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Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

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Na mesma pesquisa, a autora relata que muitos usuários não tentaram fazer na<strong>da</strong>a respeito do tratamento descortês recebido (75,9%). Não procuraram falar com a direção(52,4%), preferiram guar<strong>da</strong>r o fato de ter sido mau tratado <strong>para</strong> si (56,8%) e nãobuscaram tomar outra atitude (59,5%). Embora a maior parte dos entrevistados tenhase omitido em relação ao problema, três quartos deles não consideraram o fato de sertratado de forma descortês, <strong>no</strong> serviço de saúde, como algo natural. Esta percepçãofoi mais marcante entre os negros que entre os brancos.Sabemos que as eventuais situações de estresse e descortesia fazem parte <strong>da</strong>srelações interpessoais e que a capaci<strong>da</strong>de de ser assertivo em situações desta naturezaé uma habili<strong>da</strong>de a ser aprendi<strong>da</strong> e exercita<strong>da</strong>. Contudo, uma vez que as estratégias deenfrentamento individuais são frágeis e causam sofrimento, recai sobre a instituiçãoa responsabili<strong>da</strong>de de monitorar e neutralizar os atores, as ações e os procedimentoscom potencial estigmatizante ou discriminatório.No trabalho realizado por Leal e col (2005) com puérperas, as mulheres de cor preta epar<strong>da</strong> referiram me<strong>no</strong>r grau de satisfação que as brancas em relação ao atendimento recebido<strong>no</strong> pré-natal, parto e em relação ao cui<strong>da</strong>do oferecido ao recém-nascido. A satisfação cresceucom os a<strong>no</strong>s de estudo, entretanto, tanto <strong>no</strong>s níveis de instrução mais baixos, quanto <strong>no</strong>smais elevados, as brancas mostraram maior satisfação.As crenças dos profissionais e <strong>da</strong>s instituições de saúde sobre os usuários sãoinfluencia<strong>da</strong>s pelo comportamento dos mesmos durante os encontros e o conteúdodesses encontros tem relação com sua de<strong>no</strong>minação religiosa, seu status socioculturale econômico. Neste sentido, um usuário de atitude passiva, de origem mais humildee pertencente a um grupo racial não hegemônico, tem me<strong>no</strong>r chance de influenciarpositivamente a decisão clínica do profissional sobre seus problemas de saúde,incluindo aqueles causados ou acirrados pela exposição constante as mais diversasfontes de estresse (Van Ryn e col, 2003).Para ilustrar estas considerações trazemos a declaração do obstetra e ginecologistaBartolomeu Penteado Coelho, diretor <strong>da</strong> Câmara Técnica de Ginecologia e Obstetrícia doCremerj (Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro) ao jornal Folha de São Paulo,em 26 de maio de 2002 (Petry, 2002). Ao ser questionado sobre a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciapresta<strong>da</strong> às mulheres puérperas entrevista<strong>da</strong>s por Leal e colaboradores o médico afirmou:Em alguns lugares, como na Baixa<strong>da</strong> Fluminense [periferia do Rio deJaneiro], o atendimento <strong>no</strong>s hospitais públicos é ruim, não importa acor <strong>da</strong> pessoa.Acontece que nesses lugares a maioria dos pacientes é pobre e grandeparte deles é composta por negros. Como as gestantes <strong>negra</strong>s são maioria,a pesquisa acaba concluindo que elas recebem um atendimento pior,quando, na ver<strong>da</strong>de, as brancas é que são poucas.Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de21

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