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O Estado da Governação em Junho de 2007 - Compromisso Portugal

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O <strong>Estado</strong><strong>da</strong> <strong>Governação</strong><strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Uma avaliação do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhodo XVII Governo Constitucionalna primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> Legislatura(2005-<strong>2007</strong>) a partir <strong>de</strong> estudossectoriais promovidospelo <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>ÍndiceNota PréviaIRazões para uma apreciação do <strong>Estado</strong><strong>da</strong> <strong>Governação</strong>IIO <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do Governo avaliadoà luz dos seus objectivosIIIOs limites do reformismo governamentalIVConclusõesAnexos (<strong>em</strong> CD)Avaliação <strong>da</strong> Eficácia <strong>da</strong> Acção Governativa <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> durante a primeirameta<strong>de</strong> <strong>da</strong> Legislatura nas diferentes áreas.1- Competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>2- Mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> Administração Pública3- Plano Tecnológico4- Educação5- Segurança Social6- Desenvolvimento Sustentável7- Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s8- Or<strong>de</strong>namento do território e ambiente9- JustiçaJUNHO <strong>2007</strong>


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong><strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Nota préviaO <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> é um movimentoinformal e apartidário <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos. O seu únicoobjectivo é promover o <strong>de</strong>bate público sobre omo<strong>de</strong>lo económico-social mais a<strong>de</strong>quado para oPaís. Através <strong>de</strong> intervenções que se pretend<strong>em</strong>b<strong>em</strong> fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>s e <strong>de</strong> iniciativas abertas atodos, o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> tentou encarar<strong>de</strong> outra maneira a questão do <strong>de</strong>senvolvimentodo País e avançou propostas muito concretas d<strong>em</strong>u<strong>da</strong>nça <strong>em</strong> relação à situação actual. Uma parte<strong>de</strong>ssa activi<strong>da</strong><strong>de</strong> está documenta<strong>da</strong> no livroRevolucionários!, que acaba <strong>de</strong> ser publicado.As intervenções do <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> nãovinculam necessariamente ca<strong>da</strong> um dos seus mais<strong>de</strong> mil Promotores. Ca<strong>da</strong> Promotor é livre <strong>de</strong>subscrever ou não ca<strong>da</strong> uma ou a integrali<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>da</strong>s propostas e avaliações elabora<strong>da</strong>s pelos váriosgrupos <strong>de</strong> trabalho.O presente trabalho <strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong> acçãogovernativa durante a primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> actuallegislatura foi coor<strong>de</strong>nado por AntónioCarrapatoso, Joaquim Goes e Rui Ramos, tendocomo responsáveis dos vários estudos sectoriaisCarlos Pereira <strong>da</strong> Silva, João Cotrim <strong>de</strong>Figueiredo, João Pedro Costa, Luís CortesMartins, Maria Teresa Cavaco, Nuno Ribeiro <strong>da</strong>Silva, Rodrigo Queirós e Melo, e Teresa MariaGamito.JUNHO <strong>2007</strong>2


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>IRazões para uma apreciação do estado <strong>da</strong> governaçãoO <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> acredita que é importante que os ci<strong>da</strong>dãos estejam atentos à governaçãodo País e que explicit<strong>em</strong> regularmente <strong>em</strong> público a apreciação que faz<strong>em</strong> do estado <strong>de</strong> governaçãoe dos <strong>de</strong>safios que o País t<strong>em</strong> <strong>de</strong> enfrentar.É esse o objectivo do presente estudo. Enquanto movimento <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> partidos,corporações e grupos <strong>de</strong> interesse, e s<strong>em</strong> vocação <strong>de</strong> governo, o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> não preten<strong>de</strong>substituir ninguém e muito menos contestar a legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos <strong>de</strong>cisores políticos. Deseja apenascontribuir para que o <strong>de</strong>bate público sobre as gran<strong>de</strong>s opções <strong>da</strong> governação se alargue ao maiornúmero <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos, como aliás acontece normalmente nas d<strong>em</strong>ocracias mais <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s.Foi com este espírito que, <strong>em</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 2005, o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> avaliou os programaseleitorais dos dois maiores partidos concorrentes às eleições legislativas -- o Partido Socialista e oPartido Social D<strong>em</strong>ocrata -- e que posteriormente analisou o programa apresentado <strong>em</strong> Março domesmo ano à Ass<strong>em</strong>bleia <strong>da</strong> República pelo XVII Governo Constitucional. 1Disse na altura o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>:“A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que a situação do País é muito preocupante e que a nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> não cria actualmenteriqueza para sustentar o presente <strong>Estado</strong> e o mo<strong>de</strong>lo social <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os.(...) Nos t<strong>em</strong>pos mais próximos, o nível <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos Portugueses dificilmente irá subir, sendo provávelque <strong>em</strong> certos casos, possa mesmo diminuir, e que o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego venha a aumentar.Para além do <strong>Estado</strong>/Administração Pública também as famílias têm incorrido <strong>em</strong> padrões <strong>de</strong> consumobaseados num crescente e excessivo endivi<strong>da</strong>mento que não é possível manter.Mas se quer<strong>em</strong>os ter esperança e inverter a situação, atingindo os objectivos últimos <strong>da</strong> nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>(a melhoria <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todos os ci<strong>da</strong>dãos, <strong>em</strong> particular dos mais <strong>de</strong>sfavorecidos), têm<strong>de</strong> ser feitos sacrifícios e terão <strong>de</strong> ser finalmente impl<strong>em</strong>enta<strong>da</strong>s as reformas estruturais que o<strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>, e outros têm <strong>de</strong>fendido por forma a criar mais riqueza que sustente um novomo<strong>de</strong>lo social.1 Os documentos então produzidos pelo <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> estão disponíveis no seu site.JUNHO <strong>2007</strong>3


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>A resistência à mu<strong>da</strong>nça implica a renovação do discurso político. É fun<strong>da</strong>mental ser capaz <strong>de</strong>comunicar à opinião pública os objectivos globais que se preten<strong>de</strong> alcançar, as iniciativas prioritáriase os benefícios esperados, assim como os custos <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e consequências associados à manutenção<strong>da</strong> situação actual.”Continuando a assumir os seus <strong>de</strong>veres cívicos, v<strong>em</strong> agora o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> analisar o estado<strong>da</strong> <strong>Governação</strong> a meio <strong>da</strong> Legislatura <strong>de</strong> 2005-2009. O método seguido pelo <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>foi o <strong>de</strong> avaliar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do XVII Governo Constitucional <strong>em</strong> função <strong>da</strong>s metas que o próprioGoverno estabeleceu no seu Programa, discutido e aprovado na Ass<strong>em</strong>bleia <strong>da</strong> República <strong>em</strong> Março<strong>de</strong> 2005, e no Programa <strong>de</strong> Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e Crescimento (PEC) para 2005-2009, apresentado à ComissãoEuropeia <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> 2005 e revisto <strong>em</strong> Dez<strong>em</strong>bro do mesmo ano. S<strong>em</strong> esquecer, como seria natural,o que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> pensa ser<strong>em</strong> os novos <strong>de</strong>safios para o futuro.A análise do <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> centra-se fun<strong>da</strong>mentalmente nos aspectos económico-sociais e<strong>em</strong> particular nas áreas que lhe têm merecido uma maior atenção, como sejam as que se refer<strong>em</strong> ao(1) Papel do <strong>Estado</strong> e Administração Pública, (2) Mo<strong>de</strong>lo Social, (3) Educação, (4) Justiça, (5)Or<strong>de</strong>namento e Ambiente, e (6) Enquadramento à Competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> Empresarial.Esta apreciação do <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> preten<strong>de</strong> ser construtiva e visa estimular o actual Governo,os vários agentes políticos e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> portuguesa <strong>em</strong> geral no sentido <strong>de</strong> prosseguir<strong>em</strong> as reformasestruturais que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>, entre outros grupos <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dãos e personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> nossavi<strong>da</strong> pública, t<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rado indispensáveis para a construção <strong>de</strong> um País <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s paratodos, com melhor quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e maior coesão social.JUNHO <strong>2007</strong>4


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>IIOs objectivos estabelecidos pelo governo e o seu <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhoNo Programa <strong>de</strong> Governo, no Programa <strong>de</strong> Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e Crescimento (PEC) e <strong>em</strong> intervençõesdo primeiro-ministro durante a apresentação dos referidos programas, o XVII Governo Constitucional<strong>de</strong>finiu um rumo para o País e assumiu <strong>de</strong>terminados objectivos a ser<strong>em</strong> alcançados durante aLegislatura <strong>de</strong> 2005-2009.Destacamos as seguintes afirmações produzi<strong>da</strong>s pelo actual Governo acerca <strong>da</strong> orientação queprocurou incutir à <strong>Governação</strong>:“Dar a <strong>Portugal</strong> um rumo para a sua mo<strong>de</strong>rnização e <strong>de</strong>senvolvimento, com coesão social.”“Mobilizar os Portugueses para o <strong>de</strong>sígnio nacional <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> se voltar a aproximar, <strong>de</strong> forma<strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong>, do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos países mais avançados <strong>da</strong> União Europeia.”“A nossa Agen<strong>da</strong> é uma agen<strong>da</strong> para o crescimento. O primeiro <strong>de</strong>safio é o do crescimento económico.<strong>Portugal</strong> precisa <strong>de</strong> retomar uma trajectória <strong>de</strong> crescimento sustentado e <strong>de</strong> convergência com aEuropa.”Preten<strong>de</strong>u o Governo alcançar estes objectivos através <strong>de</strong> uma política assente <strong>em</strong> cinco gran<strong>de</strong>seixos:1. Retomar o crescimento <strong>da</strong> economia <strong>de</strong> forma sustenta<strong>da</strong>.2. Reforçar a coesão social numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com menos pobreza e com mais igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.3. Melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos Portugueses num quadro sustentável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.4. Elevar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia, fazendo <strong>da</strong> justiça um instrumento ao serviço <strong>da</strong> plenaci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.5. Valorizar o posicionamento do País no quadro internacional.Foi <strong>em</strong> função dos quatro primeiros eixos, anunciados pelo Governo como estruturantes <strong>da</strong> suaacção <strong>em</strong> prol do <strong>de</strong>senvolvimento e mo<strong>de</strong>rnização do país, que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> procurouavaliar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho <strong>da</strong> governação na primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> Legislatura. Para isso, o <strong>Compromisso</strong><strong>Portugal</strong> i<strong>de</strong>ntificou no Programa do Governo e no PEC os objectivos mais relevantes e maisclaramente quantificados, <strong>de</strong> forma a po<strong>de</strong>r realizar uma análise o mais objectiva e factual possívelJUNHO <strong>2007</strong>5


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>sobre a eficácia <strong>da</strong> acção governativa <strong>em</strong> várias áreas cruciais. Não foi um trabalho fácil. O Governon<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre estabeleceu, <strong>de</strong> forma clara e explícita, quais os objectivos tidos como prioritários, oulhes <strong>de</strong>u um carácter quantitativo. Por outro lado, a informação estatística relevante não foi, <strong>em</strong>vários casos, produzi<strong>da</strong> ou disponibiliza<strong>da</strong> a t<strong>em</strong>po. Estes dois factos não só prejudicam umamonitorização objectiva <strong>da</strong> acção governativa, como dificultarão certamente a própria direcção doGoverno.Nos casos <strong>em</strong> que os objectivos estavam b<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidos e/ou quantificados no Programa do Governoe no PEC, realizou-se uma avaliação do seu grau <strong>de</strong> cumprimento tendo <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, não sóa dinâmica <strong>de</strong> evolução <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> variável, mas também o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>corrido <strong>da</strong> presente Legislatura.Tentou-se assim aferir, <strong>de</strong> forma integra<strong>da</strong> e para ca<strong>da</strong> eixo <strong>de</strong> actuação <strong>em</strong> particular, o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhoactual do Governo <strong>em</strong> função dos <strong>de</strong>sígnios estratégicos por ele próprio estabelecidos para aLegislatura <strong>de</strong> 2005-2009.O resultado do exercício po<strong>de</strong> ser examinado nos seguintes quadros. Note-se que a indicação“probabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimento” não visa <strong>de</strong>screver simplesmente o caminho an<strong>da</strong>do na primeirameta<strong>de</strong> <strong>da</strong> Legislatura, mas avaliar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>, mantendo-se a trajectória e o ritmo <strong>da</strong> acçãogovernativa, os objectivos estabelecidos <strong>em</strong> 2005 ser<strong>em</strong> alcançados <strong>em</strong> 2009:O Des<strong>em</strong>penho do Governo avaliado à luz dos seus objectivosAvaliação do grau <strong>de</strong> cumprimento dos objectivos fun<strong>da</strong>mentais do GovernoProbabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cumprimentodo objectivo <strong>da</strong> Legislatura Reduzi<strong>da</strong> Eleva<strong>da</strong>1. Retomar o crescimento <strong>da</strong> economia <strong>de</strong> forma sustenta<strong>da</strong>Objectivo Atingido ComentáriosReforçar a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Economia1. Atingir o crescimento potencial <strong>de</strong> 3% na Legislatura2. Atingir crescimento do PIB que assegure convergênciapara países mais avançados <strong>da</strong> União Europeia3. Recuperar os 150.000 postos <strong>de</strong> trabalho perdidos nalegislatura anterior4. Desburocratizar e criar um bom ambiente <strong>de</strong> negócios5. Transformar o país numa mo<strong>de</strong>rna socie<strong>da</strong><strong>de</strong> doconhecimento, melhorando ranking <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> TICs6. Subir no ranking <strong>de</strong> Competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do WEF(GCI)7. Reforçar o Investimento <strong>em</strong> I&D para 0,78% do PIB nosector privado e 1% no sector públicoPIB Potencial: 2006: 1,6% e <strong>2007</strong>E: 1,7%; PIB Real: 2006: 1,3% e <strong>2007</strong>E: 1,8%(Fonte: Comissão Europeia e OCDE)Diferencial médio <strong>em</strong> 2005-<strong>2007</strong> face à UE27: -1,3pp/anovs. -1,2pp/ano <strong>em</strong> 2002-2004). Estimativas para 2008 do FMI, OCDE eComissão mantêm crescimento <strong>da</strong> economia portuguesa inferior à UECriação <strong>de</strong> 41.000 postos <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> 2 anos (1ºT 2005 / 1ºT <strong>2007</strong>)Manutenção <strong>em</strong> 2005 e 2006 do 28º lugar no ranking do Índice <strong>de</strong> Quali<strong>da</strong><strong>de</strong>do Ambiente <strong>de</strong> Negócios (WEF; “Business Competitiveness In<strong>de</strong>x”)Per<strong>da</strong> <strong>de</strong> um lugar entre 2005 e 2006 no Índice <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> TICs* do WEF(passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 27º para 28º lugar)Per<strong>da</strong> <strong>de</strong> três lugares entre 2005 e 2006 (passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 31º para 34º lugar )Sector Privado: 0,29% <strong>em</strong> 2005 vs. 0,26% <strong>em</strong> 2002Sector Público: 0,43% <strong>em</strong> 2005 vs. 0,42% <strong>em</strong> 2004 (Fonte: Eurostat; Informaçãomais recente não disponível)JUNHO <strong>2007</strong>6


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Objectivo Atingido ComentáriosConsoli<strong>da</strong>r Finanças Públicas eMo<strong>de</strong>rnizar Administração Pública8. Impl<strong>em</strong>entar sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> avaliação dos serviçospúblicos: eficiência <strong>da</strong> gestão e nível <strong>de</strong> satisfação<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s9. Reduzir o <strong>de</strong>ficit público para 3% do PIB através<strong>de</strong> redução <strong>da</strong>s <strong>de</strong>spesas correntes10. Desenvolver (180 dias) plano plurianual <strong>de</strong>redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente <strong>em</strong> % do PIB e suacontratualização com Serviços <strong>da</strong> Administração11. Reduzir o número <strong>de</strong> funcionários públicos <strong>em</strong>75.000 na legislaturaNão são conheci<strong>da</strong>s quaisquer evoluções <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong>serviço e <strong>de</strong> eficiência <strong>da</strong> sua gestão2006: 3,9%; <strong>2007</strong>E: 3,3%.Há que reforçar a actuação do lado <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa pois apenas29% <strong>da</strong> redução do défice <strong>em</strong> 2006 <strong>de</strong>corre <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa. Para <strong>2007</strong>, aredução estima<strong>da</strong> do défice já <strong>de</strong>corre totalmente <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente.O único indicador <strong>de</strong> referência a médio prazo existente para a <strong>de</strong>spesa correnteprimária é o Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Politica Orçamental <strong>de</strong> 2006, que estabeleceum valor objectivo para 2009, não assumindo qualquer contratualização comServiços <strong>da</strong> Administração PúblicaReduzido o nº <strong>de</strong> funcionários <strong>em</strong> 22.000 <strong>em</strong> 2 anos2. Reforçar coesão social numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com menos pobreza e com mais igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>sObjectivo Atingido Comentários12. Reduzir para meta<strong>de</strong> o insucesso no ensino básico e natransição para secundário13. Duplicar a frequência <strong>de</strong> jovens <strong>em</strong> cursos tecnológicose profissionais <strong>de</strong> nível secundário?Ausência <strong>de</strong> estatística para anos lectivos 2005/2006 e 2006/<strong>2007</strong>. Taxa <strong>de</strong> retençãodo ensino básico <strong>de</strong>veria ter evoluído <strong>de</strong> 11,8% <strong>em</strong> 2004/2005 para 8,9% <strong>em</strong> 2006/<strong>2007</strong>e 5,9% no final <strong>da</strong> Legislatura14. Aumentar a formação profissional e aprendizag<strong>em</strong> aolongo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: reduzir para meta<strong>de</strong> a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> jovens(18-24 anos) s<strong>em</strong> o ensino secundário*15. Generalizar o ensino <strong>de</strong> Inglês <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o 1º ciclo do ensinobásico16. Promover um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Segurança Social sustentávelO programa “Novas Oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s” po<strong>de</strong> afirmar-se como um contributo muitosignificativo para o cumprimento <strong>de</strong>ste objectivo99% <strong>da</strong>s escolas oferec<strong>em</strong> gratuitamente o ensino <strong>de</strong> Inglês no 3º e 4º ano <strong>de</strong>escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>. 89% dos alunos que frequentam as referi<strong>da</strong>s escolas encontram-s<strong>em</strong>atriculados na disciplina <strong>de</strong> InglêsRealiza<strong>da</strong> reforma paramétrica, assegurando a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> corrente dosist<strong>em</strong>a até 2036, sendo a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> global prolonga<strong>da</strong> até 2050 através dorecurso ao Fundo <strong>de</strong> Estabilização <strong>da</strong> Segurança Social (<strong>de</strong> um saldo -3,5% do PIB<strong>em</strong> 2050 com o sist<strong>em</strong>a antigo para um saldo +0,7% com o novo sist<strong>em</strong>a). Não foientanto, altera<strong>da</strong> a filosofia (mantém-se opção por um mo<strong>de</strong>lo puro <strong>de</strong> repartição)17. Criação <strong>de</strong> prestação extraordinária <strong>de</strong> combate àpobreza dos idosos por forma a que nenhum pensionistatenha pensão inferior a 300¤ até ao fim <strong>da</strong> legislatura*** Este objectivo <strong>em</strong> concreto não se encontra evi<strong>de</strong>nciado no programa do Governo, mas é um dos objectivos<strong>da</strong> Estratégia <strong>de</strong> Lisboa <strong>da</strong> UE, assumi<strong>da</strong> pelo Executivo, e insere-se claramente no <strong>de</strong>sígnio estratégico doGoverno <strong>de</strong> reforçar as qualificações <strong>da</strong> população activa** Sujeito a condição <strong>de</strong> recursosJUNHO <strong>2007</strong>7


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>3. Melhorar a Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong> dos portugueses num quadro Sustentável <strong>de</strong> DesenvolvimentoObjectivo Atingido Comentários18. Convergência ambiental com a Europa- Programa 19 (PIDDAC): Ambiente e Or<strong>de</strong>namentodo Território19. Conclusão e aplicação <strong>da</strong> Estratégia Nacional <strong>de</strong>Desenvolvimento Sustentável (ENDS)2005: 159M¤; <strong>2007</strong>: 104M¤ (-34,4%). A redução dos valores previstos no OE dificultaráque a convergência seja alcança<strong>da</strong>Aprovação Cons. Ministros <strong>em</strong> 2006; por enviar para publicação DR20. Atingir 39% <strong>de</strong> energia consumi<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong>energia renováveis <strong>em</strong> 201021. Adoptar padrões <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> energia eficientes (medi<strong>da</strong>através <strong>da</strong> Intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> Energética do PIB <strong>Portugal</strong>/ MédiaUE**)22. Aumentar as receitas turísticas <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>2004: 27,7%; 2006: 32,7% (para efeitos <strong>da</strong> Directiva; Fonte: DGEG)*2004: 13% acima <strong>da</strong> UE; 2005: 16% acima <strong>da</strong> UE (<strong>em</strong> divergência com UE; FonteEurostat)2004/05: +0,1% (influência do Euro 2004); 2005/06: +7,3%. O aumento <strong>da</strong>s receitas/ turista foi <strong>de</strong> apenas 0,3% <strong>em</strong> 2004/05 e <strong>de</strong> 0,9% <strong>em</strong> 2005/06 (gastos médios entre582 e 589¤ / turista)*Apesar <strong>de</strong> a energia produzi<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> fontes renováveis ter aumentado <strong>de</strong> 12.590GWh <strong>em</strong> 2004, para 16.125GWh <strong>em</strong> 2006, o consumo <strong>de</strong> energia eléctrica também aumentou <strong>de</strong>45.500GWh para 49.188GWh nos mesmos anos**Consumo <strong>de</strong> energia primária e final por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> PIB. <strong>Portugal</strong> 2004: 238,0 kpe/1000¤; 2005 241,4 kpe/1000¤. EU27 2004: 211,1kpe/1000¤; 2005: 208,1kpe/1000¤4. Elevar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia, fazendo <strong>da</strong> Justiça um instrumento ao serviço <strong>da</strong> plena ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niaObjectivo Atingido Comentários23. Eliminar a burocracia e actos inúteis – cartão único doci<strong>da</strong>dão, criação <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas num dia, simplificação <strong>de</strong>controlos <strong>de</strong> natureza administrativa24. Promover a <strong>de</strong>sjudicialização – reforço <strong>da</strong> re<strong>de</strong> <strong>de</strong>julgados <strong>de</strong> paz, promoção <strong>da</strong> criação <strong>de</strong> centros <strong>de</strong>arbitrag<strong>em</strong>, transformação <strong>de</strong> contravenções e transgressões<strong>em</strong> contra-or<strong>de</strong>nações25. Qualificar a resposta judicial – <strong>de</strong>scongestionamentoprocessual, acção executiva, alça<strong>da</strong>s, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> recursos,resolução <strong>de</strong> conflitos <strong>de</strong> competência, ajustamento domapa judiciário e dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão do sist<strong>em</strong>a judicial,e a organização e funcionamento <strong>da</strong>s magistraturas.26. Tornar mais eficaz o combate ao crime e a Justiça Penal,respeitando as garantias <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa – priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>investigação <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pela AR, revisão do CPP e do CPAposta positiva na eliminação <strong>da</strong> burocracia, nomea<strong>da</strong>mente na área <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presase simplificação <strong>de</strong> documentos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificaçãoNão houve um efectivo reforço dos meios <strong>de</strong> resolução alternativa <strong>de</strong> litígios,tendo sido adopta<strong>da</strong>s apenas medi<strong>da</strong>s sectoriais, n<strong>em</strong> dos julgados <strong>de</strong> paz. Faltaa revisão <strong>da</strong> lei <strong>da</strong> arbitrag<strong>em</strong> e criação <strong>da</strong> lei <strong>da</strong> mediação. Concretizou-se apenasa transformação <strong>de</strong> contravenções e transgressões <strong>em</strong> contra-or<strong>de</strong>naçõesAs medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>scongestionamento foram apenas pontuais, faltando concretizaras reformas <strong>de</strong> fundo do sist<strong>em</strong>a: <strong>de</strong>sbloquear a acção executiva, rever o mapajudiciário, os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão do sist<strong>em</strong>a judicial, as magistraturas, processocivil e custas judiciais. Falta a adopção <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s preventivas que previnam orecurso ao sist<strong>em</strong>a judicialAprovação <strong>da</strong> Lei-Quadro <strong>de</strong> política criminal, estando <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento arevisão apenas do processo penal.JUNHO <strong>2007</strong>8


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Estes quadros justificam os seguintes comentários, relativos a ca<strong>da</strong> um dos eixos fun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong><strong>Governação</strong> seleccionados para análise:1. Primeiro Eixo <strong>da</strong> <strong>Governação</strong>: Retomar o crescimento <strong>da</strong> economia <strong>de</strong> forma sustenta<strong>da</strong>.1.1. O objectivo <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>r uma “estratégia <strong>de</strong> crescimento para a próxima déca<strong>da</strong>” e <strong>de</strong> retomara convergência com o crescimento económico <strong>da</strong> UE ain<strong>da</strong> não foi alcançadoEm termos <strong>de</strong> crescimento do PIB, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano 2000 que <strong>Portugal</strong> não converge <strong>de</strong> facto para amédia europeia. Essa tendência, muito negativa para as aspirações e expectativas dos portugueses,não foi inverti<strong>da</strong> nos últimos dois anos. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que o ritmo <strong>de</strong> crescimento <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> acelerouno primeiro trimestre <strong>de</strong> <strong>2007</strong>, atingindo o correspon<strong>de</strong>nte a uma taxa <strong>de</strong> 2,0%. Mas a comparaçãocom as economias <strong>da</strong> zona Euro, que cresceram à taxa <strong>de</strong> 3,1% no mesmo período, continua a ser<strong>de</strong>sfavorável ao nosso País. De facto, o crescimento <strong>da</strong> economia, a evolução do investimento e osaldo externo ficaram, nos últimos anos, aquém do que o Governo tinha previsto e estabelecidocomo objectivo no seu Programa <strong>de</strong> Estabili<strong>da</strong><strong>de</strong> e Crescimento para 2005-2009. Note-se que talaconteceu numa conjuntura internacional que não foi, <strong>em</strong> geral, menos favorável do que a assumi<strong>da</strong>nesse programa (por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> 2006, o produto mundial cresceu 5,4% e o <strong>da</strong> União Europeia2,7%). 2O seguinte quadro mostra as diferenças entre o que foi previsto pelo Governo no PEC <strong>de</strong> <strong>Junho</strong><strong>de</strong> 2005 e o que efectivamente aconteceu:2005 2006<strong>2007</strong>PECRealPECRealPECPrevistoCrescimento do PIB (<strong>em</strong> %)0,80,51,41,32,21,8Crescimento do Investimento (<strong>em</strong> %)1,93,83,0-1,55,11,9Crescimento <strong>da</strong>s Exportações (<strong>em</strong> %)3,31,16,58,78,17,4Crescimento <strong>da</strong>s Importações (<strong>em</strong> %)4,01,95,14,36,44Taxa Des<strong>em</strong>prego (<strong>em</strong> % <strong>da</strong> população activa)7,47,67,77,77,67,5Saldo Externo (<strong>em</strong> % do PIB)-6,2-8,6-6,0-8,7-5,7-8,5Fontes: Real - Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (Abril <strong>de</strong> <strong>2007</strong>), INE; PEC 2005-2009 - Ministério <strong>da</strong>s Finanças, <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> 2005.2 De facto, o PEC <strong>de</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> 2005 previa, para a procura externa relevante para a economia portuguesa, um crescimento <strong>de</strong> 7% no ano <strong>de</strong> 2006.Ora, o valor mais recente para essa mesma variável, constante do Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (<strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> <strong>2007</strong>), indica umcrescimento <strong>de</strong> 8,4%.JUNHO <strong>2007</strong>9


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>A média anual do crescimento do PIB Nacional entre 2002 e 2004 foi <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 0,4%, enquantoas economias <strong>da</strong> UE-27 (União Europeia com 27 estados m<strong>em</strong>bros) registaram 1,6%. Ou seja, existiu<strong>em</strong> média neste período um diferencial <strong>de</strong> crescimento entre <strong>Portugal</strong> e a UE-27 <strong>de</strong> 1,2 pontospercentuais. Entre 2005 e <strong>2007</strong> (consi<strong>de</strong>rando-se a projecção do Governo como valor <strong>de</strong> <strong>2007</strong>), amédia anual <strong>de</strong> crescimento será <strong>de</strong> 1,2%, comparando com 2,5% <strong>da</strong> UE-27. Em suma, neste últimotriénio ter<strong>em</strong>os continuado a divergir a uma taxa anual que, <strong>em</strong> média, ron<strong>da</strong> os 1,3 pontospercentuais. A divergência <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong> <strong>em</strong> relação à UE-27 no triénio 2005-<strong>2007</strong> <strong>de</strong>verá ser portantosuperior - ou, na melhor <strong>da</strong>s hipóteses, s<strong>em</strong>elhante - à do triénio 2002-2004.O gráfico seguinte permite visualizar uma evolução que, não sendo negativa, não autoriza qualquerexpectativa <strong>de</strong> que o <strong>de</strong>sígnio <strong>de</strong> retomar a convergência <strong>da</strong> economia portuguesa com as economias<strong>da</strong> UE-27 venha a ser realizado durante a actual Legislatura:Detalhe <strong>da</strong> Convergência do PIB com UE 27Diferencial <strong>de</strong> Crescimento do PIB entre <strong>Portugal</strong> e UE 27Pontos percentuais0,00,020022003200420052006<strong>2007</strong>E2008E20002001-0,4-1,2-1,2-1,1-0,7-2,0-1,7Crescimento do PIBDiferencial médio: -1,2 Diferencial médio: -1,32000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 <strong>2007</strong>E 2008E<strong>Portugal</strong>UE 273,9% 2,0% 0,8% -0,7% 1,3% 0,5% 1,3% 1,8% 2,0%3,9% 2,0% 1,2% 1,3% 2,5% 1,7% 3,0% 2,9% 2,7%Fonte: Comissão EuropeiaNo entanto, mais do que constatar as diferenças entre as previsões do governo e o que efectivamentese passou - ou do que sublinhar a divergência actual entre a economia portuguesa e o conjunto <strong>da</strong>seconomias <strong>da</strong> UE-27 - importa <strong>de</strong>terminar se foram ou não cria<strong>da</strong>s condições, neste período <strong>de</strong>2005-<strong>2007</strong>, para que, num futuro próximo, a nossa convergência com a Europa se venha finalmentea verificar <strong>de</strong> uma forma sustenta<strong>da</strong> e significativa. Ora, tal não parece estar ain<strong>da</strong> garantido. Comefeito, o crescimento potencial <strong>da</strong> economia, que indica o limite possível e estável <strong>de</strong> crescimentosustentado no futuro, conserva-se muito abaixo dos 2% 3 , ou seja, longe do objectivo <strong>de</strong> 3% que o3 Esse valor seria <strong>de</strong> 1,6% para 2006 segundo a OCDE e a Comissão Europeia, e <strong>de</strong> 1,7% para <strong>2007</strong> segundo a Comissão Europeia.JUNHO <strong>2007</strong>10


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Governo esperava alcançar durante a actual Legislatura. O horizonte não é, <strong>de</strong> facto, animador.Como o crescimento previsto para <strong>2007</strong> (1,8%) é idêntico ou superior ao actual crescimento potencial(1,7%), é <strong>de</strong> t<strong>em</strong>er que não exista espaço para um crescimento superior, e muito menos sustentávela esse nível, nos próximos anos.Neste contexto, a relativa an<strong>em</strong>ia do investimento é inquietante. A sua evolução pouco positiva<strong>de</strong>ve-se <strong>em</strong> parte à diminuição <strong>da</strong> construção e à redução do investimento público. Esta reduçãodo investimento público, b<strong>em</strong> mais violenta do que o previsto pelo Governo no PEC, foi impostapor razões <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção orçamental, como forma <strong>de</strong> compensar o aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente.Quanto ao investimento <strong>em</strong>presarial 4 , só cresceu 1,3% <strong>em</strong> 2006. A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que ain<strong>da</strong> não estãocria<strong>da</strong>s no País as condições necessárias para atrair e reter investimento significativo e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>,seja <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> nacional ou estrangeira. S<strong>em</strong> este investimento, não ser<strong>em</strong>os capazes <strong>de</strong> reduzir o<strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> criar <strong>em</strong>prego qualificado.Em intervenções anteriores, o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> pôs <strong>em</strong> evidência alguns dos factores quepo<strong>de</strong>rão suscitar e trazer para <strong>Portugal</strong> investimentos que ajud<strong>em</strong> ao <strong>de</strong>senvolvimento do País. Porex<strong>em</strong>plo, (1) a qualificação dos recursos humanos (<strong>em</strong> geral e <strong>em</strong> áreas particulares), (2) mercadosabertos e <strong>em</strong> sã concorrência, (3) um sist<strong>em</strong>a fiscal competitivo, simples e transparente, (4) umarelação fácil e <strong>de</strong>sburocratiza<strong>da</strong> entre a Administração Pública e o ci<strong>da</strong>dão, (5) uma justiça céleree eficaz, e (6) uma legislação laboral que combine a segurança com a flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Mas o Governoain<strong>da</strong> não clarificou <strong>em</strong> quais <strong>de</strong>stes factores pensa apostar <strong>de</strong> modo a reforçar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Paíspara captar e fixar investimento.Um <strong>de</strong>sses factores <strong>de</strong>veria ser certamente o que diz respeito à legislação laboral. <strong>Portugal</strong> encontras<strong>em</strong>uito mal classificado nesta matéria. No contexto <strong>da</strong> avaliação do World Economic Forum sobrea flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> laboral, o nosso País ocupa a 111ª posição entre 125 países. Num contexto <strong>de</strong> competiçãoglobal <strong>da</strong>s economias, on<strong>de</strong> todos os factores <strong>de</strong> diferenciação contam, só com um mercado <strong>de</strong>trabalho mais flexível será possível aumentar a produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e criar condições para angariar maisinvestimento, melhorando o crescimento potencial <strong>da</strong> economia. Não se trata aqui, porém, <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>rsimplesmente <strong>da</strong> eficiência <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas. O objectivo <strong>de</strong>verá ser o <strong>de</strong> oferecer aos trabalhadoresum outro tipo <strong>de</strong> segurança - a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira segurança que lhes po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r um ambiente económicomais dinâmico, mais recompensador <strong>da</strong>s qualificações e do mérito e livre <strong>da</strong> sombra do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego<strong>de</strong> longa duração, on<strong>de</strong> seja possível ace<strong>de</strong>r a mais e melhores <strong>em</strong>pregos-, <strong>em</strong> vez <strong>da</strong> segurançailusória <strong>da</strong> lei, materializa<strong>da</strong> na vinculação ao mesmo posto <strong>de</strong> trabalho por to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong>.O Programa do Governo reconhece a importância <strong>de</strong>ste factor, ao referir-se vagamente à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> promover uma evolução <strong>da</strong> legislação laboral no sentido <strong>de</strong> “aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptação<strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas aos <strong>de</strong>safios <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>” e <strong>de</strong> evoluir para “novascombinações <strong>de</strong> flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e segurança no <strong>em</strong>prego”. Com este fim, o governo prometeu olançamento no primeiro ano <strong>de</strong> Legislatura <strong>de</strong> um Livro Branco sobre as relações laborais <strong>em</strong><strong>Portugal</strong>. Tal projecto encontra-se, porém, muito atrasado. A Comissão encarrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> elaborar4 Isto é, o investimento privado s<strong>em</strong> as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> investimento <strong>da</strong>s famílias com habitação.JUNHO <strong>2007</strong>11


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>o referido Livro Branco só foi <strong>em</strong>possa<strong>da</strong> <strong>em</strong> Nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, tendo um ano para produzir orelatório final.Um investimento <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> será também importante para garantir um aumento significativoe sustentado <strong>da</strong>s exportações. Estas tiveram um comportamento favorável <strong>em</strong> 2006, ano <strong>em</strong> queparece ter sido possível suster a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> quota nos mercados externos verifica<strong>da</strong> <strong>em</strong> anos anteriores.Registou-se igualmente uma tendência positiva <strong>de</strong> alteração do perfil <strong>da</strong>s exportações para produtos<strong>de</strong> maior valor acrescentado. No entanto, é necessário algum cui<strong>da</strong>do na análise <strong>da</strong>s exportações<strong>de</strong> 2006, pois parte do relativo sucesso po<strong>de</strong>rá ter uma natureza excessivamente conjuntural. Comefeito, o País beneficiou <strong>de</strong> uma procura extraordinária <strong>de</strong> produtos refinados <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> petrolífera,<strong>da</strong><strong>da</strong> a escassez mundial. Houve ain<strong>da</strong> um acréscimo significativo <strong>de</strong> exportações para algunspequenos países extracomunitários, que po<strong>de</strong>rá não se manter no futuro. Finalmente, está por<strong>de</strong>terminar o modo como a chama<strong>da</strong> “frau<strong>de</strong> carrossel” no IVA terá <strong>em</strong>polado as exportações,nomea<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> serviços.O aumento <strong>da</strong>s exportações <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>da</strong> melhoria <strong>da</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos produtos e serviçosproduzidos <strong>em</strong> território nacional. Ora, acontece que os custos unitários do trabalho <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong>evi<strong>de</strong>nciam uma tendência pouco positiva face aos nossos concorrentes 5 . A situação <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>nos índices <strong>de</strong> competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do World Economic Forum continua a evoluir <strong>de</strong>sfavoravelmente.Todos estes factos dão ain<strong>da</strong> poucas garantias quanto a um crescimento sustentado <strong>da</strong> nossaEconomia, que continua d<strong>em</strong>asiado <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos acasos <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> conjuntura e <strong>da</strong> procuraexterna.O País não encontrou uma saí<strong>da</strong> clara para os probl<strong>em</strong>as que o têm afligido <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000. O alto nível<strong>de</strong> endivi<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s famílias e <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas limita o crescimento pela via do consumo interno.Apesar do comportamento aparent<strong>em</strong>ente favorável <strong>da</strong>s exportações e <strong>da</strong>s importações (neste últimocaso, como resultado <strong>em</strong> parte <strong>de</strong> um menor consumo e nível <strong>de</strong> investimento), o saldo externo <strong>da</strong>nossa economia, <strong>de</strong>terminante do endivi<strong>da</strong>mento face ao exterior, continua a exibir valores pioresdo que os previstos pelo Governo no PEC.Perante este cenário, não é aconselhável que se mantenha a ilusão <strong>de</strong> que um “Plano Tecnológico”li<strong>de</strong>rado pelo <strong>Estado</strong> e baseado <strong>em</strong> centenas <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s pouco articula<strong>da</strong>s possa funcionar, só porsi e apesar dos seus méritos, como uma varinha <strong>de</strong> condão para o nosso crescimento económico 6 .Há que enten<strong>de</strong>r que a tecnologia é essencialmente uma ferramenta para atingir propósitos <strong>de</strong>inovação e aumento <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, não um fim <strong>em</strong> si mesmo. O seu valor <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> umcontexto s<strong>em</strong> o qual os seus efeitos serão reduzidos ou anulados . 7 O ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro “Plano Tecnológico”<strong>de</strong>veria assentar na qualificação e formação dos Portugueses, na introdução <strong>de</strong> novas tecnologias5 Com efeito, segundo o Banco <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, os custos unitários do trabalho <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> cresceram 2,4% no ano <strong>de</strong> 2005, por comparação com 0,9%na Zona Euro, e <strong>em</strong> 2006, 1,8% <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> e 0.8% na Zona Euro.6 Embora se <strong>de</strong>va reconhecer que o Plano Tecnológico unifica os instrumentos <strong>de</strong> política <strong>de</strong> inovação no Programa <strong>de</strong> Governo, importa salientarque (1) não <strong>de</strong>fine a relação entre metas e medi<strong>da</strong>s, (2) não envolve suficient<strong>em</strong>ente a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil, e (3) não cont<strong>em</strong>pla medi<strong>da</strong>s para obviar afalta <strong>de</strong> cooperação entre as <strong>em</strong>presas, o estado, as universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e as restantes enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a nacional <strong>de</strong> inovação.7 Por ex<strong>em</strong>plo, a distribuição a preços reduzidos <strong>de</strong> computadores - Programa e-escola - seria b<strong>em</strong> mais eficaz se fosse acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>sacções <strong>de</strong> formação a alunos e professores e <strong>da</strong> introdução do computador nos programa curriculares e nas técnicas lectivas <strong>da</strong>s escolas.JUNHO <strong>2007</strong>12


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>na Administração Pública (<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> explicitado o papel e abrangência <strong>de</strong>sta, e revistos os seusprocessos e organização), no aumento <strong>da</strong> concorrência <strong>em</strong> todos os mercados, e especialmente no<strong>da</strong>s telecomunicações, e na promoção, através dos incentivos a<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong> uma melhor interacçãoentre os estabelecimentos <strong>de</strong> ensino e as <strong>em</strong>presas.Em síntese, é necessário criar condições para que o País possa adquirir vantagens competitivassustentáveis e suficientes para tornar a economia portuguesa mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> conjunturaexterna e permitir-lhe finalmente alcançar, <strong>de</strong> forma consistente e duradoura, um nível <strong>de</strong> crescimentoacima dos 3%.1.2) A estabilização orçamental registou progressos assinaláveis, mas a evolução ain<strong>da</strong> carece <strong>de</strong>ser consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>.A evolução do défice orçamental é positiva, apesar <strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 2005 ter sido atípico e <strong>de</strong> transição,com alocações <strong>de</strong> <strong>de</strong>spesa que pod<strong>em</strong> ser questiona<strong>da</strong>s. Também por isso, a redução prevista dodéfice entre 2006 e <strong>2007</strong> (<strong>de</strong> 3,9% para 3,3%) será muito inferior à verifica<strong>da</strong> no período anterior(<strong>de</strong> 6,1% para 3,9%).20042005 2006Deficit Orçamental (<strong>em</strong> % do PIB)Despesa Pública (<strong>em</strong> % do PIB)Despesa Corrente Primária Pública (<strong>em</strong> % do PIB)Carga Fiscal (<strong>em</strong> % do PIB)Real5,446,439,334,8Fontes: Real – Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (Abril <strong>de</strong> <strong>2007</strong>); INE; PEC 2005-2009 – Ministério <strong>da</strong>s Finanças (Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2005); e Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (Abril <strong>de</strong> 2006).PEC6,047,435,2Real6,147,440,636,0PEC4,64739,836,1Real3,946,139,936,7PEC3,746,13936,4<strong>2007</strong>Previsãorecente3,345,13936,1Ain<strong>da</strong> é cedo para se afirmar que há uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira consoli<strong>da</strong>ção orçamental e que a mesma évirtuosa para o crescimento económico e para a coesão social a médio prazo. Em 2005, no seuPrograma, o Governo criticou a tendência, regista<strong>da</strong> nos três anos anteriores, para um aumento <strong>da</strong><strong>de</strong>spesa pública corrente primária face ao PIB, <strong>de</strong> 37,1% (<strong>em</strong> 2002) para 39,3% (<strong>em</strong> 2004). 8No entanto, passados dois anos, ain<strong>da</strong> não conseguiu inverter essa tendência <strong>de</strong> uma formasignificativa. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, essa variável registou um crescimento <strong>de</strong> 2004 (39,3%) para 2005 (40,6%),estimando o governo que <strong>em</strong> <strong>2007</strong> o seu valor (39%) se aproxime novamente do atingido <strong>em</strong> 2004.Uma <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s anuncia<strong>da</strong>s pelo Governo tinha sido, aliás, a elaboração <strong>de</strong> um Plano Plurianual<strong>de</strong> redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente e a sua contratualização com os diferentes serviços <strong>da</strong> administraçãopública, no prazo <strong>de</strong> 180 dias após o início <strong>da</strong> Legislatura. Na<strong>da</strong>, a esse respeito, aconteceu até hoje.O único referencial <strong>de</strong> médio prazo divulgado pelo Governo sobre esta matéria foi o Relatório <strong>de</strong>Orientação <strong>de</strong> Política Orçamental <strong>de</strong> 2006, on<strong>de</strong> se estabeleceu o objectivo <strong>de</strong> fixar a <strong>de</strong>spesa correnteprimária <strong>em</strong> 37% do PIB <strong>em</strong> 2009. 9 Mas este referencial, só por si, não substitui um plano <strong>de</strong>talhadoe acor<strong>da</strong>do com os vários serviços públicos no sentido <strong>da</strong> sua execução plurianual.8 Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (Abril <strong>de</strong> <strong>2007</strong>).9 Este valor <strong>de</strong> referência, aliás, não parece suficiente para permitir um alívio <strong>da</strong> carga fiscal excessiva que actualmente prejudica a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>do País e dissua<strong>de</strong> o investimento.JUNHO <strong>2007</strong>13


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>De facto, uma parte substancial <strong>da</strong> redução do défice orçamental <strong>de</strong>ve-se ao aumento dos impostose à cobrança <strong>de</strong> um stock acumulado <strong>de</strong> dívi<strong>da</strong>s fiscais, e não tanto, como seria <strong>de</strong>sejável, a umaredução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa. 10 Da mesma forma, o congelamento salarial na função pública, que t<strong>em</strong> vindoa permitir controlar as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> pessoal no curto prazo, dificilmente será possível <strong>de</strong> manter nofuturo. A <strong>de</strong>spesa pública continua a ser d<strong>em</strong>asiado rígi<strong>da</strong>, dificultando a consoli<strong>da</strong>ção uma tendênciaestrutural clara e significativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>créscimo. O importante objectivo <strong>de</strong> reduzir <strong>em</strong> 75 000 o número<strong>de</strong> funcionários <strong>da</strong> Administração Central durante a legislatura, que aju<strong>da</strong>ria no futuro a umadiminuição <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa com pessoal, parece pouco provável <strong>de</strong> ser cumprido. Sendo assim, aconsoli<strong>da</strong>ção orçamental consegui<strong>da</strong>, <strong>em</strong>bora positiva, não parece ain<strong>da</strong> suficient<strong>em</strong>ente sóli<strong>da</strong>.Visto que as receitas fiscais não po<strong>de</strong>rão continuar a crescer como até aqui s<strong>em</strong> prejudicar acompetitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do nosso sist<strong>em</strong>a fiscal e por essa via as condições do nosso crescimento económico,convém ao Governo apostar mais fort<strong>em</strong>ente na redução <strong>da</strong>s <strong>de</strong>spesas, <strong>de</strong> modo a realizar pelomenos o objectivo previsto no PEC <strong>de</strong> Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006 <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>spesa corrente primária <strong>de</strong>35,9% do PIB <strong>em</strong> 2010. Da mesma forma, seria importante traçar uma estratégia clara <strong>de</strong> obtenção<strong>de</strong> receitas no futuro, explicitando as várias fontes – impostos, privatizações, taxas sobre utentes eutilizadores, etc.Outra parte substancial <strong>de</strong> redução do défice orçamental t<strong>em</strong> vindo a ser consegui<strong>da</strong> através <strong>de</strong>uma forte retracção do investimento público. No seu Programa, o Governo afirmou que o investimentopúblico, s<strong>em</strong> contributos europeus, iria crescer por ano cerca <strong>de</strong> 15%. Tal não veio a acontecer (eprovavelmente não seria <strong>de</strong>sejável que acontecesse, sobretudo s<strong>em</strong> estar garanti<strong>da</strong> a sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong>),visto que o Governo teve <strong>de</strong> recorrer ao seu corte drástico para se aproximar, <strong>em</strong> 2006, do objectivo<strong>de</strong> diminuição do défice orçamental. Quanto ao investimento público total, o Governo previu que<strong>de</strong>cresceria <strong>em</strong> termos reais, mas não necessariamente <strong>em</strong> termos nominais.No entanto, acabou por diminuir 14,9% <strong>em</strong> 2006, o que faz t<strong>em</strong>er que alguns investimentosnecessários e reprodutivos tenham sido adiados. Para <strong>2007</strong>, o Governo já prevê um acréscimo <strong>de</strong>4,9% contra - 1,5% no PEC.Crescimento Nominal do Investimento Público (<strong>em</strong> %)2006PEC Real-4,6 -14,9E<strong>2007</strong>PEC Previsto-1,5 4,9Fontes: Real – Relatório <strong>de</strong> Orientação <strong>da</strong> Política Orçamental (Abril <strong>de</strong> <strong>2007</strong>); INE; PEC 2005-2009 – Ministério <strong>da</strong>s Finanças (<strong>Junho</strong> <strong>de</strong> 2005).10 Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a redução regista<strong>da</strong> <strong>em</strong> 2006 no valor <strong>de</strong> 2,1 pontos percentuais, <strong>de</strong>ve-se <strong>em</strong> 38% (0,8 pontos percentuais) ao aumento <strong>da</strong>s receitasfiscais, <strong>em</strong> 33% à redução <strong>da</strong>s <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> capital (0,7 pontos percentuais) e unicamente 29% (0,6 pontos percentuais) à redução <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente.Já no que diz respeito à redução do défice prevista para <strong>2007</strong>, o contributo esperado <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente será <strong>de</strong>terminante, tendo o governoestabelecido um objectivo <strong>de</strong> redução <strong>de</strong> 0,8 pontos percentuais - uma redução superior à própria redução total do défice, e que, a verificar-se, não<strong>de</strong>ixaria <strong>de</strong> ser uma tendência claramente positiva.JUNHO <strong>2007</strong>14


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>De salientar que, no que diz respeito ao investimento público, nomea<strong>da</strong>mente nos casos <strong>em</strong> queatinge um maior montante (como acontece com os projectos do novo aeroporto internacional <strong>de</strong>Lisboa ou do TGV), o Governo ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>finiu uma metodologia <strong>de</strong> apreciação e <strong>de</strong>cisão quegaranta a respectiva selectivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, controlo e <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> responsabilização. Esta, aliás, foi uma matéria<strong>em</strong> que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> já avançou com propostas que inclu<strong>em</strong> a participação <strong>de</strong>personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s conceitua<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil <strong>em</strong> comissões <strong>de</strong> avaliação, man<strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s para <strong>em</strong>itirrecomen<strong>da</strong>ções sobre os investimentos <strong>em</strong> causa.As medi<strong>da</strong>s entretanto toma<strong>da</strong>s pelo Governo para controlar os gastos públicos <strong>em</strong> pensões,nomea<strong>da</strong>mente a equiparação do regime <strong>da</strong> Caixa Geral <strong>de</strong> Aposentações com o regime geral e aalteração dos critérios <strong>de</strong> cálculo, merec<strong>em</strong> nota positiva. São, s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong>, um factor muito relevantepara obter uma consoli<strong>da</strong>ção orçamental mais estrutural, apesar do impacto negativo nas expectativasdos ci<strong>da</strong>dãos. Deve-se, porém, notar que o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> segurança social nãoficou ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>finitivamente resolvido para o futuro. É <strong>de</strong> prever que as transferências para asfamílias -- seja por via <strong>da</strong>s pensões, cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou outros subsídios -- continu<strong>em</strong> a pressionara <strong>de</strong>spesa, até como consequência do envelhecimento <strong>da</strong> população. Mais tar<strong>de</strong> ou mais cedo, estaevolução exigirá uma revisão do mo<strong>de</strong>lo social, direccionando as prestações para qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>las maisnecessita e apertando o controlo dos abusos e frau<strong>de</strong>s (matéria on<strong>de</strong>, é justo reconhecer, o Governot<strong>em</strong> <strong>da</strong>do passos positivos).1.3.) A Mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> Administração Pública está atrasa<strong>da</strong>A reforma <strong>da</strong> Administração Pública é, na história recente <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, uma <strong>da</strong>s reformas maisanuncia<strong>da</strong>s, mas que mais difícil se t<strong>em</strong> revelado <strong>de</strong> concretizar. O actual Governo, ao manifestara sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfrentar o que admitiu ser um probl<strong>em</strong>a crucial do <strong>de</strong>senvolvimento do País,criou expectativas que não <strong>de</strong>verá frustrar. No seu Programa e na apresentação que <strong>de</strong>le fez, oGoverno estabeleceu três linhas <strong>de</strong> actuação a respeito <strong>da</strong> Administração Pública: 1) facilitar a vi<strong>da</strong>ao ci<strong>da</strong>dão e às <strong>em</strong>presas; 2) melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço pela valorização dos recursos humanose <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> trabalho; e 3) tornar a Administração Pública amiga <strong>da</strong> economia, sobretudoatravés <strong>da</strong> redução do seu peso.É óbvio que o esforço <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> Administração Pública <strong>de</strong>veria partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finiçãomais clara do papel do <strong>Estado</strong>, nomea<strong>da</strong>mente do seu posicionamento como garante e/ou prestador<strong>de</strong> serviços. Infelizmente, o ponto <strong>de</strong> vista do Governo a esse respeito não foi suficient<strong>em</strong>enteexplicitado no seu Programa, como <strong>em</strong> <strong>de</strong>vido t<strong>em</strong>po observou o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>. Em vezdisso, o Governo optou por fazer um exercício <strong>de</strong> cima para baixo <strong>de</strong> racionalização <strong>da</strong>s estruturasexistentes (através, por ex<strong>em</strong>plo, do Programa <strong>de</strong> Reestruturação <strong>da</strong> Administração Central do <strong>Estado</strong>- PRACE), s<strong>em</strong> uma preocupação suficiente com as funções e processos efectivamente <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhados.Da mesma forma, elencou um conjunto <strong>de</strong> múltiplas medi<strong>da</strong>s (como no caso do Simplex - Programa<strong>de</strong> Simplificação Administrativa e Legislativa ou no caso do Plano Tecnológico), que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cartãoúnico do ci<strong>da</strong>dão até à simplificação <strong>em</strong> geral dos procedimentos administrativos, s<strong>em</strong> explicitara sua relação com os objectivos <strong>de</strong> eficiência expressos no Programa do Governo.JUNHO <strong>2007</strong>15


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>T<strong>em</strong> existido por parte do Governo um esforço apreciável para concretizar muitas <strong>de</strong>ssas medi<strong>da</strong>s,nomea<strong>da</strong>mente aquelas <strong>de</strong> mais fácil e imediata impl<strong>em</strong>entação. O Governo não esteve parado.Fez aprovar no parlamento uma Lei <strong>da</strong> Mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Função Pública e começou a preparar novalegislação sobre carreiras e vínculos. Mas a maioria <strong>da</strong>s tarefas fun<strong>da</strong>mentais referi<strong>da</strong>s, muitas <strong>de</strong>lasexpressas no Programa do Governo e necessárias para a ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira mo<strong>de</strong>rnização <strong>da</strong> AdministraçãoPública, encontram-se ain<strong>da</strong> muito atrasa<strong>da</strong>s. Entre estas, po<strong>de</strong>riam ser menciona<strong>da</strong>s as seguintes:1) estabelecer um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro plano plurianual para a Administração Pública e sua contratualizaçãocom os diferentes serviços,2)introduzir uma gestão por objectivos, i<strong>de</strong>ntificando responsáveis concretos,3) rever, aperfeiçoar e alargar a avaliação <strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho dos agentes (processo apenas iniciado),4) instituir e <strong>de</strong>senvolver sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> avaliação dos serviços públicos, nomea<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> eficiência<strong>da</strong> sua gestão e do nível <strong>de</strong> satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas,5)reanalisar o papel dos órgãos <strong>de</strong> controle interno <strong>da</strong> Administração Pública,6) planear estrategicamente a utilização <strong>da</strong>s Tecnologias <strong>de</strong> Informação e Comunicação (TIC) naAdministração Pública,7) estimular a participação <strong>da</strong>s organizações <strong>de</strong> utentes na avaliação dos serviços e incentivar aparticipação <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil na gestão <strong>da</strong>s escolas, <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> acção social,ambiente e cultura,8) diminuir <strong>em</strong> 75.000 o número <strong>de</strong> funcionários <strong>da</strong> Administração Central.Por outro lado, as propostas entretanto concretiza<strong>da</strong>s (por ex<strong>em</strong>plo, a Empresa na Hora ou a Marcana Hora), não assentaram numa ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira reengenharia <strong>de</strong> processos, procurando apenas contornara complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s estruturas e processos <strong>da</strong> Administração Pública, <strong>de</strong> modo a <strong>da</strong>r-lhes umaaparência menos assustadora para o ci<strong>da</strong>dão. Por esta via, po<strong>de</strong>-se melhorar o serviço ao ci<strong>da</strong>dão,mas não se atingirá quaisquer ganhos <strong>de</strong> eficiência.Não há dúvi<strong>da</strong> que o País precisa <strong>de</strong> uma Administração Pública mais prestigia<strong>da</strong>, mais eficientee, principalmente, mais orienta<strong>da</strong> para o ci<strong>da</strong>dão, prestando melhores serviços públicos. É por issourgente estabelecer indicadores <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço para os vários sectores <strong>da</strong> AdministraçãoPública, que sirvam como referência e estímulo para uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira reforma estrutural. Os custos<strong>da</strong> Administração Pública <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> têm que passar a correspon<strong>de</strong>r a um real valor acrescentadopara os ci<strong>da</strong>dãos.2. Segundo Eixo <strong>da</strong> <strong>Governação</strong>: Reforçar a coesão social numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> com menospobreza e com mais igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s.2.1.) O aumento <strong>da</strong> coesão social não parece garantidoA diferença entre os mais ricos e mais pobres não t<strong>em</strong> diminuído <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> na última déca<strong>da</strong>.Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, segundo os últimos <strong>da</strong>dos disponíveis do Eurostat, a relação entre os 20 % mais ricosJUNHO <strong>2007</strong>16


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>e os 20% mais pobres agravou-se nos últimos anos, tendo atingido um índice <strong>de</strong> 8,2 <strong>em</strong> 2005, quandoa média <strong>da</strong> UE-25 (União Europeia com 25 estados m<strong>em</strong>bros ) é <strong>de</strong> 5. É um sinal forte <strong>de</strong> que hámuito t<strong>em</strong>po que, no nosso País, não se actua ao nível dos factores estruturais <strong>da</strong> diferenciaçãosocial.Não é possível calcular ain<strong>da</strong> os efeitos <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>s para combater a exclusão e a pobreza(como o Rendimento Social <strong>de</strong> Inserção e o Compl<strong>em</strong>ento Solidário para Idosos). No entanto, amelhor forma <strong>de</strong> aumentar a coesão social <strong>de</strong> um modo sustentável passa, na opinião do <strong>Compromisso</strong><strong>Portugal</strong>, por cinco vertentes fun<strong>da</strong>mentais: 1) uma maior concorrência no mercado, <strong>de</strong> modo aimpedir que lucros excessivos e injustos sejam apropriados por alguns; 2) um programa integrado<strong>de</strong> combate à pobreza; 3) uma melhor educação <strong>de</strong> base que garanta a igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>spara todos os Portugueses, s<strong>em</strong> excepção; 4) um sist<strong>em</strong>a fiscal justo e transparente, e progressivoaté ao ponto <strong>em</strong> que não seja um inibidor <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> riqueza; e 5) <strong>em</strong> geral o acesso <strong>de</strong> todos aserviços públicos fun<strong>da</strong>mentais, ten<strong>de</strong>ncialmente gratuitos para os ci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong> menores rendimentos.2.2.) O Sist<strong>em</strong>a <strong>da</strong> Segurança Social ain<strong>da</strong> não se encontra totalmente viabilizado a longo prazo enão possui os a<strong>de</strong>quados incentivos para uma maior responsabilização individual.O principal objectivo do programa do Governo no que diz respeito à Segurança Social passava porassegurar a sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a a longo prazo. Neste sentido, as medi<strong>da</strong>s adopta<strong>da</strong>s, <strong>em</strong>borasendo essencialmente <strong>de</strong> carácter paramétrico, reduziram a pressão financeira sobre o equilíbriodo sist<strong>em</strong>a, abrindo perspectivas para futuras reformas estruturais. De acordo com os cálculosefectuados pelo Governo, as mu<strong>da</strong>nças introduzi<strong>da</strong>s aju<strong>da</strong>rão a que, <strong>em</strong> vez do saldo negativo <strong>de</strong>3,5% do PIB previsto para 2050, se possa atingir um saldo positivo <strong>de</strong> 0,7%. No entanto, esteresultado <strong>de</strong>ve ser qualificado por duas observações. Em primeiro lugar, convém l<strong>em</strong>brar que amelhoria do saldo previsto foi consegui<strong>da</strong> através <strong>da</strong> redução gradual <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> substituição (relaçãoentre o último salário e o valor <strong>da</strong> primeira pensão <strong>de</strong> reforma), a qual passará <strong>de</strong> 75% <strong>em</strong> 2006para 55% <strong>em</strong> 2050. Em segundo lugar, esta alteração <strong>de</strong> parâmetros só garante que as receitascorrentes do sist<strong>em</strong>a serão superiores às <strong>de</strong>spesas até 2036. A partir <strong>de</strong>sse ano, somente o recursoao fundo <strong>de</strong> estabilização <strong>da</strong> Segurança Social permitirá fazer face aos défices correntes do sist<strong>em</strong>ae atingir saldos positivos. E <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 2050, a ruptura voltará a estar no horizonte.Continua assim por fazer uma reforma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente estrutural do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> pensões. A esserespeito, vale a pena notar que o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> sugeriu a transição para um regime <strong>de</strong>capitalização com conta própria, que seria mais justo, incentivador e sustentável, e menos sujeitoaos riscos <strong>de</strong>rivados do <strong>de</strong>scontrolo <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa pública ou <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões políticas eleitoralistas. 11Só <strong>de</strong>sse modo será possível promover um Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Segurança Social com os a<strong>de</strong>quados incentivospara os ci<strong>da</strong>dãos, assegurando simultaneamente a sua sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> estrutural e a promoção <strong>da</strong>coesão social.11 No sist<strong>em</strong>a sugerido pelo <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>, existiria s<strong>em</strong>pre uma garantia <strong>de</strong> pensão mínima para qu<strong>em</strong> não tivesse rendimentos ou activossuficientes.JUNHO <strong>2007</strong>17


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>2.3) Algumas medi<strong>da</strong>s positivas na Educação mas ain<strong>da</strong> s<strong>em</strong> reformas estruturais <strong>de</strong> fundo.O Governo elegeu a melhoria do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino e o aumento <strong>da</strong> qualificaçãodos portugueses como objectivos fun<strong>da</strong>mentais para esta Legislatura. No que diz respeito ao primeiroobjectivo, o Programa do Governo estabeleceu como metas a atingir até ao fim <strong>da</strong> Legislatura aredução para meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> taxa <strong>de</strong> insucesso escolar no ensino básico e na transição para o secundário,b<strong>em</strong> como a duplicação <strong>da</strong> frequência dos cursos tecnológicos ou profissionais. Infelizmente, ainexistência <strong>de</strong> informação sobre o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho do sist<strong>em</strong>a educativo no ano lectivo 2005/2006, nãopermite avaliar qual o progresso efectuado. Houve algumas mu<strong>da</strong>nças ao nível do enquadramentojurídico <strong>da</strong> activi<strong>da</strong><strong>de</strong> docente, nomea<strong>da</strong>mente quanto à organização <strong>da</strong> carreira. No entanto, afalta <strong>de</strong> avanços no processo <strong>de</strong> autonomia <strong>da</strong>s escolas, nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> governo <strong>da</strong>s mesmas e nosmecanismos <strong>de</strong> avaliação dos professores, todos <strong>da</strong> maior importância para aperfeiçoar a eficiênciado sist<strong>em</strong>a educativo, <strong>de</strong>ixa antever que o Governo terá gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> atingir os seusobjectivos. Finalmente, a atenção justamente <strong>da</strong><strong>da</strong> às questões <strong>de</strong> enquadramento e gestão do sist<strong>em</strong>anão <strong>de</strong>ve fazer esquecer, como aparent<strong>em</strong>ente t<strong>em</strong> acontecido, uma área fun<strong>da</strong>mental para o sucessoescolar, como é a <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong> ensino.A acção governativa merece avaliação positiva no que diz respeito ao objectivo <strong>de</strong> generalizar oensino <strong>de</strong> Inglês <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro ciclo do ensino básico. De facto, as políticas <strong>de</strong> enriquecimentocurricular <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s na primeira meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> Legislatura, ao nível do envolvimento <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong><strong>de</strong>spromotoras (escolas, associações <strong>de</strong> pais, autarquias e institutos <strong>de</strong> línguas) e ao nível do financiamentodos alunos (100¤/ano por aluno), possibilitaram que, no presente ano lectivo <strong>de</strong> 2006-<strong>2007</strong>, já 99%<strong>da</strong>s escolas do ensino básico ofereçam gratuitamente ensino <strong>de</strong> inglês nos 3º e 4º anos <strong>de</strong> escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>e 43% <strong>da</strong>s escolas ofereçam ensino <strong>de</strong> inglês nos 1º e 2º anos. Nestas escolas, aprend<strong>em</strong> inglês 89%dos alunos matriculados nos 3º e 4º anos e 31% dos alunos do 1º e 2º anos.Relativamente aos esforços ten<strong>de</strong>ntes a melhorar o nível <strong>de</strong> qualificação dos portugueses, mereceparticular <strong>de</strong>staque a iniciativa Novas Oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, que está aliás na linha <strong>de</strong> propostas anterioresdo <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong>. Esta iniciativa assumiu objectivos ambiciosos <strong>em</strong> termos <strong>de</strong>reconhecimento, vali<strong>da</strong>ção e certificação <strong>de</strong> competências adquiri<strong>da</strong>s pela população activa, b<strong>em</strong>como no reforço <strong>da</strong> oferta <strong>de</strong> cursos profissionalizantes <strong>de</strong> nível secundário e <strong>de</strong> nível básico (3ºciclo). Assim, as Novas Oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s pretend<strong>em</strong> certificar, até 2010, 600 mil adultos no nívelbásico (3º ciclo) b<strong>em</strong> como no nível secundário, e formar 210 mil jovens com cursos profissionalizantes<strong>de</strong> nível secundário no mesmo horizonte t<strong>em</strong>poral. Se os objectivos <strong>de</strong>finidos para esta iniciativafor<strong>em</strong> cumpridos, será seguramente um importante contributo para atingir a meta <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> <strong>de</strong>Lisboa <strong>de</strong> reduzir para meta<strong>de</strong> a percentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> jovens (18-24 anos) s<strong>em</strong> o ensino secundário. Ospróximos dois anos vão ser <strong>de</strong>terminantes para aferir <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> execução prática e consistente<strong>de</strong>sta iniciativa.Também no caso do ensino superior será impossível melhorar significativamente o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhodo sist<strong>em</strong>a s<strong>em</strong> reformas <strong>de</strong> fundo. A este respeito, a muito recente proposta <strong>de</strong> lei para o novoRegime Jurídico <strong>da</strong>s Instituições <strong>de</strong> Ensino Superior, actualmente <strong>em</strong> discussão pública, prevêJUNHO <strong>2007</strong>18


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>mu<strong>da</strong>nças fun<strong>da</strong>mentais, sobretudo no que se refere ao mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governo <strong>de</strong>ssas instituições.Alguns aspectos <strong>de</strong>ssa proposta merec<strong>em</strong> s<strong>em</strong> dúvi<strong>da</strong> reflexão. Por ex<strong>em</strong>plo, 1) a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>critérios mais exigentes para as escolas, tanto <strong>de</strong> carácter institucional e financeiro, como no quese refere à qualificação do corpo docente; 2) a ampliação <strong>da</strong> autonomia e responsabilização <strong>da</strong> suagestão, reforçando simultaneamente os mecanismos <strong>de</strong> fiscalização externa; 3) a reformulação dosórgãos <strong>de</strong> governo, impondo a participação no Conselho Geral <strong>de</strong> m<strong>em</strong>bros exteriores, ligados àsocie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, num mínimo <strong>de</strong> 30%; 4) a previsão <strong>de</strong> um novo mo<strong>de</strong>lo jurídico e institucional –as fun<strong>da</strong>ções públicas <strong>de</strong> direito privado – a adoptar pelas escolas, o qual oferece vantagens <strong>de</strong>autonomia e flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gestão; e 5) o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> separação entre ensino universitárioe ensino politécnico, o que po<strong>de</strong>rá eliminar a sobreposição <strong>de</strong> oferta hoje existente.Há neste documento pistas que pod<strong>em</strong> ser explora<strong>da</strong>s para a reforma do ensino superior. No entanto,algumas <strong>da</strong>s críticas feitas à proposta, como as que diz<strong>em</strong> respeito ao po<strong>de</strong>r discricionário do Governona passag<strong>em</strong> <strong>de</strong> instituições do ensino superior público a fun<strong>da</strong>ções, justificam certamente pon<strong>de</strong>ração.Além disso, este Regime Jurídico não po<strong>de</strong> fazer esquecer a urgência <strong>de</strong> avançar nas políticas <strong>de</strong>avaliação <strong>da</strong>s instituições, <strong>de</strong> modo a promover a exigência, a eficácia e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> formaçãodos alunos num quadro <strong>de</strong> referência internacional, b<strong>em</strong> como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conceber um sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> financiamento que promova uma sã concorrência entre instituições estatais e priva<strong>da</strong>s, porex<strong>em</strong>plo através do financiamento público directo dos alunos.3. Terceiro Eixo <strong>da</strong> <strong>Governação</strong>: Melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> dos Portugueses num quadrosustentável <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.3.1.) A política <strong>de</strong> Ambiente e Or<strong>de</strong>namento do Território ain<strong>da</strong> não está no centro <strong>da</strong> estratégiapara o <strong>de</strong>senvolvimento do PaísO Governo propôs-se <strong>de</strong>volver ambição à política <strong>de</strong> Ambiente e Or<strong>de</strong>namento do Território, <strong>em</strong>especial reforçando a integração <strong>da</strong>s preocupações ambientais e territoriais nas políticas sectoriais(turismo, indústria, obras públicas, agricultura, etc.). No entanto, o cumprimento dos objectivosestabelecidos, nomea<strong>da</strong>mente a obtenção <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> protecção ambiental e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>equivalentes aos europeus, será difícil, caso se mantenham a tendência <strong>de</strong> redução <strong>da</strong>s verbas<strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a investimentos <strong>em</strong> Ambiente e Or<strong>de</strong>namento do Território (-34% entre 2005 e <strong>2007</strong>),e caso se continue a não promover o envolvimento <strong>da</strong>s autarquias e socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, sobretudo dosector privado, como parceiros.Além <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> investimento, exist<strong>em</strong> outros aspectos menos positivos. Em primeiro lugar, nãoforam assegurados os financiamentos necessários à conservação dos valores protegidos pela Re<strong>de</strong>Natura 2000, o que afecta dramaticamente a política <strong>de</strong> conservação <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Em segui<strong>da</strong>, falta concretizar a Estratégia <strong>de</strong> Gestão Integra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Zona Costeira Nacional e,sobretudo, estabelecer uma ca<strong>da</strong> vez mais pr<strong>em</strong>ente monitorização <strong>de</strong> zonas <strong>de</strong> risco. Por fim,<strong>de</strong>ver<strong>em</strong>os mencionar a ausência <strong>de</strong> instrumentos estruturantes <strong>de</strong> gestão do território – como oPrograma Nacional <strong>da</strong> Política <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namento do Território e os Planos Regionais <strong>de</strong> Or<strong>de</strong>namentoJUNHO <strong>2007</strong>19


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>do Território –, assim como a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> continuar a “excepcionalizar” processos (PIN e agoraPIN+), reveladora <strong>da</strong> entropia nos processos “normais”, apesar do anúncio <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s relaciona<strong>da</strong>scom a simplificação <strong>de</strong> procedimentos e maior <strong>de</strong>scentralização e responsabilização municipal nagestão do território..Para atingir a convergência ambiental com a Europa e promover a coesão territorial, importa <strong>da</strong>rum novo impulso à política do Ambiente e do Or<strong>de</strong>namento do Território. Tal terá <strong>de</strong> passar porum acrescido envolvimento <strong>da</strong>s autarquias e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil, sobretudo do sector privado (a esterespeito, cumpre assinalar como nota positiva que a reestruturação do Instituto <strong>da</strong> Conservação <strong>da</strong>Natureza promove a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> parcerias com <strong>em</strong>presas). Também será necessário garantira dinamização e clarificação dos sist<strong>em</strong>as e dos processos associados à actuação no território, evitandoo recurso à simplificação por excepção. Convirá ain<strong>da</strong> optimizar a aplicação dos dinheiros públicos,canalizando-os <strong>de</strong> preferência para on<strong>de</strong> não seja possível assegurar a participação priva<strong>da</strong>.3.2.) Caminha-se (mas <strong>de</strong>vagar) para Qualificar as Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e Melhorar o Acesso à Habitação.No sector <strong>da</strong> habitação, foram concretiza<strong>da</strong>s (ou anuncia<strong>da</strong>s) algumas medi<strong>da</strong>s positivas. Porex<strong>em</strong>plo, apesar <strong>de</strong> ain<strong>da</strong> não estar<strong>em</strong> executa<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as intervenções previstas no Programa Polis,foi lançado o Programa Polis XXI para o próximo ciclo <strong>de</strong> programação comunitária <strong>2007</strong>-2013,que já v<strong>em</strong> corrigir muitos dos erros <strong>de</strong> concepção <strong>da</strong> versão anterior (2000-2006). Foi tambémrevista e está a ser regulamenta<strong>da</strong> e aplica<strong>da</strong> a Lei do Arren<strong>da</strong>mento Urbano, mas, apesar <strong>de</strong> algumasacções já <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no sector, ain<strong>da</strong> não existe o "pacto para a mo<strong>de</strong>rnização do patrimóniohabitacional”. O quadro legal <strong>da</strong>s Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Reabilitação Urbana e a constituição <strong>de</strong> um Fundo<strong>de</strong> Investimento <strong>de</strong> Fundos Imobiliários para reabilitação urbana estão por <strong>de</strong>finir. Também nãofoi apresentado o novo regime legal para a política <strong>de</strong> solos, n<strong>em</strong> as suas bases estratégicas. Emsuma, falta vencer alguma inacção relativamente a medi<strong>da</strong>s constantes do Programa <strong>de</strong> Governo.3.3.) Falta “passar à acção” nas Cinco Áreas Decisivas para um Desenvolvimento SustentávelO Governo consi<strong>de</strong>rou cinco áreas <strong>de</strong>cisivas para um Desenvolvimento Sustentável: 1) Mobili<strong>da</strong><strong>de</strong>e Comunicação; 2) Energia; 3) Turismo; 4) Agricultura e Desenvolvimento Rural; 5) Mar.No entanto, a sua activi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>ssas áreas até ao fim <strong>de</strong> 2006 concentrou-se essencialmentena preparação <strong>de</strong> "estratégias" que <strong>de</strong>talham e apontam linhas orientadoras, mas não as formas <strong>de</strong>realização do Programa do Governo, r<strong>em</strong>etendo, <strong>em</strong> alguns casos, para "Planos <strong>de</strong> Investimentos"a realizar/ajustar. Assim, apesar <strong>de</strong> algumas medi<strong>da</strong>s positivas <strong>em</strong> curso, não será fácil alcançar osobjectivos preconizados pelo Governo. Por ex<strong>em</strong>plo, o dinamismo que se verifica no sector logístico<strong>de</strong>ve-se ain<strong>da</strong>, e sobretudo, à acção do sector privado e não estão cria<strong>da</strong>s a generali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s condiçõesnecessárias para a realização <strong>da</strong>s propostas que constam <strong>da</strong>s Orientações Estratégicas para o SectorMarítimo-Portuário. Da mesma forma, a d<strong>em</strong>ora no arranque e a insuficiência <strong>de</strong> recursos técnicosno sector <strong>da</strong> Energia fez com que as reformas se tenham quase limitado à publicação <strong>de</strong> novosdiplomas, alguns ain<strong>da</strong> não regulamentados. Outro probl<strong>em</strong>a notório está no reduzido envolvimentoJUNHO <strong>2007</strong>20


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>e alinhamento <strong>de</strong> todos os stakehol<strong>de</strong>rs, <strong>em</strong> torno do <strong>de</strong>senvolvimento do sector do Turismo, on<strong>de</strong>,apesar <strong>de</strong> algumas medi<strong>da</strong>s importantes e positivas continua a faltar uma Lei <strong>de</strong> Bases. No querespeita à Agricultura e Desenvolvimento Rural, nota-se que as medi<strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>s não cont<strong>em</strong>plam(ou chegam mesmo a contrariar) a protecção do ambiente e o <strong>de</strong>senvolvimento económico e social<strong>da</strong>s zonas rurais, privilegiando sobretudo o investimento público (o Alqueva é um ex<strong>em</strong>plo). ÀEstratégia Nacional para o Mar continuam a faltar medi<strong>da</strong>s concretas, programa<strong>da</strong>s e calen<strong>da</strong>riza<strong>da</strong>se, <strong>em</strong> geral, verificam-se nesta área, inúmeras partilhas e sobreposições <strong>de</strong> competências, as quaispõ<strong>em</strong> <strong>em</strong> causa a eficácia <strong>da</strong> acção.Assim, consi<strong>de</strong>ramos prioritário (1) um maior enquadramento <strong>de</strong>stas áreas no quadro <strong>da</strong> EstratégiaNacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável, assegurando para ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las o equilíbrio dos trêspilares <strong>da</strong> sustentabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, e (2) que, a "passag<strong>em</strong> à prática" <strong>da</strong>s várias estratégias sectoriaiselabora<strong>da</strong>s, assegure a integração e articulação dos objectivos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>stas áreas entre si ecom as restantes políticas do Governo, evitando atropelos <strong>de</strong> competências e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.4. Quarto Eixo <strong>da</strong> <strong>Governação</strong>: Elevar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> d<strong>em</strong>ocracia, fazendo <strong>da</strong> justiça uminstrumento ao serviço <strong>da</strong> plena ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.4.1.) Uma positiva motivação <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça.O gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sígnio do Governo para a Legislatura, no que diz respeito à Justiça, é "garantir aefectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos direitos e dos <strong>de</strong>veres e tornar o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> justiça um factor <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoeconómico e social". Para atingir esse objectivo, o Governo propôs-se agir <strong>em</strong> vários domínios, dosquais serão <strong>de</strong> realçar os seguintes: 1) eliminação <strong>da</strong> burocracia e dos actos inúteis; 2)"<strong>de</strong>sjudicialização" e resolução alternativa <strong>de</strong> litígios, nomea<strong>da</strong>mente pela criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong>centros <strong>de</strong> arbitrag<strong>em</strong>; 3) inovação tecnológica <strong>da</strong> Justiça, através <strong>da</strong> <strong>de</strong>smaterialização dos processosjudiciais e do Portal <strong>da</strong> Justiça; 4) melhoria <strong>da</strong> resposta judicial, por ex<strong>em</strong>plo pela utilização <strong>de</strong>novas tecnologias e novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão nos tribunais; 5) aumento <strong>da</strong> eficácia do combate aocrime e <strong>da</strong> justiça penal, tendo sido prevista a revisão do Código do Processo Penal; e6) responsabilização do <strong>Estado</strong> e <strong>da</strong>s pessoas colectivas públicas pelos seus actos perante ci<strong>da</strong>dãose <strong>em</strong>presas, reformando o contencioso administrativo e a<strong>da</strong>ptando os Códigos do ProcedimentoAdministrativo e <strong>de</strong> Procedimento e Processo Tributário. Em Set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2006, muitas <strong>de</strong>stespropósitos passaram a ser abrangidos pelo acordo parlamentar para uma reforma do sist<strong>em</strong>a judicial(o chamado Pacto sobre a Justiça), celebrado entre o PS e o PSD.É <strong>de</strong> assinalar uma positiva e forte aposta na eliminação <strong>da</strong> burocracia e dos actos inúteis,nomea<strong>da</strong>mente na área <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas. O Governo avançou, nomea<strong>da</strong>mente, com a Empresa na Hora,possibilitando a constituição <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s comerciais num único balcão e <strong>de</strong> forma imediata,eliminou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> publicação dos actos societários no Diário <strong>da</strong> República, passando a serdivulgados num site <strong>da</strong> Internet, e permitiu a constituição <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s via Internet (EmpresaOn-line). Se b<strong>em</strong> que atrás se tenha chamado a atenção para os limites <strong>de</strong>stas iniciativas, trata-seJUNHO <strong>2007</strong>21


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong><strong>de</strong> um esforço que mereceria ser imitado noutras áreas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> social. No que diz respeito aosdocumentos únicos, o Governo instituiu o Documento único automóvel, e começou a <strong>de</strong>senvolver aInformação predial única. Mas não se registaram progressos com vista a estabelecer o Cartão comumdo ci<strong>da</strong>dão. Houve ain<strong>da</strong> um amplo conjunto <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> simplificação na área dos registos enotariado, tendo sido criado um procedimento especial, a título experimental, <strong>em</strong> 5 municípios, <strong>de</strong>transmissão, oneração e registo <strong>de</strong> imóveis <strong>de</strong>nominado Casa Pronta, visando a eliminação <strong>de</strong>formali<strong>da</strong><strong>de</strong>s dispensáveis. No entanto, não são conheci<strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> simplificação <strong>de</strong> controlos<strong>de</strong> natureza administrativa noutras áreas.Na área <strong>da</strong> "<strong>de</strong>sjudicialização" e resolução alternativa <strong>de</strong> litígios, registou-se um aumento <strong>de</strong>processos dirimidos pelos julgados <strong>de</strong> paz, mas s<strong>em</strong> que tivesse havido ain<strong>da</strong> um reforço <strong>da</strong> re<strong>de</strong><strong>de</strong>sta espécie <strong>de</strong> tribunais, tal como o Governo propusera. Nota-se também a ausência <strong>de</strong> incentivosà auto-regulação. No que diz respeito à melhoria <strong>da</strong> resposta judicial, <strong>de</strong>cisiva para elevar aperformance do sist<strong>em</strong>a, foram até ao momento toma<strong>da</strong>s algumas medi<strong>da</strong>s efectivas, mas to<strong>da</strong>s <strong>de</strong>alcance t<strong>em</strong>porário, como suce<strong>de</strong> com as medi<strong>da</strong>s realiza<strong>da</strong>s no âmbito do Plano <strong>de</strong>Descongestionamento dos Tribunais.4.2.) O mais difícil está por fazer.A melhoria <strong>da</strong> organização e funcionamento do sist<strong>em</strong>a judicial exige que as reformas <strong>de</strong> fundo,urgentes e <strong>de</strong> carácter duradouro a que o governo se propôs sejam concretiza<strong>da</strong>s o mais rapi<strong>da</strong>mentepossível, até porque na sua maioria merec<strong>em</strong> o consenso dos operadores judiciários e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>em</strong> geral. A esse respeito, é absolutamente urgente a realização, nos prazos anunciados, <strong>da</strong> revisãodo mapa judiciário e dos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão do sist<strong>em</strong>a judicial, <strong>da</strong> acção executiva, do regime dosrecursos, <strong>da</strong> organização e funcionamento <strong>da</strong> carreira <strong>da</strong>s magistraturas, e dos Códigos Penal e doProcesso Penal. S<strong>em</strong> isso, corre-se o risco <strong>de</strong> o reformismo governativo se gastar <strong>em</strong> reformasmeramente periféricas.Urge igualmente uma reforma na área do Processo Civil e <strong>da</strong>s custas e medi<strong>da</strong>s que limit<strong>em</strong> orecurso ao sist<strong>em</strong>a judicial, como: (1) o reforço <strong>da</strong> arbitrag<strong>em</strong> e <strong>da</strong> mediação como formas <strong>de</strong>resolução <strong>de</strong> litígios, (2) a revisão <strong>da</strong> Lei <strong>da</strong> Arbitrag<strong>em</strong> (lei nº 31/86 <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Agosto) e a criação<strong>de</strong> uma nova lei <strong>da</strong> mediação, (3) incentivos à auto-regulação, (4) a concessão <strong>de</strong> benefícios fiscaispara os mecanismos <strong>de</strong> garantia contratual, e (5) punição severa <strong>da</strong> litigância <strong>de</strong> má-fé.Po<strong>de</strong>, assim, concluir-se que a acção governativa revela avanços importantes na área <strong>da</strong><strong>de</strong>sburocratização, com reflexos muito positivos na vi<strong>da</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos e <strong>da</strong>s <strong>em</strong>presas, mas que faltaain<strong>da</strong> a concretização <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> fundo, cujo calendário, aliás, já foi divulgado no âmbito doPacto sobre a Justiça. Em termos simples, falta ain<strong>da</strong> fazer o mais difícil. O objectivo <strong>de</strong> "garantira efectivi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos direitos e dos <strong>de</strong>veres e tornar o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> justiça um factor <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentoeconómico e social" está ain<strong>da</strong> longe <strong>de</strong> ter sido alcançado.JUNHO <strong>2007</strong>22


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>IIIOs limites do reformismo governamentalA análise feita leva-nos a concluir que as medi<strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>s pelo XVII Governo Constitucional<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2005 não parec<strong>em</strong> suficientes para atingir uma parte significativa dos principais objectivosassumidos para a Legislatura, tendo <strong>em</strong> conta a evolução e tendência até ao momento. É ver<strong>da</strong><strong>de</strong>que o Governo enfrentou algumas situações insustentáveis com um zelo reformista que é justosau<strong>da</strong>r. No entanto, não o fez s<strong>em</strong>pre com a profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> necessária, e ten<strong>de</strong>u a manter umadistância <strong>em</strong> relação à Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil que impediu a criação <strong>de</strong> um ambiente favorável às reformas.1. O Governo d<strong>em</strong>onstrou ímpeto reformistaO XVII Governo Constitucional encontrou, <strong>em</strong> 2005, uma situação muito difícil, que exigiaprovidências imediatas para atingir a consoli<strong>da</strong>ção orçamental, melhorar os serviços do <strong>Estado</strong> esuscitar a criação <strong>de</strong> riqueza no país. O Governo <strong>de</strong>finiu metas a alcançar, e, <strong>de</strong> um modo geral,d<strong>em</strong>onstrou vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> alterar o statu quo.Apesar <strong>de</strong> atrasos, especialmente na reforma <strong>da</strong> Administração Pública, o Governo t<strong>em</strong> procurado<strong>de</strong> uma forma geral honrar os compromissos do seu Programa. A sua <strong>de</strong>terminação para <strong>de</strong>cretarmu<strong>da</strong>nças não pareceu inicialmente afecta<strong>da</strong> pelo mau acolhimento <strong>de</strong> algumas <strong>da</strong>s reformas porparte <strong>de</strong> certos grupos corporativos e profissionais, ou por parte dos utentes dos serviços atingidos.Há muito t<strong>em</strong>po que governos portugueses não mostravam tal <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> propor e levar a caboreformas.2. O reformismo do Governo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre t<strong>em</strong> tido um impacto estruturalNo entanto, as mu<strong>da</strong>nças assumi<strong>da</strong>s pelo Governo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre foram para além <strong>da</strong> redução <strong>de</strong>custos através <strong>da</strong> alteração <strong>de</strong> parâmetros. Muitas vezes, as <strong>de</strong>cisões toma<strong>da</strong>s pelo Governo nãoafectaram estruturalmente o modo como o <strong>Estado</strong> funciona n<strong>em</strong> a relação dos ci<strong>da</strong>dãos com oJUNHO <strong>2007</strong>23


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong><strong>Estado</strong>. Determina<strong>da</strong>s por necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s urgentes, também não parec<strong>em</strong> estar <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente integra<strong>da</strong>snuma visão clara e consistente <strong>de</strong> transformação do País.De facto, reformas mais estruturais exigiriam inevitavelmente um <strong>de</strong>bate sobre o papel e a organizaçãodo <strong>Estado</strong>, que o Governo não t<strong>em</strong> mostrado <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> promover. Do ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> umaprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s reformas, conviria esclarecer questões importantes como, por ex<strong>em</strong>plo: 1)quais as atribuições prioritárias do <strong>Estado</strong>; 2) quando é que o <strong>Estado</strong> <strong>de</strong>ve ser garante <strong>de</strong> serviços,e quando é que <strong>de</strong>ve ser garante e simultaneamente prestador <strong>de</strong> serviços; 3) que lugar po<strong>de</strong> existirnos serviços públicos para a iniciativa priva<strong>da</strong>; ou 4) <strong>em</strong> que situações <strong>de</strong>ve o <strong>Estado</strong> permanecercomo accionista <strong>de</strong> <strong>em</strong>presas.A formulação <strong>de</strong> uma agen<strong>da</strong> <strong>de</strong> reformas estruturais teria ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> passar pela discussão <strong>de</strong>princípios básicos relativos ao mo<strong>de</strong>lo social (particularmente no que diz respeito à concepção dosdireitos sociais mínimos a garantir), ao sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> educação (aten<strong>de</strong>ndo à possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> autonomia<strong>da</strong>s escolas e liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha <strong>de</strong> alunos e encarregados <strong>de</strong> educação), e ao modo <strong>de</strong> funcionamentodos mercados (especialmente no que respeita à garantia <strong>de</strong> uma concorrência e abertura flexível <strong>em</strong>todos os mercados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dos factores, como o laboral, até ao dos bens e serviços não transaccionáveise ao <strong>de</strong> capitais). No geral, o Governo t<strong>em</strong> evitado enfrentar estas questões <strong>de</strong> princípio.Desse facto, resultou uma acção reformista que, <strong>em</strong>bora meritória, se t<strong>em</strong> revelado até agorad<strong>em</strong>asiado limita<strong>da</strong> para que seja possível atingir o objectivo <strong>de</strong> "pôr o País a aproximar-se <strong>de</strong> umaforma <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong> do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos países mais avançados <strong>da</strong> Europa,numa trajectória <strong>de</strong> crescimento convergente e com coesão social". Por ex<strong>em</strong>plo, um dos efeitos <strong>da</strong>não alteração do funcionamento <strong>da</strong> Administração Pública e do mo<strong>de</strong>lo social t<strong>em</strong> sido a manutenção<strong>de</strong> uma pressão excessiva para o aumento <strong>da</strong> <strong>de</strong>spesa corrente primária.3. O Governo não t<strong>em</strong> aproveitado suficient<strong>em</strong>ente a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> CivilÉ <strong>de</strong> sau<strong>da</strong>r a <strong>de</strong>terminação d<strong>em</strong>onstra<strong>da</strong> pelo Governo <strong>em</strong> muitas áreas <strong>da</strong> governação. No entanto,o Governo n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre soube ou quis evitar situações <strong>de</strong> exagera<strong>da</strong> crispação e confronto, quercom parceiros sociais, quer com utentes <strong>de</strong> serviços do <strong>Estado</strong> e com o público <strong>em</strong> geral. Tal atitu<strong>de</strong>,longe <strong>de</strong> facilitar as mu<strong>da</strong>nças, po<strong>de</strong> ter gerado novos obstáculos no caminho <strong>da</strong>s reformas.Nomea<strong>da</strong>mente, o Governo não pareceu suficient<strong>em</strong>ente interessado <strong>em</strong> encontrar formas e meiospara explicar convenient<strong>em</strong>ente os benefícios que se po<strong>de</strong>rão alcançar a médio e longo prazo d<strong>em</strong>edi<strong>da</strong>s que, no imediato, terão um efeito gravoso. O Governo também raramente teve o cui<strong>da</strong>doe o engenho <strong>de</strong> envolver no processo <strong>de</strong> reformas os grupos afectados pelas transformações <strong>de</strong>creta<strong>da</strong>s,por ex<strong>em</strong>plo procurando nesses grupos campeões para a causa <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. Em vez disso, ten<strong>de</strong>ufrequent<strong>em</strong>ente a comportar-se como se as reformas só pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> efectuar-se <strong>em</strong> guerra com aSocie<strong>da</strong><strong>de</strong>.JUNHO <strong>2007</strong>24


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>Esta atitu<strong>de</strong> t<strong>em</strong> certamente raízes fun<strong>da</strong>s na história do País. Tradicionalmente, o <strong>Estado</strong> e asforças políticas <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> pouco aproveitaram as organizações e iniciativas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil.A relação do <strong>Estado</strong> com a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil é aliás muitas vezes perversa, reduzindo-se à promiscui<strong>da</strong><strong>de</strong>entre os gran<strong>de</strong>s interesses económicos e o po<strong>de</strong>r político. No entanto, o <strong>Estado</strong> e as forças políticastêm um gran<strong>de</strong> potencial por explorar na Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Civil. Esta é constituí<strong>da</strong> por muitos ci<strong>da</strong>dãose instituições qualificados e respeitados, com capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s e competências múltiplas, que muitopo<strong>de</strong>riam contribuir um processo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça, seja com recomen<strong>da</strong>ções sobre reformas maisimportantes ou sobre investimentos públicos <strong>de</strong> maior montante, seja com a sua participação nagovernação <strong>da</strong>s escolas ou no apoio social.Seria importante que o Governo respeitasse e aproveitasse melhor tudo aquilo que a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>Civil <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> é e está disponível para <strong>da</strong>r. Para isso, precisaria certamente <strong>de</strong> confiar mais nacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dos ci<strong>da</strong>dãos para assumir iniciativas e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Finalmente, seria importanteque o Governo d<strong>em</strong>onstrasse uma firme vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> zelar para que não se crie <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> umclima que leve os ci<strong>da</strong>dãos a t<strong>em</strong>er<strong>em</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> retaliação, directa ou indirecta, por expressar<strong>em</strong>livr<strong>em</strong>ente as suas opiniões.JUNHO <strong>2007</strong>25


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>IVConclusõesQuando o XVII Governo Constitucional entrou <strong>em</strong> funções, a situação do País era muito difícil.Fruto <strong>de</strong> uma melhoria <strong>da</strong> conjuntura internacional mas também <strong>de</strong> uma acção <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> doGoverno, que t<strong>em</strong> vindo a impl<strong>em</strong>entar muitas <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s previstas no seu Programa, foi possívelparar, e <strong>em</strong> alguns casos inverter, as tendências mais negativas, se b<strong>em</strong> que a situação continue plena<strong>de</strong> <strong>de</strong>safios. No entanto, apesar <strong>de</strong>sse esforço ain<strong>da</strong> estamos longe <strong>de</strong> alcançar o objectivo prioritário<strong>de</strong>finido pelo Governo, e partilhado pela maioria dos Portugueses, <strong>de</strong> "pôr o País a aproximar-se<strong>de</strong> uma forma <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> e sustenta<strong>da</strong> do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento dos países mais avançados <strong>da</strong>Europa, numa trajectória <strong>de</strong> crescimento convergente e com coesão social".O <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> consi<strong>de</strong>ra que, tendo <strong>em</strong> conta a evolução regista<strong>da</strong> até ao momento ecaso não seja altera<strong>da</strong> a trajectória segui<strong>da</strong>, será difícil alcançar uma parte significativa dos principaisobjectivos assumidos pelo Governo para a Legislatura <strong>de</strong> 2005-2009, nomea<strong>da</strong>mente no que dizrespeito ao seguinte:- Atingir um crescimento potencial <strong>da</strong> economia <strong>de</strong> 3% (é actualmente <strong>de</strong> 1,6%)- Melhorar significativamente a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> economia, medi<strong>da</strong> pela posição no ranking doWorld Economic Forum, on<strong>de</strong> t<strong>em</strong>os vindo a <strong>de</strong>scer <strong>de</strong> lugar- Criar um ambiente <strong>de</strong> negócios que promova o investimento <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>- Alcançar um <strong>Estado</strong> mais prestigiado e eficiente, com uma <strong>de</strong>spesa corrente primária controla<strong>da</strong>e numa tendência <strong>de</strong>crescente significativa face ao PIB, e capaz <strong>de</strong> prestar serviços públicos d<strong>em</strong>aior quali<strong>da</strong><strong>de</strong>- Diminuir a taxa <strong>de</strong> abandono escolar <strong>em</strong> 50% s<strong>em</strong> o que não haverá igual<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s- Reduzir a pobreza e a diferença entre os mais ricos e os mais pobres- Proporcionar níveis <strong>de</strong> proteção ambiental e <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> equivalentes aos europeusTal como o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> t<strong>em</strong> vindo a sugerir, para que o País volte a convergir, seráessencial o reforço e aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s reformas estruturais nas seguintes áreas:JUNHO <strong>2007</strong>26


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>1. Do <strong>Estado</strong> e Administração Pública:- Separar a função do <strong>Estado</strong> como garante e a função do <strong>Estado</strong> como prestador directo <strong>de</strong> serviços- Planear a saí<strong>da</strong> do <strong>Estado</strong> a curto prazo <strong>da</strong>s Empresas <strong>em</strong> que participa (excepções a fun<strong>da</strong>mentar),pois tal activi<strong>da</strong><strong>de</strong> não constitui uma <strong>da</strong>s suas atribuições fun<strong>da</strong>mentais e po<strong>de</strong> criar situações <strong>de</strong>conflitos <strong>de</strong> interesse, promiscui<strong>da</strong><strong>de</strong> e concorrência distorci<strong>da</strong>.- Estabelecer um processo <strong>de</strong> planeamento plurianual e <strong>de</strong> gestão por objectivos- Estabelecer indicadores <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serviço objectivos com responsáveis concretos e métricasactualiza<strong>da</strong>s e controla<strong>da</strong>s- Rever os principais processos com a respectiva simplificação e informatização- Recrutamento, selecção e <strong>de</strong>senvolvimento dos quadros <strong>de</strong> topo compensando-os competitivamente- Nova metodologia para aprovação <strong>de</strong> investimentos públicos <strong>de</strong> montante ou impacto significativo2. Da Educação:- Maior autonomia <strong>da</strong>s escolas e universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com contratualização dos seus projectos educativose <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> objectivos educativos mínimos a atingir- Alteração do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> governação- Criação <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong> avaliação <strong>da</strong>s escolas com consequências práticas, aplicados por umaenti<strong>da</strong><strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte- Liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> escolha para o ci<strong>da</strong>dão- Concorrência sã e financiamento a<strong>de</strong>quado para as escolas e universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do <strong>Estado</strong> e priva<strong>da</strong>s3. Dos Mercados e enquadramento à competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong>:- Abertura, flexibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e maior concorrência <strong>em</strong> todos os mercados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o mercado <strong>de</strong> factores(por ex<strong>em</strong>plo, mercado laboral) até ao dos bens e serviços não transaccionáveis- Explicitação dos factores <strong>de</strong> diferenciação <strong>em</strong> que se <strong>de</strong>ve apostar para atrair e reter investimento<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> objectivos e medi<strong>da</strong>s concretas para os mesmos4. Do Mo<strong>de</strong>lo Social:- Explicitação dos direitos sociais a proteger pelo <strong>Estado</strong>- Elaboração <strong>de</strong> programa integrado <strong>de</strong> combate à pobreza envolvendo também organizações <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> civil- Programar a transição progressiva do novo sist<strong>em</strong>a para um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> capitalização com contaprópria5. Da Quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong> e do Desenvolvimento Sustentável- Reforçar o investimento (do <strong>Estado</strong> ou envolvendo o sector privado) na qualificação <strong>da</strong>sinfraestruturas ambientaisJUNHO <strong>2007</strong>27


O <strong>Estado</strong> <strong>da</strong> <strong>Governação</strong> <strong>em</strong> <strong>Junho</strong> <strong>de</strong> <strong>2007</strong>- Simplificar e clarificar os sist<strong>em</strong>as e processos <strong>de</strong> intervenção no território e diminuir, s<strong>em</strong> recursoa excepções, os t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong> apreciação e aprovação- Conservar e valorizar os valores naturais, incluídos nas Áreas Protegi<strong>da</strong>s e Re<strong>de</strong> Natura, divulgandoose contratualizando e financiando a sua gestão.- Pôr <strong>em</strong> prática, articular e equilibrar as estratégias sectoriais associa<strong>da</strong>s ao <strong>de</strong>senvolvimentosustentável, s<strong>em</strong> sobreposições <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e competências, <strong>em</strong> especial nas áreas relaciona<strong>da</strong>scom o Território e o Mar.6. Da Justiça:- Adopção urgente <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s duradouras e eficazes na melhoria <strong>da</strong> resposta judicial que é ofereci<strong>da</strong>aos ci<strong>da</strong>dãos- Racionalização <strong>da</strong> gestão do sist<strong>em</strong>a judicial e revisão <strong>da</strong> organização e funcionamento <strong>da</strong>smagistraturas- Revisão <strong>da</strong> justiça penal e reforma do processo civil- Adopção <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s preventivas que vis<strong>em</strong> prevenir o recurso ao sist<strong>em</strong>a judicial e incentivo dorecurso aos mecanismos alternativos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> litígiosPor tudo isto, é <strong>de</strong>sejável que a Presidência Europeia neste ano <strong>de</strong> <strong>2007</strong> e a aproximação <strong>da</strong>s eleiçõeslegislativas <strong>de</strong> 2009 não distraiam o Governo do caminho <strong>da</strong>s reformas. O ímpeto reformista atéagora d<strong>em</strong>onstrado pelo Governo terá que ser, pelo contrário, reforçado e aprofun<strong>da</strong>do para queos objectivos últimos do seu Programa sejam alcançados.É importante que, para b<strong>em</strong> <strong>de</strong> <strong>Portugal</strong>, o Governo seja b<strong>em</strong> sucedido na sua acção. Também paraisso, o <strong>Compromisso</strong> <strong>Portugal</strong> propõe que o Governo apresente a curto prazo uma revisão do seuprograma até final <strong>da</strong> Legislatura, tendo <strong>em</strong> conta as alterações entretanto ocorri<strong>da</strong>s noenquadramento, a experiência governativa adquiri<strong>da</strong> e a diferença verifica<strong>da</strong> até agora entre osobjectivos e o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho.Nesse Programa revisto, que constituiria um novo compromisso do Governo, mais actual e a<strong>da</strong>ptadoàs novas circunstâncias e <strong>de</strong>safios, <strong>de</strong>veriam ser melhor <strong>de</strong>talhados e quantificados os objectivos aalcançar até 2009, b<strong>em</strong> como as medi<strong>da</strong>s fun<strong>da</strong>mentais a impl<strong>em</strong>entar para os atingir. Seria igualmenteimportante que o Governo assegurasse o acesso, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po útil, a informação sobre os principaisindicadores <strong>da</strong> governação, <strong>de</strong> forma a possibilitar a monitorização do cumprimento dos objectivosestabelecidos. O Governo teria assim não só um instrumento <strong>de</strong> orientação actualizado para a suaprópria acção, como estaria a contribuir para enraizar <strong>em</strong> <strong>Portugal</strong> uma cultura política quevalorizasse a transparência e a orientação para resultados, permitindo o escrutínio objectivo <strong>da</strong><strong>Governação</strong> pelos ci<strong>da</strong>dãos interessados.JUNHO <strong>2007</strong>28

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