Anorexia nervosa na terceira idade - Saúde Mental
Anorexia nervosa na terceira idade - Saúde Mental
Anorexia nervosa na terceira idade - Saúde Mental
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Revisões<br />
<strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong><br />
<strong>na</strong> <strong>terceira</strong> <strong>idade</strong><br />
A. Wills e S. Olivieri<br />
Department of Old<br />
Age Psychiatry, Royal<br />
Hampshire County<br />
Hospital, Winchester,<br />
UK<br />
Aging & <strong>Mental</strong> Health<br />
(1998); 2 (3): 239-245<br />
Carfax Publishing,<br />
Taylor and Francis Ltd<br />
Resumo<br />
A anorexia <strong>nervosa</strong> ocorre em todas as faixas etárias,<br />
da adolescência à <strong>terceira</strong> <strong>idade</strong>. São descritos seis<br />
casos que se apresentaram num serviço de psiquiatria<br />
geriátrica durante um período superior a 10 anos.<br />
Estes casos ilustram de que forma os efeitos do<br />
envelhecimento modificam o quadro clínico, não<br />
alterando, contudo, o problema fundamental do baixo<br />
peso corporal auto-imposto. Uma maior compreensão<br />
para com os idosos e mais <strong>na</strong>rrativas sobre a ocorrência<br />
da doença <strong>na</strong> <strong>terceira</strong> <strong>idade</strong> podem dar um largo<br />
contributo para a sua compreensão como um todo.<br />
Introdução<br />
Apesar dos critérios ICD-10 para o diagnóstico da<br />
anorexia <strong>nervosa</strong> (AN) excluírem explicitamente a ideia<br />
segundo a qual a doença poderá ter o seu início após a<br />
menopausa, a anorexia <strong>nervosa</strong> foi claramente reconhecida<br />
em mulheres com mais de 40 anos (WHO, 1992). O<br />
DSM-IV considera que o início desta perturbação<br />
raramente ocorre em mulheres com mais de 40 anos<br />
(APA, 1994). Na real<strong>idade</strong>, a AN tem sido identificada em<br />
todas as faixas etárias (Joughin et al., 1991; Price et al.,<br />
1985), incluindo em homens. Descrições anteriores de<br />
AN encontraram algum cepticismo, mas em 1939 Carrier<br />
introduziu o conceito de ‘anorexia tardia’ que foi usado<br />
por Dally, descrevendo um vasto grupo de mulheres,<br />
algumas das quais desenvolveram AN após a menopausa.<br />
História do conceito<br />
A evidência histórica para a classificação da AN foi<br />
recentemente revista por Parry Jones e Parry Jones<br />
(1994) e por Russell (1995). Parry Jones e Parry Jones<br />
manifestaram a sua preocupação com a rígida fixação<br />
à classificação diagnóstica desta perturbação<br />
determi<strong>na</strong>da no ICD e no DSM. Relativamente à falta<br />
de evidência para a distorção da imagem corporal,<br />
casos clínicos ocorridos até 1939 sugerem que “devemos<br />
ser cautelosos quanto à sobrevalorização da importância<br />
do diagnóstico de um traço individual ... que se pode<br />
revelar ser de relativa pouca duração, em termos<br />
históricos”. Um desses traços pode ser, seguramente, a<br />
<strong>idade</strong>. Russell (1995) demonstrou que o conceito de AN<br />
evoluiu e modificou ao longo do tempo, tanto <strong>na</strong> sua<br />
psicopatologia, como <strong>na</strong> sua epidemiologia desde que foi<br />
origi<strong>na</strong>lmente descrita por Lasegue (1873) e Gull (1874).<br />
Russell a<strong>na</strong>lisa a relevância do factor sexo e a ‘fobia ao<br />
engordar’, mas não toma a <strong>idade</strong> em consideração. O<br />
autor assi<strong>na</strong>la que as pressões sócio-culturais podem<br />
provocar uma alteração <strong>na</strong> psicopatologia da AN e que<br />
os valores estéticos e filosóficos variam consoante as<br />
épocas, do mesmo modo que varia a apresentação clínica<br />
da AN. A <strong>idade</strong> avançada foi, durante muitas décadas,<br />
considerada um factor de exclusão para a AN. Podemos,<br />
agora, ter uma visão mais ampla.<br />
Desde as suas primeiras descrições foi, em termos<br />
gerais, aceite que a síndrome da AN ocorre<br />
caracteristicamente nos adolescentes e nos jovens,<br />
não obstante existirem relatos antigos de AN em<br />
doentes mais velhos e relatos mais recentes de AN<br />
em doentes com <strong>idade</strong>s pós-menopausicas. Gull<br />
descreveu doentes “com <strong>idade</strong>s essencialmente<br />
compreendidas entre os 16 e os 23 anos”. O autor<br />
evidenciou “ a amenorreia, o estado de i<strong>na</strong>nição lenta,<br />
o baixo ritmo cardíaco e respiratório, a perda de peso<br />
alarmante, as flutuações no humor e a assi<strong>na</strong>lável<br />
energia física e mental manifestada, apesar do lastimável<br />
estado físico geral”, afirmando que “com um tratamento<br />
firme e sensível, a saúde poderia ser restabelecida”.<br />
Em 1930, Berkman publicou uma revisão sobre 117 doentes<br />
a quem foi atribuído o diagnóstico de AN, <strong>na</strong> clínica Mayo.<br />
Destes doentes, 16 tinham <strong>idade</strong>s compreendidas entre<br />
os 30 e os 40 anos e quatro deles tinham mais de 40 anos.<br />
Dos doentes masculinos, 11 apresentavam <strong>idade</strong>s superiores<br />
a 30 anos, incluindo dois que tinham mais de 40 anos.<br />
27<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
Concluindo que a AN é uma ent<strong>idade</strong> clínica definida, Berkman não<br />
exclui nenhum doente devido à <strong>idade</strong>.<br />
Em 1936, Ryle descreveu o problema clínico da AN em 51 casos<br />
individuais, 18 dos quais apresentavam <strong>idade</strong>s superiores a 30 anos.<br />
“Pensei, contudo, incluir um grupo de mulheres mais idosas porque<br />
o quadro clínico me pareceu semelhante <strong>na</strong> sua essência e as<br />
doentes igualmente merecedoras de compreensão e tratamento<br />
adequados”. A sua doente mais idosa tinha 59 anos. Ryle acrescentou<br />
“ a verdadeira <strong>na</strong>tureza da doença não foi diagnosticada e alguns<br />
médicos manifestaram a sua preocupação por nunca terem ouvido<br />
falar da sua existência”. Embora isso já não aconteça relativamente<br />
à ocorrência de AN em sujeitos mais jovens, um diagnóstico de<br />
AN nos mais idosos é ainda encarada com algum cepticismo por<br />
alguns médicos e como Ryle afirma: “suspeitas de doença orgânica<br />
grave não são recebidas sem alguma falta de <strong>na</strong>tural<strong>idade</strong>.<br />
Actualmente, parece que, <strong>na</strong> sua essência, a posição não se alterou.<br />
Mais recentemente, Palazzoli Selvini (1974) afirma no seu livro sobre<br />
auto-i<strong>na</strong>nição: “<strong>na</strong> minha opinião, o termo ‘anorexia <strong>nervosa</strong>’ deveria<br />
ser reservado para uma síndrome especial que ocorre em raparigas <strong>na</strong><br />
fase da puberdade e da pré-puberdade”. Feighner et al. (1972) também<br />
define a AN como sendo uma doença que ocorre antes dos 25 anos.<br />
Contudo, apesar do ênfase dado à <strong>idade</strong> precoce de início da<br />
doença e do cepticismo em relação aos casos de início tardio,<br />
em 1976 Kelett et al. apresentaram o relato de um caso que<br />
consideraram representar a primeira descrição inequívoca de<br />
“AN com início após a menopausa”. Em 1979, Dally e Gomez<br />
fixaram um limite máximo de <strong>idade</strong> para a ocorrência de anorexia<br />
<strong>nervosa</strong> nos 35 anos. No entanto, em 1984, Dally reviu esta<br />
proposição, descrevendo <strong>Anorexia</strong> Tardia (AT) - a síndrome de<br />
AN que ocorre nos doentes mais velhos ou após o casamento.<br />
Russell e Gilbert (1992) confirmaram a AT como sendo uma<br />
ent<strong>idade</strong> clínica mas indicaram os seus factores precipitantes<br />
como sendo acontecimentos ligados a perdas, bem como a<br />
sintomatologia depressiva associada a esses acontecimentos.<br />
Doente Procedência Quadros clínicos<br />
Data<br />
de início<br />
História Clínica<br />
Passada<br />
Precipitadores<br />
Doença<br />
concomitante<br />
Resultado<br />
28<br />
F 74<br />
35 Kg<br />
Medici<strong>na</strong> Inter<strong>na</strong><br />
investigação da<br />
perda de peso<br />
Perda de peso<br />
Bizarrias alimentares<br />
Convicção de que tem<br />
peso excessivo<br />
26<br />
Tiroidectomia parcial<br />
AN desde os 26 anos<br />
Evitamento alimentar<br />
Problemas<br />
conjugais<br />
Nenhuma<br />
Aumento de<br />
peso até<br />
aos 42,8 Kg<br />
Faleceu com<br />
82 anos<br />
num lar<br />
F 67<br />
37,8 Kg<br />
Medici<strong>na</strong> Inter<strong>na</strong><br />
inquirição da<br />
tentativa de<br />
suicídio<br />
Perda de peso<br />
Bizarrias alimentares<br />
8<br />
Abuso sexual<br />
enquanto criança<br />
AN aos 8 anos<br />
Conflito conjugal<br />
Perturbação<br />
Depressiva Major<br />
O peso<br />
permaneceu<br />
inferior a 40 Kg<br />
ao sétimo ano de<br />
acompanhamento<br />
F 72<br />
36,6 Kg<br />
Clínica Geral<br />
Avaliação da<br />
perda de peso<br />
Perda de peso<br />
Bizarrias alimentares<br />
Convicção de que tem<br />
peso excessivo<br />
Recusa em cooperar<br />
em programas de<br />
aumento de peso<br />
72<br />
Nenhuma<br />
Conflito conjugal<br />
Aposentação<br />
AF<br />
Pneumonia<br />
Fractura do<br />
osso escafóide<br />
Peso = 37,8 Kg<br />
Faleceu em casa<br />
com enfarte do<br />
miocárdio<br />
F 84<br />
29,8 Kg<br />
Medici<strong>na</strong> Inter<strong>na</strong><br />
recusa em comer<br />
Perda de peso<br />
Bizarrias alimentares<br />
Convicção de que tem<br />
peso excessivo<br />
Recusa em comer<br />
18<br />
AN desde os<br />
18 anos<br />
Debil<strong>idade</strong><br />
Não é capaz de<br />
viver sózinha em casa<br />
Nenhuma<br />
Peso estável<br />
aos 32 Kg<br />
A viver em lar<br />
M 67<br />
44,8 Kg<br />
F 75<br />
33 Kg<br />
Clínica Geral<br />
perda de peso<br />
Encaminhamento<br />
do clínico geral<br />
Perda de peso<br />
Recusa em comer<br />
Perda de peso<br />
Preocupação com a<br />
alimentação<br />
Abuso de laxantes<br />
69<br />
67<br />
Nenhuma<br />
Nenhuma<br />
Morte da empregada (?)<br />
Mudança de residência<br />
Desarmonia conjugal<br />
Nenhuma<br />
Perturbação<br />
Depressiva Major<br />
Peso estável<br />
nos 56 Kg<br />
A viver com<br />
sobrinho e<br />
profissio<strong>na</strong>l de<br />
apoio<br />
domiciliário<br />
Três<br />
inter<strong>na</strong>mentos<br />
hospitalares em<br />
seis anos<br />
vive com o<br />
marido<br />
Não conformada<br />
Quadro I. resumo dos relatos dos casos<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
Os relatos de casos de AN mais recentes em doentes mais velhos<br />
foram revistos por Cosford e Arnold (1992): 5 doentes apresentando<br />
AN pela primeira vez, em <strong>idade</strong>s compreendidas entre os 54 e os 70<br />
anos e 6 doentes apresentando início precoce de AN que persistiu<br />
até às <strong>idade</strong>s compreendidas entre os 60 e os 80 anos. Além disso,<br />
Riemann et al. (1993) fizeram, recentemente, o relato de um caso de<br />
um homem de 72 anos e Hall e Driscoll (1993), o relato de duas<br />
mulheres com 61 e 64 anos que apresentavam sintomas de AN.<br />
Assim, a AN foi historicamente descrita <strong>na</strong> literatura em doentes<br />
idosos e fora dos critérios de <strong>idade</strong> que figuram <strong>na</strong>s classificações de<br />
diagnóstico moder<strong>na</strong>s . Apesar de tanto o ICD-10 como o DSM-IV<br />
já não excluírem a <strong>idade</strong> da pós-menopausa do diagnóstico de AN,<br />
esta doença, ao contrário de outras perturbações do foro psiquiátrico,<br />
não é amplamente aceite como uma doença sem <strong>idade</strong> específica.<br />
Descrevemos seis casos de pessoas idosas (cinco mulheres e um<br />
homem) que sofrem de anorexia <strong>nervosa</strong> que foram encaminhados<br />
para os serviços públicos de saúde durante um período superior a<br />
10 anos e discutimos as implicações para o diagnóstico, orientação<br />
e cuidados destes doentes. Os casos estão resumidos no Quadro I.<br />
Relatos de casos<br />
A Sra. G (74 anos)<br />
A Sra. G foi encaminhada para o serviço de psiquiatria geriátrica<br />
da sua área de residência pela equipa médica hospitalar que estudava<br />
a sua perda de peso e, possivelmente, alguma massa abdomi<strong>na</strong>l. Foi<br />
submetida a extensivos exames cujos resultados foram negativos.<br />
Pesava 35 Kg (estatura = 1,66m). O único acontecimento com<br />
interesse <strong>na</strong> sua história clínica passada foi o facto de ter sido<br />
submetida a uma tiroidectomia parcial há trinta anos para remover<br />
um nódulo benigno, da qual recuperou completamente. Não foi<br />
necessária nenhuma terapia de substituição. O encaminhamento<br />
foi induzido pelo seu comportamento que se centrava em torno<br />
dos seus hábitos alimentares invulgares. Só aceitava comer uma<br />
ba<strong>na</strong><strong>na</strong> e, ocasio<strong>na</strong>lmente, tomar uma cháve<strong>na</strong> de chá, alegando<br />
que qualquer outro alimento a enjoava. Estava persuadida a cooperar<br />
num programa de aumento de peso e o seu peso chegou,<br />
gradualmente, aos 42,8 Kg durante um período superior a um<br />
mês. Nessa altura, recusou cooperar durante mais tempo no<br />
programa, retomou os seus hábitos alimentares anteriores e<br />
começou, novamente, a perder peso - daí, o seu encaminhamento<br />
para o especialista em psiquiatria geriátrica.<br />
O exame psiquiátrico revelou uma mulher normal em termos<br />
cognitivos e afectivos, mas cuja atitude em relação à comida e à<br />
imagem corporal eram característicos de uma pessoa anoréctica:<br />
fobia ao engordar e evitamento de alimentos associados a uma<br />
grande convicção de ser excessivamente gorda. O seu resultado<br />
<strong>na</strong> Escala de Depressão Geriátrica (EDG) foi de 7. Descobriu-se<br />
que a Sra. G foi, de facto, anoréctica a partir dos 26 anos,<br />
imediatamente após ter casado com um oficial britânico colocado,<br />
nessa altura, <strong>na</strong> sua Austrália <strong>na</strong>tal. O casal mudou-se, então, para<br />
Inglaterra, uma mudança que em pouco tempo considerou ser<br />
intolerável. A sua atitude em relação às relações sexuais era de<br />
repugnância e não foi capaz de lidar com as exigências sociais<br />
impostas a uma esposa de um oficial. O seu evitamento assumiu a<br />
forma de anorexia <strong>nervosa</strong>. A Sra. G começou a ser consultada por<br />
um vasto leque de diferentes especialistas, apresentando uma<br />
variedade de queixas somáticas e apesar de pelo menos uma vez<br />
ter sido correctamente diagnosticada, esse diagnóstico foi rejeitado<br />
tanto por ela como pelo seu marido. Assim, continuou a ser consultada<br />
por médicos, submetida a exames e a diferentes medicações sem<br />
qualquer alteração no seu comportamento ou hábitos alimentares.<br />
O seu peso oscilou entre os 32 e os 45 Kg durante a história da<br />
sua perturbação com mais de 48 anos. Após o falecimento do seu<br />
marido, a Sra. G mudou-se para um lar, onde faleceu aos 82 anos.<br />
Sra. H (67 anos)<br />
A Sra. H foi inter<strong>na</strong>da no hospital geral da sua área de residência,<br />
no seguimento do que se pensava ser uma tentativa de suicídio.<br />
Foi encontrada de pé no lago da sua povoação, com a água à altura<br />
das coxas, bastante despreocupada, em silêncio, contemplando<br />
abstractamente o céu. O exame do estado mental realizado <strong>na</strong><br />
altura do inter<strong>na</strong>mento foi consistente com um diagnóstico de<br />
Perturbação Depressiva Major (EDG = 19). Foi tratada em<br />
conform<strong>idade</strong> com esse diagnóstico, obteve alta do hospital, mas<br />
recebendo acompanhamento hospitalar diário. Durante esta fase<br />
de tratamento, as enfermeiras repararam que a Sra. H nunca usava<br />
roupas femini<strong>na</strong>s: apresentava-se no hospital sempre de calças,<br />
camisolas largas, sem maquilhagem, cabelo curto, despenteado.<br />
Comia muito pouco, peque<strong>na</strong>s quant<strong>idade</strong>s de comida, rejeitando<br />
sempre, com repugnância, a oferta de qualquer doce. Pesava 37,8<br />
Kg (estatura = 1,56 m). O seu humor era, inicialmente, o de uma<br />
mulher tacitur<strong>na</strong>, de aspecto triste e alheado, mas que melhorou<br />
ao longo do tempo. A psicoterapia de grupo provou ser<br />
particularmente eficaz ao permitir-lhe dar-se a conhecer. Emergiu<br />
uma longa história familiar de conflito e de abuso sexual que<br />
remontava à sua infância. O seu avô governou autocraticamente<br />
a sua família, abusando das suas filhas, netas e pelo menos de uma<br />
das enteadas. A Sra. H sofreu um episódio de anorexia <strong>nervosa</strong><br />
aos 8 anos que foi detectado mas não tratado e que, aparentemente,<br />
se extinguiu espontaneamente. Ocorreu um segundo episódio<br />
29<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
30<br />
pouco tempo após o seu casamento. O conflito emergiu em torno<br />
do sua apetência e comportamento sexuais que ficaram aquém<br />
das expectativas do seu marido. A sua doença actual foi precipitada<br />
novamente por problemas conjugais, acabando por eclodir <strong>na</strong> sua<br />
subida ao lago da povoação. A Sra. H possuía uma fraca autoimagem:<br />
via-se como uma mulher feia. De facto, descrevia-se como<br />
“deformada”. O seu comportamento anoréctico persistiu mesmo<br />
após a depressão estar completamente curada. Conseguiu, no<br />
entanto, regressar à sua vida normal, mantendo-se com um peso<br />
inferior a 40 Kg durante os sete anos que foi acompanhada pelos<br />
serviços locais de psiquiatria geriátrica.<br />
Sra. I (72 anos)<br />
A Sra. I, uma vice-directora reformada, foi encaminhada pelo seu<br />
clínico geral após ter sofrido uma queda, fracturando um osso<br />
escafóide. Desenvolveu, seguidamente, fibrilação auricular e<br />
pneumonia. A sua hospitalização foi prolongada e associada a uma<br />
perda de peso de 8 Kg: de aproximadamente 44 Kg para 36,6 Kg.<br />
Após a recuperação, a Sra. I recusou-se a cooperar em qualquer<br />
programa de aumento de peso, alegando que ainda se encontrava<br />
demasiado gorda. Tendia a comer ape<strong>na</strong>s fruta fresca e vegetais.<br />
Mostrava os edemas localizados nos tornozelos para justificar a<br />
sua atitude. Preocupava-se com o funcio<strong>na</strong>mento intesti<strong>na</strong>l, fazendo<br />
um uso excessivo de laxantes que acabaram por lhe terem sido<br />
retirados. O exame do estado mental revelou uma mulher com<br />
um baixo nível afectivo apesar dos seus pensamentos não possuírem<br />
conteúdo depressivo. Não possuía ânimo nem energia. Não existiam<br />
indicadores biológicos de depressão, excepto o seu fraco apetite.<br />
Mostrava uma persistente recusa em aceitar que estava doente,<br />
excessivamente magra ou de ter, de facto, emagrecido. A sua família<br />
ficou bastante ansiosa, o que gerou a intensa correspondência,<br />
solicitando alguns procedimentos, compra de livros de dietas e<br />
culinária, etc.. A Sra. I permaneceu, no entanto, tranquila, claramente<br />
satisfeita com a sua situação. Averiguações posteriores revelaram<br />
que a Sra. I deixou de exercer funções num prestigiado<br />
estabelecimento de ensino superior feminino ape<strong>na</strong>s quando atingiu<br />
o limite máximo de <strong>idade</strong> para aposentação, tentando com efeito,<br />
adiar esse procedimento. Desde então, tem sido bastante infeliz.<br />
Durante muitos anos, o seu casamento esteve em sérias dificuldades.<br />
Os seus filhos esforçaram-se por amenizar os atritos existentes<br />
entre os seus progenitores. Desenvolveu-se um padrão<br />
comportamental, segundo o qual sempre que emergia uma crise<br />
conjugal, os filhos levavam um ou ambos os progenitores, cada um,<br />
para sua casa. A mãe foi sempre claramente reconhecida como<br />
uma pessoa doente e o pai, sempre tratado com benevolência. A<br />
doença da Sra. I acabou por a recompensar com o poder e o<br />
controle que ela nunca tinha usufruído.<br />
Sra. J (84 anos)<br />
Conhecemos a Sra. J por via de um encaminhamento interno do<br />
hospital feito pela equipa médica. A Sra. J foi inter<strong>na</strong>da após terse<br />
recusado a comer durante duas sema<strong>na</strong>s. Queixou-se de náuseas<br />
e de um sabor metálico <strong>na</strong> boca, factores que a levaram a evitar<br />
alimentar-se. Os extensivos exames levados a cabo não conseguiram<br />
revelar nenhuma causa física. O exame do estado mental revelou<br />
uma mulher num estado caquéctico (29,8 Kg = 1,48m), que negava<br />
sintomas de depressão (EDG = 11) e com um peso exíguo. Na<br />
real<strong>idade</strong>, a Sra. J considerava que ainda estava excessivamente<br />
gorda e que precisava de perder mais peso: o seu rosto cavado<br />
estava ainda demasiado rechonchudo e o seu estômago flácido,<br />
demasiado saliente. Encontrava-se animada e despreocupada. Não<br />
estava afectada cognitivamente (MMSE = 27/30). A tomografia<br />
computorizada cerebral revelou uma peque<strong>na</strong> atrofia cortical<br />
generalizada, compatível com a <strong>idade</strong>. A avaliação das suas roti<strong>na</strong>s<br />
diárias revelou que não conseguia viver bem sozinha no seu<br />
apartamento, pois cansava-se muito rapidamente e necessitava de<br />
fazer longas pausas durante as tarefas diárias. Continuava a comer<br />
refeições muito ligeiras <strong>na</strong> enfermaria do hospital. Foi transferida<br />
para um lar onde se integrou perfeitamente e permaneceu sem<br />
distúrbios comportamentais, manifestando-se, simultaneamente,<br />
melancólica. Continuou a comer muito pouco, mas o seu peso<br />
estabilizou nos 32 Kg. A Sra. J sofre de anorexia desde os 18 anos,<br />
<strong>na</strong> sequência do falecimento da sua mãe. Apesar de ter feito uma<br />
completa recuperação desse episódio, desenvolveu fases posteriores<br />
de anorexia em reacção a todos os acontecimentos de vida ou<br />
desilusões importantes incluindo a casamento da sua filha, o<br />
falecimento do seu marido 14 anos antes e um assalto a sua casa.<br />
A Sra. J apresentou um baixo peso corporal durante os últimos quatro<br />
anos, mas o que acabou por merecer a atenção dos serviços médicos<br />
foi a sua <strong>idade</strong> avançada e a sua crescente incapac<strong>idade</strong> de viver<br />
sozinha em segurança. A Sra. J acabou por ir morar para um lar.<br />
Sra. K (75anos)<br />
A Sra. K foi encaminhada para os nossos serviços após ter-se<br />
mudado de uma c<strong>idade</strong> no norte de Inglaterra. Nunca se integrou.<br />
Foi persuadida pelo seu marido a mudar-se para sul, mas rapidamente<br />
se arrependeu. A sua aparência inicial era a de uma mulher ansiosa,<br />
deprimida e excessivamente magra: 33 Kg, estatura = 1,55m.<br />
Provavelmente a Sra. K já se alimentava deficientemente há nove<br />
meses; preocupava-se extremamente com a alimentação. Comia<br />
ape<strong>na</strong>s fruta fresca e vegetais. Recusava qualquer alimento contendo<br />
gorduras ou proteí<strong>na</strong>s, mas aceitava um pequeno pedaço de<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
requeijão. Abusava de laxantes e passava longos períodos de tempo<br />
no quarto de banho, após as refeições. O seu inter<strong>na</strong>mento<br />
hospitalar conseguiu curar a sua depressão, embora continuasse<br />
a preocupar-se com a alimentação, com o seu peso e com as<br />
calorias que ingeria. A discórdia conjugal chegou ao nosso<br />
conhecimento durante o período em que esteve inter<strong>na</strong>da. A Sra.<br />
K casou tarde - aos 48 anos - e o seu casamento sempre foi um<br />
casamento oficial. A Sra. K era uma arquitecta bem sucedida<br />
profissio<strong>na</strong>lmente. O seu marido era sócio da mesma empresa,<br />
mas o sucesso profissio<strong>na</strong>l da sua esposa provocou atritos no casal.<br />
Pouca era a comunicação entre os dois. Desenvolveram muito<br />
pouca intim<strong>idade</strong>. O seu marido suspendeu o seu tratamento<br />
levando-a para casa antes da altura aconselhável e acordada entre<br />
ela e o seu médico. O seu estado mental sofreu flutuações ao longo<br />
dos anos. Foi inter<strong>na</strong>da três vezes em seis anos. Em regra, o seu humor<br />
melhorava rapidamente com o tratamento mas não se mantinha<br />
durante muito tempo. A caquexia e a discórdia familiar persistiram<br />
como traços permanentes. Tanto a doente como o seu marido<br />
ofereceram resistência à intervenção de profissio<strong>na</strong>is de saúde<br />
psiquiátrica e de psicólogos clínicos ou quando aceite, foi suspendida.<br />
Esta situação precária pareceu o único modus vivendi que o serviço<br />
de psiquiatria geriátrica conseguiu estabelecer com este casal.<br />
Sr. L (67 anos)<br />
O Sr. L mudou-se da Escócia, onde tinha vivido como homem<br />
celibatário e professor de música toda a sua vida, para a área de<br />
domicílio dos nossos serviços. Um homem tímido, socialmente<br />
isolado, passou toda a sua vida em casa de sua mãe e após a sua<br />
morte, sob os cuidados de uma série de empregadas domésticas.<br />
Quando a última faleceu (cuidou dele durante 17 anos), o seu<br />
único parente próximo, um sobrinho, pensou que era seu dever<br />
cuidar do “velho tio” e decidiu levá-lo para sua casa. Tomou essa<br />
decisão sem sequer ter consultado o seu tio sobre essa questão.<br />
O Sr. L foi inter<strong>na</strong>do pouco tempo depois. Desde a sua chegada,<br />
recusou, provavelmente, toda a comida que lhe foi oferecida,<br />
mantendo-se refém dentro do seu quarto, quase não falando com<br />
ninguém. Como quase em todos os casos idênticos, deu entrada<br />
no hospital em maca, pesando 44,8 Kg (estatura = 1,67m). Mas 3<br />
meses de extensivos exames médicos não conseguiram identificar<br />
causas orgânicas do seu emagrecimento e recusa em comer. Não<br />
foi identificada depressão clínica, mas foi, por fim, encaminhado<br />
para o nossos serviços por um médico bastante perplexo que<br />
reparou que a carta de encaminhamento do Sr. L não registava o<br />
aumento de uma grama em três meses de intensivos esforços.<br />
O seu exame do estado mental revelou que qualquer distúrbio do<br />
domínio afectivo era modesto e insuficiente para explicar o seu<br />
emagrecimento e anorexia. Não mostrou, inicialmente, vontade<br />
de cooperar <strong>na</strong> entrevista mas tornou-se mais aberto durante as<br />
sema<strong>na</strong>s seguintes. Revelou ser um homem inteligente, culto,<br />
pronto, senão desejoso de falar sobre a sua família, a sua música<br />
e a sua casa. Sentia que tinha sido privado dos seus direitos pelo<br />
comportamento do seu sobrinho mas reconhecia, simultaneamente,<br />
que as suas competências domésticas eram tão fracas que nunca<br />
conseguiria viver sozinho. Chegou até a afirmar que se tivesse<br />
ficado em Edimburgo sozinho, já teria falecido ou inter<strong>na</strong>do numa<br />
instituição. Considerava-se gordo, <strong>na</strong> real<strong>idade</strong> obeso. Estava<br />
obcecado com a quant<strong>idade</strong> de calorias que estava a ingerir: estar<br />
no hospital era muito perturbante pois não sabia de que forma a<br />
sua comida tinha sido preparada. Contudo, ele ape<strong>na</strong>s tinha bebido<br />
água, recusando quaisquer biscoitos, bolos ou sobremesas. Este caso<br />
exigiu um longo e complexo estudo, pois o seu sobrinho melindrouse<br />
com o envolvimento da equipa do serviço de psiquiatria geriátrica.<br />
Contudo, a devido tempo, foi encontrada uma solução satisfatória,<br />
segundo a qual o Sr. L foi alojado num anexo construído para ele,<br />
sob os cuidados de uma profissio<strong>na</strong>l de apoio domiciliário inter<strong>na</strong>.<br />
Encontra-se bem e o seu peso estabilizou nos 57 Kg.<br />
Discussão<br />
Descrevemos seis doentes com mais de 65 anos que sofrem de<br />
anorexia <strong>nervosa</strong>. Vários autores descreveram doentes idosos que<br />
sofrem de AN, encorajando mais <strong>na</strong>rrativas de casos (Gower e<br />
Crips, 1990; Hall e Driscoll, 1993; Hsu e Zimmer, 1988; Kellett et<br />
al., 1976; Launer, Riemann et al., 1993). As características clínicas<br />
de doentes idosos que sofrem de AN são semelhantes em todas<br />
as faixas etárias (Joughin et al., 1991). Os nossos seis doentes<br />
apresentaram resistência em comer com vista a manterem-se com<br />
um baixo peso corporal. Contudo, ao contrário dos seus congéneres<br />
mais jovens, os sintomas que apresentam não se centram no<br />
desaproveitamento de comida ou <strong>na</strong> intensificação da activ<strong>idade</strong><br />
física. Este facto pode dever-se à sua educação e atitudes em relação<br />
ao desperdício e às suas capac<strong>idade</strong>s físicas limitadas resultantes<br />
da sua <strong>idade</strong>. Dally e Gomez referiram as mesmas características<br />
num sub-grupo de doentes que sofriam de AN, pelo que não se<br />
deve decli<strong>na</strong>r o diagnóstico <strong>na</strong> faixa etária mais idosa. Por outro<br />
lado, os nossos doentes, quer tenham desenvolvido AN <strong>na</strong> sua<br />
juventude ou nos últimos anos da sua vida, demonstraram claramente<br />
um padrão de fobia que reflectiu um desejo de (re) estabelecer<br />
o controle sobre as suas vidas. A AN deu-lhes esse controle,<br />
restituindo-lhes o seu poder. Esta alteração no formato psicológico<br />
da AN <strong>na</strong> <strong>terceira</strong> <strong>idade</strong> reflecte falta de conhecimento da história<br />
<strong>na</strong>tural da perturbação. Na real<strong>idade</strong>, estudos de acompanhamento<br />
de longo prazo realizados com doentes que sofrem de AN não<br />
31<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
32<br />
abrangeram doentes idosos (Crisp, 1965; Eckhert et al., 1995; Hsu<br />
et al., 1992). Três dos nossos doentes sofreram de AN quando mais<br />
jovens mas desistiram do acompanhamento. As alterações físicas<br />
e psicológicas associadas ao envelhecimento normal espelham as<br />
da adolescência, podendo provocar um reaparecimento dos sintomas<br />
de anorexia nos doentes que possuem história clínica da perturbação,<br />
num período de conflito psicológico. Todos os nossos seis doentes<br />
descreveram agentes psicológicos de stress precipitadores: em<br />
quatro casos o conflito conjugal foi o problema-chave , enquanto<br />
que para os outros a aposentação, o luto, a mudança de residência<br />
e o lidar com a crescente debil<strong>idade</strong> física podiam ser identificados<br />
claramente como precipitadores importantes.<br />
Apesar da <strong>idade</strong> e da duração da doença serem classicamente<br />
descritos como si<strong>na</strong>is de um mau prognóstico, o crescente número<br />
de relatos de AN nos idosos pode representar um grupo de<br />
doentes mais jovens cujos sintomas persistiram até à velhice.<br />
Devemos assi<strong>na</strong>lar que quatro dos nossos casos foram encaminhados<br />
para os nossos serviços por clínicos gerais, após a realização de<br />
intensivos exames médicos. Uma maior consciencialização do<br />
diagnóstico de AN nos mais idosos, uma documentação mais centrada<br />
<strong>na</strong> perso<strong>na</strong>l<strong>idade</strong> pré-mórbida dos doentes e suas atitudes constantes<br />
ao longo da vida em relação à comida podem evitar a ansiedade no<br />
médico e a realização de exames infrutíferos, bem como longos<br />
inter<strong>na</strong>mentos hospitalares. Todos os nossos doentes mantiveram<br />
um peso baixo durante muitos anos, antes e após a intervenção<br />
médica e nenhum deles faleceu prematuramente devido aos sintomas.<br />
A coexistência de outras perturbações físicas e mentais não devem<br />
obstar ao diagnóstico de AN. Nos doentes mais jovens a coexistência<br />
de depressão é completamente reconhecida. Dois dos nossos doentes<br />
apresentaram perturbação depressiva mas os sintomas de anorexia<br />
persistiram após o seu tratamento. Este facto, foi, igualmente, descrito<br />
por outros autores (Hsu e Zimmer, 1998; Rammell e Brown, 1988).<br />
Os homens encontram-se em maior risco se não forem<br />
correctamente diagnosticados como sofrendo de AN <strong>na</strong> velhice<br />
mesmo que, como é o nosso caso, sejam preenchidos todos os<br />
critérios correctos. Parece que o preconceito que evita a aceitação<br />
de AN em mulheres idosas é maior quando se exami<strong>na</strong> um homem.<br />
Contudo, os casos <strong>na</strong>rrados por Nagaratnem e Ghougassan (1988)<br />
e Riemann et al., (1993), bem como pelos investigadores deste<br />
estudo mostram que os acontecimentos de vida podem precipitar<br />
a perturbação num indivíduo com predisposição.<br />
Os doentes idosos sofrem, frequentemente, de patologias físicas,<br />
sendo submetidos a exames médicos que não são facultados aos<br />
mais jovens. As alterações observadas no cérebro por tomografia<br />
computorizada e MRI estão bem documentadas <strong>na</strong> AN, bem como<br />
o inverso, <strong>na</strong> normalização do peso (Artmann et al., 1985; Krieg<br />
et al., 1988). Ape<strong>na</strong>s um dos nossos doentes apresentou uma<br />
tomografia computorizada que revelava atrofia cerebral, consistente<br />
com a <strong>idade</strong>. Pensa-se que a longa duração da doença produz<br />
danos cerebrais irreversíveis. Contudo, numa análise recente a uma<br />
série de oito doentes que sofrem de AN, o mais velho, com 41<br />
anos, não confirmou esta hipótese. Esperamos que um maior<br />
interesse no grupo de doentes mais idosos que sofrem de AN<br />
conduza a um interesse maior nesta área, especialmente nos<br />
doentes que apresentam história médica de AN <strong>na</strong> sua juventude<br />
e os que se apresentam pela primeira vez aos clínicos gerais.<br />
Conclusões<br />
A AN é ainda considerada por muitos como sendo uma prerrogativa<br />
de pessoas jovens e ape<strong>na</strong>s de jovens mulheres. Esta abordagem é<br />
excessivamente restrita. Os nossos seis casos ilustram claramente a<br />
frequência relativa de AN <strong>na</strong> <strong>terceira</strong> <strong>idade</strong>. Estes casos salientam,<br />
também, o problema da perda de poder nos idosos. A quatro dos nossos<br />
doentes, foram retirados o poder de decisão e a responsabil<strong>idade</strong> das<br />
suas vidas, às vezes com tal desrespeito pela liberdade pessoal que até<br />
constitui um abuso. Neste sentido, os idosos que desenvolveram AN<br />
não são tão diferentes dos doentes mais jovens. Sugerimos que a <strong>idade</strong><br />
não deixe de aparecer como um critério de diagnóstico para a AN.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
American Psychiatric Association (1994). Diagnostic and statistical manual of mental<br />
disorders, 4th edition. Washington, DC: APA.<br />
Artman, H., Grall, H., Adelmann, M. e Schleiffer, R. (1985). Reversible and non reversible<br />
enlargement of CSF spaces in <strong>Anorexia</strong> Nervosa. Neurobiology, 27, 304-312.<br />
Berkman, J.M. (1930). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong>, anorexia, i<strong>na</strong>nition, and low basal metabolic<br />
rate. American Jour<strong>na</strong>l of Medical Science, 180, 411-424.<br />
Carrier, J. (1939). L’anorexie <strong>Mental</strong>e. Paris. Librairie E. Le Francois.<br />
Cosford, P e Arnold, E. (1992). Eating disorders in late life: a review. Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l<br />
Jour<strong>na</strong>l of Geriatric Psychiatry, 7, 491-498.<br />
Crisp, A.H. (1965). Clinical and therapeutic aspects of anorexia <strong>nervosa</strong> - a study of<br />
30 cases. Jour<strong>na</strong>l Psychosomatic Research, 9, 67-78.<br />
Dally, P. (1984). <strong>Anorexia</strong> Tardive - late onset marital anorexia <strong>nervosa</strong>. Jour<strong>na</strong>l of<br />
Psychosomatic Research, 28, 423-428.<br />
Dally, P. e Domez, I. (1979). <strong>Anorexia</strong> Nervosa. London: William Heinemann Medical Books.<br />
Eckbert, E., Halmi, K., Marchi, P. Grove W. e Crosby, R. (1995). Ten-years follow-up of<br />
anorexia <strong>nervosa</strong>: clinical course and outcome. Psychological Medicine, 25, 143-156.<br />
Feighner, J., Robins, E. Guze, S., Woodruff, R. Jr., Winokur, J e Munoz, R. (1972). Diagnostic<br />
criteria for use in psychiatric research. Archives of General Psychiatry, 26, 57-63.<br />
Gowers, S. e Crisp, A. (1990). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in an 80-year-old woman. British<br />
Jour<strong>na</strong>l of Psychiatry , 157, 754-757.<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001
Revisões<br />
Gull, W. (1874). <strong>Anorexia</strong> hysterica (apepsia hysterica). British Medical Jour<strong>na</strong>l, ii, 527-529.<br />
Hall, P. e Driscoll, R. (1993). <strong>Anorexia</strong> in the elderly - an annotation. Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>l<br />
of Eating Disorders, 14, 497-499.<br />
Hsu, L.e Zimmer, B. (1988). Eating disorders in old age. Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>l of Eating<br />
Disorders, 7, 133-138.<br />
Hsu, L., Crisp, A. e Callender, J. (1992). Psychiatric diagnoses in recovered and uncovered<br />
anorectics 22 years after onset of illness: a pilot study. Comprehensive Psychiatry, 33, 123-127.<br />
Joughin, N., Crisp, A., Gowers, S. e Bhat, A. (1991). The clinical faetures of late onset<br />
anorexia <strong>nervosa</strong>. Postgraduate Medical Jour<strong>na</strong>l, 67, 973-977.<br />
Kellett, J., Trimble, M. e Thorley, A. (1976). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> after the menopause.<br />
British Jour<strong>na</strong>l of Psychiatry, 128, 555-558.<br />
Krieg, J., Pirke, K., Lauer, C. e Backmund, H. (1988). Endocrine, metabolic and cranial<br />
computed tomographic findings in anorexia <strong>nervosa</strong>. Biological Psychiatry, 23, 377-387.<br />
Lasegue, E. (1873). On hysterical anorexia. Medical Times and Gazette, 2, 265-266; 367-369.<br />
Launer, M (1978). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in late life. British Jour<strong>na</strong>l of Medical Psychology, 51, 375-377.<br />
Nagarat<strong>na</strong>m, N. e Ghougassian, D. (1988). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in a 70 year old man.<br />
British Medical Jour<strong>na</strong>l, 296, 1443-1444.<br />
Palazzoli Selvini, M. (1974). Self starvation. London: Human Context Books.<br />
Parry Jones, W. e Parry Jones, B. (1994). Implications of historical evidence for the<br />
classification of eating disorders. British Jour<strong>na</strong>l of Psychiatry, 165, 287-292.<br />
Price, W., Giannini, J. e Colella, J.(1985). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in the elderly. Jour<strong>na</strong>l of the<br />
American Geriatric Society, 33, 231-215.<br />
Rammel, M. e Brown, N. (1988). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in a 67 year old woman. Postgraduate<br />
Medical Jour<strong>na</strong>l, 64, 48-94.<br />
Riemann, B., McNally, R. e Meier, A. (1993). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> in an elderly man.<br />
Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Jour<strong>na</strong>l of Eating Disorders, 14, 501-504.<br />
33<br />
Russell, G. (1995). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong> through time. In: G. Smukler, C. Dare e J. Treaure<br />
(Eds), Handbook of eating disorders (pp 5-17). Chicester: John Wiley.<br />
Russell, J. e Gilbert, M. (1992). Is anorexia <strong>nervosa</strong> a discrete diagnosis entity? Australia<br />
and New Zealand Jour<strong>na</strong>l of Psychiatry, 26, 429-435.<br />
Ryle, J. (1936). <strong>Anorexia</strong> <strong>nervosa</strong>. The Lancet, ii, 893-899.<br />
Swayze II, V., Andersen, A. Arndt, S., Rajarethi<strong>na</strong>m, R., Fleming, F., Sato, Y. e Andreasen,<br />
N. (1996). Reversibility of brain tissue loss in anorexia <strong>nervosa</strong> ssessed with a<br />
computerized Talairach 3-D proportio<strong>na</strong>l grid. Psychological Medicine, 26, 381-390.<br />
World Health Organization (1992). Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l classification of diseases, 10th revision. Geneva: WHO.<br />
VOLUME III, Nº1. JANEIRO/FEVEREIRO 2001