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alternativa de informação: a revista do Brasil faz um ano ... - CNM/CUT

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Conteú<strong>do</strong>Carta ao Leitor<strong>Brasil</strong> 8Fiscalização: se <strong>faz</strong> bem à Super-Receita, também fará ao TrabalhoEnt<strong>revista</strong> 12Para Alfre<strong>do</strong> Bosi, legislação <strong>do</strong>trabalho tem origem positivistaCapa 18Leitores falam <strong>do</strong> papel da Revista<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, que completa <strong>um</strong> <strong>ano</strong>Futebol 26O favoritismo da seleção feminina<strong>de</strong> futebol no Pan, apesar da CBFCons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r0Atendimento telefônico: quan<strong>do</strong> ameta da empresa é não aten<strong>de</strong>rAmbiente4Consciência a<strong>um</strong>enta, mas aindahá muita gente <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le poluídaCidadania8Recife valoriza patrimônio h<strong>um</strong><strong>ano</strong>e preserva patrimônio históricoComportamento 40Elas <strong>de</strong>scobriram no amor <strong>de</strong> outrasmulheres aquele afeto que faltavaAs festivas Caruaru e Campina Gran<strong>de</strong>Viagem 44O duelo junino entre a capital <strong>do</strong>forró e o maior São João <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>seçõesCartas 4Ponto <strong>de</strong> Vista 5Res<strong>um</strong>o 6Curta essa dica 48Crônica 50gerar<strong>do</strong> lazzariMetalúrgico, professor, bancário, químico, eletricitário... a Revista conquistou seu públicoMais vale o que seráQuan<strong>do</strong> a Revista <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> foi lançada, anunciava <strong>um</strong> projeto editorial egráfico que combinaria idéias para <strong>de</strong>bates, prestação <strong>de</strong> serviços, assuntos<strong>de</strong> interesse público com serieda<strong>de</strong> e prazer <strong>de</strong> leitura, sob diretrizes<strong>do</strong>s valores da ética, da <strong>de</strong>mocracia, solidarieda<strong>de</strong>, participação social ecidadania. O título, neste espaço, “Informação transforma”, <strong>de</strong>finia o objetivo<strong>de</strong> levar informação a <strong>um</strong> enorme grupo social, com foco na construção <strong>de</strong> <strong>um</strong>país melhor. Ao se completar este primeiro <strong>ano</strong> <strong>de</strong> existência, o balanço que se <strong>faz</strong> neste12º número é que a missão vai sen<strong>do</strong> c<strong>um</strong>prida.Se esta etapa da jornada foi realizada com sucesso, novos obstáculos precisam servenci<strong>do</strong>s. Esta edição comemorativa inaugura alg<strong>um</strong>as páginas com anúncios publicitários.Expandir e consolidar esses instr<strong>um</strong>entos vai ajudar a viabilizar financeiramentea ampliação <strong>de</strong>ste projeto. Como a distribuição em bancas, as aquisições porassinaturas e a estimativa <strong>de</strong> a<strong>um</strong>ento <strong>do</strong> número <strong>de</strong> páginas. Foram 36 no primeironúmero, passamos para 52 a partir <strong>do</strong> segun<strong>do</strong> e po<strong>de</strong>mos chegar em breve a 68, <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> que o ingresso <strong>de</strong> publicida<strong>de</strong>, em vez <strong>de</strong> comprometer, permite ampliar o vol<strong>um</strong>eeditorial. No horizonte está ainda a diminuição da periodicida<strong>de</strong>, para quinzenale semanal. Tu<strong>do</strong> isso vai requerer novos passos na editora e, principalmente, na produçãodas reportagens.Em 12 edições, a Revista <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> pô<strong>de</strong> penetrar o enorme bloqueio <strong>de</strong> mídia. Aju<strong>do</strong>ua <strong>de</strong>sintoxicar <strong>um</strong> pouco a informação no país, a mostrar o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho comos olhos <strong>de</strong> quem está na lida e a <strong>de</strong>stacar pessoas anônimas que ajudam a construir<strong>um</strong> novo <strong>Brasil</strong>, que querem crescimento econômico com <strong>de</strong>senvolvimento h<strong>um</strong><strong>ano</strong> epreservação <strong>do</strong> meio ambiente.Colocar a <strong>revista</strong> na mão <strong>do</strong>s leitores exige enfrentar <strong>um</strong> leão por dia, mas não comove.O que comove é entrar na casa <strong>do</strong> leitor e conquistar seu respeito. E, como diz overso <strong>de</strong> Fernan<strong>do</strong> Brant, se muito vale o já feito, mais vale o que será.Marcelo Min/Agência fotogarrafa2007 MAIO REVISTA DO BRASIL


ContentsPageOverview of GB energy markets and key outcomes .................................................. 2Market <strong>de</strong>finition ......................................................................................................... 8Nature of wholesale market competition .................................................................... 9Wholesale electricity market rules and regulations .................................................. 10Vertical integration.................................................................................................... 17Nature of retail market competition........................................................................... 19Domestic retail: weak customer response, supplier behaviour and regulations ....... 26Microbusinesses ...................................................................................................... 37Analysis of profitability and competitive price benchmarks ....................................... 39Governance of the regulatory framework ................................................................. 421


6Fredag d. 23. november 2007, kl. 18.00 i Rhe<strong>um</strong>hus,Albjergparken 4, 2660 Brøndby Strand.Vi starter med spisning og kl. 20.00 kommer:Steve<strong>do</strong>re StompersVi hygger os, danser, og vi ses i baren.Rimelige priser.Vi slutter sæsonen 2. juledag<strong>de</strong>n 26. <strong>de</strong>cember kl. 20.00over Biblioteket i BrøndbyStrand Centr<strong>um</strong>. Indgang bagNetto.Naturligvis skal man lytte tilmusik af enhver art, men netopin<strong>de</strong>n for <strong>de</strong>n traditionelle genreer <strong>de</strong>t sociale samvær megetvigtigt, og <strong>de</strong>rfor er <strong>de</strong>r altidplads til en sving-om.Saxomania med sangerenMartin Roy Wa<strong>de</strong>.Vi danser og hygger.Rimelige priser i baren.Klubbens kerneområ<strong>de</strong> er <strong>de</strong>ntraditionelle eller klassiskejazz, hvor stilarterne Dixieland,Chicago- og New Orleans samtJ<strong>um</strong>p, Boogie og Swing fortrinsviskan opleves.Er du i tvivl, så henvend dig tilBestyrelsen, som fin<strong>de</strong>s påhjemmesi<strong>de</strong>n: Brondbyjazzklub.dk


a s i lA guerranão acabouPor Vitor NuzziASecretaria da Receita Fe<strong>de</strong>ral<strong>do</strong> <strong>Brasil</strong>, a chamadaSuper-Receita, começoua funcionar neste 2<strong>de</strong> maio. Gradativamente,o órgão contará com <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong> informaçãoque permitirá o cruzamento<strong>de</strong> da<strong>do</strong>s previ<strong>de</strong>nciários e tributários,tornan<strong>do</strong>-se <strong>um</strong>a po<strong>de</strong>rosa ferramenta<strong>de</strong> combate à sonegação. Embora asbases <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s permaneçam cada qualno seu quintal – as informações daPrevidência no Dataprev e as tributáriasno Serpro –, os técnicos da Super-Receita construíram <strong>um</strong>a ponte virtualque permite à Receita i<strong>de</strong>ntificarda<strong>do</strong>s previ<strong>de</strong>nciários e checar se há,por exemplo, contradições entre o que<strong>um</strong>a empresa <strong>de</strong>veria recolher e o que<strong>de</strong> fato recolheu para <strong>um</strong> ou para o outroórgão. Além disso, para muitos casos,os contribuintes passarão a contarcom <strong>um</strong> mesmo ponto <strong>de</strong> atendimentopara resolver dúvidas ou pendências,seja com o INSS, seja com o Leão.O principal efeito <strong>de</strong>ssa integração,aposta o governo, é seu potencial <strong>de</strong> ampliara arrecadação sem mexer na cargatributária. Para os técnicos, o próprioefeito “psicológico” – o temor <strong>de</strong>ser flagra<strong>do</strong> pelo fisco – já está influencian<strong>do</strong>na arrecadação, que cresceu 10%durante os três meses <strong>de</strong> vigência da MedidaProvisória, quan<strong>do</strong> experiênciasda fusão foram postas em prática. Ouseja, como não há outra razão lógica,como a<strong>um</strong>ento da ativida<strong>de</strong> econômicana mesma proporção, a Receita acreditaque somente a expectativa <strong>de</strong> fiscalizaçãojá começou a mexer com a “consciência”<strong>do</strong> contribuinte.Centrais sindicais mantêmpressão pelo veto àEmenda 3 e para que opo<strong>de</strong>r da fiscalização sejatão eficaz para a legislaçãotrabalhista como para aarrecadação da Receita eda PrevidênciaO velho jeitinho brasileiroNo meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a discussão tributária,representantes patronais no Congressoenfiaram <strong>um</strong>a emenda trabalhistaFabio Pozzebom/abrAté aí, tu<strong>do</strong> parecia <strong>um</strong>a tacada certeira<strong>do</strong> governo, não fosse <strong>um</strong> pequeno problema<strong>de</strong> “redação”: é que, quan<strong>do</strong> a MPque criava a Super-Receita foi apreciad<strong>ano</strong> Congresso, seu texto final contraban<strong>de</strong>ou<strong>um</strong>a emenda, a famigerada Emenda3, que misturou questão tributária cominteresses trabalhistas – <strong>do</strong>s empresários.A emenda <strong>de</strong>terminava que fiscais<strong>do</strong> Trabalho não po<strong>de</strong>riam mais autuaremprega<strong>do</strong>res que utilizam contrataçãoirregular <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Ou seja, naprática a emenda afrouxaria todas as regrasque estabelecem direitos básicos <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res, <strong>um</strong>a vez que po<strong>de</strong>riam serburla<strong>do</strong>s sem que os contratantes precisassemtemer a fiscalização. A “pegadinha”foi <strong>de</strong>tectada. Quan<strong>do</strong> o presi<strong>de</strong>nteLula sancionou a lei da Super-Receita,vetou a Emenda 3.Novas batalhasA guerra, porém, não acabou. Batalhasagora continuam sen<strong>do</strong> travadas no Congresso.A oposição, <strong>de</strong> <strong>um</strong> la<strong>do</strong>, se organizapara <strong>de</strong>rrubar o veto <strong>de</strong> Lula. De outro,governo e base aliada tentam construir<strong>um</strong> projeto alternativo para que o vetonão precise ir a plenário. Em 25 <strong>de</strong> abril<strong>um</strong> suposto cachimbo da paz teria si<strong>do</strong>aceso, após <strong>um</strong>a reunião <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> duashoras no gabinete <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>,Renan Calheiros (PMDB-AL), entreo ministro da Fazenda, Gui<strong>do</strong> Mantega,o secretário da Receita, Jorge Rachid, elí<strong>de</strong>res partidários.No caso da emenda, a solução encontradafoi elaborar <strong>um</strong> projeto para regulamentaro que se chamou <strong>de</strong> pessoasjurídicas “personalíssimas”, empresasformadas por apenas <strong>um</strong> trabalha<strong>do</strong>r, nasáreas intelectuais e artísticas – <strong>um</strong> conceitoa <strong>de</strong>finir. Esses profissionais po<strong>de</strong>- REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


Fotos: paulo pepenovas manifestações em maioA manutenção <strong>do</strong> veto <strong>de</strong> Lula à Emenda 3 foi <strong>um</strong><strong>do</strong>s componentes políticos da pauta <strong>do</strong> Dia <strong>do</strong> Trabalhoorganiza<strong>do</strong> pela <strong>CUT</strong>, no Centro <strong>de</strong> São Paulo.As centrais programam novas manifestações contraa emenda no próximo dia 23 <strong>de</strong> maioriam atuar em empresas como PJs, recolhen<strong>do</strong><strong>um</strong>a contribuição previ<strong>de</strong>nciária,provavelmente <strong>de</strong> 10%, além <strong>do</strong> Imposto<strong>de</strong> Renda habitual.“Noventa e nove por cento<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, comoadvoga<strong>do</strong>s, <strong>de</strong>ntistas, profissionaisliberais, pequenospresta<strong>do</strong>res <strong>de</strong> serviço,não serão prejudica<strong>do</strong>s. Oque muda é só para o trabalhointelectual e artístico”,afirmou Mantega, logo<strong>de</strong>pois <strong>do</strong> encontro no Sena<strong>do</strong>.“Estão <strong>de</strong>sobstruí<strong>do</strong>s os canais <strong>de</strong>negociação entre o governo e a oposiçãoe, como resulta<strong>do</strong>, as votações <strong>do</strong>s vetosfeitos ao projeto da Super-Receita <strong>de</strong>ixamA emenda<strong>de</strong>terminava quefiscais <strong>do</strong> Trabalhonão po<strong>de</strong>riammais autuaremprega<strong>do</strong>resque utilizamcontrataçãoirregular <strong>de</strong> mão<strong>de</strong>-obra<strong>de</strong> ser priorida<strong>de</strong>. A oposição enten<strong>de</strong> oacor<strong>do</strong> como satisfatório”, afirmou, já nodia 26, o presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> Sena<strong>do</strong>.O lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong> DEM (antigoPFL) na Câmara,Onyx Lorenzoni, disseque a reunião <strong>do</strong> dia 25mu<strong>do</strong>u completamenteo cenário. “O gran<strong>de</strong>óbice a qualquer tipo <strong>de</strong>entendimento era a teimosia<strong>de</strong> setores <strong>do</strong> governo,que queriam <strong>de</strong>struirrelações <strong>de</strong> trabalholegalmente constituídas (por meio dasPJs)”, garantiu, convicto <strong>de</strong> que o vetoseria <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong> caso as discussões nãofossem retomadas. Também o lí<strong>de</strong>r <strong>do</strong>PSDB no Sena<strong>do</strong>, Arthur Virgílio, saiuda reunião avalian<strong>do</strong> que as chances <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> haviam a<strong>um</strong>enta<strong>do</strong> consi<strong>de</strong>ravelmente,mas não aban<strong>do</strong>nou o tomameaça<strong>do</strong>r: “Se não for possível <strong>um</strong>acor<strong>do</strong>, faremos a votação <strong>do</strong> veto emcurto espaço <strong>do</strong> tempo”. Se não houveracor<strong>do</strong> e caso o veto <strong>de</strong> Lula à emendaseja <strong>de</strong>rruba<strong>do</strong>, o governo já sinalizoudisposição em recorrer ao SupremoTribunal Fe<strong>de</strong>ral (STF).Debate acirra<strong>do</strong>No mesmo dia em que o possível acor<strong>do</strong>foi anuncia<strong>do</strong>, o ministro <strong>do</strong> Trabalhoe Emprego, Carlos Lupi, <strong>de</strong>scarregava suaartilharia no Sena<strong>do</strong>, em audiência conjuntadas comissões <strong>de</strong> Direitos H<strong>um</strong><strong>ano</strong>s2007 MAIO REVISTA DO BRASIL


que as tentativas <strong>de</strong> alterar a legislaçãotrabalhista não vêm <strong>de</strong> hoje. Começaramlogo após a Constituinte, com <strong>um</strong>projeto <strong>do</strong> ex-presi<strong>de</strong>nte e hoje sena<strong>do</strong>rFernan<strong>do</strong> Collor sobre negociaçõescoletivas, até chegar ao famoso projeto<strong>de</strong> flexibilização da CLT durante ogoverno Fernan<strong>do</strong> Henrique Car<strong>do</strong>so.Depois <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ligeira trégua, veio aEmenda 3. “No limite, qualquer relação<strong>de</strong> trabalho fraudulenta, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quese faça por pessoa jurídica, não passapor fiscalização. Quem vai <strong>de</strong>nunciar oacessório para per<strong>de</strong>r o principal, que éa renda?”, questiona o diretor <strong>do</strong> Diape analista político.Queiroz vê sinais preocupantes em relaçãoaos ataques contra os direitos trabalhistas.“Até hoje a presidência da Câmaranão consi<strong>de</strong>rou a mensagem <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nteda República, <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2003,para a retirada <strong>de</strong> projeto <strong>de</strong> lei que trata<strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> terceirização.Já passaram por lá João Paulo, SeverinoCavalcanti, Al<strong>do</strong> Rebelo, e agora está láburaco Para Carlos Lupi, ministro <strong>do</strong>Trabalho, a Emenda 3 criaria <strong>um</strong>a lacunana legislação que abriria espaço, inclusive,para o trabalho escravoArlin<strong>do</strong> Chinaglia, e até agora ninguéma retirou“, lembra. Outro exemplo cita<strong>do</strong>por Queiroz é a recente iniciativa <strong>do</strong><strong>de</strong>puta<strong>do</strong> Nelson Marquezelli (PTB-SP)<strong>de</strong> pedir ao Ministério <strong>do</strong> Trabalho queAntônio Cruz/abrexamine <strong>um</strong>a proposta <strong>de</strong> mudanças nasrelações trabalhistas, já batizada <strong>de</strong> “<strong>alternativa</strong>à CLT”. No esboço, a carteira <strong>de</strong>trabalho seria substituída por <strong>um</strong> cartãomagnético, as relações <strong>de</strong> trabalho nãoseriam mais submetidas ao Judiciário eemprega<strong>do</strong>s e emprega<strong>do</strong>res negociariamdiretamente, sem mediação sindical.Enfim, <strong>um</strong> liberou-geral.O presi<strong>de</strong>nte da Central Única <strong>do</strong>sTrabalha<strong>do</strong>res, Artur Henrique, não vêcomo <strong>um</strong>a nova redação po<strong>de</strong>ria tornara Emenda 3 palatável nem acredita que<strong>um</strong> projeto alternativo tenha trânsito noCongresso. “Essa emenda não existe paragarantir nada. Existe para <strong>de</strong>sconstruir. Oveto <strong>do</strong> presi<strong>de</strong>nte Lula tem <strong>de</strong> ser manti<strong>do</strong>”,alerta. “As formas <strong>de</strong> vínculo empregatíciojá são p<strong>revista</strong>s em lei. Assimcomo a fiscalização permitiu crescimentoda arrecadação previ<strong>de</strong>nciária, precisatambém assegurar c<strong>um</strong>primento <strong>do</strong>s direitos.É preciso garantir a ação <strong>do</strong>s fiscais<strong>do</strong> Trabalho, tanto quanto os da Receitae da Previdência”, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>.


Basta se sindicalizarRodrigo Z<strong>ano</strong>ttoA aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> telemarketing da CPFL<strong>de</strong> Campinas Rosana Ribas (vestida<strong>de</strong> azul) compartilha a RdB com oscolegas e cansa <strong>de</strong> ouvir a pergunta“como faço para receber?” E semprerespon<strong>de</strong>: “Basta se sindicalizar”. “A<strong>revista</strong> tem muita aceitação. A edição<strong>de</strong> fevereiro foi bastante comentada,principalmente pelos mais jovens.”RdB é visto como contraponto. O supervisor<strong>de</strong> manutenção elétrica da CemigJosé Luis Pereira, associa<strong>do</strong> ao Sindieletro,em Belo Horizonte, assina O Globo,Época, Superinteressante e Galileu, masnão se dá por satisfeito: “A Revista <strong>do</strong><strong>Brasil</strong> é <strong>um</strong>a fonte <strong>alternativa</strong> na qual épossível comparar alguns temas”. Pereiradiz gostar da abordagem <strong>do</strong>s assuntos <strong>do</strong>dia-a-dia, como na reportagem “A cozinhaé <strong>de</strong>les” (nº 7, <strong>de</strong>zembro), sobre homensque pilotam o fogão, das matérias<strong>de</strong> cinema e dicas culturais e das análises<strong>de</strong> mídia. “Deixo em casa disponívelpara minha mulher e meu filho lerem,pois tem assuntos que po<strong>de</strong>m interessara qualquer pessoa, não só a mim.”Rosana Ribas <strong>de</strong> Alcântara Grigoletoconcorda. Aten<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> telemarketingda CPFL Energia, Rosana compartilhaa RdB com os colegas e cansa <strong>de</strong> ouvira pergunta “como faço para receber?”E sempre respon<strong>de</strong>: “Basta se sindicalizar”.“Ela tem muita aceitação. A edição<strong>de</strong> fevereiro foi bastante comentada,principalmente pelos mais jovens”, afirmaela, sócia <strong>do</strong> Sinergia. Rosana moraem Campinas (SP) e divi<strong>de</strong> a leitura <strong>de</strong>seu exemplar com o mari<strong>do</strong>, metalúrgico.“Ele também é fã, porque a <strong>revista</strong> é completa,coloca as idéias <strong>de</strong> forma mais diretapara o leitor, sem querer enfiar nadagoela abaixo.”O café-da-manhã e o almoço na fábricada Ford, em São Bernar<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo,são os bons momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates. O metalúrgicoSimão Barbosa <strong>de</strong> Matos Netogarante que, quan<strong>do</strong> <strong>um</strong> começa a falarsobre <strong>um</strong>a reportagem, outros opinam ea conversa se espalha. “Assim muitos perceberam,também, como analisar o que aimprensa <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> geral <strong>faz</strong>”, afirma Soró,2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 21


PanPúblico cativoAs meninas <strong>de</strong> Botucatuconseguem atrair até3 mil especta<strong>do</strong>res paraseus jogosnifesto a autorida<strong>de</strong>s e cartolas pedin<strong>do</strong>melhores condições <strong>de</strong> trabalho.Mas a frustração venceu a esperança.Depois <strong>de</strong> Atenas, a seleção principal ficounada menos que <strong>do</strong>is <strong>ano</strong>s e três mesessem disputar <strong>um</strong>a partida. Só voltoua campo no Sul-Americ<strong>ano</strong> <strong>do</strong> <strong>ano</strong>passa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> per<strong>de</strong>u a invencibilida<strong>de</strong>para a Argentina, após quatro títulosconsecutivos. Para as joga<strong>do</strong>ras, a<strong>de</strong>rrota foi reflexo <strong>do</strong> <strong>de</strong>scaso geral coma modalida<strong>de</strong>. Sem calendário fixo, semcampo, sem patrocínio, as atletas contamapenas com a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> treinar, ocompanheirismo entre si e a garra <strong>de</strong> algunstécnicos que viram pais, médicos eCristi<strong>ano</strong> Zanardi/Ag.BOMDIApsicólogos – já que os motivos para <strong>de</strong>sanimarnão são poucos.Grama<strong>do</strong> <strong>de</strong> areiaAs santistas Danielli Pereira, 20 <strong>ano</strong>s,Érika <strong>do</strong>s Santos, 19, Francielle Alberto,17, e Alline Calandrine, 19, nem acreditavamque iriam <strong>de</strong> avião ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,antes <strong>de</strong> prosseguir até a Granja Comary,em Teresópolis (RJ). “A gente já viajou emcada coisa”, lembra a atacante Érika. ElaConvocadasNo início <strong>de</strong> abril, aConfe<strong>de</strong>ração <strong>Brasil</strong>eira <strong>de</strong>Futebol (CBF) anunciou aprimeira lista <strong>de</strong> convocadasvisan<strong>do</strong> ao Pan-Americ<strong>ano</strong><strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, em julho. Otécnico Jorge Barcellos chamouas seguintes joga<strong>do</strong>ras:Goleiras: Bárbara (Sport), Thaís (SaltoCeunsp) e Eduarda (Pelotas);Zagueiras: Carolina Ferreira(Botucatu), Juliana (Motorola),Calandrine (Santos), Aline(Unisantana), Mônica (sem clube),Renata Diniz (Cepe Caxias) e Tânia(Saad);Laterais: Daniele (Cepe Caxias),Danielli (Santos), Bagé (Botucatu) eMichele (Botucatu);Volantes: Renata Costa (Botucatu),Ester (Cepe Caxias), Francielle(Santos) e Daniela Alves (Saad);Meias: Fabiana (Motorola), Grazielli(Botucatu) e Raquel (Cepe Caxias);Atacantes: Maurine (Cepe Caxias),Geovania (Saad), Formiga (Saad),Paula (Cepe Caxias) e Érika (Santos).começou no São Paulo, jogou futsal, passoupelo Juventus e chegou ao Santos hápouco mais <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>ano</strong>. A lateral Daniellicomeçou a jogar com 13 <strong>ano</strong>s no Juventus.A volante Francielle é cria <strong>do</strong> técnicosantista, Kleiton Lima, que se apaixonoupelo futebol feminino nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>se <strong>de</strong> lá trouxe a idéia <strong>de</strong> montar <strong>um</strong>aescolinha no litoral. Calandrine, morenaalta <strong>de</strong> traços indígenas, <strong>de</strong>ixou a famíli<strong>ano</strong> Amapá. É tão bonita quanto brava:“Quan<strong>do</strong> a gente joga com os meninos,vou com tu<strong>do</strong> mesmo. Tem sempre <strong>um</strong>idiota que, quan<strong>do</strong> a gente joga bem, vemchamar <strong>de</strong> sapatão. Aí dá vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> bater<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>”.As atletas sabem: estar na lista finalpara o Pan será pressão certa pela vitória.Antes, porém, terão <strong>de</strong> superar a falta <strong>de</strong>intimida<strong>de</strong> com o grama<strong>do</strong>. As meninasnunca disputaram <strong>um</strong>a partida no campoda Vila Belmiro e raramente conseguemutilizar <strong>um</strong> <strong>do</strong>s centros <strong>de</strong> treinamento<strong>do</strong> clube. Na arquibancada da Vila, conversaramcom a reportagem às vésperas<strong>de</strong> viajar para o Rio. Mas a ida ao grama<strong>do</strong>,on<strong>de</strong> posariam para fotos, foi frustradapela chuva. Calandrine é fã <strong>do</strong> meia ZéRoberto – “Ele está arrasan<strong>do</strong>!” –, massabe que o í<strong>do</strong>lo, a exemplo <strong>de</strong> toda elite,<strong>de</strong>sconhece a existência das garotas.O campo é a praia. Descalças e comareia no pé, elas sabem que ali o contatocom a bola é <strong>um</strong>, e na grama, calçan<strong>do</strong>chuteiras, é outro. Mesmo assim, o Santosé <strong>um</strong> <strong>do</strong>s times mais bem estrutura<strong>do</strong>sna categoria. N<strong>um</strong>a casa em frenteà Vila Belmiro, abriga 18 meninas, querecebem ajuda <strong>de</strong> custo, uniforme, alimentação.Quan<strong>do</strong> se machucam, nãohá maca e o remédio para tu<strong>do</strong> é gelo.Mas as condições já foram piores. “Estamosevoluin<strong>do</strong>, e os resulta<strong>do</strong>s estão surgin<strong>do</strong>”,diz Kleiton.IncertezasO calendário <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s a partir<strong>do</strong> Pan prossegue até o Mundial, em setembro,na China. E <strong>de</strong>sfalcará os times<strong>de</strong> suas principais atletas. Em 2008 temOlimpíadas, na mesma China. A CBFpromete que, <strong>de</strong>sta vez, vai investir nacategoria. É esperar para ver. Até o final<strong>de</strong> abril, por exemplo, a página da entida<strong>de</strong>não tinha sequer <strong>um</strong>a chamada paraapresentar o escrete feminino. Cansadas<strong>de</strong> promessas, as joga<strong>do</strong>ras só acreditamven<strong>do</strong>. Nem no calendário confiam. Nãosabem quan<strong>do</strong> vão jogar, qual é o regulamento,tampouco se o torneio vai chegarao final.A equipe <strong>do</strong> Botucatu, por exemplo,tem cinco atletas convocadas: a zagueiraCarolina Ferreira, as laterais Daiane Rodrigues“Bagé” e Michele Reis, a volanteRenata Costa e a meio-campo GrazielleNascimento, <strong>de</strong>staque <strong>do</strong> time. Elas estrearamno campeonato paulista <strong>um</strong> diaantes <strong>de</strong> embarcar para o Rio <strong>de</strong> Janeiro,vencen<strong>do</strong> o Sorocaba por 9 a 0. Em Botucatu,as meninas não disputam atençãocom a marca <strong>do</strong>s times <strong>de</strong> base e da elite,mas ao menos são orgulho da cida<strong>de</strong>.2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 27


Pés <strong>de</strong>scalçosO Santos é consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> <strong>um</strong> <strong>do</strong>s times <strong>de</strong>melhor estrutura para o futebol feminino. Massuas meninas da seleção treinam mesmo é naareia da praia, <strong>de</strong>scalçasgera<strong>do</strong> lazzariConseguem atrair até 3 mil pessoas paraos jogos, feito que os times masculinosda primeira divisão paulista raramentealcançam.“Diante da situação <strong>do</strong> futebol femininono <strong>Brasil</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer que somosprivilegiadas. Mas, se comparar ao resto<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, o que <strong>faz</strong>emos é muito pouco”,conta Grazielle, que aos 14 <strong>ano</strong>s participou<strong>de</strong> seletivas para as Olimpíadas<strong>de</strong> Atlanta, mas era muito jovem. Esteveem Atenas em 2004 e acha que a equipetem tu<strong>do</strong> para ganhar o Pan, apesar daforça <strong>do</strong> Canadá e <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s.Assim como todas as garotas convocadas,está na torcida para que Marta, eleitamelhor joga<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, reforce ogrupo. A atacante vive na Suécia e jog<strong>ano</strong> Umea, que ainda não a liberou paraa competição. Até o Pan, haverá outrasduas chamadas.O Saad, que nasceu em São Caet<strong>ano</strong>,<strong>de</strong>sativou o futebol masculino em 1989,mas manteve o feminino, hoje sedia<strong>do</strong>em Águas <strong>de</strong> Lindóia. O time conquistouquatro títulos nacionais. Terá na seleçãoMachismoO futebol feminino não é recente.A primeira partida <strong>do</strong> gênero teriasi<strong>do</strong> realizada entre Escócia eInglaterra em 1896. Nos <strong>ano</strong>s 40,a pretexto <strong>de</strong> proteger a saú<strong>de</strong>feminina, o futebol foi veta<strong>do</strong> emvárias partes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. No <strong>Brasil</strong>, háregistros <strong>de</strong> partidas beneficentes noinício <strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, mas essahistória – como muitas outras boashistórias produzidas no país – passoupor <strong>um</strong>a interrupção forçada. A partir<strong>de</strong> 1964, a Confe<strong>de</strong>ração <strong>Brasil</strong>eira<strong>de</strong> Desportos (CBD), que existiuaté 1979, não <strong>de</strong>ixou mulherescalçar chuteiras. Somente em 1983equipes femininas começaram a serformadas.as veteranas Mirail<strong>de</strong>s Mota, a Formiga,atacante <strong>de</strong> 29 <strong>ano</strong>s, e Tânia Ribeiro, zagueira<strong>de</strong> 32, além das novatas DanielaAlves, 23 <strong>ano</strong>s, e Geovania Campos, 21.O presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> clube, Romeu CarvalhoCastro, estreou na ativida<strong>de</strong> com a equipefeminina <strong>do</strong> Guarani, junto com a tia,a ex-joga<strong>do</strong>ra Mara Villas Boas, até <strong>um</strong>presi<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> clube <strong>de</strong> Campinas acabarcom a festa, em 1985.Para Castro, mesmo que venha o ouro<strong>do</strong> Pan, a lição já foi aprendida: é bom nãocriar falsas esperanças. “É preciso trabalho<strong>de</strong> longo prazo. Hoje, em países comoos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, as meninas começamce<strong>do</strong> a jogar bola. Aqui, ainda tem muitopreconceito. É <strong>um</strong>a barreira a superar,são passos lentos, mas tem muita gentedisposta a não <strong>de</strong>sistir.”O técnico Kleiton Lima, <strong>do</strong> Santos,concorda. Ao olhar para o relógio e se<strong>de</strong>spedir da reportagem, <strong>de</strong>staca que osonho <strong>de</strong>ssas meninas, “mais que vencer,é conseguir o respeito pela opção que fizeramna vida”. A chuva dá trégua. Ele,Dani, Fran, Érika e Calan, mais <strong>um</strong>a vezsem pisar no grama<strong>do</strong> da Vila, seguempara a praia, Canal Dois. No campo <strong>de</strong>areia a drenagem não preocupa. A águaescoará naturalmente para o mar. Às vezesa bola também vai rolar nessa direção,e será preciso resgatá-la.28 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


s a ú d eUm brin<strong>de</strong> ao sucoPesquisas revelam que, paradiminuir os riscos <strong>de</strong> <strong>do</strong>enças, tanto <strong>faz</strong>cons<strong>um</strong>ir frutas, leg<strong>um</strong>es e verduras noprato ou no copoPor Cida <strong>de</strong> OliveiraQue ele é a opção mais saudável e nutritiva entre asbebidas refrescantes, não restam dúvidas. Só que,para muitos médicos e nutricionistas, seu benefícioà saú<strong>de</strong> é inferior quan<strong>do</strong> compara<strong>do</strong> ao cons<strong>um</strong>o<strong>de</strong>sses alimentos aos pedaços. Isso porqueas fibras presentes no bagaço, nas folhas, na casca e na polpa nãoresistem ao espreme<strong>do</strong>r, liquidifica<strong>do</strong>r ou centrífuga. Além <strong>do</strong>mais, vitaminas e minerais também seriam perdi<strong>do</strong>s nesses processos.Em res<strong>um</strong>o, a maior parte <strong>de</strong> suas proprieda<strong>de</strong>s funcionais– nome que os especialistas dão à capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s alimentos<strong>de</strong> prevenir <strong>do</strong>enças – vai pelo ralo. Ou melhor, ia.Um estu<strong>do</strong> concluí<strong>do</strong> recentemente na Europa por pesquisa<strong>do</strong>res<strong>de</strong> <strong>um</strong> instituto in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte britânico, o NutritionCommucations, <strong>do</strong> Reino Uni<strong>do</strong>, apontou exatamente o contrário.Os sucos integrais têm, sim, gran<strong>de</strong> potencial preventivo,inclusive contra vários tipos <strong>de</strong> câncer e <strong>do</strong>enças cardiovasculares.Para Carrie Ruxton, coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra da pesquisa divulgadana <strong>revista</strong> European Journal of Clinical Nutrition, chegou a hora<strong>de</strong> reexaminar o atual consenso. Ela e seus colegas tabularamos resulta<strong>do</strong>s <strong>de</strong> vários estu<strong>do</strong>s sobre a redução <strong>do</strong>s riscos <strong>de</strong><strong>do</strong>enças atribuída a fibras e substâncias antioxidantes presentesnos sucos. Além <strong>de</strong> normalizar a função <strong>do</strong>s intestinos, asfibras ajudam a livrar os vasos sanguíneos das frações nocivas<strong>do</strong> colesterol, que os entopem aos poucos, facilitan<strong>do</strong> a pressãoalta, o infarto e o <strong>de</strong>rrame.Do mesmo mo<strong>do</strong>, os antioxidantes combatem a ação <strong>do</strong>s chama<strong>do</strong>sradicais livres, que, por levar ao envelhecimento precocedas células, provocam muitas <strong>do</strong>enças. Inclusive as neuro<strong>de</strong>generativas,como o mal <strong>de</strong> Alzheimer. Um estu<strong>do</strong> recente da Universida<strong>de</strong><strong>de</strong> Glasgow, na Grã-Bretanha, revelou que sucos <strong>de</strong>uva, maçã e amora são gran<strong>de</strong>s fontes da substância. Os resulta<strong>do</strong>ssão semelhantes aos encontra<strong>do</strong>s por Thomas B. Shea, <strong>do</strong>Centro <strong>de</strong> Pesquisa em Neurobiologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Massachusetts,em Lowell, Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Ele disse à Revista <strong>do</strong><strong>Brasil</strong> que o suco puro <strong>de</strong> maçã e o <strong>de</strong> espinafre <strong>faz</strong>em <strong>um</strong> bemdana<strong>do</strong> à função da memória. “Além <strong>de</strong> ricos em antioxidantes,a<strong>um</strong>entam a produção <strong>de</strong> neurotransmissores, ou seja, os agentesenvolvi<strong>do</strong>s na conexão das células cerebrais”, explicou.Van<strong>de</strong>rli Marchiori, diretora da Associação Paulista <strong>de</strong> Nutrição,en<strong>do</strong>ssa esses da<strong>do</strong>s. “As substâncias antioxidantes, vitaminase minerais presentes nas frutas e outros vegetais são preserva<strong>do</strong>sno suco”, garante. Segun<strong>do</strong> ela, tomar <strong>um</strong> suco com oitovegetais diferentes, por exemplo, é a mesma coisa que mastigaras mesmas quantida<strong>de</strong>s concentradas na bebida. “Se não fosseassim, os suplementos <strong>de</strong> vitaminas e minerais naturais seriamineficazes. E não faltam estu<strong>do</strong>s comprovan<strong>do</strong> tal eficácia”, diza nutricionista.Cabe ressaltar que nem to<strong>do</strong>s os sucos são dignos <strong>de</strong> recebertal nome. Aquele feito em casa, na hora <strong>de</strong> ser servi<strong>do</strong>, é muitomelhor que os industrializa<strong>do</strong>s. Primeiro porque é absolutamentefresco, reunin<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os nutrientes, inclusive vitaminas,que per<strong>de</strong>m o efeito <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> alg<strong>um</strong> tempo <strong>do</strong> preparo.Além disso, não sofre o processo <strong>de</strong> pasteurização – aquela fervuraque além <strong>de</strong> matar bactérias nocivas mata as benéficas aosintestinos. E terceiro porque é totalmente isento <strong>de</strong> aditivos econservantes químicos. Para se ter <strong>um</strong>a idéia, <strong>um</strong> suco fresquinho,toma<strong>do</strong> na hora, fornece 95% das vitaminas e minerais dafruta ou hortaliça. Tintim.bom para a memóriaSucos antioxidantes, comoo da maçã, ajudam aprevenir <strong>do</strong>ençasneuro<strong>de</strong>generativasSXC2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 29


c o n s u m i d o rPor<strong>um</strong>fioPara linha telefônica, tecle 1.Para cartão <strong>de</strong> crédito,tecle 2. Celular? Tecle 3.Para se <strong>de</strong>s<strong>faz</strong>er <strong>do</strong> produto,prepare-se: nessa hora, avida <strong>do</strong>s teleaten<strong>de</strong>ntes econs<strong>um</strong>i<strong>do</strong>res vira<strong>um</strong> infernoPor Miriam SangerAcena é clássica. O cidadãoadquire muito facilmente<strong>um</strong> produto ou <strong>um</strong> serviço.Paga corretamente porele. Mas, se por alg<strong>um</strong> motivonão quiser mais o produto ou serviço,<strong>de</strong>ve se preparar para o pior. Principalmentese for telefonia ou cartão <strong>de</strong>crédito. Para começar, atendimento pessoalestá praticamente extinto. Restaramas centrais <strong>de</strong> atendimento telefônico, oucall centers. O cliente liga <strong>um</strong>a vez, duas,três, <strong>de</strong>z vezes. Depois, tem <strong>de</strong> superaras tais Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Resposta Audível(URA): para isso, tecle 1; para aquilo, tecle2; para tal, tecle 3; e assim por diante– quan<strong>do</strong> na maioria <strong>do</strong>s casos o que a pessoaquer é falar com “<strong>um</strong> <strong>de</strong> nossos aten<strong>de</strong>ntes”,geralmente a última das opções. E,quan<strong>do</strong> não <strong>de</strong>siste e consegue chegar até<strong>um</strong> <strong>de</strong>les, o pesa<strong>de</strong>lo continua.“Está <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> no Código <strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong>Cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r que a empresa é obrigadaa oferecer <strong>um</strong> canal <strong>de</strong> atendimento ao30 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


Os call centers <strong>faz</strong>em relatórios diáriose mensais da atuação <strong>de</strong> seus aten<strong>de</strong>ntes.Tu<strong>do</strong> é cronometra<strong>do</strong>. O expediente <strong>de</strong>Dulce é <strong>de</strong> seis horas, em tese. Ela precisater 90% <strong>de</strong> “a<strong>de</strong>rência” – o que significamanter o b<strong>um</strong>b<strong>um</strong> na ca<strong>de</strong>ira por no mínimocinco horas e meia. Se quiser se alimentar,tomar <strong>um</strong> café, ir ao banheiro ouresolver <strong>um</strong> problema com a chefia, terá <strong>de</strong>administrar o tempo restante. “Evitamoslevantar até para ir à sala ao la<strong>do</strong> para falarcom <strong>um</strong> supervisor sobre a situação <strong>de</strong><strong>um</strong> cliente”, conta. A média é <strong>de</strong> 70 pessoaspor dia queren<strong>do</strong> encerrar seu relacionamentocom o banco. A empresa <strong>de</strong>terminatempo médio <strong>de</strong> atendimento <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>com a experiência <strong>do</strong> opera<strong>do</strong>r: na primeirasemana <strong>de</strong> trabalho, 230 segun<strong>do</strong>spor cliente. Na segunda, 150. Depois, seultrapassar 130 segun<strong>do</strong>s, volta para a área<strong>do</strong>s iniciantes, ante-sala <strong>do</strong> aviso prévio.Papel <strong>do</strong> cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>rGeílson <strong>de</strong> Souza trabalhou por <strong>um</strong> <strong>ano</strong>e meio no atendimento a clientes <strong>de</strong> <strong>um</strong>aempresa <strong>de</strong> previdência privada e temhistórias similares <strong>de</strong> <strong>de</strong>sacato ao cliente,como o conheci<strong>do</strong> <strong>de</strong>ixe-seu-telefone-On<strong>de</strong> reclamarn Procon <strong>Brasil</strong>Existem no <strong>Brasil</strong> 27 unida<strong>de</strong>sestaduais <strong>do</strong> Procon e mais <strong>de</strong> 400municipais. A página <strong>do</strong> Ministério daJustiça tem ferramenta <strong>de</strong> busca <strong>do</strong>sen<strong>de</strong>reços: www.mj.gov.br/DPDCn São Paulo0800-171233 ou (11) 1512Fax: (11) 3824-0717Carta: Caixa Postal 3050São Paulo/SP - CEP: 01061-970www.procon.sp.gov.brn Rio <strong>de</strong> Janeiro(21) 1512www.cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r.rj.gov.brn Distrito Fe<strong>de</strong>ralwww.procon.df.gov.brn Outros órgãosInstituto <strong>Brasil</strong>eiro<strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r (I<strong>de</strong>c)(11) 3872-7188, www.i<strong>de</strong>c.org.brAssociação <strong>Brasil</strong>eira<strong>de</strong> Defesa <strong>do</strong> Cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r(21) 2204-1525, www.adcon.org.brTensão permanente Call center: aten<strong>de</strong>nte sofre pressão <strong>do</strong> cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>r e da chefiae-entraremos-em-contato. “Havia temasque tinham <strong>de</strong> ser passa<strong>do</strong>s para outrasáreas. Eu dizia que faria novo contatocom o cliente em cinco dias. Raramenteisso acontecia, pois as outras áreas <strong>de</strong>moravama respon<strong>de</strong>r. Se o cliente voltava aligar, mais enfureci<strong>do</strong>, a orientação internaera livrar-se <strong>de</strong>le”, conta Geílson.“O cliente sempre sai prejudica<strong>do</strong>, sabemosdisso. Mas é a única forma <strong>de</strong> atingirmosnossa meta. Resolve-se a questãoparcialmente naquela hora, mas o problemavai persistir e o cliente vai ligar <strong>de</strong>novo”, concorda Maristela.No segmento <strong>de</strong> cartões <strong>de</strong> crédito, porexemplo, quase 90% das reclamações dizemrespeito à dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> cancelamento<strong>do</strong> serviço. No caso da opera<strong>do</strong>ra<strong>de</strong> telefonia para a qual a empresa <strong>de</strong> Maristelatrabalha, a linha é contratada com<strong>um</strong>a simples ligação, mas pedi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> cancelamentoprecisam ser feitos por meio<strong>de</strong> carta manuscrita. “Somos orienta<strong>do</strong>s,no caso <strong>de</strong> o cliente citar órgãos comoProcon, a emitir <strong>um</strong>a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> serviçointerna e <strong>faz</strong>er o cancelamento em no máximotrês dias”, conta ela. “Se as empresasoferecessem acesso e atendimento rápi<strong>do</strong>,o grau <strong>de</strong> confiabilida<strong>de</strong> da populaçãocresceria e não haveria tanto atrito. Masvemos o movimento inverso: elas negligenciamseus clientes e eles, por sua vez,estão cada dia mais <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong>s”, afirmaMarta Cassis, <strong>do</strong> Procon-SP.O problema é que o cidadão prejudica<strong>do</strong>muitas vezes também peca ao não seanimar em reclamar por seus direitos. Oamadurecimento das pessoas e sua persistênciaé que forçarão as empresas queainda apostam no se-colar-colou a mo<strong>de</strong>rnizarsua conduta – <strong>um</strong>a vez que qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> atendimento, tanto ou mais <strong>do</strong>que preço, é <strong>de</strong>cisiva n<strong>um</strong> merca<strong>do</strong> cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>rtão disputa<strong>do</strong>.“Quan<strong>do</strong> as queixas chegam até nós,entramos em contato com a empresa,que precisa <strong>de</strong>stacar <strong>um</strong> funcionário paracomparecer a <strong>um</strong>a audiência. Se o casonão é resolvi<strong>do</strong> nessa instância, vai paraa Justiça – e então a companhia é obrigadaa enviar <strong>um</strong> advoga<strong>do</strong>, o que lhe custacaro. Acredito que, com a insistênciada população, as empresas vão perceberque é melhor agir corretamente e comi<strong>do</strong>neida<strong>de</strong>”, diz Marta. A ética empresarialé <strong>um</strong> <strong>do</strong>s ingredientes mais valiosos<strong>de</strong> <strong>um</strong>a marca. Se isso não está no DNA<strong>de</strong> <strong>um</strong>a empresa, que ela aprenda, então,com os cons<strong>um</strong>i<strong>do</strong>res que não aceitarempassivamente o <strong>de</strong>srespeito.Eduar<strong>do</strong> KEnapp/folha imagem32 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


fotos: Paulo PepeSem perdãoJogar lixo na calçada, arremessar latapela janela <strong>do</strong> carro e empurrar sujeiracom água tratada são crimes pratica<strong>do</strong>scotidianamente contra o meio ambientenunca esteve tão presente no noticiário e<strong>de</strong> forma tão preocupante.Mas, enquanto se buscam novas estratégias<strong>de</strong> conduta para evitar a catástrofefutura, o ser h<strong>um</strong><strong>ano</strong> bem que podiase tocar <strong>de</strong> que a vidinha que segue aoseu re<strong>do</strong>r também <strong>faz</strong> parte <strong>de</strong>sse tal <strong>de</strong>meio ambiente. Embora a consciência socioambientalesteja em alta, ainda existemuita gente <strong>de</strong> ín<strong>do</strong>le poluída que podiatornar o mun<strong>do</strong> muito melhor – hoje –com pouco esforço.Por exemplo, ao verificar se o móvelque está compran<strong>do</strong> é <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira certificada,você ajuda a combater o <strong>de</strong>smatamento.Ao diminuir o cons<strong>um</strong>o <strong>de</strong> carnevermelha, colabora com a preservação <strong>do</strong>“pulmão” <strong>do</strong> planeta – segun<strong>do</strong> o BancoMundial, a pecuária foi a maior responsávelpelo <strong>de</strong>smatamento da região amazônica.Ao <strong>de</strong>ixar o carro na garagem <strong>um</strong>dia por semana, ajuda a diminuir a emissão<strong>de</strong> gases poluentes e o efeito estufa. Senão joga no ralo o óleo com que fritou obolinho, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> poluir lençóis freáticose áreas <strong>de</strong> manancial. Se escova os <strong>de</strong>ntescom a torneira fechada, consome menos<strong>de</strong> meio litro <strong>de</strong> água, em vez <strong>de</strong> 13 litros.O <strong>Brasil</strong>, aliás, é <strong>um</strong> <strong>do</strong>s campeões mundiaisno <strong>de</strong>sperdício <strong>de</strong> água. A Organizaçãodas Nações Unidas (ONU) afirmaque 120 litros <strong>de</strong> água são suficientes parao cons<strong>um</strong>o diário <strong>de</strong> <strong>um</strong>a pessoa – no<strong>Brasil</strong>, a média é <strong>de</strong> 200.Segun<strong>do</strong> pesquisa realizada pelo VoxPopuli em março, os brasileiros até estãopreocupa<strong>do</strong>s com o meio ambiente, masainda relacionam o assunto a temas grandiososcomo o aquecimento global e o<strong>de</strong>rretimento das geleiras, e não necessariamentea pequenas coisas <strong>do</strong> dia-a-dia.Como <strong>de</strong>ixar a TV ligada à toa, comprare preparar alimentos em excesso e <strong>de</strong>poisjogar fora, lavar calçada com mangueira,jogar bituca <strong>de</strong> cigarro, pacote <strong>de</strong> salgadinhoe latinha <strong>de</strong> bebida pela janela <strong>do</strong>carro, botar no lixo com<strong>um</strong> a latinha <strong>de</strong>molho <strong>de</strong> tomate ou o pacote <strong>de</strong> macarrão,que po<strong>de</strong>m ser recicla<strong>do</strong>s.A pesquisa revelou que, embora os ent<strong>revista</strong><strong>do</strong>sindiquem entre os “principaisproblemas <strong>de</strong> seu bairro” falta <strong>de</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong>esgoto e saneamento básico, <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>lixo, <strong>de</strong> água e <strong>de</strong> tratamento – tu<strong>do</strong> liga<strong>do</strong>a questões ambientais –, apenas 14% <strong>do</strong>sbrasileiros acreditam que exista problema2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 35


Retratofotos: mauricio moraisEurival<strong>do</strong> e Corisval<strong>do</strong>Por Mauricio MoraisEurival<strong>do</strong> José <strong>de</strong> Souza, 36 <strong>ano</strong>s, cresceu na roça,na comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Queima<strong>do</strong>s, em Canarana (BA).Sustenta os três filhos com a mamona que planta,junto com os <strong>do</strong>is irmãos, na terra herdada <strong>do</strong> pai.Ven<strong>de</strong> para os armazéns da cida<strong>de</strong> e o preço sobe oucai conforme a <strong>de</strong>manda. Em fevereiro foi inaugurada em Iraquara,cida<strong>de</strong> vizinha, a usina <strong>de</strong> biodiesel <strong>Brasil</strong> Ecodiesel, quepo<strong>de</strong> comprar matéria-prima <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 35 mil famílias da região.Em vez <strong>de</strong> usar sua mamona como moeda em armazéns,Eurival<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria ven<strong>de</strong>r para a usina, a 37 reais a saca <strong>de</strong> 60quilos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se unisse a <strong>um</strong>a das três cooperativas locais.“A gente tem que assinar compromisso. Eles <strong>de</strong>moram 30 diaspra pagar. No armazém pagam na hora ou até adiantam, e o preçopo<strong>de</strong> subir; na cooperativa, não.” Eurival<strong>do</strong> prefere esperar,para ter certeza <strong>de</strong> fartura. “Ainda não sei.”Corisval<strong>do</strong> Batista da Cruz tem 65 <strong>ano</strong>s, tambémmora em Canarana. Já trabalhou <strong>de</strong> carpinteiro,pedreiro e sempre plantou. “Antes era mandioca,mas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1964 planto mamona. O problema é aseca. Se tem boa molha, é <strong>um</strong>a beleza.” O veter<strong>ano</strong>lembra que antes era tu<strong>do</strong> manual, mas agora é preciso ter maquinárioe mais gente para trabalhar. “No esquema <strong>do</strong> <strong>de</strong>pósito,tem dia que o preço da saca tá <strong>de</strong> <strong>um</strong> jeito, amanhã baixou.Hoje você vai no <strong>de</strong>pósito e pega 2 mil reais. Se no dia que forentregar a mamona como pagamento o preço da saca baixou,aí tem que entregar mais mamona”, <strong>de</strong>screve. “Agora, com essejeito da cooperativa, o preço é mais certo, a gente sabe quantovai receber, eles vão dar semente, ajudar na colheita, po<strong>de</strong>morientar na hora <strong>de</strong> plantar e a gente passa para os amigos. Achoque vamos ter resulta<strong>do</strong>”, acredita Corisval<strong>do</strong>.2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 37


c i d a d a n i aSonhos restaura<strong>do</strong>sEnsinan<strong>do</strong> jovens arecuperar seu patrimôniohistórico, o Recife apren<strong>de</strong>a preservar seu patrimônioh<strong>um</strong><strong>ano</strong>Por Paulo PepeAo caminhar pela cida<strong>de</strong> embusca <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vaga <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>nteem lanchonete, Germ<strong>ano</strong>Oliveira <strong>do</strong> Nascimento,<strong>de</strong> 23 <strong>ano</strong>s, não sepreocupava com a paisagem em seu entorno.A metrópole que exala história nãolhe dizia nada. Quan<strong>do</strong> notava <strong>um</strong>a construção<strong>de</strong>ca<strong>de</strong>nte até pensava: “Por queessa porcaria não cai logo?” Hoje Germ<strong>ano</strong>vê a cida<strong>de</strong> com outros olhos. Eleé <strong>um</strong> <strong>do</strong>s 280 diploma<strong>do</strong>s pela OficinaEscola para Restauração <strong>de</strong> Bens Imóveis<strong>do</strong>s Sítios Históricos <strong>do</strong> Recife.Iniciada em 2003, a Oficina conta comrecursos <strong>do</strong> Pl<strong>ano</strong> Nacional <strong>de</strong> Qualificação<strong>do</strong> Ministério <strong>do</strong> Trabalho e Emprego– e tem impulsiona<strong>do</strong> a vida <strong>de</strong> jovensmora<strong>do</strong>res nas comunida<strong>de</strong>s pobres dasregiões centrais <strong>do</strong> Recife, on<strong>de</strong> se encontrambaixo Índice <strong>de</strong> DesenvolvimentoH<strong>um</strong><strong>ano</strong> e alto índice <strong>de</strong> violência. O projetoestá incluí<strong>do</strong> no sistema público <strong>de</strong>empregos, ferramenta que <strong>faz</strong> a intermediaçãoentre a capacitação profissional eas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra local.paulo pepepaulo pepeDe volta a seu lugar A cruz reconstruída no alto da igreja e os jovens restaura<strong>do</strong>res Mércia, Monique, Germ<strong>ano</strong> e Renato: perspectiva38 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


DescobertaRoberta e Andreia:“É difícil explicar,mas é completo. Foiemocionante”2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 41


o que importa é a pessoaVivian não vai a <strong>um</strong>a baladapremeditan<strong>do</strong> se vai ficar comhomem ou com mulherção clara <strong>de</strong> <strong>um</strong>a figura masculina e outrafeminina. Hoje isso já não é necessário.Embora ainda exista preconceito,as lésbicas perceberam que não precisammais seguir papéis e, sen<strong>do</strong> duas mulheres,po<strong>de</strong>m, sim, formar <strong>um</strong> casal”, afirmaa terapeuta.O preconceito, <strong>de</strong> fato, ainda fala alto.Tatiana, por exemplo, pe<strong>de</strong> para utilizarpseudônimos para contar sua história.Ela era casada com Marcelo, executivo<strong>de</strong> <strong>um</strong>a multinacional, e morava nosEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. Tinha larga<strong>do</strong> no <strong>Brasil</strong>a profissão <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntista e a melhor amiga,Fernanda, com quem ela e o mari<strong>do</strong>conviveram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a a<strong>do</strong>lescência. Aos 30<strong>ano</strong>s e com <strong>um</strong>a vida confortável, tu<strong>do</strong>parecia estar no <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> lugar, menos ocoração. A amiga, também casada e com<strong>um</strong>a filha, passou a visitar o casal comfreqüência. A paixão entre as duas virou<strong>um</strong> romance secreto por sete <strong>ano</strong>s. Fernandafez <strong>do</strong> vôo para a América <strong>do</strong> Norte<strong>um</strong>a ponte aérea. Sempre achava <strong>um</strong>a<strong>de</strong>sculpa para visitar a amiga, especialmentequan<strong>do</strong> esta ficou grávida. Tatiana,por sua vez, não conseguia mais disfarçara ansieda<strong>de</strong>.“Era horrível! Eu me sentia péssimapor trair <strong>um</strong>a pessoa que me amava e juravaque nosso casamento seria para sempre.Mas a falta que eu sentia da Fernanda<strong>do</strong>ía. Não conseguíamos evitar. Trocávamoslongas cartas <strong>de</strong> amor, escritas àmão.” Quan<strong>do</strong> nasceu a filha <strong>do</strong> casal, batizadapela madrinha Fernanda, Marceloandava <strong>de</strong>sconfia<strong>do</strong>. Até que Tatiana lhecontou tu<strong>do</strong>. Detalhadamente. “Ele <strong>de</strong>u<strong>um</strong> murro na porta, berrou, mas readquiriuo controle. Sugeriu que po<strong>de</strong>ria ser ohomem certo para mim e para ela.”Mais que sexoA terapeuta Sylvia explica que muitoshomens têm essa fantasia, mas, alerta, odiscurso é com<strong>um</strong> enquanto o homemestá no coman<strong>do</strong>; quan<strong>do</strong> se sente traí<strong>do</strong>,a história é outra. “Vêm a insegurança,o ciúme, a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lidar com onovo.” Foi o que aconteceu. O trio tentouencarar <strong>um</strong>a relação aberta, mas veio insegurança<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s os la<strong>do</strong>s. Casamento<strong>de</strong>sfeito e <strong>de</strong> volta ao <strong>Brasil</strong>, Tatiana dizter ass<strong>um</strong>i<strong>do</strong> mais que <strong>um</strong>a nova orientaçãosexual: “Surtei!” O romance comFernanda não resistiu à curiosida<strong>de</strong> sobreo novo mun<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto. “Quis ficarsolteira, experimentar o novo la<strong>do</strong> <strong>de</strong>scoberto.Parti para novas experiências,namorei outras mulheres.” As duas aindaconvivem, “aos trancos e barrancos”.Fernanda nunca ficou com outra pessoa.Diz que Tatiana será a única. “Agora, <strong>faz</strong><strong>do</strong>is <strong>ano</strong>s que estamos nessa história. Começan<strong>do</strong>e terminan<strong>do</strong>. Não posso garantirque seja a última vez”, entrega-sea nova Tatiana, professora <strong>de</strong> ioga, cujafilha, <strong>de</strong> 5 <strong>ano</strong>s, tem o mesmo nome damadrinha, Fernanda.A psicóloga Lívia Monteiro Elias aten<strong>de</strong>em seu consultório, na zona oeste <strong>de</strong>São Paulo, várias mulheres em crise comsua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> sexual. Insatisfeitas com osparceiros e sem <strong>um</strong> canal <strong>de</strong> comunicaçãofranco, acabam elegen<strong>do</strong> <strong>um</strong> novo sujeito– muitas vezes <strong>do</strong> mesmo sexo – para amar.“Para as mulheres, a sexualida<strong>de</strong> está inti-42 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


A homossexualida<strong>de</strong> na história <strong>do</strong> homemNa Grécia Antiga, noscampos <strong>de</strong> batalha, eracom<strong>um</strong> o homem mais velhoter <strong>um</strong> companheiro jovem.Quan<strong>do</strong> a guerra acabava, omais velho voltava para suacida<strong>de</strong> e se casava com <strong>um</strong>amulher. No século 7 a.C., apoeta Safo, <strong>de</strong>siludida comos homens, reúne na Ilha<strong>de</strong> Lesbos <strong>um</strong>a comunida<strong>de</strong>só <strong>de</strong> mulheres. Unidas pelamúsica, pela poesia e peloculto a Afrodite, Deusa <strong>do</strong>Amor, tornam-se guerreiras,mas acabam dizimadas pelosgregos.No Império Rom<strong>ano</strong>, ossenhores po<strong>de</strong>riam terseus rapazes preferi<strong>do</strong>s,mas só eram tolera<strong>do</strong>squan<strong>do</strong> ativos. O impera<strong>do</strong>rConstantino (século 4 d.C.)punia homossexuais coma morte. A Ida<strong>de</strong> Média(entre os séculos 5 e 15)foi o inferno <strong>do</strong>s gays. Ocristianismo vê “sujeira” narelação entre homossexuais,eram persegui<strong>do</strong>s equeima<strong>do</strong>s. O Renascimento(entre os séculos 15 e 16) foimenos ru<strong>de</strong>. Luís XVI, que secasou com Maria Antonietaaos 16 <strong>ano</strong>s e virou rei daFrança aos 20 (no século 18),era liberal e tinha <strong>um</strong> irmãogay.No século passa<strong>do</strong>, cerca<strong>de</strong> 100 mil homossexuaisforam arrasta<strong>do</strong>s a campos<strong>de</strong> concentração pelosnazistas. Em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1948 as Nações Unidasassinam a DeclaraçãoUniversal <strong>do</strong>s DireitosH<strong>um</strong><strong>ano</strong>s. Nas décadasseguintes, ebulições políticas,culturais e a revoluçãosexual dariam dimensãoaos clamores contra asdiscriminações – por gênero,raça, orientação sexual ereligiosa. Nos 70, movimentosque discutem sexualida<strong>de</strong> seorganizam politicamente.Hoje incorporada aosgran<strong>de</strong>s temas sociais, aliberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> opção sexualpauta até as relações entrecapital e trabalho. Sindicatosa incluem na discussão <strong>de</strong>acor<strong>do</strong>s coletivos. Alg<strong>um</strong>asempresas admitem quefuncionário ou funcionáriatenham parceiro ou parceiracomo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> pl<strong>ano</strong><strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, por exemplo.mamente ligada à afetivida<strong>de</strong>”, diz. Muitoscasos ocorrem entre amigas. A intimida<strong>de</strong>leva à c<strong>um</strong>plicida<strong>de</strong>, à admiração,a outro olhar... E a outros sentimentos,como <strong>de</strong>sejo e amor. Não necessariamentenessa or<strong>de</strong>m. Para Sylvia Marz<strong>ano</strong>, quetambém é urologista e aten<strong>de</strong> homens empânico com “o que <strong>faz</strong>er para satis<strong>faz</strong>erminha parceira”, a mulher busca em outrao que não encontra no homem. “Buscamais <strong>do</strong> que sexo: quer estar literalmentejunto com alguém.” Isso explicaria, os“casamentos” supostamente mais estáveisentre mulheres, em que, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>com a estudiosa, dificilmente acontece<strong>um</strong>a traição.Roberta Reis tinha <strong>um</strong> namora<strong>do</strong>, <strong>um</strong>trabalho como coor<strong>de</strong>na<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> laboratório<strong>de</strong> <strong>um</strong>a farmácia <strong>de</strong> manipulaçãoe <strong>um</strong>a vaga para preencher em sua pequenaequipe. Andreia <strong>de</strong> Oliveira tinha<strong>um</strong>a namorada, estudava enfermagem ebuscava emprego. E assim seus caminhosse cruzaram. Passaram a compartilhar arotina e a ficar juntas. No início Andreia,aos 17 <strong>ano</strong>s, não teve coragem <strong>de</strong> ass<strong>um</strong>irsua sexualida<strong>de</strong>. Teve me<strong>do</strong> <strong>de</strong> serjulgada e que isso interferisse no trabalhorecém-conquista<strong>do</strong>. Mas pensamentospouco orto<strong>do</strong>xos já passeavam pelacabeça <strong>de</strong> Roberta, então com 23 <strong>ano</strong>s,que se surpreendia pensan<strong>do</strong> “muito” naFeminilida<strong>de</strong>Sylvia: “As lésbicasperceberam quenão precisammais seguir papéise, sen<strong>do</strong> duasmulheres, po<strong>de</strong>m,sim, formar <strong>um</strong>casal”jovem auxiliar. A relação com seu namora<strong>do</strong>não andava bem.Escon<strong>de</strong>r ou nãoResolveu arriscar. Um dia, na hora <strong>do</strong>café, lascou <strong>um</strong> beijo na menina. Daí atéas verda<strong>de</strong>s começarem a sair <strong>do</strong> armárioforam duas semanas <strong>de</strong> jogos <strong>de</strong> seduçãoe carícias. A primeira transa foi <strong>um</strong> <strong>de</strong>safiopara ambas. De <strong>um</strong> la<strong>do</strong>, a mais jovem,que já tivera duas namoradas e era ass<strong>um</strong>idaem casa e com amigos: “Ficava inseguraporque ela é mais velha, já tinha transa<strong>do</strong>com outros homens e podia não gostar”.De outro, a mais velha, sem nenh<strong>um</strong>a experiênciacom mulher: “Ficava imaginan<strong>do</strong>como seria, o que eu <strong>de</strong>veria <strong>faz</strong>er”.E...? Elas caem na risada e Roberta conta:“A primeira vez foi no Carnaval, nacasa da minha mãe, no interior <strong>de</strong> MinasGerais. É difícil explicar, mas é completo.Naturalmente você <strong>de</strong>scobre o que suaparceira quer e o que você quer. Foi emocionante”.Roberta resolveu ass<strong>um</strong>ir, contoupara o ex-namora<strong>do</strong>, <strong>de</strong>pois para afamília. A sensação foi <strong>de</strong> alívio: “Depois<strong>de</strong> contar em casa tu<strong>do</strong> é mais fácil. Minhamãe enten<strong>de</strong>u n<strong>um</strong>a boa”. Ingenuamente,nem fizeram questão <strong>de</strong> escon<strong>de</strong>ra relação no trabalho. Resulta<strong>do</strong>: Andreiaper<strong>de</strong>u o emprego e a namorada <strong>de</strong>mitiuseem solidarieda<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>riam ter recorri<strong>do</strong>à Justiça por discriminação sexual.Mas não quiseram. Hoje, trabalham emlocais diferentes e, por segurança, resolverammanter o assunto da porta <strong>do</strong> trabalhopara fora. Estão juntas há <strong>do</strong>is <strong>ano</strong>s.2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 43


v i a g e mA gran<strong>de</strong>batalha <strong>do</strong>forróCaruarudivulgaçãogerar<strong>do</strong> lazzariA partir <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> junho serão 30 dias<strong>de</strong> festa. Ou 700 horas <strong>de</strong> forró. Quemestá em Campina Gran<strong>de</strong> (PB) jura queali se <strong>faz</strong> o maior São João <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Mas Caruaru (PE) <strong>de</strong>safia: ali é que é acapital nacional <strong>do</strong> forró. Nesse repente,não importa quem vence. O queimporta são as armas: forró no café, noalmoço e na janta e 24 horas por dia <strong>de</strong>manifestações <strong>de</strong> cultura brasileira44 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


Campina Gran<strong>de</strong>Campina Gran<strong>de</strong>Campina Gran<strong>de</strong>Caruarudivulgação divulgação gerar<strong>do</strong> lazzari2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 45


O maior <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>Por Fernan<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oliveira, <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>Na paraibana Campina Gran<strong>de</strong>, estão programadas 480 atraçõese aproximadamente 300 quadrilhas juninas. O título <strong>de</strong> “Maior SãoJoão <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>” <strong>de</strong>ve-se aos 42 mil metros quadra<strong>do</strong>s reserva<strong>do</strong>spara <strong>um</strong> público espera<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1,5 milhão <strong>de</strong> pessoas. O São João <strong>de</strong>Campina Gran<strong>de</strong> a cada <strong>ano</strong> atrai mais gente <strong>do</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.A 25ª edição da festa ocorrerá entre os dias 1º <strong>de</strong> junho e 1º<strong>de</strong> julho. O projeto São João nos Bairros ajuda a <strong>de</strong>scentralizar oevento e <strong>faz</strong> com que não apenas o Parque <strong>do</strong> Povo, on<strong>de</strong> é montadaa estrutura principal, seja palco da folia <strong>de</strong>dicada ao principalsanto <strong>do</strong> mês. Durante o mês é possível ouvir acor<strong>de</strong>s da sanfonaem toda Campina Gran<strong>de</strong>. O forró ultrapassa os limites geográficosda cida<strong>de</strong> e inva<strong>de</strong> também os distritos <strong>de</strong> Galante (para on<strong>de</strong>viaja o Trem <strong>do</strong> Forró, com <strong>um</strong> anima<strong>do</strong> percurso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hora emeia) e São José da Mata.A edição <strong>de</strong>ste <strong>ano</strong> homenageia o sanfoneiro paraib<strong>ano</strong> Sivuca,morto em <strong>de</strong>zembro <strong>do</strong> <strong>ano</strong> passa<strong>do</strong>. O músico, conheci<strong>do</strong> internacionalmente,terá <strong>um</strong> espaço especial para sua obra. Sua mulher, acantora Glorinha Ga<strong>de</strong>lha, estará entre as atrações. Também confirmaramparticipação Elba Ramalho, Fagner, Alcimar Monteiro, Três<strong>do</strong> Nor<strong>de</strong>ste, Santana, Dominguinhos, Zé Ramalho, Flávio José,Genival Lacerda, as bandas Calcinha Preta e Cavaleiros <strong>do</strong> Forró.A cenografia <strong>do</strong> Parque <strong>do</strong> Povo é <strong>um</strong> espetáculo à parte. No“quartel general <strong>do</strong> forró”, réplicas arquitetônicas das décadas <strong>de</strong>50 e 60 convidam o visitante para <strong>um</strong>a verda<strong>de</strong>ira viagem ao tempo<strong>do</strong> povo matuto <strong>do</strong> sertão nor<strong>de</strong>stino. A padronização das barracas,em estilo rústico, ajuda na composição da imagem visual dafesta. A fogueira central <strong>de</strong>verá atingir 20 metros <strong>de</strong> altura. O palcoprincipal será projeta<strong>do</strong> com características <strong>do</strong> antigo Palhoção,que <strong>de</strong>u origem ao “Maior São João <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>”. As apresentações<strong>de</strong> quadrilhas e grupos folclóricos serão realizadas na Pirâmi<strong>de</strong> <strong>do</strong>Parque <strong>do</strong> Povo.A réplica da Vila Nova da Rainha ajuda o visitante a conhecer<strong>um</strong> pouco mais da origem <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>. As ruas, servidaspor lojas <strong>de</strong> artesanato e barracas com comidas típicas, reproduzemo cenário <strong>de</strong> nascimento da segunda cida<strong>de</strong> mais importanteda Paraíba. Outra réplica que comporá a temática histórica é a<strong>do</strong> Cassino El<strong>do</strong>ra<strong>do</strong>, que entre as décadas <strong>de</strong> 30 e 50 foi palco dasgran<strong>de</strong>s atrações nacionais que se apresentavam no esta<strong>do</strong>. O prédio<strong>do</strong> cassino ainda existe na Rua Manuel Pereira <strong>de</strong> Araújo, naFeira Central.A temporada mexe com a cida<strong>de</strong>. A economia cresce 50% e, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com a organização <strong>do</strong> evento, pelo menos 10 mil empregossão gera<strong>do</strong>s. No <strong>ano</strong> passa<strong>do</strong>, a Prefeitura <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> apurouque na última semana <strong>de</strong> maio 80% da capacida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s hotéisda cida<strong>de</strong> estava reservada e 70% se confirmou. Para nenh<strong>um</strong> visitanteficar na mão, a cida<strong>de</strong> <strong>faz</strong> o cadastramento prévio <strong>de</strong> casas,pensões e apartamentos. A cada <strong>ano</strong> que passa o São João <strong>de</strong> CampinaGran<strong>de</strong> ganha <strong>de</strong>staque mundial e se consolida como o maiorevento <strong>do</strong> gênero. Participar <strong>de</strong>ssa festa vai <strong>faz</strong>er qualquer pessoaconhecer mais da cultura <strong>do</strong> povo nor<strong>de</strong>stino e ter a real noção <strong>do</strong>quanto o mês <strong>de</strong> junho é importante para a cultura e o incrementoda economia da região.Campina Gran<strong>de</strong>Crescimento e tradiçãoCampina Gran<strong>de</strong>Campina Gran<strong>de</strong> está para João Pessoa (via BR-104)como Caruaru está para o Recife (via BR-232). Sãoaproximadamente 130 quilômetros, <strong>um</strong>a hora e meia <strong>de</strong>viagem por via terrestre, partin<strong>do</strong> das respectivas capitais.As principais companhias aéreas oferecem mais opções<strong>de</strong> vôos diretos em junho. As duas cida<strong>de</strong>s, em plenoagreste, têm altas taxas <strong>de</strong> crescimento, forte atuaçãoindustrial e estão perto <strong>de</strong> virar regiões metropolitanas.Campina Gran<strong>de</strong> sai na dianteira pelo título <strong>de</strong> “Maior SãoJoão <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>”, no Guiness Book, mas dizem que porpoucos metros quadra<strong>do</strong>s. Em 2007, Caruaru é estimuladatambém pelas festas <strong>de</strong> seus 150 <strong>ano</strong>s. Informações:www.campinagran<strong>de</strong>.pb.gov.br e www.caruaru.pe.gov.brdivulgaçãogerar<strong>do</strong> lazzari46 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


CaruaruCaruaruCaruarugerar<strong>do</strong> lazzarigerar<strong>do</strong> lazzarigerar<strong>do</strong> lazzariA capital <strong>do</strong> forróPor Moema Duarte, <strong>de</strong> CaruaruDurante o mês <strong>de</strong> junho Caruaru se transforma n<strong>um</strong> imensoarraial. Para honrar o título <strong>de</strong> “Capital <strong>do</strong> Forró”, a cida<strong>de</strong> promove30 dias <strong>de</strong> festa para to<strong>do</strong> la<strong>do</strong>. E não apenas para os caruaruenses,mas para cerca <strong>de</strong> 1,5 milhão <strong>de</strong> visitantes durantea temporada. A cida<strong>de</strong> tem também <strong>um</strong> <strong>do</strong>s artesanatos maisricos <strong>do</strong> país. Assim, entre <strong>um</strong> forrozinho e outro, é possívelapreciar as obras <strong>de</strong> Mestre Vitalino nos museus e ainda levarpara casa réplicas perfeitas <strong>de</strong> seus famosos bonecos <strong>de</strong> barro,direto da Feira <strong>de</strong> Caruaru.O Parque <strong>de</strong> Eventos Luiz Gonzaga, principal foco <strong>de</strong> animação,tem mais <strong>de</strong> 40 mil metros quadra<strong>do</strong>s e capacida<strong>de</strong> para recebercerca <strong>de</strong> 100 mil pessoas. Uma centena <strong>de</strong> atrações regionais e nacionaispassa pelos <strong>do</strong>is palcos lá monta<strong>do</strong>s. E ninguém po<strong>de</strong> tocarnada que não seja xote, baião, enfim, forró. O parque tem <strong>um</strong>museu <strong>de</strong>dica<strong>do</strong> à cantora Elba Ramalho, que quase to<strong>do</strong>s os <strong>ano</strong>sé presença garantida na programação junina, e outro volta<strong>do</strong> à importânciada cerâmica para a vida da comunida<strong>de</strong>.De volta ao arrasta-pé, barracas e restaurantes garantem a reposiçãoda energia para o público. As festas avançam pela madrugadae a folia <strong>do</strong> dia anterior emenda com a <strong>do</strong> dia seguinte. É precisoestar alimenta<strong>do</strong> e hidrata<strong>do</strong> para agüentar.De manhã, o Alto <strong>do</strong> Moura é o palco. Na vila, a sete quilômetros<strong>do</strong> centro da cida<strong>de</strong>, nasceu e viveu Mestre Vitalino, artesãomais famoso <strong>de</strong> Caruaru. Além <strong>do</strong>s vários ateliês <strong>do</strong>s discípulos <strong>do</strong>mestre, o Alto <strong>do</strong> Moura tem muita música e <strong>um</strong> concorri<strong>do</strong> bo<strong>de</strong>assa<strong>do</strong>. É bom chegar ce<strong>do</strong>, porque <strong>de</strong>pois das 11 horas é difícil encontrar<strong>um</strong>a casa que ainda tenha mesas livres.Na volta ao centro, escolha <strong>um</strong>a das “drilhas” estilizadas e irreverentesque arrastam <strong>um</strong>a multidão pelas ruas da cida<strong>de</strong>. TemSapadrilha (mulheres vestidas <strong>de</strong> homem), Gaydrilha (homensvesti<strong>do</strong> <strong>de</strong> mulher) e Trokadrilha (homens vesti<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mulher emulheres vestidas <strong>de</strong> homem). Ou fique na sua, o importante éa diversão.Em <strong>um</strong> evento grandioso como o São João <strong>de</strong> Caruaru, os pratostípicos da festa também viraram <strong>um</strong>a atração gigante. No centro,3 mil espigas <strong>de</strong> milho são caprichosamente transformadas n<strong>um</strong>apamonha <strong>de</strong> 220 quilos. Na Vila das Peladas, na zona rural da cida<strong>de</strong>,<strong>um</strong>a mesa <strong>de</strong> 30 metros serve 1 tonelada <strong>de</strong> canjica. Se achoupouco, tente imaginar as 2 toneladas <strong>do</strong> pé-<strong>de</strong>-moleque que a <strong>do</strong>naMaria <strong>do</strong> Bolo promete oferecer no dia 10 <strong>de</strong> junho, na festa <strong>do</strong>smora<strong>do</strong>res da Cohab III. Tu<strong>do</strong> sempre ro<strong>de</strong>a<strong>do</strong> pela trilha sonorae a coreografia da capital <strong>do</strong> forró.Em Caruaru, as bandas <strong>de</strong> forró <strong>do</strong> momento divi<strong>de</strong>m os espaçoscom as bandinhas <strong>de</strong> píf<strong>ano</strong> e com os trios <strong>de</strong> forró pé-<strong>de</strong>-serra. E afesta literalmente pega fogo quan<strong>do</strong> chegam os bacamarteiros, atira<strong>do</strong>res<strong>de</strong> espingarda boca-<strong>de</strong>-sino que se reúnem sob o coman<strong>do</strong><strong>de</strong> <strong>um</strong> chefe e se distribuem em batalhões para se apresentar duranteo São João. A brinca<strong>de</strong>ira é <strong>um</strong>a herança da Guerra <strong>do</strong> Paraguai.O São João <strong>de</strong> Caruaru é conheci<strong>do</strong> pela autenticida<strong>de</strong> e pela espontaneida<strong>de</strong><strong>do</strong> povo. Se por acaso bater <strong>um</strong>a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> conferirtu<strong>do</strong> <strong>de</strong> perto, é preciso correr. Os hotéis começam a <strong>faz</strong>er reservaspara o perío<strong>do</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o final <strong>do</strong> <strong>ano</strong>.2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 47


Curta essa dica PorCláudia Motta (claudiamotta@<strong>revista</strong><strong>do</strong>brasil.net)Turma da Mônica no 14 BisSantos D<strong>um</strong>ont e a Turma da Mônica – Um Sonho Que Virou Históriaapresenta em 60 painéis a história <strong>do</strong> inventor <strong>do</strong> avião. A exposiçãomarca o centenário <strong>do</strong> vôo <strong>do</strong> 14 Bis e leva a Brasília <strong>um</strong>apequena réplica da Torre Eiffel, <strong>do</strong> pequeno avião Demoiselle, maquetes<strong>de</strong> dirigíveis e a reconstituição <strong>de</strong> <strong>um</strong>a banca <strong>de</strong> jornais com notícias da época. De terça a <strong>do</strong>mingo, das 9h às 21h.Caixa Cultural Brasília, Galeria Principal e Piccolas I e II, Setor Bancário Sul, anexo ao edifício matriz da Caixa, (61) 3206-6456/9448/9449. Até 27 <strong>de</strong> maio. Grátis.divulgaçãoIvana Baqueroé Ofélia emLabirinto <strong>do</strong> FaunoContra to<strong>do</strong>sos malesLabirinto <strong>do</strong> Fauno, Oscar <strong>de</strong> melhor direção <strong>de</strong> arte,fotografia e maquiagem, chegou em DVD. A históriaambientada na Guerra Civil Espanhola traça <strong>um</strong> paraleloentre o autoritarismo vivi<strong>do</strong> pelos espanhóis e o mun<strong>do</strong>da sonha<strong>do</strong>ra menina Ofélia, que <strong>de</strong>scobre a amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>Merce<strong>de</strong>s, cozinheira da casa e contato secreto <strong>do</strong>s rebel<strong>de</strong>s,e <strong>um</strong> misterioso labirinto. Poético, o filme c<strong>um</strong>pre o papeldas fábulas: trazer a reflexão através da fantasia. Direção <strong>de</strong>Guillermo <strong>de</strong>l Toro. De R$ 40 a R$ 45.divulgaçãoCada <strong>um</strong><strong>do</strong> seu jeitoEnsinar os pequenos a respeitardiferenças é <strong>um</strong> <strong>do</strong>s objetivos<strong>do</strong> simpático livro Cada FamíliaÉ <strong>de</strong> <strong>um</strong> Jeito. A história écurtinha e toda rimada. O textoe as ilustrações <strong>de</strong> Aline Abreuexplicam que existem váriostipos <strong>de</strong> família. “Tem também<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> família que não é<strong>de</strong> mãe, nem <strong>de</strong> pai, nem <strong>de</strong>irmão. Sou eu com você e vocêcomigo. Já adivinhou? É família<strong>de</strong> amigo”, escreve a autora.Para crianças <strong>de</strong> 2 a 5 <strong>ano</strong>s.Editora Difusão Cultural <strong>do</strong>Livro, 24 páginas, R$17,50.Brinque<strong>do</strong>s contra a escravidãoA ONG Repórter <strong>Brasil</strong> abriga <strong>um</strong> link (www.reporterbrasil.org.br/brinque<strong>do</strong>s) que mostra e ven<strong>de</strong> trabalhos daCooperativa para Dignida<strong>de</strong> <strong>do</strong> Maranhão (Codigma). A entida<strong>de</strong>, sem fins lucrativos, oferece oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> geração<strong>de</strong> renda e <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>cente a famílias vulneráveis à ação <strong>de</strong> alicia<strong>do</strong>res. O esta<strong>do</strong> é <strong>um</strong> <strong>do</strong>s preferi<strong>do</strong>s <strong>de</strong> <strong>faz</strong>en<strong>de</strong>iros,ma<strong>de</strong>ireiras e carvoarias para recrutar trabalha<strong>do</strong>res e os submeter a condições <strong>de</strong>gradantes ou <strong>de</strong> escravidão. A entida<strong>de</strong>ensina fabricação <strong>de</strong> brinque<strong>do</strong>s, alfabetização, cooperativismo e noções <strong>de</strong> cidadania. Os brinque<strong>do</strong>s são baratos,<strong>de</strong>senvolvem a criativida<strong>de</strong> e a coor<strong>de</strong>nação motora. Contatos: (99) 3538-2383, nu2brinq@yahoo.com.br.48 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007


Caio Blat, Maria Flor e AlexandreRodrigues estão em Proibi<strong>do</strong> ProibirJovenssonha<strong>do</strong>resdivulgaçãoDuas histórias distintas recém-estreadaspõem à prova o talento <strong>de</strong> jovenspromessas <strong>do</strong> cinema brasileiro. Proibi<strong>do</strong>Proibir, <strong>de</strong> Jorge Durán, mostra arealida<strong>de</strong> carioca a partir <strong>do</strong> ponto <strong>de</strong> vista<strong>de</strong> três universitários: Paulo (Caio Blat),Leon (Alexandre Rodrigues) e Letícia(Maria Flor). Jovens que sonham mudar omun<strong>do</strong> em meio a <strong>um</strong> cenário <strong>de</strong> violênciaurbana e corrupção policial. Em BatismoDaniel <strong>de</strong> Oliveiraem Batismo <strong>de</strong>Sangue<strong>de</strong> Sangue, Helvécio Ratton, basea<strong>do</strong> em livro <strong>de</strong> Frei Betto, conta a angústia <strong>do</strong>fra<strong>de</strong> <strong>do</strong>minic<strong>ano</strong> Tito <strong>de</strong> Alencar Lima, a colaboração com a luta armada e trazcenas <strong>de</strong> tortura que levaram frei Tito à loucura e <strong>de</strong>screvem com rara fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>a cruelda<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> regime que sufocou gerações. Nos <strong>do</strong>is filmes, Caio Blat estáimpecável. Daniel <strong>de</strong> Oliveira, que vive Frei Betto, dá mais <strong>um</strong>a mostra <strong>de</strong> que seu<strong>de</strong>sempenho em Cazuza e Zuzu Angel não foi mero acaso.O homem queensinavaO pensamento <strong>de</strong> Paulo Freiree sua pedagogia <strong>do</strong> oprimi<strong>do</strong> eda esperança transformaram avida <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> brasileiros.Freire é o mais importanteeduca<strong>do</strong>r <strong>do</strong> país. Para sabermais sobre esse filósofo daeducação leia Paulo Freire –Uma História <strong>de</strong> Vida, escritopor sua mulher, Ana MariaAraújo Freire. Editora Villa dasLetras, 655 páginas, R$ 69.Arte contemporânea no RioTrês exposições estão no Museu Bispo <strong>do</strong> Rosário. Salva Vidas reúne xilogravuras <strong>de</strong> CazéAraújo, fotografias <strong>de</strong> César Oiticica e obras <strong>de</strong> Jesus Herrera. A mostra Próxima Parada temos artistas Auterives Maciel, Bispo <strong>do</strong> Rosário, Cambra, Carlos Contente, Clóvis <strong>do</strong> Santos,Craig Wood, Isabela Lira, José Rufino e Toz. E Hospício É Deus exibe imagens <strong>do</strong> fotógrafoFreddy Koester inspiradas na literatura <strong>de</strong> Dante Aliguieri. Estrada Rodrigues Caldas, 3400,Jacarepaguá, Rio <strong>de</strong> Janeiro, (21) 2446-6628. Até 30 <strong>de</strong> junho. Grátis.Obra <strong>de</strong> ArthurBispo <strong>do</strong> RosáriodivulgaçãoDireto das Minas GeraisDepois <strong>de</strong> 25 <strong>ano</strong>s <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, Flávio Venturini voltou para BeloHorizonte e está acompanha<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a banda totalmente mineira, comvelhos amigos <strong>do</strong> Clube da Esquina. A influência é clara no álb<strong>um</strong> Cançãosem Fim. Lança<strong>do</strong> em abril em São Paulo, o show ainda vai para o Sul e oNor<strong>de</strong>ste, com canções inéditas e sucessos como To<strong>do</strong> Azul <strong>do</strong> Mar e NovaManhã. E, ainda neste semestre, chega a Belo Horizonte. R$ 26,50.2007 MAIO REVISTA DO BRASIL 49


Crônica PorRicar<strong>do</strong> KotschoDias <strong>de</strong> ca<strong>de</strong>iranteE lá estava eu olhan<strong>do</strong> os outros<strong>de</strong> baixo para cima, achan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>estranho. Passei a dar mais valor aamigos como o Marcelo Rubens Paiva,sempre <strong>de</strong> bom h<strong>um</strong>or e cheio <strong>de</strong>pl<strong>ano</strong>s, mesmo saben<strong>do</strong> que aca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>le é para sempreSei que a palavra é feia, mas é a que temos para <strong>de</strong>finirquem anda n<strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas, quer dizer,quem não po<strong>de</strong> andar com as próprias pernas.No começo <strong>de</strong> março, sem aviso prévio, virei <strong>um</strong>ca<strong>de</strong>irante. N<strong>um</strong>a fração <strong>de</strong> segun<strong>do</strong>s, a tampa <strong>de</strong><strong>um</strong>a caixa <strong>de</strong> bomba <strong>de</strong> piscina ce<strong>de</strong>u, caí sobre os c<strong>ano</strong>s,quebrei vários ossos e <strong>de</strong>smaiei <strong>de</strong> <strong>do</strong>r. Quase <strong>de</strong>u perda total.Quan<strong>do</strong> reacor<strong>de</strong>i, já tinha <strong>um</strong> monte <strong>de</strong> gente em voltapalpitan<strong>do</strong> sobre o que fariam comigo para me tirar <strong>do</strong> buraco.Sem forças para reagir, entala<strong>do</strong> que estava, fui fican<strong>do</strong>cada vez mais assusta<strong>do</strong>.Por sorte, como sempre acontece nessas horas, alguém ass<strong>um</strong>iuo coman<strong>do</strong> das operações e <strong>de</strong>terminou que se chamasseo Resgate. Hora <strong>do</strong> almoço na praia, calor infernal, os minutosque os bombeiros <strong>de</strong>moravam pareciam intermináveis horas.Quan<strong>do</strong> fui ver, já estava no pronto-socorro <strong>do</strong> hospital público<strong>de</strong> São Sebastião, cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> gente atropelada, baleada,esfaqueada. Minhas <strong>do</strong>res até diminuíram ao ver o sofrimento<strong>do</strong>s outros. Os médicos e enfermeiras que me aten<strong>de</strong>ram pareciamter percebi<strong>do</strong> isso. A to<strong>do</strong> momento vinham pedir <strong>de</strong>sculpas,mais <strong>um</strong> pouco <strong>de</strong> paciência, porque chegara outra urgência,mais <strong>um</strong> feri<strong>do</strong> em esta<strong>do</strong> pior que o meu.Não carregava nenh<strong>um</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ento, mas também ninguémpediu. Em res<strong>um</strong>o: alg<strong>um</strong>as fraturas no pé esquer<strong>do</strong>, três costelasquebradas, escoriações generalizadas, como o escrivão registrav<strong>ano</strong>s antigos boletins <strong>de</strong> ocorrência. Mesmo assim, fuiandan<strong>do</strong> até o carro, levan<strong>do</strong> a receita <strong>de</strong> remédios para aliviara <strong>do</strong>r. No dia seguinte, já em São Paulo, os médicos <strong>de</strong> <strong>um</strong>hospital particular repetiram os mesmos exames e fizeram osmesmos diagnósticos.Saí com bota ortopédica e a recomendação <strong>de</strong> passar pelomenos <strong>um</strong> mês na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas – por causa das costelasquebradas, não era recomendável usar muletas, quer dizer, eraimpossível. Já perdi as contas <strong>de</strong> quantas vezes me quebrei navida, já passei por mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z cirurgias, mas nunca tinha chega<strong>do</strong>antes a esse ponto.Minha mulher, a fantástica Mara, que <strong>de</strong>ve ter mais horas<strong>de</strong> hospital <strong>do</strong> que muita enfermeira-chefe, tratou logo <strong>de</strong> alugar<strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ira básica a módicos 30 reais por semana. Meiahora <strong>de</strong>pois lá estava eu enca<strong>de</strong>ira<strong>do</strong>, olhan<strong>do</strong> para os outros<strong>de</strong> baixo para cima, achan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> muito estranho. No início,você se conforma – “até que <strong>de</strong>i sorte, po<strong>de</strong>ria ter si<strong>do</strong> pior...”,mas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uns três dias o neoca<strong>de</strong>irante já começa a ficarimpaciente.Como não conseguia movimentar a ca<strong>de</strong>ira sozinho por causada <strong>do</strong>r nas costelas, precisava a toda hora chamar alguém e,como moramos só nós <strong>do</strong>is em casa, esse alguém era semprea Mara. Por pior que seja a situação, a gente acaba sempre seadaptan<strong>do</strong> a <strong>um</strong>a nova rotina. Se ela precisava sair para cuidarda vida, me <strong>de</strong>ixava n<strong>um</strong> café que tem em frente ao nossoprédio, aon<strong>de</strong> cost<strong>um</strong>o ir sempre e sou amigo <strong>de</strong> to<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,com a recomendação <strong>de</strong> que cuidassem bem <strong>de</strong> mim e me<strong>de</strong>volvessem na portaria. Sempre tinha alg<strong>um</strong> solícito lá parame levar até o apartamento. O pior <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> é ficar sempre <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong><strong>do</strong>s outros para ir e vir.Nas festas, é importante ficar atento logo na chegada para veron<strong>de</strong> está a turma mais legal porque sempre há o risco <strong>de</strong> o estacionaremn<strong>um</strong>a roda <strong>de</strong> chatos. O pior é contar mil vezes oque aconteceu e ouvir mil vezes relatos <strong>de</strong> histórias semelhantesacontecidas com alguém.Mas, quan<strong>do</strong> há <strong>um</strong> prazo marca<strong>do</strong> para <strong>de</strong>volver a ca<strong>de</strong>ira evoltar a andar com as próprias pernas, vai-se levan<strong>do</strong>. Passei adar mais valor a amigos como o Marcelo Rubens Paiva, sempre<strong>de</strong> bom h<strong>um</strong>or e cheio <strong>de</strong> pl<strong>ano</strong>s, mesmo saben<strong>do</strong> que a ca<strong>de</strong>ira<strong>de</strong>le é para sempre. No dia em que <strong>de</strong>volvi a ca<strong>de</strong>ira, passei adar mais valor também ao simples ato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r caminhar.Ricar<strong>do</strong> Kotscho é jornalista. Trabalhou nos principais veículos <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> país e foi secretário <strong>de</strong> Imprensae Divulgação da Presidência da República (2003-2004). É autor, entre outros, <strong>de</strong> Serra Pelada – Uma Ferida Aberta naSelva (<strong>Brasil</strong>iense, 1984), A Prática da Reportagem (Ática, 1986), Caravana da Cidadania – Diário <strong>de</strong> Viagem ao <strong>Brasil</strong>Esqueci<strong>do</strong> (Scritta, 1993) e Do Golpe ao Planalto – Uma Vida <strong>de</strong> Repórter (Companhia das Letras, 2006)50 REVISTA DO BRASIL MAIO 2007

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