12.07.2015 Views

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

No entanto, cabe também apontar, juntamente com a reconheci<strong>da</strong> e urgentenecessi<strong>da</strong>de de engajamento dos Estados na eliminação <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais, umaspecto crucial e muitas vezes desconsiderado: a participação desses mesmos Estadosna produção <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des.Em estudo de revisão de recentes publicações sobre as relações raciais <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>,Dávila (2000) assinala a importante contribuição dos trabalhos de Marx (1998) <strong>para</strong> acompreensão deste fenôme<strong>no</strong>. Marx afirma que é preciso considerar o papel do Estadona promoção de desigual<strong>da</strong>des raciais e <strong>da</strong> exclusão, abor<strong>da</strong>gem raramente feita pormuitos estudiosos do tema.O estudo com<strong>para</strong>tivo de Dávila vai contrastar a situação brasileira com a açãoestatal dos Estados Unidos, antes do movimento pelos direitos civis, e <strong>da</strong> África do Sul,durante o apartheid, cujas ações mediavam de modo explícito o estabelecimento e amanutenção <strong>da</strong>s hierarquias raciais e <strong>da</strong> segregação em diferentes aspectos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> sociale econômica. No <strong>Brasil</strong>, diz Marx, o Estado recorria à posição oposta, de afirmação <strong>da</strong>tolerância e <strong>da</strong> democracia racial. Ou seja, o modelo de manejo <strong>da</strong>s diferenças raciais<strong>no</strong> país não significaria um racismo (ou uma política racista) de Estado. Para esse autor,a experiência brasileira de um Estado não-racista possibilitaria um modelo <strong>no</strong>vo <strong>no</strong>pa<strong>no</strong>rama <strong>da</strong>s relações raciais, que talvez pudesse ser considerado na verificação dosimpactos <strong>da</strong> ação estatal <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des raciais. Essa interpretação, <strong>no</strong>entanto, não é aceita por Dávila.Mais adiante, na análise de outro texto (Maio, Santos, 1996), Dávila vai demonstrara ação ativa do Estado brasileiro <strong>para</strong> a desigual<strong>da</strong>de racial a partir do estímulo edesenvolvimento de políticas <strong>para</strong> a produção do embranquecimento como projetode nação, apoia<strong>da</strong> numa política estatal de exclusão racial. Para Dávila, a tarefa dedemonstrar as implicações raciais de iniciativas que aparentemente na<strong>da</strong> tinham a vercom raça – como leis de terras ou previdência, por exemplo – tem sido uma característicaapresenta<strong>da</strong> em obras lança<strong>da</strong>s em fins do século XX. Citando Higginbothan (1992,apud Dávila, 2000, p.189), ele assinala as possibili<strong>da</strong>des que o racismo (e suas análises)oferece, não apenas de propagação <strong>da</strong> exclusão, como também na constituição de umespaço de articulação e ação <strong>para</strong> a mu<strong>da</strong>nça dialógica e a contestação. Ou seja, comopossibili<strong>da</strong>de de produção de <strong>no</strong>vos conteúdos e acordos sociais <strong>para</strong> a melhoria <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> de to<strong>da</strong> a população.Dávila acredita que, apesar de os processos de exclusão racial serem encontráveis<strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> e também em outros países, como Estados Unidos e África do Sul, não significaque o padrão brasileiro de exclusão se assemelha ao desses dois países. Ao contrário,o ineditismo <strong>da</strong> experiência brasileira está em ser descentraliza<strong>da</strong> e localiza<strong>da</strong>, semapoio numa política nacional coesa e explícita, tendo como resultado a abor<strong>da</strong>gem<strong>da</strong>s tensões raciais localiza<strong>da</strong>s, compreendi<strong>da</strong>s como “exceções” à regra do meltingpot. Tal mecanismo, Dávila reconhece, é eficaz na manutenção do status quo <strong>da</strong>Saúde <strong>da</strong> popupalação <strong>negra</strong> <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong>: Contribuições <strong>para</strong> a Promoção <strong>da</strong> Eqüi<strong>da</strong>de327

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!