Camille Claudel, a suplicante. Reflexões sobre um ... - Saúde Mental
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Leituras / Readings <strong>Saúde</strong> <strong>Mental</strong> <strong>Mental</strong> Health<br />
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<strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>, a <strong>suplicante</strong>. <strong>Reflexões</strong> <strong>sobre</strong> <strong>um</strong><br />
caso de paranóia<br />
<strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>, the imploring. Reflections on a case of paranoia<br />
Fig. 1 - <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>.<br />
Adrian Gramary<br />
Médico Psiquiatra<br />
Correspondência relacionada com o artigo:<br />
Centro Hospitalar Conde de Ferreira<br />
Rua Costa Cabral, 1211, 4200-227 Porto<br />
e-mail: adrian.gramary@gmail.com<br />
“Caí no abismo. Vivo n<strong>um</strong> mundo tão curioso, tão estranho.<br />
Do sonho que foi a minha vida, este é o pesadelo.” [1]<br />
1- No bunker do Quai de Bourbon<br />
Na primavera de 1913, os familiares mais próximos da escultora<br />
<strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> deslocam-se a Paris para constituir<br />
<strong>um</strong> conselho de família com a determinação de proceder<br />
ao seu internamento psiquiátrico no Hospital de Ville-Évrard.<br />
N<strong>um</strong>a carta escrita pela escultora, nessa altura, esta confessa<br />
abertamente a <strong>um</strong>a prima os seus temores: “O senhor Rodin<br />
persuadiu os meus pais para me internarem; a minha família<br />
está toda em Paris para isso.<br />
O gatuno vai apropriar-se, desta forma, do trabalho de toda<br />
a minha vida.” [2] Os familiares tinham sido informados pelos
Vol<strong>um</strong>e X Nº1 Janeiro/Fevereiro 2008 Leituras / Readings<br />
vizinhos de que, nos últimos tempos, a escultora recusava-se<br />
a sair do seu atelier, recebendo pela janela a comida que estes<br />
lhe ofereciam.<br />
No dia 10 de Março, dois enfermeiros arrombam a janela entaipada<br />
com tábuas e irrompem no seu atelier do Quai de Bourbon,<br />
deparando-se com <strong>um</strong> panorama indescritível: o chão do<br />
atelier está inteiramente ocupado pelos pedaços amontoados<br />
das suas esculturas, as paredes aparecem cobertas de recortes<br />
de revistas com os passos de <strong>um</strong>a via-sacra, as portas<br />
estão fechadas com correntes desde o interior, e espalhadas<br />
pelo chão são visíveis múltiplas armadilhas para animais.<br />
E quem é esta <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> – perguntar-se-ão alguns – de<br />
cujo internamento vamos ser testemunhas? Convém aqui começar<br />
por dizer que foi talvez a primeira mulher escultora de<br />
valor reconhecido na história da arte, cuja obra gozou, no início<br />
do século passado, apesar da decadência provocada pela<br />
doença nos anos prévios ao internamento, de <strong>um</strong> merecido<br />
prestígio nos círculos artísticos de Paris. Porém, foi o escândalo<br />
provocado pelo romance apaixonado que manteve com o seu<br />
mestre, o escultor Auguste Rodin, o que tornou famoso o seu<br />
nome na sociedade francesa da III República.<br />
<strong>Camille</strong> e Rodin protagonizaram <strong>um</strong> romance tempestuoso,<br />
salpicado de inúmeras traições por parte dele, que tentou até<br />
ao último momento manter paralelamente a relação com <strong>Camille</strong><br />
e com Rose, a sua mulher “oficial”, com quem não tinha<br />
casado, mas com quem convivia e de quem tinha <strong>um</strong> filho.<br />
O intercâmbio artístico entre estas duas forças da natureza foi<br />
intenso e por vezes quase simbiótico, ao ponto de em alg<strong>um</strong>as<br />
obras ser difícil saber onde acaba o trabalho de <strong>um</strong> e onde<br />
começa o trabalho do outro.<br />
Uma visita de Rose ao atelier da escultora, em que aquela<br />
terá representado, ao que parece eficazmente, o seu papel<br />
de esposa traída, insultando, brigando e ameaçando <strong>Camille</strong>,<br />
pôs fim de forma abrupta e melodramática ao relacionamento<br />
entre os dois. Pelo meio ficaram <strong>um</strong> aborto (há quem diga que<br />
houve provavelmente mais do que <strong>um</strong>) e <strong>um</strong>a obra artística rica<br />
e ímpar nascida durante esses anos de tórrida paixão.<br />
2- O internamento no Hospital de Ville-Évrard<br />
Mas vejamos o que é que os psiquiatras que avaliaram <strong>Camille</strong><br />
no Hospital nos deixaram escrito. O Dr. Truelle, primeiro médico<br />
que a observa no internamento do Hospital de Ville-Évrard, fez<br />
o seguinte registo no processo clínico:<br />
“Diz que é <strong>um</strong> sequestro. É Rodin juntamente com os familiares<br />
da doente que o provocaram. (…) Rodin queria obrigar-me a<br />
trabalhar à força no atelier dele. Trabalhei com esforço para<br />
melhorar a minha imaginação. Ele não tem imaginação.<br />
Necessitava de <strong>um</strong>a imaginação. (…) Ele envenenava-me com<br />
curare, com arsénico (…) Ele batia-me, dava-me pontapés.<br />
Não me apercebi até 1907. Envenena toda a minha família (…)<br />
Queixei-me a todo o mundo, mas ele tem comprado o Ministério<br />
da Justiça, tem as mãos de toda a gente atadas. Suborna<br />
pessoas para eles porem venenos na comida e provocarem<br />
doenças mortais.<br />
Ela estava enclausurada na sua casa desde a Semana Santa.<br />
Davam-lhe os alimentos pela janela. Rodin entrava na casa<br />
dela pela janela e mexia nos seus esboços. Ele encarregou o<br />
homem do talho para me pôr arsénico na comida, e como o<br />
homem não aceitou, ele fez com que o enviassem para Marrocos<br />
para se deixar matar (…) Há cerca de 10 anos que ela se<br />
apercebeu de tudo. Ele é <strong>um</strong> louco sádico. Viola as crianças.<br />
A primeira vez, foi condenado a 1.000 anos de cadeia (…) Foi<br />
ele quem matou Elise Vandame. Corta as crianças aos pedaços<br />
e depois atira-os ao Sena. Delírio sistemático de perseguição<br />
baseado principalmente em interpretações e fabulações, ideias<br />
de grandeza (…): é vítima dos ataques criminais de <strong>um</strong> escultor<br />
famoso que se apropriou das obras que ela criou. Ele tentou<br />
várias vezes fazê-la desaparecer e envenena-la, como já fez<br />
com outras pessoas.” [3]<br />
Um segundo médico (o Dr. Ducosté?) escreve, alguns dias<br />
depois, <strong>um</strong>a segunda observação no processo clínico:<br />
“Rodin, de facto, persegue-a. Rodin, de quem foi aluna, está<br />
ci<strong>um</strong>ento do seu génio e tenta roubar-lhe todas as ideias. Noutro<br />
tempo, quando ela se ausentava da sua casa, ele entrava<br />
e roubava-lhe as suas obras. Ideias de perseguição: Rodin<br />
– e o seu bando (é o chefe de <strong>um</strong> bando de ladrões). Delírio<br />
retrospectivo: ele já a persegue desde a comunhão solene<br />
(…) Mas ela só se apercebeu de tudo há dezoito meses ou<br />
<strong>um</strong> ano. Tentava domina-la com <strong>um</strong> narcótico e várias vezes<br />
o conseguiu.” [4]<br />
Embora <strong>Camille</strong> acredite que Rodin já a tem vindo a perseguir<br />
desde a comunhão solene, a leitura da sua correspondência<br />
permite-nos reconstruir retrospectivamente a história pregressa<br />
da doença e remontar o início do quadro delirante logo a seguir<br />
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Leituras / Readings<br />
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à ruptura com Rodin. Após deixar o atelier que ambos partilhavam,<br />
<strong>Camille</strong> refugiou-se cada vez mais no seu pequeno atelier<br />
do Quai de Bourbon, perto da Îlle de la Cité, em pleno coração<br />
do antigo Paris. Sem o dinheiro necessário para comprar os<br />
materiais dispendiosos que precisava para continuar a esculpir;<br />
com o sentimento de ter sido rejeitada por Rodin; sem o<br />
apoio dos pais, em particular da mãe, mater terribilis que lhe<br />
virou as costas quando chegou aos seus ouvidos o escândalo<br />
provocado pelo affaire com Rodin; <strong>Camille</strong> foi <strong>sobre</strong>vivendo,<br />
enclausurada no seu bunker, em condições de saúde cada<br />
vez mais precárias.<br />
A tudo isto soma-se o cansaço após <strong>um</strong>a longa luta contra os<br />
intermináveis obstáculos que encontrava para <strong>sobre</strong>viver n<strong>um</strong>a<br />
profissão feita por e para homens. Foi a conjunção de todos<br />
estes factores que constituiu <strong>um</strong> terreno propício para o verme<br />
invisível do delírio, que cresceu silenciosamente, dedicado<br />
implacavelmente ao seu obscuro trabalho.<br />
Sabe-se – existem cartas conservadas que o demonstram –<br />
que Rodin não a tinha esquecido e continuava a fazer o que<br />
estava nas suas mãos para promover a sua obra, para além de<br />
ter contribuído financeiramente, de forma anónima, para evitar<br />
a penhora do seu atelier, depositando regularmente através de<br />
<strong>um</strong> intermediário pequenas quantidades de dinheiro na conta<br />
de <strong>Camille</strong>. Mas foi esta conjunção de factores: o sentimento<br />
de ter sido relegada por Rodin e rejeitada pela família, a pobreza<br />
e o isolamento em que vivia no seu pequeno atelier do<br />
Quai de Bourbon.<br />
O primeiro sinal que observamos nas cartas que envia a vários<br />
conhecidos, é o aparecimento frequente de insultos dirigidos<br />
a Rodin: o seu antigo mestre e amante torna-se agora para<br />
ela no “Senhor Furão”, o “monstro”, “a ratazana de esgoto”.<br />
Inicialmente culpa-o de lhe roubar as encomendas e de a tentar<br />
afastar de Paris nas alturas em que há exposições.<br />
Ao coleccionista de arte Henri Lerolle explica-lhe n<strong>um</strong>a carta:<br />
“O Sr. Rodin dedicou-se este ano a deixar-me sem recursos,<br />
depois de me ter forçado a abandonar o Salão Nacional por<br />
causa das armadilhas que me fez. Alem disso, insulta-me; faz<br />
publicar por toda parte o meu retrato em cartões postais apesar<br />
da minha proibição expressa, não se detém perante nada,<br />
acredita ter <strong>um</strong> poder ilimitado. Toda a vida perseguir-me-á a<br />
vingança deste monstro.” [5]<br />
Tendo em conta as provas de que dispomos actualmente, que<br />
demonstram o apoio económico que recebia de Rodin, as<br />
convicções delirantes de <strong>Camille</strong> adquirem <strong>um</strong> tom de ironia<br />
<strong>Saúde</strong> <strong>Mental</strong> <strong>Mental</strong> Health<br />
trágica. Para ela, até os seus familiares eram vítimas potenciais<br />
desta perseguição; assim, angustiada perante o atraso na chegada<br />
do seu irmão Paul, de quem espera <strong>um</strong>a visita, escreve<br />
a <strong>um</strong> amigo: “O meu irmão, contrariamente ao previsto, não<br />
chegou ainda; não me estranharia que <strong>um</strong>a má besta o tenha<br />
mandado assassinar.” [6]<br />
Aos amigos comuns, que tentam dissuadi-la do seu erro<br />
em relação às perversas intenções de Rodin, ela responde<br />
espraiando-se <strong>sobre</strong> os meios ínvios e subtis, invisíveis para<br />
os outros excepto para ela, que este usa para a prejudicar:<br />
“Você não quer outra coisa que o meu bem (…), mas há por<br />
trás de vocês <strong>um</strong> terceiro personagem ao que não conhecem<br />
o suficiente para o julgar totalmente, porque se assim fosse,<br />
não veriam nada de extraordinário no meu comportamento,<br />
asseguro-o.<br />
É necessário muito tempo para conhecer <strong>um</strong>a pessoa antes<br />
de compreender <strong>um</strong>a situação (…) Eu conheço a mão maléfica<br />
que trabalha por baixo para apartar de mim todas as amizades<br />
e todas as boas vontades, para que eu acabe por implorar a<br />
sua ajuda e ainda o faça passar por <strong>um</strong> benfeitor.<br />
Os meios que emprega são tão subtis, tão invisíveis, tão<br />
indirectos que é impossível provar nada.” [7] Mas, progressivamente,<br />
os meios usados por Rodin, começam a revelar-se<br />
para ela de <strong>um</strong>a forma mais evidente e concreta; a partir de<br />
1909, ela começa a falar nas suas cartas do já referido “Bando<br />
de Rodin”, <strong>um</strong> grupo organizado por este para lhe subtrair as<br />
suas obras.<br />
Este “bando” apodera-se das suas ideias, rouba-lhe as esculturas<br />
e os esboços e copia os moldes das suas obras,<br />
aproveitando as suas saídas do atelier. Coincidindo com o<br />
roubo de alg<strong>um</strong>as obras do Museu do Louvre, <strong>Camille</strong> não<br />
perde a oportunidade para enviar <strong>um</strong>a carta surpreendente e<br />
esclarecedora ao Subsecretário do Estado para as Belas-Artes,<br />
informando que conhece “o autor de todos os roubos e depredações<br />
cometidos no Louvre. Só há <strong>um</strong>: ele paga a pessoas<br />
pobres para fazer este trabalho, depois os objectos chegam-lhe<br />
a sua casa (…) ele é <strong>um</strong> senhor do crime organizado.” [8]<br />
Em Dezembro de 1909 declara abertamente ao seu irmão<br />
Paul n<strong>um</strong>a carta: “O gatuno apropria-se de todas as minhas<br />
esculturas por diferentes meios e entrega-as aos seus amigos,<br />
os artistas de moda, que em troca lhe proporcionam condecorações,<br />
ovações, etc.” [9] Com <strong>um</strong> sentimento crescente<br />
de impotência para impedir os furtos realizados pelo “Bando<br />
de Rodin”, termina por reforçar os meios de protecção do
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seu atelier: coloca correntes nas portas, entaipa com tábuas<br />
o interior das janelas e põe armadilhas no chão. Em fins de<br />
1912 escreve: “Mal ponho o pé na rua, Rodin e o seu bando<br />
entram para me assaltar a casa. Todo o Quai de Bourbon está<br />
infestado deles.” [10]<br />
N<strong>um</strong>a das suas cartas chega a afirmar que pessoas enviadas<br />
por Rodin colocam veneno na sua comida: “Continuo doente<br />
por causa do veneno que tenho no sangue, tenho o corpo em<br />
brasas, é o hugonote Rodin que manda distribuir as doses<br />
porque espera herdar o meu atelier.” [11] Quando a mãe deixa<br />
de lhe enviar dinheiro, também é Rodin o culpado: “Sem qualquer<br />
pretexto, deixaram de repente de me mandar dinheiro,<br />
encontro-me de <strong>um</strong> dia para outro sem recursos, é a banda<br />
de Rodin que fez <strong>um</strong>a lavagem ao cérebro à minha mãe.” [12]<br />
No fim, o seu desespero atinge o clímax e, para evitar que lhe<br />
continuem a roubar e copiar as suas esculturas, acaba por<br />
destruir todas as obras e recusa-se a sair do atelier, recebendo<br />
os alimentos pela janela.<br />
3- Uma vida dedicada à escultura<br />
A figura de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> foi recuperada a partir dos anos<br />
80, graças à retrospectiva organizada no início da década pelo<br />
Musée Rodin, e que coincidiu com o aparecimento do primeiro<br />
catálogo completo da obra da escultora.<br />
Neste processo de recuperação também ajudaram a realização<br />
do filme “<strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>”, protagonizado por Isabelle Adjani<br />
e Gerard Depardieu, e a publicação da biografia romanceada<br />
“Une femme” [13] de Anne Delbée. Daí em diante, foram-se<br />
multiplicando as exposições, a última das quais decorreu no<br />
Outono do ano passado n<strong>um</strong>a pequena sala da Fundación<br />
Mapfre de Madrid, onde foi exibida, quase na sua totalidade, a<br />
sua obra. A primeira coisa que impressionava o visitante, para<br />
além da óbvia qualidade das obras, era o número reduzido<br />
de esculturas, que não devia ultrapassar as sessenta peças,<br />
muitas das quais eram subtis variações da mesma ideia.<br />
A mulher que nos deixou tão reduzida, embora apaixonante,<br />
herança nasceu em 1864 em Fère-en-Tardenois, na região da<br />
Picardie, perto de Paris.<br />
Filha de <strong>um</strong> funcionário público e da conservadora filha de <strong>um</strong><br />
rico médico rural, sentiu desde a infância <strong>um</strong> forte impulso<br />
natural para a escultura, o que a levou a usar os irmãos e as<br />
empregadas domésticas como primeiros modelos para as suas<br />
esculturas de barro. Assim foi surgindo <strong>um</strong>a galeria de retratos<br />
familiares: “A velha Helena” (busto de <strong>um</strong>a velha empregada da<br />
família, que suportou com infinita paciência horas intermináveis<br />
de pose); o busto da mãe, da irmã, e vários bustos do irmão,<br />
Paul <strong>Claudel</strong>, em diferentes fases da vida.<br />
A família <strong>Claudel</strong> apercebeu-se do autêntico valor dos trabalhos<br />
de <strong>Camille</strong>, quando recebeu a visita de Paul Dubois, Director<br />
da Escola Nacional de Belas Artes, que ficou impressionado<br />
pelo talento natural que demonstravam as obras esculpidas<br />
por aquela miúda promissora, que não tinha recebido nenh<strong>um</strong>a<br />
lição de modelagem ou desenho.<br />
As suas palavras, “Você recebeu aulas do Senhor Rodin!”,<br />
encontraram como única resposta o olhar interrogante de<br />
<strong>Camille</strong>, que desconhecia totalmente quem era o famoso<br />
“mestre Rodin” que tinha sido o inspirador das suas esculturas.<br />
Este comentário inocente acabaria, no entanto, por ter valor<br />
profético <strong>sobre</strong> o trágico destino que para ela iria ser, no futuro,<br />
tentar <strong>sobre</strong>viver na qualidade de “aluna de Rodin”, sem ser<br />
esmagada pela sombra do génio.<br />
Graças ao apoio incondicional do pai, e com a forte oposição<br />
da mãe, que via na inclinação da filha pela escultura, <strong>um</strong>a forma<br />
bizarra de rebeldia, consegue continuar a sua dedicação à arte<br />
do barro, da pedra e do metal.<br />
A história demonstra que a escultura, na sua concepção mais<br />
clássica (trabalho com pedra e barro), foi <strong>um</strong>a profissão de homens.<br />
Basta folhear o livro “Amazonas com pincel” [14] , escrito<br />
pela professora de Arte Contemporânea da Universidade de<br />
Barcelona Victoria Combalia, o qual tenta reconstruir, partindo<br />
de <strong>um</strong>a perspectiva feminista, o catálogo das grandes artistas<br />
existentes desde o século XVI até ao século XXI, e no qual<br />
apenas encontramos, junto ao nome de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>, mais<br />
cinco nomes de escultoras praticamente desconhecidos para<br />
o público não especializado: Kathe Kollwitz, Germaine Richier,<br />
Barbara Hepworth, Louise Bourgeois e Niki de Saint Phalle.<br />
Na altura em que <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> começava a estudar em<br />
França, a entrada das mulheres estava proibida nas Escolas de<br />
Belas Artes, situação que obrigou a escultora a enveredar por<br />
<strong>um</strong> caminho alternativo, que implicava a aprendizagem n<strong>um</strong><br />
atelier compartilhado com outras duas mulheres, sob a supervisão<br />
de <strong>um</strong> professor de escultura de reconhecido prestígio.<br />
Foi desta forma que <strong>Camille</strong> conheceu Rodin, o qual, após ter<br />
sido o seu supervisor durante alg<strong>um</strong> tempo, a convidou para<br />
trabalhar no seu próprio atelier, para participar na realização<br />
da encomenda de “A porta do Inferno” e posteriormente de<br />
“Os burgueses de Calais”.<br />
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Leituras / Readings<br />
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4- A <strong>suplicante</strong><br />
As duas obras mais conhecidas de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> são, sem<br />
dúvida, “Sakountala” e “A idade madura” (L´âge mûr). No caso<br />
de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>, pode ser especialmente tentador fazer <strong>um</strong>a<br />
correlação entre as suas obras e as suas peripécias vitais.<br />
Fig. 2 - “Sakountala”.<br />
Fig. 4 - “A idade madura ”.<br />
Fig. 3 - “A <strong>suplicante</strong>”.<br />
Fig. 5 - Pormenor de “A idade<br />
madura”.<br />
Assim, o próprio Paul <strong>Claudel</strong> não conseguiu subtrair-se a esta<br />
tentação ao estabelecer n<strong>um</strong> famoso texto, escrito na década<br />
de 50, a relação evidente entre o grupo “L´âge mûr” e o desfecho<br />
do triângulo formado por Rose, Rodin e <strong>Camille</strong>.<br />
No centro deste grupo temos a figura de <strong>um</strong> homem maduro<br />
(daí o titulo “A idade Madura”), representação de Rodin, que<br />
é reclamado simultaneamente por duas figuras femininas: à<br />
esquerda, <strong>um</strong>a mulher idosa, Rose, que abraça o homem pelas<br />
costas; e, à direita, <strong>um</strong>a mulher mais nova, ajoelhada, <strong>suplicante</strong>,<br />
que representaria a <strong>Camille</strong>. Esta figura mais nova também<br />
<strong>Saúde</strong> <strong>Mental</strong> <strong>Mental</strong> Health<br />
foi mais tarde apresentada e vendida como figura isolada,<br />
precisamente com o título de “A <strong>suplicante</strong>” (L´implorante).<br />
Pela informação disponível, sabemos que <strong>Camille</strong> suplicou<br />
a Rodin <strong>um</strong>a exclusividade que ele não estava disposto a<br />
dar-lhe, e foi após a ruptura desta relação que ela decidiu<br />
representar-se a si própria como <strong>suplicante</strong> em L´âge mûr. As<br />
acesas palavras de Paul <strong>Claudel</strong> não deixam espaço para a<br />
dúvida <strong>sobre</strong> esta identificação: “Essa rapariga nua é a minha<br />
irmã! A minha irmã <strong>Camille</strong>. Implorante, h<strong>um</strong>ilhada, ajoelhada,<br />
essa soberba, essa orgulhosa, assim é como se representou<br />
a si própria.” [15]<br />
Em relação à outra obra, “Sakountala”, que aparece também<br />
com o título de “O abandono” e “Vert<strong>um</strong>no e Pomona”,<br />
representa a lenda indiana acerca do príncipe Sakountala e<br />
reflecte, após o encontro do casal, o momento de abandono<br />
da mulher nos braços do príncipe, em que este, ajoelhado,<br />
pede perdão à amante por não ter c<strong>um</strong>prido a sua promessa<br />
de reconhecê-la, a ela e ao filho. Outras obras famosas são “A<br />
valsa” (<strong>um</strong> casal dançando em equilíbrio instável), “A pequena<br />
castelã” (o busto de <strong>um</strong>a criança, que era a filha da proprietária<br />
do castelo onde ficou a descansar durante uns dias após o<br />
seu aborto), “As coscuvilheiras” (quatro mulheres sentadas a<br />
coscuvilhar), e “A onda”.<br />
Mas, ao que parece, o destino de <strong>suplicante</strong> persistiu para<br />
<strong>Camille</strong> ao longo da sua vida. Durante o seu internamento<br />
nos Hospitais de Ville-Évrard e posteriormente no Hospital de<br />
Montdevergues, onde permaneceu durante trinta anos até à<br />
sua morte em 1943, foram muitas as vezes em que suplicou<br />
autorização para receber correspondência e para ter saídas.<br />
No entanto, por indicação da mãe, cujo comportamento foi<br />
de <strong>um</strong>a dureza implacável, foi impedida de enviar ou receber<br />
qualquer correspondência; mas o que reflecte ainda <strong>um</strong>a<br />
crueldade maior é que a mãe impediu também qualquer saída<br />
de <strong>Camille</strong> do internamento, apesar das recomendações em<br />
sentido contrário vindas de vários dos psiquiatras que acompanharam<br />
a doente. É verdade que as cartas que <strong>Camille</strong><br />
escreveu – e que nunca foram enviadas, ficando arquivadas no<br />
processo clínico – permitem concluir que manteve o delírio até<br />
ao fim da sua vida, mas isso provavelmente não teria sido <strong>um</strong><br />
obstáculo definitivo para a sua saída do hospital, pelo menos<br />
como tentativa de ensaio. É difícil não reconhecer na atitude<br />
desta mãe burguesa e conservadora, <strong>um</strong>a forma de punição da<br />
filha rebelde, a qual, quer com o seu comportamento escandaloso,<br />
quer pelo caminho escolhido, contrário ao que lhe estava
Vol<strong>um</strong>e X Nº1 Janeiro/Fevereiro 2008 Leituras / Readings<br />
socialmente reservado, tinha, segundo esta, comprometido o<br />
bom nome da família.<br />
5- A paranóia de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>: A couve<br />
roída pelas lagartas<br />
Com a informação de que dispomos actualmente, nomeadamente<br />
graças ao acesso à correspondência pessoal, é possível<br />
concluir que <strong>Camille</strong> apresentava na altura do seu internamento<br />
<strong>um</strong> quadro delirante de evolução crónica, caracterizado por<br />
delírios que envolviam a convicção de ser vítima de <strong>um</strong>a perseguição<br />
cujo objectivo exclusivo era o seu prejuízo através de<br />
múltiplas estratégias: tirar-lhe as ideias e esboços, roubar-lhe<br />
as esculturas ou tirar moldes delas, conseguir criar inimizades<br />
contra ela, deixá-la sem recursos económicos, impedir a sua<br />
progressão profissional ou tentar envenena-la através de<br />
terceiras pessoas. Inicialmente, o delírio incluía apenas Auguste<br />
Rodin, mas, finalmente, incorporou diferentes pessoas,<br />
organizadas n<strong>um</strong> complot ou trama dirigida por este, que ela<br />
denominava de “bando de Rodin”.<br />
Há <strong>um</strong> excerto de <strong>um</strong>a carta famosa que exprime de forma<br />
insuperável a convicção de ser vítima do roubo sistemático das<br />
suas obras e ideias: “Formaram-me expressamente para lhes<br />
proporcionar ideias, sabendo que eles têm <strong>um</strong>a imaginação<br />
nula. Estou na situação de <strong>um</strong>a couve roída pelas lagartas; à<br />
medida que me cresce <strong>um</strong>a folha, eles comem-na.” [16]<br />
Esta ideação delirante de prejuízo implicava que a escultora<br />
tinha convicção absoluta de que estas pessoas agiam deliberadamente<br />
para a prejudicar. O delírio tinha as características<br />
típicas da Perturbação Delirante Crónica pois era <strong>um</strong> delírio<br />
bem construído, plausível e aparentemente consistente interiormente<br />
(em termos lógicos), bem sistematizado e hierarquizado.<br />
Quando falamos que o delírio é plausível ou que tem<br />
aparência lógica, estamos a querer dizer que não é absurdo e<br />
que, portanto, não insulta a nossa inteligência a ideia de que<br />
Rodin tentasse apropriar-se das obras da escultora ou que a<br />
tentasse prejudicar na sua carreira profissional ao considerá-la<br />
<strong>um</strong>a rival. É esta plausibilidade que faz com que os doentes que<br />
sofrem deste quadro passem frequentemente desapercebidos<br />
durante muito tempo para as pessoas com quem convivem, e<br />
até possam convencer ou “contagiar” os outros da realidade<br />
dos seus delírios.<br />
Esta perturbação foi denominada classicamente de Paranóia,<br />
mas este termo parece implicar que o conteúdo das ideias de-<br />
lirantes é persecutório em todos os casos, o que nem sempre<br />
é certo, pois as ideias delirantes podem ter outro conteúdo<br />
(grandiosidade, erotomaníaco, celotípico ou somático). No<br />
entanto, é verdade que o subtipo persecutório de Perturbação<br />
Delirante Crónica, do qual sofria <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>, é o mais<br />
frequente, e aplica-se, segundo a DSM-IV-TR, quando o tema<br />
central do delírio envolve, como no caso que nos ocupa, a<br />
crença de que o sujeito é objecto de <strong>um</strong>a conspiração, fraude,<br />
espionagem, perseguição, envenenamento, calúnia odiosa,<br />
assedio ou obstrução nos seus objectivos a longo prazo”. [17]<br />
Kraepelin, a quem devemos a nossa visão nosológica dos quadros<br />
psicóticos, definiu a psicose delirante crónica ou paranóia<br />
como “<strong>um</strong> delírio sistematizado, quer dizer, <strong>um</strong> sistema delirante<br />
coerente e lógico, de desenvolvimento insidioso, evolução<br />
crónica e irreversível (…) que se acompanha de clareza e ordem<br />
na consciência, no pensamento e no comportamento”. [18]<br />
Para completar o perfil autónomo da paranóia face aos outros<br />
distritos nosológicos, Kraepelin destacava a “impermeabilidade<br />
do sistema paranóico face às influências psicológicas.” [19]<br />
Segundo a DSM-IV-TR, a característica essencial da Perturbação<br />
Delirante é a presença de <strong>um</strong>a ou mais ideias delirantes não<br />
bizarras que persistem de forma crónica, associadas com a ausência<br />
dos sintomas típicos da esquizofrenia (por exemplo, as<br />
alucinações auditivas ou visuais, que, se estiverem presentes,<br />
não devem ser dominantes), e a preservação do funcionamento<br />
psicossocial e do comportamento, que não deve ser muito<br />
estranho ou bizarro. Quando está presente na Perturbação<br />
Delirante <strong>um</strong> reduzido funcionamento psicossocial, como no<br />
caso em apreço, este surge como consequência das próprias<br />
crenças delirantes. Da mesma forma, <strong>um</strong>a característica com<strong>um</strong><br />
nos sujeitos com Perturbação Delirante Crónica é a sua<br />
aparente normalidade de comportamento e aparência quando<br />
as ideias delirantes não estão a ser discutidas. [20]<br />
A classificação das ideias delirantes como bizarras é especialmente<br />
importante na distinção entre Perturbação Delirante Crónica<br />
e Esquizofrenia. As ideias delirantes são bizarras se forem<br />
claramente implausíveis, não compreensíveis e não dedutíveis<br />
das experiências vivenciais habituais (por exemplo, crença de<br />
que <strong>um</strong> estranho retirou os órgãos internos e os substituiu por<br />
outros, sem deixar feridas ou cicatrizes). Pelo contrário, as<br />
ideias delirantes não bizarras envolvem situações que, como<br />
no caso de <strong>Camille</strong>, podem ocorrer na vida real (por exemplo,<br />
ser perseguido, injustiçado, envenenado, infectado, amado à<br />
distância ou enganado pelo cônjuge ou amante). [21]<br />
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Leituras / Readings<br />
50<br />
É conveniente ressalvar quem estamos perante quadros impermeáveis<br />
a qualquer tentativa de dissuasão lógica e muito<br />
resistentes à terapêutica psicofarmacológica. Na época em<br />
que <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong> adoeceu, não havia disponível nenh<strong>um</strong>a<br />
medicação antipsicótica eficaz, e portanto, o seu caso, como<br />
tantos outros, estava, de certa forma, condenado a persistir<br />
no seu delírio até a morte, o que terminou por acontecer trinta<br />
anos depois do quadro ter começado. Mas, até com os tratamentos<br />
antipsicóticos actuais, a experiência clínica indica<br />
que habitualmente são quadros com resposta muito pobre à<br />
terapêutica farmacológica.<br />
Para terminar, como recorda o Compendio do Kaplan na sua<br />
oitava edição, não é infrequente que o foco do delírio seja<br />
alg<strong>um</strong>a injustiça real [22] .<br />
Não seria improvável que isto tivesse acontecido no caso<br />
de <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>. Sabemos, por exemplo, que a ela são<br />
atribuídas muitas das mãos, e talvez alg<strong>um</strong> rosto, de “Os<br />
burgueses de Calais”, mas é provável que isto tenha acontecido<br />
noutras ocasiões. É conhecido o comentário do famoso<br />
escultor Brancusi, que se recusou a trabalhar no atelier de<br />
Rodin, arg<strong>um</strong>entando:<br />
“À sombra das grandes árvores não cresce nada.” Não sabemos<br />
até que ponto Rodin não se terá aproveitado de forma<br />
imprópria das criações de <strong>Camille</strong>, para as incorporar nas suas<br />
obras, funcionando alg<strong>um</strong>a destas injustiças como o grão de<br />
areia para a ostra, transformando-se no núcleo a volta do qual<br />
se foram depositando gradual e lentamente as camadas de<br />
nácar, até formar-se a pérola negra do delírio.<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
[1] <strong>Claudel</strong> C (2006): Correspondência. Editorial Síntesis. Madrid. p.<br />
279.<br />
[2] <strong>Claudel</strong> C (2006) op. cit., p. 226.<br />
[3] VV. AA. (2007): <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>. Catálogo da exposição organizada<br />
em Madrid pela Fundación MAPFRE e pelo Museu Rodin de Paris. p.<br />
<strong>Saúde</strong> <strong>Mental</strong> <strong>Mental</strong> Health<br />
145-146.<br />
[4] Ibidem. p. 146.<br />
[5] <strong>Claudel</strong> C (2006) op. cit., p. 173.<br />
[6] Ibidem. p. 179.<br />
[7] Ibidem. p. 186-187.<br />
[8] Ibidem. p. 211.<br />
[9] Ibidem. p. 216.<br />
[10] Ibidem. p. 225.<br />
[11] Ibidem. p. 222.<br />
[12] Ibidem. p. 224.<br />
[13] Delbée Anne (2001): <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>. Circe. Barcelona. (Tradução<br />
espanhola do original francês “Une femme” editado em 1982 pela<br />
editora Presses de la Renaissance)<br />
[14] Combalía V (2006): Amazonas con pincel. Vida y obra de las<br />
grandes artistas del siglo XVI al siglo XXI. Ed. Destino. Imago Mundi.<br />
Barcelona.<br />
[15] VV. AA. (2007): <strong>Camille</strong> <strong>Claudel</strong>. Catálogo da exposição organizada<br />
em Madrid pela Fundación MAPFRE e pelo Museu Rodin de<br />
Paris. p. 362.<br />
[16] <strong>Claudel</strong> C (2006) op. cit., p. 219.<br />
[17] American Psychiatric Association (2002): DSM-IV-TR. Manual de<br />
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Quarta Edição.<br />
Revisão do texto. Climepsi Editores. Lisboa. 2002. p.325.<br />
[18] Alonso-Fernández F (1976): Fundamentos de la Psiquiatria Actual.<br />
Tomo 1. Editorial Paz Montalvo. Madrid. p. 492.<br />
[19] Ibidem. p. 492.<br />
[20] American Psychiatric Association (2002): DSM-IV-TR. Manual de<br />
Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais. Quarta Edição.<br />
Revisão do texto. Climepsi Editores. Lisboa. 2002. p.323-324.<br />
[21] Ibidem. p.324.<br />
[22] Kaplan HI, Sadock BJ (1999): Sinopsis de Psiquiatria. 8ª edición.<br />
Ed. Panamericana. Madrid. p.586.<br />
Outras obras consultadas:<br />
- Montero R (2002): Histórias de mulheres. Edições ASA. Porto.<br />
- Neret G (1997): Auguste Rodin. Esculturas e Desenhos. Taschen.<br />
- VV. AA. (2002): Auguste Rodin. Catálogo da exposição organizada<br />
em Santiago de Compostela pela Fundación La Caixa e pelo Musée<br />
Rodin de Paris.<br />
- VV. AA. (2005): <strong>Claudel</strong> et Rodin. La Rencontre de Deux Destins.<br />
Catálogo da exposição organizada pelo Musée National des Beauxarts<br />
du Québec e o Musée Rodin de Paris.