> produção do enunciado. Ducrot e Todorov(1982: 379) referem a equivalência da dêixis à enunciação, por parte damaioria dos lingüistas, ao atribuírem a <strong>de</strong>nominação aos elementos da língua,cuja significação somente po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida conforme a situação <strong>de</strong> discursoem que são empregados. Assim, os autores, ao conceituarem enunciação,priorizam os elementos que pertencem ao código da língua, mas cujo sentido<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> fatores que variam <strong>de</strong> uma enunciação para outra. Os exemplossão: eu, tu, aqui, agora, etc. Eles reconhecem em Jespersen, Jakobson e,principalmente, Benveniste os lingüistas que maiores contribuiçõestrouxeram ao tema naquele momento. Benveniste, em seus textos so<strong>br</strong>e aquestão, segue a terminologia <strong>de</strong> Jakobson, empregando o termo em<strong>br</strong>ayeurs,e <strong>de</strong>nomina os dêiticos por indicadores da subjetivida<strong>de</strong> ou índices daenunciação ou do discurso. Dessa forma, em situação comunicacional oudialógica, a dêixis é aquele signo que representa ou aponta ou, ainda, indicaaquele que fala. Enten<strong>de</strong>mos que a noção <strong>de</strong> dêixis é fundamental para osestudos enunciativos. A categoria contém elementos da língua, na suamodalida<strong>de</strong> oral ou escrita, que são, muito mais que outros signos, própriosdo ato <strong>de</strong> dizer, no entendimento <strong>de</strong> que a sua existência e os seus sentidossão promovidos a partir <strong>de</strong> uma referência interna, ou seja, a referência aocontexto discursivo em que se apresentam. Além disso, os dêiticos sóexistem porque um indivíduo no mundo assume-os e o faz pela necessida<strong>de</strong>que tem <strong>de</strong> comunicar-se com outros mem<strong>br</strong>os <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong> social.Ao tomar essas formas da língua, o sujeito dá-lhes vida, conquistando,simultaneamente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com o outro e a sua realizaçãoenquanto sujeito <strong>de</strong>sse mundo, uma vez que ele próprio testemunha suaexistência ao proferir EU para um TU. Consi<strong>de</strong>rando a linguagem como umaprática social que tem na língua (especialmente no aparelho pronominal) asua realida<strong>de</strong> material, Benveniste reformula as dicotomias saussurianas epromove uma superação ao a<strong>br</strong>ir a análise da língua para a enunciação,resgatando, com esse fato, o sujeito anteriormente excluído da lingüística.A INTERROGAÇÃO COMO MARCA POLIFÔNICA NAPUBLICIDADEVânia Scala<strong>br</strong>in (PUCRS)Noemi Luciane dos Santos (PUCRS)O presente trabalho discorre so<strong>br</strong>e a qualida<strong>de</strong> polifônica da interrogação em171


anúncios publicitários. Preten<strong>de</strong>-se mostrar que a interrogação traz consigodiferentes vozes, as quais contribuem na construção do sentido dapropaganda, sentido este que po<strong>de</strong> ser o <strong>de</strong> uma negação veemente e/ou o <strong>de</strong>uma afirmação so<strong>br</strong>e certas questões referentes ao que é veiculado peloanúncio. Tais sentidos são, além do que trazem em suas particularida<strong>de</strong>s,mostras evi<strong>de</strong>ntes da capacida<strong>de</strong> argumentativa do ato <strong>de</strong> interrogar. Aanálise do corpus está pautada nos pressupostos estabelecidos por OswaldDucrot e Jean-Clau<strong>de</strong> Anscom<strong>br</strong>e, notadamente em Interrogation etArgumentation (1981), e em variada bibliografia relacionada ao temapropostoSAUSSURE E BENVENISTE: ULTRAPASSAGEM OUROMPIMENTO?Elisa Marchioro Stumpf (PPG Letras)Neste trabalho preten<strong>de</strong>mos fazer uma reflexão epistemológica so<strong>br</strong>e arelação entre dois dos maiores expoentes da lingüística mo<strong>de</strong>rna, a saber,Ferdinand <strong>de</strong> Saussure, consi<strong>de</strong>rado seu criador, e Émile Benveniste, um dosseus discípulos. Essa reflexão servirá <strong>de</strong> base para tentarmos respon<strong>de</strong>r àseguinte pergunta: Benveniste rompe com o paradigma iniciado porSaussure ou apenas ultrapassa-o em alguns pontos da teoria, conservando-oem outros? Partimos da idéia que Benveniste retorna a Saussure em umatentativa <strong>de</strong> elaborar questões surgidas a partir <strong>de</strong> sua leitura da o<strong>br</strong>a <strong>de</strong>Saussure (referimo-nos aqui ao Curso <strong>de</strong> Lingüística Geral). Para tanto,iniciaremos por uma reflexão so<strong>br</strong>e a constituição da lingüística comociência. Como afirma Flores (1999), “a língua, <strong>de</strong>finida como um sistema <strong>de</strong>signos, é o ponto <strong>de</strong> partida para Saussure – e so<strong>br</strong>e o qual a lingüística senomeia como Um”. Em um segundo momento, faremos uma exposição <strong>de</strong>alguns aspectos da o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> Benveniste que julgamos pertinentes para areflexão, em especial a questão da significação, pois é na oposiçãosemiótico/semântico que po<strong>de</strong>mos encontrar um momento <strong>de</strong> ultrapassagemdo pensamento <strong>de</strong> Benveniste em relação a Saussure. Nas palavras <strong>de</strong>Benveniste (2006, p. 67), “é necessário ultrapassara noção saussuriana dosigno como princípio único”. Como síntese, discutiremos possíveisinterpretações da relação entre os autores em questão, com base emNormand (1996) e Teixeira (2004) e, por fim, mostraremos quais são aspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> retorno à o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> Benveniste so<strong>br</strong>e as quais se <strong>de</strong>tém aspesquisas atuais.A MASCULINIDADE NA CONTEMPORANEIDADE: UM ESTUDOENUNCIATIVO EM CANÇÕES DE CHICO BUARQUESa<strong>br</strong>ina Vier (UNISINOS)Este trabalho visa a investigar as representações do masculino queemergem da enunciação em canções <strong>de</strong> Chico Buarque <strong>de</strong> seu último disco(Carioca, 2006). Para tanto, procura <strong>de</strong>rivar da teoria da enunciação <strong>de</strong>172


Émile Benveniste uma proposta <strong>de</strong> análise, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> contemplar ointralingüístico, que possa ser aplicada no âmbito <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>a (cf. indicadono texto <strong>de</strong> 1969, “Semiologia da Língua”). Na análise, a psicanálise éconvocada a interferir <strong>de</strong> dois modos: (1) na <strong>de</strong>scrição da materialida<strong>de</strong>lingüística, a partir da consi<strong>de</strong>ração da hipótese do inconsciente, interferindono modo como o analista olha para os fatos <strong>de</strong> linguagem, isto é, na escutada palavra em busca <strong>de</strong> um sujeito que se constitui como efeito daenunciação; (2) na busca <strong>de</strong> colocar a análise “micro” numa dimensão“macro”, ou seja, em correspondência com o que se passa no laço social, apartir do apoio em psicanalistas que trabalham o sujeito do inconscientecomo sujeito social – Jurandir F. Costa, Maria Rita Kehl, Joel Birman, entreoutros. Isso porque, segundo Kehl (2005), o social e a subjetivida<strong>de</strong>apresentam estreita relação na medida em que a subjetivida<strong>de</strong> não é umadimensão do indivíduo: ela é atravessada pelo que acontece no laço social.A LÍNGUA SOB UM OLHAR ENUNCIATIVOClaudia Stumpf Toldo (UPF)O presente trabalho tem como objetivo principal o estudo dos efeitos <strong>de</strong>sentido <strong>de</strong> algumas entida<strong>de</strong>s lexicais previstas no sistema lingüístico, e quepo<strong>de</strong>m ser explicados a partir <strong>de</strong> seu funcionamento em textos/discursos.Ressaltamos a pertinência do tema a ser abordado, na medida em que esteestudo prioriza a análise do sentido na linguagem em uso, ou seja, nodiscurso. Sabemos que a ativida<strong>de</strong> voltada para a <strong>de</strong>scrição dofuncionamento da língua, <strong>de</strong> forma isolada, não contribui para o<strong>de</strong>senvolvimento das habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso da língua. Isso será feito com baseem diferentes teorias enunciativas, principalmente, as abordagens propostaspor Benveniste e Ducrot. Cabe lem<strong>br</strong>armos que é através da língua queconstruímos a cultura, construímos mundos, criamos e (re) criamosrealida<strong>de</strong>s e tornamos nossas posições conhecidas. Assim, a língua está àdisposição do homem, a serviço do homem. E é a linguagem em uso, ou seja,o texto/discurso, que possibilita conhecermos o homem que vive e atua emsocieda<strong>de</strong>. Sendo assim, não basta saber o que significa ou como seclassifica cada uma das unida<strong>de</strong>s da língua que compõem um enunciado,mas é preciso perceber que relações essas unida<strong>de</strong>s do sistema lingüísticomantém com outras unida<strong>de</strong>s em dada situação <strong>de</strong> uso.A REFERÊNCIA AOS ESTUDOS DA ENUNCIAÇÃO NO BRASILKarina Giacomelli (UNIPAMPA)A enunciação po<strong>de</strong> ser pensada como um dos primeiros domínios do estudoda linguagem que escapou ao formalismo, à imanência do sistemasaussuriano, fazendo parte, por isso, <strong>de</strong> diversas correntes que estudam o usoda linguagem: a pragmática lingüística, a semiótica, a análise <strong>de</strong> discurso,por exemplo. Po<strong>de</strong>-se, ainda, tomá-la como um domínio mais específico, noqual a enunciação é, ela mesma, objeto <strong>de</strong> estudo, como nas teorias <strong>de</strong>173


Benveniste, Bakhtin, Ducrot, entre outros –; vê-se, então, um conjunto quese <strong>de</strong>signou como teorias da enunciação. Há também o<strong>br</strong>as em que apareceo sintagma lingüística da enunciação, como no caso dos livros <strong>de</strong> M. Lahud(A propósito da noção <strong>de</strong> dêixis) e F. Dosse (História do Estruturalismo,volume II), para citar duas apenas. Assim, consi<strong>de</strong>rando essas três<strong>de</strong>nominações, cabe indagar se elas todas fazem referência ao mesmodomínio ou são usadas diferentemente, <strong>de</strong> acordo com <strong>de</strong>terminado autor outeoria. É nesse sentido que este trabalho procura fazer um apanhado <strong>de</strong>algumas o<strong>br</strong>as da área para verificar como, quando e on<strong>de</strong> elas são citadas,tomando como recorte as citações feitas em diferentes décadas, a partir <strong>de</strong>1970, ano em que a publicação do texto O aparelho formal da enunciaçãoencontra “eco” na Lingüística mo<strong>de</strong>rna.COMO OS “MODIFICADORES” MODIFICAM O SENTIDO DODISCURSOCristiane Dall Cortivo (PUCRS/CNPq)Marcela Cristiane Nesello (PUCRS/CAPES)Este trabalho tem como objetivo estudar o sentido construído no discursopelo uso dos “modificadores”, <strong>de</strong>nominação dada por Oswald Ducrot eMarion Carel, em sua Teoria dos Blocos Semânticos, a <strong>de</strong>terminadaspalavras que atuam so<strong>br</strong>e a força argumentativa <strong>de</strong> outras, com as quais serelacionam. A Teoria dos Blocos Semânticos inscreve-se no âmbito daSemântica Lingüística, trazendo a idéia <strong>de</strong> um estudo do sentido contido nalíngua em uso, sentido esse que é puramente argumentativo e quefundamenta a tese que constitui o centro da investigação: a <strong>de</strong> que aargumentação está na língua, ou seja, ser argumentativa faz parte da naturezada linguagem. Em sua investigação, Ducrot e Carel colocam a sua idéia <strong>de</strong>semântica como uma semântica sintagmática, aquela que calcula o sentidodo enunciado levando em consi<strong>de</strong>ração a relação entre as palavras que ocompõem, e não apenas isso, mas também o fato <strong>de</strong> ser produto <strong>de</strong> umaenunciação. Esse tipo <strong>de</strong> estudo semântico opõe-se a outros por consi<strong>de</strong>rar,primeiramente, as palavras que constituem o enunciado umas em relação àsoutras, não <strong>de</strong> forma matemática, como uma soma <strong>de</strong> seus significados, mascomo uma combinação <strong>de</strong> palavras escolhidas por um locutor que, <strong>de</strong>ssaforma, constrói um sentido particular tendo em vista a posição que <strong>de</strong>sejaexpressar diante <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado fato. Ainda para os autores, o sentido <strong>de</strong>uma entida<strong>de</strong> lingüística está constituído pela sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> evocardiscursos, ou, ainda, <strong>de</strong> modificar discursos com os quais se relaciona, sendoque os discursos consi<strong>de</strong>rados para estudo são os chamados enca<strong>de</strong>amentosargumentativos, constituídos por dois segmentos relacionados através <strong>de</strong> umconector. A fim <strong>de</strong> realizar um estudo mais <strong>de</strong>talhado das palavras da língua,Ducrot (2002) propõe a classificação <strong>de</strong>ssas palavras em palavras lexicais,que são aquelas que possuem uma argumentação interna – AI e umaargumentação externa – AE (AI e AE são enca<strong>de</strong>amentos evocados pelapalavra em análise), e palavras instrumentais, que são aquelas as quais não é174


possível associar ou evocar um conjunto <strong>de</strong> discursos. Os “modificadores”,objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho, se enquadram nessa última categoria epossuem a função <strong>de</strong> atuar so<strong>br</strong>e a força argumentativa da palavra ousegmento <strong>de</strong> discurso com o qual se relaciona. Essa categoria não constituium grupo homogêneo, visto que é no seu uso que a sua função é<strong>de</strong>terminada: em certo enunciado po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong>modificador, já em outro, po<strong>de</strong> não <strong>de</strong>sempenhar. A partir <strong>de</strong>ssa revisãoteórica so<strong>br</strong>e nosso objeto <strong>de</strong> estudo colocamos o nosso objetivo: observar ofuncionamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas palavras que em um discurso exercem afunção <strong>de</strong> modificador e, em outros po<strong>de</strong>m não exercer. Nossa hipótese é a<strong>de</strong> que a presença <strong>de</strong> tal palavra atua não apenas so<strong>br</strong>e o enunciado em quese encontra, mas so<strong>br</strong>e o discurso todo.O VALOR EXPLICATIVO DA POLIFONIA PARA A APREENSÃODO SENTIDO NO DISCURSORejane Flor Machado (PUCRS)Leci B<strong>org</strong>es Barbisan (PUCRS)Valéria Raymundo (PUCRS)A teoria da polifonia, criada por Oswald Ducrot, tem importânciafundamental para o estudo da enunciação. Enten<strong>de</strong>ndo a linguagem comoum diálogo cristalizado, Ducrot formulou o conceito <strong>de</strong> polifonia, visando àapreensão <strong>de</strong> sentidos produzidos pela relação entre discursos. O termo“polifonia” foi primeiramente utilizado por Bakhtin para <strong>de</strong>signar asdiferentes vozes existentes no texto literário. Na tentativa <strong>de</strong> trazer para oestudo da linguagem o conceito <strong>de</strong> Bakhtin, Ducrot busca inspiração emuma releitura <strong>de</strong> alguns trechos da primeira parte <strong>de</strong> Linguistique Généraleet Linguistique Française <strong>de</strong> Bally. Em 1980, Ducrot apresenta os princípiosfundamentais <strong>de</strong> sua teoria, que põem em ação Locutor e Enunciadores,responsáveis, respectivamente, pelo enunciado e por pontos <strong>de</strong> vistaimplícitos veiculados pelo discurso. A teoria polifônica da enunciação temsido repensada ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento da Semântica Argumentativa.Em sua forma atual, a Polifonia inscreve-se no quadro da Teoria dos BlocosSemânticos. Partindo do princípio <strong>de</strong> que o sentido não está nas palavras, <strong>de</strong>que significar é argumentar por meio <strong>de</strong> contextos discursivos e <strong>de</strong>enunciadores argumentadores, busca-se esta visão, fundamentada emaspectos lingüísticos, que mostra como o sentido se constrói no discurso.Procura-se compreen<strong>de</strong>r <strong>de</strong> que modo o Locutor e o Enunciador relacionamsepara significar.O VALOR POLIFÔNICO DE “AINDA” NO DISCURSOAlessandra da Silveira Bez (PUCRS)Patrícia Valente (PUCRS)Paula Dreyer Ortmann (PUCRS-CNPq)175


O presente trabalho estuda a função da linguagem na construção do sentidono discurso. Para tanto, será utilizado um conceito fundamental da Teoria daArgumentação na Língua, <strong>de</strong>senvolvida por Oswald Ducrot e colaboradores:a noção <strong>de</strong> polifonia. Optou-se por essa abordagem, porque a Teoria daArgumentação na Língua, <strong>de</strong> base estruturalista e enunciativa, analisa anatureza da linguagem, ao consi<strong>de</strong>rar que a sua função é, antes <strong>de</strong> tudo, a <strong>de</strong>argumentar. Por se tratar <strong>de</strong> uma concepção polifônica, essa teoria preconizaque a construção do sentido é o resultado do confronto das diferentes vozescontidas no enunciado. Dessa forma, Ducrot afirma que, ao se interpretar umdiscurso evi<strong>de</strong>ncia-se uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes distintas das do locutor. Ofenômeno da negação é um dos exemplos mais recorrentes utilizado porDucrot, pois se po<strong>de</strong> perceber claramente a polifonia contida no enunciado,uma vez que permite expressar, ao mesmo tempo, duas vozes contrárias, ouseja, dois enunciadores: um positivo e outro negativo. No exemplo utilizadopor Ducrot: Pedro não veio, po<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciar o enunciador positivo:Pedro veio, e o enunciador negativo, o que explicita uma recusa do ponto <strong>de</strong>vista Pedro não veio.Assim, esta pesquisa preten<strong>de</strong> discutir a importância e a aplicabilida<strong>de</strong> danoção <strong>de</strong> polifonia, esten<strong>de</strong>ndo o estudo <strong>de</strong>ssa abordagem às diferentesocorrências do advérbio ainda no discurso. Para tanto, analisar-se-ão textos<strong>de</strong> diferentes gêneros.ESTUDO DA POLIFONIA: UMA BUSCA PELA IRONIAAline Wieczikovski Rocha (UPF)A Teoria da Argumentação na Língua (ADL), criada por Oswald Ducrot, eJ.C. Anscom<strong>br</strong>e (1983), propõe uma semântica argumentativa, em que abase, está no pressuposto <strong>de</strong> que a língua é, em sua essência, argumentativae o sentido encontra-se no enca<strong>de</strong>amento discursivo. Para sua teoria, Ducrot<strong>de</strong>senvolve noções semânticas, que julga importantes no entendimento <strong>de</strong>seu estudo, criando, inclusive, uma Teoria Polifônica da Enunciação, na qualse sustenta a construção <strong>de</strong> sua concepção <strong>de</strong> sentido: o sentido <strong>de</strong> umenunciado apresenta pontos <strong>de</strong> vista que se originam dos enunciadores. Nateoria polifônica <strong>de</strong> Ducrot, o locutor tem atitu<strong>de</strong>s frente aos enunciadoresque colocou em cena, po<strong>de</strong>ndo assimilar, concordar e opor-se aos pontos <strong>de</strong>vista relacionados a eles. Essas atitu<strong>de</strong>s do locutor revelam a existência <strong>de</strong>duas maneiras <strong>de</strong> se comunicar, uma séria e outra não-séria. Este trabalhopropõe-se a observar, através da análise do texto <strong>de</strong> opinião, Os <strong>br</strong>asileiros− uma nova interpretação, extraído da revista Veja, quais são as atitu<strong>de</strong>s dolocutor diante dos enunciadores e como, nele, se estabelece a comunicaçãonão-séria, ou humorística. Para isso, se utilizará as três condiçõesestabelecidas por Ducrot, ao <strong>de</strong>finir um enunciado como humorístico ouirônico: no enunciado, o locutor apresenta, pelo menos, um ponto <strong>de</strong> vistaabsurdo; este não é atribuído ao locutor; nenhum ponto <strong>de</strong> vista é suscetível<strong>de</strong> corrigir o primeiro. Se o ponto <strong>de</strong> vista absurdo estiver <strong>de</strong>stinado aointerlocutor, o enunciado se caracteriza, também, como irônico. A análise do176


texto tem como base o discurso do presi<strong>de</strong>nte do INSS, V.M. Simão, que<strong>de</strong>clarou que a existência <strong>de</strong> filas em frente aos postos da Previdência,ocorre por uma “questão cultural”. No texto, estão presentes o L 1 (Simão),cujo enunciador tem como ponto <strong>de</strong> vista, a existência da questão cultural,portanto existência <strong>de</strong> filas, e o L 2 (autor) responsável pelo texto e tambémpelo enunciador que discorda <strong>de</strong> L 1 . O L 2 ao não concordar com os pontos<strong>de</strong> vista absurdos, apresentados na íntegra do texto, i<strong>de</strong>ntifica-os a L 1 ecritica não só o responsável pelo enunciado, mas o partido político do PTcomo um todo. Ao finalizar esse estudo, se observou o cumprimento dascondições exigidas por Ducrot para os enunciados humorísticos, inclusive acondição da ironia, respeitando, so<strong>br</strong>etudo, a crença <strong>de</strong> que o humor étambém um fenômeno lingüístico que as teorias lingüísticas <strong>de</strong>vem permitircompreen<strong>de</strong>r.DESFAZENDO MAL-ENTENDIDOS PELA TEORIA DOS BLOCOSSEMÂNTICOSSilvane Costenaro (UPF)Telisa Furlanetto Graeff (UPF)Este trabalho procura explicitar a origem <strong>de</strong> mal-entendidos que ocorrem emdiálogos, com base em princípios e conceitos <strong>de</strong> semântica argumentativa,especialmente os <strong>de</strong>senvolvidos por Ducrot e Carel na Teoria dos BlocosSemânticos (daqui em diante TBS), iniciada por Carel em 1992. Essa teoriamantém e consolida a tese <strong>de</strong> que a argumentação está marcada na própriaestrutura lingüística (Ducrot e Anscom<strong>br</strong>e, 1983). Segundo a TBS,argumentar é convocar blocos semânticos. Nessa direção, propõe que seatribua como “sentido” a uma entida<strong>de</strong> lingüística um conjunto <strong>de</strong>enca<strong>de</strong>amentos argumentativos em DC( = portanto) e em PT (= mesmoassim) e postula dois modos pelos quais um aspecto argumentativo po<strong>de</strong>estar associado às palavras cujo sentido ele constitui: o externo, referente aosenca<strong>de</strong>amentos argumentativos que po<strong>de</strong>m prece<strong>de</strong>r ou seguir a entida<strong>de</strong>, e ointerno, que correspon<strong>de</strong> aos enca<strong>de</strong>amentos que a parafraseiam. Assumindoessa noção <strong>de</strong> argumentação discursiva, são analisados dois diálogos em quese po<strong>de</strong> perceber o surgimento do mal-entendido, em virtu<strong>de</strong> das diferentespossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> argumentação externa <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> lingüística e dofato <strong>de</strong> o sentido argumentativo se constituir unicamente no bloco semântico,sendo expresso por rum enca<strong>de</strong>amento argumentativo <strong>de</strong>sse bloco. Percebeseque o mal-entendido foi ocasionado pelo fato <strong>de</strong> os interlocutoresassociarem a uma mesma entida<strong>de</strong> lingüística argumentações externasdiferentes, as quais produziram sentidos completamente diversos. Como osentido se constitui no bloco, resultou que o objeto do discurso não era omesmo, daí o mal-entendido. A análise realizada é mais uma evidência <strong>de</strong>que os blocos formados revelam não o sentido que <strong>de</strong>riva dos conceitos daspalavras tomadas isoladamente, mas o sentido produzido pelainter<strong>de</strong>pendência existente entre elas, isto é, que o bloco semântico, expressono enca<strong>de</strong>amento argumentativo, constrói.177


UM OLHAR SOBRE O USO DA LINGUAGEM A PARTIR DESAUSSURECláudio Primo Delanoy (PUCRS)Cristina Rörig (PUCRS)Joseline Tatiana Both (PUCRS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>senvolver os conceitos saussurianos <strong>de</strong> língua,fala e relação a fim <strong>de</strong> mostrar como eles fundamentam um olhar so<strong>br</strong>e o usoda linguagem, especificamente na Teoria da Argumentação na Língua(TAL), <strong>de</strong> Oswald Ducrot. Saussure estabeleceu a oposição língua/fala epropôs a língua como objeto <strong>de</strong> estudo da Lingüística. A língua, paraSaussure, é um sistema <strong>de</strong> signos, entendidos como elementos que só se<strong>de</strong>finem por sua relação com outros signos, o que resulta na noção <strong>de</strong> valorsemântico. Saussure não associa língua e fala e consi<strong>de</strong>ra que a fala estárelacionada ao extralingüístico. Ducrot vai além da proposta saussuriana pormeio <strong>de</strong> uma relação entre língua/fala. Assim, na TAL o sentido se constróina articulação <strong>de</strong>sses elementos e se verifica nas relações estabelecidas entreo uso das palavras no enunciado. Ducrot propõe dois tipos <strong>de</strong> hipóteses parao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sua pesquisa: as hipóteses externas são relativas à faseempírica <strong>de</strong> observação do objeto, ou seja, o fundamentam. Uma vezestabelecidas, não po<strong>de</strong>m ser alteradas, sob pena <strong>de</strong> invalidar o trabalho. Ashipóteses internas referem-se à explicação do fenômeno e po<strong>de</strong>m, portanto,ser modificadas. Ducrot toma como hipóteses externas o estruturalismo <strong>de</strong>Saussure e a enunciação. Para o lingüista, a enunciação é o surgimento <strong>de</strong>um enunciado. Prevê um locutor produzindo um enunciado a um interlocutor,sendo ambos seres discursivos. O locutor é o ser responsável pelo enunciadoe no qual se marca ao produzir eu, aqui, agora. O interlocutor é o<strong>de</strong>stinatário do enunciado. Para o lingüista, o enunciado é a <strong>de</strong>scrição da suaenunciação. Essa <strong>de</strong>scrição envolve também a presença <strong>de</strong> enunciadores, quenão têm palavras, mas suas “vozes” estão implícitas no enunciado. Osenunciadores são argumentativos, pois são responsáveis pelos pontos <strong>de</strong>vista que indicam. O locutor, ao tomar atitu<strong>de</strong>s frente aos enunciadores,também argumenta. Consi<strong>de</strong>rando o sentido que <strong>de</strong>corre da relaçãolíngua/fala, que a argumentação está contida na língua, e que argumentar éexpressar um ponto <strong>de</strong> vista num discurso, verifica-se que a TAL estuda asrelações entre as palavras, frases e entre discursos. Propõe-se, assim,primeiramente, uma discussão so<strong>br</strong>e os conceitos <strong>de</strong> Saussure para o estudoda linguagem, seguido da abordagem <strong>de</strong> Ducrot. Após, apresenta-se aproposta <strong>de</strong> um olhar so<strong>br</strong>e o uso da linguagem a partir <strong>de</strong> Saussure, noenfoque da TAL.O MECANISMO ENUNCIATIVO DE CONJUNÇÃO NO ATO DEAQUISIÇÃO DA LINGUAGEMCarmem Luci da Costa Silva (UFRGS)178


Este trabalho apresenta um estudo so<strong>br</strong>e aquisição da linguagem do ponto <strong>de</strong>vista da Teoria da Enunciação oriunda <strong>de</strong> Émile Benveniste. Com base notrabalho <strong>de</strong> Silva (2007), a aquisição da linguagem é concebida como um ato<strong>de</strong> enunciação constituído através do dispositivo enunciativo (eu-tu/ele)-ELE.Esse dispositivo é consi<strong>de</strong>rado como comportando os sujeitos (eu-tu), alíngua (ele) e a cultura (ELE). Deste dispositivo, é <strong>de</strong>stacado, para fins <strong>de</strong>análise da linguagem da criança, nesta proposta, a relação diádica <strong>de</strong>conjunção eu-tu, na qual a criança constitui uma realida<strong>de</strong> mútua com ooutro, condição <strong>de</strong> ela preencher um lugar na estrutura da enunciação para semarcar como pessoa no discurso. Os dados analisados foram constituídoslongitudinalmente a partir <strong>de</strong> filmagens da interação <strong>de</strong> uma criança comseus familiares. O período <strong>de</strong> coleta a<strong>br</strong>angeu a faixa etária dos onze mesesaos três anos e quatro meses. A análise dos recortes enunciativos da criançaevi<strong>de</strong>ncia a transversalida<strong>de</strong> da relação <strong>de</strong> conjunção eu-tu no ato aquisiçãoda linguagem pela criança, pois, a cada nova estrutura lingüísticoenunciativaque emerge na enunciação, esse dispositivo tem papelfundamental para a inscrição da criança na linguagem. A análiseenunciativa da fala da criança mostra a instância <strong>de</strong> discurso constituindo oato e concomitantemente fundamentando o sujeito em seu movimentosingular <strong>de</strong> apreensão do sistema da língua (ele). Da constituição <strong>de</strong> umlugar para se enunciar com formas enunciativas distantes das formas dalíngua, o locutor-criança, ajustando sentidos com o seu alocutário naenunciação passa a instanciar as formas da língua na sintagmatização dodiscurso. É a condição <strong>de</strong> intersubjetivida<strong>de</strong> enunciativa tornando possível alíngua-discurso e por conseguinte a constituição da criança como sujeitofalante <strong>de</strong> sua língua materna.AS RELAÇÕES SUJEITO PREDICADO OBJETO NA VOZ MÉDIAOscar Luiz Brisolara (FURG)Rossana Dutra Tasso (FURG)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é, ao mesmo tempo, analisar as relaçõesenunciativas entre sujeito, predicado e objeto na voz média grega, e<strong>de</strong>monstrar a presença <strong>de</strong>ssa voz na língua portuguesa. Não tem, a vozmédia, um correspon<strong>de</strong>nte formal em nossa língua, como, <strong>de</strong> modo geral,não o tem nas línguas mo<strong>de</strong>rnas. É expressa perifrasticamente, maiscomumente com um verbo na voz ativa e um pronome reflexivo. Línguascomo o grego e o sânscrito expressavam-na por meio <strong>de</strong> uma forma sintéticaespecífica para tal fim. A voz passiva tem surgimento tardio e originou-seda voz média grega. Em português, “curar a doença” e “curar-se da doença”seriam exemplos respectivamente da voz ativa e da voz média. Na vozmédia, o processo verbal tem efeito so<strong>br</strong>e o sujeito, porém vai além dareflexiva portuguesa. Benveniste afirma que a voz média envolve “...processos que afetam fisicamente o sujeito, sem que, no entanto, o sujeito setome a si mesmo por objeto...” e dá como exemplo: “... ele carregapresentes...”. Isso, numa situação em que os presentes são para ele mesmo.179


(BENVENISTE, 1976, pp. 187/89). Na língua latina, há uma categoriacompleta <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong>nominados media tantum, trata-se dos verbos<strong>de</strong>poentes. Na Índia antiga, Panini apresenta também a voz média em suagramática no sânscrito. O que caracteriza o médio é o fato <strong>de</strong> ele <strong>de</strong>finir osujeito como interior ao processo: “no/mouj tiqe/qai `estabelecer leisincluindo-se` (dar-se leis)” (BENVENISTE. 1976 p. 189). Além dasabordagens acima, verificaremos se as relações semânticas <strong>de</strong> voz sãolingüísticas ou extralingüísticas.MARCAS DA ENUNCIAÇÃO EM LETRAS DE MÚSICAS DECHICO BUARQUE DE HOLLANDAMárcia Elisa Vanzin Boabaid (SEIFAI - Itapiranga)O presente estudo, ancorado na Teoria da Enunciação <strong>de</strong> Émile Benveniste,objetiva fazer uma análise <strong>de</strong> alguns poemas-canção <strong>de</strong> Chico Buarque <strong>de</strong>Hollanda produzidos durante o regime militar, <strong>de</strong>stacando expressõeslingüísticas que revelam a subjetivida<strong>de</strong> na linguagem. Essa análise aten<strong>de</strong> adois propósitos: verificar fatores que interferem constitutivamente nas cenasenunciativas das letras e observar as implicações das marcas do tempo, dolugar e dos sujeitos (eu/tu) nas letras das músicas analisadas, consi<strong>de</strong>randosuas relações semânticas. Preten<strong>de</strong>mos, assim, revelar que toda enunciaçãocomporta, ao mesmo tempo, um apontar para o objeto do enunciado e outropara o ato <strong>de</strong> enunciação, uma vez que cada enunciação, ao remeter um eu eum tu diferentes, propõe um sentido singular, dado que é único e irrepetívelem cada ato enunciativo. Um dos motivos que norteia nosso estudo é aconstatação <strong>de</strong> que as letras das músicas <strong>de</strong> 1964 a 1985, lidas na atualida<strong>de</strong>são as mesmas, mas o sentido construído é diferente, as condições <strong>de</strong>produção dos textos são diferentes, uma vez que o momento enunciativo<strong>de</strong>ssas é distinto. Outro motivo foi o estudo so<strong>br</strong>e a enunciação e <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong>sse, a leitura da teoria <strong>de</strong> Émile Benveniste, ao <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>ir que a língua,nessa dimensão, se atualiza na enunciação e a mesma construção lingüística,em diferentes contextos tem sentidos diferentes e quando posta em usoassume outras interpretações. Refletindo so<strong>br</strong>e essas consi<strong>de</strong>rações,queríamos comprovar como, <strong>de</strong> fato, isso acontece. Chamamos a atençãopara o fato <strong>de</strong> que, à medida que as músicas são analisadas, o conteúdoexpresso nelas passa a ser entendido, isso porque as canções se inserem emuma <strong>de</strong>terminada situação comunicativa, possibilitada pelo processo <strong>de</strong>interação, em que o locutor e alocutário se enten<strong>de</strong>m. O primeiro utiliza-se<strong>de</strong> meios para realizar suas intenções comunicativas e o segundo manifestasua atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> tomar parte do discurso, <strong>de</strong>codificando o que foi posto, por serobjeto amplo <strong>de</strong> interação entre um eu e um tu em dado tempo e lugar.O ESTUDO DA NEGAÇÃO NA PERSPECTIVA DA TEORIA DOSBLOCOS SEMÂNTICOSAndréia Inês Hanel (UPF)180


O presente trabalho tem como objetivo investigar como o locutor enca<strong>de</strong>iaargumentativamente os enca<strong>de</strong>amentos <strong>de</strong> seu enunciado marcado no estudoda palavra “não”, em um texto da seção “Ponto <strong>de</strong> Vista” da revista Veja,publicado no mês <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007. Com base na Teoria dos BlocosSemânticos (TBS) proposta por Marion Carel e Oswald Ducrot, versão maisrecente da ADL (Teoria da Argumentação na Língua), busca-se mostrar quepara evi<strong>de</strong>nciar a reiteração da posição principal <strong>de</strong>fendida pelo locutorresponsável pelo discurso “acho, sim, que família <strong>de</strong>ve ser careta, e que issohá <strong>de</strong> ser um bem incomparável neste mundo tantas fascinante e tantas vezescruel”, o mesmo seleciona inicialmente aspectos transgressivos do QuadradoArgumentativo, rompendo com as idéias do senso comum. Pois, como<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> Ducrot a argumentação está na língua, na maneira como o locutorenca<strong>de</strong>ia seu enunciado e não na relação argumento-conclusão, numarelação já pronta ou estabelecida. A TBS proposta por Ducrot e Carel comoos próprios autores mostram mantém o caráter estruturalista das idéias <strong>de</strong>Saussure, na medida em que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> “que o sentido é uma entida<strong>de</strong>lingüística não é um conceito, não é uma idéia, nem um fato material, nemum objeto, sendo simplesmente um conjunto <strong>de</strong> relações entre essa entida<strong>de</strong>e as outras entida<strong>de</strong>s da língua...” Os autores ainda esclarecem quePara a TBS, o sentido <strong>de</strong> uma expressão qualquer, seja ela umapalavra ou um enunciado, está constituído pelos discursos que essaexpressão evoca. E a esses discursos chamaremos enca<strong>de</strong>amentosargumentativos. Um enca<strong>de</strong>amento argumentativo é umenca<strong>de</strong>amento entre dois e somente dois segmentos, porconseqüência sua forma é sempre do tipo X CONECTOR Y.Reconhecemos somente dois tipos <strong>de</strong> conectores: os conectoresnormativos, que são do tipo <strong>de</strong> PORTANTO (DONC) e osconectores transgressivos, que são do tipo MESMO ASSIM (PT)(CAREL e DUCROT, 2005, p.29)Como pu<strong>de</strong>mos observar na análise do artigo <strong>de</strong> opinião selecionado olocutor elege o aspecto transgressivo D para reforçar a tese inicial <strong>de</strong> quemesmo em famílias caretas há respeito e tolerância entre seus mem<strong>br</strong>os.Posição marcada no uso da palavra “NÃO” , anteriormente estudado eclassificado como negação polêmica, versão anterior da teoria que estudavaa polifonia no enunciado. O estudo mostra que o uso da palavra não, não temcompromisso com nenhum dos aspectos do Bloco Semântico e que quem<strong>de</strong>ci<strong>de</strong> qual aspecto selecionar é o locutor, estabelecendo um <strong>de</strong>bate <strong>de</strong>posicionamentos, graças a virtualida<strong>de</strong> dos aspectos que se apresentam nobloco, sempre que um dos aspectos é selecionado. Assim, a seleção <strong>de</strong>argumentos que trazem marcas, como a negação, que o locutor <strong>de</strong>ixa nodito, referem-se à posição que locutor assume no texto, que po<strong>de</strong> sertransgressiva ou normativa, marcando, também, o gênero <strong>de</strong> opinião, e nãoapenas pelo assunto do qual o locutor fala. Essa pesquisa po<strong>de</strong> tornar-se umrico instrumento pedagógico na medida que explicita como e por quaismotivos o locutor seleciona um aspecto do quadrado em <strong>de</strong>trimento dosoutros.181


PRINCÍPIOS PARA UMA ANÁLISE ENUNCIATIVA DE FATOS DELÍNGUA: UM CASO DE FALA DE CRIANÇATanara Zingano Kuhn (UFRGS)O presente trabalho busca problematizar a análise enunciativa <strong>de</strong> fatos <strong>de</strong>língua. A justificativa diz respeito ao fato <strong>de</strong> Benveniste não apresentar ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> análise dado a priori, e sim pressupostos teóricos que, ao mesmotempo em que sustentam a criação <strong>de</strong> um modo <strong>de</strong> tratamento dos dados,dão espaço para a convocação <strong>de</strong> exteriorida<strong>de</strong>s à lingüística (cf. Flores, noprelo), circunscritas, neste trabalho, à psicanálise Lacaniana. Nesse sentido,não preten<strong>de</strong>mos indicar uma metodologia <strong>de</strong> análise, e sim princípios quenorteiem o tratamento <strong>de</strong> fatos <strong>de</strong> língua. Para tanto, o trabalho <strong>de</strong>verácombinar dois movimentos: um, generalizante, <strong>de</strong>verá esclarecer em quecondições as palavras análise e enunciativa ganham sentido na expressãoanálise enunciativa; o outro, empírico, buscará analisar um fato <strong>de</strong> fala <strong>de</strong>criança. No que tange ao primeiro movimento, este buscará explicitar ostermos implicados pela palavra análise - quem faz a análise, “o analista” e odado <strong>de</strong> análise, “os fatos <strong>de</strong> língua” – além <strong>de</strong> expor os termos a que serefere enunciativa - à teoria <strong>de</strong> Benveniste e à sua releitura por Flores (noprelo), que proporciona o alargamento da teoria. Dessa forma, po<strong>de</strong>remosdiscutir a expressão análise enunciativa, estabelecendo, portanto, o nossoponto <strong>de</strong> vista a respeito <strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> análise. Quanto ao segundomovimento, traremos uma análise <strong>de</strong> um fato <strong>de</strong> língua em especial: um caso<strong>de</strong> fala <strong>de</strong> criança, on<strong>de</strong> procuraremos evi<strong>de</strong>nciar em que medida a reflexão<strong>de</strong>senvolvida na parte anterior serve <strong>de</strong> base para esta análise.DISCURSO DIDÁTICO: TESTAGEM DE UM MODELO PARADESCRIÇÃO DO SENTIDO PELA SEMÂNTICAARGUMENTATIVATânia Maris <strong>de</strong> Azevedo (UCS)Vania Morales Rowell (FSG)Pensar a leitura e a produção <strong>de</strong> textos/discursos implica necessariamentepensar a construção do sentido. Seguindo esse raciocínio, Azevedo elaborousua tese <strong>de</strong> doutorado (Semântica Argumentativa – uma possibilida<strong>de</strong> para a<strong>de</strong>scrição do sentido do discurso), em que propôs o redimensionamento <strong>de</strong>alguns conceitos metodológico-operacionais da Teoria da Argumentação naLíngua, <strong>de</strong> Oswald Ducrot e Marion Carel – mais especificamente, da Teoriados Blocos Semânticos –, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicá-la à <strong>de</strong>scriçãosemântico-argumentativa do discurso. Tal redimensionamento originou ummo<strong>de</strong>lo teórico-metodológico para a <strong>de</strong>scrição do sentido do discurso, cujaconstrução fundamentou-se no fato <strong>de</strong> que a referida teoria foi proposta paraa <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s lingüísticas <strong>de</strong> nível simples, a palavra e oenunciado, não abarcando o nível complexo da realização lingüística: odiscurso. Conseqüência natural <strong>de</strong> uma investigação é a testagem do mo<strong>de</strong>lo182


criado. Essa testagem constitui-se no cerne da pesquisa <strong>de</strong>senvolvida porAzevedo e Rowell, que, por sua vez, é apenas a primeira etapa <strong>de</strong> um estudobem mais amplo rumo à transposição didática do referido mo<strong>de</strong>lo para oensino <strong>de</strong> língua materna, fim último e essencial do trabalho iniciado com atese <strong>de</strong> Azevedo. Como o objetivo <strong>de</strong>ste estudo é o <strong>de</strong> subsidiarpedagogicamente professores para que usem os textos/discursos <strong>de</strong> quedispõem no sentido <strong>de</strong> tornar mais significativas as aprendizagens <strong>de</strong> seusalunos, o corpus da pesquisa constitui-se <strong>de</strong> textos explicativos veiculadosem livros didáticos <strong>de</strong>stinados aos quatro anos finais do Ensino Fundamental.A constituição do corpus <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> que todos os livros didáticos têmno texto explicativo o principal veículo dos conceitos a serem“ensinados/aprendidos” e, também, à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tornar maiscompetentes os leitores <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> texto, já que é pela compreensão leitoraque se dá, no contexto escolar, a maior parte das aprendizagens.A SINTAGMATIZAÇÃO EM LINGUÍSTICA DA ENUNCIAÇÃO:UMA PROPOSTA DE REPRESENTAÇÃOSilvana Silva (UNISINOS)Este trabalho tem por objetivo estudar a sintagmatização, a singularida<strong>de</strong>sintática da enunciação em um conto literário. Partimos da sintagmatizaçãoda conjunção coor<strong>de</strong>nativa “e” no conto I love my husband, <strong>de</strong> Nélida Pinon,uma vez que ela apresenta um sentido bastante particular neste texto.Estudamos o significado que a conjunção apresenta em gramáticas <strong>de</strong> línguaportuguesa. Para observarmos a singularida<strong>de</strong> sintática da enunciação,apoiamo-nos no conceito <strong>de</strong> sintaxe formulado por Benveniste em “A formae o sentido da linguagem” (1989). A seguir, formularemos uma metodologia<strong>de</strong> análise do conto a partir <strong>de</strong> uma proposta <strong>de</strong> representação da or<strong>de</strong>m dodizer e do mostrar (Flores, 2006). Constatamos que a sintagmatização daconjunção aditiva “e” no conto literário não produz um sentido da or<strong>de</strong>m dafusão <strong>de</strong> dois elementos, da “conjunção” em favor <strong>de</strong> um todo maior; produzuma união <strong>de</strong> dois elementos que permanecem juntos mas paralelos um aooutro. Concluímos que, se para Benveniste, a língua não diz, nem oculta,mas significa, o signo resultante da conjunção “e”, no texto em análise, éuma união não realizada entre duas paralelas que nunca se cruzam.GT12 Cognição, aprendizagem <strong>de</strong> L2 e bilingüismoCoor<strong>de</strong>nadoresLêda Maria Braga Tomitch (UFSC)Márcia Cristina Zimmer (UCPel)EFEITOS DO MULTILINGÜISMO EM TAREFAS NÃO VERBAISDE CONTROLE COGNITIVOMárcia Zimmer (UCPel)Ingrid Finger (UFRGS)183


O presente trabalho faz parte <strong>de</strong> um projeto maior so<strong>br</strong>e a relação entrehabilida<strong>de</strong>s lingüísticas verbais e habilida<strong>de</strong>s cognitivas não verbais emindivíduos multilíngües. Neste recorte, tivemos por objetivo investigarpossíveis vantagens cognitivas <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> chineses, falantes <strong>de</strong> inglêscomo L2 e aprendizes <strong>de</strong> português como L3, so<strong>br</strong>e um grupo monolíngüe<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileiros em duas tarefas envolvendo <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> atenção e controleinibitório. A hipótese <strong>de</strong> que partimos é a <strong>de</strong> que o indivíduo bi/multilíngüepossui maior controle inibitório relacionado à memória <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>vido àprática <strong>de</strong> inibir uma língua quando fala outra, durante a competição porativação inerente ao processamento bilíngüe (GREEN, 1998; BIALYSTOK,2001, 2004). Assim, essa prática se refletiria em outras tarefas envolvendo aseleção e controle inibitório. Para testar essa hipótese, dois grupos, um <strong>de</strong>30 <strong>br</strong>asileiros universitários monolíngües, e outro <strong>de</strong> 30 estudantesuniversitários da China, morando no Brasil há um ano, participantes <strong>de</strong>programas <strong>de</strong> intercâmbio estudando Português Brasileiro na UFRGS e naPUCRS, e aprovados no teste <strong>de</strong> proficiência <strong>de</strong> Português para estrangeiros,CELPE-BRas, participaram <strong>de</strong> duas tarefas testando <strong>de</strong>mandas relacionadasà memória <strong>de</strong> trabalho. A Tarefa Simon (LU & PROCTOR, 1995) foiescolhida por ser relativamente livre <strong>de</strong> conteúdo, mas ao mesmo tempo<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> processos cognitivos que envolvem seleção <strong>de</strong> estímulos econtrole inibitório. As duas versões da tarefa Simon foram replicadas <strong>de</strong>Bialystok et al (2004): uma simples, envolvendo apenas dois tipos <strong>de</strong>estímulos, e outra mais longa e mais complexa, envolvendo quatro tiposdiferentes <strong>de</strong> estímulos. Em ambas as tarefas, os participantes multíngüesobtiveram vantagem significativa so<strong>br</strong>e os participantes monolíngües. Osresultados são discutidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um referencial teórico emergentista,baseado no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Competição <strong>de</strong> MacWhinney (2001, 2007).COMPARAÇÃO ENTRE O DESEMPENHO DE CRIANÇASBILÍNGÜES E MONOLÍNGÜES EM TAREFAS ENVOLVENDO AMEMÓRIA DE TRABALHOMarta Tessmann Ban<strong>de</strong>ira (UCPel)O município <strong>de</strong> Arroio do Padre – RS foi colonizado por imigrantespomeranos e alemães e caracteriza-se como uma região geográfica <strong>de</strong> acessorelativamente limitado, fato que contribui para que os habitantes <strong>de</strong>ssemunicípio continuem usando cotidianamente o pomerano e/ou o alemãocomo sua primeira língua. Hoje, com o acesso facilitado às mídias, aspessoas – principalmente crianças – falam dois idiomas: o pomerano e oportuguês. Bialystock (2001) realizou um estudo aplicando um teste,<strong>de</strong>nominado Simon Task, com adultos jovens e adultos com mais ida<strong>de</strong> paramedir tempo <strong>de</strong> reação e acurácia em tarefas envolvendo funções executivase <strong>de</strong> controle. Esse teste consiste <strong>de</strong> exercícios envolvendo a apresentação<strong>de</strong> estímulos coloridos tanto no lado esquerdo ou direito da tela docomputador. Cada uma das cores é associada à chave <strong>de</strong> resposta, que184


também está em um dos lados do teclado, alinhado com dois estímulos <strong>de</strong>posição. Em provas congruentes, a chave que é a resposta correspon<strong>de</strong>nte àcor está no mesmo lado do estímulo; em provas incongruentes, a chave estádo lado oposto. Muitos estudos com esta tarefa têm confirmado que airrelevante informação da localização resulta em tempos <strong>de</strong> reação (RTs)fi<strong>de</strong>dignos para itens incongruentes. O aumento <strong>de</strong> tempo necessário pararespon<strong>de</strong>r os itens incongruentes é o efeito <strong>de</strong> Simon. Como resultado dapesquisa, Bialystock (2001) mostrou que pessoas bilíngües <strong>de</strong>senvolviamprocessos <strong>de</strong> controle ligados à memória <strong>de</strong> trabalho mais rapidamente doque monolíngües. Evidências em estudos psicolingüísticos <strong>de</strong> processamentoda linguagem <strong>de</strong> adultos mostram que as duas línguas <strong>de</strong> um bilíngüepermanecem constantemente ativas durante o processamento <strong>de</strong> uma.Ativida<strong>de</strong> nos dois sistemas requer um mecanismo para manter as línguasseparadas para que se chegue a uma performance fluente da língua emquestão. Green (1998) propôs um mo<strong>de</strong>lo baseado no controle inibitório, noqual a língua não relevante é eliminada pelas funções do sistema executivousado normalmente para controlar a atenção e a inibição. Se esse mo<strong>de</strong>loestiver correto, então bilíngües têm prática massiva em exercitar o controleinibitório, uma experiência que po<strong>de</strong> ir além dos domínios cognitivosverbais. Para averiguar tais diferenças cognitivas, principalmente <strong>de</strong> atençãoe inibição, está em andamento uma pesquisa com a aplicação da Simon Taskem dois grupos – um monolíngüe e um bilíngüe - <strong>de</strong> vinte crianças da 3ª e 4ªsérie <strong>de</strong> escolas municipais <strong>de</strong> Arroio do Padre. Este estudo está em faseinicial e será utilizado como subsídio para um estudo <strong>de</strong> larga escala.O BILINGÜISMO E SUA RELAÇÃO COM A CONSCIÊNCIAMETALINGÜÍSTICA DE CRIANÇASJohanna Dagort Billig (UFRGS)Patrícia Piantá Fre<strong>de</strong>res (UFRGS)O presente trabalho se insere na área <strong>de</strong> estudos que pesquisam o<strong>de</strong>senvolvimento lingüístico-cognitivo <strong>de</strong> indivíduos bilíngües e teve pormeta investigar a relação entre bilingüismo e consciência metalingüística.Dois tipos <strong>de</strong> tarefas foram utilizados para verificar a consciênciametalingüística dos participantes: teste <strong>de</strong> arbitrarieda<strong>de</strong> da língua e teste <strong>de</strong>substituição <strong>de</strong> símbolos, construídos a partir <strong>de</strong> Ben-Zeev (1977). Parainvestigar a relação entre bilingüismo e consciência metalingüística, doisgrupos <strong>de</strong> crianças entre sete e oito anos foram comparados: monolíngües(n=11) e bilíngües (n=10). Como as tarefas empregadas no experimentoexigem gran<strong>de</strong> controle <strong>de</strong> atenção seletiva, a hipótese era <strong>de</strong> que osbilíngües apresentariam melhor <strong>de</strong>sempenho em comparação com osmonolíngües em ambos os testes, conforme apontado em estudos anteriores(Bialystok, 2001, 2006, 2008). Entretanto, os resultados obtidos nãoconfirmaram essa expectativa e o presente estudo traz como maiorcontribuição uma reflexão so<strong>br</strong>e a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> selecionar a amostra <strong>de</strong>185


ilíngües e a importância <strong>de</strong> termos um cuidado metodológico nesse tipo <strong>de</strong>pesquisa.METÁFORA, CORPOREIDADE E LÍNGUA ESTRANGEIRALuciane Ferreira (PRODOC – CAPES/UFC)O presente estudo investiga a compreensão da metáfora por aprendizes <strong>de</strong>língua inglesa e por falantes nativos <strong>de</strong> inglês. Selecionou-se <strong>de</strong>z metáforaslingüísticas novas em edições online <strong>de</strong> jornais ingleses e norte-americanos.Depois, i<strong>de</strong>ntificou-se a metáfora conceptual subjacente com base noinventário <strong>de</strong> metáforas conceptuais apresentado por Lakoff e Johnson(1980, 1999) e no inventário <strong>de</strong> metáforas primárias <strong>de</strong> Grady (1997).Consi<strong>de</strong>rando as dificulda<strong>de</strong>s que as metáforas lingüísticas representam paraa compreensão <strong>de</strong> textos por falantes não-nativos, buscou-se investigar quetipo <strong>de</strong> conhecimento os aprendizes <strong>de</strong> LE empregam ao tentar compreen<strong>de</strong>rmetáforas lingüísticas. Para isso, foi analisada a maneira como os aprendizescompreen<strong>de</strong>m (LITTLEMORE e LOW, 2006) metáforas lingüísticas,primeiramente sem usar o contexto e, <strong>de</strong>pois, utilizando o contexto. Em umsegundo experimento, investigou-se como os falantes nativos <strong>de</strong> inglêscompreen<strong>de</strong>m as mesmas expressões metafóricas (GIBBS, 1994). A amostraincluiu 221 estudantes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> graduação e 16 estudantes norteamericanos<strong>de</strong> graduação da Universida<strong>de</strong> da Califórnia, Santa Cruz. Osresultados apontam que metáforas conceptuais relacionadas com osdomínios experienciais VISÃO, MOVIMENTO e RAIVA foram avaliadascom uma pontuação alta no experimento realizado com falantes não-nativos.As mesmas metáforas foram julgadas como mais comuns e mais fáceis <strong>de</strong>serem compreendidas pelos 16 falantes nativos <strong>de</strong> inglês norte-americano. Acomparação dos resultados dos dois experimentos corrobora a nossa hipótese<strong>de</strong> que existe um padrão universal na estruturação <strong>de</strong> conceitos abstratos queaumenta a compreensão da metáfora em uma língua estrangeira <strong>de</strong> maneirasemelhante ao que ocorre com a compreensão da metáfora na línguamaterna. Enfim, tais resultados revelam que o processo <strong>de</strong> compreensãotanto na língua materna como na língua estrangeira é fortementeinfluenciado pela corporeida<strong>de</strong> (GIBBS, 2006).O PAPEL DOS PROCESSOS METACOGNITIVOS DE REPETIÇÃOE DE PLANEJAMENTO PARA REPETIÇÃO NO DESEMPENHOORAL DE APRENDIZES DE INGLÊS COMO SEGUNDA LÍNGUARaquel Carolina Souza Ferraz D’Ely (UFSC/CAPES)Este estudo, <strong>de</strong>senvolvido sob a perspectiva da teoria <strong>de</strong> processamento dainformação, investigou o impacto <strong>de</strong> dois processos metacognitivos -repetição (Bygate, 2001), e planejamento estratégico para a repetição (D’Ely,2004) no <strong>de</strong>sempenho oral <strong>de</strong> uma ví<strong>de</strong>o-narrativa por um grupo <strong>de</strong> 29alunos <strong>de</strong> Inglês como segunda língua (L2). Os participantes <strong>de</strong>ste estudo,matriculados nos cursos <strong>de</strong> Letras-Licenciatura, Letras-Secretariado e Extra-186


curriculares da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina, foram divididos em3 grupos: (1) controle, (2) repetição – on<strong>de</strong> os aprendizes tiveramoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repetir a mesma tarefa e (3) planejamento estratégico pararepetição – condição que oportunizou aos aprendizes atuar semplanejamento estratégico num primeiro encontro, ter sessões instrucionaisdurante 4 semanas acerca da tarefa e repetir a mesma tarefa planejando-apreviamente. Seguindo Foster e Skehan (1996) e Fortkamp (2000), aprodução oral dos alunos foi examinada em quatro dimensões: fluência,complexida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> lexical e acurácia. Questionários pós-tarefa foramadministrados para <strong>de</strong>svendar a avaliação dos alunos em relação ao tipo <strong>de</strong>tarefa, seu <strong>de</strong>sempenho oral e as condições experimentais nas quais elesatuaram. Em geral, as análises estatísticas revelaram um efeito positivo esignificativo da repetição em algumas das dimensões da atuação oral, a saber:fluência, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> lexical e acurácia; e acurácia e <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> lexical nogrupo do planejamento estratégico para a repetição. O grupo doplanejamento estratégico para a repetição também obteve ganhossignificativos em complexida<strong>de</strong>, ainda que tenha tido perdas em fluência.Com base nesses resultados, a repetição po<strong>de</strong> servir como um caminho paraativar o conhecimento procedural dos aprendizes, on<strong>de</strong> o conhecimentoprévio é reagrupado numa mesma tarefa, fato que po<strong>de</strong> permitir que todo oprocesso da fala passe a ser mais automatizado. A questão da familiarida<strong>de</strong>com a tarefa também po<strong>de</strong> ajudar a diminuir a tensão entre as funções <strong>de</strong>armazenamento e processamento na memória <strong>de</strong> trabalho dos aprendizes.Em geral, os resultados corroboram o efeito <strong>de</strong> troca atencional entre asdiferentes dimensões do <strong>de</strong>sempenho oral (Foster e Skehan, 1997). A<strong>de</strong>mais,os resultados multifacetados sinalizam que a maneira com que os alunosencaram as diferentes condições experimentais é idiossincrática e que umasérie <strong>de</strong> variáveis interage afetando o <strong>de</strong>sempenho oral dos aprendizes. Entreestas variáveis estão a natureza da tarefa, o foco <strong>de</strong> atenção dos alunosenquanto atuam, e o impacto <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem. O estudocontribui para a construção <strong>de</strong> aspectos teóricos relacionadas ao <strong>de</strong>sempenhooral em L2 e ao tratamento pedagógico <strong>de</strong>ssa habilida<strong>de</strong>.O PAPEL DA INSTRUÇÃO EXPLÍCITA NA AQUISIÇÃO DAPRAGMÁTICA DA L2Lydia Tessmann Mulling (UCPel)Márcia Zimmer (UCPel)Este estudo tem como objetivo analisar o papel que a instrução <strong>de</strong> caráterexplícito <strong>de</strong>sempenha em relação à aquisição da pragmática da L2, nestapesquisa, a língua inglesa. Investiga-se, portanto, se alunos proficientes,futuros professores <strong>de</strong> inglês como língua estrangeira, conseguem perceberina<strong>de</strong>quações pragmáticas e produzir pedidos em inglês como L2, e quepapel a atenção ao insumo, ativada pela instrução explícita, po<strong>de</strong><strong>de</strong>sempenhar frente às situações <strong>de</strong> escolhas pragmáticas na percepção e naprodução dos sujeitos da amostra. Dezessete alunos, estudantes <strong>de</strong> Letras –187


Inglês da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas (UFPEL), tiveram sua produçãopragmática analisada por dois avaliadores e realizaram um teste <strong>de</strong>percepção e julgamento acerca <strong>de</strong> enunciados que continham violações tanto<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m pragmática quanto gramatical. Para analisar o efeito<strong>de</strong>sempenhado pela instrução explícita, os dados foram coletados em duasetapas: uma anterior à instrução explícita e uma posterior à instrução. Alémdisso, os sujeitos foram divididos em dois grupos (experimental e controle),segundo o nível <strong>de</strong> proficiência lingüística. Com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se verificara influência da instrução explícita <strong>de</strong> cunho conexionista, o trabalhopedagógico acerca da pragmática da L2, especialmente so<strong>br</strong>e a realização <strong>de</strong>pedidos, foi realizado somente com o grupo experimental. A análise dosdados e a comparação entre as duas etapas <strong>de</strong>monstrou o efeito benéfico dainstrução explícita tanto em relação à percepção <strong>de</strong> enunciadospragmaticamente ina<strong>de</strong>quados quanto à produção <strong>de</strong> pedidos em línguainglesa. Assim, a instrução acerca da pragmática auxiliou os aprendizes aprestar atenção ao aspecto pragmático do insumo junto à análise do contextoque ambienta o ato comunicativo.A AQUISIÇÃO DO PRESENT PERFECT POR APRENDIZESBRASILEIROS DE INGLÊS: UMA ANÁLISE ASPECTUALIngrid Finger (UFRGS)Simone Mendonça (UFRGS)Juliana Fei<strong>de</strong>n (UFRGS)Na tentativa <strong>de</strong> expressar o conteúdo semântico intrínseco ao PresentPerfect em português <strong>br</strong>asileiro, faz-se uso <strong>de</strong> três estruturas verbais distintas,a saber: Presente Simples, Pretérito Perfeito Simples e Pretérito PerfeitoComposto. A partir <strong>de</strong>ssa constatação, o presente estudo teve por objetivogeral analisar a transferência <strong>de</strong> traços aspectuais do português na aquisiçãodo Present Perfect por um grupo <strong>de</strong> aprendizes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> inglês. Osobjetivos específicos foram verificar (a) se existem diferenças no grau <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> aquisição do Present Perfect, <strong>de</strong> acordo com o tipo <strong>de</strong>estrutura utilizada no português para expressar um mesmo conteúdosemântico; (b) se os advérbios utilizados nas frases, principalmente for esince, interferem no uso do Present Perfect pelos aprendizes; e (c) se existetransferência <strong>de</strong> traços do aspecto lexical intrínsecos aos sintagmas verbaisdo português na aquisição do Present Perfect do inglês. Para tanto, lançamosmão da aplicação <strong>de</strong> testes <strong>de</strong> tradução para o inglês <strong>de</strong> sentenças escritas emportuguês por aprendizes <strong>br</strong>asileiros pertencentes a diferentes níveis <strong>de</strong>proficiência. Resultados preliminares indicam que o conteúdo semântico queno português é expresso pelo Pretérito Perfeito Simples, mesmo que sem amarcação <strong>de</strong> tempo passado explícita na frase, foi o mais difícil <strong>de</strong> serrepresentado no inglês pelos aprendizes, o que parece caracterizar umasituação clara <strong>de</strong> interferência <strong>de</strong> trações aspectuais da língua materna naaquisição da L2. Além disso, o uso dos advérbios for e since influenciou as188


espostas dos aprendizes, favorecendo a escolha do uso do Present Perfectcorrespon<strong>de</strong>nte ao Pretérito Perfeito Simples do português.AVALIAÇÃO DA HABILIDADE DE LEITURA EM INGLÊS COMOLÍNGUA ESTRANGEIRA: REFLEXÕES SOBRE O NÍVEL DECOMPREENSÃO EXIGIDO POR ITENS DE TESTESCelso Henrique Soufen Tumolo (UFSC)Muitos testes têm sido <strong>de</strong>senvolvidos e usados para avaliar o conhecimento<strong>de</strong> Inglês como língua estrangeira. Além dos diferentes propósitos apontadospor Hughes (2003) para testes, a saber, diagnóstico, progresso, proficiência ecolocação, esses testes po<strong>de</strong>m ter, também, o propósito <strong>de</strong> seleção. No Brasil,testes para avaliar a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura em Inglês como língua estrangeirapara seleção <strong>de</strong> candidatos para ingresso no ensino superior têm sido partedos vestibulares, e têm tido características diversas no que se refere aescolha <strong>de</strong> tópicos e itens usados. De qualquer forma, um teste será<strong>de</strong>fensável se ele permite interpretações e ações baseadas no(s) fator(es)relevante(s) sendo avaliado(s). Discriminação baseada em qualquer outrofator, neste caso irrelevante, violará o princípio <strong>de</strong> justiça. Um fatorapontado na literatura como fonte potencial <strong>de</strong> injustiça em teste éconhecimento prévio (Kunnan, 2000), que po<strong>de</strong> somente ser consi<strong>de</strong>radoirrelevante quando não incluído no construto avaliado. Bachman e Palmer(1996) oferecem três opções para <strong>de</strong>finição do escopo <strong>de</strong> um construto paratestes <strong>de</strong> línguas estrangeiras: a) construto incluindo somente habilida<strong>de</strong>lingüística; b) construto incluindo habilida<strong>de</strong> lingüística e conhecimentoprévio; e c) construtos separados para habilida<strong>de</strong> lingüística e conhecimentoprévio. Como as provas <strong>de</strong> línguas estrangeiras dos exames <strong>de</strong> vestibulartêm sido <strong>de</strong>senvolvidas para avaliar somente a habilida<strong>de</strong> lingüística, oconhecimento prévio torna-se fator irrelevante. Este trabalho preten<strong>de</strong>discutir o papel <strong>de</strong> conhecimento prévio no processo <strong>de</strong> compreensão,incluindo sua contribuição para a eficiência dos processos inerentes àmemória <strong>de</strong> trabalho e como isso está relacionado com as discussões so<strong>br</strong>ejustiça e injustiça em testes. Preten<strong>de</strong>, também, apontar para características<strong>de</strong> teste e itens <strong>de</strong> testes que po<strong>de</strong>m minimizar os efeitos do conhecimentoprévio, reduzindo injustiça em processos <strong>de</strong> seleção. Ao fazer isso, elecontribui com discussões e sugestões para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> testes comcaracterísticas <strong>de</strong> justiça.INVESTIGANDO O PROCESSAMENTO DE NARRATIVAS EM L2:UM ESTUDO COM FNIRSLilian C. Scherer (UNISC)Lêda M.B. Tomitch (UFSC)Estudos <strong>de</strong> neuroimagem têm <strong>de</strong>monstrado um maior envolvimento dohemisfério cere<strong>br</strong>al direito em ativida<strong>de</strong>s lingüísticas <strong>de</strong>senvolvidas porfalantes não proficientes <strong>de</strong> uma segunda língua (L2). A presente189


comunicação apresenta uma investigação so<strong>br</strong>e o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> falantesnativos <strong>de</strong> inglês ao lerem textos em francês, língua na qual possuemproficiência intermediária. Buscou-se verificar, em termos comportamentais,a acurácia e o tempo <strong>de</strong> resposta <strong>de</strong>sses leitores ao processarem trêsdiferentes níveis textuais (a macro- e a micro-estrutura e o mo<strong>de</strong>losituacional), e em termos da ativida<strong>de</strong> cere<strong>br</strong>al, analisou-se a participaçãodos hemisférios cere<strong>br</strong>ais no processamento <strong>de</strong>sses níveis, através do uso datécnica <strong>de</strong> neuroimagem fNIRS (functional Near-Infrared Spectroscopy).Participaram do estudo 10 adultos jovens falantes nativos <strong>de</strong> inglês, com umnível intermediário <strong>de</strong> proficiência na L2 – francês, e 10 adultos jovensfalantes nativos <strong>de</strong> francês. Os resultados mostram diferençasestatisticamente significativas entre os dois grupos em termos da acurácia nacompreensão da macro-estrutura e do mo<strong>de</strong>lo situacional, bem como notempo <strong>de</strong> resposta nos três níveis <strong>de</strong> processamento das narrativas. Osresultados <strong>de</strong> neuroimagem <strong>de</strong>monstraram um participação estatisticamentesignificativa das 4 regiões <strong>de</strong> interesse (ROIs) frontais investigadas nohemisfério direito durante o processamento da macro-estrutura, bem como<strong>de</strong> regiões temporais e frontais do hemisfério esquerdo na compreensão damicro-estrutura.O BILINGÜISMO E A MANUTENÇÃO DE FUNÇÕESEXECUTIVAS NA TERCEIRA IDADELéa Maria Coutinho Pinto (UNIRITTER, FAPA)A experiência <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um bilíngüe, ao processar duas línguas, pareceproporcionar-lhe benefícios cognitivos. Pesquisas atuais em PsicologiaCognitiva e Neurolingüística atestam que o <strong>de</strong>clínio cognitivo na terceiraida<strong>de</strong> é constatado, principalmente, na memória episódica, na memória <strong>de</strong>trabalho e na memória <strong>de</strong> curta duração. A diminuição da memória <strong>de</strong>trabalho <strong>de</strong>ve-se a perdas neuronais do córtex pré-frontal. E o <strong>de</strong>créscimo damemória <strong>de</strong> curta duração correspon<strong>de</strong> a prejuízos neuronais no hipocampo,no córtex entorrinal ou, eventualmente, parietal. Os processos executivoscentrais <strong>de</strong>mandados na memória do idoso bilíngüe evi<strong>de</strong>nciam umincremento nos mecanismos <strong>de</strong> percepção, memória, resolução <strong>de</strong> problemae eficiência do processo inibitório, isto é, aquele processo que permite àpessoa <strong>de</strong>scartar as opções irrelevantes <strong>de</strong> uma tarefa e concentrar a atençãonos seus aspectos mais relevantes (Bialystok et al., 2004). A partir <strong>de</strong>stasconstatações e com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> averiguar a hipótese do incremento,ensejado pelo bilingüismo nas funções cognitivas ligadas à memória <strong>de</strong>trabalho, esta comunicação traz resultados parciais <strong>de</strong> uma pesquisa emandamento no Centro Universitário Ritter dos Reis, em uma amostra <strong>de</strong>população (português – alemão) do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. A amostra,constituída por oitenta pessoas, moradores da mesma cida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> nívelsócio-econômico-cultural similares, foi selecionada por meio <strong>de</strong> questionário<strong>de</strong> sondagem. Constituíram-se dois grupos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> (adultos jovens entre 30a 50 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e idosos entre 60 e 89 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>) e dois grupos <strong>de</strong>190


língua (monolíngües e bilíngües). Os instrumentos utilizados para ainvestigação da amostra, nesta fase da pesquisa, são: o Teste Raven <strong>de</strong>Matrizes Progressivas, que avalia a habilida<strong>de</strong> não-verbal argumentativaabstrata; o Simon Task, que me<strong>de</strong> inteligência verbal, espacial e acapacida<strong>de</strong> do processo inibitório e o teste Peaboby Vocabulary Test-PPVT-4th,, avaliação padrão <strong>de</strong> vocabulário receptivo. Os dados <strong>de</strong>ste estudo estãosendo analisados à luz do conexionismo.ENVELHECIMENTO, BILINGÜISMO E SEMI-INSTITUCIONALIZAÇÃO: INFLUÊNCIAS NA CONSCIÊNCIAMETALINGÜÍSTICA DOS PESQUISADOS?Sa<strong>br</strong>ine Amaral Martins (UCPel)O envelhecimento é um processo que leva à diversas alterações no cére<strong>br</strong>o,incluindo a morte <strong>de</strong> neurônios em estruturas como o hipocampo – o quedificulta a construção <strong>de</strong> novas memórias. Além disso, cogita-se que hajaperda <strong>de</strong> neurônios em outras estruturas. O processo é variável entre osindivíduos e, assim, como se sabe que <strong>de</strong>terminados fatores aceleram a perda<strong>de</strong> neurônios, é preciso <strong>de</strong>sacelerar essa perda, protegendo o cére<strong>br</strong>o. Aspessoas po<strong>de</strong>m influenciar no <strong>de</strong>clínio das funções cere<strong>br</strong>ais, através <strong>de</strong>hábitos como álcool <strong>de</strong>ntre outros. Já os exercícios físicos parecem retardara perda das células nervosas em áreas envolvidas na memória. Então, parafavorecer um envelhecimento saudável, é vital praticar exercícios comfreqüência, fazer uma dieta saudável e possuir uma vida mental rica. Háestudos tentando provar que o bilingüismo é um fator positivo para aumentaressa saú<strong>de</strong> mental. Entretanto, não se tem resultados concretos quando setrata <strong>de</strong> idosos bilíngües e semi-institucionalizados. Quando as pessoasenvelhecem, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> células nervosas no cére<strong>br</strong>o geralmentediminui, embora essa perda varie <strong>de</strong> pessoa para pessoa. No entanto, océre<strong>br</strong>o tem <strong>de</strong>terminadas características que ajudam a compensar as perdas,como exemplo a redundância, a formação <strong>de</strong> novas conexões e a produção<strong>de</strong> novas células nervosas (GOLDMAN, S.A., 2007). Através <strong>de</strong> pesquisas(DUTRA, G.R, MACHADO, A.P.G, 2006), mostrou-se que idosasinstitucionalizadas apresentaram um grau menor <strong>de</strong> acertos no mini examemental adaptado (FREITAS et al., 2002) em comparação às nãoinstitucionalizadas. Por essa razão, o objetivo do presente trabalhoconcentra-se em analisar a consciência metalingüística <strong>de</strong> dois idososbilíngües semi-institucionalizados em relação à dois idosos monolíngües,através <strong>de</strong> testes não-cronométricos como testes <strong>de</strong> segmentação e <strong>de</strong>julgamento com escala. Os pesquisados são duas mulheres e dois homens,com ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 79 anos e 81,5 anos, respectivamente. Eles possuem umgrau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> bastante baixo, até quarta série do EnsinoFundamental. Um dos participantes bilíngües possui como segunda língua oespanhol e como língua materna o português, o outro possui como segundalíngua o português e língua materna o espanhol. Ambos são bilíngües porqueadquiriram a segunda língua <strong>de</strong>vido à necessida<strong>de</strong> do seu uso e interagem191


através <strong>de</strong>la em momentos específicos. A investigação justifica-se aocontribuir com pesquisas das áreas da neuropsicologia e neurologia, além daneurolingüística, haja vista que os estudos so<strong>br</strong>e o assunto ainda são muitoincipientes.MEMÓRIAS EXPLÍCITAS E IMPLÍCITAS E ESTRUTURAÇÃODAS LÍNGUAS EM UM AFÁSICO TRILÍNGÜEFre<strong>de</strong>rico Gomes e Silva Moreira (UCPel)O presente trabalho visa a comparar processos <strong>de</strong> memória explícita eimplícita nas três línguas faladas por um paciente afásico <strong>de</strong> 54 anos,trilíngüe, falante <strong>de</strong> Português Brasileiro (L1), francês (L2) e inglês (L3), emtarefas nas três línguas, envolvendo: 1) aprendizagem <strong>de</strong> pares associativos,para testar a memória hipocampal; e 2) priming semântico, para testar amemória neocortical. A proficiência do paciente no francês (L2) e no inglês(L3) foi atestada através <strong>de</strong> exames <strong>de</strong> proficiência validados, como oTOEIC e o DELF-DALF, para o inglês e o francês, adaptados paraparticipantes com curto span <strong>de</strong> concentração. Além disso, o paciente foitestado com o Mini Exame <strong>de</strong> Estado Mental (MEEM), que compreen<strong>de</strong>uma série <strong>de</strong> tarefas relacionadas a diferentes áreas da cognição, tal comomemória, (a)praxias, recordação, fluência verbal. A relação entre osresultados obtidos pelo paciente em todos os testes arrolados está sendoinvestigada com vistas a estabelecer relações entre afasia, <strong>org</strong>anizaçãocere<strong>br</strong>al das três línguas em termos <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> memórias(MCCELLAND et al, 1995) e grau <strong>de</strong> proficiência nas línguas, discutindo-asa partir da combinação <strong>de</strong> um referencial teórico emergentista (MacWhinney,2007; ELLIS, 2008) e neurolingüístico (FABBRO, 2001).CONSTRUINDO UMA SEGUNDA LÍNGUAFernando Ferreira-Junior (CEFET Ouro Preto, UFMG)Este trabalho investiga a natureza dos processos cognitivos básicosenvolvidos na aquisição <strong>de</strong> uma segunda língua (L2) a partir <strong>de</strong> mecanismos<strong>de</strong> construção que utilizam fórmulas lingüísticas fixas ou entrincheiradas(i.e., sociocognitivamente <strong>de</strong>terminadas). Processos <strong>de</strong> chunking, queoperaram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nível neurobiológico e são mediados por processosprobabilísticos e <strong>de</strong> atenção, parecem guiar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> nossoconhecimento lingüístico. O caráter dinâmico e emergente <strong>de</strong> tal concepção<strong>de</strong> aprendizagem requer a adoção do paradigma conexionista, cujodinamismo é altamente compatível com a noção <strong>de</strong> aprendizagem,representação e processamento <strong>de</strong> línguas naturais aqui <strong>de</strong>fendida (i.e., alíngua como um sistema complexo adaptativo). Além disso, uma abordagem<strong>de</strong> cunho construcionista e a concepção <strong>de</strong> um continuum léxico-gramaticalna aprendizagem <strong>de</strong> línguas orientam as análises empíricas conduzidas nestetrabalho. O estudo consistiu numa análise da aquisição espontânea <strong>de</strong> trêsconstruções em língua inglesa (VL = verbo + locativo, VOL = verbo +192


objeto + locativo, e VOO = verbo + objeto + objeto ou bitransitivo) em umsubcorpus longitudinal <strong>de</strong> aprendizes <strong>de</strong> inglês como L2 no Projeto ESF(PERDUE, 1993). Os resultados revelaram que tais construções sãototalmente dominadas pelos verbos altamente freqüentes go, put e give,respectivamente, revelando um padrão <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento semelhante paratodos os sete aprendizes investigados, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> sua línguanativa. Os dados analisados mostraram, ainda, que a distribuiçãoprobabilística observada na estrutura <strong>de</strong> línguas naturais, por meio da qualalgumas palavras revelam-se mais freqüentes, mais genéricas e maisprototípicas, ten<strong>de</strong>, posteriormente, a facilitar a aprendizagem <strong>de</strong>construções mais abstratas da estrutura argumental da L2. Finalmente, umaanálise mais qualitativa dos dados encontrados em nosso estudo revelou que1) protótipos semânticos possibilitam a aprendizagem <strong>de</strong> estruturasesquemáticas mais complexas <strong>de</strong> uma L2, resultantes, acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>processos cognitivos contínuos <strong>de</strong> categorização, generalização e indução <strong>de</strong>regularida<strong>de</strong>s presentes no insumo lingüístico <strong>de</strong> uma dada língua; 2) que talprocesso é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da freqüência <strong>de</strong> types e tokens com os quais asconstruções ocorrem no insumo lingüístico; 3) que o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>interlínguas é pautado por um processo lento e gradual, inicialmente calcadoem itens bastante concretos até o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estruturas lingüísticasmais abstratas; e 4) que a aprendizagem <strong>de</strong> fórmulas ou chunks <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dafreqüência <strong>de</strong> tokens, ao passo que os processos <strong>de</strong> esquematização eabstração <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da freqüência <strong>de</strong> types.UM ESTUDO CONEXIONISTA SOBRE A TRANSFERÊNCIA DOCONHECIMENTO SUPRASSEGMENTAL ENTRE L1 E L2Ana Cristina Cunha da Silva (UFC)Devido à sua gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprendizado e generalização, oparadigma conexionista tem-se mostrado um aliado muito eficiente nosestudos so<strong>br</strong>e o processamento <strong>de</strong> aspectos fonéticos/fonológicos eaprendizado da língua-alvo. O presente trabalho visa a projetar uma re<strong>de</strong>neural que consiga simular os principais processos <strong>de</strong> transferência doconhecimento suprassegmental do português <strong>br</strong>asileiro presentes durante aleitura <strong>de</strong> itens lexicais ambíguos <strong>de</strong> língua inglesa entre adultos <strong>br</strong>asileirosaprendizes <strong>de</strong> língua inglesa. O ato <strong>de</strong> elencar e simular esses processos <strong>de</strong>transferência do conhecimento so<strong>br</strong>e a relação sílaba-acento-entoação, bemcomo as produções <strong>de</strong>sviantes geradas, partiu da hipótese <strong>de</strong> que algumasestratégias metacognitivas adotadas pelos aprendizes, juntamente com aapresentação <strong>de</strong> conhecimento explícito, influenciam no <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong>tarefas <strong>de</strong> leitura (em voz alta) que incluam a i<strong>de</strong>ntificação e produção <strong>de</strong>padrões silábicos, acentuais e entoacionais <strong>de</strong> português e inglês. Preten<strong>de</strong>seapresentar os resultados parciais coletados <strong>de</strong> 60 falantes monolíngues <strong>de</strong>português <strong>br</strong>asileiro e aprendizes <strong>de</strong> EFL divididos em três diferentes níveis<strong>de</strong> proficiência e ainda mostrar os primeiros resultados obtidos na simulaçãodos processos em questão.193


O SISTEMA DE MEMÓRIA HIPCORT E O PAPEL DE GRAFIA NATRANSFERÊNCIA FONÉTICO-FONOLÓGICA L2 (FRANCÊS) – L3(INGLÊS)Cíntia Ávila Blank (UCPel)As pesquisas na área <strong>de</strong> língua estrangeira apresentam uma forte tendênciaem investigar a relação entre a L1 e a L2, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> lado a explicação dosprocessos <strong>de</strong> transferência que po<strong>de</strong>m ocorrer quando da aprendizagem <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> uma língua estrangeira. Este trabalho apresenta os resultados <strong>de</strong> umestudo <strong>de</strong> caso que tratou, numa perspectiva conexionista, do efeito da grafiana transferência <strong>de</strong> padrões fonético-fonológicos do francês (L2) para oinglês (L3), durante uma tarefa <strong>de</strong> acesso lexical medindo tempo <strong>de</strong> reação.Para aplicar a tarefa <strong>de</strong> acesso lexical, foi utilizado o programa E-Prime emconjunto com uma Serial Response Box. Os resultados obtidos evi<strong>de</strong>nciamefeitos significativos da grafia tanto na transferência fonético-fonológica L2-L3, como na transferência L3-L2. Esses achados estão em consonânciacom o mo<strong>de</strong>lo conexionista HipCort (McClelland et al, 1995), <strong>de</strong> acordocom o qual o processamento dos sistemas <strong>de</strong> memória hipocampal eneocortical funcionariam <strong>de</strong> forma colaborativa, possibilitando a interaçãoentre o conhecimento prévio da L1 e da L2 (mais consolidados) e oconhecimento novo da L3 (menos estabilizado).GT13 Práticas Escolares em Língua MaternaCoor<strong>de</strong>nadoresAna Maria <strong>de</strong> Mattos Guimarães (UNISINOS)Luciene Juliano Simões (UFRGS)REFLEXÕES SOBRE O AGIR DOCENTE: O TRABALHOREPRESENTADO ATRAVÉS DA AUTOCONFRONTAÇÃORafaela Fetzner Drey (UNISINOS)A concepção e validação <strong>de</strong> novas formas <strong>de</strong> mediação didática, baseadas noquadro epistemológico interacionista sociodiscursivo (Bronckart, 2006,Schneuwly, 2004), permitem focar o estudo da produção <strong>de</strong> textos na escolacomo um processo <strong>de</strong> comunicação e interação social, e não como uma meraativida<strong>de</strong> escolar avaliativa. Partindo <strong>de</strong>stes pressupostos, sabe-se que umaproposta a partir <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> texto po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>terminante para mudar oquadro <strong>de</strong> fracasso da escola com relação à produção <strong>de</strong> textos, como têmapontado vários estudos (Guimarães, 2004; Cor<strong>de</strong>iro; Azevedo; Mattos,2004; Rojo, 2000).Nesse sentido, este estudo apresenta os resultados <strong>de</strong> umapesquisa <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> mestrado cujo objetivo principal consistiu emverificar se a experimentação <strong>de</strong> uma nova metodologia para a produçãotextual – <strong>org</strong>anizada em seqüências didáticas a partir da perspectiva dosgêneros textuais <strong>de</strong>lineada pelo interacionismo sociodiscursivo, aliada à194


auto-reflexão do docente acerca <strong>de</strong> sua atuação através do momento <strong>de</strong>autoconfrontação (Clot, 2006) po<strong>de</strong>m oportunizar transformações no sentidoque os docentes dão à sua própria prática na sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> LínguaPortuguesa. A base teórica <strong>de</strong>ste projeto se constitui na conjugação <strong>de</strong> duasperspectivas distintas, que se encontram em <strong>de</strong>terminados momentos: noquadro epistemológico proposto pelo ISD (interacionismo sociodiscursivo);e nos estudos da ergonomia da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> linha francesa propostos pelaClínica da Ativida<strong>de</strong>. A escolha do ISD como base teórico-filosóficaprincipal <strong>de</strong>ste trabalho se consolida com o objetivo <strong>de</strong> mudar a perspectivaso<strong>br</strong>e o texto presente na sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> língua materna, além <strong>de</strong> aprofundaro foco <strong>de</strong> estudo do agir docente como trabalho através das dimensões que oconstituem. Enquanto isso, os conceitos da Clínica da Ativida<strong>de</strong> seaproximam da proposta do ISD no sentindo <strong>de</strong> tentarem explicar melhor aquestão do trabalho, através da metodologia <strong>de</strong> autoconfrontação - utilizadapara geração dos dados nesta pesquisa. A proposta apresentada analisou aconstituição do trabalho representado no agir <strong>de</strong> duas docentes <strong>de</strong> línguamaterna <strong>de</strong> uma escola pública <strong>de</strong> Ensino Médio na região serrana do RSenquanto <strong>de</strong>senvolveram uma seqüência didática com seus alunos. Os dadosconsistem nos comentários das próprias professoras so<strong>br</strong>e seu agir nomomento <strong>de</strong> autoconfrontação. Apoiadas em <strong>de</strong>terminados elementoslingüísticos, as análises buscaram, nestas falas, revelar como as pesquisadasconcebem seu trabalho e <strong>de</strong> que forma assumem (ou não) seu agir.NOVAS PRÁTICAS DE LEITURA, ESCRITA E ORALIDADE: ACRIANÇA E A INTERNETEvelyse Ramos Itaqui (UFRGS)Este trabalho busca examinar como estão ocorrendo as práticas sociais <strong>de</strong>leitura, escrita e oralida<strong>de</strong> no ambiente digital. Os sujeitos da pesquisa sãocompostos por um grupo <strong>de</strong> crianças em ida<strong>de</strong> entre nove e 10 anos, alunosda terceira série do ensino Fundamental e pertencentes a classe média baixa.Os materiais coletados durante essa investigação têm origem variada:entrevista com as crianças, um questionário respondido por esses alunos eanálise dos sites mais visitados por eles. Para a realização das análises, estetrabalho conta com os aportes dos estudos so<strong>br</strong>e letramento, ancorada naperspectiva dos Estudos Culturais. Como ferramenta metodológica faz usodas análises textuais, uma vez que as respostas dadas pelas crianças nosquestionários são examinadas e permitem a produção dos dados. Taisrespostas indicam como esse local está sendo utilizado como material paraas pesquisas escolares. A internet ainda surgi como um ambiente <strong>de</strong> lazer,sendo que os sites Orkut, MSN e os relacionados a jogos são nomeadoscomo os preferidos das crianças, locais estes que se mostraram propícios empráticas sociais <strong>de</strong> leitura, escrita e oralida<strong>de</strong>. Sob o efeito pedagógico,percebe-se que não se po<strong>de</strong> mais negar a importância da internet nocotidiano das crianças, constituindo-se, então, como um novo ambiente <strong>de</strong>aprendizagem.195


O JOGO DIGITAL NOS PROCESSOS DE ENSINO EAPRENDIZAGEM DE LÍNGUA PORTUGUESA – UM ESTUDOATRAVÉS DAS SEQUÊNCIAS NARRATIVASVanessa Doumid Damasceno (UNISINOS)Este estudo tem como objetivo principal apresentar o jogo num ambientedigital, possibilitando o ensino e a aprendizagem <strong>de</strong> Língua Portuguesaatravés da construção <strong>de</strong> narrativa. O trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido na re<strong>de</strong>particular <strong>de</strong> ensino, com alunos das séries finais do Ensino Fundamental.Os encontros foram semanais, todas as sextas-feiras, duas horas <strong>de</strong> gravação,totalizando <strong>de</strong>zesseis horas (<strong>de</strong> jogo analisado) no período <strong>de</strong> novem<strong>br</strong>o <strong>de</strong>2004 a agosto <strong>de</strong> 2006. As histórias produzidas pelos alunos confirmaram ashipóteses do estudo. Elas se mostraram úteis à compreensão das práticaslingüísticas digitais ao contribuírem para a compreensão das narrativas nãolineares, entendidas como estruturas complexas.“REPÓRTER MIRIM NA ERA DO RÁDIO”: O PAPEL DA ESCOLANA INTERAÇÃO E APLICAÇÃO DOS GÊNEROS ORAIS.Thaís Hoffmann dos Reis (UNISINOS)O gênero oral é utilizado diariamente por todos nós, contudo, percebo nocotidiano escolar, a priorização do gênero escrito. Dessa forma, proponhouma pesquisa que resgate para o contexto sala <strong>de</strong> aula, o uso e aplicação dooral; visando a interação entre a prática escolar e o contexto social e cultural.Sabe-se que tanto o gênero escrito como oral, são <strong>de</strong> fundamental relevânciapara indivíduo na interação com o seu contexto sócio-historico-cultural.Contudo, cabe a escola, como espaço constituinte <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> ensino eaprendizado, mediar a interação dos alunos com os saberes formais, <strong>de</strong>maneira que estes conhecimentos sejam relevantes para o educando eoportunizem novas situações <strong>de</strong> interação sócio- culturais. No município <strong>de</strong>Novo Hamburgo, existe um projeto da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação(Smed), chamado “Repórteres mirins na era do radio”, que visa oportunizaraos alunos momentos <strong>de</strong> interação com os acontecimentos da sua escola, doseu município, culturais, sociais e da sua comunida<strong>de</strong>. O grupo <strong>de</strong> repórteresmirins é coor<strong>de</strong>nado por um professor responsável, que <strong>org</strong>aniza aspesquisas, entrevistas, reivindicações, recados, avisos entre outros assuntosque serão apresentados na rádio da escola. Esse projeto, tem a parceria darádio ABC900 (AM) <strong>de</strong> Novo Hamburgo. Não são todas as escolas queparticipam do projeto, pois é dada a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha para a a<strong>de</strong>são nomesmo. Na escola on<strong>de</strong> leciono há a Rádio, e percebo que é <strong>de</strong> fundamentalimportância que os alunos construam e <strong>de</strong>senvolvam conhecimentos ehabilida<strong>de</strong>s dos gêneros orais, para melhor elaboração e condução dasentrevistas radiofônicas, das reivindicações, dos avisos, dos <strong>de</strong>bates. Paraisso, é importante que tanto os alunos repórteres, como os ouvintes,entendam a relevância do papel <strong>de</strong> cada um, pois o repórter, acaba tornando-196


se um mediador entre o publico, o entrevistado e/ou reivindicação junto àequipe diretiva escolar e o município. Dessa forma, proponho o resgate dogênero oral <strong>de</strong>ntro da escola, que se fará através <strong>de</strong> seqüências didáticasso<strong>br</strong>e os gêneros aplicados no cotidiano da rádio, enfatizando a entrevista.Sendo assim, será possível apontar os pontos positivos, que realmente foramrelevantes, e os pontos que não ofereceram gran<strong>de</strong>s mudanças, ou nos quaisos alunos apresentaram mais dificulda<strong>de</strong>. Também, espera-se que os alunossejam capazes <strong>de</strong> estabelecer relações com os gêneros orais e aaplicabilida<strong>de</strong> dos mesmos no <strong>de</strong>senvolvimento da rádioQUEM LÊ TANTA NOTÍCIA? – UMA BUSCA PELOS SENTIDOSDA LEITURA DE JORNAIS NA FOLHA DE S. PAULOCristina Charão Marques (UFRGS)O leitor <strong>de</strong> jornal está no topo da pirâmi<strong>de</strong> do letramento. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte doparadigma <strong>de</strong> letramento utilizado para se <strong>de</strong>finir uma relação hierárquicaentre as diferentes práticas letradas – a saber, o mo<strong>de</strong>lo autônomo e omo<strong>de</strong>lo i<strong>de</strong>ológico –, é lá no alto <strong>de</strong>sta pirâmi<strong>de</strong> que se po<strong>de</strong> avistar o leitor<strong>de</strong> jornal. Buscar saber o que se diz a respeito <strong>de</strong>le, quais os sentidos quedominam a imagem da leitura <strong>de</strong> jornal é um passo para compreen<strong>de</strong>r osvalores relacionados à leitura e, mais especificamente, aos sujeitos leitoresno Brasil contemporâneo, consi<strong>de</strong>rando que estes são valores em disputa nasocieda<strong>de</strong>. É <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sta perspectiva que este trabalho, lançando mão <strong>de</strong>ferramentas teórico-metodológicas da Análise do Discurso, busca i<strong>de</strong>ntificarquais as imagens atribuídas aos seus leitores pelo jornal <strong>de</strong> maior circulaçãodo país, a Folha <strong>de</strong> S. Paulo. Analisando textos publicados pela Folha acercada mais recente reforma gráfica por que passou o jornal, em 2006, é possívelapontar três formações discursivas que compõem a imagem do leitor <strong>de</strong>jornal: uma que <strong>de</strong>fine o leitor como um sujeito premido pelo tempo (um“leitor com tempo contado”); outra que indica a inépcia do leitor paracompreen<strong>de</strong>r e mesmo achar as informações <strong>de</strong>ntro do jornal (um “leitorperdido”) e ainda uma terceira FD, a do “leitor participativo”, aquele queinterage ou preten<strong>de</strong> interagir não necessariamente com o que lê, mas comos responsáveis pelo produto que lê.VISÃO NÃO-FORMALISTA DO ENSINO DA ESCRITA: UMAEXPERIÊNCIA REALLetícia Santos (UFRGS)Este trabalho propõe-se a relatar uma prática <strong>de</strong> ensino ocorrida no ano <strong>de</strong>2005 na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre. Nossa prática <strong>de</strong> ensino foi <strong>de</strong>senvolvidaem uma turma <strong>de</strong> curso técnico em mecânica, pós-médio, na disciplina <strong>de</strong>redação. O relato <strong>de</strong>sta prática é relevante por ter sido fundamentado nasteorias lingüísticas atuais, basicamente, em Bakhtin. Conectamos nossaprática <strong>de</strong> ensino a um projeto <strong>de</strong> pesquisa que vem sendo <strong>de</strong>senvolvido naUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, a partir <strong>de</strong> uma visão não-197


formalista <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> escrita, projeto este coor<strong>de</strong>nado pelo Prof. Dr. PauloCoim<strong>br</strong>a Gue<strong>de</strong>s. Tanto na Universida<strong>de</strong> quanto na Escola <strong>de</strong> Ensino Médio,obteve-se um resultado muito satisfatório, visto que conseguimos que osalunos ampliassem qualitativa e quantitativamente suas produções escritas.Isto nos faz prosseguir pesquisando esse assunto, a fim <strong>de</strong> obter subsídiospara um ensino <strong>de</strong> escrita eficaz, baseado em métodos não formalistas, capaz<strong>de</strong> oportunizar ao aluno, um maior contato com o mundo da escrita.LETRAR PARA ALFABETIZAR: A CONTRIBUIÇÃO DOLETRAMENTO FAMILIAR E ESCOLAR PARA O “SUCESSO” DAALFABETIZAÇÃOLuiza da Silva Costa (UFRGS)Este trabalho preten<strong>de</strong> examinar como um ambiente familiar letrado e suaspráticas <strong>de</strong> leitura e escrita influenciam no processo <strong>de</strong> alfabetização. Para aanálise teórica, a pesquisa trabalha com os Estudos so<strong>br</strong>e Letramento a partirda perspectiva dos Estudos Culturais. Os dados para a pesquisa foramcoletados por meio <strong>de</strong> um questionário, em forma <strong>de</strong> um “mini-censo”,aplicado numa turma <strong>de</strong> alfabetização <strong>de</strong> uma escola da re<strong>de</strong> públicaestadual, contendo perguntas acerca das práticas <strong>de</strong> leitura e escrita queocorrem no ambiente familiar, bem como so<strong>br</strong>e a escolarização e profissãodos familiares <strong>de</strong> cada aluno. Além disso, foi analisada a prática pedagógicarealizada na turma em questão, on<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s buscavam trabalhar aaquisição da leitura e da escrita, bem como os usos sociais <strong>de</strong> tais práticas.Através <strong>de</strong> um cruzamento <strong>de</strong> dados entre as respostas dadas aosquestionários, as ativida<strong>de</strong>s que ilustraram as aulas e os perfis traçadoscontemplando a evolução <strong>de</strong> cada aluno no processo <strong>de</strong> alfabetização no<strong>de</strong>correr do período, chegou-se a conclusão <strong>de</strong> que os alunos que vivem emambientes domésticos, on<strong>de</strong> as práticas <strong>de</strong> leitura e escrita são valorizadas eestimuladas, chegam à escola com maiores habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escrita,favorecendo, assim, a sua alfabetização, ao longo da 1ª série.DIVISÃO DE GRUPOS POR NÍVEL DE HABILIDADES:DIFERENTES NÍVEIS DE ALFABETIZAÇÃO, DIFERENTESOPORTUNIDADES DE LETRAMENTOCarmen Ângela Lazarotto (UFRGS)Este estudo investiga o modo como alunos e professora constroem oletramento em uma sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> primeiro ano do Ensino Fundamental. Osresultados da pesquisa mostram que os padrões <strong>org</strong>anizacionais a partir dosquais os estudantes estavam divididos não apenas indicavam seus níveis <strong>de</strong>habilida<strong>de</strong>s, mas indicavam modos específicos e complexos <strong>de</strong> se apropriar e<strong>de</strong> lidar com a leitura e com a escrita, a partir das diversas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>letramento que lhes eram oferecidas.198


EM BUSCA DA AUTONOMIA NA SALA DE AULA DE LÍNGUAPORTUGUESAMarilia <strong>de</strong> Melo Costa (Unesp, Araraquara)Nossa proposta é investigar o grau <strong>de</strong> autonomia já existente em uma turma<strong>de</strong> oitava série do Ensino Fundamental e <strong>de</strong> que forma uma intervenção emsala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Língua Portuguesa po<strong>de</strong> fomentar a autonomia do aluno. Naperspectiva em que trabalhamos a idéia <strong>de</strong> autonomia, <strong>de</strong>finida abaixo, ostrabalhos têm se restringido à área <strong>de</strong> ensino e aprendizagem <strong>de</strong> línguaestrangeiras. Nossa intenção é verificar como isso po<strong>de</strong> ser aplicado aoensino <strong>de</strong> língua materna. A intervenção aconteceu em uma escola emBelém, no Pará, e busca contribuir para um melhor entendimento so<strong>br</strong>e aresponsabilida<strong>de</strong> que o aluno se atribui no processo <strong>de</strong> aprendizagem. Nessapesquisa, autonomia é <strong>de</strong>finida como o controle so<strong>br</strong>e o próprio processo <strong>de</strong>aprendizagem e po<strong>de</strong> se manifestar <strong>de</strong> diferentes formas para diferentesindivíduos, ou para o mesmo indivíduo, em diferentes contextos (BENSON,2001). De modo mais específico, procuramos verificar o nível <strong>de</strong> controle daautonomia <strong>de</strong>senvolvido pelos alunos e verificar quais as mudançasocorridas após a intervenção quanto à responsabilida<strong>de</strong> do aluno por seupróprio processo <strong>de</strong> aprendizagem. Os resultados apresentados mostram queé possível <strong>de</strong>senvolver a autonomia – <strong>de</strong>ntro da perspectiva adotada por nós– na sala <strong>de</strong> aula e proporcionar ao aluno a construção <strong>de</strong> uma competênciaautônoma que ele possa mobilizar <strong>de</strong>ntro e fora da escola, nas mais diversassituações <strong>de</strong> aprendizagem. Este estudo se fundamenta nos quadros teóricosdo Sócio-Interacionismo <strong>de</strong> Vygotsky (1991,1993) e em vários estudosso<strong>br</strong>e autonomia na aprendizagem <strong>de</strong> línguas.A NARRATIVA INFANTIL E O ENSINO DA PONTUAÇÃOPascoalina Bailon <strong>de</strong> Oliveira Saleh (UEPG)Neste trabalho investiga-se a relação entre a pontuação e a configuração dasinstâncias narrativas no texto infantil e, a partir daí, tecem-se algumasconsi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e o ensino da pontuação. Para tanto, numa abordageminteracionista, analisam-se longitudinalmente textos produzidos por umacriança entre os 5 e 12 anos, nos quais chama atenção a emergência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>muito cedo, <strong>de</strong> parênteses, asterisco, e o uso <strong>de</strong> aspas, sublinhas emaiúsculas. A presença <strong>de</strong>sses elementos aumenta significativamente aolongo dos anos, começando a <strong>de</strong>cair apenas ao final do período da coleta.Essas marcas peculiares à escrita constituem elementos importantes naconfiguração das instâncias narrativas nos textos <strong>de</strong>ssa criança, uma vez queelas estão estreitamente relacionadas à perspectiva através da qual os fatossão apresentados e à forma que é dada voz aos personagens. A história<strong>de</strong>sse modo singular <strong>de</strong> pontuar permite tomar a pontuação como umelemento importante no modo <strong>de</strong> subjetivação da criança pela linguagem;permite ainda interpretá-la como a história da emergência e consolidação <strong>de</strong>um estilo peculiar. Vale ressaltar que o estilo é concebido enquanto efeito199


das marcas <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> inscritas no texto da criança, isto é, como efeitodos pontos em que o sujeito se mostra na ca<strong>de</strong>ia textual (Bernar<strong>de</strong>s, 2002).Diante disso, toma-se a configuração do narrador como um dos aspectosprivilegiados para uma reflexão so<strong>br</strong>e a relação língua, texto e pontuaçãonos textos infantis escritos. Com esse recorte, salienta-se que a pontuação,no texto infantil, merece ser vista como um mecanismo que ultrapassa emmuito não só a questão meramente gramatical, seja numa perspectivanormativa ou não, mas também a questão textual tomada em sentidogenérico, já que se trata <strong>de</strong> um importante elemento na construção do textoem suas especificida<strong>de</strong>s, no caso, o texto narrativo.REPETÊNCIA EM PORTUGUÊS NOS ANOS INICIAIS: ACOMPLEXIDADE DAS APRENDIZAGENS ESCOLARESEli Terezinha Henn Fa<strong>br</strong>is (UNISINOS)Fernanda da Silva Ziegler (UNISINOS)Apresentamos um recorte da pesquisa “As tramas do currículo e o<strong>de</strong>sempenho escolar: as práticas pedagógicas nos anos iniciais do ensinofundamental” que está em fase inicial, portanto, os dados e as análises sãopreliminares. Procuramos problematizar o elevado grau <strong>de</strong> repetência naárea <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> português e, o material <strong>de</strong> análise se compôs <strong>de</strong> 23pareceres pedagógicos <strong>de</strong> alunos repetentes e duas entrevistas comprofessoras <strong>de</strong> uma escola da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> São Leopoldo. Destacamosque os pareceres pedagógicos dos alunos repetentes do 2º ano do EnsinoFundamental (antiga 1ª série) - do ano <strong>de</strong> 2007 – <strong>de</strong>screvem as dificulda<strong>de</strong>sna leitura, na formação <strong>de</strong> palavras e na escrita como fatores <strong>de</strong>terminantespara a reprovação dos alunos. Porém verificamos uma dissonância entre os<strong>de</strong>poimentos das professoras que aten<strong>de</strong>m os referidos alunos em 2008 e ospareceres pedagógicos dos mesmos. Apesar do histórico <strong>de</strong> repetência, eles<strong>de</strong>monstram bom <strong>de</strong>sempenho escolar quando comparados com o restante daturma. Entretanto, as professoras manifestaram suas angústias quanto àcondução do processo <strong>de</strong> alfabetização dos alunos iniciantes. Precisamos terpresente a complexida<strong>de</strong> que envolve as aprendizagens escolares. Não sãoapenas as questões sociais e familiares que interferem no processo <strong>de</strong>aprendizagem. As condições pedagógicas e da área específica precisam serconsi<strong>de</strong>radas. O material analisado possibilita algumas hipótesespreliminares so<strong>br</strong>e as dissonâncias entre pareceres pedagógicos versus<strong>de</strong>poimentos das professoras: os alunos repetentes <strong>de</strong>stacam-se nasaprendizagens iniciais da alfabetização, pois já executaram práticas, nomínimo, semelhantes; a preocupação mais acentuada <strong>de</strong>ssas professoras comos alunos iniciantes aponta para uma compreensão limitada do processo <strong>de</strong>alfabetização; as professoras não escolhem alfabetizar e têm dificulda<strong>de</strong>s aoiniciar o processo <strong>de</strong> alfabetização; são direcionadas para essas turmas pormotivos alheios às suas vonta<strong>de</strong>s e experiências e, uma vez colocadas nasturmas, <strong>de</strong>senvolvem ativida<strong>de</strong>s orientadas pela cultura escolar e/ou porações pedagógicas previstas em manuais pedagógicos e/ou advindos <strong>de</strong> sua200


formação. Ousamos dizer que as dificulda<strong>de</strong>s não são apenas dos alunos,mas também dos professores alfabetizadores. A ênfase na dimensãometodológica da alfabetização po<strong>de</strong> indicar um conhecimento limitado dofuncionamento da língua portuguesa. Portanto, ao analisar os processos <strong>de</strong>repetência nos anos iniciais, precisamos consi<strong>de</strong>rar também osconhecimentos dos professores alfabetizadores na área específica <strong>de</strong>português.O ENSINO DE LÍNGUA E LITERATURA NO CURSO NORMAL DENÍVEL MÉDIOMarinês Andrea Kunz (Feevale)Simone Daise Schnei<strong>de</strong>r (Feevale)Rosemari Lorenz Martins (Feevale)Este projeto <strong>de</strong> pesquisa tem por objetivo verificar se a mudança <strong>de</strong>paradigma proposta nos PCNs, na área dos estudos da língua e da literatura,está sendo colocada em prática no curso Normal – curso <strong>de</strong> magistério emnível médio, na região do Vale do Rio dos Sinos. Esta pesquisa é <strong>de</strong> naturezabibliográfica e <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong> cunho qualitativo. As teorias so<strong>br</strong>e linguagem,língua, letramento, leitura e literatura, bem como so<strong>br</strong>e o construtivismo e ointeracionismo servem <strong>de</strong> base para o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa, que estácentrada na metodologia do ensino <strong>de</strong> língua materna, leitura, literatura e,conseqüentemente, no <strong>de</strong>senvolvimento da linguagem. Na revisãobibliográfica, além do estudo das Diretrizes Curriculares Nacionais, doPCNEM, e dos PCNs das séries iniciais do Ensino Fundamental no quetange ao ensino <strong>de</strong> língua e literatura, da legislação que rege os cursos <strong>de</strong>Normal em nível médio, estão sendo analisados os documentos das escolas –regimento e Projeto Político Pedagógico - que regem o curso Normal emcinco escolas do Vale do Rio dos Sinos, on<strong>de</strong> estão sendo realizadasentrevistas com os professores que ministram as disciplinas da área e comvinte estagiárias, sendo que cinco <strong>de</strong>las terão suas aulas observadas. Essesdados serão analisados à luz da revisão teórica, com o intuito <strong>de</strong> verificar seprática e teoria são compatíveis, ou se convergem, em que medida. Caso nãoseja, serão propostas alterações no Projeto Político pedagógico bem como oinvestimento na formação <strong>de</strong> professores.A PRODUÇÃO TEXTUAL A PARTIR DO GÊNERO HQsLenai<strong>de</strong> Gonçalves Innocente (UNISUL, Tubarão)Esta pesquisa tem como objeto a análise do gênero História em Quadrinhoscom o propósito <strong>de</strong> contribuir para a compreensão da estrutura do gêneroestudado com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apresentar propostas pedagógicas que priorizeuma pedagogia que contemple articulações entre ensino-aprendizagem econhecimento-socieda<strong>de</strong>. Propõe-se, para tanto, integrar metodologicamenteos conteúdos das disciplinas curriculares, através da produção textual. Talpesquisa, se justifica pelo fato <strong>de</strong> haver uma tendência nos livros didáticos,201


nas propostas educacionais e, nas abordagens pedagógicas atuais (nas quaisse baseiam tanto a Proposta Curricular <strong>de</strong> Santa Catarina, como também osPCNs) em propor um trabalho com leitura e produção textual com base emgêneros textuais. Neste sentido, a fim <strong>de</strong> produzir subsídios para o ensino,principalmente, da língua materna, procura-se aprofundar tais estudos, poiseste gênero (HQ) contribui <strong>de</strong> forma singular para a compreensão daspráticas discursivas presentes no universo infantil, adolescente e, inclusive, oadulto. O aporte teórico que se utilizou se insere na abordagem sócioretórica<strong>de</strong> análise <strong>de</strong> gênero proposta por Swales (1990, 1992, 2004); opensamento a cerca <strong>de</strong> Gênero <strong>de</strong> Bakhtin (2003); Bazerman (2005) entreoutros.LETRAMENTO E FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUAMATERNA: REFLEXÕES SOBRE OS USOS SOCIAIS DA ESCRITA.Mary Elizabeth Cerutti-Rizzatti (UFSC)Esta comunicação tematiza ativida<strong>de</strong>s orientadas, realizadas comgraduandos em Letras – Licenciatura Português –, cujo foco é ai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> concepções so<strong>br</strong>e o fenômeno do letramento e <strong>de</strong>implicações <strong>de</strong>sse fenômeno na escolarização, tomando-o em dois vérticesdistintos: a) mo<strong>de</strong>los vigentes no i<strong>de</strong>ário acadêmico; e b) relações entreentorno sociocutural e ampliação <strong>de</strong> esquemas cognitivos ativados naconstrução <strong>de</strong> sentidos por ocasião do uso social da escrita. A ancoragemteórica são estudos seminais <strong>de</strong> Street (1984) e Heath (1982) e teorizações<strong>de</strong> Barton (1994) e Graff (1994). O conteúdo da comunicação <strong>de</strong>screvequatro diferentes estudos so<strong>br</strong>e esses eixos e narra seus resultados. Os doisprimeiros estudos focalizam concepções prevalecentes <strong>de</strong> letramento nomeio acadêmico, evi<strong>de</strong>nciando a quase unanimida<strong>de</strong> da correlaçãoletramento e erudição, o que ganha especial contorno quando essaconcepção revela-se por meio <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados realizadovia ferramenta MSN: os informantes enunciam conceitos so<strong>br</strong>e letramentoque dicotomizam leitura e escrita, fazendo isso em um evento <strong>de</strong> letramentoem que tais fronteiras estão, em gran<strong>de</strong> medida, diluídas. Os dois últimosestudos tematizam relações entre níveis <strong>de</strong> letramento familiar e ampliação<strong>de</strong> esquemas cognitivos ativados pelos usos sociais da escrita, em se tratando<strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> grupos socioculturalmente diversos. Tais estudosdimensionam, no âmbito <strong>de</strong> sua realização, a forma como a ambientaçãofamiliar e o entorno sociocultural atuam na ampliação ou não dos esquemascognitivos infantis no que diz respeito aos usos da escrita em uma socieda<strong>de</strong>grafocêntrica. Os quatro estudos convergem ao apontar para a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar, <strong>de</strong> modo mais efetivo, na Universida<strong>de</strong> – especialmente noprocesso <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> docentes <strong>de</strong> língua materna -, as relações entre osusos sociais da escrita, as práticas <strong>de</strong> letramento das diferentes configuraçõessocioculturais e a natureza da ação escolar. Os trabalhos permitem inferirque, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duas décadas das consi<strong>de</strong>rações <strong>de</strong> B. Street e S.Heath so<strong>br</strong>e a prevalência do mo<strong>de</strong>lo autônomo <strong>de</strong> letramento na ação202


escolar, mantém-se, mesmo no âmbito da formação <strong>de</strong> docentes <strong>de</strong> línguamaterna, a biunivocida<strong>de</strong> entre letramento e erudição. No entorno <strong>de</strong>escolarização das crianças, tal biunivocida<strong>de</strong> parece se revelar em posturaspedagógicas nas quais mo<strong>de</strong>los apriorísticos <strong>de</strong> escrita revelam-se artificiaispara um grupo expressivo <strong>de</strong> indivíduos egressos <strong>de</strong> núcleos <strong>de</strong> letramentodistintos do padrão escolar.A NOÇÃO DE GÊNERO EM BAKHTIN: ANÁLISE DA PRODUÇÃOTEXTUAL DE ALUNOS DE PORTUGUÊS COMO SEGUNDALÍNGUASimone Soares (UFRGS)Graziela Andrighetti (UFRGS)Simone Carvalho (UFRGS)Simone Kunrath (UFRGS)O presente trabalho tem como objetivo refletir so<strong>br</strong>e a interlocuçãoproduzida em uma situação <strong>de</strong> avaliação, relacionando uma tarefa <strong>de</strong> prova,as respostas dos alunos a tal tarefa e a respectiva gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> avaliação. Osdados analisados provêm da produção textual <strong>de</strong> 19 alunos falantes <strong>de</strong>Português como Segunda Língua (PLE), do curso Intermediário doPrograma <strong>de</strong> Português para Estrangeiros (PPE) da UFRGS e a gra<strong>de</strong> <strong>de</strong>correção criada para tal tarefa. A base teórica do trabalho está fundamentadana noção bakhtiniana <strong>de</strong> gênero discursivo, que estabelece uma relaçãodinâmica entre aquilo que é enunciado (oral ou escrito) e suas funções nainteração, ou, dito <strong>de</strong> outro modo, entre os gêneros discursivos e o que éfeito com eles na ativida<strong>de</strong> social em si. Para o autor, um enunciado écaracterizado pela relação entre o enunciador, o interlocutor e o propósitopor eles estabelecido em uma situação <strong>de</strong> comunicação. Dessa forma,ressalta-se a relação estabelecida entre eu/outro, a unicida<strong>de</strong> do evento e adimensão axiológica socialmente construída no momento da interação.Assim sendo, o foco analítico do trabalho é colocado so<strong>br</strong>e três eixos. Oprimeiro diz respeito à tarefa e ao texto que a acompanha, o qual secaracteriza por não ser autêntico, retirado <strong>de</strong> um livro didático(Falar...Ler...Escrever...-Português – Um curso para estrangeiros. EmmaEberlein, O. F. Lima e Samira A. Iunes), que apresenta uma mistura <strong>de</strong>gêneros, mostrando marcas <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> oralida<strong>de</strong>. O segundo eixotrata da produção dos alunos, baseando-se nas seguintes questões: (a) comoeles lidaram com tal mistura <strong>de</strong> gêneros discursivos e suas marcas; (b) comoeles resolveram as dificulda<strong>de</strong>s relativas ao texto da tarefa; e (c) comointerpretaram as marcas <strong>de</strong> formalida<strong>de</strong>/oralida<strong>de</strong>. Finalmente, o último eixoestá relacionado à gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> correção da tarefa: (a) como a gra<strong>de</strong> dá conta (ounão) <strong>de</strong> toda uma contextualização necessária para que a questão dialógicanão se perca; (b) como a gra<strong>de</strong> dá conta <strong>de</strong> frases que a<strong>br</strong>em o sentido paraleituras diferentes. Dessa forma, esse estudo preten<strong>de</strong> contribuir para adiscussão acerca da avaliação em sala <strong>de</strong> aula, refletindo so<strong>br</strong>e os <strong>de</strong>scritorespresentes na gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> correção e até que ponto esses <strong>de</strong>scritores abarcam a203


elação dialógica presente na situação avaliativa, bem como o que é tornadorelevante para que o texto configure interlocução.GT14 Semântica, Sintaxe e Interfaces – Abordagens FormaisCoor<strong>de</strong>nadoresMarcos Goldna<strong>de</strong>l (UFRGS)Márcio Renato Guimarães (UFPR)CLIVADAS BÁSICAS E PSEUDO-CLIVADAS EXTRAPOSTAS:UMA ANÁLISE UNIFICADACarlos Felipe da Conceição Pinto (UNICAMP)Este trabalho tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir construções, como “Foi João QUEchegou” (clivada básica) e “Foi João QUEM chegou” (pseudo-clivadaextraposta), que, têm sido analisadas como construções diferentes emdiversas línguas e propor, assim, uma análise unificada, que procura <strong>de</strong>rivaras duas construções a partir da mesma estrutura sintática básica, tendo emvista o Programa Minimalista da Gramática Gerativa, que propõe quemovimento sintático tem apenas finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> checar os traços dos núcleos e<strong>de</strong>ve ser último recurso. Embora os dados discutidos neste trabalho sejampredominantemente do PB, a análise se aplica e explica as construçõesequivalentes em outras línguas. Na seção 1, apresento o tema <strong>de</strong> pesquisa.Na seção 2, apresento e discuto a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> clivagem que é adotada nestetrabalho e discuto algumas características semânticas das construções <strong>de</strong>clivagem que as distinguem <strong>de</strong> outras construções superficialmente idênticasque, porém, não representam construções <strong>de</strong> clivagem. Em seguida,apresento <strong>de</strong>talhadamente o problema, com base na discussão so<strong>br</strong>e aalternância who/that do inglês e a fixação do valor da variável. Na seção 3,revejo algumas análises apresentadas para explicar a estrutura das duasconstruções <strong>de</strong> clivagem discutidas aqui. Na seção 4, apresento o referencialteórico no qual a nova proposta é baseada, tendo em vista o critério WH e aconcordância dinâmica do operador movido para a posição <strong>de</strong> especificador<strong>de</strong> CP e o núcleo Cº, na periferia da sentença. Na seção 5, apresento algumasevidências empíricas com base em dados do inglês, do francês e do espanholda Espanha e da América. Evidências <strong>de</strong> que o complementizador po<strong>de</strong>apresentar traços <strong>de</strong> concordância são dadas com base no holandês, línguaque apresenta concordância entre o complementizador e o sujeito da oraçãosubordinada. Em seguida, apresentado uma análise unificada para as duasconstruções propondo que a diferença entre elas se <strong>de</strong>ve à variação no traço[±concordância] entre o operador movido (que representa o elementofocalizado) para especificador <strong>de</strong> CP e o núcleo focal em Cº: as construçõesclivadas básicas apresentariam o traço [-concordância], que seria realizadopelo complementizador “que” invariável; <strong>de</strong> forma contrária, as construçõespseudo-clivadas extrapostas apresentariam o traço [+concordância], que204


seria realizado pelo complementizador “quem”, “o que”, “quando”, “on<strong>de</strong>”etc. a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do XP focalizado ocupando a posição <strong>de</strong> especificador <strong>de</strong> CP.O CONFLITO ENTRE A NEGAÇÃO SENTENCIAL E OQUANTIFICADOR “TODO” DO PBAna Paula Quadros Gomes (USP)Um fenômeno separa a língua portuguesa das <strong>de</strong>mais: a incompatibilida<strong>de</strong>da negação sentencial com os universais (cf. 3). Em outras línguas, eles coocorrem(1/2), gerando até mesmo ambigüida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escopo (2):(1) Every stu<strong>de</strong>nt didn’t read a book. (">Ø)/ (Ø>").(2) Tutti gli stu<strong>de</strong>nti non hanno letto il li<strong>br</strong>o. (">Ø)/*(Ø>")(3) Todos os alunos (*não) leram o livro. *(">Ø)/*(Ø>")O conceito que não po<strong>de</strong> ser construído com “todo” e a negação sentencialem (4) po<strong>de</strong> ser cunhado com negação lexical em ( (5):(4) Toda criança (*não) sossega.(5) Toda criança é <strong>de</strong>sassossegada.Há uma assimetria quanto à negação entre “todo” em posição <strong>de</strong> sujeito e emposição <strong>de</strong> objeto:(6) Todos os convidados (*não) comeram bolo/ Nem todos osconvidados comeram bolo.(7) Os convidados não comeram todo o bolo/ Os convidadoscomeram (*nem) todo o bolo.Só “todo” em posição <strong>de</strong> sujeito aceita modificação por “nem”; a negaçãonominal não é licenciada quando “todo” é o argumento interno. Já “todo”objeto po<strong>de</strong> co-ocorrer com negação sentencial, e “todo” sujeito, não. Aassimetria <strong>de</strong>corre da forma lógica diferente:(8) Todos [ restrição os convidados] [ escopo (*não) comeram o bolo](9) [ restrição Os convidados não comeram] todo[ escopo o bolo]A negação é da quantida<strong>de</strong>: (9) não nega a existência um evento em que osconvidados comeram o bolo, mas informa que nesse evento não foi comidoo bolo inteiro.Para explicar esses dados, analisamos “todo” como um introdutor <strong>de</strong> escala,contribuindo com o grau máximo <strong>de</strong> completu<strong>de</strong>. O quantificador divi<strong>de</strong> asentença em dois constituintes lógicos, o sujeito da predicação e o predicado,requerendo que o predicado seja verda<strong>de</strong>iro das partes da <strong>de</strong>notação dosujeito. Se a negação sentencial ficar no escopo nuclear do quantificador,não será obtida a incrementalida<strong>de</strong> característica da escala. A análise <strong>de</strong>“todo” como um introdutor <strong>de</strong> grau máximo também explica porque esse205


quantificador permite a negação sentencial em sua restrição (cf 10)mas nãono seu escopo nuclear:(10) Todos [ restrição os convidados que não comeram o bolo][ escopo tomaram sorvete].(8)*Todos [ restrição os convidados ] [ escopo não comeram o bolo].ASPECTOS DA SEMÂNTICA DA COMPARAÇÃOMETALINGÜÍSTICALuisandro Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza (PG – UFSC/CNPq)Roberta Pires <strong>de</strong> Oliveira (UFSC/CNPq)Nosso objetivo neste trabalho é apresentar alguns resultados daanálise <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> sentenças comparativas que têm sido referidas naliteratura como “comparação metalingüística” (CM), exemplo em (1), quedifere da chamada comparativa canônica, exemplificada em (2):(1) João é mais esperto do que inteligente.(2) João é mais inteligente do que MariaA sentença (1) é ambígua: ela po<strong>de</strong> indicar que o grau <strong>de</strong> espertezado João é maior do que o seu grau <strong>de</strong> inteligência, aproximando-se dacomparação canônica em (2), que po<strong>de</strong> ser parafraseada, seguindo já umalonga tradição (von Stechow, 1984; Kennedy, 1997; Heim, 2001, entreoutros) como o grau <strong>de</strong> inteligência <strong>de</strong> João é maior do que o grau <strong>de</strong>inteligência <strong>de</strong> Maria. Na interpretação metalingüística, o falante faz umaespécie <strong>de</strong> “correção”, indicando que é mais apropriado dizer do João queele é esperto do que dizer que ele é inteligente. Nesse sentido, ela seaproxima da negação metalingüística (‘João não é esperto, é inteligente).Mostraremos algumas proprieda<strong>de</strong>s gerais da construção <strong>de</strong> CMs em PB,quais categorias po<strong>de</strong>m ser alvo <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> comparação, contrastando comexemplos <strong>de</strong> outras línguas como o inglês e, em particular, com o grego, jáque essa língua possui gramaticalizado uma expressão que ocorre somenteem construções <strong>de</strong> CM (cf. Giannakidou & Stavrou, 2008). Descreveremos apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> algumas estruturas serem ambíguas entre uma leituracanônica e uma leitura metalingüística. Iremos ainda mostrar que a CM nãose confun<strong>de</strong> nem com a comparação <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio (‘João é mais gordo do quePedro é alto), nem com a comparação <strong>de</strong> protótipo (‘Essa ca<strong>de</strong>ira é maisca<strong>de</strong>ira do que aquela’) Por fim, o trabalho critica a proposta semântica <strong>de</strong>Giannakidou & Stavrou (2008) para esse tipo <strong>de</strong> sentença. Essa proposta éina<strong>de</strong>quada porque a estrutura semântica é radicalmente diferente daestrutura sintática, na medida em que apenas na estrutura semântica há umpredicado intensional que indica o grau <strong>de</strong> apreciação do falante; além disso,ela gera resultados incorretos, precisamente por colocar um predicado206


intensional, o que leva a leituras <strong>de</strong> dicto, que não são empiricamenteatestadas.O QUE HÁ DE DIFERENTE ENTRE ‘PODE’ E ‘PODIA’ ?Ana Lucia Pessotto dos Santos (UFSC/PIBIC)Roberta Pires <strong>de</strong> Oliveira (UFSC/CNPq)Este trabalho estuda a semântica e a sintaxe <strong>de</strong> 'po<strong>de</strong>' e 'podia' no português<strong>br</strong>asileiro (PB), que, como veremos, são diferentes, embora ambosexpressem possibilida<strong>de</strong> (entendido no quadro da Semântica <strong>de</strong> MundosPossíveis em que modalida<strong>de</strong> é a expressão da necessida<strong>de</strong> ou possibilida<strong>de</strong>(von Fintel, 2002) e modalida<strong>de</strong> a la Kratzer (1981, 1991)). As diferençassão: a modalida<strong>de</strong> expressa, a força da possibilida<strong>de</strong> (forte vs fraca), a forçailocucionária <strong>de</strong> permissão, a aceitação <strong>de</strong> leitura contrafactual e a existência<strong>de</strong> projeção <strong>de</strong> tempo.‘Podia’ expressa pelo menos uma modalida<strong>de</strong> que ‘po<strong>de</strong>’ não expressa:<strong>de</strong>sejo em (1) e conselho em (2). Aambos expressam as modalida<strong>de</strong>sepistêmica, <strong>de</strong>ôntica, <strong>de</strong> normalida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>. :(1) João podia ser solteiro.(2) Você podia casar.Na modalida<strong>de</strong> epistêmica, ‘po<strong>de</strong>’ expressa uma possibilida<strong>de</strong> mais forte doque ‘podia’, pois veicula a possibilida<strong>de</strong> “positiva”, enquanto ‘podia’ veiculabaixa probabilida<strong>de</strong> do evento ocorrer ( por implicatura, a posição <strong>de</strong>incredulida<strong>de</strong> do falante):(3) [Por tudo o que sabemos] Po<strong>de</strong> chover amanhã.(4) [Por tudo o que sabemos] Podia chover amanhã.Uma terceira diferença está na força ilocucionária <strong>de</strong> permissão. Apenassentenças com ‘po<strong>de</strong>’ são um ato <strong>de</strong> fala indireto, isto é, têm caráterperformativo. Essa diferença mostra que ‘podia’ ou indica um relato <strong>de</strong>permissão, via tempo/aspecto, ou um conselho. Só ‘po<strong>de</strong>’ expressapermissão:(5) Você po<strong>de</strong> sair. (= O falante realiza um ato <strong>de</strong> fala <strong>de</strong>permissão)(6) Você podia sair. (= Tinha permissão ou O falante realizaum ato <strong>de</strong> sugestão/conselho)Quanto à contrafactualida<strong>de</strong>, apenas ‘podia’ é compatível com um fundoconversacional contrafactual. Ofalante po<strong>de</strong> proferir a sentença (1) sabendoque João não é solteiro, mas isso não ocorre com ‘João po<strong>de</strong> ser solteiro`,porque a semântica <strong>de</strong> ‘po<strong>de</strong>’ indica o estado epistêmico do falante, via usodo presente; logo o falante <strong>de</strong>sconhece o valor <strong>de</strong> p, assim tanto p quanto207


não-p. Consi<strong>de</strong>ra-se que a aceitação da contrafactualida<strong>de</strong> está relacionada àexpressão do estado epistêmico do falante: enquanto ‘po<strong>de</strong>’ expressa que ofalante não sabe.; ‘podia’ é “neutro”: aceita tanto um contexto em que ofalante sabe positivamente, quanto um em que é ignorante.A conclusão é : ‘po<strong>de</strong>’ expressa possibilida<strong>de</strong> no presente, e ‘podia’expressa possibilida<strong>de</strong> no passado ou no presente. É “neutro”.Sintaticamente, enquanto ‘po<strong>de</strong>’ apresenta projeção <strong>de</strong> tempo, ‘podia’ é nãomarcado:(8) # João po<strong>de</strong> ter casado, mas não casou.(9) João podia ter casado, mas não casou.Essas diferenças levam a concluir que ‘po<strong>de</strong>’ e ‘podia’ são sintática esemanticamente distintos. O final aponta para uma harmonia das diferenças.QUANTIFICADORES DE JULGAMENTO DE VALOR: PARA UMAANÁLISE UNIFICADAMárcio Renato Guimarães (UFPR)O <strong>de</strong>safio que este trabalho se propõe é o do tratamento unificado dasexpressões <strong>de</strong> julgamento <strong>de</strong> valor (value judgment), em todos os seuscontextos sintáticos <strong>de</strong> ocorrência, fundamentado em uma teoria semântica<strong>de</strong> condições <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Propostas <strong>de</strong> formalização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> expressãoforam feitas para suas ocorrências como <strong>de</strong>terminantes – nomeadamente o<strong>de</strong>terminante many, do inglês. Ocorre que, ao menos em português,expressões como muito, pouco, <strong>de</strong>mais e bastante figuram em maiscontextos sintáticos do que como <strong>de</strong>terminantes, e mesmo em suasocorrências como <strong>de</strong>terminantes não se restringem à <strong>de</strong>notação <strong>de</strong>quantida<strong>de</strong>s plurais contáveis (moleculares). Assim que não é possívelefetuar a simples transposição da avaliação <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> representadanessas análises para outras “escalas” <strong>de</strong> quantificação, ainda queintuitivamente a relação <strong>de</strong>notada pelas expressões <strong>de</strong> julgamento <strong>de</strong> valordo português seja essencialmente a mesma.A SINTAXE DOS VERBOS AUXILIARES DE COMPLEMENTAÇÃONÃO IMEDIATAMarcus Vinicius da Silva Lunguinho (USP)Nesse trabalho, trato da sintaxe <strong>de</strong> uma classe <strong>de</strong> verbos auxiliares que<strong>de</strong>nomino auxiliares <strong>de</strong> complementação não imediata, cujos representantestípicos são os auxiliares aspectuais (começar a, terminar <strong>de</strong>, viver a, estarpor entre outros) e o auxiliar modal ter que / ter <strong>de</strong>. Esses auxiliares têm emcomum o fato <strong>de</strong> apresentarem a estrutura V auxiliar + XP + V infinitivo , estruturaessa em que a relação do auxiliar com o infinitivo é mediada por uma outrapalavra, que po<strong>de</strong> ser, em termos tradicionais, uma preposição (a, <strong>de</strong>, porentre outras) ou que, uma conjunção. O trabalho tem por objetivo maior208


discutir o estatuto <strong>de</strong> tais palavras que acompanham esses auxiliares. Essaspalavras serão discutidas em termos <strong>de</strong>: sua natureza, seu papel na oração,sua localização e sua estrutura abstrata <strong>de</strong> traços. Em relação à primeiratarefa do trabalho, mostrarei que as palavras em estudo não são <strong>de</strong> naturezalexical e sim <strong>de</strong> natureza funcional, gramatical. Uma vez apresentada anatureza funcional das palavras em questão, o segundo passo da análise sevolta a discussão do seu papel na oração. No tocante a isso, quatropossibilida<strong>de</strong>s lógicas se <strong>de</strong>lineiam: a) elas são marcadoras <strong>de</strong> aspecto(Gonçalves, 1995; Andra<strong>de</strong>, 2007); b) elas estão relacionadas a Caso(Rochette, 1989, 1999), c) elas funcionam como elementos atratores (aoestilo <strong>de</strong> Kayne, 2002; 2004) e d) elas são parte do verbo (Burzio, 1986;Boff, 2004). No que diz respeito à localização exata <strong>de</strong>sses constituintes naarquitetura oracional, duas possibilida<strong>de</strong>s serão avaliadas: a) tais palavrasnão se encontram na <strong>de</strong>rivação, pois são constituintes inseridos na FormaFonética por razões <strong>de</strong> Caso, b) elas são a lexicalização <strong>de</strong> um núcleofuncional da oração (Complementador, Tempo ou Aspecto). Por fim, no quetange à estrutura abstrata <strong>de</strong> traços <strong>de</strong>ssas palavras, avaliarei se elas possuemuma estrutura com traços-j e EPP e como tais traços se manifestam nasintaxe dos verbos auxiliares <strong>de</strong> complementação não imediata.AS RELATIVAS LIVRES INFINITIVAS NO PORTUGUÊSBRASILEIROAni Carla Marchesan (UFSC)Carlos Mioto (UFSC)As relativas livres (RLs) são sentenças encaixadas que apresentam umconstituinte que é compartilhado com a sentença matriz. Além disso, umaRL só é gramatical no PB se a expressão-wh for da categoria requerida porum núcleo da sentença matriz:(1) a. *João <strong>de</strong>testa [<strong>de</strong> quem a filha gosta ec].b. João gosta <strong>de</strong> [quem a filha ama ec].Em (1a), a expressão [<strong>de</strong> quem] é da categoria PP e, como o verbo[<strong>de</strong>testar] requer um DP, a sentença fere os MRs. Por outro lado, (1b) égramatical, pois o verbo [gostar] rege uma preposição <strong>de</strong>pois da qual temque ocorrer um DP exatamente como é a categoria <strong>de</strong> [quem].Porém, existe um tipo <strong>de</strong> sentença consi<strong>de</strong>rada RL que se caracteriza por: terverbo no infinitivo; ocorrer principalmente como complemento <strong>de</strong> verbosexistenciais e po<strong>de</strong>r ser parafraseada por um DP in<strong>de</strong>finido . Essas sentençasconstituem um problema porque a expressão-wh nem sempre satisfaz osrequisitos da sentença matriz:(2) João tem [com quem conversar ec].Observe que, em (2), a expressão-wh, sendo um PP, não satisfaz osrequisitos categoriais do verbo existencial ter.209


Para reconciliar esta aparente exceção com a regra geral, vamos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rque nem todas as relativas infinitivas são RLs. As que são RLs seenquadram perfeitamente na regra geral que requer que a expressão-whtenha uma categoria compatível com aquela exigida pelo verbo matriz.Vejamos:(3) João tem [quem incomodar ec].Diferentemente <strong>de</strong> (2), a expressão-wh [quem] em (3) satisfaz os MRs doverbo existencial. Neste caso, concordamos que as infinitivas são RLs. Aquestão é, então, encontrar alguma proprieda<strong>de</strong> que distingue a sentença (3)da <strong>de</strong> (2). Para tanto, a proprieda<strong>de</strong> que apontamos po<strong>de</strong> ser observada em(4):(4) a. João tem uma pessoa [com quem conversar].b. *João tem uma pessoa [quem incomodar].A proprieda<strong>de</strong> é que (2) po<strong>de</strong> ser parafraseada por uma relativa com núcleo,sem mudar a expressão-wh, enquanto a sentença <strong>de</strong> (3) não po<strong>de</strong>. Essecomportamento é inesperado se o comparamos a sentença <strong>de</strong> (2) com o <strong>de</strong>uma RL verda<strong>de</strong>ira:(5) a. Ela gosta <strong>de</strong> [quem gosta <strong>de</strong> poesia].b. Ela gosta das pessoas [que gostam <strong>de</strong> poesia].Em (5b) a preposição <strong>de</strong>, requerida pelo verbo [gostar] se mantém. Aomesmo tempo, o pronome relativo-wh em (5b) muda <strong>de</strong> forma: <strong>de</strong> [quem]para [que]. Observe que, em (4a), o pronome relativo-wh mantémcrucialmente a mesma forma que tem em (2), enquanto em (5) não.ORDEM VS E O PAPEL DA ESTRUTURA INFORMACIONAL NODISCURSOSergio Menuzzi (UFRGS/CNPq)Guilherme Fialho (UFRGS/CNPq)Neste trabalho, apresentamos um estudo qualitativo <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>ocorrências reais da or<strong>de</strong>m VS em português <strong>br</strong>asileiro padrão cujascaracterísticas semântico-pragmáticas ainda não foram observadas naliteratura (Pontes 1987, Givón 1993, Naro & Votre 1999, Berlinck 1997). Asocorrências provêm <strong>de</strong> textos recentes da imprensa nacional (revistas,jornais, etc.) e o que nelas nos interessa são, especificamente, as correlaçõesentre “articulação informacional” da frase (tópico, foco, etc., cf. Vallduví1993, Lam<strong>br</strong>echt 1994, van Kuppevelt 1995) e a “estrutura do discurso” (i.é,sua segmentação temática, cf. van Kuppevelt 1995, Asher & Lascari<strong>de</strong>s2003). Empiricamente, nosso principal objetivo será <strong>de</strong>monstrar que, emboraas ocorrências <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m VS que i<strong>de</strong>ntificamos sejam informacionalmentecaracterizadas pelo fato <strong>de</strong> que o sujeito é parte do foco (não-contrastivo) da210


frase, as ocorrências não possuem as “funções discursivas” apontadas pelaliteratura: a oração VS não possui nem “função apresentativa” (i.é, <strong>de</strong>introdução <strong>de</strong> um referente que se tornará “tópico” da unida<strong>de</strong> temática, cf.Pontes 1987, Givón 1993) nem “função <strong>de</strong> sinalização <strong>de</strong> background”, (i.é,<strong>de</strong> sinalização <strong>de</strong> função não-tópica do sujeito, cf. Naro & Votre 1999).Nenhuma <strong>de</strong>stas caracterizações não consegue explicar um traço constantedas ocorrências em questão: do ponto <strong>de</strong> vista da segmentação temática dodiscurso, ocorrem em “posição final”, e não inicial ou medial, <strong>de</strong> uma“unida<strong>de</strong> temática”. O exemplo (1) abaixo ilustra o tipo <strong>de</strong> ocorrência quediscutiremos, por oposição por exemplo a (2), que po<strong>de</strong> ser assimilado àfunção apresentativa:(...) Dez anos atrás, hospe<strong>de</strong>i-me num hotel e m Uberaba. Chico [Xavier]estava doente e raramente aparecia no centro [espírita]. Após dias <strong>de</strong>plantão, ele surgiu, sentou-se e começou a ler um texto. (1) Estávamoseu e mais cinco pessoas. (2) Aí veio a arrogância do jovem da cida<strong>de</strong>gran<strong>de</strong>, a arrogância motivada pela ignorância, mas que acabou sendoútil. Parei em frente <strong>de</strong>le e man<strong>de</strong>i: “Sou um jornalista do Rio <strong>de</strong> Janeiro(...)”. (“Surra em horário no<strong>br</strong>e”, Isto É On line <strong>de</strong> 03/11/2004,http://www.terra.com.<strong>br</strong>/istoe/)Além <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar as principais características semânticopragmáticas<strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> ocorrência, procuraremos indicar as questões queelas levantam para abordagens semântico-veritativas correntes para aestrutura do discurso e sua relação com a estrutura informacional da frase(van Kuppevelt 1995, Roberts 1996, Büring 2003; Asher & Lascari<strong>de</strong>s 2003,Umbach 2004).A AQUISIÇÃO DE COMPLEMENTAÇÕES SENTENCIAIS: OSPADRÕES DE COMPLEMENTAÇÃO EM LÍNGUAS DE SUJEITONULO E NÃO-NULOVivian Meira (UNICAMP, UNEB)Visa-se a investigar os padrões <strong>de</strong> complementação sentencial,tanto as completivas finitas (indicativo e subjuntivo) quanto as não-finitas(especificamente o infinitivo), buscando <strong>de</strong>screver como se <strong>de</strong>senvolve essasocorrências na aquisição do Português e do Inglês. Tomando como base aTeoria <strong>de</strong> Princípios e Parâmetros (cf. Chomsky, 1981), parte-se da hipótese<strong>de</strong> que, em línguas <strong>de</strong> sujeito nulo, as estruturas <strong>de</strong> complementação sãoadquiridas a partir <strong>de</strong> padrões distintos dos padrões <strong>de</strong> línguas não pro-drop.Para tanto, toma-se como base a Hipótese da Oposição Semântica (cf.Hyams, 2001), segundo a qual há uma hierarquia semântica no que se refereaos modos verbais no período da aquisição. A oposição Realis versusIrrealis é marcada por distintos padrões <strong>de</strong> complementação, ou seja, oinfinitivo e o indicativo, por serem adquiridos antes do subjuntivo, ten<strong>de</strong>m aexpressar os traços [+- realis]. Nesse sentido, o marcador morfológico <strong>de</strong>infinitivo assume o traço [- realis] (que será posteriormente assumido pelo211


subjuntivo) e o indicativo, em orações finitas, expressa o traço [+ realis]. Ocorpus <strong>de</strong> falantes <strong>de</strong> língua portuguesa será composto por três crianças,duas pertencentes ao CEALL, do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, com ida<strong>de</strong> entre 1,8 e3,7 e uma pertencente ao CEDAE, da UNICAMP, com ida<strong>de</strong> entre 1,0 e 5,0.O corpus <strong>de</strong> falantes <strong>de</strong> língua inglesa será composto por três crianças doCHILDES, com ida<strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>nte à ida<strong>de</strong> das crianças <strong>br</strong>asileiras.Busca-se <strong>de</strong>finir as restrições que dizem respeito ao efeito <strong>de</strong> referênciadisjunta e sua relação com a complementação sentencial no período daaquisição, já que a referência disjunta é uma proprieda<strong>de</strong> tradicionalmenteassociada ao subjuntivo. Acredita-se que o infinitivo e o indicativo sãocomplementações inicialmente usadas pelas crianças no processo <strong>de</strong>aquisição, daí partimos da hipótese <strong>de</strong> que, no período inicial da aquisição, oinfinitivo expressa modo irrealis, contrapondo-se ao realis do indicativo.Visa-se a investigar categorias funcionais como tempo e negação nolicenciamento <strong>de</strong>ssas complementações sentenciais, visto que essascategorias estão intrinsecamente relacionadas com a modalida<strong>de</strong> verbal.Tomando isso como pressuposto, acredita-se que as complementaçõessentenciais apresentam padrões diferenciados em línguas <strong>de</strong> sujeito nulo. Aquestão universal se refere ao principio <strong>de</strong> que todas as línguas apresentamum padrão para marcar modo realis e irrealis, mas esse padrão é marcado <strong>de</strong>forma distinta nas línguas e o <strong>de</strong>senvolvimento da gramática na aquisiçãoinfantil também se processa <strong>de</strong> forma diferenciada.SINTAGMAS LOCATIVOS E CONTEXTOS DE RESTRIÇÃO NOPORTUGUÊS BRASILEIROMarcos Eroni Pires (UNICAMP)Assumindo uma configuração clausal para os constituintes preposicionados(Koopman, 1997; Dikken, 2003; Svenonius, 2004, 2007), paralelo aoassumido para os domínios sentenciais, este trabalho analisa a modificação<strong>de</strong> DPs por constituintes construídos a partir <strong>de</strong> preposições locativascomplexas (em cima <strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>, fora <strong>de</strong>, em frente a etc.). O trabalhomostrará que os DPs modificados impõem condições para que o seu PPlocativo modificador receba a interpretação restritiva que caracteriza afunção dos chamados “adjuntos adnominais”. Adotando o que Avelar (2006)chama <strong>de</strong> “gradação <strong>de</strong> referencialida<strong>de</strong>”, o estudo apresentará dados quemostram ser impossível interpretar PPs locativos junto a DP bare nounscomo um adjunto adnominal (cf. (1a)), caso em que o PP po<strong>de</strong> serinterpretado apenas como um adjunto adverbial; com quantificadoresexistenciais ou artigos in<strong>de</strong>finidos, a interpretação como um adjuntoadnominal não é natural (cf. (1b)); DPs introduzidos por artigos <strong>de</strong>finidos epronomes <strong>de</strong>monstrativos são, ao contrário, os que naturalmente licenciam ainterpretação <strong>de</strong> um constituinte preposicionado como adjunto adnominal(cf. (1c-d)). Para explicar esse paradigma, recorro à hipótese <strong>de</strong> que para umPP locativo ter uma função predicativa, funcionando como um adjuntoadnominal, o nome o qual ele modifica <strong>de</strong>ve ser mais referencial, pois, caso212


contrário, o PP só conseguirá ser adjungido ao verbo, funcionando como umadjunto adverbial.(1) a. A Maria usou sapato em cima do tapete. (*adn/adv)b. A Maria usou um sapato em cima do tapete. (?adn/adv)c. A Maria usou o sapato em cima do tapete. (adn/adv)d. A Maria usou aquele sapato em cima do tapete. (adn/adv)INFERÊNCIAS RELACIONADAS AO USO DE ITERATIVOS EMENUNCIADOS COM OPERADOR DE POSSIBILIDADE: QUESTÃODE CONVENÇÃO OU DE CONVERSAÇÃO?Marcos Goldna<strong>de</strong>l (UFRGS)Pressuposições permanecem oferecendo consi<strong>de</strong>ráveis <strong>de</strong>safios <strong>de</strong>scritivosàs teorias lingüísticas. Atualmente, teorias semânticas discursivas, comoDRT e FCS, têm ocupado um importante espaço <strong>de</strong>stinado à discussão doproblema da projeção <strong>de</strong> pressuposições, questão que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong>setenta, tem-se constituído em <strong>de</strong>safio à elaboração <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo formalcapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a<strong>de</strong>quadamente o mecanismo através do qualpressuposições i<strong>de</strong>almente disparadas por gatilhos resultam (ou não) empressuposições efetivas dos enunciados. A teorias semântico-discursivas,embora se diferenciem em muitos aspectos das tentativas pragmáticasanteriores <strong>de</strong> lidar com o problema da projeção, compartilham com elasvários pressupostos teóricos. Assim como as abordagens <strong>de</strong> Karttunen,Karttunen e Peters, Gazdar e Soames, as semânticas discursivas sãoher<strong>de</strong>iras da intuição <strong>de</strong> Stalnaker, segundo a qual pressuposições sãoconteúdos apresentados como mutuamente compartilhados entreinterlocutores. Esses conteúdos, segundo essa visão amplamente aceita, sãodisparados por gatilhos, que, ainda nessa perspectiva, são recursoslingüísticos convencionais. Na perspectiva referida, a força dos gatilhos, que<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> seu caráter convencional, seria responsável pelo fenômeno daacomodação, que ocorre nos casos em que, mesmo não sendo mutuamentecompartilhado pelos interlocutores, um conteúdo lingüisticamentepressuposto resulta incorporado ao contexto. De fato, qualquer teoria quesuponha a existência <strong>de</strong> um gatilho, recurso convencional, está atrelada àidéia <strong>de</strong> acomodação, que parece justificada pela observação <strong>de</strong> enunciadoscomo (1a)-(3a), que, mesmo quando proferidos em contextos que nãocontêm os conteúdos em (1b)-(3b), os pressupõem.(1a) Desculpem o atraso, mas meu carro estragou.(1b) O falante tem um carro.(2a) – Te peguei fumando!– É... Eu não parei <strong>de</strong> fumar.(2b) O falante fumava.(3a) Lia caiu na pegadinha <strong>de</strong> novo?(3b) Lia caiu na pegadinha anteriormente.213


Para as abordagens em DRT, o conteúdo disparado pelos gatilhospo<strong>de</strong> ser acomodado em vários sítios. Nos casos apresentados em (1a)-(3a),em que a pressuposição é sentida como efetiva, o conteúdo pressuposto éacomodado na DRS principal. Nos casos <strong>de</strong> suspensão do conteúdopressuposto, a acomodação ocorre em uma DRS mais encaixada (uma sub-DRS). Neste segundo caso, enquadram-se os casos problemáticos,envolvendo operadores em linguagem verbal análogos aos operadoreslógicos (conjunção, disjunção e condicional). No primeiro caso estão osexemplos em que a acomodação é sentida como efetiva.Há, no entanto, uma série <strong>de</strong> circunstâncias em que a representaçãodiscursiva não disponibiliza uma sub-DRS para acomodar o conteúdosupostamente disparado por um gatilho e, mesmo assim, a pressuposiçãonão é sentida como efetiva, como ilustram os exemplos a seguir.(4) – Olha só aquele rapaz ali. Ele não para <strong>de</strong> roer um lápis. O que será queele tem?– Talvez ele tenha parado <strong>de</strong> fumar.(5) (Em uma locadora <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o que dá um <strong>de</strong>sconto para quem retira umfilme pelasegunda vez.)Cliente: – Quero retirar Manhatan.Aten<strong>de</strong>nte: – O senhor está retirando Manhatan <strong>de</strong> novo?Em (4), embora não haja uma sub-DRS on<strong>de</strong> acomodar o conteúdopressuposto pelo segundo enunciado, a presença do verbo aspectual não ésuficiente para projetar a pressuposição. Em (5), da mesma forma, oconteúdo i<strong>de</strong>almente disparado pelo iterativo <strong>de</strong> novo não permanece comouma pressuposição efetiva do enunciado. Esses casos são exemplos do queMandy Simons chamou <strong>de</strong> contextos <strong>de</strong> ignorância explícita, contextos emque a ignorância do enunciador a respeito do conteúdo pressuposto impe<strong>de</strong> asua acomodação. Contextos <strong>de</strong> ignorância explícita são um <strong>de</strong>safio para asteorias constituídas justamente porque elas estão, em virtu<strong>de</strong> da suposição <strong>de</strong>um caráter convencional dos gatilhos, comprometidas com a projeção dasrespectivas pressuposições. Abandonar a idéia <strong>de</strong> acomodação, no entanto,seria <strong>de</strong>sastroso para essas teorias, uma vez que <strong>de</strong>la <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> tanto a<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> casos como (1) – em que a pressuposição se mantém – como a<strong>de</strong>scrição das suspensões por acomodação local (nas sentenças condicionais,por exemplo). O trabalho a ser apresentado fundamenta-se em uma visãodistinta a respeito daquilo que tem sido consi<strong>de</strong>rado pressuposição pelasteorias tradicionais. Na perspectiva a ser apresentada, pressuposições sãoinferências <strong>de</strong> caráter conversacional (e não convencional). O que há <strong>de</strong>convenção limita-se à <strong>de</strong>scrição semântica dos gatilhos, restrita aoreconhecimento <strong>de</strong> seus acarretamentos. O efeito <strong>de</strong> compartilhamento,nessa abordagem, resulta da ação <strong>de</strong> um mecanismo pragmático que conta214


com o reconhecimento <strong>de</strong> estados epistêmicos dos interlocutores nas trocasconversacionais e <strong>de</strong> alguns princípios pragmáticos amplamente aceitos naliteratura especializada. O resultado é uma <strong>de</strong>scrição a<strong>de</strong>quada para casoscomo os apresentados em (4) e (5), bem como para casos <strong>de</strong> suspensão.Formalmente, a proposta faz uso <strong>de</strong> operadores epistêmicos, anteriormenteutilizados para <strong>de</strong>screver a projeção <strong>de</strong> pressuposições nas propostas <strong>de</strong>Gazdar(1979) e Soames (1982). Esses operadores, utilizados narepresentação <strong>de</strong> conteúdos supostos como compartilhados e <strong>de</strong> conteúdosdisponibilizados pela própria enunciação, permitem tornar explícito ocálculo inferencial que conduz, ao fim, à conclusão representada peloconteúdo tido como pressuposto. A proposta, no entanto, diferentemente doque se encontra nos autores que já fizeram uso <strong>de</strong>sses operadores, consi<strong>de</strong>rapressuposições como o resultado <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> passos inferenciais,passíveis <strong>de</strong> explicitação formal. Na apresentação da proposta, analisa-se ocomportamento <strong>de</strong> iterativos em enunciados com operador <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>.SOBRE A EXAUSTIVIDADE DAS ESTRUTURAS CLIVADASGa<strong>br</strong>iel Roisenberg (UFRGS/Capes)Sergio Menuzzi (UFRGS/CNPq)Parece ser consenso que as orações clivadas, no que diz respeito à estruturainformacional, são segmentadas em duas unida<strong>de</strong>s: o foco e a pressuposição(Prince 1978, Atlas & Levinson 1981, Kiss 1998, Lam<strong>br</strong>echt 2001, e.o.).Em particular, a literatura gerativista costuma caracterizar o foco envolvidonas clivadas como foco exaustivo (ou i<strong>de</strong>ntificacional), em oposição ao focoinformacional (Kiss 1998; em PB, Mioto & Negrão 2007). Segundo Kiss(1998: 245), o foco i<strong>de</strong>ntificacional “representa um subconjunto do conjunto<strong>de</strong> elementos dados contextualmente ou situacionalmente para os quais osintagma predicativo po<strong>de</strong> potencialmente valer; e é i<strong>de</strong>ntificado como osubconjunto exaustivo <strong>de</strong>sse conjunto para o qual o predicado se aplica <strong>de</strong>fato”. Assim, o constituinte clivado em (1a) abaixo é interpretado“exaustivamente”, i.é, não é possível que Maria tenha ficado com mais <strong>de</strong>um menino; já a continuação (1b), com foco informacional, é compatívelcom uma tal situação:(1) A Maria gostava <strong>de</strong> três guris – o João, o Pedro eo Marcelo – e...(a) foi com o JOÃO que ela ficou.(b) ela ficou com o JOÃO.Contudo, há problemas para explicar clivadas apenas em termos <strong>de</strong>“i<strong>de</strong>ntificação exaustiva”. Consi<strong>de</strong>re (2) abaixo: uma explicação possívelpara o contraste entre as continuações (2a) e (2b) é que a primeira é umaclivada (foco i<strong>de</strong>ntificacional, leitura exaustiva) e a segunda uma pseudoclivada(foco informacional, não exaustiva). Note que ambas exibem omesmo material pressuposicional:(2) A: (E nessa turma,) quem é que foi reprovado?215


216B: (a) ?? (Nessa turma) Foi o JOÃO que foi reprovado.(b) (Nessa turma) Quem foi reprovado foi o JOÃO.Entretanto, ao aplicarmos os testes <strong>de</strong> exaustivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Szabolcsi (1981,apud Kiss 1998: 250) a pseudo-clivadas análogas a (2b), concluímos queelas também têm uma interpretação exaustiva, cf. (3) e (4) abaixo: (3a) e (3b)não po<strong>de</strong>m ser simultaneamente verda<strong>de</strong>iras – uma conseqüência, segundoSzabolcsi, da exaustivida<strong>de</strong> –, enquanto a verda<strong>de</strong> <strong>de</strong> (4a) é compatível coma <strong>de</strong> (4b).(3) (a) Quem comprou as cervejas foi o JOÃO e a MARIA.(b) # Quem comprou a cerveja foi o JOÃO.(4) (a) Ontem, o Pedro encontrou o JOÃO e o MARCELO.(b)Ontem, o Pedro encontrou o JOÃO.Curiosamente, os julgamentos para clivadas e pseudo-clivadas parecem seinverter em outros contextos <strong>de</strong> pergunta-resposta, como em (5) abaixo, emque a resposta “ótima” para a pergunta exige (aparentemente) dois focos(adaptado <strong>de</strong> Lam<strong>br</strong>echt 2001: 484) :(5) A: Por que você vive indo pra Paris?B: (a) Foi em PARIS que eu encontrei minha ESPOSA.(b) ?Foi em PARIS que eu encontrei minha esposa.(c) ??On<strong>de</strong> eu encontrei minha esposa foi em PARIS.E mais, há contextos em que a exaustivida<strong>de</strong> parece não ser condiçãonecessária para a clivagem:(6) Quando eu vi o Hitler discursando na TV, eu tive vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>cuspir nela.(a) E foi isso que eu fiz – além <strong>de</strong> chutá-la e jogá-la pelajanela.(b) *E foi somente isso que eu fiz – além <strong>de</strong> chutá-la e jogálapela janela.Essas observações indicam que a leitura exaustiva po<strong>de</strong> serinterpretação “não-marcada” das clivadas, mas não é a única interpretaçãopossível – isto é, é uma inferência pragmática, e não um acarretamento daestrutura. Nosso objetivo será discutir a natureza <strong>de</strong>sta inferência e queelementos da estrutura clivada a acionam.COMPOSICIONALIDADE SEMÂNTICA EM EXPRESSÕESIDIOMÁTICAS NÃO-COMPOSICIONAISPablo Nunes Ribeiro (UFRGS/CAPES)As expressões idiomáticas sempre representaram um problemapara a gramática gerativa, em parte <strong>de</strong>vido à idéia <strong>de</strong> que não sãocomposicionais do ponto <strong>de</strong> vista semântico. Entretanto, segundo Nunberg,Sag & Wasow (1994), <strong>de</strong>finir todas as expressões idiomáticas como não-


composicionais é um equívoco, pois muitas distribuem o seu sentido entre aspartes. Com isso, os autores classificam as expressões idiomáticas em“expressões idiomáticas combinatórias”, nas quais o sentido idiomático daexpressão “divi<strong>de</strong>-se” entre seus elementos – sendo estas, portanto,composicionais –, e “sintagmas idiomáticos”, que não distribuem seu sentidoentre as partes. As expressões idiomáticas em (1) seriam exemplos doprimeiro tipo, enquanto as expressões em (2) seriam exemplos do segundotipo:(1) a. Maria armou um gran<strong>de</strong> barraco na festa. (armar um barraco)b. João que<strong>br</strong>ou <strong>de</strong>finitivamente o gelo com uma piada. (que<strong>br</strong>aro gelo)(2) a. Pedro bateu as botas ontem. (bater as botas)b. Paula jogou a toalha <strong>de</strong>pois do vexame. (jogar a toalha)Em (1ª) po<strong>de</strong>-se perceber intuitivamente que o sentido daexpressão armar um barraco, que seria algo como “criar uma confusão”, édividido entre os elementos: armar sugere a idéia <strong>de</strong> “criar” (cf. João armouum plano.), e um barraco é metáfora <strong>de</strong> “uma confusão” (cf. Que barraco éeste?!). Assim, em armar um barraco, parece que cada parte da expressãoestá ligada a um “segmento <strong>de</strong> sua estrutura conceitual”, nos termos <strong>de</strong>Culicover & Jackendoff (2005). O mesmo acontece em (1b), em queque<strong>br</strong>ar significa “romper” e o gelo é metáfora para “frieza do ambiente” e,por extensão, <strong>de</strong> “uma barreira para a interação”. Estas intuições so<strong>br</strong>e o“caráter composicional” do sentido das expressões em (1) parece terconseqüências sintáticas: estas expressões são suscetíveis à aplicação dapassiva, como em (3) abaixo, o que é evidência para algum grau <strong>de</strong>“composicionalida<strong>de</strong> gramatical”:(3) a. O barraco foi armado por Maria no momento que Paula chegou.b. O gelo foi finalmente que<strong>br</strong>ado quando João contou uma piada.Note-se, por outro lado, que o mesmo não ocorre com as expressões em (2),cf.(4) a. *As botas foram batidas por Pedro ontem.b. * A toalha foi jogada por Paula <strong>de</strong>pois do vexame.Há lógica no contraste. Em (2a), a expressão bater as botas apresenta umsentido idiomático próximo ao <strong>de</strong> “morrer”, conceito que não exigeargumentos e, portanto, não parece estar dividido em partes que exijamlexicalização in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. O mesmo ocorre com (2b) – cf. (4b) – e, <strong>de</strong>modo semelhante, jogar a toalha significa algo como “<strong>de</strong>sistir”, que tambémé um “conceito intransitivo”. Portanto, a ausência <strong>de</strong> uma leitura idiomáticapara os exemplos em (4) parece estar intimamente ligada à “não-217


composicionalida<strong>de</strong> conceitual” <strong>de</strong> bater as botas e jogar a toalha. Contudo,mesmo expressões fixas e aparentemente não-composicionais como bater asbotas apresentam características interessantes, que as diferenciam dos itenslexicais com os quais parecem estar “associadas conceitualmente”.Compare-se:(1) a. João morreu <strong>de</strong> câncer/com a hemorragia/ sofrendomuito.b. João bateu as botas *<strong>de</strong> câncer/ ??com a hemorragia/ ??sofrendomuito.Como po<strong>de</strong>mos ver em (5), a expressão bater as botas parece imporrestrições a <strong>de</strong>terminados modificadores que ocorrem normalmente com overbo morrer: Por exemplo, os que implicam duração parecem nãofuncionar com bater as botas. Possivelmente, esta expressão não <strong>de</strong>nota umprocesso, mas um evento pontual, enquanto o verbo morrer po<strong>de</strong> serinterpretado como processual. E, aparentemente, os elementos conceituaisresponsáveis por esta distinção estão disponíveis para as combinaçõessintáticas <strong>de</strong> bater as botas. Finalmente, é fundamental observar que o verbobater, em seu significado lexical básico, também <strong>de</strong>nota um evento pontual.Em nosso trabalho, discutiremos vários casos que, como bater as botas,<strong>de</strong>monstram: (a) que expressões como as em (2) mantém algum grau <strong>de</strong>“composicionalida<strong>de</strong> conceitual”; e (b) que a fonte <strong>de</strong>stacomposicionalida<strong>de</strong> são elementos <strong>de</strong> significado <strong>de</strong> suas partes.UMA ANÁLISE DOS “QUANTIFICADORES CHULOS”Roberta Pires <strong>de</strong> Oliveira (UFSC/CNPq)Renato Miguel BASSO ( UNICAMP/FAPESP)O presente trabalho trata do uso das palavras ‘puta’ e ‘baita’ nos seguintescontextos:(1) Ontem eu vi um puta/baita filme.(2) João disse que viu um puta/baita filme ruim.Nessas sentenças, ‘puta’ e ‘baita’ funcionam como intensificadores, ou seja,como quantificadores so<strong>br</strong>e graus (ver Guimarães (2006)) <strong>de</strong> um adjetivoexplícito ((2)) ou não ((1)). Analisaremos alguns aspectos interessantes <strong>de</strong>tal uso <strong>de</strong>ssas palavras, que não encontram contraparte em outrosquantificadores so<strong>br</strong>e graus, como ‘muito’ e ‘bastante’, que po<strong>de</strong>m atuarso<strong>br</strong>e verbos e adjetivos, estes últimos necessariamente explícitos. Porexemplo, é possível usar ‘puta’ sem um adjetivo explícito e a interpretaçãoresultar sempre em algo positivo: com (1), não se po<strong>de</strong> estar falando <strong>de</strong> umfilme ruim. Um outro aspecto é a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar ‘puta’ ou ‘baita’diretamente antes <strong>de</strong> um adjetivo, como abaixo:(3) Maria é (uma) puta legal.218


(levar em conta o trecho entre parêntesis só permite uma interpretação literal<strong>de</strong> ‘puta’). Finalmente, ‘puta’ ou ‘baita’ não se combinam com verbos:(4) João * fala puta/ * puta fala.Assim, eles têm uma forma como:(5) Det puta/baita N (adj)Argumentaremos que para interpretarmos (1) não precisamos propor que há,na estrutura semântica, um adjetivo presente so<strong>br</strong>e o qual ‘puta’ ou ‘baita’atua. Para tanto vamos aproximar (1) do fenômeno conhecido comocomparação <strong>de</strong> protótipo.Juntamente com essas duas palavras, analisaremos<strong>br</strong>evemente, a título <strong>de</strong> comparação, o uso como quantificadores chulos <strong>de</strong>locuções como ‘pra caralho’, ‘pra cacete’, ‘pra chuchu’, etc. Diferentemente<strong>de</strong> ‘puta’ e ‘baita’, essas locuções não funcionam sem um adjetivo explícito((6)) e po<strong>de</strong>m indicar iteração ((7)), duração ((8)) ou alguma intensificaçãodo evento indicado pelo predicado verbal ((9)):(6) * João assistiu um filme pra caralho. (com ‘pra caralho’ atuando so<strong>br</strong>e‘um filme’)(7) João assistiu Bla<strong>de</strong> Runners pra caralho.(8) João leu pra caralho hoje.(9) João estudou pra caralho. (não em relação ao tempo, mas à <strong>de</strong>dicação doestudo).Feito isso, apresentamos uma discussão so<strong>br</strong>e o estatuto <strong>de</strong> classe <strong>de</strong> palavra<strong>de</strong> ‘puta’ e ‘baita’, procurando <strong>de</strong>cidir se eles são adjetivos ou advérbios.Concluiremos que são advérbios. Finalmente, esboçamos uma semânticapara ‘puta’. Informalmente, ele aponta para um grau acima do grauconsi<strong>de</strong>rado padrão em certo contexto. Assim, para (1) dada uma escala <strong>de</strong>filmes, ele situa o filme em questão acima <strong>de</strong> um filme tomado como padrão.Ou seja, trata-se <strong>de</strong> um filme acima do padrão. Na presença explícita <strong>de</strong> umadjetivo, como em (2), ele opera da mesma maneira: indica que o filme emquestão está acima da média numa escala <strong>de</strong> filmes ruins, isto é, ele é ruimacima da média (do que o falante consi<strong>de</strong>ra um filme ruim). Dessa forma,semanticamente ele se aproxima <strong>de</strong> ‘muito’.CONSTRUÇÕES RELATIVAS DE NOVOLuiz Arthur Pagani (UFPr)No capítulo 8 <strong>de</strong> sua Introdução às Gramáticas Categoriais (texto aindanão publicado, <strong>de</strong> 1999), intitulado “As construções relativas”, José B<strong>org</strong>esNeto propõe um tratamento unificado para as construções relativas através<strong>de</strong> uma versão da Gramática Categorial, chegando principalmente a umaunificação polimórfica das três categorias inferidas para as váriasocorrências do pronome relativo. Além <strong>de</strong>sse capítulo, B<strong>org</strong>es tambémorientou uma dissertação <strong>de</strong> mestrado, intitulada Gramáticas Categoriais:O Mo<strong>de</strong>lo AB e as Orações Subordinadas Adjetivas, <strong>de</strong> Wan<strong>de</strong>rley VieiraParis Júnior, na qual também se trata do mesmo tipo <strong>de</strong> estrutura. Em ambos219


os tratamentos, porém, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gramática Categorial que é usado não épo<strong>de</strong>roso o suficiente para dar conta das construções relativas. Tanto omo<strong>de</strong>lo AB, usado por Paris Júnior, quanto a Gramática Categorial Clássica,empregada por B<strong>org</strong>es, só conseguem dar conta <strong>de</strong> fenômenos que envolvemcontigüida<strong>de</strong>; ou seja, quando as construções mais complexas são resultadoapenas da concatenação seqüencial <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s mais simples. Assim, ambasas tentativas só conseguem dar conta <strong>de</strong> relativas como “um amigo que vocêconhece” ou “um amigo que conhece você”, em que o pronome indica umaposição ausente numa das margens da quasesentença: “você conhece ___”ou “___ conhece você”; caso o elemento faltante não estivesse numa dasmargens, como em “o livro que você colocou na estante” (para a quasesentença“você colocou ___ na estante”), nenhuma das duas explicações seaplicariam. Além disso, em sua tentativa, B<strong>org</strong>es recorre a uma supostacategoria S*, estipulada por ele mesmo, que parece não estar <strong>de</strong>finida <strong>de</strong>acordo com a metodologia das Gramáticas Categoriais, principalmente emsuas vertentes ligadas à Dedução Natural, em que é preciso i<strong>de</strong>ntificar umaregra <strong>de</strong> introdução e outra <strong>de</strong> eliminação para cada conectivo categorial.Nesta minha comunicação, apresentarei <strong>de</strong>talhadamente o problemaestrutural das construções relativas, resumirei ambas as tentativasmencionadas acima e <strong>de</strong>monstrarei como elas não dão conta completamenteda questão. Na conclusão, empregarei o conectivo <strong>de</strong>finido por Moortgat,em seu livro Categorial Investigations, <strong>de</strong> 1988, para lidar com as<strong>de</strong>pendências ilimitadas (unboun<strong>de</strong>d <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncies), <strong>de</strong> forma a oferecer umaexplicação mais consistente para as construções relativas <strong>de</strong>ntro do espíritodas Gramáticas Categoriais. De acordo com esta <strong>de</strong>finição, uma expressãoda categoria A↑B <strong>de</strong>ve ser entendida como uma expressão na qual falta umaexpressão da categoria B para ela ser uma expressão da categoria A; comeste novo conectivo, não apenas o problema sintático fica resolvido, mastambém a questão semântica das relações anafóricas também <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> serum problema.AS DINÂMICAS REFERENCIAIS DE “ISSO”Renato Miguel Basso (PG-UNICAMP/FAPESP)O presente trabalho analisa os usos dêiticos e anafóricos do pronome<strong>de</strong>monstrativo 'isso', conforme exemplificado pelas sentenças abaixo:(1) Pegue isso pra mim. (com um apontamento a<strong>de</strong>quado)(2) João caiu. Isso <strong>de</strong>ixou sua mãe preocupada..As principais teorias so<strong>br</strong>e <strong>de</strong>monstrativos, como a <strong>de</strong> Kaplan (1989), dizemque eles são termos <strong>de</strong> referência direta, ou seja, contribuem com umindivíduo na proposição em que estão sendo empregados. Sendo assim, 'isso'e outros <strong>de</strong>monstrativos não po<strong>de</strong>riam participar <strong>de</strong> interações <strong>de</strong> escopo,dado que termos referenciais têm apenas escopo amplo. Procuramos mostrar,com base em exemplos como os acima e outros, que (i) apesar <strong>de</strong> 'isso' nãoconter nenhum material <strong>de</strong>scritivo explícito, como o predicado que segue um<strong>de</strong>terminante (exemplos (3) e (4)), (ii) 'isso' apresenta interações <strong>de</strong> escopo220


(5) e participa <strong>de</strong> anáforas (6), o que nos leva a concluir que 'isso', assimcomo as <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong>monstrativas, <strong>de</strong>ve ser tratado como uma <strong>de</strong>scrição(i.e., um termo quantificacional):(3) ? Isso jogo é meu.(4) ? Isso gran<strong>de</strong> é meu.(5) Os jornalistas vão querer escrever so<strong>br</strong>e isso que explodiu o prédio, sejalá o que eles acreditem que isso seja...(6) (numa manchete <strong>de</strong> jornal)“[Desenvolvimento <strong>de</strong> novo software]1 pela Microsoft”Leia mais so<strong>br</strong>e [isso]1 nas páginas seguintes.É interessante notar em (6) que o antece<strong>de</strong>nte preferencial para'isso' é 'o <strong>de</strong>senvolvimento (<strong>de</strong> novo software)', e não '(novo) software'. Essapreferência seria invertida se ao invés <strong>de</strong> 'isso' tivéssemos 'ele'.Por fim, analisaremos também as restrições com relação ao usoanafórico <strong>de</strong> 'isso' quando se trata <strong>de</strong> um antece<strong>de</strong>nte concreto:(7) João <strong>de</strong>itou n[uma cama]1, e # [isso]1 machucou suas costas.(8) João comprou [um ca<strong>de</strong>rno novo]1 .# [Isso]1 custou 5 reais.(9) João comprou [um ca<strong>de</strong>rno novo, um apontador e 5 lápis]1 . [Isso]1custou 15 reais.(10) João: On<strong>de</strong> eu guardo [a bicicleta]1?Pedro: Ah, [ela]1 / [isso]1 fica lá na edícula.(11) João: On<strong>de</strong> fica [o Monte Everest]1?Pedro: Eu acho que [isso]1 fica no Nepal ou na China, por que?João : Porque eu queria escalar [ele]1 / # [isso]1 .Em contraste com restrições para retomada <strong>de</strong> objetos concretos, o 'isso'po<strong>de</strong> ser usada para retomar diferentes entida<strong>de</strong>s abstratas e conjuntos ouconglomerados <strong>de</strong>ssas entida<strong>de</strong>s:(12) João sofreu um aci<strong>de</strong>nte.(12a) Eu não acredito nisso! (proposição)(12b) Quando isso aconteceu? (evento)(12c) Puxa, isso é terrível! (fato)(12d) Isso é realmente um jeito estranho <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver o que aconteceu...(dictum)(13) [As tropas do exército invadiram a vila. Pelo que se soube, estupraramas mulheres e mataram os homens e as crianças, num ato absurdo <strong>de</strong>cruelda<strong>de</strong>]1. [Isso]1 <strong>de</strong>ixou o general extremamente irritado.A partir <strong>de</strong> tais exemplos, proporemos uma forma semântica para 'isso' que oaproxima das <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong>finidas e <strong>de</strong>monstrativas, associando a ele umapressuposição <strong>de</strong> familiarida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> não-animado, tendo seu uso anafóricorestrito através <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> marcação com relação a outros <strong>de</strong>finidos.221


GT15 Gêneros do discurso, autoria e ensinoCoor<strong>de</strong>nadoresMaria Marta Furlanetto (UNISUL)Rosângela Hammes Rodrigues (UFSC)GRAFITE E PICHAÇÃO COMO GÊNEROS DISCURSIVOS: UMOLHAR DIALÓGICO NOS ENUNCIADOS URBANOSAlícia Endres Soares (UCPel)Compreen<strong>de</strong>ndo a paisagem urbana como uma das esferas <strong>de</strong> comunicaçãodiscursiva, <strong>de</strong> uso da linguagem, <strong>de</strong> criativida<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ológica, esta reflexãovisa analisar o grafite e a pichação como gêneros do discurso (GD),observando pistas <strong>de</strong> autoria nos enunciados analisados. Tendo como base ospressupostos da teoria dos gêneros discursivos (Bakhtin 1952-1953/2003) ea metodologia <strong>de</strong> análise proposta por Bakhtin/Volochinov (1929/2004),parte-se do preceito <strong>de</strong> que à medida que se <strong>de</strong>senvolve e se complexificauma <strong>de</strong>terminada esfera, o repertório <strong>de</strong> GD também cresce e se atualiza.Temas polêmicos, normalmente apagados ou excluídos em outras esferassociais, são manifestados, articulando elementos verbais e não-verbais, novisual da cida<strong>de</strong>, tanto <strong>de</strong> forma explícita como in<strong>de</strong>cifrável. Grafites epichações circulam há bastante tempo na socieda<strong>de</strong>, no entanto é possívelverificar uma expansão cada vez mais significativa <strong>de</strong>ssas produções nascida<strong>de</strong>s. Muros, prédios, construções abandonadas, monumentos, ônibus,trens, etc. funcionam como portadores <strong>de</strong> discurso lançados na/da esferaurbana, fazendo emergir uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> efeitos <strong>de</strong> sentido. Dessa forma,o grafite e a pichação instauram-se como práticas discursivas reconhecidas<strong>de</strong> uma dada comunida<strong>de</strong> as quais revelam, por um lado, formas hí<strong>br</strong>idas eplurivocais e, por outro, aspectos peculiares próprios. Como metodologia,foram observadas quatro produções discursivas, duas consi<strong>de</strong>radas grafites,registradas por fotografia e inscritas na esfera urbana da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Pelotas/RS, e duas consi<strong>de</strong>radas pichações, selecionadas <strong>de</strong> um site daInternet, inscritas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. A análise do material contempla arelação intrínseca entre esfera social e gênero do discurso, observando-secaracterísticas da forma composicional, tema e estilo verbal das formasdiscursivas. Consi<strong>de</strong>rando o autor como posição avaliativo-valorativa queimprime em seu dizer inúmeras vozes sociais (Bakhtin 1934-1935/2003;Bakhtin 1979/2003), é possível apreen<strong>de</strong>r índices <strong>de</strong> autoria a partir <strong>de</strong>efeitos <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> observados no estilo individual impresso nosenunciados urbanos. Espera-se que essa análise contribua para a reflexãoso<strong>br</strong>e GD e autoria em grafites e pichações, suscitando um movimentodialógico <strong>de</strong> sentidos com os múltiplos, inacabados e contraditórios olharesque passam pela esfera urbana.ENSINO MÉDIO OU MÉDIO ENSINO?Ana Kelly Borba da Silva (UFSC)222


Esta pesquisa foi realizada para a disciplina do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduaçãoem Lingüística (UFSC) intitulada “S.E. em Lingüística Aplicada: Como aescola trabalha os gêneros do discurso?” sob a orientação da Professora DrªRosângela Hammes Rodrigues. De acordo com as Orientações Curricularespara o Ensino Médio “[...] o papel da disciplina Língua Portuguesa é o <strong>de</strong>possibilitar, por procedimentos sistemáticos, o <strong>de</strong>senvolvimento das ações<strong>de</strong> produção <strong>de</strong> linguagem em diferentes situações <strong>de</strong> interação” (2006, p.27). Contudo, na maioria das vezes, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagem<strong>de</strong>sempenhadas nas escolas são do tipo i<strong>de</strong>al (<strong>de</strong>scrição, narração edissertação), a famosa trilogia clássica, <strong>de</strong>sligando-se assim, das práticassociais ou do contexto histórico-social do aluno. Objetivou-se analisar acoleção <strong>de</strong> livro didático “Português: literatura, gramática, produção <strong>de</strong>texto” (volume único) – <strong>de</strong>dicado aos três anos do Ensino Médio, a fim <strong>de</strong>observar os conteúdos relacionados ao ensino <strong>de</strong> produção textual, bemcomo as sugestões apresentadas no Manual do Professor. Para nortearminhas reflexões tomei como referência, em especial, os seguintesquestionamentos: (i) o que diz o Manual do Professor? A proposta doManual do Professor é coerente com o material? (ii) como os “Manuais doProfessor” são recebidos pelos docentes? (iii) as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> linguagemefetuadas nas escolas, geralmente, enfatizam: a <strong>de</strong>scrição, a narração e adissertação. E na o<strong>br</strong>a em questão? e (iv) trabalhar com a noção <strong>de</strong> gêneros épossibilitar aos discentes uma articulação entre as práticas cotidianas <strong>de</strong>interações sociais e os objetos escolares, portanto como o livro aborda essanoção? No <strong>de</strong>correr da análise da o<strong>br</strong>a pu<strong>de</strong> perceber que não houve muitapreocupação por parte dos autores em trazer as práticas <strong>de</strong> linguagem quecirculam na socieda<strong>de</strong>, assim como, em geral, os textos foram empregadoscomo pretextos, priorizando a forma em <strong>de</strong>trimento à função discursiva. Osautores seguem uma linha mais tradicional e fixada nas gramáticas, nãolevando em conta o uso real do PB segundo o julgamento dos falantes <strong>de</strong>steséculo, tampouco discussões <strong>de</strong> questões relativas à concepçãosociointeracionista da linguagem. Enfim, é muito importante que o professoresteja atento às situações <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e utilize o livro como um material<strong>de</strong> apoio, ancorando-se nas aulas que preparou e enfatizando a relação <strong>de</strong>sala <strong>de</strong> aula como um lugar <strong>de</strong> interação verbal, <strong>de</strong> diálogo e troca <strong>de</strong> saberes.O LUGAR DOS GÊNEROS DO DISCURSO EM DOIS LIVROSDESTINADOS AO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NOENSINO MÉDIO – UMA ANÁLISE COMPARATIVAAna Paula Kuczmynda da Silveira (UFSC)Esta comunicação tem suporte teórico na teoria dos gêneros do discurso,conforme sugerida por Bakhtin, e objetiva discutir a abordagemmetodológica e conceitual dos gêneros em dois livros recomendados peloPrograma Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio – PNLEM –para adoção em todo o território nacional: Português: Linguagens, <strong>de</strong>William Roberto Cereja e Thereza A.C. Magalhães; e Português – Língua e223


Cultura, <strong>de</strong> Carlos Alberto Faraco. A escolha das o<strong>br</strong>as <strong>de</strong>veu-se ao fato <strong>de</strong> aprimeira constituir o livro didático mais adotado na re<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> ensino(conforme estatística do MEC), e <strong>de</strong> a segunda apresentar uma abordagemdiferenciada das questões contempladas pela disciplina <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, tendo ficado em quinto lugar entre as mais adotadas em 2006 eem quarto lugar em 2008. Ambos os livros são edições em volume único,<strong>de</strong>stinadas às três séries do ensino médio, e englobam os conteúdos <strong>de</strong>Língua Portuguesa e Literatura Brasileira. A análise dos livros didáticos foirealizada em dois momentos: (1) no manual do professor, para verificaçãodo conceito <strong>de</strong> gênero que permeia a o<strong>br</strong>a; (2) ao longo das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>leitura e produção textual, para apreensão da abordagem teóricometodológicaque ali se materializa. Para atingir tal objetivo, parte-se <strong>de</strong>uma reflexão so<strong>br</strong>e o papel do livro didático como instrumento mediador doprocesso <strong>de</strong> ensino-aprendizagem; revisitam-se as noções <strong>de</strong> texto,enunciado e gênero, conforme sugeridas por Bakhtin; e reflete-se so<strong>br</strong>e adiscussão teórico-metodológica encetada pelos documentos oficiais <strong>de</strong>ensino para o ensino médio a respeito do gênero. Ao apresentar os resultadosprovenientes da análise dos dados, almeja-se discutir o lugar <strong>de</strong>stinado aosgêneros do discurso nos espaços pesquisados (manual do professor,ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção textual) e o entrelaçamento, ounão, da abordagem teórico-metodológica que se materializa em cada um<strong>de</strong>les.CONCEPÇÕES DE LEITURA E GÊNEROS DO DISCURSO:IMPLICAÇÕES TEÓRICAS E DIDÁTICAS E A FORMAÇÃO DOLEITOR.Andréia Regina Sarmento (UFSC)O trabalho com a leitura no ambiente escolar é ainda um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio paralingüistas e professores <strong>de</strong> língua e também <strong>de</strong> outras disciplinas, pois ora aleitura é trabalhada como um suporte para o ensino da gramática, ora com oobjetivo <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r questionários, não se levando em conta a formação doaluno-leitor autônomo. Este trabalho objetiva: analisar as práticas <strong>de</strong> leituranas aulas das 7ª e 8ª séries do ensino fundamental <strong>de</strong> uma Escola particularna cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Joinville - SC, os diferentes gêneros trabalhados em sala <strong>de</strong>aula e sua contribuição à formação do aluno-leitor. Também investiga qual aconcepção <strong>de</strong> leitura do professor e dos alunos. A fundamentação teóricainsere-se numa visão bakhtiniana da linguagem, que propõe a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>se consi<strong>de</strong>rar a língua como uma ativida<strong>de</strong> social, a teoria dos gêneros dodiscurso e as concepções <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> alguns estudiosos contemporâneos. Apartir <strong>de</strong>sse olhar, é possível rever a função e os conteúdos do ensino daleitura no âmbito escolar e propor metodologias <strong>de</strong> trabalho didático atravésdos gêneros do discurso. Dessa forma, po<strong>de</strong>-se apresentar uma <strong>br</strong>evediscussão baseada na observação das aulas e diversas concepções <strong>de</strong> leitura,oferecendo possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e concepção que circula na esferaescolar, so<strong>br</strong>etudo durante as aulas observadas.224


OS GÊNEROS DO DISCURSO NA PROPOSTA CURRICULAR DOMUNICÍPIO DE CRICIÚMA (SC).Carlos Arcângelo Schlickmann (UNESC – Criciúma)O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é evi<strong>de</strong>nciar as situações em que os gênerosdo discurso aparecem como elementos norteadores das práticas <strong>de</strong>linguagem arroladas no texto da Proposta Curricular <strong>de</strong> Criciúma (SC), comênfase nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> elaboração didática apresentadas. A PropostaCurricular do município <strong>de</strong> Criciúma (SC) foi elaborada em 2007 e preten<strong>de</strong>introduzir um currículo voltado para a diversida<strong>de</strong> tendo como fundamento aperspectiva histórico-cultural. Esta opção evi<strong>de</strong>ncia um trabalho com alinguagem vista como ativida<strong>de</strong> humana, histórica e social – haja vista quetoda proposta curricular explicita um projeto educativo, traduz umaconcepção <strong>de</strong> socieda<strong>de</strong> e aponta os caminhos para sua concretização. Nadécada <strong>de</strong> oitenta, momento histórico em que se discutiam no Brasil afinalida<strong>de</strong> e o objeto <strong>de</strong> ensino da disciplina Língua Portuguesa, Geraldi(2000) propõe uma mudança <strong>de</strong> foco no objeto <strong>de</strong> ensino, da metalinguagem(estudos gramaticais) para as práticas <strong>de</strong> linguagem, sugerindo que essaspráticas sejam exploradas a partir <strong>de</strong> três unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> ensino: prática<strong>de</strong> leitura, prática <strong>de</strong> produção textual e prática <strong>de</strong> análise lingüística. Essaspráticas são três eixos que se integram. O estudo da sistematização da língua,quando necessário para melhor construção textual, precisa ser exploradonestas práticas. Para isso, é necessário trabalhar com textos <strong>de</strong> gênerosdiversificados que representem o mundo da linguagem verbal; é necessário<strong>org</strong>anizar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> leitura e escuta necessárias para o grau <strong>de</strong>proficiência exigido, explorando as interfaces da oralida<strong>de</strong> e da escrita,<strong>de</strong>senvolvendo o conhecimento lingüístico <strong>de</strong> forma articulada e ensinando aproduzir textos com procedimentos metodológicos a<strong>de</strong>quados.GÊNERO CHARGE NO CONTEXTO ESCOLAR: ESTRATÉGIAPARA O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESACristiane Gonçalves Dagostim (UNISUL)A Teoria da Análise <strong>de</strong> Discurso, em uma visão geral, preten<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>ra linguagem e seu funcionamento no interior da socieda<strong>de</strong>. Esta ativida<strong>de</strong>lingüística pressupõe a interação homem-língua-mundo. E, segundo Orlandi(2001), a linha francesa enten<strong>de</strong> o sujeito, a linguagem e os sentidos comopartes <strong>de</strong> um todo interacional e indissociável. O sujeito é clivado, divididoentre o “eu” e “o outro”; nisso o discurso se configura como a relação entresujeitos e sentidos entendidos como aquilo que coloca o lingüístico emarticulação com a história, com a i<strong>de</strong>ologia. Desta forma, este trabalho,tendo como pressuposto a teoria da Análise do Discurso, procura <strong>de</strong>monstrarcomo o gênero charge po<strong>de</strong>rá subsidiar as aulas <strong>de</strong> Língua Portuguesa. Pormeio da compreensão e do funcionamento das charges, o educador225


conseguirá seduzir o educando, transformando-o em leitor crítico eaguçando o gosto pela leitura e escrita <strong>de</strong> textos em língua materna. Aaplicação da Teoria da Análise <strong>de</strong> Discurso na linguagem visual, ou seja, nacharge, tendo como objeto específico os trabalhos veiculados no jornalDiário Catarinense no ano <strong>de</strong> 2008, mostra-se uma tentativa <strong>de</strong> entendimentomais a<strong>br</strong>angente <strong>de</strong> uma dimensão do uso da linguagem. Com isso, espera-seque este estudo contribua para o aumento do conhecimento so<strong>br</strong>e a Teoria daAnálise do Discurso e do discurso selecionado, e <strong>de</strong> que forma ela po<strong>de</strong>ráguiar a comunicação na socieda<strong>de</strong> e a formação <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iros leitores.APRENDENDO COM HUMOR: O GÊNERO HUMOR E OSUBGÊNERO HUMOR NEGROHelena Maria Gramiscelli Magalhães (UFMG, PUC Minas)Diferentemente do gênero humor e do riso, o subgênero humor negro nãotem <strong>de</strong>sfrutado do privilégio <strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Antigüida<strong>de</strong>, ser contemplado commuitos estudos ou teorias. No Brasil, por exemplo, ele sequer constitui alvoda atenção <strong>de</strong> sociólogos, filósofos, psicólogos ou lingüistas. Na literaturaestrangeira oci<strong>de</strong>ntal, se em algum momento os autores se interessaram poresse subgênero do humor, analisaram-no, geralmente, sob os aspectoshistóricos e psicológicos. Por essas razões, o objeto <strong>de</strong>ste trabalho é o humore o humor negro do Brasil. Para empreen<strong>de</strong>r essa tarefa, são utilizados ostrabalhos Thomas Veatch, Victor Raskin e Sírio Possenti por narrarem ahistória do riso e por <strong>de</strong>linearem as condições <strong>de</strong> construção do texto <strong>de</strong>humor, o trabalho <strong>de</strong> André Breton por discorrer a filosofia do subgênerohumor negro e, principalmente, o do historiador Elias Thomé Saliba, por<strong>de</strong>screver a representação humorística na história <strong>br</strong>asileira e por apontar omomento do surgimento do humor negro do Brasil. Levando-se em contaque tanto a linguagem quanto os sujeitos envolvidos se instituem e se<strong>de</strong>finem na interação e que <strong>de</strong>la sentidos múltiplos emergem, analisam-se asrelações entre língua, interlocutores e (inter)discursos e, principalmente, osmecanismos lingüístico-discursivo-pragmáticos da construção <strong>de</strong> textos <strong>de</strong>humor e <strong>de</strong> humor negro <strong>br</strong>asileiro. Esses procedimentos, que acabam porrevelar as visões que a re<strong>de</strong> social <strong>br</strong>asileira tem so<strong>br</strong>e ética, moral everda<strong>de</strong>, são valiosos para se esclarecer a questão do efeito perlocucionalrisodos <strong>br</strong>asileiros, diante dos textos <strong>de</strong> ambos os gêneros do humor. Estetrabalho visa, em síntese, a apontar e a <strong>de</strong>screver o humor e o humor negro<strong>br</strong>asileiro, classificar seus textos e, em última instância, apresentar umaproposta <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> humor como material didático valiosopara o ensino da língua portuguesa do Brasil.226


PRODUÇÃO TEXTUAL E ESCOLHA DO GÊNERO TEXTUAL: APUBLICAÇÃO NO MEIO DIGITAL COMO ALGO MUITO ALÉMDA UNIDADE TEMÁTICA E DA “FÓRMULA DISSERTATIVA”Lia Schulz (UFRGS)Este trabalho tem como objetivo analisar diferentes qualida<strong>de</strong>s discursivas<strong>de</strong> produções textuais, <strong>de</strong> acordo com o gênero textual escolhido pelo autorcomo a<strong>de</strong>quado à sua produção em tarefas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Os participantesda pesquisa fazem parte <strong>de</strong> duas turmas do curso <strong>de</strong> Comunicação Social <strong>de</strong>uma universida<strong>de</strong> pública fe<strong>de</strong>ral. Cinco ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> produção textualforam analisadas, assim como informações adicionais so<strong>br</strong>e os autores foramobtidas por meio da realização <strong>de</strong> entrevistas. A proposta <strong>de</strong> trabalho dadisciplina <strong>de</strong> comunicação em Língua Portuguesa tem como base um manual<strong>de</strong> redação que indica a unida<strong>de</strong> temática como uma das qualida<strong>de</strong>sfundamentais <strong>de</strong> um texto. Há, no entanto, evidências <strong>de</strong> que <strong>de</strong> acordo como gênero escolhido, observa-se que nem sempre a construção <strong>de</strong> tal unida<strong>de</strong>textual se faz presente, especialmente quando os textos foram produzidospara serem publicados em meio digital. Quando os alunos pu<strong>de</strong>ram escolherem que gênero a<strong>de</strong>quariam seus textos e on<strong>de</strong> os publicariam, a maioriaescolheu o meio digital, especialmente blogs, produzindo textos maisvariados e criativos. Quando foi proposta uma dissertação, no entanto, osautores não souberam respon<strong>de</strong>r em que gênero enquadrariam seus textos,repetindo a conhecida (e por eles mesmos <strong>de</strong>scrita) “fórmula dissertativa”,aprendida durante toda a vida escolar, que tem como única função aavaliação, seja do professor <strong>de</strong> Português, seja do corretor do vestibular. Otrabalho preten<strong>de</strong> contribuir para o ensino <strong>de</strong> produção textual, discutindo ametodologia <strong>de</strong> trabalho utilizada para que se possa pensar como são cadavez mais relevantes ativida<strong>de</strong>s que envolvam a produção <strong>de</strong> textos “reais”,que tenham uma função em contextos específicos, como formas <strong>de</strong> interaçãoe ação social. Também é apontada a necessida<strong>de</strong> dos educadoresapropriarem-se do meio digital para pensar em materiais didáticos que levemem conta as características específicas dos gêneros produzidos para essemeio, muitas vezes tão diferenciados dos que são trabalhadostradicionalmente em sala <strong>de</strong> aula.A ESCRITA COMO INSTÂNCIA DE SUBJETIVAÇÃO DO ALUNOMaria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Fernan<strong>de</strong>s Cauduro (UNIFIN)Este estudo tematiza a escrita como instância/lugar <strong>de</strong> subjetivação do aluno.Analisa textos <strong>de</strong> alunos escritos em uma disciplina intitulada “Laboratório<strong>de</strong> Escrita”, ministrada no Ensino Superior, em um curso <strong>de</strong> ciências exatas.A pesquisa apóia-se em elementos teóricos da linha da Análise <strong>de</strong> Discurso,fundada por Pêcheux, e em estudos foucaultianos so<strong>br</strong>e educação. Do nossoponto <strong>de</strong> vista teórico, o autor é uma “posição”, produz um lugar <strong>de</strong>interpretação, esta é a sua particularida<strong>de</strong>. A interpretação instaura a autoria;esta é tecida <strong>de</strong> historicida<strong>de</strong>. O discurso pedagógico que norteou o trabalho227


<strong>de</strong> textualização enten<strong>de</strong> que a função-autor é tarefa da escola (ORLANDI,1996, 2002a); propõe que a escola não inclua o aluno apenas na autoria jáconstituída, mas dê atenção aos <strong>de</strong>slocamentos produzidos pela interpretação.Enten<strong>de</strong>mos a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como “i<strong>de</strong>ntificações” do sujeito, comomovimento na história. As práticas da disciplina enfatizaram o “gesto <strong>de</strong>interpretação”; os textos manifestam diferentes posições-sujeito, a filiação adiferentes dizeres. Nos textos analisados chamam a atenção adjetivos,advérbios e pronomes. Essas marcas lingüísticas são consi<strong>de</strong>radas palavras“avaliativas” (ORECCHIONI, 1980, TEIXEIRA, 2001); são pistas, rastros,indícios do posicionamento discursivo dos alunos. Indicam posições,i<strong>de</strong>ntificações dos sujeitos-alunos ao interdiscurso. Exemplifico com ofragmento abaixo:F1- “Bem, minha visão não difere do texto. O Brasil, <strong>de</strong> fato, é umgarimpo (bem garimpado). Além <strong>de</strong> servirmos <strong>de</strong> fornecedores <strong>de</strong> matériaprima a preço <strong>de</strong> custo (garimpo <strong>de</strong> matéria), somos compradoresimediatos dos produtos “ma<strong>de</strong> in Países <strong>de</strong> Primeiro Mundo com material<strong>br</strong>asileiro” logo: garimpo <strong>de</strong> consumidores. Como pagamos em proporçãoà cotação do dólar, somos garimpo, também, <strong>de</strong> dinheiro”.O uso <strong>de</strong> palavras apreciativas/avaliativas (adjetivos e advérbios),bem como os pronomes, dão visibilida<strong>de</strong> a processos i<strong>de</strong>ntificatórios dosalunos, sua filiação a dada memória discursiva. Na seqüência “garimpobem garimpado”, o particípio funciona como palavra avaliativa; dá a ver aposição que o aluno assume no discurso; as expressões “<strong>de</strong> fato” e “minha”ratificam essa posição discursiva. Trata-se da mesma formação discursivaque produz o interdiscurso manifesto no texto “Garimpo Brasil”, que fezparte da prática <strong>de</strong> textualização, na qual os alunos estabeleceraminterlocução com os autores, com seus pares e com a professora. Estaenunciação, como acontecimento <strong>de</strong> linguagem perpassado pelointerdiscurso, remete à memória histórica, à assunção <strong>de</strong> uma posição naqual o sujeito-aluno se inscreve e com a qual se i<strong>de</strong>ntifica.A TRANSPOSIÇÃO DE GÊNEROS DISCURSIVOS PARA OSUPORTE LIVRO DIDÁTICOMirian Schrö<strong>de</strong>r (PG-UFPR)Diante das críticas dirigidas ao ensino dos gêneros escolares (<strong>de</strong>scrição,narração e dissertação) dado seu caráter generalista, sua valorização dosmo<strong>de</strong>los globais e a ausência <strong>de</strong> vínculo com o uso, produção e circulaçãotextual, o trabalho com o texto em sala <strong>de</strong> aula careceu <strong>de</strong> mudanças e novoenfoque foi dado: o texto em seu funcionamento e em seu contexto <strong>de</strong>produção. A publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais <strong>de</strong> LínguaPortuguesa (PCNs) auxiliou nesta mudança <strong>de</strong> enfoque e propulsionou oemprego da noção <strong>de</strong> gêneros discursivos no Brasil. Consi<strong>de</strong>rando o LivroDidático como suporte convencional para reunião <strong>de</strong> diversos gêneros(MARCUSCHI, 2003), o presente trabalho objetiva investigar como se dá atransposição da teoria dos gêneros discursivos no material didático “Língua228


Portuguesa e Literatura”. Este livro didático público a<strong>br</strong>ange as três séries doEnsino Médio, foi elaborado por vários autores (professores da re<strong>de</strong> estadual<strong>de</strong> ensino) e foi distribuído, em 2006, pela Secretaria <strong>de</strong> Estado da Educação(SEED-PR) aos alunos e professores da re<strong>de</strong> pública estadual paranaense.Para tanto, será levada a efeito a análise <strong>de</strong> um dos capítulos iniciais do livro.A o<strong>br</strong>a é apresentada como possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação do estudante com omundo, <strong>de</strong> modo que os autores buscaram “contemplar as práticas daoralida<strong>de</strong>, da escrita e da leitura” (2006, p. 12) e se valeram <strong>de</strong> tipologiavariada (gêneros): poemas, crônicas, contos, letras <strong>de</strong> músicas, charges,entre outros. O material é composto por 16 (<strong>de</strong>zesseis) capítulos cujoconteúdo estruturante é o discurso enquanto prática social: tanto na oralida<strong>de</strong>como na leitura ou na escrita. Os capítulos são elaborados a partir <strong>de</strong>tipologia textual variada e ativida<strong>de</strong>s (orais e escritas) que <strong>de</strong>verão serrealizadas pelos alunos sob orientação do professor. Para <strong>de</strong>senvolver aanálise, concentrando-nos no ensino <strong>de</strong> gêneros discursivos, na composiçãodo capítulo e na proposição das ativida<strong>de</strong>s, utilizamos como aparato teóricoos trabalhos <strong>de</strong> Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004) so<strong>br</strong>e seqüênciasdidáticas focalizadas em gêneros textuais.O PROCESSO DE AUTORIA DE AULAS DE LÍNGUAPORTUGUESA: UMA REAÇÃO-RESPOSTA ÀS AÇÕES DEFORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORESMaria Izabel <strong>de</strong> Bortoli Hentz (UNIVALI)Os ecos do movimento <strong>de</strong> re<strong>org</strong>anização curricular, <strong>de</strong> meados da década <strong>de</strong>1980, ainda se fazem ouvir em ações <strong>de</strong> formação continuada <strong>de</strong> professores,em municípios que visam à elaboração e implementação <strong>de</strong> propostascurriculares próprias. Ações <strong>de</strong>ssa natureza contribuem para fazer chegar aosprofessores da Educação Básica os resultados das pesquisas acadêmicasso<strong>br</strong>e o quê (conteúdos) e como ensinar (metodologia) nas diferentes áreasdo conhecimento. Um exemplo disso são os trabalhos que abordam oensino-aprendizagem da língua, pautados na perspectiva dos gêneros dodiscurso. A presença do texto na sala <strong>de</strong> aula passa a representar apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> professores e alunos se reapropriarem do seu papelprodutivo, ou seja, <strong>de</strong> se constituírem autores. Uma experiência vivenciadacom professores da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> São José (SC) permiteanalisar o processo <strong>de</strong> construção da aula <strong>de</strong> Língua Portuguesa a partir daconcepção <strong>de</strong> linguagem como forma <strong>de</strong> interação, particularmente naperspectiva dos gêneros do discurso. O objeto <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>ste estudo é oplanejamento <strong>de</strong> trabalho elaborado e <strong>de</strong>senvolvido, em dois momentosdistintos, por uma professora <strong>de</strong> Língua Portuguesa <strong>de</strong>ssa re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino,resultado <strong>de</strong> sua participação em processos <strong>de</strong> formação. Como orientaçãoteórico-metodológica assume-se a perspectiva sócio-histórica. Para analisarespecificamente as elaborações didáticas (Halté) realizadas pela professora,recorre-se a alguns dos pressupostos da teoria dialógica do discurso, doCírculo <strong>de</strong> Bakhtin. Para contextualizar as ativida<strong>de</strong>s focalizadas, faz-se229


necessária uma <strong>br</strong>eve explicação dos processos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores,que visavam à implementação da Proposta Curricular do município <strong>de</strong> SãoJosé. Na análise, fica evi<strong>de</strong>nciada a mudança no objeto <strong>de</strong> ensino da aula <strong>de</strong>Língua Portuguesa nos dois momentos. O que diferencia um e outro é aforma <strong>de</strong> abordagem que a professora faz do gênero em estudo: no primeiromomento, o trabalho com o texto se limita à forma <strong>de</strong> composição textual dogênero; no segundo momento, se evi<strong>de</strong>ncia uma significativa preocupaçãocom a abordagem da dimensão social do gênero, implicandonecessariamente na relação autor-leitor e no espaço <strong>de</strong> circulação. Ainda quenão se possa generalizar, este trabalho é representativo do processo <strong>de</strong>autoria assumido pelo professor, quando da elaboração <strong>de</strong> suas própriasaulas e evi<strong>de</strong>ncia a compreensão responsiva ativa do professor aos discursosque circularam nas ações <strong>de</strong> formação continuada.GÊNEROS E AUTORIA: RELAÇÃO, POSSIBILIDADES EPERSPECTIVAS DE ENSINOMaria Marta Furlanetto (UNISUL, Tubarão)Neste trabalho retomo parte da discussão teórica <strong>de</strong>senvolvida no ensaioFunção-autor e interpretação: uma polêmica revisitada (In: Furlanetto;Souza (Orgs.). Foucault e a autoria. Florianópolis: Insular, 2006), em que, apartir <strong>de</strong> Foucault, examino essa função subjetiva e assumo sua adaptação nocontexto da Análise do Discurso, levantando questões relativas àpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autoria e às múltiplas formas <strong>de</strong> sua realização. Examinoaqui, relativamente à formulação em <strong>de</strong>terminados gêneros do discurso,passíveis <strong>de</strong> tratamento sistemático na instituição escolar, um tópico que se<strong>de</strong>staca na produção escrita na busca subjetiva por autonomia autoral, e omodo como po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvida consi<strong>de</strong>rando o trabalho escolar: oquerer-dizer (o projeto discursivo, conforme Bakhtin), ou, em outraperspectiva, a intencionalida<strong>de</strong> em sua orientação para o outro. A partir doquerer-dizer, especifico questões em torno da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iterar (repetir,retornar à memória do dizer) e alterar (produzir enunciativamente para obterum efeito <strong>de</strong> atualida<strong>de</strong>), <strong>de</strong>senvolvendo simultaneamente uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>numa comunida<strong>de</strong> discursiva – um efeito <strong>de</strong> autoria. Esse efeito <strong>de</strong> autoriaestá in<strong>de</strong>levelmente ligado ao processo <strong>de</strong> interpretação: ao escutar ou ler,nos conectamos com a exteriorida<strong>de</strong>, com o mundo vivido (ativida<strong>de</strong>centrífuga); simultaneamente, tentamos <strong>de</strong>limitar o “círculo do significado”(ativida<strong>de</strong> centrípeta) (Scholes, 1991: Protocolos <strong>de</strong> leitura). Produzirpressupõe dispersar e controlar a dispersão pelo fechamento (obter efeito <strong>de</strong>unida<strong>de</strong> pelo princípio <strong>de</strong> autoria). A constituição da autoria é caracterizadaem função dos vários discursos, <strong>de</strong> seu modo <strong>de</strong> acontecimento e circulação.Como isso po<strong>de</strong> ser exercitado para a produção <strong>de</strong> gêneros no contextoescolar? A proposta inicial, passível <strong>de</strong> avaliação, envolve um jogo entrepolissemia e paráfrase, em graus variados em correspondência com osgêneros que sejam focalizados, e preconiza ativida<strong>de</strong>s que permitam amanipulação <strong>de</strong> estratégias envolvendo uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolhas possíveis –230


o que <strong>de</strong>ve levar a uma avaliação constante dos efeitos provocados emvirtuais leitores até que a construção <strong>de</strong> um texto se dê por “fechada”.O PAPEL DOS INTERLOCUTORES E A DEFINIÇÃO DE TEMASNO GÊNERO ‘REUNIÃO DE DISCIPLINA’ EM UMA ESCOLA DEEDUCAÇÃO BÁSICANara Caetano Rodrigues (UFSC)Alguns gêneros da esfera do trabalho – tanto empresarial quanto escolar –vêm ganhando espaço nas discussões acadêmicas nos últimos anos, emfunção <strong>de</strong> seu papel regulador e legitimador das práticas <strong>de</strong> linguagemnesses ambientes discursivos. Nosso objetivo nesta comunicação é investigaras (re)<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> pauta nas reuniões <strong>de</strong> disciplina (reunião escolar) <strong>de</strong> umgrupo <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> Língua Portuguesa em uma escola pública fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> educação básica. Para tanto, serão analisados exemplos <strong>de</strong> interações nasquais há negociação em torno dos temas a serem discutidos, tanto nassituações cujos interlocutores possuem uma relação simétrica, comonegociações entre interlocutores cuja posição é assimétrica. As reuniões <strong>de</strong>disciplina, que ocorrem semanalmente na instituição pesquisada, constam doplano <strong>de</strong> trabalho dos professores e constituem-se uma instância <strong>de</strong>discussão <strong>de</strong> assuntos relacionados a questões pedagógicas e administrativas.As reflexões acerca das condições <strong>de</strong> produção dos embates que antece<strong>de</strong>ma <strong>de</strong>finição dos temas a serem discutidos nessas reuniões serão feitas à luz <strong>de</strong>alguns princípios do pensamento do Círculo <strong>de</strong> Bakhtin so<strong>br</strong>e as interaçõessociais. O corpus analisado é composto por gravações/transcrições <strong>de</strong>reuniões realizadas nos anos <strong>de</strong> 2006 e 2007 e é parte <strong>de</strong> uma pesquisa maior,cujo objetivo é a análise da construção socioaxiológica do discurso dosprofessores em processos <strong>de</strong> reestruturação curricular <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adosinstitucionalmente.O CONHECIMENTO DOS GÊNEROS DO DISCURSO NA ESFERAESCOLARNelita Bortolotto (UFSC/CED)O presente trabalho é uma proposta <strong>de</strong> discussão teórica que focaliza aesfera social escolar em práticas com linguagem relativas ao envolvimentoda experiência participante <strong>de</strong> professores no conjunto complexo dacompreensão histórica, teórica e prática dos processos educacionais, naquiloque se tem apresentado como “novo” objeto <strong>de</strong> ensino da língua portuguesa:os gêneros do discurso. Tal situação se faz acompanhar da compreensão daespecificida<strong>de</strong> com que tal objeto <strong>de</strong> conhecimento vem sendo“incorporado” como “fenômeno educacional” inserido, so<strong>br</strong>emaneira, nasformulações <strong>de</strong> propostas <strong>de</strong> trabalho escolar e em documentos oficiais <strong>de</strong>orientação pedagógica e curricular. Essa tendência requer reflexões so<strong>br</strong>e oque representa (o sentido) conceber os “gêneros do discurso” no ensino, nãosubtraído da compreensão histórica, teórica e prática no âmbito do ensino da231


linguagem e do conhecimento humano. O que se observa nos diferentesmovimentos que vêm legitimando essa dominância é a incorporação porvezes naturalizada do uso dos gêneros do discurso no campo educacional aomodo do que foi retido pela memória histórica e social da pedagogia dalíngua portuguesa para as práticas discursivas <strong>de</strong> outros tempos, como foi ocaso da “redação”, “produção textual” etc. Há uma história legitimadarevestida por certa autorida<strong>de</strong> da tradição, com ascendência so<strong>br</strong>e oentendimento da realida<strong>de</strong> objetiva e que interfere no real investigado. Essalegitimida<strong>de</strong> encontra-se agregada a valores axiológicos positivos. Acentuo,com essa comunicação, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ter em conta, no estudo daconstituição dos gêneros do discurso, o caráter dialógico das relaçõesdiscursivas e sociais implicadas no domínio das ativida<strong>de</strong>s humanas,articuladas com a produção do conhecimento em linguagem e educação.Nesse sentido, a teoria do dialogismo <strong>de</strong> Bakhtin e mem<strong>br</strong>os do seu Círculoé fonte teórica importante para o exercício da crítica quanto ao entendimentoda prática social, a escolar, do ato pedagógico da docência individual ecoletivo nas diferentes instâncias <strong>de</strong> atuação (pesquisa e ensino). Estudosacompanhados <strong>de</strong> uma visão teórica que pressupõe as “fronteiras dialógicas”na produção do conhecimento e suas especificida<strong>de</strong>s implicadas são entradapara um agir pedagógico com visão <strong>de</strong> direção e profundida<strong>de</strong>.PRODUÇÃO DE TEXTOS ACADÊMICOS SOBRE AS PRÁTICASPEDAGÓGICAS NA LICENCIATURARegina Maria Varini Mutti (PPGEDU/UFRGS)Analisa-se, tomando como referencial a Análise <strong>de</strong> Discurso, principalmente,a interpretação do sujeito-acadêmico <strong>de</strong> pedagogia no estabelecimento <strong>de</strong>sua posição pedagógica no ensino <strong>de</strong> língua. Enfocam-se os títulos dasseguintes produções textuais: projeto para ensino <strong>de</strong> língua na escola,elaborado numa disciplina, e versões representadas no projeto <strong>de</strong> estágio erelatório. No título do projeto-fonte: (1) Projeto Conhecer Interpretar eRecriar Dom Quixote, “projeto” e “Dom Quixote” sintonizam ametodologia da disciplina no <strong>de</strong>staque ao gênero. Os infinitivos: “conhecer”,“interpretar”, “recriar”, tendo como objeto “Dom Quixote”, apontam não sóao aluno-alvo quanto à professora, que busca interpretar e recriar osreferenciais que a afetaram, <strong>de</strong>stacando-se o sentido <strong>de</strong> conhecer comoprodução <strong>de</strong> sentido na diferença. Na “Apresentação” do livro <strong>de</strong> co-autoria,reforça o prazer e a imaginação para o acesso à o<strong>br</strong>a: “... o gosto pela leiturae a curiosida<strong>de</strong> intelectual”, “a paixão e o profundo apreço por DomQuixote...<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância”(Relatório), como opostos à o<strong>br</strong>igação e àsfórmulas prontas <strong>de</strong> ensinar. O encontro com Calvino, autor <strong>de</strong> sua escolha,surte o efeito <strong>de</strong> inserção no discurso acadêmico que a acolhe em suadiferença e a autoriza a compartilhar a paixão pela leitura ao recriar umapedagogia. Nos títulos do Projeto <strong>de</strong> Estágio: (2) Viajando no Túnel doTempo da incrível biblioteca <strong>de</strong> Dom Quixote” e da coletânea: (3) “DomQuixote no Túnel do Tempo; uma experiência <strong>de</strong> leitura em sala <strong>de</strong> aula”,232


essalta a estratégia <strong>de</strong> aproximação entre a turma e a o<strong>br</strong>a: a ficção túnel dotempo e biblioteca <strong>de</strong> Dom Quixote. O gerúndio viajando aponta ao<strong>de</strong>slocamento imaginário a um lugar incrível no passado, para encontrar umabiblioteca e dialogar com autores e personagens. Incrível é a sala <strong>de</strong> aula,palco <strong>de</strong> aventuras fabulosas, é o sonho <strong>de</strong> trabalhar o apego à literatura. Amediação das mensagens entre La Mancha e Porto Alegre possibilita umjogo mágico <strong>de</strong> interlocuções: os alunos criam suas próprias aventuras, e aprofessora é parceira no <strong>br</strong>incar. O efeito <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong> encantamento com aexperiência incrível condiz com o modo <strong>de</strong> posicionar-se no discursopedagógico da área, na prática <strong>de</strong> ensino, por meio das textualizaçõesempreendidas; das formulações discursivas heterogêneas emerge aafirmação <strong>de</strong> uma voz singular no coletivo que produz sentidos, atestando omodo como os sujeitos participam da formação da área educacional com osseus sentidos.A CONSTRUÇÃO DA AUTORIA NO GÊNERO DO DISCURSOARTIGO ASSINADORosângela Hammes Rodrigues (UFSC)Objetiva-se, nesta comunicação, analisar como se constitui discursivamentea autoria - aqui entendida como postura <strong>de</strong> autoria, com sua responsabilida<strong>de</strong>discursiva (BAKHTIN, Estética da Criação Verbal) - no gênero do discursoartigo assinado, da esfera jornalística. A partir da análise dos dados, artigosassinados publicados na seção <strong>de</strong> opinião <strong>de</strong> três jornais, um <strong>de</strong> circulaçãoestadual (Diário Catarinense) e dois <strong>de</strong> circulação nacional (Folha <strong>de</strong> S.Paulo e Estado <strong>de</strong> S. Paulo), observou-se que a autoria <strong>de</strong>sse gênero estáligada à questão da notorieda<strong>de</strong> social e da imagem <strong>de</strong> homem público. Apostura <strong>de</strong> autoria é construída a partir da posição privilegiada que oarticulista ocupa no cenário sócio-político e/ou da profissão <strong>de</strong> notorieda<strong>de</strong>que exerce. Esse reconhecimento out<strong>org</strong>a credibilida<strong>de</strong> a sua fala,colocando-o como “articulador” <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista autorizado, como umformador <strong>de</strong> opinião autorizado e legitimado socialmente. O articulistaincorpora o ethos <strong>de</strong> competência social e profissional (o qual se constrói ese manifesta <strong>de</strong> modo “mostrado” no seu discurso), que legitima seu ponto<strong>de</strong> vista e funciona como garantia do seu discurso. Esse ethos é, ao mesmotempo, garantia <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> e argumento <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> do discurso doarticulista. No artigo assinado, o cronotopo do gênero e o ethos da autoriasão o lugar do estabelecimento e da ancoragem da entonação <strong>de</strong>sse gênero:um tom <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> legitimado a expor e formar opiniões.OS GÊNEROS DO DISCURSO NA MODALIDADE DE EDUCAÇÃOA DISTÂNCIA: A DISCIPLINA PRODUÇÃO DE TEXTOVíctor César da Silva Nunes (FURB, UFSC)Este trabalho <strong>de</strong>screve o projeto interinstitucional (FURB, UNIFEBE,UNESC, UNIVILLE e UNOCHAPECÓ), promovido pela ACAFEVirtual,233


<strong>de</strong> cooperação e colaboração na autoria e produção do material para aDisciplina LPT (Leitura e Produção <strong>de</strong> Textos), a qual passará a se chamar,na FURB, Produção <strong>de</strong> Texto, e será ofertada, primeiramente, aosacadêmicos dos cursos <strong>de</strong> licenciatura <strong>de</strong>sta Universida<strong>de</strong>. Essa escolhaacontece porque a disciplina já é oferecida presencial e regularmente àslicenciaturas da FURB, fazendo parte da matriz curricular <strong>de</strong>sses respectivoscursos. O planejamento e estruturação, bem como a produção <strong>de</strong>sse material,são baseados nos gêneros do discurso, por opção do grupo <strong>de</strong> autores. Adisciplina “Produção <strong>de</strong> Texto” tem como objetivo aprimorar a leitura eprodução escrita <strong>de</strong> textos da esfera acadêmica, capacitando o acadêmico areconhecer características essenciais do resumo, da resenha e do ensaio, bemcomo produzir esses gêneros do discurso. Essa disciplina utilizará oAmbiente Virtual <strong>de</strong> Aprendizagem da FURB, cuja plataforma é o Modlle.Como base teórica, este trabalho aborda os gêneros discursivos e o uso dastecnologias da informação e da comunicação voltadas à modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Educação a Distância.“ESTAMOS EN JAPONÉS!”: FORMAS DE RELACIONAMENTODE APRENDIZES – LEITORES DE PLE COM TEXTOSACADÊMICOSVirginia Orlando (FHCE – U<strong>de</strong>laR, Montevi<strong>de</strong>o)Este trabalho visa analisar a forma <strong>de</strong> estabelecer as relaçõesautor/texto/leitor a respeito <strong>de</strong> diversos gêneros discursivos em processos <strong>de</strong>ensino-aprendizagem que acontecem em cursos <strong>de</strong> português paraaprendizes adultos hispano-falantes. O cenário <strong>de</strong> pesquisa consiste em aulas<strong>de</strong> leitura, concebidas como apoio para a leitura <strong>de</strong> bibliografia especializada,e en<strong>de</strong>reçadas a alunos universitários (graduação e pós-graduação), noâmbito <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> pública. O arcabouço teórico que sustenta apesquisa recupera a conceituação bakhtiniana so<strong>br</strong>e a linguagem dialógica ea compreensão, junto a uma visão dos letramentos como práticas sociais(Street 1995, Gee 1996), inseridas em comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> prática (Wenger1999). Conforme Coste (1978/ 2002), é possível pensar em públicosdiversos nas práticas <strong>de</strong> leitura em LEs <strong>de</strong> adultos, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo não tanto doconhecimento global da língua, mas, e entre outras coisas, do domíniosituacional e relacional da produção, recepção e circulação dos textos-alvo,do domínio textual <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados formatos, assim como do domínioreferencial geral da área <strong>de</strong> conhecimento em questão. Em Orlando (2007)exploravam-se as percepções dos sujeitos “aprendizes-leitores” a respeito da“leitura <strong>de</strong> textos em geral” vs. “leitura <strong>de</strong> textos especializados na área”. As(re)lexificações e as construções discursivas (Fairclough 2001) presentes nosdados analisados apontavam para o estabelecimento <strong>de</strong> uma associação entregêneros discursivos e graus <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> lingüística que pareceinteressante revisar. A análise <strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> letramento acontecidos nocenário <strong>de</strong> pesquisa mostraria uma relação autor/texto/leitor percebidadiferentemente nos diferentes gêneros, o que pareceria evi<strong>de</strong>nciar234


abordagens <strong>de</strong> leitura em que as diversas “línguas” empregadas em textospertencentes a diversos gêneros discursivos não são dialogicamentecorrelatas (Bakhtin, 1934-1935/ 1998). Para o ensino-aprendizagem <strong>de</strong> leituraem LEs en<strong>de</strong>reçado a aprendizes adultos, parece importante buscar formas<strong>de</strong> fazer sair do estado <strong>de</strong> equilí<strong>br</strong>io essas diversas línguas (registros), o quetalvez po<strong>de</strong>ria contribuir para a que<strong>br</strong>a <strong>de</strong> certas percepções que seapresentam como construções <strong>de</strong> sentido comum (Fairclough, 1989).LEITURA E PRODUÇÃO DE TEXTOS: GÊNEROS TEXTUAIS EINTERDISCIPLINARIDADENormelio Zanotto (UCS)Tânia Maris <strong>de</strong> Azevedo (UCS)Este trabalho apresenta uma experiência <strong>de</strong> realização <strong>de</strong> oficinas <strong>de</strong> leiturae produção <strong>de</strong> textos sob a perspectiva interdisciplinar, efetivadas com umgrupo <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadores pedagógicos que atuam na re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong>Ensino Fundamental <strong>de</strong> Caxias do Sul (RS). Esses profissionais<strong>de</strong>sempenham suas funções junto aos professores das áreas/disciplinas emtodos os anos/ciclos que compõem o currículo escolar. Essas oficinas<strong>de</strong>correram <strong>de</strong> solicitação da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Educação, graças aosresultados altamente positivos advindos da oferta <strong>de</strong> oficinas anterioresintegrantes do experimento realizado na pesquisa Leitura e escrita em sala<strong>de</strong> aula para professores <strong>de</strong> 5ªs séries, com base na teoria dos gêneros <strong>de</strong>texto – GENERA 2. Nas oficinas dirigidas aos coor<strong>de</strong>nadores, foram<strong>de</strong>senvolvidos os seguintes tópicos: análise dos objetivos do EnsinoFundamental constantes dos PCNs focando recepção e produção <strong>de</strong> textos;leitura e escrita em sala <strong>de</strong> aula nas diferentes áreas – práticas vigentes ealternativas metodológicas; gêneros <strong>de</strong> texto como ferramenta para o ensinonos diversos componentes curriculares; práticas <strong>de</strong> leitura e escrita numaperspectiva sociointeracionista e interdisciplinar; hipertexto emultimodalida<strong>de</strong> como formas <strong>de</strong> integrar as competências <strong>de</strong> linguagem;análise, caracterização e produção <strong>de</strong> constelações <strong>de</strong> gêneros <strong>de</strong> texto;análise do texto global; análise <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> livros didáticos<strong>de</strong>stinados às diversas áreas/disciplinas curriculares; planejamento, execuçãoe avaliação <strong>de</strong> projetos interdisciplinares <strong>de</strong> intervenção didático-pedagógicajunto ao corpo docente, com base nos gêneros <strong>de</strong> texto. A relevância <strong>de</strong>ssaexperiência, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a implementação da pesquisa até a realização dasoficinas, centra-se especialmente no fato <strong>de</strong> ter possibilitado tornar concretaa integração das três dimensões acadêmicas: ensino, pesquisa e extensão.GÊNEROS DO DISCURSO, AUTORIA E ENSINO“O QUE É QUE EU ESCREVO?” UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE APRODUÇÃO ESCRITA ARGUMENTATIVA EM SALA DE AULA.Silvana Schork (FURB)235


Esta pesquisa tem como objeto <strong>de</strong> investigação a prática <strong>de</strong> escritura nasaulas <strong>de</strong> Língua Portuguesa, especificamente dos gêneros da or<strong>de</strong>m doargumentar, visto serem estes os que possibilitam ao aluno <strong>de</strong>senvolverdiferentes interações, com diferentes interlocutores nas práticas sociais emque está inserido. O trabalho com esses gêneros textuais pressupõe o ato <strong>de</strong>pensar, tomar <strong>de</strong>cisões e estabelecer sentidos ao que se preten<strong>de</strong> dizer e sãoessas as situações discursivas que preten<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r, na voz doaluno, enquanto autor, durante os momentos <strong>de</strong> produção textual. A pesquisafundamenta-se em uma abordagem <strong>de</strong> natureza qualitativa buscando umenvolvimento mais dinâmico entre sujeito e objeto <strong>de</strong> estudo. Sendo assim,a<strong>de</strong>ntrar a sala <strong>de</strong> aula é um dos meios para que se aprofun<strong>de</strong> e se perceba opapel do professor e do aluno no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem daprodução do texto escrito o que permite examinar efetivamente as questões:Que sentidos são atribuídos pelo aluno à construção <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> caráterdissertativo em contexto <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula? Que atitu<strong>de</strong>s responsivas do alunosão percebidas durante a produção <strong>de</strong>stes textos? Tomando como basesteóricas-Bakhtin, Bronckart, Vygotsky Dolz e Schneuwly, nas perspectivasdo sócio-interacionismo, gêneros discursivos e interacionismo sóciodiscursivo,na análise dos primeiros dados, coletados durante as gravaçõesdas aulas <strong>de</strong> produção textual <strong>de</strong> alunos do Ensino Médio, observou-se quehá um cuidado excessivo com o uso das palavras quando se trata <strong>de</strong>produção escrita em um ambiente <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, havendo o monitoramentoe a influência do professor. Fica evi<strong>de</strong>nte a submissão do texto e daprodução escrita em função da norma da escrita. Os alunos não se arriscam,não ousam na produção textual, o que contribui para que os textos que seproduzem na escola sejam muito parecidos entre si (pouca informativida<strong>de</strong> -predomínio do senso comum).GT16 Lexicografia, Terminologia e LexicologiaCoor<strong>de</strong>nadoresMaria José Bocorny Finatto (UFRGS)Giselle Mantovani Dal Corno (UCS)A LINGUAGEM ESPECIALIZADA DO DIREITOPREVIDENCIÁRIO E A ESTRUTURA DO TEXTO SENTENÇAAlexandra Fel<strong>de</strong>kircher Müller (UFRGS)Neste trabalho, objetivamos apresentar a pesquisa <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong>senvolvidajunto ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras da UFRGS e, em especial,discutir aspectos da constituição e caracterização do texto sentença e <strong>de</strong> sualinguagem especializada. O estudo do texto sentença se mostra fundamentalpara nosso propósito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar a terminologia do Direito Previ<strong>de</strong>nciáriocontida nas sentenças do Juizado Especial Fe<strong>de</strong>ral Previ<strong>de</strong>nciário (JEFP)para constituir um glossário. A sentença previ<strong>de</strong>nciária é um texto normativoproferido pelo Juiz, visando um parecer final so<strong>br</strong>e o pedido do autor do236


processo – usuário do sistema jurídico, leigo ou semileigo. Apresenta comocaracterística sua linguagem altamente especializada, com inúmeros termostécnicos não compreendidos pelos seus leitores em potencial - autores dosprocessos. Logo, a necessida<strong>de</strong> que os usuários do sistema da Justiça Fe<strong>de</strong>raltêm <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a linguagem empregada nos processos jurídicosjustifica nossa investigação. A pesquisa se fundamenta na TeoriaComunicativa da Terminologia (CABRÉ, 2001), por sua abordagemcomunicativa e por centrar-se nas unida<strong>de</strong>s terminológicas, consi<strong>de</strong>rando adimensão textual e discursiva <strong>de</strong> ocorrência dos termos. Adotamos tambémos pressupostos da teoria do texto especializado <strong>de</strong> Hoffmann (1998) e <strong>de</strong>Ciapuscio (1997), a qual trata da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o produtor do texto,caracterizado como especialista, reformular ou modificar um termo, paraaten<strong>de</strong>r as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensão do interlocutor. Para a constituição emanuseio do córpus - 240 sentenças previ<strong>de</strong>nciárias da 4ª. Região da JustiçaFe<strong>de</strong>ral (RS, SC e PR), nos valemos dos preceitos da Lingüística <strong>de</strong> Córpus(Sardinha, 2004). Para processamento das informações do córpus, utilizamosas ferramentas do Corpógrafo. Como primeiros resultados, <strong>de</strong>stacamos ai<strong>de</strong>ntificação da macroestrutura do texto sentença composta por trêssegmentos: introdução, <strong>de</strong>senvolvimento e conclusão, e a predominância erecorrência <strong>de</strong> termos sempre nas mesmas partes do texto (ex. Vistos, etc. naintrodução, Decido no <strong>de</strong>senvolvimento), como elementos que caracterizamo gênero textual e a função que os termos po<strong>de</strong>m exercer junto a ele. Oreconhecimento da presença <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> terminologia jurídicano texto (Direito, Direito Previ<strong>de</strong>nciário, sentença, autor do processo) e, <strong>de</strong>maneira geral, um perfil <strong>de</strong> usuário incapaz <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o significadodos termos, logo, do texto, acarretando em implicações legais ao se tratar <strong>de</strong>documento <strong>de</strong> valor jurídico normativo, também são importantes resultados.(484 palavras)ESTUDIO DE UNIDADES FRASEOLÓGICAS Y SUS SENTIDOSMETAFÓRICOS EN DOS DICCIONARIOS BILINGÜES ESPAÑOL-PORTUGUÉS, PORTUGUÊS-ESPANHOLAna Maria Barrera Conrad Sackl (UFSC)Las unida<strong>de</strong>s fraseológicas, a pesar <strong>de</strong> siempre haber estado presentes endiccionarios bilíngües españoles y <strong>br</strong>asileños, han sido objeto <strong>de</strong> pocosestudios que analicen los criterios que rigen su inclusión en los diccionarios.La traducción <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s fraseológicas en un contexto don<strong>de</strong> el objetivosea provocar risa es un <strong>de</strong>safio para el traductor que, constatará si losejemplos que constan el diccionario pue<strong>de</strong>n ser aplicados en cómics. Estainvestigación consi<strong>de</strong>ra también los procesos <strong>de</strong> metaforización <strong>de</strong> loscontenidos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> la perspectiva <strong>de</strong> la lingüística cognitiva, que <strong>de</strong>staca laexistencia <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> conceptualizaciones compartidas.O VERBO PERFORMATIVO NA LINGUAGEM LEGALAnna Maria Becker Maciel (UFRGS)237


O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é apresentar um recorte <strong>de</strong> uma pesquisa emandamento cujo foco é o verbo jurídico. Neste trabalho é explorado o papeldo verbo performativo na configuração da especificida<strong>de</strong> da linguagem dalei em português. O verbo performativo é priorizado, por sua importânciacomo a palavra que expressa a ação diretiva do Direito quando consi<strong>de</strong>radoem sua função or<strong>de</strong>nadora da vida em socieda<strong>de</strong>, a constituição é escolhidacomo campo preferencial <strong>de</strong> pesquisa por sua relevância como texto <strong>de</strong>maior hierarquia no sistema jurídico. O estudo, situado na perspectiva dateoria dos atos <strong>de</strong> fala e da teoria semiótica do texto, <strong>de</strong>senvolve-se noquadro dos princípios fundamentais dos estudos terminológicos <strong>de</strong> tendênciacomunicativa e sociocognitiva, aliados aos pressupostos básicos dalingüística <strong>de</strong> corpus. Foi construído um corpus com o texto constitucional<strong>de</strong> cada um dos oito países lusófonos, Angola, Brasil, Cabo Ver<strong>de</strong>, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste,mem<strong>br</strong>os integrantes da Comunida<strong>de</strong> dos Países <strong>de</strong> Língua Portuguesa. Comauxílio <strong>de</strong> ferramentas informatizadas, foram produzidas listas <strong>de</strong> palavras,geradas concordâncias, combinatórias e colocações com o propósito <strong>de</strong>selecionar os verbos que, no contexto constitucional, realizam açõesespecificas do Direito. A análise dos dados levantados mostrou que ummacroato <strong>de</strong> fala é instaurado pelo verbo na fórmula da promulgação da lei eque esse ato atribui caráter performativo a outros verbos no texto, os quais,em conseqüência, dotam, com o caráter <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significaçãoespecializada, as entida<strong>de</strong>s que ocorrem como seu sujeito e complementos.Assim, como um pólo catalisador, esses verbos atuam na configuração daespecificida<strong>de</strong> conceitual das unida<strong>de</strong>s lexicais que ocorrem em sua estruturaargumental. O estudo evi<strong>de</strong>ncia que o verbo utilizado na linguagem legal<strong>de</strong>ve ser examinado <strong>de</strong>ntro do ambiente semiótico-pragmático do texto legalconsi<strong>de</strong>rado como um evento comunicativo <strong>de</strong> um domínio temáticoprescritivo.UM NATURALISTA ITALIANO NO BRASIL: RADDI E OSEMPRÉSTIMOS DO LÉXICO PORTUGUÊS PARA A LÍNGUAITALIANABenil<strong>de</strong> Socreppa Schultz (UNIOESTE)O Brasil, pela pujança <strong>de</strong> sua fauna e flora atraiu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seu<strong>de</strong>sco<strong>br</strong>imento, a atenção dos europeus, interessados em conhecer assuas riquezas minerais, vegetais e animais. As primeiras <strong>de</strong>scriçõesso<strong>br</strong>e a fauna e flora do território <strong>br</strong>asileiro foram feitas por Pero Vaz<strong>de</strong> Caminha, na sua famosa carta a El rei Don Manoel <strong>de</strong> Portugal.Nela ficou registrada não somente a beleza, mas, so<strong>br</strong>etudo, a riquezada nossa terra. A partir <strong>de</strong>ssa carta, que se difundiu por toda a Europa,teve início uma série <strong>de</strong> relatórios <strong>de</strong> viagens, escritos seja porescrivães <strong>de</strong> bordo das caravelas, seja por aventureiros ou pessoascomissionadas por mercantes italianos para comerciar os produtos <strong>de</strong>238


além-mar. Porém, foi com a vinda <strong>de</strong> Dom João ao Brasil e com acriação, em 1808, do Horto Botânico Real, que a pesquisa científicacomeçou a vigorar intensamente no país. Segundo Isenburg (1989,p.13), o estímulo para a renovação da agricultura, o aproveitamentodas florestas, a varieda<strong>de</strong> da flora e o pouco conhecimento que se tinhaaté então das varieda<strong>de</strong>s existentes – aliados à honra <strong>de</strong> encontrar enomear uma nova espécie – foi a mola propulsora para a vinda <strong>de</strong>cientistas <strong>de</strong> todas as partes da Europa: franceses, alemães, italianosetc. Os naturalistas italianos, ao nomear, em suas crônicas, as plantas eanimais, além <strong>de</strong> colaborar com a história natural, davam a suacontribuição lingüística, pois, como não existia <strong>de</strong>terminado termo nalíngua italiana, para nomear essa nova realida<strong>de</strong>, valiam-se do termocorrente no Brasil. Muitos <strong>de</strong>sses empréstimos entraram a fazer partedo léxico italiano, outros circularam somente nos seus escritos.Seguramente, Giuseppe Raddi, florentino, nascido em 1770, éconsi<strong>de</strong>rado o maior naturalista italiano a coletar e classificarespécimes das nossas florestas. Fazia parte da comitiva que em 1817trazia ao Brasil a arquiduquesa Leopoldina da Áustria, futura esposado Príncipe Dom Pedro I. Nos seus oito meses <strong>de</strong> permanência noBrasil, contribuiu so<strong>br</strong>emaneira para a classificação da fauna e flora<strong>br</strong>asileiras, relacionando exemplares coletados nos arredores da cida<strong>de</strong>do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Neste trabalho, preten<strong>de</strong>mos fazer um levantamentodos empréstimos, lexicalizados ou não, registrados na o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> Raddi.AVALIAÇÃO E PROPOSTA DE CRITÉRIOS PARAIDENTIFICAÇÃO DE UNIDADES FRASEOLÓGICASESPECIALIZADAS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIOSue Anne Christello Coim<strong>br</strong>a (UFRGS)Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS)Este trabalho tem por objetivo discutir os critérios caracterizadores dasunida<strong>de</strong>s fraseológicas especializadas, a fim <strong>de</strong> verificar sua pertinência parai<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s em textos <strong>de</strong> língua portuguesa. Em princípio,tais unida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>finidas como combinações <strong>de</strong> dois ou maislexemas, um dos quais é uma unida<strong>de</strong> terminológica. Neste tipo <strong>de</strong>combinatória, há uma restrição <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong>terminada pelas especificida<strong>de</strong>sda área em que ocorrem. Dessa maneira, no âmbito da Gestão Ambiental,por exemplo, utilizam-se as combinatórias poluir a água e contaminar aágua, mas não *contagiar a água. Para a realização <strong>de</strong>ste estudo,primeiramente, fez-se um levantamento das propostas <strong>de</strong> diferentes autores,buscando i<strong>de</strong>ntificar as proprieda<strong>de</strong>s que cada um atribui a essas unida<strong>de</strong>s.Após, proce<strong>de</strong>u-se à análise e contraste entre as distintas propostas para,assim, chegar a um conjunto <strong>de</strong> critérios a serem aplicados para seureconhecimento em corpora textuais. Os corpora textuais a partir dos quaisse realizará o estudo serão das áreas <strong>de</strong> Gestão Ambiental e <strong>de</strong> Cardiologia.Serão utilizadas como ferramentas <strong>de</strong> apoio propostas pelo Acervo Termisul239


(www.ufrgs.<strong>br</strong>/termisul), tais como o gerador <strong>de</strong> N-Gramas e oconcordanciador. A partir <strong>de</strong>ssa aplicação, preten<strong>de</strong>-se analisar os resultadosobtidos para avaliar a eficácia <strong>de</strong> tais critérios. Se necessário, serãopropostos critérios complementares que auxiliem na extração <strong>de</strong>ssasunida<strong>de</strong>s. Pensamos que esses po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m morfossintática equalitativa. A justificativa <strong>de</strong>ste estudo <strong>de</strong>ve-se a importância da fraseologiacomo elemento caracterizador <strong>de</strong> textos especializados, uma vez quetransmitem e representam conhecimento especializado. Nessa perspectiva,conhecê-la torna-se fundamental na redação e tradução <strong>de</strong> textosespecializados. Assim, preten<strong>de</strong>-se que os resultados <strong>de</strong>ste trabalhoofereçam um conjunto <strong>de</strong> elementos que permita caracterizar <strong>de</strong> forma mais<strong>de</strong>talhada tais unida<strong>de</strong>s e que sirva <strong>de</strong> subsídio para os profissionais do texto.Este trabalho constitui-se parte do objeto <strong>de</strong> pesquisa a ser <strong>de</strong>senvolvido noâmbito do mestrado na linha <strong>de</strong> pesquisa Lexicografia e Terminologia:Relações Textuais, do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul.SOLUCIONANDO DILEMAS EPISTEMOLÓGICOS EMETODOLÓGICOS EM OBRA LEXICOLÓGICA DESENTIMENTOS E EMOÇÕESCristiane <strong>de</strong> Melo Aranda (UEM)Atuando na elaboração <strong>de</strong> O<strong>br</strong>a Lexicológica <strong>de</strong> Emoções e Sentimentos,esta autora <strong>de</strong>parou-se com um dilema próprio do fazer científico: qual oposicionamento epistemológico e o método científico mais apropriado quepossibilitará o alcance dos objetivos almejados para a o<strong>br</strong>a lexicológica emquestão? Para respon<strong>de</strong>r a este dilema, quatro pressupostos foramconsi<strong>de</strong>rados: 1) produzir uma o<strong>br</strong>a lexicológica <strong>de</strong> interesse geral; 2) <strong>de</strong>abordagem científica; 3) que contribua com o <strong>de</strong>senvolvimento dainteligência emocional; 4) que alie teoria e prática, po<strong>de</strong>ndo, assim, sercaracterizada como o<strong>br</strong>a-útil tanto para pesquisadores quanto para o públicoem geral. Este artigo apresenta os caminhos percorridos para a supressão dodilema e os argumentos teóricos que contribuíram para o estabelecimento doposicionamento epistemológico e metodológico, tais como:Lexicologia/Lexicografia; Terminologia/Terminografia; formalismo efuncionalismo. Apresenta ainda as categorias possíveis para a o<strong>br</strong>a, efinaliza com os posicionamentos tomados. O artigo inclui o corpus <strong>de</strong>stapesquisa lexicológica <strong>de</strong> emoções e sentimentos.A RETOMADA DE UNIDADES DE SIGNIFICAÇÃOESPECIALIZADA EM TEXTOS EM LÍNGUA PORTUGUESA EALEMÃCristiane Krause Kilian (UFRGS)Este trabalho tem o objetivo <strong>de</strong> apresentar os resultados da pesquisa <strong>de</strong>doutorado que consiste em um estudo comparativo so<strong>br</strong>e o funcionamento240


<strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação especializada formadas por um núcleo eventivoe um núcleo terminológico na área <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> resíduos, em textos escritosem língua alemã e portuguesa. Analisa-se o modo como essas unida<strong>de</strong>sespecializadas são retomadas ao longo do texto nessas duas línguas e quaisconseqüências essas diferenças ou semelhanças trazem para o processo <strong>de</strong>tradução. A análise é efetuada a partir <strong>de</strong> um corpus comparável formadopor textos em língua alemã e língua portuguesa extraídos <strong>de</strong> revistasespecializadas e também <strong>de</strong> um corpus paralelo composto por textos nasduas direções tradutórias. Para a categorização das formas <strong>de</strong> retomadatextual, são integrados aportes da Lingüística Textual e da Terminologia,mais especificamente abordagens so<strong>br</strong>e coesão e variação terminológica. Noâmbito dos Estudos da Tradução, é proposta uma categorização dasmodalida<strong>de</strong>s tradutórias que embasam a análise das escolhas feitas pelostradutores. Verificaram-se algumas diferenças nos textos em relação aosmecanismos <strong>de</strong> retomada das unida<strong>de</strong>s analisadas. Enquanto nos textos emlíngua alemã percebe-se uma tendência a usar a forma plena da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>significação especializada, nos textos em língua portuguesa evi<strong>de</strong>ncia-seuma preferência pela forma reduzida. Essas particularida<strong>de</strong>s trazemconseqüências para a tradução, pois, conforme verificamos, as modalida<strong>de</strong>stradutórias não apresentam a mesma distribuição. Depois da substituiçãoterminológica, que se mostrou a modalida<strong>de</strong> mais usada nas duas direçõestradutórias, os textos traduzidos para o alemão empregam o acréscimo,enquanto, nos textos traduzidos para o português, há uma preferência peloapagamento.A PRODUTIVIDADE DO DICIONÁRIO DE LÍNGUAPORTUGUESA PARA O ENSINO DO LÉXICO: UMA PROPOSTAALÉM DO LIVRO DIDÁTICOFernanda Quartieri dos Santos (UNISINOS)Este trabalho tem por objetivo evi<strong>de</strong>nciar o dicionário como um instrumentodidático capaz <strong>de</strong> oferecer informações relevantes so<strong>br</strong>e o léxico da LínguaPortuguesa e <strong>de</strong> ampliar a competência lexical dos alunos. Para a realização<strong>de</strong>ste estudo, investigamos <strong>de</strong> que maneira os livros didáticos <strong>de</strong> LínguaPortuguesa, das séries finais do Ensino Fundamental, abordam as questõesdo léxico como polissemia, sinonímia, e <strong>de</strong>rivação <strong>de</strong> palavras. A partir<strong>de</strong>ssas análises, o intuito do trabalho é fazer proposições <strong>de</strong> uso dodicionário em sala <strong>de</strong> aula, enfatizando-o como um instrumento didáticomuito produtivo. A abordagem teórica utilizada é baseada nos estudos daLexicografia Didática, juntamente com os PCNs da Língua Portuguesa e ateoria da Semântica Lexical. Fizemos a análise <strong>de</strong> aproximadamente 20livros didáticos, 5 livros para cada série final do Ensino Fundamental. Osdicionários utilizados são aqueles consi<strong>de</strong>rados pelo MEC como pertencenteao tipo 3 e, em média, usamos cerca <strong>de</strong> 4 o<strong>br</strong>as lexicográficas. Esta pesquisaé <strong>de</strong> extrema relevância, pois o que preten<strong>de</strong>mos mostrar é a verda<strong>de</strong>iraprodutivida<strong>de</strong> dos dicionários, enfatizando <strong>de</strong> que maneira essas o<strong>br</strong>as241


po<strong>de</strong>m contribuir, juntamente com os livros didáticos, para uma melhoria naaprendizagem do léxico da Língua Portuguesa, principalmente aquelas queenvolvem questões semânticas. Dessa forma, exploramos as diferentescaracterísticas dos dicionários, incentivando assim o professor a repensarso<strong>br</strong>e a funcionalida<strong>de</strong> das o<strong>br</strong>as lexicográficas.DESENHO DE UM DICIONÁRIO PASSIVO INGLÊS/PORTUGUÊSPARA ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIOIsabel Cristina Te<strong>de</strong>sco Selistre (UFRGS)Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio/ LínguaEstrangeira Mo<strong>de</strong>rna em suas três versões – PCNEM (1999), PCN+ EnsinoMédio (2002) e Orientações Curriculares para o Ensino Médio (2006) -salientam a importância do <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura nosestudantes do ensino médio, que amplia seu acesso ao conhecimento epossibilita a continuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus estudos. Acreditamos que o uso <strong>de</strong> umdicionário bilíngüe passivo possa auxiliar, <strong>de</strong> forma bastante eficaz, no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> tal habilida<strong>de</strong>. No Brasil, apesar <strong>de</strong> existir umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dicionários escolares inglês/português disponíveis no mercado,não parece haver uma percepção clara so<strong>br</strong>e a função que o dicionário <strong>de</strong>vesatisfazer. O objetivo da presente comunicação é apresentar os fundamentosdo <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um dicionário passivo inglês/português que possa realmentesatisfazer as necessida<strong>de</strong>s do usuário escolar do ensino médio, ou seja,satisfazer as funções <strong>de</strong> recepção e <strong>de</strong> ganho léxico. Como metodologia,empregaremos os princípios da lexicografia bilíngüe para <strong>de</strong>finircoerentemente os segmentos canônicos (micro, médio e macroestrutura) e osnão- canônicos (outsi<strong>de</strong> matter: front matter, middle matter e back matter)que compõem esse instrumento lexicográfico. Embora a pesquisa esteja nasua fase inicial, é possível constatar que se carece completamente <strong>de</strong> estudoslexicométricos que permitam calcular o escopo léxico que um dicionáriopara tal função <strong>de</strong>va ter.A PRESENÇA DO INGLÊS NA LINGUAGEM DA MINERAÇÃOKaroll Ribeiro e Silva Ferreira (UFRGS)Este trabalho visa, a partir <strong>de</strong> um estudo exploratório <strong>de</strong> textos da área daMineração, investigar a ocorrência <strong>de</strong> anglicismos terminológicos e<strong>de</strong>screver a natureza interna, entorno lingüístico e textual que permitem suaexistência e funcionamento. Com base nos pressupostos da TeoriaComunicativa da Terminologia e nos paradigmas da Terminologia Textual,postula-se que o termo estrangeiro <strong>de</strong>ve ser analisado em sua inserção nocontexto, uma vez que seu valor especializado é ativado pelas condições <strong>de</strong>uso. Buscou-se apoio nos mestres dos estudos <strong>de</strong> neologia, empréstimo eestrangeirismo para explicar o anglicismo terminológico como o empréstimoinglês <strong>de</strong> uma palavra da linguagem especializada utilizada nos textos <strong>de</strong>Mineração escritos em português do Brasil e, ao mesmo tempo, para242


i<strong>de</strong>ntificar os traços que os aproximam ou diferenciam, bem como as formasque se enquadram em um ou outro tipo. A pesquisa parte da observação <strong>de</strong>um corpus <strong>de</strong> artigos científicos em português <strong>br</strong>asileiro, coletados <strong>de</strong>periódicos correntes da área da Mineração, divididos em subcorpus A esubcorpus B, ambos constituídos <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> mesma temática e entornocomunicativo, porém com um nível <strong>de</strong> especialização diferenciado. Osanglicismos coletados apresentam-se basicamente como unida<strong>de</strong>slingüísticas <strong>de</strong> valor especializado sem qualquer alteração morfo-fonológicae/ou unida<strong>de</strong>s que conservam a base original inglesa com o acréscimo <strong>de</strong>sufixos vernáculos. Com o aplicativo WordSmith Tools, listas foram geradaspara o levantamento dos anglicismos comuns aos subcorpora e para aextração <strong>de</strong> seus contextos, os quais forneceram dados, cuja análise permitiua proposta <strong>de</strong> critérios possíveis para uma classificação dos anglicismosempregados na linguagem da Mineração, tais como: presença <strong>de</strong> tradução,<strong>de</strong>finição, incorporação ortográfica vernacular, classe gramatical econcordância <strong>de</strong> gênero e número. Através <strong>de</strong>sses critérios procurou-seestabelecer a representativida<strong>de</strong> dos anglicismos a partir do que foi possívelobservar <strong>de</strong> regular e específico <strong>de</strong> cada subcorpus. Tal investigação a<strong>br</strong>eportas para estudos mais <strong>de</strong>talhados so<strong>br</strong>e o emprego dos anglicismos naMineração que vão além <strong>de</strong> meras classificações, como a elaboração <strong>de</strong>glossários, por exemplo, muito importantes para preencher a lacuna <strong>de</strong>instrumentos <strong>de</strong> referência lingüística aos interessados na Engenharia <strong>de</strong>Minas. É importante ter em vista que tudo isso só é possível mediante oreconhecimento da relevância do intercâmbio da área <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong> com ados estudos da linguagem, sem o qual pouco po<strong>de</strong> ser feito no sentido <strong>de</strong>melhorar a comunicação, garantir o avanço da ciência e da técnica, atransmissão e o progresso do conhecimento.COLOCAÇÕES ESPECIALIZADAS: UMA PROPOSTA DECONTRASTE ALEMÃO-PORTUGUÊS EM TEXTOS DECARDIOLOGIALeonardo Zilio (UFRGS)Este trabalho, partindo <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> mestrado em andamento, tem porobjetivo <strong>de</strong>screver colocações especializadas presentes em textos alemães e<strong>br</strong>asileiros para auxiliar o tradutor. O material textual sob exame é da área <strong>de</strong>Cardiologia e Doenças Cardiovasculares. Por objetivarmos <strong>de</strong>screver ascolocações especializadas em contextos reais <strong>de</strong> uso, temos como aporteteórico a Lingüística <strong>de</strong> Corpus. As bases para o trabalho com textosespecializados são fornecidas pela Pesquisa <strong>de</strong> Linguagens <strong>de</strong> Especialida<strong>de</strong>e pela Terminologia Textual e, tendo em vista o caráter do estudo <strong>de</strong>contrastar as línguas alemã e portuguesa, recorremos também à LingüísticaContrastiva. Dentre as propostas existentes na área da Fraseologia e daFraseologia Especializada, optamos por mesclar observações <strong>de</strong> algunsautores, <strong>de</strong> forma a obter uma proposta satisfatória para um estudocontrastivo. Por colocação especializada enten<strong>de</strong>mos uma associação243


sintagmática entre um composto nominal, formado por dois ou maissubstantivos, e outra unida<strong>de</strong> lingüística representada por um verbo ou umelemento <strong>de</strong>verbal (adjetivo ou substantivo). Para reconhecermos umaassociação como colocação especializada, observamos a freqüência, adistribuição no corpus e o contraste entre os candidatos fraseológicos nasduas línguas. O corpus comparável bilíngüe utilizado no estudo contém2.817.567 tokens e é constituído por 493 papers em alemão e 490 papers emportuguês. Partimos sempre do alemão para o português, visando a emularum processo que po<strong>de</strong>ria ser empregado pelo tradutor na busca porequivalências. Os passos seguidos foram: seleção dos compostos nominaismais freqüentes no corpus em alemão, através da ferramenta Wordlist doWordSmith Tools 3.0; análise da ocorrência <strong>de</strong>sses compostos nominaisjunto a verbos e/ou <strong>de</strong>verbais; estabelecimento, no contraste com o corpusem português, <strong>de</strong> equivalências para os compostos nominais; análise daocorrência elementos fraseológicos associados aos equivalentes emportuguês; e contraste dos contextos fraseológicos em alemão com oscontextos fraseológicos em português para confirmação das colocaçõesespecializadas e das equivalências fraseológicas. Escolhemos compostosnominais como ponto <strong>de</strong> partida por eles representarem um problema para otradutor, pois apresentam mais <strong>de</strong> uma possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tradução. Comoexemplo <strong>de</strong> equivalência fraseológica, mencionamosHerzkatheteruntersuchung wur<strong>de</strong> durchgeführt e cateterismo cardíaco foirealizado. As equivalências fraseológicas obtidas parecem relevantes nãosomente para o tradutor, que seria auxiliado em sua árdua tarefa <strong>de</strong> produzirtextos que não causem um estranhamento ao leitor, mas também para osestudos <strong>de</strong> Fraseologia Especializada, por mostrar mais um enfoque possívelno reconhecimento <strong>de</strong>ssas unida<strong>de</strong>s tão complexas que são as colocações.(470 palavras) NÃO INFORMOU TITULAÇÃO NEM ENDEREÇOA DESCRIÇÃO DA LÍNGUA ALEMÃ EM USO: ASCOMBINATÓRIAS TEXTUAIS A PARTIR DOS COMPOSTOSNOMINAISLuciane Leipnitz (UFRGS)A pesquisa busca as combinatórias textuais junto aos compostos nominaisalemães através da exploração <strong>de</strong> corpora <strong>de</strong> textos, <strong>de</strong> modo a chamar aatenção do aprendiz <strong>de</strong> tradução ao funcionamento sintagmático da línguaalemã. A Lingüística <strong>de</strong> Corpus se constitui como apoio fundamental, tendoem vista a observação da língua alemã em contextos reais <strong>de</strong> uso. Trata-seigualmente <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong> Terminologia Textual, visto que observa ostermos, os compostos nominais alemães, em seus ambientes <strong>de</strong> produção, ostextos <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento. Ao reconhecer segmentostextuais a partir dos compostos nominais alemães, faz-se um estudo dascombinatórias <strong>de</strong> palavras, para i<strong>de</strong>ntificar os modos <strong>de</strong> constituição <strong>de</strong> taisunida<strong>de</strong>s, as partes que as constituem e as dificulda<strong>de</strong>s do aprendiz <strong>de</strong> umalíngua estrangeira com relação a tais formações. Os compostos nominais244


provenientes <strong>de</strong> textos médicos e jurídicos são utilizados como palavras <strong>de</strong>busca para o levantamento <strong>de</strong> segmentos co-ocorrentes. A observação <strong>de</strong> taissegmentos aponta as formas verbais como elementos-chave na formação <strong>de</strong>combinatórias textuais. Utilizam-se então os verbos como palavras <strong>de</strong> buscapara o levantamento <strong>de</strong> novas composições nominais vinculadas às áreas doconhecimento escolhidas – Medicina e Direito. A observação das formasverbais aponta um número significativo <strong>de</strong> verbos prefixados o que conduz auma análise mais aprofundada <strong>de</strong>sses verbos e dos prefixos que osconstituem. Uma categorização quanto aos modos <strong>de</strong> ação ligados aosprefixos dos verbos permite uma associação entre as combinatórias e osgêneros textuais nos quais se inserem. O levantamento <strong>de</strong> evidênciasempíricas <strong>de</strong> tais combinatórias permite a <strong>de</strong>scrição e a categorização <strong>de</strong>ssasunida<strong>de</strong>s em língua alemã. Os resultados disponibilizam conhecimentosúteis ao ensino/aprendizagem <strong>de</strong> tradução da língua alemã, apontando que aconscientização por parte do aprendiz so<strong>br</strong>e a sintagmatização da línguaalemã a partir dos compostos nominais é peça fundamental para aqualificação <strong>de</strong> sua competência tradutória. Os compostos nominais alemãesapresentam-se como núcleos terminológicos que selecionam formas verbaisespecíficas, diretamente relacionadas à área do conhecimento. Aaproximação a esses segmentos textuais visa igualmente capacitar o aprendiz<strong>de</strong> tradução ao trabalho com textos <strong>de</strong> âmbitos <strong>de</strong> maior especialização, apartir da compreensão <strong>de</strong> que essas relações sintagmáticas se efetivamigualmente em textos técnico-científicos, <strong>de</strong>smistificando a concepção <strong>de</strong>que tais textos seriam exclusivamente constituídos por terminologias, o quedificultaria seu processo tradutório.POLISSEMIA E PRODUTIVIDADE LEXICAL DO PREFIXO DES-AS MÚLTIPLAS FACETAS SEMÂNTICAS DE UM MORFEMAPRESENTELuizane Schnei<strong>de</strong>r (UNIOESTE)Este trabalho tem por objetivos investigar o grau <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> lexical doprefixo <strong>de</strong>s-, bem como as alterações semânticas por ele provocadas ao seantepor às palavras que o admitem como prefixo. Para tanto, sãoconsi<strong>de</strong>rados textos do jornal on-line Observatório da Imprensa como objeto<strong>de</strong> análise, já que se refere a um ambiente lingüístico <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong> esituado num viés sincrônico. Para essa discussão, são consi<strong>de</strong>rados osvalores semânticos atribuídos ao prefixo pelas gramáticas tradicionais e agran<strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong> das mesmas ao abordar essa questão. Assim, essapesquisa insere-se na área <strong>de</strong> Lexicologia no momento em que investiga aprodutivida<strong>de</strong> lexical do prefixo <strong>de</strong>s-, um simples elemento lingüístico capaz<strong>de</strong> produzir inúmeros vocábulos com diferentes acepções semânticas nalíngua. Dessa forma, ao se ter em mãos apenas a parte morfológica paraanálise, qualquer pesquisa nessa área torna-se po<strong>br</strong>e e restrita. Devido a essefato busca-se, nesse artigo, englobar outras correntes da Lingüística como asemântica, por exemplo, que trata <strong>de</strong> questões <strong>de</strong> polissemia relacionadas ao245


prefixo em questão. Recorre-se à teoria morfológica a partir <strong>de</strong> Basílio (1980e 1991) e Rocha (1998) que trabalham com questões <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>lexical, estrutura morfológica, morfema, léxico e, principalmente, aborda-sea teoria semântica por meio <strong>de</strong> autores como Lyons (1997), Ullmann (1964)e Tamba-Mècz (2006) que tratam acerca <strong>de</strong> polissemia, homonímia,importância da polissemia no ambiente das línguas naturais. ConformeUllmann (1964) a polissemia já foi consi<strong>de</strong>rada por Aristóteles um <strong>de</strong>feitona linguagem pois corria-se o risco <strong>de</strong> causar mal-entendidos nacomunicação. Porém, com o passar dos tempos e com mais pesquisas nessaárea, a polissemia é consi<strong>de</strong>rada uma virtu<strong>de</strong> no ambiente das línguas, umavez que revela o crescimento intelectual e social <strong>de</strong> um povo. Assim,percebe-se na polissemia a riqueza lingüística <strong>de</strong> um povo. Nesse sentido, éque se preten<strong>de</strong> estudar o prefixo <strong>de</strong>s-, i.e., a partir <strong>de</strong> um viés polissêmico e,ao mesmo tempo, inserido no contexto lexicológico, porque ele se revela umelemento que o falante dispõe para formar antônimos, dar a idéia <strong>de</strong>intensida<strong>de</strong>, aumento, ação contrária, positivida<strong>de</strong> além <strong>de</strong> outras facetassemânticas.Também, para esse artigo, enten<strong>de</strong>-se a produtivida<strong>de</strong> lexical nãoenquanto elemento <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, ou seja, o número <strong>de</strong> palavras não importa,mas sim, a multiciplida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos que o <strong>de</strong>s- atribui às palavras com asquais se adjunge.HIPERONÍMIA E SINONÍMIA NO SISTEMA E NO DISCURSOMárcia Sipavicius Sei<strong>de</strong> (UNIOESTE)Nesta comunicação, algumas reflexões são feitas so<strong>br</strong>e a sinomínia e ahiperonímia no sistema e no discurso tendo-se por base uma pesquisa pilotoso<strong>br</strong>e o uso <strong>de</strong> recursos coesivos lexicais em revistas <strong>de</strong> circulação nacional(Época, Veja e Isto é ). Enquanto o estudo <strong>de</strong>stas relações <strong>de</strong> sentido entrepalavras no nível sistêmico faz parte, tradicionalmente, do escopo daLexicologia, a investigação <strong>de</strong> como sinônimos, hiperônimos e hipônimossão utilizados em textos tem sido feita pela Lingüística Textual. Osresultados obtidos na pesquisa apontam para algumas questões so<strong>br</strong>e asegmentação das unida<strong>de</strong>s lingüísticas postas em relação <strong>de</strong> coesão ao longodo texto e a relação sistema - uso. De um lado, a distinção entre sinonímia eparáfrase segundo a unida<strong>de</strong> lingüística utilizada não são operacionaisquando se estudam fenômenos textuais, <strong>de</strong>vendo ser estabelecidos outroscritérios para se <strong>de</strong>limitarem os segmentos a serem consi<strong>de</strong>rados para análise.De outro, no nível sistêmico, a hiperonímia implica uma relação <strong>de</strong> inclusãoentre palavras; não obstante, quando um hiperônimo é utilizado comomecanismo <strong>de</strong> coesão <strong>de</strong> um texto em relação anafórica, o que se estabeleceé uma relação <strong>de</strong> equivalência. Têm-se, então, dois usos diferenciados:hiperonímia propriamente dita (quando o hiperônimo é utilizado como tal,em geral em relação catafórica) e hiperônimo a funcionar como umsinônimo textual, fenômeno parcialmente estudado por Antunes (2005)como sendo um caso caracterização situacional (2005), mas ainda nãoclassificado ou caracterizado <strong>de</strong> modo sistemático.246


ASPECTOS MORFOSSINTÁTICOS E COMPUTACIONAIS DASEQÜÊNCIA DEPOIS QUE: UMA ABORDAGEM DE BASE EMCORPUSMarco Rocha (UFSC)A comunicação apresenta um estudo <strong>de</strong> base em corpus da seqüência <strong>de</strong>poisque, tendo em vista o aperfeiçoamento <strong>de</strong> um sistema capaz <strong>de</strong> analisartextos em português e atribuir uma categoria morfossintática a cada uma daspalavras e expressões multipalavra do texto em questão, através <strong>de</strong> umaetiqueta codificadora selecionada <strong>de</strong>ntre um conjunto <strong>de</strong> etiquetaspreviamente <strong>de</strong>finido segundo critérios lingüísticos. A análise <strong>de</strong> corpus tevecomo base uma amostra <strong>de</strong> 1864 ocorrências da seqüência <strong>de</strong>pois queextraídas da versão etiquetada do Corpus NILC. A investigação incluiutambém outras amostras menores extraídas da Web através <strong>de</strong> ferramentas<strong>de</strong> busca como a Webcorp, a fim <strong>de</strong> verificar aspectos específicos <strong>de</strong>fenômenos <strong>de</strong> coocorrência <strong>de</strong>tectados na análise da primeira amostra. Ofoco da análise é a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> parâmetros que permitam distinguir comsegurança as ocorrências da seqüência <strong>de</strong>pois que em que a etiquetaçãolinguisticamente a<strong>de</strong>quada é a expressão multipalavra, uma locuçãoconjuntiva (etiqueta LC) subordinativa adverbial temporal, daquelas em queas categorias morfossintáticas apropriadas são advérbio <strong>de</strong> tempo (etiquetaADV) + conjunção integrante (etiqueta KS), on<strong>de</strong> o item lexical <strong>de</strong>pois é ummodificador do verbo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da conjunção integrante que o segue,cuja função é introduzir uma oração subordinada objetiva direta que serve <strong>de</strong>objeto do verbo. No primeiro caso, temos sentenças como: O caso ganhouas páginas dos jornais <strong>de</strong>pois que_LC grupos ecologistas fizeram pressãoso<strong>br</strong>e o governo da Lombardia. No segundo caso, estão sentenças como: Ostrabalhadores são recrutados em áreas afetadas por seca ou <strong>de</strong>semprego elevados para trabalhar a centenas <strong>de</strong> quilômetros <strong>de</strong> suas casas, tendo<strong>de</strong>pois_ADV que_KS pagar aos empregadores transporte, alimentação,hospedagem e ferramentas. Além da versão automaticamente etiquetada doCorpus NILC, foram discutidas também as soluções do LACIOWEBMACMORPHO, corpus também compilado pelo NILC cuja etiquetação foirevisada manualmente, e os resultados <strong>de</strong> etiquetadores <strong>de</strong> categoriasmorfossintáticas do CEPRIL e da XEROX. A pesquisa conclui com a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> coocorrência relacionados a cada uma dasalternativas <strong>de</strong> análise, baseados numa tipologia dos verbos das oraçõesprincipais e suas relações com seus objetos diretos nominais ou oracionais, afim <strong>de</strong> permitir o reconhecimento automático da distinção apontada acima.Espera-se que estes padrões, se integrados ao léxico computacional,contribuam para o aperfeiçoamento do processo <strong>de</strong> etiquetação <strong>de</strong> categoriasmorfossintáticas em sistemas computacionais no âmbito <strong>de</strong> aplicações emtecnologia das línguas humanas.247


POR QUE LEXICOGRAFIA E TERMINOLOGIA: RELAÇÕESTEXTUAIS?Maria da Graça Krieger (UNISINOS)Nesta exposição, viso a tratar <strong>de</strong> Lexicografia e Terminologia como duasáreas que integram as Ciências do Léxico, mas que explicam melhor seusobjetos específicos ao estabelecerem relações com conceitos <strong>de</strong> teorias <strong>de</strong>texto e <strong>de</strong> discurso. Tal perspectiva fundamenta-se na teoria semióticafrancesa que, no eixo da Lexicografia, leva a enten<strong>de</strong>r e analisar odicionário como um objeto produtor e não reprodutor <strong>de</strong> significação. Noeixo da Terminologia, a mesma teoria semiótica, por tratar <strong>de</strong> questões <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> significação, permite compreen<strong>de</strong>r as condições <strong>de</strong> gênese dasterminologias e das fraseologias no âmbito dos distintos universos <strong>de</strong>discurso do saber especializado. Dessa forma, ilustro e justifico o ponto <strong>de</strong>vista fundador da área <strong>de</strong> estudos a que <strong>de</strong>i início no âmbito do PPG –Letras,UFRGS: Lexicografia e Terminologia: relações textuais. Ao mesmo tempo,procuro traçar um rápido panorama do percurso <strong>de</strong> investigação da área,referindo a produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisas sustentadas pelas relaçõesléxico/texto. Assim , este trabalho tem uma dupla proposição: justificar arazão <strong>de</strong> adoção do princípio textual para <strong>de</strong>senvolver estudos <strong>de</strong>Lexicografia e <strong>de</strong> Terminologia, bem como redimensionar a históriainaugural <strong>de</strong>sses estudos no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação da UFRGS e nosprodutos do Projeto TERMISUL.A TERMINOLOGIA EMPREGADA PELA POLÍCIA CIVIL DOESTADO DO RSMaria Izabel Plath da Costa (UFRGS)A Polícia Civil do RS (PC/RS), como área especializada, emprega umaterminologia na sua comunicação, que até agora não foi <strong>org</strong>anizada,inventariada ou explicada. Não existe um dicionário ou glossário que dêconta <strong>de</strong> explicar os termos empregados na comunicação da PC/RS. Essecenário comunicativo envolve diferentes competências lingüísticas, poisnem todos os policiais, a exceção dos <strong>de</strong>legados, têm formação jurídica. Oregistro <strong>de</strong> ocorrência policial, documento que <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia a investigação,forma uma via <strong>de</strong> mão dupla: <strong>de</strong> um lado estão os cidadãos comuns quefornecem os dados para o registro da ocorrência e, do outro, os <strong>de</strong>stinatáriosdos textos produzidos pela Polícia Judiciária, que são os próprios policiais,advogados, promotores, juízes e o cidadão comum, que acorre a um órgãopolicial para registrar a ocorrência. Nem todos os policiais da PC/RS sãogaúchos, alguns vêm <strong>de</strong> outros Estados do Brasil para prestar concurso noRS, por isso <strong>de</strong>ve-se ter atenção especial às peculiarida<strong>de</strong>s regionais <strong>de</strong>ssacomunicação, já que alguns termos são específicos da nossa polícia, aexemplo <strong>de</strong> furto chuca, furto <strong>de</strong>scuido, furto mão gran<strong>de</strong> e furto punga, que<strong>de</strong>signam o modus operandi do crime <strong>de</strong> furto. Não existe <strong>de</strong>finição, combase em teorias terminológicas, para esses termos, por isso o entendimento248


entre os policiais so<strong>br</strong>e tais termos é controverso e embasado noconhecimento empírico <strong>de</strong> cada um. Encontramos uma anotação com 16<strong>de</strong>finições dos modus operandi do crime <strong>de</strong> furto, efetuadas por um policialem meados <strong>de</strong> 1940, com a justificativa <strong>de</strong> que reúne modos os <strong>de</strong> atuaçãomais utilizados e, nessa anotação figuram os quatro modos que citamos. Napesquisa proce<strong>de</strong>mos a um recorte na terminologia policial e trabalhamoscom os termos furto chuca, furto <strong>de</strong>scuido, furto mão gran<strong>de</strong> e furtopunga. .Com base na TCT, os objetivos da pesquisa são: reconhecer comotermo esses quatro modus operandi; sistematizar a terminologia estudadaatravés da elaboração <strong>de</strong> mapas conceituais, com base no registro <strong>de</strong>ssas 16<strong>de</strong>finições elaboradas por um policial; estabelecer critérios para a seleção <strong>de</strong>um corpus; selecionar um corpus composto <strong>de</strong> textos policiais <strong>de</strong>ocorrências registradas acerca <strong>de</strong>sses quatro modus operandi do crime <strong>de</strong>furto; constatar se os registros das <strong>de</strong>finições correspon<strong>de</strong>m ao emprego<strong>de</strong>sses termos na linguagem policial escrita, com base nos registros <strong>de</strong>ocorrências policiais que tratam <strong>de</strong>sses quatro modus operandi; adotarparâmetros <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição para os quatro termos do modus operandi <strong>de</strong> furto eapresentar uma proposta <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição para os termos analisados.VARIAÇÃO TERMINOLÓGICA NO PORTUGUÊS DO BRASIL:EXEMPLOS DO CONTEXTO DA ECONOMIA MONETÁRIAOdair Luiz Nadin Da Silva (Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Maringá)O fenômeno da variação em terminologia, assim como o termo e a <strong>de</strong>finição,também era abordado a partir <strong>de</strong> diferentes posturas teóricas. Inicialmente,os teóricos da Terminologia, so<strong>br</strong>etudo Wüster e seus discípulos, nãoadmitiam qualquer tipo <strong>de</strong> variação terminológica. Consi<strong>de</strong>ravam-nainerente à língua natural e, como não se consi<strong>de</strong>rava a “língua <strong>de</strong>especialida<strong>de</strong>” como uma língua natural, esta não po<strong>de</strong>ria possuir talfenômeno lingüístico. Essa concepção foi o resultado da adoção <strong>de</strong>princípios teóricos rígidos que <strong>de</strong>fendiam, entre outras coisas, fronteirasclaras e bem <strong>de</strong>limitadas entre a Lexicologia e a Terminologia. ALexicologia encarregada <strong>de</strong> estudar o léxico da língua comum, com todas as<strong>de</strong>formações que pu<strong>de</strong>ssem incorrer nele. A Terminologia, por sua vez, era aresponsável pela <strong>de</strong>scrição e análise do termo que, por não pertencer à línguanatural, era uniforme, não possuía variação <strong>de</strong> qualquer tipo - temporal,histórica, social, regional - bem como isento <strong>de</strong> qualquer marca i<strong>de</strong>ológica.Partia-se, portanto, <strong>de</strong> uma língua supostamente i<strong>de</strong>al e homogênea cujoobjetivo era a padronização da comunicação especializada. A partir dos anos80 (so<strong>br</strong>etudo na década <strong>de</strong> 90), no entanto, com as reavaliações da TGT ofenômeno da variação terminológica começou a receber a <strong>de</strong>vida atenção.Assim, neste texto, <strong>de</strong>dicaremo-nos à problemática da variação emterminologia. Descreveremos e analisaremos exemplos <strong>de</strong> ocorrências <strong>de</strong>variação terminológica no âmbito da Economia Monetária bem comoalgumas possíveis motivações <strong>de</strong>sse fenômeno. Demonstraremos e249


analisaremos contextos extraídos <strong>de</strong> corpus textual, a fim <strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e amanifestação <strong>de</strong> variação terminologia em contextos reais <strong>de</strong> uso.A INFLUÊNCIA DE N-GRAMAS PADRONIZADOS COM BASE EMEXIGÊNCIAS NORMATIVAS NA CARACTERIZAÇÃO DAMODALIZAÇÃO EM BULASRegina Márcia Gerber (UFSC)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é <strong>de</strong>monstrar que a modalização, nas bulas <strong>de</strong>medicamentos <strong>br</strong>asileiras, sofrem gran<strong>de</strong> influência da legislação impostapela ANVISA (Agência Nacional <strong>de</strong> Vigilância Sanitária). Para atingir talobjetivo, parti da análise dos n-gramas padronizados com base emexigências <strong>de</strong>sta legislação. O estudo se baseia, principalmente, naespecificação dos itens lexicais típicos, distintivos ou mais característicos<strong>de</strong>ste tipo textual, explicitando, <strong>de</strong>sta maneira, <strong>de</strong> que modo a linguagem dasbulas difere da <strong>de</strong> outros tipos textuais. Esta explicitação <strong>de</strong> diferençasrequer a comparação <strong>de</strong> corpus <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong> bulas <strong>de</strong> medicamentos comcorpus <strong>de</strong> referência. O corpus <strong>de</strong> estudo é constituído <strong>de</strong> 415 textos <strong>de</strong> bulas<strong>de</strong> medicamentos <strong>br</strong>asileiras, contendo 2.288.993 tokens em portuguêsdirecionado aos pacientes e aos profissionais da saú<strong>de</strong>. O corpus <strong>de</strong>referência é o do NILC, contendo 37.294.140 tokens em português. Todos ostextos dos corpora mencionados são arquivos legíveis em meio eletrônico. Ametodologia usada no estudo faz uso <strong>de</strong> princípios da Lingüística <strong>de</strong> Corpus,Lingüística Computacional e Estatística. A comparação dos corpora <strong>de</strong>estudo com <strong>de</strong> referência <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> diferençasestatisticamente significativas na freqüência relativa dos itens lexicais,<strong>de</strong>terminando, assim, quais itens são palavras-chave <strong>de</strong>ntro das bulas <strong>de</strong>medicamentos <strong>br</strong>asileiras. Os resultados mostraram que nas bulas háocorrência tanto <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ôntica quanto epistêmica. Além disso, quea legislação <strong>br</strong>asileira, por meio da Portaria nº. 140 da ANVISA, influenciana elaboração <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> texto e, consequentemente, no tipo <strong>de</strong>modalida<strong>de</strong> ali existente, seja ela <strong>de</strong>ôntica ou epistêmica. As normasimpostas por esta legislação permitem que as bulas sejam caracterizadas pelapresença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s grupos <strong>de</strong> palavras adjacentes, como, por exemplo,don<strong>de</strong>cagramas, <strong>de</strong>cagramas, heptagramas, hexagramas, pentagramas,quadrigramas, <strong>de</strong>ntre outros.PROPOSTAS PARA O TRATAMENTO DAS COLOCAÇÕESSUBSTANTIVO + ADJETIVO EM DICIONÁRIOS ATIVOSPORTUGUÊS-ESPANHOL: ASPECTOS MACRO EMICROESTRUTURAISRenata Beneduzi (UFRGS)As colocações correspon<strong>de</strong>m a combinações léxicas idiossincráticas, ou seja,particulares a cada idioma, o que as torna uma gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> para osaprendizes <strong>de</strong> uma língua estrangeira no momento da produção <strong>de</strong> textos.250


Em <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong>sse fato, consi<strong>de</strong>ramos que a inclusão <strong>de</strong>ssas combinaçõesseja fundamental em dicionários bilíngües, os quais, além <strong>de</strong> serem os maisconsultados pelos estudantes, ressaltam as divergências existentes entre osidiomas contrastados. O objetivo <strong>de</strong> nosso trabalho é proporcionar umtratamento lexicográfico mais apropriado para as colocações formadas porsubstantivos e adjetivos, tendo em vista as diferentes formas possíveis <strong>de</strong> suaapresentação no que diz respeito à macro e à microestrutura. Nossametodologia consistiu em i<strong>de</strong>ntificar as principais variáveis quecondicionam a elaboração <strong>de</strong> qualquer dicionário bilíngüe, quais sejam: (a)línguas envolvidas; (b) função do dicionário e (c) necessida<strong>de</strong>s do usuário. Apartir disso, foi possível <strong>de</strong>limitar (a) os idiomas português e espanhol,correspon<strong>de</strong>ndo, respectivamente, às línguas <strong>de</strong> partida e <strong>de</strong> chegada <strong>de</strong>nossa proposta <strong>de</strong> dicionário bilíngüe, (b) a função ativa da o<strong>br</strong>a, auxiliandono processo <strong>de</strong> produção textual, e (c) dois grupos distintos <strong>de</strong> usuários: porum lado, um estudante com um nível <strong>de</strong> conhecimento básico da línguaestrangeira e, por outro, um usuário <strong>de</strong> nível avançado, os quais forami<strong>de</strong>ntificados através das diretrizes propostas pelo “Quadro Europeu Comum<strong>de</strong> Referência para as Línguas: aprendizagem, ensino, avaliação”. Comoresultado <strong>de</strong> nossa pesquisa, percebemos que as colocações <strong>de</strong>vem serincluídas <strong>de</strong> forma diferenciada nos dicionários, conforme sejam <strong>de</strong>stinadasa um usuário <strong>de</strong> nível mais básico ou mais avançado. Para os primeiros, noplano macroestrutural, é necessário oferecer combinações que apresentemum caráter mais simples e usual, incluídas sob a entrada da base em umamicroestrutura integrada. Já para os usuários mais avançados, amacroestrutura conta com colocações que apresentam um vocabulário maisespecífico, sendo incluídas também sob a entrada da base, mas em umamicroestrutura semi-integrada. Ao fim <strong>de</strong> nosso trabalho, foi possívelconcluir que a <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> um perfil <strong>de</strong> usuário, bem como da função dodicionário, constituem etapas fundamentais para o tratamento lexicográficodas colocações, visto que tais fatores são responsáveis por orientar toda aelaboração da o<strong>br</strong>a. A partir do reconhecimento das necessida<strong>de</strong>s dopúblico-alvo e da função específica que um dicionário que preten<strong>de</strong> incluircolocações <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sempenhar, a saber, auxiliar na produção <strong>de</strong> textos,enten<strong>de</strong>mos ir ao encontro das dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas pelos estudantes naaprendizagem <strong>de</strong>ssas combinações léxicas. (479 palavras)EQUIVALÊNCIAS TRADUTÓRIAS LACANIANASPatrícia Chittoni Ramos Reuillard (UFRGS)Esta comunicação tem o objetivo <strong>de</strong> apresentar a análise e a classificação <strong>de</strong>298 neologismos lacanianos – recolhidos <strong>de</strong> um corpus formado pelos vintee cinco Seminários <strong>de</strong> Jacques Lacan –, empreendidas em nossa tese <strong>de</strong>doutoramento, assim como compartilhar os primeiros resultados da busca <strong>de</strong>equivalentes. Tendo em vista que os neologismos criados por Jacques Lacanainda não receberam um tratamento sistematizado por parte da comunida<strong>de</strong>lingüística ou psicanalítica <strong>br</strong>asileira, analisamos sua constituição em francês251


e propusemos uma nova classificação para essas inovações lexicais, a fim <strong>de</strong>lhes oferecer princípios <strong>de</strong> equivalência, a que <strong>de</strong>nominamos neologiatradutória lacaniana. Classificamos então os neologismos lacanianos <strong>de</strong>acordo com critérios formais (<strong>de</strong>rivação, palavras-valise, composição,criação por associação, empréstimo, <strong>de</strong>calque, semântico e lexicalização <strong>de</strong>nome próprio) e funcionais (funções <strong>de</strong>nominativa, estilística, analógica, <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quação, <strong>de</strong> terminologização e <strong>de</strong> <strong>de</strong>sterminologização). Buscamosfundamento nos estudos <strong>de</strong> neologia, <strong>de</strong> tradução, <strong>de</strong> neologia tradutória eem reflexões so<strong>br</strong>e a construção do discurso psicanalítico lacaniano. Aim<strong>br</strong>icação entre tradução, terminologia e lexicografia permitiu oestabelecimento da proposta <strong>de</strong> princípios <strong>de</strong> neologia tradutória lacaniana,ora aplicada aos neologismos elencados: a) primeiro princípio: aosignificante <strong>de</strong>ve ser atribuída uma importância equivalente à do significado;por conseguinte, o tradutor <strong>de</strong>verá não apenas restituir o significado, mastambém produzir um significante que consi<strong>de</strong>re a forma e a função doneologismo original; b) segundo princípio: complementa o primeiro eestabelece que a busca <strong>de</strong>ssa equivalência que leva em conta também osignificante não po<strong>de</strong> ignorar o significado; c) terceiro princípio: respeito àsmatrizes terminogênicas da psicanálise lacaniana. O resultado da aplicação<strong>de</strong>sses princípios é submetido à validação por especialistas em psicanálise <strong>de</strong>orientação lacaniana, franceses e <strong>br</strong>asileiros. Preten<strong>de</strong>-se, com este trabalho,propor um glossário bilíngüe francês-português <strong>de</strong> neologismos lacanianos.RELAÇÕES ASSOCIATIVAS: UM ESTUDO DE TERMOSDESIGNATIVOS DE ESTADOS AFETIVOS SUSCITADOS PELACONSCIÊNCIA DO PERIGOSa<strong>br</strong>ina A<strong>br</strong>eu (UFRGS)Este trabalho objetiva contribuir com reflexões acerca do fazerterminográfico. Para tanto, tecerei consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e a <strong>org</strong>anização doconteúdo lexical dos termos, a partir <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> sentido que elesestabelecem uns com os outros e que se manifestam através das<strong>de</strong>nominadas relações semânticas (ou associativas). Essas relações se<strong>org</strong>anizam essencialmente através fenômenos conhecidos como sinonímia,hiponímia e antonímia. Neste trabalho, tratarei das duas primeiras e <strong>de</strong> umaterceira, a relação <strong>de</strong> meronímia, que evi<strong>de</strong>ncia proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>notacionais<strong>de</strong> um termo. Basicamente, essas associações partem das relações que seestabelecem entre termos que: a) po<strong>de</strong>m ser substituídos em contextosidênticos sem alteração do sentido literal (sinonímia: entendida comoassociação imediata entre referentes <strong>de</strong> classes similares); b) <strong>de</strong>ixamexplícita a subordinação <strong>de</strong> uma espécie ao seu gênero (hiponímia:associação entre espécie e classe); e c) <strong>de</strong>notam a parte constitutiva <strong>de</strong> outro(meronímia: associação entre o constituinte <strong>de</strong> uma entida<strong>de</strong> referencial e aprópria entida<strong>de</strong>). De forma ainda preliminar, procurarei mostrar que, para oestabelecimento das entradas lexicais, das <strong>de</strong>finições e da remissão a termossinônimos, po<strong>de</strong>mos nos valer das inter-relações dos significados [afins],252


[constituinte <strong>de</strong>] e [parte-todo]. Para fins <strong>de</strong> exemplificação, estarão emevidência termos do campo semântico da Psicologia que qualificam estadosafetivos suscitados pela consciência do perigo; em especial, medo, temor,receio e apreensão. Em síntese, este trabalho objetiva: a) revisitar certasrelações associativas (sinonímia, hiponímia e meronímia) na perspectiva dosestudos terminológicos; e b) analisar termos do domínio da Psicologia noque atine às relações associativas que serão revisitadas.OS SUFIXOS VERBALIZADORES –EAR E -EJARSolange Men<strong>de</strong>s Oliveira (UFSC)Neste estudo, <strong>de</strong>screvem-se e analisam-se as peculiarida<strong>de</strong>s dos sufixosverbalizadores –ear e –ejar, com o objetivo <strong>de</strong> formalizar o conjunto <strong>de</strong>restrições e proprieda<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem ter as bases a que os afixos em questãose adjungem. A adjunção dos sufixos –ear e –ejar às bases nominais formaverbos <strong>de</strong>rivados, como golpear, bombar<strong>de</strong>ar, gotejar, lacrimejar etc.;entretanto, esta adjunção não ocorre <strong>de</strong> forma aleatória, pois temos, porexemplo, esfaquear, e não *esfaquejar, assim como gaguejar, e não*gaguear. Sendo assim, explora-se a hipótese <strong>de</strong> que nas formações<strong>de</strong>rivadas há restrições <strong>de</strong> cunho semântico-aspectual impostas pelas raízesaos afixos, que vão permitir ora a adjunção da base nominal ao sufixoverbalizador –ear, ora ao sufixo verbalizador –ejar. Para <strong>de</strong>screver e analisaras formações <strong>de</strong>rivadas, este estudo fundamenta-se no arcabouço teórico daMorfologia Distribuída (Halle e Marantz 1993; Marantz 1996, 1997; Halle2000; Embick 2000; Embick e Noyer 2004, Arad 1998). Os dados queconstituem o corpus foram coletados em fontes diversas, como: a)Dicionário Novo Aurélio (1999) e Dicionário Houaiss da LínguaPortuguesa (2001); b) jornais e revistas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> circulação, como Folha<strong>de</strong> S. Paulo, O Estado <strong>de</strong> São Paulo e revista Veja. Para esclarecer oprocedimento metodológico, as palavras são analisadas sob o ponto <strong>de</strong> vistasincrônico.TRATAMENTO DADO AS UNIDADES LEXICAIS PECADO,PECADOR E PECADORA EM DICIONÁRIOS DE LÍNGUAPORTUGUESAVilma <strong>de</strong> Fátima Soares (FFLCH/USP)Este trabalho foi apresentado como conclusão da disciplina “Lexicologia,Lexicografia, Terminologia: Teorias e Práticas”, ministrada pela Profa. Dra.Maria Aparecida Barbosa, FFLCH/USP-2007, e faz parte <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong>dissertação <strong>de</strong> mestrado que visa o estudo terminológico para educaçãoambiental, no que concerne a responsabilida<strong>de</strong> do lexicógrafo e/outerminógrafo na <strong>org</strong>anização dos dados, no registro das informações e naelaboração das <strong>de</strong>finições.Partimos da premissa <strong>de</strong> que o dicionário monolingüe é um <strong>de</strong>pósito damemória social sintetizada em vocábulos e em significados que, segundo253


Lara (1997), é concebido, pela comunida<strong>de</strong> lingüística, como verda<strong>de</strong>iro e,muitas vezes, inquestionável.Segundo Jean Clau<strong>de</strong> Boulanger (1996), l’ idéologie <strong>de</strong>s fa<strong>br</strong>icants <strong>de</strong>dictionaires n’ est pas inoffensive [...] La morale sociale <strong>de</strong>vient <strong>de</strong> plussouvent la voix <strong>de</strong> la conscience du lexicographe. Esta afirmação nos chamaa atenção para a inquestionabilida<strong>de</strong> dos registros em dicionários, e apontapara a responsabilida<strong>de</strong> do lexicógrafo que, com sua i<strong>de</strong>ologia, recebe eexerce influência na transmissão das informações, po<strong>de</strong>ndo distorcer arealida<strong>de</strong>, ser-lhe fiel, ou apreendê-la <strong>de</strong> um ponto específico.Nesta perspectiva, procuramos constatar por meio da análise damicroestrutura dos verbetes relativos às unida<strong>de</strong>s lexicais pecado, pecador epecadora, como o dicionário <strong>de</strong> língua portuguesa reflete elementosi<strong>de</strong>ológicos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada época e, por vezes, do lexicógrafo.Estabelecemos para corpus <strong>de</strong> análise os seguintes dicionários: DicionárioHouaiss da Língua Portuguesa (2001); Dicionário Contemporâneo <strong>de</strong> LínguaPortuguesa <strong>de</strong> Caldas Aulete (1881); Gran<strong>de</strong> Diccionario Portuguez ouThesouro da Língua Portuguesa <strong>de</strong> Frei Domingos Vieira (1871); inserimos,mesmo sendo bilíngüe, o Vocabulario Portuguez e Latino <strong>de</strong> RaphaelBluteau (1712). Foram usados para confirmações e comparações <strong>de</strong> dados edatas o Novo Dicionário da Bíblia (1986); e os dicionários etimológicosCorominas (1957) e Cunha (1982). Para embasarmos teoricamente nossosargumentos, utilizamos, principalmente, os estudos <strong>de</strong> Barbosa (1990-2007)e Alves (1990), as colocações <strong>de</strong> Lara (1997); Jean-Clau<strong>de</strong> Boulanger (1996)e as análises críticas <strong>de</strong> Bi<strong>de</strong>rman (2003) em seu artigo Dicionários doPortuguês: Da Tradição à Contemporaneida<strong>de</strong>. Nos pautamos, também, nosestudos <strong>de</strong> Ca<strong>br</strong>é (1993), em Terminologia Y ciencia cognitiva: Formación<strong>de</strong> Conceptos, e em Bakhtin (1992), para tratarmos da i<strong>de</strong>ologia.Analisando comparativamente as entradas nos dicionários selecionados,observamos que não são neutros, isto é, nas <strong>de</strong>finições, abonações, marcas<strong>de</strong> uso, remissivas, há a presença <strong>de</strong> elementos i<strong>de</strong>ológicos, que retratam asdiferentes gerações. A i<strong>de</strong>ologia trazida por essas o<strong>br</strong>as reflete, além domomento histórico, a postura do lexicógrafo, a representação do pensamentoda classe dominante <strong>de</strong> uma época. Fica aqui uma questão: o lexicógrafo, outerminógrafo, é ciente <strong>de</strong> sua responsabilida<strong>de</strong> na transmissão <strong>de</strong>informações e busca pela neutralida<strong>de</strong>? (511 palavras)AVANÇOS NO DESENHO DE UM DICIONÁRIO ESCOLAR DELÍNGUA PORTUGUESAVirginia Sita Farias (UFRGS)Nos últimos anos, a preocupação com os dicionários, em especial no âmbitoda chamada lexicografia pedagógica, aumentou consi<strong>de</strong>ravelmente. Essapreocupação, por sua vez, repercute tanto no que concerne à produção <strong>de</strong>o<strong>br</strong>as lexicográficas, quanto no que concerne à própria reflexão acerca dofazer dicionarístico. O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é apresentar os avançosna concepção <strong>de</strong> um dicionário escolar para o ensino fundamental. Para254


tanto, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir tipologicamente o dicionário, foi necessário avaliar ascompetências lingüísticas exigidas do aluno do ensino fundamental. Nossametodologia consistiu, pois, em atrelar a <strong>de</strong>finição tipológica proposta aoperfil <strong>de</strong> usuário gerado, buscando que o cruzamento <strong>de</strong>sses dois fatoresrefletisse nos componentes canônicos da o<strong>br</strong>a: macroestrutura,microestrutura, medioestrutura e partes introdutórias. O princípiofundamental observado nessa transposição foi o <strong>de</strong> que todas as informações<strong>de</strong>vem correspon<strong>de</strong>r rigorosamente a fatos <strong>de</strong> norma, ao mesmo tempo emque possam ser usadas pelos alunos no aprimoramento <strong>de</strong> sua competêncialingüística. A aplicação da metodologia <strong>de</strong>scrita acima tem garantidoresultados satisfatórios na concepção dos componentes canônicos dodicionário escolar. O <strong>de</strong>senho da macroestrutura já foi completamenteconcluído. Inicialmente, propusemos distinguir entre <strong>de</strong>finiçãomacroestrutural quantitativa e qualitativa. No âmbito da <strong>de</strong>finiçãoquantitativa, procurou-se <strong>de</strong>terminar a <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> da nomenclatura <strong>de</strong>sejávelem um dicionário escolar. No entanto, a discussão dos problemasmetodológicos envolvidos no processo <strong>de</strong> reconhecimento e imputaçãodiassistêmica <strong>de</strong> regionalismos e neologismos, por exemplo, levou-nos aconcluir que ainda não há uma resposta <strong>de</strong>finitiva para essa questão, sendopossível apresentar somente uma estimativa da porcentagem <strong>de</strong> lexemas<strong>de</strong>susados ou <strong>de</strong> baixa freqüência que <strong>de</strong>veriam ser eliminados dosdicionários escolares. No âmbito da <strong>de</strong>finição qualitativa, por sua vez,<strong>de</strong>terminamos os tipos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s léxicas que <strong>de</strong>vem conformar anomenclatura, discutimos a apresentação dos types e tokens, <strong>de</strong>cidimos poruma solução polissêmica em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> uma solução homonímica paraos casos <strong>de</strong> homonímia e apresentamos uma proposta para o arranjo dasentradas. Neste momento, estamos iniciando a <strong>de</strong>finição microestrutural dodicionário escolar. Para tanto, observamos o princípio <strong>de</strong> que o programaconstante <strong>de</strong> informações <strong>de</strong>ve obe<strong>de</strong>cer a uma divisão rigorosa entre: 1)comentário <strong>de</strong> forma e comentário semântico, e 2) função <strong>de</strong> recepção efunção <strong>de</strong> produção. De posse dos resultados obtidos até agora, já é possívelconcluir que a <strong>de</strong>finição tipológica e a <strong>de</strong>limitação do perfil do usuário sãopressupostos básicos para conceber um dicionário escolar <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>superior aos disponíveis hoje no mercado.TURPILÓQUIO – O LÉXICO DO FALAR TORPE NA LINGUAGEMORAL DA REGIÃO DE COLONIZAÇÃO ITALIANA DONORDESTE DO RIO GRANDE DO SUL (RCI)Vitalina Maria Frosi (UCS)Carmen Maria Faggion (UCS/CARVI)Giselle Olivia Mantovani Dal Corno (UCS)Com o objetivo <strong>de</strong> estudar o turpilóquio como expressão étnica e elementocultural ítalo-<strong>br</strong>asileiro, o Projeto Turpilóquio (sob a coor<strong>de</strong>nação da profa.Dra. Vitalina Frosi – DELE/UCS) preten<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar, no contexto da RCI,qual é o sistema usado na produção do falar torpe, prevendo uma255


sistematização das diversas formas <strong>de</strong> insulto e <strong>de</strong>safogo. Através <strong>de</strong>entrevistas semi-estruturadas que preservam a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do falante, ainvestigação preten<strong>de</strong> escolher sujeitos que tenham histórico <strong>de</strong> vida na RCI,consi<strong>de</strong>rando as variáveis da faixa etária e do gênero. Após transcrever asgravações e confrontá-las com os dados obtidos por oitiva, haverá seleção eagrupamento dos dados por categorias e por esferas <strong>de</strong> significados, atéchegarmos à <strong>de</strong>scrição e explicação do léxico do falar torpe. O estudo <strong>de</strong>autores como Benveniste (1989), Tomás <strong>de</strong> Aquino (1980), Härin (1960),Hughes (1991) e Garrioch (1997) mostra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecerprecisão terminológica, <strong>de</strong>finindo em português os âmbitos <strong>de</strong> significaçãodo palavrão, da blasfêmia, da imprecação, do insulto, do tabu. O estudo dao<strong>br</strong>a <strong>de</strong> Tartamella (2006) evi<strong>de</strong>ncia a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar análise <strong>de</strong>elementos culturais e contextuais na própria i<strong>de</strong>ntificação do turpilóquio, emostra a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> empregos da linguagem torpe conforme o estadoemocional do falante. Tartamella (2006) aponta também para a história,anotando exemplos claros do uso do palavrão, por ele consi<strong>de</strong>rado um passoa mais no rumo da civilização, pois a agressão com palavras substituiu aagressão com paus e pedras (TARTAMELLA, 2006, cap. 1). Enquanto asentrevistas são efetuadas, a análise da utilização <strong>de</strong> linguagem torpe emruínas antigas <strong>de</strong> Pompéia e Óstia revela longínquos ancestrais <strong>de</strong> palavrõesitálicos. Revela também uma maneira <strong>de</strong> ver o mundo, que parece terencontrado mais tar<strong>de</strong>, na moral cristã, um novo alvo para ofensas, naexpressão da raiva, da insatisfação e do medo. Há marcas <strong>de</strong>sse percurso nospalavrões empregados hoje na RCI.LÉXICO E GÊNERO: UMA RELAÇÃO FUNDAMENTALSílvia Mara <strong>de</strong> Melo (UNESP)Propomos examinar o conjunto lexical presente nos autos <strong>de</strong> instituiçõesjurídicas, as quais são representadas por promotores, advogados e juízes. Oemprego <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s léxicas do cenário jurídico é alvo hoje <strong>de</strong> controvérsiano que diz respeito ao “juridiquês”. Tanto magistrados quanto os nãoiniciados nas práticas jurídicas <strong>de</strong>monstram suas inquietações em relação aoléxico erudito em processos judiciais. Enten<strong>de</strong>mos que o emprego <strong>de</strong> umconjunto lexical em que figuram expressões em latim, palavras arcaicas eeruditas possam ser compreendidas à luz <strong>de</strong> uma abordagem tanto do gêneroquanto do discurso. Partimos do pressuposto <strong>de</strong> que o gênero impõe uma<strong>de</strong>terminada maneira <strong>de</strong> se escrever e <strong>de</strong> se expressar. A escolha lexical queum sujeito faz ao elaborar um enunciado está relacionada à coerção dogênero. Desse modo, acreditamos que as unida<strong>de</strong>s lexicais que figuram naspetições estão submetidas a esse tipo <strong>de</strong> coerção. A discussão em relação aogênero é hoje bastante calorosa, e há, entre várias vertentes lingüísticas,autores que abordam a problemática sob diferentes óticas. Tomamos osdizeres <strong>de</strong> Bakhtin e <strong>de</strong> Maingueneau no que se refere ao gênero, pois amboslevam em consi<strong>de</strong>ração os aspectos da língua na sua relação com ativida<strong>de</strong>ssociais e institucionais envolvendo o indivíduo. Não estamos propondo um256


casamento entre as teorias <strong>de</strong> Bakhtin e <strong>de</strong> Maingueneau, pois sabemos quefazem parte <strong>de</strong> círculos lingüísticos diferentes. No entanto, o que eles têm adizer so<strong>br</strong>e gênero vai ao encontro do que propomos examinar no léxico.Tendo em vista que o conjunto lexical que nos chama a atenção nas petiçõesé bastante vasto, iremos aqui <strong>de</strong>limitá-lo. São objeto <strong>de</strong>ste trabalho apenas osenunciados em que figura a unida<strong>de</strong> lexical diapasão. Essa palavra foiescolhida por figurar nos autos <strong>de</strong> todos os enunciadores, e por ser freqüentenas petições examinadas. Vale lem<strong>br</strong>ar que não estamos propondo analisaros termos da área jurídica, ou seja, a língua <strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>, mas sim,palavras <strong>de</strong> uso geral que figuram no cenário jurídico. Diapasão, assimcomo outras palavras que compõem o cenário jurídico, provoca o efeito <strong>de</strong>estranhamento. As palavras da língua geral acabam por ter o mesmo efeitodos termos específicos em se tratando do discurso jurídico, odistanciamento, tendo em vista que para o leigo tornam-se incompreensíveistanto os termos específicos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada área quanto o léxico quepertence à língua geral.O VERBETE NO ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESASandra Cristina Porsche (UCS)Maria Helena Menegotto Pozenato (UCS)Fabiele Stockmans De Nardi (UCS)Elisa Battisti (UCS)Um dos gêneros textuais que tem sido esquecido por professores <strong>de</strong>diferentes disciplinas em contexto escolar é o verbete. Objetiva-se,principalmente, com o presente trabalho, promover uma sensibilização paraa potencialida<strong>de</strong> do verbete como instrumento auxiliar em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>leitura e <strong>de</strong> compreensão textual, bem como fornecer subsídios teóricos paraa análise do gênero. Para tanto, busca-se explicitar a estrutura do “verbete”baseados em autores como Lara (1989) e Krieger (1993), entre outros,partindo-se da estrutura do dicionário enquanto texto <strong>org</strong>anizado, mostrandodiferentes tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição, que po<strong>de</strong>m ser encontrados tanto emdicionários como em outros textos, para, enfim, tratar do verbete comogênero a ser utilizado em ativida<strong>de</strong>s pedagógicas em sala <strong>de</strong> aula. Ainda,com base em relatos <strong>de</strong> experiências e sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que po<strong>de</strong>mser <strong>de</strong>senvolvidas, não somente na disciplina <strong>de</strong> língua portuguesa nasescolas, preten<strong>de</strong>-se promover junto aos professores uma reflexão so<strong>br</strong>e oscritérios <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong> dicionários escolares.257


GT17 Lingüística Sistêmico-FuncionalCoor<strong>de</strong>nadoresMaria Ester Wollstein Moritz (UNISUL)Adriana <strong>de</strong> Carvalho Kuerten Dellagnelo (UFSC)UMA ANÁLISE DO SIGNIFICADO IDEACIONAL DO PCN-EMATRAVÉS DE UMA PERSPECTIVA SOCIALCélia Ga<strong>br</strong>iela da Luz (UFSC)Kátia Eliane Muck (UFSC)PCNs são documentos elaborados pelo governo fe<strong>de</strong>ral do Brasil com oobjetivo <strong>de</strong> servir como guia para educadores <strong>de</strong> escolas públicas. Aprimeira edição do guia (1998) já foi consi<strong>de</strong>rada inovadora por suasestratégias próprias <strong>de</strong> discurso. Porém, pesquisas revelaram que a maioriados educadores não compreendia sua aplicabilida<strong>de</strong> em sala <strong>de</strong> aula porconta <strong>de</strong> sua subjetivida<strong>de</strong>/falta <strong>de</strong> objetivida<strong>de</strong>. Nesse sentido, o objetivo<strong>de</strong>sta pesquisa é analisar o fragmento “Competências e habilida<strong>de</strong>s a serem<strong>de</strong>senvolvidas em Línguas Estrangeiras Mo<strong>de</strong>rnas”, dos PCNs-EM(Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio, 2000) com o intuito <strong>de</strong><strong>de</strong>terminar o papel <strong>de</strong> cada participante social no processo educativo. Assim,a partir <strong>de</strong> uma análise <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong>, por meio da qual forami<strong>de</strong>ntificados os papéis relativos ao professor e ao aluno, os dados foramanalisados utilizando os conceitos <strong>de</strong> prescrição <strong>de</strong> papéis e práticas sociais<strong>de</strong> Gid<strong>de</strong>ns. A conclusão é <strong>de</strong> que parece, <strong>de</strong> fato, haver uma falta <strong>de</strong>objetivida<strong>de</strong> no referido documento marcada por significados implícitos alipresentes. Por essa razão, talvez, ao invés <strong>de</strong> funcionar como um guia doprofessor, o PCN parece servir como uma estratégia do governo em manter amesma estrutura social que é constantemente reproduzida, para que osopressores possam ser sempre os <strong>de</strong>tentores dos recursos em nossasocieda<strong>de</strong> e, ao mesmo tempo, aparentem estar fazendo algo <strong>de</strong> positivo paraalterar a estrutura vigente.A RELEVÂNCIA DO TEMA HALLIDAYANO PARA ACONSTRUÇÃO DO SENTIDO DISCURSIVO.Raymundo da Costa Olioni (PUCRS)A presente pesquisa estabelece, a partir da análise <strong>de</strong> textos, a relação entreas Estruturas Temática e <strong>de</strong> Informação, ambas concernentes à MetafunçãoTextual, um dos níveis <strong>de</strong> análise propostos pela Lingüística Sistêmico-Funcional (LSF) <strong>de</strong> M. A. K. Halliday e colaboradores. A MetafunçãoTextual sistematiza as duas outras Metafunções hallidayanas – a I<strong>de</strong>acional ea Interpessoal –, <strong>org</strong>anizando a oração como mensagem em dois sistemasin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, mas interligados, <strong>de</strong> análise: (1) a Estrutura Temática, com asfunções <strong>de</strong> (1a) Tema e (1b) Rema, respectivamente, e (2) a Estrutura <strong>de</strong>Informação, com as funções <strong>de</strong> (2a) Informação Dada e (2b) InformaçãoNova. O Tema, visto sob o enfoque da LSF (Halliday: 1985; 1994; 2004),258


tem relevância funcional para além da oração, na caracterização daconstrução <strong>de</strong> sentido textual, a partir do mapeamento temático ao longo dasorações e dos complexos oracionais, o que vai ao encontro do Método <strong>de</strong>Desenvolvimento Textual proposto por Fries (1981, 1983; 1994; 1995; 1997;2002). Assim, a i<strong>de</strong>ntificação da Progressão Temática (Daneš: 1974), naperspectiva da LSF, sinaliza os movimentos do texto e a constituição <strong>de</strong>stecomo unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido, verificando-se como o falante/escritor realizaescolhas para (re)velar seu ponto <strong>de</strong> vista so<strong>br</strong>e o assunto abordado em suaprodução.ESTUDO DE CASO EM TRADUÇÃO MIDIÁTICA EMULTILÍNGÜE: A INFLUÊNCIA DOS DETERMINANTESINSTITUCIONAIS.Carolina Pereira Barcellos (UFMG)Célia Maria Magalhães (UFMG - CNPq)A tradução executada <strong>de</strong>ntro das gran<strong>de</strong>s corporações midiáticas está sujeitaa um processo editorial <strong>de</strong>finido também por fatores extralingüísticos.Embora seja possível, até certo ponto, rastrear os movimentos executadospelo tradutor apenas, há um crescente interesse na reconstituição dosprocessos editoriais, pelos quais o trabalho traduzido passa, antes <strong>de</strong> suaefetiva publicação. O presente estudo reuniu diferentes traduções feitas poruma mesma instituição buscando traços pertinentes <strong>de</strong>sse processo. Foramanalisadas a carta “Mensaje <strong>de</strong>l Comandante en Jefe” do então presi<strong>de</strong>ntecubano Fi<strong>de</strong>l Castro, publicada em espanhol pelo jornal GranmaInternacional – afiliado ao governo <strong>de</strong> Cuba - e suas traduções para o inglês,o francês e o português, assinadas também pelo jornal Granma e publicadassimultaneamente ao texto original. Esta pesquisa foi realizada noLaboratório Experimental <strong>de</strong> Tradução – LETRA – da FALE/UFMG comoparte integrante do projeto Tradução, Mídia e Globalização/CNPq302454/2007-1, sob orientação da professora Dra. Célia Magalhães.Utilizou-se a abordagem <strong>de</strong>scritiva baseada nos pressupostos da lingüísticasistêmico-funcional (LSF) e, mais especificamente, o aparato instrumentalhallidayano provido pela gramática sistêmico-funcional (GSF) - on<strong>de</strong> ossignificados realizados por um texto po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritos em termos dasmetafunções textual, interpessoal e i<strong>de</strong>acional. Os dados foram analisadoscom relação ao complexo oracional (tratado em tabelas comparativas),transitivida<strong>de</strong> e modalida<strong>de</strong> (tratados no software UAM Corpus Tools ®) e arelação types/tokens, <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong>s lexicais e maior ocorrência <strong>de</strong> palavras(gramaticais ou <strong>de</strong> conteúdo) para cada texto (tratados no softwareWordsmith Tools 4 ®). Após, foram comparadas as proprieda<strong>de</strong>s presentesno texto fonte com aquelas constatadas nos textos alvo. Além da análiselingüística nos termos da GSF, foram consi<strong>de</strong>rados conceitos da lingüística<strong>de</strong> edição <strong>de</strong> notícias e <strong>de</strong> gatekeeping. No que concerne ao processoeditorial midiático foram adotados especificamente os pressupostos dasupressão <strong>de</strong> informações, das substituições lexicais e das regras <strong>de</strong> edição.259


Os resultados obtidos <strong>de</strong>monstraram alterações mais significativas nasescolhas lexicais feitas pelo tradutor, sendo essas repetidas vezesacompanhadas <strong>de</strong> variações na or<strong>de</strong>m sintática <strong>de</strong>ntro do complexooracional. Em geral, houve uma opção pela forma em <strong>de</strong>trimento doconteúdo, ou seja, nos termos da GSF não houve i<strong>de</strong>ntificação plena entretexto fonte e textos alvo no nível i<strong>de</strong>acional. Seguindo a perspectiva da LSF,<strong>de</strong> três ângulos distintos, complementares e simultâneos <strong>de</strong> analisar alinguagem em uso, este trabalho especificou e <strong>de</strong>screveu realizaçõesmultilíngües intra-institucionais as quais revelaram uma comunicação <strong>de</strong>significados <strong>org</strong>anizada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto específico e não explicávelapenas em termos lingüísticos.A LEXICO-GRAMÁTICA DE LETRAS DE RAP E O CONCEITOHALLIDAYANO DE ANTILINGUAGEM.Marcos M<strong>org</strong>ado (UEL)O presente estudo tem como objetivo a investigação <strong>de</strong> letras <strong>de</strong> rap e oestabelecimento da conexão entre os itens lexicais e gramaticais usados porrappers e o conceito <strong>de</strong> antilinguagem <strong>de</strong> Halliday (1978). O inglês Afroamericanoe o português <strong>br</strong>asileiro, ou, mais especificamente, o ‘dialeto’usado pelos rappers nas suas letras po<strong>de</strong>m ser exemplos <strong>de</strong> dialetos nãopadrãoou <strong>de</strong> uma antilinguagem que cria tanto um mecanismo <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> quanto oposição aos discursos dominantes. Umainvestigação cross-cultural usando letras <strong>de</strong> músicas <strong>de</strong> rap Afro-americanase <strong>br</strong>asileiras foi conduzida, com o objetivo <strong>de</strong> investigar algumas dascaracterísticas <strong>de</strong>ssas letras tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Osresultados revelam que os rappers dos dois grupos culturais usam varieda<strong>de</strong>snão-padrão <strong>de</strong> inglês e <strong>de</strong> português <strong>br</strong>asileiro, com gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> novositens lexicais – ou <strong>de</strong> relexicalização, usando o termo <strong>de</strong> Halliday – eestruturas gramaticais diversificadas, características <strong>de</strong>ssas varieda<strong>de</strong>s nãopadrão.INVESTIGANDO O PAPEL ATRIBUÍDO POR UMA PROFESSORAESTAGIÁRIA AOS ALUNOS E A SI MESMA: PLANO DE AULA,PRÁTICA E RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃOMárcia Gromoski (UFSC)Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC)Este estudo é resultado parcial <strong>de</strong> uma pesquisa realizada com umaprofessora estagiária no 7° período do Curso <strong>de</strong> Letras da UFSC e tem comopropósito explorar sua compreensão em relação ao processo <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>língua estrangeira através da lingüística sistêmico-funcional (LSF). A LSF(HALLIDAY, 1978, 1985, 2004; MATTHIESSEN & HALLIDAY, 2004)permite o estudo da linguagem em uso. Conforme Halliday (1994) a línguanão po<strong>de</strong> ser estudada em isolamento sendo necessário que se consi<strong>de</strong>re ocontexto social na qual cada texto esta inserido. Sendo aqui a língua objeto260


<strong>de</strong> estudo, o discurso da professora estagiária foi investigado em trêsdiferentes estágios: a) enquanto plano <strong>de</strong> aula; b) enquanto prática; c)enquanto relatório <strong>de</strong> auto-avaliação. O foco <strong>de</strong> análise concentrou-se emexaminar através do sistema <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong>: qual é o papel dos indivíduospresentes em sala <strong>de</strong> aula partindo do ponto <strong>de</strong> vista da professoraestagiária?; Como a relação e a interação entre alunos/professora estagiária éestruturada nos diferentes momentos?; É possível <strong>de</strong>tectar homogeneida<strong>de</strong>e/ou assimetria entre os envolvidos através da análise dos papéis? Oresultado da análise <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong> realizada nas orações em que aprofessora estagiária, o(s) aluno(s) ou ambos apareciam como participantesgeradores <strong>de</strong> ação revelou diferentes resultados em cada estágio. Enquantoplano <strong>de</strong> aula a professora estagiária atribuiu a si mesma a maior parte dopapel <strong>de</strong> participante principal (aquele que age) havendo também umapredominância <strong>de</strong> processos materiais. Essa configuração inverte-se durantea prática on<strong>de</strong> a professora confere aos alunos o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ação. Essadimensão <strong>de</strong> análise também apresentou uma característica singular, pois é oúnico momento em que a participante divi<strong>de</strong> seu papel <strong>de</strong> agente com osalunos. Finalmente a investigação do discurso da informante no relatório <strong>de</strong>auto-avaliação revelou uma configuração semelhante a aquela obtida naanálise do plano <strong>de</strong> aula on<strong>de</strong> a professora estagiária aparece como agenteprincipal. De modo geral po<strong>de</strong>-se afirmar que a informante estruturoudiferentemente sua relação com os alunos em cada estágio. A relaçãomanteve-se quase sempre assimétrica com exceção da prática on<strong>de</strong> aprofessora incluiu-se como também a seus alunos nas ações propostas.Consi<strong>de</strong>rando os textos analisados também como um fenômeno social e nãosomente como um emaranhado <strong>de</strong> orações é possível sugerir que o contextosocial no qual a professora encontrava-se em cada um dos momentos po<strong>de</strong>rter tido uma gran<strong>de</strong> influência em sua performance, ora resultando numaprofessora mais a<strong>de</strong>pta a abordagens comunicativas (RICHARDS &RODGERS, 2001) e outros momentos resultando em performances maistradicionais.O IDEAL DE PROFESSOR EM “UMA PROFESSORA MUITOMALUQUINHA” E A ESTRUTURA NARRATIVA ANALISADAATRAVÉS DE PADRÕES DE TRANSITIVIDADEMárcia Cristine Agustini (UFSC)Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC)A Lingüística Sistêmica Funcional (LSF) <strong>de</strong>senvolvida pelo lingüistaMichael Halliday (1978, 1985, 1989, 1994; HALLIDAY &MATTHIESSEN, 2004) é a teoria cujo arcabouço utilizamos para a análisedo texto aqui nomeado. A LSF apregoa que a linguagem é sistêmica -consiste <strong>de</strong> um sistema que oferece ao falante diferentes escolhas para seexpressar - e funcional uma vez que a linguagem serve ao propósito dadopelo falante na situação social que se lhe apresenta. Neste trabalho,propomo-nos investigar a estrutura narrativa do texto “Uma professora261


maluquinha” <strong>de</strong> Ziraldo (1995) através <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong>. Com aanálise da transitivida<strong>de</strong>, o foco recai no significado experiencial que se quertransmitir, i.e., na mensagem construída através das escolhas gramaticais elexicais, que mostram o nosso entendimento <strong>de</strong> certos fenômenos sociais.Consi<strong>de</strong>ramos que a construção do personagem da professora “Maluquinha”perpassa etapas pelas quais diferentes dimensões <strong>de</strong> seu trabalho epersonalida<strong>de</strong> são apresentadas. A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tais etapas parece ser a <strong>de</strong>apresentar uma proposta i<strong>de</strong>ológica coerente e convincente so<strong>br</strong>e o que é serprofessor. Essa consi<strong>de</strong>ração é justificada pelo conceito <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ologia queseguimos e que está em consonância com a Lingüística Sistêmica Funcional- <strong>de</strong> que as escolhas lexicais que fazemos expressam nosso posicionamentoi<strong>de</strong>ológico em relação ao tópico so<strong>br</strong>e o qual nos <strong>de</strong><strong>br</strong>uçamos.SEX AND THE CITY E A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEMFEMININAFábio Alexandre Silva Bezerra (UFSC)Este trabalho traz uma investigação sistêmico-funcional (Halliday, 1994;Halliday e Matthiessen, 2004), mais especificamente <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong>, daimagem feminina construída através do [e no] discurso da personagemnarradorado seriado estaduni<strong>de</strong>nse ‘Sex and the City’, Carrie Bradshaw. Ofoco da análise é a metafunção i<strong>de</strong>acional, que trata da forma como nósexpressamos nossas experiências no mundo através das escolhas léxicogramaticaispresentes no texto. Tal investigação nos permite ver a linguagemcomo algo pulsante, pois compreen<strong>de</strong>mos que através <strong>de</strong>la produzimosrepresentações com objetivos diferentes e em momentos e lugares tambémdiversos. No texto analisado, vemos a representação, feita através dodiscurso da personagem-narradora, <strong>de</strong> uma mulher que está num momentohistórico <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> duras conquistas, um momento em que po<strong>de</strong>expressar o que pensa so<strong>br</strong>e variados tópicos, tais como: sexo, trabalho,amiza<strong>de</strong>s, espiritualida<strong>de</strong> e casamento. No entanto, também temos comoresultado que essa sua atuação ainda se restringe à esfera privada, em quesuas preocupações, anseios, ações e relações não estão representadas comotendo impacto no âmbito social/público, esfera que historicamente vemsendo reservada aos homens. Desta forma, <strong>de</strong>monstramos e discutimos comoa LSF po<strong>de</strong> servir como um instrumento analítico efetivo em investigaçõesque tenham como objetivo o estudo da língua em uso, a fim <strong>de</strong> estimularmosuma visão crítica dos mais diversos textos.O ENSINO DE LÍNGUA INGLESA COMO LÍNGUA ESTRANGEIRANO BRASIL: UM ESTUDO DE CASO COM UMA ABORDAGEMSISTÊMICO-FUNCIONAL AO DISCURSO PEDAGÓGICO.Kátia Eliane Muck (UFSC)Adriana Kuerten Dellagnelo (UFSC)262


Discursos constroem conhecimento tanto quanto <strong>de</strong>terminamcomportamentos sociais, fato que torna qualquer discurso altamenterevelador. Dada a falta <strong>de</strong> estudos voltados ao Discurso Pedagógico (comoproposto por Bernstein) so<strong>br</strong>e o ensino <strong>de</strong> língua inglesa como línguaestrangeira no Brasil, este estudo preten<strong>de</strong> ser um ponto <strong>de</strong> partida no intuito<strong>de</strong> contribuir para preencher essa lacuna. Como tal, esta pesquisa consi<strong>de</strong>raas concepções <strong>de</strong> linguagem <strong>de</strong> Fairclough (1992) e Halliday (1985; 2004),para os quais a linguagem reflete, reforça e até mesmo constrói o que asocieda<strong>de</strong>, como um todo, percebe como realida<strong>de</strong>. Os dados do estudoforam obtidos <strong>de</strong> gravações <strong>de</strong> áudio, <strong>de</strong> uma entrevista semi-estruturadacom o principal participante da pesquisa – uma professora <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong>nível intermediário <strong>de</strong> Língua Inglesa –, e <strong>de</strong> um questionário aplicado aosalunos. Com a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>linear algo que ilumine nossa compreensãoacerca da <strong>de</strong>finição dos papéis sociais do professor e sua construção <strong>de</strong>conhecimento, bem como nossa compreensão da formação da or<strong>de</strong>m social,este estudo foca como o discurso regulativo e instrucional da professora semanifesta lingüisticamente. Uma vez que o estudo está em andamento,conclusões não foram formuladas plenamente.ESTRUTURA TEMÁTICA NA LÍNGUA PORTUGUESA:CLASSIFICAÇÃO DE TEMAS MARCADOSElaine Espindola (UFSC)Maria Lúcia B. <strong>de</strong> Vasconcellos (UFSC)Viviane M. Heberle (UFSC)Esta pesquisa faz parte <strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> doutorado em andamento o qualvisa explorar um dos aspectos da metafunção textual: a <strong>org</strong>anização temáticado texto. Para tal, o estudo observa a tradução/legenda da estrutura temáticausada por um personagem em particular – Yoda – nos seis episódios dofilme Americano Star Wars escrito e dirigido por Ge<strong>org</strong>e Lucas. Para fins dopresente trabalho, uma revisão teórica acerca da estruturação temática noportuguês será conduzida uma vez que a o arcabouço teórico da LingüísticaSistêmico-Funcional (LSF) pressupõe que a presença do Sujeito em posiçãoinicial seja consi<strong>de</strong>rada uma estrutura temática não-marcada, o que se tornaproblemático para a língua portuguesa pelo fato <strong>de</strong> que o sistema <strong>de</strong> inflexãoverbal traz em si noções <strong>de</strong> número, tempo e pessoa, possibilitando arecuperação gramatical do Sujeito (Gouveia, C. & L. Bárbara, 2001). Sendoassim, a Gramática Sistêmico-Funcional (GSF) (Halliday & Matthiessen,2004) prova-se eficiente para a análise <strong>de</strong> estrutura temática da línguainglesa e para muitas outras línguas S-V-O; porém este não é o caso para alíngua portuguesa, pois somente alguns estudos isolados (Bárbara, L. & C.Gouveia, 2001; Lima−Lopes, R.E., 2001; Siqueira, C.P., 2000) observam asespecificida<strong>de</strong>s da língua em questão. Assim, o propósito <strong>de</strong>ste trabalho é o<strong>de</strong> discutir alguns problemas encontrados na <strong>de</strong>scrição e i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>Tema em língua portuguesa sugerindo alternativas <strong>de</strong> análise.263


A STREET CAR NAMED DESIRE: UMA ANÁLISE LINGÜÍSTICADA CONSTRUÇÃO DA PERSONAGEM BLANCHE DUBOISLuciany Margarida da Silva (UFSC)Este estudo investiga a linguagem usada na produção cinematográfica <strong>de</strong>Tennessee Williams “A street car named <strong>de</strong>sire”(1951), focando, maisespecificamente, na maneira em que a personagem principal, BlancheDuBois, é construída através do modo em que a sua experiência, tanto domundo externo quanto do mundo interno, é revelada na linguagem por elausada no <strong>de</strong>correr do filme. O arcabouço teórico <strong>de</strong>sse estudo é a abordagemlingüística fornecida pela versão Hallidayana da lingüística sistêmicofuncional,principalmente no componente i<strong>de</strong>acional, que é realizado pelosistema da transitivida<strong>de</strong>. O estudo concentra-se na análise dos tipos <strong>de</strong>processos (verbos) nos quais Blanche DuBois se inscreve em quatro cenasespecíficas do filme, a saber, cena um, dois, <strong>de</strong>z e onze, <strong>de</strong> modo ainvestigar os efeitos <strong>de</strong> estilo das escolhas feitas na construção dapersonagem principal.RELAÇÕES IMPLICACIONAIS ENTRE PRÁTICAS DISCURSIVASE PRÁTICAS SOCIAIS NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE DEUM PROFESSOR-ESTAGIÁRIO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRASAdriana Kuerten Dellagnelo (UFSC)Este estudo focaliza implicações entre práticas discursivas e práticas sociais;para tanto, parte so<strong>br</strong>emodo <strong>de</strong> concepções <strong>de</strong> Fairclough (1992) e Halliday,(1985-1994) – para os quais a linguagem reflete, reforça e até mesmoconstrói o que toda uma socieda<strong>de</strong> percebe por realida<strong>de</strong>. Esse aporte teórico,que busca investigar a construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma professora estagiária<strong>de</strong> Letras– Inglês no que respeita a valores e i<strong>de</strong>ologias legitimados, sustentauma análise <strong>de</strong> textos produzidos por essa mesma professora em suasreflexões pós-aula. O estudo contém uma análise que busca <strong>de</strong>svelar em quemedida conhecimento teórico e conhecimento experiencial/prático dialogamou divergem na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do professor-estagiário. Osresultados apontam que, <strong>de</strong> acordo com sua prática discursiva, a professoraestagiáriaaqui pesquisada ten<strong>de</strong> a ser influenciada mais por seuconhecimento experiencial do que pelo conhecimento teórico aprendido aolongo do seu curso <strong>de</strong> Letras. Esses resultados corroboram a literatura naárea <strong>de</strong> educação <strong>de</strong> professores (Bailey et al, 1996; Freeman, 1996;Freeman & Johnson, 1998; Flower<strong>de</strong>w, 1998) ao sugerir que professoresestagiáriosten<strong>de</strong>m a ser influenciados pelo conhecimento experiencial a umgrau mais elevado, reiterando, também, a afirmação <strong>de</strong> que são necessáriostempo e esforço para que práticas sociais vivenciadas sejam alteradas.RELATOS DE CRIMES EM JORNAIS BRITÂNICOS: O USO DEMARCADORES DE MODALIDADE NA DESCRIÇÃO DAVIOLÊNCIA FEMININA E MASCULINAMurilo Matos Mendonça (UNISUL)264


A modalida<strong>de</strong> é uma categoria lexicogramatical típica da oração com meio<strong>de</strong> interação (Halliday, 1994). O conceito <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong> tem sidoamplamente utilizado para <strong>de</strong>sconstruir textos que expressam as atitu<strong>de</strong>s dosescritores em relação a eles mesmos, aos seus interlocutores e ao assunto emquestão (Fowler et al., 1979: 200). O presente estudo investiga o uso <strong>de</strong> duasclasses <strong>de</strong> marcadores <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>, operadores verbais modais e adjuntosmodais, respectivamente, encontrados em relatos <strong>de</strong> crimes em jornais so<strong>br</strong>eum caso específico em que um homem e uma mulher, um casal <strong>de</strong>assassinos em série, foram <strong>de</strong>scritos como agentes <strong>de</strong> violência. Setenta eseis artigos <strong>de</strong> quatro jornais <strong>br</strong>itânicos foram analisados. Conduziu-se umaanálise e um levantamento informatizado dos marcadores <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>encontrados nos textos, através <strong>de</strong> um concordance. Os resultados parciaisapontam uma tendência significativa em utilizar marcadores <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>para afirmar e enfatizar a culpabilida<strong>de</strong> e o comportamento fora dos padrõesmais forte e frequentemente quando se referindo à mulher do que ao homem.Esse dado reforça a hipótese <strong>de</strong> que há uma inclinação nos discursos damídia em jornais em direção a uma conivência com a noção <strong>de</strong> violênciacomo uma característica inerente à masculinida<strong>de</strong> em contraste à suaferrenha con<strong>de</strong>nção como um elemento da feminilida<strong>de</strong>.A MODALIDADE NO DISCURSO ACADÊMICO: UMA ANÁLISEDE CONCLUSÕES DE ARTIGOS DE PESQUISA.Maria Ester Wollstein Moritz (UNISUL)O discurso acadêmico tem sido constantemente investigado nas últimasdécadas (Ozturk, 2006; Flower<strong>de</strong>w, 2001; Motta-Roth, 1995). Uma daslinhas <strong>de</strong> investigação concentra-se no uso <strong>de</strong> características específicascomo o uso <strong>de</strong> marcadores <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>. A modalida<strong>de</strong> é um recursolingüístico característico do discurso acadêmico que po<strong>de</strong> servir a doispropósitos, a saber, a necessida<strong>de</strong> da aceitação do escritor pelo leitor <strong>de</strong>modo a dar crédito ao conhecimento que está sendo proposto, e anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar consi<strong>de</strong>ração com sua audiência. Consciente<strong>de</strong>ssa dupla função, o presente estudo analisa o uso da modalida<strong>de</strong> com basena lingüística sistêmico-funcional Hallidayana (1994). O corpus é compostopor 12 conclusões <strong>de</strong> artigos acadêmicos na área <strong>de</strong> lingüística aplicadaescritos em inglês como L2. Os resultados indicam a presença <strong>de</strong> 281 <strong>de</strong>orações e 85 marcadores <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>, representando uma <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>3,30, isto é, um modal é usado em cada 3,30 orações. A alta ocorrência <strong>de</strong>modais nos textos <strong>de</strong> conclusão parece indicar que, em geral, os escritorestêm a tendência a evitar a assertivida<strong>de</strong>, usando um discursomodalizado/modulado nas suas seções <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> artigos acadêmicos.Dessa forma, os escritores constroem suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acordo com odiscurso que prevalece na aca<strong>de</strong>mia, <strong>de</strong>monstrando-se solidários comrelação a seus leitores e não assertivos quanto ao conteúdo <strong>de</strong> seus textos; e,portanto, comprometidos com o status probabilístico da ciência.265


GT18 Ensino e Aprendizagem <strong>de</strong> L2: o foco na forma e o ensino dagramáticaCoor<strong>de</strong>nadoresMarília dos Santos Lima (UFRGS)Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR)A HABILIDADE ORAL EM L2: UMA EXPERIÊNCIA COMTAREFASGisele L. Cardoso (UFSC)Mailce B<strong>org</strong>es Mota (UFSC)Gicele V. Vieira Prebianca (UFSC)Cecilia A. Willi <strong>de</strong> Souza (UFSC)O objetivo do presente trabalho foi investigar o efeito da implementação <strong>de</strong>uma tarefa no <strong>de</strong>sempenho oral <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> inglês como língua estrangeira(ILE) <strong>de</strong> nível avançado. Este estudo foi conduzido a partir dos princípios daabordagem baseada em tarefas, como expostos por Skehan (1998). Noâmbito da abordagem <strong>de</strong> ensino baseada em tarefas, vários estudos ( Bygate,Skehan &Swain, 2001; D’Ely & Fortkamp, 2003; D’Ely, 2006, entre outros)têm <strong>de</strong>monstrado que o planejamento do <strong>de</strong>sempenho é uma variávelimportante no <strong>de</strong>senvolvimento da habilida<strong>de</strong> oral em LE, pois permite aoaprendiz manipular seus recursos atencionais para focar na forma e nosignificado sistematicamente, o que resulta em produção oral mais fluente eprecisa. Estes estudos têm <strong>de</strong>monstrado também que o tempo <strong>de</strong>planejamento afeta a produção oral em LE <strong>de</strong> formas diferentes. O presenteestudo examina o efeito <strong>de</strong> uma tarefa oral que é antecedida por um minuto<strong>de</strong> planejamento no <strong>de</strong>sempenho oral <strong>de</strong> 15 aprendizes <strong>de</strong> ILE. A tarefa oralconsistiu da narração individual <strong>de</strong> um sonho. A habilida<strong>de</strong> oral foimensurada através <strong>de</strong> variáveis <strong>de</strong> fluência, acurácia e complexida<strong>de</strong>. Osresultados do estudo, que foram analisados tanto quantitativamente comoqualitativamente, <strong>de</strong>monstraram que houve equilí<strong>br</strong>io entre sentido e formadurante o <strong>de</strong>sempenho da tarefa; que a auto-percepção <strong>de</strong> planejamento dosparticipantes pareceu não se a<strong>de</strong>quar com a real implementação das suasanotações no tempo <strong>de</strong> planejamento e que houve efeitos <strong>de</strong> troca atencionalno <strong>de</strong>sempenho oral <strong>de</strong> L2, mesmo com planejamento provido.UNINDO FOCO NA COMUNICAÇÃO E FOCO NA FORMA: OAUMENTO DA CONSCIÊNCIA LINGÜÍSTICA DO APRENDIZ NAPRODUÇÃO ESCRITA A PARTIR DE UM PROJETO DE UMCADERNO DE CRÍTICAS SOBRE FILMES.Maurício Seibel Luce (UFRGS)Ingrid Finger (UFRGS)266


Uma das críticas muitas vezes direcionada à proposta <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> línguaspor tarefas (ELT) diz respeito a uma suposta pouca atenção à ênfase emaspectos gramaticais na sala <strong>de</strong> aula, intrínseca a essa metodologia <strong>de</strong> ensino.O presente trabalho teve como objetivo <strong>de</strong>monstrar que uma tarefacomunicativa bem planejada po<strong>de</strong> efetivamente primar pelo foco nacomunicação e, ao mesmo tempo, dar atenção a aspectos gramaticais (Focona Forma) <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto comunicativo e significativo para oaprendiz, tomando como base a sua própria produção escrita. Levando emconta a noção <strong>de</strong> noticing (Schmidt,1995) e partindo do pressuposto <strong>de</strong> queativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pré-tarefa e pós-tarefa possuem um papel altamente relevantena execução <strong>de</strong> uma tarefa, buscamos testar neste estudo <strong>de</strong> que maneira taisativida<strong>de</strong>s afetariam a produção escrita dos aprendizes, tanto em relação aquestões <strong>de</strong> gênero textual como correção gramatical. Os participantes,aprendizes <strong>de</strong> inglês como LE, divididos em três grupos (dois experimentaise um <strong>de</strong> controle), escreveram, ao longo <strong>de</strong> quatro semanas <strong>de</strong> participação<strong>de</strong> contexto instrucional, três resenhas críticas so<strong>br</strong>e filmes, com o objetivo<strong>de</strong> elaborar um ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> críticas feitas por eles mesmos. Os sujeitos dogrupo A foram submetidos ao que po<strong>de</strong>ríamos chamar <strong>de</strong> estrutura completa<strong>de</strong> tarefa, que se assemelha ao proposto por Willis (1996), consistindo <strong>de</strong>três etapas: pré-tarefa, tarefa e foco lingüístico. Enquanto que as ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pré-tarefa buscaram aumentar a percepção dos sujeitos em relação aelementos comuns ao gênero “crítica <strong>de</strong> filme”, as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pós-tarefaconsistiram também na análise dos erros gramaticais, através da discussãoem grupos dos erros gramaticais das críticas elaboradas pelos sujeitos. Já ogrupo B não realizou a pós-tarefa <strong>de</strong> análise gramatical, e o grupo C nãorealizou a pré-tarefa com foco em aspectos do gênero “crítica <strong>de</strong> filme”.Resultados preliminares levam-nos a ratificar a hipótese <strong>de</strong> que pré-tarefas epós-tarefas que busquem o aumento da consciência e percepção do aprendizresultam em melhor produção escrita, tanto em relação a aspectosgramaticais como a recursos discursivos <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado gênero textual(neste caso, crítica <strong>de</strong> filme).O PAPEL DA INSTRUÇÃO – EXPLÍCITA E IMPLÍCITA – NOENSINO/ APRENDIZAGEM DE LOCUÇÕES VERBAIS EM INGLÊSDaniela Nascimento (UFRGS)Ingrid Finger (UFRGS)No <strong>de</strong>correr dos últimos anos, um dos questionamentos da pesquisa emaquisição <strong>de</strong> segunda língua (doravante L2) diz respeito ao papel dasinstruções explícita e implícita <strong>de</strong> formas gramaticais. A maneira através daqual os conhecimentos implícito e explícito são construídos <strong>de</strong> modo maiseficiente é, ainda, fonte <strong>de</strong> discordância. Alguns pesquisadores afirmam queo conhecimento implícito não <strong>de</strong>riva do aprendizado explícito e, tampouco,po<strong>de</strong> ser adquirido através da instrução explícita; outros argumentam que oconhecimento implícito da L2 po<strong>de</strong> ser adquirido ou facilitado peloconhecimento explícito. O presente trabalho teve sua origem no interesse267


pela investigação do efeito das instruções explícita e implícita na aquisição<strong>de</strong> uma L2, e na observação das diferenças entre os aprendizados implícito eexplícito. Acima <strong>de</strong> tudo, este estudo <strong>de</strong>riva da percepção <strong>de</strong> que a maioria<strong>de</strong> gramáticas e livros didáticos normalmente introduz estruturas gramaticais– em particular, o uso <strong>de</strong> locuções verbais, que são aqui analisadas – <strong>de</strong>maneira isolada, sem recorrerem a uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> seu uso por falantes daL2 proficientes, e dando priorida<strong>de</strong> à memorização <strong>de</strong> listas <strong>de</strong> verbos.Assim, seis grupos <strong>de</strong> alunos (três <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> proficiência básico e três <strong>de</strong>nível <strong>de</strong> proficiência avançado) do curso <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong>pública foram avaliados por meio <strong>de</strong> pré e pós-testes, compostos <strong>de</strong> questões<strong>de</strong> múltipla escolha (tarefas <strong>de</strong> compreensão) e <strong>de</strong> exercícios <strong>de</strong> produção(tarefa <strong>de</strong> produção). Entre a aplicação dos testes, foi feita instruçãoimplícita a dois grupos experimentais e implícita a outros dois gruposexperimentais com as mesmas características. Os grupos <strong>de</strong> controle nãoreceberam instrução (básico e avançado). Os resultados dos testes serviramcomo fonte <strong>de</strong> análise dos papéis dos dois tipos <strong>de</strong> instrução mencionados, emostraram que tanto a instrução explícita quanto a instrução implícitainfluenciaram positivamente no <strong>de</strong>sempenho dos participantes nos póstestes,principalmente quanto aos verbos que po<strong>de</strong>m ser combinados tantocom gerúndios e com infinitivos. Tal resultado po<strong>de</strong> ser atribuído ao fato <strong>de</strong>estes verbos representarem uma dificulda<strong>de</strong> maior para os aprendizes.ENSINO COM FOCO NA FORMA: INVESTIGAÇÃO SOBRE ACONCORDÂNCIA NOMINAL EM ITALIANO-L2Daniela Norci Schroe<strong>de</strong>r (UFRGS)Nesta comunicação apresento os resultados <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>doutoramento que investigou a eficiência do ensino com foco na forma naprodução escrita da concordância nominal, em gênero e número, entresubstantivo e adjetivo, em italiano por aprendizes <strong>br</strong>asileiros. O suporteteórico e metodológico da pesquisa baseia-se em estudos <strong>de</strong> autorescana<strong>de</strong>nses, como Lightbown, Spada e Swain. Spada (1997) <strong>de</strong>finiu o ensinocom foco na forma como ‘a ação pedagógica utilizada para chamar a atençãodos aprendizes para uma <strong>de</strong>terminada forma lingüística <strong>de</strong> modo implícitoou explícito’. Os dados analisados na pesquisa são resultantes da aplicação<strong>de</strong> testes em três momentos sucessivos (pré-teste, pós-teste e testepostergado) com um grupo <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> italiano-L2, falantes nativos doportuguês <strong>br</strong>asileiro, matriculados no nível básico <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> extensãoda Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Em cada teste, foramaplicados três instrumentos: teste <strong>de</strong> julgamento <strong>de</strong> gramaticalida<strong>de</strong>,produção livre e <strong>de</strong>scrição a partir <strong>de</strong> uma figura, com o objetivo <strong>de</strong>apresentar diferentes situações <strong>de</strong> uso referentes à concordância nominal.Entre o pré-teste e o pós-teste, o grupo foi submetido a um tratamentointensivo so<strong>br</strong>e a concordância nominal. O estudo se apresenta como umacontribuição empírica do italiano-L2 aos estudos <strong>de</strong> lingüística aplicadabaseados no tratamento com foco na forma.268


FOCO NA FORMA NO ENSINO DE ESPANHOL PARA FALANTESBRASILEIROS ADULTOS: ENFOQUE COGNITIVISTA.Terumi Koto Bonnet Villalba (UFPR)Este estudo aborda o lugar da gramática na aprendizagem <strong>de</strong> espanhol porfalantes <strong>br</strong>asileros adultos, levando em consi<strong>de</strong>ração os resultados <strong>de</strong> umapesquisa anterior (Villalba, 2002) que apontam para a tênue fronteira entre onível intermediário e avançado. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revisar a metodologiacomunicativa como vem sendo praticada, com ênfase no sentido e no<strong>de</strong>senvolvimento da estratégia comunicativa, a<strong>br</strong>e um espaço <strong>de</strong> estudo ediscussão so<strong>br</strong>e a importância do conhecimento do sistema lingüístico(Doughty; Williams, 2003), principalmente no caso <strong>de</strong> aprendizes <strong>br</strong>asileiros,cuja língua materna está gramaticalmente muito próxima da línguaestrangeira em questão. A proposta <strong>de</strong> enfocar a forma (Fonf) po<strong>de</strong> ganharsustentação na perspectiva cognitivista <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong> línguaestrangeira, usando as noções an<strong>de</strong>rsonianas (1983) <strong>de</strong> ‘conhecimento<strong>de</strong>clarativo’ e ‘conhecimento procedimental’.POTENCIAL PEDAGÓGICO DA GRAMÁTICA COGNITIVAMaría Alejandra Oliveira (UNILASALLE)O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns conceitos daGramática Cognitiva aplicada ao ensino <strong>de</strong> segunda língua. A visãocognitiva supõe uma visão alternativa da natureza do conhecimentolingüístico, assim como da forma como os falantes dispõem <strong>de</strong>sseconhecimento. Esta proposta esta embasada nos estudos <strong>de</strong> Langacker( 1987, 1991, 1994, 2000, 2001), Alejandro Castañeda (2006) e José PlácidoLuiz Campillo (2007). Propõe a aplicação <strong>de</strong> um enfoque operacional dofato lingüístico, fazendo ênfase nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicação esignificado dos próprios aspectos formais, assim como na lógica da suaarticulação sintática. A lógica a que se refere o enfoque cognitivo é a lógicanatural, a lógica dos esquemas cognitivos com que construímos arepresentação do mundo, o senso comum. Para Langacker (2000) asestruturas lingüísticas se distinguem por oferecerem uma configuraçãorepresentacional distinta <strong>de</strong> uma mesma situação concebida; as categoriaslingüísticas são polissêmicas,ou seja, os significados dos signos <strong>de</strong>vem serconcebidos como re<strong>de</strong>s conceptuais. Preten<strong>de</strong> mostrar o que é umagramática significativa e operativa aplicada ao ensino da língua, enten<strong>de</strong>ndoque cada forma está dotada <strong>de</strong> um valor <strong>de</strong> operação, um valor <strong>de</strong>significado, sendo este significado equivalente a um produto lógico.Descreve os recursos lingüísticos em diferentes níveis <strong>de</strong> abstração. Em vistadisso, resulta relevante para a lingüística cognitiva o conceito do “mo<strong>de</strong>locognitivo i<strong>de</strong>alizado” como uma estrutura mental complexa, <strong>de</strong> caráteresquemático, com a qual interpretamos o mundo. Existe uma metáforaconceitual : o tempo é espaço. A língua representa a realida<strong>de</strong> tal e como o269


sujeito a percebe, por tanto a gramática tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> favorecerdiferentes perspectivas representacionais <strong>de</strong> um mesmo fato “objetivo”. Elanão opera so<strong>br</strong>e as formas, senão so<strong>br</strong>e o significado com que o falanteutiliza essas formas. Uma gramática embasada nas normas e que <strong>de</strong>precie osaspectos da atuação, em termos gerativos, será incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screvera<strong>de</strong>quadamente o funcionamento <strong>de</strong> uma língua. Salienta-se a importância<strong>de</strong> estimular uma compreensão cognitiva do significado gramatical. Emsuma, o enfoque cognitivo oferece uma filosofia prática que permite levar àsala <strong>de</strong> aula os aspectos formais , sem renunciar aos benefícios docomunicativismo clássico.“DIGAN LO QUE DIGAN” NO FAMOSO “POR QUÉ NO TECALLAS?, O PROBLEMA RESIDE NA FORMA DE TRATAMENTO.Lídia Beatriz Selmo Foti (UFPR)Este trabalho preten<strong>de</strong> analisar por que o <strong>br</strong>eve enunciado (discurso) emitidopelo Rei Juan Carlos I da Espanha, na Cúpula Ibero - americana, motivoutantos efeitos <strong>de</strong> sentido, implicações e respostas <strong>de</strong> seu interlocutor (opresi<strong>de</strong>nte da Venezuela, Chávez), assim como <strong>de</strong> outras autorida<strong>de</strong>s, meios<strong>de</strong> comunicação, jornais, e do público em geral. Acreditamos que a forma <strong>de</strong>tratamento utilizada pelo rei da Espanha teve um papel prepon<strong>de</strong>rante nesteinci<strong>de</strong>nte diplomático. As formas <strong>de</strong> tratamento condicionam um bomrelacionamento entre os “Interlocutores”. Porém, às vezes por vários fatores,são utilizadas ina<strong>de</strong>quadamente provocando problemas <strong>de</strong> comunicação, aoromperem com a expectativa do interlocutor que espera ser tratado <strong>de</strong> acordocom o protocolo ou a norma. O inci<strong>de</strong>nte diplomático <strong>de</strong> conhecimentopúblico, aconteceu no dia 10-11-2007, na Cúpula Ibero-Americana, quandoJuan Carlos I mandou que o presi<strong>de</strong>nte da Venezuela se calasse dizendo:“Por que no te callas?”. Para muitas pessoas que não falam espanhol areação foi a<strong>de</strong>quada, posto que Chávez não respeitava a or<strong>de</strong>m para falar einterrompia constantemente ao presi<strong>de</strong>nte do governo espanhol, Zapatero.Assim, o bolivariano estaria que<strong>br</strong>ando o protocolo <strong>de</strong>srespeitando estechefe <strong>de</strong> estado. Contudo, há aqui outro fator além do protocolo; olingüístico. Constatável na forma <strong>de</strong> tratamento utilizada quando o rei sedirigiu a Chávez, a forma <strong>de</strong> tratamento “Tú” utilizada pelo rei (o pronomereflexivo “te” <strong>de</strong> segunda pessoa informal) foi totalmente ina<strong>de</strong>quada portratar-se da reunião <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>s. Assim, quando inesperadamente o reiproferiu a já famosa frase, utilizou um tratamento <strong>de</strong> cima para baixo (eixodo po<strong>de</strong>r), e não <strong>de</strong> entre iguais (eixo da solidarieda<strong>de</strong> entre iguais) emmo<strong>de</strong>lo nos termos <strong>de</strong> Brown & Gilman (1965).PROFESSORES DE INGLÊS EM FORMAÇÃO: ENSINO DELÍNGUA E DE GRAMÁTICALuciane Sturm (UPF)270


A concepção que se tem <strong>de</strong> língua, po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma referênciabásica para que os professores possam traçar as linhas <strong>de</strong> seu trabalho emsala <strong>de</strong> aula. Além disso, é a partir <strong>de</strong>ssa concepção <strong>de</strong> língua que oprofessor <strong>de</strong>fine seus princípios <strong>de</strong> ensino, sua filosofia <strong>de</strong> trabalho,norteando suas ativida<strong>de</strong>s, a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada abordagem. Isso, noentanto, nem sempre acontece <strong>de</strong> forma consciente, pois, muitas vezes, oprofessor age intuitivamente, sem se preocupar com o lado científico do seufazer pedagógico. Enten<strong>de</strong>-se que os aspectos que envolvem o processo <strong>de</strong>amadurecimento profissional do professor <strong>de</strong> línguas estrangeiras (LE) érelativamente complexo, <strong>de</strong>morado, pois <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> diversas variáveis,como: sua formação, seu interesse e sua motivação, local <strong>de</strong> trabalho,crenças, estudo continuado, além das suas próprias características pessoais.Consi<strong>de</strong>rando-se esse contexto, esta pesquisa <strong>de</strong> natureza qualitativa,apresentará os dados parciais <strong>de</strong> uma pesquisa que está sendo <strong>de</strong>senvolvidacom alunos <strong>de</strong> Letras, futuros professores <strong>de</strong> inglês, no último estágio docurso. Por meio <strong>de</strong> dados coletados com questionários e com os projetos <strong>de</strong>estágio dos alunos participantes, o estudo <strong>de</strong>screverá o perfil <strong>de</strong>sses alunos,em fase <strong>de</strong> conclusão, focalizando suas crenças so<strong>br</strong>e o papel da gramáticano processo <strong>de</strong> ensino e aprendizagem da língua inglesa. Dados preliminaresindicam que, apesar <strong>de</strong>sses alunos evi<strong>de</strong>nciarem uma concepção <strong>de</strong> línguaatualizada e condizente com a visão comunicativa <strong>de</strong> ensino, eles<strong>de</strong>monstram dificulda<strong>de</strong>s em preparar e executar aulas que busquem a partirda abordagem comunicativa, um ensino contextualizado e significativo dagramática. Para dar suporte teórico a este trabalho utiliza-se, principalmente,estudos so<strong>br</strong>e (a) foco na forma e feedback corretivo <strong>de</strong> Long (1983; 1990;1991), Fotos & Ellis (1991); Fotos (1993, 1994), Lightbown & Spada (1993,1997, 1999), Doughty & Williams (1998), Lima & Freu<strong>de</strong>nberger (2006),Lima (2002, 2004); (b) so<strong>br</strong>e crenças e o processo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong>professores <strong>de</strong> Barcelos (2001; 2003; 2003b; 2004; 2006), Silva (2006),Vieira-A<strong>br</strong>ahão (2004, 2006) e Sturm (2007).O QUE PENSAM ALUNOS E PROFESSORES DE INGLÊS SOBRE AINSTRUÇÃO COM FOCO NA FORMA INTEGRADA E ISOLADAMarília Dos Santos Lima (UFRGS)Nina Spada (University Of Toronto)A aprendizagem po<strong>de</strong> ser afetada <strong>de</strong> modo negativo quando as expectativasdos alunos diferem dos professores na realida<strong>de</strong> da sala <strong>de</strong> aula.Dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m ser geradas quando há conflitos entre as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>professores e seus alunos (Schulz, 2001). O propósito <strong>de</strong>sta comunicação érelatar as preferências <strong>de</strong> professores e alunos <strong>de</strong> inglês em dois contextos:como língua estrangeira (LE) no Brasil e como segunda língua (L2) noCanadá. A investigação trata <strong>de</strong> instrução com foco na forma (IFF) integradae isolada. Ambas as práticas <strong>de</strong>vem ser vistas numa abordagemcomunicativa. No primeiro caso, a instrução gramatical é dada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>uma prática com foco no conteúdo, enquanto que, no segundo, ela é dada em271


momentos isolados da prática comunicativa. A investigação inclui doisestudos: o primeiro foi <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> um questionárioespecialmente elaborado e validado quanto a medidas <strong>de</strong> IFF integrada ouisolada. Participaram do estudo 50 professores e 175 aprendizes <strong>br</strong>asileiros e47 professores e 294 alunos cana<strong>de</strong>nses. As respostas dos participantes nosdois contextos (LE e L2) foram comparadas. O segundo estudo aquifocalizado, <strong>de</strong> cunho qualitativo, refere-se ao ensino <strong>de</strong> um item gramatical acinco turmas <strong>de</strong> aprendizes <strong>de</strong> inglês no Brasil em duas ocasiões, uma comIFF integrada e outra com IFF isolada. São consi<strong>de</strong>rados os pontos <strong>de</strong> vistados alunos e professores quanto às duas práticas. Os resultados sãodiscutidos em relação a diferentes necessida<strong>de</strong>s e expectativas dosenvolvidos no processo e em relação a outras pesquisas que investigam ospontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> professores e alunos so<strong>br</strong>e o ensino da gramática.PERSPECTIVAS DE PROFESSORES E GRADUANDOS DELETRAS ACERCA DA APRENDIZAGEM DA GRAMÁTICA EMSALA DE AULA DE LE – FOCO NA FORMA OU FOCO NASFORMAS?Ana Paula <strong>de</strong> Araujo Cunha (CEFET-RS, Pelotas)Élen Susana Inácio B<strong>org</strong>es (CEFET-RS, Pelotas)A atenção a formas lingüísticas <strong>de</strong>ntro do contexto <strong>de</strong> realização <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s comunicativas tem sido rotulada <strong>de</strong> “foco na forma” (Long, 1991).Este contrasta com os tipos mais tradicionais <strong>de</strong> instrução focalizada naforma (referida por Long como “foco nas formas”), on<strong>de</strong> traços lingüísticosespecíficos são isolados para tratamento intensivo, freqüente em ativida<strong>de</strong>snão-comunicativas. Norteada por questões que perpassam esta temática, estapesquisa compreen<strong>de</strong> uma investigação qualitativa, cujo foco precípuo éi<strong>de</strong>ntificar e analisar as perspectivas <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> inglês como LE emserviço e em pré-serviço acerca <strong>de</strong> aspectos pertinentes ao ensinoaprendizagemda gramática em contexto <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, so<strong>br</strong>etudo no que serefere a abordagens tradicionais <strong>de</strong> foco isolado nas formas e a proposta <strong>de</strong>uma abordagem que se configura em um foco dual forma/sentido nainteração comunicativa. Os dados que constituem o corpus <strong>de</strong> análise doestudo são oriundos <strong>de</strong> questionários e entrevistas estruturados <strong>de</strong> tal modo apropiciarem a elicitação da visão <strong>de</strong> professores e graduandos <strong>de</strong> Letras-Habilitação em Inglês, <strong>de</strong> duas Universida<strong>de</strong>s da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas (umapública e outra privada) concernentes a tópicos como o significado <strong>de</strong> saberuma língua estrangeira, a pertinência e as formas <strong>de</strong> abordar a gramática<strong>de</strong>ssa língua. Os dados coletados são analisados à luz <strong>de</strong> teoria veiculada emimportantes estudos apontados pela literatura da área <strong>de</strong> ASL cujo escopoa<strong>br</strong>ange temáticas como instrução focada na forma e no sentido,competência lingüística e interação, <strong>de</strong>ntre os quais sublinhamos Ellis(2001), Long (1991), Long & Robinson (1998), Larsen-Freeman (1997), eLightbown & Spada (1990, 1999).272


O ENSINO DA GRAMÁTICA NAS AULA DE LÍNGUA INGLESA:CRENÇAS DE ALUNOS-PROFESSORES EM FORMAÇÃOJuliana Freitag Schweikart (UNISINOS, UNEMAT-Sinop)Este trabalho se propõe a apresentar resultados parciais <strong>de</strong> uma pesquisaso<strong>br</strong>e crenças relacionadas ao ensino <strong>de</strong> gramática nas aulas <strong>de</strong> LínguaInglesa. É parte <strong>de</strong> uma pesquisa maior <strong>de</strong> mestrado que investiga possíveismudanças <strong>de</strong> crenças causadas pelo período <strong>de</strong> práticas pedagógicas em umaturma <strong>de</strong> 9º semestre <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> pública do estado <strong>de</strong>MT. A coleta <strong>de</strong> dados está acontecendo através <strong>de</strong> três fases, a primeira serealizou através <strong>de</strong> um questionário/inventário <strong>de</strong> crenças, a segunda, através<strong>de</strong> gravação em ví<strong>de</strong>o <strong>de</strong> aulas dos alunos-professores, dados estes que aindaestão em fase <strong>de</strong> transcrição, e a terceira fase será uma entrevista semi-aberta,que acontecerá mediante a análise das duas primeiras coletas, e finalmenteserá feita uma triangulação <strong>de</strong> todos os dados. Foram feitas várias leituras <strong>de</strong>dissertações e teses já <strong>de</strong>fendidas, porém os trabalhos utilizados até omomento se baseiam em Almeida Filho (1993), Alvarez (2007), Barcelos(2004/2007), Silva (2006) e Alonso e Fogaça (2007), além dos PCN <strong>de</strong>língua estrangeira. Os dados coletados até o momento, através <strong>de</strong> umquestionário/inventário <strong>de</strong> crenças, mostram discordância em relação aoensino <strong>de</strong> gramática nas aulas <strong>de</strong> Língua Inglesa, bem como relações quepo<strong>de</strong>m ser estabelecidas entre esta língua e a Língua Portuguesa. Essesalunos-professores mostraram concordância quanto a uma facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aprendizagem causada pelo inatismo. Também quanto ao início do processo<strong>de</strong> aprendizagem, há o indicativo <strong>de</strong> que quanto mais cedo se inicia oprocesso <strong>de</strong> aprendizagem, melhor. E é baseado nesses tópicos que estetrabalho se <strong>de</strong>senvolve, com a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar as relações entre aprimeira coleta <strong>de</strong> dados e a segunda, a prática, além <strong>de</strong> verificar se hásemelhanças e diferenças, ou melhor, alterações <strong>de</strong> crenças entre o querespon<strong>de</strong>ram no questionário e o planejamento e execução das aulas dadas.APRENDIZES DE PE COMO L3 OU LÍNGUA ADICIONAL EMCONTEXTO MULTICULTURAL/MULTILÍNGÜE: ASPECTOSGRAMATICAIS RECORRENTES NA PRODUÇÃO ESCRITALucia Rottava (UERGS)Trata-se <strong>de</strong> um estudo que investiga a produção escrita <strong>de</strong> aprendizes <strong>de</strong>português como terceira língua (L3) ou língua adicional em contextomulticultural/multilíngue. O estudo envolve aprendizes, cuja língua maternaé diversa, que foram e estão sendo expostos a mais <strong>de</strong> uma línguaestrangeira em contexto acadêmico e social. Serão analisadas dados <strong>de</strong>produções escritas produzidas no período <strong>de</strong> três anos letivos (ou três níveis<strong>de</strong> proficiência) consecutivos <strong>de</strong>sses participantes, consi<strong>de</strong>rando o contexto aque estão inseridos e as línguas que interagem e∕ou as línguas que estãoapren<strong>de</strong>ndo. Objetivando i<strong>de</strong>ntificar e analisar aspectos gramaticais <strong>de</strong> taisproduções, investiga-se como os aprendizes produzem e situam seus textos273


no que tange a (1) aspectos gramaticais recorrentes que revelam dificulda<strong>de</strong>se/ou facilida<strong>de</strong>s no escrita <strong>de</strong> português como L3 ou LE adicional; (2)influência <strong>de</strong> outras LE aprendidas e/ou usadas e o contexto on<strong>de</strong> estãoinseridos. Os resultados indicam diferentes origens <strong>de</strong>ssasdificulda<strong>de</strong>s/facilida<strong>de</strong>s. A contribuição é concernente a tarefas a que osaprendizes são expostos em sala <strong>de</strong> aula.UM ESTUDO SOBRE AS ESTRATÉGIAS BOTTOM-UP EM LIVROSDIDÁTICOS DE PORTUGUÊS PARA ESTRANGEIROSCândida Martins Pinto (CEFET-SVS, São Vicente do Sul)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é investigar como autores <strong>de</strong> livros didáticos <strong>de</strong>português para estrangeiros trabalham a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura no que serefere ao uso das estratégias bottom-up. A fim <strong>de</strong> verificar como se dá arelação entre habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura e competência lingüística, escolheu-seanalisar as seções <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> quatro livros didáticos <strong>de</strong> Português paraestrangeiros que possuem livros do professor e estão sendo usadosatualmente em sala <strong>de</strong> aula. Nesse contexto, a metodologia <strong>de</strong> análise dosdados foi pautada, primeiramente, na Teoria da Ativida<strong>de</strong> na versão <strong>de</strong>Leontiev (1977), procurando i<strong>de</strong>ntificar quais são as ações <strong>de</strong>senvolvidaspelo aluno durante a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r Português e se essas ações po<strong>de</strong>mvir a se transformar em operações. Em um segundo momento, buscou-sesedimentação teórica no Mo<strong>de</strong>lo Holístico <strong>de</strong> Richter (2004, 2005), comoforma <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver as tarefas <strong>de</strong> leitura dos livros e <strong>de</strong> elaborar um mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> aula padrão. Esse mo<strong>de</strong>lo, embasado a favor <strong>de</strong> um ensino <strong>de</strong> leiturainterativo, aplicado a uma visão em espiral <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong>, foi cotejadocom o corpus <strong>de</strong>ste estudo, no intuito <strong>de</strong> verificar qual material estaria maispróximo do i<strong>de</strong>al para a internalização <strong>de</strong> itens formais específicos. Osresultados obtidos sugerem uma tendência dos autores do corpus analisado aconsi<strong>de</strong>rar as estratégias bottom-up irrelevantes para que o aluno construa osignificado do texto.O FOCO NA FORMA ATRAVÉS DE UMA TAREFACOOPERATIVAPatrícia da Silva Campelo Costa (UFRGS)Marília dos Santos Lima (UFRGS)Baseado nos estudos <strong>de</strong> Swain e Lapkin (1994, 2001), este estudo tem comoobjetivo analisar quais estruturas lingüísticas ten<strong>de</strong>m a ser mais focalizadaspelos aprendizes quando da realização <strong>de</strong> uma tarefa colaborativa naaprendizagem <strong>de</strong> inglês como língua estrangeira (LE). Para tanto, foraminvestigados os diálogos <strong>de</strong>correntes da aplicação da tarefa cooperativaque<strong>br</strong>a-cabeça (jigsaw), na qual os aprendizes constroem conjuntamenteuma história, com duas duplas <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> inglês como língua estrangeirado nível intermediário <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> línguas. O diálogo colaborativoestabelecido entre as día<strong>de</strong>s quando da realização da tarefa foi gravado em274


áudio e posteriormente transcrito a fim <strong>de</strong> serem examinados que tipos <strong>de</strong>estruturas eram mais negociadas pelos aprendizes no momento da coconstrução.Desse modo, no presente estudo, são discutidas quais estruturasten<strong>de</strong>m a ser mais facilmente <strong>de</strong>tectadas como erro pelo interlocutor noprocesso <strong>de</strong> diálogo colaborativo e po<strong>de</strong>m, <strong>de</strong>ssa maneira, ser reformuladaspelo aprendiz. A análise dos dados revela que os informantes refletiramso<strong>br</strong>e a língua alvo, reformulando seu insumo ao receber evidência negativa<strong>de</strong> seu interlocutor. A partir da análise das transcrições, percebe-se que asestruturas mais negociadas se relacionam a questões relativas ao léxico e aouso <strong>de</strong> tempos verbais.O FEEDBACK CORRETIVO E SEU PAPEL NA REVERSÃO DAFOSSILIZAÇÃO EM APRENDIZES ADULTOS DE L2Alessandra Herlin <strong>de</strong> Bona (Feevale)Este estudo investiga como se dá a reversão da fossilização em aprendizesadultos <strong>de</strong> Língua Estrangeira (LE), e como isso está relacionado com asdiferenciadas abordagens e métodos <strong>de</strong> instrução − como instrução explícita,foco na forma, feedback corretivo e o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> consciência.Trata-se <strong>de</strong> um estudo que busca verificar até que ponto o fenômeno dafossilização po<strong>de</strong> ser revertido através do fornecimento <strong>de</strong> feedbackcorretivo em um ambiente formal <strong>de</strong> aprendizagem. Analisa, também, umaspecto consi<strong>de</strong>rado restritivo no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagem – operíodo crítico – com as respectivas implicações no que diz respeito àfossilização. A metodologia usada para a geração dos dados consistiu naobservação participante em aulas <strong>de</strong> língua inglesa, em uma turma <strong>de</strong>terceira ida<strong>de</strong>, em um curso <strong>de</strong> idiomas pertencente a uma universida<strong>de</strong> doVale dos Sinos. Dessa turma, foram selecionados dois sujeitos, com os quaisse <strong>org</strong>anizou um estudo <strong>de</strong> caso, analisando em profundida<strong>de</strong> diferentesaspectos que normalmente são consi<strong>de</strong>rados importantes no estudo da línguaestrangeira, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a motivação para o estudo do idioma até os erroscometidos na produção oral e escrita. Os instrumentos consistiram <strong>de</strong> umdiário <strong>de</strong> campo, uma entrevista estruturada com os dois sujeitos, avaliaçõesescritas e orais e instrumentos <strong>de</strong> verificação <strong>de</strong> progresso lingüístico. Éimportante consi<strong>de</strong>rar que o planejamento das aulas e o livro didático foramescolhidos visando à aplicação <strong>de</strong> uma abordagem <strong>de</strong> instrução <strong>de</strong> cunhoexplícito, com especial foco no fornecimento <strong>de</strong> variados instrumentos <strong>de</strong>correção. Os resultados sugerem que fatores como ida<strong>de</strong> e motivação têmgran<strong>de</strong> influência na sensibilida<strong>de</strong> dos aprendizes ao fornecimento <strong>de</strong>feedback corretivo. Sugerem também, confirmando os estudos <strong>de</strong> LarrySelinker, que sem um estudo longitudinal não é possível comprovar aocorrência do fenômeno <strong>de</strong> reversão da fossilização em aprendizes oufalantes <strong>de</strong> língua estrangeira.275


A GRAMÁTICA NO ENSINO DE LÍNGUA ESPANHOLA: UMESTUDO REFLEXIVO NA SUA APLICAÇÃO.Mª Pía Mendoza-Sassi (UFPel)Janaina Soria (UFPel)Manuella Carvalho (UFPel)Os resultados e os processos que estão presentes neste documento, são acontinuida<strong>de</strong> do trabalho que começou a alguns anos no ensino da gramáticados professores em formação do idioma espanhol como língua estrangeira. Apergunta é a seguinte: Ensinar gramática <strong>de</strong>scontextualizada ou reflexionarso<strong>br</strong>e ela <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um contexto? Durante muito tempo e ainda hoje,apren<strong>de</strong>r um idioma é ensinar a gramática através da memorização e dasregras, traduzir textos, exercícios <strong>de</strong> repetição, etc. é apren<strong>de</strong>rfragmentadamente o que não leva o aluno a uma reflexão <strong>de</strong> seu uso em umaforma integrada e contextualizada. Os próprios estudantes vão construir osconhecimentos a partir dos estudos <strong>de</strong> investigações interagindo com oscolegas e com os docentes. Seria fazer do ensino <strong>de</strong> LE uma ativida<strong>de</strong> maisdinâmica e participativa, na qual os alunos vão por si mesmo participando <strong>de</strong>seu processo <strong>de</strong> aprendizagem através da reflexão da língua meta. Agramática contextualizada não só apenas enfoca os estudos lingüísticos,como também, direciona-se a uma abordagem discursiva,sociolingüisticamente e estrategicamente – <strong>de</strong>senvolvendo a competênciacomunicativa (Canale e Swain 1980) – interessados em <strong>de</strong>senvolver ashabilida<strong>de</strong>s leitora, oral, escrita e auditiva. É um enfoque inovador, on<strong>de</strong> seunem as teorias recentes da lingüística com uma gramática reflexiva (Camps2003, Travaglia 2005, Lopez Gracia 2005,Castañeda 2006) e <strong>de</strong> uso com asteorias educativas, principalmente as <strong>de</strong> Vigostky e Leontiev, aproximando oaluno a cultura, a realida<strong>de</strong> social e lingüística da língua meta. Por isso, esteenfoque não se limita tão só as prescrições da varieda<strong>de</strong> padrão do idioma esim as situações cotidianas da comunicação buscando um estudo maisatrativo, dinâmico e enriquecedor.GT19 Fala-em-Interação SocialCoor<strong>de</strong>nadoresNeiva Maria Jung (UEM/UEPG)Pedro M. Garcez (UFRGS)A COMPETÊNCIA LINGÜÍSTICA COMO TRABALHOINTERACIONAL REALIZADO EM SEQÜÊNCIAS DE FALA-EM-INTERAÇÃOMaria <strong>de</strong> la O López Abeledo (UFRGS)A <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> competência que apresento está fundamentada noentendimento etnometodológico da intersubjetivida<strong>de</strong> como procedimental,da reflexivida<strong>de</strong> das ações e <strong>de</strong>scrições, e da indicialida<strong>de</strong> da linguagem276


natural (Garfinkel, 1967; Heritage, 1984), e na perspectiva analítica êmicada Análise da Conversa etnometodológica. Nessa abordagem, as práticasinteracionais dos participantes constituem recursos analíticos. Com base naanálise <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> fala-em-interação <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> espanhol comolíngua estrangeira, segmentados <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> quase 23 horas <strong>de</strong> registroaudiovisual gerado em um curso <strong>de</strong> línguas no Brasil, <strong>de</strong>screvo aaprendizagem <strong>de</strong> língua estrangeira como (a) uma realização pública,intersubjetiva, emergente e contingente, produzida para os fins práticos dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em interações particulares; (b) observável nosmétodos que constituem o trabalho dos participantes para produzir essarealização, que não são generalizáveis, mas a<strong>de</strong>quados a um contexto e ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s que eles reflexivamente instauram -institucionais ou não -, e aum objeto <strong>de</strong> aprendizagem que eles <strong>de</strong>finem e tornam relevante; e (c) queproduz relações <strong>de</strong> participação e pertencimento, já que isso implica aprodução pública e intersubjetiva <strong>de</strong> competência para participar emativida<strong>de</strong>s levadas a cabo em uma comunida<strong>de</strong>. Nesta apresentação, <strong>de</strong>stacoações dos participantes pelas quais eles produzem conhecimentocompartilhado na seqüência <strong>de</strong> interação e ações pelas quais eles se orientampara esse conhecimento interacionalmente produzido, ações que constituema competência ou pertencimento (Garfinkel & Sacks, 1970). A competêncialingüística é <strong>de</strong>scrita, portanto, como um trabalho interacional produzidointersubjetivamente, isto é, como uma seqüência <strong>de</strong> ações que produzem umfato social particular. Por outro lado, o trabalho <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>conhecimento compartilhado re<strong>org</strong>aniza as relações <strong>de</strong> participação,portanto, a competência lingüística é inseparável da noção <strong>de</strong> pertencimentoa uma comunida<strong>de</strong> e da realização <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s em interação. A partir <strong>de</strong>ssaanálise, <strong>de</strong>staco, como contribuição da Análise da Conversaetnometodológica para a pesquisa <strong>de</strong> Aquisição <strong>de</strong> Segunda Língua, o fato<strong>de</strong> proporcionar uma abordagem teórica e metodológica que permite<strong>de</strong>screver e evi<strong>de</strong>nciar empiricamente a aprendizagem <strong>de</strong> Língua Estrangeirae a produção <strong>de</strong> competência lingüística na fala-em-interação, superando adivisão competência / atuação, ou conhecimento / uso da linguagem (Firth &Wagner, 1997).AS POSIÇÕES DE CONSUMIDOR-RECLAMANTE EMAUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃO NO PROCONSonia Bittencourt Silveira (UFJF)Lílian Márcia Ferreira Divan (UFJF)Este estudo tem como objetivo examinar a forma como o consumidor seposiciona e é posicionado, em sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> institucional <strong>de</strong> reclamante, emaudiências <strong>de</strong> conciliação no PROCON. Focalizamos como sãoconstruídas/negociadas a atribuição/assunção <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> entre aspartes em litígio e a explicabilida<strong>de</strong> do problema que <strong>de</strong>u origem àreclamação. Esta ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala é marcada pelo conflito aberto entre aspartes (consumidores e fornecedores <strong>de</strong> bens e serviços) e pela tentativa <strong>de</strong>277


produção <strong>de</strong> um acordo, mediada por uma terceira parte, representante doPROCON, órgão <strong>de</strong> Proteção e Defesa do Consumidor. Adotando-se aTeoria do Posicionamento e uma perspectiva interacional em Estudos doDiscurso, investigamos como operam, nesse contexto <strong>de</strong> fala, três dosprincipais princípios que <strong>de</strong>vem regular, segundo o Código <strong>de</strong> Defesa doConsumidor (CDC), as relações <strong>de</strong> consumo: o princípio da vulnerabilida<strong>de</strong>;o princípio da boa-fé e o princípio da informação. O princípio davulnerabilida<strong>de</strong> tem como uma <strong>de</strong> suas conseqüências a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>inversão <strong>de</strong> ônus da prova, o princípio da boa-fé, <strong>de</strong>termina que as partesajam <strong>de</strong> forma honesta, antes, durante e <strong>de</strong>pois do contrato e o princípio dainformação garante, ao consumidor, o direito <strong>de</strong> ter informações precisasso<strong>br</strong>e produtos e serviços contratados. A análise das audiências <strong>de</strong>conciliação que compõem nosso banco <strong>de</strong> dados tem mostrado que oconsumidor não tem seus direitos assegurados a priori, mesmo quando estesestão aparentemente garantidos pelo CDC. A forma como as reclamaçõessão apresentadas discursivamente e a forma como os participantes<strong>de</strong>screvem (categorizam) as pessoas e os eventos em questão têm umimportante papel na solução do conflito.SOBRE A REALIZAÇÃO DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS EMEQUIPE E A CO-CONSTRUÇÃO DE CONTEXTOSCOLABORATIVOSGa<strong>br</strong>iela da Silva Bulla (UFRGS)Este trabalho tem como objetivo investigar como participantes <strong>de</strong> uma sala<strong>de</strong> aula <strong>de</strong> Português como língua estrangeira realizam uma ativida<strong>de</strong>pedagógica em equipe específica: a edição <strong>de</strong> textos. Para tal, três segmentos<strong>de</strong> fala-em-interação social foram selecionados, transcritos e analisados,segundo pressupostos teórico-metodológicos da Análise da ConversaEtnometodológica e Sociolingüística Interacional. Os segmentos fazem parte<strong>de</strong> uma seqüência <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 30 minutos <strong>de</strong> interação, gravada em ví<strong>de</strong>o,durante a realização da ativida<strong>de</strong> pedagógica colaborativa <strong>de</strong> edição <strong>de</strong>textos <strong>de</strong> um jornal online escrito pela turma. A análise dos segmentos<strong>de</strong>monstra a construção conjunta por parte dos interagentes <strong>de</strong> um modusoperandis para a realização da ativida<strong>de</strong> pedagógica <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> textos.Revela como os participantes coor<strong>de</strong>nam suas ações, em processosinteracionais <strong>de</strong> adaptação mútua (Erickson, 2004), <strong>de</strong> modo a realizarem aativida<strong>de</strong> pedagógica em conjunto, co-construindo contextos colaborativos,nos quais a participação <strong>de</strong> ambos para a realização da ativida<strong>de</strong> pedagógicaé valorizada, mesmo que as opiniões sejam divergentes (Bulla, 2007).Também é possível observar-se, através da análise das transcriçõesmultimodais (prosódicas e gestuais), os elementos constitutivos <strong>de</strong>ssas açõesque ajudam os interagentes a co-construírem tais contextos.ESTRATÉGIAS INTERACIONAIS E O PROCESSO IDENTITÁRIOEM CONTEXTO ESCOLAR MULTILÍNGÜE/MULTIDIALETALMaria Elena Pires Santos (UNIOSTE)278


Segundo dados estatísticos do Sistema <strong>de</strong> Avaliação da EducaçãoBásica/2003, o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> 4ª e 8ª. séries em LínguaPortuguesa é crítico (conf. Bortoni-Ricardo, 2007). Estes dados parecem seagravar em contextos multilíngües/multidialetais <strong>de</strong> fronteira como, porexemplo, quanto ao “letramento” – compreendido como prática social (conf.Kleiman, 1999) – <strong>de</strong> alunos “<strong>br</strong>asiguaios”. A escola, por geralmente ser oprimeiro espaço com que a criança tem contato fora do ambientehomogeneizador da família e também por ser um local em que os alunospassam uma parcela consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> seu tempo, torna-se particularmenteimportante para os processos i<strong>de</strong>ntitários (conf. Bhabha, 2001, Sarup, 1996;Cavalcanti, 2003) aqui entendidos como construídos nas interações (conf.Moita Lopes, 2003; Cavalcanti, 2003; Heller, 1995, 1999, entre outros),resultando em representações (conf. Sarup, 1996; Silva, 2000) que induzemao preconceito em relação aos usos lingüísticos dos alunos, o que contribuipara a insegurança, baixa-estima e fracasso escolar. Consi<strong>de</strong>rando o exposto,o objetivo do presente trabalho é investigar como a interação construída emativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> letramento interfere no processo i<strong>de</strong>ntitário do aluno“<strong>br</strong>asiguaio”. Seguindo uma perspectiva <strong>de</strong> cunho etnográfico (conf.Erickson, 1988, 1989; Heller, 2000; Cavalcanti, 2003; Kleiman, 1998;Bortoni-Ricardo, 1999) para a geração <strong>de</strong> registros, a análise incidirá so<strong>br</strong>euma aula <strong>de</strong> leitura em contexto escolar multilíngüe/multidialetal rural.DO MANUAL À PRÁTICA: UMA ANÁLISE INTERACIONAL DASLIGAÇÕES ENTRE MULHERES E TELEATENDENTES DODISQUE SAÚDEJoseane <strong>de</strong> Souza (UNISINOS)Este estudo é um subprojeto <strong>de</strong> um projeto maior <strong>de</strong> pesquisa, da Profa. Dra.Ana Cristina Ostermann, do PPG <strong>de</strong> Lingüística Aplicada da Unisinos, quese intitula Gênero, violência e sexualida<strong>de</strong>: uma investigaçãosociolingüística interacional dos atendimentos à saú<strong>de</strong> da mulher(Ostermann, 2005). O objetivo é investigar o que acontece na fala-eminteraçãoentre mulheres atendidas e teleaten<strong>de</strong>ntes do Disque Saú<strong>de</strong>, oserviço <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> informações so<strong>br</strong>e a saú<strong>de</strong> do Ministério daSaú<strong>de</strong>. Neste subprojeto especificamente, examina-se como os Estoques <strong>de</strong>Conhecimento Interacional (e.g. Stocks of Interactional Knowledge – SIKs,Peräkylä & Vehviläinen, 2003) são traduzidos (ou não) em práticasinteracionais, a partir do que ocorre nas ligações avaliadas como plenamentesatisfatórias pelas supervisoras dos/as teleaten<strong>de</strong>ntes e também o queacontece naquelas classificadas por elas como ainda necessitando <strong>de</strong>melhorias para atingir o que foi preestabelecido no manual <strong>de</strong> treinamento,isto é, os Estoques <strong>de</strong> Conhecimento Interacional do Disque Saú<strong>de</strong>. Aabordagem teórica e metodológica utilizada é a da Análise da Conversa(Sacks, 1992), que propõe investigações <strong>de</strong> dados naturalísticos, os quais são,nessa pesquisa, 126 interações do Disque Saú<strong>de</strong> gravadas em áudio,279


coletadas no Setor <strong>de</strong> Ouvidoria. Reúnem-se aos dados anotações <strong>de</strong>observações so<strong>br</strong>e o contexto local. Após a gravação, as interações sãotranscritas <strong>de</strong> acordo com as convenções <strong>de</strong> Jefferson (1984). Aoanalisarmos especificamente o início da interação (momento em que os/asparticipantes chegam a um entendimento da razão da ligação), notamos quehá uma lacuna entre a maneira como alguns/algumas teleaten<strong>de</strong>ntesproce<strong>de</strong>m interacionalmente e as instruções do manual <strong>de</strong> treinamento,porque o “como fazer” raramente consta ali. Também verificamos que háestratégias utilizadas pelos/as teleaten<strong>de</strong>ntes que parecem aten<strong>de</strong>r comsucesso à instrução do manual <strong>de</strong> “captar a mensagem”, como acontecequando teleaten<strong>de</strong>ntes utilizam questões <strong>de</strong> afunilamento e formulações, eque não necessariamente constam no manual ou são encorajadas pelaspessoas que avaliam o trabalho realizado. Com esta análise, preten<strong>de</strong>mospo<strong>de</strong>r sugerir uma nova dimensão ao manual <strong>de</strong> treinamento do localpesquisado, diminuindo essa lacuna entre teoria e prática, justamentemostrando através das ações dos/as próprios/as teleaten<strong>de</strong>ntes uma forma <strong>de</strong>fazer aquilo que é preestabelecido no manual.“PODE PERGUNTÁ”: UMA ANÁLISE DA CONSTRUÇÃOINTERACIONAL DA CREDIBILIDADE DE SUSPEITOS EMINTERROGATÓRIOS POLICIAISCaroline Rodrigues da Silva (UNISINOS)Daniela Negraes (UNISINOS)Este estudo propõe uma análise <strong>de</strong> interações entre suspeitos e inspetorescriminais da polícia civil coletadas em uma <strong>de</strong>legacia <strong>de</strong> polícia localizadana região metropolitana <strong>de</strong> Porto Alegre. Em interações <strong>de</strong>ssa natureza, háuma evi<strong>de</strong>nte assimetria, perceptível tanto pelo po<strong>de</strong>r institucionalizadoconferido aos inspetores quanto pelo formato dos turnos <strong>de</strong> fala dosparticipantes (pergunta-resposta). Através <strong>de</strong> uma averiguação prévia <strong>de</strong>ssesturnos, percebe-se que os suspeitos recorrem a uma estratégia lingüísticapara assegurar a aplicação do que Bourdieu (1996) <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> capitalsimbólico. É pertinente pensar que os suspeitos são participantes <strong>de</strong> umainteração em que, além <strong>de</strong> terem que lidar com um papel interacional quelhes confere menos po<strong>de</strong>r, se vêem impelidos a construir uma imagem,através <strong>de</strong> suas falas, <strong>de</strong> sujeitos merecedores <strong>de</strong> credibilida<strong>de</strong>. Tomaremoscomo base uma perspectiva êmica, que orienta que se olhe para o modocomo os participantes co-constrõem as ações que os próprios participantesparecem apontar como interacionalmente relevantes. Para realizar essasanálises nos valeremos das ferramentas oferecidas pela Análise da Conversae pela Sociolingüística Interacional.“HOW CAN I SAY ÚTERO?” E “HOW CAN I SAY /SE: IU/?:APRENDER A FAZER APRENDER EM DOIS MOMENTOSINTERACIONAIS DE UMA ATIVIDADE PEDAGÓGICAPaola Guimaraens Salimen (UFRGS)280


Este trabalho é parte <strong>de</strong> minha pesquisa <strong>de</strong> Mestrado so<strong>br</strong>e pedidos e ofertas<strong>de</strong> ajuda durante os momentos <strong>de</strong> ensaio e apresentação da ativida<strong>de</strong>pedagógica <strong>de</strong> encenação em grupos. Os dados foram gerados para osestudos Salimen e Garcez (2005), Freitas (2006) e Salimen (2006), sendo ocorpus da minha pesquisa a realização <strong>de</strong>ssa ativida<strong>de</strong> pedagógica em umúnico encontro (aproximadamente 20 minutos). Neste trabalho examino pelaperspectiva da Análise da Conversa Etnometodológica duas ocorrências <strong>de</strong>pedidos <strong>de</strong> ajuda em que os participantes <strong>de</strong>ssa sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> LínguaEstrangeira solicitam um item lingüístico na língua alvo e, para tanto,envolvem o uso da pergunta “como se diz...”. Em ambas as seqüências osparticipantes que fazem o pedido <strong>de</strong> ajuda apresentam um possível candidatosujeito à confirmação e esses candidatos são i<strong>de</strong>ntificados como fonte <strong>de</strong>problema <strong>de</strong> entendimento e são <strong>de</strong>scartados para que o pedido <strong>de</strong> ajudapossa ser atendido. Em ambos os segmentos, além do item solicitado, opróprio modo como o pedido <strong>de</strong> ajuda é feito é tornado relevante comoobjeto <strong>de</strong> aprendizagem. Um dos segmentos foi registrado no momento daativida<strong>de</strong> pedagógica em que os participantes ensaiavam a encenação paraapresentá-la posteriormente ao restante dos participantes. O outro foiregistrado durante a apresentação. Discuto as diferenças e semelhanças da<strong>org</strong>anização seqüencial na realização e problematização dos pedidos <strong>de</strong>ajuda em ambos os momentos, bem como o uso <strong>de</strong> “how can I say...” comoum método <strong>de</strong> se fazer o trabalho interacional <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r.ESTRATÉGIAS DE CATEGORIZAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DEIDENTIDADE DE CONSUMIDOR (NO DISCURSO) EMAUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃOThenner Freitas da Cunha e Carolina Peixoto Barros (UFJF)O presente trabalho tem como objetivo i<strong>de</strong>ntificar as estratégias <strong>de</strong>categorização utilizadas para a construção <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> através do discursoda fala-em-interação. A contribuição da Análise da Conversa, <strong>de</strong> baseetnometodológica, ao estudo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> remonta aos primeiros trabalhos<strong>de</strong> Sacks (1992), so<strong>br</strong>e a importância fundamental do uso que as pessoasfazem dos mecanismos <strong>de</strong> categorização na linguagem (cf. a expressãocunhada pelo autor “membership categorization <strong>de</strong>vices”), sendo a categoria“i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>” um tipo particular <strong>de</strong> categorização. Agrupar as pessoas emcategorias A, B, C, etc., coloca em cena uma gama <strong>de</strong> características eatributos associados aos rótulos atribuídos a tais categorias. Por outro lado,as pessoas po<strong>de</strong>m ser mem<strong>br</strong>os <strong>de</strong> uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> categorias, que serãoatualizadas, no discurso, via rótulo categórico ou características/atributosassociados. O corpus analisado correspon<strong>de</strong> a audiências <strong>de</strong> conciliaçãorealizadas no PROCON <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais. Os dados foramgravados em áudio e transcritos <strong>de</strong> acordo com as convenções da Análise daConversa Etnometodológica (SSJ.1974). Focalizamos, neste estudo, asestratégias <strong>de</strong> categorização envolvidas na construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>281


consumidor pelos participantes das audiências <strong>de</strong> conciliação no PROCON,examinando as diversas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s discursivas que o reclamante tornarelevante no curso da interação, através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s seqüencialmente<strong>org</strong>anizadas e das estratégias <strong>de</strong> categorização utilizadas por ele e pelasoutras partes, mostrando como esses recursos estão relacionados àconstrução <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s discursivas.BUSCANDO COMPREENDER UMA NEGOCIAÇÃO DEIDENTIDADES: ENTENDENDO MELHOR PRÁTICAS DELETRAMENTO A PARTIR DE DADOS INTERACIONAISLuanda Rejane Soares Sito (UNICAMP)Este trabalho apresenta uma microanálise interacional <strong>de</strong> um evento <strong>de</strong>negociação entre li<strong>de</strong>ranças quilombolas e representantes do InstitutoNacional <strong>de</strong> Colonização e Reforma Agrária (INCRA), a partir <strong>de</strong> um dadoaudiovisual <strong>de</strong> fala-em-interação social <strong>de</strong> uma reunião pública ocorrida nopróprio INCRA. O objetivo da análise é focar como os participantesnegociam suas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s ao interagirem. O trabalho é parte <strong>de</strong> nossoprojeto <strong>de</strong> mestrado, o qual preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e analisar como li<strong>de</strong>ranças <strong>de</strong>uma comunida<strong>de</strong> quilombola lidam com interações em que necessitam usara escrita, em especial no contexto que vivenciam atualmente <strong>de</strong>regularização <strong>de</strong> suas terras, principalmente no âmbito da AssociaçãoComunitária, consi<strong>de</strong>rando as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ssa instituição local. Esteprojeto dá continuida<strong>de</strong> à pesquisa realizada entre 2005 e 2006, que tevecomo objetivo maior enten<strong>de</strong>r as práticas <strong>de</strong> letramento locais num contexto<strong>de</strong> disputa por terras, envolvendo i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s quilombolas. Nessa pesquisaanterior, observou-se que a visibilida<strong>de</strong> e o contato com a escritaaumentaram no âmbito da Associação, <strong>org</strong>anização construída por conta doprocesso <strong>de</strong> titulação das terras que exigiu práticas letradas para suaadministração. Percebeu-se também tensão entre a concepção <strong>de</strong> confiançalocal, baseada na oralida<strong>de</strong>, e o valor <strong>de</strong> confiança dos agentes públicosexternos, calcado na escrita. Utilizando a perspectiva dos Estudos <strong>de</strong>Letramento, temos como foco <strong>de</strong> análise o evento <strong>de</strong> letramento (Heath,1982). Em nossa análise para este trabalho, que segue a orientação teórica eepistemológica dos Estudos do Letramento (Heath, 1982, Kleiman, 1995),utilizamos o aporte teórico-metodológico da Sociolingüística Interacional eda Análise da Conversa Etnometodológica, afim <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r melhor anegociação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s ocorridas no evento. A partir <strong>de</strong>ssa análise,preten<strong>de</strong>mos enten<strong>de</strong>r melhor sua repercussão para a compreensão daspráticas <strong>de</strong> letramento <strong>de</strong> uma das comunida<strong>de</strong>s participantes, tendo em vistaque a negociação das i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s tem relação com a concepção <strong>de</strong> confiançalocal.FORMAS DE TRATAMENTO NO COMÉRCIO PORTO-ALEGRENSEThiago Bolívar (UNICAMP)282


Este trabalho apresenta os resultados <strong>de</strong> uma investigação sociolingüísticado uso <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> tratamento em interações comerciais na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> PortoAlegre, RS. Foram <strong>de</strong>limitados, <strong>de</strong> acordo com caracterizações <strong>de</strong> or<strong>de</strong>msocioeconômica, três ambientes para a coleta <strong>de</strong> dados: o shopping centerIguatemi, o shopping center Praia <strong>de</strong> Belas e o comércio (ambulante ou não)<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadas ruas do centro da cida<strong>de</strong>. Por meio <strong>de</strong> uma pesquisa rápidae anônima (rapid and anonymous survey) tal como <strong>de</strong>scrita por Milroy &Gordon (2003), foi constatado, na situação <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>dores aclientes, que a forma você tem uma freqüência <strong>de</strong> uso comparativamente altano Iguatemi e praticamente nula no Centro, enquanto que o Praia <strong>de</strong> Belasapresenta números intermediários. Constatou-se também uma maiorfreqüência <strong>de</strong> uso da forma você por parte <strong>de</strong> falantes do sexo feminino.POR UMA NOVA DEFINIÇÃO DE NEUTRALIDADERoberto Perobelli <strong>de</strong> Oliveira (UFJF)O presente trabalho tem por finalida<strong>de</strong> discutir a noção <strong>de</strong> neutralida<strong>de</strong> apartir <strong>de</strong> algumas práticas conversacionais <strong>de</strong> uma assistente social, atuandocomo mediadora em um processo <strong>de</strong> regulamentação <strong>de</strong> visitas, na Vara <strong>de</strong>Família do fórum <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> no interior do estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Tomaremos por base uma das transcrições dos encontros <strong>de</strong> mediaçãogravados em áudio e realizados nas circunstâncias do referido processo, doqual participaram, além da assistente social, o requerente e a requerida doprocesso. Tais transcrições foram feitas <strong>de</strong> acordo com a orientação teóricometodológicados estudos em análise da conversa. Algumas práticas locaisserão <strong>de</strong>scritas, tais como: discordância, pedido <strong>de</strong> esclarecimentos, tentativa<strong>de</strong> “refocalizar” a discussão e repreensão <strong>de</strong> ambas ou <strong>de</strong> apenas uma daspartes. A <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssas práticas <strong>de</strong>monstrará que o conceito <strong>de</strong>neutralida<strong>de</strong> não é algo a ser <strong>de</strong>finido abstratamente, mas em umaperspectiva êmica, em que se leve em conta a perspectiva dos participantes,tanto da mediadora em relação às partes, quanto no sentido inverso.SOBREPOSIÇÕES DE VOZES, PARTICIPAÇÃO E CONSTRUÇÃODE APRENDIZAGEM NA FALA-EM-INTERAÇÃO DE UMAESCOLA PÚBLICA MUNICIPALCarmen Alessandra Gonçalves Reis (UFRGS)Pedro <strong>de</strong> Moraes Garcez (UFRGS)Este trabalho analisa so<strong>br</strong>eposições (Schegloff 2000; 2002) na fala-eminteração<strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> uma turma <strong>de</strong> 1º ano do 2º ciclo <strong>de</strong> uma escolapública da re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> Porto Alegre. Tem-se por objetivo observaresse fenômeno em “momentos quentes <strong>de</strong> aprendizagem”, isto é,“seqüências interacionais em que os múltiplos participantes <strong>de</strong> eventosinteracionais em situações <strong>de</strong> fala-em-interação institucional escolar criamcondições para a produção conjunta <strong>de</strong> conhecimento, que é legitimada283


como relevante entre eles” (Garcez, 2007, p. 31). O interesse para talinvestigação surgiu, so<strong>br</strong>etudo, <strong>de</strong> acreditar que tais momentos <strong>de</strong>aprendizagem emergem do trabalho colaborativo dos participantes, e que asso<strong>br</strong>eposições po<strong>de</strong>m ocorrer quando há empenho das partes envolvidas emconstruir a ação em favor da aprendizagem. Para este trabalho, foramvisualizados cerca <strong>de</strong> 30 horas <strong>de</strong> dados audiovisuais <strong>de</strong> fala-em-interação<strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e examinadas as transcrições <strong>de</strong> dados já segmentados ediários <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> observação relativos ao ano escolar <strong>de</strong> 2003. Emseguida, foi feita a segmentação e transcrição <strong>de</strong> um dado, também geradoem 2003, que foi comparado a outros dados já analisados e apresentados emtrabalho anterior (Schulz, 2003). Observou-se a ocorrência <strong>de</strong> so<strong>br</strong>eposições<strong>de</strong> vozes em quatro momentos, dois <strong>de</strong>les em que o participante aponta umquestionamento relacionado com a pauta em questão naquele momento dainteração e dois em que há produto emergente, ou seja, a questão levantadasurge <strong>de</strong> tema não relacionado à pauta institucional e é tornada relevante pordiversos participantes, havendo disputa para a tomada <strong>de</strong> turnos e autoseleçãopor mais <strong>de</strong> um participante, resultando em so<strong>br</strong>eposição <strong>de</strong> vozes.Em um <strong>de</strong>sses momentos, a ratificação do produto emergente pelaprofessora é feita através <strong>de</strong> uma oferta <strong>de</strong> ajuda que dá lugar a umaseqüência <strong>de</strong> ações, promovendo a construção <strong>de</strong> currículo e <strong>de</strong>aprendizagem por todos os participantes. Os dados foram gerados em umaescola cujo projeto político-pedagógico se propõe a formar cidadãosparticipativos (Schulz, 2007) e tem como eixo central a noção <strong>de</strong> que todosos alunos po<strong>de</strong>m apren<strong>de</strong>r. A análise dos dados <strong>de</strong>monstra que todos po<strong>de</strong>mapren<strong>de</strong>r, em alguns casos, também a professora regente, corroborando arealização prática e situada do projeto político-pedagógico da escolaconforme <strong>de</strong>scrita em trabalhos anteriores.INSERÇÕES PARENTÉTICAS: MECANISMOS DE INTERAÇÃOSOCIALLuciane Braz Perez Mincoff (UEL)A Análise da Conversação procura verificar a funcionalida<strong>de</strong> e acontribuição <strong>de</strong> recursos lingüísticos utilizados na fala capazes <strong>de</strong> promoverou favorecer a interação entre os mem<strong>br</strong>os das mais variadas situações <strong>de</strong>interação sócio-comunicativas. Desenvolvemos uma pesquisa tomando porbase a contação <strong>de</strong> histórias como situação <strong>de</strong> interação social. Assim,reconhecendo a importância do ato <strong>de</strong> contar histórias para crianças,precisamos salientar a necessida<strong>de</strong> da preocupação com a maneira <strong>de</strong> contaras histórias, pois, muitas vezes, o sucesso do ato <strong>de</strong> contar histórias se dá pormeio das estratégias escolhidas, das histórias selecionadas e doenvolvimento do contador com história. Ao praticarmos essa ativida<strong>de</strong>, queé oral, conseqüentemente, fazemos uso <strong>de</strong> recursos específicos da línguafalada, assim, utilizamos como suporte teórico-metodológico apontamentose conceituações da Análise da Conversação. Entre os recursos da línguafalada que po<strong>de</strong>mos utilizar na contação <strong>de</strong> histórias po<strong>de</strong>mos citar pausas,284


truncamentos, repetições, reformulações, correções, hesitações, paráfrases,elipses, anacolutos, digressões e parênteses. Os parênteses ocupam um lugar<strong>de</strong> realce neste trabalho, pois foi este o elemento ou recurso da língua faladaque selecionamos para servir <strong>de</strong> “mola-mestra” <strong>de</strong>ssa pesquisa. Nossoobjetivo com esta apresentação é divulgar o resultado <strong>de</strong> um estudorealizado acerca das inserções parentéticas em relatos orais <strong>de</strong> narrativasinfantis consagradas. Este trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido com o cumprimento dasseguintes etapas: a. Levantamento bibliográfico a respeito do tema, pesquisae leituras; b. seleção dos contos que constituem o corpus do trabalho; c.contato com os professores/contadores e com as Instituições; d. coleta dasnarrativas orais; e. seleção das narrativas escritas, na versão clássica e nasversões atualizadas; f. transcrição dos dados; g. análise e discussão dosdados.Neste evento, esperamos que com a realização e partilha dos resultados<strong>de</strong>ssa pesquisa possamos contribuir com todos aqueles que valorizam oensino <strong>de</strong> línguas e que, como nós, buscam os mais variados meios <strong>de</strong>efetivar o encantamento pela aprendizagem <strong>de</strong> língua materna, além <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r contribuir, também, com a melhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino, nasativida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong>senvolvidas nos ambientes educacionais.GT20 Variação e mudança em morfossintaxeCoor<strong>de</strong>nadoresO<strong>de</strong>te Pereira da Silva Menon (UFPR)Edair Maria Görski (UFSC)O USO VARIÁVEL E O VALOR SOCIAL DE NÓS E A GENTE EMTEXTOS ESCRITOSAna Kelly Borba da Silva (UFSC)Esta pesquisa trata so<strong>br</strong>e o uso variável das formas pronominais “nós” e “agente” na posição <strong>de</strong> sujeito e do valor social <strong>de</strong>ssas formas nas escolas.Com base nos princípios da Sociolingüística Quantitativa Laboviana, foramlevantados fatores lingüísticos e sociais, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> explicar suadiferente distribuição, bem como os possíveis condicionadores. O estudofocaliza o uso das formas “nós” e “a gente” no 6º ano (5ª série) e no 9º ano(8ª série) do Ensino Fundamental em duas escolas: uma da re<strong>de</strong> pública eoutra da re<strong>de</strong> privada <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Florianópolis. Realizou-se uma coleta <strong>de</strong>dados, a partir <strong>de</strong> uma mesma proposta <strong>de</strong> narração solicitada a todos osdiscentes, a saber: eles <strong>de</strong>veriam relatar a respeito <strong>de</strong> um momento marcante<strong>de</strong> suas histórias (triste ou alegre), vivenciado com outras pessoas – para seresgatar, preferencialmente, a primeira pessoa do plural. Após a coleta,foram realizadas a categorização dos dados e a análise estatística, utilizandosedo pacote VARBRUL, assim como foi feita uma análise qualitativa. Osresultados gerais <strong>de</strong>sta pesquisa atestam estudos já realizados a respeito dainfluência do entorno social no contínuo oralida<strong>de</strong>-letramento (cf.285


BORTONI-RICARDO, 2004), uma vez que apontam para um uso menosmonitorado da forma “a gente” nas duas séries da Escola Pública emcontraposição a um uso mais monitorado das mesmas formas nas duas sériesda Escola Privada.A MANIFESTAÇÃO MORFOSSINTÁTICA DA ORDEMPRONOMINAL NO RIO DE JANEIRO E NO RIO GRANDE DO SUL:UM EXAME VARIACIONISTA DO EMPREGO DOS CLÍTICOS EMTEXTOS LITERÁRIOS DO SÉCULO XXDaniely Cassimiro <strong>de</strong> Oliveira Santos (UFRJ)É propósito da presente investigação <strong>de</strong>screver, <strong>de</strong> modo pormenorizado, asregras <strong>de</strong> colocação pronominal que efetivamente atuam no PortuguêsBrasileiro (PB) do século XX, em sua modalida<strong>de</strong> escrita literária, aquelaque tradicionalmente serve <strong>de</strong> “corpus” às <strong>de</strong>scrições lingüísticas. Isto posto,promove-se um estudo contrastivo entre as varieda<strong>de</strong>s do idiomacorrespon<strong>de</strong>ntes aos estados Rio <strong>de</strong> Janeiro e Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em décadasdo século passado.Esta pesquisa, <strong>de</strong> estatuto variacionista, vale-se das premissas preconizadaspela Sociolingüística Laboviana, orientação investigativa que concebe osistema das línguas como uma instância legítima <strong>de</strong> variação intrínseca nãoarbitrária,passível <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição, uma vez que fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m lingüística eextralingüística atuam na ocorrência do fenômeno em variância e/oumudança. Para a abordagem específica da cliticização, estuda-se o Parâmetro<strong>de</strong> Precedência, proposto por Klavans (1985), haja vista o carátereminentemente morfossintático da investigação. Para o exame do fenômeno,proce<strong>de</strong>-se à análise dos dados extraídos dos corpora criteriosamenteconstituídos por textos literários do século já mencionado, cuja eleição se<strong>de</strong>veu à autoria <strong>de</strong> escritores representativos da Literatura Brasileira<strong>de</strong>senvolvida no Rio <strong>de</strong> Janeiro e no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. No que respeitaao tratamento estatístico das ocorrências <strong>de</strong> pronomes átonos obtidas naamostra, a presente pesquisa vale-se do Pacote <strong>de</strong> Programas GOLDVARB(2001), instrumental que fornece, entre outras informações, os índicesmatemáticos que permitem julgar a relevância dos grupos <strong>de</strong> fatores para aregra variável. À luz dos respaldos <strong>de</strong> estudos pre<strong>de</strong>cessores, po<strong>de</strong>-se, <strong>de</strong>forma preliminar, postular algumas tendências particulares acerca do evento<strong>de</strong> colocação pronominal na modalida<strong>de</strong> escrita do PB, a saber: as variáveis<strong>de</strong> cunho lingüístico “presença <strong>de</strong> um possível elemento proclisador”, “tipo<strong>de</strong> clítico” e “tempo e modo verbais” apresentam-se como fatores relevantesà compreensão do fenômeno examinado. Em termos extralingüísticos,presume-se, por ora, que as varieda<strong>de</strong>s contempladas não apresentamdiferenças substanciais na modalida<strong>de</strong> escrita literária. Por todos osesclarecimentos, aqui prestados, constate-se que esta investigação – ao<strong>de</strong>screver as normas que presi<strong>de</strong>m a or<strong>de</strong>m em registros literários do Rio <strong>de</strong>Janeiro e do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, suscitando novos questionamentos quegarantem o prosseguimento <strong>de</strong> estudos futuros so<strong>br</strong>e o tema – contribui por286


apresentar informações ao parco conhecimento <strong>de</strong> que se dispõe acerca dofenômeno <strong>de</strong> colocação no PB do século XX, cuja <strong>de</strong>scrição a gramáticacontemporânea do idioma pe<strong>de</strong> seja revisitada.DUAS REALIDADES SOCIOLINGÜÍSTICAS DISTINTAS – AVARIAÇÃO DA CONCORDÂNCIA VERBAL NO SUL E NONORDESTE DO BRASILCaroline Rodrigues Cardoso (UnB)Há vasto conjunto <strong>de</strong> resultados provenientes <strong>de</strong> pesquisas so<strong>br</strong>e o fenômenoda variação da concordância verbal implementadas no país <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década<strong>de</strong> 80 (Naro, 1981; Guy, 1981; Naro & Scherre, 1998; Scherre & Naro, 2004)em diversas comunida<strong>de</strong>s do Su<strong>de</strong>ste, do Nor<strong>de</strong>ste e do Sul. Aqui, preten<strong>de</strong>seconfrontar, à luz da Sociolingüística Variacionista (Labov, 1972; Sankoff,1988; Robinson et al., 2001), resultados obtidos em pesquisas com ascomunida<strong>de</strong>s florianopolitana (Monguilhott, 2001) e porto-alegrense (Liege,2004), <strong>de</strong> um lado, com a comunida<strong>de</strong> pessoense (Anjos, 1999) e com umafalante maranhense radicada em Brasília (Cardoso, 2005), <strong>de</strong> outro lado.Num pólo, encontra-se uma área <strong>de</strong> homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro daheterogeneida<strong>de</strong> quando se olham os pesos relativos <strong>de</strong> variáveis lingüísticascomo saliência fônica do verbo, traço semântico do sujeito, adjacência dosujeito em relação ao verbo e paralelismo formal. Em outro pólo, encontramsefreqüências relativamente diferentes quando se analisam variáveisexternas como a escolarida<strong>de</strong>. Até o momento, as variáveis lingüísticas têmrealmente se revelado bastante homogêneas no cenário nacional e parece quevariáveis sociais como a escolarida<strong>de</strong> não, a <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da região. O que po<strong>de</strong>estar influenciando a constituição <strong>de</strong>sses dois pólos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> análisesanálogas do mesmo fenômeno? Isso po<strong>de</strong> ser reflexo <strong>de</strong> diferenças nosistema educacional ou no ensino, na aquisição do português como segundalíngua na região Sul, no contato com a mídia e com pessoas letradas, noperfil socioeconômico-cultural <strong>de</strong> cada região, enfim, é necessário investigar.O fato é que quanto mais alto o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, mais alta a taxa <strong>de</strong>concordância: pesquisa <strong>de</strong> Naro & Scherre (2003) <strong>de</strong>monstra aumento dataxa <strong>de</strong> concordância proporcionalmente ao aumento da escolarida<strong>de</strong> na fala<strong>de</strong> pessoas recontactadas 20 anos <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> apresentarem baixa taxa <strong>de</strong>concordância. Encontra-se em implementação trabalho para tentar <strong>de</strong>svendaressa disparida<strong>de</strong> entre as taxas <strong>de</strong> concordância das regiões Sul e Nor<strong>de</strong>ste.Por ora, nossa intenção é confrontar os resultados já obtidos, salientando assemelhanças <strong>de</strong> comportamento das variáveis lingüísticas e levantandohipóteses para as diferenças regionais no campo extralingüístico.A EMERGÊNCIA DOS MARCADORES DISCURSIVOS OLHA E VÊ:INVESTIGAÇÃO ENTRE LÍNGUASCláudia Andrea Rost-Snichelotto (UFSC)287


Verbos <strong>de</strong> percepção associados à 2ª pessoa do discurso (P2) em enunciados<strong>de</strong> comando na forma imperativa, como olhar e ver, ten<strong>de</strong>m a <strong>de</strong>rivarMarcadores Discursivos (MDs) em diversas línguas, tais como em espanholmira (cf. Pons Bor<strong>de</strong>ri’a, 1998a, 1998b), francês regar<strong>de</strong> (cf. Dostie, 1998),inglês look, alemão sieh mal / sehen Sie / schauen Sie e italiano guarda (cf.Waltereit, 2002), olha/veja (cf. Rost, 2002). Todavia, conforme Waltereit(2002, p. 1008), ainda que, em muitas línguas, existam MDs <strong>de</strong>rivados <strong>de</strong>imperativo, não têm necessariamente as mesmas funções. Preten<strong>de</strong>-se, nestetrabalho, com base numa amostra <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> informantes do BancoVARSUL (Variação Lingüística Urbana no Sul do Brasil) do estado <strong>de</strong>Santa Catarina, investigar se os contextos favorecedores para a emergênciados MDs nessas línguas são os mesmos do PB.VARIAÇÃO NO FUTURO DO SUBJUNTIVO NO PB: UM ESTUDOSOCIOFUNCIONALISTADiana Liz Reis (UFSC)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é abordar alguns questionamentos acerca do modocomo as gramáticas da língua portuguesa abordam o futuro do subjuntivo e omodo como seu uso variável se dá na fala <strong>de</strong> Florianópolis, como emQuando eu propor/propuser o acordo, por exemplo. Parte-se dospressupostos teórico-metodológicos da Sociolingüística Variacionista(Labov, 1972) e Funcionalismo Lingüístico (Givón 1993; Bybee, Perkins &Pagliuca, 1994). Para estes últimos autores, o subjuntivo vai segramaticalizando nas línguas através <strong>de</strong> formas verbais específicas,influenciado por mecanismos <strong>de</strong> mudanças semânticas que são construídosem contextos sintáticos específicos. As modalida<strong>de</strong>s orientada-ao-agente,orientada-ao-falante e epistêmica po<strong>de</strong>m ser um “mecanismo alimentador”para o surgimento das orações subordinadas, se o tipo <strong>de</strong> oração subordinadafor harmônico com o sentido dos usos <strong>de</strong>sses modos. Nossa hipótese é <strong>de</strong>que os resultados caracterizem o fenômeno em estudo como um domíniofuncional complexo, que sofre influência <strong>de</strong> motivações <strong>de</strong> natureza diversa.A REGÊNCIA DE VERBOS DE MOVIMENTO – UMAABORDAGEM VARIACIONISTAMaria José Blaskovski Vieira (UNIRITTER)No Português <strong>br</strong>asileiro, é possível constatar-se o uso variável <strong>de</strong>preposições que regem verbos <strong>de</strong> movimento. A tradição gramatical<strong>br</strong>asileira prescreve a seleção <strong>de</strong> preposições direcionais para verbos como“chegar”, “vir”, “ir”. No entanto, na fala coloquial, é a preposição locativa“em” que se realiza juntos a esses verbos. Neste trabalho, preten<strong>de</strong>-sediscutir o processo <strong>de</strong> alternância que atinge as preposições que regem essetipo <strong>de</strong> verbo. Para tanto, serão utilizados, do Banco <strong>de</strong> Dados VARSUL,dados <strong>de</strong> 16 informantes <strong>de</strong> cada uma das três capitais da Região Sul: PortoAlegre, Florianópolis e Curitiba, dados esses que serão submetidos a uma288


análise quantitativa. Busca-se, através da análise variacionista, i<strong>de</strong>ntificar osfatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam a escolha dapreposição que rege esses verbos e, com base no Funcionalismo, umaexplicação teórica para a variação. Interessa a este trabalho o princípiofuncionalista da iconicida<strong>de</strong> e, mais especificamente, um princípio a eleassociado: o princípio da proximida<strong>de</strong>. De acordo com esse princípio, acontigüida<strong>de</strong> na codificação lingüística ten<strong>de</strong> a refletir uma proximida<strong>de</strong>existente no plano conceptual. Trabalha-se com a hipótese <strong>de</strong> que a variaçãono uso das preposições com verbos <strong>de</strong> movimento po<strong>de</strong> ser resultado <strong>de</strong> umafrouxamento, no plano conceptual, da relação entre a preposição e o verbo,por um lado, e do estreitamento da relação entre preposição e argumento doverbo ou adjunto, por outro lado.A CONCORDÂNCIA VERBAL DE TERCEIRA PESSOA DOPLURAL EM PANAMBI/RSRosane Werkhausen Luersen (UFRGS)A variação na concordância verbal <strong>de</strong> 3ª pessoa do plural é um aspectocomum ao português popular <strong>br</strong>asileiro. Muitos estudos já foram<strong>de</strong>senvolvidos com o intuito <strong>de</strong> elucidar as variáveis lingüísticas e sociaisrelacionadas com essa variação. Nesse contexto, este trabalho vem seacrescentar a essas pesquisas, levando em conta, mais especificamente, ocontexto bilíngüe em que os informantes estão inseridos. Busca-se, por isso,analisar fatores lingüísticos e sociais relacionados à variação naconcordância verbal <strong>de</strong> terceira pessoa do plural (P6), na fala <strong>de</strong> 25informantes bilíngües <strong>de</strong> Panambi/RS, do gênero masculino e feminino,entre 26 e 72 anos, que fazem parte do Banco <strong>de</strong> Dados do VARSUL,totalizando 2.599 ocorrências. O trabalho orienta-se pelo mo<strong>de</strong>lovariacionista <strong>de</strong> análise do uso da linguagem e as ocorrências foramanalisadas em uma perspectiva quantitativa, a partir das rodadas feitas noprograma computacional VARBRUL (Ce<strong>de</strong>rgren & Sankoff, versão Pintzuk,1988). Preten<strong>de</strong>u-se estudar os fatores lingüísticos e sociais associados àausência e presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinência, padrão e não-padrão, <strong>de</strong> concordânciaverbal na terceira pessoa do plural. A primeira das hipóteses é <strong>de</strong> que: a) porser uma comunida<strong>de</strong> bilíngüe, em que o português, para a maioria dosfalantes, foi adquirido na escola, há uma presença significativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinência<strong>de</strong> 3ª pessoa do plural, mesmo que seja não-padrão e que, conseqüentemente,os informantes mais escolarizados ten<strong>de</strong>m a aplicar mais a regra daconcordância. Além <strong>de</strong>ssa hipótese, tem-se também que: b) o sujeitoposicionado antes do verbo facilita a concordância entre ambos; c) o grau <strong>de</strong>saliência morfológica entre a forma singular e plural esteja relacionado coma probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aplicação da regra <strong>de</strong> concordância; d) os jovens usammais a concordância padrão (<strong>de</strong>vido a sua maior escolarida<strong>de</strong>); e) osinformantes que trabalham em ativida<strong>de</strong>s mais intelectuais ten<strong>de</strong>m a aplicarmais a regra da concordância verbal.289


DE FALANTES NÃO ESCOLARIZADOS A FALANTES COMFORMAÇÃO SUPERIOR: UMA OBSERVAÇÃO DA REALIZAÇÃODO OBJETO DIRETO ANAFÓRICONiguelme Cardoso Arruda (CNPQ/UNESP-Araraquara)Alicerçado nos pressupostos teórico-metodológicos da SociolingüísticaVariacionista, este trabalho se propõe a verificar como se comportamlingüisticamente, em relação à realização do objeto direto (OD) anafórico, osfalantes do português <strong>br</strong>asileiro (PB). Nessa observação, os usuários doreferido sistema lingüístico serão consi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um continuum quea<strong>br</strong>ange pessoas sem qualquer escolarida<strong>de</strong> a falantes com grau superior <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong>. Isso oferecerá uma base empírica para que este estudo discuta,ainda, a relação entre o que se tem consi<strong>de</strong>rado como PB culto e PB popular.Para tanto, enten<strong>de</strong>-se que, na medida em que o falante avança em seu grau<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, um maior contato com o que se <strong>de</strong>nomina norma culta éestabelecido. A esse respeito, Matos e Silva (2004) afirma que a instruçãoescolar sistemática <strong>de</strong>ve ser o veículo mais eficiente e evi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> difusão danorma culta. Será consi<strong>de</strong>rado, também, que um sistema lingüísticocontempla tanto uma norma popular como uma culta, <strong>de</strong>vendo, talvez, serementendidas, ambas, <strong>de</strong> forma plural, dado que se percebe tanto em uma comoem outra um continuum constituidor da variação, po<strong>de</strong>ndo esse caráter sersustentado pelo fato <strong>de</strong> que “as linhas que <strong>de</strong>limitam essas varieda<strong>de</strong>s,porém, são tão tênues que se entrecruzam” (PRETI, 2004, p. 14). Essapossível proximida<strong>de</strong> entre as normas, permite-nos supor que as diferençasquantitativas apresentadas pelos dados, so<strong>br</strong>etudo no que diz respeito ao uso<strong>de</strong> clíticos em função <strong>de</strong> OD, variante canonizada pela GramáticaTradicional – mecanismo normatizador do que se consi<strong>de</strong>ra norma padrão –,não se mostrarão tão acentuadas. Para tanto, serão consi<strong>de</strong>rados osresultados apresentados pelos estudos sincrônicos <strong>de</strong> Silva (2004), Matos(2005) e Arruda (2006). Esses estudos nos permitirão, ainda, verificar (ecomparar) como se comportam lingüisticamente falantes <strong>de</strong> diferentesregiões do país, uma vez que Silva (2004) <strong>de</strong>senvolve seus estudos tendocomo informantes pessoas que compõem uma comunida<strong>de</strong> baiana; Matos(2005) apresenta como informantes moradores <strong>de</strong> uma pequena cida<strong>de</strong>sergipana (esses dois estudos utilizam-se <strong>de</strong> informantes com pouca ounenhuma escolarida<strong>de</strong>); e Arruda (2006) tem seu estudo <strong>de</strong>senvolvido cominformantes com formação superior, uma vez que estrutura seu corpus apartir <strong>de</strong> inquéritos do projeto NURC (Norma Urbana Culta), modalida<strong>de</strong>DID (Diálogo entre informante e documentador), das cinco capitais por elecompreendidas.¨NÃO É QUE EU NÃO APROVE.¨Tatiana Schwochow Pimpão (UFSC)A regra variável, um dos pilares da teoria sociolingüística laboviana, precisaser eventualmente revisitada, especialmente com a extensão dos estudos290


sociolingüísticos para a análise <strong>de</strong> fenômenos sintáticos e discursivopragmáticos.Nesses casos, apresentam-se ao pesquisador duaspossibilida<strong>de</strong>s: restrição da noção <strong>de</strong> mesmo valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> contexto,sob pena <strong>de</strong> exclusão <strong>de</strong> alguns dados, ou expansão da noção <strong>de</strong> mesmovalor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> contexto, o que permite abarcar a totalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dados.Essa segunda opção foi escolhida por mim para o tratamento da variaçãoentre o presente do modo subjuntivo (PS) e o presente do modo indicativo(PI). Em Pimpão (1999), propus <strong>de</strong>svincular modo verbal <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>,tratando modo como uma categoria morfológica e modalida<strong>de</strong> como umacategoria discursivo-pragmática, ou seja, uma proprieda<strong>de</strong> da interaçãocomunicativa e não da flexão verbal. Nesse estudo, consi<strong>de</strong>rei o traço <strong>de</strong>incerteza como sendo o ¨mesmo contexto¨ para ocorrência do PS e do PI.Entretanto, dados reais <strong>de</strong> fala, como o apresentado no título, que cancelaminferência pragmática, levaram-me a reconsi<strong>de</strong>rar a noção <strong>de</strong> regra variável,que prevê duas variantes sendo utilizadas no mesmo contexto e com omesmo valor <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>. Mantendo o traço <strong>de</strong> incerteza como mesmocontexto, eliminaria esses dados que, embora não sejam numerosos,mostram uma nítida variação entre PS e PI. Assim, a proposta <strong>de</strong>sse trabalhoé alargar a noção <strong>de</strong> regra variável, <strong>de</strong> modo a contemplar todos os casos emque as variantes em análise aparecem. Para tanto, o embasamento teóricocentra-se essencialmente em Labov (1972), em Weiner & Labov (1977), noestudo so<strong>br</strong>e a passiva sem agente, que suscitou o <strong>de</strong>bate entre Lavan<strong>de</strong>ra(1977) e Labov (1978) acerca da valida<strong>de</strong> da regra variável no estudo <strong>de</strong>fenômenos não-fonológicos e da natureza social dos fenômenos lingüísticos.Para constituição da amostra, utilizo entrevistas <strong>de</strong> Florianópolis,armazenadas no Banco <strong>de</strong> Dados do Projeto VARSUL (Variação LingüísticaUrbana da Região Sul do País), totalizando 319 ocorrências da variável.A CONCORDÂNCIA VERBAL DE P6 EM PELOTAS E SUARELAÇÃO COM A DIMENSÃO ‘CLASSE SOCIAL’Luís Centeno do AMARAL (UFPel)Giane Rodrigues dos SANTOS (UPF)Aos muitos estudos <strong>de</strong> concordância verbal no Brasil, soma-se este, quepreten<strong>de</strong> analisar os processos variáveis na aplicação da regra <strong>de</strong>concordância, contrastando formas marcadas (padrão ou não-padrão) comnão-marcadas. Para tanto, adotamos a abordagem da Teoria da VariaçãoLaboviana, pois essa perspectiva teórica procura <strong>de</strong>preen<strong>de</strong>r as relaçõesentre o uso lingüístico e o contexto social. ‘Classe Social’ esteve <strong>de</strong>ntre asvariáveis selecionadas. A interação <strong>de</strong> Classe Social com gênero conduz àinterpretação <strong>de</strong> que homens <strong>de</strong> classe social baixa produzem meta<strong>de</strong> daconcordância produzida pelas mulheres <strong>de</strong> sua classe e um terço daproduzida por homens <strong>de</strong> classe média alta. Demonstra também, a análise,que as taxas <strong>de</strong> aplicação das marcas <strong>de</strong> concordância estão estáveis nosúltimos cinqüenta anos na classe baixa. De modo análogo, a relação entreconcordância padrão e não-padrão na comunida<strong>de</strong> favorece ligeiramente os291


usos mais próximos do padrão. Entretanto, a classe média-alta utilizapreferencialmente concordância padrão, enquanto que a classe baixa utilizamaiormente concordância não-padrão, ainda que, nas últimas cinco décadas,a taxa <strong>de</strong> concordância padrão nesta classe tenha passado <strong>de</strong> doze paracinqüenta e sete por cento.OCORRÊNCIAS DE MODO SUBJUNTIVO NAS ENTREVISTAS DOVARSUL NO PARANÁ E AS POSSIBILIDADES DE VARIAÇÃOCOM O MODO INDICATIVOEdson Domingos Fagun<strong>de</strong>s (UTFPR)Nesta comunicação apresentamos os resultados obtidos ediscutidos na pesquisa <strong>de</strong> doutorado <strong>de</strong> FAGUNDES (2007). Nela é tratadaa <strong>de</strong>scrição das ocorrências <strong>de</strong> modo subjuntivo, bem como se discorre arespeito das possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alternância entre as formas verbais doindicativo e do subjuntivo nas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Curitiba, Irati, Londrina e PatoBranco, pertencentes ao banco <strong>de</strong> dados do Projeto VARSUL no estadoParaná. A <strong>de</strong>scrição dos dados é feita consi<strong>de</strong>rando como variável<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte o modo verbal, já para o entendimento do fenômeno <strong>de</strong>alternância entre os modos verbais foram trabalhadas as seguintes variáveislingüísticas: tipo <strong>de</strong> oração, tempo verbal da oração principal, tempo verbalda ocorrência (na oração subordinada ou na in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte) e modalida<strong>de</strong>.Desse conjunto <strong>de</strong> fatores, o programa estatístico Var<strong>br</strong>ul selecionou comogrupos <strong>de</strong> fatores estatisticamente relevantes tipo <strong>de</strong> oração e modalida<strong>de</strong>,indicando que as orações subordinadas substantivas e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e amodalida<strong>de</strong> conduta e <strong>de</strong>sejo favorecem as ocorrências <strong>de</strong> modo subjuntivo.A pesquisa analisa ainda as variáveis extralingüísticas: cida<strong>de</strong>, faixa etária,grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e sexo do informante. Nesse caso, somente adistribuição dos dados por cida<strong>de</strong> se mostrou relevante do ponto <strong>de</strong> vistaestatístico. As ocorrências <strong>de</strong> modo indicativo têm maior probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ocorrência em Curitiba e as <strong>de</strong> modo subjuntivo em Irati.UM ESTUDO DIACRÔNICO DESCRITIVO SOBRE AS FORMASDE FUTURIDADEAdriana Gibbon (FURG)Este trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>screver quantitativamente as formas <strong>de</strong>expressão do tempo futuro na língua escrita através da coleta e análise <strong>de</strong>dados <strong>de</strong> peças teatrais que totalizam <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios do século XIX atéo início do século XX. A escolha do corpus se dá pela tentativa <strong>de</strong>aproximar ao máximo a língua escrita da falada, uma vez que as peçasteatrais contêm muito diálogo e que, em <strong>de</strong>terminados autores, há umapreocupação em retratar a fala vigente do seu tempo. Esta pesquisa temcomo pressuposto teórico a sociolingüística diacrônica. Há três formasprodutivas principais encontradas no corpus: o presente do indicativo, aforma perifrástica (IR + Infinitivo) e o futuro do presente. Além <strong>de</strong>ssas,292


encontramos outras formas que, em <strong>de</strong>terminados períodos, revelaram-seprodutivas, tais como: perífrase haver + infinitivo, futuro perifrástico, futuroperifrástico com gerúndio, perífrase estar (futuro) + particípio e perífraseestar (futuro) + gerúndio. A distribuição das formas ao longo dos períodospermite-nos avaliar a entrada da forma perifrástica (IR + Infinitivo) nalíngua e o <strong>de</strong>saparecimento do futuro do presente nesse tipo <strong>de</strong> texto.O COMPLEXO COMPORTAMENTO DA ORDEM DOS CLÍTICOSEM COMPLEXOS VERBAISSilvia Rodrigues Vieira (UFRJ)Perseguindo o principal objetivo <strong>de</strong> apresentar a norma <strong>de</strong> uso relativa àor<strong>de</strong>m dos pronomes átono em complexos verbais, o presente trabalho, quetem por referência os parâmetros <strong>de</strong> cliticização propostos por Klavans(1986), consi<strong>de</strong>ra a modalida<strong>de</strong> escrita da Língua Portuguesa em gênerostextuais do domínio jornalístico da varieda<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira (PB).Analisam-se dados extraídos <strong>de</strong> textos jornalísticos do fim do século XX,disponibilizados pelo Projeto VARPORT – Análise Contrastiva <strong>de</strong>Varieda<strong>de</strong>s do Português, além <strong>de</strong> textos coletados especialmente para o<strong>de</strong>senvolvimento da presente pesquisa. O “corpus” utilizado contempla osgêneros textuais anúncios, editoriais e notícias. A pesquisa baseia-se noarcabouço teórico-metodológico da Teoria da Variação Laboviana e noinstrumental básico para análise oferecido pelo pacote <strong>de</strong> programasGOLDVARB. Tais programas são utilizados no tratamento estatístico dosdados, cujos índices fornecem subsídios para a interpretação dos resultados.A análise dos dados permitiu observar que a cliticização pronominal seapresenta <strong>de</strong> forma diferenciada em função do contexto morfossintático emque se insere o clítico: em início absoluto <strong>de</strong> oração ou nos <strong>de</strong>maiscontextos. Além disso, os resultados preliminares da investigação sugeremque a regra <strong>de</strong> colocação pronominal parece estar condicionadafundamentalmente às seguintes variáveis lingüísticas: a presença <strong>de</strong>elemento proclisador, a forma do verbo principal e o tipo <strong>de</strong> clítico. Esperaseque o presente trabalho – que <strong>de</strong>termina o condicionamento lingüístico eextralingüístico das estruturas sob análise – colabore para a ampliação dasinformações referentes à or<strong>de</strong>m dos clíticos pronominais na LínguaPortuguesa, consi<strong>de</strong>rando especialmente a “complexida<strong>de</strong> dos complexosverbais”, contextos pouco estudados no que se refere ao tema pesquisado.O SISTEMA DE COLOCAÇÃO PRONOMINAL DA COMUNIDADEDE PORTO ALEGREMárcia Silva <strong>de</strong> Castro (PUCRS)Este trabalho tem como principal objetivo colaborar com as investigaçõesvariacionistas, <strong>de</strong> acordo com Pagotto (1998), Faraco (2002), Camacho(1985), Mattos e Silva (2002) etc., que buscam re<strong>de</strong>finir o conceito <strong>de</strong>norma-padrão a fim <strong>de</strong> contribuírem para a melhoria do ensino <strong>de</strong> nosso293


vernáculo. Preten<strong>de</strong>-se especificamente apresentar a distribuição sincrônicado sistema <strong>de</strong> colocação pronominal usado na fala e em textos escritos dacomunida<strong>de</strong> porto-alegrense. A questão que será levada em conta é se existeuma uniformida<strong>de</strong> no sistema <strong>de</strong> colocação dos pronomes, ou seja,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso da língua (tanto oral como escrita) hápredominância <strong>de</strong> próclise, mesmo em contextos on<strong>de</strong> a norma-padrãoestipula como ênclise. Para tanto, primeiramente será apresentadoresultados <strong>de</strong> Castro (2002) a cerca da análise <strong>de</strong> um corpus <strong>de</strong> fala dosmoradores <strong>de</strong> Porto Alegre, registrado no banco <strong>de</strong> dados do VARSUL. Essapesquisa teve como suposição inicial que o dialeto dos porto-alegrenses eramais conservador do que os <strong>de</strong>mais estados <strong>br</strong>asileiros quanto à colocação eao uso dos pronomes. Na análise das entrevistas, foram observados fatoreslingüísticos (como, por exemplo, a or<strong>de</strong>m do pronome em sentenças comverbos simples e em sentenças com grupos verbais) e fatoresextralingüísticos (escolarida<strong>de</strong> e faixa etária) consi<strong>de</strong>rados relevantes pelaliteratura estudada e chegou-se à conclusão <strong>de</strong> que o sistema pronominal<strong>de</strong>sse dialeto representa basicamente o mesmo estágio <strong>de</strong> mudança das<strong>de</strong>mais varieda<strong>de</strong>s do português <strong>br</strong>asileiro conforme atestado em estudosparamétricos <strong>de</strong> Pagotto,1992, 1993; Cyrino, 1993, 2000; Nunes, 1991; entreoutros. Quanto à modalida<strong>de</strong> escrita, preten<strong>de</strong>-se apresentar um estudo aindaem andamento. Trata-se <strong>de</strong> uma mostra <strong>de</strong> dados retirados <strong>de</strong> quatroprincipais jornais <strong>de</strong> Porto Alegre (Zero Hora, Correio do Povo, O Sul eDiário Gaúcho) publicados no período <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> novem<strong>br</strong>o a 03 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o<strong>de</strong> 2004. Soma-se um total <strong>de</strong> 28 periódicos e aproximadamente 1000 dados<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> clíticos pronominais distribuídos em textos pertencentes àscolunas policial, geral, política, econômica e esportiva. O que se preten<strong>de</strong>aqui é observar a tendência <strong>de</strong> colocação pronominal da cultura escrita, ouseja, até que ponto há aproximação com as regras da norma-padrão ou háutilização <strong>de</strong> regras próxima aos da fala conforme já verificado em corpus<strong>de</strong> fala.EVIDÊNCIAS DA REANÁLISE DA POSIÇÃO DO TÓPICO NOPORTUGUÊS EUROPEU DOS SÉCULOS XVIII E XIXEdivalda Alves Araujo (UNEB, Santo Antonio <strong>de</strong> Jesus)Temos como objetivos neste trabalho (i) avaliar a proposta <strong>de</strong> Raposo eUriagereka (2004) em relação às construções <strong>de</strong> tópico (do tipo CLLD eTópico Pen<strong>de</strong>nte) e a posição do clítico, com dados do português europeudos séculos XVIII e XIX constantes no Projeto Tycho Brahe(http://www.ime.usp.<strong>br</strong>/~tycho/corpus); e (ii) apresentar uma perspectiva <strong>de</strong>análise sintática para as construções em que se observa próclise com tópico.Os dados dos séculos XVIII e XIX parecem indicar que, na gramática doportuguês <strong>de</strong>sse período, a posição sintática que o tópico ocupava lhepermitia licenciar tanto a ênclise quanto a próclise. Embora a prócliseapareça em menor escala com as construções <strong>de</strong> tópico nesse período, é elaque nos interessa porque acreditamos que é a partir <strong>de</strong> sua existência que se294


evi<strong>de</strong>ncia uma reanálise da posição sintática do tópico. Na verda<strong>de</strong>, apossibilida<strong>de</strong> das construções <strong>de</strong> tópico com próclise remonta ao período doséculo XVI, quando se verifica próclise generalizada, como foi observadopor Ribeiro (1995), em construções do tipo Topicalização V2. Nos séculosXVIII e XIX, entretanto, apesar <strong>de</strong> haver uma maior tendência para a ênclisecom as construções <strong>de</strong> tópico, a próclise também é encontrada nesse tipo <strong>de</strong>construção, talvez como resquício da gramática do século XVI. Os dados <strong>de</strong>pesquisas realizadas so<strong>br</strong>e esse assunto parecem indicar que entre os séculosXVII e XIX ocorreram mudanças sintáticas que restringiram a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> a posição sintática do tópico licenciar a próclise e que <strong>de</strong>rivaram oportuguês europeu mo<strong>de</strong>rno, em que as construções <strong>de</strong> tópico licenciamsomente ênclise (cf. GALVES, 2001). Nesse trabalho, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos que aposição sintática do tópico sofreu reanálise nos séculos XVIII e XIX a partirda gramática do século XVI, <strong>de</strong>rivando a gramática do português mo<strong>de</strong>rno,em que não lhe é permitido licenciar a próclise.FORMATAÇÃO DE UMA IDENTIDADE LINGÜÍSTICA GOIANA?Shirley Eliany Rocha Mattos (UnB)Apresenta-se, em corpus <strong>de</strong> falantes goianos, composto por homens emulheres com nível mínimo <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 11 anos <strong>de</strong> estudo (EnsinoBásico completo), uma análise variacionista laboviana com indicações dapredominância do pronome “nós” so<strong>br</strong>e o “a gente” na fala informal e <strong>de</strong>uma tendência <strong>de</strong> variação no registro verbal, ora no singular, ora no plural.O trabalho dialoga com os resultados apresentados em Zilles (2005), Naro,Gorski e Fernan<strong>de</strong>s (1999) e Muniz (2007); e propõe a hipótese <strong>de</strong> que estejaem curso a formatação <strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> lingüística <strong>de</strong> Goiás, estadoreconhecido por um amplo cultivo <strong>de</strong> suas tradições rurais, pelo recurso <strong>de</strong>abolir, na informalida<strong>de</strong>, o estigma contra o uso da forma verbal na terceirapessoa do singular com o pronome nós.A VARIÁVEL “INFORMANTES” E A ALTERNÂNCIA TU/VOCÊNO SUL DO BRASILLoremi LOREGIAN-PENKAL (UNICENTRO, Campus <strong>de</strong> Irati)Em artigo publicado por MENON e LOREGIAN-PENKAL (2002),analisou-se o comportamento da variação no indivíduo e na comunida<strong>de</strong>,tendo como foco <strong>de</strong> análise o uso <strong>de</strong> tu/você no Sul do Brasil. Como oobjetivo, à época, era <strong>de</strong>screver e analisar a variação no uso <strong>de</strong> taispronomes, foram eliminados da análise os informantes categóricos (os <strong>de</strong> sótu e os <strong>de</strong> só você), por se acreditar que os indivíduos que têm ambos ospronomes são o elo na ca<strong>de</strong>ia da mudança: no processo <strong>de</strong> transmissãolingüística, eles seriam os possuidores <strong>de</strong> uma gramática que disponibilizariaà geração seguinte a escolha/alternância entre os dois pronomes. Dessaforma, constatou-se que na amostra analisada (que compreendia as 03capitais do Sul e 03 cida<strong>de</strong>s do interior <strong>de</strong> Santa Catarina; do banco <strong>de</strong> dados295


VARSUL) havia a seguinte distribuição: 14 informantes categóricos emPorto Alegre; 13 em Florianópolis; 01 em Lages; 02 em Blumenau e 06 emChapecó, totalizando 36 informantes categóricos no uso <strong>de</strong> só tu, <strong>de</strong> umuniverso <strong>de</strong> 24 informantes <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong>. Assim, preten<strong>de</strong>-se, nesta análise,retomar a variável “informantes” para verificar se há in<strong>de</strong>terminação ediscurso relatado nos informantes categóricos: aqueles que só usaram tu aolongo da entrevista. É nosso intento, com isso, (re)discutir a importância dotraço + genérico e os contextos mais vulneráveis <strong>de</strong> entrada do você nosistema dos falantes que têm tu.MARCADORES DISCURSIVOS INTERACIONAIS: ANÁLISECONTRASTIVA ENTRE DUAS VARIEDADES DO PORTUGUÊSFALADO NO BRASILRaquel Meister Ko. Freitag (UFS)Este trabalho insere-se na discussão do primeiro aspecto proposto para o GTVariação e mudança em morfossintaxe: em que medida o português do suldo país se difere das <strong>de</strong>mais varieda<strong>de</strong>s do português do Brasil? Acomparação entre resultados obtidos para fenômenos variáveis é um métodoanalítico que permite gran<strong>de</strong>s avanços teóricos para a pesquisa lingüística,uma vez que transcen<strong>de</strong>r os limites <strong>de</strong> uma única varieda<strong>de</strong> lingüísticapossibilita o estabelecimento, refinamento e fortalecimento <strong>de</strong>generalizações e princípios <strong>de</strong> variação e mudança universais. Assim, sãoapresentados resultados do projeto “Procedimentos discursivos na fala <strong>de</strong>Itabaiana/SE” (Edital Universal 03/2007 FAPITEC/FAP-SE), o qual sepropõe a analisar estratégias gramaticalizadas <strong>de</strong> interação, seqüenciação emodalização em banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> fala constituído nos mol<strong>de</strong>s dasociolingüística variacionista. Especificamente, são apresentados resultadosacerca do uso e funcionamento <strong>de</strong> marcadores discursivos interacionais(requisitos <strong>de</strong> apoio discursivo) característicos da fala <strong>de</strong> Itabaiana/SE, osquais são comparados com resultados relativos à fala <strong>de</strong> Florianópolis/SC,com dados coletados do banco VARSUL, tendo em vista uma análisecontrastiva entre as varieda<strong>de</strong>s do português falado no Brasil. Em termos <strong>de</strong>diversida<strong>de</strong> formal, a fala <strong>de</strong> Itabaiana/SE não difere da <strong>de</strong> Florianópolis/SE,sendo encontrados basicamente os mesmos itens já <strong>de</strong>scritos por Valle(2001), Freitag (1999), à exceção <strong>de</strong> não tem?, presente em Florianópolis/SCe fortemente relacionado à <strong>de</strong>scendência açoriana (VALLE, 2001; GORSKI;FREITAG, 2006). O comportamento do marcador viu? na fala <strong>de</strong>Itabaiana/SE também merece <strong>de</strong>staque, uma vez que a forma funciona comotanto como requisito <strong>de</strong> apoio discursivo, como questão tag, em situaçõestais como “E: agora vou lhe fazer algumas perguntas, viu? F: viu.”. Osresultados encontrados em Itabaiana/SE também apontam uma correlaçãoentre formas e grupos sociais, influenciados pelos fatores sexo e faixa etária,a exemplo do que ocorre na fala <strong>de</strong> Florianópolis/SE (GORSKI; FREITAG,2006).296


O PROBLEMA DA ‘AVALIAÇÃO’ PROPOSTO POR WEINREICH,LABOV E HERZOG NA SOCIOLINGÜÍSTICACarlos Eduardo <strong>de</strong> Oliveira Lara (PGLg-UFSC)Esta pesquisa objetiva investigar como alguns dos principais trabalhos <strong>de</strong>sociolingüística inserem o problema da ‘Avaliação’ e como esse problemaaparece nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A Avaliação dasVariáveis Lingüísticas (postas por WHL, 1968) trata do reconhecimento daheterogeneida<strong>de</strong> estrutural pelos falantes e da hierarquização das variáveisconcorrentes, ou seja, do contínuo prestígio-estigma, em <strong>de</strong>terminadacomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala. Hoje em dia, nota-se que muitos professores <strong>de</strong> línguaportuguesa (LP) estão perdidos em meio à guerra das pesquisas recém saídasdas universida<strong>de</strong>s e à tradição do ensino <strong>de</strong> línguas. Assim,concomitantemente, há críticas à falta <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong> dos alunos em produzirtextos em situações que exijam maior monitoração e há críticas à tradiçãogramatical <strong>de</strong> ensino, já que nas salas <strong>de</strong> aula “...certas inconsistências dagramática, são, freqüentemente, trazidas à tona, e cresce o incentivo aatitu<strong>de</strong>s não-preconceituosas, em relação ao uso das normas não-padrão.”(ANTUNES, 2004). O que se espera discutir é: (i) se o ensino <strong>de</strong> LP <strong>de</strong>ve ounão concentrar sua atenção às normas prestigiadas, com o intuito <strong>de</strong> habilitaros alunos à produção <strong>de</strong> textos em situações <strong>de</strong> maior relevância; e (ii) qualé o espaço que a norma culta <strong>de</strong>ve ocupar para que se dê esse processo. Emsuma, procura-se ver como os PCNs, a o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> Bortoni-Ricardo – Educaçãoem Língua Materna: a Sociolingüística na sala <strong>de</strong> aula - e a o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> MarcosBagno – Nada na Língua é por Acaso – Por uma Pedagogia da VariaçãoLingüística concebem essas discussões, se baseando nas questões avaliativaspropostas por WHL. Além disso, estima-se verificar qual é o foco que anorma culta recebe nessas o<strong>br</strong>as e se há questões relacionadas ao valor socialdas formas em variação.QUANDO ELES NÃO TEM ANTECEDENTE MAS TEMCONCORDÂNCIA VERBALO<strong>de</strong>te Pereira da Silva Menon (UFPR)Fernanda Rosário <strong>de</strong> Mello (UFPB /UFPR)Ao examinar vários trabalhos concernentes à concordância verbal <strong>de</strong> terceirapessoa do plural, comecei a me indagar so<strong>br</strong>e a natureza dos dados nelesapresentados e os resultados previstos e/ou obtidos. Pareceu-me, face aosresultados so<strong>br</strong>e dois dos recursos <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação — ÆV3PP (verbo na3.ª pessoal do plural sem sujeito) e eles — no córpus do NURC <strong>de</strong> São Paulo(MENON, 2004), que po<strong>de</strong>ria haver uma diferença na aplicação da regra <strong>de</strong>concordância se dado fosse <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong>terminado, ou <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminado.Como a variante <strong>de</strong> in<strong>de</strong>terminação eles se mostrou mais produtiva noNURC/SP que a tradicionalmente consi<strong>de</strong>rada protótipo da in<strong>de</strong>terminação,ÆV3PP, aventei a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a regra <strong>de</strong> preenchimento do sujeitojá estaria implementada na in<strong>de</strong>terminação, pois esse eles não tinha referente297


localizável no texto (em alguns casos retrocedi a <strong>de</strong>z turnos <strong>de</strong> fala, nasentrevistas do NURC, para tirar a cisma). Se isso se revelasse verda<strong>de</strong>iro,estaríamos frente a dois tipos <strong>de</strong> abordagem quando tratássemos daconcordância verbal da terceira pessoa do plural (doravante CV3P):(i)no caso da in<strong>de</strong>terminação do sujeito, o verbo permaneceriano plural e a primeira regra aplicável seria a do preenchimento do sujeito, oque “seguraria” a CV;(ii) nos <strong>de</strong>mais casos, <strong>de</strong> sujeito <strong>de</strong>terminado (eles anafórico e<strong>de</strong>mais pronomes e SNs) se aplicaria a regra variável geral <strong>de</strong> concordânciaverbal.A partir <strong>de</strong>ssa premissa, pretendo testar vários córpus <strong>de</strong> dialetos do PB, emespecial do VARSUL (região sul) e do VALPB (Paraíba), este com acolaboração da co-autora, para verificar se há diferenças na CV3P<strong>de</strong>terminada e in<strong>de</strong>terminada, a fim <strong>de</strong> refinar os resultados já obtidos etentar balizar uma escala <strong>de</strong> aplicabilida<strong>de</strong> das regras gramaticais, em termos<strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s.GT21 Subjetivida<strong>de</strong> na voz e na escritaCoor<strong>de</strong>nadoresPedro <strong>de</strong> Souza (UFSC)Sandro Braga (UNISUL)DO CORPO À PALAVRA: O EFEITO SUJEITOAracy Ernst Pereira (UCPEL)No trabalho, ora proposto, busco verificar a interferência da direção <strong>de</strong>sentidos, engendrada historicamente, em produções nas quais o sujeito ésolicitado a falar <strong>de</strong> si, auto<strong>de</strong>signando-se em função da cor da pele, comvistas ao reconhecimento <strong>de</strong> mecanismos discursivos constituídos a partir doimaginário so<strong>br</strong>e raça. Ao falar <strong>de</strong> si, como se categoriza o sujeito frente aseu corpo? De que forma essa categorização é afetada pelas injunçõeshistóricas? Como esse processo se materializa discursivamente? Em síntese,como se estrutura e mo<strong>de</strong>la o discurso <strong>de</strong> si quando o sujeito é instado apensar e falar sua cor? A essas questões procurarei fornecer algumasrespostas, partindo da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> alguns aspectos do que entendo porauto<strong>de</strong>signação enquanto um tipo singular <strong>de</strong> relação entre sujeito que fala esujeito/objeto falado. As referências <strong>de</strong>ste trabalho, localizadas no domínioda Análise <strong>de</strong> Discurso, colocam a escrita <strong>de</strong> si na or<strong>de</strong>m do discurso,articulando-a com a subjetivida<strong>de</strong>, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a memória. Proponhoconsi<strong>de</strong>rar a or<strong>de</strong>m do discurso nesse campo como uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>existência <strong>de</strong> uma memória histórica, cujos traços atravessam discursos,atuando nos efeitos imaginários dos processos i<strong>de</strong>ntificatórios do sujeito.Para respon<strong>de</strong>r às questões propostas, parto da hipótese, cuja premissa dizrespeito ao fato <strong>de</strong> todo discurso, sendo <strong>de</strong>rivado das condições <strong>de</strong> produção,construir um efeito-sujeito, <strong>de</strong> que essa construção é necessariamente pelo298


Outro, enquanto objeto <strong>de</strong> <strong>de</strong>manda, em sua dupla dimensão: lugar dosimbólico e do semelhante, pólo da relação imaginária.MENTIRA E PROSÓDIA: MARCAS DA SUBJETIVIDADEClóris Maria Freire Dorow (UCPEL, CEFETRS)Mentir ou dizer a verda<strong>de</strong>? Eis a questão! Parodiando Shakespeare, diria queesta também é uma das questões fundamentais que permeia a vida dahumanida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o homem começou a utilizar o pensamento pararesolver suas questões culturais e sociais. Para Nietzsche, a verda<strong>de</strong> é umamentira construída para tornar mais estável e racional a vida do homem,aliando o que é verda<strong>de</strong>iro com aquilo que po<strong>de</strong> ser mostrado, conceituado.Segundo ele, buscar um princípio no que é racional não traz ao homemnenhum prazer, por isso, inconscientemente, o homem mente e através <strong>de</strong>sseesquecimento ele encontra o sentimento da verda<strong>de</strong>, usando a abstração enão a razão. O homem liga a “verda<strong>de</strong>” a conceitos, a concretu<strong>de</strong>,esquecendo <strong>de</strong> perceber a metáfora, a representação que ele mesmo crioupara as coisas e que po<strong>de</strong> refletir vários significados e não apenas umsignificado, o que tolhe o “real”, que só é <strong>de</strong>scoberto se o homem retirar ovéu da razão, dos limites, que ele mesmo criou para tornar seu mundo maisestável, mais palpável, mais fácil <strong>de</strong> ser controlado. O que se preten<strong>de</strong>, pois,neste trabalho, que tem como base a Análise <strong>de</strong> Discurso francesa, éanalisar a mentira sob a ótica <strong>de</strong> filósofos, psicanalistas até chegar aoDiscurso <strong>de</strong> Direito, principalmente aquele que é colocado em prática emum tribunal do júri. E é no discurso jurídico que se preten<strong>de</strong> analisar marcasprosódicas que <strong>de</strong>notam a subjetivida<strong>de</strong> e direcionam para uma “outraverda<strong>de</strong>”.“OLHO MUITO TEMPO O CORPO DE UM POEMA”: AREFLEXÃO SOBRE A LINGUAGEM NO DISCURSO POÉTICO DEANA C.Janaina Cardoso Brum (UCPel)O discurso poético é visto constantemente como locus privilegiado <strong>de</strong>reflexão so<strong>br</strong>e a linguagem, não sendo poucos(as) os(as) poetas que colocama preocupação com os modos <strong>de</strong> significar como tema central <strong>de</strong> suas o<strong>br</strong>as.O trabalho com a linguagem neste espaço gera inquietações várias em tornodas relações entre a linguagem e os objetos do mundo. A correspondênciaentre palavra e coisa é freqüentemente questionada e, mais do que umainquietação so<strong>br</strong>e a representação através da linguagem no momento daescritura, torna-se o cerne do trabalho poético. A <strong>br</strong>asileira Ana CristinaCésar coloca-se como uma <strong>de</strong>ntre as(os) poetas que pensam essa relação <strong>de</strong>modo que a reflexão so<strong>br</strong>e a linguagem se torna muitas vezes o foco <strong>de</strong> seutrabalho artístico. Sua persistência em pensar a linguagem na sua relaçãocom o sujeito e, conseqüentemente, em sua opacida<strong>de</strong> constitutiva, mesmoque não esteja assim expressa em seus escritos, faz <strong>de</strong> sua o<strong>br</strong>a um lugar299


privilegiado para se pensar a metalinguagem/metapoesia. Na poesia <strong>de</strong> AnaC., essa reflexão so<strong>br</strong>e a linguagem <strong>de</strong>semboca, algumas vezes, em umatentativa <strong>de</strong> fundir corpo e palavra no discurso. A percepção <strong>de</strong> que alinguagem é falha ao significar leva a poeta a querer transformar a palavraem corpo. Nosso objetivo aqui é analisar os processos discursivos atravésdos quais a escrita <strong>de</strong> Ana C. reflete a incompletu<strong>de</strong> da linguagem. É precisotomar o discurso poético como lugar <strong>de</strong> reprodução/transformação dossentidos, que não existem por si mesmos, mas são <strong>de</strong>terminados pelai<strong>de</strong>ologia. Trabalhar o discurso poético significa trabalhar o discurso emsuas contradições, significa pensar so<strong>br</strong>e as condições <strong>de</strong> (re)produção etransformação da linguagem.A VOZ (RITMADA) QUE EMBALA O BERÇO DO EU-BEBÊLúcia Valquíria Souza Grigoletti (UCPEL)No presente trabalho a autora se propõe a estabelecer a influência do ritmoda palavra falada musicalizada – a prosódia, o mamanhês e <strong>de</strong>mais“músicas” que habitam o psiquismo do infans – no nascimento do Eu-bebê,sujeito da própria história. Para tal inicia uma caminhada do<strong>de</strong>senvolvimento rítmico <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a etapa intra-útero até o momento em que obebê, ser <strong>de</strong> interação e narração, se <strong>de</strong>nomina EU. Ao <strong>de</strong>nominar-se Eunuma linguagem falada, o bebê inaugura, no psiquismo sua subjetivida<strong>de</strong>.Até chegar a esse momento, uma caminhada sonora, audiofônica, seestabeleceu entre a día<strong>de</strong>. Mais do que um diálogo, a mãe estabelece ummonólogo, com seu bebê. Utilizando-se <strong>de</strong> sua competência rítmica ele<strong>de</strong>codifica o enunciado presente na prosódia <strong>de</strong> sua maestrina! Enten<strong>de</strong>ndo oindivíduo por natureza, um ser <strong>de</strong> interação e, portanto, <strong>de</strong> enunciação, nadía<strong>de</strong> mãe e bebê muitas vozes se entrecruzam em um instante histórico –subjetivo e sociocultural. Os bebês nascem entre palavras! Palavras que os<strong>de</strong>nominam, ignoram, acolhem ou excluem, acariciam ou maltratam. Mastodas elas acompanhadas <strong>de</strong> sua musicalida<strong>de</strong>. Cada sujeito nasce embaladopor um ritmo! Por parte da mãe, ela trás marcado em sua pautatransgeracional, a presença do alocutário, o Eu-bebê, capaz <strong>de</strong> transformaros sons isolados, que po<strong>de</strong>riam ser apenas barulhos, em melodia. Este fluxoenunciativo se <strong>org</strong>aniza pautado em um ritmo, e que constitui a flutuação dosujeito e, por conseqüência, lhe dá sentido. Sentido e subjetivida<strong>de</strong> se coconstroemno ritmo da linguagem. O ritmo lingüístico consiste na<strong>org</strong>anização <strong>de</strong> um fenômeno específico (a linguagem), <strong>de</strong>senvolvida emfluxo continuo (o discurso). É também a estruturação em sistema do queainda não é sistema. Caracteriza-se por uma proprieda<strong>de</strong> antitética: acontinuida<strong>de</strong>/<strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> e esta subjaz à <strong>org</strong>anização (disposição,configuração) <strong>de</strong> qualquer ativida<strong>de</strong> lingüística (discurso). Portanto, para aautora, o ritmo é visto, simultaneamente, como sistema e como discurso. Éno intervalo rítmico: <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>/continuida<strong>de</strong>, tanto do próprioenunciado materno, quanto do movimento dialógico da día<strong>de</strong>, que seapresenta o silêncio, primeiro distanciamento a marcar a separação-300


diferenciação entre mãe e filho. Esse silêncio interior é a essência daalterida<strong>de</strong>. Ao prestar atenção à linguagem musical vinda da mãe, o bebê<strong>de</strong>scentraliza-se <strong>de</strong> si próprio. Ele sente, ao mesmo tempo, estaracompanhado pela sonorida<strong>de</strong> materna e entrar em contato com acompetência musical <strong>de</strong> seu gran<strong>de</strong> ouvido, co-construindo sua ritmicida<strong>de</strong>,sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se auto-regular, inaugurando assim, sua subjetivida<strong>de</strong>.Esse ritmo, sempre o acompanhará. Basta, no silêncio <strong>de</strong> seu EU, tersensibilida<strong>de</strong> e competência sonora, não só disponível para escutar a própriamúsica, mas para estar exposto a ela. O entrecruzamento rítmico inter etransgeracional <strong>de</strong> vozes presentes, passadas e futuras do enunciado materno,<strong>de</strong>scortinam uma página <strong>de</strong> pautas musicais para o EU-bebê escrever suaprópria partitura. Dedicar algumas linhas ao ritmo da palavra musicalizada,numa etapa inicial do <strong>de</strong>senvolvimento do sujeito, tem a intenção <strong>de</strong>contribuir, num espaço <strong>de</strong> reflexão, na importância da língua materna,literalmente falando, no processo <strong>de</strong> distanciamento/separação <strong>de</strong> L1 e naconseqüente aproximação/aquisição <strong>de</strong> L2.HÁ UM LUGAR PARA A SUBJETIVIDADE?Mariana Aparecida <strong>de</strong> Oliveira Ribeiro (FeUSP/Fapesp)Essa pesquisa intitulada em um primeiro momento <strong>de</strong> Percursos e Percalços:da voz do Outro à singularida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ixava entrever em seu título algumaschaves <strong>de</strong> leitura do que acreditávamos ser essa investigação.Acompanharíamos um processo, para tanto o corpus escolhido foram trêsproduções <strong>de</strong> uma mesma informante, escritos em etapas diferentes <strong>de</strong> suaformação como pesquisadora: o relatório <strong>de</strong> Iniciação Científica, adissertação <strong>de</strong> mestrado e a tese <strong>de</strong> doutorado. Acompanhar um processosignificava visualizar a existência <strong>de</strong> duas etapas, a da pesquisadora <strong>de</strong> IC,que em seu primeiro contato com o texto acadêmico não consegue seposicionar subjetivamente e acaba por colar-se a voz do outro; e o queacreditávamos ser o momento final em que no doutorado encontraríamosuma posição subjetiva. Porém, os dados nos mostraram que essas etapas nãoeram tão nítidas, como suponhamos, e em uma análise dos dados nãoconseguimos verificar subjetivida<strong>de</strong> em um texto acadêmico. Por isso, o quepropomos para essa comunicação é verificar como a subjetivida<strong>de</strong> nãocomparece na escrita <strong>de</strong> um texto acadêmico, em que medida isso ocorre equais os recursos utilizados para não se posicionar subjetivamente. Nessesentido, retomaremos o conceito <strong>de</strong> discurso universitário (LACAN, 1968-1969) e algumas discussões a respeito da história da universida<strong>de</strong>.POLIFONIA E POLIRRITMIA VOCAL: A GLOSSOLALIA NACONSTITUIÇÃO SUBJETIVAMaurício Eugênio Maliska (UFSC)A glossolalia é comumente estudada num escopo cultural, fortementemarcada pelo cunho místico-religioso. Neste texto, tentaremos tomar a301


glossolalia não como um fenômeno <strong>de</strong> cunho religioso ou cultural, mascomo uma manifestação vocal, <strong>de</strong>monstrando a sua polifonia e polirritmiapresente em cada vocalização. Trata-se <strong>de</strong> entendê-la como um fenômenovocal constituinte da subjetivida<strong>de</strong>, na medida em que ela é umamanifestação da própria voz, enquanto articulação entre som e ritmo. Emoutras palavras, a voz é glossolálica; o sujeito, no seu balbucio vocal, emanauma enunciação sem enunciado, vocaliza na sua fala algo que não é discurso,algo que não está atrelado ao sentido e sim ao puro som e ritmo, elementosesses que são centrais na glossolalia da voz. A glossolalia é a que<strong>br</strong>a dosentido para a emergência da voz enquanto corpo, ou melhor, um pedaço <strong>de</strong>corpo que <strong>de</strong>le se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> para ganhar o não sentido do som. A apostafundamental é que a glossolalia é um fenômeno vocal que todo sujeitoexperimenta na constituição subjetiva e, ao mesmo tempo, sente essapolifonia e porritmia vocal em cada vocalise que se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua boca.AUTORIA NA PSICOSE: GESTOS DE INSCRIÇÃO E “ESCRIÇÃO”Patrícia Laubino Borba (UFRGS)Nosso trabalho tem como objetivo estudar dois textos <strong>de</strong> pacientespsicóticos institucionalizados e, mais especificamente, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>haver, nesses textos, efeito <strong>de</strong> autoria. Compreen<strong>de</strong>mos autoria a partir <strong>de</strong>dois gestos diferentes: 1. o da inscrição, ou seja, o assujeitamento à língua, ài<strong>de</strong>ologia, a submissão às coerções inerentes à materialida<strong>de</strong> escrita e ainserção social; 2. o da “escrição”, ou seja, o se escrever no texto, dar a elasingularida<strong>de</strong>, assumir uma posição no texto. Nosso estudo está embasadona corrente francesa da Análise do Discurso e se dividirá em três partes.Inicialmente, faremos uma reflexão teórica a respeito <strong>de</strong> comocompreen<strong>de</strong>mos as noções <strong>de</strong> inscrição e <strong>de</strong> “escrição”. Em seguida,tentaremos perceber se há esses gestos <strong>de</strong> inscrição e “escrição” em doistextos <strong>de</strong> diferentes pacientes psicóticos participantes <strong>de</strong> um grupoterapêutico <strong>de</strong>nominado “Atelier <strong>de</strong> Escrita” do Centro <strong>de</strong> AtençãoPsicossocial (CAPS) região Centro <strong>de</strong> Porto Alegre. Finalmente, veremoscomo as questões a respeito da autoria estariam relacionadas à prática clínicada psicose.DISCURSO E SUBJETIVIDADE: PROCESSOS DECONSTITUIÇÃO PELA VOZPedro <strong>de</strong> Souza (UFSC)Este trabalho preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar como a relação entre os indivíduos ecertos discursos comportam modos <strong>de</strong> subjetivação que não passam apenaspela palavra falada ou escrita. Assim vamos explorar a voz como um dosdispositivos fundamentais sem os quais não acontece o sujeito, conforme odiscurso <strong>de</strong> referencia consi<strong>de</strong>rado. O objeto <strong>de</strong> trabalho a que se aplica aproposta será a voz feminina no canto popular abordando a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>302


enunciação e o discurso que na e pela voz articula certasubjetivida<strong>de</strong>.forma <strong>de</strong>A PROSÓDIA COMO ÍNDICE DE SUBJETIVAÇÃO:PERFORMANCE E SINGULARIDADE NAS CANTORAS DERÁDIO.Pedro <strong>de</strong> Souza (UFSC)Amanda Cadore da Silva (UFSC)A pesquisa preten<strong>de</strong> analisar comparativamente, a partir do levantamento <strong>de</strong>traços <strong>de</strong> prosódia na palavra cantada, as diferenças e semelhanças entre avoz das cantoras do rádio nos anos 1950, com base no pressuposto <strong>de</strong> que ascantoras <strong>de</strong>tinham como referência e mo<strong>de</strong>lo suas antecessoras. Tomandocomo objeto <strong>de</strong> análise Dalva <strong>de</strong> Oliveira e Ângela Maria, esta fase dapesquisa preten<strong>de</strong> valer-se metodologicamente do recurso <strong>de</strong> gráficosproduzidos informaticamente a partir do software Praat, programa <strong>de</strong>análise acústica <strong>de</strong> voz. O objetivo é <strong>de</strong>screver traços prosódicos maismarcantes que permitam observar as influências que uma cantora exerceso<strong>br</strong>e outra, consi<strong>de</strong>rando o dado histórico <strong>de</strong> que Ângela Maria suce<strong>de</strong>Dalva <strong>de</strong> Oliveira, tomando <strong>de</strong>sta a coroa <strong>de</strong> rainha do rádio em 1954. Ascantoras <strong>de</strong> rádio compunham uma linhagem <strong>de</strong> cantantes que se <strong>de</strong>finia poruma proprieda<strong>de</strong> comum <strong>de</strong> interpretação vocal. O pressuposto histórico é<strong>de</strong> que, na era do rádio, uma cantora inicia-se no canto legitimando-se noapoio a um ídolo inspirador. Mas o <strong>de</strong>safio maior para vir a ser uma gran<strong>de</strong>estrela era a estreante mostrar a que veio, construindo um jeito próprio <strong>de</strong>cantar. Neste aspecto é que buscamos realizar uma análise acústica da voz.Precisamente queremos usar um método analítico que auxilie a <strong>de</strong>monstrar omodo como uma cantora, no momento em que é tomada em uma marcantereferência àquela que lhe antece<strong>de</strong>, busca, em seu <strong>de</strong>sempenho vocal, aconstrução <strong>de</strong> suas características subjetivas.Para chegar às características que singularizam uma cantora e outra,proce<strong>de</strong>mos, no interior do repertório <strong>de</strong> cada uma, ao recorte das mesmascanções interpretadas e gravadas por ambas cantoras em análise.Em síntese, este trabalho objetiva analisar acusticamente a voz <strong>de</strong> duascantoras <strong>de</strong> rádio dos anos 50, especificamente as vozes <strong>de</strong> Dalva <strong>de</strong>Oliveira e Ângela Maria. Nesta fase do trabalho, estabelecemos umacomparação entre os traços significativos da voz <strong>de</strong> uma e <strong>de</strong> outra,<strong>de</strong>stacando marcas semelhantes e diferentes realizadas pelas duas cantoras,em uma mesma frase melódica. Delineia-se, assim, a subjetivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ambas.Para chegar a processo <strong>de</strong> diferenciação vocal na palavra cantada,recorremos ao levantamento <strong>de</strong> elementos prosódicos pertinentes (duração,pitch, entoação, ritmo, entre outros). Tais levantamentos po<strong>de</strong>m servisualizados através da leitura e interpretação <strong>de</strong> imagens gráficas fornecidaspelo software Praat. . Os dados obtidos pelo recurso servirão <strong>de</strong> base para<strong>de</strong>screver as características individuais e subjetivas das duas cantoras emfoco nesta pesquisa.303


ALGUMAS ANOTAÇÕES PARA LEITURA DE FRANZ KAFKA EJEAN TARDIEURenata Azevedo Requião (UFPEL)Este trabalho é resultado parcial do projeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> longa duração,intitulado Poéticas contemporâneas: produção <strong>de</strong> leitura, produção <strong>de</strong>escritura, produção <strong>de</strong> sentido. A riqueza e a complexida<strong>de</strong> do mundocontemporâneo, sua dinâmica, exigem do homem reapren<strong>de</strong>r a ler. Osavanços tecnológicos, os avanços científicos e os avanços dos saberes menosduros, aqueles produzidos nos diversos campos que tentam compreen<strong>de</strong>r ascoisas humanas, têm apontado para um certo modo, uma certa configuração,que, curiosamente se repetindo, é diverso em cada caso. A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>rmos/lermos as várias manifestações do mundo através <strong>de</strong> uma“dinâmica <strong>de</strong> re<strong>de</strong>” nos permite conhecer uma história associada a tal forma<strong>de</strong> <strong>org</strong>anização. Isto é, permite que nos liberemos do falocentrismologocêntrico a cuja hierarquia <strong>org</strong>anizacional nos habituamos, e que nosencaminhemos para reler “a história secreta do pensamento <strong>de</strong>scentralizado”.A proximida<strong>de</strong> entre dois procedimentos antevistos pelos gregos, poiesis etechné, é o ponto <strong>de</strong> partida para buscarmos relações entre a expressãopoética, e o fazer das técnicas e o das diferentes expressões humanas, nacontemporaneida<strong>de</strong>. As expressões poéticas, entendidas aqui comoproduções <strong>de</strong> escrituras prestes a serem submetidas a produções <strong>de</strong> leitura,compreen<strong>de</strong>m as manifestações estéticas em geral. O valor tanto daexpressão poética quanto da produção <strong>de</strong> sua leitura é dimensionável a partir<strong>de</strong> produções <strong>de</strong> sentido. Produções essas que resultam necessariamente daarticulação do discurso do leitor. Assim, são os procedimentos <strong>de</strong> leitura, osinterstícios do texto (essa “máquina produtora <strong>de</strong> sentidos”), a produção <strong>de</strong>leitura, os movimentos do leitor; questões como o prazer do texto, asafinida<strong>de</strong>s eletivas, e um certo movimento cognitivo que retoma osprincípios <strong>de</strong> Paulo Freire acrescentando a eles uma contraparte estética, queconstituem os princípios ativos <strong>de</strong>sta proposta. Talvez apontando em direçãopróxima à que os pensadores Gilles Deleuze e Felix Guattari propõemquando sugerem “uma certa semiótica perceptiva”. Os dois primeirosexercícios <strong>de</strong> leitura: das narrativas curtas <strong>de</strong> Franz Kafka e <strong>de</strong> algunspoemas em prosa <strong>de</strong> Jean Tardieu. Em ambos a expressão poética éautobiografia, ambos produzem um corpo poético para além, ou aquém, dosistema literário, ambos se expressam e exprimem textualmente. A discussão,se antiga, ainda provoca discursos. E neles se inclui o leitor. Com que tim<strong>br</strong>e<strong>de</strong> voz, com que corpo <strong>de</strong> leitora sou capaz <strong>de</strong> enunciar tais poetas?PALAVRAS E NÃO-PALAVRAS NA ENUNCIAÇÃO DO AFÁSICORenata Mancopes (UNIVALI)No campo das afasias, a céle<strong>br</strong>e discussão quanto à relação lesão-sintomanão contribuiu para tocar a problemática dos sujeitos que na clínica se304


apresentam. O corpo do afásico fala do quanto o <strong>org</strong>anismo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da falapara alçar a condição <strong>de</strong> sujeito. Além disso, diante das afasias, parecepertinente interrogar pela relação que o sujeito entretém com sua fala, já quedaí parece advir o mal estar do sujeito. Tal é a especificida<strong>de</strong> nas afasias: omal estar do sujeito em sua fala indicia necessariamente a relaçãosubjetivida<strong>de</strong> e linguagem.Pelo viés da articulação entre língua, fala e sujeitopropõe-se compreen<strong>de</strong>r o modo particular <strong>de</strong> funcionamento das expressõesditas como jargão nas afasias. Na literatura clássica so<strong>br</strong>e as afasias o jargãoé <strong>de</strong>scrito ora como o tipo <strong>de</strong> fala característico das lesões posteriores, oracomo sinônimo <strong>de</strong> neologismo recorrente. Os neologismos têm sido<strong>de</strong>finidos como produções que são usadas como palavras sem que pertençamao inventário daquela língua e as parafasias seriam substituições <strong>de</strong> palavrassemelhantes na forma ou significado. No entanto, quando se percorre aliteratura, vê-se que a <strong>de</strong>cisão so<strong>br</strong>e qual produção é um neologismo e qual éuma parafasia não é simples e os impasses gerados são apontados por muitosautores. Na análise do funcionamento do jargão na enunciação do afásico,realizada a partir da interlocução entre sujeitos afásicos e não afásicos emum grupo <strong>de</strong> atendimento, discute-se o jargão sob a ótica e funcionamentodo discurso. Observa-se que o modo como se constroem essas produçõesrevela aspectos particulares do funcionamento <strong>de</strong> linguagem e que oscritérios clássicos utilizados para classificá-las enco<strong>br</strong>em características<strong>de</strong>ste funcionamento na linguagem dos afásicos. Pensar no jargão como umaespécie <strong>de</strong> não-palavra, conforme propõem Robson et alii (2003), pareceinteressante porque metaforiza a condição <strong>de</strong> conversão da experiência, <strong>de</strong>um algo antes do discurso. O jargão po<strong>de</strong> funcionar como índice ( expressono corpo, pela emissão da voz) <strong>de</strong> uma língua pura que emerge num discursoem vias <strong>de</strong> se estabelecer.A ESCRITA DE SI: A PALAVRA QUE REVELA O CORPO EMANÚNCIOS DE JORNAISSandro Braga (UNISUL)A proposta é mostrar como através da prática <strong>de</strong> anunciar um corpo emclassificados <strong>de</strong> jornais já está implicado um modo <strong>de</strong> o sujeito produzir a si.Dito <strong>de</strong> outro modo, preten<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciar como sujeitos po<strong>de</strong>m inscreverseu corpo abandoando-os e <strong>de</strong>ixando-os representar-se somente através daforma material da escrita. Sob este ponto <strong>de</strong> vista, cabe investigar como osleitores (re)constroem, na trama da escritura, o corpo como (d)escrito. Nocaso específico <strong>de</strong>ste trabalho, preten<strong>de</strong>-se mostrar a ambigüida<strong>de</strong> do corpo<strong>de</strong> sujeitos travestis traduzida pela representação sígnica da palavra.O PASTOR NEOPENTECOSTAL: “A MATERIALIZAÇÃO DADIVINDADE”Wesley Knochenhauer Carvalho (UNISUL)305


Nossa comunicação visa à observação <strong>de</strong> elementos 'supra-humanos',transcen<strong>de</strong>ntais, nas modulações da voz, fala, termos-frase, gestos e êxtasesinerentes à imagem divina que um pastor neopentecostal po<strong>de</strong> fornecer a fim<strong>de</strong> alçar o fiel que se põe a divinizá-lo. Partimos da observação <strong>de</strong> um dosaspectos mais interessantes da humanida<strong>de</strong>, que toma o sujeito em umaposição <strong>de</strong> projeção a outros sujeitos e que po<strong>de</strong> ser observado na alucinadabusca por “ídolos”, ou “<strong>de</strong>uses” humanos, estes últimos homens divinizados.No que diz respeito a esses “<strong>de</strong>uses”, “guardiões da fé das massas”, surgemem inúmeros locais sacros: nas catedrais da fé, nos templos neo-pentecostais.No entanto projetam-se também para outros lugares <strong>de</strong> enunciação, taiscomo nas programações <strong>de</strong> TV, novelas, jornais, no círculo das cele<strong>br</strong>ida<strong>de</strong>s,nos campos <strong>de</strong> futebol e no cenário político. Inseridos no discurso religioso,esses lí<strong>de</strong>res espirituais são <strong>de</strong>signados ou <strong>de</strong>signam-se pastores, padres,bispos, missionários, apóstolos, entre outros tantos títulos. Nesse contexto,nossa análise preten<strong>de</strong> mostrar um <strong>de</strong>slocamento do lugar do discursoreligioso como estratégia para arrebanhar um número maior <strong>de</strong> fiéis.AMEAÇA FEMININA: O DISCURSO FEMININO EM QUESTÃOLuciana Portella Kohlrausch (UFSM)A escritura <strong>de</strong> um texto transparece traços <strong>de</strong> quem o escreve. Isso ocorretanto nas idéias apresentadas quanto nas escolhas lingüísticas feitas pelosujeito autor do texto. As idéias apresentadas através <strong>de</strong> diálogos - porexemplo, em romances - são uma maneira <strong>de</strong> caracterizar o autor da o<strong>br</strong>a. Asegunda maneira foi eleita para sustentar esse trabalho. A caracterização dodiscurso será analisada a partir das escolhas lingüísticas utilizadas pelo autor.Mais precisamente, através das metaenunciações presentes no texto, ou seja,através das voltas que o autor faz no discurso para explicar sua enunciação.A análise será <strong>de</strong> um texto da escritora Clarice Lispector. Essa análise seráfeita a partir da teoria das heterogeneida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Jacqueline Authier-Revuz. Anossa hipótese é que os textos <strong>de</strong> Clarice sejam textos que <strong>de</strong>sacomo<strong>de</strong>mqualquer sujeito, pois parece que o que Clarice faz, com suas personagens, é<strong>de</strong>nunciar uma angústia constitutiva dos sujeitos ditos neuróticos, ou seja,dos sujeitos barrados. E o intento é a<strong>br</strong>anger, através do discurso, o quererfeminino, <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> uma falta, que po<strong>de</strong> ser reinventado ao invés <strong>de</strong> tentarser preenchido. Para esse objetivo, a intenção é analisar e interpretar odiscurso feminino, buscando pontos da materialida<strong>de</strong> lingüística que dêemindícios <strong>de</strong> como fala uma mulher. Essas materialida<strong>de</strong>s Authier-Revuz<strong>de</strong>monstra em seus achados. Ela chama <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong> constitutiva suateoria <strong>de</strong> que a linguagem não é um todo fechado e a heterogeneida<strong>de</strong>mostrada são essas não-coincidências do dizer que apresentam algumasvoltas na enunciação com o objetivo <strong>de</strong> explicá-la, ou seja, durante aenunciação, o locutor retoma o que foi dito para modificá-lo. Para<strong>de</strong>senvolver o trabalho, serão utilizado conceitos tanto da lingüística comoda psicanálise – Lingüística da enunciação <strong>de</strong> Authier-Revuz e psicanálisefreudo-lacaniana.306


GT22 Aquisição fonológicaCoor<strong>de</strong>nadoresRegina Ritter Lamprecht (PUCRS)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)PROCESSOS MORFOLÓGICOS NA FALA INFANTIL: APERCEPÇÃO DA GRAMÁTICA DA LÍNGUA PELA CRIANÇAAline Lorandi (PUCRS)Regina Ritter Lamprecht (PUCRS)A presente pesquisa ocupa-se <strong>de</strong> fenômenos morfológicos encontrados nafala <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 2:0 a 5:0 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, em processo <strong>de</strong> aquisição dalinguagem, que evi<strong>de</strong>nciam o uso <strong>de</strong> recursos morfológicos do PortuguêsBrasileiro, os quais apontam para uma percepção das estruturas internas daspalavras. Este estudo parte da dissertação <strong>de</strong> mestrado intitulada “FormasMorfológicas Variantes: um estudo à luz da Teoria da Otimida<strong>de</strong>”. O estudo<strong>de</strong> processos morfológicos na fala infantil é motivado pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma explicação <strong>de</strong>sses fenômenos presentes na gramática infantil a partir <strong>de</strong>uma Teoria Lingüística, a Teoria da Otimida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scriçãomorfológica <strong>de</strong>sses dados <strong>de</strong> fala, <strong>de</strong> modo a oferecer subsídios para que sepense nesses dados como evidência <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> aquisição da língua.Esses dados foram <strong>de</strong>scritos morfologicamente e alguns <strong>de</strong>les, referentes àregularização, analisados sob a perspectiva da Teoria da Otimida<strong>de</strong>. O olharlançado aos <strong>de</strong>mais visa a que se entendam essas produções como umprimeiro passo rumo à consciência morfológica que a criança <strong>de</strong>senvolve aolongo do seu contato com a língua. Essas análises nos mostram que a criança<strong>de</strong>monstra conhecimento da gramática <strong>de</strong> sua língua muito cedo eencaminham para a hipótese <strong>de</strong> que esse tipo <strong>de</strong> produção mostra umasensibilida<strong>de</strong> aos recursos morfológicos que, em um momento posterior,po<strong>de</strong>rá ser entendido como consciência morfológica, à medida que essacriança conseguir expressar seu conhecimento não só em termos <strong>de</strong> uso, mastambém em termos <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s metalingüísticas.METÁTESE E EPÊNTESE - UM EXEMPLO DEHETEROGENEIDADE DO PROCESSO E HOMOGENEIDADE DOALVOClarissa Diassul da Silva Redmer MoralesCarmen Lúcia Barreto Matzenauer (UCPEL)Os diferentes estágios por que passam as crianças na aquisição da fonologia<strong>de</strong> uma língua caracterizam-se por apresentar diferentes processos paraevitar estruturas complexas do sistema-alvo. Dentre esses processos estão aMetátese e a Epêntese. O objetivo principal <strong>de</strong>sta pesquisa foi verificar amotivação para que ocorresse a aplicação <strong>de</strong> Metátese e <strong>de</strong> Epêntese,buscando particularmente investigar a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mesmamotivação para o emprego <strong>de</strong> ambos os processos durante a aquisição da307


fonologia por crianças. Foram analisados os dados <strong>de</strong> 10 informantes, comida<strong>de</strong> entre 2:4 e 3:11 (anos: meses), adquirindo o português <strong>br</strong>asileiro (PB)como língua materna, cujos sistemas apresentaram o emprego dos doisprocessos aqui investigados: Metátese e Epêntese. Na <strong>de</strong>scrição do corpusestudado, foram confrontadas as estruturas silábicas originais <strong>de</strong> cadapalavra com as estruturas silábicas resultantes da aplicação dos referidosprocessos. Pô<strong>de</strong>-se verificar que, com o emprego dos dois processosreferidos, as crianças simplificam estruturas silábicas consi<strong>de</strong>radas marcadasna língua, fato que permitiu a proposição <strong>de</strong> uma base comum, a ambos osprocessos, durante a aquisição da fonologia da língua. Os resultados foramanalisados com base nos pressupostos da Teoria da Otimida<strong>de</strong>, revelandoque Restrições <strong>de</strong> Marcação, em posição alta na hierarquia <strong>de</strong> restrições, sãocapazes não somente <strong>de</strong> explicar o emprego <strong>de</strong> Metátese e <strong>de</strong> Epêntese naaquisição da fonologia do PB, mas particularmente <strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar amotivação comum subjacente ao uso dos dois processos por algumascrianças, durante os estágios <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> estruturas silábicas marcadas dalíngua. Ao explicitar tal motivação comum aos dois processos citados, aTeoria da Otimida<strong>de</strong> mostrou-se formalmente a<strong>de</strong>quada para dar conta <strong>de</strong>um caso <strong>de</strong> conspiração presente na aquisição do PB como língua materna,tornando evi<strong>de</strong>nte que Metátese e Epêntese são processos diferentes quepo<strong>de</strong>m buscar o mesmo alvo.AQUISIÇÃO DAS VOGAIS DO INGLÊS POR FALANTES DEPORTUGUÊS BRASILEIRO: ANÁLISE ATRAVÉS DA TEORIA DAOTIMIDADECristine Ferreira Costa (PRODOC/UFSM)Giovana Ferreira Gonçalves Bonilha (UFSM)Nesta comunicação, examinamos o processo <strong>de</strong> aquisição das vogais doinglês por falantes nativos do português <strong>br</strong>asileiro. Mais precisamente,analisamos os resultados obtidos por No<strong>br</strong>e-Oliveira (2007). Nesse estudo, aautora <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a relevância do treinamento perceptual na aprendizagem daL2 e mostra, a partir <strong>de</strong> pesquisa experimental, que há uma melhora napercepção e na produção do sistema vocálico quando o aprendiz é exposto aesse tipo <strong>de</strong> metodologia. Esses dados são interpretamos sob a perspectivada Teoria da Otimida<strong>de</strong> (TO). Para tanto, adotamos o mo<strong>de</strong>lo bidirecional <strong>de</strong>Boersma (1998, 2007, 2008), que capta tanto o processo <strong>de</strong> compreensãoquanto o <strong>de</strong> percepção lingüística. A partir <strong>de</strong>ssa proposta e do Algoritmo <strong>de</strong>Aprendizagem Gradual (Boersma e Hayes, 2001), <strong>de</strong>lineamos o processo <strong>de</strong>aquisição das vogais do inglês.308


PROCESSOS FONOLÓGICOS EM DEFICIENTE AUDITIVO:INVESTIGAÇÃO E ANÁLISE PELA GEOMETRIA DE TRAÇOSClarinha Bertolina <strong>de</strong> Matos (UFSC)Lílian Elisa Minikel Brod (UFSC)Vanessa Flávia Scherer (UFSC)Teresinha <strong>de</strong> Moraes Brenner (UFSC)O objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa foi investigar os processos fonológicos narealização dos fonemas \r\, \s\ e \l\ e <strong>de</strong> suas variantes na fala <strong>de</strong> umindivíduo <strong>de</strong>ficiente auditivo <strong>de</strong> 11 anos que apresenta diagnóstico <strong>de</strong> sur<strong>de</strong>zmo<strong>de</strong>rada e freqüenta a 6ª série do Ensino Fundamental em uma escola dare<strong>de</strong> pública <strong>de</strong> Santa Catarina e analisá-los sob a perspectiva da Fonologia<strong>de</strong> Geometria <strong>de</strong> Traços (Feature Geometry). Esse mo<strong>de</strong>lo assume uma<strong>org</strong>anização interna dos sons da fala em camadas ou níveis, permitindo amanipulação dos traços individualmente ou em grupo. Os dados foramcoletados durante atendimento fonoaudiológico realizado pelafonoaudióloga Vanessa Scherer na Fundação Catarinense <strong>de</strong> EducaçãoEspecial – FCEE, São José, SC. Para a coleta <strong>de</strong> dados foram utilizadasfiguras, <strong>de</strong> acordo com o mo<strong>de</strong>lo Yavas, e um gravador mo<strong>de</strong>lo Panasonic.A partir da análise dos dados foram observadas operações <strong>de</strong> apagamento,substituição e redução <strong>de</strong> elementos. Na realização do fonema \r\ foramobservados processos fonológicos <strong>de</strong> apagamento do segmento em posiçãoinício <strong>de</strong> vocábulo, final <strong>de</strong> vocábulo e coda silábica; assimilação do ponto<strong>de</strong> articulação e redução <strong>de</strong> encontro consonantal. Processos fonológicos <strong>de</strong>apagamento e substituição restrita foram observados no fonema \s\. Narealização do fonema \l\ foram observados processos <strong>de</strong> apagamento dosegmento em posição início <strong>de</strong> sílaba; apagamento do fonema \´\ esubstituição pelo gli<strong>de</strong> \y\; processos <strong>de</strong> vocalização e redução do fonemapalatal \´\. Os resultados mostram as alterações sonoras que ocorrem noprocesso <strong>de</strong> aquisição da linguagem do informante e confirmam acontribuição significativa da Fonologia <strong>de</strong> Geometria <strong>de</strong> Traços nainvestigação <strong>de</strong> processos fonológicos no indivíduo <strong>de</strong>ficiente auditivo.AQUISICÃO DAS FRICATIVAS INTERDENTAIS DO INGLÊS:UMA ABORDAGEM VIA RESTRIÇÕESEmilia Lorentz <strong>de</strong> Carvalho Leitão (UFSM)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)Neste trabalho, investiga-se a aquisição das fricativas inter<strong>de</strong>ntais poraprendizes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> inglês como segunda língua (L2). Os dados foramcolhidos a partir da leitura <strong>de</strong> palavras contextualizadas, leitura <strong>de</strong> um textoe narrativas orais produzidas por três grupos <strong>de</strong> estudantes <strong>de</strong> inglês. OGrupo 1 é composto por estudantes universitários que estavam cursando, nomomento da coleta, o sexto semestre do curso <strong>de</strong> Letras do CentroUniversitário Franciscano. Os Grupos 2 e 3 são formados por estudantes quefreqüentavam o projeto extracurricular <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> línguas da Universida<strong>de</strong>309


Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina e estavam no terceiro e décimo semestres,respectivamente. Após a transcrição fonética e seleção das palavras quecontinham as fricativas inter<strong>de</strong>ntais, foi feita a análise dos dados. Essaanálise tem como base a Teoria da Otimida<strong>de</strong> Conexionista proposta porBonilha (2004) que, através da hierarquia <strong>de</strong> restrições, <strong>de</strong>monstra agramática da interlíngua apresentada pelo aprendiz. Os resultados apontarampara a emergência precoce da fricativa inter<strong>de</strong>ntal <strong>de</strong>svozeada, para assubstituições do segmento /θ/ pelo [t] e do segmento /ð/ pelo [d] e também ainterferência do tipo <strong>de</strong> coleta realizada nos percentuais <strong>de</strong> produçõescorretas. Foi constatada ainda uma gran<strong>de</strong> influência da freqüência lexicalno comportamento dos sujeitos estudados.A INTERFERÊNCIA DA FALA NA ESCRITA DE ALUNOS DE UMAESCOLA PÚBLICACristiano Egger Veçossi (UFSM)Giovana Ferreira Gonçalves (UFSM)A aquisição da escrita envolve o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> saberes,tais como a compreensão do caráter simbólico da linguagem e a percepçãoauditiva. Consi<strong>de</strong>rando o caráter alfabético do sistema ortográfico doportuguês <strong>br</strong>asileiro, torna-se fundamental para o aprendiz perceber arelação <strong>de</strong> simbolização entre os sons da fala e as letras, isto é, que osgrafemas representam fonemas. Quando o alfabetizando <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>e essaequivalência, logo perceberá que um som po<strong>de</strong> ser representado por mais <strong>de</strong>uma letra, do mesmo modo que uma letra po<strong>de</strong> representar mais <strong>de</strong> um som,ou seja, como afirma Lemle (2003), entre letra e som não há um “casamentomonogâmico”. Desse modo, mesmo admitindo que a aquisição da escrita e ada fala são processos distintos, po<strong>de</strong>mos encontrar nos “erros” cometidosnas produções escritas muitos indícios <strong>de</strong> ‘”vazamento”, para o espaço daescrita, <strong>de</strong> elementos que, por sua natureza, pertencem ao espaço daoralida<strong>de</strong>’ (Abaurre et all, 2006, p. 23). Nesse sentido, torna-se relevanteinvestigarmos estes “erros” <strong>de</strong> escrita, partindo da hipótese <strong>de</strong> que muitos<strong>de</strong>les têm motivação fonológica. É isso que fazemos neste estudo. Entretanto,nosso corpus não é composto por produções escritas <strong>de</strong> crianças recéminiciadas no sistema <strong>de</strong> escrita alfabética, como po<strong>de</strong>ria se esperar, mas poralunos <strong>de</strong> duas turmas <strong>de</strong> 8ª série <strong>de</strong> uma escola pública, sendo umapertencente ao ensino diurno regular e a outra, ao noturno, <strong>org</strong>anizada emmódulos. Os erros são categorizados <strong>de</strong> acordo com proposta adaptada <strong>de</strong>Zorzi (1998) e a análise dos dados inclui discussões acerca da re<strong>de</strong>finição dosistema fonológico dos sujeitos a partir da aquisição da escrita.GRAVIDADE DOS DESVIOS FONOLÓGICOS: CONTRIBUIÇÕESDA TEORIA DA OTIMIDADEAna Rita Brancalioni (UFSM)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)Márcia Keske-Soares (UFSM)310


Estudos focados na fonologia gerativa trouxeram diversas contribuiçõesacerca da <strong>de</strong>scrição, análise e tratamento dos <strong>de</strong>svios fonológicos,principalmente aqueles calcados na Fonologia Natural e na Geometria <strong>de</strong>Traços. Mais recentemente, contribuições também têm surgido <strong>de</strong> um outromo<strong>de</strong>lo teórico, a Teoria da Otimida<strong>de</strong>, esta calcada em pressupostosgerativistas e conexionistas. Este trabalho tem como objetivo apontar como aTeoria da Otimida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> contribuir para a classificação da gravida<strong>de</strong> do<strong>de</strong>svio fonológico. Para isto, revisitamos a pesquisa <strong>de</strong> Lazzarotto (2005) ereanalisamos os dados ali consi<strong>de</strong>rados. Os resultados <strong>de</strong> Lazzarotto (2005)apontam que a quantida<strong>de</strong> das restrições <strong>de</strong> marcação po<strong>de</strong> ser um indicadorpara a gravida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>svio fonológico. Assim, quanto mais severo é o<strong>de</strong>svio, maior é o número <strong>de</strong> restrições <strong>de</strong> marcação utilizadas na análise.Além disso, quanto mais restrições <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> forem necessárias pararepresentar o sistema em estudo, mais próximo estará do sistema alvo dacomunida<strong>de</strong>. Em nossa análise, verificamos que, além da quantida<strong>de</strong> dasrestrições <strong>de</strong> marcação e <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> envolvidas no processo, os tipos <strong>de</strong>restrições <strong>de</strong>vem também ser consi<strong>de</strong>rados como parâmetro para análise dagravida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>svio fonológico. Também i<strong>de</strong>ntificamos que, em relação àsrestrições <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, o or<strong>de</strong>namento <strong>de</strong>ssas restrições mais abaixo nahierarquia é característico <strong>de</strong> sistema fonológico <strong>de</strong> grau mais severo,enquanto o ranqueamento em posições mais acima configura graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>sviomais leve. Esses achados revelam que a análise a partir da Teoria daOtimida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> contribuir para caracterização da gravida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>sviosfonológicos, gerando maior conhecimento so<strong>br</strong>e o sistema fonológicoavaliado.AS ESTRATÉGIAS DE REPARO EMPREGADAS NOCONSTITUINTE SILÁBICO CODAJanaína Baesso (UFSM)Carolina Lisboa Mezzomo (UFSM)Objetivo: Descrever as estratégias <strong>de</strong> reparo empregadas por crianças com<strong>de</strong>svio fonológico evolutivo (DFE) no constituinte coda; e analisar ainfluência <strong>de</strong> variáveis lingüísticas e extralingüísticas na ocorrência <strong>de</strong>stasestratégias. Metodologia: Foram utilizados dados <strong>de</strong> fala <strong>de</strong> 40 crianças comDFE, 24 meninos e 16 meninas, com ida<strong>de</strong>s entre 3 e 9 anos. As amostrasforam coletadas transversalmente, através do instrumento AvaliaçãoFonológica da Criança, e fazem parte do projeto “Estudo comparativo daeficácia <strong>de</strong> três mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> terapia fonológica no tratamento <strong>de</strong> crianças com<strong>de</strong>svios fonológicos evolutivos”. As 1029 palavras levantadas foramcodificadas conforme a estratégia aplicada. Consi<strong>de</strong>raram-se como variáveisintervenientes: ida<strong>de</strong>, sexo, grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio, vogal prece<strong>de</strong>nte, consoanteseguinte, tonicida<strong>de</strong>, posição na palavra e número <strong>de</strong> sílabas. Posteriormente,os dados foram analisados estatisticamente pelo programa VARBRUL.Resultados: As estratégias constatadas foram: omissão do segmento-alvo311


(70%), omissão do segmento-alvo com mudança da vogal prece<strong>de</strong>nte (23%),semivocalização (11%), substituição <strong>de</strong> líquida (7%), omissão da sílaba-alvo(5%), metátese (3%), epêntese (2%), palatalização (2%), outras realizações(1%), e coalescência (0,29%). Para algumas estratégias, o VARBRULselecionou variáveis como relevantes: tonicida<strong>de</strong>, contexto prece<strong>de</strong>nte,contexto seguinte, tipo <strong>de</strong> fonema, grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio, sexo, ida<strong>de</strong> e número <strong>de</strong>sílabas – na omissão do segmento-alvo; tipo <strong>de</strong> fonema e posição dosegmento – na omissão <strong>de</strong> segmento com mudança da vogal prece<strong>de</strong>nte;contexto seguinte, tipo <strong>de</strong> fonema, ida<strong>de</strong>, grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio, tonicida<strong>de</strong> e sexo –na semivocalização; ida<strong>de</strong>, tipo <strong>de</strong> fonema, contexto seguinte e grau <strong>de</strong><strong>de</strong>svio – na substituição <strong>de</strong> líquida; sexo, tipo <strong>de</strong> fonema e número <strong>de</strong> sílabas– na omissão da sílaba-alvo; grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>svio, tipo <strong>de</strong> fonema e tonicida<strong>de</strong> –na metátese; número <strong>de</strong> sílabas – na epêntese. Conclusão: A omissão foi orecurso mais empregado e, estratégias mais elaboradas, comosemivocalização, substituição <strong>de</strong> líquida e outras, ocorreram menosfreqüentemente. Além disso, variáveis lingüísticas e extralingüísticasexerceram papel relevante.A PRODUÇÃO DE OXÍTONAS SUFIXADAS DO INGLÊS PORFALANTES NATIVOS DE PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMAANÁLISE VIA TEORIA DA OTIMIDADE CONEXIONISTAAmanda Post da Silveira (UFSM-CAPES)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)Por meio <strong>de</strong>ste trabalho, buscamos investigar a aquisição do acento primário<strong>de</strong> palavra da língua inglesa por falantes <strong>de</strong> PB, em específico, a produçãodas oxítonas sufixadas, e a interferência da língua materna no processo <strong>de</strong>aquisição. Contamos para tal com a colaboração <strong>de</strong> doze sujeitos,acadêmicos do curso <strong>de</strong> Letras – Hab. Inglês <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> do sul dopaís, falantes nativos <strong>de</strong> português e aprendizes <strong>de</strong> inglês como línguaestrangeira. A coleta consistiu em duas gravações. Na primeira, osinformantes leram o instrumento <strong>de</strong> coleta, composto <strong>de</strong> 138 palavras e 138frases. Posteriormente, houve a instrução explícita dos padrões acentuais queapresentaram menor percentual <strong>de</strong> acertos nas produções dos informantes. Asegunda gravação, que aconteceu posteriormente a instrução explícita,consistiu em nova leitura do instrumento <strong>de</strong> coleta. As gravações foramfeitas em aparelho digital e tiveram em média 12 minutos cada, e astranscrições foram feitas com base no Alfabeto Fonético Internacional,sendo sujeitas a pelo menos duas conferências. Observamos que, em ambasas coletas, o padrão que foi menos produzido correspon<strong>de</strong>u ao oxítonosufixado, muito embora as duas línguas sejam sensíveis ao peso silábico, oor<strong>de</strong>namento <strong>de</strong> restrições responsáveis pela atribuição <strong>de</strong>sse padrão não sãocorrespon<strong>de</strong>ntes, o que <strong>de</strong>nota a não aquisição da hierarquia específica da L2.Os dados mostram também que os padrões corretamente produzidos nainterlíngua dos informantes <strong>de</strong>viam-se, em gran<strong>de</strong> parte, à militância dagramática da L1 e que os padrões da L2, por conseqüência, não haviam sido312


<strong>de</strong> fato adquiridos. A estratégia <strong>de</strong> reparo mais utilizada nas produçõescorrobora essa hipótese, pois foi o padrão trocaico, padrão acentualpredominante da língua materna e da língua estrangeira. A partir <strong>de</strong> umaúnica sessão <strong>de</strong> instrução explícita do padrão acentual primário do inglês,não nos foi possível constatar acréscimo <strong>de</strong> produções corretas, valendo serinvestigado se outro método <strong>de</strong> instrução explícita, possivelmente queproponha mais sessões <strong>de</strong> instrução e a observação longitudinal dosinformantes, seja mais apropriada para o fim <strong>de</strong> nos prover dados maisconclusivos quanto a valida<strong>de</strong> ou não <strong>de</strong>ste recurso para a aquisição dopadrão acentual primário do inglês por falantes nativos <strong>de</strong> português<strong>br</strong>asileiro.AQUISIÇÃO DE ONSETS COMPLEXOS POR CRIANÇAS DE 2ANOS: UM ESTUDO LONGITUDINAL COM BASE NA TEORIA DAOTIMIDADELetícia Bello Staudt (UNISINOS)Cátia <strong>de</strong> Azevedo Fronza (UNISINOS)Este trabalho visa a apresentar uma discussão acerca da aquisição <strong>de</strong> onsetscomplexos por crianças com <strong>de</strong>senvolvimento fonológico normal, cuja faixaetária está entre 2 e 5 anos, aproximadamente. Por ser a última estruturasilábica adquirida pela criança, a seqüência CCV nos leva a refletir so<strong>br</strong>e aspeculiarida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sua aquisição, visto que estruturas mais simples, como V eCV, já fazem parte do sistema fonológico <strong>de</strong> crianças entre as ida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> 1:0e 1:4, como afirma Matzenauer (2003). A pesquisa conta com a <strong>de</strong>scrição dopercurso <strong>de</strong> aquisição da sílaba complexa <strong>de</strong> oito informantes, cujos dadosfazem parte <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> mestrado em fase final <strong>de</strong> elaboração. Nestacomunicação, tecem-se algumas consi<strong>de</strong>rações so<strong>br</strong>e contextos <strong>de</strong> nãorealizaçãodo onset complexo pelos sujeitos mencionados, relacionando-ascom resultados <strong>de</strong> estudos já realizados, como os <strong>de</strong> Magalhães (2000),Ribas (2002) e Redmer (2007), entre outros. Tais reflexões têm como base aTeoria da Otimida<strong>de</strong>, que parece ter gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r explicativo no que serefere aos processos fonológicos observados na fala das crianças durante asdiferentes etapas do <strong>de</strong>senvolvimento. Este estudo, então, preten<strong>de</strong>contribuir com reflexões so<strong>br</strong>e a aquisição da linguagem e da fonologia,além <strong>de</strong> trazer contribuições para o fortalecimento da Teoria da Otimida<strong>de</strong> epossibilitar relações entre Lingüística, Fonoaudiologia, Psicologia eEducação, por exemplo, uma vez que se volta para aspectos da linguageminfantil.313


GT23 Estudos cognitivos da linguagem: leitura e aprendizado <strong>de</strong> línguasCoor<strong>de</strong>nadoresRosângela Ga<strong>br</strong>iel (UNISC)Carlos Rossa (PUCRS)POTENCIAL PEDAGÓGICO DA GRAMÁTICA COGNITIVAMaría Alejandra Oliveira (UNILASALLE)O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns conceitos daGramática Cognitiva; innovação metodológica aplicada ao ensino <strong>de</strong>segunda língua. A visão cognitiva supõe uma visão alternativa da naturezado conhecimento lingüístico, assim como, da forma como os falantesdispõem <strong>de</strong>sse conhecimento. Esta proposta esta embasada nos estudos <strong>de</strong>Langacker ( 1987, 1991, 1994, 2000, 2001), Alejandro Castañeda (2006) eJosé Plácido Luiz Campillo (2007). Propõe a aplicação <strong>de</strong> um enfoqueoperacional do fato lingüístico, fazendo ênfase nas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>comunicação e significado dos próprios aspectos formais, assim como, nalógica da sua articulação sintática. A lógica a que se refere o enfoquecognitivo é a lógica natural, a lógica dos esquemas cognitivos com queconstruímos a representação do mundo; o senso comum. Normativida<strong>de</strong> eoperativida<strong>de</strong> no ensino dos aspectos formais da língua. Para Langacker(2000) as estruturas lingüísticas se distinguem por oferecer umaconfiguração representacional distinta <strong>de</strong> uma mesma situação concebida; ascategorias lingüísticas são polissêmicas ,ou seja, os significados dos signos<strong>de</strong>vem ser concebidos como re<strong>de</strong>s conceptuais.Preten<strong>de</strong> mostrar o que é uma gramática significativa e operativa aplicada aoensino da língua. Enten<strong>de</strong>ndo que cada forma está dotada <strong>de</strong> um valor <strong>de</strong>operação, um valor <strong>de</strong> significado, sendo este significado equivalente a umproduto lógico. Descreve os recursos lingüísticos em diferentes níveis <strong>de</strong>abstração.Em vista disso, resulta relevante para a lingüística cognitiva o conceito do“mo<strong>de</strong>lo cognitivo i<strong>de</strong>alizado” como uma estrutura mental complexa, <strong>de</strong>caráter esquemático, com a qual interpretamos o mundo. Existe umametáfora conceitual : o tempo é espaço. As metáforas são exercícios <strong>de</strong>representação completamente lógicos, com ela somos capazes <strong>de</strong> construirconceitos complexos a partir <strong>de</strong> experiências simples.Campillo (2007) afirma que não é a forma em si mesma nem o significadoem si mesmo, mas uma unida<strong>de</strong> simbólica na qual a forma e significado sãoinseparáveis. A língua representa a realida<strong>de</strong> tal e como o sujeito a percebe,por tanto a gramática tem a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> favorecer diferentes perspectivasrepresentacionais <strong>de</strong> um mesmo fato “objetivo”. Ela não opera so<strong>br</strong>e asformas, senão so<strong>br</strong>e o significado com que o falante utiliza essas formas.Uma gramática embasada nas normas e que <strong>de</strong>precie os aspectos da atuação,em termos gerativos, será incapaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver a<strong>de</strong>quadamente ofuncionamento <strong>de</strong> uma língua. Deve-se travalhar então <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a linguagemdo pensamento, o que Pinker (1995) chama “mentalés” ,que é a linguagem314


do pensar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da língua falada. As normas e regras gramaticais<strong>de</strong>vem ser apreendidas e pensadas a traves do raciocínio lógico.Salienta-se então , a importância <strong>de</strong> estimular uma compreensão cognitivado significado gramatical. Em suma, o enfoque cognitivo oferece umafilosofia prática que permite levar à sala <strong>de</strong> aula os aspectos formais , semrenunciar aos benefícios do comunicativismo clásico.O ENSINO DE EXPRESSÕES IDIOMÁTICAS SOB APERSPECTIVA DA LINGÜÍSTICA COGNITIVALuciane Corrêa. Ferreira (PRODOC/CAPES-UFC)Débora A<strong>br</strong>eu (UNISINOS)O presente trabalho investiga materiais didáticos para a mediação <strong>de</strong>expressões idiomáticas no ensino <strong>de</strong> língua estrangeira e tem como ponto <strong>de</strong>partida um estudo so<strong>br</strong>e a compreensão da metáfora por aprendizes <strong>de</strong> línguainglesa (FERREIRA, 2007). Os lingüistas cognitivos argumentam que acompreensão ocorre por meio <strong>de</strong> um mapeamento conceptual entre domínios,isto é <strong>de</strong> um domínio experiencial fonte concreto para um domínio-alvo <strong>de</strong>nossa experiência, geralmente o mais abstrato. A lingüística cognitiva vê alinguagem como interagindo com outras faculda<strong>de</strong>s mentais, comopercepção, visão, memória e habilida<strong>de</strong>s sensório-motoras (CIENKI, 2005).Esses mecanismos gerais são responsáveis por toda a aprendizagem, e nãosomente pela aprendizagem da linguagem. A aquisição é acionada peloinsumo lingüístico e ocorre por meio da interação e da experiência com oambiente ao redor do aprendiz. Selecionou-se duas expressões idiomáticas(animal idioms) em edições <strong>de</strong> livros didáticos <strong>de</strong> língua inglesa. Depois,analisou-se tais expressões com base nos estudos <strong>de</strong> Gibbs (1994) e Gibbs eO'Brien (1990). Consi<strong>de</strong>rando as dificulda<strong>de</strong>s que as expressões idiomáticasrepresentam para a compreensão <strong>de</strong> textos por falantes não-nativos, buscouseinvestigar que tipo <strong>de</strong> abordagem os materiais didáticos apresentam para oseu ensino. Postula-se que a consciência do background metonímico <strong>de</strong>expressões como to smell a rat ou to be gentle as a lamb ajudará osaprendizes a compreen<strong>de</strong>r tais expressões, como constatou Niemeier (2005)so<strong>br</strong>e o ensino das expressões red tape (procedimento burocrático) or bluemovie (filme pornográfico). Certamente, conhecer a motivação metafórica<strong>de</strong> tais expressões ajuda os aprendizes a lem<strong>br</strong>ar o significado <strong>de</strong>vido a suasaliência (GIORA, 1997). A crença <strong>de</strong> que a compreensão da motivaçãometonímica ajuda na compreensão <strong>de</strong> metáforas e expressões idiomáticas jáé idéia corrente nos escritos <strong>de</strong> alguns lingüistas cognitivos e po<strong>de</strong> serconstatada na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Sweetser (1990) da motivação metonímica dametáfora conceptual SABER É CONHECER nas línguas indo-européias.Enfim, os resultados apontam que o processo <strong>de</strong> compreensão na línguaestrangeira é fortemente influenciado pela corporeida<strong>de</strong> (GIBBS, 2006), porisso mesmo recomenda-se ensinar as metáforas e metonímias conceptuaisaos aprendizes <strong>de</strong> língua estrangeira.315


OS ASPECTOS COGNITIVOS NA LEITURA DE HISTÓRIAS EMQUADRINHOS EM L2Karin Claudia Nin Brauer (UNISC)Márcia Just Do Nascimento (UNISC)Suzana De Fátima Fardin Berto (UNISC)Verlaine De Carvalho (UNISC)O presente trabalho analisará a leitura <strong>de</strong> histórias em quadrinhos(HQ) como uma ferramenta na aprendizagem <strong>de</strong> uma língua estrangeira,colocando em evidência o inglês como segunda língua. Trata-se <strong>de</strong> umgênero textual interessante para ser usado no ensino da língua inglesa, pois ébem recebido pelos estudantes nas aulas <strong>de</strong> leitura, contribuindo para aconstrução <strong>de</strong> vários tipos <strong>de</strong> informação na compreensão textual, entre elesa relação entre os aspectos verbais do texto (lingüístico) e os não verbais(extralingüísticos). A leitura caracteriza-se como uma ativida<strong>de</strong> complexarealizada exclusivamente pelo ser humano, envolvendo vários níveis <strong>de</strong>cognição, além disso, sob o olhar da psicologia cognitiva, o leitor po<strong>de</strong> usarestratégias <strong>de</strong> leitura que facilitam a construção do sentido num texto <strong>de</strong>língua estrangeira. Neste trabalho, observa-se uma história em quadrinhofamosa chamada “Garfield”, a qual po<strong>de</strong> ser encontrada na línguaportuguesa e na inglesa. Nesses textos, apesar <strong>de</strong> serem consi<strong>de</strong>radashistórias curtas e com uma forte interferência visual, po<strong>de</strong>-se perceber aintertextualida<strong>de</strong> na leitura, buscando-se caminhos para o ensino da leituraatravés <strong>de</strong> uma análise das histórias e, com isso, merece uma maior atençãodo professor nas aulas <strong>de</strong> língua inglesa como segunda língua.RELAÇÃO ENTRE AS HABILIDADES DE CONSCIÊNCIAFONOLÓGICA E O NÍVEL DE COMPREENSÃO LEITORA EMALUNOS DA QUINTA E SEXTA SÉRIES DO ENSINOFUNDAMENTALGracielle Tamiosso Nazari; (PUCRS)Clarice Lehnen Wolff (PUCRS)Esta pesquisa tem por objetivo verificar a relação existente entre ashabilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consciência fonológica e o nível <strong>de</strong> compreensão leitora emtrês alunos, com diferentes <strong>de</strong>sempenhos em leitura - bom, médio e baixo –,pertencentes às classes <strong>de</strong> quinta e sexta séries do Ensino Fundamental.Utilizou-se para verificação da compreensão em leitura o instrumentoelaborado pelas pesquisadoras e também o CONFIAS – ConsciênciaFonológica: Instrumento <strong>de</strong> Avaliação Seqüencial. Os resultados parciaismostraram uma correlação positiva entre o <strong>de</strong>sempenho nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>consciência fonológica e o nível <strong>de</strong> compreensão da leitura.UMA PROPOSTA DE ESTRATÉGIA DE RESUMO COM BASE NATEORIA DOS BLOCOS SEMÂNTICOSSandra Maria Leal Alves (PUCRS)316


O objetivo <strong>de</strong>ste artigo é apresentar uma proposta <strong>de</strong> elaboração <strong>de</strong> resumocom base na Teoria dos Blocos Semânticos (TBS), última versão da Teoriada Argumentação na Língua (TAL), elaborada na década <strong>de</strong> 1980, porOswald Ducrot em parceria com Jean-Clau<strong>de</strong> Anscom<strong>br</strong>e e revisada nadécada <strong>de</strong> 1990, <strong>de</strong>sta feita com a colaboração <strong>de</strong> Marion Carel. Osresultados experimentais <strong>de</strong>ste estudo mostraram que para <strong>de</strong>senvolver, <strong>de</strong>forma eficiente, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão leitora com vistas àelaboração <strong>de</strong> resumo é necessária a utilização <strong>de</strong> uma metodologia que sejaao mesmo tempo complexa e funcional; complexa no sentido <strong>de</strong> ancorar-senuma teoria que, a princípio, não é voltada para essa finalida<strong>de</strong> –necessitando, portanto <strong>de</strong> adaptação – e funcional no que se refere ao fato <strong>de</strong>basear-se naquilo que é efetivamente dito em um texto e na capacida<strong>de</strong> dosujeito resumidor para fazer inferências. O que se preten<strong>de</strong>, portanto, éapresentar um trabalho envolvendo leitura/compreensão/redução <strong>de</strong>informação baseada nos princípios da TBS e na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inferenciaçãoque, <strong>de</strong> acordo com os resultados da testagem piloto, po<strong>de</strong>rá se transformarem recurso pedagógico em situação real <strong>de</strong> ensino.ELABORAÇÃO E VALIDAÇÃO DE UM INSTRUMENTODE AVALIAÇÃO DO NÍVEL DE CONSCIÊNCIA LINGÜÍSTICAValéria Pinheiro Raymundo (PUCRS)O objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa foi o <strong>de</strong> elaborar e validar um instrumento <strong>de</strong>avaliação do nível <strong>de</strong> consciência lingüística do aprendiz adulto <strong>de</strong> inglês,falante nativo <strong>de</strong> português. Para atingirmos esse objetivo, elaboramos <strong>de</strong>zinstrumentos, enfocando formas certas e erradas <strong>de</strong> frases simples,distribuídas em dois grupos, erros interlinguais e intralinguais, <strong>de</strong> diferentestempos e aspectos verbais. Efetivamos três tipos <strong>de</strong> validação − conteúdo,critério e construto − seguindo um roteiro <strong>de</strong> procedimentos estipulado pornós. Os testes foram aplicados em uma amostra composta <strong>de</strong> alunos doscursos <strong>de</strong> Inglês Geral, Letras e Ciências Aeronáuticas da PUCRS entre2004 e 2005. O exame da valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> instrumento mostrou que épossível construir um teste fi<strong>de</strong>digno, fundamentado em níveis <strong>de</strong>consciência lingüística <strong>de</strong>finidos como pré-consciente 1, pré-consciente 2,consciente e plenamente consciente a partir do julgamento, i<strong>de</strong>ntificação,correção e/ou explicação do erro. A análise <strong>de</strong> questões complementarespermitiu constatar a existência <strong>de</strong> diferença significativa entre o nível <strong>de</strong>consciência dos alunos do grupo feminino e do grupo masculino, e <strong>de</strong>relação significativa entre nível <strong>de</strong> consciência e <strong>de</strong>sempenho dos alunos doCurso <strong>de</strong> Inglês Geral e <strong>de</strong> Letras. A interpretação dos dados obtidos atravésdo instrumento validado possibilitou uma classificação dos sujeitos emsuperusuários, subusuários e ótimos usuários do monitor e umare<strong>org</strong>anização dos alunos dos diferentes cursos.317


A POBREZA DE ESTÍMULOS EXPLICADA ATRAVÉS DA TEORIAINATISTA E DO PARADIGMA CONEXIONISTA: HÁ MESMO TÃOPOUCOS ESTÍMULOS?Carlos Rossa (PUCRS)Ga<strong>br</strong>iela Berto (PUCRS)O tópico <strong>de</strong>ste trabalho foi inicialmente teorizado por Platão em um <strong>de</strong> seusdiálogos, Meno. O problema diz respeito ao processo <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong>uma criança durante o seu <strong>de</strong>senvolvimento. Platão questionou como erapossível a uma criança produzir estruturas complexas sendo exposta aoambiente por um período tão curto. A isto ele chamou <strong>de</strong> po<strong>br</strong>eza <strong>de</strong>estímulos ou o problema <strong>de</strong> Platão. Este trabalho foi feito consi<strong>de</strong>rando-sedois paradigmas principais para a aquisição da linguagem: Nativismo eConexionismo. Enquanto a hipótese nativista utiliza uma teoria abdutiva eacredita na existência <strong>de</strong> um dispositivo <strong>de</strong> aquisição da linguagem o qualcontém regras comuns a todas as línguas, o paradigma conexionista explicaa aquisição da linguagem através dos achados da neurociência, semconsi<strong>de</strong>rar que nascemos com um dispositivo específico para aquisição dalinguagem. Os pesquisadores conexionistas <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m que apren<strong>de</strong>mosatravés da construção <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s neuronais e da maturação do cére<strong>br</strong>o. Emconseqüência disso, o conexionismo é capaz <strong>de</strong> fornecer mais respostas parao problema <strong>de</strong> Platão do que o nativismo. Utilizando re<strong>de</strong>s computacionaiscomo seu principal instrumento, o paradigma conexionista possui uma áreamais ampla para estudos futuros, uma vez que a tecnologia utilizada paraexperimentos <strong>de</strong>senvolve-se rapidamente dia após dia.BILINGÜISMO E LETRAMENTO: ANÁLISE DA INTERAÇÃOENTRE DUAS LÍNGUASSheila Corrêa Soares (UNISC)Onici Claro Flôres (UNISC)Este estudo propôs-se a averiguar a influência <strong>de</strong> um dialeto alemão faladona região <strong>de</strong> Vera Cruz (interior do RS) so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> letramento emportuguês <strong>br</strong>asileiro. A pesquisa investigou alguns casos <strong>de</strong> transferência doconhecimento fonético-fonológico, lexical, sintático, semântico e pragmáticodo dialeto alemão <strong>de</strong>ssa região para o português por um participante quecomeçara a <strong>de</strong>senvolver a oralida<strong>de</strong> em português <strong>br</strong>asileiro na escola,juntamente com colegas bilíngües (dialeto alemão da região/ português<strong>br</strong>asileiro) e <strong>de</strong>mais alunos, monolíngües em português. O estudo buscouanalisar se os processos <strong>de</strong> generalização observados <strong>de</strong>correm doconhecimento da L1 interferindo so<strong>br</strong>e o aprendizado <strong>de</strong> L2, ou se traduz umreforço ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> L2, e se o ambiente <strong>de</strong> ensino-aprendizagem(professor, metodologia <strong>de</strong> ensino, linguagem falada em contextos informaise colegas <strong>de</strong> turma) auxilia na superação ou reforça os processos <strong>de</strong>transferência e generalização. Para obter resultados fi<strong>de</strong>dignos fez-senecessário formar um corpus representativo, para o qual foi selecionada uma318


turma <strong>de</strong> alunos do 1 o ano do ensino fundamental <strong>de</strong> escola pública, nointerior <strong>de</strong> Vera Cruz. A investigadora acompanhou a turma durante o anoletivo <strong>de</strong> 2007, promovendo situações interativas diversas (clipes, músicas,teatro, jogos no computador, rimas), dando ênfase especial à oralida<strong>de</strong>. Acoleta <strong>de</strong> dados foi feita através <strong>de</strong> gravações, filmagens e tomada <strong>de</strong> notas.Ao todo foram realizados quinze encontros centrados so<strong>br</strong>etudo so<strong>br</strong>e osprocessos <strong>de</strong> textualização utilizados pelos participantes. As hipóteses <strong>de</strong>trabalho foram confirmadas, pois se comprovou haver transferência da L1para a L2, em termos fonético-fonológicos, sintáticos e mesmo lexicais. Poroutro lado, também se observou interinfluência <strong>de</strong> um código so<strong>br</strong>e o outro,<strong>de</strong>vido ao contato direto e constante entre falantes nativos e falantes dodialeto. O intercâmbio do aluno monolíngüe no dialeto alemão local comseus pares, bem como sua adaptação a um novo meio, o escolar, apresentouos resultados esperados. Confirmou-se, então, a hipótese <strong>de</strong> que o núcleoduro lingüístico é o fonológico, havendo-se evi<strong>de</strong>nciado ainda a tendência auma interpenetração <strong>de</strong> L1 e L2 no que diz respeito ao nível pragmático, talcomo referido por Arabski (2007). Ou seja, a contatação adicional dizrespeito à alteração da L1, sob a influência da L2. Ao que tudo indica essamodificação começa a processar-se a partir do nível pragmático e vai aospoucos modificando o dialeto, tornando-o bastante diferente do alemãofalado na Alemanha (Hoch<strong>de</strong>utsch).ENSINA-SE A LER EM INGLÊS NO ENSINO MÉDIO? – UMAANÁLISE DE MATERIAIS DIDÁTICOS E DA PRÁTICA DOCENTEVerlaine <strong>de</strong> Carvalho (UNISC)Lilian Cristine Scherer (UNISC)A leitura em LE, apesar <strong>de</strong> representar uma habilida<strong>de</strong> fundamental no atualcontexto, parece não estar sendo a<strong>de</strong>quadamente explorada em sala <strong>de</strong> aula.A leitura em uma segunda língua é extremamente importante, especialmenteem inglês, uma vez que é nessa língua que as informações costumam serdisponibilizadas no mundo inteiro. A comunicação aqui proposta preten<strong>de</strong>apresentar um estudo em implementação so<strong>br</strong>e o ensino da leitura em inglêscomo L2, estruturado sob uma perspectiva sócio-cognitiva, tendo em vistaanalisar e buscar subsídios para aprimorar o ensino da compreensão leitoraem língua estrangeira. Partindo <strong>de</strong> uma análise dos processos sóciocognitivosenvolvidos na leitura em L2, serão apresentados e discutidosaspectos relacionados à prática docente para o ensino da leitura,confrontando-os com a forma como vêm sendo aplicados em salas <strong>de</strong> aula<strong>de</strong> Ensino Médio <strong>de</strong> escolas estaduais em uma região do interior do RS. Acomunicação será <strong>org</strong>anizada em duas seções. A primeira seção discutiráaspectos ligados à leitura em L1 e em L2, apresentando reflexões trazidaspor autores como Kleiman (2004), Marcuschi (1985), Aebersold e Field(1997), Daneman (1991), entre outros. Esta seção será subdividida em duaspartes. A primeira mostrará os fatores sociais e individuais que interagemcom o processamento da leitura e a parte seguinte, apresentará os mo<strong>de</strong>los319


<strong>de</strong> leitura responsáveis pela compreensão leitora. A segunda seção discutiráaspectos relacionados à leitura em segunda língua (L2), em especial ao papelda escola. Após uma análise teórica, conclui-se que uma das razões para aprecarieda<strong>de</strong> em geral vista no ensino <strong>de</strong> leitura em L2 resi<strong>de</strong> na pequenaquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> materiais didáticos <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> usados nas aulas <strong>de</strong>leitura em Língua Inglesa, além da forma como este material é explorado.Percebe-se também o importante papel da escola e do professor na escolhado material a ser usado durante as aulas, tendo em vista a realida<strong>de</strong>sociocultural dos alunos, uma vez que as diferenças culturais po<strong>de</strong>m seimpor como uma dificulda<strong>de</strong> adicional <strong>de</strong> compreensão leitora numasegunda língua. Finalmente, ressalta-se o papel do professor como mediadore facilitador do processamento <strong>de</strong> leitura por seus alunos.A COMPREENSÃO DE TEXTOS ARGUMENTATIVOS ENARRATIVOS POR LEITORES DE DIFERENTES FAIXASETÁRIAS E NÍVEIS DE ESCOLARIDADERosângela Ga<strong>br</strong>iel (UNISC)J<strong>org</strong>e Alberto Molina (UNISC)Onici Claro Flôres (UNISC)Lilian Cristine Scherer (UNISC)A leitura é um dos principais meios <strong>de</strong> que o indivíduo dispõe para seapropriar <strong>de</strong> conhecimentos. O texto por si só não possui sentido, uma vezque seu sentido é produzido através da interação do leitor com o texto. Emnosso país, apesar <strong>de</strong> os índices <strong>de</strong> analfabetismo estarem em reduçãogradativa, o analfabetismo funcional, manifestado na incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> oindivíduo compreen<strong>de</strong>r o texto, persiste. Além <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s ecompetências individuais, outros fatores po<strong>de</strong>m levar a diferenças nacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão leitora, entre eles o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e afaixa etária dos leitores. E ainda, aspectos relacionados à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>memória, <strong>de</strong> controle inibitório e atencional parecem exercer um papelrelevante na capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> um texto e, por conseguinte,<strong>de</strong> sua compreensão. O projeto <strong>de</strong> pesquisa “A compreensão <strong>de</strong> textosargumentativos e narrativos por leitores <strong>de</strong> diferentes faixas etárias e níveis<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>” tem por objetivo geral investigar o processamentocognitivo da inferenciação e da intencionalida<strong>de</strong> na leitura <strong>de</strong> textosargumentativos e narrativos por leitores agrupados por ida<strong>de</strong> e nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando-se também a influência <strong>de</strong> variáveis individuaisrelacionadas à memória, ao controle inibitório e atencional. Preten<strong>de</strong>-se,ainda, ao longo da execução do projeto: 1. validar instrumentos <strong>de</strong> avaliação<strong>de</strong> compreensão leitora <strong>de</strong> textos argumentativos e narrativos quecontemplem o processamento <strong>de</strong> inferências e reconhecimento <strong>de</strong>intencionalida<strong>de</strong>; 2. analisar as estratégias <strong>de</strong> compreensão leitora utilizadaspelos participantes da pesquisa na resolução das questões dos instrumentos<strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados; 3. analisar o tempo <strong>de</strong> resposta necessário para que ossujeitos cumpram as tarefas <strong>de</strong> leitura e compreensão textual, bem como a320


acuida<strong>de</strong> nas respostas dadas a cada tipo <strong>de</strong> questão; 4. avaliar processoscognitivos relacionados à memória <strong>de</strong> trabalho, à memória <strong>de</strong> curto e <strong>de</strong>longo prazo, ao controle inibitório relacionado à inferenciação, ao controleatencional, a fim <strong>de</strong> investigar a interação <strong>de</strong>sses fatores com a acuida<strong>de</strong> ecom o tempo <strong>de</strong> resposta na compreensão leitora; e 5. verificar a interaçãoentre a) funções executivas como a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção e <strong>de</strong> inibição, b)memória <strong>de</strong> curta duração (incluindo a <strong>de</strong> trabalho), e c) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aprendizagem através da avaliação do <strong>de</strong>sempenho na compreensão emleitura dos participantes nos diferentes componentes investigados por meiodos instrumentos <strong>de</strong> testagem, a fim <strong>de</strong> estabelecer um cruzamento entreesses resultados segundo a faixa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. O estudoproposto por este projeto preten<strong>de</strong>, portanto, investigar duas áreas <strong>de</strong>conhecimento ainda bastante incipientes em nosso país, quais sejamquestões cognitivas relacionadas ao envelhecimento e ao nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong>, mais especificamente em relação à capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>processamento e <strong>de</strong> compreensão leitora <strong>de</strong>ssas populações.A COMPREENSÃO EM LEITURA EM CRIANÇAS COMTRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADEÂngela Inês Klein (PUCRS)Muitos professores têm observado um alto índice <strong>de</strong> reprovação <strong>de</strong> alunoscom transtorno <strong>de</strong> déficit <strong>de</strong> atenção e hiperativida<strong>de</strong> (TDAH). Então sequestionam: qual será o real motivo <strong>de</strong>ssa reprovação? Há algum fatorespecífico interferindo no <strong>de</strong>sempenho escolar <strong>de</strong>sses alunos? Há algumaárea do conhecimento em especial na qual essas crianças encontramdificulda<strong>de</strong>s? Refletindo acerca <strong>de</strong>ssas perguntas, a presente pesquisaobjetiva verificar a natureza da compreensão em leitura em crianças comTDAH. A pesquisa foi realizada em julho <strong>de</strong> 2008 no município <strong>de</strong> Teutôniacom crianças que freqüentavam a quarta série do ensino fundamental. Aamostragem é composta <strong>de</strong> três crianças com o diagnóstico <strong>de</strong> TDAH queestavam naquele momento sob orientação médica e tomando a medicaçãopor ele indicada. O grupo controle é constituído <strong>de</strong> doze crianças do mesmomunicípio. O intuito é comparar os escores <strong>de</strong> cada um dos três alunos comTDAH em relação a três colegas <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, que não apresentam essetranstorno. Os escores partem dos resultados obtidos em dois testes queverificam a qualida<strong>de</strong> da compreensão em leitura. O primeiro é umaavaliação qualitativa, que analisa a compreensão <strong>de</strong> maneira oral. Já asegunda avaliação é constituída pelo procedimento cloze, o qual foirealizado <strong>de</strong> forma escrita e é quantitativo. Dessa forma, observou-se acompreensão em leitura tanto <strong>de</strong> forma oral quanto escrita, questãointerveniente para este estudo. A discussão dos resultados tem como baseteorias psicolingüísticas, relacionando linguagem e cognição.321


LEITURA DE LIVRO ELETRÔNICOVera Wannmacher Pereira (PUCRS/FALE)Gilberto Keller <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (PUCRS/FACIN)Aline Conceição Job da Silva (PUCR/FALE)A presente comunicação está vinculada a uma pesquisa realizada em açãointegrada, na PUCRS, pela FALE/CELIN, pela FACIN e pela EDIPUCRS.Contou com a participação dos professores Vera Wannmacher Pereira(coor<strong>de</strong>nadora), Gilberto Keller <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> (EDIPUCRS), Milene SelbachSilveira (FACIN) e Vera Teixeira <strong>de</strong> Aguiar (FALE) e dos acadêmicosAlexsan<strong>de</strong>r Demartini Cruz, Aline Conceição Job da Silva e Luzia AzevedoMen<strong>de</strong>s. Orientada pelas linhas <strong>de</strong> pesquisa em “Processos Cognitivos daLinguagem e Conexionismo” (FALE) e “Interação Humano-Computador”(FACIN), teve como direção teórica o processamento cognitivo da leitura nomeio digital, apoiada pelos estudos da Psicolingüística, especialmente <strong>de</strong>Goodman (1991), Smith (1999 e 2003), Leffa (1996), Kleiman (1989),Piccini; Pereira (2006), Pereira (2003) e pelos estudos da Informática, maisespecificamente <strong>de</strong> Mack; Nielsen (1994), Nielsen (1993), Procópio (2005) eRubin (1994). Teve como objetivos: contribuir para a orientação <strong>de</strong> autores eeditores <strong>de</strong> publicações em mídia eletrônica; construir um livro eletrônicodirigido a acadêmicos <strong>de</strong> Letras (“A Pesquisa em Letras”, que po<strong>de</strong> serencontrado na página da EDIPUCRS) e investigar, em relação a esse artefatotecnológico, o processamento da leitura, a a<strong>de</strong>são do leitor e os resultados <strong>de</strong>seu uso no que se refere à compreensão leitora. A metodologia <strong>de</strong> pesquisacontou com o uso <strong>de</strong> teste <strong>de</strong> conhecimentos prévios eletrônico (paracategorização dos sujeitos – acadêmicos <strong>de</strong> Letras), <strong>de</strong> um software <strong>de</strong>captura, <strong>de</strong> um instrumento <strong>de</strong> compreensão eletrônico e <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong>observação. O objeto <strong>de</strong> pesquisa constituiu-se num livro eletrônico em trêsdiferentes formatos – PDF, HTML, LIT. A situação <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados foi<strong>org</strong>anizada com base nas variáveis objetivo <strong>de</strong> leitura, nível <strong>de</strong>conhecimentos prévios e tipo <strong>de</strong> formato eletrônico. De acordo com osdados coletados, a <strong>org</strong>anização <strong>de</strong> um livro eletrônico <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>raralguns pontos: a) é necessário que os usuários recebam instruções paranavegação com vistas à otimização das funcionalida<strong>de</strong>s, do processamento eda compreensão; b) é importante que a extensão do livro seja consi<strong>de</strong>radapara a otimização do processamento e da compreensão; c) convém que oobjetivo <strong>de</strong> leitura e o nível <strong>de</strong> conhecimentos prévios dos sujeitos sejamlevados em conta com vistas especialmente ao processamento; d) éimportante que a freqüência <strong>de</strong> uso do formato PDF seja reconhecida e,portanto, a natural disposição do leitor para ele.COMPREENSÃO EM LEITURA: PREPARAÇÃO E ESCOLHA DEMATERIAISAdriane Marchese Chiodi (UNISC)Onici Claro Flôres (UNISC)322


Fundamentando-se em uma concepção interacionista <strong>de</strong> linguagem e em umconceito <strong>de</strong> leitura também sócio-interacionista, a base teórica <strong>de</strong>stainvestigação apoiou-se, so<strong>br</strong>etudo, em autores como Vygotsky (1983, 1984,1993), Kleiman (1995, 1997, 1998), Marcuschi (1985, 1996, 2001), Koch(1998, 2002, 2005), Dascal (2006) entre outros, e tem o objetivo <strong>de</strong>aprofundar o conhecimento so<strong>br</strong>e a compreensão em leitura e a relação coma aprendizagem, a memória e a atenção. Sua meta é enfocar a inter-relaçãoentre as habilida<strong>de</strong>s citadas, testando-as através <strong>de</strong> um instrumentoconstituído <strong>de</strong> vários testes que enfatizam ora uma ora outra, visando ao<strong>de</strong>talhamento um pouco mais efetivo do processo <strong>de</strong> compreensão leitora, aoaprimoramento do trabalho do professor e ao <strong>de</strong>senvolvimento dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compreensão e interpretação do aluno-leitor. Em vista disso,recorreu-se à metodologia experimental, sendo criada e adaptada umabateria <strong>de</strong> testes que, no seu conjunto, pô<strong>de</strong> fornecer dados mais específicosa respeito das falhas <strong>de</strong> compreensão, obtendo-se maior grau <strong>de</strong>fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> dos resultados e das análises propostas. As hipóteses <strong>de</strong>trabalho foram, em primeiro lugar, a <strong>de</strong> que os testes <strong>de</strong> tipo padronizadonão conseguem estabelecer quais são exatamente as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>compreensão existentes, e também se elas estariam vinculadas àaprendizagem, à memória ou à atenção, e <strong>de</strong> que modo isso afetaria acompreensão; a segunda hipótese é que a <strong>org</strong>anização <strong>de</strong> testes especiais, emque as habilida<strong>de</strong>s cognitivas sejam dissociadas, sendo testadas através <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s diferenciadas, permitiria uma melhor avaliação da competêncialeitora dos alunos; e, por fim, a terceira hipótese é a <strong>de</strong> que os professores <strong>de</strong>língua portuguesa po<strong>de</strong>m produzir seus próprios materiais <strong>de</strong> ensino,validando-os em suas turmas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que recebam apoio técnico para tal. Osresultados obtidos confirmaram as hipóteses formuladas. Com relação àprimeira <strong>de</strong>las, a confirmação foi parcial, pois os dados indicaram que, <strong>de</strong>fato, uma bateria <strong>de</strong> testes cuja formulação preveja a dissociação dashabilida<strong>de</strong>s envolvidas na compreensão e distintas ênfases na proposta <strong>de</strong>testagem permitem uma análise mais segura dos dados. Porém não foipossível <strong>de</strong>tectar até que ponto uma ou outra das habilida<strong>de</strong>s investigadasafetaria a compreensão. A segunda hipótese também foi confirmada, umavez que foi possível estabelecer com base nos dados obtidos, se a maiordificulda<strong>de</strong> do aluno seria, por exemplo, memorizar ou inferir. Por fim, comrelação à possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o próprio professor produzir seus materiais <strong>de</strong>leitura os resultados além <strong>de</strong> confirmados são promissores. A proponente doestudo consi<strong>de</strong>ra que a experiência feita foi extremamente instigante,trazendo excelentes conseqüências em nível profissional e pessoal. Espera-seque a natureza da pesquisa realizada, que as idéias <strong>de</strong>fendidas e as sugestõesfeitas sejam úteis e possam contribuir para que os professores conheçammelhor os materiais e ativida<strong>de</strong>s que utilizam em suas ações pedagógicasque envolvam leitura, compreensão e interpretação.TRANSLENDO LÍNGUA, LITERATURA E CULTURACyana Leahy-Dios (UFF)323


A realida<strong>de</strong> social é o próprio dinamismo da vida individual e coletiva comtoda a riqueza <strong>de</strong> significados <strong>de</strong>la transbordante. Essa mesma realida<strong>de</strong> émais rica que qualquer teoria, qualquer pensamento e qualquer discurso quepossamos elaborar so<strong>br</strong>e ela (Minayo, p. 15). A língua é um sistema <strong>de</strong>diferenças: sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> se faz através dos contrastes entre seus próprioselementos. Relaciona-se ao pensamento e traduz concepções próprias dossistemas sociais. A língua não etiqueta categorias preexistentes; ela as cria,possibilitando a manifestação concreta da i<strong>de</strong>ologia, bem como seu espaço<strong>de</strong> questionamento. O mesmo se po<strong>de</strong> dizer da o<strong>br</strong>a literária. Alíngua/palavra é o primeiro elemento <strong>de</strong> constituição da o<strong>br</strong>a <strong>de</strong> arte literária,seu meio <strong>de</strong> realização ético-estética através do duplo uso da linguagem (Vera respeito dos elementos transdisciplinares da educação literária LEAHY-DIOS, Educação Literária como Metáfora Social. Niterói: EdUFF(2000)/Ed. Martins Fontes, 2 a ed. (2004)) Nesse sentido, não se justifica adicotomia imposta entre estudos lingüísticos e estudos literários,característica <strong>de</strong> vários paradigmas acadêmicos oci<strong>de</strong>ntais. A influência dalingüística na renovação das perspectivas <strong>de</strong> leitura é reconhecida doestruturalismo à teoria da recepção. Ler a palavra integra a leitura do mundo;assumir o processo <strong>de</strong> conscientização <strong>de</strong>ssa leitura exige o reconhecimentodas construções sociais, políticas, econômicas e culturais. A literatura se fazna combinação dos elementos palavra, arte, socieda<strong>de</strong>, inseparáveis, semprepresentes na realização do literário. A complexida<strong>de</strong> da análise (da o<strong>br</strong>a <strong>de</strong>arte) literária está relacionada à complexida<strong>de</strong> social <strong>de</strong> sua própriacomposição. Quanto maior for a competência <strong>de</strong> leituras do usuário dalíngua, incluindo as várias possibilida<strong>de</strong>s interpretativas, maior e melhor serásua inserção e interação no universo lingüístico-literário <strong>de</strong> dada cultura. Aleitura é espaço privilegiado <strong>de</strong> construção do saber. O projeto <strong>de</strong>‘transleitura’ visa a construir releituras aprofundadas e plurais queproblematizem o universo lingüístico, matéria-prima dos variados textos,estimulando a diferença e a suspeição (Culler) na análise textual e na sínteseinterpretativa extratextual. A partir <strong>de</strong>sses pressupostos, é possível propor reinterpretaçõessignificativas <strong>de</strong> leitura da palavra/língua, trabalhando so<strong>br</strong>ecompetências <strong>de</strong> uso e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentido.A INTERAÇÃO ENTRE AS INSTRUÇÕES IMPLÍCITA-EXPLÍCITADE ATOS DE FALA EM INGLÊS POR APRENDIZESBRASILEIROSMárcia Hyppolito Macedo dos Santos (UCPel)O presente trabalho tem por objetivo <strong>de</strong>stacar os efeitos da interação entre ainstrução implícita e a explícita da pragmática do inglês (L2) entre alunos<strong>br</strong>asileiros da língua inglesa. A interação entre esses dois tipos <strong>de</strong>aprendizagem está fundamentada no mo<strong>de</strong>lo Hipcort (McCLELLAND et al.,1995) que postula uma relação <strong>de</strong> complementarieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> interação entredois sistemas <strong>de</strong> memória, um relacionado ao hipocampo e o outro, ao neo-324


córtex. Este trabalho relata resultados parciais <strong>de</strong> um estudo longitudinalcom dois grupos <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> nível intermediário, um experimental e umcontrole, com oito participantes cada, envolvendo atos <strong>de</strong> fala. Osparticipantes fizeram pré-testes <strong>de</strong> julgamento e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> atos <strong>de</strong> falaenvolvendo recusas e pedidos. Após a pré-testagem, o grupo experimentalparticipou <strong>de</strong> 8 sessões <strong>de</strong> instrução explícita e implícita envolvendo o uso<strong>de</strong>sses atos <strong>de</strong> fala durante episódios da série <strong>de</strong> TV intitulada “House” (2ªtemporada), cujas conversas selecionadas e utilizadas neste trabalho<strong>de</strong>monstram aspectos da pragmática da língua inglesa como L2. Após otérmino da coleta longitudinal, os participantes do grupo experimental econtrole serão testados, e seus <strong>de</strong>sempenhos comparados, a fim <strong>de</strong> seanalisar o efeito das sessões <strong>de</strong> instrução explícita e implícita so<strong>br</strong>e aperformance dos participantes do grupo experimental.CONCEPÇÕES DE LEITURA INERENTES À PROVA BRASILMaristela Juchum ( UNISC)Rosângela Ga<strong>br</strong>iel (UNISC)Nas últimas duas décadas, a política educacional <strong>br</strong>asileira visouprioritariamente à universalização do acesso ao ensino fundamental, emcumprimento à exigência estabelecida pela Constituição <strong>de</strong> 1988, que<strong>de</strong>terminou a o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse nível <strong>de</strong> ensino e o <strong>de</strong>ver dos sistemaspúblicos <strong>de</strong> assegurarem sua oferta. Apesar disso, as avaliações externas,entre elas a Prova Brasil, têm revelado o baixo <strong>de</strong>sempenho dos alunos noquesito da competência leitora. Na verda<strong>de</strong> o que está em jogo são,so<strong>br</strong>etudo, duas lacunas em nossa realida<strong>de</strong> escolar: <strong>de</strong> um lado, os alunossequer dominam o código a contento – isto transparece, por exemplo, nacifra <strong>de</strong> quase 20% <strong>de</strong> alunos que, estando já na 4ª série do ensinofundamental, não sabiam quase nada em Língua Portuguesa, em 2003 (INEP,2004); <strong>de</strong> outro, gran<strong>de</strong> parte dos alunos chega à 8ª série sem enten<strong>de</strong>r o quelê. E, é aí que surgem alguns questionamentos: Por que os alunosapresentam tantas dificulda<strong>de</strong>s na leitura? Esta o problema nos alunos, nosprofessores, nas provas, em todos esses atores ou, talvez, em outra variável?O propósito <strong>de</strong>sta pesquisa é ajudar professores e outros profissionais queatuam na educação escolar a enten<strong>de</strong>r por que um número tão elevado <strong>de</strong>alunos conclui o ensino fundamental sem um domínio real das competênciasleitoras. Para isso, será realizada uma análise das concepções <strong>de</strong> leiturasubjacentes à Prova Brasil, realizada pelo INEP, Instituto Nacional <strong>de</strong>estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do Ministério daEducação, confrontando-as com as concepções <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> professores doensino fundamental, nas disciplinas <strong>de</strong> Língua Portuguesa, História,Matemática e Ciências.O PROCESSO COGNITIVO NA ESCRITARui Manuel Cruse (UNISINOS)Isabella <strong>de</strong> Bem (ULBRA)325


Apesar <strong>de</strong> complexa e complicada, a escrita parece exibir um tipo <strong>de</strong>trabalho consistente entre os escritores. Hughey (1983) sugere que oprocesso da escrita po<strong>de</strong> ser dividido num número <strong>de</strong> estágios distintos,compreen<strong>de</strong>ndo a discussão inicial das idéias (<strong>br</strong>ainstorming), passando pelapesquisa, <strong>de</strong>scoberta, criação, revisão e edição com vistas à publicação. Opapel do professor é <strong>de</strong> apoio fundamental em cada uma das etapas, mas otema da redação <strong>de</strong>ve ser escolha dos alunos, bem como a autoria da escritadurante todo o processo. Assim, sugere o autor, os alunos adquirem sua vozautêntica na escrita e o trabalho da escrita terá um <strong>de</strong>senvolvimento natural,incluindo a atenção às feições mais aparentes como ortografia e caligrafia.Fatores psicológicos, lingüísticos e cognitivos fazem da escrita um meiodiscursivo mais complexo e difícil para a maioria das pessoas, seja na línguamaterna ou numa segunda língua. Se consi<strong>de</strong>rarmos apenas fatorescognitivos, normalmente se apren<strong>de</strong> a escrita antes através <strong>de</strong> instruçãoformal do que pelo processo natural <strong>de</strong> aquisição. A escrita exigeaprendizagem prévia e muito mais esforço mental (SKEHAN, 2003). Quemescreve vê-se forçado a se concentrar no sentido das idéias, garantindo queaquilo que escrevem transmite a mensagem pretendida, bem como naprodução das idéias, da forma linear em que elas <strong>de</strong> fato aparecem na página.A produção quase nunca é rápida ou fluente, e nem sempre o sentido ficaclaro. A competência na escrita via <strong>de</strong> regra se <strong>de</strong>senvolve muito lentamentena primeira língua. Normalmente apren<strong>de</strong>-se a escrever <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se tercompletado a aquisição da gramática da fala, <strong>de</strong> modo que durante o ato daescrita as idéias tomam forma muito mais lentamente do que na fala. Amente serve <strong>de</strong> monitor para quem escreve. Conforme se formulamentalmente as sentenças, elas po<strong>de</strong>m sofrer alterações por já que sãomonitoradas pelas experiências aprendidas so<strong>br</strong>e a língua em sua estrutura eemprego. Segundo Scovel (2004), como muitos alunos <strong>de</strong> ESL pensam nasua primeira língua e traduzem frase a frase em vez <strong>de</strong> idéia a idéia, comfreqüência eles experimentam uma enorme frustração quando escrevemnuma segunda língua.APRENDER A LER NO SÉCULO XXI: COM A PALAVRA ASNEUROCIÊNCIASSonia Regina Victorino Fachini (USCP)Essa comunicação preten<strong>de</strong> promover a reflexão a respeito doprocessamento <strong>de</strong> leitura a partir das mais recentes <strong>de</strong>scobertas feitas pelasneurociências, em específico às tratadas por Stanislas Dehaene em seu livro“Lês neurones <strong>de</strong> la lecture”. Os progressos das neurociências e dapsicologia cognitiva conduziram a uma <strong>de</strong>codificação dos mecanismosneuroniais do ato <strong>de</strong> ler. Atualmente, graças à imagem por ressonânciamagnética, são necessários apenas alguns minutos para visualizar as regiõescere<strong>br</strong>ais ativadas quando da <strong>de</strong>codificação das palavras. Segundo Dahaene,por trás <strong>de</strong> cada leitor se escon<strong>de</strong> uma intricada mecânica neural precisa e326


eficaz, capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificar qualquer sistema <strong>de</strong> escrita estudados econhecidos. A imagem cere<strong>br</strong>al nos mostra entre o leitor adulto que emtodos os indivíduos, em todas as culturas do mundo, a mesma regiãocere<strong>br</strong>al, com diferenças mínimas <strong>de</strong> milímetros, intervém para <strong>de</strong>codificaras palavras escritas. Essa região é chamada <strong>de</strong> região occipto temporalesquerda, sendo então consi<strong>de</strong>rada a área cere<strong>br</strong>al responsável peloprocessamento da palavra escrita. O autor assevera que nosso cére<strong>br</strong>o é umórgão estruturado que faz o novo com o velho. Por isso, para apren<strong>de</strong>r novascompetências, reciclamos nossos antigos circuitos cere<strong>br</strong>ais na medida emque permitem um mínimo <strong>de</strong> mudança. Muito antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar e <strong>de</strong> analisaras letras e as palavras, os neurônios foram se especializando noreconhecimento dos objetos. O sistema visual <strong>de</strong> todos os primatas foi-seadaptando a <strong>de</strong>terminadas regularida<strong>de</strong>s presentes no ambiente por via <strong>de</strong>neurônios altamente especializados no seu próprio reconhecimento. Portantopo<strong>de</strong>-se inferir que aqueles que conceberam os diversos sistemas <strong>de</strong> escritafizeram-no através <strong>de</strong> uma vagarosa simplificação, com o intuito <strong>de</strong> obterformas minimalistas das respectivas letras, muito mais ajustadas ao nossosistema nervoso e muito mais simples <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar. Olhando na perspectivada aprendizagem da criança, o que acontece é que o “aprendiz <strong>de</strong> leitor”<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia todo um mecanismo <strong>de</strong> reciclagem funcional, <strong>de</strong> uma parte <strong>de</strong>neurônios relacionados ao sistema visual, e potencia a sua especialização,precisamente, para a leitura. Assim, o tratamento da escrita começa no olho.Somente o centro <strong>de</strong> nossa retina, chamado <strong>de</strong> fóvea, possui uma resoluçãosuficientemente elevada para reconhecer os <strong>de</strong>talhes das letras. A ativaçãocere<strong>br</strong>al vai, pouco a pouco, focalizando-se so<strong>br</strong>e a região occipto temporalesquerda, assumindo-se, assim, como um autêntico marco biológico daaprendizagem da leitura.O trabalho <strong>de</strong> Stanislas Dehaene fornece alguns pontos que direcionam ofato <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>rmos ignorar a complexida<strong>de</strong> das operações <strong>de</strong> que nossocére<strong>br</strong>o lança mão para ler e que “compreen<strong>de</strong>r melhor o órgão que nos fazler, transmitir melhor a nossas crianças esta invenção preciosa que é a leitura,tornar estes conhecimentos úteis para o maior número <strong>de</strong> pessoas, estes sãoos <strong>de</strong>safios para o futuro”.CONSTRUÇÕES GRAMATICAIS E GERENCIAMENTODISCURSIVO: O CASO DAS NÃO-FINITAS PARTICIPAISMaraisa Magalhães Arsénio (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa)Este trabalho investiga as construções participais em posição pré-nuclear noPortuguês do Brasil sob a ótica da Linguística Cognitiva. Baseado nostrabalhos <strong>de</strong> Fauconnier (1994,1997) Fauconnier & Sweetser(1996), Chafe(1994), Golberg (19995), Langacker (1985,1991) e Ferrari (1999), a presentecomunicação lança luz so<strong>br</strong>e as especificida<strong>de</strong>s sintático-semânticas dasConstruções Participais. Primeiramente, parte-se do pressuposto <strong>de</strong> que taisconstruções são pareamentos únicos <strong>de</strong> forma e significado nos termospropostos por Langacker (1987) e Golberg (1995). Desta forma, estas327


construções po<strong>de</strong>m ser representadas por um esquema genérico do tipo [Vparticípio DP PP1 PP2] associado ao sentido geral <strong>de</strong> “resultado <strong>de</strong> umprocesso” (1). A partir <strong>de</strong> tal esquema genérico, temos outros sub-esquemas,associados aos valores semânticos <strong>de</strong> tempo (2), causa (3) e modo (4). Emsegundo lugar, postula-se que as Construções Participais são introdutoras <strong>de</strong>espaços temporais e locativos (5), além <strong>de</strong> espaços <strong>de</strong> domínio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>(física, psicológica ou social) – (6). Também argumenta-se que asConstruções Participais contribuem para o gerenciamento do fluxodiscursivo, uma vez que o papel cognitivo <strong>de</strong> tais construções é o <strong>de</strong> retomarespaços anteriormente abertos ou <strong>de</strong> introduzir espaços a partir <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>loscognitivos ativados previamente. (7).Exemplos:(1) Terminada a aula no auditório pelo professor catedrático, todos seretiraram.(2) Acabada a festa, limpamos a casa.(3) Estimulado pela i<strong>de</strong>ia do professor, resolvo fazer também minhasobservações so<strong>br</strong>e o assunto.(4) Desesperada, pensando em morrer, a moça procurou uma pensão,e já pensava em retornar a Belo Horizonte, quando <strong>de</strong>sco<strong>br</strong>iu que estavagrávida.(5) Findo o jantar, sentaram-se na sala, a irmã mais velha acen<strong>de</strong>u umcigarro, ofereceu à mais nova.A Construção Participial Pré-Nuclear “FINDO” propicia a construção <strong>de</strong> umespaço temporal: Depois que terminou o jantar, sentaram-se nasala.(Gostaria <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar claro que não estou tomando uma construção pelaoutra, ou seja, não consi<strong>de</strong>ro como equivalentes as construções não-finitas efinitas, o teste visa apenas <strong>de</strong>stacar o sentido temporal da não-finita.)(6) Os vizinhos <strong>de</strong> cima fazem barulho, mas os vizinhos <strong>de</strong> baixo são ospiores.Os vizinhos <strong>de</strong> baixo reclamam do nosso barulho. Cansada <strong>de</strong> tanto ouvir<strong>de</strong>saforo da vizinha <strong>de</strong> baixo, Magali resolveu ven<strong>de</strong>r o apartamento.A Construção Participial Pré-Nuclear com Sprep “CANSADA <strong>de</strong> tanto ouvir<strong>de</strong>saforo da vizinha <strong>de</strong> baixo” propicia a construção <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong>domínio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> psíquica (implicatura causal): o estado psicológico <strong>de</strong>cansaço, causado pelo <strong>de</strong>saforo da vizinha <strong>de</strong> baixo, acarreta na venda doapartamento.(7) Bem, mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entreabertacor-<strong>de</strong>-rosa-vivo.328


Ex 112MEspaço EspacialIsolada em seu canteiro...Em termos <strong>de</strong> espaços mentais, temos a abertura <strong>de</strong> novo espaço a partir dospace-buil<strong>de</strong>r “isolada”. Tal abertura <strong>de</strong> espaço é totalmente preditível nodiscurso, pois <strong>de</strong>corre <strong>de</strong> um MCI ativado previamente: “Plantação <strong>de</strong> floresnos jardins”.ATIVIDADES DE COMPREENSÃO LEITORA EM LÍNGUAINGLESAAdriana Rossa (PUCRS)Mariane Rieger (PUCRS)A aplicação <strong>de</strong> teorias so<strong>br</strong>e estratégias <strong>de</strong> compreensão leitora em L2 naprática docente parece, por vezes, ser pouco observada por professores. Oconhecimento relativo às habilida<strong>de</strong>s e estratégias para a leitura por partedos instrutores possibilita uma abordagem <strong>de</strong> compreensão textual commaiores chances <strong>de</strong> sucesso pelo aprendiz.Desenvolvemos e <strong>de</strong>screvemos um conjunto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> compreensãotextual com embasamento nas principais teorias so<strong>br</strong>e o tema. O grupo-alvopara ilustrar a aplicação teórica é supostamente composto <strong>de</strong> estudantesadultos em nível intermediário <strong>de</strong> língua inglesa, em um curso livre. Umtexto autêntico é explorado em termos <strong>de</strong> seus significados explícitos einferenciais, bem como sua micro e macro-estrutura.GT24 Lingüística e ComputaçãoCoor<strong>de</strong>nadoresRove Chishman (UNISINOS)Renata Vieira (PUCRS)PROCESSAMENTO DA LINGUAGEM NATURAL APLICADO ÀBIOLOGIA E BIOMEDICINARodrigo Rafael Villarreal GoulartVera Lúcia Strube <strong>de</strong> Lima329


Estudos colocam que o volume e as características particulares do textocientífico das áreas <strong>de</strong> Biologia e Biomedicina dificultam o acesso àsinformações que atualmente estão disponíveis em artigos científicos viaInternet. Sites <strong>de</strong> busca tradicionais, como o Goolge, classificam seusresultados pela popularida<strong>de</strong>/autorida<strong>de</strong> que estes representam, mas nodomínio das ciências todos os resultados <strong>de</strong> uma busca po<strong>de</strong>m ser relevantes,pois qualquer um <strong>de</strong>les po<strong>de</strong> ser útil na elaboração <strong>de</strong> novas hipóteses. Avariabilida<strong>de</strong> ortográfica, léxica e semântica <strong>de</strong> textos é uma das questõesem aberto que motiva a pesquisa na área do Processamento da LinguagemNatural (PLN), por influenciar diretamente o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> procedimentosautomatizados <strong>de</strong> busca. De forma específica, o reconhecimento preciso <strong>de</strong>termos e seus significados torna possível a classificação <strong>de</strong> documentos ou oestabelecimento <strong>de</strong> relacionamentos entre os conceitos contidos nos mesmos.O reconhecimento <strong>de</strong> termos é tema <strong>de</strong> pesquisa antigo na área <strong>de</strong> PLN. Oemprego <strong>de</strong> dicionários, sistemas <strong>de</strong> regras e aprendizado <strong>de</strong> máquina sãoexemplos <strong>de</strong> técnicas que empregadas em domínios específicos doconhecimento. Dicionários são ricos em informações so<strong>br</strong>e os termosrelacionados mas são limitados quanto a generalização. Sistemas <strong>de</strong> regras eaprendizado <strong>de</strong> máquina conseguem se adaptar melhor as variações léxicas esintáticas mas são <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da sua manutenção ou da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>informações disponível para sua construção, respectivamente. Dentre ostrabalhos investigados neste trabalho, a perspectiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver sistemasque auxiliem os pesquisadores das áreas biológicas e biomédicas naelaboração <strong>de</strong> novas hipóteses é uma das finalida<strong>de</strong>s mais avançadas epromissoras que se apresentam. Dada a so<strong>br</strong>ecarga <strong>de</strong> dados e informações,todos os relatos remetem ao fato <strong>de</strong> que não será possível <strong>de</strong>senvolverinovações tecnológicas nessas áreas, num curto espaço <strong>de</strong> tempo, sem oemprego <strong>de</strong> mecanismos que minerem as informações disponíveis. Amineração <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> biologia e biomedicina é uma área a<strong>br</strong>angente queestá amadurecendo e se especializando <strong>de</strong> tal forma que subáreas estão se<strong>de</strong>stacando, como os da extração e elaboração <strong>de</strong> recursos léxicos,terminológicos e ontológicos, a manutenção automática <strong>de</strong>sses recursos, efinalmente a recuperação <strong>de</strong> informações. Este trabalho reúne informações ealguns resultados <strong>de</strong> pesquisas <strong>de</strong>senvolvidas para este fim na comunida<strong>de</strong><strong>de</strong> pesquisadores do Processamento da Linguagem Natural.UMA ABORDAGEM CONEXIONISTA AO ESTUDO DO LÉXICOJuliano Bellinazzi Nequirito (UNICAMP)O propósito <strong>de</strong>ste artigo é mostrar como o conexionismo e suas ferramentascomputacionais oferecem recursos para a construção <strong>de</strong> estruturassemântico-lexicais, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viabilizar a compreensão dasrelações lexicais entre as palavras pertencentes a essa estrutura, bem comolançar alguma luz so<strong>br</strong>e a forma como ocorre o acesso lexical na mentehumana. Em primeiro lugar, faço um so<strong>br</strong>evôo so<strong>br</strong>e as histórias do330


conexionismo e das teorias <strong>de</strong> acesso lexical, bem como so<strong>br</strong>e o impacto,sofrido não somente por estas, mas por todas as idéias mentalistas, a partirdo ressurgimento do conexionismo na década <strong>de</strong> 80, trazido <strong>de</strong> volta àslinhas <strong>de</strong> pesquisa por autores como Kohonen, Rumelhart, McClelland,Elman, <strong>de</strong>ntre outros. Em seguida mostrarei como, através dos chamadosMapas Auto-Organizáveis <strong>de</strong> Kohonen (Self-Organizing Maps, ousimplesmente SOM), é possível construir uma estrutura semântico-lexical apartir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado corpus lingüístico, obtido através <strong>de</strong> testes <strong>de</strong>associação <strong>de</strong> palavras. Os Mapas <strong>de</strong> Kohonen são representaçõestopológicas, e portanto visuais, <strong>de</strong> seu input, tornando visíveis as diferentesáreas <strong>de</strong> ativação correspon<strong>de</strong>ntes às suas entradas lexicais, <strong>de</strong> forma que épossível se obter o que se po<strong>de</strong>ria chamar <strong>de</strong> “equivalentes visuais” dosmapas semânticos. A<strong>de</strong>mais, tais representações permitem uma melhorcompreensão <strong>de</strong> algumas das mais aceitas teorias <strong>de</strong> acesso lexical. Por fim,mostro como os recursos computacionais presentes na ferramenta SOMoferecem meios para se analisar tanto as relações semânticas entre aspalavras do léxico gerado (sinonímia, hiponímia/hiperonímia e taxonomias,etc.), bem como a prototipicida<strong>de</strong> das diferentes classes <strong>de</strong> palavras que ocompõem. Para que o estudo fosse frutífero, as palavras-alvo dos testes <strong>de</strong>associação pertencem a um domínio conceitual específico (o alcoolismo), <strong>de</strong>forma a se obter um corpus lexicologicamente coeso e, <strong>de</strong>ssa forma, possível<strong>de</strong> ser analisado conforme os objetivos acima expostos.RECONHECIMENTO AUTOMÁTICO DE RELAÇÕES ENTREENTIDADES MENCIONADAS EM TEXTOS DE LÍNGUAPORTUGUESAMírian Bruckschen (UNISINOS)Renata Vieira (PUCRS)Sandro Rigo (UNISINOS/UFRGS)O reconhecimento <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s mencionadas (ou EMs, entida<strong>de</strong>s com nomepróprio) e relações entre estas é uma importante questão para a LinguísticaComputacional, e é também o objeto <strong>de</strong>ste trabalho. Consi<strong>de</strong>ra-se que estatarefa é um primeiro e importante passo na análise semântica <strong>de</strong> textos.Numa iniciativa pioneira no cenário <strong>de</strong> processamento da língua portuguesa,é proposto o HAREM ("HAREM é uma Avaliação <strong>de</strong> Reconhecedores <strong>de</strong>Entida<strong>de</strong>s Mencionadas"), uma avaliação conjunta <strong>de</strong> sistemasreconhecedores <strong>de</strong> EMs. Na edição atual, foi criada uma trilha <strong>de</strong>reconhecimento <strong>de</strong> relações entre estas EMs, na qual participamos com opresente trabalho, que reconhece relações entre EMs i<strong>de</strong>ntificadas peloanalisador PALAVRAS. São reconhecidas através <strong>de</strong> regras lingüísticasrelações <strong>de</strong>: i) i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre EMs, atribuída a EMs que refiram-se aomesmo objeto no mundo ("Carmen Miranda", "Carmen Miranda" e"Carmen", em diferentes posições do texto); ii) inclusão entre EMsreferentes a lugar, atribuída à EMs <strong>de</strong> lugar cujos objetos no mundo possuamrelação <strong>de</strong> inclusão ("Europa" inclui "Budapeste") ; e iii) ocorrência entre331


EMs <strong>de</strong> evento/<strong>org</strong>anização em EMs <strong>de</strong> lugar ( "Exército Zapatista <strong>de</strong>Libertação Nacional" ocorre_em "México"). Cada relação tem heurísticaspróprias para seu reconhecimento. A relação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> entre EMs, queobteve os melhores resultados <strong>de</strong>ntre as três (com Medida F <strong>de</strong> 68%), éreconhecida através dos seguintes passos: i) matching exato dos sintagmasentre as EMs analisadas ("México" e "México"); ii) sigla entre EMs("EZLN" e "Exército Zapatista <strong>de</strong> Libertação Nacional") e iii) parte do nomeentre EMs que refiram-se a pessoas ("Carmen Miranda" e "Carmen").Quanto às relações mais complexas, <strong>de</strong> inclusão e ocorrência, estas tiveramresultados menos expressivos, mas ainda assim razoáveis para uma primeiraabordagem, com Medida F <strong>de</strong> 7% e 12% respectivamente. As regras parareconhecimento <strong>de</strong>stas relações estão relacionadas à posição das EMs <strong>de</strong>lugar, <strong>org</strong>anização e evento nas sentenças, além da existência <strong>de</strong> preposição<strong>de</strong> localização/inclusão entre elas. Isto posto, atribuímos os resultados <strong>de</strong>stasúltimas relações a vários fatores combinados: o pré-processamento peloPALAVRAS (atribuição errônea <strong>de</strong> categoria às EMs, como nos casos <strong>de</strong>EMs <strong>de</strong> lugar físico que foram marcadas como <strong>org</strong>anização); ao reduzidonúmero <strong>de</strong> heurísticas para tratamento <strong>de</strong>stas relações; e, em particular, àdificulda<strong>de</strong> em tratar relações complexas apenas fazendo uso <strong>de</strong> regraslingüísticas, sem a utilização <strong>de</strong> bases <strong>de</strong> dados externas. Este trabalho estáem andamento, e as técnicas aqui apresentadas já estão sendo revisadas como objetivo <strong>de</strong> melhorar os resultados.NECESSIDADE E DISPONIBILIDADE DE ONTOLOGIAS NALÍNGUA PORTUGUESALarissa Astrogildo <strong>de</strong> Freitas (PUCRS)Renata Vieira (PUCRS)A Web é um enorme repositório <strong>de</strong> dados e administrá-los é uma missão umtanto trabalhosa. Sendo assim, estudos so<strong>br</strong>e ontologias ganharam novoimpulso com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> incentivar uma representação formal doconhecimento, facilitando a sua administração. No entanto, trabalhosrelacionados à ontologia na língua portuguesa ainda são pequenos e pontuais,embora exista um gran<strong>de</strong> interesse da aca<strong>de</strong>mia e da indústria. Inúmerasciências utilizam e reconhecem sua importância, <strong>de</strong>ntre elas po<strong>de</strong>mos citar:ecologia, nanotecnologia, direito, pediatria e geografia. Neste trabalhoapresentamos uma visão geral so<strong>br</strong>e ontologias e sua necessida<strong>de</strong>, bem comoalgumas propostas disponíveis nessa área. A importância das ontologias paraa representação do conhecimento fica clara quando se verifica a extensa lista<strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> pesquisa e publicações existentes so<strong>br</strong>e o assunto. Asontologias são o ponto mais elevado já atingido em termos <strong>de</strong> representação,compartilhamento e reutilização do conhecimento. Constatamos adificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar ontologias na língua portuguesa e a existência <strong>de</strong>poucas propostas para o nosso idioma. Além disso, a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>compartilhá-las torna o trabalho moroso. Ao longo do trabalho realizamosuma revisão bibliográfica so<strong>br</strong>e o gran<strong>de</strong> projeto da Web Semântica332


proposto por Tim Berners-Lee, em especial, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> camadas nos anos<strong>de</strong> 2000 e 2005, e o papel das ontologias neste contexto. Familiarizamos oleitor com os seguintes conceitos so<strong>br</strong>e ontologias: tipos (alto nível, domínio,tarefa e aplicação) e níveis (vocabulário, taxonomia, relacional, axiomático),construção automática e semi-automática, metodologias <strong>de</strong> construção (Cyc,Enterprise Ontology, Toronto Virtual Enterprise, KACTUS, Methontology,Sensus e On-to-Knowledge), linguagem Web para representação <strong>de</strong>ontologias OWL, ferramenta para edição Protégé, áreas <strong>de</strong> aplicação,interoperabilida<strong>de</strong> (alinhamento, mapeamento, combinação e integração) euma <strong>br</strong>eve <strong>de</strong>scrição so<strong>br</strong>e projetos (OntoLP: Construção Semi-automática<strong>de</strong> Ontologias a partir <strong>de</strong> textos da Língua Portuguesa e SiSe: Medida <strong>de</strong>similarida<strong>de</strong> semântica entre ontologias em português) já existentes noportuguês. As ontologias encontradas para a língua portuguesa não têmainda relação com aplicações para a Web Semântica, mas é natural que coma evolução <strong>de</strong>ste gran<strong>de</strong> projeto, a construção, o uso e o reuso <strong>de</strong> ontologiasem língua portuguesa se torne freqüente. Como trabalho futuro <strong>de</strong>stelevantamento inicial, queremos conhecer mais <strong>de</strong>talhes a respeito dasontologias da língua portuguesa i<strong>de</strong>ntificadas, bem como verificar aviabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu reuso para pesquisas so<strong>br</strong>e ontologias e <strong>de</strong>senvolveraplicações computacionais, como mapeamento e integração.A DIFICULDADE DA TAREFA DE RESOLUÇÃO DECORREFERÊNCIA EM PLNTatiane <strong>de</strong> Moraes Coreixas (PUCRS)Renata Vieira (PUCRS)A resolução <strong>de</strong> correferência é uma tarefa importante em várias aplicações<strong>de</strong> Processamento da Linguagem Natural (PLN), como a sumarizaçãoautomática e a extração <strong>de</strong> informação. Define-se correferência como arelação entre elementos lingüísticos que se referem a uma mesma entida<strong>de</strong><strong>de</strong> mundo. Sua resolução tem como intuito <strong>de</strong>ixar a relação entre asentida<strong>de</strong>s evi<strong>de</strong>nciadas. Essa tarefa é, muitas vezes, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dacompreensão do contexto textual e conhecimento <strong>de</strong> mundo. Estas sãoquestões lingüísticas e extralingüísticas complexas relacionadas àshabilida<strong>de</strong>s cognitivas humanas e que não são facilmente reproduzidas porsistemas computacionais. O problema <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> correferência po<strong>de</strong> servisto como: tendo um conjunto <strong>de</strong> expressões referenciais <strong>de</strong> um texto,necessita-se i<strong>de</strong>ntificar quais são os subconjuntos <strong>de</strong> sintagmas que fazemreferência a mesma entida<strong>de</strong>. Para resolver as referências automaticamente,faz-se necessário o uso <strong>de</strong> conhecimento dos variados níveis <strong>de</strong>processamento lingüístico. É preciso realizar a análise sintática das frases,análise do contexto e da semântica, o que po<strong>de</strong> envolver conhecimento <strong>de</strong>mundo. Com uma combinação <strong>de</strong>ssas informações é possível realizar ai<strong>de</strong>ntificação das expressões correferentes. Porém, capturar um mo<strong>de</strong>lo docontexto é ainda um <strong>de</strong>safio gran<strong>de</strong> para a área. Entre os casos <strong>de</strong> fácilresolução estão as repetições simples (anáforas diretas). Os principais333


problemas encontrados por esses sistemas estão relacionados com os tipos<strong>de</strong> anáfora indireta (incluindo anáforas pronominais) e associativa. Nessestipos <strong>de</strong> anáfora, o núcleo das expressões correferentes não são os mesmos,como ocorre no caso das anáforas diretas. I<strong>de</strong>ntificar a relação entre osreferentes neste caso <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do conhecimento semântico que se estabelecenão só através das relações entre as palavras (como no caso <strong>de</strong> relações <strong>de</strong>sinonímia e hiperonímia), mas também é influenciado pelo contexto textuale conhecimento <strong>de</strong> mundo. Durante o levantamento das entida<strong>de</strong>scorreferentes, geralmente, mais <strong>de</strong> uma expressão é consi<strong>de</strong>rada comocandidata a entida<strong>de</strong>. Decidir quais antece<strong>de</strong>ntes são válidos para montar asca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> correferência não é, também, uma tarefa simples. Uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>correferência po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como o conjunto <strong>de</strong> todas as expressõesreferenciais a uma <strong>de</strong>terminada entida<strong>de</strong> encontrada em um texto. Selecionarautomaticamente a expressão mais informativa <strong>de</strong>ssa ca<strong>de</strong>ia é outra questãoigualmente complexa para as aplicações <strong>de</strong> PLN. Existem alguns sistemasrecentemente <strong>de</strong>senvolvidos para tratar resolução <strong>de</strong> correferência em línguaportuguesa. Neste trabalho discutimos alguns <strong>de</strong>les, mas ainda há muito oque pesquisar nessa área.A POLISSEMIA DOS VERBOS PSICOLÓGICOS: UM ESTUDOCOMPARATIVO ENTRE O ESPANHOL E O PORTUGUÊS COMBASE NO PARADIGMA FRAMENET.Silvia Matturro Panzardi Foschiera (UNISINOS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é realizar uma investigação semânticocomputacional<strong>de</strong> léxico. Busca <strong>de</strong>senvolver um estudo comparativo entre alíngua espanhola e a portuguesa <strong>de</strong> vertente <strong>br</strong>asileira, abordando apolissemia dos verbos psicológicos e utilizando como base o uso <strong>de</strong> re<strong>de</strong>ssemânticas. A investigação se circunscreve teoricamente <strong>de</strong>ntro da área daLingüística Cognitiva e baseia-se na Semântica <strong>de</strong> Frames.O léxico computacional Spanish FrameNet servirá como ponto <strong>de</strong> partidapara a realização <strong>de</strong> um mapeamento quanto à informação relativa àestrutura semântica e sintática dos verbos psicológicos nos idiomas Espanhole Português. Como o Spanish FrameNet está conectado ao FrameNet atravésdos frames semânticos, objetiva-se realizar a mesma conexão entre os dadoslexicais do Spanish FrameNet com os dados da língua portuguesa,comparando ambas línguas. A anotação dos textos em todos os projetosinterligados está em Língua Inglesa, sendo assim, a investigação adquire umcaráter multilíngüe ao envolver três idiomas.Para o estudo dos verbos classificados como psicológicos será adotada umaperspectiva semântico-conceitual e relacional na classificação, i<strong>de</strong>ntificandoo domínio cognitivo-conceptual. Esta perspectiva se revela tanto no núcleosemântico <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>signações como no tipo <strong>de</strong> relações semânticas quemantém com o verbo e/ou entre si as diferentes entida<strong>de</strong>s actanciaisevocadas.334


Ao estudar os padrões <strong>de</strong> lexicalização entre espanhol e português dosverbos polissêmicos <strong>de</strong> processamento mental, será possível verificar quaisos itens lexicais que possuem padrões diversos nestas línguas e propor, apartir da análise, uma nova classificação para esses verbos.FRAMECORP: REFLEXÕES PRELIMINARES SOBRE AANOTAÇÃO DO CORPUS SUMMITRove Chishman (UNISINOS)João Ga<strong>br</strong>iel Padilha (BIC, FAPERGS, UNISINOS)Carla ten KatheN (PIBIC, CNPq, UNISINOS)O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é apresentar os resultados preliminares dosestudos empreendidos no âmbito do projeto FrameCorp, cujo objetivo geralé a investigação semântico-computacional do léxico do Português do Brasila partir da utilização <strong>de</strong> corpus eletrônico. É nosso propósito verificar emque medida a teoria dos frames <strong>de</strong> Fillmore (1982, 1985) se presta à<strong>de</strong>scrição semântica <strong>de</strong> verbos. Justifica-se esta proposta ressaltando aescassez <strong>de</strong> investigações voltadas para a construção <strong>de</strong> recursoscomputacionais com base em estudos semânticos. Em termos teóricos,preten<strong>de</strong>-se não apenas validar a Semântica dos Frames, verificando suacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scritiva e explanatória, como também contribuir para seuavanço, haja vista que ocupamo-nos <strong>de</strong> dados lingüísticos do Português. Emtermos aplicados, interessa a esta investigação a construção <strong>de</strong> corpus comanotação semântica a partir <strong>de</strong> evidência empírica. Em seu primeirosemestre <strong>de</strong> execução, o Projeto se ocupou em levar a cabo doisexperimentos: um estudo-piloto a partir da <strong>de</strong>scrição do frame Statement e aanotação do subcorpus SUMMIT. Ambos os experimentos partiram domesmo subcorpus, formado por 50 textos do domínio ciência da Folha <strong>de</strong>São Paulo. Para o primeiro experimento, partimos dos resultados da extraçãodos itens lexicais e suas freqüências. Daí a escolha pelo frame Statement,que agrupa verbos como dizer, falar, alegar, <strong>de</strong>clarar. O segundoexperimento, por sua vez, tratou <strong>de</strong> completar a anotação, procurando darconta dos <strong>de</strong>mais verbos. Como conseqüência, <strong>de</strong>paramo-nos com umamaior diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> frames e suas peculiarida<strong>de</strong>s. Partindo do relato <strong>de</strong>staprimeira fase do projeto, é nosso propósito aqui refletir so<strong>br</strong>e tal experiência,refletindo so<strong>br</strong>e seus acertos e dificulda<strong>de</strong>s. Em termos teóricos, uma série<strong>de</strong> questões emergem: (i) a validação da <strong>de</strong>scrição da base <strong>de</strong> dadosFrameNet para os dados do Português; (ii) os diferentes padrões <strong>de</strong>lexicalização entre as línguas portuguesa e inglesa e (iii) a semântica verbale sua diversida<strong>de</strong> no corpus. Em termos aplicados, <strong>de</strong>stacamos a experiência<strong>de</strong> usar a ferramenta SALTO, <strong>de</strong>senvolvida pelo grupo <strong>de</strong> LingüísticaComputacional da Saarland University (Erk et al, 2003; Burchardt, 2006).Destacamos aqui as dificulda<strong>de</strong>s enfrentadas no que tange às etapas <strong>de</strong> préprocessamentodo corpus, em especial o uso do parser PALAVRAS e doconversor XML Tiger, e a etapa <strong>de</strong> anotação e posterior confrontação dasanotações.335


TRATAMENTO AUTOMÁTICO DA LINGUAGEMMirian Rose Brum-<strong>de</strong>-Paula (UFSM)Abordar a linguagem e a informática focalizando a tradução automática dalinguagem (TAL) pressupõe pesquisar so<strong>br</strong>e as relações existentes entre ohomem e a máquina. Duas questões importantes – intimamente ligadas aessas relações – precisam ser evocadas: 1) Por que a linguagem humana étão difícil <strong>de</strong> ser compreendida, <strong>de</strong>cifrada, mo<strong>de</strong>lizada? e 2) por que asregras responsáveis pela transformação <strong>de</strong> intenções em produção oral ouescrita - e pela transformação da produção oral escrita em sentido - são tãodifíceis <strong>de</strong> serem i<strong>de</strong>ntificadas para que possamos fornecê-las aoscomputadores? Para tentar respon<strong>de</strong>r a essas questões, propomos um <strong>br</strong>evepanorama histórico centrado no tema homem-máquina e o estado atualreferentes aos trabalhos em TAL.LINGÜÍSTICA E COMPUTAÇÃOMaristela Maria Kohlrausch (UNISINOS)Este trabalho está vinculado a um projeto <strong>de</strong> pesquisa maior (CHISHMAN,2007) que tem como objetivo fazer uma investigação semânticocomputacionaldo léxico do Português do Brasil a partir da utilização <strong>de</strong>corpus eletrônico. A abordagem teórica e metodológica utilizada é aSemântica <strong>de</strong> Frames (Fillmore 1982, 1985), que está inserida na área daLingüística Cognitiva. Sob a perspectiva da Semântica <strong>de</strong> Frames, foi criadaa base <strong>de</strong> dados FrameNet, que apresenta as possíveis combinaçõessemânticas e sintáticas (valências) <strong>de</strong> cada palavra, juntamente com cada umdos seus sentidos, os quais são, nesta pesquisa, os verbos <strong>de</strong> elocução. Estetrabalho apresenta uma proposta <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>stes verbos a partir <strong>de</strong>steparadigma e, nossa escolha se justifica ao fato <strong>de</strong>stes verbos serem umaclasse que expressa uma série <strong>de</strong> nuances semânticas, como, por exemplo, asubjetivida<strong>de</strong> e a expressão da emoção, permitindo que diferentesperspectivas se voltem para seu estudo. Esta comunicação vai apresentar osresultados <strong>de</strong> um estudo empírico realizado a partir da extração dos verbos<strong>de</strong> elocução classificados por Neves (2000) <strong>de</strong> um corpus constituído por158 textos. Para a extração utilizou-se uma das ferramentas da Lingüística<strong>de</strong> Corpus, mais especificamente, o concordanciador AntConc 3.2.1w. Comoresultado parcial, <strong>de</strong>stacamos que nem todos os verbos <strong>de</strong> elocuçãopertencem, conforme <strong>de</strong>scrição do FrameNet, ao Frame Statement, que seriao equivalente aos verbos <strong>de</strong> elocução no português. Embora alguns verbos,como “dizer” e “afirmar” tenham apresentado uma <strong>de</strong>scrição semelhante aodo FrameNet, ocorreram casos, como “argumentar” e “consi<strong>de</strong>rar”, quenão apresentaram nenhuma relação com o Frame Statement. Percebemosque, ao compararmos duas línguas, questões como os diferentes níveis <strong>de</strong>granularida<strong>de</strong> e paralelismos entre as mesmas são totalmente relevantes.Este estudo contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> sistemas computacionais336


que necessitam processar a linguagem humana, em especial à pesquisadoresdo processamento da linguagem natural (PLN).UTILIZANDO FERRAMENTAS DA LINGÜÍSTICA DE CORPUSPARA A COLETA DE PHRASAL VERBSMarcos Aninkvicius Gazzana (UNISINOS)Os Phrasal Verbs são construções verbais características da língua inglesaconstituídas por um verbo e uma ou duas partículas. Tais estruturas sãosintática e semanticamente complexas, uma vez que não se enquadram emregras lógicas e homogêneas. Os Phrasal Verbs apresentam sentidos mais oumenos metafóricos além <strong>de</strong> uma variação no número <strong>de</strong> seus componentes, oque faz com que os concordanciadores não dêem conta <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntificaçãoe coleta automática. No entanto, através <strong>de</strong> uma combinação <strong>de</strong> ferramentasda Lingüística <strong>de</strong> Corpus e cálculos estatísticos é possível obter resultadossatisfatórios na i<strong>de</strong>ntificação dos Phrasal Verbs. Através <strong>de</strong> um softwaregratuito chamado AntConc 3.2.1w foi realizada a coleta <strong>de</strong> Phrasal Verbsque fizeram parte <strong>de</strong> uma pesquisa mais ampla em nível <strong>de</strong> mestradorealizada recentemente. O AntConc 3.2.1w é um conjunto <strong>de</strong> ferramentasque permite a análise lingüística <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminado corpus eletrônico e aaplicação <strong>de</strong> cálculos estatísticos, como, por exemplo o T-score. Tendo emvista tais consi<strong>de</strong>rações, esta comunicação tem por objetivo apresentar osprocedimentos metodológicos utilizados para a i<strong>de</strong>ntificação e coleta <strong>de</strong>Phrasal Verbs abordando alguns aspectos relacionados aos problemasencontrados durante tais procedimentos metodológicos e <strong>de</strong>screvendo oscritérios adotados durante tal processo. Além disso, será apresentada uma<strong>br</strong>eve <strong>de</strong>scrição das ferramentas do AntConc 3.2.1w a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar suautilização durante o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e coleta <strong>de</strong> dados.TEORIA DO CONSTRUCIONISMO DINÂMICO (TCD) E MODELOHIPOTÉTICO DE COMPUTAÇÃO DA LINGUAGEMWagner Ferreira Lima (UEL)A presente comunicação propõe apresentar os pressupostos básicos quesustentam a Teoria do Construcionismo Dinâmico (TCD) e o plano geral <strong>de</strong>um mo<strong>de</strong>lo hipotético <strong>de</strong> processamento da linguagem. Essa teoria tantoquanto o seu mo<strong>de</strong>lo estão em fase <strong>de</strong> aprimoramento, ajuste eincrementação; contudo seus princípios norteadores já se encontramestabelecidos. A TCD <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o caráter construcionista e dinâmico dossistemas humanos, ou seja, o fato <strong>de</strong> que nossa compreensão dos eventosnão constitui um reflexo especular dos mesmos, mas sim um processodinâmico e holístico <strong>de</strong> construção dos sentidos. Esse processo é formadopela interação <strong>de</strong> quatro classes <strong>de</strong> rotinas psíquicas, <strong>de</strong>nominadas conformeo efeito geral que produzem: o sentir (S), o interagir (I), o compreen<strong>de</strong>r (C)e o expressar (E). O sentir orienta-se para a subjetivida<strong>de</strong> do falante, como,p. ex., a preservação da auto-estima; o compreen<strong>de</strong>r, para as relações337


interpessoais, como, p. ex., a persuasão; o compreen<strong>de</strong>r, para averda<strong>de</strong>/falsida<strong>de</strong> das <strong>de</strong>scrições lógico-semânticas; e, por fim, o expressar,para a socialização das experiências dos interlocutores. A TCD postula quetais classes <strong>de</strong> rotinas são fruto da experimentação <strong>de</strong> disposições psíquicasinatas e que, por isso mesmo, estão entranhadas nas experiências. O mo<strong>de</strong>lohipotético que disso <strong>de</strong>riva prevê a articulação <strong>de</strong> algumas rotinas queconstituem tais classes <strong>de</strong> processos psíquicos. Por ora, tais processos estãoescritos em linguagem formal, baseados nos símbolos e operadores da lógicaclássica, e não em linguagem <strong>de</strong> programação. Apesar disso, a forma <strong>de</strong>computação que preten<strong>de</strong>mos simular distancia-se dos princípios rígidos dalógica clássica. As principais características <strong>de</strong> seu modus operandi sãomuito semelhantes ao do processamento neuropsicológico: a) computaçãoparalela e distribuída; b) emprego <strong>de</strong> cálculos estatísticos, e não categóricos,dos dados; b) processamento por parentesco <strong>de</strong> família, e não por critérios <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong> e suficiência; c) processamento retroativo e dinâmico dasinformações. Com isso, a TCD preten<strong>de</strong> ser uma teoria geral da linguagemem uso, pois permite integrar sob um mesmo princípio teóricoepistemológicoaspectos das experiências humanas tratados até entãoseparadamente, como a linguagem verbal, a cognição e os afetos.COMPILAÇÃO E ANOTAÇÃO DE CORPUS – UM ESTUDO SOBREOS COMPOSTOS NOMINAISLílian Figueiró Teixeira (UNISINOS)Lucas Lermen (UNISINOS)A utilização <strong>de</strong> recursos computacionais para o estudo da língua tem setornado cada vez mais freqüente. Além <strong>de</strong> facilitar o trabalho do lingüista,com dados mais precisos e obtidos rapidamente, é possível compilar corpora(conjuntos <strong>de</strong> textos <strong>org</strong>anizados com fins <strong>de</strong> pesquisa) consi<strong>de</strong>ravelmentegran<strong>de</strong>s. No entanto, encontrar um corpus apropriado aos propósitos <strong>de</strong> um<strong>de</strong>terminado estudo nem sempre é fácil. Nesta comunicação, nosso objetivoé refletir so<strong>br</strong>e a metodologia que adotamos para realizar a coleta ecompilação <strong>de</strong> corpus paralelo. Como parte <strong>de</strong> pesquisa em nível <strong>de</strong>mestrado, cujo propósito é estudar a semântica dos compostos nominaisatravés da sua tradução do inglês para o português, a compilação do corpusexigiu uma série <strong>de</strong> procedimentos computacionais. Inicialmente foi feita acoleta <strong>de</strong> <strong>de</strong>z edições da revista National Geographic em inglês e a suatradução em português. Essa revista foi escolhida por ser conceituada e osmesmos artigos publicados em inglês são traduzidos na íntegra na edição<strong>br</strong>asileira. Além disso, as principais reportagens estão disponíveisgratuitamente on-line. Após a compilação do corpus, precisava-se encontraros compostos nominais formados por dois substantivos (NN), já queposteriormente a semântica <strong>de</strong>ssas expressões seriam analisadas. Assim,tornou-se necessário a etiquetação dos textos em inglês, tarefa que constituina classificação morfológica feita com o auxílio <strong>de</strong> uma ferramenta(etiquetador). Por ser gratuito e confiável, utilizou-se o TreeTagger, que338


exige um pré-processamento, ou seja, o corpus precisa esta itemizado, umapalavra por linha. Para realizar esta tarefa, foi <strong>de</strong>senvolvido um itemizadorque utiliza a arquitetura Java J2SE. Com o corpus <strong>de</strong>vidamente etiquetado, aextração dos compostos foi possível através <strong>de</strong> uma outra ferramenta, umextrator <strong>de</strong>senvolvido com a mesma arquitetura. Através <strong>de</strong>ssa ferramenta,buscaram-se os compostos formados por dois substantivos sem que houvesseoutros substantivos imediatamente antes ou <strong>de</strong>pois e a sua freqüência foimedida. Entre os resultados da extração, encontram-se predominantementecompostos que ocorrem uma única vez no corpus (hapax). Isso nãoconfigura um problema, já que, na fase <strong>de</strong> análise semântica, os compostossão <strong>org</strong>anizados <strong>de</strong> acordo com características gerais e são atribuídasetiquetas semânticas que especificam as relações entre os dois substantivosdo composto. Para o estudo da tradução dos compostos, o corpus foialinhado através da ferramenta Vanilla Aligner, que foi <strong>de</strong>senvolvida naPUCSP (grupo <strong>de</strong> pesquisa do LAEL) e é disponibilizada gratuitamente.Espera-se com este estudo contribuir para as pesquisas em PLN e emespecial para as tarefas <strong>de</strong> tradução automática.COMUNICAR E KOMMUNIZIEREN: PROPOSTA DE DESCRIÇÃOÀ LUZ DA SEMÂNTICA DE FRAMESJaqueline Beatriz ten Kathen (UNISINOS)Isa Mara da Rosa Alves (UNISINOS,UNESP)Este trabalho estuda a Semântica <strong>de</strong> frames, que está inserida na área daLíngüística Cognitiva. À luz da Semântica <strong>de</strong> Frames, foi criada e projetadaa ferramenta FrameNet (FN), que apresenta cenários ou situações <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>unida<strong>de</strong>s lexicais (LU). Para a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>stes cenários são previstoselementos frame que assumem papéis situacionais. O estudo aquiapresentado é um subprojeto do projeto FrameCorp, <strong>de</strong>senvolvido nocontexto do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Lingüística Aplicada daUNISINOS. Para realizarmos este estudo, analisamos os verbos comunicarno português e kommunizieren no alemão. O verbo comunicar é um verborelevante no corpus <strong>de</strong> análise do projeto maior, fato que justifica suaescolha. O verbo kommunizieren foi escolhido por conter os sentidossemelhantes a comunicar mais freqüentes no corpus do projeto, além disso,é bastante freqüente na língua alemã. A análise empírica possibilitoui<strong>de</strong>ntificar padrões <strong>de</strong> lexicalização distintos entre português, alemão e oinglês (língua do FN <strong>de</strong> Berkeley, que serviu <strong>de</strong> referência para a <strong>de</strong>scriçãodos frames e elementos frame). Tais reflexões possibilitaram concluir que oframe Communication é evocado pelos verbos nas três línguas, entretanto,ele não contempla todos os sentidos <strong>de</strong>notados pelo verbo comunicar, sendoque alguns <strong>de</strong>sses sentidos evocam o frame Connectos. Além disso, observasetambém que comunicar é mais polissêmico do que kommunizieren, ouseja, assim como ocorre no inglês, o verbo do alemão também não codificatodos os sentidos evocados pelo verbo do português. Os resultados não sãoconclusivos, entretanto, evi<strong>de</strong>nciam a importância <strong>de</strong> estudos multilíngües339


para auxiliar nas <strong>de</strong>cisões necessárias para a construção do FN Brasil e paraa anotação <strong>de</strong> corpus proposta pelo projeto FrameCorp.LINGÜÍSTICA E TECNOLOGIAS INFORMATIZADAS: UMAEXPERIÊNCIA DO GRUPO INTERDISCIPLINAR DE PESQUISASEM LINGÜÍSTICA INFORMÁTICAZilda Maria Zapparoli (USP/CNPq)Nei<strong>de</strong> Ferreira Gaspar (USP)E<strong>de</strong>nis Gois Cavalcanti (USP)Certificado pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo e cadastrado no Diretório <strong>de</strong>Grupos <strong>de</strong> Pesquisa no Brasil do CNPq em 2002, o Grupo Interdisciplinar <strong>de</strong>Pesquisas em Lingüística Informática reúne docentes, pós-graduandos e exlunos<strong>de</strong> pós-graduação da USP, com o objetivo <strong>de</strong> promover intercâmbio <strong>de</strong>experiências entre pesquisadores das ciências exatas e da ciência dalinguagem.As investigações do Grupo dão especial atenção a aplicações <strong>de</strong> tecnologiasinformatizadas em análises lexicais, textuais e discursivas, pela geração <strong>de</strong>bases <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> diferentes tipologias <strong>de</strong> textos (verbais orais ou escritos,<strong>de</strong> caráter técnico, literário, jurídico, jornalístico, publicitário, patológico),em diferentes línguas, para diferentes finalida<strong>de</strong>s (ensino, pesquisa, perícia,diagnóstico), e da análise das bases geradas mediante a utilização <strong>de</strong>ferramentas informáticas e <strong>de</strong> métodos estatístico-<strong>de</strong>scritivos.Na exploração da constituição lexical, textual e discursiva, aplica-se ométodo <strong>de</strong> análise <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> André Camlong (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ToulouseII). Fundado na matemática e na estatística paramétrica, o método permite aanálise quantiqualitativa do léxico, que indica apontamentos para a análisetextual e discursiva.Da aplicação do método resultam: (1) levantamento lexical, comconstituição <strong>de</strong> vocabulários <strong>de</strong> freqüência e <strong>de</strong> tabelas <strong>de</strong> distribuição <strong>de</strong>freqüências - cálculo aritmético - tratamento quantitativo; (2) constituição<strong>de</strong> vocabulários preferenciais, normais e diferenciais, a partir <strong>de</strong> tabelas <strong>de</strong><strong>de</strong>svios reduzidos - cálculo algé<strong>br</strong>ico - tratamento quantiqualitativo; (3)aplicação <strong>de</strong> testes estatísticos - normalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> distribuição lexical,correlação, entre outros. Esses resultados dão a conhecer o léxico através <strong>de</strong>uma <strong>de</strong>scrição lexical quantiqualitativa.Os resultados são <strong>de</strong>scritos em trabalhos relativos à análise dos seguintescorpora:- Corpus <strong>de</strong> Discursos Orais - Português Falado <strong>de</strong> São Paulo (Zilda MariaZapparoli);- Corpus <strong>de</strong> Discursos Literários - Fernando Pessoa (João Martins Ferreira);Machado <strong>de</strong> Assis (Daniela Fregonese Bragazza); Realismo Fantástico(Nei<strong>de</strong> Ferreira Gaspar); Guimarães Rosa (Márcia Angélica dos Santos);- Corpus <strong>de</strong> Discursos Bíblicos - Epístolas <strong>de</strong> São Paulo (E<strong>de</strong>nis GoisCavalcanti);340


- Corpus <strong>de</strong> Discursos Públicos – Greve da Educação em Pernambuco,1987-1990 (Maria Cristina Hennes Sampaio);- Corpus <strong>de</strong> Discursos Escolares (Luís Rogério da Silva).Por permitir uma análise dos dados a partir <strong>de</strong> um tratamento lexicalquantiqualitativo, o método empregado <strong>de</strong>scortina aos pesquisadores novasperspectivas em análises do discurso, numa abordagem por excelênciainterdisciplinar.TRABALHANDO COM SINTAXE EM AMBIENTECOMPUTACIONAL: O PARSER GRAMMAR PLAYGa<strong>br</strong>iel De Ávila Othero (PUCRS)Neste trabalho, apresentaremos uma aplicação computacional da teoria X-barra (Haegeman 1994, Mioto et al. 2004), através do programa GrammarPlay, um parser sintático em Prolog. O Grammar Play analisa sentenças<strong>de</strong>clarativas simples do português <strong>br</strong>asileiro, i<strong>de</strong>ntificando sua estrutura <strong>de</strong>constituintes. Sua gramática é implementada em Prolog, com o recurso dasDCGs, e é baseada nos mol<strong>de</strong>s propostos pela teoria X-barra. O parser é umaprimeira tentativa <strong>de</strong> expandir a cobertura <strong>de</strong> analisadores semelhantes,como o esboçado em Pagani (2004), Othero (2004, 2006) E David (2007).Os objetivos que guiam a presente versão do Grammar Play são o <strong>de</strong>implementar computacionalmente mo<strong>de</strong>los lingüísticos coerentes aplicadosà <strong>de</strong>scrição do português e o <strong>de</strong> criar uma ferramenta computacional quepossa ser usada didaticamente em aulas <strong>de</strong> Sintaxe e LingüísticaComputacional, por exemplo.CONSTRUÇÃO DE SOFTWARE PARA O ESTUDO DA LÍNGUAGREGA CLÁSSICA: O SISTEMA NOMINAL DO DIALETO ÁTICONA VISÃO TEMÁTICAE<strong>de</strong>nis Gois Cavalcanti (USP)Esta pesquisa tem por objeto <strong>de</strong> estudo a flexão nominal do dialeto ático –uma das variantes dialetais do grego antigo, juntamente com o jônico, odórico e o eólico – em ambiente digital. A justificativa central estárelacionada ao preenchimento <strong>de</strong> uma lacuna existente nos estudos daslínguas clássicas, isto é, ao uso das tecnologias digitais nos estudos daslínguas antigas.Os objetivos principais são: 1) a construção <strong>de</strong> programa <strong>de</strong>computador que viabilize a flexão nominal, fornecendo a análise da palavradigitada, isto é: o tema nominal , o caso , o gênero, o número, tabela comtodas as combinações propostas pelo programa e entrada no dicionário; 2)criação <strong>de</strong> corpus do dialeto ático que permita a geração <strong>de</strong> um léxico embanco <strong>de</strong> dados, visando verificar a existência das formas criadas peloprograma e fornecer subsídios para eventual análise lingüística; 3) criação<strong>de</strong> mecanismo <strong>de</strong> busca direta no corpus do TLG, Thesaurus LinguaeGraecae (Centro <strong>de</strong> Pesquisa da Universida<strong>de</strong> da Califórnia, Irvine, fundadoem 1972), com 99 milhões <strong>de</strong> palavras – <strong>de</strong> Homero até o século XVI. A341


intenção <strong>de</strong> alargar o universo <strong>de</strong> busca é pôr em prova, através <strong>de</strong> umcorpus "gigante", as combinações das formas propostas. Se houverconvergência entre as combinações propostas e a busca realizada no corpus,isto é, se a busca estornar resultado positivo, isso indica que as formaspropostas pelo programa proce<strong>de</strong>m.Na geração do programa, empregamos a linguagem Pascal orientada aobjetos, <strong>de</strong>senvolvida pela Borland Delphi, da Enterprise SoftwareCorporation, e na constituição da base <strong>de</strong> dados – léxico, tabela <strong>de</strong><strong>de</strong>sinências e vocabulário - o Gerenciador <strong>de</strong> Banco <strong>de</strong> Dados SQL Server2005 Express, da Microsoft Corporation. Manipulamos elementos dalinguagem relacionados a arquivos em formato texto (*.txt) − abertura efechamento <strong>de</strong> arquivos, leitura <strong>de</strong> strings, linhas, etc. O programa faz“leitura” dos textos e fornece o léxico correspon<strong>de</strong>nte. São duas ascontribuições <strong>de</strong>ste projeto: uma – estritamente lingüística –, quandoapresentamos as <strong>de</strong>sinências nominais sinteticamente, sem as longas<strong>de</strong>scrições tradicionais, facilitando a visualização e compreensão, para oestudioso da língua. Outra – interdisciplinar, na convergência das novastecnologias digitais com as letras clássicas –, quando disponibilizamos aanálise morfológica em ambiente digital <strong>de</strong> forma integral e simultânea. Asinformações são fornecidas em curto espaço <strong>de</strong> tempo e com margem <strong>de</strong>erro <strong>de</strong>sprezível.CONSTRUÇÃO DE ONTOLOGIAS BASEADAS NA WIKIPEDIAClarissa Castellã Xavier (PUCRS)A palavra "ontologia" <strong>de</strong>riva do grego onto (ser) e logia (discurso escrito oufalado). Na Filosofia, a ontologia é a ciência do que é, dos tipos <strong>de</strong> estruturasdos objetos, proprieda<strong>de</strong>s, eventos, processos e relacionamentos em todas asáreas da realida<strong>de</strong>. Seu objetivo é fornecer sistemas <strong>de</strong> categorização para<strong>org</strong>anizar a realida<strong>de</strong>. Pesquisadores da Web e <strong>de</strong> inteligência artificialadaptaram o termo aos seus próprios jargões e, para eles, uma ontologiapo<strong>de</strong> ser um documento ou arquivo que <strong>de</strong>fine formalmente as relações entretermos mais gerais e termos mais específicos. Os recentes <strong>de</strong>senvolvimentosrelacionados à gestão do conhecimento e à Web Semântica têm mostrado anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ontologias para <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> modo formal conceitoscompartilhados a respeito dos mais diferentes domínios. Para quecomputadores e pessoas possam trabalhar em cooperação é necessário que asinformações por eles utilizadas, tenham significados bem <strong>de</strong>finidos ecompartilhados. Ontologias são instrumentos viabilizadores <strong>de</strong>ssacooperação. Entretanto, a construção <strong>de</strong> ontologias envolve um processocomplexo e longo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento, o que tem dificultado autilização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> solução em mais larga escala. Em resposta a essadificulda<strong>de</strong>, a comunida<strong>de</strong> científica vem explorando novas técnicas eabordagens que possam reduzir esse esforço. Quando se observa o gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> domínios para os quais não existem ontologias especificadas ecompartilhadas, fica evi<strong>de</strong>nte a importância do estabelecimento <strong>de</strong> métodos342


<strong>de</strong> construção mais ágeis, tanto no momento <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento econstrução inicial, quanto em momentos <strong>de</strong> atualização e ajuste dasontologias. Verifica-se que, nas comunida<strong>de</strong>s baseadas em ferramentas Wiki,em especial a Wikipedia, encontram-se um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> usuárioshabilitados a criar um expressivo domínio <strong>de</strong> representações, i<strong>de</strong>ntificadorese <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> conceitos. A versão em inglês da Wikipedia atualmentecontém mais <strong>de</strong> dois milhões <strong>de</strong> entradas. A possibilida<strong>de</strong> da utilização <strong>de</strong>metodologias que auxiliem na geração <strong>de</strong> ontologias baseadas na Wikipediaé útil e promissora.Este estudo propõe-se a realizar um levantamento dos trabalhos realizadosnesta direção, as técnicas que estão sendo utilizadas e os resultados obtidosatravés da análise <strong>de</strong> cinco artigos científicos propondo técnicas <strong>de</strong> extração<strong>de</strong> ontologias a partir da Wikipedia.JUR-FRAMECORP: REFLEXÕES PRELIMINARESAn<strong>de</strong>rson Bertoldi (CAPES –UNISINOS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é apresentar o Jur-FrameCorp, um projeto <strong>de</strong>doutorado em fase inicial. O Jur-FrameCorp analisa a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso doFrameNet para a criação <strong>de</strong> um corpus jurídico com anotação semântica.Esta pesquisa tem como pressupostos teóricos a Lingüística Cognitiva e aSemântica <strong>de</strong> Frames e utiliza a base <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> Língua Inglesa FrameNetpara a anotação semântica <strong>de</strong> textos. A utilização <strong>de</strong> tal metodologia para aanotação semântica implica enfrentar questões bilíngües como paráfrases eequivalentes <strong>de</strong> tradução e os diferentes padrões <strong>de</strong> lexicalização entre oInglês e o Português. Essas diferenças lexicais entre o Inglês e o Portuguêspo<strong>de</strong>m interferir na anotação semântica, tendo em vista que os framessemânticos, <strong>de</strong> base cognitiva, são lexicalizados <strong>de</strong> formas diferentes nessasduas línguas. A pergunta <strong>de</strong> pesquisa até o momento é em que medidapo<strong>de</strong>mos lidar, em um trabalho <strong>de</strong> anotação semântica, com estas diferenças.GT25 O Discurso Nos Estudos Da LinguagemCoor<strong>de</strong>nadoresSolange Mittmann (UFRGS)Evandra Grigoletto (UPF)A DETERMINAÇÃO INTRADISCURSIVA: UMA CATEGORIAPARA A ANÁLISEAna Josefina Ferrari (FACINTER)No presente trabalho, temos por objetivo observar o funcionamento da<strong>de</strong>terminação intradiscursiva. Para tal, faremos um percurso pelos diferentesautores que, no quadro teórico da Análise do Discurso, trabalham oproblema da <strong>de</strong>terminação. Esses autores são, Pêcheux (1975), Henry (1975),Haroche (1992), Payer (1995), Indursky (1997), Zoppi (1997). A partir <strong>de</strong>sse343


marco teórico propomos observar o funcionamento discursivo <strong>de</strong> ditacategoria em um corpus composto <strong>de</strong> anúncios <strong>de</strong> fuga <strong>de</strong> escravospublicados nos jornais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas entre 1870 e 1880.Acreditamos que as relações intradiscursivas participam <strong>de</strong> um processodiscursivo novo, que provoca uma ruptura semântica. Desse modo temosnovos sentidos em velhas palavras. Junto com Indursky sugerimos que a<strong>de</strong>terminação interdiscursiva, na tentativa <strong>de</strong> saturar sentidos, se transformano vestígio <strong>de</strong> discursos silenciados pelo sujeito <strong>de</strong> discurso. Estas<strong>de</strong>terminações evocam outros <strong>de</strong>terminantes recalcados justapondo-se amodo <strong>de</strong> elipse discursiva. A saturação só se dá através <strong>de</strong> relaçõesinterdiscursivas. Ela é a última face <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminação. Propomos, então, que:quando no intradiscurso encontramos adjetivos, como no caso da <strong>de</strong>scrição,que saturam o sentido do referente, é sinal <strong>de</strong> que há um <strong>de</strong>slocamento emcurso no interdiscurso, acontecendo um maior grau <strong>de</strong> saturação nointradiscurso (<strong>de</strong>slocamento para <strong>de</strong>ntro). Esse é o caso dos anúncios <strong>de</strong> fuga.No presente trabalho visamos observar o funcionamento mencionado acimanas <strong>de</strong>scrições presentes em anúncios <strong>de</strong> fuga <strong>de</strong> escravos publicados nosjornais da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Campinas entre 1870 e 1880.A EROTIZAÇÃO DA MULHER EM ANÚNCIOS PUBLICITÁRIOSDE PERFUMES COMO MARCA DE SUA SUBMISSÃOGraziela Tais Baggio Piveta (UPF)Sandra Novello Silvestri (UPF)Este artigo propõe uma análise da presença <strong>de</strong> Formações Discursivas que secontrapõem em anúncios publicitários dos perfumes Live e Deseo da grifeJennifer Lopez, ambos publicados na Revista Nova, respectivamente emjaneiro e maio <strong>de</strong> 2008. A fundamentação teórico-metodológica está pautadana teoria da Análise do Discurso <strong>de</strong> linha francesa. Consi<strong>de</strong>rando que é nodiscurso que os sentidos se confrontam e que estes, por sua vez, não estãoprontos e acabados no enunciado, tornam-se, segundo Pêcheux (1997, p. 53)“uma série <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> <strong>de</strong>riva possíveis, oferecendo lugar à interpretação”,novos efeitos <strong>de</strong> sentido vão surgindo porque a Formação Discursiva da qualfazem parte não é una nem homogênea e os sentidos vão sendo<strong>de</strong>terminados, não somente pela materialida<strong>de</strong> lingüística, como tambémpelas condições <strong>de</strong> produção. È nas análises dos anúncios publicitários quecompõem o corpus <strong>de</strong>ste artigo que po<strong>de</strong>mos perceber o “atravessamento”<strong>de</strong> FDs diferentes e contraditórias: uma que nos revela a in<strong>de</strong>pendência queas mulheres conseguiram nos últimos anos, principalmente em relação a suasexualida<strong>de</strong>; e outra que nos mostra a sua submissão, mesmo que <strong>de</strong> formanão <strong>de</strong>clarada, a um discurso machista que as torna femmes fatales, tomandoa imagem <strong>de</strong>ssa mulher como uma forma <strong>de</strong> movimentar o capitalismopresente na socieda<strong>de</strong> atual.344


A REPRESSÃO DISCURSIVIZADA EM VÍDEO NOCIBERESPAÇO: CRUZAMENTOS DE MATERIALIDADES, DECENÁRIOS E DE FORMAÇÕESSolange Mittmann (UFRGS)Neste trabalho, pretendo discutir alguns aspectos envolvidos na constituiçãodo discurso a partir da análise <strong>de</strong> um ví<strong>de</strong>o postado pelo Coletivo MartinFierro <strong>de</strong> Vi<strong>de</strong>o Ativismo no Youtube(http://www.youtube.com/watch?v=aQsnP2sy8_c). Esse ví<strong>de</strong>o apresentacenas <strong>de</strong> uma manifestação ocorrida em Porto Alegre, seguida <strong>de</strong> repressãopolicial, em junho <strong>de</strong> 2008, entremeadas por cenas <strong>de</strong> uma entrevista com ocomandante geral da Brigada Militar a respeito do ocorrido. As imagens dosdois cenários são alinhavadas por quadros <strong>de</strong> uma narração escrita. Odiscurso será aqui consi<strong>de</strong>rado no cruzamento da materialida<strong>de</strong> históricacom uma materialida<strong>de</strong> que se compõe <strong>de</strong> imagem, som e escrita. Pormaterialida<strong>de</strong> histórica, estou consi<strong>de</strong>rando o interdiscurso, como lugar <strong>de</strong>constituição <strong>de</strong> sentidos e <strong>de</strong> relações entre formações i<strong>de</strong>ológicas, que, porsua vez, possuem um caráter regional e <strong>de</strong> posições <strong>de</strong> classes numa dadaformação social (Pêcheux, 1975). Consi<strong>de</strong>ro também as formaçõesdiscursivas, como lugar <strong>de</strong> manifestação, na linguagem, das formaçõesi<strong>de</strong>ológicas. Ou seja, pretendo discutir a questão da constituição do discursoa partir do seu caráter constitutivamente heterogêneo e contraditório,analisando como se dá o domínio das formações i<strong>de</strong>ológicas na<strong>de</strong>terminação dos sentidos através das formações discursivas. No cenário dociberespaço, as diferentes cenas do ví<strong>de</strong>o são <strong>org</strong>anizadas a partir <strong>de</strong> umaor<strong>de</strong>m própria <strong>de</strong> um outro cenário: o do confronto entre formaçõesi<strong>de</strong>ológicas. Assim, confronto, cruzamento e contradição serão palavraschavena análise do ví<strong>de</strong>o.AMEAÇA FEMININA: O DISCURSO FEMININO EM QUESTÃOLuciana Portella Kohlrausch (UFSM)lucianapk@hotmail.comA escritura <strong>de</strong> um texto transparece traços <strong>de</strong> quem o escreve. Isso ocorretanto nas idéias apresentadas quanto nas escolhas lingüísticas feitas pelosujeito autor do texto. As idéias apresentadas através <strong>de</strong> diálogos - porexemplo, em romances - são uma maneira <strong>de</strong> caracterizar o autor da o<strong>br</strong>a. Asegunda maneira foi eleita para sustentar esse trabalho. A caracterização dodiscurso será analisada a partir das escolhas lingüísticas utilizadas peloautor. Mais precisamente, através das metaenunciações presentes no texto,ou seja, através das voltas que o autor faz no discurso para explicar suaenunciação. A análise será <strong>de</strong> um texto da escritora Clarice Lispector. Essaanálise será feita a partir da teoria das heterogeneida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> JacquelineAuthier-Revuz. A nossa hipótese é que os textos <strong>de</strong> Clarice sejam textos que<strong>de</strong>sacomo<strong>de</strong>m qualquer sujeito, pois parece que o que Clarice faz, com suaspersonagens, é <strong>de</strong>nunciar uma angústia constitutiva dos sujeitos ditos345


neuróticos, ou seja, dos sujeitos barrados. E o intento é a<strong>br</strong>anger, através dodiscurso, o querer feminino, <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> uma falta, que po<strong>de</strong> ser reinventadoao invés <strong>de</strong> tentar ser preenchido. Para esse objetivo, a intenção é analisar einterpretar o discurso feminino, buscando pontos da materialida<strong>de</strong> lingüísticaque dêem indícios <strong>de</strong> como fala uma mulher. Essas materialida<strong>de</strong>s Authier-Revuz <strong>de</strong>monstra em seus achados. Ela chama <strong>de</strong> heterogeneida<strong>de</strong>constitutiva sua teoria <strong>de</strong> que a linguagem não é um todo fechado e aheterogeneida<strong>de</strong> mostrada são essas não-coincidências do dizer queapresentam algumas voltas na enunciação com o objetivo <strong>de</strong> explicá-la, ouseja, durante a enunciação, o locutor retoma o que foi dito para modificá-lo.Para <strong>de</strong>senvolver o trabalho, serão utilizado conceitos tanto da lingüísticacomo da psicanálise – Lingüística da enunciação <strong>de</strong> Authier-Revuz epsicanálise freudo-lacaniana.DISCURSO POLÍTICO E MÍDIA: O ACONTECIMENTO POLÍTICOEM ANÁLISEMagda Regina Lourenço Cyrre (UNISINOS)Em Discurso político e mídia: o acontecimento político em análise propõeseum estudo semântico filiado à Análise do Discurso, e tem-se comopressupostos teóricos as o<strong>br</strong>as: O Discurso: estrutura ou acontecimento(2006) <strong>de</strong> Michel Pêcheux, O Desentendimento: Política e Filosofia (1996)<strong>de</strong> Jacques Ranciere e Semântica do Acontecimento <strong>de</strong> Eduardo Guimarães(2005). Busca-se com este estudo investigar como o acontecimentodiscursivo político da divulgação das gravações feitas por Paulo Feijó emdiálogo com César Busatto foi explorado pela mídia impressa <strong>de</strong> PortoAlegre. O objeto <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>ste trabalho é um pequeno recorte <strong>de</strong>acontecimentos <strong>de</strong> linguagem pertencentes à Língua Portuguesa, publicadosem jornal <strong>de</strong> circulação no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, na seção <strong>de</strong> Política da mídiaimpressa. O trabalho analisa como o discurso <strong>de</strong>sses dois políticos foiexplorado em reportagens publicados em Zero Hora, O Sul e Correio doPovo e compara as interpretações diversas provenientes <strong>de</strong> enunciações dossujeitos políticos envolvidos enquanto seres que ocupam lugares sociaisespecíficos em nossa socieda<strong>de</strong> e seres locutores origem <strong>de</strong> um dizer. Osobjetivos específicos são: a) investigar como a mídia explorou oacontecimento discursivo gravado por Paulo Feijó b) analisar como osentido se faz através da posição que ocupam os diferentes sujeitosenvolvidos nas cenas discursivas apresentadas nas reportagens dos jornaisdiários. O presente estudo se justifica por propor uma análise em queverifica como o texto <strong>org</strong>anizado em sua discursivida<strong>de</strong> e materialida<strong>de</strong>histórica possibilita várias leituras.DISCURSO SINDICAL DA CUT: REFLEXÕES SOBRE ACONSTITUIÇÃO DO DISCURSO PELA MEMÓRIARenata Silva (UCPEL)346


O presente trabalho, sob o referencial da Análise do Discurso <strong>de</strong> linhafrancesa, objetiva refletir so<strong>br</strong>e o discurso, tal como o compreen<strong>de</strong> Pêcheux(1997): constituído pelas re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> memória e simultaneamente possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> “<strong>de</strong>sestruturação-reestruturação” <strong>de</strong>ssas re<strong>de</strong>s. Para tanto, analisa odiscurso sindical da Central Única dos Trabalhadores (CUT) produzido emdois momentos históricos: décadas <strong>de</strong> 80 e 90. No primeiro período, ocorre afundação da Central, um acontecimento oriundo <strong>de</strong> outro, o início do “novosindicalismo”. A época é marcada por uma prática sindical combativa e pelaentrada na cena política <strong>de</strong> uma massa <strong>de</strong> trabalhadores, silenciados <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1964. No segundo período, o Brasil sente com mais veemência as mudançasdo mundo do trabalho e a política neoliberal torna-se predominante. A CUTtem sua ação combativa estagnada e passa a preferir a negociação aoconfronto. O corpus <strong>de</strong>ssa investigação são seqüências discursivas <strong>de</strong>referência extraídas <strong>de</strong> textos publicados pela Central nessas duas fases.Mesmo com as mudanças das condições <strong>de</strong> produção, observamos nointradiscurso <strong>de</strong>ssas seqüências a repetição <strong>de</strong> expressões lingüísticas que seinter-relacionam a uma representação do tempo como mutável. Apesar danova conjuntura econômica e política, um novo futuro, com novas condições<strong>de</strong> vida e trabalho, continua sendo possível, via ação sindical. Na análise,observamos a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> memória prece<strong>de</strong>nte às materialida<strong>de</strong>s e atentamospara a <strong>de</strong>terminação que a linearida<strong>de</strong> sofre do interdiscurso. Este éduplamente concebido: como produtor <strong>de</strong> um efeito <strong>de</strong> consistência ou <strong>de</strong>inconsistência (COURTINE, 1999). Na primeira fase, a combativa, arepresentação da temporalida<strong>de</strong> no discurso cutista funciona comoestabilizadora em virtu<strong>de</strong> da <strong>de</strong>terminação do interdiscurso, produtor <strong>de</strong> umefeito <strong>de</strong> consistência. Na segunda fase, a negociadora, a imagem do tempo<strong>de</strong>sestabiliza o discurso cutista. Nesse caso, ocorre uma movimentação <strong>de</strong>saberes na memória e o interdiscurso produz um efeito <strong>de</strong> inconsistência.Através <strong>de</strong>sse estudo, <strong>de</strong>monstramos ser o tipo <strong>de</strong> relação do discurso com are<strong>de</strong> <strong>de</strong> memória <strong>de</strong>terminante para a manutenção da aparência <strong>de</strong>homogeneida<strong>de</strong> ou para a irrupção da equivocida<strong>de</strong> Também evi<strong>de</strong>nciamoscomo as materialida<strong>de</strong>s analisadas não são somente <strong>de</strong>terminadas pelamemória, também a <strong>de</strong>terminam, provocando um <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> seussaberes.HIP-HOP: NARRATIVIDADE URBANARaquel Bevilaqua (CEFET-SVS – São Vicente do Sul / UFSM)Uma <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> cida<strong>de</strong> passa pela idéia <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> multidão, <strong>de</strong><strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> sócio-econômica, <strong>de</strong> violência urbana, <strong>de</strong> caos.Discursivamente, a cida<strong>de</strong> é entendida enquanto o espaço <strong>de</strong> sujeitos e <strong>de</strong>significantes, espaço esse em que conceitos como normatização ehomogeneização (<strong>de</strong> sentidos, <strong>de</strong> significados) são constituintes. Os sujeitosda cida<strong>de</strong> produzem o seu dizer consi<strong>de</strong>rando-se a Formação Discursiva àqual fazem parte. A interpretação <strong>de</strong>sse dizer po<strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar aquilo que estáestabilizado no senso comum, ou no discurso do urbano, que se autolegitima347


através da política, pois simula um processo <strong>de</strong> inclusão dos sujeitos,apagando a divisão <strong>de</strong>sigual do real (Orlandi, 2001). O discurso do Hip-Hop,por exemplo, reverbera outros modos <strong>de</strong> significar a cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> lhe atribuirsentidos que não se ‘enquadrariam’ nos padrões da imposiçãohomogeneizante do espaço urbano. Isto porque esse discurso apresenta-secomo uma fala que <strong>de</strong>s<strong>org</strong>aniza o discurso do urbano, o senso comum. Apartir <strong>de</strong> três textos musicados do grupo <strong>de</strong> Hip-Hop Racionais MC’s, daperiferia <strong>de</strong> São Paulo, procuramos enten<strong>de</strong>r a forma como a cida<strong>de</strong> produzefeitos <strong>de</strong> sentido em seus sujeitos-habitantes e <strong>de</strong> que forma o discurso doHip-Hop, ou melhor, o rap lança mão <strong>de</strong> estratégias lingüístico-discursivasque <strong>de</strong>safiam a imposição homogeneizante do discurso do urbano.IMAGENS DO COMPROMISSO E DA REALIZAÇÃO: QUEDISCURSO É ESSE?Rodrigo Oliveira Fonseca (UFRGS)A discussão teórica do discurso por (e com) imagens nos permite repensar aprópria relação língua-discurso, originalmente pensada na Análise doDiscurso pecheutiana nos termos <strong>de</strong> base-processo. Acreditamos que noimagético (ainda mais que no lingüístico) a produção <strong>de</strong> efeitos i<strong>de</strong>ológicos<strong>de</strong> evidência é constante, por mais paradoxal que possa ser pensarmos emimagem transparente. Nesta comunicação alguns pressupostos da semióticasão contrapostos em função <strong>de</strong> um olhar historicizante da leitura <strong>de</strong> imagens.Para isso, apresento a análise <strong>de</strong> duas cartilhas ilustradas, materiais <strong>de</strong>promoção do Orçamento Participativo <strong>de</strong> Porto Alegre. Na primeira cartilha,a discursivida<strong>de</strong> imagética evoca uma memória do dizer e do visualizar quetece uma região <strong>de</strong> sentidos marcada por <strong>de</strong>safios e dificulda<strong>de</strong>s. Prefeitura emovimento comunitário são apresentados enquanto sujeitos solidários ecompromissados com uma gestão <strong>de</strong>mocrática. Na outra cartilha, opersonagem-guia Cid Cidadão – tomando a posição discursiva e o planovisual anteriormente ocupados pelo sujeito-do-discurso AdministraçãoPopular – é peça importante no apagamento <strong>de</strong> compromissos e sujeitos. Osdizeres e visibilida<strong>de</strong>s do movimento comunitário são silenciados, apagadose <strong>de</strong>rrotados no processo discurso, ao ponto <strong>de</strong> sua participação já não fazertanto sentido. Temos assim o <strong>de</strong>slizamento <strong>de</strong> um dizer/visualizar tensorumo a práticas discursivas que <strong>de</strong>senham uma participação popular evi<strong>de</strong>nte,estabilizada e consensual: a participação no Orçamento Participativo.LEITURA E ESCRITA NO EDUCAREDE: QUE DISCURSO É ESSE?Evandra Grigoletto (UPF)O presente trabalho propõe uma reflexão acerca do discurso que atravessa asnoções <strong>de</strong> leitura e escrita no site EducaRe<strong>de</strong>, um portal educativo, cujoobjetivo “é contribuir para a melhoria da qualida<strong>de</strong> da educação,estimulando a integração da Internet no cotidiano da escola pública epossibilitando a inclusão digital aos milhares <strong>de</strong> jovens que o freqüentam”.348


Também dirigido a educadores, o portal possui ferramentas específicas parauso <strong>de</strong> educadores, como é o caso do fórum, da oficina <strong>de</strong> criação e batepapo.As discussões so<strong>br</strong>e leitura e escrita empreendidas nesses espaços,bem como um <strong>Ca<strong>de</strong>rno</strong> <strong>de</strong> orientações Didáticas – Ler e Escrever –Tecnologias na Educação, <strong>de</strong>senvolvido a partir <strong>de</strong> uma parceira entre oEducaRe<strong>de</strong> e a Secretária Municipal <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> SP, e dirigido aosprofessores da Re<strong>de</strong> Municipal <strong>de</strong> SP, constituirão o corpus <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>stetrabalho. Consi<strong>de</strong>rando que, numa perspectiva discursiva, as noções <strong>de</strong>leitura e escrita são tomadas enquanto práticas sociais, que não estão<strong>de</strong>svinculadas nem do sujeito, nem da i<strong>de</strong>ologia, a análise do referido corpusconsistirá num mapeamento <strong>de</strong>ssas noções, observando que referencialteórico, no escopo dos estudos do discurso, perpassa a discussão so<strong>br</strong>e o lere o escrever na escola, a partir da utilização das novas tecnologias. Nessesentido, a análise po<strong>de</strong> apontar diferentes dizeres/saberes que vão embasar odiscurso so<strong>br</strong>e essas duas ativida<strong>de</strong>s: a leitura e a escrita. Portanto,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da perspectiva teórica subjacente às noções <strong>de</strong> leitura e escrita,as relações <strong>de</strong>ssas noções com outras, como a <strong>de</strong> discurso, sujeito, sentido,i<strong>de</strong>ologia, serão ou não contempladas na discussão do site, trazendo algumasimplicações para a prática pedagógica do ensino da Língua Portuguesa.O DISCURSO DA ANÁLISE DO DISCURSO: QUANDO LÍNGUA EHISTÓRIA SE ENCONTRAMGláucia da Silva Henge (UFRGS)Rosângela Leffa Behenck (UFRGS)Neste trabalho, sob a perspectiva teórica da Análise do Discurso <strong>de</strong> linhafrancesa, nos propomos a discutir a noção <strong>de</strong> discurso, compreen<strong>de</strong>ndo-afundamentalmente como objeto teórico, on<strong>de</strong> a articulação entre olingüístico e o histórico tece re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação, configurando o sentido. Éna/pela materialida<strong>de</strong> lingüístico-histórica que sentidos e sujeitos seconstituem, evi<strong>de</strong>nciando o caráter sempre tenso e movente do discurso.Assim, é na relação do sujeito com a exteriorida<strong>de</strong>, mediada por práticassociais simbólicas, que po<strong>de</strong>mos compreen<strong>de</strong>r os processos <strong>de</strong> significaçãomaterializados no discurso. Não há, no entanto, como vislum<strong>br</strong>ar o processo<strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> um sentido sem remeter às condições <strong>de</strong> produção emque veio à tona do interdiscurso, perpassando formações i<strong>de</strong>ológicas ediscursivas. Pensar a noção <strong>de</strong> discurso significa compreen<strong>de</strong>r a relaçãoentre língua – sujeito – sentido – história. Diferentemente <strong>de</strong> outrasperspectivas teóricas, a AD toma como <strong>de</strong>terminante para sua análise amaterialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu objeto <strong>de</strong> estudo sendo esta materialida<strong>de</strong>, sempre,lingüístico-histórica. Desta forma, em cada prática discursiva, conforme amaterialida<strong>de</strong> específica do objeto discursivo e as condições sócio-históricasem que o discurso é produzido, as relações acima pontuadas são novamentepostas em questão, impondo um modo singular <strong>de</strong> análise. Portanto, é apartir <strong>de</strong> nosso corpus <strong>de</strong> análise, composto por charges so<strong>br</strong>e a temáticaInformática, que constituímos nosso dispositivo teórico, buscando349


compreen<strong>de</strong>r o funcionamento do discurso <strong>de</strong> humor pensando-o comoespaço que torna visível dois movimentos distintos do sujeito em relação àlíngua e à história, pelo discurso: (1) movimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação (retorno dojá-dito como efeito <strong>de</strong> literalida<strong>de</strong>) <strong>de</strong> um sentido tomado como maisevi<strong>de</strong>nte e <strong>de</strong> um outro sentido também possível, mas que sofre um<strong>de</strong>slocamento (apontando para o <strong>de</strong>slize, a falha, o equívoco) e (2)movimento <strong>de</strong> cicatrização, pelo riso, <strong>de</strong> um corte na estabilização do sujeitoe do sentido, “balançado” pela possibilida<strong>de</strong> do não-um dos discursos.O ESCATOLÓGICO NA MÍDIA: EVIDÊNCIAS DE UM DISCURSOESTRANHOGregory Weiss Costa (UCPEL)Este trabalho tem como objetivo investigar os efeitos <strong>de</strong> sentido que umdiscurso concebido como “estranho” causa em um espaço alheio às suascondições <strong>de</strong> produção, no caso, o escatológico no espaço da mídiapublicitária. Definido como subversivo, o discurso escatológico é marcadopela linguagem obscena, sórdida, relativa à coprologia e aos excrementoscorpóreos. Por sua materialida<strong>de</strong> singular e seu caráter anti-social, o discursoescatológico normalmente é ocultado e silenciado, ocorrendo geralmente nosespaços dos banheiros públicos. Nesses espaços, têm-se amostras claras dasrelações traçadas entre o que po<strong>de</strong> ser dito e o espaço discursivo em que issoé permitido. No entanto, mesmo às avessas das coerções sociais, oescatológico tem o seu lugar comum. E é <strong>de</strong>sse lugar comum que a mídia,em contraponto, vem atualmente se apropriando como recurso <strong>de</strong> marketing.É o caso dos anúncios publicitários, em que há a utilização <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong>apelo coletivo, agindo em consonância com pré-construídos e com o padrãosocial. Diante <strong>de</strong> evidências do discurso escatológico em propagandasveiculadas pela mídia televisiva no ano <strong>de</strong> 2007, a presente pesquisa buscacompreen<strong>de</strong>r os efeitos <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong>rivados do funcionamento <strong>de</strong>ssediscurso num espaço que não lhe é próprio. Para elucidar essa questão, apesquisa tem como objeto <strong>de</strong> análise três propagandas publicitárias quemanifestam em seu intradiscurso a “estranha” presença do escatológico.OS DISCURSOS NOS CÍRCULO RESTAURATIVO: UMAABORDAGEM BAKHTINIANA DA LINGUAGEMAna Beatriz Ferreira Dias (UFSM)Este estudo tem como objetivo investigar os discursos produzidos em umaesfera enunciativa específica, o Círculo Restaurativo promovido peloProjeto Justiça Para o Século 21 que visa implementar práticas da JustiçaRestaurativa na pacificação <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> violência envolvendo crianças eadolescentes na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre, RS. Para realizar essa pesquisa,tomar-se-á como orientação teórica os estudos do filólogo Mikhail Bakhtin.Como bem atesta Pires (2003), o autor russo, antece<strong>de</strong>ndo em décadas certasreflexões, ressaltava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar um elo entre a forma350


material exterior e o elemento semântico-i<strong>de</strong>ológico interior <strong>de</strong> modo a lhesmanter em equilí<strong>br</strong>io. A enunciação seria esse elo <strong>de</strong> ligação entre o sentidoe a forma da língua. Para Bakhtin (2003), o discurso só tem existênciaatravés <strong>de</strong> enunciações concretas dos falantes, que são os sujeitos dodiscurso e fora <strong>de</strong>ssa condição a existência do discurso é impossível. Alíngua é entendida não como um sistema abstrato <strong>de</strong> formas normativas <strong>de</strong>elementos lingüísticos, mas como processo <strong>de</strong> evolução ininterrupto (I<strong>de</strong>m,1990, p.127), cuja realização concreta ocorre através da interação socialentre os locutores. A língua enquanto sistema <strong>de</strong> formas lingüísticas existecomo uma potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentido, já a língua vista como discurso nãopo<strong>de</strong> ser dissociada dos seus falantes e dos seus atos, bem como das esferassociais e dos valores i<strong>de</strong>ológicos em que são produzidos. Assim, <strong>de</strong>ve-sepensar o signo lingüístico como pertencente tanto ao domínio da língua,quanto ao domínio do discurso, o que equivale a pensar, neste último caso,na relação da língua com a vida. A proposta <strong>de</strong>ssa pesquisa é tomar o textoproduzido no momento do Círculo Restaurativo como uma realida<strong>de</strong>imediata para o estudo do homem e da sua linguagem, uma vez que aconstituição do homem e da sua linguagem é mediada pelo texto. O textoconcebido através <strong>de</strong>ssa perspectiva discursiva da linguagem, portanto otexto como um enunciado, resultante <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> enunciação, po<strong>de</strong>representar umas das formas possíveis <strong>de</strong> se reconstruir as relações, osprocessos <strong>de</strong> interação verbal e os significados da realida<strong>de</strong> social.SOBRE A INCOMENSURABILIDADE: O DISCURSO EMPÊCHEUX E FOUCAULTAtílio Butturi Junior (UFSC)Este trabalho tem como objetivo discutir as relações <strong>de</strong> incomensurabilida<strong>de</strong>entre a Análise do Discurso <strong>de</strong> Linha Francesa (AD) conforme elaboração <strong>de</strong>Michel Pêcheux e a teoria arqueológica do discurso <strong>de</strong> Michel Foucault.Seguindo alguns princípios genealógicos – não teleologia, nãocumulativida<strong>de</strong>, interdiscursivida<strong>de</strong> e o conseqüente entendimento daconstituição das ciências humanas no interior <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> saber-po<strong>de</strong>r – aintenção é avaliar a implosão <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> análise marcadamenteestruturalistas nos estudos discursivos da França a partir da crise <strong>de</strong>legitimação <strong>de</strong> uma Crítica/Teoria Geral fundada na gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudosmarxistas <strong>de</strong> Althusser e a conseqüente tentativa <strong>de</strong> assimilação dasconcepções foucauldianas no empreendimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>finição <strong>de</strong>sse campo<strong>de</strong> saber. Dessa perspectiva, o corpus <strong>de</strong> análise serão textos escritos porFoucault entre 1961 e 1977 e textos escritos por Pêcheux entre 1969 e 1978,que reco<strong>br</strong>em os períodos <strong>de</strong> ascensão da maquinaria lingüístico-marxianana AD e sua primeira negação, <strong>de</strong> 1978. A fim <strong>de</strong> problematizar essaconversão do olhar supostamente realizada pela AD a partir da assunção datemática discursiva foucauldiana, o <strong>de</strong>bate retoma então o projetoarqueogenealógico segundo a leitura diagramática elaborada por Deleuze,apontando finalmente, via Arqueologia do saber (1969), a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>351


entre o conceito científico (coor<strong>de</strong>nada) lingüístico-marxiano elaborado pelaAD e o conceito filosófico elaborado pela discussão foucauldiana dodiscurso como dispersão e rarida<strong>de</strong> no mesmo período. A partir <strong>de</strong>ssecontraste, será possível estabelecer a hipótese <strong>de</strong> diferentes configuraçõespara cada uma dos empreendimentos discursivos: por um lado, a AD comoentendida por Pêcheux lançaria mão da radicalização da experiênciamo<strong>de</strong>rna baseada no conceito forte <strong>de</strong> teoria althusseriano, enquanto adiscussão acerca do discurso elaborada por Foucault não contemplarianenhuma reapropriação crítica possível na relação entre linguagem, formas<strong>de</strong> subjetivação e objetivida<strong>de</strong> – o que apontaria para concepções pósmo<strong>de</strong>rnas<strong>de</strong> incredulida<strong>de</strong> perante as metanarrativas.SUJEITOS E FLÂNEURS: PERSPECTIVA DA HIPERLEITURATânia Flores (UFRGS)No <strong>de</strong>spontar <strong>de</strong>sse milênio, encontramo-nos frente a <strong>de</strong>safios que nossituam no limite <strong>de</strong> nossa antiga percepção <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>, em que tudo eraverda<strong>de</strong>iro ou falso, certo ou errado, altamente previsível e material, dado ofato contun<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> que princípios como exatidão, clareza e univocida<strong>de</strong>pautavam nosso viver e nossa relação com o conhecimento. O velho mundorevestiu-se <strong>de</strong> uma roupagem nova e o indivíduo, habitante <strong>de</strong>sse planeta,urge significar. De forma vertiginosa, aí estão as tecnologias digitais e, comelas, linguagens, relações e interações, tempo e espaço. Aí está umaconcepção <strong>de</strong> realida<strong>de</strong> estranha à univocida<strong>de</strong>, à lógica e a paradigmasformais. Aí está uma perspectiva <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimento que rompecom um campo epistemológico estabilizado por verda<strong>de</strong>s construídas edadas aprioristicamente. É como fazer do<strong>br</strong>as da própria existência, “do<strong>br</strong>asque incorporam sem totalizar, internalizam sem unificar, juntam-se <strong>de</strong>maneira <strong>de</strong>scontínua na forma <strong>de</strong> plissês, formando superfícies, espaços,fluxos e relações” (Domènech, 2001:124). Ícone <strong>de</strong>sse novo ambiente, aInternet e, nela, <strong>de</strong>stacamos o hipertexto, está hoje presente em nossas vidase, incontestavelmente, com ela incorporamos uma nova maneira <strong>de</strong> concebero tempo, o espaço e, consequentemente, o lugar do sujeito em meio a taistransformações. Para tanto, tomaremos como base <strong>de</strong> nossa reflexão so<strong>br</strong>e osujeito as idéias trazidas por Walter Benjamim (1989) em “CharlesBau<strong>de</strong>laire: um lírico no auge do capitalismo”. Trata-se <strong>de</strong> uma o<strong>br</strong>a quepossibilita a compreensão <strong>de</strong>ssa nova idéia <strong>de</strong> uso do espaço e o momentohistórico que gerou uma transformação radical dos processos culturais damo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>. Benjamin (1989) nos traz os flâneurs como sujeitos<strong>de</strong>senraizados que traduzem o espírito <strong>de</strong> mobilida<strong>de</strong> que se instala nascida<strong>de</strong>s com a revolução tecnológica. Há, nos dizeres do autor, umaaproximação entre o ato da flânerie e a produção intelectual. Isso nosinteressa so<strong>br</strong>emaneira, pois o Benjamim mostra que o tema dodistanciamento e da (re)construção constante do objeto são relevantes, tantopara o flâneur-<strong>de</strong>tetive quanto para a reflexão nas ciências sociais. A idéia <strong>de</strong>dispersão, <strong>de</strong> cruzamento inseriu o homem num verda<strong>de</strong>iro ambiente352


izomático, o que, <strong>de</strong> forma cabal, transformou sua maneira e ver o mundo e,so<strong>br</strong>etudo, <strong>de</strong> estar nele.“TRAPACEANDO” A LÍNGUA NO GOVERNO MÉDICI: UMESTUDO SOBRE O IMAGINÁRIO DE LÍNGUA PELO JORNALPASQUIMCarme Regina Schons (UPF)Cinara Sabadin Dagneze (UPF)O presente estudo preten<strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e o modo como as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>re/ou resistência atuam na construção <strong>de</strong> um imaginário so<strong>br</strong>e língua.Consi<strong>de</strong>rando que o estudo da língua é também uma questão política e quemudanças ocorrem, sejam elas <strong>de</strong>terminadas pela lei ou pelas práticas sociais,buscamos analisar discursos <strong>de</strong> jornalistas, publicados em edições doPasquim, entre os anos 69 e 70. Por se tratar <strong>de</strong> um jornal <strong>de</strong> resistência,partimos da indagação inicial: Que impacto i<strong>de</strong>ntitário tais discursos teriamproduzido socialmente, uma vez que se contrapunham a práticas do governomilitar através do humor? É, pois, nesse contexto que, por meio <strong>de</strong> umaescrita simbólica, o humor perpassa a estrutura língua trabalhada emmanuais que orientam a redação da imprensa <strong>br</strong>asileira no governo Médici.O texto jornalístico é resultado da prática <strong>de</strong> uma escrita especializadaprofissionalmente, institucionalizada em manuais <strong>de</strong> redação, mas que po<strong>de</strong>ser pensada como espaço <strong>de</strong> resistências, <strong>de</strong> equívocos e <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s.HABERMAS E O DISCURSO POLÍTICO DA MODERNIDADEJúnia Diniz Focas (UFMG/UNICAMP)Na análise do Discurso Político da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, referimo-nos a umamanifestação discursiva específica, cujos mecanismos <strong>de</strong> sentido sãoacionados na construção <strong>de</strong> uma fala hegemônica que reproduz i<strong>de</strong>ologiasem uma Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> marcada pelo <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico, peloconhecimento científico e atormentada por uma incalculável dívidasocial. Para tanto, analisaremos um discurso do primeiro ministro <strong>br</strong>itânicoTony Blair, contrastando-o com outro do presi<strong>de</strong>nte da República, LuizInácio Lula da Silva, e verificaremos <strong>de</strong> que forma ambos repercutem a falado po<strong>de</strong>r político. Partiremos do conceito <strong>de</strong> performativida<strong>de</strong>,fundamentado, segundo Habermas, no postulado <strong>de</strong> que “dizer não é fazer”,mas sim “o fazer implica um dizer”, produzindo então uma inversão noprincípio clássico da teoria dos atos <strong>de</strong> fala. Para Habermas, a linguagem,analisada por esse ângulo, encerra um dialogismo que se manifesta não noestabelecimento a priori <strong>de</strong> uma ação, mas sim <strong>de</strong> que a ação já é em si um“fazer através do ato <strong>de</strong> fala”. Se então “fazer é dizer”, a instância dialógicado discurso encontra-se recuperada e assim a performativida<strong>de</strong> institui “umfazer político” através do qual a fala política constrói um discurso fundador.É <strong>de</strong>ssa perspectiva que situaremos nossa discussão so<strong>br</strong>e o DiscursoPolítico da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, consumado no sentimento coletivo <strong>de</strong> incerteza e353


<strong>de</strong> exclusão, característico <strong>de</strong> uma globalização que institui políticas sempo<strong>de</strong>r e, paradoxalmente, po<strong>de</strong>r sem políticas. É a política que constrói odiscurso e se ela assim o proce<strong>de</strong> é porque a socieda<strong>de</strong> exprime ou exige,através do discurso político, seus vínculos solidários ou não com o processointerno <strong>de</strong> sua constituição i<strong>de</strong>ológica. O papel do Estado encontra-se assimneutralizado pelo Estado globalizado, <strong>de</strong>sprovido agora <strong>de</strong> instituiçõescapazes <strong>de</strong> promover a união po<strong>de</strong>r/política, essas articuladas no âmbito dodiscurso e <strong>de</strong> suas enunciações políticas. Nas articulações <strong>de</strong>sses discursos,percebemos falas marcadas por um certo lugar discursivo, lugar esseestribado muito mais em uma formulação i<strong>de</strong>ológica na qual a dominaçãose efetiva <strong>de</strong> forma implícita, logo, prepon<strong>de</strong>ra o “discurso invertido”, emque a igualda<strong>de</strong> e a <strong>de</strong>mocracia transmudam-se no simulacro <strong>de</strong> valoreshumanos inquestionáveis na construção <strong>de</strong> um mundo próspero ehumanitário. A questão do discurso político e <strong>de</strong> suas caracterizaçõesdiscursivas aparece discutida por Habermas, ao elaborar a Teoria da AçãoComunicativa, na qual a performativida<strong>de</strong> constitui uma ação <strong>de</strong> fala queinstitui relações dialógicas racionalmente e consensualmente motivadas. ODiscurso Político da Mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> é então constituído por um processodialético que se manifesta no interior das relações sociais, nas quais os atos<strong>de</strong> fala ou os proferimentos ilocucionais efetuam um entendimento domundo socialmente estruturado em uma Ação Comunicativa.GT26 Verbo E Estrutura ArgumentalCoor<strong>de</strong>nadoresTeresa Cristina Wachowicz (UFPR)Patrícia Rodrigues (UEL)O LUGAR SEMÂNTICO E SINTÁTICO DAS ALTERNÂNCIASVERBAIS DO PBMárcia Cançado (UFMG)Este trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>screver os principais tipos <strong>de</strong> alternânciasverbais do PB, mostrando a relação entre as características sintáticas esemânticas <strong>de</strong>sses fenômenos lingüísticos. As construções analisadas são dotipo:a) construções causativas:(1) a. A chave sumiu.b. João sumiu (com) a chave.b) construções com dupla causação:(2) a. A filha casou bem.b. O pai casou a filha bem.c) construções ergativas:354


(3) a. João que<strong>br</strong>ou o vaso.b. O vaso que<strong>br</strong>ou.d) construções ergativas cindidas:(4) a. A perna do João que<strong>br</strong>ou.b. João que<strong>br</strong>ou a perna.e) construções com agente e beneficiário:(5) a. O <strong>de</strong>ntista extraiu o <strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Joãob. João extraiu o <strong>de</strong>nte.f) construções passivas:(6) a. João que<strong>br</strong>ou o vaso.b. O vaso foi que<strong>br</strong>ado.g) construções <strong>de</strong> in<strong>de</strong>teminação:(7) a. João que<strong>br</strong>ou o vaso.b. O vaso que<strong>br</strong>ou-se.h) construções mediais:(8) a. João que<strong>br</strong>ou o vaso.b. Vasos (se) que<strong>br</strong>am facilmente.i) construções recíprocas e reflexivas:(9) a. João ama Maria.b. João e Maria se amam.Em relação a essas ocorrências, o trabalho tratará das perspectivas usadaspelo falante para falar dos eventos no mundo (<strong>org</strong>anização da estruturaargumental sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> papéis temáticos e aspectos acionaisenvolvidos nessas ocorrências); instrumentos sintáticos disponíveis na linguapara a realização <strong>de</strong>ssas perspectivas; as vozes verbais envolvidas nessasperspectivas (ativa, média e passiva); e as semelhanças e diferenças entreessas alternâncias. Essa pesquisa tem como sustentação teórica e empírica ostrabalhos <strong>de</strong>senvolvidos pelo NUPES (Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa em Semântica –FALE/UFMG: Cançado (2005, 2006 e 2008), Ciríaco (2007), Ciríaco eCançado (2006 e 2007), Godoy (2008) e Amaral (em prep.). Todos ostrabalhos encontram-se disponíveis para download nas páginas:www.letras.ufmg.<strong>br</strong>/nupes www.letras.ufmg.<strong>br</strong>/marciacancado .O ESTATUTO DA PREPOSIÇÃO COM EM CONSTRUÇÕES COMALTERNÂNCIA SINTÁTICAHeloisa Maria M. L. Salles (UnB)Rozana Reigota Naves (UnB)355


O presente estudo examina construções em que a preposição COM introduzum argumento realizado com o papel temático <strong>de</strong> instrumento (seja nosentido <strong>de</strong>notativo ou metafórico). Na discussão, verifica-se que ospredicados relevantes – os locativos (1), os psicológicos (2) e os causativos(3) – admitem mapeamento sintático em que o argumento interpretado comoinstrumento ocorre em diferentes funções sintáticas: ora como complementodireto ou indireto (em (1)), ora como sujeito ou argumento oblíquo (em (2) e(3)). Adotando-se uma abordagem em termos do aspecto lexical, postula-seque a preposição COM constitui marcador gramatical do estatuto argumentaldo complemento.(1) Alternância locativa:a. Maria bordou lantejoula no vestido.b. Maria bordou o vestido com lantejoula.(2) Alternância psicológica:a. Maria preocupa João.b. João se preocupa com Maria.(3) Alternância causativa:a. Maria a<strong>br</strong>iu a porta com a chave.b. A chave a<strong>br</strong>iu a porta.PREDICAÇÃO E ESTRUTURA ARGUMENTAL: CONTRIBUIÇÕESPARA O ESTUDO DOS PREDICADOS COMPLEXOSCristine Hen<strong>de</strong>rson Severo (UFRGS)Segundo Lobato (2004, p. 146), uma construção com predicado complexopossui dois núcleos predicados, sendo que um é verbal e o outro ésecundário. Ainda <strong>de</strong> acordo com a autora (2004, p. 146), as construçõescom predicado complexo po<strong>de</strong>m ser: (a) resultativas: quando a predicaçãosecundária caracteriza um estado que resulta da ação ou do processo <strong>de</strong>scritopelo verbo, como em João cortou a grama curta; (b) <strong>de</strong>pictivas: quando apredicação secundária po<strong>de</strong> ser retirada da sentença sem prejuízo para a suagramaticalida<strong>de</strong>, como em Maria comeu a carne crua; e (c) epistêmicas: emque essa predicação faz parte <strong>de</strong> uma proposição selecionada pelo verbo dasentença, como em Maria consi<strong>de</strong>ra João inteligente. Outro tipo <strong>de</strong>construção com predicado complexo ocorre quando a predicação secundáriase refere ao sujeito da sentença, como em João partiu triste. Cada estruturaparece ocorrer com um <strong>de</strong>terminado tipo <strong>de</strong> verbo: as estruturas epistêmicas,por exemplo, somente ocorrem com verbos que c-selecionam proposições, jáque a <strong>de</strong>claração selecionada pelo verbo po<strong>de</strong> ser expressa através <strong>de</strong> umaoração finita, como em Maria consi<strong>de</strong>ra que João é inteligente. Já ospredicados resultativos, quanto ao seu lugar na estrutura argumental doverbo, são tratados como adjuntos, pois a sentença João cortou a grama, emque o adjetivo curta é apagado, continua gramatical. Porém, se o adjetivo é356


interpretado como o resultado <strong>de</strong> uma ação <strong>de</strong>scrita pelo verbo, o adjetivo<strong>de</strong>veria aparecer como argumento <strong>de</strong>sse verbo. As estruturas compredicações secundárias são chamadas, na abordagem gerativa, <strong>de</strong> SmallClauses (SCs). Nessa perspectiva, se, por um lado, não parece haver dúvidas<strong>de</strong> que categorias funcionais estão presentes na representação sintática <strong>de</strong>SCs, por outro lado, não parece clara a relação entre a representação daestrutura interna das SCs e a estrutura argumental dos verbos envolvidosnessas construções. Desse modo, é objetivo <strong>de</strong>ste trabalho investigar comoessa relação é realizada em sentenças com predicado complexo do PortuguêsBrasileiro. Para tanto, utilizaremos como referência os trabalhos <strong>de</strong> Rapoport(1990), Cardinaletti & Guasti (1995), Basílico (2003), Lobato (2004) ePereira (2005).TRAÇOS SEMÂNTICOS E TIPOS DE CONSTRUÇÕES DEPREDICADORES EXPERIENCIAISEvelyne Dogliani (UFMG)A comunicação apresenta os resultados <strong>de</strong> três etapas do projeto Avaliando omo<strong>de</strong>lo da difusão lexical em processos sintáticos: as construções ergativas,em que se estudaram predicadores experienciais, observando-se evidências<strong>de</strong> correlação sintático-semântica-morfológica. A constituição dos corpora,estabelecida com base em dados reais, levou em conta todo tipo <strong>de</strong>construção experiencial – construções perifrásticas como Eu tenho medo eformas verbais como Eu me amedronto. Na primeira etapa, analisaram-se asconstruções <strong>de</strong> predicadores psicológicos mais freqüentes com base emcorpus constituído <strong>de</strong> dados da modalida<strong>de</strong> oral e escrita do século XX.Integram esse corpus 299 ocorrências, que correspon<strong>de</strong>m a predicadores queocorreram sete vezes, pelo menos. A análise <strong>de</strong>monstra que a maior partedos predicadores privilegia as estruturas em que o experienciador seestrutura na função <strong>de</strong> sujeito sintático (doravante ExpS) e, nesse caso, asconstruções perifrásticas emergem em maior volume. Um grupo menorprivilegia as estruturas em que o expeirenciador está na função <strong>de</strong> objeto(doravante ExpO), nesse caso, as formas verbais, e não as construçõesperifrásticas são favorecidas. A segunda etapa da análise procurou observarse a perspectiva preferencial (estruturas ExpS), <strong>de</strong>tectada na primeira etapa,seria tributária do tipo discursivo – o interativo – característico dasentrevistas orais e dos romances dos quais se extraíram as ocorrênciasanalisadas. Efetivou-se nova coleta em seções específicas da revista Veja,que ilustrassem o tipo discursivo teórico monologado. A análise <strong>de</strong>ssecorpus, constituído <strong>de</strong> 92 ocorrências <strong>de</strong> predicadores psicológicos, mostrouque o tipo discursivo pesquisado apresentou um aumento <strong>de</strong> enunciadosestruturados na perspectiva da causa, sem que, todavia, esse tipoextrapolasse o número <strong>de</strong> construções ExpS. Também nessa análise,observou-se maior volume <strong>de</strong> construções perifrásticas nas estruturas ExpS.A terceira etapa, consi<strong>de</strong>rou outras classes <strong>de</strong> predicadores experienciais,quais sejam, os que expressam fenômenos físicos, <strong>de</strong> percepção e <strong>de</strong>357


cognição, com base em corpus constituído <strong>de</strong> 236 ocorrências, extraídas <strong>de</strong>textos <strong>de</strong> diferentes períodos. Também essa análise permite a associaçãoentre construções perifrásticas e estruturas ExpS, limitando-a, todavia, àsclasses semânticas que ilustram a proprieda<strong>de</strong> afetado (Cançado 2002,2005). Contempla-se, ainda, a questão acerca do papel das construçõesperifrásticas (Madureira (2000, 2002). Dogliani (2007): se sua presença seassocia a predicadores ergativo-causativos, e se sua ocorrência reduz oespaço das construções verbais ergativas, é possível atribuir-lhes algumpapel no apagamento do pronome ergativo?A ALTERNÂNCIA MÉDIA NO PORTUGUÊS DO BRASILJuliana Pacheco (USP/Capes)Ana Paula Scher (USP)Este presente trabalho trata so<strong>br</strong>e a agentivida<strong>de</strong> na alternância <strong>de</strong>transitivida<strong>de</strong> conhecida na literatura como alternância média (Keyser &Roeper, 1984; Stroik 1992, 1999; Ackema & Schoorlemmer, 1994;Rodrigues, 1998), caracterizada, no PB, por sentenças como asexemplificadas em (1).(1a) Dissertação <strong>de</strong> mestrado não se escreve fácil.(1b) Documento confi<strong>de</strong>ncial não arquiva em qualquer lugar.Nota-se que essas sentenças carregam consigo particularida<strong>de</strong>s que asdistinguem <strong>de</strong> outras sentenças intransitivas do idioma, como: (i) o caráternão-episódico; (ii) a interpretação <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>; (iii) a necessida<strong>de</strong> dapresença <strong>de</strong> um modificador e (iv) a interpretação <strong>de</strong> que há um agente oucausa implícita.Em relação ao agente implícito, a favor do qual diversos autores têmtrabalhado (Keyser & Roeper, 1984; Stroik 1992, 1999; Dikken & Sybesma,1998), o PB oferece dados bastante interessantes. Nessa língua, asconstruções médias (CM) po<strong>de</strong>m ser formadas com ou sem a presença doclítico SE. Esses dados apontam que existe um agente apenas nas sentençasem que o SE está presente. As sentenças nas quais há a ausência <strong>de</strong>sseclítico, o agente não é expresso sintaticamente, apesar <strong>de</strong> estarsemanticamente implícito. Dessa forma, tentamos respon<strong>de</strong>r a questão so<strong>br</strong>ecomo é possível que os falantes interpretem que médias possuem um agenteimplícito mesmo quando não há nenhum elemento sintaticamente ativofuncionando como tal.Trabalhando <strong>de</strong>ntro do arcabouço teórico da Morfologia Distribuída (Halle& Marantz, 1993), tivemos como ponto <strong>de</strong> partida para este estudo so<strong>br</strong>e aagentivida<strong>de</strong> nas sentenças médias do PB os apontamentos feitos porMarantz (1997) a respeito <strong>de</strong> certas nominalizações do inglês, nas quais oautor verifica que agentivida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> estar codificada na raiz verbal. A partir<strong>de</strong>ssa observação <strong>de</strong> Marantz, passamos a investigar se a intuição dosfalantes a respeito da agentivida<strong>de</strong> nas médias po<strong>de</strong> estar relacionada à raizenvolvida na construção e não à presença <strong>de</strong> um agente na estrutura.358


Ao longo <strong>de</strong>ste estudo, chegamos à conclusão <strong>de</strong> que a razão pela qualfalantes enten<strong>de</strong>m que existe alguém, um agente, que é capaz <strong>de</strong> levaradiante a eventualida<strong>de</strong> expressa pelo radical verbal é <strong>de</strong>vida a informaçõessintático-semânticas da raiz envolvida na <strong>de</strong>rivação. Uma sentença médiaconstruída a partir <strong>de</strong> uma raiz tipicamente agentiva, como em (1), énecessariamente agentiva, mesmo que não haja um agente expresso naestrutura.BLOQUEIO DE PREDICADOS COMPLEXOS RESULTATIVOS EMPB: RESTRIÇÕES SOBRE A ESTRUTURA ARGUMENTALJulio William Curvelo Barbosa (USP)Neste trabalho, discutiremos os mo<strong>de</strong>los sintáticos propostos paraas construções resultativas do inglês (Simpson 1983, Hoekstra 1988, 1992,Carrier & Randall 1992, Levin & Rappaport-Hovav 1995, inter alia), do tipo<strong>de</strong> (1).(1) She laughed him out of his patience.Ela riu ele (acusativo) fora da <strong>de</strong>le paciência‘Ela tirou-o do sério rindo/riu até tirá-lo do sério’(Hoekstra 1988:115; tradução nossa)As propostas <strong>de</strong> representação sintática <strong>de</strong> sentenças como (1)variam em três tipos <strong>de</strong> formação sintática: (i) small clauses (Kayne 1985,Hoekstra 1988, 1992, Kratzer, 2005, Harley 2007); (ii) predicadossecundários em adjunção (Levin & Rappaport-Hovav 1995); (iii) predicadoscomplexos (Carrier & Randall 1992, Neeleman & van <strong>de</strong> Koot 2002,Embick 2004).Com base em evidências empíricas e teóricas, tentaremos <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rque o terceiro tipo <strong>de</strong> construção é o mais a<strong>de</strong>quado para representarconstruções resultativas, pois é também o mais a<strong>de</strong>quado para representarestruturalmente a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> fenômenosintático em línguas como PB, conforme aponta Barbosa (2008).A partir da teoria <strong>de</strong> estrutura argumental <strong>de</strong> Hale & Keyser (1993,2002), formularemos uma proposta <strong>de</strong> representação sintática para o inglêsque capture as restrições <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> predicados complexos em línguasromânicas (Sny<strong>de</strong>r, 1995) a partir da formação <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong>adjetivais (Hale& Keyser, 2002). Na estrutura proposta, evi<strong>de</strong>nciaremos a relação entre atipologia <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong> movimento <strong>de</strong> Talmy (2000) e a formação <strong>de</strong>resultativas, graças à capacida<strong>de</strong> do inglês em expressar amálgama <strong>de</strong> modotantos nas sentenças com verbos <strong>de</strong> movimento, quanto nas resultativas(Talmy, 2000, Mateu, 2002). Enquanto inglês é capaz <strong>de</strong> amalgamar o modoao verbo (2), PB faz amálgama do estado resultante (3):359


(2) John hammered the metal flat.‘John [causou com marteladas]o metal [ficar achatado]’CAUSA + MODO ESTADO RESULTANTE(3) João pintou a casabem amarelinha.‘João [causou _ ficar pintada] a casa bem amarelinha]’CAUSA + ESTADO RESULTANTE ?????No caso do inglês, marcado positivamente pelo Parâmetro <strong>de</strong>Composicionalida<strong>de</strong> (PC) (Sny<strong>de</strong>r, 1995), as raízes po<strong>de</strong>m ser marcadascomo [+Afixais], o que permite a formação <strong>de</strong> resultativas (4). No caso doPB, as raízes não po<strong>de</strong>m ser marcadas com esse traço, o que explica aimpossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> leitura resultativa (5), bloqueando a estrutura (6):(4) V3DPV5 3the metal V [+Afixal] Rg ghammerflat[+Afixal](5) ≠ O João martelou o metal plano.360


(6) * V3DPV5 3o metal V [+Afixal] Rg gmartelarplano[-Afixal]A partir <strong>de</strong>ssa proposta <strong>de</strong> estrutura, mostraremos que a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> resultativas se dá <strong>de</strong>vido à relação entre a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>amálgama <strong>de</strong> modo nos verbos em PB e pela restrição imposta pelo PC.Nossa proposta sintática mostra que graças à marcação negativa do PC emPB, nessa língua, as raízes formadoras <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong>adjetivais são o<strong>br</strong>igadasa mover-se para preencher o núcleo verbal via conflation, impedindo aformação <strong>de</strong> um predicado complexo, fato que privilegia esse tipo <strong>de</strong> análisesintática para as construções resultativas do inglês.O ESTATUTO DAS CONSTRUÇÕES MEDIAIS EM PORTUGUÊSLarissa Ciríaco (UFMG)Este trabalho tem como objetivo uma investigação acerca do estatuto dasconstruções mediais (middle constructions) em português e sua relação comas construções ergativas. Para o inglês, Levin (1993) assume ain<strong>de</strong>pendência das mediais em relação às ergativas. Bassac e Bouillon (2002)propõem uma análise com base no léxico gerativo para a alternânciatransitivo-medial, distinguindo-a da alternância causativo-incoativa. Issosignifica que a medial possui um estatuto <strong>de</strong> construção, ou alternância,<strong>de</strong>ntro da gramática, exibindo proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sentido específicas eobe<strong>de</strong>cendo a restrições próprias. Essa visão se esten<strong>de</strong> em trabalhos so<strong>br</strong>eoutras línguas, Lekakou (2002), por exemplo, aborda as construções mediaispara o inglês e o grego. Bayona (2005) apresenta uma <strong>de</strong>finição para asmediais no espanhol, num estudo so<strong>br</strong>e aquisição <strong>de</strong>ssas construções. JáSteinbach (1999), chega à conclusão <strong>de</strong> que as mediais não possuem umestatuto teórico <strong>de</strong>ntro do alemão, sendo, na verda<strong>de</strong>, apenas uma dasinterpretações possíveis <strong>de</strong> sentenças transitivo-reflexivas. Para o português,Perini (2005), seguindo <strong>de</strong> perto as características dadas por Levin (1993),<strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que as construções mediais não passam <strong>de</strong> uma subclasse das361


construções ergativas, não se constituindo em alternância autônoma.Camacho (2002) apresenta uma <strong>de</strong>fesa à categoria <strong>de</strong> voz média emportuguês, mas não inclui aí as construções mediais (ou middle constructions)às quais se refere este trabalho e sim as construções com verbos pronominaisou médios. Em síntese, tem havido um <strong>de</strong>bate so<strong>br</strong>e a existência dasconstruções mediais em português. Assim, a partir das <strong>de</strong>finições maiscomumente adotadas para mediais e <strong>de</strong> um paralelo entre elas e asconstruções ergativas, se procurará verificar se as mediais po<strong>de</strong>m sertratadas como uma alternância <strong>de</strong> diátese in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte ou não. Paraproce<strong>de</strong>r com essa investigação, lidar-se-á principalmente com noções comoestrutura argumental, classe acional e proprieda<strong>de</strong>s semânticas.AS ESTRUTURAS FRASAIS E SUA AQUISIÇÃO POR CRIANÇASBRASILEIRASJulieane Pohlmann-Bulla (PUCRS)As proprieda<strong>de</strong>s das palavras seguem pressupostos lógicos inerentes a cadaentrada lexical. A criança adquire o léxico <strong>de</strong> sua língua, suas proprieda<strong>de</strong>stemáticas e subcategorização dos itens, e o relaciona com os princípios daTeoria X-barra. Há uma interação <strong>de</strong> princípios que leva à aquisição dasrepresentações sintáticas. Quando um verbo exige um complemento, não ésomente necessário que esse complemento seja um sintagma nominal ou umsintagma preposicionado; além da sua categorização sintagmática, também éimprescindível que ele assuma <strong>de</strong>terminados papéis consoantes com suascaracterísticas semânticas, ou seja, que ele tenha uma estrutura temáticaon<strong>de</strong> papéis sejam assumidos a fim <strong>de</strong> fechar a ca<strong>de</strong>ia argumentativa dopredicado. O conteúdo semântico do léxico <strong>de</strong>termina a estrutura sintáticaatravés do Princípio da Projeção (HAEGEMAN, 2006:55). O presentetrabalho procura, <strong>de</strong>ntro do escopo da Teoria da Regência e Ligação(CHOMSKY, 1980), analisar aspectos das diferentes etapas da aquisição dasestruturas frasais e suas relações temáticas por crianças <strong>br</strong>asileiras entre 2 e3 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Até os dois anos, a produção lingüística infantil épredominantemente lexical e só então as estruturas mais complexascomeçam a aparecer na fala.ASPECTO E ALTERNÂNCIA CAUSATIVARozana Reigota Naves (UnB)Marcus Vinicius da Silva Lunguinho (USP)O presente trabalho visa analisar a interação entre o aspecto gramatical e oaspecto lexical (Aktionsart) no licenciamento da alternância causativainacusativa.Especificamente o trabalho se volta a i<strong>de</strong>ntificar as proprieda<strong>de</strong>sgramaticais que tornam tal tipo <strong>de</strong> alternância possível, mesmo em contextosnos quais se esperaria que ela não ocorresse. Uma amostra dos dadosrelevantes é dada a seguir:362


(1) a. Minha mãe lavou a roupa.b. *A roupa lavou.c. ?A roupa já lavou.d. A roupa (es)tá lavando.e. ??A roupa começou a lavar.f. A roupa continua lavando.g. ??A roupa terminou <strong>de</strong> lavar.(2) a. Os pedreiros pintaram o portão.b. *O portão pintou.c. ?O portão já pintou.d. O portão (es)tá pintando.e. ??O portão começou a pintar.f. O portão continua pintando.g. ??O portão terminou <strong>de</strong> pintar.Conforme se vê a partir dos dados 1(a,b) e 2(a,b), verbos como lavar epintar não licenciam a alternância causativa. Essa afirmação não parece sercorreta quando se leva em consi<strong>de</strong>ração dois conjuntos <strong>de</strong> dados:a) os dados 1(c) e 2(c), em que a presença do advérbio temporal játorna a alternância mais aceitável eb) os dados 1(d,f) e 2(d,f), nos quais a presença dos verbos auxiliaresestar e continuar torna a alternância possível.Os dados com auxiliares se tornam mais interessantes quando comparamos,<strong>de</strong> um lado, os dados 1(d,f) e 2(d,f), em que a alternância é possível, e, <strong>de</strong>outro, os dados 1(e,g) e 2(e,g), em que a agramaticalida<strong>de</strong> da alternânciareaparece, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da presença <strong>de</strong> auxiliares como começar eterminar. Para explicarmos os fatos em questão, adotaremos a hipótese <strong>de</strong>trabalho segundo a qual existe uma interação entre a informação aspectual(seja ela gramatical ou lexical) dos auxiliares e <strong>de</strong> advérbios temporais coma informação aspectual dos predicados <strong>de</strong>notados pelos verbos principais.Dessa interação resulta que certos auxiliares e advérbios temporais po<strong>de</strong>minterferir na classe aspectual <strong>de</strong> predicados (como lavar e pintar), tornando aalternância sintática possível.A PARTÍCULA ZAI DO MANDARIM - EVIDÊNCIA PARA ACLASSE DOS SEMELFACTIVOS?Érica Ken Yi Hsu (UFPR)Este trabalho tem como objetivo mostrar que a partícula zai do Mandarimpo<strong>de</strong> ser uma evidência para a existência da classe dos semelfactivos,conforme proposta <strong>de</strong> Smith (1991). O Mandarim é uma língua sem marcamorfológica <strong>de</strong> tempo verbal e o aspecto é atualizado por meio <strong>de</strong> partículasou advérbios – algumas partículas exercem diferentes funções na língua. Apartícula zai indica que a evento está em andamento, com umaparticularida<strong>de</strong>: combina-se somente com verbos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> e363


accomplishments (Vendler 1967). A idéia é mostrar que zai inci<strong>de</strong> so<strong>br</strong>e oprocesso presente nesses tipos <strong>de</strong> eventos, focalizando a duração e <strong>de</strong>ixandoencobertos os pontos inicial e final, quando é o caso. No entanto, algunsverbos achievement po<strong>de</strong>m ocorrer com zai, curiosamente aqueles para osquais Smith estipulou uma quinta classe: a dos semelfactivos. Se a previsão<strong>de</strong> que zai inci<strong>de</strong> so<strong>br</strong>e o processo é verda<strong>de</strong>ira, precisaríamos admitir queessa classe compreen<strong>de</strong> na sua estrutura interna um processo. Isso nos leva aum <strong>de</strong>bate existente na literatura: Smith afirma a pertinência da classe dossemelfactivos; Bertinetto (a sair) também mostra a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se falar <strong>de</strong>uma quinta classe. Rothstein (2004), por sua vez, argumenta contra a classedos semelfactivos, afirmando que esses verbos <strong>de</strong>vem ser tratados comoativida<strong>de</strong>s. O Mandarim seria uma evidência para se afirmar que essesverbos têm uma fase <strong>de</strong> processo. Nesse sentido, ou postulamos que ossemelfactivos <strong>de</strong>vem compreen<strong>de</strong>r uma duração, ou argumentamos que eles<strong>de</strong>vem ser realmente tratados como ativida<strong>de</strong>s. Por outro lado, não po<strong>de</strong>mos<strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar os argumentos <strong>de</strong> Smith <strong>de</strong> que os verbos semelfactivos, aocontrário dos verbos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, têm sub-eventos completos. Este trabalhopreten<strong>de</strong> buscar no comportamento <strong>de</strong>sses verbos em Mandarim argumentospara contribuir com esse <strong>de</strong>bate.‘CASAR’ NO LÉXICO GERATIVOAngela Cristina Di Palma Back (UFSC/UNESC)Com este trabalho, sistematiza-se a estrutura semântica do verbo casar queora se apresenta sintaticamente como x casa com y e ora como x casa y comz. Diante <strong>de</strong>ssas duas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos a proposição<strong>de</strong> que estamos diante <strong>de</strong> uma estrutura polissêmica. O estudo se preten<strong>de</strong>sincrônico, consi<strong>de</strong>rando não somente o significado dicionarizado, comotambém o conhecimento que os falantes nativos possuem intuitivamente. Afim <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a idéia posta, faremos do uso do aparato teórico do LéxicoGerativo, com base em Pustejovsky (1995), a partir do qual se mapeia aestrutura semântica do item lexical levando em conta seu uso criativo nocontexto sentencial no qual se estabelece o significado atribuído àsexpressões. Por meio do mapeamento semântico envolvendo três dos quatroníveis <strong>de</strong> representação, a saber: estrutura <strong>de</strong> argumentos, eventos e qualia,conclui-se que esse item lexical po<strong>de</strong> apresentar uma nova estruturasemântica, ainda não prevista pelo autor, por apresentar subespecificaçãoquanto ao núcleo (focalização) <strong>de</strong> um dos subeventos e à or<strong>de</strong>m temporal naestrutura <strong>de</strong> eventos, o que, necessariamente, coloca-nos frente à polissemialógica.CONSTRUÇÕES GERUNDIVAS DA MARGEM DIREITA:RESULTATIVAS VS DE MODOMaraisa Magalhães Arsénio (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa)364


As Gerundivas em Português da margem direita com relação à subordinantetêm comportamentos sintáctico-semânticos distintos. Destacamos as <strong>de</strong>modo – small clauses adjuntas/ eventos simultâneos ao da matriz – e asresultativas – orações plenas <strong>de</strong>fectivas periféricas/ eventos distintos do dasubordinante.Resultativas: Levin e Rappaport (1999) argumentam que há dois tipos <strong>de</strong>Resultativida<strong>de</strong> em Inglês: (i) ocorre uma <strong>de</strong>pendência temporal; omovimento <strong>de</strong>scrito pela resultativa é termporalmente co-extensivo com aativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrita pela principal –único evento (1). (ii) envolve dois eventosseparados: a resultativa <strong>de</strong>screve um evento posterior ao da matriz (2); (3-5)resultativas em Português:(1) Jack painted the barn red.(2) a) Clara rocked the baby to sleep.b) Clara embalou o bebé adormecendo-o.(3) O navio afundou (-se) matando 100 pessoas.(4) O avião <strong>de</strong>spistou-se assustando os passageiros.(5) João empurrou o carrinho esbarrando-o na prateleira.(2)(5) diferem <strong>de</strong> (3)(4) com relação às proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> selecção sintácticados predicadores das orações gerundivas resultativas. Os sujeitos são coreferentescom os da subordinante (2) (5); em (3,4), não são co-referentes:os verbos inacusativos morrer, assustar-se exibem um único argumentointerno - funciona como sujeito. Semanticamente, as proprieda<strong>de</strong>s temáticasdo predicador da resultativa são afectadas pelo predicador da frasesubordinante: (3-4) os sujeitos da subordinante e da gerundiva são ambospacientes; em (2,5) os sujeitos são agentes com relação ao evento da matrizmas não ao da subordinada: na gerundiva, o sujeito não realizado <strong>de</strong>notauma entida<strong>de</strong> que não tem a intenção <strong>de</strong> causar Z, portanto, é o tema.Modo: Semanticamente, apresentam eventos simultâneos veiculados pelaoração subordinante (6). Sintacticamente, são small clause adjuntas queprojectam até AspP: não po<strong>de</strong>m ter uma negação frásica e serem afectadaspor um auxiliar <strong>de</strong> tempos compostos (7):(6) Eu sai cantando./ A Maria estuda falando.(7) *Eu sai não cantando./ *Eu sai tendo cantando. (≠eu cantavaenquanto saía).Resultativas vs modo: testes <strong>de</strong> clivagem (9) e <strong>de</strong> focalização com partículasó, (10) <strong>de</strong>monstram diferenças:(8) Foi cantando que eu sai. *Foi adormecendo-o que Clara embalou obebé.(9) Eu só sai cantando (e não dançando)./ *Clara só embalou o bebéadormecendo-o ( e não acalmando-o).Os testes revelam: as <strong>de</strong> modo são integradas; as resultativas são periféricas.O mesmo teste em (8) nas resultativas prova que projectam até IP:365


(10) Clara embalou o bebé não o adormecendo (mas o acalmando)./Clara embalou o bebé tendo o adormecido.Há diferenças sintáctico-semânticas válidas entre elas.COMPLEMENTOS GERUNDIVOS ORACIONAIS NO PORTUGUÊSBRASILEIROPatrícia Rodrigues (UEL)Este trabalho se propõe a discutir as proprieda<strong>de</strong>s dos complementosgerundivos oracionais em português <strong>br</strong>asileiro e dos predicados que osintroduzem, como os ilustrados pelos exemplos em (1).(1a) Os professores não querem [os alunos fumando na sala <strong>de</strong> aula].(1b) Eu prefiro [meus filhos viajando comigo].(1c) Não agüento [esses garotos chegando tar<strong>de</strong> todo dia].É geralmente aceito nos estudos so<strong>br</strong>e complementação sentencial que asproprieda<strong>de</strong>s semânticas dos predicados matrizes, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar o tipo<strong>de</strong> complemento que eles po<strong>de</strong>m introduzir, são também responsáveis pelainterpretação e pelas características particulares <strong>de</strong>sses complementos.Assim, a realização sintática dos complementos, bem como suasproprieda<strong>de</strong>s, seriam previsíveis a partir do sentido dos predicados matrizes.Consi<strong>de</strong>rando as categorias semânticas propostas por Rochette (1988) paraos verbos matrizes (Proposicionais, Emotivos e Efetivos), bem como ascategorias semânticas por eles selecionadas (Proposição, Evento e Ação),propomos que os complementos gerundivos estudados nesse trabalhopertencem à categoria semântica Evento, que é selecionada por verbosEmotivos. Para Rochette, um Evento correspon<strong>de</strong> a um complementooracional que <strong>de</strong>nota uma situação distinta da situação <strong>de</strong>notada pelo verboprincipal. Um Evento carrega portanto informações temporais ou aspectuais.Nos dados analisados por Rochette (provenientes principalmente do francês),a principal proprieda<strong>de</strong> dos predicados Emotivos é a <strong>de</strong> apresentarcomplementos no infinitivo ou no subjuntivo, que aparecem, na maioria doscasos, em distribuição complementar. O sujeito da oração subjuntivacomplemento apresenta interpretação disjunta em relação ao sujeito daoração matriz (efeito <strong>de</strong> obviação do subjuntivo). Os predicados do PBestudados neste trabalho se comportam da mesma maneira, como po<strong>de</strong> serobservado em (2).(2a) Os professores não querem [que os alunos fumem na sala <strong>de</strong> aula].(2b) Os professores não querem [fumar na sala <strong>de</strong> aula].(2c) *Os professores i não querem [que eles i fumem na sala <strong>de</strong> aula].(2d) Os professores i não querem [que eles j fumem na sala <strong>de</strong> aula].O complemento gerundivo <strong>de</strong>sses predicados apresenta igualmente umainterpretação disjunta do seu sujeito em relação ao sujeito da oraçãoprincipal (3).(3a) *Os professores i não querem [eles i fumando na sala <strong>de</strong> aula].(3b) Os professores i não querem [eles j fumando na sala <strong>de</strong> aula].366


A partir do exame das proprieda<strong>de</strong>s dos complementos gerundivos e combase nas realizações canônicas propostas por Rochette para as categoriassemânticas dos verbos matrizes, argumentaremos que esses complementosse realizam, minimamente, como uma projeção do núcleo aspecto.PREDICADOR EM SENTENÇAS COM “COISAR” – ESTRUTURATEMÁTICASSonia R. Rocha (DL/USP)Em português falado em diversos lugares do Brasil, o termo coisa é usadono lugar <strong>de</strong> uma palavra da qual o falante não se recorda no momento da fala.Em geral, isso ocorre porque o falante não tem acesso imediato à palavraque ele necessita dizer. As três sentenças abaixo po<strong>de</strong>m ter o mesmosignificado: Eu que<strong>br</strong>ei o copo.(1) Eu que<strong>br</strong>ei o vaso(2) Eu coisei o vaso(3) Eu que<strong>br</strong>ei o coisoQuando alguma sentença cois- é pronunciada, o sentido da sentença que ofalante quis dizer é conservado. Nos dados apresentados <strong>de</strong> (1) a (3), vasotem a interpretação <strong>de</strong> “aquilo que se que<strong>br</strong>ou/ que está que<strong>br</strong>ado”, seja overbo da sentença que<strong>br</strong>ar ou coisar. Assumo que argumentos <strong>de</strong> umpredicado <strong>de</strong>vem ter sua interpretação dada pelos termos com que eles serelacionam na composição sintática. De acordo com Williams (1995),qualquer NP tem <strong>de</strong> ter alguma interpretação e precisa ser argumento <strong>de</strong>algum verbo (ver também McGinnis (2001)). A atribuição <strong>de</strong> papéistemáticos está diretamente relacionada com as configurações estruturais,(MCGINNIS, 2001). Com base no princípio do subconjunto, assumido pelaMorfologia Distribuída, um item <strong>de</strong> Vocabulário que correspon<strong>de</strong> a um nóterminal não necessita ter um conjunto idêntico dos traços do nó terminalcuja fonologia esse item <strong>de</strong> Vocabulário realizará (MARANTZ, 1997; EMBICK& NOYER, 2004; etc.). A partir <strong>de</strong>sse princípio do Subconjunto, eu <strong>de</strong>fendoque cois- é um item <strong>de</strong> vocabulário <strong>de</strong>fault disponível em Português. Amanutenção do sentido das sentenças em que cois- aparece apontam para aidéia <strong>de</strong> que a estrutura sintática construída para a sentença é conservada doinício ao fim da <strong>de</strong>rivação. A partir <strong>de</strong>ssa discussão, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rei que temos apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> competição entre raízes no mecanismo <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong>Vocabulário. Essa possibilida<strong>de</strong> se <strong>de</strong>ve à ocorrência do item <strong>de</strong> vocabuláriocois- em contextos <strong>de</strong> ausência do item <strong>de</strong> Vocabulário esperado para omorfema resultante da <strong>de</strong>rivação sintática.ANÁLISE DA ASSIMETRIA DE ERROS NO MAPEAMENTOARGUMENTAL ENTRE VERBOS DOS TIPOS “ENCHER” E“DESPEJAR”.Tyffanne Serra Paraná Rodrigues (UFPR)367


A Teoria da Estrutura Semântica, <strong>de</strong>fendida no trabalho <strong>de</strong> 1991 <strong>de</strong> Gropen,Pinker, Hollan<strong>de</strong>r & Goldberg prevê a compreensão <strong>de</strong> ocorrências que asteorias primitivas <strong>de</strong> listas <strong>de</strong> papéis temáticos consi<strong>de</strong>ravam, até então, nãocanônicas,como a construção “*Encha água no copo!”, que é umaalternância não prevista pelas teorias primitivas da forma correta “Encha ocopo com água!”, enquanto o verbo “<strong>de</strong>spejar” só costuma admitir entrefalantes a forma como em “Eu <strong>de</strong>spejei água no copo”, em que a alternânciaé bem mais rara entre falantes. A Teoria <strong>de</strong> Estrutura Semântica, a<strong>br</strong>iu,portanto, a possibilida<strong>de</strong> do estudo das proprieda<strong>de</strong>s semânticas <strong>de</strong> verbosque também funcionam, em relação às habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alternância, como“encher” e “<strong>de</strong>spejar”. A partir da análise <strong>de</strong> comportamentos <strong>de</strong> alternância<strong>de</strong> dois grupos principais (os <strong>de</strong> verbos objeto-alvo que funcionam como“encher; e os <strong>de</strong> verbos objeto-figura, que funcionam como “<strong>de</strong>spejar”)verificou-se um padrão <strong>de</strong> repetição <strong>de</strong> ocorrências semelhantes aos verbosem questão, o que pressupõe diferenças fundamentais entre proprieda<strong>de</strong>ssemânticas <strong>de</strong>stes verbos. Para a análise <strong>de</strong> tais proprieda<strong>de</strong>s, primeiramentefoi realizado um teste proposto por Dowty (1979) para a verificação daexistência <strong>de</strong> Accomplishment, que <strong>de</strong>tectou que todos os verbos objeto-alvodo tipo “encher” são Accomplishment, o que implicou um estudo dasproprieda<strong>de</strong>s previstas por esta classe aspectual. Para tanto, utilizou-se asanálises presentes nos estudos <strong>de</strong> Rothstein (2004), Rappaport & Levin(1996; 1996) e Tenny (1994), mais especificamente para as proprieda<strong>de</strong>saspectuais, e <strong>de</strong> Pinker et al. (1991) para a análise das proprieda<strong>de</strong>ssemânticas mais abstratas dos verbos principais “encher” e “<strong>de</strong>spejar”; estesestudos permitiram algumas consi<strong>de</strong>rações a respeito do porquê daassimetria <strong>de</strong> erros; além disso, como foi percebido que os estudos foramcoerentes com os diferentes padrões <strong>de</strong> ocorrências <strong>de</strong> alternância e <strong>de</strong> suasconstruções possíveis da amostra, notou-se a importância <strong>de</strong> análises queintegrem tanto as proprieda<strong>de</strong>s semânticas mais abstratas, quanto asproprieda<strong>de</strong>s aspectuais.UM TRATAMENTO ASPECTUAL PARA VERBOS DENOMINAISDO PBTeresa Cristina Wachowicz (UFPR)O objetivo <strong>de</strong>sta comunicação é levantar aspectos sintático-semânticos <strong>de</strong>verbos <strong>de</strong>nominais do PB com leitura accomplishments: engavetar, enjaular,encurralar, etc. Nossa hipótese é que esses verbos carregam em suamorfologia <strong>de</strong>rivacional a leitura <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> estado, através do prefixoen-, bem como a leitura <strong>de</strong> telicida<strong>de</strong> do aspecto lexical da estruturaaccomplishment, garantida pelo nome do qual o verbo <strong>de</strong>riva. Alguns testesnos permitem checar esses fenômenos: 1) a ausência <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> comoutros afixos <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> estado, ticos <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong>adjetivais: *agavetar;*engavetecer, em <strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> acalmar e engran<strong>de</strong>cer; 2) a impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> aplicar a estrutura do paradoxo do perfectivo (Singh 1999) em sentençascomo *João engavetou o aparelho, mas não terminou <strong>de</strong> engavetá-lo, em368


<strong>de</strong>trimento da possibilida<strong>de</strong> em sentenças cujo objeto plural neutraliza atelicida<strong>de</strong>: João engavetou os aparelhos, mas não terminou <strong>de</strong> engavetartodos. Com relação à estrutura morfológica, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>mos uma estruturaargumental interna ao verbo, em que, por mecanismo <strong>de</strong> conflação, a raiznominal ocupa núcleo lexical <strong>de</strong> projeção PP (Hale & Keiser 2002). Esteestudo filia-se ao projeto “SINTAXE E SEMÂNTICA DO LÉXICO VERBAL EMPB”, alocado no <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> Lingüística da UFPR.PERÍFRASES DURATIVAS DO PORTUGUÊS BRASILEIROSirlei Cavalli (UFPR)A proposta do trabalho é <strong>de</strong>monstrar que as perífrases verbais, com osverbos auxiliares aspectuais viver, andar, ficar e continuar, <strong>de</strong>notam leituraaspectual durativa. Essa leitura se dá <strong>de</strong> forma ambígua: a duração e/ou arepetição <strong>de</strong> um evento em um dado intervalo <strong>de</strong> tempo, possibilitada pelouso do auxiliar no presente do indicativo mais a flexão do gerúndio do verbopleno. São exemplos:(1) “A Polícia já anda vigiando este negócio” (Folha Online).(2) “Ana Maria Braga falou que não tem medo da concorrência. Anavive per<strong>de</strong>ndo da Record (Folha Online).(3)” Eu vi no jornal aí esses guris ficam pedindo na feiras livres” (Varsul/PR).(4) “A polícia continua procurando pistas do crime, mas semsucesso” (Folha Online).O auxiliar é aspectual por carregar historicamente traços <strong>de</strong> duração, além <strong>de</strong>,no processo <strong>de</strong> gramaticalização, manter por “persistência semântica”(Hopper 1991) parte <strong>de</strong> seu significado original. O verbo principal, naformação da perífrase, é responsável por <strong>de</strong>notar a repetição do evento notempo, <strong>de</strong>vido à flexão –ndo (Bertinetto 1996). Também seleciona osargumentos: interno (objeto direto) e externo (sujeito). Os auxiliares, além<strong>de</strong> marcar as <strong>de</strong>terminações gerais <strong>de</strong> número, pessoa, modo, tempo easpecto, per<strong>de</strong>m transitivida<strong>de</strong> e atribuição temática.Também, <strong>de</strong>vido ao uso <strong>de</strong> alguns adjuntos temporais, <strong>de</strong> forma recursiva,po<strong>de</strong> somar-se à duratição/iteração a leitura freqüêncial. Essa diz “quantasvezes” o evento se repete <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um intervalo <strong>de</strong> tempo. Veja:(5) A Polícia já anda vigiando este negócio todo dia/a cadasemana/uma vez por mês, etc (Folha Online).Além <strong>de</strong> apresentar essas perífrases como durativas, este trabalhoapresenta uma classificação a elas (conforme Bertinetto 2002):369


1. Perífrase durativa contínua: marca um evento que está em andamento,em processo num continum temporal, homogeneamente e/ou com iteração,como nos exemplos (1), (2) e (3) acima.2. Perífrase durativa fasal: marca um evento que tem continuida<strong>de</strong> em umintervalo <strong>de</strong> tempo (homogeneamente e/ou com iteração), porém há apressuposição que houve o início do evento anteriormente ao intervalo <strong>de</strong>tempo dado (<strong>de</strong>vido ao significado do auxiliar continuar), como noexemplos (4) acima.AS RAÍZES E A ESTRUTURA ARGUMENTAL NA MORFOLOGIADISTRIBUÍDARafael Dias Minussi ( DL/USP, São Paulo)O lexicalismo coloca como seu principal texto fundador o artigo <strong>de</strong>Chomsky (1970). No entanto, a Morfologia Distribuída (MD) (Cf. HALLE;MARANTZ, 1993; MARANTZ, 1997; HALLE, 1997), um dos<strong>de</strong>senvolvimentos da Teoria Gerativa, <strong>de</strong> caráter não-lexicalista, encontranesse mesmo texto <strong>de</strong> Chomsky as primeiras sementes da sua proposta quecomeçou a ser <strong>de</strong>senvolvida a partir da década <strong>de</strong> 90. Atualmente, muitostrabalhos, como Alexiadou; Schäfer (2007), procuram discutir a questão daestrutura argumental dos nominais <strong>de</strong>rivados, levando em consi<strong>de</strong>ração aseleção da estrutura argumental pela raiz, tal qual entendida pela MD (Cf.MARANTZ (1997)). Ao estudarmos as nominalizações, a principal perguntaque se coloca é so<strong>br</strong>e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um nível verbal anterior ao nívelnominal, o qual seria o responsável pela seleção <strong>de</strong> argumentos. Desse modo,esta pesquisa possui como objetivo maior a investigação so<strong>br</strong>e como, <strong>de</strong>ntrodo arcabouço teórico da MD, é feita a seleção dos argumentos <strong>de</strong> um núcleo:se pelas raízes, ou por núcleos categorizadores, por exemplo, o núcleo v.Como objetivo mais específico, a presente pesquisa estudará asnominalizações da língua he<strong>br</strong>aica. As raízes he<strong>br</strong>aicas são formadasgeralmente por três consoantes. Tais raízes são <strong>de</strong>sprovidas <strong>de</strong> categoria.Desse modo, elas recebem uma categoria (verbo, nome, adjetivo) por meioda combinação <strong>de</strong> vogais, ou seja, há padrões vocálicos para nome, verbo,adjetivo. Vejamos um exemplo <strong>de</strong> raiz e alguns padrões vocálicos possíveis.(1) √gdl (Raiz)Padrão VocálicoPalavra formadaa) CaCaC (v) gadal (crescer)b) CiCCeC (v) gi<strong>de</strong>l (elevar, criar,cultivar (padrão causativo))c) CaCoC (a) gadol (gran<strong>de</strong>)d) CoCeC (n) go<strong>de</strong>l (tamanho)e) miCCaC (n) migdal (torre)f) CCiCa (n) gidla (crescimento)370


A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mesma raiz po<strong>de</strong> ser categorizada diversas vezes nosfaz pensar so<strong>br</strong>e as seguintes questões: (i) o que faz a seleção <strong>de</strong> argumentos?ou seja, a seleção é feita pela raiz gdl ou pelo padrão vocálico que acategoriza?; (ii) a estrutura da raiz he<strong>br</strong>aica se mantém no nominal <strong>de</strong>rivado?;(iii) há resquícios do padrão vocálico na nominalização? e (iv) há um padrãovocálico próprio para as nominalizações?A partir <strong>de</strong>ssas perguntas, chegamos a alguns resultados parciais: (i) ospadrões vocálicos selecionam os argumentos; (ii) a diferença no número <strong>de</strong>argumentos <strong>de</strong> um verbo para uma nominalização sugere que a seleção <strong>de</strong>argumentos não é realizada pela raiz e (iii) há um padrão vocálico própriopara as nominalizações, como po<strong>de</strong>mos ver abaixo, sugerindo que não háuma camada verbal anterior à nominal nas nominalizações.(2) CCiCaa) mexinat ‘apagamento’b) harisat ‘<strong>de</strong>struição’c) sgirat ‘fechamento’d) štifat ‘enxágüe’Acreditamos que o estudo so<strong>br</strong>e as raízes he<strong>br</strong>aicas e so<strong>br</strong>e os padrõesvocálicos po<strong>de</strong> lançar luz para o estudo da estrutura argumental e das raízes<strong>de</strong>ntro da MD, na medida em que este estudo procura <strong>de</strong>terminar o conteúdodas mesmas. Também acreditamos que esta pesquisa po<strong>de</strong> contribuir para oestudo da estrutura argumental nas línguas naturais <strong>de</strong> modo geral.A ALTERNÂNCIA DE DIÁTESE DOS VERBOS RECÍPROCOS E ANOÇÃO DE PAPEL TEMÁTICOLuisa Godoy (UFMG)Este trabalho oferece uma análise semântico-lexical para a alternância <strong>de</strong>diátese apresentada por verbos como conversar em português <strong>br</strong>asileiro (PB).Essa alternância consiste na oscilação entre duas formas: como João e Mariaconversaram e como João conversou com Maria. Chamaremos os verboscomo conversar <strong>de</strong> recíprocos, pois expressam uma relação <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>entre os participantes <strong>de</strong>notados por seus argumentos. Buscaremos respon<strong>de</strong>ra uma questão recorrente na literatura: as duas formas alternantes sãosinônimas? Adotaremos a proposta <strong>de</strong> Dowty (1989, 1991) <strong>de</strong> se investigar oconteúdo semântico dos papéis temáticos, encarando-os não mais comoprimitivos semânticos na análise lingüística, mas como noções <strong>de</strong>rivadas. Osprimitivos seriam proprieda<strong>de</strong>s semânticas atribuídas por um predicador aseus argumentos e os papéis temáticos seriam grupos <strong>de</strong> proprieda<strong>de</strong>s.Usaremos o encaminhamento <strong>de</strong> Cançado (2005) para essa reformulação danoção <strong>de</strong> papel temático. A autora lida apenas com as proprieda<strong>de</strong>s,i<strong>de</strong>ntificando quais são as mais a<strong>br</strong>angentes e relevantes na <strong>de</strong>scrição eanálise das sentenças do PB. Assim, ao invés <strong>de</strong> postular poucos protopapéistemáticos, compostos por inúmeras proprieda<strong>de</strong>s semânticas, comono encaminhamento <strong>de</strong> Dowty, usaremos poucas proprieda<strong>de</strong>s, que,combinadas, po<strong>de</strong>m compor inúmeros papéis temáticos. Argumentaremos,371


por meio dos resultados <strong>de</strong> Godoy (2008), que esse encaminhamento éa<strong>de</strong>quado para se analisar a relação <strong>de</strong> sentido entre as formas alternantesdos verbos recíprocos, permitindo-nos <strong>de</strong>screver <strong>de</strong> maneira fina ainterpretação das sentenças com esses verbos e levando-nos a uma reflexãoso<strong>br</strong>e a natureza das alternâncias <strong>de</strong> diátese.GT27 Teoria Fonológia e suas InterfacesCoor<strong>de</strong>nadoresValéria Monaretto (UFRGS)Ubiratã Kickhöfel Alves (UCPel)RELAÇÃO ENTRE O PROCESSO DE APAGAMENTO DASVOGAIS POSTÔNICAS MEDIAIS, NO DIALETO DO NOROESTEPAULISTA, E A ORGANIZAÇÃO RÍTMICA DO PORTUGUÊS DOBRASILAdriana Perpétua Ramos (IBILCE/UNESP)Nesta apresentação, nosso objetivo geral é analisar o processo <strong>de</strong>apagamento das vogais postônicas mediais, nos nomes, no dialeto da região<strong>de</strong> São José do Rio Preto, São Paulo. Por meio da análise proposta,buscamos: (i) <strong>de</strong>screver o comportamento do processo <strong>de</strong> apagamento dasvogais postônicas mediais e (ii) apresentar explicações para a aplicação<strong>de</strong>sse processo, embasados na Teoria Métrica. Essa teoria afirma que oacento po<strong>de</strong> ser analisado a partir <strong>de</strong> uma relação entre sílabas <strong>de</strong> modo quese estabelece um contorno <strong>de</strong> proeminência entre elas. Ao realizarmos umaanálise métrica do apagamento das proparoxítonas, po<strong>de</strong>mos investigarcomo se dá a distribuição <strong>de</strong> proeminências em um dado domínio prosódicoe, <strong>de</strong>sse modo, elaborar hipóteses para explicar a motivação do apagamento.Nossos objetivos específicos são: (a) verificar se há influência das relaçõesmétricas na aplicação do processo, no dialeto do noroeste paulista e, casohaja, se ela ocorre no nível prosódico do pé, como proposto por Lee (2004);ou se ocorre em níveis maiores que o pé, como na frase entoacional e (b)verificar em que medida as relações métricas, presente no contexto póslexicalna qual a proparoxítona está inserida, por exemplo, a fraseentoacional, influencia o processo. Objetivamos também apresentar umtrabalho que preten<strong>de</strong> fundamentar, por meio <strong>de</strong> procedimentos acústicos, apercepção do apagamento das vogais postônicas mediais. Para a realização<strong>de</strong> nossa análise, consi<strong>de</strong>ramos dados controlados por meio <strong>de</strong> experimento.Por meio <strong>de</strong>sse procedimento po<strong>de</strong>mos criar situações, nas quais, po<strong>de</strong>-seobservar a interação das variáveis relevantes para respon<strong>de</strong>rmos às questõesteóricas. O experimento foi dividido em duas partes, para que pudéssemoscontrolar (i) a realização da proparoxítona isolada e (ii) as alternânciasmétricas da frase entoacional e a localização do item neste domínioprosódico. Os resultados obtidos, a partir das análises perceptual e acústicados dados, so<strong>br</strong>e o comportamento do apagamento das proparoxítonas372


evelaram que, no dialeto em questão, o processo não parece estarrelacionado com questões métricas, e sim, com a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> boaformação silábica, sendo os contextos em que há líquidas no onset da sílabafinal e as sibilantes /s, z/ no onset da sílaba medial, os únicos contextos que,<strong>de</strong> fato, estão diretamente relacionados com a aplicação do processo. Por fim,ao caracterizarmos o dialeto do noroeste paulista; preten<strong>de</strong>mos contribuirpara o <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa das vogais no contexto <strong>de</strong> postônicamedial no Português Brasileiro.UM ESTUDO PRELIMINAR SOBRE PRODUTIVIDADEDERIVACIONAL NO PORTUGUÊS BRASILEIROAline Grodt (UFRGS)Luiz Carlos Schwindt (UFRGS)O presente trabalho propõe-se discutir o fenômeno da <strong>de</strong>rivação, naperspectiva <strong>de</strong> sua produtivida<strong>de</strong> no português <strong>br</strong>asileiro. Segundo Rocha(1998), há sete tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação: a <strong>de</strong>rivação prefixal, a sufixal, aparassintética, a regressiva, a conversiva, a siglada e a truncada. Nossadiscussão circunscreve-se às três primeiras. É nosso objetivo geral tentar<strong>de</strong>screver, na medida do alcance <strong>de</strong>ste trabalho, a gramática subjacente dosfalantes do português <strong>br</strong>asileiro, no que tange à produtivida<strong>de</strong> <strong>de</strong>rivacional.Nosso estudo norteia-se pelas seguintes questões: i) quais as categorias <strong>de</strong>base que são preferencialmente selecionadas nos processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação? ii)quais as formas <strong>de</strong>rivadas que são mais produtivas? e iii) quais fatores <strong>de</strong>caráter fonológico estariam envolvidos na escolha e na localização dossufixos no léxico? Como hipóteses, acreditamos que i) a sufixação é maisprodutiva do que a prefixação, uma vez que po<strong>de</strong> mudar a categoria lexicaldo produto em relação à base; ii) o uso que os falantes fazem <strong>de</strong> palavras<strong>de</strong>rivadas condiz com o inventário do dicionário institucionalizado da língua.Os dados estão sendo coletados <strong>de</strong> entrevistas da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegrepertencentes ao banco do Projeto Varsul (Variação Lingüística Urbana daRegião Sul). Embora o presente estudo não se enquadre na perspectivavariacionista, controlamos a estratificação dos informantes, a fim <strong>de</strong>verificar possíveis fatores <strong>de</strong>terminantes na escolha dos afixos (falantesmenos escolarizados x mais escolarizados / mais jovens x mais velhos). Paraa escolha dos afixos, nosso ponto <strong>de</strong> partida foi o trabalho <strong>de</strong> Sandmann(1989). A partir do que o autor encontrou como afixos pertencentes a regrasprodutivas, selecionamos para nossa análise afixos <strong>de</strong> acordo com seu tipo<strong>de</strong> formação. A análise preliminar do corpus já coletado foi feita à luz daMorfologia Lexical (Aronoff, 1976; Basílio, 1980; entre outros) e daFonologia e Morfologia Lexical (Kiparsky, 1982).O PROCESSO DE ELISÃO NO PORTUGUÊS FALADO NO SUL DOBRASILAna Paula Mello Alencastro (PUCRS)Cláudia Regina Brescancini (PUCRS)373


A partir <strong>de</strong> pesquisas realizadas so<strong>br</strong>e o processo <strong>de</strong> elisão das vogais /a/, /e/e /o/ no português falado na região Sul do Brasil, a saber Bisol (2002),Barbosa (2005), Vargas (2006) e Alencastrro (2008), este estudo preten<strong>de</strong>discutir e analisar os procedimentos adotados para composição das amostrase das estratégias <strong>de</strong> análise adotadas com o objetivo <strong>de</strong> licenciar umacomparação entre os resultados obtidos que conduza à elaboração <strong>de</strong> umpanorama a respeito do comportamento da regra. Tal proposta coaduna-secom o posicionamento <strong>de</strong>fendido por Bailey e Tillery (2004) so<strong>br</strong>e aimportância da busca pela comprovação da generalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> regras variáveisno inglês. Os trabalhos que constituem o corpus <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>sta pesquisaconsi<strong>de</strong>ram apenas amostras pertencentes ao banco <strong>de</strong> dados do ProjetoVarsul. Os resultados indicam que, embora as taxas <strong>de</strong> aplicação da regravariem <strong>de</strong> acordo com a qualida<strong>de</strong> fonética da vogal, a elisão é um processo<strong>de</strong> condicionamento preferencialmente lingüístico, em que o acento e osconstituintes prosódicos apresentam papéis relevantes.A EPÊNTESE MEDIAL NA APRENDIZAGEM DE INGLÊS COMOLE: UMA ANÁLISE MORFOFONOLÓGICAAndré Schnei<strong>de</strong>r (UFRGS/CAPES)Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq)Neste trabalho, preten<strong>de</strong>-se apresentar uma análise preliminar so<strong>br</strong>e aaplicação do fenômeno <strong>de</strong> epêntese vocálica medial em português <strong>br</strong>asileiro(PB) e em inglês a partir <strong>de</strong> dados da fala <strong>de</strong> aprendizes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> inglêscomo língua estrangeira. A pesquisa tem como base os estudos so<strong>br</strong>e Teoriada Sílaba, <strong>de</strong>senvolvidos por Selkirk (1982), para o inglês, e por Bisol(1999), para o PB, além dos trabalhos <strong>de</strong> Collischonn (2002) e Pereyron(2007) so<strong>br</strong>e a epêntese em PB. Preten<strong>de</strong>-se verificar, em dados do PB, asdiferenças <strong>de</strong> recorrência existentes entre a aplicação da epêntese noscontextos (a) prefixo + base (por ex., sub[i]produto) e (b) interior da base(por ex., p[i]sicólogo). Preten<strong>de</strong>-se, ainda, investigar a aplicação <strong>de</strong> epêntesemedial que po<strong>de</strong> ser atestada na produção oral da língua inglesa <strong>de</strong>aprendizes <strong>br</strong>asileiros. Com relação ao primeiro objetivo, partimos dopressuposto <strong>de</strong> que a recorrência da epêntese nos contextos morfológicos <strong>de</strong>fronteira entre prefixo + base (no PB e em inglês) e base + sufixo (em inglês)seja maior do que no interior <strong>de</strong> uma base. No que diz respeito à análise dainserção vocálica em palavras do inglês produzidas por falantes do PB,parte-se da idéia <strong>de</strong> que haja uma transposição, inicialmente total, do padrãosilábico do PB para a língua inglesa, no momento em que esta começa a seraprendida. Assim, pressupõe-se que o aprendiz iniciante <strong>de</strong> inglês, diante <strong>de</strong>palavras como submarine e magnet, tenda a produzi-las como sub[i]marine emag[i]net, respectivamente. Gradualmente, o falante, ainda queinconscientemente, passa a ter maior noção das diferenças existentes entre osmol<strong>de</strong>s silábicos <strong>de</strong> cada uma das línguas. Os resultados, ainda quepreliminares, indicam haver diferenças estatísticas (e, conseqüentemente,374


qualitativas) entre a aplicação da epêntese que ocorre no interior <strong>de</strong> umabase e a que ocorre na fronteira entre afixos e suas bases, tanto em PBquanto na língua inglesa. A recorrência <strong>de</strong> aplicação da epêntese mostra-se,<strong>de</strong> fato, mais expressiva na fronteira entre afixos e bases.REANALISANDO AS VOGAIS FRONTAIS ARREDONDADAS DOFRANCÊS (CALABRESE, 2005)Cíntia da Costa Alcântara (UFPEL)Este trabalho propõe uma reanálise das vogais frontais arredondadas dofrancês, /y O ¿/, por falantes nativos do PB (Alcântara, 1998) – à luz dospressupostos teóricos <strong>de</strong> Cala<strong>br</strong>ese (2005), cujas bases se encontram emCala<strong>br</strong>ese (1995). Fundamentalmente, o novo mo<strong>de</strong>lo fonológico trazimportantes reformulações acerca das noções <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> marcação eoperações <strong>de</strong> reparo. As condições <strong>de</strong> marcação passam a ser interpretadasà luz da escala proposta por Clements (2004) – robustness scale – queaponta serem os traços perceptualmente mais salientes explorados antes doque traços perceptualmente menos salientes. A robustez <strong>de</strong> um traço,segundo seu proponente, é estabelecida não mediante o exame dos traços emsi, mas através do exame <strong>de</strong> contrastes estabelecidos entre traços. Porconseguinte, os contrastes que envolvem traços mais robustos seriam maisfreqüentes nas línguas do mundo do que os menos robustos. A partir <strong>de</strong>ssasconsi<strong>de</strong>rações, Cala<strong>br</strong>ese (2005) assume que uma condição <strong>de</strong> marcação,composta por pares <strong>de</strong> traços, não mais salienta o traço marcado do feixe emquestão, ou seja, o menos robusto, uma vez que tal informação po<strong>de</strong> ser<strong>de</strong>preendida da robustness scale. Quanto à nova visão <strong>de</strong> operações <strong>de</strong>reparo, essas se referem tão-somente a operações básicas da fonologia nãolinear– inserção e apagamento, às quais são reduzidos os três diferentesprocedimentos <strong>de</strong> simplificação <strong>de</strong>fendidos pelo autor (1995) –<strong>de</strong>sligamento, fissão e negação. A presente exposição atém-se, não obstante,às condições <strong>de</strong> marcação e à nova proposta <strong>de</strong> que a fissão é <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adapor uma operação <strong>de</strong> inserção <strong>de</strong> traços (Cala<strong>br</strong>ese, 2005:144). Os resultadosobtidos permitem uma compreensão mais acurada <strong>de</strong> aspectos concernentesao processo <strong>de</strong> aquisição do francês como LE e apontam para a pertinênciado mo<strong>de</strong>lo proposto por Cala<strong>br</strong>ese (op. cit.).UMA PROPOSTA DE CLASSIFICAÇÃO DOS DESVIOSFONOLÓGICOS COM BASE EM TRAÇOS DISTINTIVOSCristiane Lazzarotto Volcão (UCPel, Unipampa)Carmem Lúcia Barreto Matzenauer (UCPel)O grau <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>svios fonológicos tem sido proposto pelaliteratura a partir <strong>de</strong> dois métodos: o quantitativo e o qualitativo. As formasque avaliam uma gramática com <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sviante, a partir <strong>de</strong>dados estatísticos, apresentam algumas <strong>de</strong>svantagens, tais como: não levamem conta a natureza fonológica do erro, uma vez que dão o mesmo375


tratamento para uma substituição <strong>de</strong> uma líquida por outra líquida e <strong>de</strong> umalíquida por uma plosiva, por exemplo, e não consi<strong>de</strong>ram que, muitas vezes,as crianças po<strong>de</strong>m evitar a produção <strong>de</strong> itens lexicais que contenhamfonemas ainda problemáticos, o que po<strong>de</strong> elevar os índices referentes aos“erros” da criança. Em Lazzarotto (2005), foi feita uma proposta <strong>de</strong>classificação do grau <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> que teve por base o funcionamento dafonologia <strong>de</strong>sviante, a partir da presença e/ou ausência <strong>de</strong> traços (ou coocorrências<strong>de</strong> traços) <strong>de</strong>finidores das gran<strong>de</strong>s classes <strong>de</strong> consoantes doPortuguês Brasileiro (PB), segundo os pressupostos da FonologiaAutossegmental. Neste trabalho, fazemos uma adaptação <strong>de</strong>ssa primeiraproposta, uma vez que, ao utilizá-la com um maior número <strong>de</strong> sujeitos,verificamos que foi necessário <strong>de</strong>smem<strong>br</strong>ar uma das categorias, já que elareunia, em um mesmo grupo, sistemas fonológicos <strong>de</strong> natureza distinta,como, por exemplo, gramáticas que não incluem em seu quadro fonológicoapenas a líquida /r/ e gramáticas que não apresentam as fricativas coronais eas líquidas não-laterais. A proposta aqui apresentada foi testada com dados<strong>de</strong> cinco sujeitos com <strong>de</strong>svio, integrantes do Banco <strong>de</strong> Dados do Programa<strong>de</strong> Pós-Graduação em Letras da UCPel, o AQUIFONODES. Acreditamosque a classificação do grau <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> dos <strong>de</strong>svios, com base em ummo<strong>de</strong>lo teórico, seja a alternativa mais a<strong>de</strong>quada, tanto para pesquisadoresque lidam com dados <strong>de</strong>ssa natureza, quanto para a prática clínica dofonoaudiólogo, se comparado àquelas que utilizam dados numéricos. Apartir da reformulação aqui apresentada, também acreditamos que a presenteproposta é capaz <strong>de</strong> expressar <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>quada o grau <strong>de</strong> severida<strong>de</strong> dos<strong>de</strong>svios.ELISÃO EM LATIMEvellyne Patrícia Figueiredo <strong>de</strong> Sousa Costa (PUCRS)Apresentamos, nesse trabalho, uma <strong>de</strong>scrição da elisão em latim tendo comofoco a aplicação do fenômeno <strong>de</strong>ntro do grupo clítico formado pelapreposição + palavra regida. Elisão é o apagamento <strong>de</strong> uma vogal átona finalquando há, no verso, uma palavra iniciada também por vogal <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>diferente. Se a elisão não se aplicar, a vogal átona final se alonga formandoum hiato com a vogal do vocábulo seguinte. O corpus <strong>de</strong>sse trabalho éconstituído <strong>de</strong> três o<strong>br</strong>as da literatura latina: O<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> Horácio; Eneida, <strong>de</strong>Virgílio; Metamorfoses, <strong>de</strong> Ovídio. Os versos que continham preposiçõescom o ambiente <strong>de</strong> aplicação da elisão foram escandidos e esse conjunto <strong>de</strong>versos passou a constituir o corpus final para a análise. A elisão se aplicouna maioria dos dados do nosso corpus, tendo o hiato uma aplicação beminferior, <strong>de</strong>monstrando que, como em português, o domínio da elisão é afrase fonológica, mas o processo também se aplica no constituinte prosódicogrupo clítico.ANÁLISE OTIMALISTA DE SEQÜÊNCIAS DE OBSTRUINTES NOPORTUGUÊSGa<strong>br</strong>iela Dona<strong>de</strong>l (UFRGS)376


Afirmam os gramáticos que estudam a evolução do Latim para o PortuguêsAntigo que as seqüências <strong>de</strong> obstruintes foram <strong>de</strong>saparecendo por meio <strong>de</strong>processos como vocalização (noctem > noite), assimilação (dictum > ditto)e apagamento (pigmenta > pimenta). Dessa forma, no Português Antigo,essas seqüências não existiriam mais. Contudo, basta uma simples consultaao Dicionário Aurélio Eletrônico – Século XXI para verificar que, hoje,encontramos cerca <strong>de</strong> 5 mil itens lexicais com seqüências <strong>de</strong> obstruintes:advogado, néctar, pacto, etc. A análise <strong>de</strong> 11 gramáticas antigas da LP,começando com Oliveira (1536), nos revela que seqüências <strong>de</strong> obstruintesreaparecem no Português Mo<strong>de</strong>rno (século XVI). No Renascimento, o latimfoi a fonte on<strong>de</strong> beberam nossos primeiros gramáticos, com o objetivo <strong>de</strong>fixar o idioma e nomear as <strong>de</strong>scobertas do novo mundo. Assim, porinfluência clássica, estruturas pouco comuns à nossa língua voltam a fazerparte <strong>de</strong> nosso léxico: palavras novas mantêm a escrita “original” e palavrasantigas ora recuperam o étimo, ora não (sustantivo > substantivo, masfruito~frutto > *fructo). De acordo com Câmara Jr (1976), ao reingressaremna língua, por via erudita, sílabas travadas por oclusivas a<strong>de</strong>quaram-se àscondições <strong>de</strong> boa formação silábica do português, sendo então conseqüente arealização da epêntese para resolver esses casos (dig-no > di-gui-no). Talafirmação parece ser verda<strong>de</strong>ira sincronicamente, contudo po<strong>de</strong> não o ser emtermos diacrônicos. O que garantiu que uma estrutura marcada fossereinserida na língua portuguesa po<strong>de</strong> não ser essa reestruturação silábica,uma vez que a epêntese é um fenômeno típico do Brasil e apresenta variaçãoem sua ocorrência, po<strong>de</strong>ndo ocorrer apagamento ou manutenção em codasilábica da última consoante (Bisol, 1999). Neste trabalho, buscamosenten<strong>de</strong>r a recuperação das seqüências <strong>de</strong> obstruintes quanto aoencaixamento lingüístico: o que ocorreu na gramática do português narecuperação <strong>de</strong>ssas formas marcadas? A resposta a essa pergunta buscamosnos pressupostos teóricos da Teoria da Otimida<strong>de</strong> (Prince & Smolensky,1993), em especial no trabalho <strong>de</strong> Holt (1997), que pesquisou a eliminaçãodas oclusivas geminadas e a vocalização <strong>de</strong> clusters velares-coronais doLatim para o Português Antigo. Observando as alterações ocorridas doPortuguês Antigo para o Clássico, analisaremos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> essamudança ser <strong>de</strong>scrita como resultado <strong>de</strong> alteração no ranking <strong>de</strong> restrições <strong>de</strong>nossa língua.VARIANTES DA LATERAL PÓS-VOCÁLICA NA REGIÃO SUL:O PAPEL DAS VARIÁVEIS LINGÜÍSTICAS ENVOLVIDASGisela Collischonn (UFRGS)Laura Rosane Quednau (UFRGS)O português <strong>br</strong>asileiro caracteriza-se pela realização predominante da lateralpós-vocálica como semivogal; há, no entanto, outras realizações possíveis,como a lateral alveolar ou a velarizada. Essas parecem restritas, <strong>de</strong> acordocom diversos levantamentos realizados, à região Sul. Apresentamos uma377


análise <strong>de</strong> cunho variacionista da realização <strong>de</strong> /l/ pós-vocálico emlocalida<strong>de</strong>s do VARSUL, <strong>de</strong>stacando o papel das variáveis lingüísticasenvolvidas no fenômeno. A pesquisa faz parte <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> pesquisasso<strong>br</strong>e regras variáveis do português falado na região Sul e tem por metacompletar o levantamento <strong>de</strong> análises prece<strong>de</strong>ntes, no sentido <strong>de</strong> a<strong>br</strong>anger atotalida<strong>de</strong> das localida<strong>de</strong>s da região Sul constantes do Banco <strong>de</strong> Entrevistasdo Projeto VARSUL. Neste sentido, são apresentados aqui resultados <strong>de</strong>localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Pato Branco (PR), Irati (PR), Londrina (PR), Curitiba (PR),Lages (SC) e São José do Norte (RS). Realizamos também uma análisecombinada <strong>de</strong>stas amostras com as analisadas em Quednau (1993), a saber:Taquara (RS), Monte Bérico (RS), Livramento (RS) e Porto Alegre (RS).CONDICIONAMENTO PARA A REGRA VARIÁVEL DOAPAGAMENTO DO /R/ NA FALA DO SULGiselle Silveira (UFRGS)Valéria Monaretto (UFGRS)O apagamento do /r/ é uma das variantes da vi<strong>br</strong>ante mais estudada noportuguês <strong>br</strong>asileiro, por seu caráter variável e por prospectar uma possívelmudança lingüística em curso (Oliveira, 1993;. Callou, Moraes; Leite,1986). Na fala do Sul do Brasil, através <strong>de</strong> dados do Projeto VariaçãoLingüística Urbana no Sul do Brasil (VARSUL), a <strong>de</strong>scrição e análise docomportamento variável do apagamento confirmam condicionamentoslingüísticos, como a posição na sílaba e a classe morfológica. Contudo, oavanço <strong>de</strong>ssa variante na fala do Sul não se verifica como em resultadosobtidos em outras regiões <strong>br</strong>asileiras. A queda do r-final, em uma análise emtempo real, parece manter-se estável em verbos (Monaretto 2002). Estetrabalho propõe apresentar um panorama e generalizações so<strong>br</strong>e osresultados obtidos e trazer uma reflexão, a partir <strong>de</strong> uma nova amostra,explorando-a na perspectiva do mo<strong>de</strong>lo da Difusão Lexical (Wang, 1969),que consi<strong>de</strong>ra o papel do item lexical como condicionador da regra variável.O USO DO PARTICÍPIO EM FORMAÇÕES VERBAIS NOPORTUGUÊS DO SUL DO BRASILInaciane Teixeira da Silva (UFRGS)A forma padrão para formação <strong>de</strong> tempos compostos no PortuguêsBrasileiro, segundo a Gramática Tradicional (GT), é: a) Tempo Composto =verbos ter e haver + particípio regular (tinha chegado); b) Voz passiva =verbos ser e estar + particípio irregular (é pago). Quando o verbo apresentasomente particípio irregular, é com ele que se forma o tempo composto(tinha escrito), e quando apresenta somente particípio regular, é com ele quese forma a voz passiva (é chegado). A partir <strong>de</strong> observações informais,percebeu-se, contudo, que alguns falantes estão usando o particípio irregularem <strong>de</strong>trimento do regular, mesmo no tempo composto. Além disso, criamseformas participiais inesperadas, como tinha chego, que privilegiam a378


construção irregular mesmo quando ela não é prevista pela GT. Estapesquisa estuda o uso do particípio na construção <strong>de</strong> formações verbaisparticipiais no português do sul do Brasil. Os objetivos específicos são (1)verificar qual a forma mais produtiva/recorrente do particípio em formaçõesverbais; (2) tentar verificar a influência <strong>de</strong> fatores lingüísticos eextralingüísticos na opção do falante pelo uso da forma regular ou da formairregular <strong>de</strong> particípio e; (3) realizar uma análise comparativa entre a normaditada pela gramática tradicional e o uso do particípio nas formações verbaisparticipiais em situações reais <strong>de</strong> fala. A metodologia utilizada na pesquisa éa análise quantitativa <strong>de</strong> dados. O corpus é constituído <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> duasnaturezas: dados <strong>de</strong> 24 informantes com até 9 anos <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>,provenientes <strong>de</strong> entrevistas do Projeto VARSUL, por caracterizarem o usodo particípio na fala espontânea; e dados <strong>de</strong> 22 informantes com ensinosuperior completo ou em andamento, provenientes <strong>de</strong> testes <strong>de</strong>produtivida<strong>de</strong>, porque <strong>de</strong>sejávamos levantar usos específicos do particípioirregular, como tinha chego, por exemplo, o que dificilmente seria alcançadonas entrevistas do VARSUL. Para a análise dos dados, fizemos um usoadaptado dos programas que compõem o Pacote VARBRUL:consi<strong>de</strong>randoque nossa pesquisa não trata <strong>de</strong> um fenômeno tipicamente variável, mas,so<strong>br</strong>etudo, contempla um fenômeno <strong>de</strong> alternância, optamos por aproveitarsomente as informações referentes à freqüência (porcentagem) <strong>de</strong> aplicaçãodo objeto em estudo. Os resultados preliminares apontam para o usopredominante do particípio regular nos dados retirados do Banco <strong>de</strong> Dadosdo VARSUL, ainda que o irregular apareça em contextos específicos.Quanto aos resultados preliminares obtidos com os testes, o uso do particípiose mostra alternante, isto é, os falantes alternam as formas regulares eirregulares <strong>de</strong> particípio em formações com voz passiva e tempo composto, e,outras vezes, manifesta-se como variável.O ACENTO DE PALAVRA DO LATIM AO PORTUGUÊS ATUAL:EM BUSCA DE REGULARIDADESJosé Sueli <strong>de</strong> Magalhães (UFU)Este trabalho é fruto <strong>de</strong> uma ampla pesquisa cujo propósito fora investigar aspossíveis regularida<strong>de</strong>s do acento <strong>de</strong> palavra da Língua Portuguesa,averiguando dados do Latim Clássico – caracterizado pela presença <strong>de</strong>palavras com acento antepenúltimo e pela ausência <strong>de</strong> acento final –passando pelo Latim Vulgar e pelo Português Arcaico, ambos <strong>de</strong>finidoscomo isentos não somente <strong>de</strong> vocábulos proparoxítonos como também <strong>de</strong>palavras com acento final. Com base em elementos históricos documentadosem Vasconcélloz (1900), Michaëlis <strong>de</strong> Vasconcelos (1956), Silva Neto(1956), Williams (1975), Massini-Cagliari (1995), entre outros, e buscandosustentação teórica nos princípios da Fonologia Métrica (Liberman e Prince1977; Halle e Vergnaud 1987 e Hayes, 1995), indagamos se o sistema <strong>de</strong>acento do Português po<strong>de</strong> ser tratado como uma continuação linear, sem<strong>de</strong>svios representacionais, dos períodos que antece<strong>de</strong>ram o estágio atual da379


língua. Nossas avaliações permitem-nos afirmar que um sistema <strong>de</strong>constituintes binários <strong>de</strong> natureza trocaica, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da relevânciaque se atribua à configuração silábica nos dá a resposta à indagação feita.A ELISÃO EM SÃO BORJAJuliana Ludwig Gayer (UFRGS)Gisela Collischonn (UFRGS)Esta pesquisa propõe uma análise variacionista do fenômeno da elisão emdados do Projeto VARSUL. Em português, a aplicação da elisão ocorre emfronteira <strong>de</strong> palavras, ou constituintes maiores, e afeta a vogal baixa /a/, aqual é elidida (ou apagada) no contexto /a+V/, ou seja, sempre que temos avogal /a/ seguida <strong>de</strong> outra vogal – diferente <strong>de</strong> /a/. A partir da quantificação<strong>de</strong> 784 dados, extraídos da fala <strong>de</strong> oito informantes da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Borja,verificamos quais fatores lingüísticos e extralingüísticos são favorecedores(ou não) da aplicação da regra. Dessa forma, consi<strong>de</strong>ramos na análise oscontextos a#e, a#i, a#o e a#u. Nesses contextos, po<strong>de</strong>mos encontrar ainda,quando a elisão não se aplica, a ocorrência da ditongação. Por exemplo, emvida inteira, po<strong>de</strong>mos ter a aplicação da elisão, vid[i]nteira, ou ainda aditongação, vid[aj]nteira. Para a análise variacionista, em um primeiromomento, verificamos acusticamente cada um dos dados selecionadosatravés do programa Wavesurfer; e partimos para a análise estatística com opacote <strong>de</strong> programas VARBRUL, versão Goldvarb-windows. Nesta etapa,analisamos os dados <strong>de</strong> uma forma eneária, isto é, trazendo as possíveisvariantes do fenômeno: aplicação da elisão, não-aplicação da elisão eaplicação da ditongação; e consi<strong>de</strong>ramos os seguintes grupos <strong>de</strong> fatores emrelação à aplicação da elisão: acento, domínio prosódico, extensão dovocábulo, distância entre os acentos, combinação <strong>de</strong> palavras, estruturasilábica <strong>de</strong> V2, categoria <strong>de</strong> V2, sexo, ida<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong> e informante. Osresultados obtidos, após a análise estatística, mostraram que a regra da elisãofoi a mais atestada, com 55% <strong>de</strong> aplicação, contra 35% <strong>de</strong> não-aplicação e8% <strong>de</strong> ditongação. Dentre as variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes consi<strong>de</strong>radas napesquisa, o programa selecionou como relevantes: domínio prosódico,acento, combinação <strong>de</strong> palavras, distância entre os acentos, categoria <strong>de</strong> V2e extensão do vocábulo. Indicando os seguintes fatores como favorecedoresà aplicação da regra: frase fonológica, atonicida<strong>de</strong> máxima, combinaçãonão-funcional+outra palavra, distância <strong>de</strong> duas ou mais sílabas entre osacentos, V2 anterior média e combinação <strong>de</strong> palavras maiores que V.A LATERAL SOB UMA PERSPECTIVA DIACRÔNICALaura Helena Hahn (UFRGS)No português <strong>br</strong>asileiro, a lateral em posição final <strong>de</strong> sílaba é realizada <strong>de</strong>forma variável como [l] alveolar, [:] velar ou [w] variante vocalizada.Conforme a literatura, essa variação ocorre tanto em razão <strong>de</strong> condicionantesextralingüísticos quanto lingüísticos. Uma das possíveis explicações para tal380


variação é a estrutura silábica do português <strong>br</strong>asileiro. Entretanto, paracompreen<strong>de</strong>r o funcionamento da língua hoje, é importante conhecer o seupassado, pois, como afirma Mattoso Câmara (1976), as mudançaslingüísticas apresentam uma diretriz: “há sempre um rumo <strong>de</strong>finido que asvai enca<strong>de</strong>ando, isto é, elas não se verificam ao acaso nem são <strong>de</strong>sconexas;há um sentido, uma corrente nas mudanças”. Dessa forma, o presentetrabalho apresenta um levantamento diacrônico do comportamento da lateralcomo fase inicial <strong>de</strong> um estudo que analisou o /l/ pós-vocálico sob a ótica daTeoria da Variação e da Teoria da Sílaba.Quando pensamos diacronicamente na língua portuguesa do Brasil, nosremetemos aos seguintes estágios: latim clássico, latim vulgar, portuguêsarcaico e português mo<strong>de</strong>rno. De acordo com o levantamento históricorealizado com base nos trabalhos <strong>de</strong> Mattoso Câmara (supracitado),Grandgent (1952), Teyssier (2004), Callou, Leite e Moraes (2002), entreoutros, po<strong>de</strong>mos observar que a vocalização é um fenômeno bastante antigo,que teve seu início no latim, em torno do século VI, e que se tornou umaregra praticamente categórica no português <strong>br</strong>asileiro.CONSIDERAÇÕES SOBRE O ACENTO PRIMÁRIO NO ITALIANOLuciana Pilatti Telles (UFRGS)Há controvérsias com relação à análise do sistema <strong>de</strong> acento italiano no quese refere ao parâmetro <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> à quantida<strong>de</strong>. A favor da proposta <strong>de</strong>insensibilida<strong>de</strong>, temos a maior freqüência <strong>de</strong> palavras paroxítonas nestalíngua (Borrelli, 2002) e a formação <strong>de</strong> troqueu como o pé básico.D’Imperio & Rosenthal (1999) reconhecem o italiano como uma língua <strong>de</strong>acento geralmente insensível à quantida<strong>de</strong> pela atuação <strong>de</strong> FT FORM, queprefere pés formados por duas sílabas. Porém, consi<strong>de</strong>ramos que anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> pés bimoraicos reconhecida por D’Imperio &Rosenthal (1999) para <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a motivação fonológica do alongamentovocálico na penúltima sílaba acentuada aberta indique sensibilida<strong>de</strong> ao peso.Além disso, os dados <strong>de</strong> Krämer (2006) so<strong>br</strong>e a variação na distribuição doacento em palavras trissílabas quando constituídas por três sílabas leves nosmostram mol<strong>de</strong>s conflitantes em palavras <strong>de</strong> mesmo tamanho, o que,segundo Dresher (2003, p.14) po<strong>de</strong> nos indicar sistema <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> àquantida<strong>de</strong>. Neste trabalho, analisamos o acento em substantivos e adjetivosdo italiano a partir dos pressupostos da Teoria da Otimida<strong>de</strong> (Prince &Smolensky, 1993). Assim como Wetzels (2007, p. 45), em análise do acentono PB, supomos que uma restrição como FT FORM – ou BINARITY - , querequer que pés sejam constituídos por duas sílabas leves, seja dominada porrestrições referentes ao peso silábico.O STATUS PROSÓDICO DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS DOPORTUGUÊSLuciene Bassols Brisolara (FURG)381


Este trabalho constitui-se em um estudo so<strong>br</strong>e o status prosódico dos clíticospronominais ‘-me’, ‘-te’, ‘-se’, ‘-lhe(s)’, ‘-o(s)’, ‘-nos’, ‘-lo(s)’ do PortuguêsBrasileiro, tomando como base a análise do comportamento da regra <strong>de</strong>elevação das vogais /e/ e /o/ <strong>de</strong>sses elementos em duas varieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> falaexistentes no Estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: a metropolitana e a fronteiriçacom país <strong>de</strong> fala espanhola. O estudo utiliza dados <strong>de</strong> Santana doLivramento, região que faz fronteira com o Uruguai, em diferentes épocas:uma amostra coletada em 1978 e uma amostra coletada em 2003-5, além <strong>de</strong>utilizar dados <strong>de</strong> uma terceira amostra, a da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Alegre – regiãometropolitana. A opção por investigar a regra <strong>de</strong> elevação <strong>de</strong> vogais átonas<strong>de</strong> clíticos pronominais em uma varieda<strong>de</strong> fronteiriça <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong>, nalíngua espanhola, as vogais médias altas não se converterem em vogais altasem posição final. Por essa razão, confrontamos uma varieda<strong>de</strong> fronteiriçacom uma não fronteiriça, a fim <strong>de</strong> verificar o comportamento das vogais dosclíticos com respeito à preservação das médias. Com esse encaminhamento,além da busca <strong>de</strong> subsídios para a verificação do status prosódico dosclíticos, é possível também revelar se essa regra apresenta um estágio <strong>de</strong>variação estável ou um processo <strong>de</strong> mudança em curso. A análise dos dadosé realizada sob a perspectiva da Fonologia Prosódica (Nespor e Vogel, 1986)e da Fonologia Lexical (Kiparsky, 1985; Mohanan, 1986), as quais secomplementam, como também da Teoria da Variação (Labov, 1972, 1982,1994). Com esse suporte teórico, além <strong>de</strong> verificarmos o status prosódicodos clíticos pronominais do Português Brasileiro, também estabelecemosuma comparação com os clíticos do Português Europeu. Tal comparaçãofundamenta-se na hipótese <strong>de</strong> que a integração dos clíticos pronominais comseu hospe<strong>de</strong>iro nesses dialetos dá-se <strong>de</strong> maneira diferente. Além disso, apesquisa inclui uma análise estatística da regra <strong>de</strong> elevação dos clíticospronominais, o que, além <strong>de</strong> contribuir para o estudo em questão, tambémapresenta um caráter <strong>de</strong>scritivo do Português Brasileiro.ASPECTOS DA FONOLOGIA PROSÓDICA DO GUARANI MBYÁMarci Fileti Martins (Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina, UNISUL)Este artigo propõe uma discussão so<strong>br</strong>e a <strong>org</strong>anização do sistema prosódicodo Mbyá, notadamente, no nível da palavra. O Mbyá é um dialeto da línguaGuarani, da família lingüística Tupi-Guarani (TG). Os dados analisados sãoda variante falada nos assentamentos <strong>de</strong> Morro dos Cavalos e Maciambu,município <strong>de</strong> Paulo Lopes (SC). Busca-se com essa discussão <strong>de</strong>terminar emque medida cada um dos constituintes prosódicos (sílaba, pé, palavrafonológica) vai servir como domínio para a aplicação <strong>de</strong> processos fonéticose <strong>de</strong> regras fonológicas como i) o apagamento <strong>de</strong> vogais adjacentesidênticas, ii) a ditongação, iii) o alongamento <strong>de</strong> vogais em palavrasmonossilábicas tônicas e iv) a duplicação <strong>de</strong> segmentos bissilábicos. Alémdisso, propõe-se que o sistema acentual do Mbyá po<strong>de</strong> ser entendido comoum sistema iâmbico (Hayes, 1995), sendo que o alongamento <strong>de</strong> núcleosilábico e a ditongação final <strong>de</strong> radical, processos fonológicos que no Mbyá382


vão formar sílaba pesada, garantem o requerimento <strong>de</strong> peso exigido pelosistema iâmbico.AS VOGAIS PRETÔNICAS DOS VERBOS NO DIALETO DOINTERIOR DO ESTADO DE SÃO PAULO E AS TEORIASAUTOSSEGMENTAL E LEXICALMárcia Cristina do Carmo (UNESP, São José do Rio Preto)Nesta comunicação, são apresentados resultados parciais <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>Mestrado, intitulada “As vogais pretônicas dos verbos na varieda<strong>de</strong> dointerior paulista” (FAPESP 06/59141-9), realizada na UNESP, câmpus <strong>de</strong>São José do Rio Preto (SP). Como córpus <strong>de</strong> pesquisa, são utilizados<strong>de</strong>zesseis inquéritos com amostras <strong>de</strong> fala espontânea retirados do banco <strong>de</strong>dados IBORUNA, resultante do Projeto ALIP (UNESP/SJRP – FAPESP03/08058-6). Em nosso córpus, os informantes têm o seguinte perfil social:sexo feminino, grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> superior completo ou em andamento epertencem a uma das seguintes faixas etárias: <strong>de</strong> 16 a 25; <strong>de</strong> 26 a 35; <strong>de</strong> 36 a55; e acima <strong>de</strong> 56 anos. No que diz respeito à metodologia utilizada, foramrealizadas as seguintes etapas: (i) extração das ocorrências <strong>de</strong> vogaispretônicas dos verbos; (ii) i<strong>de</strong>ntificação dos fatores lingüísticos controlados;(iii) análise do conjunto <strong>de</strong> dados, proce<strong>de</strong>ndo à transcrição fonética <strong>de</strong> baseperceptual; (iv) i<strong>de</strong>ntificação dos contextos <strong>de</strong> variação; e (v) quantificaçãodas ocorrências selecionadas. A partir da observação e da análise dos dados,verificou-se que o processo que ocorre com as vogais pretônicas dos verbos<strong>de</strong>ssa varieda<strong>de</strong> é o alçamento, em que as vogais médias [e] e [o] sãopronunciadas, respectivamente, como as altas [i] e [u], como em d[i]via ec[u]mer. Como exemplos <strong>de</strong> resultados encontrados, po<strong>de</strong>m ser citados: (i)as taxas <strong>de</strong> 16% <strong>de</strong> alçamento para a pretônica /e/ e <strong>de</strong> 10% para a pretônica/o/; (ii) a tonicida<strong>de</strong> da vogal alta como um fator relevante, mas não<strong>de</strong>terminante para a aplicação do processo, confirmando afirmações <strong>de</strong> Bisol(1981); e (iii) a atuação do sufixo modo-temporal <strong>de</strong> futuro do pretérito /-ria/como forte <strong>de</strong>sfavorecedor do processo, como em d[e]v[e]ria e p[o]d[e]ria.As teorias fonológicas utilizadas neste trabalho são: (i) a Autossegmental,que explica o alçamento como o resultado <strong>de</strong> um espraiamento <strong>de</strong> traços; e(ii) a Lexical, por meio da qual lidamos com os aspectos morfofonológicosenvolvidos no alçamento das vogais pretônicas dos verbos.ANÁLISE VARIACIONISTA DA AQUISIÇÃO DE CODAS SIMPLESDO INGLÊS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRORubens Marques <strong>de</strong> Lucena (UEPB)Uma das dificulda<strong>de</strong>s mais comuns na aquisição do inglês por <strong>br</strong>asileiros é aprodução <strong>de</strong> segmentos em coda silábica, visto que o português <strong>br</strong>asileiro(PB) licencia, para essa posição silábica, apenas as soantes /n, r, l/, osegmento fricativo não especificado /S/ e os gli<strong>de</strong>s. Assim, a sílaba no PB sóadmite codas do tipo [-vocálico, +soante] ou [-soante, +contínuo, +coronal].383


Na maior parte dos dialetos do PB, no entanto, /l/ e /n/ nunca são realizadosna superfície, produzindo formas como ‘mal’ /maw/ ou ‘bom’ /bõ/. Assim,os únicos segmentos que <strong>de</strong> fato são produzidos como elementos da codasão /r/, /S/ e os gli<strong>de</strong>s. No caso da língua inglesa, a situação é completamentediversa: as codas simples po<strong>de</strong>m ser preenchidas por qualquer segmento doinglês, com exceção da fricativa /h/ (Hammond 1999). Há, portanto, umagran<strong>de</strong> disparida<strong>de</strong> na condição <strong>de</strong> coda entre o português e o inglês, o queproduz importantes conseqüências na aquisição <strong>de</strong> segunda língua. De fato,freqüentemente, durante o processo <strong>de</strong> aquisição da língua estrangeira, osaprendizes modificam as formas da língua-alvo, adaptando-as às regrasfonotáticas da língua materna. Nesse processo <strong>de</strong> adaptação, os aprendizesse utilizam <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> reparo, tais como a substituição, inserção eapagamento <strong>de</strong> segmentos e a ressilabificação. A ênfase aqui será nosprocessos <strong>de</strong> inserção vocálica. Este trabalho segue a linha metodológica daSociolingüística laboviana (Labov 1966, 1972), e procura fornecer umaanálise preliminar do comportamento variável da aquisição da coda doinglês por falantes nativos <strong>de</strong> português <strong>br</strong>asileiro. Para tanto, foramanalisadas as produções <strong>de</strong> coda simples em seis falantes, divididos em doisníveis <strong>de</strong> proficiência (iniciantes e intermediários) e em duas modalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>entrevista (lista <strong>de</strong> palavras e conversação espontânea). Os dados coletadosforam estratificados <strong>de</strong> acordo com oito variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (tipo <strong>de</strong>coda, modalida<strong>de</strong> da entrevista, nível <strong>de</strong> proficiência, ponto <strong>de</strong> articulaçãoda coda, modo <strong>de</strong> articulação da coda, vozeamento, tonicida<strong>de</strong> e extensão dovocábulo) e, em seguida, submetidos a uma análise estatística pelo softwareGoldvarb X (Sankoff, Tagliamonte & Smith 2005). Os resultadospreliminares indicam que todas as variáveis foram relevantes para a variaçãona aquisição da coda, com especial <strong>de</strong>staque para a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>entrevista, nível <strong>de</strong> proficiência do falante e extensão do vocábulo.FORMAÇÃO DE PALAVRAS COMPOSTAS NO PORTUGUÊSBRASILEIRO: ANÁLISE POR RESTRIÇÕESTaís Bopp da Silva (UFRGS-CNPq)A composição é um fenômeno <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> palavras que se utiliza <strong>de</strong>dispositivos morfológicos sintáticos e fonológicos. A morfologia estápresente neste tipo <strong>de</strong> formação uma vez que se trata <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong>concatenação <strong>de</strong> bases. Ao mesmo tempo, por buscar em estruturassintáticas matéria-prima para a geração <strong>de</strong> novos itens lexicais, acomposição também faz uso <strong>de</strong> dispositivos sintáticos. A fonologia, queconstitui o foco principal <strong>de</strong>ste trabalho, integra esse processo na medida emque muitas palavras compostas po<strong>de</strong>m apresentar modificação na estruturainterna <strong>de</strong> seus componentes, como fusão <strong>de</strong> sílabas e <strong>de</strong> segmentos e/ouagrupamento <strong>de</strong> seus elementos sob um único acento principal, o que nos dápistas so<strong>br</strong>e o seu estatuto lexical. Buscamos, neste estudo, compreen<strong>de</strong>rmelhor como a formação <strong>de</strong> palavras (morfologia) se relaciona com odomínio da frase (sintaxe) e com o domínio da palavra prosódica (fonologia),384


através da análise dos compostos do português <strong>br</strong>asileiro (PB) pela Teoria daOtimida<strong>de</strong>. Essa teoria nos permitirá conjugar os três níveis <strong>de</strong> análiseatravés da utilização <strong>de</strong> restrições que levam em conta a interação <strong>de</strong>categorias morfossintáticas e categorias prosódicas (Restrições <strong>de</strong>Alinhamento Generalizado, conforme McCarthy e Prince, 1993 e Selkirk1995) e <strong>de</strong> outras que fazem referência a aspectos que subjazem aospressupostos da fonologia (Strict Layer Hypothesis, <strong>de</strong> acordo com Nespor eVogel, 1986). A etapa atual <strong>de</strong>ste trabalho consiste no exame dacompatibilida<strong>de</strong> entre restrições já utilizadas em outros estudos e os dadosdo PB, a fim <strong>de</strong> propormos uma explanação a<strong>de</strong>quada do fenômeno.A REPRESENTAÇÃO SUBJACENTE DOS GLIDES PRÉ-VOCÁLICOS EM PBTaíse Simioni (UFRGS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é discutir a representação subjacente dos gli<strong>de</strong>spré-vocálicos em português <strong>br</strong>asileiro (PB). A existência <strong>de</strong> gli<strong>de</strong>s em PB éinquestionável. Interessa-nos, então, verificar se tais gli<strong>de</strong>s são subjacentesou <strong>de</strong>rivados. Para tal, partimos da análise <strong>de</strong> Levi (2004), para quem gli<strong>de</strong>ssubjacentes existem nas línguas do mundo, e comparamos processos do PBcom processos do yawelmani, língua em que, segundo Levi, há gli<strong>de</strong>ssubjacentes. Nossa finalida<strong>de</strong> é mostrar que, em PB, ao contrário do queacontece em yawelmani, gli<strong>de</strong>s e vogais não se comportam <strong>de</strong> maneiradiferenciada. Desta forma, trazemos evidências para a hipótese <strong>de</strong> que osgli<strong>de</strong>s pré-vocálicos do PB são <strong>de</strong>rivados.A FORMA E O USO DOS DIMINUTIVOS -INHO E -ZINHO NOPORTUGUÊS BRASILEIROTaize Winkelmann Teixeira (UFRGS)Neste trabalho, investiga-se a distribuição dos sufixos -inho e -zinho noportuguês falado no sul do Brasil. A partir dos estudos <strong>de</strong> Moreno (1977),Menuzzi (1993), entre outros, olhamos para fatores <strong>de</strong> natureza lingüística,tais como Classe gramatical (nomes, não-nomes), Tonicida<strong>de</strong> (oxítona,paroxítona e proparoxítona), Significado (grau, suavização / eufemismo,afetivo / outro), Segmento final da forma primitiva (vogal baixa, vogalmédia-baixa frontal e posterior, -i, - u primitivos, -e, - o primitivos,terminados em -s / -z, terminados em -r / -m, terminados em ƚ / w), Onset dasílaba final (nasal dorsal, labiais, coronais, dorsais, onset vazio), e parafatores <strong>de</strong> natureza extralingüística, como Escolarida<strong>de</strong> (primário, ginásio,secundário), Sexo (masculino e feminino), Faixa etária (menos <strong>de</strong> 50 anos emais <strong>de</strong> 50 anos), Localida<strong>de</strong> (Porto Alegre e Curitiba). A pesquisa faz uso<strong>de</strong> dois expedientes metodológicos: dados <strong>de</strong> fala e testes <strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong>que se utiliza <strong>de</strong> pseudopalavras. O corpus do primeiro é constituído por 24informantes do Projeto VARSUL e o do segundo por 20 entrevistadosselecionados <strong>de</strong> acordo com a escolarida<strong>de</strong>. Para análise quantitativa dos385


esultados, fazemos um uso adaptado dos programas que compõem o pacoteVARBRUL, lançando mão tão-somente <strong>de</strong> freqüências, já que não se trata<strong>de</strong> um fenômeno tipicamente variável. A análise preliminar dos resultadosmostra que -inho é o sufixo mais usado, ainda que -zinho seja o preferido nocontexto <strong>de</strong> pseudopalavras. Além disso, observou-se um padrãopredominantemente alternante, conforme já previu a literatura, <strong>de</strong>finido pelatonicida<strong>de</strong>, ainda que algum lugar para usos variáveis esteja preservado.ASSIMETRIAS NOS ENCONTROS DE SIBILANTE + C EOBSTRUINTE + C EM INÍCIO DE PALAVRA EM PORTUGUÊS ECATALÃOTatiana Keller (PUCRS)Em português e em catalão, a distância mínima <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong> entre duasconsoantes em um ataque complexo é +3, por exemplo, pr (prato) e bl(blusa). Nessas línguas, encontros consonantais (EC) tautossilábicos que nãoapresentam essa distância, por exemplo, sp (sport) e pt (ptose), não sãopermitidos e são <strong>de</strong>sfeitos por epêntese (inicial ou medial) ou apagamento.Em início <strong>de</strong> palavra, encontros <strong>de</strong> sibilante + C são precedidos por umavogal (epêntese inicial – [ispa]) nas duas línguas; ao passo que encontros <strong>de</strong>obstruinte + C em português <strong>br</strong>asileiro são separados por uma vogal(epêntese medial – [pineu]) e em catalão há o apagamento da primeiraconsoante do encontro ([neu]). No âmbito da Teoria da Otimida<strong>de</strong>,observamos que as restrições <strong>de</strong> marcação *ONS DIST +2, *ONS DIST +1,*ONS DIST 0 (Gouskova, 2004), que proíbem ECs tautossilábicos comdistãncia <strong>de</strong> sonorida<strong>de</strong> maior do que +2, ocupam uma posição alta nosrankings do português e do catalão. Para que essas restrições sejamsatisfeitas violações das restrições <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> MAX (contra apagamento),DEP (contra epêntese) e OUTPUT CONTIGUITY (contra epêntese medial)são necessárias. Neste trabalho, mostramos como essas restrições sãoranqueadas para dar conta das assimetrias dos encontros <strong>de</strong> sibilante + C e<strong>de</strong> obstruinte + C nas línguas em análise.AS SEQÜÊNCIAS FINAIS DE [FRICATIVA+PLOSIVA] DO INGLÊSPRODUZIDAS POR FALANTES DO SUL DO BRASIL:FORMALIZAÇÃO E RANQUEAMENTO DE RESTRIÇÕESUbiratã Kickhöfel Alves (UCPel)No estágio atual das pesquisas em OT, uma dificulda<strong>de</strong> a ser enfrentada peloanalista diz respeito à escolha da restrição <strong>de</strong> marcação a ser adotada. Com ogran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> trabalhos <strong>de</strong> análise já <strong>de</strong>senvolvidos, encontramos, naliteratura, uma varieda<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong> restrições que, apesar <strong>de</strong>exercerem o mesmo papel em termos <strong>de</strong> marcas <strong>de</strong> violação, apresentamdiferentes <strong>de</strong>scrições estruturais e, até mesmo, diferentes nomes e <strong>de</strong>finições.O presente trabalho tem por objetivo apresentar uma proposta <strong>de</strong>formalização da marcação referente à coda silábica. Nossa proposta terá386


como base os dados <strong>de</strong> produção das codas complexas [ft], [st], [sp] e [sk]e das codas simples [f], [t], [p] e [k], na fala em língua inglesa <strong>de</strong>aprendizes gaúchos. Os dados <strong>de</strong> L2 revelam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formalização<strong>de</strong> restrições <strong>de</strong> marcação diferentes em função do segmento que figura emposição final <strong>de</strong> sílaba, além <strong>de</strong> comprovarem que a aquisição <strong>de</strong> uma coda<strong>de</strong> dois elementos se mostra mais difícil do que a <strong>de</strong> duas codas simples quecontenham os elementos da seqüência consonantal em questão. Com basenos dados <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> L2, nossa proposta <strong>de</strong> formalização <strong>de</strong> restrições<strong>de</strong>senvolve-se a partir das escalas lingüísticas primitivas, com base em doismecanismos formais <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> restrições, na Teoria: o AlinhamentoHarmônico (para formalizar, em termos <strong>de</strong> ranking, as diferenças <strong>de</strong>sonorida<strong>de</strong> entre os segmentos <strong>de</strong> coda) e a Conjunção Local (para expressaras diferenças <strong>de</strong> ponto). Argumentamos que o mecanismo <strong>de</strong> ConjunçãoLocal se mostra disponível ao longo do processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> L2, sendotal mecanismo restrito a condições que limitam o seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> atuação.Esperamos que o presente trabalho expresse a principal premissa que motivao seu <strong>de</strong>senvolvimento: a concepção <strong>de</strong> que o dado <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> L2constitui um material rico para o <strong>de</strong>senvolvimento dos mo<strong>de</strong>los formais <strong>de</strong>Análise Fonológica.GT28 Estudos Geolingüísticos no BrasilCoor<strong>de</strong>nadoresVan<strong>de</strong>rci <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Aguilera (UEL)Felício Wessling Margotti (UFSC)ATLAS LINGÜÍSTICO DO ESPÍRITO SANTO: DADOS DOQUESTIONÁRIO FONÉTICO-FONOLÓGICOCatarina Vaz Rodrigues (UFES)O Atlas Lingüístico do Espírito Santo tem como objetivo <strong>de</strong>screver asprincipais variantes lexicais, fonéticas e morfossintáticas do portuguêscapixaba seguindo princípios <strong>de</strong> Geolingüística. A seleção dos municípiosque compõem a re<strong>de</strong> incluiu, entre seus critérios, a distribuição daslocalida<strong>de</strong>s e sua formação histórica. O Estado foi dividido assim em células<strong>de</strong> 5.000 km2, seguindo-se aqui um parâmetro já utilizado no AtlasLingüístico-Etnográfico da Região Sul. Procurou-se também selecionarlocalida<strong>de</strong>s com <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mográfica <strong>de</strong> baixa a média e que fossemrepresentativas histórica e culturalmente. Foram selecionados assim trinta ecinco pontos na zona rural, estando previstos inquéritos em quatro centrosurbanos. Em relação aos informantes, foram estabelecidos, entre outroscritérios, que seriam inquiridos uma mulher e um homem em cadalocalida<strong>de</strong>, ambos com ida<strong>de</strong> entre 30 e 55 anos, e com pouca escolarida<strong>de</strong>.Na elaboração dos questionários, foram incluídas questões já formuladas emoutros atlas, garantindo-se assim um balizamento do alcance das variantes.A essas questões foram acrescidas aquelas que são específicas para o Estado387


e incluídos temas para discursos semidirigidos. O questionário lexical (QL)inclui 220 questões (onomasiológicas e semasiológicas) distribuídas pelosseguintes campos semânticos: aci<strong>de</strong>ntes geográficos, fenômenosatmosféricos, astros e tempo, flora, ativida<strong>de</strong>s agro-pastoris, fauna, convívioe comportamento social, ciclos da vida, corpo humano, religião e crenças,jogos e <strong>br</strong>inca<strong>de</strong>iras, habitação alimentação e cozinha, vestuário e acessórios.As questões morfossintáticas nem sempre apresentam diferenciação dialetalsignificativa e, como não havia pesquisas prévias que pu<strong>de</strong>ssem orientar oplanejamento <strong>de</strong> um questionário focalizando itens com provável variação, oquestionário morfossintático (QMS) investiga apenas seis itens. Entre eleshá questões referentes à utilização <strong>de</strong> pronomes, gênero, número e grau. Oquestionário fonético-fonológico (QFF) apresenta 25 questões queaveriguam a realização <strong>de</strong> consoantes e vogais em ambientes previamenteestabelecidos. As transcrições do QL e do QFF estão em fase final.Apresentamos, neste trabalho, questões do QFF que investigam a realizaçãodas vogais pretônicas e do rotacismo.GEOLINGÜÍSTICA PLURIDIMENSIONAL: DESAFIOSMETODOLÓGICOSFelício Wessling Margotti (UFSC)Reportando-nos a uma pesquisa que fizemos so<strong>br</strong>e o português <strong>de</strong> contatocom o italiano no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul e em Santa Catarina, nosso objetivoaqui é fazer um relato <strong>de</strong>ssa experiência, enfocando, so<strong>br</strong>etudo, asdificulda<strong>de</strong>s e as soluções na elaboração dos mapas complexos e sintéticos,que contemplam, simultaneamente, a variação em diferentes dimensões.Esse estudo foi realizado <strong>de</strong> acordo com o mo<strong>de</strong>lo da dialetologiapluridimensional, que, conforme Radke & Thun (1996), visa a superar as<strong>de</strong>ficiências da geolingüística tradicional, incorporando à dimensão espacialas dimensões sociais e estilísticas. Nesse caso, a elaboração das cartaslingüísticas assume características <strong>de</strong> maior complexida<strong>de</strong>, pois, além davariação no espaço, tais mapas <strong>de</strong>vem dar conta da variação em diferentesgrupos sociais em cada uma das localida<strong>de</strong>s investigadas. Nessa perspectiva,a dialetologia <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser exclusivamente diatópica para ser, também,diastrática e diafásica. Em síntese, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser monodimensional para serpluridimensional. Optamos por representar a variação através <strong>de</strong> escalaspercentuais associadas a cinco símbolos, indicadores da intensida<strong>de</strong> dadifusão. Por outro lado, a apresentação simultânea e sucessiva <strong>de</strong> quatrodiferentes grupos <strong>de</strong> informantes em cada ponto, permitindo o contrasteentre a fala <strong>de</strong> falantes urbanos e rurais, mais velhos e mais jovens, maisescolarizados e menos escolarizados, além <strong>de</strong> falantes luso-<strong>br</strong>asileiros eítalo-<strong>br</strong>asileiros, dá aos mapas não só a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> representar aintensida<strong>de</strong> da variação, mas também o modo como ela acontece, ou seja,quais grupos <strong>de</strong> fatores atuam <strong>de</strong> modo mais intenso na variação.388


CERRO E SANGA – EMPRÉSTIMOS LEXICAIS NO PORTUGUÊSDE CONTATO COM O ESPANHOLPatrícia Graciela da Rocha (PGLg – UFSC)Felício Wessling Margotti (UFSC)Este trabalho é parte <strong>de</strong> um estudo realizado com base em dados e mapaslingüísticos do ALERS so<strong>br</strong>e variantes lexicais <strong>de</strong> origem castelhanaincorporadas ao português falado no Sul do Brasil. O objetivo é analisar asvariantes cerro e sanga e <strong>de</strong>limitar as áreas <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>ssas variantes nos trêsestados sulinos. Consi<strong>de</strong>rando que esses empréstimos resultam do contato doportuguês com o espanhol, supõe-se que as ocorrências e distribuição noespaço geográfico estejam fortemente associadas às áreas <strong>de</strong> fronteira, o quenão significa que a difusão das variantes lingüísticas seja homogênea emtodas essas áreas. Os itens selecionados foram obtidos por meio doQuestionário Semântico Lexical do ALERS, e fazem parte da área semânticaI – Aci<strong>de</strong>ntes Geográficos. Tais itens foram arealizados, <strong>de</strong>scritos eanalisados com base na bibliografia consultada. Derivado <strong>de</strong> zanga(espanhol platino), sanga apresenta gran<strong>de</strong> difusão no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul,Sul, Planalto e Oeste <strong>de</strong> Santa Catarina e Sudoeste do Paraná (cf.MARGOTTI; VIEIRA, 2006, p. 254). Segundo Koch (2000), cerro e osinônimo coxilha “representam as formas absolutamente predominantes noRio Gran<strong>de</strong> do Sul, não sendo registrados nos estados vizinhos, on<strong>de</strong> oheterônimo é morro”. O estudo segue os princípios da teoria dialetológica,que tem a tarefa i<strong>de</strong>ntificar, escrever e situar os diferentes usos em que umalíngua se diversifica, conforme sua distribuição espacial, sociocultural ecronológica. O método utilizado é o da Geolingüística TradicionalESTUDO VARIACIONISTA SOBRE A PALATALIZAÇÃO DE -S EMCODA SILÁBICA NA FALA FLUMINENSESilvia Figueiredo Brandão (UFRJ)Estudos <strong>de</strong> cunho sociolingüístico realizados por Rodrigues (2001) eBrandão (1997, entre outros) <strong>de</strong>monstram que, nas Regiões Norte e Noroestedo Rio <strong>de</strong> Janeiro, predomina a variante alveolar <strong>de</strong> S pós-vocálico, aocontrário do que ocorre na capital e na sua região metropolitana em que avariante palatalizada constitui norma (cf. e AFeBG: Lima, 2006). Na faladas duas primeiras mencionadas áreas, embora com percentuais e inputsainda pouco representativos, o processo <strong>de</strong> palatalização é fortementecondicionado pelo ponto/modo <strong>de</strong> articulação do segmento subseqüente e,ainda, por fatores <strong>de</strong> natureza extralingüística, em que so<strong>br</strong>essaem asvariáveis área geográfica e faixa etária. Neste trabalho, realizado na linhasociolingüística variacionista com base nas elocuções livres do acervo doMicro Atlas Fonético do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Almeida:2008), esten<strong>de</strong>sea pesquisa à fala das <strong>de</strong>mais seis regiões do Estado, cada qualrepresentada por uma ou duas localida<strong>de</strong>s: Metropolitana (Itaguaí), Serrana(Cantagalo e Santa Maria Madalena), das Baixadas Litorâneas (Cabo Frio e389


Cachoeiras <strong>de</strong> Macacu), Médio Paraíba (Resen<strong>de</strong> e Valença), Centro Sul(Três Rios) e da Baía da Ilha Gran<strong>de</strong> (Paraty). Assim, objetiva-se,primordialmente, analisar a palatalização <strong>de</strong> S pós-vocálico em contextointerno e externo, <strong>de</strong> modo a (1) <strong>de</strong>tectar os fatores estruturais eextralingüísticos que a condicionam; (2) verificar se, na fala espontânea, oprocesso mantém ou aumenta sua produtivida<strong>de</strong> em comparação com osíndices obtidos por meio <strong>de</strong> Questionário e registrados nas cartas do referidoAtlas. Observa-se, conforme as hipóteses iniciais, que, (i) em Itaguaí e CaboFrio, predomina a variante palatalizada em contexto tanto interno quantoexterno, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos segmentos adjacentes ao -S; (ii) nas <strong>de</strong>maisáreas, a variante alveolar só ten<strong>de</strong> a não ser implementada quando o S seencontra diante <strong>de</strong> /t/ e <strong>de</strong> /d/ ou, ainda, quando fecha sílaba que contenhauma vogal anterior média, alteada ou não. O confronto dos resultadosobtidos na presente pesquisa com os das Regiões Norte e Noroeste e com osdas cartas do MicroAFERJ permite formular a hipótese <strong>de</strong> que apalatalização <strong>de</strong> S – fortemente condicionada por fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estrutural,como vêm <strong>de</strong>monstrando diversos outros estudos so<strong>br</strong>e o tema (Mota, 2002)– é mais produtiva em Macaé, Cabo Frio e Itaguaí, localida<strong>de</strong>s, em que,respectivamente, a exploração <strong>de</strong> petróleo, o afluxo turístico permanente ouo fato <strong>de</strong> seus habitantes trabalharem na capital do Estado acabam por<strong>de</strong>terminar uma maior influência da norma da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.PROGRAMA DE MAPEAMENTO GEOLINGÜÍSTICO DIGITALAb<strong>de</strong>lhak Razky (UFPA)Tenho por objetivo nessa comunicação apresentar o estado da arte doprograma Geoling (Geografia lingüística Digital). Trata se <strong>de</strong> uma proposta<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um software interativo e <strong>de</strong> fácil manuseio que temem vista auxiliar o lingüista que, trabalhando na área <strong>de</strong> geografialingüística, <strong>de</strong>seja adotar também a dimensão sociolingüística. O programapossibilitará a entrada e <strong>org</strong>anização <strong>de</strong> dados lingüísticos <strong>de</strong> naturezafonética e lexical, bem como <strong>de</strong> arquivos sonoros correspon<strong>de</strong>ntes, nummapa geográfico que represente uma região <strong>de</strong>finida pelo pesquisador. Oprograma GeoLin é uma maneira mais eficiente <strong>de</strong> <strong>org</strong>anizar dadoslingüísticos e digitais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma interface computacional. A pesquisafundamental na área da geografia lingüística será a primeira a se beneficiar<strong>de</strong>sse programa. O impacto do programa GeoLing na educação po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rável. Os pesquisadores po<strong>de</strong>m colocar os dados lingüísticosregionais coletados no referido programa. Esses dados po<strong>de</strong>rão serdistribuídos nas escolas no formato <strong>de</strong> CD-ROM, a fim <strong>de</strong> que oseducadores possam <strong>de</strong>monstrar durante as aulas, por exemplo, a realida<strong>de</strong>lingüística <strong>br</strong>asileira, apresentando e discutindo, <strong>de</strong> forma inovadora eagradável, questões relativas à diversida<strong>de</strong> lingüística no Brasil.O programaGeoling po<strong>de</strong>rá ser usado na sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que uma equipe <strong>de</strong> pesquisadisponibilize um banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> uma dada região ou estado.390


VOGAIS ÁTONAS FINAIS: UM ESTUDO PRELIMINAR NASCAPITAIS BRASILEIRASAparecida Negri Isquerdo (UFMS, Campo Gran<strong>de</strong>)Auri Claudionei Matos Frubel (UFMS, Aquidauana)As últimas cinco décadas registraram um significativo avanço no quadro daspesquisas geolingüísticas no Brasil – até os anos noventa do século passadoforam produzidos cinco atlas estaduais – Atlas Prévio dos Falares Baianos –APFB (1963), Esboço <strong>de</strong> um Atlas Lingüístico <strong>de</strong> Minas Gerais – EALMG(1977), Atlas Lingüístico da Paraíba – ALPB (1984), Atlas Lingüístico <strong>de</strong>Sergipe – ALSE (1987) e Atlas Lingüístico do Paraná – ALPR (1994). Já naprimeira década do século XX seis outros vieram a lume, um regional –Atlas Lingüístico-etnográfico da Região Sul do Brasil – ALERS (2002) – ecinco estaduais – Atlas lingüístico sonoro do Pará – ALISPA (2004), AtlasLingüístico do Amazonas – ALAM (2004), Atlas Lingüístico <strong>de</strong> Sergipe II –ALSE II (2005), Atlas Lingüístico do Paraná II (2007) e Atlas Lingüístico <strong>de</strong>Mato Grosso do Sul (2007). Impulsionados, so<strong>br</strong>etudo pelo Projeto do AtlasLingüístico do Brasil (Projeto ALiB), inúmeros outros projetos <strong>de</strong> atlasestaduais, regionais e municipais surgiram, alguns <strong>de</strong>les já concluídos emuitos outros se encontram em estágios diferentes <strong>de</strong> execução. Os atlasregionais já publicados e/ou concluídos e, especialmente, os dados jádocumentados pelo Projeto ALiB, têm fornecido dados concretos queapontam para singularida<strong>de</strong>s lingüísticas que individualizam as diferentesregiões <strong>br</strong>asileiras. A análise dos dados recolhidos nas 25 capitais <strong>br</strong>asileiraspela equipe do Projeto ALiB, <strong>de</strong> um lado, vem confirmando conclusões jáapontadas pelos atlas regionais e, <strong>de</strong> outro, revelando novas realida<strong>de</strong>slingüísticas <strong>de</strong>correntes da história social que marcou as cinco regiões<strong>br</strong>asileiras nas últimas décadas, motivada em especial pelos movimentosmigratórios que são responsáveis pelo <strong>de</strong>slocamento <strong>de</strong> <strong>br</strong>asileiros paradiferentes estados da Fe<strong>de</strong>ração em busca <strong>de</strong> melhores condições <strong>de</strong> vida.Particularmente o nível fonético da língua evi<strong>de</strong>ncia as diferentes áreasdialetais que caracterizam o português <strong>br</strong>asileiro falado em todo o territórionacional. Este trabalho discute resultados preliminares <strong>de</strong> estudo em<strong>de</strong>senvolvimento so<strong>br</strong>e a questão das vogais átonas finais, na fala <strong>de</strong>habitantes <strong>de</strong> baixa e <strong>de</strong> alta escolarida<strong>de</strong> (Ensino Fundamental/EnsinoSuperior), <strong>de</strong> ambos os sexos, nascidos e criados nas capitais dos estados<strong>br</strong>asileiros, com o objetivo <strong>de</strong> apontar possíveis áreas dialetais, no que serefere à atualização <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> vogal.ESTUDOS DA VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM SANTA CATARINA,UM OLHAR SOBRE LAGESClaci Ines Schnei<strong>de</strong>r (UFSC)Uma das principais marcas <strong>de</strong> um povo é a sua fala, sua língua, algo quefacilmente o i<strong>de</strong>ntificará nas mais diversas situações. Como a língua não éalgo estático é algo que evolui, que se altera, principalmente em casos <strong>de</strong>391


territórios <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s dimensões e varieda<strong>de</strong>s populacionais muito gran<strong>de</strong>scomo o Brasil, percebe-se que registrar este traço cultural é algofundamental para preservar, estudar e melhor enten<strong>de</strong>r nossa história. Aproposta <strong>de</strong>ste trabalho é relatar uma experiência pessoal como inquiridor ecomo transcritor das entrevistas realizadas no ponto 231, cida<strong>de</strong> catarinense<strong>de</strong> Lages, realizada em novem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2007 e <strong>de</strong>bater as principais marcas dofalar lageano encontradas nas entrevistas.CAMINHOS PARA A CONSTITUIÇÃO DE UM ATLAS DA LÍNGUABRASILEIRA DE SINAIS: ALLIBRASGisele Iandra Pessini Anater (Pós-Graduação em Lingüística – UFSC)Shirley Vilhalva (Pós-Graduação em Lingüística – UFSC)Quando falamos em línguas, é natural que pensemos em variação, emculturas diferentes, em outros países, em outros povos. As variações, porém,po<strong>de</strong>m estar bem mais próximas, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada língua, no mesmo tempo eespaço. Assim acontece com a língua <strong>de</strong> sinais no Brasil. Há diferençasfortes relacionadas ao espaço geográfico, ou seja, à diatopia; e por essa seruma realida<strong>de</strong>, também po<strong>de</strong>mos pensar em um estudo geolingüístico quebusque traçar um panorama acerca da Língua Brasileira <strong>de</strong> Sinais – LIBRAS.É importante realçar que ela teve o seu reconhecimento legal marcado pelaLei 10.436 <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> a<strong>br</strong>il <strong>de</strong> 2002 regulamentada pelo Decreto 5.626, <strong>de</strong> 22<strong>de</strong> <strong>de</strong>zem<strong>br</strong>o <strong>de</strong> 2005, que a consi<strong>de</strong>ra como meio <strong>de</strong> comunicação eexpressão daqueles que interagem com o mundo através <strong>de</strong> suasexperiências visuais. Por ser uma língua altamente visual, é possívelperceber a sua variação face-a-face, conforme região em que se <strong>de</strong>senvolve.O contato entre os surdos <strong>br</strong>asileiros, so<strong>br</strong>etudo aqueles que têm acesso aosrecursos tecnológicos e institucionais <strong>de</strong> educação, é intenso. Devido àutilização <strong>de</strong> meios <strong>de</strong> comunicação virtual e <strong>de</strong> encontros promovidosatravés <strong>de</strong> Associações <strong>de</strong> Surdos ou das Universida<strong>de</strong>s, a LIBRAS temganhado espaço; po<strong>de</strong>mos perceber o contato lingüístico figurando comofator principal <strong>de</strong> variação. Não sabemos muito so<strong>br</strong>e sua história e o queconhecemos vem da trajetória <strong>de</strong> educadores e <strong>de</strong> surdos <strong>de</strong>ntro do InstitutoNacional <strong>de</strong> Educação <strong>de</strong> Surdos (INES-RJ). So<strong>br</strong>e variação ainda há poucoregistro; o que afirmamos normalmente vem <strong>de</strong> algum conhecimentoempírico, <strong>de</strong> experiências vividas com a língua e do contato surdo-surdo eouvinte-surdo. Como nosso objetivo é contribuir para o crescente interesse<strong>de</strong> pesquisa so<strong>br</strong>e a língua <strong>de</strong> sinais, enten<strong>de</strong>mos que a mo<strong>de</strong>rnização dastecnologias e os recursos metodológicos, são também meios essenciais parao seu registro e contribuem para o trabalho <strong>de</strong> análise e <strong>de</strong>scrição. Diante doque temos observado acerca da metodologia utilizada para a pesquisa <strong>de</strong>ntrodo Projeto ALiB, pensamos em alguns passos que po<strong>de</strong>m auxiliar o iníciodos trabalhos com a LIBRAS, uma vez que a Geolingüística já avançou emsua trajetória nesses últimos cinqüenta anos e nada ainda temos <strong>de</strong> registroso<strong>br</strong>e essa língua <strong>br</strong>asileira. Através dos princípios da Geolingüística e <strong>de</strong>alguns elementos que conduzem os trabalhos em Sociolingüística,392


preten<strong>de</strong>mos também sugerir e elaborar uma metodologia que colabore parao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um inquérito que priorize a modalida<strong>de</strong> da língua nacoleta e no registro dos dados.ATLAS LINGÜÍSTICO-ETNOGRÁFICO DA REGIÃO OESTE DOPARANÁ/ALERO: UM ESTUDO DO MOVIMENTO DAS LÍNGUASE DOS DIALETOS NO ESPAÇO E NO TEMPOSanimar Busse (Unioeste, UEL)Tomando a fala como catalisadora do comportamento dos grupos sociais,das suas ativida<strong>de</strong>s e das interações estabelecidas com outros grupos emdiferentes momentos da história, a presente pesquisa tem por objetivoregistrar e <strong>de</strong>screver as variantes fonético-fonológicas, semântico-lexicais emorfossintáticas da fala na Região Oeste do Paraná. Com base nosprincípios da dialetologia e do método geolingüístico, preten<strong>de</strong>-se estudar afala viva e buscar na infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes uma representação da história dalíngua quanto ao seu aspecto mais móvel e ativo (ALVAR, 1996). Partimosda possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> combinar os estudos da variação areal e as variáveissociolingüísticas como elementos para um estudo bidimensional da variação.Dentre as tarefas do trabalho proposto, a mais importante é a “duplaarealização” do fenômeno da variação, percorrendo da superfície ao eixosocial ou, no movimento inverso, do eixo social à superfície (THUN, 2005).A geolingüística pluridimensional na sua dimensão topodinâmica ecronodinâmica tenta imprimir à <strong>de</strong>scrição da fala o registro da dinamicida<strong>de</strong>da língua, permitindo acompanhar o caminho <strong>de</strong> uma inovação lingüística,cujo registro po<strong>de</strong> representar o estado da fala no movimento dinâmico dasrelações sociais. Tem-se, então, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> capturar a língua emmovimento, registrando e <strong>de</strong>screvendo, no interior dos níveis lingüísticos, asfases pelas quais ocorrem e ocorreram as mudanças na língua, bem como ai<strong>de</strong>ntificação do que foi conservado. As características geográficas da regiãoOeste do Paraná favorecem so<strong>br</strong>emaneira uma análise pautada na interfaceetnográfica, em que os movimentos <strong>de</strong> colonização po<strong>de</strong>m ser apontadoscomo responsáveis pelo polimorfismo na fala paranaense e para a formação<strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> maior conservação e formação <strong>de</strong> ilhas lingüísticas, conformeestudos <strong>de</strong> Mercer (1993) e Aguilera (1994). A análise do movimentocronodinâmico da variação na fala se dará por meio da análise contrastiva,na i<strong>de</strong>ntificação dos fenômenos estáveis, dos fenômenos em curso e dasmudanças acabadas. Para tal, <strong>de</strong>vem ser tomados como referência os dadosdo Atlas Lingüístico do Paraná – ALPR (AGUILERA, 1994), do AtlasLingüístico-Etnográfico da Região Sul do Brasil - ALERS (ALTENHOFEN,KOCH, KLASSMANN, 2002), do Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB) e doAtlas Lingüístico-Contatual das Minorias Alemãs na Bacia do Prata(ALMA-H): Hunsrückisch.O ATLAS LINGÜÍSTICO-ETNOGRÁFICO DOS AÇORES E OSATLAS BRASILEIROS: A QUE NOS CONDUZEM OS SEUS DADOS.Suzana Alice Marcelino Cardoso (UFBA/CNPq)393


A publicação do Atlas Lingüístico-Etnográfico dos Açores (Volume I – Acriação <strong>de</strong> gado) permite uma reflexão so<strong>br</strong>e o léxico, nesse camposemântico, nas áreas açoriana e <strong>br</strong>asileira. Nesta comunicação, examinam-se,prioritariamente, os dados do atlas açoriano e dos atlas regionais <strong>br</strong>asileiros,já publicados e que oferecem informações <strong>de</strong> cunho lexical — Atlas Préviodos Falares Baianos, Atlas Lingüístico da Paraíba, Atlas Lingüístico <strong>de</strong>Sergipe, Atlas Lingüístico do Paraná, Atlas Lingüístico do Mato Grosso doSul, a que se agregam resultados <strong>de</strong> duas teses <strong>de</strong> doutorado referentes aoAmazonas e ao Rio Gran<strong>de</strong> do Norte—, e se procura contemplar, <strong>de</strong> formailustrativa, uma visão geral do Brasil com o que oferece o Projeto ALiB notocante às capitais <strong>de</strong> Estados com aos resultados obtidos da aplicação doQuestionário Semântico-Lexical, sub-área “Ativida<strong>de</strong>s agropastoris”, comvistas a (i) verificar o que esse conjunto <strong>de</strong> fontes registra na área semântica“a criação <strong>de</strong> gado”, (ii) analisar os itens lexicais documentados nesses doislados do atlântico, (iii) estabelecer uma relação entre o léxico açoriano e oléxico corrente no Brasil. Esse exame <strong>de</strong>verá/po<strong>de</strong>rá permitir a i<strong>de</strong>ntificaçãodos laços lexicais Brasil/Açores.OS DOIS ATLAS LINGÜÍSTICOS DO PARANÁ: METODOLOGIASFabiane Cristina Altino (UEL)A década <strong>de</strong> 50 no Brasil foi proveitosa para os estudos dialetológicos pormeio da metodologia geolingüística. Dois momentos são significativos paraa história da Dialetologia: o primeiro refere-se à década <strong>de</strong> 50 propriamente,quando entre 1951 e 1954, Serafim da Silva Neto, em suas conferências pordiversas IES do país (MG – RS – SP – RJ – BA), expôs a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>documentação dos falares <strong>br</strong>asileiros. Em seguida, em 1957, Silva Neto eCelso Cunha, no II Colóquio Internacional <strong>de</strong> Estudos Luso-Brasileiros,reafirmavam a urgência <strong>de</strong> estudos dialetológicos pelo métodogeolingüístico, ressaltando a importância <strong>de</strong> atlas regionais, pela exaustãocom que os dados coletados são trabalhados, fornecendo materiais para oestudo da formação da língua e da sua história. Em 1958, AntenorNascentes publica Bases Para a Elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil,pela Casa <strong>de</strong> Rui Barbosa, o<strong>br</strong>a fornece as diretrizes para os inquéritoslingüísticos. Essas o<strong>br</strong>as, fundamentais para os estudos dialetológicos, noBrasil, ren<strong>de</strong>ram frutos imediatos e levaram ao segundo momento que seinicia em 1963, com a publicação do Atlas Prévios dos Falares Baianos –APFB, o primeiro atlas estadual <strong>br</strong>asileiro. Nascia, <strong>de</strong>sta forma, o primeiroestudo dialetológico com base na geografia lingüística, possibilitandoconhecer um dos falares <strong>br</strong>asileiros e, posteriormente, servir como ponto <strong>de</strong>partida para a elaboração do Atlas Lingüístico do Brasil, tornando possível oregistro <strong>de</strong> uma parte da história dos falares nacionais. O Atlas Lingüísticodo Paraná - ALPR, <strong>de</strong> Aguilera (1994), também é fruto <strong>de</strong>sta “mentalida<strong>de</strong>dialetológica” e investiga a unida<strong>de</strong> e a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> usos do português<strong>br</strong>asileiro falado no Paraná. Esta comunicação preten<strong>de</strong> discutir as394


metodologias aplicadas ao ALPR publicado em 1994 e o segunda do volume,objeto <strong>de</strong> tese <strong>de</strong> doutoramento em 2007.O “R CAIPIRA” NO ESTADO DO PARANÁ: UM ESTUDO COMBASE EM DADOS DO ATLAS LINGÜÍSTICO DO BRASIL (ALIB)Dra. Van<strong>de</strong>rci <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Aguilera (UEL/CNPq)Os róticos, em particular o /r/ em coda silábica, fonema com possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> se realizar com o maior número <strong>de</strong> variantes no Português Brasileiro,principalmente quando se consi<strong>de</strong>ram as dimensões diatópico-regionais, sãouma das variantes fonético-fonológicas que mais mereceram a atenção dosestudiosos sob os mais diversos enfoques teórico-metodológicos. Bastalem<strong>br</strong>ar que Brandão (2007), em recente artigo, discutiu mais <strong>de</strong> trinta textospublicados nos últimos oitenta anos, cujos autores tomaram como objeto <strong>de</strong>estudo o fonema /r/ tanto em distribuição diatópica nos atlas lingüísticos, naótica da Geolingüística, como em distribuição diastrática à luz daSociolingüística Variacionista. Neste trabalho, busca-se apresentar e discutir,em caráter experimental, a variação do /r/ em coda silábica nos dados doAtlas Lingüístico do Brasil – ALiB, em particular nos dados coletados noParaná, junto a setenta e dois informantes, dos quais oito são da capital e os<strong>de</strong>mais sessenta e oito estão distribuídos por <strong>de</strong>zesseis pontos lingüísticos dointerior. O <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa permitiu caminhar mais <strong>de</strong> pertojunto ao /r/ retroflexo ou “caipira” [}], <strong>de</strong>vido à alta freqüência <strong>de</strong> seu uso nafala dos informantes urbanos <strong>de</strong>ssas localida<strong>de</strong>s paranaenses que compõem are<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos lingüísticos do ALiB nesse Estado. De certa forma, osresultados vêm contrariando os prognósticos <strong>de</strong> Amaral (1920) que anteviapara o dialeto caipira uma vida, ou so<strong>br</strong>evida, relativamente curta eencantoada em alguns grotões <strong>de</strong> nosso país.MICROAFERJ: O -S EM CODA SILÁBICAFabiana da Silva Campos Almeida (CEFETQ, Rio <strong>de</strong> Janeiro)O MicroAtlas Fonético do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Almeida: 2008),enquadra-se no âmbito da geolingüística pluridimensional, uma vez que nele,além da variável diatópica (12 pontos <strong>de</strong> inquérito), controlam-se asvariáveis diassexual e diageracional (três faixas etárias: 18-35 anos; 36-55anos e 56 anos em diante). Constituído por 306 cartas fonéticas, apresentaentre elas 58 que possibilitam a observação da variação do –S em codasilábica. Assim, neste trabalho, além <strong>de</strong> se apresentarem os critérios quenortearam a elaboração do Atlas, focalizam-se, em especial, as referidas 58cartas, que retratam a variável na fala <strong>de</strong> Itaguaí (Região Metropolitana),Porciúncula (Região Noroeste), São Francisco do Itabapoana, Quissamã(Região Norte), Cantagalo, Santa Maria Madalena (Região Serrana), CaboFrio, Cachoeiras <strong>de</strong> Macacu (Região das Baixadas Litorâneas), Resen<strong>de</strong> eValença (Região do Médio Paraíba, Três Rios (Região Centro Sul) e Paraty(Região da Baía da Ilha Gran<strong>de</strong>)).395


Observa-se que, (i) na Região Metropolitana e em Cabo Frio, predomina avariante palatalizada em contexto tanto interno quanto externo,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos segmentos adjacentes ao -S; (ii) nas <strong>de</strong>mais áreas, avariante alveolar constitui norma, embora, em Santa Maria Madalena, já seobserve que a variante palatalizada está em franco processo <strong>de</strong> difusão. Osresultados do MicroAFERJ permitem (1) concluir que a palatalização <strong>de</strong> S –fortemente condicionada por fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estrutural, como vêm<strong>de</strong>monstrando diversos outros estudos so<strong>br</strong>e o tema (cf., em especial, asíntese realizada por Mota, 2002) – ten<strong>de</strong> a generalizar-se na fala <strong>de</strong>localida<strong>de</strong>s cujos habitantes se encontram em maior interação com os dacida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro; (2) traçar – com o aporte dos dados <strong>de</strong> quatropontos <strong>de</strong> inquérito do AFeBG (Lima, 2006), que segue a mesmametodologia – uma isófona provisória que separa as áreas <strong>de</strong> –S fricativoalveolar das <strong>de</strong> –S fricativo palatalizado.O APROVEITAMENTO DOS DADOS DO ALIB EM CARTASFONÉTICASJacyra Andra<strong>de</strong> Mota (UFBA/CNPq)Para a constituição do corpus do Projeto Atlas Lingüístico do Brasil (ALiB)previu-se, além do questionário semântico-lexical, característico dostrabalhos <strong>de</strong> natureza geolingüística do século XX, questionáriosespecificamente dirigidos à obtenção <strong>de</strong> dados lingüísticos fonéticos(inclusive prosódicos), morfossintáticos, pragmáticos, metalingüísticos,<strong>de</strong>ntro da tendência atual <strong>de</strong> contemplar também outros níveis <strong>de</strong> estudo dalíngua. Os diferentes tipos <strong>de</strong> questionários, assim como as propostas <strong>de</strong>temas para a obtenção <strong>de</strong> discurso livre e <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> texto, apresentadasaos informantes, no final do inquérito, têm possibilitado número maior <strong>de</strong>informações e fornecido elementos para a análise da dimensão diafásica. Poroutro lado, a inclusão <strong>de</strong> informantes estratificados quanto ao gênero, àida<strong>de</strong> e, nas capitais, ao grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> acordo com os princípiosda Geolingüística Pluridimensional Contemporânea, tornou possível adocumentação <strong>de</strong> variantes diagenéricas, diageracionais e diastráticas, assimcomo a <strong>de</strong>preensão <strong>de</strong> mudanças em curso nas áreas analisadas.Apresentam-se, nesta comunicação, sugestões para o aproveitamento dosdados do ALiB, em cartas fonéticas, com utilização do questionáriofonético-fonológico (QFF) e o aproveitamento <strong>de</strong> respostas obtidas apropósito <strong>de</strong> outros questionários, a partir da análise dos oito inquéritosdocumentados em cada uma das capitais do Nor<strong>de</strong>ste (Salvador, Aracaju,Maceió, Recife, João Pessoa, Fortaleza, Natal e São Luís). Analisam-se,principalmente, as realizações para o /S/ em coda silábica, em posiçãomedial <strong>de</strong> vocábulos como fósforo, casca, estrada, rasgar, mesma, ou emfinal <strong>de</strong> palavra, como em luz, arroz, <strong>de</strong>z, temas, respectivamente, dasquestões 015, 031, 067, 088, 156, 009, 021 e 064 do QFF. As realizaçõesalveolares e palatais, nesse caso, distinguem, como <strong>de</strong>stacado por váriospesquisadores, subáreas dialetais no português do Brasil e as laríngeas396


configuram-se, so<strong>br</strong>etudo, como variantes diastráticas ou diafásicas.Preten<strong>de</strong>-se, com as sugestões cartográficas apresentadas, contribuir para adiscussão so<strong>br</strong>e a elaboração das cartas fonéticas que <strong>de</strong>verão constituir o 1º.volume do ALiB.VARIAÇÃO DO /S/ EM FINAL DE VOCÁBULOS E DITONGAÇÃO:O ALIB EM VITÓRIAShirley Vieira (UFSC)Esta pesquisa tem o propósito <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver, sob uma abordagemsociogeolingüística, duas regras variáveis no mesmo contexto fonético: /s/em posição final <strong>de</strong> vocábulos e a ditongação prece<strong>de</strong>nte. O material foicoletado pelo Atlas Lingüístico do Brasil na região metropolitana da capitaldo Espírito Santo em oito entrevistas, nas quais os informantes representama fala <strong>de</strong> homens e mulheres, pessoas mais jovens e mais velhas, poucoescolarizadas e mais escolarizadas, permitindo, assim, associar a variaçãolingüística a fatores diagenéricos, diageracionais e diastráticos. Acreditamosque este estudo seja relevante, dadas as “fortes” marcas lingüísticas dosestados que circundam o Espírito Santo: BA, RJ e MG, inclusive comrelação às regras a serem analisadas. Nesta fase da pesquisa, verificaremosqual a tendência no português falado na região metropolitana <strong>de</strong> Vitória e,num segundo momento, verificaremos isso em outras regiões capixabas,escorados na hipótese <strong>de</strong> que a difusão diatópica <strong>de</strong> certos traços lingüísticosno Espírito Santo está associada ao modo <strong>de</strong> falar dos estados lin<strong>de</strong>iros. Paraa realização <strong>de</strong>ste estudo, incluiremos as respostas a algumas das perguntasdo Questionário Fonético-Fonológico (QFF) do ALiB, para as quais asrespostas esperadas são: cruz, arroz, três, <strong>de</strong>z, giz, voz e paz. Quanto àmetodologia, os dados (já transcritos) serão processados com o auxílio doSistema <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados Geolingüísticos (SPDGL), gerando,assim, relatórios <strong>de</strong> dados e cartas geolingüísticas. Para maior segurança naanálise do material, os dados serão também submetidos a rodadas estatísticas.Ressaltamos que este trabalho é um projeto-piloto que visa a obter subsídiospara uma pesquisa mais ampla, a ser estendida a todo o Estado do EspíritoSanto, incluindo dados do ALiB e do Atlas Lingüístico do Espírito Santo(ALES).ESTUDOS GEOLINGÜÍSTICOS NO BRASIL: UM PROFÍCUOJUBILEU DE OURODra. Van<strong>de</strong>rsí Sant’ Ana Castro (Unicamp)Em 1920, Amaral <strong>de</strong>screve, do ponto <strong>de</strong> vista fonético, morfológico,sintático e lexical, o dialeto caipira, varieda<strong>de</strong> do português popular faladano território da antiga província <strong>de</strong> S. Paulo até por volta do final do séculoXIX. Segundo Amaral (1920), o dialeto, que teria exibido gran<strong>de</strong> vigor, vaiper<strong>de</strong>ndo sua importância a partir das últimas décadas do século XIX, em<strong>de</strong>corrência das profundas alterações que passam a se verificar no meio397


social, encontrando-se, no início do século XX, restrito a pequenaslocalida<strong>de</strong>s ou ao uso dos falantes mais velhos. Em face <strong>de</strong>sse quadro,Amaral (1920) acredita que o dialeto “acha-se con<strong>de</strong>nado a <strong>de</strong>saparecer emprazo mais ou menos <strong>br</strong>eve”. Todavia, 50 anos mais tar<strong>de</strong>, Rodrigues (1974)constata o vigor do dialeto na região <strong>de</strong> Piracicaba. Mais recentemente,Castro (2006) atestou a resistência <strong>de</strong> variantes fonéticas do dialeto emMinas Gerais e Paraná, em estudo realizado com base em dados dos atlaslingüísticos <strong>de</strong>sses Estados (Ribeiro 1977, Aguilera 1994).Des<strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong> Rodrigues (1974), não se <strong>de</strong>senvolveu nenhumapesquisa sistemática no Estado <strong>de</strong> São Paulo para verificar a resistência dodialeto caipira nessa área. A oportunida<strong>de</strong> se coloca agora, quando po<strong>de</strong>mosdispor <strong>de</strong> dados do ALiB referentes a S. Paulo. Nesse sentido, nosso estudo,analisando dados coletados através do questionário fonético-fonológico(QFF) do ALiB, procura verificar a ocorrência do “r caipira” em São Paulo,consi<strong>de</strong>rando a posição <strong>de</strong> coda silábica (em final e interior <strong>de</strong> palavra). OProjeto ALiB investiga todo o território paulista (38 localida<strong>de</strong>s), inquirindo4 informantes por localida<strong>de</strong> (com escolarida<strong>de</strong> até a 8ª série, dos dois sexose duas faixas etárias – 18 a 30 e 50 a 65 anos); na capital são entrevistadosmais 4 informantes, com nível universitário (dos dois sexos e das duas faixasetárias). Nesta primeira abordagem, consi<strong>de</strong>raremos as localida<strong>de</strong>s situadasem uma faixa ao longo das duas margens do Tietê, caminho usado pelosban<strong>de</strong>irantes em seu avanço para o oeste. Dada a relação histórica dosban<strong>de</strong>irantes com o dialeto caipira, e consi<strong>de</strong>rando que as povoações queforam se formando nesse trajeto se transformaram em cida<strong>de</strong>s que hojeconhecemos, justifica-se o recorte espacial proposto. Para o estudo foramselecionados os seguintes pontos do ALiB: Sorocaba, Campinas, Piracicaba,Botucatu, Bauru, Araraquara, Ibitinga, Lins, Araçatuba, Andradina, São Josédo Rio Preto, Jales.FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS E PRIMEIROSRESULTADOS DO ATLAS LINGÜÍSTICO-CONTATUAL DASMINORIAS ALEMÃS DA BACIA DO PRATA (ALMA)Cléo V. Altenhofen (UFRGS)Harald Thun (Univ. Kiel)Constituem um <strong>de</strong>safio à parte à pesquisa geolingüística oscontatos <strong>de</strong> línguas <strong>de</strong> imigração com o português e o espanhol na área daBacia do Prata (envolvendo Paraguai, sul do Brasil, Argentina e Uruguai). Apresente comunicação objetiva apresentar os pressupostos teóricometodológicose primeiros resultados do Atlas Lingüístico-Contatual dasMinorias Alemãs da Bacia do Prata (ALMA), projeto <strong>de</strong> pesquisabinacional, interinstitucional e interdisciplinar, na área <strong>de</strong> dialetologiapluridimensional e relacional (Thun 1996), <strong>de</strong>senvolvido em conjunto porequipes <strong>de</strong> pesquisa do Instituto <strong>de</strong> Letras (UFRGS, Brasil) e do Instituto <strong>de</strong>Romanística (Univ. Kiel, Alemanha), sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Cléo V.Altenhofen e Harald Thun. A fase atual do macro-projeto ocupa-se com o398


Hunsrückisch – <strong>de</strong>finido como uma coiné <strong>de</strong> contato com o português<strong>de</strong>rivada historicamente do contínuo dialetal <strong>de</strong> base francônio-renana efrancônio-moselana do alemão como língua <strong>de</strong> imigração trazida ao RioGran<strong>de</strong> do Sul a partir da primeira meta<strong>de</strong> do séc. XIX (cf. Altenhofen2004). São objetivos principais do Projeto ALMA-H 1) a constituição <strong>de</strong> umbanco <strong>de</strong> dados lingüísticos e etnográficos da varieda<strong>de</strong> Hunsrückisch, bemcomo 2) a elaboração, a partir <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> dados, <strong>de</strong> um amplomapeamento da variação, atitu<strong>de</strong>s lingüísticas, manutenção / substituição euso do Hunsrückisch em contato com o português e espanhol na área emestudo. São igualmente objeto <strong>de</strong> análise as competências dos falantes nasrespectivas varieda<strong>de</strong>s germânicas e românicas, a alternância <strong>de</strong> código,preferências lingüísticas e aspectos pragmático-funcionais, como o uso dasvarieda<strong>de</strong>s tanto em contextos culturais diferentes como também em relaçãoà produção oral e escrita. A metodologia <strong>de</strong> coleta e análise dos dados seguetrês princípios fundamentais do mo<strong>de</strong>lo teórico: pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> informantes(i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> quatro informantes por entrevista), comparabilida<strong>de</strong> dos dados(para fins <strong>de</strong> cartografia e <strong>de</strong> comparação com outros estudos) epluridimensionalida<strong>de</strong> da variação lingüística. São coletados dados <strong>de</strong> 38localida<strong>de</strong>s (dimensão diatópica), sendo quatro entrevistas por ponto,inquirindo duas gerações (dimensão diageracional: GI, entre 18 e 36 anos, eGII, acima <strong>de</strong> 55 anos), com escolarida<strong>de</strong> superior (Ca) ou ensino secundárioincompleto e ocupação agrícola ou operária (Cb). As entrevistas seguem umquestionário-base, para obtenção <strong>de</strong> dados comparáveis. Além disso, sãoreunidos etnotextos (envolvendo temas <strong>de</strong> conversas semi-dirigidas), bemcomo dados iconográficos incluindo a presença visual da língua nalocalida<strong>de</strong>. Os primeiros resultados, após levantamentos em 12 localida<strong>de</strong>s,apontam uma série <strong>de</strong> configurações geográficas e sociais, que se preten<strong>de</strong>sumariamente apresentar na comunicação. (Auxílio Fundação Alexan<strong>de</strong>rvon Humboldt – 2008-2010).TOPODINÂMICA DOS CONTATOS LINGÜÍSTICOS DOPORTUGUÊS EM ÁREAS BILÍNGÜES DE FRONTEIRA E DEIMIGRAÇÃOCléo V. AltenhofenFernanda Cardoso <strong>de</strong> Lemos (UFRGS)A presente pesquisa tem por foco principal os contatos lingüísticose seu papel na variação do português falado no sul do Brasil. Como tal,busca contribuir com o aprofundamento <strong>de</strong> questões relativas à dimensãodialingual (Thun 1996) nos dados do ALiB (Atlas Lingüístico do Brasil).Consi<strong>de</strong>rando a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações e contextos <strong>de</strong> contato do portuguêsno Brasil, incluindo cerca <strong>de</strong> 180 línguas indígenas e mais <strong>de</strong> 30 línguas <strong>de</strong>imigração, além <strong>de</strong> contatos <strong>de</strong> fronteira (espanhol e crioulos), práticaslingüísticas afro-<strong>br</strong>asileiras e contatos intra-linguais envolvendo varieda<strong>de</strong>sregionais do próprio português, é o objetivo central <strong>de</strong>sse estudocompreen<strong>de</strong>r melhor os mecanismos que orientam o uso e a variação399


lingüística em diferentes tipos <strong>de</strong> contato lingüístico. Para tanto, escolheramseduas situações específicas representativas da paisagem lingüística do suldo Brasil: os fenômenos do português <strong>de</strong> contato com línguas alóctones (<strong>de</strong>imigração) e do português <strong>de</strong> fronteira com o espanhol no sul do país. Nestesentido, constitui o interesse central da pesquisa analisar o papel do contatolingüístico na <strong>de</strong>terminação do corpus e do status do português localmentefalado e os aspectos que distinguem cada uma das situações. Para tanto,cinco questões iniciais são suscitadas: a) Como <strong>de</strong>terminar os parâmetrospara uma <strong>de</strong>scrição acurada do corpus e do status da língua em cadasituação? b) O que possui em comum e em que se distingue o portuguêsfalado em ambos os contextos? c) É possível i<strong>de</strong>ntificar categorias gerais natopodinâmica <strong>de</strong>sses contatos? d) Quais os condicionamentos sociais<strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong>ssa relação? E, finalmente, e) quais são as marcascaracterísticas do português <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong>sses contatos? A pesquisa segue asperspectivas da geolingüística pluridimensional (Radtke & Thun 1996);opta, portanto, por uma visão macro-analítica que aponte para a projeção dosdiferentes fatores sociais e lingüísticos no espaço e sua representativida<strong>de</strong>geográfica, ou seja, até on<strong>de</strong> vão <strong>de</strong>terminados comportamentos lingüísticose através <strong>de</strong> quais segmentos e situações sociais. A metodologia <strong>de</strong> coletados dados do estudo (re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pontos, questionário, informantes, dimensões<strong>de</strong> variação etc.) é <strong>de</strong>terminada pelo projeto ALiB, que contempla, <strong>de</strong> modosistemático, não só a dimensão diatópica, mas também as dimensõesdiastrática, diassexual e diageracional. O recorte <strong>de</strong> análise centra-se nosdados <strong>de</strong> 14 pontos <strong>de</strong> pesquisa do ALiB, situados no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul eem Santa Catarina, sendo 07 pontos <strong>de</strong> contato português-língua alóctone e07 pontos <strong>de</strong> contato <strong>de</strong> fronteira.GT29 Língua, sujeito e históriaCoor<strong>de</strong>nadoresVerli Petri (UFSM)Mary Neiva Surdi da Luz (UNOCHAPECÓ)A FLOR DA PALAVRAMaurício Beck (UFSM)Na Quarta Declaração da Selva Lacandona o Exército Zapatista <strong>de</strong>Libertação Nacional (EZLN) do México afirmou que a flor da palavra nãopo<strong>de</strong> morrer ou ser arrancada pela soberba do po<strong>de</strong>r, pois vem do fundo dahistória e da terra. Em nossa interpretação o sintagma “flor da palavra”remete ao entrecruzamento <strong>de</strong> duas memórias históricas: a dosremanescentes dos antigos Maias e a memória das revoluções camponesasdo início do século XX. No entanto, é o efeito <strong>de</strong> sentido <strong>de</strong>corrente dodiscurso Zapatista que articula a palavra a uma forma <strong>de</strong> resistência nãoperecível que preten<strong>de</strong>mos analisar nesta comunicação. Que lugar é dado àpalavra, às línguas Maias no discursos zapatistas? Um lugar <strong>de</strong> politico,400


mítico e literário? Visto que aquele que se faz porta-voz, tradutor e interprete<strong>de</strong> uma gama variada <strong>de</strong> línguas ameríndias, como é o caso dosubcomandante Marcos, é também um escritor <strong>de</strong> romances e históriasinfantis, <strong>de</strong> cartas e comunicados. O lugar privilegiado dado à palavra naluta travada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as selvas <strong>de</strong> Chiapas é o diferencial do EZLN frente aoutras guerrilhas da América Latina e é, para a Análise <strong>de</strong> Discurso <strong>de</strong> linhafranco-<strong>br</strong>asileira, um tema investigações fértil e inquietante. Neste estudovisamos a <strong>de</strong>screver e interpretar as articulações sintático-semânticas entrepalavra, resistência e revolta; línguas ameríndias e história; e discorrer, <strong>de</strong>maneira ainda introdutória, so<strong>br</strong>e o modo <strong>de</strong> funcionamento e ascontradições das posições <strong>de</strong> porta-voz, lí<strong>de</strong>r militar, tradutor e interpreteassumidas pelo subcomandante Marcos.MONUMENTALIZAÇÃO DA POLÍTICA, DILUIÇÃO DOPOLÍTICO: UM EXEMPLORejane Maria Arce Vargas (UFSM)Neste trabalho, objetivamos problematizar em cotejo as concepções <strong>de</strong>político esboçadas por Rancière (1996), Orlandi e Guimarães (2005), no queconcerne à análise da prática política <strong>de</strong> sentidos no cenário cotidiano, sob oaporte teórico-metodológico oferecido pela Análise do Discurso. Para tanto,valemo-nos <strong>de</strong> um exemplo representativo do modo pelo qual a política semonumentaliza em prejuízo do político que engendra os sentidos. Trata-se<strong>de</strong> uma imagem entendida como materialização <strong>de</strong> um modo possível <strong>de</strong>funcionamento da política, na medida em que é produzida em torno <strong>de</strong> umlitígio so<strong>br</strong>e uma área urbana. Interessa-nos problematizar duas noções emembate: política X político, pautando-nos no entendimento <strong>de</strong> que asmesmas não se confun<strong>de</strong>m (fun<strong>de</strong>m), antes, porém são distintas e mesmocontraditórias. Lançaremos mão <strong>de</strong> imagem ilustrativa <strong>de</strong> um evento políticoabordado em nossa dissertação e nos ocuparemos em trazer à tona seuprocesso <strong>de</strong> constituição. Nesse sentido, mobilizaremos as noções <strong>de</strong>condições <strong>de</strong> produção e, especialmente, <strong>de</strong> memória enquanto virtualida<strong>de</strong>do interdiscurso, não esboçada na materialida<strong>de</strong> imagética, tampoucoinscrita na materialida<strong>de</strong> lingüística, mas uma memória lacunar, <strong>de</strong>scontínuae fluida que imprime aos dizeres da política não só a efemerida<strong>de</strong> do ‘vento’,mas também efeitos <strong>de</strong> ‘verda<strong>de</strong>’, ao serem colocados em circulação.MEMÓRIA E PROJETOS POLÍTICOS NOS CONSELHOSGESTORES MUNICIPAIS: HISTÓRIA, TEXTO E CONTEXTOGustavo Biasoli Alves (Unioeste)Este estudo tem como recorte a Tríplice Fronteira (região Oeste do Paraná) eos projetos políticos em construção ou disputa, envolvendo as concepções <strong>de</strong>socieda<strong>de</strong> civil, papel, mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Estado, participação e cidadania nodiscurso dos Conselheiros Municipais enfocando a memória das lutas pelare<strong>de</strong>mocratização na construção atual <strong>de</strong>stes conceitos. Se tem por base o401


fato <strong>de</strong> que a região teve um passado <strong>de</strong> protagonismo da socieda<strong>de</strong> civil nofinal da década <strong>de</strong> 1970 e início da 1980, que são hoje(região/re<strong>de</strong>mocratização) marcadas por uma disputa entre os projetospolíticos <strong>de</strong>mocrático-participativo e neoliberal, ocorrendo <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong>sentido e confluências perversas entre eles no que diz respeito aos temaselencados. Há também trânsito para posições do Estado <strong>de</strong> mem<strong>br</strong>os daSocieda<strong>de</strong> Civil. O foco central <strong>de</strong> estudo é o papel que a memória daquelesque participaram do processo <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização <strong>de</strong>sempenha no embateentre projetos políticos conflitantes presentes nos processos que o país estápassando. O estudo tem por base a memória discursiva, ou seja, discursosou falas pré-existentes que po<strong>de</strong>m aparecer na fala dos conselheiros coletadain loco através <strong>de</strong> gravações das reuniões dos Conselhos ouentrevistas.Discurso é um texto que expressa relações sociais e políticas apartir <strong>de</strong> um sujeito que o emite, tentando buscar um eco do receptor comvistas a reconstruir posições sociais e discursivas, conferindo um todo à vidasocial. As perguntas e hipóteses são: Que conhecimentos estão expressos nosdiscursos so<strong>br</strong>e o passado da região e como o (re)significam? Como essesdiscursos expressam as noções <strong>de</strong> Socieda<strong>de</strong> Civil, Estado, <strong>de</strong>mocracia eparticipação? Qual o papel da memória aí? Consi<strong>de</strong>ram-se três hipótesesbásicas. Primeira: que o posicionamento dos emissores será articulado porelementos das experiências passadas. Segunda: como estes emissorestransitam entre Socieda<strong>de</strong> Civil e Estado seus discursos apresentarãoelementos cuja estará presente, como através <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamentos <strong>de</strong> sentidoentre <strong>de</strong>mocracia, papel e mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Estado, cidadania e participação. Apesquisa contribui com os estudos já realizados, diagnosticando <strong>de</strong> queforma os diversos emissores tentam fixar o sentido so<strong>br</strong>e as relações entreEstado e Socieda<strong>de</strong> Civil, ou seja, se o sentido dado por eles coaduna com oprojeto neoliberal, ou com o <strong>de</strong>mocrático-participativo, reforçando aconfluência perversa e o papel que amemória aí representa.PROJETO “BRAGUAY” E UMA PROPOSTA DE RE-SIGNIFICAÇÃO DA FRONTEIRA: DO LIMITE À INTEGRAÇÃOSara dos Santos Mota (UFSM)Este trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido a partir das reflexões realizadas no <strong>de</strong>correrdisciplina “Sujeito e Discurso Módulo I”, no programa <strong>de</strong> pós-graduação emLetras – Estudos Lingüísticos (UFSM). Adotando os pressupostos teóricosda Análise <strong>de</strong> Discurso <strong>de</strong> Linha Francesa, <strong>de</strong>senvolvemos uma análise dosefeitos <strong>de</strong> sentido produzidos por alguns enunciados presentes nas Ediçõesnº170 e nº171 da Revista digital www.<strong>de</strong>rivera.com.uy, na qual os criadoresdo empreendimento cultural intitulado “Braguay” explicitam quais osobjetivos das ativida<strong>de</strong>s que vêm sendo <strong>de</strong>senvolvidas pelo projeto na regiãofronteiriça <strong>de</strong> Livramento-Rivera. Através da análise realizada, procuramosi<strong>de</strong>ntificar alguns dos possíveis efeitos <strong>de</strong> sentido atribuídos a certosenunciados veiculados na referida revista digital, e como o discurso402


proferido por seus <strong>org</strong>anizadores preten<strong>de</strong> promover um <strong>de</strong>slocamento namaneira como a “fronteira” é entendida, resignificando-a e tentando apagarsentidos outros, ignorando a relação com diferentes discursos. Para tal,necessitamos mobilizar alguns conceitos da Análise <strong>de</strong> Discurso paracompreen<strong>de</strong>r o processo que envolve a constituição dos sentidos, tais comoMemória discursiva, Formações Imaginárias, Simbólico e Esquecimentos.SUJEITO CENTRADO E SUJEITO CINDIDO: PREFERIDO EPRETERIDO NAS METODOLOGIAS DE ENSINO DE LÍNGUASESTRANGEIRASGiovani F<strong>org</strong>iarini Aiub (PPGLet/UFRGS – CAPES)O ensino <strong>de</strong> línguas estrangeiras tem se caracterizado principalmente por umecletismo metodológico. Tal ecletismo está presente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as escolas <strong>de</strong>educação básica até as escolas <strong>de</strong> línguas. Entretanto, a heterogeneida<strong>de</strong> nomodo <strong>de</strong> ensinar não tem garantido sucesso na aprendizagem <strong>de</strong>ssas línguasoutras, pelo contrário, Revuz (1998) afirma que é <strong>de</strong>stacável a alta taxa <strong>de</strong>insucesso na aprendizagem <strong>de</strong> línguas estrangeiras. Fazendo uma <strong>br</strong>evevisita a tais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> ensino – como o behaviorista, o cognitivista, oconstrutivista, o interacionista, além <strong>de</strong> outros –, é possível perceber, através<strong>de</strong> uma análise prévia, que, embora sejam metodologias distintas, aconcepção <strong>de</strong> língua nestas abordagens permanece a mesma, isto é, umaconcepção <strong>de</strong> língua transparente, imanente, uma língua não atravessadapela historicida<strong>de</strong>, como se fosse possível uma relação termo a termo entreas “coisas” do mundo e a linguagem. Além disso, nestas abordagens, osujeito é visto como centrado, cartesiano, um sujeito que não é perpassadopelo inconsciente. Nesta perspectiva, pensando a língua, seja ela materna ouestrangeira, como i<strong>de</strong>al(izada), como um mero instrumento <strong>de</strong> comunicaçãoe o sujeito como indiviso, centrado, não há espaços para trabalhar comequívocos, com falhas no processo interpretativo, não há lugar para umsujeito constituído pela linguagem, um sujeito cindido, não há espaço parauma tomada da palavra em língua estrangeira. Nesse sentido, este trabalho,ao se filiar à teoria da Análise do Discurso <strong>de</strong> linha francesa, procura discutircomo esta concepção <strong>de</strong> língua transparente e <strong>de</strong> sujeito centrado acaba por,inevitavelmente, preterir a historicida<strong>de</strong>, que, diga-se <strong>de</strong> passagem, não éidêntica <strong>de</strong> uma língua para outra. Assim, sem essa ligação entre o sujeito, alíngua e a historicida<strong>de</strong>, não haveria a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> efeitos<strong>de</strong> sentidos, não haveria <strong>br</strong>echas para a interpretação. Dessa forma, oobjetivo <strong>de</strong>ste trabalho é, além <strong>de</strong> discutir as metodologias <strong>de</strong> ensinoapresentadas, mostrando as suas concepções <strong>de</strong> sujeito e <strong>de</strong> língua, mostrarque a tomada da palavra em língua estrangeira, que a produção <strong>de</strong> sentido setorna <strong>de</strong> fato possível quando a historicida<strong>de</strong> é levada em conta. E, para queisto ocorra, é preciso que haja uma concepção <strong>de</strong> língua e <strong>de</strong> sujeito distintada que esses métodos abarcam.403


A DISTINÇÃO ENTRE ETIMOLOGIA E SEMÂNTICA PORMARCO TERÊNCIO VARRÃOGiovanna Mazzaro Valenza (UFPR)Marco Terêncio Varrão (116-27 a.C.), o primeiro gramático latino <strong>de</strong> quetemos conhecimento, expõe, em sua o<strong>br</strong>a So<strong>br</strong>e a língua latina, a diferençaentre etimologia e semântica. Nas palavras do autor, “aquela primeira parte,em que eles buscam o motivo e <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgem as palavras, os gregoschamam <strong>de</strong> ετυμολογίαν ‘etimologia’, a outra parte, que estuda para que ovocábulo é imposto, <strong>de</strong> περί σημαινομήνων ‘semântica’” (V, 2). Nestetrabalho pretendo apresentar a tradução dos parágrafos 1-13 do livro V, emque o autor <strong>de</strong>monstra clareza so<strong>br</strong>e a diferença entre origem e uso daspalavras, uma vez que separa os estudos etimológicos dos estudos dosignificado. Também será possível estabelecer relações entre a teoria dogramático latino com autores posteriores que tratam <strong>de</strong> diacronia e sincronia,como, por exemplo, Ferdinand <strong>de</strong> Saussure (1857-1913).DISSOI LOGOI: ANÁLISE, INTERPRETAÇÃO E VALORAÇÃOPARA A HISTÓRIA DAS IDÉIAS LINGÜÍSTICAS.Joseane Prezotto (PG – Letras, UFPR)O Dissoi Logoi é um tratado anônimo transmitido em a<strong>de</strong>ndo aos escritos <strong>de</strong>Sexto Empírico. A maioria dos estudiosos consi<strong>de</strong>ra legítima a interpretaçãoda passagem 1,8: “Na guerra (e falarei primeiro so<strong>br</strong>e os fatos maisrecentes), a vitória dos lace<strong>de</strong>mônios so<strong>br</strong>e os atenienses e aliados...”, comouma alusão à guerra do Peloponeso e concluem que a data <strong>de</strong> composição doescrito <strong>de</strong>va ser situada por volta do ano 404 a.C. Corrobora esta datação ofato <strong>de</strong> todas as alusões e citações serem <strong>de</strong> autores e personagens anterioresa este ano. A questão da datação é relevante pois, consi<strong>de</strong>rando ser este operíodo <strong>de</strong> composição do tratado e atentando para os temas ali abordados eà estrutura do mesmo, conclui-se estarmos diante <strong>de</strong> um escrito oriundo domovimento sofista pré-platônico e assim, sendo ele uma via direta <strong>de</strong> acessoao pensamento sofista, uma fonte in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, po<strong>de</strong>remos contrapô-lo àvisão ten<strong>de</strong>nciosa legada por Platão e Aristóteles e com isso estarmos emcondições <strong>de</strong> julgar mais objetivamente este período. Este texto seria ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> construção refletindo uma prática sofística da qual se encontraum exemplo também nas Antilogiai <strong>de</strong> Protágoras; este mo<strong>de</strong>lo constitui-seda oposição <strong>de</strong> duas teses diferentes acerca <strong>de</strong> um mesmo tema. Platãomesmo teria empregado este mo<strong>de</strong>lo para a estrutura da refutação socrática.A finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> minha comunicação é apresentar a análise e interpretação<strong>de</strong>ste texto advindas do estudo <strong>de</strong> seu contexto gerador, trazendoinformações históricas e/ou filosóficas que permitam caracterizá-lo enquantoprodução sofística. Esta caracterização possibilita expôr sua estrutura eargumentos com vistas à compreensão das questões tratadas e <strong>de</strong> suaimportância no momento em que foram levantadas e a problemáticasuscitada por elas. Tais questões, além do interesse histórico e filosófico, são404


importantes para o entendimento do pensamento sofista acerca da linguagem.Os sofistas, ainda que não tenham sistematizado nenhum estudo acerca dalinguagem, tinham um gran<strong>de</strong> interesse pelos aspectos persuasivos econtraditórios <strong>de</strong>la e a incluíram no âmbito <strong>de</strong> suas especulações. Po<strong>de</strong>mosflagrar, em suas opiniões filosóficas e/ou políticas, o princípio <strong>de</strong> <strong>de</strong>batesacerca <strong>de</strong> maneiras <strong>de</strong> ver a linguagem, mais propriamente <strong>de</strong> maneiras <strong>de</strong>ver o mundo expressas na reflexão so<strong>br</strong>e a linguagem. Esta reflexão, talcomo a encontramos no Dissoi Logoi, é o que pretendo evi<strong>de</strong>nciar e valorar,enquanto contribuição histórica para a constituição do estudo da linguagemcomo área do conhecimento. Meu trabalho advém <strong>de</strong> uma pesquisa em<strong>de</strong>senvolvimento no programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Lingüística da UFPRque tem por objetivo <strong>de</strong>senvolver um estudo do movimento sofista com aintenção <strong>de</strong> expôr as idéias acerca da linguagem características <strong>de</strong>ste período(séc. V, IV a.C.). O Dissoi Logoi é o texto base da reflexão proposta e estásendo traduzido por mim para o português.O LUGAR E O FUNCIONAMENTO DO TÍTULO EM HILJuciele Pereira Dias (UFSM)Em nossa proposta <strong>de</strong> comunicação, a partir da perspectiva teóricometodológicada História das Idéias Lingüísticas no Brasil, temos comofinalida<strong>de</strong> refletir so<strong>br</strong>e o título como um lugar, que tem fronteirassimbólicas (espaço/tempo) constituídas por movimentos <strong>de</strong>scontínuos <strong>de</strong>constantes retomadas <strong>de</strong> leituras ao longo da história. Se pensarmos noscatálogos on-line <strong>de</strong> bibliotecas na contemporaneida<strong>de</strong>, observamos que otítulo é um lugar que possibilita o acesso a um conhecimento materializadolinguisticamente em, por exemplo, o<strong>br</strong>as <strong>de</strong> autores <strong>de</strong> anos, décadas,séculos passados. Para uma busca bibliográfica, o nome do autor, o ano dao<strong>br</strong>a, a editora, a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> publicação, entre outros, são elementosconstitutivos da e imprescindíveis para a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um trabalho. Já otítulo é um lugar singular <strong>de</strong> leitura, pois se coloca frente ao leitor como umespaço fronteiriço que o traz <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong> fora, do suporte (o<strong>br</strong>a,papel, programa <strong>de</strong> computador), para <strong>de</strong>ntro (texto/discurso) por umarelação <strong>de</strong> representativida<strong>de</strong> estabelecida com o conhecimento representadoe os elementos constitutivos (o<strong>br</strong>a, ano, editora, cida<strong>de</strong> etc.). Nesse espaçofronteiriço, entre leitor e texto da o<strong>br</strong>a, o lugar do título po<strong>de</strong> ser tomadocomo um ponto para realizarmos gestos <strong>de</strong> leituras em relação a partir <strong>de</strong> umhorizonte <strong>de</strong> retrospecção e um horizonte <strong>de</strong> projeção (Auroux, 1992a). Essemovimento temporal, conforme observaremos, imprime ao título um espaço<strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sentidos a partir da relação Língua, História e Sujeito,buscando compreen<strong>de</strong>r o lugar e o funcionamento discursivo do título emo<strong>br</strong>as que colocam em circulação um conhecimento lingüístico. Dessa forma,buscaremos <strong>de</strong>senvolver uma leitura so<strong>br</strong>e o título como um lugar <strong>de</strong>representação do conhecimento. Lugar este constituído por tomadas <strong>de</strong>posição do sujeito em relação à regulação do Estado e em relação ao lugar405


que ocupa, institucionalmente, em <strong>de</strong>terminadas condições <strong>de</strong> produção ecircunstâncias <strong>de</strong> enunciação específicas.A DESIGNAÇÃO NAS LÍNGUAS DE FRONTEIRA DA LÍNGUA DOOUTROIsaphi Alvarez (UFSM)A pesquisa <strong>de</strong>senvolvida nos Estudos Lingüísticos toma as teorias daEnunciação para refletir so<strong>br</strong>e a <strong>de</strong>signação da língua do outro, ou seja,como se dá um nome à Língua ‘do outro’ que já está nomeada. Para tantoconsi<strong>de</strong>ramos o conceito <strong>de</strong> espaço <strong>de</strong> enunciação fronteiriço, Sturza (2006),no qual os sujeitos significam as línguas que praticam. Nesse sentido,retomamos os conceitos <strong>de</strong> Enunciação por Ducrot (1988) e <strong>de</strong> Espaço <strong>de</strong>Enunciação, Guimarães (2002), como constitutivos da relação entre línguasou mais especificamente, pelos diferentes modos <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar as línguaspraticadas em um espaço <strong>de</strong> enunciação diferenciado que é constituído <strong>de</strong>línguas em contato. Este trabalho se efetiva a partir <strong>de</strong> uma revisãobibliográfica, dando ênfase ao suporte teórico adotado para este estudo. Ocorpus se constitui <strong>de</strong> recortes <strong>de</strong> enunciados orais produzidos por falantesfronteiriços. A partir disso, é interessante pensar que essa relação que seestabelece entre a língua e o falante nos remete à questão do sujeito nalinguagem, ao falante que se manifesta ao enunciar, <strong>de</strong>sse modo àsimplicações ou efeitos que produz a enunciação <strong>de</strong>sse locutor ao apropriarseda língua para fazê-la funcionar e significar. Uma hipótese é que o sujeitopraticante <strong>de</strong> Línguas <strong>de</strong> Fronteira ao falar so<strong>br</strong>e a língua ‘do outro’ amanifeste <strong>de</strong> diferentes modos, significando-a. Assim, nessa relação entrelínguas e falantes é que se configura o espaço <strong>de</strong> enunciação, que também seconstitui como um espaço “entrelínguas”. Coloca-se por isso, a escolha <strong>de</strong>uma língua <strong>de</strong> enunciar e/ou para enunciar. É esta escolha, sempre reguladapelo caráter hierarquizante das línguas, que <strong>de</strong>fine enunciação como umlugar político do sujeito. Pensando no funcionamento e significação dalinguagem, evi<strong>de</strong>nciamos também a questão do funcionamento presente, quepossui um passado <strong>de</strong> memórias instaurado pela temporalida<strong>de</strong>. Taltemporalida<strong>de</strong> permite que as línguas constituam sentidos ao se relacionaremem um mesmo espaço enunciativo. Dessa forma, por ser uma área <strong>de</strong> estudoatravés da qual se tem pensado so<strong>br</strong>e as relações entre as línguas, enten<strong>de</strong>-secomo relevante uma proposta <strong>de</strong> investigação no que diz respeito à<strong>de</strong>signação dada pelos próprios falantes às línguas portuguesa e espanhola,às línguas que se praticam (ou não), consi<strong>de</strong>rando o espaço <strong>de</strong> enunciaçãofronteiriço.A CONSTITUIÇÃO E O PAPEL DO SUJEITO NA PUBLICIDADE:CHÁ DE HORTELÃ – ROYAL BLEND.Karen Denise Cunha (PPGLETRAS – UFSM)Verli Petri (UFSM)406


O presente artigo acadêmico aborda a temática do sujeito histórico segundoa teoria Análise do Discurso <strong>de</strong> abordagem francesa. O referencial teóricobaseia-se nas atribuições dos seguintes autores: Michel Pêcheux, EnyOrlandi entre outros, eles são extremamente importantes para a compreensãoda análise do discurso como um todo e também para questões específicascomo o sujeito, consi<strong>de</strong>rado parte da análise do discurso. O corpus analisadotem-se o texto publicitário e a partir da leitura <strong>de</strong>le preten<strong>de</strong>-se realizar umaanálise relevando os seguintes aspectos: a constituição e o papel do sujeitoneste discurso. No processo <strong>de</strong> análise do sujeito objetiva-se compreen<strong>de</strong>r alinguagem verbal e não-verbal expressa na publicida<strong>de</strong>, em que o não-verbalmanifesta-se pela imagem <strong>de</strong> dois seres humanos seminus e cobertos poruma simples folha. Para interpretação essa imagem necessita-se acionar amemória discursiva, por sua vez ela resgata o já dito que se encontra naexteriorida<strong>de</strong> do discurso do texto publicitário. Mediante esse resgate po<strong>de</strong>severificar o acontecimento histórico <strong>de</strong> Adão e Eva no paraíso presente notexto bíblico, esse é o já dito que até então estava implícito. A respeito dissose apresenta algumas contribuições: “E o fato que exista o outro interno emtoda memória é, a meu ver, a marca do real histórico como remissonecessária ao outro exterior”. (ACHARD apud PECHEUX, 1999, p. 56). Oacontecimento histórico <strong>de</strong> Adão e Eva resgatado pela memória discursivacontribui para a constituição do sujeito histórico (Adão e Eva), aquele que seconstitui sujeito conforme ORLANDI: “... temos a interpelação do indivíduoem sujeito, pela i<strong>de</strong>ologia, no simbólico, constituindo a forma-sujeitohistórica” (2006, p.3); e o verbal está na metáfora presente no slogan“Chegou chá <strong>de</strong> Hortelã - Royal Blend - o mais fiel a folha”, qual osignificado existente do adjetivo fiel na relação do chá e a folha? Assimcomo Adão foi fiel a Eva (aqui como sujeitos históricos, no texto bíblico jáconhecido acionada pela memória discursiva) o chá é fiel a folha. Essarelação <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> mediante interpretação da metáfora permite inferir opapel do sujeito histórico na publicida<strong>de</strong>: expressar quanto o chá <strong>de</strong> hortelã -Royal Blend é natural, por isso é fiel a folha.DO SUJEITO ENTRE LÍNGUAS: CONJECTURAS A PROPÓSITODE UM ENTRE-LUGARMarluza Terezinha da Rosa (Laboratório Corpus-UFSM)Nesta comunicação, temos por objetivo refletir so<strong>br</strong>e movimentos naconstituição do sujeito, que produz sentidos, na relação com/entre línguas.Tratamos este modo <strong>de</strong> subjetivação, distanciando-nos da situaçãocomumente tratada como interlíngua e, com esse intuito, propomo-nos aconcebê-lo como mediado por um entre-lugar. Em outras palavras,enten<strong>de</strong>mos que a constituição <strong>de</strong>sse sujeito se configuraria permeada porum espaço <strong>de</strong> oscilação entre o pertencer e o não-pertencer às línguas, ouseja, entre a submissão e a não-submissão a esses sistemas simbólicos, pelosquais o sujeito é tomado e constituído. Nesse sentido, o entre-lugar seria<strong>de</strong>lineado, não somente, pela existência <strong>de</strong> fronteiras – ora tênues e porosas,407


ora intransponíveis – entre as línguas, mas também, pelo embate <strong>de</strong> forçasestabelecido entre estas, visto que, embora po<strong>de</strong>ndo se emaranhar naconstituição do sujeito, as línguas carregam consigo uma cultura, umahistória e uma memória, que não po<strong>de</strong>m ser esquecidas, quando postas emrelação. Além disso, compreen<strong>de</strong>r a constituição do sujeito em um entrelugar,conforme pensamos, tem suas implicações, que não se restringem àconsi<strong>de</strong>ração da incerteza, da opacida<strong>de</strong> e do tatear do sujeito pelas línguas.A noção <strong>de</strong> entre-lugar nos leva a afirmar um <strong>de</strong>scentramento <strong>de</strong>sse “serentre”,que po<strong>de</strong> ser pensado em oposição a um sujeito visto como centro doprocesso discursivo e origem do dizer. Sendo assim, buscamos tocar, comnossa reflexão, o fato <strong>de</strong>, no entre-lugar, mais do que falar as línguas, osujeito ser falado por elas. Situação contraditória que, ao mesmo tempo emque afirma a relação do sujeito com/na multiplicida<strong>de</strong> das línguas, tambémdiverge da lógica da soma, da dominação <strong>de</strong> códigos lingüísticos por essesujeito.O PROFESSOR DE PORTUGUÊS EM SITUAÇÃO DE AVALIAÇÃO:UMA ANÁLISE DISCURSIVA DO SUJEITO E SEUSMOVIMENTOSLeticia Santos (PPGLET-UFRGS)Neste trabalho propomos uma reflexão so<strong>br</strong>e a avaliação, a partir <strong>de</strong> umaanálise discursiva do professor <strong>de</strong> português enquanto sujeito. Interessa-nosolhar o modo como os professores se colocam frente a este processo, comose vêem diante <strong>de</strong>sta situação. Para analisar esta questão, utilizamos omaterial produzido durante a avaliação <strong>de</strong> redações do Exame Supletivo daSEC-RS, ocorrida no ano <strong>de</strong> 2003, em que foi solicitado, pela equipe <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nação, que os professores envolvidos escrevessem um texto <strong>de</strong>‘avaliação do processo <strong>de</strong> avaliação’, partindo <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista bempessoal – a partir das experiências vividas por eles –, numa proposta quelem<strong>br</strong>ava à equipe <strong>de</strong> avaliadores o que eles queriam encontrar nos textosproduzidos pelos alunos naquele exame. É a partir dos textos escritos porestes professores, que propomos lançar nosso olhar so<strong>br</strong>e este discurso,procurando mostrar como o sujeito-professor se constitui, que saberes esentidos estão em movimento nesta situação, como se dá a relação <strong>de</strong>ssesujeito com a língua e com o imaginário construído historicamente so<strong>br</strong>e o“lugar professor”, e que efeitos <strong>de</strong> sentido este imaginário produz. Cabesalientar que este trabalho se inscreve nos estudos da Análise do Discurso <strong>de</strong>linha francesa, a saber, aquela iniciada por Michel Pêcheux.O LIVRO DIDÁTICO NO PROCESSO DE CONSTITUIÇÃO DOENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESAGraziela Lucci <strong>de</strong> Ângelo (UFSM)Vários são os postos <strong>de</strong> observação a partir dos quais é possível investigar oprocesso <strong>de</strong> constituição do ensino da disciplina língua portuguesa no Brasil.408


Interessada em investigar esse processo, selecionei para o exercício dapesquisa um dos postos, a saber, aquele ocupado pelo livro didático <strong>de</strong>português, tomado não como objeto material a ser <strong>de</strong>scrito ou analisado emsuas transformações e permanências, ao longo do tempo, sob aspectosvariados a ele relacionados, mas como objeto em torno do qual posições são<strong>de</strong>fendidas e tomadas, e que se traduzem na aceitação ou recusa <strong>de</strong>ssematerial como recurso didático. Para conhecer como esse processo <strong>de</strong>constituição do ensino se dá pelas posições assumidas em relação ao livrodidático, serão analisados trechos <strong>de</strong> entrevistas com algumas professoras <strong>de</strong>língua portuguesa, hoje aposentadas, e que trabalharam no ensinofundamental da escola pública paulista por toda sua carreira docente.Preten<strong>de</strong>-se a partir <strong>de</strong>ssa análise conhecer possíveis discursos quecircularam so<strong>br</strong>e o livro didático na esfera docente ao longo da segundameta<strong>de</strong> do século XX e verificar em que medida essas posições seaproximam ou se distanciam do discurso dos lingüistas so<strong>br</strong>e o livro didático,produzido na esfera acadêmica a partir dos anos 1970, discurso esse que teveum papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque no processo <strong>de</strong> reformulação do ensino <strong>de</strong> línguamaterna no país. A análise a ser realizada é fundada na perspectiva sóciohistóricabakhtiniana, que toma a linguagem como um fenômeno sempreestratificado, fundamentalmente saturado pelos índices sociais <strong>de</strong> valor. Paraa elaboração do trabalho, conceitos como dialogia e heteroglossiadialogizada serão mobilizados <strong>de</strong>ssa vertente teórica.A IMAGEM DE UM PRESIDENTE DA REPÚBLICASOBREDETERMINADO PELA HISTÓRIAVanessa Diânifer Lopes Paula (PPGL-LETRAS UFSM)Este trabalho tem como objetivo principal, compreen<strong>de</strong>r o funcionamento dodiscurso articulado pela escrita/imagem, na produção <strong>de</strong> um “discursocomplexo”, bem como é pensado por Tânia Zen em sua tese, e procurandoobservar o processo histórico-discursivo <strong>de</strong>stas duas materialida<strong>de</strong>s, querevelam sentidos e que mobilizam diferentes Formações Discursivas (FDs).Preten<strong>de</strong>-se com isso, pensar <strong>de</strong> que maneira a História so<strong>br</strong>e<strong>de</strong>termina aimagem <strong>de</strong> um presi<strong>de</strong>nte da República, mesmo que se trate, como no caso,<strong>de</strong> sujeitos diferentes (Lula e Collor), sob condições <strong>de</strong> produção emomentos históricos diferentes. Significa, portanto, que o discurso refleteuma visão <strong>de</strong> mundo <strong>de</strong>terminada e que, necessariamente, está vinculada a<strong>de</strong> seu(s) autor(es) e à socieda<strong>de</strong> em que vive(m). O trabalho que proponho éa análise <strong>de</strong> duas fotografias, relativas à política, que estabelecem umaaproximação do Governo Lula (2005) com o Governo <strong>de</strong> Collor (1992).Ambas fotografias foram veiculadas numa matéria da Revista Veja-seçãoBrasil-Edição 1917, do dia 10 <strong>de</strong> Agosto <strong>de</strong> 2005. Para tanto, as reflexõesserão sustentadas pela Análise <strong>de</strong> Discurso <strong>de</strong> linha francesa. As relações aserem analisadas vão ao encontro dos estudos que hoje estão sendo feito, naperspectiva da Análise do Discurso, pela pós-graduação em Letras, no Brasil,a respeito do discurso, da imagem e das formas que a linguagem assume no409


discurso político. Dessa forma, <strong>de</strong>seja-se estudar essa temática paracontribuir com os estudos e a prática da AD uma vez pensada por MichelPêcheux e <strong>de</strong>fendida aqui no Brasil, fundamentalmente, por Eni PulcinelliOrlandi. Com as mudanças na atualida<strong>de</strong>, mudam-se os objetos e a mídiaimpressa apresenta-se como uma fonte rica para a discussão da Análise <strong>de</strong>Discurso, porém pouco explorada ainda, pois nos fornece diversasmaterialida<strong>de</strong>s e as distribui <strong>de</strong> formas diferentes, o que lhes conferesentidos outros.HESITAÇÃO E SUBJETIVIDADEJulyana Chaves Nascimento (IBILCE/UNESP, São José do Rio Preto)Neste trabalho apresentaremos algumas reflexões acerca <strong>de</strong> relações entrehesitação e autoria.A hesitação será tomada como um fenômeno cujasmarcas se constituem em pontos <strong>de</strong> negociação do sujeito com os outros dodiscurso. A autoria será entendida como a manipulação das significaçõesempreendidas pelo autor, posição sujeito, que, ao retroagir so<strong>br</strong>e o processo<strong>de</strong> produção dos sentidos, procura ‘amarrar’ a dispersão que está semprevirtualmente se instalando, conferindo à materialida<strong>de</strong> do discurso umaunida<strong>de</strong> aparente. Sendo o autor um lugar afetado pelo inconsciente e pelo<strong>de</strong>sejo, hipotetizamos que as hesitações se constituiriam em pontos em que osujeito assumiria uma posição, ou seja, buscaria sustentar o efeito <strong>de</strong>homogeneida<strong>de</strong> do dizer e, para tanto, remeteria à sua história (discursiva).Visando sustentar essa relação entre hesitação e autoria, selecionamos quatrofragmentos <strong>de</strong> duas sessões <strong>de</strong> conversação: uma entre JN (documentador efonoaudiólogo) e NL (portador da doença <strong>de</strong> Parkinson) – ambos seconheceram por ocasião <strong>de</strong> reuniões <strong>de</strong> orientação so<strong>br</strong>e a doença <strong>de</strong>Parkinson – e outra entre JN e AP (portadora da doença <strong>de</strong> Parkinson) –sendo AP tia-avó <strong>de</strong> JN, embora ambas não tivessem contato estreito antesdo início das entrevistas. Sendo a conversação um processo <strong>de</strong> co-autoria,supusemos que NL e AP assumiriam esse processo <strong>de</strong> autoria, e que cadaum po<strong>de</strong>ria assumir diferentes posições autor que necessariamenteremeteriam à sua relação com JN – aspecto que preten<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>stacar emnossa análise. Verificamos que as hesitações marcavam a posição <strong>de</strong> NLcomo parkinsoniano e a posição <strong>de</strong> AP como mãe e esposa. Deste modo, asmarcas <strong>de</strong> hesitação indiciaram momentos em que os sujeitos, autores,relançavam o processo <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização do texto para uma dimensão dosignificado-significante que remetia “à história <strong>de</strong> vida e à memóriadiscursiva <strong>de</strong> cada um”. Esse redirecionamento se <strong>de</strong>u, nos dados <strong>de</strong>conversação entre JN e NL, com NL tematizando so<strong>br</strong>e suas limitaçõescomo portador da doença <strong>de</strong> Parkinson e JN, <strong>de</strong> um lugar outro, realizandoum discurso <strong>de</strong> “promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”. Nos dados <strong>de</strong> conversação entre JN eAP, o redirecionamento ocorreu com AP tematizando so<strong>br</strong>e sua família e secolocando num papel <strong>de</strong> “receptivida<strong>de</strong>” às sugestões <strong>de</strong> JN, e JN, <strong>de</strong> umlugar próximo, realizando um discurso <strong>de</strong> familiar com um “eco” <strong>de</strong>“promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>”.Destacamos, <strong>de</strong>sta análise, a emergência da410


subjetivida<strong>de</strong> marcada pelas hesitações, pontos em que NL, AP e JNremetem, na negociação discursiva, à sua história <strong>de</strong> vida.A LÍNGUA: O “DIFERENTE” NO INTERIOR DO MESMONA GRAMÁTICAMarcia Ione Surdi (UFSM, UNOCHAPECÓ)A idéia <strong>de</strong> que a língua não se constitui como um objeto homogêneo e simcomo um conjunto em que tem lugar adiversida<strong>de</strong>/varieda<strong>de</strong>/heterogeneida<strong>de</strong>, não causa maior estranhamentoàqueles que tomam a língua e suas materialida<strong>de</strong>s como objeto <strong>de</strong> estudo eanálise. Para a elaboração <strong>de</strong>ste trabalho, partimos da possibilida<strong>de</strong> do“diferente” fazer parte do mesmo, da heterogeneida<strong>de</strong> ser constitutivadaquilo que aparentemente é da or<strong>de</strong>m do homogêneo: as gramáticasnormativas. Tomamos por base teórica a Análise <strong>de</strong> Discurso, <strong>de</strong>stacando asnoções <strong>de</strong> gramatização e gramática, segundo Auroux (1992) e Orlandi(2007), respectivamente; a noção <strong>de</strong> <strong>de</strong>signação, conforme Guimarães(1995/2005), bem como as noções <strong>de</strong> normal e anormal, a partir <strong>de</strong>Canguilhem (2002). Partimos da noção <strong>de</strong> que gramáticas, conforme Orlandi(2007), são objetos históricos, são instrumentos lingüísticos e constituem umlugar <strong>de</strong> construção e representação da unida<strong>de</strong> e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>(Língua/Nação/Estado), através do conhecimento, em uma tentativa <strong>de</strong>salvaguardar a língua. Esse movimento <strong>de</strong> salvaguardar a língua está ligadoao processo <strong>de</strong> gramatização, ou seja, sistematizar para transmitir o saberlingüístico. Isso implica em distinguir quem sabe e quem não sabe a línguacorretamente. O saber gramatical indica a escolarida<strong>de</strong> do sujeito e lhe dá oestatuto <strong>de</strong> falar corretamente porque domina as regras da língua através dasua <strong>de</strong>scrição. Quanto à gramatização, Auroux a <strong>de</strong>fine (1992, p. 65) como“o processo que conduz a <strong>de</strong>screver e a instrumentar uma língua na base <strong>de</strong>duas tecnologias, que são ainda hoje os pilares <strong>de</strong> nosso saber lingüístico: agramática e o dicionário.” Caracterizamos o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>acordo com Guimarães (1995, p. 74), o qual afirma que “a relação <strong>de</strong><strong>de</strong>signação é uma relação instável entre a linguagem e o objeto, pois ocruzamento <strong>de</strong> discursos não é estável, é ao contrário, exposta à diferença”.Quando se <strong>de</strong>signa, um sentido é instaurado e, como conseqüência, apagamseoutros possíveis sentidos. Para constituir nosso corpus <strong>de</strong> análise,tomamos como materialida<strong>de</strong> lingüística o texto que compõe a Introduçãoda 31ª edição da Gramática Normativa da Língua Portuguesa, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong>Rocha Lima. Foram selecionadas seqüências discursivas que apresentamtermos e <strong>de</strong>finições que remetem aos sentidos <strong>de</strong> norma e “diferente”. Emrelação à noção <strong>de</strong> norma, <strong>de</strong>stacamos: a unificação, força coercitiva,disciplinante, conservadora. Para a noção <strong>de</strong> diversida<strong>de</strong> e heterogeneida<strong>de</strong>,“diferente”, <strong>de</strong>stacamos: a diferenciação, força natural, espontânea<strong>de</strong>sagregadora. Os primeiros resultados indicam que, mesmo a gramáticasendo normativa, há espaços em que o “diferente” emerge, escapa docontrole prescritivo.411


AS PRÁTICAS DISCURSIVAS EM EMPREENDIMENTOSAUTOGESTIONÁRIOS CONSTITUÍDOS A PARTIR DE MASSAFALIDA: UM ESTUDO NA PERSPECTIVA DA ANÁLISE DODISCURSODarlene Arlete Webler (UFRGS)Nossa abordagem enfoca as práticas discursivas <strong>de</strong> trabalhadores-associadosem empreendimentos <strong>de</strong> produção industrial autogestionária – que seinstauraram a partir <strong>de</strong> empresas <strong>de</strong> gestão capitalistas falidas (massa falida)– para tecer uma reflexão so<strong>br</strong>e os sentidos que são produzidos na vivênciada cooperação, articuladamente a um movimento <strong>de</strong> práticas sociais epolíticas confluentes, contraditórias e até antagônicas. A opção teórica doestudo está alicerçada na perspectiva da Análise do Discurso, <strong>de</strong> linhafrancesa, a partir <strong>de</strong> Michel Pêcheux, caracterizando-se pelo enfoque nosprocessos <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentido e <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>terminações histórico-sociais,em uma compreensão <strong>de</strong> que a i<strong>de</strong>ologia é constitutiva <strong>de</strong>sses processos e<strong>de</strong>terminante dos discursos, dos sujeitos e dos sentidos. Destacamos aarticulação <strong>de</strong> noções como a Contradição (categoria marxista-leninista),Condições <strong>de</strong> Produção (CP), Formação I<strong>de</strong>ológica (FId) e FormaçãoDiscursiva (FD), fundamental para a análise das práticas sociais ediscursivas <strong>de</strong> trabalhadores da autogestão. Tais práticas <strong>de</strong>snudam umfascinante novo jeito e, ao mesmo tempo, possível <strong>de</strong> ser encontrado aolongo da história, <strong>de</strong> <strong>org</strong>anização coletiva <strong>de</strong> trabalhadores em uma dinâmicaadversa à das empresas tradicionais capitalistas. Consi<strong>de</strong>rando que essesempreendimentos <strong>de</strong> autogestão provêm <strong>de</strong> empresas capitalistasfalimentares – cujos processos produtivos e relações <strong>de</strong> produção sãoindividualistas e competitivos – e que foram assumidas coletivamente pelostrabalhadores, observamos como e em que medida as formas <strong>de</strong> exploraçãocapitalista são “<strong>de</strong>sarranjadas” e “re-arranjadas” para ter, no cooperativismoautogestionário, uma dinâmica <strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong>mocrático etransparente no gerenciamento <strong>de</strong> tarefas e <strong>de</strong>cisões, bem como <strong>de</strong> critérios<strong>de</strong> distribuição dos resultados econômicos. Isso nos permite dizer que aautogestão não remete apenas a espaços <strong>de</strong>mocráticos <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão, mas àapropriação do próprio processo e estratégias produtivas e <strong>de</strong>comercialização por parte dos trabalhadores. A materialida<strong>de</strong> discursiva, queutilizamos para fins <strong>de</strong> análise, toma discursos <strong>de</strong> trabalhadores-associadosem empresas <strong>de</strong> autogestão, <strong>de</strong> representantes sindicais <strong>de</strong> trabalhadores e <strong>de</strong>representantes políticos, obtidos através <strong>de</strong> entrevistas e <strong>de</strong> materiais <strong>de</strong>formação e informação.UMA ABORDAGEM DISCURSIVA DO PREFÁCIO DO LIVRODIDÁTICO PORTUGUÊS: A CONSTITUIÇÃO DE UM SUJEITO-AUTORJoceli Cargnelutti (UFSM)412


A instituição escolar, há muito tempo, tem sido objeto <strong>de</strong> estudonas mais diversas áreas e sob diferentes perspectivas. Pesquisas recentesso<strong>br</strong>e tal instituição têm levado em conta as práticas discursivas dos sujeitosque <strong>de</strong>la fazem parte. Ao levar em conta os caminhos possíveis para estudara instituição escolar, constituímos como objeto <strong>de</strong> estudo o discurso <strong>de</strong> umlivro didático, tomado como um importante instrumento lingüístico utilizadona instituição escolar. Selecionamos o livro didático Português, <strong>de</strong>Domingos Paschoal Cegalla, publicado na década <strong>de</strong> 1960 do século XX, noBrasil. A partir <strong>de</strong>ssa materialida<strong>de</strong> discursiva, livro didático, elegemos oelemento prefácio como representativo do discurso para a análise. Oprefácio é o caminho <strong>de</strong> entrada da o<strong>br</strong>a, po<strong>de</strong>ndo funcionar como umengran<strong>de</strong>cimento para o que está sendo exposto ou, sendo apenas, umdiscurso com o objetivo <strong>de</strong> ven<strong>de</strong>r o produto. Nesse objeto <strong>de</strong> estudolimitamo-nos a abordar o funcionamento do discurso do sujeito enquantoautor do livro didático e a posição i<strong>de</strong>ológica assumida em relação a umdiscurso oficial do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, <strong>de</strong>nominado Instruçõesdo Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação, que é apresentado no início do livro. Paratanto, mobilizamos noções <strong>de</strong> discurso e sujeito, <strong>de</strong> gesto <strong>de</strong> leitura e gesto<strong>de</strong> interpretação da Análise do Discurso <strong>de</strong> linha francesa, trazendo autorescomo Pêcheux (1990, 1995) e Orlandi (1996, 1997, 1999). No gestointerpretativo do corpus em questão, percebemos o processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaçãodo sujeito-autor com o discurso oficial do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação.No interior da Formação Discursiva em que os dois discursos se inscrevemsão estabelecidas relações <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos sujeitos, ou seja, o sujeitoautorprocura tornar claro o que o documento oficial prescreve. Esse sujeitoautorocupa um lugar <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> nesse espaço discursivo por se constituircomo alguém que possui uma trajetória junto à instituição escolar. Nomomento em que esse mesmo sujeito se autoriza a parafrasear o que umdocumento oficial propõe, já está revestido por uma autorida<strong>de</strong> constitutiva.Tais reflexões nos permitiram consi<strong>de</strong>rar que este espaço, no prefácio, tornaseum lugar do dizer, povoado por diferentes tomadas <strong>de</strong> posição que serelacionam e que provocam diferentes gestos <strong>de</strong> interpretação. Este é apenasum gesto <strong>de</strong> interpretação, pois vários outros são possíveis, porque o espaçoda interpretação é marcado pela incompletu<strong>de</strong>.POSIÇÃO-SUJEITO: DISPERSÃO E UNIDADEScheila Patrícia <strong>de</strong> Borba Curry (UFSM)O sujeito, na Análise <strong>de</strong> Discurso Francesa, se constitui pelaheterogeneida<strong>de</strong> discursiva, pela interpelação i<strong>de</strong>ológica que o movimentada categoria <strong>de</strong> indivíduo para a posição <strong>de</strong> sujeito do dizer e do discurso.Nesse sentido, estamos investigando como se constrói, se institui efunciona a posição-sujeito falante da língua e seu “<strong>de</strong>slizamento” para aposição-sujeito gramático. A posição-sujeito falante, ao movimentar dizeresdispersores <strong>de</strong> sentido, é silenciado pela unida<strong>de</strong> trazida com a exatidão danorma. Para tal estudo, <strong>de</strong>limitamos como corpus <strong>de</strong> análise a Apresentação413


da Gramática Normativa da Língua Portuguesa, <strong>de</strong> Carlos Henrique <strong>de</strong>Rocha Lima, publicada em 1991. Em nosso recorte, olharemos a seção <strong>de</strong>Apresentação, que abarca as posições assumidas pelo sujeito produtor doconhecimento gramatical. A partir da relação da posição-sujeito com amaterialida<strong>de</strong> lingüística que (o) fundamenta, acontece sua relação com alíngua, com a história, com o simbólico, o que norteia as relações <strong>de</strong>significação, filiando o sujeito a ‘este’ e não ‘aquele’ sentido (Orlandi, 2003).A partir disso, buscaremos compreen<strong>de</strong>r como se constrói discursivamenteesse espaço que “<strong>de</strong>sliza” <strong>de</strong> uma posição para outra, entendido comointervalar. Como aporte teórico, nos embasaremos em Pêcheux (1995) eOrlandi (2003), os quais tratam das relações entre sujeito, língua e história.Palavras-chave: gramática, análise <strong>de</strong> discurso, posição-sujeitoO DISCURSO DA OBJETIVIDADE E AS CONDIÇÕES DEPRODUÇÃO DA MÍDIA QUE FALA DE SICaciane Souza <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros (UFSM/PPGL)Nesta comunicação, e <strong>de</strong>ntro do grupo <strong>de</strong> trabalho no qual estamosenvolvidos, tratamos <strong>de</strong> focar nosso olhar para a questão que nos move: a dopapel <strong>de</strong> bem informar que a imprensa <strong>br</strong>asileira toma para si, no <strong>de</strong>senrolar<strong>de</strong> sua história, e sua relação com as normas lingüísticas da objetivida<strong>de</strong>jornalística que permeia os acessos midiáticos <strong>de</strong> formação profissional, asredações, a produção jornalística noticiosa e, no exemplo que traremos àreflexão, a autopromoção que a imprensa faz <strong>de</strong> si no espaço publicitário. Apartir dos pressupostos teóricos <strong>de</strong> Michel Pêcheux, <strong>de</strong>vemos consi<strong>de</strong>rar asmarcas das condições <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>sse discurso, acerca da história daimprensa no Brasil, pensando que os vestígios históricos <strong>de</strong> constituição eprodução sucessiva <strong>de</strong> informação na mídia, são <strong>de</strong>terminantes para aconstrução, disseminação (circulação) e manutenção do discurso que sesustenta no papel da imprensa como um regulador social <strong>de</strong> saberes.Estamos ancorados em um campo teórico que trabalha com a língua ligada,necessariamente, à produção <strong>de</strong> sentidos e à história, dos sujeitos e do dizer.Estas condições são, portanto, condição (aportando uma redundânciavoluntária) para pensar a língua em relação à exteriorida<strong>de</strong> e trilhar em umabusca que concebe o discurso em abertura com o simbólico, constituído emuma re<strong>de</strong> formada por um processo cultural, histórico e político <strong>de</strong> produção<strong>de</strong> informação na mídia.A IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA: UMAHISTÓRIA CONSTRUÍDA POR CONFLITOSMaria Cristina Keller Frutuoso (Unesc/Grupo I<strong>de</strong>ntitare)Este trabalho é um recorte <strong>de</strong> uma pesquisa que <strong>de</strong>screveu e interpretou odiscurso <strong>de</strong> dois grupos <strong>de</strong> acadêmicos <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> doExtremo Sul Catarinense-Unesc so<strong>br</strong>e suas percepções relacionadas com oprocesso ensino/aprendizagem da Língua Inglesa como uma língua414


estrangeira. O estudo tentou investigar quais são suas crenças, a origem<strong>de</strong>ssas crenças e como esse sistema <strong>de</strong> crenças atua no seu entendimento <strong>de</strong>aprendiz e futuro professor (BARCELOS 2004, 2003, 2001, JOHNSON1999 e 1994, GIMENEZ 1994, PAJARES 1992). Os dados foram coletadospor relatos escritos <strong>de</strong> histórias pessoais e sociais dos acadêmicos, suaspercepções so<strong>br</strong>e o discurso em panfletos <strong>de</strong> três escolas particulares <strong>de</strong>inglês da cida<strong>de</strong>, e <strong>de</strong> uma entrevista com questionamentos so<strong>br</strong>e suasexperiências so<strong>br</strong>e ser um aprendiz <strong>de</strong> inglês. A análise revela que as crençassão formadas principalmente por histórias vividas e pela prática <strong>de</strong> seusantigos professores <strong>de</strong> língua inglesa, fato que corrobora resultados <strong>de</strong>pesquisas prévias. Os discursos foram consi<strong>de</strong>rados espaços <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>e mostraram que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do futuro professor <strong>de</strong> língua inglesa épermeada muito mais por concepções anteriores aos seus estudosacadêmicos. Dessa forma, os resultados indicam que, os discursos dosacadêmicos são complexos e contraditórios e seus posicionamentos comoaprendizes não permitem espaços <strong>de</strong> reflexão so<strong>br</strong>e suas crenças nem umconfronto com suas maiores dificulda<strong>de</strong>s relacionadas aoensino/aprendizagem <strong>de</strong> inglês <strong>de</strong>ntro do curso <strong>de</strong> Letras.RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO IAnálise da ConversaçãoOS SIGNIFICADOS INTERPESSOAIS NAS HISTÓRIAS EMQUADRINHOSValéria Fontoura Nunes (UNIFRA)Valeria Iensen Bortoluzzi (UNIFRA)Halliday (1985) propõe na Gramática Sistêmico-Funcional que a linguagemseja vista como um sistema sócio-semiótico, ou seja, que seja concebidacomo um sistema <strong>de</strong> significação que me<strong>de</strong>ia as ativida<strong>de</strong>s da esfera humana.Nesse sentido, Halliday sugere três metafunções: i<strong>de</strong>acional, interpessoal etextual. Na pesquisa realizada, o enfoque recai so<strong>br</strong>e a metafunçãointerpessoal e o principal objetivo traçado foi analisar como a modalida<strong>de</strong>ajuda a i<strong>de</strong>ntificar as relações interpessoais nas histórias em quadrinhos daTurma da Mônica. Os objetivos específicos eram verificar quais ospersonagens que mais realizam e sofrem as ações do discurso nosquadrinhos; investigar a modalida<strong>de</strong> nas historinhas a partir da linguagem;pesquisar como a modalida<strong>de</strong> está inserida nas relações sociais e elaborarativida<strong>de</strong>s com histórias em quadrinhos para o Ensino Fundamental e, <strong>de</strong>ssemodo, trabalhar a leitura crítica dos alunos em relação à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadapersonagem. Os resultados obtidos <strong>de</strong>monstram, por meio da modalida<strong>de</strong>,que os principais personagens da Turma da Mônica se relacionam comgran<strong>de</strong> afinida<strong>de</strong> e amiza<strong>de</strong>. Além disso, os recursos <strong>de</strong> modalida<strong>de</strong>415


empregados nos quadrinhos mostram a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estratégias dospersonagens para marcar suas intenções.A CONSTITUIÇÃO DO GÊNERO DISCURSIVO PREGAÇÃO NOÂMBITO DO DISCURSO EVANGÉLICOAntônio Paulo Mércio <strong>de</strong> Oliveira (UFG)A presente comunicação se propõe a <strong>de</strong>screver o gênero discursivo“pregação” no âmbito do discurso evangélico, bem como seu impacto social,focalizando, entre outras, suas formações discursivas (Foucault, 2007). Por“pregação” entenda-se o momento em que o pastor ou o preletor convidadorecebem a oportunida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro do culto evangélico, para expor e explicar aBíblia, livro autoritativo na esfera religiosa evangélica. Pregar é interpretar avida hoje, à luz das Escrituras Sagradas, <strong>de</strong> modo que as necessida<strong>de</strong>s doouvinte sejam satisfeitas e que o mesmo seja orientado na realização davonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> Deus amanhã (Elwell, 1998). A abordagem teórica propostaserve-se <strong>de</strong> postulados da Análise do Discurso Crítica, so<strong>br</strong>etudo como osencontramos nos trabalhos <strong>de</strong> Norman Fairclough (1999; 2001; 2003), queconcebem a linguagem como forma <strong>de</strong> prática social; e serve-se também dosconceitos tanto <strong>de</strong> gêneros do discurso como <strong>de</strong> dialogia (Bakhtin 2000;2006); e se baseia ainda nos trabalhos <strong>de</strong> Bourdieu (2002; 2004).IDENTIDADES DISCURSIVAS QUE O RECLAMANTE(CONSUMIDOR) ASSUME EM AUDIÊNCIAS DE CONCILIAÇÃOREALIZADAS NO PROCONThenner Freitas da Cunha (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> fora)Carolina Peixoto Barros (Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> fora)O presente trabalho tem como objetivo analisar as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s discursivas doreclamante, Lucas, a partir da leitura do texto <strong>de</strong> Zimmerman I<strong>de</strong>ntity,context and Interaction. Zimmerman trata a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> como um elementodo contexto da fala-em-interação e discute diferentes tipos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s, asaber: i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s discursivas, i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s situadas e i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>stransportáveis. Em nossa análise, focalizaremos as diversas i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>sdiscursivas que o reclamante assume enquanto se engaja no momento-amomentoda interação, através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s seqüencialmente <strong>org</strong>anizadas.De acordo com Zimmerman, ao iniciar uma ação, uma das partes dainteração assume uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> específica e projeta uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>recíproca para a outra parte. Assim, cada interagente po<strong>de</strong> assumir diferentesi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s no curso da interação, orientando os participantes para o tipo <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> implícita e para os seus respectivos papéis <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>la. Asi<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s discursivas, ainda <strong>de</strong> acordo com o autor, fornecem o foco parao tipo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> discursiva projetada e reconhecida pelos participantes.O corpus analisado correspon<strong>de</strong> a uma audiência <strong>de</strong> conciliação realizada noPROCON <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais. Os dados foram gravados emáudio e transcritos <strong>de</strong> acordo com a simbologia da Análise da Conversa416


Etnometodológica. Participam da acareação o reclamante (consumidor,Lucas), o reclamado (Rui) e duas mediadoras (Ana, mediadora 1 e Bruna,mediadora 2).O problema que originou a audiência foi a insatisfação do consumidor Lucas(reclamante) com os serviços prestados pela instituição financeira “BancoSul”. O consumidor alega que foi o<strong>br</strong>igado a adquirir um seguro contra a suavonta<strong>de</strong>, ao fazer um pedido <strong>de</strong> empréstimo no Banco.Análise do DiscursoA REGULAÇÃO DOS DISCURSOS SOBRE LETRAMENTO NOORKUTPatrícia Camini (UFRGS)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é examinar um recorte das produções discursivasso<strong>br</strong>e letramento no espaço virtual do Orkut. Ele se inscreve no âmbito dasdiscussões que procuram estabelecer relações entre po<strong>de</strong>r e produção <strong>de</strong>significados para as práticas docentes na alfabetização. À luz dos estudos <strong>de</strong>Michel Foucault so<strong>br</strong>e a análise do discurso, são analisadas algumasregularida<strong>de</strong>s discursivas presentes nos comentários dos professores, em quecentralmente se opera, para esse fim, com os conceitos <strong>de</strong> discurso,enunciado, comentário, saber e po<strong>de</strong>r. Mais especificamente, os enunciadosque interessam ao presente trabalho são os que se relacionam ao letramento,<strong>de</strong> forma que preten<strong>de</strong>-se analisar as condições <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>emergência dos discursos so<strong>br</strong>e letramento no Orkut e as estratégias que osfazem funcionar. Para tal fim, o trabalho está <strong>org</strong>anizado em quatro partes.Na primeira, situa-se a pertinência do estudo, seus objetivos e filiaçãoteórica. Na segunda, <strong>de</strong>stacam-se alguns aspectos em tópicos do Orkut quese dispunham a discutir so<strong>br</strong>e letramento, expondo as estratégias discursivascolocadas em funcionamento pelos professores, mem<strong>br</strong>os do site, que tentamregular o que é verda<strong>de</strong>iro ou não so<strong>br</strong>e o assunto em foco. É mostrado,ainda, que o discurso do letramento é bastante circulante entre os professores,e analisam-se os discursos que preten<strong>de</strong>m ampliar o sentido <strong>de</strong> letramentopara outras práticas, que não apenas as que envolvem a leitura e a escrita. Naterceira parte do trabalho, são abordados os sentidos atribuídos pelosprofessores às relações entre alfabetização e letramento. Por último, otrabalho é finalizado com algumas reflexões acerca da regulação daprodução discursiva no Orkut so<strong>br</strong>e letramento. Nesse empreendimento, apesquisa <strong>de</strong>stacou que há uma competição entre dois discursos por regular asrelações entre letramento e alfabetização e dizer “a verda<strong>de</strong>” so<strong>br</strong>e oletramento. Além disso, há dois entendimentos acerca da relação entre asações <strong>de</strong> alfabetizar e letrar: o primeiro postula que se po<strong>de</strong> ser letrado semser alfabetizado, ao passo que o segundo localiza o letramento como umacondição <strong>de</strong>corrente da alfabetização. Ficou visível, também, o discurso <strong>de</strong>417


que alfabetização e letramento são processos <strong>de</strong> naturezas diferentes, masque se complementam.O ABORTO NA FOLHA UNIVERSAL: CAMINHOS E EFEITOS DEUM DISCURSO RELIGIOSOBruno <strong>de</strong> Matos Reis (UFF)O discurso religioso cristão, confundindo-se e aliando-se a outros, tem hámuito tempo permeado diferentes áreas da cultura oci<strong>de</strong>ntal. Consi<strong>de</strong>randoesse fato, meu objetivo é verificar os caminhos <strong>de</strong> produção e os efeitos <strong>de</strong>sentido produzidos por cinco reportagens retiradas das edições <strong>de</strong> número838 e 783 <strong>de</strong> um conhecido periódico <strong>de</strong> cunho religioso, a Folha Universal.Para isso, sirvo-me do aparato teórico da Análise do Discurso <strong>de</strong> linhafrancesa, segundo Pêcheux (AD), e faço a análise <strong>de</strong> um corpus que temcomo tema a questão do aborto no Brasil. Num exame que leva em contaaspectos i<strong>de</strong>ológicos, observo no material analisado a predominância <strong>de</strong> umdiscurso que questiona a criminalização do aborto através da produção <strong>de</strong>efeito <strong>de</strong> evidência, corroborado por um sujeito que aparenta abandonarquestões morais ou religiosas e incluir-se numa formação discursiva em quea imagem da criminalização do aborto dá-se tão-somente por seus aspectossócio-políticos. Esse aparente afastamento ocorre, porém, sem que sepercam – no material analisado – fortes marcas do discurso religioso. Nessesentido, verifico que o discurso presente em meu corpus <strong>de</strong> análise encontraforça principalmente no distanciamento <strong>de</strong> uma formação discursiva que –quando não combinada e apoiada na ilusória imparcialida<strong>de</strong> da crítica laica –tem pouca abertura na socieda<strong>de</strong>. Assim, levando em conta a a<strong>br</strong>angência eo reconhecimento do periódico em território nacional, consi<strong>de</strong>ro que odiscurso religioso no material <strong>de</strong> análise, mesclado e permeado por outrossentidos, acaba por ver potencializado o seu po<strong>de</strong>r catequizador, uma vezque se afeiçoa a diferentes i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s i<strong>de</strong>ológicas.“MAS É IMPORTANTE QUANDO PRECISO FAZERRELATÓRIOS”: UMA DISCUSSÃO ACERCA DO ATO DEESCREVER NOS CURSOS DE LICENCIATURACamila Thaisa Alves (FURB)Esta investigação pertence à linha <strong>de</strong> pesquisa Discurso e PráticasEducativas do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação/Mestrado em Educação daUniversida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau (FURB). Realizada nos cursos <strong>de</strong>licenciatura <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong> Santa Catarina, Brasil,esta pesquisa é motivada pela falta do ato <strong>de</strong> escrever nessa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>graduação. Essa falta é apontada por pesquisas realizadas anteriormente.Nesse sentido, intenciona-se: (a) compreen<strong>de</strong>r os sentidos <strong>de</strong> escrever naaca<strong>de</strong>mia, especificamente no espaço das licenciaturas; (b) evocar ossentidos <strong>de</strong> escrever no espaço da universida<strong>de</strong>; e (c) contribuir para areflexão so<strong>br</strong>e o ato <strong>de</strong> escrever nas licenciaturas. A pesquisa está ligada ao418


paradigma qualitativo <strong>de</strong> investigação e tem como sujeitos quatroacadêmicos que, na época da coleta <strong>de</strong> dados, estavam concluindo o segundosemestre <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> licenciatura. Fez-se a seleção <strong>de</strong>sses sujeitos porterem cursado as disciplinas Produção <strong>de</strong> Texto I e II. Cursando essasdisciplinas, os sujeitos tiveram contato com a escrita na aca<strong>de</strong>mia, já que asementas <strong>de</strong>ssas disciplinas mencionam a produção <strong>de</strong> diversos gênerosdiscursivos típicos da aca<strong>de</strong>mia, como a resenha, o resumo, o artigocientífico. A geração <strong>de</strong> registros <strong>de</strong>u-se através <strong>de</strong> textos escritos pelossujeitos. Esses textos foram produzidos através <strong>de</strong> um comando proposto aossujeitos pela pesquisadora. Os dados foram analisados na perspectiva daanálise do discurso <strong>de</strong> orientação francesa. Os dizeres dos sujeitos nos levamna direção da escrita como expressão <strong>de</strong> idéias e como ferramenta para aprodução <strong>de</strong> trabalhos acadêmicos. Após a análise dos dados, pô<strong>de</strong>-seperceber que a escrita não é privilegiada pelos acadêmicos <strong>de</strong> licenciatura,assumindo, na perspectiva dos sujeitos, papel coadjuvante naquele espaçoacadêmico.A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO A PARTIR DE UM LUGARINTERVALARCaroline Mallmann Schnei<strong>de</strong>rs (UFSM)Propõe-se analisar, no presente trabalho, como o sujeito, sob umaperspectiva discursiva, subjetiva-se no interior das proposições so<strong>br</strong>e alíngua em o<strong>br</strong>as so<strong>br</strong>e o estudo da língua portuguesa no/do Brasil. No caso,estaremos trabalhando com a o<strong>br</strong>a Introdução ao estudo da LínguaPortuguesa no Brasil (1ª edição, 1951), <strong>de</strong> Serafim da Silva Neto. É precisoter em vista que a materialida<strong>de</strong> discursiva tomada como corpus <strong>de</strong> análiseestá sob o olhar do filólogo, sendo esta a i<strong>de</strong>ologia que predomina nosestudos da linguagem nesse <strong>de</strong>terminado contexto sócio-histórico. Mastambém é necessário consi<strong>de</strong>rar que é nesse período que a LingüísticaMo<strong>de</strong>rna se expan<strong>de</strong> no Brasil, ganhando força perante os estudos dalinguagem, ou seja, esse período é caracterizado por uma transição <strong>de</strong>saberes, que vai do filólogo para o lingüista. Diante disso, procuramosexplicitar o processo da constituição do sujeito no discurso científico emvoga na década <strong>de</strong> 50, atentando, em especial, para duas posições-sujeitoque perpassam os estudos da linguagem <strong>de</strong>sse período: a posição-sujeito dofilólogo e a posição-sujeito do lingüista. Nosso estudo se orienta pelospressupostos teóricos da Análise do Discurso <strong>de</strong>rivada dos trabalhos <strong>de</strong>Pêcheux, buscando inserir-se na História das Idéias Lingüísticas, ancoradana equipe da lingüista Eni Orlandi.A RELAÇÃO DO ALUNO DE LETRAS DO ENSINO A DISTÂNCIACOM O DICIONÁRIO DIGITALIZADOElisabeth Silveira Gonçalves (UFSM)419


O presente trabalho tem como objetivo apresentar os resultados parciais danossa pesquisa so<strong>br</strong>e a utilização e o funcionamento <strong>de</strong> dicionáriosdigitalizados em turmas do Curso <strong>de</strong> Letras do Ensino à Distância. Temoscomo propósito contribuir com dados para uma reflexão crítica so<strong>br</strong>e oensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa e a utilização do dicionário nessa novarealida<strong>de</strong> virtual. Junto com a criação <strong>de</strong> novas tecnologias, principalmente aInternet, surgem inúmeras outras transformações. Po<strong>de</strong>mos citar comoexemplo, o aparecimento <strong>de</strong> um novo sujeito e, conseqüentemente, novasformas <strong>de</strong> relações sociais e novas formas <strong>de</strong> adquirir cultura. Essa mutaçãoda socieda<strong>de</strong>/sujeito acaba criando novos paradigmas como, por exemplo, aEducação à Distância (EAD), que é uma forma <strong>de</strong> ensino superior, posta emprática recentemente, diferente do mo<strong>de</strong>lo tradicional, esta alia a altatecnologia ao conhecimento. Isso nos leva a questionar a presença/ausênciado dicionário nas horas <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>sses alunos virtuais. Há umfuncionamento diferenciado; mas, nesse caso, o dicionário continua sendotido como <strong>de</strong>tentor do saber so<strong>br</strong>e a língua? É ainda um lugar <strong>de</strong> interdito dadúvida? Interessamo-nos, <strong>de</strong> fato, na observação da relação que o sujeitograduando do EAD tem com o dicionário digitalizado, ambos construindouma nova visão <strong>de</strong> mundo; são novas as relações entre linguagem esocieda<strong>de</strong>, entre língua e sujeito, entre discurso e produção <strong>de</strong> sentidos. Odicionário precisa ser tomado como uma materialida<strong>de</strong> muito mais do quelingüística e instrumental: trata-se <strong>de</strong> uma materialida<strong>de</strong> discursiva, em queobservamos as formas <strong>de</strong> nomear e <strong>de</strong> <strong>de</strong>signar as coisas do nosso mundo, ospossíveis funcionamentos <strong>de</strong>sse ou daquele sentido. Sendo o dicionário uminstrumento que estabelece e apaga sentidos so<strong>br</strong>e a língua e,conseqüentemente, so<strong>br</strong>e o mundo dos falantes; e a produção do sentido, umprocesso que se realiza na prática do discurso, na língua em funcionamento,nossa perspectiva teórico-metodológica segue os pressupostos da Análise <strong>de</strong>Discurso (AD) em articulação com a História das Idéias Lingüísticas (HIL).A Análise <strong>de</strong> Discurso a que nos filiamos é <strong>de</strong> linha francesa, tal como foiconcebida por Michel Pêcheux e como vem sendo <strong>de</strong>senvolvida no Brasilnas últimas décadas, em que inúmeras pesquisas a vinculam à História dasIdéias Lingüísticas, a partir dos trabalhos <strong>de</strong> Sylvain Aroux.A CONSTRUÇÃO DO IDEAL DE CORPO NOS MAGAZINESFEMININOS TELEVISIVOS.Ísis Laroque Cornelli (UCS)Nicolas <strong>de</strong> Araújo (UCS)Lucas Lizot (UCS)César ViniciusRibeiro Massing (UCS)Aline Broetto (UCS)Franciele do Nascimento Ghiggi (UCS)Este trabalho apresenta resultados parciais da pesquisa “Corpo na TV:estratégias verbais e não-verbais <strong>de</strong> representação <strong>de</strong> gênero no discurso dosmagazines femininos televisivos”, que está sendo <strong>de</strong>senvolvida pelos420


Departamentos <strong>de</strong> Letras e Comunicação da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Caxias do Sul,com auxílio do CNPq. O objetivo da investigação é analisar as estratégiasdiscursivas que possibilitam os sistemas <strong>de</strong> trocas e <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidosque constroem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s e representações do gênero feminino nosprogramas <strong>de</strong> televisão <strong>de</strong>stinados a esse público. Para isso, foramselecionados dois quadros <strong>de</strong> programação matinal: um do programa BemFamília, da Re<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>irantes, e outro do Mais Você, da Re<strong>de</strong> Globo. Aanálise realizada revela que há um conjunto <strong>de</strong> estratégias verbais e nãoverbaissendo utilizadas nesses programas, sugerindo um i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> corpofeminino, corroborando as exigências das práticas sociais contemporâneas.A CONSTITUIÇÃO DA IDENTIDADE DE PROFESSORES RECÉM-FORMADOSLiza Buttchevitz (FURB)A pesquisa, em fase inicial, preten<strong>de</strong> investigar como os alunos, egressos <strong>de</strong>um curso <strong>de</strong> Letras <strong>de</strong> uma universida<strong>de</strong> do estado <strong>de</strong> Santa Catarina, seconstituíram professores durante sua graduação. O objetivo do presentetrabalho é, também, compreen<strong>de</strong>r a concepção que esses sujeitos têm acercada gramática, da língua e da linguagem. Embora todos ossujeitos estivessem inseridos em um mesmo curso, com a mesma gra<strong>de</strong>curricular, cada um trouxe as suas singularida<strong>de</strong>s. Portanto, ao dar a voz aosprofessores recém-formados, em seu ciclo inicial no trabalho do magistério,po<strong>de</strong>r-se-á compreen<strong>de</strong>r a constituição <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e o papel que auniversida<strong>de</strong>, enquanto agência formadora, exerce so<strong>br</strong>e seus discentes. Oviés teórico-metodológico é o do círculo <strong>de</strong> Bakhtin que possibilita analisara linguagem e o contexto social. Para a compreensão dos espaçoseducacionais, foram selecionados Tardif e Nóvoa.ALEMÃO EM SANTA CATARINA: UM OLHAR DISCURSIVOSOBRE OS NÃO-FALANTES DESSA LÍNGUAScheila Maas (FURB)Este trabalho é parte <strong>de</strong> uma pesquisa que está sendo realizada no Mestradoem Educação da FURB – Universida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> Blumenau – na LinhaDiscurso e Práticas Educativas e tem como objetivo compreen<strong>de</strong>r o discurso<strong>de</strong> alunos não-falantes <strong>de</strong> alemão acerca da o<strong>br</strong>igatorieda<strong>de</strong> do ensino <strong>de</strong>ssalíngua no currículo escolar <strong>de</strong> uma cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contexto bilíngüe no Vale doItajaí - SC. Essa pesquisa é <strong>de</strong> cunho qualitativo e está filiada à Análise doDiscurso da linha francesa e justifica-se porque não se encontraramtrabalhos <strong>de</strong>senvolvidos em contexto bilíngüe que levem em consi<strong>de</strong>ração osdizeres <strong>de</strong> sujeitos não-falantes <strong>de</strong> alemão. O Vale do Itajaí é uma região, emSanta Catarina, que foi colonizada por imigrantes, em sua maioria, alemães eitalianos. Existem cida<strong>de</strong>s nessa região ainda muito preocupadas com apreservação da cultura alemã. Levando em consi<strong>de</strong>ração que a entrada <strong>de</strong>pessoas <strong>de</strong> outras localida<strong>de</strong>s é crescente, compreen<strong>de</strong>-se a preocupação <strong>de</strong>421


discutir o sentido do ensino da Língua Alemã para alunos que não sãousuários <strong>de</strong>la. Um dos municípios do Vale instituiu, em 2005, a partir <strong>de</strong> LeiMunicipal, que inclusive os alunos do 1º. ano do Ensino Fundamentalpassariam a ter aulas <strong>de</strong> alemão o<strong>br</strong>igatórias. A Proposta Curricular <strong>de</strong>ssemunicípio justifica o ensino o<strong>br</strong>igatório <strong>de</strong> diversas maneiras, entre elas,como preparação para o mercado <strong>de</strong> trabalho exigente, tendo em vista asmultinacionais alemãs que ali se instalaram, a ampliação dos conhecimentos<strong>de</strong> usuários da Língua Alemã como língua materna. Dentre as justificativas,a que mais chama atenção é a que consi<strong>de</strong>ra a aprendizagem da LínguaAlemã como forma <strong>de</strong> acesso à cultura, integração e participação socialpermitindo ao indivíduo que <strong>de</strong>senvolva e exerça plenamente sua cidadaniae inclusão na socieda<strong>de</strong>. Os sujeitos da pesquisa serão alunos do 9º. ano doEnsino Fundamental, por já terem um consi<strong>de</strong>rável percurso com aaprendizagem do alemão em sala <strong>de</strong> aula. A coleta <strong>de</strong> dados será feitaatravés <strong>de</strong> entrevistas com esses alunos. Os discursos dos sujeitos serãoanalisados a fim <strong>de</strong> que se percebam os sentidos <strong>de</strong> estudar alemão aos nãofalantesda língua inseridos em contexto bilíngüe.EnunciaçãoMARCAS HESITATIVAS E SUA RELAÇÃO COM O ENUNCIADO:ANÁLISE DE ENUNCIADOS FALADOS DE SUJEITOS COMDOENÇA DE PARKINSONRoberta Vieira (UNESP, São José do Rio Preto)Consi<strong>de</strong>rando as freqüentes hesitações nos enunciados falados <strong>de</strong> sujeitoscom doença <strong>de</strong> Parkinson, entendidas pela literatura biomédica como<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> problemas motores relacionados à doença, nossa proposta foiinvestigar momentos <strong>de</strong> hesitação <strong>de</strong> um sujeito parkinsoniano. Extraímosdados <strong>de</strong> uma sessão <strong>de</strong> conversação entre esse sujeito e um documentador eselecionamos 49 marcas hesitativas (H), que nos chamaram a atenção porapresentarem uma relação fonético-fonológica fortemente marcada com ostrechos que (A) as antecediam e (B) as sucediam. Um primeiro tipo <strong>de</strong>relação, que chamamos (H/B), foi <strong>de</strong>tectado em 12 enunciados, sendo que,em 7, conseguimos recuperar, além da relação fonético-fonológica, umarelação semântica fortemente marcada entre H e B. Encontramos 31enunciados com um segundo tipo <strong>de</strong> relação (A/H/B), sendo que, em 14,observamos uma relação semântica entre a marca e os trechos que acircundavam. Restaram, portanto, 6 enunciados, que continham umfuncionamento peculiar. Tratava-se <strong>de</strong> uma relação entre a marca hesitativae o trecho que chamamos A’, presente não mais no enunciado do sujeito,mas ou (a) no enunciado <strong>de</strong> seu interlocutor, ou, ainda, (b) num fatocaracterístico das condições <strong>de</strong> produção do discurso do sujeito, a saber, suarelação com a doença. Dentre esses 6 enunciados, 3 apresentavam relaçãoentre o enunciado do interlocutor, a marca hesitativa e o trecho que a sucedia(relação A’/H/B), dos quais apenas em um recuperamos uma relação422


semântica marcada entre tais trechos. Os outros 3 enunciados apresentavamrelação semântica fortemente marcada apenas entre A’ e H. Para este sujeito,os dados encontrados apontam para o fato <strong>de</strong> as hesitações, muito mais doque resultantes <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s motoras causadas pela doença, mostrarem-secomo momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>slizamentos no dizer, nos quais conflitos e tensõesenvolvendo vários planos da linguagem (como o fonético-fonológico, osemântico, o enunciativo e o discursivo), relacionados com o discurso queatravessa e constitui o sujeito, são escancarados. As marcas hesitativasconteriam, portanto, pistas <strong>de</strong> conflitos que constituem o sujeito e que foram,<strong>de</strong> alguma forma, reprimidos. Os resultados a que chegamos com essesujeito suscitam a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verificarmos, numa análise comparativaentre mais sujeitos parkinsonianos e sujeitos sem lesão neurológica, em quemedida os dados obtidos remetem a fatos que a doença mobilizaria nossujeitos, ou a fatos que são característicos da própria subjetivida<strong>de</strong> (e não<strong>de</strong>correntes apenas da condição <strong>de</strong> parkinsoniano, como se verifica naliteratura biomédica).“O QUE SIGNIFICA SER MELHOR?”: COTAS RACIAIS EMARTIGOS DE OPINIÃO SOB UMA PERSPECTIVA ENUNCIATIVADA LINGUAGEMGa<strong>br</strong>iela Barboza (UFSM)A aprovação das cotas raciais nas universida<strong>de</strong>s públicas tem geradoinúmeras polêmicas em todos os âmbitos da socieda<strong>de</strong>. Dívida histórica esocial? Racismo? Democracia racial <strong>br</strong>asileira? A partir da criação <strong>de</strong>sseespaço <strong>de</strong> conflitos i<strong>de</strong>ológicos, propomo-nos a <strong>de</strong>senvolver um estudoacerca das representações lingüísticas que a enunciação oferece do sujeitoaprovado no concurso vestibular por meio <strong>de</strong> cotas. Para isso, teremos comoalicerce fundamental a teoria enunciativa <strong>de</strong> Émile Benveniste,principalmente em seus postulados so<strong>br</strong>e os indicadores <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> nalinguagem, ou dêiticos. Enten<strong>de</strong>mos que a noção <strong>de</strong> dêixis é fundamentalpara os estudos enunciativos. A categoria contém elementos, que são, muitomais que outros signos, próprios do ato <strong>de</strong> dizer, no entendimento <strong>de</strong> que asua existência e os seus sentidos são promovidos a partir <strong>de</strong> uma referênciaao contexto discursivo em que se apresentam. Ao tomar essas formas dalíngua, o sujeito dá-lhes vida, conquistando, simultaneamente, apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com o outro e a sua assunção enquanto sujeito,uma vez que ele próprio testemunha sua existência ao proferir EU para umTU. Partindo do pressuposto que a enunciação é o lugar <strong>de</strong> instauração dosujeito, procuraremos i<strong>de</strong>ntificar como a marcação da subjetivida<strong>de</strong> semanifesta em artigos <strong>de</strong> opinião, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Juremir Machado da Silva,divulgados na mídia impressa, especificamente no jornal Correio do Povo noperíodo <strong>de</strong> janeiro a fevereiro <strong>de</strong> 2008, bem como investigar <strong>de</strong> que efeitos<strong>de</strong> sentido a presença <strong>de</strong>ssa categoria é diretamente responsável no discurso.Buscaremos verificar, a partir dos resultados, para que sentido asrepresentações lingüísticas apontam: para a reafirmação da discriminação423


acial ou se para mol<strong>de</strong>s que subvertam os paradigmas atuais. A escolha pelotítulo “O que significa ser melhor” <strong>de</strong>ve-se ao fato <strong>de</strong> ser esse o título <strong>de</strong>uma das crônicas a que nos dispusemos a analisar. Este trabalho faz parte doprojeto <strong>de</strong> pesquisa <strong>de</strong> iniciação científica intitulado A enunciação dasubjetivida<strong>de</strong>: dêixis e interação, que integra a linha <strong>de</strong> pesquisa Linguagemcomo prática social da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria (UFSM).ESPECIFICAÇÕES DO DIZER MARCADAS POR HESITAÇÕESEM UM SUJEITO PARKINSONIANO E EM UM SUJEITO SEMLESÃO NEUROLÓGICALourenço Chacon (UNESP - Marília e São José do Rio Preto/CNPq)Partindo da concepção <strong>de</strong> que as hesitações marcariam momentos <strong>de</strong> tensãoentre elementos concorrentes do dizer, observamos, neste estudo-piloto,momentos hesitativos que envolviam especificações <strong>de</strong> sentido na ativida<strong>de</strong>enunciativo-discursiva <strong>de</strong> um sujeito com doença <strong>de</strong> Parkinson e <strong>de</strong> umsujeito sem lesão neurológica – com características sociolingüísticas comuns,como faixa etária, escolarida<strong>de</strong> e ativida<strong>de</strong> profissional. Nosso objetivo foiverificar em que medida a condição patológica do sujeito parkinsoniano odistanciaria do sujeito sem lesão neurológica, no que diz respeito aespecificarem sentidos <strong>de</strong> seu dizer. Foram i<strong>de</strong>ntificados todos os momentoshesitativos que correspon<strong>de</strong>ram ao nosso objetivo, presentes em duassessões <strong>de</strong> conversação (em torno <strong>de</strong> 40 minutos <strong>de</strong> duração, cada): uma,entre um documentador e um sujeito parkinsoniano; outra, entre o mesmodocumentador e um sujeito sem lesão neurológica. Esses momentoshesitativos introduziram, em ambos os sujeitos, expressões especificadoras<strong>de</strong> lugares, <strong>de</strong> pessoas, <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s. No sujeito sem lesãoneurológica, as hesitações antece<strong>de</strong>ram, ainda, momentos <strong>de</strong> especificação<strong>de</strong> foco, <strong>de</strong> causa/efeito, <strong>de</strong> tradução <strong>de</strong> sentidos e <strong>de</strong> confirmação <strong>de</strong>informações. Nossos resultados, embora circunscritos ao recortemetodológico da investigação, permitem as seguintes consi<strong>de</strong>rações: (1) nosujeito parkinsoniano e na sessão <strong>de</strong> conversação em análise, são maisrestritas as noções semânticas envolvidas nos momentos <strong>de</strong> hesitação; (2) noentanto, pelo menos no grau <strong>de</strong> doença em que se encontra o sujeito, estarestrição não parece, ainda, ter afetado sua capacida<strong>de</strong> geral <strong>de</strong> controle da<strong>de</strong>riva do dizer (possibilida<strong>de</strong> sempre marcada nos momentos <strong>de</strong> hesitaçãoem qualquer condição discursiva – patológica ou não), na medida em que asmarcas hesitativas que emergiram não apenas em seus enunciados, mastambém naqueles produzidos pelo sujeito sem lesão neurológica,funcionaram como momentos em que foi contida uma abertura do dizer queprovocasse <strong>de</strong>slocamento da direção <strong>de</strong> sentido; (3) estudos com maissessões <strong>de</strong> comparação entre esses dois sujeitos (e entre mais sujeitos <strong>de</strong>ambas as condições) <strong>de</strong>vem ser realizados, para se verificar em que medidaessas semelhanças e diferenças se mantêm ou são <strong>de</strong>slocadas; (4) embora setrate <strong>de</strong> um estudo-piloto, seus resultados levantam indícios <strong>de</strong> que, longe <strong>de</strong>se serem apenas efeito <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s motoras características da doença <strong>de</strong>424


Parkinson, como as vê a literatura biomédica, as hesitações em enunciadosfalados <strong>de</strong> sujeitos parkinsonianos apontam, também, para processoscomplexos da linguagem que esses sujeitos ainda preservam (em maior oumenor condição), mesmo com as dificulda<strong>de</strong>s que a doença lhes impõe.UMA ANÁLISE BAKHTINIANA EM ‘Ó, PAÍ, Ó: O SIGNO NEGRO’Sa<strong>br</strong>ine Amaral Martins (UCPEL)Segundo dados do IBGE, 6,3 % da população se auto<strong>de</strong>claram pretos e43,2% pardos, totalizando 80 milhões <strong>de</strong> <strong>br</strong>asileiros. Quando se analisa sobo viés dos estudos genéticos, percebe-se que 86% das pessoas possuemalgum grau <strong>de</strong> ascendência africana. Embora estes sejam números bastanteexpressivos, o país ainda apresenta um quadro <strong>de</strong> preconceito racial nasocieda<strong>de</strong>. Um dos meios <strong>de</strong> consagrar ou excluir <strong>de</strong>terminadas i<strong>de</strong>ologiascomo essa é o cinema. No filme Ó, Paí, Ó, <strong>de</strong> Monique Gar<strong>de</strong>nberg, aosuscitar <strong>de</strong>terminados signos, a personagem Boca, interpretada por WagnerMoura, expõe seu preconceito em relação à personagem negra Roque, <strong>de</strong>Lázaro Ramos. Em ambos os contextos, diversos signos são proferidos comefeito <strong>de</strong> sentido pejorativo; todavia, o signo negro, emitido por ambas aspersonagens, ganhou atenção <strong>de</strong>vido às diferenças temáticas nas diversasenunciações. Por isso, tornou-se foco da análise que se segue. Para tal, seráutilizada a teoria <strong>de</strong> Mikhail Bakhtin, já que, para este autor, a palavra estásempre carregada <strong>de</strong> um conteúdo ou <strong>de</strong> um sentido i<strong>de</strong>ológico ou vivencial(Bakhtin, 1929, p.95), portanto, expressa um acento <strong>de</strong> valor. Ressalta-seainda que essa mesma palavra é tanto social como histórica (Faraco, 2003,p.47), bem como é totalmente <strong>de</strong>terminada por seu contexto (Bakhtin, 1929,p.106). Sendo assim, o presente trabalho tem por objetivo analisar opercurso do signo negro e suas possíveis interfaces nas falas das duaspersonagens – Boca e Roque – em duas cenas do filme Ó, Pai, Ó,consi<strong>de</strong>rando a circulação temática que po<strong>de</strong> ser assumida por tal signo epelas interfaces em cada etapa enunciativa. Da mesma maneira, ainda osefeitos <strong>de</strong> sentido adquiridos mediante o contexto, bem como pelacontribuição dos signos “negro”, “cão”, <strong>de</strong>ntre outros, para a formação dai<strong>de</strong>ologia discriminatória do racismo. Por último, visa-se compreen<strong>de</strong>r comoos diferentes signos, através do acento <strong>de</strong> valor, acentuam os preconceitosraciais nas cenas do filme. Por conseguinte, este trabalho justifica-se pelasreflexões que po<strong>de</strong>m ser relevantes para enten<strong>de</strong>r os conflitos históricos<strong>br</strong>asileiros e suas conseqüências para a socieda<strong>de</strong> contemporânea.OPERADORES ARGUMENTATIVOS: INDÍCIOS DE POLIFONIAEM ENTREVISTAS DA REVISTA CULTVanessa Raini <strong>de</strong> Santana (UNIOESTE, Cascavel)Aparecida Feola Sella (UNIOESTE, Cascavel)Ao se elaborar <strong>de</strong>terminado enunciado, há sempre a preocupação com osentido que o interlocutor <strong>de</strong>sse enunciado po<strong>de</strong> lhe atribuir. É possível,425


então, que pontos <strong>de</strong> vista, oriundos <strong>de</strong> instâncias discursivas socialmenteestabelecidas, possam figurar na constituição dos enunciados, conformepropõe Ducrot (1987). Essas vozes po<strong>de</strong>m indicar conclusões das quais olocutor e mesmo o interlocutor se apropriam para a constituição <strong>de</strong> embalosargumentativos. Isso po<strong>de</strong> se dar a partir da utilização <strong>de</strong> elementos querefletem o fenômeno da polifonia. É o caso, por exemplo, da utilização <strong>de</strong><strong>de</strong>terminados operadores argumentativos que po<strong>de</strong>m apresentar perspectivasdiferentes so<strong>br</strong>e certo assunto (como po<strong>de</strong> ocorrer no caso da utilização dooperador mas), ou retificação do que se disse (com o uso do aliás, porexemplo), etc. A partir <strong>de</strong>ssa possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se encontrar polifonia emenunciados que apresentam operadores argumentativos em seu interior, essaproposta <strong>de</strong> trabalho é <strong>de</strong>senvolvida visando a i<strong>de</strong>ntificar esses possíveisenunciados em textos oral-dialogados, transformados posteriormente ementrevistas, e veiculados, impressos, na Revista Cult. Com o presentetrabalho, preten<strong>de</strong>-se realizar uma <strong>br</strong>eve exploração <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> IniciaçãoCientífica a ser <strong>de</strong>senvolvido.Aquisição interacionismoO DESVIO FONOLÓGICO E SUAS IMPLICAÇÕES NA CLÍNICAFONOAUDIOLÓGICA: UM ESTUDO DE CASOChristiane <strong>de</strong> Bastos Delfrate (UFPR)O <strong>de</strong>svio fonológico é uma das patologias da linguagem mais presentes nafala da criança em período <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> linguagem. O objetivo <strong>de</strong>stetrabalho é analisar o processo terapêutico <strong>de</strong> uma criança diagnosticadacomo tendo alteração fonológica sob o posto <strong>de</strong> observação <strong>de</strong> uma teoriainteracionista. Os dados <strong>de</strong>ssa pesquisa foram coletados em sessões <strong>de</strong>atendimento fonoaudiológico <strong>de</strong> uma criança com <strong>de</strong>svio fonológico. Osujeito aqui estudado, no momento da pesquisa, estava com cinco anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, sendo que apresenta queixa familiar <strong>de</strong> alterações na oralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que iniciou sua linguagem. O paciente está em atendimento fonoaudiológicocom a investigadora/terapeuta <strong>de</strong>sta pesquisa há 18 meses. O corpus <strong>de</strong>stetrabalho foi obtido por meio <strong>de</strong> transcrições, realizadas após gravações <strong>de</strong>parte das sessões <strong>de</strong> atendimento. A análise foi feita com dados <strong>de</strong>enunciados dialógicos <strong>de</strong>sta criança <strong>de</strong> forma exploratória, através dastranscrições das sessões terapêuticas. Para isso, a pesquisa teve como posto<strong>de</strong> observação uma linguística interacionista, em que se privilegiou osmomentos <strong>de</strong> interação e dialogia para a coleta <strong>de</strong> dados. Percebeu-se queapós os <strong>de</strong>zoito meses <strong>de</strong> tratamento fonoaudiológico, as mudançasocorridas na relação da criança com sua linguagem e com a linguagem dooutro lhe permitiram adquirir novos processos fonológicos, modificando ainteligibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus enunciados. Na concepção em que baseamos nossotrabalho, ultrapassa-se a fala da criança para investigar a natureza da relação<strong>de</strong> um falante com a língua. A heterogeneida<strong>de</strong> é a marca do sujeito no426


processo <strong>de</strong> aquisição da criança, tomado aqui como singular. Assim, não épossível supor a aquisição da linguagem or<strong>de</strong>nada em componentes: porexemplo, que o léxico preceda a aquisição da fonologia e da sintaxe. Osujeito, assim, modifica sua posição nessa estrutura (da língua). Posiçõesessas em que o sujeito movimenta-se com relação à fala do outro, à língua eà própria fala.Aquisição LE BilingüismoA AQUISIÇÃO DA PASSIVA NO PORTUGUÊS POR CRIANÇASEM CONTEXTO DE EDUCAÇÃO BILÍNGÜELuciana <strong>de</strong> Souza Brentano (UFRGS)Ingrid Finger (UFRGS)Vários estudos têm evi<strong>de</strong>nciado que o bilingüismo na infância leva ao um<strong>de</strong>senvolvimento precoce <strong>de</strong> certos processos cognitivos, lingüísticos emetalingüísticos em comparação com crianças monolíngües (Bialystok,2001, 2005, 2006, entre outros). Tem sido também constatado que taisvantagens são evi<strong>de</strong>ntes quando se trata <strong>de</strong> crianças com proficiênciaavançada nas duas línguas em questão. Nesse contexto, o presente trabalhoteve como objetivo investigar se um grupo <strong>de</strong> crianças <strong>br</strong>asileiras, que estãoinseridas num contexto <strong>de</strong> escolarização bilíngüe e são expostas a um total<strong>de</strong> apenas 10h semanais <strong>de</strong> contato com a língua inglesa, também<strong>de</strong>monstram possuir vantagens em termos <strong>de</strong> consciência lingüística emcomparação com crianças monolíngües. Para tanto, foi analisado o<strong>de</strong>sempenho dos participantes numa tarefa envolvendo compreensão eprodução <strong>de</strong> construções ativas e passivas em português. O instrumentoutilizado foi <strong>de</strong>senhado por Ga<strong>br</strong>iel (2005); nele as crianças assistem a umví<strong>de</strong>o contendo 12 cenas em que vários personagens animais e humanosrealizam seis ações simples (um evento) e seis complexas (2 eventos). Osresultados preliminares indicam que os benefícios lingüísticos atestados paracrianças bilíngües <strong>de</strong> proficiência avançada também parecem ocorrer nocaso das crianças investigadas no estudo, que <strong>de</strong>monstraram ter maiorconsciência das estruturas passivas do que as crianças monolíngües quefizeram parte do grupo <strong>de</strong> controle.Aquisição LE FonologiaA AQUISIÇÃO DA FONOLOGIA DA LÍNGUA INGLESA (L2)Débora do Couto Pereira (Unipampa – Bagé)Débora Mariana Lopes (Unipampa – Bagé)Luciano Peres (Unipampa – Bagé)Valter Nei Feijó Bierhauls (Unipampa – Bagé)Cristiane Lazzaroto Volcão (Unipampa – Bagé)427


O estudo e a análise da aquisição fonológica por parte <strong>de</strong> aprendizes doInglês (L2) têm fundamentado a prática do professor <strong>de</strong> língua estrangeira,especialmente aqueles realizados com base em mo<strong>de</strong>los teóricos. Esse tipo<strong>de</strong> abordagem possibilita analisar <strong>de</strong> modo mais acurado o funcionamentodas línguas envolvidas (L1 e L2), bem como enten<strong>de</strong>r o processo <strong>de</strong>aquisição da língua estrangeira, a partir <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s menores que os própriosfonemas, ou seja, os traços distintivos. Diante disso, este trabalho tem comoobjetivo analisar o processo <strong>de</strong> aquisição da fonologia do Inglês por umaprendiz falante nativo <strong>de</strong> português <strong>br</strong>asileiro, que está cursando o terceirosemestre <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> Licenciatura em Letras. Os dados foram obtidos apartir <strong>de</strong> gravações realizadas durante um programa <strong>de</strong> rádio fictício. Estaativida<strong>de</strong> foi proposta para a disciplina <strong>de</strong> Inglês III, e a análise do processo<strong>de</strong> aquisição, para a disciplina <strong>de</strong> Fonologia do Português, através <strong>de</strong> umtrabalho transdisciplinar. A análise dos dados se <strong>de</strong>u a partir do Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>Traços <strong>de</strong> Chomsky e Halle (1968) e mostrou que, no atual estágio <strong>de</strong>interlíngua, o sujeito <strong>de</strong>sta pesquisa já adquiriu alguns traços ausentes nafonologia <strong>de</strong> sua língua materna, enquanto que outros ainda não emergiramem sua produção fonética. A partir disso, foi possível uma melhorcompreensão do funcionamento das fonologias <strong>de</strong> ambas as línguas. Alémdisso, ao conhecer o estágio <strong>de</strong> interfonologia em que se encontra um aluno,o professor po<strong>de</strong> pensar em estratégias <strong>de</strong> instrução explícita que possamfavorecer ou, talvez, acelerar o processo <strong>de</strong> aquisição da fonologia da línguaalvo.O USO DE PISTAS VISUAIS NA IDENTIFICAÇÃO DASCONSOANTES NASAIS INGLESAS EM POSIÇÃO FINAL DESÍLABAS POR FALANTES DE PORTUGUÊS BRASILEIRODenise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)Mara Silvia Reis (UFSC/CAPES)A produção das nasais bilabial e alveolar em posição final <strong>de</strong> sílaba (coda)difere entre o português <strong>br</strong>asileiro (PB) e o inglês — enquanto em inglês elassão visual e auditivamente distintas, em PB elas não são completamentepronunciadas. Este estudo objetiva investigar se aprendizes <strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong>inglês utilizam informações fonéticas contidas em pistas visuais quandoi<strong>de</strong>ntificam as consoantes nasais /m/ e /n/ do inglês em posição <strong>de</strong> coda. Osdados foram coletados com <strong>de</strong>z alunos <strong>de</strong> nível intermediário do cursoextracurricular <strong>de</strong> inglês da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina. Apercepção foi aferida através <strong>de</strong> um Teste <strong>de</strong> I<strong>de</strong>ntificação no qual asconsoantes nasais foram apresentadas em posição <strong>de</strong> coda em três condiçõesdiferentes: (a) apenas áudio, os participantes somente ouvem palavras e sãosolicitados a i<strong>de</strong>ntificar qual nasal está sendo produzida; (b) apenas ví<strong>de</strong>o, osparticipantes somente vêem a articulação <strong>de</strong> palavras enquanto <strong>de</strong>vemi<strong>de</strong>ntificar qual nasal está sendo produzida, e (c) áudio e ví<strong>de</strong>o, osparticipantes vêem e ouvem a produção <strong>de</strong> palavras com as nasais em coda e428


são solicitados a i<strong>de</strong>ntificar qual nasal está sendo produzida. Quanto aocontexto fonológico, as vogais anteriores alta, média e baixa foramconsi<strong>de</strong>radas variáveis na i<strong>de</strong>ntificação das nasais alvo em coda. Foi previstoque a combinação <strong>de</strong> pistas acústicas e visuais favoreceria a i<strong>de</strong>ntificaçãodas nasais inglesas em posição final <strong>de</strong> sílaba. Os resultados corroboraramessa hipótese, <strong>de</strong>monstrando que os participantes tiveram um melhor<strong>de</strong>sempenho nas condições ví<strong>de</strong>o e áudio e apenas ví<strong>de</strong>o do que na condiçãoapenas áudio. Em relação ao contexto fonológico, os resultados indicaramque a vogal anterior baixa parece favorecer a i<strong>de</strong>ntificação das nasais /m/ e/n/ em posição final <strong>de</strong> sílaba, enquanto a vogal alta parece <strong>de</strong>sfavorecer tali<strong>de</strong>ntificação.AVALIAÇÃO DA CORRELAÇÃO ENTRE PERCEPÇÃO EPRODUÇÃO DOS FONEMAS INTERDENTAIS INGLESES PORAPRENDIZES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUAESTRANGEIRAMara Silvia Reis (UFSC/CAPES)Denise Cristina Kluge (UFSC/CAPES)No que concerne à área da interfonologia, pesquisas indicam que a precisapercepção dos sons da língua estrangeira é capaz <strong>de</strong> influenciarpositivamente a produção dos mesmos (Major, 1994; Flege, 1993, 1995;Munro & MacKay, 1996; Wo<strong>de</strong>, 1995; Rochet, 1995; Best, 1995; Kuhl &Iverson, 1995; Baker & Trofimovich 2001; Koerich 2002; Best & Tyler,2007). O presente estudo foi conduzido com o propósito <strong>de</strong> investigar se talcorrelação está presente entre a percepção e a produção dos fonemasinter<strong>de</strong>ntais ingleses por <strong>br</strong>asileiros aprendizes <strong>de</strong> inglês como línguaestrangeira (EFL). O estudo focou na percepção e produção dos fonemasvozeados e não-vozeados em posição inicial <strong>de</strong> palavras. Cinco falantesnativos <strong>de</strong> inglês e vinte e quatro aprendizes <strong>de</strong> EFL, igualmente divididosem dois grupos <strong>de</strong> iniciantes e avançados, participaram da pesquisa. Ambosos grupos <strong>de</strong> aprendizes pertenciam ao Programa Extracurricular <strong>de</strong> Ensino<strong>de</strong> Línguas Estrangeiras da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina. Osdados foram coletados por meio <strong>de</strong> três testes <strong>de</strong> produção: (a) leitura <strong>de</strong>texto, (b) relato do texto lido, e (c) leitura <strong>de</strong> sentenças, e três testes <strong>de</strong>percepção: (a) percepção geral <strong>de</strong> erros <strong>de</strong> pronúncia, (b) teste <strong>de</strong>discriminação categórica, e (c) teste <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação forçada. Os resultadosindicam que (a) não há uma diferença significativa <strong>de</strong> percepção dosfonemas entre os grupos <strong>de</strong> aprendizes, e (b) que a percepção mais acuradados fonemas-alvo não necessariamente acarreta numa produção mais precisados mesmos.PRODUÇÃO DE PLOSIVAS SURDAS EM INGLÊS E PORTUGUÊSPOR FALANTES BRASILEIROS DE INGLÊS COMO LÍNGUAESTRANGEIRAMariane A. Alves (UFSC)429


A presente pesquisa teve como objetivo investigar, acusticamente, aprodução da aspiração em consoantes “plosivas” surdas do português<strong>br</strong>asileiro (PB) e do inglês, produzidas por falantes <strong>br</strong>asileiros que estudaminglês como língua estrangeira (L2). Para isso, conduziu-se uma análiseespectrográfica das amostras <strong>de</strong> fala para medição <strong>de</strong> VOT (voice onsettime), que é um dos parâmetros levados em conta para a classificação dasplosivas. Os índices <strong>de</strong> VOT são em geral agrupados em três categorias:retardo curto (<strong>de</strong> zero a 25ms); retardo longo (<strong>de</strong> 60 a 100ms) e présonorização(valores negativos <strong>de</strong> VOT). As duas primeiras <strong>de</strong>finem asplosivas não vozeadas do PB e do inglês, respectivamente. Foram analisadasleituras <strong>de</strong> quatro falantes, dois estudantes <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> graduação emLetras-Inglês, que nunca tiveram experiência no exterior, e outros dois quejá tiveram experiência com a língua estrangeira no exterior. Apesar <strong>de</strong>estudos so<strong>br</strong>e consoantes oclusivas do PB não consi<strong>de</strong>rarem a aspiraçãocomo uma das possíveis realizações para essa língua, verificou-se que talaspiração ocorre <strong>de</strong> fato, sendo, no entanto, classificada como uma leveaspiração, ou seja, com valores <strong>de</strong> VOT compreendidos em uma faixa entre25 e 60ms. As médias encontradas nos dados analisados foram <strong>de</strong> 25, 30 e43 ms para, respectivamente, /p/, /t/ e /k/ no PB, e <strong>de</strong> 36, 46 e 53 ms para asmesmas consoantes no inglês. Com base em tais resultados e comparando-osaos valores que seriam produzidos por falantes nativos do inglês (entre 60 e100ms), percebeu-se que os valores <strong>de</strong> VOT <strong>de</strong> nossos sujeitos são inferioresaos dos falantes nativos, ficando, no entanto, próximos ao que se observaquando se tem consoantes levemente aspiradas (o caso do PB). Contudo,po<strong>de</strong>-se observar um leve aumento nos valores <strong>de</strong> VOT se comparadas asproduções dos mesmos falantes nas duas línguas estudadas. Observou-setambém que o contato direto com a língua estrangeira parece não influenciarnecessariamente na fluência <strong>de</strong>ssa língua. Análises estatísticas serãonecessárias para a comprovação dos resultados preliminares.EVIDÊNCIAS DA DINAMICIDADE NA INTERLÍNGUAPORTUGUÊS – INGLÊS: O PROCESSO DE DESSONORIZAÇÃOTERMINALSa<strong>br</strong>ina Costa (UCPel/BIC/FAPERGS)Márcia Zimmer (UCPel)O presente estudo preten<strong>de</strong> discutir, <strong>de</strong> forma dinâmica, o status daDessonorização Terminal como um processo <strong>de</strong> interlíngua entre alunos<strong>br</strong>asileiros <strong>de</strong> Inglês à luz do Conexionismo e da Fonologia AcústicaArticulatória (ALBANO, 2001, 2002). O processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssonorizaçãoterminal consiste na perda do traço sonoro em algumas obstruintes emposição final e, para Eckman (1981,1987), esse processo seria usado apenasna interlíngua. Major (1987) afirma que a interlíngua <strong>de</strong> <strong>br</strong>asileirosaprendizes <strong>de</strong> inglês teria uma regra <strong>de</strong> <strong>de</strong>ssonorização terminal que nãoocorreria nem na L1 – Português Brasileiro, nem na L2 – Língua Inglesa;430


essa regra não ocorreria no PB, pois a única obstruinte encontrada emposição final é a fricativa alveolar surda /s/ e no Inglês os contrastes sonorosnão seriam neutralizados. Ao revisitar essa discussão, Zimmer (2004) eZimmer & Alves (2007) propõem um novo estudo a fim <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r se a<strong>de</strong>ssonorização terminal é um processo caracterizado pela neutralização totaldo contraste surdo-sonoro ou se consiste no <strong>de</strong>svozeamento parcial <strong>de</strong>ssecontraste por falantes <strong>br</strong>asileiros aprendizes <strong>de</strong> Inglês, investigando aimportância da vogal anterior para a distinção entre as obstruintes surdas doinglês falado pelos alunos <strong>br</strong>asileiros. Para tanto, foram analisados dados <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> segmentos plosivos alveolares, labiais e dorsais em posiçãofinal <strong>de</strong> palavra, obtidos <strong>de</strong> 10 estudantes <strong>br</strong>asileiros do sexo feminino e 10do sexo masculino com diferentes níveis <strong>de</strong> proficiência. A partir da análiseacústica dos dados, o processo foi revisitado <strong>de</strong> acordo com uma visãodinâmica dos sistemas fônicos – via abordagem da Fonologia Acústico-Articulatória e do Conexionismo, que interpreta as características parciais do<strong>de</strong>svozeamento terminal como uma evidência contra a neutralização total <strong>de</strong>contrastes e a favor da gradiência <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> interlíngua.A MELODIA DO FRANCÊS: ANÁLISE ENTOACIONAL DO FALARDE DOIS RESIDENTES DE MONTREALSara Farias da Silva (UFSC)Este estudo, embora preliminar, tem como objetivo discutir a melodia dofrancês no falar <strong>de</strong> dois informantes do sexo masculino com ida<strong>de</strong>s entre 25e 30 anos. Um é nascido no México, resi<strong>de</strong>nte em Montreal há cinco anoscom curso técnico superior. O outro, <strong>de</strong> nacionalida<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira, tambémcom curso técnico superior, resi<strong>de</strong> em Montreal há 20 anos. Ambos sãofluentes em português, espanhol, inglês e francês. A pesquisa foi realizadacom base na metodologia <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados do Projeto Atlas MultimídiaProsódico do Espaço Românico (AMPER), consi<strong>de</strong>rando frases do tipoSujeito – Verbo – Complemento nas modalida<strong>de</strong>s: <strong>de</strong>clarativa e interrogativatotal. O sintagma nominal sujeito assim como o sintagma que complementao verbo possuem extensões adjetivais. As gravações foram feitas a partir <strong>de</strong>imagens que induzem os informantes a produzirem as frases <strong>de</strong>sejadas. Osoftware usado para a análise dos dados foi o Praat. Os resultadospreliminares das análises das frases <strong>de</strong>clarativas e interrogativas mostramdiferenças entre os dois falantes com relação ao padrão francês. Nas<strong>de</strong>clarativas, para o falante que resi<strong>de</strong> há mais tempo em Montreal, nota-seum contorno <strong>de</strong> pitch característico do francês: uma elevação <strong>de</strong> pitch nasílaba tônica final do primeiro grupo rítmico e um contorno final<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte. Já o falante que resi<strong>de</strong> há menos tempo apresenta justamentenestes dois pontos diferenças marcantes: uma elevação <strong>de</strong> pitch na primeirasílaba do grupo rítmico e um contorno <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte-ascen<strong>de</strong>nte ao final dafrase <strong>de</strong>clarativa. Nas frases interrogativas, o padrão francês apresenta umaelevação gradativa do pitch nas sílabas iniciais do primeiro grupo rítmico,<strong>de</strong>pois há uma curva <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte e, ao final da frase so<strong>br</strong>e a sílaba tônica431


final, ocorre uma subida a<strong>br</strong>upta do pitch so<strong>br</strong>e a vogal <strong>de</strong>sta última sílaba.Nossos informantes apresentam variações em posições diferentes. Aquelecom mais tempo <strong>de</strong> residência mostra um contorno <strong>de</strong> pitch que sediferencia do padrão francês apenas pelo contorno ao final da frase: subidaa<strong>br</strong>upta na palavra final da frase e não somente so<strong>br</strong>e a sílaba tônica final. Jáo que tem menos tempo <strong>de</strong> residência apresenta diferenças no contornoinicial da frase com uma elevação <strong>de</strong> pitch so<strong>br</strong>e a primeira sílaba doprimeiro grupo rítmico e não so<strong>br</strong>e as três primeiras sílabas <strong>de</strong>sse grupo, oque seria o padrão esperado.O FENÔMENO DA “LIAISON” NA LEITURA EM VOZ ALTA: OCASO DE APRENDIZES DE FRANCÊS LÍNGUA ESTRANGEIRAVanessa Gonzaga Nunes (UFSC)A maior parte dos estudantes <strong>de</strong> francês vê a língua francesa comoextremamente padronizada, com uma fonologia prescritiva e “no<strong>br</strong>e”. Talidéia parece ser fruto <strong>de</strong> um ensino pouco permeado pela sociolingüística, aqual consi<strong>de</strong>ra a variação como parte da língua e vê os diferentes dialetoscomo diferenças e não como o certo e o errado. Estudos revelam que alíngua possui uma estrutura, apesar da variação, inerente a ela, ou seja, essaestrutura não impe<strong>de</strong> que se reconheçam os usos e as variações presentes nafala. Assim, é por esse viés que se preten<strong>de</strong> analisar os dados coletados parao presente estudo. Seu objetivo é observar o fenômeno fonológico <strong>de</strong>“liaison” ou ligação, típico do francês e do português <strong>br</strong>asileiro. Para isso,será analisada a leitura em voz alta <strong>de</strong> frases em francês, produzidas por doisaprendizes <strong>de</strong> francês língua estrangeira (FLE), nativos do português<strong>br</strong>asileiro, um do sexo masculino e o outro do feminino. Ambos encontramseno último ano <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> Licenciatura em Letras Francês, o queprovavelmente lhes confere um nível avançado em leitura nesta línguaestrangeira. A partir da observação das fronteiras <strong>de</strong> palavras, ou seja, dospontos em que haverá ocorrência <strong>de</strong> “liaisons” o<strong>br</strong>igatórias, facultativas eproibidas, será analisada a produção dos sujeitos em estudo. Este estudotenta respon<strong>de</strong>r às seguintes questões: (a) o que os aprendizes <strong>de</strong> FLE fazemem relação às ligações o<strong>br</strong>igatórias? (b) como se comportam diante <strong>de</strong>ligações facultativas? (c) há hesitações em suas produções, mostrando queestão em dúvida quanto ao fenômeno estudado? (d) que tipo <strong>de</strong>transposições fazem do português para o francês? As análises acústicas serãorealizadas com o auxílio do software Praat. Os dados foram gravados comuma taxa <strong>de</strong> amostragem <strong>de</strong> 22 kHz, suficiente para as análises dasconsoantes, principalmente fricativas, presentes nos dados estudados. Asfrases lidas pelos informantes serão etiquetadas e analisadas acusticamente,verificando o ensur<strong>de</strong>cimento ou vozeamento dos segmentos consonantaisou ainda a constatação da não realização da “liaison”. Os resultados aquiobtidos serão comparados a outros estudos realizados so<strong>br</strong>e o português<strong>br</strong>asileiro, principalmente com relação a ina<strong>de</strong>quações acústicas verificadastambém na presente pesquisa.432


Aquisição LéxicoLÉXICO VERBAL E EXPRESSÃO DE CONCEITOS COGNITIVOSKetlin Elis Perske (PIBIC/UFSM)Mirian Rose Brum-<strong>de</strong>-Paula (UFSM)Os estudos referentes à aquisição da linguagem articulada raramenteconsi<strong>de</strong>ram a progressão rápida e gradual do léxico verbal e sua relação comos <strong>de</strong>senvolvimentos cognitivo e lingüístico da criança. É possível constataro papel central do léxico verbal em dados orais <strong>de</strong> locutores <strong>de</strong> línguasdistintas, por exemplo. Neles, encontra-se uma maior complexida<strong>de</strong> doléxico verbal (se comparado ao léxico dos nomes), pois as línguas do mundose caracterizam tipologicamente por esquemas diferentes <strong>de</strong> lexicalização <strong>de</strong>processos (acontecimentos, ações, ativida<strong>de</strong>s, processos, estados,proprieda<strong>de</strong>s). Partindo da hipótese <strong>de</strong> que existiria um “pensar para falar”(Slobin, 1991) – isto é, um certo tipo <strong>de</strong> pensamento ligado à língua,mobilizado durante a produção do discurso (Slobin, 1991; Talmy, 1985;Klein, 1994) –, focalizaremos aspectos relacionados às relações existentesentre léxico e cognição. Desse modo, tentaremos i<strong>de</strong>ntificar variações quepossam estar relacionadas à expressão <strong>de</strong> conceitos cognitivos.O corpus é constituído <strong>de</strong> narrativas orais produzidas por crianças da 2ª, 4ª e6ª séries <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> ensino fundamental da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agudo-RS.Essas narrativas foram realizadas a partir da história Frog, where are you?,<strong>de</strong> Mayer (1969). Visamos obter resultados que possam auxiliar nai<strong>de</strong>ntificação:a) dos processos cognitivos subjacentes aos percursos <strong>de</strong> aquisição e suasrelações com as características tipológicas das línguas adquiridas (no caso, odialeto alemão e a língua portuguesa);b) do modo como os acontecimentos relatados (diferentes, similares ouidênticos) são tratados pelos informantes, ou seja, como eles sãoconceitualizados, formulados e articulados (Levelt, 1989) por crianças eadolescentes que possuem pelo menos duas línguas disponíveis.FonéticaORDEM DAS PALAVRAS E OS ADVÉRBIOS EM –MENTE:EXPERIMENTOS DE PRODUÇÃO SEMI-ESPONTÂNEAFernanda Lima Jardim (UFSC/PIBIC)Este trabalho preten<strong>de</strong> aprofundar o estudo da estruturaentoacional <strong>de</strong> sentenças do PB com advérbios em –mente do tipo raramente,que po<strong>de</strong>m aparecer em diversas posições da sentença:(1) a. Raramente a Maria vai no cinema aos domingosb. A Maria raramente vai no cinema aos domingosc. A Maria vai raramente no cinema aos domingos433


d. A Maria vai no cinema raramente aos domingose. A Maria vai no cinema aos domingos raramenteA liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento é mais aparente do que real, porque nem todasas sentenças são igualmente naturais para os falantes e em algumas <strong>de</strong>las ainterpretação é diferente: enquanto (1a) ou (1b) são afirmações so<strong>br</strong>e ararida<strong>de</strong> do evento <strong>de</strong> a Maria ir no cinema aos domingos, (1d) afirma ararida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o evento se passar aos domingos, mas não se diz que o eventoem si é raro. Assim, parece que não estamos frente a uma só sentença, masfrente a sentenças distintas. Os experimentos efetuados com o advérbioraramente mostram o padrão á obtido anteriormente: sentenças comadvérbios em -mente apresentam tipicamente um movimento do contornoentoacional so<strong>br</strong>e o advérbio, mesmo que outros movimentos <strong>de</strong> pitch seencontrem em outros pontos da sentença. É preciso dizer, no entanto, quenos estágios anteriores da pesquisa com advérbios, trabalhamos apenas coma leitura das sentenças, obtendo todas as or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> palavras possíveis, massabemos que a leitura dá um caráter muito mecânico às produções, <strong>de</strong> modoque a uniformida<strong>de</strong> no contorno entoacional po<strong>de</strong> ser resultado da leitura. Omaior <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>ste estudo, portanto, é obter sentenças naturais. Por isso, aolado do experimento <strong>de</strong> leitura, estamos elicitando elocuções produzidas <strong>de</strong>modo semi-espontâneo. Nosso experimento piloto trabalha com pequenasestórias que permitem que o informante monte a frase com os itens lexicaissugeridos e assim o informante escolhe não apenas a entoação dasentença ,mas também o lugar em que <strong>de</strong>seja colocar o advérbio, quando hávários lugares possíveis. Estamos utilizando as ferramentas do "power point"para a apresentação das estórias, <strong>de</strong> modo que é possível introduzir os itenslexicais em or<strong>de</strong>m aleatória e vindos <strong>de</strong> diferentes pontos e em diferentesdireções na tela. Ainda que os primeiros resultados apontem um problemacom o tamanho das sentenças, porque trabalhando com uma sentença como(1) o informante freqüentemente esquece itens ou hesita na produção <strong>de</strong>les;eles mostram também diferentes estruturas entoacionais nas sentenças comadvérbios.MAIS DADOS PARA A CARACTERIZAÇÃO ACÚSTICA DASVOGAIS NASAIS DO PORTUGUÊS BRASILEIROGesoel Ernesto Ribeiro Men<strong>de</strong>s Junior (UFPR)O estudo da nasalida<strong>de</strong> vocálica <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema lingüístico po<strong>de</strong> serfeito <strong>de</strong> inúmeros ângulos como, por exemplo: (1) quais as pistas acústicasnecessárias para julgar <strong>de</strong>terminada vogal como nasal; (2) como essas vogaisse relacionam com suas respectivas contrapartes orais; e (3) como se dão asrelações acústico-articulatórias <strong>de</strong>sses sons. Este trabalho inci<strong>de</strong>principalmente so<strong>br</strong>e as questões (2) e (3). Um experimento fonéticoacústicocom dois informantes é apresentado. O corpus <strong>de</strong> palavras-alvo<strong>de</strong>sse experimento foi montado com logatomas em que se manipulouposição acentual em que as vogais nasais [iN], [aN] e [uN] estão inseridas434


<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um vocábulo. Os resultados foram então comparados comtrabalhos anteriores a respeito da produção <strong>de</strong>ssas vogais no português<strong>br</strong>asileiro (Sousa 1994; Seara 2000). Os resultados também foramcomparados com o estudo <strong>de</strong> Gregio (2006) a respeito da configuraçãosupra-glótica das vogais do português <strong>br</strong>asileiro via imagens <strong>de</strong> ressonânciamagnética. De modo geral, os resultados do meu experimento não seapresentaram muito diferentes dos trabalhos anteriores. Foi i<strong>de</strong>ntificada umaredução no valor <strong>de</strong> F1 para a vogal [aN], <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> sua articulaçãoser feita com a mandíbula mais elevada que sua contraparte oral. Foi<strong>de</strong>tectada também uma tendência <strong>de</strong> elevação dos valores <strong>de</strong> F2 para a vogal[iN], e em alguns casos para [aN], e <strong>de</strong> redução <strong>de</strong>sse formantes para [uN]quando comparadas com suas respectivas contrapartes orais, com algumasexceções. A hipótese <strong>de</strong> que tais variações <strong>de</strong> F2 se <strong>de</strong>vem a mano<strong>br</strong>asarticulatórias realizadas pela língua durante a produção <strong>de</strong>ssas vogais – e nãosomente a um efeito acústico <strong>de</strong> so<strong>br</strong>eposição da nasalida<strong>de</strong> a essas vogais –é reforçada pelo trabalho <strong>de</strong> Gregio (2006). Além disso, para os doisinformantes do experimento, um formante nasal em torno 1000Hz foii<strong>de</strong>ntificado para as vogais [iN] e [uN], e outro, em torno <strong>de</strong> 240Hz, para avogal [aN]. Com relação à duração, as vogais nasais se mostraram, como eraesperado, mais longas que suas vogais orais correspon<strong>de</strong>ntes.FonologiaA LIGAÇÃO FONOLÓGICA DOS CLÍTICOS PRONOMINAIS NAVARIEDADE BRASILEIRA DO PORTUGUÊSCristina Márcia Monteiro <strong>de</strong> Lima Corrêa (UFRJ)Compõe um fenômeno variável a ligação fonológica dos clíticospronominais, pois o pronome po<strong>de</strong> se ligar prosodicamente à direita ou àesquerda <strong>de</strong> seu hospe<strong>de</strong>iro fonológico. O trabalho objetiva <strong>de</strong>screver asistematicida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa variação na varieda<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira do Português.O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa é justificado pela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seaveriguar a hipótese <strong>de</strong> que a forma não-marcada no Brasil seria a ligação dopronome à direita. Para isso, <strong>de</strong>finiram-se os parâmetros acústicoscaracterizadores dos pronomes átonos, a fim <strong>de</strong> compará-los com as sílabasátonas vocabulares, pois pronomes átonos e sílabas átonas vocabularesapresentariam semelhanças acústicas. Frases que formam possíveis pareshomônimos (ex.: me nino e menino) foram gravadas, <strong>de</strong> modo que as sílabasátonas do vocábulo formal fossem comparadas às dos pronomes. A partir<strong>de</strong>sse “corpus”, mediram-se os parâmetros <strong>de</strong> duração, intensida<strong>de</strong> efreqüência fundamental. Finalmente, quantificaram-se e analisaram-se osresultados. O estudo fundamentou-se nos preceitos <strong>de</strong> cliticização propostospor Klavans (1985), so<strong>br</strong>etudo no fato <strong>de</strong> que o clítico po<strong>de</strong> ocorrerproclítico ou enclítico ao hospe<strong>de</strong>iro fonológico, que nem sempre coinci<strong>de</strong>com o hospe<strong>de</strong>iro sintático. Além disso, foi <strong>de</strong> suma importância a o<strong>br</strong>a <strong>de</strong>Vieira (2002), cuja análise se centra na interface prosódia-morfossintaxe dos435


clíticos pronominais em varieda<strong>de</strong>s do Português. Os resultados preliminaresconfirmam, por ora, a hipótese <strong>de</strong> que as sílabas átonas vocabulares e asílaba clítica se assemelham, principalmente no que toca aos parâmetros <strong>de</strong>duração e intensida<strong>de</strong>. Entretanto, somente com o prosseguimento dapesquisa permitir-se-á verificar se, <strong>de</strong> fato, a realização não-marcada doclítico, no Brasil, é à direita.UM ESTUDO SOBRE A RELAÇÃO ENTRE PALAVRAMORFOLÓGICA E PALAVRA FONOLÓGICA EM VOCÁBULOSCOMPLEXOS DO PORTUGUÊS BRASILEIROEmanuel Souza <strong>de</strong> Quadros (UFRGS/CNPq)Luiz Carlos Schwindt (UFRGS/CNPq)Inserido no projeto “Morfofonologia do Português Brasileiro: perspectiva <strong>de</strong>restrições”, o presente trabalho investiga a relação entre palavra morfológicae palavra fonológica no português <strong>br</strong>asileiro. Tais categorias nem sempre sãoisomórficas, o que as torna <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse teórico, dada a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> caracterizar as condições que regem a correspondência entre elas.Contribuímos para essa discussão por meio do estudo <strong>de</strong> palavras resultantes<strong>de</strong> processos morfológicos do português. As palavras morfológicas formadaspor tais processos po<strong>de</strong>m ser realizadas como uma ou mais palavrasfonológicas. A fim <strong>de</strong> averiguar essa realização, baseamo-nos no status dasvogais médias das bases que participam <strong>de</strong>ssas formações. Sabemos que, emalgumas varieda<strong>de</strong>s do português, incluindo a da região sul, vogais médiasbaixasrealizam-se apenas em posições tônicas. Assim, por exemplo, arealização <strong>de</strong> uma vogal média-baixa na primeira sílaba <strong>de</strong> medicozinhoaponta para a existência <strong>de</strong> mais um acento nessa palavra, além do que recaiso<strong>br</strong>e a penúltima sílaba; temos, portanto, um indício <strong>de</strong> que essa palavramorfológica correspon<strong>de</strong> a duas palavras fonológicas: medico e zinho. Nossadiscussão é alimentada por dados <strong>de</strong> compostos e palavras sufixadasextraídas do banco <strong>de</strong> dados do Projeto VARSUL e por resultadosprovenientes <strong>de</strong> um experimento envolvendo palavras compostas eprefixadas, aplicado a informantes porto-alegrenses.Fonologia AquisiçãoAQUISIÇÃO DE SEGMENTOS NOS DIFERENTES MODELOS DETERAPIA FONOLÓGICAAna Rita Brancalioni (UFSM)Caroline Marini (UFSM)Karina Carlesso Pagliarin (UFSM)Marizete Ilha Ceron (UFSM)Márcia Keske-Soares (UFSM)A inteligibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fala está diretamente relacionada à quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>segmentos estabelecidos no sistema fonológico. Assim, uma das principais436


formas <strong>de</strong> verificar a evolução terapêutica é analisar o número <strong>de</strong> segmentosadquiridos no sistema fonológico da criança ao longo da terapia. Estetrabalho teve como objetivo verificar o percentual <strong>de</strong> segmentos adquiridosno sistema fonológico nas diferentes gravida<strong>de</strong>s do <strong>de</strong>svio fonológico, notratamento em três diferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> terapia e comparar o percentual <strong>de</strong>aquisição <strong>de</strong> sons entre os três mo<strong>de</strong>los. A amostra foi constituída por 66crianças com <strong>de</strong>svio fonológico e ida<strong>de</strong>s entre 4:4 e 8:2, <strong>de</strong> ambos os sexos,integrantes do banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> uma clínica escola. As crianças foramavaliadas, antes e após um período <strong>de</strong> 15 a 25 sessões <strong>de</strong> terapia fonológica,através da Avaliação Fonológica da Criança (Yavas, Hernandorena eLamprecht, 1991), a partir da qual foi <strong>de</strong>terminada a gravida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sviofonológico conforme o Percentual <strong>de</strong> Consoantes Corretas – PCC (Shriberge Kwiatkowski, 1982) e o percentual <strong>de</strong> segmentos adquiridos após operíodo <strong>de</strong> tratamento. Do total, foram tratadas 36 crianças pelo Mo<strong>de</strong>loABAB-Retirada e Provas Múltiplas, sendo 4 com Desvio Severo (DS), 7com Mo<strong>de</strong>rado-Severo (DMS), 17 com Médio-Mo<strong>de</strong>rado (DMM), e 8 comMédio (DM). No Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Oposições Máximas Modificado foram tratadas17 crianças, 1 com DS, 4 com DMS, 9 com DMM e 3 com DM. No Mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> Ciclos Modificado 13 crianças foram tratadas, sendo 3 com DMS, 9 comDMM e 1 com DM; neste mo<strong>de</strong>lo não houve criança tratada com DS.Posteriormente, realizou-se análise estatística dos dados, utilizando o TesteT para amostras iguais, consi<strong>de</strong>rando-se p


linguagem com <strong>de</strong>svios fonológicos. E, conforme Lamprecht (1990), essaestrutura é a última a ser adquirida, visto que, por volta dos 5 anos, éesperado que a aquisição <strong>de</strong>ssa estrutura esteja estabilizada no sistemafonológico da criança. Trabalhos so<strong>br</strong>e a aquisição do onset complexo, comoRibas (2002, 2004), por exemplo, mostram resultados a respeito dasestratégias <strong>de</strong> reparo aplicadas pelos aprendizes e so<strong>br</strong>e os ambientesfavoráveis ou não para a produção dos encontros consonantais. Este trabalho,no entanto, visa a investigar o papel da posição do onset complexo napalavra, do ponto <strong>de</strong> articulação da obstruinte e da freqüência lexical naemergência <strong>de</strong>ssa estrutura silábica. Os dados indicam que, assim comoacontece com a aquisição <strong>de</strong> outros constituintes silábicos, a posição doonset complexo na palavra e o ponto <strong>de</strong> articulação da obstruinte po<strong>de</strong>m<strong>de</strong>sempenhar um papel facilitador na emergência <strong>de</strong>ssa estrutura silábica.Também constatou-se que os grupos <strong>de</strong> onset complexo (labial, coronal edorsal) em palavras com maior freqüência no léxico da criança sãoadquiridos primeiramente, evi<strong>de</strong>nciando um padrão <strong>de</strong> aquisição por itemlexical. A análise dos dados relacionados à aquisição do onset complexoconstituído pela líquida lateral trouxe consi<strong>de</strong>rações acerca do papel damarcação – complexida<strong>de</strong> articulatória – no processo <strong>de</strong> aquisição.AQUISIÇÃO DO ACENTO DO PORTUGUÊS: O PAPEL DOLÉXICOJoice Ines Bieger (UFSM – BIC-FAPERGS)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)Os estudos so<strong>br</strong>e a aquisição fonológica do português são, em sua gran<strong>de</strong>maioria, voltados para a aquisição segmental e <strong>de</strong> estruturas silábicas, sendoainda poucos os voltados para a aquisição do acento primário, como Santos(2001) e Bonilha (2004). Este trabalho preten<strong>de</strong> investigar a aquisição doacento primário em português. Para tanto, foram utilizados dados <strong>de</strong> doissujeitos longitudinais com ida<strong>de</strong> entre 1:7 e 4:0 (anos:meses), monolíngües,com <strong>de</strong>senvolvimento fonológico consi<strong>de</strong>rado normal, para investigar comose dá o processo <strong>de</strong> aquisição do acento primário no que se refere ao padrãomarcado proparoxítono. Alguns estudos evi<strong>de</strong>nciam o papel da aquisição doacento primário em português, mas tais pesquisas não investigaram o papelda freqüência lexical nesse processo. Dessa forma, preten<strong>de</strong>-se verificar quala relação que se dá entre a freqüência <strong>de</strong> tipos e tokens produzidos pelacriança e a aquisição do padrão proparoxítono. Para a realização <strong>de</strong>ssapesquisa, parte-se da hipótese <strong>de</strong> que a freqüência lexical é diretamenterelacionada ao output da criança, influenciando, <strong>de</strong>ssa forma, o processo <strong>de</strong>aquisição fonológica – neste caso, o processo <strong>de</strong> aquisição do acentoprimário do português.438


O PAPEL DA FREQÜÊNCIA LEXICAL E SEGMENTAL NAAQUISIÇÃO DA NASALIDADE DAS VOGAIS: INCLUINDOPARÂMETROS CONTÍNUOS NO ESTUDO DA AQUISIÇÃOFONOLÓGICAMagnun Rochel (UCPEL/PIBIC/CNPq)Márcia C. Zimmer (UCPel)Partindo da premissa <strong>de</strong> que a gramática e o léxico são inseparáveis durantea aquisição da linguagem (BATES E GOODMAN, 2001), e <strong>de</strong> que osprocessos fônicos são sensíveis a efeitos <strong>de</strong> freqüência, pois a entrada lexicalenvolve a passagem <strong>de</strong> um alvo dinâmico a outro, este estudo investigaefeitos <strong>de</strong> freqüência na aquisição da nasalida<strong>de</strong> das vogais no PB. Afreqüência é tomada <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma noção <strong>de</strong> gramática estocástica,observando-se a convergência entre a visão probabilística e a dinamicida<strong>de</strong>dos sistemas fônicos (ALBANO,1999). Em virtu<strong>de</strong> da discussão do statusdas vogais nasais, não se encontra nenhum estudo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong>ssas vogaisna literatura <strong>de</strong> aquisição fonológica no PB. Historicamente, há duascorrentes que polemizam o status <strong>de</strong>ssas vogais: a primeira corrente parte dahipótese <strong>de</strong> que existem vogais nasais no PB, e <strong>de</strong> que, além da oposiçãoentre pares como ‘cito-cinto’, ‘leda-lenda’, ‘ata-anta’, ‘boba-bomba’, ‘jutajunta’ser <strong>de</strong>vida ao contraste fonológico entre vogais orais e vogais nasais,há diferença entre vogais nasais e vogais nasalizadas, como em ‘cama’(PONTES, 1972, LEITE, 1974, MEDEIROS, DEMOLIN, 2006). A segundacorrente é a <strong>de</strong> que a distinção entre os pares citados advém do acréscimo <strong>de</strong>um segmento consonântico nasal à vogal oral (CÂMARA JR, 1970; SILVA,2002; GREGIO, 2006). O objetivo <strong>de</strong>sse estudo é observar a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aquisição da nasalida<strong>de</strong> vocálica; observar o papel da freqüência lexical<strong>de</strong>ssas palavras (no repertório dos bebês e <strong>de</strong> seus cuidadores) na aquisiçãoda nasalida<strong>de</strong> das vogais, bem como contribuir com dados <strong>de</strong> aquisição paraa discussão dos status das vogais nasais. Utilizamos dados, coletadoslongitudinalmente, <strong>de</strong> seis bebês constantes do banco <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> freqüênciasegmental e lexical do <strong>de</strong>senvolvimento da fala <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> 1-4 anos(UCPel), ainda em construção. Pesquisamos as ocorrências <strong>de</strong> palavras docorpus que contêm vogais nasais no PB, excluindo as vogais nasalizadas, eatribuímos a elas uma freqüência lexical. Posteriormente, fizemos umlevantamento estatístico, através do qui-quadrado, dos dados observados nainteração dos seis bebês <strong>de</strong> faixa etária <strong>de</strong> 1:00 a 2:07, selecionando os tipos<strong>de</strong> palavras (types) contendo vogais nasais e suas respectivas produções(tokens). Em virtu<strong>de</strong> do andamento <strong>de</strong>ste estudo, os resultados a seremapresentados ainda são parciais e a inclusão <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> interação <strong>de</strong> outrosbebês com faixas etárias maiores po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada.439


Fonologia Aquisição EscritaAS HIPERSEGMENTAÇÕES NA ESCRITA INICIAL DE ADULTOSE CRIANÇASCarmen Regina Ferreira Souza (FaE-UFPEL)Natalia Devantier (FaE-UFPEL)Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE- FaE-UFPel)As segmentações não-convencionais presentes em textos infantis têm sidotema <strong>de</strong> vários trabalhos, mas pouco se sabe so<strong>br</strong>e o que ocorre com ostextos <strong>de</strong> adultos no que diz respeito a esse fenômeno. Segundo Ferreiro eTeberosky (1999), a criança quando começa a escrever tem muitadificulda<strong>de</strong> em consi<strong>de</strong>rar seqüências <strong>de</strong> uma ou duas letras como palavras,por isso, muitas vezes, junta esses segmentos à palavra seguinte. Mas, assimcomo ela junta tais seqüências <strong>de</strong> maneira não-convencional, ao reconhecerformas lexicais po<strong>de</strong> segmentá-las também <strong>de</strong> modo ina<strong>de</strong>quado. Essasocorrências po<strong>de</strong>m ser classificadas como hipersegmentações (quandoocorrem mais espaços em <strong>br</strong>anco do que os previstos na grafiaconvencional), as quais po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>correntes da instabilida<strong>de</strong> naconceituação por parte da criança do que seja uma “palavra” e <strong>de</strong> quaissejam seus limites gráficos. Pesquisas so<strong>br</strong>e a aquisição da escrita porcrianças (Abaurre, 1991, e Cunha, 2004) têm mostrado que, ao se separaremas palavras <strong>de</strong> forma não-convencional, há uma tendência à preservação <strong>de</strong>pés métricos, o que po<strong>de</strong> ser indício <strong>de</strong> que a criança estaria interpretando-ascomo duas palavras lexicais integrantes do seu vocabulário. Os dados <strong>de</strong>escrita infantil analisados neste estudo foram extraídos do Banco <strong>de</strong> Textos<strong>de</strong> Aquisição da Escrita (FaE-UFPel). Ao todo foram consultados 100 textosproduzidos por crianças da 1ª série dos anos iniciais <strong>de</strong> duas escolas <strong>de</strong>Pelotas, uma pública e outra particular. A análise <strong>de</strong> textos espontâneosrevelou que a criança, ao lidar com problemas <strong>de</strong> segmentação na escrita,opera com um tipo <strong>de</strong> forma canônica da palavra na língua, o que, segundoAbaurre (1991), po<strong>de</strong> estar contribuindo para a percepção que ela já possuida <strong>org</strong>anização rítmica e prosódica dos enunciados. Em todos os casosanalisados, as crianças preservaram as estruturas silábicas da língua. Ostexto dos adultos, todos alunos da Educação <strong>de</strong> Jovens e Adultos (EJA),estão ainda sendo coletados, mas a análise preliminar mostra que há umaestreita relação entre o comportamento <strong>de</strong> crianças e adultos em fase <strong>de</strong>aquisição da escrita, especificamente no que diz respeito à influência dosconstituintes prosódicos so<strong>br</strong>e os casos <strong>de</strong> hipersegmentação.A MORFOLOGIA DO VERBO E OS DADOS DE ESCRITA INICIALCinara Miranda Lima (PIC-UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (PPGE-UFPel)Neste trabalho, tem-se o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e analisar a forma como ascrianças grafam o morfema número-pessoal –u dos verbos na 3ª pessoa do440


singular do pretérito perfeito. Tais morfemas, objetos <strong>de</strong> estudo damorfologia, área da gramática que estuda as palavras a partir <strong>de</strong> sua estruturae formação, são exemplos <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s mínimas significativas <strong>de</strong> uma língua.De acordo com Câmara Jr. ([1970]1997), a classe dos verbos tem papel <strong>de</strong><strong>de</strong>staque <strong>de</strong>ntro da morfologia, uma vez que suas flexões nos indicamnoções gramaticais importantes. As formas flexionadas dos verbos da 3ªpessoa do singular, em foco neste trabalho, po<strong>de</strong>m ser pronunciadas <strong>de</strong>maneiras distintas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da conjugação do verbo (-ar, -er ou –ir). Amonotongação é o fenômeno mais freqüente nos casos dos verbos <strong>de</strong>primeira conjugação, nos quais a vogal alta é ordinariamente apagada na falados usuários da língua, como em ‘ele pego[ø]’, por exemplo. Já nos outroscasos, relativos à segunda e à terceira conjugações, a vogal alta é mantida,como em ‘ele comeu’ e ‘ele pediu’, respectivamente. Os resultadosencontrados na análise dos dados <strong>de</strong> escrita <strong>de</strong> crianças das séries iniciais,pertencentes ao Banco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita (FaE-UFPel),revelam que os processos <strong>de</strong> apagamento e substituição estão condicionadosà qualida<strong>de</strong> da vogal temática. No caso dos verbos <strong>de</strong> 1ª conjugação verificaseum maior índice <strong>de</strong> apagamento, o que caracteriza uma escrita que sofre ainfluência da forma fonética; já nos verbos <strong>de</strong> 2ª e 3ª conjugações ocorre asubstituição da vogal alta por uma vogal média ou pela consoante líquidalateral, casos interpretados como <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> supergeneralização. Dentreos erros computados, o maior índice encontrado é relativo aos verbos <strong>de</strong> 3ªconjugação. Tais resultados são importantes à medida que explicitam amotivação para a ocorrência dos erros e po<strong>de</strong>m auxiliar o professor aplanejar uma intervenção pedagógica para o ensino da ortografia capaz <strong>de</strong>levar os alunos a uma aprendizagem mais significativa, pautada na reflexãoso<strong>br</strong>e a língua.CONSCIÊNCIA FONOLÓGICA: ATIVIDADES DE RIMA E DECONSCIÊNCIA SILÁBICACláudia Camila Lara (FURG)O presente trabalho tem por objetivo apresentar ativida<strong>de</strong>s envolvendo aconsciência fonológica <strong>de</strong> rimas e <strong>de</strong> sílabas as quais estão sendo aplicadascom crianças cursando o primeiro ano do ensino fundamental. Esse estáinserido no projeto Elaboração <strong>de</strong> uma coletânea <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s envolvendoconsciência fonológica. Consciência Fonológica refere-se à habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>manipular as palavras nos níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> lingüística, tais como:rima > aliteração > sílaba > constituintes silábicos: ataque (simples ecomplexo) e rima (núcleo e coda) > fonema. De acordo com estudosenvolvendo a Consciência Fonológica, Chard & Dickson (1999) apontampara um contínuo <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong> forma gradual, partindodas menos complexas como, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> rimas, segmentação <strong>de</strong> frasesem palavras separadas, segmentação <strong>de</strong> palavras em partes iniciais(aliteração) e em rimas, consciência silábica para as ativida<strong>de</strong>s maiscomplexas como constituintes menores da sílaba (ataque simples ou441


complexo e rima) e fonemas. Com base em Adams et. Al. (2006), aplicamosativida<strong>de</strong>s para sensibilização aos sons, subdivididos em sons da natureza,<strong>de</strong> objetos, <strong>de</strong> animais e do homem, bem como ativida<strong>de</strong>s com poesias,músicas e trava-línguas para <strong>de</strong>senvolver a sensibilização <strong>de</strong> rimas ealiterações. Outras sugestões <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s para <strong>de</strong>senvolver a consciênciasilábica, mencionadas por Capovilla & Capovilla (2000), são os jogos <strong>de</strong>trilha, combinação <strong>de</strong> sílabas para formar palavras, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> sílabasiniciais, mediais e finais que são constituídas pelas estruturas silábicas:ataque simples e núcleo, ataque e rima (núcleo e coda), ataque complexo enúcleo. Para o <strong>de</strong>senvolvimento da consciência fonêmica seguem-seativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> fonemas, solicitação para retirar e/ou inserirfonemas para formar novas palavras e, finalmente, para estabelecer a relaçãoFonema/Letra ativida<strong>de</strong>s como apresentação das letras e seus respectivossons em posição <strong>de</strong> ataque no início da palavra, observando que letras e seusrespectivos sons consonantais em posição <strong>de</strong> ataque no início da palavrapo<strong>de</strong>m ocupar também a posição <strong>de</strong> coda no meio e no final da palavra(coda medial/final). O referido trabalho contempla adaptações <strong>de</strong> sugestões<strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s citadas acima (poesia com rima e aliteração, parlendas, travalínguase ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> rima e ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> separaçãosilábica). Estas estão sendo aplicadas semanalmente em três turmas cursandoo primeiro ano do Ensino Fundamental, perfazendo um total <strong>de</strong> 60 crianças.Anteriormente, em 2007, o Projeto foi executado em uma escola Municipal<strong>de</strong> Ensino Fundamental, sob a forma <strong>de</strong> encontros quinzenais durante certoperíodo <strong>de</strong> aula <strong>de</strong> uma turma com 26 alunos. Percebeu-se uma gran<strong>de</strong>aceitabilida<strong>de</strong> e participação das ativida<strong>de</strong>s pelos alunos, ressaltando, <strong>de</strong>ssaforma, a importância da Consciência Fonológica como uma ferramenta paraauxiliar no processo <strong>de</strong> leitura e escrita <strong>de</strong> crianças cursando os primeirosanos dos anos iniciais. Baseando-se nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas durante aelaboração da coletânea, preten<strong>de</strong>-se validar, por meio <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong>pesquisa, a eficácia <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consciência fonológicapara auxiliar crianças em processo <strong>de</strong> aquisição da escrita, cursando os anosiniciais do ensino fundamental <strong>de</strong> escolas públicas.INFLUÊNCIA DA ORALIDADE NA ESCRITA: AQUISIÇÃOBILÍNGÜE PORTUGUÊS/ALEMÃOGlívia Guimarães Nunes (UFSM – PIBIC-CNPq)Giovana Ferreira-Gonçalves (UFSM)A influência da oralida<strong>de</strong> na produção escrita tem sido constatada em váriaspesquisas acerca da aquisição da escrita no português <strong>br</strong>asileiro, comoCagliari (1989), Scliar-Ca<strong>br</strong>al (2003) e Zorzi (1998). Nos falantes <strong>de</strong> línguaportuguesa que apresentam interferências <strong>de</strong> dialetos alemães,freqüentemente, ocorrem, na oralida<strong>de</strong> e na escrita, algumas trocas <strong>de</strong>fonemas, por exemplo: /d/ e /t/, como em <strong>de</strong>nte [tente], /p/ e /b/, como embolacha [polaʃa]. Outra variação é em relação ao fonema /v/ que épronunciado como [f], - levado e veneno, que são pronunciados e escritos442


como [lefado] e [feneno]. Tais diferenças são, portanto, passíveis <strong>de</strong>exercerem interferência tanto na língua falada quanto na língua escrita,consi<strong>de</strong>rando o contato do aprendiz com as duas línguas. O presente trabalhobusca <strong>de</strong>screver e analisar as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escrita, originadas dainterferência da aquisição bilíngüe português/alemão. O corpus é constituído<strong>de</strong> setenta narrativas orais e escritas, a partir <strong>de</strong> coletas longitudinais feitascom crianças da 2°, 4°, 6° série <strong>de</strong> uma escola <strong>de</strong> ensino fundamental dacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Agudo-RS. Essas narrativas são baseadas na história Frog, whereare you?, <strong>de</strong> Mayer (1969). Os erros apresentados nas produções orais eescritas foram transcritos e agrupados segundo a seguinte classificação: erros<strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> (i) motivações fonológicas relacionadas à aquisição bilíngüee <strong>de</strong> (ii) motivações fonológicas relacionadas à aquisição da língua materna.Também foram consi<strong>de</strong>rados aspectos como freqüência <strong>de</strong> tipos e tokens naanálise das interferências constatadas.UM ESTUDO SOBRE A GRAFIA DAS VOGAIS PRETÔNICAS NOPORTUGUÊS EM DADOS DE AQUISIÇÃO DA ESCRITALuísa Hernan<strong>de</strong>s Grassi (UFPel)O sistema ortográfico do português conta com cinco grafemas, a, e ,i ,o e u,mais acentos agudo, circunflexo e til, para representar as sete vogaisexistentes na posição tônica das palavras nesta língua (Mattoso CâmaraJr.1988, 41-42). Já na posição pretônica, mesmo havendo uma diminuiçãodas vogais <strong>de</strong> sete para cinco - em virtu<strong>de</strong> da neutralização que ocorre entreas vogais médias baixas e médias altas, conservando-se as médias altas – osgrafemas, dos quais o sistema dispõe, continuam sendo os mesmos. Opresente trabalho tem como objetivo verificar o que ocorre com a grafia dasvogais em posição pretônica, em textos espontâneos produzidos por crianças<strong>de</strong> 1ª a 4ª série dos anos iniciais, pertencentes a duas escolas <strong>de</strong> Pelotas, umapública e a outra particular. Os textos analisados estão sendo extraídos doBanco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita (FaE/UFPel). A análise <strong>de</strong> acordocom o tipo <strong>de</strong> escola – feita com duas coletas do já mencionado Banco <strong>de</strong>Textos – mostrou que na escola pública a incidência <strong>de</strong> erros na grafia dasvogais pretônicas é maior do que na escola particular. Os resultados atéagora obtidos, apontam para a predominância <strong>de</strong> erros motivados pelafonética na grafia das pretônicas em ambas as escolas pesquisadas. Outroresultado relevante é a proporcional distribuição do número <strong>de</strong> erros <strong>de</strong>supergeneralização, fenômeno que, segundo Menn & Stoel Gammon (1997),é o marco da verda<strong>de</strong>ira aprendizagem da regra. Foram encontrados <strong>de</strong>zcasos <strong>de</strong> supergeneralização – <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> quarenta e três erros – naescola particular; e <strong>de</strong>zenove – <strong>de</strong> um total <strong>de</strong> sessenta e oito – na escolapública. Assim percebemos que, mesmo as crianças da escola públicaerrando mais a grafia das vogais pretônicas, as crianças das duas escolas<strong>de</strong>monstram estarem pensando so<strong>br</strong>e a língua escrita ao não observarem su<strong>br</strong>egularida<strong>de</strong>sdo sistema, esten<strong>de</strong>ndo uma regra a contextos on<strong>de</strong> ela não seaplica.443


DADOS DA ESCRITA INFANTIL E SUA CONTRIBUIÇÃO ÀDISCUSSÃO FONOLÓGICA SOBRE OS DITONGOS [AJ] E [EJ]Marco Antônio Adamoli (UFPel)Ana Ruth Moresco Miranda (UFPel)Pesquisas variacionistas, ao abordarem a supressão das semivogais dosditongos fonéticos nas mais variadas regiões do país (MENEGHINI, 1983;CABREIRA, 1996; PAIVA, 1996; ARAÚJO, 2000), têm constatado umaforte tendência à preferência apenas pela vogal-base dos ditongos [aj], [ej] e[ow]. Essa constatação levou Bisol (1989, 1994), com base nas teoriasfonológicas não lineares, a afirmar que os ditongos fonéticos ou os falsosditongos, como <strong>de</strong>nomina a autora, ocupam apenas uma posição no nível CV,ou seja, as vogais altas <strong>de</strong>sses ditongos não existem na forma subjacente.Dados da aquisição fonológica também corroboram com essa afirmativa, jáque as crianças, em fase <strong>de</strong> aquisição da linguagem, nunca realizam os falsosditongos, conforme observou por Bonilha (2000). Adamoli (2006), ao<strong>de</strong>screver e analisar o processo <strong>de</strong> aquisição gráfica dos ditongos oraismediais em 940 textos <strong>de</strong> alunos das duas primeiras séries <strong>de</strong> duas escolas <strong>de</strong>Pelotas/RS, observou uma gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> erros ortográficos <strong>de</strong>naturezas diversas relacionados à grafia dos ditongos mediais, cujassemivogais ora eram grafadas, ora suprimidas, ora, ainda, substituídas porconsoantes. Tal observação revelou a ambigüida<strong>de</strong> no tratamento <strong>de</strong>stasestruturas pelas crianças, bem como a dificulda<strong>de</strong> que as criançasapresentam em relação à escrita <strong>de</strong>sses constituintes silábicos. Na tentativa,então, <strong>de</strong> contribuir com a discussão a respeito do status fonológico dosditongos do PB, este estudo preten<strong>de</strong> discutir, a partir <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> aquisição<strong>de</strong> escrita infantil, parâmetros relativos à fonologia do português <strong>br</strong>asileiro,mais especificamente no que diz respeito à proposta <strong>de</strong> Bisol (1989/1994)so<strong>br</strong>e a origem do gli<strong>de</strong> epentético dos ditongos fonéticos.DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS ERROS ORTOGRÁFICOSREFERENTES À GRAFIA DAS SOANTES PALATAIS EDISCUSSÃO SOBRE SEU STATUS FONOLÓGICOShimene Teixeira (FaE – Pic/UFPel)O presente trabalho tem o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e analisar os errosortográficos referentes à grafia das soantes palatais ‘nh’ e ‘lh’ para,posteriormente, discutir a relação possível entre essas incidências e o statusfonológico <strong>de</strong> tais consoantes. Para o <strong>de</strong>senvolvimento do estudo serãoanalisados tanto resultados relativos à aquisição fonológica <strong>de</strong>ssessegmentos (cf. Lamprecht, 2004) como as discussões teóricas acerca <strong>de</strong> seustatus fonológico (cf. Wetzels, 2000). As pesquisas so<strong>br</strong>e a aquisiçãofonológica do português têm mostrado uma certa tendência hierárquica, naaquisição dos fonemas da língua. Evi<strong>de</strong>nciou-se, através <strong>de</strong> tais estudos, quea palatal nasal /ñ/ é adquirida por volta <strong>de</strong> 1:7, enquanto a palatal líquida /l/444


é um dos últimos fonemas a serem adquiridos, por volta dos 4 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>.Quanto à fonologia, essas consoantes po<strong>de</strong>m ser interpretadas comogeminadas ou como consoantes complexas, <strong>de</strong> acordo com Wetzels (2000) eMatzenauer-Hernandorena (1994), respectivamente. Os erros ortográficosanalisados serão extraídos <strong>de</strong> produções escritas espontâneas, pertencentesao Banco <strong>de</strong> Textos <strong>de</strong> Aquisição da Escrita (Fae/UFPel). Os textos foramproduzidos por crianças <strong>de</strong> 1ª a 4ª série dos anos iniciais do ensinofundamental, <strong>de</strong> duas escolas <strong>de</strong> Pelotas, uma pública e outra particular. Osresultados mostram que a incidência <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> erro é bastante baixa, vistoque a grafia das palatais obe<strong>de</strong>ce a regularida<strong>de</strong>s do sistema ortográfico,exceto em algumas palavras que envolvem a liquida. Há, porém, dados quemostram casos <strong>de</strong> substituição e <strong>de</strong> outras estratégias utilizadas pelascrianças ao representarem graficamente esses fonemas, os quais oferecemindícios para que se discuta a fonologia <strong>de</strong>ssas consoantes.RESUMOS DOS PÔSTERES – SESSÃO IIFilologiaFILOLOGIA PASSO A PASSOAna Kelly Borba da Silva (UFSC)Gisele Iandra Pessini Anater (UFSC)Esta pesquisa filológica trata so<strong>br</strong>e a preparação <strong>de</strong> um glossário para a o<strong>br</strong>aBulha d’Arroio <strong>de</strong> Tito Carvalho. Este foi <strong>de</strong>fensor da literatura regionalistae costumava enfatizar, em especial, as particularida<strong>de</strong>s e diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suaregião. Nessa perspectiva, a língua tinha uma gran<strong>de</strong> importância para oautor. A Filologia é uma ciência muito antiga que se ocupa da linguagem <strong>de</strong>várias maneiras. Aborda, entre outras formas, a “edição crítica <strong>de</strong> textos”, aqual procura reconstituir o texto original (a partir <strong>de</strong> manuscritos ou ediçõesantigas, <strong>de</strong> vida do autor) adaptando para o leitor, <strong>de</strong>sfazendo a<strong>br</strong>eviaturas,atualizando a pontuação, interpretando passos obscuros, po<strong>de</strong>ndo inclusivesubstituir o sistema ortográfico, sempre buscando, entretanto, respeitar ao<strong>br</strong>a original e o autor. Ressaltamos que a edição crítica po<strong>de</strong> ter diversasformas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do público a que se dirige. Por essa razão, éimprescindível que, em um prefácio ou em uma introdução metodológica, ofilólogo-editor <strong>de</strong>termine os princípios e as normas adotadas. A escritoraDanila Varella produziu uma edição crítica <strong>de</strong> Bulha d’ Arroio usando comotexto base a primeira e única edição, datada <strong>de</strong> 1939. Danila colheu asversões que saíram nos periódicos para o cotejo com aquele texto. Proce<strong>de</strong>ua atualização ortográfica e publicou sua edição crítica, <strong>de</strong>stacando em notas<strong>de</strong> rodapé a ortografia do texto original (isto é, da primeira edição) e asdivergências ortográficas encontradas nos jornais. No entanto, a autorasuprimiu o vocabulário produzido pelo autor, parte integrante da o<strong>br</strong>a, semsequer mencionar sua existência. A partir disso, passamos à restauração do445


texto original da o<strong>br</strong>a. O processo <strong>de</strong> restauração do texto fundamenta-se nospressupostos teóricos <strong>de</strong> Spina (1994), dispostos em Introdução à Edótica:crítica textual. Com base nos procedimentos <strong>de</strong>finidos pelo autor, buscamosreproduzir da forma mais a<strong>de</strong>quada e com a maior fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong> possível aúltima forma <strong>de</strong>sejada pelo autor, restituindo ao texto sua genuinida<strong>de</strong> e,com isso, permitindo ao leitor fruir uma narrativa confiável e ao crítico oexercício seguro <strong>de</strong> sua tarefa analítica. Coletamos todas as edições da o<strong>br</strong>a;trabalhamos com três contos: “Bulha d’Arroio”, “Valentia” e “Luta <strong>de</strong>Touros” e também com o vocabulário. O produto final do nosso trabalho é aíntegra da o<strong>br</strong>a, respeitada na sua autenticida<strong>de</strong>. Concluímos que não temosuma reedição fi<strong>de</strong>digna da o<strong>br</strong>a, no que se refere ao texto <strong>de</strong> fato produzidopor Tito Carvalho.LexicografiaCOMBINATÓRIAS LÉXICAS ESPECIALIZADAS DA GESTÃOAMBIENTAL: SUAS CARACTERÍSTICAS EM LÍNGUAESPANHOLACarolina dos Santos Carboni (UFRGS)Cleci Regina Bevilacqua (UFRGS)Este trabalho tem o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver um conjunto <strong>de</strong> combinatóriasléxicas especializadas (CLEs) da área da Gestão Ambiental em línguaespanhola em contraste com a língua portuguesa. Seguindo a proposta <strong>de</strong>L'Homme (2000), <strong>de</strong>finimos as CLEs como combinações <strong>de</strong> dois ou maislexemas, um dos quais é uma unida<strong>de</strong> terminológica, para as quais há umarestrição <strong>de</strong> seleção <strong>de</strong>terminada pelas especificida<strong>de</strong>s da área em que sãoutilizadas. Tal restrição po<strong>de</strong> ser observada nas combinações do termo meioambiente, que seleciona combinatórias como conservar o meio ambiente epreservar o meio ambiente, mas não admite outras como *guardar o meioambiente, *amparar o meio ambiente ou *reter o meio ambiente. Preten<strong>de</strong>seanalisar a constituição <strong>de</strong>ssas combinatórias e i<strong>de</strong>ntificar suascaracterísticas semânticas a fim <strong>de</strong> reconhecer suas especificida<strong>de</strong>s.Iniciamos pela análise das CLEs do termo água, em que se constata que ostraços semânticos <strong>de</strong> água se constituem em função dos verbos com os quaiso termo ocorre. Assim, quando água se combina com conservar, adquire ostraços <strong>de</strong> [+recurso natural, +bem público, +potável], e, quando se combinacom reciclar, adquire os traços [+recurso natural, +bem público, +usada, -potável, +passível <strong>de</strong> reuso]. Consi<strong>de</strong>rando os resultados <strong>de</strong>sta análise,objetiva-se verificar se, em espanhol, ocorrem essas mesmas mudanças naconstituição das CLEs em relação ao termo água ou se há outrasespecificida<strong>de</strong>s. Para a i<strong>de</strong>ntificação das combinatórias em espanhol,construímos um corpus constituído por textos acadêmicos <strong>de</strong> revistasargentinas e espanholas, totalizando cerca <strong>de</strong> 130 mil palavras. Para aextração das combinatórias geraram-se os contextos do termo águautilizando a ferramenta Concord do software Wordsmith Tools 4.0. A partir446


<strong>de</strong>les, selecionaram-se as combinatórias formadas com o termo referido, queforam analisadas segundo suas características semânticas. Uma análiseprévia dos dados coletados nos permite afirmar que as CLEs dos textos daEspanha caracterizam água como um bem <strong>de</strong> consumo e não como um bempúblico. Com os resultados obtidos, espera-se estabelecer parâmetros tantopara a compreensão da conformação das CLEs em língua espanhola comopara a i<strong>de</strong>ntificação dos equivalentes das combinatórias i<strong>de</strong>ntificadas emlíngua portuguesa. Preten<strong>de</strong>-se ainda incluir tais resultados na base <strong>de</strong> dados<strong>de</strong> combinatórias que estará disponível na página do ACERVO TERMISUL(http://www6.ufrgs.<strong>br</strong>/termisul/acervotermisul.php).PADRÕES VERBAIS NAS CONSTITUIÇÕES LUSÓFONASCarolina Rübensam Ourique (PIBIC/UFRGS)No quadro das teorias comunicativa e sociocognitiva da terminologia e como aporte dos princípios básicos da gramática <strong>de</strong> valências e da lingüística <strong>de</strong>corpus, investigam-se os padrões verbais característicos da linguagem dasconstituições em português. Para tanto, foi construído um corpus contendo otexto das constituições vigentes nos países lusófonos (Angola, Brasil, CaboVer<strong>de</strong>, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e TimorLeste). Por meio <strong>de</strong> ferramentas informatizadas, foram produzidas listas <strong>de</strong>palavras, das quais se selecionaram os verbos. A partir dos verbos, foramentão geradas as listas <strong>de</strong> contextos, a fim <strong>de</strong> observar o entorno <strong>de</strong>ocorrência <strong>de</strong> cada verbo e visualizar o sujeito e os complementos naestrutura argumental. Nesse âmbito, os verbos são analisados como unida<strong>de</strong>slexicais, sendo i<strong>de</strong>ntificadas suas características morfológicas <strong>de</strong> voz, tempo,modo, número e pessoa e <strong>de</strong>mais proprieda<strong>de</strong>s sintático-semânticas. Essaanálise possibilita a <strong>org</strong>anização dos verbos em grupos e subgruposhomogêneos. Espera-se, assim, contribuir com subsídios que apontem parauma possível tipologia verbal que venha auxiliar na <strong>de</strong>scrição da linguagemformal (<strong>de</strong> cunho legal) em língua portuguesa.O TRATAMENTO DA VALÊNCIA VERBAL EM DICIONÁRIOSGERAIS DO PORTUGUÊSEduardo Correa Soares (UFRGS)No núcleo <strong>de</strong> pesquisa do projeto Bases teórico-metodológicas para umdicionário monolíngüe <strong>de</strong> espanhol como L2 para estudantes universitários<strong>br</strong>asileiros, vimos <strong>de</strong>senvolvendo teorias meta-lexicográficas que dão conta<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> procedimentos que <strong>de</strong>vem ser adotados pelo lexicógrafo,não somente voltado para o ensino da língua espanhola, mas tambémvoltado para o ensino <strong>de</strong> língua materna. Nesse contexto, tem-nos ficadoevi<strong>de</strong>nte que <strong>de</strong>terminados problemas que ocorrem em dicionários <strong>de</strong> línguaespanhola ocorrem, muitas vezes, também em o<strong>br</strong>as voltadas para oportuguês. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é, portanto, avaliar a pertinência das447


informações referentes à valência em dicionários gerais <strong>de</strong> língua portuguesa.Como metodologia, empregaremos uma teoria <strong>de</strong> valência que distinga entreactantes o<strong>br</strong>igatórios, actantes contextualmente facultativos e actantesfacultativos, articulada sob dois parâmetros: a) Uma explicação coerente dasopções <strong>de</strong> valência, <strong>de</strong>scritas tanto como parte fundamental do comentáriosemântico, como parte do comentário <strong>de</strong> forma; b) A relevância <strong>de</strong>ssasinformações e a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificá-las por parte do estudante <strong>de</strong>língua materna (português). Apesar <strong>de</strong> o trabalho se encontrar em seuestágio inicial, com os estudos preliminares, levanta-se a hipótese <strong>de</strong> queusuário <strong>br</strong>asileiro não conte com muitos subsídios para extrair informações<strong>de</strong>ssa natureza das o<strong>br</strong>as lexicográficas gerais do português.O DESENHO DAS TAREFAS DE RECEPÇÃO E PRODUÇÃO EMUM DICIONÁRIO MONOLÍNGÜE PARA APRENDIZES DEESPANHOLMariana Espíndola da Cruz (UFRGS)Este trabalho faz parte <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> pesquisa que visa a elaborar asbases teórico-metodológicas <strong>de</strong> um dicionário monolíngüe <strong>de</strong> espanholcomo língua estrangeira (L2) para estudantes universitários <strong>br</strong>asileiros. Entreas funções que um dicionário <strong>de</strong> aprendizes <strong>de</strong>ve satisfazer estão as <strong>de</strong>recepção e <strong>de</strong> produção. O objetivo do presente trabalho é <strong>de</strong>terminar quetipos <strong>de</strong> tarefas <strong>de</strong> recepção e produção são exigidas do aprendiz iniciante <strong>de</strong>espanhol pelo “Marco Comum Europeu <strong>de</strong> Referência para as Línguas” ecomo os dicionários <strong>de</strong> aprendizes usados no Brasil reagem a essas tarefas.Como metodologia, empregaremos os princípios da Análise Contrastiva e osprincípios da Teoria Metalexicográfica, a fim <strong>de</strong> estabelecer uma correlaçãoentre as dificulda<strong>de</strong>s que o usuário da língua materna portuguesa possa vir ater no espanhol, especificamente nas tarefas <strong>de</strong> recepção e produção, e arepresentação <strong>de</strong>ssas mesmas tarefas nos componentes canônicos dodicionário. Resultados prévios no tratamento <strong>de</strong> questões ortográficaspermitem-nos prever que a disposição <strong>de</strong>ssas informações é muito maiscomplexa do que aquilo que é feito corriqueiramente na lexicografia <strong>de</strong>dicionários <strong>de</strong> aprendizes.UM VOCABULÁRIO DEFINIDOR PARA UM DICIONÁRIO DEAPRENDIZES DE PORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRAVanessa da Rocha (UCPel)O objetivo da apresentação é <strong>de</strong>screver os critérios que foram usados para aseleção e elaboração <strong>de</strong> verbetes <strong>de</strong> um dicionário básico <strong>de</strong> português comolíngua estrangeira. Vê-se o dicionário como um artefato cultural que faz amediação entre o aprendiz e o conteúdo a ser <strong>de</strong>senvolvido, partindo daTeoria da Ativida<strong>de</strong>, com base em Vygotsky, Leontiev, Engestrom, Cole eWertsch, principalmente. A metodologia usada constou inicialmente dolevantamento <strong>de</strong> um léxico <strong>de</strong>finidor. Como esse léxico ainda não existe em448


língua portuguesa, usou-se para isso dicionários <strong>de</strong> aprendizes <strong>de</strong> inglêscomo língua estrangeira, incluindo o Longman Dictionary of ContemporaryEnglish (primeira edição lançada em 1978), o Collins COBUILD EnglishDictionary (primeira edição em 1987), e o Cam<strong>br</strong>idge Advanced Learner'sDictionary (1995). Todos esses dicionários usam um léxico básico, em torno<strong>de</strong> 2.000 palavras, para <strong>de</strong>finir cada termo que é introduzido. Oprocedimento usado na metodologia constou <strong>de</strong> uma tradução inicial dovocabulário básico <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>sses dicionários, que foi posteriormentemesclado num léxico único, refinado e avaliado num corpus <strong>de</strong> 3.000palavras <strong>de</strong> uso freqüente na língua portuguesa. Chegou-se, assim, a umvocabulário <strong>de</strong>finidor <strong>de</strong> 2.362 palavras. Esse vocabulário foi testado naelaboração <strong>de</strong> um dicionário eletrônico experimental, com verbetesestruturados em cinco itens, assim <strong>de</strong>lineados: (1) transcrição da cabeça doverbete; (2) uso <strong>de</strong> ilustrações para esclarecer o significado da palavra,quando a<strong>de</strong>quado; (3) transcrição <strong>de</strong> cada acepção, do modo mais simplespossível, usando apenas o léxico do vocabulário <strong>de</strong>finidor; (4) transcrição <strong>de</strong>exemplo <strong>de</strong> uso da palavra, usando uma frase curta ou um segmento menor;(5) tradução da palavra para a língua inglesa. A conclusão, consi<strong>de</strong>randocerca <strong>de</strong> 2.000 palavras já introduzidas no dicionário através do vocabulário<strong>de</strong>finidor, sugere sua viabilida<strong>de</strong>, embora ocasionalmente alguns ajustesainda precisem ser feitos.Lingüística Aplicada ao Ensino“PARA NÓS APRENDER A LER E ESCREVER DIREITINHO”:ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA NA PERSPECTIVA DOSALUNOSAlícia Endres Soares (UCPel)Dentro da escola parece não haver espaço para refletir ou apontar o porquê<strong>de</strong> se ter, <strong>de</strong> ensinar e <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>terminadas disciplinas. De acordo comGeraldi (1984/2004) “para que ensinamos o que ensinamos?” e “para que ascrianças apren<strong>de</strong>m o que apren<strong>de</strong>m?” são perguntas esquecidas, sendo quetais questões são as que <strong>de</strong>veriam nortear todas as diretrizes do ensino.Compreen<strong>de</strong>mos o ensino <strong>de</strong> língua materna com base em Faraco & Castro(2000); Antunes (2003); Possenti (1996) e Geraldi et alii (1984/2004).Quando se trata do ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa (LP), Antunes alerta para anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se: assumir uma concepção <strong>de</strong> língua, ter uma concepção <strong>de</strong>gramática e repensar o objetivo/objeto <strong>de</strong> ensino. O presente trabalho<strong>de</strong>corre <strong>de</strong> uma pesquisa realizada em escolas públicas e particulares dacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas/RS (<strong>de</strong> 5ª série a 2º ano do Ensino Médio) no intuito <strong>de</strong>verificar as concepções e idéias acerca do ensino <strong>de</strong> LP tanto entre osprofessores como entre os alunos; para este pôster, especificamente,preten<strong>de</strong>-se apresentar os objetivos do ensino <strong>de</strong> LP na perspectiva dosalunos. Eles respon<strong>de</strong>ram <strong>de</strong> forma escrita à pergunta “Pra que a escola449


oferece aulas <strong>de</strong> Língua Portuguesa aos alunos?”. Observou-se neles certasurpresa diante <strong>de</strong> tal questionamento, já que quase não se discutem asrazões/finalida<strong>de</strong>s das aulas <strong>de</strong> língua materna do/no espaço escolar.Enten<strong>de</strong>-se que as falhas e as possíveis distorções no ensino <strong>de</strong> LP surgempor nem sempre existirem respostas claras e coerentes so<strong>br</strong>e o verda<strong>de</strong>iropapel <strong>de</strong>ssa disciplina na escola. A ação <strong>de</strong> esclarecer os objetivos e ospropósitos <strong>de</strong>sse ensino parece ser o ponto <strong>de</strong> partida para um trabalhoprodutivo e significativo em sala <strong>de</strong> aula. Algumas das respostas dos alunosrevelam justificativas para as aulas <strong>de</strong> LP como (nas palavras <strong>de</strong>les): “se sairmelhor na vida”, “Para nós apren<strong>de</strong>r a ler e escrever direitinho”, “melhorar apronúncia”, “preparar-nos para o mercado <strong>de</strong> trabalho”, “sem ela não háprogresso em área nenhuma”.CONCEPÇÕES E ENSINO DE LÍNGUA MATERNADaiana <strong>de</strong> Nez Moura (UNOCHAPECÓ)Mary Stela Surdi (UNOCHAPECÓ)Mary Neiva S. Da Luz (UNOCHAPECÓ)O ensino <strong>de</strong> língua portuguesa tem sido tema <strong>de</strong> problematizações nasúltimas décadas e objeto <strong>de</strong> estudo em diversos trabalhos <strong>de</strong> pesquisa queanalisam diferentes facetas envolvidas no processo <strong>de</strong> ensino-aprendizagemda língua. Lançando um olhar sob a figura do professor <strong>de</strong> língua, esteprojeto teve como objetivo geral diagnosticar e analisar quais são asconcepções teórico-metodológicas que norteiam o ensino <strong>de</strong> línguaportuguesa nas séries finais do ensino fundamental. Para <strong>de</strong>senvolver apesquisa, foram entrevistados sete professores que atuam em escolas da re<strong>de</strong>pública estadual no município <strong>de</strong> Chapecó/SC. A partir dos dados coletados,constatou-se que o professor tem mudado sua postura quanto ao sistemaeducacional, já que a maioria dos entrevistados leva em consi<strong>de</strong>ração oaluno, suas dificulda<strong>de</strong>s e bagagem cultural para o planejamento <strong>de</strong> suasaulas. No entanto, o papel da teoria, na prática, fica um tanto distorcido navisão <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les, que afirmam lem<strong>br</strong>ar das idéias sociointeracionistasaprendidas em sua formação, mas que continuam utilizando em suas aulasformas tradicionais <strong>de</strong> ensino, como o ensino da gramática <strong>de</strong>scritiva. Emsuas falas, os professores revelam como se constrói o fazer em sala <strong>de</strong> aula,quais são suas práticas cotidianas, como se <strong>de</strong>u sua formação e quaisdificulda<strong>de</strong>s enfrentam. Por meio dos dados levantados foi possível constatarque os professores planejam suas aulas procurando articular algunselementos como os projetos da escola, os interesses dos alunos e os livrosdidáticos disponíveis. Também mostram uma preocupação com o trabalhocom os gêneros textuais e a gramática a partir do texto. Apesar <strong>de</strong> ainda serevelarem alguns problemas, como em relação ao trabalho com a oralida<strong>de</strong>em sala <strong>de</strong> aula, po<strong>de</strong>-se observar que os professores revelam-se conectadosàs atuais orientações oficiais em relação ao ensino <strong>de</strong> língua.450


SALA DE AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA: LUGAR DEDICIONÁRIOS? LUGAR DE FALANTES? QUE RELAÇÕES SÃOESSAS?Daiane da Silva Delevati (UFSM)Esse trabalho visa refletir so<strong>br</strong>e os resultados obtidos através do<strong>de</strong>senvolvimento do projeto "O Lugar do Dicionário como InstrumentoDidático-Pedagógico no Ensino <strong>de</strong> Língua Portuguesa". Dessa forma,apresentaremos as reflexões acerca do estudo do funcionamento dodicionário, por meio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas em sala <strong>de</strong> aula, com umaturma <strong>de</strong> sétima série do Ensino Fundamental <strong>de</strong> uma escola pública <strong>de</strong>Santa Maria. Este estudo foi realizado a partir <strong>de</strong> uma perspectiva teóricometodológicaque segue os pressupostos da Análise <strong>de</strong> Discurso (AD) <strong>de</strong>linha francesa, fundada por Michel Pêcheux. Para este trabalho,selecionamos o ponto <strong>de</strong> vista que estabelece relações entre o que está postona língua (o saber do falante) e o que passa a ser institucionalizado pelalíngua (o saber constante do dicionário). Assim, focaremos as contradições,os distanciamentos e também as aproximações entre esses saberes. Trata-se<strong>de</strong> um trabalho <strong>de</strong> observação / revelação do funcionamento das relaçõesentre referente, <strong>de</strong>signação e produção <strong>de</strong> sentidos no interior <strong>de</strong> uminstrumento lingüístico da maior importância para o ensino <strong>de</strong> línguaportuguesa - o dicionário.PESQUISA EM ESCRITA NO BRASIL: UMA ANÁLISE DEPRINCÍPIOS TEÓRICO-METODOLÓGICOSFrancieli Socoloski Rodrigues (UNIPAMPA)O ponto <strong>de</strong> partida para este trabalho foi o pressuposto <strong>de</strong> que a análise dasformas <strong>de</strong> investigação exerce papel fundamental na construção daepistemologia <strong>de</strong> uma dada área (MOITA LOPES, 1994; MOTTA-ROTH,2005). A fim <strong>de</strong> contribuir para o <strong>de</strong>bate metodológico em LingüísticaAplicada (LA), em minha dissertação <strong>de</strong> mestrado, tomei como objeto <strong>de</strong>investigação a pesquisa so<strong>br</strong>e escrita publicada em periódicos <strong>de</strong> circulaçãonacional. O objetivo do estudo foi i<strong>de</strong>ntificar discursos so<strong>br</strong>e a escrita(princípios teórico-metodológicos) presentes nos artigos. O corpus foicomposto por vinte relatos <strong>de</strong> pesquisa publicados em três dos maisimportantes periódicos <strong>de</strong> LA do Brasil. A referência teórica para i<strong>de</strong>ntificardiscursos so<strong>br</strong>e a escrita foi o enquadre analítico proposto por Ivanic (2004),que <strong>de</strong>screve seis diferentes discursos so<strong>br</strong>e a escrita, os quais foramreagrupados em três gran<strong>de</strong>s posições epistemológicas: o discurso da escritacomo estrutura, o discurso da escrita como processo cognitivo e o discursoda escrita como prática social. O discurso da escrita como prática socialaparece como a tendência predominante em termos <strong>de</strong> como a linguagem e aescrita são teorizadas. A construção <strong>de</strong>sse discurso é materializada porescolhas semânticas que evocam o caráter situado da escrita, como “eventosituado”, “contextos específicos” e “propósitos específicos”. No entanto, se451


os princípios teóricos projetados so<strong>br</strong>e a escrita a <strong>de</strong>stacam como umfenômeno social, os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> pesquisa propostos enfatizam os níveistextuais e cognitivos <strong>de</strong> entendimento da escrita. Os estudos tomam textoscomo o principal corpus <strong>de</strong> análise, enquanto há rara investigação doscontextos <strong>de</strong> escrita, dos sistemas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> e das práticas socioculturaisem que a escrita <strong>de</strong>sempenha papel constitutivo. Isso po<strong>de</strong> ser interpretadocomo um sinal <strong>de</strong> que a área <strong>de</strong> investigação passa por um momento <strong>de</strong>transição e que os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> pesquisa ainda estão sendo elaborados paradar conta das mudanças recentes <strong>de</strong> paradigma na área da escrita: <strong>de</strong> umavisão cognitivista para uma visão social da linguagem e <strong>de</strong> suaaprendizagem.Lingüística Aplicada LE¿HAY RESTRICCIONES ABSOLUTAS EN LAS INTERFERENCIAS?Patrícia Mussi Escobar (FURG)María Josefina Israel Semino (FURG)Nuestra base teórica es la Escala Invertida <strong>de</strong> Interferencias <strong>de</strong> María J.Israel Semino (2007), que estudiando el contacto lingüístico españolportuguésen situación formal, en el habla <strong>de</strong> alumnos universitarios<strong>br</strong>asileños que apren<strong>de</strong>n español en la ciudad <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong> (Brasil),sostiene que no hay restricciones absolutas a las interferencias. Esa posiciónse contrapone a la asumida anteriormente por Whitney (1914), Meillet ySapir (1921), Timm (1975), Klavans (1983); Poplack (1980), Weinreich(1953) y Aitchison (1991), Di Sciullo, Muysken y Singh (1986), entre otros,que sostienen la tesis <strong>de</strong> que hay restricciones absolutas a las interferencias,aunque con diferencias en relación a las categorías afectadas por dichasrestricciones. Nuestro estudio consistirá en oír grabaciones <strong>de</strong> informantes<strong>de</strong> la región fronteriza <strong>de</strong>l Uruguay con el Brasil, que fueron entrevistadospara la elaboración <strong>de</strong>l Atlas Lingüístico Diatópico y Diastrático <strong>de</strong>lUruguay (ADDU), para verificar si hay o no restricciones absolutas alfenómeno <strong>de</strong> la interferencia. Nos fijaremos en especial en lo que suce<strong>de</strong> enel nivel gramatical-morfológico: entre el vínculo <strong>de</strong>l pronom<strong>br</strong>e sujeto yobjeto; en el or<strong>de</strong>n estructural superficial <strong>de</strong> las lenguas en contacto; converbos principales vinculados a verbos auxiliares o en infinitivo; entre la raízy la <strong>de</strong>sinencia <strong>de</strong> algunas formas verbales y en la regencia preposicional <strong>de</strong>los verbos.TRATAMENTO DE ALOMORFES DE ARTIGO NO COMENTÁRIODE FORMA DE UM DICIONÁRIO PARA APRENDIZES DEESPANHOLAgnesse Radmann Gonzalez (UFRGS)452


O aprendiz <strong>de</strong> Espanhol tem dificulda<strong>de</strong> em calcular o artigo a serempregado em uma série <strong>de</strong> substantivos do espanhol que têm como traçocomum possuir um ‘a’ tônico em posição inicial absoluta. O objetivo dopresente trabalho é propor estratégias para representar essas particularida<strong>de</strong>smorfo-fonológicas das unida<strong>de</strong>s léxicas no comentário <strong>de</strong> forma. Comometodologia, empregaremos princípios da análise contrastiva e da morfofonologiaaliados a princípios metalexicográficos. Nossos primeirosresultados indicam que é necessário empregar estratégias complementares àsimples marcação <strong>de</strong> gênero, empregada atualmente nos dicionários <strong>de</strong>espanhol.OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM PARA O ENSINO DEPORTUGUÊS COMO LÍNGUA ESTRANGEIRAJordane Duarte <strong>de</strong> Souza (UCPEL)A introdução das novas tecnologias, mediadas pelo computador e pelaInternet, tem trazido novas possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino e aprendizagem da línguaportuguesa como língua estrangeira. Umas <strong>de</strong>ssas possibilida<strong>de</strong>s é o uso <strong>de</strong>objetos digitais <strong>de</strong> aprendizagem (Churchill, 2005; Wiley, 2006; Leffa,2006). Em que pese, no entanto, o esforço do Ministério <strong>de</strong> Educação(Projeto RIVED), <strong>de</strong> órgãos <strong>de</strong> fomento (FAPESP), <strong>de</strong> associaçõescientíficas (ABED), e mesmo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s empresas como a Microsoft, aexistência <strong>de</strong> objetos para aprendizagem da língua portuguesa é inexpressiva.No caso <strong>de</strong> Português como Língua Estrangeira, são praticamenteinexistentes. O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é avaliar a potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssesobjetos como instrumentos mediadores da aprendizagem da línguaportuguesa por alunos estrangeiros. A metodologia constou <strong>de</strong> umlevantamento inicial dos recursos disponíveis na Internet, incluindo textos,imagens, áudio e ví<strong>de</strong>o. Num segundo momento, procurou-se incorporaresses recursos em ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensino, produzindo objetos digitais <strong>de</strong>aprendizagem, através <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong> autoria. Seis tipos <strong>de</strong> objetos foramproduzidos, incluindo ativida<strong>de</strong>s como cloze, ditado musical, leituraacompanhada <strong>de</strong> textos, jogo da memória, or<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> segmentos textuaise testes <strong>de</strong> múltipla escolha. O uso <strong>de</strong> um dicionário acoplado ao texto foitambém explorado, visando facilitar a construção do significado pelo leitoraprendiz. A conclusão, ainda preliminar, é <strong>de</strong> que os objetivos <strong>de</strong>aprendizagem para o ensino <strong>de</strong> português como língua estrangeira oferecempossibilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>safios. Entre as possibilida<strong>de</strong>s está o uso integrado damultimodalida<strong>de</strong>, incluindo imagens, áudio e ví<strong>de</strong>o, o que po<strong>de</strong> contribuirpara tornar a ativida<strong>de</strong> mais interessante e produtiva para o aluno. Entre os<strong>de</strong>safios, <strong>de</strong>staca-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> domínio das novas tecnologias porparte do professor.453


Lingüística TextualA TRADUÇÃO NO CONTEXTO EDITORIAL MIDIÁTICO: UMESTUDO DE CASO DO ESPANHOL PARA O PORTUGUÊSCarolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG)Kórian Leite Carvalho (FALE/UFMG)Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG - CNPq)A tradução <strong>de</strong> notícias tem sido estudada a partir da noção <strong>de</strong> gatekeeping,levando-se em consi<strong>de</strong>ração um conjunto <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> escolhas e ediçãono processo <strong>de</strong> produção textual midiática. Esse processo sofre a influência<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> regras <strong>de</strong>terminantes, cujo modus operandi apresenta-sefragmentado por diferentes instâncias <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, assim como por diferentesgraus <strong>de</strong> acesso aos fatos/informações a ser veiculados. Tendo como base aabordagem <strong>de</strong>scritiva, fundamentada na lingüística sistêmico-funcional(LSF), partiu-se da noção <strong>de</strong> que as línguas estão <strong>org</strong>anizadas em torno <strong>de</strong>componentes funcionais no plano semântico-discursivo. Tal concepçãopermitiu a <strong>de</strong>scrição do corpus escolhido nos termos das três metafunçõeshallidayanas (a saber: metafunções i<strong>de</strong>acional, textual e interpessoal). Aoconsi<strong>de</strong>rar a linguagem como sistema e comportamento, este trabalho tomou,mais especificamente, o aparato <strong>de</strong> análise proposto pela gramáticasistêmico-funcional (GSF), colocando em evidência as funções que umaoração po<strong>de</strong> realizar <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um complexo oracional e as relações <strong>de</strong>transitivida<strong>de</strong> estabelecidas entre os seus segmentos. Foram utilizados, ainda,além do conceito <strong>de</strong> gatekeeping, os recursos <strong>de</strong> análise pertinentes àlingüística <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> notícias, tais como a supressão <strong>de</strong> informações, assubstituições lexicais e as regras para a edição sintática. O corpus escolhidopara esta análise consistiu na carta “Mensaje <strong>de</strong>l Comandante en Jefe” doentão presi<strong>de</strong>nte cubano Fi<strong>de</strong>l Castro, a qual foi publicada em espanhol pelojornal Granma Internacional – publicação afiliada ao governo <strong>de</strong> Cuba –, eas suas traduções para o português, feitas e publicadas pelo próprio Granma,pelo jornal Folha <strong>de</strong> S. Paulo, pelo website do Partido dos Trabalhadores epela revista Bohemia – publicação cubana não afiliada ao governo. Osresultados obtidos <strong>de</strong>monstraram alterações principalmente nas estruturasdos complexos oracionais dos textos-alvo. Foram constatadas aindamudanças na or<strong>de</strong>m sintática <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados segmentos, acompanhadas <strong>de</strong>variações lexicais. Embora essas ocorrências pertençam a pontos específicosdo discurso, são <strong>de</strong>vidas a escolhas do tradutor e/ou editor, e nãoexclusivamente a distinções lingüísticas pertinentes aos sistemas da línguaespanhola e da portuguesa.A QUALIDADE DAS NARRATIVAS INFANTIS ESCRITAS:INFERÊNCIAS E TERGIVERSAÇÕESClaudia Susana Dias Crespi <strong>de</strong> Campos (FAE-UFPEL)454


Este estudo preten<strong>de</strong> apresentar resultados parciais referentes à qualida<strong>de</strong>das narrativas infantis escritas quanto à presença <strong>de</strong> modificações(Landsmann, 1995). O corpus é constituído <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> 50 crianças comida<strong>de</strong>s entre 7 e 11 anos, freqüentando da 1ª à 4ª série, em uma escola dare<strong>de</strong> pública municipal <strong>de</strong> Pelotas. Os textos pertencem ao Banco <strong>de</strong> Textosda FaE – UFPel, e foram escolhidos por terem sido produzidos a partir <strong>de</strong>um texto <strong>de</strong> referência, especificamente, o conto <strong>de</strong> fadas “ChapeuzinhoVermelho”. A qualida<strong>de</strong> das narrativas escolares po<strong>de</strong> estar relacionada àpresença <strong>de</strong> vários fatores que a enriquecem, entre eles, a forma <strong>de</strong>interpretação dos acontecimentos lidos/ouvidos. Segundo Landsmann,aquilo que o leitor/ouvinte sabe ou viveu filtra o texto e isso se evi<strong>de</strong>nciaatravés do esquecimento, transformação ou acréscimo <strong>de</strong> informações comrelação ao texto <strong>de</strong> referência. As informações experienciais e extratextuaissão, em gran<strong>de</strong> parte, as responsáveis por inferências e modificaçõesrealizadas, mas estas também po<strong>de</strong>rão ocorrer <strong>de</strong>vido ao que Bettelheimchamou <strong>de</strong> “Sentido profundo do relato”, ou seja, aquilo que não apareceexpresso lingüisticamente, mas simbolizado. A análise preliminar dos textosestudados mostrou que as modificações mais freqüentemente ocorridas são:a invenção <strong>de</strong> acontecimentos, as inferências, as tergiversações locais(alterações no sentido do texto) e as tergiversações generalizadas (alteraçõesno sentido geral do texto). Como exemplos <strong>de</strong> modificações, po<strong>de</strong>mos citardois trechos. O primeiro ilustra as invenção <strong>de</strong> acontecimento: “ (...) umlemhador ele estava com um um chamdo cortou a barrigo do bolo e pegou avovó e todo viveram feliz para sempre com <strong>de</strong>licios cois boas <strong>de</strong>bois do suastomavam um chá gostoso (...)”. Na história <strong>de</strong> referência, nada maisacontece após a morte do Lobo; o chá com coisas boas é um novoacontecimento, inventado pela criança. O segundo trecho ilustra umainferência a partir do texto original: “(...) e esta boca tão gran<strong>de</strong> é pra tecomer e a chapeusinho vermeleo gritou socorro socorro e um lenla dorestava passando quando escutou socorro e o lenhador arronbou a porta ecortou a barriga do lobo e ti-rou a vovó <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro do lobo (...)”. A criançainferiu que Chapeuzinho gritou por socorro e que o lenhador arrombou aporta, embora não haja nenhuma indicação <strong>de</strong>sses fatos na história <strong>de</strong>referência.A RELAÇÃO DE COMENTÁRIO EM ARTIGOS DE DIVULGAÇÃOCIENTÍFICAMaria Eduarda Giering (UNISINOS)Janice Mayer (BIC-UNISINOS)Este trabalho apresenta resultados parciais do projeto <strong>de</strong> pesquisa“Divulgação Científica: Estratégias Retóricas e Organização Textual –DCEROT” e objetiva i<strong>de</strong>ntificar a relação <strong>de</strong> comentário em 62 artigos <strong>de</strong>divulgação científica dirigidos a jovens e publicados na versão on line dasrevistas Ciência Hoje das Crianças, Recreio, Mundo Estranho e do ca<strong>de</strong>rnoFolhinha do jornal Folha <strong>de</strong> São Paulo. Além disso, quer-se também455


verificar a incidência do comentário, a sua posição no texto e as relações queo antece<strong>de</strong>m, bem como i<strong>de</strong>ntificar as ações discursivas do produtor do textopresentes nesta relação e os efeitos por elas produzidos. Os dois pilaresteóricos que sustentam este trabalho são a noção <strong>de</strong> texto como estratégia,conforme os postulados do lingüista textual Enrique Bernár<strong>de</strong>z (1995), e aTeoria da Estrutura Retórica (RST), i<strong>de</strong>alizada por Mann e Thompson (1992),a qual proporciona uma explicação da coerência textual por meio <strong>de</strong> relaçõesentre as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> um texto. A relação <strong>de</strong> Comentário éuma <strong>de</strong>ntre as várias estratégias <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> textual <strong>de</strong> que o produtorpo<strong>de</strong> valer-se e consiste em uma nota subjetiva introduzida pelo produtornuma perspectiva diferente da apresentada no segmento anterior do texto. Ocomentário foi i<strong>de</strong>ntificado por meio dos critérios da RST e doreconhecimento do fim discursivo dos textos do corpus. Dos 31 textos darevista Ciência Hoje das Crianças analisados, 26 possuem comentário, dos14 textos do ca<strong>de</strong>rno Folhinha, 9 apresentam Comentário, enquanto que 4dos 9 da revista Mundo Estranho possuem esta relação. Já todos os 8 textosda revista Recreio apresentam comentário. Assim, 47 dos 62 textos quecompõem o corpus <strong>de</strong>sta pesquisa apresentam comentário, sendo esta arelação <strong>de</strong> fechamento em 46 dos 47 textos em que se observa a suaincidência. Constatou-se também que o comentário é precedido pela relação<strong>de</strong> solução em 27 textos, pela relação <strong>de</strong> elaboração em 17 textos e pelarelação <strong>de</strong> fundo em três textos. No que tange às ações discursivas presentesno comentário, verificou-se que o produtor insere informações adicionais oucuriosida<strong>de</strong>s so<strong>br</strong>e o tema abordado no texto, aconselha o leitor ou convidao,por meio <strong>de</strong> uma interrogação, a imaginar novas situações e <strong>de</strong>scobertasalém daquelas presentes no texto. Os efeitos visados pelo produtor comessas ações discursivas são <strong>de</strong> aproximar o leitor ao objeto do texto e <strong>de</strong>instigar a sua imaginação.COESÃO LEXICAL E TRANSITIVIDADE NA TRADUÇÃOKórian Leite Carvalho (FALE/UFMG)Carolina Pereira Barcellos (FALE/UFMG)Célia Maria Magalhães (FALE/UFMG- CNPQ)A pesquisa em lingüística aplicada integrando a coesão lexical e os estudosda tradução tem sido <strong>de</strong>senvolvida no Brasil por pesquisadores associadosao Corpus Discursivo para Análises Lingüísticas e Literárias – CORDIALL,<strong>de</strong>senvolvido no LETRA (Laboratório Experimental <strong>de</strong> Tradução) daFALE/UFMG. O presente trabalho está vinculado a esse corpus e seuobjetivo foi analisar padrões coesivos em corpora <strong>de</strong> tradução. Foramanalisados os padrões das relações coesivas e dos processos em um textooriginal e sua tradução. Tal pesquisa apontou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma análisedas relações coesivas em textos originais e traduzidos. Dentro <strong>de</strong>ssaperspectiva, trechos selecionados <strong>de</strong> livros <strong>de</strong> literatura infantilcontemporâneos foram estudados segundo as diferentes metodologias para acoesão lexical propostas pela gramática sistêmico-funcional (GSF). O corpus456


utilizado conta com um trecho do livro The English Roses, <strong>de</strong> Madonna,originalmente escrito em inglês, e a sua tradução para o português <strong>br</strong>asileiro,intitulada As Rosas Inglesas. Foi investigada a coesão lexical em um trecho<strong>de</strong> um corpus paralelo <strong>de</strong> literatura infantil através da metodologia <strong>de</strong> análiseproposta pela GSF. Além disso, analisaram-se as semelhanças e diferençasquanto à coesão lexical, tentando i<strong>de</strong>ntificar possíveis padrões. O presenteestudo mostrou que as mudanças i<strong>de</strong>ntificadas quanto aos recursos coesivosda tradução em relação ao original po<strong>de</strong>m ser explicadas parcialmente pordiferenças entre os sistemas <strong>de</strong> transitivida<strong>de</strong> das línguas em estudo. Não hámudanças significativas na tradução quanto aos tipos <strong>de</strong> processos, porémescolhas tradutórias relacionadas a estes interferem nas re<strong>de</strong>s coesivas.Houve a constatação <strong>de</strong> padrões no texto original que foram alterados natradução. As escolhas dos processos modificaram as re<strong>de</strong>s coesivas e oscampos semânticos construídos no texto através da transitivida<strong>de</strong>. No textoem inglês, a re<strong>de</strong> coesiva com processos relacionais realizados pelo verbo tobe é mais freqüente que na tradução. Embora seja necessário expandir otrecho analisado, este trabalho mostrou que a maior parte das diferenças nocorpus, como é o caso daquelas relativas ao uso da repetição e da colocação,está relacionada ao sistema lingüístico <strong>de</strong> cada idioma em questão. Por fim,o referencial teórico adotado e a metodologia aplicada se mostrarameficientes para i<strong>de</strong>ntificar diferenças e semelhanças entre texto original etradução.A INTELIGIBILIDADE NA COMUNICAÇÃO DA OBRAPRIMEIRAS ESTÓRIAS, DE GUIMARÃES ROSAVanessa Koudsi Faustini (PUCPR)Como po<strong>de</strong> ser tão difícil compreen<strong>de</strong>r os textos <strong>de</strong> alguém que escreve naminha língua materna? É esta pergunta que dá início ao artigo em questão, oqual preten<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar as diferentes formas <strong>de</strong> inteligibilida<strong>de</strong> que JoãoGuimarães Rosa utiliza na produção dos contos <strong>de</strong> Primeiras Estórias.De acordo com Koch (1995), a linguagem humana po<strong>de</strong> ser percebida comoa união <strong>de</strong> três concepções: “uma representação do mundo e do pensamento,um instrumento <strong>de</strong> comunicação, uma forma <strong>de</strong> ação e interação”, ou seja,nada nela po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado estático ou imutável. Neste contexto, po<strong>de</strong>seafirmar que Guimarães Rosa corrobora a dinamização da língua ao criarrecursos lingüísticos que consentem numa leitura <strong>de</strong> diversas interpretações.Para compor este artigo foi necessário limitar a pesquisa em três partes:análise lexical, análise sintática e análise dos neologismos, especificida<strong>de</strong>sque permitiram ao autor a invenção <strong>de</strong> uma nova literatura, não apenas umaliteratura regionalista, mas sim, intimista e inovadora, repleta <strong>de</strong>experimentações da própria linguagem, as quais instituem uma “plumagem ecanto das palavras”, na junção dos aspectos auditivos e visuais, compondouma verda<strong>de</strong>ira orquestra sonora.457


XENOFONTE E A CIROPEDIA: CAMINHOS E RECURSOS DEUMA BIOGRAFIAVinicius Ferreira Barth (UFPR)Pretendo, com este trabalho, investigar os recursos biográficos empregadospor Xenofonte para a constituição da o<strong>br</strong>a que conhecemos hoje comoCiropedia. Traçarei um raciocínio que abordará questões relativas ao modocomo o gênero biográfico era pensado na Antigüida<strong>de</strong> e como se separavado gênero romanesco. Consi<strong>de</strong>rarei também a teoria <strong>de</strong> que Xenofonte teriaficado mais à vonta<strong>de</strong> na Ciropedia (ou Educação <strong>de</strong> Ciro) para expor suasteorias educacionais, as quais julgava convenientes a um futuro soberano.Sendo consi<strong>de</strong>rada por alguns como pertencendo a um estilo próximo doromance histórico, a Ciropedia <strong>de</strong> Xenofonte é uma biografia permeada daidéia <strong>de</strong> ficção. I<strong>de</strong>ntificarei os meios empregados pelo autor para aconclusão do texto e quais as intenções implícitas que esse texto sugere aoseu leitor, tal como recursos retóricos, publicida<strong>de</strong> ou i<strong>de</strong>alismo. Abordotambém os motivos pelos quais Xenofonte foi levado a compor a biografiado soberano persa, filho <strong>de</strong> Dario II, estando esses motivos intimamenteligados ao estilo <strong>de</strong> escrita adotada pelo autor. Este estudo a<strong>br</strong>ange não sóquestões <strong>de</strong> <strong>de</strong>limitações estilísticas na Antiguida<strong>de</strong>, como as fronteirasentre gênero romanesco e gênero biográfico, como também a<strong>br</strong>ange as suasrespectivas funções sociais e recursos estéticos e estilísticos na composição econstrução da biografia.SintaxePROPRIEDADES DAS NOMINALIZAÇÕES A PARTIR DEVERBOS DEADJETIVAISAdriano Scandolara (UFPR)O objetivo <strong>de</strong>ste trabalho é apresentar as proprieda<strong>de</strong>s semânticas dasnominalizações a partir <strong>de</strong> verbos <strong>de</strong>adjetivais, como mo<strong>de</strong>rnização,mistificação, privatização, enriquecimento, enlouquecimento,entristecimento, etc. Segundo Grimshaw (1994), a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> os nomestomarem ou não argumento <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua natureza como atribuidortemático. Alguns nomes são como os verbos, outros não. Essa diferença jáfoi <strong>de</strong>scrita tendo em vista a oposição concreto x abstrato, mas não pareceser este o critério mais confiável. Para Grimshaw, esta diferença se <strong>de</strong>ve aofato <strong>de</strong> o nome estar ou não associado a uma estrutura <strong>de</strong> evento. Oschamados nominais <strong>de</strong> eventos complexos tem uma estrutura argumentalinterna e tomam argumentos e isso torna-os diferentes dos outros nominais.Para estabelecer essa diferença, a autora apresenta alguns testes: uso <strong>de</strong>expressões que modificam o evento (modificadores aspectuais), o uso <strong>de</strong> byphrase,pluralização, comportamento em relação à proprieda<strong>de</strong> contável eincontável, a ocorrência com “sujeitos” in<strong>de</strong>finidos, etc. Aplicamos esses458


testes aos nominais que estão sob investigação e concluímos que não épossível afirmar que eles teriam uma estrutura <strong>de</strong> evento interna, tal qual aproposta <strong>de</strong> Grimshaw. Por outro lado, como a base inicial é um adjetivo,mostramos que certos traços dos adjetivos permanecem na semântica donome. Nosso trabalho procura também buscar generalizações para aestrutura morfológica <strong>de</strong>sses nominais.CARACTERÍSTICAS SINTÁTICAS E SEMÂNTICAS DE VERBOSDEADJETVAIS DO PBLara Frutos (UFPR)Este trabalho tem o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver e analisar verbos que se formam apartir <strong>de</strong> adjetivos, como “enrijecer”, “endurecer”, “engran<strong>de</strong>cer”, etc.,avaliando as contribuições dos afixos e das proprieda<strong>de</strong>s lexicais dosadjetivos para a acionalida<strong>de</strong> e a estrutura argumental <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> verbo. Ahipótese aqui levantada é a <strong>de</strong> que os afixos representam uma marcaçãomorfológica <strong>de</strong> aspecto, influenciando também a estrutura argumental doverbo. A análise proposta por este trabalho sugere que os verbos <strong>de</strong>adjetivaispertencem à classe acional dos <strong>de</strong>gree achievements (Dowty, 1979) porcausa da natureza vaga dos adjetivos. Além disso, esses verbos, por<strong>de</strong>notarem uma mudança <strong>de</strong> estado em função da contribuição dos afixosen+ADJ+ecer, passam a possuir necessariamente um argumento internoafetado e, na maior parte dos casos, um argumento externo que éresponsável por <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o processo <strong>de</strong> mudança. Ambos os argumentosse encaixam na <strong>de</strong>scrição dos proto-papéis temáticos propostos por Dowty(1991). Assim, a morfologia <strong>de</strong>sses verbos, em função da contribuição dosafixos, marca uma mudança <strong>de</strong> estado (e, conseqüentemente, um ponto <strong>de</strong>culminação), o que <strong>de</strong>fine uma estrutura argumental diádica; isso, emconjunto com a natureza vaga dos adjetivos formadores <strong>de</strong>sses verbos, acabapor <strong>de</strong>limitar a classe acional a que eles pertencem.ORDEM DAS PALAVRAS E A TOPICALIZAÇÃO SELVAGEM:EXPERIMENTOS PERCEPTUAISMichelle Donizetti Euzébio (UFSC/PIBIC)Este trabalho preten<strong>de</strong> aprofundar o estudo so<strong>br</strong>e as relações entre diferençasmelódicas e estruturais em um conjunto <strong>de</strong> sentenças com fronteamento <strong>de</strong>algum constituinte. O alvo específico <strong>de</strong> interesse são as construções <strong>de</strong>topicalização “selvagem” como a gela<strong>de</strong>ira queimou o motor.Trabalhos anteriores mostraram que é possível encontrar evidências <strong>de</strong> queestas construções se comportam da mesma maneira que estruturas SVO sobo ponto <strong>de</strong> vista entoacional. Os dados para tanto foram obtidos por meio <strong>de</strong>gravação da leitura <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> sentenças que envolvem fronteamento<strong>de</strong> constituintes. Para a gravação dos informantes, foi usado o programaPRAAT, que fornece a curva <strong>de</strong> pitch das frases gravadas. Utilizou-se ainda459


o script MOMEL para a síntese dos dados e <strong>de</strong>scrição dos eventos tonaispresentes nas sentenças.Os resultados <strong>de</strong>ste experimento <strong>de</strong> produção indicaram que as estruturas <strong>de</strong>topicalização selvagem se comportam, sob o ponto <strong>de</strong> vista entoacional, <strong>de</strong>maneira muito semelhante às estruturas SVO triviais da língua. O padrãoentoacional obtido exibe dois eventos tonais, um em geral no início da sílabapré-tônica do verbo e outro no DP objeto. Se há diferença, ela está na sílabaem que se encontra o evento H no objeto: no caso das sentenças SVO banais,ele está no início da pré-tônica do DP, mas no caso da topicalizaçãoselvagem, ele se localiza predominantemente no início da tônica do objeto.Preten<strong>de</strong>-se agora confirmar esses resultados por meio <strong>de</strong> um teste <strong>de</strong>percepção. O procedimento consiste em submeter as frases ao processo <strong>de</strong>“passa banda”, disponível <strong>de</strong>ntro do PRAAT, que efetua a retirada dainformação segmental da sentença filtrando o material acústico acima <strong>de</strong> 300Hz e <strong>de</strong>ixando apenas a informação entoacional. O teste é composto <strong>de</strong> duaspartes: na primeira, o falante ouve uma sentença filtrada e <strong>de</strong>ve escolher,<strong>de</strong>ntre quatro frases apresentadas no power point, qual <strong>de</strong>las correspon<strong>de</strong>àquela melodia. Na segunda parte, o informante vê uma frase na tela dopower point, ouve três sentenças filtradas distintas e <strong>de</strong>ve dizer qual das trêscorrespon<strong>de</strong> àquela sentença. Um experimento piloto revela que osinformantes conseguem com bastante acerto discernir que entoação épossível para que estrutura, mas, quando <strong>de</strong>frontados com estruturas SVO etopicalização selvagem, os informantes confun<strong>de</strong>m as duas num númerosignificativo <strong>de</strong> vezes.UMA ANÁLISE PROTOTÍPICA DO OBJETO DIRETO EM TEXTOSESCRITOSEduardo Elisal<strong>de</strong> Toledo (UFRGS)Com base na proposta <strong>de</strong> Perini (1989), que propõe a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> funçõessintáticas a partir <strong>de</strong> protótipos, isto é, <strong>de</strong> matrizes sintáticas constituídas <strong>de</strong>traços distintivos, este trabalho tem como objetivo <strong>de</strong>screver os traçosmorfológicos, sintáticos e semânticos que <strong>de</strong>finem o protótipo do objetodireto (OD) no PB, através da análise <strong>de</strong> 100 redações do ConcursoVestibular UFRGS (2007). Nossas hipóteses fundamentais estão expressasem uma matriz que inclui traços morfológicos, sintáticos e semânticos.Quanto aos traços morfológicos, consi<strong>de</strong>ramos substantivo simples (Eleven<strong>de</strong>u o carro), substantivo composto (Ele conhece São Paulo e Rio <strong>de</strong>Janeiro), palavra substantivada (Não aceito talvez), pronome relativo (Olivro que ele recomendou está esgotado), pronome oblíquo (Não o conheço),pronome reto (Os meninos encontraram ela), pronome/outros (Ele nãocomeu isso), oração subordinada (Esqueceu que a noção <strong>de</strong> tempo érelativa ) e oração infinitiva (Ele <strong>de</strong>seja per<strong>de</strong>r o medo <strong>de</strong> voar). No que dizrespeito aos traços sintáticos, pré-verbal (Ele não os percebeu), apassivação(O menino que<strong>br</strong>ou o vidro > O vidro foi que<strong>br</strong>ado...), substituiçãopronominal (Ele per<strong>de</strong>u os documentos > Ele os per<strong>de</strong>u) e retomada por460


quem ou (o) que (Não vimos o porteiro na entrada > Não vimos quem?). Emrelação aos traços semânticos, animado (O caçador acertou a raposa),concreto (Ele a<strong>br</strong>iu a porta) e humano (A<strong>br</strong>açou a filha). Do ponto <strong>de</strong> vistametodológico, optamos por analisar todas as sentenças presentes nos textos,transcrevendo-as em uma planilha e, após a classificação, levantar ospercentuais <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong> cada traço da matriz. A discussão gira em tornodo protótipo alcançado em contraste com o que prevê a norma gramatical.Por ora, foram analisados 10 textos e, preliminarmente, os resultadosapontam para as seguintes características predominantes da função <strong>de</strong> objetodireto: substantivo simples, pronome oblíquo (características morfológicas),apassivação, substituição pronominal, retomada por quem ou o que(características sintáticas) e concreto (característica semântica).SENTENÇAS CLIVADAS E PSEUDO-CLIVADAS DO PORTUGUÊSBRASILEIRO E DO JAPONÊSJulia Orie Yamamoto (UFSC)Este estudo trata do processo sintático <strong>de</strong> focalizar um constituinte em umasentença (clivagem) e envolve comparação entre o português <strong>br</strong>asileiro (PB)e o japonês (JP). Tem-se como objetivo apresentar, com base na TeoriaGerativa, a distinção dos dois tipos <strong>de</strong> sentenças que o processo <strong>de</strong> clivagemproduz: as chamadas clivadas e as pseudo-clivadas. A comparação entre oPB e o JP reforça argumentos presentes na literatura so<strong>br</strong>e essa distinção, apartir da diferença <strong>de</strong> preenchimento do CP encaixado, na periferia esquerdada sentença. As clivadas <strong>de</strong>stacam o foco entre uma cópula e umcomplementizador - que no PB, e, no no JP. Enquanto isso, as pseudoclivadastêm uma expressão Wh encabeçando o CP (oração relativa naposição inicial). Enten<strong>de</strong>-se, portanto, que as clivadas do PB apresentamestrutura conforme (1.a), e as do JP a estrutura conforme (1.b), cujo foco nãoapresenta morfologia marcadora <strong>de</strong> caso. E, no que se refere às pseudoclivadas,o PB apresenta estrutura conforme (2.a), e o JP apresentará, alémda ausência da morfologia <strong>de</strong> caso do elemento focalizado, uma sentençacomo em (2.b):a. Foi maçã que Marcos comeu.b. [Marcos-ga tabeta no]-wa ringo-ø (da).( [Marcos-NOM comeu C ]-TOP maçã-ø COP )(2) a. O que Marcos comeu foi maçã.b. [Marcos-ga tabeta mono ] - wa ringo-ø (da).( [Marcos-NOM comeu PRON.REL-COISA]-TOP maçã-ø COP )Enten<strong>de</strong>-se portanto, que a proprieda<strong>de</strong> do CP das pseudo-clivadas permiteconsi<strong>de</strong>rar tal sentença como um tipo <strong>de</strong> relativa, fato que não ocorre com asclivadas.461


PADRÕES DE CONCORDÂNCIA DEFECTIVA EM PASSIVAS EPREDICATIVOS NO PORTUGUÊS BRASILEIROLeonor Simioni (USP)O Programa Minimalista (Chomsky, 1995 e seguintes) tem enfatizado oestudo da concordância como um dos tópicos centrais da sua agenda. Nessecenário, o português <strong>br</strong>asileiro (PB) representa uma fonte interessante <strong>de</strong>dados, por conta <strong>de</strong> alguns fenômenos peculiares relacionados àconcordância <strong>de</strong> gênero e número. No presente trabalho, enfocaremos aconcordância em estruturas <strong>de</strong> passiva e predicativos.Nas passivas padrão do PB, o DP objeto, o particípio e o verbo apresentammorfologia <strong>de</strong> concordância, esteja o argumento movido ou in situ:(1) a. As provas foram <strong>de</strong>ixadas na sala.b. Foram encontradas umas provas no armário.Todavia, também encontramos construções passivas que apresentamincongruência na concordância <strong>de</strong> gênero e número, como em (2):(2) a. Foi encontrado umas provas no armário.b. Foi encontrado as provas no armário.Crucialmente, a incongruência só é permitida quando o objeto está in situ,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> ser um DP <strong>de</strong>finido ou in<strong>de</strong>finido, como po<strong>de</strong>mos ver em(3):(3) a. *Umas provas foi encontrado no armário.b. */? Os telegramas <strong>de</strong> Natal foi enviado.Encontramos os mesmos efeitos <strong>de</strong> concordância <strong>de</strong>fectiva com DPsmovidos versus DPs in situ em estruturas <strong>de</strong> predicativo:(4) a. Tá caro a passagem pra Porto Alegre.b. Era divertido aqueles <strong>br</strong>inquedos.c. */? A passagem pra Porto Alegre tá caro.d. */? Aqueles <strong>br</strong>inquedos era divertido.A partir dos padrões acima, esse trabalho apresentará uma comparaçãocrítica entre três análises recentes dos mecanismos <strong>de</strong> concordância, a saber,a proposta <strong>de</strong> Nunes (2007), Boskovic (2007) e Hornstein (a sair). Nossosobjetivos são fornecer uma explicação para os dados do PB apresentados em(1) – (4), e também verificar em que medida esses dados po<strong>de</strong>m contribuirpara um melhor entendimento da concordância em geral.PRINCÍPIOS QUE INFLUENCIAM A ANTEPOSIÇÃO EPOSPOSIÇÃO DE CLÁUSULAS FINAIS E TEMPORAISMariléia Silva da Rosa (Unipampa, Bagé)462


O suporte teórico para a realização <strong>de</strong>ste estudo é o funcionalismolingüístico, o qual prevê a regularida<strong>de</strong> do uso, tomando como base a línguano discurso, isto é, vê a língua como instrumento <strong>de</strong> interação social, que é oestabelecimento da comunicação entre os usuários.A proposta <strong>de</strong>sta pesquisa é analisar as orações subordinadas adverbiaisfinais e temporais nas produções textuais <strong>de</strong> alunos das duas últimas sériesdo Ensino Fundamental. Nessas redações, observa-se um grupo <strong>de</strong> seisvariáveis, dando-se <strong>de</strong>staque para uma <strong>de</strong>las: a posição que a oraçãoadverbial ocupa em relação à principal. A análise se vale <strong>de</strong> princípiosfuncionalistas, como o da “informação” e o da “linearida<strong>de</strong>”. Dessaperspectiva, as expressões lingüísticas são consi<strong>de</strong>radas no seufuncionamento <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um dado contexto, sendo <strong>de</strong>terminadas tanto pelainformação contextual (pragmática) quanto pela situacional (conhecimento<strong>de</strong> mundo).Os resultados mostram que os principais causadores da anteposição eposposição das orações adverbiais são justamente os princípios dainformação e da linearida<strong>de</strong>. O primeiro princípio diz respeito à importância<strong>de</strong> se introduzir uma informação nova ou <strong>de</strong> se resgatar algo que já foimencionado no contexto; o segundo apresenta a linearida<strong>de</strong> dos fatos, isto é,a cronologia em que os fatos acontecem (um após o outro). Enfim, atendência da oração subordinada, na posição posposta, é seguir a or<strong>de</strong>m dosfatos, enquanto que, na posição anteposta, é seguir o princípio da informação.Assim, consi<strong>de</strong>ra-se, até o momento, que a oração final é regulada peloprincípio da informação, enquanto que a oração temporal é regida peloprincípio da informação e da linearida<strong>de</strong>. Assim, os princípios funcionalistassão utilizados para explicar a ocorrência dos fenômenos em estudo.A SINTAXE DA ELIPSE DE VP EM PORTUGUÊS BRASILEIROSa<strong>br</strong>ina Casagran<strong>de</strong> (UNICAMP)Este trabalho investiga as condições <strong>de</strong> licenciamento da elipse <strong>de</strong> VP emPB, contrastando com o PE. Cyrino & Matos (2002) e Cyrino (2006)argumentam que o núcleo funcional que licencia a elipse <strong>de</strong> VP em PE e PBé diferente; em PE seria TP, enquanto em PB seria AspP. Testes <strong>de</strong>julgamento <strong>de</strong> preferência e interpretação foram aplicados a falantes do PB emostraram que há diferenças entre os julgamentos <strong>de</strong> elipse <strong>de</strong> VP testados eos apresentados nos dois trabalhos. Segundo as autoras, em (1) e (2) asinterpretações seriam diferentes:(1) O carro foi atribuído à Maria, mas os outros prêmios não foramatribuídos [-]a. [-]=[t] à Maria PBb. [-]=[t] a ninguém PE(2) Ela está lendo/a ler livros às crianças, mas ele não está lendo [-].463


464a. [-]=[t] livros às crianças PBb. [-]=[t] nada PEEm PE, a interpretação da lacuna envolvendo perífrases verbais com auxiliarpassivo (1) e progressivo (2) seria <strong>de</strong> objeto nulo in<strong>de</strong>finido (1b e 2b),enquanto em PB a interpretação seria <strong>de</strong> elipse <strong>de</strong> VP (1a e 2a). Com essasmesmas sentenças, quando apenas o auxiliar é manifesto, a interpretação é<strong>de</strong> elipse <strong>de</strong> VP nas duas varieda<strong>de</strong>s.As autoras também testaram o posicionamento do advérbiotambém nas seqüências verbais, quando havia lacuna:(3) a. O João fez isso antes <strong>de</strong> a Maria também ter feito [-]. (PE/ PB)b. (...) ter também feito [-]. (??/* PE/PB)c. (...) ter feito [-] também. (?PE/ PB)Como mostrado em (3b), quando o advérbio que<strong>br</strong>a a seqüência verbal, ainterpretação da elipse <strong>de</strong> VP é perdida em PE, mas não em PB. Oscontrastes em (1), (2) e (3) indicam que a elipse <strong>de</strong> VP é licenciada por TPlexicalizado em PE, e em PB, também por AspP lexicalizado (o verboauxiliar estaria ocupando o núcleo <strong>de</strong> TP, enquanto o lexical estaria emAspP).Os testes para o PB mostraram que, ao contrário dos julgamentosapresentados pelas autoras, (1) e (2) também são interpretadas como ONin<strong>de</strong>finido e a sentença (3b) é praticamente não aceita pelos falantes. Issoindica que se AspP também po<strong>de</strong> ser o núcleo licenciador da elipse <strong>de</strong> VPem PB, não é o caso <strong>de</strong>ssas sentenças, já que nesse caso TP parece ser olicenciador. Sendo assim, alguns aspectos <strong>de</strong>ssas previsões <strong>de</strong>vem serrevistos para melhor caracterizar o fenômeno da elipse <strong>de</strong> VP em PB.SociolingüísticaA LÍNGUA NA/PELA HISTÓRIA: O CASO DOS DESCENDENTESDE ITALIANO NA REGIÃO DE NOVA PALMAAline Pegoraro (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)O sentimento <strong>de</strong> estranheza é comum àqueles que chegam a um novo país ese <strong>de</strong>frontam com uma nova língua, uma nova cultura. Partindo dopressuposto <strong>de</strong> que a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do sujeito jamais será homogênea, havendoa tendência <strong>de</strong> mescla lingüística e cultural. Baseados nos textos <strong>de</strong> Coracini(2007), Payer (2003), Frosi (2000), Sponchiado (1996), Santos (2006), Irala(2005) e em gravações <strong>de</strong> áudio digitalizadas, percebemos a miscigenaçãolingüística existente na fala <strong>de</strong> uma parcela da população <strong>de</strong> uma regiãofortemente colonizada por <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> italianos: a cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> NovaPalma, no interior do estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Na referida região,foram encontrados registros <strong>de</strong> sujeitos que inconscientemente afirmam


possuir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> homogênea, mas que em suas falas <strong>de</strong>nunciam aexistência <strong>de</strong> um sujeito hí<strong>br</strong>ido. Isso acontece tanto com pessoas quetiveram como língua materna o dialeto italiano e dizem saber separar umalíngua da outra no momento da fala, como com as pessoas que tiveram comolíngua materna a língua portuguesa e dizem que suas falas não têminfluência do dialeto italiano corrente na região. Pessoas que tiveram odialeto italiano como língua materna relatam a necessida<strong>de</strong> que tiveram <strong>de</strong><strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado sua língua por motivos históricos e sociais e, também, osentimento que possuem hoje em relação à própria i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Por outrolado, aqueles que tiveram a língua portuguesa como materna <strong>de</strong>screvem ointeresse que possuem pela língua que os cerca até hoje, por viverem emuma região <strong>de</strong> colonização italiana.O MIGRANTE CARIOCA NO SUL: QUESTÕES LINGÜÍSTICO-CULTURAISEster Dias <strong>de</strong> Barros (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)Por fazermos parte <strong>de</strong> um país com uma vasta diversida<strong>de</strong> lingüística ecultural, o objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa consiste em analisar questões <strong>de</strong>linguagem que envolvem migrantes no sul do país. O corpus utilizado paraa análise foram gravações feitas em áudio com cariocas migrantes na cida<strong>de</strong><strong>de</strong> Bagé (cida<strong>de</strong> gaúcha próxima à fronteira com o Uruguai) on<strong>de</strong> atravésdos discursos dos falantes foram analisadas as suas marcas lingüísticas ei<strong>de</strong>ntitárias, a fim <strong>de</strong> comparar os dados <strong>de</strong>ssas entrevistas com os aportesteóricos <strong>de</strong> Coracini (2007a; 2007b), Irala (2005), Moita Lopes (2003), como objetivo <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r como o falante se sente e se percebe quandoimerso numa outra região, on<strong>de</strong> em contato com um novo dialeto faz sentirseestrangeiro com relação ao dialeto do “outro”. O falante pertencente a um<strong>de</strong>terminado meio lingüístico, que por inúmeras razões necessita migrar-se,comporta-se <strong>de</strong> forma análoga ao que acontece em uma situação <strong>de</strong> luto,pois assumirá em sua constituição i<strong>de</strong>ntitária duas possibilida<strong>de</strong>s: ou acondição <strong>de</strong> permanecer velando o morto por tempo in<strong>de</strong>terminado ou a <strong>de</strong>enterrá-lo para sempre, sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> volta. No caso dos dadosanalisados, como predomina o caráter temporário da migração, a situaçãodominante indica a recorrência do primeiro caso.O ESTRANGEIRO HISPÂNICO EM DISCURSO: LUGAR DECONTRADIÇÕESJosiane da Silva Quintana Alves (UNIPAMPA)Valesca Brasil Irala (UNIPAMPA)Encontramo-nos em um mundo globalizado; com isso, a diversida<strong>de</strong> culturalque nos cerca tornou-se imensa. Assim sendo, <strong>de</strong>paramo-nos em nossascida<strong>de</strong>s com vários imigrantes – que no Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, em particular,são representados <strong>de</strong> forma expressiva por aqueles que possuem o espanhol465


como língua materna. O presente trabalho tem como objetivo avaliar arelação do imigrante com a pátria acolhedora e com a sua <strong>de</strong> origem a partir<strong>de</strong> análises feitas com base em seu discurso. O estrangeiro, ao chegar a umnovo país, muitas vezes sente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r (ou não) suascaracterísticas i<strong>de</strong>ntitárias. A principal, para não sentir-se excluído, é ai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> lingüística. Porém isso não é possível. Por mais que não queira<strong>de</strong>monstrá-la, ela se manifestará. Neste pôster apresento como o estrangeirose vê ou não incluído (por características lingüísticas) no novo ambiente queestá inserido e sua aceitação quanto a isso. Utilizei a analogia feita porCoracini (2007) do luto com a experiência <strong>de</strong> inserção dos imigrantes emuma nova cultura. Fiz diversas análises a partir <strong>de</strong> entrevistas realizadas comtrês estrangeiros resi<strong>de</strong>ntes em Bagé-RS, para saber qual é a relação <strong>de</strong>lescom sua origem e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentirem-se mem<strong>br</strong>os do novo grupo.Para a classificação <strong>de</strong>sses sujeitos, as <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> Irala (2005) e Sarriera(2004) foram <strong>de</strong> extrema importância. Apresento como o preconceitolingüístico ainda ocorre (apesar <strong>de</strong> muitas vezes ser negada sua existência), oconstrangimento que ele causa principalmente em imigrantes que nãoquerem se <strong>de</strong>svincular <strong>de</strong> sua cultura e como isso influencia nas relaçõescotidianas do estrangeiro.A RETOMADA ANAFÓRICA PRONOMINAL EM TEXTOSJORNALÍSTICOS: FATORES MOTIVADORESMariana M. Trautwein (PUCPR)Uiara Chagas (PUCPR)A freqüência com que as retomadas anafóricas diretas aparecem emdiferentes contextos jornalísticos é um tópico tão interessante que merecenossa consi<strong>de</strong>ração. A diferença <strong>de</strong> público-alvo <strong>de</strong> cada jornal gera umaa<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> linguagem que leva a optar esse ou aquele recurso lingüísticotextual. Constata-se a alta freqüência com que acontecem as retomadas poranáforas <strong>de</strong> pronomes pessoais retos como um recurso coesivo quenormalmente serve como lem<strong>br</strong>ete ao leitor. Por outro lado, não se encontraocorrência alguma <strong>de</strong> anáforas indiretas e raros são os casos <strong>de</strong> elipse. Nestetrabalho, consi<strong>de</strong>rando-se dados <strong>de</strong> jornais <strong>de</strong>stinados a indivíduos <strong>de</strong>diferentes classes socioeconômicas, com ida<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong> e mesmo sexodistintos, resi<strong>de</strong>ntes em Curitiba e Região Metropolitana, objetiva-seanalisar em que medida esses fatores (ou outros, se os houver) estariamcondicionando os jornais em questão a optar pela referência anafóricapronominal em <strong>de</strong>trimento da elipse ou das anáforas indiretas, como queremnos revelar os dados. As bases teóricas <strong>de</strong>ste estudo vêm da LingüísticaTextual, especificamente dos trabalhos <strong>de</strong> Koch (2000, 2002, 2005), <strong>de</strong>Marcuschi (2001, 2005) e <strong>de</strong> Ilari (2005).466


VariaçãoQUANTO MAIS EU VIVO, MENOS SUJEITO ME APARECE: UMESTUDO SOBRE O PREENCHIMENTO DO SUJEITOPRONOMINAL NA FALA E NA ESCRITA DE JOVENS DEFLORIANÓPOLISChristiane Maria Nunes <strong>de</strong> Souza (UFSC)Patricia Floriani Sachet (UFSC)Foi observado o preenchimento do sujeito pronominal em oraçõescoor<strong>de</strong>nadas no dialeto <strong>de</strong> jovens estudantes do Ensino Médio e do EnsinoFundamental em um colégio da Gran<strong>de</strong> Florianópolis. O corpus foiconstituído <strong>de</strong> dados <strong>de</strong> fala e <strong>de</strong> escrita. Dos quatro tipos <strong>de</strong> variaçãoexistentes, nós utilizamos a variação diamésica, ou seja, variação através domeio. Fizemos uma comparação entre o preenchimento do sujeitopronominal na fala e na escrita, observando a gran<strong>de</strong> distância que há entreestes dois meios. "A variação diamésica compreen<strong>de</strong>, antes <strong>de</strong> mais nada, asprofundas diferenças que se observam entre a língua falada e a língua escrita.Uma longa tradição escolar acostumou as pessoas a vigiar a escrita e a darmenos atenção à fala, por isso muita gente pensa que fala da mesma formaque escreve” (BASSO e ILARI, 2006, p.181). Comprovamos que na escritahá menos preenchimento do sujeito pronominal, já que é mais monitorada econservadora, enquanto na fala encontramos um aumento do preenchimentodo sujeito pronominal, pois esta é menos monitorada. Partimos do princípio<strong>de</strong> que a língua portuguesa do Brasil era classificada como uma língua prodrop,ou seja, que apresentava um gran<strong>de</strong> índice <strong>de</strong> não-preenchimento daposição <strong>de</strong> sujeito ou <strong>de</strong> sujeito nulo, e nos últimos tempos vemapresentando uma mudança em direção ao pro, ou seja, um aumento darealização do sujeito pronominal. Esta mudança <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong>vido à outramudança – fenômeno <strong>de</strong> encaixamento lingüístico -, que foi a mudançamorfêmica no paradigma verbal flexional do português do Brasil, o queacarretou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> preencher o sujeito, para que a oração nãoapresentasse ambigüida<strong>de</strong>. Nossa pesquisa <strong>de</strong>u ênfase ao fator externo daescolarida<strong>de</strong>, pois um <strong>de</strong> nossos objetivos foi comprovar que, à medida queaumentamos o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, preenchemos menos o sujeitopronominal. Defen<strong>de</strong>mos, também, a hipótese <strong>de</strong> a língua portuguesa doBrasil ter passado do fator mais "pro-drop" para o menos "pro-drop". Nossashipóteses foram levantadas com o suporte teórico da lingüista Maria EugêniaLamoglia Duarte, já conhecida por sua atuação em pesquisas so<strong>br</strong>e opreenchimento do sujeito pronominal. Como resultados, reforçamos asconclusões que outros lingüistas vêm apresentando: com a mudançaflexional do paradigma verbal do português do Brasil, o preenchimento dosujeito pronominal, que antes era menos freqüente, passou a ser maisutilizado, principalmente na fala dos jovens. Já na escrita, estepreenchimento vai sendo reduzido conforme o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>.467


A ORDEM DO CLÍTICO PRONOMINAL EM CONTEXTOS DECOMPLEXOS VERBAIS – A SOCIOVARIAÇÃO NA ESCRITAESCOLARAdriana Lopes Rodrigues (UFRJ, Rio <strong>de</strong> Janeiro)O presente trabalho, integrado ao projeto “A interface prosódiamorfossintaxeem varieda<strong>de</strong>s do português”, consiste numa investigaçãosociolingüística dos mecanismos envolvidos no fenômeno da cliticizaçãopronominal em contextos <strong>de</strong> complexos verbais, no gênero textual redaçãoescolar, abarcando diferentes níveis <strong>de</strong> instrução. A pesquisa focaliza aor<strong>de</strong>m do clítico pronominal, buscando esclarecimentos que se fazemnecessários diante da variação que se percebe a respeito do assunto.O corpusutilizado para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste trabalho compreen<strong>de</strong> uma coletânea<strong>de</strong> textos <strong>de</strong> tipologia dissertativa, produzidos por alunos <strong>de</strong> diferenciadosníveis escolares, matriculados em turmas diurnas da re<strong>de</strong> privada <strong>de</strong> ensino.Para a constituição do corpus, contou-se com a colaboração <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong>diversas localida<strong>de</strong>s do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Dessa forma, este estudoprocura investigar o fenômeno da cliticização pronominal consi<strong>de</strong>randorealida<strong>de</strong>s lingüísticas geograficamente diversificadas.Objetiva-se, com estapesquisa, i<strong>de</strong>ntificar os fatores lingüísticos e extralingüísticos que exercem,<strong>de</strong> fato, influência no condicionamento do fenômeno, <strong>de</strong>terminando aescolha do aluno pela variante pré-complexo verbal (nos po<strong>de</strong>mos livrar),intracomplexo verbal (po<strong>de</strong>mos nos livrar) ou pós-complexo verbal(po<strong>de</strong>mos livrar-nos). Com isso, busca-se respon<strong>de</strong>r às seguintes perguntas:Quais as variáveis lingüísticas e extralingüísticas que <strong>de</strong>terminam a or<strong>de</strong>mclítico pronominal? Existem diferenças significativas no que concerne àor<strong>de</strong>m do clítico pronominal em relação à região <strong>de</strong> origem do aluno ou aonível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>? Como respostas aos questionamentos acima,levantaram-se as seguintes hipóteses: a escolha pelas variantes em questãoestaria relacionada às diferentes regiões consi<strong>de</strong>radas; as redações cujosautores pertencem a níveis escolares mais avançados apresentariam dadosem maior consonância com os padrões prescritos pela tradição, refletindouma implementação gradativa dos traços normativos na escrita dos alunos.Tem-se como suporte teórico-metodológico a Sociolingüística VariacionistaLaboviana. Para o tratamento estatístico dos dados coletados eposteriormente codificados <strong>de</strong> acordo com os fatores estabelecidos para cadavariável consi<strong>de</strong>rada, utiliza-se o pacote <strong>de</strong> programas GOLDVARB (versão2001). A partir dos resultados obtidos preliminarmente, po<strong>de</strong>-se concluir que,no que concerne às variáveis lingüísticas, o contexto morfossintáticoapresenta relevância no condicionamento do fenômeno da cliticizaçãopronominal; quanto às variáveis extralingüísticas, o nível escolar dos alunosassocia-se a um diferente comportamento lingüístico. Espera-se que osresultados obtidos possam auxiliar a ativida<strong>de</strong> docente acrescentando novosconhecimentos acerca da or<strong>de</strong>m do clítico pronominal, so<strong>br</strong>etudo noscontextos <strong>de</strong> complexos verbais e, ainda, contribuir para o reconhecimentodas peculiarida<strong>de</strong>s lingüísticas da varieda<strong>de</strong> <strong>br</strong>asileira da língua portuguesa.468


APAGAMENTO DO /R/ EM FINAL DE PALAVRAS: UM ESTUDOCOMPARATIVO ENTRE FALANTES DAS VARIANTES CULTA EPOPULARAnay Batista Linares (PUCPR)Camila Rigon Peixoto (PUCPR)Tiago Moreira (PUCPR)Este pôster tem como objetivo investigar o apagamento da consoante /r/ emfinal <strong>de</strong> palavras e relacionar esse fenômeno lingüístico à posição social,levando-se em conta, em um primeiro momento, a profissão e o nível <strong>de</strong>instrução dos informantes. Posteriormente, consi<strong>de</strong>rando-se um mesmogrupo social, busca-se estudar quem é mais conservador: o falante do sexofeminino ou o falante do sexo masculino. Para finalizar as investigações,preten<strong>de</strong>-se evi<strong>de</strong>nciar, <strong>de</strong>ntre o corpus levantado, em qual classemorfológica é mais recorrente o apagamento, se na dos nomes ou na dosverbos. Para isso, foram utilizados os dados do projeto VARPORT,coletados entre os anos <strong>de</strong> 1991 e 1998. Analisam-se vinte entrevistas, sendonove <strong>de</strong> falantes do padrão culto/informal (cinco informantes do sexofeminino e quatro do sexo masculino) e onze do popular/informal (todos dosexo masculino). O motivo <strong>de</strong> se optar pela questão do apagamento do /r/final é <strong>de</strong>vido à recorrência com que esse apagamento ocorre na fala etambém pelo preconceito existente, principalmente por parte dos falantescom um nível <strong>de</strong> instrução mais alto, para com os falantes que utilizam avariação recuperação, inclusive em hipercorreções. Usando a metodologiada sociolingüística quantitativa laboviana, serão analisados os dados eesmiuçados os resultados para assim ter-se um panorama, ainda quereduzido, da recorrência da variação estudada.O USO DOS PRONOMES NÓS E A GENTE NO SUL DO BRASILAndré Luiz <strong>de</strong> Oliveira Almeida (UFPR)Tathyana Szmidziuk (UFPR)O presente trabalho tem como objetivo apresentar pesquisa, feita por alunosda graduação em disciplinas o<strong>br</strong>igatórias e optativas <strong>de</strong> Sociolingüística naUFPR, so<strong>br</strong>e a distribuição dos pronomes nós e a gente em entrevistas docorpus do Projeto VARSUL em cida<strong>de</strong>s do Sul do Brasil. Numa primeirafase, pesquisou-se a distribuição da pronúncia <strong>de</strong> nós com e sem ditongaçãonas cida<strong>de</strong>s do Sul do Brasil. Numa segunda fase, pesquisou-se adistribuição <strong>de</strong> nós e a gente nas três capitais do Sul do Brasil. Investigou-se,também, a influência das variáveis extralingüísticas clássicas (escolarida<strong>de</strong>,ida<strong>de</strong> e sexo dos falantes) nos casos em variação. Como era esperado,constatou-se que a escolarida<strong>de</strong> é o fator mais influente <strong>de</strong> todos, embora osresultados não apresentem, em todas as localida<strong>de</strong>s, o mesmo perfilinicialmente esperado (que era o da redução das formas ditongadasconforme aumentava a escolarida<strong>de</strong>).469


APAGAMENTO DO FONEMA /R/ PÓS-VOCÁLICO NA FALA‘AMREQUIANA’Ângela Regina Meira Matias (UNESC)Liriane Teixeira (UNESC)O apagamento do fonema “R” pós-vocálico no final <strong>de</strong> vocábulos verbais enão-verbais em discursos orais é um fenômeno que tem se tornado objeto <strong>de</strong>estudo <strong>de</strong> várias pesquisas lingüísticas em diversas regiões <strong>de</strong> nosso país,<strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> os falantes, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ida<strong>de</strong>, sexo, grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> ou condição social, não estarem pronunciando o fonema “R”,principalmente em vocábulos verbais. Portanto, torna-se relevanteverificarmos se os falantes da região carbonífera têm ou não pronunciado talfonema e quais os contextos lingüísticos e extralingüísticos têm influenciadoa ocorrência <strong>de</strong>ste fenômeno. O estudo tem como objetivo <strong>de</strong>screver oapagamento do fonema “R” pós-vocálico nas classes verbais e não-verbaisdo português <strong>br</strong>asileiro como uma variante inserida na expressão da línguamaterna e os fatores lingüísticos e extralingüísticos que condicionam essefenômeno, em entrevistas orais <strong>de</strong> informantes registrados no AtlasSociolingüístico, sob a perspectiva da sociolingüística laboviana.O USO DO IMPERATIVO NA MÍDIA: UMA ANÁLISESOCIOLINGÜÍSTICAAntonio José <strong>de</strong> Pinho (UFSC)Bruno Cardoso (UFSC)Baseados na teoria da Variação Lingüística (Labov, 1983 [1972]) e emalguns trabalhos <strong>de</strong> Maria M. P. Scherre (2000, 2002, 2004, 2005),buscaremos verificar e compreen<strong>de</strong>r a variação no uso da forma verbalimperativa no português <strong>br</strong>asileiro, especificamente a influência <strong>de</strong> aspectossintáticos, fonológicos e contextuais no uso das variantes na forma indicativa(Me liga) e na subjuntiva (Ligue para...). Para cumprir este objetivo,utilizaremos um corpus formado por transcrições das formas imperativasutilizadas em diálogos da novela Desejo Proibido (Re<strong>de</strong> Globo) e do seriadoMalhação (Re<strong>de</strong> Globo), <strong>de</strong> episódios transmitidos entre os dias 4 e 25 <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 2008, e em anúncios publicitários encontrados em vinte edições darevista Veja do ano <strong>de</strong> 2007. Assim, com amostras <strong>de</strong> língua escrita e falada,visamos encontrar – comparando os dados – uma sistematicida<strong>de</strong> navariação do uso do imperativo, <strong>de</strong> acordo com fatores <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estrutural(fatores sintáticos e fonológicos) e contextual (a natureza do momento <strong>de</strong>uso da língua), admitindo-se que nos anúncios publicitários e na escrita, <strong>de</strong>forma geral, temos um contexto mais formal <strong>de</strong> comunicação, ao passo quenos diálogos <strong>de</strong> telenovela temos um ambiente mais informal. Evidênciaspreliminares indicam que, nestes casos, o imperativo na forma indicativaten<strong>de</strong> a predominar, enquanto que, na escrita, a forma subjuntiva é <strong>de</strong>tectadaem quase 100% das ocorrências.470


VARIAÇÃO LINGÜÍSTICA EM EAD – ISSO É POSSÍVEL?Clau<strong>de</strong>nir Caetano <strong>de</strong> Barros (CEAD/UFPEL)Cristiane dos Santos Azevedo (CEAD/UFPEL)Joelma Santos Castilhos (CEAD/UFPEL)Atualmente, a Educação a Distância tem contribuído para que, mesmo noslugares mais distantes dos gran<strong>de</strong>s centros <strong>de</strong> formação acadêmica, possamser abertos cursos superiores nas mais diversas áreas do conhecimento. Nocaso específico do curso <strong>de</strong> Pedagogia a Distância da UFPEL, temos ao todo,nesse momento, sete pólos em funcionamento (Paranaguá, Cachoeira do Sul,Seberi,Camargo, São Francisco <strong>de</strong> Paula, e Herval, Arroio dos Ratos), com350 alunos no total e cada um <strong>de</strong>sses pólos com suas especificida<strong>de</strong>sculturais e principalmente lingüísticas. Partimos, pois, da hipótese <strong>de</strong> que, naEAD, a escrita dos alunos, em <strong>de</strong>terminados contextos e ativida<strong>de</strong>spropostas, po<strong>de</strong> vir a representar a sua fala mais coloquial e, para confirmála,preten<strong>de</strong>mos, a partir da <strong>de</strong>scrição e da análise <strong>de</strong> uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>criação <strong>de</strong> um Glossário com a ferramenta WIKI do modlle, proposta noeixo “Cultura, Escola e Socieda<strong>de</strong>”, I semestre, feita por todos os alunos dossete pólos, tentar i<strong>de</strong>ntificar as possíveis variantes lingüísticas utilizadaspelos alunos e posteriormente, compará-las com os dados coletados nopróprio local, a fim <strong>de</strong> verificarmos se a nossa hipótese se confirma.Fizemos, assim, nesse momento, um recorte mostrando as variantesencontradas nas WIKIS dos pólos que acompanhamos.VARIAÇÃO ESTILÍSTICA E GENERICIDADE: A VARIAÇÃO DEPRONOMES POSSESSIVOS DE SEGUNDA E TERCEIRA PESSOADO SINGULARFernanda Men<strong>de</strong>s (UFSC)O presente estudo tem por objetivo <strong>de</strong>screver a variação entre os pronomespossessivos <strong>de</strong> segunda e terceira pessoa do singular, respectivamente,teu/seu e seu/<strong>de</strong>le em entrevistas <strong>de</strong> quatro cida<strong>de</strong>s do Paraná – Curitiba,Irati, Londrina e Pato Branco –, que compõem o banco <strong>de</strong> dados doVARSUL. Baseia-se em estudos realizados anteriormente em outras cida<strong>de</strong>sda Região Sul e se apóia em textos <strong>de</strong> Arduin (2005), Neta (2004), Labov(1972) e Weinreich, Labov e Herzog (1968). O objetivo principal <strong>de</strong>stetrabalho é observar o grau <strong>de</strong> motivação que a variação estilística exerceso<strong>br</strong>e a ocorrência da forma seu, <strong>de</strong>signando segunda pessoa do singular, emco-ocorrência com a forma teu. Sendo essa variação entendida, grosso modo,neste estudo, como o grau escalar entre um contexto [+formal] e umcontexto [-formal] <strong>de</strong> fala. E o grau <strong>de</strong> motivação que a genericida<strong>de</strong> daestrutura exerce so<strong>br</strong>e a ocorrência da forma seu, <strong>de</strong>signando terceira pessoado singular, em co-ocorrência com a forma <strong>de</strong>le. Sendo essa genericida<strong>de</strong>,neste estudo, entendida como o fator semântico que permite a recuperação<strong>de</strong> sintagmas nominais [+ genéricos] pelo possessivo seu. Dito <strong>de</strong> outro471


modo, se é o grau <strong>de</strong> genericida<strong>de</strong> que motiva a permanência da forma seupara terceira pessoa do singular, então é a variação estilística que força aocorrência da forma seu para a segunda pessoa do singular. Espera-se que aanálise dos resultados encontrados dê suporte a esta hipótese, evi<strong>de</strong>ncie oscondicionadores <strong>de</strong>ste fenômeno e acentue a discussão acerca do assunto,mesmo que já existente na literatura.DE QUEM NÓS/A GENTE ESTÁ(MOS) FALANDO AFINAL?VARIAÇÃO SINCRÔNICA DE ESTRATÉGIAS DE DESIGNAÇÃOREFERENCIAL NO USO DA PRIMEIRA PESSOAL DO PLURALIvanil<strong>de</strong> da Silva (UFSC)A partir das análises e da <strong>de</strong>scrição dos dados coletados sob os pressupostosteóricos e metodológicos da sociolingüística variacionista, os resultadosgerais da utilização dos pronomes nós e a gente e suas respectivasrealizações –mos e zero apontam mudança na medida em que o pronome agente se estabiliza como pronome pessoal. Ele, aos poucos, disputa espaçotambém no campo da <strong>de</strong>terminação, concorrendo com o pronome nós. Combase nas concepções teóricas <strong>de</strong> Benveniste (1988 e 1989), Mondada &Dubois (1995/2003), Apothéloz (1995/2003) e Milner (1995/2003),preten<strong>de</strong>mos mostrar que os pronomes nós e a gente são multirreferenciais –ou seja, que po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>signar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escala <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s,pessoas do discurso e referentes genéricos. As amostras <strong>de</strong>ssa pesquisaforam constituídas por 32 entrevistas: 16 foram colhidas na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Blumenau/SC, da fala <strong>de</strong> profissionais, alguns <strong>de</strong>les vinculados a umhospital da mesma cida<strong>de</strong>, no período <strong>de</strong> 2001 a 2002; as <strong>de</strong>mais foramcoletadas do Programa do Jô, atração televisiva veiculada pela Re<strong>de</strong> Globo<strong>de</strong> Televisão, no período <strong>de</strong> 2003 a 2004. Os informantes <strong>de</strong>ssas amostras<strong>de</strong> fala possuem grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> superior, classificados <strong>de</strong> acordo como sexo e duas faixas etárias.472


RESUMOS DAS APRESENTAÇÕES NOS GRUPOS TEMÁTICOS:SESSÕES ESPECIAISGT4 Cognição, relevância e interface semântico-pragmática: sessão especialCoor<strong>de</strong>nadoresFábio José Rauen (UNISUL)J<strong>org</strong>e Campos da Costa (PUCRS)RELATOS ORAIS DE CRIANÇAS DE TRÊS E QUATRO ANOSPRODUZIDOS A PARTIR DA ORDENAÇÃO DE GRAVURAS DEUMA HISTÓRIA EM QUADRINHOS SEM BALÕES DE FALA:ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIAAlba da Rosa Vieira (UNISUL - Tubarão)O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> competências orais e escritas é essencial para ainserção da criança nas diferentes práticas sociais. A educação infantil seconstitui em um dos espaços <strong>de</strong> ampliação das capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicaçãoe expressão e <strong>de</strong> acesso do mundo letrado pela criança. Nesse sentido, ateoria da relevância po<strong>de</strong> auxiliar os profissionais da educação, na medidaem que se propõe a <strong>de</strong>screver e explicar como ocorre esse <strong>de</strong>senvolvimento.Nesta pesquisa, analisam-se os processos ostensivo-inferenciais em relatosorais <strong>de</strong> crianças <strong>de</strong> três a quatros anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> produzidos a partir daor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> gravuras <strong>de</strong> uma história em quadrinhos sem balões <strong>de</strong> fala.Para dar conta <strong>de</strong>sse objetivo, dividiu-se a turma em 4 grupos <strong>de</strong> 5 crianças efoi solicitado a cada grupo que or<strong>de</strong>nasse a história em quadrinhos. Numsegundo momento, repetiu-se a ativida<strong>de</strong> individualmente. Nestacomunicação, apresentam-se resultados preliminares da análise do corpus.REESCRITA DE PRODUÇÃO TEXTUAL POR ALUNOS DADISCIPLINA DE LEITURA E PRODUÇÃO TEXTUAL NASMODALIDADES PRESENCIAL E VIRTUAL: ESTUDOCOMPARATIVO COM BASE NA TEORIA DA RELEVÂNCIAEloíse Machado <strong>de</strong> Souza Alano (UNISUL - Tubarão)O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s orais e escritas é essencial para oprofissional do Direito. A disciplina <strong>de</strong> Leitura e Produção Textual é umadas chaves que a<strong>br</strong>e o caminho para a aquisição <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s. NaUniversida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina (Unisul) essa disciplina é lecionadanas modalida<strong>de</strong>s presencial e virtual. Porém, ainda faltam estudos quecomparem essas modalida<strong>de</strong>s. O presente estudo <strong>de</strong> caso faz parte do ProjetoTeoria da Relevância: práticas <strong>de</strong> leitura e produção textual em contextoescolar, do Curso <strong>de</strong> Mestrado do Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ciênciasda Linguagem da Unisul. Este projeto pertence ao Grupo <strong>de</strong> PesquisaPráticas discursivas e tecnologias da linguagem e da linha <strong>de</strong> pesquisa473


Textualida<strong>de</strong>s e práticas discursivas <strong>de</strong>sse mesmo Programa. Os trabalhosvinculados ao projeto <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m a hipótese operacional <strong>de</strong> que a aplicaçãodos níveis representacionais – forma lógica, explicatura e implicatura –postulados pela Teoria da Relevância (SPERBER; WILSON, 1986, 1995;CARSTON, 1988) permitem uma <strong>de</strong>scrição empírica e uma explicaçãoa<strong>de</strong>quada dos processos ostensivo-inferenciais envolvidos em processos <strong>de</strong>interação comunicativa. Na presente pesquisa analisam-se, com base naTeoria da Relevância, os processos <strong>de</strong> reescrita <strong>de</strong> uma produção textual poralunos da disciplina <strong>de</strong> Leitura e Produção Textual nas modalida<strong>de</strong>spresencial e virtual em 2008/B. Para isso, o docente propôs um mesmo temaaos alunos das duas modalida<strong>de</strong>s. Esta comunicação apresenta os primeirosresultados obtidos.ANÁLISE DE PROCESSOS INTERACIONAIS NO ESPAÇOVIRTUAL DE APRENDIZAGEM DA UNISUL: ESTUDO DE CASOCOM A OFERTA 2008/1 DA DISCIPLINA SOCIOLOGIA A PARTIRDA TEORIA DA RELEVÂNCIA.Layla Antunes <strong>de</strong> Oliveira (UNISUL - Tubarão)A disciplina <strong>de</strong> Sociologia po<strong>de</strong> ser cursada na Unisul no mo<strong>de</strong>lo presencialou à distância, quando mediada pelo computador. A oferta on-line <strong>de</strong>ssadisciplina, da maneira como é proposta no Espaço Virtual <strong>de</strong> Aprendizagemda Unisul, fundamenta-se em interações escritas. Com isso, quer-se dizerque formas <strong>de</strong> contato entre os atores envolvidos, do autor dos estímulos <strong>de</strong>aprendizagem aos estudantes, passando por tutores e monitores, em que sepesem alguns recursos multimídia, são essencialmente escritas. Como oregistro escrito não tem o suporte <strong>de</strong> pistas contextuais do momento dainteração, isto é, não é possível preencher lacunas <strong>de</strong> interpretação olhandopara gestos, posturas ou o próprio ambiente físico da interação, aspectos <strong>de</strong>explicitação são importantes nesses contatos. Analisar, a partir da Teoria daRelevância, os processos interacionais em trocas comunicativas nasferramentas do Espaço Virtual <strong>de</strong> Aprendizagem (EVA) da Universida<strong>de</strong> doSul <strong>de</strong> Santa Catarina (Unisul) na oferta 2008/1 da disciplina Sociologia. Demodo específico, o trabalho preten<strong>de</strong>: a) investigar estratégias interacionais<strong>de</strong> tutores e monitores para atendimento das <strong>de</strong>mandas dos estudantes; b)investigar, entre estudantes, processos <strong>de</strong> interação correlatos com osobjetivos <strong>de</strong> aprendizagem; c) correlacionar processos <strong>de</strong> interação com asestratégias <strong>de</strong> antecipação <strong>de</strong> dúvidas potenciais no Espaço Virtual <strong>de</strong>Aprendizagem (EVA) da Universida<strong>de</strong> do Sul <strong>de</strong> Santa Catarina (Unisul).Esta comunicação apresenta resultados parciais da análise dos dados.474


MENSAGENS DE ERROS EM SISTEMAS E APLICATIVOSCOMPUTACIONAIS: ANÁLISE COM BASE NA TEORIA DARELEVÂNCIA.Neli Miglioli Sabadin (UNISUL - Tubarão)Sistemas e aplicativos computacionais, na gran<strong>de</strong> maioria das vezes,apresentam mensagens obscuras quando ocorrem falhas <strong>de</strong> execução, sejamelas geradas pelo usuário, sejam elas geradas pelos próprios programas.Diante <strong>de</strong>sse cenário, o objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa é o <strong>de</strong> analisar, com base noaporte da Teoria da Relevância, um conjunto <strong>de</strong> mensagens <strong>de</strong> erro dosistema operacional Windows e <strong>de</strong> seus aplicativos Office. Em específico,quer-se <strong>de</strong>stacar, aplicando-se os conceitos <strong>de</strong> forma lógica, explicatura eimplicatura, como essas mensagens são construídas, que processosinferenciais precisam ser mobilizados <strong>de</strong> modo a compor a explicatura e, sepertinente, certas implicaturas <strong>de</strong>ssas mensagens. Neste pôster, apresentamseos primeiros resultados <strong>de</strong>ssa investigação.IMPLÍCITOS NA LITERATURA INFANTIL: UMA ANÁLISE SOB OPRISMA DA RELEVÂNCIARita <strong>de</strong> Cássia Oliveira (PUCRS)O presente estudo analisa as inferências que guiam o processo <strong>de</strong>compreensão <strong>de</strong> uma narrativa da Literatura Infantil BrasileiraContemporânea. A Teoria da Relevância <strong>de</strong> Sperber & Wilson (1986; 1995)foi aplicada como método <strong>de</strong> análise teórica à o<strong>br</strong>a Que raio <strong>de</strong> história!, <strong>de</strong>Sylvia Orthof (1994), <strong>de</strong> forma a evi<strong>de</strong>nciar os fenômenos lingüísticos ecognitivos envolvidos na compreensão <strong>de</strong> um texto literário. A fim <strong>de</strong>legitimar as análises, 20 leitores-em-processo (Coelho, 2000) respon<strong>de</strong>ram aquestionários antes e após a leitura da o<strong>br</strong>a, corroborando com a hipótese <strong>de</strong>que é a relevância que guia a compreensão.O DEBATE ACERCA DO CONHECIMENTO INATORonei Guaresi (PUCRS)O presente estudo é um olhar histórico so<strong>br</strong>e as concepções acerca doconhecimento inato, filosoficamente através dos embates entre racionalistas(Platão, Descartes, Leibtnitz) e empiricistas (Aristóteles, Locke), bem como<strong>de</strong> tentativas não radicais representadas pelo Intelectualismo e peloApriorismo. Linguisticamente, a primeira com o simbolismo <strong>de</strong> Chomsky ea posição <strong>de</strong> que as regras lingüísticas são inatas (ancorados na hipótese dapo<strong>br</strong>eza <strong>de</strong> input) e, em contrapartida, conexionistas, ancorados emsimulações computacionais <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> que o conhecimento é adquirido.Complementarmente, sem a intenção <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r qualquer postura teórica,senão a <strong>de</strong> situar estudos no universo da lingüística cognitiva, acomunicação busca <strong>de</strong>finições so<strong>br</strong>e o que é conhecimento e so<strong>br</strong>e o que éinato.475

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