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Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

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Saúde <strong>da</strong> População Negra <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>deBrasília, 2005


Copyright © 2005Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde (Funasa)Ministério <strong>da</strong> SaúdeEditorAssessoria de Comunicação e Educação em SaúdeNúcleo de Editoração e Mídias de Rede/Ascom/Presi/Funasa/MSSetor de Autarquias Sul, Quadra 4, Bl. N. 5º an<strong>da</strong>r - sala 51170.070-040 - Brasília/DFDistribuição e InformaçãoDepartamento de Planejamento e Desenvolvimento Institucional/FunasaSetor de Autarquias Sul, Quadra 4, Bl. N, 7º An<strong>da</strong>rTelefone: 0XX61 314-620670.070-040 - Brasília/DFTiragem1.000 exemplares<strong>Brasil</strong>. Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde.Saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: contribuições <strong>para</strong> apromoção <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de / Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde. - Brasília:Funasa, 2005.446 p.: il.1. Saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. I. Título.É permiti<strong>da</strong> a reprodução parcial ou total desta obra, desde que cita<strong>da</strong> a fonte.Impresso <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Printed in Brazil


PrefácioA publicação “Saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: contribuição <strong>para</strong> a promoção<strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de” representa um marco <strong>para</strong> a saúde pública brasileira, simboliza,<strong>no</strong> âmbito do Ministério <strong>da</strong> Saúde, o início de um desafio que é a implementação deuma política de promoção à saúde volta<strong>da</strong> <strong>para</strong> as diferenças e diversi<strong>da</strong>des étnicoraciais.Pensar em saúde é pensar em eqüi<strong>da</strong>de, acesso aos serviços e, principalmente,a diminuição <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des.É nesta lógica que a presente pesquisa, dirigi<strong>da</strong> aos profissionais e gestores <strong>da</strong>saúde, visa contribuir com a Política Pública <strong>da</strong> Saúde, apostando num futuro <strong>no</strong>qual não sejam mais necessárias políticas destina<strong>da</strong>s especialmente a grupos historicamentediscriminados.Sob esta perspectiva espero que a publicação <strong>da</strong> presente pesquisa seja, naver<strong>da</strong>de, o início de um processo de discussão a ser ampliado e difundido a todos osgestores e profissionais de saúde do <strong>Brasil</strong>.Valdi Camarcio BezerraPresidente


ApresentaçãoA proposta de realização do Projeto “Saúde <strong>da</strong> População Negra <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de” surge <strong>da</strong> parceria técnico-financeirafirma<strong>da</strong> entre o Banco Mundial, a Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde (FUNASA)/MS 1 e oComponente Saúde do Programa de Combate ao Racismo Institucional <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> doMinistério Britânico <strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional (PCRI_Saúde/DFID) 2 .Foram ativi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s ao projeto Saúde <strong>da</strong> População Negra <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de1. Re<strong>da</strong>ção de uma mo<strong>no</strong>grafia sobre a situação de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>brasileira 3 .2. Realização de estudos sobre diferenciais raciais:a) No acesso e na quali<strong>da</strong>de do cui<strong>da</strong>do e assistência prestados aos portadoresde hipertensão arterial 4 ;b) Na esperança de vi<strong>da</strong> e <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos 5 ;c) Nos perfis e estimativas de mortali<strong>da</strong>de infantil 6 ;d) Nas taxas de mortali<strong>da</strong>de apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a população adulta 7 ;e) Nos perfis, indicadores e coeficientes de mortali<strong>da</strong>de materna 8 .3. Elaboração de um artigo de revisão <strong>da</strong> literatura internacional sobre o impactodo racismo na saúde e sobre o modo como as necessi<strong>da</strong>des e deman<strong>da</strong>s dosgrupos mi<strong>no</strong>rizados foram/são incorpora<strong>da</strong>s às práticas e políticas de saúde1. Projeto 914BRA3002 - Convênio Funasa/MS e Unesco.2. O PCRI é formado por dois componentes: um que focaliza a ação municipal e o outro que focaliza ações em saúde. OComponente Saúde constitui-se num estudo de caso sobre como o racismo institucional pode ser abor<strong>da</strong>do dentro do Ministério<strong>da</strong> Saúde, de modo a permitir as necessárias ligações entre a política federal e sua execução <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s estadual e municipal.O propósito é contribuir na redução <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais em saúde colaborando na formulação, implementação, avaliação emonitoramento de políticas efetivamente eqüitativas dentro do Sistema Único de Saúde. O Componente Municipal desenvolvesuas ativi<strong>da</strong>des, prioritariamente, em estados <strong>da</strong> região Nordeste.3. Autora: Fernan<strong>da</strong> Lopes, coordenadora do projeto.4. Autora: Isabel Cristina Fonseca <strong>da</strong> Cruz.5. Autrores: Marcelo Jorge de Paula Paixão, Luiz Marcelo Ferreira Carva<strong>no</strong>, Juarez de Castro Oliveira, Leila Regina Ervatti.6. Autores: Estela María García de Pinto <strong>da</strong> Cunha, Alberto Augusto Eichman Jakob.7. Autores: Luís Eduardo Batista, Anna Volochko, Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira, Vanessa Martins.8. Autores: Alaerte Leandro Martins, Hélvio Bertolozzi Soares, Mirian Santos Paiva, Vânia Muniz Nequer Soares.


em diferentes reali<strong>da</strong>des sociopolíticas, a saber: Estados Unidos <strong>da</strong> América,Rei<strong>no</strong> Unido, Canadá e África do Sul 9 .4. Produção de informações sobre processo e resultado <strong>da</strong> implementação depolíticas públicas de saúde com ênfase na promoção <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de racial 10 .O primeiro capítulo intitulado “Experiências desiguais ao nascer, viver, adoecere morrer: tópicos em saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>” contém uma revisão <strong>da</strong>literatura nacional sobre dispari<strong>da</strong>des raciais em saúde, um sumário com alguns dosprincipais achados do Projeto 914BRA3002, recomen<strong>da</strong>ções <strong>para</strong> ações, programas eprojetos basea<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s resultados <strong>da</strong> pesquisa, nas diretrizes e metas descritas <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong>Nacional de Saúde (segundo semestre de 2004).Não serão incluídos nesta publicação o resultado dos componentes 2a e 2e.9. Autora: Jurema Werneck.10. Autoras: Marta de Oliveira <strong>da</strong> Silva e Nataly Damasce<strong>no</strong> de Figueiredo.6Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


SumárioExperiências desiguais ao nascer, viver, adoecer e morrer: tópicos emsaúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Fernan<strong>da</strong> Lopes ....................................................................................... 9Contando vencidos: diferenciais de esperança de vi<strong>da</strong> e de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos segundo os grupos de raça/cor e sexo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e grandes regiõesMarcelo Jorge de Paula Paixão;Luiz Marcelo Ferreira Carva<strong>no</strong>;Juarez de Castro OliveiraLeila Regina Ervatti .................................................................................. 49Metodologia do cálculo de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascerJuarez de Castro OliveiraLeila Regina Ervatti .................................................................................. 191Diferenciais raciais <strong>no</strong>s perfis e estimativas de mortali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>Estela Maria García de Pinto <strong>da</strong> CunhaAlberto Augusto Eichman Jakob ............................................................... 201Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> adulta <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Luís Eduardo Batista; Anna VolochkoCarlos Eugênio de Carvalho FerreiraVanessa Martins ....................................................................................... 237Iniqui<strong>da</strong>des raciais em saúde e políticas de enfrentamento: as experiênciasdo Canadá, Estados Unidos, África do Sul e Rei<strong>no</strong> UnidoJurema Werneck ...................................................................................... 315Crítica sobre políticas, ações e programas de saúde implementados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Marta de Oliveira <strong>da</strong> SilvaNataly Damasce<strong>no</strong> de Figueiredo ............................................................ 387Histórico <strong>da</strong> implementação do quesito cor: um relato de experiênciasEdna Muniz de SouzaShirley SantosMário Rogério BentoChin<strong>da</strong>lena Barbosa ................................................................................. 437


Experiências desiguais ao nascer, viver, adoecer e morrer:Tópicos em saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 11Fernan<strong>da</strong> Lopes – Bióloga, mestre e doutora em Saúde Públicapela Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, pesquisadora dos gruposNepaids/CNPq e Cebrap – População e Socie<strong>da</strong>de/CNPq.Atualmente coordena o Componente Saúde do Programade Combate ao Racismo Institucional, uma parceria entre oMinistério Britânico <strong>para</strong> o Desenvolvimento Internacional(DFID), a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), oFundo <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento (Pnud),o Gover<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>eiro e a Socie<strong>da</strong>de Civil.“Digo apenas não à violência, ao racismo e à pobrezana certeza que esta vi<strong>da</strong> vai mu<strong>da</strong>r ou não vai continuar...”(Mag<strong>no</strong> Souza e Maurílio de Oliveira)1. Falando de saúde, doença e vulnerabili<strong>da</strong>desAs vias pelas quais o social e o econômico, o político e o cultural influem sobre asaúde de uma população são múltiplas e diferencia<strong>da</strong>s, segundo a natureza <strong>da</strong>s condiçõessocioeconômicas, o tipo de população, as <strong>no</strong>ções de saúde, doença e os agravosenfrentados. No caso <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, o meio ambiente que exclui e nega o direitonatural de pertencimento, determina condições especiais de vulnerabili<strong>da</strong>de.Além <strong>da</strong> inserção social desqualifica<strong>da</strong>, desvaloriza<strong>da</strong> (vulnerabili<strong>da</strong>de social) e <strong>da</strong>invisibili<strong>da</strong>de de suas necessi<strong>da</strong>des reais nas ações e programas de assistência, promoção desaúde e prevenção de doenças (vulnerabili<strong>da</strong>de programática), mulheres e homens negrosvivem em um constante estado defensivo. Essa necessi<strong>da</strong>de infindável de integrar-se e, aomesmo tempo, proteger-se dos efeitos adversos <strong>da</strong> integração, pode provocar comportamentosinadequados, doenças psíquicas, psicossociais e físicas (vulnerabili<strong>da</strong>de individual).No campo <strong>da</strong> saúde, o conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de emergiu <strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de1990 entre aqueles que, na intersecção de vários campos do saber, buscavam estratégias<strong>para</strong> o enfrentamento <strong>da</strong> aids. Embora seja um recurso teórico aperfeiçoado <strong>no</strong> campode estudos e pesquisas em aids, o conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de não lhe é restrito.11. A versão preliminar deste artigo integra o Cader<strong>no</strong> de Textos Básicos do I Seminário Nacional de Saúde <strong>da</strong> População Negra,realizado em Brasília-DF, de 18 a 20 de agosto de 2004.


Se pretendêssemos apresentar o conceito de forma sintética, definiríamos porvulnerabili<strong>da</strong>de o “conjunto de aspectos individuais e coletivos relacionados ao graue modo de exposição a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação e, de modo indissociável, ao maior oume<strong>no</strong>r acesso a recursos adequados <strong>para</strong> se proteger <strong>da</strong>s conseqüências indesejáveis<strong>da</strong>quela situação”.A princípio, qualquer pessoa poderia qualificar sua situação frente às formas conheci<strong>da</strong>sde exposição aos fatores físicos, químicos, biológicos e ambientais que, porventura, podem desencadear doenças ou agravos. Para as coletivi<strong>da</strong>des, to<strong>da</strong>via, assituações sociais e programáticas extrapolam, muitas vezes, o limite <strong>da</strong> percepção e <strong>da</strong>possibili<strong>da</strong>de de transformação de ca<strong>da</strong> pessoa isola<strong>da</strong>mente (Ayres e col., 1999).Com a finali<strong>da</strong>de de avaliar a vulnerabili<strong>da</strong>de à infecção por HIV e ao adoecimentopor aids, Mann e col. (1993) definiram três pla<strong>no</strong>s interdependentes de análise:o componente individual, o componente social ou coletivo e o componente políticoou programático.No pla<strong>no</strong> individual, os autores apresentam inúmeras definições <strong>para</strong> o conceitode vulnerabili<strong>da</strong>de:• em termos absolutos, a expressão designa os desprotegidos;• em termos relativos, refere-se àqueles que estão expostos a um risco maior doque a média;• em termos epidemiológicos, o conceito relaciona-se àqueles que apresentammaiores graus de exposição;• em termos médicos, é atribuído às pessoas incapazes de avaliar o nível e aquali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência médica que lhe é ofereci<strong>da</strong>;• em termos operacionais, a expressão diz respeito àqueles que necessitam demaior grau de proteção e assistência;• em termos de direitos huma<strong>no</strong>s, refere-se àqueles que estão expostos ao riscode discriminação ou de tratamento injusto que desafie os princípios de igual<strong>da</strong>dee digni<strong>da</strong>de humana;• em termos sociais, àqueles que não têm seus direitos efetivados e àqueles quenão têm acesso aos serviços e bens sociais disponíveis;• em termos econômicos, aos incapazes de ter acesso a um nível satisfatório deassistência, devido às limitações financeiras; e• em termos políticos, diz respeito aos carentes de poder ou incapazes de conseguirrepresentação total.10Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A dimensão programática <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de é caracteriza<strong>da</strong> pelos investimentosem ações e programas de informação e educação preventivas; pela existência deserviços sociais e de saúde de fácil acesso, com alta quali<strong>da</strong>de, democraticamentedelineados, periodicamente retroalimentados e avaliados; pela adoção de mecanismosde não discriminação nas instituições.A força do ambiente sociopolítico, econômico e cultural determina o sucessodos programas e, em última instância, seu impacto sobre as pessoas. Neste sentido, adimensão social <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de pode ser descrita:a) pelo acesso que as pessoas e os coletivos têm à formação e à informação, aosserviços de saúde e outros equipamentos sociais;b) pela liber<strong>da</strong>de de expressão, representação e decisão;c) pelos indicadores de saúde, educação e ren<strong>da</strong>;d) pelo índice de desenvolvimento huma<strong>no</strong> e pelo índice de pobreza e miséria;e) pela participação dos grupos nas estruturas de gover<strong>no</strong>; ef) pelo repertório de crenças e valores relacionados à saúde, sexuali<strong>da</strong>de, raça/cor, etnias, gênero, i<strong>da</strong>de, orientação sexual, de<strong>no</strong>minação religiosa e origemgeográfica.1.1. O tecido social nacional e o viés racial nas desigual<strong>da</strong>dessocioeconômicas1.1.1 A cor <strong>da</strong> pobrezaA elaboração de estratégias <strong>para</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e de saúde depende<strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>s fragmentações deriva<strong>da</strong>s dos fenôme<strong>no</strong>s socioculturais,políticos e econômicos, seja <strong>no</strong> nível pessoal, coletivo, regional ou mundial.O mundo atual nega liber<strong>da</strong>des elementares a um grande número de pessoas. Porvezes, a ausência de liber<strong>da</strong>des substantivas relaciona-se diretamente com a pobrezaeconômica, em alguns casos vincula-se à carência de serviços públicos e assistênciasocial e, em outros, a violação <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de resulta diretamente de uma negação deliber<strong>da</strong>des políticas e civis.No <strong>Brasil</strong>, o grau de pobreza é mais elevado do que o encontrado em outrospaíses com ren<strong>da</strong> per capita similar. Embora cerca de 64% dos países tenham ren<strong>da</strong>inferior à brasileira, aqui o grau de desigual<strong>da</strong>des é um dos mais elevados do mundo(Barros e col., 2000).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de11


A pobreza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem raça/cor, sexo e etnia. Esta afirmação, interpreta<strong>da</strong> poralguns como esquizofrênica, está pauta<strong>da</strong> em números tão cruéis quanto seu reflexo<strong>no</strong>s corpos e nas mentes de negros e <strong>negra</strong>s, índios e índias 12 .De acordo com os <strong>da</strong>dos analisados por Jaccoud e Beghnin (2002), em 1992,40,7% <strong>da</strong> população brasileira era considera<strong>da</strong> pobre; em 2001, esse percentual cai<strong>para</strong> 33,6%. Nesse período, a proporção de negros pobres equivalia a duas vezes aproporção observa<strong>da</strong> na população branca - 55,3% versus 28,9% em 1992 e 46,8%versus 22,4% em 2001. Nesse a<strong>no</strong>, homens e mulheres apresentaram-se distribuídosde forma semelhante entre os pobres – cerca de 1/3 <strong>da</strong> população. Ao incluir a variávelraça/cor na análise dos <strong>da</strong>dos, entretanto, observou-se que esta situação era vivi<strong>da</strong> porquase metade <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s contra apenas 22,4% <strong>da</strong>s mulheres brancas. Naindigência, a proporção de mulheres e homens negros foi cerca de 28% em 1992 e22% em 2001, contudo este percentual foi 2,3 vezes maior quando com<strong>para</strong>do àqueleapresentado <strong>para</strong> mulheres e homens brancos em 1992 e 2,6 vezes maior em 2001.Segundo Milton Santos (2000), os pobres não estão apenas desprovidos de recursosfinanceiros <strong>para</strong> consumir, a eles é ofereci<strong>da</strong> uma ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia abstrata; que não cabe emqualquer tempo e lugar e que, na maioria <strong>da</strong>s vezes, não pode ser sequer reclama<strong>da</strong>.Por mais que se deseje negar, essa ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia não consistente e não reivindicável, vemsendo ofereci<strong>da</strong> ao longo dos tempos, prioritariamente aos negros e <strong>negra</strong>s, índios eíndias.Se ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia é o repertório de direitos efetivamente disponíveis, os coletivoscujo Estado não garante os meios <strong>para</strong> o desenvolvimento, não têm condições deexercer ativi<strong>da</strong>des globaliza<strong>da</strong>s. Para estes brasileiros a transposição <strong>da</strong>s barreirassocioeconômicas é quase impossível.1.1.2 Aqui se vive com muito poucoEm 1999, a ren<strong>da</strong> per capita média <strong>no</strong>s domicílios com chefia <strong>negra</strong> correspondiaa 42% dos valores observados <strong>no</strong>s domicílios com chefia branca (Martins, 2001). Em2001 vivia-se com uma ren<strong>da</strong> per capita média de R$ 205,40 <strong>no</strong>s domicílios negrose com pouco mais que o dobro <strong>no</strong>s domicílios brancos. Em ordem decrescente deren<strong>da</strong> domiciliar per capita apareciam as residências chefia<strong>da</strong>s por homens brancos,mulheres brancas – com R$ 482,10 e R$ 481,20, respectivamente – segui<strong>da</strong>s <strong>da</strong>quelaschefia<strong>da</strong>s por homens negros e mulheres <strong>negra</strong>s – R$ 208,60 e R$202,20 (Jaccoud eBeghin, 2002).12. Neste texto não serão abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s questões relativas às condições de vi<strong>da</strong> e saúde <strong>da</strong> população indígena.12Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O baixo nível de ren<strong>da</strong>, seja individual ou domiciliar per capita, restringe asliber<strong>da</strong>des individuais e sociais dos sujeitos, fazendo com que todo o seu entor<strong>no</strong>seja deficiente, desgastante e gerador de doença. Para ilustrar tal situação destacamoso fato de que, em 2001, mais de 32 milhões de negros com ren<strong>da</strong> de até 1/2 saláriomínimo eram potencialmente deman<strong>da</strong>ntes de serviços de assistência social e viviam,em sua maioria, em lugares com características indesejáveis de habitação 13 (IBGE,2000; Jaccoud e Beghin, 2002).Considerando que “os negros representam 45% <strong>da</strong> população brasileira, mascorrespondem a cerca de 65% <strong>da</strong> população pobre e 70% <strong>da</strong> população em extremapobreza, e que os brancos, por sua vez, são 54% <strong>da</strong> população total, mas somente 35%dos pobres e 30% dos extremamente pobres, tem-se a certeza de que nascer negro <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> implica maior probabili<strong>da</strong>de de crescer pobre“ (Henriques, 2003 apud Oliveirae Figueiredo, 2004). A pseudoneutrali<strong>da</strong>de do Estado <strong>Brasil</strong>eiro frente às desvantagensmateriais e simbólicas acumula<strong>da</strong>s pela população <strong>negra</strong> tem-se revelado um formidávelfracasso, seja <strong>no</strong> campo social ou na saúde.1.1.3 Escolari<strong>da</strong>de, ocupação e rendimentosO fenôme<strong>no</strong> <strong>da</strong> pobreza torna-se algo crônico do <strong>Brasil</strong>, a baixa escolari<strong>da</strong>de<strong>da</strong> população como um todo dificulta tanto a inserção <strong>no</strong> mercado de trabalho formalcomo a obtenção de um emprego decente 14 . Em 1999, a taxa de alfabetização <strong>para</strong> apopulação <strong>negra</strong> foi 13 pontos percentuais me<strong>no</strong>res que <strong>para</strong> a população branca (78%versus 90%), sendo o maior índice educacional observado entre os homens brancos(0,887) e o me<strong>no</strong>r entre os homens negros (0,753). As mulheres brancas tiveram oíndice calculado em 0,877 e as <strong>negra</strong>s, em 0,773 (Sant´Anna, 2001).Entre os brasileiros e brasileiras de 15 a<strong>no</strong>s ou mais, a taxa de analfabetismoera de 12,4% em 2001. Para os negros, 18,2% e <strong>para</strong> os brancos, 7,7%. Em média, apopulação branca estu<strong>da</strong>va 6,9 a<strong>no</strong>s e a <strong>negra</strong>, 4,7 a<strong>no</strong>s. A me<strong>no</strong>r média de a<strong>no</strong>s deestudo foi observa<strong>da</strong> na região <strong>no</strong>rdeste: 5,7 <strong>para</strong> os brancos e 4,0 <strong>para</strong> os negros. NoSudeste, onde se encontra a maior média <strong>para</strong> a população geral (6,7 a<strong>no</strong>s), os negrosestu<strong>da</strong>vam, em média, 2,1 a<strong>no</strong>s me<strong>no</strong>s que os brancos (Jaccoud e Beghin, 2002).13. De acordo com o Ipea e o IBGE são considera<strong>da</strong>s características indesejáveis: construção <strong>da</strong> habitação commaterial não durável; alta densi<strong>da</strong>de; inadequação <strong>no</strong> sistema de saneamento e abastecimento de água;ausência de energia elétrica e de coleta de lixo.14. De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), trabalho decente significa trabalhoadequa<strong>da</strong>mente remunerado, exercido em condições de liber<strong>da</strong>de, equi<strong>da</strong>de e segurança, e que seja capaz degarantir uma vi<strong>da</strong> a to<strong>da</strong>s as pessoas que dele dependem.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de13


Quando se estu<strong>da</strong> mais, os ocupados e ocupa<strong>da</strong>s de<strong>para</strong>m-se com o racismo ea discriminação racial em suas mais varia<strong>da</strong>s formas, to<strong>da</strong>s eficientes <strong>no</strong> que tange àexclusão: me<strong>no</strong>res salários, me<strong>no</strong>res chances de ascensão, me<strong>no</strong>res proporções decargos de chefia, emprego em outras áreas que não aquela que se especializaram(INSPIR, 1999; Martins, 2001; NOP-FPA, 2003).Segundo pesquisa realiza<strong>da</strong> por Soares (2000), se houvesse o fim <strong>da</strong> discriminação,as mulheres <strong>negra</strong>s ganhariam, em média, cerca de 60% mais; as brancas ganhariamem tor<strong>no</strong> de 40% e os homens negros entre 10% e 25% mais, a depender do lugarocupado na distribuição de ren<strong>da</strong>. No mundo do trabalho se paga um preço alto porser negro e um preço muito mais alto por ser mulher e ter a pele <strong>negra</strong>, e assim, a teseamplamente difundi<strong>da</strong> de que a eliminação <strong>da</strong> pobreza resolve também a iniqüi<strong>da</strong>derelaciona<strong>da</strong> à cor <strong>da</strong> pele vem sendo paulatinamente derruba<strong>da</strong>.A educação formal catalisa a mobili<strong>da</strong>de social: <strong>para</strong> os brancos as possibili<strong>da</strong>desobti<strong>da</strong>s com o aumento do nível de escolari<strong>da</strong>de permitem explorar o mundo de umaoutra forma, <strong>da</strong>do que contam com auxílio de sua rede social. Para os negros, entretanto,ela oferece oportuni<strong>da</strong>des restritas, <strong>da</strong>do que as <strong>no</strong>vas gerações (geralmentemais escolariza<strong>da</strong>s) ain<strong>da</strong> não encontram o suporte necessário <strong>para</strong> mu<strong>da</strong>nça em suarede social/comunitária.2. Noções e conceitos essenciais <strong>para</strong> a promoção <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de racial2.1. O conceito de Direitos Huma<strong>no</strong>sSabemos que um dos primeiros passos <strong>para</strong> minimizar as vulnerabili<strong>da</strong>des éidentificar os direitos não efetivados tanto do ponto de vista individual quanto do coletivoe, em segui<strong>da</strong>, elaborar estratégias de promoção. A perspectiva universalista doquadro de Direitos Huma<strong>no</strong>s oferece uma referência generalizável sob a qual se podeexaminar qualquer contexto social ou estrutura de programa, avaliando o quanto essesafastam (ou aproximam) as pessoas dos mais altos e desejáveis padrões de quali<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong>. Segundo França Jr. e col (2000), “a identificação <strong>da</strong>s possibili<strong>da</strong>des e limites <strong>da</strong>interlocução entre a Saúde Coletiva e os Direitos Huma<strong>no</strong>s pode reforçar a perspectivade que o bom cui<strong>da</strong>do em saúde é, acima de tudo, um Direito Huma<strong>no</strong>”.De acordo com Com<strong>para</strong>to (1999), os direitos huma<strong>no</strong>s são definidos comoum sistema de valores éticos, hierarquicamente organizados de acordo com o meiosocial, que tem como fonte e medi<strong>da</strong> a digni<strong>da</strong>de do ser huma<strong>no</strong>, aqui defini<strong>da</strong> pelaconcretização do valor supremo <strong>da</strong> justiça. Segundo o autor, <strong>no</strong> decorrer <strong>da</strong> história,14Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


a compreensão de digni<strong>da</strong>de foi baliza<strong>da</strong> pela dor física e pelo sofrimento moral demuitos e desencadea<strong>da</strong> pelo fenôme<strong>no</strong> ideológico. Em função disso, a exigência decondições sociais adequa<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a realização de to<strong>da</strong>s as virtuali<strong>da</strong>des do ser huma<strong>no</strong>é intensifica<strong>da</strong> pelo tempo e justifica<strong>da</strong> pelos princípios de irreversibili<strong>da</strong>de ecomplementari<strong>da</strong>de solidária dos direitos já declarados.2.2. A <strong>no</strong>ção de raçaEm <strong>no</strong>sso país a <strong>no</strong>ção de raça tem sido fun<strong>da</strong>mental na organização dos princípios<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. De acordo com alguns autores, a idéia de raça não pode ser considera<strong>da</strong>universal por não prescindir de uma fun<strong>da</strong>mentação objetiva, “natural” ou biológica(Frota Pessoa, 1996; Santos RV, 1996). Para eles, a “fragili<strong>da</strong>de” termi<strong>no</strong>lógica econceitual pode dificultar sua aplicação em estudos e pesquisas sobre saúde.Aqueles que defendem o uso do termo reiteram seu caráter mutável, plástico eafirmam que sua utili<strong>da</strong>de analítica está centra<strong>da</strong>, exatamente, na negação de umafun<strong>da</strong>mentação biológica e na confirmação de sua proprie<strong>da</strong>de social e política plena(Fa<strong>no</strong>n, 1983; Guimarães, 1995; Hasenbalg, 1996; Maggie,1996; López, 2000a,b;Perea, 2000; Goodman, 2000; Delgado, 2000). De acordo com estes autores, autilização científica do termo permite compreender e intervir em certas ações(inter)subjetivamente intenciona<strong>da</strong>s e orienta<strong>da</strong>s, bem como em suas implicações edesfechos.Para Cashmore (2000), o conceito de raça poderia ser definido sob três prismas:1. <strong>da</strong> classificação; 2. <strong>da</strong> significância; 3. <strong>da</strong> si<strong>no</strong>nímia. Do prisma <strong>da</strong> classificação,o termo designaria um grupo ou categoria de pessoas conecta<strong>da</strong>s por uma origemcomum; do prisma <strong>da</strong> significância, ele seria uma expressão, som ou imagem cujossignificados, viabilizados somente por meio <strong>da</strong> aplicação de regras e códigos, seriamplásticos e mutantes; e, do prisma <strong>da</strong> si<strong>no</strong>nímia designaria um modo de entender einterpretar as diversi<strong>da</strong>des por meio de marcadores inteligíveis.Ao apresentar as possíveis definições de raça, o autor relata que o termo entrou<strong>para</strong> a língua inglesa <strong>no</strong> começo do século XVI e que, até o começo do século XIX, foiusado principalmente <strong>para</strong> referir-se às características comuns apresenta<strong>da</strong>s em virtudede uma mesma ascendência. Desde o início do século XIX foram atribuídos vários outrossentidos ao termo “raça”, contudo, os componentes fe<strong>no</strong>típicos <strong>da</strong> ascendência atraíama atenção <strong>da</strong>s pessoas tão prontamente que elas não eram capazes de perceber que avali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> raça como conceito dependia do seu emprego numa explicação.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de15


Ao ponderar sobre o caráter polissêmico do termo raça, Cashmore afirma que adiversi<strong>da</strong>de de seus significados é influencia<strong>da</strong> pelas regras e códigos sociais de umdeterminado tempo histórico, pelos grupos sociais considerados, pelo espaço físicoe simbólico que ocupam.Para descrever e analisar as desigual<strong>da</strong>des nas condições de vi<strong>da</strong> e as especifici<strong>da</strong>desdos processos de vulnerabilização experimentados por mulheres e homens negros, otermo raça será utilizado como sinônimo de grupo de pessoas socialmente unifica<strong>da</strong>sem virtude de seus marcadores físicos.2.3. O conceito de racismoO racismo é um fenôme<strong>no</strong> complexo caracterizado por diferentes manifestaçõesa ca<strong>da</strong> tempo e lugar. Seu caráter ideológico atribui significado social a determinadospadrões de diversi<strong>da</strong>des fe<strong>no</strong>típicas e/ou genéticas e imputa características negativasao grupo com padrões “desviantes”, que justificam o tratamento desigual. O racismoé uma programação social e ideológica a qual todos estão submetidos. Uma vezprograma<strong>da</strong>s as pessoas reproduzem atitudes racistas, consciente ou inconscientementeatitudes que, em certos casos, são inteiramente opostas à sua opinião.Historicamente, os significados sociais, as crenças e atitudes sobre os gruposraciais, especialmente o negro, têm sido traduzidos em políticas e arranjos sociaisque limitam oportuni<strong>da</strong>des e expectativa de vi<strong>da</strong>.A socialização cultural coloca as pessoas e os grupos em posições de competiçãopor status e por recursos valorizados e isso aju<strong>da</strong> a explicar como os atores sociaisdesenvolvem estratégias <strong>para</strong> a obtenção de interesses específicos. Em sendo o racismoum fenôme<strong>no</strong> ideológico, sua dinâmica é revitaliza<strong>da</strong> e manti<strong>da</strong> com a evolução <strong>da</strong>ssocie<strong>da</strong>des, <strong>da</strong>s conjunturas históricas e dos interesses dos grupos. São esses predicadosque fazem do racismo um “fabricante” e multiplicador de vulnerabili<strong>da</strong>des.As socie<strong>da</strong>des lati<strong>no</strong>-americanas incluindo a brasileira, definem as posiçõessociais de seus membros de modo a lhes garantir privilégios em sua relação com oEstado ou com os demais grupos sociais. No pla<strong>no</strong> <strong>da</strong>s relações intersubjetivas, essesprivilégios são resguar<strong>da</strong>dos por etiquetas que têm, na aparência e na cor, as principaisreferências e marcos <strong>no</strong> espaço social (Munanga, 1990; Hasenbalg, 1996; Maggie,1996; Guimarães, 1997; Bento, 1999).16Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


2.3.1. Percorrendo as veias do racismo na América LatinaNos países lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, o racismo apresenta dois pontos nevrálgicos: 1. oideal do branqueamento ou embranquecimento e 2. a concepção desenvolvi<strong>da</strong> porelites políticas sobre a harmonia e a tolerância raciais e sobre a ausência de preconceitoe discriminação baseados na raça/cor – a propala<strong>da</strong> democracia racial.Apresentado <strong>no</strong> final do século XIX como a solução harmoniosa <strong>para</strong> o problemaracial, o ideal de branqueamento tinha como meta a desaparição gradual dos negrospor meio de sua absorção pela população branca. No passado, assim como agora,os sistemas baseados <strong>no</strong> embranquecimento admitem o deslocamento social lento,ao longo do contínuo de cor, de modo que sejam mais aceitos aqueles que maisse aproximam <strong>da</strong> brancura, isto é, aos mestiços se oferece a ilusão de mobili<strong>da</strong>dee ascensão, enquanto aos pretos as únicas possibili<strong>da</strong>des ofereci<strong>da</strong>s são a exclusãoe a negação <strong>da</strong> auto-imagem. Embora muitos pardos ten<strong>da</strong>m a se identificar comobrancos e alguns pretos classifiquem-se como pardos, eles (os pretos) dificilmentepoderão classificar-se como brancos, assim, a impossibili<strong>da</strong>de de ocupar outros lugaresestabelece um limite e denuncia a permanência <strong>da</strong> dicotomia negro versus branco(Fa<strong>no</strong>n, 1983; Guimarães, 1995; Hasenbalg, 1996).A democracia racial, traduzi<strong>da</strong> pela convivência pacífica entre negros e brancos,pela proximi<strong>da</strong>de geográfica, física e cultural e pelas relações afetuosas, quasefamiliares, propicia<strong>da</strong>s pela intensa mobili<strong>da</strong>de sexual dos homens brancos a partir doperíodo colonial, teve como principal veículo de disseminação <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, os trabalhosde Gilberto Freyre, cujo pensamento foi seguido por muitos outros. O projeto de naçãolevado a cabo neste período buscava afirmar-se na produção de uma nação pacífica,afetuosa e sensual, ancora<strong>da</strong> na idéia <strong>da</strong> mistura racial que absorvia o que de melhor,ou nem tanto, os três povos (brancos, negros e indígenas) teriam a oferecer (Werneck,2004).No <strong>Brasil</strong>, as hierarquias sociais são justifica<strong>da</strong>s e racionaliza<strong>da</strong>s de diferentesmodos, todos eles (sem exceção) apelam à ordem “natural” de sua existência eapresentam-se como um traço constitutivo <strong>da</strong>s relações sociais. Segundo Guimarães(1995), o sistema de hierarquização brasileiro (e <strong>da</strong> América Latina em geral) interligaraça e cor, classe social (ocupação, ren<strong>da</strong>) e status (origem familiar, educação formal)sem, contudo, deixar de ser sustentado pela dicotomia racial branco versus preto quealicerçou a ordem escravocrata por três séculos e persiste ativa na atuali<strong>da</strong>de, resistindoà urbanização, à industrialização, às mu<strong>da</strong>nças de sistema e regimes políticos.A “naturali<strong>da</strong>de” deste tipo de hierarquia social determina que o racismo sejasocialmente apresentado como um “problema do negro”; como um legado inerente aum passado inequívoco e sem continui<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s dias atuais. Neste cenário, os maioresdesafios de uma prática anti-racista são: 1. contribuir <strong>para</strong> a conscientização dos negrosSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de17


e <strong>para</strong> a ampliação de seu repertório de direitos; 2. desconstruir os princípios <strong>da</strong> “branquitude”alicerçados <strong>no</strong> reconhecimento <strong>da</strong>s carências <strong>negra</strong>s e, <strong>para</strong>doxalmente, naproteção silenciosa (e constante) dos privilégios concretos e simbólicos dos demais.3. Raça, racismo e saúdeNa perspectiva dos direitos huma<strong>no</strong>s, a saúde é reconheci<strong>da</strong> como o conjunto decondições integrais e coletivas de existência, influenciado por fatores políticos, culturais,socioeconômicos e ambientais. Nesse sentido é impossível deixar de considerar oavanço inegável <strong>da</strong> instituição <strong>da</strong> saúde como direito de todos(as) e dever do Estado(artigo 196 <strong>da</strong> Constituição Federal), entretanto, a garantia legal ao acesso universal eigualitário às ações e aos serviços de saúde não tem assegurado aos negros e indígenaso mesmo nível, quali<strong>da</strong>de de atenção e perfil de saúde apresentado pelos brancos.Indígenas, negros e brancos ocupam lugares desiguais nas redes sociais e trazemconsigo experiências também desiguais ao nascer, viver, adoecer e morrer.Para ilustrar tais experiências destacamos algumas pesquisas cujos resultadosforam publicados recentemente. De acordo com Perpétuo (2000) e Chacham (2000),em 1996, as mulheres <strong>negra</strong>s apresentaram me<strong>no</strong>res chances de passar por consultasginecológicas completas e por consultas de pré-natal; me<strong>no</strong>res chances de realizar aprimeira consulta de pré-natal em período igual ou inferior ao quarto mês de gravidez,receber informações sobre os sinais do parto, alimentação saudável durante a gravidez esobre a importância do aleitamento mater<strong>no</strong> <strong>no</strong>s primeiros seis meses de vi<strong>da</strong> do bebê.Em contraparti<strong>da</strong>, apresentaram maiores chances de ter o primeiro filho com 16 a<strong>no</strong>sou me<strong>no</strong>s, de engravi<strong>da</strong>r ain<strong>da</strong> que não quisessem, de não receber assistência médicadurante todo o período gravídico e/ou de não serem examina<strong>da</strong>s adequa<strong>da</strong>mente.No a<strong>no</strong> 2000, 8,9% <strong>da</strong>s mulheres que deram à luz na região Norte do país nãorealizaram consultas de pré-natal contra 6,5% <strong>da</strong>s brancas, o que implica em 36%me<strong>no</strong>s de chance de acesso a este tipo de assistência. No Nordeste, as proporções foramde 10,1% <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s e 6,9% <strong>para</strong> as brancas, razão de 46%. No Centro-Oeste,3,9% versus 1,8%. No Sudeste e Sul, a proporção de <strong>negra</strong>s que não tiveram acessoaos cui<strong>da</strong>dos <strong>no</strong> período gravídico foi o dobro <strong>da</strong>s brancas (Cunha e Jakob, 2004).Em termos locais, <strong>da</strong>s 9.633 puérperas atendi<strong>da</strong>s em materni<strong>da</strong>des do municípiodo Rio de Janeiro, entre julho de 1999 e março de 2000, mais <strong>negra</strong>s que brancas relataramdiagnóstico de doença hipertensiva e sífilis durante a gestação. Na avaliaçãoquantitativa dos cui<strong>da</strong>dos <strong>no</strong> pré-natal, a situação de inadequação foi comum <strong>para</strong> amaioria <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s. Além <strong>da</strong> inadequação do pré-natal, a peregrinação embusca de atendimento foi de 31,8% entre as pretas, 28,8% entre as par<strong>da</strong>s e 18,5%18Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


entre as brancas. A anestesia foi amplamente utiliza<strong>da</strong> <strong>para</strong> o parto vaginal em ambosos grupos, contudo, a proporção de puérperas que não tiveram acesso a este procedimentofoi maior entre as pretas e par<strong>da</strong>s – 21,8% e 16,4% respectivamente. Todos os<strong>da</strong>dos citados estão descritos <strong>no</strong> estudo realizado por Leal e col (2005).3.1. Por que silenciamos frente à falta de sensibili<strong>da</strong>de doscui<strong>da</strong>dores e cui<strong>da</strong>doras?Em todos os cantos do mundo a eficácia do cui<strong>da</strong>do em saúde varia de acordocom as condições socioeconômicas do sujeito, o lugar onde ele vive, a quali<strong>da</strong>dedos equipamentos sociais que ele tem acesso, a sensibili<strong>da</strong>de, a humanização e ocompromisso <strong>da</strong> equipe de profissionais pelos quais ele é atendido.A análise <strong>da</strong> estrutura social e sua evolução <strong>no</strong> tempo são imprescindíveis. Nãose deve isolar os sujeitos uns dos outros, do seu ambiente e do seu observador. Emdecorrência dessas premissas, o registro e a análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des e iniqüi<strong>da</strong>desraciais em saúde só pode ser feito por pessoas sensíveis e aptas a compreender osdiferentes sentidos e significados atribuídos às relações inter e intra-raciais, inter eintragêneros, inter e intrageracionais (Lopes e Malachias, 2000).Aqueles que precisam do cui<strong>da</strong>do buscam um esquema de atendimento queconsidere suas necessi<strong>da</strong>des; que seja conveniente com o seu perfil socioeconômico;que leve em consideração a sua posição na hierarquia social e de gênero dentro efora <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de familiar; que respeite seus traços culturais, suas crenças, seus valorese expectativas. A dificul<strong>da</strong>de enfrenta<strong>da</strong> pelos cui<strong>da</strong>dores em contemplar esta diversi<strong>da</strong>dee plurali<strong>da</strong>de compromete a resolutivi<strong>da</strong>de de suas ações.A cultura é o conjunto de sinais, símbolos e significados sociais e o que eles comunicam.É o conjunto dos diversos modos de vi<strong>da</strong>, relações sociais, formas de interaçãoe interpretação <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de com o mundo e do mundo <strong>para</strong> com a humani<strong>da</strong>de.Os pensamentos e os comportamentos individuais se inserem dentro de um contextomais amplo, logo, to<strong>da</strong>s as construções individuais são dependentes <strong>da</strong> linguagem,dos valores que ela comunica, determina, reforça e mantém; <strong>da</strong>s instituições e dossistemas de classificação sociocultural.O controle <strong>da</strong> linguagem não se dá <strong>no</strong> modelo lógico/racional porque a linguagemé a (re)construção do mundo e não o seu resumo, sendo assim, os sentidos e significadosatribuídos ao objeto <strong>da</strong> comunicação o são, de acordo com o mundo que sequer construir, <strong>no</strong> momento que a construção é deseja<strong>da</strong> e somente por aqueles quea querem (Ricoeur, 1988).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de19


O preconceito 15 (in)consciente, a ig<strong>no</strong>rância, a falta de atenção ou a aceitaçãode estereótipos racistas que colocam segmentos populacionais em desvantagem; asub-representação de negros e indígenas entre os cui<strong>da</strong>dores de nível superior e a faltade “habili<strong>da</strong>de” <strong>para</strong> o manejo de questões relativas à raça ou etnia (incompetênciacultural) corroboram <strong>para</strong> a elaboração de estratégias me<strong>no</strong>s evidentes, porém eficientes,de discriminação racial ou étnica 16 , seja numa perspectiva individual, coletiva oumesmo institucional.No caso <strong>da</strong> saúde, o uso <strong>da</strong> linguagem como meio de manutenção e legitimação<strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais e raciais permite que sejam criados, cotidianamente,<strong>no</strong>vos mecanismos <strong>para</strong> o não oferecimento de um serviço profissional, adequadoe equânime. Do ponto de vista do usuário, são criados e recriados mecanismos <strong>para</strong>a não percepção ou não aceitação de atitudes negativas por parte dos profissionais.Enquanto aqueles simulam tratamento igualitário, estes fingem não perceber que estãosendo maltratados ou fingem não saber que não têm suas necessi<strong>da</strong>des contempla<strong>da</strong>sde forma insatisfatória.Dados <strong>da</strong> pesquisa nacional sobre Discriminação Racial e Preconceito de Cor <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>, realiza<strong>da</strong> pela Fun<strong>da</strong>ção Perseu Abramo e Instituto Rosa Luxemburgo Stuftingem 2003, revelam que 3% <strong>da</strong> população brasileira já se percebeu discrimina<strong>da</strong> <strong>no</strong>sserviços de saúde. Entre as pessoas <strong>negra</strong>s que referiram discriminação, 68% foramdiscrimina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> hospital, 26% <strong>no</strong>s postos de saúde e 6% em outros serviços nãoespecificados. Em sua maioria, o agente discriminador foi o médico e, ain<strong>da</strong> que istotenha sido percebido, poucos buscaram denunciar o ato. Entre aqueles que o fizeram,ninguém relatou ter sido informado sobre as providências toma<strong>da</strong>s pela instituição<strong>para</strong> reverter o quadro.Ao entrevistar usuários e usuárias portadores de hipertensão arterial essencial,atendidos em serviços públicos do município do Rio de Janeiro, Cruz (2004) observouque, embora a significância estatística tenha sido observa<strong>da</strong> apenas em relação aotratamento não cordial oferecido aos brancos pelo médico cardiologista, os negrosrelataram com mais freqüência tratamento desigual. A falta de cordiali<strong>da</strong>de por partedo recepcionista foi cita<strong>da</strong> por 4,5% dos brancos e 13,3% dos negros; por parte do(a)auxiliar de enfermagem, 4,5% <strong>para</strong> os brancos e 5,4% <strong>para</strong> os negros; por parte do(a)clínico geral, 4,5% entre os brancos e 13,3% entre os negros.15. O preconceito entendido como uma idéia preconcebi<strong>da</strong>, sem razão objetiva ou refleti<strong>da</strong>, é uma posiçãopsicológica que acentua sentimentos e atitudes endereçados a um grupo como um todo ou a uma pessoa porser membro <strong>da</strong>quele grupo (Munanga,1999).16 Discriminação é a atitude ou ação de distinguir tendo por base idéias preconceituosas. É a manifestaçãocomportamental que perpetua privilégios e desigual<strong>da</strong>des históricas culturalmente aceitos (Munanga, 1999).20Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Na mesma pesquisa, a autora relata que muitos usuários não tentaram fazer na<strong>da</strong>a respeito do tratamento descortês recebido (75,9%). Não procuraram falar com a direção(52,4%), preferiram guar<strong>da</strong>r o fato de ter sido mau tratado <strong>para</strong> si (56,8%) e nãobuscaram tomar outra atitude (59,5%). Embora a maior parte dos entrevistados tenhase omitido em relação ao problema, três quartos deles não consideraram o fato de sertratado de forma descortês, <strong>no</strong> serviço de saúde, como algo natural. Esta percepçãofoi mais marcante entre os negros que entre os brancos.Sabemos que as eventuais situações de estresse e descortesia fazem parte <strong>da</strong>srelações interpessoais e que a capaci<strong>da</strong>de de ser assertivo em situações desta naturezaé uma habili<strong>da</strong>de a ser aprendi<strong>da</strong> e exercita<strong>da</strong>. Contudo, uma vez que as estratégias deenfrentamento individuais são frágeis e causam sofrimento, recai sobre a instituiçãoa responsabili<strong>da</strong>de de monitorar e neutralizar os atores, as ações e os procedimentoscom potencial estigmatizante ou discriminatório.No trabalho realizado por Leal e col (2005) com puérperas, as mulheres de cor preta epar<strong>da</strong> referiram me<strong>no</strong>r grau de satisfação que as brancas em relação ao atendimento recebido<strong>no</strong> pré-natal, parto e em relação ao cui<strong>da</strong>do oferecido ao recém-nascido. A satisfação cresceucom os a<strong>no</strong>s de estudo, entretanto, tanto <strong>no</strong>s níveis de instrução mais baixos, quanto <strong>no</strong>smais elevados, as brancas mostraram maior satisfação.As crenças dos profissionais e <strong>da</strong>s instituições de saúde sobre os usuários sãoinfluencia<strong>da</strong>s pelo comportamento dos mesmos durante os encontros e o conteúdodesses encontros tem relação com sua de<strong>no</strong>minação religiosa, seu status socioculturale econômico. Neste sentido, um usuário de atitude passiva, de origem mais humildee pertencente a um grupo racial não hegemônico, tem me<strong>no</strong>r chance de influenciarpositivamente a decisão clínica do profissional sobre seus problemas de saúde,incluindo aqueles causados ou acirrados pela exposição constante as mais diversasfontes de estresse (Van Ryn e col, 2003).Para ilustrar estas considerações trazemos a declaração do obstetra e ginecologistaBartolomeu Penteado Coelho, diretor <strong>da</strong> Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia doCremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) ao jornal Folha de São Paulo,em 26 de maio de 2002 (Petry, 2002). Ao ser questionado sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciapresta<strong>da</strong> às mulheres puérperas entrevista<strong>da</strong>s por Leal e colaboradores o médico afirmou:Em alguns lugares, como na Baixa<strong>da</strong> Fluminense [periferia do Rio deJaneiro], o atendimento <strong>no</strong>s hospitais públicos é ruim, não importa acor <strong>da</strong> pessoa.Acontece que nesses lugares a maioria dos pacientes é pobre e grandeparte deles é composta por negros. Como as gestantes <strong>negra</strong>s são maioria,a pesquisa acaba concluindo que elas recebem um atendimento pior,quando, na ver<strong>da</strong>de, as brancas é que são poucas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de21


A naturalização <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des refleti<strong>da</strong>, de forma bastante níti<strong>da</strong>, na atitude e<strong>no</strong> comportamento do profissional de saúde, médico conselheiro do Conselho Regional deMedicina do Rio de Janeiro, resulta do preconceito e <strong>da</strong> falta de atenção aos estereótiposracistas incorporados na prática cotidiana. As atitudes discriminatórias estão inseri<strong>da</strong>snum contexto histórico, cultural e político e são respal<strong>da</strong><strong>da</strong>s pela ideologia que perpassaesse contexto. Como descrito na literatura, muitos profissionais, adeptos <strong>da</strong> justiça e <strong>da</strong>eqüi<strong>da</strong>de, contribuem, contraditoriamente, <strong>para</strong> violações sistemáticas de direitos.Outros exemplos de baixa quali<strong>da</strong>de do tratamento oferecido às mulheres <strong>negra</strong>sfoi registrado por Perpétuo (2000). Segundo a autora, os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Pesquisa Nacionalde Demografia e Saúde – 1996 – deixaram níti<strong>da</strong>s as diferenças raciais presentes <strong>no</strong>cui<strong>da</strong>do oferecido às mulheres na área de saúde sexual e reprodutiva. A não realizaçãode consultas ginecológicas completas 17 , a ausência de consultas de pré-natal, o númerode consultas abaixo do preconizado e o não oferecimento do exame ginecológico póspartoestiveram estatisticamente associados à variável cor <strong>da</strong> pele, mesmo após ajustee controle por nível de escolari<strong>da</strong>de e ren<strong>da</strong>.Na mesma pesquisa nacional, observou-se que, <strong>da</strong>s mulheres entrevista<strong>da</strong>s quetiveram filho(s) <strong>no</strong>s 5 (cinco) a<strong>no</strong>s anteriores à realização <strong>da</strong> Pesquisa (n=3.025), as <strong>negra</strong>sapresentaram me<strong>no</strong>res probabili<strong>da</strong>des de realizar a primeira consulta em período igualou inferior ao quarto mês de gravidez e maiores probabili<strong>da</strong>des de não terem recebido assistênciamédica durante todo o período gravídico. A chance de pelo me<strong>no</strong>s um dos filhosdessas mulheres ter nascido em casa foi 3,73 vezes a chance observa<strong>da</strong> <strong>para</strong> as brancas.No <strong>Brasil</strong>, a indesejabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> discriminação basea<strong>da</strong> na cor, raça, etnia, orientaçãosexual, classe, de<strong>no</strong>minação religiosa, porte de alguma deficiência, estilo devi<strong>da</strong> ou outra situação, leva os indivíduos a organizar o seu referencial de símbolose significados sociais de uma outra forma. Assim, embora não seja ético orientar suaação de modo a discriminar, o profissional tende a não perceber as desigual<strong>da</strong>des oua insistir em sua inexistência, contribuindo <strong>para</strong> a inércia do sistema frente às mesmase, por conseqüência, <strong>para</strong> a sua manutenção e/ou ampliação.3.2. Colocando o preto <strong>no</strong> branco: o impacto <strong>da</strong> cegueira institucionalna saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>Como vimos, o nascer é mais difícil <strong>para</strong> os filhos de mães <strong>negra</strong>s, <strong>da</strong> mesmaforma, viver também apresenta-se como um grande desafio.17. A autora informa que, <strong>para</strong> mulheres com até 35 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, a consulta ginecológica completa deve incluirexame físico e coleta de material <strong>para</strong> a realização do exame de Papanicolau. Para as mulheres com 35 a<strong>no</strong>s e mais,a consulta é considera<strong>da</strong> completa ao incluir mamografia, além do exame físico e coleta de esfregaço vaginal.22Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Nas últimas déca<strong>da</strong>s, a socie<strong>da</strong>de brasileira tem observado uma tendência deredução significativa <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, entretanto, étriste constatar que o diferencial racial se mantém e que, <strong>para</strong> os negros, a redução<strong>da</strong>s taxas apresentou-se proporcionalmente me<strong>no</strong>r: se <strong>para</strong> os brancos ela reduziu em43%, <strong>para</strong> os negros a diminuição foi de apenas 25% - tabela 1 (Cunha, 2001).Tabela 1. Mortali<strong>da</strong>de Infantil (por mil nascidos vivos), segundo raça/cor.<strong>Brasil</strong>, 1977, 1987 e 1993.Branca Negra (a) Total1977 76 96 871987 43 72 581993 (b) 37 62 43a) Inclui as populações classifica<strong>da</strong>s como par<strong>da</strong> e preta.b) Estimativas de Simões e Cardoso (1997).Fonte: FIBGE. Censos Demográficos – 1980, 1991; PNAd, 1995. Tabulaçõesespeciais Nepo/Unicamp. In Cunha (2001).Ain<strong>da</strong> em relação à mortali<strong>da</strong>de infantil, a autora refere-se ao fato de as desigual<strong>da</strong>desraciais terem se acentuado <strong>no</strong> decorrer dos a<strong>no</strong>s. De acordo com os <strong>da</strong>dos doCenso de 1980, a diferença relativa entre os níveis de mortali<strong>da</strong>de de negros e brancosme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> era de 21%. No transcurso de 10 a<strong>no</strong>s este valor aumentou <strong>para</strong>40%, ou seja, os filhos de mães <strong>negra</strong>s estiveram mais expostos aos riscos de adoecere morrer que os filhos de mães brancas. Os diferenciais raciais estiveram presentesem to<strong>da</strong>s as grandes regiões brasileiras, ressaltando que as mais gritantes dispari<strong>da</strong>desforam observa<strong>da</strong>s nas regiões Sul e Sudeste – 38% e 33%, respectivamente. Os filhosde mães <strong>negra</strong>s <strong>da</strong> região Nordeste estiveram sujeitos a um risco 63% mais elevadode morrer antes de completar o primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> quando com<strong>para</strong>dos aos filhosde mães brancas, residentes na região Sul (Cunha, 2001).A partir dos níveis de mortali<strong>da</strong>de infantil e assumindo um determinado padrãode mortali<strong>da</strong>de, é possível calcular o número médio de a<strong>no</strong>s que a população viverá.De acordo com Cunha (1997), na déca<strong>da</strong> de 1980, a estimativa <strong>da</strong> expectativa de vi<strong>da</strong>girava em tor<strong>no</strong> de 68 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de (gráfico 1). Ao desagregar os <strong>da</strong>dos por raça/corfoi possível observar que, enquanto os brancos atingiam uma expectativa de 72 a<strong>no</strong>s,os negros alcançaram 65 a<strong>no</strong>s. Esta diferença de sobrevivência entre a populaçãobranca e <strong>negra</strong> – de sete a<strong>no</strong>s – manteve-se quase constante desde a déca<strong>da</strong> de 1940a despeito dos ganhos obtidos na que<strong>da</strong> dos níveis <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de geral. (Wood eCarvalho, 1994).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de23


Gráfico 1. Expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer (em a<strong>no</strong>s), segundo raça/cor. <strong>Brasil</strong>. 1987Fonte; IBGE. Censo Demográfico 1991.Tabulações especiais. In Cunha e Jakob (2004).* Considera-se a população classifica<strong>da</strong> como par<strong>da</strong> e preta.Ao controlar os <strong>da</strong>dos por escolari<strong>da</strong>de e rendimento <strong>da</strong> mãe, Wood e Carvalho(1994) observaram que, em to<strong>da</strong>s as desagregações, persistiam as desigual<strong>da</strong>des raciais.As desigual<strong>da</strong>des nas expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer eram maiores <strong>no</strong>s grupos derendimento e educação mais elevados (tabela 2).Tabela 2. Expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer por ren<strong>da</strong> familiar mensal,escolari<strong>da</strong>de e raça/cor. <strong>Brasil</strong>, 1980.Especificação Raça branca (a) Não branca (b) A-BRen<strong>da</strong> Familiar A 59,5 55,8 3,7B 64,4 59,8 4,6C 66,2 61,2 4,8D 70,4 63,7 6,7Escolari<strong>da</strong>de Nenhuma 59,4 54,9 4,51-4 a<strong>no</strong>s 66,2 62,2 4,04 a<strong>no</strong>s e mais 72,3 66,6 5,7A = CR$ 1,00 a Cr$ 150,00; B = Cr$ 151,00 a Cr$ 300,00; C = Cr$ 301,00 a Cr$ 500,00; D = Maisde Cr$ 500,00.* Educação refere-se à escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe.Fonte: Dados básicos: Censo Demográfico de 1980. In Wood & Carvalho (1994).Como resultado do processo de geração dos indicadores de esperança de vi<strong>da</strong> aonascer dos grupos de raça/cor e sexo, elaborado e empreendido por Paixão e col. (2004),obteve-se uma estimativa de 70,4 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> a população brasileira como um todo. Ogrupo de cor que apresentou a maior esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer foi o contingenteamarelo – 75,7 a<strong>no</strong>s. Os brancos apareceram com uma esperança de vi<strong>da</strong> de 74 a<strong>no</strong>s.24Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Já os negros (pretos e pardos) apresentaram, <strong>no</strong> seu conjunto, uma esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer de 67,8 a<strong>no</strong>s. Os pardos apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong> ligeiramentesuperior aos pretos, situando-se em 0,3 a<strong>no</strong>s. To<strong>da</strong>via, a diferença entre ambos os grupose os brancos foi bastante significativa, tendo se situado em 6,3 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> os pretos e 5,9a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> os pardos. Ou seja, <strong>no</strong> seu conjunto, os negros apresentaram uma esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer 6,1 inferior aos brancos, demonstrando que ao longo de todo o séculoXX, as desigual<strong>da</strong>des raciais desse indicador foram reduzi<strong>da</strong>s de modo tímido (maisespecificamente, um a<strong>no</strong> a ca<strong>da</strong> meio século).O contingente que apresentou a me<strong>no</strong>r esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer foi o indígena– 66,57, contando com uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 7,42 a<strong>no</strong>s inferioraos brancos, de 1,3 a<strong>no</strong>s inferior aos negros e 9,18 a<strong>no</strong>s a me<strong>no</strong>s quando com<strong>para</strong>dosaos amarelos – gráfico 2.Gráfico 2. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer (em a<strong>no</strong>s) por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte (<strong>da</strong>dos básicos): IBGE, Censo Demográfico 2000.Notas (*) Nos <strong>da</strong>dos básicos, inclusive as mulheres sem declaração de raça/cor.(**) Dados básicos sem significância estatística <strong>para</strong> produzir estimativas. In: Paixão e col (2004).Para a população como um todo, os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos somam-se em 11,3.As mulheres perdem me<strong>no</strong>s tempo de vi<strong>da</strong> que os homens (8,9 a<strong>no</strong>s e 13,5, respectivamente)e os pretos mais tempo que os brancos (9,7 a<strong>no</strong>s e 8,2 a<strong>no</strong>s), sendo a somatóriade a<strong>no</strong>s potenciais de vi<strong>da</strong> perdidos dos pardos estabeleci<strong>da</strong> num intermédio entrebrancos e pretos – 8,4 a<strong>no</strong>s .Os <strong>da</strong>dos de Paixão e col (2004) também <strong>no</strong>s permitem observar que, <strong>para</strong> asmesmas patologias ou agravos, as vi<strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s são subtraí<strong>da</strong>s mais cedo, chamando-<strong>no</strong>sa atenção os a<strong>no</strong>s perdidos de vi<strong>da</strong> de mulheres e homens pretos <strong>no</strong> que diz respeito àsSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de25


causas mal defini<strong>da</strong>s e às causas externas, mais especificamente homicídios 18 . As doençasinfecciosas, em especial o HIV/aids e a tuberculose, embora assumam uma pequenaporção <strong>no</strong> total de a<strong>no</strong>s potenciais de vi<strong>da</strong> perdidos tanto <strong>para</strong> brancos quanto <strong>para</strong>pardos e pretos, assumem maior impacto nas vi<strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s, mormente nas pretas.Ao analisar a mortali<strong>da</strong>de na i<strong>da</strong>de adulta, agora partindo <strong>da</strong>s taxas, Batista e col(2004) mostram que a mortali<strong>da</strong>de dos pretos é maior que a dos brancos em quase todosos capítulos <strong>da</strong> 10ª edição <strong>da</strong> Classificação Internacional de Doenças (CID 10), exceto <strong>para</strong>as Neoplasias, Doenças do Aparelho Circulatório e Malformações Congênitas. As taxas demorte <strong>para</strong> os pretos aparecem 2 vezes mais que <strong>para</strong> os brancos <strong>no</strong>s óbitos determinadospor Doenças Mentais 19 ; Gravidez, Parto e Puerpério e Causas Mal Defini<strong>da</strong>s; mais de 50%maior nas Infecções, nas causas relaciona<strong>da</strong>s ao Tecido Sangüíneo, Glândulas Endócrinas,Pele, Tecido Osteomuscular e Regiões Geniturinárias e me<strong>no</strong>s de 50% maior nas Doençasdo Sistema Nervoso, Digestivo, Respiratório e Causas Externas (gráfico 3).Gráfico 3. Relação de taxa de mortali<strong>da</strong>de de adultos pretos, pardos enegros sobre brancos. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: SIM – Datasus/FSeade. Base tabulações especiais: Instituto de Saúde/SP. In Batista e col (2004).18. Os autores afirmam que <strong>no</strong> triênio 1998-2000, um quarto dos óbitos declarados <strong>para</strong> os homens negros foramatribuídos às causas externas. Para os brancos o percentual foi de 16%. Os homicídios perfizeram um total de48% <strong>para</strong> os homens negros e 34,4% <strong>para</strong> os brancos. O ataque com arma de fogo ou instrumento perfurocortantetambém foi mais freqüente nas declarações de óbitos de homens negros.19. As conseqüências indesejáveis do uso abusivo de álcool e outras drogas, incluindo a morte têm afetado avi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, em especial os homens (Paixão e col, 2004; Batista e col 2004). Cabe aqui ressaltarque as maiores taxas de mortali<strong>da</strong>de por transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais entre homens negros, estãoconcentra<strong>da</strong>s nas regiões mais pobres, detentoras dos me<strong>no</strong>res IDH, com maiores taxas de desemprego e/ouemprego informal, cabendo investimentos em ações intersetoriais.26Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Quando analisaram a mortali<strong>da</strong>de por sexo, Batista e col. (2004) observaramque os óbitos masculi<strong>no</strong>s (273.349) representavam pouco mais de 2/3 dos óbitos dopaís. Os brancos constituíam 50,7% <strong>da</strong> população e contribuíram com 49,97% dosóbitos; os pretos, 6,4% e 7,6%; os pardos, 39,0% e 31,1%; os amarelos e índios 1,4%<strong>da</strong> população e 2,0% dos óbitos. Aqueles com cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> representavam 2,5% destesegmento e 8,9 dos óbitos em 2000.Em ordem decrescente as seis primeiras causas que figuravam os registros de óbitona população masculina eram:1. Causas externas - 32,1%.2. Doenças do aparelho circulatório - 20,1%.3. Causas mal defini<strong>da</strong>s - 10,9%.4. Neoplasias - 10,8%.5. Doenças do aparelho digestivo - 6,8%.6. Doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias - 6,2%.Chamou-<strong>no</strong>s atenção o fato de a taxa de mortali<strong>da</strong>de por Doenças <strong>da</strong> Pele sercerca de 6 vezes maior <strong>para</strong> homens pretos quando com<strong>para</strong><strong>da</strong> à taxa apresenta<strong>da</strong> <strong>para</strong>os homens brancos, situação estranhamente semelhante na relação entre as taxas demortali<strong>da</strong>de por Doenças Osteomusculares, quase quatro vezes maior <strong>para</strong> os pretos,as Malformações Congênitas cerca de 3,5 vezes. Em relação à morte por Causas MalDefini<strong>da</strong>s, Doenças Mentais e Doenças Geniturinários a razão entre as taxas descritas<strong>para</strong> pretos e brancos é mais que o dobro (gráfico 4).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de27


Gráfico 4. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre amortali<strong>da</strong>de de brancos. Homens adultos. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: SIM – Datasus/FSeade. Base tabulações especiais: Instituto de Saúde/SP. In Batista e col(2004).Em 2000 ocorreram, aproxima<strong>da</strong>mente, 134.344 óbitos femini<strong>no</strong>s numa taxa de208,17/100 mil e as taxas apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> os seis principais grupos de causas foram:1. Doenças do Aparelho Circulatório - 56,99/100 mil.2. Neoplasias - 42,76/100 mil.3. Sintomas e Sinais Mal-definidos - 26,11/100 mil.4. Causas Externas - 19,59/100 mil.5. Doenças do Aparelho Respiratório - 14,22/100 mil.6. Infecciosas e Parasitárias - 12,70/100 mil.Nesse a<strong>no</strong>, morreram 65.358 mulheres brancas, 11.318 pretas, 35.089 par<strong>da</strong>s,46.407 <strong>negra</strong>s (pretas mais par<strong>da</strong>s), 1.599 amarelas e indígenas e 20.977 mulheres deraça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s. Na população feminina, as mulheres pretas constituíam 6,2%, <strong>no</strong>entanto, seus óbitos perfizeram 8,4% do total (n=134.344). As brancas, que representavam54,8% <strong>da</strong> população feminina brasileira, contribuíram com 48,6% dos óbitosdeste segmento. Já as mulheres par<strong>da</strong>s (37,5% <strong>da</strong> população feminina), apresentaramproporção de óbitos igual a 26,1% do total. As mulheres amarelas e indígenas repre-28Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


sentam 0,9% <strong>da</strong> população feminina e 1,2% dos óbitos femini<strong>no</strong>s. Quanto à raça/corig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, essa categoria representa 0,6% <strong>da</strong> população, mas 15,6% dos óbitos femini<strong>no</strong>sdo país.Entre as brancas a taxa foi de 184,67/100 mil e entre as par<strong>da</strong>s 145,11/100 mil,números superados <strong>no</strong> grupo <strong>da</strong>s pretas, que apresentaram taxa de mortali<strong>da</strong>de iguala 284,36/100 mil. Cabe aqui ressaltar que a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas superoua taxa média nacional e que os demais grupos apresentaram taxas abaixo <strong>da</strong> média.A relação entre as taxas obedeceu a um padrão de diferenciação, sendo maismarcante as diferenças observa<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as mortes por Doenças Mentais, Causas maldefini<strong>da</strong>s, Gravidez, Parto e Puerpério e Doenças <strong>da</strong> Pele (gráfico 5).Gráfico 5. Relação entre taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobremortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: SIM – Datasus/FSeade. Base tabulações especiais: Instituto de Saúde/SP.In Batista e col (2004).Como afirmam Oliveira e Figueiredo (2004), a falta de utilização <strong>da</strong> perspectivaétnico-racial na busca por eqüi<strong>da</strong>de nas políticas e nas ações de saúde tem servido<strong>para</strong> manter a população <strong>negra</strong> em situação de vulnerabili<strong>da</strong>de na medi<strong>da</strong> em quedificulta a identificação de dispari<strong>da</strong>des, obstaculiza a assunção de medi<strong>da</strong>s que melhoremsuas condições de saúde e contribui <strong>para</strong> tornar o campo <strong>da</strong> saúde produtore reprodutor de desigual<strong>da</strong>des raciais.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de29


4. A importância <strong>da</strong> competência étnico-racial e culturalna promoção <strong>da</strong> saúde4.1 Mortes maternasA Organização Mundial de Saúde (OMS), na CID-10, define morte materna comoa “morte de uma mulher durante a gestação ou dentro de um período de 42 dias apóso térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> gravidez, independente <strong>da</strong> duração ou situação <strong>da</strong> gravidez, devi<strong>da</strong> aqualquer causa relaciona<strong>da</strong> com ou agrava<strong>da</strong> pela gravidez, ou por medi<strong>da</strong>s toma<strong>da</strong>sem relação a ela, porém não devi<strong>da</strong> a causas acidentais ou incidentais”.De acordo com os resultados <strong>da</strong> Comissão Parlamentar de Inquérito sobre Mortali<strong>da</strong>deMaterna <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> de 2001 (apud Ventura, 2002), o Estado <strong>Brasil</strong>eiro estima aocorrência anual de 3.000 a 5.000 casos de morte materna evitáveis, com variaçõesentre os diferentes estados e regiões. Nas regiões mais pobres do país (Norte, Nordestee Centro-Oeste) as mulheres apresentam-se especialmente vulneráveis à mortali<strong>da</strong>dee à morbi<strong>da</strong>de maternas, sobretudo porque possuem os mais baixos rendimentos individuale familiar, as maiores limitações de acesso à saúde e à educação, as piorescondições de moradia e habitação.As mulheres <strong>negra</strong>s têm me<strong>no</strong>s acesso à educação, possuem status social eeconômico mais baixo, vivem em piores condições de vi<strong>da</strong> e de moradia e, <strong>no</strong> que serefere à saúde reprodutiva, têm me<strong>no</strong>s acesso aos métodos contraceptivos e apresentammaiores chances de engravi<strong>da</strong>r ain<strong>da</strong> que não o desejem. Por essas e outras razõesnão é mera coincidência o fato de que nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oesteconcentra-se a maioria <strong>da</strong>s mortes de mulheres <strong>negra</strong>s em decorrência de problemasna gravidez, parto, puerpério, e também a maioria <strong>da</strong>s mortes maternas (Laurenti e col,2003 apud Martins e col, 2004).Entre as causas de mortes maternas, as principais relacionam-se às complicaçõesde aborto. As complicações liga<strong>da</strong>s às condições inseguras em que o aborto foi praticadosão responsáveis pela maioria <strong>da</strong>s mortes de mulheres de 15 a 19 a<strong>no</strong>s. Tanto nassituações em que o aborto é permitido por lei, quanto <strong>no</strong>s casos em que a prática éproibi<strong>da</strong>, sofrem principalmente as mulheres pobres que não dispõem de recursos<strong>para</strong> financiar a assistência em clínicas priva<strong>da</strong>s (Ventura, 2002). Neste caso, caberiaressaltar que os negros constituem 63% <strong>da</strong> população pobre e que, entre os pobres,a maioria é mulher (Jaccoud e Beghnin, 2002).30Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4.2. HIV/aidsOutro problema de saúde pública alarmante é a pandemia de HIV/Aids. Emtodos os lugares do mundo onde as desigual<strong>da</strong>des raciais são naturaliza<strong>da</strong>s, a epidemia<strong>da</strong> aids atinge de forma mais severa os grupos historicamente excluídos <strong>da</strong> riquezasocial, bem como aqueles que são culturalmente discriminados. Nos Estados Unidos,por exemplo, 42% <strong>da</strong>s 362.827 pessoas que viviam com HIV até dezembro de 2001eram <strong>negra</strong>s (até dezembro de 1999, essa proporção era de 37,2%).De acordo com o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) até dezembrode 2001 dos 807.075 casos reportados entre adultos e adolescentes, 57,0% vieram aóbito. De 1996 a 1997, o número de mortes por aids diminuiu bruscamente e continuoua declinar até 2001 em todos os grupos raciais/étnicos, com exceção dos indígenas<strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s e nativos do Alasca. Além disso, embora o número absoluto demortes tenha diminuído, a participação relativa <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> entre aquelesque foram a óbito permaneceu maior que a dos brancos em to<strong>da</strong>s as faixas etárias e,especialmente, entre as mulheres .No <strong>Brasil</strong>, há tempos o movimento de mulheres <strong>negra</strong>s vem chamando atenção<strong>para</strong> a possibili<strong>da</strong>de de aumento de infecção na população <strong>negra</strong>, mormente, entreas mulheres.Dados de uma pesquisa nacional realiza<strong>da</strong> em 1999, em domicílios <strong>da</strong> zona urbana(MS/Cebrap, 2000), mostram que o uso de preservativo masculi<strong>no</strong> é mais comumentre a população jovem brasileira que entre os adultos (46% <strong>para</strong> aqueles de 16 a24 a<strong>no</strong>s contra 18% <strong>para</strong> aqueles com 25 a<strong>no</strong>s ou mais). To<strong>da</strong>via a população jovemesteja, aparentemente, adotando práticas sexuais mais seguras, <strong>no</strong>tam-se dispari<strong>da</strong>desbrutais <strong>no</strong> grupo <strong>da</strong>s meninas: enquanto 42% <strong>da</strong>s brancas protegem-se utilizandopreservativo, apenas 28% <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s o fazem (Pinho e col., 2002).Em outra pesquisa nacional realiza<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde, com o auxílio doIbope, observou-se que, <strong>para</strong> a população <strong>negra</strong> sexualmente ativa, de 14 a<strong>no</strong>s e mais,o preço do preservativo é um dos principais impeditivos do uso. Para ca<strong>da</strong> branco quecitou o preço em primeiro lugar, existiram 2,2 negros citando-o. Para 45% desse grupo,o uso de preservativo em to<strong>da</strong>s as relações faria diferença <strong>no</strong> orçamento contra 37,6%relatado pela população branca na mesma situação. Em função do ônus <strong>da</strong> compra emseu orçamento familiar, os negros dependem mais do serviço de saúde <strong>para</strong> obter orecurso preventivo, embora tenham me<strong>no</strong>s conhecimento sobre a distribuição gratuitados mesmos (MS/Ibope, 2003). No mesmo estudo destaca-se o fato de a proporção derealização do teste anti-HIV ser maior entre os não negros que entre os negros – 33,2%versus 27,1% (França Junior e col., 2003).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de31


A falta de acesso aos recursos preventivos (teste e preservativo), a falta de habili<strong>da</strong>des<strong>para</strong> utilizar ou negociar o uso, <strong>no</strong> caso do preservativo masculi<strong>no</strong>, incrementama vulnerabili<strong>da</strong>de de mulheres e homens negros, independentemente de sua i<strong>da</strong>de.Este cenário <strong>da</strong>s múltiplas dimensões <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de é ilustrado com os <strong>da</strong>dos domunicípio de Porto Alegre: <strong>no</strong>s bairros em que se registrou o maior número de casos<strong>no</strong>vos de aids, mais de 80% <strong>da</strong> população se autodeclara <strong>negra</strong> (preta ou par<strong>da</strong>). NoEstado de São Paulo, a análise de uma série histórica traça<strong>da</strong> <strong>para</strong> pacientes atendidos<strong>no</strong> Centro de Referência e Treinamento em DST-Aids, <strong>da</strong> Secretaria de Estado <strong>da</strong> Saúde,de 1980-2000, foi evidente o aumento do número de negros inscritos <strong>no</strong> serviço, bemcomo do percentual de óbitos entre os mesmos (CE- DST/aids, 2001). Ain<strong>da</strong> em SãoPaulo, Luppi (2001) observou que, entre as mulheres que buscaram realizar o teste anti-HIV num Centro de Testagem, a maioria que teve diagnóstico de infecção era <strong>negra</strong>.A vi<strong>da</strong> com HIV apresenta-se especialmente difícil <strong>para</strong> as mulheres <strong>negra</strong>s. É oque mostram as pesquisas realiza<strong>da</strong>s por Guimarães CD (2001), <strong>no</strong> Rio de Janeiro, eLopes (2003), em São Paulo. De acordo com Guimarães CD (2001), as mulheres <strong>negra</strong>sdoentes de aids vivenciam mais histórias de peregrinação em busca de internação etratamento que as demais.Em São Paulo, Lopes (2003) relata que mulheres <strong>negra</strong>s atendi<strong>da</strong>s em três Centrosde Referência (CR) <strong>no</strong> período de 1999-2000, apresentaram as piores condições deescolari<strong>da</strong>de, moradia, rendimento individual e familiar e, com maior freqüência, elasfiguraram como as principais responsáveis pelo orçamento familiar, sendo responsáveispor cui<strong>da</strong>r de uma quanti<strong>da</strong>de maior de pessoas. Em sua maioria, as mulheres <strong>negra</strong>sentrevista<strong>da</strong>s tiveram seu diagnóstico realizado em virtude do próprio adoecimento,<strong>da</strong> morte/adoecimento do parceiro ou do(s) filho(s); deixaram de receber orientação <strong>no</strong>momento anterior e/ou posterior ao teste e, após terem chegado ao serviço especializadode saúde, tiveram me<strong>no</strong>s chances de acesso a informações corretas e adequa<strong>da</strong>ssobre seu estado clínico, redução de <strong>da</strong><strong>no</strong>s <strong>no</strong> uso de drogas injetáveis e sobre uso deantiretrovirais <strong>para</strong> o recém-nascido. Ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> serviço especializado, elas relataram:maiores dificul<strong>da</strong>des em entender o que os médicos – infectologista e ginecologista– diziam maiores dificul<strong>da</strong>des em tirar dúvi<strong>da</strong>s e falar sobre suas preocupações emconversar sobre sua vi<strong>da</strong> sexual ou em solicitar orientação.No a<strong>no</strong> 2000, a taxa de mortali<strong>da</strong>de por aids <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> foi de 10,61/100mil <strong>para</strong>as mulheres brancas, 21,49/100mil <strong>para</strong> as pretas, 22,77/100mil <strong>para</strong> os homensbrancos e 41,75/100mil <strong>para</strong> os pretos (Batista e col, 2004).32Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4.3. Promovendo a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> de forma eqüânimeAo ilustrar esta seção sobre competência étnico-racial e cultural na promoção <strong>da</strong>saúde, com <strong>da</strong>dos sobre mortali<strong>da</strong>de materna e HIV/aids, reiteramos a necessi<strong>da</strong>de de<strong>no</strong>vos comportamentos, <strong>no</strong>vas atitudes e <strong>no</strong>vas políticas que sigam juntas, entrelaça<strong>da</strong>s,seja do ponto de vista do profissional de saúde, do programa, do serviço ou mesmodo sistema único de saúde.A vulnerabili<strong>da</strong>de é sempre defini<strong>da</strong> na relação com o outro, seja o outro umapessoa, um regime político ou um equipamento social. Ao considerar os sujeitos comouni<strong>da</strong>des estatísticas independentes, ig<strong>no</strong>ra-se completamente a existência <strong>da</strong>s relaçõessociais nas quais as representações, os comportamentos, os saberes e os modos devi<strong>da</strong> são produzidos. Em <strong>para</strong>lelo, e de modo complementar, ao desconsiderar que asdesvantagens simbólicas e materiais são fatores determinantes e incrementadores <strong>da</strong>svulnerabili<strong>da</strong>des, os profissionais de saúde contribuem decisivamente <strong>para</strong> os processosde vulnerabilização, especialmente <strong>no</strong> que diz respeito à população <strong>negra</strong>.Ao qualificar a vulnerabili<strong>da</strong>de como algo multidimensional, instável e assimétrico,faz-se urgente a intervenção sobre os fatores estruturais que determinaram ou determinamessa ou aquela condição de saúde. É necessário, pois, incorporar nas práticasindividuais, nas ações programáticas e nas políticas, de forma efetiva e adequa<strong>da</strong>, adiversi<strong>da</strong>de cultural inter e intragrupos, as especifici<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s por ca<strong>da</strong> um,seja devido a sua origem geográfica, orientação sexual, religião, heranças culturais,raciais e étnicas, faixa etária, ao fato de portar alguma deficiência ou patologia específica,entre outras (Lopes, 2003; Cruz, 2004; Werneck, 2004).Para Piovesan e col. (1998), a democracia confunde-se com a igual<strong>da</strong>de na mesmamedi<strong>da</strong> que a implementação do direito à igual<strong>da</strong>de impõe os desafios de eliminarto<strong>da</strong> e qualquer forma de discriminação e promover a igual<strong>da</strong>de. Segundo a autora, “odireito à igual<strong>da</strong>de pressupõe o direito à diferença, inspirado na crença de que somosiguais, mas diferentes, e diferentes mas, sobretudo iguais”.É essencial, pois, respeitar as diferenças, apreciá-las, apreender delas aquiloque seja útil <strong>para</strong> melhor assistir ao usuário ou usuária. Especialmente <strong>no</strong> universodo Sistema Único de Saúde do <strong>Brasil</strong> (SUS), a competência étnico-racial e cultural ea diversi<strong>da</strong>de devem ser visualiza<strong>da</strong>s como objetivos continuamente aspirados. Estavirtude propiciará o alcance <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de num período me<strong>no</strong>r de tempo, sem que istocuste tantas outras vi<strong>da</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de33


5. O Pla<strong>no</strong> Nacional de SaúdeOs Pla<strong>no</strong>s de Saúde, incluindo o nacional, são referidos na portaria 548/2001,que aprova as “Orientações Federais <strong>para</strong> a Elaboração e Aplicação <strong>da</strong> Agen<strong>da</strong> deSaúde, do Pla<strong>no</strong> de Saúde, dos Quadros de Metas e do Relatório de Gestão” comoinstrumentos de gestão do SUS, logo, os Pla<strong>no</strong>s devem ser a base <strong>para</strong> as ativi<strong>da</strong>des eprogramas definidos <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> nível de direção do SUS, como previsto nas Leis Orgânicas<strong>da</strong> Saúde – Lei nº 8.080/1990 e Lei nº 8.142/1990, Decreto nº 1.232/1994 (quedefine as bases <strong>para</strong> as transferências Fundo a Fundo) e <strong>no</strong> Decreto 1.651/1995 (queregulamenta o Sistema Nacional de Auditoria). Devem explicitar as intenções políticas,estratégias, priori<strong>da</strong>des e metas de gover<strong>no</strong>, definindo, inclusive, suas propostasorçamentárias.Em função <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de instituí<strong>da</strong> por um instrumento legal, ao concluir aelaboração do Pla<strong>no</strong> Plurianual (PPA) 2004-2007 <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> saúde, a SecretariaExecutiva do Ministério <strong>da</strong> Saúde (SE/MS) decidiu iniciar a construção do Pla<strong>no</strong> Nacionalde Saúde (PNS). O processo foi concluído <strong>no</strong> segundo semestre de 2004, por ocasião <strong>da</strong>elaboração dos projetos <strong>da</strong> Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e <strong>da</strong> Lei OrçamentáriaAnual (LOA), com apreciação e aprovação do Conselho Nacional de Saúde (CNS).Entendendo o desafio a ser enfrentado, coube a SE/MS, <strong>no</strong> processo de formulaçãodo PNS, a definição <strong>da</strong>s estratégias a serem segui<strong>da</strong>s, as priori<strong>da</strong>des de investimento,a programação pactua<strong>da</strong> integra<strong>da</strong> e a racionalização do sistema mediante políticade regionalização (SE/MS, 2004). O Pla<strong>no</strong> Nacional de Saúde, enquanto instrumentode gestão do SUS, tem como uma de suas bases a formulação/revisão do PPA e deveconter as metas nacionais e regionais de saúde.Os princípios constitutivos do PNS são:• a análise <strong>da</strong> situação de saúde;• os princípios orientadores (arcabouço jurídico-legal e as diretrizes <strong>no</strong>s quaiso instrumento se assenta);• os objetivos a serem alcançados (23 objetivos setoriais definidos a partir <strong>da</strong>orientação estratégica do Gover<strong>no</strong> Federal, e que envolvem as dimensõessocial, econômica, regional, ambiental e democrática);• as diretrizes, com priori<strong>da</strong>des conferi<strong>da</strong>s e as estratégias gerais adota<strong>da</strong>s• as metas;• o modelo de gestão, monitoramento e avaliação do Pla<strong>no</strong> (gestão compartilha<strong>da</strong><strong>da</strong>s ações com estados e municípios, alia<strong>da</strong> à implementação do sistema demonitoramento).34Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O setor saúde, por sua complexi<strong>da</strong>de, requer um instrumento que agregue oconjunto de políticas defini<strong>da</strong>s <strong>no</strong> PNS e que considere as especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong>região e estado brasileiros. Tendo como referência os objetivos estabelecidos, são fixa<strong>da</strong>sdiretrizes que indicam as priori<strong>da</strong>des. As priori<strong>da</strong>des são defini<strong>da</strong>s segundo asnecessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população, a caracterização epidemiológica dos problemas de saúde,disponibili<strong>da</strong>de efetiva de recursos cognitivos e materiais voltados <strong>para</strong> o enfrentamentodo problema. Ao serem defini<strong>da</strong>s as priori<strong>da</strong>des define-se, também, estratégias geraisa serem adota<strong>da</strong>s na consecução do Pla<strong>no</strong> e as metas a serem alcança<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong>parte do país (SE/MS, 2004).As diretrizes e metas <strong>no</strong>rteiam a definição <strong>da</strong>s ações a serem implementa<strong>da</strong>s, masessas não são objetos do PNS. As ações que dão conseqüência prática às diretrizesdo PNS são detalha<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s instrumentos operacionais, nas programações anuais e/ouprojetos específicos.5.1. O Pla<strong>no</strong> Nacional de Saúde e a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> brasileira- recomen<strong>da</strong>ções <strong>para</strong> programas, ações e projetosA versão do PNS discuti<strong>da</strong> durante o a<strong>no</strong> de 2004 reitera a necessi<strong>da</strong>de de iniciativasde longo, médio e curto prazos, além do atendimento de deman<strong>da</strong>s mais imediatas,mediante a adoção de ações afirmativas em saúde. A formação permanente e contínua dosprofissionais de saúde do SUS <strong>para</strong> que possam prestar o atendimento adequado consideramas especifici<strong>da</strong>des genéticas, deriva<strong>da</strong>s de exposição ocupacional a fatores degra<strong>da</strong>ntes,aquelas deriva<strong>da</strong>s <strong>da</strong> indisponibili<strong>da</strong>de de recursos socioeconômicos, <strong>da</strong> desnutrição,<strong>da</strong> pressão social. No instrumento de gestão também têm destaque a necessi<strong>da</strong>de deassegurar a efetiva participação <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> planejamento <strong>da</strong>s ações e <strong>no</strong> seumonitoramento. A realização de estudos e pesquisas que subsidiem o aperfeiçoamento <strong>da</strong>promoção e <strong>da</strong> atenção à saúde, também é apresenta<strong>da</strong> como necessi<strong>da</strong>de e, <strong>para</strong> que esteavanço na produção de conhecimento seja viabilizado, o PNS orienta gestores, gerentese outros profissionais de saúde <strong>para</strong> a inserção do quesito raça/cor <strong>no</strong>s instrumentos decoleta de informação e na análise dos <strong>da</strong>dos em saúde.É inegável o avanço proposto pelo PNS <strong>da</strong>do que apresenta a saúde <strong>da</strong> população<strong>negra</strong> como um objeto a ser abor<strong>da</strong>do de forma diferencia<strong>da</strong>, entretanto, ao definirmetas, o PNS segue a mesma lógica que orienta o PPA-2004-2007, destacando apenasas necessi<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>s à anemia falciforme e à vi<strong>da</strong> <strong>no</strong>s quilombos.Buscando garantir a inclusão do componente raça/cor na identificação de priori<strong>da</strong>desa serem pactua<strong>da</strong>s com os gestores estaduais e municipais e referen<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelas instânciasde controle social (ver relatório <strong>da</strong> XII Conferência Nacional de Saúde) e contribuir <strong>para</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de35


a operacionalização <strong>da</strong>s diretrizes nas programações anuais e/ou projetos específicos,apresentamos algumas recomen<strong>da</strong>ções.No tocante à informação em saúde1. Inclusão do quesito raça/cor entre as informações essenciais dos atendimentosrealizados <strong>no</strong> SUS e na rede suplementar de serviços.2. Investimentos na formação continua<strong>da</strong> de recursos huma<strong>no</strong>s <strong>para</strong> coleta <strong>da</strong>informação autodeclara<strong>da</strong> de raça/cor 20 , segundo as categorias do IBGE, asaber: branco, preto, pardo, amarelo e indígena.3. Utilização <strong>da</strong> raça/cor como categoria analítica na construção dos perfis demorbimortali<strong>da</strong>de, de carga de doença e de condições ambientais 21 .4. Inclusão do quesito raça/cor em todos os levantamentos/pesquisas epidemiológicas,sobretudo aquelas conduzi<strong>da</strong>s/financia<strong>da</strong>s por organizações governamentais.5. Investimentos na formação continua<strong>da</strong> de recursos huma<strong>no</strong>s <strong>para</strong> alimentaçãodos sistemas, processamento, análise e interpretação dos <strong>da</strong>dos desagregadospor raça/cor.7. Investimentos em tec<strong>no</strong>logias de integração e compatibilização <strong>da</strong>s diversasbases de <strong>da</strong>dos existentes, na área social e <strong>da</strong> saúde.8. Investimentos na criação de um sistema único de informação em saúde <strong>no</strong>qual figure o quesito raça/cor.9. Avaliação e Monitoramento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação.No tocante à promoção <strong>da</strong> saúde1. Inclusão do quesito raça/cor entre as variáveis utiliza<strong>da</strong>s <strong>para</strong> traçar o perfil<strong>da</strong> população beneficia<strong>da</strong> em to<strong>da</strong>s as ações.2. Disseminação de informações em linguagem adequa<strong>da</strong> <strong>para</strong> corpo técnicoadministrativoe <strong>para</strong> população em geral, especialmente <strong>no</strong> que tange àsdoenças mais freqüentes na população <strong>negra</strong> (hipertensão arterial, diabetesmellitus II, miomatoses, anemia falciforme, deficiência de G6PD).3. Elaboração e veiculação de peças e campanhas publicitárias que contemplema diversi<strong>da</strong>de existente <strong>no</strong> país e contribuam <strong>para</strong> minimização <strong>da</strong> violênciasimbólica, dos estereótipos e estigmas.20. Ver anexo 121. Cabe aqui ressaltar que em 21 de maio de 2004 foi aprova<strong>da</strong> a inclusão <strong>da</strong> raça/cor, ativi<strong>da</strong>de econômicae ocupação como categorias analíticas na apresentação dos indicadores <strong>da</strong> Ripsa, <strong>para</strong> além <strong>da</strong>s categoriastradicionalmente utiliza<strong>da</strong>s tais como sexo, i<strong>da</strong>de e escolari<strong>da</strong>de.36Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4. Desenvolvimento e aprimoramento dos indicadores de desigual<strong>da</strong>des e exclusãosocial origina<strong>da</strong>s por fatores econômicos, de gênero, de raça, etnia,orientação sexual, i<strong>da</strong>de, porte de necessi<strong>da</strong>des especiais ou deficiências ede<strong>no</strong>minação religiosa.5. Utilizar os indicadores de desigual<strong>da</strong>des e exclusão social <strong>para</strong> a formulaçãoe o desenvolvimento <strong>da</strong>s macropolíticas econômicas e sociais, fun<strong>da</strong>mentais<strong>para</strong> a garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e saúde.6. Efetivação de parcerias intersetoriais e com a socie<strong>da</strong>de civil organiza<strong>da</strong>, <strong>para</strong>diminuição <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de social, especialmente <strong>no</strong> que diz respeito àeducação, trabalho e emprego, qualificação profissional, habitação e moradia,saneamento básico, abastecimento público de água, transporte e segurança.7. Garantia de criação e manutenção de espaços de reflexão sobre a situação donegro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, sobre as relações sociais estabeleci<strong>da</strong>s entre negros e brancos,homens e mulheres <strong>no</strong>s vários estratos socioeconômicos, <strong>no</strong>s vários momentos<strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, <strong>no</strong>s espaços públicos e privados e seu impacto na saúde.8. Elaboração e implementação de estratégias que devolvam aos sujeitos as característicasde cordiali<strong>da</strong>de e afetivi<strong>da</strong>de, que fortaleçam ou recriem identi<strong>da</strong>de eauto-estima e, ao mesmo tempo, desencadeiem processos de conscientizaçãoe empoderamento.9. Utilização de abor<strong>da</strong>gens que possibilitem a ampliação do repertório de direitose a efetivação/expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.10. Condução de to<strong>da</strong>s as ações de educação em saúde por profissionais querespeitem valores culturais e religiosos, as diferentes representações sobre apessoa humana, a saúde e a doença.11. Adequação <strong>da</strong> linguagem e inclusão do simbólico <strong>da</strong>s religiões de matrizesafricanas nas ações de comunicação em saúde.12. Reconhecimento dos templos de tradição afro-brasileira na rede de equipamentossociais como espaços de promoção <strong>da</strong> saúde, acolhimento e educação popular.13. Elaboração de estratégias de educação preventiva em saúde bucal, que levemem consideração as necessi<strong>da</strong>des específicas <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des quilombolas(atenção culturalmente competente), incluindo a distribuição de kits de higieneoral <strong>para</strong> aqueles que não estejam matriculados na rede pública de ensi<strong>no</strong>.14. Elaboração de estratégias de educação <strong>para</strong> o planejamento familiar que leveem consideração as desigual<strong>da</strong>des de gênero, a diversi<strong>da</strong>de sociocultural,étnico-racial e religiosa.15. Ampliação de acesso a métodos contraceptivos, incluindo preservativosfemini<strong>no</strong> e masculi<strong>no</strong>.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de37


No tocante à participação e controle social1. Incentivo à participação de representantes do movimento negro organizadoe membros <strong>da</strong>s religiões de matrizes africanas <strong>no</strong>s espaços de controle socialdo SUS, incluindo os comitês de mortali<strong>da</strong>de materna 22 .2. Incentivo à participação de representantes do movimento negro organizadona proposição, implementação, monitoramento e avaliação de políticas eprogramas, em especial aqueles relacionados à informação em saúde.3. Inclusão do tema “impacto do racismo e <strong>da</strong> discriminação racial nas condições devi<strong>da</strong> e de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> brasileira” em todos os materiais e ativi<strong>da</strong>des deformação dos conselheiros de saúde, <strong>no</strong> âmbito federal, estadual e municipal.4. Incentivo e fomento <strong>para</strong> a realização de conferências estaduais e municipais desaúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> (conforme recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> 11 a e 12 a ConferênciasNacionais de Saúde).No tocante ao desenvolvimento institucional e atenção à saúde1. Análise de <strong>no</strong>rmas, regimentos, procedimentos e processos visando adequá-losaos princípios de eqüi<strong>da</strong>de racial.2. Determinação/fixação de metas diferencia<strong>da</strong>s <strong>para</strong> superação <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>desraciais em saúde.3. Criação e manutenção de serviços de Disque-Saúde <strong>para</strong> disseminação deinformações em saúde, acolhimento de queixas e/ou denúncias de práticasdiscriminatórias <strong>no</strong> SUS.4. Inclusão de textos com resultados de estudos e pesquisas sobre os diferenciaisraciais nas condições de vi<strong>da</strong> e saúde <strong>da</strong> população brasileira em todoe qualquer programa de formação de profissionais <strong>da</strong> saúde e educação emsaúde (incluindo agentes comunitários).5. Ampliação <strong>da</strong> oferta de ações de saúde garantindo a universali<strong>da</strong>de do acessoaos mais afetados pelas desigual<strong>da</strong>des sociais, de gênero, geração, raça e etnia,além <strong>da</strong>s populações itinerantes e especialmente vulneráveis, tais comoa população do campo 23 .22. Até o presente momento apenas os comitês de São Paulo – capital – e Curitiba coletam a informação sobreraca/cor. É essencial que na capacitação <strong>para</strong> a implantação de comitês, esta ação seja apresenta<strong>da</strong> comoobrigatória. O monitoramento e a avaliação de quali<strong>da</strong>de desta, e de outras ações, deve estar sob a responsabili<strong>da</strong>dedos órgãos competentes.23. De acordo com o Ministério <strong>da</strong> Saúde, a população do campo compreende: trabalhadores rurais que nãotêm acesso à terra, trabalhadores rurais em regine de trabalho temporário, agricultores familiares, populaçãoribeirinha, comuni<strong>da</strong>des quilombolas residentes em vilas e povoados, populações que moram nas periferias<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des e trabalham <strong>no</strong> campo.38Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


6. Desenvolvimento e a<strong>da</strong>ptação de um pla<strong>no</strong> estratégico e dinâmico <strong>para</strong> implementação,monitoramento e avaliação <strong>da</strong>s políticas, programas, projetos eações, considerando os obstáculos técnicos e políticos e incluindo um amploespectro de apoiadores <strong>no</strong> processo de planejamento e gestão.7. Fortalecimento <strong>da</strong>s práticas de acolhimento e de respeito ao ci<strong>da</strong>dão e ci<strong>da</strong>dã<strong>no</strong>s serviços de saúde, de modo que sejam supera<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as formas dediscriminação, sejam elas étnico-raciais, de gênero, geração, por orientaçãosexual, de<strong>no</strong>minação religiosa, em razão do porte de algum tipo de deficiência,patologia ou qualquer outra situação.8. Investimentos na qualificação, humanização do cui<strong>da</strong>do e na instrumentalização<strong>para</strong> o manejo de questões relativas à raça/etnia, et<strong>no</strong>centrismo e racismo,discriminação, estigmas e preconceitos.Atenção básica, com ênfase na estratégia de saúde <strong>da</strong> família9. Ampliação <strong>da</strong> estratégia de saúde <strong>da</strong> família com base nas necessi<strong>da</strong>desepidemiológicas comprova<strong>da</strong>s, na concentração de população <strong>negra</strong>, populaçãoem situação de pobreza e na localização <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des quilombolas.10. Investimentos na elaboração e execução de <strong>no</strong>rmas mais eficientes sobreimplantação do serviço, desenvolvimento dos recursos huma<strong>no</strong>s (incluindogestores/gerentes) e interlocução com outros programas já existentes.11. Inclusão <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> competência étnico-racial e cultural <strong>no</strong> processo deformação permanente dos profissionais técnicos, administrativos e ocupacionais.12. Investimentos na formação contínua de profissionais de saúde e gestores, em todosos níveis, <strong>no</strong> tocante ao acolhimento, cui<strong>da</strong>do e assistência oferecidos/prestados aosmembros <strong>da</strong>s religiões de matrizes africanas, respeitando seus valores e práticas.13. Incentivos <strong>para</strong> realização de visitas regulares <strong>da</strong>s equipes do PSF/Pacs <strong>no</strong>s templos dereligiões de matriz africana respeitando a visão de mundo presentes <strong>no</strong>s mesmos.14. Investimentos na ampliação dos pólos de capacitação e qualificação externa,motivando o estabelecimento de parcerias que incluam organizações do movimentosocial, pesquisadoras e pesquisadores negros que têm se dedicado àprodução do conhecimento científico em saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.15. Investimentos na política de avaliação, privilegiando a construção emonitoramento de indicadores de processo que permitam verificar o impactodiferenciado <strong>da</strong>s ações sobre os vários segmentos populacionais.16. Investimentos na política e <strong>no</strong>s sistemas de referência e contra-referência <strong>para</strong>os níveis de média e alta complexi<strong>da</strong>de.17. Investimentos <strong>no</strong> marketing social dirigido a Estratégia de Saúde <strong>da</strong> Família.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de39


18. Investimentos <strong>no</strong> estabelecimento de parcerias intersetoriais e com outrosprogramas <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saúde (parcerias intra-setoriais), especialmente aquelesdesenvolvidos pelas áreas técnicas de saúde <strong>da</strong> criança, saúde do adolescente,saúde <strong>da</strong> mulher, saúde mental, DST/aids, saúde <strong>da</strong> população idosa e saúde<strong>da</strong> população do campo.19. Elaboração e efetivação de contratos que resguardem o estreito relacionamentodo Agente Comunitário de Saúde (ACS) com sua comuni<strong>da</strong>de.20. Estabelecimento de ações intersetoriais que possibilitem aos ACS aumentarseu nível de escolari<strong>da</strong>de e, conseqüentemente, ampliar seu rendimento <strong>no</strong>sprocessos de formação continua<strong>da</strong>.21. Inclusão oficial de membros <strong>da</strong>s religiões de matrizes africanas <strong>no</strong> Programa deAgentes Comunitários de Saúde, <strong>da</strong>do que os mesmos tradicionalmente vêmatuando como tal.Atenção Hospitalar22. Ampliar o acesso de negros e <strong>negra</strong>s aos serviços hospitalares de boa quali<strong>da</strong>dee resolutivi<strong>da</strong>de 24 .23. Implantação de <strong>no</strong>vos serviços com base em critérios demográficos e epidemiológicos,na concentração de morbi<strong>da</strong>de hospitalar deriva<strong>da</strong> de violência 25e/ou outras causas externas de agravo.24. Investimentos na educação permanente de profissionais técnicos e administrativos,<strong>para</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> comunicação entre esses, os pacientes eseus familiares, com respeito à diversi<strong>da</strong>de sociocultural e religiosa.25. Livre acesso de sacerdotes e sacerdotisas afro-religiosos nas uni<strong>da</strong>des desaúde, especialmente hospitais e materni<strong>da</strong>des 26 .24. A resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência hospitalar não depende só <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instalações físicas, disponibili<strong>da</strong>dee condições de uso dos equipamentos, mas também dos recursos huma<strong>no</strong>s disponíveis, de sua capacitaçãoe adequação às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população atendi<strong>da</strong> (medicina basea<strong>da</strong> em evidências, com competênciacultural e um suporte social efetivo).25. Para a implantação e implementação do Sistema Nacional de Atenção às Urgências recomen<strong>da</strong>-se considerar,entre outras coisas, as informações disponibiliza<strong>da</strong>s pela Secretaria Nacional, Secretarias Estaduais eMunicipais de Segurança Pública.26. De acordo com os participantes do III Seminário Nacional Religiões Afro-brasileiras e Saúde, realizado emmarço de 2004, na ci<strong>da</strong>de de Recife/ PE, é importante ressaltar que, <strong>para</strong> os adeptos <strong>da</strong>s religiões afro-brasileiras,o corpo é a mora<strong>da</strong> dos deuses/deusas, e por isso merece atenção especial. Para que os deuses e deusasse comuniquem com um membro <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, de forma efetiva, prazerosa e saudável, é preciso ter corpo,mente e espírito em equilíbrio. O equilíbrio do corpo se dá via fortalecimento <strong>da</strong> energia vital e é ele queproporciona a integração subjetiva e a inclusão social <strong>da</strong>quele membro. Neste sentido, os líderes religiosos têmum papel fun<strong>da</strong>mental na busca e manutenção desse equilíbrio, na melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e de saúdedo sujeito hospitalizado.40Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


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Anexo IA importância <strong>da</strong> autodeclaração de corNão obstante os militantes do movimento social negro brasileiro questionemos termos utilizados pelo Estado <strong>para</strong> classificar os indivíduos quanto à raça/cor, éimportante saber que o método de escolha fecha<strong>da</strong> é suficientemente confiável <strong>para</strong>ser utilizado na coleta de <strong>da</strong>dos.A classificação racial dos indivíduos muitas vezes pode ser vista como umobstáculo <strong>para</strong> a análise confiável dos <strong>da</strong>dos e é fato que, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como emoutros lugares do mundo, existem vieses de categorização. A cor (ou pertencimentoracial) que alguém se atribui é confirma<strong>da</strong> ou nega<strong>da</strong> pelo olhar do outro, podendodeterminar uma dissonância entre o reconhecimento de si mesmo e o reconhecimentoa partir do olhar do outro.No <strong>Brasil</strong>, o fator socioeconômico é um dos fortes contribuintes <strong>para</strong> que aspessoas mudem sua raça/cor: à medi<strong>da</strong> que elevam seu nível socioeconômico, elastendem a relatar, com me<strong>no</strong>s freqüência, que são pretas, podendo até se apresentarcomo par<strong>da</strong>s ou outras derivações semânticas. Ain<strong>da</strong> assim, é importante que a classificaçãoseja autodeclara<strong>da</strong>, porque o maior problema em se considerar a variávelraça/cor como uma categoria analítica não está em sua forma de classificação propriamentedita, mas <strong>no</strong>s mecanismos sociais e simbólicos que motivam os sujeitosa optarem por esta ou aquela categoria de cor.Da população total residente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 1991, classificaram-se como brancos51,6%; como pretos 5,0%; como amarelos 0,4%; como pardos 42,4% e como indígenas0,2%. Nos <strong>da</strong>dos censitários de 2000, a distribuição por categoria de raça/corfoi: 53,4% de brancos, 6,1% de pretos, 0,5% de amarelos, 38,9% de pardos e 4,1%de indígenas; logo, a população <strong>negra</strong> brasileira em 2000 correspondia a 45,0% dototal (população autoclassifica<strong>da</strong> preta + população autoclassifica<strong>da</strong> par<strong>da</strong>). Os casosem que a informação sobre raça/cor foi ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> corresponderam a 0,2% em 1991e 0,7% em 2000.Ao com<strong>para</strong>r um subconjunto de resultados <strong>da</strong> amostra censitária de 2000 comos <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> população total residente por cor <strong>no</strong> censo de 1991, observou-se umaparticipação relativamente maior <strong>da</strong>s parcelas <strong>da</strong> população classifica<strong>da</strong>s como decor branca e de cor preta e um decréscimo na população autoclassifica<strong>da</strong> par<strong>da</strong>. Emnenhuma outra época, desde 1872, verificou-se um crescimento absoluto e relativo


tão expressivo <strong>para</strong> a categoria de cor preta, quanto o observado entre os a<strong>no</strong>s de1991 e 2000.Os sistemas classificatórios e seus significados marcam distinções <strong>no</strong> social,logo, não formam uma essência imutável, pelo contrário apresentam-se dinâmicos,em constante (re)construção.Referências bibliográficasLOPES F. Mulheres <strong>negra</strong>s e não <strong>negra</strong>s vivendo com HIV/aids <strong>no</strong> estado de São Paulo:um estudo sobre suas vulnerabili<strong>da</strong>des. Tese de Doutorado – Facul<strong>da</strong>de de Saúde Pública<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, São Paulo; 2003. p. 126-129.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de48


Contando vencidos: diferenciais de esperança de vi<strong>da</strong> e dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos segundo os grupos de raça/cor e sexo<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e grandes regiõesMarcelo Jorge de Paula Paixão – Eco<strong>no</strong>mista, mestre emEngenharia de Produção pela Universi<strong>da</strong>de Federal doRio de Janeiro (UFRJ). Doutorando do curso de sociologia<strong>no</strong> Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro(IUPERJ). Professor do Instituto de Eco<strong>no</strong>mia <strong>da</strong> UFRJ.Coordenador do Observatório Afro-brasileiro.Luiz Marcelo Ferreira Carva<strong>no</strong> – Bacharel em CiênciasSociais pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio de Janeiro,mestrando em Pesquisa Social e Estudos Populacionaisna Escola Nacional de Ciências Estatísticas (Enge/IBGE).Pesquisador do Observatório Afro-brasileiro.Juarez de Castro Oliveira – Bacharel em Estatística pelaEscola Nacional de Ciências Estatísticas (Enge/IBGE). Mestreem Demografia pelo Centro Lati<strong>no</strong><strong>no</strong>america<strong>no</strong> y Caribeñode Demografía (Celade/Cepal). Gerente do Projeto Estudose Análises <strong>da</strong> Dinâmica Demográfica do IBGE.Leila Regina Ervatti – Demógrafa. Tec<strong>no</strong>logista <strong>da</strong> Gerênciade Análise <strong>da</strong> Dinâmica Demográfica <strong>da</strong> Coordenadoriade População e Indicadores Sociais do IBGE.“Filósofos suici<strong>da</strong>s, agricultores famintosDesaparecendo; debaixo dos arquivos”(Renato Russo)1. IntroduçãoO presente estudo trata <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer e dos a<strong>no</strong>s médiosde vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população brasileira segundo os grupos de raça/cor e sexo. Paraisso, foram utilizados os micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra de 10% do Censo Demográfico de2000, do IBGE, e o SIM/DATASUS, do Ministério <strong>da</strong> Saúde, <strong>no</strong> período de 1998 a2000. A análise dessas informações permitirá melhor compreensão <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>desraciais <strong>no</strong>s perfis <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população, proporcionando ampliar o grau deeficácia <strong>da</strong>s políticas públicas na área <strong>da</strong> saúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.


Em <strong>no</strong>sso país, as ciências sociais tradicionalmente não têm designado às desigual<strong>da</strong>desraciais um papel determinante do quadro social <strong>da</strong> nação. Lacuna esta que o atualestudo pretende, em parte, preencher ao pressupor que as diferenças raciais e de sexo sãoestruturantes do processo de construção <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, bem como estão presentes, enquantovariáveis-chaves, <strong>no</strong> âmago <strong>da</strong>s grandes mazelas sociais do país. Essas dispari<strong>da</strong>desadvêm do padrão brasileiro de relações sociorraciais e <strong>da</strong>s práticas usuais de preconceito ediscriminação, abertas e vela<strong>da</strong>s, estabeleci<strong>da</strong>s entre as pessoas que se auto-identificam, esão identifica<strong>da</strong>s socialmente, como brancas, em relação àquelas que se auto-identificam,e são identifica<strong>da</strong>s socialmente, como <strong>negra</strong>s. Naturalmente, tal compreensão afasta-se <strong>da</strong>concepção de que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> inexista discriminações raciais contra negros e indígenas, ouque vivamos em uma democracia racial, muito pelo contrário.Iniciamos este trabalho analisando a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do Sistema de Informaçõesde Mortali<strong>da</strong>de (SIM), utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> estudo; a seguir, procuramos observar a evoluçãodo preenchimento do quesito raça/cor em seu ca<strong>da</strong>stro desde 1996, quando esse item foiincluído, e traçamos o perfil dos registros de óbito com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, em termos regionais,etários e por tipo de causa de mortali<strong>da</strong>de; a partir dos registros de óbito com o quesitoraça/cor preenchido, levantamos o perfil de mortali<strong>da</strong>de dos grupos de raça/cor e sexo, <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e Grandes Regiões, <strong>no</strong> triênio 1998-2000; em segui<strong>da</strong> investigamos os indicadoresde esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor e sexo <strong>da</strong> população brasileira <strong>para</strong>as Grandes Regiões e apresentamos a metodologia utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong>s cálculos; verificamos osa<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> perdidos por esses grupos segundo a metodologia utiliza<strong>da</strong> e listamosas dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a realização desses cálculos; ao térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> análise dosindicadores contidos <strong>no</strong> estudo, há propostas de orientação de políticas públicas, tendo emvista as exigências de um concomitante progresso <strong>da</strong>s condições de saúde <strong>da</strong> população do<strong>Brasil</strong> e de redução <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des sociorraciais encontra<strong>da</strong>s em <strong>no</strong>sso meio.2. Grau de cobertura <strong>da</strong> variável raça/cor <strong>no</strong>s registros do SIMNo <strong>Brasil</strong>, a primeira instituição a coletar informações vitais <strong>da</strong> população (nascimentosde vivos, falecimentos, casamentos) foi a Igreja Católica. Conforme é sabido, até o finaldo Império, o país não havia procedido a uma se<strong>para</strong>ção entre o poder eclesiástico e oEstado. Por esse motivo, to<strong>da</strong>s as informações referentes às variáveis demográficas ficavamlocaliza<strong>da</strong>s nas paróquias. No final do século XIX (1888), o gover<strong>no</strong> passou a organizarum sistema de estatísticas vitais de caráter laico: o Registro Civil de Pessoas Naturais(Vasconcelos, 1994, 1998; Senra, 1996). A laicização dos registros de estatísticas vitaisnão implicou em sua instantânea adesão pela população. Hakkert (1996, p. 34) apontaque “mesmo depois <strong>da</strong> secularização, demorou <strong>para</strong> que a população fosse conscientiza<strong>da</strong><strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de do registro, até certo ponto pela influência dos próprios párocos, quefreqüentemente desestimulava o registro de nascimento e casamento perante as autori<strong>da</strong>des50Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


civis. Até poucos a<strong>no</strong>s atrás, o número de batismos registrados pela Igreja costumava superaro número de nascimentos e casamentos perante as autori<strong>da</strong>des civis”.Até os a<strong>no</strong>s de 1970, os <strong>da</strong>dos do Registro Civil não eram organizados por nenhumtipo de órgão com competência específica <strong>para</strong> essa finali<strong>da</strong>de. Em 1973, o Gover<strong>no</strong> Federalincumbiu o IBGE <strong>da</strong> tarefa de coletar junto aos cartórios as informações vitais, inclusive,sobre os óbitos <strong>da</strong> população. Desse modo, trimestralmente, os cartórios de registros civisdevem enviar aos escritórios locais ou regionais desse órgão de gover<strong>no</strong>, dentre outras informaçõessobres registros vitais, os mapas de óbitos e de óbitos fetais (RC-3 e RC-4). Essesmapas, portanto, listam os casos de falecimento registrados naquela comarca durante aqueleperíodo (Hakkert, 1996). De acordo com Vasconcelos (1998, p. 116), “nestes mapas estãoconti<strong>da</strong>s informações sobre sexo, i<strong>da</strong>de, estado civil, local de nascimento e de residênciado falecido, assim como local e <strong>da</strong>ta do óbito e local e <strong>da</strong>ta do registro. No entanto, a causade morte não é informa<strong>da</strong>; registra-se apenas a sua natureza: natural ou violenta”.Em 1976, o Ministério <strong>da</strong> Saúde viria a organizar o seu próprio sistema de informaçõessobre a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população por meio <strong>da</strong> implantação de um certificado médicode óbito padronizado (Declaração de Óbito) e do Sistema de Informação de Mortali<strong>da</strong>de(SIM). Vale salientar que, antes desse atestado padronizado, havia mais de 40 formuláriosde óbitos em todo o território nacional (Vasconcelos, 1998). Não obstante o SIM venha a serum sistema <strong>para</strong>lelo de processamento de informações sobre os óbitos <strong>da</strong> população, ele ébem mais detalhado que o ca<strong>da</strong>stro de óbitos do Registro Civil. Dessa forma, “o ca<strong>da</strong>strodo Ministério <strong>da</strong> Saúde contém informações sobre escolari<strong>da</strong>de e profissão do falecido,assistência médica, necropsia, médico que assina o atestado, causa de morte (causa básicae associa<strong>da</strong>)”, dentre outras informações. “Para os óbitos fetais e me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>,incluem-se informações sobre escolari<strong>da</strong>de e profissão dos pais, i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe, peso aonascer, características <strong>da</strong> gravidez e do parto” (Vasconcelos, 1994, p. 156).Portanto, atualmente, o país possui dois registros de informações sobre mortali<strong>da</strong>de,o Registro Civil de Pessoas Naturais, sob a responsabili<strong>da</strong>de do IBGE, e o SIM, doMinistério <strong>da</strong> Saúde. Ambos os registros dependem <strong>da</strong> emissão de uma Declaração deÓbito e seu posterior registro <strong>no</strong> Cartório de Registro Civil. “Para que seja emitido umregistro de óbito é preciso ser apresentado um atestado de óbito assinado por um médicoou por duas testemunhas na hipótese de não haver médico <strong>no</strong> local do falecimento.Baseado <strong>no</strong> atestado de óbito e em outras informações sobre o falecido, forneci<strong>da</strong>spelo declarante <strong>no</strong> momento do registro, o oficial do cartório registra legalmente oóbito e emite a certidão de óbito, bem como a guia de sepultamento” (Vasconcelos,1998, p. 115).No caso do SIM, as informações não são coleta<strong>da</strong>s de mapas de informaçãopreenchidos anteriormente por um cartório, mas diretamente por meio <strong>da</strong> primeiravia <strong>da</strong> Declaração de Óbito, que é repassa<strong>da</strong> pelos cartórios <strong>para</strong> as secretarias municipaisde saúde, que os enviam <strong>para</strong> as secretarias estaduais de mesma incumbência,Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de51


as quais, após conferência geral dos <strong>da</strong>dos, finalmente os tabulam e os enviam <strong>para</strong> oSIM/Datasus. Visando reduzir o número de sub<strong>no</strong>tificações, especialmente de óbitosinfantis, o registro do SIM também prevê um procedimento alternativo de coleta <strong>da</strong>sDeclarações de Óbitos que, além dos cartórios, obtém parte de suas informações <strong>no</strong>shospitais, domicílios, cemitérios, dentre outros lugares (Vasconcelos, 1998, p. 119).Em uma situação ideal, todos os casos de óbitos deveriam ser registrados pelopoder público. Com isso, o gover<strong>no</strong> poderia ter maior e melhor controle sobre aevolução de um dos principais indicadores demográficos existentes, concomitantementefavorecendo um melhor planejamento <strong>da</strong>s políticas de saúde (prevenção e tratamentode doenças), de assistência social, de segurança pública e mesmo institucional, talcomo é o caso do controle dos registros eleitorais dos ci<strong>da</strong>dãos. Mais especificamente,<strong>no</strong> que tange ao processo de geração dos indicadores sociais, a universalização <strong>da</strong>cobertura dos óbitos é fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> que seja factível a geração de indicadores,de forma direta, sobre a taxa de mortali<strong>da</strong>de, de morbinatali<strong>da</strong>de e esperança de vi<strong>da</strong><strong>da</strong> população. To<strong>da</strong>via, nem sempre esses ca<strong>da</strong>stros são de boa quali<strong>da</strong>de e por vezesinexistem, particularmente em países do chamado Terceiro Mundo, como é o caso do<strong>Brasil</strong> (Valongueiro e Aguiar, 1998).Até pouco tempo atrás, os registros dos óbitos eram tolhidos pelos custosfinanceiros desse procedimento, tendo em vista que a emissão do Atestado de Óbitonão era gratuita a quem dele necessitasse. No entanto, desde 1996, tal reali<strong>da</strong>de foialtera<strong>da</strong> por lei, passando os cartórios a serem obrigados a registrar sem custos os eventosvitais de nascimento e falecimento. Contudo, a literatura sobre o tema é consensual emapontar que, mesmo <strong>no</strong>s dias atuais, ocorre uma níti<strong>da</strong> falta de solidez <strong>no</strong> sistema deregistros de óbitos <strong>da</strong> população brasileira. Vasconcelos (1998, p. 119) aponta que osmotivos dessas falhas decorrem <strong>da</strong>s baixas condições socioeconômicas <strong>da</strong> população;a extensão do país com largas regiões de difícil acesso; uma grande proporção depopulação vivendo nas áreas rurais; o analfabetismo; e o grande desinteresse de umasignificativa parcela <strong>da</strong> população em proceder ao registro, tendo em vista a burocraciaenvolvi<strong>da</strong> à formalização dos óbitos. Ain<strong>da</strong>, segundo a mesma autora, a maior taxa desub-registros ocorre entre os óbitos infantis e entre os óbitos sem assistência médica.Hakkert (1996, p. 42) salienta que também contribui <strong>para</strong> manter os níveis desub<strong>no</strong>tificação de registros de falecimentos elevados, a desigual distribuição doscartórios pelo território nacional. Desse modo, “em 1980, existiam 7.421 cartóriosde registro civil em funcionamento <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Enquanto a densi<strong>da</strong>de destes chegavaa 6,91 por mil km 2 <strong>no</strong> Estado do Rio de Janeiro, a região Norte contava com apenas0,10 por 1.000 km 2 ”. Outro importante fator de sub<strong>no</strong>tificação, segundo o mesmoautor, é a franca disseminação de cemitérios clandesti<strong>no</strong>s pelo país. Isso ocorre tantonas áreas rurais, onde esses cemitérios são popularmente de<strong>no</strong>minados de cruzeiros,como <strong>no</strong>s centros urba<strong>no</strong>s, onde não é incomum a prática adota<strong>da</strong> pelos do<strong>no</strong>s de52Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


cemitérios que, por razões financeiras, acabam aceitando realizar enterros à margemdos marcos legais, ou seja, sem que seja apresenta<strong>da</strong> uma Declaração de Óbito porparte dos responsáveis pelo ritual fúnebre.Para além dos problemas <strong>da</strong> sub<strong>no</strong>tificação dos registros de óbitos, há baixaquali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações neles conti<strong>da</strong>s. Isso decorre, primeiramente, de falhasde preenchimento, deriva<strong>da</strong>s tanto de informações malpresta<strong>da</strong>s pelos declarantesdos óbitos, como por falhas <strong>no</strong>s procedimentos de coleta dos <strong>da</strong>dos por parte dosfuncionários responsáveis. E, em segundo lugar, decorre <strong>da</strong>s precárias condições deatendimento médico, laboratorial e hospitalar que aumentam o número de casos defalecimentos cujas causas de morte não são identifica<strong>da</strong>s. Dessa forma, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, do total de registros de óbitos contidos na base do SIM, 13,8% dos brasileirosdo sexo masculi<strong>no</strong> e 15,5% <strong>da</strong>s brasileiras de sexo femini<strong>no</strong> tiveram como motivo demorte causas não identifica<strong>da</strong>s. À guisa de com<strong>para</strong>ção, Vasconcelos (1998) apontouque, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de 1980, o percentual de registros com causas maldefini<strong>da</strong>s era de 2%na Argentina, 4% <strong>no</strong> México e 8% <strong>no</strong> Chile.Os sub-registros de óbitos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, segundo a faixa etária, concentram-se nasi<strong>da</strong>des inferiores a um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de. Simões (2002), baseado em informações levanta<strong>da</strong>sna Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde <strong>da</strong> Benfam, apontou que, na faixade i<strong>da</strong>de de 0 a 2 meses, o grau de sub<strong>no</strong>tificação em todo o país chegava a 51,5%,alcançando cerca de 80% na região Nordeste (tabela 1).Tabela 1. Cobertura e sub-registro de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de porgrandes regiões e alguns estados, 1996I<strong>da</strong>de (em meses) Cobertura de Óbitos % Sub-registro %<strong>Brasil</strong>O A II 48,5 51,5Norte Urba<strong>no</strong>O A II 46,2 53,8NordesteO A II 20,6 79,4Minas e Espírito SantoO A II 71,9 28,1São PauloO A II 90,9 9,1SulO A II 79,5 20,5ParanáO A II 80,0 20,0Centro-OesteO A II 79,6 20,4Fonte: Simões (1996), baseado em <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Pesquisa Nacional de Demografia eSaúde/Benfam.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de53


O fato de a maior parte dos sub-registros de óbitos concentrar-se na faixa etáriaabaixo de um a<strong>no</strong> não implica que nas demais faixas esse problema esteja ausente.Oliveira e Albuquerque (s/d, p. 10) calcularam que, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2000, o percentual decobertura dos óbitos <strong>da</strong> população acima dos cinco a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> seja de 80% <strong>para</strong>homens e de 75,76% <strong>para</strong> mulheres. Segundo os autores, o problema do sub-registroocorre com maior intensi<strong>da</strong>de na população jovem do que na população adulta eidosa. Isto ocorreria “pela necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> família em possuir o documento que atestao falecimento <strong>da</strong> pessoa, pois, não raramente, existem direitos ou benefícios a serem,horizontal ou verticalmente, transmitidos”. Essa reali<strong>da</strong>de, porém, não é sinônimo deque não haja sub<strong>no</strong>tificações de grupos etários mais avançados, até porque, em umcontexto de eleva<strong>da</strong> pobreza e informali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> mercado de trabalho, a maioria <strong>da</strong>spessoas não tem bens ou direitos a serem transmitidos após sua morte, desestimulandoa oficialização do falecimento. Assim, de acordo com esses autores, mesmo na faixaetária superior a 80 a<strong>no</strong>s o nível estimado de omissão de registros de óbitos seria de16% <strong>para</strong> os homens e de 21% <strong>para</strong> as mulheres.O histórico de sub<strong>no</strong>tificações de registros de óbitos não deve elidir o fatode que o grau de cobertura dos falecimentos vem fazendo progressos nas últimasdéca<strong>da</strong>s. Contribui <strong>para</strong> esse fato a urbanização do país, o aumento do nível médio deescolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população, a abertura de <strong>no</strong>vas vias de comunicação e transporte emdireção aos pontos mais ermos do país, além do próprio incremento dos sistemas derecolhimento dessa sorte de informação. Igualmente positiva vem sendo a tendência àconvergência dos indicadores de mortali<strong>da</strong>de do Registro Civil e do SIM. Vasconcelos(1994, 1998) apontou que, em 1978, a base de <strong>da</strong>dos do Registro Civil continha 20%a mais de casos <strong>no</strong>tificados em relação ao SIM. Já <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1994, essa diferença,positiva <strong>para</strong> o Registro Civil, havia se reduzido <strong>para</strong> 3,9%.Apesar dessa evolução favorável, cabe salientar que esse movimento não émarcado por uma via de mão única, existindo contratendências que contribuem <strong>para</strong>manter os sub-registros, tanto <strong>no</strong> Registro Civil como <strong>no</strong> SIM, em patamares elevados.Destarte, além dos fatores anteriormente elencados, que persistem conquanto em níveismais baixos, deve ser listado como um fator <strong>da</strong> sub<strong>no</strong>tificação o aumento <strong>da</strong> violêncianas grandes ci<strong>da</strong>des, que termi<strong>no</strong>u por urbanizar um fenôme<strong>no</strong> antes basicamenterural e de pequenas ci<strong>da</strong>des, qual seja, o enterro de pessoas faleci<strong>da</strong>s em cemitériosclandesti<strong>no</strong>s, agora transformados, nas metrópoles, em pontos de desova e outrasformas de desaparecimento dos corpos. Assim, uma pesquisa realiza<strong>da</strong> por Leonar<strong>da</strong>Musumeci (IE-UFRJ/Cesec), por exemplo, mostrou que, <strong>no</strong> estado do Rio de Janeiro,“o número de pessoas registra<strong>da</strong>s como desapareci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> estado praticamente dobrouem dez a<strong>no</strong>s, passando de 2.473 (em 1993 – N.A.) <strong>para</strong> 4.800 <strong>no</strong> a<strong>no</strong> passado (em2003 – N.A.), o que representa um aumento de 94%. No período foram contabilizados39 mil desaparecimentos, o que corresponde duas vezes à população de Búzios” (OGlobo, 2004, p. 26).54Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Por outro lado, mais especificamente <strong>no</strong> que diz respeito à base de <strong>da</strong>dos doSIM, Vasconcelos (1994, p. 156) salienta que “ain<strong>da</strong> que as informações coleta<strong>da</strong>spelo Ministério <strong>da</strong> Saúde permitam uma descrição mais detalha<strong>da</strong> <strong>da</strong>s característicassociodemográficas do falecido e sobre circunstâncias do processo que o levou à morte,os problemas que envolvem certas informações comprometem a sua informação <strong>para</strong>várias regiões do país”. Desse modo, em grande medi<strong>da</strong>, a riqueza de informaçõesconti<strong>da</strong>s na Declaração de Óbito perde-se devido ao grande número de informaçõesnão preenchi<strong>da</strong>s. Assim, na maior parte dos casos, os registros de óbitos não trouxeraminformações tais como características socioeconômicas e condições de atendimentomédico durante o processo de falecimento. Em todo <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1991, a autoracalculou que os valores ig<strong>no</strong>rados em algumas variáveis conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> registro do SIMchegavam a: estado civil, 6,3%; grau de instrução do morto, 36,5%; ocupação dofalecido, 62%; ocupação do pai, 47,8%; grau de instrução do pai, 59,2%; ocupação<strong>da</strong> mãe, 82,1%; i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe, 41,9%; grau de instrução <strong>da</strong> mãe, 51,4%; assistênciamédica (se tiveram ou não), 34,7%; e médico atestante (se tiveram ou não), 32,8%(Vasconcelos, 1998, p. 121).A respeito <strong>da</strong> pronuncia<strong>da</strong> heterogenei<strong>da</strong>de na quali<strong>da</strong>de dos indicadores do SIMpelo país, Vasconcelos (2000), basea<strong>da</strong> em <strong>da</strong>dos de 1996, apontou que as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>federação formavam quatro grupos distintos. No Grupo 1, boa quali<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos, osistema de coleta de informações do Ministério <strong>da</strong> Saúde foi considerado consoli<strong>da</strong>do,apresentando razões de cobertura de óbitos de 95% e baixa discrepância, em termosde volume de informações, em relação ao Registro Civil. No Grupo 2, quali<strong>da</strong>de de<strong>da</strong>dos regular e deficiente, a autora listou as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação onde os registrosdo Ministério <strong>da</strong> Saúde estavam em processo de consoli<strong>da</strong>ção, ou seja, mais de 65%<strong>da</strong> população vivia em municípios com informação de mortali<strong>da</strong>de regular, o grauestimado de cobertura dos óbitos alcançava entre 55% e 93% e as diferenças emrelação ao Registro Civil, <strong>no</strong> que tange ao volume de informações, tendia a ser baixo.No Grupo 3, quali<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos deficiente, encontravam-se os estados onde o SIMnão estava consoli<strong>da</strong>do, me<strong>no</strong>s de 65% <strong>da</strong> população vivia em municípios com coletade informação regular sobre mortali<strong>da</strong>de, as taxas de cobertura de óbito variavamde 53% a 71% e havia sensível discrepância, em termos de volume de informações,com<strong>para</strong>tivamente ao Registro Civil. E, <strong>no</strong> Grupo 4, quali<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>dos muitodeficiente, estavam os locais onde os registros do Ministério <strong>da</strong> Saúde apresentambaixa confiabili<strong>da</strong>de, isto é, as razões de sub<strong>no</strong>tificações são eleva<strong>da</strong>s e as diferençasentre o SIM e o Registro Civil são bastante acentua<strong>da</strong>s.Do Grupo 1 faziam parte os estados <strong>da</strong> região Sul e Sudeste, com exceção deMinas Gerais, o estado de Mato Grosso do Sul e o Distrito Federal. Segundo a autora,nessas uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, viviam 49% <strong>da</strong> população brasileira. Vasconcelos subdividiuo Grupo 2: na primeira parcela, com informações de óbito regular, estariamos estados de Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Sergipe, Acre, Amapá e Roraima;Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de55


na segun<strong>da</strong> parcela, com informações de mortali<strong>da</strong>de deficientes devido às baixasproporções nas coberturas dos óbitos, estariam os estados do Rio Grande do Norte,Paraíba e Alagoas. O Grupo 3 seria composto pelos estados de Mato Grosso, Bahia,Ceará, Amazonas, Rondônia e Tocantins. De acordo com a autora, a baixa quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s informações sobre mortali<strong>da</strong>de nestas uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação residiria nas condiçõesdesfavoráveis à própria coleta desse tipo de informação, tal como a grande extensãoterritorial, ausência de assistência médica, baixa razão de urbanização e, conseqüentemente,baixa proporção de oficialização dos eventos fatais. Assim, <strong>no</strong> interior desseúltimo grupo, a confiabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações tenderia a ser maior nas capitais e nasci<strong>da</strong>des proporcionalmente mais importantes. No Grupo 4, por fim, estavam os estadosdo Piauí e do Maranhão, os mais pobres do país. Destarte, segundo as estimativas deVasconcelos (2000), o grau de cobertura dos registros de óbitos <strong>no</strong> Maranhão era de29% e, <strong>no</strong> Piauí, era de 19%, sendo que 80% <strong>da</strong> população desses estados viviamem municípios que apresentavam uma situação de coleta não regular de informaçõessobre mortali<strong>da</strong>de.Quando os registros de mortali<strong>da</strong>de inexistem ou são de quali<strong>da</strong>de questionável,as estatísticas de mortali<strong>da</strong>de baseiam-se em estimativas indiretas sobre a probabili<strong>da</strong>dede sobrevivência dos filhos. Segundo Silva e Pessoa (2002, p. 1) “as quanti<strong>da</strong>des populacionaisrequeri<strong>da</strong>s <strong>para</strong> estimar as taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil usando este métodoincluem o número total de mulheres, o número total de filhos nascidos vivos e o númerototal de filhos nascidos vivos que já morreram, todos referentes a ca<strong>da</strong> um dos grupos demulheres classifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s grupos qüinqüenais de i<strong>da</strong>de: 15 a 19 a<strong>no</strong>s, 20 a 24 a<strong>no</strong>s, ...,45 a 49 a<strong>no</strong>s”. A partir dessas informações, os indicadores são aplicados ao procedimentoCEBCS (Children ever Born and Children Surviving) do programa Mortpak, desenvolvidopela divisão de população <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s (Monteiro, 1996).No <strong>Brasil</strong>, em geral, a construção <strong>da</strong>s tábuas de mortali<strong>da</strong>de baseia-se <strong>no</strong> modeloOeste <strong>da</strong>s tábuas de Coale-Demeny, variante Trussel, e as principais fontes de pesquisasdemográficas são a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (Pnad) e aamostra do Censo Demográfico, ambas do IBGE. A partir dessas técnicas, modelos ebases de <strong>da</strong>dos, é factível chegar-se aos níveis de mortali<strong>da</strong>de infantil (me<strong>no</strong>res de uma<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de); de mortali<strong>da</strong>de de crianças entre um e cinco (exclusive) a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>dee a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer. Mais adiante, quando forem analisa<strong>da</strong>s as esperançasde vi<strong>da</strong> dos grupos de raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, retomamos esse assunto.56Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


3. Evolução do quesito raça/cor na base de <strong>da</strong>dos do SIM: 1996-20003.1. Evolução dos registros de óbito com raça/cor declara<strong>da</strong>Esta longa digressão sobre a quali<strong>da</strong>de dos indicadores de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>é de fun<strong>da</strong>mental importância <strong>para</strong> a compreensão do debate principal deste estudo. Aanálise dos indicadores sobre a mortali<strong>da</strong>de dos grupos raça/cor e sexo <strong>da</strong> populaçãobrasileira não poderia ser realiza<strong>da</strong> sem que se tivesse uma compreensão inicial dograu de consistência <strong>da</strong> própria base de <strong>da</strong>dos em seu conjunto. Nesse sentido, comoponto de parti<strong>da</strong> <strong>da</strong> presente abor<strong>da</strong>gem, pode-se considerar que a introdução <strong>da</strong>variável raça/cor representa um agravamento do problema constatado anteriormente<strong>no</strong> que tange às lacunas <strong>da</strong>s bases de <strong>da</strong>dos sobre os níveis e padrões de mortali<strong>da</strong>de<strong>no</strong> país.O fato de o modelo brasileiro de relações raciais ter construído uma imagemmítica acerca de seu modo de funcionamento – negando a existência <strong>da</strong>s práticasdiscriminatórias – trouxe um conjunto de seqüelas sobre o processo de construção depolíticas públicas, bem como sobre a geração de indicadores sociais, que em princípioas fun<strong>da</strong>mentariam. Dessa forma, só recentemente é que passou a ser usual a inclusão<strong>da</strong> variável raça/cor <strong>da</strong> população <strong>no</strong>s questionários de algumas pesquisas e ca<strong>da</strong>strosoficiais. Mesmo assim, um grande número de informações deriva<strong>da</strong>s dos ca<strong>da</strong>strosou <strong>da</strong>s pesquisas realiza<strong>da</strong>s por órgãos governamentais ain<strong>da</strong> não coleta essa sortede informação. Exemplo conspícuo a esse respeito, e que dialoga diretamente como tema do presente artigo, vem a ser o próprio Registro Civil de Pessoas Naturais, oqual ain<strong>da</strong> hoje não agrega a variável raça/cor. De todo modo, essas insuficiênciassão marca<strong>da</strong>mente presentes na área <strong>da</strong> saúde, campo que tradicionalmente vem semostrando refratário a análises e à adoção de políticas especificamente destina<strong>da</strong>s àpopulação <strong>negra</strong> (Oliveira, 2003).O processo de mi<strong>no</strong>ração do grau de omissão <strong>da</strong> variável raça/cor <strong>no</strong>s ca<strong>da</strong>stros epesquisas na área de saúde não passa de uma déca<strong>da</strong>. Especificamente <strong>no</strong> caso do SIM,a inclusão desse quesito nas Declarações de Óbitos tem apenas oito a<strong>no</strong>s, devendo suaorigem às proposições de políticas de ação afirmativa teci<strong>da</strong>s pelo Subgrupo Saúde doGrupo de Trabalho Interministerial (GTI) <strong>para</strong> Valorização <strong>da</strong> População Negra, cria<strong>da</strong>pelo gover<strong>no</strong> de Fernando Henrique Cardoso em 1995.Em abril de 1996, o Subgrupo Saúde do GTI organizou um seminário cujasconclusões continham um conjunto de proposições; entre elas havia: “Introdução doquesito ‘cor’ ou a identificação racial <strong>no</strong> prontuário do paciente, bem como naquelesinstrumentos relativos à gerência e à gestão do SUS (AIH, UCA, etc.), de forma a permitirSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de57


um diagnóstico epidemiológico dos grupos raciais/étnicos e a realização de estudosespecíficos” (Grupo de Trabalho Interministerial, 1996, p. 17, item 11). Em 1998, emdocumento oficial assinado por dois representantes do Ministério <strong>da</strong> Saúde <strong>no</strong> GTI, ostécnicos apontavam que “uma <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s concretiza<strong>da</strong>s, ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> início do a<strong>no</strong> de1996, foi a inclusão do quesito raça/cor (amarela, branca, indígena, par<strong>da</strong> e preta) <strong>no</strong>sformulários oficiais, nacionalmente padronizados de Declaração de Nascidos Vivos ede Declaração de Óbitos”. Assim, os mesmos representantes do Ministério <strong>da</strong> Saúdeconcluíram em seu relatório: “Isso permitirá a elaboração de estatísticas e análises,a partir de 1998, além de servir de base <strong>para</strong> a utilização desse quesito <strong>no</strong>s demaisdocumentos civis e militares de <strong>no</strong>ssa população. As informações sobre a mortali<strong>da</strong>deincidente na população agilizarão a toma<strong>da</strong> de decisões quanto à execução de açõesde caráter preventivo” (Alves e Barbosa, 1998, p. 7).Destarte, ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1996, o quesito raça/cor foi incluído na Declaração deÓbitos do SIM. Conforme já foi possível salientar, a riqueza potencial desse registro, emtermos de quanti<strong>da</strong>de de informações a serem gera<strong>da</strong>s, não tem se feito acompanharpelo preenchimento dos diversos itens contidos nesse documento que, assim, permaneceimpraticável de ser plenamente mobilizado pelos pesquisadores e formuladores depolíticas públicas. O mesmo ocorre <strong>no</strong> que tange à variável raça/cor. Ou seja, a meraexistência desse item <strong>no</strong>s questionários não implica que o processo de preenchimento<strong>da</strong>s informações venha a ser feito de modo adequado pelo declarante do óbito e peloprofissional responsável. Não obstante, a evolução <strong>da</strong> base de registros do SIM mostrauma permanente redução <strong>no</strong> percentual de casos de registros de óbitos com raça/corig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> em todo o país. Assim, de um percentual de 96,6%, em 1996, a<strong>no</strong> de inclusãodo quesito nas Declarações de Óbitos, houve contínua que<strong>da</strong>: em 1997, 56,3%; em1998, 35,4%; em 1999, 26,3%; e, em 2000, 15,7% (tabela 2).58Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 2. Evolução do preenchimento do quesito raça/cor <strong>no</strong>s registros do SIM – 1996-2000Sul Nordeste Sudeste Norte C oeste <strong>Brasil</strong>A<strong>no</strong> CorN % N % N % N % N % N %Branco 29 0,02 9 0,00 10.575 2,26 4 0,02 11 0,02 10.628 1,2Negro 4 0,00 2.426 0,52 1 0,00 4 0,01 2.435 0,31996 Outros 20 0,01 23 0,01 17.032 3,64 5 0,02 9 0,02 17.089 1,9Ig<strong>no</strong>rado 149.299 99,96 203.992 99,98 437.732 93,58 21.218 99,95 49.324 99,95 861.565 96,6Total 149.352 100,00 204.024 100,00 467.765 100,00 21.228 100,00 49.348 100,00 891.717 100,0Branco 67.666 46,72 19.438 9,41 153.999 33,47 2.510 11,56 6.811 13,14 250.424 28,3Negro 7.825 5,40 28.251 13,67 75.269 16,36 7.217 33,25 7.828 15,10 126.390 14,31997 Outros 633 0,44 2.401 1,16 6.005 1,31 314 1,45 366 0,71 9.719 1,1Ig<strong>no</strong>rado 68.704 47,44 156.521 75,76 224.784 48,86 11.664 53,74 36.839 71,06 498.512 56,3Total 144.828 100,00 206.611 100,00 460.057 100,00 21.705 100,00 51.844 100,00 885.045 100,0Branco 102.646 67,08 32.122 14,84 238.724 51,59 3.760 16,09 10.236 19,24 387.488 42,6Negro 12.121 7,92 51.902 23,97 104.373 22,56 10.218 43,73 11.715 22,02 190.329 20,91998 Outros 1.084 0,71 2.148 0,99 4.923 1,06 491 2,10 387 0,73 9.033 1,0Ig<strong>no</strong>rado 37.179 24,30 130.351 60,20 114.699 24,79 8.899 38,08 30.862 58,01 321.990 35,4Total 153.030 100,00 216.523 100,00 462.719 100,00 23.368 100,00 53.200 100,00 908.840 100,0Branco 113.095 75,43 38.011 17,15 255.781 54,75 4.759 19,60 15.701 28,83 427.347 46,6Negro 13.183 8,79 71.599 32,31 111.086 23,78 13.265 54,62 15.555 28,56 224.688 24,51999 Outros 1.095 0,73 9.647 4,35 11.967 2,56 717 2,95 827 1,52 24.253 2,6Ig<strong>no</strong>rado 22.552 15,04 102.322 46,18 88.315 18,91 5.544 22,83 22.386 41,10 241.119 26,3Total 149.925 100,00 221.581 100,00 467.149 100,00 24.285 100,00 54.469 100,00 917.409 100,0Branco 125.676 82,52 55.933 24,51 282.936 60,98 6.520 25,12 23.725 43,75 494.790 53,5Negro 13.970 9,17 102.283 44,81 119.140 25,68 15.294 58,93 21.523 39,69 272.210 29,42000 Outros 716 0,47 1.661 0,73 8.717 1,88 666 2,57 727 1,34 12.487 1,4Ig<strong>no</strong>rado 11.940 7,84 68.359 29,95 53.154 11,46 3.475 13,39 8.250 15,21 145.178 15,7Total 152.302 100,00 228.236 100,00 463.947 100,00 25.955 100,00 54.225 100,00 924.665 100,0Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de59


Se aplicarmos uma linha de tendência <strong>no</strong> gráfico 1, é razoável afirmar que, <strong>no</strong>sdias atuais, hipoteticamente o SIM já esteja se aproximando de uma quase universalização<strong>da</strong>s declarações de raça/cor nas Declarações de Óbitos. Entretanto, apesar docaráter auspicioso desses indicadores, ele deve ser visto com certa ressalva, pois umasérie de aspectos remanesce comprometendo a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações conti<strong>da</strong>snessa base de <strong>da</strong>dos.Vemos na tabela 2 espelha<strong>da</strong>s as tradicionais dispari<strong>da</strong>des regionais do país: em2000, enquanto Sudeste (11,5%) e Sul (7,8%) apresentavam os me<strong>no</strong>res percentuaisde registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>; Norte e Centro-Oeste, 15,2% e 13,4%,respectivamente; coube ao Nordeste a taxa mais eleva<strong>da</strong> (29,9%), ou seja, do pontode vista proporcional, mais do que o dobro <strong>da</strong>s outras regiões.Sabemos também que os brancos formam a maioria <strong>da</strong> população nas áreasmeridionais do país, ocorrendo o inverso nas regiões Norte e Nordeste, onde se sobressaemos pretos e pardos. Dessa forma, o fato de o maior percentual de registrosde óbitos contendo a informação sobre raça/cor concentrar-se nas regiões Sudeste eSul (ou, dito de outro modo, o fato de a maior proporção de omissões de informaçõesa esse respeito ser encontra<strong>da</strong> na região Nordeste) torna inevitável que, <strong>no</strong> somatórionacional, o registro do SIM apresente um certo viés de branqueamento de sua base.Essa suspeita é reforça<strong>da</strong> pelo próprio fato de que, nas regiões setentrionais, o nível desub<strong>no</strong>tificação dos casos de falecimento tende a ser maior do que nas demais regiõesbrasileiras (Vasconcelos, 1998).Gráfico 1. Percentual de casos de cor/raça ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> <strong>no</strong>s registros do SIM. <strong>Brasil</strong> egrandes regiões, 1996-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM.60Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Outro motivo que leva à suspeita quanto a um possível viés branqueador nas basesde <strong>da</strong>dos do SIM reporta-se às razões de mortali<strong>da</strong>de por 100 mil habitantes de acordocom os contingentes de raça/cor e sexo. Essa taxa é encontra<strong>da</strong> quando procedido ocruzamento <strong>da</strong>s informações do SIM com os indicadores gerados a partir <strong>da</strong> amostrade 10% do Censo Demográfico de 2000.O gráfico 2 mostra que, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> período 1998-2000, as razões de mortali<strong>da</strong>dedos brancos do sexo masculinas foram de 568,17 óbitos por 100 mil habitantes, e queessa mesma proporção entre as mulheres brancas foi de 362,82 óbitos por 100 mil habitantes.Entre os negros, as razões de mortali<strong>da</strong>de foram de 392,22 óbitos de homenspor 100 mil habitantes e de 233,74 óbitos de mulheres por 100 mil habitantes. Logo,podemos perceber que, tanto entre as pessoas do sexo masculi<strong>no</strong> como entre aquelasdo sexo femini<strong>no</strong>, a razão de mortali<strong>da</strong>de de pessoas brancas era superior à razão demortali<strong>da</strong>de de pessoas <strong>negra</strong>s. To<strong>da</strong>via, essa informação é contraditória com o estado<strong>da</strong> arte sobre o tema que, fun<strong>da</strong>mentado em estimativas indiretas, tende a acentuarjustamente o contrário, ou seja, a maior taxa de mortali<strong>da</strong>de dos negros em relaçãoaos brancos, tendo em vista as suas maiores taxas de mortali<strong>da</strong>de de crianças abaixode um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, de crianças de até cinco a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de e sua me<strong>no</strong>r esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer (Cunha, 1996; Wood e Carvalho, 1994).Gráfico 2. Taxa de mortali<strong>da</strong>de por 100 mil habitantes segundo os grupos deraça/cor e sexo. <strong>Brasil</strong>, 1998-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM, 1998-2000 e micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra de 10% do censo 2000 – IBGE.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de61


O grau de cobertura oficial de raça/cor dos óbitos pode também estar sendocomprometido pela evasão e invasão de registros de um grupo racial <strong>para</strong> outro. Naver<strong>da</strong>de, os conceitos de evasão e invasão de registros na área <strong>da</strong> demografia imbricamsefun<strong>da</strong>mentalmente com aspectos regionais, tendo em vista as dispari<strong>da</strong>des quantoà oferta de determinados serviços de saúde entre as ci<strong>da</strong>des que, desse modo, tendea superestimar em alguns sítios (e subestimar em outros) indicadores como taxas denatali<strong>da</strong>de e de mortali<strong>da</strong>de (Santos, 1978; Hakkert, 1996).Analogamente, <strong>no</strong> atual estágio institucional do processo de coleta <strong>da</strong>s informaçõesde raça/cor, é evidente que há evasão de registros de raça/cor <strong>da</strong>s pessoas faleci<strong>da</strong>s<strong>para</strong> os registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. É bastante provável ain<strong>da</strong> que essetipo de evasão ocorra em maior proporção <strong>no</strong>s óbitos de pessoas <strong>negra</strong>s. Essa falhapode ser gera<strong>da</strong> tanto por dificul<strong>da</strong>des do declarante do óbito em prestar esse tipo deinformação, como por especial falta de preparo do responsável pelo preenchimento<strong>da</strong> informação na Declaração de Óbito. Assim, segundo essa hipótese, em maiorproporção do que tende a ocorrer entre as pessoas brancas que morreram, pode estarocorrendo maior dificul<strong>da</strong>de <strong>no</strong> processo de identificação racial de uma pessoa <strong>negra</strong>que tenha falecido.A análise dos gráficos 3 e 4 revela que, em todo o <strong>Brasil</strong>, em 2000, do total deregistros de óbitos com raça/cor declara<strong>da</strong>, os brancos perfaziam 51,6% e os negros(pretos e pardos) perfaziam 46,8%. Esses percentuais apresentam ligeira discrepânciaem relação à presença relativa de ambos os contingentes na população brasileira que,<strong>no</strong> mesmo a<strong>no</strong>, eram, respectivamente, de 53,8% e 44,4%. Vale também salientar quenas Grandes Regiões também ocorre certa proximi<strong>da</strong>de entre as proporções de registrosde raça/cor declarados <strong>no</strong> SIM e as respectivas composições raciais regionais.Gráfico 3. Percentual de registros de óbitos com raça/cor declara<strong>da</strong> "Branca"sobre total de registros de óbitos com raça/cor declara<strong>da</strong>, <strong>Brasil</strong> egrandes regiões, 1996-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM.62Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 4. Percentual de registros de óbitos com raça/cor declara<strong>da</strong> "Preta" e"Par<strong>da</strong>" sobre total de registros de óbitos com raça/cor declara<strong>da</strong>,<strong>Brasil</strong> e grandes regiões, 1996-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM.Apesar desses percentuais sugerirem certa compatibili<strong>da</strong>de entre a composição racial<strong>da</strong> população, tal como descrita pelo Censo, e a composição racial dos registros de óbitos,tal como descrita <strong>no</strong> SIM, ela é duvidosa, pois supõe que os padrões de mortali<strong>da</strong>de dosgrupos de raça/cor estariam compassados às suas correspondentes proporções na população,suposição que, tal como foi visto, tende a ser discrepante com a literatura sobre o tema.Com isso, reforçam-se as suspeitas quanto ao me<strong>no</strong>r grau de cobertura dos registros do SIMem relação à população <strong>negra</strong>, com<strong>para</strong>tivamente ao que ocorre entre os brancos.Tal hipótese, infelizmente, não pôde ser testa<strong>da</strong> com o uso de uma literaturaespecífica sobre o tema, tendo em vista não ter sido localiza<strong>da</strong> nenhuma fontebibliográfica a esse respeito. De to<strong>da</strong> forma, como último reforço quanto à pertinência<strong>da</strong> hipótese, a natureza do padrão brasileiro de relações raciais tende a classificarde forma mais valorativa as pessoas brancas (não criando maiores embaraços à suaclassificação enquanto tal) e a classificar de forma pejorativa uma pessoa <strong>negra</strong> (pelocontrário, criando embaraços à sua classificação enquanto tal).Por essa soma de motivos, não <strong>no</strong>s parece absur<strong>da</strong> a suposição quanto à existênciade um me<strong>no</strong>r grau de evasão de registro na Declaração de Óbito <strong>da</strong> raça/cor de umapessoa faleci<strong>da</strong> identifica<strong>da</strong> socialmente como branca com<strong>para</strong>tivamente a uma pessoafaleci<strong>da</strong> identifica<strong>da</strong> socialmente como <strong>negra</strong> (preta ou par<strong>da</strong>), e isso pode estar sendoexpresso <strong>no</strong>s indicadores de mortali<strong>da</strong>de contidos na base de <strong>da</strong>dos do SIM.3.2. Perfil dos registros dos óbitos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>O elevado percentual de registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> <strong>no</strong>s leva aconstatar que, <strong>no</strong>s registros do SIM, além <strong>da</strong>s cinco formas de classificação racial dosfalecidos – branca, preta, par<strong>da</strong>, amarela e indígena –, há uma sexta categoria: raça/corSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de63


ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Por esse motivo, é fun<strong>da</strong>mental esmiuçarmos qual é realmente o perfil dosregistros de falecimento sem declaração de raça/cor, <strong>para</strong> termos uma avaliação maisconsistente sobre as informações (ou a sua per<strong>da</strong>) presentes na base de <strong>da</strong>dos do SIM.A tabela 3 <strong>no</strong>s mostra que, em todo o <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, a maior partedos registros de óbito com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> era encontra<strong>da</strong> na faixa etária inferior aum a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, tanto <strong>para</strong> os homens (38,1%) como <strong>para</strong> as mulheres (37,9%). Entreos homens, as proporções de registros com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> sobre o total de registrosde óbito declinavam com a i<strong>da</strong>de até a faixa entre 15 e 25 a<strong>no</strong>s (20,7%). A partir <strong>da</strong>í,as taxas voltavam a apresentar certa elevação até chegar a 25% na faixa etária acimados 60 a<strong>no</strong>s. No caso <strong>da</strong>s mulheres, tais proporções igualmente declinavam até a faixaetária entre 26 e 39 a<strong>no</strong>s (24,9%), mantendo-se basicamente nesse patamar <strong>no</strong>s demaisgrupos etários, chegando a 26,2% na faixa acima dos 60 a<strong>no</strong>s.Tabela 3. Percentual dos registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> e declara<strong>da</strong>,sobre o total de registros de óbitos, de acordo com grupos de sexo,segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>.Causa-morteHomemC/raçadeclara<strong>da</strong>HomemS/raçadeclara<strong>da</strong>MulherC/raçadeclara<strong>da</strong>MulherS/raçadeclara<strong>da</strong>Me<strong>no</strong>s de 1 a<strong>no</strong> 61,6% 38,4% 62,1% 37,9%Entre um e quatro a<strong>no</strong>s 70,0% 30,0% 69,0% 31,0%Entre 5 e 14 a<strong>no</strong>s 72,1% 27,9% 72,0% 28,0%Entre 15 e 25 a<strong>no</strong>s 79,3% 20,7% 74,4% 25,3%Entre 26 e 39 a<strong>no</strong>s 77,4% 22,6% 75,1% 24,9%Entre 41 e 59 a<strong>no</strong>s 76,6% 23,4% 75,2% 24,8%Mais de 60 a<strong>no</strong>s 75,1% 24,9% 75,1% 24,9%Total 74,7% 25,3% 73,8% 26,2%Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Na tabela 4 podemos ver a distribuição dos registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>na composição racial <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de. O percentual de registros deóbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> era mais expressivo nas afecções do período perinatal(50,2% entre os homens e 51,4% entre as mulheres). Isso é coerente com o que vemsendo visto ao longo deste estudo, posto que esse tipo de causa de morte afeta ascrianças me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de. As mortes por malformação congênita (31,3%entre os homens e 30,1% entre as mulheres), conquanto de forma não exclusiva, igualmenterelaciona<strong>da</strong> aos primeiros a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, também aparecia entre as que maisapresentavam registros de óbitos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. A causa de morte deriva<strong>da</strong> <strong>da</strong>gravidez, parto e puerpério também aparecia como um vetor com especial incidênciaproporcional de registro de óbito com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> (33,3%).64Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 4. Percentual de registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> e declara<strong>da</strong>, sobreo total de registros de óbitos, de acordo com grupo de sexo ecausa de mortali<strong>da</strong>de. <strong>Brasil</strong>, média trienal 1998-2000Causa-morteHomemC/raçadeclara<strong>da</strong>HomemS/raçadeclara<strong>da</strong>MulherC/raçadeclara<strong>da</strong>MulherS/raçadeclara<strong>da</strong>Infecciosa e Parasitária 73,0% 27,0% 71,2% 28,8%Neoplasias 80,9% 19,1% 80,6% 19,4%Doenças do Sangue 71,6% 28,4% 73,1% 26,9%Metabólica, Endócrina e Nutricionais 74,9% 25,1% 75,6% 24,6%Aparelho Circulatório 77% 23,0% 77,0% 23,0%Aparelho Respiratório 77,1% 22,9% 76,2% 23,8%Aparelho Digestivo 76,1% 23,9% 76,1% 23,9%Afecções do Período Perinatal 49,8% 50,2% 48,6% 51,4%Malformação Congênita 68,7% 31,3% 69,9% 30,1%Gravidez, Parto e Puerpério 66,7% 33,3%Causas Mal Defini<strong>da</strong>s 62,0% 38,6% 60,5% 39,5%Causas Externas 79,9% 20,1% 78,8% 21,2%Homicídios 83,5% 16,5% 82,9% 17,1%Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Também dig<strong>no</strong> de destaque foi o elevado percentual de registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s nas causas de morte mal defini<strong>da</strong>s (38,6% entre os homens e 39,5% entre asmulheres). Ou seja, esse “tipo” de causa de morte, que por si já expressa um baixo perfil <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de do atendimento médico, laboratorial e ambulatorial, se expressa em uma outraforma de deficiência <strong>no</strong> processo de preenchimento dos registros de informações.Não obstante, com poucas exceções (neoplasias, cerca de 19% entre homens emulheres, e homicídios, 16,5% entre os homens e 17,1% entre as mulheres) em to<strong>da</strong>sas causas de morte elenca<strong>da</strong>s, o percentual de casos de registros de óbito com registrode raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> superava a casa dos 20%.As tabelas 5a e 5b mostram a composição <strong>da</strong>s causas de morte, segundo os gruposde sexo e i<strong>da</strong>de, <strong>no</strong>s registros de óbito com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> <strong>no</strong> triênio 1998-2000.Na faixa etária inferior a um a<strong>no</strong>, praticamente metade dos casos de raça/corig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, tanto entre os homens com entre as mulheres, correspondiam a afecções doperíodo perinatal.Entre os homens (tabela 5a), nas faixas etárias que vão do 1 aos 39 a<strong>no</strong>s, a faixa mo<strong>da</strong>ldos registros de óbitos era representa<strong>da</strong> pelas mortes por causas externas, com especialdestaque (70,5%) <strong>para</strong> a faixa compreendi<strong>da</strong> entre os 15 e os 25 a<strong>no</strong>s. A partir dos 40a<strong>no</strong>s, as doenças do aparelho circulatório representavam a maior parte dos registros. Houvetambém presença significativa de causas mal defini<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as faixas etárias.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de65


Tabela 5a. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de pessoas de raça/corig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> do sexo masculi<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s;média trienal, 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sTotalAlgumas doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias10,7% 14,5% 14,1% 4,3% 10,6% 6,1% 3,1% 5,6%Neoplasias (tumores) 0,3% 8,3% 8,0% 3,0% 4,0% 11,6% 11,5% 8,7%Doenças do sangue eassociadosDoenças endócrinasnutricionais e metabólicasDoenças do aparelhocirculatórioDoenças do aparelhorespiratórioDoenças do aparelhodigestivo0,7% 1,6% 1,5% 0,7% 0,6% 0,4% 0,4% 0,5%2,8% 3,0% 1,4% 1,0% 1,9% 3,9% 4,4% 3,5%0,6% 2,6% 4,8% 4,2% 10,2% 27,3% 32,8% 22,8%7,5% 14,5% 6,1% 3,2% 4,5% 6,0% 11,2% 8,3%0,6% 2,1% 1,6% 1,6% 7,2% 8,9% 3,9% 4,8%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s<strong>no</strong> período perinatal49,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 5,8%Malformações congênitasdefor e a<strong>no</strong>m cromossomicas8,6% 4,0% 1,8% 0,3% 0,2% 0,1% 0,0% 1,1%Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,8% 18,3% 13,4% 9,0% 14,4% 18,5% 27,0% 21,0%Causas externas de morbi<strong>da</strong>dee mortali<strong>da</strong>de1,7% 22,8% 39,6% 70,5% 41,6% 12,9% 2,7% 14,3%Homicídios 0,1% 1,6% 4,0% 33,2% 15,9% 3,4% 0,3% 4,6%Outras (**) 1,9% 8,3% 7,7% 3,3% 4,8% 4,3% 3,0% 3,5%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo Grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do parelho geniturinário.(**) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.66Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


No caso <strong>da</strong>s mulheres (tabela 5b) ocorria maior diluição <strong>da</strong>s causas de morteacima de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, havendo, porém, destaque <strong>para</strong> o elevado percentual <strong>da</strong>scausas de morte mal defini<strong>da</strong>s – entre 15,4% e 27,3% conforme o patamar etário – ea presença de doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias até os 39 a<strong>no</strong>s. A partir dos 40 a<strong>no</strong>s,as doenças do aparelho circulatório passavam a ser a causa de morte mo<strong>da</strong>l, bemcomo são expressivos os índices de óbitos por neoplasias, principalmente dos 40 aos59 a<strong>no</strong>s.Tabela 5b. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de pessoas de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>do sexo femini<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal,1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias11,1% 14,8% 8,3% 9,2% 11,1% 5,1% 2,8% 5,1%Neoplasias (tumores) 0,4% 7,4% 10,4% 6,6% 13,0% 18,7% 9,6% 10,1%Doenças do sangue eassociados0,7% 1,9% 1,7% 1,8% 1,2% 0,6% 0,4% 0,6%Doenças endócrinasnutricionais e metabólicas2,9% 3,6% 2,9% 2,8% 3,2% 6,2% 6,8% 5,8%Doenças do aparelhocirculatório0,7% 3,7% 6,7% 7,9% 18,4% 31,0% 34,7% 27,6%Doenças do aparelhorespiratório7,7% 17,2% 9,3% 2,8% 6,4% 6,7% 10,7% 9,3%Doenças do aparelhodigestivo0,5% 2,0% 2,4% 5,7% 4,9% 4,7% 3,4% 3,3%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,3% 1,8% 3,9% 0,2% 0,0% 0,4%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s<strong>no</strong> período perinatal47,9% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 5,9%Malformações congênitasdefor e a<strong>no</strong>m cromossomicas9,3% 5,5% 3,0% 10,6% 0,0% 0,1% 0,0% 1,3%Causas mal defini<strong>da</strong>s 15,4% 17,0% 15,3% 23,0% 17,8% 19,0% 27,3% 23,3%Causas externas de morbi<strong>da</strong>dee mortali<strong>da</strong>de1,6% 18,4% 29,4% 11,5% 13,8% 4,0% 1,4% 4,0%Homicídios 0,1% 1,2% 2,2% 7,6% 3,3% 0,6% 0,1% 0,6%Outras 1,9% 8,5% 10,3% 3,2% 6,5% 3,7% 2,7% 3,3%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo Grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.TotalSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de67


4. Estrutura <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s grupos de raça/cor4.1. Perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de dos grupos de raça/cor e sexo <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e Grandes RegiõesApós verificarmos os limites e as potenciali<strong>da</strong>des de uso <strong>da</strong>s bases de registros doSIM, passamos ao perfil <strong>da</strong>s causas de morte <strong>no</strong>s grupos raciais decompostos por sexo.Tal como na seção anterior, os indicadores aqui utilizados baseiam-se na média do triênio1998-2000. Com isso, infelizmente será perdi<strong>da</strong> uma certa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação,tendo em vista a evolução do grau de preenchimento <strong>da</strong> variável raça/cor <strong>no</strong>s registrosdo SIM ao longo desse período. Porém, devido à natureza desses indicadores, sensíveisa fatores estocásticos que possam ocorrer a<strong>no</strong> a a<strong>no</strong>, tal procedimento acabou sendoinevitável (Machado e Rigotti, 1996; Abreu e Rodrigues, 2000). Para tornar a leitura dotexto mais flui<strong>da</strong>, evitaremos a permanente repetição desse período de tempo <strong>no</strong> qualtranscorreram os eventos em estudo. Igualmente, o atual estudo deixará de consideraras falhas de <strong>no</strong>tificações dos registros de óbitos, passando a dialogar com os indicadoresexistentes <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do SIM, mormente a variável raça/cor quando declara<strong>da</strong>,como se representasse todo o universo de falecimentos durante o referido período.Por esse motivo, quando forem feitos comentários sobre as estruturas <strong>da</strong>s causas demortali<strong>da</strong>de dos distintos grupos raciais e de cor, devemos prestar atenção <strong>para</strong> o fatode que se tratam de indicadores que não levam em consideração as omissões de registrode casos de falecimentos, bem como, salvo quando mencionado, os registros de óbitoscom raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Por essa razão, os <strong>da</strong>dos que serão debatidos não expressamnecessariamente a efetiva reali<strong>da</strong>de existente <strong>no</strong>s distintos padrões de mortali<strong>da</strong>de dosgrupos de raça/cor, muito embora possam servir de indicativos <strong>da</strong> situação que, defato, esteja ocorrendo.Finalmente, as limitações <strong>da</strong>s bases de <strong>da</strong>dos do SIM não permitiram uma análiseconsistente <strong>da</strong> estrutura de mortali<strong>da</strong>de, nem do grupo amarelo e nem do grupo indígena,desagrega<strong>da</strong> por causas de morte e por grupos etários. Por esse motivo serão feitassomente duas referências a estes contingentes, uma <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> grupo de sexo, quandoforem ser analisa<strong>da</strong>s as composições <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> interior de ca<strong>da</strong>grupo racial ou de cor, de to<strong>da</strong>s as faixas etárias.68Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4.1.1. Perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de do sexo masculi<strong>no</strong> segundo osgrupos de raça/cor por faixa etáriaa) Abaixo de um a<strong>no</strong>Entre os bebês brancos do sexo masculi<strong>no</strong> que não completaram um a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>, a causa de morte mo<strong>da</strong>l foi por afecções do período perinatal (49,5%); a seguirvieram as malformações congênitas (13,5% de falecimentos), as doenças do aparelhorespiratório (9%), as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (8,4%) e as causas mal defini<strong>da</strong>s(8,1%) (tabela 6).Entre os bebês pretos do sexo masculi<strong>no</strong> que faleceram antes de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de,as afecções do período perinatal responderam por 41,6% <strong>da</strong>s mortes. Em segundolugar, sinalizando especiais baixas condições de atendimento médico, apareceram ascausas não identifica<strong>da</strong>s (13,9%). As doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (13,3%), as doençasdo aparelho respiratório (11,4%) e as malformações congênitas (7,5%) tambémse mostraram como importantes causas relativas de mortes dessas crianças (tabela 7).No caso dos bebês pardos do sexo masculi<strong>no</strong> que morreram antes de completarum a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, mais uma vez foram as afecções do período perinatal a causa demorte mais importante (46,1%). Tal como ocorrido entre os pretos, as causas mal defini<strong>da</strong>svieram em segundo lugar: 14,2%; depois temos 11,4% de mortes por doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias e 9,8% por doenças do aparelho respiratório (tabela 8).Entre os bebês negros do sexo masculi<strong>no</strong> que não completaram um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de,45,6% dos casos fatais foram gerados por afecções do período perinatal, 14,2% porcausas mal defini<strong>da</strong>s (reforçando as suspeitas quanto ao mau atendimento médico nessafaixa etária), 11,6% por doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 10% por doenças do aparelhorespiratório e 7,8% por malformações congênitas. Vale salientar que, contrariamente aoocorrido com bebês brancos, as malformações congênitas não apareceram entre os negrosde mesma faixa etária com tanto destaque, e sim as causas mal defini<strong>da</strong>s (tabela 9).Nas Grandes Regiões, podemos ver que tanto <strong>para</strong> os bebês brancos como negrosdo sexo masculi<strong>no</strong>, que não completaram um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, as afecções do períodoperinatal foram a causa de morte mo<strong>da</strong>l (tabelas 10 e 11).Igualmente é interessante verificar que, <strong>no</strong> Sudeste, Centro-Oeste e <strong>no</strong> Sul, entreos falecimentos de bebês brancos do sexo masculi<strong>no</strong> dessa faixa etária, as afecções doperíodo perinatal ocu<strong>para</strong>m quase a metade dos registros de óbitos. Já as causas maldefini<strong>da</strong>snão apareceram com tanto destaque, girando em tor<strong>no</strong> de 5% dos óbitos totaisdesse grupo. Contudo, nas regiões Norte e Nordeste, as afecções do período perinatalsituaram-se na faixa dos 45% e as causas mal defini<strong>da</strong>s encontraram-se <strong>no</strong> patamar de12%. Uma vez que essas regiões são as que apresentam as piores condições econô-Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de69


micas e sociais do país (que, em alguma medi<strong>da</strong>, tendem a se refletir <strong>no</strong>s indicadoresde saúde de suas populações), parece razoável supor que há forte correlação entre ascausas mal defini<strong>da</strong>s e as baixas condições de atendimento médico e hospitalar aosrecém-nascidos (tabela 10).Semelhante perfil nessas regiões apresentam os bebês negros do sexo masculi<strong>no</strong>que faleceram com me<strong>no</strong>s de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de. Em to<strong>da</strong>s elas, as afecções do períodoperinatal apareceram como causas mo<strong>da</strong>is de mortali<strong>da</strong>de. Já a importância relativa <strong>da</strong>scausas mal defini<strong>da</strong>s variou de acordo com a região. Assim, <strong>no</strong> Sudeste eram 6,9% dototal de óbitos; <strong>no</strong> Sul, 7,7%; e <strong>no</strong> Centro-Oeste, 6%; destacando-se Nordeste e Norte,com 21,1% e 15,1% dos óbitos, respectivamente (<strong>no</strong>vamente há provável correlaçãoentre pobreza regional e condições de atendimento médico e hospitalar de baixo perfil).Coerentemente, o fato de os bebês negros do sexo masculi<strong>no</strong> dessa faixa etária seremespecialmente vitimados por esse tipo de morte em to<strong>da</strong>s as regiões do país, apenas implicaque suas condições de assistência se deram dentro de condições proporcionalmentemais degra<strong>da</strong><strong>da</strong>s que o ocorrido entre os bebês brancos de mesmo sexo (tabela 11).b) Entre um e quatro a<strong>no</strong>sNesse grupo etário, as crianças brancas do sexo masculi<strong>no</strong> de todo o país faleceram,principalmente, por causas não naturais (32,8%), como os acidentes de transporte,que responderam por 12,5% do total <strong>da</strong>s mortes. As demais causas em destaque foram:doenças do aparelho respiratório (13,3%); neoplasias (11,1%); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (11,4%), e as causas mal defini<strong>da</strong>s (8,0%) (tabela 6).Entre as crianças pretas do sexo masculi<strong>no</strong> <strong>da</strong> mesma faixa de i<strong>da</strong>de, a causamo<strong>da</strong>l de mortali<strong>da</strong>de também foram as causas externas, que responderam por 21,5%dos falecimentos nesse grupo etário (5,9% dos óbitos ocorreram por acidentes de transporte).As causas mal defini<strong>da</strong>s estiveram em segundo lugar, com 19,3% dos óbitos;igualmente importantes foram as doenças do aparelho respiratório (16,3%) e as doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias (14,8%) (tabela 7).Na tabela 8 vemos que permanecem as causas externas as responsáveis pelasmortes de crianças par<strong>da</strong>s do sexo masculi<strong>no</strong> entre um e quatro a<strong>no</strong>s: 33,8%. Os acidentesde transporte representaram 11,0% do total de óbitos. As causas mal defini<strong>da</strong>sresponderam por 13,7% dos casos de falecimentos; as doenças do aparelho respiratóriopor 12,3%; e doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias por 11,7%.No caso <strong>da</strong>s crianças <strong>negra</strong>s de mesmo sexo e faixa etária (tabela 9), o principalmotivo de mortali<strong>da</strong>de foram igualmente as causas externas: 32,4%, com os acidentesde transporte representando 10,4% do total de mortes. Doenças do aparelho respiratório70Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


e doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias marcaram 12,7% e 12%, respectivamente, o quadrode óbitos desse grupo.Em proporções razoavelmente semelhantes nas cinco regiões (tabelas 10 e 11), acausa mo<strong>da</strong>l de mortali<strong>da</strong>de, tanto de crianças brancas como <strong>negra</strong>s do sexo masculi<strong>no</strong>,nessa faixa etária, foram as causas externas.Nessas regiões destacaram-se as mortes de crianças brancas masculinas por doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, neoplasias e doenças do aparelho respiratório, numafaixa que variou entre 8% e 13%, aproxima<strong>da</strong>mente. No que tange às causas maldefini<strong>da</strong>s, vieram à frente Norte e Nordeste, com as proporções de 14,8% e 9,5%,respectivamente (tabela 10).Por meio <strong>da</strong> tabela 11, observando a coluna que trata <strong>da</strong>s crianças <strong>negra</strong>s do sexomasculi<strong>no</strong> de um a quatro a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, identificamos as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitáriase as doenças do aparelho respiratório como únicas causas de mortali<strong>da</strong>de compeso relativo superior a 11% <strong>no</strong> total de óbitos desse contingente nas cinco regiões. Ascausas mal defini<strong>da</strong>s foram expressivas <strong>no</strong> Norte (16,4%) e <strong>no</strong> Nordeste (18,6%) e, demodo proporcionalmente me<strong>no</strong>s gritante, <strong>no</strong> Sudeste (10,3%). Esta região foi onde asneoplasias tiveram maior peso, 10,1%; as outras não tiveram taxas superiores a 8%.c) Entre 5 e 14 a<strong>no</strong>sNa faixa etária de 5 a 14 a<strong>no</strong>s, em todos os grupos de raça/cor do sexo masculi<strong>no</strong>,a causa hegemônica de morte prosseguiu sendo as causas externas.Entre os infantes brancos desse grupo, 50,8% dos que morreram foram vitimadospor causas externas, com especial destaque <strong>para</strong> os acidentes de transporte, que responderampor 21,1% dos casos de óbitos. As neoplasias igualmente apareceram comcerto destaque: 13,3% (tabela 6).Para os infantes pretos, as causas externas também se apresentaram como o vetorde mortali<strong>da</strong>de proporcionalmente mais significativo: 48,7%. Os acidentes de transportecorresponderam a 11,7% do total de óbitos nessa faixa etária e os homicídios a 8,1%(quarta causa de morte desse contingente juntamente com as neoplasias). Igualmenteimportantes foram as causas mal defini<strong>da</strong>s (9,9%) e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(7,0%) (tabela 7).A maior taxa de mortali<strong>da</strong>de por causas externas coube às crianças e adolescentespardos: 57,4%. Os acidentes de transporte causaram 18,8% do total de óbitos e oshomicídios, 9,3%; seguindo-se as causas mal defini<strong>da</strong>s, com 9% (tabela 8).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de71


Crianças e adolescentes negros foram vitimados, principalmente, por causas externas:56,3%. Do total de óbitos, 17,9% referiam-se a acidentes de transporte. To<strong>da</strong>via,vale salientar que, nessa faixa etária, os homicídios atingiram 9,1% desses. Igual taxacoube às causas mal defini<strong>da</strong>s (tabela 9).Nas Grandes Regiões, com exceção <strong>da</strong> região Norte (43,9%), mais <strong>da</strong> metadede crianças e adolescentes brancos de 5 a 14 a<strong>no</strong>s faleceram de causas externas, queatingiram seu pico na região Sul: 57,8% do total de óbitos. As neoplasias representaramum importante fator relativo de causali<strong>da</strong>de de morte em to<strong>da</strong>s as cinco regiões,nunca deixando de responder por me<strong>no</strong>s de 12% dos casos de óbito. Já os homicídiosapresentaram a me<strong>no</strong>r taxa <strong>no</strong> Norte (1,5%) e a maior <strong>no</strong> Sudeste (7,4%) (tabela 10).De forma semelhante, crianças e adolescentes negros do sexo masculi<strong>no</strong> dessecontingente etário, em to<strong>da</strong>s as cinco regiões brasileiras, faleceram em decorrência decausas externas, as quais responderam por mais <strong>da</strong> metade dos casos de morte, commaior incidência (acima de 60% do total de óbitos registrados) nas regiões Sudeste, Sule Centro-Oeste. As causas de óbito mal defini<strong>da</strong>s concentraram-se <strong>no</strong> Norte (15,4%) e<strong>no</strong> Nordeste (12,0%). Os homicídios apareceram <strong>no</strong> Norte, <strong>no</strong> Nordeste e <strong>no</strong> Sul, comtaxas entre 5% e 6%, sendo superados pelo Sudeste (13,1%) e Centro-Oeste (10,5%)<strong>no</strong> total de óbitos ocorridos (tabela 11).d) Entre 15 e 25 a<strong>no</strong>sAs mortes por causas violentas, entre pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>, tornam-seain<strong>da</strong> mais assustadoras quando adentramos essa faixa etária de todos os grupos deraça/cor.Assim, 78,7% dos brancos foram vitimados por causas externas. Do total de óbitos,38,1% foram por assassinato; 25,8% o foram especificamente por armas de fogo;e 20,5% morreram em acidentes de trânsito. Diante dessa reali<strong>da</strong>de, as demais causasde morte perderam relevância, não respondendo isola<strong>da</strong>mente por mais de 5% doscasos totais de óbito (tabela 6).A mesma taxa de óbitos por causas externas (78,7%) foi registra<strong>da</strong> <strong>para</strong> os jovenspretos. Foram vítimas de homicídios 52,6% desse contingente; 38,3% por armas defogo; e 8,5% por acidentes de transporte. Tal como entre os jovens brancos do mesmogrupo etário, as demais causas de mortali<strong>da</strong>de, em geral, não representaram isola<strong>da</strong>mentemais de 5% dos casos totais de óbitos dos rapazes pretos (tabela 7).Entre os jovens pardos, 82,9% morreram devido a causas externas. Os homicídiosresponderam por 52% dos casos totais de falecimentos registrados; ocasionadospor armas de fogo foram 37,2%; e os acidentes de transporte, 11,6%. Mais uma vez,72Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


isola<strong>da</strong>mente, as demais causas de mortali<strong>da</strong>de não representaram mais de 3% dessecontingente (tabela 8).Somados os jovens pretos e pardos falecidos, constatamos que 82,2% deles foramvitimados por causas externas. Entre os jovens negros desse grupo etário, as mortespor homicídios corresponderam a 52,1%, sendo cometidos por armas de fogo 37,4%do total de óbitos. Já os acidentes de transporte responderam por 11,1%. As demaiscausas também foram irrelevantes (tabela 9).No recorte por regiões, foi o Sudeste que apresentou maior percentual de jovensbrancos acometidos por causas não naturais: 80,6%. To<strong>da</strong>via, nas demais regiões,essa causa de mortali<strong>da</strong>de não ficou abaixo dos 70%. Também os homicídios de jovensbrancos concentraram-se <strong>no</strong> Sudeste, onde 45% dos óbitos foram ocasionadospor esse motivo. Nas regiões Nordeste, Sul e Centro-Oeste, os homicídios de jovensbrancos estiveram na faixa de 25% a 28%; enquanto a região Norte apresentou umíndice irrisório: 2,2% dos casos totais, ultrapassado pelas causas mal defini<strong>da</strong>s (7,6%)(tabela 10).Entre os jovens negros que morreram, as causas externas também foram o principalfator relativo de mortali<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as regiões, nunca ficando abaixo dos 76%.Especificamente <strong>no</strong> Sudeste, 85% dos casos de óbitos de negros deram-se por causasexternas. No que tange aos homicídios, nas regiões Nordeste e Sul, a proporção deóbitos causados por assassinatos chegava à faixa de 39%; nas regiões Norte e Centro-Oeste à faixa de 45%. Finalmente, na região Sudeste, os homicídios responderam pelamorte de 61% dos jovens negros entre 15 e 25 a<strong>no</strong>s (tabela 11).e) Entre 26 e 39 a<strong>no</strong>sTambém nessa faixa etária mantém-se os óbitos de homens de ambos os gruposde raça/cor motivados por causas externas.Dos registros de falecimento de homens brancos, as causas externas responderampor 50,1%. Do total de óbitos, os homicídios responderam por 21,1% dos casos; osataques por armas de fogo por 13,2%; e os acidentes de transporte por 14%. Nessa faixaetária, a composição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de entre os homens brancos estava mais distribuí<strong>da</strong>entre outras causas de morte: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (11,4%); doenças doaparelho circulatório (9,4%); HIV/aids (8,5%); doenças do aparelho digestivo (6,7%);e causas mal defini<strong>da</strong>s (6,4%) (tabela 6).Entre os homens pretos, a principal causa relativa de mortali<strong>da</strong>de prosseguiusendo as causas externas, que responderam por 42,3% dos falecimentos. Do total demortos, 22,5% o foram por homicídios; 14,6% especificamente por armas de fogo; eSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de73


7,1% por acidentes de transporte. Porém, outras causas de mortali<strong>da</strong>de se destacam:doenças do aparelho circulatório, 12,2%; doenças <strong>para</strong>sitárias e infecciosas, 12,1%;causas mal defini<strong>da</strong>s, 10,2%, HIV/aids, 7,3%; e doenças do aparelho digestivo, 6,2%(tabela 7).No caso dos homens pardos de 26 a 39 a<strong>no</strong>s, 55,9% foram vitimados por causasexternas. Os homicídios responderam por 28,9%; cometidos por armas de fogo foram18,7%; acidentes de transporte ocorreram em 11,3% dos casos totais de mortali<strong>da</strong>dedesse contingente. Dentre as demais causas, destacaram-se as mal defini<strong>da</strong>s, 9,4%; asdoenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 7,9%; as doenças do aparelho circulatório, 8,2%;as doenças do aparelho digestivo, 5,7%; e o HIV/aids, 4,6% (tabela 8).Entre os homens negros, 53,1% dos que morreram foram vitimados por causasnão naturais. Nesse grupo etário, de raça/cor e sexo, o percentual ocupado peloshomicídios, <strong>no</strong> total de óbitos, chegava a 27,5%. Os homicídios por armas de fogocorresponderam a 17,8% e os acidentes de trânsito a 10,4% do total. As demais causasde mortali<strong>da</strong>de proporcionalmente relevantes foram: causas mal defini<strong>da</strong>s, 9,5%; doençasdo aparelho circulatório, 9%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 8,8%; doençasdo aparelho digestivo, 5,8%; e HIV/aids, 5,1% (tabela 9).Nas Grandes Regiões, as causas externas representaram proporcionalmente ametade dos casos de falecimentos de homens brancos, sendo esse percentual maisexpressivo <strong>no</strong> Norte (56,9%) e <strong>no</strong> Centro-Oeste (56,3%) do que <strong>no</strong> Nordeste, Sudestee Sul (49,3%; 50,0%; 50,5%, respectivamente). Já os homicídios corresponderam acerca de 15% <strong>da</strong>s causas de morte <strong>no</strong> Nordeste e <strong>no</strong> Sul, e variaram entre 20% e 26%nas demais regiões (tabela 10).Com exceção do Sul (44,7%), foram ain<strong>da</strong> as causas externas responsáveis pelamorte de mais <strong>da</strong> metade dos homens negros. Em relação à faixa etária anterior (de15 a 25 a<strong>no</strong>s), a proporção de homicídios decli<strong>no</strong>u, mantendo-se, porém, em níveisrazoavelmente elevados: Norte, 25,5%; Nordeste, 22,3%; Sudeste, 31,1%; Sul, 17,1%;e Centro-Oeste, 25,1% (tabela 11).f) Entre 40 e 59 a<strong>no</strong>sNessa faixa etária, o percentual de falecimentos derivados de causas externas caiacentua<strong>da</strong>mente, passando a ganhar relevo as doenças do aparelho circulatório.De fato foram elas as responsáveis por 29,1% <strong>da</strong>s mortes de homens brancos. Asneoplasias responderam por 17,5% e as causas externas por 15,2% do total de óbitos.Outros importantes vetores relativos de mortali<strong>da</strong>de foram: doenças do aparelho digestivo,9,3%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 8,7%; e doenças do aparelho respiratório, 6,6% (tabela 6).74Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Novamente as doenças do aparelho circulatório atingiram também os homenspretos de mesma faixa etária, correspondendo a 30,4% <strong>da</strong>s mortes dessas pessoas.Igualmente importantes foram: as causas não identifica<strong>da</strong>s, 13,5%; as causas externas,12,3%; as neoplasias, 12,3%; as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 7,4%; as doençasdo aparelho digestivo, 7,4%; e as doenças do aparelho respiratório, 7,0% (tabela 7).No caso dos homens pardos, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foram as doençasdo aparelho circulatório: 26,1% dos óbitos. A seguir vêm as causas externas, com 19,3%(6,5% do total foram vítimas de homicídios). As demais causas de mortali<strong>da</strong>de foram: causasmal defini<strong>da</strong>s, 14,9%; neoplasias, 10,8%; doenças do aparelho digestivo, 8,4%; doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 6,1%; doenças do aparelho respiratório, 6,0% (tabela 8).Entre os homens negros, acompanhando o que ocorrera com pretos e pardos domesmo patamar etário, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foram as doenças do aparelhocirculatório, responsáveis por 27,2% dos casos de óbitos registrados. As causas externasapareceram em segundo lugar, tendo vitimado 17,5% dos negros (5,9% por homicídio).As causas mal defini<strong>da</strong>s responderam por 14,6% dos óbitos; as neoplasias por 11,2%;as doenças do aparelho digestivo por 8,1%; as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias por6,5%; e as doenças do aparelho respiratório por 6,2% (tabela 9).Entre os brancos que faleceram entre os 40 e 59 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, nas GrandesRegiões, as doenças do aparelho circulatório apareceram como as causas mo<strong>da</strong>is demortali<strong>da</strong>de, nunca ficando abaixo dos 25% nem acima dos 30%. As demais causasde mortali<strong>da</strong>de que se destacaram, em geral, foram as neoplasias e as causas externas(tabela 10).Para os negros, em quatro <strong>da</strong>s regiões (Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste), acausa mo<strong>da</strong>l de mortali<strong>da</strong>de foi representa<strong>da</strong> pelas doenças do aparelho circulatório,com percentuais variando entre 24% (<strong>no</strong> Nordeste) e 32% (<strong>no</strong> Sul) do total de óbitos.Já <strong>no</strong> Norte foram as causas externas que obtiveram maior percentual: 23,1%. Valesalientar que, em to<strong>da</strong>s as regiões do país, causas mal defini<strong>da</strong>s e causas externas forammotivos importantes de mortali<strong>da</strong>de de negros desse grupo etário (tabela 11).g) Acima de 60 a<strong>no</strong>sTal como parcialmente já ocorrera na faixa etária anterior (de 40 a 59 a<strong>no</strong>s), o perfil<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de dos homens acima de 60 a<strong>no</strong>s assume um caráter bastante peculiar.Entre os homens brancos, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de prosseguiu sendo as doençasdo aparelho circulatório: 37,8% do total de óbitos. As demais causas foram: neoplasias, 18%;doenças do aparelho respiratório, 15%; e causas mal defini<strong>da</strong>s,10,1% (tabela 6).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de75


Igualmente foram as doenças do aparelho circulatório responsáveis por 38,6%dos falecimentos de homens pretos. A seguir vieram: causas mal defini<strong>da</strong>s, 17,8%;neoplasias, 14%; e doenças do aparelho respiratório, 10,3% (tabela 7).Do total dos registros de óbitos de homens pardos, 33,9% tiveram como causa asdoenças do aparelho circulatório. Destacaram-se também as causas mal defini<strong>da</strong>s, com24,1% do total dos registros de óbitos. Outras proporcionalmente relevantes foram asneoplasias, 12,4%, e as doenças do aparelho respiratório, 10% (tabela 8).Evidentemente, o somatório dos homens pretos e pardos mostra que 35% vierama falecer acometidos de doenças do aparelho circulatório. As causas mal defini<strong>da</strong>s estiverampresentes <strong>no</strong>s registros de óbitos de 22,6% desses negros. A seguir aparecemas neoplasias (12,8%) e as doenças do aparelho respiratório (10,1%) (tabela 9).Ao analisarmos a composição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de de homens acima de 60 a<strong>no</strong>s nas GrandesRegiões, vemos que a principal causa de óbito foram as doenças do aparelho circulatório:33,2% na região Norte e 39,6% na região Sul, ocupando as demais regiões faixas intermediárias.As neoplasias e as doenças do aparelho respiratório foram também importantes fatoresrelativos de mortali<strong>da</strong>de desses homens em to<strong>da</strong>s as regiões. Já as causas mal defini<strong>da</strong>s apareceramrelativamente com mais destaque <strong>no</strong> Norte e Nordeste (tabela 10).Entre os negros, as doenças do aparelho circulatório apareceram como causa mo<strong>da</strong>lde mortali<strong>da</strong>de em três regiões geográficas do país, indo de 39% do total de óbitos<strong>no</strong> Sudeste e Centro-Oeste a 42,5% <strong>no</strong> Sul. Nas regiões Norte e Nordeste preponderaramas causas mal defini<strong>da</strong>s, em tor<strong>no</strong> de 32%; as doenças do aparelho circulatório vieramem segundo lugar, com 28,1% e 31%, respectivamente. Em to<strong>da</strong>s as regiões do paíshouve destaque <strong>para</strong> as neoplasias e as doenças do aparelho respiratório (tabela 11).h) To<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>desNa tabela 6 podemos ver que a principal causa de mortali<strong>da</strong>de de pessoas brancasdo sexo masculi<strong>no</strong> de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des foram as doenças do aparelho circulatório,responsável por 28,1% dos óbitos desse contingente em todo o país. As causas externasaparecem como segun<strong>da</strong> causa, tendo respondido por 16% <strong>da</strong>s mortes registra<strong>da</strong>s. Asneoplasias geraram 14,7% dos óbitos desses brasileiros; as doenças do aparelho respiratóriocausaram 10,8% <strong>da</strong>s mortes; e as causas mal defini<strong>da</strong>s constaram em 8,9%dos registros de óbitos desse contingente. Já os homicídios foram a causa de 5,5% <strong>da</strong>smortes (3,5% do total por armas de fogo) e os acidentes de transporte de 4,6% delas.Entre os homens pretos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foramas doenças do aparelho circulatório, vetor responsável por 26,8% dos óbitos. Ascausas externas atingiram 19,7% desses homens, ocupando o segundo lugar <strong>no</strong> rol de76Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


mortes desse contingente. As causas mal defini<strong>da</strong>s estiveram presentes <strong>no</strong>s registrosde óbitos de 14% dos homens pretos. Aparecem a seguir as neoplasias (10,1%), asdoenças do aparelho respiratório (7,9%) e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (6,4%).Os homicídios vitimizaram 9,7% dos homens pretos, índice que, proporcionalmente,foi 76% superior ao do contingente de homens brancos. Os assassinatos por armasde fogo responderam por 6,5%, e os acidentes de transporte por 3,3% dos casos defalecimentos de homens pretos em todo o país (tabela 7).A principal causa de morte de homens pardos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des foram as causasexternas, que vitimizou 27,3% <strong>da</strong>s pessoas desse grupo. As doenças do aparelho circulatóriomataram 20,3% dos homens pardos em todo o país. Outras causas de mortali<strong>da</strong>deproporcionalmente relevantes entre eles foram: as causas mal defini<strong>da</strong>s, que constaramem 15,9% dos registros de óbitos; as neoplasias, que responderam por 8,1% dos casosde falecimentos; e as doenças do aparelho respiratório, responsáveis por 6,9% do total deóbitos. Os homicídios vitimizaram 13% dos homens pardos, percentual esse 136% superiorà mesma ocorrência com brancos. Mais deti<strong>da</strong>mente, os homicídios por armas de fogoproduziram 8,7% <strong>da</strong>s mortes e os acidentes de transporte, 5,5% (tabela 8).No somatório <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de dos homens pretos e pardos de to<strong>da</strong>sas i<strong>da</strong>des, as causas externas apareceram como principal vetor de mortali<strong>da</strong>de, tendorespondido por 25,6% dos óbitos registrados. As doenças do aparelho circulatórioapareceram, proporcionalmente, como segun<strong>da</strong> maior causa de morte de homens negros,tendo gerado o falecimento de 21,8% deles. Proporcionalmente relevantes foram:as causas maldefini<strong>da</strong>s, que constaram em 15,5% dos registros de óbitos de homensnegros; as neoplasias, que causaram a morte de 8,5% dos homens negros de to<strong>da</strong>sas i<strong>da</strong>des; e as doenças do aparelho respiratório, que originaram 7,1% dos casos defalecimentos dessas pessoas. Os homicídios causaram a morte de 12,3% dos homensnegros de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. Essa proporção foi 123,6% superior ao verificado entre oshomens brancos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. Já os homicídios por armas de fogo vitimaram8,2% dos homens negros de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des e os acidentes de transporte atingiram5,0% dos que faleceram (tabela 9).Nas Grandes Regiões, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de entre os homens brancosde to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des foram as doenças do aparelho circulatório, entre 26% e 30%(com exceção <strong>da</strong> região Norte, onde as causas externas aparecem proporcionalmenteempata<strong>da</strong>s, 20%). As causas externas, as neoplasias, as causas mal defini<strong>da</strong>s e as doençasdo aparelho respiratório apareciam como fatores relevantes na morte de homensbrancos. Os homicídios têm relativo destaque (cerca de 6%) <strong>no</strong>s óbitos ocorridos dessecontingente nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte.Entre os negros de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des não houve uma causa principal de mortali<strong>da</strong>denas Grandes Regiões, mas o revezamento de várias delas. No Norte e Nordeste,as causas mal defini<strong>da</strong>s e externas, segui<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Nordeste pelas doenças do aparelhoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de77


circulatório; <strong>no</strong> Sudeste e <strong>no</strong> Centro-Oeste, as causas externas e as doenças do aparelhocirculatório; <strong>no</strong> Sul, destacaram-se as doenças do aparelho circulatório. Quanto àmorte por homicídio, ela atingiu os homens negros <strong>da</strong> seguinte forma: Sudeste, 15,3%;Centro-Oeste, 12,4%; Norte, 11,0%; Nordeste, 8,5%; e Sul, 6,9% (tabela 11).Na tabela 12 encontram-se as principais causas de mortali<strong>da</strong>de de indígenas eamarelos do sexo masculi<strong>no</strong> de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. Conforme salientado, os limites <strong>da</strong>sbases de <strong>da</strong>dos do SIM e a pequena proporção desses grupos na população brasileiraimpediram que fossem aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s as desagregações por grupos etários.Entre os amarelos, as principais causas de morte foram: doenças do aparelhocirculatório, 27,4%; neoplasias, 15%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 12,5%; causas externase doenças do aparelho respiratório, 11%. Já os homicídios atingiram “somente” 3,1%desse contingente.Independentemente desses <strong>da</strong>dos, vale salientar uma dúvi<strong>da</strong> gera<strong>da</strong> <strong>no</strong> processo desistematização dos <strong>da</strong>dos SIM pelo presente estudo, <strong>no</strong> que tange às causas de mortali<strong>da</strong>deentre os amarelos. No <strong>Brasil</strong>, culturalmente, a cor amarela não está associa<strong>da</strong> somente aum grupo racial ou de cor, mas, igualmente, a má condição física deriva<strong>da</strong> de algumadoença infecciosa e <strong>para</strong>sitária (esquistossomose, lombriga, vermi<strong>no</strong>ses de todo o tipo) oupor problemas de anemia causa<strong>da</strong> por algum outro motivo. Desse modo, talvez possa virocorrendo um certo equívoco <strong>no</strong>s procedimentos de preenchimento <strong>no</strong>s atestados de óbitos,quiçá inflando o número de registros de óbitos com raça/cor amarela. Destarte, utilizandosea base de <strong>da</strong>dos do SIM, combina<strong>da</strong> com os <strong>da</strong>dos do Censo Demográfico de 2000,observa-se que a taxa de mortali<strong>da</strong>de de bebês amarelos do sexo masculi<strong>no</strong> abaixo de uma<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de atingia a marca de 11,8 mil óbitos por 100 mil habitantes. À guisa de exemplo,em todo o país, essa marca entre os bebês do sexo masculi<strong>no</strong> abaixo de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>deera de 3,4 mil por 100 mil habitantes. Por esse motivo, parece razoável supor que essesfatores de ordem cultural possam estar se imiscuindo <strong>no</strong> interior do processo de registros<strong>da</strong> raça/cor <strong>da</strong>s pessoas faleci<strong>da</strong>s em seus respectivos registros de óbitos, representandomais um fator de evasão de registros dessa variável.Entre os indígenas, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de, declara<strong>da</strong> <strong>no</strong>s registrosde óbitos, foram as causas mal defini<strong>da</strong>s: 23% dos casos de óbito. As demais causasde morte relativamente mais importantes entre os indígenas de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des dosexo masculi<strong>no</strong> foram: doenças do aparelho circulatório, 18,2%; causas externas,17,5%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 9,9%; doenças do aparelho respiratório,8,3%; e neoplasias, 6,1%. Já os homicídios foram responsáveis por 6,8% do total defalecimentos.78Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 6. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de brancos do sexomasculi<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s;Média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>s Entre 1de 1 a<strong>no</strong> e 4 a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sTotalAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias8,4% 11,4% 4,9% 3,6% 11,4% 5,5% 2,6% 4,6%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,3% 1,2% 0,6% 2,1% 8,5% 1,9% 0,1% 1,5%Neoplasias (tumores) 0,5% 11,1% 13,3% 4,1% 5,7% 17,5% 18,0% 14,7%Doenças do sangue e associados 0,7% 1,2% 1,3% 0,4% 0,3% 0,3% 0,4% 0,4%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas2,2% 2,4% 1,5% 0,7% 1,4% 3,7% 4,6% 3,6%Doenças do aparelho circulatório 0,9% 2,3% 3,7% 2,9% 9,4% 29,1% 37,8% 28,1%Doenças do aparelho respiratório 9,0% 13,3% 6,3% 2,7% 4,2% 6,6% 15,0% 10,8%Doenças do aparelho digestivo 0,7% 2,1% 1,7% 1,2% 6,7% 9,3% 4,6% 5,4%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal49,5% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 2,9%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas13,5% 6,2% 2,7% 0,4% 0,2% 0,1% 0,0% 0,9%Causas mal defini<strong>da</strong>s 8,1% 8,0% 5,7% 3,6% 6,4% 8,7% 10,1% 8,9%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,8% 32,8% 50,8% 78,7% 50,1% 15,2% 3,3% 16,0%Homicídios 0,1% 2,3% 5,9% 38,1% 21,1% 4,1% 0,4% 5,5%Ataque com arma de fogo 0,1% 0,7% 3,7% 25,8% 13,2% 2,4% 0,2% 3,5%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,2% 0,4% 2,6% 2,2% 0,5% 0,1% 0,5%Acidente de transporte 0,5% 12,5% 21,1% 20,5% 14,0% 4,9% 1,0% 4,6%Outras 2,7% 9,2% 8,2% 3,0% 4,1% 4,0% 3,7% 3,8%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Negros = somatório de pretos e pardos.(****) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de79


Tabela 7. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de pretos do sexo masculi<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>.Causa-morteMe<strong>no</strong>s Entre 1de 1 a<strong>no</strong> e 4 a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias13,3% 14,8% 7,0% 4,2% 12,1% 7,4% 3,4% 6,4%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,5% 2,2% 0,0% 2,2% 7,3% 1,9% 0,1% 2,0%Neoplasias (tumores) 0,2% 6,7% 8,1% 2,2% 3,4% 12,3% 14,0% 10,1%Doenças do sangue e associados 0,8% 3,7% 1,8% 0,6% 0,4% 0,4% 0,4% 0,5%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas3,6% 2,2% 1,5% 0,4% 2,0% 4,4% 5,8% 4,1%Doenças do aparelho circulatório 0,8% 3,0% 4,4% 3,2% 12,2% 30,4% 38,6% 26,8%Doenças do aparelho respiratório 11,4% 16,3% 6,6% 2,3% 5,6% 7,0% 10,3% 7,9%Doenças do aparelho digestivo 0,9% 2,2% 2,6% 1,3% 6,2% 7,4% 3,6% 4,8%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal41,6% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas7,5% 3,7% 2,2% 0,3% 0,1% 0,1% 0,0% 0,4%Causas mal defini<strong>da</strong>s 13,9% 19,3% 9,9% 4,8% 10,2% 13,5% 17,8% 14,0%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,5% 21,5% 48,7% 78,7% 42,3% 12,3% 2,7% 19,7%Homicídios 0,1% 2,2% 8,1% 52,6% 22,5% 4,0% 0,4% 9,7%Ataque com arma de fogo 0,1% 1,5% 6,2% 38,3% 14,6% 2,2% 0,2% 6,5%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,0% 0,4% 3,2% 2,3% 0,6% 0,1% 0,9%Acidente de transporte 0,2% 5,9% 11,7% 8,5% 7,1% 3,2% 0,8% 3,3%Outras 2,3% 6,7% 7,3% 2,5% 5,4% 4,9% 3,5% 4,1%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Negros = somatório de pretos e pardos.(****) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Total80Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 8. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de pardos do sexo masculi<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias11,4% 11,7% 5,9% 2,6% 7,9% 6,1% 3,4% 5,4%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,2% 0,6% 0,4% 1,0% 4,6% 1,4% 0,1% 1,3%Neoplasias (tumores) 0,3% 7,9% 7,6% 2,0% 3,2% 10,8% 12,4% 8,1%Doenças do sangue e associados 0,7% 1,4% 1,0% 0,5% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas3,2% 2,5% 1,1% 0,4% 1,3% 3,6% 4,8% 3,2%Doenças do aparelho circulatório 0,8% 3,0% 3,6% 2,5% 8,2% 26,1% 33,9% 20,3%Doenças do aparelho respiratório 9,8% 12,3% 5,0% 1,8% 3,9% 6,0% 10,0% 6,9%Doenças do aparelho digestivo 0,6% 2,0% 1,6% 1,0% 5,7% 8,4% 4,0% 4,7%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatalMalformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicasTotal46,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 3,6%7,8% 3,3% 1,8% 0,2% 0,1% 0,1% 0,0% 0,7%Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,2% 13,7% 9,0% 4,9% 9,4% 14,9% 24,1% 15,9%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,9% 33,8% 57,4% 82,9% 55,9% 19,3% 4,0% 27,3%Homicídios 0,1% 2,5% 9,3% 52,0% 28,9% 6,5% 0,7% 13,0%Ataque com arma de fogo 0,0% 1,0% 6,2% 37,2% 18,7% 3,7% 0,3% 8,7%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,2% 0,8% 4,9% 3,8% 1,2% 0,1% 1,6%Acidente de transporte 0,3% 11,0% 18,8% 11,6% 11,3% 5,4% 1,3% 5,5%Outras 2,1% 8,3% 6,0% 1,8% 4,0% 4,3% 2,9% 3,3%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Negros = somatório de pretos e pardos.(****) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de81


Tabela 9. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de negros do sexo masculi<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias11,6% 12,0% 6,1% 2,9% 8,8% 6,5% 3,4% 5,7%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,2% 0,8% 0,3% 1,2% 5,1% 1,5% 0,1% 1,4%Neoplasias (tumores) 0,3% 7,7% 7,6% 2,0% 3,3% 11,2% 12,8% 8,5%Doenças do sangue e associados 0,7% 1,6% 1,1% 0,5% 0,4% 0,4% 0,4% 0,4%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas3,3% 2,5% 1,1% 0,4% 1,4% 3,8% 5,1% 3,4%Doenças do aparelho circulatório 0,8% 3,0% 3,7% 2,6% 9,0% 27,2% 35,0% 21,8%Doenças do aparelho respiratório 10,0% 12,7% 5,2% 1,9% 4,3% 6,2% 10,1% 7,1%Doenças do aparelho digestivo 0,7% 2,1% 1,8% 1,0% 5,8% 8,1% 3,9% 4,7%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal45,6% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 3,1%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas7,8% 3,4% 1,8% 0,2% 0,1% 0,1% 0,0% 0,6%Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,2% 14,4% 9,1% 4,9% 9,5% 14,6% 22,6% 15,5%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,0% 32,4% 56,3% 82,2% 53,1% 17,5% 3,7% 25,6%Homicídios 0,1% 2,5% 9,1% 52,1% 27,5% 5,9% 0,6% 12,3%Ataque com arma de fogo 0,1% 1,0% 6,2% 37,4% 17,8% 3,4% 0,3% 8,2%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,2% 0,8% 4,6% 3,5% 1,0% 0,1% 1,4%Acidente de transporte 0,3% 10,4% 17,9% 11,1% 10,4% 4,9% 1,2% 5,0%Outras 2,2% 8,1% 6,2% 2,0% 4,3% 4,4% 3,0% 3,5%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Negros = somatório de pretos e pardos.(****) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Total82Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 10. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de brancos do sexomasculi<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; grandes regiões; <strong>Brasil</strong> (causas seleciona<strong>da</strong>s); em %Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14A<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sTotalNorteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 11,6 9,3 7,6 3,6 5,4 5,2 3,4 5,5Neoplasias 0,4 11,1 12,1 6,3 6,3 15,7 16,1 11,4Doenças do aparelho circulatório 0,9 0,0 4,5 2,7 8,0 25,4 33,2 20,0Doenças do aparelho respiratório 9,8 11,1 12,1 1,8 3,1 4,5 12,3 8,5Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 45,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,2Causas mal defini<strong>da</strong>s 11,8 14,8 7,6 7,6 8,6 12,1 17,8 13,6Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 2,8 35,2 43,9 71,4 56,9 21,3 4,2 20,1Homicídios 0,0 0,0 1,5 2,2 26,6 13,8 2,1 6,8NordesteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 10,4 10,8 4,2 4,2 10,6 4,8 2,1 4,2Neoplasias 0,4 10,8 12,7 4,9 7,0 19,7 17,9 15,4Doenças do aparelho circulatório 0,6 1,9 3,9 3,4 9,8 28,2 37,1 27,9Doenças do aparelho respiratório 8,6 12,9 5,6 3,1 4,1 6,8 14,8 10,9Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 44,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,9Causas mal defini<strong>da</strong>s 12,6 9,5 6,9 4,6 6,4 8,1 13,0 10,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 4,3 33,9 51,5 73,2 49,3 15,6 3,2 14,6Homicídios 0,2 2,8 3,8 24,6 15,0 3,2 0,3 3,6SudesteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 6,8 12,4 5,2 3,2 12,1 5,8 2,7 4,8Neoplasias 0,6 11,7 13,9 3,6 5,0 16,5 18,2 14,4Doenças do aparelho circulatório 1,1 2,7 3,8 2,6 9,4 29,7 38,3 28,5Doenças do aparelho respiratório 9,5 14,2 6,6 2,5 4,4 6,5 15,3 10,8Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 53,5 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,7Causas mal defini<strong>da</strong>s 4,9 6,6 4,8 2,9 6,4 9,0 8,3 7,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 3,5 31,0 50,1 80,6 50,0 14,6 3,3 16,5Homicídios 0,1 1,9 7,4 45,0 24,2 4,4 0,3 6,6SulAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 7,2 11,4 3,6 4,4 11,4 4,6 1,8 3,9Neoplasias 0,5 11,4 12,6 4,6 7,4 21,2 20,1 17,2Doenças do aparelho circulatório 0,5 1,4 3,1 3,0 10,0 29,3 39,6 29,8Doenças do aparelho respiratório 9,3 11,7 5,2 3,0 4,2 7,3 16,6 12,0Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 49,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,6Causas mal defini<strong>da</strong>s 5,3 3,9 2,5 2,5 4,1 5,4 6,6 5,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 6,0 40,1 57,8 76,6 50,5 15,9 3,3 15,4Homicídios 0,2 3,1 4,4 24,6 14,3 3,0 0,3 3,5Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de83


continuaçãoCausa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sTotalCentro-OesteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 8,2 8,1 5,3 3,4 8,7 7,1 4,5 5,8Neoplasias 0,4 9,3 13,5 4,0 6,2 16,0 16,6 13,0Doenças do aparelho circulatório 0,9 2,3 2,3 2,5 8,3 28,1 37,9 26,0Doenças do aparelho respiratório 7,4 9,3 4,5 3,2 3,0 4,7 13,5 8,9Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 51,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,0Causas mal defini<strong>da</strong>s 4,7 5,8 3,0 3,5 6,1 8,5 9,2 7,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 3,5 40,7 54,9 75,8 56,3 18,6 4,3 19,6Homicídios 0,0 3,5 6,8 28,1 20,4 5,4 0,6 6,0(*) Negros = somatório de pretos e pardos.(**) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID), não estão incluí<strong>da</strong>s as outras causas de mortali<strong>da</strong>de.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Tabela 11. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de negros do sexomasculi<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; grandes regiões; <strong>Brasil</strong> (causas seleciona<strong>da</strong>s); em %NorteCausa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sTotalAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 10,7 11,9 8,2 4,2 6,8 5,3 3,4 5,6Neoplasias 0,1 6,7 5,6 2,1 4,3 11,7 12,2 7,6Doenças do aparelho circulatório 0,8 1,5 3,1 2,2 5,7 20,0 28,1 15,0Doenças do aparelho respiratório 8,2 11,2 4,6 1,9 2,2 4,2 9,2 6,1Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 49,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,4Causas mal defini<strong>da</strong>s 15,1 16,4 15,4 8,1 13,7 21,8 32,0 21,2Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,6 37,3 51,8 76,6 56,7 23,1 4,1 25,8Homicídios 0,1 1,5 5,6 44,0 25,5 8,3 0,7 11,0NordesteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 14,3 11,4 6,9 3,1 7,1 5,7 3,1 5,3Neoplasias 0,3 6,1 7,3 2,3 3,3 10,2 10,2 7,6Doenças do aparelho circulatório 0,6 2,5 4,0 3,1 7,9 24,2 31,0 20,3Doenças do aparelho respiratório 8,7 13,1 5,1 2,1 3,9 5,7 8,1 6,4Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 39,7 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,3Causas mal defini<strong>da</strong>s 21,1 18,6 12,0 7,6 12,3 18,2 32,7 22,7Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,2 30,4 52,3 76,8 53,1 18,9 3,7 22,1Homicídios 0,1 2,2 5,7 38,9 22,3 5,6 0,6 8,584Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>scontinuaçãoMais de60 a<strong>no</strong>sSudesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias8,9 13,3 5,1 2,5 10,1 6,9 3,3 5,8Neoplasias 0,3 10,1 8,4 1,7 3,1 11,7 15,3 9,3Doenças do aparelho circulatório 0,9 4,0 3,9 2,4 9,9 29,5 39,2 23,5Doenças do aparelho respiratório 12,4 12,9 5,5 1,7 4,8 7,0 12,1 7,9Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 50,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,5Causas mal defini<strong>da</strong>s 6,9 10,3 5,8 3,2 8,0 12.2 13,1 10,3Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,6 31,6 60,0 85,1 53,4 15,8 3,4 27,9Homicídios 0,1 2,3 13,1 61,0 31,1 5,7 0,5 15,3SulAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias11,9 15,2 5,4 6,1 13,2 5,9 2,7 5,8Neoplasias 0,0 6,5 8,6 2,0 4,1 15,1 17,4 12,5Doenças do aparelho circulatório 0,6 0,0 2,2 2,0 11,1 32,0 42,5 28,9Doenças do aparelho respiratório 12,2 15,2 5,4 2,7 6,3 8,1 14,6 10,4Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 45,9 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,1Causas mal defini<strong>da</strong>s 7,7 6,5 3,2 3,1 5,2 7,0 7,9 6,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de6,4 39,1 61,3 78,4 44,7 13,9 2,7 19,3Homicídios 0,3 4,3 5,4 39,8 17,1 3,5 0,2 6,9Centro-OesteAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 10,6 10,0 5,3 2,7 8,1 7,6 5,4 6,5Neoplasias 0,3 7,8 7,9 3,0 3,6 11,2 14,3 9,2Doenças do aparelho circulatório 1,3 3,3 2,1 2,7 10,0 28,0 39,0 23,3Doenças do aparelho respiratório 8,5 12,2 4,7 2,4 3,5 4,9 11,0 6,8Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 49,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,9Causas mal defini<strong>da</strong>s 6,0 6,7 3,7 2,8 6,4 10,9 11,6 9,0Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de5,0 40,0 64,2 81,2 55,3 20,4 5,0 28,7Homicídios 0,3 3,3 10,5 46,7 25,1 7,0 0,9 12,4(*) Negros = somatório de pretos e pardos.(**) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID), não estão incluí<strong>da</strong>s as outras causas de mortali<strong>da</strong>de.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.TotalSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de85


Tabela 12. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de amarelos e indígenas dosexo masculi<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morte Amarelos IndígenasAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 5,1% 9,9%Doença p/HIV resultando doença infecciosa e <strong>para</strong>sitária 1,1% 1,2%Neoplasias (tumores) 15,0% 6,1%Doenças do sangue e associados 0,6% 0,5%Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 4,0% 4,2%Doenças do aparelho circulatório 27,4% 18,2%Doenças do aparelho respiratório 11,0% 8,3%Doenças do aparelho digestivo 5,4% 4,5%Gravidez parto e puerpério – –Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 3,3% 3,4%Malformações congênitas defor e a<strong>no</strong>m cromossômicas 0,8% 1,0%Sintomase sinais achados a<strong>no</strong>rmais e exame clínico elaboratorial não classificado12,5% 23,0%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 11,1% 17,5%Homicídios 3,1% 6,8%Ataque com arma de fogo 1,8% 3,6%Ataque com instrumento cortante 0,4% 1,6%Acidente de transporte 2,9% 3,3%Outras 3,8% 3,5%Total 100,0% 100,0%(*) Segundo Grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistemaosteomuscular e tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.4.1.2. Perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de do sexo femini<strong>no</strong> segundo os grupos de raça/cor epor faixa etáriaa) Abaixo de um a<strong>no</strong>Entre as bebês brancas que faleceram antes de completar um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, observamosque as afecções do período perinatal foram responsáveis por 47,4% dos óbitos,segui<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s malformações congênitas (15,5%). Outras causas de morte relativamenterelevantes nesse grupo foram: doenças do aparelho respiratório, 9,3%; doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias, 8,6%; e causas mal defini<strong>da</strong>s, 7,8% (tabela 13).86Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As bebês pretas morreram, principalmente, de afecções do período perinatal: 38,7%dos casos de óbitos. As causas mal defini<strong>da</strong>s apareceram em segundo lugar, com 15% dosóbitos. Outras causas importantes de morte foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 12,2%;doenças do aparelho respiratório, 11,3%; e malformações congênitas, 9,1% (tabela 14).Ain<strong>da</strong> a principal causa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s bebês par<strong>da</strong>s também se referema afecções do período perinatal: 43,7% dos óbitos. A seguir, as causas mal defini<strong>da</strong>sresponderam por 14,5% dos falecimentos desse contingente. Aparecem também comdestaque as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 11,3%; as doenças do aparelho respiratório,9,7%; e as malformações congênitas, 9% (tabela 15).Coerentemente com os indicadores analisados <strong>para</strong> bebês pretas e par<strong>da</strong>s, 43,2%dos óbitos de bebês <strong>negra</strong>s foram ocasionados pelas afecções do período perinatal. Emsegundo lugar foram assinala<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s registros de óbitos as causas maldefini<strong>da</strong>s, com14,5%, segui<strong>da</strong>s pelas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 11,4%; doenças do aparelhorespiratório, 9,9%; e as malformações congênitas, 9% (tabela 16). Vale destacar que,<strong>no</strong>s três grupos (pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s), as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicascorrespondem a cerca de 4% do total de óbitos.No recorte de Grandes Regiões, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de de bebês brancascom me<strong>no</strong>s de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de foram as afecções do período perinatal: <strong>no</strong> Sudeste,51,4%; <strong>no</strong> Sul, 48,2%; <strong>no</strong> Centro-Oeste, 49,1%; <strong>no</strong> Norte, 39,1%; e <strong>no</strong> Nordeste,42,3% dos óbitos. As doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias e as causas mal defini<strong>da</strong>s foramproporcionalmente mais relevantes <strong>no</strong> Norte e Nordeste que <strong>no</strong> Sudeste, Sul e Centro-Oeste. Finalmente, cabe salientar que as doenças do aparelho respiratório apareceram,relativamente, com certa intensi<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas como causas demortali<strong>da</strong>de desse contingente (tabela 17).Foram também as afecções do período perinatal as causas mais relevantes de falecimentode bebês <strong>negra</strong>s em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas brasileiras: Sudeste, 49,3%; Norte, 48,8%;Sul, 42,3%; Centro-Oeste, 42,0%; e Nordeste, 37,1%. As causas mal defini<strong>da</strong>s, <strong>no</strong> Norte eNordeste, e as doenças do aparelho respiratório, <strong>no</strong> Sudeste, Sul e Centro-Oeste, apareceramcomo a segun<strong>da</strong> principal causa de mortali<strong>da</strong>de entre as bebês <strong>negra</strong>s. Com exceção do Sudeste,em to<strong>da</strong>s as demais regiões geográficas brasileiras, as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitáriasresponderam por mais de 10% <strong>da</strong>s causas de morte dessas bebês (tabela 18).b) Entre 1 e 4 a<strong>no</strong>sEntre esse grupo etário de crianças brancas do sexo femini<strong>no</strong>, a principal causa demortali<strong>da</strong>de foram as causas externas: 23,5% dos registros de óbitos. A segun<strong>da</strong> principalcausa deveu-se às doenças do aparelho respiratório: 15,4% dos óbitos. Outras causas importantesforam: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 13,1%; neoplasias, 11,7%; acidentesde transporte, 10,1%; aparecendo ain<strong>da</strong> as causas mal defini<strong>da</strong>s, com 8,4% (tabela 13).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de87


O vetor que respondeu por 19,2% dos óbitos de meninas pretas foram as doenças doaparelho respiratório. As causas externas, relativamente, aparecem como segundo vetor,tendo ocasionado o falecimento de 18,3% desse contingente. A seguir vieram doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, com 17,3% dos óbitos. As causas mal defini<strong>da</strong>s e as neoplasiasforam motivo de morte de 12,5% e 9,6%, respectivamente, dessas crianças (tabela 14).Foram as causas externas que mais atingiram as crianças par<strong>da</strong>s do sexo femini<strong>no</strong> dessafaixa etária, com 24,1% dos óbitos. As demais causas foram: doenças do aparelho respiratório,16,3%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 15,7%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 14,4%; neoplasias,8,7% dos registros de óbitos; e acidentes de transporte, 7,7% (tabela 15).A principal causa de falecimento de meninas <strong>negra</strong>s foram as causas externas:23,4% dos registros de óbitos desse grupo etário. Doenças do aparelho respiratórioocasionaram 16,7% <strong>da</strong>s mortes; causas mal defini<strong>da</strong>s, 15,3%; doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias, 14,8%; neoplasias, 8,8%; e acidentes de transporte, 7,4% (tabela 16).Com exceção <strong>da</strong> região Norte, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de de meninasbrancas de 1 a 4 a<strong>no</strong>s foram as causas externas, na faixa de 20% a 30%; lá a principalforam as doenças do aparelho respiratório (20%), as quais ocupam o segundo lugar <strong>no</strong>Nordeste, Sudeste e Sul, cerca de 15% dos casos; <strong>no</strong> Centro-Oeste, esse lugar coubeàs doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (13,2%). Estas, bem como as neoplasias responderam,em geral, por 10% a 15% dos casos totais de óbitos. Já as causas mal defini<strong>da</strong>sapareceram em volumosa proporção <strong>no</strong>s registros de óbitos de crianças brancas doNorte e do Nordeste (tabela 17).Entre as meninas <strong>negra</strong>s permanecem as causas externas como principal motivo deóbito. Como segun<strong>da</strong> causa de morte proporcionalmente mais importante revezavamse,<strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s grandes regiões, as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (<strong>no</strong> Norte eCentro-Oeste); as doenças do aparelho respiratório (<strong>no</strong> Sudeste e Sul); e as causas maldefini<strong>da</strong>s (<strong>no</strong> Nordeste); muito embora, seja importante salientar que estas três causas(com exceção <strong>da</strong>s causas mal defini<strong>da</strong>s na região Sul), apareceram com razoável destaqueem to<strong>da</strong>s as regiões do país (tabela 18).c) Entre 5 e 14 a<strong>no</strong>sDas meninas brancas que morreram entre os 5 e 14 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, 36,1% o forampor causas externas. Isola<strong>da</strong>mente, os acidentes de transporte contaram 17,3% dosóbitos totais. As neoplasias ocasionaram 15,3% <strong>da</strong>s mortes; as doenças do aparelhorespiratório, 8,2%; e as causas mal defini<strong>da</strong>s, 7,4% (tabela 13).Na tabela 14 podemos ver a composição <strong>da</strong>s causas de morte <strong>da</strong>s crianças eadolescentes pretas que morreram nessa faixa etária. As causas externas foram o vetormo<strong>da</strong>l, com 30,5% dos óbitos. As demais causas de mortali<strong>da</strong>de mais importantes, do88Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


ponto de vista proporcional, dividiram-se entre as causas mal defini<strong>da</strong>s e as neoplasias,ambas com 10,7%; as doenças do aparelho circulatório e do aparelho respiratório,ambas também com 8,5%; e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, com 7,9% dos falecimentos.Os acidentes de transporte ocasionaram 9,6% <strong>da</strong>s mortes desse contingente.Entre as meninas par<strong>da</strong>s, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foram as causas externas,responsáveis por 42,9% dos casos totais de óbitos. Os acidentes de transporte ocasionaram15,4% dos falecimentos; as causas mal defini<strong>da</strong>s, 11,4%; as neoplasias, 9,6%; as doençasdo aparelho respiratório, 7,3%; e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 6,8% (tabela 15).O somatório <strong>da</strong>s causas de morte <strong>da</strong>s meninas pretas e par<strong>da</strong>s mostra que a principalforam as causas externas, fator responsável por 41,2% dos óbitos do grupo. Osacidentes de transporte, isola<strong>da</strong>mente, responderam por 14,6% dos casos de morte demeninas <strong>negra</strong>s de 5 a 14 a<strong>no</strong>s. As causas mal defini<strong>da</strong>s, 11,3%; as neoplasias, 9,7%; asdoenças do aparelho respiratório, 7,4%; e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 7,0%,igualmente apareceram como relevantes fatores de mortali<strong>da</strong>de entre essas crianças(tabela 16).Nas cinco regiões geográficas aparecem as causas externas como principal fatorde mortali<strong>da</strong>de de meninas brancas entre 5 e 14 a<strong>no</strong>s. Em segundo lugar vêm as neoplasias(<strong>no</strong> Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste) e as causas mal defini<strong>da</strong>s (<strong>no</strong> Norte);doenças do aparelho circulatório e respiratório também se destacam <strong>no</strong> Centro-Oeste,ambas com 15,9% (tabela 17).Entre as meninas <strong>negra</strong>s, o mais importante vetor de mortali<strong>da</strong>de, em to<strong>da</strong>s asregiões brasileiras, foram as causas externas. As causas mal defini<strong>da</strong>s apareciam emsegundo lugar <strong>no</strong> Norte e <strong>no</strong> Nordeste, enquanto <strong>no</strong> Sudeste foram as neoplasias; <strong>no</strong>Sul, estas empataram com as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias; e, <strong>no</strong> Centro-Oeste,chegavam a 23,1% do total de óbitos desse contingente (tabela 18).d) Entre 15 e 25 a<strong>no</strong>sAs causas externas mantêm-se como vetor principal <strong>da</strong>s mortes também dessegrupo etário, participando com 36,8% dos casos de óbitos jovens brancas. A seguirvieram as causas mal defini<strong>da</strong>s, com 27,7%. Os homicídios responderam por 11,5% dosóbitos dessas garotas. Isola<strong>da</strong>mente, os acidentes de transporte responderam por 16,5%do total de mortes. As demais causas foram: neoplasias, 10,9%; doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias, 8,4%; doenças do aparelho circulatório, 8,0%; doenças do aparelhorespiratório, 6,8%; gravidez, parto e puerpério, 6,1%, HIV/aids, 4,7% (tabela 13).Entre as jovens pretas que faleceram nessa i<strong>da</strong>de, as causas externas responderampor 28,3% dos óbitos registrados e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, por 14,3%.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de89


Os homicídios, isola<strong>da</strong>mente, representaram 10,8% <strong>da</strong>s mortes; quando por armasde fogo, 6,4%. Os acidentes de transporte mataram 7,2% desse contingente. Outrascausas foram: causas mal defini<strong>da</strong>s, 9,9%; gravidez, parto e puerpério, 8,9%; doençasdo aparelho respiratório, 8,0%; e HIV/aids, 6,8% (tabela 14).Na tabela 15 observamos a estrutura de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s entre15 e 25 a<strong>no</strong>s. Como causa de morte mais relevante encontravam-se as causas externas,com 44,9% dos óbitos, segui<strong>da</strong>s pelos homicídios, com uma alta taxa de incidência:18%. Os assassinatos por armas de fogo ocasionaram o falecimento de 10,2% dessasjovens e os acidentes de transporte produziram a morte de 12,7% delas. Destacaram-seain<strong>da</strong> as causas mal defini<strong>da</strong>s, com 11,3% dos óbitos; as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,com 9,4%; as doenças do aparelho circulatório, com 9,2%; as complicaçõesde gravidez, parto e puerpério, com 8,0%; as neoplasias, com 7,6%; as doenças doaparelho respiratório, com 7,1%; e o HIV/aids, com 3,3% dos casos.A morte de moças <strong>negra</strong>s entre 15 e 25 a<strong>no</strong>s, espelhando o cenário encontradoentre as mulheres pretas e par<strong>da</strong>s do mesmo grupo etário, decorreu, principalmente,de causas externas: 41,7%. Os homicídios ocasionaram o falecimento de 16,6% delas,valor relativo superior à mesma proporção entre as mulheres brancas do mesmo grupoetário em 45,6%. Os assassinatos por armas de fogo, especificamente, causaram 9,5%dos óbitos, e os acidentes de transporte, 11,6%. Outras causas relevantes foram: causasmal defini<strong>da</strong>s, 11,0%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 10,4%; doenças do aparelhocirculatório, 9,5%; gravidez, parto e puerpério, 8,2%; neoplasias, 7,5%; doenças doaparelho respiratório, 7,3%; e HIV/aids, 4,0% (tabela 16).Quando se trata <strong>da</strong>s Grandes Regiões, as causas externas continuam sendo o vetorde óbito de mulheres brancas de 15 a 25 a<strong>no</strong>s. Em segundo lugar vêm as causas maldefini<strong>da</strong>s (<strong>no</strong> Norte), as neoplasias (<strong>no</strong> Nordeste e Sul) e os homicídios (<strong>no</strong> Sudeste eCentro-Oeste). Vale salientar que as causas mal defini<strong>da</strong>s apareciam com certo destaquetambém <strong>no</strong> Nordeste, bem como as neoplasias e as mortes causa<strong>da</strong>s por complicações<strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério apareciam como importante causa relativa de mortali<strong>da</strong>deem to<strong>da</strong>s as regiões. O mesmo vale <strong>para</strong> os homicídios, muito embora com um nívelde intensi<strong>da</strong>de bem inferior ao ocorrido com os homens brancos de igual faixa etária.De todo modo, à região Sudeste corresponderam 15,3% dos homicídios praticadoscontra as mulheres brancas entre 15 e 25 a<strong>no</strong>s (tabela 17).Entre as mulheres <strong>negra</strong>s dessa faixa etária, a causa mo<strong>da</strong>l de mortali<strong>da</strong>de, em to<strong>da</strong>sas regiões do país, foram as causas externas. Como segun<strong>da</strong> causa de morte mais importanteapareceram os homicídios <strong>no</strong> Sudeste (21,6%), <strong>no</strong> Norte, (12,2%) e <strong>no</strong> Centro-Oeste(14,7%), mas com taxas também bastante eleva<strong>da</strong>s nas demais regiões; <strong>no</strong> Nordeste, asegundo lugar coube às causas mal defini<strong>da</strong>s e, <strong>no</strong> Sul, às doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias.Estas, bem como as neoplasias, as doenças do aparelho circulatório e respiratório,90Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério mostram importante relação com os óbitosde mulheres <strong>negra</strong>s dessa faixa etária em to<strong>da</strong>s as regiões brasileiras (tabela 18).e) Entre 26 e 39 a<strong>no</strong>sNessa faixa etária, os óbitos de mulheres brancas decorreram principalmente decausas externas: 42,7%. No entanto, devemos considerar a grande importância dosacometimentos por neoplasias, vetor que respondeu por 20,8% <strong>da</strong>s mortes. Isola<strong>da</strong>mente,os acidentes de transporte foram responsáveis por 17,7% dos casos totais deóbitos; os homicídios, por 11,4%; e os assasinatos por armas de fogo, por 6,4%. Asdoenças do aparelho circulatório significaram 16,8% dos casos de falecimentos dessecontingente. Outras causas de mortali<strong>da</strong>de foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,11,7%, HIV/aids, 7,9%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 6,9%; doenças do aparelho respiratório,6,3%; doenças do aparelho digestivo, 4,2%; complicações de gravidez, parto epuerpério, 3,5% (tabela 13).Entre as mulheres pretas mortas de 26 a 39 a<strong>no</strong>s, a causa mo<strong>da</strong>l foram as doençasdo aparelho circulatório: 21,4% dos óbitos. Em segundo lugar encontravam-se as doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 15,7%; em terceiro lugar apareceram as neoplasias, 12,3%;e, em quarto lugar, as causas mal defini<strong>da</strong>s, 11,8%, praticamente juntas com as causasexternas, 11,6%. Neste caso, os homicídios e os acidentes de transporte responderam,respectivamente, por 4,8% e 2,4% dos casos de mortali<strong>da</strong>de desse contingente; asmortes por armas de fogo corresponderam a 2,5%. A mortali<strong>da</strong>de causa<strong>da</strong> por HIV/aidsrespondeu por 9,7% do total de óbitos de mulheres pretas nessa faixa etária, tendo sidoa sexta causa de morte em termos de importância relativa. As doenças do aparelho respiratóriocorresponderam a 7% dos óbitos, enquanto as doenças do aparelho digestivoe as mortali<strong>da</strong>des em decorrência <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério tiveram taxas de 4,8%e 4,1%, respectivamente (tabela 14).Das mulheres par<strong>da</strong>s dessa faixa etária, 18,1% faleceram de causas externas. As doençasdo aparelho circulatório originaram 17,9% dos óbitos; as neoplasias foram a terceiracausa de mortali<strong>da</strong>de, com 13,8% de mortes. As demais causas foram: causas mal defini<strong>da</strong>s,13,4%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 11,5%; doenças do aparelho respiratório, 6,4%,homicídios, 6,5%; HIV/Aids, 6,1%; acidentes de transporte, 5,1%; doenças do aparelhodigestivo, 4,8%; e complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério, 4,2% (tabela 15).No caso <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s que morreram entre 26 e 39 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, destacaram-seas doenças do aparelho circulatório, com 18,7% dos óbitos registrados. Ascausas externas ocu<strong>para</strong>m o segundo lugar, com 16,5%. Fatores igualmente importantesde mortali<strong>da</strong>de foram as neoplasias e as causas mal defini<strong>da</strong>s, que geraram cerca de13% dos óbitos desse contingente, ca<strong>da</strong> uma, segui<strong>da</strong>s pelas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias, 12,5%. O HIV/aids apresentou uma taxa de 6,9% de mortes; as doenças doSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de91


aparelho respiratório, 6,5%; homicídios, 6,1%; doenças do aparelho digestivo, 4,8%;acidentes de transporte, 4,5%; complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério, 4,2%; emortes por arma de fogo, 3,2% (tabela 16).Para as Grandes Regiões, as principais causas de mortali<strong>da</strong>de de mulheres brancasentre os 26 e os 39 a<strong>no</strong>s foram as neoplasias <strong>no</strong> Norte, Nordeste, Sudeste e Sul, e ascausas externas segui<strong>da</strong>s pelas neoplasias <strong>no</strong> Centro-Oeste. A seguir destacaram-se ascausas externas, as doenças do aparelho circulatório, as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitáriase as doenças do aparelho respiratório. Já as maiores taxas de óbitos por causasmal defini<strong>da</strong>s encontraram-se <strong>no</strong> Norte, Nordeste e Sudeste. Cerca de 4% <strong>da</strong>s mulheresbrancas dessa faixa etária faleceram em decorrência de gravidez, parto e puerpério.Houve 7% de mortes por homicídio <strong>no</strong> Centro-Oeste e 5,8% <strong>no</strong> Sudeste; nas demaisregiões, essa causa girou em tor<strong>no</strong> de 4% (tabela 17).A maioria <strong>da</strong>s mortes de mulheres <strong>negra</strong>s nessa faixa etária, nas Grandes Regiões,deveu-se a neoplasias (Norte); causas externas (Norte e Centro-Oeste); e doenças doaparelho circulatório (Nordeste, Sudeste e Sul). Na ver<strong>da</strong>de, essas três causas de mortali<strong>da</strong>deapareceram com certo destaque em to<strong>da</strong>s as cinco regiões. O mesmo ocorreucom as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias e com as causas mal defini<strong>da</strong>s (com exceçãodo Sul), igualmente presentes, enquanto fatores de risco <strong>para</strong> esse grupo de mulheres<strong>negra</strong>s, com razoável intensi<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as regiões. As maiores incidências de óbitospor doenças do aparelho respiratório ocorreram <strong>no</strong> Sul e <strong>no</strong> Sudeste. Mortes emdecorrência de gravidez, parto e puerpério ficaram em tor<strong>no</strong> de 5% <strong>no</strong> Norte, Nordestee Sul. Os homicídios dessas mulheres representaram 6,7% dos óbitos tanto <strong>no</strong> Nortecomo <strong>no</strong> Sudeste e <strong>no</strong> Centro-Oeste (tabela 18).f) Entre 40 e 59 a<strong>no</strong>sNessa faixa etária passaram a ser as doenças do aparelho circulatório o vetorresponsável por 31,1% dos casos de óbitos de mulheres brancas. Em segundo lugar,em termos relativos, apareceram as neoplasias, em 28,6% dos casos. Outras mortesdecorreram de: causas mal defini<strong>da</strong>s, 8,3%; doenças do aparelho respiratório, 7,2%;doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 5,8%; causas externas, 5,2%; doençasdo aparelho digestivo, 4,7%; e doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 4,3% (tabela 13).Igualmente <strong>para</strong> as mulheres pretas de 40 a 59 a<strong>no</strong>s, foram as doenças do aparelhocirculatório o principal causador de mortali<strong>da</strong>de, com 37,5% de óbitos; bem comoas neoplasias ocu<strong>para</strong>m o segundo lugar: 17,6%; as causas mal defini<strong>da</strong>s apareceramem terceiro lugar: 13,7%. A seguir vieram as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas,7,3%; as doenças do aparelho respiratório, 6,6%; as doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias, 5,3%; e as doenças do aparelho digestivo, 4,5% (tabela 14).92Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As mulheres par<strong>da</strong>s dessa faixa etária também faleceram principalmente devidoa doenças do aparelho circulatório: 32% dos óbitos. As neoplasias partici<strong>para</strong>m em19,9% dos casos de falecimentos e as causas mal defini<strong>da</strong>s, em 15,6%. Tiveram certarelevância as mortes por: doenças do aparelho respiratório, 6,5%; doenças endócrinas,nutricionais e metabólicas, 6,3%; causas externas, 5,3%; doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias, 5,3%; e as doenças do aparelho digestivo, 4,8% (tabela 15).A causa de morte mo<strong>da</strong>l <strong>para</strong> as mulheres <strong>negra</strong>s dessa faixa etária foram as doençasdo aparelho circulatório, fator que respondeu por 33,4% dos óbitos. Em segundolugar, as neoplasias estiveram presentes em 19,3% dos registros de óbitos; em terceiro, ascausas mal defini<strong>da</strong>s, com 15,1%. As demais causas de mortali<strong>da</strong>de, proporcionalmenterelevantes, foram: doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 6,6%; doenças doaparelho respiratório, 6,5%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 5,3%; e, igualmente,doenças do aparelho digestivo e causas externas, 4,7% (tabela 16).Nas Grandes Regiões, as principais causas de morte de mulheres brancas nafaixa dos 40 aos 59 a<strong>no</strong>s foram: neoplasias (Norte e Centro-Oeste) e doenças do aparelhocirculatório (Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste). Na ver<strong>da</strong>de, em termos <strong>da</strong>composição <strong>da</strong>s causas entre mulheres desse grupo etário, essas duas revezaram-se <strong>no</strong>primeiro e segundo lugares em to<strong>da</strong>s as regiões. As causas mal defini<strong>da</strong>s igualmenteapareceram com algum destaque proporcional <strong>no</strong>s registros de óbitos dessas mulheres<strong>no</strong> Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste; doenças do aparelho respiratório são visíveis<strong>no</strong> Sul, Nordeste e Sudeste; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, <strong>no</strong> Centro-Oeste,Norte e Sudeste; e as causas externas apresentaram percentuais entre 5% e 7% emto<strong>da</strong>s as regiões (tabela 17).Em quatro <strong>da</strong>s regiões do país (Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste), as maiorestaxas de mortali<strong>da</strong>de de mulheres <strong>negra</strong>s deveram-se a doenças do aparelho circulatório;somente na região Norte encontramos as neoplasias como principal causa demortali<strong>da</strong>de; ain<strong>da</strong> assim, as doenças do aparelho circulatório vinham em segundolugar. Naquelas regiões (exceto <strong>no</strong> Nordeste) foram as neoplasias a segun<strong>da</strong> causa demorte. Com exceção do Sul, nas demais regiões, as causas mal defini<strong>da</strong>s apareceramproporcionalmente com grande intensi<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s registros de óbitos. Doenças do aparelhorespiratório destacaram-se principalmente <strong>no</strong> Sul; infecciosas e <strong>para</strong>sitárias <strong>no</strong>Centro-Oeste e causas externas <strong>no</strong> Norte (tabela 18).g) Acima dos 60 a<strong>no</strong>sDentre as mulheres brancas faleci<strong>da</strong>s com i<strong>da</strong>de acima dos 60 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de,41,0% tiveram como principal causa de morte as doenças do aparelho circulatório. Asdemais causas relevantes de mortali<strong>da</strong>de foram: neoplasias, 14,8%; doenças do aparelhoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de93


espiratório, 13,3%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 10,6%; doenças endócrinas, nutricionais emetabólicas, 7,2%; e doenças do aparelho digestivo, 4,2% (tabela 13).O principal fator causador <strong>da</strong> morte de mulheres pretas de mesma faixa etáriatambém foram as doenças do aparelho circulatório: 42,8% dos óbitos. Outros fatoresforam: causas mal defini<strong>da</strong>s, 17,3%; neoplasias, 11,3%; doenças endócrinas, nutricionaise metabólicas, 9,1%, doenças do aparelho respiratório, 9,1% (tabela 14).A baixa de 36,2% <strong>no</strong> grupo <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s decorreu de doenças do aparelhocirculatório. Causas mal defini<strong>da</strong>s, 24,6%; neoplasias, 10,8%; doenças do aparelhorespiratório, 9,6%; e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 7,8% foram asdemais causas relevantes de morte (tabela 15).No somatório <strong>da</strong>s mulheres pretas e par<strong>da</strong>s verificamos, coerentemente ao que foirecém-visto, que a causa mo<strong>da</strong>l de mortali<strong>da</strong>de foram as doenças do aparelho circulatório,fator que ocasio<strong>no</strong>u 37,9% dos casos de falecimentos desse contingente. Outras causasforam: causas mal defini<strong>da</strong>s, 22,7%; neoplasias, 10,9%; doenças do aparelho respiratório,9,5%; e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 8,1% (tabela 16).As doenças do aparelho circulatório levaram a óbito a maioria <strong>da</strong>s mulheresbrancas dessa faixa etária em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas do país. As neoplasias, asdoenças do aparelho respiratório e as causas mal defini<strong>da</strong>s, conquanto em proporçõesvaria<strong>da</strong>s, igualmente estavam presentes, em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas, com certaintensi<strong>da</strong>de na estrutura <strong>da</strong>s causas de morte desse contingente (tabela 17).O falecimento de mulheres <strong>negra</strong>s após os 60 a<strong>no</strong>s, nas regiões Sudeste, Sul eCentro-Oeste decorreu, principalmente, de doenças do aparelho circulatório; e nasregiões Norte e Nordeste, de causas mal defini<strong>da</strong>s. Deve ser frisado que essas duascausas de morte apareceram com certa intensi<strong>da</strong>de em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas dopaís, assim como as neoplasias e as doenças do aparelho respiratório (tabela 18).h) To<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>desNo somatório dos falecimentos de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, verificamos que, entre as mulheresbrancas, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foram as doenças do aparelho circulatório:34,3% dos óbitos. Em segundo lugar apareceram as neoplasias, que geraram 16,4% <strong>da</strong>smortes. As demais causas foram: doenças do aparelho respiratório, 11,5%; causas maldefini<strong>da</strong>s, 9,8%, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 6,2%; causas externas,4,8%. Os homicídios e os acidentes de transporte produziram, respectivamente, 0,8% e1,6% <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de desse contingente (tabela 13).No somatório dos óbitos em to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, as mulheres pretas foram acometi<strong>da</strong>sde doenças do aparelho circulatório em 36,5% <strong>da</strong>s mortes. Em segundo lugar, as causas94Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


mal defini<strong>da</strong>s constaram de 15,5% dos registros de óbitos de todo o país. As demaiscausas de mortali<strong>da</strong>de proporcionalmente relevantes foram: neoplasias, 12,4%; doençasdo aparelho respiratório, 8,4%; doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas,7,7%; doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 5,4%; causas externas, 3,9%; e doenças doaparelho digestivo, 3,5%. Os homicídios e os acidentes de transporte ocasionaram,ca<strong>da</strong> fator, 1,0% do total de mortes dessas mulheres (tabela 14).No somatório <strong>da</strong>s mortes de mulheres par<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, observamos quea causa mo<strong>da</strong>l de óbitos foram as doenças do aparelho circulatório, fator responsável por28% dos falecimentos. As causas mal defini<strong>da</strong>s foram a segun<strong>da</strong> causa mais significativade morte, tendo constado de 19,6% dos registros de óbitos dessas mulheres em todo opaís. A seguir apareceram as neoplasias, 11,8%; as doenças do aparelho respiratório,8,5%; causas externas, 6,7%, doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, 6,2%;doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 5,6%; e doenças do aparelho digestivo, 3,4%. Oshomicídios e os acidentes de transporte responderam, respectivamente, por 1,7% e2,0% dos óbitos totais desse contingente (tabela 15).Quanto às mulheres <strong>negra</strong>s, verificamos que, <strong>no</strong> somatório <strong>da</strong>s mortes em to<strong>da</strong>s asi<strong>da</strong>des, as doenças do aparelho circulatório foram o fator responsável por 30% dos óbitos.As causas mal defini<strong>da</strong>s vêm em segundo lugar, com 18,7% do total de falecimentos. A seguir,as neoplasias, 12%; as doenças do aparelho respiratório, 8,5%; as doenças endócrinas,nutricionais e metabólicas, 6,6%; as causas externas, 6,1%; as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,5,5%; as afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal, 3,7%; e as doenças do aparelhodigestivo, 3,4%. Os homicídios e os acidentes de transporte, respectivamente, ocasionaram1,5% e 1,8% do total de óbitos que vitimaram as mulheres <strong>negra</strong>s (tabela 16).No recorte por Grandes Regiões, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de entre as mulheresbrancas foram as doenças do aparelho circulatório. As neoplasias foram praticamentea segun<strong>da</strong> causa de morte mais importante desse contingente em to<strong>da</strong>s as regiões, istoé, na região Norte, elas perderam por muito pouco <strong>para</strong> as causas mal defini<strong>da</strong>s. Quantoa estas, embora tenham se destacado <strong>no</strong>s registros de óbitos <strong>da</strong>s mulheres brancasde to<strong>da</strong>s as regiões, foram mais expressivas <strong>no</strong> Norte e <strong>no</strong> Nordeste. As doenças doaparelho respiratório também foram bastante marcantes em to<strong>da</strong>s as regiões; as causasexternas e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias concentraram-se mais <strong>no</strong> Centro-Oestee Norte; e neste, as afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal (tabela 17).No Sudeste, Sul e Centro-Oeste, o principal elemento motivador de falecimentosde mulheres <strong>negra</strong>s foram as doenças do aparelho circulatório, e, <strong>no</strong> Norte e Nordeste,as causas mal defini<strong>da</strong>s. Na ver<strong>da</strong>de, em praticamente to<strong>da</strong>s as regiões, ambas ascausas aparecem com muita intensi<strong>da</strong>de. Nunca abaixo dos 10% do total de óbitos, asneoplasias igualmente promoveram muitos falecimentos de mulheres <strong>negra</strong>s em to<strong>da</strong>sas regiões do <strong>Brasil</strong>. No Norte, vemos destaca<strong>da</strong>s as afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal e, nas demais regiões, as doenças do aparelho respiratório; as causas externasSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de95


foram mais significativas <strong>no</strong> Centro-Oeste, bem como as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias;embora com me<strong>no</strong>r expressão, ambas as causas tiveram distribuição semelhantenas demais regiões. Embora não pareçam significativas em relação às demais causasde morte, as taxas de homicídios de mulheres <strong>negra</strong>s praticamente dobraram em to<strong>da</strong>sas regiões em relação às taxas apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> mulheres brancas (tabela 18).Na tabela 19 encontram-se as principais causas de mortali<strong>da</strong>de de mulheresindígenas e amarelas de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des. Tal como já foi salientado quando do estudodesses mesmos indicadores <strong>para</strong> os homens, a pequena representativi<strong>da</strong>de dessescontingentes na população brasileira tor<strong>no</strong>u temerárias as desagregações <strong>da</strong>s causasde morte desses respectivos grupos por faixa etária.Assim, os <strong>da</strong>dos que temos <strong>no</strong>s mostram que, entre as amarelas, o principal fatorcausador de mortali<strong>da</strong>de foram as doenças do aparelho circulatório, com 32% dosóbitos. As demais causas de morte relevantes foram: neoplasias, 15,4%; causas maldefini<strong>da</strong>s, 13,4%; doenças do aparelho respiratório, 11,2%; doenças endócrinas, nutricionaise metabólicas, 6,2%; causas externas, 4,5%; e doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,4,4%. Os homicídios e os acidentes de transporte vitimizaram, respectivamente, 0,4%e 1,4% dessas mulheres (tabela 19).De todo modo, a mesma observação que já havia sido feita <strong>para</strong> os homens de raça/cor amarela pode ser estendido <strong>para</strong> as mulheres do mesmo grupo racial. Conforme jáhavia sido salientado, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, culturalmente, a cor amarela não está associa<strong>da</strong> somentea um grupo racial ou de cor, mas, igualmente, à má condição física de uma pessoa. Issopoderia vir a inflar o número de registros de óbitos com raça/cor amarela. Dessa forma,utilizando-se a base de <strong>da</strong>dos do SIM, combina<strong>da</strong> com os <strong>da</strong>dos do Censo Demográficode 2000, observa-se que a taxa de mortali<strong>da</strong>de de bebês amarelos do sexo femini<strong>no</strong>abaixo de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de atingia a marca de 9,15 mil óbitos por 100 mil habitantes. Àguisa de exemplo, em todo o país, essa marca entre os bebês do sexo femini<strong>no</strong> abaixode um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de era de 2,6 mil por 100 mil habitantes. Por esse motivo, mais umavez parece razoável supor que fatores de ordem cultural possam estar se imiscuindo <strong>no</strong>interior do processo de registros <strong>da</strong> raça/cor <strong>da</strong>s pessoas faleci<strong>da</strong>s em seus respectivosregistros de óbitos, representando mais um fator de evasão de registros dessa variável.No que tange às mulheres indígenas, foram as causas mal defini<strong>da</strong>s o vetor queconstava de 25,1% dos registros de óbitos de todo país. As demais causas relevantesde morte foram: doenças do aparelho circulatório, 19,7%; doenças do aparelho respiratório,10,8%, doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, 10,1%; neoplasias, 8,1%; doençasendócrinas, nutricionais e metabólicas, 7,3%; causas mal defini<strong>da</strong>s, 5,7%; afecçõesorigina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal, 4,2%. Os homicídios e os acidentes de transportevitimizaram, respectivamente, 1,3% e 1% dessas mulheres (tabela 19).96Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 13. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de brancas do sexofemini<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000;<strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias8,6% 13,1% 5,5% 8,4% 11,7% 4,3% 2,6% 3,9%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,4% 1,5% 0,6% 4,7% 7,9% 1,1% 0,0% 0,8%Neoplasias (tumores) 0,6% 11,7% 15,3% 10,9% 20,8% 28,6% 14,8% 16,4%Doenças do sangue e associados 0,7% 1,6% 1,4% 1,3% 0,8% 0,5% 0,5% 0,5%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas2,3% 2,8% 2,5% 2,5% 3,0% 5,8% 7,2% 6,2%Doenças do aparelho circulatório 1,1% 3,1% 5,9% 8,0% 16,8% 31,1% 41,0% 34,3%Doenças do aparelho respiratório 9,3% 15,4% 8,2% 6,8% 6,3% 7,2% 13,3% 11,5%Doenças do aparelho digestivo 0,6% 1,9% 1,9% 2,7% 4.2% 4,7% 4,2% 4,0%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,4% 6,1% 3,5% 0,1% 0,0% 0,3%TotalAlgumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatalMalformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas47,4% 0,1% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 2,9%15,5% 7,7% 4,2% 5,3% 1,5% 0,2% 0,0% 1,2%Causas mal defini<strong>da</strong>s 7,8% 8,4% 7,4% 27,7% 6,9% 8,3% 10,6% 9,8%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,5% 23,5% 36,1% 36,8% 42,7% 5,2% 2,0% 4,8%Homicídios 0,1% 1,7% 4,2% 11,5% 11,4% 0,9% 0,1% 0,8%Ataque com arma de fogo 0,0% 0,6% 2,0% 3,3% 6,4% 0,4% 0,0% 0,4%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,2% 0,6% 1,0% 1,6% 0,2% 0,0% 0,1%Acidente de transporte 0,5% 10,1% 17,3% 16,5% 17,7% 2,0% 0,5% 1,6%Outras 2,7% 10,5% 11,2% 3,6% 7,5% 3,9% 3,8% 4,1%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário(**)Negros = somatório de pretos e pardos(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de97


Tabela 14. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de pretas do sexo femini<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 <strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e3 9a<strong>no</strong>sEntreMais de40 e 5960 a<strong>no</strong>sa<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias12,2% 17,3% 7,9% 14,3% 15,7% 5,3% 2,9% 5,4%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,4% 3,8% 2,3% 6,8% 9,7% 1,4% 0,1% 1,5%Neoplasias (tumores) 0,7% 9,6% 10,7% 7,3% 12,3% 17,6% 11,3% 12,4%Doenças do sangue e associados 0,8% 2,9% 4,0% 2,4% 1,0% 0,5% 0,4% 0,6%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas4,3% 2,9% 2,3% 3,3% 3,6% 7,3% 9,1% 7,7%Doenças do aparelho circulatório 1,0% 2,9% 8,5% 10,5% 21,4% 37,5% 42,8% 36,5%Doenças do aparelho respiratório 11,3% 19,2% 8,5% 8,0% 7,0% 6,6% 9,1% 8,4%Doenças do aparelho digestivo 0,7% 2,9% 3,4% 3,8% 4,8% 4,5% 3,0% 3,5%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,6% 8,9% 4,1% 0,2% 0,0% 0,7%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal38,7% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 1,4%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas9,1% 4,8% 3,4% 0,5% 0,3% 0,1% 0,0% 0,5%Causas mal defini<strong>da</strong>s 15,0% 12,5% 10,7% 9,9% 11,8% 13,7% 17,3% 15,5%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,9% 18,3% 30,5% 28,3% 11,6% 3,0% 1,3% 3,9%Homicídios 0,3% 2,9% 2,8% 10,8% 4,8% 0,6% 0,0% 1,0%Ataque com arma de fogo 0,0% 1,0% 1,7% 6,4% 2,5% 0,3% 0,0% 0,5%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,0% 0,0% 1,0% 0,7% 0,1% 0,0% 0,1%Acidente de transporte 0,0% 5,8% 9,6% 7,2% 2,4% 0,9% 0,4% 1,0%Outras 2,2% 6,7% 9,6% 8,4% 6,5% 3,7% 2,9% 3,6%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.Total98Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 15. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de par<strong>da</strong>s do sexo femini<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias11,3% 14,4% 6,8% 9,4% 11,5% 5,3% 3,1% 5,6%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,2% 0,9% 0,5% 3,3% 6,1% 1,1% 0,0% 1,0%Neoplasias (tumores) 0,4% 8,7% 9,6% 7,6% 13,8% 19,9% 10,8% 11,8%Doenças do sangue e associados 0,8% 1,8% 1,5% 1,6% 1,0% 0,5% 0,4% 0,6%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas3,9% 2,9% 1,9% 2,4% 2,9% 6,3% 7,8% 6,2%Doenças do aparelho circulatório 0,8% 2,4% 5,3% 9,2% 17,9% 32,0% 36,2% 28,0%Doenças do aparelho respiratório 9,7% 16,3% 7,3% 7,1% 6,4% 6,5% 9,6% 8,5%Doenças do aparelho digestivo 0,7% 1,7% 2,3% 3,1% 4,8% 4,8% 3,2% 3,4%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,5% 8,0% 4,2% 0,2% 0,0% 0,7%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal43,7% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 4,4%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas9,0% 4,1% 2,5% 0,7% 0,4% 0,1% 0,0% 1,1%Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,5% 15,7% 11,4% 11,3% 13,4% 15,6% 24,6% 19,6%TotalCausas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,9% 24,1% 42,9% 44,9% 18,1% 5,3% 1,8% 6,7%Homicídios 0,1% 2,0% 6,8% 18,0% 6,5% 1,0% 0,1% 1,7%Ataque com arma de fogo 0,0% 0,8% 3,6% 10,2% 3,4% 0,5% 0,0% 0,9%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,4% 0,8% 2,8% 1,6% 0,2% 0,0% 0,3%Acidente de transporte 0,3% 7,7% 15,4% 12,7% 5,1% 1,9% 0,6% 2,0%Outras 2,2% 7,8% 8,1% 7,3% 5,7% 3,5% 2,4% 3,3%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo Grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = Transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de99


Tabela 16. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de <strong>negra</strong>s do sexo femini<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias11,4% 14,8% 7,0% 10,4% 12,5% 5,3% 3,1% 5,5%Doença p/HIV resultando doençainfecciosa e <strong>para</strong>sitária0,2% 1,2% 0,7% 4,0% 6,9% 1,2% 0,0% 1,1%Neoplasias (tumores) 0,5% 8,8% 9,7% 7,5% 13,4% 19,3% 10,9% 12,0%Doenças do sangue e associados 0,8% 1,9% 1,8% 1,7% 1,0% 0,5% 0,4% 0,6%Doenças endócrinas nutricionais emetabólicas4,0% 2,9% 2,0% 2,6% 3,1% 6,6% 8,1% 6,6%Doenças do aparelho circulatório 0,9% 2,5% 5,8% 9,5% 18,7% 33,4% 37,9% 30,0%Doenças do aparelho respiratório 9,9% 16,7% 7,4% 7,3% 6,5% 6,5% 9,5% 8,5%Doenças do aparelho digestivo 0,7% 1,8% 2,5% 3,3% 4,8% 4,7% 3,1% 3,4%Gravidez parto e puerpério 0,0% 0,0% 0,5% 8,2% 4,2% 0,2% 0,0% 0,7%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong>período perinatal43,2% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 3,7%Malformações congênitas defor ea<strong>no</strong>m cromossômicas9,0% 4,2% 2,6% 0,6% 0,4% 0,1% 0,0% 0,9%Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,5% 15,3% 11,3% 11,0% 13,0% 15,1% 22,7% 18,7%TotalCausas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,0% 23,4% 41,2% 41,7% 16,5% 4,7% 1,7% 6,1%Homicídios 0,1% 2,1% 6,2% 16,6% 6,1% 0,9% 0,1% 1,5%Ataque com arma de fogo 0,0% 0,8% 3,3% 9,5% 3,2% 0,5% 0,0% 0,8%Ataque com instrumento cortante 0,0% 0,3% 0,7% 2,4% 1,4% 0,2% 0,0% 0,3%Acidente de transporte 0,3% 7,4% 14,6% 11,6% 4,5% 1,6% 0,5% 1,8%Outras 2,2% 7,7% 8,3% 7,5% 5,9% 3,6% 2,5% 3,3%Total 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.100Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 17. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de brancas do sexofemini<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000;grandes regiões; <strong>Brasil</strong> (causas seleciona<strong>da</strong>s); em %Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sNorteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias14,0 10,0 8,0 7,2 9,3 4,9 2,4 5,8Neoplasias 0,5 12,5 10,0 10,3 23,8 29,2 13,8 14,3Doenças do aparelho circulatório 1,1 5,0 8,0 8,2 13,9 26,2 36,0 23,7Doenças do aparelho respiratório 9,7 20,0 12,0 4,1 4,0 4,6 11,5 9,4Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,0 9,3 4,0 0,3 0,0 0,8Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal39,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 7,4Causas mal defini<strong>da</strong>s 11,9 12,5 16,0 11,3 10,6 12,9 17,9 14,9Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,2 15,0 32,0 37,1 21,9 5,8 1,9 6,7Homicídios 0,3 0,0 0,0 10,3 4,6 0,9 0,0 1,0NordesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias10,3 12,0 6,1 7,9 9,7 3,6 2,2 3,6Neoplasias 0,4 10,8 15,3 10,5 22,5 29,5 14,1 16,2Doenças do aparelho circulatório 0,7 2,7 5,1 7,3 16,2 30,8 40,9 33,9Doenças do aparelho respiratório 9,2 16,5 6,7 6,4 5,9 7,6 12,2 10,7Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,5 6,7 4,0 0,2 0,0 0,4Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal42,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,8Causas mal defini<strong>da</strong>s 12,7 11,2 8,3 8,2 8,2 8,8 14,3 12,7Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,9 24,3 37,3 37,7 18,5 5,2 1,8 4,7Homicídios 0,1 1,4 4,6 15,3 5,8 0,9 0,1 0,9SudesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias7,1 12,0 5,2 8,8 10,7 3,5 1,9 3,2Neoplasias 0,7 12,7 15,1 10,6 23,6 31,3 15,8 18,0Doenças do aparelho circulatório 1,3 2,4 4,5 5,9 16,4 32,3 45,1 37,3Doenças do aparelho respiratório 9,5 15,8 5,9 6,3 6,1 8,2 13,2 11,5Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,5 7,1 4,3 0,2 0,0 0,4Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal51,4 0,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 2,7Causas mal defini<strong>da</strong>s 4,5 4,8 3,5 4,3 4,5 4,7 7,1 6,3Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,3 29,6 42,8 41,9 19,6 5,4 1,8 5,0Homicídios 0,1 2,1 4,0 8,1 4,3 0,7 0,1 0,6TotalSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de101


Causa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sconttinuaçãoSulAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias7,3 12,0 5,2 8,8 10,7 3,5 1,9 3,2Neoplasias 0,4 12,7 15,1 10,6 23,6 31,3 15,8 18,0Doenças do aparelho circulatório 0,6 2,4 4,5 5,9 16,4 32,3 45,1 37,3Doenças do aparelho respiratório 9,5 15,8 5,9 6,3 6,1 8,2 13,2 11,5Gravidez parto e puerpério 0 0 0,5 7,1 4,3 0,2 0 0,4Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal48,2 0,3 0 0 0 0 0 2,7Causas mal defini<strong>da</strong>s 5,3 4,8 3,5 4,3 4,5 4,7 7,1 6,3Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de5,3 29,6 42,8 41,9 19,6 5,4 1,8 5,0Homicídios 0,2 2,1 4,0 8,1 4,3 0,7 0,1 0,6Centro-OesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias8,2 13,2 6,8 7,0 10,2 5,3 4,7 5,7Neoplasias 0,8 10,3 20,5 9,3 21,2 29,2 14,6 16,4Doenças do aparelho circulatório 1,5 2,9 15,9 8,2 15,1 29,2 40,2 30,9Doenças do aparelho respiratório 7,4 11,8 15,9 6,6 5,5 5,7 13,3 10,4Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 2,3 5,1 3,4 0,1 0,0 0,5Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal49,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 4,4Causas mal defini<strong>da</strong>s 3,5 4,4 4,5 5,4 5,7 7,3 9,0 7,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de4,2 32,4 47,7 43,2 22,5 6,9 2,3 7,2Homicídios 0,2 2,9 4,5 10,1 7,0 1,3 0,1 1,3(*) Negros = somatório de pretos e pardos.(**) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID), não estão incluí<strong>da</strong>s as outras causas de mortali<strong>da</strong>de.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Tabela 18. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de <strong>negra</strong>s do sexo femini<strong>no</strong>segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; grandesregiões; <strong>Brasil</strong> (causas seleciona<strong>da</strong>s); em %TotalCausa-morteMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sNorteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias10,6 18,1 8,4 10,7 10,9 4,6 3,2 6,4Neoplasias 0,5 18,1 8,4 10,7 10,9 4,6 3,2 6,4Doenças do aparelho circulatório 0,7 1,1 6,7 8,1 11,8 23,5 27,9 18,4Doenças do aparelho respiratório 8,6 13,8 5,0 5,2 4,9 5,0 8,7 7,4Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,0 8,5 4,9 0,4 0,0 1,0Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal48,8 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 9,0Causas mal defini<strong>da</strong>s 14,6 17,0 12,6 11,5 17,4 21,6 35,1 24,8Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de1,9 31,9 46,2 35,2 18,1 6,0 1,6 7,6Homicídios 0,0 0,0 5,9 12,2 6,7 1,5 0,0 1,7Total102Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Causa-morteNordesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitáriasMe<strong>no</strong>sde 1 a<strong>no</strong>Entre1 e 4a<strong>no</strong>sEntre5 e 14a<strong>no</strong>sEntre15 e 25a<strong>no</strong>sEntre26 e 39a<strong>no</strong>sEntre40 e 59a<strong>no</strong>sMais de60 a<strong>no</strong>sContinuaçãoTotal13,8 13,3 7,2 8,3 10,0 4,8 2,8 5,2Neoplasias 0,3 7,5 8,4 6,3 14,0 19,0 8,8 10,3Doenças do aparelho circulatório 0,7 2,4 6,3 8,7 17,6 30,2 32,7 26,3Doenças do aparelho respiratório 8,9 18,2 7,4 6,3 5,9 6,2 7,9 7,6Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,4 8,2 5,3 0,3 0,0 0,8Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal37,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,6Causas mal defini<strong>da</strong>s 21,9 18,9 15,6 13,6 16,6 19,7 33,7 27,2Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de2,3 21,3 38,4 34,1 16,5 5,0 1,5 5,5Homicídios 0,1 2,4 4,8 9,6 4,8 0,8 0,1 1,0SudesteAlgumas doenças infecciosas e8,7 16,1 6,6 10,5 14,4 5,5 3,0 5,5<strong>para</strong>sitáriasNeoplasias 0,6 10,9 11,5 7,4 12,4 19,0 12,6 13,2Doenças do aparelho circulatório 1,0 2,9 5,2 8,9 20,2 36,1 43,0 34,2Doenças do aparelho respiratório 11,8 16,4 8,5 7,7 7,3 6,9 10,7 9,3Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 0,4 6,8 3,6 0,2 0,0 0,6Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal49,3 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,1Causas mal defini<strong>da</strong>s 6,8 11,9 7,4 8,8 11,0 12,3 13,2 12,1Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de3,6 22,5 41,6 42,3 15,8 4,3 1,7 6,0Homicídios 0,2 2,6 7,2 21,6 6,7 1,0 0,1 1,8SulAlgumas doenças infecciosas e10,4 13,5 9,1 14,2 15,7 3,9 2,0 4,7<strong>para</strong>sitáriasNeoplasias 0 8,1 9,1 7,7 13,6 21,3 13,0 14,1Doenças do aparelho circulatório 0,7 0 3,6 8,3 22,7 40,7 48,9 39,7Doenças do aparelho respiratório 14,3 24,3 5,5 5,9 8,1 8,7 13,4 11,6Gravidez, parto e puerpério 0 0 1,8 9,5 5,2 0,4 0 0,9Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal42,3 0 0 0 0 4,4 0 2,3Causas mal defini<strong>da</strong>s 5,4 5,4 5,5 3,6 0 4,4 7,2 6,0Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de6,5 24,3 49,1 35,5 14,5 3,7 0,1 5,0Homicídios 0,4 8,1 1,8 11,2 4,4 0,4 0 0,9Centro-OesteAlgumas doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias10,6 13,4 12,8 6,9 11,5 7,0 5,7 7,2Neoplasias 11,9 23,1 7,2 14,8 20,3 13,0 13,7Doenças do aparelho circulatório 3,0 12,8 9,1 18,5 35,8 41,6Doenças do aparelho respiratório 8,7 11,9 12,8 5,3 5,3 6,7 11,6 8,9Gravidez, parto e puerpério 0,0 0,0 2,6 6,9 3,2 0,1 0,0 0,8Afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> períodoperinatal42,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 3,5Causas mal defini<strong>da</strong>s 5,8 10,4 5,1 5,0 8,4 9,3 11,0 9,4Causas externas de morbi<strong>da</strong>de emortali<strong>da</strong>de5,6 28,4 56,4 43,1 20,4 5,0 2,1 8,7Homicídios 0,2 1,5 17,9 14,7 6,7 1,0 0,0 2,0(*) Negros = somatório de pretos e pardos.(**) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID), não estão incluí<strong>da</strong>s as outras causas de mortali<strong>da</strong>de.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de103


Tabela 19. Composição <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de de mortali<strong>da</strong>de de amarelas e indígenas do sexofemini<strong>no</strong> segundo faixas etárias seleciona<strong>da</strong>s; média trienal 1998-2000; <strong>Brasil</strong>Causa-morte Amarelos IndígenasAlgumas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias 4,4% 10,1%Doença p/HIV resultando doença infecciosa e <strong>para</strong>sitária 0,7% 0,9%Neoplasias (tumores) 15,4% 8,1%Doenças do sangue e associados 0,6% 0,7%Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 6,2% 7,3%Doenças do aparelho circulatório 32,0% 19,7%Doenças do aparelho respiratório 11,2% 10,8%Doenças do aparelho digestivo 3,5% 3,5%Gravidez parto e puerpério 0,4% 1,1%Algumas afecções origina<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período perinatal 3,2% 4,2%Malformações congênitas defor e a<strong>no</strong>m cromossômicas 0,9% 0,7%Sintomase sinais achados a<strong>no</strong>rmais e exame clínico e laboratorial nãoclassificado13,4% 25,1%Causas externas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de 4,5% 5,7%Homicídios 0,4% 1,3%Ataque com arma de fogo 0,2% 0,4%Ataque com instrumento cortante 0,1% 0,3%Acidente de transporte 1,4% 1,0%Outras 4,2% 3,1%Total 100,0% 100,0%(*) Segundo grupo do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos; doençasdo ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomuscular e tecidoconjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(***) Fonte: micro<strong>da</strong>dos do SIM/Datasus; 1998-2000.5. Esperança de vi<strong>da</strong> dos grupos de raça/cor e sexo <strong>da</strong> populaçãobrasileira5.1. Estudos sobre as esperanças de vi<strong>da</strong> dos grupos de raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Não vamos <strong>no</strong>s ater nesta seção à evolução dos estudos de esperança de vi<strong>da</strong> aonascer <strong>da</strong> população brasileira. To<strong>da</strong>via há copiosa literatura sobre o tema, geralmentededica<strong>da</strong> à construção de modelos de estimativa indireta desse indicador, tendo em vistaas dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s pelas bases de <strong>da</strong>dos sobre mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, comoaqui mesmo já verificamos (Fígoli, 1998; Monteiro, 1996; Silva e Pessoa, 2002; Carvalho,Sawyer e Rodrigues, 1998 [1994]; Simões, 2002; Oliveira e Albuquerque, s/d).104Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tamanha evolução dos indicadores <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira foiresultado desses estudos. De fato, ao observarmos a série histórica entre 1930-1940 e 1991-2000, verificamos que, ao longo do século XX, esse indicador experimentou uma invariávelelevação (gráfico 5). Assim, entre os a<strong>no</strong>s de 1940 e 2000, quando foram realizados osrespectivos Censos Demográficos, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população brasileiracresceria 31,2 a<strong>no</strong>s, passando de 41,2 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> 70,5 a<strong>no</strong>s nesse lapso de tempo.Gráfico 5. Evolução <strong>da</strong> Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população<strong>Brasil</strong>eira – 1930-1940 a 1991-2000Fonte: Wood & Carvalho (1994); Oliveira e Albuquerque (s/d).Apesar de ser um indicador bastante utilizado na seara dos estudos demográficos,pelo fato de ser gerado por via indireta, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> populaçãobrasileira, desagrega<strong>da</strong> segundo os grupos de raça/cor, foi alvo de poucos estudos.Decerto, a realização dos cálculos <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, seja qual for avia, está longe de trivial. Entretanto, outros motivos de ordem institucional tambémexplicam razoavelmente os motivos dessa lacuna. Na ver<strong>da</strong>de, tradicionalmente osórgãos de pesquisa brasileiros não vinham incluindo a variável raça/cor em suas pesquisaspopulacionais. Assim, à guisa de exemplo, a principal pesquisa demográficaanual realiza<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> pelo IBGE, que vem a ser a Pnad, somente passou a incluir avariável <strong>no</strong> corpo básico de seu questionário <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1987, ou seja, 20 a<strong>no</strong>s apóso seu começo (Paixão, 2003b).Por esse motivo, além <strong>da</strong>s habituais dificul<strong>da</strong>des que o cálculo, por via indireta,<strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população já apresenta, a própria inexistência deindicadores sociais desagregados <strong>para</strong> os grupos raciais já ampliava, <strong>no</strong> limite impossibilitando,esse tipo de empreita<strong>da</strong>.Até os dias atuais, somente quatro estudos foram realizados sobre o indicador<strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> desagrega<strong>da</strong> por raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coerentemente, todos essesforam produzidos a partir dos a<strong>no</strong>s de 1990.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de105


A primeira iniciativa a esse respeito foi realiza<strong>da</strong> pelos demógrafos Wood e Carvalho(1994), baseados em indicadores dos Censos Demográficos de 1950 e de 1980. Os autorescalcularam as esperanças de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira, desagrega<strong>da</strong> por raça/cor, <strong>no</strong>período compreendido entre 1940-1950 e 1970-1980. Segundo eles, em meados doséculo XX, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos brancos era de 47,5 a<strong>no</strong>s, ao passo que<strong>para</strong> os negros (chamado pelos autores de não brancos) era de 40 a<strong>no</strong>s; <strong>no</strong> período de1970 a 1980, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos brancos havia subido <strong>para</strong> 66,1 a<strong>no</strong>s e ados negros <strong>para</strong> 59,4 a<strong>no</strong>s. Baseados em informações do Censo de 1980, os demógrafostambém realizaram alguns cruzamentos originais entre as expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer<strong>da</strong> população brasileira, segundo os contingentes de raça/cor, e os indicadores de ren<strong>da</strong>familiar mensal e educação. Com isso, os autores buscavam introduzir nas suas análisesalguma forma de controle, <strong>para</strong> assim perceber se as desigual<strong>da</strong>des raciais nas esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer eram deriva<strong>da</strong>s de fatores sociais em geral.Na tabela 20 foram reproduzidos os indicadores levantados por Wood e Carvalho(1994) quanto às expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer, segundo os grupos de raça/cor, introduzindoo controle de rendimento e educação. Em to<strong>da</strong>s as desagregações realiza<strong>da</strong>spodemos ver que persistem as desigual<strong>da</strong>des raciais nesse indicador. Visto por outroângulo, as desigual<strong>da</strong>des nas expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer eram justamente maiores<strong>no</strong>s grupos de rendimento e de educação mais elevados.Tabela 20. <strong>Brasil</strong>: Expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer por ren<strong>da</strong> familiarmensal, educação e cor – 1980EspecificaçãoRaçaBranca (a) Não branca (b)A -BA 59,5 55,8 3,7Ren<strong>da</strong> FamiliarB 64,4 59,8 4,6C 66,2 61,2 4,8D 70,4 63,7 6,7Nenhuma 59,4 54,9 4,5Educação Um-Quatro A<strong>no</strong>s 66,2 62,2 4,0Mais de Quatro A<strong>no</strong>s 72,3 66,63 5,7A= CR$ 1,00 a Cr$ 150,00; B= Cr$ 151,00 a Cr$ 300,00; C= Cr$ 301,00 a Cr$ 500,00; D= Mais de Cr$500,00.* Educação refere-se à escolari<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe.Fonte: Dados básicos: Censo Demográfico de 1980. In Wood & Carvalho (1994).A outra fonte de indicadores sobre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos gruposraciais <strong>da</strong> população brasileira foi realizado por pesquisadores do Núcleo de Estudos<strong>da</strong> População <strong>da</strong> Unicamp. Desse modo, Cunha (1996), basea<strong>da</strong> em indicadores dosmicro<strong>da</strong>dos do Censo de 1980, calculou que a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população<strong>negra</strong> seria de 65 a<strong>no</strong>s, ao passo que <strong>para</strong> os brancos seria de 72 a<strong>no</strong>s. Valesalientar que os <strong>da</strong>dos estimados por essa autora eram substancialmente maiores, emambos os grupos raciais, do que as médias encontra<strong>da</strong>s por Wood e Carvalho (1994).106Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Independentemente dessa variação, verificamos que as diferenças <strong>no</strong>s indicadores <strong>da</strong>esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de brancos e negros <strong>para</strong> Cunha, situa<strong>da</strong>s na faixa de setea<strong>no</strong>s favoravelmente ao contingente branco, eram próximas às distâncias encontra<strong>da</strong>spor aqueles autores, que eram de 6,7 a<strong>no</strong>s. É preciso esclarecer que o objetivo precípuode Cunha na realização desse estudo não era uma análise específica sobre asdesigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong>s indicadores <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer – introduzi<strong>da</strong><strong>no</strong> estudo enquanto uma variável secundária de análise –, mas, sim, uma análise dosindicadores sobre mortali<strong>da</strong>de infantil.Outro estudo que levantou indicadores <strong>da</strong>s expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer dosgrupos de raça/cor <strong>da</strong> população brasileira foi de Paixão (2003a), originalmente realizadoem 2000, com o objetivo de calcular o Índice de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> (IDH) dosgrupos de raça/cor do <strong>Brasil</strong>. Tal como sabemos, um dos três índices que compõe oIDH <strong>da</strong> população é justamente o de longevi<strong>da</strong>de, que, por sua vez, é exclusivamentefun<strong>da</strong>mentado nas expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer. Na ver<strong>da</strong>de, os cálculos contidos<strong>no</strong> estudo de Paixão foram realizados pelo demógrafo Juarez de Castro Oliveira, doIBGE, o qual fun<strong>da</strong>mentou-se na PNAD/IBGE de 1997. Vale salientar que tal pesquisafoi pioneira ao desagregar raça/cor nesse indicador.Sem embargo, de acordo com os indicadores estimados pelo demógrafo, em meadosdos a<strong>no</strong>s de 1990, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos negros seria, em média, de 64a<strong>no</strong>s (62 a<strong>no</strong>s os homens e 66 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> as mulheres), ao passo que o mesmo indicadorentre os brancos era, em média, de 70 a<strong>no</strong>s (69 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> os homens e 71 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> asmulheres). Com isso, as diferenças nas expectativas de vi<strong>da</strong> entre os dois contingentes deraça/cor seriam de seis a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> ambos os sexos, sete a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> os homens e dois a<strong>no</strong>s<strong>para</strong> as mulheres. Vale, por fim, frisar que <strong>no</strong> estudo citado, também foram levantados indicadores<strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> <strong>da</strong>s cinco regiões geográficas brasileiras.Em período mais recente, Paixão (2002, 2003b) voltaria a atualizar as estimativas<strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer obtidos <strong>no</strong> estudo de 2000. Seu objetivo era a atualizaçãodos cálculos do IDH desagregado segundo os grupos de raça/cor <strong>da</strong> população brasileira.Assim, o autor pôde realizar essas atualizações fun<strong>da</strong>mentado <strong>no</strong>s indicadores obtidosa partir <strong>da</strong> PNAD/1997 e na evolução <strong>da</strong>s expectativas de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileiracomo um todo. Com isso, Paixão supôs que as distâncias relativas nas esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer de brancos e negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> teriam se mantido constantes ao longo <strong>da</strong>transição do final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 e os primeiros a<strong>no</strong>s do século XXI, tendo evoluído<strong>no</strong> mesmo ritmo que <strong>para</strong> a to<strong>da</strong> a população.Tal como Paixão, o Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento (Pnud),objetivando a realização do Atlas do Desenvolvimento Huma<strong>no</strong>, em 2003, teve degerar informações referentes às esperanças de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira segundo osgrupos de raça/cor. Baseando-se <strong>no</strong>s indicadores dos Censos Demográficos de 1991 ede 2000, o Atlas obteve estimativas acerca desse indicador <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de107


federação. Assim, de acordo com os cálculos <strong>da</strong>quele organismo <strong>da</strong> ONU, os hiatosnas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer de brancos e negros teria apresentado uma acentua<strong>da</strong>que<strong>da</strong> ao longo de dez a<strong>no</strong>s, tendo passado de 7,83 <strong>para</strong> 5,7 a<strong>no</strong>s (tabela 21).Tabela 21. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de brancos e negros; <strong>Brasil</strong> e estados <strong>da</strong>federação; 1991 e 2000, estimados pelo Pnud/<strong>Brasil</strong>EstadoEsperançade vi<strong>da</strong>ao nascer(Brancos),1991Esperançade vi<strong>da</strong>ao nascer(Brancos),2000Esperançade vi<strong>da</strong>ao nascer(Negros),1991Esperançade vi<strong>da</strong>ao nascer(Negros),2000Esperançade vi<strong>da</strong> aonascer, 1991Esperançade vi<strong>da</strong> aonascer, 2000<strong>Brasil</strong> 66,54 71,00 58,71 65,7 70,00Norte 68,82 66,88 67,37Acre 65,77 69,28 61,81 64,32 63,11 66,27Amapá 65,36 68,96 63,18 65,95 63,72 66,66Amazonas 64,15 66,98 63,43 66,19 63,67 66,51Pará 66,48 67,80 61,54 66,20 62,66 66,48Rondônia 64,93 69,91 63,08 68,05 63,42 68,49Roraima 66,89 68,35 64,70 67,51 65,05 67,68Tocantins 62,08 66,92 59,64 64,55 60,32 65,24Nordeste 67,35 64,19 65,13Alagoas 60,43 63,90 57,44 60,99 58,04 61,74Bahia 61,90 65,93 60,38 63,66 60,71 64,15Ceará 64,58 69,62 60,77 66,84 61,76 67,77Maranhão 63,17 69,51 59,17 65,38 60,48 66,98Paraíba 61,98 65,42 57,27 61,80 58,88 63,16Pernambuco 65,28 68,79 60,74 66,58 62,04 67,32Piauí 61,74 67,25 56,82 62,38 58,10 63,79Rio Grande do Norte 62,49 66,15 59,00 63,24 59,83 64,06Sergipe 62,33 66,08 59,40 64,03 59,94 64,53Sudeste 72,24 68,47 70,56Espírito Santo 68,93 72,95 64,10 68,47 66,36 70,55Minas Gerais 67,41 71,81 61,89 66,01 64,17 68,24Rio de Janeiro 68,95 71,26 64,15 67,97 66,42 69,42São Paulo 70,24 72,30 65,54 69,19 68,82 71,20Sul 72,33 68,57 71,59Paraná 67,10 70,60 61,95 67,60 65,71 69,83Rio Grande do Sul 70,92 74,24 64,78 70,16 70,16 73,69Santa Catarina 69,87 72,74 66,15 69,40 68,76 72,13Centro-Oeste 71,90 68,37 69,81Distrito Federal 68,71 72,84 65,10 68,13 66,93 70,09Goiás 66,16 71,21 63,07 68,26 64,24 69,38Mato Grosso 67,33 71,44 63,48 68,46 65,10 69,68Mato Grosso do Sul 71,69 72,74 66,93 68,54 68,87 70,37Fonte: Atlas do Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> (Pnud), baseado em indicadores dos Censos Demográficos 1991 e 2000/IBGE.108Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Infelizmente, como <strong>no</strong> Atlas do Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> não foram <strong>da</strong><strong>da</strong>s indicaçõessobre como essas estimativas foram realiza<strong>da</strong>s (qual modelo, de qual família,interpolações realiza<strong>da</strong>s), não <strong>no</strong>s será possível estabelecer uma com<strong>para</strong>ção teórica maisdeti<strong>da</strong> entre os indicadores encontrados pelo Pnud e as estimativas conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> presenteestudo. De todo modo, é importante destacar que, via de regra, os cálculos que o Pnud vemrealizando sobre a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população brasileira têm-se mantidosistematicamente inferior aos <strong>da</strong>dos gerados pelo IBGE a esse respeito. À guisa de exemplo,em 2000, segundo o Pnud, a esperança de vi<strong>da</strong> dos brasileiros de ambos os sexos seria de70 a<strong>no</strong>s, ao passo que <strong>para</strong> o IBGE este indicador seria de 70,4 a<strong>no</strong>s.Sem embargo, foram esses estudos (Wood e Carvalho, 1994; Cunha, 1996; Paixão,2003a; e Pnud,2003) praticamente os únicos que contribuíram <strong>para</strong> a análise <strong>da</strong>s esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população brasileira segundo os grupos de raça/cor. Apesar <strong>da</strong>pertinência de ca<strong>da</strong> um desses esforços, percebemos o caráter ain<strong>da</strong> insuficiente de taisestimativas. Assim, com exceção do trabalho de Paixão (2003a), e mesmo assim apresentandoum grau de fidedigni<strong>da</strong>de limitado, até o presente momento não foi realiza<strong>da</strong> nenhumaestimativa quanto às esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos raciais desagregados porsexo. O mesmo pode ser dito quanto às desagregações <strong>para</strong> outros grupos raciais ou de cor,tal como seria o caso dos pretos, dos pardos, dos amarelos e dos indígenas. Finalmente,salientamos que essas estimativas praticamente não dialogaram entre si <strong>no</strong> que tange àsformas de cálculos e metodologia adota<strong>da</strong> por ca<strong>da</strong> um desses estudos. De to<strong>da</strong> forma,ain<strong>da</strong> que <strong>no</strong> presente trabalho não se tenha a pretensão de avançar neste último mister,mesmo porque envolveria uma análise <strong>da</strong>s metodologias utiliza<strong>da</strong>s em ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>quelascontribuições (que, de resto, não foram disponibiliza<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s elas), tentaremos, naspróximas páginas, avançar <strong>no</strong> que diz respeito às desagregações por raça/cor e por sexoquanto à esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer.5.2. Comentários gerais sobre o processo de geração do indicador esperançade vi<strong>da</strong> ao nascerA esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer é um indicador demográfico utilizado <strong>para</strong> avaliaras condições de saúde populacionais. Ele expressa a probabili<strong>da</strong>de de tempo de vi<strong>da</strong>média de uma população quando exposta a um determinado padrão de mortali<strong>da</strong>deexistente. Sendo um indicador internacionalmente utilizado, ele representa uma medi<strong>da</strong>resumi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de, que não é diretamente afeta<strong>da</strong> pelos efeitos <strong>da</strong> estrutura etária<strong>da</strong> população, como é o caso de outros indicadores demográficos.Sendo <strong>no</strong>rmalmente analisa<strong>da</strong> dentro de recortes geográficos e de sexo, a esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer quando trabalha<strong>da</strong> na perspectiva racial, permite desvelar mais umaspecto do cruel e rígido processo de estratificação social existente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de109


Conforme tem sido possível observar, mesmo tendo ocorrido consideráveisavanços de melhoria na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s estatísticas vitais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, ain<strong>da</strong> não é viável ocálculo <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por métodos diretos. Essa dificul<strong>da</strong>de se agravaain<strong>da</strong> mais quando se trabalha com a variável raça/cor, que só <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1996 foiincorpora<strong>da</strong> ao SIM/ Datasus. Estimativas indiretas são possíveis por meio dos <strong>da</strong>dosdos Censos Demográficos e <strong>da</strong>s Pesquisas Nacionais por Amostra Domiciliares (Pnad)produzi<strong>da</strong>s periodicamente pelo IBGE. Mesmo havendo problemas com a quali<strong>da</strong>dedos <strong>da</strong>dos e com questões metodológicas (omissão nas declarações dos quesitos defecundi<strong>da</strong>de, má declaração <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe, existência de padrões migratórios diferenciados,entre outros), as estimativas obti<strong>da</strong>s pelo método indireto são robustas obastante <strong>para</strong> satisfazer os objetivos propostos.No atual trabalho, a fonte de <strong>da</strong>dos utiliza<strong>da</strong> <strong>para</strong> estimar a esperança de vi<strong>da</strong> foia amostra do Censo Demográfico de 2000, compreendendo aproxima<strong>da</strong>mente 10% <strong>da</strong>população brasileira. Os <strong>da</strong>dos dessa amostra só vão apresentar problemas especiais naestimação <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> os grupos indígena e amarelo. Isso ocorre devidoà presença rarefeita dessas populações em determina<strong>da</strong>s regiões do país.Para o cálculo <strong>da</strong>s estimativas foi utilizado o procedimento CEBCS (Children everBorn and Children Surviving) do programa Mortpak – Lite e o Pandem. O primeiroprograma foi desenvolvido pela Divisão de População <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s e o segundopela Celade, também vincula<strong>da</strong> às Nações Uni<strong>da</strong>s.Anexado <strong>no</strong> final deste trabalho disponibilizamos ao leitor o desenvolvimentometodológico dos cálculos <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> tal como descritos por Juarez C.Oliveira e Leila Ervatti, demógrafos do IBGE.5.3. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>e grandes regiõesDe acordo com o gráfico 6, vê-se que a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> populaçãobrasileira de ambos os sexos foi estima<strong>da</strong> em 70,4 a<strong>no</strong>s. O grupo racial ou de cor queapresentou a maior esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer foi o contingente amarelo, com umaexpectativa de vi<strong>da</strong> de 75,75 a<strong>no</strong>s. Os brancos apareciam com uma esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer de 73,99 a<strong>no</strong>s. Já os negros (pretos e pardos) apresentaram uma esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer de 67,87 a<strong>no</strong>s. Os pardos contavam com uma esperança de vi<strong>da</strong> aonascer de 68,03 a<strong>no</strong>s. Este valor era ligeiramente superior aos pretos, cuja esperançaera de 67,64 a<strong>no</strong>s, perfazendo, portanto, uma diferença de 0,3 a<strong>no</strong> a mais, em termosde sobrevi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> os pardos. Já a diferença entre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dosgrupos pretos e pardos e a dos brancos foi bastante significativa. Assim, os brancos110Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


contavam com uma média de sobrevi<strong>da</strong> após o nascimento de 6,35 a<strong>no</strong>s a mais emrelação aos pretos e de 5,96 a<strong>no</strong>s a mais em relação aos pardos. Em seu conjunto, osnegros, em 2000, apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer 6,12 a<strong>no</strong>s inferioraos brancos, demonstrando que ao longo de todo o século XX as desigual<strong>da</strong>des raciaisdesse indicador reduziram-se muito timi<strong>da</strong>mente (mais especificamente, somente uma<strong>no</strong> em meio século). Finalmente, o contingente racial que apresentou a me<strong>no</strong>r esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer foram os indígenas: 66,57 a<strong>no</strong>s. Em termos de sobrevi<strong>da</strong>, suaesperança era 9,18 a<strong>no</strong>s inferior à dos amarelos, 7,42 a<strong>no</strong>s à dos brancos e 1,3 a<strong>no</strong>sà dos negros.Gráfico 6. <strong>Brasil</strong>: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça – 2000 ambos os sexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Evatti.No gráfico 7 podem ser vistos os indicadores <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer,segundo os grupos de raça/cor <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Norte, onde foi estima<strong>da</strong> umaesperança de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> todo o conjunto de 70,01 a<strong>no</strong>s. Quando desmembrados, osindicadores apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong> os brancos de 73,93a<strong>no</strong>s; <strong>para</strong> os negros de 68,58 a<strong>no</strong>s; <strong>para</strong> os pretos de 66,40 a<strong>no</strong>s; <strong>para</strong> os pardos de69,08 a<strong>no</strong>s; e <strong>para</strong> os indígenas de 67,17 a<strong>no</strong>s. Tais <strong>da</strong>dos <strong>no</strong>s mostram que foi nestaregião Norte que os pretos gozavam <strong>da</strong> me<strong>no</strong>r esperança de vi<strong>da</strong>. Em termos de sobrevi<strong>da</strong>:0,77 a<strong>no</strong> inferior aos indígenas; 2,68 a<strong>no</strong>s inferior aos pardos; e 7,53 a<strong>no</strong>sinferior aos brancos. Finalmente, cabe salientar que a pouca incidência de populaçãoamarela nessa região não permitiu a estimativa de seus <strong>da</strong>dos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de111


Gráfico 7. Norte: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça – 2000 ambos ossexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.No gráfico 8 é possível analisar os indicadores <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascerdos brasileiros <strong>da</strong> região Nordeste. Pelo fato de ser essa a região mais pobre do país, apopulação <strong>no</strong>rdestina apresentava a mais baixa expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer de todoo <strong>Brasil</strong>: 67,26 a<strong>no</strong>s. Coerentemente, nesta área, invariavelmente, todos os grupos deraça/cor apresentaram indicadores de a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong> inferiores aos encontrados<strong>no</strong> cenário nacional. Assim, os brancos contavam com uma esperança de vi<strong>da</strong> aonascer de 71,66 a<strong>no</strong>s. Os negros <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s apresentaram uma esperança de 65,60a<strong>no</strong>s, indicador 6,06 a<strong>no</strong>s inferior, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, em relação aos brancos.Os pretos apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 66,08 a<strong>no</strong>s e os pardosde 65,31 a<strong>no</strong>s. Tais indicadores perfizeram uma diferença, em termos de sobrevi<strong>da</strong>,de 0,77 a<strong>no</strong> positivamente aos pretos. Vale salientar que essa foi a única região dopaís onde o indicador de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos pretos foi superior à esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer dos pardos. Em relação aos brancos, a esperança de vi<strong>da</strong> aonascer dos pretos <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s era 5,58 a<strong>no</strong>s inferior e a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascerdos pardos era 6,35 a<strong>no</strong>s inferior. No Nordeste, tanto os amarelos, como os indígenasnão estiveram presentes com peso suficiente <strong>para</strong> tornar factível esse tipo de estimativa<strong>para</strong> esses contingentes.112Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Grafico 8. Nordeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça – 2000 ambos ossexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Na região Sudeste, o indicador <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população erade 71,14 a<strong>no</strong>s. Os amarelos, nessa região, apareciam como os que tinham a maior esperança(75,28 a<strong>no</strong>s). Já os brancos apresentaram uma espectativa de viver 74,61 a<strong>no</strong>s.Este indicador era 6,25 a<strong>no</strong>s superior ao verificado entre os negros, cuja esperança devi<strong>da</strong> ao nascer era de 68,36 a<strong>no</strong>s. A esperança de vi<strong>da</strong> dos pretos era de 67,53 a<strong>no</strong>s edos pardos, de 68,64 a<strong>no</strong>s, perfazendo uma diferença de 1,11 a<strong>no</strong> favoravelmente aospardos. Com<strong>para</strong>tivamente aos brancos, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos pretos era7,08 a<strong>no</strong>s inferior. Já os pardos apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer 5,97a<strong>no</strong>s abaixo <strong>da</strong>quela apresenta<strong>da</strong> <strong>para</strong> os brancos. Finalmente, não foi possível realizara estimativa desse indicador nessa região <strong>para</strong> os indígenas (gráfico 9).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de113


Gráfico 9. Sudeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça – 2000 ambos ossexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.O Sul consiste na região onde tradicionalmente se percebem as maiores esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Coerentemente, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>população desta região era de 72,62 a<strong>no</strong>s. Os amarelos apresentaram os índices maisexpressivos, 75,85 a<strong>no</strong>s. Os brancos apresentaram um indicador de 75,33 a<strong>no</strong>s. Osnegros desta região também apresentaram indicadores de tempo de sobrevi<strong>da</strong> superioresàs médias deste grupo racial ou de cor <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> nacional com uma esperança devi<strong>da</strong> ao nascer de 69,75 a<strong>no</strong>s. Ain<strong>da</strong> assim, os negros apresentavam uma esperança devi<strong>da</strong> ao nascer 5,58 a<strong>no</strong>s inferior àquela apresenta<strong>da</strong> <strong>para</strong> os brancos. Desagregandoo contingente negro, vê-se que os pardos tiveram uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de69,89 a<strong>no</strong>s e os pretos de 69,14 a<strong>no</strong>s. Destarte, a diferença <strong>no</strong> interior deste contingente,em termos de sobrevi<strong>da</strong>, situou-se em 0,75 a<strong>no</strong> favoravelmente aos pardos. Por fim,pelos mesmos motivos citados anteriormente, <strong>no</strong> Sul também não foi possível realizaros cálculos sobre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos indígenas (gráfico 10).114Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 10. Sul: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça – 2000 ambos os sexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Finalmente, na região Centro-Oeste, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> populaçãofoi de 70,98 a<strong>no</strong>s. Nessa região foi factível a desagregação <strong>da</strong>s estimativas <strong>da</strong>s esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong> os cinco grupos raciais ou de cor. Destarte, mais uma vez,os amarelos apareciam como o grupo que contava com a maior esperança de vi<strong>da</strong> aonascer: 75,29 a<strong>no</strong>s. Os brancos do Centro-Oeste apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer de 74,42 a<strong>no</strong>s. Este indicador era 5,16 a<strong>no</strong>s superior ao mesmo indicadorencontrado entre os negros, cuja esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 69,26 a<strong>no</strong>s. Ospardos, com uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 69,59 a<strong>no</strong>s, contavam com um períodomédio de sobrevi<strong>da</strong> 0,69 a<strong>no</strong> superior aos pretos que, por sua vez, apresentaramuma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 68,9 a<strong>no</strong>s. Com<strong>para</strong>tivamente à esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer dos brancos, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos pretos era 5,52 a<strong>no</strong>s inferiore a dos pardos, 5,16 a<strong>no</strong>s inferior. No Centro-Oeste, os indígenas apresentavam-secomo o contingente com me<strong>no</strong>r esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, situando-se em 66,38a<strong>no</strong>s (em termos de sobrevi<strong>da</strong>, 2,88 a<strong>no</strong>s inferior aos negros e 6,04 a<strong>no</strong>s inferior aosbrancos) (gráfico 11).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de115


Gráfico 11. Centro-Oeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 ambos os sexosFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.5.4. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e grandesregiões, desagrega<strong>da</strong> por sexoConforme já foi possível salientar, ain<strong>da</strong> hoje praticamente inexistem contribuiçõesacadêmicas que tenham se lançado à tarefa de estimar as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer,simultaneamente, dos grupos de raça/cor e de sexo <strong>da</strong> população brasileira. Do mesmomodo, o único estudo que até o momento procedeu a essas estimativas não havialogrado tecer um nível de desagregação abaixo do pla<strong>no</strong> nacional. Nos próximos cincográficos serão vistos e analisados, justamente, os indicadores <strong>da</strong>s expectativas de vi<strong>da</strong>de brancos, pretos, pardos e negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, segundo o sexo. Infelizmente, a baixasignificância estatística não permitiu que esses <strong>da</strong>dos pudessem ser estendidos <strong>para</strong> oscontingentes amarelos e indígenas.O gráfico 12 <strong>no</strong>s mostra os indicadores de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de homens emulheres em todo o país. Entre as pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>, em seu conjunto, esse indicadorera de 66,7 a<strong>no</strong>s, ao passo que, entre as pessoas do sexo femini<strong>no</strong>, ele era de 74,15 a<strong>no</strong>s.Portanto, em 2000, as mulheres viviam, em média, 7,45 a<strong>no</strong>s mais que os homens.Entre o contingente branco, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens erade 70,31 a<strong>no</strong>s, ao passo que entre as mulheres era de 77,71 a<strong>no</strong>s, perfazendo umadiferença de 7,4 a<strong>no</strong>s, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> o contingente femini<strong>no</strong>. Entreos negros, os homens apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 64,16 a<strong>no</strong>s,ao passo que a <strong>da</strong>s mulheres era de 71,65 a<strong>no</strong>s, conformando um hiato, em termos116Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


de sobrevi<strong>da</strong>, de 7,49 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> o contingente femini<strong>no</strong>. No interior do contingentepardo, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens era de 64,35 a<strong>no</strong>s e a esperança devi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres era de 71,79 a<strong>no</strong>s (diferença de 7,44 a<strong>no</strong>s, em termos desobrevi<strong>da</strong>, favoravelmente às mulheres par<strong>da</strong>s). Para o contingente preto, a esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens era igual a 63,79 a<strong>no</strong>s e a <strong>da</strong>s mulheres era igual a 71,57a<strong>no</strong>s. Assim, neste último caso, a diferença encontra<strong>da</strong> nas médias <strong>da</strong>s esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer foi de 7,78 a<strong>no</strong>s positivamente às mulheres.Entre os homens foi possível verificar que os brancos gozavam de maior expectativade vi<strong>da</strong> ao nascer, o que correspondia a 6,15 a<strong>no</strong>s superior aos negros; 6,52 a<strong>no</strong>ssuperior aos pretos; e 5,96 a<strong>no</strong>s superior aos pardos. Já a diferença <strong>da</strong>s expectativasde vi<strong>da</strong> ao nascer entre os homens pretos e os homens pardos era bem me<strong>no</strong>r, situa<strong>da</strong>em 0,56 a<strong>no</strong> favoravelmente aos pardos.Entre as mulheres, a maior expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer também era encontra<strong>da</strong>entre as brancas, com uma diferença, em média, de 6,14 a<strong>no</strong>s a mais em relação àspretas; 5,92 a<strong>no</strong>s em relação às par<strong>da</strong>s; e 6,06 a<strong>no</strong>s sobre as <strong>negra</strong>s. As esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer entre as mulheres pretas e par<strong>da</strong>s eram bem me<strong>no</strong>s acentua<strong>da</strong>s, ficandoem 0,22 a<strong>no</strong> favoravelmente às par<strong>da</strong>s.Finalmente cabe salientar que, contrariamente aos resultados obtidos por Paixão(2003a), os indicadores de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens brancos não ficaramacima dos mesmos indicadores <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s e, tampouco, entre as mulherespretas e as mulheres par<strong>da</strong>s. De todo modo, frisamos que a distância que se<strong>para</strong>va asesperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens brancos <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s (1,34 a<strong>no</strong>) erabem inferior à diferença que se<strong>para</strong>va a esperança de vi<strong>da</strong> dos homens brancos <strong>da</strong>smulheres desse mesmo grupo racial (conforme visto, 7,4 a<strong>no</strong>s a mais, em tempo desobrevi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> as mulheres brancas). Alternativamente, o diferencial nas esperançasde vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas em relação aos homens negros era de 13,55 a<strong>no</strong>s.Gráfico 12. <strong>Brasil</strong>: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de117


O gráfico 13 apresenta os indicadores <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong> homense mulheres <strong>da</strong> região Norte. As pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>, nasci<strong>da</strong>s em 2000 nessa região,podiam contar viver em média 66,94 a<strong>no</strong>s, ao passo que as pessoas do sexo femini<strong>no</strong>,nasci<strong>da</strong>s <strong>no</strong> mesmo período, podiam contar viver em média, 73,28 a<strong>no</strong>s (uma diferençade 6,34 a<strong>no</strong>s de tempo de sobrevi<strong>da</strong> favoravelmente ao contingente femini<strong>no</strong>).Gráfico 13. Norte: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.No interior do contingente racial ou de cor branco, os homens apresentavam umaesperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 70,88 a<strong>no</strong>s, ao passo que as mulheres brancas <strong>no</strong>rtistascontavam com uma média de 77,23 a<strong>no</strong>s (hiato de 6,35 a<strong>no</strong>s, em termos de sobrevi<strong>da</strong>,favorável às mulheres). Entre as mulheres <strong>negra</strong>s, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer erade 71,90 a<strong>no</strong>s, ao passo que os homens negros apresentavam um indicador de 65,57a<strong>no</strong>s, perfazendo, assim, uma diferença de 6,33 a<strong>no</strong>s, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, a mais<strong>para</strong> as mulheres <strong>negra</strong>s. No interior do contingente preto <strong>da</strong> região Norte, os homensapresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 62,89 a<strong>no</strong>s, ao passo que as mulherescontavam com uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 70,25 a<strong>no</strong>s (inferior, portanto, àmédia dos homens brancos <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> nacional). Desse modo, as mulheres pretas <strong>no</strong>rtistasapresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 7,36 a<strong>no</strong>s a mais em relação aoshomens de igual grupo de raça/cor. Já as par<strong>da</strong>s apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> aonascer de 72,33 a<strong>no</strong>s, índice 6,25 a<strong>no</strong>s superior, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, ao verificadoentre os homens, cuja esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 66,08 a<strong>no</strong>s.Entre os homens <strong>da</strong> região Norte, os brancos apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer 7,99 a<strong>no</strong>s superior aos homens pretos; 4,8 a<strong>no</strong>s superior aos homens pardos;e 5,31 a<strong>no</strong>s superior aos homens negros. Entre os pretos e pardos, o diferencial nasesperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 3,19 a<strong>no</strong>s favoravelmente aos pardos. Já entre asmulheres, as brancas apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer superior às pretas118Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


em 6,98 a<strong>no</strong>s; 4,9 a<strong>no</strong>s em relação às par<strong>da</strong>s; e 5,33 a<strong>no</strong>s sobre as mulheres <strong>negra</strong>s. Entreas mulheres pretas e par<strong>da</strong>s, a diferença em termos de expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer erade 2,08 a<strong>no</strong>s favoravelmente às par<strong>da</strong>s. Nessa região, em termos de tempo de sobrevi<strong>da</strong>,os homens brancos viviam, em média, 1,02 a<strong>no</strong> a me<strong>no</strong>s que as mulheres <strong>negra</strong>s, e oshomens negros viviam 11,66 a<strong>no</strong>s a me<strong>no</strong>s que as mulheres brancas.No gráfico 14 podem ser analisados os indicadores <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer<strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Nordeste. Como um todo, os homens <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s nascidos em 2000poderiam esperar viver em média 63,97 a<strong>no</strong>s. Já as mulheres, em seu conjunto, nasci<strong>da</strong>s<strong>no</strong> mesmo período, poderiam esperar viver, em média, 70,35 a<strong>no</strong>s. Isso conformava umadiferença de 6,38 a<strong>no</strong>s a mais, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, <strong>para</strong> as mulheres dessa região emrelação aos homens. Conforme, já foi verificado, pelo fato de ser a região mais pobre dopaís, o Nordeste acaba concentrando os mais baixos indicadores de esperança de vi<strong>da</strong> aonascer, e isso acabou se expressando <strong>no</strong>s grupos de raça/cor e sexo.Gráfico 14. Nordeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Os homens brancos <strong>da</strong> região Nordeste podiam esperar viver, em média, após seunascimento, 68,48 a<strong>no</strong>s. Já as mulheres brancas desse contingente podiam contar viver,em média, após o seu nascimento, 74,58 a<strong>no</strong>s, conformando uma diferença, em relaçãoaos homens do mesmo grupo racial e regional, de 6,1 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>. A esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer dos homens negros <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s era de 62,28 a<strong>no</strong>s, ao passo que o <strong>da</strong>s mulheresdo mesmo grupo racial era de 68,45 a<strong>no</strong>s, conformando um hiato de 6,17 a<strong>no</strong>s emtermos de sobrevi<strong>da</strong>. Entre os pardos, os homens apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> aonascer de 62,18 a<strong>no</strong>s e as mulheres, de 68,22 a<strong>no</strong>s (diferença de 6,04 a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong>favoravelmente ao contingente femini<strong>no</strong>). Já entre os pretos, os homens apresentavam umaesperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 62,58 ao passo que, entre as mulheres, este indicador eraigual a 69,38 a<strong>no</strong>s (hiato de 6,8 a<strong>no</strong>s favoravelmente ao contingente femini<strong>no</strong>).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de119


Os homens brancos dessa região apresentaram uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer 5,9a<strong>no</strong>s superior à esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pretos; 6,3 a<strong>no</strong>s superior à esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pardos; e 6,2 a<strong>no</strong>s superior à esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer doshomens negros. Já a diferenças nas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer entre os homens pretos epardos era de 0,4 a<strong>no</strong> favoravelmente aos pretos. Entre as mulheres brancas, o hiato entre assuas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer, com<strong>para</strong>tivamente às esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dosoutros grupos raciais eram: 5,2 a<strong>no</strong>s em relação às pretas; 6,36 a<strong>no</strong>s em relação às par<strong>da</strong>s; e6,13 a<strong>no</strong>s em relação às <strong>negra</strong>s. Entre as mulheres pretas e as mulheres par<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rdestinas,o hiato nas respectivas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 1,16 a<strong>no</strong> favoravelmente às mulherespretas. A diferença <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens brancos em relação àsmulheres <strong>negra</strong>s era de 0,03 a<strong>no</strong> favorável aos homens brancos e o hiato entre a esperança devi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres brancas em relação à esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homensnegros era, favorável às primeiras, de 12,3 a<strong>no</strong>s. Finalmente, cabe salientar que, além de asmulheres <strong>negra</strong>s <strong>no</strong>rdestinas terem apresentado uma esperança de vi<strong>da</strong> inferior aos homensbrancos <strong>da</strong> região (contrariando uma tendência clássica em demografia que aponta seremas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres superior às dos homens), a esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s – tanto <strong>da</strong>s pretas como <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s –, era inferior à esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens brasileiros brancos em seu conjunto.No gráfico 15 encontram-se os indicadores <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong>homens e mulheres <strong>da</strong> região Sudeste, onde os homens e as mulheres, nascidos <strong>no</strong> a<strong>no</strong>2000, poderiam esperar viver, em média, respectivamente, 66,41 a<strong>no</strong>s e 75,93 a<strong>no</strong>s.Desse modo, as diferenças nas expectativas de vi<strong>da</strong> ao nascer nessa região, entre os doisgrupos de sexo, eram de 9,52 a<strong>no</strong>s favoravelmente às mulheres. Em grande medi<strong>da</strong>,essa diferença pode ser credita<strong>da</strong> à violência urbana que afeta especialmente os jovensdo sexo masculi<strong>no</strong>, tal como vem sendo observado <strong>no</strong> decorrer deste trabalho.Gráfico 15. Sudeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.120Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 16. Sul: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Entre os brancos do sexo masculi<strong>no</strong>, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer era igual a 71,3a<strong>no</strong>s. Já entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 79,31a<strong>no</strong>s; 8,01 a<strong>no</strong>s a mais que os homens brancos em termos de período de sobrevi<strong>da</strong>.Entre os negros sulistas, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens era de 65,93 a<strong>no</strong>s,ao passo que, entre as <strong>negra</strong>s, esse indicador era de 73,71 a<strong>no</strong>s, perfazendo um hiatode 7,78 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> as pessoas do sexo femini<strong>no</strong>. No grupo dos pardos, as mulheresapresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 73,82 a<strong>no</strong>s e, <strong>no</strong> contingente preto,de 73,2 a<strong>no</strong>s. Já os homens pardos e os homens pretos contavam com uma esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer de, respectivamente, 66,10 a<strong>no</strong>s (7,72 a<strong>no</strong>s inferior às esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres do seu grupo racial) e 65,23 a<strong>no</strong>s (7,97 a<strong>no</strong>s inferioràs esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres do seu grupo racial).Os homens brancos <strong>da</strong> região Sul, nascidos em 2000, podiam esperar viver, emmédia, 6,07 a<strong>no</strong>s a mais do que os pretos; 5,2 a<strong>no</strong>s a mais do que os pardos; e 5,37a<strong>no</strong>s a mais do que os negros. Já as diferenças entre os homens pardos e os homenspretos, em termos <strong>da</strong>s suas respectivas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer, era de 0,87 a<strong>no</strong>.Entre as mulheres, as brancas contavam com uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer 6,11a<strong>no</strong>s superior às <strong>da</strong>s mulheres pretas; 5,49 a<strong>no</strong>s superior às <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s; e 5,6a<strong>no</strong>s superior às <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s. Já a diferença entre as esperanças de vi<strong>da</strong> aonascer, entre as mulheres par<strong>da</strong>s e as mulheres pretas, era de 0,62 a<strong>no</strong>.O hiato que se<strong>para</strong>va a esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s dos homensbrancos na região Sul era de 2,41 a<strong>no</strong>s (favoravelmente às mulheres <strong>negra</strong>s), ao passoque o mesmo hiato se<strong>para</strong>ndo os homens negros <strong>da</strong>s mulheres brancas era de 13,38a<strong>no</strong>s, em termos de sobrevi<strong>da</strong>, favoravelmente a estas últimas. Em tempo, a distânciaque se<strong>para</strong>va a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres brancas do Sul e os homensnegros do Nordeste era de 17,03 a<strong>no</strong>s.122Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Finalmente, <strong>no</strong> gráfico 17, podem ser encontra<strong>da</strong>s as estimativas <strong>da</strong>s esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong> a população <strong>da</strong> região Centro-Oeste. Para o contingente masculi<strong>no</strong>como um todo, esse indicador correspondia a 67,56 a<strong>no</strong>s, ao passo que, <strong>para</strong> ocontingente femini<strong>no</strong> como um todo, esse indicador correspondia a 74,55 a<strong>no</strong>s, umadiferença de 6,99 a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong> favoravelmente ao último contingente.Gráfico 17. Centro-Oeste: Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer por cor ou raça– 2000 homens & mulheresFonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Entre o grupo racial ou de cor branca, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer entre os homensera de 71,04 a<strong>no</strong>s e a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer entre as mulheres era de 77,98 a<strong>no</strong>s,perfazendo um hiato de 7,94 a<strong>no</strong>s em relação à sobrevi<strong>da</strong>. Entre os negros, os homensapresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 64,73 a<strong>no</strong>s, ao passo que esse indicador<strong>para</strong> as mulheres situava-se em 72,08 a<strong>no</strong>s (diferença de 7,35 a<strong>no</strong>s, em termos de sobrevi<strong>da</strong>,favoravelmente às mulheres <strong>negra</strong>s). Entre os pardos, os homens (esperança de vi<strong>da</strong> ao nascerde 64,65 a<strong>no</strong>s), apresentavam um indicador de sobrevi<strong>da</strong> espera<strong>da</strong> após o nascimento 7,71a<strong>no</strong>s inferior às mulheres desse grupo racial ou de cor (cuja esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer erade 72,36 a<strong>no</strong>s). Já entre os pretos, a diferença entre os homens, cuja esperança de vi<strong>da</strong> aonascer de era 64,94 a<strong>no</strong>s, e as mulheres, cuja esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 71,79 a<strong>no</strong>s,chegava, em termos de período de sobrevi<strong>da</strong>, a 6,85 a<strong>no</strong>s.Os homens brancos apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 6,1 a<strong>no</strong>s superioràs esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pretos; 6,39 a<strong>no</strong>s superior às esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pardos; e 6,31 a<strong>no</strong>s superior às esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer doshomens negros. Já as distâncias entre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pretos e doshomens pardos do Centro-Oeste ficaram na casa dos 0,29 a<strong>no</strong> favoravelmente aos homenspretos. Entre as mulheres, as brancas apresentavam uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer 6,19a<strong>no</strong>s mais que as mulheres pretas; 5,62 a<strong>no</strong>s que as par<strong>da</strong>s; e 5,9 a<strong>no</strong>s que as mulheres <strong>negra</strong>s.A diferença entre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres pretas e <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>sSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de123


foi de 0,57 a<strong>no</strong> favoravelmente às par<strong>da</strong>s. Finalmente, as diferenças entre as esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres brancas e dos homens negros foi de 13,25 a<strong>no</strong>s favoravelmenteàs mulheres brancas, ao passo que o hiato <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s e dos homens brancos foi de 1,04 a<strong>no</strong>s favoravelmente às mulheres <strong>negra</strong>s.Desse modo, pode-se ver que as diferenças nas esperanças de vi<strong>da</strong> dos grupos de raça/cor <strong>da</strong> população brasileira estiveram presentes em to<strong>da</strong>s as regiões geográficas analisa<strong>da</strong>so que, naturalmente, se expressou em todo o <strong>Brasil</strong>. Do mesmo modo, as desigual<strong>da</strong>desraciais <strong>no</strong>s indicadores de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer se expressaram quando realiza<strong>da</strong>sas desagregações por grupos de sexo, sendo tal informação ver<strong>da</strong>deira, mais uma vez <strong>para</strong>o <strong>Brasil</strong> e <strong>para</strong> as Grandes Regiões.5.5. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor e sexo nas uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federaçãoNas tabelas e mapas a seguir, podem ser vistos os indicadores <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> aonascer <strong>da</strong> população brasileira como um todo, do sexo masculi<strong>no</strong> e femini<strong>no</strong>, desagrega<strong>da</strong>pelos grupos de raça/cor branco, preto, pardo e negro.Os <strong>da</strong>dos contidos nas tabelas 23, 24 e 25 mostram que <strong>no</strong> interior de to<strong>da</strong>s asuni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação se repete o cenário verificado nas Grandes Regiões. Ou seja, emtodos os estados brasileiros, os indicadores <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos pretos,dos pardos e dos negros apresentavam-se expressivamente inferiores aos mesmos indicadores<strong>da</strong> população branca. Esse quadro invariavelmente expressou-se na populaçãomasculina, na população feminina e, naturalmente, <strong>no</strong> contingente de ambos os sexos.No <strong>Brasil</strong>, <strong>para</strong> a população de ambos os sexos, dois estados apresentavam umindicador de esperança de vi<strong>da</strong> entre 72 e 75 a<strong>no</strong>s; seis estados, entre 71 e 72 a<strong>no</strong>s;cinco estados, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s; sete estados, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; três estados, entre67 e 69 a<strong>no</strong>s; e quatro estados, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s. Via de regra, os valores mais baixoseram encontrados <strong>no</strong>s estados <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s e os mais altos <strong>no</strong>s estados <strong>da</strong> regiãoCentro-Sul. Contudo, vale salientar que uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação, como Rio de Janeiroe São Paulo, apresentaram indicadores não muito distantes <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des mais pobres,fato esse decorrente <strong>da</strong>s mortes por causas não naturais (mormente de jovens), que têmincidido sobre a esperança de vi<strong>da</strong> de sua população.Para <strong>no</strong>s situarmos em relação à reali<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> internacional,vemos que o indicador <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população brasileira ficariasituado entre o índice médio encontrado dos países <strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de de Estados Independentes(CEI) e os <strong>da</strong>s nações <strong>da</strong> Oceania, ficando atrás dos índices médios dospaíses europeus e <strong>da</strong> América do Norte (tabelas 22 e 23, mapa 1).124Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 22. Estimativas de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população mundial (porcontinente), ambos os sexos, homens e mulheres, 2000 e 2001Continente Ambos os sexos (2000) Homens (2001) Mulheres (2001)África 51,41 50,09 52,57Europa 76,91 73,88 80,28Comuni<strong>da</strong>de de estados independentes 65,58 60,34 71,46Ásia 66,34 65,23 68,12Oceania 75,64 73,53 78,22América do Norte 77,03 74,53 79,73América Latina & Caribe 70,51 67,63 73,76Fonte: OMS.Tabela 23. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor– <strong>Brasil</strong>, grandes regiões e estados – ambos os sexos; 2000População Total Brancos/as Pretos/as Pardos/as Negros/as<strong>Brasil</strong> 70,40 73,99 67,64 68,03 67,87Região Norte 70,01 73,93 66,40 69,08 68,58Rondônia 69,82 73,67 66,78 68,41 68,04Acre 69,85 72,82 61,55 69,84 68,95Amazonas 70,42 74,11 65,99 69,49 69,21Roraima 69,06 72,35 63,51 68,30 67,75Pará 70,31 73,66 69,00 69,11 69,07Amapá 70,60 74,42 68,60 69,18 68,78Tocantins 69,97 74,75 68,03 69,28 68,90Região Nordeste 67,26 71,66 66,08 65,31 65,60Maranhão 66,57 71,37 65,23 64,84 64,93Piauí 67,41 71,43 66,68 65,42 65,76Ceará 68,14 73,47 65,71 65,97 65,89Rio Grande do Norte 68,20 72,97 67,04 65,45 65,95Paraíba 66,17 71,83 62,80 64,25 64,13Pernambuco 65,39 70,11 63,86 63,28 63,58Alagoas 64,86 69,05 64,53 62,73 63,14Sergipe 69,03 72,11 69,07 67,80 68,26Bahia 69,52 72,58 69,82 68,05 68,50Região Sudeste 71,14 74,61 67,53 68,64 68,36Minas Gerais 71,97 74,68 68,46 68,97 68,68Espírito santo 71,83 74,12 69,28 69,22 69,03Rio de Janeiro 69,15 72,28 64,57 67,50 66,99São Paulo 71,61 74,01 67,81 68,87 68,75Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de125


ContinuaçãoPopulação Total Brancos/as Pretos/as Pardos/as Negros/as<strong>Brasil</strong> 70,40 73,99 67,64 68,03 67,87Região Sul 72,62 75,33 69,14 69,89 69,75Paraná 71,81 74,90 69,93 70,15 70,09Santa Catarina 72,90 75,49 68,11 69,45 69,22Rio Grande do Sul 73,16 75,60 69,37 70,06 69,86Região Centro-Oeste 70,98 74,42 68,90 69,59 69,26Mato Grosso do Sul 71,84 74,73 69,57 69,38 69,43Mato Grosso 70,62 74,97 69,93 68,31 69,23Goiás 71,04 74,10 69,66 69,44 69,50Distrito Federal 70,41 73,86 66,45 70,72 68,22Fonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Mapa 1.Esperança de vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> população ambos os sexos – <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação – 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000baseado em cálculos de Olivera e Ervatti.Em relação à população brasileira do sexo masculi<strong>no</strong>, o indicador <strong>da</strong> esperançade vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação apresentou a seguinte distribuição:em 12 estados, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; em <strong>no</strong>ve estados, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; emcinco estados, entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s; e, em uma uni<strong>da</strong>de, entre 60 e 62 a<strong>no</strong>s (tabela 24,mapa 2).126Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 24. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor– <strong>Brasil</strong>, grandes regiões e estados – homens; 2000Homens Total Brancos Pretos Pardos Negros<strong>Brasil</strong> 66,70 70,31 63,79 64,35 64,16Região Norte 66,94 70,88 62,89 66,08 65,57Rondônia 66,73 70,85 63,29 65,13 64,69Acre 66,86 69,78 58,52 66,98 65,93Amazonas 67,45 71,84 63,29 66,52 66,16Roraima 65,91 68,68 56,67 65,41 64,49Pará 67,15 70,42 65,71 66,04 65,95Amapá 67,44 70,45 66,28 65,85 65,98Tocantins 67,05 71,59 64,46 66,61 65,82Região Nordeste 63,97 68,48 62,58 62,18 62,28Maranhão 62,78 67,21 61,37 60,92 61,05Piauí 63,90 68,11 63,32 62,03 62,18Ceará 64,65 69,33 61,83 62,59 62,57Rio Grande do Norte 64,82 70,01 63,28 62,31 62,56Paraíba 63,16 69,27 59,90 61,26 61,07Pernambuco 62,55 67,75 61,12 60,56 60,73Alagoas 61,74 65,62 60,96 60,08 60,25Sergipe 65,87 69,21 65,07 64,92 64,97Bahia 66,28 69,82 66,37 64,93 65,09Região Sudeste 66,41 69,86 62,70 63,90 63,63Minas Gerais 68,10 71,40 64,31 65,11 64,79Espírito Santo 67,68 70,45 64,78 65,19 65,02Rio de Janeiro 63,18 66,33 58,79 61,38 60,99São Paulo 66,68 68,94 62,93 63,91 63,73Região Sul 68,61 71,30 65,23 66,10 65,93Paraná 68,21 71,28 66,97 66,79 66,90Santa Catarina 68,84 71,38 63,61 65,65 65,25Rio Grande do Sul 68,79 71,23 65,12 65,85 65,64Região Centro-Oeste 67,56 71,04 64,94 64,65 64,73Mato Grosso do Sul 68,68 71,74 64,82 65,60 65,36Mato Grosso 67,51 71,53 65,96 64,52 64,66Goiás 67,75 70,96 66,28 65,51 65,68Distrito Federal 66,31 69,92 62,70 62,97 62,89Fonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de127


Mapa 2.Esperança de vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> população masculina, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.O indicador <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população feminina apresentou, <strong>no</strong> interiordos estados, a seguinte distribuição: em oito estados, entre 75 e 78 a<strong>no</strong>s; em 11 estados,entre 72 e 75 a<strong>no</strong>s; em três estados, entre 71 e 72 a<strong>no</strong>s; em dois estados, entre 70 e71 a<strong>no</strong>s; e, em três estados, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s (tabela 25, mapa 3).Tabela 25. Esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor– <strong>Brasil</strong>, grandes regiões e estados – mulheres; 2000Mulheres Total Brancas Pretas Par<strong>da</strong>s Negras<strong>Brasil</strong> 74,15 77,71 71,57 71,79 71,65Região Norte 73,28 77,23 70,25 72,33 71,90Rondônia 73,12 76,66 70,17 71,98 71,56Acre 73,04 76,09 65,29 72,90 72,15Amazonas 73,61 77,20 68,55 72,77 72,43Roraima 72,43 76,22 72,43 71,33 71,66Pará 73,71 77,00 72,45 72,47 72,46Amapá 73,96 77,22 71,03 72,68 71,73Tocantins 73,09 78,02 71,86 72,18 72,08Região Nordeste 70,35 74,58 69,38 68,22 68,45Maranhão 70,19 74,95 68,45 68,21 68,28Piauí 70,77 74,59 69,88 68,60 68,84Ceará 71,45 76,52 69,61 69,17 69,55Rio Grande do Norte 71,39 75,71 70,84 68,35 68,82128Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoMulheres Total Brancas Pretas Par<strong>da</strong>s NegrasParaíba 68,98 74,27 65,45 67,11 66,77Pernambuco 68,04 72,68 66,41 65,85 66,07Alagoas 67,78 72,40 67,94 65,36 65,69Sergipe 71,99 74,88 72,79 70,37 70,87Bahia 72,54 75,23 73,04 70,97 71,31Região Sudeste 75,93 79,43 72,47 73,49 73,28Minas Gerais 75,87 79,80 72,71 72,94 72,91Espírito Santo 76,01 79,70 73,91 73,22 73,43Rio de Janeiro 75,25 78,42 70,47 73,77 73,40São Paulo 76,59 78,96 72,79 74,03 73,99Região Sul 76,64 79,31 73,20 73,82 73,71Paraná 75,41 78,47 72,89 73,65 73,52Santa Catarina 76,96 79,47 72,82 73,38 73,34Rio Grande do Sul 77,56 79,99 73,88 74,42 74,27Região Centro-Oeste 74,55 77,98 71,79 72,36 72,08Mato Grosso do Sul 75,15 77,93 73,34 71,98 72,44Mato Grosso 73,87 78,64 72,78 72,01 72,04Goiás 74,48 77,39 72,04 72,33 72,32Distrito Federal 74,69 77,96 68,99 73,12 71,52Fonte: Micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra do Censo 2000; cálculos de Oliveira & Ervatti.Mapa 3.Esperança de vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> população feminina, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de129


Quando observa<strong>da</strong> a distribuição desses indicadores entre as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação,com o recorte de raça/cor, puderam ser encontrados nítidos diferenciais. Assim, entre os brancosde ambos os sexos, em 20 uni<strong>da</strong>des, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer situava-se entre 72e 75 a<strong>no</strong>s; em duas uni<strong>da</strong>des, entre 75 e 78 a<strong>no</strong>s; em três uni<strong>da</strong>des, entre 71 e 72 a<strong>no</strong>s; emuma uni<strong>da</strong>de entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s; e, em mais uma, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s (tabela 23, mapa 4).Mapa 4.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população branca, ambos os sexos, <strong>Brasil</strong>,uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.130Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Entre a população autodeclara<strong>da</strong> preta, a distribuição do mesmo indicador foi:em oito uni<strong>da</strong>des, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em sete uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; em oitouni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; em três uni<strong>da</strong>des entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s; e, em uma uni<strong>da</strong>de,entre 60 e 62 a<strong>no</strong>s (tabela 23, mapa 7).Mapa 7.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população preta, ambos os sexos, <strong>Brasil</strong>,uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de131


Entre a população autodeclara<strong>da</strong> par<strong>da</strong>, o mapa <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer<strong>da</strong> população apresentou a seguinte composição: em três uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, entre 70e 71 a<strong>no</strong>s; em <strong>no</strong>ve uni<strong>da</strong>des, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em oito uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s;em 5 uni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; e, em duas uni<strong>da</strong>des, entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s (tabela 23 emapa 10).Mapa 10. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população par<strong>da</strong>, ambos os sexos, <strong>Brasil</strong>,uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.132Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


No somatório <strong>da</strong> população preta e par<strong>da</strong>, a distribuição <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong>ao nascer ficou do seguinte modo: em uma uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> federação, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s;em oito uni<strong>da</strong>des, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em 10 uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; em seisuni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; e, em duas uni<strong>da</strong>des, entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s (tabela 23 emapa 13).Mapa 13. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, ambos os sexos, <strong>Brasil</strong>,uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.O resultante desses <strong>da</strong>dos é que em apenas um estado as cores dos mapas <strong>da</strong>esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos brancos apresentaram-se as mesmas que algumas<strong>da</strong>s cores dos mapas <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos pretos e dos negros; e emapenas dois estados, o mapa <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> dos brancos mostraram cores iguaisa algumas <strong>da</strong>s cores conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> mapa dos pardos. Ou seja, esses grupos de raça/cor,<strong>no</strong> que tange ao indicador <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, formam duas reali<strong>da</strong>destotalmente distintas, parecendo constituir populações à parte. Essas dispari<strong>da</strong>des voltama ocorrer quando esses mesmos indicadores são analisados de forma decomposta <strong>para</strong>os grupos de sexo.Entre os homens brancos, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer entre as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>federação conformou o seguinte cenário: em oito uni<strong>da</strong>des, entre 71 e 71 a<strong>no</strong>s; em seisuni<strong>da</strong>des, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s; em seis uni<strong>da</strong>des, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em cinco uni<strong>da</strong>des,entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; e, entre duas uni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s. Entre os homens pretos,a distribuição <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer entre os estados brasileiros mostrou oseguinte desenho: em 12 estados, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; em sete estados, entre 62 e 64Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de133


a<strong>no</strong>s; em quatro estados, entre 60 e 62 a<strong>no</strong>s; e, em quatro estados, abaixo de 60 a<strong>no</strong>s.Entre os homens pardos, a composição do indicador entre as uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federaçãofoi: em 17 estados, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s; em cinco estados, entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s; e emoutros cinco estados, entre 60 e 62 a<strong>no</strong>s. Finalmente, entre os negros em seu conjunto,a distribuição <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer foi a seguinte: em 17 estados, entre 64e 67 a<strong>no</strong>s; em cinco estados, entre 62 e 64 a<strong>no</strong>s; e, em outros cinco estados, entre 60e 62 a<strong>no</strong>s (tabela 24, mapas 5, 8, 11 e 14).Mapa 5.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população branca, homens, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.134Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Mapa 8.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população preta, homens, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong>federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Mapa 11. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população par<strong>da</strong>, homens, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de135


Mapa 14. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, homens, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Entre as mulheres, o quadro de desigual<strong>da</strong>des nas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer,<strong>no</strong> interior dos estados brasileiros, entre as brancas e as <strong>negra</strong>s se repetia. Destarte,entre as mulheres brancas, em <strong>no</strong>ve uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação esse indicador situava-seentre 78 e 79,99 a<strong>no</strong>s; em 12 estados, entre 75 e 78 a<strong>no</strong>s; e, em seis estados, entre 72e 75 a<strong>no</strong>s. Entre as mulheres <strong>negra</strong>s ocorria maior dispersão nesse indicador. Entre asmulheres pretas, em 13 uni<strong>da</strong>des, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer ficava entre 72 e 75a<strong>no</strong>s; em duas uni<strong>da</strong>des, entre 71 e 72 a<strong>no</strong>s; em três uni<strong>da</strong>des, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s; emduas uni<strong>da</strong>des, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em quatro uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; e, em outrastrês uni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s. Entre as mulheres par<strong>da</strong>s, em 15 estados brasileiros,a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer situava-se entre 72 e 75 a<strong>no</strong>s; em três estados, entre71 e 72 a<strong>no</strong>s; em duas uni<strong>da</strong>des, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s; em uma uni<strong>da</strong>de, entre 69 e 70a<strong>no</strong>s; em quatro uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; e, em outras duas uni<strong>da</strong>des, entre 64 e67 a<strong>no</strong>s. Entre as mulheres em seu conjunto, a distribuição <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> aonascer <strong>no</strong> interior dos estados brasileiros era a seguinte: em 14 uni<strong>da</strong>des, entre 72 e75 a<strong>no</strong>s; em cinco uni<strong>da</strong>des, entre 71 e 72 a<strong>no</strong>s; em uma uni<strong>da</strong>de, entre 70 e 71 a<strong>no</strong>s;em uma outra uni<strong>da</strong>de, entre 69 e 70 a<strong>no</strong>s; em três uni<strong>da</strong>des, entre 67 e 69 a<strong>no</strong>s; e,em outras três uni<strong>da</strong>des, entre 64 e 67 a<strong>no</strong>s (tabela 25, mapas 6, 9, 12 e 15).136Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Mapa 6.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população branca, mulheres, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Mapa 9.Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população preta, mulheres, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e ErvattiSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de137


Mapa 12. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população par<strong>da</strong>, mulheres, <strong>Brasil</strong>, uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.Mapa 15. Esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, mulheres, <strong>Brasil</strong>,uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, 2000Fonte: Amostra de 10% do censo demográfico de 2000 baseadoem cálculos de Olivera e Ervatti.138Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O maior diferencial encontrado entre os estados, envolvendo os diferentes gruposraciais e de sexo, deu-se entre a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres brancas doRio Grande do Sul (79,99 a<strong>no</strong>s) e a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos homens pretos deRoraima (56,67 a<strong>no</strong>s), perfazendo um hiato de 23,32 a<strong>no</strong>s (tabelas 23 e 24).No <strong>Brasil</strong> como um todo, as mulheres gaúchas apresentavam o maior índicede esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, 77,56 a<strong>no</strong>s. Já o me<strong>no</strong>r índice de esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer era encontrado entre os homens alagoa<strong>no</strong>s (61,74 a<strong>no</strong>s). No interior docontingente racial ou de cor branca, o maior hiato <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascerocorreu entre as mulheres do Rio Grande do Sul (79,99 a<strong>no</strong>s) e os homens de Alagoas(65,26 a<strong>no</strong>s), formando uma diferença de 14,37 a<strong>no</strong>s.No contingente preto, a máxima distância ocorreu entre as mulheres do EspíritoSanto (esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer de 73,91 a<strong>no</strong>s): 17,24 a<strong>no</strong>s superior aos homensde Roraima (56,67 a<strong>no</strong>s). No interior do contingente pardo, a maior distância nasesperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer foi encontra<strong>da</strong> entre as mulheres do Rio Grande do Sul(74,42 a<strong>no</strong>s) e os homens de Alagoas (60,08 a<strong>no</strong>s), perfazendo um hiato de 14,32 a<strong>no</strong>s.Finalmente, <strong>no</strong> interior do contingente negro, a máxima distância nas esperanças devi<strong>da</strong> ao nascer ocorria entre as mulheres gaúchas (74,27 a<strong>no</strong>s) e os homens alagoa<strong>no</strong>s(60,25 a<strong>no</strong>s), constituindo uma diferença de 14,02 a<strong>no</strong>s.5.6. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos segundo os grupos de raça/cor e sexo5.6.1. Metodologia de análiseUm dos principais indicadores de análise <strong>da</strong>s condições de saúde <strong>da</strong> população deum determinado local consiste <strong>no</strong> estudo dos a<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> perdidos em decorrênciade determina<strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de. Dessa forma, melhor conhecendo o perfil <strong>da</strong>mortali<strong>da</strong>de, as autori<strong>da</strong>des competentes, hipoteticamente, estariam se capacitando <strong>para</strong>agir positivamente sobre essas causas. Com isso, seria possível que fossem mi<strong>no</strong>rados osfalecimentos precoces e evitáveis, posto que passíveis de serem contornados mediantemedi<strong>da</strong>s preventivas, muitas delas, até razoavelmente singelas.No <strong>Brasil</strong> já há ampla literatura contendo pesquisas sobre os a<strong>no</strong>s vi<strong>da</strong> perdidos<strong>da</strong> população brasileira e de suas múltiplas causas determinantes. Assim, os cálculosdos a<strong>no</strong>s potenciais de vi<strong>da</strong> perdidos têm sido realizados mediante a aplicação <strong>da</strong>s técnicasde Chiang (Maia, 2000; Silva, 2001; Gotlieb, Castilho e Buchalla, 2002; Barbonie Gotlieb, 2004), de Arriaga (Simões, 2002); de Pollard (Abreu e Rodrigues, 2000), edo Banco Mundial (Nedel, Rocha e Pereira, 1999).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de139


Em não sendo o objetivo do presente estudo o procedimento de um debate sobreca<strong>da</strong> uma dessas técnicas, optamos por adotar a técnica de Chiang, pelo fato de tersido identifica<strong>da</strong>, <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> não exaustiva bibliografia mobiliza<strong>da</strong>, como a que foicita<strong>da</strong> com mais freqüência. Antes que sejam feitas ressalvas quanto ao modo simplóriode escolha <strong>da</strong> técnica, cabe salientar o fato de este estudo estar se debruçando sobreuma questão até o momento inédita, qual seja, a análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong>sa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população. Isso torna forte o argumento quanto à pertinência<strong>da</strong> aplicação <strong>da</strong> técnica de Chiang, especialmente tendo em vista as exigências decom<strong>para</strong>bili<strong>da</strong>de dos indicadores ora gerados com uma literatura mais ampla.O procedimento de Chiang leva em consideração a probabili<strong>da</strong>de líqui<strong>da</strong> de mortepela eliminação de uma causa de mortali<strong>da</strong>de específica. Tal como nas palavras de Gotlieb,Castilho e Buchala (2002, p. 34), “a construção <strong>da</strong>s tábuas de múltiplo decremento é feita<strong>da</strong> mesma maneira que a <strong>da</strong> tábua de vi<strong>da</strong>, diferenciando-se apenas na coluna referente àproporção de mortes <strong>no</strong> intervalo etário, que é substituído pela probabili<strong>da</strong>de líqui<strong>da</strong>, istoé, admitindo-se que alguma causa básica de morte, (...), tivesse sido elimina<strong>da</strong>”.A tábua de mortali<strong>da</strong>de de múltiplo decremento é construí<strong>da</strong> a partir do cálculo<strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des de falecimento <strong>no</strong> intervalo etário (x, x+n), sendo esta a tabelamestra, tanto <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de como um todo, como <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des líqui<strong>da</strong>s. Parachegar até o seu resultado final, utilizou-se a seguinte expressão (Silva, 2001):nQx = nn.OxnPx (1-a´) nn x OxOnde:nOx = óbitos <strong>no</strong> intervalo etário (x; x+n)nPx = população <strong>no</strong> intervalo etário (x; x+n)a’ = fator se se<strong>para</strong>ção (0,20 <strong>para</strong> me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de; 0,30 <strong>para</strong> a i<strong>da</strong>dede um a<strong>no</strong>; e 0,50 <strong>para</strong> as demais faixas de i<strong>da</strong>de)Finalmente, a probabili<strong>da</strong>de líqui<strong>da</strong> de morte, após a eliminação de uma <strong>da</strong>scausas específicas de falecimento é igual a:Qx = 1 – pi [(Di – Dij)/Dj]140Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O termo pi representa o estimador <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de de um indivíduo sobreviverde xi a xi+n. Assim, esta expressão é igual a:Pi =1ai NjMj1 + (1 – a´) Nj MjSendo que:I = 0,1, 2, ...n, a<strong>no</strong>sJ = 1, 2, ,.... r, causasNi = intervalo de classe <strong>no</strong> grupo etário em apreçoMi = coeficiente de mortali<strong>da</strong>de na i<strong>da</strong>de ia’i = fator de se<strong>para</strong>ção na i<strong>da</strong>de iDi,j = número de óbitos ocorridos na i<strong>da</strong>de i pela causa, ou grupo de causas, jDi = número de óbitos ocorridos na i<strong>da</strong>de iA técnica de Chiang, conforme já foi salientado, exige a construção de uma tábua demortali<strong>da</strong>de. Quando do processo de elaboração dessa tábua <strong>para</strong> to<strong>da</strong> a população, devidoaos problemas de sub<strong>no</strong>tificação dos registros de óbitos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, ocorre a exigência <strong>da</strong>correção dessa per<strong>da</strong> de registros que acaba se expressando nas bases de <strong>da</strong>dos do RegistroCivil e do SIM. A partir dessas estimativas é procedi<strong>da</strong> a correção <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des demorte (Qx; x; x+n) dentro de ca<strong>da</strong> faixa de i<strong>da</strong>de. Via de regra; essas correções são realiza<strong>da</strong>spor estimativas indiretas pelas técnicas de sobrevivências dos filhos ou do uso <strong>da</strong>s tábuasde mortali<strong>da</strong>de do <strong>Brasil</strong> desenvolvi<strong>da</strong>s por demógrafos do IBGE e de outras instituiçõesde pesquisa. Finalmente, aplicando-se as expressões <strong>da</strong>s tábuas de múltiplo decremento,alcançamos finalmente a média de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. (Yazaki e Ortiz, 1984; Ferreira eCastiñeiras, 1996; Abreu, Rodrigues e Mendonça, 1996; Machado e Rigotti, 1996; Nedel,Rocha e Pereira, 1999; Maia, 2000; Abreu e Rodrigues, 2000, Campanário e Maia, 2002;Barboni e Gotlieb, 2004; Oliveira e Albuquerque, s/d).O principal problema enfrentado pelo presente estudo ocorreu quando do processode análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais, quando verificamos que a literatura disponívelain<strong>da</strong> não havia estimado qual seria o grau de sub<strong>no</strong>tificação dos registros de óbitos dosdistintos grupos de raça/cor e sexo, bem como uma medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> proporção de evasão deregistros <strong>no</strong> interior dos registros de óbitos, seja <strong>para</strong> os casos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, sejaentre aqueles com raça/cor declara<strong>da</strong>. Assim, não <strong>no</strong>s foi possível encontrar nenhumparâmetro confiável que permitisse a correção dos problemas <strong>da</strong> evasão dos registrosde óbitos dos distintos grupos de raça/cor.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de141


Para as faixas de i<strong>da</strong>de mais baixas, esses problemas puderam ser sanados como uso <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des de alcançar as i<strong>da</strong>des de 0 a 20 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de, gera<strong>da</strong>s peloprograma Mortpak – Lite. No caso, visando manter a coerência com o desenvolvimentometodológico do cálculo <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer descrito anteriormente, asprobabili<strong>da</strong>des de sobrevi<strong>da</strong> basearam-se <strong>no</strong> Modelo de Coale-Demeny, família Oeste.No caso <strong>da</strong>s desagregações por grupos de raça/cor e sexo, foram utiliza<strong>da</strong>s as probabili<strong>da</strong>desde sobrevi<strong>da</strong> gera<strong>da</strong>s a partir do Pandem. Em alguma medi<strong>da</strong>, isso reproduz ométodo de Oliveira e Albuquerque (s/d), que corrigiram as razões dos óbitos <strong>da</strong> populaçãoaté cinco a<strong>no</strong>s por via indireta. Neste caso foi possível aplicar igual caminho <strong>para</strong>os mesmos grupos etários dos contingentes de raça/cor e sexo. Contudo, não foi possívellocalizar nenhum estudo que tivesse realizado essas estimativas <strong>para</strong> as faixas etáriassuperiores. Na ver<strong>da</strong>de, Cunha (1990) chegou a fazer estimativas <strong>para</strong> as probabili<strong>da</strong>desde sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres que atingem 25 a<strong>no</strong>s (<strong>para</strong> as faixas etárias dos 45; 50; 55; 60;65; 70; e 75 a<strong>no</strong>s), desagrega<strong>da</strong> <strong>para</strong> os grupos de raça/cor branca, preta, par<strong>da</strong> e <strong>negra</strong>.To<strong>da</strong>via, esses <strong>da</strong>dos, além de não cobrirem a população masculina, estavam baseadosem indicadores do Censo de 1980, ou seja, de 24 a<strong>no</strong>s atrás.Portanto, tendo em vista estas limitações – tanto nas bases de registros sobre mortali<strong>da</strong>de,como na literatura sobre o tema <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong>s índices de mortali<strong>da</strong>de–, o presente estudo limitou-se, baseado <strong>no</strong>s resultados do Mortpak e do Pandem, a corrigiras probabili<strong>da</strong>des de mortali<strong>da</strong>de dos grupos de raça/cor e sexo até os cinco a<strong>no</strong>s (exclusive)de i<strong>da</strong>de. Esse procedimento, em alguma medi<strong>da</strong>, reproduziu a metodologia de Oliveira eAlbuquerque <strong>para</strong> a construção <strong>da</strong> tábua de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> que, justamente, corrigiuos Qx (probabili<strong>da</strong>des de óbitos em um determinado grupo de i<strong>da</strong>de), dessas faixas etárias,a partir de estimativas indiretas. Esse procedimento foi fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> conferir algumgrau de consistência às tábuas de mortali<strong>da</strong>de que foram construí<strong>da</strong>s. Caso isso não tivessesido feito, estaríamos operando com informações, aí sim, totalmente irrealistas.O levantamento <strong>da</strong> taxa de mortali<strong>da</strong>de de crianças me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>defun<strong>da</strong>mentado <strong>no</strong>s indicadores do SIM (triênio 1998-2000) e <strong>da</strong> amostra do CensoDemográfico de 2000, <strong>da</strong>ria uma média de 1.313 óbitos por 100 mil habitantes (frente àmédia nacional estima<strong>da</strong> indiretamente de 3.007 óbitos por 100 mil). Analisado de formadesagrega<strong>da</strong>, segundo os grupos de raça/cor, a combinação <strong>da</strong>s informações produzi<strong>da</strong>sa partir <strong>da</strong>quela base de <strong>da</strong>dos, <strong>da</strong>ria uma taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil de criançasbrancas me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> i<strong>da</strong>de de 1.939 óbitos por 100 mil habitantes e, uma taxa demortali<strong>da</strong>de infantil de crianças <strong>negra</strong>s me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> i<strong>da</strong>de de 1.507 óbitos por 100mil habitantes. Tal resultado somente pode ser compreendido levando-se em conta um fatorjá abor<strong>da</strong>do que se reporta à maior sub<strong>no</strong>tificação dos registros de óbitos entre os negros e,em especial, entre as crianças <strong>negra</strong>s. Alternativamente, o uso <strong>da</strong>s estimativas indiretas <strong>da</strong>taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil de crianças <strong>negra</strong>s apresenta uma estimativa de 3.576 óbitospor 100 mil habitantes (uma diferença de 2,37 vezes em com<strong>para</strong>ção com a estimativa142Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


direta) e uma taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil de crianças brancas de 2.513 óbitos por 100 milhabitantes (uma diferença de 1,29 vez em com<strong>para</strong>ção com a estimativa direta).Desse modo, as tábuas construí<strong>da</strong>s <strong>para</strong> os grupos de raça/cor e sexo, basea<strong>da</strong>s<strong>no</strong> SIM, foram corrigi<strong>da</strong>s pelas estimativas indiretas até os cinco a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de. Para asdemais faixas etárias, não foram realiza<strong>da</strong>s correções, tendo em vista a inexistência deestimativas indiretas a esse respeito que pudessem ser considera<strong>da</strong>s confiáveis. Apesarde termos plena <strong>no</strong>ção que a ausência de correções dos óbitos nas faixas etárias maiseleva<strong>da</strong>s cria embaraços, quiçá fatais, <strong>para</strong> o nível de realismo <strong>da</strong>s tábuas construí<strong>da</strong>s,tal procedimento não é de todo estranho à literatura <strong>no</strong> assunto. Por exemplo, Nedel,Rocha e Pereira (1999), ao elaborarem suas estimativas dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>para</strong>a população do <strong>Brasil</strong> e <strong>da</strong> região Sul, igualmente não procederam a correções nastaxas de óbitos encontra<strong>da</strong>s a partir dos registros do SIM. Finalmente, a estimativa desobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população acima de 70 a<strong>no</strong>s (limite superior <strong>da</strong>s tábuas construí<strong>da</strong>s poreste estudo) foi gera<strong>da</strong> <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> um dos grupos de raça/cor e sexo, pelo intercruzamentocom a tábua de mortali<strong>da</strong>de do <strong>Brasil</strong> (ambos os sexos, homens e mulheres) de2000, tal como calcula<strong>da</strong> pelos demógrafos do IBGE (Oliveira e Albuquerque, s/d).Os resultados encontrados nas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer pelo uso dessas tábuasde mortali<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong>s <strong>no</strong> SIM, sem proceder a qualquer correção <strong>da</strong>s sub<strong>no</strong>tificações<strong>no</strong>s grupos etários acima de cinco a<strong>no</strong>s, como seria de se esperar, geraram resultados, <strong>para</strong>ca<strong>da</strong> um dos grupos de raça/cor e sexo, que não corresponderam aos resultados encontradosnas seções 4.6 e 4.7. To<strong>da</strong>via, o presente objetivo não foi a obtenção <strong>da</strong>s esperançasde vi<strong>da</strong> ao nascer pela via direta, mas sim com a aplicação <strong>da</strong>s tábuas de múltiplo decremento,a estimativa dos ganhos potenciais de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> grupo de raça/cor e sexo, apartir <strong>da</strong> eliminação hipotética de determina<strong>da</strong>s causas de morte <strong>no</strong> seio <strong>da</strong> população.Foi justamente a partir <strong>da</strong> diferença entre as “esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer”, produzi<strong>da</strong>sa partir dos <strong>da</strong>dos parcialmente corrigidos do SIM, e <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas “esperanças de vi<strong>da</strong> aonascer”, gera<strong>da</strong>s pela eliminação de determina<strong>da</strong>s causas de morte, que chegamos aosresultados dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos segundo os grupos de raça/cor e sexo. Como meiode um certo controle dos resultados encontrados, foram com<strong>para</strong>dos, <strong>para</strong> a população detodo o <strong>Brasil</strong>, os resultados <strong>da</strong> estrutura e somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos contidos <strong>no</strong>presente estudo com os mesmos <strong>da</strong>dos contidos na literatura disponível.Cabe salientar que os resultados que serão debatidos não possuem um caráterque vão além do exploratório. Em primeiro lugar, derivado dos limites relacionadosàs bases de <strong>da</strong>dos utiliza<strong>da</strong>s e <strong>da</strong>s impossibili<strong>da</strong>des de realizar as correções <strong>no</strong>s níveisde mortali<strong>da</strong>de dos distintos grupos de raça/cor e sexo acima dos cinco a<strong>no</strong>s dentrodo atual estado <strong>da</strong> arte. Em segundo lugar, por conta de que <strong>no</strong> mesmo não foramesgota<strong>da</strong>s as gamas de metodologias factíveis de serem aplica<strong>da</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de143


Finalmente, é importante esclarecer que o exercício que ora segue foi realizadopelo professor Marcelo Paixão, que, assim, exclusivamente, assume os possíveis equívocoscontidos <strong>no</strong> desenvolvimento e nas conclusões <strong>da</strong> seção que ora segue.5.6.2. Resultados dos cálculos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> de perdidos segundo os gruposde raça/cor e sexoNas próximas cinco subseções serão vistos, de modo sucinto, os indicadores dosa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, segundo os grupos de raça/cor e sexo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e nas GrandesRegiões. Deve ser salientado que não necessariamente os <strong>da</strong>dos atinentes aos a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população como um todo se adequarão aos <strong>da</strong>dos de ca<strong>da</strong> gruporacial e de sexo, fazendo com que seja possível que, em alguns casos, o somatóriode to<strong>da</strong> a população não expresse os termos médios dos indicadores de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos verificados <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> contingente racial. Isso pode ocorrer devido aos casosdos registros de óbitos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, incluí<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cálculo dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos <strong>da</strong> população do <strong>Brasil</strong> e <strong>da</strong>s Grandes Regiões.No Gráfico 18 percebemos que, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, em todo o <strong>Brasil</strong>, o principalredutor na média de a<strong>no</strong>s vividos pelos homens eram as causas externas. Estas eramresponsáveis por retirar 2,83 a<strong>no</strong>s <strong>da</strong> população masculina. Assim, do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos pelos homens, 11,53 a<strong>no</strong>s, as causas externas eram responsáveis por 24,6%.Gráfico 18. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população masculina; <strong>Brasil</strong>. 1998-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM, censo demográfico 2000.144Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A segun<strong>da</strong> causa mais importante de per<strong>da</strong>s de tempo de vi<strong>da</strong> dos homens brasileiroseram as doenças circulatórias. Esse tipo de causa foi responsável pela per<strong>da</strong> de2,02 a<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>; 17,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidospelos homens. As causas mal identifica<strong>da</strong>s eram a terceira principal fonte de per<strong>da</strong>s dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os homens, retirando 1,36 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, 11,8% do total dos a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos por parte desse grupo. Também se destacavam como causas de per<strong>da</strong>sde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os homens, as afecções do período perinatal (com per<strong>da</strong> de 1,2a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); 10,4% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelos homens); as neoplasias(com per<strong>da</strong> de 1,1 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, 9,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelos homens),as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (com per<strong>da</strong> de 0,85 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); 7,4% do totalde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelos homens); e as doenças do aparelho digestivo (comper<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>; 5,0% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelos homens). Oshomicídios, um dos componentes <strong>da</strong>s causas externas, traziam a per<strong>da</strong> de 1,08 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong> pelos homens, 9,4% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelos homens. Dessemodo, esse componente era o sexto principal responsável pela per<strong>da</strong> de vi<strong>da</strong> entre osbrasileiros do sexo masculi<strong>no</strong> (gráfico 18).No gráfico 19 observamos a estrutura do somatório <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong><strong>da</strong> população feminina do <strong>Brasil</strong>. De acordo com as estimativas levanta<strong>da</strong>s, a principalcausa de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as mulheres eram as doenças do aparelhocirculatório, vetor que retirava <strong>da</strong>s mulheres 1,54 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, 20,3% do total de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos. Em segundo lugar, empata<strong>da</strong>s, vinham as afecções do período perinatale as neoplasias, ca<strong>da</strong> uma delas responsável pela per<strong>da</strong> de 1,08 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>entre as mulheres, 14,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. Outras importantes doençasmotivadoras de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as mulheres foram: as causas malidentifica<strong>da</strong>s (responsáveis pela per<strong>da</strong> de 1,0 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as mulheres; 13,3%do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos neste grupo); as causas externas (responsáveis pelaper<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as mulheres; 8,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosneste grupo); as doenças do aparelho respiratório (responsáveis pela per<strong>da</strong> de 0,67 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong> entre as mulheres; 8,8% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdido por este grupo); asdoenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (responsáveis pela per<strong>da</strong> de 0,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entreas mulheres; 7,9% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos por este grupo); as malformaçõescongênitas (responsáveis pela per<strong>da</strong> de 0,31 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as mulheres; 4,1% dototal de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>no</strong> interior deste grupo); e as doenças endócrinas, enutricionais (responsáveis pela per<strong>da</strong> de 0,39 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as mulheres; 5,2% dototal de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>no</strong> interior deste grupo).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de145


Gráfico 19. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população feminina. <strong>Brasil</strong> 1998-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM, censo demográfico 2000.O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os homens foi de 11,53 a<strong>no</strong>s, ao passo queentre as mulheres foi de 7,59, conformando uma diferença de 3,94 a<strong>no</strong>s a mais de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos <strong>para</strong> as pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>. Já consagra<strong>da</strong> na literatura especializa<strong>da</strong>,essa informação evidencia que a estrutura <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de de homens e mulheres apresenta-serazoavelmente diferencia<strong>da</strong>, sendo maior a razão de mortali<strong>da</strong>de e a per<strong>da</strong> total de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> entre as pessoas do sexo masculi<strong>no</strong>. Assim, <strong>da</strong>s três principais causas de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> entre os homens, duas são diferentes <strong>da</strong>s três principais causas de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> entre as mulheres. A única exceção vinham a ser as doenças do aparelho circulatório,que foram as principais redutoras dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> por parte <strong>da</strong>s mulheres e a segundoprincipal fator redutor do tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> entre os homens. Já as causas externas eos homicídios, que se apresentam como causas tão pronuncia<strong>da</strong>mente impactantes entre oshomens, vêm a ser apenas os, respectivamente, sexto e décimo terceiro principais fatores deredução de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as mulheres, entre as causas de morte seleciona<strong>da</strong>s.Por esse motivo, as análises dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, desagregados por raça/cor, já terãocomo ponto de parti<strong>da</strong> justamente essas evidências.No gráfico 20 podemos ver as diferenças nas médias de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entreos homens, segundo os grupos de raça/cor, <strong>para</strong> todo o <strong>Brasil</strong> <strong>no</strong> triênio 1998-2000. Entreos homens brancos, a principal causa de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> eram as causas externas,responsáveis pela per<strong>da</strong> de 2,41 a<strong>no</strong>s de existência, 23,7% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos,entre as pessoas do sexo masculi<strong>no</strong> nesse contingente de raça/cor. Em segundo lugar vinham146Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


as doenças do aparelho circulatório, responsáveis pela per<strong>da</strong> de dois a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> (19,9%do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). A terceira principal eram as neoplasias, responsáveis pelaper<strong>da</strong> de 1,26 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> perdi<strong>da</strong> <strong>no</strong> interior desse contingente, 12,6% do total de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos. Em quarto lugar vinham as afecções do período perinatal, responsáveispela redução do tempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens brancos em 1,01 a<strong>no</strong>s (9,9% do total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As causas não identifica<strong>da</strong>s retiravam 0,8 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> (7,9% do totalde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos) e os homicídios (componente <strong>da</strong>s causas externas) trouxeram aper<strong>da</strong> de 0,84 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> (8,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos) dos homens brancos.Especificamente as vitimizações com armas de fogo retiraram 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dos homensbrancos (5,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). Finalmente, cabe salientar que o total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os homens brancos foi de 10,16 a<strong>no</strong>s.Gráfico 20.A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos de homens, segundo os grupos de raça/cor;<strong>Brasil</strong>, 1998-2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM e amostra de 10% do censo demográfico.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de147


Entre os homens pretos, o principal motivo de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> eram ascausas externas. Esse motivo retirava 2,6 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> desses homens, 22,6% do totalde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. A segun<strong>da</strong> maior fonte de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> dos homensnegros foram as doenças do aparelho circulatório, responsáveis pela abreviaçãode 2,03 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, 17,6% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. A terceira principalcausa de morte foram as causas mal defini<strong>da</strong>s, responsáveis pela per<strong>da</strong> de 1,57 a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdi<strong>da</strong>, 13,7% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. Os homicídios constituíama quarta principal causa de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os pretos do sexo masculi<strong>no</strong>,1,21 a<strong>no</strong>, 10,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. Mais deti<strong>da</strong>mente, as vitimizaçõespor armas de fogo ceifaram 0,82 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dos homens pretos (7,1% do total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As afecções do período perinatal, que reduziram em 1,2 a<strong>no</strong>(10,4% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos); as doenças do aparelho respiratório, queabreviaram a vi<strong>da</strong> dos homens pretos em 0,99 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> (8,3% do total de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos); e as neoplasias, que retiraram 0,86 a<strong>no</strong> (7,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos) também apareciam como outras grandes responsáveis pela per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>svi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse grupo de raça e sexo. O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosdos homens pretos foi de 11,52 a<strong>no</strong>s.Os homens pardos, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, igualmente tiveram como principalmotivo de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> as causas externas. Estas responderam pela abreviaçãoem 2,69 a<strong>no</strong>s dos homens desse grupo racial ou de cor, 36,9% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos. A segun<strong>da</strong> causa de morte mais relevante em termos de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> entre os homens pardos vieram a ser as doenças do aparelho circulatório, motivoesse que ceifava o tempo de vi<strong>da</strong> médio <strong>da</strong>s pessoas deste contingente em 1,27 a<strong>no</strong>(12,8% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As afecções do período perinatal respondiampela per<strong>da</strong> de 1,4 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre esses homens (14,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos), sendo a terceira maior causa de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> do grupo. Entre oshomens pardos. Os homicídios eram a quarta principal causa de abreviação dos a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong>: 1,12 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, 11,3% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. Mais deti<strong>da</strong>mente,as vitimizações por armas de fogo responderam pela per<strong>da</strong> de 0,74 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre oshomens pardos, o que representou 7,4% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdido desse grupo.As causas não identifica<strong>da</strong>s foram responsáveis pela per<strong>da</strong> de 1,34 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> (13,5%do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). Outras causas de mortali<strong>da</strong>de que apareceram comcerta relevância entre os homens pardos foram as neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong>, 6,3%do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos) e as doenças do aparelho respiratório (0,74 a<strong>no</strong>,7,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entreos homens pardos foi de 9,91 a<strong>no</strong>s.Finalmente, o somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos homens pretos e dospardos revela que sua principal causa de morte eram as causas externas, responsáveispela per<strong>da</strong> de 2,67 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> interior desse contingente, 26,1% do total de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos. As doenças do aparelho circulatório apareciam como a segun<strong>da</strong>148Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


maior fonte de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os homens negros, acarretando a abreviaçãode seu tempo médio de existência em 1,41 a<strong>no</strong> (13,8% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos). As afecções do período perinatal responderam pela per<strong>da</strong> de 1,38 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong> entre os homens negros (13,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos), tendo sido aterceira principal causa de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>. Os homicídios foram a quarta maiorcausa, tendo ceifado 1,12 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desse grupo, 15% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos.Mais especificamente, as vitimizações por armas de fogo acarretaram a per<strong>da</strong>de 0,74 a<strong>no</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os homens negros (9,9% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos). As causas não identifica<strong>da</strong>s também apareciam como uma causa relevantede per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os homens negros, tendo provocado a abreviação de0,99 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse grupo, 13,3% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos.No somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, os homens negros tiveram uma per<strong>da</strong> totalde 10,25 a<strong>no</strong>s.Na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos de homens brancosem relação aos homens pretos, verificamos que estes perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> nascausas não identifica<strong>da</strong>s (diferença de 0,77 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); <strong>no</strong>s homicídios (diferençade 0,37 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); <strong>no</strong>s homicídios por armas de fogo (diferença de0,29 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); nas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de 0,26 a<strong>no</strong><strong>para</strong> os pretos); nas doenças do aparelho respiratório (diferença de 0,22 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> ospretos); nas causas externas (diferença de 0,21 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); nas afecções doperíodo perinatal (diferença de 0,19 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); nas doenças metabólicas,nutricionais e endócrinas (diferença de 0,12 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); nas doenças doaparelho circulatório (diferença de 0,03 <strong>para</strong> os pretos); na tuberculose (diferença de0,09 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); e <strong>no</strong> HIV/aids (diferença de 0,05 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos). Já oshomens brancos, com<strong>para</strong>tivamente aos homens pretos, perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>por cau<strong>da</strong> <strong>da</strong>s neoplasias (diferença de 0,4 a<strong>no</strong> a mais <strong>para</strong> os brancos); dos acidentesde trânsito (diferença de 0,25 a<strong>no</strong> a mais <strong>para</strong> os brancos); <strong>da</strong>s doenças do aparelhodigestivo (diferença de 0,06 a<strong>no</strong> a mais <strong>para</strong> os brancos); e <strong>da</strong>s malformações congênitas(diferença de 0,05 a<strong>no</strong> a mais <strong>para</strong> os brancos).Na com<strong>para</strong>ção entre a composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos homens brancosem relação aos homens pardos, observamos que os últimos perdiam mais a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> por causas <strong>da</strong>s afecções do período perinatal (diferença de 0,39 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos);<strong>da</strong>s causas não identifica<strong>da</strong>s (diferença de 0,28 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos); <strong>da</strong>s causas externas(diferença de 0,28 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos); dos homicídios (diferença de 0,28 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>os pardos); dos homicídios por armas de fogo (diferença de 0,21 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos);e <strong>da</strong>s doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de 0,13 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos). Já oshomens brancos perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> devido às doenças do aparelho circulatório(diferença de 0,73 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); do aparelho digestivo (diferença de 0,16 a<strong>no</strong><strong>para</strong> os brancos); dos acidentes de trânsito (diferença de 0,11 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); doHIV/aids (diferença de 0,1 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); <strong>da</strong>s neoplasias (diferença de 0,0 a<strong>no</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de149


<strong>para</strong> os brancos); <strong>da</strong>s doenças do aparelho respiratório (diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>os brancos); e <strong>da</strong>s malformações congênitas (diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos).Nas doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais e na tuberculose, os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos entre homens brancos e homens pardos foram ínfimas.Na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos por parte dos homensbrancos em relação aos homens negros, pudemos ver que os brancos, com<strong>para</strong>tivamenteaos negros, perdiam relativamente mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> nas doenças do aparelhocirculatório (diferença de 0,59 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); nas neoplasias (diferença de 0,57a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); nas doenças do aparelho digestivo (diferença de 0,14 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> osbrancos); <strong>no</strong>s acidentes de trânsito (diferença de 0,13 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); nas mortesderiva<strong>da</strong>s de HIV/aids (diferença de 0,07 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos); e nas malformaçõescongênitas (diferença de 0,04 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os brancos). Já os negros, com<strong>para</strong>tivamente aosbrancos, apresentaram uma per<strong>da</strong> maior em a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> nas causas mal identifica<strong>da</strong>s(diferença de 0,58 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros); nas afecções do período perinatal (diferençade 0,37 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros); <strong>no</strong>s homicídios (diferença de 0,29 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros);nas causas externas (diferença de 0,26 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros), <strong>no</strong>s homicídios por armasde fogo (diferença de 0,22 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros); nas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(diferença de 0,19 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os negros); e na tuberculose (diferença de 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>os negros). Nas doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais e nas doenças do aparelhorespiratório, as diferenças na quanti<strong>da</strong>de de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os doisgrupos foram praticamente nulas.Finalmente, na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos homenspretos com a composição dos homens pardos, verificamos que os homens pretosperdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> devido às doenças do aparelho circulatório (diferença de0,74 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); às doenças do aparelho respiratório (diferença de 0,25 a<strong>no</strong><strong>para</strong> os pretos); às neoplasias (diferença de 0,24 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); às causas nãoidentifica<strong>da</strong>s (diferença de 0,23 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); ao HIV/aids (diferença de 0,15a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); às doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de 0,13 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>os pretos); às doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais (diferença de 0,13 a<strong>no</strong><strong>para</strong> os pretos); aos homicídios (diferença de 0,09 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pretos); aos homicídiospor armas de fogo (diferença de 0,08 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> os pretos); e à tuberculose(diferença de 0,08 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> os pretos). Já os homens pardos perdiam maisa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> por afecções do período perinatal (diferença de 0,2 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos);acidentes de trânsito (diferença de 0,14 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos); causas não identifica<strong>da</strong>s(diferença de 0,09 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos); e malformações congênitas (diferença de 0,02a<strong>no</strong> <strong>para</strong> os pardos).Desse modo, os indicadores revelam que, com<strong>para</strong>tivamente aos negros, os brancosapresentam um perfil de mortali<strong>da</strong>de mais próximo aos típicos de socie<strong>da</strong>des urbaniza<strong>da</strong>se mais desenvolvi<strong>da</strong>s, perdendo mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> que os negros por doenças150Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


do aparelho circulatório, neoplasias, acidentes de trânsito e HIV/aids. Já os negros, emgeral, apresentaram uma estrutura de mortali<strong>da</strong>de típica de populações de países subdesenvolvidose violentos, fazendo com que esse contingente perca mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>,relativamente ao contingente branco, nas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, afecçõesdo período perinatal, causas externas, homicídios e causas não identifica<strong>da</strong>s. De todomodo, é importante salientar que os impactos dessas diversas causas de morte sobre otempo médio de vi<strong>da</strong> de brancos e negros foram abor<strong>da</strong>dos em seus níveis relativos deintensi<strong>da</strong>de, o que não implica, portanto, que os vetores estu<strong>da</strong>dos não sejam todos elesimpactantes sobre o tempo esperado de sobrevi<strong>da</strong> de ambos os contingentes.Por outro lado devemos destacar que a com<strong>para</strong>ção dos indicadores dos a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos dos homens brancos com o somatório indicadores dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos dos homens negros também corre o risco de elidir importantes aspectos <strong>da</strong>reali<strong>da</strong>de encontra<strong>da</strong> entre os grupos de raça/cor pretos e pardos. Decerto, os <strong>da</strong>doslevantados mostraram que, em geral, as diferenças nas composições dos a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos dos homens brancos eram razoavelmente discrepantes dos mesmosindicadores tanto dos pretos como dos pardos, cujos indicadores tenderam a umacerta convergência. Contudo, tal sentença não esgota por inteiro a complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>questão, de modo que, em uma série de causas de morte, os homens pretos apresentaramdiferenciações em relação aos homens pardos e vice-versa.Desse modo, as per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> devido a doenças do aparelho circulatórioimpactavam bem mais os homens pretos do que os homens pardos, e mesmo os homensbrancos (embora neste caso a diferença tenha sido pequena). O mesmo aconteceu <strong>no</strong>scasos <strong>da</strong>s mortes por homicídio e por HIV/aids, que impactaram mais os homens pretosque os pardos e brancos, e em diversas outras causas de morte (doenças do aparelhorespiratório, causas não identifica<strong>da</strong>s, afecções do período perinatal, neoplasias), cujasdiferenças <strong>no</strong>s indicadores de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os homens pretos e homenspardos foram superiores à casa de 0,2 a<strong>no</strong>. Destarte, nas pesquisas dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos dos grupos de raça/cor <strong>da</strong> população brasileira, a agregação dos pretos epardos em uma única categoria analítica deve atentar <strong>para</strong> a não ocultação, <strong>no</strong> interior<strong>da</strong>s médias verifica<strong>da</strong>s entre os indicadores de ambos os grupos, de algumas variáveisque possam se apresentar discrepantes entre aquelas duas categorias.No gráfico 21 encontra-se a composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre as mulheresbrancas, pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> triênio 1998-2000. Tal como já pôdeser observado, a composição <strong>da</strong>s causas de morte <strong>da</strong>s mulheres de todos os grupos deraça/cor estu<strong>da</strong>dos apresenta-se pronuncia<strong>da</strong>mente diferencia<strong>da</strong> <strong>da</strong> composição doshomens dos mesmos grupos raciais e de cor.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de151


Gráfico 21.A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos de mulheres, segundo os grupos de raça/cor,<strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: Micro<strong>da</strong>dos SIM e amostra de 10% do censo demográfico.Entre as mulheres brancas, a principal causa de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> foram asdoenças do aparelho circulatório, responsável pela redução do tempo de vi<strong>da</strong> médiodessas mulheres em 1,83 a<strong>no</strong> (21,3% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). A segun<strong>da</strong>maior causa eram as neoplasias; fator que abreviava a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas em1,14 a<strong>no</strong> (17,8% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As afecções do período perinataleram a terceira causa de morte a influenciar negativamente as esperanças de vi<strong>da</strong><strong>da</strong>s mulheres, o fazendo em 0,91 a<strong>no</strong> (14,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). Ascausas não identifica<strong>da</strong>s retiravam 0,54 a<strong>no</strong> de tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheresbrancas, o que equivalia a 8,5% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos. As causas externas,ao contrário do que ocorria entre os homens brancos, impactava a média de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas em “somente” 0,54 a<strong>no</strong>, o que representava 8,4% do totalde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelas pessoas desse contingente. Os homicídios, por suavez, retiraram 0,09 a<strong>no</strong> do tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas. As doençasrespiratórias retiravam 0,58 a<strong>no</strong> (9,1% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre asmulheres brancas). Já as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias abreviavam em 0,44 a<strong>no</strong>(6,8% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos) o tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas.O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre as mulheres brancas era de 6,41 a<strong>no</strong>s.152Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As mulheres pretas, por sua vez, também tinham como principal causa defalecimento as doenças do aparelho circulatório, evento fatal que respondia por 1,83a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> perdido por esse contingente. Isso representava 22,4% do total de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos pelas mulheres <strong>negra</strong>s. As causas não identifica<strong>da</strong>s eram a segun<strong>da</strong>maior causa de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as <strong>negra</strong>s, reduzindo a vi<strong>da</strong> média dessaspessoas em 1,18 a<strong>no</strong> (14,5% do total de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>). As afecções do períodoperinatal descontavam em 0,99 a<strong>no</strong> o tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas, o queequivalia a 12,1% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelas componentes desse gruporacial e de sexo. Em terceiro lugar, enquanto redutor do tempo de vi<strong>da</strong> médio dessasmulheres, vinham as doenças do aparelho respiratório, abreviando seu tempo médio devi<strong>da</strong> em 0,83 a<strong>no</strong> (10,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As neoplasias encolhiama esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas em 0,9 a<strong>no</strong> (11,1% do total de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong>). As causas externas encolhiam o tempo de vi<strong>da</strong> médio <strong>da</strong>s mulheres pretasem 0,56 a<strong>no</strong> (6,9% do total de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>), e os homicídios impactavamo tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas em “somente” 0,12 a<strong>no</strong>. Já as doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias reduziam o tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas em 0,44a<strong>no</strong> (6,8% do total de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>). O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidoentre as mulheres pretas era de 8,14 a<strong>no</strong>s.Entre as mulheres par<strong>da</strong>s, a principal causa de redução do tempo médio devi<strong>da</strong> eram afecções do período perinatal. Essa causa reduzia a esperança de vi<strong>da</strong> aonascer <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s em 1,21 a<strong>no</strong>, o que equivalia a 18,4% do total de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos por essas mulheres. Em segundo lugar, em termos <strong>da</strong> redução dotempo médio de vi<strong>da</strong>, vinham as causas não identifica<strong>da</strong>s, as quais descontavam aexpectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s em 1,04 a<strong>no</strong> (15,7% do total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos); e somente em terceiro lugar encontravam-se as doenças doaparelho circulatório. Este vetor impactava em 1,01 a<strong>no</strong> a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer<strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s (15,3% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As neoplasias retiravam0,65 a<strong>no</strong> do tempo médio de vi<strong>da</strong> dessas mulheres, o que significava 9,8% do total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos por esse contingente. Tanto as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,como as doenças do aparelho respiratório, retiravam, ca<strong>da</strong> um desses vetores, 0,63 a<strong>no</strong><strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s (9,6% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos).As causas externas, por sua vez, retiravam 0,61 a<strong>no</strong> do período de vi<strong>da</strong> média dessecontingente (9,2% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdido). Já os homicídios ceifavam a vi<strong>da</strong><strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s em “apenas” 0,11 a<strong>no</strong>. O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosentre as mulheres par<strong>da</strong>s foi de 6,61 a<strong>no</strong>s.Entre as mulheres <strong>negra</strong>s, isto é, <strong>no</strong> somatório <strong>da</strong>s mulheres pretas com as mulherespar<strong>da</strong>s, a causa de morte que mais as impactava eram as afecções do período perinatal,que lhes imputavam redução na esperança de vi<strong>da</strong> em 1,19 a<strong>no</strong> (17,1% do total dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdido por estas mulheres). As doenças do aparelho circulatório ficaramem segundo lugar, com diminuição do tempo médio de existência <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>sSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de153


em 1,16 a<strong>no</strong>; 16,7% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos por esse contingente. A terceiracausa mais impactante sobre o tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s foramos eventos fatais de origem não identifica<strong>da</strong>, que reduziram em 1,06 a<strong>no</strong> (15,4% dosomatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos) a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>quelas pessoas.Tanto as doenças do aparelho respiratório, como as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,responderam, ca<strong>da</strong> uma, pela redução de 0,66 a<strong>no</strong> do tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s (9,6% do total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos). As causas externas retiraram<strong>no</strong> período em apreço 0,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s (8,7% do total <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>sde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>). Os homicídios, tão impactantes nas médias de vi<strong>da</strong> dos homensnegros, apresentaram entre as mulheres <strong>negra</strong>s um nível de intensi<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r, sendoresponsáveis pela redução de 0,11 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>no</strong> interior desse grupo. Para concluir,o somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelas mulheres <strong>negra</strong>s foi de 6,92 a<strong>no</strong>s.Na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulheres pretas emrelação às mulheres brancas, percebemos que aquelas perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> por causasexternas (diferença de 0,64 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças do aparelho circulatório (diferençade 0,47 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (diferença de0,3 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de 0,26 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> aspretas); doenças do aparelho respiratório (diferença de 0,25 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); HIV/aids(diferença de 0,09 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); afecções do período perinatal (diferença de 0,08 a<strong>no</strong><strong>para</strong> as pretas); tuberculose (diferença de 0,06 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças do aparelhodigestivo (diferença de 0,06 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); homicídios (diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>as pretas); e causas externas (diferença de 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas). Já as mulheres brancasapresentavam maior índice de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos nas neoplasias (diferença de 0,24a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); <strong>no</strong>s acidentes de trânsito (diferença de 0,08 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); enas malformações congênitas (diferença de 0,06 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas).Na com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>sem relação às brancas, observamos que as mulheres par<strong>da</strong>s perderam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>por causas não identifica<strong>da</strong>s (diferença de 0,5 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); afecções do períodoperinatal (diferença de 0,3 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (0,19a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); causas externas (diferença de 0,07 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); doençasdo aparelho respiratório (diferença de 0,05 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); homicídios (diferençade 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s); e tuberculose (diferença de 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s). Já asmulheres brancas tiveram maior quanti<strong>da</strong>de de per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> nas neoplasias(diferença de 0,49 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); doenças do aparelho circulatório (diferençade 0,35 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); malformações congênitas (diferença de 0,05 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> asbrancas); doenças do aparelho digestivo (diferença de 0,04 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas) HIV/aids(diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); e acidentes de trânsito (diferença de 0,02 a<strong>no</strong><strong>para</strong> as brancas). Já <strong>para</strong> as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas e <strong>para</strong> oshomicídios por armas de fogo, as diferenças entre os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos verificadosentre as mulheres brancas e as mulheres par<strong>da</strong>s foram praticamente nulas.154Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Cabe agora fazer uma breve com<strong>para</strong>ção entre os indicadores <strong>da</strong> estrutura <strong>da</strong>smédias de a<strong>no</strong>s vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulheres brancas em relação às médias de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s. Assim, relativamente às mulheres <strong>negra</strong>s, as mulheresbrancas perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> devido a neoplasias (diferença de 0,45 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> asbrancas); malformações congênitas (diferença de 0,05 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); acidentesde trânsito (diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); doenças do aparelho circulatório(diferença de 0,2 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas); e doenças do aparelho digestivo (diferençade 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as brancas). Já as mulheres <strong>negra</strong>s, com<strong>para</strong>tivamente às mulheresbrancas, perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> decorrentes de causas não identifica<strong>da</strong>s (diferençade 0,52 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s); afecções do período perinatal (diferença de 0,28 a<strong>no</strong> <strong>para</strong>as <strong>negra</strong>s); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de 0,22 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s);doenças do aparelho respiratório (diferença de 0,08 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s); causas externas(diferença de 0,06 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s); doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais(diferença de 0,04 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s); tuberculose (diferença de 0,03 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s);e homicídios (diferença de 0,02 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s). Já nas causas de morte porhomicídios com armas de fogo e por HIV/aids, as diferenças foram ínfimas.Finalmente com<strong>para</strong>mos a composição dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulherespretas com a <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s. As mulheres pretas perdiam mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> pordoenças do aparelho circulatório (diferença de 0,82 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); neoplasias(diferença de 0,25 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças do aparelho respiratório (diferençade 0,2 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (diferençade 0,19 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); causas não identifica<strong>da</strong>s (diferença de 0,14 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> aspretas); HIV/aids (diferença de 0,12 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças do aparelho digestivo(diferença de 0,1 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (diferença de0,07 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); causas externas (diferença de 0,05 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas); e tuberculose(diferença de 0,04 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as pretas). Já as mulheres par<strong>da</strong>s apresentavammaior per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> decorrentes <strong>da</strong>s afecções do período perinatal (diferençade 0,22 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s) e dos acidentes de trânsito (diferença de 0,06 a<strong>no</strong> <strong>para</strong> aspar<strong>da</strong>s). As malformações congênitas, os homicídios e estes praticados por armas defogo não incidiram em diferenças nas per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as mulheres pretase as mulheres par<strong>da</strong>s.Desse modo, entre as mulheres, as diferenças raciais nas causas de per<strong>da</strong>s dea<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> se fizeram presentes de forma mais intensiva nas neoplasias e doençasdo aparelho circulatório, que afetaram com mais intensi<strong>da</strong>de as brancas; e nas causasmaldefini<strong>da</strong>s, nas afecções do período perinatal e nas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,que afetaram com mais intensi<strong>da</strong>de as <strong>negra</strong>s. No que tange às causas maldefini<strong>da</strong>s, valesalientar que Ai<strong>da</strong>r (2000) já havia alertado <strong>para</strong> a especial intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> incidênciadesse vetor, que, a rigor, não significa causa alguma em específico, sobre as mulheres.Pelos <strong>da</strong>dos disponibilizados ao longo deste estudo, podemos dizer que esse problema,portanto, afeta com especial gravi<strong>da</strong>de as mulheres <strong>negra</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de155


Vale destacar que, tal como já havia sido debatido <strong>para</strong> o caso dos homensnegros, quando do estudo dos indicadores dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s, devemos atentar <strong>para</strong> os indicadores que apontaram <strong>para</strong> algumas nuancesdos <strong>da</strong>dos entre as mulheres pretas e as par<strong>da</strong>s. Dessa forma, a per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas devido a doenças do aparelho circulatório foi bem maisacentua<strong>da</strong> do que a per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, pelo mesmo motivo, entre as mulherespar<strong>da</strong>s. Argumento semelhante pode ser apontado <strong>no</strong> que tange às causas de morte porHIV/aids, que vinham impactando as médias de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas commaior intensi<strong>da</strong>de à verifica<strong>da</strong> entre as mulheres par<strong>da</strong>s e brancas. De resto, conquantode forma me<strong>no</strong>s acentua<strong>da</strong>, mesmo nas doenças do aparelho respiratório, nas doençasdo aparelho digestivo, nas afecções do período perinatal, nas doenças endócrinas,nutricionais e metabólicas e nas neoplasias, foram encontrados diferenciais entre asper<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas e par<strong>da</strong>s.Decerto, a com<strong>para</strong>ção dos indicadores dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancasem relação às pretas e às par<strong>da</strong>s tendeu a apresentar diferenciais maiores do que osencontrados <strong>no</strong> interior do próprio grupo <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s (naturalmente, formadopor pretas e par<strong>da</strong>s). To<strong>da</strong>via, em <strong>no</strong>me de uma análise mais precisa <strong>no</strong> estudo dosindicadores dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, talvez também seja razoável sempre procuraranalisar os indicadores <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais levando em consideração não somenteas dispari<strong>da</strong>des entre as brancas e as <strong>negra</strong>s, mas, igualmente, os hiatos encontradosentre mulheres pretas e as mulheres par<strong>da</strong>s.Finalmente cabe proceder a um breve comentário sobre os somatórios dosa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os homens e mulheres dos distintos grupos de raça/cor.Conforme verificamos, o somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos homens brancos foide 10,16 a<strong>no</strong>s; dos homens pretos, de 11,52 a<strong>no</strong>s; dos homens pardos, de 9,91 a<strong>no</strong>s;e dos homens negros, de 10,25. Já entre as mulheres, os somatórios dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos foram: mulheres brancas, 6,41 a<strong>no</strong>s; mulheres pretas, 8,14 a<strong>no</strong>s; mulherespar<strong>da</strong>s, 6,61 a<strong>no</strong>s; e mulheres <strong>negra</strong>s, 6,92 a<strong>no</strong>s. Essas informações poderiam sugerircerta equivalência entre esses indicadores, levando-<strong>no</strong>s a crer em certa igualação, emúltima instância, <strong>no</strong>s padrões de mortali<strong>da</strong>de.To<strong>da</strong>via, como já vimos, essas diferenças foram estima<strong>da</strong>s tendo por pa<strong>no</strong> defundo as desigual<strong>da</strong>des raciais nas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer, tal como foi possívelestu<strong>da</strong>r. Nesse sentido, o mérito deste estudo concerne <strong>no</strong> procedimento de ajustedo somatório dos indicadores dos a<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> perdidos com as dispari<strong>da</strong>desencontra<strong>da</strong>s nas expectativas de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer entre os distintos grupos de raça/cor e sexo. Desse modo, a fórmula <strong>para</strong> estimar os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos ajustados àsdesigual<strong>da</strong>des raciais é igual a: AVPr = AVP (x, y) + (E (0, y) –E (x, y))156Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Onde:AVP(r) = a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos pelo grupo de sexo e e raça/cor x ajustado àsdesigual<strong>da</strong>des raciaisAVP (x, y) = a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos do grupo de sexo e raça/cor x de um local yE (x, y) = esperança de vi<strong>da</strong> do grupo de sexo e racial ou de cor x de um local yE (0, y) = esperança de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população de um local y (segundo grupos de sexo ouambos os sexos)Ao aplicarmos essa fórmula a ca<strong>da</strong> um dos somatórios dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos,encontramos um <strong>no</strong>vo resultado, exposto na tabela 26.Tabela 26. Somatório <strong>da</strong>s médias de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos e somatório <strong>da</strong>s médiasde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais, segundo osgrupos de raça/cor e sexoGrupos racial ede sexoSomatório dos a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidosSomatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosajustado às desigual<strong>da</strong>des raciaisHomemBranco 10,16 6,55Preto 11,52 14,43Pardo 9,91 12,26Negro 10,25 12,79MulherBranca 6,41 2,85Preta 8,14 10,72Par<strong>da</strong> 6,61 8,97Negra 6,92 9,42Dessa forma, ao aplicarmos aos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos grupos de raça/cor esexo analisados as suas respectivas médias sobre as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dehomens e mulheres, formando os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos ajustados às desigual<strong>da</strong>desraciais, verificamos que, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, os homens pretos eram os que maisperdiam a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, 14,43 a<strong>no</strong>s. Os homens pardos perdiam 12,26 a<strong>no</strong>s e os negros,conjuntamente, perdiam 12,79 a<strong>no</strong>s. Finalmente, os homens brancos, após a realizaçãodo ajuste, perdiam 6,55 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>. No caso <strong>da</strong>s mulheres, eram de <strong>no</strong>vo as pretasas que mais perdiam a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>: 10,72 a<strong>no</strong>s. O somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos<strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s, após o ajuste levando em conta as desigual<strong>da</strong>des raciais nas expectativasde vi<strong>da</strong> ao nascer, foi de 8,97 a<strong>no</strong>s. Já as mulheres <strong>negra</strong>s, em seu conjunto, perdiam9,42 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> em média. No caso <strong>da</strong>s mulheres brancas, sua média de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos, com o ajuste às desigual<strong>da</strong>des raciais, caiu <strong>para</strong> 2,85 a<strong>no</strong>s.Vale salientar que o conjunto de indicadores e estimativas que foram mobilizadosao longo deste estudo não expressa por inteiro a reali<strong>da</strong>de existente; sendo razoávelSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de157


supor que os indicadores recém-expostos tendem a subestimar os níveis de mortali<strong>da</strong>dee o total de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, tendo em vista as já salienta<strong>da</strong>s sub<strong>no</strong>tificações deregistros de óbitos. Entretanto, <strong>no</strong> estudo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais, é importante lembrarque os <strong>da</strong>dos estu<strong>da</strong>dos basearam-se exclusivamente <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos do SIM, portanto, nãolevando em consideração as efetivas diferenças nas taxas de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s escalõesetários superiores aos cinco a<strong>no</strong>s. Isso provavelmente tenderia a ampliar a razão demortali<strong>da</strong>de dos brancos e, especialmente, dos negros.Cabe frisar, outrossim, que a maior incidência <strong>da</strong>s causas de mortali<strong>da</strong>de nãoidentifica<strong>da</strong>s entre os negros e <strong>negra</strong>s acaba sendo mais um fator de evasão de informaçõesquanto às efetivas causas de morte desse grupo racial. Assim, se as causas demorte de todos os grupos raciais ou de cor fossem conheci<strong>da</strong>s, certamente isso levariaa sensíveis alterações <strong>no</strong>s indicadores de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, segundo as diferentescausas de mortali<strong>da</strong>de. Nesse sentido, a única vali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ampla presença <strong>da</strong>s causasmaldefini<strong>da</strong>s de morte <strong>para</strong> a análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais é que elas acabamrevelando que as condições de atendimento médico, ambulatorial e laboratorial dosnegros são niti<strong>da</strong>mente inferiores às condições verifica<strong>da</strong>s entre os brancos.5.6.3. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos segundo os grupos de raça/cor e sexo nas grandesregiõesNas próximas cinco subseções serão vistos, de modo sucinto, os indicadores dos a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> perdidos, segundo os grupos de raça/cor e sexo <strong>no</strong> interior <strong>da</strong>s regiões geográficasbrasileiras, <strong>no</strong> período 1998-2000. Na ver<strong>da</strong>de, esses indicadores que ora seguem devem servistos com certa ressalva, tendo em vista as grandes discrepâncias na quali<strong>da</strong>de dos registrosdo SIM entre as regiões do país, como já expusemos. Assim, o atual levantamento continuasendo um exercício que ain<strong>da</strong> padece de muitos melhoramentos de ordem metodológica,mormente visando corrigir as falhas deriva<strong>da</strong>s dos sub-registros de óbitos e do grande percentualde registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> nas Grandes Regiões.a) Região <strong>no</strong>rteNa região Norte, a principal causa de morte redutora <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> aonascer dos homens brancos foram as causas externas, vetor que retirava 1,27 a<strong>no</strong> detempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer desse contingente. Em segundo lugar apareciamas afecções do período perinatal, com per<strong>da</strong> de 1,22 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dos homens brancos<strong>no</strong>rtistas. Em terceiro lugar vieram as causas maldefini<strong>da</strong>s, responsáveis pela per<strong>da</strong> de0,76 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dos homens brancos dessa região. As demais causas redutoras dotempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens brancos <strong>da</strong> região Norte foram: doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 0,73 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); HIV/aids (per<strong>da</strong> de 0,46a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e homicídios (per<strong>da</strong> de 0,4 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 27).158Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 27. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Norte do sexomasculi<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,60 0,51 0,69 0,65 0,58Neoplasias 0,51 0,52 0,21 0,45 0,42Metabólica, endócrina e nutricional 0,21 0,20 0,30 0,19 0,17Circulatória 0,70 0,73 0,54 0,58 0,57Respiratória 0,50 0,46 0,58 0,54 0,48Digestiva 0,24 0,21 0,15 0,24 0,23Afeções do período perinatal 1,41 1,22 0,86 1,61 1,48Malformação congênita 0,27 0,31 0,21 0,24 0,22Mal defini<strong>da</strong> 1,26 0,76 0,85 1,35 1,26Causas externas (to<strong>da</strong>s) 1,54 1,27 1,21 1,79 1,70Homicídios 0,52 0,40 0,33 0,59 0,57Outras 0,50 0,37 0,33 0,59 0,57Armas de fogo 0,29 0,29 0,38 0,29 0,27Acidente de trânsito 0,27 0,22 0,17 0,26 0,25HIV/aids 0,35 0,46 0,19 0,51 0,48Tuberculose 0,03 0,03 0,01 0,03 0,03Total 7,27 6,23 5,61 7,66 7,15Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 7,27 2,29 9,66 8,52 8,12(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.A principal causa de morte redutora do tempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens pretosforam as causas externas, fator que respondeu pela per<strong>da</strong> de 1,21 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dessegrupo. A segun<strong>da</strong> causa foram as afecções do período perinatal (que acarretavam aper<strong>da</strong> de 0,86 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre os homens pretos) e, em terceiro lugar, apareceram ascausas maldefini<strong>da</strong>s, vetor que reduzia em 0,85 a<strong>no</strong> o tempo de sobrevi<strong>da</strong> ao nascerdos homens pretos <strong>no</strong>rtistas. As demais causas de morte mais significativas <strong>no</strong> interiordesse grupo foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,69 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 0,54 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). A título de possível com<strong>para</strong>ção com pardose negros, destacamos: assassinatos por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,38 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios(per<strong>da</strong> de 0,33 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças metabólicas, endócrinas e nutricionaisSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de159


(per<strong>da</strong> de 0,3 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias e malformações congênitas (per<strong>da</strong> de 0,21 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> uma); HIV/aids (per<strong>da</strong> de 0,19 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) - tabela 27.Nessa região, os principais fatores redutores do tempo de vi<strong>da</strong> médio ao nascerdos homens pardos foram as causas externas, fator que encolhia em 1,79 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> aexpectativa de sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse grupo racial e de sexo. Em segundo e terceirolugares apareceram, respectivamente, as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,61a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as causas maldefini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 1,35 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas demorte relevantes foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,65 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);homicídios (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 0,58a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,54 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); HIV/aids(per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,45 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 27).Entre os homens negros <strong>no</strong>rtistas, a principal causa de morte, em termos <strong>da</strong> reduçãodo período médio de vi<strong>da</strong>, foram as causas externas, fator que trouxe a per<strong>da</strong>de 1,7 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desse grupo. As afecções do período perinatal, que encolheram otempo de sobrevi<strong>da</strong> em 1,48 a<strong>no</strong>; e as causas maldefini<strong>da</strong>s, que encolheram o tempo desobrevi<strong>da</strong> em 1,26 a<strong>no</strong>, apareceram, respectivamente, <strong>no</strong>s segundo e terceiro lugares.As demais causas de morte redutoras do tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> dos homens negros<strong>da</strong> região Norte foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);homicídios (per<strong>da</strong> de 0,57 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de0,57 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório e HIV/aids (per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>, ca<strong>da</strong> uma); e neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,42 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 27).Entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região Norte, a principal causa de morte, em termos<strong>da</strong> redução dos a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer, foram as afecções do período perinatal,fator que gerou a per<strong>da</strong> de 0,92 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dessas pessoas. As causas maldefini<strong>da</strong>s,que geraram a per<strong>da</strong> de 0,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, e as neoplasias, que ocasionaram a per<strong>da</strong>de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, apareceram, respectivamente, em segundo e terceiro lugares. Asdemais causas de morte que mais afetavam o tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascerdessas mulheres brancas foram: doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,47 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças doaparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,45 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 28).A principal causa de mortali<strong>da</strong>de entre as mulheres pretas <strong>da</strong> região Norte, emtermos dos impactos sobre o tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer, foram as doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias, tendo ocasionado a per<strong>da</strong> de 1,19 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas destegrupo racial e de sexo. Nos segundos e terceiros lugares apareceram, respectivamente,as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,1 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 0,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte que impactaram osa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres pretas com certa intensi<strong>da</strong>de foram: doenças endócrinas,nutricionais e metabólicas (per<strong>da</strong> de 0,39 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de0,38 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,22 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 28).160Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 28. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Norte do sexo femini<strong>no</strong>,segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,51 0,47 1,19 0,60 0,51Neoplasias 0,58 0,58 0,22 0,48 0,46Metabólica, endócrina e nutricional 0,26 0,20 0,39 0,23 0,22Circulatória 0,66 0,52 0,60 0,45 0,46Respiratória 0,41 0,45 0,26 0,44 0,38Digestiva 0,14 0,08 0,04 0,11 0,10Afeções do período perinatal 1,20 0,92 1,10 1,40 1,26Malformação congênita 0,24 0,37 0,18 0,24 0,22Mal defini<strong>da</strong> 1,07 0,61 0,38 0,99 0,90Causas externas (to<strong>da</strong>s) 0,48 0,34 0,08 0,52 0,44Homicídios 0,19 0,27 0,10 0,24 0,22Outras 0,15 0,04 0,02 0,06 0,06Armas de fogo 0,08 0,04 0,02 0,06 0,06Acidente de trânsito 0,06 0,01 0,00 0,02 0,02HIV/aids 0,12 0,14 0,02 0,17 0,14Tuberculose 0,02 0,01 0,00 0,02 0,01Total 5,57 4,55 4,46 5,49 4,96Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 5,57 0,6 7,49 6,44 6,64(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.No caso <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região Norte, a principal causa de morte que reduziuseu tempo médio de vi<strong>da</strong> foram as afecções do período perinatal, que ocasionaram aper<strong>da</strong> de 1,4 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desse grupo racial e de sexo. Em segundo lugar apareceram ascausas mal defini<strong>da</strong>s, vetor que produziu a per<strong>da</strong> de 0,99 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s<strong>no</strong>rtistas. As doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias geraram a per<strong>da</strong> de 0,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dessasmulheres. As demais causas de morte que impactaram o tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>smulheres par<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rtistas foram: causas externas (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias(per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 0,45 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);e doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,44 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 28).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de161


As mulheres <strong>negra</strong>s <strong>no</strong>rtistas apresentaram como principal causa de morte redutorado tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer as afecções do período perinatal, vetor quetrouxe a per<strong>da</strong> de 1,26 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> esse grupo de raça/cor e sexo. As causas maldefini<strong>da</strong>s, a esse respeito, apareceram em segundo lugar (per<strong>da</strong> de 0,90 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) eas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, em terceiro lugar (per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Asdemais causas de mortali<strong>da</strong>de que mais afetavam o tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s do Norte foram: neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,46 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 0,46 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,44 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);e doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,38 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 28).b) Região <strong>no</strong>rdesteEntre os brancos <strong>da</strong> região Nordeste, a principal causa de morte redutora do tempode vi<strong>da</strong> foram as causas externas, vetor que impactava o tempo médio de vi<strong>da</strong> desseshomens em 3,96 a<strong>no</strong>s. As doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 3,05 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>)e as neoplasias (per<strong>da</strong> de 2,15 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>) apareceram, respectivamente, <strong>no</strong>s segundoe terceiro lugares. As demais causas de morte mais importantes, em termos <strong>da</strong> reduçãodo tempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens brancos <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s foram: acidentes de trânsito(per<strong>da</strong> de 1,40 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causa mal defini<strong>da</strong> (per<strong>da</strong> de 1,31 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doençasdo aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 1,17 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 1,02 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,01 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>),homicídios (per<strong>da</strong> de 0,94 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,85a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,65 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 29).Tabela 29. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Nordeste do sexomasculi<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 1,20 1,02 1,45 0,80 1,06Neoplasias 1,36 2,15 0,85 0,50 0,59Metabólica, endócrina e nutricional 0,48 0,45 0,53 0,31 0,40Circulatória 2,36 3,05 1,69 1,02 1,13Respiratória 1,12 1,17 1,09 0,62 0,84Digestiva 0,75 0,85 0,54 0,37 0,41Afeções do período perinatal 1,37 1,01 1,37 1,25 1,51Malformação congênita 0,35 0,37 0,24 0,21 0,27Mal defini<strong>da</strong> 2,32 1,31 2,25 1,75 2,07Causas externas (to<strong>da</strong>s) 3,51 3,96 1,98 2,37 2,44162Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoCausa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroHomicídios 1,03 0,94 0,62 0,80 0,76Outras 0,69 0,68 0,57 0,42 0,51Armas de fogo 0,74 0,65 0,38 0,58 0,55Acidente de trânsito 0,99 1,40 0,45 0,59 0,61HIV/aids 0,21 0,34 0,26 0,06 0,09Tuberculose 0,11 0,09 0,12 0,06 0,07Total 14,92 15,43 12,11 9,28 10,79Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 14,92 10,92 13,50 11,07 12,48(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.No contingente dos homens pretos <strong>da</strong> região Nordeste, o principal fator redutordo tempo médio de vi<strong>da</strong> foram as causas mal defini<strong>da</strong>s, que trouxeram a per<strong>da</strong> de2,25 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> dessas pessoas. Em segundo e terceiro lugares, respectivamente,apareceram as causas externas (per<strong>da</strong> de 1,98 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 1,69 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte mais importantesentre os homens pretos foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 1,45a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,37 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças doaparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 1,09 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,85 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças metabólicas, endócrinas enutricionais (per<strong>da</strong> de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e os acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,45 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>) (tabela 29).Entre os homens pardos, o principal vetor de redução do tempo médio de vi<strong>da</strong>foram as causas externas, que resultaram na per<strong>da</strong> de 2,37 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as pessoasdesse grupo. Nos segundo e terceiro lugares apareceram, respectivamente, as causasmal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 1,75 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de1,25 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>de, em termos <strong>da</strong> redução do tempomédio de sobrevi<strong>da</strong> dos homens pardos, foram: doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong>de 1,02 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,80 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);homicídios (per<strong>da</strong> de 0,80 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); além <strong>da</strong>s neoplasias(per<strong>da</strong> de 0,5 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 29).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de163


Entre os homens negros <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>s, a morte por causas externas foi o que maisreduziu o tempo de sobrevi<strong>da</strong> (em 2,44 a<strong>no</strong>s) <strong>da</strong>s pessoas desse grupo de raça/cor e sexo.Em segundo e terceiro lugares vieram, respectivamente, as causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong>de 2,07 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>).As demais causas de mortali<strong>da</strong>de, em termos dos impactos sobre os a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong>ao nascer dos homens negros, foram: doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 1,13a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 1,06 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doençasdo aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,84 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,76 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); e homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 29).Entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região Nordeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de,em termos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as doenças do aparelho circulatório, fatorresponsável pela per<strong>da</strong> de 2,48 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> dessas mulheres. As neoplasias (per<strong>da</strong> de2,16 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,96 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>), foram, respectivamente,as segun<strong>da</strong> e terceira causas de mortali<strong>da</strong>de com maior impacto sobreos a<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres desse grupo racial. As demais causas de mortali<strong>da</strong>demais importantes <strong>da</strong>s <strong>no</strong>rdestinas brancas foram: causas externas (per<strong>da</strong> de 0,85a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,83 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecçõesdo período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,71 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais (per<strong>da</strong>de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Chamou-<strong>no</strong>s a atenção a significativa incidência de acidentesde trânsito, a mais alta em relação às mulheres de outras regiões, com per<strong>da</strong> de 0,36a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. A saber, foram: mulheres brancas do Sul, com per<strong>da</strong> de 0,24 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>;par<strong>da</strong>s do Centro-Oeste, 0,24 a<strong>no</strong>; brancas e <strong>negra</strong>s <strong>da</strong> região Centro-Oeste, 0,22 a<strong>no</strong>;<strong>negra</strong>s do Nordeste, 0,21 a<strong>no</strong>; e brancas do Sudeste, 0,2 a<strong>no</strong> (tabela 30).Tabela 30. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Nordeste do sexofemini<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,93 0,55 1,08 0,64 0,87Neoplasias 1,44 2,16 0,92 0,53 0,62Metabólica, endócrina e nutricional 0,56 0,52 0,48 0,32 0,40Circulatória 1,99 2,48 1,60 0,80 0,91Respiratória 1,01 0,83 1,06 0,56 0,81Digestiva 0,33 0,36 0,23 0,15 0,18Afeções do período perinatal 1,22 0,71 0,88 1,06 1,27Malformação congênita 0,37 0,26 0,31 0,22 0,29Mal defini<strong>da</strong> 1,95 0,96 1,65 1,39 1,69164Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoCausa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroCausas externas (to<strong>da</strong>s) 0,91 0,85 0,74 0,52 0,68Homicídios 0,12 0,13 0,14 0,08 0,10Outras 0,63 0,55 0,64 0,33 0,45Armas de fogo 0,06 0,07 0,03 0,05 0,05Acidente de trânsito 0,33 0,36 0,13 0,17 0,21HIV/aids 0,10 0,14 0,16 0,03 0,05Tuberculose 0,06 0,04 0,06 0,04 0,05Total 10,78 9,71 9,02 6,23 7,76Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 10,78 5,48 9,99 8,36 9,66(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.O principal fator de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas <strong>da</strong> região Nordeste, emtermos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as causas mal defini<strong>da</strong>s, com 1,65 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong> perdido dessas pessoas. Em segundo e terceiro lugares, em termos dos impactossobre os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> esperados ao nascer, ficaram, respectivamente, as doenças doaparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 1,60 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 1,08 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>des que mais afetaramo tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer dessas mulheres foram: doenças do aparelhorespiratório (per<strong>da</strong> de 1,06 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,92 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecçõesdo período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,88 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,74a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças metabólicas, endócrinas e nutricionais (per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>) (tabela 30).Entre as mulheres par<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rdestinas, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de, em termosdos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as causas mal defini<strong>da</strong>s, tipo de registro de óbito quereduzia em 1,39 a<strong>no</strong> o tempo médio de vi<strong>da</strong> dessas mulheres. Em segundo e terceirolugares, em termos dos impactos sobre o tempo de vi<strong>da</strong> médio <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s<strong>no</strong>rdestinas, apareceram, respectivamente, as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de1,06 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 0,8 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Asdemais causas de mortali<strong>da</strong>de que mais impactaram os a<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulherespar<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rdestinas foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,64 a<strong>no</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de165


de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,56 de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong>de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e causas externas (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 30).Os impactos sobre o tempo de vi<strong>da</strong> esperado ao nascer <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s <strong>da</strong>região Nordeste decorreram, principalmente, <strong>da</strong>s causas mal defini<strong>da</strong>s, que reduziramsuas vi<strong>da</strong>s em 1,69 a<strong>no</strong>s. Em segundo e terceiro lugares, em termos de impacto sobreo tempo médio de vi<strong>da</strong> dessas mulheres, apareceram, respectivamente, as afecções doperíodo perinatal (per<strong>da</strong> de 1,27 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong>de 0,91 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte redutoras do tempo médio de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>smulheres <strong>negra</strong>s <strong>no</strong>rdestinas foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,87a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,81 de vi<strong>da</strong>); causas externas(per<strong>da</strong> de 0,68 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). A per<strong>da</strong> relativacom acidentes de trânsito foi de 0,21 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s (tabela 30).c) Região sudesteEntre os homens brancos <strong>da</strong> região Sudeste, a causa de morte mais relevante, emtermos <strong>da</strong> redução dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, foi representa<strong>da</strong> pela causas externas, vetor quereduzia a expectativa de sobrevi<strong>da</strong> desses homens em 2,75 a<strong>no</strong>s. Em segundo e terceirolugares, respectivamente, apareceram as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de2,22 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>) e as neoplasias (per<strong>da</strong> de 1,28 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas demortali<strong>da</strong>de que impactaram de forma mais significativa o tempo de sobrevi<strong>da</strong> dessaspessoas foram: homicídios (per<strong>da</strong> de 1,16 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal(per<strong>da</strong> de 0,78 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,76 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,76 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios por armas de fogo(per<strong>da</strong> de 0,72 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,67 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,65 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças do aparelho digestivo(per<strong>da</strong> de 0,63 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 31).Tabela 31. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Sudeste do sexomasculi<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,78 0,67 1,09 0,74 0,82Neoplasias 1,19 1,28 0,99 0,81 0,86Metabólica, endócrina e nutricional 0,34 0,31 0,42 0,28 0,32Circulatória 2,35 2,22 2,58 1,81 2,01Respiratória 0,84 0,76 1,02 0,81 0,85Digestiva 0,64 0,63 0,55 0,49 0,51Afeções do período perinatal 1,08 0,78 1,10 1,16 1,14166Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroMalformação congênita 0,26 0,24 0,24 0,25 0,25Mal defini<strong>da</strong> 1,04 0,76 1,39 0,96 1,06Causas externas (to<strong>da</strong>s) 3,14 2,75 3,57 3,41 3,44Homicídios 1,47 1,16 1,94 1,80 1,83Outras 0,49 0,44 0,65 0,42 0,47Armas de fogo 0,94 0,72 1,32 1,15 1,19Acidente de trânsito 0,63 0,65 0,49 0,53 0,52HIV/aids 0,30 0,28 0,34 0,22 0,24Tuberculose 0,11 0,08 0,22 0,11 0,14Total 11,78 10,47 13,16 10,85 11,39Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 11,78 7,02 16,87 13,36 14,17continuação(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.Quanto aos homens pretos <strong>da</strong> região Sudeste, a causa de morte mais relevante,em termos <strong>da</strong> per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, foram as causas externas, vetor que acarretouredução de 3,57 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre os componentes desse grupo de raça/cor e sexo.Em segundo e terceiro lugares apareceram, respectivamente, as doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 2,58 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>) e os homicídios (per<strong>da</strong> de 1,94 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>).As demais causas de mortali<strong>da</strong>de que se apresentaram mais significativas entre esseshomens foram: causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 1,39 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios por armasde fogo (per<strong>da</strong> de 1,32 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,10a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 1,09 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doençasdo aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 1,02 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,99 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e acidentes detrânsito (per<strong>da</strong> de 0,49 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Vale salientar que as per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> porHIV/aids, entre os homens pretos do Sudeste, eram o dobro dos valores apresentadospelos homens pardos e 175% superior, em termos de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, ao encontradoentre os homens brancos dessa mesma região (tabela 31).Foram as causas externas o tipo de mortali<strong>da</strong>de que mais atingiu os homens pardos<strong>da</strong> região Sudeste em termos <strong>da</strong> redução de seu tempo de vi<strong>da</strong> esperado, resultando naper<strong>da</strong> de 3,41 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as pessoas desse contingente. As doenças do aparelhocirculatório ocasionaram a per<strong>da</strong> de 1,81 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> e os homicídios reduziram emSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de167


1,8 a<strong>no</strong> o tempo médio de vi<strong>da</strong> desses homens. Demais causas de morte que se destacaramforam: afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> <strong>da</strong> 1,16 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídiospor armas de fogo (per<strong>da</strong> de 1,15 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,96a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,81 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias(per<strong>da</strong> de 0,81 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,74 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); e acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 31).A respeito dos homens negros <strong>da</strong> região Sudeste, a causa de mortali<strong>da</strong>de que maisimpactava o seu tempo de sobrevi<strong>da</strong> foram as causas externas, vetor responsável pelaper<strong>da</strong> de 3,44 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> desse grupo. A segun<strong>da</strong> e a terceira causas de mortali<strong>da</strong>demais importantes foram as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 2,01 a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong>) e os homicídios (per<strong>da</strong> de 1,83 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte proporcionalmenterelevantes foram: homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 1,19 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,14 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s(per<strong>da</strong> de 1,06 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,86 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelhorespiratório (per<strong>da</strong> de 0,85 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong>de 0,82 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças doaparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 31).Entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região Sudeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de,em termos dos impactos <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as doenças do aparelhocirculatório, fator que acarretou a per<strong>da</strong> de 1,5 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as pessoas dessegrupo. Em segundo e terceiro lugares, respectivamente, encontravam-se as neoplasias(per<strong>da</strong> de 1,24 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,92 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte relevantes entre as mulheres brancas do Sudesteforam: doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas(0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,47 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,44 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças endócrinas, nutricionais emetabólicas (per<strong>da</strong> de 0,33 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 32). Os acidentes de trânsito geraramper<strong>da</strong> de 0,2 a<strong>no</strong>.Tabela 32. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Sudeste do sexofemini<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,52 0,44 0,77 0,51 0,56Neoplasias 1,20 1,24 1,05 0,83 0,88Metabólica, endócrina e nutricional 0,39 0,33 0,59 0,35 0,40Circulatória 1,76 1,50 2,37 1,49 1,70Respiratória 0,65 0,60 0,79 0,60 0,64Digestiva 0,26 0,23 0,30 0,21 0,23168Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoCausa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroAfeções do período perinatal 0,94 0,92 1,04 1,01 1,01Malformação congênita 0,28 0,34 0,25 0,25 0,25Mal defini<strong>da</strong> 0,69 0,47 1,07 0,66 0,75Causas externas (to<strong>da</strong>s) 0,60 0,58 0,54 0,59 0,58Homicídios 0,14 0,12 0,15 0,16 0,16Outras 0,42 0,38 0,54 0,34 0,38Armas de fogo 0,07 0,06 0,08 0,08 0,08Acidente de trânsito 0,19 0,20 0,11 0,15 0,14HIV/aids 0,15 0,12 0,23 0,12 0,15Tuberculose 0,04 0,03 0,10 0,05 0,06Total 7,33 6,68 8,86 6,53 7,06Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 7,33 3,18 12,32 8,97 9,71(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.Entre as mulheres pretas <strong>da</strong> região Sudeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de, emtermos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as doenças do aparelho circulatório, vetorque trouxe a per<strong>da</strong> de 2,37 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse grupo. Em segundo e terceirolugares ficaram, respectivamente, as causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 1,07 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>) e as neoplasias (per<strong>da</strong> de 1,05 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>desque mais afetaram o tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres pretas dessaregião foram: afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 1,04 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças doaparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,79 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 0,77 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (per<strong>da</strong>de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,54 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Vale frisar que, naregião Sudeste, por causa do HIV/aids, as mulheres pretas perdiam o dobro dos a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> em relação às mulheres par<strong>da</strong>s e 233% a mais em relação às mulheres brancas(tabela 32).Em primeiro lugar foram as doenças do aparelho circulatório que mais acarretarama per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região Sudeste: 1,49 a<strong>no</strong>. Em segundoapareceram as afecções do período perinatal, as quais produziram a per<strong>da</strong> de 1,01 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong> dessas mulheres. Em terceiro lugar encontravam-se as neoplasias, responsáveispor 0,83 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> perdido. As demais causas de morte que impactaram o tempoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de169


médio de sobrevi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s dessa região foram: causas mal defini<strong>da</strong>s(per<strong>da</strong> de 0,66 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,6 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (per<strong>da</strong>de 0,35 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 32).As mulheres <strong>negra</strong>s do Sudeste apresentaram como principal causa de morte,redutora do tempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer, as doenças do aparelho circulatório,vetor que trouxe a per<strong>da</strong> de 1,7 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> esse grupo de raça/cor e sexo. Asafecções do período perinatal apareceram em segundo lugar (per<strong>da</strong> de 1,01 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>) e neoplasias em terceiro lugar (per<strong>da</strong> de 0,88 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas demortali<strong>da</strong>de que mais afetavam o tempo médio de vi<strong>da</strong> dessas mulheres foram: causasmal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,75 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong>0,64 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,56 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas(per<strong>da</strong> de 0,40 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Na média <strong>da</strong>s pretas e par<strong>da</strong>s, a per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> em decorrência do HIV/aids foi de 0,06 a<strong>no</strong> (tabela 32).d) Região sulNa região Sul, entre os homens brancos, o principal fator de per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> foram as causas externas, o qual abreviou o tempo de vi<strong>da</strong> dessas pessoas em 2,51a<strong>no</strong>s. Ficaram em segundo e terceiro lugares, respectivamente, as doenças do aparelhocirculatório (per<strong>da</strong> de 2,24 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>) e as neoplasias (per<strong>da</strong> de 1,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Asdemais causas de mortali<strong>da</strong>de importantes nesse sentido foram: acidentes de trânsito (0,91a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,87 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções doperíodo perinatal (per<strong>da</strong> de 0,72 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong>de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,57 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios(per<strong>da</strong> de 0,57 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); ehomicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,39 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 33).Tabela 33. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Sul do sexo masculi<strong>no</strong>,segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,63 0,59 1,11 0,62 0,77Neoplasias 1,54 1,61 1,38 0,55 0,82Metabólica, endócrina e nutricional 0,29 0,28 0,35 0,23 0,27Circulatória 2,30 2,24 2,68 1,34 1,77Respiratória 0,88 0,87 1,18 0,68 0,84170Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoCausa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroDigestiva 0,59 0,57 0,72 0,35 0,47Afeções do período perinatal 0,78 0,72 0,99 0,96 0,98Malformação congênita 0,28 0,28 0,20 0,22 0,22Mal defini<strong>da</strong> 0,61 0,51 0,61 0,59 0,59Causas externas (to<strong>da</strong>s) 2,49 2,51 2,57 1,88 2,08Homicídios 0,62 0,57 0,87 0,64 0,70Outras 0,43 0,41 0,56 0,35 0,41Armas de fogo 0,42 0,39 0,65 0,41 0,47Acidente de trânsito 0,87 0,91 0,58 0,48 0,51HIV/aids 0,26 0,24 0,53 0,13 0,25Tuberculose 0,06 0,06 0,16 0,07 0,10Total 10,47 10,22 11,97 7,51 8,90Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 10,47 7,53 15,35 10,02 11,58(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.Para os homens pretos <strong>da</strong> região Sul, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foramas doenças do aparelho circulatório, fator responsável pela per<strong>da</strong> de 2,68 a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> entre as pessoas desse grupo. Em segundo e terceiro lugares, enquanto causas demorte mais impactantes sobre os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos homens negros sulistas,encontravam-se, respectivamente, as causas externas (per<strong>da</strong> de 2,57 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>) e asneoplasias (per<strong>da</strong> de 1,38 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte relevantes foram:doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 1,18 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 1,11 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,99a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,87 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho digestivo(per<strong>da</strong> de 0,72 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,65 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);causas mal defini<strong>da</strong>s (0,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); e <strong>no</strong>vamente impactando de modo mais que proporcional os homens pretos oHIV/aids (per<strong>da</strong> de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 33).Entre os homens pardos <strong>da</strong> região Sul, a causa de mortali<strong>da</strong>de que mais impactouseus a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> foram as causas externas, tendo este fator gerado a redução dotempo de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer dessas pessoas em 1,88 a<strong>no</strong>. Em segundo e terceiroSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de171


lugares encontraram-se as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 1,34 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>) e as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,96 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causasde mortali<strong>da</strong>de que se destacaram foram: doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong>de 0,68 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,64 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); e homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,41 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 33).Quanto aos homens negros dessa região, seus a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos deveram-se,principalmente, a causas externas de morte, que corresponderam à redução de 2,08a<strong>no</strong>s. Em segundo lugar sobressaíram as doenças do aparelho circulatório, vetor queacarretou a per<strong>da</strong> de 1,77 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desse grupo. Em terceiro vieram as afecções doperíodo perinatal, com per<strong>da</strong> de 0,98 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre os negros sulistas. As demaiscausas de mortali<strong>da</strong>de mais importantes entre os negros sulistas foram: doenças doaparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,84 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,82 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,77 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong>de 0,7 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas maldefini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes detrânsito (per<strong>da</strong> de 0,51 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,47a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 33).Entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região Sul, a principal causa de morte, em termos <strong>da</strong>redução dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, foram as doenças do aparelho circulatório, tendo sido estefator o responsável pela per<strong>da</strong> de 1,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas deste grupo racial e desexo. Em segundo e terceiro lugares, em termos dos impactos sobre o tempo médio desobrevi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong>s mulheres brancas sulistas, encontravam-se, respectivamente,as neoplasias (per<strong>da</strong> de 1,37 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de0,75 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte mais relevantes, em termos <strong>da</strong>s per<strong>da</strong>sde a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, entre as mulheres brancas <strong>da</strong> região Sul foram: doenças do aparelhorespiratório (per<strong>da</strong> de 0,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,34 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s(per<strong>da</strong> de 0,33 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças endócrinas, metabólicas e nutricionais (per<strong>da</strong> de0,32 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); malformação congênita (per<strong>da</strong> de 0,31 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Nessa regiãotambém <strong>no</strong>s chamou a atenção a incidência de acidentes de trânsito, com per<strong>da</strong> de0,24 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dessas mulheres (tabela 34).172Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 34. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região sul do sexo femini<strong>no</strong>,segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,38 0,34 0,68 0,39 0,47Neoplasias 1,29 1,37 1,23 0,54 0,76Metabólica, endócrina e nutricional 0,32 0,32 0,46 0,24 0,31Circulatória 1,63 1,59 2,64 1,14 1,61Respiratória 0,63 0,61 0,96 0,56 0,68Digestiva 0,24 0,23 0,36 0,16 0,22Afeções do período perinatal 0,80 0,75 0,91 0,90 0,91Malformação congênita 0,32 0,31 0,26 0,31 0,29Mal defini<strong>da</strong> 0,39 0,33 0,36 0,27 0,30Causas externas (to<strong>da</strong>s) 0,59 0,58 0,55 0,46 0,49Homicídios 0,08 0,08 0,12 0,06 0,09Outras 0,37 0,35 0,53 0,28 0,36Armas de fogo 0,04 0,04 0,03 0,03 0,03Acidente de trânsito 0,24 0,24 0,14 0,12 0,12HIV/aids 0,12 0,10 0,33 0,10 0,16Tuberculose 0,02 0,02 0,07 0,02 0,03Total 6,61 6,46 8,49 4,99 6,06Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 6,61 3,79 11,93 7,81 8,99(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**)Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.As mulheres pretas <strong>da</strong> região Sul tiveram seus a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos em decorrência<strong>da</strong> morte por doenças do aparelho circulatório principalmente, fator que acarretouredução de 2,64 a<strong>no</strong>s do tempo de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer desse grupo. Em segundoe terceiro lugares vimos as neoplasias (per<strong>da</strong> de 1,23 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças doaparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,96 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>deque mais estragos acarretaram sobre as expectativas de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> ao nascer dessasmulheres foram: afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,91 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,68 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas externas (per<strong>da</strong> de 0,55a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (per<strong>da</strong> de 0,46 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,36 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e causas mal defini<strong>da</strong>sSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de173


(per<strong>da</strong> de 0,36 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As mortes por HIV/aids provocaram uma per<strong>da</strong> de 0,33a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre as mulheres pretas <strong>da</strong> região Sul; indicador que representava maisdo que o triplo do mesmo índice encontrado entre as mulheres par<strong>da</strong>s e as mulheresbrancas <strong>da</strong> mesma região (tabela 34).As mulheres par<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região Sul apresentaram como principal causa de morte,em termos <strong>da</strong> redução do tempo de sobrevi<strong>da</strong>, as doenças do aparelho circulatório,fator responsável pela per<strong>da</strong> de 1,14 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse contingente. Emsegundo e terceiro lugares, respectivamente, apareceram as afecções do período perinatal(per<strong>da</strong> de 0,9 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,56a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>de que mais impactaram as expectativas devi<strong>da</strong> ao nascer dessas mulheres foram: neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,54 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causasexternas (per<strong>da</strong> de 0,46 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,39a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e malformações congênitas (per<strong>da</strong> de 0,31 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 34).Entre as mulheres <strong>negra</strong>s <strong>da</strong> região Sul, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de foramas doenças do aparelho circulatório, responsável pela per<strong>da</strong> de 1,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. Emsegundo e terceiro lugares apareceram as afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,91a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,76 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortemais relevantes foram: doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,68 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);causas externas (per<strong>da</strong> de 0,49 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong>de 0,47 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas (per<strong>da</strong> de 0,31a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,30 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e malformações congênitas(per<strong>da</strong> de 0,29 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Entre essas mulheres, as per<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>por HIV/aids foram de 0,16 a<strong>no</strong> (tabela 34).e) Região Centro-OesteNa região Centro-Oeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de redutora <strong>da</strong>s esperançasde vi<strong>da</strong> dos homens brancos foram as causas externas, vetor que retirava 1,96 a<strong>no</strong> detempo médio de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer desse contingente. Em segundo lugar apareciamas doenças do aparelho circulatório, com per<strong>da</strong> de 1,5 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desses homens.Em terceiro lugar vieram as afecções do período perinatal, responsáveis pela per<strong>da</strong> de0,81 a<strong>no</strong>. As demais causas redutoras do tempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens brancos<strong>da</strong> região Centro-Oeste foram: neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,85 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes detrânsito (per<strong>da</strong> de 0,71 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,58 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,53 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídiospor armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,4 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 35).174Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 35. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Centro-Oeste do sexomasculi<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,82 0,58 0,92 0,71 0,73Neoplasias 0,98 0,85 0,82 0,68 0,70Metabólica, endócrina e nutricional 0,32 0,25 0,30 0,26 0,26Circulatória 2,08 1,50 1,82 1,56 1,60Respiratória 0,67 0,53 0,43 0,59 0,59Digestiva 0,50 0,39 0,37 0,41 0,41Afeções do período perinatal 0,91 0,81 0,70 1,04 0,99Malformação congênita 0,29 0,33 0,29 0,28 0,28Mal defini<strong>da</strong> 0,92 0,55 1,13 0,71 0,74Causas externas (to<strong>da</strong>s) 3,10 1,96 2,12 2,89 2,84Homicídios 1,07 0,58 0,87 1,13 1,10Outras 0,54 0,41 0,57 0,50 0,51Armas de fogo 0,72 0,40 0,56 0,78 0,75Acidente de trânsito 0,93 0,71 0,48 0,80 0,77HIV/aids 0,15 0,11 0,12 0,12 0,12Tuberculose 0,05 0,03 0,05 0,05 0,05Total 10,64 7,77 8,96 9,19 9,18Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 10,64 4,29 11,58 12,10 12,01(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.No contingente dos homens pretos <strong>da</strong> região Centro-Oeste, o principal fatorredutor de seu tempo médio de vi<strong>da</strong> foram as causas externas, que trouxeram per<strong>da</strong>de 2,12 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> dessas pessoas. Em segundo e terceiro lugares, respectivamente,apareceram as doenças do aparelho circulatório (per<strong>da</strong> de 1,82 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as causasmal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 1,13 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte mais importantesentre os homens pretos dessa região foram: doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de0,92 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios (per<strong>da</strong> de 0,87 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,82a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,70 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídiospor armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,56 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); e doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,43 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 35).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de175


No caso dos homens pardos <strong>da</strong> região Centro-Oeste, a causa de mortali<strong>da</strong>de maisimportante, em termos <strong>da</strong> redução do tempo de vi<strong>da</strong> espera<strong>da</strong>, foram as causas externas,responsáveis pela per<strong>da</strong> de 2,89 a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> entre as pessoas deste contingente de raça/core sexo. As doenças do aparelho circulatório ocasionaram a per<strong>da</strong> de 1,56 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> eos homicídios reduziram em 1,13 a<strong>no</strong> o tempo médio de vi<strong>da</strong> dos homens pardos destaregião. As demais causas de morte que apareceram com maior destaque, em termos <strong>da</strong>sper<strong>da</strong>s de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, dos homens pardos <strong>da</strong> região Centro-Oeste foram: afecções doperíodo perinatal (per<strong>da</strong> de 1,04 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentes de trânsito (per<strong>da</strong> de 0,80 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,78 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,71 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,71 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,68 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,59a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,41 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 35).Entre os homens negros <strong>da</strong> região Centro-Oeste, a principal causa de morte, emtermos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as causas externas, as quais reduziram em 2,84a<strong>no</strong>s o tempo de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer desses homens. Em segundo lugar, destacaram-seas doenças do aparelho circulatório, vetor que acarretou a per<strong>da</strong> de 1,6 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>desse grupo. Em terceiro, os homicídios, causa de mortali<strong>da</strong>de que produziu a per<strong>da</strong> de1,10 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> entre os homens negros <strong>da</strong> região. As demais causas de mortali<strong>da</strong>demais importantes entre os negros <strong>da</strong> região central do país, em termos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>perdidos, foram: afecções do período perinatal (per<strong>da</strong> de 0,99 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); acidentesde trânsito (per<strong>da</strong> de 0,77 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); homicídios por armas de fogo (per<strong>da</strong> de 0,75a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,73 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); neoplasias(per<strong>da</strong> de 0,70 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); e doenças do aparelho digestivo (per<strong>da</strong> de 0,41 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 35).A principal causa de morte de mulheres brancas <strong>da</strong> região Centro-Oeste, emtermos <strong>da</strong> redução dos a<strong>no</strong>s de sobrevi<strong>da</strong> ao nascer, foram as doenças do aparelhocirculatório, que geraram per<strong>da</strong> de 1,07 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> desse grupo racial e de sexo. Asneoplasias, que ocasionaram a per<strong>da</strong> de 0,90 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, e as afecções do períodoperinatal, com per<strong>da</strong> de 0,75 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, apareceram, respectivamente, em segundoe terceiro lugares. As demais causas de morte que mais afetavam o tempo médio desobrevi<strong>da</strong> ao nascer dessas mulheres foram: causas externas (per<strong>da</strong> de 0,56 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong> de 0,43 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,41 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); malformações congênitas (per<strong>da</strong> de 0,33 a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>); e causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,33 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). Novamente aqui cabe aobservação sobre a per<strong>da</strong> com acidentes de trânsito: 0,22 a<strong>no</strong> (tabela 36).176Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 36. A<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos <strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Centro-Oeste do sexofemini<strong>no</strong>, segundo grupos de raça/cor; 1998-2000Causa de mortali<strong>da</strong>de Total Branco Preto Pardo NegroInfecciosas e <strong>para</strong>sitárias 0,54 0,41 0,61 0,54 0,55Neoplasias 1,09 0,90 0,84 0,77 0,78Metabólica, endócrina e nutricional 0,37 0,29 0,48 0,30 0,31Circulatória 1,65 1,07 1,45 1,32 1,33Respiratória 0,55 0,43 0,41 0,52 0,52Digestiva 0,24 0,17 0,22 0,21 0,21Afeções do período perinatal 0,92 0,75 0,62 0,74 0,73Malformação congênita 0,32 0,33 0,31 0,33 0,33Mal defini<strong>da</strong> 0,57 0,33 0,59 0,47 0,49Causas externas (to<strong>da</strong>s) 0,70 0,56 0,65 0,68 0,67Homicídios 0,13 0,09 0,08 0,12 0,12Outras 0,43 0,34 0,29 0,42 0,41Armas de fogo 0,07 0,06 0,00 0,06 0,05Acidente de trânsito 0,27 0,22 0,05 0,24 0,22HIV/aids 0,07 0,05 0,09 0,06 0,06Tuberculose 0,02 0,01 0,00 0,03 0,02Total 6,98 5,24 6,18 5,91 5,94Total ajustado às desigual<strong>da</strong>des raciais 6,98 1,81 8,94 8,10 8,41(*) Segundo grupos do Código Internacional de Doenças (CID).(**) Outras = transtor<strong>no</strong>s mentais e comportamentais; doenças do sistema nervoso; doenças dos olhos e anexos;doenças do ouvido e <strong>da</strong> apófise mastóide; doenças <strong>da</strong> pele e do tecido subcutâneo, doenças do sistema osteomusculare tecido conjuntivo e doenças do aparelho geniturinário.(**) Negros = somatório de pretos e pardos.(***) Fonte: Micro<strong>da</strong>dos do registro do SIM/Datasus; 1998-2000.Entre as mulheres pretas <strong>da</strong> região Centro-Oeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>de,em termos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos, foram as doenças do aparelho circulatório, quereduziram 1,45 a<strong>no</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> dessas. Em segundo e terceiro lugares ficaram, respectivamente,as neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,84 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as causas externas (per<strong>da</strong> de 0,65a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de mortali<strong>da</strong>de foram: afecções do período perinatal(per<strong>da</strong> de 0,62 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> 0,61 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>);causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,59 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças endócrinas, nutricionais emetabólicas (per<strong>da</strong> de 0,48 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e as doenças do aparelho respiratório (per<strong>da</strong>de 0,41 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) (tabela 36).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de177


As mulheres par<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região Centro-Oeste tiveram como principal causa de morteas doenças do aparelho circulatório, vetor que acarretou a per<strong>da</strong> de 1,32 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>desse grupo. Em segundo lugar apareceram as neoplasias, causa de morte que reduziuem 0,77 a<strong>no</strong> a vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s <strong>da</strong> região. Em terceiro lugar encontravam-seas afecções do período perinatal, responsáveis pela per<strong>da</strong> de 0,74 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong> dessecontingente. As demais causas de morte que impactaram significativamente o tempomédio de sobrevi<strong>da</strong> dessas mulheres foram: causas externas (per<strong>da</strong> de 0,68 a<strong>no</strong> devi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (per<strong>da</strong> de 0,54 de vi<strong>da</strong>); doenças do aparelhorespiratório (per<strong>da</strong> 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e causas mal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> 0,47 de vi<strong>da</strong>). Aper<strong>da</strong> com acidentes de trânsito: 0,24 a<strong>no</strong> (tabela 36).Entre as mulheres <strong>negra</strong>s <strong>da</strong> região Centro-Oeste, a principal causa de mortali<strong>da</strong>deque mais teve impacto sobre os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas desse grupo foram as doençasdo aparelho circulatório, responsável pela per<strong>da</strong> de 1,33 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. Em segundo eterceiro lugares, enquanto fatores redutores de a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s dessaregião, apareceram as neoplasias (per<strong>da</strong> de 0,78 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>) e as afecções do períodoperinatal (per<strong>da</strong> de 0,73 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). As demais causas de morte mais relevantesforam: causas externas (per<strong>da</strong> de 0,67 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias(per<strong>da</strong> de 0,55 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); doenças respiratórias (per<strong>da</strong> de 0,52 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); causasmal defini<strong>da</strong>s (per<strong>da</strong> de 0,49 a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>); e malformações congênitas (per<strong>da</strong> de 0,33a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>). A per<strong>da</strong> com acidentes de trânsito: 0,22 a<strong>no</strong> (tabela 36).5.6.4. Média etária de falecimento segundo os grupos de raça/cor e sexoA compreensão dos resultados encontrados em termos dos números de a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> perdidos desagregados pelos grupos de raça/cor e sexo obedece a duas ordens defatores. A primeira diz respeito às razões de mortali<strong>da</strong>de desses respectivos contingentes.Conforme verificado, nas bases de <strong>da</strong>dos do SIM, a razão de mortali<strong>da</strong>de dos brancosaparece superior à mesma razão encontra<strong>da</strong> entre os pretos e pardos. Em <strong>no</strong>sso estudolevantamos a hipótese de que, vis-à-vis à reali<strong>da</strong>de vigente, pudesse estar ocorrendo umcerto viés branqueador nas bases do SIM, e que, <strong>para</strong> corrigir em parte esse problema,nós realizamos sua correção parcial mediante o uso de estimativas indiretas. De todomodo, vale salientar que essa correção foi somente parcial, tendo sido aplica<strong>da</strong> apenas<strong>para</strong> as faixas etárias abaixo de cinco a<strong>no</strong>s. Por esse motivo, as razões de mortali<strong>da</strong>dede brancos e negros conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> presente estudo, mesmo com as correções realiza<strong>da</strong>s,ain<strong>da</strong> são superiores <strong>para</strong> o primeiro contingente. Provavelmente por isso que, emgrande medi<strong>da</strong>, o somatório dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos dos brancos, sem os ajustes àsdesigual<strong>da</strong>des raciais, apresentaram-se superiores aos dos negros.Alternativamente, os diferenciais <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos entre os grupos deraça/cor e sexo, além <strong>da</strong>s razões de mortali<strong>da</strong>de, devem ser fun<strong>da</strong>mentalmente com-178Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


preendidos à luz <strong>da</strong> precoci<strong>da</strong>de pela qual os eventos fatais incidem sobre os diferentesgrupos. É por esse motivo que as causas externas, apesar de não serem a principalcausa de mortali<strong>da</strong>de de brasileiros do sexo masculi<strong>no</strong>, retiram mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> doshomens do que as doenças do aparelho circulatório, constata<strong>da</strong>mente o vetor que maismata brasileiros e brasileiras. Isso ocorre porque, ao contrário <strong>da</strong>s doenças do aparelhocirculatório, que afetam proporcionalmente pessoas mais velhas, os óbitos não naturaisatualmente, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, impactam especialmente as pessoas mais jovens. Ao abreviar otempo de vi<strong>da</strong> dessas pessoas, esse fator de mortali<strong>da</strong>de (causas externas) retira maisa<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> do que doenças que atingem pessoas de maior i<strong>da</strong>de (Simões, 2002).Desse modo, como último argumento quanto ao debate dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosdos grupos de raça/cor, podemos ver que os negros e <strong>negra</strong>s, em média, tendema morrer mais cedo do que as pessoas brancas. Assim, <strong>no</strong> gráfico 22, podemos verque, <strong>no</strong> interior do SIM, <strong>no</strong> triênio 1998-2000, a média de falecimento dos brancosdo sexo masculi<strong>no</strong> era de 56,61 a<strong>no</strong>s e <strong>da</strong>s brancas do sexo femini<strong>no</strong> de 63,81 a<strong>no</strong>s(média de ambos os sexos, 59,69 a<strong>no</strong>s). Esse indicador somente era inferior às médiasde falecimentos dos amarelos, ficando invariavelmente superior às médias etárias defalecimentos dos pretos, dos pardos e dos negros em seu conjunto.Gráfico 22.Média etária dos óbitos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> segundo osgrupos de raça/cor e sexo, 1998-2000Destarte, além <strong>da</strong>s razões de mortali<strong>da</strong>de, a maior precoci<strong>da</strong>de relativa do falecimentodos negros (e indígenas), em relação aos brancos e amarelos, bem como as respectivascausas de óbitos que levam a essa precoci<strong>da</strong>de, devem ser leva<strong>da</strong>s em consideração quandoanalisamos os diferenciais raciais e de sexo em termos dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de179


4.10. Conclusão e recomen<strong>da</strong>çõesA conclusão deste trabalho debaterá sobre duas ordens de questões. A primeiradelas diz respeito aos limites encontrados na sua realização, tendo em vista os óbicesapresentados pelas falhas <strong>no</strong> SIM, do Ministério <strong>da</strong> Saúde. A segun<strong>da</strong> ordem de questãoaponta <strong>para</strong> uma reflexão acerca <strong>da</strong>s filosofias que deveriam reger as políticas <strong>para</strong> osetor, ou color blind, ou que tenha algum nível de direcionamento <strong>para</strong> determinadoscontingentes específicos <strong>da</strong> população. De todo modo, embora tenham naturezasdiferencia<strong>da</strong>s, procuraremos analisar essas duas dimensões de forma combina<strong>da</strong>, demaneira que as mesmas não sejam vistas como estanques.Em primeiro lugar, há o problema <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações conti<strong>da</strong>s na basede <strong>da</strong>dos do SIM sobre questões que afligem a população brasileira como um todo,especialmente na faixa etária inferior a um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, em que o grau de sub<strong>no</strong>tificaçãodos registros de falecimento é especialmente gritante. Assim, ocorre a exigência<strong>da</strong> ampliação do grau de cobertura dos registros de óbitos sobre o total de casos defalecimentos ocorridos <strong>no</strong> território nacional. Uma importante medi<strong>da</strong> foi adota<strong>da</strong> emum período relativamente recente estabelecendo a gratui<strong>da</strong>de do serviço de emissão<strong>da</strong> declaração de óbito por parte dos cartórios. To<strong>da</strong>via, parece haver certa falta deconscientização do público, especialmente dos mais pobres, quanto à importância,pessoal, coletiva e institucional, <strong>da</strong> formalização dos eventos vitais ocorridos emsuas famílias, em especial nas situações de nascimentos e mortes. Por outro lado, oaumento <strong>da</strong> violência urbana, proliferando formas ilegais de enterro ou cremação decorpos (for<strong>no</strong>s de microon<strong>da</strong>s), vem agindo como mais um fator de aumento do graude sub<strong>no</strong>tificação dos registros de óbitos.Nesse sentido, além <strong>da</strong> manutenção <strong>da</strong> gratui<strong>da</strong>de do serviço de fornecimento dosatestados de óbitos, outras medi<strong>da</strong>s deveriam ser adota<strong>da</strong>s visando ampliar o númerode postos de registros (cartórios) desses eventos vitais em todo o país, especialmentenas áreas mais distantes e mais pobres. Como <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> os cartórios são privados, háo problema <strong>da</strong> falta de interesse econômica de sua abertura em locais de baixo poderaquisitivo. De todo modo, parece razoável supor que o poder público não pode deixarum problema dessa magnitude nas mãos dos interesses particulares e <strong>da</strong> ânsia do lucro,devendo mobilizar todos os esforços <strong>para</strong> a instalação de, ao me<strong>no</strong>s, um cartóriopor ci<strong>da</strong>de, seja por iniciativa dos gover<strong>no</strong>s federal, estadual e municipal, seja, casolegalmente factível, mediante convênios com instituições <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil comosindicatos, igrejas e ONGs. No mesmo rumo, pareceria interessante que o Estado brasileiroassumisse o compromisso <strong>da</strong> completa universalização dos registros de óbitosem todo o país ao longo dos próximos 15 a<strong>no</strong>s.180Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Em segundo lugar, outro problema verificado reportou-se ao elevado percentual decausas de morte mal defini<strong>da</strong>s conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s registros de óbitos. Nesse caso, em termosdos impactos sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações sobre os óbitos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, o problemase soma à lacuna anterior, conquanto seja de natureza distinta. Na ver<strong>da</strong>de, um registrode óbito com declaração de causa de morte não identifica<strong>da</strong> é um mal de naturezame<strong>no</strong>s grave, tendo em vista que, ao me<strong>no</strong>s, o registro do óbito foi realizado. To<strong>da</strong>via,essa informação, <strong>no</strong> fundo, somente serve <strong>para</strong> sinalizar que aquela pessoa que faleceude causas não identifica<strong>da</strong>s contou com um tipo de assistência médica, hospitalare laboratorial de baixa quali<strong>da</strong>de. Se, do ponto de vista <strong>da</strong> definição <strong>da</strong> montagem<strong>da</strong>s políticas públicas, isso serve como forma de mensuração <strong>da</strong> baixa quali<strong>da</strong>de doatendimento, por outro lado, tal sorte de informação, <strong>no</strong> fundo, não quer dizer muitacoisa, ocultando, na ver<strong>da</strong>de, a causa de falecimento <strong>da</strong>quela <strong>da</strong><strong>da</strong> pessoa. Por essemotivo, não há como superar essa deficiência de informação sem uma universalização,e aprimoramento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de atendimento, do Sistema Único de Saúde (SUS) <strong>para</strong>to<strong>da</strong> a população brasileira.Em terceiro lugar, apesar dessas evidências que apontam <strong>para</strong> a universalizaçãodos registros de eventos vitais e do SUS, é importante salientar que os indicadoreslevantados mostraram que ambos os problemas, <strong>da</strong> sub<strong>no</strong>tificação dos óbitos e doamplo percentual de registros de óbitos com causa de morte não identifica<strong>da</strong>, acabavamafetando com maior intensi<strong>da</strong>de os negros do que os brancos. Por isso, nunca sedeve esquecer que o aprimoramento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do SIM passa, necessariamente, pelasua maior e melhor cobertura dos eventos fatais, envolvendo especialmente os afrobrasileiros.Nesse sentido, é razoável supor que o perfil color blind até hoje vigentena área <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> geração de estatísticas de mortali<strong>da</strong>de talvez não tenha aju<strong>da</strong>doa aumentar, em especial, a consciência <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> quanto à importância doregistro oficial dos casos fatais em suas famílias. Naturalmente esse tipo de problemanão afeta somente os negros. Porém, na medi<strong>da</strong> em que se comprove que tais lacunasos afetam de modo mais que proporcional, não haveria motivo <strong>para</strong> que campanhas deesclarecimento a esse respeito se dirigissem a tal segmento, coerentemente, de modomais que proporcional. Da mesma forma, os problemas enfrentados pelo SUS e osproblemas quanto à baixa quali<strong>da</strong>de do atendimento hospitalar, médico e ambulatorial<strong>no</strong> país (e que se reflete <strong>no</strong> amplo número de casos de registros de óbitos com causa demorte ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>), não devem elidir que tal problema afeta primordialmente os negrose <strong>negra</strong>s, pessoas que, em geral, têm me<strong>no</strong>s acesso aos pla<strong>no</strong>s de saúde priva<strong>da</strong> e àsformas mais sofistica<strong>da</strong>s de atendimento.Em quarto lugar, o estudo do perfil <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do SIM, <strong>no</strong> que implica opreenchimento <strong>da</strong> raça/cor dos falecidos nas Declarações de Óbitos, mostrou que, <strong>no</strong>súltimos cinco a<strong>no</strong>s, houve uma progressiva melhora desse sistema de registros. Assim,<strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, em todo o <strong>Brasil</strong>, conforme foi verificado, na base de <strong>da</strong>dos do SIM passouSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de181


a constar a raça/cor do falecido em cerca de 85% dos registros. Contudo, também foipossível perceber que impera a necessi<strong>da</strong>de de se aprimorar esse sistema.O problema é que os 15% de registros de óbitos que não tiveram o quesito raça/correspondidos, representavam um percentual muito elevado, tendo em vista os problemas desub<strong>no</strong>tificação e o fato de que os casos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> não se distribuíam homogeneamenteem todo o país, pelo contrário, tendendo a ser maior nas regiões onde os negros(pretos e pardos) formam a maioria <strong>da</strong> população. No mesmo rumo, sabe-se que as dispari<strong>da</strong>desraciais nas taxas de mortali<strong>da</strong>de de crianças abaixo de um a<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de, medi<strong>da</strong>spor metodologia indireta, são bastante eleva<strong>da</strong>s. E é justamente entre os recém-nascidosque o grau de ocultação de casos de falecimentos é proporcionalmente maior. Destarte, éinevitável que a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do SIM fique bastante comprometi<strong>da</strong> <strong>para</strong> oestudo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais de mortali<strong>da</strong>de infantil, particularmente, a perinatal.Um outro fator, de evidência mais fraca, também poderia estar comprometendoa quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações sobre os perfis racialmente desiguais <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Esse fator estaria relacionado à maior probabili<strong>da</strong>de de uma pessoa <strong>negra</strong>que tenha morrido – e cujo evento vital tenha sido registrado <strong>no</strong>s órgãos oficiais –,com<strong>para</strong>tivamente a um morto de outro grupo racial, não tenha o seu grupo racial oude cor coletado (por limitações e falhas do declarante e/ou do profissional responsávelpelo registro), indo <strong>para</strong> as situações de registros de óbitos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, oumesmo que tenha essa informação <strong>no</strong>tifica<strong>da</strong> dentro de um outro grupo racial ou de cor(branca, amarela). A resolução desse problema plenamente é um tanto quanto difícil,na medi<strong>da</strong> em que o preenchimento desse registro não depende, por razões evidentes,<strong>da</strong> própria pessoa que está sendo registra<strong>da</strong>. Ou seja, alguém interpreta o que julgaser a raça/cor <strong>da</strong>quele indivíduo que morreu. Por esse motivo, que pode ser derivadodo próprio modo de funcionamento do padrão brasileiro de relações raciais, não seriaestranho que pudesse estar ocorrendo um certo viés de branqueamento dos registrosdo SIM, tal como já foi possível debater <strong>no</strong> começo deste estudo. Na ver<strong>da</strong>de, talvezum atestado de óbito tão extenso não seja a melhor forma de se coletar informaçõesde pessoas que, comumente, tendo que resolver os problemas de encaminhamentodos procedimentos fúnebres dos seus parentes e pessoas queri<strong>da</strong>s, tendem a seencontrar psicologicamente muito abati<strong>da</strong>s. Por essa razão, talvez a maneira pelaqual as informações que constam <strong>no</strong>s registros do SIM são coleta<strong>da</strong>s tenham de serrepensa<strong>da</strong>s, incluindo <strong>no</strong>s questionários somente as informações efetivamente maisimportantes sobre o perfil do morto, tal como i<strong>da</strong>de, sexo, estado civil, naturali<strong>da</strong>de,causa de morte, local do falecimento, tipo de atendimento médico prestado, necropsiae, evidentemente, a raça/cor (esta, considera<strong>da</strong> como uma variável de fun<strong>da</strong>mentalimportância <strong>no</strong>s registros do SIM).De to<strong>da</strong> maneira, os principais problemas verificados <strong>no</strong> uso <strong>da</strong>s bases de registrosdo SIM <strong>para</strong> o estudo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong>s perfis <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população182Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


asileira apontaram <strong>para</strong> a existência de um certo viés de branqueamento <strong>da</strong> base de<strong>da</strong>dos do SIM, derivado <strong>da</strong> maior probabili<strong>da</strong>de de sub-registro dos óbitos <strong>da</strong>s pessoas<strong>negra</strong>s faleci<strong>da</strong>s em com<strong>para</strong>ção com as pessoas brancas que tenham morrido. Issoocorreria por causa de: i) fatores econômicos, produto <strong>da</strong> maior concentração de negrosna base <strong>da</strong> pirâmide social, justamente o segmento onde o nível de sub<strong>no</strong>tificaçãodesse evento vital é maior; ii) fatores regionais, sendo maiores as falhas do SIM nasregiões do <strong>Brasil</strong> onde os negros são maioria; iii) fatores demográficos, relacionados àmaior precoci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mortes dos negros, exatamente nas faixas etárias mais baixas,em que o grau de sub-registro de óbitos é maior; e iv) culturais, relacionados à hipótesede maior dificul<strong>da</strong>de <strong>para</strong> a inclusão, <strong>no</strong> registro de óbito, <strong>da</strong> raça/cor de uma pessoa<strong>negra</strong>, fazendo com que essa informação seja leva<strong>da</strong> <strong>para</strong> os registros de óbitos comraça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> ou <strong>para</strong> outros grupos raciais.Junto com esses quatro fatores que estariam contribuindo <strong>para</strong> o branqueamento <strong>da</strong>base de registros do SIM, ocorreu a maior incidência <strong>da</strong>s causas de morte ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>sregistros de óbitos de pessoas <strong>negra</strong>s, com<strong>para</strong>tivamente aos registros de óbitos de pessoasbrancas. Dessa forma, enquanto tal situação perdurar, as bases de <strong>da</strong>dos do SIM revelarãoas diferenças raciais <strong>no</strong> perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população brasileira de um modo somenteparcial, tendendo a subestimá-la, especialmente entre a população <strong>negra</strong>.Nesse sentido, por causa <strong>da</strong>s lacunas encontra<strong>da</strong>s <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> principal basede <strong>da</strong>dos <strong>para</strong> a realização deste estudo, o perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de dos distintos gruposde raça/cor e sexo, bem como os a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidos por esses contingentes, nãopodem ser considerados mais do que hipotéticos. Caso os níveis de sub<strong>no</strong>tificação deóbitos, <strong>da</strong>s causas de morte não identifica<strong>da</strong>s e dos registros de falecimentos com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> fossem mais baixos (e, <strong>no</strong> limite, inexistentes), certamente o perfil encontradotanto <strong>da</strong> composição relativa <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de, como dos a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdidosprovavelmente seriam pronuncia<strong>da</strong>mente distintos do que os que foram encontradosneste trabalho. Alternativamente, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer dos distintosgrupos de raça/cor <strong>da</strong> população brasileira, como esses indicadores foram produzidosde forma indireta, a partir <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do Censo Demográfico de 2000, do IBGE,acreditamos que essas informações tendem a expressar de forma mais precisa a efetivareali<strong>da</strong>de existente.Não obstante to<strong>da</strong>s as limitações <strong>da</strong>s bases de <strong>da</strong>dos do SIM, consideramos queas informações conti<strong>da</strong>s neste estudo demonstraram ser relevantes como perfil hipotético<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de dos grupos de raça/cor e sexo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Assim, os indicadoreslevantados sugeriram que, concomitantemente à existência de uma série de indicadoresque apresentaram um comportamento convergente, também ocorreu uma certadiferenciação dos indicadores de mortali<strong>da</strong>de dos brancos em relação aos pretos e aospardos. Essa diferenciação justamente responde à primeira hipótese deste estudo, quese reportou à existência ou não de um padrão de mortali<strong>da</strong>de específico dos distintosSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de183


grupos de raça/cor <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Além disso, os indicadores levantados mostraram que,não obstante seus pontos em comum, os <strong>da</strong>dos sobre a mortali<strong>da</strong>de de pretos e pardostambém deve ser vista em se<strong>para</strong>do, levando em conta que algumas causas de morteapresentaram-se especialmente impactantes <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> um dos grupos em se<strong>para</strong>do.Longe <strong>da</strong> pretensão de sermos exaustivos a esse respeito, o presente estudo destaca,em especial, a incidência <strong>da</strong>s mortes por doenças do aparelho respiratório, homicídiose por HIV/aids entre os pretos (composição de mortali<strong>da</strong>de e a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> perdi<strong>da</strong>s).Dessa maneira, conquanto de forma não peremptória, podemos dizer que brancose negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> apresentaram composições de mortali<strong>da</strong>de razoavelmente diferencia<strong>da</strong>s,justificando, portanto, a adoção de medi<strong>da</strong>s específicas de ação afirmativa <strong>no</strong>movimento de consoli<strong>da</strong>ção do SUS. Destarte, tendo em vista o conjunto de indicadoresmobilizados <strong>para</strong> a confecção deste estudo, consideramos que ao me<strong>no</strong>s as seguintesmedi<strong>da</strong>s poderiam ser pensa<strong>da</strong>s visando à superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais na área<strong>da</strong> saúde e o incremento <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> deste país:• estabelecimento de uma meta nacional de redução <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des raciaisnas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>da</strong> população, de preferência igualmenteminimizando os hiatos encontrados entre os grupos de sexo. O Estado e asocie<strong>da</strong>de brasileira deveriam assumir o compromisso público de fin<strong>da</strong>r progressivamenteas dispari<strong>da</strong>des dos tempos médios de sobrevi<strong>da</strong> dos distintosgrupos raciais do país até o a<strong>no</strong> de 2030;• efetiva universalização do SUS e <strong>da</strong> progressiva redução de casos de óbitossem assistência médica, laboratorial e assistencial adequa<strong>da</strong>;• aprimoramento do SIM <strong>no</strong> seu conjunto, com o objetivo de diminuir o graude omissão de registro por parte <strong>da</strong> população, reduzir os registros de óbitoscom causa de morte mal defini<strong>da</strong>, e universalizar a oficialização dos registrosde óbito com a implantação de ao me<strong>no</strong>s um cartório (ou algum órgão comincumbência de registro de informações sobre nascimentos e mortali<strong>da</strong>des)por município <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>;• especial atenção <strong>para</strong> a redução do grau de sub<strong>no</strong>tificação dos registros deóbitos e de atestados de falecimento sem declaração de raça/cor nas regiõesNorte e, especialmente, Nordeste;• inclusão <strong>da</strong> variável raça/cor <strong>no</strong>s indicadores contidos <strong>no</strong> Registro Civil dePessoas Naturais, especialmente <strong>no</strong> caso do evento vital do falecimento;• melhoria <strong>no</strong> preenchimento do conjunto de informações conti<strong>da</strong>s nas Declaraçõesde Óbito, inclusive a que tange à variável raça/cor. Isso se <strong>da</strong>rá com oaprimoramento <strong>da</strong> capacitação dos profissionais responsáveis pela coleta dessasinformações, pela conscientização de to<strong>da</strong> a população quanto à importânciado preenchimento <strong>da</strong> variável raça/cor e, talvez, pela simplificação dos184Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


campos de perguntas nas declarações de óbitos (sem retirar o quesito raça/cor,obviamente);• dotação de recursos <strong>para</strong> o efetivo enfrentamento <strong>da</strong>s causas de morte quetenham especial incidência sobre os negros, tais como as afecções do períodoperinatal, as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (que precisam ser desagrega<strong>da</strong>sde forma que sejam mais bem definidos os alvos prioritários), a tuberculose,a anemia falciforme, entre outras doenças prevalentes sobre a comuni<strong>da</strong>de<strong>negra</strong>;• acompanhamento mais rigoroso <strong>da</strong> evolução do HIV/aids <strong>no</strong> seio <strong>da</strong> populaçãovisando um melhor controle sobre o seu grau de sub<strong>no</strong>tificação. Especialpreocupação com os homens pretos e as mulheres pretas, mormente <strong>da</strong>s regiõesSudeste e Sul, tendo em vista o proporcionalmente elevado percentual depessoas desse contingente racial que faleceram vitima<strong>da</strong>s por HIV/aids;• o fato de as doenças circulatórias, as neoplasias, doenças do aparelho digestivo,entre outras, proporcionalmente impactarem mais os brancos do que osnegros não implica que tais moléstias não afetem também os afro brasileiros.Pelo contrário, essas doenças se apresentam como uma <strong>da</strong>s principais causasde morte de negros e <strong>negra</strong>s, e, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong>s doenças do aparelho circulatório,estas chegavam a retirar mais a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> dos pretos e pretas do que dosbrancos e brancas. No mesmo rumo, continua sendo necessário levar emconta que esses tipos de doenças entre os negros podem vir a se intensificar,ficando oculta<strong>da</strong> pelas sub<strong>no</strong>tificações, evasões de registro e pelas causas maldefini<strong>da</strong>s. É preciso que as campanhas públicas de prevenção a essas doençassejam direciona<strong>da</strong>s <strong>para</strong> os diferentes segmentos <strong>da</strong> população, inclusive <strong>no</strong>pla<strong>no</strong> racial e étnico, mostrando que tais problemas podem afetar a todos, nãoapenas como doenças de ricos e de brancos;• considerando que um dos principais problemas relacionados à per<strong>da</strong> de a<strong>no</strong>sde vi<strong>da</strong> relaciona-se à precoci<strong>da</strong>de pelos quais determinados vetores causadoresde morte incidem sobre a população, deveria ser <strong>da</strong><strong>da</strong> especial atenção <strong>para</strong>as principais patologias causadoras de morte na população recém-nasci<strong>da</strong>,infantil e juvenil, especialmente as afecções do período perinatal, doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, doenças do aparelho respiratório e, especialmente,as causas externas de mortali<strong>da</strong>de. Tais iniciativas, caso obtenham sucesso emseus intentos, tenderiam a ser benéficas <strong>para</strong> to<strong>da</strong> a população brasileira, porémapresentariam especiais efeitos positivos sobre os negros e <strong>negra</strong>s, contingenteque, conforme visto, morre mais precocemente. Por outro lado, tal medi<strong>da</strong>associa-se intimamente com o ponto que segue abaixo;• Imediata desmilitarização do debate sobre a violência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Tal comosalientado por Simões (2002), atualmente o <strong>Brasil</strong>, com a persistente reduçãoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de185


dos índices de mortali<strong>da</strong>de infantil, vem poupando vi<strong>da</strong>s durante o nascimento<strong>da</strong>s pessoas <strong>para</strong> posteriormente sacrificá-las em sua juventude. O problema<strong>da</strong>s mortes por causas violentas, especialmente por homicídios, não deve servisto como um assunto de polícia ou militar e não pode ser tratado como umaquestão de estratégia bélica. Ele precisa ser encarado como uma patologiaque deman<strong>da</strong> ações efetivas em prol de sua superação através <strong>da</strong> difusão <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia entre as comuni<strong>da</strong>des pobres do país, especialmente <strong>no</strong>s locaisonde residem os negros e <strong>negra</strong>s. Os indicadores e estimativas levantadosneste estudo não deixam margem de dúvi<strong>da</strong> quanto à especial incidência <strong>da</strong>violência, especialmente a de tipo homici<strong>da</strong>, sobre os negros particularmentejovens, exigindo correspondentes soluções positivas que ampliem o grau deintegração social e possam vir a reverter o atual cenário, cujo caráter tem demonstradoser de puro e simples et<strong>no</strong>cídio.5.8. Referências bibliográficasABREU, Daisy; RODRIGUES, Roberto. Diferenciais de mortali<strong>da</strong>de entre as regiõesmetropolitanas de Belo Horizonte e Salvador, 1985-1995. Revista <strong>Brasil</strong>eira de SaúdePública, São Paulo, v. 34, n. 5, p.514-521, 2000.ABREU, Daisy; RODRIGUES, Roberto; MENDONÇA, Elizabeth. Contribuição <strong>da</strong>s causas demortes evitáveis <strong>no</strong> declínio <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de nas regiões metropolitanas de Belo Horizontee Salvador, 1985-1995. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS DAABEP, 11., 1996, Caxambu. Anais... Caxambu: Abep, 1996. v. 1. p. 1889-1909.AIDAR, Tirza. Registro de óbitos com causa mal defini<strong>da</strong>: atenção especial <strong>para</strong> o caso<strong>da</strong> população feminina. <strong>Brasil</strong>, 1979 a 1995. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOSPOPULACIONAIS DA ABEP, 12., 2000, Caxambu. Anais... Caxambu: Abep, 2000. v. 1.ALVES, Amaro; BARBOSA, Romero. A Saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>: realizações eperspectivas. Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde; Ministério <strong>da</strong> Justiça, 1998.ATLAS do desenvolvimento huma<strong>no</strong> 2003 – PNUD. Disponível em: http://BARBONI, André; GOTLIEB, Sabina. Impacto de causas básicas de morte na esperançade vi<strong>da</strong> em Salvador e São Paulo, 1996. Revista Saúde Pública, São Paulo, v. 38, n. 1,p.16-23, 2004.CAMPANÁRIO, Paulo; MAIA, Paulo. Tábuas de modelo de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong> 1980-2000. In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS DA ABEP, 14.,2002, Ouro Preto. Anais...Caxambu: Abep; 2002. v. 1. p. 1889-1909.CARVALHO, José A; SAWYER, Diana; RODRIGUES, Roberto. Introdução a algunsconceitos básicos e medi<strong>da</strong>s em demografia. 2 ed. São Paulo: Abep; (1998 [1994]).186Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


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AnexoMetodologia do cálculo de esperança de vi<strong>da</strong> ao nascerJuarez de Castro Oliveira – Bacharel em Estatística pelaEscola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE).Mestre em Demografia pelo Centro Lati<strong>no</strong> america<strong>no</strong>y Caribeño de Demografía (Celade/Cepal). Gerente doProjeto Estudos e Análises <strong>da</strong> Dinâmica Demográfica doIBGE.Leila Regina Ervatti – Demógrafa. Tec<strong>no</strong>logista <strong>da</strong> Gerênciade Análise <strong>da</strong> Dinâmica Demográfica <strong>da</strong> Coordenadoriade População e Indicadores Sociais do IBGE.O primeiro passo <strong>para</strong> estimar as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer correspondenteao a<strong>no</strong> de 2000 consistiu em determinar os níveis <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil,mediante o emprego <strong>da</strong> variante Trussell, <strong>da</strong> técnica originalmente proposta por Brass.As estimativas foram elabora<strong>da</strong>s, com base nas informações do Censo Demográfico2000, <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões e Uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação, segundo as categorias“branca”, “preta”, “par<strong>da</strong>”, ”preta + par<strong>da</strong>”, “indígena” e “amarela” <strong>da</strong> característicacor ou raça <strong>da</strong>s mulheres em i<strong>da</strong>de fértil.A informação básica necessária <strong>para</strong> estimar a mortali<strong>da</strong>de infantil é aseguinte:a) mulheres em i<strong>da</strong>de fértil (de 15 a 49 a<strong>no</strong>s de i<strong>da</strong>de) classifica<strong>da</strong>s por gruposqüinqüenais de i<strong>da</strong>de [ M (i); i = 1 = 15 a 19 a<strong>no</strong>s, i = 2 = 20 a 24a<strong>no</strong>s,............., i = 7 = 45 a 49 a<strong>no</strong>s ];b) filhos tidos nascidos vivos, declarados pelas mulheres, classificados segundoos mesmos grupos qüinqüenais de i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres [ FNV (i) ]; ec) filhos sobreviventes (ou falecidos), declarados pelas mulheres, classificadossegundo os mesmos grupos qüinqüenais de i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres [ FV (i) ].Esta informação está referi<strong>da</strong> ao momento do Censo (1º/8/2000).Com estes <strong>da</strong>dos puderam ser calcula<strong>da</strong>s, inicialmente, as proporções de filhosfalecidos com respeito ao total de filhos nascidos vivos, segundo a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres:D (i) = 1 - [ FV (i) / FNV (i) ]D (i), por si só, constitui uma medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de, mas tem a limitação de nãoser um indicador convencional, por estar referido à i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres e não à i<strong>da</strong>de


dos filhos. Nesse sentido, Brass desenvolveu um procedimento que permite transformaras proporções D (i) em medi<strong>da</strong>s convencionais de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s devi<strong>da</strong>. O autor demonstrou haver uma relação empírica entre D (i) e a probabili<strong>da</strong>de demorte desde o nascimento até uma i<strong>da</strong>de exata x, Q (x). A relação entre estas medi<strong>da</strong>sse estabelece mediante as seguintes relações:i Q (x) = K (i) * D (i)1 Q (1) = K (1) * D (1)2 Q (2) = K (2) * D (2)3 Q (3) = K (3) * D (3)4 Q (5) = K (4) * D (4)5 Q (10) = K (5) * D (5)6 Q (15) = K (6) * D (6)7 Q (20) = K (7) * D (7)K (i) é um fator muito próximo a 1 (um) que permite transformar as D (i) em Q (x).Brass calculou um jogo de valores de K (i) com base em um modelo teórico <strong>no</strong> qualintervêm uma função de fecundi<strong>da</strong>de e uma lei de mortali<strong>da</strong>de. Foi demonstrado que,neste modelo, os multiplicadores dependem principalmente <strong>da</strong> estrutura por i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>fecundi<strong>da</strong>de, <strong>no</strong> sentido de que quanto mais cedo as mulheres têm seus filhos, maior seráo tempo de exposição ao risco de morte de seus filhos. Por esse motivo, os parâmetrosde entra<strong>da</strong> <strong>para</strong> a obtenção dos valores de K (i) são indicadores dessa estrutura, P (1) /P (2) e P (2) / P (3), sendo P (i), a parturição média <strong>da</strong>s mulheres <strong>no</strong> grupo etário i (i =1 <strong>para</strong> 15 a 19, i = 2 <strong>para</strong> 20 a 24, etc.).Ca<strong>da</strong> Q (x) estima<strong>da</strong> corresponde a momento distinto antes <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta de referênciado Censo. Na medi<strong>da</strong> em que se avança na i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres, a estimativa correspondea um passado mais distante. Feeney (1976 e 1980), foi o primeiro a desenvolver idéiasa respeito de como localizar as estimativas <strong>no</strong> tempo. Descobriu que, ao supor umdeclínio linear, qualquer que seja a intensi<strong>da</strong>de do declínio, a mortali<strong>da</strong>de é a mesmanum momento de tempo anterior ao Censo. A partir dessa idéia, Coale e Trussell (1977)desenvolveu um procedimento <strong>para</strong> determinar os valores de t (x) (número de a<strong>no</strong>santeriores ao Censo) <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> Q (x) estima<strong>da</strong>. Baseando-se <strong>no</strong>s modelos de fecundi<strong>da</strong>dede Coale e Trussell e nas quatro famílias (Norte, Sul, Leste e Oeste) de tábuas modelode mortali<strong>da</strong>de de Coale e Demeny (1966), Trussell elaborou quatro jogos de regressões<strong>para</strong> o cálculo de K (i) e t (x).Com o propósito de se obter uma medi<strong>da</strong> comparável <strong>no</strong> tempo, usando-seas tábuas modelo de Coale e Demeny, as Tábuas Modelo <strong>Brasil</strong> (1981) ou umatransformação logital, to<strong>da</strong>s as Q (x) obti<strong>da</strong>s, mediante o emprego <strong>da</strong> técnica de Trussell,foram transforma<strong>da</strong>s em Q (1), ou seja, em probabili<strong>da</strong>des de um recém-nascido falecer192Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


antes de completar o primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, devi<strong>da</strong>mente localiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> tempo. Nestecaso, considerou-se a família oeste <strong>da</strong>s tábuas modelo de Coale e Demeny.A técnica de Trussell foi aplica<strong>da</strong> às informações provenientes do Censo Demográfico2000, formando um conjunto de estimativas de Q (1) que compreendia operíodo aproximado 1985 - 1999. Tais estimativas foram, em alguns casos, suaviza<strong>da</strong>s,mediante médias móveis, de maneira a eliminar possíveis flutuações que <strong>no</strong>rmalmenteexistem, deriva<strong>da</strong>s, principalmente, <strong>da</strong> má declaração, por parte <strong>da</strong>s mulheres, quantoao número de filhos nascidos vivos e sobreviventes. A esta série, já suaviza<strong>da</strong>, ajustou-seuma função logística. Deve-se esclarecer que se teve o cui<strong>da</strong>do <strong>para</strong> que osajustes realizados não implicassem em diferenças significativas dos valores observados,especialmente <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s próximos a 2000. Ao assim proceder, pouca variabili<strong>da</strong>de foiencontra<strong>da</strong> entre os valores observados e ajustados, ao longo do período considerado.Isto proporcio<strong>no</strong>u um ajuste bastante satisfatório <strong>da</strong>s probabili<strong>da</strong>des de morte <strong>no</strong>primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, possibilitando realizar projeções <strong>da</strong>s mesmas <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> 2000.A fim de realizar as análises com consciência do significado <strong>da</strong>s estimativas, sãoos seguintes os pressupostos implícitos <strong>da</strong> técnica utiliza<strong>da</strong>:a) que a fecundi<strong>da</strong>de tenha permanecido constante num passado recente. SegundoFeeney, as estimativas são suficientemente robustas de modo que os desviosnão têm importância se não se cumprem esse suposto;b) que a mortali<strong>da</strong>de na infância tenha uma evolução linear através do tempo;c) que as leis de mortali<strong>da</strong>de e fecundi<strong>da</strong>de usa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> modelo representam asmesmas condições <strong>da</strong> população em estudo;d) que não haja associação entre a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres (mães) e de seusfilhos. Obviamente, não se tem informação sobre a mortali<strong>da</strong>de dos filhoscujas mães já faleceram, e <strong>no</strong> caso em que sua mortali<strong>da</strong>de for maior que ados filhos com mães vivas, as estimativas <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s primeiros <strong>no</strong>s devi<strong>da</strong> estaria subestima<strong>da</strong>; ee) que não exista associação entre a mortali<strong>da</strong>de infanto-juvenil e a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>smulheres (mães).Além destes pressupostos, a informação básica deve cumprir certas condições:a) que não haja omissão diferencial na declaração do número de filhos nascidosvivos e sobreviventes;b) que não haja mortali<strong>da</strong>de diferencial entre os filhos <strong>da</strong>s mulheres que declarame as que não declaram a informação; ec) que a declaração <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres seja correta.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de193


A esse respeito, deve-se mencionar que o número de filhos tidos nascidos mortosapresentou considerável elevação em relação ao Censo Demográfico de 1991. Enquantoem 1991 o total declarado de nascidos mortos foi <strong>da</strong> ordem de 3,2 milhões; em 2000,esse número superou o patamar de 8 milhões de filhos tidos nascidos mortos. Em termospercentuais, tais cifras representam taxas de natimortali<strong>da</strong>de de, respectivamente, 2,5%e 5,5%. As causas <strong>para</strong> o ressurgimento deste fenôme<strong>no</strong> – o Censo Demográfico de1980 também registrou taxas de natimortali<strong>da</strong>de superiores a 6% (em valores absolutos,7,3 milhões) - podem ter suas raízes nas seguintes situações:• a má interpretação <strong>da</strong> pergunta, incluindo-se os abortos que as mulheres podemter tido;• a inclusão dos nascidos vivos que faleceram logo após o parto; e• a má formulação <strong>da</strong> pergunta, levando o entrevistado a considerar os filhos jáfalecidos como nascidos mortos.A experiência passa<strong>da</strong> com os Censos Demográficos mostrou que esta aparenteincoerência não afeta tão significativamente as estimativas de Fecundi<strong>da</strong>de, incidindomais fortemente sobre as estimativas <strong>da</strong> Taxa de Mortali<strong>da</strong>de Infantil, com tendênciade subestimá-las.A associação direta <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer com a taxa de mortali<strong>da</strong>deinfantil já foi muito utiliza<strong>da</strong> quando os níveis de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> eram maiselevados e as mortes por causas externas, que incidem sobre a população, sobretudomasculina, jovem e adulta jovem não afetavam tão fortemente a vi<strong>da</strong> média do brasileiro.Na atuali<strong>da</strong>de (2004), o <strong>Brasil</strong> possui uma taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil por voltade 26 por mil nascidos vivos e uma expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer de 72 a<strong>no</strong>s. Paraque a população brasileira alcance uma esperança de vi<strong>da</strong> ao nascimento situa<strong>da</strong> <strong>no</strong>mesmo patamar que a do Japão (81,6 a<strong>no</strong>s) não bastaria reduzir a mortali<strong>da</strong>de infantilbrasileira a tal ponto que se igualasse à japonesa (por volta de 3 por mil nascidos vivos).Serão necessárias políticas públicas volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a área <strong>da</strong> saúde coletiva que, efetivamente,possam alcançar a população de to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des, quer sejam recém-nascidos,crianças, jovens, adultos-jovens, mulheres em i<strong>da</strong>de de procriar e, particularmente, ocontingente ca<strong>da</strong> vez maior de adultos e de idosos. Além disso, será imprescindívela adoção de políticas ver<strong>da</strong>deiramente eficazes <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> segurança pública <strong>para</strong>que se obtenha êxito na redução <strong>da</strong>s mortes perfeitamente evitáveis, mas que teimamem aumentar ca<strong>da</strong> vez mais o número de jovens e adultos – jovens que perdem suasvi<strong>da</strong>s devido à violência, destacando-se os homicídios e os acidentes de trânsito.Por esses motivos que a determinação <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, com baseem <strong>da</strong>dos sobre a sobrevivência dos filhos <strong>da</strong>s mulheres, foi conduzi<strong>da</strong> de acordo comseguinte esquema:194Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


1) Determinação <strong>da</strong> taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil <strong>para</strong> ambos os sexos referente aoa<strong>no</strong> 2000, com base nas Q (1) interpola<strong>da</strong>s na família oeste <strong>da</strong>s tábuas modelode Coale e Demeny.2) Na projeção <strong>da</strong> população do <strong>Brasil</strong> estão implícitas 363 tábuas de vi<strong>da</strong>,compreendendo o período 1980 – 2000, sendo 121 <strong>para</strong> ambos os sexos, 121<strong>para</strong> homens e 121 tábuas <strong>para</strong> as mulheres. Com isso, pode-se formar umconjunto de taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil (ambos os sexos, homens e mulheres)com as respectivas esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer. Com isso, pode-se associaro conjunto de tábuas a uma família dentro de um modelo de mortali<strong>da</strong>de porsexo e i<strong>da</strong>de, com a vantagem de se assegurar que se está trabalhando cominformações mais próximas <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, uma vez que as tábuas <strong>para</strong> 1980,1991 e 2000 foram construí<strong>da</strong>s com informações provenientes dos censosdemográficos e <strong>da</strong>s estatísticas de óbitos do país. De posse, portanto, do indicadortaxa de mortali<strong>da</strong>de infantil <strong>para</strong> ambos os sexos foi possível obter umprimeiro conjunto de esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascimento <strong>para</strong> ambos os sexose <strong>para</strong> homens e mulheres em se<strong>para</strong>do. Ver em http://www.ibge.gov.br, emPopulação/Tábuas Completas de Mortali<strong>da</strong>de/Notas Metodológicas: Projeção<strong>da</strong> população do <strong>Brasil</strong> – Parte 1 – Níveis e padrões <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>À luz dos resultados do censo 2000.3) Com o propósito de se incorporar alguma influência <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de adultajovem, as esperanças de vi<strong>da</strong> obti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> passo 2) foram pondera<strong>da</strong>s pelaprobabili<strong>da</strong>de de sobrevivência desde o nascimento até a i<strong>da</strong>de 15 [l(15) =1- Q(15)], probabili<strong>da</strong>de extraí<strong>da</strong> do grupo etário 40 a 44 a<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s mulheres.Os cálculos foram feitos <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> sexo e <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> categoria <strong>da</strong> variável corou raça.4) Em segui<strong>da</strong>, as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer foram ajusta<strong>da</strong>s aos respectivosindicadores <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> 2000, por sexo e <strong>para</strong> ambos os sexos, implícitos nasprojeções preliminares de população <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Federação. Esse procedimentoobjetivou equilibrar entre os 26 estados brasileiros e o Distrito Federal,os níveis de mortali<strong>da</strong>de estimados indiretamente com as estimativas existenteselabora<strong>da</strong>s com base na composição etária <strong>da</strong> população, oriun<strong>da</strong> dos CensosDemográficos e na estrutura por sexo e i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mortes, informação extraí<strong>da</strong><strong>da</strong>s Estatísticas de óbitos do Registro Civil. Cabe esclarecer que se trata de umconjunto de tábuas projeta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> 2000 com apoios em 1980 e 1991. Emnível estadual, o IBGE ain<strong>da</strong> está em processo de cálculo <strong>da</strong>s tábuas definitivas<strong>para</strong> 2000.5) Como já se dispõe de tábuas de mortali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong> por sexo e <strong>para</strong> oconjunto <strong>da</strong> população, procedeu-se a um <strong>no</strong>vo ajuste de forma a calibrar osníveis estimados em 4) com uma média nacional já definitiva.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de195


A princípio, as esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascer deveriam representar um conjuntoharmônico de indicadores, com um comportamento, sobretudo quanto aos diferenciaisentre as categorias de cor ou raça, dentro de certos critérios e intervalos já esperados.Entretanto, alguns peque<strong>no</strong>s ajustes finais foram necessários com vistas a garantir coerênciaem termos de valores médios esperados. Dessa forma, foi necessário incluir oseguinte passo:6) <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> Grande Região do <strong>Brasil</strong>, em ca<strong>da</strong> sexo e em ca<strong>da</strong> categoria de corou raça, foram obti<strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas estimativas <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong> ao nascercom a ponderação pelo quociente entre a média brasileira calcula<strong>da</strong> e a médiaaritmética simples, sendo o mesmo procedimento adotado <strong>para</strong> os estados deuma mesma Grande Região.Com isso foi possível minimizar eventuais discrepâncias sem prejuízo <strong>da</strong>s ordensde grandeza <strong>da</strong>s estimativas. Mas, mesmo assim alguns casos isolados necessitaramde tratamento individual a fim de descartar qualquer incompatibili<strong>da</strong>de, como, porexemplo:a) esperanças de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> ambos os sexos fora <strong>da</strong> média <strong>da</strong>s esperanças de vi<strong>da</strong>de homens e mulheres. Neste caso, utilizaram-se os fatores 1,05 e 1 comoponderações <strong>para</strong> os indicadores correspondentes aos sexos masculi<strong>no</strong> efemini<strong>no</strong> respectivamente, dividindo-se a soma por 2,05;b) esperanças de vi<strong>da</strong> referentes à categoria “preta + par<strong>da</strong>” fora dos limitesestabelecidos pelos indicadores relativos às categorias “preta” e “par<strong>da</strong>”. Nestasituação, as ponderações foram 0,7 e 0,3, respectivamente <strong>para</strong> as esperançasde vi<strong>da</strong> estima<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as categorias “par<strong>da</strong>” e “preta”.Como já foi dito, a quali<strong>da</strong>de e representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação, além do cumprimentodos pressupostos referentes à metodologia e aos <strong>da</strong>dos básicos, são fun<strong>da</strong>mentais<strong>para</strong> a obtenção de estimativas plausíveis desde a ótica sociodemográfica. E,neste caso, o aumento não esperado <strong>da</strong> natimortali<strong>da</strong>de, segundo o Censo Demográfico2000, incidindo sobre a proporção de filhos falecidos, e a incerteza sobre a corretadeclaração <strong>da</strong> cor ou raça, podem ter incidido sobre a quali<strong>da</strong>de dos indicadoresfinais. De qualquer forma, o elenco de estimativas <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer,apresenta-se bastante consistente com um quadro nacional onde persistem as imensasdesigual<strong>da</strong>des entre os sexos, entre as regiões de maior e me<strong>no</strong>r desenvolvimentoeconômico e social e, sobretudo, entre a cor <strong>da</strong> pele dos indivíduos. Basta verificar adiferença colossal entre a expectativa de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres brancas residentes <strong>no</strong> RioGrande do Sul e a dos homens pretos de Roraima: 23,32 a<strong>no</strong>s.196Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Referências bibliográficasCOALE, A. J.; DEMENY, P. Regional Model Life Table and Stable Population.Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1966.COALE, A. J.; TRUSSELL, J. Estimating the Time to which Brass estimates Apply, annexI to Samuel H. Preston and Alberto Palloni, Fine-time Brass-type Mortality Estimateswith Data on Ages of Surviving Children. Population Bulletin of the United Nations,n.10, p. 87-89, 1977.FEENEY, G., Estimating Infant Mortality Rates from Child Survivorship Data by Age ofMother. Asian and Pacific Census Newsletter, v.3, n.2, p.12-16, November 1976.__________, Estimating Infant Mortality Trends from Child Survivorship Data.Population Studies,. v. XXXIV, n.1, p. 109-128, March 1980.INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Tábuas - Modelo deMortali<strong>da</strong>de e Populações Estáveis. Rio de Janeiro: IBGE, 1981. (Estudos e Pesquisas,v. 10)Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de197


Diferenciais raciais <strong>no</strong>s perfis e estimativas demortali<strong>da</strong>de infantil <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>Estela Maria García de Pinto <strong>da</strong> Cunha – Socióloga, mestreem Demografia e Doutora em Saúde Coletiva pela Unicamp.Pesquisadora do Núcleo de Estudos de População<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp).Posdoctoral Fellow at the Population Research Center atthe University of Texas at Austin-USA.Alberto Augusto Eichman Jakob – Bacharel em Estatística,Especialista em Sistema de Informações Geográficase Geoestatística. Doutor em Demografia, Mestre emEngenharia Agrícola. Coordenador de informática doProjeto, Pós-doutorando pelo CNPq <strong>no</strong> Núcleo de Estudosde População <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas(Nepo/Unicamp).1. IntroduçãoA bibliografia existente permite saber que, em geral, os mapas de pobreza sesuperpõem com os de distribuição por raça, cor e etnia, implicando que, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, osnegros sejam os que ocupam as posições me<strong>no</strong>s qualifica<strong>da</strong>s e pior remunera<strong>da</strong>s <strong>no</strong>mercado de trabalho; os que apresentam níveis mais baixos de instrução; que residemem áreas com me<strong>no</strong>s serviços de infra-estrutura básica; que sofrem maiores restrições<strong>no</strong> acesso a serviços de saúde e, quando o fazem, estes sejam de pior quali<strong>da</strong>de eme<strong>no</strong>r resolutivi<strong>da</strong>de relativa. (Dieese, 2000; IBGE, 2000; Paixão 2000).Esta parte <strong>da</strong> população brasileira vivencia, em quase to<strong>da</strong>s as dimensões de suaexistência, situações de exclusão, marginali<strong>da</strong>de e/ou discriminação socioeconômica, o quea coloca em posição de maior vulnerabili<strong>da</strong>de diante de uma série de agravos à saúde.Ao se fazer uma revisão de trabalhos nacionais sobre a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s criançasme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> segundo raça/cor, constata-se que a maioria deles aponta,sistematicamente, <strong>para</strong> uma sobremortali<strong>da</strong>de de negros quando com<strong>para</strong>dos comos brancos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, nas grandes regiões e nas uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, (Cunha, 1990;1991; 1994; 1996; 1997).No entanto, em que pese o acúmulo de conhecimentos sobre a saúde infantilsegundo raça/cor, acredita-se que existem grandes desafios a serem encarados queconsiderem, conjuntamente, os possíveis aspectos genéticos como um dos condicio-


nantes do processo de saúde–doença–morte, assim como as ocorrências, condições,agravos e dificul<strong>da</strong>des de acesso aos serviços de saúde e tratamentos de doenças,derivados de condições socioeconômicas desfavoráveis às quais a população <strong>negra</strong>está exposta.Assim, acredita-se que o poder explicativo dos estudos sobre as diferenças emsaúde pode ser incrementado ao se acrescentar, à abor<strong>da</strong>gem socioeconômica, tambémo recorte étnico/racial, permitindo o surgimento de <strong>no</strong>vos elementos que capazes desubsidiar a implementação de políticas e/ou programas que se destinem a promover nãoapenas a melhoria <strong>da</strong>s condições de saúde, mas também, e sobretudo, a eqüi<strong>da</strong>de.2. Comentários metodológicosObjetivos <strong>da</strong> pesquisa• Geral- traçar um pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong>s tendências, níveis e características <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>deinfantil segundo raça/cor.• Específicos- resumir brevemente os trabalhos nacionais e internacionais que aprofun<strong>da</strong>mo conhecimento <strong>da</strong>s interfaces dos efeitos <strong>da</strong> dimensão étnico/racial sobrea mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>;- analisar criticamente as potenciali<strong>da</strong>des e limitações dos bancos de <strong>da</strong>dosdisponíveis <strong>para</strong> o estudo <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de infantil segundoraça/cor;- atualizar as estimativas de mortali<strong>da</strong>de infantil segundo raça/cor e condiçõessocioeconômicas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões e uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação;- estu<strong>da</strong>r os diferenciais <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil, segundo raça/cor, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,Grandes Regiões e uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação, <strong>no</strong> período 1960-2000;- estu<strong>da</strong>r as características dos nascimentos, que poderiam estar influenciandoa sobrevivência dessas crianças segundo raça/cor;- estu<strong>da</strong>r os diferenciais nas características dos óbitos infantis de brancos enegros, destacando dentre eles incidência maior de determina<strong>da</strong>s causasde morte e i<strong>da</strong>de do óbito;200Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


- sistematizar os resultados mais importantes <strong>da</strong> pesquisa de modo quesubsidiem a elaboração de políticas públicas racialmente eqüitativas.Fonte de <strong>da</strong>dosPara <strong>da</strong>r cumprimento aos objetivos propostos serão utiliza<strong>da</strong>s as seguintes fontesde <strong>da</strong>dos:1. Censos Demográficos;2. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad);3. Estatísticas Vitais Estaduais;4. Sistema de Informação sobre Mortali<strong>da</strong>de (SIM-SUS);5. Sistema de Informação Hospitalar (SIH-SUS);6. Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc-SUS);7. Estatísticas do Registro Civil do Estado de São Paulo (Seade).Os <strong>da</strong>dos em meio digital foram manipulados com o software estatístico SAS(Statistical Analysis System) e transformados em bases de <strong>da</strong>dos SAS, sendo as tabulaçõesfeitas a partir de programas computacionais criados neste mesmo software.Ao trabalhar com o SIM correspondente aos registros de óbitos do a<strong>no</strong> de 2000,foi decidido fazê-lo com o seguinte pla<strong>no</strong> tabular, considerando como uni<strong>da</strong>de geográficaas UFs e Grandes Regiões, além do total do país:• freqüências do total de óbitos com e sem declaração de raça/cor;• freqüências de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> por raça/cor;• freqüências de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo a i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe dofalecido, por raça/cor;• freqüências de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo o nível de instrução <strong>da</strong>mãe do falecido, por raça/cor;• freqüências de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo as causas de morte deacordo com os grandes capítulos <strong>da</strong> edição <strong>da</strong> Classificação Internacional deDoenças (CID 10), por raça/cor;• freqüências de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo as causas de morte,classifica<strong>da</strong>s em evitáveis e não evitáveis por raça/cor.O pla<strong>no</strong> tabular idealizado <strong>para</strong> trabalhar a base do Sinasc, correspondente aoa<strong>no</strong> de 2000, considerando as UFs e Grandes Regiões do país, foi o seguinte:Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de201


• freqüência de nascidos vivos, segundo raça/cor;• freqüência de nascidos vivos, segundo o número de consultas pré-natalrealiza<strong>da</strong>s pela gestante, por raça/cor;• freqüência de nascidos vivos, segundo o peso ao nascer, por raça/cor;• freqüência de nascidos vivos, segundo a i<strong>da</strong>de gestacional, por raça/cor;• freqüência de nascidos vivos, segundo o local de ocorrência do parto, porraça/cor.Com a base de <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> Pnad de 1998 foram processa<strong>da</strong>s as seguintes informaçõesreferentes à população me<strong>no</strong>r de um a<strong>no</strong>, segundo a raça/cor declara<strong>da</strong>:• freqüência de população com cobertura de pla<strong>no</strong> de saúde;• acesso aos serviços de saúde;• utilização dos serviços de saúde.Ao trabalhar com a base de <strong>da</strong>dos provenientes do Censo Demográfico de 2000,que permitiu o cálculo dos diferenciais de mortali<strong>da</strong>de infantil, segundo raça/cor, foramconsidera<strong>da</strong>s as seguintes variáveis:• escolari<strong>da</strong>de ou nível de instrução <strong>da</strong>s mulheres, com declaração de fecundi<strong>da</strong>de,por raça/cor;• estado civil <strong>da</strong>s mulheres, com declaração de fecundi<strong>da</strong>de, por raça/cor;• situação do domicílio <strong>da</strong>s mulheres, com declaração de fecundi<strong>da</strong>de, porraça/cor;• ren<strong>da</strong> per capita média domiciliar <strong>da</strong>s mulheres, com declaração de fecundi<strong>da</strong>de,por raça/cor.Considerando as quatro variáveis enuncia<strong>da</strong>s anteriormente, foram calculadosvalores, segundo grupos qüinqüenais de i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres, segundo raça/cor, <strong>para</strong>as UFs, <strong>para</strong> as grandes regiões e <strong>para</strong> o país do:• total de mulheres com declaração de fecundi<strong>da</strong>de;• total de filhos tidos;• total de filhos nascidos vivos;• total de filhos nascidos mortos;• total de filhos sobreviventes;• total de filhos nascidos vivos <strong>no</strong> último a<strong>no</strong>.202Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Para se obter o cálculo <strong>da</strong>s estimativas adotou-se o software Mortpak-Lite, versão3.0/NCP <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s, procedimento “CEBCS”, que faz uma estimação indireta<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil segundo os grupos etários <strong>da</strong>s mães.Esta operação metodológica permitiu obter saí<strong>da</strong>s do Mortpak contendoinformações sobre a mortali<strong>da</strong>de infantil, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer e a probabili<strong>da</strong>dede morte dos me<strong>no</strong>res de cinco a<strong>no</strong>s, de acordo com os modelos <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>scom variantes <strong>da</strong> América Latina, Chile, Ásia, Geral, assim como modelos de Coale-Demeny com as variantes oeste, <strong>no</strong>rte, leste e sul, <strong>para</strong> os grupos qüinqüenais de i<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s mães.Uma vez defini<strong>da</strong>s as estimativas a serem analisa<strong>da</strong>s segundo o modelo padrãoescolhido, foi traça<strong>da</strong> uma análise histórica do comportamento <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil,segundo raça/cor, e seus vários condicionantes socioeconômicos, assim como algumas<strong>da</strong>s características de nascimento e morte que permitiriam eluci<strong>da</strong>r os motivos <strong>da</strong>sdiferenças encontra<strong>da</strong>s.Técnicas estatísticas1. Método direto de estimativas de mortali<strong>da</strong>de infantil proporcional por raça/cor.2. Método indireto de estimativa <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil a partir de <strong>da</strong>dos secundários(Método de Brass – variante Trussell).3. Análises descritivas exploratórias.4. Análise de prevalência.3. ResultadosRevisão bibliográfica sobre saúde e raça/etniaAs pesquisas de saúde, realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, referi<strong>da</strong>s à população afrobrasileira sãoescassas e, geralmente, centram-se numa visão eco<strong>no</strong>micista, atribuindo a morbi<strong>da</strong>dee a mortali<strong>da</strong>de – em níveis altos e de forma precoce – somente pela determinação<strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> a que essa população está exposta.Em que pese o fato de reconhecer a inexistência de raças humanas do ponto devista genético, conta-se hoje com constatações suficientes de uma maior prevalência dealgumas patologias , devido à condição e predisposição biológica que fazem com queelas surjam com maior freqüência, ou com exclusivi<strong>da</strong>de, em determinados grupos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de203


Algumas predisposições biológicas aparecem mais em alguns grupos raciais, oque, em interação com as condições de vi<strong>da</strong>, podem provocar o desenvolvimento decertas doenças.A população <strong>negra</strong> brasileira, devido à miscigenação de negros procedentesde várias regiões africanas com características genéticas e culturais peculiares e,posteriormente, pela miscigenação entre negros e brancos ocorri<strong>da</strong>s <strong>no</strong> país, apresentauma especifici<strong>da</strong>de genética que a distingue do resto do mundo.A atual freqüência, distribuição e causali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s doenças mais incidentesna população brasileira afro descendente é influencia<strong>da</strong> por estascaracterísticas de ordem genética e ain<strong>da</strong> fortemente por fatores socioeconômicosque incluem o regime de escravatura vivido até o final doséculo XIX e a posterior situação de exclusão social, presente até <strong>no</strong>ssosdias, de grande parcela <strong>da</strong> população (Hamann e Tauil, 2000).A título de reflexão, deteremos-<strong>no</strong>s em alguns comentários sobre doenças queencontram, na atuali<strong>da</strong>de, respaldo científico consoli<strong>da</strong>do <strong>para</strong> serem considera<strong>da</strong>scomo mais prevalentes na população <strong>negra</strong> em virtude do condicionamento defatores biológicos ou genéticos e que têm algum efeito direto ou indireto na saúde <strong>da</strong>scrianças.Entre as que foram reconheci<strong>da</strong>s como aquelas que têm berço hereditário (Ministério<strong>da</strong> Saúde, 2000), podem-se citar: anemia falciforme; doença hipertensivaespecífica <strong>da</strong> gravidez; hipertensão arterial; diabetes mellitus; deficiência de 6-glicosefosfato-desidrogenase.Entre elas, destacam-se as anemias hereditárias, especialmente a falciforme queé a doença hereditária mais comum <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Com origem <strong>no</strong> continente africa<strong>no</strong>,especificamente nas zonas endêmicas de malária, incide predominantemente sobreafrodescendentes. No <strong>Brasil</strong> existe a predominância do tipo Banto que, segundo aclassificação médica, é a forma mais grave.Distribuí<strong>da</strong> heterogeneamente <strong>no</strong> território nacional, é mais freqüente, segundoZago (1996), nas regiões onde a proporção de população afrodescendente é maior,ou seja, <strong>no</strong> <strong>no</strong>rdeste do país.Sabe-se também que as diversas formas de anemia falciforme apresentam varia<strong>da</strong>smanifestações clínicas, sendo em alguns casos assintomática e em outros de muitagravi<strong>da</strong>de, levando a complicações que podem chegar a afetar quase todos os órgãose sistemas, com alta morbi<strong>da</strong>de e provocando uma redução significativa <strong>da</strong> esperançade vi<strong>da</strong>.Ela assume uma importância relativa maior <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> em função<strong>da</strong> destruição do baço, provocando maior susceptibili<strong>da</strong>de a infecções bacterianas,204Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


sendo na maioria <strong>da</strong>s vezes, fatal e apresentando-se como a principal causa de mortedestes pacientes, <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>.Em função desta maior susceptibili<strong>da</strong>de às infecções a que eles estão expostos,a anemia falciforme pode estar direta ou indiretamente relaciona<strong>da</strong> a 62% <strong>da</strong>s causasde óbitos desses pacientes – especialmente por síndrome torácica agu<strong>da</strong>, meningites,septicemia, gastroenterite e crise aplástica.Segundo Zago (1996), pelo fato de que estas infecções têm uma evolução fatalrápi<strong>da</strong>, elas também podem ser responsáveis por mortes súbitas ou por causas nãodiag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong>, em crianças sem diagnóstico precoce <strong>da</strong>doença.Além <strong>da</strong> maior prevalência <strong>da</strong>s infecções enuncia<strong>da</strong>s anteriormente, estas pessoassão afeta<strong>da</strong>s por outras infecções diversas – septicemias por pneumococos, pneumonias,hepatites, entre outras, – que podem agravar ou complicar o estado de saúde, com aação conjunta dos condicionantes socioeconômicos a que eles estão expostos.Estimativas <strong>da</strong> Organização Mundial de Saúde (OMS) assinalam, <strong>para</strong> o <strong>Brasil</strong>, onascimento de 2.500 crianças falcêmicas a ca<strong>da</strong> a<strong>no</strong>.Resumindo, pode-se concluir que os doentes de anemia falciforme estão maisexpostos a infeções graves, sendo mais freqüente na primeira infância e nas mulheres <strong>no</strong>período gravídico, aumentando, assim, as chances de mortali<strong>da</strong>de infantil, de per<strong>da</strong>sfetais e de mortali<strong>da</strong>de materna na população <strong>negra</strong> (Oliveira, 1999).O diabetes mellitus – que é um distúrbio metabólico de etiologia múltiplacaracterizado por hiperglicemia crônica e que, depois de alguns a<strong>no</strong>s de evolução,faz surgir <strong>da</strong><strong>no</strong>s, disfunções ou falência de vários órgãos ou sistemas – manifesta-se <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> com uma prevalência de quase 8% na população adulta, com uma tendênciacrescente na medi<strong>da</strong> em que aumenta a i<strong>da</strong>de, alcançando esse valor mais de 17%<strong>no</strong>s idosos com mais de 60 a<strong>no</strong>s (Franco, 2000).A classificação etiológica destes distúrbios glicêmicos permite definir a diabetestipo I, tipo II e a chama<strong>da</strong> gestacional, além de outros tipos específicos.É importante que o diabetes gestacional – que é aquela diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong> pela primeiravez durante a gestação, podendo ou não persistir após o parto e podendo terantecedido a gravidez –, seja diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong> e trata<strong>da</strong>, devendo-se fazer uma vigilânciafetal anterior ao parto com a finali<strong>da</strong>de de reduzir a mortali<strong>da</strong>de e morbi<strong>da</strong>de perinatalassocia<strong>da</strong>s à sua presença.Estudos sobre a diabetes tipo II – a forma mais comum, correspondendo a 90%do total de casos – segundo raça, constatam que os homens negros apresentam 9%a mais de probabili<strong>da</strong>de de desenvolver diabetes que os homens brancos, e que essaSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de205


probabili<strong>da</strong>de aumenta <strong>para</strong> 50% <strong>no</strong> caso <strong>da</strong>s mulheres apontando, assim, <strong>para</strong> o fatodo alto índice de diabetes gestacional em mulheres <strong>negra</strong>s. Salientam, também, que afreqüência desta doença entre negros <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s vem aumentando significativamentee em maior proporção que na população branca, tendo triplicado <strong>no</strong>s últimos30 a<strong>no</strong>s (Zago, 1996).Uma pesquisa populacional realiza<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> por Malerbi e Franco (2000) aponta<strong>para</strong> uma semelhança <strong>no</strong> comportamento desta doença entre negros e brancos. Porémos autores, ressaltam que, devido às diferenças socioeconômicas estabeleci<strong>da</strong>s entrenegros e brancos, refleti<strong>da</strong> num acesso diferenciado aos serviços de saúde, a população<strong>negra</strong> apresenta uma me<strong>no</strong>r freqüência de diagnóstico prévio e, conseqüentemente, estáme<strong>no</strong>s coberta por tratamentos específicos. Os autores estimam uma maior proporçãode obesos entre negros, quando com<strong>para</strong>dos com os brancos, assinalando assim, maiorfreqüência num fator de risco importante <strong>para</strong> contrair diabetes.Outros autores citados por Zago (2000) mencionam o aparecimento de um maiornúmero de casos de poli<strong>da</strong>ctila na população <strong>negra</strong>, além <strong>da</strong> deficiência de enzimahepática (glicose-6-fosfato desidrogenase), que é o defeito enzimático <strong>da</strong>s hemáciasmais comum na espécie humana. Este defeito pode causar episódios de hemólise agu<strong>da</strong>,anemia hemolítica crônica ou ain<strong>da</strong> ser assintomático.Esta deficiência enzimática foi descrita inicialmente em negros <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s.Ela afeta mais de 200 milhões de pessoas <strong>no</strong> mundo, porém, uma parcela pequenasofre de manifestações clínicas. Apresenta-se com maior prevalência entre populaçõesbrancas de áreas do mediterrâneo e entre negros, afetando de forma mais grave quandoacomete os brancos.Embora existam discrepâncias entre os resultados de pesquisas realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,há indícios de uma maior prevalência de icterícia <strong>no</strong> período neonatal em recémnascidosdo sexo masculi<strong>no</strong> com deficiência de G-6-PD, podendo chegar a provocarquadros neurológicos graves pelo acúmulo de bilirrubina <strong>no</strong>s tecidos cerebrais.Segundo Zago (1994), ficou constatado que as doenças cardíacas e a hipertensãoarterial, umas <strong>da</strong>s principais causas de morte, são mais prevalentes <strong>no</strong>s negros, e quea última aparece mais cedo e de forma mais grave nesta população.Os <strong>da</strong>dos apresentados por Araújo (1994) mostram uma maior probabili<strong>da</strong>de (9%)de aparecimento desta doença nas mulheres <strong>negra</strong>s e alerta <strong>para</strong> as conseqüências<strong>no</strong> processo gravídico e na morte materna por toxemia decorrente de hipertensãoarterial.Com relação às síndromes hipertensivas, Pascoal (2000) destaca a hipertensãoarterial crônica e a pré-eclâmpsia – individualmente ou de forma associa<strong>da</strong> – comocomplicações que podem afetar a mulher e o feto na gravidez.206Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A pré-eclâmpsia, que ocorre principalmente em primigestas a partir <strong>da</strong> 20ª semanagestacional ou próximo ao termo do período gravídico, constitui-se <strong>para</strong> o autor comoa principal causa de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de, tanto materna como fetal, por afetarca<strong>da</strong> órgão e sistema do organismo.Pascoal (2000) chama a atenção <strong>para</strong> algumas controvérsias existentes na literaturaquanto à prevalência de pré-eclâmpsia nas mulheres <strong>negra</strong>s. Entretanto, concluique a hipertensão feminina na fase reprodutiva é mais prevalente nas mulheres <strong>negra</strong>se que, mesmo sendo um fator de risco altíssimo <strong>para</strong> a pré-eclâmpsia, ain<strong>da</strong> não háconstatações fortes em relação à prevalência desta última. Os riscos tanto mater<strong>no</strong>scomo fetais ante a presença de hipertensão crônica estão comprovados, destacando-seentre eles a morbimortali<strong>da</strong>de perinatal, o deslocamento prematuro de placenta, partosprematuros, restrições ao crescimento fetal e – mesmo até agora não quantificado –, aexposição intra-útero a drogas anti-hipertensivas.A hipertensão arterial crônica, ao ser mais freqüente entre as mulheres <strong>negra</strong>sque entre brancas, constitui um importante fator de risco <strong>para</strong> pré-eclampsia comconseqüências tanto <strong>para</strong> a mãe como <strong>para</strong> o feto, especialmente durante a primeiragravidez, aumentando sua incidência em mulheres com mais de 35 a<strong>no</strong>s.Cabe destacar que a pré-eclâmpsia provoca uma diminuição na perfusãoplacentária, fato que responderia, mesmo que em parte, pela aumenta<strong>da</strong> incidênciade retardo de crescimento intra-uteri<strong>no</strong> e de per<strong>da</strong> fetal.Por sua relação com conseqüências diretas que podem ocorrer <strong>no</strong> desenvolvimentoe morte de crianças, destacam-se os miomas uteri<strong>no</strong>s. Estudos realizados <strong>no</strong>s EstadosUnidos apontam que a prevalência de miomas entre as mulheres <strong>negra</strong>s é cinco vezesmaior que nas brancas e que, segundo seu tamanho e localização – especialmente os<strong>da</strong> parede interna do útero – provocariam maior incidência de abortamento espontâneoe parto prematuro (Oliveira, 1999).Uma pesquisa realiza<strong>da</strong> em São Paulo, por Souza (1995), verifica tanto a alta incidênciade miomas em mulheres <strong>negra</strong>s, quanto maior o percentual de histerectomiasnas <strong>negra</strong>s (cinco vezes superior ao <strong>da</strong>s brancas), coincidindo com os achados <strong>para</strong> apopulação feminina <strong>negra</strong> residente <strong>no</strong>s EUA.Os miomas localizados na parede interna do útero são os que causam maiorescasos de abortamento e de partos prematuros, ao impedir que a placenta se implantenas áreas que eles ocupam.Por último, nesta revisão <strong>da</strong> literatura sobre os fatores biológicos ou genéticos queestariam influenciando a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, deve-se destacar a necessi<strong>da</strong>dede identificar riscos diferenciais <strong>para</strong> ela, especialmente os relacionados com amortali<strong>da</strong>de fetal e perinatal, visto que já se constatou que as mulheres portadoras deSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de207


diabetes, de miomas submucosos e de anemia falciforme apresentam maior incidênciade abortamento espontâneo e de partos prematuros.Pelo explicitado anteriormente, acredita-se ser importante considerar, também, osaspectos genéticos como um dos condicionantes do processo de saúde–doença–morte,embora deva-se reconhecer suas limitações como marco explicativo abrangente dofenôme<strong>no</strong>, já que a base genética por si só não desencadeia o processo de doença.Devem-se considerar, conjuntamente, as ocorrências, condições, agravos e dificul<strong>da</strong>desde acesso aos serviços de saúde e tratamentos de doenças, derivados de condiçõessocioeconômicas desfavoráveis a que essa população está exposta.Em suma, entende-se que o processo saúde–doença–morte não é somentecondicionado por fatores biológicos, dependendo, também, dos processos sociaisconcretos que vão formando grupos populacionais diferenciados e desiguais <strong>no</strong> referenteàs condições de vi<strong>da</strong> o que, por sua vez, gera padrões patológicos particulares.Como mencionado anteriormente, poucos são os trabalhos, na literatura brasileira,que se aprofun<strong>da</strong>m <strong>no</strong> conhecimento <strong>da</strong>s interfaces dos efeitos <strong>da</strong> dimensão étnico/racial sobre a saúde <strong>da</strong> população. Segundo Coimbra e Santos (2000), <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, “nãohá uma produção sistemática acerca do peso <strong>da</strong> dimensão étnicoracial na expressãodiferencia<strong>da</strong> dos agravos à saúde”. Salientam a necessi<strong>da</strong>de, ca<strong>da</strong> vez mais crescentetanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como na América Latina, de que os estudos do processo saúde–doençaincorporem, com maior ênfase e como categoria analítica central, raça/cor e etnia.Fazendo uma revisão <strong>da</strong> bibliografia existente, os autores destacam o fato de que,embora vários outros autores apontem <strong>para</strong> sua relevância, poucos são os achadosempíricos que mostrem a existência <strong>da</strong> relação entre raça/etnia e enfermi<strong>da</strong>de.As limitações encontra<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a realização deste tipo de abor<strong>da</strong>gem residem tantonas dificul<strong>da</strong>des de operacionalização dos conceitos como na carência de fontes de<strong>da</strong>dos que permitam a construção de indicadores sociodemográficos com a finali<strong>da</strong>dede aprofun<strong>da</strong>r as pesquisas sobre desigual<strong>da</strong>des em saúde segundo raça/etnia.Os trabalhos pioneiros na área de demografia, desenvolvidos <strong>no</strong> Núcleo de Estudosde População – Nepo/Unicamp (Cunha, 1997; 1996; 1994; 1991 e 1990), valeramsede técnicas indiretas <strong>para</strong> o cálculo <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil e mortali<strong>da</strong>de adultafeminina, baseando-se na utilização <strong>da</strong>s fontes de <strong>da</strong>dos secundárias disponíveis até essemomento, que permitiram incorporar o quesito cor <strong>no</strong>s estudos desse fenôme<strong>no</strong>.Esses trabalhos apontavam, sistematicamente, <strong>para</strong> um diferencial na mortali<strong>da</strong>dede me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> dependendo <strong>da</strong> raça/cor e etnia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – Grandes Regiões euni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação –, desde 1960, apesar de o país controlar as variáveis reconheci<strong>da</strong>scomo condicionantes socioeconômicos deste evento.208Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Carvalho e Wood (1994) dedicam um capítulo de seu livro ao estudo dos níveise diferenciais <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de segundo raça, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, <strong>no</strong> período de 1950 até 1980.As estimativas <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer, deriva<strong>da</strong>s dos níveis demortali<strong>da</strong>de infantil obtidos por meio de técnicas indiretas indicaram que, mesmo tendoexperimentado uma melhoria substancial deste indicador, as diferenças entre brancos enegros mantiveram-se quase constantes em sete a<strong>no</strong>s, nas três déca<strong>da</strong>s considera<strong>da</strong>s.Assim, enquanto elevou-se de 47,5 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> 66 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> a população branca, osnegros apresentaram uma mu<strong>da</strong>nça, de 40 a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> 59,4 a<strong>no</strong>s. Estes <strong>da</strong>dos permitemaos autores concluir que as transformações na estrutura social, econômica e demográficaocorri<strong>da</strong>s <strong>no</strong> país nas três déca<strong>da</strong>s estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s não conseguiram reduzir as desigual<strong>da</strong>desentre brancos e negros.Considera-se importante ressaltar uma outra conclusão destes autores, que dizrespeito ao fato de que a dimensão raça continua associa<strong>da</strong> à mortali<strong>da</strong>de mesmodepois de terem sido controlados fatores socioeconômicos. Sugerindo, assim, que araça/cor poderia estar associa<strong>da</strong> a outros fatores, além <strong>da</strong>queles, provocando outrasdesvantagens que se refletem <strong>no</strong>s níveis de mortali<strong>da</strong>de. Nas palavras dos autores:“... os indicadores socioeconômicos tradicionais (região, ren<strong>da</strong> e educação)mostram-se responsáveis por substanciais reduções do diferencial demortali<strong>da</strong>de infanto-juvenil entre brancos e não-brancos. Entretanto, ofato de que a cor <strong>da</strong> mãe continuou a exercer efeito substancial sobre oíndice de mortali<strong>da</strong>de, mesmo após a introdução destas variáveis, indicouque a dispari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de entre crianças brancas e nãobrancasnão podia ser explica<strong>da</strong> tão-somente por aqueles indicadoressocioeconômicos. A raça/cor <strong>da</strong> mãe continua associa<strong>da</strong> à mortali<strong>da</strong>deinfanto-juvenil, após removerem-se os determinantes socioeconômicostais como ren<strong>da</strong>, nível educacional e acesso à água potável.” (Carvalho eWood, 1994).Depois de fazer uma busca <strong>da</strong> bibliografia internacional na área de saúde e,especificamente, sobre mortali<strong>da</strong>de infantil incorporando a dimensão raça/etnia, achouseque a maior quanti<strong>da</strong>de de publicações são <strong>no</strong>rte-americanas.Em geral, eles explicitam as dificul<strong>da</strong>des de trabalhar com raça/etnia quandorelaciona<strong>da</strong>s a essa área temática, porém reconhem a necessi<strong>da</strong>de e a importância desua utilização como variável discriminatória.Constata-se que, na literatura americana, os estudos epidemiológicos que fazemintervir esta variável não partem de um marco teórico de determinação estrutural <strong>da</strong>sdiferenças encontra<strong>da</strong>s, centrando-se muito mais em aspectos biológicos. A partir <strong>da</strong>aplicação de variados desenhos de pesquisa, estu<strong>da</strong>m os diferenciais <strong>no</strong>s riscos deSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de209


mortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo a raça <strong>da</strong> mãe e/ou <strong>da</strong> criança, constatandoque a raça é um fator que pode predizer esses níveis.O poder de predição <strong>da</strong> raça na mortali<strong>da</strong>de infantil se apresenta como umaevidência quase constante, mesmo em estudos que tentam controlar pela aplicação demodelos estatísticos uma série de outros fatores de risco como i<strong>da</strong>de, estado conjugale educação <strong>da</strong> mãe, número de exames pré-natais, trimestre de início do pré-natal,nível socioeconômico <strong>da</strong> família, entre outros.A maioria dos estudos calcula que a mortali<strong>da</strong>de dos filhos me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> demães <strong>negra</strong>s e brancas, residentes em diversos estados dos EUA, encontra-se próximaa um patamar duas vezes superior nas <strong>negra</strong>s do que nas brancas (Sung et al., 1994;Schieve e Handler, 1996; Stockwell e Goza, 1996).Não existe, porém, um consenso sobre as razões <strong>da</strong> manutenção dessas diferenças.Enquanto alguns enfatizam apenas os condicionantes ambientais e socioeconômicosa que a população americana está exposta em função <strong>da</strong> raça/cor, outros centram-sefortemente na dimensão biológica e alguns falam do efeito conjunto <strong>da</strong>s duas dimensões<strong>para</strong> explicar o porquê <strong>da</strong>s diferenças raciais encontra<strong>da</strong>s.Estudos epidemiológicos ou pediátricos salientam que a mortali<strong>da</strong>de neonatal émais acentua<strong>da</strong> entre os negros, mantendo-se a diferença, mesmo que num nível me<strong>no</strong>r,<strong>no</strong>s riscos relativos de mortali<strong>da</strong>de pós-neonatal entre estes e os brancos. Uma <strong>da</strong>slinhas explicativas ressalta a constatação de que, com maior freqüência, os filhos demães <strong>negra</strong>s nascem com me<strong>no</strong>r peso, além de ser mais freqüente entre eles o me<strong>no</strong>rtempo de gestação, quando com<strong>para</strong>dos com os filhos de mães brancas (Schieve eHandler, 1996; Leland et al., 1995) fatores estes que aumentariam drasticamente orisco de mortali<strong>da</strong>de antes de cumprir um a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>.Os autores estimam uma maior proporção de filhos de mães <strong>negra</strong>s com me<strong>no</strong>sde 2.500 gramas ao nascer e, em média, elas teriam gestações inferiores a 37 semanas,enquanto <strong>para</strong> as mulheres brancas a proporção de filhos prematuros e com baixo pesoao nascer seria significativamente me<strong>no</strong>r.A investigação realiza<strong>da</strong> por Mittendorf et al. (1993) <strong>no</strong> Hospital de Boston, entre1977 e 1980, e a de Stockwell e Goza (1996) baseando-se <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos de 1987 do CentroNacional de Estatísticas de Saúde, cobrindo 24 estados dos EUA, propõem <strong>para</strong> o estudo<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil em populações brancas – não-hispânicas (“anglos”), america<strong>no</strong>smexica<strong>no</strong>s e negros não-hispânicos, a construção de um índice que combine peso aonascer, tempo de gestação e o que eles de<strong>no</strong>minam como “maturi<strong>da</strong>de”, que indicaria,pelas medi<strong>da</strong>s clínicas, a existência ou não de crescimento intra-uteri<strong>no</strong> retar<strong>da</strong>tário.Resumindo os achados dos autores, pode-se destacar que a taxa de mortali<strong>da</strong>de infantilé mais alta <strong>para</strong> homens do que <strong>para</strong> mulheres, sendo muito mais alta <strong>para</strong> os bebês,210Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


que podem ser classificados, em função do índice construído, como nascimentos comresultados adversos.Utilizando a variável raça/etnia <strong>para</strong> prever os resultados, os autores estimaramque as chances de nascimentos prematuros, de baixo peso ao nascer e imaturos, econseqüentemente, <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil, são muito maiores entre os negros que <strong>para</strong>os outros dois grupos raciais, mesmo mapeando os efeitos de outros riscos provocadospor vários fatores.Entre os autores que pesquisaram sobre o tema, conjugando variáveis biológicas esocioeconômicas, parece existir uma opinião generaliza<strong>da</strong> de que as análises por grupossocioeconômicos não conseguiriam explicar as diferenças encontra<strong>da</strong>s entre brancos enegros em relação a vários aspectos <strong>da</strong> saúde e, especificamente, à mortali<strong>da</strong>de infantil.Hamvas e Mallinckrodt (2000) analisam as dispari<strong>da</strong>des raciais <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s criançascom baixo peso ao nascer, entre 1985 e 1991, salientando que as complicações <strong>da</strong>sfunções pulmonares são as que mais provocam a morte dessas crianças, convertendo-se<strong>no</strong> fator limite <strong>para</strong> a sobrevivência dos recém-nascidos com baixo peso.O trabalho confirma, numa escala nacional, que, mesmo observando-se uma reduçãosignificativa <strong>no</strong>s níveis <strong>da</strong> taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil, manteve-se uma dispari<strong>da</strong>deracial, sendo mais eleva<strong>da</strong> entre os negros que entre os brancos, independentementedo status socioeconômico e depois de terem sido introduzi<strong>da</strong>s terapias específicas <strong>para</strong>o tratamento destas complicações. Em função destas descobertas eles se perguntamse essas dispari<strong>da</strong>des estariam representando um diferencial <strong>no</strong> acesso ao tratamento:fosse por respostas diferentes ante o tratamento ou pelo fato dessas complicações <strong>da</strong>sfunções pulmonares apresentarem-se com freqüências distintas em bebês brancos enegros. Em resposta a esta questão os autores observaram a não existência de diferenciaisraciais de mortali<strong>da</strong>de infantil por funções pulmonares em crianças com baixo peso aonascer relativas ao acesso a tratamento e não foram constata<strong>da</strong>s respostas diferentesentre negros e brancos ante o tratamento. Nas suas conclusões indicam que, uma vezexcluí<strong>da</strong>s as funções pulmonares dentre as causas de morte infantil de nascidos combaixo peso, poderiam prevalecer outras doenças provoca<strong>da</strong>s por diferenciais biológicos,e que não respondendo igualmente a tratamentos praticados, explicariam as maiorestaxas de mortali<strong>da</strong>de infantil entre os negros.Uma outra linha de pesquisa aponta <strong>para</strong> a necessi<strong>da</strong>de de que os estudosconsiderem, as inter-relações dos fatores culturais e ambientais, e psicossociais aosque, cronicamente, as mulheres <strong>negra</strong>s estão expostas devido à discriminação racial,situação que afetaria negativamente seu processo reprodutivo, a saúde e sobrevivênciade seus filhos (Blackmore et al., 1993).Outros autores como A<strong>da</strong>ms et al. (1991) destacam o maior risco relativo naprevalência de hipertensão <strong>da</strong>s mães <strong>negra</strong>s, estimando-se esse risco em duas vezesSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de211


superior. Este fato e o aparecimento de complicações deriva<strong>da</strong>s desta doença, especialmentenas i<strong>da</strong>des reprodutivas mais avança<strong>da</strong>s explicariam, em parte, as maiorestaxas de mortali<strong>da</strong>de infantil entre seus filhos.Avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos básicosAs mais recentes informações divulga<strong>da</strong>s pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde, conti<strong>da</strong>s natabela 1, permitem constatar uma subenumeração importante entre os registros obtidospelos dois sistemas de informações: Sistema de Informação sobre Mortali<strong>da</strong>de (SIM) eSistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc).Ao calcular a relação entre os obtidos informados e as mortes espera<strong>da</strong>s,observam-se, <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> de 1999, valores inferiores a um, o que estaria apontando<strong>para</strong> uma cobertura inferior a valores reais dos óbitos ocorridos neste a<strong>no</strong> e que foramincorporados ao sistema de informações, ficando quase 20% dos óbitos nacionais semo registro correspondente.Este fato apresenta-se com diferente intensi<strong>da</strong>de nas regiões brasileiras, mostrandoum gradiente <strong>no</strong> grau de cobertura deste fenôme<strong>no</strong> demográfico. Assim, a subenumeraçãomostra-se mais importante nas regiões Nordeste e Norte, aumentando o valor<strong>da</strong> razão nas outras três regiões, mostrando a me<strong>no</strong>r per<strong>da</strong> de registros na região Sul,já que mais de 95% <strong>da</strong>s mortes ocorri<strong>da</strong>s foram registra<strong>da</strong>s neste mesmo a<strong>no</strong>.Salienta-se o fato de que tanto <strong>no</strong> Nordeste como na região Norte a per<strong>da</strong> deinformações sobre os óbitos ocorridos fica próxima de 40% e 30%, respectivamente.Ao tratar dos óbitos <strong>da</strong> população me<strong>no</strong>r de um a<strong>no</strong> a cobertura perde ain<strong>da</strong> maisquali<strong>da</strong>de, provocando uma diminuição <strong>no</strong>s registros muito significativa <strong>para</strong> o país eto<strong>da</strong>s as grandes regiões. Entretanto, faz-se necessário ressaltar as diferenças segundoo lugar de residência já que, se na esfera nacional a per<strong>da</strong> de registros dos óbitos deme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> chega a mais de 40%, esse valor passa a ser de mais de 60% <strong>no</strong><strong>no</strong>rdeste do país.Conseqüentemente, podemos concluir na necessi<strong>da</strong>de de que, <strong>no</strong> caso de estaranalisando a tendência, nível e características <strong>no</strong> comportamento desta variável, sedeve estar alerta a que, na ver<strong>da</strong>de, se estaria trabalhando tão-só com 40% dos casosreais.212Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 1Razão entre nascidos vivos informados e estimados, razão de óbitostotais e de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> informados e estimados. Regiões do<strong>Brasil</strong> e uni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação; 1999Regiões e Uni<strong>da</strong>des<strong>da</strong> FederaçãoRazão entre NascidosRazão de Óbitos deRazão de ÓbitosVivos 2 1 Me<strong>no</strong>res de 1 A<strong>no</strong> 2<strong>Brasil</strong> 92,8 81,9 57,0Norte 79,6 67,7 60,5Rondônia 88,9 75,4 61,7Acre 94,0 64,5 64,5Amazonas 75,8 70,0 70,2Roraima 116,6 87,1 68,6Pará 74,7 65,1 53,1Amapá 99,6 75,8 96,5Tocantins 80,0 62,1 56,4Nordeste 80,2 60,9 39,5Maranhão 66,7 35,5 21,7Piauí 72,6 41,7 26,0Ceará 72,6 62,2 40,3Rio Grande do Norte 91,5 59,3 38,4Paraíba 64,9 53,5 27,7Pernambuco 97,9 75,6 54,4Alagoas 80,6 60,6 39,8Sergipe 92,5 79,5 63,4Bahia 83,8 65,6 41,1Sudeste 102,8 94,3 77,6Minas Gerais 90,1 87,4 71,9Espírito Santo 100,9 94,6 69,4Rio de Janeiro 116,6 95,0 89,3São Paulo 104,7 97,1 77,0Sul 102,5 95,3 77,3Paraná 100,3 94,0 75,0Santa Catarina 101,3 93,4 75,4Rio Grande do Sul 105,6 97,2 81,9Centro-Oestet 99,0 86,7 73,0Mato Grosso do Sul 96,1 98,2 99,3Mato Grosso 87,1 84,8 65,5Goiás 99,5 85,1 67,5Distrito Federal 116,7 80,4 70,8Fonte: Ministério <strong>da</strong> Saúde/Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde – Funasa/Centro Nacional de Epidemiologia– Cenepi. Sistema de Informações sobre Mortali<strong>da</strong>de - SIM; Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos- Sinasc. Fun<strong>da</strong>ção IBGE.1. Número de nascidos vivos informados <strong>para</strong> 100 nascidos vivos estimados.2. Número de óbitos informados <strong>para</strong> 100 óbitos estimados.Um outro ponto a ser considerado quando se quer avaliar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sinformações a serem utiliza<strong>da</strong>s, diz respeito às causas registra<strong>da</strong>s como mal defini<strong>da</strong>s,as quais não <strong>no</strong>s permitiriam traçar um perfil epidemiológico dos óbitos ocorridos numdeterminado espaço e tempo.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de213


Além do grau de cobertura, os <strong>da</strong>dos contidos na tabela 2, fornecidos pelo próprioMinistério <strong>da</strong> Saúde, permitem avaliar uma leve melhora na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informaçãosobre as causas de morte <strong>no</strong> país e nas grandes regiões <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s. Entretanto, nesteitem como <strong>no</strong>s anteriores, fica constata<strong>da</strong> mais uma vez a heterogenei<strong>da</strong>de regionalna quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações de saúde. Enquanto <strong>no</strong> Sul do país os valores de causasmal defini<strong>da</strong>s são inferiores a 10%, a região Nordeste apresenta o triplo deste valor.Tabela 2. Mortali<strong>da</strong>de proporcional por causas mal defini<strong>da</strong>s, segundograndes regiões. <strong>Brasil</strong>, 1996-20001996 1997 1998 1999 2000<strong>Brasil</strong> 15,1 14,7 14,9 14,8 14,3Norte 24,2 24,4 24,2 24,5 24,5Nordeste 32,4 31,2 29,8 30,3 28,2Sudeste 9,2 9,1 10,0 9,5 9,8Sul 8,9 7,7 7,7 7,1 6,3Centro-Oeste 10,8 10,5 10,6 10,0 8,5Fonte: Funasa. Ministério <strong>da</strong> Saúde.Os valores divulgados pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde referentes ao Sinasc (tabela 1)apontam <strong>para</strong> uma cobertura maior <strong>no</strong>s nascimentos contidos neste sistema quandocom<strong>para</strong>dos com a cobertura dos óbitos. Assim, a razão calcula<strong>da</strong> na esfera nacionalmostra uma cobertura de quase 93% e uma per<strong>da</strong> de 20% <strong>no</strong>s registros de nascidosvivos residentes nas regiões Norte e Nordeste do país. Cabe ressaltar que, <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> de1999, nas regiões Sul e Sudeste, os valores <strong>da</strong>s razões sendo superiores a 100, apontam<strong>para</strong> uma sobre enumeração dos registros de nascidos vivos inseridos <strong>no</strong> sistema, comrelação aos esperados. Este mesmo fenôme<strong>no</strong>, com maior intensi<strong>da</strong>de, se observa emRoraima e <strong>no</strong> Distrito Federal.214Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 1. Registros de Nascidos Vivos, segundo Sinasc e IBGE. <strong>Brasil</strong>, 1994-2002As informações conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> gráfico 1 permitem constatar que, desde 1994 – a<strong>no</strong>em que se inicia a divulgação <strong>da</strong>s informações deste sistema –, os registros do Sinascapresentam uma tendência crescente de cobertura até chegar a superar aqueles sujeitosprovenientes <strong>da</strong>s estatísticas vitais. Porém, a partir do a<strong>no</strong> de 1999, reverte-se essatendência, começando a decrescer o número absoluto de registros de nascidos vivos ediminuir, com<strong>para</strong>tivamente aos registros de nascidos vivos provenientes <strong>da</strong>s estatísticasvitais e divulga<strong>da</strong>s pelo IBGE.Como parte do pla<strong>no</strong> tabular idealizado <strong>para</strong> esta pesquisa, achou-se necessárioincorporar uma outra série de exercícios que, por meio de tabulações especiais comas informações provenientes tanto do SIM como do Sinasc, permitissem dimensionara percentagem de registros com os quais não se poderia trabalhar por não constar ainformação sobre raça/cor.Os resultados destas análises, a partir <strong>da</strong>s informações provenientes do Sinasc,mostram uma alta variabili<strong>da</strong>de nas percentagens de registros sem informação de raça/cor (tabela 3). Pelos comentários realizados <strong>no</strong>s parágrafos anteriores, chama a atençãoo comportamento específico desta variável na região Norte do país, onde se constatamas me<strong>no</strong>res percentagens de registros de nascimentos sem a informação referente araça/cor (3%). Para as outras variáveis conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Sinasc, assim como as do SIM foi,justamente esta região que apresentou os níveis de cobertura mais baixos.Contudo, é importante salientar que existe uma tendência de melhora na quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> informação sobre raça/cor por tempo já que em 1996, a<strong>no</strong> em que foi incorporadoo quesito cor <strong>no</strong>s atestados de óbitos, a percentagem sem declaração chegava a valorespróximos a 45% <strong>para</strong> o país.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de215


Nas restantes variáveis a serem utiliza<strong>da</strong>s nesta pesquisa, pode-se concluir que aquanti<strong>da</strong>de de informação não declara<strong>da</strong> é relativamente muito baixa permitindo umexcelente aproveitamento dos registros deste sistema.Tabela 3. Percentagem de Nascidos Vivos sem declaração. <strong>Brasil</strong>; GrandesRegiões, 2000.Raça/Cor Consultas Pré-Natal Peso ao Nascer I<strong>da</strong>de Gestacional<strong>Brasil</strong> 13 4 0,8 1,3Norte 3 3 1,1 1,3Nordeste 14 6 1,2 1,3Sudeste 18 3 0,8 1,7Sul 2 1 0,2 0,4Centro-Oeste 12 3 0,4 0,8Fonte: Sinasc 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Ao se tratar dos óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, observa-se uma grande diversi<strong>da</strong>dede percentagens de registros sem informação, segundo algumas variáveis, o que leva adestacar a necessi<strong>da</strong>de de continuar aperfeiçoando a quali<strong>da</strong>de do SIM, <strong>no</strong> país.Quanto à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação referente à raça/cor, observa-se que em 47%dos óbitos de crianças residentes <strong>no</strong> Nordeste não contam com este registro, valor quediminui <strong>para</strong> 13% <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> região Sul e 20% entre os residentes <strong>no</strong> Sudeste.Entre as características usualmente identifica<strong>da</strong>s como condicionantes <strong>da</strong> mortede me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, a i<strong>da</strong>de e o nível de instrução <strong>da</strong> mãe são as que concentrama maior proporção de casos não registrados. Este fato <strong>no</strong>s leva a alertar <strong>para</strong> a necessi<strong>da</strong>dede maior cautela na hora de concluir as análises <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil segundoestas duas variáveis.Tabela 4. Percentagem de óbitos me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> sem declaração. <strong>Brasil</strong>,Grandes Regiões, 2000.Raça/Cor I<strong>da</strong>de Mãe Instrução <strong>da</strong> Mãe Causa de Morte<strong>Brasil</strong> 30 38 49 11Norte 24 24 38 16Nordeste 47 43 51 20Sudeste 20 41 55 5Sul 13 31 40 6Centro-Oeste 25 39 47 5Fonte: SIM 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.216Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As proporções de eventos sem declaração <strong>da</strong> causa de morte acompanha o padrãodescrito até agora sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação dos sistemas de Saúde, apresentandoos valores relativamente mais baixos nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste eproporcionalmente muito mais altos <strong>no</strong> Norte e Nordeste do país.Em função <strong>da</strong>s conclusões destas análises de quali<strong>da</strong>de, tomou-se a decisão detabular, analisar, comentar e concluir somente as estimativas nas quais se tivesse melhoravaliação sobre sua quali<strong>da</strong>de.Por esta razão, mesmo que tenham sido tabula<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as informações de todos ossistemas considerando to<strong>da</strong>s as variáveis neles conti<strong>da</strong>s, algumas <strong>da</strong>s estimativas obti<strong>da</strong>sforam considera<strong>da</strong>s como marcos contextuais com<strong>para</strong>tivos <strong>no</strong>s grandes números enão <strong>no</strong>s adentraremos em conclusões específicas.Gráfico 2. Proporção de filhos mortos por i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mães <strong>negra</strong>s, residentes emáreas urbanas. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000.Fonte: Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de217


Uma avaliação preliminar do comportamento <strong>da</strong>s proporções de filhos mortos(Dis), segundo i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mães e as demais características a serem analisa<strong>da</strong>s a partir dos<strong>da</strong>dos coletados pelo Censo Demográfico, é imprescindível <strong>no</strong> cálculo <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>deinfantil por métodos indiretos.Espera-se que essas distribuições assumam o comportamento de uma curvaexponencial – a maior i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mãe com maior proporção de filhos mortos – em funçãodos maiores níveis de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> passado e do maior tempo de exposição ao riscode morrer. O caso apresentado <strong>no</strong> gráfico 2, que contém as curvas <strong>da</strong>s proporções defilhos mortos segundo i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mães <strong>negra</strong>s, residentes nas grandes regiões do país,mostra curvas com formas que permitem trabalhar, com uma confiança razoável, asestimativas obti<strong>da</strong>s pelas técnicas indiretas.Caso essa distribuição apresente comportamentos erráticos, a informação ficacomprometi<strong>da</strong>. Como exemplo, podem-se citar as curvas representa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> gráfico 3,correspondentes ao estado de Amazonas onde o comportamento <strong>da</strong> proporção de filhosmortos (Dis) <strong>da</strong>s mães pretas residentes em áreas urbanas não <strong>no</strong>s permitiu analisar asestimativas provenientes dessas informações.Gráfico 3. Proporção de filhos mortos por i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mães pretas, residentes emáreas urbanas. <strong>Brasil</strong> e estado do Amazonas, 2000.Fonte: Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Em função destas análises, decidiu-se trabalhar com as categorias de raça/corbranca e <strong>negra</strong> – sem discriminar pardos e pretos – considerando como uni<strong>da</strong>desde análises as grandes regiões do país fazendo menção, quando possível, a algumasuni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> federação onde os resultados <strong>da</strong>s análises prévias <strong>no</strong>s levassem a concluirsobre as estimativas obti<strong>da</strong>s com uma certa segurança.218Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Análise do comportamento <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantilGráfico 4. Evolução <strong>da</strong>s taxas de Mortali<strong>da</strong>de Infantil, <strong>Brasil</strong>, GrandesRegiões. 1930-2000.Fonte: IBGE Censos Demográficos de 1940 a 1991 e resultados preliminares do Censo 2000.Numerosos estudos constatam que, nas últimas déca<strong>da</strong>s, especialmente a partirdos a<strong>no</strong>s 50, ocorreram intensas modificações <strong>no</strong> padrão <strong>da</strong> morbimortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong><strong>Brasil</strong>. Podem-se citar como exemplos mais significativos o decréscimo dos níveis demortali<strong>da</strong>de infantil (redução <strong>da</strong>s taxas de aproxima<strong>da</strong>mente 78%, desde 1940 até fins<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990) e o conseqüente aumento <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer (de 46a<strong>no</strong>s em 1950, <strong>para</strong> 68,5 a<strong>no</strong>s em 2000). Paralelamente, e como um dos condicionantesdiretos desse processo, assistiu-se à redução do peso relativo <strong>da</strong>s doenças infecciosas e<strong>para</strong>sitárias que, ao representar mais de 45% <strong>da</strong>s mortes, em 1930, passaram a responderpor me<strong>no</strong>s de 10% na déca<strong>da</strong> de 1980 (Cunha, 1997).Sabe-se que esta trajetória de declínio esteve relaciona<strong>da</strong> às transformações estruturais,sociais, econômicas e políticas que marcaram o desenvolvimento do país nas últimascinco déca<strong>da</strong>s. Na conjugação de ações que influenciaram mais diretamente nesta diminuiçãopode-se destacar: aumento significativo do grau de urbanização do país, aumento<strong>da</strong> escolarização, expansão <strong>da</strong> rede assistencial, ampliação <strong>da</strong> rede de saneamento básico,programas específicos <strong>para</strong> as crianças como uma maior cobertura vacinal.Entretanto, a melhoria observa<strong>da</strong> <strong>no</strong>s indicadores sociais e, conseqüentemente,<strong>no</strong>s níveis <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil do país deu-se concomitantemente coma manutenção de sérias dispari<strong>da</strong>des regionais e sociais. Como exemplo, podem sercitados os marcantes contrastes entre as diferentes regiões do país <strong>no</strong> comportamentoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de219


histórico <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil, com a região Nordeste que apresentou, na últimadéca<strong>da</strong>, taxa 124% maior do que a região Sul (Barreto e Carmo,1995).Ao analisar a composição por i<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil pode seobservar <strong>no</strong> gráfico 5, a diversi<strong>da</strong>de regional <strong>no</strong>s valores <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>deneonatal precoce (até seis dias de vi<strong>da</strong>), neonatal tardia (de sete até 28 dias de vi<strong>da</strong>) epós-neonatal (de 28 até 364 dias de vi<strong>da</strong>).Gráfico 5. Taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil total, neonatal precoce, neonatal tardia epós-natal. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000Em geral, espera-se que, à medi<strong>da</strong> que diminuem os níveis de mortali<strong>da</strong>de infantil,a composição <strong>da</strong>s taxas por i<strong>da</strong>de sofra variações, sendo que a mortali<strong>da</strong>de do períodopós-neonatal tende a perder peso relativo, associa<strong>da</strong> à redução <strong>da</strong>s mortes por causasevitáveis, especialmente as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias. Em contraparti<strong>da</strong>, amortali<strong>da</strong>de vai se concentrando <strong>no</strong> período neonatal (especialmente a precoce),aumentando o peso relativo de causas perinatais e <strong>da</strong>s a<strong>no</strong>malias congênitas, as quaisestão, majoritariamente, associa<strong>da</strong>s a um adequado acesso aos serviços de pré-natale de alta resolutivi<strong>da</strong>de, que permitam acompanhar e resolver <strong>no</strong> tratamento tanto<strong>da</strong> mãe como do feto <strong>no</strong> período gravídico, possíveis malformações congênitas e/oudetermina<strong>da</strong>s patologias que possam ser evitáveis.Inversamente, maior número de óbitos entre me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> ocorri<strong>da</strong>s entreos 28 e 364 dias de vi<strong>da</strong> (pós-neonatal) estariam refletindo as condições ambientais– problemas de nutrição, falta de acesso ou acesso inadequado à infra-estrutura básicade saneamento, baixa cobertura vacinal, falta de acesso a serviços básicos de saúde– afetando a quali<strong>da</strong>de e o estilo de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população.220Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


No caso do país e to<strong>da</strong>s as Grandes Regiões observa-se que, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2000, aprobabili<strong>da</strong>de de morrer <strong>no</strong> período neonatal precoce (até sete dias de vi<strong>da</strong>) é maiorque a probali<strong>da</strong>de de morrer <strong>no</strong> período neonatal tardio ou pós neonatal (de 28 até364 dias). Entretanto, em regiões onde a mortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> é maior, adiferença entre as taxas neonatais e pós-neonatais diminuem. Um outro fato a destacaré a diversi<strong>da</strong>de regional <strong>no</strong>s valores em to<strong>da</strong>s as i<strong>da</strong>des dos óbitos infantis destacandoas diferenças entre Norte e Nordeste com o restante do país.Tabela 5. Mortali<strong>da</strong>de Infantil (por mil nascidos vivos), segundo raça/cor. <strong>Brasil</strong>,1977, 1987 e 1993Branca Negra (a) Total1977 76 96 871987 43 72 581993 (b) 37 62 43a) Inclui as populações classifica<strong>da</strong>s como par<strong>da</strong> e preta.b) Estimativas de Simões e Cardoso (1997).Fonte: IBGE. Censos Demográficos – 1980, 1991; Pnad, 1995. Tabulações especiaisNepo/Unicamp.As estimativas conti<strong>da</strong>s na tabela 5 evidenciam vários aspectos importantes <strong>no</strong>que se refere ao comportamento do fenôme<strong>no</strong> em estudo. O primeiro deles refere-seà manutenção <strong>da</strong> tendência de redução significativa, entre 1977 e 1993, <strong>da</strong>s taxas demortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> (51%).Entretanto, quando se faz intervir a variável raça/cor, constata-se um diferencial<strong>no</strong>s níveis encontrados, além de uma tendência de redução desigual entre os grupos.Assim, enquanto o índice de mortali<strong>da</strong>de infantil de brancos me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> diminui43% <strong>no</strong> mesmo período, a redução <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil <strong>negra</strong> alcançou um patamarsignificativamente me<strong>no</strong>r, ou seja, apenas 25%. Desta forma, as estimativas mostraramque os filhos de mães <strong>negra</strong>s estavam sujeitos a níveis superiores de mortali<strong>da</strong>de infantilquando com<strong>para</strong>dos aos de mães brancas, fato que os coloca numa posição altamentedesvantajosa.Um segundo aspecto refere-se ao fato de que as desigual<strong>da</strong>des raciais se acentuarampelo tempo. Assim, enquanto a diferença relativa entre os níveis de mortali<strong>da</strong>de deme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> de negros e brancos, segundo os <strong>da</strong>dos do Censo de 1980, era de21%, este valor aumentou <strong>para</strong> 40% passados dez a<strong>no</strong>s e se manteve nesse patamaraté meados dos a<strong>no</strong>s 90. Ao que parece, estes achados sugerem que os filhos de mães<strong>negra</strong>s tiveram aumenta<strong>da</strong> sua desvantagem, com<strong>para</strong>tivamente aos brancos, quantoà sua exposição ao risco de adoecer e morrer (Cunha, 2001).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de221


Gráfico 6. Expectativa de vi<strong>da</strong> ao nascer (em a<strong>no</strong>s) segundo cor. <strong>Brasil</strong>, 1987Fonte: IBGE. Censo Demográfico 1991. Tabulações especiais.* Considera-se a população classifica<strong>da</strong> como par<strong>da</strong> e preta.A partir <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil e assumindo um determinado padrão demortali<strong>da</strong>de, é possível calcular o número médio de a<strong>no</strong>s, que se espera, viverá apopulação. A estimativa <strong>da</strong> expectativa de vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> o total <strong>da</strong> população, deriva<strong>da</strong>de técnicas indiretas e apresenta<strong>da</strong> <strong>no</strong> gráfico 6, situava-se em tor<strong>no</strong> de 68 a<strong>no</strong>s, nadéca<strong>da</strong> de 1980. Discrimina<strong>da</strong>s segundo cor, as estimativas mostram que os brancosatingiriam uma expectativa de vi<strong>da</strong> de 72 a<strong>no</strong>s, enquanto os negros alcançariam 65a<strong>no</strong>s. Esta diferença de sobrevivência entre a população branca e <strong>negra</strong> – de sete a<strong>no</strong>s– manteve-se quase constante desde a déca<strong>da</strong> de 1940 (Carvalho e Wood, 1994),mesmo a despeito dos ganhos obtidos na que<strong>da</strong> dos níveis <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de geral.Os valores obtidos por meio de técnicas indiretas, a partir <strong>da</strong>s informações sobrefecundi<strong>da</strong>de retrospectiva e atual, segundo i<strong>da</strong>de e raça/cor declara<strong>da</strong> pelas mulherese coleta<strong>da</strong>s pelo Censo Demográfico do a<strong>no</strong> 2000, permitiu-<strong>no</strong>s chegar aos númerosde mortali<strong>da</strong>de infantil contidos na tabela 6 que se referem ao a<strong>no</strong> de 1996.Um primeiro fato a destacar é que, quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s com as estimativasdiretas, provenientes <strong>da</strong>s estatísticas vitais, percebe-se que as medi<strong>da</strong>s indiretasprovocam uma subestimação significativa <strong>no</strong>s valores <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de de morte dosme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>. Constata-se um diferencial de 33% na probabili<strong>da</strong>de de morteantes de completar o primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>, entre filhos de mães brancas e <strong>negra</strong>s <strong>no</strong>país, com uma variabili<strong>da</strong>de entre 12% dos residentes na região Centro-Oeste e umvalor relativo superior (27%) <strong>para</strong> os residentes na região Sul. Desta monta deve-seressaltar que as conclusões origina<strong>da</strong>s em estimativas deriva<strong>da</strong>s desta técnica – únicomeio atual de analisar diferenciais raciais na esfera nacional e por certas característicassocioeconômicas – devem centrar-se, somente, em diferenciais entre categorias <strong>da</strong>svariáveis em estudo.222Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 6. Mortali<strong>da</strong>de Infantil segundo raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 1996Branca Negra Total Estimativa IBGE Dif.%<strong>Brasil</strong> 24 36 30 39 33Centro-Oeste 22 25 23 26 12Nordeste 40 48 45 61 17Norte 28 32 31 36 13Sudeste 20 26 22 26 23Sul 19 26 20 23 27Fonte: IBGE,Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.As informações conti<strong>da</strong>s na tabela 7 mostram que existem marca<strong>da</strong>s diferenças namortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo resi<strong>da</strong>m em áreas urbanas ou rurais, nãosó pelo desenvolvimento socioeconômico destas áreas, como também pelas diferençasna disponibili<strong>da</strong>de de serviços, recursos huma<strong>no</strong>s e infra-estrutura de saúde.Os maiores diferenciais raciais aparecem nas áreas urbanas do país, onde amortali<strong>da</strong>de dos filhos de mães <strong>negra</strong>s apresentam uma probabili<strong>da</strong>de 36% superioraos de mães brancas. Segundo as regiões do país, observam-se maiores diferençasraciais nas áreas com me<strong>no</strong>res níveis de mortali<strong>da</strong>de infantil. Como exemplo pode-se aregião Sul com 34% de diferença entre a morte de filhos de mães brancas e <strong>negra</strong>s – e,inversamente, as me<strong>no</strong>res diferenças raciais nas regiões com altos níves de mortali<strong>da</strong>deinfantil – 18% – entre os residentes <strong>da</strong> região Norte.Tabela 7. Mortali<strong>da</strong>de infantil por situação de domicílio segundo raça/cor.<strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 1996Urba<strong>no</strong>RuralRegião Branca Negra Branca Negra<strong>Brasil</strong> 27 42 39 55Norte 33 40 38 38Nordeste 47 59 59 68Sudeste 22 31 25 36Sul 21 32 27 36Centro-Oeste 23 31 33 35Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Os cálculos <strong>da</strong>s distintas probabili<strong>da</strong>des de morrer antes de completar um a<strong>no</strong>de vi<strong>da</strong>, segundo a instrução <strong>da</strong> mãe, refletem o seu efeito na mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s criançasme<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>. De fato, observa-se que à medi<strong>da</strong> em que a mãe alcança níveisde instrução mais elevados, diminuem as probabili<strong>da</strong>des de morte de seus filhos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de223


Ao analisar, os <strong>da</strong>dos segundo a raça/cor declara<strong>da</strong> pela mãe, verifica-se umasobremortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s crianças <strong>negra</strong>s, independentemente do nível de instrução <strong>da</strong>mesma, fato que reforça a importância <strong>da</strong> primeira variável como condicionante <strong>da</strong>mortali<strong>da</strong>de infantil. Também mostram que as diferenças com relação às mães brancassão manti<strong>da</strong>s em todos os níveis de escolari<strong>da</strong>de, apontando uma desvantagem deseus filhos que ultrapassa o acesso ao sistema formal educativo, variando segundo onível de instrução alcançado e a região de residência (tabela 8).Tabela 8. Mortali<strong>da</strong>de Infantil por nível de instrução <strong>da</strong> mãe segundo raça/cor.<strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 1996Nenhuma 1º Grau 2º Grau SuperiorRegião Branca Negra Branca Negra Branca Negra Branca Negra<strong>Brasil</strong> 71 83 30 43 20 26 17 38Norte 74 56 37 40 28 25 20 30Nordeste 96 102 52 58 26 31 24 34Sudeste 50 58 24 32 18 22 15 33Sul 56 62 23 32 19 35 33 32Centro-Oeste 64 82 27 30 15 19 27 23Fonte: IBGE,Censo Demográfico 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Deve-se reconhecer a limitação analítica do uso de um único indicador (graude instrução), como aproximação <strong>da</strong>s condições materiais de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população. Naver<strong>da</strong>de, deveriam também ser considerados indicadores como ren<strong>da</strong> média familiarcomo aproximação <strong>da</strong> apropriação de recursos materiais <strong>da</strong>s famílias; condições desaneamento dos domicílios – de importância fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> a saúde <strong>da</strong>s crianças.Entretanto, sabe-se que a educação <strong>da</strong> mãe tem um forte impacto nas chances desobrevivência do filho, apresentando uma distribuição desigual, característica que seagudiza ain<strong>da</strong> mais quando observa<strong>da</strong> segundo a raça/cor.Mesmo diante <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de de calcular a mortali<strong>da</strong>de infantil por raça/cora partir <strong>da</strong>s estatísticas vitais, a riqueza desta fonte, em termos <strong>da</strong>s características donascimento e do óbito, tor<strong>no</strong>u-a uma <strong>da</strong>s possíveis fonte de informação <strong>para</strong> as análisesrealiza<strong>da</strong>s. Conseqüentemente, serão apresenta<strong>da</strong>s tabulações realiza<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong>sinformações conti<strong>da</strong>s <strong>no</strong> SIM, correspondentes ao a<strong>no</strong> de 2000, que permitiramanalisar a existência de possíveis diferenciais raciais segundo algumas característicasconsidera<strong>da</strong>s de relevância <strong>para</strong> o estudo <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil.No a<strong>no</strong> considerado, dentre todos os óbitos nacionais com i<strong>da</strong>de declara<strong>da</strong>, osde me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> representaram 5%. Esta percentagem varia segundo a regiãode residência devido aos diferentes números de mortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>,como também às diferentes estruturas por i<strong>da</strong>de nas suas populações.224Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Assim, <strong>no</strong> Norte e Nordeste, onde os número são mais elevados e a pirâmidepopulacional mostra-se com uma base mais alarga<strong>da</strong> em função <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de maisalta, estas proporções elevam-se a 15% e 8%, respectivamente. Nas demais regiões,enquanto a proporção de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> sobe, o total de óbitos vaidiminuindo (tabela 9).Tabela 9. Percentagem de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> sobre o total de óbitos.<strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000Região % óbitos me<strong>no</strong>res de 1 a<strong>no</strong><strong>Brasil</strong> 5,4Norte 15,2Nordeste 8,0Sudeste 4,6Sul 4,7Centro-Oeste 7,2Fonte: SIM, 2000. Tabulações Especiais Nepo/UnicampA tabela 10 permite constatar, <strong>para</strong> o total do país, proporções mais eleva<strong>da</strong>s deóbitos ocorridos <strong>no</strong>s primeiros dias de vi<strong>da</strong>, entre aqueles declarados como brancosquando com<strong>para</strong>dos os negros. Em geral, este comportamento se repete <strong>para</strong> as regiõescom níveis com<strong>para</strong>tivamente mais baixos de mortali<strong>da</strong>de de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>,como o caso do Sudeste e Sul do país. Nas demais regiões observa-se que o pesoproporcional de mortes <strong>no</strong> período pós-neonatal – desde os 28 até os 364 dias de vi<strong>da</strong>– é maior entre a população me<strong>no</strong>r de um a<strong>no</strong> declara<strong>da</strong> como <strong>negra</strong>.Como foi explicitado anteriormente, a maior concentração de mortes pós-neonataisestaria apontando <strong>para</strong> piores condições ambientais e materiais de vi<strong>da</strong> e me<strong>no</strong>racesso a serviços básicos – seja de infra-estrutura de saneamento ou de saúde – fatoresque estariam provocando mortes por causas altamente evitáveis.Tabela 10. Percentagem de óbitos infantis segundo i<strong>da</strong>de por raça/cor.<strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões 2000BrancaNegraNeonatalNeonatalPós- NeonatalRegião Precoce Tardia Precoce TardiaPós-Neonatal<strong>Brasil</strong> 47,5 15,9 36,5 45,3 13,7 41,1Norte 43,1 14,7 42,2 49,7 12,8 37,5Nordeste 39,0 13,7 47,3 42,9 12,2 44,9Sudeste 50,5 17,1 32,4 46,2 15,6 38,2Sul 48,4 14,7 36,9 45,0 13,4 41,7Centro-Oeste 48,4 17,9 33,7 43,7 17,3 39,0Fonte: SIM 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de225


Ao agrupar as causas de morte em evitáveis e não evitáveis segundo a classificaçãoproposta por Ortiz e Santos (1996), observa-se uma distribuição percentual relativamentesimilar segundo a raça/cor do óbito sem diferenças estatisticamente significativas.Contudo, observa-se uma leve diferença nas mortes nacionais de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>negros que assumem valores mais altos nas causas considera<strong>da</strong>s como evitáveis: 84%contra 81% <strong>no</strong>s óbitos brancos.Tabela 11. Percentagem de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> segundo tipo de causasde morte por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000BrancaNegraEvitáveis Não evitáveis Evitáveis Não evitáveis<strong>Brasil</strong> 81 19 84 16Norte 84 16 84 16Nordeste 86 14 85 15Sudeste 80 20 83 17Sul 80 20 79 21Centro-Oeste 80 20 82 18Fonte: SIM, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Ao analisar as causas de morte segundo os Grandes Capítulos <strong>da</strong> ClassificaçãoInternacional de Doenças (CID), e desconsiderando o capítulo de causas mal defini<strong>da</strong>s,pode-se obter um pa<strong>no</strong>rama do perfil epidemiológico <strong>da</strong>s crianças com me<strong>no</strong>s de uma<strong>no</strong> de i<strong>da</strong>de.Os gráficos 7 e 8 mostram a participação relativa <strong>da</strong>s cinco principais causas demorte, segundo sua ordem de importância e a raça/cor declara<strong>da</strong> dos óbitos infantis,<strong>para</strong> o país.Os resultados mostram uma primeira causa de morte comum a ambos grupospopulacionais: aproxima<strong>da</strong>mente 63% <strong>da</strong>s mortes ocorrem por afecções origina<strong>da</strong>s<strong>no</strong> período perinatal.O segundo grupo de causas já apresenta valores díspares entre as mortes de criançasbrancas e <strong>negra</strong>s. Assim, enquanto os me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> declarados como brancosapresentam 17% <strong>da</strong>s mortes por malformação congênita e a<strong>no</strong>malias cromossômicas,entre os negros 13% sofrem de mortes provoca<strong>da</strong>s por doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias,colocando-se assim como segundo grupo de causas de morte <strong>para</strong> este grupo.226Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 7. Principais causas de morte infantil <strong>da</strong> população branca. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: SIM, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Como terceiro grande grupo entre as crianças brancas, surgem, com 9% do total<strong>da</strong>s mortes, as doenças do aparelho respiratório, ocupando a mesma posição (terceira)entre os óbitos negros junto com as malformações congênitas.Por último cabe destacar que as causas externas aparecem entre os cinco principaisgrupos de causas de morte <strong>para</strong> os me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> declarados como brancos. Entretanto,<strong>para</strong> os negros essa mesma posição relativa é ocupado pelo grupo de doenças endócrinas,nutricionais e metabólicas, representando 4% do total de óbitos dessa categoria de cor.Gráfico 8. Principais causas de morte infantil <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. <strong>Brasil</strong>, 2000Fonte: SIM, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de227


Um resumo <strong>da</strong>s características pesquisa<strong>da</strong>s na Declaração de Nascidos Vivos <strong>para</strong>o país e grandes regiões, segundo a raça/cor, é apresentado nas tabelas a seguir.Um primeiro fato que chama a atenção é que, em geral, existe uma similari<strong>da</strong>deentre as distribuições percentuais nas características dos nascidos vivos brancos enegros, contudo, devem ser salienta<strong>da</strong>s algumas diferenças que, em que pese seremde pequena magnitude percentual, em alguns casos chamam a atenção por indicaremdiferenças demográficas e epidemiológicas que poderiam estar influenciando os riscosde morrer nas crianças me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>. A primeira distinção a ser feita refere-seao acompanhamento médico que as mulheres tiveram durante o período gravídico,medido pelo do número de consultas de pré-natal (tabela 12).Tabela 12. Percentagem de nascidos vivos, segundo número consultas pré-natal,por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000.BrancaNegraRegião Nenhuma 1 a 3 4 a 6 7 ou mais Nenhuma 1 a 3 4 a 6 7 ou mais<strong>Brasil</strong> 2,8 8,2 34,1 55,0 7,7 15,9 42,4 34Norte 6,5 17,1 41,7 34,7 8,9 19,8 47,7 23,6Nordeste 6,9 13,3 41,1 38,7 10,1 17,5 42,8 29,6Sudeste 1,7 5,7 30,9 61,7 4,3 11,4 40,4 44Sul 1,9 8,3 35,5 54,3 6,2 15,7 38,3 39,9Centro-Oeste 1,8 7,7 30,8 59,6 3,9 14 36,6 45,4Fonte: Sinasc, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.É interessante frisar a existência de uma orientação <strong>da</strong> Organização Mundial <strong>da</strong>Saúde (OMS) <strong>para</strong> que sejam feitas, <strong>no</strong> mínimo, seis consultas durante a gravidez. Nocaso <strong>da</strong>s informações que estão sendo analisa<strong>da</strong>s, constata-se uma posição altamentedesvantajosa <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s às brancas, já que, enquanto55% <strong>da</strong>s mulheres brancas superaram o mínimo recomen<strong>da</strong>do, essa percentagem erade 34% ao se tratar <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s.Ain<strong>da</strong> mais alarmante é a evidência <strong>da</strong> diferença de 64% entre as mulheres <strong>negra</strong>se brancas que declararam ter feito nenhuma consulta pré-natal durante todo o períodogravídico. Entre as regiões o caso que mais chama a atenção é o Sul do país onde essadiferença eleva-se <strong>para</strong> mais de 70%.228Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Estes resultados estariam apontando <strong>para</strong> a existência de um diferencial socioeconômico<strong>da</strong> população feminina <strong>negra</strong> que, por sua vez, dificultaria o acesso aosserviços de saúde, seja por uma me<strong>no</strong>r cobertura desses serviços – em geral, pessoascom me<strong>no</strong>res recursos financeiros vivem em áreas desprovi<strong>da</strong>s de serviços de saúde –,seja por dificul<strong>da</strong>des de controles pré-natais periódicos durante o período gravídico emfunção <strong>da</strong> falta de disponibili<strong>da</strong>de de tempo por razões de trabalho ou outras tantas.Sabe-se que a possibili<strong>da</strong>de de um acompanhamento sistemático <strong>da</strong>s gestantespor serviços de saúde de boa quali<strong>da</strong>de e alta resolutivi<strong>da</strong>de poderia reduzir o númerode óbitos, tanto infantis – em função <strong>da</strong> prevenção e controle do baixo peso ao nascer,partos de pré-termo, algumas <strong>da</strong>s afecções perinatais –, quanto mater<strong>no</strong>, com o controlede complicações de saúde <strong>da</strong> mãe que inclusive poderiam comprometer a saúde dosfilhos (hipertensão arterial, miomas intra-uteri<strong>no</strong>s, diabetes, desnutrição).Uma outra diferença que se acha importante ressaltar entre as características dosnascidos vivos, segundo a raça/cor, diz respeito ao peso <strong>da</strong> criança ao nascer, que funcionariacomo um forte condicionante <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de antes de completar o primeiroa<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. Na tabela 13 observa-se uma maior prevalência de nascimentos negroscom baixo peso ao nascer, em quase to<strong>da</strong>s as regiões do país, chegando a significaruma diferença de 20% <strong>no</strong> Norte e Nordeste do país.Tabela 13. Percentagem de nascidos vivos, segundo peso ao nascer, por raça/cor.<strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000BrancaNegraRegião até 2,5 kg 2,5 a 3,5 kg 3,5 ou mais até 2,5 kg 2,5 a 3,5 kg 3,5 ou mais<strong>Brasil</strong> 7,5 63,6 28,9 7,6 62,3 30,1Norte 5,2 57,8 36,9 6,5 60,5 33Nordeste 5,7 58,2 36,2 7,1 60,4 32,5Sudeste 8,2 66,0 25,8 9,1 65,8 25,1Sul 8,0 63,4 28,5 9,6 63,8 26,6Centro-oeste 6,2 63,7 30,1 7,5 64,5 27,9Fonte: Sinasc 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Esta constatação reforça os resultados encontrados na literatura internacionalque mostram maior prevalência de nascimentos entre negros com peso me<strong>no</strong>r a 2.500gramas (Blackmore, 1993; Hamvas e Mallinckrodt, 2000).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de229


Valores similares encontram-se <strong>no</strong>s nascimentos qualificados como de peso<strong>no</strong>rmal, porém, mesmo que as diferenças sejam mínimas, observa-se, entre os negros,valores inferiores de nascimentos com peso entre 2.5kg a 3,5kg quando com<strong>para</strong>doscom os nascimentos declarados brancos.Tabela 14. Percentagem de nascidos vivos segundo semanas de gestação, por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000.BrancaNegraRegião até 36 37 a 41 42 ou mais até 36 37 a 41 42 ou mais<strong>Brasil</strong> 6,9 91,6 1,5 6,4 91,7 1,8Norte 6,2 91,1 2,8 6,3 92,1 1,6Nordeste 6,1 91,3 2,6 6,1 91,7 2,1Sudeste 7,2 91,7 1,1 7 91,7 1,4Sul 7,1 91,8 1,2 8,2 90,1 1,6Centro-oeste 6,1 91,1 2,8 5,8 91,8 2,4Fonte: Sinasc, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.As informações aqui trabalha<strong>da</strong>s (tabela 14) não permitem reconhecer discrepânciaspor raça/cor nas proporções de filhos prematuros, o que leva a concluir que o peso aonascer não estaria atuando como um fator diferencial de risco de morte.Uma outra diferença que se acha importante ressaltar entre as características dosnascidos vivos, segundo a raça/cor, diz respeito ao local de ocorrência do parto, porapontar acesso diferenciado aos serviços de saúde dos diversos grupos populacionais.Assim, as informações conti<strong>da</strong>s na tabela 15 permitem salientar, mesmo que não sejamde grande magnitude, diferenças entre os partos realizados em ambientes hospitalaresclassificados como brancos e negros. São estes últimos os que concentram maiorproporção de nascidos em locais considerados como estabelecimentos não hospitalarese <strong>no</strong>s domicílios.230Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 15. Percentagem de nascidos vivos, segundo local de ocorrência do parto,por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000BrancaNegraRegião Hospital Outro Estab. Domicílio Hospital Outro Estab. Domicílio<strong>Brasil</strong> 98,1 1,2 0,6 95,5 2,9 1,6Norte 92,4 4,0 3,6 91,4 4,9 3,6Nordeste 93,9 4,3 1,8 94,4 3,8 1,8Sudeste 99,2 0,6 0,2 98,7 1 0,4Sul 99,2 0,4 0,4 98,7 0,3 1Centro-oeste 99,5 0,3 0,2 99,3 0,2 0,5Fonte: Sinasc, 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Na literatura internacional existem evidências de que a raça/cor é um fatorcondicionante de acesso a serviços de saúde, sendo os brancos – em iguais condiçõesmateriais de vi<strong>da</strong> – os que fazem maior uso deles e por mais tempo (Oliveira, 1999).Fica evidente, entretanto, a falta de trabalhos nacionais que contemplem a perspectivaétnico/racial <strong>no</strong> estudo de diferenciais <strong>no</strong> acesso e utilização dos serviços de saúde,sejam <strong>da</strong> rede básica e/ou dos serviços especializados. Uma primeira aproximaçãodeste tema pode-se analisar a partir <strong>da</strong> proporção de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>que foram registrados com ou sem assistência médica.Pelo que se verifica na tabela 16, existe uma diferença significativa <strong>no</strong>s óbitosinfantis nacionais, segundo a raça/cor declara<strong>da</strong>, sendo me<strong>no</strong>r a percentagem de negrosque tiveram assistência médica na hora <strong>da</strong> morte. Este diferencial se apresenta emto<strong>da</strong>s as regiões do país mostrando uma intensi<strong>da</strong>de heterogênea entre elas. Assim, asmaiores diferenças constatam-se <strong>no</strong> Centro-Oeste e Sul do país.Tabela 16. Percentagem de óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> segundo acompanhamentomédico, por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 2000BrancoNegroSim Não Sim Não<strong>Brasil</strong> 90 10 85 15Norte 86 14 85 15Nordeste 78 22 77 23Sudeste 94 6 92 8Sul 88 12 85 15Centro-Oeste 95 5 90 10Fonte: SIM 2000. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de231


A disponibilização de um inquérito populacional (Pesquisa Nacional por Amostrade Domicílios) que contém informações não só do quesito cor e de condições socioeconômicas,como também um conjunto de <strong>da</strong>dos sobre acesso e uso de serviços desaúde <strong>no</strong> âmbito nacional, permitiu realizar uma série de exercícios com a finali<strong>da</strong>de deexplorar esta fonte de <strong>da</strong>dos e traçar um diagnóstico <strong>da</strong>s características que apontema acesso e uso de diversos serviços de saúde, segundo raça/cor.Uma primeira tabulação realiza<strong>da</strong> com as informações <strong>da</strong> Pnad 98, permite verificaruma diferença significativa entre os me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, segundo possuam ou nãocobertura de pla<strong>no</strong>s de saúde. Assim, os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> tabela 17, permitem verificar que ascrianças brancas apresentam uma cobertura 61% superior aos negros do país, sendoo mesmo valor encontrado <strong>para</strong> os residentes na região Sudeste. Apesar de verificardiferenças me<strong>no</strong>res, igualmente to<strong>da</strong>s as regiões apresentam uma cobertura maior depla<strong>no</strong>s de saúde dos brancos em relação às crianças <strong>negra</strong>s.Tabela 17. Percentagem de população me<strong>no</strong>r de um a<strong>no</strong> segundo cobertura depla<strong>no</strong>s de saúde, por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 1998RegiãoBrancaNegraSim Não Sim Não<strong>Brasil</strong> 28 72 11 89Norte 15 85 10 90Nordeste 13 87 6 94Sudeste 39 61 16 84Sul 25 75 15 85Centro-Oeste 23 77 15 85Fonte: PNAD 1998. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Como conseqüência <strong>da</strong> cobertura desigual de pla<strong>no</strong>s de saúde comenta<strong>da</strong>anteriormente, os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> tabela 18 reforçam a idéia de um uso diferenciado edesigual dos serviços de saúde. Verifica-se uma maior concentração de me<strong>no</strong>res deum a<strong>no</strong> brancos utilizando, habitualmente, consultórios <strong>para</strong> resolver seus problemasde saúde e em contraparti<strong>da</strong> uma maior percentagem de crianças <strong>negra</strong>s que utilizam,majoritariamente, os postos de saúde e/ou ambulatórios hospitalares.232Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 18. Percentagem de população me<strong>no</strong>r de um a<strong>no</strong> segundo tipo de serviço desaúde usualmente utilizado, por raça/cor, <strong>Brasil</strong>, Grandes Regiões, 1998BrancaNegraAmbulatórioAmbulatórioFarmácia Posto Consultório Emp/Clínica Hospital Farmácia Posto Consultório Emp/Clínica Hospital<strong>Brasil</strong> 1 47 25 10 17 1 56 8 9 27Norte 4 49 15 8 23 1 52 6 12 29Nordeste 2 43 13 6 36 2 48 6 6 39Sudeste 1 44 30 11 14 0 64 8 11 16Sul 1 53 25 13 8 1 66 11 15 7Centro-Oeste 1 48 23 7 22 4 54 12 5 24Fonte: PNAD 1998. Tabulações Especiais Nepo/Unicamp.Em resumo, as informações até aqui apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o país permitem constataruma posição altamente desvantajosa <strong>da</strong>s crianças me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> <strong>negra</strong>s, quandocom<strong>para</strong><strong>da</strong>s com as brancas <strong>no</strong> que se refere a:• níveis superiores de mortali<strong>da</strong>de infantil;• a tendência histórica que mostra um aumento <strong>no</strong> diferencial na mortali<strong>da</strong>dede me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> declarados como negros e brancos;• diferenças raciais na composição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil por i<strong>da</strong>de, comaumento relativo nas i<strong>da</strong>des mais avança<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as crianças <strong>negra</strong>s;• diferenças raciais na composição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantil, segundo os grandescapítulos de causas de morte, e as causas classifica<strong>da</strong>s como evitáveis e nãoevitáveis;• cobertura desigual por raça/cor <strong>no</strong>s pla<strong>no</strong>s de saúde;• diferenças <strong>no</strong> tipo de serviços de saúde a que as crianças <strong>negra</strong>s e brancas têmacesso.O caso do estado de São PauloEm pesquisas desenvolvi<strong>da</strong>s anteriormente pela autora (Cunha, 2001) foramtrabalha<strong>da</strong>s informações provenientes <strong>da</strong>s estatísticas vitais coleta<strong>da</strong>s pelo registro civil,correspondentes ao estado de São Paulo, <strong>para</strong> os a<strong>no</strong>s 1997 e 1998. Nesta pesquisaforam encontra<strong>da</strong>s diferenças raciais em algumas características de nascimentos e óbitosde me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong> que sugerem de alguma forma, tanto o impacto <strong>da</strong> condiçãoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de233


socioeconômica do negro, como a existência de outras especifici<strong>da</strong>des desse grupo,além do simples fato de serem, em grande maioria, pobres.Neste projeto foi realiza<strong>da</strong> uma série de exercícios, considerando a mesma uni<strong>da</strong>dede análise, escolhi<strong>da</strong> mais uma vez por ter reconheci<strong>da</strong> a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s informações <strong>da</strong>ssuas bases de <strong>da</strong>dos em saúde. Desta vez foram utilizados os bancos correspondentesaos nascidos vivos e óbitos de me<strong>no</strong>res de um a<strong>no</strong>, <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> de 2000.Tanto as considerações feitas anteriormente como as análises atuais, reforçam osachados que são enumerados a seguir:• maior proporção de nascimentos de negros com me<strong>no</strong>r número de consultaspré-natal, apontando <strong>para</strong> a dificul<strong>da</strong>de de acesso a serviços de saúde duranteo período gravídico;• maior proporção de partos vaginais entre os negros, relacionado com condiçõessocioeconômicas;• maior proporção de nascimentos de negros com mães sem ou com baixainstrução, revelando as condições desvantajosas em que se encontram asmulheres <strong>negra</strong>s na socie<strong>da</strong>de;• maior proporção de óbitos infantis de negros provocados por doenças infecciosase <strong>para</strong>sitárias e doenças respiratórias, ou seja, causas exógenas, sinalizandotanto diferenciais <strong>no</strong>s números de mortali<strong>da</strong>de como <strong>da</strong>s condiçõessocioeconômicas entre brancos e negros;• maior proporção de óbitos de crianças <strong>negra</strong>s sem assistência médica, apontandomais uma vez <strong>para</strong> as condições socioeconômicas e dificul<strong>da</strong>des deacesso a serviços;• escores inferiores <strong>para</strong> as crianças <strong>negra</strong>s <strong>no</strong> APGAR 1;• maior percentagem de crianças <strong>negra</strong>s com baixo peso ao nascer, característicaque poderia indicar, além de problemas nutricionais, a possibili<strong>da</strong>de de maiorprevalência de doenças maternas como diabetes e hipertensão, não controla<strong>da</strong>sdurante a gravidez por me<strong>no</strong>r acesso ou pela pior quali<strong>da</strong>de dos serviços desaúde de que as mães desse grupo utilizam;• maior proporção de nascimentos de negros de mães multí<strong>para</strong>s, apontando<strong>para</strong> diferenciais de fecundi<strong>da</strong>de.234Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4. Referências bibliográficasBARRETO, M.L.; CARMO, E.H. Mu<strong>da</strong>nças em padrões de morbimortali<strong>da</strong>de:conceitos e métodos. Monteiro C. A. (Org.). Velhos e <strong>no</strong>vos males <strong>da</strong> saúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.A Evolução do país e de suas doenças. São Paulo: Hucitec, 1995.BLACKMORE, C. A. et al. Is race a risk factor or a risk marker for preterm delivery?Ethn Diseases, v.3, n.4, 1993.BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Saúde. Manual de doenças mais importantes, por razõesétnicas, na população brasileira afro-descendente. Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde,2000.CUNHA, E. M. G. P. Raça: aspecto de iniqüi<strong>da</strong>de esquecido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>? In: BARATA,R. B. et al (Orgs.). Equi<strong>da</strong>de e saúde: contribuições <strong>da</strong> epidemiologia. Rio de Janeiro:Abrasco, 1997. (Série EpidemioLógica, n. 1)______. Mortali<strong>da</strong>de e raça: mais uma evidência <strong>da</strong> discriminação. São Paulo: SBPC,1996.______. Mortali<strong>da</strong>d y raza: la desigual<strong>da</strong>d revela<strong>da</strong>. México, 1996.______. Raça: um aspecto de iniqüi<strong>da</strong>de esquecido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>? Salvador, 1995.______. Mortali<strong>da</strong>de infantil segundo cor: os resultados <strong>da</strong> PNAD 84 <strong>para</strong> o Nordeste.In: ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOS POPULACIONAIS, 9., 1994, Caxambu.Anais ... Belo Horizonte: ABEP, 1994.______. Desiguais perante a morte. In: CEBRAP. Desigual<strong>da</strong>de racial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>contemporâneo. Belo Horizonte: CEDEPLAR/FACE/UFMG, 1991.______. Mortali<strong>da</strong>de infantil por cor <strong>no</strong> Estado de São Paulo. Projeto: demografia donegro <strong>no</strong> Estado de São Paulo. Campinas: Unicamp, 1990. (Relatório Final)DIEESE. Boletim DIEESE, São Paulo, Edição Especial, <strong>no</strong>v. 2000.FRANCO, L. J. Diabetes Mellitus. In: BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Saúde. Manual de doençasmais importantes, por razões étnicas, na população brasileira afro-descendente.Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2000.FUNDAÇÃO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Síntese deindicadores sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. (Estudos e Pesquisas InformaçãoDemográfica e Socioeconômica, n. 4)______. Síntese de indicadores sociais. Rio de Janeiro: IBGE, 1999.HAMVAS, A.; MALLINCKRODT, E. Dis<strong>para</strong>te outcomes for very low birth qeightinfants: genetics, environment, or both? Journal of Pediatric, v.136, 2000.OLIVEIRA, F. O Recorte racial/étnico e a saúde reprodutiva: mulheres <strong>negra</strong>s. Rio deJaneiro: Fun<strong>da</strong>ção Ford; Fiocruz, 1999. (No prelo)Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de235


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Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> adulta <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Luís Eduardo Batista – Sociólogo, Mestre e Doutor em Sociologiapela Universi<strong>da</strong>de Estadual de São Paulo (UNESP).Pesquisador Científico do Núcleo de Investigação em Saúde<strong>da</strong> Mulher e <strong>da</strong> Criança do Instituto de Saúde, SecretariaEstadual de Saúde de São Paulo. Membro do Núcleo Negro<strong>da</strong> Unesp <strong>para</strong> Pesquisas e Extensão (Nupe/Unesp).Membro do Conselho Estadual de Participação e Desenvolvimento<strong>da</strong> Comuni<strong>da</strong>de Negra do Estado de São Paulo.Anna Volochko – Médica, Mestre em Saúde Pública.Pesquisadora do Núcleo de Investigação em Saúde <strong>da</strong>Mulher e <strong>da</strong> Criança do Instituto de Saúde, SecretariaEstadual de Saúde de São Paulo.Carlos Eugênio de Carvalho Ferreira – Demógrafo, Doutorem Demografia, Pesquisador <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Sistema Estadualde Análise de Dados (Fseade/SP).Vanessa Martins – Fisioterapeuta. Assistente Técnica dePesquisa do Núcleo de Investigação em Saúde <strong>da</strong> Mulhere <strong>da</strong> Criança do Instituto de Saúde. Secretaria Estadual deSaúde de São Paulo.1. IntroduçãoA epidemiologia, campo de conhecimento sobre as causas <strong>da</strong>s doenças, podeser categoriza<strong>da</strong> em correntes distintas, ca<strong>da</strong> qual com teorias e práticas preventivase curativas predominantes (Susser & Susser, 1996). Essas correntes podem co-existirou não, <strong>no</strong> tempo e refletem posturas político-ideológicas.A primeira corrente, basea<strong>da</strong> na “teoria dos miasmas”, coletava estatísticassanitárias e predomi<strong>no</strong>u entre estudiosos dos séculos 18 e 19. Atribuía às doenças ascondições de vi<strong>da</strong> (Villerme, 1840) e meio ambiente e preconizava a identificação deseus determinantes sociais, sobretudo os associados à pobreza (S<strong>no</strong>w, 1864), nutrição(Casal, 1762) e ao trabalho (Farr, 1864). Enfatizava a necessi<strong>da</strong>de de instituir políticaspúblicas de habitação, nutrição, trabalho e ações sanitárias pelo Estado <strong>para</strong> operarmu<strong>da</strong>nças nas condições de vi<strong>da</strong>.A “teoria do germe” fun<strong>da</strong>menta a maioria <strong>da</strong>s pesquisas e ações do últimoquarto do século 19 a meados do século 20. É a era <strong>da</strong>s infecções causa<strong>da</strong>s pelos“socialmente neutros” micróbios. A promoção, prevenção e terapia dirigem-se mais


ao agente etiológico e me<strong>no</strong>s às condições de vi<strong>da</strong> e meio ambiente. Pesquisam-se vacinas,micróbios, técnicas de assepsia, antibióticos (Susser & Susser, 1996). Esta vertenteconduz ao reducionismo laboratorial e ao <strong>para</strong>digma <strong>da</strong> mo<strong>no</strong>causali<strong>da</strong>de, atribuindoa um germe to<strong>da</strong>s as manifestações <strong>da</strong> doença. Predomina a concepção mecânica <strong>da</strong>relação causa-efeito, transposta às demais doenças. A saúde pública atua pelo controledos agentes infecciosos e <strong>da</strong> redução <strong>da</strong> probabili<strong>da</strong>de de adoecer.A potencial resolução <strong>da</strong>s infecções por meio de quarentena, imunização ouantibióticos permitiu a emergência <strong>da</strong>s doenças crônicas e do “<strong>para</strong>digma <strong>da</strong> caixapreta”.A epidemiologia, desvesti<strong>da</strong> de uma hipótese causal, desenvolve complexosmétodos e técnicas estatísticas <strong>para</strong> identificar associações entre distribuição de fatoresde risco e doenças na população. Predomina a concepção <strong>da</strong> rede causal e <strong>da</strong> interaçãode múltiplos fatores, entre os quais comportamentos individuais. O foco <strong>da</strong> análisecontinua <strong>no</strong> indivíduo, o contexto se perde. A incapaci<strong>da</strong>de de articular conceitualmentea distribuição <strong>da</strong>s doenças às desigual<strong>da</strong>des sociais ocasiona varreduras indiscrimina<strong>da</strong>sde associações estatísticas sem poder explicativo – a caixa-preta (Susser & Susser,1996). No pla<strong>no</strong> <strong>da</strong> ação, além <strong>da</strong> cobertura diagnóstica com exames laboratoriais eterapêutica com drogas principais, coadjuvantes, inibidoras de efeitos colaterais, retomasea exortação a comportamentos individuais saudáveis e seguros pelas campanhaseducativas.Um <strong>no</strong>vo velho <strong>para</strong>digma se fortalece baseado <strong>no</strong>s avanços <strong>da</strong> pesquisagenética – busca-se a explicação <strong>da</strong> suscetibili<strong>da</strong>de individual <strong>no</strong> recôndito dosgenes, é a decodificação <strong>da</strong> caixa-preta. Certamente seu potencial terapêutico advirádos progressos <strong>da</strong> engenharia genética. A discussão a ser coloca<strong>da</strong>, então, será sobreo acesso individual ou populacional às técnicas de manipulação genética.Às correntes positivista e fe<strong>no</strong>me<strong>no</strong>lógica, a Epidemiologia Social contrapõeconcepções dialéticas e estruturalistas. No pla<strong>no</strong> conceitual, estabelece níveishierárquicos de determinação e desenvolve métodos de estudo do processo saúdedoençaa partir <strong>da</strong> causali<strong>da</strong>de social historicamente específica de ca<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>deou grupo social. Seus fun<strong>da</strong>mentos conceituais e metodológicos são politicamenteengajados e se pretendem instrumentos de mu<strong>da</strong>nças sociais (Breilh, 1987).O desafio é estu<strong>da</strong>r como o contexto socioeconômico mol<strong>da</strong> os padrões desaúde e doença determinados pelas condições de vi<strong>da</strong>. No pla<strong>no</strong> geral, a reproduçãosocial <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> é coerente com a lógica <strong>da</strong> acumulação capitalista. Emseu interior, formas particulares e multidimensionais de reprodução refletem relaçõesespecíficas entre grupos sociais na produção e trabalho, consumo individual e coletivo(mediados pelo mercado e políticas redistributivas do estado), relação com o territórioe relações políticas, culturais e ideológicas incluindo o processo biopsíquico huma<strong>no</strong>(Laurell, 1982).238Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Castella<strong>no</strong>s (1997) defende o resgate do diagnóstico de saúde e <strong>da</strong> formulação depolíticas públicas a partir do reconhecimento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des entre grupos sociais eaponta a ecologia como principal método de estudo e intervenção. O diagnóstico devefocalizar necessi<strong>da</strong>des (determina<strong>da</strong>s pelas condições de vi<strong>da</strong>), problemas (expressão<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des) hierarquizados e respostas sociais de enfrentamento. Saúde e doençanão são manifestações biológicas individuais de processos sociais, mas “fenôme<strong>no</strong>s queexpressam a reprodução social <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> individual e coletivo (biológico, econômico,social e nas formas de consciência e conduta)”.Essas concepções vêm encontrando eco na literatura internacional (Susser &Susser, 1996, Shy, 1997) e, apesar <strong>da</strong>s diferenças teórico-metodológicas, de análisee forma de operacionalização, têm a perspectiva comum de que saúde e doença sãodetermina<strong>da</strong>s por componentes dos processos de produção e reprodução sociais quegeram desigual<strong>da</strong>des <strong>no</strong> trabalho, consumo, necessi<strong>da</strong>des e diagnóstico de problemasde saúde, mol<strong>da</strong>ndo dispari<strong>da</strong>des nas condições de vi<strong>da</strong>, nas situações de saúde, <strong>no</strong>sperfis de doença, nas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de recuperação e, conseqüentemente, na morte.O conceito e modelo de vulnerabili<strong>da</strong>de proposto por Mann, Tarantola e Netter(1993) e desenvolvido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> por Ayres et al. (1999) <strong>no</strong> contexto na epidemia <strong>da</strong> aidsé um exemplo de operacionalização <strong>da</strong>s concepções <strong>da</strong> Epidemiologia Crítica e servecomo marco referencial deste trabalho de análise <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por raça/cor.Saúde e raça/etnia <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>No <strong>Brasil</strong>, são poucas as pesquisas sobre saúde e raça/etnia. Umas <strong>da</strong>s razõesdecorre do fato de o quesito cor, como indicador de raça/etnia, estar ausente <strong>da</strong> maioriados documentos e <strong>da</strong>dos de saúde, impossibilitando seu uso enquanto variável deanálise. Embora a Lei nº 6.015 de 31/12/1973 determine que os assentos de óbito enascimento devam conter raça/cor entre outras informações, seu registro de fato nemsempre ocorre.O Ministério <strong>da</strong> Saúde incluiu raça/cor como quesito obrigatório <strong>da</strong>s declaraçõesde óbito a partir de 1996, mas o <strong>da</strong>do ain<strong>da</strong> apresenta importante proporção deig<strong>no</strong>rados. Nenhum dos demais registros do SUS, morbi<strong>da</strong>de hospitalar, ambulatorial,de doenças de <strong>no</strong>tificação compulsória registram cor, embora os prontuários médicosa a<strong>no</strong>tem.Quanto à mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, os estudos existentes indicam maiorvulnerabili<strong>da</strong>de a mortes por doenças cardiovasculares, causas externas (Barbosa, 1998;Batista 2002); mortali<strong>da</strong>de infantil (Cunha, 2001) e materna (Martins e Tanaka, 2000) epor HIV/aids entre mulheres (Werneck, 2001). Cunha (1994, 1997, 2001, 2002) mos-Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de239


tra que a mortali<strong>da</strong>de infantil <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é sempre maior <strong>para</strong> filhos de mães <strong>negra</strong>s e,embora em que<strong>da</strong>, diminui mais entre brancos, aumentando a diferença inter-racial.Bento (1996) busca o nexo causal entre leucopenias de trabalhadores, em particularnegros, e insalubri<strong>da</strong>de <strong>no</strong> processo de trabalho por exposição ao benze<strong>no</strong>. Em geral,essas leucopenias têm sido atribuí<strong>da</strong>s, em ações trabalhistas, a fatores genéticos.Barbosa (1998, 2001) calculou os a<strong>no</strong>s potenciais de vi<strong>da</strong> perdidos e mostraque a mortali<strong>da</strong>de de homens e mulheres negros é mais precoce que a dos brancos.A mulher branca é quem me<strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s de vi<strong>da</strong> potenciais perde segui<strong>da</strong> pelo homembranco e mulher <strong>negra</strong>. O homem negro é o que mais cedo morre.Batista (2002) mostra que, <strong>no</strong> estado de São Paulo, a taxa de mortali<strong>da</strong>de dospretos é maior <strong>para</strong> tuberculose, alcoolismo, hipertensão, doença cerebrovascular,diabetes, causas mal defini<strong>da</strong>s e externas. A mortali<strong>da</strong>de dos brancos é maior apenas<strong>para</strong> câncer.Segundo Martins (2001), em 1993 o risco de morte materna <strong>para</strong> as mulherespretas <strong>no</strong> Paraná foi 7,4 vezes maior do que o <strong>da</strong>s mulheres brancas.Os estudos citados são, to<strong>da</strong>via, localizados e fragmentários, apontando anecessi<strong>da</strong>de de estudos mais globais. Faltam estudos com<strong>para</strong>tivos mais aprofun<strong>da</strong>dos emais amplos quanto às causas e sua distribuição por raça/cor, sexo. Há também carênciade pesquisas sobre diferenciais de acesso e quali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s serviços de saúde.A produção internacional, especialmente <strong>no</strong>rte-americana, tem avançado emformulações teórico-metodológicas sobre a influência que as desigual<strong>da</strong>des raciais<strong>no</strong> seio <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de têm na determinação <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> e saúde dos gruposétnicos <strong>da</strong> população. Abrimos aqui parênteses <strong>para</strong> mencionar a polêmica em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong>crítica de imperialismo cultural que Bourdieu e Wacquant (2002) atribuem à produçãointelectual americana, em especial <strong>no</strong>s estudos de raça e gênero, colocação que suscitoudiversas intervenções. (Sansone, 2002; Costa, 2002; French, 2002; Hanchard, 2002;Pinho e Figueiredo, 2002).Uma breve seleção de estudos apontam diferenças na mortali<strong>da</strong>de, naprevalência ou incidência de doenças por raça/cor – maior magnitude e gravi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> esclerose sistêmica entre não brancos (Nietert et al. 2001); aumento generalizado<strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por câncer de pulmão; que<strong>da</strong> de câncer colo-retal entre brancos ecrescimento entre negros; leve aumento do câncer prostático entre brancos e aumentodramático entre negros. O câncer de mama se estabilizou entre as brancas, mas cresceuconsideravelmente em relação às <strong>negra</strong>s; enquanto o câncer uteri<strong>no</strong> diminui. O câncerde ovário, porém, aumentou <strong>no</strong>s dois grupos (Piffath, et. al. 2001).240Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Quenan & Remington (2000) mostram que o diferencial de mortes por diabetescresceu muito na última déca<strong>da</strong>, especialmente entre <strong>negra</strong>s. Howard et al. (2000)estu<strong>da</strong>ram a diferença racial na mortali<strong>da</strong>de atribuível à situação socioeconômica.Desde 1940, a mortali<strong>da</strong>de materna <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s permanece três a quatro vezes maiorque a <strong>da</strong>s brancas (Chang et al. 2003). O risco relativo de morte por hemorragia cerebralé quatro vezes maior em negros de 45 a 59 a<strong>no</strong>s que em brancos de mesma i<strong>da</strong>de(Morgenster Spears, 1997).Outra vertente de estudos examina diferenças <strong>no</strong> tratamento recebido porpacientes dos vários grupos étnico-raciais <strong>para</strong> as mesmas patologias, evidenciandoque, além <strong>da</strong>s diferenças de acesso aos serviços de saúde, a acessibili<strong>da</strong>de a serviços dequali<strong>da</strong>de também é distinta. Apesar dos protestos de colegas médicos (“Será que nãotratamos só porque é preto?”) este pode ser o caso. Pacientes negros com insuficiênciacardíaca congestiva recebem com mais freqüência terapias conservadoras que osbrancos e o uso de procedimentos e especialistas é me<strong>no</strong>r em mulheres que homens,com piores resultados em negros e mulheres (Philbin & DiSalvo, 1998; Ayanian et al.1993; Schulman et al. 1999). Pacientes com insuficiência renal crônica por doençafalciforme têm me<strong>no</strong>s chance de entrar na lista e receber transplante renal, embora amaior mortali<strong>da</strong>de desapareça ao se controlar sua baixa taxa de transplante (Abbottet al. 2002).Assim, os serviços de saúde, voluntariamente ou não, contribuem <strong>para</strong> a reprodução<strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de na saúde. Evidências empíricas revelam que tal fato independe <strong>da</strong>situação socioeconômica do negro e apontam <strong>para</strong> a existência de racismo institucional,fenôme<strong>no</strong> que resulta do conjunto estabelecido de políticas, <strong>no</strong>rmas de procedimentose comportamento dos membros <strong>da</strong>s instituições (van Ryn & Fu, 2003).Uma terceira vertente de trabalhos busca construir um marco conceitual <strong>da</strong>srelações entre saúde e raça/etnia. Williams (1997), sintonizado com os preceitos<strong>da</strong> epidemiologia social, cria um modelo de rede de determinações multicausaishierarquiza<strong>da</strong>s, desde determinantes fun<strong>da</strong>mentais (estrutura econômica, política ejurídica; condições históricas e instituições socioculturais que configuram racismo),contexto social (situação socioeconômica, raça, gênero, i<strong>da</strong>de, situação marital),causas imediatas (práticas de saúde, estresse, recursos psicossociais e assistênciamédica), processos biológicos (sistema nervoso central, endócri<strong>no</strong>, metabólico,imu<strong>no</strong>lógico, cardiovascular) e situação de saúde (morbimortali<strong>da</strong>de, incapaci<strong>da</strong>de esaúde mental). Baseados nesse modelo conceitual, diversos autores exploram questõesparticulares como Ren et al. (1999), sobre interconexões entre discriminação e situaçãosocioeconômica, e van Ryn & Fu (2003), sobre comportamento do provedor de serviçossociais e de saúde e seu papel na reprodução do racismo institucional.O presente trabalho busca contribuir, dentro <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> epidemiologiacrítica, <strong>para</strong> um conhecimento mais aprofun<strong>da</strong>do do processo saúde-doença naSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de241


socie<strong>da</strong>de brasileira pelo diagnóstico <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des na mortali<strong>da</strong>de de homens emulheres adultos, negros e brancos, nas diversas regiões do país.2. ObjetivosO objetivo do estudo é investigar o perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres e homensnegros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, na perspectiva de gênero e raça, buscando contribuir <strong>para</strong>:• identificar o perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por cor e sexo <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2000;• identificar as desigual<strong>da</strong>des raciais na mortali<strong>da</strong>de específica nas regiões;• identificar falhas na quali<strong>da</strong>de do registro de <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de por região;• elaborar propostas de melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de registro dos <strong>da</strong>dos demortali<strong>da</strong>de;• elaborar propostas <strong>para</strong> monitorar a situação de saúde <strong>da</strong>s mulheres e homensnegros usuários do Sistema Único de Saúde;• apontar as lacunas de conhecimento <strong>no</strong>s estudos de morbimortali<strong>da</strong>de e necessi<strong>da</strong>dede pesquisas sobre eventos sentinela e políticas específicas;• elaborar subsídios <strong>para</strong> programas de combate e prevenção do racismo institucional.O trabalho apresenta um diagnóstico <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres e homensnegros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, aponta alguns desafios <strong>para</strong> o SUS e faz recomen<strong>da</strong>ções a gestores,profissionais e ao sistema de saúde.3. MetodologiaO estudo <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por regiões utilizou como fonte o CD-ROM com obanco de <strong>da</strong>dos sobre óbitos <strong>no</strong> país do Ministério <strong>da</strong> Saúde – Sistema de Informaçãode Mortali<strong>da</strong>de (SIM - Datasus-MS) <strong>para</strong> 2000 em Tabwin. As causas de morte porcategorias de três caracteres <strong>da</strong> Classificação Estatística Internacional de Doenças eProblemas Relacionados à Saúde, Décima Revisão, CID-10 (OPS/OMS et al. 2003)por grupo de i<strong>da</strong>de, sexo e raça/cor, foram analisa<strong>da</strong>s a partir de tabulações especiais<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Seade. Os autores realizaram as tabulações por capítulos bem como os242Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


cálculos <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de específicas por sexo, raça/cor e causas e também<strong>da</strong>s relações de taxas.A mortali<strong>da</strong>de de adultos (10-64 a<strong>no</strong>s) de homens e mulheres <strong>para</strong> <strong>Brasil</strong> e GrandesRegiões (Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sudeste e Sul) foi estu<strong>da</strong><strong>da</strong> por cor, como defini<strong>da</strong>pela Fun<strong>da</strong>ção Instituto <strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística (IBGE) – pretos, pardos, brancos,amarelos, indígenas e cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. As tabelas, gráficos e quadros serão mostrados segundoas variáveis pretos, pardos, negros (soma de pretos e pardos) e brancos.Embora a associação e categorias não seja recomendável por se referir a dimensõesdiversas dos fenôme<strong>no</strong>s, isto será aqui feito <strong>para</strong> atender à deman<strong>da</strong> do movimentonegro que fundiu as categorias preto mais pardo na categoria negro. Apesar <strong>da</strong> potencialutili<strong>da</strong>de dessa categoria enquanto indicador de identi<strong>da</strong>de étnica e racial, talutili<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong> não foi estabeleci<strong>da</strong> por estudos mais aprofun<strong>da</strong>dos e sistemáticos. Emestudos de população e mortali<strong>da</strong>de a categoria negro é de utili<strong>da</strong>de discutível, sendomais adequado o uso <strong>da</strong>s categorias de cor do IBGE desagrega<strong>da</strong>s, como mostrará aanálise <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de regional.Citando Sergio Costa (2002):Váli<strong>da</strong> e mesmo imprescindível <strong>no</strong> âmbito do estudo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>desraciais, a categoria raça, quando transforma<strong>da</strong> em instrumento geral deanálise e desiderato <strong>no</strong>rmativo, leva a uma compreensão incompleta <strong>da</strong>formação nacional brasileira, a uma visão objetivista <strong>da</strong>s relações sociais eà redução <strong>da</strong>s identi<strong>da</strong>des sociais a sua dimensão político-instrumental.O perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de será descrito pela taxa de mortali<strong>da</strong>de específica porcapítulos <strong>da</strong> CID por sexo, raça, cor e região e, a seguir, pela mortali<strong>da</strong>de específicade três a cinco principais causas por capítulo buscando relações com vulnerabili<strong>da</strong>deindividual, social e política <strong>da</strong>s populações. A desigual<strong>da</strong>de na mortali<strong>da</strong>de será medi<strong>da</strong>pela razão <strong>da</strong> taxa específica de pretos, pardos e negros sobre a taxa específicade mortali<strong>da</strong>de de brancos, calcula<strong>da</strong>s pelo número de óbitos por causa e raça/corespecíficos, divididos pela população de raça/cor específica, multiplicado por 100 mil<strong>da</strong> população <strong>da</strong> raça/cor específica, segundo a fórmula abaixonº de óbitos por causa, raça/cor, sexo, i<strong>da</strong>de, regiãoPopulação por raça/cor, sexo, i<strong>da</strong>de, região X 100.000No cálculo <strong>da</strong>s taxas utilizaram-se <strong>da</strong>dos de população por i<strong>da</strong>de, raça/cor, sexo e regiãodo Censo de 2000, tabulados pela Fun<strong>da</strong>ção Seade <strong>para</strong> <strong>Brasil</strong> e Grandes Regiões.Dado o peque<strong>no</strong> número de mortes por Doenças dos Olhos e Anexos (Cap. VII)– 4 e do Ouvido e <strong>da</strong> Apófise Mastóide (Cap VIII) – 35 casos, estes foram excluídosdo total.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de243


3.1. Limitações metodológicas3.1.1. Problemas com o banco de <strong>da</strong>dosO Tabwin é um grande avanço na manipulação de <strong>da</strong>dos pelo gestor local <strong>para</strong>diagnóstico de saúde do município, porém sua formatação impede tabulações complexase exportar <strong>da</strong>dos <strong>para</strong> outros programas requer profissional experiente. Tabulaçõescom mais de duas variáveis não são feitas. Para gerar uma tabela de mortali<strong>da</strong>de porcausa, raça/cor, sexo, i<strong>da</strong>de e região é necessário ro<strong>da</strong>r cinco tabelas em Tabwin edepois montar <strong>no</strong> Excel tabela única, tornando o processo lento e trabalhoso.3.1.2. Cobertura dos óbitos registradosAntes de avaliar a quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos é preciso lembrar que a cobertura doregistro de óbito varia muito por estado ver (quadro 1). Embora a cobertura <strong>no</strong> paísseja satisfatória (Parâmetros de Centro Lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong> de Demografia; Jasper_Faijere Orellana, 1994) 1 , a desagregação mostra que <strong>no</strong> Norte, três dos sete estados têm coberturadeficiente e os demais, regular; <strong>no</strong> Nordeste, dos <strong>no</strong>ve estados, somente doistêm cobertura regular e <strong>no</strong>s sete restantes é deficiente.No Pará e Tocantins, a cobertura do registro de óbitos não alcança dois terçose <strong>no</strong> Nordeste, só Pernambuco, Alagoas e Sergipe registram mais de dois terços <strong>da</strong>cobertura <strong>da</strong>s mortes <strong>no</strong>s estados. Mais de 60% <strong>da</strong>s mortes ocorri<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Maranhão ePiauí não são registra<strong>da</strong>s. No <strong>Brasil</strong>, todos os estados do Norte e Nordeste possuemcobertura abaixo <strong>da</strong> satisfatória.As implicações são que os <strong>da</strong>dos do Norte e Nordeste têm baixa confiabili<strong>da</strong>de. Astaxas de mortali<strong>da</strong>de podem ser mais eleva<strong>da</strong>s e pode haver distorção de seu perfil. Se o SUSplaneja a saúde baseado em estatísticas vitais, as priori<strong>da</strong>des e o planejamento <strong>da</strong>s açõesem saúde <strong>no</strong> Norte e Nordeste podem estar distorci<strong>da</strong>s. Isto aponta <strong>para</strong> uma <strong>da</strong>s primeiraspriori<strong>da</strong>des do SUS: estabelecer cro<strong>no</strong>gramas de melhoria do sistema de registro de óbitosnessas regiões. Para alguns estados, como Rondônia, Roraima e Sergipe, falta pouco <strong>para</strong>atingir a cobertura satisfatória de 80%, mas <strong>para</strong> outros, como Maranhão, Piauí e Paraíba,falta muito <strong>para</strong> que se registre sequer a metade dos óbitos (Paes e Albuquerque, 1999).Paes (1996) mostra que o sub-registro é maior <strong>para</strong> mulheres. Será que tambémvaria por cor? É legítimo suspeitar que o sub-registro seja maior <strong>no</strong>s grupos sociaisme<strong>no</strong>s privilegiados, o que incluiria grupos não brancos.1. O Celade considera satisfatória a cobertura de 80% a 90% dos óbitos.244Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Quadro 1. Cobertura dos registros de óbitos e classificação(Celade) por estado, <strong>Brasil</strong>, 1998CoberturaClassificaçãoResidência Registro %Total 81,67 SatisfatórioNorteRondônia 77,74 RegularAcre 73,84 RegularAmazonas 64,98 DeficienteRoraima 75,88 RegularPará 62,38 DeficienteNorteAmapá 70,49 RegularTocantins 60,50 DeficienteNordesteMaranhão 37,43 DeficientePiauí 39,74 DeficienteCeará 56,67 DeficienteRio Grande Norte 58,19 DeficienteParaíba 45,96 DeficientePernambuco 73,53 RegularAlagoas 69,57 DeficienteSergipe 78,16 RegularBahia 62,66 DeficienteSudesteMinas Gerais 86,91 SatisfatóriaEspírito Santo 97,28 BoaRio de Janeiro 97,70 BoaSão Paulo 96,78 BoaSulParaná 96,63 BoaSanta Catarina 94,35 BoaRio Grande do Sul 101,75 BoaCentro-OesteMato Grosso Sul 95,33 BoaMato Grosso 81,31 SatisfatóriaGoiás 86,27 SatisfatóriaDistrito Federal 81,57 SatisfatóriaFonte: Paes e Albuquerque, 1999.Avaliamos a quali<strong>da</strong>de dos registros de óbito tecendo, inicialmente, consideraçõesmetodológicas sobre a variável cor e a seguir sobre a quali<strong>da</strong>de do registro <strong>da</strong>scausas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de245


3.1.3. Limitações <strong>da</strong> variável cor enquanto indicador depertencimento étnico-racialPara a biologia não há raças humanas, ou seja, é impossível definir geneticamenteraças humanas que correspon<strong>da</strong>m às fronteiras ergui<strong>da</strong>s pela <strong>no</strong>ção nativa de raça, istoé, a construção de raças basea<strong>da</strong> em traços fisionômicos, fe<strong>no</strong> ou ge<strong>no</strong>típicos não temrespaldo científico (Appiah, 1997).O mercantilismo homogeneizou a diversi<strong>da</strong>de étnica africana <strong>no</strong> conceito deraça <strong>negra</strong>, abstração fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em características fe<strong>no</strong>típicas ti<strong>da</strong>s como váli<strong>da</strong>s naclassificação e subordinação de seres huma<strong>no</strong>s. A representação de raça <strong>negra</strong> é ideologicamentecomprometi<strong>da</strong>, apresenta o africa<strong>no</strong> como inferior, atrasado e ímpio,justificando religiosa e moralmente o imperialismo e escravagismo europeu (Barbosa,1998).No <strong>Brasil</strong>, o termo raça é um conceito nativo (categoria com sentido prático emcontexto ou <strong>da</strong>do momento histórico) que de<strong>no</strong>ta categoria de posição social, formadopela escravidão de povos provenientes de Moçambique, Congo, Zaire, Angola, Nigéria,Niger e Golfo de Benin. No <strong>Brasil</strong> os escravizados – os africa<strong>no</strong>s ou negros – ocupavamna socie<strong>da</strong>de o lugar de escravos. A raça usa<strong>da</strong> <strong>para</strong> designar posição nas relaçõesde trabalho configura, desde o início, sua estreita relação com a mais baixa posiçãosocial.Em <strong>da</strong>do momento histórico, o conceito de raça foi substituído pelo de cor. “Aclassificação por cor é orienta<strong>da</strong> pela idéia de raça, ou seja, a classificação <strong>da</strong>s pessoaspor cor é orienta<strong>da</strong> por um discurso sobre quali<strong>da</strong>des, atitudes e essências transmiti<strong>da</strong>spor sangue, que remontam a uma origem ancestral comum numa <strong>da</strong>s “subespécieshumanas” (Guimarães, 1999, Id. 2003), ou seja, mudou-se o “rótulo” mas a essênciadiscriminatória permaneceu.A cor <strong>da</strong> pele é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela concentração de células pigmenta<strong>da</strong>s com melaninapresentes na epiderme. É geneticamente determina<strong>da</strong>, mas muito sensível à influênciado meio ambiente. Por outro lado, já na terceira geração, filhos de mestiços podemapresentar fenótipo <strong>da</strong> raça branca (Skidmore, 1976, citado por Bernardi<strong>no</strong>, 2002).3.1.3.1. Limitações intrínsecas ao indicador corAs limitações <strong>da</strong> variável cor são de diversas naturezas e certamente serão necessáriosmais estudos <strong>para</strong> avaliar sua sensibili<strong>da</strong>de e especifici<strong>da</strong>de.246Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


a) Limitações do indicador cor quanto a sua sensibili<strong>da</strong>deA cor <strong>da</strong> pele é certamente um indicador frágil e instável de pertencimentoétnico-racial. É provável que sua sensibili<strong>da</strong>de seja baixa, isto é, sua capaci<strong>da</strong>de dediferenciar ver<strong>da</strong>deiramente o afrodescendente do descendente de europeus; de ummestiço de qualquer <strong>da</strong>s miscigenações possíveis seja pequena e, <strong>no</strong> momento, demagnitude desconheci<strong>da</strong>.• Variabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cor <strong>da</strong> peleA cor <strong>da</strong> pele de uma pessoa varia segundo a influência <strong>da</strong> exposição ao sol oude doenças. Um branco exposto ao sol do Norte ou Nordeste do país, por períodoprolongado, adquire tons amorenados de intensi<strong>da</strong>de variável, podendo ser classificadocomo pardo. Pessoas com anemia, câncer ou insuficiência renal ficam páli<strong>da</strong>s e essascondições podem transformar pardos, amarelos ou indígenas em brancos, enquantoque afecções hepáticas podem transformar brancos em amarelos ou pardos.• Subjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> heteroclassificaçãoNão se conhecem estudos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, mas estudos america<strong>no</strong>s mostram que aclassificação <strong>da</strong> cor/etnia de um falecido pelos provedores de serviços de saúde éinfluencia<strong>da</strong> pela causa. Assim, <strong>no</strong>s óbitos por causas de morte socialmente estigmatiza<strong>da</strong>scomo alcoolismo, violência, aids e outras, é mais freqüente a classificação errônea dofalecido como pertencente a mi<strong>no</strong>rias étnicas (afro-america<strong>no</strong>, lati<strong>no</strong> ou indígena).Por outro lado, na ausência de critérios objetivos de intensi<strong>da</strong>de de melanócitos napele há grande variação individual <strong>no</strong> entendimento de quem é branco, pardo, preto,amarelo ou indígena. É possível que o grau de discordância interobservador sobre cor<strong>da</strong> pele seja grande.• Subjetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> autoclassificaçãoEm geral, pele branca é associa<strong>da</strong> <strong>no</strong> imaginário coletivo como portadorade direitos e privilégios exclusivos e há uma tendência ideológica generaliza<strong>da</strong> deembranquecimento. Matéria do jornal Folha de São Paulo (2004) mostra <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>Associação Internacional de Informações sobre Despigmentação Artificial (AIIDA – ONGdo Senegal, França e Mali) onde respectivamente 67%, 58% e 25% <strong>da</strong>s mulheres <strong>no</strong>Senegal, Togo e Mali despigmentam a pele com “khessal” porque os homens preferemmulheres brancas. No <strong>Brasil</strong>, pesquisas informais realiza<strong>da</strong>s por ONGs indicam que boaproporção de pardos e pretos se autoclassifica como brancos e pardos, respectivamenteSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de247


(Barbosa, 1998). A conseqüência dessa situação é a redução artificial <strong>da</strong> populaçãopreta e conseqüente aumento <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de e <strong>para</strong>lelo aumento artificial<strong>da</strong>s populações par<strong>da</strong>s e brancas e redução de suas taxas de mortali<strong>da</strong>de.• Mistura de auto e heteroreferênciaComo a metodologia <strong>da</strong> coleta <strong>da</strong> informação de cor na população é por autoreferênciae <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos de óbitos por heteroreferência há uma somatória de erros intraobservadore interobservador de natureza ain<strong>da</strong> desconheci<strong>da</strong>.b) Limitações do indicador cor quanto à sua especifici<strong>da</strong>deTambém a especifici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> cor como indicador étnico-racial, isto é, seu poderde discriminar falsos negativos, é desconheci<strong>da</strong>, mas suspeita-se que seja baixa. Istoporque o grupo de cor par<strong>da</strong> é heterogêneo e pode conter várias miscigenações e etnias.– mulatos, cafuzos, mamelucos, caboclos, europeus, lati<strong>no</strong>s, indígenas.3.13.2. Limitações extrínsecasAs limitações extrínsecas <strong>da</strong> variável decorrem <strong>da</strong> falta de seu preenchimento <strong>no</strong>s documentosdo Censo e <strong>da</strong> declaração de óbitos, que figura como ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Tabela 1 e 2.Tabela 1. Distribuição <strong>da</strong> população por sexo e raça/cor (%). <strong>Brasil</strong> e regiões, 2000Brancos Pretos Pardos Amind Ign TotalM F M F M F M F M F M FPop Geral<strong>Brasil</strong> 25,80 27,95 3,23 2,98 19,40 19,05 0,43 0,45 0,35 0,36 49,21 50,79 169.872.726Norte 13,45 14,56 2,82 2,15 32,80 31,17 0,96 0,92 0,60 0,57 50,63 49,37 12.911.047Nordeste 15,39 17,55 4,02 3,68 28,97 29,04 0,24 0,26 0,42 0,43 49,04 50,96 47.782.361Centro-Oeste 24,07 25,65 2,51 2,11 22,28 21,40 0,64 0,65 0,34 0,34 49,85 50,15 11.638.536Sudeste 29,90 32,45 3,35 3,21 14,89 14,61 0,45 0,48 0,33 0,32 48,27 51,73 72.430.073Sul 40,90 42,69 1,93 1,82 5,98 5,50 0,38 0,38 0,20 0,21 49,39 50,61 25.110.228Fonte: Dados do Censo de 2.000. FIBGE.Embora seja pequena, a proporção de população de raça/cor desconheci<strong>da</strong> é maiorque a de i<strong>da</strong>de ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. No Censo, a quali<strong>da</strong>de do <strong>da</strong>do é me<strong>no</strong>r <strong>no</strong> Norte e Nordesteque <strong>no</strong> Sul e Sudeste. Para ambos os sexos, a cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> é três vezes maior <strong>no</strong> Norteque <strong>no</strong> Sul. Mas esse é um erro aceitável e os <strong>da</strong>dos do Censo podem ser consideradosmuito bons.248Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 2. Porcentagem de óbitos por raça/cor e uni<strong>da</strong>de <strong>da</strong> federação.<strong>Brasil</strong>, 2000Branca Preta Amarela Par<strong>da</strong> Indígena Ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>Residência % % % % % %Total 52,72 6,55 1,10 23,49 0,24 15,90Norte 22,18 4,67 0,44 53,04 1,33 18,35Rondônia 36,34 4,93 0,45 33,42 0,16 24,71Acre 21,52 3,39 0,58 43,08 0,70 30,72Amazonas 20,78 2,16 0,54 68,07 2,23 6,22Roraima 20,54 2,93 0,30 47,25 16,85 12,11Pará 18,62 5,28 0,30 50,97 0,49 24,34Amapá 9,37 2,02 0,18 74,61 0,30 13,52Tocantins 30,76 9,68 0,89 51,65 0,83 6,19Nordeste 24,51 6,22 0,50 38,60 0,23 29,95Maranhão 22,19 11,26 1,15 45,60 0,54 19,26Piauí 21,10 8,19 1,28 51,79 0,22 17,42Ceará 26,67 4,63 1,11 34,66 0,16 32,77Rio Grande Norte 38,45 4,98 0,23 40,65 0,08 15,62Paraíba 31,52 4,81 0,44 33,07 0,16 29,99Pernambuco 31,24 4,53 0,23 40,45 0,27 23,29Alagoas 22,35 3,76 0,22 38,56 0,13 34,97Sergipe 16,02 3,67 0,26 21,51 0,11 58,43Bahia 15,39 8,54 0,24 38,74 0,25 36,85Sudeste 60,98 7,75 1,77 17,93 0,11 11,46Minas Gerais 46,15 8,06 0,38 21,95 0,10 23,37Espírito Santo 35,86 7,05 0,23 24,65 0,08 32,13Rio de Janeiro 54,47 13,66 0,13 23,92 0,03 7,78São Paulo 71,84 4,93 3,20 13,03 0,15 6,85Sul 82,51 4,28 0,37 4,89 0,10 7,86Paraná 79,06 3,24 0,81 7,63 0,13 9,13Santa Catarina 79,43 2,31 0,12 2,70 0,06 15,39Rio Grande do Sul 86,64 5,96 0,11 3,55 0,09 3,65Centro-Oeste 43,75 5,82 0,48 33,87 0,86 15,22Mato Grosso do Sul 51,70 4,39 0,84 28,18 3,23 11,66Mato Grosso 39,41 7,98 0,45 44,42 0,66 7,07Goiás 42,78 5,97 0,36 27,57 0,08 23,24Distrito Federal 41,92 4,34 0,36 44,12 0,19 9,08Exploração dos <strong>da</strong>dos do SIM <strong>para</strong> avaliar proporção de óbitos por raça/cormostrou grande variação intra e inter-regional <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> (tabela2). No Norte, variou de 6 a 30% (média = 18,3); Nordeste, de 15,6% a 58,4% (29,9);Sudeste, 6,8 a 32,1 (11,5); Sul, 3,6 a 15,4 (7,9) e Centro-Oeste, 7 a 23,2 (15,2). O erro<strong>da</strong> determinação <strong>da</strong> cor <strong>no</strong>s óbitos só é me<strong>no</strong>r que 10% <strong>no</strong> Sul. Em Sergipe, constaem 58% dos óbitos cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, mas <strong>no</strong> Tocantins, 6,1%. O Rio Grande do Sul temo me<strong>no</strong>r percentual (3,6%).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de249


A magnitude de óbitos com cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> excede em to<strong>da</strong>s as regiões a magnitudedos óbitos dos pretos, dos amarelos e dos indígenas, que podem potencialmente estarsub-registra<strong>da</strong>s em seus respectivos grupos e super-registra<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>.Isto confere fragili<strong>da</strong>de a tais <strong>da</strong>dos, que podem aumentar à medi<strong>da</strong> que melhore aquali<strong>da</strong>de do registro de raça/cor.No caso dos indígenas, há duas situações distintas: a dos aldeados, sob a tutela<strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Nacional do Índio (Funai), e a dos dispersos, os quais se encontram fora<strong>da</strong>s terras demarca<strong>da</strong>s. No caso dos primeiros, a Funai é a responsável pelo atestadode óbito. É possível que os <strong>da</strong>dos sobre indígenas do SIM decorram dessa fonte, cujacobertura e quali<strong>da</strong>de de informação não é conheci<strong>da</strong>. No caso dos não-aldeados éprovável que sua raça/cor não seja declara<strong>da</strong> e que sejam classificados como pardosou de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Como a mortali<strong>da</strong>de indígena não é o foco do presente trabalho,não se buscou o esclarecimento destas dúvi<strong>da</strong>s, mas constituirá o cerne de trabalhofuturo.3.1.4. Quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> adscrição <strong>da</strong> causaAs estatísticas de mortali<strong>da</strong>de têm sido usa<strong>da</strong>s por epidemiologistas, demógrafos,planejadores e gestores de saúde, bem como por grupos populares de pressão, <strong>para</strong>avaliar a situação <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população. Em diversos lugares a única fonte de <strong>da</strong>dosepidemiológicos são os registros de mortali<strong>da</strong>de. Em face <strong>da</strong> sua importância, é essencialsaber a quali<strong>da</strong>de dos registros e, por outro lado, o conhecimento <strong>da</strong> natureza <strong>da</strong>slimitações dos <strong>da</strong>dos e o local onde ocorrem permite o cálculo de estimativas e possibilitaintervenções <strong>para</strong> contínua melhoria <strong>da</strong> cobertura e quali<strong>da</strong>de. A quali<strong>da</strong>de dos<strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de é medi<strong>da</strong> pela proporção do óbitos do Capítulo XVIII – Sintomas,Sinais e Achados A<strong>no</strong>rmais de Exames Clínicos e de Laboratórios não Classificados emOutra Parte (Causas mal defini<strong>da</strong>s).Os óbitos são classificados <strong>no</strong> capítulo causas mal defini<strong>da</strong>s quando os serviçosnão conseguem atribuir uma causa básica. Neste sentido, indica a incapaci<strong>da</strong>de doSistema de Saúde local, regional ou nacional, em atender à deman<strong>da</strong> por atenção desaúde coloca<strong>da</strong> pela população, e se a causa do óbito é Morte Sem Assistência Médica;também sinaliza sua incapaci<strong>da</strong>de de diag<strong>no</strong>sticar as doenças que matam a população,por obstáculos de acesso aos serviços de saúde, dificul<strong>da</strong>des de acessibili<strong>da</strong>de adiagnósticos e terapias. Assim, as causas mal defini<strong>da</strong>s indicam a quali<strong>da</strong>de do registroe também a quali<strong>da</strong>de do SUS.A proporção de causas mal defini<strong>da</strong>s foi 11,46% <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 2000, mas ao desagregaros <strong>da</strong>dos por região, sexo e raça/cor verifica-se grande variação (tabela 3).A maior desigual<strong>da</strong>de étnico-racial é inter-regional e não intra-regional.250Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A quali<strong>da</strong>de do registro e <strong>da</strong> assistência é pior em homens e mulheres de todosos grupos de cor do Norte e Nordeste quando com<strong>para</strong><strong>da</strong> à do Centro-Oeste, Sul eSudeste.Tabela 3. Proporção de óbitos por causas mal defini<strong>da</strong>s, por sexo, raça/cor eregiões. <strong>Brasil</strong>, 2000Masculi<strong>no</strong>Femini<strong>no</strong>Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra<strong>Brasil</strong> 8,02 12,46 13,41 12,25 8,36 13,61 15,86 15,31Norte 14,31 19,17 20,25 20,16 16,63 18,75 24,85 24,30Nordeste 16,74 18,15 15,78 16,07 19,55 19,56 21,17 20,92Centro-Oeste 6,37 8,20 7,62 7,70 5,92 9,43 7,80 8,05Sudeste 7,88 11,08 9,07 9,65 7,79 13,29 11,30 11,95Sul 4,76 4,70 6,43 5,65 4,52 4,01 5,65 4,85Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde.A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência em óbitos femini<strong>no</strong>s é pior que <strong>no</strong>s masculi<strong>no</strong>s. É pior,ain<strong>da</strong>, <strong>para</strong> pretos <strong>no</strong> Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste e pior <strong>para</strong> pardos <strong>no</strong> Nortee Sul. Para homens brancos, a pior quali<strong>da</strong>de ocorre <strong>no</strong> Nordeste e <strong>para</strong> os pretos,pardos e negros, <strong>no</strong> Norte. A melhor quali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> todos os homens ocorre <strong>no</strong> Sul.Para mulheres brancas e pretas a pior cobertura é <strong>no</strong> Nordeste e <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s, <strong>no</strong>Norte.A cobertura de óbitos <strong>no</strong> Nordeste é a me<strong>no</strong>r do país com estados que não registramnem metade dos óbitos; lá ocorre o maior sub-registro de raça/cor dos atestadose a maior proporção de mortes mal defini<strong>da</strong>s, caracterizando-se como a região depior situação de saúde e serviços. As mulheres <strong>no</strong>rdestinas têm a maior taxa de óbitosmal definidos do país e, em to<strong>da</strong>s as categorias de cor sua situação é pior que a doshomens. O homem pardo <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong> tem a me<strong>no</strong>r proporção e o preto a maior demortes mal defini<strong>da</strong>s. Não há diferença entre brancas e pretas quanto aos óbitos porcausas mal defini<strong>da</strong>s. Para este grupo a proporção é me<strong>no</strong>r que aquela apresenta<strong>da</strong><strong>para</strong> pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de251


Gráfico 1. Proporção de óbitos por causas mal defini<strong>da</strong>s por sexo e cor.Grandes Regiões, 2000No Norte, somente as pretas apresentam me<strong>no</strong>r proporção de mal defini<strong>da</strong>s queos homens. O maior diferencial dá-se entre brancos e pardos. Causas mal defini<strong>da</strong>ssomam um quinto dos óbitos masculi<strong>no</strong>s e um quarto dos femini<strong>no</strong>s entre os pardos.A quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência é me<strong>no</strong>r em mulheres de todos os grupos e piora, gra<strong>da</strong>tivamente,do branco em relação ao preto e do preto em relação ao pardo.No Sudeste, a proporção de mal defini<strong>da</strong>s é me<strong>no</strong>r em brancos, intermediáriaem pardos e mais alta em pretos. A desigual<strong>da</strong>de entre brancos e pretos é maior emmulheres que em homens. A proporção de mal defini<strong>da</strong>s <strong>no</strong> Sudeste é maior que <strong>no</strong>Centro-Oeste e bem maior que <strong>no</strong> Sul, quase o dobro <strong>para</strong> brancos e brancas e o triplo<strong>para</strong> pretos e pretas.No Sul, as causas mal defini<strong>da</strong>s são me<strong>no</strong>res em pretos e em especial nas pretas,intermediária <strong>para</strong> brancos e maior <strong>para</strong> pardos. Me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> mulheres que <strong>para</strong>homens.252Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


É possível que a melhor quali<strong>da</strong>de dos óbitos masculi<strong>no</strong>s deva se, em parte, à grandeproporção de Causas Externas (25%) de fácil identificação/classificação. Parte <strong>da</strong> piorquali<strong>da</strong>de dos registros de óbitos femini<strong>no</strong>s deva-se a causas encobertas, como aborto emorte materna, as quais podem estar sendo classifica<strong>da</strong>s como desconheci<strong>da</strong>s.Viana et al. (2001) usam as mortes por causas mal defini<strong>da</strong>s <strong>para</strong> analisar desigual<strong>da</strong>desem saúde (quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção). Neste sentido, mulheres e negros teriampior quali<strong>da</strong>de de atenção <strong>no</strong>s serviços de saúde.Sintetizando as limitações metodológicas, os <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de possuem boaquali<strong>da</strong>de nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste, concentrando 65% <strong>da</strong> população e 73,5%dos óbitos do país; boa cobertura de registros de óbito e proporção relativamente pequenade óbitos por raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> e causas mal defini<strong>da</strong>s. É provável que a mortali<strong>da</strong>de dosnão brancos aumente à medi<strong>da</strong> que cresça o registro de cor nas declarações de óbitos.No Norte e Nordeste, a combinação de baixa cobertura, sub-registro, altaproporção de causas mal defini<strong>da</strong>s e cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> tornam os <strong>da</strong>dos pouco confiáveise generalizações devem ser cautelosas. Os resultados dessas regiões são, provavelmente,aproximações subdimenciona<strong>da</strong>s <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. Com a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dosregistros espera-se que a taxa de mortali<strong>da</strong>de seja maior que a atual.As limitações não impedem o estudo dos <strong>da</strong>dos <strong>para</strong> as respectivas regiões. Ademais,<strong>para</strong> a intervenção, é essencial a qualificação, em termos de magnitude, localizaçãoe perfil <strong>da</strong>s carências do sistema de registros de saúde. Neste sentido, os <strong>da</strong>dostambém orientam as priori<strong>da</strong>des de investigação e aju<strong>da</strong>m na avaliação do impacto<strong>da</strong>s ações. Não há sistema de saúde de boa quali<strong>da</strong>de sem registros de boa quali<strong>da</strong>de.A quali<strong>da</strong>de dos registros orienta a intervenção <strong>no</strong> sistema.Nas tabulações de óbitos por capítulos foram excluí<strong>da</strong>s, devido ao peque<strong>no</strong>número de mortes, as Doenças dos Olhos e Anexos (Cap. VII) – quatro mortes – e asDoenças do Ouvido e <strong>da</strong> Apófise Mastóide (Cap VIII) – 35 mortes. Houve um caso deAfecções do Período Perinatal que foi desconsiderado.4. Resultados e comentáriosEm 2000, 407.694 adultos (10-64 a<strong>no</strong>s) morreram <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, sendo 273.350homens e 134.344 mulheres. Morreram 197.027 brancos; 33.297 pretos; 116.291pardos (149.589 negros); 4.617 amarelos e índios e 56.462 pessoas com cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>.Os brancos constituem 53,56% <strong>da</strong> população e seus óbitos perfizeram 48,33% dototal; os pretos compõe 6,54% <strong>da</strong> população; mas contribuem com 8,17% dos óbitos;os pardos são 38,37% <strong>da</strong> população e representam 28,52% <strong>da</strong>s mortes; os negros,Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de253


44,91% e 36,69%; os amarelos e indígenas, 0,88 e 1,13% e os de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>,0,65 e 13,83% respectivamente. O número de óbitos de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> excede o depretos, amarelos e índios somados e representa quase metade dos óbitos de pardos. Aadscrição correta <strong>da</strong> cor <strong>da</strong>s mortes certamente traria alterações significantes nas taxasde mortali<strong>da</strong>de.Tabela 4. População residente e número absoluto de óbitos de adultos por raça/core capítulo (CID-10). <strong>Brasil</strong>, 2000<strong>Brasil</strong> Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind Ign TotalMulheres e homens Adultos (Censo 2000) 68.024.877 8.308.556 48.733.644 57.042.200 1.120.539 827.440 127.015.056.Cap I Doenças infecciosas(A00-B99) 11.662 2.541 6.866 9.407 381 3.660 25.110Cap II Neoplasias (Tumores) (C00-D48 34.380 3.682 11.559 15.241 750 6.839 57.210Cap III Doenças do sangue, etc. (D50-D89) 965 177 583 760 37 418 2.180Cap IV Doenças endócrinas, etc. (E00-E07) 8.115 1.601 4.029 5.630 183 2.635 16.563Cap V Transtor<strong>no</strong>s mentais (F00-F99) 2.068 534 1.372 1.906 47 638 4.659Cap VI Sistema nervoso (G00-G99) 2.780 344 1243 1.587 71 759 5.197Cap VII Doenças dos olhos (H00-H59) 2 1 1 2 0 0 4Cap VIII Doenças do ouvido (H60-H96) 17 4 10 14 1 3 35Cap IX Aparelho circulatório (I00-I99) 46.746 4.962 22.098 27.060 1.081 13.355 91.740Cap X Aparelho respiratório (J00-J99) 12.396 2.017 5951 7.968 275 3.330 23.969Cap XI Aparelho digestivo (K00-K93) 12.440 1.870 6.278 8.148 293 3.601 24.482Cap XII Doenças <strong>da</strong> pele (L00-L99) 240 51 151 202 8 105 555Cap XIIl Aparelho osteomuscular (M00-M99) 690 136 334 470 17 176 3.548Cap XIV Aparelho geniturinário (N00-N99) 2.253 425 1.268 1.693 62 877 4.885Cap XVI Gravidez, parto, puerpério (O00-99) 630 160 551 711 31 272 1.644Cap XVII Malformações (Q00-Q99) 498 50 180 230 2 136 866Cap XVIII Sintomas e sinais (R00-R99) 15.800 4.150 15.591 19.741 493 10.693 46.727Cap XX Causas externas (V,W,X,Y) 45.344 7.094 38.226 45.320 878 8.965 100.507Total 197.025 33.296 116.290 149.586 4.617 56.462 407.694Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde.Embora interessantes, os números absolutos como os <strong>da</strong> tabela 4 não permitem avaliara magnitude <strong>no</strong>s grupos nem compará-los entre si, mas são importantes <strong>no</strong> dimensionamentodo tipo e tamanho dos serviços de saúde necessários <strong>para</strong> atendê-los.Com aju<strong>da</strong> de <strong>da</strong>dos populacionais constatamos que de ca<strong>da</strong> 100 mil residentes<strong>no</strong> país, 320 morreram em 2000. Esse <strong>da</strong>do médio esconde a desigual<strong>da</strong>de na morte,pois a taxa de mortali<strong>da</strong>de dos pretos foi 400/100mil, a dos pardos, 238,62/100mile a dos brancos, 289,64/100mil. Com<strong>para</strong>ndo-se a mortali<strong>da</strong>de de negros e brancos,a dos primeiros (pretos mais pardos) é me<strong>no</strong>r (262,24/100 mil) que a dos brancos(289,64/100mil). A mortali<strong>da</strong>de dos pretos supera a média nacional, enquanto a dosdemais grupos fica aquém <strong>da</strong> média.254Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 5. Proporção <strong>da</strong> população por raça/cor, taxas de mortali<strong>da</strong>de por 100.000hab. e capítulos selecionados (CID-10). <strong>Brasil</strong>, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind Ign TxProporção <strong>da</strong> população geral 53,56% 6,54% 38,37 44,91% 0,88% 0,38% TotalCap I Doenças infecciosas(A00-B99) 17,14 30,58 14,09 16,49 34,00 442,33 19,77Cap II Neoplasias (Tumores) (C00-D48 50,54 44,32 23,72 26,72 66,93 826,53 45,04Cap III Doenças do sangue, etc. (D50-D89) 1,42 2,13 1,20 1,33 3,30 50,52 1,72Cap IV Doenças endócrinas, etc. (E00-E07) 11,93 19,27 8,27 9,87 16,33 318,45 13,04Cap V Transtor<strong>no</strong>s mentais (F00-F99) 3,04 6,43 2,82 3,34 4,19 77,11 3,67Cap VI Sistema nervoso (G00-G99) 4,09 4,14 2,55 2,78 6,34 91,73 4,09Cap IX Aparelho circulatório (I00-I99) 68,72 59,72 45,34 47,44 96,47 1614,01 72,23Cap X Aparelho respiratório (J00-J99) 18,22 24,28 12,21 13,97 24,54 402,45 18,87Cap XI Aparelho digestivo (K00-K93) 18,29 22,51 12,88 14,28 26,15 435,20 19,27Cap XII Doenças <strong>da</strong> pele (L00-L99) 0,35 0,61 0,31 0,35 0,71 12,69 0,44Cap XIIl Aparelho osteomuscular (M00-M99) 1,01 1,64 0,69 0,82 1,52 21,27 2,79Cap XIV Aparelho geniturinário (N00-N99) 3,31 5,12 2,60 2,97 5,53 105,99 3,85Cap XVI Gravidez, parto, puerpério (O00-O99)* 0,93 1,93 1,13 1,25 2,77 32,87 1,29Cap XVII Malformações (Q00-Q99) 0,73 0,60 0,37 0,40 0,18 16,44 0,68Cap XVIII Sintomas e sinais (R00-R99) 23,23 49,95 31,99 34,61 44,00 1292,30 36,79Cap XX Causas externas (V,W,X,Y) 66,66 85,38 78,44 79,45 78,36 1083,46 79,13Total 289,64 400,74 238,62 262,24 412,03 6823,70 320,98Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Antes de aprofun<strong>da</strong>r a análise <strong>da</strong>s causas de morte, abriremos parênteses <strong>para</strong>ressaltar dois aspectos do perfil de mortali<strong>da</strong>de: a mortali<strong>da</strong>de dos amarelos e indígenase de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Em ca<strong>da</strong> região serão apresentados <strong>da</strong>dos gerais desses grupos, masnão serão feitas análises aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>s já que não constituem o objetivo do presentetrabalho.O grupo constituído pela soma de amarelos (difícil saber as etnias desse grupo,originalmente criado <strong>para</strong> designar orientais e em especial os japoneses – com o aumento<strong>da</strong> imigração, de lati<strong>no</strong>-america<strong>no</strong>s, chineses, corea<strong>no</strong>s. India<strong>no</strong>s, paquistanesese bangladeshianas estão nesse grupo ou <strong>no</strong> de pardos?) e indígenas (referem-se aosresidentes <strong>no</strong>s territórios demarcados, aos indígenas e descendentes dispersos na populaçãogeral ou a ambos?) apresenta taxa de mortali<strong>da</strong>de maior que a dos brancos <strong>para</strong>to<strong>da</strong>s as causas exceto Malformações Congênitas e merece estudo mais detalhado.* Para a Mortali<strong>da</strong>de Materna calculou-se nesta tabela a taxa por 100.000 de população geral. Nas tabelasde óbitos femini<strong>no</strong>s serão considera<strong>da</strong>s as taxas <strong>para</strong> 100.000 de população feminina de 10 a 49 a<strong>no</strong>s e nadiscussão <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de materna propriamente dita será usa<strong>da</strong> por 100.000 nascidos vivos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de255


Os óbitos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> são detalhados na tabela 6. A população deraça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> é 0,65% mas os óbitos de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> alcançam 13,85% do total.A proporção varia por capítulo, me<strong>no</strong>r em Doenças do Aparelho Osteomuscular (5%)e maior nas mal defini<strong>da</strong>s (22,9%). Paradoxalmente, cerca de 19% <strong>da</strong>s mortes porDoenças <strong>da</strong> Pele não citam cor, enquanto as Causas Externas, talvez por serem deresponsabili<strong>da</strong>de dos Institutos Médico-Legais, possuem o me<strong>no</strong>r sub-registro. Dadoo descompasso entre população e óbitos por cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> a taxa é altíssima e excedea morte de brancos em to<strong>da</strong>s as causas.Tabela 6. Proporção de óbitos de raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> <strong>no</strong> total de óbitos. Taxas demortali<strong>da</strong>de e razão de taxa em relação aos brancos. <strong>Brasil</strong>, 2000<strong>Brasil</strong>%Cap%IgnTx.100000Tx IgnTxBCap I Doenças infecciosas(A00-B99) 14,58 6,48 442,33 25,80Cap II Neoplasias (Tumores) (C00-D48 11,95 12,11 826,53 16,35Cap III Doenças do sangue, etc. (D50-D89) 19,17 0,74 50,52 35,61Cap IV Doenças endócrinas, etc. (E00-E07) 15,91 4,67 318,45 26,69Cap V Transtor<strong>no</strong>s mentais (F00-F99) 13,69 1,13 77,11 25,36Cap VI Sistema nervoso (G00-G99) 14,60 1,34 91,73 22,45Cap IX Aparelho circulatório (I00-I99) 14,56 23,65 1614,01 23,49Cap X Aparelho respiratório (J00-J99) 13,89 5,90 402,45 22,08Cap XI Aparelho digestivo (K00-K93) 14,71 6,38 435,20 23,80Cap XII Doenças <strong>da</strong> pele (L00-L99) 18,92 0,19 12,69 35,97Cap XIIl Aparelho osteomuscular (M00-M99) 4,96 0,31 21,27 20,97Cap XIV Aparelho geniturinário (N00-N99) 17,95 1,55 105,99 32,00Cap XVI Gravidez, parto, puerpério (O00-O99) 16,55 0,48 32,87 1,00Cap XVII Malformações (Q00-Q99) 15,70 0,24 16,44 22,45Cap XVIII Sintomas e sinais (R00-R99) 22,88 18,94 1.292,30 55,64Cap XX Causas externas (V,W,X,Y) 8,92 15,88 1.083,46 16,25Total 13,85 100,00 6.823,70 23,56Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.A insistência na questão deve-se à facili<strong>da</strong>de de correção do <strong>da</strong>do. Estes sãoóbitos registrados, em que a pessoa passou pelo serviço ou pelo provedor de saúdeque o assistiu e preencheu a declaração (que deveria ser preenchi<strong>da</strong> adequa<strong>da</strong>mente).São mortes de adultos, não de recém-nascidos de cor duvidosa. A adscrição <strong>da</strong> cor éimediata – basta olhar o corpo ou perguntar ao acompanhante. Sua retificação causariagrande impacto na quali<strong>da</strong>de dos registros e tornaria mais confiáveis os <strong>da</strong>dos sobredesigual<strong>da</strong>des étnico-raciais na saúde.256Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A solução é simples – o Datasus centraliza <strong>da</strong>dos sobre óbitos e alocação de recursosaos sistemas locais de saúde. A implantação de cro<strong>no</strong>grama de redução de registroscom cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> e seguimento de sua efetivação trará resultados a curto prazo.Gráfico 2. Taxa de mortali<strong>da</strong>de de adultos por raça/cor e capítulos (CID –10).<strong>Brasil</strong>, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomusculareGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasAs Causas Externas (24,65%) são a primeira causa de morte <strong>no</strong> país, segui<strong>da</strong>spelas doenças do aparelho circulatório (22,4); neoplasias (14,03); sintomas e sinaismal definidos (11,46); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (6,16); doenças do aparelhodigestivo (6,01); doenças do aparelho respiratório (5,88); doenças endócrinas e nutricionais(4,06); doenças do sistema nervoso (1,27); doenças do aparelho geniturinário(1,2); transtor<strong>no</strong>s mentais (1,14); doenças do aparelho osteomuscular ( 0,87); doençasdo sangue ( 0,53); malformações congênitas ( 0,4) e doenças <strong>da</strong> pele ( 0,21). Quase umem quatro mortes <strong>no</strong> país são por causas externas – mais de 100.000 por a<strong>no</strong>. Mais deum em cinco mortes são devi<strong>da</strong>s às doenças do aparelho circulatório.O gráfico 2 permite uma melhor visualização dos <strong>da</strong>dos. Sua escala logarítmicaindica o impacto <strong>da</strong> cor na mortali<strong>da</strong>de, especialmente a de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Mostratambém as altas taxas de mortali<strong>da</strong>de de amarelos e indígenas, a qual excede a dospretos em todos os capítulos, exceto doenças endócrinas, aparelho osteomuscular,malformações e mal defini<strong>da</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de257


Gráfico 3. Relação de taxa de mortali<strong>da</strong>de de adultos pretos, pardos e negros sobrebrancos. <strong>Brasil</strong>, 2000O gráfico 3 mostra com detalhes a desigual<strong>da</strong>de na mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardose negros em relação à mortali<strong>da</strong>de de brancos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos é maior que a dos brancos em quase todos os capítulos,exceto neoplasias, doenças do aparelho circulatório e malformações congênitas. Émais do dobro <strong>da</strong> branca <strong>para</strong> óbitos por doenças mentais; gravidez, parto e puerpérioe causas mal defini<strong>da</strong>s; mais de 50% maior nas infecções, sangue, endócrinas, pele,osteomuscular e geniturinárias e me<strong>no</strong>s de 50% maior nas doenças do sistema nervoso,digestivo, respiratório e causas externas.É interessante <strong>no</strong>tar que as causas em que a mortali<strong>da</strong>de dos pretos é bem maiorsão exatamente aquelas em que a exclusão social e a discriminação racial têm maiorpeso.A principal causa de morte <strong>no</strong> capítulo <strong>da</strong>s doenças mentais, como se verá adiante,é devi<strong>da</strong> ao alcoolismo – que de um lado configura uma estratégia de sobrevivênciaa reali<strong>da</strong>des insuportáveis e instransponíveis de discriminação e exclusão, e de outroaponta <strong>para</strong> uma <strong>da</strong>s doenças mais desassisti<strong>da</strong>s <strong>da</strong> saúde, com a maior carência deserviços e o mais difícil acesso por parte dos socialmente excluídos.258Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tanto mortes materna quanto por causas mal defini<strong>da</strong>s, ressaltam a exclusão<strong>no</strong> acesso a serviços de saúde de quali<strong>da</strong>de, implicitamente caracterizando racismoinstitucional.Os pardos possuem taxas de mortali<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r que os brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s ascausas, exceto gravidez, parto e puerpério; causas mal defini<strong>da</strong>s e externas, emboranão exce<strong>da</strong>m 50% nesse capítulo. Nas demais causas, chega a ser me<strong>no</strong>s <strong>da</strong> metade<strong>para</strong> neoplasias e malformações congênitas quando com<strong>para</strong>dos aos brancos.Como explicar? Há duas hipóteses não excludentes: uma é que proporçãoimportante de óbitos ig<strong>no</strong>rados seja de pardos, porque as cores <strong>da</strong> ponta do espectrosão mais fáceis de identificar e registrar; outra hipótese é a de que a ideologia dobranqueamento esteja em funcionamento, levando pardos a serem registrados comobrancos. Melhorar o registro de cor <strong>no</strong>s atestados de óbito poderá lançar luz sobre aquestão.Esta relativamente baixa mortali<strong>da</strong>de dos pardos contamina os <strong>da</strong>dos dos negrosque acabam tendo mortali<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r que os brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as causas, excetodoenças mentais; gravidez, parto e puerpério; causas mal defini<strong>da</strong>s e externas.Embora não vali<strong>da</strong>do empiricamente pelos <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de existentes, nãoé plausível que a mortali<strong>da</strong>de de pardos e negros seja me<strong>no</strong>r que a de brancos. Taisincoerências merecem estudos mais detalhados <strong>para</strong> identificar a situação real e osmecanismos que levam às distorções dos <strong>da</strong>dos.De todo modo, a análise de <strong>da</strong>dos nacionais refere-se a uma abstração matemáticadificilmente compatível com a reali<strong>da</strong>de, a qual revela-se melhor por meio de <strong>da</strong>dosdesagregados.4.1. Mortali<strong>da</strong>de masculinaOs óbitos masculi<strong>no</strong>s (273.349) representaram 67,05% dos óbitos de adultosdo país ou pouco mais de 2/3. Esse diferencial de mortes de homens <strong>para</strong> mulheresexplica porque a esperança de vi<strong>da</strong> dos homens em 2000 foi de 64 a<strong>no</strong>s, enquantoo <strong>da</strong>s mulheres foi 72 a<strong>no</strong>s – uma diferença de oito a<strong>no</strong>s. Os brancos constituíram50,71% <strong>da</strong> população e contribuíram com 49,97% dos óbitos; os pretos, 6,37 e 7,60;os pardos, 39,03 e 31,11; os negros, 46,22 e 37,75; os amarelos e índios, 1,42 e 2,01e os ig<strong>no</strong>rados, 2,47 e 8,87 respectivamente <strong>da</strong> população e <strong>da</strong>s mortes masculinas<strong>no</strong> país em 2000.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de259


A tabela 7 mostra a mortali<strong>da</strong>de por raça/cor e capítulo <strong>da</strong> CID10 <strong>para</strong> os homensadultos <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Com<strong>para</strong>ndo-se a mortali<strong>da</strong>de de adultos à de homens, verifica-se que a última émaior <strong>para</strong> todos os grupos de cor exceto cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, que é maior <strong>para</strong> as mulheres.O gradiente de mortali<strong>da</strong>de é o mesmo do <strong>Brasil</strong> – a maior mortali<strong>da</strong>de é a do grupode raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> (1.463,34); depois a de amarelos+indígenas (557,26), seguidopelos pretos (485,53); brancos (400,88), negros (357,26) e pardos (324,25).Tabela 7. Taxas de mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos (10-64 a<strong>no</strong>s). <strong>Brasil</strong>, 2000<strong>Brasil</strong> Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind Ign Total32.633.261 4.328.387 24.552.457 28.880.844 Tx Tx 62.479.756Cap I Doenças infecciosas(A00-B99) 24,27 39,55 18,06 21,71 50,04 97,86 25,00Cap II Neoplasias (Tumores) (C00-D48 55,29 42,70 22,37 26,67 77,48 156,63 44,45Cap III Doenças do sangue (D50-D89) 1,64 4,11 1,42 1,49 3,49 9,19 1,93Cap IV Doenças endócrinas (E00-E07) 12,92 18,85 7,88 9,60 18,55 51,78 12,37Cap V Transtor<strong>no</strong>s mentais (F00-F99) 5,51 11,35 4,32 5,71 9,90 23,82 5,93Cap VI Sistema nervoso (G00-G99) 5,10 6,81 2,99 3,50 7,31 18,90 4,76Cap IX Aparelho circulatório (I00-I99) 87,58 104,35 49,15 61,69 130,22 336,76 80,40Cap X Aparelho respiratório (J00-J99) 23,74 29,46 14,44 17,12 35,98 88,09 22,23Cap XI Aparelho digestivo (K00-K93) 29,19 31,06 18,63 21,26 43,07 104,85 27,25Cap XII Doenças <strong>da</strong> pele (L00-L99) 0,40 2,40 0,37 0,41 0,56 2,20 0,57Cap XIIl Aparelho osteomuscular (M00-M99) 0,76 3,00 0,43 0,51 1,57 2,33 0,82Cap XIV Aparelho geniturinário (N00-N99) 3,72 7,35 2,70 3,18 5,06 20,32 3,98Cap XVII Malformações (Q00-Q99) 0,73 2,63 0,31 0,36 0,56 2,39 0,72Cap XVIII Sintomas e sinais (R00-R99) 32,32 65,89 44,77 43,75 51,50 214,04 44,07Cap XX Causas externas (V,W,X,Y) 117,68 143,76 136,40 140,31 141,58 334,17 132,33Total 400,88 485,53 324,25 357,26 576,88 1463,34 406,83Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Causas Externas (32,14%) é a primeira causa de morte entre os homens segui<strong>da</strong>pelas doenças do aparelho circulatório (20,11); mal defini<strong>da</strong>s (10,93); neoplasias(10,83), doenças do aparelho digestivo (6,80); doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (6,19);doenças do aparelho respiratório (5,41); doenças endócrinas e nutricionais (3,09);transtor<strong>no</strong>s mentais (1,49); doenças do sistema nervoso (1,17); doenças do aparelhogeniturinário ( 0,97); doenças do sangue (0,44); doenças do aparelho osteomuscular(0,17); malformações congênitas (0,15); e doenças <strong>da</strong> pele (0,11).Quase uma em ca<strong>da</strong> três mortes masculinas <strong>no</strong> país é por causas externas– mais de 87 mil por a<strong>no</strong>. A ca<strong>da</strong> cinco mortes uma é devi<strong>da</strong> às doenças do aparelhocirculatório.260Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A hierarquia <strong>da</strong>s causas de morte entre homens difere <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de geral: asmal defini<strong>da</strong>s, um indicador de que os serviços não estão atendendo à deman<strong>da</strong>, ocupama terceira posição, enquanto as neoplasias caíram <strong>para</strong> a quarta e as doenças doaparelho digestivo, em especial as do fígado (com destaque <strong>para</strong> a doença alcoólicado fígado) ganharam precedência sobre as Doenças Infecciosas.O gráfico 4 ilustra que em to<strong>da</strong>s as causas de morte, exceto neoplasias, a taxa demortali<strong>da</strong>de dos pretos excede a dos brancos.Gráfico 4. Taxas de mortali<strong>da</strong>de de homens adultos por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasO gráfico 5, apresenta a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de entre a mortali<strong>da</strong>de de <strong>da</strong><strong>da</strong>cor e a dos brancos. Dele não se pode deduzir a importância <strong>da</strong> causa de morte, masilustra bem a maior mortali<strong>da</strong>de dos pretos em relação aos brancos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos por Doenças <strong>da</strong> Pele e Osteomusculares é, respectivamente,seis e quatro vezes maior que a dos brancos. A mortali<strong>da</strong>de por Malformações Congênitasé mais de 3,5 vezes maior, enquanto a por Doenças Mentais e Causas mal defini<strong>da</strong>s émais que o dobro e a por doenças geniturinários é quase o dobro <strong>da</strong> dos brancos.O gráfico também mostra que as taxas de mortali<strong>da</strong>de dos pardos e negros são me<strong>no</strong>resque as dos brancos exceto <strong>para</strong> doenças mal defini<strong>da</strong>s e Causas Externas. Nessas duasúltimas causas, as taxas são apenas modestamente maiores <strong>para</strong> os pardos e negros.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de261


Gráfico 5. Relação de taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre amortali<strong>da</strong>de de brancos. Homens adultos do <strong>Brasil</strong>, 2000Passaremos a seguir a apresentar a mortali<strong>da</strong>de masculina pelas regiões do país,reduzindo o grau de abstração dos <strong>da</strong>dos de saúde mas desde já chamando a atenção<strong>para</strong> a e<strong>no</strong>rme variação intra-regional dos registros de mortali<strong>da</strong>de quanto à cobertura,proporção de óbitos de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> e proporção de óbitos por causas mal defini<strong>da</strong>s.4.1.1. Mortali<strong>da</strong>de masculina por regiõesA tabela 8 resume a mortali<strong>da</strong>de masculina por regiões.A análise <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de de homens adultos por região mostra o <strong>para</strong>doxo detaxas mais altas nas regiões mais desenvolvi<strong>da</strong>s. É possível que algumas causas de mortesejam mesmo me<strong>no</strong>s freqüentes, porém é difícil afirmar em que proporção, quandose tem em mente o grande sub-registro <strong>da</strong>s regiões Norte e Nordeste. Se os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong>tabela 8 representam 70% <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de do Norte e, com sorte, 60% <strong>da</strong> do Nordeste,a mortali<strong>da</strong>de espera<strong>da</strong> seria respectivamente 423 e 576. A alta proporção de mortespor causas mal defini<strong>da</strong>s também dificulta com<strong>para</strong>ções.262Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 8. Taxa de mortali<strong>da</strong>de masculina por região. 2000Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste SulDoenças infecciosas 19,03 19,34 27,22 33,56 26,32Neoplasias 24,34 25,06 40,43 57,70 72,76Doenças do sangue 1,83 1,91 1,57 2,25 1,30Doenças endócrinas 6,77 11,25 11,97 16,47 13,11Transtor<strong>no</strong>s mentais 2,00 5,24 7,14 7,78 7,21Sistema nervoso 2,77 3,79 5,22 5,95 6,25Aparelho circulatório 43,35 56,82 85,12 110,40 103,12Aparelho respiratório 13,12 15,86 17,63 29,70 28,53Aparelho digestivo 17,03 22,56 26,11 36,09 32,38Doenças <strong>da</strong> pele 0,41 0,48 0,27 0,60 0,34Aparelho osteomuscular 0,71 0,49 0,73 0,76 1,04Geniturinário 3,46 3,64 4,54 4,96 3,47Malformações 0,30 0,47 0,87 0,80 0,68Mal defini<strong>da</strong>s 56,37 63,17 31,01 47,98 23,22Causas externas 104,43 115,43 155,59 165,89 124,44Total 295,91 345,53 415,41 520,89 444,18Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde.As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000 habitantes.É importante ressaltar a presença de taxa ain<strong>da</strong> eleva<strong>da</strong> de causas mal defini<strong>da</strong>sna região Sudeste. As com<strong>para</strong>ções entre os <strong>da</strong>dos do Norte, Nordeste e mesmo Centro-Oestee as do Sudeste e Sul ficam, então, comprometi<strong>da</strong>s. No entanto, cumprem aimportante função de mostrar, pela ausência, as desigual<strong>da</strong>des quanto à cobertura e àquali<strong>da</strong>de dos serviços de saúde, uma vez que até <strong>para</strong> registrar e diag<strong>no</strong>sticar a causade morte é preciso passar pelo serviço de saúde.Passaremos a analisar os <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de masculina segundo região, porraça/cor.4.1.1.1. Região NorteNo Norte, a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pessoas de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> é extremamente alta, tornandofrágeis as com<strong>para</strong>ções. A taxa de mortali<strong>da</strong>de é eleva<strong>da</strong> devido, principalmente, àpequena população de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, mas os números absolutos excedem os númerosdos negros e indígenas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de263


A tabela 9 e os gráficos 6 e 7 mostram as taxas de mortali<strong>da</strong>de específicas porcor e também a desigual<strong>da</strong>de entre pretos, negros e brancos.Tabela 9. Taxas de mortali<strong>da</strong>de de homens adultos por raça/cor.Região Norte, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnDoenças infecciosas 13,34 24,31 16,60 17,25 21,80 271,39Neoplasias 21,90 21,10 18,32 18,55 10,90 490,52Doenças do sangue 1,48 1,43 1,55 1,54 0,00 32,72Doenças endócrinas 5,93 7,51 4,89 5,12 4,84 140,72Transtor<strong>no</strong>s mentais 1,89 3,58 1,52 1,69 0,00 28,14Sistema nervoso 2,80 3,22 2,08 2,18 1,21 44,23Aparelho circulatório 37,13 51,49 32,27 33,90 33,91 838,31Aparelho respiratório 10,45 12,16 10,42 10,56 7,27 257,32Aparelho digestivo 12,43 19,67 14,09 14,56 12,11 301,55Doenças <strong>da</strong> pele 0,16 0,36 0,30 0,30 1,21 6,03Aparelho osteomuscular 0,74 1,43 0,50 0,58 2,42 80,41Geniturinário 2,55 4,29 2,58 2,72 0,00 4,02Malformações 0,25 0,00 0,26 0,24 1,21 780,01Mal defini<strong>da</strong>s 30,29 54,35 55,02 54,96 60,55 780,01Causas externas 70,39 78,67 111,26 108,51 49,65 755,89Total 211,73 283,55 271,66 272,67 207,08 4.042,78Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.A escala logarítmica mostra o impacto <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de de cor desconheci<strong>da</strong>, bemcomo que a mortali<strong>da</strong>de dos negros é maior que a dos brancos e pardos em quaseto<strong>da</strong>s as causas. A mortali<strong>da</strong>de dos pardos só é maior que a dos negros <strong>para</strong> CausasExternas (gráfico 6).264Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 6. Mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Norte, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasO Gráfico 7 ilustra a desigual<strong>da</strong>de por cor e a magnitude <strong>da</strong> diferença.Gráfico 7. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre a mortali<strong>da</strong>dede brancos. Homens adultos <strong>da</strong> Região Norte, 2000Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de265


Ao descreverem as principais causas de morte por capítulo, os númerosencontrados são peque<strong>no</strong>s e a mortali<strong>da</strong>de específica baixa, principalmente <strong>no</strong> Nortee <strong>no</strong> Nordeste.Entre as infecções, as principais causas de morte entre pretos são o HIV, as septicemiase a malária, enquanto a tuberculose é mais freqüente entre pardos.A mortali<strong>da</strong>de por câncer do estômago e do fígado é maior <strong>no</strong>s pretos, enquanto<strong>no</strong>s pardos o câncer de maior mortali<strong>da</strong>de é o de estômago. O mais prevalente entreos brancos é o de pulmão, que poupa os pretos, mas é o segundo em importância <strong>para</strong>os pardos.Os pardos possuem a maior mortali<strong>da</strong>de por doenças do sangue, que, entretanto,é uma causa de morte 24 vezes me<strong>no</strong>r que a <strong>da</strong>s infecções <strong>para</strong> os pretos e 11 vezesme<strong>no</strong>r <strong>para</strong> os pardos. O único caso de morte por anemia falciforme ocorreu em umbranco.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos é a mais eleva<strong>da</strong> <strong>para</strong> as doenças endócrinas – diabetese desnutrição – enquanto a dos pardos é a mais baixa <strong>para</strong> ambas as causas.A principal causa de morte dos transtor<strong>no</strong>s mentais é a associa<strong>da</strong> ao uso de álcool,mais que o dobro <strong>no</strong>s pretos quando com<strong>para</strong>dos aos brancos e pardos.Entre as doenças do sistema nervoso a principal causa de morte são as epilepsias,prevalentes mais entre os pretos que <strong>no</strong>s outros.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos por doenças cerebrovasculares é a maior, enquanto pordoença isquêmica do coração a maior incidência é entre os brancos. Já a insuficiênciacardíaca, é o triplo <strong>da</strong> dos brancos e mais que o dobro <strong>da</strong> dos pardos.Os brancos morrem mais por pneumonia, os pardos, mais por doenças pulmonaresobstrutivas crônicas e os pretos por insuficiência respiratória.As doenças do fígado são a principal causa de morte entre as doenças do aparelhodigestivo; maior <strong>para</strong> pretos, segui<strong>da</strong> dos pardos e me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> os brancos. As úlceraspépticas representam a segun<strong>da</strong> maior causa de morte, são maiores em pretos quandocom<strong>para</strong>dos aos pardos e aos brancos (que apresentam as me<strong>no</strong>res taxas).A mortali<strong>da</strong>de dos pretos também é maior que a de pardos e brancos por insuficiênciarenal.A mortali<strong>da</strong>de de pretos e pardos sem assistência é quase o dobro <strong>da</strong> de brancosbem como a de pardos por outras causas mal defini<strong>da</strong>s; a de pretos nessa causa éme<strong>no</strong>r que a de pardos.266Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Os pardos são os que mais morrem de causas externas, tanto de agressões quantode acidentes de trânsito e outros acidentes. Os pretos só morrem mais que os brancosem Agressões, um pouco me<strong>no</strong>s em outros acidentes e bem me<strong>no</strong>s <strong>no</strong>s acidentes detrânsito.4.1.1.2. Região NordesteA tabela 10 e os gráficos 8 e 9 indicam os <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de por cor e a desigual<strong>da</strong>de<strong>para</strong> o Nordeste.Tabela 10. Taxas de mortali<strong>da</strong>de de homens adultos por raça/cor. Região Nordeste,2000.Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnDoenças infecciosas 11,9 22,5 13,4 14,6 20,1 726,3Neoplasias 23,4 22,5 17,2 17,8 27,2 721,8Doenças do sangue 1,7 1,3 1,2 1,2 5,9 68,0Doenças endócrinas 9,3 10,6 7,3 7,7 3,5 402,1Transtor<strong>no</strong>s mentais 2,9 6,2 4,3 4,5 9,5 156,5Sistema nervoso 2,5 3,1 2,7 2,8 7,1 139,1Aparelho circulatório 38,5 56,4 39,4 41,5 72,2 2.103,46Aparelho respiratório 10,0 15,5 12,0 12,5 26,0 535,8Aparelho digestivo 14,4 17,5 16,3 16,5 41,4 861,6Doenças <strong>da</strong> pele 0,3 0,4 0,3 0,3 0,0 18,9Aparelho osteomuscular 0,5 0,5 0,3 0,3 0,0 13,6Geniturinário 2,8 3,3 2,2 2,4 2,4 148,1Malformações 0,5 0,3 0,3 0,3 0,0 15,9Mal defini<strong>da</strong>s 35,0 50,4 44,6 45,4 131,3 2.683,2Causas externas 55,2 67,1 121,2 114,3 111,2 2.571,3Total 208,9 277,7 282,9 282,3 457,9 11.165,8Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.A proporção de mortes de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> é maior ain<strong>da</strong> do que <strong>no</strong> Norte. Deve-selembrar que a cobertura de registros de óbito <strong>no</strong> Nordeste é a mais baixa. Assim, tudoo que for dito aqui tem grande fragili<strong>da</strong>de. Os pretos morrem mais que os brancos emtodos os capítulos, exceto neoplasias, doenças do sangue e malformações, e tambémmais que os pardos, exceto em causas externas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de267


Gráfico 8. Mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Nordeste, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasA mortali<strong>da</strong>de dos brancos e pretos <strong>no</strong> Nordeste é me<strong>no</strong>r que <strong>no</strong> Norte, enquantoa de pardos e negros é um pouco maior, a de amarelos e indígenas é mais de duasvezes maior e a de cor desconheci<strong>da</strong> é quase três vezes maior.À medi<strong>da</strong> que a cobertura e a quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos melhorarem <strong>no</strong> Nordesteespera-se um aumento <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> todos os grupos. É provável queo mesmo ocorra <strong>para</strong> o Norte, mas como sua cobertura é maior que a do Nordeste, oaumento esperado <strong>da</strong>s taxas não será <strong>da</strong> mesma dimensão.O gráfico 9 mostra as desigual<strong>da</strong>des na mortali<strong>da</strong>de e revela que elas são asmaiores entre pretos e brancos. Na categoria negro as diferenças são atenua<strong>da</strong>s.268Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 9. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre a mortali<strong>da</strong>dede brancos. Homens adultos <strong>da</strong> Região Nordeste, 2000No Nordeste, os pretos exibem a maior mortali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> as três principais causasde morte por infecções – HIV, tuberculose e septicemia (<strong>da</strong>dos não apresentados). Ados pardos é me<strong>no</strong>r que a dos brancos <strong>para</strong> o HIV e maior <strong>para</strong> as demais. Os pretostêm mortali<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r que os brancos <strong>para</strong> o câncer de pulmão e esôfago. No câncerde estômago, a taxa de mortali<strong>da</strong>de dos pretos é maior que a dos brancos.A mortali<strong>da</strong>de por doenças do sangue foi muito pequena mas a anemia falciformefoi maior <strong>para</strong> negros do que <strong>para</strong> brancos, embora tenha sido a quarta causa de morte(<strong>da</strong>dos não apresentados).Tanto o diabetes quanto a desnutrição mataram mais pretos do que pardos ebrancos.A mortali<strong>da</strong>de por uso de álcool foi quase o dobro <strong>para</strong> pretos em relação aosbrancos. A mortali<strong>da</strong>de dos pardos foi me<strong>no</strong>r que a dos pretos, mas maior que a dosbrancos.A mortali<strong>da</strong>de dos negros foi a maior <strong>para</strong> epilepsias segui<strong>da</strong> dos pardos, enquantoa desses últimos foi a maior <strong>para</strong> meningites e outras doenças do encéfalo, segui<strong>da</strong> dospretos. A dos brancos foi a me<strong>no</strong>r de to<strong>da</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de269


A mortali<strong>da</strong>de dos pretos foi a maior <strong>para</strong> acidentes vasculares cerebrais einsuficiência cardíaca. A dos brancos foi maior <strong>para</strong> doença isquêmica do coração ea dos pardos foi a me<strong>no</strong>r de to<strong>da</strong>s.Os pretos também morreram mais de pneumonias, <strong>da</strong>s doenças respiratórias crônicase de insuficiência respiratória do que pardos e brancos. Já os brancos, morrerammais de insuficiência respiratória do que os pardos.O mesmo ocorreu com as doenças digestivas – mortali<strong>da</strong>de maior dos pretos <strong>para</strong>Doenças do Fígado, seguidos dos pardos e brancos.As mortes por doenças <strong>da</strong> pele, sistema osteomuscular e malformações congênitassão poucas e não serão analisa<strong>da</strong>s.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos também foi maior <strong>para</strong> insuficiência renal, segui<strong>da</strong>pelos brancos e pardos.Também nas mal defini<strong>da</strong>s os pretos apresentaram a maior mortali<strong>da</strong>de – nasmortes sem assistência, em outras causas mal defini<strong>da</strong>s e <strong>no</strong>s sinais e sintomas doaparelho respiratório, seguidos pelos pardos, os quais apresentam uma taxa muitoinferior à dos pretos.Como <strong>no</strong> Norte, os pardos tiveram a maior mortali<strong>da</strong>de por causas externas. Amortali<strong>da</strong>de dos pretos foi maior que a dos brancos <strong>para</strong> agressões e outros acidentes,mas me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> acidentes de trânsito.4.1.1.3. Centro-OesteCom cobertura e quali<strong>da</strong>de de registros melhores, a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> região Centro-Oeste alcança taxas maiores <strong>para</strong> brancos, pretos, pardos e negros, mas me<strong>no</strong>res porcor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> em relação ao Nordeste. Com<strong>para</strong>ndo-se com o Norte, suas taxas sãomaiores <strong>para</strong> todos os grupos. A tabela 11 mostra tais informações.No Centro-Oeste, a mortali<strong>da</strong>de de pretos é maior que a de brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s ascausas, exceto Sangue, e a mortali<strong>da</strong>de de pardos e negros é maior que a de brancos<strong>para</strong> Infecções, doenças do aparelho respiratório, digestivo, pele, geniturinário, causasmal defini<strong>da</strong>s e externas. A mortali<strong>da</strong>de dos negros também é maior <strong>para</strong> doençascirculatórias. A mortali<strong>da</strong>de de pardos e negros é semelhante à dos brancos <strong>para</strong> doençasdo sangue e me<strong>no</strong>r nas demais causas.270Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 11. Taxas de mortali<strong>da</strong>de de homens adultos por raça/cor. Região Centro-Oeste, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negro Amind IgnInfecções 21,1 41,69 24,2 26,1 22,8 594,6Neoplasias 39,5 45,4 29,2 30,9 32,3 893,8Sangue 1,4 0,8 1,4 1,3 1,9 29,2Endócrinas 11,1 17,6 8,5 9,5 13,3 277,3Mentais 5,0 10,1 7,0 7,3 11,4 145,9Nervoso 4,7 6,7 3,9 4,2 3,8 127,7Circulatório 72,9 112,6 70,8 75,3 62,7 1849,6Respiratório 14,6 21,0 15,1 15,7 17,1 401,3Digestivo 20,6 38,2 22,8 24,4 24,7 583,7Pele 0,2 0,4 0,3 0,4 0,0 0,0Osteomuscular 0,7 1,3 0,4 0,5 0,0 21,9Geniturinário 3,6 6,3 4,0 4,3 0,0 105,8Malformações 0,8 1,3 0,6 0,7 0,0 21,9Mal defini<strong>da</strong>s 21,1 42,0 28,8 30,2 20,9 864,6Causas externas 114,0 166,8 161,0 161,6 110,2 2918,5Total 331,3 512,1 378,3 392,6 321,02 8835,9Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a100.000 habitantes.O gráfico 10 ilustra o comentário acima, enquanto o gráfico 11 mostra asdesigual<strong>da</strong>des <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por cor.Gráfico 10. Mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Centro-Oeste,2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de271


A mortali<strong>da</strong>de dos pretos, em relação à dos brancos é o dobro <strong>para</strong> causas maldefini<strong>da</strong>s e mais que o dobro <strong>para</strong> doenças mentais, pele, doenças endócrinas, circulatórias,digestivas, osteomusculares, geniturinárias e malformações congênitas. Chega,ain<strong>da</strong>, a quase 50% <strong>para</strong> infecções, doenças do sistema nervoso, aparelho respiratórioe causas externas e é um pouco maior <strong>para</strong> neoplasias (gráfico 11).Para pardos e negros, a desigual<strong>da</strong>de é me<strong>no</strong>r e, <strong>para</strong> cerca de metade <strong>da</strong>s causas,a mortali<strong>da</strong>de é me<strong>no</strong>r que a dos brancos.As principais causas de mortali<strong>da</strong>de por Infecção <strong>para</strong> os homens <strong>no</strong> Centro-Oeste foram doença de Chagas, HIV, outras septicemias e tuberculose, to<strong>da</strong>s mais queo dobro <strong>para</strong> pretos e intermediárias <strong>para</strong> pardos e negros.As principais mortes por neoplasias foram de pulmão, estômago e esôfago. Amortali<strong>da</strong>de dos pretos foi ligeiramente me<strong>no</strong>r que a dos brancos <strong>para</strong> a primeira,ligeiramente maior <strong>para</strong> a segun<strong>da</strong> e quase o dobro <strong>para</strong> a terceira. A mortali<strong>da</strong>de depardos foi me<strong>no</strong>r que a dos brancos <strong>para</strong> os três tipos de câncer.Gráfico 11. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre a mortali<strong>da</strong>dede brancos. Homens adultos <strong>da</strong> região Centro-Oeste, 2000A mortali<strong>da</strong>de por doenças do sangue foi maior <strong>para</strong> os brancos segui<strong>da</strong> dos pardos,negros e pretos; o mesmo ocorrendo com a mortali<strong>da</strong>de por anemia falciforme.Como <strong>no</strong> Norte e Nordeste, a maior mortali<strong>da</strong>de por diabetes e desnutrição foi<strong>para</strong> homens pretos, seguidos pelos negros, pardos e brancos, enquanto a mortali<strong>da</strong>de272Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


dos pretos foi o dobro <strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong> <strong>para</strong> os brancos <strong>para</strong> Transtor<strong>no</strong>s Mentais devidoao uso de álcool, com o mesmo gradiente por cor.As mortes por epilepsia foram o triplo <strong>para</strong> pretos, seguidos dos brancos, negrose pardos.To<strong>da</strong>s as principais doenças do aparelho circulatório – doenças isquêmicas docoração, doenças cerebrovasculares e insuficiência cardíaca – foram maiores <strong>para</strong>os pretos; a primeira um pouco maior (1,01), a segun<strong>da</strong> 1,8 vez maior e a última 2,1vezes maior.Entre as principais doenças respiratórias, a mortali<strong>da</strong>de dos negros só foi me<strong>no</strong>r<strong>para</strong> as doenças pulmonares obstrutivas crônicas, sendo maior <strong>para</strong> pneumonias einsuficiência respiratória. A de pardos e negros foi intermediária <strong>para</strong> pneumonias eme<strong>no</strong>r <strong>para</strong> as demais.A mortali<strong>da</strong>de por doenças do fígado, assim como por pancreatites, foram maiores<strong>para</strong> os pretos com gradiente <strong>para</strong> negros, pardos e brancos.O lupus eritematoso disseminado foi mais prevalente <strong>no</strong>s pardos, seguido pelosnegros, brancos e nenhuma morte entre os pretos.Os pretos possuem a maior mortali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> as causas do aparelho geniturinário– insuficiência renal, outros transtor<strong>no</strong>s do aparelho urinário, nefrites e nefroses –,seguidos pelos negros, pardos e brancos.As malformações congênitas do aparelho circulatório são maiores <strong>para</strong> os pretos,depois brancos e finalmente negros e pardos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos é o dobro <strong>da</strong> dos brancos <strong>para</strong> causas mal defini<strong>da</strong>s eintermediárias <strong>para</strong> negros e pardos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos por agressões é 1,9 vez maior que de brancos, me<strong>no</strong>rpor acidentes de transporte e o dobro <strong>para</strong> outros acidentes.4.1.1.4 Região SudesteAs taxas de mortali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> Sudeste foram maiores que as do Centro-Oeste,Nordeste e Norte <strong>para</strong> homens em todos os grupos de cor, exceto os de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>,embora essa última ain<strong>da</strong> se mantivesse em patamares elevados.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de273


Tabela 12. Taxas de mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Sudeste,2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 29,7 52,9 24,7 30,1 73,7 547,3Neoplasias 61,4 59,8 31,5 36,9 133,6 841,3Sangue 1,9 3,2 1,6 1,9 6,9 55,3Endócrinas 15,2 24,2 10,8 13,3 30,7 307,5Mentais 6,3 13,6 6,4 7,8 8,8 145,2Nervoso 5,8 6,5 3,9 4,4 10,7 102,3Circulatório 104,5 151,4 73,1 88,1 186,1 1900,7Respiratório 28,1 40,8 20,2 24,2 50,3 485,6Digestivo 35,4 40,4 24,7 27,7 58,7 568,5Pele 0,5 0,8 0,5 0,5 0,8 11,2Osteomuscular 0,7 1,2 0,5 0,6 1,5 10,6Geniturinário 4,4 7,2 3,3 4,1 10,7 105,8Malformações 0,9 0,7 0,3 0,4 0,4 15,3Mal-defini<strong>da</strong>s 37,3 77,1 37,4 45,0 54,1 1.245,2Causas externas 141,4 215,8 173,0 181,2 196,5 1.553,2Total 473,7 695,5 412,0 466,2 823,7 7.894,9Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a100.000 habitantes.No Sudeste houve também uma maior varie<strong>da</strong>de de causas de morte com diagnósticosmais elaborados. A mortali<strong>da</strong>de foi 1,5 vez maior <strong>para</strong> pretos, foi me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> pardos enegros e 1,7 vez maior <strong>para</strong> amarelos e indígenas, como mostra a tabela 11.O gráfico 12 ilustra a distribuição <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de, segundo capítulo<strong>da</strong> CID10, por raça/cor, mostrando que a mortali<strong>da</strong>de de pretos só é me<strong>no</strong>r que a debrancos <strong>para</strong> neoplasias e malformações congênitas. A mortali<strong>da</strong>de dos pardos foi intermediária<strong>para</strong> Causas Externas, igual ao dos brancos <strong>para</strong> mal defini<strong>da</strong>s e doençasmentais e me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> as demais causas.274Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 12. Mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Sudeste, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasO gráfico 13, por sua vez, qualifica e ilustra as desigual<strong>da</strong>des <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>depor cor <strong>no</strong> Sudeste em 2000, mostrando como a mortali<strong>da</strong>de dos pretos supera a dosbrancos em inúmeros capítulos e como a dos pardos só é maior que a dos brancos<strong>para</strong> causas externas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de275


Gráfico 13. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre amortali<strong>da</strong>de de brancos. Homens adultos <strong>da</strong> região Sudeste, 2000No Sudeste, as principais causas infecciosas foram HIV, tuberculose, outras septicemias,doença de Chagas e hepatites. Os pretos tiveram a maior taxa nessas causas,exceto <strong>para</strong> hepatite, e tiveram mais que o dobro de tuberculose que os brancos. A taxade morte <strong>para</strong> os pardos foi me<strong>no</strong>r que a dos brancos em to<strong>da</strong>s, exceto tuberculose.Entre as neoplasias, os pretos tiveram taxas me<strong>no</strong>res que os brancos <strong>para</strong> pulmão,encéfalo e laringe e maiores <strong>para</strong> estômago e esôfago. A dos pardos foi me<strong>no</strong>r que ados brancos <strong>para</strong> todos os tipos de câncer.No Sudeste, os pretos tiveram mortali<strong>da</strong>de maior por doenças do sangue em outrasanemias (quase o dobro <strong>da</strong> de brancos); outras anemias aplásticas e outros defeitos <strong>da</strong>coagulação (um pouco maior). Para anemia falciforme, cujos números são peque<strong>no</strong>s, amortali<strong>da</strong>de dos pretos foi dez vezes maior e a dos pardos, o dobro <strong>da</strong> dos brancos. Amortali<strong>da</strong>de específica por anemia falciforme <strong>para</strong> pretos foi 0,41/100.000, 0,19/100.000entre os negros; 0,13/100.000 entre os pardos e 0,04/100.000 entre os brancos.Se a mortali<strong>da</strong>de por anemia falciforme nas demais regiões fosse a mesma doSudeste seriam espera<strong>da</strong>s 0,5 mortes de brancos, uma de preto e quatro de pardos<strong>no</strong> Norte (só foi registrado um óbito e esse era branco); dois óbitos de brancos, seisde pretos e 13 de pardos <strong>no</strong> Nordeste (houve quatro entre os brancos, um entre os276Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


pretos e 11 entre os pardos) e 0,8 óbitos de brancos, um de pretos e três de pardos <strong>no</strong>Centro-Oeste (houve cinco de brancos, nenhum de pretos e quatro de pardos). Só esseexercício <strong>no</strong>s permite afirmar que ou as prevalências de anemia falciforme por corvariam de região a região; a adscrição de cor é enviesa<strong>da</strong>; parte <strong>da</strong>s mortes foi <strong>da</strong><strong>da</strong>como causas mal defini<strong>da</strong>s; não foram registra<strong>da</strong>s, ou, ain<strong>da</strong>, que haja combinaçõesdessas possibili<strong>da</strong>des.Os pretos também têm excesso de mortes por diabetes e desnutrição se com<strong>para</strong>dosaos brancos; enquanto a mortali<strong>da</strong>de dos pardos é me<strong>no</strong>r que a dos brancos em diabetese maior nas desnutrições.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos por transtor<strong>no</strong>s mentais pelo uso do álcool é o dobro<strong>da</strong> dos brancos e a dos pardos é intermediária.Entre as doenças do sistema nervoso, a mortali<strong>da</strong>de dos pretos é quase três vezesmaior nas Epilepsias e o dobro em outros transtor<strong>no</strong>s do encéfalo que a dos brancos,enquanto a dos pardos é marginalmente superior a dos brancos. Já nas meningites, ospardos tiveram o dobro <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de observa<strong>da</strong> entre os brancos e não houve óbitopor essa causa <strong>para</strong> os pretos.O padrão <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por doenças circulatórias é o mesmo do Centro-Oeste;ligeiramente maior <strong>para</strong> pretos nas doenças isquêmicas do coração; 1,8 vez maior nascerebrovasculares e mais do dobro nas insuficiências cardíacas, enquanto a mortali<strong>da</strong>dedo pardo é me<strong>no</strong>r que a de brancos <strong>para</strong> as duas primeiras causas e maior na última.Os pretos morrem mais do que os brancos de pneumonia e insuficiência respiratóriae me<strong>no</strong>s de doença pulmonar obstrutiva crônica, enquanto os pardos morrem maisque os brancos por pneumonia e me<strong>no</strong>s pelas demais causas.No capítulo <strong>da</strong>s doenças do aparelho digestivo, os pretos morrem mais <strong>para</strong>as principais causas – doenças do fígado e pancreatite que pardos e brancos, nestaordem.Os pardos apresentam a maior mortali<strong>da</strong>de por lupus, três vezes maior que a dosbrancos, mas os pretos não morreram por essa causa.A maior mortali<strong>da</strong>de dentre as doenças do aparelho urinário ocorre entre os pretos<strong>para</strong> insuficiência renal, outros transtor<strong>no</strong>s do trato urinário e nefrites e nefroses. Amortali<strong>da</strong>de dos pardos <strong>para</strong> estas doenças é intermediária.As mortes por malformações do aparelho circulatório são mais freqüentes entrepretos, brancos e pardos, nesta ordem.A mortali<strong>da</strong>de por causas mal defini<strong>da</strong>s entre os pretos é o dobro <strong>da</strong> dos brancostanto <strong>para</strong> outras causas mal defini<strong>da</strong>s, <strong>para</strong> mortes sem assistência e <strong>para</strong> outrosSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de277


sintomas e sinais do aparelho respiratório, enquanto a dos pardos fica entre pretos ebrancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s essas causas.Para as causas externas morrem um pouco mais de pardos do que de pretos e bemme<strong>no</strong>s brancos por agressões. A mortali<strong>da</strong>de dos pardos por acidentes de transporteexcede a dos brancos, enquanto a dos pretos é a me<strong>no</strong>r. Para outros acidentes, a maiormortali<strong>da</strong>de é a dos pretos segui<strong>da</strong> <strong>da</strong> dos pardos e brancos.4.1.1.5 Região SulA região Sul é a que apresenta a maior cobertura de registros de óbitos, o melhorregistro medido pela proporção de óbitos desconhecidos e o melhor serviço de saúdemensurado pela proporção de óbitos por causas mal defini<strong>da</strong>s.Com<strong>para</strong>ndo-se com o Sudeste, a região Sul tem mortali<strong>da</strong>de me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> todosos grupos de cor, diferença pequena <strong>para</strong> brancos (8% me<strong>no</strong>r) e pretos (15% me<strong>no</strong>r)e mais acentua<strong>da</strong> <strong>para</strong> pardos (42% me<strong>no</strong>r) e amarelos e índios (75% me<strong>no</strong>r). A mortali<strong>da</strong>depor cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> permanece eleva<strong>da</strong>.Tabela 13. Taxas de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor dos homens adultos <strong>da</strong> região Sul,2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 24,39 52,76 12,95 22,86 20,94 631,80Neoplasias 74,14 79,14 22,39 36,53 26,53 1468,35Sangue 1,19 2,11 0,70 1,05 2,79 32,18Endócrinas 12,73 19,52 5,34 8,87 6,98 301,28Mentais 6,61 15,04 4,64 7,23 1,40 155,03Nervoso 6,02 7,65 3,41 4,47 5,58 137,48Circulatório 100,34 146,68 55,02 77,85 53,06 1965,60Respiratório 27,86 40,89 14,78 21,29 12,57 538,20Digestivo 31,10 46,17 16,88 24,18 12,57 731,25Pele 0,30 0,26 0,26 0,26 0,00 14,63Osteomuscular 1,01 1,58 0,52 0,79 0,00 20,48Geniturinário 3,34 3,96 2,19 2,63 1,40 76,05Malformações 0,71 0,53 0,09 0,20 0,00 17,55Mal defini<strong>da</strong>s 20,67 27,96 15,40 18,53 16,75 827,78Causas externas 124,07 150,64 84,77 101,17 41,89 1.418,63Total 434,48 594,89 239,34 327,88 202,45 8.336,26Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.278Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Apesar disto, a mortali<strong>da</strong>de dos pretos é maior que a dos brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s ascausas, exceto pele e malformações, enquanto a mortali<strong>da</strong>de dos pardos e negros éme<strong>no</strong>r que a dos brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as causas.Gráfico 14. Mortali<strong>da</strong>de dos homens adultos por raça/cor. Região Sul, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGeniturinárioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasO gráfico 14 ilustra as taxas de mortali<strong>da</strong>de por capítulos e por raça/cor, enquantoo gráfico 15 ilustra as desigual<strong>da</strong>des de mortali<strong>da</strong>de entre os grupos. A maior diferençaestá nas mortes por transtor<strong>no</strong>s mentais e infecções – mais de duas vezes maior <strong>para</strong> ospretos –, doenças do sangue, endócrinas e do sistema osteomuscular – mais de 50%maior –, enquanto as demais são me<strong>no</strong>s de 50%, embora as doenças dos aparelhoscirculatório, respiratório e digestivo quase alcancem 50%.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de279


Gráfico 15. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos e negros sobre amortali<strong>da</strong>de de brancos. Homens adultos <strong>da</strong> região Sul, 2000A mortali<strong>da</strong>de de pardos é bem me<strong>no</strong>r que a de brancos <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as causas.As principais causas de morte de homens adultos <strong>no</strong> Sul por infecções são o HIV,outras septicemias, hepatites, doença de Chagas (me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> os pretos em relação aosbrancos) e tuberculose (1,5 vez maior <strong>para</strong> os pretos).No tocante ao câncer, a mortali<strong>da</strong>de dos brancos é três vezes maior <strong>para</strong> o depulmão e encéfalo e quase o dobro <strong>para</strong> o de estômago. A taxa <strong>para</strong> câncer de esôfagoé ligeiramente maior <strong>para</strong> os pretos.As mortes por doenças do sangue são poucas e a mortali<strong>da</strong>de dos pretos é me<strong>no</strong>rque a dos brancos. Em 2000 houve uma morte de preto, duas de pardos e nenhuma debranco por anemia falciforme, perfazendo uma taxa de 0,05 e 0,02 respectivamente.Como esses números são muito peque<strong>no</strong>s é preciso cautela <strong>para</strong> generalizações. Oideal é estu<strong>da</strong>r vários a<strong>no</strong>s <strong>para</strong> que se possa ter números me<strong>no</strong>s flutuantes.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos por diabetes é 1,5 vez maior que a dos brancos, enquantoa por desnutrição é 3,6 vezes maior.A mortali<strong>da</strong>de por transtor<strong>no</strong>s mentais por uso de álcool é o dobro <strong>para</strong> ospretos.280Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Para as doenças do sistema nervoso, entre os pretos observa-se mortali<strong>da</strong>de duasvezes maior <strong>para</strong> epilepsias e meningites.No caso <strong>da</strong>s doenças do aparelho circulatório, a mortali<strong>da</strong>de por doençasisquêmicas do coração é um pouco me<strong>no</strong>r <strong>para</strong> pretos; 1,8 vez maior <strong>para</strong> pretospor doenças cerebrovasculares; o dobro <strong>para</strong> insuficiência cardíaca; 2,7 vezes <strong>para</strong>hipertensão e doenças hipertensivas e o dobro <strong>para</strong> cardiomiopatias do que <strong>para</strong>brancos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos é 1,5 maior <strong>para</strong> pneumonias e quase o dobro <strong>para</strong>insuficiência respiratória, outros transtor<strong>no</strong>s respiratórios e edema pulmonar, mas éme<strong>no</strong>r <strong>para</strong> doenças pulmonares crônicas.As mortes por doenças do fígado são ligeiramente maiores, outras doenças doaparelho digestivo são quase o dobro e pancreatite agu<strong>da</strong> e úlcera pépticas 1,5 maiorque as dos brancos.Os óbitos por insuficiência renal são 1,8 vez e as nefrites e nefroses, o dobro queos óbitos dos brancos.A taxa de mortali<strong>da</strong>de por causas mal defini<strong>da</strong>s é duas vezes maior que a dosbrancos, morte sem assistência, 1,6 e os sintomas do aparelho respiratório, 1,9 vezmaior que a dos brancos.A mortali<strong>da</strong>de dos pretos é quase o dobro <strong>para</strong> agressões, 1,5 vez maior <strong>para</strong>eventos de intenção indetermina<strong>da</strong>; um pouco maior <strong>para</strong> outros acidentes e me<strong>no</strong>rdo que a de brancos <strong>no</strong>s acidentes de transporte.4.2. Mortali<strong>da</strong>de FemininaEm 2000 ocorreram, aproxima<strong>da</strong>mente, 134.344 (208,17/100 mil) óbitos femini<strong>no</strong>s<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Morreram 65.358 mulheres brancas, 11.318 pretas, 35.089 par<strong>da</strong>s,46.407 <strong>negra</strong>s (pretas mais par<strong>da</strong>s), 1.599 amarelas e indígenas e 20.977 mulheres deraça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s.As mulheres pretas constituem 6,17% <strong>da</strong> população de mulheres do país, <strong>no</strong>entanto, seus óbitos perfizeram 8,42% dos óbitos femini<strong>no</strong>s. As mulheres brancas são54,85% <strong>da</strong> população feminina e representam 48,65% dos óbitos; as mulheres par<strong>da</strong>ssão 37,47% <strong>da</strong> população feminina e seus óbitos representam 26,12%, enquanto queas <strong>negra</strong>s, pretas e par<strong>da</strong>s, representam 43,64% <strong>da</strong> referi<strong>da</strong> população e 34,54% dosóbitos femini<strong>no</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. As mulheres amarelas e indígenas representam 0,88% <strong>da</strong>smulheres e seus óbitos, 1,19%. Quanto à raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, essa representa 0,64%<strong>da</strong>s mulheres e 15,61% dos óbitos femini<strong>no</strong>s do país.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de281


Os principais grupos de causas de óbito entre as mulheres são: doenças doaparelho circulatório (56,99/100 mil), neoplasias (42,76/100 mil); sintomas e sinaismal definidos (26,11/100 mil), causas externas (19,59/100 mil), doenças do aparelhorespiratório (14,22/100 mil), infecciosas e <strong>para</strong>sitárias (12,70/100 mil) e doenças endócrinase nutricionais (12,59/100 mil). Quarenta e oito por cento dos óbitos femini<strong>no</strong>ssão causados pelas doenças do aparelho circulatório e pelas neoplasias.A taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas supera as demais, 284,36/100 mil, a<strong>da</strong>s brancas é de 184,67/100 mil e a <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s, 145,11/100 mil. A taxa de mortali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s brancas supera a <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s: 184,67/100 mil contra 164,79/100 mil. Cabe ressaltarque a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas supera a taxa <strong>da</strong> média nacional, enquanto ataxa de mortali<strong>da</strong>de dos demais grupos fica abaixo <strong>da</strong> média. Quando se calcula arelação entre taxas, a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres brancas supera a <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s em quasetodos os grupos de causas. Quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s às <strong>negra</strong>s, constata-se que a taxa <strong>da</strong>smulheres brancas é maior em grande parte <strong>da</strong>s causas, mas não o é <strong>para</strong> doençasinfecciosas e <strong>para</strong>sitárias, transtor<strong>no</strong>s mentais, gravidez, parto e puerpério, sintomas esinais mal definidos e doenças do ouvido.Gráfico 16. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor. <strong>Brasil</strong>, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e pueroérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externas282Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O gráfico 17 apresenta as desigual<strong>da</strong>des entre a mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>se <strong>negra</strong>s em relação às brancas. Mostra a maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas esugere que, quando a causa de morte relaciona-se à exclusão social, a dificul<strong>da</strong>de <strong>da</strong>smulheres em acessar os serviços de saúde e à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência, a mortali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s mulheres pretas é maior.Gráfico 17. Relação entre taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobremortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas. <strong>Brasil</strong>, 2000Passaremos a analisar os <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de feminina por raça/cor em relaçãoàs regiões do país.4.2.1.Região NorteNo Norte, de ca<strong>da</strong> quatro óbitos femini<strong>no</strong>s um tem raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, tornando amaior taxa de óbitos de cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> do país. A tabela 14 e os gráficos 18 e 19 indicamas desigual<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de feminina por raça/cor na região Norte.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de283


Tabela 14. Taxas de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor. Mulheres adultas <strong>da</strong> Região Norte, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 6,26 12,04 9,87 10,04 21,77 211,27Neoplasias 23,98 18,27 19,85 19,72 19,21 705,65Sangue 1,06 2,08 1,04 1,12 1,28 33,80Endócrinas 6,56 9,97 6,50 6,77 3,84 217,61Mentais 0,15 0,00 0,24 0,22 0,00 2,11Nervoso 1,36 1,66 1,49 1,51 3,84 27,47Circulatório 24,06 40,28 22,66 24,02 15,37 883,12Respiratório 6,79 10,80 6,85 7,15 7,68 264,09Digestivo 4,45 6,64 5,53 5,61 8,96 150,00Pele 0,15 0,00 0,31 0,29 0,00 8,45Osteomuscular 1,36 1,66 1,11 1,15 2,56 23,24Geniturinário 2,41 4,57 1,98 2,18 1,28 105,64Grav., parto e puerpério 2,94 4,15 3,65 3,69 17,93 31,69Malformações 0,53 0,83 0,21 0,26 1,28 10,56Mal defini<strong>da</strong>s 19,01 28,65 31,97 31,72 46,10 623,26Causas Externas 12,67 11,21 15,33 15,01 19,21 114,09Total 114,27 152,81 128,66 130,53 170,32 3412,07Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Gráfico 18. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor. região Norte, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externas284Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 19. Relação de taxas de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobre amortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas. região Norte, 2000Entre as doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, as principais causas de morte <strong>da</strong>smulheres são as septicemias (3,40/100 mil); HIV/aids (1,84); tuberculose (1,51); malária(0,77) e hepatite (0,64). As septicemias e a tuberculose prevalecem nas pretas, já oHIV/aids prevalece nas par<strong>da</strong>s. Quando se com<strong>para</strong> as brancas às <strong>negra</strong>s, a mortali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s é maior em to<strong>da</strong>s as causas.A morte por câncer de colo do útero é maior nas par<strong>da</strong>s, os cânceres de mama,estômago, brônquios e pulmão prevalecem nas mulheres brancas. Ocorreram, em2000, 56 óbitos femini<strong>no</strong>s por doença do Sangue e nenhum por anemia falciforme. Aprincipal causa aponta<strong>da</strong> <strong>para</strong> as mulheres pretas foram as outras anemias.A diabetes mellitus é a principal causa de morte <strong>da</strong>s mulheres pretas (12,09/100mil) quando se analisa a mortali<strong>da</strong>de por doenças Endócrinas. Quando se com<strong>para</strong>brancas e <strong>negra</strong>s, a taxa de mortali<strong>da</strong>de por diabetes <strong>da</strong>s mulheres brancas é maior,8,74/100 mil contra 7,48/100 mil <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s. Quando analisamos a mortali<strong>da</strong>de pordesnutrição, ela é maior em mulheres pretas, mas quando se com<strong>para</strong> brancas e <strong>negra</strong>s,é maior nas brancas 0,66/100 mil contra 0,59/100 mil.Das mortes por Doenças do Aparelho Circulatório ocorri<strong>da</strong>s nas mulheres <strong>da</strong>região Norte prevalecem as cerebrovasculares, isquêmicas do coração e insuficiênciaSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de285


cardíaca. As mortes por doenças cerebrovasculares e por insuficiência cardíaca sãomaiores nas mulheres pretas (25,38 e 8,06/100 mil).Mulheres pretas morrem mais por pneumonia e doenças crônicas <strong>da</strong>s vias aéreas,por doenças do fígado e por insuficiência renal.A gravidez, parto e puerpério levou 154 mulheres a óbito na região Norte,dessas, 10 (4,03/100 mil) eram pretas, 105 (3,56), par<strong>da</strong>s e 39 (2,86) brancas. Astaxas de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s superam a <strong>da</strong>s brancas, 3,60/100 mil e 2,86respectivamente.A mortali<strong>da</strong>de de mulheres pretas e par<strong>da</strong>s sem assistência médica é 50% maiorquando com<strong>para</strong><strong>da</strong> à mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s brancas. A taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres brancaspor causas mal defini<strong>da</strong>s ou sem assistência é de 19,01/100 mil; a <strong>da</strong>s pretas é de28,65/100 mil; a <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s, 31,97%, e a <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s, 31,72/100 mil.Quanto aos óbitos femini<strong>no</strong>s por causas externas, a taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<strong>negra</strong>s é de 15,01/100 mil, a <strong>da</strong>s brancas, 12,67/100 mil, a <strong>da</strong>s pretas, 11,21/100 mile a <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s, 15,33/100 mil.4.2.2. Região NordesteA tabela 15 e gráficos 20 e 21 ilustram os <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor eas desigual<strong>da</strong>des em relação à região Nordeste.Tabela 15. Taxa de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor <strong>da</strong>s mulheres adultas <strong>da</strong> RegiãoNordeste, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 4,99 10,99 7,15 7,594 15,09 317,68Neoplasias 26,29 25,63 19,63 20,33 29,10 885,24Sangue 1,20 1,35 1,08 1,107 1,08 65,60Endócrinas 8,52 12,26 7,54 8,087 18,32 426,04Mentais 0,35 1,42 0,46 0,571 0,00 23,59Nervoso 1,63 1,49 1,63 1,617 3,23 83,29Circulatório 28,24 49,92 28,64 31,1 61,43 1.695,30Respiratório 7,72 10,69 7,67 8,018 16,16 402,45Digestivo 4,28 7,02 4,91 5,155 8,62 298,52Pele 0,30 0,45 0,25 0,277 1,08 19,16Osteomuscular 0,78 1,49 0,68 0,778 1,08 25,80286Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


ContinuaçãoBranca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnGeniturinário 1,65 3,29 1,95 2,102 4,31 120,15Grav., parto e puerpério 1,58 3,74 2,33 2,491 8,62 103,93Malformações 0,42 0,67 0,45 0,476 1,08 19,90Mal defini<strong>da</strong>s 23,68 34,53 26,80 27,7 61,43 1.805,87Causas Externas 9,49 11,36 15,42 14,95 10,78 423,09Total 121,13 176,52 126,62 132,40 241,39 6715,61Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Gráfico 20. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor. Região Nordeste, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasA taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas do Nordeste é de 176,52/100 mil e a<strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s é de 126,62/100 mil. Quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s e brancas, a <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>sé maior: 132,40/100 mil contra 121,13/100 mil. As causas mal defini<strong>da</strong>s são a segun<strong>da</strong>causa de morte (40,08/100 mil) supera<strong>da</strong>, apenas, pelas mortes ocorri<strong>da</strong>s em funçãode problemas do aparelho circulatório (42,99/100 mil).No Nordeste, as mulheres <strong>negra</strong>s morrem mais que as brancas por HIV/aids, tuberculosee septicemia. Quando o assunto é a mortali<strong>da</strong>de por neoplasias, as mulherespretas apresentam uma maior mortali<strong>da</strong>de por câncer de colo de útero, brônquios,Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de287


pulmões e estômago. To<strong>da</strong>via, as mulheres brancas morrem mais que as pretas quandose analisa a mortali<strong>da</strong>de por câncer de mama, 5,47/100 contra 4,62/100 mil.Em 2000, ocorreram 243 óbitos por doenças do sangue (1,33/100 mil), as outrasanemias, anemias aplásticas e os transtor<strong>no</strong>s falciformes são as principais causas demorte. Não há diferenças significativas na mortali<strong>da</strong>de de <strong>negra</strong>s (0,08/100 mil) e brancas(0,05/100 mil) por anemia falciforme. A taxa de mortali<strong>da</strong>de por diabetes mellitustambém é maior nas mulheres pretas (15,27), já entre as brancas, a taxa é de 12,47/100mil e entre as par<strong>da</strong>s, 9,28/100 mil. A taxa de mortali<strong>da</strong>de por diabetes <strong>da</strong>s mulheresbrancas supera a <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s: 12,47/100 mil e 9,99/100 mil, respectivamente.Há uma maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s em função do alcoolismo,0,47/100 mil, contra 0,19/100 mil <strong>para</strong> as mulheres brancas. No entanto, chama aatenção a taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas: 1,28/100 mil.Entre os óbitos por doenças do aparelho circulatório, prevalecem as doençascerebrovasculares, as isquêmicas do coração e as insuficiências cardíacas. Em to<strong>da</strong>sessas causas, a taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas supera a <strong>da</strong>s brancas.A taxa de mortali<strong>da</strong>de por falta de assistência médica é de 34,16/100 mil entreas mulheres pretas, 29,15/100 mil entre as <strong>negra</strong>s, 28,49/100 mil entre as par<strong>da</strong>s e26,50/100 mil entre as brancas.Quanto aos óbitos femini<strong>no</strong>s por causas externas, ele é maior entre as brancas,46,17/100 mil, quando com<strong>para</strong>do aos óbitos <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s (15,19), par<strong>da</strong>s (13,84) epretas (1,53). No entanto, a taxa de mortali<strong>da</strong>de por agressões, acidentes de transportee outros acidentes é maior entre as mulheres par<strong>da</strong>s, 3,91/100 mil, 4,80 e 3,46, respectivamente.4.2.3. Região Centro-OesteNo Centro-Oeste, os <strong>da</strong>dos mostram taxas mais altas de mortali<strong>da</strong>de feminina. Épossível que algumas causas de morte sejam mais freqüentes nessa região, mas tambémpodemos inferir que a quali<strong>da</strong>de do <strong>da</strong>do na região é melhor que nas regiões Nortee Nordeste. Nesse sentido, a proporção de óbitos com cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> (14,18%) e porcausas mal defini<strong>da</strong>s (9,72%) também sugere que os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> região são melhores doque nas duas anteriormente cita<strong>da</strong>s (tabela 16).288Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 16. Taxa de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor <strong>da</strong>s mulheres adultas <strong>da</strong> regiãoCentro-Oeste, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 9,20 25,18 10,98 12,31 16,51 325,39Neoplasias 37,25 46,33 29,51 31,08 18,35 775,41Sangue 1,07 1,01 0,83 0,85 1,83 27,69Endócrinas 9,47 16,11 8,38 9,10 5,50 238,85Mentais 0,80 1,01 0,99 0,99 1,83 20,77Nervoso 2,36 1,51 2,76 2,64 1,83 79,62Circulatório 41,88 91,65 48,45 52,50 38,53 1.173,50Respiratório 9,96 17,12 9,26 10,00 7,34 228,47Digestivo 5,87 16,11 7,44 8,25 12,84 200,78Pele 0,22 0,00 0,26 0,24 0,00 6,92Osteomuscular 1,47 2,52 1,25 1,37 3,67 38,08Geniturinário 2,44 6,04 3,70 3,91 1,83 69,23Grav., parto e puerpério 1,64 2,52 1,87 1,93 7,34 31,15Malformações 0,84 1,01 0,52 0,57 0,00 13,85Mal defini<strong>da</strong>s 9,16 26,69 12,54 13,87 22,01 401,55Causas Externas 21,07 28,20 21,91 22,50 34,86 501,94Total 154,79 283,00 160,76 172,21 174,28 4.133,20Amind= Amarelas e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.O gráfico <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de em escala logarítmica (gráfico 22) mostra o impacto <strong>da</strong>ausência <strong>da</strong> informação sobre raça/cor na mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres, enquanto o gráfico23 – razão entre taxas – indica as desigual<strong>da</strong>des na mortali<strong>da</strong>de feminina. Revela quea mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas é quase duas vezes maior do que a <strong>da</strong>s mulheresbrancas quando envolvem morte por causas mal defini<strong>da</strong>s, doenças infecciosas, doençasdo aparelho digestivo e circulatório. A mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s é me<strong>no</strong>r emmetade dos grupos de causas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de289


Gráfico 22. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor. Região Centro-Oeste,2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasGráfico 23. Relação entre taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobremortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas <strong>da</strong> Região Centro-Oeste,2000290Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As principais causas de morte por infecções <strong>para</strong> as mulheres <strong>da</strong> região Centro-Oeste foram a doença de Chagas, HIV/aids, as septicemias e a tuberculose. As pretasmorreram mais que as brancas por doença de Chagas, por HIV/aids e tuberculose. Aspar<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s morreram mais do que as brancas pelas causas cita<strong>da</strong>s.As mulheres brancas foram mais afeta<strong>da</strong>s que as pretas pelas mortes por câncerde mama e colo do útero. As pretas mais que as brancas por câncer de pulmão eestômago. Quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s as mulheres brancas apresentaram maiores taxas demorte <strong>para</strong> to<strong>da</strong>s as causas.Mulheres brancas morreram mais que as <strong>negra</strong>s por doenças do sangue. As pretasmais que as brancas por outras anemias e anemia falciforme. Brancas morreram maisque pretas por Anemias Aplásticas, mas <strong>negra</strong>s morreram mais que brancas por essacausa. Entre as pretas a morte por diabetes mellitus, desnutrição, alcoolismo, epilepsia,doenças isquêmicas do coração e doenças cerobrovasculares foi maior que entre asbrancas.Quanto às doenças do aparelho circulatório, cabe salientar que a taxa de óbito<strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s superou a <strong>da</strong>s brancas; que pretas morreram mais que brancas pordoenças isquêmicas do coração, contudo as brancas morreram mais que as <strong>negra</strong>s.Negras e pretas morreram mais que brancas por pneumonia, porém as mulheresbrancas morreram mais que <strong>negra</strong>s por doença pulmonar obstrutiva.Entre as mortes por doenças do aparelho disgestivo, <strong>para</strong> as <strong>negra</strong>s prevaleceramas mortes por doenças alcoólicas do fígado, entretanto, a morte por esta doença apresentamaior taxa entre as brancas.As mulheres <strong>negra</strong>s e pretas morreram mais que as brancas por insuficiência renale nefrites e nefroses.Quando analisa<strong>da</strong> a mortali<strong>da</strong>de por sinais e sintomas mal definidos, constatou-seque as mulheres pretas morreram duas vezes mais por morte sem assistência e 2,6 vezesmais por causas mal defini<strong>da</strong>s. A mortali<strong>da</strong>de por agressões, acidentes de transporte eoutros acidentes também foi maior entre as mulheres pretas.4.2.4. Região SudesteA taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas é maior na região Sudeste, segui<strong>da</strong>pelas brancas, par<strong>da</strong>s, amarelas e indígenas. Do total de óbitos femini<strong>no</strong>s, 11% têm araça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>. Quando se analisa a relação entre taxas de óbito, as pretas morrem1,8 vez mais que as brancas. As mulheres par<strong>da</strong>s morrem me<strong>no</strong>s, enquanto as amarelase as indígenas morrem quase duas vezes mais do que as brancas (tabela 17).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de291


Tabela 17. Taxa de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor <strong>da</strong>s mulheres adultas <strong>da</strong> regiãoSudeste, 2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 12,44 26,15 12,57 15,09 31,27 312,22Neoplasias 50,71 55,39 30,23 34,90 97,85 750,79Sangue 1,32 2,54 1,07 1,35 2,94 40,09Endócrinas 11,87 28,21 10,28 13,60 21,34 290,35Mentais 0,63 2,82 1,05 1,38 2,94 20,65Nervoso 3,47 3,84 2,11 2,43 8,46 74,71Circulatório 56,77 124,90 50,89 64,61 122,50 1320,56Respiratório 14,38 24,80 12,58 14,85 25,75 312,83Digestivo 9,54 16,08 7,92 9,44 17,66 189,52Pele 0,38 0,97 0,21 0,35 0,74 9,11Osteomuscular 1,33 2,82 1,20 1,50 2,21 30,37Geniturinário 3,36 5,96 2,92 3,48 9,20 89,29Grav., parto e puerpério 1,53 4,11 1,85 2,27 1,84 56,49Malformações 0,72 0,70 0,38 0,44 1,10 18,83Mal defini<strong>da</strong>s 15,91 49,16 19,66 25,13 21,34 681,54Causas Externas 19,89 21,28 19,02 19,44 30,53 239,94Total 204,30 369,78 173,96 210,27 398,03 4.438,52Amind= Amarelos e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Os gráficos 24 e 25 mostram que, quando se analisa a relação entre taxas,as mulheres pretas morrem mais do que as brancas na maioria <strong>da</strong>s causas; que amortali<strong>da</strong>de por neoplasias, sistema nervoso, respiratório e malformações é maior nasbrancas; que a taxa de mortali<strong>da</strong>de entre as brancas supera a <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s em to<strong>da</strong>s ascausas, exceto causas perinatais e gravidez, parto e puerpério.292Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Gráfico 24. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor. Região Sudeste, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasGráfico 25. Relação entre taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobremortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas <strong>da</strong> Região Sudeste, 2000No Sudeste, as principais causas Infecciosas de morte entre as mulheres foramo HIV/aids, septicemias, tuberculose, hepatite e doença de Chagas. Com exceção<strong>da</strong> hepatite, a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas é maior em to<strong>da</strong>s as outras causas deSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de293


morte. As mulheres <strong>negra</strong>s morreram mais que as brancas por HIV/aids, tuberculosee hepatite.Mulheres brancas morreram mais que as <strong>negra</strong>s por cânceres de mama, colo doútero, pulmão, estômago e cólon. Quando com<strong>para</strong>mos as brancas às pretas, as últimasmorreram mais por cânceres de colo de útero, pulmão e estômago. Brancas morrem maisdo que pretas por outras anemias aplásticas, defeitos <strong>da</strong> coagulação, púrpura e outrasinfecções hemorrágicas. As mulheres pretas morreram mais por anemia falciforme.Entre as doenças endócrinas, as pretas tiveram taxas maiores <strong>para</strong> diabetes mellitus,desnutrição e obesi<strong>da</strong>de. As taxas <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s foram me<strong>no</strong>res que as <strong>da</strong>s brancas pordiabetes e maior <strong>para</strong> desnutrição e obesi<strong>da</strong>de. Quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s brancas e <strong>negra</strong>s,a taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s brancas superou a <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s em to<strong>da</strong>s as causas, excetodesnutrição.A mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas por transtor<strong>no</strong>s mentais foi maior entre aspretas e <strong>negra</strong>s; entre as causas destaca-se o uso de álcool.Entre as doenças do sistema nervoso, as mortes por epilepsia, transtor<strong>no</strong> doencéfalo e meningites destacam-se. Em to<strong>da</strong>s essas causas, a taxa de óbito <strong>da</strong>s mulherespretas superou a <strong>da</strong>s brancas.As mulheres pretas também apresentam um excesso de mortali<strong>da</strong>de por doençasisquêmicas do coração, cerebrovasculares, insuficiência cardíaca, hipertensão,doenças hipertensivas e cardiopatias. Negras morreram mais que brancas por doençascerebrovasculares, insuficiência cardíaca, hipertensão e doenças hipertensivas ecardiomiopatias.Entre as doenças do aparelho respiratório, as pretas morreram mais por influenzae pneumonias, insuficiência respiratória, enquanto as brancas morreram mais por doençascrônicas <strong>da</strong> vias aéreas inferiores. As mortes por influenza e pneumonia, doençascrônicas <strong>da</strong>s vias aéreas inferiores e insuficiência respiratória foram mais freqüentesentre as brancas que entre as <strong>negra</strong>s.No grupo doenças do aparelho digestivo, as mulheres pretas morreram maispor doença do fígado e pancreatite. A mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s pretas por insuficiência renale nefrites e nefroses também teve destaque entre os óbitos por doenças do aparelhogeniturinário.A mortali<strong>da</strong>de em função <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério foi maior entre as mulherespretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s.As mortes sem assistência e mal defini<strong>da</strong>s foram três vezes mais freqüentes nasmulheres pretas, 1,24 vez maior nas par<strong>da</strong>s e 1,58 vez maior entre as <strong>negra</strong>s.294Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


As mulheres brancas morreram mais por acidentes de transporte e lesõesprovoca<strong>da</strong>s intencionalmente, as pretas morreram mais por agressões.4.2.5. Região SulComo já enfatizado anteriormente, os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> região Sul são os que apresentammelhor quali<strong>da</strong>de e, além disso abrange os estados em que, proporcionalmente, háa me<strong>no</strong>r população <strong>negra</strong>. A mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas foi maior que a <strong>da</strong>sbrancas em todos os grupos de causas, exceto malformações e causas externas. Amelhor visualização <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des <strong>no</strong> perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres do Sulestá expressa <strong>no</strong>s gráficos 26 e 27 e tabela 18, abaixo.Tabela 18. Taxa de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor <strong>da</strong>s mulheres adultas <strong>da</strong> região Sul,2000Branca Preta Par<strong>da</strong> Negra Amind IgnInfecções 10,79 27,84 7,94 13,00 2,80 309,31Neoplasias 56,08 59,34 21,82 31,35 22,41 1.256,09Sangue 1,08 3,09 0,29 1,00 0,00 53,79Endócrinas 11,58 26,15 6,70 11,64 4,20 277,04Mentais 1,03 3,66 1,24 1,86 0,00 10,76Nervoso 3,84 5,06 2,49 3,14 0,00 67,24Circulatório 59,80 124,30 38,76 60,48 18,21 1377,12Respiratório 16,71 25,31 9,00 13,14 4,20 325,45Digestivo 9,26 16,87 6,03 8,78 4,20 236,69Pele 0,22 0,56 0,19 0,29 2,80 8,07Osteomuscular 1,36 3,09 0,67 1,29 0,00 45,72Geniturinário 3,02 4,50 1,72 2,43 0,00 69,93Grav., parto e puerpério 2,32 5,34 2,11 2,93 0,00 37,66Malformações 0,93 0,00 0,67 0,50 2,80 21,52Mal defini<strong>da</strong>s 9,43 13,50 6,70 8,43 7,00 360,42Causas Externas 21,08 17,72 12,06 13,50 22,41 247,45Total 208,61 336,35 118,48 173,79 91,03 4.706,96Amind= Amarelas e Indígenas.Fonte: SIM-Datasus/FSeade. Tabulações Especiais: Instituto de Saúde. As taxas de mortali<strong>da</strong>de se referem a 100.000habitantes.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de295


Gráfico 26. Mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres adultas por raça/cor, Região Sul, 2000InfecçõesNeoplasiasSangueEndócrinasMentaisNervosoCirculatórioRespiratórioDigestivoPeleOsteomuscularGrav. parto e puerpérioMalformaçõesMal defini<strong>da</strong>sCausas externasGráfico 27. Relação entre taxa de mortali<strong>da</strong>de de pretas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s sobremortali<strong>da</strong>de de brancas. Mulheres adultas <strong>da</strong> Região Sul, 2000296Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres par<strong>da</strong>s foi me<strong>no</strong>r que a <strong>da</strong>s brancas em to<strong>da</strong>s ascausas, exceto transtor<strong>no</strong>s mentais.As principais causas de morte de mulheres adultas <strong>da</strong> região Sul por Infecçõesforam: HIV/aids, septicemias, tuberculose, hepatite e doença de Chagas. Quandocom<strong>para</strong><strong>da</strong>s as taxas de mortali<strong>da</strong>de de brancas e pretas, as mulheres pretas morreram3,5 vezes mais por HIV/aids.As mulheres brancas morreram mais por cânceres de mama, estômago e cólon.Já as pretas, mais por cânceres de mama e pulmão.As mortes por doenças do sangue indicaram uma maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulherespretas por anemia falciforme. Entre as endócrinas, destacou-se a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulherespretas por diabetes mellitus e obesi<strong>da</strong>de. O uso do álcool foi a principal causade morte <strong>da</strong>s mulheres pretas quando o tema são os óbitos por transtor<strong>no</strong>s mentais.Ao analisar as desigual<strong>da</strong>des <strong>no</strong> perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por doenças do aparelhocirculatório, contatou-se que as mulheres pretas morreram mais por doenças isquêmicasdo coração, cerebrovasculares, insuficiência cardíaca, cardiomiopatia e hipertensão edoenças hipertensivas. Quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s brancas e <strong>negra</strong>s, as brancas morreram maispor doenças isquêmicas do coração. Nas demais as <strong>negra</strong>s superaram as brancas.Entre as doenças do aparelho digestivo chamou a atenção a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>smulheres pretas e <strong>negra</strong>s por doenças do fígado.A insuficiência renal, nefrites e nefroses foram as principais causas de morte. Asmulheres pretas, <strong>negra</strong>s, brancas e par<strong>da</strong>s apresentaram taxas diferencia<strong>da</strong>s <strong>para</strong> amortali<strong>da</strong>de por insuficiência renal. As mulheres brancas morreram mais por nefritese nefroses.As mulheres pretas e <strong>negra</strong>s morreram mais na gravidez, parto e puerpério. Quantoàs mortes sem assistência e causas mal defini<strong>da</strong>s, foram maiores <strong>para</strong> as mulheres pretase <strong>negra</strong>s. A maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas e <strong>negra</strong>s por agressões tambémforam evidencia<strong>da</strong>s.Uma leitura possível <strong>para</strong> esses <strong>da</strong>dos regionais é a análise do perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>desegundo ca<strong>da</strong> grupo de causas de óbito.4.3. Alguns ComentáriosComo apontado anteriormente, a taxa de mortali<strong>da</strong>de feminina <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é de208,17/100 mil mulheres, a qual não se distribui igualmente entre os grupos e regiõesdo país. Na região Norte, a taxa de mortali<strong>da</strong>de feminina é de 197,49/100 mil; 176,39/100 mil <strong>no</strong> Nordeste; 462,65/100mil <strong>no</strong> Centro-Oeste; 233,07/100 mil <strong>no</strong> Sudeste eSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de297


220,08/100 mil <strong>no</strong> Sul. Essa característica se mantém quando analisamos as taxas deóbito <strong>da</strong>s mulheres brancas e pretas. Nas mulheres par<strong>da</strong>s, a taxa é maior na regiãoNorte e me<strong>no</strong>r que a média <strong>no</strong> Centro-Oeste. Uma <strong>da</strong>s possíveis explicações <strong>para</strong> talfato é a variação do de<strong>no</strong>minador/população. Como se vê, há uma maior possibili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> população <strong>da</strong> região Norte se identificar como par<strong>da</strong> e <strong>da</strong> região Centro-Oeste nãose identificar como tal. Esta variação do “como me identifico” interfere <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos populacionaisdo Censo e, conseqüentemente, nas taxas de mortali<strong>da</strong>de. Isso <strong>no</strong>s remetea uma <strong>da</strong>s perguntas iniciais deste trabalho: o que é ser pardo na região Norte do paíse o que é sê-lo nas regiões Sul e Centro-Oeste?A análise <strong>da</strong> taxa média de mortali<strong>da</strong>de por raça/cor revelou que a taxa de mortali<strong>da</strong>deentre as mulheres pretas <strong>no</strong> país é de 284,36/100 mil. E que <strong>no</strong> Centro-Oesteessa taxa é de 567,50/100 mil; <strong>no</strong> Sudeste, 369,78/100 mil; <strong>no</strong> Sul, 336,35/100 mile <strong>no</strong> Norte, 200,56/100 mil, sendo a me<strong>no</strong>r taxa a do Nordeste, 172,78/100 mil mulheres.A análise <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>de feminina segundo grupos de causas revelouo mesmo padrão já comentado anteriormente, maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretasquando com<strong>para</strong><strong>da</strong>s às brancas, às par<strong>da</strong>s e às <strong>negra</strong>s.No grupo de causas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias, as septicemias, o HIV/aids,a tuberculose, a hepatite e a malária são, pela ordem, as principais responsáveis porcausa de morte do Norte e representam 80% dos óbitos do grupo. Destaca-se a altataxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas por septicemia na região: 5,24/100 mil.No Nordeste, as principais causas são as septicemias, a tuberculose e o HIV/aids;essas causas representam 57% dos óbitos do grupo. Destaca-se aqui a taxa de mortali<strong>da</strong>depor tuberculose entre as mulheres pretas 2,7/100 mil.No Centro-Oeste, destacam-se a doença de Chagas, o HIV/aids, as septicemias e atuberculose. Essas causas perfazem 80% dos óbitos do grupo. Chama a atenção, nessaregião, a taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas por doença de Chagas 9,70 por 100 mil.No Sudeste, as principais causas dos óbitos são: HIV/aids, septicemia, tuberculose,hepatite e doença de Chagas. A taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas por HIV/aidsse destaca: 12,29/100 mil.No Sul, 62% dos óbitos do grupo de causas doenças infecciosas e <strong>para</strong>sitárias estãodistribuí<strong>da</strong>s entre o HIV/aids, as septicemias, a tuberculose, hepatite e doença de Chagas.É expressiva a taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas pelo HIV/aids: 16,31/100 mil.Os <strong>da</strong>dos aqui explicitados evidenciam a relação entre a mortali<strong>da</strong>de e a inclusãosocial desqualifica<strong>da</strong>, bem como que certos grupos possuem uma maior dificul<strong>da</strong>dede acesso aos serviços de saúde de melhor quali<strong>da</strong>de. Indicam, ain<strong>da</strong>, a falta de infor-298Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


mação e leitura equivoca<strong>da</strong> dos profissionais de saúde sobre “grupos de risco”. ParaLopes (2003), ao mostrar que as pessoas estão vulneráveis a um determinado agravo,aumentam responsabili<strong>da</strong>des de pesquisadores, gestores e profissionais de saúde emidentificar e atacar os fatores que contribuem <strong>para</strong> a manutenção ou ampliação destasvulnerabili<strong>da</strong>des.As neoplasias ocupam a segun<strong>da</strong> causa de morte <strong>no</strong> país. As taxas de óbito <strong>da</strong>smulheres brancas (45,95/100mil) superam a <strong>da</strong>s mulheres pretas (43,04/100 mil), par<strong>da</strong>s(24,09/100 mil) e <strong>negra</strong>s (26,77/100 mil). No entanto, nas regiões Centro-Oeste,Sudeste e Sul a taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas por neoplasias supera a <strong>da</strong>s mulheresbrancas.Entre as localizações anatômicas seleciona<strong>da</strong>s destacam-se o colo de útero, mama,estômago, pulmões, fígado e via biliares e leucemias na região Norte. No Nordeste,prevalecem os cânceres de colo de útero, mama, brônquios e pulmões, estômago eesôfago. Essas doenças perfazem 22% dos óbitos desse grupo de causas. A região Centro-Oeste, apresenta as mesmas características <strong>da</strong> região Nordeste, as causas e a seqüênciasão as mesmas, contudo tais causas perfazem 45% dos óbitos desse agrupamento.Na região Sudeste, prevalecem as seguintes localizações anatômicas: cânceresde mama, colo de útero, brônquios e pulmões, estômago e cólon. Destaca-se a maiormortali<strong>da</strong>de por câncer de mama entre as mulheres brancas, 13,59/100 mil, e a maiormortali<strong>da</strong>de por câncer de colo de útero entre as pretas, 8,99/100 mil.O perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres na região Sul do país diferencia-se <strong>da</strong>s outrasregiões, onde prevalecem o câncer de mama, colo de útero, brônquios e pulmões,esôfago, estômago, encéfalo, laringe, cólon e ovário. Cinqüenta e cinco dos óbitospor neoplasias ocorrem por essas causas. Chama a atenção a taxa de mortali<strong>da</strong>de de10,46/100 mil, entre as mulheres brancas, por câncer de mama.Viana et al. (2001) sugerem que é possível analisar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção emsaúde a partir <strong>da</strong> análise do percentual de óbitos por causas mal defini<strong>da</strong>s e pelarazão de mortali<strong>da</strong>de de câncer de mama por câncer de útero. Para os autores, essesindicadores dizem respeito à falta ou deficiência de assistência médica; maior ou me<strong>no</strong>rcapaci<strong>da</strong>de diagnóstica.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de299


A tabela 19 aponta uma grande iniqüi<strong>da</strong>de com relação à quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong>mulher, em especial <strong>para</strong> as regiões Norte e Nordeste, regiões onde os casos de câncerde colo de útero são mais elevados que os de mama. Quando a associação é positiva– a taxa de óbitos por câncer de colo de útero é me<strong>no</strong>r do que a de câncer de mama–, como acontece nas regiões Sudeste e Sul, as mulheres <strong>negra</strong>s sempre apresentamos me<strong>no</strong>res indicadores. Ou seja, as mulheres pretas e par<strong>da</strong>s detem uma me<strong>no</strong>r razãoentre as taxas e, conseqüentemente, possuem uma assistência médica mais deficienteou estão submeti<strong>da</strong>s a uma me<strong>no</strong>r capaci<strong>da</strong>de diagnóstica.Tabela 19. Razão entre taxa de mortali<strong>da</strong>de por câncer de mama pela taxa demortali<strong>da</strong>de por câncer de útero, segundo raça/cor e regiões do país.Região Branca Preta Par<strong>da</strong> NegraNorte 0,84 0,25 0,37 0,36Nordeste 1,22 0,92 0,73 0,76Centro-Oeste 1,16 1,36 1,08 0,94Sudeste 1,92 1,48 1,17 1,25Sul 1,30 1,06 1,06 1,06Fonte: SIM-Datasus Fun<strong>da</strong>ção Seade-SP. Tabulações especiais: Instituto de Saúde/SES-SP.4.3.1 Doenças do SangueQuando se analisa a mortali<strong>da</strong>de por doenças do sangue na região Norte,constata-se que, entre as principais causas, estão anemias e coagulação intravasculardissemina<strong>da</strong>. No Nordeste, prevalecem as outras anemias, as anemias aplásticas, defeitosde coagulação, transtor<strong>no</strong>s falciformes. Na região Centro-Oeste, as anemias, anemiasaplásticas e transtor<strong>no</strong>s falciformes são as principais causas de morte. No Sudeste, 70%dos óbitos deste grupo ocorrem em razão de causas como outras anemias, anemiasaplásticas, defeitos <strong>da</strong> coagulação, púrpura e outras afecções hemorrágicas, coagulaçãointravascular dissemina<strong>da</strong> e os transtor<strong>no</strong>s falciformes.4.3.2. Doenças Endócrinas e NutricionaisEntre as mortes por doenças endócrinas e nutricionais <strong>da</strong> região Norte, destacamseas mortes por diabetes mellitus, desnutrição, depleção de volume e outros transtor<strong>no</strong>sdo equilíbrio hidroeletrolítico e ácido-básico. Noventa por cento dos óbitos porDoenças Endócrinas estão representados por essas causas. No Nordeste, a diabetesmellitus, as desnutrições e depleção de volume são as duas principais causas e representam90% dos óbitos desse grupo. O mesmo ocorre <strong>no</strong> Centro-Oeste. No Sudeste, as300Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


causas principais de morte são diabetes mellitus, desnutrição e obesi<strong>da</strong>de. Na regiãoSul, há uma maior variação: diabetes mellitus, desnutrições, obesi<strong>da</strong>de, transtor<strong>no</strong>s doequilíbrio hidroeletrolítico e ácido-basico, depleção de volume, distúrbios metabólicoslipoprotéicos e outras lipidemias.Entre as doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas, a diabetes é uma <strong>da</strong>ssete principais doenças que afetam as mulheres pretas. A maior taxa de urbanização,industrialização, sedentarismo e obesi<strong>da</strong>de têm contribuído <strong>para</strong> o maior número depessoas com diabetes em <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de.Sabe-se que a diabetes prevalece entre as mulheres. No presente estudo, háuma maior taxa de mortali<strong>da</strong>de por diabetes entre as mulheres pretas, segui<strong>da</strong>s pelasbrancas, par<strong>da</strong>s e <strong>negra</strong>s.Para Franco (1998),"A descentralização do atendimento aos diabéticos, utilizando a já existenterede pública de atenção básica à saúde, seguramente virá amenizar umasérie de distorções que ocorrem atualmente, desde que esteja associa<strong>da</strong> auma política de capacitação de recursos huma<strong>no</strong>s e valorização do pessoal.Por outro lado, as uni<strong>da</strong>des especializa<strong>da</strong>s têm papel importante, ouseja, o de gerar <strong>no</strong>rmas e conhecimento, promover educação continua<strong>da</strong>aos profissionais de saúde e o de prestar atendimento especializado aoscasos de difícil controle e as complicações <strong>da</strong> doença."A desnutrição também se apresentou como uma importante causa de morte <strong>para</strong>as mulheres <strong>negra</strong>s adultas.4.3.3. Transtor<strong>no</strong>s mentaisOs Transtor<strong>no</strong>s mentais devidos ao uso do álcool e ao uso de substânciaspsicoativas são as principais causas de morte <strong>no</strong> Norte e <strong>no</strong> Nordeste. Essas causasconcentram 66% dos óbitos <strong>da</strong> região Norte e 80% <strong>da</strong> região Nordeste. O uso de álcoolconcentra 67% <strong>da</strong>s mortes do Centro-Oeste. No Sudeste, aparecem os transtor<strong>no</strong>sdevido ao uso de álcool, uso de psicoativos, demência e retardo mental. Essas causasrepresentam 90% <strong>da</strong>s mortes por transtor<strong>no</strong>s mentais <strong>da</strong> região Sudeste.A maior mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s por transtor<strong>no</strong>s mentais talvez seja conseqüência<strong>da</strong> opressão, <strong>da</strong>s violências institucionais vivencia<strong>da</strong>s por essas mulheres, a baixa autoestima,entre outros. É possível levantar como hipótese que os mecanismos de exclusãosocial vivenciados pelos negros têm seus reflexos também na saúde mental.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de301


4.3.4. Doenças do Aparelho CirculatórioAs mulheres pretas morrem duas vezes mais que as brancas por doenças doaparelho circulatório. As doenças cerebrovasculares, doenças isquêmicas do coração,insuficiência cardíaca e complicações de cardiopatias representam 70% dos óbitos doAparelho Circulatório <strong>no</strong> Norte e Nordeste. Na região Centro-Oeste, as principais causassão as doenças isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares, insuficiência cardíacae complicações de cardiopatias. Nas regiões Sudeste e Sul, prevalecem a mortali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s mulheres pretas por doenças isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares,insuficiência cardíaca, hipertensão e doenças hipertensivas e cardiomiopatias. Em to<strong>da</strong>sas regiões, a mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas supera a <strong>da</strong>s brancas.Os principais fatores de risco dessas doenças são o tabagismo, a hipertensão e aingestão de gordura (Lolio et al., 1993). Os negros têm, sabi<strong>da</strong>mente, níveis tencionaismais elevados. Conseqüentemente, a mortali<strong>da</strong>de por doenças coronarianas é maiorentre eles (Lolio, 1993 e Lotufo, 1998). Mas, o que é feito com essa informação? Osprofissionais possuem tal informação, to<strong>da</strong>via quais são os encaminhamentos? Quaissão as ações realiza<strong>da</strong>s pelo sistema de saúde?Mesmo sendo a taxa de mortali<strong>da</strong>de por anemia falciforme muito baixa, podehaver uma associação entre anemia falciforme e uma maior mortali<strong>da</strong>de por problemascirculatórios, desconhece-se, entretanto, quanto desse diferencial pode ser atribuídoàs diferenças genéticas, culturais ou socioeconômicas.Segundo Berquó, Araújo e Sorrenti<strong>no</strong> (1996) “Como as doenças do coração sãodoenças masculinas, muitas vezes a dor <strong>no</strong> peito é me<strong>no</strong>s valoriza<strong>da</strong> <strong>no</strong> diagnóstico<strong>da</strong>s mulheres – frescura, <strong>da</strong>í ser me<strong>no</strong>s diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong>, o diagnóstico não é feito <strong>no</strong>sprimeiros sintomas”. Diante disso, é possível formular a seguinte questão: como osdiagnósticos dos problemas coronaria<strong>no</strong>s dos pretos são percebidos?As conseqüências indesejáveis <strong>da</strong> hipertensão estão freqüentemente associa<strong>da</strong> àbaixa escolari<strong>da</strong>de, aos problemas sociais crônicos, como pobreza, hostili<strong>da</strong>de e racismo;os negros, em <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de, convivem em ambientes sociais desfavoráveise estão expostos constantemente a situações estressantes. Essas têm sido algumas <strong>da</strong>spossíveis explicações <strong>da</strong>s grandes diferenças de prevalência de hipertensão entre osnegros america<strong>no</strong>s (Lessa, 1998).302Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


4.3.5. Doenças do Aparelho RespiratórioA taxa de óbitos por doenças do aparelho respiratório <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é de 14,22/100 milentre as mulheres. A taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas é de 18,87/100 mil, segui<strong>da</strong> pelasmulheres brancas (13,22/100 mil), <strong>negra</strong>s (10,74/100 mil) e par<strong>da</strong>s (9,40/100 mil).Entre as principais causas deste grupo estão a influenza e pneumonias, doençascrônicas <strong>da</strong>s vias aéreas inferiores e a insuficiência respiratória.4.3.6. Doenças do Aparelho GeniturinárioAs Doenças do Aparelho Geniturinário estão entre as <strong>no</strong>ve principais causas demorte <strong>da</strong>s mulheres brasileiras; a taxa de mortali<strong>da</strong>de é de 3,47/100 mil. A insuficiênciarenal, nefrites e nefroses, transtor<strong>no</strong>s do trato urinário são as principais causas demorte. A taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas á maior em to<strong>da</strong>s essas causas e em to<strong>da</strong>sas regiões do país.4.3.7. Gravidez, parto e puerpérioAo verificarmos o perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por complicações <strong>da</strong> Gravidez, Parto ePuerpério entre as mulheres de 10 a 49 a<strong>no</strong>s, constatamos que as piores taxas estãona região Norte.Materni<strong>da</strong>de sem risco é um direito <strong>da</strong>s mulheres, um direito que se relacionaà liber<strong>da</strong>de e à segurança, e impõe aos gover<strong>no</strong>s, gestores e profissionais a obrigaçãode assegurar o acesso a uma assistência segura e efetiva.Os <strong>da</strong>dos mostram que, entre as mulheres de 10-49 a<strong>no</strong>s, 2,96 entre 100 milmorrem por complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério. A taxa de óbito entre asmulheres <strong>negra</strong>s supera a <strong>da</strong>s brancas (é 2,89 vezes maior) sendo 4,79/100mil <strong>para</strong>as pretas, 2,59/100 mil entre as par<strong>da</strong>s, e 2,09 <strong>da</strong>s brancas. O Centro-Oeste possuime<strong>no</strong>r taxa e a pior situação é a <strong>da</strong> região Norte, onde a taxa é de 15,33/100 mil <strong>para</strong>as brancas e 21,49/100 <strong>para</strong> as pretas.As maiores taxas são as <strong>da</strong>s regiões Norte e Sul do país. No caso <strong>da</strong> região Sul, essaé uma região que possui uma melhor cobertura dos registros de óbito, é a região ondeos comitês de mortes materna são ativos, corrigem óbitos classificados incorretamentee isso pode aumentar o coeficiente de óbitos por gravidez, parto e puerpério (Volochko,2003).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de303


Gáfico 28. Taxa de óbitos por gravidez, parto e puerpério entre mulheres de 10-49a<strong>no</strong>s segundo raça/cor e regiões. <strong>Brasil</strong>, 2000A taxa média de óbitos por gravidez, parto e puerpério <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é de 2,96/100mil, mas a taxa de óbito <strong>da</strong>s mulheres pretas supera a média em to<strong>da</strong>s as regiões dopaís, exceto <strong>no</strong> Centro-Oeste (gráfico 28).Estudo realizado por Perpétuo (2000) aponta que as mulheres <strong>negra</strong>s possuemme<strong>no</strong>res chances de passar por consultas ginecológicas completas, por consultascompletas de pré-natal, realizar consultas de pré-natal antes do terceiro mês de gravideze obter informações sobre os sinais do parto. As mulheres <strong>negra</strong>s recebem me<strong>no</strong>rassistência durante a gravidez e têm as maiores chances de não serem examina<strong>da</strong>sadequa<strong>da</strong>mente. Estas dificul<strong>da</strong>des, acabam se concretizando em maior mortali<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s por complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Não podemos desconsiderar a relação entre o violento contexto de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s e sua mortali<strong>da</strong>de, ou seja, como as piores condições de vi<strong>da</strong> e acessoaos bens e consumo <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s se relacionam com a mortali<strong>da</strong>de ou mesmoos efeitos <strong>da</strong><strong>no</strong>sos <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> na saúde <strong>da</strong> mulher e <strong>da</strong> criança. To<strong>da</strong>via,como reverter esta vulnerabili<strong>da</strong>de?Uma solução seria o estabelecimento de políticas públicas intersetoriais, políticasdiferenciais <strong>para</strong> as mulheres <strong>negra</strong>s e não-<strong>negra</strong>s. Onde existir uma concentração304Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


de população <strong>negra</strong> e de população em situação de pobreza dever-se-ia direcionar,adequar e qualificar a atenção básica, de tal forma que estratégias como o Programade Saúde <strong>da</strong> Família pudessem atender às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s mulheres <strong>para</strong> garantir agravidez e a materni<strong>da</strong>de sem risco. No processo de capacitação dos profissionais desaúde do Programa Saúde <strong>da</strong> Família deveria também existir um módulo sobre saúde<strong>da</strong> mulher <strong>negra</strong> ou sobre o impacto do racismo na saúde <strong>da</strong> mulher <strong>negra</strong>.A redução <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s por complicações <strong>da</strong> Gravidez,do Parto e do Puerpério deveria ser uma meta/priori<strong>da</strong>de <strong>para</strong> os gestores de saúde;merece uma política publica intersetorial a ser implementa<strong>da</strong> pelo estado. Afinal, essaé uma morte evitável.Rutstein (1976); Nolte e Mackee (2003) utilizam o conceito de mortes evitáveiscomo um indicador <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e efetivi<strong>da</strong>de dos serviços de saúde. Segundo estaconcepção, embora a morte seja o desfecho natural <strong>para</strong> todos os seres huma<strong>no</strong>s, ai<strong>da</strong>de em que ocorre e a causa podem ser posterga<strong>da</strong>s por assistência à saúde de boaquali<strong>da</strong>de.4.3.8. Sintomas, sinais e achados a<strong>no</strong>rmaisMortes sem assistência ou por causas mal defini<strong>da</strong>s, essas são as principaiscausas de morte deste grupo. Vianna et al. (2001), <strong>para</strong> desenvolver uma metodologiade análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, sugerem indicadores e instrumentos de medição <strong>para</strong>monitoramento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des em saúde, a avaliação <strong>da</strong> evolução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>dee o subsídio aos gestores <strong>no</strong> processo decisório e o uso de registros administrativos debases regulares. Os autores trabalham com seis dimensões de desigual<strong>da</strong>des: oferta;acesso e utilização de serviços de saúde; financiamento; quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção; situaçãode saúde; e condições de vi<strong>da</strong>.A análise <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de em saúde é feita a partir do percentual de óbitos porcausas mal defini<strong>da</strong>s. O percentual de óbitos mal definidos é um indicador que dizrespeito à falta ou à deficiência de assistência médica ou à maior ou me<strong>no</strong>r capaci<strong>da</strong>dediagnóstica.“O percentual de óbitos por causa mal defini<strong>da</strong> é um indicador tradicional dequali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência, visto que não identifica adequa<strong>da</strong>mente a causa de um óbitoestá relacionado geralmente à falta ou deficiência de assistência médica” (Vianna,2001). As mulheres pretas e par<strong>da</strong>s apresentam maiores índices de óbitos por causasmal defini<strong>da</strong>s e, conseqüentemente, piores condições de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência(tabela 3, página 247).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de305


4.3.9. Causas ExternasAs agressões, acidentes de transportes e outros acidentes, lesões auto-inflingi<strong>da</strong>se autoprograma<strong>da</strong>s são as principais causas de morte entre as mulheres. A taxa demortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres brancas por Causas Externas supera a <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s:18,20/100 mil contra 17,04/100 mil. A taxa de mortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s mulheres pretas é de17,36/100 mil e <strong>da</strong>s par<strong>da</strong>s é de 10,90/100 mil.5. Comentários finaisAs condições sociais, a escolarização e o acesso desigual aos serviços de saúde,entre outros, são fatores que podem determinar diferenças importantes nas taxas demortali<strong>da</strong>de. Apesar de suas limitações, a descrição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de de pretos, pardos,negros e brancos possibilitou com<strong>para</strong>r reali<strong>da</strong>des e pode ser utiliza<strong>da</strong> <strong>para</strong> elaborar/definir políticas públicas. Ressalta-se, neste caso, a mortali<strong>da</strong>de por tuberculose, HIV/aids, donças isquêmicas do coração, doenças cerebrovasculares, transtor<strong>no</strong>s mentais,complicações <strong>da</strong> gravidez, parto e puerpério.A par <strong>da</strong>s preocupações quantitativas, urge que o SUS se ocupe <strong>da</strong>s questõesqualitativas na assistência à saúde <strong>da</strong> população e se debruce sobre os obstáculos deacessibili<strong>da</strong>de dos diversos segmentos concretos <strong>da</strong> população, como os grupos étnicoraciais.Buscar os indícios de discriminação institucional é reconhecer necessi<strong>da</strong>desconcretas de grupos que não vêm sendo considera<strong>da</strong>s.No SUS, longo é o caminho a trilhar <strong>no</strong> que tange às necessi<strong>da</strong>des dos negros.Para além de iniciativas pontuais como o Programa Nacional de Anemia Falciforme,é essencial reconhecer, na população, a existência de ci<strong>da</strong>dãos com necessi<strong>da</strong>desparticulares; contabilizá-los <strong>no</strong>s municípios; identificar especifici<strong>da</strong>des <strong>no</strong>s perfis demorbimortali<strong>da</strong>de; conhecer suas necessi<strong>da</strong>des de assistência não atendi<strong>da</strong>s. Para isso,é essencial introduzir, registrar, computar e analisar o quesito raça/cor <strong>no</strong>s documentosreferentes aos procedimentos.O Sistema Único de Saúde, criado por força <strong>da</strong> Lei nº 8.080, de 19 de setembrode 1990, incorpora a concepção <strong>da</strong> Constituição de 1988 onde saúde figura comodireito fun<strong>da</strong>mental e dever do estado. Suas principais características são universali<strong>da</strong>de,gratui<strong>da</strong>de, integrali<strong>da</strong>de, descentralização com direção única em ca<strong>da</strong> esfera, priori<strong>da</strong>deàs ações preventivas sem prejuízo <strong>da</strong>s curativas, controle popular, financiamentopúblico, participação auxiliar <strong>da</strong> rede priva<strong>da</strong> e a eqüi<strong>da</strong>de (Andrade, 2001).306Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O conceito de eqüi<strong>da</strong>de propõe tratamento desigual <strong>para</strong> os desiguais 27 . Pretos,indígenas e brancos são diferentes, ocupam espaços diferentes em <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de,e “merecem tratamento diferenciado, de modo a eliminar/reduzir as desigual<strong>da</strong>desexistentes”. Se o conceito de eqüi<strong>da</strong>de vertical aponta tratamentos diferenciados <strong>para</strong>os desiguais, se estamos numa socie<strong>da</strong>de desigual, o tratamento igualitário que hojeé oferecido a pretos, indígenas e brancos está promovendo a desigual<strong>da</strong>de. E estasquestões não estão dimensiona<strong>da</strong>s nas formulações <strong>da</strong>s políticas de saúde.Os <strong>da</strong>dos aqui apresentados evidenciam desafios colocados <strong>para</strong> a diversi<strong>da</strong>dena implementação de políticas e na assistência de saúde de <strong>no</strong>ssas instituições.Para os implementadores de políticas do Sistema Único de Saúde é importanteenfatizar a importância do caminho percorrido na implantação do SUS com a publicação<strong>da</strong>s Normas Operacionais Básicas do SUS, as NOBs, e especialmente com a implantaçãodo Piso de Atenção Básica (PAB), com transferências automáticas de recursosdo Fundo Nacional de Saúde ao Fundo Municipal de Saúde, de acordo com o pla<strong>no</strong>municipal de saúde e com base <strong>no</strong> perfil de morbimortali<strong>da</strong>de. O PAB é consideradoum importante instrumento de redução <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de 28 ao possibilitar a eqüi<strong>da</strong>dena prestação de serviços.A efetivi<strong>da</strong>de do SUS é medi<strong>da</strong> pela adesão à NOB nº 1/1996, que cobria, emdezembro de 2001, 99,9% <strong>da</strong> população, pelos custos e pelo número de procedimentosrealizado. A redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des é medi<strong>da</strong> pela participação de ca<strong>da</strong> região naprodução de procedimentos de ambulatórios e de cirurgias e o desafio que permanece<strong>para</strong> o implementador é o aumento de oferta (Negri, 2002). Embora essa questãoseja muito importante, a referência a essa única iniqüi<strong>da</strong>de deixa muito a desejar emtermos do impacto do SUS <strong>no</strong> perfil de morbimortali<strong>da</strong>de e nas mortes evitáveis dosdiversos segmentos <strong>da</strong> população. Principalmente quando esse segmento é a população<strong>negra</strong>.Uma prova disso é que, apesar do quesito raça/cor estar presente <strong>no</strong>s atestadosde óbito desde 1996, não se utiliza essa variável na análise dos <strong>da</strong>dos oficiais. Nossosgestores afirmam não existir diferenças <strong>no</strong> processo saúde doença e morte de negrose brancos. Outros acreditam que as diferenças existem, contudo suas causas, <strong>para</strong>estes, estão ligados apenas a fatores econômicos. Enfim, o preconceito consciente ouinconsciente, a ig<strong>no</strong>rância, a falta de atenção dos gestores e profissionais colocam osnegros em desvantagem, assim como contribuem <strong>para</strong> a inércia do sistema ante as desigual<strong>da</strong>desraciais/étnicas. A falta de priori<strong>da</strong>des nas ações institucionais incrementama vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> ao adoecimento e à morte.27. Viana, 2001.28. Refere-se às desigual<strong>da</strong>des entre municípios.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de307


As diretrizes do SUS apontam o direito de acesso aos serviços de forma universale integral, <strong>para</strong> oferecer um atendimento de quali<strong>da</strong>de a todos. Sempre <strong>no</strong> sentido <strong>da</strong>eqüi<strong>da</strong>de em saúde, os gestores referem-se à importância <strong>da</strong> redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des<strong>para</strong> a promoção <strong>da</strong> justiça social. Este trabalho explicita o impacto <strong>da</strong>s inadequações<strong>da</strong>s ações em saúde <strong>para</strong> as populações; ao mesmo tempo, aponta <strong>para</strong> a necessi<strong>da</strong>dede adoção de políticas diferencia<strong>da</strong>s e específicas <strong>para</strong> essas populações. O desafio<strong>para</strong> governadores, gestores, formadores, profissionais de saúde, enfim, <strong>para</strong> todos nós,está lançado (Batista e Kalckmann, 2003).6. Recomen<strong>da</strong>ções• retomar campanhas como a “não deixe sua cor passar em branco”;• investir em treinamento <strong>da</strong>s equipes do IBGE, <strong>para</strong> que possam melhorar aquali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos populacionais colhidos pelo Censo;• investir em treinamento e sensibilização dos profissionais de saúde;• investir na melhoria <strong>da</strong> informação dos <strong>da</strong>dos de mortali<strong>da</strong>de, principalmentenas regiões Nordeste e Norte. Investir <strong>no</strong>s informadores, quais sejam, osmédicos;• as ONGs <strong>negra</strong>s poderiam treinar profissionais <strong>da</strong> saúde;• produzir material educativo direcionado aos Agentes de Saúde;• é fun<strong>da</strong>mental que exista maior investimento em opções de esporte, culturae lazer <strong>no</strong>s bairros periféricos dos grandes centros urba<strong>no</strong>s. Estabelecer umapolítica de informação e informática do SUS;• as instituições que trabalham com <strong>da</strong>dos/indicadores de saúde devem desagregaros <strong>da</strong>dos por raça/etnia. Inclusão <strong>da</strong> raça/cor como categoria analítica tal qualfazem com i<strong>da</strong>de e sexo;• melhorar a quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos populacionais produzidos pelo IBGE (corig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>);• introduzir a raça/cor <strong>no</strong>s <strong>da</strong>dos de AIH e realizar um cro<strong>no</strong>grama de implantação.Inserir o quesito raça/cor em to<strong>da</strong>s as bases de <strong>da</strong>dos do Datasus;• Elaborar propostas que permitam monitorar a situação de saúde <strong>da</strong>s mulherese homens negros usuários do SUS. Urge que o SUS se ocupe <strong>da</strong>s questões <strong>da</strong>assistência dos diferentes grupos raciais/étnicos;308Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• Inserir o tema saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong>s módulos de capacitação dosprofissionais de saúde do Programa de Saúde <strong>da</strong> Família;• Inserir o tema saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong>s cursos de formação dos Conselheirosde Saúde;• Proporcionar apoio técnico, científico e financeiro <strong>para</strong> que as universi<strong>da</strong>dessejam estimula<strong>da</strong>s a criar núcleos de estudos de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>;• as agências de fomento à pesquisa e à pós-graduação, tais como CNPq,Capes, Finep e FAPs- fun<strong>da</strong>ções estaduais de pesquisa, poderiam criar linhasde pesquisa sobre saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.7. Referências bibliográficasABBOTT, K. C.; HYPOLITE, I. O.; AGODOA, L. Y. Sickle Cell Nephropathyn at EndStage Renal Disease in the United States: Patient characteristics and survival. Clinicalof Nephrology, v. 58, n.1, p. 9-15, 2002.ANDRADE, L. O. M. SUS Passo a passo - <strong>no</strong>rmas, gestão e financiamento. São Paulo:Hucitec, 2001.APPHIAH, Kawme A. Na Casa de meu pai: a África na Filosofia <strong>da</strong> Cultura. Rio deJaneiro: Contraponto, 1997.AYANIA, J. Z.; UDVARHELYI, S.; GATSONIS, C. A.; PASHOS, C. L.; EPSTEIN, A. M.Racial differences in the use of revascularisation procedures after angiography. Journalof American Medical Association, v. 269, p. 2642-46, 1993.AYRES, J. R. M.; FRANÇA Jr, I.; CALAZANS, G..J.; SALETTI FILHO, H..S. Vulnerabili<strong>da</strong>dee prevenção em tempo de AIDS. In: BARBOSA, R.; PARKER, R. (Org.). Sexuali<strong>da</strong>despelo avesso: direitos, identi<strong>da</strong>des e poder. Rio de Janeiro: IMS/UERJ; São Paulo:Editora 34, 1999.BARBOSA, M. I. S. Racismo e Saúde. 1998. Tese (de Doutorado) - Facul<strong>da</strong>de de SaúdePública <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de São Paulo, São Paulo, 1998.BARBOSA, M. I. S. É Mulher mas é Negra: perfil <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de do “quarto dedespejo”. Jornal <strong>da</strong> Redesaúde, n. 23, p. 34-36, 2001.BARROS, R. P. et al. Vivendo em sobressalto: composição étnica e dinâmicaconjuntural do mercado de trabalho. In: VII ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDOSPOPULACIONAIS. Anais, 2, 1990.BASTIDE, R.; FERNANDES, F. Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo.São Paulo: Anhembi, 1995Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de309


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Iniqüi<strong>da</strong>des raciais em saúde e políticas de enfrentamento: asexperiências do Canadá, Estados Unidos,África do Sul e Rei<strong>no</strong> UnidoJurema Werneck – Médica, Mestre em Ciências emEngenharia de Produção, Doutoran<strong>da</strong> em Comunicaçãoe Cultura pela UFRJ. Secretária Executiva <strong>da</strong> Articulação<strong>Brasil</strong>eira de Organizações de Mulheres Negras 2000-2001e 2002-2004. Integrante do Conselho de DesenvolvimentoEconômico e Social. Fun<strong>da</strong>dora e Coordenadora Geral deCriola – Organização de Mulheres Negras (RJ).Como alguém que tenha vivido entre camponeses ou favelados sabemuito bem, a saúde do povo é influencia<strong>da</strong> muito mais por políticos,grupos de poder e pela distribuição <strong>da</strong> terra e <strong>da</strong> riqueza do que é pelaprevenção e tratamento de doenças (Werner, 1981).1. ApresentaçãoNão é <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de a correlação que se faz entre o racismo e a saúde – e este trabalhose propõe a demonstrar iniciativas já em curso que buscam enfrentar o problema dediferentes maneiras. Conforme lembrou Kwame McKenzie (2003, p. 65-66), a literaturacientífica internacional <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde já demonstrou associações entre racismoe diferentes agravos físicos, mentais, inclusive apontando a necessi<strong>da</strong>de de conhecerseus efeitos sobre as futuras gerações:Os efeitos do racismo sobre as futuras gerações – por exemplo, oimpacto de longo prazo de ter um dos pais doentes – ain<strong>da</strong> não foramconsiderados (McKenzie, 2003, p. 66).Este trabalho é parte do esforço empreendido pelo Programa de Combate aoRacismo Institucional <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, do Ministério de Desenvolvimento Internacionaldo Gover<strong>no</strong> do Rei<strong>no</strong> Unido (DFID/UK), <strong>para</strong> apoiar o setor público <strong>no</strong> combate eprevenção do racismo institucional, bem como as organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civilem suas ações de advocacy e monitoramento de políticas públicas.


Assim, como parte do Componente Saúde do Programa de Combate ao RacismoInstitucional, o que se busca nesta iniciativa é disponibilizar informações e ferramentasde análise, a fim de colaborar com as ações necessárias <strong>para</strong> “diminuir as iniqüi<strong>da</strong>des<strong>no</strong> perfil de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>; formular e implementar políticas dentro doSistema Único de Saúde, visando à melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> deste segmentopopulacional” (DFID, Termo de Referência, 2003).A tarefa aqui tem como objetivos específicos, segundo a proposta defini<strong>da</strong> peloDFID (2003), os seguintes tópicos:i. Revisar a literatura internacional sobre racismo e desigual<strong>da</strong>des raciais emsaúde <strong>para</strong> que possam ser com<strong>para</strong>dos os <strong>da</strong>dos referentes às condições devi<strong>da</strong> e saúde <strong>da</strong>s populações <strong>negra</strong>s e não-<strong>negra</strong>s em diferentes reali<strong>da</strong>dessociopolíticas, sobretudo <strong>no</strong>s Estados Unidos <strong>da</strong> América, Rei<strong>no</strong> Unido, Canadáe África do Sul.ii. Identificar experiências bem-sucedi<strong>da</strong>s, práticas de saúde mais inclusivas eeqüânimes, passíveis de adequação à reali<strong>da</strong>de brasileira.Cabe ressaltar que o tema <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde em <strong>no</strong>sso país tem sidoassinalado na literatura e <strong>no</strong> ativismo dos grupos raciais discriminados – especialmentedo movimento de mulheres <strong>negra</strong>s e do movimento negro – ao longo de todo o séculoXX. Em fins desse século, o processo empreendido por organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil,juntamente com órgãos estatais e agências de cooperação internacional em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong>realização <strong>da</strong> III Conferência Mundial contra o Racismo, a Xe<strong>no</strong>fobia e as IntolerânciasCorrelatas, obrigou a produção mais intensa de diagnósticos e a formulação de propostasem diversos campos <strong>da</strong> ação pública. Assim, <strong>no</strong>vos e antigos atores foram mobilizadosna produção de <strong>da</strong>dos, em especial quantitativos, e indicadores que corroboravam asdenúncias veicula<strong>da</strong>s pela população <strong>negra</strong> e suas organizações políticas.O passo seguinte, após o maior reconhecimento social <strong>da</strong> presença do racismomediando relações e impregnando políticas públicas em todos os níveis, é a formulaçãode projetos e propostas de ação em diferentes esferas, a fim de possibilitar a reversãodo quadro de desigual<strong>da</strong>des raciais, a partir <strong>da</strong> implementação de políticas públicasefetivas <strong>no</strong> seu enfrentamento.O trabalho aqui desenvolvido parte desse esforço e implicou a revisão de umconjunto diferenciado de documentos, disponíveis tanto na internet (grande parte deles)quanto em versões impressas. Os temas abor<strong>da</strong>dos referiam-se a raça, saúde, eqüi<strong>da</strong>de,igual<strong>da</strong>de, dispari<strong>da</strong>des em saúde, além de indicadores e informações gerais sobre ospaíses pesquisados, tendo a vigência do racismo como o principal foco de abor<strong>da</strong>gem.Chama atenção, <strong>no</strong> processo aqui realizado, o fato de a maioria dos documentos abor<strong>da</strong>rexperiências estatais em curso a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, ain<strong>da</strong> que a pesquisa tenhaenvolvido também aportes provenientes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil e universi<strong>da</strong>des.316Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Esses documentos podem ser classificados nas seguintes categorias:a. diagnósticos nacionais oficiais; 29b. pla<strong>no</strong>s de ação oficiais;c. análises de experiências; 30d. discussões conceituais;e. experiências locais;f. pesquisas (survey) nacionais. 31Os organismos nacionais oficiais consultados foram aqueles cuja atribuiçãoprimeira é a política de saúde. São eles: Ministério <strong>da</strong> Saúde do Canadá/ HealthCanadá; Instituto de Medicina <strong>da</strong> Academia Nacional de Ciências e o Departamentode Saúde e Assuntos Huma<strong>no</strong>s dos Estados Unidos; Ministério <strong>da</strong> Saúde do Rei<strong>no</strong>Unido; Ministério <strong>da</strong> Saúde <strong>da</strong> África do Sul. Nesse grupo também estão incluí<strong>da</strong>siniciativas empreendi<strong>da</strong>s em cooperação com organismos estatais de outros paísesque não os estu<strong>da</strong>dos.Foram também acessados documentos produzidos por organizações nãogovernamentais,organismos multilaterais como a Organização Panamericana deSaúde, a Organização Mundial de Saúde, o Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> oDesenvolvimento e o Alto Comissariado <strong>da</strong> ONU pelos Direitos Huma<strong>no</strong>s. Documentosde outros organismos estatais ou não estatais que dirigem sua ação (ou parte dela)<strong>para</strong> temas de igual<strong>da</strong>de racial também foram consultados, porém em me<strong>no</strong>r escala,bem como documentos brasileiros de suporte às reflexões. Uma listagem do conjuntode documentos é disponibiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> final deste trabalho.2. O racismo <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Uma característica do racismo vivido <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem sido defini<strong>da</strong> por alguns autorescomo sutil. Por sutil, diferentes autores procuram definir uma situação invisível, semqualquer anteparo legal e institucional explícito; uma forma de preconceito racial quepoderia ser defini<strong>da</strong> de “bran<strong>da</strong>” ou “cordial” como já ousaram alguns. No cotidia<strong>no</strong><strong>da</strong>s pessoas esse racismo e essa discriminação se traduziriam numa convivência pací-29. Aqui compreendidos como de iniciativa estatal.30. Referindo-se a estudos científicos empreendidos por universi<strong>da</strong>des, pesquisadores independentes ou organizações<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil.31. De iniciativa estatal ou de organizações multilaterais.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de317


fica entre negros e brancos, demonstra<strong>da</strong> pela proximi<strong>da</strong>de geográfica, física e culturalque tais grupos gozam na convivência social. Bem como nas relações afetuosas, quasefamiliares, que se estabeleceram, cuja origem está na intensa mobili<strong>da</strong>de sexual doshomens brancos a partir do período colonial. Tal visão tem como principal veículo dedisseminação os trabalhos de Gilberto Freyre e de muitos que vieram depois dele. Essaidéia, bem trabalha<strong>da</strong> pelo sociólogo <strong>no</strong> início do século XX, oferece a chave <strong>para</strong> asinvenções 32 e interpretações hegemônicas <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s relações sociais <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> ao longo do século e vão fun<strong>da</strong>mentar as leituras <strong>da</strong>s relações sociais – e raciais– <strong>no</strong> país.Para um país mestiço não se justificaria, portanto, qualquer afirmativa – oudenúncia – <strong>da</strong> vigência de sistemas de segregação racial, contrastando com a reali<strong>da</strong>dede países como Estados Unidos e África do Sul <strong>no</strong> mesmo período. As histórias de guetosnegros, como na experiência <strong>no</strong>rte-americana, e de homelands, como os sul-africa<strong>no</strong>sproduziram, ou de qualquer outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de se<strong>para</strong>ção espacial e hierárquicaentre brancos e negros não teriam justificação ou possibili<strong>da</strong>des de existência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Aqui, o projeto de nação levado a cabo <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s do século passado buscavaafirmar-se na produção de um país pacífico, afetuoso, sensual, ancorado nas idéias <strong>da</strong>mistura racial que absorviam o que de melhor, ou nem tanto, os três povos (brancos,negros e indígenas) teriam a oferecer. A união <strong>da</strong>s três raças produziria um “povo<strong>no</strong>vo” nas palavras de Darcy Ribeiro (1998), um brasileiro claro como seus ascendenteseuropeus, sensual como os africa<strong>no</strong>s e senhor <strong>da</strong> geografia tropical, patrimônio her<strong>da</strong>dodos povos indígenas originais.Ao final do século XX essa teoria ou modo de interpretação <strong>da</strong> formação socialbrasileira será desloca<strong>da</strong> em favor do reconhecimento <strong>da</strong> profun<strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de quemarca a socie<strong>da</strong>de brasileira.A produção de indicadores sociais sob variáveis raciais, tanto por organizaçõesnão-governamentais como por órgãos estatais (IBGE e Ipea, por exemplo), temdemonstrado um país segmentado, hierarquizado, desigual. Em fins do século XX, abandeira <strong>da</strong>s organizações <strong>negra</strong>s desde o período imediatamente pós-abolição, dodesvelamento e do enfrentamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais e do racismo que atingiamprincipalmente as populações <strong>negra</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, chega a um patamar inédito, passandoa integrar as pautas de justiça social e combate às desigual<strong>da</strong>des <strong>no</strong> país e em to<strong>da</strong> aAmérica Latina.A desigual<strong>da</strong>de racial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, pode-se repetir, é um fato demonstrado em indicadoresproduzidos e analisados por centros oficiais de pesquisa, principalmente oInstituto de Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> – Ipea 33 . É uma situação que se apóia em32. Aqui o termo obedece à proposição de Benedict Anderson em Imagined communities (1992).33. Ver Schicasho (2003).318Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


uma extraordinária concentração não apenas <strong>da</strong> riqueza nacional, mas do poder e<strong>da</strong> máquina estatal nas mãos do contingente branco brasileiro. As conseqüências <strong>no</strong>scampos <strong>da</strong> produção de conhecimento e <strong>da</strong> formulação de políticas públicas têmsido um quadro ineficiente de análises e proposições, em razão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de seproduzir um patamar de inclusão social <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – em particular a inclusão racial.A desigual<strong>da</strong>de não arrefece. Ao contrário, se mantém estável (Henriques, 2001) ou,segundo alguns indicadores, cresce <strong>no</strong>s grupos raciais inferiorizados em relação àsituação dos brancos (Cunha, 2001).Por outro lado, a movimentação e as mu<strong>da</strong>nças vivi<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong>de brasileira<strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s e que mediaram a eleição de Lula, um líder sindical <strong>no</strong>rdesti<strong>no</strong>, e aascensão ao poder nacional do maior partido de esquer<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – o Partido dosTrabalhadores –, recolocaram o tema do racismo entre as priori<strong>da</strong>des nacionais <strong>para</strong> oenfrentamento, graças à mobilização dos movimentos sociais anti-racistas. São essasmesmas reivindicações de mu<strong>da</strong>nças que deman<strong>da</strong>ram e ain<strong>da</strong> deman<strong>da</strong>m uma açãourgente <strong>no</strong> desnu<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s insuficiências teóricas e práticas dos diagnósticos <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des feitos por diferentes centros de pesquisa e órgãos estatais em diversosníveis. Assim, também é urgente a reformulação dos instrumentos classificados <strong>para</strong>sua superação, a partir <strong>da</strong> elaboração e implementação de políticas adequa<strong>da</strong>s eeficientes.Ao mesmo tempo, a socie<strong>da</strong>de brasileira e seus projetos de futuro com justiçasocial tem exigido de vários setores – principalmente de ativistas e pesquisadoresnegros, sobretudo as mulheres <strong>negra</strong>s em ambas as condições – a intensificação deseu engajamento <strong>para</strong> mobilizar segmentos antes ausentes <strong>da</strong> formulação de propostasde inclusão racial. Essa mobilização obriga também esses mesmos setores a acelerara produção teórica e política <strong>para</strong> fazer frente às urgências que contribuíram <strong>para</strong>explicitá-la. Cabe assinalar também a estratégia bem-sucedi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s próprias organizações<strong>negra</strong>s e anti-racistas, de outros setores de pesquisa e dos movimentos sociais, <strong>para</strong> seuengajamento em ações que subsidiem a ativi<strong>da</strong>de anti-racista <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Tal feito temampliado o contingente envolvido nas deman<strong>da</strong>s estabeleci<strong>da</strong>s pelas transformaçõesatuais.É preciso considerar que o racismo é uma ideologia 34 que se mantém às custas doprivilegiamento de setores autodefinidos como racialmente superiores. Tais vantagens,ao conferir a esses grupos poder de manejo e controle dos bens públicos materiaise simbólicos, tendem a tornar extremamente difícil seu engajamento na ruptura <strong>da</strong>sprerrogativas resultantes <strong>da</strong> iniqüi<strong>da</strong>de e na repactuação ética necessária.34. E um dos principais atributos <strong>da</strong>s ideologias é se estabelecerem <strong>para</strong> além <strong>da</strong>s individuali<strong>da</strong>des, vontades ou opiniões,fixando-se internamente aos mecanismos de sociabili<strong>da</strong>de e grupalização.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de319


Desse ponto de vista, é inequívoca a necessi<strong>da</strong>de de um processo continuado deexplicitação e destituição do racismo; de mobilização ética dos segmentos privilegiados;bem como <strong>da</strong> elaboração de instrumentos legais e sociais de repressão e re<strong>para</strong>ção àsações de racismo onde quer que se instalem.O desafio implica uma ação de longo prazo. Mas essa iniciativa deve ser antecedi<strong>da</strong>de um compromisso ético e político individual e coletivo. Reconhecendo que essecompromisso é fruto <strong>da</strong>s lutas sociais <strong>para</strong> a construção e reformulação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,pode-se afirmar aqui que, em certa medi<strong>da</strong> e em amplos setores, tal decisão já estátoma<strong>da</strong>. A Constituição Federal elabora<strong>da</strong> em 1988, <strong>no</strong>s artigos 3º, 4º, 5º e 215 35 , e aLei nº 8.081 de 21 de setembro de 1990 exemplificam bem as opções <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de– referen<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>no</strong> processo de eleição do gover<strong>no</strong> Lula, uma vez que ele, durante suacampanha eleitoral, definiu como uma de suas priori<strong>da</strong>des o enfrentamento do racismo(Documento <strong>Brasil</strong> sem Racismo). E <strong>no</strong> período inicial de gover<strong>no</strong> passa a incluir ocombate às desigual<strong>da</strong>des raciais como tema de Estado, com a criação <strong>da</strong> SecretariaEspecial de Políticas de Promoção <strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial e a inclusão do tema na elaboraçãodo Pla<strong>no</strong> Plurianual 2004-2007 36 .O quadro explicitado pelos números é contundente e traduz uma pior quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> <strong>para</strong> negros (pretos e pardos agrupados, segundo metodologia utiliza<strong>da</strong> pordiferentes setores como, por exemplo, as organizações anti-racistas ou o Ipea) mesmoquando variáveis como ren<strong>da</strong> e localização geográfica são controla<strong>da</strong>s.Poucas pesquisas foram desenvolvi<strong>da</strong>s até então com a finali<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r asdispari<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, ao contrário do que pode ser verificado<strong>no</strong>s Estados Unidos, Canadá, Rei<strong>no</strong> Unido, África do Sul ou Nova Zelândia, porexemplo. Os poucos estudos feitos dedicam-se principalmente aos diferenciais <strong>no</strong>sindicadores de mortali<strong>da</strong>de – infantil, materna ou adulta (principalmente masculina)– <strong>para</strong> demonstrar tais desigual<strong>da</strong>des. Chamam a atenção também algumas análisessobre a progressão <strong>da</strong> epidemia de HIV/aids <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Todos os estudos têm demonstradomaior vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>para</strong> negros em relação aos brancos (Lopes, 2003; Pinho,2002; Batista, 2002; Barbosa, 1998) – mesmo que outros aspectos <strong>da</strong> atenção à saúdeain<strong>da</strong> requisitem maiores estudos.35. Ver Ministério <strong>da</strong> Justiça (2001).36. Na ver<strong>da</strong>de, o Gover<strong>no</strong> Lula se propõe a <strong>da</strong>r passos mais largos (ain<strong>da</strong> que também relutantes) do que aqueles<strong>da</strong>dos durante o gover<strong>no</strong> anterior, de Fernando Henrique Cardoso. Este gover<strong>no</strong>, durante seus oito a<strong>no</strong>sde man<strong>da</strong>to, empreendeu algumas ações emblemáticas <strong>para</strong> a incorporação do enfrentamento do racismo àpolítica nacional estatal, exemplifica<strong>da</strong> pela criação do Grupo de Trabalho Interministerial/ GTI voltado <strong>para</strong>a proposição de políticas de inclusão racial; a elaboração do Programa de Anemia Falciforme <strong>no</strong> âmbito doMinistério <strong>da</strong> Saúde e a criação do Conselho Nacional de Combate à Discriminação, <strong>no</strong> qual o racismo era umdos temas, bem como a homofobia, entre outros.320Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


3. A Presença do racismo na saúde – um exemplo"Em alguns lugares, como na Baixa<strong>da</strong> Fluminense [periferia do Rio de Janeiro],o atendimento <strong>no</strong>s hospitais públicos é ruim, não importa a cor <strong>da</strong> pessoa.Acontece que nesses lugares a maioria dos pacientes é pobre e grande partedeles é composta por negros. Como as gestantes <strong>negra</strong>s são maioria,a pesquisa acaba concluindo que elas recebem um atendimento pior,quando, na ver<strong>da</strong>de, as brancas é que são poucas."Declaração do obstetra e ginecologista Bartolomeu Penteado Coelho,diretor <strong>da</strong> Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetríciado Cremerj – Conselho Regional de Medicina doRio de Janeiro (Folha de S.Paulo, 26/5/2002).Esse pronunciamento foi a resposta do representante do Conselho Regional deMedicina do Estado do Rio de Janeiro à matéria publica<strong>da</strong> <strong>no</strong> jornal Folha de S.Paulodo dia 26/5/2002 com a seguinte chama<strong>da</strong>: Até na hora do parto mulher <strong>negra</strong> édiscrimina<strong>da</strong>. Nela, divulgavam-se os resultados preliminares de uma pesquisa queapontava diferenciais de quali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> atendimento a mulheres gestantes na ci<strong>da</strong>de doRio de Janeiro segundo as características raciais.A citação foi trazi<strong>da</strong> aqui como um exemplo espetacular de como a desigual<strong>da</strong>deracial e o racismo, com suas múltiplas faces, estabelecem-se <strong>no</strong> setor saúde, tanto doponto de vista institucional e corporativo, quanto individual, <strong>no</strong> face a face <strong>da</strong> relaçãoentre profissionais e seus clientes. Esse é também um interessante instrumento <strong>para</strong> avisibilização dos mecanismos de naturalização <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des – na citação, o autornaturaliza o pior atendimento <strong>para</strong> pobres que “coincidentemente” são <strong>negra</strong>s.A pesquisa divulga<strong>da</strong> foi realiza<strong>da</strong> por uma parceria entre a Escola Nacional deSaúde Pública, o Centro de Informações <strong>para</strong> a Saúde – ambos <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção OswaldoCruz – e a Secretaria de Saúde <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do Rio de Janeiro. Os <strong>da</strong>dos foram colhidosentre as mulheres atendi<strong>da</strong>s pelo Sistema Único de Saúde <strong>no</strong> período de 1999 a 2001.Entre os achados dessa pesquisa, pode-se verificar um padrão de correspondênciacom os <strong>da</strong>dos divulgados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> – Ipea (2003) demaior participação de usuários negros <strong>no</strong> SUS (76,23%) em com<strong>para</strong>ção com usuáriosbrancos (66,05%). De fato, na amostra pesquisa<strong>da</strong>, 51,8% <strong>da</strong>s atendi<strong>da</strong>s eram <strong>negra</strong>s,enquanto 36% eram brancas. Uma informação importante a ser considera<strong>da</strong> é queSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de321


na Região Metropolitana do Rio de Janeiro 46% dos habitantes são <strong>negra</strong>s e negros 37 .Segundo o Observatório Afro-<strong>Brasil</strong>eiro, portal <strong>da</strong> internet que disponibiliza <strong>da</strong>dos populacionaisoficiais segundo as características raciais, nessa região, 60% <strong>da</strong> populaçãoque vive abaixo <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> pobreza é <strong>negra</strong>, enquanto apenas 39% é branca.Apesar de apresentarem proporcionalmente maior incidência de fatores de risco nagravidez como hipertensão, tabagismo, anemia, sífilis, segundo apontou a pesquisa, asmulheres <strong>negra</strong>s não obtiveram uma resposta correspondente ou os cui<strong>da</strong>dos necessáriosde parte do sistema de saúde. Por exemplo: na amostra estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, 30% <strong>da</strong>s gestantes<strong>negra</strong>s relataram a necessi<strong>da</strong>de de recorrer a mais de um hospital até o momento <strong>da</strong>internação – enquanto as brancas que mencionaram o mesmo problema correspondiama 18,5%. Assinale-se que, segundo as pesquisadoras, as mulheres <strong>negra</strong>s fizeram até50% me<strong>no</strong>s consultas de pré-natal (entre 6 e 7 consultas) que as mulheres brancas(entre 9 e 12 consultas) (Leal 2003, p.9).No outro extremo, o uso de anestesia durante o parto – medi<strong>da</strong> questiona<strong>da</strong> enão recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> pela Organização Mundial de Saúde, mas que tem sido utiliza<strong>da</strong> porprofissionais médicos como conforto <strong>para</strong> a mulher – foi um recurso disponibilizadoprincipalmente <strong>para</strong> mulheres brancas: na amostra, 12,1% <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s e 6,6%<strong>da</strong>s brancas não receberam anestesia durante o parto.Afirmaram as pesquisadoras:As diferenças observa<strong>da</strong>s <strong>no</strong> uso de anestésico não são explica<strong>da</strong>s pelamaior prevalência de cesárea nas brancas, pois elas foram detecta<strong>da</strong>sentre aquelas submeti<strong>da</strong>s ao parto <strong>no</strong>rmal (<strong>da</strong>dos não mostrados). Muitoembora o uso de anestésico durante o trabalho de parto <strong>no</strong>rmal não sejapreconizado como rotina de atendimento pela Organização Mundialde Saúde (WHO 1996) e pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde do <strong>Brasil</strong> (MS 1991),é uma prática comum <strong>no</strong>s serviços obstétricos do município do Rio deJaneiro. (Leal, 2003, p. 11).Tal fato, segundo as pesquisadoras, foi relatado também em estudos <strong>no</strong>rteamerica<strong>no</strong>ssobre a maior utilização de anestesia peridural em mulheres brancas.Apesar <strong>da</strong> propala<strong>da</strong> escassez de <strong>da</strong>dos sobre as desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde, emrazão <strong>da</strong> recusa sistemática de profissionais em fornecer informações adequa<strong>da</strong>s <strong>para</strong> estefim, bem como <strong>da</strong> i<strong>no</strong>perância dos serviços em tomar medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> frear esta recusa, aanálise dos indicadores <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1991-2001 do Ipea pode oferecer pistas, principalmente<strong>no</strong> que se refere ao acesso aos serviços. Os resultados levantados foram suficientes<strong>para</strong> os pesquisadores apontarem a desigual<strong>da</strong>de racial <strong>no</strong> acesso aos serviços de saúde.37. Observatório Afro-brasileiro (IE/UFRJ – IPDH), baseado <strong>no</strong>s micro<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> amostra de 10% do Censo Demográficodo A<strong>no</strong> 2000 (IBGE). Disponível em: .322Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Supondo-se que as populações <strong>negra</strong> e branca tivessem igual acesso aosserviços de saúde, e que suas condições gerais de saúde fossem semelhantes38 , não haveria associação entre o tamanho <strong>da</strong> parcela de pessoasatendi<strong>da</strong>s e a cor ou raça. (...) Não é o que acontece. A proporção denegros atendidos é me<strong>no</strong>r que a de brancos e a razão entre as chancesde ter sido atendido demonstra existir associação entre a cor ou raça eo acesso aos serviços que propiciam atendimento ambulatorial (Ipea,2003).Por outro lado, os <strong>da</strong>dos apresentados pela pesquisa Fiocruz/SMS-RJ mostram que,embora as dificul<strong>da</strong>des de acesso tivessem sido supera<strong>da</strong>s, a quali<strong>da</strong>de dos serviçostambém apresenta dispari<strong>da</strong>des importantes. Não apenas <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> conduta profissionalindividual e <strong>da</strong> relação entre profissional e cliente, mas também <strong>no</strong> nível <strong>da</strong>sinstituições e seus mecanismos. A relação entre o racismo e a ação institucional deveser analisa<strong>da</strong> em exemplos como este, caso as desigual<strong>da</strong>des aponta<strong>da</strong>s se mostremsistemáticas, além de não receberem qualquer sanção ou provocarem até o momentoqualquer revisão dos programas e ações.Cabe in<strong>da</strong>gar também qual o significado <strong>da</strong> rejeição categórica <strong>da</strong> hipótese devigência de dispari<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong> sistema municipal de saúde por parte do órgãode fiscalização do exercício profissional e <strong>da</strong>s condições <strong>da</strong> prestação de serviços,contrariando evidências presentes em diferentes partes do mundo e descritas em diversostrabalhos, como as referências disponibiliza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> final deste trabalho.O exemplo aqui inserido aju<strong>da</strong> também a assinalar que a tarefa de enfrentara presença do racismo <strong>no</strong> sistema de saúde não é pequena ou simples, requerendoações contundentes <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> pesquisa e <strong>da</strong> formação profissional, na organizaçãoe administração dos serviços e <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em geral. É preciso tambémque, ao lado de números, outros indicadores qualitativos e outras evidências sejamconsiderados, além de ser necessário visibilizar as boas práticas e as experiênciasempreendi<strong>da</strong>s pelos grupos sociais mais atingidos, a população <strong>negra</strong> em especial,como forma de se buscar um patamar de eqüi<strong>da</strong>de na ação e na atenção à saúde dosbrasileiros.38. Nota dos autores: Na ver<strong>da</strong>de, há muitos motivos <strong>para</strong> se supor que a situação dos negros é pior, o que implicariaque eles deveriam apresentar uma porcentagem maior de atendimentos que a dos brancos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de323


4. Raça como conceito aplicável à saúdeJá é amplamente reconhecido que raça não é um conceito biológico. Como Witzig(1996) <strong>no</strong>s lembra em seu trabalho The medicalization of race, somente 0,012% <strong>da</strong>svariações genéticas responsáveis por diferenças entre huma<strong>no</strong>s pode ser atribuí<strong>da</strong> àraça.Por outro lado, raça é um conceito presente em diferentes esferas, utilizado comocategoria de hierarquização social e política, cuja amplitude tem sido discuti<strong>da</strong> porpaíses e organismos multilaterais como a Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s 39 . O quedemonstra que, se por um lado esse conceito carece de definições precisas, por outroafirma sua operacionali<strong>da</strong>de na produção de desigual<strong>da</strong>des afetando diferentes gruposhuma<strong>no</strong>s em diversas partes do mundo e não somente <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Para retratar tais desigual<strong>da</strong>des sem incorrer numa perspectiva politicamentereprovável, que inclui ideologias e movimentos já condenados por parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>demundial, como o racismo e eugenia (pós-Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial); bem como evitarfragili<strong>da</strong>des teóricas e científicas que o conceito raça oferece, alguns autores têm recorridoao conceito de etnici<strong>da</strong>de. 40 Tais autores baseiam suas escolhas na afirmativade que:etnici<strong>da</strong>de é um conceito que incorpora variáveis sociais, religiosas,lingüísticas, dietárias e outras, <strong>para</strong> identificar indivíduos e populações(Witzig, 1996, p. 675).No entanto, a opção pelo conceito de etnici<strong>da</strong>de afasta a perspectiva histórica,ideológica e social que invade o termo raça desde sua criação. Conforme assinalouMaria Inês Barbosa, em Racismo e Saúde, em sua Tese de Doutorado em SaúdePública. A definição e utilização do conceito raça abriga um histórico de constituição<strong>da</strong> dominação dos homens brancos ocidentais sobre o resto do mundo. Recorrendo aEdward Said, a autora evidencia o viés constitutivo <strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de ocidental como atributopatriarcal e classista que está na gênese dos processos de fun<strong>da</strong>mentação <strong>da</strong>s idéiasde supremacia branca (Barbosa, 1998), reconhecendo também sua operacionali<strong>da</strong>de<strong>no</strong> caso brasileiro atual.Assim, a adoção do conceito de raça implicará necessariamente a conexão com oconceito de racismo e com os processos de dominação e inferiorização, cujas origenshistóricas e ideológicas têm sido bem documenta<strong>da</strong>s, bem como suas ligações com a39. Ver documento final <strong>da</strong> III Conferência Mundial <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s contra o Racismo, Xe<strong>no</strong>fobia e IntolerânciasCorrelatas, África do Sul, 2002.40. Por exemplo: Witzig (1996); Torres (2001).324Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


eugenia e o movimento eugênico mundial que impregnaram as ciências e a medicinadesde o século XIX 41 . E ain<strong>da</strong> cuja extensão atinge diferentes povos, nações e gruposnão-brancos em todo o mundo.A opção pelo conceito de raça neste trabalho visa aproximar também as análisesde processos que atingem não apenas a saúde compreendi<strong>da</strong> como fenôme<strong>no</strong> presentena vi<strong>da</strong> humana, mas também procedimentos, processos e políticas que permeiam aadministração e partilha dos bens sociais e o setor saúde.Cabe ressaltar que a utilização do conceito raça <strong>para</strong> a análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>desverifica<strong>da</strong>s na saúde de pessoas e grupos não afasta outros fatores também importantesna produção de diferenciais e injustiças neste campo. Entre eles, é preciso destacaros fatores socioeconômicos, de gênero, i<strong>da</strong>de, fatores ambientais, entre outros, queagem concomitantemente com a raça e vão determinar a ampliação ou redução dosdiferenciais apresentados. No entanto, vale também assinalar que em vários estudos,de diversas áreas do conhecimento, o controle <strong>da</strong>s variáveis demonstrou a persistência<strong>da</strong> raça – ou do racismo – como fator importante na produção de desigual<strong>da</strong>des.5. Visões <strong>da</strong> iniqüi<strong>da</strong>deA presença do racismo e sua penetração <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde não são experiênciasisola<strong>da</strong>s em algum país, nem fenôme<strong>no</strong>s exclusivos do <strong>Brasil</strong>. Ao contrário, a literaturadisponível oferece diferentes de<strong>no</strong>minações e conceitos <strong>para</strong> definir o fato constatadopela experiência cotidiana em saúde, principalmente <strong>da</strong>quelas populações ti<strong>da</strong>s comoracialmente inferiores. Pelos estudos elaborados por diversos centros de pesquisa <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> exterior: o diferencial de acesso, de tratamento e de resultados que populaçõese grupos apresentam na relação com o sistema de saúde, quando considera<strong>da</strong>s asperspectivas racial, étnica e/ou de gênero, por exemplo.Tal fenôme<strong>no</strong> é amplo o suficiente <strong>para</strong> torná-lo um dos temas abor<strong>da</strong>dos na IIIConferência Mundial contra o Racismo, Xe<strong>no</strong>fobia e Intolerâncias Correlatas/CMRconvoca<strong>da</strong> pela Assembléia Geral <strong>da</strong> Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s. Essa conferênciaaconteceu <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2001 na África do Sul (Durban, 28/7 a 8/8/2001).Em seu documento final, a III CMR aponta o racismo como um importante fatorde produção de iniqüi<strong>da</strong>des em saúde a que estão expostas as populações africanas eafrodescendentes. Destaca ain<strong>da</strong>, <strong>para</strong> os Estados <strong>da</strong> diáspora africana, a necessi<strong>da</strong>dede tomar medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a redução <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des que os atingem em conseqüência41. Para maiores informações e verificação de sua abrangência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na América Latina, ver Stepan (1991).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de325


do racismo e <strong>da</strong> xe<strong>no</strong>fobia. Tais medi<strong>da</strong>s devem estar volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a melhoria tantodo acesso quanto <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de do atendimento em saúde, devem incluir medi<strong>da</strong>sde prevenção e proteção em saúde, de apoio e estímulo à pesquisa e à produção deconhecimento. Assinala também aquelas medi<strong>da</strong>s de amplo espectro relativas à melhoria<strong>da</strong>s condições gerais de vi<strong>da</strong> de mulheres e homens negros nas diversas partesdo mundo, cujos resultados impactam significativamente a saúde.A presença do racismo na saúde <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> internacional, bem como os caminhosnecessários <strong>para</strong> a resolução do problema, adquire uma relevância compatível – oumaior – com os mais de 20 parágrafos que tratam especificamente do tema <strong>da</strong> saúde<strong>no</strong> Documento Final <strong>da</strong> III CMR, tanto na parte relativa à Declaração como <strong>no</strong> Pla<strong>no</strong>de Ação proposto (quase 10% do total). Isso sem levar em consideração as abor<strong>da</strong>gensmais genéricas que terão conseqüências também na saúde.Assim, pode-se observar que, <strong>no</strong> parágrafo 33 <strong>da</strong> Declaração, os Estados nacionaisparticipantes <strong>da</strong> III CMR consideram que:...é essencial <strong>para</strong> todos os países na região <strong>da</strong>s Américas e em to<strong>da</strong>s asoutras áreas <strong>da</strong> diáspora africana, reconhecer a existência de sua populaçãode afrodescendentes e as contribuições culturais, econômicas,políticas e científicas feitas por esta população, reconhecer a persistênciado racismo, discriminação racial, xe<strong>no</strong>fobia e intolerâncias correlatasque especificamente os afeta, e reconhecer que, em muitos países, asdesigual<strong>da</strong>des de longa duração em termos de acesso a, inter alia, educação,saúde 42 e habitação têm sido uma causa profun<strong>da</strong> de desigual<strong>da</strong>dessocioeconômicas que os afeta 43 .Esse parágrafo assume caráter emblemático por diversas razões. Uma delas éapontar a saúde como um foco prioritário, ain<strong>da</strong> que reconheça sua conexão comoutros fatores como educação e habitação, por exemplo. Na vinculação explícita <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des nesse campo, à presença do racismo nas Américas e <strong>no</strong> restante <strong>da</strong>diáspora africana, atingindo <strong>negra</strong>s e negros <strong>no</strong>s diferentes países, inverte inclusive aequação comum <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> que traz a desigual<strong>da</strong>de socioeconômica como causa e nãocomo resultante dos processos racistas vigentes.Interessante assinalar que o <strong>Brasil</strong> foi um dos Estados cuja participação ganhoudestaque ao longo de todo o processo <strong>da</strong> III CMR, tendo inclusive o privilégio de contarcom a brasileira Edna Roland, uma mulher <strong>negra</strong>, escolhi<strong>da</strong> pela ONU como relatora<strong>da</strong> Conferência.42. Grifo <strong>no</strong>sso.43. Documento Final <strong>da</strong> III CMR, Declaração, parágrafo 33.326Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


No entanto, cabe também apontar, juntamente com a reconheci<strong>da</strong> e urgentenecessi<strong>da</strong>de de engajamento dos Estados na eliminação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais, umaspecto crucial e muitas vezes desconsiderado: a participação desses mesmos Estadosna produção <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des.Em estudo de revisão de recentes publicações sobre as relações raciais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,Dávila (2000) assinala a importante contribuição dos trabalhos de Marx (1998) <strong>para</strong> acompreensão deste fenôme<strong>no</strong>. Marx afirma que é preciso considerar o papel do Estadona promoção de desigual<strong>da</strong>des raciais e <strong>da</strong> exclusão, abor<strong>da</strong>gem raramente feita pormuitos estudiosos do tema.O estudo com<strong>para</strong>tivo de Dávila vai contrastar a situação brasileira com a açãoestatal dos Estados Unidos, antes do movimento pelos direitos civis, e <strong>da</strong> África do Sul,durante o apartheid, cujas ações mediavam de modo explícito o estabelecimento e amanutenção <strong>da</strong>s hierarquias raciais e <strong>da</strong> segregação em diferentes aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sociale econômica. No <strong>Brasil</strong>, diz Marx, o Estado recorria à posição oposta, de afirmação <strong>da</strong>tolerância e <strong>da</strong> democracia racial. Ou seja, o modelo de manejo <strong>da</strong>s diferenças raciais<strong>no</strong> país não significaria um racismo (ou uma política racista) de Estado. Para esse autor,a experiência brasileira de um Estado não-racista possibilitaria um modelo <strong>no</strong>vo <strong>no</strong>pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong>s relações raciais, que talvez pudesse ser considerado na verificação dosimpactos <strong>da</strong> ação estatal <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais. Essa interpretação, <strong>no</strong>entanto, não é aceita por Dávila.Mais adiante, na análise de outro texto (Maio, Santos, 1996), Dávila vai demonstrara ação ativa do Estado brasileiro <strong>para</strong> a desigual<strong>da</strong>de racial a partir do estímulo edesenvolvimento de políticas <strong>para</strong> a produção do embranquecimento como projetode nação, apoia<strong>da</strong> numa política estatal de exclusão racial. Para Dávila, a tarefa dedemonstrar as implicações raciais de iniciativas que aparentemente na<strong>da</strong> tinham a vercom raça – como leis de terras ou previdência, por exemplo – tem sido uma característicaapresenta<strong>da</strong> em obras lança<strong>da</strong>s em fins do século XX. Citando Higginbothan (1992,apud Dávila, 2000, p.189), ele assinala as possibili<strong>da</strong>des que o racismo (e suas análises)oferece, não apenas de propagação <strong>da</strong> exclusão, como também na constituição de umespaço de articulação e ação <strong>para</strong> a mu<strong>da</strong>nça dialógica e a contestação. Ou seja, comopossibili<strong>da</strong>de de produção de <strong>no</strong>vos conteúdos e acordos sociais <strong>para</strong> a melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> a população.Dávila acredita que, apesar de os processos de exclusão racial serem encontráveis<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e também em outros países, como Estados Unidos e África do Sul, não significaque o padrão brasileiro de exclusão se assemelha ao desses dois países. Ao contrário,o ineditismo <strong>da</strong> experiência brasileira está em ser descentraliza<strong>da</strong> e localiza<strong>da</strong>, semapoio numa política nacional coesa e explícita, tendo como resultado a abor<strong>da</strong>gem<strong>da</strong>s tensões raciais localiza<strong>da</strong>s, compreendi<strong>da</strong>s como “exceções” à regra do meltingpot. Tal mecanismo, Dávila reconhece, é eficaz na manutenção do status quo <strong>da</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de327


dominação racial, mas também exige (e realiza) a criação de estratégias diferencia<strong>da</strong>s<strong>para</strong> seu enfrentamento.Assim, a análise desde a perspectiva do racismo descentralizado, permite depreenderque o exame <strong>da</strong>s respostas locais e múltiplas, pode ser útil <strong>para</strong> a compreensão<strong>da</strong>s estratégias de liberação contrapostas pelos segmentos negros diante <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>dede desafios enfrentados.A abrangência <strong>da</strong>s ações de dominação e suas contestações, principalmente <strong>no</strong>campo <strong>da</strong>s políticas públicas, ain<strong>da</strong> está <strong>para</strong> ser pesquisa<strong>da</strong> e explicita<strong>da</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Édentro desse quadro que se insere a análise referente à saúde.As desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde têm sido objeto de abor<strong>da</strong>gem ain<strong>da</strong> insuficientepor parte de gover<strong>no</strong>s, organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, instituições priva<strong>da</strong>s e públicas,universi<strong>da</strong>des, centros de pesquisa e de pesquisadores <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e em outros países.A propósito dos Estados Unidos, Green (2003) afirma que diferenças na situação desaúde entre grupos raciais têm sido documenta<strong>da</strong>s desde 1900. A partir do início <strong>da</strong>coleta de <strong>da</strong>dos desse tipo <strong>no</strong> país. No entanto, assinala o autor, não foi possível lograruma ação adequa<strong>da</strong> ao enfrentamento do problema e sua solução definitiva ao longode todo o século XX.É fato que a saúde tem sido uma <strong>da</strong>s áreas privilegia<strong>da</strong>s <strong>para</strong> demonstrar os efeitosdo racismo na vi<strong>da</strong> de pessoas e grupos, o que tem sido ratificado por meio de pesquisasnas diferentes regiões do mundo. Nas Américas e <strong>no</strong> Caribe, o racismo tem produzidomaior vulnerabili<strong>da</strong>de entre as populações afrodescendentes e indígenas, numaconstante que atravessa todos os países <strong>da</strong> região, conforme assinalou o Documento<strong>da</strong> Américas resultante dos debates e acordos firmados em Santiago, <strong>no</strong> Chile (<strong>no</strong> a<strong>no</strong>2000), e elaborado pelos Estados nacionais em pre<strong>para</strong>ção <strong>para</strong> a III CMR.Segundo informações de diferentes autores 44 , pode-se encontrar <strong>da</strong>dos que <strong>no</strong>smostram, por exemplo, maiores taxas de mortali<strong>da</strong>de por doenças cardiovasculares,diabetes, homicídios, HIV/aids; mortali<strong>da</strong>de infantil e materna em indivíduos dessesgrupos (e que inclui as populações latinas <strong>no</strong>s Estados Unidos). Também é possívelencontrar evidências de me<strong>no</strong>r acesso a serviços de saúde; me<strong>no</strong>r quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciarecebi<strong>da</strong> como, por exemplo, me<strong>no</strong>r acesso a especialistas e tec<strong>no</strong>logias deponta, a exames preventivos e a informações necessárias aos cui<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> saúde 45 . Alémdisso, há diferentes taxas de morbi<strong>da</strong>de <strong>para</strong> doenças específicas, quando com<strong>para</strong><strong>da</strong>sàs taxas <strong>da</strong> população branca na mesma região.44. Torres (2001); Green (2003); Eisenstein (2002); Oberg (2003); King (1996); Bediako (2003); Barbosa (1997);Lopes (2003); Oliveira (2002); Martins (2001), Cunha (2001), Batista (2002); e outros.45. Uma extensa bibliografia está disponível em The Right to Equal Treatment: An An<strong>no</strong>tated Bibliography onRacial and Ethnic Disparities in Healthcare, Their Causes, and Related Issues. Disponível em: .328Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Assim, de maneira direta ou indireta, indicadores desfavoráveis de saúde depopulações <strong>negra</strong>s e indígenas estão disponíveis, sem que tenha sido possível a produçãode políticas que sustentem, <strong>no</strong> longo prazo, a alteração do quadro. Cabe in<strong>da</strong>gar entãoquais as razões <strong>para</strong> que, diante de tais evidências, resistências tenham sido interpostas ànecessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem do racismo presente <strong>no</strong> setor saúde, tanto institucionalmentequanto a partir <strong>da</strong> ação de seus profissionais de atenção, ensi<strong>no</strong> e pesquisa.Torres (2001), diante <strong>da</strong>s tantas vezes alega<strong>da</strong> “insuficiência de provas” acerca<strong>da</strong> incidência do racismo <strong>no</strong> setor saúde e suas conseqüências <strong>para</strong> a população,sugere:...é necessário fazer duas perguntas <strong>para</strong> se tentar clarificar este fato. Aprimeira é como se produzem as brechas <strong>no</strong>s indicadores de situação desaúde e de acesso aos serviços e a segun<strong>da</strong> é por que estas brechas sãosempre em detrimento <strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias étnicas (Torres, 2001).Parte I6. Diferentes conceitosPara a situação apresenta<strong>da</strong> de diferenciais de acesso, atenção e resultados emsaúde de populações segundo características raciais, étnicas e culturais, entre outros 46 ,diferentes conceitos têm sido utilizados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e fora dele. Esses conceitos mostramvaria<strong>da</strong>s significações segundo a língua utiliza<strong>da</strong> (Almei<strong>da</strong>-Filho, 1999). Aqui, teremoscomo ponto de parti<strong>da</strong> os de língua inglesa, na qual a maioria desses conceitos foielabora<strong>da</strong>. São eles: inequity, inequality, iniquity, disparity, unequal treatment, vulnerability.Uma ferramenta adicional, mas de extrema utili<strong>da</strong>de na compreensão dos processose na elaboração de propostas de políticas racialmente inclusivas, será abor<strong>da</strong><strong>da</strong>.Trata-se do conceito de racismo institucional.Será feita uma análise desses conceitos, presentes na bibliografia consulta<strong>da</strong>.46. Diferentes conceitos têm abarcado também diferenciais segundo gênero, situação socioeconômica, situaçãogeográfica, entre muitos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de329


a) Inequity/ Iniquity/ Ineqüi<strong>da</strong>de/ Iniqüi<strong>da</strong>deEste conceito surge a partir de um outro, a quem se coloca em oposição.O princípio <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de aplicado à saúde surge na literatura européia na déca<strong>da</strong>de 90 (Whitehead, 1992) e já nesse momento aponta as dificul<strong>da</strong>des ou variações queenvolvem o uso do termo inequity na descrição de diferenças em saúde.O termo inequity tem uma dimensão moral e ética. Refere-se a diferençasque são desnecessárias e inevitáveis, mas, além disso, são tambémconsidera<strong>da</strong>s injustas [unfair or injust]. Então, de forma a descrever umacerta situação como iníqua [inequitable], a causa deve ser examina<strong>da</strong>e julga<strong>da</strong> injusta <strong>no</strong> contexto vivido <strong>no</strong> resto <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de (Whitehead,1992, p. 5).O conceito de eqüi<strong>da</strong>de é apontado pela Organização Panamericana de Saúde/Opas, como um “princípio básico <strong>para</strong> o desenvolvimento huma<strong>no</strong> e a justiça social”(Viana e col. 2001, p. 16).Diferentemente do princípio <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de, baseado <strong>no</strong> conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia queindica a igual<strong>da</strong>de de direitos, o princípio <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de é baseado na idéia de justiçae reconhece que as desigual<strong>da</strong>des entre indivíduos e grupos deman<strong>da</strong>m abor<strong>da</strong>gensdiversifica<strong>da</strong>s como condição <strong>para</strong> a redução <strong>da</strong>s diferenças existentes.Davidson R. Gwatkin (2002), chama a atenção <strong>para</strong> o aspecto <strong>no</strong>rmativo doconceito de eqüi<strong>da</strong>de, entendido do ponto de vista <strong>da</strong> valoração. Para esse autor,sua utilização <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde relaciona-se tradicionalmente à redução <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des.Segundo Whitehead (1990), eqüi<strong>da</strong>de na atenção em saúde deve significar:• acesso igual <strong>para</strong> necessi<strong>da</strong>de igual;• utilização igual <strong>para</strong> necessi<strong>da</strong>de igual;• quali<strong>da</strong>de igual <strong>para</strong> todos.Citando o trabalho de Metzger (1996), Naomar Filho salienta os problemas detradução que o termo inequity traz <strong>para</strong> o espanhol: o termo ineqüi<strong>da</strong>de. Segundo oautor:“inequi<strong>da</strong>d” – uma tradução direta do inglês “inequity” – não existe <strong>no</strong>espanhol ou <strong>no</strong> português (ambas têm o termo “iniqüi<strong>da</strong>d”, <strong>no</strong> sentidode injustiça) (Almei<strong>da</strong>-Filho, 1999, p. 6).330Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Metzger propõe, então, em seu trabalho, a utilização de inequi<strong>da</strong>d <strong>para</strong> o espanhol,um anglicismo <strong>para</strong> significar desigual<strong>da</strong>de com iniqüi<strong>da</strong>de, ou desigual<strong>da</strong>deinjusta.Ao analisar a eqüi<strong>da</strong>de desde uma perspectiva racial (ou <strong>da</strong> etnici<strong>da</strong>de, segundosuas palavras), Cristina Torres, <strong>da</strong> Opas, em documento divulgado em 2001 consideraque:a discriminação racial é um fator social que intervém na construção dediferenciais de saúde entre os indivíduos. A discriminação <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> <strong>da</strong>saúde opera através de diferentes formas: dificul<strong>da</strong>des de acesso aosserviços, baixa quali<strong>da</strong>de dos serviços disponíveis, falta de informaçãoadequa<strong>da</strong> à toma<strong>da</strong> de decisões ou através de mecanismos indiretos(estilos de vi<strong>da</strong>, lugar de residência, tipo de ocupação, nível de ren<strong>da</strong> oustatus dos indivíduos) (Torres, 2001, p. 8).Assim, explicita-se uma situação de iniqüi<strong>da</strong>de, que busca também nãoperder de vista o processo histórico ocorrido na América Latina, que produziu asubordinação e segregação de diferentes grupos raciais, como fator suficiente <strong>para</strong>gerar enfermi<strong>da</strong>desatravés de: produção de maior estresse <strong>no</strong>s indivíduos, de condiçõesde vi<strong>da</strong> mais severas e de dificul<strong>da</strong>des <strong>no</strong> acesso aos serviços de saúde.(Torres, 2001, p. 8).Cristina Torres relaciona os fatores mais relevantes que podem colaborar naprodução de iniqüi<strong>da</strong>des em saúde, vistos tanto por dentro do sistema como <strong>no</strong> contextogeral em que se desenvolvem. São eles:I - Fatores inter<strong>no</strong>s ao setor saúde que incluem:• restrições <strong>no</strong> acesso aos serviços de saúde;• quali<strong>da</strong>de dos serviços;• oportuni<strong>da</strong>de de acesso;• segregação e discriminação realiza<strong>da</strong>s pelos próprios serviços.II - Fatores condicionantes de natureza socioeconômica:• nível de ren<strong>da</strong> e tipo de ocupação;• lugar de residência;• estilos de vi<strong>da</strong>;• quali<strong>da</strong>de e acesso à educação.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de331


Na abor<strong>da</strong>gem desse conceito, a multifatoriali<strong>da</strong>de é também requisita<strong>da</strong>, o quevai determinar a necessi<strong>da</strong>de de respostas abrangentes, dentro e fora do sistema desaúde.No entanto, a participação dos Estados nacionais e suas instituições na produção,manutenção ou enfrentamento dessas iniqüi<strong>da</strong>des não é abor<strong>da</strong><strong>da</strong>, de modo explícitoe suficiente neste trabalho, não apenas na abrangência do setor saúde, mas também<strong>no</strong> que se refere à distribuição de justiça social.b) Inequality/desigual<strong>da</strong>dePara Whitehead, o conceito de inequality/desigual<strong>da</strong>de, apesar de amplamenteusado <strong>para</strong> indicar diferenças importantes, evitáveis e sistemáticas, não traz consigoo sentido de justiça, ao contrário de ineqüi<strong>da</strong>de. Para a autora, o termo desigual<strong>da</strong>deaponta diferenças numéricas ou, em suas palavras, “num modo puramente matemático”(Whitehead , 1992, p. 5).No <strong>Brasil</strong>, esforços de conceituação têm sido colocados pelas organizações<strong>negra</strong>s anti-racistas, que adotam a <strong>no</strong>ção de desigual<strong>da</strong>de ou de desigual<strong>da</strong>de racial<strong>para</strong> marcar os mecanismos de produção de resultados diferenciais nas condições devi<strong>da</strong> entre os diversos grupos, bem como sua ação extensiva à saúde.Esse conceito, do modo que é empregado, aproxima-se <strong>da</strong>s definições apresenta<strong>da</strong>spor autores aqui assinalados quanto ao conceito de dispari<strong>da</strong>de.O conceito de desigual<strong>da</strong>de na saúde tem sido utilizado desde Alma-Ata (1978),a partir dos diferenciais de saúde relacionados à pobreza, passando a assumir maiorrelevância e centrali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s documentos elaborados na Europa 47 . A abrangência (localou global), as diferentes dimensões <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des que afetam a saúde (comogênero, raça, status de saúde), as possibili<strong>da</strong>des e técnicas de mensuração, bem comoos diferentes aspectos <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des e as possibili<strong>da</strong>des de hierarquização, sãoalguns dos vários destaques que o tema tem recebido <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde (Bediako,2003, p. 4).O uso do conceito de desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde, <strong>no</strong> caso brasileiro, trazembuti<strong>da</strong> a disputa entre ativistas, profissionais de saúde, formuladores e gestores depolíticas públicas, entre outros, sendo muitas vezes negros de um lado e não-negros deoutro, <strong>para</strong> a explicitação do racismo presente nas relações sociais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e que vãoimpregnar o sistema de saúde. Um exemplo <strong>da</strong> relevância do tema foi lançado em fins47. Ver Gwatkin, op. cit, p. 6 -7.332Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990, em Tese de Doutoramento em Saúde Pública na Universi<strong>da</strong>de deSão Paulo. Sua autora, drª Maria Inês Barbosa (1998) propôs a incorporação do racismocomo uma variável significante e fun<strong>da</strong>mental nas análises em saúde <strong>da</strong> populaçãobrasileira e, especialmente, diante <strong>da</strong>s condições adversas vivi<strong>da</strong>s pela população<strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Nesse trabalho, ancora<strong>da</strong> em <strong>da</strong>dos epidemiológicos consistentes edesvelando as desigual<strong>da</strong>des raciais visíveis nas análises de indicadores como a mortali<strong>da</strong>de,a pesquisadora afirma:[O] racismo enquanto categoria de exclusão [deve] ser inserido nasanálises <strong>da</strong> dimensão social do processo saúde-doença, pois permiteo conhecimento de mecanismos discriminantes; possibilita avanços <strong>da</strong>pesquisa acadêmica; e o alcance do <strong>para</strong>digma sanitário de concepçãoamplia<strong>da</strong> do processo saúde e doença a cujo conceito deve ser incorpora<strong>da</strong>a superação do racismo. (Barbosa, 1998, p. 102).c) Dispari<strong>da</strong>deO conceito de dispari<strong>da</strong>de (disparity, que quer dizer também diferença oudesigual<strong>da</strong>de) ou dispari<strong>da</strong>de racial em saúde (racial disparity) é encontrado na literatura,em particular a dos Estados Unidos. Ele serve de chave <strong>para</strong> centenas de artigos reunidospela organização não-governamental Médicos pelos Direitos Huma<strong>no</strong>s (Physicians forHuman’s Rights). Em sua página na internet, essa organização possui um banco de <strong>da</strong>doscom mais de 400 artigos à disposição sobre o tema (The Right to Equal Treatment – AnAn<strong>no</strong>tated Bibliography of Studies on Racial and Ethnic Disparities in Healthcare, TheirCauses, and Related Issues, disponível em (www.phusa.org/research/domestic/race).Nos artigos consultados, a dispari<strong>da</strong>de racial na saúde é descrita como “diferençasraciais ou étnicas na quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção à saúde não vincula<strong>da</strong>s a fatores relacionadosao acesso ou necessi<strong>da</strong>des clínicas, preferências ou intervenção apropria<strong>da</strong>” (Smedleye col, 2003)B. Lee Green, em seu estudo sobre o tema apresentado <strong>no</strong> Symposium on thePolitics of Race <strong>no</strong> Ithaca College (Estados Unidos, 2003), recorre à conceituaçãoproposta por S. B. Thomas. Este, em artigo <strong>para</strong> o American Journal of Public Healthdefine as dispari<strong>da</strong>des raciais na saúde como “diferenças populacionais específicas napresença de doença, saúde ou acesso ao cui<strong>da</strong>do” (Green, 2003, p. 4).Shawn Bediako, em contribuição apresenta<strong>da</strong> ao mesmo Symposium, assinalaa definição adota<strong>da</strong> pelo Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos/NIH, ti<strong>da</strong>pelo autor como oficial <strong>para</strong> o país. O conceito refere-se a “diferenças na incidência,Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de333


prevalência, mortali<strong>da</strong>de, carga de doenças e outras condições de saúde adversas queexistem entre grupos populacionais específicos <strong>no</strong>s Estados Unidos.” (Bediako, 2003,p. 4).Essas definições abor<strong>da</strong>m diferentes aspectos <strong>da</strong> dispari<strong>da</strong>de. Tanto a que seaplica à relação profissional/cliente, àquela que se expressa <strong>no</strong>s vários níveis de saúdeexplícitos <strong>no</strong>s indicadores de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de dos diversos grupos raciais,bem como às formas de organização e disponibilização <strong>da</strong>s políticas de saúde <strong>para</strong> osdiferentes grupos <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Ou seja, a dispari<strong>da</strong>de racial na saúde podeser vista <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> individual e <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> coletivo, social. Essa percepção vai deman<strong>da</strong>rmuitos níveis de formulação e de implantação de políticas de enfrentamento visandoà redução ou à extinção desses diferenciais.Segundo Bediako, o conceito de dispari<strong>da</strong>des raciais em saúde apresenta, <strong>no</strong>entanto, problemas de imprecisão, que vão afetar a proposição de ações e políticasde enfrentamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des que visa apontar. Tais problemas emergem de trêsprincipais origens:a. estrutura com<strong>para</strong>tiva inapropria<strong>da</strong> – o elemento de com<strong>para</strong>ção é feito apartir dos indicadores de saúde de populações diferentes, tendo os indicadoresdos brancos como a referência ou como o padrão aceitável ou desejável. Suasconseqüências:i - coloca negros e outras populações em déficit, numa perspectiva pejorativa,inferiorizante;ii - pressupõe que os brancos e sua situação de saúde devem ser considerados<strong>no</strong>rma;iii - dá destaque a estilos de vi<strong>da</strong> e comportamentos a<strong>da</strong>ptativos mal sucedidos,apresentando também uma tendência a vitimização de certosgrupos;iv - oculta possíveis diferenças dentro do próprio grupo populacional;v - oculta as fortalezas culturais e realizações desses grupos <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>saúde;vi - limita a identificação de áreas importantes <strong>para</strong> análise <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>desàquelas que têm maior significado na população branca. Por exemplo,focaliza doenças como diabetes, HIV/aids, doença cardiovascular, câncer,em detrimento de asma, doença falciforme, doença renal terminal,<strong>da</strong><strong>no</strong>s ambientais, lixo tóxico, anemia ferropriva, subnutrição e outras quecontribuem <strong>para</strong> as desigual<strong>da</strong>des de saúde entre afrodescendentes;vii - não aponta o passo seguinte, ou seja, que resultados quer assinalar, <strong>para</strong>além <strong>da</strong> com<strong>para</strong>ção entre doenças de brancos e negros.334Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


. dependência excessiva de <strong>da</strong>dos quantitativos – o autor aponta a ênfase em“incidência, prevalência, mortali<strong>da</strong>de e carga de doenças e outras condiçõesadversas de saúde” (Bediako, 2003, p. 7) como um retrato deste excesso. Talperspectiva tende a perder valor, uma vez que, segundo o autor, as taxas demorbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de de brancos e negros <strong>no</strong>s Estados Unidos estão seaproximando. Se por um lado baixas taxas de doenças não podem ser confundi<strong>da</strong>scom saúde, outro efeito inadequado dessa perspectiva é que a redução<strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des passa a ser um “jogo de números”, que embaça a necessi<strong>da</strong>dede compreensão sobre os processos de intervenção <strong>para</strong> a promoção<strong>da</strong> saúde. Além disso, há o risco de importantes variáveis contextuais seremdespreza<strong>da</strong>s, como redes sociais, relações interpessoais, senso de comuni<strong>da</strong>de,percepção de quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> ou identi<strong>da</strong>de cultural, bem como seus efeitossobre a consciência de saúde e comportamentos saudáveis. Por outro lado,indicadores baixos relativos a determina<strong>da</strong>s doenças (ou estágios de doenças)podem esconder dificul<strong>da</strong>des de acesso de determinados grupos e não boascondições de saúde.c. ausência de análise sócio-histórica – ain<strong>da</strong> segundo Shawn Bediako, a maioriados estudos voltados <strong>para</strong> as dispari<strong>da</strong>des raciais na saúde restringe-se auma abor<strong>da</strong>gem de constatação, ou seja, de verificação <strong>da</strong> “desigual<strong>da</strong>de queexiste” (Bediako, 2003, p. 8). , sem considerar os processos que levaram aosurgimento e à manutenção do atual status de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. Asconseqüências referem-se não apenas à falta de aprofun<strong>da</strong>mento do conhecimentoem tor<strong>no</strong> <strong>da</strong>s etiologias envolvi<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s processos de adoecimento dogrupo, como também ao desconhecimento <strong>da</strong>s respostas e alternativas produzi<strong>da</strong>sao longo do tempo. Com isso, os diagnósticos e soluções apontadosvão carecer de base aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>, assim como tenderão a ser me<strong>no</strong>s criativosque o possível ou desejável.Os resultados advindos dessa forma de conceituação implicam a suposição deque a redução <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des racial e cultural levaria a melhorias na saúde de to<strong>da</strong> apopulação. Assim, poucos trabalhos produzem recomen<strong>da</strong>ções sobre modos específicos<strong>para</strong> a promoção <strong>da</strong> saúde.A solução proposta por Bediako passa pela redefinição do conceito, <strong>para</strong> privilegiarnão a redução <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des entre os grupos, mas a promoção de saúde dentrodestes grupos que por sua vez provocaria mu<strong>da</strong>nças entre os grupos.Essa definição busca trabalhar com a diversi<strong>da</strong>de intrínseca <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>demulticultural e multirracial, que torna ineficazes ações generalizantes. Ao contrário, adiversi<strong>da</strong>de e a especifici<strong>da</strong>de requisitariam necessariamente ações diferencia<strong>da</strong>s <strong>para</strong>se chegar a boas soluções. Tal diversi<strong>da</strong>de na ação passa, é óbvio, pela consideração <strong>da</strong>sreali<strong>da</strong>des e processos sócio-históricos de ca<strong>da</strong> grupo, a fim de maximizar os esforçosSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de335


empreendidos e, assim, melhorar os resultados. Para isso, requisita a expansão <strong>da</strong>smatrizes de análise <strong>para</strong> além de estatísticas e suas relações, incluindo <strong>no</strong>vos fatoresque auxiliem a compreensão do processo de desenvolvimento <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des.Bediako propõe, então, uma <strong>no</strong>va definição de dispari<strong>da</strong>des na saúde:O conjunto de fatores históricos, sociopolíticos, econômicos e culturaisque contribuem <strong>para</strong> aumentar os níveis de doenças e diminuir a quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> entre grupos raciais e culturais (Bediako, 2003, p. 14).Essa abor<strong>da</strong>gem, além de possibilitar uma aproximação mais precisa <strong>da</strong>s reali<strong>da</strong>desde vi<strong>da</strong> e saúde de grupos raciais e culturais diferenciados, também permite enxergarmais do que a equi<strong>para</strong>ção dos níveis de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> aos dos brancos– uma promoção de saúde ampla e justa.d) Vulnerabili<strong>da</strong>deO conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de beneficia-se <strong>da</strong> perspectiva dos direitos huma<strong>no</strong>s<strong>para</strong> promover análises acerca do grau de exposição de indivíduos e grupos a fatoresde risco em saúde. Ele emerge e ganha divulgação considerável, associado às análisesdo comportamento <strong>da</strong> epidemia de HIV/aids.Trata-se de um achado recente que incorpora a multifatoriali<strong>da</strong>de (ouinterseccionali<strong>da</strong>de) como condição intrínseca às possibili<strong>da</strong>des de saúde, adoecimentoe morte de indivíduos e grupos. Assim, fatores sociais, político-institucionais ecomportamentais passam a ser analisados em conjunto com suscetibili<strong>da</strong>des individuais,condições específicas a determinados grupos populacionais e/ou nações.A medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> vulnerabili<strong>da</strong>de de uma pessoa (ou de um grupo de pessoas) seria,portanto, o resultado <strong>da</strong> interseção de diversos fatores, que se potencializam ou seconflitam, dependendo <strong>da</strong>s condições socioculturais vivi<strong>da</strong>s.Segundo Jonathan Mann (1996, p.441-463), os fatores que influenciam avulnerabili<strong>da</strong>de de alguém podem ser agrupados em três níveis:a. individual – refere-se àqueles fatores de risco comportamentais, socioeconômicosou outros de uma pessoa específica;b. social – que considera fatores como acesso à informação e aos serviços desaúde, raça, gênero, condições de moradia, nível de escolarização.336Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


c. programático ou <strong>no</strong> nível <strong>da</strong>s políticas de saúde – ações que buscam elevaro patamar de saúde de pessoas e grupos. Aqui, estão incluídos fatores comoa quali<strong>da</strong>de dos programas, recursos financeiros disponíveis, a continui<strong>da</strong>de,as dificul<strong>da</strong>des e a quali<strong>da</strong>de do trabalho dos profissionais envolvidos.Desnecessário dizer que essa classificação visa simplesmente facilitar acompreensão de diversos elementos que se interpenetram, um influenciando o outro,na vivência cotidiana de indivíduos e grupos.Afirma Fernan<strong>da</strong> Lopes (2003) que:<strong>no</strong> caso <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, o meio ambiente que exclui e nega o direitonatural de pertencimento a coloca em condições de vulnerabili<strong>da</strong>de(Lopes, 2003, p. 6).Para oferecer uma versão sintética do conceito, a autora assim definevulnerabili<strong>da</strong>de:o conjunto de aspectos individuais e coletivos relacionados ao graue modo de exposição a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> situação e, de modo indissociável,ao maior ou me<strong>no</strong>r acesso a recursos adequados <strong>para</strong> se proteger <strong>da</strong>sconseqüências indesejáveis <strong>da</strong>quela situação (Lopes, 2003, p. 6).O conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de busca incorporar a perspectiva sócio-históricaem que indivíduos e grupos estão inseridos, ain<strong>da</strong> que permita, em certa medi<strong>da</strong>, umocultamento <strong>da</strong> ideologia – do racismo, principalmente –, impregnando socie<strong>da</strong>des,programas e indivíduos/grupos, como um fator crucial <strong>no</strong> estabelecimento <strong>da</strong>svulnerabili<strong>da</strong>des. Isso a partir <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de naturalização <strong>da</strong>s posições ocupa<strong>da</strong>spor indivíduos e grupos tidos como vulneráveis. Arrisca-se a propor, desse modo,soluções técnicas <strong>para</strong> questões que têm origem na ideologia e vão requerer, portanto,respostas a esse nível.O conceito de vulnerabili<strong>da</strong>de pode possibilitar, principalmente, uma abor<strong>da</strong>gemain<strong>da</strong> insuficiente do papel do Estado e de seus agentes na produção de situações derisco.Um outro <strong>da</strong>do importante é evitar abrir espaço a estereótipos de vitimização,que vão ocultar as capaci<strong>da</strong>des de agenciamento e resolução de problemas alcançadospor esses indivíduos e grupos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de337


e) Tratamento desigual (Unequal Treatment)Esse conceito é tratado sobretudo na literatura <strong>no</strong>rte-americana, referindo-se aosdiferenciais <strong>da</strong> assistência em saúde recebi<strong>da</strong>s por diferentes grupos raciais ou étnicos,com quali<strong>da</strong>de pior <strong>para</strong> aqueles grupos inferiorizados a que muitos autores chamamde mi<strong>no</strong>rias. King (1996) vai apontar esse tratamento diferencial como uma <strong>da</strong>s manifestações<strong>da</strong> presença do racismo na saúde.Para avaliar as proporções dos diferenciais em saúde entre os grupos raciais eculturais <strong>no</strong>s Estados Unidos, o Congresso Nacional <strong>da</strong>quele país determi<strong>no</strong>u a realizaçãode um amplo estudo não apenas sobre a conceituação e a revisão <strong>da</strong> literaturaa respeito, mas que também assinalasse recomen<strong>da</strong>ções <strong>para</strong> a superação <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>desaponta<strong>da</strong>s. Esse estudo foi desenvolvido pelo Instituto de Medicina <strong>da</strong> AcademiaNacional de Ciências, cujo relatório, editado por Smedley e colaboradores, recebeu o<strong>no</strong>me de Unequal Treatment – Confronting racial and ethnic disparities in health care(2003) 48 .O estudo registra os variados níveis envolvidos na produção de diferenciais raciais,étnicos ou culturais na assistência à saúde, quais sejam:a. sistemas de saúde;b. processos administrativos e burocráticos na saúde;c. administradores;d. profissionais de saúde;e. pacientes.Ao analisar o que define como o momento do “encontro clínico”, a pesquisaencontrou evidências de estereótipos, preconceitos e incertezas ou imprecisões dosserviços de saúde que, afirmam os autores, “podem contribuir <strong>para</strong> o tratamentodesigual.” (Smedley e col, 2003, p. 1).Além do momento individualizado <strong>da</strong> relação entre cliente e profissional, orelatório assinala também que as condições em que o encontro profissional-clientese dá – caracteriza<strong>da</strong>s pela pressa, pela complexi<strong>da</strong>de cognitiva e pelas pressões <strong>para</strong>redução de custos – também poderão resultar <strong>no</strong> baixo atendimento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des<strong>da</strong>queles pacientes vinculados a grupos mi<strong>no</strong>ritários.Outra constatação desse trabalho é que os integrantes <strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias raciais, étnicasou culturais também podem enfrentar barreiras <strong>no</strong> acesso, mesmo quando portadores48. Cópias deste estudo estão disponíveis (gratuitamente <strong>para</strong> pesquisadores brasileiros) em: .338Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


de seguro-saúde equivalente ao dos brancos 49 , incluindo barreiras de linguagem, geografiae familiari<strong>da</strong>de cultural. E mais além, podem estar submetidos a dispari<strong>da</strong>desou efeitos negativos advindos <strong>da</strong> situação de financiamento ou de administração dosserviços de saúde, tanto quanto do ambiente legal, regulatório e <strong>da</strong>s políticas em quese inserem. Nessas situações, fica perceptível a abrangência do tratamento diferencial– ou <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des em saúde – que a população <strong>negra</strong> vai vivenciar.Um aspecto importante a ser considerado é que o tratamento desigual viola umasérie de tratados internacionais assinados tanto pelos Estados Unidos e <strong>Brasil</strong> quantopor outros países <strong>da</strong>s Américas, Europa e África, principalmente aqueles que se referemaos Direitos Huma<strong>no</strong>s, Econômicos, Sociais e Culturais, como também a ConvençãoInternacional <strong>para</strong> Eliminação de To<strong>da</strong>s as Formas de Discriminação Racial/Cerd.Os conceitos aqui colocados ain<strong>da</strong> deman<strong>da</strong>m uma explicitação maior do racismona sua condição de ideologia como a causa principal <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des contemporâneasque atingem negros e brancos. Sua vigência é reconheci<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a diáspora africana 50 ,conforme já acor<strong>da</strong>ram os Estados nacionais reunidos na III Conferência Mundial contrao Racismo, Xe<strong>no</strong>fobia e Intolerâncias Correlatas, que já citamos aqui. Também requisitaa compreensão de sua ação sistêmica em todos os níveis, que vai obrigar o recurso aferramentas amplas, ou seja, atingindo também setores exter<strong>no</strong>s à saúde, mas capazesde impactar direta ou indiretamente seus indicadores, e incisivas na busca de soluçõescompatíveis com os critérios de justiça almejados também <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde.Autores apontaram o conceito de racismo institucional como auxiliar importantena compreensão <strong>da</strong> abrangência do racismo e seus mecanismos de perpetuação, alémde ferramenta fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> sua superação.7. Racismo institucionalO conceito de racismo institucional, também chamado de racismo sistêmico,foi criado em 1967 por Carmichael e Hamilton (King, 1996). Assinala a forma de racismoque se estabelece nas estruturas de organização <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, nas instituições,traduzindo os interesses, ações e mecanismos de exclusão perpetrados pelos gruposracialmente dominantes. No caso <strong>da</strong> maioria dos países <strong>da</strong> diáspora africana – <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> inclusive –, esse conceito fala não só do privilégio branco, mas de suas ações49. É importante lembrar que o sistema de saúde dos Estados Unidos é baseado na perspectiva de seguro-saúde,inseri<strong>da</strong> na opção <strong>da</strong> compra do direito ao serviço.50. O conceito de diáspora africana considera a <strong>no</strong>ção de povo desterritorializado, de modo comum ao povo judeu.Assim, assume a <strong>no</strong>ção de uni<strong>da</strong>de a partir de uma origem comum, que se aplica a africa<strong>no</strong>s escravizadosou não e seus descendentes residentes em outros continentes do mundo que não a África.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de339


<strong>para</strong> controle, manutenção e expansão dessas prerrogativas via apropriação do Estado.Não se trata de um fenôme<strong>no</strong> exclusivo, já foi dito aqui. De forma enfática NtombenhleTorkington (1983) destacou a vigência e a importância do racismo institucionalna Grã-Bretanha:…a raiz de todos os problemas enfrentados pelos negros na socie<strong>da</strong>debritânica (...) (Torkington,1983, p. 13).Segundo definição presente em um dos mais importantes documentos do Rei<strong>no</strong>Unido sobre o tema, o Relatório Macpherso, o racismo institucional é:A incapaci<strong>da</strong>de coletiva de uma organização em prover um serviçoapropriado ou profissional às pessoas devido à sua cor, cultura ouorigem étnica. Ele pode ser visto ou detectado em processos, atitudese comportamentos que contribuem <strong>para</strong> a discriminação através depreconceito não intencional, ig<strong>no</strong>rância, desatenção e estereótiposracistas que prejudicam mi<strong>no</strong>rias étnicas (Comission..., 1999, p. 2).Para o diretor do Instituto de Relações Raciais na Inglaterra, racismo institucionalé definido como:Aquilo que, de forma implícita ou explícita, reside nas políticas,procedimentos, operações e cultura de instituições públicas ou priva<strong>da</strong>sreforçando preconceitos individuais e sendo por eles reforçado (FireFighter,2000, p. 26).Em importante trabalho de análise conceitual, Gary King desenvolve um estudoabrangente dos significados e implicações <strong>da</strong> utilização dessa concepção <strong>para</strong> asanálises e proposições <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde. É a partir desse trabalho, Institutionalracism and the medical/health complex: a conceptual analysis, que abor<strong>da</strong>remos osaspectos a seguir.Segundo King, o conceito de racismo institucional desindividualiza o campo deação do racismo e desloca a discussão dos preconceitos e discriminações interpessoais,repondo-a <strong>no</strong> espectro <strong>da</strong> ideologia e <strong>da</strong> política, incluindo-a <strong>no</strong> contexto apropriado<strong>da</strong>s relações sociais.Em tal perspectiva, esse conceito possibilita o desvelamento <strong>da</strong> impregnação <strong>da</strong>ideologia racista <strong>no</strong> sistema de saúde, rompendo com a tendência de desvinculaçãocom processos de dominação (e resistência) presentes reconheci<strong>da</strong>mente <strong>no</strong> conjunto<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Assim, seu caráter dinâmico é afirmado, sujeito às diferentes disputas emvigor <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, respondendo às diferentes forças sociais, aos movimentospolíticos e às transformações institucionais coloca<strong>da</strong>s.340Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Ziggi Alexander (1999), citando uma definição de racismo institucional utiliza<strong>da</strong><strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, recoloca a dimensão <strong>da</strong> participação estatal e social na permanênciado racismo:[O racismo] persiste porque a organização é falha em aberta e adequa<strong>da</strong>mentereconhecer e abor<strong>da</strong>r sua existência e causas através de política,exemplo e liderança. Sem reconhecimento e ação <strong>para</strong> sua eliminaçãoo racismo pode prevalecer como parte do ethos ou <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> organização.Isto é uma doença corrosiva. 51Gary King assinala também que a utilização desse conceito como ferramenta deanálise leva necessariamente à produção de recomen<strong>da</strong>ções e estratégias de mu<strong>da</strong>nça.Ao mesmo tempo em que o autor <strong>no</strong>s lembra que:... pessoas e organizações que se beneficiam do racismo institucional sãorefratárias a mu<strong>da</strong>nças voluntárias do status quo (King, 1996, p. 33).Esse autor destaca cinco dimensões do sistema de saúde afeta<strong>da</strong>s pelo conceitode racismo institucional:i. Relações comunitárias – vincula<strong>da</strong>s a investimentos em diversos campos <strong>da</strong>ação local como, por exemplo, promoção de saúde e prevenção de doenças;relações públicas e acompanhamento; localização dos serviços; práticas/políticasde emprego; participação em órgãos deliberativos; desenvolvimentoeconômico; apoio político. Esses itens atuam como indicadores <strong>da</strong>s relaçõesentre os grupos excluídos e o setor saúde, bem como apontam o maior oume<strong>no</strong>r engajamento desse setor na superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des.ii.iii.Profissionais de saúde – possibilita analisar o maior ou me<strong>no</strong>r acesso dosgrupos “mi<strong>no</strong>ritários” à formação profissional de saúde, especialmente naquelasde maior prestígio socioeconômico. Nesta análise, estão incluídostanto os fatores anteriores à graduação (dificul<strong>da</strong>des de acesso e progressoao longo do sistema educacional), como também as barreiras de acesso nagraduação ou de progresso subseqüente na carreira.Pesquisa – explicita a exclusão dos grupos racialmente inferiorizados <strong>da</strong>spesquisas biomédicas e sociocomportamentais. Isso seria resultado de mecanismosque variam desde a seleção de temas <strong>para</strong> estudo, passando peladisponibili<strong>da</strong>de de fundos, localização <strong>da</strong> pesquisa, critérios de elegibili<strong>da</strong>de,orientações conceituais e estratégias de implementação. King chamaa atenção <strong>para</strong> o caso <strong>da</strong>s pesquisas dirigi<strong>da</strong>s a grupos discriminados, que51. Alexandre, op. cit., p. 3. Citando Sir William Macpherson’s Inquiry into Stephen Lawrence’s murder, 1999, p.28, parágrafo 6.34.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de341


nem sempre levam em consideração fatores sociológicos, culturais, históricose as diferenças de interesses envolvidos <strong>no</strong> contexto em que se dá apesquisa, como também os fatores de produção e manutenção <strong>da</strong> situaçãoencontra<strong>da</strong>.iv. Ideologia – rompe-se com a falácia <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong>de científica (e do sistemade saúde em todos os seus componentes) e reconhece sua presença <strong>no</strong> desenvolvimento<strong>da</strong> ciência, como também <strong>no</strong>s antecedentes e na orientaçãopolítica de seus membros, na prática <strong>da</strong> medicina e de outras profissões <strong>da</strong>saúde, e nas forças externas <strong>para</strong> a mu<strong>da</strong>nça. Sua repercussão abrange acultura profissional, suas relações de poder com outras instituições e grupose as orientações profissionais que <strong>no</strong>rteiam a prática de saúde. King ressaltaque tais fatores vão também conferir ou apoiar situações de prestígio profissionale institucional.v. Pesquisas sobre tratamento desigual – a partir do mapeamento do estado <strong>da</strong>arte <strong>da</strong>s pesquisas neste campo <strong>no</strong>s Estados Unidos feitas por Stoeckle e Zola(1964, p. 36-41), King analisa os aspectos característicos do desenvolvimento<strong>da</strong>s pesquisas segundo suas fases (classifica<strong>da</strong>s de forma cro<strong>no</strong>lógica): a)fase exploratória ou inicial, marca<strong>da</strong> pela falta de rigor metodológico, b)não-apresentação de um <strong>para</strong>digma social suficiente às análises, tanto <strong>no</strong>período inicial quanto na segun<strong>da</strong> fase (de meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 aoinício dos a<strong>no</strong>s 1990) de<strong>no</strong>mina<strong>da</strong> de período contemporâneo; c) terceirafase, chama<strong>da</strong> de período incisivo, além <strong>da</strong> teoria e do rigor científico,incorpora as considerações políticas aos estudos. Nesse período, algumaspesquisas também incorreram na pouca atenção às análises históricas eideológicas do racismo institucional.Parte II8. África do Sul, Rei<strong>no</strong> Unido, Estados Unidos, Canadá8.1. AntecedentesOs diferenciais de acesso, tratamento e resultados <strong>no</strong> sistema de saúde <strong>para</strong>indivíduos e grupos mi<strong>no</strong>rizados (numa perspectiva política e não-numérica, em quese incluem grupos raciais, mulheres, homossexuais, entre outros) ou não-brancos342Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


– negros, indígenas, pessoas de origem asiática e imigrantes (especialmente aquelescom características fe<strong>no</strong>típicas ou culturais desvaloriza<strong>da</strong>s) – têm sido constatados<strong>no</strong>s diferentes países abor<strong>da</strong>dos neste trabalho. Tal afirmativa pode ser verifica<strong>da</strong>tanto por meio dos documentos oficiais, produzidos pelas instituições governamentaisencarrega<strong>da</strong>s do manejo <strong>da</strong>s políticas nacionais de saúde, quanto por estudos científicosou aqueles elaborados por organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil.De fato, a realização <strong>da</strong> III CMR com seus achados e acordos corrobora afirmações<strong>da</strong> presença do racismo nesses países, bem como apontam vinculações entre este edesigual<strong>da</strong>des socioeconômicas e na saúde.A partir desses diagnósticos, Estados Unidos, Canadá, Rei<strong>no</strong> Unido e a África doSul pós-apartheid adotaram estratégias de mensuração e explicitação <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>dese seus mecanismos de perpetuação, como também buscaram elaborar estratégias <strong>para</strong>sua superação.A maioria desses países passa a debruçar-se mais intensamente sobre a produçãode estratégias <strong>para</strong> diagnóstico <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des e dispari<strong>da</strong>des, bem como a delinearações <strong>para</strong> a igual<strong>da</strong>de ou eqüi<strong>da</strong>de racial a partir de eventos marcantes ou desencadeadorespresentes na segun<strong>da</strong> metade do século XX. Tais eventos têm em comum aincorporação pelo Estado <strong>da</strong>s reivindicações de segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, principalmentedos grupos mais atingidos, e visam estabelecer <strong>no</strong>vos padrões de sociabili<strong>da</strong>de<strong>para</strong> brancos, negros e integrantes de outros grupos raciais ou étnicos politicamentemi<strong>no</strong>ritários 52 , mediante o enfrentamento do racismo em to<strong>da</strong>s as esferas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sociale, em especial, <strong>da</strong> visibilização de uma mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de racismo infiltra<strong>da</strong> nas políticaspúblicas, seus modos de geração, administração e de produção de resultados: oracismo institucional.Chama a atenção que, em muitos dos documentos abor<strong>da</strong>dos, a palavra racismo– e seu reconhecimento como ideologia fun<strong>da</strong><strong>da</strong> na história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>snacionali<strong>da</strong>des, nas estruturas sociais, econômicas e culturais de povos ou nações, eque rege as relações sociais e raciais <strong>para</strong> além <strong>da</strong>s opiniões individuais – é substituí<strong>da</strong>por eufemismos, conceitos intermediários ou referências indiretas. Preconceito,discriminação e iniqüi<strong>da</strong>de são os termos a que se recorre <strong>para</strong> assinalar um diferencialentre grupos que evidencia um tratamento desigual a partir <strong>da</strong>s características raciais,étnicas ou culturais. Conforme assinalou Gary King em seu trabalho, a produção <strong>da</strong>neutrali<strong>da</strong>de, que significa a negativa <strong>da</strong> impregnação ideológica de conceitos epráticas, é um instrumento fun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> a ocultação do racismo e seus efeitos,bem como <strong>para</strong> a manutenção do status quo. No entanto, longe de atestar somente ograu de dificul<strong>da</strong>de que os organismos ditos técnicos têm em li<strong>da</strong>r com o tema, tais52. Aqui se busca desvincular a situação de mi<strong>no</strong>ria <strong>da</strong>s estimativas numéricas, como já dissemos anteriormente,relacionando-a aos níveis de acesso ao poder e aos bens públicos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de343


mecanismos demonstram a necessi<strong>da</strong>de de um longo e profundo comprometimento edesenvolvimento de ações cotidianas, <strong>no</strong>s diferentes níveis, dentro e fora do sistemade saúde, <strong>para</strong> se produzir mais e mais resultados adequados às reivindicações éticas<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, tanto de curto quanto de médio e longo prazos.Em ca<strong>da</strong> um dos países aqui estu<strong>da</strong>dos houve antecedentes que pre<strong>para</strong>rama toma<strong>da</strong> de decisão de desvelar o racismo e sua presença nas instituições, entreelas as de saúde; ou ain<strong>da</strong> a elaboração <strong>da</strong>s estratégias atuais de enfrentamento.Tais mobilizações são parte de processos desenvolvidos ao longo do século passadoe apresentam fenôme<strong>no</strong>s diferenciados, concomitantes ou não, como sua origemimediata. E podemos considerar como seus pontos de parti<strong>da</strong> as situações vivi<strong>da</strong>s <strong>no</strong>súltimos dois séculos, como a abolição <strong>da</strong> escravidão e a colonização nas diversas partesdo mundo; a emergência de diferentes fenôme<strong>no</strong>s migratórios originados em guerras,instabili<strong>da</strong>des econômicas ou <strong>no</strong> movimento de atração exercido pelas matrizes docapitalismo globalizado e/ou do imperialismo (países como Estados Unidos e <strong>da</strong> Europado ocidente); entre outras.O que interessa aqui é apresentar de forma sucinta alguns dos fenôme<strong>no</strong>s quepossibilitaram a visibilização <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des na saúde e estabeleceram o ambienteem que as estratégias vão ser desenvolvi<strong>da</strong>s, como movimento preliminar a suaimplementação.Para começar, portanto, uma breve abor<strong>da</strong>gem de ca<strong>da</strong> um desses países e de seussistemas de saúde, buscando neles semelhanças e diferenças em relação ao formatobrasileiro.8.2. África do SulA região <strong>da</strong> África do Sul (South African..., 1998) tem sido explora<strong>da</strong> peloseuropeus desde o século XV. Tais movimentos vão se intensificar a partir <strong>da</strong>s descobertasde diamantes (1867) e ouro (1871) em seu território. A disputa entre ingleses e africâneres(afrikaners – alemães, holandeses e seus descendentes) pelo controle <strong>da</strong>s riquezasdo país vai desencadear uma guerra em 1899, que terminará em 1902 com a vitóriados britânicos. A partir <strong>da</strong>í, tem início a agricultura <strong>da</strong> cana-de-açúcar em regime deplantation, <strong>para</strong> o que passam a atrair india<strong>no</strong>s, principalmente de Calcutá.Legislações elabora<strong>da</strong>s nesse início de século XX, com o propósito de organizar ouso do território por seus habitantes e exploradores, vão paulatinamente excluindo osafrica<strong>no</strong>s <strong>da</strong>s esferas de direitos e legitimando sua exclusão do controle de seu territórioe <strong>da</strong>s riquezas nacionais. É de 1913 a lei Native’s Land Act que divide o país em áreas344Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


<strong>negra</strong>s e brancas. Ao mesmo tempo, a consoli<strong>da</strong>ção dos afrikaners como força políticacrescente faz com que um movimento nacionalista branco aprove (através do voto <strong>da</strong>maioria dos brancos) <strong>no</strong>vas legislações que vão consoli<strong>da</strong>r o privilégio do grupo e asistemática inferiorização e exclusão de negros, india<strong>no</strong>s e outros grupos não-brancos.Em 1950, <strong>no</strong>va legislação define a divisão territorial segundo a raça, <strong>da</strong>ndo origem àshomelands, símbolos do apartheid, que representam áreas <strong>negra</strong>s não-urbanas, reuni<strong>da</strong>sem “estados” se<strong>para</strong>dos segundo diferenças étnicas, marca<strong>da</strong>s pela “deprivação” e aviolência.Violência racista, exclusão social e política, miséria são símbolos do regime desegregação racial, juntamente com a emergência de organizações de resistência, nasquais ganha maior destaque o African National Congress/ANC de Nelson Mandela,Thabo Mbeki entre outros, de forte influência tanto nacional quanto internacional.Data de 1990 o início <strong>da</strong>s negociações <strong>para</strong> o fim do apartheid, envolvendogover<strong>no</strong> e grupos organizados diferenciados. Em 27 de abril de 1994 acontece a primeiraeleição nacional que marca o fim do sistema de segregação racial <strong>no</strong> país e a ascensão<strong>da</strong> maioria <strong>negra</strong> ao poder nacional.Segundo o Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000, divulgado pelo Programa<strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento/PNUD, a África do Sul é um país de IDHmédio equivalente a 0, 695, ocupando a 107ª posição na lista de 173 países avaliados.Segundo a classificação do Banco Mundial, é um país de ren<strong>da</strong> média, pertencendoao mesmo grupo que o <strong>Brasil</strong>.No a<strong>no</strong> de 2001 a população total do país equivalia a 44,5 milhões de pessoas,classifica<strong>da</strong>s racialmente como africa<strong>no</strong>s, brancos, “pardos” (coloured) e india<strong>no</strong>s. Dessetotal, 90,5% correspondem a indivíduos não-brancos – sendo 79% de africa<strong>no</strong>s, 9%de “pardos” e 2,5% de india<strong>no</strong>s. Os brancos equivaliam em 2001 a 9,5% do total.Segundo o Relatório do PNUD, o índice de Gini, que mede o grau de desigual<strong>da</strong>de<strong>no</strong> interior de uma socie<strong>da</strong>de determina<strong>da</strong>, corresponde a 59,3. É importante lembrarque quanto me<strong>no</strong>r esse indicador (aqui numa escala de 10 a 100), me<strong>no</strong>r a desigual<strong>da</strong>deencontra<strong>da</strong>. Trata-se, portanto, de um país com um importante grau de desigual<strong>da</strong>de,cujas bases históricas já foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s aqui. Segundo Thabo Mbeki:...as condições materiais (...) dividiram <strong>no</strong>sso país em duas nações, uma<strong>negra</strong> e outra branca (...)[Esta última] é relativamente próspera e tembom acesso ao desenvolvimento econômico, físico, educacional, decomunicação e outras infra-estruturas (...) A segun<strong>da</strong>, e maior, nação <strong>da</strong>África do Sul é <strong>negra</strong> e pobre, vivendo sob condições de infra-estruturatotalmente subdesenvolvi<strong>da</strong>(...)(Mbeki, 1998 apud Gelb, 2003).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de345


Interessante considerar que afirmações desse tipo têm sido feitas <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, aolongo de déca<strong>da</strong>s, diante <strong>da</strong> constatação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des presentes em <strong>no</strong>sso país.A metáfora de Belíndia, utiliza<strong>da</strong> entre nós <strong>para</strong> descrever os dois países dentro desseúnico <strong>Brasil</strong> 53 , com colorações de pele diferentes, apenas reitera esta afirmativa.Na África do Sul os gastos públicos em saúde equivaliam a 3,3% do PIB em 1998,ain<strong>da</strong> de acordo com os <strong>da</strong>dos levantados pelo Pnud, num gasto per capita de 230dólares internacionais ou PPC 54 .Estes <strong>da</strong>dos podem ser verificados na tabela 1.Tabela 1. África do Sul, <strong>da</strong>dos geraisItem Valor A<strong>no</strong>População total 44,5 milhões 2001Negros 79%Pardos 9%India<strong>no</strong>s 2,5%Brancos 9,5%Índice de Gini 59,3 1998Gastos em saúde 1998Públicos3.3% do PIBPrivados3,8% do PIBPer capita230 dólares ppcFontes: Pnud, Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000; Gelb, 2003.O sistema de saúdeHistoricamente, o sistema de saúde sul-africa<strong>no</strong> tem sido marcado pela intensafragmentação e insuficiência de atenção, em razão dos processos de formação nacionale principalmente do longo período de vigência do apartheid. Nas palavras do Ministério<strong>da</strong> Saúde, o sistema era constituído por:um setor público dirigido exclusivamente <strong>para</strong> os indigentes ou <strong>para</strong>aqueles sem cobertura de pla<strong>no</strong> de saúde e um setor privado dirigido àpopulação jovem, saudável e emprega<strong>da</strong>. (South African..., 2002).O que se verifica até 1994, quando tem início uma reforma do sistema de saúde,como parte do projeto de reconstrução pós-apartheid.53. Que seria a união entre duas reali<strong>da</strong>des díspares, do ponto de vista socioeconômico e cultural, representa<strong>da</strong>spela Bélgica e pela Índia.54. Esta moe<strong>da</strong> equivale a um valor comum de dólar calculado através <strong>da</strong>s semelhanças <strong>no</strong> poder de compra:pari<strong>da</strong>de de poder de compra/PPC.346Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Ain<strong>da</strong> assim, é possível afirmar que o sistema de saúde sul-africa<strong>no</strong> apresentacarências que se referem à efetiva integração entre os níveis local, provincial e nacional,além do público e privado. E também de capaci<strong>da</strong>de de ação junto aos diferentesgrupos raciais de forma universal e eqüitativa, respondendo de modo efetivo a suasdeman<strong>da</strong>s de saúde <strong>no</strong> que se refere à promoção, proteção e recuperação. Assinale-seque essas dificul<strong>da</strong>des expressam-se tanto <strong>no</strong> enfrentamento <strong>da</strong> epidemia de HIV/aids,um dos maiores desafios do país <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde e do desenvolvimento, quantona resposta adequa<strong>da</strong> e continua<strong>da</strong> requisita<strong>da</strong> por aqueles portadores de doençascrônicas. Soma-se a isso a incapaci<strong>da</strong>de atual de prover um pacote mínimo de serviçosa todos os habitantes, clientes dos setores públicos e/ou privados.Para a África do Sul, os estudos e pla<strong>no</strong>s <strong>da</strong> ação empreendidos nas políticas desaúde a partir de 1994 incluíam-se, e incluem-se, entre os esforços de reconstrução dopaís em <strong>no</strong>vas bases, fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s na eqüi<strong>da</strong>de entre as raças. Esse a<strong>no</strong> se coloca comoum marco <strong>da</strong> reestruturação, explicitando, segundo alguns autores:uma crescente necessi<strong>da</strong>de de coordenar serviços locais e provinciais,antes responsáveis se<strong>para</strong><strong>da</strong>mente por cui<strong>da</strong>dos preventivos e curativosrespectivamente, e reunir serviços oferecidos por autori<strong>da</strong>des nas "homelands",com <strong>no</strong>vas estruturas provinciais e nacional (Schierhout; Fonn,1999 apud Kelly, 2002).Entre as iniciativas governamentais visando ao enfrentamento dos problemasdetectados <strong>no</strong> sistema de saúde estão:• ampliação e interiorização <strong>da</strong> rede pública disponível, com fortalecimento <strong>da</strong>atenção básica, numa alteração do modelo centrado <strong>no</strong> atendimento hospitalarpredominantemente nas áreas urbanas;• ampliação do acesso à profissionalização e ao aprimoramento dos trabalhadoresem saúde;• eliminação <strong>da</strong>s práticas discriminatórias <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> do sistema;• disponibilização <strong>para</strong> grande parte <strong>da</strong> população de procedimentos comovacinação;• elaboração e disponibilização de rotinas <strong>para</strong> saúde infantil mais bem defini<strong>da</strong>s.É importante assinalar que, conforme foi pontuado por Gelb (2003), diferentesautores puderam atestar a efetiva redistribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> pública na África do Sul apartir de 1994, em continui<strong>da</strong>de com o padrão iniciado em meados <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970(Gelb, 2003, p. 8). Até então, a população branca usufruía de 50% dos gastos públicosem educação, saúde, saneamento, entre outros, enquanto <strong>para</strong> os negros restava apenas12%. O mesmo autor assinala que, em 1997, a população <strong>negra</strong> já acessava 80% dosgastos públicos, impactando significativamente o índice de Gini.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de347


Por outro lado, <strong>no</strong>vos desafios <strong>para</strong> a relação entre a política econômica e a políticasocial estão colocados <strong>para</strong> o país, <strong>para</strong> aprofun<strong>da</strong>r a transição em curso e garantir as bases<strong>para</strong> efetivação <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de na socie<strong>da</strong>de pós-apartheid. Afirma Gelb (2003, p. 8):com o setor privado dominado por um reduzido número – cinco ou seis– de grandes conglomerados, as perspectivas <strong>para</strong> acumulação estratégica[<strong>para</strong> as necessi<strong>da</strong>des básicas] irão depender <strong>da</strong> política adota<strong>da</strong> <strong>para</strong>os últimos. Para a ‘redistribuição do investimento’ ser bem-sucedi<strong>da</strong>, osconglomerados não podem ser deixados na sua forma atual.No que se refere à organização do sistema de saúde, um pla<strong>no</strong> de 10 pontos estáem curso <strong>para</strong> o período de 1999-2004, elaborado pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde, cujo focoé a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos serviços prestados. Esses pontos são vistos como o passoseguinte às estratégias de 1994-1998 que se referiam à ampliação, à organização e àmelhoria do acesso à rede pública. Os passos constantes do pla<strong>no</strong> em curso são:1. reorganização de serviços de apoio;2. reforma legislativa;3. melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção;4. revitalização dos hospitais;5. disponibilização de pacote de serviços essenciais <strong>no</strong> sistema distrital;6. ações estratégicas <strong>para</strong> a diminuição <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de;7. melhoria <strong>da</strong> disponibilização e administração de recursos, com eqüi<strong>da</strong>de naalocação;8. melhoria na disponibilização e administração de recursos huma<strong>no</strong>s;9. melhoria na comunicação dentro do sistema e com as comuni<strong>da</strong>des;10. por fortalecimento <strong>da</strong> cooperação internacional.Tais pontos colocam-se, na avaliação dos técnicos sul-africa<strong>no</strong>s, como chaves<strong>para</strong> a constituição de um <strong>no</strong>vo patamar de atenção à saúde <strong>no</strong> país, <strong>da</strong>ndo seguimentoàs iniciativas de ruptura com a segregação racial e o racismo institucional.8.3. Rei<strong>no</strong> UnidoO Rei<strong>no</strong> Unido <strong>da</strong> Grã-Bretanha e Irlan<strong>da</strong> do Norte representa a união política de quatropaíses – Inglaterra, Escócia, Irlan<strong>da</strong> do Norte e País de Gales, sob a liderança do primeiro,fun<strong>da</strong><strong>da</strong> numa estrutura política antiga, a monarquia, que precede o período colonial.348Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Atualmente, está em vigor um modelo de monarquia constitucional, com asfunções de gover<strong>no</strong> exerci<strong>da</strong>s por um primeiro-ministro eleito.Em números de 2001, sua população total equivalia a 59.541 milhões dehabitantes, com uma taxa de crescimento de 0,3% na última déca<strong>da</strong> (1991- 2001).O Rei<strong>no</strong> Unido apresenta um Produto Inter<strong>no</strong> Bruto, medido em dólaresinternacionais (ou PPC), equivalente a 24.562 mil, calculado <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> 2000, o quecoloca o país entre aqueles de ren<strong>da</strong> média alta, segundo classificação do Banco Mundial.A forma de distribuição <strong>da</strong> ren<strong>da</strong> nacional entre a população residente, possibilita suaclassificação <strong>no</strong> IDH entre os países de alto índice, equivalente a 0,928, classificando-sena 13ª posição <strong>no</strong> ranking. Ain<strong>da</strong> segundo cálculos do PNUD, o índice de Gini <strong>para</strong> oRei<strong>no</strong> Unido equivale a 36,8, assinalando uma perspectiva de igual<strong>da</strong>de na distribuiçãode ren<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> que signifique também a presença de desigual<strong>da</strong>des não supera<strong>da</strong>s.As despesas públicas em saúde abrangiam 5,8% do PIB em 1998, traduzindo-senum gasto per capita de 1.675 dólares PPC, significando um crescimento ao longo <strong>da</strong>déca<strong>da</strong>, já que em 1990 o dispêndio equivalia a 4,7% do PIB.A tabela 2 permitirá a melhor visualização dos <strong>da</strong>dos aqui apresentados.Tabela 2. Rei<strong>no</strong> Unido, <strong>da</strong>dos gerais:Item Valor A<strong>no</strong>População total 59,5 milhões 2001Brancos 92.1%Asiáticos ou Asiáticos britânicos 1.2%Negros ou Negros britânicos 1.0%Chineses 0.4%Índice de Gini 36,8 1998Gastos em saúde 1998Públicos5.8 % do PIBPrivados1.2 % do PIBPer capita1.675 dólares ppcFontes: Pnud, Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000, e National Statistics Online:(www.statistics.gov.uk/cci/nugget_print.asp).O sistema de saúdeA atual forma de organização de seu sistema de saúde tem início <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de1946, com a aprovação <strong>da</strong> lei que cria o Sistema Nacional de Saúde (National HealthService Act, 1946). A partir de 1948, então, implanta-se <strong>no</strong> país um sistema públicoe universal de saúde cujo objetivo é responder às necessi<strong>da</strong>des de to<strong>da</strong> a populaçãoSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de349


esidente, <strong>no</strong> que se refere à prevenção, diagnóstico e tratamento de forma gratuita,ou seja, custeado pelos impostos recolhidos (Liue; Wong, 1998, p.4).Se por um lado as reformas empreendi<strong>da</strong>s a partir dessa época estiveram fun<strong>da</strong>mentalmentevincula<strong>da</strong>s às mu<strong>da</strong>nças de gover<strong>no</strong> vivi<strong>da</strong>s (Liue; Wong, 1998, p.5), poroutro, até o momento, nenhuma alteração <strong>no</strong>s grupos que lideram o poder governamentalnacional vai contrariar os princípios de um sistema de saúde público, universal,organizado segundo níveis de complexi<strong>da</strong>de, financiado com recursos provenientesdos impostos e com prestação de serviços gratuita.É preciso assinalar também a presença de um sistema de saúde privado,complementar ao público, uma vez que sua prestação de serviços está vincula<strong>da</strong> àquelesprocedimentos não cobertos pelo sistema público ou que, através dele, vão requererlonga espera, diante <strong>da</strong>s limitações organizativas e/ou de acesso apresenta<strong>da</strong>s.A prestação de serviços de saúde oferecidos à população está organiza<strong>da</strong> deforma integra<strong>da</strong> e, segundo já assinalado aqui, hierarquiza<strong>da</strong> de acordo com os níveisde complexi<strong>da</strong>de: local, distrital, regional e nacional.O nível local, de me<strong>no</strong>r complexi<strong>da</strong>de, é definido como porta de entra<strong>da</strong> <strong>para</strong> osistema de saúde, excetuando-se os casos de emergência. A estrutura do sistema podeser verifica<strong>da</strong> na figura 1.Figura 1. Estrutura do sistema de saúde do Rei<strong>no</strong> Unido:Fonte: Chung Man Kam, Jae et al. Health Care System Reform. Tax Based System – UK, s/<strong>da</strong>ta350Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O nível de atenção básica (Liue Wong, 1998, p. 3) conta com um pacote mínimode procedimentos e de disponibili<strong>da</strong>de de profissionais que inclui médicos de família,dentistas, optometristas e outros. O nível secundário estabelece-se por meio de uma redede hospitais e serviços de ambulância. Já o terciário compreende a rede de hospitaisespecializados.O formato padrão de relação entre esses profissionais e o sistema é o trabalhocom dedicação exclusiva, ou em regime de tempo parcial (65% de dedicação ao serviçopúblico) exercido por profissionais independentes, contratados <strong>para</strong> a prestação deserviços a um número definido de clientes (em média, 1.900 pacientes). Ain<strong>da</strong> podematender um número maior, segundo condições especiais de contrato, e têm inclusive apossibili<strong>da</strong>de de subcontratar <strong>no</strong>vos profissionais <strong>para</strong> atender a sua lista de clientes. Em1994/95, havia um total de 26.570 profissionais, numa proporção de 4,5 profissionaispor 10 mil habitantes. Fazem parte <strong>da</strong> equipe de atenção primária, além dos médicos,dentistas, optometristas e farmacêuticos, os visitadores ou agentes de saúde (health visitors),responsáveis pelo acompanhamento de crianças me<strong>no</strong>res de cinco a<strong>no</strong>s, parteiras,enfermeiras comunitárias, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e fo<strong>no</strong>audiólogos.A rede hospitalar inclui serviços de complexi<strong>da</strong>de crescente, havendo, <strong>no</strong>s últimosa<strong>no</strong>s, uma redução dos leitos disponíveis graças ao aprimoramento <strong>da</strong> técnica e <strong>da</strong>tec<strong>no</strong>logia de saúde e sua incorporação à prestação de serviços públicos, que passa arequerer ca<strong>da</strong> vez mais procedimentos ambulatoriais e/ou preventivos.A partir do a<strong>no</strong> 2000 uma <strong>no</strong>va reforma do Sistema Nacional de Saúde tem início,com o objetivo de colocar em prática a modernização do sistema. Trata-se do NHSPlan (Pla<strong>no</strong> de Reforma e Modernização do Sistema Nacional de Saúde), um projetode reforma ao longo de dez a<strong>no</strong>s, e que tem como princípios:1. Universalização basea<strong>da</strong> nas necessi<strong>da</strong>des de saúde e não na capaci<strong>da</strong>de depagamento.2. Oferta ampla de serviços.3. Serviços a<strong>da</strong>ptados às necessi<strong>da</strong>des e preferências de indivíduos, famílias ecui<strong>da</strong>dores.4. Respostas diferentes <strong>para</strong> varia<strong>da</strong>s populações.5. Melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e minimização dos erros.6. Apoio e valorização <strong>da</strong> equipe profissional.7. Fundos públicos dirigidos exclusivamente <strong>para</strong> pacientes do sistema.8. Parcerias <strong>para</strong> a prestação de serviços.9. Aju<strong>da</strong> <strong>para</strong> a manutenção <strong>da</strong> população saudável e trabalho <strong>para</strong> a redução<strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des em saúde.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de351


10. Respeito à confidenciali<strong>da</strong>de de indivíduos e amplo acesso a informaçõessobre serviços, tratamentos e performance.No Rei<strong>no</strong> Unido um dos fatores desencadeantes <strong>da</strong> busca de eqüi<strong>da</strong>de naprestação de serviços públicos e do enfrentamento do racismo foi o resultado doinquérito realizado após o assassinato do jovem negro Stephen Lawrence em Londres,1993, por um grupo de jovens brancos racistas. O relatório elaborado por Sir WilliamMacpherson trouxe uma <strong>da</strong>s principais ferramentas de análise <strong>para</strong> as desigual<strong>da</strong>desraciais e o racismo presente na socie<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele país – o racismo institucional. Grandeparte dos textos abor<strong>da</strong>ndo diagnósticos ou estratégias de superação <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>desraciais pesquisados faz referência ou procura desdobrar os achados do chamadoRelatório Macpherson.8.4. Estados UnidosOs Estados Unidos são um país resultante de uma experiência colonial queguar<strong>da</strong> similari<strong>da</strong>des com a experiência brasileira. Vizinhos <strong>no</strong> continente america<strong>no</strong>,ambos os países têm sua origem marca<strong>da</strong> pela ocupação européia do território, com adestituição e aniquilamento <strong>da</strong>s populações originais. A seguir, com a experiência dotráfico transatlântico de africa<strong>no</strong>s negros escravizados <strong>para</strong> o trabalho nas Américase <strong>no</strong> Caribe, passa a adquirir um contingente de população <strong>negra</strong> maior que o deindígenas e brancos europeus.Nos Estados Unidos, segundo <strong>da</strong>dos coletados pelo Censo 2000, a população<strong>negra</strong> equivale a 12,9% do total. De acordo com os cálculos do Programa <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento/Pnud <strong>para</strong> o mesmo a<strong>no</strong>, trata-se de um país de desenvolvimentohuma<strong>no</strong> alto, com IDH de 0,939, colocando-se na 6ª posição <strong>no</strong> rankingmundial. Seu Índice de Gini calculado pelo Pnud era de 40,8 em 2000.Ao considerar os indicadores mais diretamente relacionados à quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong><strong>da</strong> população e à saúde, verifica-se que, ain<strong>da</strong> segundo o Pnud, a esperança de vi<strong>da</strong>ao nascer calcula<strong>da</strong> <strong>para</strong> o período de 1995-2000 equivalia a 76,5 a<strong>no</strong>s; a mortali<strong>da</strong>deinfantil correspondia a 7 por mil nascidos vivos <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, e a mortali<strong>da</strong>de materna,a 8 por 100 mil nascidos vivos <strong>no</strong> período de 1985-1999.Segundo classificação do Banco Mundial, os Estados Unidos são um país de ren<strong>da</strong>média alta, com um PIB per capita de 34,637 dólares PPC <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000, segundoindicadores divulgados pela Organização Panamericana de Saúde.352Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tabela 3. Estados Unidos, <strong>da</strong>dos geraisO sistema de saúdeNos Estados Unidos o acesso aos serviços de saúde está diretamente vinculadoa algum tipo de seguro, pois se trata de um sistema fun<strong>da</strong>mentalmente mediado pelasrelações de compra e ven<strong>da</strong> de serviços. São diversos os tipos de seguro à disposição<strong>da</strong> população, e que podem ser assim definidos:i -Item Valor A<strong>no</strong>População total 281,4 milhões 2000Brancos 75.1%Negros 12,3%Indígenas america<strong>no</strong>s e nativo do Alaska 0.9%Asiáticos 3.6%Nativos do Hawaí e outros <strong>da</strong> Ásia-Pacífico 0.1%Outras raças 5.5%Duas ou mais raças 2.4%Índice de Gini 40,8 1998Gastos em saúde 1998Públicos5,7 % do PIBPrivados7,1 % do PIBPer capita4.271 dólares PPCFontes: Pnud, Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000 e Census 2000 Brief – www.census.gov/population/www/cen2000/briefs.htmlcompra direta – aquisição por indivíduos e suas famílias em relação diretade compra com a seguradora;ii - recebido em troca de trabalho – como parte do pagamento vinculado aotrabalho formal;iii - custeado por fundos governamentais – pago com fundos federais ou estatais.Este é o caso de dois programas estabelecidos por lei em 1965: Medicaide Medicare. O primeiro dirige-se a indivíduos e famílias pobres, segundolinha de pobreza defini<strong>da</strong> nacionalmente e é administrado pelos estados. Jáo segundo é administrado pelo gover<strong>no</strong> nacional e se dirige a pessoas comi<strong>da</strong>des acima de 65 a<strong>no</strong>s ou portadores de deficiência, independentementede sua condição financeira.Em todo o país, e em todos os grupos raciais a mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de seguro obtido pormeio do trabalho formal é a mais comum (Brown, 2000, p. 31). Ain<strong>da</strong> assim, a coberturaentre negros acontece em proporções me<strong>no</strong>res do que entre os trabalhadores brancos,o que se intensifica ain<strong>da</strong> mais entre as mães solteiras.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de353


O crescimento vivido pela eco<strong>no</strong>mia do país na segun<strong>da</strong> metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990significou também um crescimento <strong>da</strong> cobertura <strong>para</strong> negros <strong>no</strong>s Estados Unidos. No entanto,durante o mesmo período, a cobertura de seguro por assistência social, Medicaid,caiu entre os negros <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong>s (de 23% em 1994 <strong>para</strong> 19% em 1997), provocandoum aumento do grupo de afro-america<strong>no</strong>s sem cobertura de 21% em 1994 <strong>para</strong> 23% em1997 (Brown, 2000, p. 31). As razões dessa que<strong>da</strong> referem-se não apenas ao aumento <strong>da</strong>taxa de emprego nesse grupo, mas principalmente às mu<strong>da</strong>nças de critérios de elegibili<strong>da</strong>desecundárias à reforma do serviço de assistência social <strong>no</strong> país (Brown, 2000, p. 36).A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980 os crescentes e inesperados (porque não planejados)gastos com a saúde pública – vinculados à Medicare e à Medicaid – provocaram umainsatisfação em diferentes setores dos Estados Unidos <strong>para</strong> a redução dos gastos nestaárea. Transformações <strong>no</strong>s critérios de elegibili<strong>da</strong>de têm sido empreendi<strong>da</strong>s, tendo comoimportante conseqüência o aumento <strong>da</strong> exclusão entre <strong>negra</strong>s e negros pobres.A busca de ações de saúde volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a população não-branca <strong>no</strong>s Estados Unidos,em especial a população <strong>negra</strong>, não é uma <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de na história desse país, como assinalouShawn Bediako (2003, p. 10). Segundo esse pesquisador, a experiência comunitária maisimportante do início do século XX refere-se a Negro Health Week, organiza<strong>da</strong> por liderançascomunitárias, enfermeiros e médicos em Tuskegee, Alabama. Experiência que começou naprimeira déca<strong>da</strong> de 1900, a Negro Health Week vai se constituir num movimento nacionaljá na déca<strong>da</strong> de 1930 (National Negro Health Movement), provocando sua absorção peloServiço Público Nacional de Saúde do país, assim como a criação em 1932 do Escritóriode Trabalho <strong>da</strong> Saúde do Negro (Office of Negro Health Work, vinculado ao United StatesPublic Health Service). Diferentes autores, segundo Bediako, puderam comprovar o impacto<strong>da</strong> ação conjunta do movimento nacional e do serviço público de saúde. Na segun<strong>da</strong> metade<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1940, a autori<strong>da</strong>de nacional de saúde pública, Surgeon General of theUnited States Public Health Service, pôde constatar evidências de redução dos indicadoresde mortali<strong>da</strong>de (de 20,2/1.000 em 1915 <strong>para</strong> 11/1.000 em 1946), principalmente a partir<strong>da</strong> redução <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de por tuberculose e sífilis (Bediako, 2003, p. 11).Na déca<strong>da</strong> de 1950, <strong>no</strong> entanto, o sucesso apresentado fez com que as ativi<strong>da</strong>desdo movimento e do serviço público fossem interrompi<strong>da</strong>s. As explicações:Dezoito a<strong>no</strong>s atrás havia a necessi<strong>da</strong>de premente de focar atenção <strong>no</strong>sproblemas específicos de saúde do negro e de concentrar esforços nummovimento nacional de saúde do negro. Hoje, sabemos que este movimentofoi bem-sucedido... tão bem-sucedido que não há mais a mesmaurgência em enfatizar necessi<strong>da</strong>des se<strong>para</strong><strong>da</strong>s. Ao contrário, a tendênciaatual é <strong>para</strong> todos os grupos trabalharem juntos <strong>para</strong> o bem-estar mútuo.O movimento National Negro Health Week ajudou materialmente naobtenção de aceitação geral <strong>da</strong> idéia de que “saúde é assunto de todos”(National Negro..., 1950 apud Bediako, 2003, p. 12).354Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Assim, contrariando as expectativas <strong>da</strong> primeira metade do século XX,<strong>da</strong>dos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1970 puderam demonstrar que, após 20 a<strong>no</strong>s deencerramento desses esforços, a sobremortali<strong>da</strong>de de negros em relação àde brancos <strong>no</strong>s Estados Unidos equivalia a 60 mil. Dados de 1992, ain<strong>da</strong>segundo Bediako, apresentam essa sobremortali<strong>da</strong>de com<strong>para</strong>tiva em75 mil, com tendência a crescimento <strong>no</strong> século XXI (National Negro...,1950 apud Bediako, 2003, p. 12-13).8.5. CanadáO Canadá, situado na América do Norte, é um país de 31,014 milhões de habitantesde maioria branca, e as chama<strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias étnicas, que incluem as populações <strong>negra</strong>s,indígenas e asiáticas, equivalem, em conjunto, a 6% do total. Dados coletados peloMinistério <strong>da</strong> Saúde apontam a população <strong>negra</strong> compreendendo 504.290 habitantes<strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 1999 (Health Canadá, 2001, p. 183).De acordo com o Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> do Programa <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento/Pnud, trata-se de um país de alto desenvolvimentohuma<strong>no</strong>, ocupando o 3º lugar <strong>no</strong> ranking mundial <strong>para</strong> o IDH/ Índice de DesenvolvimentoHuma<strong>no</strong>. No a<strong>no</strong> 2000 o IDH do Canadá era de 0,940. Segundo estimativasdo mesmo órgão, o Índice de Gini do país era de 31,5 <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000.De acordo com a classificação do Banco Mundial, é um país de ren<strong>da</strong> médiaalta. No Canadá, o PIB per capita equivalia em 2000 a 27,956 dólares PPC. No quese refere ao gasto per capita aplicado <strong>no</strong> setor saúde, <strong>no</strong> a<strong>no</strong> 2000 foram investidos2,534 dólares PPC, numa proporção de 6,6% do PIB.Esses <strong>da</strong>dos podem ser mais bem visualizados na tabela 4.Tabela 4. Canadá, <strong>da</strong>dos geraisItem Valor A<strong>no</strong>População total 31, 014 milhões 2001Mi<strong>no</strong>rias visíveis 13.4%Negros 2.3 %Sul Asiáticos 3.1%Filipi<strong>no</strong>s 1.0%Chineses 3.5%Aborígenes 3.3%Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de355


ContinuaçãoItem Valor A<strong>no</strong>Brancos 83.3%Índice de Gini 31,5 2001Gastos em saúde 1998Públicos6,6 % do PIBPrivados2,7 % do PIBPer capita1.939 dólares ppcFontes: Pnud, Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000 e Statistics Canadá– www.statsca.ca/census.Aqui, o cálculo <strong>da</strong> esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer <strong>para</strong> o período de 1995-2000 erade 78,5 a<strong>no</strong>s em média, com uma taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil equivalente a 6/1.000nascidos vivos.O sistema de saúdeO sistema de saúde do Canadá é universal, custeado por fundos públicos, coexistindotambém um sistema privado responsável mi<strong>no</strong>ritário pela prestação de serviços em saúde.De acordo com o Relatório Roma<strong>no</strong>v, desenvolvido <strong>para</strong> projetar o futuro dosistema canadense de saúde, a existência e o funcionamento do sistema não foramprecedidos por definição constitucional. Segundo o relatório, esse fato relaciona-se àmoderni<strong>da</strong>de do conceito, incompatível com as idéias do século XIX, período em quea versão original <strong>da</strong> Constituição do país foi elabora<strong>da</strong> (Roma<strong>no</strong>v, 2002).No entanto, jurisprudência já forma<strong>da</strong> estabelece as províncias e territórioscomo responsáveis pela prestação de serviços de saúde, cabendo ao nível federal aresponsabili<strong>da</strong>de do desenvolvimento de ações especializa<strong>da</strong>s (como a política demedicamentos), ações cruciais como proteção e prevenção, além <strong>da</strong> prestação deserviços a grupos específicos, como populações indígenas, integrantes <strong>da</strong>s forças arma<strong>da</strong>s(<strong>da</strong> ativa e vetera<strong>no</strong>s) e <strong>da</strong> Real Polícia Monta<strong>da</strong> (Roma<strong>no</strong>v, 2002, p. 3). Cabe à esferafederal também o repasse de recursos <strong>para</strong> as províncias, ain<strong>da</strong> que sem prévia definiçãoconstitucional, mas que confere ao gover<strong>no</strong> nacional um certo poder e controle sobre asações provinciais. Esse poder de impor condições tem sido contestado, na medi<strong>da</strong> emque pode se contrapor aos interesses e priori<strong>da</strong>des locais (Roma<strong>no</strong>v, 2002, p. 4) .No a<strong>no</strong> de 1999, é elaborado <strong>no</strong> Canadá, através do Ministério <strong>da</strong> Saúde, umestudo acerca <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> acesso aos serviços, publicado em 2001 com o títulode Certain circumstances: equity in and responsiveness of the health care system tothe needs of mi<strong>no</strong>rity and marginalized populations.O desenvolvimento desse estudo possibilitou apontar a presença do racismopermeando as estruturas sociais, atingindo populações não-brancas e incluindo negroscanadenses e caribenhos, bem como as estruturas de prestação de serviços em saúde.356Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O trabalho ain<strong>da</strong> relacio<strong>no</strong>u medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o desenvolvimento de ações de superaçãodo racismo institucional e <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde.9. Os países, seus sistemas de saúde – uma com<strong>para</strong>çãoSimilari<strong>da</strong>des e diferenças colocam-se entre o <strong>Brasil</strong> e os quatro países aqui estu<strong>da</strong>dos.As similari<strong>da</strong>des referem-se principalmente à constatação <strong>da</strong> presença do racismo, <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des raciais e de sua impregnação <strong>no</strong> sistema de saúde. Já a principal diferença é avigência, <strong>no</strong>s quatro países, de medi<strong>da</strong>s empreendi<strong>da</strong>s tanto por organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decivil quanto principalmente pelos organismos oficiais <strong>para</strong> a determinação <strong>da</strong> amplitude<strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais, assim como o desenvolvimento de ações específicas necessárias<strong>para</strong> sua superação. Ao contrário dos quatro países, o <strong>Brasil</strong> muito recentemente (e naemergência do século XXI) reconheceu oficialmente nas palavras e ações do presidente deentão, Fernando Henrique Cardoso, a vigência do racismo mediando as relações sociais<strong>no</strong> país, bem como a existência de desigual<strong>da</strong>des raciais na saúde.Note-se que as primeiras iniciativas de responder às deman<strong>da</strong>s específicas desaúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, bem como <strong>para</strong> o enfrentamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciaisna saúde, aconteceram em resposta à deman<strong>da</strong> apresenta<strong>da</strong> pelo movimento negrodiretamente ao presidente, <strong>no</strong> encerramento <strong>da</strong> Marcha Zumbi dos Palmares, quemobilizou organizações <strong>negra</strong>s de todo o país <strong>para</strong> a i<strong>da</strong> a Brasília e apresentação deuma pauta de reivindicações ao Presidente <strong>da</strong> República em 1995. 55Tabela 5. <strong>Brasil</strong>, <strong>da</strong>dos gerais:Item Valor A<strong>no</strong>População total 170 milhões 2000Negros 45,3 %Indígenas e amarelos 0,9 %Brancos 53,3 %Índice de Gini 60,7 1998Gastos em saúde 1998Públicos2,9 % do PIBPrivados3,6 % do PIBPer capita308 dólares PPCFontes: Censo 2000; Pnud, Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000.55. Entre seus resultados está a criação, pelo gover<strong>no</strong> federal, do GTI – Grupo de Trabalho Interministerial <strong>para</strong>apontar políticas públicas prioritárias <strong>para</strong> a inclusão racial. Entre estas, foi criado o Programa Nacional deAnemia Falciforme.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de357


A observação de alguns <strong>da</strong>dos referentes ao <strong>Brasil</strong> pode aju<strong>da</strong>r a estabelecer outrascom<strong>para</strong>ções em relação a África do Sul, Estados Unidos Canadá e Rei<strong>no</strong> Unido.Trata-se de um país de desenvolvimento huma<strong>no</strong> médio, segundo estimativas doPnud, ocupando a 73ª posição <strong>no</strong> ranking mundial, com IDH equivalente a 0,757.Segundo a classificação do Banco Mundial, o <strong>Brasil</strong> é um país de médio nível de ren<strong>da</strong>.No entanto, apresenta importante nível de desigual<strong>da</strong>de, medi<strong>da</strong> pelo Índice deGini (60,7).Aqui, a esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer era de 67,2 a<strong>no</strong>s calculados pelo PNUD <strong>para</strong>o período de 1995-2000. A taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil calcula<strong>da</strong> <strong>para</strong> o a<strong>no</strong> 2000 erade 32 óbitos por mil nascidos vivos, enquanto a mortali<strong>da</strong>de materna <strong>para</strong> o períodode 1985-1999 produziu a taxa de 160 mortes por 100 mil nascidos vivos.Apesar desse quadro, o percentual do PIB investido em saúde pública equivaliaa 2,9% em 1998, enquanto o percentual gasto <strong>no</strong> âmbito privado correspondia, namesma época, a 3,6%. A despesa de saúde per capita <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> em 1998 era de 308dólares PPC. Todos esses <strong>da</strong>dos foram calculados pelo Pnud e divulgados <strong>no</strong> Relatóriode Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2002.A com<strong>para</strong>ção <strong>da</strong> participação <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong>s quatro países estu<strong>da</strong>dospode ser vista na tabela 6.Tabela 6. População Negra. <strong>Brasil</strong>, África do Sul, Rei<strong>no</strong> Unido, Canadá eEstados UnidosÁfrica do Sul Rei<strong>no</strong> Unido Estados Unidos Canadá <strong>Brasil</strong>População geral (milhões) 44.5 59.5 281.4 31.01 170Pop. <strong>negra</strong>% Pop. Negra 79% 1.0 12.3 2.3 45.8PIB total (Bilhões US, 2002) 104.2 1,552.4 10,416.8 715.7 452.4Nível de ren<strong>da</strong> Médio Alto Alto Alto MédioIDH (2000) 0,695 0,928 0,939 0,940 0,757PIB per capita p/saúde (%, 1998)Pública 3.3 5.8 5.7 6.6 2.9Priva<strong>da</strong> 3.8 1.2 7.1 2.7 3.6Mortali<strong>da</strong>de Infantil(por mil nasc.Vivos – 2000)55 6 8 6 32Mortali<strong>da</strong>de materna (p/100 milnasc. vivos, 1985-1999)150* 7 8 ----- 160Fonte:Banco Mundial – www.worldbank.org/<strong>da</strong>ta/; Pnud- Relatório de Desenvolvimento Huma<strong>no</strong> 2000, Censos 2000e 2001 dos países; *South African Health Department, 1998.358Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


10. Eqüi<strong>da</strong>de racial em saúde – algumas experiências em cursoComo já foi dito até aqui, as iniciativas de enfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciaisna saúde estão em curso em diversos países, e não apenas <strong>no</strong>s quatro abor<strong>da</strong>dos. Taisações incluem diferentes áreas de atuação e, de várias maneiras, sugerem caminhospossíveis, modelos alternativos, ou reforçam iniciativas de ação em <strong>no</strong>sso país.No a<strong>no</strong> de 2001, um documento de<strong>no</strong>minado Política Nacional de Saúde <strong>da</strong>População Negra: uma questão de eqüi<strong>da</strong>de foi apresentado ao gover<strong>no</strong> brasileiro eà socie<strong>da</strong>de. Seus autores são especialistas e representantes de organismos <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s atuantes <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> 56 , <strong>da</strong> Organização Panamericana de Saúde/Opas e doPrograma de Cooperação Técnica do Ministério Britânico <strong>para</strong> o DesenvolvimentoInternacional/DFID. Seu propósito era fornecer ferramentas iniciais <strong>para</strong> a elaboraçãode uma política nacional de saúde volta<strong>da</strong> <strong>para</strong> as necessi<strong>da</strong>des de to<strong>da</strong> a população.Tinha a perspectiva de constituir-se como auxiliar na ruptura com a invisibili<strong>da</strong>de eomissão relativas às ações <strong>para</strong> superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais e, particularmente,seus aspectos concernentes ao campo <strong>da</strong> saúde. Apontava também sua relevânciacomo instrumento essencial <strong>para</strong> garantir:...a universali<strong>da</strong>de, a integrali<strong>da</strong>de e a eqüi<strong>da</strong>de como princípios basilaresdo SUS, requerendo, <strong>no</strong>s três níveis de gover<strong>no</strong>, uma abor<strong>da</strong>gem integra<strong>da</strong>às rotinas dos serviços de saúde, desde que observa<strong>da</strong>s as especifici<strong>da</strong>des<strong>da</strong> população <strong>negra</strong> e sua diversi<strong>da</strong>de interna quanto i<strong>da</strong>de, sexo esituação socioeconômica (Pnud, 2002, p. 9).Esse documento indica quatro componentes fun<strong>da</strong>mentais <strong>para</strong> a constituição <strong>da</strong>política nacional de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, a saber:i. produção de conhecimento científico;ii. capacitação profissional;iii. informação <strong>da</strong> população;iv. atenção à saúde.Tais vertentes acompanham não apenas aspectos basilares <strong>da</strong>s políticas de saúdeem geral, como também apresentam similitudes com soluções e experiências dos paísesestu<strong>da</strong>dos neste trabalho, em seus esforços de visibilizar e enfrentar a iniqüi<strong>da</strong>de, oracismo e a exclusão <strong>da</strong>s populações <strong>negra</strong>s <strong>da</strong>s políticas de saúde.56. Unicef, Unifem, PNUD, Unesco, GT-Unaids, UNDCP.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de359


Tais pontos servirão de base <strong>para</strong> a análise de propostas em desenvolvimentovolta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, África do Sul, Canadá eEstados Unidos.Assim, é importante considerar que, dentro <strong>da</strong>s proposições de uma PolíticaNacional de Saúde <strong>da</strong> População Negra, diferentes aspectos se desdobram a partir doscomponentes apontados. Entre eles, chamamos a atenção <strong>para</strong> alguns que podem serconsiderados também essenciais.i. Produção de conhecimento científico – este tópico inclui variados aspectosrelacionados a:a. coleta de <strong>da</strong>dos segundo o quesito cor e outros importantes <strong>para</strong> amensuração <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de;b. monitoramento de condições de saúde, com produção, divulgação e análisesistemática de indicadores relacionados aos aspectos raciais <strong>da</strong> populaçãocomo, por exemplo, nas estatísticas vitais e avaliação sistemática <strong>da</strong>s práticasem curso, entre outras;c. sistematização, divulgação e disponibilização de bibliografia de interesse<strong>para</strong> a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>;d. políticas de fomento de estudos e pesquisas;e. políticas de incentivo à criação de núcleos de estudo em universi<strong>da</strong>des eem diferentes centros de pesquisa e educação;f. criação de linhas de pesquisa específicas <strong>no</strong>s órgãos de fomento à pesquisae pós-graduação, como CNPq, Capes, Finep, entre outros.ii. Capacitação de profissionais de saúde – este item requer as seguintes iniciativas:a. treinamento <strong>para</strong> a coleta e análise de <strong>da</strong>dos;b. qualificação <strong>para</strong> a compreensão dos diferentes aspectos relacionados àsiniqüi<strong>da</strong>des raciais em saúde, bem como o conhecimento <strong>da</strong>s evidênciasdisponíveis neste campo, ativi<strong>da</strong>des que devem estar incluí<strong>da</strong>s também nasescolas de graduação e pós-graduação;c. produção de material instrucional útil à qualificação dos profissionais;d. introdução de matérias relativas às etiologias <strong>da</strong>s doenças mais predominantes napopulação <strong>negra</strong>, além <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem dos aspectos culturais e <strong>da</strong> medicina <strong>da</strong>matriz africana, a partir <strong>da</strong> perspectiva já defini<strong>da</strong> como competência cultural;e. introdução <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> como tema transversal <strong>para</strong> osníveis médio e superior de ensi<strong>no</strong> na área de saúde.360Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


iii. Disseminação de informações:a. produção e distribuição ampla de publicações técnicas e informativas sobreetiologia, sinais, sintomas, métodos diagnósticos e tratamento de doençasque mais afetam a população <strong>negra</strong> a partir <strong>da</strong> matriz africana;b. desenvolvimento, apoio e parceira de ativi<strong>da</strong>des informativas comorganizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil;c. criação de mecanismos <strong>para</strong> atuação <strong>da</strong>s organizações comunitárias e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil <strong>no</strong>s processos informativos de modo contínuo;d. desenvolvimento de campanhas de mídia amplas com o propósito deinformar e educar to<strong>da</strong> a população.iv. Atenção à saúde:a. constituição <strong>no</strong> Conselho Nacional de Saúde <strong>da</strong> Comissão Intersetorial deSaúde <strong>da</strong> População Negra;b. criação, <strong>no</strong> interior do SUS, de organismos e equipes com a participação<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, com o objetivo de promover ações necessárias aoenfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong>s diferentes níveis do sistema desaúde;c. introdução do quesito cor em todos os formulários do SUS;d. destaque <strong>para</strong> as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> em to<strong>da</strong>s asações programáticas;e. priorização de ações de combate à mortali<strong>da</strong>de precoce e evitável, emespecial mortali<strong>da</strong>de materna e mortali<strong>da</strong>de infantil;f. aumento <strong>da</strong> eficácia <strong>da</strong>s ações em saúde, a partir <strong>da</strong> incorporação dos temasde saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>;g. implementação nacional do Programa de Anemia Falciforme;h. implantação de mecanismos de eqüi<strong>da</strong>de racial na composição <strong>da</strong>s equipesde saúde;i. promoção de medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> ampliação <strong>da</strong> cobertura dos serviços <strong>para</strong> apopulação <strong>negra</strong>.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de361


10.1. Produção de conhecimento científicoUma longa discussão teórica envolve este tema, vincula<strong>da</strong> às dificul<strong>da</strong>des decompreensão do lugar que o termo/conceito raça ocupa <strong>no</strong> pensamento e na pesquisaem saúde 57 . Entre as principais questões aponta<strong>da</strong>s está o longo debate que visa afirmarou negar o conceito raça na saúde como fator etiológico, ancorado em processos biológicosou como fator de risco social (Cooper Kaufman, 1998). Nesse cenário, fatorescomportamentais, culturais e socioeconômicos são reconhecidos como atuantes <strong>no</strong>sprocessos de saúde/doença, influenciando tanto positiva quanto negativamente a saúdede populações e indivíduos (Chaturvedi, 2001).Aqui, busca-se alertar que, se por um lado é preciso guar<strong>da</strong>r distância de pensamentoseugenistas de inferiori<strong>da</strong>de biológica de huma<strong>no</strong>s (os quais muito influenciarame influenciam o pensamento <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde – e <strong>da</strong> pesquisa em saúde – <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>e fora dele 58 ), também é preciso reconhecer as evidências já produzi<strong>da</strong>s acerca dosdiferenciais – e iniqüi<strong>da</strong>des – produzidos na saúde de indivíduos e grupos a partir desua cor ou raça 59 . Ain<strong>da</strong> assim, reconhecendo o importante papel que as desigual<strong>da</strong>dessocioeconômicas, étnicas, de gênero, espaciais/territoriais, entre outras, têm <strong>no</strong>sprocessos de saúde e doença.Por outro lado, considerando-se que raça não é uma característica biológica,diferentes autores já citados neste capítulo apontam as dificul<strong>da</strong>des e as fragili<strong>da</strong>desvincula<strong>da</strong>s aos critérios de classificação dos indivíduos segundo características raciais.A literatura consulta<strong>da</strong>, nacional e internacional, tem apontado a classificação segundocaracterísticas fe<strong>no</strong>típicas – em especial a cor <strong>da</strong> pele – como principal indicadorracial. Chama ain<strong>da</strong> a atenção <strong>para</strong> a necessi<strong>da</strong>de de algum nível de padronização<strong>no</strong>s critérios de coleta, a fim de se produzir um grau de confiabili<strong>da</strong>de e eficiênciacom<strong>para</strong>tiva aos <strong>da</strong>dos.De qualquer modo, já há evidências suficientes publica<strong>da</strong>s na literatura científica,de que diversas e importantes doenças como hipertensão arterial, diabetes, doençasdo coração e outras, além de mortes precoces, são mais importantes em grupos raciaisespecíficos do que na população em geral. Também já se conhecem doenças específicasvincula<strong>da</strong>s a determinados genes mais preponderantes em alguns grupos raciais, comoé o caso <strong>da</strong> anemia falciforme, (Oliveira, 2003, p. 91-156; London Health Observatory,57. Unicef, Unifem, PNUD, Unesco, GT-Unaids, UNDCP.58. Witzig (1996, p. 674-679). Hernandez-Arias (2003); McKenzie (1999, p. 616-617); Cooper e Kaufman (1991,p. 813-816); Chaturvedi (2001, p. 925-927); Rathore (2003).59. Ver Stepan, Nancy. The our of eugenicis. Um excelente trabalho de pesquisa histórica acerca <strong>da</strong> penetraçãoe desenvolvimento do pensamento eugenista <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e na América Latina, em especial <strong>no</strong>s discursos médicos.362Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


2003; Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2001). Tais fatores por si só já justificariam, numa perspectivade efetivação de boas práticas em saúde, a coleta cui<strong>da</strong>dosa de <strong>da</strong>dos raciais.Ain<strong>da</strong> que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> sejam escassas as pesquisas nesse sentido 60 , esforços de superaçãovêm sendo exigidos pelas organizações <strong>negra</strong>s e especialistas, coerentes coma necessi<strong>da</strong>de aponta<strong>da</strong> pela proposta Política de Saúde <strong>da</strong> População Negra. Alémdisso, é um chamado à ação dos diferentes atores envolvidos, qualquer que seja a correntede filiação do pesquisador e do profissional em relação à polêmica inconclusado real significado dessa variável.É preciso assinalar que os passos mostrados vão requerer a toma<strong>da</strong> de decisão eo permanente engajamento de gestores, pesquisadores e profissionais de saúde, bemcomo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, <strong>para</strong> se buscar implementar ações cotidianas que aten<strong>da</strong>màs deman<strong>da</strong>s de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> e cumpram os princípios de eqüi<strong>da</strong>de euniversali<strong>da</strong>de, indispensáveis <strong>para</strong> a constituição e o funcionamento eficiente doSistema Único de Saúde.A seguir, algumas experiências em desenvolvimento <strong>no</strong>s diferentes países, queoferecem bons exemplos e boas práticas, que podem ser analisa<strong>da</strong>s e a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong>s àsnecessi<strong>da</strong>des de enfrentamento do racismo institucional <strong>no</strong> sistema de saúde em <strong>no</strong>ssopaís e ao estabelecimento <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de racial em saúde.• Coleta de <strong>da</strong>dosA coleta de <strong>da</strong>dos segundo raça/cor é corrobora<strong>da</strong> pelas recomen<strong>da</strong>ções e práticasleva<strong>da</strong>s a cabo <strong>no</strong>s quatro países estu<strong>da</strong>dos. A África do Sul, por exemplo, entre asprimeiras ações, após a retoma<strong>da</strong> do país pela maioria <strong>negra</strong> e o fim do apartheid,incluiu a realização, em 1998, de uma Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde<strong>da</strong> População (South African..., 1998), reconhecendo que:Durante a era do apartheid <strong>da</strong>dos demográficos eram fragmentados eincompletos. Enquanto as estatísticas <strong>para</strong> brancos, pardos [coloureds]e asiáticos eram de quali<strong>da</strong>de razoável, os <strong>da</strong>dos sobre negros não eramadequados (South African..., 1998, p.1).60. Ver, por exemplo, a extensa bibliografia organiza<strong>da</strong> por Physicians for Humans’s Rights. Disponível em: , <strong>para</strong> estudos feitos <strong>no</strong>s Estados Unidose grande parte <strong>da</strong>s referências utiliza<strong>da</strong>s neste trabalho.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de363


No caso do Rei<strong>no</strong> Unido, Alexander (1999, p. 10) em seu estudo assinalou apresença de diferentes bases de <strong>da</strong>dos oficiais em que o elemento racial ou étnico écoletado. No entanto, em contraste com os <strong>da</strong>dos sobre a maioria branca, as coleçõesinformativas sobre os demais grupos raciais e étnicos apresentam fragili<strong>da</strong>des einconsistências relaciona<strong>da</strong>s à coleta e ao uso <strong>da</strong>s informações.Aqui, fica patente a utili<strong>da</strong>de que a invisibilização de <strong>da</strong>dos segundo raça/cortem <strong>para</strong> a manutenção de regimes de exclusão racial.Luiz Eduardo Batista (2002, p. 26-27) de<strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u de ideologia dos <strong>da</strong>dos osjogos de revelação/ocultação e de utilização de <strong>da</strong>dos raciais em favor <strong>da</strong>s populaçõesdominantes, ao mesmo tempo que apontava sua presença <strong>no</strong>s estudos realizados <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> por diferentes organismos de pesquisa, entre eles o IBGE.Por outro lado, a pesquisa considerando variáveis raciais tem sido aponta<strong>da</strong> comoimportante instrumento na explicitação e mensuração <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des e iniqüi<strong>da</strong>des(McPherson, 2003, p. 443; Lopes, 2003), cujos desdobramentos possibilitam informare elaborar políticas públicas volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as deman<strong>da</strong>s reais <strong>da</strong>s populações a quese destinam.No entanto, por razões já expostas aqui, esse recurso não tem sido empregadoadequa<strong>da</strong>mente como um dos instrumentos de produção de eqüi<strong>da</strong>de. Assim, tanto<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> como <strong>no</strong>s demais países estu<strong>da</strong>dos – em especial África do Sul 61 e Rei<strong>no</strong>Unido (Aspinall, 1999, p. 125-132) –, a coleta consistente de <strong>da</strong>dos raciais está postana agen<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ações de eqüi<strong>da</strong>de racial em saúde. Assinale-se que <strong>no</strong>s Estados Unidosessa coleta é feita desde o início do século XX, ain<strong>da</strong> que o contexto de segregaçãoracial pré-movimento de direitos civis provocasse estratégias de invisibilização <strong>da</strong>scondições de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> e seu acesso aos serviços de saúde (Smith,1998, p. 80). Segundo David Barton Smith:A falta de informação sóli<strong>da</strong> sobre o acesso de negros aos serviços desaúde continuou até os a<strong>no</strong>s de 1950 e falsificou as discussões acerca doque fazer de suas terrivelmente altas taxas de morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de(Smith, 1998, p. 80).Somente após as medi<strong>da</strong>s de combate à segregação racial resultantes doestabelecimento <strong>da</strong> legislação de direitos civis <strong>para</strong> a população <strong>negra</strong>, tor<strong>no</strong>u-sepossível o acesso a <strong>da</strong>dos de melhor quali<strong>da</strong>de. Daí ser possível compreender a profusãode <strong>da</strong>dos – e pesquisas científicas – à disposição de gestores e profissionais de saúdenaquele país <strong>no</strong>s dias atuais.61. No estudo de revisão bibliográfica elaborado por Naomar Almei<strong>da</strong> Filho em 1999, acerca de desigual<strong>da</strong>desna saúde, poucos foram os trabalhos que abor<strong>da</strong>vam as desigual<strong>da</strong>des raciais, tanto <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> quanto em to<strong>da</strong>a América Latina e Caribe.364Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A coleta sistemática também está entre as recomen<strong>da</strong>ções <strong>da</strong> III CMR, que instituiuem seu documento final uma sessão sobre o tema, apontando não apenas a coletade <strong>da</strong>dos segundo padrões aceitáveis e de acordo com parâmetros científicos e dedireitos huma<strong>no</strong>s, como também requerendo a participação de centros de pesquisa eorganizações não-governamentais, ao lado de instituições governamentais e priva<strong>da</strong>s,na elaboração de metodologias e padrões aceitáveis nesse campo 62 .A importância dos <strong>da</strong>dos <strong>para</strong> a saúde e sua abrangência está implícita <strong>no</strong> textoa seguir:Parágrafo 92 - Insta os Estados a coletarem, compilarem, analisarem, disseminareme a publicarem <strong>da</strong>dos estatísticos confiáveis em níveis locale nacional e a tomarem to<strong>da</strong>s as outras medi<strong>da</strong>s necessárias <strong>para</strong> avaliarperiodicamente a situação de indivíduos e grupos que são vítimas deracismo, discriminação racial, xe<strong>no</strong>fobia e intolerância correlata. 63Para além <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s gerais de educação <strong>da</strong> população e de profissionais egestores de saúde sobre a importância do enfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais eseus impactos na saúde – incluindo a geração dos <strong>da</strong>dos e seus processos de coleta –,buscam-se iniciativas <strong>para</strong> a superação <strong>da</strong>s barreiras impostas por limitações materiaise técnicas, bem como <strong>da</strong>quelas conseqüentes ao racismo institucional. Entre elasdestacamos:• Treinamento de profissionais de atenção primária <strong>para</strong> a administração de<strong>da</strong>dos, incluindo coleta, vali<strong>da</strong>ção, análise, apresentação e interpretação.A metodologia emprega<strong>da</strong> deve abranger a utilização de <strong>da</strong>dos fornecidos pelospróprios profissionais e encorajamento <strong>para</strong> que eles elaborem soluções próprias <strong>para</strong>os problemas apresentados. Os exercícios práticos e trabalhos de grupo devem serprecedidos de teoria e incluir o desenvolvimento de pla<strong>no</strong>s de ação específicos, commetas e cro<strong>no</strong>gramas estabelecidos.Essa experiência foi desenvolvi<strong>da</strong> na África do Sul, em Lejweleputswa, uma <strong>da</strong>sci<strong>da</strong>des do distrito de Free State, região central do país, <strong>no</strong> período 1999-2000 (Barrone col, 2003, p. 20-23). Os resultados obtidos compreendiam aperfeiçoar a quali<strong>da</strong>dedos <strong>da</strong>dos e <strong>da</strong> ação profissional, além do envolvimento <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des na melhoria<strong>da</strong>s condições de saúde locais. Eles podem ser visualizados na figura 2:62. South African Department of Health. Health Sector Strategic Framework 1999-2004.63. Declaração Final e Programa de Ação <strong>da</strong> III CMR, capítulo III. Medi<strong>da</strong>s de prevenção, educação e proteçãovisando à erradicação do racismo, <strong>da</strong> discriminação racial, xe<strong>no</strong>fobia e <strong>da</strong> intolerância correlata <strong>no</strong>s âmbitosnacional, regional e internacional, parágrafo 92.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de365


Figura 2. Com<strong>para</strong>ção sobre a quali<strong>da</strong>de dos <strong>da</strong>dos: Lejweleputswa e o restante <strong>da</strong>Província de Free StateFonte: Lessons Learnt in the Implementation of Primary Health Care, South Africa, 2003.• Modernização <strong>da</strong> rede de prestação de serviços, a partir <strong>da</strong> conexão de todoo sistema via internet, a fim de possibilitar o arquivamento e acesso eletrônicoàs informações <strong>da</strong> população atendi<strong>da</strong>.Essa iniciativa está em curso <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, como parte do processo de reformado sistema de saúde (NHS Plan) (The NHS Modernization Board, 2000-2001, p. 36).Até o a<strong>no</strong> 2001, 95% dos serviços de atenção primária estavam conectados à redeprópria do sistema de saúde (NHSnet).• Utilização de tec<strong>no</strong>logia inteligente (smart tech<strong>no</strong>logy) <strong>para</strong> a coleta de informaçõessobre a população atendi<strong>da</strong>. A partir <strong>da</strong> estrutura de saúde informatiza<strong>da</strong>,um programa de coleta de <strong>da</strong>dos que exigisse o preenchimento adequado dos<strong>da</strong>dos resultaria na coleta mais intensiva de <strong>da</strong>dos raciais <strong>da</strong> população. Essapossibili<strong>da</strong>de de solução é cita<strong>da</strong> por Ziggi Alexander, em seu estudo já assi-366Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


nalado aqui (Alexander, 1999, p. 10), <strong>para</strong> a superação de problemas vividos<strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido.Uma consideração essencial é posta pela experiência de Braveman (2003), apontandoque mais importante do que a busca de tec<strong>no</strong>logias modernas <strong>para</strong> os processosde coleta de <strong>da</strong>dos é a elaboração de esquemas simplificados e adequados à reali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> população local e à linguagem dos profissionais envolvidos.• Produção de indicadores e monitoramento de condições de saúdeAfirmou Margaret Whitehead que:Monitoramento e avaliação são também essenciais em qualquer intervenção<strong>para</strong> reduzir a iniqüi<strong>da</strong>de, de modo a refinar as políticas e ter certezade que estas não produzem nenhum <strong>da</strong><strong>no</strong> (Whitehead, 1992, p. 14).Ain<strong>da</strong> que, segundo a autora, essa afirmativa pareça óbvia, isto se dá pela pressuposição<strong>da</strong>s boas intenções por trás <strong>da</strong>s políticas. No entanto, trabalhos (e a própriaprática cotidiana de ca<strong>da</strong> um de nós) já demonstraram os limites dessa pressuposição.No que se refere às dispari<strong>da</strong>des raciais em saúde, trabalhos como de Cunha (2001, p.48-50) e de van Ryn e Fu (2003, p. 248-255) puderam demonstrar que, ao contrário <strong>da</strong>sboas intenções inscritas na elaboração de muitas iniciativas, os efeitos podem muitasvezes ampliar as desigual<strong>da</strong>des que se busca combater.Segundo Paula A. Braveman, <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>Califórnia:O monitoramento <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de na saúde e na atenção à saúde requerindicadores com<strong>para</strong>tivos de saúde e seus determinantes sociais entre osgrupos sociais com diferentes níveis de desvantagens sociais subjacentes,isto é, grupos que ocupam diferentes posições na hierarquia social(Braveman, 2003, p. 181).A autora desenvolveu um modelo de monitoramento que abrange diferentespassos, conforme se pode ver na figura 3.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de367


Figura 3. Oito passos <strong>para</strong> o monitoramento de políticas de eqüi<strong>da</strong>de em saúde eseus determinantesPasso 1 - Identificar os grupos sociais que a priori requisitam atenção – a partirde revisão <strong>da</strong> literatura, consultas a representantes sociais em todosos setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, envolvendo ativistas e defensores dosinteresses dos grupos vulneráveis.Passo 2 - Identificar preocupações gerais e necessi<strong>da</strong>des de informação <strong>para</strong>eqüi<strong>da</strong>de em saúde e seus determinantes. Novamente desenvolvendo,além de revisão <strong>da</strong> literatura, consultas amplas que incluamrepresentantes e ativistas dos grupos vulneráveis.Passo 3 - Identificar fontes de informação sobre os grupos e seus interesses, apartir de informações quantitativas e qualitativas.Passo 4 - Identificar indicadores de: a) saúde; b) principais determinantes de saúde<strong>para</strong> além <strong>da</strong> atenção à saúde e c) serviço de saúde (financiamento,alocação de recursos, utilização e quali<strong>da</strong>de), que são particularmentesensíveis a diferenciais de acesso.Passo 5 - Descrever padrões correntes de desigual<strong>da</strong>des sociais evitáveis emsaúde e seus determinantes.Passo 6 - Descrever as tendências desses padrões ao longo do tempo.Passo 7 - Gerar um processo inclusivo e público de avaliação <strong>da</strong>s implicações políticasdesses padrões e tendências, abrangendo todos os participantes do processo(todos os setores relevantes, socie<strong>da</strong>de civil, ONGs entre outros).Passo 8 - Desenvolver e a<strong>da</strong>ptar, de forma dinâmica, um pla<strong>no</strong> estratégico<strong>para</strong> implementação, monitoramento e pesquisa, considerando osobstáculos técnicos e políticos e incluindo um amplo espectro deapoiadores <strong>no</strong> processo de planejamento.Repetir todo o processo desde o início, incorporando <strong>no</strong>vos conhecimentos ecui<strong>da</strong>dos.Fonte: Braveman, 2003, p. 185.368Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


É interessante ressaltar que o relatório elaborado pelo Instituto de Medicina dosEstados Unidos (Unequal Treatment) assinala, entre as muitas vantagens do monitoramento,a redução de custos <strong>da</strong> prestação de serviços (Smedley e col, 2003, p. 216).De qualquer modo, experiências vivi<strong>da</strong>s em diversas partes do mundo (McCoyet al., 2003, p. 237-287) indicam que o monitoramento de políticas <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong>eqüi<strong>da</strong>de pode ser feito considerando diferentes fontes de <strong>da</strong>dos, tanto as já existentes<strong>no</strong> interior dos países ou locali<strong>da</strong>des, quanto a partir <strong>da</strong> criação de <strong>no</strong>vas pesquisasou introdução de <strong>no</strong>vos quesitos naquelas existentes. A busca de inteligibili<strong>da</strong>de e desimplici<strong>da</strong>de deve <strong>no</strong>rtear as escolhas e elaborações.Vale destacar também que métodos de avaliação têm sido desenvolvidos, tendocomo escopo a eqüi<strong>da</strong>de racial na saúde, tanto a partir de amplas áreas geográficasquanto na perspectiva comunitária. Um importante aspecto que se apresenta <strong>para</strong>conferir mais precisão e adequação às pesquisas e avaliações é a participação deintegrantes dos grupos focalizados pelas políticas, desde a elaboração <strong>da</strong> pesquisa eseus instrumentos até seu desenvolvimento e análise (Luther e col, 2003, p. 243-248;Hatch e col, 1993, p 27-31; McCoy et al., 2003; Cooper e col, 2002).Um outro ponto fun<strong>da</strong>mental é o que provém do reconhecimento de que osfatores vinculados à produção <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des em saúde estão vinculados não apenasaos fatores intrínsecos ao sistema, como também a fatores sociopolíticos. Assim,processos de avaliação e monitoramento vão requerer mobilização política, que incluio envolvimento de:...pesquisadores e acadêmicos, profissionais de saúde, legisladores epolíticos, agentes do gover<strong>no</strong>, ministros, mídia e o público em geral,e ONGs preocupa<strong>da</strong>s com o desenvolvimento e justiça (McCoy et al.,2003, p. 276).O mesmo envolvimento e a mesma mobilização vão ser exigidos <strong>da</strong>s equipesencarrega<strong>da</strong>s diretamente <strong>da</strong> avaliação e do monitoramento.• PesquisaEstudo bibliométrico recente empreendido por Naomar Almei<strong>da</strong> Filho e colaboradores(2003, p. 2037-2043), como parte dos esforços <strong>da</strong> Opas/OMS <strong>para</strong> a promoçãode pesquisas sobre as condições de vi<strong>da</strong> e outros aspectos de saúde <strong>da</strong> populaçãopobre, oferece um retrato razoavelmente preocupante <strong>da</strong>s pesquisas <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>sdesigual<strong>da</strong>des em saúde na América Latina e Caribe. Analisando uma bibliografiacomposta por 269 documentos escritos <strong>no</strong> período de 1971 a 1995 em to<strong>da</strong> a região,Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de369


os autores descobriram que somente 10% dos trabalhos se dedicavam às desigual<strong>da</strong>desde gênero e etnia 64 . Vale destacar que a intensi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais temsido demonstra<strong>da</strong> e analisa<strong>da</strong> em outras regiões do mundo durante o mesmo período,e tem sido aponta<strong>da</strong> como um importante fator a ser enfrentado <strong>para</strong> a constituiçãode um padrão de eqüi<strong>da</strong>de em saúde. A tabela 7 possibilita melhor visualização <strong>da</strong>spesquisas <strong>no</strong> período.Tabela 7. Pesquisa sobre Desigual<strong>da</strong>des em Saúde por tema, naAmérica latina e Caribe, 1971-1995Temas Número PercentualEcossocial 40 18.2Pobreza 80 29.7Estratificação Socioeconômica 14 5.2Desenvolvimento Econômico 10 3.7Condições de Vi<strong>da</strong> 52 19.3Histórica/Estrutural 50 19Gênero/etnia 26 9.7Total 269 100Fonte: Almei<strong>da</strong> Filho, Naomar et al. Research on health Inequalities in Latin America and theCaribbean: Bibliometric Analysis (1971-2000) and descriptive Content Analysis (1971-1995).American Journal of Public Health, December 2003, vol. 93, nº 12, pp 2037-2043.Ao tratar do fomento às pesquisas que podem mostrar a situação de saúde <strong>da</strong>população <strong>negra</strong>, entre outras, é preciso ter em mente a conclusão apresenta<strong>da</strong> porGary King:A exclusão sistêmica <strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias <strong>da</strong>s pesquisas biomédicas e <strong>da</strong>spesquisas sociocomportamentais também representa uma forma deracismo institucional (King, 1996, p. 34).Em seu estudo de 1999, Ziggi Alexander também constatou a mesma carênciade pesquisas envolvendo negros, asiáticos e outras mi<strong>no</strong>rias <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido, já cita<strong>da</strong><strong>no</strong>s demais países aqui abor<strong>da</strong>dos.64. Os estudos foram agrupados segundo os temas: pobreza, estratificação socioeconômica, desenvolvimento econômico,condições de vi<strong>da</strong>, desigual<strong>da</strong>des históricas/estruturais e gênero/etnia. Um grupo contendo trabalhosenfocando aspectos ecossociais relativos à relação espaço/população, também foi apontado. Assim, estamossupondo aqui que as desigual<strong>da</strong>des raciais integrem esse grupo.370Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Um aspecto fun<strong>da</strong>mental constatado por Alexander diante <strong>da</strong>s fragili<strong>da</strong>des <strong>da</strong>spesquisas quanto aos interesses dos grupos étnicos e raciais mi<strong>no</strong>ritários <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong>Unido foi...o impacto dos julgamentos e valores dos pesquisadores na abor<strong>da</strong>geme conclusões <strong>da</strong> pesquisa (Alexander, 1999, p. 48).Já <strong>no</strong>s Estados Unidos, o relatório do Instituto de Medicina (Smedley; e col 2003,p. 242) indicou a existência em profusão de evidências acerca <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciaisem saúde. No entanto, segundo o relatório, ain<strong>da</strong> há uma importante deficiência <strong>no</strong>que se refere às razões dessa iniqüi<strong>da</strong>de, bem como às formas <strong>para</strong> eliminá-las.O relatório feito por encomen<strong>da</strong> do Congresso <strong>no</strong>rte-america<strong>no</strong> aponta algumasrecomen<strong>da</strong>ções <strong>para</strong> o desenvolvimento de pesquisas, considerando duas áreas específicas:a) ampliação <strong>da</strong>s pesquisas sobre as origens, os mecanismos e as estratégias deintervenção <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des raciais na atenção à saúde; e b) realização de pesquisassobre os aspectos éticos e outras barreiras <strong>para</strong> a eliminação <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des. Possivelmentenão será coincidência o fato de o relatório, pre<strong>para</strong>do por representantes <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil como resposta e complementação ao trabalho do Instituto de Medicina,ter apresentado as mesmas recomen<strong>da</strong>ções (Physicians..., 2003, p. 6).Entre os principais campos sugeridos de pesquisa estão:• conhecimento <strong>da</strong> contribuição de profissionais, serviços e pacientes <strong>para</strong> asdispari<strong>da</strong>des, reconhecendo o papel importante <strong>da</strong>s condutas individuais epreconceitos dos profissionais de saúde na produção de desigual<strong>da</strong>des, bemcomo a vigência do racismo institucional ao longo do sistema;• desenvolvimento de instrumentos <strong>para</strong> implantação de medi<strong>da</strong>s centra<strong>da</strong>s<strong>no</strong>s interesses <strong>da</strong> clientela <strong>para</strong> a promoção <strong>da</strong> confiança <strong>no</strong>s profissionais eserviços, bem como <strong>para</strong> visibilização de suas práticas discriminatórias;• desenvolvimento de métodos de monitoramento e avaliação adequados aprocessos de longo prazo, compreensíveis aos usuários, simplificados que nãosobrecarreguem a ação de profissionais na coleta) e que considerem as fontesde <strong>da</strong>dos já em uso tanto nacionalmente como <strong>no</strong> interior dos serviços;• conhecimento <strong>da</strong> relação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des na saúde e os diferenciais existentesentre os diversos grupos raciais, considerando inclusive fatores exter<strong>no</strong>sà saúde como, por exemplo, os socioeconômicos.Uma outra necessi<strong>da</strong>de visível é a participação de representantes dos diferentesgrupos raciais e gêneros, de forma proporcional à sua presença na população estu<strong>da</strong><strong>da</strong>nas pesquisas clínicas, salvaguar<strong>da</strong>ndo os requisitos éticos já bem estabelecidos. E mais,garantindo mecanismos visíveis e de fácil compreensão <strong>para</strong> o monitoramento dessaspesquisas, bem como <strong>para</strong> a coerção e re<strong>para</strong>ção dos abusos.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de371


Nos Estados Unidos, a decisão de se incluir proporcionalmente representantesde diferentes grupos étnicos e raciais nas pesquisas clínicas financia<strong>da</strong>s com recursospúblicos foi toma<strong>da</strong> em 1993 65 , mas decisão equivalente ain<strong>da</strong> está <strong>para</strong> ser toma<strong>da</strong><strong>no</strong>s demais países do grupo analisado.No a<strong>no</strong> de 2003 a Organização Mundial de Saúde publicou em seu boletim oresultado de um amplo trabalho realizado <strong>para</strong> a criação do conceito de Sistema dePesquisa em Saúde (Pang, 2003, p. 815-820), voltado <strong>para</strong> o desenvolvimento deações <strong>no</strong> interior dos países. As características principais do modelo apresentado são:a) a perspectiva sistêmica, de operação coordena<strong>da</strong> e produção de objetivos comunsa partir de diferentes elementos; e b) o estabelecimento de padrões de funcionamentoque possibilitem a pesquisa adequa<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong>des e deman<strong>da</strong>s prioritárias dospaíses, como também sua utilização na ponta, entre gestores e profissionais do sistemade saúde.Fruto de um trabalho extenso, a formulação a seguir foi feita a partir de vastarevisão bibliográfica e de consulta a mais de 100 indivíduos de cerca de 40 países em10 ativi<strong>da</strong>des de consulta e discussão ao longo do período de março de 2001 a junhode 2003. A tabela 8 apresenta um resumo dos componentes desse sistema.Tabela 8. Sumário de funções e componentes operacionais do Sistema dePesquisa em SaúdeAdministraçãoFinanciamentoFunçãoCriação e sustentabili<strong>da</strong>de derecursosProdução e utilização <strong>da</strong> pesquisaComponente operacional• Define e articula a visão <strong>para</strong> o Sistema Nacional dePesquisa em Saúde (SNPS);• Identifica as priori<strong>da</strong>des de pesquisa em saúde ecoordena a adesão a elas;• Estabelece e monitora padrões éticos <strong>para</strong> a pesquisa emsaúde e as parcerias em pesquisa;• Monitora e avalia o SNPSGarante financiamento de pesquisa e sua alocaçãoresponsávelEstabelecer, fortalecer e sustentar a capaci<strong>da</strong>de humana efísica <strong>para</strong> conduzir, absorver e utilizar a pesquisa em saúde• Produzir resultados cientificamente válidos;• Traduzir e comunicar a pesquisa <strong>para</strong> informar políticas,estratégias, práticas e opinião pública;• Promover o uso <strong>da</strong> pesquisa <strong>para</strong> desenvolver <strong>no</strong>vasferramentas (drogas, vacinas, equipamentos e outrasaplicações) <strong>para</strong> melhoria <strong>da</strong> saúde.Fonte: Bulletin of the World Health Organization 2003; 81.65. A decisão foi toma<strong>da</strong> pelo National Institutes of Health/NHI, cita<strong>da</strong> por Rathore (2003, p. 763).372Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Tais proposições estão sendo incorpora<strong>da</strong>s neste trabalho como uma importanteferramenta que possibilita estruturar um sistema nacional de pesquisa em saúde <strong>da</strong> população<strong>negra</strong>. Essa formulação tem utili<strong>da</strong>de <strong>no</strong> estabelecimento de diretrizes importantes <strong>para</strong>a implantação de um modelo sustentável e adequado, que respon<strong>da</strong> às necessi<strong>da</strong>des deelevação dos patamares de saúde <strong>da</strong> população e ain<strong>da</strong> garanta a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>dedo serviço prestado e a<strong>da</strong>ptação dos gastos em pesquisa às priori<strong>da</strong>des de saúde pública.Entre os países estu<strong>da</strong>dos, os Estados Unidos são, de longe, o que mais tem sedesenvolvido nesse campo. De fato, a produção de conhecimento científico sobre asaúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong> país é verificável não apenas a partir dos estudos nacionaiselaborados segundo iniciativas governamentais, mas também <strong>no</strong> grande número depesquisas origina<strong>da</strong>s em universi<strong>da</strong>des e organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil.Importante considerar que tal profusão está diretamente vincula<strong>da</strong> à disponibili<strong>da</strong>dede fundos e outros incentivos, além <strong>da</strong> decisão política e do empenho <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decivil, num padrão ain<strong>da</strong> distante <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de brasileira.Uma outra contribuição a ser considera<strong>da</strong> é a produção de modelos inclusivosde pesquisas, que reconheçam e implementem parcerias com as comuni<strong>da</strong>des. Taisparcerias deverão contar com a participação comunitária <strong>no</strong>s diferentes momentos deelaboração, inclusive nas definições acerca <strong>da</strong> direção e do foco <strong>da</strong> pesquisa (Hatche col, 1993, p. 27-31).10.2. Capacitação profissionalEntre os aspectos fun<strong>da</strong>mentais na produção de <strong>no</strong>vos padrões de atuação <strong>para</strong>diferentes profissionais está a capacitação <strong>para</strong> o atendimento <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des desaúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. Essa deman<strong>da</strong> aparece em diversos diagnósticos elaboradospor organismos oficiais ou por pesquisadores de organismos não-estatais dos paísesestu<strong>da</strong>dos (Baldwin-Ragaven, 2000, p. 227-241).Trabalho realizado <strong>no</strong> Rei<strong>no</strong> Unido com um grupo focal formado por profissionaisde saúde de diferentes áreas (Chevannes, 2002, p. 297) pode oferecer pistas <strong>para</strong> reflexãoe maiores estudos sobre o que se exige dos profissionais de saúde <strong>para</strong> a produção deações que possibilitem a eqüi<strong>da</strong>de racial.Os resultados <strong>da</strong>s entrevistas semi-estrura<strong>da</strong>s feitas antes e depois de treinamentosobre competência cultural entre os profissionais revelou os seguintes achados:• 65% não receberam qualquer informação sobre o assunto durante a formaçãoprofissional;Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de373


• alguns participantes referiram buscar, por conta própria, informações sobre ascaracterísticas culturais de seus clientes;• o problema de comunicação foi apontado pelos participantes, diante <strong>da</strong>sdiferentes línguas fala<strong>da</strong>s por seus clientes;• todos os profissionais consideraram importante <strong>para</strong> a quali<strong>da</strong>de do serviçoprestado <strong>da</strong>r atenção às necessi<strong>da</strong>des dos clientes;• na fase pós-treinamento, 80% dos profissionais afirmaram ter ampliado seusconhecimentos sobre os grupos raciais ou étnicos mi<strong>no</strong>ritários;• os conhecimentos adquiridos pelo grupo focal foram capazes de ampliar emelhorar seu modo de pensar sobre esses grupos;• 75% dos participantes não se mostraram capazes de identificar áreas de seu trabalhoem que tais conhecimentos e modo de pensamento poderiam ser aplicados.Em sua conclusão, a autora assinala que é possível afirmar que o treinamento deprofissionais de saúde desenvolve sua capaci<strong>da</strong>de de li<strong>da</strong>r com grupos raciais e étnicosdiferentes dos seus. E destaca:De qualquer modo, a sustentabili<strong>da</strong>de do aprendizado <strong>da</strong> assistência apacientes de mi<strong>no</strong>rias étnicas e outros usuários é mais bem desenvolvi<strong>da</strong>num ambiente em que os profissionais e os pacientes interagem de modocontínuo (Chevannes, 2002, p. 297).Para que se busque atender às necessi<strong>da</strong>des de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> – oude diferentes grupos raciais e étnicos desvalorizados – o modelo de capacitação a serdesenvolvido vai requerer a abor<strong>da</strong>gem de, pelo me<strong>no</strong>s, dois aspectos:a. Características de saúde (incluindo morbi<strong>da</strong>de e mortali<strong>da</strong>de) <strong>da</strong> população<strong>negra</strong> – que significa a apreensão de informações sobre os principais agravosde saúde, seus determinantes e as alternativas de resolução.b. Competência cultural – que se refere ao desenvolvimento de habili<strong>da</strong>des<strong>para</strong> li<strong>da</strong>r de forma respeitosa com modos de ser, crenças, estilos, atitudes ecomportamentos individuais e grupais, incorporando-os e valorizando-os naprestação de serviços (Dendoba, 1998).Faz parte desse conjunto também o desenvolvimento de ação <strong>para</strong> a ampliação <strong>da</strong>participação de representantes <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong>s cursos de formação profissionalna área de saúde, em especial a medicina (Smedley e col, 2003, p. 14), além decurrículos adequados à diversi<strong>da</strong>de racial, social e de gênero. O relatório UnequalTreatment apresenta, inclusive, as seguintes considerações:Os benefícios <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de entre os profissionais de saúde sãosignificantes e ilustram que o compromisso continuado com as ações374Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


afirmativas é necessário <strong>para</strong> programas de graduação em saúde,residência e outras oportuni<strong>da</strong>des profissionais (Smedley e col, 2003,p. 242).As mesmas considerações foram aponta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a África do Sul 66 e Rei<strong>no</strong> Unido(Alexander, 1999, p. 41), e integram o Programa de Ação <strong>da</strong> III CMR, em seu capítuloII – Vítimas de racismo, discriminação racial, xe<strong>no</strong>fobia e intolerância correlata, parágrafo5 67 .Entre os países pesquisados, os Estados Unidos oferecem maior número deexperiências nesse campo, em decorrência <strong>da</strong>s vitórias obti<strong>da</strong>s pelo movimento dedireitos civis na déca<strong>da</strong> de 60. Em artigo publicado em 1998, integrantes do HealthResources and Services Administration/HRSA apresentaram diferentes medi<strong>da</strong>sempreendi<strong>da</strong>s pelo gover<strong>no</strong> federal dos Estados Unidos, volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a competênciacultural (Dendoba e col, 1998). Entre elas, as ações volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a capacitação eformação profissional:• programa de fellowship de 10 meses que inclui treinamento em administraçãoem saúde, financiamento (dinheiro e pla<strong>no</strong> de saúde) e estágio <strong>para</strong> ampliara participação de representantes de mi<strong>no</strong>rias raciais e étnicas. Após a fase detreinamento, é providenciado apoio <strong>para</strong> a obtenção de emprego;• apoio e financiamento à National Association of Spanish Serving Health ProfessionalsSchools, incluindo apoio à capacitação de profissionais;• treinamento de representantes dos grupos mi<strong>no</strong>ritários como agentes de saúde<strong>para</strong> trabalho nas comuni<strong>da</strong>des;• capacitação de profissionais em geral <strong>para</strong> a competência cultural.10.3. Disseminação de informaçõesTer acesso a informações de quali<strong>da</strong>de sobre saúde faz parte não apenas docapítulo de direitos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, mas também é uma <strong>da</strong>s ferramentas mais importantes<strong>no</strong>s processos de prevenção e tratamento de doenças. E ain<strong>da</strong> é aliado indispensável<strong>para</strong> a participação de quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população na criação, implantação, monitoramentoe avaliação de políticas públicas nesse campo.66. Department of Health. Health Sector Strategic Framework 1999-2004, item 3.9.1.67. Pla<strong>no</strong> de Ação, Parágrafo 5. Solicita que os estados, apoiados pela cooperação internacional, considerempositivamente a concentração de investimentos adicionais <strong>no</strong>s serviços de saúde, educação, saúde pública,energia elétrica, água potável e controle ambiental, bem como outras iniciativas de ações afirmativas ou deações positivas, principalmente nas comuni<strong>da</strong>des de origem africana.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de375


A disponibilização de informações é, por essas razões, um dos itens cruciais naconstituição de uma política nacional de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, conforme se verifica<strong>no</strong> documento já citado (Pnud, 2002, p. 11-12).Já se apontou aqui a necessi<strong>da</strong>de vista <strong>no</strong>s diferentes países de se coletar e divulgar<strong>da</strong>dos sobre as condições de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, de modo simplificado epadronizado. Iniciativas desse tipo vão possibilitar a participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de,visando à produção de ações mais adequa<strong>da</strong>s às suas carências e deman<strong>da</strong>s, comotambém à ampliação do seu nível de educação e de toma<strong>da</strong> de decisões e capaci<strong>da</strong>dede ação (Russell, 1997, p. 105-115).Nas palavras de Göran Dahlgren e Margaret Whitehead (1992, p. 46):É portanto duplamente importante que informações sobre temasrelacionados a eqüi<strong>da</strong>de em saúde estejam mais amplamente disponíveise que o debate e a participação sejam encorajados em todos os setores<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Cabe assinalar que o acesso a informações não deve ser considerado um fatorisolado e suficiente <strong>para</strong> a participação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de e de organizações representativas<strong>da</strong>s mais vulneráveis. De fato, outras medi<strong>da</strong>s devem ser agrega<strong>da</strong>s a essa a fim depermitir efetivas melhorias nas políticas de saúde 68 .10.4. Atenção à saúdeEm análise de <strong>da</strong>dos relativos a uma déca<strong>da</strong> (1991-2001), técnicos do Ipeapuderam demonstrar a importância do Sistema Único de Saúde/SUS na atenção àpopulação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. De fato, segundo os pesquisadores, o Suplemento Saúde <strong>da</strong>Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios de 1998 apontou que proporcionalmentea população <strong>negra</strong> recorre mais ao SUS do que a população branca – 76,23% de negros e66,05% de brancos. No entanto, quando se considera o percentual total de atendimentosem todo o sistema, incluindo-se os serviços privados – a proporção se inverte. Ou seja:13,86% <strong>da</strong> população branca recebe atendimento, enquanto essa proporção cai <strong>para</strong>11,35% <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. A esse respeito, afirmaram os técnicos:68. Kathleen M. Russel, op. cit., listou os seguintes fatores responsáveis pelos resultados de sucesso obtidos pela Iniciativade Saúde de Mi<strong>no</strong>rias do estado de Indiana, <strong>no</strong>s Estados Unidos: ampliação <strong>da</strong>s informações sobre os gruposvulneráveis à disposição; consenso <strong>para</strong> a intervenção na política pública; definição de objetivos mútuos através deum pla<strong>no</strong> estratégico de cinco a<strong>no</strong>s; criação de estrutura organizacional <strong>para</strong> implementação do pla<strong>no</strong>; e garantia<strong>da</strong>s iniciativas por meio de lei. O processo vai requerer também melhor infra-estrutura <strong>para</strong> as organizações comunitáriase maior utilização dos meios legislativos <strong>para</strong> a implementação <strong>da</strong>s iniciativas (p. 105 – abstract).376Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Supondo-se que as populações <strong>negra</strong> e branca tivessem igual acessoaos serviços de saúde, e que suas condições gerais de saúde fossemsemelhantes, não haveria associação entre o tamanho <strong>da</strong> parcela depessoas atendi<strong>da</strong>s e a cor ou raça (Schicasho, 2003).Ou seja, pelos <strong>da</strong>dos é possível reconhecer a defasagem que há entre a deman<strong>da</strong>por atendimento <strong>no</strong> sistema de saúde pela população <strong>negra</strong> e seu real acesso.A presença <strong>da</strong> iniqüi<strong>da</strong>de intermediando a atenção à saúde de negros e <strong>negra</strong>stem sido documenta<strong>da</strong> <strong>no</strong>s quatro países estu<strong>da</strong>dos, <strong>da</strong> mesma forma que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Diferenciais de acesso e quali<strong>da</strong>de de tratamento retratam a abrangência do racismo– inclusive do racismo institucional – e um importante grau de injustiça nas relaçõesraciais. E deman<strong>da</strong>m ações diretas e eficientes em diferentes níveis, envolvendoformuladores e gestores de políticas públicas, profissionais de saúde, população <strong>negra</strong> ea socie<strong>da</strong>de em geral. Requerem também iniciativas que envolvam outros setores, além<strong>da</strong>queles responsáveis diretamente pela elaboração e gestão <strong>da</strong>s políticas de saúde.Em documento elaborado pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde/Conselho Nacional de Saúdeem 2002 (p. 15) se afirmava que:O estado de saúde <strong>da</strong> população e a responsabili<strong>da</strong>de de intervir comeficácia na elevação dos seus baixos patamares constituem a única razão<strong>da</strong> concepção e do desenvolvimento do SUS.Dessa perspectiva, justifica-se a urgente toma<strong>da</strong> de decisão e um chamamento àação <strong>no</strong>s diferentes níveis do sistema, <strong>para</strong> o enfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais.A literatura consulta<strong>da</strong> ao longo deste trabalho revela evidências de que asdeman<strong>da</strong>s de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> têm origem em diferentes fatores. Entre elesestão:• os fatores constitucionais, biológicos, genéticos;• os fatores socioeconômicos, grande parte <strong>da</strong>s vezes vinculados à pobreza e àscondições de vi<strong>da</strong>;• o racismo que permeia relações entre profissionais e clientes, tanto do pontode vista individual quanto em sua mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de institucional, e também produzum nível de estresse indutor de processos patológicos (Avey, 2002).É preciso reconhecer que as deman<strong>da</strong>s apresenta<strong>da</strong>s vão requerer abor<strong>da</strong>gensmúltiplas, que não se encerram <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong>s ações e do sistema de saúde. Muitosrequisitos <strong>para</strong> a constituição de um nível de atenção adequado às necessi<strong>da</strong>des demulheres e homens negros <strong>da</strong>s mais diversas origens e i<strong>da</strong>des foram descritos <strong>no</strong>scapítulos anteriores. Neste momento, será focalizado diretamente o chamado sistemade saúde e as ações sob sua responsabili<strong>da</strong>de direta.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de377


O enfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais na atenção à saúde vai requerer, antes, quese considerem os aspectos relativos às relações humanas e às relações entre profissionaise clientes. Nesse campo, é importante que se considerem também os aspectos éticossubjacentes às iniqüi<strong>da</strong>des e que precisam ser abor<strong>da</strong>dos (Oberg, 2003).Por outro lado, a presença <strong>da</strong> iniqüi<strong>da</strong>de vai requisitar o desenvolvimento deações específicas volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>:Para derrotar o racismo institucional (...) [é preciso] repensar o enfoque deoferta de um serviço comum <strong>para</strong> todos e de tratamento igual a negros ebrancos (...). Isto requer mais confiança <strong>no</strong> desenvolvimento de serviçosespecíficos e dirigidos, que a excessiva preocupação de que isto signifiquetratamento especial <strong>para</strong> os negros (...) (Department of..., 1998).Para atender adequa<strong>da</strong>mente às deman<strong>da</strong>s será preciso que se dedique maioratenção ao conhecimento dos deman<strong>da</strong>ntes e suas necessi<strong>da</strong>des expressas ou não. Essedetalhamento significa romper com a tendência a homogeneização dos diferentes grupose indivíduos envolvidos. Uma ferramenta crucial desse desvelamento é a participação,a interlocução, o compartilhamento de decisões sobre as políticas e sua abrangência<strong>no</strong>s níveis local, regional e nacional. A bibliografia aqui consulta<strong>da</strong> oferece uma sériede exemplos que se aproximam <strong>da</strong>s visões de gestão participativa e de controle socialjá presentes <strong>no</strong>s princípios do SUS.A tabela 9 oferece uma síntese de algumas perspectivas e estratégias <strong>para</strong> ondeos esforços devem ser dirigidos, segundo os documentos pre<strong>para</strong>dos <strong>no</strong>s paísesconsultados:Tabela 9. Estratégias <strong>para</strong> a melhoria do acesso e quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção à saúde1. RecursosÁreas2. Acesso e prestação deserviçosEstratégiasa) redistribuição e integração dos recursos de financiamento, deinfra-estrutura e pessoal;b) transparênciaa) melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de – inclusive criando uni<strong>da</strong>des degerenciamento e/ou monitoramento específicos;b) capaci<strong>da</strong>de de a<strong>da</strong>ptação às deman<strong>da</strong>s;c) coleta, análise e divulgação de <strong>da</strong>dos raciais;d) rotinas bem defini<strong>da</strong>s e padroniza<strong>da</strong>s;e) medi<strong>da</strong>s coercitivas e punitivas diante <strong>da</strong> discriminação e doracismo;f) políticas de contratação e promoção eqüitativa;g) diálogo e incorporação de diferentes matrizes culturais, emespecial a matriz africana, <strong>no</strong>s processos de prevenção, proteçãoe recuperação <strong>da</strong> saúde;378Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


continuaçãoÁreas3. Inclusão <strong>da</strong>sorganizações <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civilEstratégiasa) participação em conselhos e órgãos de gestão participativa;b) financiamento de médio e longo prazos <strong>para</strong> projetos <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil;c) transparência na distribuição de fundos;d) critérios de eqüi<strong>da</strong>de <strong>para</strong> concessão de fundos;e) estímulo à cooperação entre organizações;4. Aprofun<strong>da</strong>mento dosdiagnósticos5. Cooperaçãointernacionala) considerando inclusive, <strong>no</strong>vas variáveis <strong>para</strong> além de raça,gênero, classe social.a) intercâmbio com organismos nacionais, multilaterais e <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil <strong>para</strong> a compreensão, melhoramento e ampliação<strong>da</strong>s políticas de enfrentamento <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des raciais em saúde.Fonte: Health Cana<strong>da</strong>, 2001; Stith Nelson, 2003; Alexander, 1999; South African Department of Health, 1999.A participação comunitária é requisito importante <strong>para</strong> a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência,principalmente <strong>para</strong> o enfrentamento dos mecanismos de exclusão e inferiorizaçãoproduzidos pelo racismo. É necessário também o envolvimento ético e técnico dosprofissionais comprometidos com a melhoria <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população ecom a prestação de serviços de quali<strong>da</strong>de, bem como a explicitação, pelo nível central,<strong>da</strong> política de saúde e seu comprometimento com o fim <strong>da</strong>s iniqüi<strong>da</strong>des – que se farátanto pela disponibilização de recursos suficientes <strong>para</strong> a boa execução <strong>da</strong> política,como pela elaboração e atualização dos mecanismos de gestão cotidiana.11. ConclusãoUm dos principais pontos que este trabalho buscou destacar foi o racismo comoum fenôme<strong>no</strong> cruel e insidioso, presente em diferentes países e em diversos campos,como é o caso <strong>da</strong> saúde. Seus efeitos deletérios atingem indivíduos e grupos, afetandotanto seu modo de viver, adoecer e morrer, quanto à criação de processos capazes depossibilitar ao racismo sua autoproteção e invisibili<strong>da</strong>de, e garantir sua perpetuação.Como diferentes nações do mundo já afirmaram, o racismo precisa serdescortinado com coragem e decisão política. Seus mecanismos precisam serenfrentados continuamente e seus efeitos devem ser cessados com urgência.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de379


Ao contrário <strong>da</strong> resposta comum <strong>da</strong>queles envolvidos com a saúde, o racismopenetra profun<strong>da</strong>mente <strong>no</strong> setor e produz uma <strong>da</strong>s mais injustas situações, conformeapontou Martin Luther King, já citado aqui 69 .Nesse sentido, as experiências em curso <strong>no</strong>s países analisados devem serconsidera<strong>da</strong>s, a fim de oferecer balizas, pontos de apoio e de reflexão, e indicadores decaminhos. Contribui <strong>para</strong> isso também a extensa bibliografia à disposição (inclusive nainternet), apontando evidências de dispari<strong>da</strong>des na atenção e os efeitos experimentadospela população <strong>negra</strong> dos diferentes países <strong>da</strong> diáspora africana.O conhecimento <strong>da</strong>s experiências desses países permite também recolocara chama<strong>da</strong> questão racial e as iniqüi<strong>da</strong>des produzi<strong>da</strong>s <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde em suaver<strong>da</strong>deira dimensão. E reconhecer suas raízes históricas, ideológicas e comportamentais,sua abrangência, e profundi<strong>da</strong>de <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s pessoas. E mais, possibilitar a açãotécnica, profissional, política e ética, urgente e inadiável.12. Referências bibliográficasALEXANDER, Ziggi. The Department of Health: study of black, asian and ethnicmi<strong>no</strong>rity issues, 1999.ALMEIDA-FILHO, Naomar. Inequalities in health based in living conditions: analysisof scientific output in Latin America and the Caribbean and an<strong>no</strong>tated bibliography.Washington: Opas, Eclac Project, 1999.___________, KAWACHI, Ichiro; PELEGRINI FILHO, Alberto; DACHS, Norberto W.Research on health inequalities in Latin America and the Caribbean: bibliometricanalysis (1971-2000) and descriptive content analysis (1971-1995). American Journalof Public Health, v. 93, n. 12, p. 2037-2043, Dec. 2003.ANDERSON, Benedict. Imagined communities. New York: Verso, 1992.ASPINALL, Peter J. Ethnic groups and our healthier nation: whiter the informationbase? Journal of Public Health, n. 21, p. 125-132, 1999.AVEY, Holly. How U.S. Laws and social policies influence chronic stress and healthdisparities. In: SYMPOSIUM ON POLITICS OF RACE, CULTURE AND HEALTH.Ithaca College, 2002.BALDWIN-RAGAVEN, Laurel; LONDON, Leslie; DE GRUCHY, Jeanelle. Learning fromour apartheid past: human rights challenges for health professionals in contemporary69. De to<strong>da</strong>s as formas de iniqüi<strong>da</strong>de, injustiça na atenção à saúde é a mais chocante e desumana.” Martin LutherKing Jr., citado por Oberg, Charles N., op. cit., p. 11.380Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


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Crítica sobre políticas, ações e programas de saúdeimplementados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>Marta de Oliveira <strong>da</strong> Silva – Psicóloga, Mestre emPsicologia Clínica, Psicanalista, Especialista em Gestãode Saúde Mater<strong>no</strong> Infantil – Ensp/Fiocruz, Técnica doPrograma de Saúde <strong>da</strong> Mulher <strong>da</strong> Secretaria de Estado doRio de Janeiro.Nataly Damasce<strong>no</strong> de Figueiredo – Nutricionista,Especialista em Saúde Pública – NESC/UFRJ, Mestran<strong>da</strong>em Saúde <strong>da</strong> Mulher e <strong>da</strong> Criança – IFF/Fiocruz.A socie<strong>da</strong>de brasileira tem <strong>da</strong>do mostras que um de seus traços mais perenesé a iniqüi<strong>da</strong>de racial, e tal iniqüi<strong>da</strong>de tem sido manti<strong>da</strong> secularmente por meio demecanismos vigorosos que naturalizam a presença <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>no</strong>s porões <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de, escamoteiam suas deman<strong>da</strong>s enquanto grupo populacional e perpetuama exclusão racial sobre a égide de uma pretensa neutrali<strong>da</strong>de ou universali<strong>da</strong>de.Tais mecanismos são atualizados por meio de diretrizes e práticas que, aodesconsiderarem especifici<strong>da</strong>des produzem o que Barbosa de<strong>no</strong>mina “discriminaçãoindireta”, pois operam restringindo o conceito de igual<strong>da</strong>de a seu aspecto formal e ig<strong>no</strong>randoo impacto de preposições e ações sobre certos grupos populacionais específicos.“A discriminação resultante de medi<strong>da</strong>s dessa natureza diferencia-se emvários aspectos <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> discriminação intencional, a começar pelaausência do fator intencionali<strong>da</strong>de. Com efeito, nem sempre as políticaspúblicas que têm um grande efeito discriminatório sobre determina<strong>da</strong>scategorias de pessoas são concebi<strong>da</strong>s com o intuito deliberado dediscriminar. Ao contrário, cui<strong>da</strong>-se muitas vezes de práticas já arraiga<strong>da</strong>s,consoli<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> e por isso mesmo considera<strong>da</strong>s legítimaspela grande maioria <strong>da</strong>s pessoas, gozando também <strong>da</strong> chancela dosoperadores do Direito. Enquanto a discriminação intencional se traduzem atos concretos e opera <strong>no</strong> presente, a discriminação resultante dodis<strong>para</strong>te impact é desprovi<strong>da</strong> de concretude, eis que não dirigi<strong>da</strong>especificamente a uma pessoa ou a um grupo. No entanto, essamo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de discriminação é condenável justamente pelo seu aspectoperverso, isto é, pela sua aptidão de perpetuar situações de desigual<strong>da</strong>deresultantes de fatores histórico-culturais.” (Barbosa, 2001).


Analisando as políticas públicas de saúde desde o ponto de vista <strong>da</strong>s relaçõesraciais, observamos que o esforço <strong>para</strong> criar um sistema de saúde eqüânime, universal eintegral tem produzido resultados, tais como: expansão do acesso à saúde, <strong>da</strong> coberturados serviços, <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de procedimentos de média e alta complexi<strong>da</strong>de, porémestes resultados têm impacto diferenciado sobre brancos e negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e têm sidomanti<strong>da</strong>s as diferenças de desempenho em saúde destes dois grupos populacionais,permanecendo os negros com as maiores taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil, mortali<strong>da</strong>dematerna, mortes por causas externas, mortes por causas evitáveis e me<strong>no</strong>r esperançade vi<strong>da</strong>.Embora o Sistema Único de Saúde tenha sido concebido <strong>para</strong> a população comoum todo, sabe-se que são os ci<strong>da</strong>dãos de me<strong>no</strong>r poder aquisitivo, sem acesso à saúdesuplementar, que efetivamente fazem uso do sistema público de saúde. Considerandoque “os negros representam 45% <strong>da</strong> população brasileira, mas correspondem a cerca de65% <strong>da</strong> população pobre e 70% <strong>da</strong> população em extrema pobreza e que os brancos,por sua vez, são 54% <strong>da</strong> população total, mas somente 35% dos pobres e 30% dosextremamente pobres, tem-se a certeza de que nascer negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> implica maiorprobabili<strong>da</strong>de de crescer pobre. A pobreza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem cor. A pobreza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é<strong>negra</strong>.” (Henriques, 2003).Diante dos percentuais citados acima, chama atenção a sobre-representaçãodos negros nas cama<strong>da</strong>s mais empobreci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população, e ain<strong>da</strong>, a falta de debatesobre o perfil de morbimortali<strong>da</strong>de deste grupo populacional, especialmente aoconsiderar a baixa resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações de saúde sobre este grupo. Assinala-setambém que, apesar <strong>da</strong> precarização secular <strong>da</strong>s condições de saúde dos negros,as formulações de políticas públicas de saúde e a implementação de modelos deassistência não têm explicitado o recorte racial como uma questão a ser enfrenta<strong>da</strong>,optando por uma “neutrali<strong>da</strong>de” que passa ao largo do modo como a socie<strong>da</strong>debrasileira opera racialmente. “Como se sabe, a idéia de neutrali<strong>da</strong>de estatal tem-serevelado um formidável fracasso, especialmente nas socie<strong>da</strong>des que, durante muitosséculos, mantiveram certos grupos ou categorias de pessoas em posição de subjugaçãolegal, de inferiori<strong>da</strong>de legitima<strong>da</strong> pela lei, em suma, em países com longo passado deescravidão. Nesses países, apesar <strong>da</strong> existência de inúmeros dispositivos constitucionaise legais, muitos deles promulgados com o objetivo expresso de fazer cessar o status deinferiori<strong>da</strong>de em que se encontravam os grupos sociais historicamente discriminados,passaram-se os a<strong>no</strong>s (e séculos) e a situação desses grupos marginalizados pouco ouquase na<strong>da</strong> mudou.” (Barbosa, 2001).A falta de utilização plena do recorte racial nas políticas e nas ações de saúde temservido <strong>para</strong> manter a população <strong>negra</strong> em situação de vulnerabili<strong>da</strong>de na medi<strong>da</strong> emque dificulta a identificação de dispari<strong>da</strong>des, obstaculizando a assunção de medi<strong>da</strong>sque melhorem suas condições de saúde, isto além de contribuir <strong>para</strong> tornar o campo<strong>da</strong> saúde produtor e reprodutor de desigual<strong>da</strong>des raciais.388Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Guimarães (1997), em artigo onde analisa o racismo como algo que restringe osdireitos individuais, diz:“Gostaria...de trabalhar aqui com a idéia de <strong>Brasil</strong> como socie<strong>da</strong>de destatus, isto é, uma socie<strong>da</strong>de onde os grupos sociais, inclusive as classessociais, desenvolveram direitos a certos privilégios em relação ao estadoe a outros grupos sociais. Tais privilégios de posição são resguar<strong>da</strong>dos,<strong>no</strong> pla<strong>no</strong> <strong>da</strong>s relações entre sujeitos, por distâncias e etiquetas, que têmna aparência e na cor, em seu sentido lato, antropológico, já explicitado,suas principais referências e marcos <strong>no</strong> espaço social. O jogo complexode ambigüi<strong>da</strong>des entre intimi<strong>da</strong>de, boa educação e patronizing que marcaa relação entre brancos e negros foi fartamente estu<strong>da</strong>do e não insistireinele. Quero apenas chamar atenção <strong>para</strong> o fato de que existem tambémprivilégios de tratamento, legais ou regulamentares, que permanecembastante utilizados <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> de hoje, tais como o uso de elevadores e asprisões especiais <strong>para</strong> certos grupos sociais. O direito a que se arrogamas autori<strong>da</strong>des e certas pessoas a tratar diferencialmente outras pessoasde alguns grupos sociais, étnicos e raciais se espraia na vi<strong>da</strong> cotidiana,principalmente em relação aos seus direitos civis. Esse é o principalveículo de expressão do sentimento (racista) segundo o qual as pessoasde cor podem, a princípio, ser trata<strong>da</strong>s como inferiores.”Neste artigo, Guimarães analisa matérias sobre discriminação racial publica<strong>da</strong>sem jornais entre 1989 e 1994. Sua análise o leva a concluir que a discriminação racialé solidária ao abuso de autori<strong>da</strong>de e à arbitrarie<strong>da</strong>de de agentes sociais. No campo <strong>da</strong>saúde sua pesquisa o levou ao que de<strong>no</strong>minamos dificul<strong>da</strong>de de acesso e negligência,pois as matérias analisa<strong>da</strong>s relativas à saúde diziam respeito à recusa de assistência ouao mau atendimento.que:Com o olhar voltado <strong>para</strong> a utilização de saberes, Jacqueline Pitanguy afirma“... não existe um olhar, ou um discurso neutro sobre a reali<strong>da</strong>de. Estamossempre recriando a reali<strong>da</strong>de, incorporando símbolos, valores, crenças,etc. E que tal processo está presente também em práticas como umdiagnóstico médico, na medi<strong>da</strong> em que ela traduz relações de gênero,de classe, de raça.” (Pitanguy, 1998).Tangenciar o modo como operam as relações raciais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é importante, poispermite explicitar a idéia de que os princípios de universali<strong>da</strong>de, eqüi<strong>da</strong>de e integrali<strong>da</strong>de,<strong>no</strong>rteadores do SUS, não funcionam per si; somente levando-se em conta comosão construí<strong>da</strong>s as relações sociais e raciais é que poderá ser traçado o caminho quepossibilite a efetivação de tais princípios.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de389


1. Políticas Públicas e Modelos de Atenção à SaúdeA exclusão <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> <strong>da</strong>s ações de saúde vem de longe, porém situaremoscomo marco as primeiras déca<strong>da</strong>s do século XX, os primórdios <strong>da</strong> constituição deum <strong>Brasil</strong> urba<strong>no</strong> e industrializado. Observa-se que desde este momento fun<strong>da</strong>nte<strong>da</strong>s políticas públicas de saúde, se instala a dificul<strong>da</strong>de de acesso às ações de saúde<strong>para</strong> este grupo populacional e tal perfil foi mantido na mesma perspectiva até o finaldos a<strong>no</strong>s 70, assumindo <strong>no</strong>vos contor<strong>no</strong>s dos a<strong>no</strong>s 80 até hoje, sobre o manto <strong>da</strong>universali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de.Os gover<strong>no</strong>s de Vargas correspondem à consoli<strong>da</strong>ção do modelo médico-assistencialclaramente voltado <strong>para</strong> as classes trabalhadoras urbanas. Concentrado em termosgeográficos, e pautado na assistência médica individual, foi concebido e implementadocom vistas à manutenção <strong>da</strong> força de trabalho nas áreas metropolitanas.Este modelo não absorvia a maior parte <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, composta portrabalhadores rurais e trabalhadores urba<strong>no</strong>s que desenvolviam ativi<strong>da</strong>des nãoregulamenta<strong>da</strong>s,ou ain<strong>da</strong>, habitantes de estados pouco industrializados à época,como os do Norte e Nordeste do país que até hoje possuem os maiores contingentespopulacionais negros.O regime militar instaurado em 1964 atualiza a lógica <strong>da</strong> exclusão desde outroprisma. O país cresceu eco<strong>no</strong>micamente, assim tal crescimento ficou limitado àsclasses média e alta. Apenas uma parcela me<strong>no</strong>r dos trabalhadores negros alcançouo mercado formal de trabalho (<strong>da</strong>do que as condições de ingresso eram distintas <strong>para</strong>trabalhadores brancos e negros), obtendo assim o direito à saúde e à previdência. Assimmesmo, essa parcela assistiu à deterioração <strong>da</strong>s suas condições de vi<strong>da</strong>, com a per<strong>da</strong>do valor real ou poder de compra de seu salário. Cabe ressaltar que em 1960 somente7,3% <strong>da</strong> população tinha direito à previdência.“O regime autoritário trabalhava com a tese de que decisões deinvestimentos públicos em bens de natureza social deviam ter comopriori<strong>da</strong>de o atendimento <strong>da</strong> visibili<strong>da</strong>de financeira do empreendimentopúblico. Em outros termos, a expansão <strong>no</strong> fornecimento de serviços sociaisteria sido dirigi<strong>da</strong>, neste período, especificamente aos consumidores,ou seja, aos indivíduos que apresentavam poder de compra dessesserviços”(Fiocruz, 1998).A evolução <strong>da</strong> poliomielite <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é um exemplo <strong>da</strong>s definições de políticaneste período:“O advento <strong>da</strong> imunização ativa contra a poliomielite, principalmente aoral de vírus vivos atenuados, <strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1960, modificou390Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


o perfil epidemiológico <strong>da</strong> doença. Nas áreas onde a vacinação passoua ser sistematicamente realiza<strong>da</strong>, como as trabalha<strong>da</strong>s pela Fsesp, a poliomieliteficou restrita a casos esporádicos. De maneira geral, porém,os esforços foram esporádicos e insuficientes, faltando um programa decontrole integrado de abrangência nacional, que assegurasse o suprimentopermanente de vacinas e coberturas eleva<strong>da</strong>s em todo o país. Apoliomielite passou a apresentar, então, um padrão de comportamentocondicionado pela desigual<strong>da</strong>de de acesso a serviços de vacinação.Estando desprotegi<strong>da</strong> grande parcela <strong>da</strong> população infantil, sobretudonas classes sociais de me<strong>no</strong>r ren<strong>da</strong>, manteve-se a circulação contínua depoliovírus selvagens, sobretudo a do tipo I.” (Risi Jr., 2002).Aponta-se <strong>para</strong> o período do regime autoritário uma apropriação desigual dos benspúblicos, havendo que<strong>da</strong> do padrão de vi<strong>da</strong> e um aumento substancial <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>deinfantil, além de grandes contingentes populacionais desnutridos. As desigual<strong>da</strong>desraciais recrudesceram em todos os níveis <strong>da</strong> força de trabalho, sendo que o trabalhoaté então era a principal via de acesso à saúde.Os debates que se colocavam nessa época enfatizaram a urgência de mu<strong>da</strong>nçasde rumo <strong>no</strong> modelo social vigente <strong>no</strong>s primeiros dez a<strong>no</strong>s do regime militar, apontando<strong>para</strong> a sua falência.Diante do quadro epidemiológico que se apresentava, a lógica de investimentospautados na visibili<strong>da</strong>de econômica teve que ser rompi<strong>da</strong> e deu-se início à inclusão<strong>da</strong> área social nas ações de desenvolvimento, “... a preocupação com o social assumiuexplicitamente uma orientação de expansão de cobertura, mesmo que mantendoem várias áreas a articulação com o setor privado, como é o caso <strong>da</strong> saúde.... Umacaracterística realmente <strong>no</strong>va dessa conjuntura social é o fato de a política buscar orompimento com a exclusão do modelo anterior, trabalhando com uma idéia maisuniversalista de direitos sociais e não com a subordinação do acesso como decorrênciado fato de o indivíduo ser contribuinte <strong>da</strong> Previdência Social.” (Fiocruz, 1998).Face à deterioração <strong>da</strong>s condições de saúde durante os a<strong>no</strong>s de regime militar,“... o período 1974/1979 constituiu-se como uma fase de mu<strong>da</strong>nças conceituaisimportantes <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> discussão <strong>da</strong>s políticas sociais e de saúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, refletindoum movimento crítico de reflexão sobre as políticas públicas...” (Levcovitz, 2002).Este debate antecedeu a Reforma Sanitária num contexto de reorientação política/institucional <strong>no</strong> país. Frente às iniqüi<strong>da</strong>des em saúde e o grave quadro de desigual<strong>da</strong>des,a discussão sobre os determinantes sociais, políticos e econômicos <strong>da</strong>s condiçõesde saúde <strong>da</strong> população impulsio<strong>no</strong>u a idéia <strong>da</strong> construção de um <strong>no</strong>vo sistema desaúde.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de391


“Um primeiro marco de política selecionado foi a configuração do Pla<strong>no</strong> de ProntaAção (PPA), em 1974, como uma iniciativa que viabilizou a expansão <strong>da</strong> cobertura emsaúde e desenhou uma clara tendência de fortalecimento <strong>da</strong> proposta de universalização<strong>da</strong> atenção à saúde. Neste ponto vale ressaltar que a política de saúde brasileira ain<strong>da</strong>estava conforma<strong>da</strong> sob padrões meritocráticos de direito à saúde, ou seja, apenastinha direito à assistência médica <strong>no</strong> Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) otrabalhador vinculado ao instituto, e seus dependentes. A proposta de universalização<strong>da</strong> saúde significava a extensão desse direito a to<strong>da</strong> a população, independente <strong>da</strong>contribuição previdenciária. Assim, seria garantido a todo ci<strong>da</strong>dão o direito à assistênciaintegral à saúde, sem qualquer tipo de discriminação. Os serviços do INPS não eramos únicos a prestarem assistência médica, mas certamente eram os que obtinhammaior investimento e recursos. Além disso, havia, nessa lógica, uma concentração dosserviços de assistência próximo aos centros urba<strong>no</strong>s de produção, deixando parcelasignificativa <strong>da</strong> população sem opção de acesso.”(Levcovitz, 2002).Para a população <strong>negra</strong>, principalmente, desaparece a figura do indigente, ouseja, aquele que era atendido sem possuir vínculo previdenciário, e dá-se início à idéia,a ser persegui<strong>da</strong>, de universali<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s marcos <strong>da</strong> seguri<strong>da</strong>de social.Esta fase foi incipiente <strong>para</strong> a criação do Sistema Nacional de Saúde (SNS) quecomporia a primeira política de saúde com caráter nacional. Assinala-se também acriação do Programa de Interiorização <strong>da</strong>s Ações de Saúde e Saneamento (Piass) quebuscava a expansão <strong>da</strong>s ações de saúde <strong>para</strong> populações periféricas. O período 1974/1979 foi marcado pelos debates conceituais sobre a definição do que, mais tarde, setor<strong>no</strong>u o Sistema Único de Saúde.O período compreendido entre 1980 e 1986 foi marcado por ampla negociaçãosobre a Reforma Sanitária. A extensão dos serviços por meio <strong>da</strong> criação de uma redebásica que fosse apta <strong>para</strong> atender à deman<strong>da</strong> com quali<strong>da</strong>de tor<strong>no</strong>u-se meta a seralcança<strong>da</strong> até o a<strong>no</strong> de 2000. “A atenção primária, nesse entender, seria a estratégia <strong>para</strong>a redução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des sociais existentes, estratégia essa que atendia duplamenteos propósitos do Estado. Por um lado, porque era necessária a reformulação do setorsaúde, por outro lado, porque respondia às principais diretrizes assinala<strong>da</strong>s <strong>para</strong> asaúde <strong>no</strong>s fóruns internacionais de discussão.” (Levcovitz, 2002).Entre os a<strong>no</strong>s 1987 e 1990 a reforma do setor saúde se consolidou do ponto devista jurídico-legal. Foi definido o Sistema Descentralizado e Unificado de Saúde (Suds),que resultou ser o caminho <strong>para</strong> a posterior constituição do SUS. A promulgação <strong>da</strong>Constituição de 1988 conferiu o estatuto de seguri<strong>da</strong>de social ao campo <strong>da</strong> saúde e “ocapítulo <strong>da</strong> saúde incorporou todos os princípios debatidos <strong>no</strong> processo de reforma,garantindo a definição dos princípios básicos do SUS, configurando uma grande vitóriado movimento reformista, que finalmente garantia uma base institucional concreta <strong>para</strong>o desenvolvimento <strong>da</strong> reforma.” (Levcovitz, 2002).392Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Em 1990 foi promulga<strong>da</strong> a Lei Orgânica <strong>da</strong> Saúde (Lei nº 8.080), que definiu asdiretrizes <strong>para</strong> a implementação do SUS, segundo seus princípios, organização, diretrizes,financiamento e planejamento. Esta lei possibilitou a edição <strong>da</strong>s <strong>no</strong>rmas operacionaisbásicas que se seguiram na déca<strong>da</strong> de 1990 e a implementação dos princípios <strong>da</strong>universali<strong>da</strong>de, integrali<strong>da</strong>de e eqüi<strong>da</strong>de, inaugurando uma <strong>no</strong>va maneira de pensarsaúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Pretendia-se considerar os determinantes econômicos, culturais esociais <strong>no</strong> processo saúde-doença e reorientar a atenção à saúde <strong>para</strong> aspectos maisamplos, contrapondo-se aos reducionismos biológicos.Na déca<strong>da</strong> de 1990, tentou-se romper com o modelo distorcido anterior e aspolíticas de saúde se colocaram na contramão do que estava sendo preconizado <strong>no</strong>scampos <strong>da</strong> política econômica aos âmbitos nacional e internacional, pois vislumbravama consoli<strong>da</strong>ção do SUS em seu aspecto abrangente e redistributivo.No que diz respeito à atenção aos usuários, o intuito era de efetivar a universalizaçãodo acesso e produzir mu<strong>da</strong>nças <strong>no</strong> modelo de atenção marca<strong>da</strong>mente médico-assistencial,instituindo <strong>para</strong> tal, programas e ações centrados na promoção e prevenção em saúde, em quea melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção e a efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações deveriam ser prioriza<strong>da</strong>s.Vários autores, porém, reconhecem que o esforço na déca<strong>da</strong> de 1990 nãoconseguiu romper com as desigual<strong>da</strong>des de acesso, nem diminuiu as distorções <strong>no</strong>modelo de atenção traduzi<strong>da</strong>s pelo excesso de medicalização e uso inadequado detec<strong>no</strong>logia. Como resultado, a quali<strong>da</strong>de e resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção ain<strong>da</strong> são muitoprecárias em diversos serviços do SUS.A universalização do acesso está intimamente vincula<strong>da</strong> à descentralização<strong>da</strong> gestão, pois nas bases conceituais do SUS, é estrutural a idéia <strong>da</strong> gestão local dosistema. A proximi<strong>da</strong>de entre gestores e usuários garantiria mais agili<strong>da</strong>de e precisãonas ações a serem desenvolvi<strong>da</strong>s.As NOBs (Normas Operacionais Básicas) edita<strong>da</strong>s na déca<strong>da</strong> de 1990 foramferramentas fun<strong>da</strong>mentais <strong>para</strong> a descentralização do Sistema Único de Saúde, masanálises revelam que:“... como apontaram diversos estudos, a descentralização não garanteo caráter democrático do processo decisório, e necessita ain<strong>da</strong> defortalecimento <strong>da</strong>s capaci<strong>da</strong>des administrativas e institucionais dogover<strong>no</strong> central na condução do próprio processo de descentralização,principalmente em países heterogêneos como o <strong>Brasil</strong>. Portanto, podeseafirmar que a descentralização per se não apenas é insuficiente aconcretização dos demais princípios do SUS, mas também que os seusavanços efetivos estão intimamente relacionados a outros aspectosrelevantes <strong>para</strong> a consoli<strong>da</strong>ção do sistema, como: o adequado aportede recursos financeiros, o fortalecimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de gestora <strong>no</strong>s trêsSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de393


níveis de gover<strong>no</strong>, e a permeabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições do setor saúde aosvalores democráticos” (grifo <strong>no</strong>sso). (Levcovitz, 2001).As Normas Operacionais Básicas (NOBs ) objetivaram descentralizar e universalizaro SUS, produzindo a redefinição do papel <strong>da</strong>s três esferas de gover<strong>no</strong> <strong>no</strong> tocante àgestão, financiamento e prestação de serviços em saúde. Produziram um impactosignificativo <strong>no</strong> âmbito do financiamento, com a participação de estados e municípios,<strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> descentralização e <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas relações entre gestores, via instituição <strong>da</strong>scomissões bipartites e tripartites e a transferência de responsabili<strong>da</strong>des <strong>para</strong> gestoreslocais. No âmbito <strong>da</strong> gestão e organização do sistema isto seria operacionalizadopelo aumento <strong>da</strong> oferta de serviços e maior capaci<strong>da</strong>de gestora, porém <strong>no</strong> âmbito<strong>da</strong> assistência aos usuários, a expansão dos serviços, com pouca crítica e avaliação,reforçou desigual<strong>da</strong>des em muitos pontos, levando-se em conta que as NOBs regularamas divisões de responsabili<strong>da</strong>de, mas não regularam a atenção à saúde.A NOB 93 caminhava na direção de melhorar os padrões de transferência derecursos, instituindo graus de habilitação <strong>no</strong> sistema <strong>para</strong> estados e municípios, ecobrava competências técnicas <strong>para</strong> programar, acompanhar e gerenciar a prestaçãode serviços. Implantou transferências fundo a fundo, segundo o grau de habilitação,e manteve a lógica do pagamento por procedimentos conti<strong>da</strong> nas NOBs anteriores.Persiste nesta NOB a centrali<strong>da</strong>de do financiamento, com ênfase <strong>no</strong> tipo de habilitaçãoem detrimento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência.Quanto à NOB 96, foram criados <strong>no</strong>vos critérios de habilitação visando implicar,de forma mais consistente, o gestor, <strong>no</strong> tocante à atenção à saúde de sua população,caracterizando sua responsabili<strong>da</strong>de sanitária na prestação de ações e serviços. Alémdo mais, neste período a estratégia Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs)/Programa de Saúde <strong>da</strong> Família (PSF) pretendia estabelecer um vínculo entre a populaçãolocal e o SUS. Na vigência desta NOB foram estabelecidos incentivos financeiros <strong>para</strong>a implementação de vários programas com ênfase na atenção básica à saúde, tentandomu<strong>da</strong>r o modelo assistencial hospitalocêntrico.Apesar dos esforços <strong>para</strong> romper com distorções anteriores, várias críticas comrelação à forma de financiamento incidem sobre a NOB 96, pois a lógica de transferênciade recursos mostrou-se fragmenta<strong>da</strong>, centra<strong>da</strong> <strong>no</strong> tipo de adesão que os municípiosconseguiam obter em relação à forma de gestão e na indução de implantação deprogramas específicos.“Bue<strong>no</strong> e Merhy (1997) consideram que a fragmentação do financiamentoprejudica a integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção à saúde, criando uma ‘cesta básica’ financia<strong>da</strong>com recursos do Piso de Atenção Básica (PAB) e dos incentivos do Pacs e PSF <strong>para</strong>os ‘ci<strong>da</strong>dãos mínimos’ e <strong>da</strong>ndo liber<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o setor privado crescer, na ausênciado público, como prestador de assistência hospitalar e ambulatorial especializa<strong>da</strong>s”.(Levcovitz, 2001).394Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Outra crítica envolve a fragmentação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des de vigilância sanitária,vigilância epidemiológica e prestação de assistência, pois estes campos permaneciamdesarticulados, dificultando, portanto, a integração <strong>da</strong> política de saúde.Embora a NOB 96 tenha retomado a discussão sobre modelo de atenção,com ênfase na atenção básica, esse instrumento gerou intensa competição entreos municípios, pois o ingresso de recursos articulava-se à oferta de serviços, pormuitas vezes desvincula<strong>da</strong> de avaliações epidemiológicas. As ações de média e altacomplexi<strong>da</strong>de não foram devi<strong>da</strong>mente contempla<strong>da</strong>s, sobrecarregando os municípiosque possuíam recursos huma<strong>no</strong>s e capaci<strong>da</strong>de <strong>para</strong> executá-las.Com o intuito de “promover maior eqüi<strong>da</strong>de na alocação de recursos e <strong>no</strong> acesso<strong>da</strong> população às ações e serviços de saúde em todos os níveis de atenção” (Merca<strong>da</strong>nte,2002), foi publica<strong>da</strong> em 2001 a Norma Operacional de Assistência à Saúde (Noas/2001),que prevê melhor qualificação <strong>da</strong> atenção básica, mapeamento <strong>da</strong>s redes de média e altacomplexi<strong>da</strong>de, com pactuação entre gestores <strong>para</strong> a utilização destas redes. Contudo,como assinala Teixeira (2002), a Noas foi pensa<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong>de de construçãode sistemas, e o conceito de integrali<strong>da</strong>de está centrado na capaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong> pelalógica <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de. Escapa desta lógica a possibili<strong>da</strong>de de construir um modeloque “... não se limite à garantia <strong>da</strong> assistência e se refira à integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção àsaúde, levando-se em conta a heterogenei<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong> situaçãoepidemiológica dos diversos grupos, nas várias regiões e estados do país” (grifo <strong>no</strong>sso).Embora grandes esforços tenham sido feitos <strong>no</strong> sentido de viabilizar o SUS, suaimplementação ain<strong>da</strong> enfrenta e<strong>no</strong>rmes desafios. Conforme atesta um documentorecente do Conselho Nacional de Saúde, “... os <strong>da</strong>dos nacionais e regionais de coberturae acesso <strong>da</strong>s pessoas aos serviços de saúde não permitem evidenciar o cumprimentodos preceitos constitucionais de Universali<strong>da</strong>de e Eqüi<strong>da</strong>de. Quando se tenta avaliara quali<strong>da</strong>de e a resolutivi<strong>da</strong>de dos serviços, essa distância aumenta” (Ministério <strong>da</strong>Saúde, 2003). O documento citado refere-se à existência de um padrão institucionalde reprodução de desigual<strong>da</strong>de em saúde que perdura.Apesar dos avanços obtidos em termos de descentralização <strong>da</strong> gestão, criação defundos de saúde, repasses fundo a fundo, criação de conselhos de saúde e fortalecimento<strong>da</strong> rede pública, em todos os níveis de complexi<strong>da</strong>de, a conquista <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de mantêmsecomo desafio.“A construção <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de na área <strong>da</strong> saúde consiste, basicamente, em investirna oferta de serviços <strong>para</strong> grupos populacionais com acesso e utilização insuficientes(grifo <strong>no</strong>sso), entre outros mecanismos, sem reprimir a deman<strong>da</strong> de serviços necessáriosa segmentos e grupos que já têm o acesso garantido. Este desafio tem precedênciasobre os demais, por se constituir <strong>no</strong> princípio e <strong>no</strong> objetivo estratégico central, queperpassa os outros desafios, tornando-se estratégia <strong>para</strong> a Universali<strong>da</strong>de e aumento<strong>da</strong> eficácia do sistema” (Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2003).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de395


Embora o documento do Ministério <strong>da</strong> Saúde não explicite os grupos populacionaisestratégicos, entendemos que a população <strong>negra</strong> constitui um grupo exemplar nestesentido, pois historicamente tem sido alvo preferencial <strong>da</strong> exclusão.A ênfase quase exclusiva na organização, gestão e financiamento na déca<strong>da</strong> de1990 deixou em segundo pla<strong>no</strong> as discussões, tão caras, sobre modelos de atençãoque fizeram parte <strong>da</strong> gênese do SUS.“Muitos autores e varia<strong>da</strong>s interpretações existem de modelos de atençãoà saúde ou assistenciais. Estes podem ser definidos genericamentecomo combinações de saberes, conhecimentos e técnicas, métodos einstrumentos, utilizados <strong>para</strong> resolver problemas e atender necessi<strong>da</strong>desde saúde individuais e coletivas. Nesse sentido, um modelo de atençãonão é simplesmente uma forma de organização dos serviços de saúde nemtampouco um modo de administrar – gerir ou gerenciar – um sistema desaúde. Os modelos de atenção à saúde são formas de organização <strong>da</strong>srelações entre sujeitos – profissionais de saúde e usuários – media<strong>da</strong>s portec<strong>no</strong>logias materiais e não materiais utiliza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> processo de trabalhoem saúde, cujo propósito é intervir sobre problemas, <strong>da</strong><strong>no</strong>s, riscos enecessi<strong>da</strong>des sociais de saúde historicamente definidos” (grifo <strong>no</strong>sso)(Paim, apud Teixeira 2000, apud Guimarães 2003).A iniqüi<strong>da</strong>de em saúde entre brancos e negros não tem sido considera<strong>da</strong> até entãopelos formuladores de políticas públicas em saúde. Tampouco os modelos de atençãoimplementados por meio de estratégias e programas têm operado <strong>no</strong> sentido de revertero quadro <strong>da</strong>s relações raciais e saúde. Os esforços de expansão do SUS na última déca<strong>da</strong>produziram pouco impacto positivo sobre o desempenho <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> em saúde.Na lógica <strong>da</strong> universalização proposta, o que ocorreu foi o recrudescimento de algunsindicadores que são bem sensíveis na captação <strong>da</strong>s condições socioeconômicas e <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de na oferta de cui<strong>da</strong>dos de saúde, tais como, mortali<strong>da</strong>de infantil e mortali<strong>da</strong>dematerna.A seguir descreveremos alguns programas estratégicos implementados pelo SUS,sublinhando sua pouca efetivi<strong>da</strong>de <strong>para</strong> a população <strong>negra</strong>, na medi<strong>da</strong> em que nãooperam na perspectiva <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de racial e resultam na desatenção às deman<strong>da</strong>s destapopulação e na manutenção de sua invisibili<strong>da</strong>de. Depois serão descritas algumasestratégias <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> formulação de políticas públicas em saúde,capacitação de recursos huma<strong>no</strong>s, disseminação de informação e atenção psicossocial<strong>para</strong> a população <strong>negra</strong>.396Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


2. Estratégias e programas de saúde2.1. A estratégia de saúde <strong>da</strong> família <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>O <strong>Brasil</strong>, nas últimas déca<strong>da</strong>s, vem conquistando importantes avanços <strong>no</strong> campo<strong>da</strong> saúde. O processo de construção do SUS, regulamentado pela Constituição Federalde 1988 e pelas Leis Complementares, vem gra<strong>da</strong>tivamente ocorrendo sobre os pilares<strong>da</strong> universalização, <strong>da</strong> integrali<strong>da</strong>de, <strong>da</strong> descentralização e <strong>da</strong> participação popular(Silvestre, 2003).A descentralização, com a municipalização e a consoli<strong>da</strong>ção de sistemas locais,possibilitou o surgimento de políticas setoriais que visavam a superação de dificul<strong>da</strong>desain<strong>da</strong> presentes <strong>no</strong> SUS (MS, 1993, 1994, 1996, 1998, 2001). Inicialmente consideradocomo um programa, o saúde <strong>da</strong> família foi alçado à condição de estratégia <strong>para</strong>reorientação <strong>da</strong> assistência, que passaria a ser guia<strong>da</strong> pelos princípios de uma políticade atenção primária ou de atenção básica (Conill, 2002).Pacs e PSF – estratégias de Gover<strong>no</strong>A estratégia do PSF foi inicia<strong>da</strong> em junho de 1991, com a implantação do Programade Agentes Comunitários de Saúde (Pacs). Em janeiro de 1994, foram forma<strong>da</strong>s as primeirasequipes de Saúde <strong>da</strong> Família, incorporando e ampliando a atuação dos agentes comunitários.A proposta visa uma <strong>no</strong>va dinâmica <strong>para</strong> a organização dos serviços básicos de saúde emsuas relações com as comuni<strong>da</strong>des, e propõe maior integração entre os diversos níveis decomplexi<strong>da</strong>de do sistema.Dezenas de i<strong>no</strong>vações estão vincula<strong>da</strong>s à implementação do Pacs e do PSF, cujasativi<strong>da</strong>des extrapolam os muros <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de saúde, articulando ações educativasde promoção com ações de prevenção de riscos e agravos, e também ações básicas deatenção à saúde de grupos prioritários. Ain<strong>da</strong> que tenham sido elaborados originalmentecomo programas focalizados, dirigidos a grupos <strong>da</strong> população relativamente excluídosdo acesso ao consumo de serviços, a Saúde <strong>da</strong> Família vem se apresentando, em váriosmunicípios, como estratégia de reorganização <strong>da</strong> atenção primária <strong>da</strong> saúde, com apretensão de influir na reestruturação do modelo de atenção em sua totali<strong>da</strong>de (MS,2000).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de397


A avaliação do modelo de saúde anterior à Estratégia Pacs/PFS, baseado em progamasverticais, apontava <strong>para</strong> resultados insatisfatórios, pois a formação de vínculocom a população se <strong>da</strong>va de maneira precária, o atendimento clínico focado nas especiali<strong>da</strong>desresultavam em baixa resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção e a rede básica encontrava-sedesarticula<strong>da</strong> dos demais setores do sistema.Esperava-se que com a mu<strong>da</strong>nça de modelo introduzi<strong>da</strong> pelo Programa de Saúde<strong>da</strong> Família, alguns problemas crônicos na assistência fossem superados, tais como:• diminuição do número de mortes de crianças por causas evitáveis;• aumento do número de gestantes saudáveis e bem informa<strong>da</strong>s ao parto;• melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> dos idosos;• melhora dos índices de vacinação;• hipertensos e diabéticos diag<strong>no</strong>sticados, acompanhados e tratados;• pacientes com tuberculose e hanseníase localizados e tratados; e• maiores chances de efetivação e controle social.Programa de Agentes Comunitários de Saúde (Pacs)O Pacs existe desde o início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 (<strong>no</strong>rdeste do <strong>Brasil</strong>), porémfoi efetivamente instituído e regulamentado em 1997, quando se iniciou o processode consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> descentralização de recursos <strong>no</strong> âmbito do Sistema Único deSaúde.O desenvolvimento <strong>da</strong>s principais ações deste programa dá-se por meio dosAgentes Comunitários de Saúde (ACS), pessoas <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de que atuamjunto à população. O ACS deve atender entre 400 e 750 pessoas, dependendo <strong>da</strong>snecessi<strong>da</strong>des locais, e desenvolver ativi<strong>da</strong>des de prevenção de doenças e promoção<strong>da</strong> saúde por meio de ações educativas individuais e coletivas, <strong>no</strong>s domicílios e nacomuni<strong>da</strong>de, sob supervisão competente e permanente.Para a manutenção <strong>da</strong>s ações os recursos federais são transferidos de formaautomática e regular diretamente aos fundos municipais, repasse fundo a fundo, sob aforma de incentivo financeiro do Piso de Atenção Básica (PAB).O número de agentes a serem pagos com recursos federais, limita-se à coberturapopulacional de um agente <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> 550 habitantes.398Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Programa de Saúde <strong>da</strong> Família (PSF)a) Compromissos do programa• reconhecer a saúde como um direito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, humanizando as práticasde saúde e buscando a satisfação do usuário pelo seu estreito relacionamentocom os profissionais de saúde;• prestar assistência universal, integral, eqüânime, contínua e, acima de tudo,resolutiva e de boa quali<strong>da</strong>de à população, na uni<strong>da</strong>de de saúde e <strong>no</strong> domicílio,elegendo a família, em seu contexto social, como núcleo básico de abor<strong>da</strong>gem<strong>no</strong> atendimento à saúde;• identificar os fatores de risco aos quais a população está exposta e neles intervirde forma apropria<strong>da</strong>;• proporcionar o estabelecimento de parcerias pelo desenvolvimento de ações intersetoriaisque visem à manutenção e à recuperação <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população;• estimular a organização <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de <strong>para</strong> o efetivo exercício do controlesocial.Apesar desta estratégia ser operacionaliza<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des Básicas de Saúde(UBS), todo o sistema deve estar estruturado segundo a sua lógica, pois a continui<strong>da</strong>de<strong>da</strong> atenção deve ser garanti<strong>da</strong>, por um fluxo contínuo setorial. A implantação destaestratégia visa possibilitar a integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência e a criação de vínculos decompromisso e de responsabili<strong>da</strong>de compartilhados entre os serviços de saúde e apopulação.b) ObjetivoReorganizar a prática <strong>da</strong> atenção à saúde em <strong>no</strong>vas bases e substituir o modelotradicional.c) EstratégiaPriorizar as ações de prevenção, promoção e recuperação <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong>s pessoas, deforma integral e contínua. O atendimento é prestado na uni<strong>da</strong>de básica de saúde ou <strong>no</strong>domicílio, pelos profissionais (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentescomunitários de saúde) que compõem as equipes de Saúde <strong>da</strong> Família. Assim, essesprofissionais e a população acompanha<strong>da</strong> criam vínculos de co-responsabili<strong>da</strong>de, oque facilita a identificação e o atendimento aos problemas de saúde <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de399


A estratégia do PSF incorpora e reafirma os princípios básicos do SUS –universalização, descentralização, integrali<strong>da</strong>de e participação <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de – eestá estrutura<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong>de Básica de Saúde <strong>da</strong> Família.A Uni<strong>da</strong>de Básica de Saúde <strong>da</strong> Família está inseri<strong>da</strong> <strong>no</strong> primeiro nível de açõese serviços do sistema local de assistência, de<strong>no</strong>minado atenção básica. Deve estarvincula<strong>da</strong> à rede de serviços, de forma que se garanta atenção integral aos indivíduose famílias e que sejam assegura<strong>da</strong>s a referência e a contra-referência <strong>para</strong> clínicas eserviços de maior complexi<strong>da</strong>de, sempre que o estado de saúde <strong>da</strong> pessoa assim exigir.Para isso a equipe deve identificar as áreas prioritárias <strong>para</strong> a implantação do programae mapear o número de habitantes em ca<strong>da</strong> área.Numa primeira avaliação foi publicado pelo MS (Secretaria de Políticas de Saúde/Departamento de Atenção Básica) um relatório <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s pelo PSF <strong>no</strong>a<strong>no</strong> de 1999. Com o objetivo de tornar público os resultados efetivamente atingidose apontar <strong>para</strong> os desafios e compromissos que deveriam ser re<strong>no</strong>vados em 2000,destacamos os seguintes pontos:Linha I – Normatização e ampliação1. Necessi<strong>da</strong>de de investigação <strong>da</strong> cobertura populacional de ACS e SF;2. Necessi<strong>da</strong>de de elaboração de documentos que orientassem sobre aimplantação, treinamento e interlocução com os programas já existentes;Linha II – Desenvolvimento gerencial1. Necessi<strong>da</strong>de de melhor capacitação dos gestores;2. O sistema de informação (Siab), não estava sendo corretamente alimentado,necessitando de aprimoramento do próprio sistema e de instrumentos <strong>para</strong> acapacitação <strong>da</strong>s Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde <strong>para</strong> a coleta,processamento e análise dos <strong>da</strong>dos;Linha III – Desenvolvimento de Recursos Huma<strong>no</strong>s1. Necessi<strong>da</strong>de de capacitar, permanentemente, profissionais reconhecendo queas formações prévias não eram satisfatórias <strong>para</strong> o modelo e necessi<strong>da</strong>de deuma capacitação introdutória <strong>para</strong> as equipes do PSF;2. Necessi<strong>da</strong>de de complementação <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de dos ACS com objetivo demelhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atuação dos mesmos;400Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


3. Necessi<strong>da</strong>de de reforçar, permanentemente, o vínculo dos ACS com acomuni<strong>da</strong>de, explicitando suas responsabili<strong>da</strong>des quanto à identificação dequestões relevantes do ponto de vista sociocultural, étnico-racial, de gênero egeração;Linha IV – Avaliação permanente <strong>da</strong> atenção básica1. Necessi<strong>da</strong>de em se trabalhar com indicadores de processo, além dos indicadoresde resultados;2. Necessi<strong>da</strong>de de pesquisas aplica<strong>da</strong>s à saúde <strong>da</strong> família;3. Necessi<strong>da</strong>de de qualificação externa e acreditação dos pólos de capacitaçãovisto que o processo avaliativo faz parte do compromisso institucional doSUS, capaz de redirecionar a formação e a capacitação de pessoal ao mesmotempo em que promove as mu<strong>da</strong>nças necessárias <strong>no</strong> modelo assistencial eas transformações <strong>no</strong> mercado de trabalho, resultando em <strong>no</strong>vas deman<strong>da</strong>sde alterações, qualitativas e quantitativas, <strong>no</strong> aparelho formador de recursoshuma<strong>no</strong>s em saúde;Linha V – Marketing social dirigido às estratégias Pacs/PSF1. Necessi<strong>da</strong>de de estabelecer parceria com algumas áreas prioritárias, taiscomo:• Área técnica de saúde <strong>da</strong> criança, via Projeto <strong>para</strong> redução <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>dena infância (PRNI); Assistência Integral às Doenças Prevalentes naInfância (AIDPI); Registro Civil assegurando ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia; Crescimento eDesenvolvimento e Coordenação Nacional de DST/aids;• Área técnica de saúde do Idoso, incentivando promoção do envelhecimentosaudável, prevenção de doenças e recuperação <strong>da</strong> saúde.Três a<strong>no</strong>s após esta avaliação, foi realiza<strong>da</strong> <strong>no</strong>va investigação sobre a evolução<strong>da</strong> implantação e implementação do PSF pelo Tribunal de Contas <strong>da</strong> União (Secretariade Fiscalização e Avaliação de Programas de Gover<strong>no</strong> (Seprog).O trabalho foi realizado <strong>no</strong> a<strong>no</strong> de 2001 <strong>no</strong>s meses de setembro e outubro. Foramvisitados quatro estados e dezesseis municípios <strong>da</strong> região Nordeste, seleciona<strong>da</strong> emrazão de ser destinatária de 47% dos recursos do PSF e de possuir o maior númerode equipes de saúde <strong>da</strong> família instala<strong>da</strong>s. Entre os principais problemas encontrados,destacam-se:Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de401


• a eleva<strong>da</strong> rotativi<strong>da</strong>de e a dificul<strong>da</strong>de na contratação dos médicos <strong>da</strong>s equipesdecorrente, entre outros motivos, <strong>da</strong> insatisfação com a precarie<strong>da</strong>de 1dovínculo contratual de trabalho, o excesso de atendimentos, a dificul<strong>da</strong>de deacesso ao local de trabalho e as falhas <strong>no</strong> sistema de referência e contrareferência;• insatisfação e insegurança em boa parte dos profissionais médicos e não-médicos<strong>da</strong>s equipes de saúde <strong>da</strong> família, em decorrência <strong>da</strong> temporali<strong>da</strong>de do seuvínculo contratual de trabalho;• necessi<strong>da</strong>de de uma forma de contratação que resguarde o estreitorelacionamento do ACS com a comuni<strong>da</strong>de, assegurando o vínculo;• número excessivo de famílias <strong>para</strong> ca<strong>da</strong> equipe;• falta de tempo disponível <strong>para</strong> a realização de ações de promoção e prevençãoà saúde;• inadequação do sistema de referência <strong>para</strong> os níveis de média e altacomplexi<strong>da</strong>de;• falta sistemática de medicamentos, principalmente os destinados ao controledo diabetes e <strong>da</strong> hipertensão.Enfim pode-se dizer que são reproduzidos grande parte dos problemas enfrentadospelas uni<strong>da</strong>des básicas de saúde tradicionais, ou seja, até então a estratégia <strong>da</strong> saúde<strong>da</strong> família (ESF) não havia produzido a universalização e a eqüi<strong>da</strong>de propostas quandode sua implantação.No tocante à população <strong>negra</strong>, <strong>da</strong><strong>da</strong> a manutenção <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des em saúdee a ausência de mecanismos <strong>para</strong> sua superação nas diretrizes <strong>da</strong> ESF, permanece adificul<strong>da</strong>de de acesso às ações. Outro aspecto que merece ser considerado é que aqualificação destes profissionais não incorpora os aspectos multiculturais e pluriétnicosvigentes em <strong>no</strong>ssa socie<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo margem à reprodução de idéias racistas presentes<strong>no</strong> imaginário social.Tendo em vista que programas de saúde representam estratégias de intervençãoformula<strong>da</strong>s a partir de diagnósticos e são ferramentas <strong>para</strong> aumentar a efetivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>spolíticas públicas de saúde, supõe-se que o PSF absorva, em suas ações, as diretrizesde vários programas existentes. A fim de destacar a importância de alguns programas<strong>para</strong> a melhoria <strong>da</strong>s condições de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, apresentamos a seguir402Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


uma seleção salientando algumas questões que sem a crítica necessária, poderão serreproduzi<strong>da</strong>s equivoca<strong>da</strong>mente, na ESF.2.2. A política nacional de saúde do idosoEm dezembro de 1999, foi aprova<strong>da</strong> a Política Nacional de Saúde do Idosoque determi<strong>no</strong>u que os órgãos e enti<strong>da</strong>des do Ministério <strong>da</strong> Saúde (MS), cujas açõesse relacionem com o tema objeto <strong>da</strong> Política aprova<strong>da</strong>, promovam a elaboração oua readequação de seus pla<strong>no</strong>s, programas, projetos e ativi<strong>da</strong>des na conformi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sdiretrizes e responsabili<strong>da</strong>des nela estabeleci<strong>da</strong>s (<strong>Brasil</strong>, 1999).a) Dados epidemiológicosEstudos populacionais têm mostrado que não me<strong>no</strong>s que 85% dos idosos apresentampelo me<strong>no</strong>s uma doença crônica, e cerca de 10% apresentam pelo me<strong>no</strong>s cinco dessasenfermi<strong>da</strong>des (CEI/RS, 1997; Ramos et al., 1993). Os mesmos estudos revelam que cercade 40% dos indivíduos com 65 a<strong>no</strong>s ou mais de i<strong>da</strong>de precisam de algum tipo de auxílio<strong>para</strong> realizar pelo me<strong>no</strong>s uma ativi<strong>da</strong>de instrumental <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> diária, como fazer compras,cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong>s finanças, pre<strong>para</strong>r refeições ou limpar a casa, e que 10% requerem aju<strong>da</strong> <strong>para</strong>realizar tarefas básicas, como tomar banho, vestir-se, ir ao banheiro, alimentar-se e, até,sentar e levantar de cadeiras e camas (Ramos et al., 1993).A síntese de indicadores Sociais do IBGE (2001), <strong>no</strong>s revela que:Em 1998, a Pnad incorporou uma pesquisa suplementar ao seu corpo básico <strong>para</strong>investigar o tipo de acesso e utilização de serviços de saúde por parte <strong>da</strong> populaçãobrasileira. As informações coleta<strong>da</strong>s permitem conhecer alguns aspectos <strong>da</strong> saúde dosidosos. Deste contingente populacional, apenas 25,9% declararam possuir um pla<strong>no</strong>de saúde. Em algumas regiões, como a Nordeste, o percentual de pessoas com mais de60 a<strong>no</strong>s que contam com a cobertura de um pla<strong>no</strong> de saúde é ain<strong>da</strong> me<strong>no</strong>s expressivoficando em tor<strong>no</strong> de 13%.Quando se analisa os <strong>da</strong>dos sobre a auto-avaliação do estado de saúde dos idososlevando em consideração a situação de ren<strong>da</strong>, entre aqueles que estão <strong>no</strong>s 40% maispobres <strong>da</strong> população nacional, apenas 30,8% declararam que seu estado de saúdeé bom ou muito bom, enquanto <strong>para</strong> aqueles que estão <strong>no</strong>s 10% mais ricos, estepercentual atingia mais de 60% revelando uma associação entre ren<strong>da</strong> e condição desaúde. (IBGE, 2001).Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de403


) MetasA Política Nacional de Saúde do Idoso apresenta como propósito basilar:• a promoção do envelhecimento saudável;• a manutenção e a melhoria, ao máximo, <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de funcional dos idosos;• a prevenção de doenças, a recuperação <strong>da</strong> saúde dos que adoecem ea reabilitação <strong>da</strong>queles que venham a ter a sua capaci<strong>da</strong>de funcionalrestringi<strong>da</strong>;• garantir permanência <strong>no</strong> meio em que vivem, exercendo de forma independentesuas funções na socie<strong>da</strong>de.c) Diretrizes• a promoção do envelhecimento saudável;• a manutenção <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de funcional;• a assistência às necessi<strong>da</strong>des de saúde do idoso;• a reabilitação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de funcional comprometi<strong>da</strong>;• a capacitação de recursos huma<strong>no</strong>s especializados;• o apoio ao desenvolvimento de cui<strong>da</strong>dos informais;• o apoio a estudos e pesquisas.d) Objetivos <strong>da</strong>s açõesManter o idoso na comuni<strong>da</strong>de, junto de sua família, <strong>da</strong> forma mais digna econfortável possível. O cui<strong>da</strong>do comunitário do idoso deve basear-se, especialmente, nafamília e na atenção básica de saúde, por meio <strong>da</strong>s Uni<strong>da</strong>des Básicas de Saúde (UBS),em especial <strong>da</strong>quelas sob a estratégia de saúde <strong>da</strong> família, que devem representar <strong>para</strong>o idoso, idealmente, o vínculo com o sistema de saúde.404Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


e) EstratégiasA Estratégia de Saúde <strong>da</strong> Família (ESF), de acordo com seus princípios básicosreferentes à população idosa, aponta <strong>para</strong> a abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças físicasconsidera<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rmais e identificação precoce de suas alterações patológicas. Destaca,ain<strong>da</strong>, a importância de se alertar a comuni<strong>da</strong>de sobre os fatores de risco aos quaispessoas idosas estão expostas, <strong>no</strong> domicílio e fora dele, bem como de serem identifica<strong>da</strong>sformas de intervenção <strong>para</strong> sua eliminação ou minimização, sempre em parceria como próprio grupo de idosos e os membros de sua família. Os profissionais que atuamna atenção básica devem ter níti<strong>da</strong> a importância <strong>da</strong> manutenção do idoso na rotinafamiliar e na vi<strong>da</strong> em comuni<strong>da</strong>de como fatores fun<strong>da</strong>mentais <strong>para</strong> a manutenção deseu equilíbrio físico e mental.A política de saúde do idoso está muito longe <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de, pois desconsidera asobre-representação dos idosos negros na pobreza e o papel que têm desempenhadonestes contextos de baixa ren<strong>da</strong>. É freqüente serem responsáveis pelo sustentoe cui<strong>da</strong>do de crianças e jovens suprindo a ausência dos pais seja por motivo detrabalho ou abando<strong>no</strong>, necessitarem trabalhar, a despeito de suas condições físicas,<strong>para</strong> complementar a ren<strong>da</strong> pessoal e/ou famíliar, e ain<strong>da</strong>, por vezes são a única fontede ren<strong>da</strong> de seu grupamento familiar.A falta de estrutura social, falta de ações públicas <strong>para</strong> prover uma melhor quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> atingem, prioritariamente, os negros, já que estão sobre-representados napobreza e nas famílias potencialmente deman<strong>da</strong>ntes de serviços de assistência social(com ren<strong>da</strong> domiciliar per capita me<strong>no</strong>r ou igual a meio salário mínimo) necessitando,portanto, de maior presença do poder público. Então, <strong>para</strong> que este programa setorne eficaz e efetivo <strong>para</strong> os idosos negros, são necessárias ações intersetoriais quepossam garantir de maneira eqüânime os propósitos postulados pela Política Nacionalde Saúde do Idoso.2.3. Pla<strong>no</strong> de reorganização <strong>da</strong> atenção à hipertensão arterial sistêmica e aodiabetes mellitusEm fevereiro de 2001, o Ministério <strong>da</strong> Saúde estabeleceu as diretrizes <strong>para</strong> areorganização <strong>da</strong> atenção aos segmentos populacionais expostos e portadores de hipertensãoarterial e de diabetes mellitus – Portaria nº 235/2001.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de405


a) Pa<strong>no</strong>rama epidemiológicoO número de pessoas diabéticas está aumentando rapi<strong>da</strong>mente. Em 1985,estimativas indicavam que 30 milhões de pessoas estavam com diabetes <strong>no</strong> mundointeiro. Em 1998, pouco mais de uma déca<strong>da</strong>, este número aumentou <strong>para</strong> 143 milhões.No a<strong>no</strong> de 2025 prevê-se que esta cifra passe <strong>para</strong> 300 milhões. Desta estimativa global,75% dos diabéticos estarão concentrados <strong>no</strong>s países em desenvolvimento. Dados <strong>da</strong>Organização Mundial de Saúde indicam que o <strong>Brasil</strong> é o sexto país do mundo emnúmero de pessoas com diabetes, cerca de 5 milhões.Entre os fatores que contribuem <strong>para</strong> este alarmante aumento destacam-se oenvelhecimento <strong>da</strong> população, hereditarie<strong>da</strong>de, alimentação inadequa<strong>da</strong>, obesi<strong>da</strong>dee estilo de vi<strong>da</strong> ca<strong>da</strong> vez mais sedentário.Quanto à hipertensão arterial, de acordo com documento publicado pelas Socie<strong>da</strong>des<strong>Brasil</strong>eiras de Hipertensão (SBH), de Cardiologia (SBC) e de Nefrologia (SBN) em2002, estudos mostram uma variação <strong>da</strong>s taxas de prevalência <strong>da</strong> hipertensão arterialentre 22,3% e 43,9% em algumas ci<strong>da</strong>des brasileiras. Afirmam que em 1998, ocorreram1.150.000 internações por doenças cardiovasculares. Além de ser este agravo, responsávelpor 27% do total de óbitos registrados <strong>no</strong> país neste mesmo a<strong>no</strong>, retirando-se os óbitospor causas mal defini<strong>da</strong>s e violência, este valor aproxima-se a 40%.b) ObjetivoEstabelecer diretrizes e metas <strong>para</strong> reorganizar a atenção a estes agravos <strong>no</strong> SUS,por meio <strong>da</strong> atualização dos profissionais <strong>da</strong> rede básica, <strong>da</strong> garantia do diagnóstico e <strong>da</strong>vinculação do paciente a uni<strong>da</strong>des de atendimento, promovendo assim a reestruturação e aampliação do atendimento resolutivo e de quali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> os portadores dessas patologias.c) Objetivos específicos• implantar, na Atenção Básica, o protocolo de assistência ao portador dehipertensão arterial sistêmica (HAS) e diabetes mellitus (DM);• reorganizar a rede de serviços, em todos os níveis de complexi<strong>da</strong>de, <strong>para</strong> oatendimento ao portador de HAS e DM;• apoiar as secretarias estaduais e municipais de saúde <strong>no</strong> processo de aquisiçãode insumos estratégicos <strong>para</strong> a garantia <strong>da</strong> resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção aosportadores de HAS e DM.406Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Grupos de interesseIndivíduos acima de 18 a<strong>no</strong>s. Para a detecção de casos suspeitos de HAS e DM,será considera<strong>da</strong> a população de pessoas com i<strong>da</strong>de igual ou superior a 40 a<strong>no</strong>s.Embora sejam doenças prevalentes na população <strong>negra</strong>, neste Pla<strong>no</strong> de Reorganizaçãode Atenção a hipertensão arterial sistêmica, e ao diabetes mellitus não estáproposto, inexplicavelmente, recorte racial. Desse modo continua vela<strong>da</strong> a magnitudedestes agravos <strong>para</strong> a população <strong>negra</strong>, nas ações que visam à prevenção de agravos, àpromoção e recuperação <strong>da</strong> saúde. No atual cenário somente <strong>no</strong>s atestados de óbito,quando desagregados por cor, podemos verificar como a hipertensão arterial e o diabetesmellitus impactam este segmento. A não utilização <strong>da</strong> perspectiva <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>deracial é solidária à falta de estratégias deste pla<strong>no</strong> <strong>para</strong> atingir a população.Para além disto, de acordo com a avaliação do TCU (2001) uma <strong>da</strong>s deficiências <strong>no</strong>tocante à recuperação <strong>da</strong> saúde é a descontinui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oferta de insumos farmacológicos<strong>para</strong> os portadores destes agravos.2.4. Programa de Assistência Integral à Saúde <strong>da</strong> Mulher (Paism)Este programa, criado em 1984, fun<strong>da</strong>-se na crítica ao modelo de atenção à mulhervoltado exclusivamente <strong>para</strong> o ciclo gravídico – puerperal. Preconiza a importância de outrosaspectos de saúde, tais como prevenção e tratamento de câncer, prevenção e tratamentode DST, acesso a contracepção, entendendo que a atenção deveria ser integral.O programa propõe interações de instituições do setor saúde, articulando as trêsesferas de gestão na oferta de “assistência integral clínico ginecológica e educativa,volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o aprimoramento do controle pré-natal, do parto e do puerpério; aabor<strong>da</strong>gem dos problemas presentes desde a adolescência até a terceira i<strong>da</strong>de, ocontrole <strong>da</strong>s doenças transmiti<strong>da</strong>s sexualmente, do câncer cérvico-uteri<strong>no</strong> e mamário, ea assistência <strong>para</strong> concepção e contracepção”. Tais ações visam o atendimento integral<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s mulheres pelo sistema de saúde.a) Bases doutrinárias• política de expansão e consoli<strong>da</strong>ção dos serviços básicos de saúde, visandoaumentar a capaci<strong>da</strong>de resolutiva <strong>da</strong> rede na ótica <strong>da</strong> integrali<strong>da</strong>de;Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de407


• coloca como desafio à rede <strong>da</strong>r uma resposta efetiva aos problemas de saúdemais freqüentes. Aponta como estratégia desenvolver e difundir procedimentose rotinas que enfrentem os problemas de maior impacto epidemiológico.b) Diretrizes gerais• orientação do sistema <strong>para</strong> as patologias mais prevalentes neste grupo;• integrali<strong>da</strong>de nas ações clínica e ginecológica, com <strong>no</strong>va abor<strong>da</strong>gem;• concretização <strong>da</strong> integrali<strong>da</strong>de, pressupondo práticas educativas;• planejamento familiar baseado <strong>no</strong> principio <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de, oportuni<strong>da</strong>de deacesso a informações.c) Objetivos programáticos• aumentar cobertura do pré-natal;• melhorar a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistência ao parto;• aumentar os índices de aleitamento mater<strong>no</strong>;• identificação e controle dos casos de câncer, DST e doenças prevalentes;• regulação <strong>da</strong> fertili<strong>da</strong>de;• prevenção <strong>da</strong> gravidez indeseja<strong>da</strong>.Os <strong>da</strong>dos censitários mostram que a utilização de serviços de saúde se dá deforma diferencia<strong>da</strong> entre mulheres <strong>negra</strong>s e brancas. Ficando com as brancas umamaior utilização dos mesmos, indicando uma dificul<strong>da</strong>de de acesso a este bem <strong>para</strong>as demais.Na área <strong>da</strong> saúde, em 1998, foram as mulheres brancas, com escolari<strong>da</strong>de e poderaquisitivo maiores, emprega<strong>da</strong>s <strong>no</strong> setor formal <strong>da</strong> eco<strong>no</strong>mia e pertencentes a famíliasnucleares, as que mais usaram os serviços de saúde quando afasta<strong>da</strong>s do trabalhopor doença (Travassos et al, 2002). Dados do mesmo a<strong>no</strong> mostram que, enquanto <strong>no</strong>estrato de 10% mais ricas, as brancas tiveram 3,49 consultas médicas, as pretas e par<strong>da</strong>stiveram 3,33 consultas, o que equivale a 95,4% em relação ao total de consultas <strong>da</strong>sprimeiras. No interior do estrato <strong>da</strong>s 40% mais pobres a desigual<strong>da</strong>de aumenta: asbrancas apresentam 2,23 consultas contra 1,94 <strong>para</strong> as pretas e par<strong>da</strong>s, o que eqüivalea 87% do total de consultas <strong>da</strong>s brancas (IBGE, 1998). (apud, Vaitsman, 2002).408Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


A demógrafa Ignez Perpétuo, trabalhando os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> PNDS (Pesquisa Nacionalde Demografia e Saúde) de 1996, verificou diferenças importantes quanto ao controle<strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de reprodutiva. Num universo de 7.541 mulheres entre 15 e 49 a<strong>no</strong>s, brancase <strong>negra</strong>s, distribuí<strong>da</strong>s segundo características de sua experiência anticoncepcionalconclui que a pesquisa:"... aju<strong>da</strong> a entender porque é maior a fecundi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s <strong>negra</strong>s, ao mostrar queapenas 20% delas sabem localizar o período fértil (em contraste com 37% <strong>da</strong>s brancas) eque o percentual que nunca usou nenhum anticoncepcional, ou começou a controlar afecundi<strong>da</strong>de através <strong>da</strong> esterilização, é o dobro do que se verifica <strong>no</strong> grupo <strong>da</strong>s brancas,sendo também o dobro a proporção <strong>da</strong>s que começaram a usar métodos contraceptivosdepois de terem tido dois ou mais filhos. O acesso mais precário <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>saos anticoncepcionais também se revela pela maior parcela que não usava nenhummétodo na <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> pesquisa e pela me<strong>no</strong>r amplitude do mix anticoncepcional, <strong>no</strong>qual a pílula e a esterilização respondem por 83% <strong>da</strong> regulação <strong>da</strong> fecundi<strong>da</strong>de, emcontraposição com os 76% verificados <strong>no</strong> grupo <strong>da</strong>s mulheres brancas. Além disso,uma me<strong>no</strong>r parcela de <strong>negra</strong>s usuárias <strong>da</strong> pílula passou por uma consulta médica antesde começar a tomá-la, sendo maior a proporção de mulheres <strong>negra</strong>s que se encontravamgrávi<strong>da</strong>s por falha do método usado e que tinham necessi<strong>da</strong>de de contracepçãonão-satisfeita, ou seja, não usavam nenhum método apesar de serem fecun<strong>da</strong>s e nãodesejarem ficar grávi<strong>da</strong>s. Em conseqüência deste precário conhecimento <strong>da</strong> fisiologiareprodutiva e acesso à contracepção, é alto o índice de falha na implementação <strong>da</strong>preferência reprodutiva. Ela se traduz, por exemplo, em um elevado nível de fecundi<strong>da</strong>denão-deseja<strong>da</strong> que, <strong>no</strong> total, representa 27% de fecundi<strong>da</strong>de na população brancae 40% na <strong>negra</strong>." (Perpétuo, 2000).Os <strong>da</strong>dos dão mostras do excesso de intervencionismos que as mulheres estãosubmeti<strong>da</strong>s através dos altos índices de esterilização tubária, testemunhando <strong>para</strong> asmulheres brancas a crença dissemina<strong>da</strong> que somente um processo cirúrgico é eficaz<strong>no</strong> controle <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de reprodutiva. "No tocante às mulheres <strong>negra</strong>s o que surgeé uma aparente dicotomia, pois se as <strong>negra</strong>s possuem me<strong>no</strong>s conhecimento sobrefisiologia, têm me<strong>no</strong>s acesso a consultas médicas e fazem me<strong>no</strong>s uso de outrosmétodos anticoncepcionais, só se explica o acesso a centros cirúrgicos <strong>para</strong> realizaçãode laqueadura tubários pelo ain<strong>da</strong> vigoroso desejo de expropriação <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>dereprodutiva <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s". (Oliveira, MF 2003).Embora o Paism tenha sido concebido <strong>para</strong> ampliar e melhorar a atenção àsaúde <strong>da</strong> mulher, tal objetivo ain<strong>da</strong> não foi alcançado. Permanecem graves questõesna atenção ao ciclo gravídico-puerperal; o conceito de integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção nãoalcançou sua plena utilização, e grandes investimentos precisam serem feitos <strong>para</strong> queas mulheres, de fato, tenham suas deman<strong>da</strong>s atendi<strong>da</strong>s.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de409


2.5. A Criança <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> – ações e estratégiasCom o intuito de aumentar o acesso, melhorar a quali<strong>da</strong>de e humanizar aassistência presta<strong>da</strong> às crianças brasileiras, destacam-se algumas ações que vêm sendorealiza<strong>da</strong>s pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde em conjunto com os estados e municípios, contandocom o apoio de outros setores governamentais e não-governamentais:• ampliação <strong>da</strong> Iniciativa Hospitais Amigo <strong>da</strong> Criança (IHAC) <strong>para</strong> 199 uni<strong>da</strong>deshospitalares, visando à promoção, proteção e apoio à amamentação, por meio<strong>da</strong> melhoria de práticas e rotinas em materni<strong>da</strong>des.Nessas uni<strong>da</strong>des os profissionais de saúde oferecem atendimento mais humanizadoà mãe e ao recém-nascido.Para que um hospital receba o título de Amigo <strong>da</strong> Criança é preciso seguir algumasregras tais como: ter <strong>no</strong>rma escrita sobre aleitamento mater<strong>no</strong>; treinar a equipe de saúde;informar as gestantes sobre as vantagens do leite mater<strong>no</strong>; aju<strong>da</strong>r as mães a iniciar essaprática e não <strong>da</strong>r aos recém-nascidos nenhum outro alimento ou bebi<strong>da</strong> além do leitemater<strong>no</strong>. Devem também seguir outros requisitos relacionados à saúde <strong>da</strong> mulher.Esta iniciativa começou tendo como alvo o combate ao desmame precoce, inicialmenteera feita pelo Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição (Inan), sendo queposteriormente incorpora<strong>da</strong> pela área de saúde <strong>da</strong> criança do Ministério <strong>da</strong> Saúde.Ain<strong>da</strong> é baixo o número de materni<strong>da</strong>des que conseguiram a titulação <strong>da</strong>Iniciativa. Observa-se em muitas uni<strong>da</strong>des que as informações e esclarecimentos sobreos benefícios e importância do aleitamento mater<strong>no</strong> ain<strong>da</strong> são muito restritas, e muitasain<strong>da</strong> não dispõem de alojamento conjunto.Levando-se em conta os <strong>da</strong>dos desagregados por cor sobre saúde reprodutiva divulgadospela Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS) de 1996, que apontaque as mulheres <strong>negra</strong>s tem conhecimento precário sobre fisiologia reprodutiva e acessoà contracepção e também têm me<strong>no</strong>r acesso à assistência obstétrica seja durante opré-natal, parto ou puerpério, talvez não seja forçoso concluir que informações sobrealeitamento mater<strong>no</strong> sigam o mesmo padrão de precarie<strong>da</strong>de.Corroborando com a PNDS/1996, foi realizado estudo sobre Desigual<strong>da</strong>desRaciais, Sociodemográficas e na Assistência ao Pré-natal e ao Parto. (Município doRio de Janeiro – <strong>Brasil</strong>, 1999 – 2001). Tal estudo realizado por Leal, Gama e Cunha foicomposto por uma amostra de 9.633 puérperas, sendo 51,9% brancas e 48% <strong>negra</strong>s(somatório de pretas e par<strong>da</strong>s). A pesquisa revelou situações desfavoráveis <strong>para</strong> asmulheres <strong>negra</strong>s na maioria <strong>da</strong>s variáveis analisa<strong>da</strong>s. Salienta-se aqui, que o baixopeso ao nascer teve uma diferença significativa entre os grupos de cor, sobretudo <strong>no</strong>410Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


estrato com baixo nível de instrução. Tendo em vista que o aleitamento mater<strong>no</strong> éfun<strong>da</strong>mental <strong>para</strong> o crescimento e desenvolvimento de to<strong>da</strong>s as crianças, torna-se ain<strong>da</strong>mais necessário <strong>para</strong> aquelas com baixo peso ao nascer em condições de aleitamento.Se a IHAC não leva em conta a maior prevalência de baixo peso nas crianças <strong>negra</strong>s,tal iniciativa deixa de cumprir seus objetivos junto à população que mais necessita desuas ações.Um outro projeto na área <strong>da</strong> criança objetiva a melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciaao recém nascido, visando contribuir <strong>para</strong> a redução <strong>da</strong>s taxas de mortali<strong>da</strong>deneonatal, principal causa de óbito <strong>no</strong> primeiro a<strong>no</strong> de vi<strong>da</strong>. Tendo como foco melhorara quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção perinatal, o Ministério <strong>da</strong> Saúde vem investindo na melhoria<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção, <strong>no</strong> aumento <strong>da</strong> cobertura do pré-natal, na humanização doparto e nascimento, na redução <strong>da</strong>s taxas de cesarianas e na criação de centros departo <strong>no</strong>rmal.Articulando às áreas <strong>da</strong> mulher e <strong>da</strong> criança o Programa de Apoio à Implantaçãode Sistemas Estaduais de Referência à Gestante de Alto Risco apoiou uma rede de 255materni<strong>da</strong>des como resultado de um investimento de mais de 100 milhões de reais. Asinternações <strong>da</strong>s gestantes de alto risco obtiveram aumento <strong>no</strong>s valores remumeradospelo SUS.Tal programa ain<strong>da</strong> permanece como esforço <strong>para</strong> a reorganização <strong>da</strong> atenção narede. Este enfrentamento revela a persistente fragili<strong>da</strong>de dos Sistemas de Referência eContra-Referência. Gestantes <strong>negra</strong>s de risco continuam com dificul<strong>da</strong>des <strong>para</strong> chegar àsuni<strong>da</strong>des, que deveriam ser referência <strong>para</strong> este grupo. Tal desassistência se verifica <strong>no</strong>srelatórios de mortali<strong>da</strong>de materna onde os <strong>da</strong>dos aparecem desagregados por cor.A <strong>no</strong>rmatização e implantação do método Mãe-Canguru, visa à humanização doatendimento ao bebê prematuro e de baixo peso, melhorando o vínculo entre a mãe e o filho,diminuindo o tempo de se<strong>para</strong>ção, estimulando a prática <strong>da</strong> amamentação, diminuindoa infecção hospitalar e a permanência do bebê <strong>no</strong> hospital. São 123 as materni<strong>da</strong>des doSUS que já contam com profissionais treinados na Metodologia Mãe-Canguru.Relata-se dificul<strong>da</strong>de de implantação em virtude de grande resistência com relaçãoà adoção de práticas me<strong>no</strong>s intervencionistas <strong>no</strong> cui<strong>da</strong>do do recém-nato de risco. Sãopoucas as uni<strong>da</strong>des que adotaram o método. Do ponto de vista <strong>da</strong>s mães <strong>negra</strong>s muitasnão contam com uma rede social e familiar de apoio que possibilite a dedicação queo método canguru exige, sendo necessário pensar estratégias <strong>para</strong> facilitar o acesso eadesão destas que se encontram, geralmente, em situação de vulnerabili<strong>da</strong>de. Cabeain<strong>da</strong> lembrar, como dissemos anteriormente, que existe uma maior prevalência debaixo peso ao nascer entre as crianças <strong>negra</strong>s. A inexistência de ações intersetoriaisque facilitem o acesso a este método <strong>para</strong> as mães <strong>negra</strong>s, resulta na exclusão dosrecém-natos negros de baixo peso a esta prática clínica.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de411


Segundo o IBGE, "... O padrão de família de mulher sem cônjuge com filhos,embora tenha crescido mais <strong>no</strong> período <strong>para</strong> as famílias cuja pessoa de referência ébranca, mantém-se ain<strong>da</strong> como o mais representativo <strong>para</strong> as famílias cuja a pessoa dereferência é preta ou par<strong>da</strong>, proporção que, <strong>no</strong> Sudeste, chega a um patamar de 24,6%<strong>para</strong> as pretas, 19% <strong>para</strong> as par<strong>da</strong>s e 15,9% <strong>para</strong> as brancas..." (IBGE, 2001).Desde 1992 existia o Programa de Diagnóstico Precoce do HipotireoidismoCongênito e Fenilcetonúria (Portaria GM/MS nº 22, de 15 de janeiro de 1992), porémsó em 2001 o Ministro de Estado <strong>da</strong> Saúde, considerou a necessi<strong>da</strong>de de ampliar oacesso à Triagem Neonatal <strong>no</strong> país e buscar a cobertura de 100% dos recém-nascidos,cumprindo assim os princípios de eqüi<strong>da</strong>de, universali<strong>da</strong>de e integrali<strong>da</strong>de que devempautar as ações de saúde. A Portaria nº 822, de 6 de junho de 2001 instituiu <strong>no</strong> âmbitodo Sistema Único de Saúde, o Programa Nacional de Triagem Neonatal/PNTN quevisa à identificação por meio do “teste do pezinho” bebês portadores de doençascongênitas, <strong>para</strong> tratá-los precocemente e acompanhar o desenvolvimento <strong>da</strong> criança.Nesta ocasião foi incorpora<strong>da</strong> ao PNTN a triagem <strong>da</strong> anemia falciforme, por muitosa<strong>no</strong>s negligencia<strong>da</strong> pelo poder público.A anemia falciforme é uma doença de grande prevalência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e acometeprincipalmente a população afrodescendente. Segundo a OMS, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> a ca<strong>da</strong> a<strong>no</strong> nascem2.500 crianças com anemia falciforme e 25% delas morrem antes de completar cinco a<strong>no</strong>sde i<strong>da</strong>de. Nos afrodescendentes, a prevalência é de um caso a ca<strong>da</strong> 500 nascimentos. Estadoença é hereditária e causa<strong>da</strong> por um gene recessivo que pode ser encontrado na populaçãobrasileira com freqüências que variam de 2% a 6% e de 6% a 10% na população <strong>negra</strong>.O objetivo do programa é o desenvolvimento de ações de triagem neonatal emfase pré-sintomática, acompanhamento e tratamento <strong>da</strong>s doenças congênitas detecta<strong>da</strong>s,promovendo o acesso, o incremento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong>dos laboratórios especializados e dos serviços de atendimento bem como organizar eregular o conjunto destas ações de saúde.Diante <strong>da</strong> magnitude deste agravo que afeta prioritariamente a população <strong>negra</strong>,a incorporação somente em 2001 desta hemoglobi<strong>no</strong>patia <strong>no</strong> teste do pezinho falapor si só <strong>da</strong> negligência com relação à saúde deste grupo.Apesar de haver sido formulado pela comuni<strong>da</strong>de <strong>negra</strong> e parceiros em 1996, oPrograma Nacional de Anemia Falciforme, que previa atenção em todos os momentosdo ciclo de vi<strong>da</strong>, até hoje não foi implantado pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde. Existemalguns programas estaduais e municipais resultantes, prioritariamente, do esforço <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de <strong>negra</strong> organiza<strong>da</strong> e <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong>de de alguns gestores.412Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


2.5.1. Implantação <strong>da</strong> atenção integra<strong>da</strong> às doenças prevalentes na infânciaA implementação <strong>da</strong> Atenção Integra<strong>da</strong> às Doenças Prevalentes na Infância (AI-DPI) <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> começou em 1997 e está avançando rapi<strong>da</strong>mente em vários estadosbrasileiros, especialmente os do Nordeste.a) ObjetivosReduzir a mortali<strong>da</strong>de na infância e contribuir de maneira significativa <strong>para</strong> amelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> atenção presta<strong>da</strong>, desenvolvendo ações de promoção eprevenção juntamente com ações assistenciais, levando ao crescimento e desenvolvimentosaudáveis <strong>da</strong> população infantil, em especial <strong>da</strong>quela que vive em regiõesme<strong>no</strong>s desenvolvi<strong>da</strong>s. A estratégia enfatiza a visão integra<strong>da</strong> <strong>da</strong> criança, ao invés deenfocar apenas uma doença ou uma condição individual. Além disso, procura enfatizaros diversos setores envolvidos na saúde <strong>da</strong> criança, como, por exemplo, a capacitaçãodos profissionais de saúde, a organização dos serviços e a educação <strong>da</strong> família e acomuni<strong>da</strong>de, <strong>no</strong> que tange à sua saúde.Para além <strong>da</strong> atenção integra<strong>da</strong> às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI), aolongo <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong>, várias ações, como as descritas anteriormente, foram implanta<strong>da</strong>sna área <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> criança. Observou-se uma diminuição <strong>da</strong> mortali<strong>da</strong>de infantilneste período, porém, apesar dos avanços obtidos, a mortali<strong>da</strong>de segue demonstrado serum indicador bastante contudente <strong>da</strong>s condições de um grupo populacional. Emboraa taxa de mortali<strong>da</strong>de infantil tenha diminuído, vários autores indicam que a diferença<strong>no</strong>s níveis de mortali<strong>da</strong>de de crianças <strong>negra</strong>s e brancas aumentou: em 1980 era de21%, em 2000 foi <strong>para</strong> 40%, mantendo-se a série histórica que afere maior risco demorte <strong>para</strong> as crianças <strong>negra</strong>s. A não incorporação <strong>da</strong> perspectiva racial, a ausência deestratégias <strong>para</strong> permitir maior acesso e aumentar a eficácia dos programas, modelose ações propostos junto às crianças <strong>negra</strong>s, servem à perpetuação deste quadro deiniqüi<strong>da</strong>de.2.6. Projeto VigisusO Projeto Vigisus iniciou em 1999 com térmi<strong>no</strong> previsto <strong>para</strong> 2001,<strong>para</strong> suaprimeira fase, tendo sido reformulado ao fim deste período vigorando até hoje. Esteprojeto foi elaborado com a necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r respostas aos desafios de estrutura dossistemas de vigilância em saúde adequados ao ambiente descentralizado, assumidopelo Sistema Único de Saúde, e também monitorar os processos epidemiológicos ca<strong>da</strong>vez mais complexos <strong>no</strong> país.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de413


a) ObjetivoCriar a infra-estrutura e a capaci<strong>da</strong>de técnica destina<strong>da</strong>s a compor um Sistema deVigilância em Saúde abrangente, capaz de permitir ao SUS o desempenho desse papelprimordial, que é o de evitar quando possível, que as pessoas adoeçam.O projeto foi dividido em quatro áreas programáticas que refletem as estratégiasnecessárias à estruturação dessas ativi<strong>da</strong>des (controle e prevenção) nas três esferas degover<strong>no</strong> que compõem o SUS.b) Ações básicasÁrea programática I – estruturação sistêmica <strong>da</strong> vigilância epidemiológicaI – Infra-estruturaFortalecimento <strong>da</strong> infra-estrutura (reforma física e reequipamento) <strong>da</strong> Funasa e<strong>da</strong>s secretarias estaduais e municipais de saúde, adequando-as ao exercício de suas<strong>no</strong>vas funções, bem como <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des componentes <strong>da</strong> rede de laboratórios desaúde pública, estabelecimentos ambulatoriais e hospitalares e centros de referência,componentes do sistema.Área Programática II – estruturação sistêmica <strong>da</strong> vigilância ambientalI - Infra-estruturaFortalecimento <strong>da</strong> infra-estrutura (reforma física e reequipamento) <strong>da</strong> Funasa e<strong>da</strong>s secretarias estaduais e municipais de saúde, adequando-as ao exercício de suas<strong>no</strong>vas funções, bem como <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des componentes <strong>da</strong> rede de laboratórios deSaúde Pública, oficinas de saneamento, uni<strong>da</strong>des de vigilância ambiental e centros dereferência, componentes do sistema.414Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Área Programática III – estruturação de ações de prevenção e controle dedoenças na Amazônia LegalAtuação direta <strong>da</strong> Funasa e capacitação técnico-operacional dos estados <strong>da</strong> região<strong>para</strong> execução de ações de controle de doenças prevalentes, principalmente malária,leishmanioses, tuberculose, hanseníase, hepatite B, bem como aqueles agravos comrisco de transmissão em nível epidêmico.Área Programática IV – estruturação de ações volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a atenção à saúde<strong>da</strong>s populações indígenasI – Infra-estruturaAdequação e fortalecimento <strong>da</strong> estrutura de serviços volta<strong>da</strong> à execução de açõesrelaciona<strong>da</strong>s à saúde <strong>da</strong>s populações indígenas de 18 estados brasileiros, destacando-se:reforma e construção de postos de saúde indígena, de instalações <strong>para</strong> organizaçõesindígenas, de Casas do Índio, implantação de sistemas de água potável, melhoriassanitárias e aquisição de equipamentos.O atual cenário <strong>da</strong> vigilância epidemiológica limita-se a doenças transmissíveis,observando-se então a necessi<strong>da</strong>de de identificação e instituição de instrumentos demonitoramento, controle e avaliação epidemiológica de doenças crônico-degenerativase <strong>da</strong>s causas externas, que tem bastante relevância <strong>no</strong> atual perfil epidemiológicodo país.A epidemiologia <strong>no</strong>s indica que os agravos não acometem de forma homogêneatodos os grupos populacionais, excetuando populações indígenas, o Vigisus nãodesagrega as informações em saúde por sexo e raça/cor, e com isto retar<strong>da</strong> a possibili<strong>da</strong>dede intervenções eficazes <strong>para</strong> a promoção, prevenção e recuperação <strong>da</strong> saúde.Estima-se que mais de 17.000 pessoas vivam hoje em comuni<strong>da</strong>des quilombolas. Estecontigente populacional deman<strong>da</strong> melhorias na quali<strong>da</strong>de de suas vi<strong>da</strong>s, enfatizandoacesso à saúde, acesso ao abastecimento público de água e à condições sanitáriasdignas em seus territórios.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de415


3. A socie<strong>da</strong>de civil e sua inserção na saúdeDurante a déca<strong>da</strong> de 1990 ocorreu uma grande expansão <strong>da</strong> rede SUS, acreditava-seà época, que a descentralização, per se, seria capaz de efetivar os princípios <strong>da</strong>universali<strong>da</strong>de, integrali<strong>da</strong>de e eqüi<strong>da</strong>de. Porém o que se observou, após o referidoperíodo, foi que a expansão <strong>da</strong> rede, embora necessária, não garantiu o funcionamentodo SUS <strong>no</strong>s moldes propostos constitucionalmente, logo ain<strong>da</strong> persistem as dificul<strong>da</strong>desde acesso, a pouca eficiência e a baixa eficácia <strong>da</strong>s ações em saúde.Diante deste quadro a socie<strong>da</strong>de civil <strong>negra</strong> organiza<strong>da</strong>, foi insta<strong>da</strong> a desencadearações <strong>para</strong> a melhoria <strong>da</strong>s quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, com ênfase na atençãoà saúde. Justamente nesta déca<strong>da</strong> várias organizações não-governamentais (ONGs)<strong>negra</strong>s se constituíram e incorporaram em suas missões, temas relativos à saúde.Esta resposta <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil foi motiva<strong>da</strong> pela percepção <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong>de deacesso às ações de saúde que acomete a população <strong>negra</strong> e pela necessi<strong>da</strong>de de fazervaler os princípios do SUS, junto a esta população, respeitando seus padrões raciais,culturais e suas derman<strong>da</strong>s em saúde. Tais iniciativas contemplam também a necessi<strong>da</strong>dede criar instrumentos <strong>para</strong> superar as barreiras “invisíveis” que obstaculizam sua plenautilização pela população <strong>negra</strong>.Descreveremos algumas, dentre inúmeras experiências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, entendendoque o relato não capta o vigor inerente a estas ações, <strong>no</strong> que tange as suascapaci<strong>da</strong>des de pressionar por mu<strong>da</strong>nças, instigar <strong>no</strong>vos processos de trabalho e inspirarpossíveis reformas programáticas que permitam o estabelecimento de <strong>no</strong>vas diretrizese metas <strong>para</strong> as políticas de saúde <strong>no</strong> tocante às deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.Selecionamos alguns projetos e ações desenvolvi<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong>de civil, delineadoscom objetivo de:• influenciar na formulação de políticas públicas;• disseminar informações relevantes <strong>para</strong> a saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>;• capacitar recursos huma<strong>no</strong>s, <strong>para</strong> informar e orientar comuni<strong>da</strong>des;• fornecer atendimento psicossocial.3.1. Influenciando a formulação de Políticas públicas416Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


3.1.1. Centro de Estudos <strong>da</strong>s Relações de Trabalho e Desigual<strong>da</strong>de (Ceert)Origem – Fun<strong>da</strong>do em 1990, com o objetivo de conjugar produção de conhecimentocom programas de intervenção <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>s relações raciais e de gênero,buscando a promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de de oportuni<strong>da</strong>des de tratamento e o exercícioefetivo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.a) Programa Direito e Relações RaciaisObjetivos gerais• desenvolvimento de pesquisas de jurisprudência;• estudos sobre a legislação de promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de;• sensibilização e capacitação de operadores do Direito;• difusão de informações, via seminários, publicações e palestras;• pre<strong>para</strong>ção de ações judiciais coletivas e/ou emblemáticas;• aperfeiçoamento <strong>da</strong> legislação, como instrumento jurídico <strong>para</strong> a defesa judicial<strong>da</strong> promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de de raça e gênero;• controle de constitucionali<strong>da</strong>de (tribunais de segun<strong>da</strong> instância e SupremoTribunal Federal).b) Programa Políticas PúblicasObjetivo gerais – Implementação do Quesito Raça/Cor <strong>no</strong>s formulários e ca<strong>da</strong>strosde serviços de organizações públicas, visando subsidiar e estimular o desenvolvimentode políticas direciona<strong>da</strong>s à população <strong>negra</strong>, em diversas áreas, como: saúde, educaçãoe trabalho.c) Programa de Saúde e TrabalhoObjetivos gerais• capacitação de gestores públicos e organizações sindicais;• produção de materiais;• organização e participação em eventos e fóruns de debate;Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de417


• implementação de políticas públicas.d) Projeto Da<strong>no</strong> Psíquico Oriundo <strong>da</strong> Violência de Raça e GêneroObjetivos – Caracterizar o <strong>da</strong><strong>no</strong> psíquico oriundo <strong>da</strong> violência de raça e gêneronas relações de trabalho.Ativi<strong>da</strong>des desenvolvi<strong>da</strong>s• levantamento e estudo de bibliografias e de casos emblemáticos de atendimentopsicológico por violência de gênero e raça, realizado em diferentes instituições.e) Implementação do quesito cor <strong>no</strong>s programas estaduais de DST/aids(Apoio: Unaids e Pnud)*Objetivos• formar profissionais <strong>da</strong>s coordenações estaduais em DST/aids <strong>para</strong> aimplementação do quesito cor nas <strong>no</strong>tificações em DST/aids;• desenvolver um projeto piloto <strong>no</strong> estado de São Paulo, contemplando a implantação,o monitoramento e a avaliação do processo de coleta do quesitocor <strong>no</strong>s serviços de atendimento em DST/aids,f) Organização a I Conferência Municipal de Saúde <strong>da</strong> População Negra emSão PauloObjetivo – Debater, entre as organizações <strong>negra</strong>s, de saúde, conselheiros econselheiras, os problemas e necessi<strong>da</strong>des específicos <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.3.1.2. Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea)O Centro Feminista de Estudos e Assessoria (Cfemea) – é uma organização <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil, não-governamental, feminista, de caráter público, suprapartidária esem fins lucrativos.Objetivo – Luta pela plena ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong>s mulheres, por relações eqüitativas esolidárias, por uma socie<strong>da</strong>de e Estado justos e democráticos.418Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


O Centro Feminista tem como traço característico o trabalho que desenvolve <strong>no</strong> CongressoNacional, monitorando as proposições legislativas e assessorando parlamentares nasquestões de eqüi<strong>da</strong>de de gênero e na defesa dos direitos <strong>da</strong>s mulheres, visando à regulamentaçãoe ampliação dos mesmos. Está credenciado pelas Mesas <strong>da</strong> Câmara dos Deputados edo Senado Federal, <strong>para</strong> o acompanhamento do processo legislativo desde 1993.a) Programa Direitos <strong>da</strong> Mulher na Lei e na Vi<strong>da</strong>Principais eixos• acompanhamento do Congresso Nacional;• articulação com o Movimento de Mulheres;• democratização <strong>da</strong> Informação.3.1.3. Geledés – Implantação do quesito corNo a<strong>no</strong> de 1990 um grupo de ONGs , com participação especial do Geledés(Instituto <strong>da</strong> Mulher Negra), juntamente com outros setores do movimento negro estabeleceramuma articulação política que resultou na Portaria nº 696/1990, assina<strong>da</strong>pelo então secretário municipal de saúde de São Paulo Eduardo Jorge. Tal portariadetermi<strong>no</strong>u a introdução do quesito cor <strong>no</strong> Sistema de Informação <strong>da</strong> Secretaria Municipal<strong>da</strong> Saúde deste município. Sendo assim, São Paulo foi a primeira ci<strong>da</strong>de do<strong>Brasil</strong> a dispor de informações <strong>da</strong>s diferentes condições de saúde dos grupos raciaisque compõem a população municipal. O Geledés também participou em maio de1990 do Seminário “O quadro Negro <strong>da</strong> Saúde: Implantação do quesito cor <strong>no</strong> SistemaMunicipal de Saúde”, com o intuito de sensibilizar os profissionais de saúde e discutira forma como deveria ser feito o registro racial dos usuários do Sistema Municipal deSaúde. Na ocasião foi decidido que seria segui<strong>da</strong> a classificação utiliza<strong>da</strong> pelo (Instituto<strong>Brasil</strong>eiro de Geografia e Estatística (IBGE).3.1.4. Câmara Técnica Saúde <strong>da</strong> Mulher Negra (Criola)MissãoReunir diferentes setores e recursos <strong>para</strong> a formulação de políticas públicas emsaúde volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> as mulheres <strong>negra</strong>s. Isto é resultado dos avanços alcançados <strong>no</strong>processo de mobilização <strong>da</strong> III Conferência Mundial contra o Racismo /ONU 2001.* Ver apêndiceSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de419


Promove: Ações conjuntas com organizações <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, gover<strong>no</strong>s e instituiçõesde pesquisa, objetivando buscar respostas que possibilitem a melhoria urgente<strong>da</strong>s condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s <strong>no</strong> estado do Rio de Janeiro.Objetivo: Elaborar, implantar e monitorar ações específicas <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúdevolta<strong>da</strong> <strong>para</strong> mulheres <strong>negra</strong>s do estado do Rio de Janeiro, com vistas a produzir impactos<strong>no</strong>s indicadores de morbimortali<strong>da</strong>de específicos a este grupo.Metas: Incorporar o fator racial-étnico como variável importante <strong>para</strong> a análise<strong>da</strong> morbimortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> estado do Rio de Janeiro. Dandomaior ênfase à situação <strong>da</strong>s mulheres.3.2. Informação, capacitação e atenção3.2.1. Fala PretaOrigem: ONG fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em abril de 1997.Missão: Promover o desenvolvimento huma<strong>no</strong> sustentável buscando a eliminaçãode to<strong>da</strong>s as formas de discriminação e violência, especialmente a discriminação étnicoraciale de gênero, com base <strong>no</strong>s princípios éticos <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de, eqüi<strong>da</strong>de e justiça, napromoção <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e <strong>no</strong> respeito aos direitos huma<strong>no</strong>s e reprodutivos.Meta: Defesa dos direitos huma<strong>no</strong>s e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>, visando oacesso à educação e capacitação de recursos huma<strong>no</strong>s e à quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> por meio depadrões sustentáveis de produção, consumo e serviços adequados de saúde, incluindo sexuali<strong>da</strong>de,saúde reprodutiva e saúde mental, saneamento básico, habitação e transporte.a) Objetivos• promover e defender os direitos huma<strong>no</strong>s <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>;• promover o desenvolvimento huma<strong>no</strong> sustentável, contribuindo <strong>para</strong> a melhoria<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s populações <strong>negra</strong>s urbanas e rurais;• contribuir <strong>para</strong> a construção de um conhecimento crítico acerca <strong>da</strong>s mulheres<strong>negra</strong>s e <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> nas áreas de sexuali<strong>da</strong>de e saúde reprodutiva;420Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• formar mulheres e jovens em tor<strong>no</strong> de questões de saúde reprodutiva, direitoshuma<strong>no</strong>s e educação ambiental;• contribuir <strong>para</strong> o desenho e implementação de políticas públicas que promovam aigual<strong>da</strong>de étnica e de gênero, especialmente <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde reprodutiva;• capacitar mulheres e jovens <strong>para</strong> inserção <strong>no</strong> mercado de trabalho;• colaborar <strong>para</strong> o fortalecimento e articulação <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s nas esferaslocal, nacional e internacional;• combater to<strong>da</strong>s as formas de violência e discriminação contra as mulheres,população <strong>negra</strong> e outros grupos discriminados;• disseminar informações acerca <strong>da</strong> mulher <strong>negra</strong>, relações de gênero e raça.b) Alguns projetos e ações na área <strong>da</strong> saúde:Salva-vi<strong>da</strong>s: Tem como objetivo a formação de jovens e mulheres <strong>negra</strong>s <strong>para</strong> odesenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des de multiplicação na área de saúde e direitos reprodutivos,com ênfase na prevenção <strong>da</strong> aids e de outras DSTs.Bando: Objetivo é formar agentes comunitários capacitados em saúde reprodutiva esexuali<strong>da</strong>de <strong>para</strong> desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>des de multiplicação, visando reduzir a morbimortali<strong>da</strong>depor HIV e por outros agentes causadores de DSTs e o seu impacto social.O projeto capacitou 12 monitoras (lideranças comunitárias e integrantes dosgrupos de auto-aju<strong>da</strong> <strong>da</strong> Fala Preta) e 38 jovens <strong>para</strong> o desenvolvimento de ativi<strong>da</strong>desde multiplicação em espaços alternativos como bailes, shows, eventos e escolas <strong>da</strong>periferia de São Paulo. Durante o curso foram trabalhados temas como: corpo reprodutivoe corpo erótico, métodos contraceptivos, gravidez na adolescência, DST/aids eprevenção ao uso/abuso de drogas.Atualmente, os jovens do projeto estão desenvolvendo ativi<strong>da</strong>des de multiplicação,cuja proposta é estimular outros(as) jovens a adotar medi<strong>da</strong>s preventivas. Nessasativi<strong>da</strong>des são oferecidos preservativos, informações sobre DST/aids e discuti<strong>da</strong>s alternativasde cui<strong>da</strong>do em relação à saúde reprodutiva e sexuali<strong>da</strong>de, com ênfase naprevenção de DST/aids e uso de drogas.O projeto conta atualmente com parceria do Programa Estadual DST/aids nadistribuição de preservativos e de materiais educativos e na formulação de políticasSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de421


volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> os grupos mais vulneráveis à infecção pelo HIV/DST/aids e <strong>da</strong> CoordenaçãoNacional de DST/aids do Ministério <strong>da</strong> Saúde.Cronistas urba<strong>no</strong>s: Objetivo é desenvolver uma proposta pe<strong>da</strong>gógica de empoderamentode jovens e mulheres <strong>negra</strong>s que integre saúde reprodutiva ao desenvolvimentode habili<strong>da</strong>des técnicas profissionalizantes, desenvolvimento de capaci<strong>da</strong>des decomunicação e expressão e conhecimentos de direitos huma<strong>no</strong>s, basea<strong>da</strong> na construçãoe reconstrução <strong>da</strong> memória familiar e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.Como metas específicas, o projeto pretende promover um processo de empoderamentode jovens e mulheres <strong>negra</strong>s a partir <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> memória individual ecoletiva <strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> reprodução e produção econômica e cultural, além de promovera formação em educação sexual e reprodutiva e desenvolver habili<strong>da</strong>des profissionalizantesna área artístico-cultural, com especialização em áudio e vídeo.Dissemina Ação: Tem como objetivo a formação de lideranças e agentes comunitáriasresidentes nas regiões Norte e Nordeste do país, <strong>para</strong> a utilização de umametodologia de trabalho sistematiza<strong>da</strong> pelo Grupo de Estudos do Terceiro Setor (Gets)e United Way do Canadá.c) Na área de pesquisasEsta ONG promove estudos e pesquisas sobre os fatores que afetam a saúde e avi<strong>da</strong> <strong>da</strong> mulher <strong>negra</strong> e contribui <strong>para</strong> a formação de pesquisadoras(es) <strong>negra</strong>s(os) pormeio do Núcleo de Estudos e Pesquisa sobre Gênero, Etnia e Saúde.d) Ações comunitáriasPor intermédio <strong>da</strong> área de Ações Comunitárias a FALA PRETA vem desenvolvendoativi<strong>da</strong>des com mulheres em comuni<strong>da</strong>des localiza<strong>da</strong>s nas periferias de São Paulo.Grupos de auto-aju<strong>da</strong> - Esses grupos têm como objetivo fortalecer o processo deorganização comunitária <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s em conjunto com mulheres brancas debaixa ren<strong>da</strong>. Consistem em espaços coletivos, onde as mulheres reconstroem suas históriasde vi<strong>da</strong> pessoal e coletiva, por meio <strong>da</strong> troca de vivências/experiências. Busca-seelevar a auto-estima, reconstruir a identi<strong>da</strong>de étnica, possibilitando assim um processode identificação coletiva enquanto mulheres <strong>negra</strong>s.Quilombos – desenvolve e apóia projetos de promoção <strong>da</strong> auto<strong>no</strong>mia e desenvolvimentosustentável junto a comuni<strong>da</strong>des <strong>negra</strong>s rurais. No projeto "Pega o Beco– vozes & artes <strong>negra</strong>s – juventu<strong>da</strong>de do Pará", o objetivo é formar um grupo de referência<strong>para</strong> o/a jovem negro/a e quilombola, composto por homens e mulheres comi<strong>da</strong>de entre 16 e 24 a<strong>no</strong>s. Estes jovens serão agentes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e devem monitorar422Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


políticas públicas e ações educativas nas áreas de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, direitos huma<strong>no</strong>s, saúdee direitos reprodutivos e sexuais.3.2.2. CriolaOrigem: Criola é uma instituição <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil sem fins lucrativos, fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em2 de setembro de 1992. É conduzi<strong>da</strong> por mulheres <strong>negra</strong>s de diferentes formações.Objetivo: Instrumentalização de mulheres, adolescentes e meninas <strong>negra</strong>s do Riode Janeiro <strong>para</strong> o enfrentamento do racismo, do sexismo e <strong>da</strong> homofobia vigentes nasocie<strong>da</strong>de brasileira.Linhas de ação: Oficinas, cursos e treinamentos.a) Ativi<strong>da</strong>des realiza<strong>da</strong>s na área <strong>da</strong> saúdeAção integra<strong>da</strong> – O objetivo desta ativi<strong>da</strong>de é fornecer elementos de reflexão,vivências e debate dos temas gênero e raça; saúde e sexuali<strong>da</strong>de; estética, auto-estimae direitos, de modo a possibilitar o enfrentamento do racismo, do sexismo e <strong>da</strong>homofobia.Jorna<strong>da</strong> Omowalê – O objetivo desta jorna<strong>da</strong> é fornecer elementos <strong>para</strong> a manutenção<strong>da</strong> integri<strong>da</strong>de física e psicológica de mulheres <strong>negra</strong>s, pela junção <strong>da</strong>s práticasde saúde vin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> medicina tradicional afro-brasileira, com os elementos <strong>da</strong> ciênciae <strong>da</strong> medicina <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> mulher.Projeto treinamento de agentes de saúde – Esta ativi<strong>da</strong>de compreende reuniõesde treinamento e a elaboração de material didático específico <strong>para</strong> mulheres e adolescentes<strong>negra</strong>s. Com a realização de oficinas e a confecção do material, o objetivo ésubsidiar o trabalho de multiplicação de informações <strong>para</strong> outros grupos e mulheres,bem como a ampliação do nível de informação sobre técnicas de trabalho e sobre aepidemia de DST/aids.Gincana aids informação – Conduzi<strong>da</strong> por oito agentes de saúde adolescentes,a Gincana Aidsinformação utiliza jogos, brincadeiras e festa <strong>para</strong> a mobilização dejovens. Seu objetivo é a prevenção de DST/aids com metodologias cria<strong>da</strong>s pelos própriosparticipantes. Permitindo o protagonismo juvenil na definição dos passos a serem<strong>da</strong>dos <strong>para</strong> a adoção de práticas de prevenção e autocui<strong>da</strong>do.b) Na linha educativaSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de423


Realiza ativi<strong>da</strong>des de capacitação e disseminação de informações <strong>para</strong> mulheres,adolescentes, comuni<strong>da</strong>des e escolas. Fazem parte desta linha de ação os projetos:Formação de Promotoras Legais Populares, que capacita mulheres <strong>para</strong> desenvolverações volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a re<strong>para</strong>ção de direitos e prevenção <strong>da</strong> violência que incidesobre mulheres.Grupo de teatro Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e Ação, formado por adolescentes e jovens que utilizama linguagem do teatro <strong>para</strong> a disseminação de informações e atitudes.Grupo de auto-aju<strong>da</strong> – Soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de é o lema deste grupo. Seu objetivo: fornecerelementos <strong>para</strong> a resolução de dificul<strong>da</strong>des individuais e coletivas, fortalecendo aidenti<strong>da</strong>de e a auto-estima, bem como a melhoria <strong>da</strong>s relações interpessoais <strong>da</strong>s participantes.É desenvolvido a partir de reuniões quinzenais, às terças-feiras, com vivênciase dinâmicas, de três horas ca<strong>da</strong>, <strong>para</strong> 20 mulheres adultas. Troca afetiva, aju<strong>da</strong>, apoiosão compartilhados pelas integrantes deste grupo.SOS Criolinha – É o <strong>no</strong>me de um projeto desenvolvido desde 1994 e que visa ainstrumentalização de meninas, adolescentes e educadores <strong>para</strong> o enfrentamento <strong>da</strong>violência que atinge esta população. Realizado por oficinas <strong>para</strong> meninas e adolescentescom os temas: gênero, raça, violência, direitos, autodefesa, primeiros socorros. O SOSCriolinha oferece capacitação aos educadores por jorna<strong>da</strong>s, cursos e publicações.3.2.3. Associação Cultural <strong>da</strong>s mulheres Negras (Acmun)Origem – Começou com um grupo de mulheres, na Vila Maria <strong>da</strong> Conceição,em Porto Alegre, rezando o Terço. Estas mulheres sentiram necessi<strong>da</strong>de de lutar <strong>para</strong>vencer seus medos. Começaram então a se reunir <strong>para</strong> trocar experiências em lugarextremamente violento, pobre, carente de ações do gover<strong>no</strong>. Buscam então respeitoàs suas diferenças e alternativas dignas <strong>para</strong> superação do racismo e sexismo.a) Projetos na área <strong>da</strong> saúde e educaçãoProjeto Mulheres Multiplicadoras – Visitas de agentes de saúde em residências<strong>da</strong> periferia <strong>para</strong> informar sobre direitos sexuais e reprodutivos.Projeto Sala <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> – Escuta qualifica<strong>da</strong> junto às mulheres vítimas de violênciadoméstica e sexual.Fortalecimento <strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s que desenvolvem ações de saúde por meiode encontros anuais onde ocorrem:424Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• troca de experiência (identificação dos alcances e limites <strong>da</strong>s ações pessoaise coletivas);• reflexão sobre os fatores que contribuem <strong>para</strong> o processo de vulnerabilização<strong>da</strong>s mulheres <strong>negra</strong>s frente às DST, ao HIV e à aids;• reforço de parcerias entre as Organizações Governamentais e Não-Governamentais.O desafio que está posto <strong>no</strong> momento é garantir a intersetoriali<strong>da</strong>de, integrali<strong>da</strong>devia políticas públicas e a transformação <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s e necessi<strong>da</strong>des demarca<strong>da</strong>spela socie<strong>da</strong>de civil em processo de trabalho, especialmente <strong>no</strong> que diz respeito àpopulação <strong>negra</strong>, <strong>da</strong>ndo corpo, legitimi<strong>da</strong>de e visibili<strong>da</strong>de pública ao que deve serre<strong>para</strong>do, além <strong>da</strong> criação de uma rede de fortalecimento de mulheres <strong>negra</strong>s na lutacontra a aids, o racismo e a violência institucional.Projeto Educação – articulação com educadores(as) negros(as) que trabalhamcom uma educação não discriminatória, possibilitando a troca com profissionais <strong>da</strong>rede municipal de ensi<strong>no</strong>.3.2.4. Grupo de Mulheres Negras Nzinga MbandiObjetivos e linhas de trabalho – Atuam <strong>no</strong> movimento feminista de mulheres <strong>negra</strong>s, naluta contra o racismo institucional, prevenção de DST/aids, denúncias de violência domésticae sexual, acompanhamento <strong>da</strong>s vítimas, tanto de racismo como de violência, organização eparticipação em eventos vinculados à questão de gênero e raça.3.2.5. Maria MulherOrigem: É uma ONG que foi cria<strong>da</strong> em 8 de março de 1987, em Porto Alegre (RS).Objetivo – Combater a violência étnico/racial, sexista – em especial a violência doméstica– e social. Desde o início, vem desenvolvendo diversos programas e projetos, entre os quaiso Construindo a Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia de Mulheres Vítimas de Violência Doméstica; Cui<strong>da</strong>r <strong>da</strong> Saúdeé Coisa de Mulher; Viva sem Violência e o SOS Racismo e Família Ci<strong>da</strong>dã.Atuação – Pelo seu trabalho já reconhecido, a ONG passou a atuar na região doCruzeiro do Sul, a partir <strong>da</strong> parceria estabeleci<strong>da</strong> com o Conselho Tutelar. Como explicaintegrantes <strong>da</strong> ONG, a Cruzeiro foi diag<strong>no</strong>stica<strong>da</strong> como “uma região de grande exclusãosocial, violenta, próxima do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, com uma grande concentração de mulheres,<strong>negra</strong>s, não alfabetiza<strong>da</strong>s e chefes de domicílio (ganhando até dois salários mínimos)”.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de425


Na vila Cruzeiro, Maria Mulher tem sede num espaço <strong>da</strong> Igreja Metodista, ondeoferece atendimento psicossocial individual e em grupo, visitas domiciliares, oficinasde auto-estima, saúde, alfabetização, informática, reciclagem de papel, confecção deroupas e produção de alimentos. Além disto, trabalha em conjunto com a rede local deserviços públicos, <strong>para</strong> onde encaminha os casos de competência destes serviços. Oatendimento às mulheres e adolescentes ocorre sempre com a perspectiva <strong>da</strong>s relaçõesde gênero e raça. “Mas a deman<strong>da</strong> vem <strong>da</strong>s mulheres atendi<strong>da</strong>s”.Projeto – Maria Mulher de Portas Abertas – Onde as mulheres respondem perguntasde um prontuário, que irá identificar quem já sofreu algum tipo de violência.Uma vez identifica<strong>da</strong>s, são encaminha<strong>da</strong>s <strong>para</strong> os atendimentos necessários e ficamvincula<strong>da</strong>s à Maria Mulher.A partir <strong>da</strong>s entrevistas <strong>para</strong> o levantamento feito pelo prontuário, a equipemultidisciplinar, forma<strong>da</strong> por educadoras, psicólogas, assistentes sociais e enfermeira,percebeu que entre estas mulheres a violência passa de geração <strong>para</strong> geração. Existeuma banalização <strong>da</strong> violência: “Como a avó já sofreu violência, a mãe sofre violência,as mulheres pensam que este é o <strong>no</strong>rmal <strong>para</strong> suas filhas”, diz Conceição. Paraquebrar o círculo vicioso, a Maria Mulher decidiu ampliar seu trabalho e atender às“filhas <strong>da</strong>s mulheres”.Este projeto, já na sua segun<strong>da</strong> edição, foi apoiado pela Fun<strong>da</strong>ção Luterana deDiaconia. Oferece atendimento psicossocial, visitas domiciliares, oficinas de autoestima,arte e reciclagem de papel e trata de questões como saúde, direitos sexuais ereprodutivos, soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de, meio ambiente, relações de raça/etnia e gênero. O públicoatendido são meninas e adolescentes com i<strong>da</strong>de entre 12 e 17 a<strong>no</strong>s, em situação derisco e vulnerabili<strong>da</strong>de.3.2.6. Instituto de Mulheres Negras do Amapá (Imena)O Imena é organização política de mulheres <strong>negra</strong>s.a) Linhas de ação• Programa saúde <strong>da</strong> mulher <strong>negra</strong> (palestras, oficinas e cursos);• Programa de Defesa dos Direitos Huma<strong>no</strong>s (SOS Racismo).b) Objetivos• promover a soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de e a igual<strong>da</strong>de entre homens e mulheres, semdistinção de raça, etnia, cor, i<strong>da</strong>de, classe, orientação sexual, religião,descendência, origem nacional ou regional, estado civil, estado de saúde,filiação, deficiência física, condição de egresso;426Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• defesa dos direitos dos ci<strong>da</strong>dãos negros, especialmente mulheres e jovens,e o incentivo a sua integração ao mercado de trabalho e na socie<strong>da</strong>de civilorganiza<strong>da</strong>;• sensibilizar amplos setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de contra as práticas de discriminaçãoracial ou sexual, por meio de denúncias responsáveis e <strong>da</strong> informação bemfun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong>.3.2.7. Casa de Cultura <strong>da</strong> Mulher NegraOrigem – Cria<strong>da</strong> em 30 de junho de 1990 na Ci<strong>da</strong>de de Santos (SP).Público – Mulheres e crianças vítimas de violência doméstica e sexual, homens,mulheres e crianças vítimas de preconceito racial.Ativi<strong>da</strong>des• oferece assistência jurídica e aconselhamento psicológico a mulheres, homense crianças em caso de racismo;• oferece apoio legal a mulheres e crianças vítimas de violência doméstica esexual e aconselhamento psicológico a estas crianças;• promove eventos e organiza publicações sobre a violência contra mulheres;• trabalha com educadores, sensibilizando-os <strong>para</strong> uma educação anti-racista.Programas• violência doméstica/sexual e racial – apoio jurídico/psicológico e educação;• educação sem discriminação – Orientação aos professores <strong>da</strong> rede de ensi<strong>no</strong>pelas educadoras <strong>da</strong> CCMN, Seminários e oficinas <strong>para</strong> professores e estu<strong>da</strong>ntes,campanha nacional “Por uma educação sem discriminação”;• cursos de capacitação profissional – de curta duração <strong>para</strong> as mulheres eadolescentes terem alternativas de ren<strong>da</strong>. Mantém um projeto de treinamentode jovens <strong>negra</strong>s dentro do setor administrativo <strong>da</strong> Casa;• centro de documentação e pesquisa Carolina de Jesus – reúne um acervoespecializado <strong>para</strong> estu<strong>da</strong>ntes e professores de escolas e universi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> redepública e priva<strong>da</strong>;• saúde, mulher e violência – visa <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong>de à violência doméstica, sexuale racial e seu impacto sobre a saúde física e mental de mulheres e meninase propor políticas que melhorem a resposta dos serviços de saúde a essademan<strong>da</strong>.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de427


Realizou dentro deste programa• seminários com profissionais de saúde, sensibilizando-os <strong>para</strong> o reconhecimentodos sinais de violência nas mulheres que buscam os serviços de saúde;• produção de cartazes, folhetos e publicações;• oficinas de auto-aju<strong>da</strong> <strong>para</strong> mulheres vítimas de violência doméstica, sexuale racial;• Campanha Nacional “Violência contra a mulher: uma questão de Saúde Pública”.3.2.8. Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo (AAFESP)Origem – A AAFESP é uma enti<strong>da</strong>de filantrópica, sem fins lucrativos, forma<strong>da</strong> poramigos, doentes falciformes e familiares.Objetivo – Organização, estudo e desenvolvimento <strong>da</strong>s pessoas com anemiafalciforme <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e <strong>no</strong> mundo. Luta contra to<strong>da</strong>s as formas de discriminação étnicae de gênero, como forma de promover eqüi<strong>da</strong>de social.a) Organização social dos doentes• reuniões, grupos familiares, grupos de auto-aju<strong>da</strong> e oficinas de arte.b) Atenção à saúde• consultas de enfermagem, aconselhamento familiar, planejamento familiar eencaminhamento <strong>para</strong> exames.c) Políticas públicas• formulação <strong>da</strong>s políticas públicas;• ações e ativi<strong>da</strong>des junto ao poder público municipal, estadual e federal;• ações ou ativi<strong>da</strong>des junto aos movimentos sociais.d) Difusão de informações• pesquisa e publicação;• divulgação na mídia;428Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• palestras, cursos e debates;• elaboração de material informativo e educativo.3.2.9. Centro de Cultura Negra do Maranhão – Projeto Ató IreO Projeto Ató Ire desenvolve ativi<strong>da</strong>des direciona<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a saúde e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia <strong>no</strong>sterreiros de São Luís do Maranhão e do Rio de Janeiro visando uma futura ampliação<strong>para</strong> troca de saberes com as santerias cubanas e porto-riquenhas.Suas ações pretendem promover o bem-estar físico, psíquico e social dos iniciadose simpatizantes pelos códigos e sig<strong>no</strong>s <strong>da</strong> tradição religiosa afro-brasileira.a) Objetivos• promover a saúde integral dos adeptos <strong>da</strong> tradição religiosa afro-brasileira;• qualificar a informação sobre gênero, saúde sexual e reprodutiva <strong>para</strong> ossacerdotes e sacerdotisas e lideranças de religiosi<strong>da</strong>de afro-brasileira;• prevenir e informar sobre os riscos de transmissão de doenças sexualmentetransmissíveis e HIV/aids;• conectar as práticas de saúde comunitária realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s terreiros à rede localde saúde pública;• possibilitar e estimular uma rede de intercâmbio de informações sobre saúde<strong>no</strong>s terreiros.b) Ativi<strong>da</strong>des• pesquisa;• visitas aos terreiros;• encontros com mães e pais de santo;• capacitação de lideranças;• elaboração de materiais, seminários e vídeos educativos.4. ConsideraçõesSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de429


Como dissemos anteriormente, os avanços produzidos na implementação do SUSdurante a déca<strong>da</strong> de 1990 foram singulares. Outros setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de não lograramtal êxito <strong>no</strong> tocante ao cumprimento dos preceitos contidos na Constituição de 1988.Porém este avanço não produziu o impacto que a população <strong>negra</strong> desejava, mantendo-seas iniqüi<strong>da</strong>des em saúde entre brancos e negros.Ricardo Henriques (2001) analisou as condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileiradurante a déca<strong>da</strong> de 1990, utilizando o recorte racial com o intuito de mapear asdesigual<strong>da</strong>des raciais <strong>no</strong> país. Para tanto investigou a composição racial brasileirasegundo sua distribuição espacial, etária e por sexo, a composição <strong>da</strong> pobreza, adesigual<strong>da</strong>de de ren<strong>da</strong> e educação, o mercado de trabalho via ocupação de postos, ahabitação e o consumo de bens duráveis.A partir <strong>da</strong> análise destes indicadores, o autor observou que “existiram avançospositivos nas condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população brasileira, mas esses avanços não setraduziram em reduções na desigual<strong>da</strong>de racial”. (Henriques, 2001).Segue atestando, de forma irrefutável, a necessi<strong>da</strong>de de serem desenvolvi<strong>da</strong>spolíticas públicas volta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a superação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais.Se em diversas instâncias estruturais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de brasileira, como trabalho/ren<strong>da</strong>,educação e habitação, as desigual<strong>da</strong>des entre negros e brancos permaneceram e,em alguns aspectos se agravaram, fica a pergunta se poderia acontecer de outro modo<strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> saúde, já que nenhuma ação foi desencadea<strong>da</strong> <strong>para</strong> reverter o quadrode desigual<strong>da</strong>des. O que se desvela é que o “universalismo cego” vigente tem servidoà reprodução <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, pois impede a democratização dos ganhos <strong>no</strong> setorsaúde.O jurista Joaquim Barbosa, em sua análise do princípio <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de, <strong>no</strong> qual auniversali<strong>da</strong>de se apóia, <strong>no</strong>s ensina:“Resumindo singelamente a questão, diríamos que as nações que historicamentese apegaram ao conceito de igual<strong>da</strong>de formal são aquelas onde se verificam os maisgritantes índices de injustiça social, eis que, em última análise, fun<strong>da</strong>mentar to<strong>da</strong> equalquer política governamental de combate à desigual<strong>da</strong>de social na garantia de quetodos terão acesso aos mesmos ‘instrumentos’ de combate corresponde, na prática,assegurar a perpetuação <strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de. Isto porque essa ‘opção processual’ não levaem conta aspectos importantes que antecedem à entra<strong>da</strong> dos indivíduos <strong>no</strong> mercadocompetitivo. Já a chama<strong>da</strong> ‘igual<strong>da</strong>de de resultados’ tem como <strong>no</strong>ta característicaexatamente a preocupação com os fatores ‘exter<strong>no</strong>s’ à luta competitiva – como classe430Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


ou origem social, natureza <strong>da</strong> educação recebi<strong>da</strong> –, que tem inegável impacto sobreo seu resultado”. (Barbosa, 2001).A naturalização do desempenho em saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> é correlata aoautomatismo presente <strong>no</strong> conceito de universali<strong>da</strong>de, pois pressupõe que a oferta deações em saúde incidirá de forma eqüânime em todos os grupos populacionais queutilizam o SUS. Tomando de empréstimo os conceitos de Barbosa, urge que o SistemaÚnico de Saúde saia do universalismo formal que tem operado e alcance de fato ouniversalismo de resultados.5. Algumas propostasI – Direito à saúde/eqüi<strong>da</strong>de1 – Assegurar à população <strong>negra</strong> o direito à saúde, ampliando seu acesso a ações,serviços e atenção com quali<strong>da</strong>de.2 – Criar uma Câmara Técnica Intersetorial de Saúde <strong>da</strong> População Negra, comparticipação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil <strong>negra</strong> organiza<strong>da</strong>, <strong>para</strong> avaliar ações e propormedi<strong>da</strong>s que retirem barreiras de acesso e visem melhorar os indicadores demorbimortali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.3 – Incorporar o quesito raça/cor <strong>no</strong>s sistemas de informação do SUS, de modoa produzir <strong>da</strong>dos epidemiológicos sobre a população <strong>negra</strong>.4 – Estabelecer metas de redução de mortali<strong>da</strong>de precoce e evitável na população<strong>negra</strong>, com ênfase na mortali<strong>da</strong>de materna e infantil e com vistas ao efetivocumprimento do princípio <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de.5 – Identificar as iniqüi<strong>da</strong>des raciais em saúde nas esferas estaduais e municipais,de modo a possibilitar a utilização de instrumentos mais eficazes <strong>para</strong> acorreção <strong>da</strong>s mesmas.6 – Estimular o recorte racial nas instâncias de controle social.7 – Garantir a transversali<strong>da</strong>de do combate ao racismo e às desigual<strong>da</strong>des raciaisna formulação <strong>da</strong>s políticas do SUS, de modo a visibilizar o impacto queestas produzem na saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.8 – Incorporar a questão racial ao Programa de Humanização, fomentando acompreensão que humanizar é não discriminar.II – Serviços/recursos huma<strong>no</strong>sSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de431


1 – Adequar a oferta de serviços às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> em todosos graus de complexi<strong>da</strong>de, de forma a garantir o acesso de populações excluí<strong>da</strong>sdo Sistema.2 – Promover a intersetoriali<strong>da</strong>de <strong>no</strong> planejamento de ações de modo a melhorara eficiência e eficácia dos serviços oferecidos às populações vulnerabiliza<strong>da</strong>s,sobretudo à população <strong>negra</strong>.3 – Capacitar profissionais <strong>para</strong> melhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de informação, enfatizandoa importância do preenchimento <strong>da</strong> variável cor, entre outras.4 – Assegurar que os Pólos de Educação Permanente qualifiquem trabalhadores egestores do SUS <strong>para</strong> atuarem <strong>no</strong> contexto pluriétnico e multicultural presenteem <strong>no</strong>sso país, eliminando práticas discriminatórias que se reproduzem narede de saúde.III – Informação/divulgação1 – Produzir e disseminar materiais educativos que, em linguagem direta, informea população <strong>negra</strong> sobre doenças de maior prevalência neste grupo, bemcomo, serviços e programas disponíveis <strong>para</strong> atendimentos e orientações.2 – Produzir e disseminar materiais educativos que informem profissionais egestores sobre o perfil epidemiológico de saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong> e osinstrumentalize <strong>para</strong> a melhoria de suas ações.3 – Implantar serviços de Disque-Saúde <strong>para</strong> disseminação de informações eacolhimento de queixas e denúncias de práticas discriminatórias <strong>no</strong> SUS.6. Referências bibliográficasPolíticas públicasBARBOSA GOMES, Joaquim B. Ação Afirmativa & princípio constitucional <strong>da</strong>igual<strong>da</strong>de: (O Direito como instrumento de transformação social. A experiência dosEUA). Rio de Janeiro: Re<strong>no</strong>var, 2001.Duarte, Elisabeth Carmen et al. Epidemiologia <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des em saúde <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>:um estudo exploratório. Brasília: Organização Pan-Americana <strong>da</strong> Saúde, 2002.GESTÃO de saúde: curso de aperfeiçoamento <strong>para</strong> dirigentes municipais de saúde:programa de educação à distância. Rio de Janeiro: Fiocruz; Brasília: UnB, 1998.GUIMARÃES, Antônio Sérgio Alfredo. Racismo e restrição de direitos individuais.432Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


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suplemento, 2002.FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ. UNIVERSIDADE DE BRASILIA. Gestão de saúde:curso de aperfeiçoamento <strong>para</strong> dirigentes municipais de saúde. Programa deeducação à distância. Rio de Janeiro, 1998. Vol. 2.LEVCOVITZ, E.; LIMA, L.; MACHADO, C. Política de saúde <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 90: relaçõesintergovernamentais e o papel <strong>da</strong>s Normas Operacionais Básicas. Ciência & SaúdeColetiva, v.6, p.269-291, 2001.O VIGISUS <strong>no</strong> Rio de Janeiro. Disponível em: www.saude.rj.gov.br/vigisus/VigiRio/Just.htmPERPETUO, I. H. O. Raça e acesso às ações prioritárias na Agen<strong>da</strong> <strong>da</strong> saúdereprodutiva. Jornal <strong>da</strong> Rede Saúde, n. 22, 2000.SILVESTRE, J. A; COSTA NETO, M. M. Abor<strong>da</strong>gem do idoso em Programas de SaúdeSaúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de435


ApêndiceHistórico <strong>da</strong> implementação do quesito cor: Um relato deexperiências exitosas de parcerias envolvendosocie<strong>da</strong>de civil organiza<strong>da</strong>, gover<strong>no</strong> eagências internacionaisImplementação do quesito cor <strong>no</strong> ProgramaEstadual DST/HIV/aidsEdna Muniz de Souza, Assistente social e psicóloga,especialista em saúde pública e saúde mental e trabalho.Coordenadora <strong>da</strong> área de saúde do Centro de Estudos <strong>da</strong>sRelações de Trabalho e Desigual<strong>da</strong>des (Ceert).Colaboradores:Shirley Santos, Psicóloga; membro <strong>da</strong> equipe de saúdedo Ceert.Mário Rogério Bento, Analista de banco de <strong>da</strong>dos; membro<strong>da</strong> equipe de saúde do Ceert.Chin<strong>da</strong>lena Barbosa, Estagiária; membro <strong>da</strong> equipe desaúde do Ceert.Este texto focaliza o tema <strong>da</strong>s políticas públicas de promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>deracial enfatizando um pressuposto básico <strong>para</strong> a conceituação dessas políticas, qualseja: a introdução do quesito cor <strong>no</strong>s ca<strong>da</strong>stros <strong>da</strong>s instituições.As reivindicações por políticas de combate ao racismo vêm de longa <strong>da</strong>ta: a ConferênciaNacional de Saúde e Direitos <strong>da</strong> Mulher, realiza<strong>da</strong> em outubro de 1988, podeser uma referência. A Marcha Zumbi dos Palmares, em 1995, gerou o documento “Poruma política nacional de combate à desigual<strong>da</strong>de racial”, que foi entregue ao entãopresidente <strong>da</strong> República e promoveu a criação do Grupo de Trabalho Interministerial <strong>para</strong>Valorização <strong>da</strong> População Negra (1996). Além disso, a II Reunião Nacional de MulheresNegras em Belo Horizonte, em 1997; a Pré-Conferência "Cultura e Saúde <strong>da</strong> PopulaçãoNegra", realiza<strong>da</strong> em setembro de 2000 e o Fórum Nacional de Enti<strong>da</strong>des Negras, que<strong>no</strong> Documento Alternativo do Movimento Negro <strong>Brasil</strong>eiro destaca, entre outros pontos,a importância <strong>da</strong> incorporação do quesito cor <strong>no</strong>s instrumentos de saúde e <strong>no</strong> SUS.


Devemos lembrar que, na déca<strong>da</strong> de 1980, pesquisadoras do Instituto <strong>Brasil</strong>eirode Geografia e Estatística (IBGE) destacaram a necessi<strong>da</strong>de de considerar o quesitocor nas análises. Os <strong>da</strong>dos deixavam nítido que, ao analisar as informações nas áreasde educação, trabalho, ren<strong>da</strong> e condições de moradia, desagrega<strong>da</strong>s por raça/cor ospiores indicadores eram mais freqüentes nas populações pretas e par<strong>da</strong>s.Nesse mesmo período, os estudos pioneiros <strong>da</strong> professora Elza Berquó, do Núcleode Estudos <strong>da</strong> População <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Campinas (Nepo/Unicamp) foramreferência obrigatória <strong>para</strong> pesquisas <strong>no</strong> campo <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>.O Centro <strong>Brasil</strong>eiro de Análise e Planejamento (Cebrap), criado em 1991, teveBerquó como uma de suas fun<strong>da</strong>doras, realizando pesquisas e pre<strong>para</strong>ndo estu<strong>da</strong>ntes<strong>negra</strong>s na área de saúde reprodutiva <strong>da</strong> população <strong>negra</strong>. Além disso, os estudos epesquisas acadêmicas de Fátima de Oliveira, Maria Apareci<strong>da</strong> Bento, Berenice Kikuchi,Jurema Werneck , Edna Roland e outros demonstraram a importância <strong>da</strong> coleta <strong>da</strong>informação e <strong>da</strong> análise dos <strong>da</strong>dos desagregados.Nesse processo político, a ação do movimento de mulheres <strong>negra</strong>s denuncia queo racismo se traduzia em números e que, de fato, <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, a chama<strong>da</strong> “democraciaracial” poderia ser desnu<strong>da</strong><strong>da</strong> com a introdução, coleta e análise do quesito cor nasdiferentes produções teóricas.Como cita Oliveira (2001: 215), o quesito cor como “aglutinador” foi tema <strong>da</strong>campanha do Censo do IBGE de 1990: “Não deixe sua cor passar em branco”, visandoconscientizar as pessoas <strong>negra</strong>s <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de responderem o item sobre cor.Ain<strong>da</strong> <strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1990 militantes do movimento negro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>dede São Paulo, dialogando com instâncias governamentais viabilizaram, por meio <strong>da</strong>Portaria nº 696/1990, a introdução do quesito cor <strong>no</strong> Sistema Municipal de Saúde.Antes <strong>da</strong> assinatura <strong>da</strong> portaria, foi realizado o seminário “O Quadro Negro <strong>da</strong>Saúde”, em maio de 1990, com o objetivo de sensibilizar os profissionais <strong>da</strong> áreae estabelecer a forma <strong>da</strong> coleta. Partici<strong>para</strong>m desse seminário técnicos do IBGE, doDieese e <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Seade, e essas instituições afirmaram que as categorias queconstam do IBGE (preto, par<strong>da</strong>, branca, amarela e indígena) são as mais declara<strong>da</strong>s,mesmo quando a pergunta é aberta. Portanto, as instituições, técnicos e militantespresentes definiram que a metodologia e a categorização seriam aquelas defini<strong>da</strong>spelo IBGE. Um outro argumento que influi na decisão foi o fato de que se fossemadota<strong>da</strong>s outras categorias não seria possível fazer com<strong>para</strong>ções com as pesquisasrealiza<strong>da</strong>s nacionalmente.A Portaria nº 429/1992, de 28 de março de 1992, instituiu um grupo detrabalho com o objetivo de planejar, implantar, capacitar e monitorar as ativi<strong>da</strong>desdescritas na Portaria nº 696/1990. É importante lembrar a participação efetivade técnicos <strong>da</strong> Secretaria Municipal de Saúde, <strong>da</strong> Coordenadoria Especial de438Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Assuntos <strong>da</strong> População Negra <strong>da</strong> Prefeitura Municipal de São Paulo e de enti<strong>da</strong>desdo movimento negro, com destaque <strong>para</strong> Soweto - Organização Negra e Geledés- Instituto <strong>da</strong> Mulher Negra.A introdução do quesito cor em São Paulo proporcio<strong>no</strong>u um trabalho desensibilização envolvendo profissionais dos serviços e resultando numa publicaçãoque apresentou a morbi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> população atendi<strong>da</strong> <strong>no</strong>s serviços ambulatoriais domunicípio segundo o critério de cor (Cader<strong>no</strong> Cefor 6, 1992). No segundo semestrede 1991, ocorreram as seguintes ativi<strong>da</strong>des:a) distribuição de cartazes e cartilhas sobre o tema produzidos pelo própriogrupo;b) divulgação <strong>no</strong> Jornal do Ônibus e <strong>no</strong> Boletim Saúde Informa (SecretariaMunicipal de Saúde);c) ações locais com reflexão sobre o tema e distribuição de textosselecionados;d) seminário envolvendo funcionários e comuni<strong>da</strong>de local na AdministraçãoRegional de Saúde Itaquera/Guaianases;e) seminário envolvendo funcionários <strong>no</strong> Distrito de Ermeli<strong>no</strong> Matarazzo.A Administração Regional de Saúde Itaquera/Guaianases foi escolhi<strong>da</strong> <strong>para</strong> essetrabalho com<strong>para</strong>tivo com o município de São Paulo por ter destacado o quesito cornas discussões sobre o Sistema Integrado de Informação em Saúde (Simis) e por terdesenvolvido ativi<strong>da</strong>des <strong>para</strong> esclarecer e aperfeiçoar a coleta de <strong>da</strong>dos, além de estarsitua<strong>da</strong> na periferia do município.O levantamento <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de atendi<strong>da</strong>, apesar <strong>da</strong>s limitações na abrangência,em grande parte reflete o perfil <strong>da</strong> oferta de serviços e não o que ocorre na população.Mesmo com problemas em relação ao preenchimento, codificação e operacionalização,ficou demonstra<strong>da</strong> a importância do levantamento de morbi<strong>da</strong>de ambulatorial <strong>da</strong> SMS,principalmente <strong>para</strong> avançar <strong>no</strong> conhecimento <strong>da</strong> situação de saúde <strong>da</strong> população deSão Paulo, <strong>no</strong> reconhecimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de atendimento <strong>da</strong> rede ambulatorialdo SUS, <strong>no</strong> potencial de uso dessas informações <strong>para</strong> o planejamento dos serviçosain<strong>da</strong> que na quali<strong>da</strong>de de indicador indireto sobre os serviços prestados pela redemunicipal.No mesmo período, o Centro de Formação dos Trabalhadores <strong>da</strong> Saúde, <strong>da</strong>Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (Cefor), realizou a pesquisa-ação “Pordetrás <strong>da</strong> violência: um olhar sobre a ci<strong>da</strong>de” (1991), que tinha como um dos temas“Violência às Diferenças de Raça nas Ações de Saúde”.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de439


Os resultados <strong>da</strong> pesquisa foram discutidos em grupo e traduziram a polêmicasobre quem é branco ou negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>. Os relatos apontavam ain<strong>da</strong> que os serviçosde saúde não conseguiam incluir o “diferente” <strong>no</strong> atendimento e que os técnicos necessitavamde formações específicas em diversos temas, entre eles a questão racial.Em 2003, a ci<strong>da</strong>de de São Paulo realizou a I Conferência Municipal de Saúde<strong>da</strong> População Negra, com o tema “Controle Social e Inclusão Étnico-Racial”. A Conferênciafoi organiza<strong>da</strong> pelo Conselho Municipal de Saúde e contou com o apoio <strong>da</strong>Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e do componente saúde do Programade Combate ao Racismo Institucional do Ministério Britânico <strong>para</strong> o DesenvolvimentoInternacional (PCRI-Saude/Dfid). Um dos objetivos era trabalhar os quatro eixos temáticosdefinidos pelo documento: “Política Nacional de Saúde <strong>da</strong> População Negra: umaquestão de eqüi<strong>da</strong>de”, resultado do workshop Interagencial Saúde <strong>da</strong> População Negra(2001), do qual destacamos as propostas aprova<strong>da</strong>s pelos participantes <strong>da</strong> plenária finaldiretamente relaciona<strong>da</strong>s com a implementação do quesito cor:1. ...indicação <strong>para</strong> que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) colete,sistematize e disponibilize <strong>para</strong> os interessados, os <strong>da</strong>dos relativos àvariável raça/cor (quesito cor) em todos os ciclos de vi<strong>da</strong>, possibilitando,assim, a construção de um Sistema de Informação na rede pública deserviços de saúde do município de São Paulo capaz de identificar osfatores de risco associados a esse segmento <strong>da</strong> população. Indicamtambém que o campo raça/cor esteja presente em todos os formuláriosutilizados nas Uni<strong>da</strong>des do Sistema Único de Saúde (SUS), bem como<strong>no</strong>s programas e projetos prioritários, tais como Nascer Bem, ResgateCi<strong>da</strong>dão, etc.2. proposição <strong>para</strong> que a SMS adote medi<strong>da</strong>s <strong>para</strong> viabilizar a realizaçãode oficinas temáticas sobre a questão do racismo, fornecendo materiaisdidáticos e informativos tais como boletins, cartazes, cartilhas, etc. <strong>para</strong>os envolvidos com a questão <strong>da</strong> saúde na <strong>no</strong>ssa ci<strong>da</strong>de...3. indicação <strong>para</strong> que a SMS promova cursos e treinamentos <strong>para</strong> queos profissionais <strong>da</strong> saúde realizem a coleta de <strong>da</strong>dos relativos à variávelraça/cor, por meio <strong>da</strong> autodeclaração...4. ...indicação <strong>para</strong> que a SMS realize cursos que capacitem as liderançascomunitárias, visando sensibilizá-las <strong>para</strong> as questões liga<strong>da</strong>s à autoestima,conquista <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e identi<strong>da</strong>de étnico-racial.5. ...proposição <strong>para</strong> que seja realizado o Seminário Melhorando aImplantação do Quesito Cor na Saúde do Município de São Paulo, visandoà avaliação e ao controle <strong>da</strong>s medi<strong>da</strong>s previstas na Portaria nº 696/1990,<strong>da</strong> SMS. Os participantes indicaram a necessi<strong>da</strong>de de se debater o Projeto-440Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Lei que regulamenta o Quesito Cor (PL 035/2000) delineando assim oscaminhos <strong>para</strong> a implementação de uma Política de Estado de combateao racismo na rede de serviços do SUS.6. ...proposição <strong>para</strong> que se introduza os casos de anemia falciforme naplanilha Epi-falciforme dos serviços de saúde <strong>da</strong> rede SUS.Outra etapa do processo de implementação do quesito cor em prefeituras começoua ser desenvolvi<strong>da</strong> pelo Ceert, que na Prefeitura de Belo Horizonte, por exemplo,realizou o projeto “Oportuni<strong>da</strong>des Iguais <strong>para</strong> Todos”, em 1995. Esse projeto incluiua sensibilização de profissionais <strong>da</strong>s áreas de saúde, educação e recursos huma<strong>no</strong>s.Na saúde, o quesito cor foi implantado <strong>no</strong>s formulários <strong>da</strong> Secretaria Municipal e foicriado um grupo de trabalho com a participação de técnicos e militantes do movimentonegro organizado <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Foram realiza<strong>da</strong>s sensibilizações envolvendo profissionaisde to<strong>da</strong>s as regiões <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, além <strong>da</strong> implementação de uma campanha com foldere cartazes dirigi<strong>da</strong> aos usuários (70 e 71) . O objetivo era implementação de políticas públicasnas áreas de saúde.70 71A segun<strong>da</strong> experiência do Ceert se deu com o projeto “Gestão local, empregabili<strong>da</strong>dee eqüi<strong>da</strong>de de gênero e raça: uma experiência de política pública na regiãodo ABC paulista”.Em 1998, a Prefeitura Municipal de Santo André (PMSA) decidiu, por meio <strong>da</strong>Assessoria dos Direitos <strong>da</strong> Mulher, desenvolver uma experiência de ampliação <strong>da</strong>s70. Cartaz <strong>para</strong> Campanha de Sensibilização do projeto Oportuni<strong>da</strong>des Iguais <strong>para</strong> Todos.71. Cartaz utilizado <strong>para</strong> sensibilizar usuários e técnicos <strong>no</strong> projeto Gestão Local, empregabili<strong>da</strong>de e eqüi<strong>da</strong>de degênero e raça: uma experiência de política pública na região do ABC paulista.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de441


oportuni<strong>da</strong>des de emprego <strong>para</strong> mulheres e negros, tendo em vista o processo dedesconcentração industrial, iniciado na déca<strong>da</strong> de 1970, associado ao processo dereestruturação produtiva, que atingiu a região do ABC de forma bastante intensa,trazendo altos índices de desemprego, em particular <strong>para</strong> estes seguimentos.Dessa decisão resultou um grupo de trabalho interinstitucional, composto porinstituições como Cebrap, Ceert, Elisabeth Lobo Assessoria, Trabalho e Políticas PúblicasInstituto de Gover<strong>no</strong> e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia do ABC, Cepal/Ildes; e a Organização Internacionaldo Trabalho (OIT), que ao longo de três a<strong>no</strong>s logrou realizar:• a elaboração de um diagnóstico compartilhado com os atores sociais, locaise regionais, acerca <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des ocupacionais de mulheres e negros <strong>da</strong>região do ABC na déca<strong>da</strong> de 1990, incluindo uma avaliação <strong>da</strong>s iniciativas econcepções dos gestores locais <strong>no</strong> sentido de maximizar chances de inclusãodesses grupos sociais;• a produção de conhecimento, o desenvolvimento de metodologias, acapacitação de um coletivo de agentes técnicos <strong>da</strong> gestão local, sensibilizandoos<strong>para</strong> introduzir o quesito cor e realizar diagnósticos com recorte racial eações especialmente orienta<strong>da</strong>s a corrigir as desigual<strong>da</strong>des que se verificamna condição de mulheres e negros. O projeto foi finalizado em 2003.Atualmente o Ceert coordena o Projeto “Implementação do Quesito Cor <strong>no</strong>Programa Estadual de DST/aids”, proposto em parceria com o Pnud e Unaids <strong>para</strong> aSecretaria <strong>da</strong> Saúde do Estado de São Paulo. Essa proposta cria possibili<strong>da</strong>des de ações<strong>no</strong> cenário nacional, em diferentes áreas.Implementação do Quesito Cor <strong>no</strong> Programa Estadual de DST-HIV/aidsEm 2003 teve início o Projeto “Implementação do Quesito Cor <strong>no</strong> Programa Estadualde DST-HIV/aids <strong>da</strong> Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo“, coordenadopelo Ceert, em parceria com o Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s <strong>para</strong> o Desenvolvimento(Pnud) e a Unaids (Joint United Nations Programme on HIV/aids).O Projeto visa (i) informar os profissionais <strong>da</strong> Coordenação Estadual de DST/aidse <strong>da</strong>s coordenações municipais sobre as diferentes dimensões <strong>da</strong> implantação/implementaçãodo quesito cor <strong>no</strong>s formulários dos serviços especializados, (ii) desenvolverum projeto piloto <strong>no</strong> estado de São Paulo, contemplando a formação de multiplicadorescapazes de conduzir to<strong>da</strong>s as etapas: implantação, implementação, monitoramento,avaliação do processo e dos resultados.442Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


Ações desenvolvi<strong>da</strong>s <strong>no</strong> projetoCom a finali<strong>da</strong>de de (i) sensibilizar gestores e técnicos <strong>para</strong> a coleta <strong>da</strong> informaçãosobre raça/cor; (ii) discutir políticas públicas de promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de racial<strong>no</strong> âmbito <strong>da</strong> saúde; (iii) fornecer instrumentos teóricos e práticos que contemplem aperspectiva étnico-racial; e (iv) elaborar estratégias <strong>para</strong> implantação, implementação,monitoramento e avaliação de políticas. Foram desenvolvi<strong>da</strong>s as seguintes ações:• duas reuniões prévias com a Coordenação do Programa Estadual de DST/aids,membros do Grupo de Trabalho Etnias (GT Etnias) do Centro de Referência eTreinamento em DST-HIV/aids (CRT) 73 e representantes <strong>da</strong>s agências internacionaisproponentes - Pnud e Unaids;• minicurso “Processo de Implementação de Políticas Públicas de Promoção<strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial” , como parte do Seminário de Políticas Públicas de Promoção<strong>da</strong> Igual<strong>da</strong>de Racial. Partici<strong>para</strong>m desta ativi<strong>da</strong>de 46 técnicos do CRT,componentes do GT Etnias, pesquisadores e pesquisadoras <strong>da</strong> área de relaçõesétnico-raciais e saúde e outros convi<strong>da</strong>dos;• elaboração de cartazes e folhetos utilizados na Campanha de Sensibilizaçãodos técnicos e usuários (figura 3);7471. O GT Etnias foi formalizado sob a coordenação de Gilza Lopes S. de Mello, então funcionária do CRT <strong>no</strong> serviçode Prevenção. O GT contou com a participação de 14 membros <strong>da</strong>s seguintes áreas do serviço: Prevenção,Hospital Dia, Recursos Huma<strong>no</strong>s, Medicina do Trabalho, Treinamento e Desenvolvimento Institucional, ApoioTécnico, Vigilância Epidemiológica; diretorias de Assistência, Aconselhamento e Same.72. Cartaz utilizado na Campanha de Sensibilização do projeto Implementação do Quesito Cor <strong>no</strong> ProgramaEstadual de DST/aids.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de443


• pre<strong>para</strong>ção de uma publicação sobre relações raciais e saúde e sobre o projetoem si;• três ativi<strong>da</strong>des de formação, informação e articulação dos diferentes atoresenvolvidos.a) oficina de Sensibilização;b) oficina de Monitoramento;c) oficina de Monitoramento/Avaliação.As ativi<strong>da</strong>des contaram com a participação média de 100 técnicos, representantesde serviços especializados, centros de referência, centros de testagem e orientação,escolas técnicas, hospitais, ambulatórios e secretarias de saúde, localizados em 21municípios do estado de São Paulo.Para além <strong>da</strong>s oficinas, o projeto também viabilizou os “Plantões deMonitoramento”. Neste espaço os técnicos responsáveis pela coordenação e/ouexecução <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des <strong>no</strong>s diversos serviços de saúde, puderam definir estratégiasconjuntas <strong>para</strong> responder às deman<strong>da</strong>s gera<strong>da</strong>s pela iniciativa em curso, superar asdificul<strong>da</strong>des e transpor obstáculos.No período de desenvolvimento do projeto a equipe de coordenação verificouque seria necessário tornar mais níti<strong>da</strong> a construção metodológica a fim de socializara experiência; garantir espaços <strong>para</strong> ajustes/adequação à reali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituiçõesenvolvi<strong>da</strong>s e responsáveis pela implementação. Dentre eles destacaram-se:• apresentação de uma proposta de implementação <strong>para</strong> a instituição que incluaevidências que justifiquem a relevância <strong>da</strong> proposta (sumário com resultadosde estudos e pesquisas sobre desigual<strong>da</strong>des e dispari<strong>da</strong>des raciais na saúde)bem como relatos de experiências bem-sucedi<strong>da</strong>s;• criação de um grupo de trabalho (GT) responsável pelo acompanhamento deto<strong>da</strong>s as fases <strong>da</strong> implementação, inclusive monitoramento e avaliação. Nestegrupo devem estar representados, paritariamente, trabalhadores <strong>da</strong> saúde (técnicos,gestores/gerentes e corpo administrativo) e socie<strong>da</strong>de civil organiza<strong>da</strong>;• realização de um diagnóstico preliminar sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> informação deraça/cor, caso o serviço já tenha incluído esta variável em seus documentos(formulários utilizados, modo de coleta, categorias adota<strong>da</strong>s, entre outros);• definição de uma metodologia padroniza<strong>da</strong> <strong>para</strong> a coleta <strong>da</strong> informação,apresentação e análise dos <strong>da</strong>dos;• elaboração de instrumentos de monitoramento;444Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde


• definição de um espaço permanente onde seja possível construir estratégiasconjuntas <strong>para</strong> responder às deman<strong>da</strong>s gera<strong>da</strong>s pela iniciativa em curso, superaras dificul<strong>da</strong>des e transpor obstáculos - “Plantões de Monitoramento”;• elaboração conjunta/partilha<strong>da</strong> de material (folhetos, cartazes, manuais deorientação, livros, livretos, vídeos) <strong>para</strong> técnicos, gestores e usuários, tendoem vista a desconstrução do racismo e dos preconceitos institucionais;• definição conjunta <strong>da</strong>s estratégias de sensibilização;• realização de campanhas utilizando material produzido pelo grupo e estratégiaspor ele defini<strong>da</strong>s;• definição de uma agen<strong>da</strong> <strong>para</strong> divulgação dos resultados parciais e final <strong>para</strong>todos os atores envolvidos <strong>no</strong> processo.BibliografiaINTRODUÇÃO do Quesito Cor <strong>no</strong> Sistema Municipal de Informação de Saúde –Grupo de Trabalho – Quesito Cor. São Paulo: SMS/SP – PMSP, 1992. (Cader<strong>no</strong>s Cefor,Série Textos, n. 6).OLIVEIRA, Fátima. Saúde <strong>da</strong> População <strong>negra</strong>. Brasília: Organização Panamericana deSaúde. Organização Mundial de Saúde. Secretaria Especial de Políticas de Promoçãode Igual<strong>da</strong>de Racial, 2001.PESQUISA-AÇÃO: Por detrás <strong>da</strong> violência vem Olhar sobre a Ci<strong>da</strong>de – São Paulo:SMS – PMSP, 1991. (Cader<strong>no</strong>s Cefor, série nº. 7).POLÍTICA Nacional de Saúde <strong>da</strong> População Negra (uma questão de eqüi<strong>da</strong>de).(mimeo)RELATÓRIO Final do Projeto de Implementação do Quesito Cor <strong>no</strong> Programa Estadualde DST/Aids, Dezembro, 2004 – São Paulo: Ceert, 2004.SILVA, Hédio Jr.; BENTO, M. A. Silva; RIBEIRO, Matilde. O papel <strong>da</strong> cor/raça/etnianas políticas de promoção <strong>da</strong> igual<strong>da</strong>de: a<strong>no</strong>tações sobre a experiência do municípiode Santo André. São Paulo: Ceert, 2003.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de445


Organização e revisão técnicaSheila Rezende - Depin/FunasaCapa e projeto gráfico do mioloGláucia Elisabeth de Oliveira – Nemir/Codec/Ascom/Presi/Funasa/MSRevisão or to grá fi ca e gramaticalOlin<strong>da</strong> Myrtes Bayma S. Melo - Nemir/Codec/Ascom/Presi/FunasaDiagramaçãoMaria Célia de Souza - Nemir/Codec/Ascom/Presi/FunasaNormalização bibliográficaRaquel Machado Santos - Comub/Ascom/Presi/Funasa446Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde

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