36 Aves Migratórias e Nômades Ocorrentes <strong>no</strong> Pantanal3Migrantes intracontinentaisPara Antas (1986) a província biogeográfica Andi<strong>no</strong>-Patagônica é a origemde muitas espécies migratórias e produz uma série de migrações, emboraem me<strong>no</strong>r número em relação ao Neártico. Esta região está sob um regimeclimático temperado de inver<strong>no</strong>s rigorosos que resultam em quedas cíclicasna oferta de alimento, as quais levam várias espécies a migrarem pararegiões mais setentrionais. Estas espécies chegam ao Brasil em abril,quando do inver<strong>no</strong> austral em suas áreas de reprodução (Antas, 1986;Nunes e Tomas, 2004a).Aproximadamente 67% da avifauna migrante e nômade ocorrente naplanície do Pantanal, ou seja, 129 espécies têm origem Andi<strong>no</strong>-Patagônica.As <strong>aves</strong> da Ordem Passeriformes predominam entre os migrantesintracontinentais, principalmente as pertencentes às famílias Tyrannidae (41espécies) e Emberizidae (18 espécies). Excetuando Coccyzus euleri,Volatinia jacarina e Sporophila lineola, as demais espécies deslocam-se dasregiões mais meridionais como Uruguai, Argentina, Paraguai e Bolívia, emdireção à Amazônia.Patos e marrecasAs espécies Dendrocygna bicolor, D. viduata e D. autumnalis são tidascomo migrantes locais de acordo com o GROMS (2008). Entretanto, tais<strong>aves</strong> são muito sazonais na planície pantaneira, tendo seus númerosreduzidos ou desaparecendo completamente <strong>no</strong> período de seca, pararetornarem em números expressivos nas cheias.Populações oriundas de regiões mais meridionais, como Rio Grande do Sul,Argentina e Uruguai, principalmente do pato-de-crista (Sarkidiornissylvicola), fugindo de grandes secas ou significativas quedas detemperatura nestas regiões, podem se misturar às da planície do Pantanal.Oliveira (2006) registrou maior abundância das marrecas Dendrocygnabicolor e D. viduata <strong>no</strong>s períodos de maior pluviosidade na região dePoconé, MT, demosntrando a forte influência climática na dinâmica dascomunidades de <strong>aves</strong> aquáticas <strong>no</strong> Pantanal.O capororoca (Coscoroba coscoroba Figura 11) se distribui pela Argentina,Chile, Bolívia e Terra do Fogo, tendo <strong>no</strong> Brasil grande ponto deconcentração e reprodução <strong>no</strong> Rio Grande do Sul (Nascimento et al., 2001).Para Antas (1986) a região patagônica ou mesmo andina, deve ser o localde origem de parte da população de capororoca que chega ao sul do país.
Aves Migratórias e Nômades Ocorrentes <strong>no</strong> Pantanal 37 3Acreditamos que apenas uma pequena parcela da população de C.coscoroba se dispersa para regiões mais setentrionais do país, como oPantanal. Outros Anatidae, tais como a marreca-de-coleira (Callonettaleucophrys, Figura 12), possui área de reprodução principalmente <strong>no</strong> sul daBolívia e Noroeste da Argentina, enquanto a marreca-cricri (Anas versicolor)reproduz-se <strong>no</strong>tadamente na Argentina e <strong>no</strong> Chile (GROMS, 2008). Emterritório nacional sua reprodução tem sido reportada para o Rio Grande doSul (Sick, 1997).Figura 11. Coscoroba (Coscoroba coscoroba). Foto: Vítor Piacintini.