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História da ornitologia no Paraná. Período de Natterer, 1

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Hori Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s Técnicos5RUÍNAS E URUBUS:HISTÓRIA DA ORNITOLOGIA NO PARANÁPERÍODO DE NATTERER, 1(1820 a 1834)1 a EdiçãoFernando C. StraubeHori Consultoria AmbientalCuritiba, <strong>Paraná</strong>, BrasilSetembro <strong>de</strong> 2012


© URBEN-FILHO & STRAUBE CONSULTORES S/S LTDA.Ficha catalográfica prepara<strong>da</strong> porDIONE SERIPIERRI (Museu <strong>de</strong> Zoologia, USP)Straube, Fernando C.Ruínas e urubus: história <strong>da</strong> <strong>ornitologia</strong> <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>.<strong>Período</strong> <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, 1 (1820 a 1834) ; por Fernando C.Straube, apresentação <strong>de</strong> Renato S. Bérnils. – Curitiba, Pr:Hori Consultoria Ambiental, 2012.241p. (Hori Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s Técnicos n. 5)ISBN 978-85-62546-05-11. Aves - <strong>Paraná</strong>. 2. <strong>Paraná</strong> - Ornitologia. 3.Ornitologia – <strong>História</strong>. I. Straube, Fernando C. II.Bérnils, Renato S., apresent. II. Título. III. Série.Depósito Legal na Biblioteca Nacional,conforme Decreto n1825, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1907.Dados internacionais <strong>de</strong> Catalogação <strong>da</strong> Publicação(Câmara Brasileira do Livro, São Paulo, Brasil)Capa: Composição com mata <strong>de</strong> araucária na Lapa (<strong>Paraná</strong>) (Foto:F.C.Straube), documentos e imagens <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Aimée AdrienTaunay, Michael Sandler, Auguste <strong>de</strong> Saint-Hilaire e Jean BaptisteDebret, citados <strong>no</strong> texto. Foto em <strong>de</strong>staque: urubu-rei (Sarcoramphuspapa) <strong>de</strong> Cassia<strong>no</strong> “Zapa” Zaparoli Zaniboni(www.zapa.photoshelter.com).2012


http://www.hori.bio.brHORI CADERNOS TÉCNICOS n° 5ISBN: 978-85-62546-05-1CURITIBA, SETEMBRO DE 2012CITAÇÃO RECOMENDADAStraube, F.C. 2012. Ruínas e urubus: <strong>História</strong> <strong>da</strong>Ornitologia <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>. <strong>Período</strong> <strong>de</strong><strong>Natterer</strong>, 1 (1820 a 1834). Curitiba, HoriConsultoria Ambiental. Hori Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>sTécnicos n° 5, 241+xiii pp.


ABERTURAO CENTENÁRIO DA ORNITOLOGIA PARANAENSE“Às minhas viagens ao <strong>Paraná</strong>, atribuo aimportância para que a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> dotrabalho polonês na América do Sul não sejainterrompi<strong>da</strong>. Elas têm relevância porcriarem um elo <strong>de</strong> ligação entre aqueles quejá partiram e aqueles que ain<strong>da</strong> irão chegar”(Ta<strong>de</strong>usz Chrostowski, 1922, <strong>no</strong> livro“Parana”) 1O dia 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012, escolhido para olançamento <strong>de</strong>ste livro, não é uma <strong>da</strong>ta comum. Elecorrespon<strong>de</strong> ao momento em que, há exatos 100 a<strong>no</strong>s atrás,o naturalista polonês Ta<strong>de</strong>usz Chrostowski, representadopelo zoólogo e embriologista Jan Tur (1875-1942)apresentou, em sessão <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Científica <strong>de</strong> Varsóvia 2 ,o seu estudo intitulado “KOLEKCYA ORNITOLOGICZNA PTAKÓWPARANSKICH”, ou seja, “Coleção ornitológica paranaense”.Aplaudido e aprovado, o trabalho ganhou formato <strong>de</strong>artigo técnico, na revista “Sprawoz<strong>da</strong>n z PosiedzenTowarzystwa Naukowego Warszawskiego”, periódico queajuntava, sobre a forma <strong>de</strong> atas, o material discutido durantetais conferências.1 Chrostowski, T. 1922. Parana: wspomnienia z pdrózy w roku 1914. Poznan/Varsóvia,Nakla<strong>de</strong>m Ksiegarnia Sw. Wojciecha. Biblioteka Podrozy, Przygod i Odkyryc, volume 1.237 pp., 16 fig., 1 mapa.2 Towarzystwo Naukoke Warszawskie, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1907 a partir <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Amigos<strong>da</strong> Ciência (Towarzystwo Przyjaciół Nauk), estabeleci<strong>da</strong> em 1800.i


situações valiosas. A primeira, amplamente analisa<strong>da</strong> emseu corpo textual, alu<strong>de</strong> à inauguração <strong>da</strong> pesquisa com avessilvestres <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, feita por meio <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong>amostragem e divulgação técnica protocolar e que tem<strong>Natterer</strong> como personali<strong>da</strong><strong>de</strong> mais <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>. A segun<strong>da</strong>,cro<strong>no</strong>lógica e comemorativa, refere-se ao momento dolançamento do livro, coincidindo proposita<strong>da</strong>mente aofechamento <strong>de</strong> um século repleto <strong>de</strong> informações que, além<strong>de</strong> pioneiras, foram sedimentares a tudo o que hoje seconhece.Que o início <strong>de</strong>ste segundo século <strong>de</strong> Ornitologia seesten<strong>da</strong> por todos os cantos do território paranaense, emuma comemoração fraternal e progressivamente ampara<strong>da</strong>por <strong>no</strong>vas informações, surgi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> todos os tempos elugares. Que <strong>no</strong>sso passado não seja omitido ou esquecido,posto que, com os fun<strong>da</strong>mentos aqui apresentados, ele <strong>de</strong>veser tratado como uma base indissociável a todos os <strong>no</strong>voshorizontes a serem trilhados pelas gerações que aqui estão e,especialmente, por aquelas que ain<strong>da</strong> estão por vir.O AUTORCuritiba, 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2012iii


APRESENTAÇÃOÉ fácil prefaciar Fernando Straube. É ain<strong>da</strong> umprazer e, acima <strong>de</strong> tudo, uma honra. Fácil, prazeroso ehonroso porque Straube é um amigo <strong>de</strong> muitos a<strong>no</strong>s, alguémque consi<strong>de</strong>ro como irmão; e também porque se trata <strong>de</strong>pesquisador dos mais profícuos (se não o mais) em termos<strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, autor <strong>de</strong> textos fun<strong>da</strong>mentaisnão apenas <strong>de</strong> seu campo primário <strong>de</strong> investigação, aOrnitologia, mas também <strong>de</strong> outras áreas <strong>da</strong> Zoologia, bemcomo <strong>de</strong> Botânica, Geografia, <strong>História</strong> <strong>da</strong> Ciência,Heráldica, Semiótica, Etimologia, Semântica... Numespectro amplo que vai <strong>da</strong> propedêutica básica até oconhecimento heurístico mais profundo.Em outras palavras, conhecendo o valor, acompletitu<strong>de</strong> e a prodigali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> produção <strong>de</strong> Straube,aceitei não apenas com muito orgulho o convite para fazeresta apresentação, mas também com o sentimento citado <strong>de</strong>que seria tarefa fácil. Tola ilusão! Após ler o presentevolume <strong>de</strong> Ruínas & Urubus, redigido <strong>de</strong> forma tãocui<strong>da</strong>dosa quanto cativante, me senti quase incapaz <strong>de</strong>escrever algo à altura <strong>da</strong> obra, <strong>de</strong> agrado do autor e, aomesmo tempo, estimulante ao leitor <strong>no</strong>vato... Simplesmenteporque as quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>sses três elementos (a obra, o autor eo leitor atraído por esse tema) dispensam apresentações!Ain<strong>da</strong> assim, passado esse primeiro momento <strong>de</strong> pânico,aproveito a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> para expressar algumas palavrassobre o autor e sobre o assunto, que me é muito caro e<strong>de</strong>leitoso.Em sua Introdução a este segundo volume <strong>da</strong>coleção, Straube <strong>de</strong>ixa claro que não se contenta emv


apresentar e <strong>da</strong>tar os fatos, já que procura tambéminterpretá-los à luz dos conhecimentos <strong>da</strong> época em queocorreram, e atualizá-los. Na<strong>da</strong> mais justo! Acontextualização é necessária para po<strong>de</strong>rmos avaliar <strong>de</strong>modo a<strong>de</strong>quado as contribuições (ou não) dos naturalistas(viajantes ou <strong>de</strong> gabinete) do século XIX. Mas quemrealmente está apto a fazer essas interpretações? Será quequalquer ornitólogo, por mais experiência que possua naciência a que se <strong>de</strong>dica, é capaz <strong>de</strong> fazer uma boa releitura<strong>da</strong>s contribuições oitocentistas? Certamente que não, e aquiresi<strong>de</strong> mais um dos trunfos <strong>de</strong> Ruínas & Urubus, pois oautor <strong>de</strong>monstra domínio mais do que suficiente paracontextualizar os fatos relatados, apropria<strong>da</strong>mentedimensionando-os aos leitores do século XXI.Tal competência fica ain<strong>da</strong> mais patente seavaliarmos as informações que o autor buscou para arealização <strong>da</strong> obra. Como neto <strong>de</strong> um dos pioneiros <strong>da</strong>sCiências Naturais <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> e filho <strong>de</strong> um dos gran<strong>de</strong>spesquisadores <strong>da</strong> <strong>História</strong> paranaense, Straube estevesempre bem munido <strong>de</strong> fontes bibliográficas e ico<strong>no</strong>gráficascomplementares às publicações clássicas e inevitáveis <strong>de</strong> (esobre) Saint-Hilaire, <strong>Natterer</strong>, Langsdorff etc. Teve acessoe, é claro, soube usar essas fontes, e essa peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>tor<strong>no</strong>u muito mais informativos e integrados os textos<strong>da</strong>queles (ou sobre aqueles) naturalistas – e, me adiantandoum pouco, ficou tão mais evi<strong>de</strong>nte quanto bem-vin<strong>da</strong> <strong>no</strong>terceiro volume <strong>de</strong> Ruínas & Urubus (que já pu<strong>de</strong> bater oolho, ansioso pelo lançamento).Traçar qualquer histórico <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s científicas <strong>no</strong><strong>Paraná</strong> é um <strong>de</strong>safio e tanto. As fontes são poucas eincompletas, e o estado foi relegado a um segundo pla<strong>no</strong> namaior parte <strong>de</strong> sua existência. Por exemplo, Straube <strong>no</strong>s<strong>de</strong>monstra como algumas expedições passaram pelo <strong>Paraná</strong>quase que por aci<strong>de</strong>nte ou por acaso, como na visita <strong>de</strong>vi


século XX, ao contrário do que ocorreu em outrasprovíncias/estados, que contaram com Goeldi, H. Ihering,Fritz Müller, Glaziou, Wucherer... E já na vira<strong>da</strong> para (ou <strong>no</strong>início) do século seguinte: A. Lutz, R. Ihering, BarbosaRodrigues, Miran<strong>da</strong>-Ribeiro, Snethlage etc. Assim, o <strong>Paraná</strong>continuou sua sina <strong>de</strong> “excluído”, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> esforçostímidos [em <strong>História</strong> Natural] como os <strong>de</strong> Franco Grillo,Julius Platzmann ou Telêmaco Borba.Cabe ain<strong>da</strong> assinalar que Straube sempre esteveatento à inclusão <strong>de</strong> viajantes cronistas que estiveram <strong>no</strong><strong>Paraná</strong> antes <strong>de</strong> sua emancipação como provínciain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> São Paulo – situação territorial que <strong>de</strong>veser leva<strong>da</strong> em conta, sem a qual se corre o risco <strong>de</strong><strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar relatos importantes. É comum, por exemplo,não figurar o <strong>Paraná</strong> entre as regiões do Brasil visita<strong>da</strong>s pelaExpedição Langsdorff, porque ele próprio não pisou soloparanaense (a expedição barra<strong>da</strong> <strong>no</strong> Iapó contava apenascom Rie<strong>de</strong>l, Rubtsov e Taunay), ou simplesmente porquetodo o <strong>Paraná</strong> ain<strong>da</strong> era “São Paulo” a essa época. Esseenga<strong>no</strong> recorrente, verificável em diversas outras fontes, équase tão absurdo quanto não mencionar o Mato Grosso doSul como área visita<strong>da</strong> pela mesma Expedição Langsdorff(<strong>de</strong>ssa vez completa) apenas porque aquela região estevesob o comando <strong>de</strong> Cuiabá (Mato Grosso) até 1977.Precavido contra essa possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, o autor <strong>de</strong> Ruínas &Urubus niti<strong>da</strong>mente perscrutou to<strong>da</strong>s as leituras que falam<strong>de</strong> “São Paulo”, sempre atento a referências à Comarca <strong>de</strong>Curitiba e arredores.Os que conhecem Straube sabem a quanto tempo (ecom que tenaci<strong>da</strong><strong>de</strong>) ele se <strong>de</strong>dica a colecionar fatos eliteratura sobre o <strong>Paraná</strong>, buscando to<strong>da</strong>s as citações sobrefenôme<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s Ciências Naturais, e cruzando asinformações obti<strong>da</strong>s com as mais varia<strong>da</strong>s áreas doconhecimento. Todo esse carinho cerca o preparo <strong>da</strong> coleçãoviii


Ruínas & Urubus há déca<strong>da</strong>s, mas a obra só recentementepassou para os papéis (e para os bytes). Embora seinsinuasse há a<strong>no</strong>s, foi extremamente oportu<strong>no</strong> que só agoraa coleção tenha vindo à luz; primeiro porque o autor estábem mais maduro e, portanto, mais preparado para <strong>de</strong>fendêla,mas também porque ele po<strong>de</strong> contar com internet,comunicação eletrônica imediata, arquivos digitais, imagensdigitaliza<strong>da</strong>s, acesso a bibliotecas virtuais, editores <strong>de</strong> texto,editores <strong>de</strong> imagens, máquinas fotográficas digitais,escâneres e tantas outras ferramentas tec<strong>no</strong>lógicas que<strong>no</strong>utros tempos não se dispunha – ou eram quaseinacessíveis. E ain<strong>da</strong> graças à facili<strong>da</strong><strong>de</strong> atualmenteexistente para divulgar produções extensas, que<strong>no</strong>rmalmente seriam encara<strong>da</strong>s como pouco interessantespelos periódicos [e por autores] ávidos em galgar qualis,fatores <strong>de</strong> impacto, índices <strong>de</strong> produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e assim pordiante. O mérito, nesse caso, é <strong>da</strong> coragem e <strong>da</strong> proposta<strong>de</strong>spretensiosa dos Hori Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s Técnicos.Destaco, por fim, o quanto empolga, entusiasma e“dá i<strong>de</strong>ias” ler uma obra como esta! O leitor haverá <strong>de</strong>concor<strong>da</strong>r comigo, pois Ruínas & Urubus não é apenas umaminuciosa análise histórica <strong>da</strong> Ornitologia paranaense, masa mais importante contribuição já escrita sobre a <strong>História</strong><strong>da</strong>s Ciências Naturais nesse estado e, porque não dizer, uma<strong>da</strong>s mais relevantes à <strong>História</strong> do <strong>Paraná</strong>.RENATO S. BÉRNILSUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Espírito Santo(São Mateus, ES)ix


AGRADECIMENTOSNo volume anterior, expressei minha gratidão a umainfini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas e instituições que colaboraram com aprodução do projeto “Ruínas e urubus” (ain<strong>da</strong> parcialmenteconcluído) como um todo. Reitero aqui minhas palavras <strong>de</strong>admiração e apreço a todos que, por certo, irão compreen<strong>de</strong>ressa omissão implícita, em prol <strong>da</strong> “eco<strong>no</strong>mia editorial”.Para este livro em particular, porém, eu gostaria <strong>de</strong>incluir, ou mesmo repetir, menções <strong>de</strong> reconhecimento aalguns <strong>de</strong>les, seja porque não figuraram na versão anterior,seja por terem – aqui – participado <strong>de</strong> forma diferencia<strong>da</strong>.Novamente pu<strong>de</strong> contar com a competenteintervenção <strong>de</strong> Dione Seripierri (Museu <strong>de</strong> Zoologia, USP)que, com o costumeiro zelo, preparou a Ficha Catalográfica.Ciro Alba<strong>no</strong> e Cassia<strong>no</strong> “Zapa” Zaparoli Zaniboni ce<strong>de</strong>ramgentilmente as fotos <strong>de</strong> Seleni<strong>de</strong>ra gouldii e Sarcoramphuspapa, respectivamente, essa última ornando majestosamentea capa do livro. Um <strong>de</strong>staque especial merece a equipe doMuseu Nacional (UFRJ) – em particular Marcos A.Raposo– que, por meio do projeto “Catálogo <strong>de</strong> tipos <strong>da</strong>s espécies<strong>de</strong> aves brasileiras”, financiado pelo CNPq, permitiu adivulgação <strong>de</strong> fotos <strong>de</strong> alguns exemplares-tipo que ilustramo presente trabalho.Várias pessoas colaboraram com <strong>de</strong>talhesparticulares do período entre 1820 e 1834, por acréscimo <strong>de</strong>informações, cessão <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos ou mesmo sugestões <strong>de</strong>re<strong>da</strong>ção, incluindo traduções. Nesse sentido aponto DorotaBarys, Hans Jacobs, Luiz Fernando <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> Figueiredo,xi


Miriam E. Junghans, Osvaldo Rodrigues Júnior, Pedro LuísRodrigues <strong>de</strong> Moraes, Philipp Stumpe, Rodrigo Lingnau,Tony Andrey Teixeira Bichinski, além <strong>de</strong> Hitoshi Nomura,Jacques Vielliard (in memoriam), José Carlos Veiga Lopes(in memoriam), José Fernando Pacheco, José FlávioCândido Júnior, José La Pastina Filho, Paulo E.Vanzolini,Pedro Salvia<strong>no</strong> Filho e Pedro Scherer Neto.Aspectos relativos a espécimes <strong>de</strong>positados emvários museus brasileiros, inclusive <strong>no</strong>ssa permissão <strong>de</strong>acesso aos respectivos acervos, foram possíveis graças àintervenção <strong>de</strong> Dante L. M. Teixeira, Jorge B. Naci<strong>no</strong>vic eMarcos A. Raposo (Museu Nacional, Rio <strong>de</strong> Janeiro: MN),Hélio F. <strong>de</strong> A. Camargo (in memoriam), Luis Fábio Silveira,Vitor <strong>de</strong> Q. Piacentini, Marina Somenzari, Marco AntônioRego (Museu <strong>de</strong> Zoologia, São Paulo: MZUSP), José MariaCardoso <strong>da</strong> Silva, David C. Oren e Alexandre Aleixo(Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém: MPEG).Jacques Cuisin (Museum national d'Histoirenaturelle, Paris: MNHN) forneceu informações sobre acoleção A. <strong>de</strong> Saint Hilaire; Ernst Bauernfeind(Naturhistorisches Museum, Viena, Áustria: NHMW)ajudou com o acervo <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, inclusive com a remessa<strong>de</strong> fotos <strong>de</strong> espécimes. Ain<strong>da</strong> sobre <strong>Natterer</strong>, contei com oacompanhamento competente <strong>de</strong> Luiz Barros Montez que,inclusive, contribuiu com correções nas traduções, além <strong>de</strong>fornecer-me, generosamente, uma série <strong>de</strong> documentosinéditos para avaliação. Agra<strong>de</strong>ço ao <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> por tê-locolocado em meu caminho, poucos momentos antes <strong>de</strong> ter<strong>da</strong>do como encerra<strong>da</strong> a produção <strong>de</strong>ste volume!Osmar dos Santos Ribas (Museu BotânicoMunicipal, Curitiba), um dos botânicos mais competentesque conheci, gastou um tempo consi<strong>de</strong>rável em busca <strong>de</strong>informações sobre Dominick Sochor, quando <strong>de</strong> sua viagemà Vila Bela <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> e outros locais do estadoxii


do Mato Grosso. Seu esforço e <strong>de</strong>dicação foramparticularmente importantes e bem-vindos e, se nãoculminaram com aquilo pelo que esperávamos, confirmaramo quanto importantes são as conexões <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> eintercâmbio entre pesquisadores <strong>de</strong> várias áreas.Raimund Toelle, membro <strong>da</strong> família Sello naAlemanha, e Sybille Eigert colaboraram com umaver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação entre familiares eadmiradores <strong>de</strong> Friedrich Sellow.Meus amigos <strong>da</strong> Hori Consultoria Ambiental, ca<strong>da</strong>um à sua maneira, tiveram participação direta nestetrabalho: An<strong>de</strong>rson Giliet, Caroline Carneiro, DéboraZancanaro, Fernando Venâncio, Leonardo Deconto eMarcelo Villegas Vallejos. Dentre todos eles quero <strong>de</strong>stacarAlberto Urben-Filho, meu irmão por opção, por tercompartilhado gran<strong>de</strong> parte do material aqui apresentado.Pelas sugestões aqui e ali, empolgação e estímulo,mencio<strong>no</strong> vários confra<strong>de</strong>s do Instituto Histórico eGeográfico do <strong>Paraná</strong>, <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>mente Carlos Brantes (inmemoriam), Wenceslau Muniz, Carlos Zatti e, claro, meupai Ernani C. Straube.Por último, quero <strong>de</strong>stacar o amigo Renato S.Bérnils, gran<strong>de</strong> companheiro (e valoroso crítico) pelasenriquecedoras linhas <strong>da</strong> Apresentação, mas também por tercontribuído com excelentes sugestões ao texto original. Suacolaboração, <strong>de</strong>sta forma, foi não somente amável eprestimosa como complementar a tudo aquilo que pretenditratar aqui.xiii


SUMÁRIOINTRODUÇÃO 3O PRIMEIRO PERÍODO DE NATTERER 71818-1820 Cro<strong>no</strong>logia 191820 Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire 231820 a 1821 Johann <strong>Natterer</strong> e Dominik Sochor 471821-1826 Cro<strong>no</strong>logia 1431826 Ludwig Rie<strong>de</strong>l e Adrien Taunay 1511827-1828 Cro<strong>no</strong>logia 1671828 Friedrich Sellow 1691829-1834 Cro<strong>no</strong>logia 189[1834] Jean Baptiste Debret 193REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ELITERATURA CONSULTADA 2051


INTRODUÇÃO“Seja como for, não faltará ocasião paracoletar e observar. Sinto alegria em pensar<strong>no</strong>s muitos tesouros <strong>de</strong> história natural queain<strong>da</strong> chegarão às minhas mãos...”(Da carta <strong>de</strong> Johann Baptist von <strong>Natterer</strong> a Karl vonSchreibers, diretor do Gabinete <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong>Viena em 1818, pouco antes <strong>de</strong> sua chega<strong>da</strong> ao<strong>Paraná</strong>).Este é o segundo volume <strong>da</strong> revisão histórica sobre aOrnitologia <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, <strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong><strong>de</strong> cro<strong>no</strong>lógica aolivro que englobou o período <strong>de</strong> 1541 a 1819, lançado em<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011. Nesse sentido, to<strong>da</strong> a concepção, aapresentação dos objetivos e os procedimentosmetodológicos adotados na obra como um todo, po<strong>de</strong>rão serlá encontrados, on<strong>de</strong> estão <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>scritos eexplicados.A princípio, o leitor po<strong>de</strong>rá ficar curioso com adiferença <strong>de</strong> extensão entre ambos os períodos: quase 280a<strong>no</strong>s abor<strong>da</strong>dos <strong>no</strong> primeiro contra somente quinze dosegundo volume. Ocorre que esse é um reflexo sentido emtodos os campos do saber e que se <strong>de</strong>veu principalmentepelo processo <strong>de</strong> dispersão do conhecimento, seja por meio3


<strong>da</strong> evolução dos mecanismos <strong>de</strong> produção gráfica, seja peloscaminhos utilizados na sua divulgação.Como se <strong>no</strong>ta, o cenário observado a partir <strong>da</strong>segun<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> do Século XIX se alterou profun<strong>da</strong>mente, seconfrontado com o pa<strong>no</strong>rama tão superficial <strong>de</strong>dicado àsciências naturais <strong>no</strong>s quase três séculos que prece<strong>de</strong>ram oDescobrimento.Agora, as contribuições <strong>de</strong> exploradores e cronistas,políticos e corógrafos e mesmo <strong>de</strong> cientistas influenciadospela Reforma Pombalina, passarão apenas a ser sutilmentelembra<strong>da</strong>s. Neste volume em particular, então, to<strong>da</strong>s asatenções se voltam para os <strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong> outroepisódio político: a “Abertura dos Portos” que dá início, <strong>de</strong>fato, a todo o processo <strong>de</strong>scritivo e analítico <strong>da</strong> Ornitologiaparanaense.Essa Carta Régia expedi<strong>da</strong> por D. João em Salvador,em janeiro <strong>de</strong> 1808, consiste na primeira experiência liberaleuropeia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Revolução Industrial. Sob tal envergadurarepresentou, para a história do Brasil, o início <strong>de</strong> uma série<strong>de</strong> acontecimentos importantíssimos <strong>de</strong> cunho econômico,diplomático e estratégico, mas, <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente científicos eespecialmente ligados à <strong>História</strong> Natural. A colôniaportuguesa estava agora realmente acessível e, graças a essa<strong>de</strong>terminação, é que a biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira começava,afinal, a ser efetivamente <strong>de</strong>scoberta e <strong>de</strong>scrita <strong>de</strong> formaalgo sistemática.No resto do mundo oci<strong>de</strong>ntal iniciava-se tambémuma fase <strong>de</strong> efervescência científica, quando as nações mais<strong>de</strong>staca<strong>da</strong>s passaram a manifestar interesse por regiõessulamericanas ain<strong>da</strong> quase <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s e em parte jáexplora<strong>da</strong>s por estudiosos como Alexan<strong>de</strong>r von Humboldt eFélix <strong>de</strong> Azara.A condição propiciou uma <strong>no</strong>tável evolução <strong>de</strong>to<strong>da</strong>s as ciências naturais, ao tempo em que se4


multiplicavam as produções literárias, via <strong>de</strong> regranarrativas (visando ao público leigo) ou <strong>de</strong>scritivas (para omeio técnico).Esse <strong>de</strong>talhe é muito importante pois, com aproliferação <strong>de</strong> fontes bibliográficas, primárias ousecundárias, o trabalho <strong>de</strong> compilação vai se tornando ca<strong>da</strong>vez mais rico, porém igualmente dificultoso (pelas mesmasrazões!). E não há como ig<strong>no</strong>rar esse aspecto importante:quanto mais fontes, tanto maiores as chances <strong>de</strong> surgiremerros ou omissões, por terem sido subestimados <strong>de</strong>talhesimportantes.Este livro, que jamais preten<strong>de</strong>ria ser exceção àregra, reúne e <strong>de</strong>screve o legado ornitológico ao estado do<strong>Paraná</strong> <strong>no</strong>s quinze a<strong>no</strong>s passados entre 1820 e 1834,construído por pessoas que <strong>de</strong>dicaram partes <strong>de</strong> suas vi<strong>da</strong>sao conhecimento e/ou à ilustração do meio natural e socialdisponível.To<strong>da</strong>s as personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s menciona<strong>da</strong>s se enquadram<strong>no</strong> momento primevo – e pioneiro – que seguiu-se àAbertura dos Portos, com <strong>de</strong>staque especial a Johann B. von<strong>Natterer</strong>, cujo <strong>no</strong>me é lembrado <strong>no</strong> período alusivo. Comose po<strong>de</strong>rá perceber, é somente a partir <strong>de</strong> suas contribuiçõesque a Ornitologia paranaense realmente foi inaugura<strong>da</strong>, <strong>no</strong>smol<strong>de</strong>s como contemporaneamente ela é pratica<strong>da</strong>, servindo<strong>de</strong> fun<strong>da</strong>mento para todos os estudos surgidos <strong>no</strong> futuro.O lapso temporal aqui apresentado encerra-se em ummomento em que o Brasil já in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte não observavamais, com tamanha intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, as consequências <strong>da</strong>Abertura dos Portos. A jovem nação, agora com forçaspróprias, apenas acompanhava o lançamento <strong>de</strong> obrasprofun<strong>da</strong>s e cui<strong>da</strong>dosamente produzi<strong>da</strong>s, <strong>de</strong>screvendo ariqueza <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que ela própria <strong>de</strong>sconhecia! Com oinventário <strong>de</strong> sua biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> já principiado e comvolume <strong>de</strong> informações geográficas, climáticas, sociais e5


antropológicas já razoavelmente organiza<strong>da</strong>s, o país voltouseus olhos a outros horizontes, ligados ao reconhecimento,comunicação e colonização <strong>de</strong> seu território, assuntos queserão objeto dos volumes futuros.6


O PRIMEIRO PERÍODODE NATTERER―Somente quem for capaz <strong>de</strong> imaginar oque significa alguém conseguir escrever,<strong>de</strong>senhar, preparar peles e empalhar,coberto por uma nuvem escura <strong>de</strong> insetosque picam e esvoaçam em tor<strong>no</strong>, é quepo<strong>de</strong>rá avaliar o preço <strong>de</strong>ste material aquicoletado."Barão George H. von Langsdorff (apud.Pra<strong>da</strong>, 2000)O a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1820 é um marco claramente divisório <strong>da</strong>Ornitologia – e <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as outras ciências naturais – <strong>no</strong><strong>Paraná</strong>. Rigorosamente falando, há um período muitoextenso <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o espaço territorial do estado foi visitadopela primeira vez por europeus e o que se po<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rarcomo os esforços seminais para conhecer a sua avifauna.Até os sete a<strong>no</strong>s que abriram o Século XIX, o Brasilera simplesmente fechado aos não-lusita<strong>no</strong>s. Por causadisso, o ato <strong>de</strong> viajar, particularmente aos forasteiros, paraos (e principalmente <strong>de</strong>ntro dos) domínios portugueses doNovo Mundo, prosseguia sendo algo virtualmente proibidopelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>no</strong>rma que se estendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o SéculoXVIII (Manthorme, 1996). Essa restrição vinha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> ochamado Pacto Colonial, que obrigava a uma provação7


alfan<strong>de</strong>gária <strong>de</strong> todos os produtos colhidos, gerados emanufaturados nas possessões portuguesas, cerceando to<strong>da</strong>sas manifestações comerciais diretas com as colônias.Foi justamente esse entrave que, por vários séculos,resultou em um reduzido contingente <strong>de</strong> informações sobrea natureza <strong>da</strong> colônia, levando a um gran<strong>de</strong> atraso <strong>de</strong>conhecimento biológico em comparação com outras nações.Afinal, o conhecimento sobre quais eram e on<strong>de</strong> estavam asriquezas naturais po<strong>de</strong>ria ser convertido em informaçõesestratégicas e em gran<strong>de</strong> parte liga<strong>da</strong> à própria soberaniaterritorial, <strong>da</strong>í a preocupação, até certo ponto exagera<strong>da</strong>,com seus recursos ambientais.Apesar disso, as ciências naturais <strong>no</strong> resto do mundose <strong>de</strong>senvolviam a passos largos, tendo como exemploclássico a publicação <strong>de</strong> <strong>no</strong>rmas universais para aclassificação dos seres vivos, por meio <strong>de</strong> Carl von Linné(1758), consi<strong>de</strong>rado patro<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>no</strong>menclatura biológica.Graças a isso e uma vez <strong>de</strong>finido um sistema básicoe padronizado <strong>de</strong> agrupar os organismos, a pautafun<strong>da</strong>mental para os zoólogos <strong>da</strong> época passou a ser listarespécies, <strong>no</strong>miná-las, <strong>de</strong>screvê-las e, ain<strong>da</strong>, associá-las aoslocais <strong>de</strong> origem, cui<strong>da</strong>do esse tido como exceção, frente ainúmeras procedências imprecisas ou mesmo errôneas. Sobesse aspecto é que a sistemática evoluiu, pouco a pouco masa partir <strong>de</strong> então ampara<strong>da</strong> por um protocolo universal,expondo suas tantas ramificações, <strong>de</strong>ntre elas asbiogeografia.Ao mesmo tempo, todos os processos <strong>de</strong>scritivosnecessitavam <strong>de</strong> documentos que acompanhassemfisicamente as palavras escritas <strong>no</strong>s livros. Essa lacuna foioriginalmente supri<strong>da</strong> por <strong>de</strong>senhos, alguns <strong>de</strong>les <strong>de</strong>magnífica feitura, outros mais rudimentares – porémsuficientemente claros para o reconhecimento dos elementosfigurados.8


Como alternativa à imprecisão <strong>da</strong>s representaçõespictóricas, surgem então os aprimoramentos <strong>de</strong> técnicasvisando à preservação <strong>de</strong> espécimes, mais conheci<strong>da</strong> comotaxi<strong>de</strong>rmia. Esse processo já era conhecido e praticado <strong>de</strong>maneira rudimentar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Século XIII, em geral paraconservar temporariamente animais que serviriam comomo<strong>de</strong>los para pinturas (Schulze-Hagen et al., 2003), masteve gran<strong>de</strong> expansão exatamente <strong>no</strong> início do Século XIX(Wheeler, 1995, 1997; ver também Brown, 1849). Algunsautores, assim, consi<strong>de</strong>ram que o procedimento se constituiu“um marco <strong>de</strong>finitivo <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> Ornitologia,quando a documentação passou a se tratar <strong>de</strong> um mecanismoindispensável nas varia<strong>da</strong>s pesquisas, inclusive naestabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>menclatura” (Stresemann, 1923, 1951;Piacentini et al., 2010).Não à toa, muitos dos gran<strong>de</strong>s museus <strong>da</strong> Europa emesmo <strong>da</strong> América do Norte tiveram sua fun<strong>da</strong>çãojustamente nessa época, que po<strong>de</strong> ser trata<strong>da</strong> como o início<strong>da</strong> universalização dos procedimentos <strong>de</strong> reunião,conservação e catalogação <strong>de</strong> naturália, <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s comosão praticados até os dias <strong>de</strong> hoje.Com o inventário biológico gradualmenteavançando, a busca por matéria-prima <strong>de</strong> outros continentespassou a se tornar uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira obsessão. Muitoscontinentes, além do europeu, já dispunham <strong>de</strong> coletâneasrazoáveis <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> mas ain<strong>da</strong> era <strong>no</strong>tória a carência<strong>de</strong> informações biológicas sobre um dos mais interessantes<strong>de</strong> todos: a América do Sul.Nesse sentido, o inflexível veto <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>sportuguesas à exploração do território brasileiro foiduplamente sentido. Primeiro pela lamentável proibição <strong>de</strong>acesso ao inigualável Alexan<strong>de</strong>r von Humboldt, junto ao seuamigo Aimé Bompland. Esses dois estudiosos participaram<strong>da</strong> pretensiosa expedição pelas Américas, entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>9


1799 e 1804 sob o comando do almirante Louis Antonie <strong>de</strong>Bouganville e foram proibidos pela coroa portuguesa <strong>de</strong>a<strong>de</strong>ntrar <strong>no</strong> Brasil. A viagem, que se tor<strong>no</strong>u uma <strong>da</strong>s açõescientíficas mais importantes em todo o mundo (Bruhns,1872), privava o país <strong>de</strong> ser incluido ao itinerário <strong>de</strong>ssesgran<strong>de</strong>s exploradores, pelo simples motivo <strong>de</strong> uma alega<strong>da</strong>suspeita <strong>de</strong> espionagem!Sob o mesmo raciocínio, problema idêntico ocorreucom Félix <strong>de</strong> Azara que, embora tenha tangenciado oslimites brasileiros e inclusive neles entrando (talvezilegalmente), pouco pô<strong>de</strong> relatar sobre a colônia portuguesaem sua obra vastíssima leva<strong>da</strong> a efeito <strong>no</strong> Paraguai e paísesadjacentes (Straube, 2011).Resta apenas o lamento associado à dúvi<strong>da</strong>: queinformações valiosas não disporia o país, às portas doSéculo XIX, sobre seus elementos biológicos se essespesquisadores tivessem o acesso facilitado, ou ao me<strong>no</strong>sautorizado, aos <strong>no</strong>ssos territórios? A resposta não é muitodifícil <strong>de</strong> ser formula<strong>da</strong>. Humboldt representa um dos maisimportantes pensadores <strong>da</strong> Humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, cuja linhainfluenciou uma e<strong>no</strong>rme lista <strong>de</strong> outros cientistas (e mesmoartistas) e foi um dos fun<strong>da</strong>dores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s áreasdo conhecimento mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Astro<strong>no</strong>mia, a Geografiae a Biologia como um todo.Azara, por sua vez, é um dos mais <strong>no</strong>táveisexploradores e cientistas que estiveram na América do Sulem todos os tempos. Com base em suas obras, fortementeopositoras ao estilo já ultrapassado do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Buffon,uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> organismos acabou sendo <strong>de</strong>scrita, emvirtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> e critérios, bastante avançadospara a época.No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1801 isso foi bran<strong>da</strong>mente modificadocom os resultados obtidos pela equipe forma<strong>da</strong> por JohannCenturius, mais conhecido como Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hoffmannsegg,10


um fi<strong>da</strong>lgo apaixonado pelas ciências naturais (Sick, 1997).Sob a li<strong>de</strong>rança <strong>de</strong> Friedrich W. Sieber, esse grupoproporcio<strong>no</strong>u um avanço relevante <strong>no</strong> conhecimento <strong>da</strong>natureza brasileira, graças ao colecionamento realizado naAmazônia (Pará), <strong>no</strong> Su<strong>de</strong>ste (Rio <strong>de</strong> Janeiro) e <strong>no</strong> Nor<strong>de</strong>ste(Pernambuco, Bahia e Ceará) pelo trabalho diligente dosnaturalistas brasileiros Francisco A. Gomes, João <strong>da</strong> SilvaFeijó e Luis Beltrão. As aves recolhi<strong>da</strong>s resultaram na<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> muitas espécies (treze atualmente váli<strong>da</strong>s),batiza<strong>da</strong>s por Coenraad J. Temminck, Johann G. Wagler,Heinrich Kuhl, Jean Cabanis, Martin H. Lichtenstein eespecialmente Johann K. W. Illiger, que aproveitou omaterial em sua obra sobre a classificação <strong>de</strong> mamíferos eaves (Illiger, 1811) 3 .Em segui<strong>da</strong>, <strong>no</strong> fim do a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1803, ocorreu aprimeira esta<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil do alemão Georg Heinrich vonLangsdorff, auto-di<strong>da</strong>ta em <strong>História</strong> Natural e integrante <strong>da</strong><strong>de</strong>legação russa <strong>de</strong> circum-navegação, li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelo capitãoA<strong>da</strong>m Johann von Kruzenstern. Langsdorff permaneceu pordois meses <strong>no</strong> litoral <strong>de</strong> Santa Catarina 4 . Posteriormentepublicou uma <strong>da</strong>s primeiras obras sobre a <strong>História</strong> Naturaldo Brasil <strong>no</strong> Século XIX, aguçando a curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seuspares e servindo <strong>de</strong> estopim para um pa<strong>no</strong>rama que haveria<strong>de</strong> se modificar quase cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois (Langsdorff, 1811).Uma <strong>da</strong>s suas <strong>de</strong>scobertas foi referente àbioluminescência. O naturalista provava, afinal, que oestranho fenôme<strong>no</strong> era oriundo <strong>de</strong> reações químicas doplâncton e não <strong>da</strong> <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> matéria orgânica,conforme se acreditava na época (Murr, 1997).3 A saíra-andorinha (Tersina viridis) é a única espécie brasileira váli<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong>ssa obra.4 Sua presença <strong>no</strong> proibido território português se <strong>de</strong>veu somente a uma contingênciaespecial: atingi<strong>da</strong>s por uma tempesta<strong>de</strong>, as duas naus foram força<strong>da</strong>s a aportar nasproximi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “São Miguel” (Bombinhas), para conserto dos mastros e abastecimento <strong>de</strong>água doce. Murr (1997) refere-se a esse momento como em “fins <strong>de</strong> 1802”, o que diverge<strong>da</strong> obra original <strong>de</strong> Langsdorff (1811:3) que, <strong>de</strong> Copenhague (Dinamarca), teria saído emsetembro <strong>de</strong> 1803.11


Em 1808, um episódio político particular acaboualavancando uma série <strong>de</strong> transformações pelas quais passouo País: a côrte real portuguesa, como resposta à iminenteinvasão pelos exércitos napoleônicos, transferiu-se para oBrasil, aqui estabelecendo sua se<strong>de</strong> <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> (Goeldi,1896; Ihering, 1902; Vanzolini, 1996). Um dos primeirosatos oficializados por D. João, príncipe-regente português,foi a carta-régia <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> Abertura dos Portos à naçõesamigas, que autorizava o trânsito, a permanência e aexploração do Brasil por países aliados.Embora tenha sido oficializa<strong>da</strong> em janeiro <strong>de</strong> 1808,foi somente em 1816 (Pinto, 1979) que começaram aaparecer – para a Ornitologia brasileira – as suas primeirasconsequências diretas e indiretas, ou seja, o gran<strong>de</strong> afluxo<strong>de</strong> naturalistas viajantes, inspirados principalmente nasviagens <strong>de</strong> Humboldt (Pinto, 1945, 1979; Guix, 1995; Sick,1997).Havia, mas somente a partir <strong>de</strong>sse momento, umgran<strong>de</strong> interesse <strong>de</strong> Portugal por hospe<strong>da</strong>r esses viajantesque, em muitos casos, representavam oficialmente suaspróprias nações, como emissários <strong>da</strong> alta intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong>europeia ou mesmo como genuí<strong>no</strong>s <strong>de</strong>legados <strong>da</strong> <strong>no</strong>breza.Ao mesmo tempo também se pensava em separar (ourequisitar) parte do acervo obtido pelos naturalistas paracompor o acervo do recém criado Museu Real 5 .Com isso, era evi<strong>de</strong>nte o apoio português a essesvisitantes, em regra recomen<strong>da</strong>dos pelo Con<strong>de</strong> <strong>da</strong> Barca(Antônio <strong>de</strong> Araújo e Azevedo), sabi<strong>da</strong>mente tido com umdiplomata protetor <strong>da</strong>s ciências. Segundo Moacyr (1936):“Por essa época, naturalistas europeus,atraídos pela <strong>no</strong>ssa natureza, aqui foramchegando e internando-se pelas <strong>no</strong>ssas regiões5 Museu Real (fun<strong>da</strong>do em 1818), <strong>de</strong>pois Museu Imperial e Nacional (1824) e, enfim,Museu Nacional (1890).12


<strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s. José Bonifácio dirigiu um apeloa esses estudiosos <strong>da</strong> natureza, pedindo-lhesque auxiliassem o Museu que <strong>de</strong>les muitoprecisava. A medi<strong>da</strong> surtiu bom resultado.Langsdorff, <strong>Natterer</strong>, von Sellow, acudiramsem <strong>de</strong>mora ao pedido do ministro que os haviaprotegido nas suas excursões. Langsdorffchegou a ponto <strong>de</strong> oferecer ao Museu a suacoleção <strong>de</strong> mamíferos e aves <strong>da</strong> Europa;<strong>Natterer</strong>, valiosas coleções <strong>de</strong> zoologia eSeIlow, ossa<strong>da</strong>s fósseis por ele encontra<strong>da</strong>s nasmargens do Uruguai. Desse modo começoucom ótimos resultados o exemplo <strong>de</strong> fazerdonativos ao Museu.Embora houvesse um certo controle sobre asincursões, o que ocorria até mesmo pelos próprios paísesque os enviavam, a todos eles foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s permissões “[...]não só <strong>de</strong> viajar sem obstáculos nas diferentes capitanias,como também lhes foi generosamente conferi<strong>da</strong> umaimportância anual, a par <strong>de</strong> passaportes concedidos emtermos lisonjeiros e as melhores cartas <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>çãopara os capitães gerais” (Pinto, 1979:66, baseado em Wied,1958).A oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> criou um e<strong>no</strong>rme interesse <strong>da</strong>snações europeias, <strong>de</strong> forma que a linha <strong>de</strong> pensamento apartir <strong>de</strong> então passou a incluir a busca por informaçõescientíficas e preferencialmente espécimes, colhidos comgran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s por expedições minuciosamenteprepara<strong>da</strong>s.Essas viagens apresentavam características muitomarcantes, em gran<strong>de</strong> parte liga<strong>da</strong>s às <strong>no</strong>vas e<strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s condições que as terras ig<strong>no</strong>tas <strong>da</strong> Américaproporcionariam. Uma <strong>de</strong>las associava-se à publici<strong>da</strong><strong>de</strong>sobre o espetacular potencial <strong>de</strong> uma área quase continental,13


sua megadiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e, obviamente, as múltiplaspossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s econômicas disponíveis.A interação entre estudiosos e viajantes, tambémpô<strong>de</strong> ser inicia<strong>da</strong>, seja por leituras <strong>de</strong> relatos quecomeçavam a aparecer na literatura contemporânea, sejapela correspondência troca<strong>da</strong> entre eles e suas instituições.Nesse tempo, quando a produção <strong>de</strong> livros era <strong>no</strong>tavelmenteonerosa, o costume era a ven<strong>da</strong> antecipa<strong>da</strong> <strong>de</strong> exemplarespor meio <strong>de</strong> subscrições. Com isso, instituições <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>porte, <strong>no</strong>bres, mecenas e outras personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s acabavampor financiar, ao me<strong>no</strong>s em parte, as <strong>de</strong>spesas gráficas,mesmo antes <strong>da</strong> obra estar pronta 6 .Esse <strong>de</strong>talhe tor<strong>no</strong>u-se elemento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância na logística e <strong>no</strong>s preparativos <strong>de</strong> viagem. Erauma gran<strong>de</strong> vantagem, ao explorador, ter conhecimentoprévio sobre as condições econômicas, sociais, biológicas,climáticas e inúmeras outras, antes <strong>de</strong> se aventurar emregiões totalmente <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s. Agora as expediçõespo<strong>de</strong>riam ser planeja<strong>da</strong>s com alguma antecedência,prevendo gran<strong>de</strong> parte do percurso a ser seguido e,naturalmente, os melhores pontos para estabelecer as basesprincipais, a partir <strong>da</strong>s quais realizariam incursões pelointerior a <strong>de</strong>ntro.Se falamos em planejamento, somos forçados apensar inicialmente em <strong>de</strong>slocamento, o que incluía anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s portos associados à boa conservaçãodos caminhos existentes e à disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> animais <strong>de</strong>carga a preços acessíveis e em excelentes condições físicas.Nesse aspecto, introduz-se outro <strong>de</strong>terminante: o transporte,haja vista que as principais formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento por6 Nas obras narrativas <strong>de</strong> viagem <strong>de</strong> Karl von Martius e Johann B. von Spix, além <strong>da</strong>quelaproduzi<strong>da</strong> pelo Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied, os <strong>no</strong>mes <strong>de</strong>sses “investidores” são claramentemencionados, inclusive com o número <strong>de</strong> exemplares solicitado.14


terra <strong>no</strong> Brasil do Século XIX, eram por meio <strong>de</strong> animais <strong>de</strong>carga (equi<strong>no</strong>s e muares) quando por terra.Sob esse sentido, acabaram ocorrendo muitíssimascoincidências <strong>no</strong>s itinerários <strong>de</strong> várias expediçõesestrangeiras ao Brasil e isso se <strong>de</strong>veu não exclusivamentepor eventuais intercâmbios anteriores mas, particularmente,pela restrição <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento (caminhoscoloniais) e <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> ou chega<strong>da</strong> (capitais <strong>de</strong>províncias e <strong>de</strong> comarcas, portos, “registros <strong>de</strong>cavalgaduras” etc.). Esse limitante, associado ao evi<strong>de</strong>ntetemor por hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos índios, fizeram com que asexpedições – via <strong>de</strong> regra – não se aventurassem em<strong>de</strong>masia pelo interior.O padrão geográfico <strong>da</strong> maior parte <strong>da</strong>s expediçõesao Brasil, ficou então, concentrado em linhas <strong>de</strong> itineráriocomuns a quase todos os naturalistas que as empreen<strong>de</strong>ram.Aparentemente, acabaram por ser visitados os locais já antesestu<strong>da</strong>dos, propiciando resultados muitas vezescoinci<strong>de</strong>ntes.Esse é um dos motivos pelos quais o <strong>Paraná</strong>hospedou tão peque<strong>no</strong> número (e em tão restrita áreageográfica, concentra<strong>da</strong> na meta<strong>de</strong> oriental do Estado) <strong>de</strong>exploradores estrangeiros nas primeiras déca<strong>da</strong>s do SéculoXIX, situação repeti<strong>da</strong> em outras regiões do Brasil como ointerior do Nor<strong>de</strong>ste e o pantanal sul-matogrossense. E issoaconteceu porque todos os caminhos disponíveis, <strong>no</strong> estado,estavam restritos à região leste, a partir <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> paulistalimítrofe <strong>de</strong> Itararé, pelos Campos Gerais, <strong>de</strong>pois Curitiba eo litoral. Investir pelo interior a<strong>de</strong>ntro, sabi<strong>da</strong>mente repleto<strong>de</strong> índios hostis, era uma temeri<strong>da</strong><strong>de</strong> a ser, com rarasexceções, evita<strong>da</strong>.Aspecto interessante é a coincidência <strong>da</strong> presença <strong>de</strong>visitantes estrangeiros exatamente <strong>no</strong> início dos processos<strong>de</strong> In<strong>de</strong>pendência do Brasil e também os movimentos15


separatistas <strong>da</strong> Província do <strong>Paraná</strong>, nesse caso iniciados jáem 1821 e apenas fin<strong>da</strong>dos, com a sua emancipação, em1853. Nesse ínterim, algumas manifestações causaramsituações políticas conturba<strong>da</strong>s, algumas <strong>de</strong>las belicosas 7 ,inclusive a Guerra <strong>da</strong> Cisplatina (1825-1828) e, pouco<strong>de</strong>pois, a Revolução Farroupilha (1835-1845), <strong>da</strong> qual o<strong>Paraná</strong> participou indiretamente.Como se po<strong>de</strong>ria esperar, esse período foiextremamente conturbado (ou melhor, incerto), dos pontos<strong>de</strong> vista político e social e não tinha como <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> refletirsobre as condições encontra<strong>da</strong>s pelos naturalistas viajantesque, sob proteção <strong>da</strong> coroa, encontravam uma série <strong>de</strong>restrições – eventualmente hostis – por parte dosmovimentos populares <strong>de</strong> oposição ao sistema vigente.Antes <strong>da</strong> In<strong>de</strong>pendência, os anseios <strong>de</strong> Portugal comrelação ao Brasil, voltavam-se diretamente ao conhecimentodos recursos naturais <strong>de</strong> que dispunha e isso se projetava <strong>no</strong>interesse técnico, utilitarista e econômico. Preserva<strong>da</strong>s as<strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s proporções, então, observa-se que se mantinha amesma política central estendi<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o tempo doDescobrimento. Em termos gerais, já sobera<strong>no</strong>, o Brasilacabou mantendo gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>ssa política que, afinal, erauma tendência mundial <strong>de</strong> interesse por um conhecimentomais profundo acerca dos recursos naturais. A própriaparticipação, <strong>no</strong>s círculos do po<strong>de</strong>r local, <strong>de</strong> intelectuais doporte <strong>de</strong> Leopoldina, José Bonifácio e, posteriormente dopróprio Pedro II, tiveram influência <strong>no</strong>tável nessa tendência.No <strong>Paraná</strong>, uma vez concluído o ciclo <strong>da</strong> mineração,os reflexos <strong>de</strong>ssa política se esten<strong>de</strong>ram basicamente sobreduas matérias-primas abun<strong>da</strong>ntes e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesseextrativista: o pinheiro-do-paraná e a erva-mate.7 Assim como também a Revolução Liberal portuguesa (1820) e o retor<strong>no</strong> <strong>de</strong> Pedro I aPortugal, culminando na Guerra Civil portuguesa (1832-1834) e várias rebeliõesenvolvi<strong>da</strong>s em disputas pela coroa.16


Para inaugurar os esforços oficiais pela <strong>de</strong>scoberta<strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a coroa portuguesa – e consecutivamente,o Brasil in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte – não possuía recursos huma<strong>no</strong>s, leiaseestudiosos e colecionadores <strong>de</strong> naturália <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mentehabilitados. Assim, a presença <strong>de</strong> naturalistas <strong>de</strong> outrospaíses, que trabalhassem arduamente em colher amostras eprincipalmente que publicassem seus resultados, passou aser uma vantagem estratégica e pouco onerosa. É nessecontexto que entram, <strong>no</strong> cenário paranaense, as presenças <strong>de</strong>Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire (<strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> em 1820), Johann B.von <strong>Natterer</strong> e seu auxiliar Dominik Sochor (entre 1820 e1821), dois membros <strong>da</strong> Expedição Langsdorff: AiméeAdrien Taunay e Ludwig Rie<strong>de</strong>l (1826) e Friedrich Sellow(1828).Pouco a pouco, graças à política joanina expressalogo <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> família real, esse pa<strong>no</strong>rama foi semodificando gra<strong>da</strong>tivamente. A coroa portuguesa a partir <strong>da</strong>segun<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> do Século XIX, acabou por aumentar suapretensões, <strong>de</strong> forma explícita, ao reconhecimento ecolonização <strong>da</strong>s terras ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s do interior doBrasil. A i<strong>de</strong>ia era, então, povoar o país, basicamentevisando à proteção <strong>de</strong> suas fronteiras.O percorrimento <strong>de</strong> vastas extensões <strong>de</strong> terrasinabita<strong>da</strong>s, como resultado do trabalho <strong>de</strong>sses naturalistas,gerou – como se era <strong>de</strong> esperar – uma <strong>no</strong>ção muito maisrobusta <strong>da</strong>s condições geográficas, naturais, hidrográficas egeomorfológicas do Brasil. Era o momento certo para <strong>da</strong>rinício a um gran<strong>de</strong> pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> comunicação entre as regiões,paralelamente ao seu povoamento resumido em duas frentes<strong>de</strong> ação: estabelecimento <strong>de</strong> vias <strong>de</strong> ligação rodoviária efluvial e estímulo aos processos <strong>de</strong> imigração estrangeira.Com isso, o <strong>de</strong><strong>no</strong>minado <strong>Período</strong> <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>(Straube & Scherer-Neto, 2001) mereceu ser subdividido emduas partes: uma <strong>de</strong>las mostrando um Brasil colonial com17


vistas ao diagnóstico <strong>de</strong> sua flora, fauna e dos recursosminerais e outra, que ressuscita a importância <strong>de</strong> outro foco,mais voltado à comunicação entre regiões estratégicas e seuconsecutivo povoamento 8 .Rigorosamente falando, é neste primeiro momentoque se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong> inauguração <strong>da</strong>s Ciências Naturais <strong>no</strong>contexto estadual paranaense.8 Sem comprometer a linha <strong>de</strong>sse raciocínio, o <strong>Período</strong> <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, nesta coleção, ésubdividido em três livros, única e exclusivamente por questões <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação editorial.18


Cro<strong>no</strong>logia1818 É fun<strong>da</strong>do, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, o Museu Real, <strong>de</strong>poisMuseu Imperial e Nacional (1824) e, enfim, MuseuNacional (1890), <strong>de</strong><strong>no</strong>minação usa<strong>da</strong> até os diasatuais, em que se encontra sob a tutela <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro.1818 Como secretário <strong>da</strong> <strong>de</strong>legação alemã chefia<strong>da</strong> pelocon<strong>de</strong> von Flemming, chega ao Brasil o diplomata ezoólogo alemão Ignaz Franz Werner Maria Olfers.Interessado nas questões <strong>de</strong> história natural e<strong>de</strong>pois associado a Sellow e ao Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied, retorna à sua pátria em 1821.1818 Nascimento <strong>de</strong> JOHANN JAKOB VON TSCHUDI.1818 Em Varsóvia tem início a coleção <strong>de</strong> aves do entãoMuseu e Instituto <strong>de</strong> Zoologia <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>miaPolonesa <strong>de</strong> Ciências, mediante a compra <strong>de</strong> 20.000exemplares do acervo particular <strong>de</strong> SylwiuszMinckwitz pelo então Gabinete <strong>de</strong> Zoologia <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Real <strong>de</strong> Varsóvia.1819 Giuseppe Raddi publica “Di alcune specie <strong>no</strong>uve direttili i piante brasiliane”, com base <strong>no</strong> materialcolecionado durante sua participação na MissãoAustríaca ao Brasil.1819 Coenraad J. Temminck adquire, por compra, uma19


parte do acervo colhido e mantido em coleçãoparticular por William Bullock. Com isso, a coleçãodo Museu <strong>de</strong> Lei<strong>de</strong>n (Holan<strong>da</strong>) tor<strong>no</strong>u-se uma <strong>da</strong>smaiores em todo o mundo. Uma outra fração <strong>de</strong>stematerial foi compra<strong>da</strong> por William Elford Leach, quea <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>u ao Museu Britânico.1820 Temminck assume a direção do Museu Imperial <strong>de</strong>Lei<strong>de</strong>n (Holan<strong>da</strong>), incorporando todo o seuriquíssimo acervo particular e também aquele queera mantido <strong>no</strong> Museu Real <strong>de</strong> Amsterdã. Nestemesmo a<strong>no</strong>, com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu assistente HeinrichKuhl, inicia a publicação <strong>da</strong> obra “Noveau Récueil <strong>de</strong>Planches Coloriées d’oiseaux...” (1820-1836), umacontinuação aos “Planches enluminées” <strong>de</strong> Buffon,organizado por Daubenton. Os últimos volumes (até1839) foram continuados por Guillaume MichelJérôme Meiffren Laugier, Barão <strong>de</strong> Chartrouse.1820 No <strong>Paraná</strong>, inicia-se o “Ciclo <strong>da</strong> Erva-Mate”, período<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> cenário estadual enacional que, por mais <strong>de</strong> um século, movimentoualtíssimas cifras <strong>de</strong> exportação e relacionamentoeconômico com os países plati<strong>no</strong>s.1820 Johann C. Mikan inicia a publicação <strong>de</strong> seu“Delectus florae et faunae brasiliensis” com parte<strong>de</strong> suas observações <strong>de</strong> campo durante suaparticipação na Missão Austríaca ao Brasil e quereúne quatro volumes (hoje raríssimos) concluídosem 1825.20


1820 O Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied publica o primeirovolume (o segundo sairia <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte) do “Reisenach Brasilien”, relatando os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> suaviagem ao Brasil.1820 No mês <strong>de</strong> janeiro, AUGUSTE DE SAINT HILAIRE chega ao<strong>Paraná</strong>, por Itararé (São Paulo).1820 Em setembro, JOHANN NATTERER a<strong>de</strong>ntra o territórioparanaense junto com seu auxiliar FERDINANDDOMINIK SOCHOR. No mesmo a<strong>no</strong> separam-se emCuritiba: o primeiro segue para o litoral (até 1821) eo segundo retorna para Ipanema.21


1820AUGUSTE DE SAINT HILAIREAUGUSTE FRANÇOIS CESAR PROUVENÇAL DESAINT HILAIRE 9 (n. Orléans, França: 4 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1779;f. Orléans, França: 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1853) foi umnaturalista <strong>de</strong>stacado na região francesa que celebrou Joanad‟Arc, a heroína <strong>da</strong> Guerra dos Cem A<strong>no</strong>s. Além <strong>de</strong>cavaleiro <strong>de</strong> honra <strong>da</strong> Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Cristo e <strong>da</strong> Cruz do Sul(França), era membro <strong>de</strong> incontáveis instituições científicas<strong>de</strong> sua época. No frontispício <strong>de</strong> suas obras isso era<strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente exibido: membro <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Real <strong>de</strong>Ciências <strong>da</strong> França 10 , professor <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong>Paris, sócio <strong>da</strong>s aca<strong>de</strong>mias científicas <strong>de</strong> Berlim, SãoPetersburgo, Lisboa, <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Lineana <strong>de</strong> Londres, doInstituto Histórico e Geográfico do Brasil, <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong><strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Boston e <strong>de</strong> Genebra, socie<strong>da</strong><strong>de</strong>sBotânica <strong>de</strong> Edimburgo, Médica do Rio <strong>de</strong> Janeiro,Filomática <strong>de</strong> Paris, <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Orleans, “etc”.Sua visão <strong>da</strong> <strong>História</strong> Natural era totalmente diversa<strong>de</strong> tudo aquilo que se praticava <strong>no</strong> mundo “civilizado”europeu dos séculos XVIII e XIX, posto que focalizava nãoapenas os aspectos filosóficos <strong>de</strong> sua especiali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Segundo Kury (2002), a vertente romântica <strong>da</strong> <strong>História</strong>9 A maior parte dos autores referem-se ao primeiro <strong>no</strong>me do naturalista como Auguste. Nafolha <strong>de</strong> rosto <strong>de</strong> sua obra Flora Brasiliae Meridionalis <strong>de</strong> 1825, consta “Augusto DESAINT HILAIRE‖, na forma latina. Na <strong>de</strong>dicatória, contudo, aparece a grafia que <strong>de</strong>ve sera preferi<strong>da</strong> por ele: "Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire". Há, ain<strong>da</strong>, quem utilize “Augustin”.10 Efetivado em 1830, ocupando na<strong>da</strong> me<strong>no</strong>s do que a vaga <strong>de</strong> Jean Baptist <strong>de</strong> Lamarck(1744-1829)!23


Natural fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, entre outros, por Humboldt, e por eleadota<strong>da</strong>, consi<strong>de</strong>rava essa ciência como algo prático,voltado para a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s populaçõeseuropeias e para o fortalecimento material e simbólico nanação que representavam.Essa tônica sempre foi lembra<strong>da</strong> em seus estudos,incluindo vários títulos publicados mesmo antes <strong>de</strong> ter aoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viajar ao Brasil e que se somavam à suaeducação, parcialmente leva<strong>da</strong> a efeito na Alemanha.Mantinha, além disso, relações com Antoine LaurentJussieau, Augustin Pyramus <strong>de</strong> Candolle e Féllix Dunal epartilhava <strong>de</strong> muitas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Goethe e Rousseau 11 .A <strong>no</strong>ção utilitarista <strong>da</strong> natureza, <strong>de</strong> acordo com aspróprias palavras <strong>de</strong> Saint Hilaire, chegava a algunsextremos que, <strong>no</strong>s dias <strong>de</strong> hoje, po<strong>de</strong>riam ser consi<strong>de</strong>radosver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras heresias pelos ambientalistas:―Se alguns exemplares dos meus relatosresistirem ao tempo e ao esquecimento, asgerações futuras talvez encontrem nelesinformações <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interesse sobre essasvastas províncias, provavelmentetransforma<strong>da</strong>s, então, em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>irosimpérios [...]. Ficarão surpreendidos aoverificarem que, <strong>no</strong>s locais on<strong>de</strong> seerguerão ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s prósperas e populosas,havia outrora apenas um ou dois casebresque pouco diferiam <strong>da</strong>s choças dosselvagens; que on<strong>de</strong> estarão retinindo <strong>no</strong>sares os ruídos dos martelos e <strong>da</strong>s máquinasmais complexas ouviam-se apenas, emoutros tempos, o coaxar <strong>de</strong> alguns sapos e ocanto dos pássaros; que, em lugar <strong>da</strong>s11 Apesar <strong>da</strong> formação erudita e extensa <strong>de</strong> Saint-Hilaire, que não se confun<strong>da</strong> onaturalista em questão com seus homônimos que, com ele não tinham nenhum parentesco:Etienne e Isidore Geoffroy <strong>de</strong> Saint Hilaire (pai e filho, respectivamente), ambos autores<strong>de</strong> vastíssima obra zoológica e também em outros campos <strong>da</strong>s ciências naturais.24


extensas plantações <strong>de</strong> milho, <strong>de</strong> mandioca,<strong>de</strong> cana-<strong>de</strong>-açúcar e <strong>da</strong>s árvores frutíferas,o que haviam eram terras cobertas por umavegetação exuberante, mas inútil‖ (Saint-Hilaire, 1847: prefácio).É curioso que, embora seja gran<strong>de</strong>mente lembrado<strong>no</strong> Brasil – há, por exemplo, um busto em sua homenagem<strong>no</strong> Jardim Botânico do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Sampaio, 1928) – onaturalista é pouco conhecido na França, numa situaçãototalmente diferente <strong>da</strong> que acontecia em sua época, quandopossuia e<strong>no</strong>rme prestígio científico e político <strong>no</strong>s altoscírculos <strong>da</strong> aristocracia parisiense (Kury, 2002).Sua conexão com o Brasil surgiu como <strong>de</strong>corrência<strong>da</strong>s tantas atribulações que marcaram o auge e o fim doimpério napoleônico. Isso porque um dos primeiros atos <strong>de</strong>D. João, ao estabelecer a se<strong>de</strong> do gover<strong>no</strong> português <strong>no</strong>Brasil, foi a anexação <strong>da</strong> então colônia <strong>da</strong> Guiana Francesa,em 1809, como represália à invasão <strong>de</strong> Portugal porNapoleão Bonaparte.Sete a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, a pedido <strong>de</strong> Luís XVIII (recémreposto rei <strong>da</strong> França, com a <strong>de</strong>posição <strong>de</strong> Napoleão), oGrão-duque <strong>de</strong> Luxemburgo 12 dirige-se ao Brasil – <strong>no</strong> a<strong>no</strong><strong>de</strong> 1816 – como embaixador extraordinário, na tentativa <strong>de</strong>um acordo diplomático 13 . Nessa comitiva estava Auguste <strong>de</strong>Saint Hilaire, financiado pelo Ministério do Interior por serum dos gran<strong>de</strong>s intelectuais europeus, na época interessadoem investigar principalmente a flora do Novo Mundo (Kury,12 Willem Fre<strong>de</strong>rik van Oranje-Nassau (<strong>no</strong> Brasil: Guilherme I), rei do Rei<strong>no</strong> Unido dosPaíses Baixos que, entre 1815 e 1839, incluía o grão-ducado <strong>de</strong> Luxemburgo.13 Não obstante pareça sugestivo pela coincidência <strong>de</strong> nação e <strong>da</strong>tas, Saint Hilaire não veioao Brasil com a “Missão Artística Francesa” (1816) que consagrou o pintor Jean BaptistDebret. Esse erro eventualmente aparece na literatura; vi<strong>de</strong> Eyriès & Malte-Brun (eds.,1823).25


2002). Junto com ele veio Pierre Antoine Delalan<strong>de</strong> 14 , queficou restrito aos arredores do Rio <strong>de</strong> Janeiro, estu<strong>da</strong>ndoprincipalmente beija-flores, seu maior interesse (Sick,1997). Este último permaneceu <strong>no</strong> Brasil apenas por algunsmeses, retornando a Paris com a mesma comitiva que otrouxera, e seu material foi estu<strong>da</strong>do por Louis J. P. Vieillot(Nomura, 1997).Ao contrário <strong>de</strong> seu colega, Saint Hilaire aquipermaneceu por quase sete a<strong>no</strong>s, quando teve aoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> visitar todos os estados do Su<strong>de</strong>ste e do Suldo país. Embora tivesse o expresso encargo <strong>de</strong> substituirDelalan<strong>de</strong> (inicialmente com o auxílio do preparador YvesPrégent 15 ) na tarefa <strong>de</strong> colecionamento zoológico 16 ,costuma-se dizer que foi pouco o que o viajante francêscontribuiu com essa ciência, tanto me<strong>no</strong>s com a <strong>ornitologia</strong>.Segundo Pinto (1979), por exemplo:―...foi relativamente peque<strong>no</strong> o proveito <strong>de</strong>tão gran<strong>de</strong> esforço para o levantamentoavifaunístico <strong>da</strong> zona percorri<strong>da</strong>, porhaver-se sempre o colecionador, ao queparece, <strong>de</strong>scui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tar a procedênciaprecisa <strong>de</strong> seus espécimes, bem como a <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> respectiva coleta, porme<strong>no</strong>r que, <strong>no</strong>caso, seria <strong>de</strong> particular utili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Emconseqüência, raros são os exemplares <strong>de</strong>Saint-Hilaire <strong>de</strong> que ficou lembrançaduradoura na história <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa14 Esse mesmo naturalista era o preparador oficial <strong>de</strong> Etienne Geoffroy <strong>de</strong> Saint Hilaire.Ambos estavam presentes quando do famoso saque ao Museu d‟Aju<strong>da</strong> (Portugal), em1808, por ocasião <strong>da</strong> invasão dos exércitos <strong>de</strong> Napoleão (Pinto, 1979).15 Prégent faleceu antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> expedição ao <strong>Paraná</strong>, precisamente em 7 <strong>de</strong> março<strong>de</strong> 1819, em São João <strong>de</strong>l Rey (Minas Gerais). Consta que um dos auxiliares <strong>de</strong> SaintHilaire, <strong>de</strong> <strong>no</strong>me José Maria<strong>no</strong>, teria tomado o encargo <strong>da</strong> preparação <strong>da</strong>s peles (Saint-Hilaire, 1847:113).16 São realmente muito frequentes, na <strong>História</strong> <strong>da</strong> Zoologia, os exemplos <strong>de</strong> naturalistasmais <strong>de</strong>dicados à botânica mas que obtiveram expressivas coleções zoológicas,<strong>no</strong>tavelmente <strong>de</strong> avifauna (Stowell, 1990).26


Ornitologia, havendo faltado até quemestu<strong>da</strong>sse <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente as coleções por eleencaminha<strong>da</strong>s ao museu <strong>de</strong> Paris‖.Ocorre que Saint Hilaire se diferenciava<strong>no</strong>tavelmente <strong>de</strong> muitos outros viajantes contemporâneosporque era, <strong>de</strong> fato, um cientista. E, <strong>de</strong>sta forma, sabiaexatamente o que já havia sido estu<strong>da</strong>do e o que já eraconhecido e <strong>de</strong>scrito. Possuía um vastíssimo conhecimento<strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural e particularmente <strong>de</strong> Botânica 17 , mastambém <strong>de</strong> epistemologia e outros temas pouco conhecidosna época (Sampaio, 1928). Com isso, teria evi<strong>de</strong>nte <strong>no</strong>ção<strong>de</strong> que estudos zoológicos feitos com muito mais interesse edisposição já estavam bem encaminhados e prontos paraserem publicados, <strong>de</strong>ntre eles os resultados <strong>da</strong>s viagens doBarão <strong>de</strong> Langsdorff, do Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied 18 emesmo <strong>de</strong> Friedrich Sellow. Dessa forma, ele acaba maissuprindo a lacuna <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> por Delalan<strong>de</strong> do quepropriamente <strong>de</strong>monstrando interesse em se <strong>de</strong>stacar comocolecionador <strong>de</strong> animais.Mas não é essa a avaliação que se faz sobre seulegado à Botânica (Stafleu & Cowan, 1983): Saint Hilairetinha especial interesse pelas plantas, conforme atestam suascorrespondências encaminha<strong>da</strong>s ao Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong>Natural <strong>de</strong> Paris, particularmente ao amigo curador JosephPhilippe François Deleuze (1753-1835). E é por esse motivoque sua valiosa contribuição ao conhecimento <strong>da</strong> flora doBrasil, que soma a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1.500 espécies <strong>de</strong>plantas, foi compara<strong>da</strong> à <strong>de</strong> Karl von Martius, personagem17 Um <strong>de</strong> seus artigos, por exemplo, foi publicado (Saint-Hilaire, 1818) quando ain<strong>da</strong>estava em peregrinação pelo Brasil. Isso prova que seu interesse e <strong>de</strong>dicação pelaBotânica, do ponto <strong>de</strong> vista científico, era anterior à sua viagem.18 Ao me<strong>no</strong>s na obra <strong>de</strong> 1851, Saint Hilaire menciona Spix, Martius e o Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied segui<strong>da</strong>s vezes, não obstante esses exploradores jamais tivessem a<strong>de</strong>ntrado o<strong>Paraná</strong>.27


sempre lembrado. Dentre sua produção constam revisõessobre cucurbitáceas, passifloráceas, poligaláceas,mirsináceas, sapotáceas, primuláceas, lentibulariáceas e osfamosos livros “Histoire <strong>de</strong>s plantes les plus remarquablesdu Brésil et du Paraguay” (Saint-Hilaire, 1824a), “Plantesusuelles <strong>de</strong>s Brasiliens” (Saint-Hilaire, 1824b) e sua obramaior“Flora Brasiliae Meridionalis” em coautoria comAntoine Laurent <strong>de</strong> Jussieau e Jacques Cambessè<strong>de</strong>s,publica<strong>da</strong> em três volumes entre 1825 e 1833 (Saint-Hilaire,1825; Saint-Hilaire et al., 1829, 1852; Urban, 1908).De fato, há uma níti<strong>da</strong> distinção <strong>no</strong>s trabalhos “antese <strong>de</strong>pois” <strong>de</strong> suas viagens e que foram publicados <strong>no</strong>sAnnales e nas Memoires du Museum d‘Histoire naturelle <strong>de</strong>Paris 19 . A contribuição do naturalista, po<strong>de</strong>-se dizer,revolucio<strong>no</strong>u o conhecimento <strong>da</strong> distribuição geográfica,classificação, orga<strong>no</strong>grafia, fisiologia e vários outroscampos <strong>da</strong> Botânica. Isso porque, ele tinha plena <strong>no</strong>ção <strong>da</strong>envergadura <strong>de</strong> sua contribuição e, com isso, soube entregarseu material para as pessoas certas, <strong>no</strong> momento certo. Sónas 545 páginas do 12° volume do Memoires (1825), e issosem consi<strong>de</strong>rar os seus dois artigos ali publicados, ele écitado 25 vezes em estudos sobre plantas e insetos.Além <strong>de</strong> sua participação como colaborador paraestudos <strong>de</strong> outros cientistas, ele próprio publicava osassuntos <strong>de</strong> seu interesse e muitos – mas não todos – artigosque produziu, basearam-se em suas viagens pelo Brasil. É<strong>no</strong>tável, <strong>de</strong>sta forma, que <strong>no</strong>s vinte primeiros volumes doMemoires, Saint-Hilaire assina na<strong>da</strong> me<strong>no</strong>s do que 30artigos científicos, muito mais do que gran<strong>de</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s19 Já em 1818, Auguste é citado em um peque<strong>no</strong> manual <strong>de</strong><strong>no</strong>minado Instrutions sur lesrecherches qui pourrouient étre faites <strong>da</strong>ns les Colonies, sur les objects qu‘il seroitpossible d‘y recueillir, et sur la manière <strong>de</strong> les conserver et <strong>de</strong> les transporter (Richard,1818:227): “Nous en avons aussi beaucoup du Brésil: et <strong>no</strong>us sommes sûrs que le zèle <strong>de</strong>M.Auguste <strong>de</strong> St.-Hilaire <strong>no</strong>us procurer a une multitu<strong>de</strong> d‘objects <strong>no</strong>uveaux”.28


<strong>da</strong> época vincula<strong>da</strong>s ao museu <strong>de</strong> Paris, como Jussieu e seuquase-homônimo Geoffroy <strong>de</strong> Saint Hilaire.Uma lista completa <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as suas produções ain<strong>da</strong>não existe, mas <strong>de</strong>ntre os livros há excelentes fontes <strong>no</strong>sencartes <strong>de</strong> Saint-Hilaire (1940), com a<strong>no</strong>tações, adições ecomentários preciosos <strong>de</strong> Rubens Borba <strong>de</strong> Moraes.Auguste <strong>de</strong> Saint-Hilaire, litogravura (Fonte: Saint-Hilaire, 1940).Um dos legados mais valiosos <strong>de</strong> Saint-Hilaire e atécerto ponto subestimado em pesquisas históricas, alu<strong>de</strong> àerva-mate. Essa planta, <strong>de</strong> amplíssima utilização até os dias<strong>de</strong> hoje <strong>no</strong> Sul (e parte do Centro-oeste) do Brasil, foi umdos mais importantes elementos comerciais sulamerica<strong>no</strong>s<strong>de</strong>s<strong>de</strong> tempos recuadíssimos que antece<strong>de</strong>m ao29


Descobrimento. No entanto, não havia ain<strong>da</strong> recebido a<strong>de</strong>vi<strong>da</strong> atenção por parte dos cientistas, tanto que cabe aSaint Hilaire (1822:351, ro<strong>da</strong>pé) a sua <strong>de</strong>scrição original,basea<strong>da</strong> em um exemplar colecionado “Bois près Curitiba”(“mata próxima <strong>de</strong> Curitiba”), hoje <strong>de</strong>positado <strong>no</strong> museu <strong>de</strong>Paris.Naquele que correspon<strong>de</strong>ria ao batismo científico <strong>da</strong>planta 20 , Saint-Hilaire (1822:350-351) assim acontextualiza 21 :―Une plante <strong>no</strong>n moins intéressante croîtem abon<strong>da</strong>nce <strong>da</strong>ns les bois voisins <strong>de</strong>Curitiba; c‘est l‘arbre connu sous le <strong>no</strong>md‘arvore do mate ou <strong>da</strong> congonha, quifournit la fameuse herbe du Paraguay.Comme les circonstances politiquesrendoient alors presqué impossibles lescommunications du Paraguay proprementdit avec Bue<strong>no</strong>s-Ayres et Montevi<strong>de</strong>o, onve<strong>no</strong>it <strong>de</strong> ces villes chercher le mate àParannagua, port voisin <strong>de</strong> Curitiba. LesEspag<strong>no</strong>ls-Américains, trouvant unegran<strong>de</strong> différence entre l‘herbe préparéeau Paraguay et celle du Brésil,prétendoient que celle-ci étoit fournie parum autre végétal. Des échantillons quej‘avois reçus du Paraguay me mirent emétet <strong>de</strong> signaler aux autorités brasiliennsel‘arbre <strong>de</strong> Curitiba comme parfaitementsemblable à celui du Paraguay; et leuri<strong>de</strong>ntité m‘a encore été plus évi<strong>de</strong>mmentdémontrée lorsque j‘ai vu moi-même lesquinconces d‘arbres <strong>de</strong> mate plantés parles jésuites <strong>da</strong>ns leurs anciennes missions.Si donc le mate du Paraguay est supérieurpour la qualité à celui du Brésil, cela tientuniquement à la différence <strong>de</strong>s procédésUma planta não me<strong>no</strong>s interessante cresceem abundância nas matas vizinhas aCuritiba; é uma árvore conheci<strong>da</strong> pelo<strong>no</strong>me <strong>de</strong> árvore do mate ou <strong>da</strong> congonha,que fornece a famosa erva do Paraguai.Visto que as condições políticas tornaramimpossíveis as comunicações do Paraguaipropriamente dito com Bue<strong>no</strong>s Aires eMontevidéu, restou-<strong>no</strong>s apenas apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> procurar pelo mate emParanaguá, um porto vizinho a Curitiba.Os hispa<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>scobrindo umagran<strong>de</strong> diferença entre a erva prepara<strong>da</strong> <strong>no</strong>Paraguai e aquela do Brasil, sugerem que omate <strong>da</strong>qui seja originário <strong>de</strong> outrovegetal. As amostras que eu havia recebidodo Paraguai me fizeram <strong>de</strong>stacar àsautori<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras que a árvore <strong>de</strong>Curitiba é perfeitamente semelhante àquelado Paraguai; e sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> foi ain<strong>da</strong>mais claramente <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> quando me<strong>de</strong>parei com as touceiras <strong>de</strong> árvoresplanta<strong>da</strong>s pelos jesuítas em suas antigasmissões. Se a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do mate praguaioé melhor do que o do Brasil, isso se <strong>de</strong>veapenas à diferença <strong>no</strong>s processosempregados na preparação <strong>da</strong> planta. Até20 A <strong>de</strong><strong>no</strong>minação provém <strong>da</strong> forma latina para o topônimo Paraguai, ou seja, Paraguarius,formando paraguariensis, que suscita inadvertidos erros <strong>de</strong> grafia, acreditando-se ser“correta” a apresentação mais comum do gentílico (paraguayensis). Uma outra etimologia,tentativa, foi apresenta<strong>da</strong> por Zatti (2011) como alusão ao Rio dos Papagaios, na regiãodos Campos Gerais paranaenses. Até os a<strong>no</strong>s 90, havia uma <strong>no</strong>tável confusão com aautêntica espécie <strong>de</strong> erva-mate e a congonha (Ilex theezans), antes consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s sinônimos,inclusive com o uso <strong>da</strong> grafia Ilex paraguayensis por vários estudiosos, <strong>de</strong>ntre eles AiméBonpland (Gilberti, 1990).21 Texto idêntico foi publicado na introdução <strong>de</strong> Saint-Hilaire (1824:xli).30


que l‘on emploie <strong>da</strong>ns la préparation <strong>de</strong> laplante. Jusqu‘ici les auteurs ont été peud‘accord sur le genre auquel il faut larapporter; l‘ayant trouvée avec <strong>de</strong>s fleurset <strong>de</strong>s fruits, j‘ai pu l‘analyser, et <strong>da</strong>ns unmémoire que je me propose <strong>de</strong> soumettre àl‘Académie sur le végétal dont il s‘agit, ilme sera facile <strong>de</strong> démontrer qu‘ilappartient au genre ilex‖.agora, os autores foram poucoconcor<strong>da</strong>ntes acordo sobre o gênerotaxonômico a que se <strong>de</strong>veria incluí-la aplanta; tendo-a encontrado com flores efrutas, eu pu<strong>de</strong> analisá-lo e, em umamemória que me proponho a apresentar àAca<strong>de</strong>mia [<strong>de</strong> Ciências Naturais <strong>de</strong> Paris]sobre ela, me será fácil <strong>de</strong>monstrar quepertence a gênero Ilex.Quanto ao material não botânico – animais, mineraise itens et<strong>no</strong>gráficos – Saint Hilaire apenas o <strong>de</strong>ixou àdisposição dos naturalistas do museu, para que osestu<strong>da</strong>ssem (Kury, 2002). Talvez por isso é que aimportância <strong>de</strong> seu legado tenha sido <strong>de</strong> certa formasubestima<strong>da</strong> pelos zoólogos, afinal, os espécimes por elecoletados foram estu<strong>da</strong>dos, antes mesmo <strong>de</strong> seu retor<strong>no</strong>, porestudiosos do porte <strong>de</strong> Lesson, Vieillot e Temminck.A ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é que a coleção <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> Saint Hilairechegou a quase 460 espécies, sendo uma parte dosexemplares preparados para exposição, outra em posiçãocientífica (J. Cuisin, 1997 in litt.) e <strong>de</strong>stoa, <strong>de</strong>sta forma, dovolume florístico 22 .A<strong>de</strong>quando-se as informações <strong>de</strong> Sampaio (1928)com aquelas envia<strong>da</strong>s por Jacques Cuisin (in litt., 1997),curador do atual Laboratoire <strong>de</strong> Mammiferes et Oiseaux domuseu <strong>de</strong> Paris, teríamos: 2.000 espécimes <strong>de</strong> 451 espécies<strong>de</strong> aves. O número preciso, porém, é informado pelo próprioSaint-Hilaire (1822:380) em <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé: “Les oiseaux à2005, les insectes à 16000, les quadrupe<strong>de</strong>s à 129, lesreptiles à 35, etc.”.22 O valor <strong>de</strong> plantas coleciona<strong>da</strong>s é controvertido: Sampaio (1928) calcula em cerca <strong>de</strong>7.600 exsicatas e Dwyer (1955) estima que foram pelo me<strong>no</strong>s 30.000, <strong>da</strong>s quais apenasuma pequena parte foi encaminha<strong>da</strong> para museus outros que o <strong>de</strong> Paris e o <strong>de</strong> Montpellier.Para este mesmo autor “this has contributed to the failure of many mo<strong>de</strong>rn mo<strong>no</strong>graphersof Brazilian plants to cite St. Hilaire material”. Nenhum dos autores, porém, consi<strong>de</strong>rou aprimeira <strong>no</strong>tícia publica<strong>da</strong> sobre a viagem, <strong>de</strong> autoria do próprio Saint-Hilaire (1822:380):“Le <strong>no</strong>mbre <strong>de</strong>s plantes en partiular s‘élève à environ sept mille;[...]”.31


Trata-se, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong> uma contribuição muitoexpressiva, levando-se em consi<strong>de</strong>ração o tempo em que se<strong>de</strong>dicou – e secun<strong>da</strong>riamente – às aves. Tendo chegado aoBrasil em 1° <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1816 e <strong>de</strong>ste país retornado àFrança em 4 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1822, po<strong>de</strong>-se estimar quecolecio<strong>no</strong>u, preparou e rotulou em média um exemplar <strong>de</strong>ave por dia, cifra essa que, se não po<strong>de</strong> ser compara<strong>da</strong> àatingi<strong>da</strong> por Johann <strong>Natterer</strong>, é – sem sombra <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong> –consi<strong>de</strong>rável 23 .Uma pequena parte <strong>da</strong>s espécies por ele coleciona<strong>da</strong>s<strong>no</strong> Brasil po<strong>de</strong> ser resgata<strong>da</strong> com base em Pelzeln (1871) e<strong>no</strong>s “catálogos <strong>de</strong> Hellmayr” (Cory, 1918 e subsequentes),sendo claro que obteve várias aves comuns mas tambémoutras, <strong>de</strong> média a gran<strong>de</strong> importância para a Ornitologiabrasileira:Rhea americanaTaoniscus nanusElanus leucurusParabuteo unicinctusGera<strong>no</strong>aetus albicau<strong>da</strong>tusMicrastur ruficollisNycticryphes semicollarisTyto albaA<strong>no</strong>dorhynchus hyacinthinusCypseloi<strong>de</strong>s senexGalbula ruficau<strong>da</strong>Tham<strong>no</strong>philus capistratusPhacellodomus rufifronsAlectrurus risoriusKnipolegus lophotesTachuris rubrigastraSchiffornis virescensProcnias nudicollisRhynchotus rufescensRollandia rollandRostrhamus sociabilisAccipiter bicolorGera<strong>no</strong>aetus coronatusFalco rufigularisUropelia campestrisNeomorphus geoffroyiAra araraunaColibri serrirostrisSakesphorus cristatusSchoeniophyllax phryga<strong>no</strong>philusLochmias nematuraKnipolegus cyanirostrisTyrannus melancholicusSerpophaga subcristataNeopelma aurifronsPheugopedius genibarbis23 Estimamos que Saint Hilaire permaneceu 2163 dias <strong>no</strong> Brasil. O cálculo chega a 0,93exemplares <strong>de</strong> aves coletados e preparados por dia. Também observa-se interesse porcoleções seria<strong>da</strong>s: são quase 4,5 exemplares por espécie amostra<strong>da</strong>.32


Cistothorus platensisTangara peruvianaOrchesticus abeilleiPseudoleistes virescensSicalis luteolaEmbernagra platensisTurdus flavipesCypsnagra hirundinaceaPseudoleistes guirahuroParoaria dominicanaSporophila nigricollisIcterus jamacaiiEm algumas situações, registros <strong>de</strong> ocorrênciaimportantes, embora não acompanhados <strong>de</strong> exemplares,po<strong>de</strong>m ser colhidos em suas obras. É o caso do mutum-dosu<strong>de</strong>ste(Crax blumenbachii), <strong>no</strong> vale do Jequitinhonha(Minas Gerais) (Saint-Hilaire, 1830) e <strong>da</strong>s populaçõesmeridionais do guará (Eudocimus ruber) (Saint-Hilaire,1822, 1851).Uma <strong>da</strong>s mais importantes menções nesse sentido eque ficou quase esqueci<strong>da</strong> em sua obra, refere-se àenigmática arara-azul <strong>da</strong> praia <strong>de</strong> Itapirubá (Imbituba,litoral-sul <strong>de</strong> Santa Catarina) (Saint-Hilaire, 1851:377). Essaave, por ele observa<strong>da</strong>, mas aponta<strong>da</strong> por nativos comocomum, po<strong>de</strong>ria ser a já extinta arara-azul-pequena(A<strong>no</strong>dorhynchus glaucus) ou mesmo um tipo quesimplesmente se extinguiu sem sequer ter sido <strong>de</strong>scrito(Straube, 2010).Além disso, Saint Hilaire foi o coletor <strong>de</strong> pelome<strong>no</strong>s cinco táxons válidos, <strong>de</strong>scritos com base em seumaterial: Crypturellus undulatus vermiculatus, Leucopternislacernulatus, Leptasthenura setaria, Tangara cayanachloroptera e Poospiza cinerea.Levando-se em conta tais preleções, parece que suaparticipação na Ornitologia não foi tão pequena quanto seimaginava, situação que acabou se tornando repetitiva naliteratura, por causa somente do <strong>de</strong>sequilíbrio observado <strong>no</strong>seu legado para a Botânica. E ele próprio tinha alguma<strong>no</strong>ção do valor <strong>de</strong> sua contribuição. No relatório33


apresentado quando <strong>de</strong> seu retor<strong>no</strong> à França e submetido àAca<strong>de</strong>mia Real <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Paris 24 (Saint-Hilaire, 1940),po<strong>de</strong>-se <strong>no</strong>tar os <strong>de</strong>staques atribuídos à expedição por parte<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> zoólogos <strong>de</strong> Paris:“3° - 2.005 aves formando 451espécies, <strong>da</strong>s quais 156 <strong>no</strong>vas para asgalerias do Museu. A maior parte <strong>de</strong>las <strong>no</strong>sfazem conhecer, melhor as espécies<strong>de</strong>scritas por Azzara e facilitam os meios <strong>de</strong>classificá-las convenientemente <strong>no</strong> sistemaornitológico. Nesse número <strong>de</strong>vem ser<strong>no</strong>ta<strong>da</strong>s a chaja, antes pouco conheci<strong>da</strong>,aproxima<strong>da</strong> do camichí, do gênero parra;uma espécie <strong>de</strong> rhyncheo, que é o primeiroexemplo <strong>de</strong> uma espécie <strong>da</strong>s ÍndiasOrientais encontra<strong>da</strong> na América; o cisnebranco <strong>de</strong> pescoço preto do Paraguai; opsittacus hyacinthinus, <strong>de</strong> que só existemdois ou três indivíduos <strong>no</strong>s Museus <strong>da</strong>Europa; a águia coroa<strong>da</strong>; várias espécies <strong>de</strong>tangarás conheci<strong>da</strong>s apenas por Azzara,bem como o guyrayetapa ou peque<strong>no</strong> galo,assim chamado porque, do tamanho apenas<strong>de</strong> <strong>no</strong>ssos par<strong>da</strong>is, tem a cau<strong>da</strong> ergui<strong>da</strong>como a dos <strong>no</strong>ssos galos domésticos.”Embora essa tradução se distancie do formatotradicional <strong>de</strong> leitura ornitológica, po<strong>de</strong>-se verificar aevidência <strong>da</strong><strong>da</strong> ao tachã (Chauna torquata) 25 , ao cisne-<strong>de</strong>pescoço-preto(Cygnus melancoryphus), à arara-azul-gran<strong>de</strong>24 “Rapport sur le voyage <strong>de</strong> M.Auguste <strong>de</strong> Saint-Hilaire <strong>da</strong>ns le Brésil et les missions <strong>de</strong>Paraguay lu à l‘Institut <strong>de</strong> France, Académie royale <strong>de</strong>s Sciences. Paris, imprimiere <strong>de</strong> J.Smith, 1823, in-4°, 8 pg.” na tradução <strong>de</strong> Rubens Borba <strong>de</strong> Moraes, com <strong>no</strong>táveisequívocos <strong>de</strong> ortografia e <strong>de</strong><strong>no</strong>minações. Infelizmente não tivemos acesso à versãooriginal francesa.25 Aqui a ave chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> “chaja” é compara<strong>da</strong> à anhuma (Anhima cornuta), essa últimaefetivamente <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> “camichi” (cf. Goeldi, 1894:552).34


(A<strong>no</strong>dorhynchus hyacinthinus), à águia-coroa<strong>da</strong>(Gera<strong>no</strong>aetus coronatus) e ao galito (Alectrurus tricolor).Essas aves eram pouco conheci<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s círculosornitológicos europeus e, embora não pareçam tãorelevantes <strong>no</strong>s dias atuais, eram – <strong>de</strong> fato – alguns doshighlights <strong>da</strong> expedição ao Brasil.Seus espécimes ornitológicos encontram-se, emgran<strong>de</strong> parte, <strong>de</strong>positados <strong>no</strong> Museum national d'Histoirenaturelle <strong>de</strong> Paris, mas é certo que ao me<strong>no</strong>s uma parte <strong>de</strong>letenha se dispersado por acervos <strong>de</strong> outros locais <strong>da</strong> França,consequência <strong>da</strong> doação a museus provinciais <strong>da</strong> França emesmo comércio <strong>de</strong> peles, procedimentos que se instalaramnaquela instituição até a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 30 (J. Cuisin, 1997 inlitt.). Talvez seja por essa razão que até hoje nenhumarevisão zoológica completa tenha sido feita e, pelos motivosacima citados, é provável que jamais o seja.Há, <strong>no</strong> entanto, algumas pistas sobre aves comoparte <strong>de</strong> seu protocolo <strong>de</strong> coletor em solo paranaense (Saint-Hilaire, 1851:150):―Depuis mon départ <strong>de</strong> Castro, j‘avaiscontinué a recueillir <strong>de</strong>s objects d‘historienaturelle. Avant <strong>de</strong> quitter Curitiba,j‘adressai au sargento-mór José Carneiro<strong>de</strong>ux caisses parfaitement soignéesd‘oiseaux et <strong>de</strong> plantes, et le priai <strong>de</strong> lesfaire passer au gouverneur <strong>de</strong> la province,João Carlos d‘Oyenhausen‖.“Des<strong>de</strong> a minha parti<strong>da</strong> <strong>de</strong> Castro,continuei a recolher objetos <strong>de</strong> histórianatural. Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar Curitiba,entreguei ao Sargento-mor José Carneiroduas caixas perfeitamente acondiciona<strong>da</strong>scontendo aves e plantas, e pedi-lhe paraencaminhar ao governador <strong>da</strong> província 26 ,João Carlos <strong>de</strong> Oyenhausen 27 ”.No estado do <strong>Paraná</strong>, Saint Hilaire esteve entre aúltima semana <strong>de</strong> janeiro e a primeira semana <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>1820 (Urban, 1908). Uma <strong>de</strong> suas gran<strong>de</strong>s contribuiçõesestá nas <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s <strong>de</strong>scrições sobre aspectos sociais e26 Quando <strong>de</strong> sua viagem, a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação ain<strong>da</strong> era “Capitania <strong>de</strong> São Paulo”, tendo sido acondição altera<strong>da</strong> pela reformulação do sistema político. A partir <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>1821, to<strong>da</strong>s as capitanias passaram a ser trata<strong>da</strong>s como províncias.27 João Carlos <strong>de</strong> Oyenhausen-Gravenburg, Marquês <strong>de</strong> Aracati (1776-1838).35


fitofisionômicos dos locais visitados. Essas informações sãoaté hoje consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s por historiadores, sociólogos e mesmoem textos leigos <strong>de</strong> divulgação 28 , razão pela qual ele setor<strong>no</strong>u, ao me<strong>no</strong>s na capital paranaense, uma personali<strong>da</strong><strong>de</strong>razoavelmente conheci<strong>da</strong>. Há em Curitiba, por exemplo,uma rua Saint Hilaire, em bairro <strong>no</strong>bre central e, <strong>no</strong> litoralsuldo estado, existe o Parque Nacional Saint Hilaire-Lange,uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação que também homenageia o biólogocuritiba<strong>no</strong> Roberto Ribas Lange, falecido em 1993 (v.Straube, 1993).O acervo ornitológico obtido <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> infelizmentenão teve o mesmo uso que as plantas, sendo raras asmenções aos exemplares por ele colecionados, ain<strong>da</strong> quealgumas exceções <strong>de</strong>vam ser abertas.A primeira <strong>de</strong>las se relaciona com Tyrannusalbogriseus Lesson, 1831, atualmente sinônimo-júnior <strong>de</strong>Xolmis dominicanus (Vieillot, 1823). Na <strong>de</strong>scrição original(Lesson, 1831:383) 29 , o autor não indica locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coletamas Hellmayr (1927:13), que reexami<strong>no</strong>u o espécime, ébem claro: “the type examined in the Paris Museum wasobtained by A. <strong>de</strong> Saint Hilaire at Boavista, State of <strong>Paraná</strong>,Brazil”.Em segui<strong>da</strong> está Synallaxis setaria Temminck, 1824(hoje Leptasthenura setaria), cuja locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo consta ser“du Brésil, <strong>da</strong>ns la Capitainerie <strong>de</strong> Saint-Paul”. Essemesmo autor (Temminck & Chartrouse, 1838) <strong>de</strong><strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u aespécie como “Synallaxe à filets” (Synallaxis <strong>de</strong>“espinhos”) e adicio<strong>no</strong>u: “Cet autre Synallaxe <strong>no</strong>veau queM. <strong>de</strong> Saint-Hilaire a le premier rapporté <strong>de</strong> l‘Amérique28 No a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 2003 produziu-se o documentário “O Brasil <strong>de</strong> Saint Hilaire: Campos Geraisdo <strong>Paraná</strong>”, iniciativa <strong>da</strong> cooperativa Cinema & Mídia Digitais, dirigido por BereniceMen<strong>de</strong>s. O filme, <strong>de</strong> 52 minutos, conta com a participação do ator e diretor paranaenseMauro Zanatta, que também tem o papel protagonista. As locações são feitas em Tibagi eCastro e retratam as condições encontra<strong>da</strong>s pelo naturalista durante sua viagem pelointerior do <strong>Paraná</strong>.29 “17°. Tyrannus albogriseus. Blanc et gris <strong>de</strong> perle; ailes et queue <strong>no</strong>ir intense”36


méridionale, est bien caracterisé par le filets allongés dontles <strong>de</strong>ux pennes du milieu <strong>de</strong> la queue sont terminées […].”“Il vit au Brésil, <strong>da</strong>ns la capitainerie <strong>de</strong> Saint-Paul etprobablement <strong>da</strong>ns quelques autres districts. Musée <strong>de</strong>Paris” 30 .Posteriormente a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> foi refina<strong>da</strong> para“Castro, State of <strong>Paraná</strong>” (Ménégaux & Hellmayr, 1906;Hellmayr, 1906, 1925:70), sob argumentação indica<strong>da</strong> porHellmayr (1906:332):1. Mus. Paris (mounted). Adult, labelled asfollows: ‗ Mr. St.Hilaire, Brèsil, prèsCasto, capt. De Saint Paul. Type <strong>de</strong>l‟espèce‘ ‖ […] ―The locality ‗Casto‘ isevi<strong>de</strong>ntly meant for Castro, in the state of<strong>Paraná</strong>, a province which formed part ofthe State S.Paulo at the time Aug.St.Hilaire travelled in South Brazil. It isstrange that this bird has never been metwith since its discovery; but still moreremarkable is it that <strong>Natterer</strong> obtained inthe state Parana a<strong>no</strong>ther very distinctspecies, the type of which has alsoremained unique hitherto. This is[Leptasthenura striolata]‖.“Mus[eu]. Paris (montado). Adulto,rotulado como se segue: „Sr. St.-Hilaire,Brasil, perto <strong>de</strong> Casto, capt. De São Paulo.Tipo <strong>da</strong> espécie‟ “ [...] A locali<strong>da</strong><strong>de</strong>„Casto‟ significa evi<strong>de</strong>ntemente Castro, <strong>no</strong>estado do <strong>Paraná</strong>, uma província queformava parte do estado <strong>de</strong> São Paulo <strong>no</strong>tempo em que St.Hilaire viajou pelo sul doBrasil. É estranho que essa ave não tenhasido reconheci<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>scoberta emais ain<strong>da</strong> <strong>no</strong>tável que <strong>Natterer</strong> tenhaobtido <strong>no</strong> estado do <strong>Paraná</strong> uma outraespécie muito diferente, o tipo que semantém único até hoje. Ele éLeptasthenura striolata”.Por fim, há também Tanagra chloroptera (Vieillot,1819), atualmente uma subespécie <strong>de</strong> Tangara cayana cujotipo, segundo Hellmayr (1936:162), é proveniente <strong>de</strong> “‗Brésil‘ (type, collected by A. <strong>de</strong> Saint-Hilaire in southernBrazil, São Paulo or <strong>Paraná</strong>, examined in Paris Museum”.Nesse caso, como visto, o espécime não po<strong>de</strong> ser atribuídoao <strong>Paraná</strong>, ain<strong>da</strong> que Pinto (1944:483) tenha sugeridoexplicitamente: “[...] para local. típica sugiro Castro, <strong>no</strong><strong>Paraná</strong>”.30 “Esse outro Synallaxis <strong>no</strong>vo, que o sr. Saint-Hilaire pela primeira vez reportou naAmérica meridional, é bem caracterizado pelos „espinhos‟ alongados <strong>da</strong>s penas centrais <strong>da</strong>cau<strong>da</strong>, quando essa se apresenta completa [...]”.“Ele vive <strong>no</strong> Brasil, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Capitania <strong>de</strong>São Paulo e provavelmente em quaisquer outros distritos. Museu <strong>de</strong> Paris”.37


Leptasthenura setaria (Temminck, 1824) (abaixo), retrata<strong>da</strong> com base <strong>no</strong> exemplarcoletado em Castro por Saint-Hilaire (Temminck & Chartrouse, 1838: volume 3, prancha311).Segundo Miretzki (2001), tendo como locali<strong>da</strong><strong>de</strong>tipoatribuí<strong>da</strong> a “Curitiba”, graças às coletas <strong>de</strong> Saint-Hilaire, há também morcegos: Plecotus velatus (= Histiotusvelatus) e Nycti<strong>no</strong>mops brasiliensis (= Ta<strong>da</strong>ri<strong>da</strong>38


asiliensis), ambos <strong>de</strong>scritos por Isidore Geoffroy <strong>de</strong> SaintHilaire em 1824.A segun<strong>da</strong>, e talvez mais importante série <strong>de</strong>contribuições <strong>de</strong> Saint Hilaire à avifauna do <strong>Paraná</strong>, alu<strong>de</strong>às menções ao guará (Eudocimus ruber) em duaslocali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estuarinas: uma <strong>de</strong>las <strong>no</strong> fundo <strong>da</strong> baía <strong>da</strong>Paranaguá, próximo à foz do rio Nhundiaquara e a outra nachama<strong>da</strong> ilha dos Guarás, situa<strong>da</strong> nas adjacências <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Guaratuba. Na primeira locali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o naturalista <strong>de</strong>screve(Saint Hilaire, 1851:171):―Une foule d‘oiseaux d‘eau <strong>de</strong> diversesespéces cherchaient leur <strong>no</strong>urriture <strong>da</strong>nsla fange, an millieau <strong>de</strong>s Mangliers, etparmi eux il était impossible <strong>de</strong> ne pasdistinguer le guara (Ibis rubra), qui volepar troupe, et dont le plumage couleur <strong>de</strong>feu produit <strong>da</strong>ns l‘air un effect charmant‖.“Uma miría<strong>de</strong> <strong>de</strong> diferentes espécies <strong>de</strong>aves aquáticas que procuram comi<strong>da</strong> <strong>no</strong>meio <strong>da</strong> lama <strong>no</strong> vasto manguezal e, entreelas, era possível distinguir o guará (Ibisrubra), voando aos bandos, cujaplumagem <strong>de</strong> cor incan<strong>de</strong>scente produziaum efeito encantador”.Para a ilha dos Guarás, Saint-Hilaire (1822:353) jáhavia mencionado a ave, mais <strong>de</strong> trinta a<strong>no</strong>s antes <strong>de</strong>publicar a sua narrativa <strong>de</strong> viagem mais conheci<strong>da</strong>:―Le petit port <strong>de</strong> Guaratuba [<strong>no</strong>ta <strong>de</strong>ro<strong>da</strong>pé: Des mots indiens tuba, réunion, etguara, oiseau <strong>de</strong> mer], où je me rendisaprès avoir quitté Paranagua, doit son<strong>no</strong>m à l‘immense quantité d‘ibis rubra,que l‘on voit <strong>da</strong>ns son voisinage. DepuisSantos, ce bel oiseau se trouve surquelques points <strong>de</strong> la côte; mais ons‘accor<strong>de</strong> à dire qu‘il ne fait son nid que<strong>da</strong>ns l’ile <strong>de</strong>s Guaras, située <strong>da</strong>ns la Baie<strong>de</strong> Guaratuba‖.“O peque<strong>no</strong> porto <strong>de</strong> Guaratuba [<strong>no</strong>ta <strong>de</strong>ro<strong>da</strong>pé: <strong>da</strong> língua indígena tuba, reunião, eguara, pássaro do mar], on<strong>de</strong> eu saira parair a Paranaguá, <strong>de</strong>ve seu <strong>no</strong>me à gran<strong>de</strong>quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ibis rubra que po<strong>de</strong> ser vistana região. Des<strong>de</strong> Santos, essa ave po<strong>de</strong> serencontra<strong>da</strong> em alguns pontos do litoral,mas é aí que ela faz seus ninhos, na Ilhados Guarás, localiza<strong>da</strong> na Baía <strong>de</strong>Guaratuba”.No livro é que, <strong>de</strong> fato, o autor é ain<strong>da</strong> mais<strong>de</strong>talhista (Saint-Hilaire, 1851:203-204):―Les plus remarquables <strong>de</strong> toutes ces îlessont celle <strong>de</strong>s Perroquets, ainsi appelée39“As mais <strong>no</strong>táveis <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas ilhas é ado Papagaio, assim chama<strong>da</strong> porque a


parce que l‘espèce n o 366-9 y estextrêmement commune; puis celle <strong>de</strong>sGuarás, dont le <strong>no</strong>m est celui <strong>de</strong>s oiseauxd‘un rouge éclatant, qui font l‘ornement leplus beau <strong>de</strong> cette partie du Brésil (Ibisrubra <strong>de</strong>s naturalistes). Ces magnifiquesoiseaux ne se trouvent pas uniquement al‘extrémité la plus méridionale <strong>de</strong> laprovince <strong>de</strong> S.Paul; on en voit àParanaguá, à Santos, à Saint Catherine;mais on prétend qu‘ils ne pon<strong>de</strong>nt que<strong>da</strong>ns l‘ile porte leur <strong>no</strong>m. Depuis le moisd‘août jusqu‘à celui <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembre, ils s‘yrêunissent en troupes in<strong>no</strong>mbrables, ilsfont un nid sans art sur les branches <strong>de</strong>smangliers, et multiplieraientprodigieusement, si les vents nerenversaient une partie <strong>de</strong> leurs nids, si lesoiseaux <strong>de</strong> proie ne dévoraient un gran<strong>de</strong><strong>no</strong>mbre d‘ouefs, et si les habitants du paysn‘en enlevaient aussi pour en faire leur<strong>no</strong>urriture. Quand on effraye les guarás<strong>da</strong>ns le temps <strong>de</strong> la ponte, ils abandonnentleurs oeufs; mais ils montrent un gran<strong>da</strong>ttachment pour leurs petits.‖espécie n o 366-9 é extremamente comum ea [ilha] dos Guarás, cujo <strong>no</strong>me vem <strong>de</strong>stasaves vermelho brilhantes, que é o maisbelo ornamento <strong>de</strong>sta região brasileira(Ibis rubra dos naturalistas). Essas avesmagníficas não ocorrem apenas <strong>no</strong>extremo meridional <strong>da</strong> Província <strong>de</strong> SãoPaulo; são vistas em Paranaguá, Santos eSanta Catarina mas se estabelecem apenasnas ilhas que têm o seu <strong>no</strong>me. Des<strong>de</strong>agosto até <strong>no</strong>vembro, elas reúnem-se eminúmeros bandos e fazem seus ninhos, semnenhuma arte, <strong>no</strong>s galhos dos mangues; epo<strong>de</strong>riam se multiplicar prodigiosamentese os ventos não <strong>de</strong>struíssem uma parte <strong>de</strong>seus ninhos, se as aves <strong>de</strong> rapina não<strong>de</strong>vorassem um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> ovos ese as pessoas que ali moram não ospegassem para comê-los. Quando seassustam, <strong>no</strong> período <strong>de</strong> postura, os guarásabandonam seus ovos mas, mesmo assim,mostram um gran<strong>de</strong> apego por seusfilhotes”.Pouco adiante (p.205) adiciona:―Ce n‘est pas seulement une petit île <strong>de</strong> labaie qui doit son <strong>no</strong>m aux guaras; la ville<strong>de</strong> Guaratúba elle-même leur est re<strong>de</strong>vabledu sien, car il est composé <strong>de</strong>s motsguaranis guara et tîba, qui signifientréunion <strong>de</strong> guarás‖.“Não é somente uma pequena ilha <strong>da</strong> baíaque <strong>de</strong>ve seu <strong>no</strong>me aos guarás. A própriavila <strong>de</strong> Guaratuba também <strong>de</strong>ve-se a eles,formado pelas palavras guaranis guara etiba, que significam reunião <strong>de</strong> guarás”.Além dos guarás, vale <strong>de</strong>staque também a menção aopapagaio-<strong>da</strong>-cara-roxa (Amazona brasiliensis) que, além <strong>de</strong>“extremamente comum”, provavelmente reproduzia naquelaregião, fato que aparentemente não mais ocorre.De uma maneira geral, informações particularessobre aves na obra <strong>de</strong> Saint Hilaire são raras: em suas<strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> viagem, por exemplo na região dos CamposGerais, ela ain<strong>da</strong> cita (Saint-Hilaire, 1851:18) a proteção40


necessária por parte dos criadores <strong>de</strong> ovelhas contra oscarcarás (Caracara plancus), cui<strong>da</strong>do esse tomado até osdias <strong>de</strong> hoje:“Lorsque le brebis mettent bas, un petit<strong>no</strong>mbre <strong>de</strong> propriétaires soigneuxenferment les agneaux <strong>da</strong>ns une établepour les soustraire à la voracité <strong>de</strong>scaracaras (2) [<strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé: (2) “Lescaracaras dont il s‟agit ici me paraissentévi<strong>de</strong>mment <strong>de</strong>voir étre rapportés au FalcoBrasiliensis, Lin. – Mx.Neuwied, Beiträge,III, 90”.], qui, dit-on leur mangent lalangue”“Na época <strong>de</strong> cria, alguns fazen<strong>de</strong>iros maiscui<strong>da</strong>dosos guar<strong>da</strong>m os cor<strong>de</strong>iros numestábulo para protegê-los <strong>da</strong> voraci<strong>da</strong><strong>de</strong>dos carcarás (2) [<strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé: (2) Oscaracarás em questão parecem,obviamente, o Falco brasiliensis, Linnaeus– Wied, Beiträge, vol.3, p.90] que, comose diz, comem suas línguas”.Além disso, ele era interessado também emlínguística e na toponímia, sendo comuns as a<strong>no</strong>tações sobreetimologia <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s visita<strong>da</strong>s. Durante sua esta<strong>da</strong> emCuritiba, por exemplo, quando se hospedou na casa docapitão-mor <strong>da</strong> vila, Antônio Ribeiro <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, eleconheceu uma índia “coroa<strong>da</strong>” oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> “Garapuáva‖(Guarapuava) que ali residia. Por seu intermédio, pô<strong>de</strong>coletar palavras <strong>da</strong>quela língua, <strong>de</strong>ntre duas <strong>de</strong><strong>no</strong>minações<strong>de</strong> aves (Saint-Hilaire, 1851:143): “Perdrix, Cuiupepê.Perroquet, Congió (le <strong>de</strong>rnier o très-ouvert)” 31 .Afora essas sutis intervenções sobre aspectospeculiares <strong>da</strong> avifauna paranaense, a contribuição maisimportante para a zoologia local está na <strong>de</strong>scrição dos locaisvisitados como ponto <strong>de</strong> passagem ou alojamento, incluindodistâncias entre eles. Com relação a esse cui<strong>da</strong>do, a sua obrapassa a receber uma atenção especial, visto que permite oresgate <strong>de</strong> certas informações sobre trajetos percorridos poroutros naturalistas contemporâneos como <strong>Natterer</strong> e Sellow,31 Perdiz (Rhynchotus rufescens) ou talvez codorna (Nothura maculosa), Cuiupepê;Papagaio (Amazona vinacea), Congió (a última [sílaba] muito aberta. Não há dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong>que se refere à língua kaingang.41


que passaram por muitos locais em comum e nem sempreclaramente <strong>de</strong>scritos por eles 32 .Nesse sentido, o percurso <strong>da</strong> viagem <strong>de</strong> Saint Hilaireao <strong>Paraná</strong> po<strong>de</strong>, <strong>de</strong> fato, ser facilmente reconstruído combase em sua obra (Saint-Hilaire, 1851), com asinterpretações presentes em outros títulos revisivos (p.ex.Urban, 1908; Moreira, 1975).Locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (grafia original e atualização) e <strong>da</strong>tas aproxima<strong>da</strong>s <strong>de</strong> visita,<strong>no</strong> território paranaense e áreas limítrofes, pela Expedição <strong>de</strong> Saint-Hilaire ao <strong>Paraná</strong> (Saint-Hilaire, 1851). Asterisco indica locali<strong>da</strong><strong>de</strong>cita<strong>da</strong> em Saint-Hilaire (1822) (Fontes: Saint-Hilaire, 1822, 1851 eUrban, 1908).1820: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> janeiro a antes <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> janeiroRivière du Tarerè* 33Rio Itararé (divisa SP-PR)Rio-do-Funil*Rio do Funil (Sengés)1820: 27 a 29 <strong>de</strong> janeirofazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Morangáva Fazen<strong>da</strong> Morungaba (Sengés) 341820: 29 <strong>de</strong> janeiro a 7 <strong>de</strong> fevereiroRio Jaguaricatú Rio Jaguaricatu (Sengés) 35Boa VistaFazen<strong>da</strong> Boa Vista 36 (Sengés)32 É a mesma situação que se observa <strong>no</strong>s outros volumes <strong>de</strong> sua crônica <strong>de</strong> viagem,dividi<strong>da</strong> em vária partes e que traz importantes <strong>de</strong>scrições dos sítios amostrados evisitados, nas províncias do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás e RioGran<strong>de</strong> do Sul, além <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong>dicados exclusivamente às nascentes do rio SãoFrancisco e um único livro para as zonas diamantíferas e do litoral-sul brasileiro.33 A grafia usa<strong>da</strong> por Saint-Hilaire (1822 e 1851) discor<strong>da</strong> nas duas obras. O termo“hameau d‘Itarerè” foi usado para indicar a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e a grafia “Tarerè” alu<strong>de</strong> ao rio.34 Vi<strong>de</strong> Lopes (2002) e Straube (2011b,c). Segundo Lopes (2002:14), quando Saint-Hilaire(e <strong>Natterer</strong>) visitou esse local, a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> (que media 4500 x 6000 braças) pertencia aosargento-mor Manuel José Novais Dias, morador <strong>de</strong> Cotia (São Paulo). Segundo a mesmafonte, cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois (1825) a fazen<strong>da</strong> abrigava 700 cabeças <strong>de</strong> gado e 300 cavalos.35 Os atuais rios Jaguaricatu e Jaguariaíva eram tratados, <strong>no</strong> Século XVIII, como o mesmorio, que tinha o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> “rio Jaguari”. Mas, com o avanço do tropeirismo, seria útildiferenciá-los, em virtu<strong>de</strong> do primeiro permitir a passagem <strong>da</strong>s tropas, ao contrário dosegundo. Por esse motivo, a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação diferencial agregou os adjetivos indígenas“catu” (= bom) e “aíva” (= ruim) (Lopes, 2002:7).36 Essa era uma <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiro Lobo, por ele adquiri<strong>da</strong> em28 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1792. Em 1796, ele a ven<strong>de</strong>u para o capitão José Francisco Cardoso <strong>de</strong>Meneses, também proprietário <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Limoeiro que, junto com a Boa Vista, formavaum e<strong>no</strong>rme latifúndio situado <strong>no</strong>s então chamados “campos <strong>da</strong> Boa Vista”, entre os rios42


Rio JaguariaibaRio Jaguariaíva (divisa Sengés-Jaguariaíva)Rio <strong>da</strong> CinsaRio <strong>da</strong>s Cinzas (Arapoti)fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> JaguariaibaFazen<strong>da</strong> Jaguariaíva 37 (Jaguariaíva)Porto do JaguariaibaRio Jaguariaíva, entre as fazen<strong>da</strong>sJaguariaíva e Boa Vista 38 .1820: até 9 <strong>de</strong> fevereiroInverna<strong>da</strong> ou Fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Cachambú Fazen<strong>da</strong> Caxambu (Castro) 39Rio CachambúRio Piraí (Castro)1820: <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> fevereiro, antes <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong> fevereirofazen<strong>da</strong> do Tenente Fugaça Fazen<strong>da</strong> do Tenente Fogaça 401820: 11 a 13 <strong>de</strong> fevereiroFortaleza Fazen<strong>da</strong> Fortaleza 41Serra <strong>da</strong> Pedra BrancaSerra <strong>da</strong>s Furnas (divisa Tibagi-Castro)l‘embouchoure <strong>de</strong> l‘Hyapó* ou Barra doHyapóFoz do Rio Iapó <strong>no</strong> rio Tibagi (Tibagi)fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Guartela Fazen<strong>da</strong> Guartelá (Tibagi) 42sitio Igreja VelhaCanyon Igreja Velha (Tibagi)Serra <strong>da</strong>s FurnasSerra <strong>da</strong>s Furnas (divisa Tibagi-Castro)ville <strong>de</strong> CastroCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> CastroHyapóRio Iapó, em CastroCurrallinhoCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> CarambeíJaguariaíva e Jaguaricatu (Lopes, 2002:23). Embora Saint Hilaire tenha se referido a Lobocomo do<strong>no</strong> do imóvel, a fazen<strong>da</strong> – <strong>no</strong> momento <strong>de</strong> sua passagem pelo local – pertencia aosfilhos <strong>de</strong> Manuel Lopes Branco e Silva, natural <strong>de</strong> Alcácer do Sal (Portugal) e resi<strong>de</strong>nteem Paranaguá. Em 1833, uma parte (uma quarta parte) <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Boa Vista (contígua àfazen<strong>da</strong> Jaguariaíva, nas margens do rio <strong>de</strong> mesmo <strong>no</strong>me) retor<strong>no</strong>u às posses do coronelLucia<strong>no</strong> Lobo, agora com o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> “fazen<strong>da</strong> do Postinho”, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ali existir umposto <strong>de</strong> pedágio (Lopes, 2002:29-30).37 Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “le colonel Lucia<strong>no</strong> Carneiro [Lobo]”. A fazen<strong>da</strong>, por ele adquiri<strong>da</strong> em24 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1795, era um imenso latifúndio (9000 x 15000 braças) entre os riosJaguariaíva e <strong>da</strong>s Cinzas. Em 1825, contava com 3 mil cabeças <strong>de</strong> gado, 300 cavalos, 90mulas e 80 ovelhas. O coronel era sargento-mor <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nanças em Castro, <strong>de</strong>poispromovido a coronel agregado ao Regimento <strong>de</strong> Milícias <strong>de</strong> Curitiba (Lopes, 2002:63-69).38 “O rio Jaguariaíva não era va<strong>de</strong>ável e havia um porto para passagem <strong>de</strong> homens emercadorias em ca<strong>no</strong>as, que ficava entre as fazen<strong>da</strong>s Boa Vista e Jaguariaíva” (Lopes,2002:37). O local tinha um posto <strong>de</strong> pedágio (vi<strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> como “Postinho”) que, sobregime <strong>de</strong> concessão, era administrado pelo tenente José Carneiro Lobo, filho <strong>de</strong> Lucia<strong>no</strong>.39 Antiga proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> do “M. Xavier <strong>da</strong> Silva”, ou seja, Francisco Xavier <strong>da</strong> Silva, nascidoem Casarica (Portugal) (1759-1829), avô pater<strong>no</strong> do homônimo (1838-1922), que foipresi<strong>de</strong>nte (governador) e senador do <strong>Paraná</strong>. A fazen<strong>da</strong> tinha 1500 x 3000 braças e faziadivisa (pelo rio <strong>da</strong>s Cinzas) com a fazen<strong>da</strong> Jaguariaíva (Lopes, 2002:117). Embora pareçasugestivo, não tem nenhuma relação com o Parque Estadual <strong>de</strong> Caxambu, <strong>no</strong> município <strong>de</strong>Castro e banhado pelo rio Piraí.40 Era a histórica fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Monte Negro, on<strong>de</strong> residia seu proprietário, o tenente AntônioFogaça <strong>de</strong> Souza com seu irmão Miguel. Com 6000 x 9000 braças, fazia divisa com asfazen<strong>da</strong>s Caxambu, Jaguariaíva, Curralinho e Furnas (Lopes, 2002:190-110).41 A se<strong>de</strong> <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Fortaleza, existente até hoje, é antiga proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> José Félix <strong>da</strong>Silva (“M. José Felis <strong>da</strong> Silva”) que, inclusive, ali o hospedou.42 Hoje Parque Estadual do Guartelá.43


fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> CarambehyCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> CarambeíRio PitanguiRio Pitangui (Ponta Grossa)fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> PitanguiFazen<strong>da</strong> Pitangui (Ponta Grossa)Rio TibagyRio Tibagi (em Ponta Grossa)fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> CarrapatosDistrito <strong>de</strong> Guaragi (Ponta Grossa)Santa CruzFaxinal Santa Cruz (Ponta Grossa)Rincão <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> [fazen<strong>da</strong>]Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> PalmeiraFreguezia NovaTamanduá (Balsa Nova)CaiacangaSalto Caiacanga <strong>no</strong> rio Iguaçu (PortoAmazonas)Rio Hyguaçu ou Rio Gran<strong>de</strong>Rio Iguaçu (em Balsa Nova)Registro <strong>de</strong> CuritibaRegistro <strong>de</strong> Curitiba (Balsa Nova)sitio d‘Itaque Itaqui (Campo Largo) 43Pie<strong>da</strong><strong>de</strong>Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Campo Largositio <strong>de</strong> Ferraria Ferraria (Campo Largo) 441820: 14 a 22 <strong>de</strong> marçoville <strong>de</strong> CuritibaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> CuritibaBacachiri, sitioBairro Bacacheri (Curitiba)1820: entre 22 <strong>de</strong> março e 1° <strong>de</strong> abrilVila VelhaBairro Atuba (Curitiba), <strong>no</strong> lugarlocalmente conhecido como “vilinha”.fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Bor<strong>da</strong> do CampoBor<strong>da</strong> do Campo (Quatro Barras)Pão <strong>de</strong> lóMorro Pão <strong>de</strong> Ló (Quatro Barras)Boa VistaMorro Boa Vista (Quatro Barras)MarumbiMorro Marumbi (Morretes)Pinheirinho Pinheirinho (Morretes) 45PortoPorto <strong>de</strong> Cimarivière <strong>de</strong> CubatãoAntigo “Rio Cubatão dos TrêsMorretes”, hoje rio Nhundiaquaravillage <strong>de</strong> MorretesCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> MorretesSerra-<strong>de</strong>-Parannagua*Serra do Marsitio CamiçaCamiça (foz do rio Nhundiaquara nabaía <strong>de</strong> Paranaguá)1820: até 3 <strong>de</strong> abrilville <strong>de</strong> Paranagua (Parannagua*) Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Paranaguárivière <strong>de</strong> ParanaguáRio Itiberê (Paranaguá)[île <strong>de</strong>] CotingaIlha <strong>da</strong> CotingaIlha RasaIlha RasaIlha do MelIlha do MelPontal <strong>de</strong> ParanaguáCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pontal do <strong>Paraná</strong>Rio do MatosinhoCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> MatinhosCaióvaPraia <strong>de</strong> Caiobá (Matinhos)Baia <strong>de</strong> CaióvaBaía <strong>de</strong> Caiobá (Praia Mansa)Canal <strong>da</strong> Barra do SulPorto <strong>da</strong> Passagem (divisa Matinhos-Guaratuba)43 Pertentence a um capitão <strong>de</strong> milícias sr. Veríssimo (“capitaine <strong>de</strong> milice appeléVerissimo”).44 Hoje o distrito <strong>de</strong> Ferraria, outrora proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “M.Inácio <strong>de</strong> Sá e Sotomayor”.45 Margem do rio Itupava.44


1820: entre 3 e 7 <strong>de</strong> abrilville <strong>de</strong> Guaratúba*baie <strong>de</strong> GuaratúbaRio <strong>de</strong> São JoãoRio <strong>de</strong> Cubatão Gran<strong>de</strong>Rio <strong>de</strong> Cubatão Peque<strong>no</strong>Ilha dos RatosIlha <strong>da</strong> Pescaria[île <strong>de</strong>s] Perroquets[<strong>de</strong>rnier d‘]AraraquaraMorro <strong>de</strong> CaióvaPraia <strong>de</strong> BrajetúbaMorro <strong>de</strong> Brajetúba[montagne] <strong>de</strong> CavaracuaraRio Sahi-mirimCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> GuaratubaBaía <strong>de</strong> GuaratubaRio São JoãoRio CubatãoRio CubatãozinhoIlha dos Ratos (baía <strong>de</strong> Guaratuba)Ilha <strong>da</strong> Pescaria (baía <strong>de</strong> Guaratuba)Ilha dos Papagaios (baía <strong>de</strong> Guaratuba)Serra <strong>de</strong> Araraquara (divisa PR-SC)Morro Cabaraquara (Matinhos)Praia <strong>de</strong> Brejatuba (Guaratuba)Morro <strong>de</strong> Brejatuba (Guaratuba)Serra do CabaraquaraRio Saí-guaçu (divisa PR-SC)De antemão é importante lembrar que Saint Hilairenão tomou uma única direção a partir do caminho maistradicionalmente utilizado entre Itararé e Curitiba. Ele <strong>de</strong>fato (Saint-Hilaire, 1851) refere-se a pelo me<strong>no</strong>s dois<strong>de</strong>svios <strong>de</strong>ssa rota usual, o que po<strong>de</strong>ria causar algunsproblemas <strong>de</strong> localização <strong>de</strong> topônimos <strong>de</strong> coleta. É por essemotivo que várias locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s não coinci<strong>de</strong>m totalmentecom aquelas visita<strong>da</strong>s por <strong>Natterer</strong>, como <strong>no</strong> caso <strong>da</strong>fazen<strong>da</strong> Guartelá, hoje parcialmente inseri<strong>da</strong> em um parqueestadual pertencente ao município <strong>de</strong> Tibagi (cf. Straube,1993).Por fim, é bom lembrar que em 1818 Saint Hilaire,quando estava na fazen<strong>da</strong> Ipanema, <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> SãoPaulo 46 , além <strong>de</strong> fazer gran<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com Sellow, tambémencontrou-se com <strong>Natterer</strong>. É muito provável que com eletenha discutido <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong> viagem a ser continua<strong>da</strong> para sule que incluiria todo o leste paranaense.46 Maior parte <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Ipanema, ou simplesmente “Ypanema”, situa-se hojeem dia na Floresta Nacional <strong>de</strong> Ipanema (Iperó, São Paulo). Ali estava a Real Fábrica <strong>de</strong>Ferro São João <strong>de</strong> Ipanema, oriun<strong>da</strong> <strong>de</strong> projetos si<strong>de</strong>rúrgicos <strong>da</strong>tados do Século XVI naregião ferrífera do morro do Araçoiaba. O local tem e<strong>no</strong>rme importância na história <strong>da</strong>sciências biológicas e geológicas do Brasil, por ter sido ponto <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> váriosnaturalistas que ali se abrigavam, em preparativos para missões em outras regiões do País.45


Mais concentrado em seu trabalho botânico, elecertamente sabia que não seria páreo, zoologicamentefalando, para o naturalista que iria, cinco meses <strong>de</strong>pois,percorrer a mesma região. Graças a essa <strong>no</strong>tável conjunturaé que exatamente <strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1820 o <strong>Paraná</strong> pô<strong>de</strong>, <strong>de</strong>fato, inaugurar sua <strong>História</strong> Natural. E as circunstâncias do<strong>de</strong>sti<strong>no</strong> não podiam ser mais favoráveis: um botânicocoletando eventualmente animais e, em segui<strong>da</strong>, um zoólogoobtendo primariamente aves e, secun<strong>da</strong>riamente, outrositens <strong>de</strong> naturália.46


1820 a 1821JOHANN NATTEREReDOMINIK SOCHORJOHANN BAPTIST VON NATTERER (n. Laxenburg,Áustria: 9 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1787; f. Viena, Áustria: 17 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 1843) 47 foi um multifacetário e abnegadoestudioso, explorador e pesquisador. Por sua contribuição àsciências naturais, tem sido consi<strong>de</strong>rado o naturalista-maiordo Brasil (Straube, 1990).Era filho <strong>de</strong> Joseph <strong>Natterer</strong> (senior) (1754-1823),zoólogo, falcoeiro e preparador, que tinha uma coleçãoparticular <strong>de</strong> história natural (aves domésticas, mamíferos einsetos) em Laxenburg, pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> a cerca <strong>de</strong> 6 km asul <strong>de</strong> Viena.Por intervenção do imperador Franz II 48 , o acervo <strong>de</strong>seu pai foi comprado em 1793 (Neu<strong>de</strong>nberg, 1855) econstituiu uma mo<strong>de</strong>sta exposição pública, sob sua atenta ecui<strong>da</strong>dosa curadoria. Essa coleção, originalmente sem47 Na casa on<strong>de</strong> nasceu Johann, hoje mercado público <strong>de</strong> Laxenburg, há uma placa alusivacom os dizeres: “In diesem Hause wur<strong>de</strong> Johann <strong>Natterer</strong> am 10. November 1878geboren. Als Jüngling <strong>de</strong>r Heimat Natur eifrig erkun<strong>de</strong>nd, wur<strong>de</strong> <strong>de</strong>r mann zum kühnenErforscher Brasiliens. Marktgemein<strong>de</strong> Laxenburg 1954” (“Nesta casa nasceu Johann<strong>Natterer</strong> em 10 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1878. De um jovem ansioso por investigar os arredores <strong>de</strong>seu lar, tor<strong>no</strong>u-se um homem ousado a explorar o Brasil. Mercado <strong>de</strong> Laxenburg, 1954”).Aqui um problema, provisoriamente insolúvel, relacionado à discordância do dia <strong>de</strong>nascimento.48 Franz II do Sacro-Império Roma<strong>no</strong> (entre 1792 e 1806) é a mesma pessoa que Franz I <strong>da</strong>Áustria (monarca entre 1806 e seu falecimento, em 1835), razão pela qual é consi<strong>de</strong>radoum Doppelkaiser (imperador duplo).47


interesse científico, acabou agrega<strong>da</strong> às coleçõesmineralógicas, como um Tiercabinet (“Gabinete dosAnimais”), momento que iniciou o avanço do, hojemonumental, museu vienense.Com isso, Joseph aproveitou para introduzir seusdois filhos, Joseph (filius) e Johann 49 na arte <strong>da</strong> taxi<strong>de</strong>rmia etambém nas ciências zoológicas, absorvendo ambos – ain<strong>da</strong>jovens – como voluntários <strong>da</strong> seção.Sob esse contexto é que os dois irmãos viveram suamoci<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao tempo em que cursavam o ensi<strong>no</strong> regular eaproveitando também para assistir a inúmeras apresentaçõescientíficas proferi<strong>da</strong>s na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Viena e naAca<strong>de</strong>mia Imperial. O caçula Johann foi alu<strong>no</strong> informal, porexemplo, do botânico Joseph Franz von Jacquin (1766-1839) e, ao mesmo tempo, fortaleceu sua educação comaulas <strong>de</strong> inglês, francês e italia<strong>no</strong>, bem como filosofia e<strong>de</strong>senho.Em 1806 crescia o interesse do recém-estabelecidoimpério <strong>da</strong> Áustria por uma coleção científica que fizessefrente com os acervos congêneres <strong>da</strong> Europa. Para isso foicriado do Gabinete Imperial <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural, sob adireção do re<strong>no</strong>mado naturalista e médico Karl Franz AntonRitter von Schreibers (1775-1852) 50 . Uma <strong>de</strong> suas primeiras<strong>de</strong>terminações, então, foi a <strong>no</strong>meação <strong>de</strong> Joseph (pai) comosupervisor, tendo seu primogênito como adjunto.49 Um cui<strong>da</strong>do especial <strong>de</strong>ve ser tomado na questão <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes. Joseph <strong>Natterer</strong> senior,casado com Maria Anna Theresia Schober, era pai <strong>de</strong> Joseph <strong>Natterer</strong> filius (1786-1852) edo aqui consi<strong>de</strong>rado Johann Baptist <strong>Natterer</strong> (1787-1843). Entretanto, seus sobrinhostambém chamavam-se Johann August e Joseph (eventualmente Josef) e tambémtrabalharam <strong>no</strong> gabinete zoológico <strong>de</strong> Viena. O primeiro (1821-1900), médico, químico econselheiro municipal, inventou um compressor <strong>de</strong> gases que serviu-se para a tec<strong>no</strong>logia<strong>de</strong> construção <strong>da</strong> espingar<strong>da</strong> <strong>de</strong> ar comprimido. Junto com seu irmão Joseph (1822-1862),representante diplomático e coletor <strong>de</strong> animais, fazia experiências com fotografia por meio<strong>da</strong> <strong>da</strong>guerreotipia (Riedl-Dorn, 1999).50 Schreibers, a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, foi também professor <strong>de</strong> história natural do próprio imperadorsucessor, Ferdinand I, bem como <strong>de</strong> sua filha, a arquiduquesa (<strong>de</strong>pois imperatriz do Brasil)Leopoldina.48


Johann Baptist von <strong>Natterer</strong>, naturalista-maior do Brasil (litogravura <strong>de</strong> Michael Sandler).O jovem Johann, por sua vez, também foiaproveitado e, mesmo com apenas quinze a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, foiconvocado para uma gran<strong>de</strong> expedição na fronteira com aHungria, quando visitou os lagos <strong>de</strong> Neusiedl e Platten on<strong>de</strong>obteve abun<strong>da</strong>nte material ornitológico. Ele, <strong>de</strong> fato, jáhavia viajado com os mesmos propósitos para outros locais<strong>da</strong> Europa, sempre a serviço do museu e <strong>de</strong> maneiratotalmente voluntária e espontânea. Entre os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1804 e1817, com efeito, viajara por to<strong>da</strong> a Áustria, além <strong>da</strong>Croácia, Hungria, Turquia e Itália. Também participaraativamente nas três transferências do acervo do museu <strong>de</strong>Viena para lugares seguros <strong>da</strong> Europa, quando <strong>da</strong>sinsistentes investi<strong>da</strong>s dos exércitos napoleônicos, cujaor<strong>de</strong>m era a pilhagem <strong>de</strong> peças mais valiosas.Em 1808, Johann foi <strong>no</strong>meado colaboradorvoluntário e logo <strong>de</strong>pois passou a receber salário, como49


econhecimento pelos relevantes serviços prestados àcoleção.A parte brasileira (ao me<strong>no</strong>s indiretamente) <strong>de</strong> suabiografia inicia-se já na primeira déca<strong>da</strong> do Século XIX,precisamente em 1810. Ocorre que foi escalado paratransportar as peças mais importantes, protegendo-as dosassaltos <strong>de</strong> Napoleão, para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Temesvar (ouTimisoara), <strong>no</strong> oeste <strong>da</strong> Romênia. Na ocasião, conheceuFERDINAND DOMINIK SOCHOR, que o acompanhou namissão, estendi<strong>da</strong> para a fronteira com a Turquia, visando àcoleta <strong>de</strong> espécimes. Esse mesmo personagem, um caçadorimperial 51 e, segundo consta, excelente e habilidosotaxi<strong>de</strong>rmista, foi quem o auxiliou – tempos <strong>de</strong>pois – durante<strong>de</strong>z dos quase 18 a<strong>no</strong>s <strong>da</strong> expedição ao Brasil 52 .Graças a essa <strong>de</strong>dicação sem igual e à obstinação emprol <strong>da</strong> proteção dos acervos quando <strong>da</strong>s invasões francesas,Johann <strong>Natterer</strong> acabou indicado, em 1816, ao cargo <strong>de</strong>supervisor-assistente do Gabinete <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong>Viena. Era um momento importante em sua vi<strong>da</strong> poisgranjeara o reconhecimento oficial pelo trabalho prestado naampliação e <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong>s coleções e, ain<strong>da</strong>, contava com totalapoio <strong>de</strong> Schreibers, já há algum tempo ocupando o cargo<strong>de</strong> conselheiro do imperador.Chegava o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1817. Do outro lado do Atlântico ejá há quase <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s, o príncipe-regente <strong>de</strong> Portugal, D.João, havia transferido a se<strong>de</strong> do rei<strong>no</strong> para o Brasil e<strong>de</strong>cretado a Abertura dos Portos. As relações diplomáticascom os países “amigos” passavam a ser priori<strong>da</strong><strong>de</strong> e nisso51 Em Pelzeln (1883:125): “<strong>de</strong>r k.k. Hofjäger Sochor”.52 Ao contrário <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, Sochor não teve o mesmo <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>de</strong> seu colega. Após passarpor curto período adoecido, faleceu em 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1826 <strong>no</strong> antigo garimpo <strong>de</strong> SãoVicente (município <strong>de</strong> Vila Bela <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, Mato Grosso), sendo enterrado,segundo consta, na igreja local (Schmutzer, 2007). Na<strong>da</strong> foi possível apurar sobre o locale <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> seu nascimento, apesar dos esforços diligentes levados a efeito recentemente porOsmar dos Santos Ribas (2012, in litt.).50


havia e<strong>no</strong>rme interesse político e comercial 53 . Um dosobjetivos do príncipe, então, seria a criação <strong>de</strong> um laçosanguíneo entre Portugal e a casa <strong>de</strong> Habsburgo. Os <strong>no</strong>mesescolhidos foram seu filho Pedro (<strong>de</strong>pois Pedro I do Brasil)e a filha do imperador austríaco, a arquiduquesa Leopoldina(1797-1826) que, em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1817, casaram-se porprocuração em Viena.Para o Brasil, e para o conhecimento <strong>de</strong> suabiodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> – quase que totalmente negligencia<strong>da</strong> pelo<strong>de</strong>sleixo português <strong>de</strong> séculos anteriores – a escolha <strong>de</strong>Leopoldina para esposa <strong>de</strong> D. Pedro não po<strong>de</strong>ria ter sidomais conveniente. Afinal, logo ao ter sido informa<strong>da</strong> docasamento, ela já se empenhou em estu<strong>da</strong>r livros, mapas edocumentos alusivos à América do Sul e esforçou-se paraapren<strong>de</strong>r a língua portuguesa. Além disso, embora <strong>de</strong>maneira puramente diletante, tinha <strong>no</strong>táveis pendores pelasciências naturais 54 , em especial botânica, zoologia,astro<strong>no</strong>mia e especialmente mineralogia.Seu pai, por sua vez, tinha interesse em enviar umamissão científica ao Brasil, com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r avi<strong>da</strong> natural ali existente e não somente com vistas àutilização econômica. Sua inclinação às ciências naturais,que se preservava ao longo <strong>de</strong> muitas gerações <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong>Habsburgo, era <strong>no</strong>tória, além <strong>de</strong> ter na arquiduquesa a filhamais afeita e interessa<strong>da</strong> <strong>no</strong> assunto. O momento perfeito53 Os livros “1808” e “1822” <strong>de</strong> Laurenti<strong>no</strong> Gomes (2006, 2010), mostram com muitaproprie<strong>da</strong><strong>de</strong> – e <strong>de</strong> forma bastante acessível – os <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> todo esse processo. Também“O sol do Brasil” <strong>de</strong> Lilia M.Schwarcz (2008) é leitura obrigatória, consi<strong>de</strong>rando-se emambos os casos, a literatura contemporânea e mais recente.54 Na maravilhosa obra <strong>de</strong> Christa Riedl-Dorn (1999:59-60), que embasa gran<strong>de</strong> parte<strong>de</strong>sse texto sobre <strong>Natterer</strong>, observa-se que, nas cartas que enviava do Brasil a seusfamiliares, relatava <strong>de</strong>talhes sobre os animais, plantas, minerais e índios. Ela tambémapren<strong>de</strong>u a cavalgar e atirar, o que permitiu que montasse pequenas coleções <strong>de</strong>organismos envia<strong>da</strong>s a Viena ou permuta<strong>da</strong>s com outros entusiastas <strong>de</strong> várias regiões domundo. Ali também há a transcrição <strong>de</strong> uma carta sua envia<strong>da</strong> ao diretor do gabinete <strong>de</strong><strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Viena em 1820: “... esteja certo <strong>de</strong> que minha paixão por todos osramos <strong>da</strong>s ciências naturais cresce a ca<strong>da</strong> dia e a riqueza do Brasil, abençoa<strong>da</strong> peloCriador, proporciona-me inúmeras oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvê-la...‖.51


havia chegado, aproveitando a viagem <strong>de</strong> Leopoldina,prestes a materializar seu já oficializado casamento.O imperador Franz I <strong>da</strong> Áustria e sua filha, a arquiduquesa (<strong>de</strong>pois imperatriz do Brasil)Leopoldina (Fonte: Wikipedia).Na época, o Príncipe Klemens Wenzel vonMetternich era chanceler e ministro <strong>da</strong>s relações exteriores<strong>da</strong> Áustria e foi justamente sob sua coor<strong>de</strong>nação que ainvesti<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil se tor<strong>no</strong>u reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Escolhera Schreiberscomo lí<strong>de</strong>r técnico e, pouco a pouco, selecio<strong>no</strong>u integrantese planejou to<strong>da</strong> a logística para a espera<strong>da</strong> viagem. Aorganização <strong>da</strong> expedição, <strong>no</strong> entanto, foi complica<strong>da</strong> e atécerto ponto conturba<strong>da</strong>. Ao tempo em que <strong>no</strong>mes iamaparecendo, eles acabavam <strong>de</strong>scartados ou aprovados, em<strong>de</strong>bates constantes que encontravam (quase sempre) emMetternich o voto final e <strong>de</strong>cisivo.Um dos problemas observados foi a escolha dobotânico tcheco Johann Christian Mikan (1769-1844) 5555 Era filho <strong>de</strong> Joseph Gottfried Mikan (1743-1814), também botânico e fun<strong>da</strong>dor doJardim Botânico <strong>de</strong> Smichow, em Praga, na República Tcheca (na época Boêmia) (Stafleu& Cowan, 1981).52


como lí<strong>de</strong>r <strong>da</strong> expedição, por exigência do barão (e médico)Andreas Joseph von Stifft, conselheiro do imperador. Oindicado <strong>de</strong> Metternich e Schreibers seria naturalmente<strong>Natterer</strong> mas, por alguma razão, <strong>de</strong>sta vez o barão venceu aque<strong>da</strong>-<strong>de</strong>-braços.A <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>ixaria <strong>Natterer</strong> profun<strong>da</strong>mentemagoado, visto que ele esperava o reconhecimento por seutrabalho <strong>de</strong> longos a<strong>no</strong>s na ampliação e segui<strong>da</strong>stransferências do acervo do museu <strong>de</strong> Viena. Também nãocompreendia o porquê <strong>da</strong> seleção <strong>de</strong> um professorestrangeiro, lotado na universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Praga 56 . SegundoRiedl-Dorn (1999), <strong>Natterer</strong> assim se dirige a Metternich:“[...] Esta circunstância não me éindiferente, não posso ser culpado disso etampouco po<strong>de</strong> ser ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Minha honra,a confiança em minha retidão e <strong>no</strong> meuconhecimento estão ameaça<strong>da</strong>s. E se alémdisso tenho a vai<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> possuir oconhecimento <strong>de</strong> saber construir acervos <strong>de</strong><strong>História</strong> Natural e tenho <strong>da</strong>do provas disto,seria lamentável que eu fosse subordinado aum professor <strong>de</strong>sconhecido, que não sei seum dia se valeria do mérito que me caberiapelos meus trabalhos. Por isso, peço aVossa Excelência ter a bon<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> dividiresta expedição em duas partes”.No fim <strong>da</strong>s contas foi <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> a equipe que acabouconheci<strong>da</strong> e consagra<strong>da</strong> como “Missão Austríaca ao Brasil”(Österreichische Brasilien-Expedition), vin<strong>da</strong> ao País com o56 Havia também uma discussão sobre os salários percebidos pelos integrantes. SegundoRiedl-Dorn (1999), os pintores eram os que me<strong>no</strong>s recebiam; Mikan recebia 12 florins,enquanto <strong>Natterer</strong> e Pohl, ca<strong>da</strong> um, ganhavam 9 florins. Esse último queixava-se por<strong>Natterer</strong> não ser acadêmico, julgando merecer um salário maior.53


objetivo oficial <strong>de</strong> fazer observações e estudos <strong>de</strong> todos oscampos <strong>da</strong> natureza e <strong>da</strong>s artes 57 .Foram escalados primariamente Johann <strong>Natterer</strong> – aser auxiliado na parte zoológica por Dominik Sochor – eMikan, esse acompanhado por Heinrich Wilhelm Scott(1794-1865), Joseph Schücht e Johann Buchberger 58 , osdois primeiros para trabalhar como auxiliares nas coletas epreparações botânicas e, o último, como pintor <strong>de</strong> plantas.Por <strong>de</strong>signação <strong>da</strong> coroa austríaca seguiram, ain<strong>da</strong>, os<strong>de</strong>senhistas e pintores <strong>de</strong> paisagens Thomas En<strong>de</strong>r (1793-1875), Franz Joseph Frühbeck e G. K. Frick, além doarquivista Rochus Schüch 59 , interessado em mineralogia eindicado pessoalmente por Leopoldina. Johann BaptistEmanuel Pohl (1782-1834) foi integrado à equipe porindicação do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Kollowrath, e <strong>de</strong>dicou-se tanto àbotânica quanto à mineralogia.Junto ao seleto grupo também foram convi<strong>da</strong>dosestudiosos <strong>de</strong> outros países. Um <strong>de</strong>les, por sugestão doGrão-duque Ferdinando III <strong>da</strong> Toscana, era o botânicoGiuseppe Raddi (1770-1829) que trabalhava <strong>no</strong> museu <strong>de</strong>história natural <strong>de</strong> Florença, na Itália (Goeldi, 1896;Vanzolini, 1995; Straube, 2008).Destaca<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>ntre os estrangeiros tambémestavam Johann Baptist Ritter von Spix (1781-1826) e Carl57 Há um precioso material publicado <strong>no</strong> periódico “Isis (ou Isis Encyclopädische Zeitung[ou] Zeitschrift)” que era editado pelo naturalista e filósofo Lorenz von Oken (1779-1851).Nas edições compreendi<strong>da</strong>s entre os a<strong>no</strong>s em que ocorreu a Missão Austríaca (e<strong>no</strong>tavelmente Isis, 1820), <strong>de</strong>sta forma, será possível encontrar diversos documentosinteressantes para os estudiosos <strong>no</strong> assunto.58 Esse colecionador teve um <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> trágico, logo ao início <strong>da</strong> viagem. De uma que<strong>da</strong> docavalo em que se encontrava montado, caiu sentado sobre um graveto, que penetrou porquinze centímetros pelo ânus, perfurando o intesti<strong>no</strong> e a bexiga. Obrigado a retornar àÁustria, falaceu meses <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> septicemia, <strong>de</strong>corrente dos ferimentos.59 Esse estudioso acabou tornando-se, a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, professor particular <strong>de</strong> Pedro II. Por seuintermédio, <strong>Natterer</strong> pretendia criar um laço <strong>de</strong> cooperação institucional com o MuseuNacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro (Schmutzer, 2007). Era pai <strong>de</strong> Guilherme Schüch (1824-1908),o Barão <strong>de</strong> Capanema, igualmente naturalista e também engenheiro e físico, nascido emOuro Preto (Minas Gerais).54


Friedrich Phillip von Martius (1794-1868), dupla que ficouespecialmente célebre <strong>no</strong> Brasil e que, para a ocasião, foiindica<strong>da</strong> por Maximilian Joseph I, Rei <strong>da</strong> Baviera.Sobre esses alemães há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>staque,pela gran<strong>de</strong> contribuição presta<strong>da</strong> às ciências naturais <strong>no</strong>Brasil, ain<strong>da</strong> que não tenham visitado o <strong>Paraná</strong>.Acompanhados em parte por En<strong>de</strong>r, os dois – quase semprejuntos – percorreram milhares <strong>de</strong> quilômetros <strong>da</strong>s regiõesSu<strong>de</strong>ste, Nor<strong>de</strong>ste e Norte do Brasil, obtendo milhares <strong>de</strong>espécimes <strong>de</strong> plantas, animais e outros itens <strong>de</strong> histórianatural. Martius era interessado em plantas, assim como <strong>no</strong>sestudos <strong>da</strong> cultura e línguas indígenas 60 ; Spix, por sua vez,era especializado em zoologia, <strong>de</strong> forma que havia, entreeles, um tipo <strong>de</strong> cooperação interessante e complementar,incomum para as circunstâncias <strong>da</strong> época.Essa afini<strong>da</strong><strong>de</strong> gerou a publicação dos três volumes<strong>da</strong> obra <strong>de</strong>scritiva “Reise in Brasilien [...]” (tambémconheci<strong>da</strong> como “Viagem pelo Brasil”) que é assina<strong>da</strong> porambos (Spix & Martius, 1823, 1828, 1831), <strong>de</strong>screvendo suaparticipação na expedição. Ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les também produziuvasta obra <strong>de</strong>scritiva e analítica. Spix, que pouco viveu<strong>de</strong>pois do regresso à pátria, produziu vários livros e tor<strong>no</strong>useautor <strong>de</strong> uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves 61 , mamíferos,répteis e peixes (Fittkau, 2001). Dezenas <strong>de</strong> espécies <strong>da</strong>avifauna brasileira, com efeito, têm autoria atribuí<strong>da</strong> a ele,por meio <strong>de</strong> dois <strong>de</strong> seus livros (Spix, 1824, 1825) ealgumas <strong>de</strong>las são epônimos que o homenageiam (p.ex.Cya<strong>no</strong>psitta spixii, Synallaxis spixi e Xiphorhynchus spixii).Já Martius, falecido 42 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seu regresso,ficou muito mais conhecido, inclusive <strong>no</strong> Brasil, on<strong>de</strong> se60 Sobre a vi<strong>da</strong> e obra <strong>de</strong> Martius, uma <strong>da</strong>s obras recomen<strong>da</strong><strong>da</strong>s é, sem dúvi<strong>da</strong>, o livro <strong>de</strong>Fre<strong>de</strong>rick Sommer (1953).61 Uma característica curiosa <strong>de</strong> Spix foi a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação <strong>de</strong> aves com base em seu <strong>no</strong>mepopular, exemplificado por Nothura boraquira, Penelope jacquacu, P. jacucaca, Aburriajacutinga, Nothocrax urumutum, Odontophorus capueira e Arami<strong>de</strong>s saracura.55


vinculou ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.Deve-se a ele a preparação, organização e edição dosprimeiros volumes <strong>da</strong> monumental “Flora Brasiliensis”,projeto que se esten<strong>de</strong>u entre 1840 e 1906 (sendo sucedidopor August Wilhelm Eichler e Ignaz Urban), totalizandoquinze volumes e mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z mil páginas sobre as plantasdo Brasil. Sua contribuição à linguística também é lembra<strong>da</strong><strong>no</strong> livro ―Glossaria Linguarum Brasiliensium‖ (Martius,1863) que inclui glossários <strong>de</strong> várias línguas indígenas doBrasil, inclusive um capítulo especial <strong>de</strong><strong>no</strong>minado “Nominaanimalium in lingua tupi”.Com essa breve <strong>de</strong>scrição, po<strong>de</strong>-se <strong>no</strong>tar que o grupoque formou a Missão Austríaca era bastante diversificado,ao me<strong>no</strong>s com relação aos países <strong>de</strong> origem e especialmente<strong>da</strong>s indicações que fizeram ca<strong>da</strong> qual acabar sendoengajado.Sob este cenário é que, já com 30 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>,<strong>Natterer</strong> se dirigiu ao Brasil. Sequer imaginava, presume-se,que acabaria sendo a esta<strong>da</strong> que se consagrou como a maisimportante expedição oitocentista <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> materialbiológico e et<strong>no</strong>gráfico <strong>de</strong> todos os tempos.Essa afirmação justifica-se por muitos <strong>de</strong>talhes; um<strong>de</strong>les diz respeito ao seu incomparável potencial <strong>de</strong> trabalho<strong>de</strong> campo, bem como sua disposição em cumprir osobjetivos <strong>de</strong> coleta, preparação e ilustração <strong>de</strong> tudo o quepodia, em todos os locais por on<strong>de</strong> passava. Enviava paraViena várias remessas <strong>de</strong> exemplares obtidos, tal comocostumeiramente se fazia em tais expedições e que visava àsalvaguar<strong>da</strong> parcela<strong>da</strong> do acervo coligido. Isso, porexemplo, evitou inúmeras per<strong>da</strong>s <strong>de</strong> espécimes – quemesmo assim foram muitas – <strong>de</strong>vido a saques, ataques porratos, fungos e <strong>de</strong>terioração <strong>de</strong>corrente do ambiente úmidodos trópicos (Ramirez 1968).56


Sua saga, aliás, começara na saí<strong>da</strong> <strong>de</strong> Trieste, nafragata “Principessa Augusta” 62 em 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1817, sobo comando do capitão Michael Accurti. Não bastassem osmeses <strong>de</strong> viagem insalubre e tediosa, ain<strong>da</strong> tinha <strong>de</strong>conviver – <strong>no</strong> peque<strong>no</strong> navio <strong>de</strong> guerra – com 130 pessoasalém <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> lote <strong>de</strong> galinhas, porcos, ovelhas e 18cabeças <strong>de</strong> gado, que serviram para alimentar a tripulação 63 .Logo aos primeiros dias, as tempesta<strong>de</strong>s castigaramo navio, causando sérios <strong>da</strong><strong>no</strong>s à sua estrutura e <strong>de</strong>sconfortogeral aos passageiros. Segundo relatos do próprio <strong>Natterer</strong>, ocapelão <strong>de</strong> bordo chegou – em um <strong>de</strong>sses momentos eprevendo o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> trágico – a benzer a tripulação, armado<strong>de</strong> crucifixo. Ao fim <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>ssas tempesta<strong>de</strong>s, o navioviu-se obrigado a ancorar na costa <strong>da</strong> Itália e, <strong>de</strong>pois, emGibraltar.Nesse último local, <strong>Natterer</strong> <strong>de</strong>sembarcou por algunsdias, em companhia <strong>de</strong> Sochor. Mesmo diante <strong>de</strong> condiçõesterríveis <strong>de</strong> sobrevivência, frente ao calor que fazia, alémdos ataques incessantes <strong>de</strong> mosquitos, acabaram porcolecionar uma gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> itens <strong>de</strong> histórianatural para o museu <strong>de</strong> Viena, <strong>de</strong>ntre 68 aves, <strong>de</strong>zmamíferos, 77 anfíbios (talvez incluindo também répteis),vários frascos com helmintos e cerca <strong>de</strong> 900 insetos(Schmutzer, 2007). Segundo a correspondência do próprio<strong>Natterer</strong>, aquele era apenas um prenúncio do que iriamenfrentar nas distantes terras brasileiras (Schmutzer, 2007).Na manhã <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1817, a fragataAugusta, já acompanha<strong>da</strong> <strong>da</strong> frota que levava a imperatriz,aporta <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Tinha início a espetacular62 Essa embarcação tor<strong>no</strong>u-se célebre por sua participação, em 1811, na Batalha <strong>de</strong> Lissa<strong>no</strong> mar Adriático, contra os navios <strong>de</strong> Napoleão Bonaparte. O outro navio, chamado <strong>de</strong>“Áustria”, partiu quatro meses <strong>de</strong>pois (15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1817), levando Mikan e sua equipe.63 As condições <strong>de</strong> navegação dos dois navios que trouxeram o séquito <strong>de</strong> Leopoldina, porsua vez, pareciam ain<strong>da</strong> piores. O efetivo era formado por 1.300 pessoas, além <strong>de</strong> 4.000galinhas, além <strong>de</strong> vacas, porcos e carneiros; isso sem falar dos 500 canários, papagaios eoutras aves, trazi<strong>da</strong>s para entreteter a imperatriz (Schmutzer, 2007).57


expedição que acabou <strong>de</strong>stinando <strong>de</strong>zoito a<strong>no</strong>s (1817-1835)às imensas e <strong>de</strong>sabita<strong>da</strong>s regiões do interior do Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a Amazônia e Centro-oeste até o Su<strong>de</strong>ste e parte do Sul doPaís (para revisões vi<strong>de</strong> Rokitansky, 1957; Paynter-Jr. &Traylor-Jr., 1991; Vanzolini, 1993; Straube, 1993, 2000,2008).De um total <strong>de</strong> <strong>de</strong>z viagens, cujos itinerários foramorganizados por Pelzeln (1871: Itinerarium p.IV), coube àTerceira (III.Reise, 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1820 a 27 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1821) e à Quarta (IV.Reise, 1° <strong>de</strong> fevereiro a 30 <strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 1821) a passagem pelo território paranaense, o que seesten<strong>de</strong>u pelo intervalo aproximado entre 7 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong>1820 e 28 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1821.Todo este trecho, com pouco me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 500quilômetros, foi percorrido por terra, com uma caravana <strong>de</strong>cinco cavalos e quinze mulas (além <strong>de</strong> quatro cães), repleta<strong>de</strong> materiais, vidrarias, reagentes (leia-se um barril <strong>de</strong>aguar<strong>de</strong>nte), equipamentos <strong>de</strong> coleta e preparação, alimentose objetos pessoais. Não obstante a carga volumosa, é óbvioque encontraram gran<strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em adquirir certos itens,em virtu<strong>de</strong> do completo isolamento <strong>da</strong>quelas regiões naépoca.Além disso, sabe-se que alguns meses antes, quandoain<strong>da</strong> estavam na fazen<strong>da</strong> Ipanema, encontravam-se háalgum tempo sem <strong>no</strong>tícias dos recursos financeirosprometidos por Metternich. Mesmo assim, <strong>Natterer</strong> e Sochortrabalharam praticamente sozinhos, inclusive produzindoeles próprios, por <strong>de</strong>stilação, os compostos químicosnecessários para a conservação dos espécimes (Schmutzer,2007).Esse tipo <strong>de</strong> condição, via <strong>de</strong> regra precária,raramente é lembra<strong>da</strong> em estudos revisivos sobre o legadodos naturalistas que visitaram o Brasil nas primeiras déca<strong>da</strong>sdo Século XIX. As imensas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> transporte,58


abastecimento e até mesmo <strong>de</strong> comunicação com as pessoasque ali residiam, merecia por si só um estudo à parte. E, semdúvi<strong>da</strong> nenhuma, unem-se ao reconhecimento quemereceriam <strong>da</strong>s gerações futuras, pela envergadura dosresultados colhidos e pela abnegação em prol documprimento dos objetivos formulados.Itinerário <strong>da</strong> expedição <strong>Natterer</strong> ao Brasil (1817-1835) (Fonte: modificado <strong>de</strong> Pelzeln,1871, encarte).Não obstante tais dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>Natterer</strong> e Sochorobservaram, registraram e coletaram abun<strong>da</strong>nte material emdiversas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do leste paranaense, incluindo oscerrados, campos e matas <strong>de</strong> araucária do Segundo ePrimeiro Planaltos, além <strong>da</strong> mata atlântica e manguezais <strong>da</strong>Serra do Mar e planície litorânea. Como afirmadoanteriormente, eles seriam os primeiros a se <strong>de</strong>dicarem àtarefa, agora com cunho fortemente zoológico e, <strong>de</strong>staforma, complementar ao trabalho botânico <strong>de</strong> Saint-Hilaire.59


Algumas passagens do itinerário <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> eSochor <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, embora tenha ele sido esmiuçado porStraube (1993) e Vanzolini (1993), permaneceram confusaspor muitos a<strong>no</strong>s. Tudo começou pela informação <strong>de</strong> Pelzeln(1871), referindo-se à passagem equivoca<strong>da</strong> do viajante “atéa fronteira <strong>da</strong> Província do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul”, ao<strong>de</strong>screver a Terceira Viagem:III REISEIn <strong>de</strong>n südlichen Theil <strong>de</strong>r Capitanie vonSan Paulo bis zur Gränze <strong>de</strong>r Provinz Riogran<strong>de</strong> do Sul, welche Provinz <strong>Natterer</strong>eben im Begriffe stand zu bereisen, als ervon Rio Janeiro von <strong>de</strong>r k. k.Gesandtschaft einZurückberufungsschreiben erhielt.“3 a ViagemPela parte sul <strong>da</strong> Capitania <strong>de</strong> São Pauloaté a fronteira <strong>da</strong> Província do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul, província essa que <strong>Natterer</strong> estavaprestes a visitar, quando recebeu <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro, uma carta <strong>da</strong> legação imperialpara que retornasse.O texto aparece algo diferente na revisão dosmamíferos (Pelzeln, 1883:126) 64 :III REISEin <strong>de</strong>n südlichen Theil <strong>de</strong>r Capitanie vonS.Paulo bis zur Grenze <strong>de</strong>r Provinz RioGran<strong>de</strong> do Sul, welche Provinz <strong>Natterer</strong>eben im Begriffe stand zu bereisen, als ervon Rio Janeiro von <strong>de</strong>r k. k.GesandtschafteinZurückberufungsschreiben erhielt. Am 15.July 1820 von Ypanema abgereist vonCurytiba nach Paranagua und von dortzur See nach Rio <strong>de</strong> Janeiro, wo er am 1.Februar 1821 anlangte. Herrn Sochorhatte <strong>Natterer</strong> in Ypanema zurückgelassen.Auf <strong>de</strong>r oben angegebenen Route liegtauch <strong>de</strong>r häufig angeführte FundortYtararé.“3 a ViagemPela parte sul <strong>da</strong> Capitania <strong>de</strong> São Pauloaté a fronteira <strong>da</strong> Província do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul, província essa que <strong>Natterer</strong> estavaprestes a visitar, quando recebeu <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro, uma carta <strong>da</strong> legação imperialpara que retornasse. Em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1820, partiu <strong>de</strong> Ipanema para Curitiba eParanaguá e <strong>da</strong>í por mar ao Rio <strong>de</strong> Janeiro,on<strong>de</strong> chegou em 1° <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1821.O sr. Sochor havia <strong>de</strong>ixado <strong>Natterer</strong> emIpanema. Na rota acima também éfrequentemente menciona<strong>da</strong> a locali<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Itararé.64 Descrição essa também um pouco diferente <strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong> em Isis (1833).60


Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o atual estado do <strong>Paraná</strong> pertencia, naépoca (<strong>da</strong> viagem <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>), a São Paulo 65 , que (<strong>no</strong> setorleste consi<strong>de</strong>rado) fazia divisa com a Capitania <strong>de</strong> SantaCatarina. Por assim dizer, não havia nenhuma relaçãogeográfica entre os limites suli<strong>no</strong>s <strong>da</strong> viagem com o RioGran<strong>de</strong> do Sul. Desta forma, não há sentido em se cogitar apresença <strong>da</strong> dupla <strong>no</strong>s dois estados mais meridionais doBrasil (Hershkovitz, 1987), o que, apesar <strong>de</strong> planejado comose verá adiante, não chegou a acontecer.Ocorre que <strong>Natterer</strong> tinha pretensões explícitas <strong>de</strong>visitar muitos outros pontos sul-brasileiros. Seu interessepelo Brasil meridional incluía a região <strong>de</strong> Lages (SantaCatarina: “sertão von Lages”) e a lagoa dos Patos (RioGran<strong>de</strong> do Sul) (Schmutzer, 2007), mas isso acabouimpossibilitado pelo constante assédio <strong>de</strong> Metternich paraque ele e to<strong>da</strong> a comitiva austríaca retornassem à Áustria.Outro aspecto importante que dificultou a eluci<strong>da</strong>çãodos <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong> viagem refere-se às <strong>da</strong>tas dos exemplarescolecionados e mesmo <strong>da</strong>s informações constantes em seusdiários <strong>de</strong> campo e que se referem indistintamente aomaterial obtido por <strong>Natterer</strong> e por seu auxiliar Sochor. Alémdisso, em quase to<strong>da</strong> a obra <strong>de</strong> Pelzeln (1871), que revisa omaterial obtido, são citados apenas os meses <strong>de</strong> coleta eapenas ocasionalmente é que se oferecem <strong>da</strong>tas mais exatas.65 Quando <strong>da</strong> viagem <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> (1820-1821), o que hoje é o <strong>Paraná</strong> pertencia à capitania<strong>de</strong> São Paulo, coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo capitão-geral (governador) João Carlos Augusto vonOyenhausen-Gravenburg, Marquês <strong>de</strong> Aracati. Essa capitania fazia divisa com a <strong>de</strong> SantaCatarina, governa<strong>da</strong> por João Vieira Tovar e Albuquerque. Quando Pelzeln iniciou a suarevisão (1856) sobre a obra <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, a situação política era completamente diferente. O<strong>Paraná</strong> já era província in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1853), coman<strong>da</strong><strong>da</strong> por umpresi<strong>de</strong>nte <strong>no</strong>meado pelo imperador. Sua divisa sul continuava sendo a Província <strong>de</strong> SantaCatarina, que tinha como presi<strong>de</strong>nte João José Coutinho, um dos mais <strong>de</strong>stacadosincentivadores <strong>da</strong>s colônias <strong>de</strong> Blumenau e Joinville. Quando Pelzeln (1868a) lançou oprimeiro fascículo do “Zur Ornithologie brasiliens”, o <strong>Paraná</strong> estava emancipado faziamquinze a<strong>no</strong>s.61


Apesar <strong>de</strong>ssas limitações, po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar, comgran<strong>de</strong> precisão, os locais visitados e percursos <strong>de</strong> amboscoletores, levando-se em consi<strong>de</strong>ração a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>coincidência <strong>de</strong> <strong>da</strong>tas em locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s bastante distancia<strong>da</strong>s.A investigação <strong>de</strong> seu itinerário <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, aliás, tem umacontingência importante: embora tenha a viagem seestendido entre 1820 e 1821, não há nenhum mês que serepita <strong>no</strong> intervalo entre esses dois a<strong>no</strong>s.Durante sua peregrinação pelo estado <strong>de</strong> São Paulo,<strong>Natterer</strong> e Sochor saíram <strong>de</strong> “Ypanema” em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1820, chegando a “Fachina Velha” (4 <strong>de</strong> agosto), “Fazen<strong>da</strong>Nova” (5 <strong>de</strong> agosto) e “Fazen<strong>da</strong> do Rio Ver<strong>de</strong>” (6 a 7 <strong>de</strong>agosto). No dia 10 <strong>de</strong>ste mês estabeleceram-se em “Ytararé”(até 7 <strong>de</strong> setembro), aproveitando para visitar a locali<strong>da</strong><strong>de</strong>limítrofe <strong>de</strong> “Delgado” (14 <strong>de</strong> agosto) 66 .66 Essa <strong>de</strong>signação foi por muitos a<strong>no</strong>s enigmática e, <strong>de</strong>sta forma, houveram gran<strong>de</strong>sdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para uma localização precisa, visto que não é menciona<strong>da</strong> em Derby (1898),Moreira (1975) tampouco em outras fontes geográficas disponíveis. Além disso, o local foivisitado apenas quatro dias <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> expedição <strong>Natterer</strong> chegar a Itararé, portanto quasetrês semanas antes <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>de</strong>finitiva ao território paranaense. Pouco aju<strong>da</strong>ram as pistasofereci<strong>da</strong>s por Vanzolini (1992:65): “Delgado, SP (sic) [...] In <strong>Paraná</strong>, near the São Paulobor<strong>de</strong>r” ou <strong>de</strong> Vanzolini (1993:23): “...excursão saindo <strong>de</strong> Itararé. Agora Corisco, <strong>no</strong>estado do <strong>Paraná</strong> (informação <strong>da</strong> Prefeitura <strong>de</strong> Itararé), <strong>no</strong> caminho <strong>de</strong> Morungava, on<strong>de</strong><strong>Natterer</strong> realmente esteve...”. Salto Corisco é o <strong>no</strong>me <strong>de</strong> uma cachoeira muito explora<strong>da</strong>localmente para turismo <strong>de</strong> aventura; fica a 10 km a sul <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Itararé, mas já <strong>de</strong>ntrodos limites paranaenses (24°12‟45,00”S/49°21‟38,44”W). Apenas recentemente,informações robustas sobre sua localização foram colhi<strong>da</strong>s in situ por Tony A. Bichinski(2012, in litt.) por meio <strong>de</strong> entrevistas com moradores dos municípios <strong>da</strong>quela região econsulta a documentos variados. Delgado é, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, “Passo Delgado”, um ponto, aolongo do rio Itararé, em que a travessia fluvial ficaria facilita<strong>da</strong>, permitindo a transposiçãopelos numerosos grupos <strong>de</strong> tropeiros que para ali convergiam quando <strong>de</strong> suas viagens paratransporte <strong>de</strong> gado e outros animais. A <strong>de</strong><strong>no</strong>minação vem <strong>de</strong> uma família que, segundoconsta, teria ali uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que servia <strong>de</strong> pouso aos viajantes. Esse indicativo po<strong>de</strong>ser confirmado pela existência <strong>de</strong> um local chamado “P.Delgado”, mencionado <strong>no</strong> mapa<strong>de</strong> Santos (1923) e situado a cerca <strong>de</strong> 10 km a <strong>no</strong>rte (a montante <strong>da</strong> foz do rio Jaguaricatu)<strong>de</strong> on<strong>de</strong>, atualmente, está a ponte sobre o rio Itararé, na rodovia SP-259+PR-151. Concluise,então, que <strong>Natterer</strong>, uma vez estabelecido em Itararé, tenha realizado várias incursõespelas imediações, inclusive visitado o rio Itararé, que ali faz divisa estadual. Não há, <strong>no</strong>entanto, indícios <strong>de</strong> que o tenha va<strong>de</strong>ado e, ao me<strong>no</strong>s nesse momento, visitadotemporariamente o <strong>Paraná</strong>. Naquela época, a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> paranaense ali existente era afazen<strong>da</strong> Limoeiro, situa<strong>da</strong> <strong>no</strong> interflúvio entre os rios Jaguaricatu e Jaguariaíva e que tinhacomo limite <strong>no</strong>rte o rio Itararé (Lopes, 2002).62


Em alguma <strong>da</strong>ta logo após o dia 7 <strong>de</strong> setembro,a<strong>de</strong>ntraram <strong>de</strong>finitivamente o <strong>Paraná</strong>, ao cruzar as margensescarpa<strong>da</strong>s do rio Itararé, precisamente <strong>no</strong> mesmo localutilizado (e bem <strong>de</strong>scrito) por Saint Hilaire. Alguns dias<strong>de</strong>pois, estabeleceram-se em Jaguariaíva (“Porto doJaguaraiba”), on<strong>de</strong> ficaram até 21 <strong>de</strong> setembro,investigando outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s adjacentes, como a“Fazen<strong>da</strong> do s. Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiro [Lobo]”.Seguiram por um dos chamados “caminhos dostropeiros” e estiveram na fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s “Cinzas”, em Piraí doSul, entre 22 e 23 <strong>de</strong> setembro, sendo que – neste último dia– já chegaram a “Lanza” (antiga Lança, atual se<strong>de</strong> <strong>de</strong> Piraído Sul). No dia seguinte colecionaram na fazen<strong>da</strong> <strong>de</strong>“Joaquim Carneiro” 67 (24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820) a caminho<strong>da</strong> “Villa <strong>de</strong> Castro”, on<strong>de</strong> trabalharam <strong>no</strong>s seus arredores.De lá passaram por Boqueirão (“Bocqueirao”: 27 <strong>de</strong>setembro) e seguiram viagem rapi<strong>da</strong>mente, visitandoItaiacoca (“Tayacocca”: dia 28), Porcos <strong>de</strong> Cima (“Porcos<strong>de</strong> riva”: 29), São Luiz (“S. Luiz”: 30) e Campo Largo(“Campo largo”: 1 o <strong>de</strong> outubro).Sobre essa primeira locali<strong>da</strong><strong>de</strong>, cabe uma digressão.Segundo Pelzeln (1871:v e 39) temos, respectivamente,“Bocqueirao (Villa <strong>de</strong> Castro)” e “Bocqueirao an <strong>de</strong>n Ufern<strong>de</strong>s Flusses Yapó”. Na própria <strong>de</strong>scrição original <strong>de</strong>Anabates <strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s (hoje Cliba<strong>no</strong>rnis68<strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s) (Pelzeln 1859:128) consta:67 Hellmayr (1927:14) afirma que a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> é sinônimo <strong>de</strong> “Boa vista”. No entanto, aconheci<strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong> Boa Vista está <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Jaguariaíva (vi<strong>de</strong> Saint-Hilaire) e nãoem algum ponto (como apontado pela sequência do itinerário) entre Piraí do Sul e Castro.Pertencia a Joaquim Carneiro Lobo, irmão (por parte <strong>de</strong> pai) <strong>de</strong> Lucia<strong>no</strong> Carneiro Lobo.Os dois, além <strong>de</strong> Francisco Xavier <strong>da</strong> Silva se tratavam dos mais ricos e po<strong>de</strong>rososfazen<strong>de</strong>iros dos Campos Gerais naquela época (Portela, 2007).68 A autoria <strong>da</strong> espécie é consensualmente atribuí<strong>da</strong> a Pelzeln (1859:104 e 128), nãoobstante ele expresse textualmente que se baseou em material manuscrito <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> (sobAnabates lepidogenys) e <strong>de</strong> correspondência (“Temminck in litt.”) com Temminck (sobA.<strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s), remetendo a autoria a este último e inclusive usando a mesma<strong>de</strong><strong>no</strong>minação.63


“Bocqueirao an <strong>de</strong>n Ufern <strong>de</strong>s Flusses Yapó im Gebüsch amBo<strong>de</strong>n” [“Boqueirão <strong>no</strong> mato do terre<strong>no</strong> <strong>da</strong>s margens do rioIapó”].Isso indica que a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta, estaria situa<strong>da</strong>muito próxima <strong>de</strong> Castro e não era propriamente umtopônimo e sim uma indicação orográfica 69 . Boqueirão éuma vertente íngreme (garganta) que acompanha as margens<strong>de</strong> rios. Tal condição geomorfológica é muito peculiar <strong>de</strong>ssaregião paranaense, como exemplifica<strong>da</strong> pelo famoso canyondo Guartelá, com mais <strong>de</strong> 30 km <strong>de</strong> extensão e um <strong>de</strong>snívelque chega a 450 metros e que, a propósito, foi formado pelomesmo rio Iapó (Melo, 2000) 70 .Há <strong>de</strong> fato, uma locali<strong>da</strong><strong>de</strong> com esse <strong>no</strong>me e quehoje é um bairro na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Ponta Grossa (Straube,1993c), na divisa municipal com o <strong>de</strong> Carambeí. SegundoMoreira (1975:989), ela estaria situa<strong>da</strong> entre as fazen<strong>da</strong>sPitangui e Carambeí (distando duas léguas <strong>da</strong> primeira euma légua <strong>de</strong> segun<strong>da</strong>), portanto, sem nenhuma conexãocom o rio Iapó.Depois <strong>de</strong> Campo Largo, os dois viajantesa<strong>de</strong>ntraram Curitiba (“Curytiba”), pelo bairro do CampoComprido (“Campo comprido” 71 ), em 2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820e, na então se<strong>de</strong> <strong>da</strong> comarca, estabeleceram-se por mais <strong>de</strong>dois meses (pelo me<strong>no</strong>s até 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro) em trabalho <strong>de</strong>campo 72 . Aqui é importante frisar que durante a esta<strong>da</strong> emCuritiba, <strong>Natterer</strong> (precisamente em 21 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong>1820), recebeu um comunicado <strong>de</strong> Metternich para que69 O uso, na língua alemã, <strong>de</strong> iniciais maiúsculas para substantivos, dificulta umaconclusão <strong>de</strong>finitiva a esse respeito.70 O “mato do terre<strong>no</strong> <strong>da</strong>s margens do rio”, assim, seria uma alusão à mata ciliar típica<strong>da</strong>quela área, opondo-se, com efeito, à vegetação rupícola <strong>da</strong>s encostas pedregosas.71 Em uma menção, há a grafia errônea “Campo comarido”.72 Segundo Schmutzer (2007:96), <strong>Natterer</strong> e Sochor ficaram hospe<strong>da</strong>dos em Curitiba nacasa <strong>de</strong> um certo “sr. José Lustoso” (leia-se Lustosa), a cerca <strong>de</strong> quinze minutos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,sobre uma colina <strong>de</strong> magnífica vista.64


etornasse imediatamente, a fim <strong>de</strong> finalizar a expedição 73(Schmutzer, 2007).Contrariado 74 , ele cumpriu apenas em parte a or<strong>de</strong>msuperior: tomou caminho <strong>da</strong> Serra do Mar, chegando emParanaguá e, em segui<strong>da</strong>, rumou ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.Inconsolado por ter <strong>de</strong> interromper a missão, encarregouSochor <strong>de</strong> retornar a “Ypanema” pelo mesmo trajetopercorrido na viagem <strong>de</strong> vin<strong>da</strong>. Ganhariam ambos algumtempo, entre aquele momento e o <strong>de</strong>sfecho <strong>da</strong>s negociaçõese, com isso, o contexto acabou por privilegiar os CamposGerais paranaenses por uma curiosa visita <strong>de</strong> i<strong>da</strong>-e-volta.Por outro lado, o pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> explorar o sul do Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oscampos catarinenses e o litoral-sul gaúcho, estaria<strong>de</strong>finitivamente abandonado.Entre os dias 6 e 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, <strong>Natterer</strong> percorreu ochamado “caminho do Itupava”, percurso tradicional naépoca para os que pretendiam chegar às terras litorâneas apartir do planalto. O itinerário <strong>de</strong>scrito por Pelzeln (1871:v),provavelmente baseado em seus diários, é o seguinte:―Curytiba 4, October bis 6. December.Bei Bor<strong>da</strong> do Campo 5 Legoas vonCurytiba hört <strong>da</strong>s Campo auf und beginnt<strong>de</strong>r Wald, <strong>da</strong>nn folgen die Gegen<strong>de</strong>nCampinas, Serra <strong>de</strong> Pao <strong>de</strong> la Boavista ,Morros emen<strong>da</strong>dos, <strong>da</strong>s Thal Pe<strong>de</strong>rneiras, <strong>de</strong>r Rio piranga, <strong>de</strong>r enge HohlwegAtalho, <strong>de</strong>r Abhang <strong>de</strong>r Serra <strong>da</strong> farinha,unter <strong>de</strong>m <strong>de</strong>r Rio Ytororo vorüberbrausend in die Tiefe stürzt. Hieraufgelangten die Reisen<strong>de</strong>n an Cume <strong>da</strong>Serra, wo eine Aussicht auf <strong>de</strong>n Rio dos"Curitiba [entre] 4 <strong>de</strong> outubro [e] 6 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro [<strong>de</strong> 1820].Em Bor<strong>da</strong> do Campo, a cinco léguas <strong>de</strong>Curitiba, termina o campo e inicia-se afloresta; segue-se pelas regiões <strong>de</strong>Campina, Morro do Pão <strong>de</strong> Ló (Serra <strong>da</strong>Boa Vista), Morros Emen<strong>da</strong>dos, o vale do[Rio] Pe<strong>de</strong>rneiras, o Rio Ipiranga, oestreito <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro do Atalho, as vertentes<strong>da</strong> Serra <strong>da</strong> Farinha Seca, sob cujapassagem, o Rio Itororó mergulha nasprofun<strong>de</strong>zas. Então, o viajante chegou ao73 A expedição foi efetivamente dissolvi<strong>da</strong> muito tempo <strong>de</strong>pois, em setembro <strong>de</strong> 1822,pelos temores <strong>da</strong> <strong>no</strong>va condição política: o Brasil <strong>de</strong>clarara in<strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Portugal.Com isso, todos os integrantes <strong>da</strong> Missão Austríaca (com exceção <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> e Sochor)acabaram por retornar a Viena.74 Afinal, havia adiquirido 23 mulas, cinco cavalos e quatro cachorros, além <strong>de</strong> já tercomprado dois escravos e, ain<strong>da</strong>, alugado outros dois especialmente para a viagem (Riedl-Dorn, 1999).65


Morretes sich öffnet und von wo man beiheiterem Wetter <strong>da</strong>s Meer erblicken kann,rechts steht <strong>de</strong>r hohe Marumbi. Von <strong>da</strong>gelangte man nach Paranagua.‖cume <strong>da</strong> Serra [do Mar], on<strong>de</strong> uma vista seabre através do Rio dos Morretes e <strong>de</strong> on<strong>de</strong>se po<strong>de</strong> ver, em tempo claro, o mar, tendoao lado direito o alto [pico do] Marumbi.De lá eles seguiu para Paranaguá. "Com base na <strong>de</strong>scrição, conclui-se que ele cruzou aci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba, passando pela região alagadiça <strong>da</strong>svárzeas do rio Belém (hoje zona central) e <strong>de</strong>man<strong>da</strong>ndo aleste. Já bem afastado do núcleo urba<strong>no</strong>, chegou na “Bor<strong>da</strong>do Campo” e <strong>de</strong>pois Campina (“Campinas”) 75 , po<strong>de</strong>ndoavistar os morros do Pão <strong>de</strong> Ló (“Serra <strong>de</strong> Pao <strong>de</strong> laBoavista”) e Emen<strong>da</strong>do (“Morros emen<strong>da</strong>dos”). Do alto <strong>da</strong>serra (“Cume <strong>da</strong> Serra”), parou para observar a paisagem,tendo <strong>no</strong> horizonte distante a baía <strong>de</strong> Paranaguá e o rioNhundiaquara (“Rio dos Morretes”) e, à sua direita, ocomplexo montanhoso do “Marumbi”. Continuando pelocaminho colonial, passou por Pe<strong>de</strong>rneira (“Pe<strong>de</strong>rneiras”),cruzou o rio Ipiranga (“Rio Piranga”) e chegou ao “Atalho”.Ao passar pela “Serra <strong>da</strong> Farinha [Seca]”, atravessou osdois braços do rio Itororó (“Rio Ytororo”) e pô<strong>de</strong> observar ogran<strong>de</strong> salto que existe ali.Em um dos raríssimos fragmentos <strong>de</strong> seu diário <strong>de</strong>campo (<strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), reproduzido porSchmutzer (2007), há uma menção à dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> para setranspor a Serra do Mar paranaense por esse caminho 76 :Es ist fast nicht zu begreifen, wie beladneThiere ohne <strong>de</strong>n Hals zu brechen diesenWeg machen können. Ich war längst vomMaulthiere abgestiegen, <strong>de</strong>nn die Gefahr,bey oftmahlig fast senkrechten Abhängenüber <strong>de</strong>n Kopf <strong>de</strong>s Thieres hinabzustürze<strong>no</strong><strong>de</strong>r in <strong>de</strong>n engen Hohlwegen mit <strong>de</strong><strong>no</strong>bschon immer hoch in die Höhe gezognenFüssen an <strong>de</strong>n Felsen gequetscht zuÉ quase incompreensível como animais [<strong>de</strong>carga] carregados conseguem realizar essetrajeto sem quebrar o pescoço. Eu já tinha<strong>de</strong>smontado do animal, porque, nasfrequentes <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>s muito íngremes, operigo era muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> cair por cima <strong>da</strong>cabeça do animal ou <strong>de</strong> ter os pés (mesmosempre erguidos para o alto) esmagadoscontra as rochas do <strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro; e mesmo a75 A atualização apresenta<strong>da</strong> por Vanzolini (1993:26) <strong>de</strong>sse topônimo “(= Campina Gran<strong>de</strong>do Sul)”, não condiz com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>; compare Straube (1993:10).76 A tradução é <strong>de</strong> Rodrigo Lingnau, à qual fiz pequenas a<strong>da</strong>ptações ao contexto.66


wer<strong>de</strong>n, war zu gross und selbst zu Fussewar es so schwierig, <strong>da</strong>ss ich nur zu oft mitHän<strong>de</strong>n an bey<strong>de</strong>n Seiten mich anhaltenmusste, um nicht zwischen Steinenhinabzuglitschen und Fuss und Arm zuzerbrechen. […] Man kann sich unmöglicheinen Begriff von <strong>de</strong>r Schlechtigkeit diesesWeges machen, ohne mit eignen Augen sichzu überzeugen. Und <strong>da</strong>mahls, als ichpassirte, war nach Aussage <strong>de</strong>s conductors<strong>de</strong>r Weg gut, <strong>da</strong> es einige Zeit nichtgeregnet hatte, <strong>de</strong>n als<strong>da</strong>nn bringen sie oft8 Tage im Gebirge zu und verlierenMaulthiere, die sich Hals und Beinbrechen, wie häufig angetroffene Gebeine<strong>de</strong>rselben beweisen, o<strong>de</strong>r die im Morasterstiken, wenn sie mit <strong>de</strong>r Ladung fallenund nicht mehr aufstehen o<strong>de</strong>r die Leutenicht schnell genug herbeyeilen können.pé isso era tão difícil que eufrequentemente tive que me segurar com asmãos em ambos os lados para nãoescorregar abaixo entre as pedras e quebrarperna e braço. [...]. É impossível ter[sequer] uma <strong>no</strong>ção <strong>da</strong> péssima situação<strong>de</strong>sse caminho, sem convencer-se com seuspróprios olhos. E naquela época, quando eupassava, segundo foi comunicado pelocondutor, o caminho estava bom, visto quenão chovia há algum tempo. Quando elespassam oito dias nas montanhas chegam aper<strong>de</strong>r animais, que quebram pescoço epernas (como confirmam os muitosachados <strong>de</strong> ossos <strong>de</strong> pernas), ou atolam nalama/brejo quando caem com sua carga enão levantam mais a tempo ou as pessoasnão chegam suficientemente rápido parasocorrê-los.Esboço <strong>da</strong> visão <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> ao percorrer o Caminho do Itupava, prestes a vencer o difícilpercurso (Fonte: editado <strong>de</strong> imagem do Google Earth).No dia 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, já estava em Paranaguá,on<strong>de</strong> se estabeleceu até 20 <strong>de</strong> janeiro, visitando algunspontos próximos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> (p.ex. “Rio <strong>da</strong> Villa”). Durante67


sua esta<strong>da</strong> nesta ci<strong>da</strong><strong>de</strong> explorou, com uso <strong>de</strong> embarcação, ofundo <strong>da</strong> baía (rio do Borrachudo: “Rio Boraxudo” 77 ) entre23 e 26 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro. Também <strong>de</strong>dicou ao me<strong>no</strong>s um dia(10 <strong>de</strong> janeiro) para explorar a “Ilha do Mel” e, em algummomento, esteve na “Insel Guarecasaba” 78 .Com a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> retornar ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, em10 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1821 embarcou <strong>no</strong> navio Menalha, tendo láchegado 22 dias <strong>de</strong>pois.Como já dito, <strong>no</strong> início <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820,Sochor separa-se <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> em Curitiba, retornando pelomesmo caminho dos tropeiros, rumo à fazen<strong>da</strong> Ipanema.Aproveita para visitar algumas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ain<strong>da</strong> nãoamostra<strong>da</strong>s, sendo a primeira <strong>de</strong>las “Pitangui” (9 e 10 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), pouco antes <strong>de</strong> chegar a Castro, on<strong>de</strong>permanece pelo me<strong>no</strong>s entre 12 e 20 do mesmo mês.Depois, <strong>da</strong>li passa <strong>no</strong>vamente em “Lanza” e, emsegui<strong>da</strong>, Jaguariaíva (ambos <strong>no</strong> mês <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1821) e,<strong>no</strong> dia 14 <strong>de</strong> janeiro chega a Itararé. Des<strong>de</strong> esse dia, até 17<strong>de</strong> abril, toma essa ci<strong>da</strong><strong>de</strong> paulista como base. Durante ostrês meses que ficou em Itararé (“Ytararé”), além <strong>de</strong> tertrabalhado <strong>no</strong>s arredores, resolve reexplorar alguns locais,retornando a Jaguariaíva (fevereiro <strong>de</strong> 1821) e, logo <strong>de</strong>pois,permanecendo por quase duas semanas na fazen<strong>da</strong>Morungaba (“Murungaba”: 23 <strong>de</strong> março a 4 <strong>de</strong> abril). Destaproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, voltando para Itararé, ain<strong>da</strong> passa na foz do rioJaguaricatu (“Barra do Rio <strong>de</strong> Jaguaricatu”: 8 <strong>de</strong> abril). Em77 Eventualmente “Rio do Boraxudo” e “Rio do Baraxudo”. Deságua na ensea<strong>da</strong> do Benito(baía <strong>da</strong>s Laranjeiras, ou baía <strong>de</strong> Guaraqueçaba), paralelamente à foz do rio Tagaçaba (verBranco, 2004). Na sua revisão dos jacarés brasileiros, assim <strong>Natterer</strong> (1840b:317) serefere: “...im Rio Boraxudo, nördlich von Paranaguà...”.78 Essa locali<strong>da</strong><strong>de</strong> não é bem claramente localiza<strong>da</strong> e não cita<strong>da</strong> em nenhum Gazetter(Paynter & Traylor, 1994; Vanzolini, 1992, 1994), mas ela consta efetivamente na obra <strong>de</strong>Pelzeln (1871:303 – verbete “Nycticorax violaceus‖ = Nyctanassa violacea). Talvez<strong>Natterer</strong> tivesse (quando <strong>de</strong> sua passagem pelo Rio do Borrachudo) visitado o peque<strong>no</strong>lugarejo <strong>de</strong> Guaraqueçaba o qual, apenas quase duas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> visita, foitransformado em vila. Essa ilha, se avalia<strong>da</strong> a <strong>de</strong>scrição (“kleinen Insel” = pequena ilha),<strong>de</strong>ve ser a ilha Pavoçá, que se situa bem <strong>de</strong>fronte à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1 km <strong>de</strong> distância.68


26 <strong>de</strong> abril, já estava a caminho <strong>de</strong> Ipanema, passando pela“Fazen<strong>da</strong> Nova” (perto <strong>de</strong> Itapeva) 79 .Por meio <strong>de</strong>ssa revisão, basea<strong>da</strong> nas <strong>da</strong>tasapresenta<strong>da</strong>s em Pelzeln (1871), contestamos autoresanteriores (Pelzeln, 1883; Papávero, 1971; Straube, 1993;Vanzolini, 1993). Afinal, <strong>Natterer</strong> <strong>de</strong>ixou Sochor emCuritiba (e não Ipanema) 80 e, <strong>de</strong>sta forma, ambos entraram<strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, on<strong>de</strong> trabalharam juntos entre setembro e<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820. Isso explica as coletas registra<strong>da</strong>s paraCastro em 12 a 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro e, <strong>de</strong>pois, em Itararé,realiza<strong>da</strong>s por Sochor quando retor<strong>no</strong>u a Ipanema (on<strong>de</strong> sereencontrou com <strong>Natterer</strong> precisamente <strong>no</strong> dia 1° <strong>de</strong>setembro <strong>de</strong> 1821: Schmutzer, 2007) pelo mesmo percurso.Enquanto isso, <strong>Natterer</strong> rumava para o porto <strong>de</strong> Paranaguápara tomar o navio que o levaria ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong>permaneceu por vários meses, <strong>de</strong>pois seguindo a Santos e<strong>no</strong>vamente Ipanema 81 .79 Por equívoco, Straube (1993) adiciona duas espécies alega<strong>da</strong>mente paranaenses,oriun<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ssa locali<strong>da</strong><strong>de</strong>: Schistochlamys ruficapillus e Melanerpes candidus.80 A prova disso está <strong>no</strong> exemplar <strong>de</strong> arara-vermelha (Ara chloropterus) coleta<strong>da</strong> porSochor na Fazen<strong>da</strong> Morungaba (vi<strong>de</strong> adiante). Vários meses <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter essa conclusão,encontrei a excelente tese <strong>de</strong> Schmutzer (2007:98) que, baseado em correspondências e <strong>no</strong>próprio diário <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, confirma o que foi suposto, servindo-se comoelemento <strong>de</strong>finitivo para essa questão <strong>de</strong> itinerário. Segundo este mesmo autor, Sochor –que já havia pensado em retornar à Áustria diversas vezes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que chegara ao Rio <strong>de</strong>Janeiro – encontrava-se muito melancólico, refletindo sobre o prosseguimento <strong>da</strong>expedição. Tudo indica, ain<strong>da</strong>, que <strong>Natterer</strong> não tinha nenhuma amiza<strong>de</strong> – pelo contrário –com seu companheiro <strong>de</strong> viagem e raramente o citava em seus diários, embora oconsi<strong>de</strong>rasse com um excelente caçador e preparador. Em uma <strong>de</strong> suas cartas ao irmãoJoseph escreve: “Schwachkopf Sochor”, ou seja, o creti<strong>no</strong> do Sochor.81 Pelzeln (1871:v) chega a pensar que teria ocorrido um erro <strong>de</strong> rotulagem: “Da <strong>Natterer</strong>am 10. Januar von Paranagua absegelte, 22 Tage in See blieb und am 1. Februar in RioJaneiro anlangte, so dürften die Daten von Ytarare wohl auf einem Schreibfehler beruhen.Es fin<strong>de</strong>n sich auch Zettel mit <strong>de</strong>n Angaben Ypanema 8., 26. 31. Mai, 8., 11., 13., 14., 25.,29. Juni, 19., 21., 31., Juli, 2. August 1821; <strong>da</strong> dieselben aber mit <strong>de</strong>r obigen Reiseroutenicht zusammenstimmen, so könnten sie vielleicht zu Objecten gehören, welche <strong>de</strong>r zuYpanema zurückgebliebene Herr Sochor gesammelt hatte.” (“Des<strong>de</strong> que <strong>Natterer</strong>embarcou em Paranaguá a 10 <strong>de</strong> janeiro, ele permaneceu 22 dias <strong>no</strong> mar chegando,portanto, <strong>no</strong> dia 1° <strong>de</strong> fevereiro <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro; assim os <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> Itararé <strong>de</strong>vem-seprovavelmente a um erro <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tação. Há também <strong>no</strong>tas com informações <strong>de</strong> coleta emIpanema em 8, 26 e 31 <strong>de</strong> maio; 8, 11, 13, 14, 25 e 29 <strong>de</strong> junho; 19, 21, 31 <strong>de</strong> julho e 2 <strong>de</strong>69


Essa pequena discrepância cro<strong>no</strong>lógica (diga-se <strong>de</strong>passagem alerta<strong>da</strong> por Pelzeln, 1871: V, <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé)gerou a dúvi<strong>da</strong> relata<strong>da</strong> por Paynter & Traylor (1991) sobreuma “Fazen<strong>da</strong> Morungaba” que existiria <strong>no</strong> estado do Rio<strong>de</strong> Janeiro e que na<strong>da</strong> mais é do que a coincidência com operíodo em que <strong>Natterer</strong> estava na então se<strong>de</strong> <strong>da</strong> colônia. Amenção a essa fazen<strong>da</strong> Morungaba, portanto inexistente <strong>no</strong>Rio <strong>de</strong> Janeiro, foi sequer trata<strong>da</strong> e tampouco corrigi<strong>da</strong> porVanzolini (1992), o revisor do “Gazetteer” <strong>de</strong> Paynter &Traylor (1979) 82 .Nesse sentido, a presença <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> e Sochor <strong>no</strong><strong>Paraná</strong> é <strong>no</strong>tavelmente diferente quanto à representativi<strong>da</strong><strong>de</strong>geográfica. O primeiro atravessou todo o caminho dostropeiros entre a divisa com São Paulo (rio Itararé) e o porto<strong>de</strong> Paranaguá em 4 meses e duas semanas, em parteacompanhado <strong>de</strong> seu auxiliar. No percurso, apenas po<strong>de</strong>-sedizer que investigou a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente as locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Jaguariaíva (cerca <strong>de</strong> 3 semanas), Curitiba (pouco mais <strong>de</strong> 2meses) (em ambas acompanhado <strong>de</strong> seu auxiliar) eParanaguá (quase 2 meses). Já a Sochor, sozinho, cabemtambém os esforços <strong>de</strong>spendidos na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Castro, bemcomo na fazen<strong>da</strong> Morungaba, tendo <strong>de</strong>dicado cerca <strong>de</strong> umasemana em ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>stes pousos, além <strong>de</strong> incursõesvaria<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s arredores <strong>de</strong> Jaguariaíva e Itararé.agosto <strong>de</strong> 1821; essas não harmonizam com o itinerário acima e o material po<strong>de</strong>ria seratribuído ao restante que havia sido recolhido em Ipanema por Sochor”.).82 Até mesmo Ihering (1902:17), apresentou sua versão, igualmente errônea, para essadiscordância cro<strong>no</strong>lógica: “De 1° <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1821 a 30 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> <strong>de</strong> 1822.Fazendo primeiramente algumas excursões <strong>no</strong> Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, <strong>Natterer</strong> seguiu,passando por Santos, á Murungava, tendo nesse ponto se <strong>de</strong>morado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o dia 23 <strong>de</strong>Março ao dia 4 <strong>de</strong> Abril. Murungava é uma fazen<strong>da</strong> antiga á esquer<strong>da</strong> do rio Itararé,abaixo do actual São Pedro do Itararé”.70


Locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s (grafia original <strong>de</strong> Pelzeln, 1871 e atualização) e <strong>da</strong>tas <strong>de</strong> visita, <strong>no</strong> territórioparanaense, pela Expedição <strong>Natterer</strong> (JN, Johann <strong>Natterer</strong>, DS, Dominik Sochor). Sugeresea consulta à tabela similar apresenta<strong>da</strong> acima, <strong>no</strong> capítulo sobre Saint Hilaire.1820: circa 7 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)fluss YtarareRio Itararé (Sengés)1820: entre 7 e 21 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)Porto do Jaguaraiba 83Travessia do rio Jaguariaíva, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>JaguariaívaJaguaraibaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> JaguariaívaFazen<strong>da</strong> s. Coronel Lucia<strong>no</strong> Fazen<strong>da</strong> do sr. Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiro LoboCarneiro(hoje a “ci<strong>da</strong><strong>de</strong> velha” <strong>de</strong> Jaguariaíva)1820: 22 a 23 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)Cinzas Fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Cinzas (Piraí do Sul) 841820: 23 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)LanzaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Piraí do Sul1820: 24 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)Joaquim CarneiroFazen<strong>da</strong> <strong>de</strong> Joaquim Carneiro Lobo (Jaguariaíva)1820: 27 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)Bocqueirao (Villa <strong>de</strong> Castro) Castro1820: 28 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)TayacoccaItaiacoca (Ponta Grossa)1820: 29 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)Porcos <strong>de</strong> Riva Porcos <strong>de</strong> Cima (Palmeira) 851820: 30 <strong>de</strong> setembro (JN, DS)S. Luiz Distrito <strong>de</strong> São Luiz do Purunã (Balsa Nova)1820: 1° <strong>de</strong> outubro (JN, DS)Campo largoCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Campo Largo1820: 2 <strong>de</strong> outubro (JN, DS)Campo compridoBairro Campo Comprido (Curitiba)1820: <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> outubro a 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro (JN, DS)CurytibaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Curitiba1820: entre 6 e 9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro (JN)Bor<strong>da</strong> do CampoBor<strong>da</strong> do Campo (Quatro Barras)CampinaCampinas (Quatro Barras)Serra <strong>de</strong> Pao <strong>de</strong> la Boavista Morro Pão <strong>de</strong> Ló, serra <strong>da</strong> Boa Vista (QuatroBarras)Morro emen<strong>da</strong>doMorros Emen<strong>da</strong>dos (Quatro Barras)83 Também “Porto do Jaguaraiba (bei Postinho)” (Pelzeln, 1871:97, 230), referindo-se aoposto <strong>de</strong> registro <strong>de</strong> passagem <strong>de</strong> animais; também “Portinho 14. September 1820”(Pelzeln, 1871:97). Vi<strong>de</strong> <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé <strong>da</strong> “fazen<strong>da</strong> Boa Vista” em Saint Hilaire (acima).84 Não confundir com “rio <strong>da</strong>s Cinzas” <strong>de</strong> Saint Hilaire. O <strong>no</strong>me original era “fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong>Cinza” e pertencia a Francisco <strong>de</strong> Melo Rego, morador em Itu (São Paulo). Situava-se asul <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> Jaguariaíva (do coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiro Lobo), entre os rios Capivari e<strong>da</strong>s Cinzas e tendo a serra <strong>da</strong>s Furnas como limite meridional. Em 1825 haviam ali 400cabeças <strong>de</strong> gado.85 É o chamado “Capão dos Porcos”, hoje mais conhecido como “Capão do Cemitério”(25°18‟53,18”S, 49°49‟35,06”W), na Fazen<strong>da</strong> Santa Rita, proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> hoje dividi<strong>da</strong> entreos sucessores <strong>da</strong> família Veiga Lopes (L.E.Veiga Lopes, 2012 in litt.).71


Cume <strong>da</strong> SerraCume <strong>da</strong> Serra do Mar (Quatro Barras)MarumbiPico Marumbi (Morretes)Pe<strong>de</strong>rneiraPe<strong>de</strong>rneiras (Piraquara)Rio pirangaRio Ipiranga (Morretes)AtalhoAtalho (Piraquara)Serra <strong>da</strong> farinhaSerra <strong>da</strong> Farinha Seca (Morretes)Rio YtororoRio Itororó (Piraquara)Rio dos MorretesRio Nhundiaquara (Morretes)1820-1821: 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a 20 <strong>de</strong> janeiro (JN)ParanaguaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ParanaguáRio <strong>da</strong> VillaRio <strong>da</strong> Vila (Paranaguá)Rio do BoraxudoRio do Borrachudo (Guaraqueçaba)Ilha do MelIlha do Mel (Pontal do <strong>Paraná</strong>)Insel GuarecasabaIlha Pavoçá (?) (Guaraqueçaba)1820: 9 a 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro (DS)PitanguiPitangui (Ponta Grossa)1820-1821: 12 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro a 13 <strong>de</strong> janeiro (DS)CastroCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Castro1821: após 13 <strong>de</strong> janeiro (DS)LanzaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Piraí do Sul1821: janeiro e fevereiro (DS)JaguaraibaCi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguariaíva1821: 23 <strong>de</strong> março a 4 <strong>de</strong> abril (DS)Murungaba 86Fazen<strong>da</strong> Morungaba (Sengés)1821: 8 <strong>de</strong> abril (DS)Barra do Rio <strong>de</strong> Jaguaricatu Foz do Rio Jaguaricatu (Sengés)Ao retornar do Brasil para Viena em 15 <strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 1835 (chegando em 13 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1836), <strong>Natterer</strong> dooutodo o seu material ao gabinete <strong>de</strong> história natural (K. k.Naturaliencabinet), enti<strong>da</strong><strong>de</strong> que o acolheu por tantos a<strong>no</strong>s eque, posteriormente (1889), transformou-se <strong>no</strong> atualNaturhistorisches Museum, uma <strong>da</strong>s mais conceitua<strong>da</strong>sinstituições <strong>de</strong> pesquisa <strong>da</strong> Europa.Mas a transferência <strong>de</strong>sses espécimes ao museuimperial não foi tão simples assim. Gran<strong>de</strong> parte do acervoinicial obtido pela expedição austríaca seguiu para Viena emjunho <strong>de</strong> 1818, nas mesmas fragatas que trouxeram o grupo,sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Mikan. Nesse material, além dos86 É provável que a indicação <strong>da</strong> presença <strong>de</strong> Sochor nessa locali<strong>da</strong><strong>de</strong> em “28. Mai”(Pelzeln, 1871: Itinerarium, p. VI) seja erro. Consta que ele já havia chegado a Itararé em15 <strong>de</strong> abril e, em 30 <strong>de</strong> abril, encontrava-se em Escaramuça, perto <strong>de</strong> Itapeva (São Paulo).72


espécimes, estavam duas onças-pinta<strong>da</strong>s vivas e diversospresentes enviados pela imperatriz Leopoldina: “um micoleão,papagaios e outras aves, um urubu-rei [...] que viveuaté 1835 <strong>no</strong> zoológico do palácio <strong>de</strong> Hofburg e mais tar<strong>de</strong>até 1848, em Schönbrunn” (Riedl-Dorn, 1999).Aos poucos, conforme eram recebi<strong>da</strong>s e embala<strong>da</strong>s,as amostras <strong>de</strong> exemplares brasileiros iam seguindo para aÁustria sob os cui<strong>da</strong>dos atentos <strong>de</strong> Schott que, para cumpriresse encargo, já havia transferido suas atribuições <strong>de</strong>botânico a Pohl.O material que chegava era tanto que Schreibersforçou-se a ce<strong>de</strong>r salas <strong>de</strong> sua residência para armazená-lo,ao me<strong>no</strong>s temporariamente. Porém, ao ser comunicado quechegariam ain<strong>da</strong> mais 29 caixas, ameaçou <strong>de</strong>ixá-las naalfân<strong>de</strong>ga, caso não fosse provi<strong>de</strong>nciado um lugar a<strong>de</strong>quadopara elas (Riedl-Dorn, 1999).Aparentemente, Schreibers pretendia confinar osespécimes em uma coleção à parte, talvez para resguar<strong>da</strong>rseu uso aos respectivos pesquisadores que os obtiveram,preservando a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta. Ele chegou a proporao imperador que fosse usado o jardim imperial, sugestãologo rechaça<strong>da</strong> pelo monarca que pretendia, ao fim <strong>da</strong>expedição, ter em seu gabinete <strong>de</strong> história natural “todo omaterial obtido – minerais, vegetais e animais” (Riedl-Dorn, 1999).A saí<strong>da</strong> honrosa foi <strong>de</strong>stinar, provisoriamente, oacervo em um prédio alugado pela coroa. Foi escolhido oimóvel <strong>de</strong> treze salas, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósitos e laboratóriosimprovisados, pertencente à família Harrach, <strong>no</strong> bairrovienense <strong>de</strong> Johannesgasse. Esse lugar passou a serconhecido como Brasilianischen Museums, ou “MuseuBrasileiro” 87 .87 Há informações interessantes sobre o Museu Brasileiro <strong>no</strong> periódico Isis (von Oken) <strong>de</strong>1833 (Heft IV:305-310).73


Biblioteca imperial em Josephsplatz retrata<strong>da</strong> por Balthasar Wigand em 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong>1835, quase um a<strong>no</strong> antes <strong>de</strong> abrigar a coleção brasileira (Fonte: Wikipedia).Para a ocasião foi forma<strong>da</strong> uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira forçatarefapara <strong>da</strong>r continui<strong>da</strong><strong>de</strong> aos trabalhos <strong>de</strong> conservação,rotulagem e organização que tinham se iniciado com orecebimento dos primeiros lotes <strong>de</strong> exemplares. A se<strong>de</strong> foiaberta ao público e contava com a diligente atenção <strong>de</strong> Pohl,que ali passou a residir enquanto os trabalhos seguiam diaapós dia. Segundo Riedl-Dorn (1999:42), “o acervo domuseu crescia consi<strong>de</strong>ravelmente e, em 1835, já era <strong>no</strong>vevezes maior do que seu tamanho original. A razão <strong>de</strong>ste<strong>de</strong>senvolvimento foi o envio constante <strong>de</strong> material do Brasilpor <strong>Natterer</strong> e Sochor”.Logo após o falecimento <strong>de</strong> Franz I, Metternich<strong>de</strong>cidiu pela construção <strong>de</strong> um prédio especial para o museu,passando agora a incorporar o material do Brasil ao acervogeral. Sua i<strong>de</strong>ia era a construção <strong>de</strong> uma edificaçãocondizente com as ricas coleções brasileiras que, na época,representavam quase dois terços <strong>de</strong> todo o museu. Só que74


sua força política e os recursos disponíveis não foramsuficientes. O Museu Brasileiro foi fechado em 5 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 1836, portanto, pouco mais <strong>de</strong> dois meses antes doretor<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> a Viena.Mapa <strong>da</strong>s viagens <strong>de</strong> Pohl e <strong>Natterer</strong> ao Brasil (“Karte von Brasilien worauf die Reisen <strong>de</strong>rk.k. österreich Näturforscher D r . Pohl u. Johann <strong>Natterer</strong> angereishnel sind”) (Fonte: Isis1833:prancha 14).75


De volta ao seu país, <strong>Natterer</strong> ficara profun<strong>da</strong>mentepreocupado com o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> do material colecionado. Afinal,a coleção sofrera, logo <strong>de</strong>pois, diversos <strong>de</strong>smembramentos etransferências para lugares diversos, inclusive um galpão naJosephsplatz.Finalmente, em 1838, o acervo acabou <strong>de</strong>stinado aum e<strong>no</strong>rme espaço <strong>no</strong> palácio <strong>de</strong> Hofburg 88 , <strong>de</strong><strong>no</strong>minado“Mosaikensaal” e <strong>Natterer</strong> alcançou o cargo <strong>de</strong>superinten<strong>de</strong>nte-adjunto do gabinete <strong>de</strong> história natural,<strong>no</strong>vamente subordinado a seu irmão Joseph.Sob <strong>no</strong>va e re<strong>no</strong>va<strong>da</strong> condição, ele <strong>de</strong>monstravafirme propósito <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>r os espécimes obtidos na suaviagem, com especial interesse pelas aves, sobre as quaisempenhou-se ativamente para produzir uma mo<strong>no</strong>grafia.Entre 1838 e 1843, manteve contato com várias instituiçõescientíficas contemporâneas, <strong>da</strong> Alemanha, Dinamarca,Finlândia, Dinamarca, Suécia, Rússia, França, Grã-Bretanhae Holan<strong>da</strong>, tendo-as inclusive visitado pessoalmente paraexaminar exemplares lá <strong>de</strong>positados 89 . Seus principaiscorrespon<strong>de</strong>ntes, com quem permutava espécimes eintercambiava publicações eram John Gould (1804-1881),<strong>da</strong> Zoological Society <strong>de</strong> Londres 90 , Johann Friedrich von88 Hofburg é um palácio que serviu <strong>de</strong> se<strong>de</strong> <strong>de</strong> gover<strong>no</strong> e residência <strong>de</strong> monarcas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oSéculo XIII; ali se encontra a biblioteca imperial construí<strong>da</strong> em 1735. Muitos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois(1793) foi ali que Franz I mandou construir estufas para o cultivo <strong>de</strong> plantas e para manterpeque<strong>no</strong>s animais (Riedl-Dorn, 1999). A área total é <strong>de</strong> 20 hectares, on<strong>de</strong> encontram-se2.600 salas, <strong>de</strong>ntre elas a que abriga o gabinete do presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Áustria.89 Mesmo enquanto viajava, <strong>Natterer</strong> já era conhecido e respeitado como estudioso <strong>no</strong>scírculos científicos europeus. Em 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1822, por exemplo, foi diplomado comodoutor ho<strong>no</strong>ris causa (in absentia) <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>lberg (Neu<strong>de</strong>nberg, 1855). Otítulo foi recusado pelo seu pai que não julgava correto recebê-lo estando ausente emviagem (Schmutzer, 2007).90 Artista <strong>de</strong> primeira linha, Gould ficou muito conhecido <strong>no</strong> Brasil pela sua obra sobre osbeija-flores e tuca<strong>no</strong>s, mas foi um dos primeiros colaboradores <strong>de</strong> Charles Darwin, quando<strong>de</strong> seu regresso <strong>da</strong> viagem do Beagle. Não à toa, cabe a ele o reconhecimento pioneiro <strong>da</strong>s76


Brandt (1802-1879), então diretor do museu <strong>de</strong> SãoPetersburgo (Rússia) e Johann Horkel (1769-1849),botânico e fisiologista alemão.Em carta envia<strong>da</strong> ao seu irmão, expressou-se sobreseus pla<strong>no</strong>s: “Que mistério não haverá na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>cerca <strong>de</strong> mil pássaros, bem com <strong>no</strong>s tantos sinônimosenvolvidos, o mesmo acontecendo com mamíferos, anfíbiose peixes?” (Schmutzer, 2007).Mas seu projeto pessoal acabou interrompido. Em 17<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1843, após várias hemorragias bucais e já com asaú<strong>de</strong> severamente <strong>de</strong>bilita<strong>da</strong> pelas várias doençascontraí<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Brasil, faleceu em Viena, sendo sepultado <strong>no</strong>cemitério <strong>de</strong> São Marcos (Sankt Marx Friedhof) 91 .Alguns a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> seu falecimento, ocorreu umepisódio trágico. Iniciavam-se as revoluções <strong>de</strong> 1848 naEuropa, uma reação contra o absolutismo e em prol doestabelecimento <strong>de</strong> gover<strong>no</strong>s <strong>de</strong>mocráticos 92 . Aí,<strong>no</strong>vamente, o lugar escolhido para abrigar as coleções teveimportância para <strong>de</strong>finir seu <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>: estava agora muitopróximo <strong>da</strong> se<strong>de</strong> física do po<strong>de</strong>r o que, em tempos <strong>de</strong> revoltapopular, significava um risco iminente à sua integri<strong>da</strong><strong>de</strong>.E a tragédia anuncia<strong>da</strong> acabou se tornando reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Segundo Riedl-Dorn (1999:65) 93 , em 31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>1848, ―...um projétil incendiário do exército imperialatingiu o telhado vizinho, que se incendiou. Imediatamenteespécies <strong>de</strong> tentilhões, os mais célebres exemplos <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Seleção Natural, lembradosem todos os livros sobre o assunto.91 Nesse mesmo estabelecimento, <strong>de</strong>sativado como tal <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1874 e transformado emparque <strong>de</strong> visitação pública, encontra-se também sepultado Wolfgang Ama<strong>de</strong>us Mozart(1756-1791).92 Essa mesma situação é que foi responsável pela emigração <strong>de</strong> Fritz Müller para o Brasil(Santa Catarina), on<strong>de</strong> se estabeleceu contribuindo, inclusive, como se sabe, com a Teoria<strong>da</strong> Seleção Natural <strong>de</strong> Charles Darwin.93 Essa mesma autora <strong>de</strong>screve esse incêndio com vívidos <strong>de</strong>talhes, inclusive com atranscrição <strong>da</strong> comunicação oficial, redigi<strong>da</strong> por Joseph <strong>Natterer</strong> e <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong><strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1848.77


o fogo atingiu o telhado do Gabinete dos animais e abiblioteca <strong>da</strong> corte”.O trágico episódio causou a <strong>de</strong>struição, além <strong>de</strong> umainfini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> outros materiais, <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte dosmanuscritos <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, bem como <strong>de</strong> parte <strong>da</strong>s coleçõeszoológicas (Pinto, 1979; Sick, 1997). As lamentáveisconsequências <strong>de</strong>ste sinistro foram a per<strong>da</strong> irreparável <strong>de</strong>um dos maiores e mais importantes bancos <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos sobreaves do neotrópico, <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente brasileiras 94 .Incêndio na Biblioteca Imperial em Viena (31 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1848), que <strong>de</strong>struiu parte <strong>da</strong>coleção obti<strong>da</strong> por <strong>Natterer</strong> e maior parte dos manuscritos cuja publicação se <strong>de</strong>dicoudurante vários a<strong>no</strong>s. (Fonte: homepage do Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Viena:http://www.nhm-wien.ac.at)A coleção <strong>de</strong> exemplares <strong>de</strong> aves obti<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil,contudo, acabou sendo salva e se encontra atualmente ain<strong>da</strong>94 Segundo Schmutzer (2007), <strong>no</strong> entanto, a maior parte <strong>de</strong>sses documentos não chegaramsequer a serem incorporados ao acervo <strong>de</strong> Viena e <strong>no</strong>vas incursões por arquivos europeustêm mostrado que gran<strong>de</strong> parte ain<strong>da</strong> subsiste em arquivos regionais ou nas mãos <strong>de</strong>particulares. O que efetivamente se queimou não foram seus diários <strong>de</strong> viagem, mas, ummanuscrito que estava preparando para publicar, sobre as aves do Brasil.78


intacta, sob a guar<strong>da</strong> do agora mo<strong>de</strong>r<strong>no</strong> NaturhistorischesMuseum <strong>de</strong> Viena.Antes do incêndio <strong>de</strong> Hofburg, os manuscritos <strong>de</strong><strong>Natterer</strong> já haviam sido, ao me<strong>no</strong>s em parte, utilizados comofontes primárias para <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> vários <strong>de</strong> táxons tidoscomo <strong>no</strong>vos 95 .Deles – e obviamente também dos espécimes –fizeram uso, por exemplo, Coenraad J. Temminck(Temminck, 1822, 1823, 1824), além <strong>de</strong> John Gould, AlfredMalherbe (com Joseph <strong>Natterer</strong>), Heinrich Gottlieb LudwigReichenbach, Friedrich Hermann, Otto Finsch, HermannSchlegel, Philip Lutley Sclater e o próprio Schreibers(Teixeira & Papávero, 1999).Um dos exemplos paranaenses mais <strong>no</strong>táveis alu<strong>de</strong>ao caneleirinho-<strong>de</strong>-chapéu-preto (Piprites pileata), espécieraríssima e <strong>da</strong> qual <strong>Natterer</strong> conseguiu vários espécimes emCuritiba. O peque<strong>no</strong> pássaro foi <strong>de</strong>scrito por Temminck em1822, <strong>no</strong> volume 29 <strong>de</strong> sua obra “Nouveau recueil <strong>de</strong>planches coloriées d'oiseaux” on<strong>de</strong> há, inclusive, umaprancha ilustrativa.Muitas espécies, talvez por <strong>de</strong>sconhecimentogeográfico dos respectivos <strong>de</strong>scritores, não foramconsigna<strong>da</strong>s como tendo material-tipo do <strong>Paraná</strong>, embora osespécies fossem certa ou possivelmente oriundos <strong>de</strong>sseestado. Algumas <strong>de</strong>las tiveram sua locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo<strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s posteriormente, pelo empenho <strong>de</strong> estudiososcomo Charles E.Hellmayr e Olivério M. <strong>de</strong> O. Pinto emma<strong>no</strong>bra que se assemelha à adota<strong>da</strong> para o materialcoletado por Saint Hilaire.95 Goeldi (1896) estima em 205 espécies <strong>de</strong> aves, até então <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s, valorobviamente <strong>de</strong>satualizado.79


Série <strong>de</strong> exemplares-tipo (NMW-15002, 1500a, 15003, 15001) <strong>de</strong> Piprites pileatacoletados por Johann <strong>Natterer</strong> em Curitiba (1820) e <strong>de</strong>positados <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> Viena(Foto: Marcos Raposo, 2007).80


A Prancha 172 <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Temminck & Chartrouse (1838), mostrando o raro caneleirinho<strong>de</strong>-boné-preto(Piprites pileata), <strong>no</strong> canto inferior esquerdo “1. Manakin chaperonné”(Piprites pileata).81


É o caso, por exemplo, do taperuçu-preto(Cypseloi<strong>de</strong>s fumigatus), cuja indicações toponímicasoriginais baseiam-se em enga<strong>no</strong> <strong>de</strong> seu autor August V.Streubel, conforme corrige Zimmer (1945:587):“There is some confusion with respect tothe type locality of fumigatus which was<strong>de</strong>scribed by Streubel (Isis 5: col.366;1848) from ‗Paraguay‘ (ex <strong>Natterer</strong>) and‗Bresilien‘ (ex Müller), with the namecredit to <strong>Natterer</strong>'s manuscript <strong>de</strong>signatio<strong>no</strong>f a bird presented to the Berlin Museum.There is <strong>no</strong> authentic record of the speciesfrom Paraguay and <strong>Natterer</strong> obtained<strong>no</strong>ne in that country. Burmeister (SystUebers. Thiere Brasiliens , 2:367, 1856)cites <strong>Natterer</strong>'s bird in the Berlin Museumas from ‗Para‘ which is equally puzzling.In the report of <strong>Natterer</strong>‘s collection,Pelzeln (Orn.Bras.: 16, 1868) gives threelocalities for fumigatus of which two are inthe state of São Paulo, and one in <strong>Paraná</strong>(Curytiba), and it seems rather clear thatStreubel's ‗Paraguay‘ and Burmeister‘s‗Para‘ should be interpreted as <strong>Paraná</strong>.Accordingly, I propose the restriction ofthe type locality of Hemiprocne fumigataStreubel to Curytiba, <strong>Paraná</strong>, Brazil‘.“Há uma certa confusão a respeito <strong>da</strong>locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo <strong>de</strong> [Cypseloi<strong>de</strong>s]fumigatus, menciona<strong>da</strong> por Streubel (Isis5: col.336; 1848) como „Paraguay‟ (ex<strong>Natterer</strong>) e „Brasilien‟ (ex Müller), cujo<strong>no</strong>me é creditado à <strong>de</strong>signação ofereci<strong>da</strong>pelo manuscrito <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> a partir <strong>de</strong> umexemplar mantido <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> Berlim.Não há nenhum registro autêntico <strong>da</strong>espécie para o Paraguai e <strong>Natterer</strong> na<strong>da</strong>coletou nesse País. Burmeister (Syst.Uebers.Thiere Brasiliens, 2:367, 1856)cita o espécime <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong>Berlim como oriundo do „Para‟, algoigualmente confuso. Na revisão <strong>da</strong> coleção<strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, Pelzeln (Orn.Bras. 16, 1868)informa sobre quatro locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s para [C.]fumigatus, <strong>da</strong>s quais duas estão em SãoPaulo e uma <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> („Curytiba‟) e,assim, parece claro que o „Paraguay‟ <strong>de</strong>Streubel e o „Para‟ <strong>de</strong> Burmeister <strong>de</strong>vemser interpretados como <strong>Paraná</strong>. De acordocom esse raciocínio, proponho a restrição<strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo <strong>de</strong> Hemiprocnefumigata Streubel para Curitiba, <strong>Paraná</strong>,Brasil”.82


Exemplar-tipo do taperuçu-preto (Cypseloi<strong>de</strong>s fumigatus) coletado por J.<strong>Natterer</strong> emCuritiba em 1820 e <strong>de</strong>positado <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Lei<strong>de</strong>n (Holan<strong>da</strong>). Aespécie foi <strong>de</strong>scrita por August V.Streubel (Foto: Marcos Raposo, <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007).Além <strong>de</strong>sse exemplo, po<strong>de</strong>m ser citados, entreoutros, Dysithamnus mentalis (=Myiothera mentalis <strong>de</strong>Temminck, 1823), Camptostoma obsoletum (= Muscicapaobsoleta <strong>de</strong> Temminck, 1824) e Phyllomyias virescens (=Muscicapa virescens <strong>de</strong> Temminck, 1824), originalmentebaseados em exemplares oriundos do “Brésil” mas que, apósreexaminados por Hellmayr (1924:114; 1927:454,461),provaram ser proce<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> “Curytiba, Parana”.83


A Prancha 179 <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Temminck & Chartrouse (1838, vol.2), mostrando o <strong>de</strong>senho <strong>da</strong>choquinha-lisa (Dysithamnus mentalis) ou “Fourmillier tachet” (macho acima, n° 1; fêmea<strong>no</strong> centro, n° 3), traçado com base em material coletado por <strong>Natterer</strong> em Curitiba.84


A Prancha 275 <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Temminck & Chartrouse (1838, vol.3), mostrando o <strong>de</strong>senho dopiolhinho-verdoso (Phyllomyias virescens) ou “Gobe-moucheron verdin” (abaixo, n°3).Note-se a posição proposita<strong>da</strong>mente apresenta<strong>da</strong> para uma comparação com a espéciesimilar, Phylloscartes ventralis (“Gobe-moucheron ventru”, centro, n°2). O pássaro queaparece <strong>no</strong> canto superior esquerdo (“Gobe-moucheron passe gris”) alu<strong>de</strong> ao risadinha(Camptostoma obsoletum). To<strong>da</strong>s essas aves foram traça<strong>da</strong>s com base em materialcoletado por <strong>Natterer</strong>, sendo os números 1 e 3 originários <strong>de</strong> Curitiba.85


Em situação pouco diferente po<strong>de</strong>-se mencionarStepha<strong>no</strong>phorus dia<strong>de</strong>matus (= Tanagra dia<strong>de</strong>mata <strong>de</strong>Temminck, 1823) que, segundo Mikan (1825) 96 , baseia sua<strong>de</strong>scrição em espécimes provenientes <strong>de</strong> “Lança, Curitiba,St. Luiz et aliis locis capitaniae St. Paulo” (Hellmayr,1936:181).A Prancha 243 <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Temminck & Chartrouse (1838, vol.3), mostrando o <strong>de</strong>senho dosanhaço-fra<strong>de</strong> (Stepha<strong>no</strong>phorus dia<strong>de</strong>matus) (“Tangara diadême”), esboçado com base emmaterial coletado <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> por Johann <strong>Natterer</strong>.96 Não tivemos acesso a essa obra raríssima, emprestando aqui as palavras sempreconfiáveis <strong>de</strong> Hellmayr.86


Nenhum <strong>de</strong>sses pesquisadores, porém, prestou umacontribuição à altura do naturalista, cabendo isso aocompatriota August von Pelzeln (1825-1891), por meio <strong>da</strong><strong>de</strong>talha<strong>da</strong> revisão <strong>de</strong> praticamente to<strong>da</strong> a coleção <strong>de</strong> aves,apresenta<strong>da</strong> <strong>no</strong> livro “Zur Ornithologie brasiliens‖. Essaobra, publica<strong>da</strong> em quatro partes (Pelzeln, 1868a,b;1870a,b) ou compila<strong>da</strong> (Pelzeln, 1871), é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>fun<strong>da</strong>mental à <strong>ornitologia</strong> brasileira (como o é para aparanaense) pois consiste do mais importante alicerce paratodos os estudos sobre a composição e classificação <strong>da</strong>avifauna do país que foram posteriormente publicados.Auguste von Pelzeln, o gran<strong>de</strong> revisor do material coletado por <strong>Natterer</strong> e frontispício <strong>da</strong>obra <strong>de</strong> sua autoria (Fonte: Wikipedia).87


direciona<strong>da</strong>s ao gran<strong>de</strong> explorador acabaram invali<strong>da</strong><strong>da</strong>s porquestões <strong>no</strong>menclaturais 99 .Exemplar-tipo (NMW-20010) do grimpeirinho (Leptasthenura striolata) coletado por J.<strong>Natterer</strong> em Curitiba e <strong>de</strong>scrito em Pelzeln (1856a) (Foto: M.A.Raposo, 2007).Pelzeln usara o material após cerca <strong>de</strong> 20 a<strong>no</strong>s<strong>de</strong>pois do falecimento <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>. No entanto, outrosautores como Coenraad J. Temminck o fizeram quando onaturalista ain<strong>da</strong> estava em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta. SegundoSchmutzer (2007), <strong>Natterer</strong>, em viagem pelo Brasil,reclamava <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> material bibliográfico para prepararseus relatórios <strong>de</strong> viagem. Ele levava apenas a obra <strong>de</strong>Gmelin, mas sentia falta <strong>de</strong> outras obras que pu<strong>de</strong>ssemfacilitar seus estudos, mencionando claramente: Latham,Azara e Bechstein, bem como as “Planches Enlumiées” <strong>de</strong>Buffon (<strong>no</strong> caso, contendo as aves recém-<strong>de</strong>scritas ali porTemminck e coleta<strong>da</strong>s pelo próprio <strong>Natterer</strong>!).99 Essa <strong>de</strong>cisão é curiosamente diferente <strong>no</strong> caso do peixe-boi Trichechus inunguis(<strong>Natterer</strong> in Pelzeln, 1883) (Melville, 1985).89


Seu interesse, tal como expresso nas cartas troca<strong>da</strong>scom seu irmão Joseph, era reconhecer espécies quepo<strong>de</strong>riam ser <strong>no</strong>vas para a ciência e, com isso, obter maisexemplares para a fun<strong>da</strong>mentação, bem como a a<strong>no</strong>taçãomais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>de</strong> suas características ecológicas,comportamentais e, enfim, biológicas em geral 100 .Atualmente, a ele é atribuí<strong>da</strong> a autoria <strong>de</strong> uma únicaespécie 101 váli<strong>da</strong> <strong>da</strong> avifauna brasileira, o saripoca-<strong>de</strong>-gould(Seleni<strong>de</strong>ra gouldii) ([<strong>Natterer</strong>], 1837), cuja <strong>de</strong>scrição sebaseia <strong>no</strong> resumo <strong>da</strong> ata <strong>de</strong> uma sessão <strong>da</strong> ZoologicalSociety <strong>de</strong> Londres, presidi<strong>da</strong> por John Barlow em 11 <strong>de</strong>abril <strong>de</strong> 1837. Na reunião foi li<strong>da</strong> uma carta envia<strong>da</strong> por<strong>Natterer</strong> a John Gould, a qual continha além <strong>da</strong> <strong>de</strong>scriçãolatina, a sugestão para o <strong>no</strong>me gouldii, em homenagem aoseu amigo inglês. O conteúdo <strong>de</strong>ssa apresentação foipublicado <strong>no</strong>s “Proceedings” <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> (volume 52, parte2, p. 44) e, por esse motivo, a autoria é consigna<strong>da</strong> aonaturalista austríaco.100 Segundo Montez (2010), ain<strong>da</strong> há um gran<strong>de</strong> montante <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>s sobre os reaisinteresses <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, durante suas viagens, sendo forçosa uma avaliação interdisciplinarque leve em conta não somente as informações históricas, mas, um conjunto <strong>de</strong> fatoresligados às ciências humanas (et<strong>no</strong>-história, linguística e história <strong>da</strong>s ciências). Esse autorconfronta, por exemplo, a correspondência por ele manti<strong>da</strong> <strong>no</strong> âmbito íntimo (com seuirmão Joseph) com o oficial (com Schreibers), as quais – ao seu modo – narram estadosdiferentes <strong>de</strong> conversação. Nesse sentido, Montez tem se <strong>de</strong>dicado à análise e interpretação<strong>de</strong> amplo material documental, ain<strong>da</strong> inédito e não há nenhuma dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que muitos <strong>de</strong>seus resultados possam ser <strong>no</strong>tavelmente aproveitados para o campo <strong>da</strong>s ciências naturais.Todo o contexto vivenciado mais uma vez se mostra valioso para a eluci<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhesque costumam fugir <strong>da</strong>s obras mais gerais, biográficas e compilatórias.101 Um alerta aqui é necessário. As espécies Piculus leucolaemus e Celeus grammicus têmsua autoria explicitamente atribuí<strong>da</strong> a seu irmão Joseph, em coautoria com Malherbe(Malherbe, 1845: originalmente “Jos.<strong>Natterer</strong> & Malherbe”).90


Saripoca-<strong>de</strong>-gould (Seleni<strong>de</strong>ra gouldii), a única espécie váli<strong>da</strong> <strong>de</strong> ave brasileira cujaautoria é oficialmente consigna<strong>da</strong> a Johann <strong>Natterer</strong> (Foto: Ciro Alba<strong>no</strong>).Ele publicou também dois artigos em outros campos<strong>da</strong> Zoologia, um sobre o peixe pulmonado pirambóia(Lepidosiren paradoxa) (<strong>Natterer</strong>, 1840a) e, outro, umacui<strong>da</strong>dosa revisão sobre os jacarés do Brasil (<strong>Natterer</strong>,1840b) 102 .Além <strong>de</strong> se tratar <strong>de</strong> um legado pioneiro contendoespetaculares informações sobre a avifauna brasileira,parece até óbvio se observar que, <strong>de</strong>ntre o material colhidopor <strong>Natterer</strong> e Sochor, haviam espécies <strong>de</strong> bio<strong>no</strong>mia atéentão totalmente ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, assim como muitas que eramain<strong>da</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s para a ciência.102 Ambas as referências aparecem erroneamente menciona<strong>da</strong>s em Vanzolini (1996 e, porextensão, em Straube, 2000). Tor<strong>no</strong>u-se um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro <strong>de</strong>safio corrigi-las por causa <strong>de</strong>sse<strong>de</strong>talhe.91


Desenho original <strong>de</strong> Johann <strong>Natterer</strong>, publicado em sua obra sobre o peixe-pulmonadopirambóia (Lepidosiren paradoxa) (Fonte: <strong>Natterer</strong>, 1840a).O cômputo <strong>de</strong> documentação para o <strong>Paraná</strong>, porexemplo, foi estimado em pelo me<strong>no</strong>s 156 espécies, o queconstitui o primeiro gran<strong>de</strong> resultado para o conhecimento<strong>da</strong> avifauna estadual (Straube, 1993, 2005). Com locali<strong>da</strong><strong>de</strong>tipoparanaense, seja por <strong>de</strong>terminação original, seja porindicação posterior (mas também basea<strong>da</strong> em informações<strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>), po<strong>de</strong>-se citar treze táxons, assim como váriosatualmente consi<strong>de</strong>rados sinônimos-júniores.Algo <strong>no</strong>tável é que as então emergentes ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>Curitiba, Castro e Jaguariaíva tenham sido gran<strong>de</strong>smananciais <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas espécies e, <strong>de</strong>ssa forma, constituem-seem pontos-chave para aves não <strong>de</strong>scritas na época. Seconsi<strong>de</strong>rarmos os táxons representativos <strong>da</strong> regiãobiogeográfica <strong>da</strong> Mata <strong>de</strong> Araucária cita<strong>da</strong>s por Straube &DiGiácomo (2007), concluimos que diversos <strong>de</strong>les foram<strong>de</strong>scobertos apenas como resultado <strong>da</strong> expedição ao <strong>Paraná</strong>:Cypseloi<strong>de</strong>s fumigatus, Stepha<strong>no</strong>xis lalandi loddigesi,Tham<strong>no</strong>philus caerulescens gilvigaster, Dysithamnusmentalis, Cranioleuca obsoleta, Leptasthenura striolata,Cliba<strong>no</strong>rnis <strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s, Phyllomyias virescens,92


Elaenia parvirostris, Attila phoenicurus, Piprites pileata,Sicalis citrina e Stepha<strong>no</strong>phorus dia<strong>de</strong>matus.Isso aconteceu porque teria sido por intermédio <strong>de</strong><strong>Natterer</strong> que finalmente as aves <strong>da</strong> mata <strong>de</strong> araucária doPlanalto Meridional pu<strong>de</strong>ram ser coleciona<strong>da</strong>s epesquisa<strong>da</strong>s. Cabe lembrar que to<strong>da</strong>s as outras expediçõessemelhantes leva<strong>da</strong>s a efeito contemporaneamente atingiamo interior <strong>de</strong> São Paulo (em especial a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>“Ypanema”) como limite suli<strong>no</strong>, sendo raros os exploradoresque se aventuraram mais para o sul ou mesmo oeste, aexemplo <strong>de</strong> Saint Hilaire e Sellow <strong>de</strong> cujo material, aliás,pouco se aproveita positivamente para a <strong>ornitologia</strong>paranaense.“Champsa fissipes”, sinônimo-júnior <strong>de</strong> Caiman latirostris (jacaré-<strong>de</strong>-papo-amarelo),<strong>de</strong>senhado por Johann <strong>Natterer</strong> (Fonte: <strong>Natterer</strong>, 1840b).93


Informações sobre ocorrências <strong>de</strong> várias espéciesforam, em muitos casos, também importantes, <strong>de</strong>stacando-seaves incomuns <strong>no</strong> Brasil, como Eleothreptus a<strong>no</strong>malus,Culicivora cau<strong>da</strong>cuta, Orchesticus abeillei e Amazonabrasiliensis ou ti<strong>da</strong>s como pouco conheci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> âmbitoestadual e regiões limítrofes, como Nothura mi<strong>no</strong>r,Taoniscus nanus, Aburria jacutinga, Ara chloropterus,Pteroglossus aracari, Alectrurus tricolor, Phibaluraflavirostris, Anthus corren<strong>de</strong>ra, Schistochlamys ruficapillus,Sporophila plumbea, Sporophila hypoxantha e Gallinagoundulata (Pelzeln, 1871; Straube, 1993).Exemplar (NMW-47444) do socó-boi (Tigrisoma lineatum) coletado por Johann <strong>Natterer</strong>em Curitiba (20 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820) e guar<strong>da</strong>do na reserva técnica do Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong>Natural <strong>de</strong> Viena; à direita, <strong>de</strong>talhe do rótulo original <strong>de</strong>ste exemplar contendo aprocedência: “Curytiba, Brasilien” (Foto: Marcos Raposo, <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 2007).94


Muitas aves coleciona<strong>da</strong>s pela expedição <strong>Natterer</strong> naregião divisória <strong>de</strong> Itararé (São Paulo) servem também <strong>de</strong>subsídio importante como elementos que provavelmenteocorriam naquela época <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>. Pelo me<strong>no</strong>s duas <strong>de</strong>lasnunca foram encontra<strong>da</strong>s neste estado (p.ex. Nothura mi<strong>no</strong>re Geositta poeciloptera) e, outras, são muito raras ourestritas a alguns tipos <strong>de</strong> ambientes particulares (p.ex. Rheaamericana, Taoniscus nanus, Gallinago undulata, Larusmaculipennis, Eleothreptus a<strong>no</strong>malus, Pteroglossus aracari,Cypsnagra hirundinacea e Sporophila plumbea).Um caso especial é a presença do raríssimo patomergulhão(Mergus octosetaceus): “Ytarare März, auf <strong>de</strong>mFlusse Ytarare ein Paar (sie tauchten unter) August...”(“Itararé em março, <strong>no</strong> rio Itararé um casal (comoaparentava ser) em agosto...”) (Pelzeln, 1871:322),informação esta que – pela peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica – <strong>de</strong>veser também consigna<strong>da</strong> ao estado do <strong>Paraná</strong>.Destaque também merecem suas a<strong>no</strong>tações sobreTaoniscus nanus obtido em Jaguariaíva (Pelzeln, 1871:295-296):“Fazen<strong>da</strong> do s.Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiroauf steppen, wur<strong>de</strong> mit <strong>de</strong>r Hand gefangen,<strong>da</strong> sie nicht auffliegen wollten, JaguaraibaSeptember [...]. Zunge sehr klein, mehrbreit als lang, dreieckig, stumpf. Im Magenund Kröpfe Samen (Faz.Carneiro). [Nota2)<strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé]: Zwei junge Männchen(Ytarare Januar und März) unterschei<strong>de</strong>nsich abgesehen von <strong>de</strong>r geringeren Grössenicht wesentlich vom alten Weibchen, nurist die Brust ohne Rostgelb Ein Weibchen(Ytarare Februar) ist etwas grösser und an<strong>de</strong>r Brust stark rostfarb gefärbt.”“Fazen<strong>da</strong> do sr. Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiroem campo, captura<strong>da</strong> com a mão por nãoquerer voar, Jaguariaíva, setembro [<strong>de</strong>1820]. Língua muito pequena, mais largado que longa, triangular, sem recortes. Noestômago, sementes <strong>de</strong> cultivos”. [<strong>no</strong>ta <strong>de</strong>2)ro<strong>da</strong>pé] Dois machos jovens ([<strong>de</strong>]Itararé, janeiro e março [<strong>de</strong> 1820]) não são<strong>no</strong>tavelmente diferentes <strong>da</strong>s fêmeasadultas, exceto por ser, uma <strong>de</strong>ssas ([<strong>de</strong>]Itararé, fevereiro [<strong>de</strong> 1820]), maior eapresentando uma mancha amarelaferrugi<strong>no</strong>sa <strong>no</strong> peito, o qual – naqueles – éfortemente manchado <strong>de</strong> ferrugem”.95


Exemplar <strong>de</strong> Taoniscus nanus (NHMW-37938) coletado por Johann <strong>Natterer</strong> emJaguariaíva (<strong>Paraná</strong>) em 15 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820 (Fotos: Ernst Bauernfeind).<strong>Natterer</strong>, além do esforço e <strong>de</strong>dicação paradocumentar to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> que estivessem ao seualcance, <strong>de</strong>stacou-se também pela quali<strong>da</strong><strong>de</strong> comoobservador. Desta forma, a importância <strong>da</strong>s peles obti<strong>da</strong>saumenta quando associa<strong>da</strong>s às a<strong>no</strong>tações dos diários <strong>de</strong>campo sobre ca<strong>da</strong> espécime, <strong>no</strong>s quais relatavacui<strong>da</strong>dosamente <strong>da</strong>dos importantes como característicasmorfológicas, anatômicas e até comportamentais (Goeldi,1896; Ihering, 1902; Sick, 1997).96


Algo curioso sobre o trabalho <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> <strong>no</strong> Brasil éa forma com que coletava as aves, em especial as <strong>de</strong>peque<strong>no</strong> porte. Armou-se <strong>de</strong> uma carabina <strong>de</strong> arcomprimido que, municia<strong>da</strong> por uma máquina <strong>de</strong> bombear,tinha excelentes resultados para a coleta, graças àpossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> efetuar vários disparos consecutivos, semgran<strong>de</strong>s riscos <strong>de</strong> causar <strong>da</strong><strong>no</strong>s às peles. Era uma gran<strong>de</strong>vantagem se compara<strong>da</strong> com as armas <strong>de</strong> fogo tradicionais,que podiam gerar apenas um ou dois tiros e que exigiam ouso <strong>de</strong> pólvora, material via <strong>de</strong> regra comprometido pelaumi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s regiões tropicais. Para a época, esse era umgran<strong>de</strong> avanço tec<strong>no</strong>lógico, tendo inclusive motivado oimperador Pedro I, com Leopoldina, a uma visita surpresaao naturalista, apenas para conhecer a engenhoca eexperimentá-la. No entanto, a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> prática tinha suas<strong>de</strong>svantagens. Segundo Riedl-Dorn (1999), que <strong>de</strong>screveesse <strong>de</strong>talhe, para <strong>da</strong>r 30 a 40 tiros, era necessário realizar2.500 bomba<strong>da</strong>s na máquina e seu transporte exigia umamula.<strong>Natterer</strong> pertenceu a uma época incan<strong>de</strong>scente sob oponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> história natural do Brasil. Embora suaexpedição tenha se sobressaido sobre to<strong>da</strong>s suascontemporâneas quanto ao período <strong>de</strong>spendido em campo eao trabalho zeloso para a preparação dos exemplares, otempo foi – como dito – crucial na priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>scriçãodos <strong>no</strong>vos táxons (Straube, 2000).Cabe lembrar que a sua viagem foi contemporânea<strong>de</strong> outras expedições bastante conheci<strong>da</strong>s na literatura, comoa <strong>de</strong> Maximilian A.Phillip, Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied(Wied, 1820a, 1820b, 1821, 1830-1833; Bokermann, 1957),Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire (Saint-Hilaire, 1822, 1871) eGeorge Heinrich von Langsdorff (Bertels et al., 1988). Aperegrinação do primeiro, infelizmente, não contemplou o<strong>Paraná</strong>, situação diferente <strong>da</strong>s duas últimas, cujos resultados97


têm importância mais ilustrativa e <strong>de</strong>scritiva <strong>da</strong> paisagemoriginal do que propriamente zoológica.Em alguns casos, Pelzeln (1871) conseguiu resgatarpartes preciosas <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, incluindo em suaobra revisiva. Esses <strong>de</strong>talhes nem sempre eram referentes aanimais coletados, mas eventualmente interligados comregistros não documentados por peles.Uma indicação do savacu-<strong>de</strong>-coroa (Nyctanassaviolacea), por exemplo, dá conta <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a circunstância emque fôra observa<strong>da</strong> (Pelzeln, 1871:303): “Auf <strong>de</strong>r InselGuarecasaba im Fluge, es befan<strong>de</strong>n sich auf dieser kleinenInsel kleine weisse Reiher, Nachtreiher, [...]” (“Em voo, nailha <strong>de</strong> Guaraqueçaba; haviam também nessa pequena ilha,pequenas garças-brancas, <strong>no</strong>turnas”).Há também outro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> seu legado emsolo paranaense, referência à presença <strong>de</strong> guarás(Eudocimus ruber) na região litorânea. Assim Pelzeln(1871:306) transcreve as a<strong>no</strong>tações originais:―22. Ibis rubra (Linné). N. 470.Paranagua Januar auf einer durch dieEbe entblössten Sandbank aus einerSchaar von fünf Stücken, wovon zwei rothwaren, mit Garzas in GesellschaftDecember, Rio do Boraxudo auf Manguesaus einer Schaar von fünf rothen, einigenschwarzen und drei Garzas December,Cajutuba, 1835. 28 Ex. 1 )Zunge 5"' lang, länglichdreieckig, nicht son<strong>de</strong>rlich spitzig. DasJunge Männchen war stark in <strong>de</strong>r Mauser,alle nachwachsen<strong>de</strong>n Fe<strong>de</strong>rn warenscharlachroth (Paranagua). Magen immermit kleinen Krabben angefüllt - Baut seinNest auf Mangues, viele auf einen Baum.Das Ei soll weiss sein, mit braunenFlecken wie von <strong>de</strong>r Saracura dosMangues, <strong>de</strong>r Dotter soll roth sein (Rio doBoraxudo).1 ) Ein von Herren Spix und Martiuslebend aus Brasilien nach München―22. Ibis rubra (Linné). N. 470. [Em]Paranaguá (Janeiro) em um banco <strong>de</strong>areia exposto pela maré, on<strong>de</strong> havia umbando com cinco indivíduos, sendo doisvermelhos, em companhia <strong>de</strong> garças. Em<strong>de</strong>zembro <strong>no</strong> Rio do Borrachudo, emmanguezais, on<strong>de</strong> um bando continhacinco indivíduos vermelhos, algunsescuros e três garças. Em Cajutuba(Dezembro <strong>de</strong> 1835). 28 exemplares 1 )Língua com 5 polega<strong>da</strong>s <strong>de</strong>comprimento, triangular oblonga, nãopropriamente pontu<strong>da</strong>. O macho jovemestava em mu<strong>da</strong>, sendo que to<strong>da</strong>s aspenas em regeneração eram forteescarlates (Paranaguá).Estômago sempre preenchidopor caranguejos peque<strong>no</strong>s; constroemseus ninhos <strong>no</strong>s mangues, muitos em umaúnica árvore. O ovo <strong>de</strong>ve ser branco, commarcas marrons tal como a saracura-dosmangues,a gema <strong>de</strong>ve ser vermelha (Riodo Borrachudo).98


gebrachtes und von <strong>da</strong> nach Wiengekommenes Exemplar lebte vierzehnJahre in Europa und wur<strong>de</strong> von Sr.Majestät Terrasse 1833 eingeliefert. an<strong>de</strong>mseiben ist die Färbungausseror<strong>de</strong>ntlich verblasst, in Ziegelrothund Rosenfarb übergehend. Ein Ex. vonIbis rubra ist 1806 durch H. v. Fichtelacquirirt wor<strong>de</strong>n.1 ). Um exemplar foi levado vivo pelos srs.Spix e Martius do Brasil para Munique e,<strong>de</strong> lá, para Viena, vivendo por 14 a<strong>no</strong>s naEuropa <strong>no</strong> terraço <strong>de</strong> Sua Majesta<strong>de</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1833. Neste animal a coloração seempali<strong>de</strong>ceu extraordinariamente paravermelha-tijolo ou rósea. Um exemplar <strong>de</strong>Ibis rubra foi adquirido em 1806 por H. v.Fichtel.‖Há várias questões a serem <strong>de</strong>smembra<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ssanarrativa. A primeira <strong>de</strong>las diz respeito à presença (equanti<strong>da</strong><strong>de</strong>) <strong>de</strong> guarás <strong>no</strong>s manguezais do município <strong>de</strong>Guaraqueçaba, topônimo que costuma ser traduzido como“pouso <strong>de</strong> guarás”. Em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> extensão <strong>de</strong>hábitats estuari<strong>no</strong>s, essa hipótese etimológica até fariaalgum sentido biológico e, diga-se <strong>de</strong> passagem, também doponto <strong>de</strong> vista linguístico (guara + keha + aba = lugar on<strong>de</strong>dormem os guarás). No entanto, Straube (1999) a <strong>de</strong>scartouprovisoriamente pela total carência <strong>de</strong> documentação eregistros históricos minimamente aceitáveis.Como se vê, não há nenhuma dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que <strong>Natterer</strong>obteve espécimes <strong>de</strong>ssa ave <strong>no</strong> município citado, tal comocomprovam três dos quatro exemplares colecionados <strong>no</strong><strong>Paraná</strong> e até hoje mantidos <strong>no</strong> acervo do NaturhistorischesMuseum Wien (Áustria).Graças às informações sobre o itinerário <strong>da</strong>expedição, é possível resgatar alguns outros <strong>de</strong>talhesrelevantes. Observa-se que, logo ao chegar em Paranaguáem 13 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820, <strong>Natterer</strong> já coletou umespécime (NMW-23666); <strong>de</strong>pois disso, obteve mais três <strong>no</strong>rio do Borrachudo (NMW-39460, 47673 e 47674), quetalvez fizessem parte do grupo com mais <strong>de</strong> cincoindivíduos observados (vi<strong>de</strong> <strong>no</strong>ta transcrita acima) e, emjaneiro <strong>de</strong> 1821, observou outros cinco em Paranaguá.99


Exemplares <strong>de</strong> guará (Eudocimus ruber) colecionados por Johann <strong>Natterer</strong> <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> e<strong>de</strong>positados <strong>no</strong> Naturistorischen Museums <strong>de</strong> Viena, Áustria (NMW) (E.Bauernfeind,2006 in litt.). Legen<strong>da</strong>: Acervo (Ac): ex, em exposição; cs, coleção seria<strong>da</strong>; Sexo (S): m,macho; f, fêmea; I<strong>da</strong><strong>de</strong> (Id): im, imaturo; ad., adulto.Exemplares Ac S Id Locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> coleta Data <strong>de</strong> coletaNMW-23666 ex m im “Paranagua” 13/<strong>de</strong>zembro/1820NMW-39460 cs f ad “Rio do Boraxudo near 28/<strong>de</strong>zembro/1820Paranagua”NMW-47673 ex m ad “Rio do Boraxudo” 23/<strong>de</strong>zembro/1820NMW-47674 ex f ad “Rio do Boraxudo” 24/<strong>de</strong>zembro/1820To<strong>da</strong>s essas informações são bastante importantesporque aumentam para pelo me<strong>no</strong>s onze indivíduos o totalobservado pelo viajante em sua curta esta<strong>da</strong> naquela região.Esse número, entretanto, não é suficiente para se consi<strong>de</strong>rarque a espécie existisse em gran<strong>de</strong>s números comofrequentemente ventilado na literatura toponímica e,particularmente, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> Guaraqueçaba. Afinal, <strong>Natterer</strong>é bem explícito ao mencionar o número <strong>de</strong> indivíduosobservados: cinco em Paranaguá (sendo dois vermelhos) e<strong>de</strong>pois cinco adultos e alguns jovens <strong>no</strong> rio do Borrachudo.É uma situação bastante diferente <strong>da</strong>quela verifica<strong>da</strong> emoutros pontos litorâneos brasileiros como Cubatão (SãoPaulo) e mesmo <strong>no</strong> litoral do Maranhão e Pará, on<strong>de</strong> aespécie po<strong>de</strong> ser efetivamente consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> abun<strong>da</strong>nte (Sick,1997) 103 .As a<strong>no</strong>tações adicionais <strong>de</strong> outros locais que foramvisitados por <strong>Natterer</strong> (<strong>de</strong>staca<strong>da</strong>mente “ilha <strong>de</strong>Guaraqueçaba” pela proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> geográfica), mas semnenhuma indicação <strong>da</strong> presença do guará, são importantes.Elas levam a crer que, embora <strong>Natterer</strong> tenha encontradopouco mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> indivíduos <strong>de</strong> Eudocimus103 Apenas <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s o guará parece estar retornando a vários locais litorâneosparanaenses on<strong>de</strong> era abun<strong>da</strong>nte <strong>no</strong> passado, questão que mereceria estudo profundo dosaspectos ecológicos envolvidos; mais <strong>de</strong>talhes po<strong>de</strong>m ser obtidos em Straube (2009).100


uber <strong>no</strong> litoral do <strong>Paraná</strong>, eles apenas estavam presentes emdois locais (Paranaguá e rio do Borrachudo) e, em númeropeque<strong>no</strong>, mais <strong>da</strong>s vezes associados com garças em cordões<strong>de</strong> areia expostos pela baixa-mar na zona <strong>de</strong> manguezais.O naturalista austríaco não cita a presença do guará emoutros lugares visitados e esse é um dos indicativos <strong>de</strong> que,pelo me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> tempo em que visitou o fundo <strong>da</strong> baía <strong>da</strong>sLaranjeiras, a espécie não era abun<strong>da</strong>nte naquela região.Mas referimo-<strong>no</strong>s aos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 1820 e 1821.Recentemente, a releitura <strong>de</strong> uma obra em particular trouxeindícios reveladores sobre a abundância <strong>de</strong>ssa espécie emGuaraqueçaba e, inclusive, sobre os motivos para o seu<strong>de</strong>clínio. Embora com base em uma única narrativa leiga,passamos agora a mu<strong>da</strong>r <strong>no</strong>ssa opinião sobre a etimologiado município, já <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente ampara<strong>da</strong> como “lugar on<strong>de</strong>dormem os guarás” (Straube, em prep.).Outro aspecto interessante <strong>de</strong> análise e julgamento,diz respeito à nidificação <strong>da</strong> espécie <strong>no</strong> litoral paranaense.Indivíduos juvenis, mesmo com início <strong>de</strong> plumagemvermelha, são indicados; também é mencionado o fato <strong>de</strong>construírem seus ninhos em manguezais, “muitos em umaúnica árvore”. Contudo, o verbo alemão utilizado para<strong>de</strong>screver a cor externa dos ovos, e <strong>da</strong> gema, tem fundosupositivo: <strong>Natterer</strong> não afirma que o ovo é branco commanchas marrons nem que possui gema vermelha e sim,respectivamente, que “<strong>de</strong>ve” ser <strong>da</strong>quela cor e “<strong>de</strong>ve”possuir gema <strong>de</strong>sta outra cor. Compara, inclusive, com osovos <strong>da</strong> “saracura-dos-mangues” que, em sua obra, nãoencontra-se menciona<strong>da</strong> como <strong>no</strong>me popular, mas que <strong>de</strong>vese referir a Arami<strong>de</strong>s cajanea (cita<strong>da</strong> por Pelzeln, 1871:315,como Arami<strong>de</strong>s cayennensis). Não há, por assim dizer, se oque foi observado (presença <strong>de</strong> ninhos e <strong>de</strong> ovos) <strong>no</strong> rio doBorrachudo refere-se ao Eudocimus ruber ou a Arami<strong>de</strong>s101


cajanea que, aliás, é espécie <strong>da</strong>s mais comuns naquelaregião.Exemplos do trabalho caprichoso <strong>de</strong> Johann <strong>Natterer</strong>, expostos em Viena. Acima, ogavião-real ou harpia (Harpia harpyja, esq.) e o araçari-mulato (Pteroglossusbeauharnaesii, dir.); abaixo o saurá-<strong>de</strong>-pescoço-preto (Phoenicircus nigricollis, esq.) euma composição com psitací<strong>de</strong>os <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, monstrando a araracanga (Ara macao),a arara-vermelha (Ara chloropterus) e a ararinha-militar (Ara militaris) (Fonte:http://www.nhm-wien.ac.at).Com relação a outros grupos colecionados <strong>no</strong><strong>Paraná</strong>, é importante frisar que <strong>Natterer</strong> e Sochor102


concentraram suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na coleta <strong>de</strong> aves, tendo obtidoapenas um único espécime <strong>de</strong> mamífero (Pelzeln, 1883) 104 .Isso causa certa surpresa, se avaliado o seu rendimento emoutras regiões brasileiras (Goeldi, 1896), mesmo na regiãoadjacente <strong>de</strong> Itararé, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>m vários exemplares.Essa é uma situação <strong>no</strong> mínimo inusita<strong>da</strong>, visto que elepróprio pretendia publicar um extensivo estudomastozoológico, com base <strong>no</strong> volumoso material obtido <strong>no</strong>Brasil (Pelzeln, 1883; Hershkovitz, 1987). Além disso,exemplares eventualmente coletados <strong>no</strong> sul, especialmentenas regiões mais frias com campos e matas <strong>de</strong> araucária<strong>de</strong>veriam ser, <strong>no</strong> mínimo, importantes do ponto <strong>de</strong> vistabiogeográfico. Sobre os répteis paranaenses, é provável quetodo o material obtido tenha se perdido <strong>no</strong> incêndio domuseu <strong>de</strong> Viena, uma vez que inexistem quaisquer citaçõesem estudo compilatório recente (Vanzolini, 2000).Conforme já <strong>de</strong>monstrado, não foi apenas à<strong>ornitologia</strong> que o naturalista austríaco contribuiu <strong>de</strong> forma<strong>de</strong>cisiva e pioneira. Resenhas históricas sobre outras áreasdo conhecimento, especialmente dos vários campos <strong>da</strong>zoologia, têm-<strong>no</strong> sempre lembrado, como prova <strong>de</strong> seusinteresses multifacetários e incomparável produtivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>strabalhos <strong>de</strong> campo.O seu constante interesse por to<strong>da</strong>s as informaçõesque ca<strong>da</strong> exemplar po<strong>de</strong>ria fornecer é muito bem lembra<strong>da</strong>por Rego (1982):"<strong>Natterer</strong> não se limitou a colher epreparar os vertebrados, mas tambémexaminava o interior dos organismos esuas vísceras, colhendo os seusparasitas. Essa e<strong>no</strong>rme quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>material (quase 2000 frascos <strong>de</strong>104 Um tatu-mulita (Dasypus hybridus) em “Lanza, Januar [<strong>de</strong> 1821]” (Pelzeln, 1883:99),obviamente capturado por Sochor, com base na <strong>da</strong>ta.103


helmintos) serviu para os estudos dosre<strong>no</strong>mados helmintologistas Rudolphi,Diesing, Molin, Fuhrmann, Heymons emuitos outros" 105 .Esse mesmo autor, mais adiante, conclui:―...tudo que se conhece <strong>de</strong> helmintologia<strong>no</strong> Brasil até o Século XX é <strong>de</strong>vidopraticamente ao material coletado por<strong>Natterer</strong>‖ (Rego 1982).O interesse <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> pela parasitologia teria <strong>de</strong>fato aflorado muitos a<strong>no</strong>s antes <strong>de</strong> chegar ao Brasil 106 eexpresso em um documento inter<strong>no</strong> do museu imperialcontendo instruções para pesquisa e coleta <strong>de</strong> helmintos, <strong>de</strong>autoria consigna<strong>da</strong> a ele, junto a Schreibers e ao médico eparasitólogo Johann Gottfried Bremser (1767-1827) 107(Nomura 1997; Sattmann et al., 1999).Os mamíferos por ele coletados <strong>no</strong> Brasil, somando781 exemplares (representando quase meta<strong>de</strong> <strong>da</strong>s espéciesconheci<strong>da</strong>s para o país), foram estu<strong>da</strong>dos por JohannAndreas Wagner (1797-1861) (Wagner, 1842, 1843, 1847-1848) e, posteriormente, por Auguste von Pelzeln (1883)que preparou uma coletânea semelhante à <strong>da</strong>s aves. Sobre oacervo, testemunha Hershkovitz (1987): “...his collectionrepresented more species and inclu<strong>de</strong>d types of more than105 Também, <strong>de</strong>staca<strong>da</strong>mente, uma série importantíssima <strong>de</strong> parasitas retirados dos tratosdigestórios <strong>de</strong> crocodilia<strong>no</strong>s e surpreen<strong>de</strong>ntemente em perfeito estado <strong>de</strong> conservação atéos dias <strong>de</strong> hoje (Núñez, 2003).106 Segundo Riedl-Dorn (1999:53), “<strong>Natterer</strong> foi tão meticuloso [para coletar vermes], queaté mesmo um áscaris [leia-se „lombriga‟], que habita o intesti<strong>no</strong> do homem, chegou aoMuseu <strong>de</strong> Viena com a seguinte inscrição: „Ascaris lumbricoi<strong>de</strong>s vomitado por <strong>Natterer</strong>‟ “.107 “Nachricht von einer beträchtlichen Sammlung thierischer Eingewei<strong>de</strong>würmer, undEinladung zu einer literarischen Verbindung, um dieselbe zu vervollkommnen, und sie fürdie Wissenschaft und die Liebhaber allgemein nützlich zu machen”.104


had been collected in Brazil by anyone else in the century,or possibly at any time‖ 108 .Dos peixes, Jacob Heckel (1840) publicou um artigosobre as espécies <strong>de</strong> água doce, analisando brevemente partedo material <strong>da</strong> expedição e incluindo <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> 49espécies ti<strong>da</strong>s como <strong>no</strong>vas, especialmente <strong>de</strong> Cichli<strong>da</strong>e(Vanzolini 1996). Os <strong>de</strong>mais peixes, répteis e anfíbios foramparcela<strong>da</strong>mente estu<strong>da</strong>dos por diversos autores,especialmente Rudolf Kner (peixes: e.g. a piranhaSerrasalmus nattereri) e Franz Stein<strong>da</strong>chner (Vanzolini1996).É Papávero (1971) um dos que <strong>de</strong>screve o legadodocumental colhido pelo naturalista:―<strong>Natterer</strong>'s collection, gathered during 18years of stenuous efforts in Brazil, were<strong>de</strong>posited in the Museum of Vienna, andcomprised: 430 samples of minerals; 1729vials of helminths; 1024 specimens ofmolluscs; 409 specimens of crustaceans;32825 specimens of insects; 1671specimens of fishes; 1678 specimens ofreptiles and amphibians; 12293 specimensof birds (representing 1200 species!); 125different types of eggs; 192 skulls; 42anatomical preparations; 242 samples ofseeds; 147 samples of woods; 216 coins;1492 eth<strong>no</strong>graphical objects (ornaments,implements, weapons, etc. and 60glossaries of the different tribes he visitedduring his journeys). A simples calculationshows that he must have prepared, asaverage, 2 bird skins a <strong>da</strong>y, for every <strong>da</strong>yduring his 18 years in Brazil, <strong>no</strong>t countingSun<strong>da</strong>ys and holi<strong>da</strong>ys, <strong>da</strong>ys employed intravelling, etc.‖“A coleção <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, obti<strong>da</strong> durante 18a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> esforços extenuantes, foi<strong>de</strong>posita<strong>da</strong> <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> Viena, ecompreen<strong>de</strong>: 430 amostras <strong>de</strong> minerais,1729 frascos <strong>de</strong> helmintos, 1024 espécimes<strong>de</strong> moluscos, 409 <strong>de</strong> crustáceos, 32825 <strong>de</strong>insetos, 1671 <strong>de</strong> peixes, 1678 <strong>de</strong> répteis eanfíbios, 12293 <strong>de</strong> aves (representando1200 espécies!), 125 tipos <strong>de</strong> ovos, 192crânios, 42 preparações anatômicas, 242amostras <strong>de</strong> sementes, 147 amostras <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>iras, 216 moe<strong>da</strong>s, 1492 objetoset<strong>no</strong>gráficos (ornamentos, equipamentos,armas etc e 60 glossários <strong>da</strong>s diferentestribos que ele visitou durante suasjorna<strong>da</strong>s). Um simples cálculo mostra queele <strong>de</strong>ve ter preparado, em média, duaspeles <strong>de</strong> aves por dia, para ca<strong>da</strong> dia,durante seus 18 a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Brasil, sem contaros domingos e feriados, dias empregadosnas viagens e etc.”108 “Sua coleção representa mais espécies e inclui [exemplares-]tipos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> tudo o quefoi coletado <strong>no</strong> Brasil por qualquer um naquele século e, possivelmente, em todos ostempos”.105


Esses números <strong>de</strong>stoam pouco <strong>da</strong> versão oficialapresenta<strong>da</strong> em relatório por Joseph <strong>Natterer</strong> (Schmutzer,2007): “O rendimento total <strong>de</strong> suas viagens inclui 1.146mamíferos, 12.293 aves, 1.678 anfíbios, 1.621 peixes, 32825insetos, 409 crustáceos, 951 conchas, 73 moluscos, 1729vidros com vermes intestinais, 42 preparações anatômicas,192 crânios, 242 sementes, 138 amostras <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, 430minerais e 216 moe<strong>da</strong>s. Acrescente-se a isso a coleção <strong>de</strong>objetos et<strong>no</strong>gráficos, em número <strong>de</strong> 1741. Outros 125materiais, não atribuíveis a peças exatas, completam oespólio <strong>de</strong>ixado por <strong>Natterer</strong>” 109 .O capricho <strong>de</strong>stinado à coleta <strong>de</strong> informações não seresumia aos espécimes. <strong>Natterer</strong> era também um excelente<strong>de</strong>senhista. Segundo a revisão ico<strong>no</strong>gráfica <strong>de</strong> suasproduções (Teixeira & Papávero, 1999): “Reunindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong>aquarelas <strong>de</strong> fina fatura até simples <strong>de</strong>senhos esquemáticostraçados a lápis, a ico<strong>no</strong>grafia <strong>de</strong> Johann <strong>Natterer</strong>disponível até o momento abarca 98 ilustrações, <strong>da</strong>s quais51 são <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s aos peixes, 11 às aves e 36 aos mamíferos,sendo que 28 <strong>de</strong>ssas últimas dizem respeito aos morcegosobtidos durante sua estadia em <strong>no</strong>sso país. No conjunto<strong>de</strong>ssa coletânea, os 11 <strong>de</strong>senhos relativos às aves semdúvi<strong>da</strong> surgem como os mais peculiares, por retrataremapenas rapineiras do Velho Mundo, não havendo em todo oelenco estu<strong>da</strong>do nenhuma figura que possa ser atribuí<strong>da</strong> aelementos <strong>da</strong> avifauna neotropical, lacuna bastanteinusita<strong>da</strong> face ao copioso acervo ornitológico reunido por<strong>Natterer</strong> <strong>no</strong> Brasil” 110 .109 Há ain<strong>da</strong>, exsicatas, em número não avaliado pois foram incorpora<strong>da</strong>s ao materialobtido por Mikan, Pohl e Schott quando <strong>de</strong> sua entra<strong>da</strong> <strong>no</strong> “Museu Brasileiro” (Stafleu &Cowan, 1981).110 Po<strong>de</strong>-se supor, embora com base puramente especulativa, que <strong>Natterer</strong> optara porretratar animais que tradicionalmente são conservados em via úmi<strong>da</strong> e, por esse motivo,pretendia preservar informações dos respectivos coloridos sob a forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos. Alémdisso, po<strong>de</strong>ria ser aceitável imaginar que eventuais pranchas <strong>de</strong> aves brasileiras por ele106


Um exemplo <strong>da</strong> obra ico<strong>no</strong>gráfica <strong>de</strong> Johann <strong>Natterer</strong>, aquarela mostrando uma raia(Fonte: Kunst Historisches Museum: http://www.khm.at/; acessa<strong>da</strong> em 26 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>2007).Não bastasse todo esse material que tão amplosestudos resultaram em prol <strong>da</strong>s ciências naturais brasileiras,foi também <strong>Natterer</strong> um colecionador <strong>de</strong> elementos <strong>da</strong>cultura material indígena. Só <strong>no</strong> museu <strong>de</strong> et<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>Viena constam 1.800 artefatos que ele colhera junto a Pohl,ilustrando pelo me<strong>no</strong>s 60 grupos étnicos do Mato Grosso,rio Branco e rio Negro (Kann, 2002; Plankensteiner, 2004).Essas peças po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s as únicas existentes emcoleções originárias <strong>de</strong>stas regiões e, por certo, nunca maisum acervo <strong>de</strong>ste vulto po<strong>de</strong>rá ser construído.prepara<strong>da</strong>s, estivessem já reuni<strong>da</strong>s aos manuscritos <strong>de</strong> sua mo<strong>no</strong>grafia que, sabi<strong>da</strong>mente,foi <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> pelo incêndio <strong>de</strong> Hofburg em 1848.107


O conteúdo <strong>de</strong>sse material era <strong>no</strong>tavelmentediversificado e, por vezes, curioso. Em carta en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong> aautori<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais <strong>no</strong> Mato Grosso (Schmutzer, 2007), faz<strong>Natterer</strong> um pedido estranho <strong>de</strong> colaboração:S.M. o Imperador <strong>de</strong> Austria houve por bemenviar me para estas terras remotas parafazer collecções <strong>da</strong>s diversas producções <strong>da</strong>natureza <strong>de</strong>ste vasto paiz, juntamente com asarmas enfeitos e outros trastes dos indiossilvestres, accompanhado com o esquelletto<strong>da</strong>s cabeças <strong>de</strong> alguns d'elles, para ver adifferença na estructura do cranio. Por estarazão peço a V.S., que <strong>no</strong> caso, que aconteçaser mortos alguns Cabexis em algumabalroa<strong>da</strong>, man<strong>da</strong>r cortar a cabeça a hum oudous indios ja feito homens, man<strong>da</strong>r tirar osmiolos sem molestar o casco e secarllas pertodo fogo para não podrecer muito‖ 111 .Curiosamente, foi apenas e precisamente quandoestava em Curitiba que <strong>Natterer</strong> passou a <strong>de</strong>spertar certointeresse pelas culturas indígenas brasileiras, o que –futuramente – <strong>no</strong>rteou gran<strong>de</strong>mente suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>observador e linguista. Isso graças ao auxílio <strong>de</strong> uma jovemíndia camé 112 <strong>de</strong> Guarapuava, que o auxiliou nas a<strong>no</strong>tações<strong>de</strong> certas palavras.Seu interesse pela et<strong>no</strong>zoologia não se limitou aosindígenas, mas também esten<strong>de</strong>u-se pela <strong>no</strong>menclaturavernácula zoológica. Além <strong>de</strong> todo o trabalho <strong>de</strong>111 Segundo Schmutzer (2007), <strong>Natterer</strong> falava razoavelmente o português, provavelmenteamparado por um dicionário francês-português que carregava consigo. Também apren<strong>de</strong>ra<strong>no</strong>ções <strong>de</strong> várias línguas indígenas, graças ao auxílio <strong>de</strong> seus companheiros <strong>de</strong> viagem,contratados <strong>no</strong>s locais por on<strong>de</strong> passava.112 Essa índia, segundo seus diários, chamava-se Ninschirin (ou Rufina, como trata<strong>da</strong> apóso batismo católico) e “pertencia” ao juiz que o acolheu naquela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Há aqui uma certasemelhança com Saint Hilaire mas, pelas indicações <strong>da</strong> localização geográfica dosrespectivos anfitriões, as fontes parecem ter sido distintas.108


organização e execução <strong>de</strong> viagens, colecionamento,conservação e remessa, também se ocupou <strong>de</strong> a<strong>no</strong>tar os<strong>no</strong>mes populares <strong>da</strong>s aves abati<strong>da</strong>s, tal como eram utilizadosem ca<strong>da</strong> região brasileira, fornecendo subsídiosimportantíssimos para a pesquisa <strong>de</strong>sse campo <strong>no</strong> país(Straube et al., 2007).Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire (1942:263) <strong>no</strong>ticia terencontrado e conhecido <strong>Natterer</strong> pessoalmente na fazen<strong>da</strong>Ipanema (São Paulo). É <strong>de</strong>le um “retrato” <strong>de</strong>scritivo doaustríaco e que merece transcrição:―Encontrei-me em Ipanema com <strong>Natterer</strong>,zoólogo <strong>da</strong> comissão científica que oimperador <strong>da</strong> Áustria tinha enviado aoBrasil, para estu<strong>da</strong>r e analisar suasproduções. <strong>Natterer</strong> tinha se alojado há uma<strong>no</strong> nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s forjas e aíformou uma imensa coleção <strong>de</strong> animais.Era impossível <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> admirar a belezados pássaros; nenhum vi que tivesse umaúnica pena cola<strong>da</strong> ou uma só gota <strong>de</strong>sangue. <strong>Natterer</strong> era filho do empalhadordo museu <strong>de</strong> Viena, mas tinha maisconhecimentos e o saber do que umpreparador comum. Desenhava muito bem e<strong>de</strong>screvia, afirmaram-me, todos os objetosque colecionava. Era, além disso, umhomem frio e pouco comunicativo;raramente falava e parecia ocupar-seexclusivamente com a sua missão‖.Johann Baptist von <strong>Natterer</strong>, conforme po<strong>de</strong>-sefacilmente <strong>no</strong>tar, foi não somente a mais importantepersonali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre cujo legado se assenta uma respeitávelfração do que hoje se conhece <strong>da</strong> biodiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira.Foi também um exemplo <strong>de</strong> ci<strong>da</strong>dão que elegeu o Brasil109


como sua segun<strong>da</strong> pátria, apren<strong>de</strong>ndo a língua local,convivendo com os habitantes locais e enten<strong>de</strong>ndo seuscostumes.Em 1831, na pequena ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Barcelos(Amazonas), casou-se com uma brasileira, Maria do Rego,com quem teve dois filhos <strong>no</strong> Brasil e um último em Viena.O primeiro <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte era uma menina, chama<strong>da</strong> Gertru<strong>de</strong>em homenagem à amável senhora 113 que o acolheu e <strong>de</strong>lecuidou, com receitas terapêuticas do conhecimento médicotradicional, durante grave enfermi<strong>da</strong><strong>de</strong> hepática contraí<strong>da</strong>em Vila Bela (Mato Grosso).Ao regressarem para a Áustria, Dona Maria, quecomo ele se encontrava doente, mas em estado ain<strong>da</strong> piorpor não ter se a<strong>da</strong>ptado ao clima europeu, faleceu em umhospital em Karlsbad em 8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1837. Passaramse,portanto, apenas <strong>no</strong>ve meses após ter <strong>da</strong>do a luz aoterceiro filho, agora sob os cui<strong>da</strong>dos do pai.Gertru<strong>de</strong> (1832-1895), filha mais velha, foi a únicaque viveu por mais tempo, tendo se casado – na Áustria –com o Barão Julius Schröckinger Ritter von Neu<strong>de</strong>nberg(1814-1882) que, além <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong> respeita<strong>da</strong>, era geólogoe vice-presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Zoobotânica <strong>da</strong> Áustria 114 .113 É dona A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Delfina Gertru<strong>de</strong>s Capeto Pinto Ravin, irmã <strong>de</strong> Antônio Peixoto <strong>de</strong>Azevedo, tenente <strong>de</strong> milícias que (circa 1819) comandou expedições pelo <strong>no</strong>rte do MatoGrosso, em busca <strong>de</strong> estabelecer comunicações fluviais entre as diversas regiões habita<strong>da</strong>s.Seu <strong>no</strong>me é celebrado <strong>no</strong> rio e na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> matogrossense.114 A ele é que se <strong>de</strong>vem uma <strong>da</strong>s primeiras biografias <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> (Neu<strong>de</strong>nberg, 1855).110


ANEXO<strong>Natterer</strong> e Sochor:revisão <strong>da</strong> contribuição ornitológica ao <strong>Paraná</strong>Reavaliação dos registros <strong>de</strong> espécies atribuídos à Expedição <strong>Natterer</strong> <strong>no</strong><strong>Paraná</strong>, com as <strong>de</strong><strong>no</strong>minações atual (<strong>de</strong>staca<strong>da</strong>) e original (<strong>de</strong> Pelzeln,1871), além <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s na grafia original (L), <strong>da</strong>tas dos registros eeventuais a<strong>no</strong>tações, transcritas dos artigos publicados por Pelzeln eacompanha<strong>da</strong>s <strong>da</strong> tradução. A atualização <strong>no</strong>menclatural baseia-se <strong>no</strong>sCatálogos <strong>de</strong> Hellmayr e a classificação segue CBRO (2011), com asalterações <strong>de</strong> Scherer-Neto et al. (2011).TINAMIFORMESTINAMIDAENothura maculosa (Temminck, 1815)Nothura major Spix (p.295)L: Jaguaraiba (janeiro <strong>de</strong> 1821)[Ro<strong>da</strong>pé:] “Das Exemplar von Jaguaraibaist <strong>no</strong>ch sehr jung”.“O exemplar <strong>de</strong> Jaguariaíva é ain<strong>da</strong>muito jovem”.Taoniscus nanus (Temminck, 1815)Nothura nana (Temm.) (p.295)L: Fazen<strong>da</strong> do S.Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiro, Jaguaraiba (setembro<strong>de</strong> 1820) 115 .“Fazen<strong>da</strong> do s.Coronel Lucia<strong>no</strong> Carneiroauf steppen, wur<strong>de</strong> mit <strong>de</strong>r Hand gefangen,<strong>da</strong> sie nicht auffliegen wollten, JaguaraibaSeptember [...]. Zunge sehr klein, mehrbreit als lang, dreieckig, stumpf. Im Magen“Fazen<strong>da</strong> do sr. Coronel Lucia<strong>no</strong>Carneiro em campo, captura<strong>da</strong> com a mãopor não querer voar, Jaguariaíva,setembro [...]. Língua muito pequena,mais larga do que longa, triangular, sem115 Aqui não fica claro se seriam duas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ou somente uma, mas há apenas umexemplar <strong>de</strong>sta espécie oriundo <strong>de</strong> “Jaguaraiba” <strong>no</strong> museu <strong>de</strong> Viena (NHMW-37938)(vi<strong>de</strong> acima).111


und Kröpfe Samen (Faz.Carneiro).recortes. No estômago, sementes <strong>de</strong>cultivos”.ANSERIFORMESANATIDAEMergus octosetaceus Vieillot, 1817Mergus brasiliensis Vieill. (p.322)L: Flusse Ytararè (agosto <strong>de</strong> 1820) 116 .―Ytarare März, auf <strong>de</strong>m Flusse Ytarare einPaar (sie tauchten unter) August,[...]‖―Im Magen Fische (Ytarare August).‖“Itararé em março, <strong>no</strong> rio Itararé um casal(como aparentava ser) em agosto...”“No estômago, peixes (Itararé, agosto)”GALLIFORMESODONTOPHORIDAEOdontophorus capueira (Spix, 1825)Odontophorus <strong>de</strong>ntatus (Temm.) (p.289)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)SULIFORMESFREGATIDAEFregata magnificens Mathews, 1914Tachypetes aquilus Linné (p.326)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)SULIDAESula leucogaster (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Sula fusca Vieill. (p.325)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)116 O fato <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> ter colecionado um exemplar <strong>no</strong> rio Itararé, embora pouco antes <strong>de</strong>a<strong>de</strong>ntrar em território paranaense, sugere que o registro seja igualmente consignado ao<strong>Paraná</strong>.112


PHALACROCORACIDAEPhalacrocorax brasilianus (Gmelin, 1789)Graculus brasilianus Gmel. (p.325)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Paranagua (<strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1820).PELECANIFORMESARDEIDAETigrisoma lineatum (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Tigrisoma brasiliense (Linné) (p.302)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Nycticorax nycticorax (Linnaeus, 1758)Nycticorax Gar<strong>de</strong>ni (Gmel.) (p.302)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Nyctanassa violacea (Linnaeus, 1758)Nycticorax violaceus (Linné) (p.302)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Ilha <strong>de</strong> Guaraqueçaba(provavelmente <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820; sem espécimes).“Auf <strong>de</strong>r Insel Guarecasaba im Fluge, esbefan<strong>de</strong>n sich auf dieser kleinen Inselkleine weisse Reiher, Nachtreiher, [...]”“Em voo, na ilha [<strong>de</strong>] Guaraqueçaba;haviam também nessa pequena ilha,pequenas garças-brancas, <strong>no</strong>turnas.”Butori<strong>de</strong>s striata (Linnaeus, 1758)Ar<strong>de</strong>a scapularis Illig. (p.301)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Ar<strong>de</strong>a cocoi Linnaeus, 1766Ar<strong>de</strong>a cocoi Linné (p.300)L: Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Ar<strong>de</strong>a alba Linnaeus, 1758Ar<strong>de</strong>a Egretta Gmel. (p.300)L: Rio <strong>de</strong> Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Paranagua (<strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1820, janeiro <strong>de</strong> 1821).113


Egretta caerulea (Linnaeus, 1758)Ar<strong>de</strong>a coerulea Linné (p.301)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Paranagua (<strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1820, janeiro <strong>de</strong> 1821)THRESKIORNITHIDAEEudocimus ruber (Linnaeus, 1758)Ibis rubra (Linné) (p.306)L: Paranaguá (janeiro <strong>de</strong> 1821), Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820)―Paranagua Januar auf einer durch dieEbbe entblössten Sandbank aus einerSchaar von fünf Stücken, wovon zwei rothwaren, mit Garzas in GesellschaftDecember, Rio do Boraxudo auf Manguesaus einer Schaar von fünf rothen, einigenschwarzen und drei GarzasDecember,[…]‖―Magen immer mit kleinen Krabbenangefüllt. — Baut sein Nest auf Mangues,viele auf einen Baum. Das Ei soll weisssein, mit braunen Flecken wie von <strong>de</strong>rSaracura dos Mangues, <strong>de</strong>r Dotter sollroth sein (Rio do Boraxudo)‖.“Paranaguá (janeiro) em um banco <strong>de</strong>areia exposto pela maré, on<strong>de</strong> havia umbando com cinco indivíduos, sendo doisvermelhos, em companhia <strong>de</strong> garças. Em<strong>de</strong>zembro <strong>no</strong> Rio do Borrachudo, emmanguezais, on<strong>de</strong> um bando continhacinco indivíduos vermelhos, algunsescuros e três garças, <strong>de</strong>zembro”.“Estômago sempre preenchido porcaranguejos peque<strong>no</strong>s. - Constroem seusninhos <strong>no</strong>s mangues, muitos em umaúnica árvore. O ovo <strong>de</strong>ve ser branco, commarcas marrons tal como a saracura-dosmangues,a gema <strong>de</strong>ve ser vermelha (Riodo Borrachudo).”Mesembrinibis cayennensis (Gmelin, 1789)Geronticus cayennensis (Gmel.) (p.307)L: Castro (13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1821)Theristicus cau<strong>da</strong>tus (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Geronticus albicollis (Linné) (p.307)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820, janeiro <strong>de</strong> 1821), Tayacocca(28 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820), Murungaba (março e abril <strong>de</strong> 1821).114


CATHARTIFORMESCATHARTIDAESarcoramphus papa (Linnaeus, 1758)Sarcoramphus papa (Linné) (p.1)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821) 117ACCIPITRIFORMESACCIPITRIDAEAccipiter bicolor (Vieillot, 1817)Accipiter pileatus (Pr.Neuw.) (p.8)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)Buteogallus aequi<strong>no</strong>ctialis (Gmelin, 1788)Urubitinga aequi<strong>no</strong>ctialis (Gmel.) (p.3)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820) 118“[...] in morastigen Gegen<strong>de</strong>n, woMangues sind [...]”.“[…] em áreas úmi<strong>da</strong>s, on<strong>de</strong> hámanguezais [...]”.Heterospizias meridionalis (Latham, 1790)Urubitinga meridionalis (Lath..) (p.2)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820) 119Urubitinga coronata (Vieillot, 1817)Circaetus coronatus (Vieill.) (p.4)L: Fazen<strong>da</strong> do Pitangui [<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820] 120117 Pelzeln (1862b:171), dá <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> medi<strong>da</strong>s sobre esse espécime, bem como produzuma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong> espécie, inclusive do jovem, informando também sobre<strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> ecologia.118 Pelzeln (1862b:181), <strong>de</strong>screve a plumagem, coloração <strong>de</strong> partes nuas e adicionamedi<strong>da</strong>s. Complementa: “Männchen (in <strong>de</strong>r Mauser, Paranagua)” (“Machos, em mu<strong>da</strong>,Paranaguá”).119 Pelzeln (1862b:180-181): “Jaguaraiba September”.120 Pelzeln (1862b:192) <strong>de</strong>screve a série obti<strong>da</strong> e informa mais <strong>de</strong>talhes sobre umaobservação em território paranaense: “Auf <strong>de</strong>r Fazen<strong>da</strong> do Pitangui sah ich zwei solcheVögel auf Steppengegend nahe über <strong>de</strong>n bo<strong>de</strong>n hinziehen, einer war braun vielleicht einJunger” (“Na Fazen<strong>da</strong> do Pitangui, vi dois <strong>de</strong>sses pássaros <strong>no</strong> campo perto do chão, um<strong>de</strong>les marrom, talvez jovem”). Essa a<strong>no</strong>tação, atribuí<strong>da</strong> a <strong>Natterer</strong>, não se refere aoexemplar colecionado, uma vez que na <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> coleta, ele estava já em Paranaguá. Com115


Rupornis magnirostris (Gmelin, 1788)Astur magnirostris (Gmel.) (p.6)L: Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Gera<strong>no</strong>aetus albicau<strong>da</strong>tus (Vieillot, 1816)Buteo pterocles (Temm.) (p.3-4)L: [Delgado (agosto <strong>de</strong> 1820)] 121 ; Murungaba (maio <strong>de</strong> 1821) 122[Nome popular] “Gaviao branco (zuDelgado)”.Gavião-branco (em Delgado).Gera<strong>no</strong>aetus mela<strong>no</strong>leucus (Vieillot, 1819)Gera<strong>no</strong>aetus mela<strong>no</strong>leucus (Vieill.) (p.4-5)L: Murungaba (março e abril <strong>de</strong> 1821) 123GRUIFORMESRALLIDAEArami<strong>de</strong>s cajanea (P.L.S.Müller, 1776)Arami<strong>de</strong>s cayennensis (Gmel.) (p.315-316)L: Paranagua <strong>no</strong> Rio <strong>da</strong> Villa (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Rio doBoraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)isso, <strong>de</strong>duz-se que o topônimo foi visitado também na viagem <strong>de</strong> i<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> o naturalistacolheu visualmente tais informações.121 Sobre a localização <strong>de</strong> “Delgado”, vi<strong>de</strong> <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé n°62.122 Pelzeln (1862b:185-187) <strong>de</strong>screve vários espécimes (plumagem, partes nuas, medi<strong>da</strong>s,variações) colecionados por <strong>Natterer</strong>, mas nenhum <strong>de</strong>staque é <strong>da</strong>do ao <strong>de</strong> Murungaba.Sobre o exemplar <strong>de</strong> Delgado: “Männchen (alt, Delgado August). Iris dunkelbraun.Schnabel von <strong>de</strong>r Wurzel bis an die Hälfte hellblaugrau, <strong>da</strong>s übrige schwarz. Wachshautund Schnabelecken blaugrau, <strong>de</strong>r Rücken in's Gelbliche ziehend. Augenringe undAugen<strong>de</strong>ckelk<strong>no</strong>chenhaut dunkelgrau. Füsse blassgelb. Klauen schwarz. […]. Kehle weiss.Oberleib aschgrau. Im Kropf und Magen Chalci<strong>de</strong>n Soll Schlangen fressen; läst sie aus<strong>de</strong>r Luft auf die Er<strong>de</strong> fallen um sie zu tödten” (“Macho (adulto, Delgado agosto). Írismarrom escura. Base do bico azul acinzenta<strong>da</strong>; o resto cinzento. Cera a cantos do bicocinzentos puxando para o amarelado. Anel ocular e pele palpebral cinzentos escuros. Pésamarelo-pálidos. Unhas pretas. [...] Garganta branca. Partes superiores cinzentas. Papo eestômago vazios mas <strong>de</strong>vem comer cobras que carregam em voo para o alto, <strong>de</strong>ixando-ascair, para matá-las”). Sobre a localização <strong>de</strong> “Delgado”, vi<strong>de</strong> <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé n°62.123 Em Pelzeln (1863b:631-632), há a <strong>de</strong>scrição do casal (plumagem, partes nucas,medi<strong>da</strong>s) coletado em Morungaba: “Weibchen (alt, nicht in <strong>de</strong>r Mauser, Murungaba,Steppengegend‖)” (“Fêmea (adulta, não na mu<strong>da</strong>, Morungaba, em campo)” [...]“Männchen (alt Murungaba) [...] Im Magen eine Codorna gran<strong>de</strong>”. (Macho (adultoMorungaba) [...] No estômago, uma codorna gran<strong>de</strong>”.).116


[Nome popular:] ―Saracura (Paranagua)‖―Paranagua zwischen Mangues am Ufer<strong>de</strong>s Rio <strong>da</strong> Villa December, Rio doBoraxudo zwischen ManguesDecember,[...]‖―Frisst Krabben (R. Boraxudo)‖.“Saracura (Paranaguá)”“Paranaguá, <strong>no</strong>s manguezais <strong>da</strong>s margensdo Rio <strong>da</strong> Vila, em <strong>de</strong>zembro; Rio doBorrachudo em manguezais, em <strong>de</strong>zembro[...]”“Alimenta-se <strong>de</strong> caranguejos (Rio doBorrachudo)”.Pardirallus nigricans (Vieillot, 1819)Rallus nigricans Vieill. (p.315)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)[Nome popular:] “Sannà (Rio <strong>de</strong>Boraxudo)‖―Rio do Boraxudo im Sumpfe, auch aufStau<strong>de</strong>n, December,[...]‖―Das Paar vom R. Boraxudo rief sichimmer zu gre gri gri, als <strong>da</strong>s Weibchenerschossen war, rief <strong>da</strong>s Männchenmehrmals sehr laut giiho o<strong>de</strong>r fiiio, wieFalco magnirostris zu schreien pflegt.‖“Sanã (Rio do Borrachudo)”“Rio do Borrachudo, também em [rios]perenes, <strong>de</strong>zembro”.“Do casal do Rio do Borrachudo, a fêmeaabati<strong>da</strong> cantava um „gre-gri-gri‘; ochamado do macho é repetido e muito altocomo „giiho‟ ou „fiiio‟, tal como é <strong>de</strong>costume cantar Falco magnirostris” 124 .CHARADRIIFORMESCHARADRIIDAEVanellus chilensis (Molina, 1782)Vanellus cayennensis (Gmel.) (p.296)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820)Pluvialis dominica (P.L.S.Müller, 1776)Charadrius pluvialis Linné (p.297)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Charadrius collaris (Vieillot, 1818)Charadrius Azarae Licht. (p.297)L: Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820).124 Aqui <strong>Natterer</strong> alu<strong>de</strong> ao canto <strong>da</strong> espécie que, <strong>de</strong> fato, é muito semelhante ao <strong>de</strong>Rupornis magnirostris.117


SCOLOPACIDAEGallinago paraguaiae (Vieillot, 1816)Scolopax frenata Illiger (p.312)L: Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820).Gallinago undulata (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Scolopax gigantea <strong>Natterer</strong> (p.312)L: [Delgado (agosto <strong>de</strong> 1820)] 125 , Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820),Murungaba (abril <strong>de</strong> 1821).Actitis macularius (Linnaeus, 1766)Tringoi<strong>de</strong>s macularia (Linné) (p.309)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Tringa solitaria Wilson, 1813Totanus solitarius (Wils.) (p.309)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820), Pitangui (9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820)STERNIDAEThalasseus acuflavidus (Cabot, 1847)Sterna cantiaca Gmel. (p.324-325)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Thalasseus maximus (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Sterna galericulata (Licht.) (p.324)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)COLUMBIFORMESCOLUMBIDAEPatagioenas cayennensis (Bonaterre, 1792)Chloroenas rufina (Temm.) (p.275)L: Pitangui (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820), Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820).125 Sobre a localização <strong>de</strong> “Delgado”, vi<strong>de</strong> <strong>no</strong>ta <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé n°62.118


Patagioenas plumbea (Vieillot, 1818)Chloroenas plumbea (Vieill.) (p.274-275)L: Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)[Nota <strong>de</strong> ro<strong>da</strong>pé:] ―Ein Ex. vom RioBoraxudo December konnte ich nichtvergleichen. […]. Ein Ex. aus Guiana (?)wur<strong>de</strong> von H Straube 1846 erworben.‖“Um exemplar do Rio Boraxudo <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro eu não pu<strong>de</strong> comparar. [...]. Umexemplar <strong>da</strong> “Guiana” (?) foi comprado dosr. Straube 126 em 1846.”Zenai<strong>da</strong> auriculata (Des Murs, 1847)Zenai<strong>da</strong> maculata (Vieill.) (p.276)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820), Pitangui (9 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820), Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820).―Curytiba in Schaaren von 5-6 auf <strong>de</strong>mCampo auch nahe an Häusern,November‖.“Curitiba em bandos <strong>de</strong> 5 ou 6 em campos,muito perto <strong>de</strong> casas, <strong>no</strong>vembro”.Leptotila verreauxi Bonaparte, 1855Leptotila ochroptera <strong>Natterer</strong> (p.278)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820)Geotrygon montana (Linnaeus, 1758)Oreopeleia montana (Linné) (p.279)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)PSITTACIFORMESPSITTACIDAEAra chloropterus Gray, 1859Sittace chloroptera (Gray) (p.255)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821) 127 .126 Refere-se a Franz Gustav Straube (1802-1853), comerciante <strong>de</strong> naturália e trisavô doautor <strong>da</strong> presente obra (Straube, 2010).127 Literalmente: “Murungaba von H.Sochor gesammelt” (“Morungaba, coleta<strong>da</strong> pelo sr.Sochor”).119


Primolius maracana (Vieillot, 1816)Sittace maracana (Vieill.) (p.255)L: Murungaba 128 (sem <strong>da</strong>ta; provavelmente março <strong>de</strong> 1821)Pyrrhura frontalis (Vieillot, 1817)Conurus vittatus (Shaw) (p.259)L: Curytiba in Schaaren (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Amazona vinacea (Kuhl, 1820)Chrysotis vinacea (Pr.Neuw.) (p.265)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821), Pitangui (10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820)Amazona brasiliensis (Linnaeus, 1758)Chrysotis brasiliensis (Linné) (p.265) 129L: Ilha do Mel (janeiro <strong>de</strong> 1821) [1 exemplar].―Auf <strong>de</strong>r Ilha do Mel geschossen, wo siehäufig waren, in Schaaren, jedoch immerpaarweise, Januar‖“Coletado na Ilha do Mel, on<strong>de</strong> eramvistos em bandos, mas sempre em pares,janeiro”.Amazona aestiva (Linnaeus, 1758)Chrysotis aestiva (Latham) (p.267)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820), Murungaba (março e abril <strong>de</strong>1821).STRIGIFORMESSTRIGIDAEAthene cunicularia (Molina, 1782)Athene ferruginea (Pr.Neuw.) (p.9)L: Cinzas (setembro <strong>de</strong> 1820)Athene cunicularia Mol. (p.9)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)128 A menção <strong>no</strong> formato “Murungaba ?”, refere-se ao <strong>de</strong>sconhecimento <strong>de</strong> <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> coletae não a alguma dúvi<strong>da</strong> quanto à locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> on<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>.129 Nome popular usado na ilha do Mel: “papagaio”.120


Asio flammeus (Pontoppi<strong>da</strong>n, 1763)Otus brachyotus (Gmel.) (p.10)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)CAPRIMULGIFORMESCAPRIMULGIDAELurocalis semitorquatus (Gmelin, 1789)Lurocalis nattereri (Temm.) (p.15)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Po<strong>da</strong>ger nacun<strong>da</strong> (Vieillot, 1819)Po<strong>da</strong>ger nacun<strong>da</strong> (Vieill.) (p.15)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820), Murungaba (março <strong>de</strong> 1821).Caprimulgus parvulus Gould, 1837Ste<strong>no</strong>psis parvula (Gould.) (p.12)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Eleothreptus a<strong>no</strong>malus (Gould, 1838)Eleothreptus a<strong>no</strong>malus Gould (p.12)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)APODIFORMESAPODIDAECypseloi<strong>de</strong>s fumigatus (Streubel, 1848)Nephocaetes fumigatus (<strong>Natterer</strong>.) (p.16)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)TROCHILIDAEStepha<strong>no</strong>xis lalandi (Vieillot, 1818)Cephalolepis loddigesii (Gould) (p.33)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812)Hylocharis flavifrons (Gmel.) (p.33)L: Curytiba [outubro ou <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820]121


Thalurania glaucopis (Gmelin, 1788)Thalurania glaucopis (Gmel.) (p.29)L: Jaguaraiba [sem <strong>da</strong>ta indica<strong>da</strong>]Leucochloris albicollis (Vieillot, 1818)Agyrtria albicollis (Vieill.) (p.29)L: Curytiba [outubro ou <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820]Amazilia versicolor (Vieillot, 1818)Agyrtria brevirostris (Less.) (p.29)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Calliphlox amethystina (Bod<strong>da</strong>ert, 1783)Calliphlox amethystina (Gmel.) (p.32)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)CORACIIFORMESALCEDINIDAEMegaceryle torquata (Linnaeus, 1766)Ceryle torquata (Linné) (p.23)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820), Rio do Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820), Paranagua (janeiro <strong>de</strong> 1821) 130 .Chloroceryle amazona (Latham, 1790)Ceryle amazona (Gmel.) 131 (p.23)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)PICIFORMESRAMPHASTIDAERamphastos dicolorus Linnaeus, 1766Ramphastos dicolorus Linné (p.235)L: Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)130 Em Pelzeln (1856b:514): “Curytiba, October”. Não cita outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s paranaenses.131 Em Pelzeln (1856b:515), para “Ceryle amazona Boie (sic)” as mesmas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>scita<strong>da</strong>s em Pelzeln (1871) são indica<strong>da</strong>s, exceto “Paranagua”. Deve ter havido equívoco<strong>no</strong> tratamento <strong>no</strong>menclatural; Alcedo americana é que foi <strong>de</strong>scrita por Gmelin.122


PICIDAEMelanerpes flavifrons (Vieillot, 1816)Melanerpes flavifrons (Vieill.) (p.248)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Veniliornis spilogaster (Wagler, 1827)Campias spilogaster (Wagl.) (p.247)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Piculus aurulentus (Temminck, 1821)Chloronerpes aurulentus (Illig.) (p.243)L: Villa <strong>de</strong> Castro (setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong>1820)Colaptes mela<strong>no</strong>chloros (Gmelin, 1788)Chrysoptilus chlorozostus (Wagl.) (p.249)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820)Colaptes campestris (Vieillot, 1818)Pediopipo campestris (Vieill.) (p.249)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)PASSERIFORMESTHAMNOPHILIDAEDysithamnus mentalis (Temminck, 1823)Dysithamnus mentalis (Temm.) (p.79-80)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Tham<strong>no</strong>philus ruficapillus Vieillot, 1816Tham<strong>no</strong>philus ruficapillus Vieill. (p.79)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Tham<strong>no</strong>philus caerulescens Vieillot, 1816Tham<strong>no</strong>philus naevius (Lath.) (p.76-77)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)123


―Einige Männchen, beson<strong>de</strong>rs vonCurytiba, haben ocherfarben Bauch unduntere Schwanz<strong>de</strong>ckfe<strong>de</strong>rn ; diese Varietätnannte Temminck Th. Gilvigaster.‖[Ro<strong>da</strong>pé]: Die bei<strong>de</strong>n Männchen vonCurytiba gehören zur Varietät gilvigaster,ein Männchen von Ypanema hat gelblichenAnflug auf Bauch undUnterschwanz<strong>de</strong>cken, zwischen <strong>de</strong>nWeibehen von Curytiba und Ypanema istkein Unterschied zu bemerken.“Alguns machos, oriundos <strong>de</strong> Curitiba,têm o abdômen e as coberteiras inferiores<strong>da</strong> cau<strong>da</strong> ocráceos; essa varie<strong>da</strong><strong>de</strong> foichama<strong>da</strong> por Temminck <strong>de</strong>Th.gilvigaster.” 132“Os dois machos <strong>de</strong> Curitiba pertencem àvarie<strong>da</strong><strong>de</strong> gilvigaster e um macho <strong>de</strong>Ipanema tem coloração amarela<strong>da</strong> nabarriga e coberteiras inferiores <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>;sob esse aspecto, nenhuma diferença é<strong>no</strong>tável entre os casais <strong>de</strong>ssas duaslocali<strong>da</strong><strong>de</strong>s.”Batara cinerea (Vieillot, 1819)Batara cinerea (Vieill.) (p.74)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Mackenziaena leachii (Such, 1825)Tham<strong>no</strong>philus Leachi Such (p.74)L: Campo comarido (?) (outubro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong>1820)FORMICARIIDAEChamaeza campanisona (Lichtenstein, 1823)Chamaeza brevicau<strong>da</strong> (Vieill.) (p.91)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)DENDROCOLAPTIDAELepidocolaptes falcinellus (Cabanis & Heine, 1859)Picolaptes falcinellus (Licht.) (p.44)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Xiphocolaptes albicollis (Vieillot, 1818)Xiphocolaptes albicollis (Vieill.) (p.43)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)132 Aqui Pelzeln quer dizer que, <strong>de</strong>ntre to<strong>da</strong> a série, alguns machos (todos eles) oriundos <strong>de</strong>Curitiba, apresentariam tal característica. A forma encontra<strong>da</strong> na capital paranaense ésomente T.c.gilvigaster.124


FURNARIIDAEXe<strong>no</strong>ps rutilans Temminck, 1821Xe<strong>no</strong>ps rutilus Licht. (p.42)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Lochmias nematura (Lichtenstein, 1823)Lochmias nematura (Licht.) (p.35)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 133Philydor rufum (Vieillot, 1818)Anabates poliocephalus (Licht.) (p.40)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 134 .Heliobletus contaminatus Berlepsch, 1885Anabates contaminatus (Lich.) (p.40)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 135Syn<strong>da</strong>ctyla rufosuperciliata (Lafresnaye, 1832)Anabates rufosuperciliatus (Lafr.) (p.39-40)L: Lanza (setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 136Leptasthenura striolata (Pelzeln, 1856)Synallaxis striolatus <strong>Natterer</strong> (p.38)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 137133 Em Pelzeln (1859:116): “Curytiba, October”.134 Em Pelzeln (1859:130): “Curytiba, in kleinen Schaaren auf Bäumen, steigt herum wieMeisen, mehr auf kleinen Zweigen und selbst Blättern als auf dicken Stämmen, October;”(“Curitiba em peque<strong>no</strong>s grupos, em árvores em cuja cascas crescem como que mamasespecialmente <strong>no</strong>s troncos e também <strong>no</strong>s galhos peque<strong>no</strong>s, outubro”). Refere-se <strong>Natterer</strong>,em sua a<strong>no</strong>tação, à rutácea Zanthoxylum sp. (provavelmente a Z.rhoifolium) árvorefrequente em Curitiba, ali conheci<strong>da</strong> como “mamica-<strong>de</strong>-porca”, “mamica-<strong>de</strong>-ca<strong>de</strong>la” e“juvevê”.135 Em Pelzeln (1859:129): “Curytiba, October, häufig bei <strong>de</strong>m Ort (?) in Gesellschaft von2-3 mit an<strong>de</strong>ren Vögeln, klettert auf hohe Bäume.” (“Curitiba, outubro, frequente <strong>no</strong> localna companhia <strong>de</strong> outras duas ou três aves, escalando árvores altas”).136 Pelzeln (1859:128) oferece também uma <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> espécie e medi<strong>da</strong>s, com aslocali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: “[...] Lança, September; Curytiba, October”.137 Em Pelzeln (1859:126), a indicação do montante colecionado: “Drei Exemplare” (“Trêsexemplares”), todos oriundos <strong>da</strong> capital paranaense. Em Pelzeln (1856a:159-160) consta a125


Phacellodomus striaticollis (d‟Orbigny & Lafresnaye, 1838)Anumbius striaticollis Orb. Et Lafr. (p.38) 138L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820) 139Cliba<strong>no</strong>rnis <strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s (Pelzeln, 1859)Anabates <strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s Temm. (p.39) 140L: Bocqueirao (setembro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro (setembro <strong>de</strong>1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820).―Bocqueirao an <strong>de</strong>n Ufern <strong>de</strong>s FlussesYapó‖“Boqueirão na margem do Rio Iapó”.<strong>de</strong>scrição original <strong>da</strong> espécie em latim (complementa<strong>da</strong> adiante, em alemão), medi<strong>da</strong>s ediag<strong>no</strong>se, em comparação com formas afins. A indicação <strong>da</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo é “Hub. (sic,leia-se „Hab.‟) Brasilia”. Algumas a<strong>no</strong>tações seleciona<strong>da</strong>s são: “Von <strong>Natterer</strong> zu Curitivaim October 1820 auf nie<strong>de</strong>ren Bäumen in einem einzigen männlichen Exemplare (mitlei<strong>de</strong>r etwas beschädigten Mittelschwanzfe<strong>de</strong>rn) erlegt und folgend ermassen beschrieben:‗Iris dunkelbraun, Schnabel schwarz, die Wurzel <strong>de</strong>s unteren fleischfarben, Nasenlöcherschmal linienförmig, mit kleinen Fe<strong>de</strong>rchen be<strong>de</strong>ckt, Tarsen lang, schwach, Füsseolivengrün, Schwanz lang, stark keilförmig, Mittelfe<strong>de</strong>rn stark zugespitzt, enthält 12Fe<strong>de</strong>rn‘.” (“Por <strong>Natterer</strong> em Curitiba em outubro <strong>de</strong> 1820, em árvores baixas, apenasespécimes machos (com, infelizmente, as penas mediais <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>s pelo tiro) e<strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>scritos a seguir: „íris marrom escura, bico preto com a base <strong>da</strong> mandíbula cor<strong>de</strong>-carne,narinas estreitas e lineares recobertas por penas pequenas, tarsos longos e fracos,pés oliváceos, cau<strong>da</strong> longa em forma <strong>de</strong> cunha, cuja média apontou para um total <strong>de</strong> 12penas”.)138 Pelzeln (1859:124) menciona um exemplar <strong>de</strong> “Anumbius ruber Orb. & Lafr.” coletadoem “Curytiba, November” e que po<strong>de</strong>ria gerar informação inadverti<strong>da</strong> para Phacellodomusruber, espécie que não ocorre naquela região. O equívoco baseia-se provavelmente <strong>no</strong>“Anumbius ruber” <strong>de</strong> Gould (não <strong>de</strong> Vieillot), sinônimo-júnior <strong>de</strong> Phacellodomusstriaticollis (cf. Hellmayr, 1925:64).139 Informações adicionais sobre a espécie, coleta<strong>da</strong> por <strong>Natterer</strong> apenas em Curitiba,constam em Pelzeln (1859:125), incluindo <strong>de</strong>scrições e medi<strong>da</strong>s, bem como apontamentosobre hábitat: “Curytiba, in Morästen, auf Sträuchen, November.‖ (“Curitiba, em arbustosem pânta<strong>no</strong>s, <strong>no</strong>vembro”).140 Em Pelzeln (1859:104) consta a <strong>de</strong>scrição original em latim <strong>da</strong> espécie e diag<strong>no</strong>se, comindicação <strong>de</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong> como “Habit. Brasilia”. Adiante, informa: “<strong>Natterer</strong> erlegte 8Individuen dieser Species, welche er Anfangs mit <strong>de</strong>m Namen Anabates lepidogenys imKataloge bezeichnete. Später adoptirte er jedoch die von Temminck, welchem er einExemplar zugesen<strong>de</strong>t hatte, brieflich gebrauchte Benennung Anabates <strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s.”(“<strong>Natterer</strong> coletou oito exemplares <strong>de</strong>ssa espécie que, em seus catálogos, <strong>no</strong>meou comoAnabates lepidogenys. Mais tar<strong>de</strong>, porém, ele adotou o <strong>no</strong>me usado por Temminck, aquem enviou um espécime e que, por carta, informou-o sobre o <strong>no</strong>me Anabates<strong>de</strong>ndrocolaptoi<strong>de</strong>s.”). No mesmo artigo (Pelzeln, 1859:128), constam <strong>da</strong>dos sobre aslocali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> coleta e ecologia: “Bocqueirao an <strong>de</strong>n Ufern <strong>de</strong>s Flusses Yapo, im Gebüscham Bo<strong>de</strong>n, September; Curytiba in nie<strong>de</strong>rem Gebüsch nahe am Bo<strong>de</strong>n, October,November; Villa <strong>de</strong> Castro, September.‖ (“Boqueirão nas margens do Rio Iapó, emarbustos do chão, setembro; Curitiba em arbustos baixos perto do solo, outubro,<strong>no</strong>vembro; Vila <strong>de</strong> Castro, setembro”).126


Anumbius annumbi (Vieillot, 1817)Anumbius acuticau<strong>da</strong>tus Less. (p.38)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 141Synallaxis ruficapilla Vieillot, 1819Synallaxis ruficapilla (Vieill.) (p.35)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 142Synallaxis cinerascens Temminck, 1823Synallaxis cinerascens Temm. (p.36)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 143Cranioleuca obsoleta (Reichenbach, 1853)Synallaxis Fitis <strong>Natterer</strong> (p.38)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820) 144PIPRIDAEChiroxiphia cau<strong>da</strong>ta (Shaw & Nod<strong>de</strong>r, 1793)Chiroxiphia cau<strong>da</strong>ta (Shaw.) (p.129)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)TITYRIDAESchiffornis virescens (Lafresnaye, 1838)Heteropelma virescens (Pr.Neuw.) (p.124)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)―...Curytiba im tiefen Wal<strong>de</strong> October‖.“Em Curitiba <strong>no</strong> fundo <strong>de</strong> uma floresta emoutubro.”141 Em Pelzeln (1859:124): “Curytiba October, […], Jaguaraiba September, […]”.142 Em Pelzeln (1859:116-177), um apontamento adicional: “Curytiba, October, nahe amBo<strong>de</strong>n in dunklem Gebüsch grosser Wäl<strong>de</strong>r [...]” (“Curitiba, [em] outubro, em uma matafecha<strong>da</strong> <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> bloco florestal”).143 Em Pelzeln (1859:118-119), a<strong>no</strong>tação complementar: “Curitiba in dunklem Wal<strong>de</strong>, innie<strong>de</strong>rem Gebüsch nahe am Bo<strong>de</strong>n, October [...]” (“Curitiba, em uma floresta escura, emarbustos perto do chão, outubro”).144 Dados adicionais em Pelzeln (1859:123): “Curytiba in nie<strong>de</strong>rem Gesträuch, October.”(“Curitiba, em arbustos baixos, outubro”).127


Tityra cayana (Linnaeus, 1766)Tityra brasiliensis (Swains.) (p.119)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Pachyramphus viridis (Vieillot, 1816)Pachyramphus viridis (Vieill.) (p.120-121)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Pachyramphus castaneus (Jardine & Selby, 1827)Pachyramphus rufescens (Gmel.) (p.122)L: Curytiba (outubtro <strong>de</strong> 1820)Pachyramphus polychopterus (Vieillot, 1818)Pachyramphus polychropterus (Vieill.) (p.121)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)―...Curytiba auf einem nie<strong>de</strong>ren Baume inGesellschaft an<strong>de</strong>rer Vögel, alsSpechtdrosseln und Fliegenfänger,October, <strong>da</strong>nn im November…‖“Em Curitiba em uma árvore baixa, emcompanhia <strong>de</strong> outras aves como sabiás,pica-paus e papa-moscas (outubro), emsegui<strong>da</strong>, em <strong>no</strong>vembro”.Pachyramphus validus (Lichtenstein, 1823)Hadrostomus atricapillus (Vieill.) (p.120)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro(<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)COTINGIDAEPyro<strong>de</strong>rus scutatus (Shaw, 1792)Pyro<strong>de</strong>rus scutatus (Shaw.) (p.135)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Carpornis cucullata (Swainson, 1821)Ampelio cucullatus (Swains.) (p.132)L: Campo largo (outubro <strong>de</strong> 1820) 145145 No passado, foi motivo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> suspeita a presença <strong>de</strong>ssa espécie tipicamente serranana região <strong>de</strong> Campo Largo. Atualmente sabe-se que ocorre eventual e muito raramente emCuritiba (Straube et al., 2009). Além disso, sua presença é mais do que espera<strong>da</strong>, não nase<strong>de</strong> do município citado mas em suas adjacências, <strong>no</strong>tavelmente nas nascentes do rio128


[Nome popular:] “Corocoteho (Campolargo)”“Corocotéu (Campo Largo)”.Phibalura flavirostris Vieillot, 1816Phibalura flavirostris Vieill. (p.131)L: Campo largo (outubro <strong>de</strong> 1820)RHYNCHOCYCLIDAEMionectes rufiventris Cabanis, 1846Mionectes rufiventris (Licht.) (p.104)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Leptopogon amaurocephalus Tschudi, 1846Leptopogon amaurocephalus Caban. (p.104)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Phylloscartes ventralis (Temminck, 1824)Phylloscartes ventralis (<strong>Natterer</strong>) (p.102)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Hemitriccus diops Pelzeln, 1868Hemitriccus diops (Temm.) (p.103)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)―Curytiba im dichten Wal<strong>de</strong> nahe amBo<strong>de</strong>n‖“Em Curitiba numa <strong>de</strong>nsa floresta, pertodo solo”.Ribeira e na porção meridional <strong>da</strong> serra <strong>de</strong> Paranapiacaba, o que efetivamente concor<strong>da</strong>com o itinerário <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong> em solo paranaense.129


TYRANNIDAETyranniscus burmeisteri Cabanis & Heine, 1859Phyllomyias subviridis (<strong>Natterer</strong>) 146 (p.105; 175-176)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Camptostoma obsoletum (Temminck, 1824)Myiopatis obsoleta (<strong>Natterer</strong>) (p.106)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Elaenia parvirostris Pelzeln, 1868Elainea parvirostris Pelzeln n.sp.? (p.107; 178-179) 147L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Elaenia mesoleuca Cabanis & Heine, 1859Elainea albiceps (Lafr. et Orb.) (p.107)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Elaenia obscura (d‟Orbigny & Lafresnaye, 1859)Elainea obscura (Lafr. et Orb.) (p.108)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Phyllomyias virescens (Temminck, 1824)Phyllomyias virescens (<strong>Natterer</strong>) (p.105)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Phyllomyias fasciatus (Thunberg, 1822)Phyllomyias brevirostris (Spix) (p.105)L: S.Luiz (30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820)146 No anexo “Beschreibung neuer o<strong>de</strong>r wenig gekannter Arten” (“Descrição <strong>de</strong> espécies<strong>no</strong>vas ou pouco conheci<strong>da</strong>s”), consta a <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> espécie ti<strong>da</strong> como <strong>no</strong>va e <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong>“Tyrannus subviridis” por <strong>Natterer</strong>. Ali inclui <strong>de</strong>scrição, diag<strong>no</strong>se, medi<strong>da</strong>s e outros<strong>de</strong>talhes, <strong>de</strong>ntre eles: “Weibchen (Curytiba, October). Iris lichtbraun, Oberschnabelschwarzbraun, Unterschnabel schmutzig fleischfarb, spitze schwärzlich, Füsseschwarzgrau” (Fêmeas (Curitiba, outubro). Íris marrom claras, maxila marrom enegraci<strong>da</strong>,mandíbula cor-<strong>de</strong>-carne com a ponta preta, pés cinzento escuros”).147 No mesmo anexo consta a <strong>de</strong>scrição original <strong>da</strong> espécie e medi<strong>da</strong>s. Inclui-se um“<strong>Natterer</strong>‘s Notizen: Männchen (Curytiba am Ran<strong>de</strong> <strong>de</strong>s Wal<strong>de</strong>s, November). Irisdunkelbraun Oberschnabel und Spitze <strong>de</strong>s unteren schwarzbraun, <strong>de</strong>r übrigeUnterschnabel bräunlich fleischfarb, Füsse graulich schwarz [...]”. (“A<strong>no</strong>tações <strong>de</strong><strong>Natterer</strong>: Machos (Curitiba na bor<strong>da</strong> <strong>de</strong> floresta, <strong>no</strong>vembro). Íris marrom escura, maxilacastanha, mandíbula com ponta castanha-escura e o restante cor-<strong>de</strong>-carne, pés negroacinzentados”).130


Culicivora cau<strong>da</strong>cuta (Vieillot, 1818)Culicivora stenura (Temm.) (p.103)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Piprites pileata (Temminck, 1822)Piprites pileatus (Temm.) (p.126)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Attila phoenicurus Pelzeln, 1868Attila phaenicurus (<strong>Natterer</strong>) n.sp. (p.96, 171-172) 148L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Attila rufus (Vieillot, 1819)Attila cinereus (Gmel.) (p.95)L: Paranagua (janeiro <strong>de</strong> 1821)“[...] Der Gesang ist ein Pfiff, <strong>de</strong>r feinanfängt und grob aufhört, fast wie Tovocu,doch nicht so lange; er sitzt <strong>da</strong>bei aufeinem Baume (Paranagua)‖.“[…] Seu canto é como um apito quecomeça bonito e termina forte, quase comoo <strong>da</strong> Tovocu (sic), porém não tão longo;pousa em árvores (Paranaguá)” 149 .Legatus leucophaius (Vieillot, 1818)Legatus albicollis (Vieill) (p.108)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Myiarchus swainsoni Cabanis & Heine, 1859 150Myiarchus ferox (Gmel.) (p.116)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)[Ro<strong>da</strong>pé:] Es ist auffallend, <strong>da</strong>ss unter sovielen Exemplaren sich nur ein mit“É impressionante como, em uma sériegran<strong>de</strong> como essa, apenas uma fêmea148 No anexo: “Beschreibung neuer o<strong>de</strong>r wenig gekannter Arten” (Descrição <strong>de</strong> espécies<strong>no</strong>vas ou pouco conheci<strong>da</strong>s), a <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> espécie e medi<strong>da</strong>s dos exemplares, inclusive:“[...] Männchen (alt, Curytiba einzeln auf einem hohen Baume, October)” [...]”. (“Macho(adulto <strong>de</strong> Curitiba, solitário <strong>no</strong> alto <strong>de</strong> uma árvore, outubro” [...]”).149 Talvez <strong>Natterer</strong> tenha comparado o canto com o <strong>da</strong> tovaca (Tovocu?) (Chamaezacampanisona), por causa <strong>da</strong> sequência repetitiva <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas que formam uma característicapaisagem so<strong>no</strong>ra <strong>de</strong>ssa região. As vocalizações, <strong>no</strong> entanto, são muito diferentes.150 Parte dos exemplares que Pelzeln (1871) i<strong>de</strong>ntificou como M.ferox (Gmel.), consistia<strong>de</strong> M.tyrannulus bahiae (p.ex. Ypanema) e, outra parte (on<strong>de</strong> se inclui o material <strong>de</strong>Curitiba), tratava-se <strong>de</strong> M.swainsoni (Helllmayr, 1927:173; Lanyon, 1978:512, 601).131


Sicherheit als Weibchen bezeichneterVogel fin<strong>de</strong>t, welcher <strong>da</strong>s Roth amSchwänze wie die Männchen zeigtDagegen fehlt <strong>da</strong>s Roth bei einemangeblichen Weibchen ohne Angabe <strong>de</strong>sFundortes, bei Männchen von Ypanema(September, October), Curytiba, Borbaund Marabitanas, ferner bei einigenIndividuen, <strong>de</strong>ren Fundorte nichtfestgestellt sind.tenha sido reconheci<strong>da</strong> como tal eapresentando um tom avermelhado nacau<strong>da</strong>, o que não ocorre em nenhum dosmachos (e também em uma provávelfêmea sem indicação <strong>de</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>). [Asérie] consta <strong>de</strong> machos oriundos <strong>de</strong>Ipanema (setembro, outubro), Curitiba,Borba e Marabitanas, além <strong>de</strong> algunsindivíduos sem procedência indica<strong>da</strong>.”Myiarchus swainsoni Cabanis & Heine, 1859 [em parte] eMyiarchus ferox (Gmelin, 1789) [em parte] 151Myiarchus cantans Pelzeln n.sp. (p.117; 182)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820) 152―Curytiba October in nie<strong>de</strong>rem GehölzNovember‖“Curitiba em outubro, em matas baixas em<strong>no</strong>vembro”Sirystes sibilator (Vieillot, 1818)Sirystes sibilator (Vieill.) (p.111-112)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Myiodynastes maculatusMyiodynastes solitarius (Vieill.) (p.112)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)―...sitzt ruhig wartend aufvorüberfliegen<strong>de</strong> Insecten (CurytibaOct.)‖“…pousa calmamente à espera <strong>de</strong> insetosvoadores (Curitiba, outubro)”.151 Segundo Lanyon (1978:512 e 579), Pelzeln usou exemplares <strong>de</strong> ambas as espécies para<strong>de</strong>screver M.cantans; a primeira <strong>de</strong>las alu<strong>de</strong> à forma M.s.swainsoni e, a segun<strong>da</strong>, aM.f.australis.152 No anexo: “Beschreibung neuer o<strong>de</strong>r wenig gekannter Arten” (Descrição <strong>de</strong> espécies<strong>no</strong>vas ou pouco conheci<strong>da</strong>s), consta a <strong>de</strong>scrição original <strong>da</strong> espécie e medi<strong>da</strong>s dosespécimes. Inclui um “<strong>Natterer</strong>‘s Notizen: Ex. (auf einem nie<strong>de</strong>ren Baume, Curytiba,October). Iris dunkelbraun, Schnabel schwarzbraun, die Wurzel <strong>de</strong>s Unterschnabels etwasin Röthlichbraun übergehend, Nasenlöcher rund, offen, Wurzel <strong>de</strong>r Schnabels mit ziemlichgrossen Borsten besetzt, Füsse schwarz” [...] “Männchen (Curytiba in nie<strong>de</strong>rem Gehölze,November) [...] ―Gesang melodisch (Curytiba, October)‖. (“A<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>:Ex.[emplar] (em uma árvore baixa em Curitiba, outubro). Íris marrom escura, bico marromenegrecido, com a base marrom-avermelha<strong>da</strong>, narinas redon<strong>da</strong>s, base do bico revesti<strong>da</strong> porcer<strong>da</strong>s muito longas, pés negros”).132


Tyrannus melancholicus Vieillot, 1819Tyrannus melancholicus Vieill. (p.117)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Tyrannus savana Vieillot, 1808Milvulus violentus (Vieill.) (p.118)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820), Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Empido<strong>no</strong>mus varius (Vieillot, 1818)Empido<strong>no</strong>mus varius (Vieill.) (p.117)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Pyrocephalus rubinus Bod<strong>da</strong>ert, 1783Pyrocephalus rubineus (Bodd.) (p.114-115)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820) 153Alectrurus tricolor (Vieillot, 1816)Alectrurus tricolor (Vieill.) (p.98)L: Jaguaraiba (janeiro <strong>de</strong> 1821)Lathotriccus euleri (Cabanis, 1868)Empidochanes fuscatus (Pr.Neuw.) (p.115)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Contopus cinereus (Spix, 1825)Myiochanes cinereus (Spix.) (p.116)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Knipolegus cyanirostris (Vieillot, 1818)Cnipolegus cyanirostris (Vieill.) (p.98-99)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Knipolegus lophotes Boie, 1828Cnipolegus comatus (Licht.) (p.98)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820 e janeiro <strong>de</strong> 1821), Lanza(janeiro <strong>de</strong> 1821)153 No ro<strong>da</strong>pé, as medi<strong>da</strong>s dos exemplares “Altes Männchen von [...] Jaguaraiba”(“Machos adultos <strong>de</strong> [...] Jaguariaíva”).133


Xolmis cinereus (Vieillot, 1816)Taenioptera nengeta (Linné) (p.97)L: Portinho 154 (14 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820)Xolmis dominicanus (Vieillot, 1823)Taenioptera dominicana (Vieill.) (p.97)L: Porto do Jaguaraiba (bei Postinho) (setembro <strong>de</strong> 1820),Joaquim Carneiro (24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (<strong>no</strong>vembro<strong>de</strong> 1820), Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)VIREONIDAEVireo olivaceus (Linnaeus, 1766)Vireosylvia agilis (Licht.) (p.73)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Cyclarhis gujanensis (Gmelin, 1789)Cyclorhis ochrocephala Tschudi (p.73-74; 138) 155L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Hylophilus poicilotis Temminck, 1822Hylophilus poecilotis Temm. (p.70)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820) 156 , Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820).―Ob die bei<strong>de</strong>n Weibchen von Curytiba in<strong>de</strong>r That zu H. poecilotis und nicht zurfolgen<strong>de</strong>n Species gehören, konnte nicht“O fato dos dois espécimes <strong>de</strong> Curitiba,serem mesmo <strong>de</strong> H.poecilotis e não <strong>de</strong>alguma outra <strong>de</strong>ntre as <strong>de</strong>mais, po<strong>de</strong> já ser154 Erro tipográfico; o certo é “Postinho”. Houve confusão com o “Porto do Jaguaraiba(bei Postinho)”.155 No anexo: “Beschreibung neuer o<strong>de</strong>r wenig gekannter Arten” (Descrição <strong>de</strong> espécies<strong>no</strong>vas ou pouco conheci<strong>da</strong>s): ―...8 Männchen und 5 Weibchen all vom südlichen Brasilienvon Rio, Ypanema und Curytiba und gleich in <strong>de</strong>r Farbe‖. (“Oito machos e cinco fêmeasdo sul do Brasil: Rio [<strong>de</strong> Janeiro], Ipanema e Curitiba, todos iguais em cor”).156 Embora a locali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Jaguariaíva se enquadre na zona <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong>H.amaurocephalus, tanto essa quanto H.poicilotis ali ocorrem (Straube et al. 2005). Alémdisso, o exemplar <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, um macho adulto <strong>da</strong>li proce<strong>de</strong>nte foi reexaminado porHellmayr (1935:159, ro<strong>da</strong>pé) que assim se manifestou: “A<strong>no</strong>ther adult male fromJaguaraiba, Parana, can<strong>no</strong>t be distinguished, even in size, from the latter race [referindosea H.p.poicilotis]”. A confusão aqui alu<strong>de</strong> ao fato <strong>de</strong> existirem, na série <strong>de</strong> exemplares,representantes <strong>de</strong> H.poicilotis e H.brunneiceps, o que fez Sclater, na <strong>de</strong>scrição original <strong>da</strong>segun<strong>da</strong> forma, indicar “Ypanema” como locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo (portanto, na área <strong>de</strong> distribuição<strong>de</strong> H.poicilotis). Por esse motivo é que Pelzeln incluiu tal comentário, confirmado muitotempo <strong>de</strong>pois pela diligente avaliação <strong>de</strong> Hellmayr (1935:168).134


mehr durch <strong>de</strong>n Augenschein eruirtwer<strong>de</strong>n, <strong>da</strong> die betreffen<strong>de</strong>n Individuenabgegeben wur<strong>de</strong>n ; <strong>de</strong>n<strong>no</strong>ch dürfte überdie Zugehörigkeit zu H.poecilotis keinZweifel obwalten, <strong>da</strong> nur 4 Individuen alsN. 371 b. abgetrennt wor<strong>de</strong>n sind.‖confirmado pela inspeção, razão pela qualforam separados. Sem dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong>veprevalecer essa opinião, o que me fezseparar <strong>da</strong> série outros quatro indivíduos,sob n°371.b [refere-se a H.brunneiceps].”CORVIDAECya<strong>no</strong>corax chrysops (Vieillot, 1818)Cya<strong>no</strong>corax pileatus (Illig.) (p.189)L: Cinzas (setembro <strong>de</strong> 1820)―...bei Cinzas in nie<strong>de</strong>rem Gehölz naeinem Bächlein September...‖“...na [Fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s] Cinzas em florestabaixa em riacho, setembro”Cya<strong>no</strong>corax caeruleus (Vieillot, 1818)Cya<strong>no</strong>corax azureus (Temm.) (p.191)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820),Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)[Nome popular:] “Acahen(Paranagua)” 157 .“Acaê (Paranaguá)”.Cya<strong>no</strong>corax Heckelii Pelzeln (p.191) 158L: Rio Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)157 Já há algumas déca<strong>da</strong>s que se conhece a diferença <strong>de</strong> plumagem entre as gralhas-azuisdo litoral (mais violáceas) <strong>da</strong>quelas do interior (coloração mais clara, celeste), mas até omomento nenhuma conclusão taxonômica (tampouco ecológica) foi sequer formula<strong>da</strong>. O<strong>no</strong>me popular apontado para Paranaguá, embora associado às três locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s planálticas,<strong>de</strong>ssa forma, refere-se às populações litorâneas.158 Em Pelzeln (1856a:163), consta a <strong>de</strong>scrição original do táxon em latim. Foi tratado por<strong>Natterer</strong> como “Corvus sp.” E consta como “Hab. Brasilia”. Também: “Dem Corvusazureus Temminck sehr ähnlich, doch hat er ein ganz an<strong>de</strong>res Blau, welches mehr insViolette geht, und ist auch etwas kleiner. […]. Ist <strong>de</strong>n Pflanzungen sehr schädlich, frisstMais, Zuckerrohr, Gemüse, Pataten, etc. <strong>Natterer</strong>, aus <strong>de</strong>ssen Kataloge diese Notizenent<strong>no</strong>mmen sind, erlegte 4 Exemplare dieser Art (2 Männchen und 2 Weibchen) am RioBoraxudo bei Paranagua in hohem Wal<strong>de</strong>.” (“É muito semelhante a Corvus azureusTemminck, mas o azul é diferente,mais violáceo e também é um pouco me<strong>no</strong>r. [...] Sãomuito prejudiciais a cultivos por comerem milho, cana-<strong>de</strong>-açúcar, legumes, batata, etc.<strong>Natterer</strong>, <strong>de</strong> cujas a<strong>no</strong>tações são tira<strong>da</strong>s esses <strong>de</strong>talhes, coletou quatro exemplares <strong>de</strong>ssaespécie (dois machos e duas fêmeas) <strong>no</strong> Rio do Borrachudo em Paranaguá, em florestaalta”.)135


“Rio Boraxudo bei Paranagua aus hohemWal<strong>de</strong>, December. 3(4?) Ex. Ist <strong>de</strong>nPflanzungen sehr schädlich, frisst Mais,Zuckerrohr, Gemüse, Pataten etc.”. [Nomepopular:] “Gralha azul. – Acaén.”.“Rio do Borrachudo em floresta alta,<strong>de</strong>zembro. Três ou quatro (?) exemplares.São muito prejudiciais a cultivos porcomerem milho, cana-<strong>de</strong>-açúcar, legumes,batata, etc” [...] “Gralha azul, acaê”TROGLODYTIDAECistothorus platensis (Latham, 1790)Cistothorus polyglottus (Vieill.) (p.48)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820)TURDIDAETurdus flavipes Vieillot, 1818Turdus flavipes Vieill. (p.94)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820).―Curytiba auf hohen Pinheirosbäumen[...]”―Singt sehr schön. — Im Magen Beeren(Curytiba).‖“Em Curitiba em um pinheiro alto [...]”“Canta maravilhosamente – <strong>no</strong> estômago[foram encontra<strong>da</strong>s] bagas (Curitiba).”Turdus rufiventris Vieillot, 1818Turdus rufiventris Vieill. (p.94)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>1820)Turdus leucomelas Vieillot, 1818Turdus leucomelas Vieill. (p.93)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)136


MOTACILLIDAEAnthus hellmayri Hartert, 1909Anthus rufus (Gmel.)? 159 (p.69)L: Lanza (Setembro <strong>de</strong> 1820), Campo largo (outubro <strong>de</strong> 1820),Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820).―Auf Steppengegend. Steigt etwas in dieHöhe beim Singen; Gesang verschie<strong>de</strong>nvon <strong>de</strong>m <strong>de</strong>r Art von Rio, die an Morästenwohnt (Campo largo). […] Auf Steppen. —Setzt sich bisweilen auf Gipfel höhererPflanzen, steigt singend in die Höhe, dochnicht sehr hoch und fällt singend wie<strong>de</strong>rnie<strong>de</strong>r. (Curytiba).‖“Na região <strong>de</strong> estepes. Eleva-se, em voopara o alto, enquanto canta; vocalizadiferente dos tipos encontrados <strong>no</strong> Rio [<strong>de</strong>Janeiro], que vivem em áreas alagadiças(Campo Largo). [...] Em estepe. – Pousa<strong>no</strong> alto <strong>de</strong> plantas <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se arremessapara cima cantando em ple<strong>no</strong> voo, mas seucanto não é muito <strong>no</strong>tável e logo aterrissa(Curitiba).”THRAUPIDAESaltator similis d‟Orbigny & Lafresnaye, 1837Saltator similis Lafr. et Orb. (p.218)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Orchesticus abeillei (Lesson, 1839)Orchesticus Abeillei Less. (p.220)L: Campo comprido (2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro<strong>de</strong> 1820).Ramphocelus bresilius (Linnaeus, 1766)Ramphocelus ephippialis Sclater (p.210)L: Rio <strong>de</strong> Boraxudo (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)Thraupis sayaca (Linnaeus, 1766)Tanagra sayaca Linné (p.208-209)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)159 Os espécimes mencionados foram reavalidos por Hellmayr (1935); <strong>no</strong>te-se que aespécie sequer havia sido <strong>de</strong>scrita, quando Pelzeln produziu a revisão do material <strong>de</strong><strong>Natterer</strong>.137


Stepha<strong>no</strong>phorus dia<strong>de</strong>matus (Temminck, 1823)Stepha<strong>no</strong>phorus leucocephalus (Vieill.) (p.208)L: Lanza (setembro <strong>de</strong> 1820), Porcos <strong>de</strong> Riva (29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong>1820), S.Luiz (30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong>1820).―Curytiba gewöhnlich am Ran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sWal<strong>de</strong>s auf nie<strong>de</strong>ren Bäumen paarweiseOctober‖. ―Im Magen […], Beeren(Curytiba)‖.“Curitiba aos pares, geralmente <strong>no</strong> estratoinferior <strong>da</strong> bor<strong>da</strong> <strong>de</strong> florestas, outubro”.[...] “No estômago, bagas (Curitiba)”.Pipraei<strong>de</strong>a mela<strong>no</strong><strong>no</strong>ta (Vieillot, 1819)Pipri<strong>de</strong>a mela<strong>no</strong><strong>no</strong>ta (Vieill.) (p.205)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Tangara <strong>de</strong>smaresti (Vieillot, 1819)Calliste thoracica (Temm.)p.206L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820), Campo comprido (2 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 1820?), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820).Tangara peruviana (Desmarest, 1806) 160Calliste mela<strong>no</strong><strong>no</strong>ta (Swains.) (p.207)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820)Tangara preciosa (Cabanis, 1850)Calliste preciosa (Cab) (p.207)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)EMBERIZIDAEAmmodramus humeralis (Bosc, 1792)Coturniculus manimbe (Licht.) (p.230)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Donacospiza albifrons (Vieillot, 1817)Poospiza oxyrhyncha (<strong>Natterer</strong>) (p.229)L: Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820) 161160 Espécie omiti<strong>da</strong> na revisão <strong>de</strong> Straube (1993).161 Pelzeln informa terem sido colecionados sete exemplares.138


―Zunge k<strong>no</strong>rpelig, an <strong>de</strong>r Spitzezweitheilig. Am Weibchen ist keinUnterschied in <strong>de</strong>r Farbe zu ent<strong>de</strong>cken. ImCampo in nie<strong>de</strong>rem Gebüsche (October).Hält sich am Ran<strong>de</strong> <strong>de</strong>r Wäl<strong>de</strong>r, auch anMorästen auf nie<strong>de</strong>rem Gebüsch auf, setztsich auch auf etwas höhere Bäume, singtlaut, nicht angenehm, zuit zit zui zuit zitzuit (November).‖“Língua cartilagi<strong>no</strong>sa, dividi<strong>da</strong> <strong>no</strong> alto. Afêmea não po<strong>de</strong> ser distingui<strong>da</strong> pelaplumagem. Em campo com arbustosbaixos (outubro). Pousa na bor<strong>da</strong> <strong>de</strong>florestas, em banhados e também emarbustos baixos, parando também emárvores mais altas, cantando em voz altaalgo como zuit zit zui zuit zit zuit(<strong>no</strong>vembro)”.Poospiza cabanisi (Bonaparte, 1850)Poospiza lateralis (<strong>Natterer</strong>) (p.228-229)L: Boqueirao [...] Villa <strong>de</strong> Castro (setembro <strong>de</strong> 1820), Campolargo (outubro <strong>de</strong> 1820), Campo comprido (2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>1820), Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro).―Boqueirao an <strong>de</strong>n Ufern Flusses Yapó innie<strong>de</strong>rem Gebüsche nahe an <strong>de</strong>n Häusern<strong>de</strong>r Villa <strong>de</strong> Castro September‖.“Boqueirão às margens do Rio Iapó emarbustos baixos perto <strong>da</strong>s casas <strong>da</strong> Vila <strong>de</strong>Castro, setembro”.Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)Sycalis flaveola (Linné) (p.231)L: Jaguaraiba (fevereiro <strong>de</strong> 1821)Sicalis citrina Pelzeln, 1870Sycalis citrina <strong>Natterer</strong> (p.232, 333) 162L: Jaguaraiba (janeiro <strong>de</strong> 1821), Murungaba (março <strong>de</strong> 1821)162 Na <strong>de</strong>scrição original menciona como locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: “Jaguaraiba, Ytarare, Murungaba”,fornece <strong>de</strong>scrição em latim e diag<strong>no</strong>se. Destaca o exemplar <strong>de</strong> Jaguariaíva do restante <strong>da</strong>série: “An einem Männchen aus Jaguaraiba sind die weissen Flecken an <strong>de</strong>r zweitenSchwanzfe<strong>de</strong>r je<strong>de</strong>rseits kaum merklich ange<strong>de</strong>utet, bei einem <strong>no</strong>ch schöner gefärbten vomselben Tage und selben Fundorte aber sehr entwickelt”. (“Em um macho <strong>de</strong> Jaguariaíva, amancha branca <strong>da</strong>s retrizes laterais são quase imperceptíveis em comparações comexemplares obtidos na mesma <strong>da</strong>ta e locali<strong>da</strong><strong>de</strong>”). Inclui também a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> campo:“<strong>Natterer</strong>'s Notizen: Das Weibchen ist bloss am Bauche schmutzig gelb, die Brust istbräunlichgelb mit dunkelbraunen Längsstrichen. Scheitel braungrau, gelb überflogen mitdunkelbraunen Längsstrichen, Bürzel grünlichgelb.” (“A<strong>no</strong>tações <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>: a fêmea éapenas suja <strong>de</strong> amarelo <strong>no</strong> abdômen, o peito é castanhado com estrias marrom escuras. Acoroa é marrom acinzenta<strong>da</strong>, amarela risca<strong>da</strong> <strong>de</strong> marrom escuro, [e tem] o uropígioamarelo esver<strong>de</strong>ado”).139


Embernagra platensis (Gmelin, 1789)Embernagra platensis (Gmel.) (p.230)L: Porto do Jaguaraiba bei Postinho (setembro <strong>de</strong> 1820), Porcos<strong>de</strong> Riva (29 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820), S.Luiz (30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong>1820), Curytiba (outubro e <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820).”Porto do Jaguaraiba bei Postinhogeschossen auf Gebüsch in einemSumpfe, September)”“Porto do Jaguaraiba em Postinho,coletado em arbustos em um banhado,setembro”Sporophila plumbea (Wied, 1830)Spermophila plumbea (Pr.Neuw.) (p.223)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)―Curytiba an Morästen auf nie<strong>de</strong>remGesträuche o<strong>de</strong>r Kräutern November‖.“Curitiba em arbustos baixos e ervas embanhado, <strong>no</strong>vembro”Sporophila caerulescens (Vieillot, 1823)Spermophila ornata (Licht.) (p.224)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)―Das Männchen hat einen einfachenGesang und sitzt <strong>da</strong>bei ruhig auf <strong>de</strong>mGipfel eines Busches o<strong>de</strong>r auf einemdürren Aestchen (Curytiba, November).‖„O macho tem um canto simples e pousatranquilamente em arbustos ou ramos fi<strong>no</strong>s(Curitiba, <strong>no</strong>vembro)”.Sporophila hypoxantha Cabanis, 1851Spermophila hypoxantha (Licht.) (p.225)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820).‗Curytiba an Morästen auf nie<strong>de</strong>remGebüsch, November...‖“Curitiba, em banhados, em arbustosbaixos, <strong>no</strong>vembro”.140


CARDINALIDAEPiranga flava (Vieillot, 1822)Pyranga Saira (Spix) (p.211)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820, janeiro <strong>de</strong> 1821), Porcos <strong>de</strong>Riva (setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820), Pitangui (9<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)PARULIDAEParula pitiayumi (Vieillot, 1817)Parula pitiayumi (Vieill.) (p.71)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)Geothlypis aequi<strong>no</strong>ctialis (Gmelin, 1789)Trichas velata (Vieill.) (p.71)L: Curytiba (<strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1820)Basileuterus leucoblepharus (Vieillot, 1817)Basileuterus leucoblepharus (Vieill.) (p.72)L: Curytiba (outubro ou <strong>no</strong>vembro 163 <strong>de</strong> 1820)Phaeothlypis rivularis (Wied, 1821)Basileuterus stragulatus (Licht.) (p.72)L: Paranagua (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820)ICTERIDAECacicus chrysopterus (Vigors, 1825)Cassiculus albirostris (Vieill.) (p.193-194)L: Lança (setembro <strong>de</strong> 1820); S.Luiz (30 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820),Campo comprido (2 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1820), Curytiba (outubro <strong>de</strong>1820).―Curytiba auf hohen Bäumen October‖[…]. ―Singt schön mit einem tiefen, lautenPfiff (Curytiba)‖.“Curitiba em árvores altas, outubro” […]“Canta muito como um apito profundo,bastante alto (Curitiba)”.163 Menção ao mês <strong>de</strong> agosto (“August”) é errônea.141


Pseudoleistes guirahuro (Vieillot, 1819)Pseudoleistes viridis (Gmel.) (p.198)L: Joaquim Carneiro (24 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1820), Curytiba(outubro <strong>de</strong> 1820), Villa <strong>de</strong> Castro (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1820),Murungaba (março <strong>de</strong> 1821).―Am jungen Weibchen war die Kehleschmutzig gelb , die Wangen waren mitGelb überlaufen. 1) ‖[Ro<strong>da</strong>pé:] “Diess ist <strong>de</strong>r Fall bei zweijungen Weibehen von Murungaba Märzund Rio Piehy December, <strong>da</strong>nn an einemjangen Männchen vom Rio PiehyDecember”.“Uma fêmea jovem tinha a gargantamancha<strong>da</strong> <strong>de</strong> amarelo, mas as faces erampelnas <strong>de</strong>ssa cor 1) ”“Tal é o caso <strong>da</strong>s duas fêmeas jovens <strong>de</strong>Morungaba (março) e do Rio Apiaí(<strong>de</strong>zembro), bem como <strong>de</strong> um machojovem do Rio Apiaí (<strong>de</strong>zembro)”.Molothrus bonariensis (Gmelin, 1789)Molothrus sericeus (Licht.) (p.200)L: Curytiba (outubro <strong>de</strong> 1820)“Curytiba October, am Hause November” “Curitiba, outubro, em casa(<strong>no</strong>vembro)” 164FRINGILLIDAESporagra magellanica (Vieillot, 1805)Chrysomitris icterica (Licht.) (p.231)L: Jaguaraiba (setembro <strong>de</strong> 1820)* * *164 Aqui parece ser uma observação sem espécime. Em <strong>no</strong>vembro <strong>Natterer</strong> não coletounenhum exemplar <strong>de</strong>ssa espécie. Provavelmente refere-se ao fato <strong>da</strong> espécie ocorrer perto<strong>da</strong> casa on<strong>de</strong> estava instalado em Curitiba.142


Cro<strong>no</strong>logia1821 O Rei<strong>no</strong> <strong>de</strong> Portugal, Brasil e Algarves anexa oUruguai (Província Cisplatina, Província Oriental ouBan<strong>da</strong> Oriental), com o apoio tácito <strong>da</strong> população,que se encontrava <strong>de</strong>vasta<strong>da</strong> por guerrilhas eabando<strong>no</strong>. O intuito político seria a criação <strong>de</strong>obstáculos contra a formação iminente <strong>de</strong> umgran<strong>de</strong> bloco político em ambas as margens <strong>da</strong> fozdo rio <strong>Paraná</strong>, ou rio <strong>da</strong> Prata. O episódio foi oestopim <strong>da</strong> Guerra <strong>da</strong> Cisplatina (1825-1828),envolvendo o Brasil e as Províncias Uni<strong>da</strong>s do Rio <strong>da</strong>Prata.1821 Falecimento do PADRE AIRES DE CASAL.1821 Com o retor<strong>no</strong> <strong>de</strong> João VI a Portugal, D.Pedro tornasepríncipe-regente do Brasil. Como consequência,ocorre a abolição <strong>da</strong> Inquisição Portuguesa,culminando com a regularização <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>imprensa e a fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> duas tipografiasparticulares, quebrando o mo<strong>no</strong>pólio <strong>da</strong> ImprensaRégia.1821 Conjura Separatista: convocado pelos interessadosna emancipação política do <strong>Paraná</strong>, o sargentoFloria<strong>no</strong> Bento Viana anuncia a auto<strong>no</strong>mia <strong>da</strong> entãoComarca, sendo repelido pelo juiz <strong>de</strong> fora.1821 LUDWIG RIEDEL, naturalista alemão, aporta <strong>no</strong> Brasil,143


on<strong>de</strong> permanece até o seu falecimento, em 1861.Além <strong>de</strong> ter se <strong>de</strong>stacado como um dos integrantes<strong>da</strong> expedição Langsdorff, também passou peloscargos <strong>de</strong> direção do Jardim Botânico do Rio <strong>de</strong>Janeiro e <strong>da</strong> Seção <strong>de</strong> Botânica do Museu Nacional.1822 O Barão <strong>de</strong> Langsdorff volta ao Brasil, agora com acomitiva financia<strong>da</strong> pela Aca<strong>de</strong>mia Russa <strong>de</strong>Ciências, incluindo os naturalistas EdouardMénétriès e o pintor Johann Moritz Rugen<strong>da</strong>s. Obarão retorna à Europa, logo após a proclamação <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência.1822 In<strong>de</strong>pendência do Brasil: fim do <strong>Período</strong> Colonial.1822 René Primevère Lesson e Prosper Gar<strong>no</strong>t visitam oBrasil (Santa Catarina) quando <strong>de</strong> sua viagem abordo do navio La Coquille. Da viagem, publicaram olivro “Voyage autour du mon<strong>de</strong> entrepris par ordredu Gouvernement sur la Corvett Le Coquille”(1838). A partir <strong>de</strong>ste a<strong>no</strong>, Lesson passou a<strong>de</strong>screver várias espécies <strong>de</strong> aves ti<strong>da</strong>s como <strong>no</strong>vas,algumas <strong>de</strong>las ocorrentes <strong>no</strong> Brasil.1822 Nascimento <strong>de</strong> Johann Friedrich Theodor Müller, ouFritz Müller, naturalista alemão que se radicou emSanta Catarina, <strong>de</strong>stacando-se por sua participação<strong>de</strong>cisiva, por meio <strong>de</strong> assíduo intercâmbio <strong>de</strong>correspondências, na Teoria <strong>da</strong> Seleção Natural <strong>de</strong>Charles Darwin.1822 O francês Justin Goudot, a serviço do Museu <strong>de</strong>144


<strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Paris inicia seus 20 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>colecionamento <strong>de</strong> material biológico na Colômbia,inclusive aves, estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Jules Bourcier e RenéPrimevère Lesson.1823 Johann B. von Spix e Karl F. P. von Martius publicamo primeiro dos três volumes (os outros sairiam em1828 e 1831) do “Reise in Brasilien auf Befehl S.M.[ajestät] König Maximilian Joseph I...”,<strong>de</strong>screvendo a sua viagem ao Brasil.1823 Spix publica o primeiro dos cinco volumes <strong>de</strong> suaobra <strong>de</strong>scritiva, tratando dos primatas equirópteros. Os volumes 3 e 4, lançados em 1824 e1825 (“Avium species <strong>no</strong>vae quas in itinere perBrasiliam annis MDCCCXVII-MDCCCXX...”) referemseàs aves e ali constam <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> muitasespécies brasileiras.1823 Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> “Freguesia Estrela”, hoje Ponta Grossa,sob jurisdição <strong>da</strong> Vila Nova <strong>de</strong> Castro, <strong>da</strong> qual seemancipou em 1855.1824 Primeira Constituição Brasileira, outorga<strong>da</strong> porPedro I com a doutrina liberal-conservadora <strong>de</strong>Benjamin Constant. Apenas com sua aprovação éque se consi<strong>de</strong>rou oficialmente a aclamação ecoroação do monarca. Seu conteúdo foi revogadosomente muitos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, na Proclamação <strong>da</strong>República.1824 Jean René Constant Quoy e Joseph Paul Gaimard145


publicam os resultados <strong>de</strong> seus estudos <strong>no</strong> volumezoológico <strong>da</strong> obra “Voyage autour du mon<strong>de</strong>exécuté sur L’Uranie et La Physicienne”, com setevolumes (1824-1844) e organiza<strong>da</strong> por Louis Clau<strong>de</strong><strong>de</strong> Saulces <strong>de</strong> Freycinet, também coman<strong>da</strong>nte donavio. Essa obra refere-se às viagens <strong>de</strong> circumnavegaçãopara exploração <strong>da</strong> Austrália, Timor-Leste, Samoa, Havaí e também do Uruguai,realiza<strong>da</strong>s entre 1817 e 1820. No navio estavamtambém o botânico Charles Gaudichaud-Beaupré eo jovem pintor-assistente AIMÉ ADRIEN TAUNAY que,a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, participaria <strong>da</strong> expedição Langsdorff.1824 Nova visita do Barão <strong>de</strong> Langsdorff ao Brasil, agorapara sua expedição-maior, que durou até 1829.Prossegue na companhia <strong>de</strong> Ménétriès e Rugen<strong>da</strong>se associa-se também a LUDWIG RIEDEL, que chegaraao Brasil em 1821. No a<strong>no</strong> seguinte, com o retor<strong>no</strong>dos três para o Rio <strong>de</strong> Janeiro, Langsdorff trabalhacom os pintores AIMÉ ADRIEN TAUNAY (que chegou aoBrasil com to<strong>da</strong> a sua família em 1816, pela MissãoArtística Francesa) e Hercules Florence.1824 Proveniente <strong>da</strong> Guiana, on<strong>de</strong> chegara em 1804,aporta <strong>no</strong> Brasil o naturalista britânico CharlesWaterton. Percorre o Nor<strong>de</strong>ste a pé (e <strong>de</strong>scalço)colecionando espécimes e preparando-os comgran<strong>de</strong> maestria, por meio <strong>de</strong> técnicas particulares,usando como conservante o sublimato <strong>de</strong> mercúrio.1825 Quinze a<strong>no</strong>s após a inauguração do Museum fürNaturkun<strong>de</strong> <strong>de</strong> Berlim, surgem na Alemanha outras146


importantes coleções, aproxima<strong>da</strong>mente <strong>no</strong> mesmoperíodo. Eram os acervos <strong>de</strong> Frankfurt, sobcuradoria <strong>de</strong> Phillip Jacob Cretzschmar, Darmstadt(aos cui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> Johann Jacob Kaup), Munique(Johan Baptist von Spix e Johann Georg Wagler),Dres<strong>de</strong>n (Heinrich Gottlieb Ludwig Reichenbach) eHalle (Christian Ludwig Nitzsch).1825 Portugal e Inglaterra reconhecem a in<strong>de</strong>pendênciado Brasil.1825 Com apenas 16 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, chega ao Brasil ocartógrafo e explorador JOHN HENRY ELLIOT. Por volta<strong>de</strong> 1828, conhece o Barão <strong>de</strong> Antonina, que oconvi<strong>da</strong> a participar, como técnico em cartografia,<strong>de</strong> algumas expedições sertanistas pelo interior do<strong>Paraná</strong>.1825 Guerra <strong>da</strong> Cisplatina (até 1828) entre o Brasil e asProvíncias Repúblicas Uni<strong>da</strong>s do Rio <strong>da</strong> Prata, quevisavam à recuperação <strong>de</strong> territórios.1825 Chega ao Brasil o naturalista e <strong>de</strong>senhista britânicoWilliam John Burchell, já reconhecido como um dosmais importantes personagens que passaram pelaÁfrica do Sul. Sua expedição, que acompanhou amissão inglesa <strong>de</strong> reconhecimento <strong>da</strong>in<strong>de</strong>pendência do Brasil (li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelo embaixadorCharles Stuart <strong>de</strong> Rothesay), compreen<strong>de</strong>u umlongo trecho incluindo o Rio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo,Goiás e, finalmente, o Pará, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> retor<strong>no</strong>u em1830.147


1825 Peter Wilhelm Lund, discípulo <strong>de</strong> George Cuvier eAlexan<strong>de</strong>r von Humboldt, mereci<strong>da</strong>mentecog<strong>no</strong>minado “patro<strong>no</strong> <strong>da</strong> paleontologia brasileira”,chega ao Brasil em sua primeira visita ao País.Dedica-se originalmente à botânica e <strong>de</strong>pois, eespecialmente, aos fósseis, em companhia <strong>de</strong>Eugene Warming.1825 Langsdorff inicia <strong>no</strong>va expedição pelo interior doBrasil, agora <strong>de</strong>man<strong>da</strong>ndo o Mato Grosso e aAmazônia.1825 O Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied publica o primeiro dosquatro volumes (1825-1832) <strong>de</strong> sua obra “Beiträgezur Naturgeschichte Brasiliens”, com informaçõessobre os mamíferos, aves (incluindo a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>160 <strong>no</strong>vas espécies) e répteis por ele colecionados<strong>no</strong> Brasil. Sua coleção <strong>de</strong> aves brasileiras totalizava4.000 espécimes montados em postura expositiva,inclusive com bicos e pernas pintados e, quando <strong>de</strong>seu falecimento (1867), foi vendi<strong>da</strong> ao AmericanMuseum of Natural History.1825 Charles Lucien Bonaparte, sobrinho <strong>de</strong> NapoleãoBonaparte, agora instalado <strong>no</strong>s EUA, inicia apublicação <strong>da</strong> obra “American Ornithology” (1825-1833), assumi<strong>da</strong>mente uma continuação aotrabalho <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r Wilson.1826 Alci<strong>de</strong> Charles Victor Marie Dessalines D’Orbigny,naturalista francês, chega ao Brasil on<strong>de</strong> permanece148


por me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> um mês, antes <strong>de</strong> sua longaexpedição por outros países <strong>da</strong> América do Sul (até1833) financia<strong>da</strong> pelo Musée <strong>de</strong> Histoire naturelle<strong>de</strong> Paris. Entre 1835 e 1847 publica os sete volumesdo “Voyage <strong>da</strong>ns l’Amérique Meridionale (Le Brésil,La République Orientale <strong>de</strong>l’Uruguay, LaRépublique Argentine, La Patagonie, La Républiquedu Chili,La République <strong>de</strong> Bolivia, La République <strong>de</strong>Pérou), exécuté pen<strong>da</strong>nt les années 1826, 1827,1828, 1829, 1830, 1831, 1832 et 1833”. Essa obranarrativa, contém também teorias sobre adistribuição altitudinal <strong>de</strong> algumas avessulamericanas, consi<strong>de</strong>rando a temperatura, o tipo<strong>de</strong> hábitat ocupado e a orientação <strong>da</strong>s vertentesandinas on<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> uma <strong>de</strong>las ocorre.1826 Interessado especialmente em plantas, chega aoBrasil, o naturalista e médico italia<strong>no</strong> GiovanniBattista Libero Ba<strong>da</strong>rò.1826 Falecimento <strong>de</strong> Johann B.von Spix.1826 Na comitiva <strong>da</strong> expedição Langsdorff, LUDWIG RIEDELchega ao <strong>Paraná</strong> para coletas botânicas; com elevem o pintor AIMÉ ADRIEN TAUNAY.149


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1826LUDWIG RIEDELeADRIEN TAUNAYGeorg Heinrich von Langsdorff 165 , foi uma <strong>da</strong>sfiguras mais emblemáticas na história <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s viagens<strong>de</strong> naturalistas ao Brasil. Nascido em 1774, oriundo <strong>de</strong> umatradicional família <strong>de</strong> barões cujas origens remontam aoSéculo XIV, ele era formado em medicina mas auto-di<strong>da</strong>taem história natural com inclinações para a botânica,ictiologia e entomologia. Seus estudos foram feitos emparticular na universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Goettingen, on<strong>de</strong> receberainfluência do antropólogo Johann Friedrich Blumenbach,famoso por ter sido um dos primeiros a criar o conceito <strong>de</strong>raças humanas 166 .Langsdorff tor<strong>no</strong>u-se médico <strong>da</strong> corte do PríncipeChristian August von Wal<strong>de</strong>ck e, em segui<strong>da</strong>, passou aocupar cargos variados, entre a medicina e a diplomacia,mas sempre mantendo o interesse por animais e plantas.Neste tempo morou em Portugal, Espanha, Inglaterra eFrança e manteve contato por correspondência com EtienneGeoffroy <strong>de</strong> Saint Hilaire, André C. Duméril, André P.Latreille e muitos outros intelectuais <strong>da</strong>quela época.165 Nascido em Woellstein, Alemanha (18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1774) e falecido em Freiburg,Alemanha (29 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1852). Para alguns autores, <strong>no</strong> russo transliterado, aparececomo Grigory Iva<strong>no</strong>vich Langsdorff.166 Mas também conhecido, na Ornitologia brasileira, por ter inspirado Johann B. von Spixa batizar o mutum-do-su<strong>de</strong>ste como Crax blumenbachii.151


Entre 1803 e 1806 participou <strong>da</strong> primeira expediçãorussa que <strong>da</strong>ria a volta ao mundo, sob o comando doalmirante A<strong>da</strong>m Johann von Krusenstern, tomando oencargo <strong>de</strong> naturalista incumbido <strong>da</strong>s pesquisas sobrepeixes, rochas e minerais. Essa oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> foi a principalcausa <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> seu perfil, quando <strong>de</strong>senvolveu acapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> colecionar elementos <strong>da</strong> natureza esistematizar e compreen<strong>de</strong>r o sentido do material científico(Bertels et al., 1981). Na ocasião esteve <strong>no</strong> Brasil, on<strong>de</strong>pô<strong>de</strong> colecionar espécimes na ilha <strong>de</strong> Santa Catarina(Papávero, 1971) e começar a cogitar a preparação <strong>de</strong> umaviagem <strong>de</strong> maior porte para o País.Exatos <strong>de</strong>z a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois (1813), Langsdorff foi<strong>no</strong>meado cônsul <strong>da</strong> Rússia <strong>no</strong> Brasil, retornando ao país eestabelecendo-se <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Tinha como função oestudo <strong>de</strong>talhado <strong>da</strong>s condições <strong>de</strong> mercado brasileiro etambém provi<strong>de</strong>nciar o abastecimento dos navios <strong>da</strong>Companhia Russo-americana quando <strong>de</strong> suas estadiasnaquele porto, bem como uma série <strong>de</strong> outros encargosdiplomáticos (Komissarov, 1994).Em 1816 adquiriu uma gran<strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> situa<strong>da</strong>na região serrana do estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (hoje na VilaInhomirim, <strong>no</strong> município <strong>de</strong> Magé), <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> “Fazen<strong>da</strong>Mandioca” e que contava com várias casas (algumas <strong>de</strong>lasarren<strong>da</strong><strong>da</strong>s como pousa<strong>da</strong>s para viajantes) e plantações <strong>de</strong>café, mandioca, milho, batata, <strong>no</strong>z mosca<strong>da</strong> e índigo. Aotempo em que se interessava pelo assunto <strong>de</strong> imigraçãoeuropeia ao Brasil, sua fazen<strong>da</strong> também se tor<strong>no</strong>u ponto <strong>de</strong>encontro <strong>de</strong> naturalistas viajantes, que a incluíam comoparte <strong>de</strong> itinerários maiores.Bem <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, segundo Bertels et al. (1981), afazen<strong>da</strong> era composta por um jardim botânico, uma ricabiblioteca e uma gran<strong>de</strong> coleção <strong>de</strong> itens <strong>da</strong> natureza; poressas características acabou se consoli<strong>da</strong>ndo como ponto <strong>de</strong>152


eferência, pronto para receber intelectuais e artistas e lhesprover <strong>de</strong> conselhos e orientações técnicas. Nesse ínterim obarão estu<strong>da</strong>va antropologia e, especialmente histórianatural, enviando amostras <strong>de</strong> todos os tipos para aAca<strong>de</strong>mia Russa <strong>de</strong> Ciências, em São Petersburgo.Seu cargo <strong>no</strong> Brasil manteve-se apenas até 1820,quando retor<strong>no</strong>u a Paris. No a<strong>no</strong> seguinte procurou peloimperador russo Alexandre I e lhe propôs que financiasseuma gran<strong>de</strong> viagem ao Brasil com o objetivo <strong>de</strong> obter“<strong>de</strong>scobertas científicas, geográficas, estatísticas e outraspesquisas, estudo sobre produtos não conhecidos <strong>no</strong>mercado, coleção <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> todo o rei<strong>no</strong> natural”(AVPR, 1821 in: Bertels et al., 1981). Uma vez concluí<strong>da</strong>sas negociações, passou a formar sua equipe, agora contandocom o naturalista francês Jean Moritz Edouard Ménétriès(1802-1861) 167 e o pintor alemão Johann Moritz Rugen<strong>da</strong>s(1802-1858). Em 5 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1822, portanto, a poucosmeses <strong>da</strong> in<strong>de</strong>pendência do Brasil, aportam <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro. Ali o grupo se encontra com os <strong>de</strong>mais integrantes:o botânico alemão Ludwig Rie<strong>de</strong>l (1790-1861), que haviachegado ao Brasil dois a<strong>no</strong>s antes, o astrô<strong>no</strong>mo emeteorologista russo Néster Gavrílovitch Rubtsov (1799-1874) (chegado um mês antes) e o naturalista colecionadoralemão George Wilhelm Freyreiss (1789-1825) 168 que aquijá se encontrava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1813, tendo aportado junto comLangsdorff em sua segun<strong>da</strong> visita ao Brasil.167 Ou, em russo transliterado, Eduard Petrovich Ménétriès, discípulo <strong>de</strong> Georges Cuvier eAndré P.Latreille (que o teria indicado ao barão). Como alertado por Pacheco (2003), háuma constante confusão <strong>de</strong> <strong>no</strong>mes, envolvendo Eugène Ménétriès (vi<strong>de</strong>, por exemplo,Pinto, 1979:82) e o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro <strong>no</strong>me do zólogo <strong>da</strong> Expedição Langsdorff.168 Logo que chegou ao Brasil, Freyreiss já trabalhou ativamente na obtenção <strong>de</strong>espécimes para o Museu <strong>de</strong> Berlim, viajando em companhia <strong>de</strong> Friedrich Sellow, dopríncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied e <strong>de</strong> Wilhelm Ludwig (Barão) von Eschwege. Seu material foiestu<strong>da</strong>do em gran<strong>de</strong> parte pelo sueco Carl Per Thunberg (Sick, 1997) que, emborabotânico e entomólogo, chegou a <strong>de</strong>screver algumas espécies brasileiras, como Elaeniaflavogaster e Laniisoma elegans.153


Com o tempo, porém, o grupo foi se alterando,<strong>de</strong>vido aos poucos recursos financeiros disponíveis, àpequena abrangência geográfica <strong>da</strong>s incursões (teriamvisitado apenas o interior dos estados do Rio <strong>de</strong> Janeiro eMinas Gerais) e especialmente por conflitos pessoais comLangsdorff, <strong>de</strong>vido à sua personali<strong>da</strong><strong>de</strong> difícil. Logo ao fim<strong>da</strong> primeira parte <strong>da</strong> expedição, em 1825, Rugen<strong>da</strong>s <strong>de</strong>la se<strong>de</strong>sliga, seguido por Ménétriès.Vendo gran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s para recompor aexpedição, Langsdorff contrata os pintores franceses AiméAdrien Taunay e Hercules Florence (1804-1879) emsubstituição a Rugen<strong>da</strong>s e o zoólogo alemão Christian Hasse<strong>no</strong> lugar <strong>de</strong> Ménétriès. Iniciava-se a segun<strong>da</strong> fase <strong>da</strong>viagem, cujos integrantes agora tomavam um navio paraprossegui-la a partir do porto <strong>de</strong> Santos.Foi nesse momento que passaram a existir conexões<strong>da</strong> expedição Langsdorff com a <strong>ornitologia</strong> <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>. Opróprio barão não esteve <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, embora tenhamanifestado, em seus diários, que tinha interesse pessoalnisso: “Pretendo visitar a Comarca <strong>de</strong> Curitiba, ain<strong>da</strong>quase <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>, <strong>no</strong>s próximos seis meses e permanecerna Província <strong>de</strong> São Paulo, tão rica em <strong>no</strong>vi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, até omês <strong>de</strong> abril ou maio do próximo a<strong>no</strong>” 169 . Cinco dias <strong>de</strong>pois,a<strong>no</strong>ta: “Essa comarca [<strong>de</strong> Curitiba] <strong>de</strong>ve ser muito especialsob todos os pontos <strong>de</strong> vista. A capital <strong>da</strong> comarca e suasredon<strong>de</strong>zas estão situa<strong>da</strong>s numa região eleva<strong>da</strong> etempera<strong>da</strong>. Muitos frutos europeus po<strong>de</strong>riam vingar aquiperfeitamente. Encontram-se aqui ouro e diamante; umgran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> aves raras e animais como os guarás,anhumas, emas, seriemas, veados, coelhos, Tinamus <strong>de</strong>rabo comprido, ratos e gatos, gambás” (Silva org., 1997:44-45). Essa preleção é obviamente irreal, mas ilustra o169 A<strong>no</strong>tação do dia 20 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1825 <strong>de</strong> seu diário pessoal, segundo Silva (org.,1997:40).154


imaginário dos naturalistas ao pensarem <strong>no</strong>s próximoslugares a serem visitados quando <strong>de</strong> suas longasperegrinações. Guarás, como se sabe, ocorrem apenas <strong>no</strong>ambiente estuari<strong>no</strong> e portanto ele se referia à comarca <strong>de</strong>Paranaguá. Da mesma forma, anhumas, emas e seriemas sãoaves incompatíveis com o cenário biogeográfico local. Oschamados Tinamus <strong>de</strong> rabo longo po<strong>de</strong>riam ser jacus, talvezo único indicativo ornitológico mais consistente <strong>de</strong> suaspretensões.Sendo obrigado a mu<strong>da</strong>r seus pla<strong>no</strong>s <strong>de</strong> viagem pelo<strong>no</strong>rte do Brasil, o barão <strong>de</strong>stacou o grupo formado porRie<strong>de</strong>l, Taunay e Rubtsov para seguir pelo interior paulistae, em segui<strong>da</strong>, rumar em direção ao sul do Brasil. Essamu<strong>da</strong>nça <strong>no</strong> planejamento é trata<strong>da</strong> por Langsdorff em um<strong>de</strong> seus diários (Bertels et al., 1981:35-36):―Entretanto, as circunstâncias (sobretudoo começo <strong>da</strong>s chuvas) obrigaram-me aalterar meus pla<strong>no</strong>s e a visitar, <strong>no</strong><strong>de</strong>correr dos seis meses seguintes, acomarca <strong>de</strong> Curitiba (ain<strong>da</strong> poucoestu<strong>da</strong><strong>da</strong>) e a permanecer na província <strong>de</strong>São Paulo ... até abril ou maio do próximoa<strong>no</strong>. Resolvi seguir adiante com o começo<strong>da</strong> tempora<strong>da</strong> seca‖.Foi assim que, em 5 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1826,Langsdorff levou todo o material coletado para o Rio <strong>de</strong>Janeiro e, <strong>no</strong> dia 16 <strong>de</strong> fevereiro, os participantes <strong>da</strong>expedição (com exceção <strong>de</strong> Florence, que estava ocupadocom a preparação <strong>da</strong> viagem a Porto Feliz e Mato Grosso)iniciaram a viagem a Curitiba, partindo <strong>de</strong> Ipanema emdireção sudoeste.No trajeto passaram quase que pelos mesmos pontos<strong>da</strong>s expedições <strong>de</strong> Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire e <strong>de</strong> Johann155


<strong>Natterer</strong> (p.ex. Itapetininga, Faxina) e, já <strong>no</strong> início <strong>de</strong> março,haviam obtido farto material et<strong>no</strong>gráfico sobre os índiosCoroados, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Castro. Em segui<strong>da</strong>, “por motivo <strong>da</strong>senchentes”, como mais tar<strong>de</strong> escreveu Rubtsov, tor<strong>no</strong>u-seimpossível seguir adiante e a equipe retor<strong>no</strong>u, em 11 <strong>de</strong>março, para Ipanema (Bertels et al., 1981). Manizer(1967:75) dá outros <strong>de</strong>talhes: “Curiosa é a seguinte <strong>no</strong>ta:‗11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1828. Partimos <strong>de</strong> volta à Fábrica <strong>de</strong>Ferro (<strong>da</strong> Vila <strong>de</strong> Castro). Disseram-me que nesta estra<strong>da</strong>frequentemente aparecem, vindos <strong>da</strong> mata, uns selvagenschamados xavantes, que matam a gente; por isso não <strong>no</strong>s<strong>de</strong>tivemos em lugares ermos e viajamos <strong>de</strong> manhã à <strong>no</strong>ite;entretanto, não vimos nenhum <strong>de</strong>les‘. Atualmente não existesequer a lembrança <strong>de</strong> ‗gente selvagem‘ em centenas <strong>de</strong>milhas em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong>sses lugares”.Desta forma, sobre a presença <strong>da</strong> expedição <strong>no</strong><strong>Paraná</strong>, po<strong>de</strong>-se afirmar que os seus integrantes <strong>de</strong>dicaramme<strong>no</strong>s <strong>de</strong> um mês (entre fevereiro e março <strong>de</strong> 1826) 170 aalguns pontos selecionados entre o rio Itararé e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Castro, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> não passaram por causa <strong>da</strong>s enchentes dorio Iapó, que banha a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por me<strong>no</strong>s importância queessa efêmera visita possa ter, é curioso que ela tenha sidoomiti<strong>da</strong> em quase to<strong>da</strong>s as obras <strong>de</strong> revisão (p.ex. Papávero,1971 e até mesmo <strong>no</strong>s mapas encartados em Bertels et al.,1981), que raramente relatam a complementação dopercurso para sul além <strong>de</strong> Ipanema 171 .Depois disso, o grupo segue para a parte maisimportante do percurso: entre 1826 e 1829 (<strong>da</strong>ta <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> doporto <strong>de</strong> Belém, em retor<strong>no</strong> ao Rio <strong>de</strong> Janeiro) viajam a170 Entre 20 <strong>de</strong> fevereiro e 5 <strong>de</strong> abril, Langsdorff estava na fazen<strong>da</strong> Mandioca, preparandoa gran<strong>de</strong> viagem para a Amazônia; na<strong>da</strong> escreveu em seu diário (Silva org., 1997:70).171 Rubtsov preparou pelo me<strong>no</strong>s um mapa (96x67 cm) apontando sua esta<strong>da</strong> em Castro,<strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 1826: “Mapa particular <strong>da</strong> viagem pela América do Sul do Conselheiro <strong>de</strong>Estado Langsdorff em 1826, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Faxina até a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Castro”. Essedocumento consta do acervo <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia Russa <strong>de</strong> Ciências, em São Petersburgo (BB,2010).156


partir <strong>de</strong> Porto Feliz ao longo do rio Tietê e, então, visitamnumerosos pontos <strong>no</strong>s estados do Mato Grosso do Sul 172 ,Mato Grosso, Amazonas e Pará, somando milhares <strong>de</strong>quilômetros percorridos por terra e via fluvial.Apesar <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>za financeira envolvi<strong>da</strong> naexpedição e mesmo <strong>da</strong> participação ativa <strong>de</strong> políticos <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> expressão <strong>no</strong> império (p.ex. José Bonifácio <strong>de</strong>Andra<strong>da</strong> e Silva), os resultados por ela trazidos po<strong>de</strong>m serconsi<strong>de</strong>rados mínimos. Isso porque uma gran<strong>de</strong> parte dosespécimes, <strong>de</strong>senhos, diários e outros documentos,acabaram trancafiados por mais <strong>de</strong> um século eminstituições varia<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rússia e, bem <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, apenasuma diminuta fração que acabou sendo pesquisa<strong>da</strong> edivulga<strong>da</strong>. Uma parte significativa <strong>de</strong>sta documentaçãoper<strong>de</strong>u-se, <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> em conflitos ou mesmo incinera<strong>da</strong> porburocratas me<strong>no</strong>s esclarecidos. Uma outra parte, ain<strong>da</strong>,permanece “segura”, mas tão protegi<strong>da</strong> que nem mesmo ospesquisadores têm acesso a ela, trabalho que já seria difícilem <strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> seu estado <strong>de</strong> conservação e, a<strong>de</strong>mais,por muitos dos documentos terem sido escritos em línguarussa (Komissarov, 1994) 173 .Ocorre, na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, que pouquíssimos foram ospesquisadores contemporâneos que pu<strong>de</strong>ram analisar omaterial <strong>da</strong> Expedição Langsdorff e <strong>de</strong> sua instável equipe,não só referentes aos espécimes zoológicos, como tambémdos diários, mapas e várias outras a<strong>no</strong>tações, muitas <strong>de</strong>lasinéditas. Um dos poucos que tiveram oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>estu<strong>da</strong>r os exemplares <strong>de</strong> São Petersburgo, além do próprioMénétriès e do insuperável Charles Hellmayr, foi o polaco172 Po<strong>de</strong>-se afirmar ser esse o primeiro esforço efetivamente científico voltado aoconhecimento <strong>da</strong> avifauna do Mato Grosso do Sul.173 Ao fim <strong>de</strong> 1990, Boris Komissarov, presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Associação Internacional <strong>de</strong> EstudosLangsdorff (AIEL), por meio <strong>de</strong> uma ação conjunta com a Fiocruz e Funasa, iniciou umprojeto <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> muitos elementos oriundos <strong>da</strong> expedição, tornados em partedisponíveis em microfilmes.157


Ta<strong>de</strong>usz Chrostowski quando, sob falsa i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>,<strong>de</strong>sertara do exército tzarista (Chrostowski, 1921;Wachowicz, 1994; Straube & Urben-Filho, 2001).Gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sse acervo, <strong>de</strong>positado <strong>no</strong> museu <strong>de</strong>São Petersburgo, ficou por muito tempo inacessível,particularmente após a Segun<strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Guerra (Alimov etal., 1999). Isso porque, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que o barão enviou seuvolumoso material, constituído <strong>de</strong> diários, a<strong>no</strong>tações <strong>de</strong>viagem, <strong>de</strong>senhos, aquarelas, mapas, espécimes minerais,zoológicos, botânicos, bem como farto material et<strong>no</strong>gráfico,vocabulários indígenas e correspondência diversa, ascentenas <strong>de</strong> caixas que o guar<strong>da</strong>va foram manti<strong>da</strong>s em umasala fecha<strong>da</strong>, acabaram sendo re<strong>de</strong>scobertas somente em1930, quando <strong>da</strong> reforma do museu <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> ciências<strong>de</strong> São Petersburgo (Pra<strong>da</strong>, 2000).A expedição em si, além do pouco materialbibliográfico disponível <strong>no</strong> Brasil (situação já menciona<strong>da</strong>por Ihering em 1902!), mergulhou também em umaprofun<strong>da</strong> polêmica, cujas discussões foram motiva<strong>da</strong>s pordiversas questões <strong>de</strong> foro íntimo (Pra<strong>da</strong>, 2000). Uma <strong>de</strong>las,<strong>de</strong> consenso geral, foi a doença mental <strong>de</strong> Langsdorff, comsintomas <strong>de</strong> longa per<strong>da</strong> <strong>de</strong> memória, mas também algumaspassagens até certo ponto cômicas <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s que tomaradurante sua permanência <strong>no</strong> Brasil: chamava a atenção peloporte baixo e mirrado, que contrastava com a opulência <strong>de</strong>suas vestimentas e também foi <strong>de</strong>scrito como hiperativo eimpetuoso por vários autores, <strong>de</strong>ntre eles Auguste <strong>de</strong> SaintHilaire (1830) 174 :Na companhia <strong>de</strong> Langsdorff, o homemmais ativo e mais infatigável que jamaisconheci em minha vi<strong>da</strong>, aprendi a viajarsem per<strong>de</strong>r um só instante, a me174 Essa versão traduzi<strong>da</strong>, cujo autor não <strong>no</strong>s foi possível <strong>de</strong>scobrir, aparece em váriasfontes (p.ex. Pinto, 1979).158


con<strong>de</strong>nar a to<strong>da</strong>s as privações, e a sofreralegremente todos os gêneros <strong>de</strong>incômodos. [...] Meu companheiro <strong>de</strong>viagem ia, vinha, agitava-se, chamavaeste, reprimia aquele, comia, escreviaseu diário, arrumava suas borboletas ecorria aqui e ali, tudo <strong>de</strong> uma só vez.Todo seu corpo estava em movimento;sua cabeça e seus braços, que selançavam à frente, pareciam acusar alentidão do resto <strong>de</strong> seus membros; suaspalavras precipitavam-se; suarespiração era entrecorta<strong>da</strong>; eleresfolegava, como após uma longacorri<strong>da</strong> .In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> opiniões particulares, po<strong>de</strong>-se dizerque se trata do último acervo clássico sobre o Brasil ain<strong>da</strong>não incorporado à ciência e à cultura (Pra<strong>da</strong>, 2000).De fato, a expedição Langsdorff teve me<strong>no</strong>s famapelos espécimes obtidos por alguns integrantes (Figueirôa,1997), especialmente Ménétriès 175 , e mais pela divulgaçãoque <strong>de</strong>la se fez, com méritos ao famoso trabalho pictórico <strong>de</strong>Moritz Rugen<strong>da</strong>s, Aimé Adrien Taunay e HerculesFlorence. O primeiro <strong>de</strong>sses foi o que se tor<strong>no</strong>u mais célebre<strong>no</strong> Brasil, mas raramente ilustrava espécies animais em suaspinturas; quando muito, elas eram mediocrementerepresenta<strong>da</strong>s ou incluíam espécies <strong>de</strong> ocorrênciaincompatível com o cenário retratado (p.ex. flamingos emuma mata escura do Rio <strong>de</strong> Janeiro, vi<strong>de</strong> Sick, 1997). É <strong>de</strong>se mencionar ain<strong>da</strong> que, do material coligido por Ménétriès,“nem tudo pô<strong>de</strong> aproveitar-se em benefício <strong>da</strong> ciência, vistolhe faltarem etiquetas com indicações precisas sobre175 Raposo et al. (2012) estão entre os poucos que tiveram acesso a um gran<strong>de</strong> montantedocumental e mesmo a certos exemplares <strong>de</strong> Ménétriés, oriundos <strong>da</strong> ExpediçãoLangsdorff, resultando em conclusões ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente formidáveis para a eluci<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>locali<strong>da</strong><strong>de</strong>-tipo <strong>de</strong> um caso taxo<strong>no</strong>micamente problemático (Scytalopus speluncae).159


lugares e <strong>da</strong>tas em que foram obtidos os exemplares”(Pinto, 1979).Quanto à inexpressiva contribuição ao <strong>Paraná</strong>, além<strong>de</strong> não existir conhecimento sobre espécimes, tudo o quepo<strong>de</strong> ser levantado por enquanto, são aquarelas <strong>de</strong> Taunayretratando algumas espécies comuns (e.g. “caracara”:Polyborus plancus; “garca branca”: Egretta alba) nas quaisas <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s procedências são menciona<strong>da</strong>s vaga eimprecisamente.Em pelo me<strong>no</strong>s um caso, porém, po<strong>de</strong>-se resgatar ainformação e atribui-la positivamente ao <strong>Paraná</strong> (com basena <strong>da</strong>tação), como sua prancha n° 105, que retrata <strong>de</strong>talhes<strong>da</strong> cabeça, perna e esporão <strong>da</strong> asa <strong>de</strong> um quero-quero(Vanellus chilensis) indicando como esboça<strong>da</strong> “Fait pen<strong>da</strong>ntla digression <strong>de</strong> Sorocába à Castro, en Mars 1826”.O quero-quero (Vanellus chilensis) retratado em nanquim e aquarela (17,3x21,5 cm;tamanho natural) por Taunay <strong>no</strong> percurso entre Sorocaba e Castro, em março <strong>de</strong> 1826(Fonte: acervo <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> São Petersburgo, reproduzi<strong>da</strong> em Costa et al.,1995:44).160


O mesmo se aplica a alguns dos manuscritos dopróprio Langsdorff, alguns <strong>de</strong>les com títulos explicitamentevoltados à <strong>ornitologia</strong> (Verzeichnis <strong>de</strong>r Vögel weiche auf <strong>de</strong>rReise von <strong>de</strong>r Fabrica <strong>de</strong> Ferro St. João <strong>de</strong> Ypanema vom16-ten Februar 1826 nach Villa <strong>de</strong> Castro...) (Bertels et al.,1981).In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porém, do quase-na<strong>da</strong> que se pô<strong>de</strong>levantar até então em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> limitação <strong>de</strong> acesso àsfontes originais, quem foram os viajantes <strong>da</strong> Expedição queestiveram, <strong>de</strong> fato, <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>?O mais naturalista <strong>de</strong> todos foi o botânico LUDWIGRIEDEL (n. Berlim, Alemanha: 2 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1790; f. Rio<strong>de</strong> Janeiro: 6 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1861) um horticultor e produtivocolecionador <strong>de</strong> plantas.Segundo Urban (1908), ele <strong>de</strong> fato percorreu algunspontos entre as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Itararé e Castro <strong>no</strong> a<strong>no</strong> <strong>de</strong>1826 176 , cujas exsicatas servem-<strong>no</strong>s como importantesindicativos <strong>da</strong>s locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s por on<strong>de</strong> a expedição Langsdorffpassou <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>. Na ocasião, por exemplo, visitou tambéma clássica fazen<strong>da</strong> Morungaba (Urban, 1908), já palmilha<strong>da</strong>por Dominick Sochor cinco a<strong>no</strong>s antes e <strong>de</strong>pois consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>por vários coletores. Entretanto, Pinto (1979:83) ocaracteriza como “alheio à <strong>ornitologia</strong>” <strong>de</strong> forma que na<strong>da</strong> éconhecido sobre espécimes ornitológicos obtidos nessetrecho, se é que foram obtidos 177 .Depois <strong>da</strong> viagem com o Barão <strong>de</strong> Langsdorff,Rie<strong>de</strong>l ain<strong>da</strong> permaneceu em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, tendo inclusiveacompanhado Peter W. Lund, entre 1833 e 1834, em uma176 Corrija-se, <strong>de</strong>ssa forma, o afirmado por Angeli (1956) que sua esta<strong>da</strong> ocorrera em1830.177 A coleta <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s um exemplar <strong>de</strong> ave por Rie<strong>de</strong>l é historicamente conheci<strong>da</strong>: otipo <strong>de</strong> Pteroglossus beauharnaesii <strong>de</strong> Wagler, cujos <strong>de</strong>talhes zoológicos e conexõeshistóricas são <strong>de</strong>scritos por Pacheco (2003).161


gran<strong>de</strong> viagem pelo interior <strong>de</strong> Minas Gerais.Posteriormente radicou-se <strong>de</strong>finitivamente <strong>no</strong> Brasil on<strong>de</strong>ocupou importantes cargos públicos como diretor do PasseioPúblico (<strong>de</strong>pois Jardim Botânico) do Rio <strong>de</strong> Janeiro, chefe<strong>da</strong> seção <strong>de</strong> botânica do Museu Nacional 178 (Augel, 1979) echefe <strong>da</strong>s matas e jardins, posição posteriormente ocupa<strong>da</strong>por Auguste François Marie Glaziou, outro botânico famoso(Hoehne et al., 1941; Stafleu & Cowan, 1983).Ludwig Rie<strong>de</strong>l em 1846 (Fonte: Wikipedia).178 O herbário do Museu Nacional, diga-se <strong>de</strong> passagem, foi fun<strong>da</strong>do por Rie<strong>de</strong>l, sob apoio<strong>de</strong> Langsdorff, e se trata <strong>da</strong> primeira coleção <strong>de</strong> plantas institucionaliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil, <strong>da</strong>ta<strong>da</strong><strong>de</strong> 1831.162


Já com relação a AIMÉ ADRIEN TAUNAY (n. Paris,França: 1803; f. Vila Bela <strong>da</strong> Santíssima Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, MatoGrosso: 1828) é possível se esten<strong>de</strong>r um pouco mais,particularmente quanto à sua biografia. Em 1816 ele chegouao Rio <strong>de</strong> Janeiro em companhia <strong>de</strong> seu pai, o famoso pintorNicolas Antonie Taunay 179 , vindo ao Brasil com a ComissãoArtística Francesa 180 , portanto junto a Jean Baptiste Debret.Dois a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois, portanto com apenas 15 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>,embarca como <strong>de</strong>senhista auxiliar na expedição <strong>de</strong> circumnavegaçãodo navio Uranie, li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> pelo navegador francêsLouis Clau<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saulces <strong>de</strong> Freycinet (1779-1842). São<strong>de</strong>sse período as célebres ilustrações feitas por ele para onaturalista Jacques Etienne Victor Arago (1790-1854),retratando paisagens e povos <strong>da</strong> África do Sul, algumas ilhasdo Ocea<strong>no</strong> Índico, além do Timor Leste e <strong>da</strong>s ilhasMalvinas.De volta ao Rio <strong>de</strong> Janeiro, passa a se <strong>de</strong>dicar aosestudos, enfatizando as artes e as línguas quando, em 1825,concor<strong>da</strong> em participar <strong>da</strong> expedição Langsdorff.Taunay tinha um estilo todo especial <strong>de</strong> pintura,quase to<strong>da</strong>s elas feitas em aquarela, acompanhando esboçose <strong>de</strong>scrições. Segundo Ambrizzi (2008), ele misturavalirismo e rigor e suas contantes a<strong>no</strong>tações apensas às obrasou redigi<strong>da</strong>s em seus diários, “pressupunham a presença <strong>de</strong>um mo<strong>de</strong>lo interpretativo <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>”. Essa característicaera totalmente distinta do tipo <strong>de</strong> registro procurado por179 Tanto seu pai Nicolas quanto seu irmão, Felix Émile Taunay, foram professores <strong>da</strong>Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong> Belas Artes do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Seu outro irmão era HipolytheTaunay, colaborador do Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Paris e autor (em colaboração comFerdinand Denis, do Athénée <strong>de</strong> sciences, lettres et arts <strong>de</strong> Paris) dos seis volumes (1821-1822) <strong>da</strong> obra: “Le Brésil ou Histoire, moeurs, usages et coutumes <strong>de</strong>s habitants <strong>de</strong> ceroyaume”.180 Sob idênticas circunstâncias está o pintor Jean Leon Pallière (1823-1887), emborabrasileiro mas filho <strong>de</strong> Arnaud Julien Pallière (e neto <strong>de</strong> Auguste Henri Grandjean <strong>de</strong>Montigny – vi<strong>de</strong> Jean B.Debret) também membro <strong>da</strong> Missão Francesa. Jean é autor <strong>de</strong>vasta obra ico<strong>no</strong>gráfica, <strong>da</strong> qual se <strong>de</strong>stacam duas aquarelas feitas <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>: “Ca<strong>no</strong>a <strong>no</strong>Rio Paranaguá” e “Tropa carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> mate <strong>de</strong>scendo a Serra [do Mar]”.163


Langsdorff, que preferia o estilo <strong>de</strong> Hercules Florence,artista que, aliás, o acompanhou até o fim <strong>da</strong> expedição.Aimé Adrien Taunay, autorretrato (Fonte: Wikipedia).O barão, ain<strong>da</strong> que tenha contratado Taunay comoprimeiro <strong>de</strong>senhista, <strong>de</strong> fato preferia – tal como relatado emdiversas fontes – a companhia <strong>de</strong> Florence o qual, além <strong>de</strong>ótimo <strong>de</strong>senhista e interessado nas ciências em geral (emespecial cartografia e geografia), tinha uma participaçãoestratégica na logística <strong>da</strong>s viagens. Como homem <strong>de</strong>ciência (Ambrizzi, 2008), Langsdorff não concor<strong>da</strong>va comos arroubos emotivos dos artistas, razão (além <strong>de</strong> outras 181 )pela qual teria rompido com Rugen<strong>da</strong>s e, posteriormente,com o próprio Taunay. Isso gerou vários <strong>de</strong>sentendimentos,visto que a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Taunay era motivo <strong>de</strong> confrontocom os preceitos rígidos do barão, fazendo-o inclusive181 Consta que Taunay teria mantido um relacionamento amoroso com a esposa do barão,Wilhelmine von Langsdorff, na época com 24 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Isso é mais ou me<strong>no</strong>sexplicitamente afirmado em suas cartas, troca<strong>da</strong>s com o médico Francisco ÁlvaresMachado, radicado em Porto Feliz e que foi colaborador ativo <strong>da</strong> expedição (Costa, 2007).Segundo essa mesma autora, nas cartas <strong>de</strong> Taunay constam várias críticas ao barão, comopor exemplo, <strong>no</strong> fragmento: “O cônsul é mais feliz do que o pouco juízo <strong>de</strong>le (isso entrenós) <strong>no</strong>s tinha prometido”.164


pensar em <strong>de</strong>sistir <strong>da</strong> viagem por pelo me<strong>no</strong>s duas ocasiões(Costa, 2007).Logo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo <strong>de</strong>sentendimento com obarão por este tê-lo preterido a Florence na retratação <strong>da</strong>spaisagens <strong>da</strong> Chapa<strong>da</strong> dos Guimarães (Mato Grosso), ogrupo se dividiu <strong>no</strong>vamente e Taunay seguiu junto a Rie<strong>de</strong>lrumo ao interior do Mato Grosso. Na Vila Bela <strong>da</strong>Santíssima Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> (na época <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong> “Matto Grosso”,<strong>no</strong> estado <strong>de</strong> mesmo <strong>no</strong>me), ao tentar atravessar a nado o rioGuaporé, acabou sendo tragado por suas águas, morrendo aliafogado, em condições que não são perfeitamenteesclareci<strong>da</strong>s.Algo que raramente é mencionado na literaturahistórica alu<strong>de</strong> ao fato <strong>de</strong> um planejamento para que Taunaye Rie<strong>de</strong>l se unissem a <strong>Natterer</strong> para a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>viagem, <strong>no</strong>ta<strong>da</strong>mente ao longo do rio Amazonas. Ofalecimento prematuro do jovem pintor, <strong>no</strong> entanto, causouo malogro <strong>de</strong>sse projeto (Schmutzer, 2007).Aspecto importante sobre a presença <strong>de</strong> Taunay <strong>no</strong><strong>Paraná</strong> é que, em todo o percurso percorrido por ele, hásempre a presença <strong>de</strong> seu amigo Rie<strong>de</strong>l. Isso aconteceuporque, aten<strong>de</strong>ndo às <strong>no</strong>rmas <strong>de</strong> Langsdorff (emiti<strong>da</strong>s emIpanema, 1826), o artista francês estava incumbido <strong>de</strong>dispor-se “serviçalmente a <strong>de</strong>senhar as singulares cenas <strong>da</strong>natureza e <strong>de</strong> todos os objetos que na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> artistalhe exigir o sr. Rie<strong>de</strong>l” (Costa, 2007).Desta forma, apesar do acesso às ilustrações <strong>de</strong>Taunay ain<strong>da</strong> não ser uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> para o pesquisadorbrasileiro comum, as suas obras realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período emque esteve <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> coincidiam com o calor do momento e,<strong>de</strong>sta forma, é muito possível que, em vez <strong>de</strong> expressar suasensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> sem quaisquer orientações, ele tivesse, nareali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o acompanhamento rigoroso <strong>de</strong> Rie<strong>de</strong>l.165


É sem dúvi<strong>da</strong> uma lástima que as obras <strong>de</strong> Taunaysejam tão pouco conheci<strong>da</strong>s e difundi<strong>da</strong>s em publicações.Aparentemente, além <strong>de</strong> excelente artista, ele era meticulosoem retratar e <strong>de</strong>screver as paisagens, incluindo uma gran<strong>de</strong>gama <strong>de</strong> informações sobre o contexto, em geralapresenta<strong>da</strong>s <strong>no</strong> verso <strong>da</strong>s suas obras. Segundo Costa(2007), uma aquarela feita na Chapa<strong>da</strong> dos Guimarãesmostra um grupo <strong>de</strong> palmeiras buriti (Mauritia flexuosa).Entretanto, segundo essa autora, a palmeira “não está só”;<strong>no</strong> verso consta:[...] um estudo <strong>de</strong> palmeiras ‗buritis‘.Essa espécie prefere lugares úmidos,cresce em bosques e <strong>no</strong>s campos. Noscampos, são vistas raramente, exceto <strong>no</strong>slugares molhados. Em peque<strong>no</strong>s bosquesou capões que cobrem as margens <strong>da</strong>snascentes, em gran<strong>de</strong>s florestas, elascrescem por to<strong>da</strong> a parte [...]. Aspalmeiras apresenta<strong>da</strong>s nesse <strong>de</strong>senhosão jovens e <strong>de</strong>stacam-se pelo seu vigor.Essa espécie atinge gran<strong>de</strong> altura nasmargens do rio Pardo. Eu vi exemplares<strong>de</strong> 60 pés <strong>de</strong> altura. No primeiro pla<strong>no</strong>vemos três índios Guaná com suasprovisões <strong>de</strong> viagem. Eles sãoencontrados, freqüentemente, pelocaminho <strong>da</strong>s fazen<strong>da</strong>s e engenhos, on<strong>de</strong>vão oferecer seus serviços. Seu salário,geralmente, é <strong>de</strong> 4 vinténs <strong>de</strong> ouro, 1827,junho.Qual o conteúdo dos <strong>de</strong>senhos – e <strong>de</strong>scrições –esboçados <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>? Quanta riqueza estética, documentale narrativa ain<strong>da</strong> aguar<strong>da</strong> – e por quanto tempo – opesquisador <strong>da</strong> história <strong>da</strong> zoologia, <strong>no</strong> caso particular <strong>da</strong>expedição Langsdorff?166


Cro<strong>no</strong>logia1827 Olfers, a convite <strong>de</strong> Pedro I, assume a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>encarregado dos negócios, situação que permiterever pessoalmente seu amigo <strong>de</strong> viagem, F. SELLOW.Retorna à sua pátria em 1830.1827 Criação <strong>da</strong> alfân<strong>de</strong>ga <strong>de</strong> Paranaguá, local on<strong>de</strong> hojefunciona o Museu <strong>de</strong> Arqueologia e Artes <strong>de</strong>Paranaguá.1827 Johann Wagler publica “Systema Avium” com<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> diversas espécies <strong>de</strong> aves brasileiras,muitas <strong>de</strong>las obti<strong>da</strong>s por Johann B.von Spix.1827 John James Audubon inicia sua gran<strong>de</strong> e famosaobra pictórica, “The birds of America”, compostapor 435 pranchas (em escala 1:1) distribuí<strong>da</strong>s emquatro volumes, lançados entre 1827 e 1838. A obraé consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o livro mais caro do mundo.1827 No prédio do Museu Nacional, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, écria<strong>da</strong> a “Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Auxiliadora <strong>da</strong> IndústriaNacional”, cujos objetivos incluiam o estudo <strong>da</strong>botânica aplica<strong>da</strong> à agricultura.1828 AIMÉ ADRIEN TAUNAY morre afogado <strong>no</strong> rio Guaporé.1828 FRIEDRICH SELLOW chega ao <strong>Paraná</strong> vindo do sul doBrasil.167


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1828FRIEDRICH SELLOWFRIEDRICH SELLOW (eventualmente Sello 182 ) (n.Pots<strong>da</strong>m, Alemanha: 12 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1769; f. Belo Oriente,Minas Gerais: outubro <strong>de</strong> 1831) era o filho mais velho <strong>de</strong>Carl Julius Samuel Sello e Frie<strong>de</strong>rike Wilhelmine AlbertineLü<strong>de</strong>r. Tanto seu pai quanto seu avô (Carl Julius Sello),além do tio-avô (Johann Wilhelm Sello) e do tio (ChristianLudwig Samuel Sello) foram jardineiros reais em Pots<strong>da</strong>m erepresentavam uma família historicamente associa<strong>da</strong> aocultivo <strong>de</strong> plantas e jardinagem, por muitas gerações liga<strong>da</strong>à Casa <strong>de</strong> Hohehzollern, particularmente entre 1710 e 1893(Sybille Eggert, in litt., 2008).Friedrich se iniciou aca<strong>de</strong>micamente na botânica, seuramo predileto, por iniciativa <strong>de</strong> Carl Ludwig Will<strong>de</strong><strong>no</strong>w(1765-1812), diretor do jardim botânico <strong>de</strong> Berlim, que orecebeu como colaborador naquela instituição. Em segui<strong>da</strong>ele se transferiu para o Museu <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural <strong>de</strong> Paris,recebendo orientação <strong>de</strong> René Louiche Desfontaines eAntoine Laurent <strong>de</strong> Jussieu. Nesse <strong>no</strong>vo ambiente pô<strong>de</strong>assistir às interessantes palestras <strong>de</strong> George Cuvier,Geoffroy <strong>de</strong> Saint Hilaire e Jean Baptiste Lamarck, bemcomo trabalhar <strong>no</strong> “Jardin <strong>de</strong>s Plantes”, o assim chamado182 Assim (Sello) aparece <strong>no</strong> espaço <strong>de</strong> coletor do lectótipo (MNHB-2993) <strong>de</strong>Herpsilochmus pileatus <strong>de</strong>positado em Berlim (Whitney et al., 2000), bem como <strong>de</strong> váriosoutros exemplares, inclusive <strong>de</strong> plantas. Segundo Hoehne et al. (1941) seu <strong>no</strong>meoriginalmente é Sello, mas foi alterado quando <strong>de</strong> sua vin<strong>da</strong> ao Brasil, talvez com base emdocumentos antigos, consi<strong>de</strong>rando-se que não eram raras, em Bran<strong>de</strong>nburg, as famíliasque tinham <strong>no</strong>mes terminando em ―-ow”. Há também a forma Fre<strong>de</strong>rick.169


horto botânico do museu francês. Entre 1811 e 1813, porindicação e financiamento <strong>de</strong> Alexan<strong>de</strong>r von Humboldt,dirigiu-se aos Países Baixos e <strong>de</strong>pois à Inglaterra, situaçãoque lhe permitiu conviver com a elite intelectual <strong>da</strong> época e,<strong>de</strong>sta forma, aprofun<strong>da</strong>r-se ain<strong>da</strong> mais <strong>no</strong>s estudos botânicos(Urban, 1893; Stresemann, 1948; Stafleu & Cowan, 1985;Hackethal, 1995; Krausch, 2002; Gebhardt, 2006).O a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1813 estava chegando ao fim quando,graças ao convite e às cartas <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ção do Barão <strong>de</strong>Langsdorff, obteve uma subvenção dos botânicos britânicosJoseph Banks e John Sims para participar <strong>de</strong> uma expediçãoao Brasil. Langsdorff, que recém assumira o cargo <strong>de</strong> cônsulrusso <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, havia chegado ao Brasil <strong>no</strong> a<strong>no</strong>anterior, junto com o zoólogo Georg Wilhelm Freyreiss.Como dito anteriormente, o barão comprara a famosaFazen<strong>da</strong> Mandioca, residindo na proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> e recebendonaturalistas que ali se alojavam durante suas viagens. Sellowera um <strong>de</strong>les e, graças a essa oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, iniciou seutrabalho explorando as matas dos arredores <strong>da</strong> fazen<strong>da</strong> a fim<strong>de</strong> colecionar material, tendo ali se encontrado comFreyreiss e, <strong>de</strong>pois, com o Príncipe <strong>de</strong> Wied-Neuwied(Rocha, 1972). Graças aos contatos, o trio acaba porconfessar i<strong>de</strong>ias comuns, como o interesse em a<strong>de</strong>ntrar oain<strong>da</strong> pouco conhecido interior do Brasil.Acerta<strong>da</strong> a <strong>de</strong>legação, agora sob a li<strong>de</strong>rança dopríncipe, caberia a Freyreiss as coletas <strong>de</strong> animais e, aSellow, o colecionamento <strong>de</strong> plantas. Assim, por mais uma<strong>no</strong>, os três percorrem diversos locais dos estados do Rio <strong>de</strong>Janeiro, Espírito Santo e Bahia, até se separarem em 1816.Solitário, Friedrich acaba por prosseguir sua peregrinaçãopela Bahia até 1818 quando, chegando a Salvador, <strong>de</strong>cidiuretornar ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.170


Em março <strong>de</strong>sse a<strong>no</strong>, Sellow passa a companharIgnaz Franz W.M. Olfers 183 , <strong>de</strong> quem se tor<strong>no</strong>u amigopróximo e com quem, logo <strong>de</strong>pois, realizou a segun<strong>da</strong>viagem pelas províncias do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais eSão Paulo, retornando à capital via porto <strong>de</strong> Santos, em abril<strong>de</strong> 1820. Dividiam ambos as funções: enquanto Sellow seresponsabilizava pela coleta e preparação <strong>de</strong> plantas, aves emamíferos, Olfers <strong>de</strong>dicava-se aos insetos e geologia,também obtendo anfíbios, répteis, peixes e vermes <strong>de</strong>conteúdos digestórios (Hackethal, 1995)Cabe lembrar que neste mesmo a<strong>no</strong>, Sellow ain<strong>da</strong>visitou a fazen<strong>da</strong> Mandioca, exatamente <strong>no</strong> momento emque Langsdorff planeja seu retor<strong>no</strong> à Europa, visto terabdicado do seu cargo <strong>de</strong> cônsul, em <strong>de</strong>corrência <strong>da</strong>Revolução Constitucionalista do Porto. Já sem o po<strong>de</strong>rosoapoio, Sellow acaba contratado por D. João como naturalistaviajante do Museu Imperial do Rio <strong>de</strong> Janeiro, sendoregularizado apenas <strong>no</strong> a<strong>no</strong> seguinte, quando o rei volta aPortugal e D. Pedro assumiu o posto <strong>de</strong> príncipe-regente doBrasil.Em 1821, Portugal planeja a invasão do Uruguai,fazendo-a pela criação <strong>da</strong> província Cisplatina e gerando<strong>de</strong>sacordos diplomáticos com as províncias uni<strong>da</strong>s do rio <strong>da</strong>Prata (especialmente Argentina) que culminaram na Guerra<strong>da</strong> Cisplatina (1825-1828). Sob essas circunstâncias, e jácomo membro oficial do rei<strong>no</strong>, em maio <strong>de</strong> 1821 Sellowacompanha a comitiva naval rumo ao Uruguai e lá <strong>de</strong>cidiuprosseguir seus trabalhos <strong>de</strong> coleta, visitando a então cria<strong>da</strong>província e algumas regiões do território argenti<strong>no</strong> (p.ex.183 Segundo Pacheco & Whitney (2001): “Chegado ao Rio <strong>de</strong> Janeiro em junho <strong>de</strong> 1818,Sellow conheceu na pessoa <strong>de</strong> v. Olfers, um naturalista primorosamente preparado eamável companheiro, ao qual ficaria ligado até a morte por sóli<strong>da</strong> amiza<strong>de</strong>”. Olfers veioao Brasil em 1817, junto <strong>da</strong> <strong>de</strong>legação do Con<strong>de</strong> von Flemming, emissário diplomático <strong>da</strong>Alemanha, em viagem oficial.171


Bue<strong>no</strong>s Aires); seria sua terceira e última viagem peloBrasil.Depois <strong>de</strong> intenso trabalho, resolveu seguir por terrapara o <strong>no</strong>rte, entrando pelo Rio Gran<strong>de</strong> do Sul em abril <strong>de</strong>1823 e ali <strong>de</strong>dicando vários a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> trabalho 184 . Em segui<strong>da</strong>,passou pelas províncias <strong>de</strong> Santa Catarina e São Paulo(incluindo o <strong>Paraná</strong>) e seguiu rumo a Minas Gerais, on<strong>de</strong>a<strong>de</strong>ntrou pela serra <strong>da</strong> Mantiqueira em 1830. Nessa regiãoexplorou Ouro Preto, Congonhas, os rios Paraopeba ePiracicaba e a serra <strong>de</strong> Itabira e, enfim, sofre um trágicoaci<strong>de</strong>nte: morre afogado (Papávero, 1973; Pinto, 1978)enquanto se banhava na cachoeira Escura, margem esquer<strong>da</strong>do rio Doce 185 , hoje município <strong>de</strong> Belo Oriente (MinasGerais):―Segundo informações colhi<strong>da</strong>s porocasião <strong>de</strong> uma viagem ao Rio Doce, oafogamento <strong>de</strong> Sellow teria ocorrido,segundo uns, aci<strong>de</strong>ntalmente, ao banharseele na corre<strong>de</strong>ira conheci<strong>da</strong> pelo<strong>no</strong>me <strong>de</strong> Cachoeira Escura; segundooutros, porém, teria praticado o suicídio.Vários fatos parece <strong>da</strong>rem força à últimahipótese, inclusive os termos dotestamento em que <strong>de</strong>clarara as suasúltimas vonta<strong>de</strong>s‖ (Pinto, 1979).Em sua homenagem foi batiza<strong>da</strong> (como “Fre<strong>de</strong>ricoSellow”) em 1961, uma estação <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>de</strong> ferro Vitória-184 Em janeiro <strong>de</strong> 1825, durante sua esta<strong>da</strong> em Porto Alegre, chega a encontrar-se com D.Pedro I em plena Guerra <strong>da</strong> Cisplatina. Consta que Sellow teria <strong>de</strong>sviado a sua rotaplaneja<strong>da</strong> justamente para encontrá-lo pois o imperador “<strong>de</strong>sejava levar alguns mineraisinteressantes para a sua jovem esposa, a Imperatriz Leopoldina” (Hoehne et al., 1941).185 Esse local está a 19°19‟01,32”S e 42°21‟50,79”W, a cerca <strong>de</strong> 25 km NNE, em linhareta, <strong>da</strong> confluência do Rio Piracicaba, segundo R. S. Bérnils (in litt., 2012).172


Minas, em substituição ao <strong>no</strong>me original <strong>de</strong> “CachoeiraEscura” (Giesbrecht, 2006).Sellow tinha amiza<strong>de</strong> com naturalistas influentes <strong>da</strong>época, como Alexan<strong>de</strong>r von Humboldt, organizador <strong>da</strong> obraNova genera et species plantarum (1820), on<strong>de</strong> consta a<strong>de</strong>scrição do gênero Selloa (família Asteraceae), atribuído aKarl S.Kunth, com o seguinte texto: “Genus dicatumamicisissi mo, F. Sello, peregrinatori germa<strong>no</strong>, Brasiliamadhuc lustranti, qui herbaria hortosque botanicos plantisexquaesitis more mirabiliter auxit‖ 186 . Ele enviou muitasplantas nativas do Brasil para a Europa visando ao seucultivo, sendo que algumas <strong>de</strong>las apareceram <strong>no</strong> VelhoMundo por seu intermédio, como as populares Salviasplen<strong>de</strong>ns (sálvia), Petunia axillaris (petúnia), Begoniasempervirens (begônia) e Corta<strong>de</strong>ria selloana (capim-<strong>de</strong>penacho).Indiscutivelmente a sua contribuição foi muito maisvaloriza<strong>da</strong> pelos botânicos (Herter & Rambo, 1945), o quese percebe pelos inúmeros epítetos científicos sellowi 187 ,sellowiana, selloi e vários outros. Em Itajaí (SantaCatarina), há uma série <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong><strong>no</strong>mina<strong>da</strong>“Sellowia”, correspon<strong>de</strong>nte aos antigos “Anais Botânicos doHerbário Barbosa Rodrigues”. No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80, operiódico abriu a série zoologia, inaugura<strong>da</strong> pela lista <strong>da</strong>saves <strong>de</strong> Santa Catarina (Sick et al., 1981).Sellow conhecia muito bem os itinerários (e osresultados <strong>da</strong>s expedições) <strong>de</strong> outros naturalistas viajantes<strong>da</strong> época. Sabe-se, por exemplo, que se encontrou com Saint186 “Gênero <strong>de</strong>di<strong>da</strong>do ao meu gran<strong>de</strong> amigo F. Sello, viajante alemão, ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> Brasil emlevantamentos, que tem ampliado maravilhosamente, com plantas <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s, osherbários e hortos botânicos”.187 Também o pinheiro-bravo Podocarpus sellowii, gim<strong>no</strong>sperma frequente <strong>no</strong> planaltoparanaense que conta com registros em vários pontos relictuais do Brasil (inclusiveAmazônia; vi<strong>de</strong> Souza, 2012), <strong>no</strong>tavelmente <strong>no</strong> chamado Centro <strong>de</strong> En<strong>de</strong>mismosPernambuco (Pernambuco, Ceará e Paraíba) mas também na serra <strong>de</strong> Itabaiana, <strong>no</strong> agrestesergipa<strong>no</strong> (Andra<strong>de</strong>-Lima, 1966, 1982; ver também Cavalcanti & Tabarelli, 2004).173


Hilaire e <strong>Natterer</strong> na fazen<strong>da</strong> Ipanema (Saint-Hilaire, 1940)e com Peter W. Lund em Minas Gerais (Holten & Sterll,2000), obviamente não por mero acaso.Selloa plantaginea, segundo ilustração original junto à <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> Humboldt (esquer<strong>da</strong>)(Fonte: Bonpland et al., 1815-1825); touceira <strong>de</strong> Corta<strong>de</strong>ria selloana, gramínea <strong>de</strong>scritaem homenagem a Friedrich Sellow (direita) (Fonte: homepage <strong>da</strong> família Sello,www.hofgaertner-sello.<strong>de</strong>; acessa<strong>da</strong> em 15 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2008).Com relação às regiões visita<strong>da</strong>s, ele se distinguepela abrangência, to<strong>da</strong> extra-amazônica, ain<strong>da</strong> quecoinci<strong>da</strong>m, em gran<strong>de</strong> parte, com locais tradicionalmentevisitados por outros coletores contemporâneos, como aci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Salvador e a vasta extensão litorânea <strong>da</strong>li atéSantos, o interior <strong>de</strong> Minas Gerais (p.ex. Ouro Preto,Barbacena) e <strong>de</strong> São Paulo (p.ex. São Paulo, Jundiaí,Piracicaba, Itu, Sorocaba e Itararé). Não obstante, o fatomagnificamente distintivo <strong>de</strong> suas viagens diz respeito àsvisitas a regiões do extremo sul, incluindo-se aí o planaltomeridional do Brasil e quase todo o estado do Rio Gran<strong>de</strong>do Sul, bem como a atual república do Uruguai. Essespontos, como se sabe, foram apenas marginalmente174


percorridos por Saint Hilaire e, embora cogitados, nãocontaram com a presença <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>.No <strong>Paraná</strong>, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>dicou <strong>de</strong>z meses <strong>de</strong> permanência,Sellow <strong>de</strong>screveu caminho contrário ao <strong>de</strong>sses doisnaturalistas vindos <strong>de</strong> São Paulo, via Itararé. Ele provinhado sul e, em solo paranaense pela primeira vez pisou aochegar a Mafra (hoje Santa Catarina) 188 . Cruzou o rioNegro, atingindo (março <strong>de</strong> 1828) a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> limítrofe <strong>de</strong>mesmo <strong>no</strong>me e, pelo caminho dos tropeiros, passou pela vilado Príncipe (hoje Lapa: 9 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1828) até chegar emCuritiba, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> visitar as pequenas vilas <strong>de</strong> Conten<strong>da</strong> eAraucária (na época conheci<strong>da</strong> como Tindiquera).Dali ain<strong>da</strong> incluiu uma esta<strong>da</strong> em Paranaguá,retornando à capital já pensando em algo inédito: a visita avárias outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, seguindo por outros caminhostambém importantes na época, mas que ain<strong>da</strong> não haviamsido explorados por outros naturalistas. Dentre elas<strong>de</strong>stacam-se os campos <strong>de</strong> Guarapuava, para on<strong>de</strong> <strong>de</strong>sti<strong>no</strong>utrês meses <strong>de</strong> estudos (setembro a <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1828), a fim<strong>de</strong> se <strong>de</strong>dicar especialmente aos aspectos linguísticos dosíndios <strong>da</strong> região 189 .Sua presença <strong>no</strong>s campos <strong>de</strong> Guarapuava coincidiucom o fim do longo período <strong>de</strong> “pacificação” dos índioslocais (camé, votorão, dorim, ou seja, Kaingangs), poriniciativa <strong>de</strong> Diogo Pinto <strong>de</strong> Azevedo Portugal (Macedo,1951) e que teve a participação ilustre do padre ChagasLima (Straube, 2011). De retor<strong>no</strong> a Curitiba, retoma o rumo<strong>no</strong>rte, passando por Ponta Grossa, Castro, Piraí do Sul e188 Essa é, <strong>no</strong> entanto, a configuração atual dos limites oficiais, apenas concluí<strong>da</strong> porocasião dos acordos <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> “Guerra do Contestado”.189 Em 1828, Guarapuava contava com apenas 55 domicílios e pouco me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> 300habitantes. Isso representava uma temeri<strong>da</strong><strong>de</strong> sem igual, em virtu<strong>de</strong> do peque<strong>no</strong> efetivo <strong>de</strong>colonizadores que rotineiramente envolviam-se em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras guerrilhas com osindígenas nativos, conhecidos pela hostili<strong>da</strong><strong>de</strong> (Leão, 1924-1928).175


Jaguariaíva, acabando por atingir os limites com São Paulo(Itararé) em janeiro <strong>de</strong> 1829.Percebe-se que o itinerário percorrido por Sellow <strong>no</strong>sul do Brasil merece distinção frente a todos os que foramseguidos por outros naturalistas contemporâneos. Ele foi oúnico a conhecer por inteiro o trecho paranaense docaminho do Viamão, entre as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Rio Negro eItararé. Se não bastasse, também foi o único naturalistacorajoso o suficiente para a<strong>de</strong>ntrar pelos chamados “campos<strong>de</strong> Guarapuava” que, por séculos, foram consi<strong>de</strong>radosextremamente perigosos <strong>de</strong>vido aos constantes ataques dosíndios. Saint Hilaire, com quem manteve laços <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>e, inclusive, em cuja companhia viajou pelo interior <strong>de</strong> SãoPaulo, assim se refere à condição (Saint-Hilaire, 1940:283):“Os campos <strong>de</strong> Guarapuava, que o coronel DIOGO tinhacolonizado em parte, constituíam, então, objeto <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s asconversações. Dar-me-ia gran<strong>de</strong> prazer visitá-los, mas asdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> viagem me amedrontraram”.Do magnífico legado <strong>de</strong> Sellow, obtido sob esforçosinimagináveis 190 , po<strong>de</strong>-se afirmar ter sido composto porrepresentações <strong>de</strong> vários campos do conhecimento, sejam191elas geológicas , geográficas, meteorológicas,astronômicas, antropológicas, zoológicas e principalmentebotânicas (Marchiori & Durlo, 1998). Adicionam-se aqui assuas coleções paleontológicas, consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como os190 Aqui um comentário especial, que mais uma vez ilustra a obstinação dos naturalistasviajantes quando <strong>de</strong> suas pe<strong>no</strong>sas viagens empreendi<strong>da</strong>s pelo interior do Brasil. O assuntofoi abor<strong>da</strong>do rapi<strong>da</strong>mente <strong>no</strong> volume anterior (“Como foi feita esta obra”), mas éinteressante relembrar algumas palavras <strong>de</strong> Papávero (1971:76). Quando <strong>de</strong> sua esta<strong>da</strong> <strong>no</strong>litoral <strong>de</strong> Santa Catarina, após uma longa peregrinação pelas terras sulinas, FriedrichSellow encontrava-se em Lages quando <strong>de</strong>ixou ali, por algum tempo as mulas <strong>de</strong>scansando(!), enquanto empreendia <strong>no</strong>va viagem rumo a Florianópolis e, então, <strong>no</strong>vamente ao Rio <strong>de</strong>Janeiro. A condição, se não curiosa, é surpreen<strong>de</strong>nte, consi<strong>de</strong>rando-se o vigor físico <strong>de</strong>sseanimais e a incansável <strong>de</strong>dicação do gran<strong>de</strong> naturalista alemão.191 Segundo Borba & Courat (1975) e Maack (1981), Sellow é consi<strong>de</strong>rado um dosprecursores <strong>da</strong> Geologia brasileira, graças à sua coleção com mais <strong>de</strong> 2000 amostras,obti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Brasil entre 1814 e 1831, to<strong>da</strong>s atualmente <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> Berlim. Mais <strong>de</strong>talhessobre sua participação nas geociências estão em Landsberg (1996).176


primeiros números a serem incluídos na seção <strong>de</strong>paleontologia do Museu Nacional (Couto, 1948; Fernan<strong>de</strong>set al., 2007) e estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s por vários pesquisadores <strong>da</strong> área(Weiss, 1830; D‟Alton, 1835, Mones, 1972, Marchiori &Durlo, 1998).Seus diários, em número aproximado <strong>de</strong> setentavolumes (em sua gran<strong>de</strong> maioria ain<strong>da</strong> inéditos) eramprimorosos, alternando técnicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho com lápis outinta. Continham a<strong>no</strong>tações adiciona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes <strong>da</strong>situação, alguns codificados (<strong>da</strong>ta, temperatura do ar e <strong>da</strong>água, por exemplo), esboços <strong>de</strong> paisagens e situaçõesurbanas e eventualmente magníficos <strong>de</strong>senhos dosorganismos observados ou colecionados.Aquarela <strong>de</strong> peixe, prepara<strong>da</strong> por Friedrich Sellow e conserva<strong>da</strong> <strong>no</strong> Museum fürNaturkun<strong>de</strong> <strong>de</strong>r Humboldt-Universität Berlin (Fonte: http://www.hofgaertner-sello.<strong>de</strong>/,acessa<strong>da</strong> em 4 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2012).Dentre as aves que, em <strong>de</strong>zessete a<strong>no</strong>s, Sellowconseguiu coletar, contam-se 5.457 espécimens, além <strong>de</strong>ninhos, ovos, esqueletos e várias peças anatômicas eparasitas preservados em álcool. Segundo Stresemann (1948per Whitney et al., 2000), ele também coletou 263mamíferos 192 , 110.000 invertebrados variados e 12.500plantas 193 .192 É coleta <strong>de</strong> Sellow o lectótipo do morcego Uro<strong>de</strong>rma bilobatum, cujo holótipo –colecionado por Johann <strong>Natterer</strong> – pertencia ao Museu <strong>de</strong> Munique mas se per<strong>de</strong>u <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o177


Vários museus do mundo inteiro, além do Museumfür Naturkun<strong>de</strong> <strong>de</strong>r Humboldt-Universität <strong>de</strong> Berlim (viaOlfers e Humboldt), tiveram em seus acervos parte domaterial acumulado pelo naturalista, <strong>de</strong>ntre eles o MuseuBritânico (que incorporou a coleção particular <strong>de</strong> Banks) eos museus nacionais <strong>de</strong> Lisboa e do Rio <strong>de</strong> Janeiro, para oqual trabalhou por vários a<strong>no</strong>s como naturalista-viajante(Papávero, 1973; Pinto, 1979; Belton, 1984). Inúmerasduplicatas constam atualmente <strong>no</strong>s herbários <strong>de</strong> Kew, Paris,Washington, Cambridge, Bruxelas, Génève, Kiel, Leipzig evários outros (Urban, 1908) formando acervo <strong>de</strong>importância incalculável sobre a flora brasileira. Pesquisasprofun<strong>da</strong>s, liga<strong>da</strong>s à botânica, têm sido realiza<strong>da</strong>s sobre oacervo, incluindo o itinerário percorrido <strong>no</strong> Brasil ereavaliação <strong>de</strong> fragmentos <strong>de</strong> seus diários (Moraes, 2008;Pedro L. R. <strong>de</strong> Moraes, 2007, in litt.) 194 .É possível ter ao me<strong>no</strong>s uma idéia <strong>da</strong>s aves obti<strong>da</strong>spor ele em catálogos que citam alguns <strong>de</strong> seus exemplares(p.ex. Pelzeln, 1871; Cory, 1918 e subsequentes). Com basenessas obras, a<strong>no</strong>tamos as seguintes espécies: Ortalisguttata, Penelope superciliaris, Porphyrio mela<strong>no</strong>ps, Fulicaarmillata, Asio stygius, Nyctibius griseus, Diopsittaca<strong>no</strong>bilis, Aratinga auricapillus, Aratinga jan<strong>da</strong>ya, Pyrrhuracruentata, Pionus maximiliani, Forpus passerinus,Ramphastos toco, Picumnus cirratus, Picumnus exilis,Veniliornis affinis, Veniliornis spilogaster, Colaptesmela<strong>no</strong>chloros, Veniliornis mixtus, Campylorhamphustrochilirostris, Furnarius figulus, Elaenia obscura,Cyclarhis gujanensis, Turdus leucomelas, Turdus fumigatus,fim do Século XIX. Sobre os répteis não pu<strong>de</strong>mos colher quaisquer informações, mas,pelo me<strong>no</strong>s o holótipo do raro lagarto Anisolepis undulatus, conservado <strong>no</strong> Museum fürNaturkun<strong>de</strong> <strong>de</strong> Berlim (ZMB-497) foi capturado por Sellow.193 Imagens digitais <strong>de</strong> muitas <strong>da</strong>s exsicatas <strong>de</strong> Sellow <strong>de</strong>posita<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Museu <strong>de</strong> Berlim,po<strong>de</strong>m ser vistas em Röpert (ed.) 2000.194 No campo <strong>da</strong> <strong>História</strong> <strong>da</strong>s Ciências, é Miriam E.Junghans que se <strong>de</strong>dica ao naturalistaalemão, em sua tese <strong>de</strong> doutorado, em an<strong>da</strong>mento pela Fiocruz (Rio <strong>de</strong> Janeiro).178


Tiaris fuligi<strong>no</strong>sus, G<strong>no</strong>rimopsar chopi e Amblyramphusholosericeus. São também coletas <strong>de</strong> Sellow na Bahia, ostipos <strong>de</strong> Dysithamnus stictothorax 195 e Herpsilochmuspileatus, espécies endêmicas <strong>da</strong> Mata Atlântica e <strong>de</strong>scritasrespectivamente por Temminck e Lichtenstein, ambas em1823 (Whitney et al., 2000).No último a<strong>no</strong> do Século XX, Whitney et al. (2000)prestaram-lhe uma homenagem batizando o tam<strong>no</strong>filí<strong>de</strong>oHerpsilochmus sellowi Whitney & Pacheco, 2000, com aseguinte explanação etimológica: “We have chosen to namethis new antwren in recognition to Friedrich Sellow‘simportant collections of natural history specimens fromeastern Brazil 196 ”. A espécie, aparenta<strong>da</strong> com H. pileatus,permaneceu por séculos oculta em um grupo taxonômicocomplexo e, finalmente, recebeu uma <strong>de</strong><strong>no</strong>minação mais doque justa.O material obtido <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>, se é que ain<strong>da</strong> existe,haja vista a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte do acervo <strong>de</strong> Berlimdurante a Segun<strong>da</strong> Gran<strong>de</strong> Guerra, aguar<strong>da</strong> estudosporme<strong>no</strong>rizados e <strong>de</strong>le inexiste mesmo uma lista <strong>de</strong> espéciescom as respectivas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ocorre que boa parte domaterial zoológico obtido por Sellow <strong>no</strong> Brasil, foi estu<strong>da</strong>doprecariamente por Martin Heinrich Karl von Lichtenstein(1780-1857) 197 que, além <strong>de</strong> substituir os rótulos originaispor outros, acabou por lhes acrescentar <strong>no</strong>mes <strong>no</strong>vos, semrealizar a <strong>de</strong>scrição protocolar básica para fins científicos,resultando em vários <strong>no</strong>mina nu<strong>da</strong>. Outra fração <strong>de</strong>sse195 Vi<strong>de</strong> prancha mostra<strong>da</strong> acima, sob Johann <strong>Natterer</strong> e Dominick Sochor.196 “Nós escolhemos um <strong>no</strong>me, para <strong>no</strong>mear esse peque<strong>no</strong> pássaro, como reconhecimentoàs importantes coleções <strong>de</strong> <strong>História</strong> Natural forma<strong>da</strong>s por Friedrich Sellow <strong>no</strong> leste doBrasil”.197 Lichtenstein foi o sucessor (a partir <strong>de</strong> 1813) do primeiro curador do Museu <strong>de</strong> Berlim,Karl Illiger. Ele era professor particular <strong>da</strong> família do governador <strong>da</strong> África do Sul e, em1810, atingindo o doutorado, foi diretor do Jardim Botânico <strong>de</strong> Berlim. Ao assumir acuradoria do museu zoológico, trabalhou em intercâmbio com Temminck, na épocacurador do museu <strong>de</strong> Ley<strong>de</strong>n (Holan<strong>da</strong>). Coube a ele receber gran<strong>de</strong> parte do materialoriundo do Brasil, inclusive as coleções <strong>de</strong> Freyreiss e Sellow (Ahrens, 1925).179


acervo foi vendi<strong>da</strong>, permuta<strong>da</strong> ou transforma<strong>da</strong> em materialexpositivo, em muitos casos com per<strong>da</strong> dos <strong>da</strong>dos originais(Ahrens, 1925; Pinto, 1979; Sick et al., 1981; Pacheco &Whitney, 2001 198 ).Cabe lembrar que é <strong>de</strong> autoria do próprioLichtenstein um manuscrito apenas recentemente tornadopúblico, contendo “Instructionen fur die auswärtigenReisen<strong>de</strong>n” 199 e dirigido diretamente a Sellow. Isso levaria apensar que <strong>de</strong>le partisse uma preocupação com apreparação, rotulagem e acondicionamento dos espécimes<strong>de</strong> aves porventura obtidos. Nesse documento, <strong>no</strong> entanto,observa-se claramente que uma vez recebendo pagamentopor parte do Museu <strong>de</strong> Berlim, Sellow <strong>de</strong>veria fazer apenaso trabalho com as plantas, cabendo a Freyreiss os encargoszoológicos e a Feldner 200 , os assuntos <strong>de</strong> geologia emineralogia. Lichtenstein chega a afirmar, nesse documento,que Sellow não teria tempo, tampouco a habili<strong>da</strong><strong>de</strong>necessária, para as preparações <strong>de</strong> aves e mamíferos, osquais <strong>de</strong>veriam cair em suas mãos apenas porocasionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Pelo contrário, também o orienta para<strong>de</strong>dicar-se a outros grupos <strong>de</strong> vertebrados que, segundo ele,seriam mais facilmente colecionados e armazenados, comocobras, anfíbios, lagartos e tartarugas, todos eles“especialmente bem-vindos” 201 ; e também <strong>de</strong>staca apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> capturar, entre uma herborização e outra,insetos, moluscos e crustáceos.198 Esse artigo é leitura obrigatória para interessados em Sellow, particularmente sobre os<strong>de</strong>talhes logísticos e cro<strong>no</strong>lógicos <strong>de</strong> suas viagens, bem como o triste <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> do materialzoológico por ele obtido. É, sem dúvi<strong>da</strong>, o estudo mais completo já feito em português,refletindo a gran<strong>de</strong> competência e espírito investigativo <strong>de</strong> seus autores.199 “Instruções para os viajantes estrangeiros”. Disponível na homepage do Museum fürNaturkun<strong>de</strong>, <strong>de</strong> Berlim (http://www.naturkun<strong>de</strong>museum-berlin.<strong>de</strong>; acessa<strong>da</strong> em 22 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 2012)200 Wilhelm Christian Gotthelf von Feldner (1772-1822), geólogo.201 “Amphibien: Schlangen, Frösche, Ei<strong>de</strong>chsen, Schildkröten von allen Arten sind unsbeson<strong>de</strong>rs willkommen” (“Anfíbios: cobras, rãs, lagartos, tartarugas <strong>de</strong> todos os tipos, sãoespecialmente bem-vindos”).180


Alguns exemplares coletados por F.Sellow <strong>no</strong> Brasil e <strong>de</strong>positados na coleção Museu <strong>de</strong>Zoologia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Humboldt (Berlim). Falco femoralis (ZMB-988),Psarocolius <strong>de</strong>cumanus (ZMB-7602), Batara cinerea (ZMB-2921), Xiphocolaptesalbicollis (ZMB-9202). (Reproduzido <strong>da</strong> homepage <strong>da</strong> Humboldt Universität:http://www.sammlungen.hu-berlin.<strong>de</strong>).181


A forma <strong>de</strong>scui<strong>da</strong><strong>da</strong> com que Lichtenstein recebeu eorganizou a coleção ornitológica (e também <strong>de</strong> mamíferos)<strong>de</strong> Sellow é <strong>no</strong> mínimo curiosa. Afinal, ele mesmo fezviagens científicas para obtenção <strong>de</strong> espécimes, publicouobras narrativas e <strong>de</strong>screveu inúmeros táxons <strong>de</strong> animaissuperiores, <strong>de</strong>ntre eles uma infini<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> aves (Nomura,2006b). Além disso, mantinha forte relação compersonali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ampla consciência sobre o manejo <strong>de</strong>informações colhi<strong>da</strong>s em expedições <strong>de</strong> campo, comoAlexan<strong>de</strong>r von Humboldt e vários outros <strong>de</strong>ca<strong>no</strong>s <strong>da</strong><strong>ornitologia</strong> contemporânea como o Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Hoffmannseg,Jakobus Temminck e Karl Illiger. Para completar, foiLichtenstein curador, por 44 a<strong>no</strong>s, do acervo zoológico doMuseu <strong>de</strong> Berlim, lá atuando haviam mais <strong>de</strong> duas déca<strong>da</strong>squando <strong>da</strong> viagem <strong>de</strong> Sellow.As razões <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong>sleixo provavelmentevenham a ser esclareci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> futuro, em especial pela leiturados diários manuscritos <strong>de</strong> Sellow, armazenados e em vias<strong>de</strong> digitalização pelo Naturkun<strong>de</strong> Museum.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, a consequência direta disso é que quasetodos os espécimes colecionados ain<strong>da</strong> hoje suscitamdúvi<strong>da</strong>s, quase certamente por terem as informações dosrótulos originais altera<strong>da</strong>s e, via <strong>de</strong> regra, relacionam-se comaves ti<strong>da</strong>s como coleta<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Uruguai 202 . Isso ocorre, porexemplo, com dois indivíduos <strong>de</strong> Gera<strong>no</strong>aetus coronatus,cuja procedência é discuti<strong>da</strong> por Hellmayr (1949:198): “Thelocality ‗Montevi<strong>de</strong>o, Uruguay‘, attached to two of Sellow‘sspecimens in the Berlin Museum, is open to doubt. TheCrowned Harpy Eagle has never again been obtained inUruguay”.202 É curioso, portanto, que Claramunt & Cuello (2004) sequer mencionem a presença <strong>de</strong>Sellow naquele país, tampouco estabeleçam a mereci<strong>da</strong> racionália para esses exemplos.182


A mesma dúvi<strong>da</strong>, agora com comentário maisincisivo, recai sobre os vouchers <strong>de</strong> Cranioleuca obsoleta:“The localities Bue<strong>no</strong>s Aires and Montevi<strong>de</strong>o attached to theoriginals of S. ruticilla[ 203 ] are <strong>no</strong> doubt erroneus, as in thecase of several other species <strong>de</strong>scribed from Sellow‘sexpedition” (Hellmayr, 1925:128). Em outra situação, oproblema dirige-se a Hemitriccus diops: “The type[ 204 ], saidto have been obtained in ‗Montevi<strong>de</strong>o‘ by the travellerSellow agrees with <strong>Natterer</strong>‘s specimens from Ypanema.The locality is unquestionably erroneus” (Hellmayr,1927:343).Também um exemplar <strong>de</strong> Sporophila bouvreuil écitado (Hellmayr, 1938:223): “The locality ‗Montevi<strong>de</strong>o‘attached to one of Sellow‘s birds in the Berlin Museum isdue to a confusion of labeling. It probably came from SãoPaulo, instead”.Lamentavelmente perdidos são também os <strong>da</strong>dosprecisos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> três exemplares do raríssimo patomergulhão(Mergus octosetaceus) obtidos nas províncias <strong>de</strong>Rio <strong>de</strong> Janeiro, Minas Gerais e São Paulo do Museu <strong>de</strong>Berlim, em cujos rótulos consta somente “Minas” e aosquais falta a <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> captura (Partridge, 1956).Do pouco que foi possível resgatar, po<strong>de</strong>-se citaruma única ave legitimamente paranaense, atribuí<strong>da</strong> a ele porPelzeln (1871:439) <strong>no</strong> capítulo “Fundorte <strong>de</strong>r VögelBrasiliens”: Poospiza nigrorufa coleciona<strong>da</strong> em “S. Luiz”.Sellow, além <strong>de</strong> coletor excepcional, era excelente<strong>de</strong>senhista e pintor, retratando com gran<strong>de</strong> habili<strong>da</strong><strong>de</strong> muitaspaisagens e tipos huma<strong>no</strong>s, especialmente indígenas.Entretanto, não se tem conhecimento sobre o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>de</strong>vários <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>senhos, tanto me<strong>no</strong>s <strong>da</strong>queles esboçados <strong>no</strong>203 Synallaxis ruticilla (sinônimo-júnior <strong>de</strong> Cranioleuca obsoleta) <strong>de</strong>scrita por Cabanis eHeine em 1859.204 Refere-se ao tipo <strong>de</strong> Euscarthmus vilis <strong>de</strong> Burmeister 1856, sinônimo-júnior <strong>de</strong>Hemitriccus diops.183


sul do Brasil. Muitos estão atualmente <strong>no</strong> museu <strong>de</strong> Berlime uma parte acabou manti<strong>da</strong> <strong>no</strong> interior <strong>de</strong> seus diários,ain<strong>da</strong> inéditos.Diversas <strong>de</strong> suas a<strong>no</strong>tações acabaram em mãos <strong>de</strong>terceiros como o padre Chagas Lima que inclusive o cita emseu relatório (Lima in <strong>Paraná</strong>, 1899; Straube, 2011) o que,aliás, fora lembrado já por Saint Hilaire (1851).Ultimamente se tem cogitado a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> serem <strong>de</strong>sua autoria os <strong>de</strong>senhos traçados <strong>no</strong> Brasil meridional e queforam os fun<strong>da</strong>mentos para parte <strong>da</strong> obra ico<strong>no</strong>gráfica dopintor francês Jean Baptiste Debret (Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>, 2008) (vi<strong>de</strong>adiante).Também contribuiu, tal como <strong>Natterer</strong>, para aet<strong>no</strong>grafia, obtendo não somente as respectivas ilustraçõesdos indígenas observados, mas objetos materiais diversos,arte plumária e a<strong>no</strong>tações linguísticas, compondo amploacervo et<strong>no</strong>lógico (Hermannstädter, 2001).Um dos esboços <strong>de</strong> paisagem encartados <strong>no</strong>s diários <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> Sellow (esquer<strong>da</strong>) ecabeça <strong>de</strong> um índio brasileiro, 1815/1816 (direita). (Fonte: Homepage do HistorischenArbeitsstelle do Museu fur Naturkun<strong>de</strong>, Berlin: www.museum.hu-berlin.<strong>de</strong>; acessa<strong>da</strong> em23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2008)Auguste <strong>de</strong> Saint Hilaire, que o conheceu na fazen<strong>da</strong>Ipanema, tor<strong>no</strong>u-se seu amigo e é em uma <strong>de</strong> suas obras184


(Saint-Hilaire, 1940:263-264) que se po<strong>de</strong> obterinformações interessantes sobre o naturalista alemão:―Seus conhecimentos não se resumiam àbotânica, mantinha com brilho aconversação sobre outros assuntos, falavavárias línguas e <strong>de</strong>monstrava,constantemente, inteligência ediscernimento. Frio, ru<strong>de</strong> às vezes, pareciater excessivo amor próprio. Eu o <strong>de</strong>sgostavafazendo-lhe a enumeração <strong>da</strong>s pessoas queenquanto estávamos <strong>no</strong> Brasil, <strong>de</strong>screviamna Europa uma parte <strong>da</strong>s produções <strong>de</strong>ssepaís. Cumulando-o <strong>de</strong> gentilezas e tratandoocom intimi<strong>da</strong><strong>de</strong> consegui forçá-lo a terpara comigo trato simples e afetuoso; mas omesmo não ocorria quando êle se205encontrava com Varnhagen e<strong>Natterer</strong> 206 . Ao regresso <strong>de</strong> minha viagemao Sul remetí-lhe gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cartas <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ção para os meusamigos do Rio Gran<strong>de</strong> e Montevi<strong>de</strong>u osquais acolheram-<strong>no</strong> muito bem. Escreveume,em 24 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1824, paraapresentar seus agra<strong>de</strong>cimentos ecomunicou-me que inutilmente solicitarapassaportes para atingir Mato Grossoatravés dos Estados <strong>de</strong> Frância, pelo quecontentou-se em percorrer a província doRio Gran<strong>de</strong> do Sul e a Ban<strong>da</strong> Oriental, e205 Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen (1783-1842), pai <strong>de</strong> Francisco Adolfo <strong>de</strong>Varnhagen (1816-1878), o Viscon<strong>de</strong> <strong>de</strong> Porto Seguro, famoso historiador e militar,nascido na Real Fábrica <strong>de</strong> Ferro em São João <strong>de</strong> Ypanema (em Iperó, São Paulo).206 Essa é provavelmente uma impressão sobre o conhecido “rigor alemão”, <strong>no</strong>tadotambém em outras passagens (Saint-Hilaire, 1941:291): “Meu competente amigo Sr.Sellow, [...], dissera-me que, para se gozar alguma consi<strong>de</strong>ração era preciso não pararnas ven<strong>da</strong>s; mas, confesso, a recepção do capitão-mor <strong>de</strong>sencorajou-me <strong>de</strong> continuarpedindo hospitali<strong>da</strong><strong>de</strong> aos proprietários dos engenhos <strong>de</strong> açúcar. Nas ven<strong>da</strong>s não havianenhuma cerimônia, nenhuma toilette a fazer; pagava hospe<strong>da</strong>gem e não temia<strong>de</strong>sagra<strong>da</strong>r ou incomo<strong>da</strong>r ninguém. Era forçado, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a ouvir conversas tolas; masa esse respeito não tinha sido mais feliz na fazen<strong>da</strong> do capitão-mor‖.185


que estava em vésperas <strong>de</strong> voltar a SãoPaulo, passando pelo sertão <strong>de</strong> Lages.Terminava a carta dizendo-me esperar queain<strong>da</strong> <strong>no</strong>s encontraríamos. Morreu afogado<strong>no</strong> rio Doce, em 1831.‖Por fim, são as palavras <strong>de</strong> Hoehne, Kuhlmann &Handro (1941) que melhor <strong>de</strong>screvem a presença <strong>de</strong> Sellow<strong>no</strong> Brasil:―Mas, <strong>de</strong> entre aqueles que o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>da</strong>sorte não conce<strong>de</strong>u o privilégio paratrazerem a lume as suas <strong>de</strong>scobertas,houve igualmente herois, <strong>de</strong>stemidoslutadores, que, qual sol<strong>da</strong>dos, tombaramna luta, <strong>de</strong>ixando a sua tarefa pelo meio,para gaudio <strong>de</strong> outros, que, me<strong>no</strong>scorajosos, conseguem fazer <strong>no</strong>me econquistar louros sem se aventuraremnas fatigantes jorna<strong>da</strong>s pelos ínviossertões. Desses, - pe<strong>de</strong> a justiça, -<strong>de</strong>vemos <strong>no</strong>s lembrar com maiorsimpatia. Desses <strong>de</strong>vemos ocupar-<strong>no</strong>scom maior carinho e gratidão e, assim,escolheremos um, que, pelas suasrealizações, parece ter sido o maisilustre e pela sua triste sorte o maisdig<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssa eterna gratidão elembrança. Êle <strong>de</strong>morou-se aqui maistempo e reuniu mais preciosas coleções<strong>de</strong> botânica, zoologia e mineralogia, maso <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>de</strong>u-lhe sepultura nas revoltaságuas <strong>de</strong> um rio <strong>de</strong>sta mesma terra quetanto amou e em prol <strong>da</strong> qual tudosacrificou‖.186


Depois <strong>de</strong> Sellow, pareciam encerra<strong>da</strong>s, <strong>no</strong> contextoestadual, as consequências <strong>de</strong> um período seminal para ahistória natural surgido pelo evento <strong>da</strong> Abertura dos Portos.No entanto, elas se fechavam sob condições <strong>de</strong> um acasofabulosamente favorável. Afinal, somariam os esforços,surpreen<strong>de</strong>ntemente complementares, <strong>de</strong> seis dos mais<strong>de</strong>stacados naturalistas que já estiveram <strong>no</strong> Brasil. De umlado a zoologia representa<strong>da</strong> prioritariamente por <strong>Natterer</strong> eSochor; <strong>de</strong> outro, a botânica, sob <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> intervenção <strong>de</strong>Saint Hilaire, Sellow e Rie<strong>de</strong>l. Completava o grupo, o jovemartista Taunay, empenhado na documentação pictórica. O<strong>de</strong>sfecho não po<strong>de</strong>ria ter sido melhor.187


188


Cro<strong>no</strong>logia1829 Início <strong>da</strong> colonização alemã <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong> em Rio Negroe Lapa, <strong>de</strong>pois Curitiba.1829 Nasce WILLIAM MICHAUD.1830 Já profun<strong>da</strong>mente abalado por uma doença mental,o Barão <strong>de</strong> Langsdorff retorna ao Rio <strong>de</strong> Janeiro e,<strong>de</strong> lá, para São Petersburgo.1830 Gran<strong>de</strong> presença <strong>de</strong> navios negreiros em Paranaguá(até 1850), já consi<strong>de</strong>rados ilegais pela proibição dotráfico, <strong>de</strong>creta<strong>da</strong> nesse mesmo a<strong>no</strong>.1830 Em Paris realizam-se os famosos e acirrados <strong>de</strong>batesentre George Cuvier e Etienne Goffroy <strong>de</strong> SaintHilaire sobre a variabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s espécies,particularmente sobre a afini<strong>da</strong><strong>de</strong> entrevertebrados e cefalópodos.1831 Abdicação <strong>de</strong> Pedro I em favor <strong>de</strong> seu filho, comapenas cinco a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong>, marcando o fim doPrimeiro Reinado e o início do <strong>Período</strong> Provincial.1831 O médico e naturalista Jean Theodore Descourtilz,radicado <strong>no</strong> Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1826, conclui “Oiseaux -mouches orthorinques du Brésil”, um álbum sobrebeija-flores que <strong>de</strong>ixou inédito na biblioteca doMuseu Nacional. Depois disso ain<strong>da</strong> publica vários189


outros títulos ligados à <strong>ornitologia</strong> brasileira, como“Oiseaux brillans du Brésil” (1832). Um especial<strong>de</strong>staque ganhou, déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>pois, o “Ornithologiebrésilienne” (1854), traduzido para “<strong>História</strong>natural <strong>da</strong>s aves do Brasil”.1831 FRIEDRICH SELLOW morre afogado <strong>no</strong> rio Doce, emMinas Gerais.1831 Charles Darwin inicia sua viagem (até 1836) pelaAmérica do Sul, a bordo do HMS Beagle, navio que,na ocasião, realizava sua segun<strong>da</strong> viagem paralevantamentos cartográficos, sob o comando docapitão Robert FitzRoy. Poucos a<strong>no</strong>s <strong>de</strong>pois (1839),ele publicou os seus apontamentos sobre histórianatural, <strong>no</strong> volume III <strong>da</strong> obra “Narrative of thesurveying voyages of His Majesty’s Ship Adventureand Beagle between the years 1831 and 1836”, sobo título <strong>de</strong> “Journal and Remarks: 1832-1836”. Essaúltima foi transforma<strong>da</strong> em livro in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, oraintitulado “A viagem do Beagle”, ora “Viagem <strong>de</strong> umnaturalista ao redor do mundo” e vários outros.1831 Hercules Florence, ex-membro <strong>da</strong> expediçãoLangsdorff que se radicou em Campinas (São Paulo;na época chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> “São Carlos”), publica“Recherche sur la viox <strong>de</strong>s animaux, ou essai d’um<strong>no</strong>veau suject d’ètu<strong>de</strong>s, offert aux amis <strong>de</strong> lanature”, obra que trata <strong>da</strong> bioacústica,particularmente dos sons emitidos pelos animais,conforme suas observações colhi<strong>da</strong>s nas viagenspelo Brasil. O trabalho foi impresso por ele mesmo,190


com um processo que <strong>de</strong>senvolveu, <strong>de</strong><strong>no</strong>minadopoligrafia. Em 1876, o material foi republicado pelaRevista Trimensal do Instituto Histórico eGeográfico Brasileiro, sob a <strong>de</strong><strong>no</strong>minação <strong>de</strong>“Zoophonia”. Em 1993 foi reeditado, comcomentários <strong>de</strong> Jacques M. E. Vielliard.1832 Início <strong>da</strong> indústria ervateira em Curitiba,influenciando <strong>de</strong>cisivamente a situação econômicado <strong>Paraná</strong> como área comercialmente estratégica<strong>no</strong> sul do Brasil. O advento, além <strong>de</strong> ter servidocomo justificativa para a emancipação políticaparanaense, também funcio<strong>no</strong>u como argumentopara o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> infra-estrutura, com aconstrução <strong>da</strong> ferrovia Curitiba-Paranaguá, asmelhorias na estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Graciosa e a ampliação <strong>da</strong>navegação fluvial pelo rio Iguaçu. Na periferia <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, bem como nas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> seu entor<strong>no</strong>,aparece outro tipo <strong>de</strong> mercado: a produção <strong>de</strong>barricas para o transporte <strong>da</strong> erva, criando um <strong>no</strong>vonicho <strong>de</strong> mercado e oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho.1832 O naturalista botânico escocês JOHN TWEEDIE (1775-1862), radicado em Bue<strong>no</strong>s Aires <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1825, visitao Brasil, inclusive o <strong>Paraná</strong>.1832 Nasce JULIUS PLATZMANN.1833 Até o a<strong>no</strong> <strong>de</strong> 1834, LUDWIG RIEDEL acompanha PeterW.Lund em longa peregrinação por Minas Gerais.1834 Falece, <strong>no</strong> Palácio <strong>de</strong> Queluz, Pedro IV <strong>de</strong> Portugal191


(Pedro I do Brasil), vitimado por tuberculose.1834 Chega ao Brasil o dinamarquês Peter Claussen, on<strong>de</strong>ficou até 1843. Inicialmente explorador do salitre<strong>da</strong>s grutas mineiras, <strong>de</strong>pois comerciante <strong>de</strong> fósseis eplantas, encontrou-se por acaso com Peter Lund emMinas Gerais e com ele alimentou gran<strong>de</strong>rivali<strong>da</strong><strong>de</strong>.1834 Com o objetivo <strong>de</strong> coletar orquí<strong>de</strong>as e outrasplantas vivas, <strong>de</strong>sembarca, <strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, obotânico belga LOUIS VAN HOUTTE (1810-1876) <strong>da</strong>ndoinício à sua viagem <strong>de</strong> três a<strong>no</strong>s por Minas Gerais,Goiás, Mato Grosso e São Paulo para o sul, inclusiveo <strong>Paraná</strong>. Chegando ao Uruguai, trabalha junto aJOHN TWEEDIE na coleta e herborização <strong>de</strong>exemplares. Sua obra maior é a coleção “Flore <strong>de</strong>sSerres et <strong>de</strong>s Jardins <strong>de</strong> l’Europe” em 23 volumes(1845-1883) contendo mais <strong>de</strong> 2000 pranchascolori<strong>da</strong>s.1834 JEAN B. DEBRET publica o primeiro volume (1834-1839) <strong>da</strong> obra ico<strong>no</strong>gráfica “Voyage pittoresque ethistorique au Brésil” resultado <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>zesseisa<strong>no</strong>s <strong>de</strong> permanência <strong>no</strong> Brasil. Acusado <strong>de</strong> plágio,DEBRET não teria sequer saído dos arredores do Rio<strong>de</strong> Janeiro, embora sua obra englobasse imagens <strong>de</strong>uma extensa área até o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, inclusivecom paisagens <strong>de</strong> Curitiba, Paranaguá eGuarapuava. Teria usado como fonte o material <strong>de</strong>FRIEDRICH SELLOW, seu contemporâneo, falecido <strong>no</strong>a<strong>no</strong> em que Debret retornava à França.192


[1834]JEAN BAPTISTE DEBRETJEAN BAPTISTE DEBRET (n. Paris, França: 18 <strong>de</strong>abril <strong>de</strong> 1768; f. Paris, França: 28 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1848) foi umdos pintores mais famosos <strong>da</strong> história do Brasil. Tantoquanto seu contemporâneo Johann Moritz Rugen<strong>da</strong>s (1802-1858), ficou especialmente célebre pelas imagensproduzi<strong>da</strong>s – em especial do Rio <strong>de</strong> Janeiro – retratandopaisagens, tipos huma<strong>no</strong>s, figuri<strong>no</strong>s, costumes, festaspopulares, objetos, artesanato e uma gran<strong>de</strong> varie<strong>da</strong><strong>de</strong>temática do País, pouco após a chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> família real. Umaextensa obra bibliográfica tem sido escrita a seu respeito,<strong>no</strong>s variados campos do conhecimento, incluindo artes,ciências, sociologia e diversos outros (Vieira, 1981; Prado,1990; Lima, 2004; Beta, 2007; Siqueira, 2007; Piccoli, 2007e, <strong>no</strong>tavelmente, Ban<strong>de</strong>ira & Lago, 2007).No Brasil, ele permaneceu 16 a<strong>no</strong>s (1816-1831),tendo aqui chegado como membro <strong>da</strong> famosa “MissãoArtística Francesa” que, entre artistas e artífices, trouxetambém Joachim Lebreton (pintor e lí<strong>de</strong>r do grupo), NicolasAntoine Taunay (pintor <strong>de</strong> paisagens e pai <strong>de</strong> AdrienTaunay), Auguste Henri Grandjean <strong>de</strong> Montigny, Charles <strong>de</strong>Lavasseur, Louis Euier (arquitetos) e outras personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s,193


<strong>de</strong>ntre escultores, mecânicos, gravadores, carpinteiros eferreiros 207 .A vin<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta Missão nem sempre é bem esclareci<strong>da</strong>pela <strong>História</strong> do Brasil. Afinal, o que teria <strong>de</strong>flagrado avin<strong>da</strong> <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> franceses bonapartistas justamente emterras do rei<strong>no</strong> português, frente às tantas <strong>de</strong>savenças com oImpério Napoleônico, causa principal <strong>da</strong> fuga <strong>da</strong> família real<strong>de</strong> Portugal para o Brasil? Parece não haver dúvi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> queo ocorrido resultara <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> perseguições políticasaos quais os membros estariam sujeitos quando <strong>da</strong> que<strong>da</strong> dogran<strong>de</strong> império em 1815, <strong>da</strong>ndo início ao chamado períodofrancês <strong>da</strong> “Restauração”. E também há fortes indícios dointeresse, por parte <strong>de</strong> D.João (João VI a partir <strong>de</strong> 1818)que, estimulado pelo Marquês <strong>de</strong> Marialva e pelo Con<strong>de</strong> <strong>da</strong>Barca, mostrara-se empolgado com um <strong>no</strong>vo rumo para asartes <strong>no</strong> Brasil.Essa <strong>de</strong>man<strong>da</strong> acabou supri<strong>da</strong> não apenas com aprodução <strong>de</strong> pinturas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> para a época mas,em especial, pela criação <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Artes e Ofíciosque, posteriormente converteu-se na Aca<strong>de</strong>mia Imperial <strong>de</strong>Belas Artes, tendo Debret como seu primeiro diretor. Uniraseentão, a situação <strong>de</strong> interesse, por parte <strong>da</strong> coroaportuguesa à necessária fuga dos artistas sob risco <strong>de</strong>perseguição política.Debret, logo após retornar à França, iniciou apublicação do “Voyage pittoresque et historique au Brésil”sua ico<strong>no</strong>grafia que agrega a arte-final aos esboçospreparados <strong>no</strong> Brasil. Em três volumes (1834, 1835 e1839), a obra se transformou em fonte <strong>de</strong> consultaobrigatória para a história do Brasil, visto a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>spinturas e, em especial, a retratação <strong>de</strong> cenas cotidianas que207 Esse assunto foi recentemente abor<strong>da</strong>do em profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> pela obra <strong>de</strong> Schwarcz(2008).194


dificilmente po<strong>de</strong>riam ser resgata<strong>da</strong>s mediante meras<strong>de</strong>scrições escritas.Auto-retrato <strong>de</strong> Jean B.Debret na primeira página do “Voyage pittoresque...” (esquer<strong>da</strong>) efrontispício do volume I <strong>da</strong> mesma obra (Fonte: Debret, 1834).A fonte mais importante, <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso conhecimento,sobre a obra brasileira <strong>de</strong> Debret, é o catálogo raisonéeorganizado por Júlio Ban<strong>de</strong>ira e Pedro Corrêa do Lago(Ban<strong>de</strong>ira & Lago, 2008) que, além <strong>de</strong> apresentar umae<strong>no</strong>rme quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> reproduções, ain<strong>da</strong> contou com acolaboração <strong>de</strong> um comitê <strong>de</strong> autenticação, em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong>inúmeras falsificações e mesmo <strong>de</strong>scartes <strong>de</strong> autoria, emmuitas obras atribuí<strong>da</strong>s ao pintor francês. Além <strong>da</strong>necessária consulta ao “Voyage pittoresque...”, tambémbaseamo-<strong>no</strong>s naquela obra para tecer os comentários aquiformulados.195


Já <strong>de</strong> antemão é necessário alertar que há pelo me<strong>no</strong>sdois problemas a respeito <strong>de</strong> Debret e sua produção artística.Ele, com efeito, era um gran<strong>de</strong> pintor <strong>de</strong> paisagens urbanas etipos huma<strong>no</strong>s, mas pouco se interessava pelos animais que,apenas em poucas situações, consi<strong>de</strong>rava como mo<strong>de</strong>los.Desta forma, embora gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua obra, bem como os<strong>de</strong>talhes inseridos em ca<strong>da</strong> pintura, sejam <strong>no</strong>táveis pelocapricho e beleza, o mesmo não se po<strong>de</strong> dizer <strong>da</strong>s aves queaparecem em algumas pranchas, as quais <strong>de</strong>spontam via <strong>de</strong>regra como meros coadjuvantes <strong>de</strong> cenários (p.ex. Debret,1832:Vol.I, 1° Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, pr.5 e 6; 2° Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>, pr.6).Além disso, o estilo, <strong>no</strong> tocante às aves, é grosseiro,especialmente quando preten<strong>de</strong> ilustrá-las em voo, <strong>da</strong>ndo aenten<strong>de</strong>r que não tenha se baseado em observações in situ esim em concepções puramente ilustrativas que na<strong>da</strong> têm <strong>de</strong>realístas em confronto com a situação natural. Em uma <strong>de</strong>suas mais célebres pinturas (“Cabocle, (Indien Civilisé)”:Debret, 1832: Vol.I, pr.5), on<strong>de</strong> retrata dois índios <strong>de</strong>itadosao solo com o arco retesado pronto a disparar, por exemplo,esse <strong>de</strong>sleixo é claramente perceptível (vi<strong>de</strong> tambémBan<strong>de</strong>ira & Lago, 2008:506).Outras obras (to<strong>da</strong>s mostra<strong>da</strong>s por Ban<strong>de</strong>ira & Lago,2008) 208 em que aparecem aves silvestres cujo <strong>de</strong>talhamentoimpossibilita qualquer tentativa <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação são: “Sábiotrabalhando <strong>no</strong> seu gabinete” (p.180), “Loja <strong>de</strong> barbeiro”(p.198), “Carregadores <strong>de</strong> capim” (p.214), “Retor<strong>no</strong> dosnegros <strong>de</strong> um naturalista 209 ” (p.251), “Itapeva” (p.272),208 A paginação abaixo indica<strong>da</strong>, refere-se a essa obra, em <strong>no</strong>ssa opinião a mais completa eprofun<strong>da</strong> já produzi<strong>da</strong> sobre o artista francês.209 Essa, em to<strong>da</strong>s as suas versões conheci<strong>da</strong>s, é provavelmente a obra <strong>de</strong> Debret quemostra maior número <strong>de</strong> tipos <strong>de</strong> aves, to<strong>da</strong>s mortas e amarra<strong>da</strong>s em uma penca. Fica ali,muito claro que nenhuma espécie real fôra retrata<strong>da</strong>. Vi<strong>de</strong> Ban<strong>de</strong>ira & Lago (2008:568).196


“Vista <strong>da</strong> Vila <strong>de</strong> Itu, <strong>no</strong> Caminho <strong>de</strong> Sorocaba” (p.280),“Botocudos, Puris, Patachós e Machacalis” (p.511),“Coqueiro barrigudo” (p.542), “Plantas aquáticas” (p.543),“Elicônias” (sic) (p.549) e provavelmente algumas outras.Outra indicação do <strong>de</strong>sinteresse <strong>de</strong> Debret porretratar fielmente a naturália aparece na aquarela “Interior<strong>de</strong> uma casa <strong>de</strong> ciga<strong>no</strong>s” (p.183) tendo um psitací<strong>de</strong>o gran<strong>de</strong>atribuível, com algum esforço, à arara-canindé (Araararauna), não faltasse a coloração real <strong>da</strong> cabeça. Curioso<strong>no</strong>tar que a gravura com o mesmo título (p.573) apresentacontor<strong>no</strong> diferente <strong>da</strong> figura<strong>da</strong> na outra obra, lembrando –pelo bico todo negro e as faces nuas e brancas – uma outraespécie, a arara-vermelha (Ara chloropterus).O clássico “Nègres chasseurs rentrant em ville. Le retour <strong>de</strong>s nègres d‘um naturaliste”(Fonte: Debret, 1834-1839)197


Exemplos mais consistentes, por sua vez, aparecemvez ou outra em esboços, como a apresentação <strong>de</strong> Pitangussulphuratus: “bentivi” (p.432, figura 24), Malacoptilastriata: “Bacuráu” (p.494), Tinamus solitarius: “Bacuco”(p.494) e cinco espécies razoavelmente apresenta<strong>da</strong>s <strong>de</strong>colibris (p.494). Também um urubu-rei (Sarcoramphuspapa): “Oroubou açou” foi colocado (ironicamente ?) <strong>no</strong>esboço referente à gravura “Uniforme <strong>de</strong> ministro” (vi<strong>de</strong>Ban<strong>de</strong>ira & Lago, 2008:616).Como um todo, há poucas indicações sobre espéciesvegetais ou animais que não sejam apenas (e quando muito)reconhecíveis pelo <strong>de</strong>senho em si 210 e não pelo <strong>no</strong>mecientífico ou do local on<strong>de</strong> foram encontrados, visto que taisinformações raramente são indica<strong>da</strong>s. Em to<strong>da</strong> a obra <strong>de</strong>Debret são raríssimas as situações em que aparecem avesrazoavelmente bem ilustra<strong>da</strong>s, permitindo prontai<strong>de</strong>ntificação 211 ; com a mesma <strong>de</strong>sconfiança po<strong>de</strong>-se, ain<strong>da</strong>,tratar <strong>da</strong>s penas figura<strong>da</strong>s na arte plumária indígena.Geograficamente, a crítica é amplia<strong>da</strong>: ao contráriodo Rio <strong>de</strong> Janeiro e adjacências, área que o pintorefetivamente explorou, pouco é aproveitável <strong>da</strong>s paisagens<strong>de</strong> outros lugares do Brasil.Com relação ao <strong>Paraná</strong>, por exemplo, percebe-se quea obra “Sauvages civilisés sol<strong>da</strong>ts indiens <strong>de</strong> la Province(sic) <strong>de</strong> la Coritiba. Ramenant <strong>de</strong>s sauvages prisonnières”(Debret, 1834: Vol.I, pr.20) permite reconhecer um“caboclo” que, na mão esquer<strong>da</strong>, empunha uma aveunicolor, <strong>de</strong> bico longo e com pés totipalmados, mas cuja210 Um dos casos interessantes refere-se ao mico-leão-dourado (Leontopithecus rosalia)que aparece como figurante <strong>no</strong> óleo sobre tela “Casa <strong>da</strong> Duquesa <strong>de</strong> Ca<strong>da</strong>val ocupa<strong>da</strong> peloDuque <strong>de</strong> Luxemburgo em 1816” (Laranjeiras, Rio <strong>de</strong> Janeiro) (Ban<strong>de</strong>ira & Lago,2008:68-69); a mesma espécie aparece em um esboço (lápis) que Ban<strong>de</strong>ira & Lago(2008:494) i<strong>de</strong>ntificaram como “bugio”.211 Baseamo-<strong>no</strong>s na análise <strong>de</strong> seu catálogo raisonée (Ban<strong>de</strong>ira & Lago, 2008).198


forma e cor não correspon<strong>de</strong> a nenhuma espécie conheci<strong>da</strong>na região, tratando-se obviamente <strong>de</strong> uma mera alegoria.A paisagem em si também implica em certascomplexi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ali aparece um volumoso rio encachoeiradoon<strong>de</strong> uma imensa árvore é usa<strong>da</strong> por tipos huma<strong>no</strong>s (cincoadultos e quatro crianças), à guisa <strong>de</strong> ponte. O topônimo“Coritiba” (Curitiba) utilizado, que inclusive motivou o usodo <strong>de</strong>senho como ilustrativo <strong>da</strong>quela ci<strong>da</strong><strong>de</strong> em certasrevisões históricas, não alu<strong>de</strong> à atual capital paranaense.Óleo <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Jean Baptiste Debret: “Sauvages civilisés sol<strong>da</strong>ts indiens <strong>de</strong> la Province<strong>de</strong> la Coritiba, ramenant <strong>de</strong>s sauvages prisionnières” (Fonte: Debret, 1832:pl.20).Afinal, essa situação não concor<strong>da</strong> com nenhumaspecto <strong>da</strong> paisagem local e, po<strong>de</strong>ria – <strong>no</strong> máximo – seratribuível a uma outra região do <strong>Paraná</strong>, inseri<strong>da</strong> na área queDebret chamou <strong>de</strong> “Província” mas à qual, por correção,199


caberia o termo “Comarca” 212 . No texto explicativo, Debret(1834-1839:36) refere-se – <strong>de</strong> fato – à “les villagesd‘Itapéva et <strong>de</strong> Carros...”. Além disso, tal imagem <strong>de</strong>veprontamente ser <strong>de</strong>scarta<strong>da</strong> <strong>da</strong> ico<strong>no</strong>grafia paranaense (emesmo paulista!), haja vista que um grupo <strong>de</strong> pessoasidêntico a esse, inclusive na postura, aparece retratado sobmesmas condições na obra “Forêt vierge: Les bords duParahÿba” (Debret, 1834-1839, vol.1, p.1), indicando que ainspiração viria <strong>de</strong> outra região, muito distante <strong>da</strong>li.Por outro lado, a figura “Porto <strong>de</strong> Jaguariaíva”(Ban<strong>de</strong>ira & Lago, 2008:283) parece bem próxima <strong>da</strong>reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, inclusive mostrando o relevo coli<strong>no</strong>so e apresença <strong>de</strong> pinheiros-do-paraná (Araucaria angustifolia) <strong>no</strong>cenário; o mesmo po<strong>de</strong>-se afirmar <strong>de</strong> “Curitiba” (Ban<strong>de</strong>ira& Lago, 2008:288) que, inclusive mostra, ao fundo, a Serrado Mar em aparência muito condizente com ascaracterísticas orográficas locais.To<strong>da</strong>s essas questões <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> voltam-sesinergicamente a um terceiro problema do acervo <strong>de</strong> Debret:o presencial. Ocorre que tais inconsistências são exatamenteas mesmas causas para que se passasse, há já muitasdéca<strong>da</strong>s, a suspeitar sobre o real itinerário percorridodurante sua viagem ao Brasil. Segundo Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> (2008), elesequer teria se afastado muito do Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> osafazeres políticos e logísticos para a criação <strong>da</strong> Aca<strong>de</strong>miaImperial <strong>de</strong> Belas Artes o impediam <strong>de</strong> realizar gran<strong>de</strong>sviagens. Embora Debret <strong>de</strong>ixe subentendido (e, em algumaspassagens, explícito) que teria visitado várias regiõesbrasileiras, <strong>de</strong>ntre elas o <strong>Paraná</strong>, suas pinturas <strong>de</strong>stes locais212 Des<strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1821, o que se chamava <strong>de</strong> capitania passou a ser <strong>de</strong><strong>no</strong>minadoprovíncia, subdividi<strong>da</strong> em comarcas. Curitiba, na época, era a se<strong>de</strong> <strong>da</strong> “Quinta Comarca <strong>da</strong>Província <strong>de</strong> São Paulo”. No texto explicativo ao <strong>de</strong>senho citado (Debret, 1834-1839:36)realmente escreve “province <strong>de</strong> S.Paul, Comarque <strong>de</strong> la Coritiba” e seu conhecimento <strong>de</strong>causa, sobre as subdivisões políticas brasileiras é indiscutivelmente expresso nas suas“Notes geographiques” (Debret, 1834-1839, vol.2:6-13).200


não passam <strong>de</strong> composições basea<strong>da</strong>s em artes e <strong>de</strong>scrições<strong>de</strong> terceiros, <strong>de</strong>ntre eles (provavelmente) o padre ChagasLima (cf. Straube, 2011) e o naturalista Friedrich Sellow.Trin<strong>da</strong><strong>de</strong> (2008) é claro e objetivo ao expressar asbases para a questão:―Provavelmente, pois, a famosa ‗viagem‘<strong>de</strong> Debret ao Sul torna-se pouco verossímilquando se analisa o contexto <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong><strong>no</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Ele era um homem <strong>de</strong>Corte, um professor <strong>de</strong> pintura muitoenvolvido com questões institucionais ecom diversas encomen<strong>da</strong>s para o Palácio eo Teatro Real. Em 5 <strong>de</strong> <strong>no</strong>vembro <strong>de</strong> 1826foi inaugura<strong>da</strong> a Aca<strong>de</strong>mia e EscolaImperial <strong>de</strong> Belas Artes, com sua visceralparticipação. O pintor não podia ce<strong>de</strong>rpasso ao inimigo — o português HenriqueJosé <strong>da</strong> Silva, que queria expulsar osfranceses <strong>da</strong> escola que dirigia. No iníciodo a<strong>no</strong> letivo, em 1827, lá estava Debretrecebendo vários alu<strong>no</strong>s. As exposições <strong>de</strong>pintura <strong>de</strong> 1829 e 1830 mostram suaativi<strong>da</strong><strong>de</strong> intensa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então. Assim foiaté 1831, quando retor<strong>no</strong>u <strong>de</strong>finitivamenteà França. Não é crível, portanto, que eletenha acompanhado D. Pedro I em suaparti<strong>da</strong> rumo ao extremo sul do Brasil, emmarço <strong>de</strong> 1827, para a Guerra <strong>da</strong>Cisplatina, e lá permanecido até maio.‖De fato, to<strong>da</strong>s as locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s retrata<strong>da</strong>s por Debretcoinci<strong>de</strong>m com algumas <strong>da</strong>s que foram visita<strong>da</strong>s por Sellow,<strong>de</strong>ntre elas Curitiba, Castro e Guarapuava sendo que estaúltima, era famosa na época pelo perigo associado aosíndios bravios, situação que se estendia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Século XVI.E, inclusive, cabe a Sellow o mérito <strong>de</strong> ter sido o único201


naturalista contemporâneo a visitar essa região, comoapontado anteriormente.A ciência histórica, contudo, ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>svendouesse mistério <strong>de</strong> forma satisfatória. O que se observa é quemuitas <strong>de</strong> suas obras alusivas a outros lugares do Brasil quenão a capital do império, tinham assinala<strong>da</strong>s “Rio <strong>de</strong>Janeiro” <strong>no</strong> canto inferior direito, levando a crer que oartista as teria concluído naquela ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Com isso po<strong>de</strong>riaestar <strong>da</strong>ndo a enten<strong>de</strong>r que esboçara as paisagens antes eterminara as obras quando <strong>de</strong> regresso ao Rio <strong>de</strong> Janeiro.Ou, quem sabe, assumindo implicitamente que seria umaarte basea<strong>da</strong> em informações <strong>de</strong> terceiros.Uma questão que vem a concor<strong>da</strong>r que Debret nãoestava com tão más intenções quanto se pressupõe,assumindo que teria usado diferentes fontes, são muitas <strong>de</strong>suas pinturas que mostram-se exatamente idênticas àsapresenta<strong>da</strong>s em livros clássicos e muito conhecidos <strong>da</strong>época, tais como Wied, Spix e outros (Ban<strong>de</strong>ira & Lago,2008:380-384). Essa obras, segundo Ban<strong>de</strong>ira & Lago(2008) foram efetivamente consulta<strong>da</strong>s nas bibliotecas doimpério, <strong>de</strong>ntre elas a do Museu Real, criado em 1808.Segundo esses autores: “Do Atlas <strong>de</strong> Spix e Martius, Debrettomou 16 registros ico<strong>no</strong>gráficos com os quais completariaas pranchas G-28, G-29, G-30, G-33, G-34 do primeirovolume do Viagem Pitoresca, além <strong>de</strong> usá-los em quatroaquarelas”. Com efeito, ele teria registrado textualmente terse baseado em tal obra.Se Debret quisesse efetivamente obter uma falsaoriginali<strong>da</strong><strong>de</strong> em seu trabalho, por que então teria copiado (ecitado), com tamanho <strong>de</strong>talhamento, os traços <strong>de</strong> outros<strong>de</strong>senhistas <strong>da</strong> época, sabendo que tais obras já estavammais do que divulga<strong>da</strong>s na Europa? É possível, então, que –empenhado em mostrar tantas imagens <strong>de</strong> um Brasil recém<strong>de</strong>scobertopelos naturalistas – tenha utilizado <strong>de</strong>stas fontes202


sem sequer imaginar que, <strong>no</strong> futuro, fosse questionado comoplagiador. Sua obra, <strong>de</strong>sta forma, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> umacorografia e não uma narrativa <strong>de</strong> viagem pelo Brasil,situação que se provou equivoca<strong>da</strong>.Avaliando-se o conjunto, po<strong>de</strong>-se afirmar que olegado <strong>de</strong> Debret referente ao <strong>Paraná</strong>, extensivo ao Brasilcomo um todo, mostra tão-somente seu caráter urba<strong>no</strong>, emcujo cotidia<strong>no</strong> ele era, para a visão <strong>de</strong> um leigo, bastante<strong>de</strong>talhista e – talvez – realista. Da naturália apresenta<strong>da</strong> na<strong>da</strong>se po<strong>de</strong> aproveitar, ain<strong>da</strong> que outras intervenções,especialmente alusivas à flora e às espécies ilustra<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong>mereçam o aprofun<strong>da</strong>mento necessário.203


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Anhingi<strong>da</strong>e, Fregati<strong>da</strong>e, Ar<strong>de</strong>i<strong>da</strong>e, Cochlearii<strong>da</strong>e,Ciconii<strong>da</strong>e, Threskiornithi<strong>da</strong>e, Phoenicopteri<strong>da</strong>e,Anhimi<strong>da</strong>e, Anati<strong>da</strong>e. Chicago, EUA, Field Museumof Natural History, Zoological Series, Volume 13,Parte I, n° 2, Publicação 615. 434 p.Hellmayr, C.E. & Co<strong>no</strong>ver, B. 1948b. Catalogue of thebirds of the Americas [...]: Jacani<strong>da</strong>e, Rostratuli<strong>da</strong>e,Haematopodi<strong>da</strong>e, Charadrii<strong>da</strong>e, Scolopaci<strong>da</strong>e,Recurvirostri<strong>da</strong>e, Phalaropodi<strong>da</strong>e, Burhini<strong>da</strong>e,Thi<strong>no</strong>cori<strong>da</strong>e, Chionidi<strong>da</strong>e, Stercorarii<strong>da</strong>e, Lari<strong>da</strong>e,Rynchopi<strong>da</strong>e, Alci<strong>da</strong>e. Chicago, EUA, FieldMuseum of Natural History, Zoological Series,Volume 13, Parte I, n° 3, Publicação 616. 383 p.Hermannstädter, A. 2001. Frühe Eth<strong>no</strong>graphie in Bresilien1815-1831: die Sammlung Friedrich Sellow undIgnaz von Olfers, eine Berlin-Bran<strong>de</strong>nburgischeKooperation. In: G.Wolff (ed.): Die Berliner undBran<strong>de</strong>nburger Latinamerikaforschung inGeschichte und Gegenwart: Personen undInstitutionen. [Anais do] 25° Kolloquium in Berlin,28 Oktober 2000, p. 311-328.Hershkovitz, P. 1987. A history of recent Mammalogy ofthe Neotropical Region from 1492 to 1850. In:B.D.Patterson e R.M.Timm eds. Studies inNeotropical Mammalogy: essays in ho<strong>no</strong>r of PhilipHershkovitz. Fieldiana: Zoology, new series 39:11-98.Herter, G.G. & Rambo, B. 1945. Auf <strong>de</strong>n Spuren <strong>de</strong>rNaturforscher Sellow und Saint-Hilaire. EnglersBotanische Jahrbüch <strong>de</strong>r SystematischenPflanzengeschichte und Pflanzengeographie74(1)119-149.Hoehne, F.C.; Kuhlmann, M. & Handro, O. 1941. OJardim Botânico <strong>de</strong> São Paulo, precedido <strong>de</strong>215


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in Wien 12:171-192. [Nota bibliográfica: apêndice<strong>de</strong> Pelzeln, 1862a].Pelzeln, A. von. 1863a. Ueber vier von <strong>Natterer</strong> in Brasiliengesammelte, <strong>no</strong>ch unbeschriebene Vogelarten.Verhandlungen <strong>de</strong>r kaiserlich-königlichenzoologisch-botanischen Gesellschaft in Wien13:1125-1130.Pelzeln, A. von. 1863b. Handschriftliche Notizen vonJ.<strong>Natterer</strong>. Verhandlungen <strong>de</strong>r kaiserlichköniglichenzoologisch-botanischen Gesellschaftin Wien 13 (3-4):631-636.Pelzeln, A. von. 1865. Ueber zwei neue Caprimulgi<strong>de</strong>n ausBrasilien. Verhandlungen <strong>de</strong>r kaiserlichköniglichenzoologisch-botanischen Gesellschaftin Wien 15:985-988.Pelzeln, A. von. 1868a. Zur Ornithologie brasiliens 214 :Resultate von J. <strong>Natterer</strong>s reisen in <strong>de</strong>n Jahren 1817-35. Abtheilung I. Viena: A.Pichler's Witwe & Sohn.P. 1-68 + 3 fig. + I-XXXI + mapa do itinerário.Pelzeln, A. von. 1868b. Zur Ornithologie brasiliens:Resultate von J. <strong>Natterer</strong>s reisen in <strong>de</strong>n Jahren 1817-35. Abtheilung II. Viena: A.Pichler's Witwe & Sohn.P. 69-188 + XXXIII-XLIII.Pelzeln, A. von. 1870a. Zur Ornithologie brasiliens:Resultate von J. <strong>Natterer</strong>s reisen in <strong>de</strong>n Jahren 1817-35. Abtheilung III. Viena: A.Pichler's Witwe &Sohn. P. 189-390 +XLV-LIX + mapa.Pelzeln, A. von. 1870b. Zur Ornithologie brasiliens:Resultate von J. <strong>Natterer</strong>s reisen in <strong>de</strong>n Jahren 1817-214 A referenciação e mesmo <strong>da</strong>tação dos raríssimos fascículos do ZOb, embora apontadospor Pelzeln (1871: verso <strong>da</strong> folha <strong>de</strong> rosto) como “Abtheilung I:1868, II;1869, III:1870,IV:1870”, têm merecido discussão cui<strong>da</strong>dosa em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong> importância na questão<strong>no</strong>menclatural. Seguimos aqui o padrão adotado pelo CBRO. Nenhum <strong>de</strong>sses fascículosfoi consultado pessoalmente e seus <strong>da</strong>dos bibliográficos baseiam-se em Zimmer (1926).226


35. Abtheilung IV. Viena: A.Pichler's Witwe &Sohn. P. 391-462 + ad<strong>de</strong>n<strong>da</strong> e indice.Pelzeln, A. von. 1871. Zur Ornithologie brasiliens:Resultate von Johann <strong>Natterer</strong>s reisen in <strong>de</strong>n Jahren1817 bis 1835. Viena: A.Pichler's Witwe & Sohn.462 pp (incluindo análise biogeográfica, p.344-390;revisão bibiográfica <strong>de</strong> locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, p.391-462) + 69pp (itinerário, p.I-XX; tabela sinóptica, p.XXI-XLIX) + 2 mapas. [Nota: é a compilação, nãodiscrimina<strong>da</strong>, dos quatro fascículos publicados entre1868 (ou 1867) e 1870; embora traga as <strong>de</strong>scriçõesoriginais, a <strong>da</strong>ta, para fins <strong>de</strong> <strong>no</strong>menclatura, éconsigna<strong>da</strong> a esses volumes, publicadossepara<strong>da</strong>mente].Pelzeln, A. von. 1883. Brasilianische Säugethiere, Resultatevon Johann <strong>Natterer</strong>‟s Reisen in <strong>de</strong>n Jahren 1817-1835. Verhandlungen <strong>de</strong>r zoologisch-botanischenGesellschaft in Wien 33:1-136.Pelzeln, A. von. 1890. Geschichte <strong>de</strong>r Säugethier- undVögel-Sammlung <strong>de</strong>s k.k. naturistorischenHofmuseums. Annalen <strong>de</strong>s K.K. NaturistorischenHofmuseums 5:503-539.Pelzeln, A. von & Lorenz, L. von. 1886. Typen <strong>de</strong>rornitologischen Sammlung <strong>de</strong>s k.k. naturistorischenHofmuseums. Annalen <strong>de</strong>s K.K. NaturistorischenHofmuseums 1:249-270.Piacentini, V. <strong>de</strong> Q.; Silveira, L.F. & Straube, F.C. 2010. Acoleta <strong>de</strong> aves e a sua preservação em coleçõescientíficas. In [p.327-346]: Matter, S. Von; Straube,F.C.; Accordi, I.; Piacentini, V. <strong>de</strong> A. & Cândido-Júnior, J.F. Ornitologia e conservação: ciênciaaplica<strong>da</strong>, técnicas <strong>de</strong> pesquisa e levantamento. Rio<strong>de</strong> Janeiro, Technical Books.516 pp.227


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A série HORI CADERNOS TÉCNICOS (HCT) é umainiciativa <strong>da</strong> Hori Consultoria Ambiental, cujo objetivo ésuprir a gran<strong>de</strong> lacuna atualmente existente <strong>de</strong> documentostécnicos ligados alguns campos específicos <strong>da</strong>s Ciências <strong>da</strong>Natureza. A coleção abrange temática varia<strong>da</strong> mas comênfase em instrumentação, metodologia, técnicascomplementares, i<strong>no</strong>vadoras ou alternativas, revisões,estudos <strong>de</strong> caso, relatos e resultados conclusivos <strong>de</strong> estudos<strong>de</strong> impactos ambientais, monitoramentos e <strong>de</strong>maisabor<strong>da</strong>gens <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> consultoria ambiental e doecoturismo.http://www.hori.bio.br


HORI CADERNOS TÉCNICOSHCT n° 1 (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2010)GLOSSÁRIO BRASILEIRO DE BIRDWATCHING(INGLÊS-PORTUGUÊS-INGLÊS) por FernandoC.Straube, Arnaldo B.Guimarães-Júnior, MariaCecília Vieira-<strong>da</strong>-Rocha e Dimas Pioli. ISBN: 978-85-62546-01-3HCT n° 2 (junho <strong>de</strong> 2011)LISTA DAS AVES DO PARANÁ (Edição comemorativado Centenário <strong>da</strong> Ornitologia <strong>no</strong> <strong>Paraná</strong>) por PedroScherer-Neto, Fernando C.Straube, Eduardo Carra<strong>no</strong>e Alberto Urben-Filho. (Com dois suplementos).ISBN: 978-85-62546-02-0HCT n° 3 (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2011)RUÍNAS E URUBUS: HISTÓRIA DA ORNITOLOGIA NOPARANÁ. <strong>Período</strong> Pré-<strong>Natterer</strong>ia<strong>no</strong> (1541-1819) porFernando C.Straube. ISBN: 978-85-62546-03-7HCT n° 4 (junho <strong>de</strong> 2012)TUBARÕES E RAIAS CAPTURADOS PELA PESCAARTESANAL NO PARANÁ: GUIA DE IDENTIFICAÇÃOpor Hugo Bornatowski e Vinícius Abilhoa. (Coma<strong>de</strong>ndo bibliográfico). ISBN: 978-85-62546-04-4HCT n° 5 (setembro <strong>de</strong> 2012)RUÍNAS E URUBUS: HISTÓRIA DA ORNITOLOGIA NOPARANÁ. <strong>Período</strong> <strong>de</strong> <strong>Natterer</strong>, 1 (1820-1834) porFernando C.Straube. ISBN: 978-85-62546-05-1

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