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As pessoas com deficiência em Maputo e Matola - Handicap ...

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Representação social da DeficiênciaCapítulo1II/ Aceitação da pessoa <strong>com</strong> deficiência na sociedadea) A pessoa <strong>com</strong> deficiência é frequent<strong>em</strong>ente isolada da famíliaFace à vergonha sentida, algumas famílias vão ao ponto de esconder<strong>em</strong> os filhos, irmãos ou parentes<strong>com</strong> deficiência, e a mantê-los fora do olhar da <strong>com</strong>unidade. “Há casos de famílias que não levam os seusparentes <strong>com</strong> deficiência à igreja a fim de preservar a sua imag<strong>em</strong> entre os fieis”Acontece igualmente que algumas delas opõ<strong>em</strong>-se, abertamente, ao casamento de um dos m<strong>em</strong>bros dafamília <strong>com</strong> deficiência, afim de não denegrir a reputação da família ou porque este não é considerado<strong>com</strong>o suficient<strong>em</strong>ente apto a garantir a segurança material do lar.Mas o mais normal, é sobretudo a falta de solução para um atendimento apropriado (creche, escola, centrode formação, posto de trabalho adaptado...) – principalmente quando a deficiência leva a uma situação degrande dependência – levando as famílias a manter<strong>em</strong> a pessoa <strong>em</strong> casa. S<strong>em</strong> espaço de socialização para<strong>com</strong> o mundo exterior, torna-se então difícil prever uma integração ou a realização de um projecto viradopara os outros.b) Um meio discriminadorParalelamente às dificuldades de integração social cujas <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência pod<strong>em</strong> ser vítimas (terum <strong>em</strong>prego estável, estudar, fundar uma família, ter uma casa <strong>em</strong> condições), constata-se que elassão acima de tudo vítimas de preconceitos no seio das suas <strong>com</strong>unidades. Que seja na visinhança, naslojas, nos transportes, na escola, na <strong>em</strong>presa, no mercado (quando elas se faz<strong>em</strong> presentes) as <strong>pessoas</strong><strong>com</strong> deficiência inqueridas falam de atitudes de desdém, de desprezo, até mesmo de rejeição pelos seusconcidadãos. Para as crianças, estas atitudes manifestam-se pela exclusão nos jogos durante o recreio (nasescolas) ou mesmo na rua. Uma mãe inquerida disse que ela leva o seu filho <strong>com</strong> deficiência para brincarna rua <strong>com</strong> as outras crianças, os pais destes precipitam-se instando aos seus filhos para se afastar<strong>em</strong> delepara “não se tornar<strong>em</strong> também malucos”.E parece normal que as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência recebam alcunhas particularmente humilhantes dadas por<strong>pessoas</strong> da rua ou da vizinhança, alcunhas referentes ao tipo de deficiência: cocho, chimbuinha, chigono,chikhurumba... Os motoristas de chapas cobram regularmente o preço de dois lugares a <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência que quer<strong>em</strong> subir <strong>com</strong> as suas cadeiras de roda, e muitas vezes elas são ignoradas a beira dasestradas para não perder<strong>em</strong> t<strong>em</strong>po. Exist<strong>em</strong> <strong>pessoas</strong> que lhes cobram dinheiro na rua para um determinadofavor feito podendo ser ajudar a atravessar a rua, carregar um cesto, ler um insignio...d) Alguns factores pessoais reforçariam ou atenuariam a discriminação socialO tipo e o graú da deficiênciaAlgumas deficiências parec<strong>em</strong> ser mais discriminantes que outras. A deficiência intelectual e mental, ouainda o albinismo são consideradas <strong>com</strong>o as mais estigmatizadas na zona do nosso estudo. Paralelamente,a gravidade da deficiência é proporcional a exclusão do meio.A idadeA idade é também considerada um factor discriminante. <strong>As</strong> famílias tend<strong>em</strong> a ajudar, de maneira espontânea,uma criança <strong>com</strong> deficiência, a se lavar, a ir a casa de banho, movimentar-se dentro de casa... Quando estacriança torna-se adulta, ela é normalmente deixada de lado, carecendo assim de ajuda da família nassuas actividades quotidianas. <strong>As</strong> incapacidades agravam-se <strong>com</strong> a idade, quanto mais as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong>deficiência tornam-se adultas, a dependência se agrava, e a situação torna-se ainda mais probl<strong>em</strong>ática.O género<strong>As</strong> mulheres <strong>com</strong> deficiência sofr<strong>em</strong> muitas vezes uma dupla discriminação pelo seu meio e pela sociedade<strong>em</strong> geral, quer dizer barreiras para ter acesso a educação, ao <strong>em</strong>prego ou ainda ao lazer. Elas estão também,e de maneira muito particular, espostas ao risco do abuso sexual. « Conheço homens que abusam asmulheres <strong>com</strong> deficiência para satisfazer<strong>em</strong> seus desejos sexuais » fim da citação. Os casos de violaçãosexual colhidos durante o nosso inquérito mostram a extr<strong>em</strong>a vulnerabilidade face ao risco de gravideznão desejada ou infecção por doenças sexualmente transmissíveis.A situação económica da pessoa e da famíliaUma pessoa <strong>com</strong> deficiência t<strong>em</strong> mais chances de ser aceite pela <strong>com</strong>unidade se a família tiver condiçõespara satisfazer as necessidades básicas e específicas desta que a ajudam a tornar-se autonoma <strong>em</strong> relaçãoao resto da <strong>com</strong>unidade. Por ex<strong>em</strong>plo, uma família rica pode contratar uma <strong>em</strong>pregada doméstica paracuidar do seu filho ou filha <strong>com</strong> deficiência enquanto os pais trabalham, ela pode adquirir material de<strong>com</strong>pensação que permite a mobilidade da criança no bairro. É muito mais fácil para a própria pessoa<strong>com</strong> deficiência considerar-se ou ser considerada normal pela <strong>com</strong>unidade se ela tiver um <strong>em</strong>prego oufrequentar uma escolac) A tentação da auto-exclusãoFace as múltiplas formas de discriminação que lhes são sujeitas fora de casa, algumas <strong>pessoas</strong> inqueridasoptam pela resignação e auto-exclusão. Por falta de auto-estima, ou mesmo pela dificuldade de aceitara sua deficiência, elas prefer<strong>em</strong> isolar-se do resto da <strong>com</strong>unidade a entrar <strong>em</strong> contacto <strong>com</strong> o mundoexterior. Vizinhos, estruturas sociais e <strong>com</strong>unitárias, serviços... A estigmatização provoca muitos probl<strong>em</strong>aspsíquicos nas <strong>pessoas</strong> excluídas ou que se traduz, normalmente, <strong>em</strong> <strong>com</strong>plexo de inferioridade, falta deconfiança nas suas capacidades, resignação. « Muitas vezes são as próprias <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> deficiência quese exclu<strong>em</strong> das suas <strong>com</strong>unidades. Conheço alguém que vive fechado no seu quarto porque t<strong>em</strong> vergonhade sair » disse um dos inqueridos. Muitos crêm que a auto-estima é o primeiro passo a dar antes de sevirar para os outros.3031

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