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Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

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fica entre negros e brancos, demonstra<strong>da</strong> pela proximi<strong>da</strong>de geográfica, física e culturalque tais grupos gozam na convivência social. Bem como nas relações afetuosas, quasefamiliares, que se estabeleceram, cuja origem está na intensa mobili<strong>da</strong>de sexual doshomens brancos a partir do período colonial. Tal visão tem como principal veículo dedisseminação os trabalhos de Gilberto Freyre e de muitos que vieram depois dele. Essaidéia, bem trabalha<strong>da</strong> pelo sociólogo <strong>no</strong> início do século XX, oferece a chave <strong>para</strong> asinvenções 32 e interpretações hegemônicas <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s relações sociais <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> ao longo do século e vão fun<strong>da</strong>mentar as leituras <strong>da</strong>s relações sociais – e raciais– <strong>no</strong> país.Para um país mestiço não se justificaria, portanto, qualquer afirmativa – oudenúncia – <strong>da</strong> vigência de sistemas de segregação racial, contrastando com a reali<strong>da</strong>dede países como Estados Unidos e África do Sul <strong>no</strong> mesmo período. As histórias de guetosnegros, como na experiência <strong>no</strong>rte-americana, e de homelands, como os sul-africa<strong>no</strong>sproduziram, ou de qualquer outra mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>de de se<strong>para</strong>ção espacial e hierárquicaentre brancos e negros não teriam justificação ou possibili<strong>da</strong>des de existência <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>.Aqui, o projeto de nação levado a cabo <strong>no</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s do século passado buscavaafirmar-se na produção de um país pacífico, afetuoso, sensual, ancorado nas idéias <strong>da</strong>mistura racial que absorviam o que de melhor, ou nem tanto, os três povos (brancos,negros e indígenas) teriam a oferecer. A união <strong>da</strong>s três raças produziria um “povo<strong>no</strong>vo” nas palavras de Darcy Ribeiro (1998), um brasileiro claro como seus ascendenteseuropeus, sensual como os africa<strong>no</strong>s e senhor <strong>da</strong> geografia tropical, patrimônio her<strong>da</strong>dodos povos indígenas originais.Ao final do século XX essa teoria ou modo de interpretação <strong>da</strong> formação socialbrasileira será desloca<strong>da</strong> em favor do reconhecimento <strong>da</strong> profun<strong>da</strong> desigual<strong>da</strong>de quemarca a socie<strong>da</strong>de brasileira.A produção de indicadores sociais sob variáveis raciais, tanto por organizaçõesnão-governamentais como por órgãos estatais (IBGE e Ipea, por exemplo), temdemonstrado um país segmentado, hierarquizado, desigual. Em fins do século XX, abandeira <strong>da</strong>s organizações <strong>negra</strong>s desde o período imediatamente pós-abolição, dodesvelamento e do enfrentamento <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais e do racismo que atingiamprincipalmente as populações <strong>negra</strong>s <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, chega a um patamar inédito, passandoa integrar as pautas de justiça social e combate às desigual<strong>da</strong>des <strong>no</strong> país e em to<strong>da</strong> aAmérica Latina.A desigual<strong>da</strong>de racial <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>, pode-se repetir, é um fato demonstrado em indicadoresproduzidos e analisados por centros oficiais de pesquisa, principalmente oInstituto de Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong> – Ipea 33 . É uma situação que se apóia em32. Aqui o termo obedece à proposição de Benedict Anderson em Imagined communities (1992).33. Ver Schicasho (2003).318Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde

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