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Página 2 <strong>Jornal</strong> MARANDUBA <strong>News</strong> 04 Outubro 2010<br />
Editorial<br />
Imparcialidade e independência<br />
têm um preço. Alguns<br />
meios de comunicação têm<br />
como princípio ser imparcial e<br />
independente. Mostram sempre<br />
os dois lados de um fato,<br />
com total isenção ou tendência<br />
para qualquer parte. Isso<br />
gera credibilidade e confiança<br />
do leitor para com o veículo<br />
de comunicação. O <strong>Jornal</strong><br />
<strong>Maranduba</strong> <strong>News</strong> foi criado<br />
com esses princípios.<br />
Diferente de outros veículos<br />
de comunicação que são patrocinados<br />
com recursos de grandes<br />
grupos (ou do poder público),<br />
que apresentam apenas<br />
informações de interesse de<br />
seus patrocinadores, o <strong>Jornal</strong><br />
<strong>Maranduba</strong> vem se mantendo<br />
fiel a seus leitores, apresentando<br />
informações com total isenção<br />
e imparcialidade. Mas isso<br />
tem um preço.<br />
Para manter um jornal é necessário<br />
um investimento fixo<br />
por edição que corresponde a<br />
custos de gráfica, equipamento,<br />
pessoal, manutenção e distribuição.<br />
Sem contar os custos<br />
de levantamento e checagem<br />
das informações publicadas.<br />
Por mais enxuto que seja, existe<br />
um custo por edição.<br />
Para manter a imparcialidade<br />
e independência o <strong>Jornal</strong><br />
<strong>Maranduba</strong> <strong>News</strong> tem como<br />
única fonte de renda seus<br />
anunciantes, todos empresários,<br />
comerciantes e prestadores<br />
de serviço da região. São<br />
eles que se beneficiam com as<br />
Editado por:<br />
Litoral Virtual Produção e Publicidade Ltda.<br />
Caixa Postal 1524 - CEP 11675-970<br />
Fones: (12) 3843.1262 (12) 9714.5678 / (12) 7813.7563<br />
Nextel ID: 55*96*28016<br />
e-mail: jornal@maranduba.com.br<br />
Tiragem: 3.000 exemplares - Periodicidade: quinzenal<br />
Responsabilidade Editorial:<br />
Emilio Campi<br />
informações divulgadas, pois<br />
assim a região se faz presente<br />
com mais força, proporcionando<br />
aos leitores informação,<br />
cultura, entretenimento e turismo<br />
local. Mostra também o<br />
nível de progresso que a região<br />
atingiu. Os estabelecimentos,<br />
produtos e serviços disponíveis,<br />
tanto para moradores<br />
como para turistas.<br />
Diante da atual situação econômica<br />
que vivemos, entendemos<br />
a dificuldade dos atuais<br />
e possíveis patrocinadores em<br />
investir em publicidade. É frustrante<br />
ao ouvir “Fiquei o dia inteiro<br />
aberto para vender só 20<br />
reais”, “Não tenho como anunciar<br />
agora”, ou então “Vamos<br />
anunciar uma edição sim, uma<br />
edição não”. O pior é ouvir “Vamos<br />
ter que suspender o anúncio”.<br />
Esse sim mata qualquer<br />
esperança de imparcialidade e<br />
independência. Mata o jornal.<br />
Acreditamos que tanto os<br />
nossos leitores e patrocinadores<br />
já perceberam a tendência<br />
do <strong>Jornal</strong> <strong>Maranduba</strong> <strong>News</strong>.<br />
Somos imparciais, e para manter<br />
essa imparcialidade necessitamos<br />
de independência. E<br />
essa independência necessita<br />
de anunciantes fiéis que acreditam<br />
no potencial da região.<br />
Sem isso, a única saída seria<br />
se sujeitar aos grandes grupos,<br />
ou pior ainda, ao poder<br />
público. Mas nós não queremos<br />
isso. Preferimos sacrificar<br />
o jornal.<br />
Emilio Campi<br />
Colaboradores:<br />
Adelina Campi, Ezequiel dos Santos, Uesles Rodrigues,<br />
Camilo de Lellis Santos, Denis Ronaldo e Fernando Pedreira<br />
Os artigos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores<br />
e não refletem a opinião da direção deste informativo<br />
Chás caseiros ainda presentes<br />
na formação da cultura litorânea<br />
CRISTINA A. DE OLIVIEIRA<br />
Na época em que minha<br />
mãe era pequena, a farmácia<br />
era muito longe de onde morávamos<br />
e tinha de ir a pé.<br />
Mas como resolver ou aliviar<br />
algumas dores físicas e até psicológicas?<br />
Todas as mulheres<br />
recebiam conhecimentos específicos<br />
sobre nossa cultura,<br />
costumes, dizeres e fazeres.<br />
A nossa humilde farmácia<br />
estava sempre na soleira da<br />
porta da cozinha e arredores.<br />
O bom é saber que as coisas<br />
(receitas) realmente funcionavam.<br />
Você que nos lê agora já<br />
deve ter experimentado alguma<br />
destas receitas, que além<br />
da lembrança, nos remete a<br />
uma infância saudável e gostosa.<br />
Lembro-me que minha mãe<br />
era craque em chá caseiro. Dizia<br />
ela que chá de erva curava<br />
tudo. Quando estávamos com<br />
dor de barriga ela buscava<br />
umas folhas de Erva Cidreira<br />
e Hortelã, secava e punha na<br />
caneca, fervia a água e deixava<br />
em cima do chá socado, um<br />
santo remédio.<br />
Pra verme (a tal de “bicha”),<br />
bem cedinho, pegava umas folhas<br />
de Erva Santa Maria (Canema),<br />
socava com um dente<br />
de alho assado, misturava com<br />
leite e nos dava uma canecada<br />
logo cedo em jejum. Era tiro e<br />
queda! O dia que acordávamos<br />
tossindo, ela preparava um xarope<br />
de Canema: duas colheres<br />
de açúcar em uma panela<br />
pequena, deixar em ponto de<br />
calda (amarelinha), misturar<br />
com folhas de canema e um<br />
copo de água, deixar ferver.<br />
Depois da fervura, deixar esfriar<br />
e ir tomando pequenas<br />
colheres durante o dia. Isso<br />
sempre acalmava a tosse.<br />
Para diarréia, mamãe sabia<br />
que se socasse a Marcelinha e<br />
misturasse com água resolveria.<br />
Mesmo amarga era melhor<br />
que ficar sentado no trono por<br />
um bom tempo. Para desinteria,<br />
ela fazia um chá preparado<br />
com casca e broto de goiaba,<br />
nada podia com este chá. Até<br />
para os desconfortos femininos<br />
minha mãe tinha algum um chá<br />
na “manga”. Inflamação do canal<br />
da urina e partes íntimas<br />
ela usava a Caninha-do-brejo e<br />
a folha do Capiá (planta da família<br />
do milho, que nasce perto<br />
dos rios, onde de sua frutinha<br />
faze-se o rosário e o terço tradicional).<br />
A folha do Picão Preto era<br />
usada como antiinflamatório.<br />
Minha mãe dizia que fazia bom<br />
efeito, mesmo tomando como<br />
chá, como banho de assento<br />
ou lavando a parte machucada.<br />
Bendito era a Erva de São<br />
João com seu cheirinho gostoso,<br />
que socado com sal é uma<br />
beleza para curar torção no pé<br />
e tornozelo, um machucado<br />
feio que “magoa” o osso. Esta<br />
erva junto com a Canema era<br />
usada como emplasto para dores<br />
na “escadeiras” (coluna).<br />
Ela fazia assim: aquecia o emplasto,<br />
colocava sobre o lugar,<br />
aquecia também duas colheres<br />
de óleo, molhava um pedaço<br />
de jornal, colocava sobre as<br />
ervas pra aliviar as dores. Meu<br />
pai sempre se utilizava deste<br />
método.<br />
Quebra-pedra, aquela plan-<br />
tinha que nasce no quintal é<br />
uma beleza para quem sofre<br />
de pedras nos rins, é que ela<br />
ajuda a expulsar as pedras, enquanto<br />
isto vai aliviando a dor.<br />
Minha mãe comentava sobre<br />
os chás sempre com sua comadre,<br />
que vivia com folhas de<br />
café na testa, que servia para<br />
aliviar dores de cabeça. Usava<br />
também fatias de batata ao redor<br />
da cabeça, dizia que cozinhava<br />
na testa.<br />
Esta comadre de mamãe era<br />
uma figura. Simples como era<br />
mamãe sempre de vestido de<br />
chita pregueado, de pés descalço<br />
e roupa cheirando a anil,<br />
aquela barrinha azul igual a<br />
sabão, só que bem pequenininha,<br />
muito usado para clarear<br />
roupa. Não sei por que o pé<br />
de anil me lembra as folhas<br />
de Atroveram, uma erva que a<br />
planta parece com a de Alfavaca,<br />
mas tem cheiro de anil.<br />
As folhas são um santo remédio<br />
pra aliviar cólica menstrual.<br />
Alfavaca sabemos que é tempero,<br />
mas alivia também os<br />
brônquios, dizia mamãe.<br />
Lembro-me muito bem do pé<br />
de pitanga que tinha em frente<br />
à porta da cozinha, que suas<br />
frutinhas e suas folhas, feitos<br />
com chá auxiliavam no combate<br />
a gripe ou constipado, era<br />
assim que mamãe dizia. Com<br />
o tempo descobri que além do<br />
conhecimento, havia outros ingredientes<br />
que faziam os chás<br />
serem eficientes: era o amor,<br />
a dedicação, o carinho com<br />
que tratava o assunto, aliados<br />
a boa relação com a natureza,<br />
com respeito à floresta, que<br />
tudo tinha, tudo dava, mas que<br />
também de nós recebia.<br />
Cristina Ap. de Olivieira<br />
Técnica em Turismo Rural,<br />
Artesã e moradora tradicional<br />
do Araribá