desafios educacionais diante da crescente colonizacao do mundo ...

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estavam reservados para as relações espontâneas entre pessoas, famílias e grupossociais determinados. Colonização sistêmica do mundo da vida significa, portanto,aquele processo de subordinação da racionalidade comunicativa à racionalidade detipo estratégico-instrumental ou a sua transformação mesma à racionalidade dessetipo.O resultado mais imediato desse processo é a invasão das relações dedinheiro e poder naquele âmbito responsável pela socialização cultural espontâneadas pessoas, no qual elas moldam seu caráter, constroem seus valores e atribuemsignificado para sua existência. Colonização do mundo da vida significa, por isso,uma mudança na orientação da ação das pessoas: se elas estavam antesorientadas pela busca do entendimento, o qual era assegurado pela manifestaçãolingüística baseada em pretensões de validez, agora, com a invasão sistêmica, estasmesmas ações passam a se pautar, conforme afirmado, pela lógica do dinheiro e dopoder, visando à busca não mais do entendimento, mas sim de interesses privados eparticulares.O efeito mais destrutivo de todo este processo é, ao meu ver, e isso tem umaimplicação direta para o processo educacional, a ruptura dos laços de solidariedadeque as relações comunicativas ocorridas no mundo da vida entre as pessoas aindaconseguiam manter e sua substituição por relações pessoais individualistas eegocêntricas. A introdução desenfreada de ações estratégico-instrumentais noâmbito familiar e escolar agudiza, deste modo, as tendências de individualismo e denarcisismo na formação da personalidade das pessoas, fazendo com que o filho, porexemplo, obedeça a seu pai não mais motivado pelo respeito, mas sim em nome darecompensa que receberá, quer seja um presente ou dinheiro; ou que, no âmbitoescolar, o aluno aprenda motivado pela nota e que o professor trabalhe visandosomente a remuneração financeira.Outro efeito imediato da colonização do mundo da vida é o progressivoaumento de dificuldades para se assegurar um conteúdo moral mínimo às ações, namedida em que elas deixam-se orientar mais por fins instrumentais e menos pelabusca de um entendimento recíproco. O aumento progressivo de tal colonizaçãoprovoca uma “despotencialização ética” das relações humanas. Guardando ocontexto diferenciado de discussão, diríamos, em sentido kantiano, que quanto maisinvadido pelo sistema (por relações estratégico-instrumentais) mais o mundo da vidadá origem a ações contrárias ao dever (ações egoístas) ou, no máximo, ações8
conforme ao dever (ações formais baseadas em inclinações), mas não mais açõespor dever ações morais (KANT, 1998, v. 4, BA 11, p. 24 e 25).Disso resulta, entre outras, a perda do conteúdo moral na formação docaráter, porque ações movidas por simples inclinação pessoal de caráter particular(ações egoístas) não estão baseadas em laços solidários de respeito mútuo (pordever). Ora, como o próprio Kant adverte na seqüência de seu argumento, o valor deum caráter, sendo o mais elevado moralmente, consiste “em fazer o bem não porinclinação, mas por dever” (Idem, BA 11, p. 29). Por fim, a predominância de açõesinstrumentais no âmbito do mundo da vida caracteriza, e isso é o lado extremamentedestrutivo deste problema, a própria instrumentalização das pessoas, colocando-seisso em oposição a uma das formulações kantianas do imperativo categórico, queordena tomar a humanidade, tanto em minha pessoa como na de qualquer outra,nunca simplesmente como meio, mas sempre como fim (Idem, BA 66-67, p. 61).3. Desafios ético-educacionaisDiante desse quadro, torna-se importante precisar os desafios que osproblemas acima levantados trazem para o âmbito educacional, sabendo em quesentido a educação pode reagir e quais são os alcances e limites desta sua reação.Quero deixar claro, para evitar mal entendidos, que minha crítica a um determinadoconceito de desenvolvimento não pretende negar a importância do avanço da basematerial e do acumulo de riquezas para a resolução de problemas centrais que estãocolocados á humanidade, como à erradicação de doenças, ao controle do aumentopopulacional desenfreado e à eliminação da fome e da miséria.Ao criticar o conceito de desenvolvimento também não pretendo fazer umacrítica massiva e generalizada à técnica e à ciência, como se fosse possíveldesconhecer as importantes conquistas que elas trouxeram para a humanidade.Hoje ninguém, certamente, concordaria em voltar, por exemplo, a era do fogo ou dolampiamzinho a querosene, dispondo-se a deixar de lado as comodidades da luzelétrica. Também não quero dizer que uma idéia de educação deva se limitarsomente em tratar o conceito problemático de desenvolvimento. Pois, como vimos,trata-se de um problema mais amplo que, por isso, deve envolver outros setores dasociedade e também outras áreas do conhecimento.Essa crítica se torna necessário porquê um conceito de desenvolvimentoconduzido pelo modelo técnico-econômico que tem na maximização do lucro sua9
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