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Anastácia

Livro de Ficção. Em 1574, nasceu uma criança diferente das demais, seu nome é Anastácia. Filha de fazendeiros de uma região distante na Inglaterra, a menina viveu entre as arvores e o bosque, tendo como companhia a solidão. Diante desse cenário, ela conhece Ian, homem mais velho, forte e também sozinho. Estrangeiro, fugiu de sua terra para encontrar a paz após a morte de sua esposa e filho. Entre os dois nasce uma grande amizade que logo se transforma em amor, mas os segredos que os dois escondem podem mostrar uma ligação maior do que o próprio sentimento.

Livro de Ficção.
Em 1574, nasceu uma criança diferente das demais, seu nome é Anastácia. Filha de fazendeiros de uma região distante na Inglaterra, a menina viveu entre as arvores e o bosque, tendo como companhia a solidão.
Diante desse cenário, ela conhece Ian, homem mais velho, forte e também sozinho. Estrangeiro, fugiu de sua terra para encontrar a paz após a morte de sua esposa e filho. Entre os dois nasce uma grande amizade que logo se transforma em amor, mas os segredos que os dois escondem podem mostrar uma ligação maior do que o próprio sentimento.

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Gabriela Carvalho<br />

<strong>Anastácia</strong>


<strong>Anastácia</strong><br />

Gabriela Carvalho<br />

<strong>Anastácia</strong><br />

Edição, Fotografia e Arte da Capa:<br />

Gabriela Carvalho<br />

1/1/2015<br />

1


<strong>Anastácia</strong><br />

“Ouvi dizer que para seres como nós, escrever é o melhor jeito de não<br />

deixar nossas memorias caírem em nosso próprio esquecimento”.<br />

<strong>Anastácia</strong><br />

2


<strong>Anastácia</strong><br />

Contato:<br />

gabriela_carvalho@outlook.com<br />

anastacia.gabrielacarvalho@outlook.com<br />

https://www.facebook.com/anastacia.gabrielacarvalho?ref=hl<br />

www.gabrielafcarvalho.com.br<br />

3


<strong>Anastácia</strong><br />

A lua lhe dará o controle sobre todas as criaturas, o sol ampliará teus<br />

sentidos com a força de mil de seus guerreiros. Irá mover-se tão rápido<br />

quanto o vento, Deuses e homens curvarão perante teu poder e temerão<br />

a ti.<br />

Tuas feridas cicatrizarão e a morte já não existirá. O selo será o<br />

sangue, pois és o elixir da vida, a ele vivemos e por ele morremos. Beba-o<br />

daquele que escorreu das veias, morra uma vez e viverá para sempre.<br />

Immortalitas, 100 a.c<br />

4


<strong>Anastácia</strong><br />

Gabriela Carvalho<br />

<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> 2015 © Todos os direitos reservados.<br />

5


<strong>Anastácia</strong><br />

Índice<br />

Reino da Inglaterra (Dinastia Tudor) ................................................... 7<br />

15 de dezembro de 1586 ......................................................................... 7<br />

Janeiro de 1587 ..................................................................................... 13<br />

Março de 1588 ...................................................................................... 19<br />

Agosto de 1588 .................................................................................... 30<br />

22 de outubro de 1588 ....................................................................... 39<br />

Setembro de 1590 ................................................................................ 43<br />

Fevereiro de 1591 ................................................................................ 47<br />

Novembro de 1591 ............................................................................... 52<br />

Dezembro de 1591 ............................................................................... 55<br />

Fevereiro de 1592 ............................................................................... 61<br />

Julho de 1593 ...................................................................................... 82<br />

Sobre os personagens ................................................................ 85<br />

6


<strong>Anastácia</strong><br />

Reino da Inglaterra<br />

(Dinastia Tudor)<br />

15 de dezembro de 1586<br />

7


<strong>Anastácia</strong><br />

Reino da Inglaterra (dinastia Tudor), 15 de dezembro de 1586<br />

- Ela ainda não sangrou Gheorge – diz a mulher para seu marido.<br />

Gheorge olha para a janela da cabana e observa sua filha sentada em cima do<br />

carvalho admirando o por do sol. Uma lágrima escorre de seu rosto, lamentando descobrir a<br />

infertilidade de sua única filha.<br />

De cima do carvalho, a menina escuta tudo e também lamenta.<br />

- O que faremos agora? – diz Gheorge. Miranda passa a mão em seu ombro<br />

confortando-o.<br />

- A única esperança de nossa filha é encontrar alguém que a ame o suficiente para<br />

não se importar com a infertilidade dela. Deixe o tempo passar, talvez ela encontre o amor –<br />

diz a mulher.<br />

- <strong>Anastácia</strong>, entra, já está tarde! – exclama Miranda de perto da porta.<br />

A menina desce da árvore e entra para cabana de cabeça baixa.<br />

quarto.<br />

- Está com fome? – pergunta Gheorge, ela acena a cabeça negativamente e vai para o<br />

Gheorge era dono de algumas terras perto de alguns montes de baixa altitude da<br />

região. Ele era o senhor de uma pequena vila que cresceu ao redor de suas terras, localizada<br />

em meio à mata distante. As terras foram adquiridas como herança do pai de Miranda, que<br />

gostava de viver longe da euforia dos movimentos revolucionários da época. Como nenhum<br />

rei reclamou as terras, a região passou a ser conhecida como imune a ganância da nobreza.<br />

<strong>Anastácia</strong> era a única irmã de Andrew e Jonathan. Por isso, ela vivia sob as ordens<br />

dos três, Andrew era o mais cruel. Filha de líderes da aldeia onde cresceu, ela aprendeu com<br />

sua mãe a cuidar do lar: limpar, cozinhar, fiar e a administrar os mantimentos dentro de casa.<br />

Era a noiva perfeita. Com 12 anos, seu pai preocupa-se em arranjar um marido para ela,<br />

porém, a menina não poderia ter filhos.<br />

Fora isso, a família vivia normalmente conforme os costumes da época. Gheorge e<br />

Daniel passavam o dia fora, cultivando a roça deles e cobrando aluguéis e alguns casebres fora<br />

da vila. <strong>Anastácia</strong> e Jonathan ficavam em casa com Miranda. Ela não saia muito de casa.<br />

- Que Deus a abençoe! – exclama Gheorge.<br />

8


<strong>Anastácia</strong><br />

De corpo pequeno e curvas delicadas, <strong>Anastácia</strong> era uma bela jovem de longos<br />

cabelos negros ondulados, ao expô-los a luz, algumas mechas acobreadas eram visíveis. Sua<br />

pele era clara, o sol bronzeava um pouco seu rosto, deixando-o corado e com a aparência<br />

saudável. Mesmo sem ter cuidados com a pele, ela era lisa e não possuía uma marca de sol, era<br />

como se a menina fosse maquiada todas as manhãs. Seus olhos eram castanhos escuros, no sol,<br />

ficavam mais claros, chegando ao marrom forte, no escuro e na sombra, eles pareciam ser<br />

negros.<br />

Mesmo com toda sua aparência indefesa, ela era forte e ágil. Ela carregava um balde<br />

cheio de água com uma grande facilidade, era inteligente. Nunca ficou doente e nem quebrou<br />

algum osso. Parecia ser imune a tudo. O único defeito de <strong>Anastácia</strong> era seu temperamento<br />

explosivo, ela não seguia muito as regras e aceitava ordens, apanhou várias e várias vezes de<br />

Gheorge e Andrew por desobediência.<br />

Mas desta vez, <strong>Anastácia</strong> não resmungou, reclamou ou brigou com o pai, ela<br />

simplesmente dirigiu-se calada até seu quarto e sentou em sua cama.<br />

- Senhor; não poderei servi-lo em sacerdócio como é de costume para quem não<br />

pode se casar. Peço-te então que me ajude a encontrar aquele que um dia me amará tanto ao<br />

ponto de desposar-me. Ajude-me a encontrar a felicidade – ela ora em seu quarto<br />

“De sua criação não haverá descendência, o filho criado após sua<br />

transformação morrerá antes de vir a este mundo, os espíritos não<br />

permitirão uma criação mais horrenda do que o próprio pai, nenhum ato<br />

de procriação será suficiente para unir em sangue ser vivo e imortal”.<br />

Amanhece, Miranda tira o leite quando em um momento de distração é surpreendida<br />

por <strong>Anastácia</strong>.<br />

- MEU DEUS! Ana, você me assustou! – exclama.<br />

- Perdoe-me, não foi minha intenção; o papai já foi? – ela pergunta cabisbaixa.<br />

Miranda passa a mão no rosto dela para confortá-la.<br />

- Foi, minha filha. Não fique assim, talvez você amadureça mais tarde – ela tenta<br />

consolar.<br />

<strong>Anastácia</strong> pega o balde de leite das mãos da mãe e as duas caminham juntos até a<br />

cozinha. Miranda coloca o leite esquentar e ambas conversam um pouco.<br />

9


<strong>Anastácia</strong><br />

– Me conte uma historias sobre nossas terras – diz <strong>Anastácia</strong>. Miranda pensa um<br />

pouco e começa a falar:<br />

- Os primeiros habitantes de nossas terras saíram do oriente e chegaram pelos<br />

Balcãs. O líder deles tinha três filhos: Ayla, Baltazar e Teodor. Sua esposa morreu no parto da<br />

menina, ele estava sozinho com três filhos para criar. Os dois meninos tinham nascidos ao<br />

mesmo tempo no mesmo dia, os meninos tinham a mesma aparência e idade, a semelhança era<br />

tão grande que até ele se confundia. Conforme eles cresciam, a rebeldia de Baltazar era mais<br />

evidente, ele detestava o irmão Teodor. Quando ele envelheceu, decidiu acabar com as brigas<br />

dos filhos os colocando governar o povo lado a lado, Baltazar não aceitou. Essas pessoas<br />

possuíam dons, magia pura. Baltazar utilizou seu poder para se aliar a escuridão e obter força<br />

e se tornar imortal, matando seu pai e irmã. Teodor escapou da ira de Baltazar e fez escondido<br />

um elixir de ervas para enfraquecer o irmão, ele prendeu o irmão em uma cripta nos montes,<br />

onde Baltazar está preso até hoje. O espirito de Teodor vaga por aquelas montanhas,<br />

protegendo a tumba de seu irmão e ajudando a manter o equilíbrio na terra, somos<br />

descendentes dele. Dizem que após um tempo, seus filhos criam um sinal, uma estrela de cinco<br />

pontas dentro de um circulo, todos que possuem o sinal, são mágicos como os três irmãos – ela<br />

fala. <strong>Anastácia</strong> sorri.<br />

- Só temos histórias que envolvem seres sobrenaturais? – ela pergunta.<br />

- Sim – responde Miranda.<br />

o leite.<br />

- Eu não sou sobrenatural, sou? – pergunta Ana. Miranda faz uma pausa para beber<br />

- Não, claro que não – ela responde rindo.<br />

Miranda não era Inglesa, ela nasceu em uma terra distante conhecida como<br />

Principado. Ela mudou-se para o Reino da Inglaterra em 1574 quando <strong>Anastácia</strong> ainda era um<br />

bebê.<br />

As terras e imigrantes do Principado são muito conhecidos por toda a Europa, desde 1470<br />

pessoas saem de lá para buscar novos rumos em suas vidas. Quem chega nas novas terras<br />

dizem que aquele reino é assombrado por assassinos noturnos e que as mortes são constantes.<br />

Em busca da sobrevivência, muitos deixam suas casas com a roupa do corpo.<br />

10


<strong>Anastácia</strong><br />

Ao cair da tarde, Gheorge volta para casa com Andrew. Com pouco menos dinheiro<br />

do que de costume, Miranda estranha e resolve perguntar o que aconteceu:<br />

- As pessoas estão morrendo na província, mãe – conta Andrew.<br />

- Dizem que a peste voltou. Alguns tolos supersticiosos pregam nas praças a volta<br />

dos mortos, muitas pessoas estão profanando túmulos e cravando estacas de madeira no<br />

coração dos cadáveres para evitar que eles voltem e tirem a vida dos vivos – conta Gheorge.<br />

- Todos perderam o juízo mãe, ninguém mais quer saber de trabalhar - diz Andrew contanto as<br />

moedas aflito.<br />

Miranda ouve e se apavora:<br />

- “Vurculács” – diz Amélia.<br />

- O quê? – pergunta Gheorge curioso. Após o jantar, todos sentaram perto da lareira<br />

para se aquecerem do frio.<br />

- “Vurculács” – repete Amélia – também são conhecidos como “Strigoi” em outras<br />

regiões próximas ao principado onde nasci. Diz a lenda que são assassinos noturnos, eles saem<br />

todas as noites em busca de vitimas humanas para tirar suas vidas. Lembro-me de quando<br />

criança, meus pais trancavam as portas e janelas de casa antes do sol de pôr. Ninguém ousava<br />

sair de casa a noite, quem saia, não voltava. Os corpos eram encontrados pela manhã na mata<br />

– conta.<br />

- Mãe, isso não é verdade, não é? – pergunta Ana amedrontada.<br />

- Claro que não, <strong>Anastácia</strong>. Deve ser algum louco que mata as pessoas e joga a culpa<br />

nas historias e lendas de uma terra distante. Uma vez morto, sempre morto – dana Miranda.<br />

- O que eu sei é que a igreja está fazendo de tudo para evitar mais profanação,<br />

invadiram até o cemitério ontem. Outros religiosos estão falando em maldição das trevas, estão<br />

intensificando a caçada às bruxas – conta Gheorge.<br />

Todos se recolhem para dormir. Ana faz uma pequena fogueira em seu quarto, a<br />

noite está fria. As historias de sua mãe e o que está acontecendo no reino não saem da cabeça<br />

da menina, ela passa a mão em seu pescoço várias e várias vezes até sua unha fazer um<br />

pequeno arranhão, ao sentir o corte, ela para.<br />

11


<strong>Anastácia</strong><br />

Memórias do Passado<br />

Estava frio naquela noite, o vento cortava o topo das montanhas. A<br />

neve ainda não chegara, mas a neblina branca indicava que ela estava<br />

próxima. A paisagem sombria assustava Escobar, era noite de Lua Cheia,<br />

porém ela não estava no céu àquela noite, tudo era escuro e frio,<br />

amedrontando-o. Mesmo com os avisos dos sacerdotes, ele pegou seu cavalo e se<br />

arriscou no escuro da noite para salvar a única coisa que importava para ele:<br />

a vida de sua amada filha Lisa, era como ele a chamava.<br />

Escobar pegou seu cavalo e andou por quilômetros, atravessou a<br />

floresta até chegar aos montes, lugar que ninguém se atrevia a chegar, não<br />

desde 1470. Ele desceu de seu cavalo, seu coração batia acelerado, o medo<br />

espalhou por todo o seu corpo, subiu a enorme escadaria de pedra que levava<br />

até a entrada do castelo. De repente, o céu escureceu ainda mais, a neblina<br />

baixa ficou mais branca e gelada, trazendo consigo o frio das montanhas,<br />

Escobar podia sentir sua pele congelar, de repente um arrepio na espinha e um<br />

toque em seus ombros: uma mão mais gelada do que o vento apertou seu ombro.<br />

Seu coração parou de bater, Escobar sentiu suas veias pulsarem<br />

desesperadamente para aquecer seu corpo e auxilia-lo a uma reação de defesa,<br />

mas ele paralisou. Uma sombra se aproximou de seu ouvido e soou uma voz<br />

grossa e assustadora:<br />

- O que faz aqui jovem? Está perdido? – soou a voz.<br />

Escobar estremeceu, virou-se lentamente e viu um homem alto e forte,<br />

branco de aparência quase pálida, porém saudável, com as bochechas e os lábios<br />

vermelhos, cabelo médio e preto, aparentava ter uns 36 anos. Escobar fixou seus<br />

olhos por alguns segundos na fisionomia daquele homem. Seus dentes caninos<br />

saltaram para fora da boca e se aproximou ainda mais do pescoço dele:<br />

- Eu me lembro de você – retrucou – Eu te vi em um retrato na minha<br />

casa, estava ao lado do meu avô. Ele me contava histórias suas, das grandes<br />

batalhas que ganharam juntos e como você recuperou seu reino e depois, da<br />

força que você teve em sacrificar sua vida para proteger a de sua família. Mas<br />

você morreu há quase um século, como isso é possível?<br />

Nesse momento, o homem recolheu seus dentes e sua expressão já não<br />

era medonha.<br />

Conforme as mortes aumentavam no reino, mais pessoas foram buscar ajuda nas<br />

terras de Gheorge, com elas chegaram às lendas e os medos, aumentando o pavor de <strong>Anastácia</strong><br />

com tudo, a menina parecia estar mais assustada do que seu irmão mais novo Jonathan.<br />

12


<strong>Anastácia</strong><br />

Janeiro de 1587<br />

13


<strong>Anastácia</strong><br />

Janeiro de 1587<br />

Já está de noite quando Gheorge escuta passos na floresta, ele e Andrew saem para<br />

vasculhar a área. A cada passo dentro do bosque mais forte se escuta as folhas quebrando-se<br />

no chão, sinal que alguém se aproxima da casa. Gheorge se enfia cada vez mais na escuridão,<br />

afastando-se de Andrew.<br />

- Pai – chama o rapaz aflito.<br />

Andrew sente um forte frio na espinha, era como se alguém passasse a unha em suas<br />

costas o fazendo arrepiar o corpo inteiro, seu coração parece parar, já não sente o sangue<br />

quente em suas veias. Ele escuta um passo, depois outro, cada vez mais perto dele.<br />

Ao virar para trás, ele enxerga dois olhos amarelos na escuridão, o olhar encara-o<br />

como se quisesse mata-lo, ele anda devagar para escapar, os olhos se aproximam, junto com<br />

um rosno, quando o rapaz sente seu corpo quase paralisado, ele corre.<br />

Enxergando ao fundo a luz de uma fogueira, ele tenta alcança-la, mas os olhos<br />

amarelos parecem segui-lo, quando se aproxima, vê um homem de costas segurando uma<br />

tocha, ele veste uma capa escura de capuz, impedindo Andrew de ver seu rosto, ele vai pedir<br />

ajuda quando enxerga a fisionomia de um lobo negro ao lado do homem prestes a ataca-lo, os<br />

olhos do animal são amarelos como os que o perseguia.<br />

- Cui.. – tenta falar Andrew, seu medo é tão grande que o rapaz não sente folego<br />

para soltar um grito. Ele cai no chão, chamando a atenção do homem que vira para socorrê-lo.<br />

- Consegue falar, rapaz – exclama o homem – de onde você veio?<br />

Andrew consegue apontar a mão trêmula para trás do homem, o lobo rosna. O<br />

homem vira-se para trás e empunha a espada, o lobo pula para ataca-lo, a espada corta o<br />

pescoço do animal. Andrew tem a impressão de ver o bicho se transformar em uma fumaça<br />

negra e desaparecer entre a espada do homem. Seu medo é tanto que Andrew desmaia.<br />

- Andrew, acorda – soa a voz feminina.<br />

Andrew abre os olhos e enxerga o rosto de Miranda, ele chama pela mãe, sem estar<br />

totalmente acordado. Ele vê em pé o homem e se levanta rapidamente assustado.<br />

14


<strong>Anastácia</strong><br />

- Calma, esse homem te encontrou na mata, você desmaiou após os dois serem<br />

atacados por um lobo – diz Miranda.<br />

- Ele morreu, não morreu? – pergunta Andrew ainda confuso com a imagem.<br />

- Claro que sim, mostraria o corpo do animal para você, mas seu pai queimou –<br />

exclama o homem rindo – Meu nome é Marcel, fui pago para trazer uma família para cá em<br />

segurança – diz.<br />

Andrew olha pela janela e encontra um homem e um menino conversando com<br />

Gheorge, sentada ao lado de <strong>Anastácia</strong> está uma jovem de cabelos claros e olhos azuis, a moça<br />

encanta Andrew.<br />

Após se recuperar do trauma, Andrew vai ao encontro do pai, querendo conhecer a<br />

bela jovem que trança o cabelo de <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Pai – exclama Andrew.<br />

- Venha, filho, quero lhe apresentar Edgar – diz Gheorge – Ele era senhor de uma<br />

aldeia que foi dizimada pelos caçadores em busca das bruxas, veio pedir abrigo em nossas<br />

terras.<br />

Edgar chama pela moça. O menino abraça a cintura de Edgar:<br />

- Esses são meus filhos: Alexi e Henri. Perdoe a atitude de Henri, ele ainda está<br />

traumatizado com o que viu. Minha esposa e mãe deles foi morta nas chamas – conta Edgar<br />

com lágrimas nos olhos.<br />

Andrew não para de olhar para Alexi, a moça está de cabeça baixa, mas retribui os<br />

olhares timidamente. Gheorge percebe o interesse do filho, assim como Edgar. Os três<br />

caminham até a vila, Marcel os acompanha de longe. Durante o caminho, surge a proposta:<br />

- Se fosse possível, gostaria de pedir abrigo em suas terras, Senhor! Não queremos<br />

incomodá-lo, mas se assim conceder, entrego a mão de minha filha Alexi para seu filho<br />

Andrew como prova de minha inteira gratidão – diz Edgar.<br />

- Poderá ficar aqui o quanto for necessário, Edgar – diz Gheorge – enquanto ao<br />

matrimônio, penso que isso deve ser escolha de meu filho – ele conclui olhando para Andrew.<br />

- Gostaria de conversar com Alexi e conhece-la melhor antes de tê-la como noiva,<br />

meu pai. O senhor permite? – pergunta Andrew para Gheorge, que concorda com a proposta<br />

do rapaz. Os dois olham para Edgar que concede a mão da filha para Andrew.<br />

15


<strong>Anastácia</strong><br />

- Gostaria de pedir abrigo em suas terras, pelo menos até conseguir voltar para<br />

minha terra – diz Marcel para Gheorge – não tenho uma bela filha para oferecer como noiva<br />

ao seu filho mais novo, mas creio que meus serviços serão de grande serventia – diz.<br />

- E quais são seus serviços? – pergunta Gheorge. Marcel tira a capa, deixando a<br />

mostra sua espada.<br />

- Sou cavaleiro, senhor – ele diz – trabalhei muitos anos para a rainha, mas agora<br />

que já estou perto dos 50 anos, gostaria de viver o resto de minha vida em paz. Ofereço-me<br />

para treinar seus filhos e ajudá-los a proteger essas terras.<br />

- Marcel é um bom homem, acredite em sua lealdade – diz Edgar.<br />

Andrew ainda desconfia das intenções de Marcel, que olha para <strong>Anastácia</strong> com<br />

ternura e afeto.<br />

- E por que precisaríamos de seus serviços, Marcel? Por que precisamos de proteção<br />

em nossas terras? – pergunta Andrew.<br />

- Andei muito por cada aldeia desse reino, jovem. As pessoas comentam sobre um<br />

pequeno senhor de terras ao norte, cuja região, localizada em meio à mata fechada, é imune as<br />

doenças. Não demorará muito e mais pessoas pedirão abrigo aqui. Quando isso acontecer, a<br />

rainha mandará suas tropas, os nobres não irão querer perder mão de obra viva, basta às<br />

mortes descontroladas por todo o reino – ele diz. Gheorge fica preocupado com a ultima frase<br />

de Marcel.<br />

- São tantas mortes assim? – pergunta Gheorge.<br />

- Mais do que possa imaginar – fala Marcel – Isso sem contar a loucura dos vivos em<br />

matar os que já estão mortos. A civilização está um caos, acredite em mim quando digo que os<br />

sobreviventes querem paz, irão buscar essa paz em suas terras – conclui.<br />

- Parecem que já estão fazendo isso! – exclama Andrew.<br />

Os quatros chegam à vila e enxergam três carroças paradas no meio da rua e mais<br />

quatro chegando, causando o desespero de Gheorge. Ao ver a cena, Marcel sorri<br />

discretamente, pois já sabe que ficará nas terras.<br />

- Por quanto tempo serviu a rainha, Marcel? – pergunta Andrew.<br />

16


<strong>Anastácia</strong><br />

- Desde criança. Tinha oito anos quando meus pais morreram e o rei me levou para<br />

ser treinado no castelo. Na época, eles acreditavam na fidelidade dos cavaleiros pela criação<br />

desde muito pequeno. Isso já faz trinta e oito anos – diz.<br />

Andrew e Gheorge olham um para o outro, Edgar acena positivamente a cabeça,<br />

pedindo para Marcel ficar e garantir a segurança de todos.<br />

- Você pode ficar Marcel – diz Gheorge – amanhã cedo, comece a ensinar os mais<br />

jovens. Quero guerreiros.<br />

- Onde abrigaremos todas essas pessoas pai? – pergunta Andrew impressionado com<br />

a quantidade de gente suja e machucada chegando.<br />

- Vocês possuem serras aqui? – pergunta Edgar.<br />

- Sim, alguns serrotes guardados do pai de Miranda, por quê? – pergunta Gheorge.<br />

- Podemos cortar algumas arvores e abrir caminho para a construção de novos<br />

casebres. Por hora, podemos fazer um galpão para abrigar essas pessoas até as casas ficarem<br />

prontas. As mulheres da aldeia fazem a comida e levam para os refugiados – diz Edgar.<br />

O tempo passou e assim aconteceu, Andrew e Alexi se aproximaram mais, acabando<br />

por apaixonar-se um pelo outro. Henri também desenvolveu um forte sentimento por<br />

<strong>Anastácia</strong>, mas a menina nem ligava, pois já havia desistido de encontrar o amor, ela se<br />

preocupava mais em seguir a própria vida sozinha, vendo Henri como grande amigo. O rapaz<br />

escondeu seus sentimentos e nunca os revelou para ninguém.<br />

Marcel treinou os mais jovens como prometido. No entanto, sempre quando tinha<br />

oportunidade se aproximava de <strong>Anastácia</strong>, deixando Gheorge furioso. Ele encantava a menina<br />

com historias e lendas antigas, a maioria de terror.<br />

<strong>Anastácia</strong> não conseguia explicar, mas se sentia segura ao lado de Marcel, era como<br />

se ele fosse seu parente ou algo assim. Miranda também questionava esse sentimento da filha,<br />

ela não poderia ficar tão próxima de um estranho, mas o que mais chamava a atenção de<br />

Miranda era a fisionomia de Marcel e <strong>Anastácia</strong>, o tom de pele, o jeito de sentar algumas vezes<br />

era bem parecido dos dois. Mesmo Marcel tendo olhos verdes, a forma de olhar dele e de<br />

<strong>Anastácia</strong> era a mesma, até o gênio forte e rebelde era parecido, deixando Miranda ainda mais<br />

nervosa e irrita com a proximidade dos dois.<br />

17


<strong>Anastácia</strong><br />

Marcel estava onde <strong>Anastácia</strong> estava, ela o tratava como grande amigo e<br />

companheiro, ele até ensinou alguns golpes para a menina se defender, tudo escondido e sem<br />

ninguém desconfiar.<br />

Conforme aumentava o numero de pessoas, <strong>Anastácia</strong>, geniosa como sempre,<br />

começou ajudar o pai na administração da vila. A menina aprendeu a andar por todos os<br />

montes. Os mais jovens faziam a vigia do local. Edgar e Gheorge construíram cercas para<br />

demarcar a área do povoado.<br />

Alexi e Andrew se casaram no outono daquele ano. Nos meses seguintes, lobos foram<br />

encontrados mortos entre a mata e tudo começa a mudar.<br />

18


<strong>Anastácia</strong><br />

Março de 1588<br />

19


<strong>Anastácia</strong><br />

Março de 1588<br />

- Henri, ajuda aqui! – grita Andrew de aproximando da casa. Ele corre para socorrer o<br />

pobre homem. Mais alguns homens que estavam por perto correr para ajudar.<br />

- Ele precisa de água! – grita Jonathan. <strong>Anastácia</strong> corre com um balde cheio de agua.<br />

Miranda e Alexi correm atrás.<br />

- Abram caminho – pede Henri para que ela possa passar.<br />

<strong>Anastácia</strong> olha para o homem caído no chão, ele veste uma calça preta e camisa branca de<br />

alfaiataria, ele é alto e forte. Ana ajoelha-se, umedece o pano em suas mãos com água e limpa<br />

o rosto do homem, ele abre os olhos.<br />

- Ana, dá agua para ele. – diz Miranda entregando um copo para a filha.<br />

Ana pega o copo, enche de agua e leva até a boca do homem com uma mão e a outra apoia<br />

sua cabeça.<br />

- Qual é seu nome? – pergunta Ana.<br />

- Ian, meu nome é Ian – diz o homem que desmaia.<br />

Ian é levado para o quarto de <strong>Anastácia</strong> que fica mais próximo da entrada do casebre.<br />

Quando acorda, Ian é surpreendido por Gheorge que está sentado na beirada da cama.<br />

- Ian, correto?!- diz Gheorge, Ian confirma com a cabeça – De onde você é? – pergunta.<br />

- Vim de terras ao norte – ele diz – possuo uma propriedade naquelas montanhas,<br />

infelizmente, tive que fugir, um grande mal assola aquela região.<br />

- Que mal? – pergunta <strong>Anastácia</strong> que surge na porta.<br />

-Uma epidemia. As pessoas estão adoecendo e morrendo – conta.<br />

- Como assim? – pergunta Gheorge.<br />

- Dizem que a peste voltou. Os mais religiosos dizem que é uma praga jogada na terra para<br />

combater os poderes de Lúcifer – conta – perdi meus pais, minha esposa e filho para essa<br />

doença.<br />

- Sinto muito – lamenta <strong>Anastácia</strong>. Gheorge se irrita com a compaixão demonstrada pela<br />

filha e levanta.<br />

20


<strong>Anastácia</strong><br />

- Falarei com Edgar, pedirei para fortalecer as fronteiras da vila, se essa tal de peste é tão<br />

devastadora assim, podem aparecer mais pessoas aqui procurando abrigo e eu não quero isso<br />

– fala Gheorge.<br />

- Mas pai...<br />

- Sem mais <strong>Anastácia</strong>, Ian é o ultimo a cruzar nossas fronteiras. Não temos mais espaços<br />

para abrigar ninguém. – fala Gheorge, interrompendo Ana - Não somos Deus para salvar a<br />

humanidade filha! Irei fortalecer as fronteiras – conclui Gheorge. Ian percebe a irritabilidade<br />

de Gheorge e olha para <strong>Anastácia</strong> desculpando-se.<br />

- Não se preocupe com meu pai. Ele é bruto com todos. Seja bem vindo a nossas terras, hoje<br />

você dormirá no galpão, logo meus irmãos construíram uma casa para você – diz <strong>Anastácia</strong> de<br />

cabeça baixa, demostrando respeito e até um tom de servidão para Ian que se irrita.<br />

- Olhe menina, não precisa se curvar a mim como se eu fosse superior a você, não sou<br />

bruto como seu pai e irmãos – ele diz. <strong>Anastácia</strong> levanta a cabeça e olha para Ian, o sol bate no<br />

rosto da menina, deixando os olhos dela mais claros. Ian fica admirado com a cor deles e o<br />

brilho.<br />

- Perdoe-me, senh... – Ian a reprova com o olhar quando percebe que a menina o chamaria<br />

de senhor – Ian – ela diz – não irei trata-lo como superior a mim, prometo – ela fala. Ian sorri.<br />

- Você disse que eu dormiria no galpão, correto? – ele pergunta – o que tem de errado com<br />

essa cama, me parece tão confortável, não poderei dormir aqui por quê? – pergunta Ian<br />

brincado.<br />

- Essa é a minha cama – responde <strong>Anastácia</strong> – se lhe tratasse como superior a mim o<br />

responderia mais amigavelmente, mas como foi de seu pedido que não o fizesse... – ela fala –<br />

gostaria de lhe informar que não emprestarei minha cama e nem meu quarto a você. Peço que<br />

se levante, irei apresenta-lo a sua moradia temporária.<br />

Ian sorri com a resposta grossa e delicada da garota. Ele se levanta e os dois caminham até<br />

o galpão. O lugar é grande, uma bancada foi construída para servir de cama, em cima dela,<br />

existe uma colcha forrada no colchão de palha. No meio do galpão, existe um pequeno circulo<br />

de pedra para ascender à fogueira.<br />

- Pus uma almofada para ficar mais confortável – diz <strong>Anastácia</strong>.<br />

- A senhorita é muito amável – diz Ian, olhando para a garota. A cor marrom forte dos<br />

olhos dela não sai de sua cabeça.<br />

21


<strong>Anastácia</strong><br />

- Existe uma fornalha aqui. Meu pai construiu depois de feito o galpão. Pensamos que<br />

ninguém mais viria para cá, então tivemos a ideia de construir uma grande cozinha para<br />

realizarmos banquetes – conta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Daí eu cheguei e atrapalhei os planos para a festa – brinca Ian. <strong>Anastácia</strong> sorri levemente,<br />

chamando mais uma vez a atenção dele.<br />

- Vou deixa-lo agora... – ela fala retirando-se, antes de fechar a porta do galpão, Ian a<br />

chama de novo.<br />

- Obrigado – ele diz, beijando sua mão.<br />

Assustada com a aproximação <strong>Anastácia</strong> se afasta de Ian e sai correndo do galpão. Após sua<br />

saída, Marcel entra para conhecer o novo morador.<br />

22


<strong>Anastácia</strong><br />

Memórias do passado<br />

Ao chegar a Cacthice, Escobar foi surpreendido por uma das damas de<br />

companhia de sua filha:<br />

- Milorde, venha rápido, sua filha está muito mal.<br />

Escobar se desespera e corre o mais rápido possível até o quarto de sua filha.<br />

Chegando lá, encontrou a menina deitada na cama e gritando de dor, ela<br />

estava pálida e com os olhos fundos, parecia uma moribunda. Seus olhos<br />

berravam por ajuda, Escobar retira a garrafa de sua bolsa e se aproxima da<br />

filha:<br />

- Beba, isso irá te salvar.<br />

Ela aproxima a garrafa da boca da filha, apoiando sua cabeça, ele lhe ajuda<br />

a beber. Elizabeth dá alguns goles na garrafa e depois desmaia. Uma das<br />

empregadas se aproxima de Escobar:<br />

- O bebê não está querendo vingar, milorde. Sua filha é muito jovem, não tem<br />

suportado as dores e se alimenta mal, rejeita tudo o que lhe é dado, desse jeito,<br />

acabará falecendo – diz a mulher com os olhos compridos na garrafa.<br />

Escobar percebe a curiosidade da mulher e esconde a garrafa:<br />

- Não rogue praga em minha filha, ela irá ficar bem! – Grita – Saia daqui!<br />

Deixe-nos a sós.<br />

A mulher revência com a cabeça seu senhor e sai do quarto, levando consigo<br />

as roupas de cama sujas da princesa.<br />

Antes de sair do quarto, Escobar olha para o rosto de sua filha e a vê mais<br />

corada, o sangue do príncipe realmente havia funcionado.<br />

Alexi.<br />

Amanhece. Após o café da manhã, <strong>Anastácia</strong> vai para a casa de Andrew conversar com<br />

- Entra Ana. Andrew já foi - diz Alexi.<br />

<strong>Anastácia</strong> entra e senta em uma cadeira. Alexi começa a pentear o cabelo da menina para<br />

fazer uma trança quando nota a face cansada de <strong>Anastácia</strong>:<br />

- O que foi? - pergunta - Parece cansada.<br />

23


<strong>Anastácia</strong><br />

- Não dormi direito esta noite - conta.<br />

- Por quê? Ainda tem pesadelos? - pergunta novamente Alexi.<br />

- Sim, eles me assombram desde pequena. Toda a noite é a mesma coisa, já não aguento mais -<br />

confessa <strong>Anastácia</strong>.<br />

- O que você sonha? - pergunta Alexi curiosa.<br />

- Com um homem alto de vestes negras. Vejo sempre sua fisionomia, nunca sua face. É como<br />

se ele me perseguisse, os sonhos são tão reais que tenho a impressão de vê-lo observar-me<br />

durante o dia, onde estou parece que ele está também, escondido em algum lugar, vendo-me<br />

ao longe.<br />

Ao ouvir, Alexi arrepia-se da ponta dos pés até o cabelo de medo.<br />

- Credo! <strong>Anastácia</strong>! Vamos parar de falar isso, é só um sonho, nada mais - exclama Alexi<br />

apavorada.<br />

Durante a manhã, <strong>Anastácia</strong> está com Marcel nas margens do riacho perto da gruta, ela<br />

observa ele empunhando a espada:<br />

- Deixe-me tentar - ela pede a espada para ele.<br />

- Não vai se ferir garota - diz, entregando a espada.<br />

<strong>Anastácia</strong> pega a arma com rapidez e leveza, o ferro da espada parecer não pesar para ela,<br />

quando ela vira, encontra a ponta da espada no pescoço de Ian.<br />

- Cuidado, armas tão pesadas não foram feitas para seres indefesos como você - ele diz,<br />

retirando a espada de seu pescoço.<br />

- Perdoe-me - fala <strong>Anastácia</strong>.<br />

Ela entrega a arma de volta para Marcel.<br />

- Sabe fazer mais alguma coisa além de empunhar a espada? - pergunta Ian que tira a arma<br />

das mãos de Marcel e a empunha.<br />

24


<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> sente ser desafiada por Ian que reage, nesse momento, a garota consegue desarmálo<br />

com um golpe ensinado por Marcel, ela escorrega e cai por cima de Ian.<br />

- Você está bem? - pergunta Ian.<br />

O olhar da garota parece penetrar no dele, os corpos estão próximos deixando <strong>Anastácia</strong> sem<br />

graça. Ela levanta rapidamente e caminha a passos largos para casa.<br />

- Ela é incrível, não acha? - pergunta ironicamente Marcel que sai para acompanhá-la. Ian a<br />

observa.<br />

Após o almoço, <strong>Anastácia</strong> se dirige ao galpão para conversar com Ian, a garota o observa ao<br />

longe, escondida atrás da porta, ele está deitado na cama.<br />

- O que quer <strong>Anastácia</strong>? – pergunta Ian de olhos fechados.<br />

- Como sabe que sou eu? – pergunta Ana.<br />

- Você cheira a jasmim – responde Ian, virando-se para ela e sentando na cama. <strong>Anastácia</strong><br />

sorri e caminha até ele, sentando ao seu lado.<br />

- Gostaria de pedir que não comentasse o que viu hoje de manhã para meu pai e irmãos.<br />

Marcel me ensinou alguns golpes mas ...<br />

- <strong>Anastácia</strong>, eu não contarei a ninguém. Fique tranquila – interrompe Ian, segurando sua<br />

mão. <strong>Anastácia</strong> se sente atraída pelo toque do homem e não recua.<br />

- Às vezes tenho a impressão de te conhecer a anos - confessa <strong>Anastácia</strong>, dessa vez ela não<br />

fugiu e nem retirou sua mão, no entanto ao ouvir a confissão da moça, Ian recua ao lembar de<br />

sua esposa.<br />

- <strong>Anastácia</strong>, não ...<br />

- Vou para casa - ela interrompe. Ian sente tê-la magoado e se culpa.<br />

Ele corre atrás dela para desculpar-se. Ao tocar novamente sua mão, ele enxerga imagens<br />

de seus momentos com sua esposa e se confunde.<br />

- Ian tudo bem? - <strong>Anastácia</strong> pergunta ao vê-lo aéreo.<br />

25


<strong>Anastácia</strong><br />

- Sim – responde - Mais tarde nos veremos? – ele pergunta, surpreendendo <strong>Anastácia</strong> –<br />

quer dizer, nos ver: eu, você, seu pai, irmãos...Podemos nos sentar ao redor da fogueira e<br />

contar historias – corrige.<br />

- Meu pai não gosta muito de historias, ao contrario de mim... – ela percebe a ansiedade no<br />

rosto dele e responde sem pensar direito – mais tarde nos veremos – diz retirando-se.<br />

<strong>Anastácia</strong> convence a mãe para fazer um pequeno jantar no galpão para recepcionar Ian.<br />

Gheorge questiona sobre os motivos e a garota afirma que é para Ian se sentir mais a vontade,<br />

já que foi interrogado todo o dia. Mesmo não gostando da ideia, Gheorge aceita a proposta.<br />

Depois do jantar, Gheorge chama a todos para dormir.<br />

- Pai ainda não estou com sono, pode ir o senhor, eu ficarei mais um pouco – diz <strong>Anastácia</strong>.<br />

Gheorge e Andrew ficam nervosos com a reposta dela e partem para pega-la a força, Ian surge<br />

na frente.<br />

- Eu fico com ela, pai, também não estou com sono – diz Jonathan.<br />

- Eu também vou ficar, quero ouvir historias – diz Henri enciumado.<br />

- Durma tranquilo, amigo. Eu tomo conta das crianças – diz Edgar.<br />

Enquanto Gheorge e Miranda se retiram, Marcel entra. A presença do homem irrita<br />

Andrew que se retira para dormir junto com Alexi.<br />

- Você tem alguma história de terror para contar? – pergunta <strong>Anastácia</strong>. Marcel engole a<br />

saliva a seco na garganta, surpreso pela pergunta da menina.<br />

-Na verdade tenho, mas penso que a senhorita ficará assustada – diz Marcel.<br />

- E por que deveria?! – pergunta <strong>Anastácia</strong> ironicamente. Ian sorri.<br />

- Na aldeia em que nasci, ouvíamos historias sobre um castelo no topo das montanhas –<br />

conta Ian – há anos, aquela região foi um reino muito poderoso, tendo como líder um homem<br />

tão poderoso quanto. Um dia, povos vindos do oriente, invadiram essas terras e queriam<br />

proclama-la território deles. O rei não permitiu, passou-se 50 anos de guerras pelo território,<br />

o Rei morreu e seu filho, o príncipe foi proclamado seu sucessor. Aproveitando a tristeza dele,<br />

seu inimigo atacou ferozmente e as mortes aumentaram. Os dois tiveram perdas grandiosas<br />

em batalha. O príncipe, porém, tinha uma carta nas mangas, ele procurou uma cartomante<br />

que lhe mostrou uma tumba escondida dentro do jardim de seu castelo, o príncipe entrou e<br />

deu de cara com um bruxo aprisionado ali, ele pediu ajuda para derrotar seu inimigo que era<br />

26


<strong>Anastácia</strong><br />

muito mais forte do que ele e então o bruxo prometeu fazer um elixir para o príncipe tomar,<br />

alegando ser a solução para seus problemas. O feitiço exigia sangue de um sacrifício humano<br />

– todos prestam atenção na história quando Marcel decide continua-la.<br />

- O jovem príncipe pegou um dos seus inimigos capturados em batalha e enfiou uma<br />

estaca de madeira nele, de baixo para cima, deixando o pobre sangrar até a morte por três dias<br />

dentro da caverna. Quando ele voltou, o bruxo lhe entregou o sangue do rapaz enfeitiçado<br />

para ele tomar. O feitiço ampliaria todos os sentidos do príncipe e ele ficaria mais forte por<br />

três dias, período que o pobre homem demorou para morrer. O príncipe tinha exatamente esse<br />

tempo para derrotar seu inimigo e entregar paz para seu povo – Ian percebe o olhar medroso<br />

e todos e resolve continuar a contar a historia.<br />

- QUANDO ENTÃO! – ele grita, assustando a todos – todos acusaram o príncipe de aliar<br />

forças com Satan, o inimigo já não era tenebroso. Os próprios soldados que escoltavam o<br />

castelo do príncipe facilitaram a entrada do líder rival que arrancou a cabeça do príncipe com<br />

uma espada enquanto este dormia. Ele enfiou a cabeça do pobre na estaca para que todos<br />

vissem quem era o derrotado. Ele assumiu essas terras como Rei. O corpo do príncipe foi<br />

enterrado na jazida da família dele que estava perdida na mata, fora do castelo. Três dias<br />

depois, o novo rei foi encontrado com o pescoço decolado dentro de seu quarto. Os guardas<br />

correram e abriram o tumulo do príncipe, ele havia desaparecido junto com sua cabeça em<br />

decomposição exposta na praça da aldeia – finaliza Ian.<br />

- “Strigoi”!? – pergunta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Como sabe deles? – pergunta Ian.<br />

- Minha mãe me falou deles um dia. São seres capazes de controlar e se transformar em<br />

todas as criaturas noturnas. Quando o sol se põe, a morte chega com eles, mortos que sugam a<br />

vida dos vivos, algo assim – diz <strong>Anastácia</strong>. Marcel sorri e continua a contar:<br />

- Alguns dizem que o feitiço utilizado pelo príncipe criou uma nova espécie de monstro<br />

derivado dos “strigoi mort”, outros falam que foi um dos cavaleiros do príncipe que escapou da<br />

prisão e vingou sua morte, raptando seu corpo e cabeça para assustar os cidadãos e expulsálos<br />

desta terra. Após o ocorrido, alguns moradores foram embora levando consigo a lenda que<br />

se espalhou por todo o continente, agora se acredita que... – Marcel faz uma pausa diabólica<br />

para assustar ainda mais as pessoas.<br />

- Acredita... – diz <strong>Anastácia</strong>, querendo saber o final.<br />

27


<strong>Anastácia</strong><br />

- Acredita-se que as terras é assombrada pela alma do príncipe que não encontrou a paz.<br />

Seu espirito ainda reside nos cômodos daquele castelo – finaliza Ian.<br />

Existem pessoas morando lá? – pergunta Ana.<br />

- Poucos, são descendentes dos moradores que se despuseram a viver lá, escondendo o<br />

segredo do príncipe. Desde então nenhum Rei se atreve a tomar aquela região.<br />

- Um brinde ao príncipe! Que mesmo morto, ele nos conceda a honra de sua visita para<br />

impedir a Rainha de mandar suas tropas até aqui – exclama Henri bêbado. Todos no galpão<br />

riem.<br />

- Não deveria pedir algo assim, rapaz. Alguns pedidos se realizam – fala Marcel.<br />

- Ele buscou ajuda na escuridão para salvar a vida de tantas outras pessoas que seriam<br />

escravizadas e mortas. Mesmo transformando-se em monstro ou morrendo, ele não fez mais<br />

do que cumprir seu dever como rei – diz Ian, <strong>Anastácia</strong> fica impressionada com o discurso de<br />

defesa para o príncipe.<br />

- O quê? Suas atrocidades não foram tão diferentes quanto à de muitos outros reis que hoje<br />

governam os arredores daquela terra – ele justifica.<br />

- Meu bisavô ou tataravô, eu não sei – fala Marcel rindo pela falha na memoria – lutou ao<br />

lado do príncipe. Ele disse que ele não era tão cruel quanto pintam, era um bom homem, de<br />

coração puro, capaz de amar e proteger aqueles que amava. A única diferença, é que ele<br />

encontrou na fama cruel, a melhor maneira de proteger seu povo, demorou anos para que<br />

alguém quisesse invadir essas terras, as batalhas começavam e terminavam fora das fronteiras<br />

do castelo. Além do mais, os métodos dele não eram considerados tortura na época – conclui<br />

Marcel.<br />

- Todo heroísmo foi conquistado por atos de vilania – diz Ian.<br />

- Vocês não nasceram aqui? – pergunta Edgar para Ian e Marcel.<br />

- Eu sim – responde Marcel – mas minha família veio para cá em 1470, são do Principado.<br />

- Principado, nunca ouvi falar – exclama Henri.<br />

- Eu não – diz Ian – Nasci no Principado. Mudei-me para cá quando ainda era criança.<br />

- Minha mãe é de lá também, nas terras do norte já ouviu falar? – pergunta Jonathan.<br />

28


<strong>Anastácia</strong><br />

- Sim, meu pai dizia que era uma terra muito prospera de terrenos planos, sem muito<br />

relevo, naqueles reinos são cercados por uma cadeia de montanhas conhecidas como Montes<br />

Cárpati – ele diz.<br />

- Quantos imigrantes de uma mesma terra – diz Edgar desconfiado.<br />

- Vamos dormir, já está tarde – exclama Jonathan chamando <strong>Anastácia</strong> para dentro da<br />

casa.<br />

- Boa noite, até amanhã- se despede <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Boa noite, <strong>Anastácia</strong> – diz Ian. A menina retribui sorrindo. Marcel enxerga a cena e<br />

encara Ian, ele disfarça dando um gole no vinho.<br />

Todos voltam para suas casas. <strong>Anastácia</strong> está em seu quarto preparando-se para dormir, ela<br />

olha para o horizonte, lembrando-se da historia. De repente, ela enxerga um homem forte em<br />

cima dos montes olhando para ele e se assusta rapidamente ela fecha a janela e deita na cama,<br />

orando.<br />

Durante o sono, <strong>Anastácia</strong> vê um homem subindo uma grande escadaria de pedra, ela<br />

enxerga uma sombra negra na frente dele, de repente uma garrafa cheia até a metade de<br />

sangue, em sua borda este ainda pinga como se alguém estivesse enchendo. Ela ouve o choro<br />

de um bebê enrolado em veludo vermelho vivo, Sua mãe surge segurando o bebê nos braços<br />

correndo. <strong>Anastácia</strong> é transportada para dentro de um castelo, ela caminha por uma grande<br />

sala, duas janelas enormes de vidro deixam a luz da lua entrar, iluminando o cômodo e<br />

mostrando a cor vermelha das cortinas que voam por causa do vento, na lateral do grande<br />

salão, outra escadaria, ela sobe e já não vê mais nada, quando se vira para voltar e se depara<br />

com a boca aberta e dentes pontiagudos de um homem, ele a ataca.<br />

29


<strong>Anastácia</strong><br />

Agosto de 1588<br />

30


<strong>Anastácia</strong><br />

Agosto de 1588<br />

<strong>Anastácia</strong> acorda gritando em seu quarto, já está claro, ela levanta e vai para a cozinha.<br />

Miranda esquenta o leite e põe a mesa para o café da manhã.<br />

- Bom dia, mãe – diz Ana beijando o rosto de Miranda – Papai já saiu? – pergunta.<br />

- Bom dia, Ana! Seu pai e seus irmãos ainda nem acordaram, nós somos as primeiras a<br />

levantar – diz Miranda.<br />

A janela está aberta, o sol começa a surgir, seus raios luminosos clareiam o rosto de Ana<br />

que fica incomodada e sai da janela, sentando na sombra.<br />

- O que foi? – pergunta Miranda.<br />

- O sol está forte, só isso – responde <strong>Anastácia</strong> – que cheiro é esse? – ela pergunta.<br />

- Que cheiro <strong>Anastácia</strong>?<br />

- Esse cheiro. Tem alguma coisa queimando – fala <strong>Anastácia</strong>.<br />

Alguns minutos depois, Miranda sente o cheiro ela olha pela janela e vê fumaça saindo da<br />

chaminé do galpão.<br />

- Ai, está! Deve ser Ian, tentando fazer comida – diz Amélia – pedirei para seu pai o chamar<br />

para vir tomar café conosco. Chá? – pergunta Miranda, a menina recusa.<br />

- Você sempre tomou, por que não quer agora? – pergunta.<br />

<strong>Anastácia</strong> sente na voz da mãe sua preocupação e não entende:<br />

- Já faz alguns dias que ela tá me fazendo mal. Por quê? – ela pergunta tentando descobrir<br />

o que a mãe esconde.<br />

- Nada, filha, porque a pergunta? E só o chá que está lhe fazendo mal? Você sente outras<br />

coisas? – pergunta.<br />

<strong>Anastácia</strong> estranha às perguntas da mãe e levanta.<br />

- <strong>Anastácia</strong>, aonde você vai? – pergunta Gheorge saindo do quarto.<br />

- Vou chamar Ian para tomar café conosco – ela diz.<br />

31


<strong>Anastácia</strong><br />

- E quem lhe deu ordens para isso? Foi o senhor, pai? – pergunta Andrew entrando na casa.<br />

- Por favor, é só um convite. Ele vai colocar fogo no galpão se não o convidarmos –<br />

exclama <strong>Anastácia</strong>.<br />

- O problema não é esse. Você sempre desacata a autoridade de nosso pai, se vivesse<br />

comigo e com Alexi já teria colocado fim a sua rebeldia – diz Andrew.<br />

- Ah é! Como? Você morou 13 anos comigo e não conseguiu – retruca <strong>Anastácia</strong> furiosa.<br />

Andrew levanta a mão para bater nela e ela o desafia. Gheorge grita para os dois pararem<br />

de brigar, ele sente o cheiro de queimado mais forte.<br />

- Jonathan, vá ao galpão e chame Ian para tomar café da manhã conosco. E você, mocinha,<br />

não lhe bato desde que você fez 14 anos, não me desobedeça de novo senão posso quebrar esse<br />

jejum – ele diz.<br />

Jonathan entra no galpão e vê Ian tentando apagar o fogo, ele derruba uma panela em seu<br />

pé, provocando gargalhada. Os dois saem do galpão e entram na cabana.<br />

- Bom dia – diz Ian.<br />

- Bom dia, meu rapaz, sente-se e coma conosco – diz Gheorge. Ele percebe a troca de<br />

olhares corteses entre Ian e <strong>Anastácia</strong> e senta ao lado da filha, deixando lugar entre ele e<br />

Daniel.<br />

- Sente-se – diz Gheorge.<br />

- Já faz três meses que você está aqui. Acho que passou da hora de você ter sua própria<br />

cabana – diz Gheorge – Jonathan e Andrew a ajudarão a construí-la.<br />

- Eu agradeço – fala Ian – Mas não posso fazer minhas refeições aqui com vocês, alguém<br />

sabe cozinhar pra me ensinar? – ele pergunta olhando para os homens. <strong>Anastácia</strong> ri e é<br />

reprovada com o olhar por Andrew.<br />

Gheorge percebe um sentimento crescendo entre sua filha e Ian e fica enciumado.<br />

- Marcel ensinará você a cozinhar Ian. Não se preocupe, ele cozinha muito bem – diz<br />

Gheorge.<br />

Ian olha para <strong>Anastácia</strong>, lamentando a escolha do professor e ela sorri. Edgar surge<br />

desesperado na porta.<br />

32


<strong>Anastácia</strong><br />

- Gheorge, venha rápido! – exclama.<br />

Ele, Andrew e Ian o seguem até uma parte fechada da mata. Eles encontram uma mulher<br />

caída no chão, Andrew vira e reconhece a mulher.<br />

- MEU DEUS! Irina – ele diz – ela morava aqui.<br />

- E não é só isso. O corpo do marido dela está a alguns metros à frente – diz Edgar.<br />

- O que aconteceu aqui? – pergunta Gheorge. Andrew vira o pescoço do corpo pálido de<br />

Irina.<br />

- Pai – ele chama. Eles olham o pescoço da mulher, todo roxo e com dois pequenos furos<br />

perto das veias.<br />

- Não vejo sangue no chão – diz Ian – ela pode ter sido arrastada até aqui.<br />

- Se tivesse sido arrastada, veríamos o caminho na terra – diz Marcel saindo das arvores –<br />

Acho que o príncipe resolveu fazer uma visita – conclui.<br />

A tarde chega, Alexi entra em trabalho de parto. Os gritos da mulher irritam <strong>Anastácia</strong> que<br />

foge para mata.<br />

<strong>Anastácia</strong> está no riacho sentada na beirada observando a água cair da gruta, quebrando<br />

as pedras.<br />

- O que faz aqui? Seu pai disse para ninguém se enfiar na mata sozinho – diz Ian, sentando<br />

ao lado dela.<br />

- Olha só quem fala – brinca Ana.<br />

- Bom, eu vim para lhe proteger - diz Ian.<br />

- Me proteger! Sinto-me bem mais segura ao lado de um homem que deixou cair uma<br />

panela em seu pé e quase incendiou um galpão só para fazer o café da manhã – diz Ana<br />

ironicamente. Ian sorri.<br />

- Imagina se fosse um banquete – ele zomba, os dois caem na gargalhada – pedi ao<br />

Jonathan para não contar a ninguém.<br />

- Sinto-me livre para pensar aqui – confessa <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Você não gosta de sua família? Percebi que você e seu irmão mais velho não se dão muito<br />

bem – pergunta Ian.<br />

33


<strong>Anastácia</strong><br />

- Ele não é meu irmão – diz Ana. Ian se espanta com a confissão da menina, Ana percebe e<br />

corrige:<br />

- Quer dizer, não de sangue, minha mãe se casou com Gheorge quando eu ainda era um<br />

bebê. Andrew tinha seis anos quando isso aconteceu. A mãe dele havia acabado de morrer.<br />

Acho que foi frustrante para ele perder a mãe que sempre conheceu e de repente, outra<br />

assumir seu lugar.<br />

- - Mas ele chama Miranda de mãe – retruca Ian.<br />

- Isso acontece porque meu pai o ensinou a chamar. O que acho errado, ensinar uma<br />

criança que conheceu a verdadeira mãe, que cresceu e recebeu carinho dela, do nada chamar<br />

uma desconhecida assim. Eu chamo Gheorge de pai, porque não conheci o meu verdadeiro e<br />

mesmo se tivesse, ele morreu quando ainda era pequena demais pra me lembrar. Então<br />

Gheorge apareceu e me criou, me educou e toda a minha infância é marcada pela imagem<br />

dele como meu pai.<br />

- Quantos anos você tem mesmo? – pergunta Ian. Ana sorri.<br />

- tenho 14 anos. Por quê?<br />

- Ás vezes penso que você tem mais, o jeito que compreende seu irmão, que aceita as más<br />

criações dele. Isso é uma virtude, Ana, não a perca jamais – diz Ian. Ana sorri – Por que o<br />

sorriso?<br />

- É a primeira vez que chama de Ana, é sempre <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Talvez a chame assim porque <strong>Anastácia</strong> é lindo demais para ser abreviado.<br />

Ela fica com vergonha e lisonjeada com o que diz Ian. - Como era sua esposa? – pergunta<br />

Ana, mudando de assunto para acabar com o clima.<br />

- Ela era forte, determinada e sempre me dava broncas. Você me lembra ela – diz Ian.<br />

<strong>Anastácia</strong> fica desconsertada com a confissão de Ian.<br />

- Conte-me sobre ela – pede <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Como ela era para você? – pergunta Ian – Descreva ela para mim – pede.<br />

- Não sei se consigo não a conheci – diz.<br />

- Acabei de confessar que você me lembra ela. Se descreva imaginando-a – ele insiste.<br />

34


<strong>Anastácia</strong><br />

Ana respira fundo e começa a falar:<br />

- Eu vejo-a muito sozinha. Ela é bela e gosta de caminhar sobre o amanhecer, é jovem, tem<br />

todo um futuro pela frente, mas de nada vale se ela não encontrar o que lhe completa. Daí<br />

você aparece, a enche de felicidade e ela sente estar no caminho certo para encontrar o que<br />

procura. Vocês se casam, tem um filho e ela finalmente sente que consegui alcançar a<br />

felicidade que buscava, estava completa. Já não temia mais a morte, porque sabia que tinha<br />

cumprido sua missão.<br />

Uma lágrima escorre do rosto de Ian.<br />

- Sinto muito. Ian – fala Ana, passando a mão no ombro dele. Ele pega sua mão e sorri.<br />

- Tudo bem, isso foi há muito tempo.<br />

Ian sorri e aproxima seu rosto do de Ana, seus lábios procuram os dela. De repente os dois<br />

escutam Gheorge chamar por ela e eles se levantam.<br />

- Mileide – diz Ian dando a mão para <strong>Anastácia</strong>.<br />

Eles chegam a casa e encontram Gheorge sorrindo, cantando e festejando.<br />

- Pai o que ouve? – pergunta Ana.<br />

- Nasceu, meu neto nasceu, é um meninão forte – conta Gheorge abraçando Ian.<br />

- Esqueçam as dores. Essa noite vamos festejar – fala.<br />

Durante a noite, todos se divertem. Ana e Ian dançam em volta da fogueira. Henri observa<br />

ao longe. Ele está bêbado. Seu rosto enfurece-se ao ver Ana sorrindo ao lado de Ian. A lua está<br />

cheia, enquanto todos se divertem, Ana sente algo estranho.<br />

- O que foi Ana? – pergunta Ian.<br />

Henri parte para cima de Ian e os dois começam a brigar. Ele o acusa de querer Ana para<br />

ele somente por diversão. Marcel e Jonathan entram na briga para ajudar Ian, Andrew tenta<br />

agarrar Henri.<br />

Ana escuta as vozes das pessoas dez vezes mais fortes em sua cabeça, a voz de Henri<br />

gritando se mistura com os milhares de ruídos que parecem estar dentro de seus ouvidos. Isso<br />

a atordoa e ela grita sem pensar.<br />

35


<strong>Anastácia</strong><br />

- PAREM!!!! – grita. O som de sua voz parece soar eco por entre as montanhas. Nesse<br />

momento Ian empurra Henri.<br />

- Você acha o quê?! Só porque sou mais velho, não tenho o direito de me apaixonar por<br />

uma mulher mais nova! Nem todos os homens são como você que seduz meninas novas só<br />

para depois deixa-las – diz Ian. Henri aproxima o punhal da garganta dele.<br />

- Como pode afirmar isso? – pergunta, mais uma vez assustado com as confissões de Ian.<br />

- Afirmo por que se fosse mentira. Saberia o que sinto agora! – ele diz olhando para Ana.<br />

Ana retribui o olhar, comovida com o que ouve. Henri dá um soco na cara de Ian. Andrew<br />

agarra Henri pelas as costas. Ana corre para socorrer Ian, mas é impedida pelo pai. Ian enxuga<br />

o sangue que escorre em sua boca e agarra o colarinho de Henri. Mais homens entram para<br />

apartar a briga.<br />

- Ana precisa de alguém que a proteja e não de alguém que bebe somente para se sentir<br />

mais homem – diz. Ele empurra Henri e sai do galpão.<br />

Ana vai atrás de Ian quando Andrew a impede.<br />

- Você não vai atrás dele, Ana.<br />

- E quem vai me impedir! Você? Tenta! – diz Ana enfurecida. Ela afasta-se do irmão e sai<br />

do galpão.<br />

Ela sai e encontra Ian esmurrando uma arvore, ela chega por trás e o abraça.<br />

- Acalme-se – ela diz. Ian segura as mãos dela que estão em seu ombro. Ele vira-se ela toca<br />

seu rosto confortando-o. Os dois encostam às cabeças uma a outra e fecham os olhos. Ana<br />

acaricia a nuca de Ian, sua respiração tranquiliza-se aos poucos.<br />

- <strong>Anastácia</strong> – grita Gheorge observando a cena – entre quero conversar com você – Ian<br />

beija a mão de <strong>Anastácia</strong>, ela vai ao encontro do pai e os dois entram no casebre.<br />

Andrew e Jonathan vão ao encontro de Ian. Marcel tenta acalmar Henri.<br />

- Você ama minha irmã? – pergunta Andrew.<br />

Ian veste uma capa preta presa na porta de seu casebre. Ele encosta-se ao canto da parede.<br />

- Amor?! Sabe, eu amei muito minha esposa. Enchia-me de bênçãos e alegria. Um dia, Deus<br />

a tirou de mim, ela e meu filho, como se não pudesse tê-los em minha vida. Por muito tempo<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

chorei, me lamentei indignado pelo o que aconteceu, me culpei pela morte deles. Quando<br />

cheguei aqui, pensei que até viver era inútil, por muitas vezes achei que minha morte seria a<br />

solução para minha dor. Então encontrei <strong>Anastácia</strong>, tão jovem, mas tão sábia, esperta, corajosa.<br />

Ela nunca teve medo se ser quem ela era, nunca teve medo de suas grosserias, Andrew, muito<br />

pelo contrário, ela até o compreende. Ela põe-se no lugar dos outros para entender seus<br />

sentimentos, ela é nobre. <strong>Anastácia</strong> me trouxe de volta a luz. Se isso é amor, então a amo - diz<br />

Ian olhando para janela e observando Ana conversar com seu pai.<br />

- Mas você é mais velho que ela, Ana é ainda uma garota – diz Jonathan.<br />

- A idade é insignificante quando se encontra alguém que o faz sentir-se vivo. Não me<br />

considero mais velho que ela e creio que ela também não. Sei que Ana é pura, inocente e não<br />

pretendo tomar isso dela precocemente – diz Ian.<br />

Gheorge sai da cabana e Ana o segue até a porta, ela para e fica em pé, olhando para Ian.<br />

Os dois brigões aproximam de Gheorge.<br />

- Ana diz gostar de você, Henri – diz. Henri sorri - mas para ela, você é como um de seus<br />

irmãos, ela nunca deixará de ama-lo assim – o olhar de Henri entristece novamente.<br />

Ian fica apreensivo para saber o que Ana sente por ele.<br />

- Minha filha confidenciou-me amar Ian. Sinceramente, penso apenas que os sentimentos<br />

dela seja apenas carinho criado por alguém que parece oferecer a ela uma proteção diferente<br />

de seu pai e seus irmãos. Prefiro vê-la casar com um rapaz de sua idade. Henri seria meu<br />

escolhido – ele afirma – No entanto, não devo obriga-la a casar sem amor, seria injusto. Por<br />

isso tomei a decisão de deixar Ana escolher. Eu entrego a mão de <strong>Anastácia</strong> para Ian em<br />

matrimônio – diz Gheorge. Ian e <strong>Anastácia</strong> trocam olhares de felicidade – Se assim ela quiser.<br />

O tempo irá passar e Ana amadurecerá seus sentimentos, quando ela tiver certeza do que sente<br />

realizo o noivado – conclui. Gheorge volta para casa e olha para o céu, ainda se perguntando<br />

se fez a escolha certa.<br />

- Não a magoe, senão eu te mato – diz Henri para Ian.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

22 de outubro de<br />

1588<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

22 de Outubro de 1588<br />

As mortes aumentaram no povoado, pessoas e animais são encontrados mortos todos<br />

os dias de manhã, os corpos estão sempre com as mesmas características, dois pequenos furos<br />

são encontrados perto das veias e sem rastro de sangue.<br />

As historias de Marcel começaram a virar realidade para os que ainda vivem,<br />

fazendo alguns irem embora da vila. Os que ficaram passaram a fechar todas as portas e<br />

janelas e a se trancarem dentro de casa durante a noite.<br />

<strong>Anastácia</strong> passou a perceber uma grande aproximação de Ian e Marcel, eles somem<br />

por horas durante o dia, deixando a garota desconfiada. Miranda a cerca e enche de<br />

perguntas, irritando a menina, que vai nadar no riacho, toda vez que se sente pressionada pela<br />

mãe.<br />

Nesse dia, <strong>Anastácia</strong> se irritou ainda mais, indo para o riacho perto do por do sol. Ela<br />

retira o vestido, deixando apenas em seu corpo a túnica longa de cor clara. Ian observa a<br />

menina de longe, se segurando para não pular na agua junto com ela. Enquanto olha a agua<br />

batendo no corpo da jovem, Marcel se aproxima dele devagar.<br />

- É feio espionar a menina ao longe – ele diz assustando Ian.<br />

- Você realmente a ama, não é? – pergunta Marcel. Ian sorri.<br />

- Não pude evitar – ele conta – sinto-me vivo ao lado dela.<br />

- O que pretende fazer? – pergunta Marcel.<br />

- Como assim? – retruca Ian.<br />

- Ela está bem, Ian, já você....<br />

- Sou o que sou Marcel. Não há o que fazer. Todos os dias de minha vida morri um<br />

pouco de ausência pela minha amada, hoje a vejo naquela jovem – conclui Ian sorrindo<br />

tristemente.<br />

- Quando contará a verdade? Gheorge lhe entregou a mão dela – fala Marcel.<br />

- Eu sei que preciso, mas não posso, ela é tão nova para se decepcionar....<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

- Ela irá se decepcionar várias vezes e você sabe disso – diz Marcel – imagine quando<br />

ela descobrir que...<br />

- Ela não vai descobrir e você não vai contar – interrompe Ian pegando no colarinho<br />

de Marcel.<br />

<strong>Anastácia</strong> ouve a voz de Ian e se assusta, ela olha para cima e enxerga a sombra dos<br />

dois homens entre as arvores.<br />

- Quem está aí? – ela grita. Ian e Marcel percebem que chamaram a atenção da<br />

menina e desaparecem.<br />

Dentro da água, <strong>Anastácia</strong> fica assustada e se recolhe para perto das pedras. Ian<br />

surge com uma colcha de algodão.<br />

- Pensei que iria precisar para quando saísse da água – ele exclama. A menina sorri<br />

aliviada e vai para margem, Ian a ajuda sair da água.<br />

Ela joga seu cabelo molhado para frente, Ian a cobre lentamente com a colcha, ela<br />

vira-se para agradecer quando os dois são surpreendidos por um lobo de pelo negro e olhos<br />

amarelos.<br />

Eles recuam devagar, Ian coloca <strong>Anastácia</strong> atrás dele. Do nada, <strong>Anastácia</strong> tem a impressão<br />

de ver os olhos de Ian inchados e vermelhos, com as veias ao redor dilatadas, as presas do<br />

homem parecem saltar para fora da boca. Ela tenta enxergar, mas ele a afasta mais.<br />

O lobo parece querer atacar Ian, em um momento de distração, ela empurra Ian e joga seu<br />

corpo para frente, ficando perto do lobo. O animal encara Ana, a luz da lua, deixam os olhos<br />

de Ana vermelhos vivos, assustando Ian, o animal chora levemente e vai embora, desistindo do<br />

ataque.<br />

Ela vira-se para Ian mais aliviada, a fisionomia dele estava normal. Ian também olha nos<br />

olhos da garota que estão castanhos escuros como sempre foram.<br />

- Tem alguma coisa que queira me contar? – pergunta Ian, a imagem dos olhos da menina<br />

não sai de sua mente, o deixando preocupado.<br />

- Não – diz Ana. Cada vez mais sua mãe e Ian a enchem de perguntas, deixando-a<br />

desconfiada que os dois lhe escondam algo.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Setembro de 1590<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

setembro de 1590<br />

<strong>Anastácia</strong> acompanha Alexi até a varanda. Ficaram sentadas horas e horas conversando e<br />

observando a chuva cair. Falaram sobre Henri, Ian até que ela perguntou para Ana sobre seus<br />

sonhos.<br />

- Já não tenho mais pesadelos. Desapareceram desde que ... – Ana fica pensativa.<br />

- Desde de? – pergunta Alexi.<br />

- Desde que Ian chegou – fala olhando para Alexi. Ela dá um sorriso.<br />

- Ian mexeu com você, não foi?<br />

- Quando estou com ele é como se não existisse dor. Sinto-me segura, é como se pudesse<br />

contar tudo para ele, não sei explicar.<br />

Alexi sorri novamente observando Ian na varanda do casebre dele, virado de costas<br />

observando o bosque.<br />

- E ele? Ele sente o mesmo?<br />

- Sim, mas tem medo.<br />

- Medo do quê, Ana?<br />

- Medo de se envolver, ainda tenho 16, ele ... Nem sei quantos anos tem, nunca perguntei.<br />

Não me interesso pela sua idade, mas ele se interessa com a minha. Para ele, sou jovem demais,<br />

sensível demais, indefesa demais. Diz que não quer tirar minha inocência, ser pura é o que me<br />

faz ser bela.<br />

- Isso é bom. Ele a ama de verdade – diz Alexi.<br />

- Ele me venera, é diferente de amar. Ele pensa que somente por ser mais velho e eu mais<br />

nova, sou intocável. Ele gosta de me ver assim, pura. Ele não pensa em mim de outro jeito. Juro<br />

que esse pensamento dele me irrita, o que eu faço Lexi?<br />

- Deixe o tempo passar. Suas atitudes irão mudar junto com sua idade. Você amadurecerá<br />

sem se dar conta, quando ele perceber isso em você, tudo vai mudar, confie em mim.<br />

A chuva para, Ana levanta bruscamente da cadeira e olha para o bosque.<br />

- Ana, o que foi? – pergunta Alexi.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

- Você sente o cheiro?<br />

- Que cheiro, Ana o que você está falando?<br />

Ana sai da varanda e vai em direção ao bosque, Alexi levanta e vai atrás dela, as duas<br />

andam por mata adentro até que Alexi pede para Ana parar.<br />

– O que você tem Ana? Que cheiro é esse que diz estar sentindo?<br />

- Morte! – diz Ana que desaparece como um reflexo para atrás das folhas. Alexi vai atrás<br />

de Ana, com medo de perde-se dela. Alexi repara na rapidez com que Ana desaparece, mas<br />

pensa ser impressão de sua cabeça por causa do cansaço.<br />

Ana e Alexi topam com uma montanha de cadáveres em decomposição. O cheiro é<br />

insuportável fazendo Alexi vomitar, Ana também se enjoa com o cheiro e grita pelo pai.<br />

Gheorge e Andrew vão ao encontro delas e se assustam com a cena, Andrew abraça Alexi<br />

tapando seus olhos. Gheorge chama Ian e Henri.<br />

- Meu Deus! – diz Henri olhando para Ian que está perplexo com o que vê.<br />

- Quem os colocou aqui? – pergunta Ian.<br />

- Leve Ana daqui Ian, eu e Henri vamos botar fogo nessa região. Andrew quando voltar<br />

peça para Edgar vir, preciso de ajuda – diz Gheorge. Ana olha ao redor, parece perdida.<br />

Ian a abraça. Ele e Andrew caminham de volta para a casa respaldando Ana e Alexi.<br />

- Como chegaram até aqui? – pergunta Andrew para Alexi.<br />

Alexi e Ana se olham por alguns segundos.<br />

- Ana sentiu um cheiro estranho vindo das árvores e eu a segui, conforme entravamos na<br />

mata, fui sentindo o cheiro também. Dai parei um pouco no bosque para descansar e Ana<br />

continuou depois a achei.<br />

- E como você os encontrou Ana? – pergunta Ian.<br />

- Eu não sei, senti a mata fria, como se não houvesse vida, o cheiro era forte, lembrava-me<br />

a morte, então simplesmente o segui e achei os corpos. Não lembro como cheguei lá.<br />

Com medo de assustar ainda mais os moradores, Gheorge pede a todos que viram absoluto<br />

sigilo e afirma que a fumaça no bosque foi ocasionada pela queima de algumas folhas secas<br />

caídas no chão. Ninguém mais comenta sobre a pilha de corpos incendiada no bosque.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Fevereiro de 1591<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Fevereiro de 1591<br />

O sol surge no horizonte quando <strong>Anastácia</strong> levanta para caminhar. Como sempre faz todos<br />

os dias de manhã, a menina sobe em cima do velho carvalho e observa o sol nascer entre as<br />

montanhas, depois ela caminha entre o bosque, ela gosta de sentir o sol em sua pele, porém,<br />

detesta o calor que ele provoca, ficando sempre mais animada nos dias frios.<br />

- Bom dia! – diz Ian. Ela vira-se e encontra o rapaz dependurado no tronco do carvalho.<br />

- O que está fazendo aqui? – ela pergunta assustada.<br />

- Notei que todos os dias de manhã você sobe nessa arvore e observa o nascer do sol. Decidi<br />

conferir pessoalmente o que tanto lhe fascina – ele diz. <strong>Anastácia</strong> sorri.<br />

Nas mãos dele está um pequeno saquinho de veludo azul marinho, tecido sofisticado que<br />

ela nunca tinha visto pessoalmente.<br />

- O que é isso? – ela pergunta.<br />

Ian nota a curiosidade da menina e fica entusiasmado com a surpresa que pretende fazer.<br />

- Feliz Aniversário – ele fala entregando o saquinho para ela.<br />

<strong>Anastácia</strong> sorri novamente e abre o saquinho, ela retira de dentro dele um anel de ouro<br />

com uma pedra vermelha no centro, o objeto é todo trabalho, em volta da grande pedra<br />

lapidada possui outras pedrinhas pequenas cristalinas cravejadas, o ouro que prende a<br />

armação está torcido, mostrando a riqueza do trabalho.<br />

- Onde conseguiu? – ela pergunta admirada pela beleza do presente e assustada com a<br />

futura resposta de Ian.<br />

- Eu roubei – ele zomba. <strong>Anastácia</strong> arregala o olho sem acreditar no que ouviu –<br />

Brincadeira. Era da minha mãe. Achei que você merecia um presente digno de uma princesa –<br />

conclui, <strong>Anastácia</strong> sorri.<br />

- Fico agradecida, mas não posso aceitar – ela diz devolvendo o anel – se meus irmãos<br />

virem, não acreditarão que era de sua mãe. Sinceramente, nem eu estou tão certa disso –<br />

confessa.<br />

Ian tenta se aproximar mais um pouco dela, ele coloca o anel no dedo indicador da moça:<br />

você reparou as vestes que usava no dia em que me encontraram na mata? – pergunta.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Ana lembra-se que as roupas do rapaz consistiam em tecidos finos e limpos, entendendo o<br />

que Ian estava querendo dizer.<br />

- Você é um nobre? – ela pergunta.<br />

- Já tive muitas riquezas, hoje não mais. A única lembrança que me restou é esse anel.<br />

Quero lhe contar como cheguei até aqui – ele fala.<br />

- Eu não quero saber, não me importo...<br />

- Mas precisa – ele insiste, Ana volta a olhar para ele – meu pai governou uma vasta região<br />

no principado, quando ele morreu, assumi seu lugar.<br />

- Senhor de terras como meu pai? – pergunta Ana.<br />

- Sim – responde Ian sorrindo – conheci Valery e me casei com ela. Um ano depois do<br />

casamento, ela engravidou, tivemos um menino, Matias. A situação se agravou, nossas terras<br />

pararam de produzir e as aldeias próximas que administrávamos começaram a desaparecer.<br />

Antes que morrêssemos doentes como a maioria, fomos em busca do recomeço nas terras<br />

distantes de outro reino. Minha esposa já estava infectada, antes de embarcamos, ela faleceu. O<br />

corpo dela foi jogado de um penhasco, assim como o de todos os outros que morreram da<br />

mesma forma. Meu luto durou um mês até que meu filho também faleceu. Cheguei aqui já<br />

viúvo, queria recomeçar e encontrei você – ele diz. <strong>Anastácia</strong> se emociona ao perceber a<br />

tristeza no olho de Ian - Você é o meu recomeço <strong>Anastácia</strong>. Não se esqueça disso!<br />

<strong>Anastácia</strong> olha para o anel em seu dedo, uma lagrima escorre de seu rosto, ela tira-o e<br />

guarda-o no saquinho novamente entregando para Ian.<br />

- Guarde isso com todo seu amor. Não colocarei em minhas coisas para não correr o risco<br />

de alguém ver. Entregue-me somente quando todo seu sofrimento e tristeza acabar – ela fala –<br />

guarde o luto até o momento que não o sinta mais. Depois disso, usarei o anel.<br />

<strong>Anastácia</strong> e Ian se aproximam mais depois desse dia, a paixão deles fica mais forte, junto<br />

com ela surge o desejo, respeito, carinho e afeto. Eles passam a ter a impressão de conhecerem<br />

muito mais tempo, conversam de tudo, não sentem vergonha um do outro, sem ao menos<br />

darem conta, a paixão já havia se transformado em amor.<br />

Esse sentimento desperta a inveja de Henri, ele cerca cada vez mais <strong>Anastácia</strong>, o amor dele<br />

torna-se doentio. Gheorge e Edgar se unem para controlar um pouco a raiva do menino e<br />

passam a enchê-lo de trabalho, o mantendo longe da moça.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Alexi engravida novamente, dando a luz uma menina que ela chamou de Lia, o nome de<br />

sua falecida mãe. Miranda fica cada vez mais apreensiva e protetora com <strong>Anastácia</strong>. A moça se<br />

sente pressionada e sem liberdade. Em todo lugar que ela está, parece que alguém a segue, isso<br />

faz com que ela desconfie de todos, se afastando algumas horas até de Ian.<br />

Essa sensação estimula a agressividade dela. <strong>Anastácia</strong> começa a sofrer muitas oscilações de<br />

humor, ficando irritada facilmente.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Novembro de 1591<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Novembro de 1591<br />

- <strong>Anastácia</strong>, o que foi? – pergunta Jonathan assustado com o que vê.<br />

<strong>Anastácia</strong> anda de um lado para o outro, passando a mão no pescoço repetidamente. Ele<br />

está sozinho com ela no casebre. Ian ajuda Gheorge na roça, tudo rotineiramente, mas ela não<br />

segue mais a rotina, fica ansiosa e nervosa facilmente. Miranda chega e também fica<br />

apreensiva com os passos de Ana.<br />

- Eu não estou bem – ela fala, notando algo de errado com seu corpo – sinto-me estranha.<br />

- O que está sentindo? – pergunta Miranda.<br />

- Para de fazer isso!<br />

- Fazer o quê? <strong>Anastácia</strong>! – a moça não responde - FILHA!<br />

- ISSO! PERGUNTAR! – grita – o que você sente, o que está acontecendo, se abra comigo,<br />

não me esconda nada...POR QUE TANTO INTERESSE EM MIM, EU ESTOU BEM.<br />

- Ana, olhe o seu estado, está irritada, agitada. O que está havendo minha irmã? – pergunta<br />

Jonathan ainda mais assustado.<br />

- Alguém cala a boca desse gato!<br />

A frase desperta a atenção de Miranda e Jonathan que não escutam nenhum miado.<br />

Jonathan olha para a janela e encontra o bichano há metros de distância.<br />

- Ana, o gato está longe.<br />

Inconformada com a resposta do irmão, ela olha para a janela e vê o animal miando a uma<br />

distância impossível de ouvir o som tão alto quanto ela escuta, se desesperando ainda mais.<br />

Ela caminha de um lado para o outro e põe as mãos nos ouvidos, chorando desesperada, o<br />

miado, as vozes da mãe e do irmão e as das pessoas fora da casa entram na cabeça dela, que<br />

fica desnorteada.<br />

- Faz parar! – ela pede ajoelhada e chorando muito. Miranda começa a rezar.<br />

- Vou chamar o papai<br />

- Cuidado para não chamar a atenção dos demais – diz Miranda.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Jonathan sai e volta com Ian e Marcel: papai foi até a aldeia com Edgar.<br />

Ian observa a cena e também se desespera, é como se a dor de <strong>Anastácia</strong> estivesse nele, ele<br />

se aproxima da menina e segura seu rosto, aproximando os olhos dele nos dela.<br />

- Acalme-se – ele fala olhando para ela. Os olhos da moça se escurecem mais, dando a<br />

impressão de avermelhados em alguns pontos – respire – pede. A respiração da menina vai<br />

tranquilizando aos poucos. Ao perceber os olhos dela voltando ao marrom, ele a abraça.<br />

- O que está acontecendo comigo? – ela pergunta mais calma. Ian a conforta trocando<br />

olhares com Marcel.<br />

A partir de então, Ian fica mais próximo dela, ajudando-a a manter a calma.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Dezembro de 1591<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Dezembro de 1591<br />

<strong>Anastácia</strong> está sentada no chão olhando seu sobrinho brincar, Ian admira a menina ao<br />

longe.<br />

- Ivan, não mexa ai, você vai se machucar – ela diz pegando o bebê. O garoto passa a mão<br />

em uma planta e arranha o dedo no espinho. Ele começa a chorar.<br />

- O que aconteceu? – pergunta Alexi desesperada.<br />

- Ele se arranhou no espinho, não foi fundo – exclama Ana.<br />

- Pronto passou! – diz Alexi, pegando Ivan no colo. <strong>Anastácia</strong> olha o dedo arranhado dele e<br />

se assusta.<br />

- O que houve? – pergunta Andrew, saindo da roça.<br />

- Nada. Ivan fez seu primeiro machucado – diz Alexi.<br />

- Isso não deveria ter acontecido, Alexi, você deveria estar cuidando de nosso filho –<br />

reclama.<br />

- Ora como posso pajear o menino ao mesmo tempo que faço comida pra você. Foi só um<br />

arranhão não se preocupe. E além do mais, como nosso menino irá crescer forte se nunca se<br />

ferir nem que seja um pouquinho – diz Alexi.<br />

Ana fica cada vez mais dispersa e aérea, chamando a atenção de Andrew.<br />

- E você! Se não pode ter seus próprios filhos, então aprenda a cuidar direito dos filhos dos<br />

outros – diz Andrew para <strong>Anastácia</strong>.<br />

- ANDREW! – grita Alexi repreendendo-o. Ana continua paralisada, parece em transi.<br />

- Ana! – chama Andrew. A garota não responde – ANA! – ele grita. Alexi percebe algo<br />

errado e sacode os braços da menina gritando seu nome, ela reage.<br />

- Não foi um corte tão grande assim, viu – diz Alexi mostrando o dedo de Ivan para<br />

<strong>Anastácia</strong>. A menina olha e sai correndo para a mata.<br />

- O que aconteceu? – pergunta Ian.<br />

- É somente eu sendo grosseiro – diz Andrew.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Ian vai atrás da amada e a encontra no riacho, sentada sem entender o que estava<br />

acontecendo.<br />

- O que foi? – pergunta Ian se aproximando de <strong>Anastácia</strong>, a menina enxuga as lágrimas,<br />

Ian passa a mão em seu rosto e a abraça.<br />

- Confia em mim. Conte-me. O que Andrew te fez? – pergunta novamente.<br />

- Ele falou apenas a verdade. Não cuidei direito de Ivan, por isso ele se cortou – diz. Ian a<br />

abraça mais forte e passa a mão em seu cabelo.<br />

- Não diga isso. Ivan é ainda um bebê, ele está na fase de descobrir as coisas, vai mexer<br />

mesmo se você o trancar dentro do quarto. Ele precisa se cortar pela primeira vez para<br />

aprender onde deve ou não mexer – diz Ian.<br />

- Eu sei, mas não é isso que me incomoda – diz Ana.<br />

- Conte-me então o que lhe perturba – pede Ian. A menina se sente indefesa e invadida,<br />

mas não pode esconder tal fato do seu futuro esposo.<br />

- Não posso me casar com você- ela fala, levantando-se depressa. Ian se surpreende com a<br />

frase da menina.<br />

- O que! Por quê? – ele pergunta.<br />

<strong>Anastácia</strong> passa a andar de um lado para o outro aflita, ela passa a mão em seu pescoço sem<br />

parar, irritando Ian.<br />

- ANASTÁCIA! – ele grita.<br />

- NÃO POSSO TER FILHOS! – ela responde mais alto que ele. Nesse momento, Ian sente um<br />

alivio enorme no coração. <strong>Anastácia</strong> ajoelha-se ao lado de Ian e pega sua mão – Não poderei<br />

devolver a você seu filho, perdoe-me – ela diz chorando. O homem passa a mão no rosto dela<br />

confortando-a.<br />

- Posso te contar um segredo? – ele fala – também não posso ter filhos – confessa. Ana<br />

surpreende-se com o que ouve – quer saber por quê? – ele pergunta.<br />

- Sim – responde Ana curiosa.<br />

- Porque você não pode – ele diz, Ana sorri – não me importo com isso. Quero que você<br />

saiba que não a vejo como uma forma de ter de volta meu filho. Deus o tirou de mim, minha<br />

esposa está cuidando dele. No entanto, ele me trouxe você! Eu amo você! Isso já me basta.<br />

57


<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> fica emocionada com o que ouve. Ian se aproxima dela, seus lábios querem tocar<br />

os dela. A menina se aproxima também, os dois sentem um desejo enorme de ficarem perto um<br />

do outro, o coração dela para. Seu estomago parece rodar de ansiedade, medo e alegria. Os<br />

lábios estão próximos demais quando surge Andrew.<br />

- Ana, tudo bem? – ele pergunta, interrompendo o casal.<br />

- Sim – ela responde, olha para o céu é enxerga o sol, sua luz penetra em sua retina,<br />

lacrimejando seus olhos – nós já vamos – ela conclui.<br />

Ela e Ian andam, Andrew os observa. Ian se sente incomodado com o olhar de Andrew.<br />

- <strong>Anastácia</strong>, vá na frente, vou conversar com seu irmão – ele diz, beijando a mão de<br />

<strong>Anastácia</strong>. A menina segue andando.<br />

Andrew alcança Ian.<br />

- Tua irmã me contou sobre seu problema em ter filhos – confessa Ian. Andrew<br />

impressiona-se com a maneira leve com que Ian conduz a prosa.<br />

- Quando voltar para a roça, diga ao seu pai que quero conversar com ele antes do jantar.<br />

Fale que pretendo marcar a data do noivado para logo – diz Ian caminhando para chegar até<br />

Ana – e se ele ainda tiver dúvidas sobre os sentimentos dela, conte o que viu hoje – conclui.<br />

No caminho de volta, Ian observa um galho caído no chão e apanha-o.<br />

Anoitece, Ana está lavando a louça. Ian se aproxima de Gheorge e o chama para uma<br />

conversa fora do casebre. <strong>Anastácia</strong> percebe e coloca o cabelo atrás da orelha para tentar<br />

escutar, porém os dois estão distantes demais para ela ouvir.<br />

- Andrew me contou o que quase aconteceu hoje, não pense que estou feliz – diz Gheorge.<br />

- O senhor concede a mim a mão de sua filha em matrimônio? – pergunta Ian. Gheorge<br />

sorri ironicamente.<br />

- Tem certeza de que é isso que quer? Minha filha não irá substituir sua esposa e nem lhe<br />

devolverá o filho morto, se procura por consolo, esqueça. <strong>Anastácia</strong>...<br />

- Nunca poderá ter filhos – conclui Ian, Gheorge assusta-se – sim, ela me contou. Logo após<br />

descobrir, tentei beijá-la. Se Andrew não tivesse chegado para nos impedir...<br />

- CHEGA! NÃO QUERO OUVIR O RESTO – grita Gheorge – sei que você já é homem feito<br />

como eu. Conheço seus desejos e necessidade, mas é de minha filha que estamos falando.<br />

58


<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> não será sua válvula de escape – fala. Ian abaixa a cabeça decepcionado com o que<br />

ouve.<br />

- Sabe quantos anos tinham minha esposa e filho quando faleceram? – pergunta Ian.<br />

- Claro que não?<br />

- Meu filho tinha oito anos e minha esposa vinte e cinco – ele diz – me casei com ela<br />

quando ela acabara de completar 16 anos e não. Ela não era minha válvula de escape! Estava<br />

caminhando pela aldeia quando a vi pela primeira vez, os cabelos loiros ao sol iluminavam<br />

meu rosto, quase congelado com o frio. Foi a primeira coisa que me apaixonei nela. Tinha 24<br />

anos, acabara de ter... – Ian engole o resto da frase, chamando a atenção de Gheorge – de ter<br />

perdido meu pai – conclui.<br />

Gheorge sorri: Muito bonito sua historia com sua falecida esposa. Entenda que agora as<br />

coisas mudaram, você já não tem vinte e quatro anos e não é solteiro, é um homem viúvo,<br />

minha filha é jovem e pura...<br />

- Eu sei disso Gheorge. Não quero casar-me com ela só para satisfazer meus desejos, a<br />

quero para sempre do meu lado, até o fim dos meus dias – diz Ian, quase implorando a<br />

aceitação de Gheorge.<br />

- Diga-me quatro virtudes e quatro defeitos de <strong>Anastácia</strong> – pede Gheorge. Ian se confunde.<br />

- Ora! Você disse amar minha filha, pelo que saiba o amor se constrói através da aceitação<br />

dos defeitos e admiração das virtudes. Quero que você cite-os, se acertar os quatro, marco o<br />

noivado, se errar um, entrego a mão dela para Henri. O rapaz ainda está louco por ela –<br />

conclui Gheorge.<br />

- <strong>Anastácia</strong> é divertida, sábia, bela e forte, assim como brigona, teimosa, ansiosa, geniosa,<br />

nervosa... – Ian abre mais o sorriso a cada adjetivo de <strong>Anastácia</strong> que é lembrado por ele.<br />

- Chega, já entendi – interrompe Gheorge rindo do rosto de apaixonado de Ian.<br />

- Para mim, <strong>Anastácia</strong> não possui defeito algum – diz Ian.<br />

- Ela não é perfeita – exclama Gheorge.<br />

- Eu sei, também não sou perfeito. Todos nós somos imperfeitos, mas é isso que nos torna<br />

diferentes, seres únicos. Saber conviver com os defeitos alheios é amar. E eu a amo – diz Ian.<br />

59


<strong>Anastácia</strong><br />

Gheorge põe as mãos nos ombros de Ian, como se ele fosse um de seus filhos: Tem certeza<br />

de que é isso que quer?<br />

- Sim – responde Ian com convicção.<br />

- Está bem, em fevereiro próximo <strong>Anastácia</strong> completa 18 anos. Você consegue esperar mais<br />

dois meses até o noivado? – pergunta Gheorge, Ian abre um sorriso maior do que a boca e<br />

abraça o futuro sogro.<br />

Os dois voltam para o casebre. Ian vê <strong>Anastácia</strong> na porta, sorrindo para ele, como se tivesse<br />

escutado toda a conversa.<br />

60


<strong>Anastácia</strong><br />

Fevereiro de 1592<br />

61


<strong>Anastácia</strong><br />

Fevereiro de 1592<br />

No dia seguinte, <strong>Anastácia</strong> e Alexi saem para caminhar por entre os montes, perto da vila.<br />

Elas conversam tanto que se perdem.<br />

- Onde estamos? – pergunta Alexi assustada – seu irmão estava atrás de nós.<br />

- ANDREW! – grita <strong>Anastácia</strong>, ele ouve a voz dele ao longe – ele está perto.<br />

As duas começam a ouvir passos em sua volta e galhos estralando no chão. Alexi a abraça<br />

assustada, os passos parecem mais perto das meninas, que gritam assustadas, chamando por<br />

Andrew.<br />

<strong>Anastácia</strong> olha para cima e vê uma sombra negra em cima das montanhas, as duas estão<br />

abaixo dela. Ana vê o que parece ser um homem parado, observando as meninas. Alexi tem a<br />

mesma impressão e começa a chorar.<br />

- Era verdade! Meu Deus, o príncipe está aqui – diz Alexi ajoelhando e rezando,<br />

desesperada. Ana está hipnotizada com o homem parado, mesmo longe Ana sente que sua<br />

fisionomia é familiar.<br />

- Alexi, fique aqui – ela diz soltando as mãos dela – continue gritando para Andrew nos<br />

achar.<br />

- Aonde você vai? – pergunta Alexi desesperada, seguindo a menina.<br />

- Vou descobrir quem é – ela diz – por favor, só venha atrás de mim quando meu irmão<br />

chegar, enquanto ele não nos encontra, fique aqui e grite o nome dele o mais alto possível.<br />

- <strong>Anastácia</strong>, não vai, ele pode mata-la – implora Alexi. <strong>Anastácia</strong> continua andando,<br />

subindo o monte.<br />

- Espíritos não podem tocar nos vivos – ela diz.<br />

- Mas se ele não estiver morto, e se for um “strigoi mort” como dizem – grita Alexi.<br />

- Não se preocupe, ele não vai querer meu sangue. Nem os lobos quiseram – ela exclama,<br />

lembrando-se do encontro que teve com o animal– Não estou ouvindo você gritar por<br />

Andrew.<br />

62


<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> sobe os montes, encarando sempre o homem, ela ouve a voz de Alexi gritar<br />

desesperada pelo seu irmão, o som dá a ela uma direção para onde voltar. Ela encontra tijolos<br />

de pedra soltos no caminho, o homem continua parado.<br />

Irritada, fica mais determinada a subir e descobrir quem é o homem. Ela chega mais perto e<br />

pensa reconhece-lo.<br />

- IAN – ela grita.<br />

Alexi ouve os gritos de <strong>Anastácia</strong> e pede por ajuda, morrendo de medo da amiga estar em<br />

apuros, gritando pelo socorro do noivo.<br />

- Isso não tem graça! – ela exclama, pensando que o homem é seu noivo tentando pregar<br />

uma peça. Ela se aproxima mais e consegue ver o homem com nitidez, ele é alto, forte, de<br />

ombros largos, parece musculoso, seu cabelo está jogado para trás como Ian costuma pentear o<br />

dele.<br />

Ela tem convicção de que é o noivo até que passa a sentir medo. O homem não esboça<br />

nenhuma reação, simplesmente a encara, como quisesse que ela se aproximasse mais.<br />

- Marcel! – ela diz, pensando ser o cavaleiro que conta historia de terror.<br />

Ela chega mais perto, já conseguindo ver o rosto do homem. Antes de reconhecê-lo ela olha<br />

para trás, não consegue mais ouvir os gritos de Alexi, mas a vê; bem pequena na estrada.<br />

Andrew a encontra.<br />

Quando ela volta, o homem já havia sumido. Ela se assusta e corre.<br />

Quanto mais ela corre, mais ouve passos ao seu redor que ficam mais fortes , quando olha<br />

para trás, o homem está de pé próximo a ela, observando-a, ela grita e tropeça, antes de cair<br />

morro abaixo, uma mão a segura, ela começa a se debater.<br />

- Ana! Ana! Sou eu – diz a voz. Ela abre os olhos e vê Ian, ela olha para trás e o homem<br />

desapareceu, ela começa a bater no noivo.<br />

- SEU IDIOTA! – ela grita – quase me matou de susto.<br />

- Ana, do que você está falando?<br />

- Era você que estava nas montanhas, ficou parado lá por horas, não era? – ela pergunta<br />

confusa. Ian a olha sem entender a pergunta e ela logo percebe que não foi ele – O que está<br />

fazendo aqui?<br />

63


<strong>Anastácia</strong><br />

- Teu pai me pediu para procura-la – responde Ian abraçando-a e descendo os montes.<br />

Ana olha para trás e vê novamente a fisionomia do homem.<br />

Os quatro jovens voltam para a casa e encontram Edgar e Gheorge apreensivos.<br />

- Mas onde é que vocês estavam? – pergunta Gheorge preocupado.<br />

Os quatro olham entre si com medo de falar o que viram.<br />

- Eu e Alexi nos perdemos e fomos parar perto das montanhas. Havia um homem lá, então<br />

subi para ver quem era – conta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Algum cavaleiro da rainha nos encontrou? – pergunta Edgar preocupado – Gheorge, esta<br />

pessoa deve estar causando as mortes, invadimos as terras da alteza sem permissão.<br />

- Não, se fosse isso, por que não desceu até aqui e reclamou as terras em nome da rainha?<br />

Você viu quem era? – pergunta para Ana.<br />

Com medo do pensamento de seu pai ao contar suas suspeitas, ela diz não ter conseguido<br />

ver o rosto do homem, que estava escondido na sombra das arvores, todo de preto como um<br />

borrão.<br />

Marcel sai em meio às arvores. Suas vestes são claras, diferente do gibão preto que o<br />

homem vestia nas montanhas.<br />

- Onde estava? – pergunta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Seu pai pediu a mim e a Ian para procura-la. As montanhas é um lugar perigoso, menina,<br />

só porque você é rebelde, não significa ser forte o bastante para andar sozinha por ai – ele<br />

conclui.<br />

Durante a noite, Ana observa a lua vermelha na janela de teu quarto quando vê Marcel<br />

saindo de seu casebre. Ela veste uma capa com capuz e sai de casa para segui-lo. O escuro da<br />

noite não é empecilho para ela, que enxerga tudo nitidamente como se tivesse de dia.<br />

Ela o perde dentro da mata, está frio, uma neblina branca cobre o chão, indicando o inicio<br />

do inverno, ela ouve barulhos parecidos com goladas dadas quando se bebe algo muito rápido.<br />

Ela segue o barulho e encontra um homem de roupa escura ao fundo, com a cabeça encostada<br />

em um cervo morto. Ela se esconde atrás dos arbustos e observa a cena. O homem parece<br />

beber o sangue do animal, o cervo morreu de olhos abertos, dava para ver o medo do bicho<br />

estampado nos olhinhos negros dele.<br />

64


<strong>Anastácia</strong><br />

<strong>Anastácia</strong> decide ir embora quando ela pisa em um galho seco no chão que quebra,<br />

despertando a atenção do homem, ela corre. Ao olhar para trás, Ana se desequilibra e cai do<br />

lado de um homem morto com sangue no pescoço, ela levanta-se rapidamente, olhando ao seu<br />

redor, eram tropas da rainha, com cerca de vinte homens todos mortos. Ana vê a sombra do<br />

homem a sua frente e grita nesse momento uma mão surge puxando ela para a luz da fogueira<br />

acessa ao centro das casas.<br />

- MEU DEUS! IAN – exclama. O sol está nascendo no horizonte, à fisionomia assustadora<br />

do homem desaparece.<br />

Os homens levantam assustados com os gritos de Ana.<br />

- O que foi? – pergunta Gheorge. Alexi olha para o bosque e enxerga uma mão caída no<br />

chão, ela grita.<br />

Marcel surge em meio às arvores com uma espada na mão.<br />

- As tropas da rainha nos encontraram. Estão mortos – ele diz.<br />

- Como? Você os matou? – pergunta Edgar.<br />

- Alguns. Os surpreendi na fronteira marcada, os jovens que faziam a vigia morreram.<br />

Matei alguns, mas outros conseguiram continuar – ele diz.<br />

- Pai, estão todos mortos, eu os vi, decolados na mata – conta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Por que você viu? - pergunta Gheorge nervoso com a menina.<br />

- Foi minha culpa – responde Ian – eu a chamei para ver o nascer do sol comigo, não sabia<br />

que íamos ver pessoas mortas.<br />

- Não faça mais atos românticos como este, entendeu – Gheorge briga com Ian.<br />

- Perdoe-me, não quis expô-la ao perigo. Queria fazer algo especial para entrega-lhe isso –<br />

ele diz, abrindo a mão e deixando a mostra duas alianças singelas de madeira – sei que não são<br />

de ouro ou prata, mas passei dias esculpindo-as como prova do meu amor por você.<br />

<strong>Anastácia</strong> fica emocionada com a atitude de Ian, Gheorge enfurece-se ainda mais:<br />

- As regras foram eu realizar o noivado quando <strong>Anastácia</strong> amadurecesse e não você tomar<br />

as decisões em suas mãos Ian – ele grita.<br />

- Pai, por favor – pede Andrew, lembrando que <strong>Anastácia</strong> não poderá ter filhos.<br />

65


<strong>Anastácia</strong><br />

- Vamos recolher os corpos e enterrar nossos mortos, depois conversamos sobre isso – diz<br />

Gheorge.<br />

- Vamos, Nobre senhor, depois você continua a cortejar a donzela – diz Marcel batendo no<br />

ombro de Ian.<br />

<strong>Anastácia</strong> recua de Marcel, com medo dele ser o homem do bosque. Ela entra em casa<br />

quando ouve Miranda sussurrar baixo:<br />

- “Vurlács”,<br />

- O que disse? Perdoe-me mãe, mas não escutei a senhora – diz Ana. Miranda olha para a<br />

menina com os olhos cheios de água.<br />

- “Strigoi mort” – ela diz – o príncipe veio atrás de você criança – ela confessa. Ana pensa<br />

ser mais uma superstição da mãe e vai para o quarto assustada com tudo o que viu.<br />

Uma semana após o ocorrido, Gheorge realiza um pequeno banquete entre os conhecidos<br />

para realizar o noivado de <strong>Anastácia</strong> e Ian. Antes da troca das alianças, eles se reúnem na em<br />

volta da fogueira fora do galpão que agora armazena as armas dos cavaleiros da rainha<br />

mortos.<br />

- Você está linda! – diz Alexi para Ana no quarto. A garota veste um vestido azul claro,<br />

justo em sua cintura, dos quadris para baixo ele fica mais largo, a menina parece uma<br />

princesa, mesmo com vestes ainda simples.<br />

Alexi acompanha Ana até a varanda.<br />

Ian fica impressionado com a beleza de Ana, pela primeira vez há tempos, seu coração<br />

batia desesperadamente por alguém.<br />

Henri a cerca e ela foge dele, nesse momento surge Ian a sua frente.<br />

- Fugindo de algo? – pergunta.<br />

- Você nunca vai parar de fazer isso – diz Ana que empurra Ian. Ele sente uma força<br />

enorme no braço de Ana e desconfia de algo.<br />

- Por que não me contou?<br />

- Contei o quê?<br />

66


<strong>Anastácia</strong><br />

- Que estava forte. Aquele dia no bosque, você sentiu o cheiro dos cadáveres antes de Alexi,<br />

encontrou eles primeiro. Alexi me disse que você desapareceu da frente dela como um raio, no<br />

dia nem dei importância, afinal ela estava cansada, mas agora, com essa força desproporcional<br />

ao seu corpo delicado, achei que Alexi não estava delirando.<br />

- Sério! Você deduziu isso tudo apenas com um empurrão. Acredite em Alexi quando ela<br />

disse ter imaginado – diz ironicamente Ana. Ian a segura pelo braço.<br />

- Como você encontrou os corpos aquele dia?<br />

- Me solta, você tá me machucando!<br />

- Me fala como?<br />

- Eu não sei, está bem! Senti um cheiro ruim, podre, parecia que ele transmitia frio, morte.<br />

Simplesmente o segui e cheguei ao foço. Não lembro se fui para esquerda ou direita, se segui<br />

reto ou se virei, não me lembro, somente os encontrei – confessa Ana. Ian fica assustado com o<br />

que ouve e solta os braços dela.<br />

- Você andou rápido demais para se lembrar por onde passou – diz Ian para Ana. Ele põe as<br />

mãos no rosto de Ana.<br />

- O que mais você sente? – Ana percebe a preocupação de Ian e pergunta o que ele sabe,<br />

Ian insiste em saber a verdade, ela começa a falar irritada.<br />

- Às vezes tenho a impressão de escutar as pessoas falando, parecem que elas gritam na<br />

minha cabeça. Outras consigo ouvir coisas que ninguém consegue, como o coração de Lexi<br />

batendo e também ... – Ana para.<br />

- O que? Por favor, me diga? – implora Ian.<br />

- Já faz algum tempo, senti a primeira vez quando meu sobrinho cortou o dedo. Sinto um<br />

cheiro forte, porém ele me segue, parece um aroma, sinto em todas as pessoas em minha volta.<br />

Parece ...<br />

- Doce – completa Ian.<br />

- Sim. Como você sabe? O que está escondendo? – pergunta Ana. Ian abaixa a cabeça<br />

perplexo.<br />

- Ian – ela grita buscando explicações.<br />

- Você não entende ... – diz Ian.<br />

67


<strong>Anastácia</strong><br />

- Entender o quê? Você nunca me conta nada! – completa Ana. Nesse momento, uma lasca<br />

de madeira da mesa solta e enfia na mão de Ana, ela se assusta com o sangue escorrendo em<br />

sua mão.<br />

- Puxa – ela pede para Ian que está vendo a profundidade do ferimento, ele puxa, Ana<br />

reclama um pouco de dor.<br />

- Não foi muito fundo – mente Ian. <strong>Anastácia</strong> percebe o sangue parar de escorrer e corte se<br />

fecha lentamente, em cinco segundos, sua mão não possuía nem cicatriz.<br />

- MEU DEUS! – exclama Ian surpreso com o que vê. Mesmo assim, ele não aparenta estar<br />

assustado, diferente de Ana que acha estar delirando.<br />

Algumas gotas de sangue pingou no vestido dela que chama a atenção de Matias. O corte<br />

está cicatrizado, mas o sangue que saiu da mão dela antes disso acontecer ainda está lá,<br />

mostrando que ela se machucou.<br />

- Ana, você se feriu? – pergunta Jonathan. Antes que ele pudesse ver a mão lisa da<br />

<strong>Anastácia</strong>, Ian a cobre com um pedaço do vestido dela.<br />

- Não foi nada, vou fazer um curativo – diz Ian.<br />

- Como não foi nada, a mão dela está encharcada – retruca Jonathan, tentando ver o corte.<br />

- Jonathan, eu estou bem! – ela exclama com os olhos lacrimejados de medo com tudo o<br />

que está acontecendo com ela.<br />

Ian faz um gesto para Marcel que vem ao socorro do casal.<br />

- Não se preocupe, meu rapaz, tenho mais experiências em batalhas do que você – diz<br />

Marcel batendo nas costas de Jonathan – sei bem mais sobre curativos do que pensa! Vamos<br />

enfaixar sua mão, mileide – ele diz conduzindo Ana até o casebre de Ian.<br />

- Não sairei de perto dela, eu prometo – diz Ian tranquilizando Jonathan.<br />

Os três entram no casebre, Marcel coloca Ana sentar-se na sua frente, ele tira o vestido da<br />

mão da menina. Ian leva para eles um balde com água.<br />

- Vamos limpar isso – exclama Marcel, Ana observa Ian vigiando a casa pela janela.<br />

- Eu tinha cortado minha mão. O ferimento cicatrizou naturalmente, como isso é possível?<br />

– ela pergunta. Marcel e Ian olham desconfiados um para o outro.<br />

68


<strong>Anastácia</strong><br />

Ana pega uma faca que está ao seu lado e começa a desferir vários golpes na mão. Quanto<br />

mais ele se corta, mais rápido ocorre à cicatrização. Ian tira a faca da mão dela antes que<br />

alguém percebesse.<br />

- O que vocês estão escondendo? – ela pergunta. Ian corta seu pulso e o ferimento dele<br />

também cicatriza. Ana fica surpresa e assustada.<br />

- Somos iguais, está bem. Agora acalma-se e deixe Marcel enfaixar para que ninguém<br />

perceba – diz Ian.<br />

- O que nós somos? – ela pergunta.<br />

- Calma garota, você demorou 17 anos para desenvolver essas habilidades. Tudo no seu<br />

tempo – fala Marcel.<br />

- Vocês já se conheciam antes de Ian chegar aqui, não é? - ela pergunta. Os dois ficam<br />

calados, confirmando as suspeitas de Ana.<br />

Os três passam a ouvir juntos ruídos de folhas caídas no chão quebrando no bosque, como<br />

se alguém andasse em cima delas, lembrando passos. De repente, os passos de um se<br />

transformam em vários, eles podem ouvir uma centena deles cercando todo o bosque.<br />

Ana percebe sua mão enfaixada e corre para avisar seu pai, os dois a seguem. Enquanto<br />

todos se divertem, um uivo feroz soa por entre as montanhas. De repente, Miranda grita ao ver<br />

a cor da lua mudar repentinamente para o vermelho.<br />

- Lobos – diz Andrew para o pai.<br />

- Jonathan leve as mulheres para dentro – diz Gheorge. Jonathan pega um punhal e<br />

conduz Alexi e Ivan para o galpão junto com Ana e Miranda.<br />

Jonathan abre o galpão, Andrew e Gheorge pegam as espadas e distribuem para os homens.<br />

Os homens formam um círculo em volta da fogueira, os uivos ficam mais fortes, está escuro<br />

na floresta, ninguém consegue identificar de onde sai o som. De repente Ian enxerga o que<br />

parece ser dois olhos amarelos saindo de dentro da escuridão.<br />

- Por favor, Henri. Dá-me uma espada – pede Ian, sem tirar os olhos do bosque.<br />

Henri entrega a espada para Ian. Ele também observa o bosque e cutuca para Andrew, os<br />

três fixam o olhar e enxergam dois olhos grandes amarelos. Uma boca enorme com dentes<br />

69


<strong>Anastácia</strong><br />

pontiagudos surge em meio à escuridão e pula para ataca-los. Ian corta a cabeça do lobo que<br />

cai no chão.<br />

Andrew e Henri olham para o lobo morto no chão impressionado com a rapidez de Ian.<br />

- Onde aprendeu a lutar? – pergunta Andrew.<br />

- Lembra que contei ao seu pai que tinha uma propriedade nos montes ao norte? – diz Ian.<br />

- Sim.<br />

- Então, era um castelo – confessa Ian, revelando sua identidade.<br />

- Ian, eles estão vindo – exclama Marcel.<br />

Henri e Andrew ficam sem entender o que está acontecendo. Escuta-se mais um uivo e a<br />

alcateia passa a atacar. Os lobos surgem da escuridão como pragas, a força deles é<br />

descomunal, muitos homem não conseguem se proteger e acabam nos dentes das feras.<br />

As mulheres escutam gritos do lado de fora. Ana se aproxima da porta com a intenção de<br />

abri-la. Algo se aproxima da porta e começa tentar arromba-la. Todos recuam. A porta é<br />

arrombada. Um lobo negro entra na casa, sua boca está salivando, ele parece observar todas as<br />

mulheres dentro da casa, ele se aproxima de Alexi e Ivan. Em um ato espontâneo, <strong>Anastácia</strong><br />

pula na frente dos dois, ficando cara a cara com o lobo. Nada parece impedir o lobo que desta<br />

vez pula para atacar Ana, ela pega na boca aberta do animal para impedi-lo de mordê-la, os<br />

dois caem no chão, as mulheres gritam de pavor. Ana luta com a fera, seus olhos envermelham<br />

e ela consegue quebrar a boca do animal. Nesse momento outro lobo entra na casa, ele parece<br />

observar o animal morto no chão, aproxima-se de Ana que está caída no chão com as mãos<br />

ensanguentadas, ele a cheira, olha para os olhos dela e sai da casa. Da varanda, ele uiva e volta<br />

para as montanhas, os outros lobos o seguem.<br />

- Como você fez isso? – pergunta Jonathan. As mulheres olham com medo para <strong>Anastácia</strong>,<br />

Miranda olha para ela decepcionada com o que acabara de presenciar.<br />

- Eu não sei – responde.<br />

Amanhece. Todos saem para conferir os estragos do ataque durante a noite. Alexi encontra<br />

Henri chorando ao lado do corpo do pai, Edgar não conseguiu impedir o ataque do lobo.<br />

Outras mulheres também choram a morte de seus maridos.<br />

Ana anda pelos corpos e encontra Ian caído. Ela o resgata. Após chamar Marcel para cuidar<br />

de Ian, ela se dirige a carroça de Henri.<br />

70


<strong>Anastácia</strong><br />

- Henri - ela o chama. O rapaz vira a cara para ela, Alexi pega seus filhos e se afasta,<br />

causando um grande desconforto na moça.<br />

- O que quer? – pergunta Henri grosseiramente.<br />

- Me despedir – ela fala – Sinto muito pelo seu pai.<br />

- Tudo bem, você não estava lá para matar o lobo que o atacou – ele retruca – as pessoas<br />

estão partindo por sua causa, dizem que é uma bruxa ou filha do Satã, não entendi bem. O que<br />

sei é que estão com medo, apavoradas, acreditam que seu comportamento estranho chamou os<br />

lobos até aqui, eles não gostam do mal.<br />

<strong>Anastácia</strong> fica desconcertada com as palavras de Henri e abaixa a cabeça, lamentado tanto<br />

ódio na voz de seu amigo. Alexi se aproxima dela e lhe entrega um crucifixo.<br />

- Agradeço-te por salvar a minha vida e a de meus filhos. Que Deus lhe abençoe e cure<br />

desse mal.<br />

- Você também não vai ficar? – Ana pergunta.<br />

Andrew surge na porta e dana com Alexi, pedindo para a esposa de afastar de <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Não vamos ficar, iremos embora – ele responde – eles perderam o pai, você é uma criação<br />

demoníaca, graças ao seu ato de salvamento ontem à noite, pude confirmar a veracidade das<br />

lendas que cresci ouvindo. Agora que já sei da verdade, não ficarei nem mais um minuto perto<br />

de você, garota.<br />

<strong>Anastácia</strong> chora pela reprovação de todos: Eu não sei o que está acontecendo comigo. Por<br />

favor, não me julguem!<br />

- Deus lhe mostrará o caminho para se livrar de todo mal – diz Alexi – enquanto isso não<br />

acontece, não criarei meus filhos perto de ti – conclui.<br />

Gheorge segura o ombro da filha e a afasta de Andrew. Os dois observam ao longe a<br />

carroça partir.<br />

Ian acorda no quarto de Ana, a menina está sentada na cadeira ao lado, ele vê seu abdômen<br />

enfaixado.<br />

- Você foi mordido. A ferida já estava se curando quando o encontrei, Marcel enfaixou<br />

para que ninguém desconfiasse – diz Ana de cabeça baixa chorando.<br />

71


<strong>Anastácia</strong><br />

- Obrigado – agradece Ian, ele olha para janela e encontram carroças prontas e as pessoas<br />

que ainda vivem indo embora.<br />

- O que está acontecendo? – pergunta para Ana.<br />

- Ontem quebrei a boca de um lobo com as mãos, o matei para salvar Lexi e meu sobrinho.<br />

Todos viram, agora estão partindo, disseram que sou uma bruxa, que os lobos vieram para me<br />

matar, meus poderes satânicos os trouxeram. Até Lexi está com medo de mim, disse estar grata<br />

pelo que fiz, mas que não irá criar seus filhos perto de mim. Ela e Andrew já partiram junto<br />

com Henri, Edgar está morto, Todos estão desolados. Meu pai está furioso com minha mãe –<br />

desabafa Ana aos prantos. Ian a abraça, confortando-a.<br />

Os gritos de Gheorge são ouvidos por Ana, que chora sem parar. Jonathan está parado na<br />

porta do quarto observando a menina aos prantos, ele não esboça nenhuma reação. Ian<br />

lamenta pelo o que aconteceu. Marcel surge e encosta na janela pelo lado de fora da casa.<br />

- Sinto muito que isso esteja acontecendo com você menina! – ele exclama.<br />

- O que eu sou? – pergunta <strong>Anastácia</strong> para Ian e Marcel, os dois mais uma vez ficam<br />

calados, despertando a fúria de Ana que pergunta novamente.<br />

- O que vocês estão escondendo de nós além de já se conhecerem? – pergunta Jonathan,<br />

cobrando satisfações.<br />

Nenhum dos dois abrem a boca e <strong>Anastácia</strong> nervosa retira o punhal da mão do irmão e<br />

corta seu pulso. Jonathan fica desesperado até ver o ferimento cicatrizar, o garoto fica<br />

assustado e confuso. Ana pega o braço de Ian com violência e também o corta, o ferimento dele<br />

cicatriza também.<br />

- O que são você? – pergunta Jonathan assustado. Miranda grita com o tapa que recebe de<br />

Gheorge.<br />

- Não aguento mais – diz Ana que vai até a mãe, Ian e Jonathan vão atrás dela.<br />

Gheorge segura Miranda pelos braços, sacudindo-a, Ana tenta socorrer a mãe, os rapazes<br />

tentam segurar Gheorge enfurecido, no meio da confusão a manga do vestido de Miranda<br />

rasga, revelando a todos o pentagrama desenhado em seu ombro direito.<br />

- O que é isso Miranda? – pergunta Gheorge. Miranda enche os olhos de lágrimas e<br />

percebe que já não pode mais esconder a verdade.<br />

72


<strong>Anastácia</strong><br />

- Sou uma bruxa – diz, pegando o colar com o pentagrama escondido na gaveta. Gheorge<br />

senta na cama, não possui mais força para brigar. Miranda senta no chão e começa a pedir<br />

perdão para Ana.<br />

<strong>Anastácia</strong> sente que o mundo dela está desmoronando e cai no chão junto com a mãe.<br />

- Há uma lenda – diz Marcel surgindo no quarto.<br />

- Ninguém quer ouvir suas histórias agora, Marcel – interrompe Ana.<br />

- Então eu vou contar uma, como você nasceu <strong>Anastácia</strong> – exclama Miranda.<br />

Ian e Marcel montam guarda na porta do quarto impedindo a saída de todos. Jonathan<br />

senta no chão encostando-se à parede, Gheorge ainda em cima da cama, olha para Marcel e<br />

Ian. Marcel com o olhar pede para Gheorge se acalmar e ouvir do que Miranda quer dizer.<br />

- Meus pais e eu morávamos em uma aldeia próxima ao castelo de Cachtice no Principado.<br />

Quando tinha 16 anos de idade, meus pais morreram queimados, poucos guerreiros em nossa<br />

terra caçavam as bruxas e eles tiveram a sorte de nos encontrar – ela diz chorando – o rei<br />

voltava de mais uma batalha quando me encontrou vagando sozinha pela mata,<br />

completamente desnorteada, ele me acolheu em sua casa e pôs como dama de companhia de<br />

sua filha de 11 anos. Logo, meus poderes chamaram a atenção do rei, fiz alguns feitiços para<br />

protegê-lo em batalha. Quando a princesa completou 12 anos, ela ficou noiva do herdeiro do<br />

trono de Sárvar e então foi morar com ele, daí, fui embora do palácio. Só voltei dois anos<br />

depois, quando a princesa já estava grávida – diz Miranda. Gheorge deduz o final da história e<br />

põe as mãos na cabeça, lamentando por <strong>Anastácia</strong>. A menina também desconfia do fim e olha<br />

para todos a sua volta buscando a negação de alguém.<br />

- E o meu pai? – pergunta <strong>Anastácia</strong> para Miranda.<br />

- Ele era cavaleiro e grande amigo do duque, foi morto depois de confirmado a gravidez da<br />

garota. O duque rompeu o noivado e a enviou de volta para Cachtice, o rei me chamou<br />

novamente para cuidar dela até o bebê nascer. Quando a criança nasceu, o rei me pagou para<br />

subornar o capitão de um navio cargueiro que me trouxe para cá, com a criança nos braços.<br />

Era uma menina – ela termina olhando para <strong>Anastácia</strong> que chora sem acreditar no que ouve.<br />

- Chega, eu não quero ouvir mais – diz <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Ana você precisa – insiste Ian. A garota se recusa.<br />

73


<strong>Anastácia</strong><br />

- Você não queria saber o que estávamos escondendo de você. Sente-se e ouça, a história<br />

não acabou – diz Marcel da janela – Agora é minha vez- exclama.<br />

Os dois ainda tapam as saídas, mas mesmo se alguém quisesse sair, o sentimento de cada<br />

um os impedia. Surpresa, angústia, tristeza, tudo isso misturado pela dor dos mortos e cansaço.<br />

- Eu, Miranda e Ian nascemos todos nas mesmas regiões. Naqueles montes, existem não<br />

somente lendas e superstições, mas a historia de nossos antepassados, das pessoas que nós três<br />

descendemos – diz – todas as lendas possuem seu fundo de verdade – conta. Miranda decide<br />

continuar.<br />

- A gravidez da princesa era difícil – conta- a menina entrou em trabalho de parto várias<br />

vezes e quase perdeu o bebê e sua própria vida. Para salvar a vida da menina, o rei foi buscar<br />

ajuda nas terras proibidas. Ele subiu até o castelo nos montes. Antes de chegar ao castelo,<br />

alguém o chamou, era o príncipe.... – nesse momento, Ian se aproxima de Ana.<br />

- Estava frio aquela noite, Escobar me procurou implorando por meu sangue – ele conta.<br />

<strong>Anastácia</strong> fica enojada ao pensar no pecado – achei que salvando a vida daquela menina<br />

poderia encontrar minha redenção.<br />

- “Strigoi mort” – fala Jonathan – O príncipe que falavam aquela noite era você!<br />

- Não, não, não, NÃO! - repete Ana atordoada. A menina foge desesperada para a mata.<br />

- Arrume suas coisas, Jonathan, vamos embora – diz Gheorge levantando da cama.<br />

Miranda agarra as pernas do marido e pede desesperadamente que ele fique.<br />

- Você se passou por mãe verdadeira de uma menina e mentiu a origem dela por 17 anos.<br />

Agora descubro que você é uma bruxa, que as historias de sua terra são reais, <strong>Anastácia</strong> é filha<br />

bastarda de uma princesa e de um vampiro que anos depois tentou desposa-la...<br />

- <strong>Anastácia</strong> não é minha filha! Eu dei meu sangue à mãe dela, não me deitei, é diferente –<br />

diz Ian.<br />

- Tanto faz! É demais para mim, demais para qualquer homem cristão aceitar – ele diz,<br />

empurrando bruscamente com a perna Miranda para o chão. Ele chama por Jonathan que<br />

pede um tempo para se despedir da mãe.<br />

- O que a Ana é? – pergunta Jonathan.<br />

74


<strong>Anastácia</strong><br />

- O sangue de Ian já estava no corpo da mulher quando ela deu a luz. <strong>Anastácia</strong> nasceu<br />

com as duas espécies no sangue. Não sabíamos que ela iria se transformar até ontem, quando<br />

se feriu. O corte cicatrizou imediatamente, indicando a imortalidade – diz Marcel.<br />

- MEU DEUS – exclama Jonathan ainda mais perplexo com tudo.<br />

- Mandei Marcel se instalar aqui para observar <strong>Anastácia</strong>, não queria contato com a garota<br />

– diz Ian.<br />

- Então por que veio? – pergunta Miranda.<br />

- Fui criado pela magia de um bruxo, o mesmo bruxo que se enfeitiçou imortal para<br />

conquistar o mundo. Seu irmão me mandou até aqui, eu deveria mata-la – confessa.<br />

- Por isso você manteve Ana afastada. Você deveria matar e não se apaixonar – deduz<br />

Jonathan.<br />

Ele dá um beijo na testa de Jonathan e sai. Antes de sair, olha para Ian com desprezo.<br />

- Você a criou. Meu pai entregou a mão dela para você. Agora cuide dela – diz Jonathan.<br />

- Vá atrás da garota, amigo, eu fico aqui cuidando de tudo – diz Marcel.<br />

Ian procura por horas <strong>Anastácia</strong> pela mata, ele ouve os suspiros de choro da garota e os<br />

seguem. A menina está ajoelhada no riacho em cima da gruta. Ela sente a presença dele atrás<br />

dela.<br />

- Você é meu pai? – pergunta.<br />

- Não.<br />

- Então como devo chama-lo? De criador? Amo? Meu senhor? Porque não consigo<br />

imaginar mais a palavra esposo – ela diz furiosa.<br />

- Eu posso explicar.<br />

- É bom explicar, quero explicações. O que eu sou? – pergunta.<br />

Ian senta ao lado dela e começa a repetir o que disse na cabana para Miranda e Jonathan.<br />

- Minha verdadeira mãe é igual a mim? – ela pergunta.<br />

75


<strong>Anastácia</strong><br />

- Não, para se transformar em seres como nós, deve-se morrer com nosso sangue no corpo.<br />

Toda a essência do meu sangue foi parar em você enquanto estava em formação no ventre dela<br />

– conta Ian – seres como nós não podem ter filhos – conclui.<br />

- Ela se chama Lisa – exclama Ana curiosa para saber sobre a mãe. Ian pega na mão dela e<br />

ela se afasta.<br />

- Então tudo que disse foi mentira: não queria ter filhos porque também não podia. Todo<br />

aquele discurso romântico foi uma farsa, seu amor foi uma farsa... – ela grita.<br />

- Não foi uma farsa <strong>Anastácia</strong>. Nunca duvide dos meus sentimentos por você – ele diz.<br />

- VOCÊ MENTIU! IAN! Como posso não duvidar? Mentiu sobre quem você era, mentiu<br />

sobre quem eu era, sobre conhecer Marcel. O que mais você esconde? – ela diz. Ian olha para<br />

o céu e respira fundo.<br />

-Descobri o que você era no momento em que vi Miranda cruzando minhas terras naquela<br />

noite. Você era um bebê tão pequeno. Eu tentei atacar Miranda quando te vi nos braços dela,<br />

enrolada em uma colcha vermelha. Eu senti seu coração em mim, <strong>Anastácia</strong>. Depois disso,<br />

procurei por Escobar que confessou, fui atrás do noivo de sua mãe e o encontrei pronto para<br />

cortar a cabeça de um cavaleiro. Salvei o homem que me prometeu servidão eterna se o<br />

ajudasse a encontrar a filha... Marcel é seu pai – confessa. Ana fecha os olhos não acreditando<br />

no que ouve.<br />

- Por que veio? – pergunta – Porque saiu das acomodações de seu castelo para se passar<br />

como um camponês só para me conhecer?<br />

- O irmão do bruxo que me transformou me pediu para vir aqui te matar<br />

<strong>Anastácia</strong> liga as historias dos três irmãos com a do príncipe e as demais que ela ouviu<br />

desde criança, descobrindo a verdade. Ela se aproxima de Ian.<br />

- Me mata- ela pede. Ian se recusa e ela o empurra.<br />

- Vamos! Onde está seu dever de rei para seu povo? Salve o destino da humanidade. Enfie a<br />

estaca em mim como fez com seu inimigo na gruta – ela grita, lembrando-se da história que<br />

ouviu. Ian se enfurece ao lembrar-se do que ele fez naquele dia e enfia sua mão no peito de<br />

Ana, segurando seu coração.<br />

- Puxe. Não quero viver – ela pede.<br />

76


<strong>Anastácia</strong><br />

- Não – diz Ian. Com a mão dentro de seu peito, Ian beija a boca de Ana com amor. Ele<br />

sente o coração da garota parar de bater rapidamente, tira a mão e abre os olhos, a menina se<br />

tranquiliza.<br />

Ele passa a mão em seu rosto e vai para beija-la novamente. <strong>Anastácia</strong> o afasta.<br />

- Não chega perto. Não agora – ela pede.<br />

Os dois caminham silenciosos pela mata, distantes. Ao chegarem, <strong>Anastácia</strong> entra em sua<br />

casa e vê Miranda e Marcel caídos no chão, desmaiados. Ela chama por Ian. Ele está no galpão<br />

procurando o corpo do lobo que Ana disse ter matado, ele ouve os gritos e sai para ajudar,<br />

alguém quebra seu pescoço.<br />

<strong>Anastácia</strong> tenta correr para fora da cabana e é surpreendida por Henri na porta.<br />

- Eu disse que ela estava aqui – fala.<br />

Atrás dele, surge um homem de armadura. Henri arrasta <strong>Anastácia</strong> para fora da cabana,<br />

deixando a porta livre para que o cavaleiro pudesse entrar. <strong>Anastácia</strong> vê o corpo caído de Ian e<br />

grita, ela joga-se no chão. Henri tenta levantá-la, a garota se debate. O cavaleiro volta<br />

arrastando Miranda que se solta e parte para Henri, batendo em suas costas.<br />

Ana morde o braço dele, o cavaleiro consegue controlar Miranda e vê o sinal do<br />

pentagrama em seu ombro. Henri bate no rosto de Ana e corta sua bochecha, o arranhão<br />

cicatriza. Assustado, ele sai de cima da garota e a levanta. Eles amarram Miranda no carvalho<br />

e ateiam fogo. Henri arrasta <strong>Anastácia</strong> até a aldeia vizinha. Ela olha para trás e vê Ian e Marcel<br />

ainda desmaiados.<br />

Ian acorda no chão da cabana de Ana, ao lado dele, está um homem sentado no banco.<br />

- Teodor – diz Ian, chamando o homem – o que aconteceu onde está <strong>Anastácia</strong>?<br />

- Você não matou a menina como eu pedi. Fui obrigado a fazer eu mesmo. Matei Marcel<br />

também, mas ele estava bebendo seu sangue, deve acordar logo – ele diz. Ian se desespera e<br />

parte para atacar Teodor, utilizando magia, ele lança Ian para a parede e o prende nela.<br />

De repente, as vestes de Teodor mudam para um gibão preto e longa capa de mesma cor.<br />

Ian o confunde com seu irmão.<br />

- Baltazar – exclama. O homem solta Ian da parede.<br />

77


<strong>Anastácia</strong><br />

- Por que sou sempre confundido com meu irmão. Por favor, sente-se – ele diz para Ian<br />

que está sobre algum feitiço de hipnose obedecendo às ordens de Teodor – Vamos conversar<br />

um pouco – ele diz.<br />

Ao mesmo tempo Ana grita pela mãe. Pessoas aguardavam por Henri e o cavaleiro, mais<br />

homens fazem uma espécie de escolta ao redor de uma ponte. Nesse momento, ela lembra-se<br />

das mortes das bruxas que ouviu falar e sente que a sua se aproxima.<br />

- Observem essa mulher. Ela é jovem e bela, esse rapaz a quis tomar como esposa. No<br />

entanto, ela já havia se enrolado nos lençóis do demônio. Ela é uma bruxa – diz o cavaleiro<br />

que aponta para Henri, ele está segurando <strong>Anastácia</strong>.<br />

<strong>Anastácia</strong> implora pela compaixão de Henri, no entanto, ele parece estar surdo. Henri pega<br />

um punhal e faz um pequeno corte no pescoço de Ana, o ferimento cicatrizou rapidamente.<br />

Todos olham espantados para Ana. Outro homem a tira dos braços de Henri. Ele passa a corda<br />

em seu pescoço, nesse momento, aproxima-se dela um padre.<br />

- Você confessa todas as acusações feitas contra você, jovem – diz o padre. Ana olha para<br />

todos com ódio, era como se nada existisse nela a não ser fúria e raiva.<br />

- Quando isso acabar irei atrás de você – ela diz para Henri. O homem aperta a corda em<br />

seu pescoço e a joga da ponte.<br />

Ana não consegue puxar o ar. A corda em seu pescoço aperta sua traqueia com tanta força<br />

que ela não pode respirar. Todas as lembranças de sua vida surgem em sua cabeça, em cada<br />

suspiro, uma cena. A corda passa a descer e a mergulhar Ana na água ainda viva, ela sente seu<br />

coração parar devagar, o folego não existe, seus pulmões parecem amassados. Sem poder<br />

prender a respiração, a água entra pela sua boca, em seu último suspiro, Ana lembra-se do<br />

beijo de Ian. Tudo para ela fica escuro. Henri fica olhando o corpo de Ana.<br />

No último suspiro de vida de Ana, Ian sente uma dor muito forte no coração. Teodor<br />

percebe seus poderes voltando completamente.<br />

- Acho que a garota acabou de morrer – diz – sinto muito ter tirado a vida de sua amada<br />

novamente. Quem sabe na próxima vida dela vocês possam ficar juntos.<br />

Ian descobre que sua esposa foi morta por Teodor e tenta de todo o jeito se livrar do feitiço<br />

para mata-lo e não consegue.<br />

78


<strong>Anastácia</strong><br />

- Confesso que a ideia brilhante de usar o feitiço de imortalidade foi ideia de meu irmão. Só<br />

que ele nunca foi mais esperto do que eu – conta – me passei por ele várias e várias vezes sem<br />

que as pessoas não se dessem conta.<br />

- Por quê? – pergunta Ian.<br />

- Porque não era só o meu irmão que queria governar sozinho. Sabe nascemos no mesmo<br />

dia, fomos criados ao mesmo tempo, somos iguais não só na aparência, mas também em níveis<br />

de ambição. No entanto, eu sempre o invejei. Baltazar era bom, forte, todas as moças sonhavam<br />

em ser esposa dele, até a minha esposa desejou. Nosso pai estava velho demais e decidiu passar<br />

a liderança de nossa aldeia para eu e ele governarmos juntos. Claro que não queríamos isso.<br />

Baltazar saiu na frente e criou um feitiço que ampliava todas as suas capacidades, ele usou o<br />

sangue de uma camponesa para selar a magia. Quando ele bebeu a poção e se tornou imortal,<br />

eu também me tornei. Tínhamos uma ligação muito grande por sermos irmãos e uma mais<br />

forte ainda por sermos iguais. Nossa irmã mais nova, Ayla, também sentiu a mesma coisa<br />

naquela noite, infelizmente o feitiço não funcionou nela. Sabendo que minha irmãzinha iria<br />

intervir nos planos de Baltazar, eu fingi não querer ser imortal e a ajudei. Ela amaldiçoou meu<br />

irmão para viver para sempre na escuridão, eu também não pude sair ao sol por dias. Eu era o<br />

mocinho, dai ela deu um jeito de fazer com que eu pudesse andar livremente durante o dia –<br />

ele diz, mostrando o colar com uma grande pedra vermelha no pescoço – ela utilizou o caule<br />

da arvore de nossa família para criar essa pedra que suga a luz do sol, impedindo ela de me<br />

afetar. A última foi brilhante: ela queimou o sinal de meu irmão para que todos pudessem ver<br />

que ele usou magia proibida. Finalmente, eu não iria ser confundido com ele, em seguida, Ayla<br />

tirou os poderes dele o aprisionando naquela cripta. Ela tentou tirar a imortalidade de mim e<br />

eu a matei. O que não sabia era que a morte dela me traria consequências – fala.<br />

Ian vê Marcel rondando a cabana e continua a conversa para despistar Teodor.<br />

- Que consequências? – pergunta.<br />

- Ela previu o que eu faria e usou a morte dela para selar todos os feitiços que ela tinha<br />

feito com meu irmão e em mim. Meus poderes se foram e minha esposa perdeu nosso filho que<br />

estava em seu ventre. Nunca mais pude ter filhos, minha irmã me deixou infértil. Procurei o<br />

filho dela para mata-lo, mas nosso povo havia sumido junto com o menino. Eles usam magia<br />

para impedir que eu os rastreie, quando eu os acho, eles se mudam. Foi assim por séculos até<br />

que um dia um príncipe destemido procurou por meu irmão naquela cripta. Baltazar queria<br />

transforma-lo para poder se libertar. Meu irmão queria me matar e assumi seu lugar como<br />

79


<strong>Anastácia</strong><br />

líder de nosso povo, acabando com as mudanças deles. Não podia deixar isso acontecer! Me<br />

passei por seu amigo Ian. Contei-lhe a pior parte da história, a minha versão e você acreditou.<br />

Eu também enchi as mentes de seu povo para que acreditassem que você tinha unido forças<br />

com o demônio – ele conta rindo – procurei seu inimigo e fiz a ele a proposta de te matar.<br />

Enquanto Lazar arrancava sua cabeça, eu me alimentava de sua descendência. Você morreu<br />

alguns minutos antes do feitiço acabar, um erro meu de calculo! Alguns dias depois de sua<br />

morte, sua alma acordou na terra, a imortalidade lhe deu uma nova vida e meu irmão pode<br />

sair daquela cripta. Tive que me passar por bonzinho novamente e lhe oferecer a chance de<br />

vingar sua família – conta. Ian se enfurece ainda mais por não conseguir atacar Teodor.<br />

Marcel tenta entrar na casa e também não consegue.<br />

- Agradeço você por empalar meu irmão. Nunca pensei que a madeira faria tanto efeito<br />

assim. Meu irmão morreu rapidamente assim que a estaca atingiu seu coração, não somos<br />

imunes a Dracaena. Minha irmã utilizou a madeira dela para criar a fraqueza para<br />

imortalidade. Depois que você enfiou a estaca em meu irmão matando ele, eu queimei a única<br />

arvore que podia me matar, aquela que usei para enterrar o corpo de Ayla. Mesmo depois de<br />

tanto esforço, você não foi criação minha, meus poderes não voltaram. Seu povo se espalhou<br />

pela região e junto com eles a historia que eu contei. Ninguém queria se aliar ao demônio para<br />

viver para sempre e você se trancou nas paredes daquele castelo, sendo o fantasma que<br />

deveria ter se tornado quando morreu. Por 160 anos achei que tinha-me autocondenado. Mas<br />

nem tudo está perdido! Escobar lhe procurou pedindo ajuda, sabia que você seria estupido o<br />

suficiente para ajudar. Quando Escobar se afastou das suas terras, eu bati na cabeça dele e<br />

coloquei na bolsa dele uma outra garrafa com meu sangue. Não sabia se tinha dado certo até a<br />

criança soltar seu primeiro choro, senti-me mais forte, mesmo assim, meus poderes não<br />

voltaram completamente. Persegui a menina nos seus sonhos e até ajudei Miranda a dopar a<br />

pobrezinha para enfraquecer os poderes dela, tinha que manter minha imagem de bom<br />

homem. Como previsto, o elixir das ervas não enfraqueceu a menina que continuou a se<br />

transformar conforme crescia. O último estágio para completar a transformação era a morte<br />

dela... Seu corpo deve estar afundando em algum lago por aí – ele fala. Marcel corre<br />

desesperado para encontrar a filha e salvá-la.<br />

Ian é jogado no chão por Teodor: Você pode me dizer o que meu irmão fez com você<br />

aquela noite? – pergunta.<br />

- Como assim? – diz Ian se arrastando no chão. Teodor o vira.<br />

80


<strong>Anastácia</strong><br />

- Você anda no sol sem proteção, não tem alergia à madeira e nem sede por sangue. Quer<br />

dizer, até bebe sangue, mas não é dependente dele. O que meu irmão fez para acabar com<br />

isso? – pergunta Teodor novamente.<br />

- Vai pro inferno! – exclama Ian. Teodor o olha indignado.<br />

- Pena! Parece que vou ter que descobrir sozinho – ele diz, enfiando uma estaca no coração<br />

de Ian, empalando-o. O príncipe morre.<br />

Marcel corta a corda e deixa Ana afundar. Enquanto Ana chega ao fundo do lago, suas<br />

memórias ressurgem, ela enxerga uma luz forte a chamando, ela sente seu corpo leve, a corda<br />

seu pescoço afrouxando-se, o ar volta.<br />

- Ana, acorda! – soa voz de Miranda.<br />

Ana abre os olhos e se vê embaixo d’água, ele começa a nadar desesperadamente para a<br />

superfície. Quando ela alcança a terra, puxa o ar com toda a força. Ela sai da água, na margem<br />

do rio, ela passa a mão em seu pescoço se perguntando como sobreviveu ainda atordoada olha<br />

ao seu redor e vê a ponte. Está escuro, suas memórias voltam como um turbilhão em sua<br />

cabeça, sem se dar conta da presença de Marcel, ela lembra-se de Miranda e corre para o<br />

chalé.<br />

Ao chegar à cabana, ela vê o corpo de Miranda queimado na arvore, se desespera e chora a<br />

morte da mãe. Ela ouve um barulho dentro do chalé e vai verificar. Encontra Henri destruindo<br />

tudo, ele está bêbado e prestes a incendiar a casa quando vê <strong>Anastácia</strong> toda suja de lama e<br />

molhada bem na sua frente.<br />

- Você está morta. Eu a vi morrer - ele diz. Ana está furiosa, ela aproxima-se dele<br />

lentamente, está cansada, seu estomago ruge faminto. Ana nunca sentiu uma fome tão<br />

devastadora, seus olhos miram no pescoço de Henri, Ana consegue ver a veia pulsar.<br />

- Você me traiu, eu era sua amiga – ela grita. Nesse momento os olhos dela ficam<br />

vermelhos. Henri teme por sua vida e pede para Ana se acalmar.<br />

- Você deixou minha mãe morrer, observou meu corpo cair para o fundo do lago!!!! – ela<br />

se aproxima mais de Henri.<br />

- Você não é uma bruxa! - diz Henri. Ele quebra a cadeira e envia uma das pernas no<br />

coração de Ana e sai correndo.<br />

81


<strong>Anastácia</strong><br />

Ana sente uma enorme dor que aumenta ainda mais o desejo de vingança, ela puxa a<br />

madeira do corpo dela e vai atrás de Henri. Ele mal saiu da casa quando Ana surge na frente<br />

dele.<br />

- O quê! Como? - ele pergunta assustado.<br />

- Você errou! – ela diz, arreganhando seus caninos para fora. Sem pensar duas vezes, ela<br />

rasga o pescoço de Henri com seus dentes, o sangue dele jorra em sua boca como um jato, Ana<br />

suga todo o sangue, o coração de Henri para de bater, ela joga o corpo no chão.<br />

Ana sente a fome passar, seu corpo mais forte e disposto. Quando percebe que matou Henri,<br />

desespera-se com o impulso que teve.<br />

- Meu Deus, o que fiz?! – ela diz.<br />

- Não se preocupe criança, irei ajuda-la – soa a voz atrás dela. Ela vira-se e vê Teodor,<br />

vestindo uma longa capa preta como o homem que ela sonhava.<br />

- VOCÊ! Não era Ian que via nos meus sonhos, era você, você fez isso comigo! – ela fala<br />

enquanto foge dele.<br />

- Digamos que foi fácil trocar as garrafas de sangue aquela noite – diz Teodor que<br />

rapidamente se aproxima de Ana e a pega no pescoço. Ele enfia sua mão no peito de Ana, ela o<br />

sente alcançar seu coração. <strong>Anastácia</strong> fecha os olhos, quando tudo parece estar perdido, ela<br />

ouve o coração de Teodor parar de bater e mão dele solta de seu pescoço. Ela abre os olhos, Ian<br />

está na frente dela com o coração dele nas mãos.<br />

Os dois se abraçam forte, <strong>Anastácia</strong> se sente aliviada por Ian ainda está vivo e ele se sente<br />

tranquilo ao saber que não existe ligação de sangue que provoque o que ambos sentem.<br />

- Pensei que estava morto – ela diz.<br />

- Por um momento estava, mas alguém voltou para me ajudar – responde Ian. Ana olha e<br />

encontra Jonathan sendo amparado por Marcel ao longe. Ele segura uma estaca de madeira<br />

nas mãos.<br />

- Feliz Aniversário! – exclama Ian lembrando-se da data. Ana sorri ao mesmo tempo que<br />

chora.<br />

Jonathan vai ao encontro dos dois, quando seu pulso começa a queimar. Aparece em sua<br />

pele, o desenho do pentagrama formando-se.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Julho de 1593<br />

83


<strong>Anastácia</strong><br />

Julho de 1593<br />

Depois de alguns meses, <strong>Anastácia</strong> tem se recuperado da tragédia que<br />

abateu sobre ela. Marcel está se aproximando, quem sabe com a amizade não<br />

venha os laços de pai e filha.<br />

Jonathan já pode provocar fogo com a mente, semana passada, ele<br />

incendiou uma aldeia que passamos. <strong>Anastácia</strong> também está oscilando os<br />

poderes, os dois não possuem controle sobre as emoções. Por isso os tirei do reino,<br />

eles precisam de treino para viver a nova realidade de cada um. Marcel propôsse<br />

a ajudar-me...<br />

<strong>Anastácia</strong> acorda com os solavancos do coche.<br />

- O que está fazendo? – pergunta <strong>Anastácia</strong>.<br />

- Escrevendo minhas memorias. Você sabe escrever? – ele pergunta. <strong>Anastácia</strong> com a<br />

cabeça responde que não.<br />

- Meu pai achava desnecessário para mim – ela diz.<br />

- Eu não acho – diz Ian – é a primeira coisa que aprenderá quando chegarmos.<br />

Marcel e Jonathan acordam. Jonathan olha para a janela e estranha o local.<br />

- Onde estamos? – pergunta.<br />

- Em casa – diz Ian.<br />

Os três olham para o castelo no topo dos montes.<br />

Continua...<br />

84


<strong>Anastácia</strong><br />

Sobre os<br />

personagens<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Sobre os personagens<br />

<strong>Anastácia</strong>:<br />

Jovem garota de 18 anos, corpo pequeno, porém, com curvas delicadas e femininas, estas<br />

curvas a tornam uma mulher feita com tão pouca idade. Seus cabelos são negros, ao sol,<br />

criam-se algumas mechas avermelhadas, o mesmo acontece com seus olhos de cor castanhos<br />

escuros ao serem expostos à luz, o marrom fica evidente, quando está nervosa, seus olhos<br />

ficam vermelhos como o sangue.<br />

Ela é geniosa e muito determinada, ousada demais para época, romântica sonha com o dia que<br />

encontrara alguém que possa aceita-la como é. Ela gosta de ficar sozinha e caminhar por entre<br />

a mata que cresce ao redor de sua casa, gosta de ver o nascer e o pôr do sol de cima de um<br />

velho Carvalho na frente de sua casa. Quando se sente triste, ela entra na mata e caminha até<br />

um riacho com uma pequena cachoeira, a agua escorre pelas pedras fazendo um barulho que<br />

a acalma.<br />

Desde pequena, se sentia ligada a alguém que não conhecia, ela sempre acreditou ser seu<br />

verdadeiro amor.<br />

A menina esconde um segredo sobre sua origem: ela é filha bastarda de uma princesa e um<br />

cavaleiro do reino de seu noivo. Acreditava-se que seu pai, havia sido morto pelo noivo da sua<br />

mãe, fato desmentido, o homem fugiu antes que morresse e foi atrás da filha. Além disso,<br />

<strong>Anastácia</strong> é hibrida, uma mistura de humano e vampiro.<br />

As transformações ocorridas no corpo dela era mantido em segredo. <strong>Anastácia</strong> só as<br />

confidenciava para Alexi. A menina cresceu tendo pesadelos com um homem de capa negra,<br />

porém, ela o via como uma sombra sem conseguir definir seu rosto. Junto aos seus sonhos, ela<br />

se sentia sempre diferente, a isolando das demais garotas da aldeia, ela gostava de ficar<br />

sozinha.<br />

Os poderes dados pelo vampirismo cresceram junto com a menina, conforme ela crescia, seu<br />

corpo se formava, a cada mudança esses poderes ficavam mais fortes. Ela só percebeu algo<br />

estranho nela quando se feriu e o corte cicatrizou instantaneamente.<br />

Ian:<br />

Homem alto e forte, aproximadamente 30 anos de idade, foi recebido por Gheorge após ser<br />

encontrado desmaiado e debilitado na mata. Ele perdeu sua esposa e filho durante sua fuga<br />

para as terras de Gheorge.<br />

86


<strong>Anastácia</strong><br />

Mesmo sendo quase 20 anos mais velho que <strong>Anastácia</strong>, ele se apaixona pela menina assim que<br />

a vê. Sua racionalidade não permite se aproximar dela nos primeiros dias que se estabeleceu<br />

nas terras, ele a enxerga muito menina para ele e tem medo de sua reação ao descobrir a<br />

verdade sobre ele.<br />

Ian morreu em 1461 em seu castelo nos montes Bihor, região dos Cárpatos (ou Cárpati), na<br />

Romênia. Ele era rei daquela região e lutava pela independência de toda a nação dos povos<br />

conquistadores vindos do oriente. Ao perceber sua derrota, ele buscou ajuda nas antigas lendas<br />

de seu povo. Nessas lendas, contava a história de um ser imortal que estava aprisionado em<br />

uma tumba, esperando a chance de se libertar e conquistar o mundo.<br />

Ele encontrou a tumba e o ser imortal de nome Baltazar, bruxo poderoso, prometeu ajudar Ian<br />

a derrotar seu inimigo e conquistar a paz, ele criou um feitiço que deu a Ian a ampliação de<br />

toda sua força, agilidade, rapidez, reflexo, etc. O feitiço foi aliado à vida de um dos inimigos de<br />

Ian, empalado, o rapaz sangraria até morrer durante três dias, tempo que Ian teria para<br />

utilizar seus poderes e acabar com a guerra sem se tornar imortal a não ser que fosse morto<br />

antes do prazo acabar.<br />

O rei inimigo, Lazar, aproveitou-se do medo do povo de Bihor, que acreditava que seu rei<br />

havia se aliado ao demônio para obter tais poderes, invadiu o castelo e matou Ian enquanto ele<br />

dormia alguns minutos antes de perder os poderes. Ian voltou à vida como um ser imortal e<br />

vingou a morte de sua esposa e filho pequeno, mortos por Baltazar depois de ter sido libertado.<br />

Com a ajuda do irmão gêmeo de Baltazar, Teodor, Ian matou o bruxo e trancou seu corpo de<br />

volta na tumba. Desde então, ele vaga sozinho no mundo amargurado. Cento e treze anos<br />

depois de sua transformação, um rei de terras distantes o procurou pedindo ajuda para salvar<br />

a vida de sua filha. Ian o ajudou, entregando seu sangue, sem saber que a menina estava<br />

grávida. Quando descobriu, saiu pela primeira vez de seu castelo e acompanhou ao longe o<br />

crescimento de <strong>Anastácia</strong>, até a origem da criança ser descoberta por Teodor que mandou Ian<br />

mata-la, ele não pode fazer isso, pois já estava apaixonado.<br />

Ian tem olhos e cabelos escuros e pele clara, seu cabelo, de comprimento médio, é penteado<br />

para trás da orelha.<br />

Marcel:<br />

Cavaleiro do reino de Sárvar, pai de <strong>Anastácia</strong>. Ele se aliou ao príncipe vampiro para<br />

encontrar e proteger sua filha. No final do livro, ele morre com o sangue do príncipe no<br />

organismo.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Ele é um homem aparentemente de 40 anos, alto e forte, olhos castanhos escuros, como os de<br />

<strong>Anastácia</strong>, cabelos negros e com comprimento até a ponta da orelha, ele normalmente usa-o<br />

solto sem nenhum penteado.<br />

Lisa:<br />

Princesa de Cachtice, mãe verdadeira de <strong>Anastácia</strong>. A gravidez dela era difícil, mãe e filha<br />

poderiam morrer seu pai, o rei Escobar, buscou ajuda nas terras inóspitas de Bihor, onde diz a<br />

lenda antiga do local, vive um ser imortal, o príncipe do antigo reino. A lenda também conta<br />

que o sangue dessa criatura tem o poder de curar doenças e enfermos. O rei sabendo disso<br />

procurou o príncipe que lhe deu seu sangue. Lisa tomou por alguns meses, o sangue do<br />

príncipe foi compartilhado com <strong>Anastácia</strong> ainda dentro do ventre da mãe. Quando a menina<br />

nasceu, ela possuía as duas espécies no organismo.<br />

Miranda:<br />

Mãe de criação de <strong>Anastácia</strong> foi dama de companhia de Lisa e a ajudou no parto. Tem origens<br />

do antigo povo Rom, seus pais eram bruxos, foram mortos quando ela tinha 16 anos. Miranda<br />

desenvolveu os poderes quando tinha 14 anos, se tornando uma bruxa.<br />

Ela aceitou moedas de ouro de Escobar para cuidar de <strong>Anastácia</strong> depois do nascimento. Fugiu<br />

do reino no mesmo dia que a menina nasceu.<br />

Gheorge:<br />

Pai de criação de <strong>Anastácia</strong>. Ele encontrou Amélia vagando sozinha com <strong>Anastácia</strong> nos braços<br />

e resolveu toma-la como esposa. Tinha acabado de perder sua mulher e precisava de uma<br />

nova mãe para seu filho Daniel.<br />

Fazendeiro se tornou senhor de uma vila próxima a suas terras. Ele gostava de respeitar as<br />

regras e costumes que fora criado, dando a mesma criação a seus filhos.<br />

Sua fé não permite aceitar os poderes da esposa e a origem de <strong>Anastácia</strong>, ele pega seu filho<br />

Matias e decide sair do casebre.<br />

Andrew:<br />

Filho de Gheorge e irmão de criação de <strong>Anastácia</strong>. Casou-se quando tinha 18 anos, sempre<br />

muito conservador, herdou essa característica do pai. Nunca aceitou o fato de chamar<br />

Miranda de mãe e de <strong>Anastácia</strong> ser tão geniosa e possuir mais liberdade do que outras moças<br />

da época. Na verdade, ele não aceita o fato de ter Miranda e <strong>Anastácia</strong> como parte da família.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

Alexi:<br />

Esposa de Daniel casou-se com 15 anos. Menina bela de olhos azuis e cabelos claros se tornou<br />

grande amiga de <strong>Anastácia</strong> e guardou os segredos sobre a transformação da garota. Ela teve<br />

um filho com Daniel, chamado Ivan.<br />

Henri:<br />

Irmão mais novo de Alexi foi o melhor amigo de <strong>Anastácia</strong> e posteriormente morto pela<br />

garota. O rapaz sempre foi apaixonado pela menina, mas nunca se declarou, pois sabia que<br />

<strong>Anastácia</strong> não o correspondia, ele afogava essa magoa na bebida, por isso, quase sempre estava<br />

bêbado. Ele partiu com sua irmã e cunhado das terras de Gheorge após um terrível ataque<br />

noturno de lobos, que matou seu pai. Durante o trajeto, ele percebeu que havia perdido<br />

<strong>Anastácia</strong> para sempre. Dando a desculpa de que queria recomeçar sozinho, ele se despediu de<br />

Alexi e voltou para trás. Sua ira o levou a entrega-la para os cavaleiros que faziam a caçada às<br />

bruxas. Foi responsável pela morte de Amélia e a transformação de <strong>Anastácia</strong>.<br />

Edgar:<br />

Pai de Alexi e Henri, foi o primeiro a pedir abrigo nas terras de Gheorge, isso aconteceu<br />

quando <strong>Anastácia</strong> tinha 12 anos. Depois dele, várias outras pessoas surgiram buscando ajuda,<br />

aumentando o povoado, Ele se uniu a Gheorge e ajudou a controlar as terras após o casamento<br />

da filha dele com Daniel. Edgar morreu em um ataque feroz de lobos.<br />

Jonathan:<br />

Meio irmão de Andrew. Ele é filho de Miranda e Gheorge, um ano mais novo que <strong>Anastácia</strong>,<br />

cresceu brincando com a menina. Ele sempre se importou com ela e lhe dava toda a atenção<br />

possível. Quando descobriu a verdade sobre <strong>Anastácia</strong>, ele ficou tão perplexo quanto os outros.<br />

Partiu junto com seu pai, deixando sua mãe e “irmã” sozinhas.<br />

Ele enxerga fumaça vinda do casebre e decida voltar para ajuda-las. Após a morte de Miranda<br />

e Teodor, ele desenvolveu o sinal do pentagrama em seu pulso, indicando que é um novo<br />

bruxo.<br />

Baltazar:<br />

Bruxo poderoso, habitou as regiões montanhosas dos Cárpatos no ano 100 d.c. junto de seu<br />

irmão gêmeo Teodor e sua irmã Ayla. Seu pai era líder de um povo conhecido como Romis, o<br />

primeiro povo a habitar aquelas regiões.<br />

Ele e seu irmão governaram junto seu povo após a aposentadoria de seu pai. Durante dez anos,<br />

os dois irmãos brigaram pelo trono em busca de governarem sozinho. Ambicioso, Baltazar<br />

89


<strong>Anastácia</strong><br />

sonhava com o dia que ele governaria não somente os Cárpatos, mas o mundo. Ele utilizou<br />

uma antiga magia proibida de seu povo para criar a imortalidade.<br />

Baltazar se auto enfeitiçou imortal. Ao descobrirem, Teodor e Ayla uniram forças para acabar<br />

com as maldades do irmão. Eles usaram magia contra magia, aprisionando Baltazar em uma<br />

tumba onde ele ficou séculos esperando por alguém que o libertasse.<br />

Quando Ian o encontrou, Baltazar usava um gibão negro com calças de mesma cor. Seu<br />

cabelos eram lisos e negros, bem longos, batendo no meio de suas costas. Pele morena e olhos<br />

pretos, ele possuía anéis de prata por quase todos os dedos da mão. Um anel em especial<br />

chamou a atenção de Ian, ele continha a imagem de um dragão desenhada de boca aberta, da<br />

boca do animal, ao invés de sair chamas, tinha uma pequena pedra vermelha lapidada.<br />

Quando Ian matou Baltazar, ele pegou esse anel como troféu.<br />

Teodor:<br />

Irmão gêmeo idêntico a Baltazar, por terem sido gerados ao mesmo tempo, a ligação de sangue<br />

entre os dois era mais forte. Teodor foi atingido pelo feitiço da imortalidade na mesma noite<br />

em que Baltazar fez.<br />

Mais ambicioso esperto do que o irmão, Teodor convenceu sua irmã mais nova Ayla de que ele<br />

não queria ser imortal, voltando à atenção dela para Baltazar. Enquanto ela fazia feitiços para<br />

enfraquecer o irmão, ele usava seus poderes que não lhe foi retirado para criar saídas para seu<br />

próprio beneficio. Depois de prender Baltazar, Ayla teve seu coração arrancado por Teodor.<br />

Sua morte foi utilizada para selar a magia que impedia Teodor de encontrar seu sobrinho e lhe<br />

tirou seus poderes, além da infertilidade conseguida com a morte da irmã. Teodor não poderia<br />

ter filhos e sem poderes, não conseguia fazer feitiços para reverter esse quadro.<br />

Enquanto seu irmão permanecia preso, ele passou os anos caçando e matando os descendentes<br />

de sua irmã, ele convenceu a igreja de que a magia praticada era impura e demoníaca, dando<br />

origem a morte de milhares de pessoas inocentes, apenas por vingança.<br />

Ele convenceu Lazar a matar Ian, porém, ele não calculou bem o fim do feitiço e transformo-o<br />

sem querer, libertando seu irmão. Para aprisionar Baltazar novamente, ele se passou pelo<br />

irmão e matou a esposa e o filho de Ian, convencendo o jovem rei de que Baltazar era um<br />

monstro.<br />

Ian por ódio e raiva, enfiou uma estaca no coração de Baltazar, deixando seu corpo inerte e<br />

mandando sua alma para o Umbrau, prisão espiritual criada por Ayla a fim de castigar seus<br />

dois irmãos pelo mal que fizeram.<br />

90


<strong>Anastácia</strong><br />

Ele prendeu Baltazar de novo na tumba para que ninguém retirasse a estaca de seu peito,<br />

acordando o bruxo.<br />

Ayla:<br />

Irmã mais nova de Teodor e Baltazar. Ela usou seus poderes para enfraquecer seus irmãos e<br />

derrota-los, infelizmente Teodor a enganou. A imortalidade de principio, não trazia alergia ao<br />

sol e a estacas de madeira, Ayla fez cada um desses feitiços na tentativa de acabar com as<br />

maldades de Baltazar.<br />

Todos os filhos descendentes da magia possuem o sinal do pentagrama no corpo, esse sinal<br />

aparece em forma de tatuagem durante a adolescência. Os três possuíam a estrela nas mãos<br />

direitas de cada um. O símbolo representa a magia pura, os elementos da terra e a luz do<br />

espirito.<br />

Quando Baltazar selou a magia da imortalidade, ele utilizou o sangue de uma serva dele,<br />

entregando sua imortalidade à morte de outra pessoa, passando a ter sede de sangue todas as<br />

noites. Para controlar as mortes de seu irmão, Ayla conseguiu aprisionar essa sede em uma lua<br />

cheia no mês, a partir dai, a lua passou a ficar vermelha. Somente nas Luas de Sangue, Baltazar<br />

e Teodor sentiam a sede mais feroz e matavam compulsivamente.<br />

Para mostrar a todos o assassinato cometido por Baltazar para se tornar imortal, Ayla retirou<br />

da mão dele o sinal do pentagrama, deixando em seu lugar apenas a cicatriz de uma<br />

queimadura. Além disso, ela condenou seu irmão a andar livremente apenas pela escuridão,<br />

tornando a luz sua fraqueza. Ao sol, a pele de Baltazar queimava.<br />

Essa magia abateu sobre Teodor, que fez Ayla utilizar o caule vermelho de uma antiga árvore<br />

de sua família para criar uma pedra que inibia a ação do sol nele.<br />

O corpo de Ayla foi enterrado embaixo da árvore de caule vermelho, o sangue de seu corpo<br />

atingiu a raiz da arvore, deixando naquela madeira a arma definitiva para matar seus irmãos.<br />

Teodor utilizou a única estaca dessa madeira para ajudar Ian a matar seu irmão, depois disso,<br />

ele a queimou, acabando com a única coisa que o mataria.<br />

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<strong>Anastácia</strong><br />

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