mais uma doação. Com ela, o acervo aumentou dos já respeitáveis13.659, para mais de 15 mil livros, de 36 idiomasdiferentes. A média de retirada para empréstimos é de millivros por mês.Apesar de trabalharem com uma população prisionaldiferenciada, com um maior nível de escolaridade em relaçãoàs demais unidades prisional do Estado, Fábio Denardi,diretor de Educação e José Aparecido Veiga Filho, agentede segurança responsável pela biblioteca, esforçam-se emestimular a leitura, facilitando ao máximo o acesso dosreeducandos ao acervo.Na Penitenciária de Itaí, cada pavilhão tem uma listacom todos os títulos disponíveis na biblioteca. Essa listafica com um sentenciado daquele pavilhão, denominadoauxiliar de biblioteca. Os demais presos escolhem da listao que querem ler e o auxiliar separa os livros e os entregaa cada solicitante.Veiga Filho explica que eles procuram escolherauxiliares de biblioteca que falem pelo menos dois outrês idiomas; alguns deles falam cinco. Quando chega umsentenciado novo ao pavilhão, o auxiliar se apresenta aoingressante explicando o que faz e que na biblioteca hálivros no idioma do recém-chegado. “Nós montamos umsistema semanal com eles. O auxiliar passa de cela em celaoferecendo os livros”, revela Filho. Com a assistência deum dos reeducandos que trabalha diretamente na biblioteca,de origem búlgara, os nomes de várias obras escritas emidiomas do leste europeu passaram a ser escritas no catálogono alfabeto cirílico original.As obras mais lidas estão em inglês; o segundoidioma mais lido é o espanhol e a língua portuguesa estáem terceiro lugar. Assim como no resto do mundo, o autorbrasileiro mais lido é Paulo Coelho, seguido de Jorge Amado.Os best sellers de Dan Brown e John Grisham fazemsucesso, assim como a série Harry Potter. Todavia, clássicosda literatura como “O Amor nos Tempos do Cólera” e“Robinson Crusoé” também são disputados, assim como“1808”, obra histórica sobre o processo de Independênciado Brasil. Apesar desta última, obras de ficção e romances,inclusive os policiais, estão entre as preferências dos presosda unidade.18Revista <strong>SAP</strong>Para José Aparecido Veiga Filho, os livros ajudam aminorar a angústia dos reeducandos “Eu acredito que a dormaior do indivíduo, na privação da liberdade, é a da saudade.Saudade da sua terra, dos seus familiares. Então elesdescobriram nos livros uma forma de minimizar essa dor.Nós acreditamos que no livro há terapia também”, reforçaVeiga Filho.A cultura liberta, mas também pode promover conflitos.Como os funcionários lidam com as diferenças culturais,especialmente religiosos? Com tranquilidade, explica o diretorgeral de Itaí: “o respeito a isso no convívio diário é muitogrande. A questão religiosa é de foro íntimo e a pessoa temo aspecto individual preservado”. Exemplo disso é a alimentaçãoespecial seguida pelos presos de origem mulçumana.O consumo de carne que não seja halal – de animal abatido,de acordo com os preceitos da religião – é proibido. Então,no preparo da alimentação diária, os próprios presos separamo alimento dos mulçumanos, não colocando carne. Assimcomo católicos e protestantes, os judeus têm a atenção deum sacerdote – no caso, um rabino – que vai até a unidadenas épocas determinadas pelo calendário religioso.Conhecendo outras culturas – Uma das agentesresponsáveis pelo recebimento de correspondência da unidade,Sueli Aparecida Pereira viaja pelo mundo através doscartões postais: “Através dos cartões e das visitas, a genteconheceu muitas culturas diferentes”, confirma. Além dela,Ilsineia Aparecida Nene, Maria da Conceição Teruel, CleiaQueiroz e Priscila de Fátima Gomes formam o time de cincofuncionárias que cuidam de tudo que chega de fora: deencomendas a visitantes. Duzentas cartas são recebidas pordia em média; já a de visitantes é bem menor, ficando emtorno de cinquenta visitantes no sábado e mais ou menoso mesmo número no domingo. Atendendo com atenção ecortesia, elas surpreendem aqueles que pensam que o maridoou filho está sendo maltratado e muitas vezes servem deconselheira ou simplesmente de ombro amigo. “A gente éum pouquinho psicóloga, um pouquinho assistente social”,compara Priscila Gomes. A cordialidade está lado a lado como rigor nos procedimentos. “É tudo bem claro: mantemoso respeito, mas temos que fazer nosso trabalho na hora darevista”, salienta Gomes.
Essa função social com relação aos visitantes vai alémdo dia de visita. Uma parte minoritária, mas significativa dospresos estrangeiros, já morava no Brasil e quando foi presa,já havia constituído família. Outros acabam criando algumvínculo durante a pena, embora os critérios para entrada norol de visitas sejam bem rigorosos. Alguns desses visitantes,por conveniência, acabam fixando residência em Itaídurante o cumprimento de pena do parente. Por conta disso,as assistentes sociais da Penitenciária estão trabalhando emconjunto com a rede de atendimento social local, fazendo umlevantamento da quantidade de familiares que estão fixandoresidência na cidade. Elas já têm um trabalho estabelecido deparceria com os centros de Referência de Assistência Socialde todo o Estado.Apesar do contato com essa diversidade de condiçõessociais e culturais, talvez a lição mais rica que a vivência napenitenciária de Itaí ofereça a seus funcionários é a percepçãoda igualdade entre as pessoas, independente da origem “Euentendo que o universo prisional é muito rico, em termosde experiência e construção. E eu posso dizer que este émais ainda. Ele oferece, além dessas funcionalidades, asdiferentes culturas e mostra que ser humano é ser humanoem qualquer local, em qualquer ponto do universo”, concluio diretor.Execução Penal de Preso EstrangeiroO processo de execução penal tem como atores,o Juízo da Execução, o Ministério Publico, a defesa, quepode ser exercida por advogado constituído ou defensorpúblico.Como explica o defensor Público Federal Fernandode Souza Carvalho, membro do Grupo de Trabalho de PresosEstrangeiros da Defensoria Pública da União/São Paulo: “Asdificuldades começam pela difícil compreensão do preso estrangeiroa toda sistemática legal a que está sujeito. No casode presos estrangeiros condenados pela Justiça Federal, porexemplo, inicialmente são processados por um Juiz Federale defendidos por um Defensor Público Federal. Enquantoisso, na execução da pena, são julgados e assistidos por JuízesEstaduais da Execução e Defensores Públicos Estaduais,respectivamente”.A juíza Roberta de Oliveira Ferreira, de Avaré, explicaque naquela comarca, de onde ela acompanha o cumprimentode pena dos presos de Itaí, não há muita diferença notocante ao andamento do processo e concessão de benefícios,salvo quando reformadas as decisões por algumas Câmarasdo Tribunal de Justiça de São Paulo que entendem não caberbenefícios de livramento condicional ou progressão de regimepara estrangeiros.Ela acrescenta que a única diferença é que em todosos processos de estrangeiros, sempre é comunicado oMinistério da Justiça acerca da execução e questionado arespeito de processo de expulsão ou extradição. “Quandoé informado que existe o decreto de expulsão, eu libero osentenciado, mesmo antes do cumprimento integral da pena,para ser expulso do país, através da Polícia Federal. Algunspresos são transferidos para cumprimento de pena no país deorigem, nos casos em que há tratado com o Brasil. Quandohá evasão do preso (geralmente em caso de saída temporária,alguns não regressam), é informado para Interpol, além daPolícia Federal para que seja possível a recaptura. Quandoo preso é brasileiro, somente informa-se a Polícia Civil”,esclarece.Atuando desde 2011 na Comarca de Avaré, a juízasalienta que as dificuldades maiores a respeito do presoestrangeiro estão presentes na fase de inquérito policial eprocesso de conhecimento, antes da condenação, quandoé preciso cientificar o preso da acusação e ouvi-lo, além depermitir a assistência de advogado e de sua família. Muitosconsulados são presentes e ajudam, mas alguns ainda resistemou não tem estrutura adequada para tanto. Quando o processode execução chega aqui, não há maiores dificuldades.Um exemplo dessa assistência é o Consulado Geral daEspanha em São Paulo. O setor de auxilio ao preso espanholRevista <strong>SAP</strong> 19