desafios educacionais diante da crescente colonizacao do mundo ...

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apresenta-se sistematicamente distorcida é que vai interessar a Habermas de modoespecial. Para dar conta deste problema, ele introduz o conceito de discurso, quedeve ser coordenado publicamente por diferentes comunidades de comunicação, asquais devem ser constituídas, além de especialistas, por representantes dasociedade em geral. Quando pretensões de validez inerentes aos atos de falatornam-se problemáticas, as mesmas passam a ser dirimidas pelo discurso; ou seja,quando a verdade, a correção normativa ou a veracidade do falante são postas emdúvida pelo ouvinte, rompe-se então aquele “consenso de fundo” que orientava atéentão a ação comunicativa e o conteúdo das pretensões de validez passa a sertratado no âmbito discursivo.Muitas críticas são feitas a Habermas no que diz respeito à legitimidade dadistinção entre ação comunicativa e discurso, permanecem dúvidas não só quantoao esclarecimento de ambos, como também quanto à passagem da açãocomunicativa para o discurso. A distinção entre ação comunicativa e discurso parecepadecer de dificuldades semelhantes àquelas presentes no dualismo entre sistema emundo da vida. Do ponto de vista conceitual torna-se decisivo, para a argumentaçãohabermasiana, saber como se relacionam ação comunicativa e mundo da vida ecomo Habermas define o significado e o papel do conceito de discurso em relação aambos. Uma vez concebido como mediação da ação comunicativa, perfazendo oseu pano de fundo cultural- intuitivo, o conceito de mundo da vida precisa serdistinguido também da esfera discursiva. O problema que se coloca aí diz respeitoem saber como aquele nível de racionalidade crítica atribuída ao discurso, para queele possa ser fonte de um consenso fundado, também possa ser imputado à açãocomunicativa, para haver um tratamento adequado de seu caráter sistematicamentedistorcido. As dificuldades aqui são inúmeras. No que diz respeito especificamenteao conceito de mundo da vida, Masschelein tem chamado atenção, por exemplo,para aquela ambigüidade nele inerente de ser concebido por Habermas,simultaneamente, enquanto pano de fundo cultural – esfera das auto-evidenciasintuitivas e não tematizáveis – e como categoria sociológica de análise que compõeo par oposto ao conceito de sistema. (MASSCHELEIN, 1991, p. 66-76).O que parece distinguir a esfera discursiva, em certa oposição ao caráterespontâneo e intuitivo da ação comunicativa e, num sentido mais amplo, do própriomundo da vida, é o fato de que o discurso, uma vez que nele a busca peloentendimento deve estar baseada na força do melhor argumento, não pode pautar-6
se por aquele caráter intuitivo e espontâneo próprio à ação comunicativa e aomundo da vida. A distinção estabelecida por Habermas entre ação e discurso deixaclaro que, enquanto a primeira diz respeito a um âmbito de comunicação ondepressupomos e reconhecemos as pretensões de validez implícitas nos atos de fala,já o discurso caracteriza-se pela argumentação, “na qual são tematizadas aspretensões de validez que se tornaram problemáticas e onde se examinam a sualegitimidade ou não” (HABERMAS, 1989, p. 130). Na seqüência, Habermas afirmaque o discurso, por exigir uma “suspensão das coações da ação” e uma“virtualização das pretensões de validez [...], possibilita, em situações de interaçãoperturbada, restabelecer um entendimento sobre pretensões de validez que setornaram problemáticas...”. (Idem, p. 131)Na medida em que o consenso de fundo fica rompido devido ao caráterproblemático assumido pela ação comunicativa, o discurso entra em cena comomecanismo para se alcançar o entendimento fundado. Tenho insistido aqui no papeldo discurso, apesar das dificuldades que tal conceito possa carregar, porque elerepresenta, segundo Habermas, uma instância crítica legitimamente capaz de seopor, porque fundado racionalmente, àquele caráter sistematicamente distorcido daação comunicativa. Por isso, ele pode ser também uma referencia crítica obrigatóriapara se fazer frente a um dos principais problemas de nossa época, a saber, aoproblema da colonização do mundo da vida.Esta rápida e livre reconstrução desses dois conceitos da teoria social deHabermas coloca-nos em condições de considerar a colonização do mundo da vidacomo problema central emergido do diagnóstico habermasiano do capitalismo tardio.Este problema está diretamente ligado com a segunda tendência evolutiva expostaacima, a saber, com a transformação do saber técnico-científico em principal forçaprodutiva e no principal meio ideológico de dominação. Isso significa dizer quetécnica e ciência não só são saberes aplicados ao desenvolvimento econômico dasociedade, como aplicados também para dominar a natureza, as pessoas e asinstituições e suas relações.Se o progresso técnico-científico orientado pela racionalidade estratégicoinstrumentaltraz consigo, por um lado, a possibilidade de se resolver problemasimediatos de sobrevivência material mínima das pessoas, assegurando conforto ebem-estar para, pelo menos, uma parte da humanidade, ele provoca a invasão dosmeios oriundos desse progresso e de sua racionalidade nos espaços que até então7
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