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As pessoas com deficiência em Maputo e Matola - Handicap ...

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DIAGNÓSTICO LOCALAbril 2010<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência<strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>Representação social da DeficiênciaSituação sócio-económicaCondições de acesso aos serviços sanitários e sociaisSist<strong>em</strong>a de actores locais


DIAGNÓSTICO LOCALAbril 2010<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência<strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>Representação social da DeficiênciaSituação sócio-económicaCondições de acesso aos serviços sanitários e sociaisSist<strong>em</strong>a de actores locais


Ficha Técnica<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>EditoresRAVIM & <strong>Handicap</strong> International MoçambiqueEquipa técnicaRecolha de dadosSupervisão das pesquisasDigitação dos dadosApoio técnicoTraduçãoGrafismo, impressão<strong>As</strong>s. técnica, redacçãoCoordenação do projectoEunice Bahule, Elisa Bila, Victor Bila, Elvino Bõa, Marta Bõa, DomingosCambalane, Lurdes Como, Angelina Cossa, António Cossa, NelsonMachava, João Magaia, Tervolência Magaia, Natividade Mahanjane,Zaida Maposse, Celeste Munguambe, Paulino Sambo, Alfredo Simbine,Augusto Sitoe, Catarina Ubisse e Chadrec Vilanculos.Manuel Amisse, Emmanuel Mounier e Luís Wamusse.Mateus Bernardo, Milton Caetano, Maria do Ceú, Leia Cuinica, ArgentinaCuna e Elias Duvane.Patrick Jullien (HI), Catherine Dixon (HI), Damien Hazard (Vida Brasil)e Olímpio Zavale (INE).Domingos Duarte e Teresa Gomes.Layout, <strong>Maputo</strong>.Emmanuel Mounier.Ezequiel Mingane, Audrey Relandeau e Luís Wamusse.Créditos fotográficos© Equipas RAVIM-HI© Eliane Beeson / <strong>Handicap</strong> International© Emilie Frapsauce© Benoît Mounier / RAVIM e <strong>Handicap</strong> International© Guy Oliver / IRIN<strong>Maputo</strong>, Abril de 2010AgradecimentosA equipa que elaborou este relatório agradece a todos os técnicos dos diferentes serviços, aosresponsáveis das associações, aos funcionários dos órgãos do Estado e dos órgãos autárquicos, eainda aos responsáveis políticos do território coberto pelo t<strong>em</strong>po que nos consagraram durante arecolha de dados.Este relatório foi produzido graças ao apoio financeiro da Delegação da União Europeia <strong>em</strong>Moçambique.5


Resumo executivoA primeira parte do relatório apresenta uma análise sócio-antropológica da representação social daDeficiência no território. Vêmos que a deficiência é vista pelas <strong>com</strong>unidades <strong>com</strong>o um probl<strong>em</strong>a sobretudomédico, que pode ter uma orig<strong>em</strong> científica, divina ou mesmo mística. Em filigrana das dificuldades deintegração social que elas pod<strong>em</strong> ter, constata-se que elas são sobretudo vítimas de preconceitos noseio das suas <strong>com</strong>unidades. Quer seja na vizinhança, nas lojas, nos transportes, na escola, na <strong>em</strong>presa, nomercado, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência inqueridas durante o nosso estudo provam atitudes de desdém, dedesprezo, até mesmo de rejeição pelos seus concidadãos.O segundo capítulo põe <strong>em</strong> evidência a situação sócio-económica particularmente preocupantedas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência en <strong>com</strong>paração <strong>com</strong> ao resto da população. Geralmente mais idosa e maisf<strong>em</strong>inina, a população <strong>com</strong> deficiência que vive no território acumula numerosos factores que pod<strong>em</strong> levara exclusão social e alimentar o círculo vicioso da pobreza : fraco nível de alfabetização e de educação,situação profissional precária, fraco nível de adesão as associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência…<strong>As</strong> condições de acesso aos serviços sanitários e sociais são analisadas na terceira parte onde constataseque algumas necessidades ordinárias e específicas exprimidas pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência continuamdifíceis a satisfazer, quer seja na área da saúde, da educação, da formação profissional e do <strong>em</strong>prego,dos programas sociais ou ainda do desporto e da cultura. Muitas barreiras limitam-lhes o acesso a estesserviços quer sejam de ord<strong>em</strong> económica, ou mesmo ligadas a falta de acesso físico aos edifícios, o fraconivel de formação dos profissionais dos serviços...<strong>As</strong> cidades de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> conhec<strong>em</strong> uma expansão d<strong>em</strong>ográfica e espacial s<strong>em</strong> precedente, desde hámais ou menos trinta anos. Este rápido crescimento urbano, <strong>com</strong>binado <strong>com</strong> aumento das desigualidadessociais na sociedade liberalizada, provoca um fenómeno de marginalização dos bairros situados naperiferia da aglomeração. Descentrados dos polos de actividade e mal equipados <strong>em</strong> serviços sanitáriose sociais, estes bairros são palcos duma pauperização inquietante das camadas mais vulneráveis dapopulação. Dentre elas, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência têm numerosas dificuldades <strong>em</strong> encontrar respostassatisfatórias às suas necessidades sanitárias e sociais mais el<strong>em</strong>entares. Estima-se que <strong>em</strong> média5,0% da população do aglomerado de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> t<strong>em</strong> algum tipo de deficiência, ou seja cerca de 90000 <strong>pessoas</strong>.Este relatório apresenta as análises e re<strong>com</strong>endações provenientes do diagnóstico local da situaçãodas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que viv<strong>em</strong> nos 9 bairros suburbanos da capital, realizado pelas associaçõesRAVIM e <strong>Handicap</strong> International entre abril de 2009 e abril de 2010, no quadro do projecto Cidade eDeficiência. Este diagnóstico tinha <strong>com</strong>o objectivo pôr <strong>em</strong> evidência a representação social da Deficiênciano território, a situação sócio-económica das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, as condições de acesso aos serviçossanitários e sociais, e <strong>em</strong> fim o funcionamento do sist<strong>em</strong>a de actores locais.O funcionamento do sist<strong>em</strong>a de actores locais está exposto na quarta parte deste relatório, quepõe <strong>em</strong> evidência as dificuldades mas também as potencialidades de cada um dos actores do trípticoassociações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência-provedores de serviços-poderes públicos. Embora elas disponhamde trunfos interessantes, as associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência tém capacidades muito limitadas parapoder<strong>em</strong> r<strong>em</strong>ediar, elas sozinhas, as suas dificuldades. Os provedores de serviço estão d<strong>em</strong>ais saturadose centralizados <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> para poder absorver uma d<strong>em</strong>anda social <strong>em</strong> constante aumento nos bairrosperiféricos. A falta de formação dos profissionais, as barreiras arquitectónicas, e a falta de informaçãotornam estes serviços pouco inclusivos para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Os poderes públicos locais, querseja orgãos locais do Estado ou mesmo autárquias locais, mesmo se eles são muitas vezes voluntários,não consegu<strong>em</strong> provocar uma verdadeira dinâmica de desenvolvimento inclusivo no território <strong>em</strong> prol das<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, no contexto as vezes confuso de descentralização.Enfim, a última parte do relatório propõe uma série de re<strong>com</strong>endações destinados aos actores locais,nacionais e internacionais, chamados a se mobilizar colectivamente para melhorar a participação socialdas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência no território, e por conseguinte as suas condições de vida. Para além dealertar a opinião pública sobre a situação preocupante das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nos bairros periféricosde <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, este relatório apela a <strong>em</strong>ergência duma dinâmica de desenvolvimento local maisconcertado e mais inclusivo.67


SumárioFicha técnica 5Resumo exécutivo 6Prefácio do FAMOD 10Abreviaturas 11Introdução 14A Deficiência <strong>em</strong> MoçambiqueApresentação do diagnóstico localMetodologiaCaracterísticas da zona estudadaCapítulo1I/ Representação social da Deficiência 27I/ Crenças e representações colectivas relativas as causas da DeficiênciaII/ Aceitação da pessoa <strong>com</strong> deficiência na sociedadeIII/ Recursos <strong>com</strong>unitários <strong>com</strong>o vector de integração socialCapítulo3III/ Condições de acesso aos serviços sanitários e sociais 45I/ Acesso aos serviços de saúdeII/ Acesso aos serviços de educaçãoIII/ Acesso aos serviços de formação profissional e <strong>em</strong>pregoIV/ Acesso aos serviços e programas sociaisV/ Acesso a outros tipos de serviços: desporto, cultura, lazer, transportes...Capítulo4IV/ Sist<strong>em</strong>a de actores locais 59I/ <strong>As</strong> associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciaII/ Os provedores de serviços sanitários e sociaisIII/ Os poderes públicos locais: Orgãos Locais do Estado e Autárquias LocaisDiscussão2CapítuloII/ Situação sócio-económica 33I/ Prevalência da Deficiência e tipologia das incapacidadesII/ Género e IdadeIII/ Situação familiarIV/ Nível de educaçãoV/ Situação profissional e actividades exercidasVI/ Participação associativaRe<strong>com</strong>endações para os actores do território 75I/ Por eixos de intervençãoII/ Por sectores de intervençãoBibliografia 84Anexos 8689


PrefácioAbreviaturas“A probl<strong>em</strong>ática da acessibilidade causadapor factores diversos <strong>com</strong> destaque para asbarreiras arquitectónicas e ambientais, a faltade legislação específica, ausência de serviçosespecializados, no pais <strong>em</strong> geral e nas cidadesde <strong>Maputo</strong> e da <strong>Matola</strong>, <strong>em</strong> particular, tornamcada vez mais vulneráveis e dependentes deterceiros as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Decorridos mais de 20 anos sobre o surgimentodo movimento da Deficiência <strong>em</strong> Moçambique,ainda hoje são visíveis as inúmeras dificuldades<strong>com</strong> se deparam as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciapara o acesso aos serviços básicos tais sãoa saúde, educação, transporte, <strong>em</strong>prego,protecção social, entre outros.Mais do que políticas e legislação, um dosaspectos não menos importantes prende-se<strong>com</strong> a necessidade de mudança de mentalidadedos provedores de serviços a diversos níveis <strong>em</strong>relação as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Por isso, a impl<strong>em</strong>entação de um projecto dadimensão destes que esta sendo levado acabo pela RAVIM <strong>em</strong> parceria <strong>com</strong> a <strong>Handicap</strong>Internacional visando melhorar o acesso das<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência aos serviços sanitários esociais e promover a sua plena participação nasiniciativas de desenvolvimento local, constituium legado para o FAMOD que endereça os seussinceros agradecimentos a todos aqueles quetornaram possível esta iniciativa”.Ricardo MoresseADEMOALAPCDARSFAMODFDLPHIIECIFPINASINEINEFPMMASONGOLEPCDPDSPENPNADRAVIMSINTEFSIOASSIPSTPMWG<strong>As</strong>sociação dos Deficiêntes de MoçambiqueAutárquia Local<strong>As</strong>sociação de Pessoas <strong>com</strong> DeficiênciaAnálise de Redes SociaisForúm das <strong>As</strong>sociações Moçambicanas de DeficiêntesFederação das <strong>As</strong>sociações de Deficientes dos Países de LínguaPortuguesa<strong>Handicap</strong> InternationalInformação, Educação & ComunicaçãoInstituto de Formação dos ProfessoresInstituto Nacional de <strong>As</strong>sistência SocialInstituto Nacional de EstatísticasInstituto Nacional de Emprego e Formação ProfissionnalMinisterio da Mulher e da Acção SocialOrganização Não-Govern<strong>em</strong>entalOrgão Local do EstadoPessoa Com DeficiênciaProvedores De ServiçosPlano Estratégico Nacional de Combate ao HIV e SidaPlano Nacional de Acção da Area da DeficiênciaRede de <strong>As</strong>sistência ás Vitimas de MinasFundação para Pesquisa Científica e Industrial - Foundation for Scientificand Industrial ResearchServiço de Informação, Orientação e A<strong>com</strong>panhamento SocialSaúde, Incapacidades e Participação SocialTransportes Públicos de MoçambiqueGrupo de Washington - Washington Group____________________________________________________________Presidente do FAMOD(Fórum das <strong>As</strong>sociações Moçambicanas de Deficientes)10 11


GlossárioAcessibilidade – declina-se <strong>em</strong> volta de 3 eixos: o meio ambiente construido, a <strong>com</strong>unicação e os meiosde deslocação. Na área da construção, o princípio da acessibilidade procura pôr <strong>em</strong> prática medidasdestinadas adaptar e a ordenar o espaço para facilitar o acesso das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência aos edifícios,equipamentos e serviços da maneira mais independente e mais digna possível.Comununidade local – designa o meio físico próximo de uma pessoa , <strong>com</strong>preendendo a população e oconjunto dos vários intervenientes (públicos e privados), numa zona geográfica/um território delimidato(a),que partilha um sentimento de pertença <strong>com</strong>um, confrontado aos mesmos constrangimentos e quebeneficiam das mesmas vantagens.Desenho universal – o desenho universal, ou inclusivo, pode ser chamado « arquitectura para todos ». Aconcepção dos produtos e espaços não é especialmente pensado para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência , mastoma <strong>em</strong> consideração as múltipas diferenças entre os indivíduos. Deste modo a acessibilidade é pensadada maneira mais larga para todos.Desenvolvimento local inclusivo – é um processo que consiste <strong>em</strong> fazer <strong>com</strong> que todos os gruposmarginalizados/excluidos sejam incluidos no processo de desenvolvimento local. Apoiar-se sobre aabordag<strong>em</strong> do desenvolvimento local inclusivo para favorecer o acesso aos serviços significa que as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência tenham/devam beneficiar dos mesmos serviços ou das mesmas actividades que os outrosm<strong>em</strong>bros da sociedade. Estes serviços ou actividades são por conseguinte adaptadas as necessidades enão especializados. Eles são concebidos não para mas <strong>com</strong> as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deificência. Ex: uma escolaacessível tanto paras as crianças <strong>com</strong> deficiência <strong>com</strong>o para as crianças s<strong>em</strong> deficiência.Deficiência (conceito geral) - falamos de Deficiência (ou ‘’situação de impedimento’’) quando umapessoa t<strong>em</strong> uma limitação na realização de seus hábitos de vivência (actividades quotidianas), por causade obstáculos pessoais e/ou do ambiente. Não é um estado estático mas evolutivo: é um estado que podeser modificado graça a redução das deficiências (alteração do corpo), ou do desenvolvimento das aptidões(diminuição das incapacidades) <strong>com</strong> as adaptações do contexto / meio ambiente (factores obstáculostransformam-se <strong>em</strong> factores facilitadores) para a realização efectiva dos hábitos de vivência da pessoa).Falamos de plena participação social quando a pessoa pode realizar plenamente seus hábitos de vivencia.Deficiência intelectual - é uma alteração do cérebro, que t<strong>em</strong> um impacto sobre as capacidades intelectuaisda pessoa. A pessoa pode ter dificuldades/limitações para aprender, e/ou m<strong>em</strong>orizar e/ou outrascapacidades intelectuais. Existe também as doenças mentais que t<strong>em</strong> um impacto sobre os <strong>com</strong>portamentossociais, a estabilidade mental da pessoa, mais que não t<strong>em</strong> um impacto sobre a inteligência da pessoa. Adeficiência intelectual e a doença mental não se tratam da mesma maneira. Infelizmente, é muito difícildiferenciá-las, sabendo que elas pod<strong>em</strong> se cumular também.Governação local – é o fruto de um conjunto de instituições, de mecanismos e processos através dosquais os cidadãos e os grupos pod<strong>em</strong> formular os seus interesses e as suas necessidades (faz<strong>em</strong> tambémparte os grupos vítimas de discriminações, <strong>com</strong>o as pessas <strong>com</strong> deficiência, as mulheres, as minoridadese as <strong>pessoas</strong> que sofr<strong>em</strong> do HIV/SIDA), <strong>com</strong>unicar sobre as suas diferenças e exercer os seus direitos eobrigações ao nível local. Isto significa uma participação efectiva dos cidadãos, um fluxo de informaçãotransparente e mecanismos de fiscalização efectivos.Plano de acção local na area da Deficiência – descreve acções a levar a cabo a fim de melhorar as condiçõesde vida e a igualdade de oportunidades das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Que pode desenvolver-se sobre doisanos e descrever as medidas a adoptar <strong>em</strong> cada ano, por ex<strong>em</strong>plo. No ideal, corresponde a duração domandato da autoridade concernida. Esta planificação sist<strong>em</strong>ática permite reforçar progressivamente orespeito dos direitos fundamentais das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Serviços ordinários – são ligados às necessidades fundamentais de todos os indivíduos (educação, saúde,<strong>em</strong>prego, serviços sociais e/ou protecção social). Dev<strong>em</strong> ser perfeitamene acessíveis, afim de garantir<strong>em</strong> aparticipação social, a dignidade e a igualdade de oportunidades dos cidadãos. <strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciatém as mesmas necessidades fundamentais e por conseguinte o mesmo direito ao acesso a estes serviçosque os outros cidadãos.Serviços especializados – são destinados a uma parte particular da população <strong>com</strong> deficiência, <strong>em</strong> funçãodas suas necessidades específicas (ex : educação especializada, serviço de reabilitação física…). Estesserviços pod<strong>em</strong> ser considerados <strong>com</strong>o o prolongamento dos serviços ordinários mas dev<strong>em</strong> continuar «abertos » ao exterior para a aplicação dum máximo de pontes <strong>com</strong> os outros tipos de serviços.Deficiência física - é uma alteração física do corpo, que seja das partes inferiores ou superiores do corpo.Deficiência visual - é uma alteração dos olhos da pessoa. T<strong>em</strong> diferentes níveis de impacto sobre ascapacidades de ver da pessoa. A pessoa pode ter pequenas dificuldades para ver até não poder ver nada.Serviços de apoio – concebidos <strong>com</strong>o serviços <strong>com</strong>pl<strong>em</strong>entares individuais, permit<strong>em</strong> a cada pessoa,segundo as suas necessidades e suas escolhas, ter acesso aos serviços ordinários ao nível da <strong>com</strong>unidade,<strong>com</strong>o qualquer outra pessoa. Um serviço de apoio facilita por conseguinte a inserção eficaz das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência num meio ordináiro. Ex : material de <strong>com</strong>pensação, intérprete <strong>em</strong> línguas de sinais, transportesadaptados…Deficiência auditiva - é uma alteração dos ouvidos da pessoa. T<strong>em</strong> diferentes níveis de impacto sobre ascapacidades de ouvir da pessoa. A pessoa pode ter pequenas dificuldades para ouvir até não poder ouvirnada. Uma pessoa <strong>com</strong> deficiência auditiva pode ter também uma dificuldade/impossibilidade para falar,mais não é s<strong>em</strong>pre o caso.Sinalética – <strong>com</strong>preende as placas de direcção, indicação e enumeração das ruas, as placas de informação,os mapas… A sinalética, numa cidade <strong>com</strong>o num edifício, deve ser clara, simples, fácil a ler e visível para seracessível a todos. Serve para transmitir uma informação e permite uma melhor orientação no espaço.1213


A Deficiência <strong>em</strong> MoçambiqueApresentação do diagnóstico localIntroduçãoI/ Dados principaisI/ O Projecto Cidade e DeficiênciaAté há pouco t<strong>em</strong>po, existiam poucos dados sobre o número de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiêcia <strong>em</strong> Moçambique.Em 1999 o INE estimava a taxa de prevalência da Deficiência no pais a 1,8% <strong>em</strong> média.Em 2009, a primeira pesquisa de âmbito nacional, financiada pela SINTEF e realizada pelo FAMOD <strong>em</strong>parceria o INE, permitiu a obtenção de uma percentag<strong>em</strong> de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, isto é, 6,0%, ouseja, 1,2 milhões de <strong>pessoas</strong> <strong>em</strong> todo país.<strong>As</strong> condições de vida das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência são geralmente mais precárias que as do resto dapopulação, de género e idade idênticos: nível de estudo, acesso ao mercado laboral, nível de rendimentos,acesso aos serviços, habitação, mobilidade, acesso a informação, participação social...Elas são vistas negativamente e sofr<strong>em</strong> muitas discriminações no seio das suas <strong>com</strong>unidades, mastambém na sociedade <strong>em</strong> geral.A vulnerabilidade sócio-económica e as diversas discriminações são mais graves para as mulheres <strong>com</strong>deficiência, por efeito cumulativo.<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência são particularmente vulneráveis ao HIV/SIDA por causa dos factores deriscos agravados e de grandes dificuldades no acesso aos mecanismos de prevenção e de testag<strong>em</strong>.II/ Quadro legislativo <strong>em</strong> vigor e datas importantes1989 Criação da ADEMO, primeira associação de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong> Moçambique.1990 Introdução na Constituição da República de um artigo que garante a igualdade dos direitospara as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.1999 Lançamento da Década Africana de Pessoas <strong>com</strong> Deficiência (1999-2009); Moçambique fazparte dos 5 países pilotos.Adopção da Política Nacional para a Pessoa Portadora de Deficiência (Resolução 20/99).2000 Criação do FAMOD – Fórum das <strong>As</strong>sociações Moçambicanas de Deficientes, que congrega 18associações.2006 Adopção do primeiro Plano Nacional de Acção da Área da Deficiência (2006-2010).2007 <strong>As</strong>sinatura da Convenção das Nações Unidades para os Direitos das Pessoas <strong>com</strong> Deficiência(provável ratificação <strong>em</strong> 2010).2008 Adopção do Regulamento de Construção e Manuntenção dos Dispositivos Técnicos de Acessibilidadee Utilização dos Sist<strong>em</strong>as de Serviços e Lugares Públicos à Pessoa Portadora de Deficiência Física ou deMobilidade Condicionada (Decreto 53 / 2008)2009 Adopção da Estratégia da Pessoa <strong>com</strong> Deficiência na Função Pública (2009-2013) (Resoluçãon°68/2009).Criação do Conselho Nacional da Deficiência.2010 Pela primeira vez, toma-se <strong>em</strong> conta a vulnerabilidade específica das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência<strong>em</strong> relação ao HIV/SIDA no terceiro Plano Estratégico Nacional de Combate ao HIV e Sida - PEN III(2010-2014).Moçambique é nomeado para a Presidência da Federação das <strong>As</strong>sociações de Deficientes dosPaíses de Língua Portuguesa.Impl<strong>em</strong>entação do Conselho Nacional da Deficiência.Elaboração do PNAD II - Plano Nacional de Acção da Área da Deficiência (2011-2015)O Projecto “Cidade e Deficiência” iniciou <strong>em</strong> Março de 2009 a sua impl<strong>em</strong>entação pelas associações RAVIMe <strong>Handicap</strong> International. Com uma duração de 4 anos, este projecto visa melhorar o acesso das <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência aos serviços sanitários e sociais e promover a sua plena participação nas iniciativas dedesenvolvimento <strong>em</strong> 9 bairros suburbanos dos municípios de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>. Este projecto permite odesenvolvimento de um sist<strong>em</strong>a de serviços inclusivo <strong>em</strong> todo o território por meio de acções de sensibilizaçãoe de formação dos fornecedores de serviços, da criação de um fórum de concertação reunindo os principaisactores locais, b<strong>em</strong> <strong>com</strong>o a criação de um Serviço de Informação, Orientação e A<strong>com</strong>panhamento Social(SIOAS) para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.A fim de melhor delimitar a probl<strong>em</strong>ática da deficiência no território, o primeiro ano do projecto “Cidade eDeficiência” foi dedicado à realização de um diagnóstico local participativo. Este diagnóstico foi realizado<strong>em</strong> conjunto pelas associações RAVIM e <strong>Handicap</strong> International, envolvendo <strong>em</strong> grande parte as associaçõesde <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, <strong>em</strong> parceria <strong>com</strong> o FAMOD, as autoridades locais e os provedores de serviços.II/ Objectivos do diagnóstico localMais especificamente, o diagnóstico local teve por objectivo:Evidenciar a representação social da DeficiênciaAvaliar a situação sócio-económica das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciaDeterminar o nível de acesso das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência aos serviços sanitários e sociais e identificaras barreiras de acesso existentesAnalisar o sist<strong>em</strong>a de actores e os processos de decisão entre os poderes públicos, os provedores deserviços e a sociedade civilFormular uma série de re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioIII/ Calendário e fases principais de realizaçãoRealizado entre Abril de 2009 e Abril de 2010, o diagnóstico foi feito <strong>em</strong> 5 fases sucessivas:Fase 1: Preparação do diagnóstico (Abril – Maio de 2009)- Elaboração do quadro metodológico do diagnóstico- Procura de informação sobre a área coberta e as principais partes envolvidasFase 2: Lançamento do diagnóstico (Junho de 2009)- Criação de um <strong>com</strong>ité de gestão do projecto- Apresentação do processo de diagnóstico aos actores do territórioFase 3: Pesquisas de campo (Julho de 2009 – Janeiro de 2010)- Pesquisa sobre a representação social da Deficiência (grupos focais qualitativos)- Pesquisa sobre a saúde, as incapacidades e a participação social (questionários quantitativos)- Pesquisa sobre os serviços sanitários e sociais (questionários quantitativos e qualitativos)- Entrevistas <strong>com</strong> as partes envolvidas da zona de estudo (entrevistas individuais)Fase 4: Análise dos dados (Outubro de 2009 – Março de 2010)- Análise das actas das reuniões e dos grupos focais- Análise estatística dos dados quantitativos recolhidos (EPI info, NetDraw)- Processo de escrita participativaFase 5: Restituição dos resultados (Abril de 2010)- Publicação de um relatório, de uma síntese e de um directório de serviços- S<strong>em</strong>inário de apresentação dos resultados e das re<strong>com</strong>endações às partes envolvidas1415


MetodologiaIntroduçãoSeguindo uma abordag<strong>em</strong> participativa, procuramos consultar os principais grupos e actores sociais dazona estudada: representantes e funcionários dos Orgãos do Estado e dos Orgãos autárquicos, dirigentese técnicos dos provedores de serviços sanitários e sociais, dirigentes e m<strong>em</strong>bros de associações de<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, m<strong>em</strong>bros da <strong>com</strong>unidade <strong>em</strong> geral. 4 pesquisas foram realizadas sucessivamentepermitindo <strong>com</strong>binar 4 abordagens diferentes:I/ Abordag<strong>em</strong> sócio-antropológica: pesquisa qualitativa por grupos focaisAfim de melhor <strong>com</strong>preender a representação social da Deficiência na zona, organizamos, <strong>em</strong> primeirolugar, uma pesquisa qualitativa através de grupos focais.A primeira série de 12 grupos focais permitiu mobilizar um total de 111 participantes representativos dapopulação local: parentes de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, residentes da zona, m<strong>em</strong>bros das associações locais,funcionários das administrações, provedores de serviços... Um último workshop, agrupando 51 <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência, serviu para evidenciar especificamente barreiras que limitam o acesso aos serviços sociaisexistentes na zona.Cada um destes grupos de discussão, de uma duração média de 2 horas, articulou-se <strong>em</strong> volta de 3 t<strong>em</strong>asprincipais:Orig<strong>em</strong> e causa da Deficiência,Aceitação da Deficiência na sociedade,Integração social da pessoa <strong>com</strong> deficiênciaPerguntas abertas propostas aos grupos por um facilitador, encorajavam a narração e relato de cadaparticipante a partilhar a sua história pessoal ou a sua experiência. Este dispositivo permitiu também adiversidade de pontos de vista e a liberdade de expressão entre os participantes durante as discussões.II/ Abordag<strong>em</strong> epid<strong>em</strong>ológica: pesquisa quantitativa por questionárioA abordag<strong>em</strong> epid<strong>em</strong>ológica foi, também, usada durante a segunda fase da pesquisa de tipo SIPS (Saúde,Incapacidades, Participação Social) afim de determinar a frequência da deficiência no seio da populaçãoestudada, de melhor <strong>com</strong>preender o perfil sócio-económico das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e por fim avaliaro seu nível de acesso aos serviços de saúde e sociais. Para este fim, uma pesquisa quantitativa, porquestionário, foi realizado durante 12 s<strong>em</strong>anas na zona.a) Escolha da amostraA escolha da amostra das <strong>pessoas</strong> a inquerir foi feita a dois níveis:Em primeiro lugar, a selecção de 50 clusters alocados a cada um dos 9 bairros inqueridos, porprobabilidade proporcional ao tamanho da população, segundo a seguinte repartição:BairrosPopulaçãorecenseadaNumero de clustersNúmero estimadode casas a percorrerNúmero de agregadosa entrevistarJ.Dimitrov 40 963 10 800 160Zimpeto 25 645 6 500 100Malhazine 8 753 2 170 34Magoanine A 4 022 1 80 16Magoanine B 12 065 3 240 48Magoanine C 12 065 3 240 48T3 16 636 4 320 64Khongolote 27 649 7 540 108Ndlhavela 57 246 14 1120 224Total 205 043 50 4000 800Os limites geográficos dos bairros estudados sendo vagos e mal conhecidos pelos inqueridores ourepresentantes da população, cada centro dos clusters teve que ser definido de maneira aproximadapor meio de uma cartografia aérea, <strong>com</strong> vista a partilhar os clusters de maneira homogénea nosbairros, tomando <strong>em</strong> conta a densidade aparente do habitat.O segundo nível da escolha da amostra diz respeito às famílias. A partir do centro definido decada cluster, os inqueridores percorreram as ruas segundo a espiral dum caracol. <strong>As</strong> casas foramcontadas nos dois lados das ruas percorridas. Cada 5ª casa fazia parte da amostra (5, 10, 15, etc...).A casa, ou família, seleccionada desta maneira, foi inquerida através da pessoa presente. Todos osm<strong>em</strong>bros da família, presentes ou ausentes, foram registados durante o inquérito, o presente tendo aresponsabilidade de dar as características dos outros.<strong>As</strong> informações recolhidas durante o inquérito qualitativo foram <strong>em</strong> seguida analizadas segundo umagrelha de leitura sócio-antropológica a fim de permitir evidenciar o sist<strong>em</strong>a de representações, de valorese de crenças na população estudada. Elas foram também reutilizadas na fase final da pesquisa de campo,sobretudo para a preparação do questionário da pesquisa SIPS. Estes grupos alvos serviram, também, dealavanca na mobilização das <strong>com</strong>unidades e das instituições, permitindo o estabelecimento das reflexõesmais vastas e profundas sobre a questão da deficiência <strong>em</strong> todo o território.1617


MetodologiaIntroduçãob) Aplicação do questionárioRecorr<strong>em</strong>os a um questionário concebido <strong>em</strong> duas partes:Uma primeira parte <strong>com</strong>preendendo questões d<strong>em</strong>ográficas (sexo, idade), e questões de“filtrag<strong>em</strong>” que permitiram identificar as <strong>pessoas</strong> que apresentam incapacidades. A fim de estabeleceruma base de <strong>com</strong>paração <strong>com</strong> outros estudos realizados, recorr<strong>em</strong>os às 6 perguntas de filtrag<strong>em</strong> doWashington Group, que são geralmente utilizadas para determinar a prevalência da deficiência numadada população:- Você t<strong>em</strong> dificuldade <strong>em</strong> ver mesmo usando óculos ou lentes de contacto?,- Você t<strong>em</strong> dificuldade <strong>em</strong> ouvir mesmo usando aparelho auditivo?- Você t<strong>em</strong> dificuldade <strong>em</strong> andar ou subir escadas?- Você t<strong>em</strong> dificuldade de m<strong>em</strong>ória ou de concentração ?- Você t<strong>em</strong> dificuldade <strong>em</strong> tomar banho ou vestir-se sozinho?- Você t<strong>em</strong> dificuldade <strong>em</strong> <strong>com</strong>preender os outros ou fazer-se entender?A estas 6 perguntas do WG, acrescentamos 2 perguntas <strong>com</strong>pl<strong>em</strong>entares a fim de determinar se asincapacidades declaradas pelas <strong>pessoas</strong> provocam ou não limitação de actividade, e por conseguintelimitação na participação social, desde pelo menos há 6 meses:- Devido a probl<strong>em</strong>as de saúde, você está limitado nas suas actividades <strong>em</strong> casa, na escola ouno trabalho?- Esta dificuldade dura há pelo menos seis meses?Pelo menos uma resposta positiva as perguntas de filtrag<strong>em</strong> levava o inqueridor a questionar a pessoa(directamente ou por intermédio do presente inquerido) usando a segunda parte do questionário,contendo questões sobre o nível de acesso aos serviços de saúde, educação, formação profissionale de apoio ao <strong>em</strong>prego, de programas sociais e outros tipos de actividades (cultura, desporto,transportes...). Cada vez que uma pessoa <strong>com</strong> limitação de actividades foi identificada, um vizinho doagregado do mesmo gênero e idade aproximada era inquerido, a fim de lhe submeter as duas partesdo questionário e constituir desta maneira um grupo test<strong>em</strong>unho.Uma equipa de 20 inqueridores foi seleccionadae formada <strong>em</strong> técnicas de inquérito <strong>em</strong>etodologia de selecção aleatória do grupoalvo. O acento foi posto, logo de início, sobre orespeito do equilíbrio do género e a inclusão, jáque a metade dos inqueridores eram mulherese cada binómio era <strong>com</strong>posto de pelo menosuma pessoa <strong>com</strong> deficiência. Privilegiamostambém a abordag<strong>em</strong> <strong>com</strong>unitária uma vezque os inqueridores vinham todos dos bairros<strong>em</strong> estudo, o que facilitou o conhecimento dazona e a relação <strong>com</strong> a população local. Umaequipa de supervisores <strong>com</strong>posta de m<strong>em</strong>brosda RAVIM <strong>com</strong>pletava o dispositivo paragarantir a qualidade dos dados recolhidos, norespeito do protocolo do inquérito já definido.c) Número de <strong>pessoas</strong> inqueridas490<strong>pessoas</strong>“<strong>com</strong> incapacidades”9556<strong>pessoas</strong> inquiridas492<strong>pessoas</strong>“test<strong>em</strong>unhas”8574<strong>pessoas</strong>“s<strong>em</strong> incapacidades”(491 digitados)Por razões de falta de recursos e de t<strong>em</strong>po, não pud<strong>em</strong>os gravar todas as 8 574 <strong>pessoas</strong> ditas "s<strong>em</strong>incapacidades" no software EPI Info, isto é, que responderam "não" a todas as perguntas de filtrag<strong>em</strong>,mas apenas 491. A amostra para análise é constituida por todos os questionários "<strong>com</strong> incapacidades"e "test<strong>em</strong>unhas" é por um questionário "s<strong>em</strong> incapacidades" sobre 17, o que permitiu a constituição deefectivos numericamente equivalentes.d) Verificação da representatividade das amostrasA população na amostra corresponde a todos os agregados selecionados, isto é todas as <strong>pessoas</strong> "s<strong>em</strong>incapacidades" (8 574) assim <strong>com</strong>o todas as <strong>pessoas</strong> "<strong>com</strong> incapacidades" e as <strong>pessoas</strong> “test<strong>em</strong>unhas”(982). Uma vez que apenas 491 <strong>pessoas</strong> "<strong>com</strong> incapacidades" foram registadas, teve que se seleccionaruma amostra equivalente a 1/17 "casos" (982/17=58). <strong>As</strong> duas listas (982+58=1040) constitu<strong>em</strong> umaamostra teoricamente representativa da população base.Não apresentamos diferenças significativas sobre o sex ratio entre a população base e a população daamostra (p=0,8).Não exist<strong>em</strong> também diferenças significativas entre faixas etárias entre a população base e a populaçãoda amostra (p=0,7). Nós dispomos de dados do último censo nacional distribuidos por idade apenaspara os bairros inqueridos de <strong>Maputo</strong>. A verificação da representatividade sobre a idade é apenas feitapara esta população e não para <strong>Matola</strong>.Faixas etárias Base Mostra5 - 9 26,6% 23,6%10 - 19 24,7% 24,9%20 - 29 20,5% 23,6%30 - 39 13,0% 12,2%40 - 49 8,5% 9,6%50 - 59 4,0% 2,6%60 - 69 1,7% 2,6%70 - 79 0,8% 0,4%80 et + 0,3% 0,4%Total 100% 100%1819


MetodologiaIntroduçãoNo que diz respeito a distribuição das <strong>pessoas</strong> inqueridas por cidade, constata-se também que asproporções obtidas são muito próximas do peso real de cada cidade na população total dos 9 bairros:Cidade Base Mostra Freq.<strong>Maputo</strong> 50,5% 50,2% 739<strong>Matola</strong> 49,5% 49,8% 734Total 100% 100% 1.473Em fim, a repartição das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência por bairros na nossa amostra, é também relativamentepróxima da população base, <strong>com</strong>o constatamos:Bairros Base Mostra Freq.Zimpeto 12,5% 10,2% 150{Magoanine A 3,5% 52Magoanine B 13,3% 4,3% 63Magoanine C 6,9% 101J.Dimitrov 20,0% 19,9% 294Malhazine 4,3% 5,4% 79Ndlavela 27,9% 25,6% 377T3 8,1% 6,7% 99Khongolote 13,5% 17,5% 258Total 100% 100% 1.473Pode-se, por conseguinte, considerar que esta amostra é suficient<strong>em</strong>ente representativa da populaçãototal, permitindo <strong>com</strong>parações no nosso estudo. A maioria das <strong>com</strong>parações realizadas nos resultados(análises multivariadas) tomam <strong>em</strong> conta variáveis "idade", e "género" o que permite reduzir ainda oserros das amostras.III/ Análise de redes sociais: pesquisa quantitativa sobre os serviçosa) Pertinência da análise de redes sociaisA análise de redes sociais (ARS) foi utilizada durante o diagnóstico <strong>com</strong> o objectivo de evidenciar asrelações existentes entre os diferentes actores da zona, e sobretudo entre os fornecedores de serviços. Estaabordag<strong>em</strong> inovadora, cada vez mais <strong>com</strong>um nas áreas da saúde ou da sociologia, procura <strong>com</strong>preender<strong>com</strong>o a posição ocupada por um actor numa dada rede têm influência sobre o seu nível de acesso aosrecursos financeiros, técnicos, ou ainda a informação que circula na rede. Com efeito, os actores estabelec<strong>em</strong>geralmente laços <strong>com</strong> outros actores a fim de aproximar<strong>em</strong>-se aos recursos e ás oportunidades existentes,e por conseguinte maximizar os seus benefícios potenciais (Clark, 2006). Muitas vezes de maneiraconsciente o inconsciente formam-se grupos de actores, no seio dos quais os mais informados estão <strong>em</strong>melhor posição ou inversamente. Os actores que tém o maior acesso a informação pertenc<strong>em</strong>, muitasvezes, a vários grupos de actores, o que lhes confere um certo poder, pelo papel de intermediação queeles detém <strong>em</strong> prol de actores <strong>em</strong> posição desfavorável. Deste modo, a ARS permite melhor visualizar aorganização e a estruturação destas dinámicas de trocas no plano local.b) Modelização da rede localCom o intuito de analisar a rede de serviços sanitários e sociais da zona, recolheu-se dados referentes a 104provedores de serviços. Foi-lhes pedido para descrever<strong>em</strong> os laços tecidos entre os actores locais que lhesrodeiam: outros provedores de serviços, orgãos do Estado, orgãos autárquicos, associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência, <strong>em</strong>presas do sector privado, agências de cooperação, igrejas, plataformas de coordenação.Cada laço devia ser definido <strong>em</strong> função de:sua natureza (apoio técnico, apoio financeiro, referenciamento de utentes, troca de informação)sua intensidade (1=fraco, 2=intermediário, 3=forte)sua direccionamento (de X para Y ou de Y para X)<strong>As</strong> informações foram <strong>em</strong> seguida codificadas e modelizadas <strong>com</strong> a ajuda do software NetDraw paramelhor visualizar as interações existentes entre os diferentes actores da zona.<strong>As</strong> análises de redes permitiram conceber estratégias de intensificação e de diversificação dos fluxos detrocas inter-actores, sobre a base do sist<strong>em</strong>a social já existente, a fim de gerar capital social no plano local.Este trabalho permitiu também fornecer numerosos dados quantitativos sobre os serviços existentes:repartição sectoriais, período de criação, fontes de financiamento, condições de acesso físico, nível deformação do pessoal...IV/ Análise do sist<strong>em</strong>a de actores: entrevistas <strong>com</strong> os actores da zonaPor fim, uma fase qualitativa de entrevistas individuais permitiu encontrar os 42 actores principais,implicados na área do desenvolvimento sanitário e social <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, contribuindo deste mododirecta ou indirectamente para uma maior inclusão das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência na zona:18 associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência;14 orgãos do Estado;6 orgãos autárquicos;4 redes e plataformas de coordenação 1 ;Estas entrevistas s<strong>em</strong>i-abertas, duma duraçãomédia de duas horas, permitiram-nos recolherinformações sobre as acções desenvolvidadesou concebidas pelas diferentes entidades, <strong>com</strong>otambém recolher as suas re<strong>com</strong>endações afim defavorecer a participação social das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência ao nível local. Permitiram-nos, também,de analisar de maneira mais aprofundada asrelações de força e as dinámicas que sustentamas lógicas de actores no plano local.1A lista das diferentes instituições encontradas durante as entrevistas vém no anexo deste relatório.2021


Características da zona estudadaIntroduçãoI/ Um meio urbano <strong>em</strong> plena mudançaa) Um crescimento d<strong>em</strong>ográfico extr<strong>em</strong>amente rápido <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>A África subsariana conhece um dos índices de urbanização mais elevados do mundo e tornar-se-á, duranteos próximos 30 anos, mais urbana do que rural (Baker, 1997). Moçambique não se afasta desta dinâmica,uma vez que as suas cidades, e sobretudo a sua capital, conhec<strong>em</strong> um crescimento d<strong>em</strong>ográfico e espacialmuito rápido de há uns 40 anos para cá. Enquanto a antiga capital colonial - Lourenço Marques, hoje<strong>Maputo</strong> – contava apenas <strong>com</strong> 375.000 habitantes na altura da independência, <strong>em</strong> 1975, a conurbaçãoformada hoje pelas cidades de <strong>Maputo</strong> e da <strong>Matola</strong> agrupa agora cerca de 1.800.000, de acordo <strong>com</strong> osdados do último recenseamento realizado <strong>em</strong> 2007 (ou seja, 1.094.315 <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e 672.508 na <strong>Matola</strong>).Este crescimento d<strong>em</strong>ográfico deve-se principalmente à duplicação da população da cidade da <strong>Matola</strong>,antigamente considerada a cintura industrial da capital e que entrou, progressivamente, “<strong>em</strong> colisão” <strong>com</strong>a sua vizinha cidade de <strong>Maputo</strong>, durante os últimos vinte anos. <strong>Matola</strong> é considerada actualmente <strong>com</strong>osendo a segunda cidade mais importante do país, depois de <strong>Maputo</strong> e o continuum urbanizado constituídopelas duas cidades agrupa cerca de 50% da população urbana de Moçambique.Município Municipioda <strong>Matola</strong>Zonade impl<strong>em</strong>entaçãoMunicípio Municipiode <strong>Maputo</strong>Esta expansão d<strong>em</strong>ográfica fulgurante pode explicar-se por meio de 5 fenómenos principais (Serra, 2005):A Independência nacional conjugada <strong>com</strong> a nacionalização dos imóveis de renda <strong>em</strong> 1976, dando assimacesso à cidade de cimento aos moçambicanos antes confinados na cidade de caniço;A guerra civil e as deslocações massivas das populações do campo para os centros urbanos;O regresso dos refugiados depois do Acordo de Roma <strong>em</strong> 1992, e a sua reinstalação nas principaisaglomerações do país, nomeadamente <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong>;A degradação progressiva das condições de vida no campo e o êxodo rural resultante;O abrandamento nos anos 90 das migrações económicas para os países limítrofes, chegando por vezesao repatriamento de trabalhadores moçambicanos.b) A recente explosão da pobreza urbanaDe Lourenço Marques, caracterizada por uma forte segregação espácio-racial na época colonial, a <strong>Maputo</strong>,vitrina da experiência urbana na época socialista, a cidade transformou-se consideravelmente. A pobreza“explodiu“ verdadeiramente na virag<strong>em</strong> liberal de meados da década de 80, nomeadamente sob o efeitodos planos de ajuste estrutural que fragilizaram sectores inteiros da economia e levaram à pauperizaçãomassiva das classes populares. Esta pobreza urbana era então considerada <strong>com</strong>o um fenómeno novo: atéentão, a pobreza e as suas causas estavam mais directamente associadas às condições de vida do mundorural, assolado pelas int<strong>em</strong>péries, pela guerra e pelo fraco nível de produtividade de trabalho (Lachartre,2000).Consequência directa da ascensão das desigualdades sócio-económicas, a cidade “liberalizada” consolidouserapidamente <strong>em</strong> redor de dois pólos assimétricos:Um centro de cidade relativamente homogéneo, quadriculado por largas avenidas, <strong>com</strong>posto por umhabitat de concreto protegido por grades, sist<strong>em</strong>as electrónicos de segurança e guardas privados,rodeado de hotéis, casas de câmbio, restaurantes, cafés, pastelarias, supermercados e outras estaçõesde serviços;E uma grande periferia de habitat multiforme, substituindo-se progressivamente à antiga cidade decaniço, <strong>com</strong> as suas estradas congestionadas, os seus dumba nengues, as suas barracas, as suas lixeiraspúblicas e os seus chapas, mundo de exclusão social e de <strong>com</strong>plexidade cultural, de movimento e d<strong>em</strong>istura, um mundo de miscigenação permanente.c) Grupos sociais particularmente vulneráveis dentro deste contextoSe a liberalização praticada durante os anos 80 refere-se sobretudo a transição para o mercado e provocatransformações de grande amplitude na economia urbana (subida da economia informal e do trabalhof<strong>em</strong>inino, modificação da estrutura predial, agricultura urbana…), provoca igualmente uma série defenómenos sociais novos que a cidade autoriza e amplifica e que agitam profundamente a naturezado seu tecido social. A antropologia urbana sublinha que, na sua diversidade, estes fenómenos têm <strong>em</strong><strong>com</strong>um desatar libertar o indivíduo da tutela do Estado e da autoridade dos seus representantes locais,e ainda os exercidos a nível familiar (Lachartre, 2000). <strong>As</strong> manifestações desta liberalização revest<strong>em</strong>-sede múltiplas formas: desintegração das unidades familiares, multiplicação das famílias monoparentais,crianças da rua…Esta liberalização devolve o indivíduo a si próprio, aos seus próprios recursos, para sobreviver e prover asua existência. Aparent<strong>em</strong>ente aberta a todos, a cidade produz <strong>em</strong> simultâneo mecanismos de exclusãoe de de<strong>com</strong>posição social que marginalizam a vasta camada das populações mais desfavorecidas. Destas,encontramos os grupos mais vulneráveis, que não pod<strong>em</strong> apoiare-se num quadro social suficient<strong>em</strong>enteprotector no seio das <strong>com</strong>unidades fragilizadas: mulheres sós, <strong>pessoas</strong> idosas isoladas, crianças órfãs evulneráveis, <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego. E, ainda, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.d) Interacção entre a pobreza, a exclusão social e a DeficiênciaSe considerarmos a situação de deficiência <strong>com</strong>o proveniente da interacção entre os factores pessoais e osfactores ambientais relativos a um modo de vida (Fougeyrollas, 2006), a pobreza continua a ser um factorparticularmente agravante. Com efeito, a pobreza pode directa ou indirectamente levar à deficiência <strong>em</strong>virtude da falta de acesso aos cuidados de saúde preventiva ou curativa, da má alimentação, da falta deactividades, do sist<strong>em</strong>a de transportes perigoso… Neste sentido, consideramos que exist<strong>em</strong> muito mais<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência no seio das camadas mais pobres da população do que das mais ricas (Elwan,1999).2223


Características da zona estudadaIntroduçãoPelo contrário, quando a deficiência aparece ao longo da vida, pode <strong>em</strong> contrapartida gerar a exclusãosocial e levar à pobreza as <strong>pessoas</strong> que antes não eram pobres. Devido à falta de adaptação do seu meiofísico, uma pessoa <strong>com</strong> deficiência pode, por ex<strong>em</strong>plo, perder a sua capacidade de exercer uma actividadeprofissional. A sua família pode sofrer uma baixa substancial de rendimentos <strong>em</strong> virtude do t<strong>em</strong>posupl<strong>em</strong>entar passado a cuidar dela ou das despesas adicionais a pesar<strong>em</strong> no orçamento familiar (materialde <strong>com</strong>pensação, medicamentos, outros serviços…). A pobreza e a deficiência pod<strong>em</strong> portanto formar umcírculo vicioso e alimentar<strong>em</strong>-se mutuamente.II/ Os 9 bairros periféricos estudadosa) Bairros afastados dos principais pólos de actividadeLimitado a oriente pelo Oceano Índico e a sul pelo estuário do Espírito Santo, o aglomerado pode estenderses<strong>em</strong> limitações naturais para norte e oeste. É nestes bairros periféricos, criados originalmente paradescongestionar a cidade de cimento, onde se v<strong>em</strong> estabelecer-se a maior parte dos recém-chegados,provenientes do campo <strong>em</strong> busca de condições de vida melhores. Situados para uns a norte do Distrito5 do Município de <strong>Maputo</strong> (Zimpeto, Jorge Dimitrov, Malhazine, Magoanine A, B e C) e para outros a estedo Município da <strong>Matola</strong> (Khongolote, Ndlavela, T3), os 9 bairros estudados abrigam um total de 205.043habitantes, ou seja, 11,6% da população total do aglomerado. Estes bairros constitu<strong>em</strong> a zona tampão entre<strong>Maputo</strong> e a <strong>Matola</strong>, atravessada pela Zona Verde, zona fértil agrícola peri-urbana, e pela Estrada Nacional n°1que liga <strong>Maputo</strong> ao Norte do pais. Estes bairros têm igualmente <strong>em</strong> <strong>com</strong>um o facto de ter<strong>em</strong> sido seriamenteafectados pelas violentas explosões do paiol ocorridas <strong>em</strong> Março de 2007, causando 83 mortos, 350 feridos einúmeros danos materiais.Estes bairros periféricos abrigam principalmente populações provenientes das diferentes províncias dopaís, dando orig<strong>em</strong> a uma miscigenação de culturas e identidades entre o rural e o urbano. A cidade <strong>em</strong>expansão gera assim uma troca permanente entre o antigo e o moderno, criando modos de funcionamentoe sist<strong>em</strong>as de valores profundamente alotrópicos (Serra, 2005). Os habitantes dos arredores pod<strong>em</strong> assimter por um lado, um pé no curandeiro tradicional e, o outro, num hospital ou centro de saúde ou aindafrequentar as instâncias alternativas de justiça e também a esquadra da polícia…o perfil sociológico dapopulação a viver nestes bairros é portanto distinto da dos habitantes da cidade de cimento.b) Infra-estruturas básicas insuficientes e saturadasNa ausência de mecanismos de regulação urbana, a rapidez <strong>com</strong> a qual se produz esta expansão e apressão predial subsequente tornaram difícil a expansão ou o redimensionamento das redes de infraestruturasbásicas (água, saneamento, electricidade). A Empresa Águas de Moçambique não servindoestes bairros peri-urbanos, a distribuição de água faz-se aqui exclusivamente por pequenos operadoresprivados <strong>com</strong> capacidade limitada e <strong>em</strong> condições de salubridade variáveis. A recolha de lixo é feita porcolectores informais de forma um tanto ou quanto aleatória.A zona padece igualmente de um défice de equipamento <strong>em</strong> serviços de saúde e sociais, que não consegu<strong>em</strong>responder às necessidades crescentes das populações. Apenas exist<strong>em</strong> 4 centros de saúde principais (ouseja, 1 centro de saúde para cada 50.000 habitantes <strong>em</strong> média), 13 centros de saúde do tipo II (ou seja, 1para cada 15.00 habitantes <strong>em</strong> média). Além disso, cada uma das 33 escolas primárias e secundárias dazona acolh<strong>em</strong> <strong>em</strong> média 2.330 alunos <strong>com</strong> efectivos atingidos a 85 alunos por sala de aulas, sobretudo nosbairros de espansão <strong>com</strong>o Khongolote ou Ndlavela. Não existe nenhum serviço especializado na zona pararesponder às necessidades específicas das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiências: inexistência de serviços de ortopedia,inexistência de fornecedores de material de <strong>com</strong>pensação, pior ainda, não existe nenhum serviço dereabilitação física.KhongoloteZimpetoMagoanine CMagoanine BMagoanine ANdlavelaJorge DimitrovMalhazineT32425


Representação social da Deficiência1CapítuloI/ Crenças e representações colectivas relativas às causas da Deficiência 28II/ Aceitação da pessoa <strong>com</strong> deficiência na sociedade 30III/ Recursos <strong>com</strong>unitários <strong>com</strong>o vector de integração social 322627


Representação social da DeficiênciaCapítulo1I/ Crenças e representações colectivas relativas às causas da Deficiênciaa) A Deficiência é essencialmente <strong>com</strong>preendida <strong>com</strong>o uma doençaA maioria das <strong>pessoas</strong> interrogadas durante os grupos de discussão associam <strong>em</strong> primeiro lugar a Deficiênciaà dimensão médica da incapacidade. A Deficiência é sobretudo considerada <strong>com</strong>o uma doença que namaioria dos casos se “apanha” à nascença. A deficiência pode ser auditiva, visual ou motora principalmente<strong>em</strong> virtude da hereditariedade familiar ou ainda de uma má formação congénita ligada a casos de incestoentre parentes próximos ou ainda devido a <strong>com</strong>plicações durante o parto. Alguns argumentam que aDeficiência pode também aparecer durante a vida, de forma súbita e traumática (acidente, ferimentode guerra, <strong>com</strong>plicações pós-operatórias) ou ainda mais lenta e degenerescente (doença invalidante,consumo de álcool ou de drogas).Quando se convidam os m<strong>em</strong>bros da <strong>com</strong>unidade a exprimir<strong>em</strong>-se sobre as causas da Deficiência, vêsesurgir <strong>em</strong> filigrana uma transposição do discurso habitual sobre os modos de transmissão do HIV.Massivamente alertados sobre o carácter transmissível, inreversível e invalidante do vírus, e sobrea necessidade de se proteger<strong>em</strong> de uma ameaça difusa, parece que os indivíduos teriam interiorizadopaulatinamente os mesmos reflexos relativos à Deficiência. El<strong>em</strong>entos similares aparec<strong>em</strong> claramenteentre as duas probl<strong>em</strong>áticas e, de maneira inconsciente, a Deficiência é frequent<strong>em</strong>ente vista <strong>com</strong>opotencialmente contagiosa e transmissível de um indivíduo a outro, da mãe para o filho…etc. num reflexohigienista, parece então mais prudente isolar as <strong>pessoas</strong> “atacadas” por uma deficiência a fim de preservaros indivíduos “sãos” da <strong>com</strong>unidade.b) Crenças populares que estruturam profundamente as representações colectivasMas é sobretudo o desconhecimento das causas da Deficiência que predomina na <strong>com</strong>unidade, abrindofrequent<strong>em</strong>ente a porta a outras formas de interpretação b<strong>em</strong> enraizadas na cultura tradicional, sobretudonos bairros periféricos principalmente povoados de neo-urbanos. O discurso social assenta-se <strong>em</strong> razõesmais afastadas da racionalidade científica, quando se trata de examinar as causas da deficiência, <strong>com</strong>oa maldição, o destino, a má sorte, ou muito simplesmente o azar. Inúmeras lendas e crenças popularesalimentam as representações colectivas para tentar explicar o surgimento da Deficiência numa pessoa ounuma família, e 3 eixos figurativos aparec<strong>em</strong> particularmente estruturantes:Uma intervenção divina para punir os vícios ou os hábitos imorais dos pais:- “as famílias ricas são punidas pela sua avareza e é por isso que têm uma criança deficiente”- “se o primeiro filho de uma família rica nasce <strong>com</strong> uma deficiência, é considerado <strong>com</strong>o o provedorde riqueza, um sacrifício voluntariamente consentido pelo pai da família ao curandeiro a fim degarantir a prosperidade futura da família”.- “uma criança nasce <strong>com</strong> uma deficiência quando os deuses pun<strong>em</strong> uma mãe infiel”.Um diferendo entre inimigos vingado pelo recurso à magia negra:- “alguns diz<strong>em</strong> que é devido a um diferendo de vizinhança, resultado de uma vingança entre m<strong>em</strong>brosda <strong>com</strong>unidade”.- “a deficiência é frequent<strong>em</strong>ente provocada por um curandeiro quando alguém procura vingarsede um inimigo. Ele não lhe pede para o matar mas de o tornar deficiente para lhe fazer mal,paralisando-lhe um braço, por ex<strong>em</strong>plo”.Uma maldição de orig<strong>em</strong> mística:- “uma pessoa que olhar para um albino e engolir ao mesmo t<strong>em</strong>po a saliva irá ter uma criançadeficiente”- “quando uma criança aspirar dentro de uma peneira, torna-se surda”- “diz-se que a criança que antes da puberdade anda no pátio da casa dos pais de capulana terá filhosdeficientes quando se casar”- “diz-se frequent<strong>em</strong>ente que as <strong>pessoas</strong> amputadas perd<strong>em</strong> uma parte do seu discernimento vistouma parte do seu corpo estar já no além”.- “um soldado que não for para casa para ver a esposa durante uma licença receberá uma bala naperna quando regressar ao campo de batalha”.- “diz-se que quando uma pessoa albina morre, o seu corpo desaparece para s<strong>em</strong>pre da face daterra”.Constatamos que estas crenças e lendas têm igualmente uma função de regulação social: as mulheresdev<strong>em</strong> velar pelos filhos, as crianças não se dev<strong>em</strong> rir das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, os homens não dev<strong>em</strong>praticar a infidelidade, as relações de vizinhança dev<strong>em</strong> ser cordiais… A Deficiência é assim utilizada <strong>com</strong>ouma ameaça à qual nos expomos se nos desviarmos da norma e da moral. Mesmo quando têm maiscrédito entre as categorias sociais mais desfavorecidas, estas crenças populares estão manifestamenteenraizadas no imaginário colectivo e transcend<strong>em</strong> a pertença social.c) O surgimento da deficiência é vivido <strong>com</strong>o uma fatalidadeNa altura do nascimento de uma criança <strong>com</strong> deficiência numa família, acontece frequent<strong>em</strong>ente que amulher seja pura e simplesmente abandonada pelo marido. Na realidade, esta é geralmente tida <strong>com</strong>oresponsável pela deficiência do recém-nascido (<strong>em</strong> virtude de um <strong>com</strong>portamento considerado imprópriodurante a gravidez, de uma suposta infidelidade ou ainda de uma linhag<strong>em</strong> familiar reputada menos“pura” que a do marido). Quando a Deficiência aparece no decurso da vida, gera igualmente fenómenos derejeição e de exclusão na célula familiar. O marido que sofre uma amputação é por ex<strong>em</strong>plo consideradoum indivíduo inútil, potencialmente incapaz de dar respostas às das necessidades da família.<strong>As</strong> famílias têm frequent<strong>em</strong>ente o reflexode ir consultar um curandeiro, logo nosprimeiros dias, após o surgimento dadeficiência (depois do nascimento, deum acidente…), para tentar atenuá-laou fazê-la desaparecer por meio de umritual de “purificação” e de um r<strong>em</strong>édioespecialmente preparado (macumba). Emcaso de incesto de um pai <strong>com</strong> a filha, as<strong>pessoas</strong> vão ao curandeiro antes mesmodo nascimento da criança, a fim de afastarqualquer risco de má formação congénita. Otratamento da Deficiência representa assimuma fonte de rendimento particularmentepara os curandeiros (tal <strong>com</strong>o o tratamentodo HIV/SIDA), principalmente junto defamílias <strong>em</strong> estado de aflição que já nãotêm outra alternativa que não seja ir aosmédicos tradicionais, na ausência de umamedicina convencional acessível e eficaz.2829


Representação social da DeficiênciaCapítulo1II/ Aceitação da pessoa <strong>com</strong> deficiência na sociedadea) A pessoa <strong>com</strong> deficiência é frequent<strong>em</strong>ente isolada da famíliaFace à vergonha sentida, algumas famílias vão ao ponto de esconder<strong>em</strong> os filhos, irmãos ou parentes<strong>com</strong> deficiência, e a mantê-los fora do olhar da <strong>com</strong>unidade. “Há casos de famílias que não levam os seusparentes <strong>com</strong> deficiência à igreja a fim de preservar a sua imag<strong>em</strong> entre os fieis”Acontece igualmente que algumas delas opõ<strong>em</strong>-se, abertamente, ao casamento de um dos m<strong>em</strong>bros dafamília <strong>com</strong> deficiência, afim de não denegrir a reputação da família ou porque este não é considerado<strong>com</strong>o suficient<strong>em</strong>ente apto a garantir a segurança material do lar.Mas o mais normal, é sobretudo a falta de solução para um atendimento apropriado (creche, escola, centrode formação, posto de trabalho adaptado...) – principalmente quando a deficiência leva a uma situação degrande dependência – levando as famílias a manter<strong>em</strong> a pessoa <strong>em</strong> casa. S<strong>em</strong> espaço de socialização para<strong>com</strong> o mundo exterior, torna-se então difícil prever uma integração ou a realização de um projecto viradopara os outros.b) Um meio discriminadorParalelamente às dificuldades de integração social cujas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência pod<strong>em</strong> ser vítimas (terum <strong>em</strong>prego estável, estudar, fundar uma família, ter uma casa <strong>em</strong> condições), constata-se que elassão acima de tudo vítimas de preconceitos no seio das suas <strong>com</strong>unidades. Que seja na visinhança, naslojas, nos transportes, na escola, na <strong>em</strong>presa, no mercado (quando elas se faz<strong>em</strong> presentes) as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência inqueridas falam de atitudes de desdém, de desprezo, até mesmo de rejeição pelos seusconcidadãos. Para as crianças, estas atitudes manifestam-se pela exclusão nos jogos durante o recreio (nasescolas) ou mesmo na rua. Uma mãe inquerida disse que ela leva o seu filho <strong>com</strong> deficiência para brincarna rua <strong>com</strong> as outras crianças, os pais destes precipitam-se instando aos seus filhos para se afastar<strong>em</strong> delepara “não se tornar<strong>em</strong> também malucos”.E parece normal que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência recebam alcunhas particularmente humilhantes dadas por<strong>pessoas</strong> da rua ou da vizinhança, alcunhas referentes ao tipo de deficiência: cocho, chimbuinha, chigono,chikhurumba... Os motoristas de chapas cobram regularmente o preço de dois lugares a <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência que quer<strong>em</strong> subir <strong>com</strong> as suas cadeiras de roda, e muitas vezes elas são ignoradas a beira dasestradas para não perder<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po. Exist<strong>em</strong> <strong>pessoas</strong> que lhes cobram dinheiro na rua para um determinadofavor feito podendo ser ajudar a atravessar a rua, carregar um cesto, ler um insignio...d) Alguns factores pessoais reforçariam ou atenuariam a discriminação socialO tipo e o graú da deficiênciaAlgumas deficiências parec<strong>em</strong> ser mais discriminantes que outras. A deficiência intelectual e mental, ouainda o albinismo são consideradas <strong>com</strong>o as mais estigmatizadas na zona do nosso estudo. Paralelamente,a gravidade da deficiência é proporcional a exclusão do meio.A idadeA idade é também considerada um factor discriminante. <strong>As</strong> famílias tend<strong>em</strong> a ajudar, de maneira espontânea,uma criança <strong>com</strong> deficiência, a se lavar, a ir a casa de banho, movimentar-se dentro de casa... Quando estacriança torna-se adulta, ela é normalmente deixada de lado, carecendo assim de ajuda da família nassuas actividades quotidianas. <strong>As</strong> incapacidades agravam-se <strong>com</strong> a idade, quanto mais as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência tornam-se adultas, a dependência se agrava, e a situação torna-se ainda mais probl<strong>em</strong>ática.O género<strong>As</strong> mulheres <strong>com</strong> deficiência sofr<strong>em</strong> muitas vezes uma dupla discriminação pelo seu meio e pela sociedade<strong>em</strong> geral, quer dizer barreiras para ter acesso a educação, ao <strong>em</strong>prego ou ainda ao lazer. Elas estão também,e de maneira muito particular, espostas ao risco do abuso sexual. « Conheço homens que abusam asmulheres <strong>com</strong> deficiência para satisfazer<strong>em</strong> seus desejos sexuais » fim da citação. Os casos de violaçãosexual colhidos durante o nosso inquérito mostram a extr<strong>em</strong>a vulnerabilidade face ao risco de gravideznão desejada ou infecção por doenças sexualmente transmissíveis.A situação económica da pessoa e da famíliaUma pessoa <strong>com</strong> deficiência t<strong>em</strong> mais chances de ser aceite pela <strong>com</strong>unidade se a família tiver condiçõespara satisfazer as necessidades básicas e específicas desta que a ajudam a tornar-se autonoma <strong>em</strong> relaçãoao resto da <strong>com</strong>unidade. Por ex<strong>em</strong>plo, uma família rica pode contratar uma <strong>em</strong>pregada doméstica paracuidar do seu filho ou filha <strong>com</strong> deficiência enquanto os pais trabalham, ela pode adquirir material de<strong>com</strong>pensação que permite a mobilidade da criança no bairro. É muito mais fácil para a própria pessoa<strong>com</strong> deficiência considerar-se ou ser considerada normal pela <strong>com</strong>unidade se ela tiver um <strong>em</strong>prego oufrequentar uma escolac) A tentação da auto-exclusãoFace as múltiplas formas de discriminação que lhes são sujeitas fora de casa, algumas <strong>pessoas</strong> inqueridasoptam pela resignação e auto-exclusão. Por falta de auto-estima, ou mesmo pela dificuldade de aceitara sua deficiência, elas prefer<strong>em</strong> isolar-se do resto da <strong>com</strong>unidade a entrar <strong>em</strong> contacto <strong>com</strong> o mundoexterior. Vizinhos, estruturas sociais e <strong>com</strong>unitárias, serviços... A estigmatização provoca muitos probl<strong>em</strong>aspsíquicos nas <strong>pessoas</strong> excluídas ou que se traduz, normalmente, <strong>em</strong> <strong>com</strong>plexo de inferioridade, falta deconfiança nas suas capacidades, resignação. « Muitas vezes são as próprias <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência quese exclu<strong>em</strong> das suas <strong>com</strong>unidades. Conheço alguém que vive fechado no seu quarto porque t<strong>em</strong> vergonhade sair » disse um dos inqueridos. Muitos crêm que a auto-estima é o primeiro passo a dar antes de sevirar para os outros.3031


Representação social da DeficiênciaSituação sócio-económicaCapítulo2III/ Recursos <strong>com</strong>unitários <strong>com</strong>o vector de integração sociala) Mecanismos de ajuda mútua e de caridade no seio das <strong>com</strong>unidadesA visão essencialmente médica da deficiência e a percepção <strong>com</strong>unamente aceite segundo, a qual a pessoa<strong>com</strong> deficiência é um indivíduo passivo, vítima da fatalidade e s<strong>em</strong> capacidades proprias para construir asua autonomia abre espaço a acções essencialmente assistencialistas. Esta abordag<strong>em</strong> caritativa, muitasvezes sustentada pelos discursos de <strong>com</strong>paixão das numerosas entidades religiosas que se encontramnos bairros populares, leva ao reforço dos mecanismos de dependência da pessoa <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong>relação ao seu meio familiar ou <strong>com</strong>unitário. Muitas associações <strong>com</strong> as quais se entrou <strong>em</strong> contactodão assitência material directa (vestuário, medicamentos, alimentação) as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, s<strong>em</strong>qualquer estratégia específica de a<strong>com</strong>panhamento social.Apesar destes mecanismos de ajuda-mútua ser<strong>em</strong> prejudiciais para a promoção do desenvolvimentoindividual da pessoa baseada na valorização das suas capacidades próprias, elas são essenciais para oestabelecimento de uma solidariedade de proximidade e da coesão do laço social. Para alguns, é menosdifícil viver <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong> bairros periféricos que nas cidades porque, mesmo que os serviços básicossejam de acesso mais difícil, os reflexos de ajuda-mútua são geralmente mais expontâneos, sendo estesnas cidades travados pelo anonimato e o individualismo.b) A família aparece <strong>com</strong>o principal base de apoio para a integração das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciaEm todos os grupos inqueridos, a famíliaaparece de forma unánime <strong>com</strong>o principalvector de socilização e integraçãoda pessoa <strong>com</strong> deficiência dentro da<strong>com</strong>unidade. É ela que se responsabiliza<strong>em</strong> primeiro lugar pelo indivíduo, devetomar conta deste e a<strong>com</strong>panhá-lo noseu meio. A inclusão social, deve-se, <strong>em</strong>primeiro lugar, reflectir e realizar-se noseio do agregado familiar.Contudo, porque estas famíliasencontram-se sócio e económicamentedébis, o Estado, as autárquias locais,as associações, e mesmo as igrejassão convidadas a criar condiçõesnecessárias para permitir sustentaros seus m<strong>em</strong>bros <strong>com</strong> deficiência(serviços, mecanismos de protecçãosocial, material de <strong>com</strong>pensação...). «Do meu ponto de vista, é a família quedeve, antes de qualquer outra entidade,assumir a responsabilidade sobre apessoa <strong>com</strong> deficiência. Mas, também,as nossas capacidades são limitadas, por conseguinte precisamos da colaboração dos serviços de apoio.Nós dev<strong>em</strong>os contar <strong>com</strong> o apoio de outras instâncias <strong>com</strong>o o Estado ou a sociedade civil » r<strong>em</strong>atou umdos inqueridos.I/ Prevalência da deficiência e tipologia das incapacidades na zona de estudo 34II/ Género e Idade 37III/ Situação familiar 38IV/ Nível de educação 38V/ Situação profissional e actividades exercidas 42VI/ Participação associativa 443233


Situação sócio-económicaCapítulo2Com o intuito de evidenciar as dificuldades vividas pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência na zona escolhida parao nosso estudo, definimos o perfil sócio-económico <strong>em</strong> função do resto da população. Apresentamosneste estudo os principais dados recolhidos durante o inquérito quantitativo a<strong>com</strong>panhado de pequenasanálisesI/ Prevalência da deficiência e tipologia das incapacidades na zona de estudoa) Quantas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência viv<strong>em</strong> no territorio?Responder a esta pergunta é tanto quanto delicado assim que a definição da Deficiência varia de umainstituição para a outra e depende muito da metodologia utilizada. Com o intuito de estabelecer umabase de <strong>com</strong>paração <strong>com</strong> outros estudos já feitos, nós nos baseamos nas questões do Washington Group,que são normalmente utilizadas para determinar a prevalência da deficiência numa dada população. Apartir dos dados obtidos, nós apresentamos neste relatório vários indicadores do estudo da Deficiência nosbairros periféricos das cidades de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>:Segundo o gráfico abaixo, consideramos nas análises que se segu<strong>em</strong> 2 subgrupos distintos de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência:O grupo 1 é constituido por <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> incapacidades definidas pelo Washington group, s<strong>em</strong> limitaçãode actividade:• 2,3% [2,0–2,6%], ou seja entre 4000 et 5200 <strong>pessoas</strong> nos 9 bairros inqueridos.O grupo 2, constituido por <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> incapacidades definidas segundo os critérios do WG e umalimitação de actividades desde há pelo menos 6 meses, aos quais acrescentamos as <strong>pessoas</strong> do grupo2' tendo uma limitação de actividade, mais s<strong>em</strong> incapacidade segundo o WG:• 3,5% [3,1-3,9%], ou seja entre 6200 a 7800 <strong>pessoas</strong> na zona inquerida. Trata-se do grupo de <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência mais vulnerável.Percentag<strong>em</strong> das <strong>pessoas</strong> de 5 anos ou mais segundo os critérios do Washington Group 2 :• 5,0% [4,5-5,5%] da população apresenta pelo menos uma incapacidade, o que representa 9 200a 11 300 <strong>pessoas</strong> nos 9 bairros estudados (cf. circulo azul do gráfico).• A extrapolação deste número para a aglomeração no seu todo leva-nos a concluir que 79 500 a 97200 <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência viv<strong>em</strong> <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>.Percentag<strong>em</strong> das <strong>pessoas</strong> de 5 anos ou mais segundo as duas perguntas addicionais relativas alimitação das actividades:• 3,5% [3,1-3,9%] da população apresenta uma limitação de actividades desde pelo menos 6meses (cf. grupos 2 e 2' do gráfico).Percentag<strong>em</strong> de <strong>pessoas</strong> de 5 anos ou mais segundo os critérios da pesquisa nacional (SINTEF 2007):• 3,8% [3,4-4,2%] da população apresenta pelo menos 1 incapacidade de nível intermediário («muito ») ou mesmo 2 incapacidades de nível fraco (« um pouco ») 3 .Percentag<strong>em</strong> de <strong>pessoas</strong> de 5 anos ou mais <strong>com</strong> uma amputação e tendo declarado uma dificuldade:• 0,12% [0,06-0,22%] sofreu a amputaçao de um m<strong>em</strong>bro superior, ou seja <strong>em</strong> média 250 <strong>pessoas</strong>nos 9 bairros estudados.• 0,29% [0,19-0,44%] sofreu amputaçao de um m<strong>em</strong>bro inferior, ou seja <strong>em</strong> média 600 <strong>pessoas</strong> nos9 bairros inqueridos.Incapacidades (WG)5,0%Grupo 12,3%Amputaçãode um m<strong>em</strong>broinferior0,29%Grupo 2Incapacidades+limitações de actividades2,7%Limitações de actividadesha mais de 6 meses3,5%Grupo 2'Limitações de actividadess<strong>em</strong> incapacidade2Segundo a metodologia do WG, pelo menos uma resposta positiva as perguntas de filtrag<strong>em</strong> permitiu-nos considerara pessoa <strong>com</strong>o tendo uma incapacidade.3Standard SINTEF.3435


Situação sócio-económicaCapítulo2b) Quais são as incapacidades apresentadas pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência?A resposta a esta questão pede uma análise das respostas obtidas nas 6 questões do WG nas <strong>pessoas</strong> de5 anos ou mais:NehumadificuldadeUm poucodifícilMuito difícilIncapacidadetotalQ1 – Dificuldades visuais 97,4% 1,08% 1,46% 0,10% 100%TotalII/ Género e Idadea) A população de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência é geralmente mais velha...A média de idade das <strong>pessoas</strong> seleccionadas para o nosso estudo é de 36,8 anos [34,9-38,7] contra21,0 anos [20,7-21,4] no restante da população. A diferença da média de idade é por conseguinte muitoimportante entre estes dois grupos o que nos parece lógico na medida <strong>em</strong> que um grande número deincapacidades aparec<strong>em</strong> no decorrer da vida, paralelamente ao envelhecimento da pessoa. Quanto maisvelha se torna a pessoa, mais cnahce t<strong>em</strong> de se encontar <strong>em</strong> uma situação de impedimento.Q2 – Dificuldades auditivas 99,1% 0,47% 0,38% 0,06% 100%Pirâmide das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciaHomensMulheresQ3 – Dificuldades de mobilidade 97,8% 0,61% 1,09% 0,48% 100%50 a 5930 a 39Q4 – Dificuldades de m<strong>em</strong>ória ouconcentração98,9% 0,53% 0,57% 0,02% 100%70 a 7060 a 69Q5 – Dificuldades de tomarbanho ou vestir-se99,3% 0,29% 0,22% 0,17% 100%Faixas etária50 a 5940 a 49Q6 – Dificuldades de<strong>com</strong>preender ou fazer-se<strong>com</strong>preender99,4% 0,29% 0,25% 0,06% 100%30 a 3920 a 2910 a 19<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> filtradas durante o nosso inquérito apresentam na sua maioria dificuldades de visão (2,6%),mesmo assim elas não chegam a cegueira total (0,10%). Embora na sua maioria elas sejam r<strong>em</strong>ediáveis,estas dificuldades são causas de sérios probl<strong>em</strong>as na vida quotidiana, por ex<strong>em</strong>plo: a falta de serviços deoftalmologia ou/e de materiais de <strong>com</strong>pensação facilmente acessíveis.<strong>As</strong> dificuldades de mobilidade são consideradas as mais probl<strong>em</strong>áticas uma vez que 1,57% das inqueridasadmit<strong>em</strong> que lhes é muito difícil, quase impossível de se movimentar no seu meio por causa do seu estadofísico. Estas incapacidades são na maioria dos casos ligados a paralisia ou a amputação de um dosm<strong>em</strong>bros inferiores, s<strong>em</strong> se esquecer das consequências das doenças invalidantes.<strong>As</strong> dificuldades de m<strong>em</strong>ória/concentração e de <strong>com</strong>preensão ou de se fazer <strong>com</strong>preender normalmenteassociadas a deficiência intelectual afectam 2,1% e 0,6%, respectivamente, da população inquerida e sãoobservadas <strong>com</strong> maior frequência na categoria de <strong>pessoas</strong> idosas.<strong>As</strong> dificuldades auditivas abrag<strong>em</strong> 0,9% da população, uma média de 1900 <strong>pessoas</strong> da zona inquerida.Enfim, 0,7% das <strong>pessoas</strong> inqueridas afirmam ter dificuldades de tomar banho ou vestir-se sozinhas edev<strong>em</strong> por conseguinte contar <strong>com</strong> a ajuda duma outra pessoa para os seus cuidados de higiene quotidiana,o que nos dá uma ideia das probl<strong>em</strong>áticas relativas ao nível da dependência.0 a 9b) … e mais f<strong>em</strong>inina que o resto dapopulaçãoA população de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência dazona inquerida não só é mais velha <strong>com</strong>otambém é globalmente mais f<strong>em</strong>inina que oresto da população. A taxa de masculinidadeé de 0,87 para o total da população estudadacontra apenas 0,75 para a população das<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, e o número d<strong>em</strong>ulheres <strong>com</strong> deficiência é maior <strong>em</strong> todasas faixas etárias. Para 100 mulheres <strong>com</strong>deficiência, exist<strong>em</strong> apenas, <strong>em</strong> média, 75homens. <strong>As</strong> mulheres são mais afectadaspelas incapacidades, e as tornam mais frágeisporque elas ve<strong>em</strong> acrescentar-se as outrasdiscriminações ja existentes.3637


Situação sócio-económicaCapítulo2III/ Situação familiara) Estado civilO celibato diminui <strong>com</strong> a idade e é mais frequente nos homens que nas mulheres. O número dos solteirosé duas vezes maior nas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que no grupo de testag<strong>em</strong> (OR=1,8 [1,2-2,8]).É idêntico ao casamento, a união marital aumenta <strong>com</strong> a idade e é independente da questão do género. Emcontrapartida é função da Deficiência: nas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> a mesma idade, o número de <strong>pessoas</strong> vivendo <strong>em</strong>união marital é duas vezes inferior nas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que nas outras (OR=0,47 [0,35-0,64]).A viuvez aumenta também <strong>com</strong> a idade, independent<strong>em</strong>ente do género, mas para os da mesma idade é2 vezes mais frequente nas <strong>pessoas</strong> dos grupos <strong>com</strong> deficiência que nas outras.O divórcio ou separação aumenta <strong>com</strong> a idade e são 10 vezes mais frequentes, para os de mesma idade,nas mulheres que nos homens. O divórcio e a separação ocorr<strong>em</strong> independent<strong>em</strong>ente da Deficiência.b) A estrutura dos agregadosO número de crianças por agregado é <strong>em</strong> média 6,2 (IC = [6,0-6,4)]. É significativamente mais elevadonos agregados das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência mais sérias (grupo 2 > grupo 1 > população total), mas <strong>em</strong>pequena proporção (6,5 filhos no grupo 2 contra 5,9 no grupo de testag<strong>em</strong>).Nas <strong>pessoas</strong> de mais de 15 anos, o facto de ser chefe de família aumenta <strong>com</strong> a idade e é 2 vezes maisfrequente para os homens. Não se observa diferenças importantes relativas a Deficiência.IV/ Nível de educaçãoa) Nível de escolarização alcançadoO estudo <strong>com</strong>parativo das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e o resto da população apresenta a escolaridadesegundo os níveis máximos alcançados da seguinte maneira:Nivel escolar alcancadoNão-PCD PCD TotalNenhum 11.8% 21.9% 17.7%Primário Completo 57.1% 59.5% 58.5%Secúndario Geral 27.2% 16.9% 21.2%Superior 0.0% 0.4% 0.3%Técnico 2.1% 0.8% 1.4%Escola Especial 1.8% 0.2% 0.9%Outros 0.0% 0.2% 0.1%Total 100.0% 100.0% 100.0%Nas <strong>pessoas</strong> que tiveram acesso a educação, a percentag<strong>em</strong> desta escolarização é relativamente idénticaentre as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência ao nível primário (59% contra 57,1%).Mas verifica-se depois um verdadeiro desfazaramento na frenquência da escola entre o ensino primárioe secundário pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Se quase 78% das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência afirmam terfrequentado o ensino primário, apenas 16,9% continuam o ensino secundário contra 27,2% para oresto da população.Observa-se ainda que é particularmente para além do ensino secundário nos bairros periféricos,uma vez que apenas 0,4% e 0,0%, respectivamente, das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e do resto da populaçãofrequentaram o ensino superior (Bacharelato, Licênciatura, Mestrado, Doutoramento).O nível escolar é progressivamente melhor para as gerações mais jovens, mesmo, para as <strong>pessoas</strong> damesma idade, as mulheres e as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência continuam sensivelmente desfavorecidas.b) Saber ler e escreverPara além das diferenças observadas sobre o nível de escolarização atingido, nota-se grandes disparidadesentre <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e o resto da população no que diz respeito as aptidões declaradas de leiturae escrita.Saber ler e escrever (15 anos ou mais)Homens Mulheres Total pNão PCD 94,4% 71,3% 81,6%


Situação sócio-económicaCapítulo2<strong>As</strong> representações gráficas abaixo mostram que a questão da alfabetização está estreitamente ligada afactores <strong>com</strong>o o género e a idade.Nas <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência, observa-se uma diminuição progressiva de discriminação ligada ao género,graças ao aumento espectacular da alfabetização nas mulheres mais jovens (taxa de alfabetização de50% nos 50-59 anos contra mais de 90% nas mulheres de 10-19 anos, <strong>em</strong> média entre 2 e 5% a mais acada ano sab<strong>em</strong> ler e escrever). É interessante sublinhar o aumento rapido do nível de escolarização nas<strong>pessoas</strong> mais jovens, consequência de políticas educativas voluntaristas praticadas <strong>em</strong> Moçambiquedesde há 20 anos.100%Taxa de alfabetizações das <strong>pessoas</strong> "s<strong>em</strong> deficiência"<strong>em</strong> função da idade e sexosignificaria que o ensino dispensado é pouco eficaz para elas por razões de necessidades educativasespecíficas que nao foram tomadas <strong>em</strong> consideração pelo sist<strong>em</strong>a escolar ou mesmo porque elas sa<strong>em</strong> aomeio do primeiro ciclo s<strong>em</strong> contudo dominar<strong>em</strong> os saberes básicos.c) Perfil linguísticoTendo <strong>em</strong> conta a mesma faixa de idade e o mesmo género, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência t<strong>em</strong> menos domínioda língua portuguesa que as outras (OR=0,54 [0,35-0,84]). Esta diferença é provavelmente devido ao factoda escola ser o principal vector de aprendizag<strong>em</strong> do português (uma vez que o número de locutores tendo oportuguês <strong>com</strong>o primeira língua é pequeno, sobretudo nos bairros de expansão) e nota-se por conseguinteuma correlação muito estreita entre o nível de escolarizazão e o domínio da língua portuguesa. Uma vezque as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência tém um nível de escolarização mais baixo que o resto da população não ésurpreendente constatar que elas preferiram expressar-se <strong>em</strong> outras línguas que o português, constituindoassim a primeira barreira ao acesso a informação.taxa dealfabetização80%60%40%20%Falar português Sim Não TotalNão-PCD 88.2% 11.8% 100.0%PCD 77.1% 22.9% 100.0%Total 81.7% 18.3% 100.0%Nos grupos de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, a alfabetização continua, sensivelmente, menos alta que oresto da população, quer nos homens <strong>com</strong>o nas mulheres. <strong>As</strong> diferenças entre homens e mulheressão ínfimas quando abaixo dos 40 anos, mas verifica-se pouca progressão de uma geração a outra, ocontrário do total da população. Tudo leva-nos a crer que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência não beneficiamtanto <strong>com</strong>o as outras dos progressos recentes <strong>em</strong> Moçambique na área da educação:taxa dealfabetização0%100%80%60%40%20%0%10-19 20-29 30-39 40-49 50-59HomensMulheresfaixa etáriasTaxa de alfabetizações das <strong>pessoas</strong> "<strong>com</strong> deficiência"<strong>em</strong> função da idade e sexo10-19 20-29 30-39 40-49 50-59faixa etáriasHomensMulheresMesmo assim uma porporção significativa de <strong>pessoas</strong> inqueridas afirma falar português (81,7%), ochangana continua a língua principal falada <strong>em</strong> casa: 55% afirma expressar-se <strong>em</strong> changana <strong>em</strong> casa 4 . Apro<strong>em</strong>inência do changana sobre o português e as outras línguas regionais nos bairros periféricos explicasepela sociologia da população, principalmente constituida de novos habitantes vindos de zonas rurais,onde a língua portuguesa é menos presente que na capital e o nível de escolarização globalmente menoselevado.Idade Português Changana Bitonga Chope Outra Total5-19 48% 43% 1% 3% 5% 100%20-39 39% 53% 2% 3% 3% 100%40-59 27% 62% 3% 3% 5% 100%60-79 15% 65% 5% 8% 7% 100%80-99 0% 100% 0% 0% 0% 100%Total 35% 55% 3% 4% 4% 100%Contudo o changana tende a ser progressivamente substituido pelo português nos grupos mais jovens,provavelmente devido ao efeito do aumento geral da taxa de escolarização e de alfabetização desde hámais ou menos 20 anos (<strong>em</strong> média 10 pontos a mais de uma geração sobre a outra). <strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência sendo <strong>em</strong> média mais velhas e menos escolarizadas que o resto da população, elas encontramserelativamente afastadas desta dinámica e continuam a expressar-se, <strong>em</strong> geral, muito mais <strong>em</strong> changanaque o resto da população.S<strong>em</strong> <strong>com</strong>pararmos estes dados aos precedentes relativos a escolarização primária, muito próximos entreas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e o resto da população, conclui-se que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e sobretudoas mulheres sai<strong>em</strong>, <strong>em</strong> média, menos alfabetizadas do ciclo primário que o resto da população. O que404Em toda a Cidade de <strong>Maputo</strong> acontece o inverso: 55,2% dos habitantes falam português <strong>em</strong> casa, contra 31,4% parao changana (dados INE, recentes 2007).41


Situação sócio-económicaCapítulo2V/ Situação profissional e actividades exercidasa) Actividades principais exercidasO quadro abaixo apresenta as actividades principais exercidas pelas <strong>pessoas</strong> inqueridas. Mostra-nos asituação profissional das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong> relação ao resto da população. Considerando queé mais vantajoso e protector de ter um <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unerado que trabalhar por conta própria (muitasvezes informal) ou mesmo que um trabalho não r<strong>em</strong>unerado, permiti-nos <strong>com</strong>preender, mesmo assim d<strong>em</strong>aneira indirecta, a situação económica das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Actividade principal (15 anos ou mais) Não PCD PCDEmprego r<strong>em</strong>unerado 20% 10%Conta própria, independente 18% 13%Trabalho não r<strong>em</strong>unerado 2% 2%Estudante 14% 9%Domestico(a) 36% 37%Reformado 1% 6%Des<strong>em</strong>pregado (por razões de saúde) 1% 17%Des<strong>em</strong>pregado (outra razão) 4% 4%Outro 3% 3%Total 100% 100%O estatuto de doméstico não é directamente determinado pela deficiência, mais pelo género. <strong>As</strong> mulheresocupam-se mais deste tipo de actividade (48%) que os homens (9,8%): <strong>com</strong> idade idéntica, 10 vezes maismulheres que homens (OR=9,9 [6,5-14,9]).Em geral, o estatuto de reformado toca apenas um número ínfimo do total da população (3,3% [2,1-4,7%]). Contudo, <strong>com</strong> idade idéntica e legal, o número de homens é 15 vezes superior ao das mulheres(OR= 14,7 [3,9-55,2]). <strong>As</strong> mulheres tendo ultrapassado a idade legal para o estatuto de reformado (55anos) e não tendo pensão para fazer valer continuam, provalvelmente, a registar<strong>em</strong>-se <strong>com</strong>o domésticasou trabalhador por conta própria (este estatuto <strong>com</strong>preende muitas vezes activos <strong>em</strong> des<strong>em</strong>pregodisfarçado) fazendo <strong>com</strong> que a diferença relativa ao estatuto de reformado entre homens e mulheres sejaainda maior. E, dentre as raras <strong>pessoas</strong> que receb<strong>em</strong> a pensão de reforma, encontram-se as que tendoexercido um <strong>em</strong>prego formal r<strong>em</strong>unerado (mais homens que mulheres <strong>com</strong>o visto atrás) mas tambémantigos <strong>com</strong>batentes da luta armada de libertação e da guerra civill (aqui também sobretudo homens).Nos grupos de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência não aparece, no nosso estudo, diferenças notáveis.Reforma <strong>em</strong> idade legalHomens>60 anosMulheres>55 anosNão-reformados 60,5% 95,7%Reformados 39,5% 3,9%Constata-se que o <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unerado é duas vezes menos frequente para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência(10% de <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unerado) que para as <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência (20%). Facto directamente ligado asquestões do género uma vez que é 6 vezes mais frequente para os homens (27%) que para as mulheres(4,4%), independent<strong>em</strong>ente da idade e do tipo de deficiência apresentada. O quadro abaixo mostra quequando os dois factores aparec<strong>em</strong> juntos (deficiência + sexo f<strong>em</strong>inino) as mulheres <strong>com</strong> deficiência sofr<strong>em</strong>uma desvantag<strong>em</strong> muito grande, por efeito aditivo:Emprego r<strong>em</strong>unerado (15 anos ou mais)HomensMulheresNão-PCD 37% 6%PCD 19% 3%O estatuto de trabalhador independente não depende da idade n<strong>em</strong> do género da pessoa. Aparec<strong>em</strong>enos influenciado pelo tipo de deficiência que o <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unerado, contudo existe um « défice »deste estatuto nos dois grupos de deficiência. A diferença é significativa para o grupo 2 (<strong>com</strong> idade egénero idénticos):Trabalho independente (15 anos ou mais)Não-PCD 18%Grupo 1 17%Grupo 2 10%4243


Situação sócio-económicaCondições de acessoaos serviços sanitários e sociaisCapítulo3b) Taxa de des<strong>em</strong>prego mais alta <strong>em</strong> relação ao resto da populaçãoObt<strong>em</strong>os melhor a taxa de des<strong>em</strong>prego real estimando apenas os supostos activos (assalariados,independentes, trabalhadores voluntários e estudantes, no sentido BIT) e os inactivos declarados (todascausas inclusas):Activos <strong>com</strong> <strong>em</strong>prego e des<strong>em</strong>pregados(15 anos ou mais)Não-PCD PCD TotalEmprego r<strong>em</strong>unerado 34% 18% 25%Conta própria, independente 30% 24% 27%Trabalho não r<strong>em</strong>unerado 4% 4% 4%Estudante 23% 16% 19%Des<strong>em</strong>pregados (por todas razões) 9% 39% 26%Total 100% 100% 100%Como se pode ver, a taxa bruta de des<strong>em</strong>prego calculada mostra uma grande desvantag<strong>em</strong> para as<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (39% contra 9%) e a probalidade de se encontrar s<strong>em</strong> <strong>em</strong>prego aumenta <strong>com</strong> aidade. Esta grande disparidade t<strong>em</strong> 3 causas principais:Com género e idade indénticos, o número das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência des<strong>em</strong>pregadas é 3 vezes maiselevado que no resto da população (OR=3,2 [2,2-4,6]) por causa de condições de saúde.Com nível global de qualificação académica ou profissional geral mais baixo que a média, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência tém mais dificuldades que as outras a inserir-se correctamente no mercado do trabalho;Num contexto onde a oferta de trabalho é rara, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência encontram-se relegadas parao último plano quando se fala de oportunidades de trabaho porque elas são vítimas de discriminaçõespela parte dos <strong>em</strong>pregadores.VI/ Participação associativaSurpreendent<strong>em</strong>ente apenas 6% das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência afirmou conhecer uma associação de<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (APCD). Número idêntico ao das <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência, o que significa queas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência não conhec<strong>em</strong> melhor a existência das APCD que o resto da população. Oconhecimento de uma APCD depende muito do género uma vez que o número dos homens que conheceuma APCD é 2 vezes superior o das mulheres (p=0,02).O nosso estudo revela-nos que apenas 2,5% das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência são m<strong>em</strong>bros de uma APCD,o que põe <strong>em</strong> causa a capacidade de mobilização das APCD do seu público alvo... A idade e o géneronão influ<strong>em</strong> na adesão nas APCD, o número dos homens e mulheres <strong>em</strong> todas as faixas de idade sendoidênticas.Em associações outras que as APCD (sindicatos, clubes desportivos, associações <strong>com</strong>unitárias...)encontram-se mais <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência do grupo 1 <strong>com</strong>o m<strong>em</strong>bros que o resto da população, e onúmero é mais elevado para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência do grupo 2 (2,5% contra 3,9% e 8,1%). A adesão émais frequente para os homens que para as mulheres, e estes são entre 2,1 e 2,4 vezes mais ligadas a umaassociação.Embora de maneira moderada, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> número maior, o que nossurpreende, inscritas <strong>em</strong> associações que as outras. O público para as associações é muito grande,sobretudo para as associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que continuam ainda desconhecidas nas<strong>com</strong>unidades.44I/ Acesso aos serviços de saúde 46II/ Acesso aos serviços de educação 49III/ Acesso aos serviços de formação profissional e <strong>em</strong>prego 41IV/ Acesso aos serviços e programas sociais 54V. Acesso a outros tipos de serviços 5745


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3Afim de fazer uma avaliação quantitativa das condiçõesde acesso para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência aos serviçossanitários e sociais existentes tiv<strong>em</strong>os que analisar cadauma das 5 principais categorias de serviços (saúde,educação, formação profissional e <strong>em</strong>prego, serviços eprogramas sociais, outros serviços):o nível de conhecimento, de necessidade e deutilização dos serviços: A diferença entre o nível deconhecimento e o nível de necessidade indica-nos onível de dificuldades na obtenção de informação sobreos serviços disponíveis; A diferença entre o nível deutilização e o nível de necessidade indica-nos o nívelde cobertura real das necessidades exprimidas.os obstaculos citados sobre o acesso aos serviços:que sejam de natureza económica, relativos ao meioambiente, a mobilidaade ou mesmo ao acesso físico dosedifícios, estes indicadores permit<strong>em</strong>-nos <strong>com</strong>preendera diferença constatada entre o nível de necessidade e onível de utilização do tipo de serviço.Neste estudo os resultados são analizados de maneira diferenciada entre <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e<strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência, afim de medir a vulnerabilidade das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência <strong>em</strong> relação ao restoda <strong>com</strong>unidade, mas também segundo uma leitura mulher/hom<strong>em</strong>, afim de pôr <strong>em</strong> evidência algumaseventuais diferenças relativas ao género.I/ Acesso aos serviços de saúdea) Nível exprimido de conhecimento, de necessidade e de utilização de serviçosEm função da Deficiência:Tipo de serviçoCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOPCD Não-PCD PCD Não-PCD PCD Não-PCDServiços básicos de saúde 98% 88% 89%Médico tradicional 45% 12% 6%Serviço de testag<strong>em</strong> e tratamentodo HIVServiço de apoio psicológico oupsiquiátrico41% 27% 11%30% 15% 3% 1%Serviço de reabilitação física 20% 22% 14% 5% 1%Fornecedor de material de<strong>com</strong>pensação11% 7% 43% 15% 7% 1%Em função do Género:Tipo de serviçoCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOHomens Mulheres Homens Mulheres Mulheres HomensServiços básicos de saúde 98% 88% 89%Médico tradicional 45% 10% 16% 6%Serviço de testag<strong>em</strong> etratamento do HIVServiço de apoio psicológico oupsiquiátrico41% 27% 11%27% 33% 15% 2%Serviço de reabilitação física 20% 16% 22% 1% 5%Fornecedor de material de<strong>com</strong>pensação9% 29% 35% 4%A maioria das <strong>pessoas</strong> (próximo dos 90% do total) utiliza os cuidados básicos de saúde, independent<strong>em</strong>entedo tipo de deficiência. Os postos de saúde, centros de saúde, clínicas, hospitais, constitu<strong>em</strong>, muitas vezes,os primeiros recursos quando na família ocorr<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as de saúde.A utilização e as necessidades exprimidas sobre outros tipos de estrutura são menos frequentes. Apenas6% das <strong>pessoas</strong> inqueridas afirmam ter recorrido aos médicos tradicionais ainda que o número dos queexprim<strong>em</strong> esta necessidade é o dobro. Este número parece-nos muito baixo quando sab<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong>126 curandeiros referenciados pela AMETRAMO no único distrito n°5, contra 1 a 2 médicos convencionais<strong>em</strong> média por unidade de saúde pública.11% das <strong>pessoas</strong> inqueridas afirmam frequentar os serviços de testag<strong>em</strong> e de tratamento do HIVenquanto que 27% afirmam precisar<strong>em</strong> destes serviços. A d<strong>em</strong>anda aparece por conseguinte grand<strong>em</strong>enteinsatisfeita para este tipo de serviço. Mais preocupante é o facto de que apenas 41% das <strong>pessoas</strong> inqueridasafirmou conhecer este tipo de serviço na zona. <strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> que sofr<strong>em</strong> de uma limitação de actividadedesde há 6 meses utilizam mais estes serviços que as outras (10% e 14%) o que nos faz pensar quealgumas incapacidades estão relacionadas <strong>com</strong> a doença.Poucas <strong>pessoas</strong> utilizam serviços de apoio psicológico, e nota-se uma diferença entre (as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência cujas actividades são limitadas (4% os utilizam) e os outros (1%). Contudo, dos que exprim<strong>em</strong>a necessidade (13%), metade das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e ¼ das outras não conhec<strong>em</strong> estruturas destetipo, o que mostra claramente as dificuldades de acesso a informação. O número das mulheres nos doisgrupos, que não conhec<strong>em</strong> este tipo de estrutura é duas vezes maior que o dos homens.Naturalmente, os centros de reabilitação física e os provedores de material de <strong>com</strong>pensação são maisutilizados pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (7%) que as outras (1%). Dos que não utilizam os serviços dereabilitação física, ¼ das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> limitação de actividade exprim<strong>em</strong> a necessidade, dos quais 60% nãoos conhec<strong>em</strong> independent<strong>em</strong>ente da deficiência, o que se explica pelo facto de que não exist<strong>em</strong> na zonade estudo. Dos que não recorr<strong>em</strong> aos fornecedores de material, 40% das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e 15% dasoutras exprim<strong>em</strong> a necessidade, cuja maioria (85%) não t<strong>em</strong> o conhecimento. A necessidade de acesso aosfornecedores de material é por conseguinte grand<strong>em</strong>ente insatisfeita para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.4647


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3b) Os obstáculos ao acesso aos serviços de saúdeEm análise univariada, todas as barreiras relativas ao meio abordadas são ressentidas <strong>com</strong> mais força(p


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3O ensino superior, técnico, as bolsas e <strong>em</strong>prestimos abrang<strong>em</strong> muito poucas <strong>pessoas</strong> (1% <strong>em</strong> média,s<strong>em</strong> distinção de deficiência).A alfabetização de adultos abrange menos <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que as outras, e deveria ser o inversosegundo a lógica (uma vez que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência são globalmente menos alfabetizadas, <strong>com</strong>ovimos nos capítulos precedentes). Logicamente, as escolas especiais só são frequentadas por <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência.b) Os obstáculos ao acesso aos serviços de educaçãoEm análise univariada, todos os obstáculos são ressentidos <strong>com</strong> mais força pelas <strong>pessoas</strong> de gruposde deficiência que pelas outras. Como o que acontece na área da saúde onde as barreiras económicaspenalizam mais as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que pretend<strong>em</strong> aceder a educação (entre 65% e 74%), seguidada falta do apoio familiar (40%), falta de pedagogia adaptada (40%), falta de informação (entre 28 e 36%)e dificuldades de mobilidade dentro dos estabelecimentos de ensino (18 a 23%). <strong>As</strong> barreiras relativas aatitude dos professores dos alunos abrang<strong>em</strong> 13% das respostas.Obstáculos para:Pess. s<strong>em</strong>deficiênciaPess. <strong>com</strong>deficiênciaSuportar os custos da sua carreira estudantil 58,9% 73,1% 0,001Encontrar material didáctico adaptado as suas necessidades 43,6% 64,7%


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3Em função do Género:Tipo de serviçosCentro de formação profissional doINEFPProgramas de capacitaçãovocacionalServiço de a<strong>com</strong>panhamento aosdes<strong>em</strong>pregadosPoucas <strong>pessoas</strong> (3%) s<strong>em</strong> distinção de deficiência, utilizam serviços dos centros de formação profissionaldo INEFP. Contudo, dos que não os utilizam, 29% exprim<strong>em</strong> a necessidade, principalmente os homensjovens (p=0,01). E de todas as <strong>pessoas</strong> que exprim<strong>em</strong> a necessidade, 62%, s<strong>em</strong> distinção de deficiência,afirmam não ter<strong>em</strong> conhecimento.2,5% de <strong>pessoas</strong> beneficiam dos programas de capacitação vocacional, e 22% dos que não beneficiamexprim<strong>em</strong> a necessidade. Destes, ¾ não tém conhecimento.Um número pequeno de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (2,2%) utilizam um serviço de a<strong>com</strong>panhamento ao<strong>em</strong>prego, talvez porque não existe realmente na zona, para além de algumas iniciativas isoladas do sectorassociativo.Não apresentamos diferenças sobre o acesso aomicro-crédito (7% do total) entre as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência e as outras, entre os homens e asmulheres. Entre as <strong>pessoas</strong> que não recorr<strong>em</strong> aomicrocrédito, 37% exprim<strong>em</strong> a necessidade, dosquais 43% não conhec<strong>em</strong> serviços ou fornecedoresde micro-créditos. Os homens sab<strong>em</strong> mais dosmicro-créditos e mostram mais necessidades queas mulheres.Pode-se ver por conseguinte que <strong>em</strong> todos oscasos que os homens t<strong>em</strong> mais informação dosserviços de formação profissional e de apoio ao<strong>em</strong>prego que as mulheres e as necessidades sãoexprimidas mais pelos homens que pelas mulheres.Em contrapartida, a deficiência aparece <strong>com</strong>o umfactor menos descriminante <strong>em</strong> relação a estesserviços, procurados por uma grande parte dapopulação local. O acesso ao mercado de trabalhoaparece <strong>com</strong>o uma preocupação de todos, face afalta de alternativas profissionais para além dosector informal.CONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOMulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens16% 26% 27% 35% 3%7% 15% 20% 26% 3%9% 17% 26% 2%Serviço de micro-crédito 30% 39% 37% 44% 7%52b) Os obstáculos de acesso aos serviços de formação profissional e <strong>em</strong>pregoEm análise univariada, apresentamos poucas diferenças relativas ao acesso a este tipo de serviço entreas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiências e as <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência. Todas percentagens relativas a percepção dosobstáculos converg<strong>em</strong> para o mesmo sentido: as dificuldades são s<strong>em</strong>pre sensivelmente maiores para as<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que para as outras. Em outros termos, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e as outras sãorelativamente iguais face as dificuldades.Na área da formação profissional, são sobretudo os custos que desencorajam as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência(78%), seguido da desponilidade do material didáctico (75%), a adequação da pedagogia de formação asnecessidades especificas (62%) e por último a informação sobre as formações existentes (59%). Do ladodo <strong>em</strong>prego, as principais barreiras citadas pelos inqueridos diz<strong>em</strong> respeito a sua <strong>em</strong>pregabilidade nomercado de trabalho (86%), a<strong>com</strong>panhamento na criação de actividades económicas (81 et 85%), o acessoa informação sobre as vagas de <strong>em</strong>prego (77%), a ergonomia do posto de trabalho (62%), a guarda dascrianças durante o serviço (44%) e por último as bareiras arquitectónicas no local de trabalho (31%).Obstáculos para:Parece difícil para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência – <strong>com</strong>o para as s<strong>em</strong> deficiência - de ter acesso aos centrosde formação profissional do INEPF. Esta dificuldade explica-se, sobretudo, pelo facto de não haver centrosde formação deste tipo no território <strong>em</strong> estudo. Uma vez que é necessário deslocar-se até a Machava(<strong>Matola</strong>) ou ainda até ao Bairro central ou FPLM (<strong>Maputo</strong>), o transporte constitui uma grande barreirapara o <strong>com</strong>eço de uma formação. Para além disso, as formações propostas pelo INEFP são relativamentecaras para as <strong>pessoas</strong> que não beneficiam de isenção de pagamentos, uma vez que um curso de 6 mesesde mecânica ou electricidade custa 5.000,00 MT por ex<strong>em</strong>plo.Afim de <strong>com</strong>pensar o défice de <strong>em</strong>pregabilidade, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência recorr<strong>em</strong>, as vezes, aosprogramas de capacitação vocacional propostos pelas associações locais ou igrejas, mas não são tãoadaptadas as necessidades reais do mercado de trabalho e tém dificuldades de oferecer alternativasconcretas de <strong>em</strong>prego. Muitas <strong>pessoas</strong> inqueridas afirmam multiplicar formações curtas <strong>em</strong> várias árease encontram-se, muitas vezes, confinadas a cursos sobre profissões manuais (corte-costura,croché ebordado, carpintaria...) que oferec<strong>em</strong> saídas limitadas ou pouco r<strong>em</strong>uneradas.53Pess. s<strong>em</strong>deficiênciaPess. <strong>com</strong>deficiênciaSer admitido ao <strong>em</strong>prego que corresponde as suas <strong>com</strong>petências 84,5% 86,1% 0,6Obter um micro-crédito para desenvolver uma actividade econ… 81,4% 85,5% 0,3Receber um a<strong>com</strong>panhamento técnico para a criação duma… 71,6% 80,9% 0,03Custear uma formação profissional / vocacional 80,8% 78,0% 0,5Ter conhecimento das vagas de <strong>em</strong>prego existentes na sua área 72,3% 77,2% 0,2Encontrar material didáctico adaptado as suas necessidades 68,8% 74,7% 0,2Receber um ensino adaptado as suas necessidades (pedagogia…) 53,9% 61,8% 0,2Ter condições de trabalho aceitáveis 56,2% 61,6% 0,3Ter informação sobre as formações profissionais / vocacion… 48,8% 59,2% 0,05Ser b<strong>em</strong> atendido pelos formadores / pessoal dos centros… 46,3% 49,6% 0,6Ter a guarda dos filhos durante o t<strong>em</strong>po laboral 36,8% 43,8% 0,2Entrar e movimentar-se no local de trabalho 25,6% 31,6% 0,2Sair da casa para o local de trabalho 23,1% 29,8% 0,2Ser aceite pelos colegas de trabalho 15,5% 21,7% 0,2p


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3<strong>As</strong> <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência tém muitas dificuldades <strong>em</strong> integrar o sector formal (supra-citado, apenas18% delas afirmam ocupar um <strong>em</strong>prego r<strong>em</strong>unerado) por causa de uma bagag<strong>em</strong> académica insuficientepara os requisitos exigidos, mas sobretudo, por causa da discriminação praticada pelos <strong>em</strong>pregadoresrelativamente aos candidatos. <strong>As</strong> vezes, é simplesmente a <strong>em</strong>presa que não é acessível ou o postode trabalho que não está adaptado a deficiência da pessoa, afastando-a por conseguinte a algumasoportunidades.<strong>As</strong> mulheres são particularmente discriminadas no acesso ao <strong>em</strong>prego formal – supra citado, elas são6 vezes menos assalariadas que os homens – e elas dirig<strong>em</strong>-se, quando pod<strong>em</strong>, maoioritariamente aosector informal. Muitas delas simplesmente não consegu<strong>em</strong> encontrar soluções relativas a guarda dascrianças durante o seu t<strong>em</strong>po de trabalho. Este facto é ainda mais probl<strong>em</strong>ático quando se trata de umacriança <strong>com</strong> deficiência, uma vez que elas são obrigadas a ficar <strong>em</strong> casa <strong>com</strong> a criança por falta de soluçãoadaptada nas escolinhas da zona.Face a impossibilidade de obter um <strong>em</strong>prego formal, muitas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência procuram virar-se aoauto-<strong>em</strong>prego, muitas vezes na esfera informal (pequenos negócios de rua, artisanato...). A dificuldaderelativa ao acesso aos instrumentos de crédito e aos dispositivos de a<strong>com</strong>panhamento na criação de<strong>em</strong>presas limita <strong>em</strong> grande parte a aplicação de projectos de geração de rendimento. Geralmente <strong>com</strong> umnível de formação mais fraca, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência parec<strong>em</strong> ter mais necessidade que as outras deum a<strong>com</strong>panhamento específico na criação deste tipo de actividades.IV/ Acesso aos serviços e programas sociaisa) Nível de a<strong>com</strong>panhamento exprimido, de necessidade e de utilização de serviçosEm função da Deficiência:Tipo de serviçosCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOPCD Não-PCD PCD Não-PCD PCD Não-PCDEscolinha 57% 71% 20% 3% 6%Centro de Acolhimento da Criança 35% 45% 20% 26% 1%Centro de Apoio a Velhice 33% 29% 1%Centro de trânsito 15% 12% 1%Centro <strong>com</strong>unitário Aberto 10% 13% 1%Programa de Subsidio de Alimentos(PSA)Programa de Apoio social Directo(PASD)Programa Beneficio social pelotrabalho (PBST)Programa de Geração de Rendimentos(PGR)Programa de DesenvolvimentoComunitário (PDC)21% 70% 60% 3%11% 50% 38% 1%10% 37% 2%10% 39% 2%11% 35% 2%54Em função do Género:Tipo de serviçosCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOPCD Não-PCD PCD Não-PCD PCD Não-PCDEscolinha 63% 71% 20% 5%Centro de Acolhimento da Criança 35% 44% 22% 1%Centro de Apoio a Velhice 33% 29% 1%Centro de trânsito 15% 12% 1%Centro <strong>com</strong>unitário Aberto 7% 13% 1%Programa de Subsídio de Alimentos(PSA)Programa de Apoio social Directo(PASD)Programa Benefício social pelotrabalho (PBST)Programa de Geração de Rendimentos(PGR)Programa de DesenvolvimentoComunitário (PDC)21% 65% 3%8% 14% 45% 1%7% 14% 37% 2%7% 15% 36% 44% 2%8% 16% 32% 41% 2%Um pequeno número de <strong>pessoas</strong> (4,5%) utilizam as escolinhas, as <strong>pessoas</strong> s<strong>em</strong> deficiência mais queas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Entre os que não vão, apenas 20% exprim<strong>em</strong> a necessidade, das quais 65%conhec<strong>em</strong> pelo menos uma. É de sublinhar que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência conhec<strong>em</strong> menos estes serviçosque as outras (57 contra 71%).Muito poucas <strong>pessoas</strong> (1%) utilizam Centros de Acolhimento da Criança, Centros de Apoio a Velhice,Centros de trânsito e Centros <strong>com</strong>unitários Abertos. Pela simple razão que não exist<strong>em</strong> este tipo deunidade social na zona <strong>em</strong> estudo. Contudo existe uma grande d<strong>em</strong>anda destes serviços pelo público maisvulnerável, sobretudo pelas <strong>pessoas</strong> idosas e crianças <strong>em</strong> situação precária (29 e 23%, respectivamente).Não encontramos aqui diferenças relativas ao género.Só uma ínfima parte das <strong>pessoas</strong> inqueridas parece beneficiar dos vários programas do INAS (entre 1 e 3%),ficando por satisfazer uma grande parte da população (entre 35 e 60%). O programa de apoio social directo(PASD) e, sobretudo, a ajuda alimentar (PSA) são os mais solicitados pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (58 a70%) que pelas outras, o que ilustra as probl<strong>em</strong>áticas de subsistência que a maioria delas enfrentam.Para além das diferenças muito gritantes entre o nível de necessidade exprimido e o nível de utilizaçãodeclarado é surpreendente constatar a falta de conhecimento dos habitantes da zona sobre os serviçosexistentes do INAS. Se o PSA é conhecido por 20% das <strong>pessoas</strong> inqueridas, s<strong>em</strong> distinção de deficiência, osquatro outros programas sociais do INAS são apenas conhecidos por 1/10 das <strong>pessoas</strong>, uma taxa que érelativamente baixa para programas de dimensão nacional, e que alguns já exist<strong>em</strong> a 10 anos. Para alémdisso, nota-se uma diferença do conhecimento muito salinte entre os homens e as mulheres para cada umdestes programas, <strong>em</strong> detrimento das mulheres.55


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisCapítulo3b) Os obstáculos de acesso aos serviços e programas sociaisEm análise univariada, todos os ítens são vistos <strong>com</strong>o obstáculos ligeiramente mais agravantes para as<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência que para as outras. Dificuldades de elegibilidade (81%), a obter a informaçãosobre os programas existentes (72%), e a ser b<strong>em</strong> atendido pelos trabalhadores sociais são os principaisobstáculos citados, seguidos das probl<strong>em</strong>áticas de mobilidade (45%).Obstáculos para:Pess. s<strong>em</strong>deficiênciaPess. <strong>com</strong>deficiênciaSer selecionado para beneficiar dos programas sociais 73,7% 81,0% 0,06Ter informação sobre os programas de acção social existentes 63,8% 72,0% 0,03Ser b<strong>em</strong> atendido pelos profissionnais dos programas sociais 45,3% 59,9% 0,01Sair de casa para o programa / serviço social 31,9% 44,6% 0,02pV. Acesso a outros tipos de serviços: desporto, cultura, lazer, transportes, accessibilidadea) Nível de conhecimento exprimido, de necessidade e de utilização de serviçosEm função da Deficiência:Tipo de serviçosActividades culturais oudesportivasCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOPCD Não-PCD PCD Não-PCD PCD Não-PCD22% 17% 23% 4%Actividades de t<strong>em</strong>po livre 14% 17% 8%Serviço de transporte 54% 60% 49%Embora sejam consideradas <strong>com</strong>o um dos 6 grupos prioritários dos programas sociais do INAS (ao mesmograu que as mulheres, as <strong>pessoas</strong> idosas, os doentes, os COV...), as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência afirmam terdificuldades <strong>em</strong> aceder ao benefício dos dispositivos de protecção social existentes. Com efeito,segundo as estatísticas oficiais, elas representavam apenas 3% dos 17.284 beneficiários do INASao nível nacional <strong>em</strong> 2009, ou seja somente 564 <strong>pessoas</strong>. De acordo <strong>com</strong> o INAS de <strong>Maputo</strong> Cidade,317 <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência teriam sido incluídas <strong>em</strong> 2009 no programa PSA e o PASD terá permitido adistribuição de 11 cadeiras de rodas e um par de muletas, o que é relativamente insignificante se tomarmos<strong>em</strong> linha de conta a população da cidade.Em função do Género:Tipo de serviçosActividades culturais oudesportivasCONHECIMENTO NECESSIDADES UTILIZAÇÃOMulheres Homens Mulheres Homens Mulheres Homens16% 29% 16% 25% 3% 6%O INAS fez uma escolha pertinente na sua abordag<strong>em</strong>integrada nos seus vários programas de assistência social,mas na realidade estes programas não consegu<strong>em</strong> alcançaras <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência de maneira transversal. Na faltade recursos financeiros suficientes, sobretudo de um quadrometodológico e organizacional adaptado, elas beneficiammuito pouco dos progressos recentes das políticas deprotecção social registadas ao nível nacional 7 .<strong>As</strong> dificuldades de acesso a informação sobre os programasexistentes são muito evidentes, quer seja para as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência quer para o resto da população (64 e72%). Este facto tenta explicar as diferenças significativasconstatadas entre o nível de necessidades dos programas eo nível de informação pela parte dos habitantes inqueridos.Tudo leva a crer que o INAS tomou <strong>em</strong> consideração esteprobl<strong>em</strong>a uma vez que ele pretende integrar na sua próximaestratégia plurianual o reforço dos mecanismos de divulgaçãodos programas existentes destinados as <strong>com</strong>unidadeslocais. Uma atenção especial deve ser dada as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência sensorial para que elas possam, também, serinformadas dos seus direitos relativos a protecção social.Actividades de t<strong>em</strong>po livre 14% 17% 10% 6%Serviço de transporte 54% 60% 49%<strong>As</strong> actividades desportivas e culturais são pouco praticadas na zona, uma vez que apenas 4% das<strong>pessoas</strong> inqueridas afirmam participar regularmente <strong>em</strong> manifestações do género, s<strong>em</strong> diferençassignificativas entre <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e as outras. Em contrapartida, ha uma grande discriminação,uma vez que as mulheres são 2 vezes menos numerosas que os homens a participar destas actifidades.Contudo, 17% das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência exprime a necessidade, o que mostra as dificuldades que estastêm <strong>em</strong> encontrar soluções adaptadas nesta área.Da mesma maneira, apenas 8% das <strong>pessoas</strong> frequentam associações que propõ<strong>em</strong> actividades de lazer,s<strong>em</strong> diferença entre <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e as outras. <strong>As</strong> mulheres ader<strong>em</strong> mais a estas actividades queos homens. Dos que não participam destas actividades, 11% exprim<strong>em</strong> a necessidade, dos quais 38% nãotém conhecimento.49% das <strong>pessoas</strong> afirma utilizar serviços de transportes, s<strong>em</strong> diferença entre <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência eas outras. Dos que não utilizam, 35% exprime a necessidade, dos quais 32% não tém conhecimento.7Decreto n°85/2009 que aprova o Regulamento do Subsist<strong>em</strong>a de Segurança Social Básica.5657


Condições de acesso aos serviços sanitários e sociaisSist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4b) Os obstáculos ao acesso a outros tipos de serviçoEm análise univariada, todos os itens são vistos <strong>com</strong>o obstáculos veent<strong>em</strong>ente relatados pelas <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência que pelas outras: os constrangimentos económicos (de 54 a 77%), a falta de infraestruturasdisponíveis (76%), a falta de informação (50%), assim <strong>com</strong>o a falta de acesso físico no espaço público (de25 a 50%) ou no domicílio (14%).Obstáculos para:Pess. s<strong>em</strong>deficiênciaPess. <strong>com</strong>deficiênciapCustear as actividades culturais ou desportivas 62,6% 77,5% 0,001Encontrar instalações que permitam a prática de actividadesculturais ou desportivas63,6% 76,6% 0,004Pagar os transportes públicos 28,0% 54,8%


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4O funcionamento de serviços sanitarios e sociais define-se geralmente <strong>em</strong> função das relações e dasinteracções entre 3 famílias de actores: os utentes (<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência representadas neste casopelas APCD), os provedores de serviços e os poderes públicos. Seguindo a lógica do esqu<strong>em</strong>a triangularabaixo, vamos proceder neste último capítulo a análise destes 3 principais grupos de actores que <strong>com</strong>põ<strong>em</strong>o sist<strong>em</strong>a de serviços <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>.PODERES PÚBLICOSNível central: define as políticas e os sist<strong>em</strong>asNível local: Aplica as políticas, põe <strong>em</strong> obra os sist<strong>em</strong>as, intermedia as necessidadesAvalia as necessidades,garante acessoRegula, provisionne,avaliaI/ <strong>As</strong> associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (APCD)Exist<strong>em</strong> até hoje 18 associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência activas <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> (cf. lista noAnexo 1). Muitas delas são de dimensão nacional, elas <strong>em</strong>ergiram durante os últimos 20 anos <strong>em</strong> 3 vagassucessivas:A primeira vaga (1989-1995) foi a consequência directa do processo da liberalização política <strong>em</strong>preendida <strong>em</strong>Moçambique nos fins dos anos 90 (progressão das liberdades públicas, sobretudo <strong>com</strong> o reconhecimentoda liberdade de associação).<strong>As</strong> duas outras vagas (1995-2003 e 2003-2008) resultaram da cisão que teve lugar <strong>com</strong> o andar dot<strong>em</strong>po no seio das associações já existentes, devido a divergências interna ou oportunidades definanciamento oferecidas pelos doadores (fundos de apoio as iniciativas…etc).a) Capacidades operacionais limitadas<strong>As</strong> APCD que operam <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> desenvolv<strong>em</strong> as suas actividades principalmente nas áreas dapromoção e protecção dos direitos das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência (33%), da saúde (18%), da formação (15%),do desporto (11%) ou ainda da educação (11%), <strong>com</strong>o pod<strong>em</strong>os ver no gráfico abaixo:Pedido, advocaciaOferta de ServiçosUTENTES(<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência,representadaspelas APCD)Prestaçãode serviçosEscolha, utilização,avaliaçãoda qualidadeNum esqu<strong>em</strong>a equilibrado, os utentes são clientes e idealmente co-elaboradores do serviço porqueeles pod<strong>em</strong> e dev<strong>em</strong> ter um papel activo na definição de prioridades e na avaliação regular dos serviços.Isto passa por mecanismos consultativos, mas também por acções de defesa e de monitoria das políticaspúblicas e da sua aplicação, acções geralmente conduzidas via as APCD. Todo tipo de melhoria de qualidadeda cadeia de serviços passa por um estímulo da d<strong>em</strong>anda dos utentes, de maneira a exercer uma pressãoconstante sobre os provedores de serviço e sobre as autoridades locais. Com efeito, um sist<strong>em</strong>a de controloimposto por cima s<strong>em</strong> nenhuma d<strong>em</strong>anda da base não pode manter-se no t<strong>em</strong>po (Dufluo, 2008).Os provedores de serviços respond<strong>em</strong> de maneira directa às necessidades dos utentes e dev<strong>em</strong>fornecer serviços de qualidade, baseados numa abordag<strong>em</strong> personalizada. Que se trate de estruturasgovernamentais, não governamentais, voluntárias, <strong>com</strong> fins lucrativos ou não, dev<strong>em</strong> todas agir no quadrodefinido pelas autoridades locais/nacionais e respeitar as normas e os princípios de qualidade definidos.Por último, os poderes públicos, quer seja ao nível central ou local, tém a responsabilidade dadefinição das políticas públicas e dos mecanismos ligados a regulamentação dos serviços sanitáriose sociais. A este título eles defin<strong>em</strong> as grandes orientações e fornec<strong>em</strong> ou ainda organizam os recursosfinanceiros necessários de modo a garantir a disponibilidade dos serviços. Esta elaboração das políticase dos sist<strong>em</strong>as deve se basear na avaliação regular das necessidades das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> defiência, e nosdireitos fundamentais reconhecidos pelos textos nacionais e internacionais. <strong>As</strong> políticas e os sist<strong>em</strong>asdev<strong>em</strong> sobretudo garantir o acesso e a qualidade dos serviços.60PROVEDORESDE SERVIÇO(públicos e privados)18%33%2% 3%8%11%11%15%A maior parte das associações encontradas durante o diagnóstico afirma ter grandes dificuldades <strong>em</strong>exercer as suas actividades por causa de meios materiais insuficientes, de financiamentos esporádicose instáveis. Este fenómeno é agravado pela presença de várias associações nos mesmos « furos » e <strong>em</strong>actividades similares, o que gera muitas vezes uma grande concorrência ao acesso dos fundos disponíveis,quer seja localmente, quer seja por via das agências de cooperação internacional.Estas associações parec<strong>em</strong> sofrer da falta de recursos humanos qualificados, sobretudo no que dizrespeito a planificação estratégica, a elaboração de projectos, a angariação de fundos ou ainda a gestãodo ciclo de projecto. O fraco nível de formação dos m<strong>em</strong>bros das associações, principalmente dos quadrosintermediários, limita <strong>em</strong> grande medida as capacidades de lobbying do movimento sobre a cenainternacional, quer seja para a opinião pública, quer seja para as autoridades locais, ou ainda para osprovedores de serviços.61Actividades económicasEducaçãoFormaçãoDesportoCulturaPromoção e protecção dos direitosSaúdeOutras


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4b) Um défice de mobilização e de representatividadeDestas associações 15 são constituidas de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, as 3 outras sendo associações para<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Todos tipos de deficiência estão representadas no seio do movimento dasAPCD, mesmo se a deficiência motora continua predominante, a frente da deficiência auditiva, visual eintelectual <strong>com</strong>o mostra o esqu<strong>em</strong>a:80%70%d) Uma dinâmica de coordenação entorpecidaDestas associações 17 reuném-se no FAMOD, plataforma nacional de coordenação do movimento dasassociações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, cujo mandato procura promover direitos das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência <strong>em</strong> todo país. Também confrontado <strong>com</strong> a falta de meios financeiros, mateirais e humanos, oFAMOD t<strong>em</strong> dificuldades <strong>em</strong> exercer verdadeiramente o seu papel de defensor e de representante domovimento sobre a cena nacional e local.Na falta de uma plataforma suficient<strong>em</strong>ente federadora, a dinâmica da coordenação inter-associaçõescontinua lamentavelmente fraca, <strong>com</strong>o mostra o mapa da rede das APCD por nós modelizada:60%50%40%30%ammdcerci20%cinfortecnica10%codefamamdv0%Visual Auditiva Motora Intelectual OutradeficiênciaO número total dos aderentes destas 18 associações pode se calcular <strong>em</strong> média de 50 000 a 70000 <strong>pessoas</strong> <strong>em</strong> todo o país, dos quais uma grande parte na região de <strong>Maputo</strong>, a sua base histórica.Este número continua a ser relativamente aproximado uma vez que a maior parte das APCD não t<strong>em</strong>registos dos seus aderentes actualizados e que as APCD estão pouco actualizadas no que diz respeitoao pagamento das quotas (taxa de pagamento de quotas muitas vezes inferior a 25%). Para além disso,duas associações (ADEMO e ADEMIMO) afirmam agrupar, só elas duas, 2/3 das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciafiliadas ao nível nacional. Por último, por causa de meios humanos e materiais limitados (veículos, materialde <strong>com</strong>unicação), as APCD tém reais dificuldades <strong>em</strong> atingir o seu grupo alvo que vive nas zonas maisrecôndidas da aglomeração.adppdcmad<strong>em</strong>imoadpdmCom. Paralímpicoacrid<strong>em</strong>efamodad<strong>em</strong>oajod<strong>em</strong>oasumoravimnlhuvukuadesuExiste um verdadeiro défice de representatividade uma vez que o nosso inquérito mostra que uma minoriade <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência conhece uma APCD (6%) e que apenas 2,5% era m<strong>em</strong>bro. <strong>As</strong> mulheres <strong>com</strong>deficiência estão também <strong>em</strong> representação muita ínfima no seio das associações – para m<strong>em</strong>ória, oshomens são entre 2,1 e 2,4 vezes mais frequent<strong>em</strong>ente m<strong>em</strong>bros duma APCD que as mulheres – assim <strong>com</strong>onos conselhos de direcção onde apenas 31% dos postos são ocupados por mulheres. Isto é particularmentesurpreendente quando sab<strong>em</strong>os que há mais mulheres que homens <strong>com</strong> deficiência no território.c) Falta de renovação de quadros e de governação internaEmbora existam milhares de aderentes, reveindicados <strong>em</strong> todo o país e mais especificamente na aglomeraçãode <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, constata-se que são s<strong>em</strong>pre os mesmos indivíduos que se encarnava o movimentodas APCD ao nível central. Embora cont<strong>em</strong>-se oficialmente 150 quadros <strong>em</strong> média, a maioria voluntários,a dinâmica das associações repousa <strong>em</strong> primeiro lugar sobre a liderança de algumas figuras carismáticaspresentes nos diferentes s<strong>em</strong>inários, reuniões e formações organizadas localmente. A renovação dequadros é particularmente probl<strong>em</strong>ática e não é raro constatar-se que os fundadores duma associaçãomantém-se <strong>em</strong> postos de direcção, as vezes mais de 15 anos depois do nascimento da associação, por faltade práticas de governação que permit<strong>em</strong> a alternância.62amofasEmbora a presença de 5 a 6 associações <strong>em</strong> posição de « nós intermediários », nota-se que os laços existentesentre as APCD são particularmente distendidos e muitas vezes unidireccionais, o que prova a existência deuma rede pouco densa e pouco dinâmica. <strong>As</strong> APCD aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> níveis de integração muito diversos,algumas associações afirmam manter laços mais ou menos frequentes <strong>com</strong> outras associações,outras encontram-se particularmente isoladas s<strong>em</strong> nenhum laço <strong>com</strong> o resto do movimento forada mediação do FAMOD (estas associações encontram-se na periferia da rede). Não é surpreendenteconstatar a fraca capacidade do movimento <strong>em</strong> fazer ouvir a sua voz no plano nacional ou local, porquepara além das datas <strong>com</strong><strong>em</strong>orativas (<strong>com</strong>o o 3 de Dez<strong>em</strong>bro, Dia Mundial das Pessoas <strong>com</strong> Deficiência), osespaços de coordenação, sobretudo de coprodução, entre associações continuam relativamente raros.63acamo


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4<strong>As</strong> interacções da rede das APCD, <strong>com</strong> o exterior são igualmente relativamente fracas, tanto <strong>com</strong> osprovedores de serviços, <strong>com</strong>o também e acima de tudo <strong>com</strong> as autarquias locais que quase nunca sãosolicitadas nas diferentes actividades organizadas. <strong>As</strong> APCD acantonam-se muitas vezes numa posição deintermediário entre as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e os serviços do Estado, s<strong>em</strong> procurar construir novas vias<strong>com</strong> novos actores no plano local.e) Potencialidades e forças existentes<strong>As</strong> associações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência apresentam, contudo, numerosas potencialidades paraapoiar<strong>em</strong> as dinâmicas de desenvolvimento local. Historicamente implantadas no aglomerado de<strong>Maputo</strong>, elas gozam de um bom conhecimento do território. Militando já há muitos anos no seio dasociedade civil, os representantes das APCD conhec<strong>em</strong> muito b<strong>em</strong> o funcionamento das instituições locais,especialmente os serviços do Estado.A sua legitimidade foi recent<strong>em</strong>ente confortada pela nomeação de Moçambique para a chefia da FDLPmas também pela criação recente do Conselho Nacional da Deficiência, associando estreitamente poderespúblicos e sociedade civil. Este último deveria permitir as APCD participar mais na elaboração e dna monitoriadas políticas públicas nacionais a favor das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Os m<strong>em</strong>bros das associaçõespoderão levar neste quadro uma perícia concreta aos outros actores do território. Sendo muitas vezes,elas também, <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, elas possu<strong>em</strong> um bom conhecimento das probl<strong>em</strong>áticas que lhesafectam individualmente, e pod<strong>em</strong> propôr soluções adaptadas.II/ Os provedores de serviços sanitários e sociaisO nosso diagnóstico permitiu identificar um total de 143 serviços sanitários e sociais na zona estudada,repartindo-se da seguinte maneira:Escolinhas e centros infantisAcolhimento de criançasvulneráveisCentro de trânsitoProgramas de apoio ás<strong>pessoas</strong> vivendo <strong>com</strong> o HIV/SIDAFormações profissionaisProgramas de capacitaçãovocacionalMicro-créditoActividades de geração de rendimentosA<strong>com</strong>panhamento aos des<strong>em</strong>pregadosActividades desportivas,culturais e artísticasServiços eprogramassociais19%Desportoe Cultura9% Saúde23%Formação eEmprego17%Educacão32%Ensino primárioEnsino secundárioEducação especialAlfabetização de adultosServiços basicos de saúdeMedicina tradicionalFarmáciasTestag<strong>em</strong> e tratamento doHIV/SIDASaúde mentalMedicina e reabilitação físicaFornecedores de material de<strong>com</strong>pensaçãoUm total de 2.564 <strong>pessoas</strong> trabalham no seio destes diferentes serviços, <strong>em</strong> regime de assalariado ouvoluntariado, dos quais:1.714 técnicos (professores, enfermeiros, médicos, educadores, coordenadores de projecto…)850 <strong>pessoas</strong> de apoio (guardas, agentes de manutenção, motoristas...).a) Uma oferta de serviços saturada e centralizada <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong>A maioria dos serviços sanitários e sociais identificados durante o diagnóstico local estão implantadosna cidade de <strong>Maputo</strong> (73% contra apenas 27% na <strong>Matola</strong>). Esta diferença revela as grandes disparidadesno que diz respeito ao equipamento das infraestruturas de base entre os dois municípios vizinhos. Estasdiferenças afectam <strong>em</strong> grande medida as condições de utilização dos serviços uma vez que estes estãoglobalmente mais saturados nos bairros de <strong>Matola</strong> que nos de <strong>Maputo</strong> (particularmente quandofalamos das escolas e dos centros de saúde). Este engarrafamento é reforçado pela falta de profissionaisdisponíveis, e sobretudo de pessoal qualificado (1 à 2 médicos apenas <strong>em</strong> média por unidade de saúde, porex<strong>em</strong>plo), o que favorece a multiplicidade das tarefas, fraca productividade no trabalho e um atendimentopouco atensioso dos utentes.Para além disso, os serviços disponíveis nos 9 bairros de impl<strong>em</strong>entação do projecto são exclusivamenteserviços ordinários. Todos os serviços especializados encontram-se fora da zona, principalmente no centrode <strong>Maputo</strong>, o que leva as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência a deslocar<strong>em</strong>-se, obrigatoriamente, quando há necessitadasde consultar um oftalmólogo, ter uma sessão de reabilitação física, de matricular os seus filhos nas escolasespeciais ou turmas inclusivas…etc. O que provoca probl<strong>em</strong>as enormes quando se t<strong>em</strong> dificuldades d<strong>em</strong>obilidade da periferia ao centro da cidade <strong>com</strong> um t<strong>em</strong>po de transporte de pelo menos 1h30.6465


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4b) Serviços muitas vezes recentes, tendência progressiva para a privatizaçãoExiste, contudo, uma verdadeira vontade de recuperação e expansão das infraestruturas ordinárias nestesbairros uma vez que constata-se que 2/3 dos serviços existentes foram localmente criados na unicadécada de 2000-2010. Os novos serviços criados são principalmente centros de saúde, escolas primáriase secundárias, farmácias e escolinhas (paralelamente a explosão do trabalho f<strong>em</strong>inino na cidade). Muitosoutros serviços deveriam ser criados nos próximos anos afim de fazer face ao grande crescimento daaglomeração, sobretudo nos bairros de expansão <strong>com</strong>o Khongolote, Ndlavela ou ainda Zimpeto.Paralelamente a esta dinâmica de recuperação, constata-se uma tendência progressiva para aprivatização dos novos serviços sanitários e sociais criados já há uma dezena de anos. Se somente38% dos serviços eram privados <strong>em</strong> 2000, a situação inverteu-se <strong>com</strong>pletamente durante a última décadae representam hoje 62% do total contra 38% públicos. Contudo, a passag<strong>em</strong> de uma gestão pública auma gestão privada <strong>com</strong> fins lucrativos ou não, provoca inevitavelmente um aumento dos riscos deexclusão financeira dos utentes destes serviços, e <strong>em</strong> particular a dos grupos mais vulneráveis <strong>com</strong>oas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Ela deve necessariamente a<strong>com</strong>panhar-se da aplicação, <strong>em</strong> parelelo, d<strong>em</strong>ecanismos de apoio que garantam o acesso dos grupos mais frágis aos serviços.c) Um sist<strong>em</strong>a de serviços pouco inclusivoEnquanto que a maioria dos serviços visitados (90%) afirma receber às vezes <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência oumesmo não ver inconveniência <strong>em</strong> atendé-las <strong>em</strong> última instância, os serviços da zona são globalmentevistos de maneira muito pouco inclusivos pelas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência inqueridas durante o nossoestudo.Como visto acima, o acesso físico aos serviços é visto <strong>com</strong>o um probl<strong>em</strong>a prioritário para muitas<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência. Enquanto que um terço dos provedores de serviços estima que os locais sãofisicamente acessíveis às <strong>pessoas</strong> de mobilididade condicionada, a realidade é um pouco diferente, <strong>com</strong>omostra o quadro seguinte:De igual modo o pessoal é pouco formado para lidar-se <strong>com</strong> as necessidades específicas das <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência, uma vez que apenas 1/4 das estruturas inqueridas afirma ter um pessoal suficient<strong>em</strong>entesensibilizado e <strong>com</strong>petente para acolher convenient<strong>em</strong>ente as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nos seus serviços.Não existe por ex<strong>em</strong>plo nenhum agente de saúde e apenas um punhado de professores formados <strong>em</strong> línguasde sinais <strong>em</strong> toda a cidade de <strong>Maputo</strong>. Not<strong>em</strong>os contudo que 86% dos responsáveis de serviços inqueridosdesejam que o seu pessoal possa beneficiar de acções de formação afim de melhorar o a<strong>com</strong>panhamentodas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e de tornar deste modo os seus serviços mais inclusivos.Enfim, se 2/3 dos serviços visitados afirma ser gratuitos, mas na realidade muitas das vezes os utentesdev<strong>em</strong> tirar dinheiro para a <strong>com</strong>pra de uniformes ou de material nas escolas, para as propinas dos guardas…etc. Dos serviços pagos 69% afirma, contudo, oferecer condições de utilização preferenciais para osutentes mais vulneráveis (<strong>pessoas</strong>, mulheres sós, crianças vulneráveis, <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência…):isenção de pagamento, tarificação vantajosa, condições de utilização específicas, horários adaptados,bichas reduzidas… Mas face a dificuldade de obter um atestado de pobreza ou mesmo a fazer reconhecero cartão de pessoa <strong>com</strong> deficiência, para poder beneficiar das condições preferenciais, os utentes maisvulneráveis acabam por se resignar pagando os custos exigidos… ou mesmo a frequentar os serviços só<strong>em</strong> último caso.d) Relações principalmene sectoriais e verticaisO mapa da rede dos provedores de serviços, distingue visualmente 3 sub-conjuntos estruturalmentecoesos, « arquipélagos » relativamente autónomos uns dos outros:O primeiro sub-conjunto agrega estruturas de saúde numa nuv<strong>em</strong> particularmente densa e homogénea (a),O segundo sub-conjunto reúne quase exclusivamente estruturas de educação, principalmente das escolasprimárias e secundárias (b),Em fim, um terceiro sub-conjunto, aglomerado híbrido de estruturas de educação e de serviços sociais,principalmente escolinhas, que mostram haver uma certa interconexão entre os dois sectores (c).ServiçosEfectivototalAcessoexterioracessívelCirculaçãointerior s<strong>em</strong>obstáculoCasa debanhoaccessívelInformaçãoaccessívelPessoalformadopara oatendimentode PCDSaúde 33 24% 42% 3% 3% 36%(c)SaúdeEducaçãoEducação 46 28% 33% 13% 7% 26%Formação eEmpregoServiços eprogramas sociais24 33% 58% 8% 13% 25%27 15% 44% 15% 0% 22%Formação e EmpregoDesporto e Cultura 13 0% 8% 23% 0% 0%Serviços SociaisTOTAL 143 23% 39% 11% 5% 25%(b)(a)Desporto e Cultura6667


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4Os outros dois sectores estudados durante a pesquisa (formação profissional e <strong>em</strong>prego, desporto e cultura)aparec<strong>em</strong> relativamente diss<strong>em</strong>inados, mostrando uma coesão mais difusa, e tapam os interstícios da rededos actores. Not<strong>em</strong>os, porém que alguns provedores de serviços continuam perfeitamente isolados, nãoostentando até a altura do inquérito nenhum laço <strong>com</strong> outros provedores da rede (<strong>em</strong> cima, a esquerdado mapa).Pod<strong>em</strong>os concluir que as relações entre os fornecedores de serviço da zona organizam-se estruturalmentesegundo lógicas sectoriais e verticais: as estruturas de saúde interag<strong>em</strong> principalmente entre elas e nummovimento top-down (hospital central para hospital geral, depois para o centro de saúde local…etc) porex<strong>em</strong>plo. Existe muito poucos fluxos entre actores de sectores distintos, permitindo oferecer aos utentesdestes serviços pontes eficazes para ser<strong>em</strong> orientados convenient<strong>em</strong>ente considerando a globalidade dassuas necessidades e dando-lhes respostas à sua medida <strong>em</strong> <strong>com</strong>pl<strong>em</strong>entaridade <strong>com</strong> outros actores dazona. Constata-se, geralmente, que as situações de precaridade e de exclusão nasc<strong>em</strong> da degradaçãoconjunta das condições sanitárias e das condições de existência dos indivíduos, s<strong>em</strong> que seja s<strong>em</strong>prepossível determinar se a saúde e o social degradam-se ou reforçam-se mutuamente. Afim de quebrar estecírculo vicioso, parece imperativo favorecer uma maior interconexão entre os diferentes actores sanitáriose sociais de modo a densificar a malhag<strong>em</strong> da rede.e) Mecanismos de coordenação e de referenciamento efectivosContudo, a despeito da grande segmentação da rede dos provedores de serviços, observa-se umapro<strong>em</strong>inência de laços de referenciamento e de coordenação sobre as trocas de natureza técnicaou financeira. Esta constatação é particularmene verdadeira na área da saúde, onde os mecanismos dereferenciamento entre diferentes graus do dispositivo sanitário tém um papel primordial no funcionamentoda cadeia de cuidados. Existe por conseguinte, aparent<strong>em</strong>ente, pr<strong>em</strong>issas duma cultura, s<strong>em</strong> dúvida,chamada a ser estimulada mais amplamente.III/ Os poderes públicos locais: Orgãos Locais do Estado e Autárquias LocaisQuando se evoca os poderes públicos locais existentes <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, distinguimos claramente doistipos de actores, provenientes ambos dos dois processos de descentralização actualmente <strong>em</strong> curso <strong>em</strong>Moçambique: os Orgãos locais do Estado (OLE) e as Autarquias locais (AL).Os Orgãos locais do Estado respond<strong>em</strong> a uma lógica de deconcentração administrativa, o que querdizer, um processo no qual o Estado não abandona as suas <strong>com</strong>petências, mas onde ele põe meios deproximidade de modo a aproximar a acção administrativa dos administrados. Este processo procuramelhorar a eficácia da acção do Estado delegando certas atribuições a escala administrativa central aosfuncionários locais. Esta categoria agrupa as diferentes Direcções Provinciais e Distritais da Mulher e daAcção Social, da Saúde, da Educação, da Cultura… encarregues de administrar o território de <strong>Maputo</strong> e<strong>Matola</strong> ao nível mais próximo dos cidadãos.<strong>As</strong> Autárquias locais foram criadas numa óptica de devolução que procura atribuir-lhes <strong>com</strong>petênciaspróprias, distintas das do Estado, fazer eleger os seus representantes pela população de modo a assumirum melhor equilíbrio dos poderes sobre todo o território. Esta descentralização territorial procura destamaneira aproximar o processo de decisão aos cidadãos, para fovorecer a <strong>em</strong>ergência duma d<strong>em</strong>ocraciade proximidade. Esta categoria agrupa os Municípios de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> assim <strong>com</strong>o as suas diversasvereações: vereação da acção social, serviço municipal da saúde, vereação da educação e da cultura…etc.Tipo de laço entre os provedores de serviços dazonaEfectivo totalPercentag<strong>em</strong>Intensidad<strong>em</strong>édia dos laços(1 à 3)Apoio técnico/ formação 45 11,54% 2,29Apoio financeiro/ material 19 4,87% 2,53Referenciamento de pacientes / clientes 136 34,87% 2,21Troca de informação/ coordenação de actividade 190 48,72% 2,35Total 390 100,00% 2,34Para além dos laços que pod<strong>em</strong> entreter entre si, os serviços locais apoiam-se igualmente e sobretudonos secretários de bairros quando procuram <strong>com</strong>unicar informações específicas as <strong>com</strong>unidades(início de uma campanha de vacinas, abertura de inscrições nas escolas, lançamento dum grupo dealfabetização…). 41% das estruturas afirma informar desta maneira a população sobre os serviços queelas propõ<strong>em</strong> através dos funcionários das administrações locais contra apenas 8% através da rede localdos profissionais da acção sanitária e social por ex<strong>em</strong>plo. Isto prova a pre<strong>em</strong>inência do secretário dobairro <strong>com</strong>o interface de <strong>com</strong>unicação a escala local e na ilusão da insuficiência dos fluxos entreprofissionais.6869


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4EstadoProvinciaOrgãos do EstadoMinistério da Mulher e da Acção SocialDirecção Nacional do INASDirecção da Mulher e da Acção Socialda Provincia de <strong>Maputo</strong>Delegação do INAS da Provincia de<strong>Maputo</strong>Direcção de Saúde da Provincia de<strong>Maputo</strong>Direcção de Educação e Cultura daProvincia de <strong>Maputo</strong>Direcção da Juventude e Desportos daProvincia de <strong>Maputo</strong>MATOLAAutarquia localConselho Municipal da <strong>Matola</strong>Gabinete do Gênero eEmpoderamento da Mulher eAcção Social do Municipio de<strong>Matola</strong>Vereação da Cultura,Juventude e Desportos doMunicipio da <strong>Matola</strong>NivelcentralServiçosmunicipaisa) Um processo de descentralização ainda <strong>em</strong> <strong>em</strong>brião mas efectivoA primieira fase da devolução, que levou a criação dos Municípios de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, só foi possível<strong>em</strong> Moçambique a partir de 1997 1 . Foi seguida de uma fase de deconcentração administrativa, fixando asprerrogativas dos orgãos do Estado para os diferentes escalões das administrações (província, distrito,posto administrativo, bairro) 2 , a partir de 2003. Estes dois processos distintos, mas desenvolvidosparalelamente, são por conseguinte relativamente recentes e inacabados no território. Esta situaçãotransitória gera uma certa confusão na repartição das <strong>com</strong>petências e das prerrogativas entre osdiferentes escalões administrativos e territoriais.Para além disso, enquanto que os distritos elaboram os seus instrumentos de planificação 3 segundouma lógica principalmente bottom-up, o distrito constitui a pedra angular do desenvolvimento local, osfinanciamentos segu<strong>em</strong> mais um caminho top-down da administração central para os escalões locais, oque cria uma certa desconexão entre a planificação e a orçamentação das acções. S<strong>em</strong> afectação dosrecursos correspondentes, existe ainda uma grande incerteza no que diz respeito a capacidade dos planoslocais a ser<strong>em</strong> efectivamente aplicados.DistritoPostoadministrativoServiço de Saúde, Mulher e AcçãoSocial da Cidade de <strong>Matola</strong>Posto Administrativo de InfuleneBairro Khongolote, T3, NdlavelaEstadoProvinciaDistritoOrgãos do EstadoMinistério da Mulher e da Acção SocialDirecção Nacional do INASDirecção da Mulher e da Acção Socialda Cidade de <strong>Maputo</strong>Delegação do INAS da Cidade de<strong>Maputo</strong>Direcção de Saúde da Cidade de<strong>Maputo</strong>Direcção da Educação e Cultura daCidade de <strong>Maputo</strong>Direcção da Juventude e Desportos daCidade de <strong>Maputo</strong>70MAPUTOVereação / Administração do Distrito Municipal n°5Direcção Distrital da Mulher e Acção Socialdo Distrito Municipal n°5Autarquia localConselho Municipal de <strong>Maputo</strong>Vereação de Saúde e AcçãoSocial do Municipio de <strong>Maputo</strong>Vereação de Educação, Culturae Desporto do Municipio de<strong>Maputo</strong>NivelcentralServiçosmunicipaisBairro Jorge Dimitrov, Malhazine, Zimpeto, Magoanine A, B, C BairroObserva-se dificuldades de sincronização e de coordenação entre as transferências de responsabilidadese os recursos financeiros do Estado central para os orgãos locais ou mesmo para as autárquiaslocais (algumas responsabilidades são as vezes atribuidas s<strong>em</strong> que sejam alocadas recursos correspondentes,até mesmo o inverso…). Contudo, não obstante as dificuldades, a transferência da gestão dealgumas unidades sanitárias e sociais de base <strong>com</strong>eça a ser realizada 4 , pelo menos <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong>. <strong>As</strong>sim,no dia 1 de janeiro de 2010, todo o sist<strong>em</strong>a educativo primário, até a 7ª classe (104 escolas) e os recursosaferentes foram transferidos para o Serviço da Educação, da Cultura e dos Desportos do município de<strong>Maputo</strong>. 21 centros de saúde sobre 28 que a cidade possue passaram também para a gestão municipal namesma data. <strong>As</strong>siste-se por conseguinte uma subida progressiva e <strong>em</strong> força do papel dos municípios nosassuntos sanitários e sociais, mesmo se ela não é a<strong>com</strong>panhada de objectivos claros <strong>em</strong> termos de melhoriada qualidade dos serviços públicos.b) Uma governação urbana <strong>com</strong>plexaComo pod<strong>em</strong>os ver no esqu<strong>em</strong>a precedente, a estruturação orgânica dos municípios difere muito dumaautárquia local para outra. Por ex<strong>em</strong>plo, a saúde e a acção social são agrupados no seio do mesmo serviço<strong>em</strong> <strong>Maputo</strong>, enquanto que eles estão separados nos serviços municipais <strong>em</strong> <strong>Matola</strong>. Esta estruturação <strong>em</strong>geometria variável <strong>com</strong>plica a correspondência entre os interlocutores dos dois municípios na área daacção sanitária e social.A repartição das <strong>com</strong>petências entre os OLE e os AL não aparece também s<strong>em</strong>pre claramente aos olhosdos actores do campo e das populações. S<strong>em</strong> falar do facto que algumas entidades sejam colocadas sob adupla tutela dum orgão local do Estado e do Município, o que não favorece absolutamente a legibilidadedos papeis de cada um (ex : posto administrativo de Infulene, administração do Distrito 5, secretários debairros). Este enrolamento instituicional encoraja os actores locais a priviliegiar estratégias individuaisde oportunidades sobre lógicas de concertação colectiva, na falta de relações claramente organizadas eestruturadas entre diferentes entidades descentralizadas.1Lei de municipalização 2/97.2Lei 8/2003, Decreto 11/2005 e Decreto 6/2006.3Plano económico e social do Distrito (PESOD).4Em aplicação do Decreto 33/2006.71


Sist<strong>em</strong>a de actores locaisCapítulo4O contexo de descentralização ainda <strong>em</strong> evolução, acrescentado dum duplo corte administrativo doterritório (Cidade/Província de <strong>Maputo</strong> e Município de <strong>Maputo</strong>/<strong>Matola</strong>) tornam a governação urbana localparticularmente <strong>com</strong>plexa, sobretudo na área sanitária e social. Enquanto que a aglomeração de <strong>Maputo</strong>e <strong>Matola</strong> estão-se transformando num conjunto urbano cada vez mais homogênio, cujas dinâmicas sociaise urbanas interpenetram-se de maneira crescente, torna-se urgente adoptar uma abordag<strong>em</strong> global pararesolver as dificuldades das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.c) Capacidades operacionais enxertadas de recursos insuficientesDe maneira geral, constata-se que as capacidades dos OLE e dos AL a aplicar as leis e planos de acção jáexistentes ao nível nacional são relativamente limitadas, por falta substancial de recursos financeirose materiais para desenvolver as suas actividades. Os serviços municipais da acção social só tém porex<strong>em</strong>plo uma dezena de <strong>pessoas</strong> para aplicar programas destinados a vários milhares de <strong>pessoas</strong> <strong>em</strong>situação de vulnerabilide. Por ex<strong>em</strong>plo só há um único permanente do INAS <strong>em</strong> cada um dos 43 bairros de<strong>Maputo</strong> (cada bairro pode ter até 10 000 habitantes) encarregue de fazer o a<strong>com</strong>panhamento social decentenas de <strong>pessoas</strong>, s<strong>em</strong> meios logísticos a sua disposição. Em condições <strong>com</strong>o estas, o trabalho socialacaba sendo apenas um processo administrativo de tranferência de recursos s<strong>em</strong> nenhuma dimensão dea<strong>com</strong>panhamento social personalizado por falta de t<strong>em</strong>po e de meios.Quer seja para favorecer a educação inclusiva ou para aplicar as disposições relativas ao acesso físico dosedifícios, a falta de recursos humanos suficient<strong>em</strong>ente qualificados tecnicamente penaliza tambémos poderes públicos.d) Programas sociais chamados a aumentar <strong>em</strong> forçaDe maneira mais favorável, constata-se uma dinâmica de desenvolvimento e de reforço dos dispositivosexistentes, quer seja sobre o plano nacional – <strong>com</strong> sobretudo a nova Lei de Protecção social básica – ouseja sobre o plano local – através da criação recente de serviços de acção social ao nível de Municípios de<strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>. Embora as autárquias locais privilegi<strong>em</strong> neste momento uma abordag<strong>em</strong> mais caritativada acção social (cesta básica, doação de material, doação de roupa…), e que as suas iniciativas sejam <strong>em</strong>grande parte desconectadas das acções levadas a cabo pelo INAS, estas iniciativas parec<strong>em</strong> ir <strong>em</strong> sentidodum melhor tratamento das populações vulneráveis.Dentre as populações vulneráveis, as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência são consideradas <strong>com</strong>o gruposprioritários pela maioria dos dispositivos deassistência social desenvolvidos pelas diversasentidades, quer seja dos orgãos locais do Estadoquer das autárquias locais. Contudo por causadas dificuldades de <strong>com</strong>unicação existentes entreeles para <strong>com</strong> o seu público alvo, mas também porfalta de recursos financeiros e materiais limitados,estes programas têm dificuldades por enquantode atingir as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência de maneirasatisfatória.e) Os secretários dos bairros <strong>em</strong> posição de intermediação entre os utentes e serviçosOs secretários de bairros constitu<strong>em</strong> geralmente o primeiro recurso para a popoulação local quando apareceuma necessidade na família (escolarizar uma criança, cuidar dos pais doentes, beneficiar de prestaçõessociais…) e são por conseguinte muitas vezes eles que se encarregam de receber, analisar e canalizaro pedido social dos seus administrados para os serviços existentes localmente. Neste sentido, aadministração local é interlocutor-chave, apartir do qual deve se elaborar estratégias de a<strong>com</strong>panhamentosocial das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Os secretários de bairros preench<strong>em</strong> também a função de eixo, de nó de intermediação entre os diferentesserviços sanitários e sociais. No mapa abaixo, apresentamos os nós correspondentes aos secretários dosbairros no meio da rede dos provedores de serviços sanitários e sociais. Vê-se o quanto a sua presença éestruturante para a rede local, correias incontornáveis de transmissão que permit<strong>em</strong> a articulaçãoda cadeia de serviços e as trocas intersectoriais, sobretudo na área da educação e de serviços sociais.SaúdeEducaçãoFormação e EmpregoServiços SociaisDesporto e CulturaSecretários de BairroEmbora eficiente, porque historicamente e culturalmente muito ancorado, este sist<strong>em</strong>a triangular queune utentes e provedores de serviços por int<strong>em</strong>édio dos secretários de bairro apresenta contudo algunslimites:O pessoal muita das vezes eleito secretários dos bairros não são s<strong>em</strong>pre b<strong>em</strong> formados n<strong>em</strong> <strong>em</strong> técnicas dotrabalho social e pod<strong>em</strong> ter dificuldades na análise correcta dos pedidos que lhes são direccionados,sobretudo quando estes são <strong>com</strong>plexos e específicos <strong>com</strong>o no caso das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência ;Muitas vezes só têm uma visão parcelada do leque de serviços existentes no seu bairro ou nos bairrosvizinhos por causa da falta do acesso a informação, o que limita a sua capacidade na orientação dos seusadministrados para as estruturas apropriadas <strong>em</strong> função das suas necessidades;A situação de gatekeeper que eles ocupam na intersecção da d<strong>em</strong>anda social e da oferta do serviçopode levar ao desenvolvimento de lógicas clientelistas <strong>com</strong> os seus administrados. Com efeito maisos recursos são raros, mais os indivíduos sent<strong>em</strong> a necessidade de construir relações clientelistas <strong>com</strong>o detentor do poder ao nível local para facilitar a satisfação imediata das suas necessidades de base(Badie, 1992).7273


Re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioDiscussãoI/ Por Eixos de Intervenção 77II/ Por Sectores de Intervenção 817475


Re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioDiscussãoPara além da opinião pública e da sociedade <strong>em</strong> geral, o conjunto dos actores do território deve mobilizarse<strong>com</strong> muita força para melhorar a situação e a participação social das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nas cidadesde <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>:A partir de sugestões recolhidas dos diferentes actores durante este diagnóstico, apresentamos aqui umconjunto de re<strong>com</strong>endações e de propostas que favorec<strong>em</strong> a sinergia e a convergência das iniciativas<strong>em</strong>preendidas no território <strong>em</strong> favor das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.I/ Por Eixos de IntervençãoProvedoresde serviçospúblicos eprivadosEmpresasdo sectorprivadoDoadoresnacionais einternacionaisEixo 1Sensibilizar e informar sobre os direitos das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiênciaInformar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobre osseus direitos fundamentais, sobretudo na área doacesso aos serviços, apoiando-se na Convençãodas Nações Unidas para os Direitos das Pessoas<strong>com</strong> Deficiência.Sensibilizar a opinião pública a fim de fazerevoluir o olhar sobre as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência,apoiando-se sobretudo nos médias e nas APCD.Orgãos doEstadoPESSOASCOMDEFICIÊNCIAONGInternacionaisde apoioInformar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobreos programas do INAS existentes assim <strong>com</strong>osobre a nova Lei da Protecção social básica,através das APCD.Informar os profissionais da acção sanitária esocial sobre os serviços desponíveis no território,por ex<strong>em</strong>plo pela difusão de directorios deserviços.Sensibilizar os pais sobre a necessidade de escolarizar os filhos <strong>com</strong> deficiência, e prioritariamente nosist<strong>em</strong>a inclusivo.OrgãosautárquicosMédiasSensibilizar e formar os técnicos <strong>em</strong> construção civil para tomar<strong>em</strong> <strong>em</strong> conta o acesso físico durante aconcepção de edifícios novos, seguindo os princípios do Desenho Universal.Sensibilizar as <strong>em</strong>presas do sector privado sobre a contratação das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Sensibilizar as <strong>em</strong>presas do sector privado sobre o melhoramento da acessibilidade e da ergonomia noslocais de trabalho.<strong>As</strong>sociaçõesde <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiênciaOutrasassociaçãoese grupos dasociedade civilMundoacadémico euniversitárioDifundir e enriquecer o saber existente sobre a questão da Deficiência <strong>em</strong> Moçambique, e sobretudono meio urbano, pela produção de estudos e de relatórios envolvendo estreitamente as APCD, o meiouniversitário e o INE.Eixo 2Aplicar e melhorar o quadro legislativo existenteAplicar textos e leis existentes, sobretudo os que garant<strong>em</strong>:- O carácter gratuito dos medicamentos e dos cuidados de saúde para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência maisvulneráveis nas unidades de saúde e nas farmácias públicas- A isenção de taxas de escolaridade para as crianças <strong>com</strong> deficiência de famílias vulneraveis- A contratação de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência no sector públicoAmpliar a impl<strong>em</strong>entação da educação inclusiva, sobretudo nas escolas secundárias e no ensinosuperior.Acelerar o estabelecimento do Conselho Nacional da Deficiência assim <strong>com</strong>o a elaboração do PNAD II(2011-2015).76 77


Re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioDiscussãoInstaurar mecanismos aliciantes (vantagens fiscais) ou coercitivos (quotas mínimas) a fim de favorecera contratação de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nos sectores públicos e privados.Impl<strong>em</strong>entar o quadro técnico e legislativo existente afim de tornar acessível:- Os edifícios públicos (administrações, hospitais infraestruturas desportivas…),- Os edifícios que acolh<strong>em</strong> o público (bancos, lojas, museus…),- Transportes públicos (chapas, machibombos…),- Espaços públicos (ruas, passadeiras, parques….).Clarificar as condições de atribuição e os direitos relativos ao cartão de pessoa <strong>com</strong> deficiência (ocarácter gratuito dos transportes públicos, dos medicamentos, dos eventos culturais…).Clarificar a repartição das <strong>com</strong>petências entre os Orgãos do Estado e as Autarquias Locais no processode descentralização <strong>em</strong> obra, sobretudo nos sectores ligados ao desenvolvimento sanitário e social.Apoiar o processo de ratificação pela República de Moçambique da Convenção das Nações Unidaspara os Direitos das Pessoas <strong>com</strong> Deficiência.Eixo 3Tornar mais inclusivo o sist<strong>em</strong>a de serviços sanitários e sociaisFormar os profissionais dos serviços sanitários e sociais no acolhimento das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência(professores, agentes de saúde, educadores desportivos, formadores…).Melhorar a acessibilidade física dos serviços sanitários e sociais segundo princípios do Desenho Universal(construção de rampas de acesso, acessibilidade interior, adaptação das casas de banho…) para lhespermitir acolher os utentes <strong>com</strong> deficiência numa abordag<strong>em</strong> inclusiva.Reforçar o acesso da informação para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência no seio dos serviços (Braille, audio,pictogramas, multilinguag<strong>em</strong>), a fim de adapta-las as diferentes incapacidades assim <strong>com</strong>o ascaracterísticas linguísticas dos utentes.Favorecer o desenvolvimento dos serviços de apoio permitindo garantir ligações entre os serviçosnormais e os serviços especializados (serviços de transporte adaptado, serviços de tradução <strong>em</strong> línguade sinais ou Braille, serviços de adaptação de casas), sobretudo:- A criação no território de um serviço de apoio de Informação, Orientação e A<strong>com</strong>panhamento Social(SIOAS) <strong>com</strong>posto por equipas mistas (sociedade civil, <strong>com</strong>unidade, trabalhadores sociais daadministração local).- A criação de serviços de apoio destinados mais particularmente ás mulheres <strong>com</strong> deficiência, muitomais excluidas do sist<strong>em</strong>a dos serviços sanitários e sociais (aulas de alfabetização, creches, gruposde palavra, e de ajuda-mútua…).Fazer convergir as metodologias e os instrumentos de identificação e de a<strong>com</strong>panhamento das <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência.Apoiar-se nos secretários dos bairros para aplicar uma estratégia de <strong>com</strong>unicação social eficaz a escalalocal e para articular oferta e d<strong>em</strong>anda de serviços.Reforçar as trocas de práticas entre os profissionais dos serviços normais e especializados.Definir <strong>com</strong> os utentes uma Carta de Qualidade dos serviços que permite a sua integra-ção no sist<strong>em</strong>a<strong>com</strong>um.Estimular a d<strong>em</strong>anda dos utentes <strong>com</strong> vista a fazer do melhoramento da qualidade dos serviçosexistentes uma revendicação política dos cidadãos.Eixo 4Pôr a Deficiência no centro das estratégias de desenvolvimento localFavorecer uma abordag<strong>em</strong> transversal a fim de integrar d<strong>em</strong>aneira sist<strong>em</strong>ática as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência dentre osgrupos prioritários dos projectos e programas económicose sociais impl<strong>em</strong>entados pelas diferentes instituições doterritório.Reforçar as capacidades dos serviços de acção social dosMunicípios de <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>, para melhor tomar<strong>em</strong> <strong>em</strong>conta as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Clarificar os mecanismos de coordenação entre os serviçossociais dos OLE, dos AL e da sociedade civil ao níveloperacional.Intensificar e diversificar os fluxos de troca entre serviços,entre os Municípios e o INAS a fim de gerar capital socialno plano local: referenciamento dos utentes, trocas depráticas e de informação…Adoptar uma abordag<strong>em</strong> trans-territorial na resposta aosdesafios locais afim de ultrapassar o corte administrativoentre <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> e abordar a aglomeração na suaglobalidade.Criar um Fórum de Concertação <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>envolvendo a sociedade civil organizada, as autoridadeslocais e os provedores de serviços, a fim de instaurar umdiálogo permanente a escala do território.Elaborar e aplicar um «Plano de acção para a área daDeficiência” ao nível local, sobre o impulso do Fórum deConcertação, <strong>com</strong> objectivos anuais precisos <strong>em</strong> t<strong>em</strong>áticas,actores responsáveis apontados e orçamentos claramentedefinidos.Desenvolver e experimentar um sist<strong>em</strong>a de certificaçãodos edifícios e serviços inclusivos a escala da aglomeração(sist<strong>em</strong>a único de pictogramas nos serviços públicos, hoteis,restaurantes, parques, edifícios que acolh<strong>em</strong> o público,parag<strong>em</strong>s..).78 79


Re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioDiscussãoEixo 5Monitorar e avaliarReforçar as capacidades de advocacia do FAMOD e das APCD para velar sobre a impl<strong>em</strong>entação dostextos existentes e alertar a opinião pública sobre a situação das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Criar indicadores específicos na area da Deficiência e reforçar as capacidades dos actores locais (Municípios,INAS, APCD…) a monitorar os programas sociais aplicados.Apoiar-se no Conselho National da Deficiência para realizar a monitoria e a avaliação das políticaspúblicas nacionais e locais <strong>em</strong> prol das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Fiscalizar a aplicação das normas de acessibilidade para todas as novas construções públicas ou asdestinadas a acolher o público, <strong>em</strong> parceria <strong>com</strong> a Inspecção-Geral de Obras Públicas.Fiscalizar a aplicação efectiva da Estratégia da Pessoa <strong>com</strong> Deficiência na Função Pública (2009-2013)adoptada <strong>em</strong> Set<strong>em</strong>bro de 2009.Velar pela aplicação das disposições relativas, especificamente, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência no PEN III(2010-2014).Capitalizar as boas práticas e torná-las visíveis aos actores da zona.II/ Por Sectores de IntervençãoSaúdeSensibilizar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobre os seus direitos <strong>em</strong>termos de saúde, apoiando-se sobretudo no Artigo 25 da Convençãoe nas leis existentes ao nível nacional.Melhorar a acessibilidade física das unidades de saúde.Melhorar o acesso a informação nas unidades de saúde, sobretudo asmensagens de sensibilização e de prevenção.Formar profissionais da saúde ao atendimento e a responsabilizaçãodas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Melhorar o acesso aos medicamentos e aos cuidados de saúde paraas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nas unidades de saúde e nas farmáciaspúblicas : carácter gratuito dos medicamentos e dos cuidados,prioridade nas bichas dos postos de saúde, visitas domiciliarias paraas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> probl<strong>em</strong>as de mobilidade...Facilitar o acesso ao material de <strong>com</strong>pensação e as peças sobressalentes(criação de oficina de fabrico e manutenção do material de<strong>com</strong>pensação por ex<strong>em</strong>plo).Desenvolver estratégias específicas para as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência<strong>em</strong> matéria de luta contra o HIV/SIDA.Melhorar os dispositivos de detecção e de prevenção da Deficiência nas unidades de saúde.Ampliar a rede sanitária ao nível local para responder a d<strong>em</strong>anda de cuidados, sobretudo nos bairrosde expansão.EducaçãoSensibilizar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobre os seus direitos <strong>em</strong> termos de educação, apoiando-se,sobretudo, no Artigo 24 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional.Sensibilizar os pais sobre a necessidade de escolarizar osseus filhos <strong>com</strong> deficiência, se possível no sist<strong>em</strong>a inclusivo.Formar professores para que eles sejam capazes de recebercrianças <strong>com</strong> deficiência nas turmas.Melhorar a acessibilidade física das escolas e universidadespara lhes permitir acolher alunos <strong>com</strong> deficiência.Produzir e desponibilizar material didáctico adaptado aosdiferentes tipos de incapacidade.Isentar taxas de escolarização às crianças <strong>com</strong> deficiênciade famílias vulneraveis.Acelerar o desenvolvimento de educação inclusiva,sobretudo, nas escolas secundárias e no ensino superior.Desenvolver um serviço de tradutores <strong>em</strong> língua de sinaisno seio do Ministério da Educação.80 81


Re<strong>com</strong>endações para os actores do territórioDiscussãoFormação profissionalMelhorar a acessibilidade física dos centros de formação profissional.Adaptar os cursos e as metodologias de formação às necessidades das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Favorecer o acesso das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência ao sist<strong>em</strong>a de formação profissional e diversificar asorientações possíveis.Reforçar o laço entre o sist<strong>em</strong>a de formação e o sector privado para favorecer possível enquadramentoapós formação, sobretudo, através do desenvolvimento de um sist<strong>em</strong>a de estágios nas <strong>em</strong>presas.EmpregoSensibilizar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiêcia sobre os seus direitos <strong>em</strong> termos de <strong>em</strong>prego, apoiando-se,sobretudo, no Artigo 27 da Convenção e nas leis existentes ao nível nacional.Analisar o mercado de <strong>em</strong>prego <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong> a fim de estudar a adequação entre as necessidadesdas <strong>em</strong>presas e a força de trabalho desponível <strong>com</strong>posta por <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Criar centros locais de <strong>em</strong>prego a fim de favorecer a interacção entre a oferta e a d<strong>em</strong>anda de <strong>em</strong>prego paraas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência, <strong>em</strong> parceria <strong>com</strong> o Ministério do Trabalho e o INEFP.Favorecer a contratação de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nas <strong>em</strong>presas e administrações dos sectores públicose privados, por ex<strong>em</strong>plo instaurando mecanismos aliciantes (vantagens fiscais) ou coercitivos (quotasmínimas).Sensibilizar o sector privado no melhoramento da acessibilidade e da ergonomia nas <strong>em</strong>presas.Desporto e CulturaSensibilizar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobre os seus direitos <strong>em</strong> termos de participação na vida culturale recreativa, lazer e desporto, apoiando-se, sobretudo, no Artigo 30 da Convenção e nas leis existentesao nível nacional.Promover a prática de actividades físicas junto das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência e das suas famílias.Facilitar <strong>em</strong>prestimos ou <strong>com</strong>pra de material que permite a prática de desporto adaptado.Formar educadores na área do desporto adaptado.Melhorar a acessibilidade física das infraestruturas desportivas nos dois Municípios (estádios,ginásios …).Apoiar a formação de clubes e associações de desporto adaptado.Sensibilizar o público <strong>em</strong> geral sobre as actividades do desporto adaptado afim de suscitar uma mudançareal na opinião sobre as capacidades das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência.Facilitar a produção e a programação de obras envolvendo artistas <strong>com</strong> deficiência.Melhorar a acessibilidade física das infraestruturas culturais existentes : cin<strong>em</strong>a, teatro, centrosculturais…Serviços e programas sociaisSensibilizar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobre os seus direitos <strong>em</strong> termos de protecção social, apoiandose,sobretudo, no Artigo 29 da Convenção e nos textos existentes ao nível nacional.Reafirmar a inclusão das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência <strong>com</strong>o grupo prioritário dos serviços e programassociais.Informar as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência sobreos programas de protecção social existentes,sobretudo a nova Lei de Protecção socialbásica apoiando-se nas APCDE.Reforçar as capacidades dos técnicos doINAS ao nível local, distrital e provincial parauma melhor inclusão e um a<strong>com</strong>panhamentomais eficaz das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência nosprogramas de assistencia social.Reforçar as capacidades dos serviçosda acção social dos Municípios de <strong>Maputo</strong> e<strong>Matola</strong>, para uma melhor inclusão das <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência.Melhorar a acessibilidade física das unidadessociais existentes <strong>em</strong> <strong>Maputo</strong> e <strong>Matola</strong>.82 83


BibliografiaTABELAS E ILUSTRAÇÕESALEJANDRO (V.A.), NORMAN (A.G.), Manual Introductorio al Analise de Redes Sociales, Mexico, 2005.BADIE (B.), L’État Importé, Collection l’Espace du politique, Paris, Fayard, 1992.BAKER (J.), Rural-urban Dynamics in Francophone Africa, Uppsala, Nordiska Afrikainstitute, 1997.BANFIELD (E.), The Moral Basis of a Backward Society, New-York, Free Press, 1958.CLARK (L.), Network Mapping as a Diagnostic Tool Manual, La Paz, Centro Internacional de AgriculturaTropical, 2006.DUFLO (E.), Expérience, Science et Lutte contre la Pauvreté, Paris, Collège de France/Fayard, 2009.EIDE (A), KAMALERI (Y), Living Conditions among People with Disabilities in Mozambique, Oslo, SINTEF,2009.ELWAN (A.), Poverty and Disability : A Survey of the Literature, Washington DC, World Bank, 1999.Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, Civil Society in Mozambique 2007, <strong>Maputo</strong>, 2008.Governo de Moçambique, Plano Nacional de Acção da Área da Deficiência, <strong>Maputo</strong>, 2006.GROSH (M), DEL NINNO (C), TESLIUC (E), OUERGHI (A), For Protection and Promotion: The Design andImpl<strong>em</strong>entation of Effective Safety Nets, World Bank, Washington, 2008.<strong>Handicap</strong> International, Document d’Orientation pour une Politique de Développ<strong>em</strong>ent Local Inclusif, Lyon,2008.<strong>Handicap</strong> International-Christian Blind Mission, Disability in Development: Experiences in Inclusive Practices,Lyon/Bensheim, 2006.LACHARTRE (B.), Enjeux Urbains au Mozambique: de Lourenço Marques à <strong>Maputo</strong>, Paris, Karthala, 2000.MAGODE (J.), Pouvoirs et Réseaux Sociaux au Mozambique, Paris, Connaissance et Savoirs, 2005.Ministério da Administração Estatal, Folha Informativa dos Municipios II, <strong>Maputo</strong>, 2002.Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social, Responsabilidades do Estado Moçambicano <strong>em</strong>Relação à Pessoa Portadora de Deficiência, <strong>Maputo</strong>, 2000.Ministério da Mulher e Coordenação da Acção Social, Política para a Pessoa Portadora de Deficiência,<strong>Maputo</strong>, 2000.Ministério do Plano e Finanças, Perfil Provincial de Pobreza e Desenvolvimento Humano: Município de<strong>Maputo</strong>, <strong>Maputo</strong>, 2000.MERCKLÉ (P.), Sociologie des Réseaux Sociaux, Collection Repères, Paris, La Découverte/ Syros, 2006.Secretariado da Década Africana de Pessoas Portadores de Deficiência, Situação da Deficiência Física <strong>em</strong>Moçambique, Cidade do Cabo, 2008.SERRA (C.), At the Crossroads, A Study of Social Precariousness in Three Towns in Mozambique, Dakar,2005.84


AnexosANEXO 1 - Lista das <strong>As</strong>sociações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiencia encontradas<strong>As</strong>sociações de <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência Representante Ano de criação Tipo de deficiência dos m<strong>em</strong>brosACAMO <strong>As</strong>sociação de Cegos e Amblíopes de Moçambique José Diquissone 1995 VisualACRIDEME <strong>As</strong>sociação de pais e amigos de Crianças Deficiêntes Mentais Berta Biose 1994 MentalADEMIMO<strong>As</strong>sociação de Deficiêntes Militares e Paramilitares deMoçambiqueVirgilio Evaristo Wanela 1992 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualADEMO <strong>As</strong>sociação dos Deficientes Moçambicanos Ricardo Moresse 1989 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualADESU <strong>As</strong>sociação dos Deficiêntes do Ensino Superior Elias José David 1995 MentalADPPDCMADPPDPM<strong>As</strong>sociação de Desporto da Pessoa Portadora deDeficiência da Cidade de <strong>Maputo</strong><strong>As</strong>sociação Desportiva para Pessoas <strong>com</strong> Deficiência daProvincia de <strong>Maputo</strong>Raimundo Manuel Patrocinio 2007 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualAlberto Chave Ngoma 2003 Visual / Auditiva / MotoraAJODEMO <strong>As</strong>sociação dos Jovens Deficiêntes de Moçambique Cantol Alexandre Pondja 1995 MotoraAMDV <strong>As</strong>sociação Moçambicana dos Deficientes Visuais José Alvaro Macou 2003 Visual / MotoraAMMDAMOFAS<strong>As</strong>sociação Moçambicana de Mulheres portadoras deDeficiência<strong>As</strong>sociação Moçambicana dos Familiares e Amigos dosSurdosEuf<strong>em</strong>ia Amela 2007 MotoraMarilia Filomena Amade 1995 AuditivaASUMO <strong>As</strong>sociação dos Surdos Moçambicanos Agostinho Foliche 1999 AuditivaCERCICINFORTECNICACODDEFAMCooperativa para a Educação e a Reabilitação deCidadões Inadaptados<strong>As</strong>sociação de Jovens Técnicos Portadores de Deficienciade MoçambiqueComité de Defesa dos Deficiêntes das Forças Armadas deMoçambiqueNelson Beete 2002 Auditiva / Motora / IntellectualSergio Manuel Simone 2005 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualTomas Chigamane 2002 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualCPM Comité Paralimpico de Moçambique Jorge Miguel Bai Bai 2008 Visual / Auditiva / Motora / IntellectualNLHUVUKU Grupo teatral João Magaia 1997 MotoraRAVIM Rede para <strong>As</strong>sistência as Vitimas de Minas Luis Silvestre Wamusse 2005 MotoraFAMOD Forum das <strong>As</strong>sociações Moçambicanas de Deficientes Ricardo Moresse 1998 Rede nacional das APCD86 87


ANEXO 2 - Lista dos Orgãos do Estado e dos Orgãos autárquicos encontradosAnexosANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontradosNACIONALOrgãos do EstadoRepresentanteMinistério da Mulher e da Acção Social S.Excia Ministra Iolanda Maria CinturaDirecção Nacional do Instituto Nacional deAcção SocialDirecção da Mulher e da Acção Social daCidade de <strong>Maputo</strong>Directora nacionalDirectora provincialLúcia Bernardete PedroMaivosseAngelina Paulo LubrinoProvedores de serviços sanitarios e sociais Estatuto Bairro<strong>As</strong>sociação dos alvanários de Moçambique Privado 25 de JunhoDirecção Distrital da Mulher e Acção Social do Distrito Municipal n°5 Público 25 de Junho ACentro ortopédico - A.F. Abegão Lda Privado Alto-MaéCentro de saúde de Bagamoyo Público BagamoyoCentro de saúde de Bagamoyo Público BagamoyoMAPUTOPROVINCIADE MAPUTODelegação do INAS da Cidade de <strong>Maputo</strong> Delegada provincial Cilda Antonio CossaDirecção de Saúde da Cidade de <strong>Maputo</strong> Director provincial António Paulino RodriguesDirecção da Educação e Cultura da Cidadede <strong>Maputo</strong>Direcção da Juventude e Desportos daCidade de <strong>Maputo</strong>Direcção Distrital da Mulher e Acção Socialdo Distrito Municipal n°5Direcção da Mulher e da Acção Social daProvincia de <strong>Maputo</strong>Director provincialDirector provincialDirectora distritalDirector provincialGedião João JamoAntonio Alberto MunguambeAna Eduardo C. InvõaLuciano JoséDelegação do INAS da Provincia de <strong>Maputo</strong> Delegado provincial Geraldo Abilio BazoDirecção de Saúde da Provincia de <strong>Maputo</strong> Directora provincial Cr<strong>em</strong>ilda Alice da SilvaDirecção de Educação e Cultura da Provinciade <strong>Maputo</strong>Direcção da Juventude e Desportos daProvincia de <strong>Maputo</strong>Director provincialDirectora provincialLucas Paulo FernandoAna Albertina WateSAÚDECooperativa para a educação e a reabilitação de cidadões inadaptados Privado BaixaDepartamento de medicina fisica e reabilitação do Hospital Central Público CentralCentro ortopédico do Hospital Central Público CentralServiços de oftamológia do hospital central Público CentralCentro de saúde Licuacuanine Privado KhongoloteCentro de saúde de Khongolote Público KhongoloteCentro de saúde de Denise Irmãos Privado KhongoloteFarmácia Khongolote Privado KhongoloteFarmacia Licuacuanine Privado KhongoloteCentro de saúde de Magoanine A Público Magoanine A<strong>As</strong>sociação dos Medicos Tradicionais de Moçambique Privado Magoanine ACentro de saúde Kungaya Privado Magoanine BPosto de saúde Magoanine Tendas Público Magoanine CPosto de saúde Magoanine Tendas Público Magoanine CCentro de medicina fisica e reabilitação Vikhela Privado MalhangaleneCentro de reabilitação infantil de Malhangalene Público MalhangaleneServiço de Saúde, Mulher e Acção Social daCidade de <strong>Matola</strong>DirectoraCeleste MoreiraCentro de saúde Tinashe Privado MalhazineFarmacia de Malhazine Privado MalhazineMUNICIPIODE MAPUTOMUNICIPIODA MATOLAOrgãos autárquicosVereação de Saúde e Acção Social doMunicipio de <strong>Maputo</strong>Vereação de Educação, Cultura e Desportodo Municipio de <strong>Maputo</strong>Vereação / Administração do DistritoMunicipal n°5Gabinete do Genero, Empoderamento daMulher e Acção Social do MunicipioVereação da Cultura, Juventude e Desportosdo Municipio da <strong>Matola</strong>VereadorVereadorVereadorDirectoraVereadorRepresentanteAlexandre MunguambeSimião MucaveleLourenzo Duarte MabangaFlorencia MuiangaJosé Bento CoffePosto Administrativo de Infulene Chefe do posto Manuel OuanaFarmacia Aloe Vera Privado MalhazineCentro de saúde de Ndlavela Público NdlavelaFarmâcia Stefane Privado NdlavelaPosto de saúde de T3 Público T3CINFORTECNICA Privado UrbanizaçãoMinisterio Arco- Iris Privado ZimpetoCentro de Saúde de Zimpeto Público ZimpetoCentro de saúde Moyo Privado ZimpetoFarmacia Zabdiel Privado ZimpetoHospital psiquiatrico de Infulene Público ZimpetoDirecção da Juventude e Desportos daCidade de <strong>Maputo</strong>Director provincialAntonio Alberto MunguambeDirecção Distrital da Mulher e Acção Socialdo Distrito Municipal n°5Directora distritalAna Eduardo C. Invõa88 89


AnexosANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontradosEDUCAÇÃOProvedores de serviços sanitarios e sociais Estatuto BairroEscola <strong>com</strong>unitária 1° de Maio Privado 1° de Maio<strong>As</strong>sociação de cegos e ambliopes de Moçambique Privado Alto MaéEscola primaria <strong>com</strong>pleta Infulene Benfica Público BagamoyoEscola de educação especial nº 1 Público Bairro CentralEscola primária <strong>com</strong>pleta Especial n°2 Público Bairro CentralCERCI Privado Baixa<strong>As</strong>sociação moçambicana dos deficiêntes visuais Privado Hulene BEscola primaria <strong>com</strong>pleta 1 de Junho Público Jorge DimitrovEscola primaria <strong>com</strong>pleta São Francisco Xavier Privado Jorge DimitrovEscola <strong>com</strong>unitária Jorge Dimitrov Público Jorge DimitrovEscola primaria Unidade 29 Público Jorge DimitrovEscola Primária do 2° grau de Mubukwane Público Jorge DimitrovEscola primaria Unidade 29 Público Jorge DimitrovEscola primaria <strong>com</strong>pleta São Francisco Xavier Privado Jorge DimitrovEscola <strong>com</strong>unitária Missão Yoido Público KhongoloteEscola primeira <strong>com</strong>pleta de Khongolote Público KhongoloteEscola <strong>com</strong>unitária Missão Yoido Público KhongoloteEscola <strong>com</strong>unitária Hitahlula Privado KhongoloteEscola primaria 19 de Outubro Público Magoanine AColégio Ilia Privado Magoanine ACentro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moçambique Privado Magoanine AEscola primaria <strong>com</strong>pleta de Magoanine A Público Magoanine AEscola secundaria de Magoanine A Público Magoanine ACentro de alfabetização de adultos da Igreja <strong>As</strong>s<strong>em</strong>bleia de Deus Privado Magoanine ACentro de alfabetização e educação de adultos Público Magoanine ACentro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moçambique Privado Magoanine AEscola primaria de Magoanine B Público Magoanine BEscola primaria Artur Hussene Canana Público Magoanine CEscola primária <strong>com</strong>pleta 10 de Janeiro Público Magoanine CCentro de recursos de Magoanine C Privado Magoanine CEscola <strong>com</strong>unitária da ADEMO Privado MalhangaleneEscola primária <strong>com</strong>pleta de Malhazine Público MalhazineEscola secundária de Malhazine Público MalhazineEscola primária <strong>com</strong>pleta Samora Machel Público NdlavelaEscola primária <strong>com</strong>pleta de Ndlavela Público NdlavelaEscola secundária 3 de Maio Privado NdlavelaEscola primária <strong>com</strong>pleta Unidade T3 Público T3Escola primária Nossa Senhora do Livramento Público T3Escola <strong>com</strong>unitária Nossa Senhora do Livramento Privado T3Escola <strong>com</strong>unitária Nossa Senhora do Livramento Privado T3Escola primaria <strong>com</strong>pleta de Zimpeto Público ZimpetoEscola primaria <strong>com</strong>pleta Ingrid Chawner Público ZimpetoMinisterio Arco- Iris Privado ZimpetoEDUCAÇÃOFORMAÇÃOPROFISSIONALEEMPREGOSERVIÇOSEPROGRAMASSOCIAISProvedores de serviços sanitarios e sociais Estatuto BairroEscola primaria <strong>com</strong>pleta Wiryamu Público ZimpetoEscola secundaria Quisse Mavota Público ZimpetoEscola primaria <strong>com</strong>pleta Wiryamu Público ZimpetoACAMO Privado Alto MaéInstituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Bairro Central) Público Bairro CentralInstituto Nacional de Emprego e Formação Profissional (Bairro Central) Público Bairro CentralCentro de formação profissional de eletrotecnia do INEFP Público FPLM<strong>As</strong>sociação <strong>com</strong>unitária Tintswalo Privado Jorge DimitrovCaixa Comunitária de Microfinanças de <strong>Maputo</strong> - Norte Privado Jorge DimitrovInstituto Nacional do Emprego e Formação Profissional (Machava) Público MachavaColégio Ilia Privado Magoanine A<strong>As</strong>sociação dos Medicos Tradicionais de Moçambique Privado Magoanine ACentro de alfabetização de adultos da Igreja <strong>As</strong>s<strong>em</strong>bleia de Deus Privado Magoanine A<strong>As</strong>sociação das Mulheres Jovens Vítimas das Cheias de 2000 Privado Magoanine CCentro de recursos de Magoanine C Privado Magoanine C<strong>As</strong>sociação cultural Muhodjo Privado Magoanine CEscola <strong>com</strong>unitária da ADEMO Privado Malhangalene<strong>As</strong>sociação de crédito Josina Machel Privado T3CINFORTECNICA Privado UrbanizaçãoCentro juvenil Ingrid Chawner Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação Reconstruindo a Esperança Privado ZimpetoMinisterio Arco- Iris Privado ZimpetoEscola secundaria Quisse Mavota Público Zimpeto<strong>As</strong>sociação Reconstruindo a Esperança Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação Nthananu Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação Agro-Pecuária de Golhosa Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação Agro-Pecuária de Golhosa Privado ZimpetoFutebol Clube de Chindjerere Privado Jorge Dimitrov<strong>As</strong>sociação <strong>com</strong>unitária Tintswalo Privado Jorge Dimitrov<strong>As</strong>sociação <strong>com</strong>unitária Tintswalo Privado Jorge Dimitrov<strong>As</strong>sociação das escolinhas Privado Jorge DimitrovEscola primaria <strong>com</strong>pleta São Francisco Xavier Privado Jorge DimitrovCentro infantil Sol de Khongolote Privado KhongoloteEscola <strong>com</strong>unitária Missão Yoido Público KhongoloteColégio Ilia Privado Magoanine ACentro de alfabetização da Igreja Evangélica da Salvação de Moç Privado Magoanine AEscolinha Anjo Azul Privado Magoanine BEscolinha Sacrificio da Mãe Privado Magoanine BEscolinha Cantinho da Borboleta Privado Magoanine BEscolinha Magoanine B Privado Magoanine BEscolinha Glim-Glim Privado Magoanine B9091


AnexosANEXO 3 - Lista dos Provedores de serviços sanitarios e sociais encontradosSERVIÇOSEPROGRAMASSOCIAISDESPORTO ECULTURACentro infantil Casa da Familia Privado Magoanine CCentro de recursos de Magoanine C Privado Magoanine C<strong>As</strong>sociação cultural Muhodjo Privado Magoanine CCentro de trânsito de Malhangalene Público MalhangaleneEscolinha Santa Baquita Privado Malhazine<strong>As</strong>sociação Yinguisseta Privado Malhazine<strong>As</strong>sociação Yinguisseta Privado MalhazineEscolinha Alegria Privado NdlavelaEscolinha Nova Privado NdlavelaCentro infantil Funda Privado NdlavelaEscola <strong>com</strong>unitária Arco-Iris Privado NdlavelaCentro infantil Villas Privado NdlavelaCentro infantil Flor da Paz Público T3Obra Dom Orion Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação de activistas de educação para a sociedade Privado Zimpeto<strong>As</strong>sociação de activistas de educação para a sociedade Privado ZimpetoFutebol clube de Khongolote Privado KhongoloteComissão desportiva Privado Magoanine CGrupo cultural Ngalanga Privado Magoanine CGrupo cultural Muthimba Privado Magoanine CCentro <strong>com</strong>unitário aberto de Magoanine C Público Magoanine C<strong>As</strong>sociação cultural Muhodjo Privado Magoanine CSelmas Ballet Privado MalhangaleneSelmas Ballet Privado MalhangaleneSelmas Ballet Privado MalhangaleneRaizes Futebol Clube Privado Ndlavela92


RAVIM - REDE PARA ASSISTÊNCIA ÁS VITIMAS DE MINASAv. Milagre Mabote, nº 852Bairro da Malhangalene, <strong>Maputo</strong>Tel: 21 417 859E-mail: vitimasminas@gmail.<strong>com</strong>HANDICAP INTERNATIONAL MOÇAMBIQUEAv. Agostinho Neto, nº 49 R/CBairro da Polana Cimento B, <strong>Maputo</strong>Tel/Fax: 21 486 298/21 486 302E-mail: himozrecep@tvcabo.co.mzWebsite: www.handicap-international.org

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