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GEOGRAFIA ESCOLAR - Associação Portuguesa de Geógrafos

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<strong>GEOGRAFIA</strong> <strong>ESCOLAR</strong>:ORIENTAÇÃO TEÓRICA E PRAXIS DIDÁCTICAHerculano Cachinho *As últimas décadas do século XX ficaram marcadas por profundos<strong>de</strong>bates em torno da geografia escolar. Um pouco por todo o lado, consagradasrevistas <strong>de</strong> geografia, científicas e pedagógicas, <strong>de</strong>dicaram a esta questãonúmeros especiais 1 , concorridos colóquios e seminários suce<strong>de</strong>ram-se emvários países e numerosos trabalhos, individuais ou colectivos, representativos<strong>de</strong> diferentes escolas <strong>de</strong> pensamento, procuraram dar conta dos problemase <strong>de</strong>safios que hoje se colocam à geografia no contexto da educação. Ostópicos abordados e as questões levantadas nestes fóruns foram múltiplas,mas segundo a nossa leitura, tais reflexões po<strong>de</strong>rão ser agrupadas em trêsgran<strong>de</strong>s eixos. O primeiro, reúne, no essencial, as reflexões epistemológicasem torno da questão «Que geografia ensinar?», o segundo, orientado para osproblemas metodológicos, procura dar resposta à questão «Como ensinar?»,e o terceiro, questiona o sentido, o valor formativo e as finalida<strong>de</strong>s da disciplina,ou seja, problematiza a utilida<strong>de</strong> da educação geográfica.Neste artigo iremos percorrer brevemente estes três gran<strong>de</strong>s temas <strong>de</strong>reflexão e discutir algumas questões que consi<strong>de</strong>ramos centrais para a renovaçãoconceptual e metodológica da geografia escolar preconizada pelarecente reorganização curricular, <strong>de</strong> que o Decreto-Lei 6/2001 constitui oelemento legislativo <strong>de</strong> referência. A <strong>de</strong>finição das competências gerais(transversais) e específicas <strong>de</strong> cada área disciplinar, bem como os tipos <strong>de</strong>experiências que <strong>de</strong>vem ser proporcionadas aos alunos durante a escolarida<strong>de</strong>obrigatória, exigem da geografia um outro olhar sobre o mundo e oslugares e dos professores uma efectiva reorientação das práticas pedagógicasque, até ao momento, não temos sabido promover <strong>de</strong> forma sustentável.Naturalmente, para que esta renovação ocorra muitos caminhos po<strong>de</strong>rãoser percorridos e cada professor, sem sobressaltos, <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senhar o seu pró-* Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Letras da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa1 Geocrítica (1984; 1985 e 1990); L’ Espace Géographique (1989); Bulletin <strong>de</strong> la SociétéGeographique <strong>de</strong> Liège (1992); Documents d’anàlisi geogràfica (1992); Journal ofGeography (1994); Revue <strong>de</strong> Géographie <strong>de</strong> Lyon (1994); IBER Didáctica <strong>de</strong> las CienciasSociales, Geografía e Historia (1996); Cahiers <strong>de</strong> Géographie du Québec (1999).Inforgeo, 15, Lisboa, Edições Colibri, 2000, pp. 69-90


74 Inforgeo 15 – Educação Geográficaprio itinerário apoiando-se nas perspectivas epistemológicas, nos métodos enas técnicas que julgue mais a<strong>de</strong>quadas. Num contexto <strong>de</strong> relativida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>múltiplas referências e <strong>de</strong> ausência <strong>de</strong> metanarrativas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dopercurso <strong>de</strong>finido, o que importa é que este nos conduza a bom porto e nofinal possamos dizer que a viagem realizada valeu a pena. Neste sentido, oobjectivo da nossa reflexão não po<strong>de</strong>ria ser outro que o <strong>de</strong> procurar forneceralgumas pistas sobre «como olhar para o mundo», na expectativa <strong>de</strong> que asua leitura possa marcar significativamente as práticas quotidianas dos alunos.Isto é, <strong>de</strong>senvolver algumas i<strong>de</strong>ias que, quando postas em prática, permitamaos alunos mobilizar os conhecimentos e o saber-fazer geográficos naresolução dos seus problemas e assim encontrem sentido e utilida<strong>de</strong> na geografiaescolar.Até agora temo-nos preocupado em <strong>de</strong>masia com os conteúdos e objectivosdos programas, refugiando-nos, frequentemente, na sua pretensa falta<strong>de</strong> pertinência e <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quação para justificar o <strong>de</strong>sinteresse dos alunos, equando não mesmo para explicar a crise que hoje a disciplina atravessa nomeio escolar. No entanto, embora se reconheça que a solução do problemapassa, em gran<strong>de</strong> medida, por uma maior implicação dos alunos na suaaprendizagem, na nossa opinião esta dificilmente será conseguida através daconstante actualização dos conteúdos, como as sucessivas reorganizaçõesdos programas <strong>de</strong>ixam transparecer. Se os alunos gostassem daquilo que selhes ensina o problema estaria resolvido. Nesse momento teríamos <strong>de</strong>scobertoo caminho que tanto procuramos, mas muito provavelmente ter-nos--íamos também apercebido que os conteúdos pouco importam ou queaqueles que se encontram nos programas em vigor são perfeitamenteconvenientes. Porém, não é isso que acontece ou, apesar do espírito inovadorda recente reorganização curricular e programática, na prática, se espera queaconteça sem uma real e efectiva alteração da praxis didáctica.1. Que geografia ensinar?Até ainda há bem pouco tempo a geografia praticada nas escolas não iaalém <strong>de</strong> uma diluição da geografia universitária, enciclopédica e com os conhecimentosorganizados por gavetas. 2 Este problema, associado a muitos outros,nomeadamente, a crise geral do ensino e da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> da geografia, que juntodo gran<strong>de</strong> público se afigura como uma ciência menor, <strong>de</strong> interesse limitado e,ao nível da educação, como uma disciplina fastidiosa e inútil, voltada para asimples memorização <strong>de</strong> factos sem importância, levou vários autores a repen-2 Os programas que vigoraram em Portugal até meados dos anos noventa não suscitam a esterespeito qualquer dúvida. O problema alcança mesmo a sua máxima expressão no programado 12.º Ano que, pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conteúdos abordados, indo da epistemologia e históriado pensamento geográfico à estatística, passando pela cartografia e expressão gráfica, osdiferentes mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> organização do espaço urbano e rural, a localização das activida<strong>de</strong>seconómicas, as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transportes e os problemas da difusão, po<strong>de</strong>ríamos equiparar a umamini licenciatura em geografia, e o aluno, a avaliar pelo número <strong>de</strong> objectivos gerais eespecíficos que tinha <strong>de</strong> alcançar, a um perfeito geógrafo.


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 75sar os seus atributos e finalida<strong>de</strong>s, no sentido <strong>de</strong> promover a sua renovaçãoconceptual e metodológica. É neste contexto que se inscrevem, por exemplo,os trabalhos <strong>de</strong>senvolvidos por Graves (1982); Naish (1982); Mérenne--Schoumaker (1985 e 1992); Hugonie (1989 e 1992); Souto Gonzalez (1990 e1998); Cachinho e Reis (1991); Brunet (1992); Dau<strong>de</strong>l (1992); UGI (1992);André (1992); Audigier (1993 e 1995), cujas i<strong>de</strong>ias se reflectem hoje nas maisrecentes reorganizações curriculares e programas <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong>países inseridos nos mais distintos contextos sócio-culturais.Naturalmente, dada a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> escolas geográficas, correntes <strong>de</strong>pensamento e paradigmas educativos, algumas diferenças separam as propostas<strong>de</strong> renovação apresentadas pelos vários investigadores. No entanto, existemalguns princípios que ten<strong>de</strong>m a ser transversais à maioria dos trabalhos realizados,em torno dos quais ganha forma aquilo que po<strong>de</strong>remos <strong>de</strong>signar pelonúcleo duro da geografia escolar. Entre estes <strong>de</strong>stacam-se os seguintes:Uma geografia recentrada. Existe um número quase infinito <strong>de</strong>temas, tópicos, conteúdos e técnicas que po<strong>de</strong>m ser objecto <strong>de</strong>abordagem. No entanto, importa distinguir no seio <strong>de</strong>stes os querealmente são fundamentais à educação geográfica, isto é, aquelesque, com maior eficácia, sejam capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver nos alunos acompetência <strong>de</strong> «saber pensar o espaço» para <strong>de</strong> forma conscientepo<strong>de</strong>rem agir no meio em que vivem que, dada a crescenteglobalização, cruza hoje escalas geográficas muito distintas, que vãodo bairro <strong>de</strong> residência aos mais recônditos lugares do globo. Nestaperspectiva, praticar uma geografia recentrada significa, na linha <strong>de</strong>autores como Pinchemel (1982b), Mérenne-Schoumaker (1985) eBrunet (1992), <strong>de</strong>senvolver antes <strong>de</strong> mais uma geografiamacroscópica, ancorando o seu ensino na aprendizagem dos conceitosfundamentais e nas questões-chave em que a disciplina arquitecta asua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>.In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da perspectiva que nos sirva <strong>de</strong> referência, na análisedos fenómenos sociais e ambientais, os geógrafos sempre procuraramrespon<strong>de</strong>r às questões: Que características possuem? On<strong>de</strong> selocalizam? Como se distribuem no espaço? Que factores explicam asua localização e distribuição? Que impactes produzem na socieda<strong>de</strong>?Quais são as tendências mais prováveis da sua evolução? Como actuarpara solucionar os problemas que levantam? Por sua vez, para respon<strong>de</strong>ra estas questões, a geografia serve-se <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> conceitosque, quando colocados em relação, além <strong>de</strong> conferirem cientificida<strong>de</strong>à disciplina e revelarem a verda<strong>de</strong>ira natureza do raciocínio geográfico,pelos procedimentos que implicam, <strong>de</strong>vem também nortear aeducação geográfica. A i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>stes conceitos e o grau <strong>de</strong>relevância que a cada um <strong>de</strong>ve ser atribuído, está longe <strong>de</strong> ser consensual,muito contribuindo para que tal aconteça as distintas filiaçõesepistemológicas dos investigadores. No entanto, para efeitos da edu-


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 77negligenciem os problemas e os recursos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física ou biológica.Bem pelo contrário, estes <strong>de</strong>vem ser objecto <strong>de</strong> estudo utilizando parao efeito os métodos e os conceitos próprios da geografia física e dasciências naturais. Simplesmente, estes apenas ganham sentido quandorelacionados com as necessida<strong>de</strong>s e as técnicas <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminadasocieda<strong>de</strong> (Hugonie, 1989).A geografia escolar <strong>de</strong>ve partir <strong>de</strong> uma problemática real, essencialmentepor duas razões. Em primeiro lugar, porque para educar geograficamenteas pessoas nem tudo tem <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito ou explicado. Narealida<strong>de</strong>, a gula dos conteúdos é um pecado e não uma virtu<strong>de</strong>, quasesempre prejudicial à aprendizagem efectiva. Em vez <strong>de</strong> tudo quererconhecer, <strong>de</strong>vem-se seleccionar os principais problemas querealmente se colocam às comunida<strong>de</strong>s humanas inseridas nos distintoscontextos sócio-espaciais. Estes problemas são tanto mais reais esignificativos quanto mais próximos estiverem dos alunos, maisafectarem o seu quotidiano e a socieda<strong>de</strong> em que vivem e permitiremestabelecer relações com o que se passa no espaço <strong>de</strong> outros. Emsegundo lugar, a resolução <strong>de</strong> problemas alimenta a curiosida<strong>de</strong> e oespírito <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta. É reflectindo sobre os gran<strong>de</strong>s problemassociais e ambientais que hoje afectam a humanida<strong>de</strong>, ensinando osalunos a formular perguntas e a estabelecer conjecturas e hipótesessobre os mesmos, bem como a questionar criticamente a informaçãoque sobre estes lhe é fornecida, que se promove o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>um verda<strong>de</strong>iro raciocínio geográfico fundamental à criação <strong>de</strong>cidadãos responsáveis, geograficamente competentes.Uma geografia global e sistémica. No essencial, com este atributopreten<strong>de</strong>-se apelar para dois aspectos distintos mas em tudo complementares.Por um lado, para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> analisar os problemasque são objecto <strong>de</strong> estudo enquanto um sistema, <strong>de</strong>compondo osmesmos num conjunto <strong>de</strong> elementos e relações. A simples i<strong>de</strong>ntificaçãodos elementos <strong>de</strong> um sistema, das estruturas e dos actores queintervêm na sua configuração, só por si não permite compreen<strong>de</strong>r oseu funcionamento. São as inter-relações que os agentes estabelecementre si e com as estruturas que <strong>de</strong> facto dão sentido e vida a um sistemae, por conseguinte, tal como os primeiros, <strong>de</strong>vem ser postas emevidência e analisadas com rigor. Por outro lado, abordar os problemas<strong>de</strong> uma forma sistémica implica também confrontar as análises adiferentes escalas e reconhecer que as relações e os processos espaciaisse alteram com a mudança <strong>de</strong> escala geográfica (Lacoste, 1980).Tal como numa boneca russa (a matrioshka), num sistema o «exógeno»<strong>de</strong>termina sempre vários tipos <strong>de</strong> local, cada um condicionadopelo nível superior: a comunida<strong>de</strong> al<strong>de</strong>ã relativamente à região, aregião em relação ao país, o país relativamente ao conjunto <strong>de</strong> países eassim sucessivamente (Bottazzi, 1996: 85). Neste exercício <strong>de</strong> con-


78 Inforgeo 15 – Educação Geográficaceptualização, <strong>de</strong> confronto dos problemas a várias escalas, resi<strong>de</strong> aoriginalida<strong>de</strong> do raciocínio geográfico e, por conseguinte, dotar osalunos com esta competência significa também prepará-los paramelhor «saberem pensar o espaço» e <strong>de</strong> forma consciente po<strong>de</strong>rem«agir no meio em que vivem».Uma geografia activa. Para po<strong>de</strong>r respon<strong>de</strong>r aos <strong>de</strong>safios da educação,«ajudar os alunos a interrogarem-se sobre problemas geográficosque eles mesmos terão <strong>de</strong> dominar alguns anos mais tar<strong>de</strong> enquantocidadãos» (David, 1986), não basta que se perspectivem os gran<strong>de</strong>sproblemas sociais e ambientais enquanto sistema e <strong>de</strong> forma dinâmicaou que o centro das abordagens se transfira dos conteúdos para osconceitos e as questões-chave que conferem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> ao saber-fazergeográfico. É também fundamental que os professores façam da geografiaescolar uma verda<strong>de</strong>ira prática operatória (Hugonie, 1989), seadoptem métodos activos e mediante a aplicação da metodologiaconstrutivista se tornem os alunos actores e autores das suas própriasaprendizagens (Naish, 1982). Nesta démarche não há lugar para alição magistral, nem tampouco para o <strong>de</strong>sfile dos conteúdos e exercícios<strong>de</strong> ilustração sabiamente transmitidos pelo professor, apoiado nasua versão mais mo<strong>de</strong>rna no espectáculo promovido pelas avançadastécnicas do audiovisual e da comunicação. Na realida<strong>de</strong>, esta aprendizagemdo discurso sobre o espaço até po<strong>de</strong> existir uma vez por outra,no entanto, não é seguramente a melhor forma <strong>de</strong> promover a autonomiae o espírito crítico, <strong>de</strong> permitir que os alunos perante problemasconcretos sejam capazes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>alizar soluções mobilizando os conhecimentos,os conceitos e as técnicas geográficas. Para que isso aconteça,é imprescindível que o aluno, mediante a aplicação do métodocientífico, tenha a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconstruir o conhecimento quepossui dos problemas. Afinal <strong>de</strong> contas, parafraseando Cañal e Porlan(1987), a investigação ainda é a única via natural para apren<strong>de</strong>r.2. Como ensinar?A renovação da geografia escolar <strong>de</strong> forma alguma se po<strong>de</strong>rá limitar àsimples re<strong>de</strong>finição dos conteúdos, elaborada <strong>de</strong> acordo com os princípiossumariamente expostos. Naturalmente, esta pressupõe também uma profundaalteração da metodologia directamente implicada nos processos <strong>de</strong> ensino e <strong>de</strong>aprendizagem dos referidos conteúdos e procedimentos. Respon<strong>de</strong>r à questão«como ensinar?», exige, assim, uma intervenção em dois campos, sem dúvidadistintos, mas intimamente relacionados. O primeiro, pren<strong>de</strong>-se com a selecção<strong>de</strong> um método <strong>de</strong> trabalho que oriente a praxis didáctica, condicionada, necessariamente,pelos mo<strong>de</strong>los educativos e as concepções da aprendizagem. Osegundo, diz respeito ao leque <strong>de</strong> procedimentos inerentes ao saber-fazer teóricoe prático da geografia, ao raciocínio geográfico e aos conteúdos abordadosnas aulas, que para serem apreendidos pelos alunos se torna necessário <strong>de</strong>linear


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 79um conjunto <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ensino e tarefas <strong>de</strong> aprendizagem.Durante a vigência do paradigma comportamental, a metodologia semprefoi consi<strong>de</strong>rada uma questão menor. Apoiando-se numa compreensãolimitada da estrutura mental da criança (vista quase sempre como um recipientevazio mas com as mesmas faculda<strong>de</strong>s intelectuais do adulto), fazendotábua rasa das i<strong>de</strong>ias prévias dos alunos e concebendo o professor comoúnica fonte válida <strong>de</strong> conhecimento, os mo<strong>de</strong>los educativos ancorados nesteparadigma limitaram a sua estratégia <strong>de</strong> ensino à mera transmissão da informaçãodo mestre para o aprendiz (Naish, 1982; Tonucci, 1985). No entanto,estas i<strong>de</strong>ias, embora por questões <strong>de</strong> inércia ainda coman<strong>de</strong>m as práticas nasnossas escolas, em termos teóricos não são hoje mais sustentáveis. Os avançosda psicologia cognitiva e a emergência <strong>de</strong> novos paradigmas educativoscentrados em quem apren<strong>de</strong>, possibilitados pela difusão das teorias da aprendizagemsignificativa (Ausubel), por <strong>de</strong>scoberta (Bruner), construtivista(Piaget), mediada (Feuerstein), participada e socializadora (Vygotsky),<strong>de</strong>monstram que para se ensinar bem não basta uma boa selecção dos conteúdosou que o professor domine os programas e através da sua autorida<strong>de</strong>consiga impor a disciplina na sala <strong>de</strong> aula. É também imprescindível sabercomo é que os alunos apreen<strong>de</strong>m tais conteúdos e a atitu<strong>de</strong> que manifestamperante a apresentação <strong>de</strong> novos factos (Souto Gonzalez, 1998: 125). Narealida<strong>de</strong>, só na posse <strong>de</strong>stes conhecimentos po<strong>de</strong>remos agir em conformida<strong>de</strong>com os problemas reais da aprendizagem e, por conseguinte, <strong>de</strong>linear asestratégias <strong>de</strong> ensino mais a<strong>de</strong>quadas à sua resolução.Do ponto <strong>de</strong> vista do método <strong>de</strong> trabalho, se aceitarmos, por um lado,que a geografia escolar <strong>de</strong>ve implicar os alunos na sua própria formação,fazendo <strong>de</strong>stes indivíduos progressivamente autónomos e responsáveis e, poroutro lado, que o conhecimento é uma construção pessoal, intimamente<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da riqueza das experiências vividas pelo indivíduo na sua interacçãocom o meio físico e social (Benejam, 1992), então este terá <strong>de</strong>assumir, necessariamente, uma forma semelhante ao método científico.Frisamos bem semelhante e não idêntico porque, <strong>de</strong> facto, nem os alunospossuem os mesmos interesses e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conceptualização dosproblemas dos profissionais da investigação (Souto Gonzalez, 1998), nem asfinalida<strong>de</strong>s do uso do método científico são idênticas no contexto dainvestigação escolar e da investigação científica 4 . Ao estabelecermos estacomparação, o que está em causa é simplesmente a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>ra aprendizagem como um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta pelo aluno <strong>de</strong> soluções4 A distinção entre a investigação científica e escolar foi bem explicitada por Cañal e Porlan(1987: 90). Segundo estes autores, enquanto a primeira consiste num «processo orientadopara a i<strong>de</strong>ntificação, formulação e resolução <strong>de</strong> problemas, sendo um problema, qualquerdificulda<strong>de</strong> que apenas po<strong>de</strong> ser superada mediante o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s comvista à sua resolução (Bunge, 1983), a segunda refere-se ao «processo <strong>de</strong> aprendizagemfundamentado na exploração e na capacida<strong>de</strong> para o pensamento racional, comum no serhumano <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o nascimento, bem como nos traços fundamentais do espírito científico que seaperfeiçoa progressivamente na prática, em interacção dialéctica com o <strong>de</strong>senvolvimento dasestruturas conceptuais e operatórias do indivíduo e que é concebida como um instrumento aoserviço dos objectivos gerais da educação, no marco <strong>de</strong> uma opção didáctica global».


80 Inforgeo 15 – Educação Geográficapara os problemas sociais e ambientais abordados na aula, pois esta é a únicavia natural dos professores motivarem os alunos para apren<strong>de</strong>r, <strong>de</strong>stes seenvolverem e sentirem como seus os problemas que lhe são apresentados etomarem consciência <strong>de</strong> quanto limitadas são as i<strong>de</strong>ias que dispõem paraexplicar o mundo que os ro<strong>de</strong>ia antes <strong>de</strong> levarem a cabo as suas pesquisas.O uso da investigação como método <strong>de</strong> ensino-aprendizagem encontraos seus principais alicerces nas teorias construtivistas. De facto, estas não sópõem em causa a tradicional relação linear da aprendizagem com a ida<strong>de</strong> dosalunos como, mais importante ainda, <strong>de</strong>monstram o quanto os esquemas <strong>de</strong>interpretação pessoais se encontram, em qualquer momento, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dainformação exterior proporcionada pelas experiências do quotidiano. A apresentaçãodos problemas sociais e ambientais sobre a forma <strong>de</strong> perguntas àsquais se torna necessário dar resposta através da aplicação do método científico,isto é, da elaboração <strong>de</strong> hipóteses explicativas e da sua confirmaçãomediante a conceptualização <strong>de</strong> dados observáveis, permite aos alunos nãosó porem em confronto o conhecimento que lhes é ensinado com as i<strong>de</strong>iasque já possuem, como ainda, a partir <strong>de</strong> nova informação que lhes é fornecida,proce<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma racional à reestruturação do seu conhecimento. Narealida<strong>de</strong>, este é o mecanismo que em qualquer situação orienta a aprendizageme também, pelo sentimento <strong>de</strong> satisfação que a <strong>de</strong>scoberta da soluçãopara os problemas sempre provoca nos indivíduos, a forma mais gratificanteque os alunos encontram no esforço <strong>de</strong>spendido na aprendizagem.A aplicação da metodologia científica à geografia escolar comporta, noessencial, três gran<strong>de</strong>s etapas, que Mérenne-Schoumaker (1985; 1992) i<strong>de</strong>ntificapor (1) fase <strong>de</strong> apreensão e percepção da realida<strong>de</strong>, (2) momento <strong>de</strong>análise e estudo dos problemas, e (3) tempo <strong>de</strong> síntese e aplicação. A cadauma <strong>de</strong>stas etapas, distintas quanto à origem e recolha da informação, ao<strong>de</strong>senvolvimento das operações e ao papel do professor, a autora belga in<strong>de</strong>xatambém três tipos <strong>de</strong> espaço: respectivamente, o espaço vivido e percebido,o espaço pensado, construído através da informação e da investigação,e o espaço integrado e <strong>de</strong> acção. Do mesmo modo, a cada etapa correspon<strong>de</strong>ainda uma finalida<strong>de</strong> específica. Enquanto a primeira serve, sobretudo, paramotivar os alunos para a abordagem dos problemas e permite que os professoresse inteirem das i<strong>de</strong>ias que aqueles possuem sobre os mesmos, a segunda<strong>de</strong>stina-se à aprendizagem dos conhecimentos e dos saberes-fazer geográficos,e a terceira orienta-se para a formação dos alunos, que se quer ancoradanos valores da autonomia, da responsabilida<strong>de</strong> e da cidadania. Mediantea realização <strong>de</strong>ste itinerário pedagógico e científico, os alunos passam assim,progressivamente, do conhecimento prático e intuitivo ao conhecimentodocumental disperso, no qual se torna necessário encontrar coerência e, porúltimo, ao conhecimento integrado, passível <strong>de</strong> aplicação e imprescindívelpara a formação das competências geográficas. Na Figura 2 apresenta-seuma imagem <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong>sta metodologia.Nesta proposta <strong>de</strong> orientação da praxis da geografia escolar, <strong>de</strong>senvolvidapor Mérenne-Schoumaker e que com diferenças <strong>de</strong> pormenor é também


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 81preconizada por outros geógrafos, nomeadamente, Slater (1982), Belayew eFigura 2 – Metodologia científica e organização da aprendizagem da geografia escolarI<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemasAnálise das percepçõesLevantamento <strong>de</strong> questõespara investigaçãoRecolha e análise dasi<strong>de</strong>ias prévias dos alunosI<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> problemas<strong>de</strong> aprendizagemsignificativosEspaço vividoe percebidoFormulação <strong>de</strong> problemasConstrução <strong>de</strong> hipótesesexplicativasConceptualização<strong>de</strong> problemas sociaise ambientaisNúcleos conceptuaisConceitos estruturantesQuestões-chaveRe<strong>de</strong>s conceptuaisRecolha e análise da informaçãopara validar as hipótesesComparação dos resultadosesperados com os observadosDesenho <strong>de</strong>experiências educativasrepresentativas doscódigos linguísticosda geografiaEspaçopensado, racional,construído atravésda informação e dainvestigaçãoConstrução da explicaçãoVerbaisIcónicosEstatísticos. CartográficosConfronto com outros casosApresentação dos resultadosComunicação dosprodutos e processosEspaço integradoe <strong>de</strong> acçãoNota: Concepção inspirada em Mérenne-Schoumaker (1985; 1993) e Souto Gonzalez (1998).Rifon (1983) e Souto Gonzalez (1998), são realçados três gran<strong>de</strong>s conjuntos<strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s que, numa perspectiva construtivista, <strong>de</strong>verão presidir à orga-


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 83confrontarmos os mesmos com imagens alusivas ao tema e ancorarmos aabordagem dos problemas no seu mundo vivido e nas suas experiências, omais certo é que tenham sempre algo a dizer. Se são os conceitos que queremosque os alunos construam e coloquem em re<strong>de</strong>, e com base nestes expliquemos problemas, então não é <strong>de</strong>stes que <strong>de</strong>vemos partir mas antes dasrepresentações e das teorias explicativas que possuem da realida<strong>de</strong>. Precisamos<strong>de</strong> confrontá-los com questões, por exemplo, se sabem porque hoje hátão poucas crianças na sua escola enquanto no passado havia um número tãoelevado, porque é que em alguns bairros da cida<strong>de</strong> se encerram escolasenquanto noutros se reivindica a abertura <strong>de</strong> novas unida<strong>de</strong>s, ou aindaporque é que para irem à escola às vezes têm <strong>de</strong> percorrer distâncias tãogran<strong>de</strong>s. As i<strong>de</strong>ias prévias formam, em qualquer situação, o primeiro andaimeda aprendizagem e só conseguiremos recolhê-las se os alunos foreminterrogados sobre problemas que lhes estão próximos 6 . Partir das i<strong>de</strong>ias préviassignifica, assim, «reforçar a confiança nas coisas conhecidas e reconhecê-lascomo base dos futuros conhecimentos» (Tonucci, 1985: 43). Àescola cabe a tarefa <strong>de</strong> conseguir que os alunos tomem consciência das suasi<strong>de</strong>ias, que sejam capazes <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nar, organizar e confrontar as mesmas como conhecimento social e científico. Por sua vez, ao professor é lhe atribuídoo papel <strong>de</strong> «gestor da aprendizagem», <strong>de</strong>vendo procurar <strong>de</strong>linear o melhorcaminho para que os alunos possam realizar com sucesso tal activida<strong>de</strong>.Na conceptualização dos problemas sociais e ambientais po<strong>de</strong>m distinguir-sedois momentos que envolvem procedimentos teóricos distintos. Oprimeiro pren<strong>de</strong>-se com a natureza dos conteúdos, dos conceitos, dos métodos<strong>de</strong> aprendizagem e as atitu<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem enformar as unida<strong>de</strong>s didácticas,nas quais se inscrevem os problemas que são objecto <strong>de</strong> análise na sala<strong>de</strong> aula. O segundo, diz respeito à planificação das experiências educativaspromotoras da aprendizagem dos conhecimentos teóricos e técnicos, comdiferentes graus <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> que, necessariamente, terão <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finidas<strong>de</strong> acordo com os níveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo dos alunos.A primeira etapa da conceptualização alicerça-se na relação do saber--fazer específico da geografia, fruto dos diferentes paradigmas e escolas <strong>de</strong>pensamento, com as teorias da aprendizagem e as finalida<strong>de</strong>s da educaçãogeográfica. Uma vez consultadas as directrizes dos programas, os problemassociais e ambientais são então pensados sobre a forma <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong>núcleos conceptuais (os postulados base da geografia), questões-chave econceitos, transversais aos diferentes projectos curriculares ou específicos <strong>de</strong>cada unida<strong>de</strong> didáctica.Numa época caracterizada pela relativida<strong>de</strong> das gran<strong>de</strong>s narrativas, osnúcleos conceptuais 7 <strong>de</strong>vem reflectir as várias geografias que hoje são produzi-6 O conceito <strong>de</strong> próximo não tem aqui qualquer conotação espacial ou geográfica, mas simcognitiva. Próximo significa nesta acepção tudo aquilo que o aluno conhece, sobre o qual po<strong>de</strong>ter opinião, que controla com os seus meios. Trata-se por isso <strong>de</strong> um conceito relativo: o próximoesten<strong>de</strong>-se, «alonga-se» com o acréscimo dos meios <strong>de</strong> conhecimento (Tonucci, 1985: 43).7 Os núcleos conceptuais, referem-se aos postulados, princípios explicativos e conceitos


84 Inforgeo 15 – Educação Geográficadas, pois todas, sem excepção, têm algo a dizer sobre os problemas, nos fornecemuma visão distinta do mundo e, na nossa opinião, mais do que alternativasse afiguram complementares. Neste sentido, as investigações <strong>de</strong>senvolvidaspor Capel, Luis e Urteaga (1984; 1986), pela preocupação que manifestam coma pluri-referencialida<strong>de</strong> e a poli-vocalida<strong>de</strong> geográfica, são uma excelente base<strong>de</strong> trabalho. Apesar das suas limitações relativamente aos novos paradigmasque se <strong>de</strong>senvolvem a partir <strong>de</strong> meados dos anos oitenta, nomeadamente, orealismo, o estruturacionismo e o pós-estruturalismo, estes têm pelo menos omérito <strong>de</strong> reunir em torno <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoito núcleos conceptuais os principaispostulados e conceitos dos três enfoques já clássicos do pensamento geográfico;o estudo das distribuições na superfície terrestre, a análise da localizaçãodos fenómenos no espaço e a reflexão sobre as relações homem-meio.No Quadro I apresentam-se alguns postulados e conceitos propostos porestes autores, seleccionados <strong>de</strong> acordo com as suas afinida<strong>de</strong>s em relação aostemas organizadores das Orientações Curriculares para o 3.º Ciclo do EnsinoBásico. Naturalmente, outros po<strong>de</strong>m ser tomados em conta, e o i<strong>de</strong>al seriaque os professores os interpretem e adaptem às exigências dos seus projectoscurriculares, ou até que a partir <strong>de</strong>stes criem outros mais a<strong>de</strong>quados aos problemasescolares e à natureza das experiências que querem promover com aeducação geográfica. Uma vez seleccionados, estes núcleos <strong>de</strong>vem então serconvertidos em conceitos específicos e a partir <strong>de</strong> questões pertinentes estabelecidasas re<strong>de</strong>s conceptuais mais significativas.A segunda etapa da conceptualização pren<strong>de</strong>-se com a planificação dasactivida<strong>de</strong>s, ou se preferirmos a linguagem das orientações curriculares do3.º Ciclo do Ensino Básico, a concepção das experiências educativas, a proporcionaraos alunos para que estes se tornem pessoas autónomas e «cidadãosgeograficamente competentes». Fazendo o elo <strong>de</strong> ligação entre a teoriae a prática, esta constitui um momento fundamental do processo <strong>de</strong> ensino--aprendizagem, ao qual as sucessivas reorganizações curriculares, <strong>de</strong>masiadopreocupadas com os conteúdos e as técnicas a ensinar-apren<strong>de</strong>r, raramentetêm prestado a <strong>de</strong>vida atenção, ou apresentado propostas inovadoras.A concepção da aprendizagem como uma prática investigativa do alunoimplica que as experiências educativas sejam entendidas como uma partefundamental da metodologia e, por conseguinte, reflictam as diferentes etapasnecessárias à resolução dos problemas sociais no espaço geográfico.Neste sentido, tendo conta a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> códigos linguísticos usados pelageografia para expressar o seu conhecimento (cartográficos, estatísticos, icónicose verbais), Souto Gonzalez (1998: 151) agrupa as mesmas em trêsgran<strong>de</strong>s domínios: o primeiro, pren<strong>de</strong>-se com as experiências susceptíveis <strong>de</strong>ajudar o aluno a compreen<strong>de</strong>r a informação que lhe chega do exterior,nomeadamente, a proveniente da escola, da família, do círculo <strong>de</strong> amigos ouestruturantes mediante os quais as diferentes correntes <strong>de</strong> pensamento constroem os saberes esaberes-fazer da geografia que, num contexto <strong>de</strong> ensino-aprendizagem, <strong>de</strong>vem servir <strong>de</strong>alicerces à educação geográfica.


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 85das opiniões difundidas pelos mass media; o segundo, engloba as activida<strong>de</strong>sQuadro I – Postulados e conceitos da geografiaFonte: H. Capel; L. Urteaga (1986: 10-23).que facilitam a elaboração <strong>de</strong> um método <strong>de</strong> trabalho racional ou científico; eo terceiro, reúne os procedimentos ligados com a apresentação dainformação analisada pelos alunos, tendo em vista a sua comunicação.Embora transversais à investigação <strong>de</strong>senvolvida em todos os níveis <strong>de</strong>ensino, as experiências propostas <strong>de</strong>vem, no entanto, ser ajustadas à maturida<strong>de</strong>cognitiva dos alunos 8 . Assim, dando apenas alguns exemplos, em rela-8 Para uma análise pormenorizada da relação dos diferentes tipos <strong>de</strong> procedimentos com osníveis <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo dos alunos consulte-se o capítulo 6 do excelentetrabalho <strong>de</strong> Souto González (1998). Didáctica <strong>de</strong> la Geografía: Problemas sociales econocimiento <strong>de</strong>l medio, Ediciones <strong>de</strong>l Serbal, Barcelona.


86 Inforgeo 15 – Educação Geográficação aos procedimentos ligados à compreensão da informação recebida,enquanto os alunos entre 12-16 anos, do ponto <strong>de</strong> vista da linguagem cartográfica,po<strong>de</strong>rão traçar itinerários, comparar escalas, enten<strong>de</strong>r projecções eusar correctamente os atlas, os alunos com ida<strong>de</strong>s entre 16-18 anos, po<strong>de</strong>rãojá interpretar mapas com mais <strong>de</strong> três variáveis. Em termos estatísticos,enquanto os primeiros po<strong>de</strong>m manusear índices, percentagens e enten<strong>de</strong>r ouso das medidas <strong>de</strong> centralida<strong>de</strong> (moda, mediana e média), os segundos sãocapazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver activida<strong>de</strong>s em que se correlacionam as variáveis <strong>de</strong>um sistema. Por último, no que diz respeito à expressão verbal, se os primeirosestão aptos a resumir um documento, a enten<strong>de</strong>r e construir narrativas sobrelugares imaginários ou reais, os segundos, são já dotados da maturida<strong>de</strong> cognitivapara po<strong>de</strong>rem analisar conceitos e os relacionar com outros já estudados.A organização das experiências educativas, das mais simples para as maiscomplexas, aplica-se também às restantes etapas da metodologia. Assim, utilizandomais uma vez como exemplo os alunos dos grupos referidos anteriormente,em relação aos procedimentos associados à formulação <strong>de</strong> um método<strong>de</strong> trabalho racional, se os mais jovens (12-16 anos) em termos cartográficos,icónicos, estatísticos e verbais conseguem, respectivamente, i<strong>de</strong>ntificar emmapas os factores explicativos <strong>de</strong> uma distribuição geográfica, levantar problemasa partir <strong>de</strong> imagens, correlacionar dados para comprovar regularida<strong>de</strong>s eplanificar um guião <strong>de</strong> trabalho sobre as questões que irão ser objecto <strong>de</strong> estudo,os segundos (16-18 anos), porque dotados <strong>de</strong> maior maturida<strong>de</strong> cognitiva,conseguem já relacionar diversos mapas temáticos e através dos mesmos tirarconclusões, confrontar diferentes casos <strong>de</strong> estudo para verificar a valida<strong>de</strong> dashipóteses, verificar as suas i<strong>de</strong>ias a partir <strong>de</strong> dados elaborados e ainda rever osseus guiões <strong>de</strong> trabalho ao longo da investigação que <strong>de</strong>senvolvem.Por último, <strong>de</strong> acordo com o construtivismo, a aprendizagem apenas seconclui com a apresentação e comunicação dos resultados. Se para nós, professores,os bons alunos são aqueles que conseguem expressar correctamenteos resultados da sua aprendizagem e, efectivamente, se é sobre essa capacida<strong>de</strong>que inci<strong>de</strong> a avaliação do acto <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r, então <strong>de</strong>vemos fornecer aosmesmos experiências que permitam <strong>de</strong>senvolver <strong>de</strong>strezas neste campo.Assim, tal como nas etapas anteriores, também aqui a planificação <strong>de</strong>vecobrir a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> expressão cartográfica, icónica, estatísticae verbal correntemente utilizadas pela geografia. Em função da sua maturida<strong>de</strong>cognitiva, os alunos <strong>de</strong>vem apren<strong>de</strong>r as regras formais que estão subjacentesà construção e uso das diferentes técnicas da linguagem geográfica.Primeiro <strong>de</strong>vem inteirar-se dos procedimentos mais simples, como porexemplo, saber usar escalas, elaborar legendas, construir diferentes tipos <strong>de</strong>diagramas e gráficos, citar correctamente bibliografia ou fazer sínteses.Depois <strong>de</strong>vem <strong>de</strong>senvolver a mestria dos mais complexos, como, por exemplo,construi mapas temáticos, elaborar relatórios ou propor soluções para osproblemas. Como salienta Souto Gonzalez (1998: 163), é o domínio <strong>de</strong>stesprocedimentos que permite aos alunos passar, progressivamente, «<strong>de</strong> umaaprendizagem subjectiva a uma comunicação intersubjectiva», que faz com


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 87que estes se dêem conta que é graças ao conhecimento das convenções, dossímbolos e dos códigos da linguagem geográfica que o seu trabalho po<strong>de</strong> serlido, entendido e partilhado por outras pessoas, e no fim <strong>de</strong> contas, que utilizemo saber geográfico correctamente no seu quotidiano.3. Para quê ensinar geografia?Porquê ensinar geografia nas escolas básicas e secundárias? Que contributosfornece a nossa disciplina para a formação dos jovens? Em que é que oconhecimento geográfico representa algo <strong>de</strong> significativo na vida quotidianadas pessoas? Se a geografia <strong>de</strong>ve fazer parte do Currículo Nacional, quecompetências <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver nos alunos? Numa só expressão, em queconsiste e que finalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>vem nortear a educação geográfica? Estas sãoalgumas questões sobre as quais os geógrafos com preocupações pedagógicassempre se interrogaram, procurando nas respostas um sentido para a geografiaescolar. No entanto, o interesse <strong>de</strong>stas questões é hoje maior do quenunca. Em primeiro lugar, porque a geografia per<strong>de</strong>u o prestígio social queteve noutros tempos, sofre hoje a concorrência directa <strong>de</strong> outras disciplinas,como a ecologia, a sociologia ou a economia, e os mass media, com especial<strong>de</strong>staque para a televisão, que através do espectáculo e do sensacionalismo,conseguem difundir, dia após dia, os problemas ambientais e sociais quasesempre <strong>de</strong> uma forma mais apetitosa que a escola. Em segundo lugar, porqueo crescimento da globalização, se é verda<strong>de</strong> que «encolheu o mundo», <strong>de</strong>forma alguma «aniquilou o papel do espaço», como alguns visionários, esvaziando-odo seu conteúdo e textura, mediante <strong>de</strong>ficientes interpretações ediscursos pouco cuidados, o fizeram crer em revistas <strong>de</strong> vanguarda. Todavia,por mais paradoxal que possa parecer, quanto mais o mundo se torna pequeno,se reduzem as distâncias entre os lugares, os povos e as culturas ou seuniformizam os estilos <strong>de</strong> vida, mais este se torna complexo, diverso e diferente,e mais imprescindível se torna o conhecimento geográfico para darconta e compreen<strong>de</strong>r com rigor o que nele se passa.À falta <strong>de</strong> outros argumentos, po<strong>de</strong>ríamos dizer que os alunos <strong>de</strong>vemapren<strong>de</strong>r geografia simplesmente porque, como afirmou Prévot (1981: 6),esta se encontra em toda a parte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as mudanças do preço do petróleo doGolfo Pérsico às políticas agrícolas da União Europeia, passando pela <strong>de</strong>struição<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s florestas como a Amazónia, as alterações climáticas anível mundial, a <strong>de</strong>scoberta do espaço durante as férias que se avizinham ese torna necessário planear, o avanço galopante da urbanização, os <strong>de</strong>safiosque se colocam ao or<strong>de</strong>namento do território ou os mapas dos ServiçosCartográficos do Exército e do Automóvel Clube <strong>de</strong> Portugal. No entanto,isso pouco nos diria sobre a sua verda<strong>de</strong>ira utilida<strong>de</strong> na formação dos jovens.Acontece, porém, que através da geografia as pessoas apren<strong>de</strong>m a ler einterpretar o mundo, a terem confiança em si no meio em que vivem, acompreen<strong>de</strong>rem e respeitarem o espaço dos outros, enfim, a construírem oseu lugar no mundo e agirem nele <strong>de</strong> uma forma responsável. Pela posição


88 Inforgeo 15 – Educação Geográfica<strong>de</strong> charneira que ocupa entre as ciências naturais e sociais, a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong>técnicas e códigos linguísticos que mobiliza, nenhuma outra área doconhecimento po<strong>de</strong> dotar melhor os alunos da competência <strong>de</strong> «saber pensaro espaço», imprescindível tanto para o exercício da cidadania responsável,como para aprendizagem ao longo da via e a integração plena das pessoas nomundo mo<strong>de</strong>rno.Quando se analisam as competências gerais propostas pelo CurrículoNacional, tidas como necessárias à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida pessoal e social <strong>de</strong> todosos cidadãos, e se cruzam as mesmas com a riqueza conceptual e o saber-fazerespecífico da geografia, facilmente nos apercebemos do papel central que estapo<strong>de</strong>rá <strong>de</strong>sempenhar no seu <strong>de</strong>senvolvimento e operacionalização.Os contributos da geografia pren<strong>de</strong>m-se, em primeiro lugar, com aespecificida<strong>de</strong> do seu conhecimento. A geografia é, por excelência, «umadisciplina integradora»; conjuga as dimensões física e humana dos fenómenos.O seu objecto <strong>de</strong> estudo é a superfície da Terra e os processos que amo<strong>de</strong>lam, as relações que as pessoas estabelecem com o meio e a formacomo estas interagem com os lugares. Através <strong>de</strong> palavras, mapas e gráficos,os geógrafos <strong>de</strong>screvem a mudança dos padrões espaciais, explicam como éque estes se formam e <strong>de</strong>svendam o seu significado (The Geography EducationStandards Project, 1994). Neste contexto, tal como <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m os autoresnorte-americanos do projecto das competências da educação geográfica atrásmencionado, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensinar/apren<strong>de</strong>r geografia obe<strong>de</strong>ce a razões<strong>de</strong> natureza existencial, ética, intelectual e prática. Existencial, porque osseres humanos vivem na Terra, sempre procuraram compreen<strong>de</strong>r a naturezaintrínseca do seu lar e a geografia capacita-os para enten<strong>de</strong>rem o lugar queocupam no mundo. Ética, porque a Terra é a única casa que os seres humanosconhecem e provavelmente virão a conhecer na sua passagem pelomundo. No entanto, esta é dotada <strong>de</strong> um equilíbrio ambiental frágil e nãosabemos até quando po<strong>de</strong>rá existir com as condições que permitam ao serhumano prosperar ou simplesmente viver nela. A geografia tem a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> dar a conhecer os sistemas físicos e humanos da Terra, e a inter<strong>de</strong>pendênciados seres vivos com o ambiente físico. Este conhecimento, por sua vez,constitui a base para as pessoas cooperarem no sentido <strong>de</strong> se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>rem osinteresses do nosso planeta. Intelectual, porque a geografia captura a imaginação,estimula a curiosida<strong>de</strong> e encoraja a apreciação do mundo que nos cerca,sobre as condições <strong>de</strong> vida das pessoas, os lugares e os problemas que ocorremem diferentes escalas, da local à global. Ao compreen<strong>de</strong>rem o lugar on<strong>de</strong>vivem e conhecerem outros lugares, povos e culturas, as pessoas melhor informadas,vencem o seu provincianismo e o etnocentrismo, alimentam o espírito<strong>de</strong> alterida<strong>de</strong> e, por conseguinte, tomam <strong>de</strong>cisões mais objectivas e sensatas.Por último, por razões práticas, pelo valor utilitário que a geografia tem nasocieda<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna. A aceleração da interconectivida<strong>de</strong> entre os lugares e ospovos proporcionada pela globalização económica, tecnológica e cultural, fazcom que a necessida<strong>de</strong> prática do conhecimento geográfico seja mais crítica.Este é fundamental para resolver os problemas da vida quotidiana, seja no


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 89mundo dos negócios, no planeamento das férias, nas múltiplas relações queestabelecemos com os outros e que exigem <strong>de</strong> nós uma tomada <strong>de</strong> posição.Figura 3 – Geografia escolar e o <strong>de</strong>senvolvimento das competências geraisA importância da geografia para a formação dos jovens justifica-se, emsegundo lugar, pela aplicação do método científico na análise e resoluçãodos problemas sociais e ambientais. Embora comum a outras áreas do saber,no seu <strong>de</strong>senvolvimento, a geografia faz uso <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> recolha,tratamento e representação da informação que lhe são específicas e lheconferem i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria. Através da geografia os alunos não sóapren<strong>de</strong>m a levantar questões, emitir hipóteses, a pesquisar, seleccionar eorganizar a informação necessária à compreensão e interpretação dosproblemas, como exploram a metodologia do trabalho <strong>de</strong> campo, elaborammapas mentais e esboços, constroem itinerários, maquetas, coremas,representam fenómenos em mapas temáticos com diferentes escalas esistemas <strong>de</strong> projecção, calculam áreas, me<strong>de</strong>m distâncias, tomam contactocom as novas tecnologias da informação, apren<strong>de</strong>m a observar, ler e interpretarfotografias e imagens <strong>de</strong> satélite… Realizadas frequentemente emgrupo, estas activida<strong>de</strong>s permitem aos alunos não só conceptualizar os problemas<strong>de</strong> uma forma espacial mas também <strong>de</strong>senvolver a sua criativida<strong>de</strong> e


90 Inforgeo 15 – Educação Geográficaespírito <strong>de</strong> cooperação, confrontar as experiências e percepções individuaiscom as dos seus colegas e professores e, no fim <strong>de</strong> contas, <strong>de</strong>senvolverem asua personalida<strong>de</strong>.Em terceiro lugar, a geografia <strong>de</strong>sempenha também um papel fundamentalna formação pela diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> códigos linguísticos e técnicas <strong>de</strong>que faz uso na comunicação. Através da geografia as pessoas apren<strong>de</strong>m autilizar a linguagem verbal, icónica, estatística e cartográfica. A construção einterpretação <strong>de</strong> textos, quadros, mapas, gráficos, diagramas, fotografias,imagens <strong>de</strong> satélite, filmes, jogos e simulações, bem como o conhecimentodas suas regras formais, permitem aos alunos <strong>de</strong>senvolver as suas capacida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> expressão, estruturar o seu próprio pensamento, passar da aprendizagemsubjectiva à comunicação intersubjectiva ou pública.Por último, <strong>de</strong> acordo com a Carta Internacional da Educação Geográfica(UGI, 1992), a inclusão da geografia enquanto matéria <strong>de</strong> aprendizagempo<strong>de</strong> ainda ser legitimada pela sua participação no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>se valores conducentes ao interesse pelo meio envolvente, a biodiversida<strong>de</strong>,o respeito pela diferença cultural e o encontro <strong>de</strong> soluções para os problemascom que se <strong>de</strong>fronta o mundo, tanto a nível local como global. Aeducação geográfica promove ainda a compreensão, a tolerância e a amiza<strong>de</strong>entre todos os povos, raças e religiões. Educados geograficamente, os indivíduos,porque mais informados sobre o mundo, adquirem maior consciênciado impacto dos seu comportamento e da socieda<strong>de</strong> em que vivem relativamenteao ambiente. Neste contexto, a geografia po<strong>de</strong> favorecer o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma ética ambiental que oriente a acção dos indivíduos no sentidoda responsabilida<strong>de</strong>.4. ConclusãoNeste artigo procurou-se fazer uma reflexão sobre os procedimentosepistemológicos e metodológicos da geografia escolar, bem como as finalida<strong>de</strong>sque <strong>de</strong>vem nortear a sua prática nos níveis <strong>de</strong> ensino básico e secundário.Tendo por suporte a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> paradigmas geográficos e as maismo<strong>de</strong>rnas teorias da aprendizagem, <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se uma renovação conceptual emetodológica susceptível <strong>de</strong> permitir à disciplina alterar radicalmente a suai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> na escola e na socieda<strong>de</strong>, vencer aos novos reptos colocados pelaformação dos jovens e justificar a sua relevância na vida quotidiana <strong>de</strong> todosos cidadãos.Para educar geograficamente as pessoas, participar na criação <strong>de</strong> cidadãosreflexivos, autónomos, com uma atitu<strong>de</strong> crítica face ao mundo em quevivemos, não basta, como se fez noutros tempos, discursar sobre os referenciaisculturais <strong>de</strong> mundos pouco conhecidos, próximos ou distantes das experiências<strong>de</strong> vida dos alunos. Trabalhos recentes elaborados no nosso país(Alberto, 2001; Esteves, 2001) <strong>de</strong>monstram que a geografia ensinada nasnossas escolas, mesmo quando orientada para o tratamento <strong>de</strong> temas sobre oambiente, se mostra ineficaz na alteração <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s dos alunos face aos


Geografia Escolar: Orientação Teórica e Praxis Didáctica 91problemas ambientais. Nem mesmo ao nível do conhecimento a abordagemdos referidos temas pela geografia parece conseguir introduzir maior rigorcientífico na explicação <strong>de</strong>senvolvida pelos alunos, que muitas vezes se afigurammais incorrectas que as fornecidas pelos seus pais. Neste sentido, secremos que a escola eduque e a geografia tenha um papel significativo naeducação dos jovens, precisamos <strong>de</strong> rever as nossas concepções <strong>de</strong> ensino eos procedimentos tradicionais <strong>de</strong> conduzir a aprendizagem. Nós acreditamos,como Mérenne-Schoumaker (1994; 2000) e Souto Gonzalez (1998), para<strong>de</strong>stacar apenas duas gran<strong>de</strong>s figuras da geografia escolar, que a chave para amudança se encontra no <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> projectos em que a aprendizagem dageografia seja entendida como uma prática operativa; se conceda particularrealce à resolução <strong>de</strong> problemas e à tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões, e se peça aos jovensuma atitu<strong>de</strong> reflexiva e crítica face ao seu comportamento, às relaçõessociais e ao mundo que os ro<strong>de</strong>ia. A reflexão que <strong>de</strong>senvolvemos ao longo<strong>de</strong>ste texto encontra-se imbuída <strong>de</strong>sse espírito. Esperamos que <strong>de</strong> algumaforma ela seja útil.Referências BibliográficasALBERTO, A. (2001). O Contributo da Educação Geográfica na EducaçãoAmbiental. A Geografia no Ensino Secundário, CEGUL, Estudos <strong>de</strong> GeografiaHumana e Regional, 43, LisboaANDRE, Y. (1992). “Didactique <strong>de</strong> la géographie”, in Bailly, A.; Ferras, R.; Pumain,D. (dir.) Encyclopédie <strong>de</strong> Géographie, Ed. Economica, Paris, 327-347.AUDIGIER, F. (1993). “Pensar la geografia escolar. Un repte per a la didàctica”,Documents d’Anàlisi Geogràphicà, 21, 15-33.AUDIGIER, F. (1995). Construction <strong>de</strong> l’espace géographique, INRP, Nancy.BALE, J. (1996). “The Challenge of Postmo<strong>de</strong>rnism”, in Williams M. (ed.)Un<strong>de</strong>rstanding Geographical and Environmental Education. The role ofresearch, Cassel, Londres, pp. 287-296.BEDARD, M. (2000). “Être géographe par-<strong>de</strong>là la Mo<strong>de</strong>rnité. Plaidoyer pour unrenouveau paradigmatique”, Cahiers <strong>de</strong> Géographie du Québec, 44, 122, 211--227.BELAYEW, D.; RIFON, J. (1983). “Exemple d’apprentissage en groupe d’unedémarche scientifique applicable en géographie”, G.E.O., 13, 3-9.BENEJAM, P. (1992). “La didàctica <strong>de</strong> la geografía <strong>de</strong>s <strong>de</strong> la perspectiva construtivista”,Documents d’Anàlisi Geogràphicà, 21, 35-52.BENEJAM, P. (1996). “La Didáctica <strong>de</strong> la Geografía en el contexto <strong>de</strong>l pensamiento<strong>de</strong> finales <strong>de</strong>l siglo XX: la influencia <strong>de</strong>l postmo<strong>de</strong>rnismo”, ÍBER Didáctica<strong>de</strong> las Ciencias Sociales, Geografía e Historia, 9, 7-14.BOTTAZZI, G. (1996). “On est toujours le «local» <strong>de</strong> quelque «global». Por une(re)définition <strong>de</strong> l’espace local”, Espaces et Sociétés, 82/83, 69-91.BRUNET, R. (1992). “Géographie recentrée, géographie à enseigner”, Bulletin <strong>de</strong> laSociété géographique <strong>de</strong> Liège, 28, 11-18.CACHINHO, H.; REIS, J. (1991). “Geografia Escolar – (Re)Pensar e (Re)Agir”,Finisterra, XXVI, 52, 429-443.CALAF Masachs, R.; SUÁREZ CASARES, M.; Menén<strong>de</strong>z Fernán<strong>de</strong>z, R. (1997).


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