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ARTIGO - Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação - Ufma

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"Mina Lassaô"conceitos <strong>de</strong>senvolvidos principalmente pelosautores Richard Schechner, Antônio HerculanoLopes, Victor Tunner e Zeca Ligiéro.Segundo Lopes (2007, p. 7), nos últimosanos, a palavra “performance” passou a termais circulação nas ciências humanas, nãosomente no que tange Às áreas artísticas(teatro, dança etc.) mas também nos trabalhosantropológicos, sendo possível analisar gruposétnicos, religiosos entre outros, a partir dosseus elementos cênicos e performáticos. Nessaperspectiva, Herculano Lopes e Zeca Ligiéro(professores da UNIRIO) propõem estudos queresultaram em artigos e livros que buscam aarticulação entre performance e religião.Sobre o uso da terminologia teatral emgrupos étnicos e religiosos, Lopes (2007, p.8) diz:O uso da terminologia teatral não é gratuita e apontapara uma das principais origens dos estudos <strong>de</strong> performance:uma colaboração entre teatro e a antropologia,em que palavras como ator, drama, gestual,máscara, cenário, figurino e outras po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>slocadaspara a análise <strong>de</strong> diversos tipos <strong>de</strong> relaçõessociais. Torna-se fácil perceber, então, que um padrerezando uma missa para um grupo <strong>de</strong> fiéis com todosos seus elementos altamente teatralizados constituemuma situação <strong>de</strong> performance e que a análise<strong>de</strong> tais elementos po<strong>de</strong>m nos dizer muitas coisas interessantessobre a religião católica.É importante ressaltar que não será discutidaa noção <strong>de</strong> performance teatral, mas, sim,<strong>de</strong> performance ritual, que segundo Tunner(1974), não libera um significado pré-existenteque esteja adormecido no evento, mas aprópria experiência é constitutiva <strong>de</strong> significados,porque está atualizando experiências <strong>de</strong>eventos passado, os quais, ao serem dramatizados,os ativam e lhes dão vida, colocando aexperiência em circulação.Nas observações <strong>de</strong> campo objetiva-se<strong>de</strong>senvolver uma análise ritual do Tambor <strong>de</strong>Mina em alguns terreiros, tendo como foco“os atores” que fazem parte <strong>de</strong>sse ritual, oespaço on<strong>de</strong> é realizado, as entida<strong>de</strong>s (personagens),a música e a dança e sua relaçãocom os mesmos.2 “OIÁ MINA LASSAÔ” 1Cad. Pesq., São Luís, v. 18, n. 2, maio/ago. 2011.O Tambor <strong>de</strong> Mina, ou simplesmente a“Mina”, manifestação <strong>de</strong> matriz africana,surgiu no Maranhão, em meados do séculoXIX. Seu marco inicial foi a fundação pelasmãos <strong>de</strong> africanas da Casa das Minas (Jejê),consagrada ao vodun “Zomadonu” (<strong>de</strong>sta casanão saiu nenhum outro terreiro com o mesmomo<strong>de</strong>lo ritualístico) e da Casa <strong>de</strong> Nagô consagradaao orixá “Xangô”, ambas ainda em funcionamento.A partir <strong>de</strong> então, outros terreirosforam abertos em São Luís, como o Terreirodo Egito (<strong>de</strong>saparecido) o Terreiro da Turquia,a Casa Fanti-Ashanti, o Terreiro <strong>de</strong> Iemanjá, oIlê Axé Ogum e Sogbô, em meados dos anos80, entre outros.Mundicarmo (1985, p. 37) analisa a matrizafro Tambor <strong>de</strong> Mina como uma religião <strong>de</strong><strong>de</strong>scendência africana <strong>de</strong>senvolvida no Estadodo Maranhão e praticada em locais especializadose específicos para essa finalida<strong>de</strong>, Casas<strong>de</strong> Mina sendo estática e iniciática, a partir daincorporação <strong>de</strong> entida<strong>de</strong>s espirituais (Voduns,Orixás e Caboclos).Uma das características fundamentais, assim comoas <strong>de</strong>mais religiões <strong>de</strong> matrizes africanas praticadasno Brasil, é o transe ou a possessão, que usualmentecostuma ocorrer em rituais on<strong>de</strong> as entida<strong>de</strong>s espirituaishomenageadas e cultuadas são invocadas e“recebidas” pelos Filhos e Filhas <strong>de</strong> santo, Pais e Mães<strong>de</strong> santo. A i<strong>de</strong>ntificação afro no Maranhão tambémé conhecida como “brinquedo <strong>de</strong> Santa Bárbara”, expressãoque se refere aos toques ou festas <strong>de</strong> Tambor<strong>de</strong> Mina (FERRETTI, M., 1985, p. 37).Percebemos que os terreiros do Tambor <strong>de</strong>Mina são <strong>de</strong>tentores <strong>de</strong> uma certa autonomia<strong>de</strong> culto, po<strong>de</strong>ndo realizar diferentes formas ediferentes rituais para as entida<strong>de</strong>s cultuadasnessa religião.2.1 Casa Fanti-AshantiA Casa Fanti-Ashanti, localiza-se no bairrodo Cruzeiro do Anil, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Luís doMaranhão. Fundada em 1958, é uma casa <strong>de</strong>Mina e Camdomblé, na qual o Tambor <strong>de</strong> Minamantém sua tradição <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fundação.Nesta casa há também rituais ligados à pajelança,ao catolicismo popular (Festa do DivinoEspírito Santo) e ao folclore, como Boi <strong>de</strong> CorreBeirada e o Tambor <strong>de</strong> Crioula <strong>de</strong> Taboca.O Tambor <strong>de</strong> Mina, nessa Casa, é realizadoem geral durante três noites consecutivas,com duração <strong>de</strong> quatro a sete horas. SegundoMundicarmo Ferretti (2000a), a estrutura dotoque é parte também <strong>de</strong> outros rituais realizadosna Mina da Casa Fanti-Ashanti, tais comoMucambo ou Festa <strong>de</strong> Pagamento (entida<strong>de</strong>sdistribuem presentes aos tocadores e <strong>de</strong>maisauxiliares do culto e moedas entre todos queestão presentes); Bancada ou Arrambam(suspen<strong>de</strong>r as ativida<strong>de</strong>s religiosas do terreirodurante a quaresma); Saída <strong>de</strong> Vodunsi (toquefestivo realizado após o período <strong>de</strong> reclusãopara iniciação).Outros rituais também são realizados naCasa Fanti-Ashanti: Avaninha (reza em línguaafricana realizada após a ladainha); Tambor21

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