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Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

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Analisando as políticas públicas de saúde desde o ponto de vista <strong>da</strong>s relaçõesraciais, observamos que o esforço <strong>para</strong> criar um sistema de saúde eqüânime, universal eintegral tem produzido resultados, tais como: expansão do acesso à saúde, <strong>da</strong> coberturados serviços, <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong>de de procedimentos de média e alta complexi<strong>da</strong>de, porémestes resultados têm impacto diferenciado sobre brancos e negros <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, e têm sidomanti<strong>da</strong>s as diferenças de desempenho em saúde destes dois grupos populacionais,permanecendo os negros com as maiores taxas de mortali<strong>da</strong>de infantil, mortali<strong>da</strong>dematerna, mortes por causas externas, mortes por causas evitáveis e me<strong>no</strong>r esperançade vi<strong>da</strong>.Embora o Sistema Único de Saúde tenha sido concebido <strong>para</strong> a população comoum todo, sabe-se que são os ci<strong>da</strong>dãos de me<strong>no</strong>r poder aquisitivo, sem acesso à saúdesuplementar, que efetivamente fazem uso do sistema público de saúde. Considerandoque “os negros representam 45% <strong>da</strong> população brasileira, mas correspondem a cerca de65% <strong>da</strong> população pobre e 70% <strong>da</strong> população em extrema pobreza e que os brancos,por sua vez, são 54% <strong>da</strong> população total, mas somente 35% dos pobres e 30% dosextremamente pobres, tem-se a certeza de que nascer negro <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> implica maiorprobabili<strong>da</strong>de de crescer pobre. A pobreza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> tem cor. A pobreza <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> é<strong>negra</strong>.” (Henriques, 2003).Diante dos percentuais citados acima, chama atenção a sobre-representaçãodos negros nas cama<strong>da</strong>s mais empobreci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> população, e ain<strong>da</strong>, a falta de debatesobre o perfil de morbimortali<strong>da</strong>de deste grupo populacional, especialmente aoconsiderar a baixa resolutivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ações de saúde sobre este grupo. Assinala-setambém que, apesar <strong>da</strong> precarização secular <strong>da</strong>s condições de saúde dos negros,as formulações de políticas públicas de saúde e a implementação de modelos deassistência não têm explicitado o recorte racial como uma questão a ser enfrenta<strong>da</strong>,optando por uma “neutrali<strong>da</strong>de” que passa ao largo do modo como a socie<strong>da</strong>debrasileira opera racialmente. “Como se sabe, a idéia de neutrali<strong>da</strong>de estatal tem-serevelado um formidável fracasso, especialmente nas socie<strong>da</strong>des que, durante muitosséculos, mantiveram certos grupos ou categorias de pessoas em posição de subjugaçãolegal, de inferiori<strong>da</strong>de legitima<strong>da</strong> pela lei, em suma, em países com longo passado deescravidão. Nesses países, apesar <strong>da</strong> existência de inúmeros dispositivos constitucionaise legais, muitos deles promulgados com o objetivo expresso de fazer cessar o status deinferiori<strong>da</strong>de em que se encontravam os grupos sociais historicamente discriminados,passaram-se os a<strong>no</strong>s (e séculos) e a situação desses grupos marginalizados pouco ouquase na<strong>da</strong> mudou.” (Barbosa, 2001).A falta de utilização plena do recorte racial nas políticas e nas ações de saúde temservido <strong>para</strong> manter a população <strong>negra</strong> em situação de vulnerabili<strong>da</strong>de na medi<strong>da</strong> emque dificulta a identificação de dispari<strong>da</strong>des, obstaculizando a assunção de medi<strong>da</strong>sque melhorem suas condições de saúde, isto além de contribuir <strong>para</strong> tornar o campo<strong>da</strong> saúde produtor e reprodutor de desigual<strong>da</strong>des raciais.388Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde

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