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Rosamaria MurtinhoSimples Magia1


GovernadorSecretário Chefe da Casa CivilGeraldo AlckminArnaldo Madeira2Diretor-presidenteDiretor Vice-presidenteDiretor IndustrialDiretor Financeiro eAdministrativoNúcleo de ProjetosInstitucionais<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São PauloHubert AlquéresLuiz Carlos FrigerioTeiji TomiokaAlexandre Alves SchneiderVera Lucia WeyPresidenteProjetos EspeciaisDiretor de ProgramaçãoFundação Padre AnchietaMarcos MendonçaAdélia LombardiRita OkamuraCoordenador GeralCoordenador Operacionale Pesquisa IconográficaProjeto Gráficoe EditoraçãoAssistente OperacionalColeção Aplauso PerfilRubens Ewald FilhoMarcelo PestanaCarlos CirneAndressa Veronesi


Rosamaria MurtinhoSimples Magia3por Tania CarvalhoSão Paulo, 2004


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)Carvalho, TaniaRosamaria Murtinho : simples magia / por Tânia Carvalho. – SãoPaulo : <strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São Paulo : Cultura – FundaçãoPadre Anchieta, 2004. –192p.: il. - (Coleção aplauso. Série perfil / coordenador geral RubensEwald Filho)ISBN 85-7060-233-2ISBN 85-7060-298-7(obra completa) (<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong>)(<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong>)1. Atores e atrizes de teatro - Biografia 2. Atores e atrizes detelevisão - Biografia 3. Murtinho, Rosamaria I. Ewald Filho, Rubens. II.Título. III. Série.404-8351 CDD-791.092Índices para catálogo sistemático:1. Atores brasileiros : Biografia :Representações públicas : Artes 791.092Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 1.825, de 20/12/1907).<strong>Imprensa</strong> <strong>Oficial</strong> do Estado de São PauloRua da Mooca, 1921 - Mooca03103-902 - São Paulo - SP - BrasilTel.: (0xx11) 6099-9800Fax: (0xx11) 6099-9674www.imprensaoficial.com.bre-mail: livros@imprensaoficial.com.brSAC 0800-123401


PrefácioRosamaria Murtinho não queria fazer este livro.Tinha medo de parecer pretensiosa falando desi mesma. Não foi fácil convencê-la, mas comjeitinho, um sorriso aqui, uma palavra certaacolá, ela finalmente aceitou.E homeopaticamente, em muitas sessões, foipossível traçar o perfil desta atriz que estourouno Brasil inteiro com a novela A Moça que Veiode Longe, na década de 60, e que permaneceaté hoje em atividade constante no teatro, natelevisão e menos no cinema do que gostaria. Eque garante ter feito uma opção pela simplicidade,honestidade e transparência, o que nemsempre lhe rendeu muitos frutos. Prefiro ser eumesma sempre e olhar para o espelho quandoescovo os dentes com alegria, orgulho e dandogargalhadas.5Arrancar confissões de Rosamaria foi tarefa complicada.Sua memória é curta. Ela pouco se lembrado passado e parece não estar interessada


6nisso, como se o futuro estivesse sempre prontoa oferecer-lhe novos desafios. Personalíssima,peça em que viveu a cantora Isaurinha Garcia,um dos seus últimos trabalhos em teatro, porexemplo, é assunto recorrente. Em cada umadas sessões de entrevista, ela encontrou umjeito de falar desta experiência, que a obrigoua largar mão de sua vivência de menina criadaem Ipanema para entrar de cabeça em umapaulista do Brás. E mostrou a todos uma facetaaté então desconhecida, a da Rosamaria cantora.Afinal, poucos sabem que ela gravou umdisco na década de 60, quando vivia uma cantorada noite em uma novela, hoje transformadoem cult pelo remixes que invadem as discotecaslondrinas.É... Rosinha – como muitos a chamam – é cheiade surpresas. Sem papas na língua, não escondea sua raiva por não ter sido indicada para prêmiopor Personalíssima, por problemas burocráticos,nem a sua falta de perspicácia para perceberque pouco a pouco foi passada para trás em suacarreira de estrela televisiva. Como diz com


humor nem percebeu quando de protagonistapassou para amiga da mocinha.Vaidosa de suas conquistas, da família queconstruiu com o marido Mauro Mendonça – osfilhos João Paulo, Rodrigo e Maurinho, todostambém artistas –, do pouco cabelo branco quetem e que esconde com aplicações de henna,da excelente forma física, do corpo delgado, mascom formas, que revela o seu passado debailarina, e esconde e bem a sua idade. Aliás,este é um segredo que gosta de guardar e juraque da sua boca jamais sairá a data real de seunascimento. Segue o exemplo da mãe, queconsiderava revelar a idade quase uma faltade educação.7As entrevistas foram feitas na casa em que morahá muitas décadas em São Conrado, na ZonaSul do Rio de Janeiro. Em muitos momentos, aatriz se emocionou ao lembrar fatos e confessouque estava fazendo quase uma terapia aoenveredar pelos caminhos de sua carreira demais de 50 anos.


Atenção: Rosinha começou bem jovem no grupode teatro amador do irmão e que ninguém fiquefazendo contas, para desvendar o segredo tãobem guardado. Rosamaria fez questão em todosos encontros de compartilhar um bolinho, umsanduíche, morangos com merengue em um descontraídolanche que colocava ponto final nassessões. Uma gentileza que revela uma de suasprincipais características: o respeito ao outro e aconsideração com que busca tratar a todos.8Rosamaria reconhece que muitas vezes foi malinterpretada, disse a palavra certa na hora inexata,fez comentários que não deveria ter feito. OEscorpião é assim, não precisa de inimigos, ele é oinimigo de si mesmo. Para amenizar os efeitos detão destruidor signo, Rosamaria fez anos de análisee agora garante estar mais afeita às práticas daboa vizinhança, ao jogo de interesses e vaidadesque rege qualquer atividade, em especial o mundodo espetáculo. Garante que já sabe fazer umacerta política de sorrisos e cumprimentos falsos eaté se diverte com ela, mas não é isso que suaspalavras revelam. Confira!


A moça que veio de longe realmente chegoulonge. E pretende mais! Como provam as suaspalavras no depoimento e no QuestionárioProust – aquele que o famoso escritor gostavade responder junto com os amigos em brincadeirasde salão, perfeito para Rosamaria Murtinho,que encerra este livro.Tania CarvalhoAgosto de 20049


Capítulo IUm Resumo Simples de Si MesmaDepois de certa idade – que não preciso dizerqual é – a gente começa a olhar o mundo deoutra forma. A maturidade é uma MA-RA-VI-LHA! São tantos ganhos: aceitação, compreensão,distanciamento crítico. Nessa profissão emque vivo há tantos anos existem dois caminhos:ou se é simples ou ridícula. Eu optei pela simplicidade.Especialmente agora que artista viroucelebridade – aliás, celebridade é a profissão doséculo XXI! – e é fotografado onde quer queesteja, é preciso ser simples até para rir de simesma. Pegar uma foto e brincar com os própriosdefeitos: ih, esqueci de encolher a barriga.Olhar uma cena e perceber o quanto foi canastrona.Franzir bem a testa para mostrar quenão colocou botox. (O Cassiano Gabus Mendesdizia que a testa é tão importante pra atriz, queaté uma grande franja atrapalhava).Simplicidade não quer dizer humildade. Serhumildezinha é uma forma de pretensão, uma11


12forma de ganhar a confiança do outro. Simplicidadeé ser você mesma, sempre, em todos osmomentos da vida. Eu já sou, pela minha profissão,tantas pessoas que não são como eu, quenão posso abrir mão de ser a Rosamaria, quandotenho possibilidade. Só assim posso achar divertidaa vida, brincar com ela e não me achar apessoa mais importante do mundo só porqueapareço na televisão e nas revistas. E como temgente que se acha! Tem gente que é menos,ganha menos, tem menos talento do que eu,mas tem uma pose!Nunca me considerei acima de ninguém. Nunca,nunca! E também nunca invejei ninguém.Engraçado, agradeço a Deus porque ele me deuessa profissão, que não procurei, fui procurada,não corri atrás, aconteceu, que trabalha com oego – o ego é muito forte nos atores – e nãome deu um pingo de inveja de colega. Quefelicidade não ser invejosa. Você sabe por quê?Porque se tem uma atriz mais talentosa do queeu, tem uma menos talentosa. Se tem uma maisbonita do que eu, tem uma mais feia.


Se tem uma que tem mais fama do que eu, temuma menos famosa. Se tem uma que ganhamais, tem uma que ganha menos. Se tem umaque tem melhores papéis, tem outra que temmenos papéis que eu. Posso constatar o queaconteceu comigo, saber que perdi muitascoisas, mas não posso ficar com inveja. Não, nãomesmo, porque a inveja é uma coisa muitoperniciosa para a alma. E dá rugas.Não acho que seja uma atriz com verdadeiravocação. Não estou falando de talento! Achoque talvez pudesse ter batalhado e alcançadomais, mas havia algo tão importante quanto aminha carreira, em alguns momentos muitomais, que era a minha família – meu maridoMauro Mendonça e meus filhos Mauro, Rodrigoe João Paulo. Graças a Deus! Eu tinha filho emcasa para tomar conta, levar para a aula de jiujitsu,curso de inglês, ver se fez o dever. Nãodava para botar salto alto o dia inteiro. Umasandalinha rasteira já estava bom demais. Asduas vidas correram paralelas. Não fiqueidividida, porque quando você fica dividida, você13


tem que optar. Se você opta, alguma hora vocêvai cobrar e eu nunca tive essa preocupação.Talvez essa vida familiar tenha me tirado,quando tinha uma boa idade, a oportunidadede ser uma estrela que o sucesso que eu haviatido nas novelas prenunciava, mas talvez tenhame salvado no sentido humano.14Eu vim de São Paulo para o Rio de Janeiro e aGlobo era tão poderosa, que mesmo fazendopapel de coadjuvante, aparecia. Então, com coisasem casa para fazer, família para cuidar, não fiqueipensando: Poxa, eu não estou estrelando? EmPrimeiro Amor era estrela, por que agora não?.Não passou pela cabeça. Aí eu fui diminuindo,diminuindo... Até virar a amiga da amiga daprotagonista. E agora, com essa idade, não tenhomais papel. Ninguém vai dizer isso para mim:Escrevi uma avó maravilhosa para você. E sehouver uma avó maravilhosa não vão convidar amim. Talvez me lastime um pouco por não terbatalhado por mais tempo, mas com certeza souuma melhor pessoa do que seria se permanecessesempre no estrelato, ah, isso eu sou!


Eu não queria que tivessem tirado o meu lugar,mas não batalhei para permanecer no primeiropapel nunca. Não que não tenha brigado, e dasminhas lutas não me arrependo, é muito difícilpisarem no Escorpião e ele não pegar o rabo ejogar o veneno em cima, principalmente naépoca que eu não era analisada. Com certeza,porém, não fui sagaz o suficiente para percebervárias vezes o que estavam tramando nas minhascostas. Em outras, acho que fui sincera demais,disse na cara das pessoas o que estava achando.O que importa? O trabalho é parte importanteda minha vida, mas não é a minha vida. Sou umapessoa feliz porque não coloco expectativas forade mim: se eu ganhar dinheiro... Se eu fizerdeterminado papel... Se eu ganhar tal prêmio.Claro que fico contente quando estou fazendosucesso, mas ele não é a única coisa que importa.Eu construí a minha vida com outros objetos deprazer que não só o trabalho. Então, namaturidade, com a idade, isso foi bom demais.Felicidade é algo interno, dentro da gente.Simples.15


16Quando não consigo algumas coisas, fico apenastriste, não fico magoada. Se alcanço coisasboas, não fico arrogante. Há quem vá dizer: Émágoa. Na Globo só fez um papel de protagonista,e depois... Deixa falar. Tenho certeza quesou absolutamente sincera comigo mesma e comos outros. Já me disseram que sou filha de Xangôe descobri que a verdade para mim é o maisimportante de tudo, talvez por isso, quem sabe.Quando dou uma entrevista prefiro falar com ocoração, eventualmente pedir desculpas e nãoresponder sobre determinado assunto a dizeruma mentira.Acho que este meu jeito de encarar a vida meaproximou bastante da Isaurinha Garcia, umapessoa simples que só queria ser feliz. E vivê-lano palco em Personalíssima foi uma dasmelhores experiências da minha carreira e daminha vida. O que posso querer mais? Depoisde tantos anos consegui duas coisasfundamentais para um artista: emocionar esurpreender o meu público. Quem imaginariaque eu, uma garota de Ipanema, pudesse viver


uma cantora com sotaque do Brás. Tenhocerteza que muita gente comentou: Meu Deus,a Rosamaria Murtinho, cantando?!?!?! Pois é,para isso passei todas as noites, durante um ano,bem antes de os ensaios começarem, ouvindo-atodos os dias. Depois, seguindo o conselho daBibi Ferreira, gravei todos os dias as minhasapresentações, para depois ouvir e descobrir emque podia melhorar. Não sou cantora, comeceimuito tarde nos musicais, mas tenho certeza queme saí bem e hoje canto melhor do que ontem.E me orgulho disso. E fico triste – triste não é apalavra, fico puta mesmo – por não ter sidoindicada para nenhum prêmio pelo meutrabalho em Personalíssima.17


18Não precisava ganhá-lo, mas somente a indicaçãodeixaria marcado para sempre que em 2003eu havia feito a Isaurinha, um trabalho que encantouas pessoas. E não fui indicada para o PrêmioShell por um entrave burocrático – o queme irrita mais ainda: a peça não havia feito vinteapresentações no Rio em sua temporada deestréia. Acho o cúmulo que um trabalho comoo meu, que o público reconheceu, não tenhasido indicado. A mídia também não deu muitabola, porque é subserviente ao sucesso e sóreconhece as coisas depois de um longo tempo,depois que o público as transformou em êxito.Personalíssima não teve tempo: no Rio deJaneiro ficou seis semanas em um teatro, cincoem outro, três em outro. Em São Paulo foi amesma coisa, a montagem esteve em doisteatros. A política dos teatros do governoestabelece uma temporada de um mês. Osteatros particulares são muito caros,especialmente para uma montagem como anossa com 15 atores, quatro músicos e muitagente na parte técnica. Personalíssima não fezuma carreira como merecia e o público queria.


Desse jeito pingadinho, entrecortado, conseguiuficar um ano em cartaz, contando com asapresentações em outras cidades do Brasil. Masnão foi indicado. Agora eles mudaram as regras,o espetáculo pode ficar uma semana em cartaze concorrer aos prêmios. Para mim, chegou tardedemais esta mudança.Insisto, não fiquei magoada, fiquei puta. Quempode ficar magoada – um sentimento que permanecea vida inteira – vendo aquele públicoaplaudindo a cada canção, ovacionando no final,me agradecendo pela emoção? Normalmentea gente recebe flores dos colegas na estréia.Eu recebi flores ao longo da temporada, um diadepois de atores como Pedro Paulo Rangel, JorgeFernando, Flávia Alessandra terem assistidoao espetáculo. É lindo! Não era cortesia, formalidade,mas reflexo da emoção que sentiram.19A mídia insiste que não existe memória e que énecessária uma nova forma de fazer musical.Pois bem, Personalíssima era tudo isso: aopereta, a burleta carioca e também o resgate


da história desta artista maravilhosa que foiIsaurinha Garcia. Aliás, repito as palavras de umacrítica paulista que disse tudo isso. Se a mídiaignorou em reportagens a crítica falou muitobem do espetáculo, é preciso que se diga. Mas avida não é sempre como a gente quer. E vouseguir em frente, sempre. Simples assim!20Com o elenco, em Personalíssima


Capítulo IIDe Bailarina a AtrizMeu pai, Frederico, era engenheiro agrônomoe foi trabalhar no Pará, no Instituto Agronômicodo Norte, que era dirigido pelo meu avô.Conheceu minha mãe, Maria do Carmo, seapaixonaram, ficaram noivos e se casaram. Eleera carioca, da família Murtinho, tradicional doRio de Janeiro. Ela, da família Pinheiro,importante em Belém. Meu bisavô materno eraseringalista, saiu do Maranhão e fez fortuna noPará, no auge do esplendor da borracha. Minhaavó foi criada em Belém e na Europa, compravaroupas na França. Minha mãe não pegou estaépoca. Quando eles se casaram vieram para oRio, mas minha mãe foi a Belém para onascimento do meu irmão Carlos e para o meu.Sou, assim, nascida em Belém do Pará, e criadano Rio, em Ipanema, na Visconde de Pirajá.23Nossa... que saudade que tenho da praia em frenteà Rua Montenegro (que se chama há alguns


anos, Vinícius de Moraes), com água tão clarinha,que se via o esmalte das unhas do pé!Na década de 50 eu já usava biquíni, ia paraa praia com uma barraquinha quadrada e ascolunas sociais noticiavam. Os colunistas adoravama minha barraquinha quadrada! Eu era,digamos assim, freqüentadora da sociedade,pois vim de uma família bem-nascida. Fui atépatronesse da festa da Glamour Girl.Debutante todo mundo podia ser, maspatronesse era um pouco diferente. As moçasda sociedade eram escolhidas e apresentadasna festa da Glamour Girl, um eventomuito alinhado no Copacabana Palace, organizadopela Revista Rio. Engraçado lembrarde tudo isto!25Belém, porém, também faz parte de mim,embora só tenha voltado lá com três anos deidade e depois já adulta, casada, para a inauguraçãode uma televisão. Digamos que desta vezé que realmente conheci a minha terra, vi o Círiode Nazaré. Até então, o Pará era uma lembrançadas conversas de minha avó com a minha mãe,


26as comidas gostosas que elas faziam. Aliás, nãoé favor algum gostar da culinária paraense, porqueé a melhor do Brasil, absolutamente índia,pato no tucupi, jambu, que dá um baratinho nalíngua, ai, que maravilha! Quando me apresenteipela primeira vez no Teatro da Paz foi umaemoção indescritível. Quando acabou a peça,tive uma crise de choro, pois me lembrei de todasas histórias que minha avó contava sobreele, os espetáculos que tinha visto lá e só pensavaem como ela ficaria orgulhosa se estivesse vivaem me ver naquele local. Digamos que o Rio deJaneiro e o Pará estão dentro de mim e guardooscom imenso carinho.Quando era pequena, queria ser bailarina,Estudei muitos anos de balé com Pierre Klimoff,Tatiana Leskova e Eduardo Sucena, mas tive umalesão no menisco, não operei e precisei parar.(Com certeza, porém, este aprendizado deixouum fruto: sou absolutamente caxias, tenho umadisciplina de caserna).Ao lado, no Rio, em 1949


Morei um ano nos Estados Unidos (até hoje mearrependo de não ter feito um curso no Actor´sStudio), acabei o clássico lá, e quando voltei, em1953, encontrei o Studio 53 em grande atividade.O que era o Studio 53? Um grupo amador, dirigidopor meu irmão Carlos Murtinho e por TelcyPeres e do qual faziam parte Beatriz Veiga,Liliane Lacerda de Menezes, Helena Furtado,Virgínia Valli, Zaide Hassel, Eugênio Agostini,Otávio Lins, Telmo Martino, Paulo Francis e MartaOtávia. O Ivan Lessa também aparecia por lá,namorava uma das meninas do grupo. O Studio53 se apresentava no Teatro de Bolso, emIpanema, na Rua Jangadeiros, onde hoje existeum restaurante. Como destruíram teatros aolongo dos anos: a Praça Tiradentes era um verdadeiroWest End londrino, uma Broadway. Hojeteatro virou estacionamento. Não era getulista,mas o teatro deve muito a ele, que instituiu quese pusessem um teatro abaixo, precisaria construiroutro. Pena que isso não funcione mais.29Ao lado, no Rio, entre 1949 e 1951


De vez em quando eu ia assistir às peças do grupo,mas não tinha a menor vontade de estar lá.Vejo histórias de atrizes que declaram que desdepequenininhas sabiam o que queriam. Até babo.Que coisa maravilhosa ter uma vocação assim!Comecei a fazer teatro porque uma moça, umadas atrizes, teve anemia. E o Paulo Francis falouassim: Ô Murtinho não tem ninguém, bota a tuairmã mesmo! Entrei no grupo para fazerPropriedade Condenada, de Tennessee Williams,que o Paulo era um dos diretores, mas os direitoseram tão altos que inviabilizou a montagem. Ogrupo montou outra peça: O Caso do Chapéu,de Francisco Pereira da Silva. Paulo Francisacabou na bilheteria (a gente fazia de tudo, oIvan Lessa de vez em quando ficava na portaria).31Estreei no dia 21 de setembro de 1953, e meliguei para sempre ao grupo. Já na estréia fizsucesso e acabei indicada, junto com a FernandaMontenegro para revelação do ano – viu comoser indicada é bom? Fica o registro. Não ganhei,ganhou a filha do Oscarito (Miriam Teresa).


32Com Carlos Murtinho, em Propriedade Condenada


Com Liliane Lacerda de Menezes, Telmo Martino, TelcyPeres, Otávio Lires, Helena Furtado e Carlos Murtinho, emO Caso do Chapéu33


34Devo a minha entrada no teatro ao meu irmão.Nós nos dávamos bem, embora brigássemosdemais. Ele era de Escorpião também. O Carlosera extremamente inteligente. Uma pessoa queestudou na França, dirigiu uma peça em Paris,trabalhou com o Berliner Ensemble naAlemanha, montou Nossa Cidade, do ThorntonWilder, em Porto Alegre, que revolucionou oteatro de lá. Paulo José, Antonio Abujamra eoutros atores devem a ele. O Fausto Wolf mechamou um dia e disse assim: Nós todos devemosmuito ao seu irmão. Ele foi injustiçado, porquetoda a nossa geração apareceu por causa dogrande sucesso de Nossa Cidade. Nós viemostodos de lá. Infelizmente ele começou a beber.Quando largou – ficou dez anos sem beber –decidiu retornar à carreira, embora não tenhasido muito ajudado. Le passé est passé. Fumavaquatro maços de cigarro por dia e um diadescobriu que estava com um enfisema e câncerde pulmão, morrendo com 70 anos.Ele era um excelente diretor e acho que porinfluência dele jamais aproveitei um sucesso de


35novela para fazer uma peça digestiva paraganhar dinheiro. Ele me ensinou muito e, comonão tive outros professores, aprendi também nacara e na coragem, observando, escutando osbons diretores e lendo tudo que caía em minhasmãos. Parece que falo demais, porque falo, maseu observo mais do que as pessoas pensam.


Outro dia li uma coisa interessante no jornal quedizia assim: desconfie das mulheres distraídas,porque são as que mais observam. Então pareceque não estou sabendo, mas estou observando.O observar as pessoas é interessante, me dásubsídio para fazer o papel e para mim comopessoa.36Sou espectadora dos meus colegas, vejo novelae vou ao teatro. Não finjo que não estou vendouma novela de sucesso só para não ter queelogiar o colega. No livro do Michael Caine,Acting in Film, um livrinho pequenininho quecomprei em Los Angeles, superinteressante,entre outras coisas ele diz assim: Veja sempre otrabalho dos colegas, você aprende vendo. Vejao que é bom, o que é ruim, e pode até copiar,porque você nunca vai ser igual. Será sempre asua visão. Eu me obrigo a ler três jornais por diapara ficar bem informada. E isso é fundamentalporque participo de um programa semanal dedebates, na Rádio Catedral do Rio de Janeiro,chamado Vox Populi, cujo âncora é o SérgioPereira da Silva.


Lá são discutidos todos os assuntos e preciso estarbem antenada com o que acontece no mundo.Além disso, o ator pode se fazer sozinho,mas informação é sempre bem-vinda e sóacrescenta. Quero aprender sempre e enfrentarnovos desafios. Se você diz que está realizada,coloca um ponto final. E não quero mesmochegar ao final da minha trajetória.Eu adorava Cacilda, Fernanda e Nathalia. A primeiravez em que fui ao teatro vi NathaliaTimberg em Senhora dos Afogados, do NelsonRodrigues, dirigido pela Bibi Ferreira. Fiquei tãoimpressionada porque no final, metade da platéiabatia palma e a outra metade vaiava. E oNelson subia na cadeira e dizia: Obrigado, obrigado!Podem vaiar! Podem aplaudir!37Nossa, onde a minha lembrança me levou...Hora de voltar para o Studio 53. Eu era umamoça de família, pode se dizer. E a minha mãeme acompanhava ao teatro. A minha avó, àsvezes, servia de camareira. Não que não tenha


38tido as minhas liberdades, mas era gostoso porqueera mais ou menos escondido. A coisa escondida éótima! A gente não beijava na boca no meio darua, ficava atrás no cinema, atrás de coluna, dentrodas portarias dos prédios... Era uma delícia porqueera escondido. Com meus amigos do teatro ia devez em quando ao Clube da Chave, no Posto 6, umlugar chiquérrimo. Minha mãe deixava, porque meuirmão estava junto e eu adorava. Jovem atriz, bemfeitinha de corpo, andava sempre com um livro namão. Olha que coisa mais cafona! Um dia, conhecio pintor Pancetti, elogiei suas marinhas, ele pegouna minha mão e me pediu que eu passasse no ateliêdele porque queria me dar um quadro. Não fui. Dematar, não? Vamos combinar que foi uma atitudecafajeste da minha parte. Sei lá porque não fui. Nãofiquei com medo, não.Ele não estava interessado em mim e nem mecantou. Além disso, sempre fui muitoindependente e jamais me interessei por homenscomprometidos. Tinha muito homem solto, dandosopa. Os casados podiam me cantar, porque sabiabem me livrar.


39Nesse sentido era metida. Sabia sair dassituações muito bem, nem que fosseperguntando: como vai a sua mulher? Seusfilhos estão bem? Era ótimo, porque issoafastava.


A passagem para o teatro profissional foi tambémao acaso. Aconteceu naturalmente. SilveiraSampaio gostou de mim, morria de rir com umafrancesa que interpretava, e me convidou parafazer Reginaldo, Costureiro. Ou seja, dois mesesdepois de estrear no teatro amador eu jáestava em uma montagem profissional, na Companhiade Silveira Sampaio, um dos mais importantesautores e homem de teatro da época.40Eu escolhi a profissão? Acho que foi ela queescolheu. Ser atriz nunca foi uma coisa ansiosapara mim. Foi indo e eu fui levando. Comecei afazer sucesso, fui indicada para prêmios, pessoasbacanas e inteligentes como Millôr Fernandes,Leon Eliachar, Rubem Braga, Otto Lara Resendeiam me ver e gostavam, até escreviam sobremim. E assim fui deixando a vida me levar. Vidaleva eu, como no samba de Zeca Pagodinho.


Capítulo IIIUma Carreira Coerente no TeatroOutro dia, por causa deste livro, remexi nosmeus guardados e encontrei algumas críticasda época da minha estréia: com gestos muitoprecisos, olhar muito insinuante, charmoso ecom os tempos precisos de comédia; o brotinhoque está causando sensação; Rosamaria dá parao negócio; uma garota encantadora quevalorizou enormemente todas as suas entradas;Rosamaria Murtinho pela graça e pelaespontaneidade de sua interpretação ocuparáum lugar de grande destaque no TeatroBrasileiro dentro de alguns anos. Talvez omelhor resumo seja o que Silveira Sampaioescreveu: A Garota do Arpoador que resolveulevar a brincadeira a sério. Ou seja: fui bemrecebida. Mas sair em revistas, jornais, nuncame deslumbrou. Eu já estava acostumada a sercitada, falada, só aumentou um pouco. Podeparecer pretensioso, mas a vida que tinha antes43


de ser atriz, os colégios que freqüentei, as viagensque fiz, a minha família, deixaram em mimum comportamento normal que o sucessonão afetou.44Estreei no teatro profissional, em 1953, na peçaReginaldo, Costureiro, de Silveira Sampaio, quetinha no elenco o próprio Silveira Sampaio,Magalhães Graça, Nancy Wanderley, WandaOiticica, Sônia Correa, Raymundo Furtado. Aindana Companhia de Silveira Sampaio participei doselencos de Deu Freud Contra, Da Necessidadede Ser Polígamo, Flagrantes do Rio, SuaExcelência em 26 Poses, de Silveira Sampaio, eVirtude e Circunstância, de Clô Prado, todasem 1954.Em 1955, fiz Um Homem Magro Entra em Cena.Comecei a ganhar um dinheirinho, sim. Comoeu não me mantinha, era moça, morava commeus pais, era muito bom o que recebia. Maspara sobreviver de teatro naquela época sósendo um grande nome.


Foto do programa de Um Homem Magro Entra em Cena45E, como já disse, a vida foi me levando. Em 1956,o Sandro Polônio me viu na Companhia doSilveira Sampaio e me levou para a Companhiade Maria Della Costa, o Teatro Popular de Arte.Nela fiz Moral em Concordata, A Rosa Tatuadae O Canto da Cotovia, tendo viajado emdezembro para uma temporada de seis mesesem Portugal, no Teatro Apolo de Lisboa e no Sá


de Bandeira, no Porto. Participavam da CompanhiaJardel Filho, Diana Morel, Benjamin Cattan,Serafim Gonzalez, Carmem Silva. Eu adorei estaoportunidade de passar um tempo em Portugal.Minha mãe foi junto, claro!Era garota e tudo era uma festa. Lisboa era – econtinua – linda. A Av. da Liberdade, o Chiado,a Mouraria, o Castelo São Jorge, as casas de fadoe a voz de Amália Rodrigues, a delicadeza dopovo português. Tudo isso me encantou.46Elenco do TPA no Teatro Apolo, Lisboa, Réveillon 1956/57


50Elenco TPA em Lisboa (em pé, à esquerda): Jardel Filho,Serafim Gonzalez, Rosamaria, Carmem SIlva, D. Maria (mãede Sandro), Rubens Teixeira, não identificada, JoaquimGuimarães, Diana Morel, Benjamim Cattan, Sandro(sentados) Maria Della Costa e o Rei Umberto da Itália.(abaixo) com Edmundo Lopes, em Moral e Concordata


Como a Rainha (acima) e com o elenco de O Canto da Cotovia(Lisboa, 1957)51


52No ano seguinte, fui para o TBC, do mesmo jeitinho.O Abílio Pereira de Almeida, que era umdos autores do grupo, me viu e me convidoupara fazer Rua São Luiz 27, 8º Andar ao lado deFernanda Montenegro, Nathalia Timberg,Elizabeth Henreid, Raul Cortez (acho que foi aestréia dele), Sérgio Britto, Mauro Mendonça,Fernando Torres, Ítalo Rossi. Na verdade, aCarminha Brandão quebrou o pé e o Abílio lembroude mim. Não posso dizer que fui muito consideradano grupo. Era tudo intelectual demaise eu era uma garota de Ipanema, que querianamorar. Fui meio passada para trás no TBC etambém a minha ambição era pequena. Às vezeshavia uma personagem boa e pensavam emmim e em outra atriz. Quando optavam por ela,eu nem dizia assim: Ah, que pena, estava loucapara fazer o papel. Deixava passar. Uma vez umapessoa influente no grupo – que hoje em dianão faz absolutamente nada – me rejeitou paraum papel, porque queria alguém com maiscurvas, mais peito, mais anca, mais nova, maisalguma coisa que eu. Como se para viver umapersonagem sensual precisasse disso!


De verdade eu não era pessoa de grupinho, decontar intimidades no camarim. Então, essa faltade fofoca me deixava um pouco à parte. Nãosei se é um defeito ou uma sorte ser assim. Definitivamentenão gosto de ti-ti-ti, de falarda minha vida pessoal, de revelar a minhaintimidade, de falar da vida em família, dasbrigas que tive com meu marido. Não fuieducada pra dizer para os outros o que acontecena minha casa. E isso afasta as pessoas. Jamaiscriei em volta de mim um grupo que meprotegesse. Às vezes as pessoas até inventamhistórias tristes para serem aceitas em um grupo,não é mesmo? Definitivamente nunca fui assim,e talvez por isso não tenha feito um contratolongo com o TBC. Eles não se interessaram emficar comigo e fiz somente mais uma peça nogrupo: Dama de Copas, também do AbílioPereira de Almeida, em 1958. Foi no TBC queconheci Mauro e começamos a namorar e logodepois nos casamos. Este é um ótimo motivopara eu ter uma boa lembrança do TBC, apesardele não ter me querido mais depois da segundapeça, também do Abílio.53


54Mas houve quem me quisesse. Neste mesmo anovoltei para o Rio e para o Studio 53, a companhiaamadora em que iniciara – agora profissional– para a montagem de um espetáculo comtrês peças curtas: Homo Copacabanensis, deAntonio Callado, Palavras Trocadas, de AlfredoMesquita, e Bonito como um Deus, de MillôrFernandes, com direção de Carlos Murtinho eno elenco Anna Maria Magnus, Renée Brown,Fernando Amaral e Telcy Perez. Em seguida,estreei Exposição 1935, de Maria Inês Barros deAlmeida, com o grupo em novo espaço – Teatroda União dos Operários de Jesus. No ano de1959, ainda lá, estreamos mais um espetáculocom três peças curtas: Antoinette ou A Voltado Marquês, de Tristan Bernard, Pura Ilusão, deMaria Luiz do Amaral Peixoto, e As Gaivotas,de Millôr Fernandes. No elenco estavam LeilaJorge, Maria Esmeralda, Zaide Hassel, CarlosImperial, Yan Michalski, com direção de CarlosMurtinho. Neste ano também, A Colina das SeteMinas, de Nathan Shalam. Além de interpretareu era uma das cabeças do grupo, junto commeu irmão Carlos e Telcy Perez.


(acima) com Rildo Gonçalves em Homo Copacabanensis e(abaixo) em Bonito como um Deus55


56Com Ana Maria Magnus e Camila Amado,em Exposição 1935


A revista Visão publicou uma reportagem ondeestava escrito que eu Era a mais bela e jovemempresária do Brasil. Fiquei prosa!O convite para entrar no Oficina foi um grandemomento da minha vida no teatro. Posso dizer,sem medo, que a única vez em que tive umgrupo foi lá. José Celso, Eugênio Kusnet, RenatoBorghi, Célia Helena, Raul Cortez, Miriam Mehlerforam as pessoas que me deram a seriedade queprecisava. O que havia aprendido com meuirmão Carlos Murtinho – muito estudo, trabalhoe o interesse pelo ser humano – foi elevado àenésima potência no Oficina. Foi lá que descobriStanislavski e enlouqueci. Foi lá que vi a trilogiasobre a vida de Gorki, em russo, com o Kusnettraduzindo. Foi lá que vi pela primeira vezlaboratório, improvisação. Era o máximo: eu, agarota de Ipanema, que usava biquíni, entrei decabeça em todo este mergulho intelectual.Dizem que quem é de Escorpião ama mais aprocura do que a realização. Buscar apersonagem, descobrir quem ela é, sua vidapregressa, as pessoas que gravitavam em torno57


dele, de certa forma para mim é melhor do queme apresentar, me exibir. No Oficina tinha aoportunidade de buscar. Era uma novidade:Então teatro é isso? Não é só decorar? Ser dirigido?Entrar em cena? Existe um espaço parapensar, para aprender. Foi no Oficina que realmentecomecei a me interessar por teatro. Aamar o teatro. Acho que fiquei nesta profissãopor causa do Oficina.58Estreei em A Engrenagem, do Sartre. Ele veiopara o Brasil com a Simone de Beauvoir paraver e disse que a peça se passava em um paísimaginário, que bem poderia ser o Brasil. Atéhoje guardo uma foto que fiz com eles. Depoisparticipei da montagem de Quatro num Quarto,de Valentim Kataiev, com direção de MauriceVaneau. Eram dois casais: Miriam Mehler eRenato Borghi; eu e Ronaldo Daniel (que hojevive em Londres, dirigindo na Royal ShakespeareCompany). Foi um sucesso enorme. O José Celsoentrava no camarim dançando twist para dizerque estávamos lotados na primeira e na segundasessão. Nós fomos substituídos no elenco,


quando começamos a ensaiar Pequenos Burguesese o Zé Celso não queria nos cansar, mas precisamosvoltar, porque a bilheteria havia caídomuito. Não vou nem dizer o nome das pessoasque substituíram a gente porque são conhecidashoje em dia. Tivemos que voltar para os papéisporque o público não estava gostando doelenco novo. Isso não existe, nunca aconteceuno teatro.59Com Renato Borghi, Miriam Mehler e Ronaldo Daniel, emQuatro num Quarto


60Pequenos Burgueses foi, sem dúvida, um momentofundamental da minha carreira. E a ÍtalaNandi teve a audácia de escrever em seu livroque foi ela que criou a personagem. Que euhavia ficado doente e o Augusto Boal a haviacolocado no elenco. Meu Deus! Ainda inventouuma doença para mim. Mentira! Ela erasecretária do Oficina e substituiu a JoselitaAlvarenga, que havia substituído a Liana Duval,que foi a minha substituta. Ou seja, ela foi aquarta pessoa a fazer a personagem. ElenaNikolaievna foi criada por mim. Quem conhecea história do Oficina sabe disso. E, é claro, nãogostei desta usurpação. Dizem que a mulher deGêmeos quando vai contar uma história sempreinventa como gostaria que fosse – isso eu li, nãosei se é verdade. Marilyn Monroe, por exemplo,colocou na cabeça que era filha do Clark Gablee não existem dois livros sobre ela que sejamiguais, porque ela sempre inventava, vai ver queaconteceu isso com a Ítala. Fui ao lançamento equase caí dura pra trás quando li; interpelei-ana hora. É muito ruim quando roubam a suaprópria história...


Cenas dePequenosBurguesesComRaul Cortez,Célia Helena eRenato Borghi61ComCélia Helena eMoema BrumComRenato Borghi eCláudio Marzo


62ComEugênio Kusnet,em PequenosBurgueses


Ainda bem que existem provas, como o livroPequenos Burgueses, publicado pela Brasiliense,em 1965, com a relação completa do elenco damontagem do Oficina, com as substitutas emparênteses. Pode ver o meu nome. Assim é bomque não fica palavra contra palavra.Talvez as pessoas achem estranho ao lerem queo grupo em que mais gostei de trabalhar foi oOficina. A minha imagem, na verdade, édiferente do que realmente sou. O estereótipoque criaram de mim – a mulher fina, elegante –seria mais condizente com o TBC, claro! Masinsisto, no Oficina encontrei a minha turma. Sónão fiquei com eles porque recebi um convitedo Boni para ir para a Excelsior e entrei na rodavida da televisão.63Eu acho que o público e a mídia acham que souuma atriz de televisão. Gente de teatro sabe quesou do meio e vive me dizendo que sou umabatalhadora. Eu gosto dos dois e posso dizer quesou um bicho de teatro, embora não tenhaaquela paixão pelo palco.


Tenho paixão por um bom papel, uma ótimapersonagem. E por isso posso ir e vir nos doisveículos. Estou bem no palco e na tela se tenhoum bom papel para interpretar. Isso me movemesmo. Sem paixão não dá para trabalhar.64Durante anos me dediquei mais à televisão, masjamais abandonei o palco. São muitos osespetáculos dos quais me orgulho: IntensaMagia, da Maria Adelaide Amaral, em que viviauma mulher submissa, dominada pelo marido eera um esforço muito grande interpretá-la.Em cena de Intensa Magia


Sou Escorpião, autoritária, até estou melhor coma idade e a análise, e era difícil falar uma coisa eabaixar a cabeça. A peça me ensinou muito, e achave para entender a personagem encontreiem uma entrevista da Zélia Gattai, quando elarespondeu que a receita da felicidade de seucasamento de tantos anos com Jorge Amado erasimples: nunca dizer uma coisa que pudesse searrepender depois. Usei isso em Intensa Magia.É incrível o que a gente aprende com nossospersonagens.A Infidelidade ao Alcance de Todos me deumuito prazer! Foi um grande sucesso, comeceia ganhar dinheiro, as pessoas viram o trabalhoe na platéia estava todo mundo de São Paulo,até o Chico Buarque, que ainda não tinhaestourado, mas já era um artista maravilhoso.Era uma cooperativa. Eu fazia a mulher doProcópio Ferreira e o Francisco Cuoco era meuamante. A Glória Menezes era a mulher doRodolfo Mayer e amante do Altair Lima. Umadelícia! Era dirigida pelo Walter Avancini namontagem de São Paulo.65


Em fotos da primeira e da segunda montagem de AInfidelidade ao Alcance de Todos67


68A Infidelidade..., elenco da primeira montagem: FranciscoCuoco, Rodolfo Mayer, Rosamaria, Procópio Ferreira,Glória Menezes e Altair Lima. Abaixo, elenco da segundamontagem: Lutero Luiz, Tessy Callado, Ronaldo Resedá,Rosamaria, Otávio Augusto e Lady Francisco


A gente ia fazer essa peça também no Rio, mas oGuarnieri, que iria dirigir, deu para trás. Veio o JôSoares para ser nosso diretor e nos convenceu afazer A Feira do Adultério, que, apesar do nome,não era simplesmente um espetáculo digestivo.Eram várias peças e todos os autores erampremiados: Bráulio Pedroso, Paulo Pontes,Armando Costa, João Bethencourt, Ziraldo e JôSoares. Então trocamos. Eu fiquei até um poucoarrependida depois, porque acho que não foi umacoisa correta com o Lauro César Muniz, mas achoque me redimi ao produzir e fazer uma outra peçadele, que amei: Direita, Volver, com o Mauro(Mendonça), Débora Duarte, Felipe Wagner, AnaMaria Nascimento, Waldyr Seviatti e AdagobertoArruda, com direção de Roberto Frota.A frase de propaganda da peça dizia: Vamosexplodir de rir e libertar as palavras presas nagarganta. E era isso mesmo que o público fazia. Emais do que isso eu acreditava firmemente naspalavras de Marina, a minha personagem: lutarcontra o fascismo na Itália e assumir o poderatravés da mesma ideologia. Onde estáa coerência?69


70Feira do Adultério, com Fúlvio Stefanini, Jô Soares, ArleteSales e Osmar Prado


Feira do Adultério, com Fúlvio Stefanini, Osmar Prado,Mauro Mendonça e Jô Soares71


Direita, Volver!, com Ana Maria Nascimento Silva, MauroMendonça, Priscila Camargo, Elcio Romar e AdagobertoArruda73Guardo até hoje um bilhetinho da Hilda Hilst:Rosamaria, obrigada por ter me compreendido,da época em que eu e meu irmão montamosAves da Noite. São essas coisas que marcam aminha carreira e surgem assim, na minha memóriade forma não cronológica, meioatabalhoada. Folheando os programas que guardoaté hoje, sinto orgulho do que fiz: Tiro aoAlvo, uma comédia de costumes de Flavio Marcio,


74Tiro ao Alvo, com Sérgio Mambertiao lado de SérgioMamberti com direçãode PedroCamargo; Aracelli,um belo texto deMarcílio Moraes,com direção do meuirmão Carlos Murtinho,que optoupor manter o tomdo documentárioem detrimento doteatral e evitar opieguismo – comoescreveu no programa.Era um espetáculoforte e violentamenteverdadeiroeste que fizjunto com DennyPerrier, José AugustoBranco, MarcoAntonio Palmeira,Mario Jorge e


Cláudia Martins. A Fila, de Israel Horowitz,também dirigida pelo meu irmão, com RuiRezende e Ary Coslov; O Preço, de ArthurMiller, ao lado do Mauro, do Jayme Barcellose Miguel Rosemberg; Marido, Matriz & Filial,de Sérgio Jockyman, com direção de AntonioGhigonetto. Dividi o palco com GuilhermeCorrêa e Silvana Lopes. Sobre este espetáculo,o Sábato Magaldi escreveu: a novidade deMarido, Matriz & Filial em relação ao triânguloamoroso é que dá ao problema um tratamentopirandelliano. Era realmente uma comédiadivertidíssima.75E vamos seguindo neste caminho derecordações. Nossa, quanta coisa escondidanesses programas! Lisistrata, de Aristófanes, comtradução de Millôr Fernandes, com direção deMaurice Vaneau, um elenco enorme que tinhaLélia Abramo, Dorothy Leiner, ElizabethHartmann, Cláudio Mamberti. Eu entreisubstituindo a Ruth Escobar no papel principal.Guerras de Alecrim, de Antônio José, O Judeu,direção de Milton Barcarelli, e O Tempo e os


76Com o elenco de A Fila


Acima, em O PreçoAbaixo, em Marido, Matriz & Filial, com Silvana Lopes eGuilherme Corrêa77


O elenco de Lisistrata78Conways, de J. B Priestley, dirigida por AlbertoD´Aversa, ambas com a Companhia de NydiaLicia; Mulheres do Crepúsculo, de Sylvia Rayman,direção de Haydée Bittencourt, com aCompanhia Brasileira de Comédia, do Rubensde Falco e da Dália Palma.Além de atriz, sou também produtora de muitosespetáculos. Com o fim das grandes companhias,quem produz são os atores mesmo. Se você nãoproduzir, não vai trabalhar. Quem produz, fazpra si. Eu produzo já há alguns anos.


Em cena de Mulheres do CrepúsculoE nem sempre fiz para mim. Uma das primeirascoisas que produzi foi Blue Jeans, a primeiradireção do Wolf Maia. Foi tão engraçado! OMauro estava fazendo Jornada de um Longo Diapra Dentro da Noite, com Wolf Maia, que deuuma peça para ele ler. A gente tinha o TeatroSenac na mão. E o Wolf propôs que nósproduzíssemos. Eu virei para o Mauro e disse:não tem papel pra você, não tem papel pra mim.Por que a gente vai produzir isso? Elecalmamente respondeu: É bom porque a genteprecisa descansar.79


E produzimos a primeira direção do Wolf Maya,que foi arrasadora. E começamos a nossa carreirada MEA Produções Artísticas.80Dizem que os últimos trabalhos são os que osatores mais gostam. Não sei dizer se isso éverdade, pois sou ligada a tudo o que fiz, daquelamaneira tranqüila que já falei. Sem dúvida,porém, foi muito gratificante participar de Letti& Lotte, um texto de Peter Shaffer, com direçãode Bibi Ferreira, em que eu dividi o palco comaquela que me inspirou sempre no teatro:Com Nathalia Timberg, em Letti & Lotte


Nathalia Timberg; de A Partilha, deMiguelFalabella; O Abre-Alas, de Maria AdelaideAmaral, baseado em livro de Edinha Diniz, sobrea vida de Chiquinha Gonzaga, com direção deCharles Möeller e direção musical de CláudioBotelho. Hoje os dois são endeusados, mas naépoca a crítica meteu o pau, dizendo que não faziao menor sentido montar Broadway no Brasil.Éramos 22 atores em cena, 21 eram cantores e acrítica teve tanta má vontade que disse que aúnica pessoa que cantava era eu, a única que nãoera cantora. Outro dia o Cláudio falou para mim:81Com Stella Freitas, Lúcia Alves e Cláudia Netto, A Partilha


A gente não vai mais trabalhar junto? e respondi:Agora vocês estão caros, antes eram baratos.As críticas foram cruéis com eles. Para você vero que é a vida, não é? Agora eles são o máximo.82Meu trabalho mais recente, e mais querido, éPersonalíssima, que teve boas críticas, mas certodesprezo da mídia, que não soube avaliar aimportância que era este resgate de uma importantecantora brasileira. Houve quem dissesseque era um espetáculo pobre, eu insistoque é um espetáculo musical verdadeiramentebrasileiro, herdeiro da mais antiga tradição teatral.É a história de uma mulher com umasmúsicas que ela cantou. Viver Isaurinha Garciafoi uma lição de vida, já disse e repito. Saíenriquecida como pessoa e como artista destaexperiência.Quando me perguntam como reajo às críticas,digo sempre que faço o meu trabalho e pronto.Os outros que digam o que quiserem. Não vounegar, porém, que quando a crítica fala bem,adoro. Sou humana e atriz. E todos são assim,


mesmo os que dizem que nem ligam para a crítica.Sou de uma época, no entanto, que os críticoseram Sábato Magaldi, Décio de AlmeidaPrado, Yan Michalsky que apontavam o queestava errado na opinião deles, mas jamaisdestruíam um espetáculo. Com o que eles diziamdava até para fazer um workshop, trabalhar emcima. Nunca fui duramente criticada, digamosque tive sorte, pelo contrário fui sempreincentivada a fazer maiores vôos, sempredisseram que estava pronta para novos desafios.Mas em matéria de crítica acho que a melhorforma era a praticada na China comunista, ondenão existiam críticos, mas sim comentaristas.Porque a crítica é antidialética. Não se podecolocar um ponto final em uma obra que éaberta e que muda a cada dia. Em televisão ecinema, tudo bem, o que foi feito está láregistrado, implacável. Teatro não, é arte emmovimento. Eu, por exemplo, só consigo acertaro ponto exato da personagem quando já estouhá uns quinze dias em cartaz. Nos EstadosUnidos, as companhias fazem diversosespetáculos em outras cidades até chegarem à83


Broadway e serem criticados. Aqui no primeirodia a crítica está lá, implacável, sem dar tempopara o ator se aprimorar.84Tenho orgulho da minha carreira. Um dia aLaura Cardoso – que atriz! – me disse que eudevia me orgulhar da minha trajetória no teatro:Você sempre foi muito coerente, sempre fezcoisas que fossem de qualidade. E olhando tudoisso que fiz, sou tentada a concordar com ela.Acho que tive, tenho e terei uma carreiracoerente nos palcos. Nunca procurei demais, ascoisas sempre vieram para mim. Nunca corriatrás, recebi um convite atrás do outro. Não melembro de ter feito um teste, nada disso. Euposso estar contando como uma vantagem, masnão é, é uma desvantagem porque perdi muitacoisa. A minha carreira foi andando paralela àminha vida de felicidade com marido, filhoscrescendo... Não deu pra ficar pensando muitosó no trabalho. O que acho que foi uma sorte.Não me deu aquela vontade de ter aquelesucesso absoluto. Sucesso absoluto é uma coisaperigosa para um ator. Ele fica pretensioso, quer


dar uma entrevista coletiva a cada mês e se issonão acontece, começa a se sentir frustrado. Eisso, infelizmente, acontece com todos os atoresque não têm uma formação sólida eenlouquecem com o sucesso fácil quenormalmente a televisão proporciona. Dousempre este conselho para os iniciantes, e disseisso inclusive em uma aula inaugural da Casa deArtes Laranjeiras, a CAL: Cuidado com o sucessoe com o fracasso, porque os dois sempre chegame são terríveis.Posso ter esquecido alguma coisa, não me lembrodo passado, e não gosto de falar sobre mime a minha carreira. É tão chato falar de si mesma!Tenho muito medo de parecer pretensiosa.E pretensão é pernicioso para a cabeça e para acarreira da pessoa. E não quero ser mal interpretada,porque a minha vida inteira eu fui malinterpretada... Tenho medo de dizer uma coisae as pessoas pensarem que aconteceu o oposto.Por isso mesmo me cerquei dos documentos sobrea minha carreira. Hoje em dia, mais do quenunca, a minha busca é pela simplicidade e pela85


86honestidade. Assim como a Isaurinha, que morreusem ter sido esquecida pelos fãs, porquesempre foi honesta com seu público. Se você temsimplicidade, você sabe até das suaspotencialidades, porque tem uma coisa chamadaconsciência. Não tem coisa melhor no mundodo que você ser consciente. Quem é metida,arrogante, pretensiosa e passa uma imagem queé uma maravilha, alto-astral, tudo isso, que nofundo não é, pode até ser melhor de marketing,mas tem um trabalho... Eu preciso ser sempreeu, de verdade.A única coisa que faço questão de mentir é sobrea minha idade. Adoro! Podem colocar o quequiserem, mas da minha boca jamais sairá.Minha mãe não pintava o cabelo, nunca fezplástica, mas morreu aos 89 anos sem jamaisdizer a idade. Sigo o exemplo dela. É uma dasvaidades que tenho, e confesso. Aliás, é tudouma questão de vaidade. A mulher que não diza idade é porque acredita que parece mais novado que realmente é. Vaidade! A que diz, emgeral, é porque parece mais velha e faz questão


de alardear para que todos saibam que é maisnova. O que não deixa de ser vaidade também.Fico com Oscar Wilde, que escreveu que a mulherque diz a idade é capaz de qualquer vilania.Prefiro achar que uma atriz não tem idade.Pode ser uma velha ou uma jovem no palco. Umalouca ou uma deusa. Essa é uma das grandesmagias do teatro...Como anciã, no livro do maquiador Erik Rzepecki87


Capítulo IVO Estouro na TelevisãoQuem me levou para a televisão foi opublicitário e diretor Alfredo Souto de Almeida,que me apresentou ao Victor Berbara. Estreeifazendo o Teatro de Comédias Piraquê, em 1954,na TV Tupi, onde trabalhei ainda no Teatro deComédias (1957) e Câmera Um (1958) eTeatrinho Trol (1959). Na TV Rio fiz parte doelenco do Teatro Moinho de Ouro; e na TVExcelsior do Teatro Nove (1960).89Teatro de Variedades Piraquê, com Paulo Autran, ToniaCarrero e outros


90Teatro de Comédia (TV Tupi, 1958) com Marilu Bueno eJoyce de OliveiraMas foi em 1963 que fiz realmente uma opçãopela televisão. Eu estava no Oficina quandorecebi um convite do Boni para assinar umcontrato de três anos com a TV Excelsior. Eletinha acabado de assumir a emissora e fez umarevolução lá dentro. Mandei um telegrama parao Mauro, que estava na Bahia filmando SearaVermelha, do Jorge Amado, dizendo:


91Câmera Um (TV Tupi, 1958), A Morte do Agiota, comÁlvaro AguiarFomos convidados a assinar um contrato nosnossos termos. A resposta dele foi: Aceita.Aceitei e comecei a fazer o Teatro 63, que tinhamuita gente boa – Walter George Durst, Álvarode Moya – fazendo coisas ótimas. Lá sedesenvolvia uma dramaturgia nacional, se falavada nossa cultura, dos nossos problemas políticos


e sociais. Depois esta mesma preocupação foi parao horário nobre com as novelas, e o Boni é o responsávelpor tudo isso, por esta nova maneirade fazer televisão. Na época, muita gente boafoi para a TV Excelsior, que fazia publicidade emimensos outdoors com a foto dos atores e o texto:Eu também estou na Excelsior.92É, eu estava lá em 1964, quando fui convidada afazer a minha primeira novela: A Moça que Veiode Longe. Até hoje é o meu maior sucesso. Queengraçado, a moça elegante e fina de Ipanemafoi realmente estourar vivendo uma empregadadoméstica! Assim como muitas outras coisas daminha carreira, o papel veio para mim. Nemprecisei batalhar.A Moça que Veio de Longe foi um sucessoestrondoso. O Rodrigo era pequenininho e eu olevava para as gravações, pois ainda o amamentava.Um dia um diretor comentou: Coitada, quem foi queescalou a Rosinha para esta novela com um filho tãopequenininho. Ainda bem que me escalaram. Eu faziauma empregada que se apaixonava pelo patrão, a


Com Helio Souto, em A Moça que Veio de Longe93


94eterna história da Cinderela que sempre faz sucesso(veja Uma Linda Mulher com a JuliaRoberts e o Richard Gere!). As pessoas enlouqueceram.Como estava muito envolvida comtrabalho e com o filho pequeno, demorei ame dar conta. Um dia fui ao supermercadocomprar fraldas para o Rodrigo e nãoconsegui sair. Tiveram que chamar a polícia efui escoltada. Foi aí que tive a dimensão doque estava acontecendo. Encontrei com aLolita Rodrigues que me perguntou se jáestava recebendo muitas cartas. Cartas?Resolvi passar na Excelsior e tinha uma montanhade correspondência para mim, fui obrigadaa contratar uma secretária somentepara responder a todas, mandando foto etudo mais. O elenco foi para Santos, teve maisgente para ver os atores do que no comíciodo Luiz Carlos Prestes. Eu fiquei no HotelAtlântico, na esquina do Gonzaga e dava adeusinhoassim feito a Rainha Elisabeth. E o pessoalgritando: beija, beija! No cinema Astória,no Rio, também foi uma loucura, parou otrânsito. Meu Deus do Céu, foi um estouro


da boiada! Pode não ter sido o primeiro sucessoda televisão, mas com certeza foi o maisestrondoso na época. Até hoje sou lembradapor A Moça que Veio de Longe e isso não meincomoda nem um pouco! Acho um barato!A partir daí fiz muita coisa boa, na Excelsior ena Tupi: A Inimiga, do Geraldo Vietri, em quefazia uma cantora da noite. Eu achava muitodifícil dublar as músicas. Como dizia a ClariceLispector: A vida é feita de inspiração erespiração. Então, era complicado saber omomento certo da respiração, o jeito que acantora respirava para falar determinada frasemusical. O Manuel Barenboim, que era produtormusical e trabalhava na TV Tupi (ele logo depoisfoi o produtor do disco Tropicália, que lançouGil, Caetano, Gal e o movimento tropicalista),me levou para gravar um compacto, comarranjos maravilhosos do Chiquinho Moraes. Eucantava Tristeza/por favor, vá embora/ Minhaalma que chora/ Está vendo o meu fim... Umadelícia. Mas como estava desenvolvendo minhacarreira como atriz, era contratada da TV Tupi,95


não podia caitituar, visitar as rádios e não vendeumuito. Só no Ceará, porque fui fazer umaapresentação na televisão, cantei e vendeu paraburro lá. Isso foi há quase quarenta anos. Hápouco menos de um ano o Ed Motta mandouum recado para mim pelo meu filho João Paulo,que é músico: Fala para a sua mãe que o discodela está vendendo na internet, lá em Londres,por 190 libras. Eles pegam, fazem um remix,colocam nas boates. E eu não recebo nada.96Fiz a primeira novela do Benedito Ruy Barbosa,O Anjo e o Vagabundo; Somos Todos Irmãos;Paixão Proibida, todas com o Sérgio Cardoso.Aliás, fui a atriz que mais trabalhou com oSérgio Cardoso na televisão. Nós nos dávamossuper- bem. Quando ele chegava no estúdio, aprimeira coisa que fazia era beijar a minha mão,ele era muito carinhoso. Além disso, eracuidadoso na hora de gravar, tudo era precário,e ele se preocupava sempre, por exemplo, denão tapar a minha luz. Se isso acontecia, elegentilmente me descobria, me colocava emoutra posição, para que eu permanecesse


iluminada.97


Um colega genial, além de todo o talento comoator que tinha, aquelas mãos expressivas, a voz, aexpressão corporal.Não acho que uma química seja fundamentalpara fazer um par na televisão. Sou uma atriz,faço da freira à prostituta, e não posso ficaresperando pela química. Já dei beijo em genteque não gostava. Sem dúvida, porém, fica maisgostoso, quando se gosta da pessoa.98Em cenas com Sérgio Cardoso


100Foi assim com Sérgio Cardoso e com muitosoutros. Eu adorei trabalhar com o FúlvioStefanini, um grande companheiro de comédia;com o Cláudio Cavalcanti em Pai Herói;foi ótimo em Salsa e Merengue estar em cenacom o Walmor Chagas e o José Wilker; adoreicontracenar com Antônio Fagundes em Nina(nós dois ganhamos naquele ano o prêmio daAPCA) e gostaria muito de repetir. Recentementecontracenei com dois atores jovens emChocolate com Pimenta e foi excepcional: AlexandreBarilari e Rodrigo Faro.Em Salsa e Merengue


Em Chocolate com Pimenta101


102O sucesso que fazia em São Paulo, tanto nasnovelas da Excelsior quanto da Tupi, e a químicaque existia entre o Sérgio e eu, me valeramuma proposta da TV Globo. Em 1972 fui convidadapara protagonizar O Primeiro Amor, deWalter Negrão, e me mudei com a família inteirapara o Rio de Janeiro. No meio da novela oautor quis colocar uma outra atriz, que não voudizer o nome porque isso já se passou há tantotempo, para fazer par com Sérgio. Comecei aler notinhas nos jornais, minha personagem, queera uma mulher bacana, começou a ficar meiochatinha e percebi que realmente estava sendopassada para trás.Em O Primeiro Amor


Em O Primeiro Amor, com Herivelto Martins Filho e RosanaGarcia (acima) e com Marco Nanini (abaixo)103


104Não podia aceitar isso, era desonesto, afinal tinhasido convidada para uma coisa e não queriaque dissessem que eu não tinha competência epor isso outra atriz entrara no meu lugar. Comojá disse, pisar no meu pé eu não aceito não! Fuilá reclamar com o Boni, o Daniel Filho me defendeu,e isso não esqueço. Aliás, não esqueçoquem faz alguma coisa pra mim, tanto de bomquanto de mau. Com a idade consigo até compreenderquando a coisa é má. Por exemplo, eucompreendi esse autor e essa atriz, mas na horanão aceitei. E tudo ficou como estava previstono começo e havia sido combinado comigo. Elenão gostou, claro, porque foi obrigado a entregarna Globo uma sinopse da entrada da novapersonagem.Assim como no teatro, fui prejudicada por nãoter grupinhos. Hoje em dia é comum na televisãoo ator fazer parte do grupo de determinado atorou diretor. Quando começam a escalar a novela,já se sabe quem estará. Eu sou independente,avulsa e totalmente avessa a marketing pessoal.Não sei fazer política.


Digo o que penso e quase sempre sou mal compreendida.Já me indispus com vários atores ediretores, talvez por ter falado demais, por defenderas minhas idéias ou ser mal entendida.Quando estava fazendo Corpo Dourado, dei umaentrevista em que dizia estar triste com a saídado Lima Duarte da novela porque eu tinha ficadosem par. No dia seguinte, abro o jornal e otítulo era: Rosamaria Murtinho insatisfeita coma novela. Fiquei furiosa, reclamei com a repórterpor causa do título capcioso – ela me jurouque havia sido a editora – que me prejudicouna Globo. Antônio Calmon, autor da novela,nunca mais falou comigo.Em Corpo Dourado105


106Com o Wolf Maya também tive problemas. Euadorei fazer Salsa e Merengue, do MiguelFalabella e da Maria Carmem Barbosa, mas aminha personagem era uma mulher que eraabandonada pelo marido, interpretado peloWalmor Chagas, que a trocava por uma mulhermuito mais nova. Aliás, isso acontece todo dia.Os homens querem se sentir mais jovens, deixama mulher de anos, casam com as mais novinhase têm filhos até. Queria demais que ela passasseuma imagem bacana para as mulheres queestavam nesta situação. Na novela, porém, elanamorou o José Wilker, mas acabou sozinha.Não gostei, porque no momento estavaseparada do Mauro e queria dizer para asmulheres que existia vida fora do casamento eque não havia necessidade de acabar em casa.A personagem acabou em casa. E me aborrecimuito por isso. Acho que o Wolf jamais meperdoou, não sei bem, somos amigos, freqüentoas suas festas, mas ele não me escala para asnovelas que dirige, talvez pensando que voureclamar. Ele não sabe que mudei muito. Alémdo mais, não adiantou nada eu reclamar,


adiantou? Não fez diferença alguma, a histórianão se modificou, enfim, é uma bobagem o quenos separa.Em Pecado Capital tive uma briga chata com oDaniel Filho. Eu demorei a entrar no estúdio,porque a camareira não havia feito a bainha naminha roupa, e ele começou a berrar, eu chorei.Um horror! E ficou uma coisa mal parada entrea gente. Eu estava na versão de Roque Santeiro,que foi proibida e ele, por exemplo, não mechamou para o elenco da segunda versão. Achoque implicou. Também não fui ao lançamentodo seu livro, só de implicância.107Em Pecado Capital, com Zanoni Ferrite


108Parece verdadeiro quando dizem que o Escorpiãonão precisa de inimigos, ele é o pior inimigode si mesmo. Talvez eu devesse ter feito maispolítica. Talvez eu devesse ter falado menos. Maso que posso fazer se sou pateta? Eu acho que atransparência é a única forma de você chegarno espelho, escovar seus dentes numa boa, semficar com vergonha de si mesma. Acho que agoraestou aprendendo um pouquinho a ser maispolítica, a fazer o jogo, e até me divirto comisso. Continuo, porém, sem grupinhos, com poucos,mas fiéis, amigos. Nunca fiz questão de sera favorita do bairro. E jamais usei a humildadepara ser aceita. Quem gosta de mim, gosta mesmo,porque conhece meu caráter, quem eu soue nunca deixa de gostar de mim. Quem nãogosta, paciência.Tenho certeza que esse meu jeito de ser podeter me prejudicado muito. Certos papéis quepoderia ter feito, não batalhei. Esperei serconvidada. É o natural de uma pessoa, não digocarreirista, isso eu nunca seria, mas uma pessoaque está batalhando por sua carreira agir assim.


Correr atrás, mas eu vivia em uma roda-viva coma minha família, cuidando da casa, do marido edos filhos e jamais tive tempo de administrar aminha carreira. Minha ambição talvez não tenhasido tão grande. Foi por isso que de grandeestrela da Excelsior, da Tupi e da Globo – afinalfui chamada para isso! – passei a ser coadjuvante.Mesmo assim continuei a fazer sucesso, e talveznem tenha percebido que havia passado deprotagonista a amiga dela.Não posso negar que fiz trabalhos maravilhosos.Logo depois de O Primeiro Amor eu tinha quesair de férias na Globo e me chamaram parafazer Carinhoso, uma novela do Lauro CésarMuniz, de quem já havia feito peças de teatro.Era um papel maravilhoso, embora não fosse aprotagonista, e fez um sucesso danado. Umavez, o Chacrinha perguntou no ar para o editorde várias revistas sobre TV: Quem vende maisrevista atualmente? Ele disse: RosamariaMurtinho e Fulvio Stefanini. A gente saía emtodas as capas, mas o casal principal tinha queaparecer e o Lauro César foi obrigado a casar a109


110Em Carinhosogente, aí a nossa história e a torcida do públicodiminuíram. Hoje em dia isso não aconteceria.Se um casal que não é formado pelosprotagonistas está fazendo sucesso, a TVexplora. Em Nina eu era a antagonista e ganheio prêmio de melhor atriz do ano. Em PecadoCapital, eu era a mulher do Carlão. A JaneteClair escreveu um final maravilhoso para ela,mas o Daniel fez outro da cabeça dele. Tive queentender, porque diretor faz isso mesmo e tem


direito, mas que a personagem ficou diminuídano último capítulo, ah, isso ficou. Da Janete, fiztambém a Valquíria de Pai Herói, umaesquizofrênica, o que me obrigou a uma pesquisaintensa, fui a dois hospitais, um de gentecom dinheiro e outro do estado, que atendiacarentes, e ficava observando pessoas que nãopareciam ter nada, absolutamente coerentes,mas que só estavam estáveis por causa dos medicamentos.Recebi muitas cartas deesquizofrênicos quando estava fazendo a novela,mas uma me comoveu especialmente. Erade uma mãe que dizia: Nossa filha éesquizofrênica. Ela sabe quando vem a crise,avisa e nós lhe damos remédio. Ela agora voltoua estudar e tem namorado. Graças a suaValquíria. Rosamaria, a vida inteira nós vamosser agradecidos a você. Eu tenho essa carta atéhoje e tenho muito orgulho de ter conseguidopassar uma mensagem tão bacana quanto essa.Anos depois, quis mostrar para as mulheresseparadas, que era meu caso também, que haviavida após a separação e não fui entendida.Engraçado, né?111


112As novelas do Sílvio de Abreu foram um marcona minha carreira, porque comecei a fazer comédiana televisão, a colocar o meu lado molequenas personagens. Adorei fazer Jogo da Vidae Cambalacho. Deixei de fazer Sassaricando,nunca soube bem o porquê. Dizem que ela haviaescrito um papel para mim, queprotagonizaria ao lado da Irene Ravache e daEva Wilma, mas não sei por quais influênciasacabou com a Tônia Carrero. Não foi bom paramim, acho que foi uma grande derrocada. Edizem, à boca pequena, que ele ficou bemarrependido.Em Jogo da Vida, com Mauro Mendonça e Carlos Vereza


Em Cambalacho113Mas bem feito! Escreveu para mim e deu paraoutra! Anos depois, em A Próxima Vítima, oSílvio foi muito honesto, me ligou, perguntouse eu estava vendo a novela e me disse: Escrevium papel para a Fernanda Montenegro, elanão pode fazer, você topa? Claro que topei,especialmente quando ele me garantiu queera uma boa personagem. E era mesmo. E foium sucesso danado. As mulheres adoraram.O homem pode dar tudo para a mulher: jóia,


Em A Próxima Vítima114apartamento, carro, viagem. A mulher paga umjantar e sempre vai haver alguém pra dizer queela está pagando o homem. Romana Ferretodizia assim: Eu gosto de dinheiro, porque pagatudo, até amor verdadeiro. Olha que cinismo!Entrei na novela com o Alexandre Borges, queera o meu amante, mas ela dizia que era filhoadotivo, só para irritar as irmãs. Um luxo! Nasemana seguinte, o Jorge Fernando chegou noestúdio e na frente de todo mundo avisou quea novela havia subido de audiência depois daentrada de Romana. Outro dia, vi na Revista da


TV, do jornal O Globo uma reportagem sobregente que aumenta a audiência de novela e nãolembraram disso. Isso me chateia pra burro, porqueé a minha história.Fiquei muito mal na Globo quando não entreino elenco de Sassaricando. Certamente ficariabem se tivesse feito junto com Irene Ravache eEva Wilma. Olha a posição delas atualmente.Não tenho problema de dizer. Na verdade, aquilofoi uma coisa que me derrubou na Globo. Aí aManchete me convidou e fui para lá fazerKananga do Japão, em que vivia Josephine, umafrancesa divertidíssima. Eu havia aprendido commeu irmão como falar como uma francesa, quenão é simplesmente carregar nos erres, mas tentarencontrar a musicalidade da língua. A própriacolônia francesa reconheceu o meu trabalhoe muita gente nem acreditava que eu fossebrasileira. Depois entrei em Pantanal e nela existeuma das cenas que mais me orgulho de terfeito. Foi dirigida pelo Carlos Magalhães e minhapersonagem, Zuleica, chorava a morte dofilho. Até hoje me arrepio só de pensar.115


116O Arthur da Távola escreveu uma crônica linda!Outra cena que considero primorosa foidirigida pelo Daniel Filho em Pecado Capital.Nossa, como gosto dele como diretor, apesardas nossas brigas. Cheguei para gravar e eleme propôs gravar uma vez só, uma cena emque eu, na prisão, conversava com Mário Lago.Daniel mandou que me tirassem a maquiagem,despenteassem o meu cabelo e me colocassemuma roupa bem feia. Entrei no estúdio e elebrigou: Eu não falei que não queria aRosamaria elegante?. O figurinista respondeude pronto: Eu botei uma calça e uma blusabobas, mas o que posso fazer se ela veste bem.Depois que eles se entenderam gravamos acena, de prima, com uma emoção que jamaisvou esquecer.Eu aprendi no TBC – sempre o teatro ensinando...– que é bom trabalhar com muitos diretores,porque se pode assimilar o melhor de cada umdeles. No TBC havia uma fila querendo trabalharcom a Cacilda Becker e tenho certeza que elaaprendia um pouco com cada um.


Sigo o seu exemplo. Gostei de trabalhar com oWolf Maya, apesar do nosso mal-entendido;amo o Jorge Fernando, que tem um pique excepcionale é muito, muito mesmo, amoroso.Recentemente tive a oportunidade de trabalharcom o José Alvarenga. Ele dirige ator, sabeo que quer, não é estressado. Isso sem falar domeu filho Mauro Mendonça Filho, que adorotrabalhar, embora só tenha feito duas coisasjunto com ele.Com o filho Mauro Mendonça Jr. na minissérie Memorial deMaria Moura117


118Maurinho tem uma forma especial de dirigir, sepreocupa muito com o trabalho de ator e é extremamentecoerente. Não abre mão de suasidéias, daquilo que pensa sobre o trabalho e paraisso estuda antes à exaustão. Chega ao estúdiopronto, com tudo pensado, o que dá muita segurançapara o ator. Nunca me senti intimidadaem trabalhar com ele, pois estou na carreira hámuito tempo e sou da geração que sempre acreditouque o diretor tem a última palavra. Eu respeitoo diretor. A gente pode até brigar comele, mas com todo o respeito. A última palavra,sendo filho ou não, é sempre do diretor.Digamos que na televisão fiz bons e maustrabalhos. Trabalhei com diretores que amei; ecom outros que nem tanto. Fui ingênua em nãoperceber, em alguns momentos, que estavasendo passada para trás. Tenho muito orgulho,porém, de dizer que conquistei o meu lugaratravés do trabalho. Não porque o meu maridoera influente, não porque fui para cama comalguém, não porque namorei alguém que medeu alguma coisa, nem por ser amiguinha de


autor ou diretor. Nada disso. A minha carreirafoi feita com o meu trabalho. E é uma carreirasólida. Hoje os papéis são mais escassos, mas issoé natural. Um fenômeno mundial! As atrizes ficammais velhas, e as mães estão cada vez maisnovas. A tela tem um compromisso com ajuventude e a beleza. No teatro a linguagem émais libertária.E mais do que tudo, jamais pisei em alguém parasubir. Gosto de colocar a cabeça no travesseiroe roncar até o dia seguinte.119


Capítulo VA Pequena Experiência no CinemaFiz dois filmes em que entrei muda e saí calada.Nem me lembro deles. Só sei que participei, porqueestão no meu currículo. O primeiro filmeque participei do elenco foi uma co-produçãoentre Brasil e Alemanha chamada Estrada daVida, de 1960, que está na lista daqueles queforam esquecidos. Depois, O Vigilante Rodoviário.Aconteceu uma coisa engraçadíssima. Estavano Oficina ensaiando e o José Celso me avisouque eu era candidata ao prêmio Saci demelhor atriz de cinema. Mas como se nunca fiznada no cinema? – queria saber. Só aí fiqueisabendo que haviam feito um filme para o cinemacom os melhores episódios do seriado, produzidooriginalmente para a televisão. Fiquei conhecidana época como a atriz candidata ao prêmioque jamais havia feito um longa. O filmepassou em um cinema da Rua Augusta e fui delencinho na cabeça, óculos escuros e me senteina última fila, bem escondida. Eu já havia visto121


122muitos atores serem vaiados ao final dos filmes,quando eram apresentados, e precisavam sairde fininho pela porta dos fundos. Graças a Deusnão aconteceu quando fui ver O Vigilante Rodoviário,mas bem que me preveni. Saiu umacrítica maravilhosa do Ignácio de LoyolaBrandão em que ele dizia que eu meapresentava com naturalidade, falava bem eera bonita, magra e elegante. Olha que estavagrávida de dois meses do João Paulo! Elefinalizava prevendo que eu teria uma longacarreira no cinema. Nunca mais fiz um filme.Consta do meu currículo Uma Longa Noite dePrazer, que eu não tenho a mais vagarecordação. Devo ter entrado de biquíni emuda. Um dia encontrei com o Ignácio deLoyola no avião, sentei do lado dele e disseque só não rogava uma praga nele, porqueestávamos viajando juntos, mas que depoisque ele havia falado maravilhas de mim nuncamais havia sido convidada para nada.O meu primeiro filme de verdade, considero 1 ode Abril – Brasil, dirigido pela Maria Letícia. Eu já


havia feito com ela a peça da Leilah Assumpçãoque originou o filme – Vejo um Vulto na Janela,me Acudam que Sou Donzela – e fui convidadapara a produção. Quando fui fazer o filme, pergunteipara Imara Reis como a gente se portavadiante das câmeras, porque não fazia idéia.Cuidado porque na tela grande, se abrir umpouquinho o olho, abre demais. Não é como televisão,nem como teatro. Você tome cuidado.Seja bem parcimoniosa com tudo. E ganhei oKikito de Ouro no Festival de Gramado de 1989.Devo um pouco a Imara, com certeza. Prêmio ébom porque é um incentivo para que o atortrabalhe com mais vontade e massageia o ego.Todo mundo falou maravilhas de mim. E nuncamais me convidaram para fazer nada. Fiz apenasuma participação afetiva no filme Natal daPortela, o que repeti recentemente em um filmede Renato Aragão.123


Com Monah Delacy, em Vejo um Vulto...124Cenas de Vejo um Vulto..., com Ciça Guimarães, Maria Letícia,Melise Maia, Dilma Lóis e Ana de Fátima


Com Ida Gomes e Maria Letícia em 1 o de Abril – Brasil125Em cena de 1 o de Abril – Brasil e, abaixo, recebendo o Kikitode Melhor Atriz pelo filme


126Não é cheia de altos e baixos a minha vida nocinema? Neste ano fiquei especialmente tristeporque gostaria muito de ter feito o filmeQuerido Estranho, baseado na peça IntensaMagia, de Maria Adelaide Amaral, que fiz nãosomente no Rio como em São Paulo. O Mauroganhou o prêmio de melhor ator nas duas temporadas.Desde aquela época falávamos de fazero filme, queríamos levar a história para ocinema. Um dia o Ricardo Pinto e Silva telefonapara o nosso empresário, dizendo que ia dirigiro filme e mandou o texto para cá. Não era umroteiro de cinema, mas exatamente a peça daMaria Adelaide. Eu sabia muito bem, porque fizo espetáculo durante um ano, mas tudo bem,nos garantiram que iria ser mudado. Ele queriao Mauro por quatro semanas seguidas e ele nãopodia, pois precisava fazer uma minissérie portrês dias. O Ricardo foi categórico: Se o Mauronão fizer, diz para a Rosamaria Murtinho queeu também não a quero. Fiquei bastantehumilhada. Achei uma falta de respeito de umdiretor que está apenas começando – se fosseveterano não faria isso, tenho certeza.


Mandei dizer para ele que eu é que não queriafazer se o Mauro não fizesse. Bem desaforadamesmo! Não pude suportar a arrogância e odesconhecimento da minha história, da minhacarreira, que jamais foi atrelada à do Mauro. Ofilme atrasou, nosso empresário comunicou queo Mauro já tinha as quatro semanas livres, masele respondeu que não ia mesmo fazer com agente. Hoje li no jornal sobre a estréia do filme ea mágoa voltou e não quero esconder que gostariademais de ter participado deste projeto, que erameu também, e me senti muito desrespeitada,até porque o patrocínio foi conseguido com nossosnomes encabeçando o elenco.127Fui também cortada do elenco de O MeninoMaluquinho, uma Aventura, por uma bobagem,um mal-entendido. Participei da primeirareunião, dei a minha opinião sobre o roteiro –porque pediram – e fui mal-interpretada. A filhado Ziraldo, Fabrizia Pinto, que dirigia o filme,achou, talvez, que eu não estivesse muitointeressada e quando cheguei em casa havia umrecado dela dizendo que eu não estava mais no


128filme. A minha neta ficou desapontadíssima,porque estava adorando a idéia que eu seria aavó do Menino Maluquinho e já havia contadopara todos os seus amiguinhos. No mesmo diarecebi uma ligação do outro diretor do filme,me pedindo desculpas, gentilíssimo. Sabe quemera ele? Fernando Meirelles, hoje premiadíssimocom Cidade de Deus. Ele não sabe o quanto aatitude dele foi importante para mim. Um diavou encontrar com ele e dizer: Você tem sucessoporque tem talento e porque é um ser humanoexcepcional.Minha maior vaidade é saber que trato as pessoascom consideração. E gosto que me tratemtambém. O cinema ainda está me devendo maisoportunidades.


Capítulo VIRosa GuerreiraNos anos de chumbo participei de muitas passeatas,pois tínhamos um inimigo: a ditadura. Duasnovelas em que participava, por exemplo, foramcensuradas: Despedida de Casado, do WalterGeorge Durst, e Roque Santeiro, de Dias Gomes.Jamais, porém, me filiei a partidos políticos ousubi em palanques. E digamos que, assim comoa carreira, a minha atuação como sindicalistacomeçou por acaso.129Com Cláudio Marzo, em Despedida de Casado


Em 1993 me convidaram para fazer uma chapa.O sindicato havia tido uma grande visibilidadena gestão do Otávio Augusto, quandoaconteceu a regulamentação da profissão, masestava em um momento em que as pessoas estavamconfiando pouco e precisava uma mudançade estilo, de atuação. Quando recebi o convite,estava fazendo só teatro, os filhos já estavamcriados, e achei que seria importante participare fazer alguma coisa pela categoria.130Na minha opinião, as pessoas entram no sindicatoem busca de um trampolim político. Funcionaassim no Brasil inteiro. Era assim quandoentrei e voltou a ser depois que saí. Aliás, mepreocupa muito que o atual governo estejacheio de sindicalistas, porque a metade deles éuma corja. Posso angariar muita antipatia pordizer isso, mas é a verdade.Nos quatro anos que estive no Sindicato jamaispensei em ter um ganho para mim, em criar umaimagem para depois concorrer a vereadora, porexemplo. Minha luta sempre foi a favor da


categoria. Se você não tem um projeto político,não é safada, não quer fazer uma plataforma,não quer fazer um ganho, é preciso ter uma dosede idealismo enorme. E como cansa, porque emvolta de você gravitam pessoas que têm objetivostotalmente diferentes do seu.É um cotidiano barra-pesada em que vocêprecisa fiscalizar tudo. Mais do que presidente,era um fiscal das contas de tudo. Se deixasse deir um dia, acontecia uma confusão. Arrumeimuitos inimigos, é claro, mas morro de rir comisso. Com meus colegas de profissão não tiveproblemas. Muita gente que brilha hoje teve asua carteira assinada por mim. Enfrentei, porém,o medo e a covardia de alguns. Ator adora subirem palanque para defender os direitos domestre soldador, do torneiro mecânico, dometalúrgico do ABC, mas se você organizar umamanifestação da categoria para exigir melhorescondições, não aparece ninguém. Fiz um eventobonito no Hotel Glória, durante a minha gestão,para a criação de um código de ética para acategoria, com palestras do Geraldo Carneiro,131


do Lula Vieira, entre tantos outros tão importantesquanto. Apareceram 10 atores!132Ator tem um certo problema em ganhar dinheiro.Parece que são vítimas dele. Para elesé tão bom representar que nem precisa reivindicaralguma coisa com relação a seu trabalho.Talvez por vaidade, acham que pegamal. Deixam para o Sindicato a função de brigar,mas não comparecem às reuniões. Possodizer isso porque enquanto fui presidente dosindicato, muito poucos atores de nomeprestigiavam. Uma vez um ator bem famosome ligou reclamando que todos estavam trabalhandomuito, ficando depois da hora. Converseicom o presidente do Sindicato dos Radialistas,a quem a produção na televisão é ligadae conseguiu-se que diminuíssem a cargahorária. Ficou um caos, não conseguiam fecharos capítulos e esse mesmo ator me ligou pedindopara que eu interferisse, fizesse algumacoisa. Complicado, não?Digamos que para os atores é mais fácil brigarpelos outros. E político adora artista, claro,


porque sobe no palanque. O próprio PT, que estáagora no poder, gosta de artistas, mas não gostade arte. Querem mexer na Lei Rouanet, quefoi muito bem pensada e é baseada em um tripéinteligente, para que ninguém que faça artedeixe de ser aquinhoado, através do mecenato,do FICART ou do Fundo Nacional de Cultura. Adesculpa que o José Genoíno deu para os estudosde mudança da lei, é que só os grupos teatraisdo Sul ganham dinheiro. Se ele ou outrapessoa ligada ao Governo se dessem ao trabalhode ler uma revista editada em São Paulo,chamada Off, saberiam que entre as 86 peçasem cartaz na capital paulista, somente 34 sãoencabeçadas por atores conhecidos. Artistasmenos conhecidos podem conseguir patrocínioe usar a lei do mecenato. E através do FundoNacional de Cultura, o boi de Parintins, a bandade pífanos de Caruaru, o grupo teatral dointerior da Paraíba podem conseguir verba paraos seus trabalhos. Mas o governo parece nãosaber disso. Nosso presidente está preocupadocom outra coisa, com discursos, com a falta deheróis no País – alguém precisa falar com ele133


sobre Tiradentes, que lutou pela democracia eliberdade e que, sem ele, jamais um torneiromecânico iria se tornar presidente.134Durante os quatro anos em que estive à frentedo Sindicato, pensei muitas vezes em jogara toalha. Só pensei, porque estava absolutamenteapaixonada pela idéia de fazer algumacoisa pela categoria. Eu sonhava com todos osatores se sindicalizando. Uma vez estava emMiami e vi uma filmagem. De repente paroutudo. Perguntei o porquê e me explicaram queo Sindicato havia mandado. Eu babei... O Sindicatoresolve e ninguém discute. Não conseguiisso, claro, mas tivemos grandes ganhos: a lei dodireito autoral foi sancionada na minha gestão epermitiu que os atores passassem a receber cadavez que a obra fosse exibida (anteriormente sóos autores recebiam); conseguimos democratizaro merchandising, fazendo com que todos osatores envolvidos na cena recebessem e nãosomente o ator principal; asseguramos ocumprimento da jornada de trabalho; conquistamoso direito do ator envolvido em novelas


fazer cinema ou teatro ao mesmo tempo, semser discriminado; criamos um jornal dacategoria, o Luz de Serviço (que acabou,criaram outro igualzinho, mas mudaram onome, claro!, olha a política interferindo); enfim,acho que o Sindicato continuou o processode ser respeitado como órgão da categoria,que havia sido iniciado na gestão do OtávioAugusto, embora pouco freqüentado. No meumandato também deixei claro que a categorianão estava contra os patrões. Não queríamosmedidas que prejudicassem os artistas, mas nãoqueríamos também prejudicar os patrões.Como diz a Leilah Assumpção, pode ser colega,mas depois do Sr. Marx, assinou carteiravirou filho da puta. Na minha gestão eu nãopensava assim. Há um meio-termo entre abaixara cabeça e aceitar tudo e não aceitar nadasó porque a empresa sugeriu. Há que ter umjogo de cintura. Um precisa do outro.135Como nunca tive projeto político não tenhocatalogadas todas as conquistas no período emque fui presidente. E nem me lembro bem, como


136sempre. Fui fazendo. Arregacei as mangas e nãofiquei reclamando das gestões anteriores. Jamaisfalei da herança maldita, porque não fazer quandose está no cargo é pura incompetência, nãoadianta culpar os outros. Briguei muito. O Sindicatoficou parceiro da OAB, participou doimpeachment do Collor, esteve com Betinho naprimeira campanha da fome, se envolveudiretamente no caso Daniela Perez, indofrontalmente contra as declarações do assassinoGuilherme de Pádua, que tentou se tornar umcomentarista da vida dos atores de televisão,para desviar a atenção do seu crime.Já me pediram para voltar, mas... Hoje em dianão sou nem sindicalizada, porque não concordocom o que acontece lá. E me irrito por ter quepagar um dia para o sindicato, mesmo não sendomais filiada. Porque tenho que comparecer como dinheiro do meu trabalho para um sindicatoque não concordo e do qual não sou nemassociada? Discrepâncias. Quanto a subir empalanques, seria capaz agora se fosse para lutarcontra o voto obrigatório. Tenho três ar-


gumentos que sustentam a minha posição:primeiro, em nenhum país adiantado o voto éobrigatório; segundo: nenhum político, seja deextrema direita ou de extrema esquerda, achabom o voto facultativo. Então deve ser bompara nós, o povo. Terceiro: dizem que em timeque está ganhando não se mexe, mas este timenão está ganhando há muito tempo, entãovamos mexer.Os políticos estão cada vez mais corruptos, fazemleis que somente beneficiam a eles mesmos, etc...etc... etc... Precisamos acabar com a farradaqueles 300 picaretas que o Lula falava.Impedir que eles se multipliquem. Ganharão opovo, os sindicatos e toda a sociedade. Portanto,voto facultativo.137


138Com o marido, Mauro Mendonça, na novela O Espigão


Capítulo VIIEm FamíliaA garota de Ipanema, que ia à praia de biquíni eque começou a fazer teatro amador, sempresonhou em casar e ter filhos. Gostava denamorar, mas não tive muitos namorados. Possogarantir, porém, que os que passaram por mimficaram com a minha marca. Ai, que pretensão!Escorpião mascarado! Como não namoravaninguém da classe artística, até achava que,quando me casasse, largaria a profissão. Maurofoi o meu primeiro namorado que era ator. Ecom ele me casei.139Nós nos conhecemos no TBC, quando fui para láfazer a peça do Abílio Pereira de Almeida. No diaem que fui apresentada ao elenco, entrei pelafrente e não pela coxia. O Raul Cortez estava naplatéia e anos depois me contou que, ao me ver,pensou: O Mauro vai namorar essa garota. Nãodeu outra. Nosso primeiro beijo foi atrás docenário e quase chegamos atrasados em cena,quase perdemos a deixa.


140Namoramos uns dois anos. Ficamos noivos emum Natal, quando o Mauro colocou um anel combrilhantinhos bem pequenos – não dava, é claro,para grandes diamantes – no meu dedo. A gentenão queria aquela coisa cafona de colocaraliança na mão direita e depois trocar para aesquerda no casamento. Na festa de Natal,quando também se comemorava o aniversáriodo meu pai, disse para a minha família: Ganheiuma aliança. Fiquei noiva. Meu pai ficouamuadíssimo porque eu não tinha sido pedidaem casamento. Mauro fez então o pedidoformal da minha mão para o meu pai. Um poucode teatro, mas ficou tudo certo.Casei na igrejinha do Teatro Tablado, de noivae tudo. Dom Hélder Câmara ia fazer a cerimônia,mas na véspera – ele tinha diversoscompromissos sociais, uma pessoa muitoengajada com a política – ele telefonou avisandoque mandaria uma outra pessoa em seu lugar,mas seria ele quem estaria oficiando ocasamento. Eu fiquei logo grávida, mas perdi.Tive um aborto espontâneo. Mauro estava até


gravando, mandei a vizinha chamar. A gentemorava na Bela Vista. Depois tive o João Paulo,Rodrigo e Maurinho. Na verdade, a gente queriadois filhos, mas aí o Maurinho veio. Meu Deus,fico pensando a minha vida sem o Maurinho,sem meu caçulinha. Quando o casal éestabelecido, não fica evitando filhos sempre.Você está ali para formar uma família. Eu quisformar uma família, além de ter uma carreira.Consegui isso.Ser mãe é um deslumbramento. Se os homensparissem filhos, o mundo teria menos guerras.Nove meses a carregar aquela criança dentrode você, sentir os pontapés, ver a barriga crescer,o umbigo ficar para fora, passar creme para nãodar estria, olhar aquele rostinho quando nascee amamentar, faz com que as mulheres fiquemmais poderosas, mas também mais generosas.Se os homens tivessem estes sentimentos tãoabsolutos seriam menos belicosos, porque nãoprecisariam provar nada a ninguém. Euamamentei meus filhos até eles terem um anode idade. As pessoas diziam que eu era maluca.141


142Era a época que as multinacionais entraram comtoda a força no mercado, mostrando anúncios comcrianças gordas que tomavam leite em pó. Eupreferi seguir os conselhos da minha mãe. Dápeito, que é bom, imuniza a criança. E mesmocom os seios bem pequenos – que odiava quandoera jovem e adoro hoje, porque posso sair semsutiã e só não o faço para não ficar com osbiquinhos aparecendo, o que é meio ridículo naminha idade – tinha muito leite para dar. Nuncame preocupei se o peito ia cair ou se a minhaaparência ia mudar. É verdade que o meu médicoera moderno e não me deixou engordar mais doque 10 quilos, o que não era comum na época,em que as mulheres ganhavam 20, 30 quilos nagravidez. Eu era magrinha, tão sem gordura nocorpo, que me lembro um dia que estava deitadana cama de lado, conversando com a Ruthinéiade Moraes e não só senti o chute do João Paulo,o meu primeiro filho, como vi nitidamente opezinho dele na minha barriga. Como issopoderia ser menos importante do que todo oresto? Ah, aquele pezinho. Chorei que nem umalouca de emoção.


E eu nem era chorona. Agora estou mais idiotae adorando. E vou confessar uma coisa: deviater chorado, mesmo que forçado, em muitosmomentos da minha vida. Apelar para o chorodá um resultado... Ser frágil tem suas vantagens.Tem horas que homem não gosta especialmentede mulheres fortes. Admira, mas não gosta.Como toda mãe que trabalha fui assolada pelaculpa muitas vezes. Em especial porque era atriz,uma visão meio burguesa, como se ir para oteatro toda noite não fosse trabalho, masdiversão. Na época a gente fazia teatro de terçaa domingo, o trânsito era calmo, e eu dava jantarpara as crianças às seis e meia, colocava-os nacama às sete e meia. Saía de casa às oito echegava no teatro meia hora depois, no máximo.Achava que tudo estava maravilhoso até um diaa vizinha me dizer que bastava eu sair, que osmeninos iam para a sala jogar futebol. Elesaprontavam muito, era muita testosterona emuma casa, mas acho que fui uma mãe bastanteautoritária, e me culpo o suficiente por isso.Vamos dizer que tomei chá quando criança...143


Na minha casa havia educação, o que facilitamuito a vida em tudo. Acho que quis dar omesmo aos meus filhos. Educação de filhos, noentanto, é como estréia. Você ensaia, ensaia,ensaia, mas na hora da estréia nunca sabe o quevai dar. Hoje se olho o resultado, reconheço, quefico orgulhosa. Mas continuo me culpando peloautoritarismo.Meu Deus, mães são sempre culpadas...144Até hoje me lembro e morro de culpa de umdia que o João Paulo veio me acordar para medizer que estava com a perna machucada. Euestava tão cansada, tão cansada que nem deibola e continuei a dormir. Depois fui ver queele estava mancando, com um problema sério.Até hoje me lembro disso e um dia ele,brincando, já adulto, me fez relembrar a históriae minha culpa voltou inteira. Pára, você querme matar?Como todo filho, um deve achar que eu gostomais do outro. Ou simplesmente achar que fiz


mais para um do que para outro. Porque, semdúvida, devo ter feito algumas injustiças. E essascoisas marcam. Eu, por exemplo, sofria muitoquando criança, porque meu irmão cortava oscabelos das minhas bonecas e minha mãe diziaque ele era homem, que podia. Eu detestavaisso. Mas hoje sigo os ensinamentos da minhaquerida amiga Odete Lara, de quem ouvi váriaspalestras. Quando os filhos reclamarem dealguma coisa devemos dizer: Somos vítimas dasvítimas.Um dia a Bibi Ferreira me perguntou em umprograma: O que você quer que os seus filhossejam? Eu respondi que gostaria que eles fossemfelizes. E dei uma puxada para o meu ofício.Eles têm todo o direito de escolher o quevão querer fazer, mas a única coisa que queroé que eles tenham uma profissão tão dignaquanto a de seus pais. Nunca forçamos nada,mas eles viram o nosso exemplo, de como acarreira nos proporcionou vitórias e independênciae também se envolveram com a arte.João Paulo é músico; Rodrigo é ator e músico e145


Mauro é diretor. Eles nos deram quatro netos.Vitória, de 16 anos, é filha do Maurinho, e a Sofiaacabou de nascer; Ana Luiza, de dois anos emeio, é filha do Rodrigo; do João Paulo, PedroLucas, de oito meses.Ser avó é maravilhoso, mas não é melhor do queter filho de jeito algum. Amo meus netos, masparir é um deslumbramento incomparável!146Minha relação com o Mauro é baseada naadmiração. Nós admiramos o caráter do outroe sabemos as fraquezas, as deficiências. Essatransparência sempre foi o motor da nossarelação e até da nossa separação. Ficamoscasados quase 25 anos, nos separamos mesesantes das minhas Bodas de Prata – e não perdôoo Mauro por isso, mulher adora esta data –ficamos nove anos afastados, nenhum dos doisse casou de novo, embora não tenham faltadooportunidades. E reatamos. Sempre me pedirammuitas entrevistas, mas não falamos nem naépoca da separação, nem da volta. Não suportover as pessoas falando as coisas mais íntimas –


como perderam a virgindade, como se sentemna cama – nas páginas das revistas. Eu me recusoa ser pasto para voyeurismo. Nunca quis e nãovou querer ser nunca. Se isso me prejudicar naminha vida e carreira, azar. Não fui educada praisso, acho que é ridículo. Muita gente nem sabeque eu e o Mauro voltamos e não importamesmo a ninguém, só a nós dois, à nossa família.Já fizeram muitas fofocas a nosso respeito.Muita gente não perdoa uma pessoa bemcasada e que forma uma família e tem umacarreira. A inveja é corrosiva. Não tem coisa piorque a corrosão, porque vai te comendo. E comoo rosto é o espelho da alma, se isso te corrói pordentro na cara vai aparecer. Por isso falo omenos possível sobre a nossa relação.147E vou parar por aqui também.


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Capítulo VIIIPara terminar, o Questionário Proust- Qual sua concepção de perfeita felicidade?Eu e as pessoas que amo estarem bem, felizes.- Qual seu maior medo?De morrer.- Com qual figura histórica mais se identifica?Chiquinha Gonzaga, desde que li o livro daEdinha Diniz fiquei encantada com a vida daprimeira maestrina e depois pude interpretá-la.- Isaurinha Garcia é uma figura histórica?É... Também me identifico com ela. Identificomecom essas duas mulheres audaciosas comoeu. Porque, na pior das hipóteses, audácia émelhor que a frustração.- Que pessoa (ainda viva) você mais admira?Aquele que irá descobrir a cura da AIDS.- O que você menos gosta em sua aparência?Meu quadril, sou do tipo violão, na minhajuventude era considerada gostosa, emboramagrinha, mas gostaria de ser reta, como estána moda agora.149


150- Qual a sua característica mais marcante?Ser amiga dos meus amigos. Leal às minhasamizades.- Qual a sua característica mais deplorável?A agressividade, que agora estou tentandocanalizar para o bem.- Em que tipo de ocasião você mente?Sou do bloco da transparência e da sinceridade.Só cometo pequenas mentiras sociais, porquenem sempre as pessoas querem a verdade,adoram o me “engana que eu gosto”. Mesmoassim minto a contragosto.- Qual seu maior arrependimento?Não ter começado a fazer musicais no princípioda minha carreira e só tê-los descoberto agora.- Que culpas, a seu, ver, requerem maisindulgência?As culpas das mães! Perdoem sempre as culpasdas mães.- E menos indulgência?A maledicência.- Qual seu escritor favorito?Durante a minha vida, tive muitos favoritos:Stendhal, Gabriel Garcia Márquez, Fernando


Sabino, Graciliano Ramos, José Lins do Rêgo...nossa, tantos! Agora estou numa fase maisvoyeurística, lendo biografias.- Qual é a sua ocupação favorita?Com certeza, ler. Livro, jornal, revista. Nuncadormi sem antes ler pelo menos uma página.- Quem é seu herói na vida real?Todas as pessoas coerentes, que não abandonamsuas ideologias.- Qual é o seu herói de ficção favorito?O Super-homem.- Qual é a sua maior extravagância?Jóias... comprar jóias. Eu confesso e assino.- Qual é a sua viagem dos sonhos?Com toda a minha família: filhos, mulheres,namoradas e netos. Fomos uma vez todos juntospara Nova York e foi o máximo.- Qual a qualidade que você mais admira emum homem?Não ser mentiroso, já é bom. A maior qualidadeé quando ele consegue deixar de ser machão eresolve ser homem.- Qual a qualidade que você mais admira emuma mulher?A amorosidade e a maternidade.151


152- Qual a característica que mais deplora nos outros?Falta de consideração. Gente que trata malporteiro, garçom me tira do sério.- Qual a frase ou palavra que você mais usa?Nossa, como é difícil falar de si mesma! Duaspalavras eu nunca esqueço, por maistemperamento que tenha: por favor e muitoobrigada.- Qual o seu palavrão predileto?Eu não digo palavrão quase nunca, não porpreconceito, mas por falta de hábito. De vez emquando, porém, um “puta que pariu” vai bem.- Quando e onde você foi mais feliz?No nascimento dos meus filhos.- Qual é seu pertence mais precioso?Meu escapulário.- Onde e como você gostaria de viver?Aqui está bom!- A reforma política que mais ambicionaria?A não-obrigatoriedade do voto.- O que você acha mais valioso nos seus amigos?O fato deles me conhecerem bem e admiraremo meu caráter.


- Se pudesse nascer de novo como você seria?Com 1,80 m e com quadril mais estreito. Eu vivodizendo que tenho 1,68 m, mas não é verdade:tenho 1,65.- Se pudesse voltar à vida como outra pessoa,quem seria?Não importa, mas seria definitivamente mulher.- Que profissão que não fosse a que tem gostariade ter exercido?Bailarina, claro!- Que profissão jamais exerceria?Medicina.- Qual é o seu lema?Eu sou forte para triunfar. Nem os obstáculos,nem o medo podem me afetar.- O que ou quem é o maior amor de sua vida?Meus filhos, mas estou trabalhando muito paraser eu mesma o maior amor da minha vida.- Como você gostaria de morrer?Que coisa chata falar sobre isso! Não sei sepreferia na cama, em um infarto fulminante,sei lá. Nenhuma forma de morrer pode ser boa!Só não quero dar trabalho a ninguém.153


- E com que palavras gostaria de ser recebidano Paraíso?Que bom que você chegou!154


CARREIRATEATROCia. Silveira Sampaio. Reginaldo, Costureiro. Deu Freud Contra. Da Necessidade de Ser Polígamo. Flagrantes do Rio. Sua Excelência em 26 Poses. Um Homem Magro Entra em CenaTodas escritas e dirigidas por Silveira Sampaio. Virtude e Circunstânciade Clô Prado, direção Silveira Sampaio155Cia. Maria Della Costa – Teatro Popular de Arte. Moral em Concordata, de Abílio Pereira deAlmeida, direção Flamínio Bollini Cerri. A Rosa Tatuada, de Tennessee Williams, direçãoFlamínio Bollini Cerri. O Canto da Cotovia, de Jean Anouilh, direçãoGianni Ratto


Em Moral em Concordata, com Maria Della Costa, Luiz Tito,Edmundo Lopes, Felipe Carone e Odete Lara156TBC. Rua São Luiz 27, 8º, de Abílio Pereira deAlmeida, direção de Alberto D´Aversa. Dama de Copas, de Abílio Pereira de AlmeidaStudio 53. Homo Copacabanensis, de Antonio Callado. Palavras Trocadas, de Alfredo Mesquita. Bonito como um Deus, de Millôr Fernandes. Exposição 1935, de Maria Inês Barros deAlmeida. Antoinette ou a Volta do Marquês, de TristanBernard


. Pura Ilusão, de Maria Luiz do Amaral Peixoto. As Gaivotas, de Millôr Fernandes. A Colina das Sete Minas, de Nathan Shalam,Todas com direção de Carlos MurtinhoCompanhia Brasileira de Comédia. Código Penal, de Abílio Pereira de Almeida. Mulheres do Crepúsculo, de Sylvia RaymanCom direção de Haydée BittencourtCia. Nydia Licia. Guerras de Alecrim, de Antônio José. O Judeu, direção de Milton Barcarelli. O Tempo e os Conways, de J. B Priestley, direçãode Alberto D´Aversa157Oficina. A Engrenagem, de Jean Paul Sartre, direção deAugusto Boal. Quatro num Quarto, de Valentim Kataiev, direçãode Maurice Vaneau. Pequenos Burgueses, de Máximo Gorki, direçãode José Celso Martinez Corrêa


Em Quatro num Quarto, com Renato Borghi, Miriam Mehlere Ronaldo Daniel158Outras produções:. Lisistrata, de Aristófanes, com tradução deMillôr Fernandes, direção de Maurice Vaneau. A Infidelidade ao Alcance de Todos, de LauroCésar Muniz, direção de Walter Avancini. O Preço, de Arthur Miller, direção de Luís deLima. Marido, Matriz & Filial, de Sérgio Jockyman,direção de Antonio Gighoneto. A Venerável Madame Goneau, escrita e dirigidapor João Bethencourt. A Fila, de Israel Orowitz, direção de CarlosMurtinho


. Feira do Adultério, de Bráulio Pedroso, PauloPontes, Armando Costa, João Bethencourt,Ziraldo e Jô Soares, direção geral de MauroMendonça. Aracelli, de Marcílio Moraes, direção de CarlosMurtinho. Tiro ao Alvo, de Flávio Márcio, direção de PedroCamargo. Vejo um Vulto na Janela, me Acudam que EuSou Donzela, de Leilah Assumpção, direção deEmiliano Queiroz e Glorinha Beuntmuller.. Retrato de Corpo Inteiro, de Regiana Antonini. Direita Volver, de Lauro César Muniz, direçãode Roberto FrotaEm Um Retrato de Corpo Inteiro159


160. A Partilha, escrita e dirigida por MiguelFalabella. Intensa Magia, de Maria Adelaide Amaral, direçãode Paulo César Saraceni, Rio de Janeiro, eSilney Siqueira, São Paulo. Ô Abre-Alas, de Maria Adelaide Amaral, direçãode Charles Möeller e Cláudio Botelho. Letti e Lotte, de Peter Shaeffer, direção de BibiFerreira. Personalíssima, de Julio Fisher, direção deJaqueline Laurence. O Que é que eu Faço com o Pernil?, de ReginaHelena Paiva Ramos, direção de JaquelineLaurenceTELEVISÃO. Chocolate com PimentaTV Globo, 2003 – MargotDe: Walcyr Carrasco – Colaboração: ThelmaGuedes – Direção: Fabrício Mamberti, FredericoMayrink, Jorge Fernando – Direção Geral: FabrícioMamberti – Direção de Núcleo: JorgeFernando


Elenco: Mariana Ximenes, Murilo Benício, AryFontoura, Elizabeth Savalla, Laura Cardoso,Drica Moraes, Marcelo NovaesSinopse: Ana Francisca se apaixona por Danilo,de quem engravida, mas acaba casando com odono da fábrica de chocolate. A partir daí suadisputa com a cunhada Jezebel torna-se incessante.Margot é a dona do pequeno hotel dacidade.. Estrela-GuiaTV Globo, 2001 – Carlota SallesDe: Ana Maria Moretzsohn – Colaboração:Fernando Rebello, Daisy Chaves, Isabel de Oliveira,Patrícia Moretzsohn – Direção: UlissesCruz e Maria de Médicis – Direção Geral: CarlosAraújo e Denise SaraceniElenco: Sandy, Guilherme Fontes, CarolinaFerraz, Rodrigo Santoro, Sérgio Mamberti, LíliaCabral, Floriano PeixotoSinopse: Cristal é uma adolescente nascida e criadana comunidade alternativa Arco da Aliança,na Fazenda Jagatah, em Goiás, que se apaixonapelo seu padrinho e tutor, o empresário161


Tony, noivo da fútil Vanessa. Carlota, a mãe deTony, não se conforma com o namoro.162. Vila MadalenaTV Globo, 1999 – MargotDe: Walter Negrão, Ângela Carneiro, ElizabethJhin, Júlio Fischer – Colaboração: Thelma Guedes– Direção: Fabrício Mamberti, Marcus Alvisi –Direção Geral: Roberto Naar – Direção deNúcleo: Jorge FernandoElenco: Cristiana Oliveira, Edson Celulari, YonáMagalhães, Marcos Winter, Marcelo Faria, AryFontoura, Maitê ProençaSinopse: Solano e Roberto se conhecem na penitenciária.Quando sai, Solano procura a noivade Roberto, Pilar, e por ela se apaixona. Na VilaMadalena mora a família de Pilar: sua mãeBibiana, uma artista plástica, e sua tia Margot,uma solteirona que tem uma loja de produtosesotéricos.. Chiquinha GonzagaTV Globo, 1999 – Princesa IsabelMinissérie de Lauro César Muniz, escrita com


Com Mário Gomes e Luíza Tomé, em Vila MadalenaMarcílio Moraes – Direção: Jayme Monjardim,Marcelo Travesso e Luiz Armando Queiroz – Direção-Geral:Jayme MonjardimElenco: Regina Duarte, Gabriela Duarte, CarlosAlberto Riccelli, Suzana Vieira, Daniele Winitz,Caio Blat, Paulo BettiSinopse: A vida da compositora ChiquinhaGonzaga, que escandalizou a sociedade cariocano final do século XIX.163. Corpo DouradoTV Globo, 1998 – IsabelDe: Antônio Calmon – Colaboração: Ângela Car-


164neiro, Eliane Garcia, Flávia Lins e Silva, LilianGarcia – Colaboração: Alberto Goldin – Direção:Edson Spinello, Fábio Junqueira, FlávioColatrello, Flávio Galvão, Marcos Schechtman –Direção Geral: Flávio Colatrello, MarcosSchechtmanElenco: Cristiana Oliveira, Marcos Winter,Daniele Winitz, Humberto Martins, Fábio Jr.,Maria Luiza Mendonça, Carlos VerezaSinopse: Arturzinho é um playboy que sofrepressões do pai, Zé Paulo, para se casar comSelena para livrar da falência os negócios dafamília. Ele, porém, é namorado de Alicinha.Selena também é apaixonada pelo delegadoChico, que já é casado com a voluntariosaAmanda.. As Pupilas do Senhor ReitorSBT, 1995 – RessurreiçãoDe: Lauro César Muniz, baseada no romance deJúlio Diniz – Escrita por Bosco Brasil, IsmaelFernandes, Analy A. Pinto, Aziz Bajur e ZenoWilde – Direção: Del Rangel e Henrique Martins– Direção-Geral: Nilton Travesso


Elenco: Juca de Oliveira, Débora Bloch, LucianaBraga, Eduardo Moscovis, Tuca Andrade, DeniseDel Vecchio, Joana FommSinopse: Padre Antônio, o Senhor Reitor, assumea educação de duas jovens órfãs, Clara eGuida, na pequena aldeia de Póvoa de Varzim,na região do Minho em Portugal.. Salsa e MerengueTV Globo, 1996 – como BárbaraDe: Miguel Falabella e Maria Carmem BarbosaColaboração: Jane Santos – Direção: LucianoSabino, Maurício Farias, Wolf Maya, Cininha dePaula – Direção Geral: Wolf MayaElenco: Marcos Palmeira, Patrícia França, MarceloAnthony, Débora Bloch, Diogo Vilella, ArleteSallesSinopse: Dois mundos se encontram, quando orico Eugênio procura a sua verdadeira família eprecisa que seu pobre irmão Valentim seja doadorpara um transplante de medula. Os dois seapaixonam pela mesma mulher, Madalena.165


166. A Próxima VítimaTV Globo, 1995 – Romana FerretoDe: Sílvio de Abreu – Colaboração: Alcides Nogueira,Maria Adelaide Amaral – Direção: AlexandreBoury, Jorge Fernando, Marcelo Travesso,Rogério Gomes – Direção Geral: JorgeFernandoElenco: Tony Ramos, Suzana Vieira, José Wilker,Aracy Balabanian, Lima Duarte, Paulo Betti,Yoná MagalhãesSinopse: Francesca Ferreto descobre a infidelidadedo marido Marcelo, que tem outra famíliacom Ana. Ele é executivo do frigorífico dafamília Ferreto, que sofrerá um abalo com oassassinato de Filomena. Romana é a irmã quechega depois do crime, um dos muitosda trama.. Memorial de Maria MouraTV Globo, 1994 – EufrásiaMinissérie de Jorge Furtado e Carlos GerbasseDireção: Denise Saraceni, Mauro Mendonça Filhoe Roberto Farias – Direção Artística: CarlosManga


Elenco: Glória Pires, Marcos Palmeira, CristianaOliveira, Jackson Antunes, Zezé Polessa, SebastiãoVasconcelosSinopse: A saga de uma jovem mulher que defendeas suas terras e a sua honra com todas asarmas.. O Fantasma da ÓperaTV Manchete, 1991 – AmáliaMinissérie de Geraldo Vietri, baseada na obrade Gaston Leroux – Escrita por Paulo Afonso deLima e Jael Coaracy – Supervisão: Geraldo Vietri– Direção: Del Rangel, Álvaro Fugulin e AtilioRiccóElenco: Cláudio Marzo, Carolina Ferraz, SérgioBritto, Tarcísio Filho, Edwin Luisi, Marcos CarusoSinopse: Uma sucessão de crimes acontece noTeatro Municipal do Rio de Janeiro, enquantoCristina ensaia uma ópera assinada pelo maestroAntônio, mas que na verdade é de autoriade um músico que todos consideram morto hámuitos anos.167


. PantanalTV Manchete, 1990 – ZuleicaDe: Benedito Ruy Barbosa – Direção: Carlos Magalhães,Roberto Naar, Marcelo de BarretoDireção-Geral: Jayme MonjardimElenco: Cláudio Marzo, Cristiana Oliveira, MarcosWinter, Amir Sater, Nathalia Timberg, RubensCorrêaSinopse: A saga da família Leôncio desde os anos40, quando Joventino chega ao Pantanal emMato Grosso.168. Kananga do JapãoTV Manchete, 1990 – JosephineDe: Wilson Aguiar Filho – Colaboração: LeilaMiccolis – Direção: Tizuka Yamasaki, Carlos Guimarães,Marcos Schetman e Wilson SolonElenco: Cristiane Torloni, Raul Gazzola, ElaineCristina, Giuseppe Oristânio, Tônia Carrero,Carlos Alberto, Júlia LemmertzSinopse: No Rio de Janeiro dos anos 30 todos sedivertem e namoram na pista da gafieiraKananga do Japão.


. CambalachoTV Globo, 1986 – CéciDe: Sílvio de Abreu – Direção: Jorge Fernando eDel RangelElenco: Fernanda Montenegro, GianfrancescoGuarnieri, Nathália do Valle, Suzana Vieira,Cláudio Marzo, Débora Bloch, Joana FommSinopse: Para ficar com a herança de AnteroSouza e Silva, Andréia planeja um crime perfeito.Seu dinheiro, porém, vai para uma filhadesaparecida – Leonarda Furtado, a Naná, quevive de pequenos golpes.169Com Roberto Bonfim, em Cambalacho


. Jogo do AmorSBT, 1985 – como NeideDe: Aziz Bajur – Direção: Antonino SeabraElenco: Jorge Dória, Ilka Soares, Jonas Mello,Thaís de Andrade, Kito Junqueira, Célia HelenaSinopse: Otávio faz uma negociata e cai emdesgraça. Seu inesquecível amor é Neide, comquem teve um filho.170. Vereda TropicalTV Globo, 1984 – BárbaraAutoria: Carlos Lombardi – Argumento e Supervisão:Sílvio de Abreu – Direção: Guel Arraes,Jorge FernandoElenco: Lucélia Santos, Mário Gomes, MariaZilda, Walmor Chagas, Geórgia Gomide,Gianfrancesco GuarnieriSinopse: A operária Silvana faz de tudo para ficarcom a posse do filho Zeca. O menino é disputadopelo avô, o poderoso Oliva, dono dafábrica de perfumes Vereda Tropical.


Em Vereda Tropical. Eu PrometoTV Globo, 1983 – Tarsila Serra JardimDe: Janete Clair – Colaboração: Dias Gomes eGloria Perez – Supervisão: Paulo Ubiratan –Denis Carvalho, Luís Antônio PiáElenco: Francisco Cuoco, Renée de Vielmond,Dina Sfat, Ney Latorraca, Marcos Paulo, JoanaFomm, Rogério FróesSinopse: Lucas Cantomaia se empenha em suacandidatura ao Senado Federal. Paralelamenteà sua escalada ao poder, alguns acontecimentosmodificarão a sua conduta exemplar, ao seapaixonar pela fotógrafa Kely Romani, abalandoseu casamento com Darlene.171


Com Ana Helene, em Eu Prometo172. Jogo da VidaTV Globo, 1981 – Loreta Pires de CamargoDe: Sílvio de Abreu – Argumento: Janete ClairDireção: Guel Arraes, Jorge Fernando, RobertoTalmaElenco: Glória Menezes, GianfrancescoGuarnieri, Raul Cortez, Carlos Vereza, CarlosAugusto Strazzer, Maitê ProençaSinopse: Tia Mena deixa para Jordana um milhãode dólares de herança, escondidos dentroda estátua de um cupido, mas para colocar amão na grana, ela terá que disputar com CarlitoMadureira e Loreta, uma dupla ardilosa.


. Chega MaisTV Globo, 1980 – LéaDe: Carlos Eduardo Novaes – Direção: RobertoVignati e Walter CamposElenco: Tony Ramos, Sônia Braga, Renata Sorrah,Osmar Prado, Ney Santanna, Christiane TorloniSinopse: Tom é seqüestrado no dia de seu casamento,deixando a noiva Gely esperando no altar.No entanto, o seqüestro foi todo orquestradopelo próprio noivo, interessado em recebero dinheiro do resgate, exigido à família danoiva. Tom se aproxima de Léa e Gely volta aser assediada por seu ex-noivo, Guto.Em Chega Mais173


174. Pai HeróiTV Globo, 1979 – ValquíriaDe: Janete Clair – Direção: Gonzaga Blota,Roberto Talma, Roberto VignatiElenco: Tony Ramos, Glória Menezes, ElizabethSavalla, Lélia Abramo, Beatriz Segall, Carlos ZaraSinopse: André Cajarana é um homem divididoentre duas mulheres: Ana Preta, dona dagafieira Flor de Lys, e Carina, bailarina famosa,criada no seio da família Limeira Brandão.Valkíria Limeira Brandão é a mãe de Carina, quese envolve com César.. NinaTV Globo, 1977 – ArleteDe: Walter George Durst – Direção: Fábio Sabage Walter AvanciniElenco: Antônio Fagundes, Regina Duarte, CláudioCavalcanti, Fábio Jr., Lúcia Alves, IsabelaGarcia, Marcos PauloSinopse: Nina se emprega como professora numrígido colégio onde a moral da década de 20está instalada em todos os seus conceitos.


Disputará com Arlete, filha do barão AntônioTorres Galba, o amor pelo italiano Bruno.. Pecado CapitalTV Globo, 1975 – EuniceDe: Janete Clair – Direção: Daniel FilhoElenco: Francisco Cuoco, Betty Faria, LimaDuarte, Denis Carvalho, Débora Duarte, LuizArmando QueirozSinopse: O taxista Carlão encontra no banco deseu táxi uma fortuna proveniente de um assaltoa banco. Acaba se casando com Eunice, suspeitade envolvimento no roubo e largando seugrande amor, Lucinha.175. Cuca LegalTV Globo, 1975 – KinuDe: Marcos Rey – Direção: Oswaldo LoureiroElenco: Francisco Cuoco, Françoise Forton, YonáMagalhães, Hugo Carvana, Suely FrancoSinopse: Mário Barroso é um homem divididoentre três mulheres, que moram em diferentescidades. O grande dilema de Mário é saber qualdas três pode ser a mulher que lhe daria um filhode “cuca legal”.


. EscaladaTV Globo, 1975 – ArleteDe: Lauro César Muniz – Direção: Régis CardosoElenco: Tarcísio Meira, Suzana Vieira, Renée deVielmond, Ney Latorraca, Cecil Thiré, MárioLago, Nathália TimbergSinopse: A escalada social de Antônio Dias dosanos 40 à década de 70. Rosamaria fez participaçãoem um capítulo.176. O EspigãoTV Globo, 1974 – HelgaDe: Dias Gomes – Direção: Régis CardosoElenco: Betty Faria, Milton Moares, AryFontoura, Bibi Vogel, Carlos Eduardo Dolabella,Suzana VieiraSinopse: Lauro Fontana sonha em construir omaior hotel do Brasil, o “Fontana Sky”. Mas oterreno desejado é dos irmãos Urânia, Baltazar,Marcito e Tina Camará.. CarinhosoTV Globo, 1973 – IvoneDe: Lauro César Muniz – Direção: Walter Campos


Em O Espigão177Elenco: Regina Duarte, Marcos Paulo, CláudioCavalcanti, Cláudio Marzo, Débora DuarteSinopse: A aeromoça Cecília retorna ao Riode Janeiro depois de anos morando no exteriore, mais uma vez, fica dividida entre osirmãos Humberto e Eduardo, que já a cortejavamno passado. Os rapazes são filhos dospatrões de seu pai – Felipe, o chofer da famíliaVasconcelos.


. O Primeiro AmorTV Globo, 1972 – PaulaDe: Walter Negrão – Direção: Régis CardosoElenco: Sérgio Cardoso, Leonardo Villar, AracyBalabanian, Paulo José, Flávio Migliaccio, TôniaCarrero, Nívea MariaSinopse: O professor Luciano e a governantaPaula se amam, apesar dos protestos de Babi, ageniosa filha dele, e de Maria do Carmo, umanamorada antiga.178. Os EstranhosTV Excelsior, 1969 – DionéiaDe: Ivani Ribeiro – Direção: GianfrancescoGuarnieri e Gonzaga BlotaElenco: Pelé, Regina Duarte, Carlos Zara, StênioGarcia, Cláudio Corrêa e Castro, Márcia Real,Vida AlvesSinopse: Um escritor se confronta com seres extraterrestresque vivem em um mundo de paz epretendem ajudar os humanos.. Sangue do meu SangueTV Excelsior, 1969 – Viviane


De: Vicente Sesso – Direção: Sérgio BrittoElenco: Francisco Cuoco, Nicete Bruno, ToniaCarrero, Fernanda Montenegro, ArmandoBógus, Mauro Mendonça, Rita CléosSinopse: História passada na época do SegundoReinado, que mostra a luta de um homem paraderrotar o seu algoz.179Em Sangue do Meu Sangue, com Aldo de Maio, RenatoMachado, Mauro Mendonça, Fernanda Montenegro, SérgioBritto e equipe técnica


180. A MuralhaTV Excelsior, 1968 – IsabelDe: Ivani Ribeiro, baseada no romance de DinahSilveira de Queiroz – Direção: Sérgio Britto eGonzaga BlotaElenco: Mauro Mendonça, Fernanda Montenegro,Gianfrancesco Guarnieri, Nicete Bruno,Nathália Timberg, Paulo GoulartSinopse: A família do bandeirante Dom Braz, quevive cercada pela serra que impede as incursõesem busca de novas terras, a muralha, é o pontode partida da história. Isabel é sobrinha e braçodireito dos bandeirantes, criada com os índios, comuma personalidade forte e arredia.Em A Muralha, com Paulo Goulart


. O Santo MestiçoTV Globo, 1968De: Glória Magadan – Direção: Fábio SabagElenco: Sérgio Cardoso, Ednei Giovenazzi,Germano Filho, Turíbio Ruiz, Dina Lisboa, CelsoMarques, Germano FilhoSinopse: A história de São Martim Porres, o primeirosul-americano a ser canonizado, o queaconteceu em 1962.181Em O Santo Mestiço, com Dina Lisboa


. Paixão ProibidaTV Tupi, 1967 – Maria HelenaDe: Janete Clair – Direção: Geraldo VietriElenco: Sérgio Cardoso, Miriam Mehler, Juca deOliveira, Lima Duarte, Lélia Abramo, Sadi CabralSinopse: O amor de Dorotéia e Rogério é impossibilitadopor uma delação, em uma históriaque corre paralela à trajetória de Tiradentes.182. O Anjo e o VagabundoTV Tupi, 1967 – GeniDe: Benedito Ruy Barbosa – Direção: WandaKosmoElenco: Sérgio Cardoso, Gianete Franco, AnaRosa, Lisa Negri, Rildo GonçalvesSinopse: Tininha busca seus pais verdadeiros,após descobrir que é adotada. Geni busca incessantementesua filha que desapareceu dias apóso nascimento.. Somos Todos IrmãosTV Tupi, 1966 – ValériaDe: Benedito Ruy Barbosa, baseada no romanceA Vingança do Judeu, de W. Rochester


Elenco: Sérgio Cardoso, Cacilda Lanuza, WilsonFragoso, Guy LoupSinopse: O judeu Samuel e a condessa Valériase apaixonam, mas não se casam porque as famíliasnão permitem. Alguns anos depois, casadoscom outros, terão os filhos trocados, gerandouma confusão sem-fim.. A InimigaTV Tupi, 1966 – LeonoraDe: Geraldo Vietri, baseada no original argentinode Nene Castellar – Direção: Geraldo VietriElenco: Hélio Souto, José Parisi, Maria LuizaCastelli, Juca de OliveiraSinopse: Leonora fica viúva e passa a ser disputadapelos dois irmãos do marido, ambos comprometidos.183. Eu Quero VocêTV Excelsior,1965De: Vito Martini – Direção: Wálter AvanciniElenco: Altair Lima, Ana Maria Nabuco, Wilmade Aguiar, Edgard Franco, Ivani Guimarães,Odavlas Petti


184. Ainda Resta uma EsperançaTV Excelsior, 1965De: Júlio Atlas – Direção: Waldemar de Moraese Carlos ZaraElenco: Francisco Cuoco, Maria Aparecida Alves,Astrogildo Filho, Lourdes Rocha, Lourdinha FélixSinopse: Seu nome original era As Desquitadas,mas foi vetado pela censura, assim como algunsdetalhes da história que falava de casais quebuscavam no desquite a solução para os seusproblemas conjugais. Rosamaria fazia par comCuoco.Em Ainda Resta uma Esperança, com Francisco Cuoco


. Pecado de MulherTV Excelsior, 1964De: Nene CastellarElenco: Neuza Amaral, Geraldo Del Rey, YaraLins, Carlos Zara, Hélio Souto, Márcia Real. A Moça que Veio de LongeTV Excelsior, 1964 – Maria AparecidaDe: Ivani Ribeiro, baseada no original de AbelSanta Cruz – Direção: Dionísio AzevedoElenco: Hélio Souto, Flora Geny, Lourdes Rocha,Sílvio Francisco, Neusa Amaral, Lurdinha FélixSinopse: O amor impossível entre a empregadadoméstica Maria Aparecida e Raul, o filho deseu patrão.185ANTES DAS NOVELASTeatro 63 (TV Excelsior, 1963)Teatro Nove (TV Excelsior, 1960)Teatrinho Trol (TV Tupi, 1959)Teatro Moinho de Ouro ( TV Rio, 1958)Teatro de Comédias (TV Tupi, 1957)Teatro de Comédias Piraquê (TV Tupi, 1954)


CINEMA. Didi, o Cupido TrapalhãoDireção: Paulo Aragão e Alexandre BouryElenco: Renato Aragão, Daniel, JacquelinePetkovic, Mauro Mendonça, Aramis TrindadeSinopse: Após atazanar a vida de Deus no céu,Didi é enviado à Terra como cupido, tendo amissão de unir casais e torná-los perdidamenteapaixonados.186. Os Moradores da Rua Humboldtcurta-metragem – 1992Direção: Luciano MouraElenco: Paulo José, Pedro CardosoA história de uma numerosa família onde cadaum desenvolve uma estranha ocupação.. Natal da Portela – 1988Direção e Roteiro: Paulo César SaraceniElenco: Milton Gonçalves, Grande Otelo, AdeleFátima, Zezé Motta, Maurício do Valle, MariaGladys, Toni TornadoSinopse: A trajetória de um menino humilde,


que perde o braço, e se torna poderoso bicheiroe nome do samba carioca. Rosamaria fez umaparticipação “afetiva”.. Primeiro de Abril, Brasil – 1988Direção: Maria Letícia – Roteiro: Maria Letícia,baseado em peça de Leilah AssumpçãoElenco: Tessy Callado, Ida Gomes, Maria Letícia,Emiliano Queiroz, Ricardo Blat, Chico DiazSinopse: Numa república de mulheres, vivem-seos momentos que antecedem o golpe militar de1964.187. A Longa Noite do Prazer – 1983Direção e Roteiro: Afrânio VidalElenco: Haroldo de Oliveira, Jussara Calmon,Dary Reis, Tião Macalé, Procópio MarianoSinopse: Em busca de dinheiro fácil, rapazes realizamvários assaltos e se envolvem com duasgarotas.. O Vigilante Rodoviário – 1962Direção: Ary Fernandes – Roteiro: AryFernandes, J.C. de Souza, Fábio Novaes Silva


Elenco: Carlos Miranda, Ary Fontoura, AryToledo, Turíbio Ruiz, Xandó Batista, Juca Chaves,Carlos MirandaSinopse: Pioneira série produzida para a TV, feztanto sucesso que alguns de seus episódios foramreunidos em longas-metragens lançadosdurante a década de 60 em todo o Brasil. Neste,Rosamaria vive Marisa, uma intrépida repórter.188. Estrada do Amor (Weit ist der Weg) – 1960Direção: Wolfgang Schleif – Roteiro: KurtNachmann e Carlos Alberto de Souza BarrosElenco: Freddy Quinn, Ingeborg Schöner, JanniAnneli Sauli, Edith Schultze-Westrum, LeonAskin, Panos Papadopulos, Dionísio Azevedo,Eugênio Kusnet, Antonio PitangaSinopse: Maria, professora primária, chega auma cidade do interior para lecionar em um internatode crianças.


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190Em Ainda Resta uma Esperança, com Francisco Cuoco


Crédito das fotografiascapa - ilustração sobre foto de Guerreropág. 20: Silvio Pozattopág. 21: Cláudia Ribeiropág. 32: Richard Sassopág. 46: Lúcciopág. 56: Carlos (do Rio)pág. 59: Joaquimpág. 61 / 62: Derly Marquespág. 70 / 71: Edson Gomespág. 80: Guga Melgarpág. 81: Ivan Lunapág. 102 / 103 / 138 / 169 / 181: CEDOC-TVGlobopág. 105: TV Globo-Eduardo Françapág. 112 / 114 / 163 / 171 / 172 / 173 / 177: TVGlobo-Nelson Di Ragopág. 113: TV Globo-Bazílio Calazanspág. 129: Lúcio Marreiro-Ed. Abrilpág. 154: Guerreropág. 180: J. Ferreira da Silva-Ed. Abril191

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