12.07.2015 Views

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

Saúde da população negra no Brasil: contribuições para

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Em <strong>no</strong>sso país, as ciências sociais tradicionalmente não têm designado às desigual<strong>da</strong>desraciais um papel determinante do quadro social <strong>da</strong> nação. Lacuna esta que o atualestudo pretende, em parte, preencher ao pressupor que as diferenças raciais e de sexo sãoestruturantes do processo de construção <strong>da</strong>s desigual<strong>da</strong>des, bem como estão presentes, enquantovariáveis-chaves, <strong>no</strong> âmago <strong>da</strong>s grandes mazelas sociais do país. Essas dispari<strong>da</strong>desadvêm do padrão brasileiro de relações sociorraciais e <strong>da</strong>s práticas usuais de preconceito ediscriminação, abertas e vela<strong>da</strong>s, estabeleci<strong>da</strong>s entre as pessoas que se auto-identificam, esão identifica<strong>da</strong>s socialmente, como brancas, em relação àquelas que se auto-identificam,e são identifica<strong>da</strong>s socialmente, como <strong>negra</strong>s. Naturalmente, tal compreensão afasta-se <strong>da</strong>concepção de que <strong>no</strong> <strong>Brasil</strong> inexista discriminações raciais contra negros e indígenas, ouque vivamos em uma democracia racial, muito pelo contrário.Iniciamos este trabalho analisando a quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> base de <strong>da</strong>dos do Sistema de Informaçõesde Mortali<strong>da</strong>de (SIM), utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> estudo; a seguir, procuramos observar a evoluçãodo preenchimento do quesito raça/cor em seu ca<strong>da</strong>stro desde 1996, quando esse item foiincluído, e traçamos o perfil dos registros de óbito com raça/cor ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>, em termos regionais,etários e por tipo de causa de mortali<strong>da</strong>de; a partir dos registros de óbito com o quesitoraça/cor preenchido, levantamos o perfil de mortali<strong>da</strong>de dos grupos de raça/cor e sexo, <strong>no</strong><strong>Brasil</strong> e Grandes Regiões, <strong>no</strong> triênio 1998-2000; em segui<strong>da</strong> investigamos os indicadoresde esperança de vi<strong>da</strong> ao nascer dos grupos de raça/cor e sexo <strong>da</strong> população brasileira <strong>para</strong>as Grandes Regiões e apresentamos a metodologia utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong>s cálculos; verificamos osa<strong>no</strong>s médios de vi<strong>da</strong> perdidos por esses grupos segundo a metodologia utiliza<strong>da</strong> e listamosas dificul<strong>da</strong>des apresenta<strong>da</strong>s <strong>para</strong> a realização desses cálculos; ao térmi<strong>no</strong> <strong>da</strong> análise dosindicadores contidos <strong>no</strong> estudo, há propostas de orientação de políticas públicas, tendo emvista as exigências de um concomitante progresso <strong>da</strong>s condições de saúde <strong>da</strong> população do<strong>Brasil</strong> e de redução <strong>da</strong>s dispari<strong>da</strong>des sociorraciais encontra<strong>da</strong>s em <strong>no</strong>sso meio.2. Grau de cobertura <strong>da</strong> variável raça/cor <strong>no</strong>s registros do SIMNo <strong>Brasil</strong>, a primeira instituição a coletar informações vitais <strong>da</strong> população (nascimentosde vivos, falecimentos, casamentos) foi a Igreja Católica. Conforme é sabido, até o finaldo Império, o país não havia procedido a uma se<strong>para</strong>ção entre o poder eclesiástico e oEstado. Por esse motivo, to<strong>da</strong>s as informações referentes às variáveis demográficas ficavamlocaliza<strong>da</strong>s nas paróquias. No final do século XIX (1888), o gover<strong>no</strong> passou a organizarum sistema de estatísticas vitais de caráter laico: o Registro Civil de Pessoas Naturais(Vasconcelos, 1994, 1998; Senra, 1996). A laicização dos registros de estatísticas vitaisnão implicou em sua instantânea adesão pela população. Hakkert (1996, p. 34) apontaque “mesmo depois <strong>da</strong> secularização, demorou <strong>para</strong> que a população fosse conscientiza<strong>da</strong><strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de do registro, até certo ponto pela influência dos próprios párocos, quefreqüentemente desestimulava o registro de nascimento e casamento perante as autori<strong>da</strong>des50Fun<strong>da</strong>ção Nacional de Saúde

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!